SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21.49481
Resumo:
Com o aumento das grandes exposições na segunda metade do século XX, o trabalho feito
por educadores em equipamentos culturais cresceu como atividade que realiza a mediação entre os
bens culturais e seus públicos. Estudos recentes m se debruçado sobre e
contudo poucos têm discutido as relações de trabalho do educador de exposições. Esse artigo
apresenta resultados de uma pesquisa que analisou as relações de trabalho oferecidas pelos
equipamentos culturais da cidade de o Paulo. Como
coordenadores de três tipos de contratantes: Instituições Privadas (IPs), Instituições Estatais geridas
por Organizações Sociais (OSs) e Empresas de Terceirização (ETs) para examinar as formas de
contratação oferecidas. Co
mo resultado, verificou
educador de exposições se caracteriza como um trabalhador sem profissão, devido à ausência de
reconhecimento profissional e às relações de trabalho disfarçadas.
Palavras-chave: educ
profissionalização.
Educador de museos: ¿un trabajador sin profesión?
Resumen
: Con el incremento de las grandes exposiciones en la segunda mitad del siglo XX, ha
crecido la labo
r que desarrollan los educadores en los centros de arte como la actividad que realiza la
mediación cultural entre los bienes culturales y sus públicos. Estudios recientes han analizado esta
práctica educativa, sin embargo, pocos han discutido las relacione
museos. Este artículo presenta los resultados de una investigación que ha analizado las relaciones
laborales que ofrecen los centros de arte de la ciudad de São Paulo. La metodologia consistió en
entrevistas a coordinadores de t
del Estado gestionadas por Organizaciones Sociales (OS) y Empresas de Outsourcing (ET) con el fin
de examinar los modelos de contratación ofrecidos. Como resultado, se ha constatado que,
de la precariedad laboral, el educador de museo se caracteriza por ser un trabajador sin profesión,
por la ausencia de reconocimiento profesional y por las relaciones laborales disfrazadas.
Palabras clave
: educador de museo; mediación cultural; r
profesionalización.
1
Cíntia Maria da Silva. Mestre em Artes
Filho, UNESP, Brasil. E-mail:
cintiamasil@gmail.com
2
Adriana Santiago Rosa Dantas. Pós
Campinas, UNICAMP-
FAPESP. Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo, USP
E-mail: novadrica@gmail.com -
http://orcid.org/0000
Recebido em 30/03/2021,
aceito para publicação em
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21.49481
Cíntia Maria da Silva
Adriana Santiago Rosa Dantas
Com o aumento das grandes exposições na segunda metade do século XX, o trabalho feito
por educadores em equipamentos culturais cresceu como atividade que realiza a mediação entre os
bens culturais e seus públicos. Estudos recentes m se debruçado sobre e
ssa práxis educativa,
contudo poucos têm discutido as relações de trabalho do educador de exposições. Esse artigo
apresenta resultados de uma pesquisa que analisou as relações de trabalho oferecidas pelos
equipamentos culturais da cidade de o Paulo. Como
metodologia, foram entrevistados
coordenadores de três tipos de contratantes: Instituições Privadas (IPs), Instituições Estatais geridas
por Organizações Sociais (OSs) e Empresas de Terceirização (ETs) para examinar as formas de
mo resultado, verificou
-
se que, para além da precarização do trabalho, o
educador de exposições se caracteriza como um trabalhador sem profissão, devido à ausência de
reconhecimento profissional e às relações de trabalho disfarçadas.
ador de exposições; mediação cultural; relações de trabalho; p
Educador de museos: ¿un trabajador sin profesión?
: Con el incremento de las grandes exposiciones en la segunda mitad del siglo XX, ha
r que desarrollan los educadores en los centros de arte como la actividad que realiza la
mediación cultural entre los bienes culturales y sus públicos. Estudios recientes han analizado esta
práctica educativa, sin embargo, pocos han discutido las relacione
s laborales del educador de
museos. Este artículo presenta los resultados de una investigación que ha analizado las relaciones
laborales que ofrecen los centros de arte de la ciudad de São Paulo. La metodologia consistió en
entrevistas a coordinadores de t
res tipos de empleadores: Instituciones Privadas (PI), Instituciones
del Estado gestionadas por Organizaciones Sociales (OS) y Empresas de Outsourcing (ET) con el fin
de examinar los modelos de contratación ofrecidos. Como resultado, se ha constatado que,
de la precariedad laboral, el educador de museo se caracteriza por ser un trabajador sin profesión,
por la ausencia de reconocimiento profesional y por las relaciones laborales disfrazadas.
: educador de museo; mediación cultural; r
elaciones laborales; precariedad;
Cíntia Maria da Silva. Mestre em Artes
pela
Universidade Estadual de São Paulo Julio de Mesquita
cintiamasil@gmail.com
– https://orcid.org/0000-
0001
Adriana Santiago Rosa Dantas. Pós
-
doutora em Educação pela Universidade Estadual de
FAPESP. Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo, USP
http://orcid.org/0000
-0003-1066-7063
aceito para publicação em
03/06/2021 e
disponibilizado online em
01/09/2021.
67
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?
Cíntia Maria da Silva
1
Adriana Santiago Rosa Dantas
2
Com o aumento das grandes exposições na segunda metade do século XX, o trabalho feito
por educadores em equipamentos culturais cresceu como atividade que realiza a mediação entre os
ssa práxis educativa,
contudo poucos têm discutido as relações de trabalho do educador de exposições. Esse artigo
apresenta resultados de uma pesquisa que analisou as relações de trabalho oferecidas pelos
metodologia, foram entrevistados
coordenadores de três tipos de contratantes: Instituições Privadas (IPs), Instituições Estatais geridas
por Organizações Sociais (OSs) e Empresas de Terceirização (ETs) para examinar as formas de
se que, para além da precarização do trabalho, o
educador de exposições se caracteriza como um trabalhador sem profissão, devido à ausência de
ador de exposições; mediação cultural; relações de trabalho; p
recarização;
: Con el incremento de las grandes exposiciones en la segunda mitad del siglo XX, ha
r que desarrollan los educadores en los centros de arte como la actividad que realiza la
mediación cultural entre los bienes culturales y sus públicos. Estudios recientes han analizado esta
s laborales del educador de
museos. Este artículo presenta los resultados de una investigación que ha analizado las relaciones
laborales que ofrecen los centros de arte de la ciudad de São Paulo. La metodologia consistió en
res tipos de empleadores: Instituciones Privadas (PI), Instituciones
del Estado gestionadas por Organizaciones Sociales (OS) y Empresas de Outsourcing (ET) con el fin
de examinar los modelos de contratación ofrecidos. Como resultado, se ha constatado que,
más allá
de la precariedad laboral, el educador de museo se caracteriza por ser un trabajador sin profesión,
por la ausencia de reconocimiento profesional y por las relaciones laborales disfrazadas.
elaciones laborales; precariedad;
Universidade Estadual de São Paulo Julio de Mesquita
0001
-9049-6051
doutora em Educação pela Universidade Estadual de
FAPESP. Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo, USP
, Brasil.
disponibilizado online em
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
Exhibitions’ educator: a worker without a profession?
Abstract:
With the increase of exhibitions in the second half of the 20
by educators in cultural centers has grown as the activity that performs cultural mediation between
cultural goods and their audiences. Recent studies have elaborated on this educational practice;
however, few have discussed
the work relations of the exhibitions’ educator. This article presents the
results of a research which has analyzed the work relations offered by cultural centers of the city of
São Paulo. The methodology consisted of interviews with coordinators of three
Private Institutions (IPs), State Institutions managed by Social Organizations (OSs) and Outsourcing
Companies (ETs), in order to examine the offered contracting models. As a result of this process, it
has been verified that, beyond lab
worker without a profession, due to the absence of professional recognition and to disguised work
relations.
Keywords:
exhibitions’ educator; cultural mediation; w
profissionalization.
Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?
Introdução
A maioria dos equipamentos
culturais da cidade de São Paulo, que
tem como objetivo a circulação
simbólica de objetos artísticos em
exposições de arte, oferece aos seus
públicos o atendimento educativo por
meio do/a profissional de educação
não-formal -
denominado/a pelas
nomenclaturas mediador/a cultural,
educador/a, monitor/a. Grosso modo, o
trabalho deste profissional é
potencializar o estabelecimento das
relações entre contextos e
interpretações referentes aos bens
culturais mediados (sejam as
legitimadas por curadores e críticos de
arte, sejam as propostas pelos
participantes), intervindo, assim,
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
Exhibitions’ educator: a worker without a profession?
With the increase of exhibitions in the second half of the 20
th
century, the work carried out
by educators in cultural centers has grown as the activity that performs cultural mediation between
cultural goods and their audiences. Recent studies have elaborated on this educational practice;
the work relations of the exhibitions’ educator. This article presents the
results of a research which has analyzed the work relations offered by cultural centers of the city of
São Paulo. The methodology consisted of interviews with coordinators of three
Private Institutions (IPs), State Institutions managed by Social Organizations (OSs) and Outsourcing
Companies (ETs), in order to examine the offered contracting models. As a result of this process, it
has been verified that, beyond lab
or precariousness, the exhibitions’ educator is characterized as a
worker without a profession, due to the absence of professional recognition and to disguised work
exhibitions’ educator; cultural mediation; w
ork relations;
Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?
A maioria dos equipamentos
culturais da cidade de São Paulo, que
tem como objetivo a circulação
simbólica de objetos artísticos em
exposições de arte, oferece aos seus
públicos o atendimento educativo por
meio do/a profissional de educação
denominado/a pelas
nomenclaturas mediador/a cultural,
educador/a, monitor/a. Grosso modo, o
trabalho deste profissional é
potencializar o estabelecimento das
relações entre contextos e
interpretações referentes aos bens
culturais mediados (sejam as
legitimadas por curadores e críticos de
arte, sejam as propostas pelos
participantes), intervindo, assim,
cognitiva e criticamente na fruição dos
mais diversos visitantes. Sua atuação
pode se dar diretamente com os
públicos (nas visitas educativas); por
m
eio de proposições de automediação
(com material educativo, textos, jogos,
etc.); ou mediante o oferecimento de
oficinas e cursos de formação.
No Brasil, o trabalho de
mediação entre o público e a obra de
arte está inserido no que comumente é
conhecido com
o “setor educativo” de
museus ou espaços expositivos
(SETTON
; OLIVEIRA, 2017).
Podemos destacar dois períodos
marcantes desta atuação.
Primeiramente, sua criação no início
da redemocratização no Brasil, pós
Estado Novo com a inauguração do
68
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
century, the work carried out
by educators in cultural centers has grown as the activity that performs cultural mediation between
cultural goods and their audiences. Recent studies have elaborated on this educational practice;
the work relations of the exhibitions’ educator. This article presents the
results of a research which has analyzed the work relations offered by cultural centers of the city of
São Paulo. The methodology consisted of interviews with coordinators of three
types of employers:
Private Institutions (IPs), State Institutions managed by Social Organizations (OSs) and Outsourcing
Companies (ETs), in order to examine the offered contracting models. As a result of this process, it
or precariousness, the exhibitions’ educator is characterized as a
worker without a profession, due to the absence of professional recognition and to disguised work
ork relations;
precariousness;
Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?
cognitiva e criticamente na fruição dos
mais diversos visitantes. Sua atuação
pode se dar diretamente com os
públicos (nas visitas educativas); por
eio de proposições de automediação
(com material educativo, textos, jogos,
etc.); ou mediante o oferecimento de
oficinas e cursos de formação.
No Brasil, o trabalho de
mediação entre o público e a obra de
arte está inserido no que comumente é
o “setor educativo” de
museus ou espaços expositivos
; OLIVEIRA, 2017).
Podemos destacar dois períodos
marcantes desta atuação.
Primeiramente, sua criação no início
da redemocratização no Brasil, pós
-
Estado Novo com a inauguração do
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
Museu de Arte de
São Paulo (MASP)
em 1947, o Museu de Arte Moderna
(MAM) em 1948 e a Bienal de Arte de
São Paulo em 1951. Aquele contexto
fez surgir o desejo e a necessidade de
educar a população para as questões
formais da arte (MINERINI NETO,
2014). O segundo momento po
considerado o início da
“profissionalização” com propostas de
formação dos futuros arte/educadores
de museus
3
, com aulas de
museologia, museografia, curadoria,
história da arte e estética (BARBOSA,
1989, p.125) no período pós
militar.
A dis
cussão proposta neste
artigo se a partir do segundo
período, momento da
redemocratização no Brasil após a
ditadura militar. Na esfera mundial, é
possível destacar, pelo menos, dois
processos que influenciaram a
organização dessa atuação educativa
nos espaços culturais.
3
Destacam-
se os nomes de Ana Mae Barbosa
e Elza Ajzenberg que organizaram o primeiro
curso de especialização em 1986. Como
diretora do Museu de Arte Contemporânea da
Universidade de São Paulo (1987
Mae Barbosa fomentou pesquisas acadêmicas
sobre o
ensino da arte, as quais foram
colocadas em prática no museu.
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
São Paulo (MASP)
em 1947, o Museu de Arte Moderna
(MAM) em 1948 e a Bienal de Arte de
São Paulo em 1951. Aquele contexto
fez surgir o desejo e a necessidade de
educar a população para as questões
formais da arte (MINERINI NETO,
2014). O segundo momento po
de ser
considerado o início da
“profissionalização” com propostas de
formação dos futuros arte/educadores
, com aulas de
museologia, museografia, curadoria,
história da arte e estética (BARBOSA,
1989, p.125) no período pós
-ditadura
cussão proposta neste
artigo se a partir do segundo
período, momento da
redemocratização no Brasil após a
ditadura militar. Na esfera mundial, é
possível destacar, pelo menos, dois
processos que influenciaram a
organização dessa atuação educativa
se os nomes de Ana Mae Barbosa
e Elza Ajzenberg que organizaram o primeiro
curso de especialização em 1986. Como
diretora do Museu de Arte Contemporânea da
Universidade de São Paulo (1987
-93), Ana
Mae Barbosa fomentou pesquisas acadêmicas
ensino da arte, as quais foram
O primeiro processo é a
mudança paradigmática sobre a
concepção de alta cultura, incluindo os
acervos museais e as pessoas
legitimadas para acessá
franceses da segunda metade do
século XX contribuíram para a
modificação desse
obra A distinção
de Pierre Bourdieu
(2007), por exemplo, publicada em
1979, desvelou que a hierarquização
entre bens simbólicos legítimos e não
legítimos se valia de capitais culturais
e sociais que permitiam a classificação
do “gosto” com
o privilégio dos mais
abastados. Dito de outro modo, os
bens culturais legitimados tinham
mecanismos ocultos de hierarquização
parecidos com os mecanismos dos
capitais econômicos, dificultando os
grupos populares de acessá
(BOURDIEU, 2004).
Não por a
caso, o ideário de
democratização da cultura,
especialmente liderado pela
concepção francesa, instituiu modelos
de políticas públicas que tinham como
objetivo divulgar os bens culturais
legitimados para toda a população
francesa, independente da classe
soc
ial (RUBIM, 2009; ZASK, 2016).
Os modelos de políticas culturais
69
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
O primeiro processo é a
mudança paradigmática sobre a
concepção de alta cultura, incluindo os
acervos museais e as pessoas
legitimadas para acessá
-los. Estudos
franceses da segunda metade do
século XX contribuíram para a
entendimento. A
de Pierre Bourdieu
(2007), por exemplo, publicada em
1979, desvelou que a hierarquização
entre bens simbólicos legítimos e não
legítimos se valia de capitais culturais
e sociais que permitiam a classificação
o privilégio dos mais
abastados. Dito de outro modo, os
bens culturais legitimados tinham
mecanismos ocultos de hierarquização
parecidos com os mecanismos dos
capitais econômicos, dificultando os
grupos populares de acessá
-los
caso, o ideário de
democratização da cultura,
especialmente liderado pela
concepção francesa, instituiu modelos
de políticas públicas que tinham como
objetivo divulgar os bens culturais
legitimados para toda a população
francesa, independente da classe
ial (RUBIM, 2009; ZASK, 2016).
Os modelos de políticas culturais
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
instituídas por André Malraux na
década de 1970 tinham como intuito
aumentar o número de pessoas que
frequentavam os espaços culturais
legitimados, como os museus
(DONNAT, 2002).
O segundo p
rocesso, em escala
global, do período de formalização dos
educadores de exposição no Brasil,
consiste na expansão do
neoliberalismo. Compreendendo o
processo de neoliberalização como
resposta à crise da acumulação ativa
do capital no final dos anos de 1960
podemos considerá-
lo com um
político
(HARVEY, 2014). Depois de
muitos anos de política de bem
social, com sindicatos fortes e
conquistas fortalecidas de direitos
trabalhistas, a burguesia se mobilizou
em prol de uma mudança na
modalidade do
pensamento
hegemônico. Em outras palavras, a
elite econômica exerceu grande
influência sobre o campo da educação,
dos meios de comunicação, dos
conselhos de administração de
corporações e de instituições
financeiras, determinando e
perpetuando as diretriz
es dos modos
de vida, dos pensamentos e das
práticas sociais.
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
instituídas por André Malraux na
década de 1970 tinham como intuito
aumentar o número de pessoas que
frequentavam os espaços culturais
legitimados, como os museus
rocesso, em escala
global, do período de formalização dos
educadores de exposição no Brasil,
consiste na expansão do
neoliberalismo. Compreendendo o
processo de neoliberalização como
resposta à crise da acumulação ativa
do capital no final dos anos de 1960
,
lo com um
projeto
(HARVEY, 2014). Depois de
muitos anos de política de bem
-estar
social, com sindicatos fortes e
conquistas fortalecidas de direitos
trabalhistas, a burguesia se mobilizou
em prol de uma mudança na
pensamento
hegemônico. Em outras palavras, a
elite econômica exerceu grande
influência sobre o campo da educação,
dos meios de comunicação, dos
conselhos de administração de
corporações e de instituições
financeiras, determinando e
es dos modos
de vida, dos pensamentos e das
Uma vez criadas as condições
para os novos mercados culturais, em
pouco tempo podemos notar a
expansão das
megaexposições
final dos anos de 1990 e início de 2000
no Brasil. O mundo da arte e
cultura brasileira passou por
momentos de grande euforia e
destaque, demandando a ampliação
do setor educativo dessas exposições.
A atuação do educador de
exposição, no domínio das Artes e da
Educação, tem sido estudada pelo viés
da prática educativa
(ALENCAR, 2008;
BARBOSA, 1989, 1998, 2010;
BARBOSA; COUTINHO, 2009;
BARBOSA; CUNHA, 2010;
MARANDINO, 2008; MARANDINO et
al, 2016; MARTINS, 2003, 2018;
RIZZI, 2000; TEIXEIRA, 2019).
Contudo, estudos que questionam a
profissionalização desse trabalhador
são
raros. Este artigo busca
apresentar resultados de uma
pesquisa de mestrado (SILVA, 2017)
que investigou as relações e
condições de trabalho desse
educador, problematizando se essa
4
Dissertação defendida pelo Programa de
Pós-
Graduação do Instituto de Artes da
Unesp, sob orientação da Profª Dra. Rejano
Coutinho em 2017.
70
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Uma vez criadas as condições
para os novos mercados culturais, em
pouco tempo podemos notar a
megaexposições
no
final dos anos de 1990 e início de 2000
no Brasil. O mundo da arte e
da
cultura brasileira passou por
momentos de grande euforia e
destaque, demandando a ampliação
do setor educativo dessas exposições.
A atuação do educador de
exposição, no domínio das Artes e da
Educação, tem sido estudada pelo viés
(ALENCAR, 2008;
BARBOSA, 1989, 1998, 2010;
BARBOSA; COUTINHO, 2009;
BARBOSA; CUNHA, 2010;
MARANDINO, 2008; MARANDINO et
al, 2016; MARTINS, 2003, 2018;
RIZZI, 2000; TEIXEIRA, 2019).
Contudo, estudos que questionam a
profissionalização desse trabalhador
raros. Este artigo busca
apresentar resultados de uma
pesquisa de mestrado (SILVA, 2017)
4
que investigou as relações e
condições de trabalho desse
educador, problematizando se essa
Dissertação defendida pelo Programa de
Graduação do Instituto de Artes da
Unesp, sob orientação da Profª Dra. Rejano
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
prática laboral consiste em uma
profissão. Para tanto, buscou
compreender s
ua consolidação no
contexto do neoliberalismo e das
mudanças na prática educativa no bojo
da democratização do acesso.
A pergunta de pesquisa que
norteou o trabalho foi: quais as
relações e condições de trabalho do
educador de exposições oferecidas
pelos equipamentos culturais da
cidade de São Paulo? Como
procedimento metodológico foram
elaborados roteiros temáticos e
espe
cíficos para o perfil dos
contratantes e, posteriormente,
realizadas entrevistas na tentativa de
construir aproximações e
distanciamentos entre os diferentes
gestores, o que possibilitou melhores
condições de análise e equiparação
entre discursos e prática
s educativas.
Os dados colhidos foram analisados
qualitativamente como estudo de caso
coletivo (ANDRÉ, 2008), dando conta
da dimensão única e específica de
cada instituição pesquisada. Foram
realizadas nove (9) entrevistas
semiestruturadas (SZYMANSKI
2011)
5
com três tipos de contratantes,
5
As entrevistas respeitaram as normas éticas
de pe
squisa e o sigilo foi preservado.
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
prática laboral consiste em uma
profissão. Para tanto, buscou
ua consolidação no
contexto do neoliberalismo e das
mudanças na prática educativa no bojo
da democratização do acesso.
A pergunta de pesquisa que
norteou o trabalho foi: quais as
relações e condições de trabalho do
educador de exposições oferecidas
pelos equipamentos culturais da
cidade de São Paulo? Como
procedimento metodológico foram
elaborados roteiros temáticos e
cíficos para o perfil dos
contratantes e, posteriormente,
realizadas entrevistas na tentativa de
construir aproximações e
distanciamentos entre os diferentes
gestores, o que possibilitou melhores
condições de análise e equiparação
s educativas.
Os dados colhidos foram analisados
qualitativamente como estudo de caso
coletivo (ANDRÉ, 2008), dando conta
da dimensão única e específica de
cada instituição pesquisada. Foram
realizadas nove (9) entrevistas
semiestruturadas (SZYMANSKI
et al.,
com três tipos de contratantes,
As entrevistas respeitaram as normas éticas
squisa e o sigilo foi preservado.
a saber, Instituições Privadas (IPs);
Instituições Estatais geridas por
Organizações Sociais (OSs);
Empresas de Terceirização (ETs)
Como resultado, identificamos que,
para além da precariedade do trabalho
do educ
ador de exposição, a
ocupação exercida por esse
trabalhador não pode ser considerada
como uma profissão visto que as
relações trabalhistas, desde sua
gênese, a coloca como uma categoria
que nunca esteve inserida no processo
histórico de conquistas e perdas
trabalhistas, portanto, não passou pelo
processo de precarização pela própria
condição de trabalho desta atuação.
Este artigo está dividido em três
partes, além desta introdução e das
considerações finais. A primeira seção
apresenta o contexto de crescime
do campo de trabalho do educador de
exposições na segunda metade do
século XX. Em seguida, discute
6
É importante considerar que as análises aqui
realizadas foram privilegiadas pela experiência
profissional das autoras. Cintia da Silva atua
no campo da mediação cultural desde 2008,
prestando serviços para diversos
equi
pamentos culturais e celebrando contratos
em todas as modalidades de contratação aqui
mencionadas, com exceção da CLT por prazo
indeterminado. Adriana Dantas teve uma
experiência em mediação cultural em
Instituição Privada, com contrato temporário
em CLT p
or prazo determinado.
71
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Trabalho cultural e precarização
")
a saber, Instituições Privadas (IPs);
Instituições Estatais geridas por
Organizações Sociais (OSs);
Empresas de Terceirização (ETs)
6
.
Como resultado, identificamos que,
para além da precariedade do trabalho
ador de exposição, a
ocupação exercida por esse
trabalhador não pode ser considerada
como uma profissão visto que as
relações trabalhistas, desde sua
gênese, a coloca como uma categoria
que nunca esteve inserida no processo
histórico de conquistas e perdas
trabalhistas, portanto, não passou pelo
processo de precarização pela própria
condição de trabalho desta atuação.
Este artigo está dividido em três
partes, além desta introdução e das
considerações finais. A primeira seção
apresenta o contexto de crescime
nto
do campo de trabalho do educador de
exposições na segunda metade do
século XX. Em seguida, discute
-se a
É importante considerar que as análises aqui
realizadas foram privilegiadas pela experiência
profissional das autoras. Cintia da Silva atua
no campo da mediação cultural desde 2008,
prestando serviços para diversos
pamentos culturais e celebrando contratos
em todas as modalidades de contratação aqui
mencionadas, com exceção da CLT por prazo
indeterminado. Adriana Dantas teve uma
experiência em mediação cultural em
Instituição Privada, com contrato temporário
or prazo determinado.
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
prática laboral desse trabalhador e a
ausência de reconhecimento como
profissão. A terceira seção demonstra
as relações de trabalho às quais está
su
bmetido o educador de exposição,
conforme o tipo de empresa
contratante.
1.
O trabalhador das
megaexposições
Ainda que o debate sobre a
função educativa dos museus seja
anterior ao caráter educacional do
atendimento ao público, é possível
dizer que o trabal
ho educativo em
exposições surgiu com a demanda
de“educar” o grande público o
iniciado nas artes. De acordo com
Minerini Neto (2014, p.92), na cidade
de São Paulo, tivemos as primeiras
experiências educativas com as
chamadas “exposições didáticas”, em
mu
seus como MAM e MASP, que
organizaram exposições com uma
extensa variedade de obras e
documentação sobre um movimento
ou escola artística para instruir o
grande público sobre arte moderna. O
primeiro curso de formação para
monitores aconteceu em 1952, teve
um total de 449 inscritos (estudantes e
artistas jovens) e selecionou 15
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
prática laboral desse trabalhador e a
ausência de reconhecimento como
profissão. A terceira seção demonstra
as relações de trabalho às quais está
bmetido o educador de exposição,
conforme o tipo de empresa
O trabalhador das
Ainda que o debate sobre a
função educativa dos museus seja
anterior ao caráter educacional do
atendimento ao público, é possível
ho educativo em
exposições surgiu com a demanda
de“educar” o grande público o
-
iniciado nas artes. De acordo com
Minerini Neto (2014, p.92), na cidade
de São Paulo, tivemos as primeiras
experiências educativas com as
chamadas “exposições didáticas”, em
seus como MAM e MASP, que
organizaram exposições com uma
extensa variedade de obras e
documentação sobre um movimento
ou escola artística para instruir o
grande público sobre arte moderna. O
primeiro curso de formação para
monitores aconteceu em 1952, teve
um total de 449 inscritos (estudantes e
artistas jovens) e selecionou 15
monitores, “explicadores da arte
moderna”, para realizarem os
“passeios educativos” na II Bienal de
1953 (MINERINI NETO, 2014). Nos
anos seguintes, a ação educativa em
exposições de
arte manteve essa
perspectiva: esclarecer, ensinar a
alfabetização visual, educar o olhar do
grande público a ver e reconhecer
corretamente o que é arte (MÖRSCH;
SEEFRANZ, 2018).
A partir da segunda metade da
década de 1980 -
redemocratizaçã
o no Brasil
mudanças ocorridas nos contextos
político e econômico causaram
grandes impactos na área da cultura
(CASTELLO, 2002; RUBIM, 2007).
Entre o final das décadas de 1980 e de
1990, destacamos: as leis de incentivo
fiscal (Lei Sarney, 7.5
Lei Rouanet, 8.313, de 1991); o
Plano Diretor da Reforma do Aparelho
do Estado (BRASIL, 1997) e os
processos de privatização
privatização da cultura (WU, 2006) por
meio da criação das Organizações
Sociais (Lei Federal 9.63
1998).
O projeto político do
neoliberalismo que se aprofunda na
segunda metade do século XX no
72
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
monitores, “explicadores da arte
moderna”, para realizarem os
“passeios educativos” na II Bienal de
1953 (MINERINI NETO, 2014). Nos
anos seguintes, a ação educativa em
arte manteve essa
perspectiva: esclarecer, ensinar a
alfabetização visual, educar o olhar do
grande público a ver e reconhecer
corretamente o que é arte (MÖRSCH;
A partir da segunda metade da
no processo de
o no Brasil
- algumas
mudanças ocorridas nos contextos
político e econômico causaram
grandes impactos na área da cultura
(CASTELLO, 2002; RUBIM, 2007).
Entre o final das décadas de 1980 e de
1990, destacamos: as leis de incentivo
fiscal (Lei Sarney, 7.5
05, de 1986 e
Lei Rouanet, 8.313, de 1991); o
Plano Diretor da Reforma do Aparelho
do Estado (BRASIL, 1997) e os
processos de privatização
- incluindo a
privatização da cultura (WU, 2006) por
meio da criação das Organizações
Sociais (Lei Federal 9.63
7, de
O projeto político do
neoliberalismo que se aprofunda na
segunda metade do século XX no
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
mundo (HARVEY, 2014) e,
especialmente, após a abertura
política no Brasil, abriu caminho para a
mercantilização da cultura nos anos de
1990
7
(PILÃO, 2017;
RUBIM, 2007;
SEGNINI, 2008). Naquele contexto, foi
inaugurado o período das exposições
blockbuster
ou megaexposições, as
quais apresentavam mostras de
artistas e/ou curadores de museus
internacionais famosos e consagrados
e que foram patrocinadas por gran
empresas como recurso de
cultural
(SANTOS, 2002). As
megaexposições movimentaram cifras
exorbitantes que impressionaram tanto
nos valores de investimento quanto
nos números de visitação
8
, criando um
círculo vicioso: quanto maior fosse o
apelo de uma exposição, maior seria o
interesse no
marketing cultural
investimento e maior possibilidade de
bater recordes de visitação.
7
Em 1995, o Ministério da Cultura lançou uma
cartilha intitulada “Cultura é um bom negócio”.
Disponível em
http://www.consultaesic.cgu.gov.br/busca/dado
s/Lists/Pedido/Attachments/1049484/RESPOS
TA_PEDIDO_cultura%20um%20bom%20negc
io.pdf. Acesso em: 16 mar. 2021
.
8
Segundo Carmen Mörsch e Catrin Seefranz
(2018, p. 52), o caso da Bienal é um bom
exemplo: em 1975 alcançaram a marca de 20
mil estudantes, enquanto em 1998, esse
número subiu para 130 mil estudantes (110 mil
de escolas pública
s, 20 mil de escolas
privadas).
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
mundo (HARVEY, 2014) e,
especialmente, após a abertura
política no Brasil, abriu caminho para a
mercantilização da cultura nos anos de
RUBIM, 2007;
SEGNINI, 2008). Naquele contexto, foi
inaugurado o período das exposições
ou megaexposições, as
quais apresentavam mostras de
artistas e/ou curadores de museus
internacionais famosos e consagrados
e que foram patrocinadas por gran
des
empresas como recurso de
marketing
(SANTOS, 2002). As
megaexposições movimentaram cifras
exorbitantes que impressionaram tanto
nos valores de investimento quanto
, criando um
círculo vicioso: quanto maior fosse o
apelo de uma exposição, maior seria o
marketing cultural
, mais
investimento e maior possibilidade de
bater recordes de visitação.
Em 1995, o Ministério da Cultura lançou uma
cartilha intitulada “Cultura é um bom negócio”.
http://www.consultaesic.cgu.gov.br/busca/dado
s/Lists/Pedido/Attachments/1049484/RESPOS
TA_PEDIDO_cultura%20um%20bom%20negc
.
Segundo Carmen Mörsch e Catrin Seefranz
(2018, p. 52), o caso da Bienal é um bom
exemplo: em 1975 alcançaram a marca de 20
mil estudantes, enquanto em 1998, esse
número subiu para 130 mil estudantes (110 mil
s, 20 mil de escolas
Com o incremento financeiro
nestas exposições monumentais, um
número cada vez maior de pessoas
passou a visitar as exposições
que tivesse de esperar horas em uma
extensa fila para entrar
assim, a difusão e a circulação
simbólica dos bens culturais. Com um
público cada vez maior, os
patrocinado
res se interessavam em
investir o apenas nas exposições,
mas, sobretudo, nos serviços
educacionais, fomentando o
crescimento das ações educativas
dentro dos projetos expositivos e, com
o tempo, dentro das instituições,
consolidando a criação de
departame
ntos e setores educativos.
Assim, além das filas
inacreditáveis, da assustadora
quantidade de visitantes e das novas
propostas de abordagem artística, o
boom
das megaexposições provocou
uma mudança significativa na oferta de
vagas para o
educador de expos
Era necessário formar um grande
número de trabalhadores que desse
conta da demanda, que não se
limitava mais a ensinar “a ver” ou
explicar sobre arte, mas a criar coletiva
e colaborativamente estas explicações
(GONÇALVES, 2014, p.93). Na esteira
73
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Com o incremento financeiro
nestas exposições monumentais, um
número cada vez maior de pessoas
passou a visitar as exposições
- ainda
que tivesse de esperar horas em uma
extensa fila para entrar
-, aumentando,
assim, a difusão e a circulação
simbólica dos bens culturais. Com um
público cada vez maior, os
res se interessavam em
investir o apenas nas exposições,
mas, sobretudo, nos serviços
educacionais, fomentando o
crescimento das ações educativas
dentro dos projetos expositivos e, com
o tempo, dentro das instituições,
consolidando a criação de
ntos e setores educativos.
Assim, além das filas
inacreditáveis, da assustadora
quantidade de visitantes e das novas
propostas de abordagem artística, o
das megaexposições provocou
uma mudança significativa na oferta de
educador de expos
ições.
Era necessário formar um grande
número de trabalhadores que desse
conta da demanda, que não se
limitava mais a ensinar “a ver” ou
explicar sobre arte, mas a criar coletiva
e colaborativamente estas explicações
(GONÇALVES, 2014, p.93). Na esteira
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
da
democratização cultural (ZASK,
2016), surge um fenômeno europeu
conhecido como
educational turn
virada educacional
(GONÇALVES,
2014; O’NEILL; WILSON, 2010
evidenciado pela apropriação das
práxis pedagógicas pelo universo da
arte, apresentando novas a
artísticas que passaram a propor
práticas mais coletivas e colaborativas.
É nesse cenário que os setores
educativos e o trabalho do educador
de exposições começam a se
modificar gradativamente: os
monitores passaram a ser chamados
de educadores;
os “passeios
explicativos” se tornaram visitas
guiadas/monitoradas e,
posteriormente, visitas educativas; as
explicações e palestras sobre uma
obra, artista ou movimento artístico foi
se transformando em encontros
dialógicos que provoquem uma
experiência e
stética (BARBOSA, 1989,
1998, 2010; CERVETTO; LÓPEZ,
2018; DEWEY, 2010; MARTINS, 2003,
2018).
Nas origens dessa ocupação,
os monitores eram jovens artistas ou
estudantes de Artes interessados em
aprofundar os conhecimentos teóricos
que pudessem contribuir
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
democratização cultural (ZASK,
2016), surge um fenômeno europeu
educational turn
, ou
(GONÇALVES,
2014; O’NEILL; WILSON, 2010
),
evidenciado pela apropriação das
práxis pedagógicas pelo universo da
arte, apresentando novas a
bordagens
artísticas que passaram a propor
práticas mais coletivas e colaborativas.
É nesse cenário que os setores
educativos e o trabalho do educador
de exposições começam a se
modificar gradativamente: os
monitores passaram a ser chamados
os “passeios
explicativos” se tornaram visitas
guiadas/monitoradas e,
posteriormente, visitas educativas; as
explicações e palestras sobre uma
obra, artista ou movimento artístico foi
se transformando em encontros
dialógicos que provoquem uma
stética (BARBOSA, 1989,
1998, 2010; CERVETTO; LÓPEZ,
2018; DEWEY, 2010; MARTINS, 2003,
Nas origens dessa ocupação,
os monitores eram jovens artistas ou
estudantes de Artes interessados em
aprofundar os conhecimentos teóricos
com suas
práticas artísticas e/ou curatoriais.
Depois, a mudança acompanhou as
transformações que ocorreram no
mundo do trabalho para os
universitários no final do século XX.
Conforme Ruth Cardoso e Helena
Sampaio (1994), a nova clientela de
estudantes do
ensino superior,
principalmente dos cursos de humanas
e sociais, precisava estar no mercado
de trabalho para ter condições de
arcar com seu próprio sustento
além dos estudantes de Artes, o leque
de contratação dos educadores de
exposições se abre p
carreiras como História, Pedagogia,
Letras, Geografia, Ciências Sociais
entre outras. Esse trabalho oferecido,
muitas vezes como estágio em tempo
parcial, possibilitava aos estudantes
conciliar os estudos com uma
ocupação que rendia remuneração.
A virada nos processos
educativos nos museus deve, como
alerta Honorato (2007), ser
acompanhada de criticidade e
politização. Essas pequenas e lentas
9
Muitas vezes, esses estudantes são
provenientes de grupos médios e populares,
cujas famílias têm um poder aquisitivo menor
dos estudantes de curso prestigiados como
Medicina, que podem ser mantidos pelos
progenitores duran
te o curso integral.
74
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
práticas artísticas e/ou curatoriais.
Depois, a mudança acompanhou as
transformações que ocorreram no
mundo do trabalho para os
universitários no final do século XX.
Conforme Ruth Cardoso e Helena
Sampaio (1994), a nova clientela de
ensino superior,
principalmente dos cursos de humanas
e sociais, precisava estar no mercado
de trabalho para ter condições de
arcar com seu próprio sustento
9
. Para
além dos estudantes de Artes, o leque
de contratação dos educadores de
exposições se abre p
ara outras
carreiras como História, Pedagogia,
Letras, Geografia, Ciências Sociais
entre outras. Esse trabalho oferecido,
muitas vezes como estágio em tempo
parcial, possibilitava aos estudantes
conciliar os estudos com uma
ocupação que rendia remuneração.
A virada nos processos
educativos nos museus deve, como
alerta Honorato (2007), ser
acompanhada de criticidade e
politização. Essas pequenas e lentas
Muitas vezes, esses estudantes são
provenientes de grupos médios e populares,
cujas famílias têm um poder aquisitivo menor
dos estudantes de curso prestigiados como
Medicina, que podem ser mantidos pelos
te o curso integral.
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
modificações no perfil do educador de
exposições e no conteúdo de seu
trabalho estão inseridas em uma
am
pla reflexão sobre o mundo do
trabalho contemporâneo. Desde a
década de 1970, acompanhamos um
intenso debate sobre a crise estrutural
do capital e a construção de uma nova
configuração econômica (HARVEY,
2014). Nos anos dourados da era
fordista-keynesiana,
o “estado de bem
estar social” garantia aos seus
trabalhadores estabilidade profissional
e vínculos empregatícios permanentes
ou prolongados, bons salários,
proteção dos direitos trabalhistas e
previdenciários (SENNETT, 2019).
Como resposta à crise, vimos
processo de transnacionalização da
economia (ANTUNES, ALVES, 2004)
modificar e ampliar as fronteiras e os
territórios do mundo do trabalho,
acentuando a fragmentação,
heterogeneização e complexificação
da classe trabalhadora.
O mundo do trabalho
contem
porâneo está baseado na
flexibilidade da produção (
just in time)
e das relações de trabalho
(subcontratações temporárias,
parciais, terceirizadas e/ou
intermitentes). Essas mudanças
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
modificações no perfil do educador de
exposições e no conteúdo de seu
trabalho estão inseridas em uma
pla reflexão sobre o mundo do
trabalho contemporâneo. Desde a
década de 1970, acompanhamos um
intenso debate sobre a crise estrutural
do capital e a construção de uma nova
configuração econômica (HARVEY,
2014). Nos anos dourados da era
o “estado de bem
-
estar social” garantia aos seus
trabalhadores estabilidade profissional
e vínculos empregatícios permanentes
ou prolongados, bons salários,
proteção dos direitos trabalhistas e
previdenciários (SENNETT, 2019).
Como resposta à crise, vimos
o
processo de transnacionalização da
economia (ANTUNES, ALVES, 2004)
modificar e ampliar as fronteiras e os
territórios do mundo do trabalho,
acentuando a fragmentação,
heterogeneização e complexificação
O mundo do trabalho
porâneo está baseado na
flexibilidade da produção (
just in time)
e das relações de trabalho
(subcontratações temporárias,
parciais, terceirizadas e/ou
intermitentes). Essas mudanças
apresentam algumas tendências
(ANTUNES, ALVES, 2004): diminuição
do prolet
ariado industrial e aumento
dos contratados no setor de serviços;
expansão da feminização do trabalho;
exclusão dos jovens e “idosos acima
dos 40 anos do mercado de trabalho;
expansão do “terceiro setor” e do
trabalho voluntário; ampliação do
trabalho pro
dutivo doméstico
(recentemente aprofundado devido à
pandemia da Covid-
19); mundialização
produtiva, confundindo as dimensões
locais com a esfera internacional. Com
esse novo contorno da morfologia do
trabalho contemporâneo (ANTUNES,
2005, 2009), os estudos
precarização do trabalho se
intensificaram na década de 1990,
principalmente como resposta às
teorias que decretavam o fim da classe
trabalhadora.
Um importante destaque se faz
necessário: a diferença entre
precarização e precariedade do
trabalho
. A precarização do trabalho é
compreendida como um processo de
supressão dos direitos trabalhistas
acumulados e garantidos pelo trabalho
assalariado (ALVES, 2007). a
precariedade do trabalho designa a
sensação de risco, de vulnerabilidade
75
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
apresentam algumas tendências
(ANTUNES, ALVES, 2004): diminuição
ariado industrial e aumento
dos contratados no setor de serviços;
expansão da feminização do trabalho;
exclusão dos jovens e “idosos acima
dos 40 anos do mercado de trabalho;
expansão do “terceiro setor” e do
trabalho voluntário; ampliação do
dutivo doméstico
(recentemente aprofundado devido à
19); mundialização
produtiva, confundindo as dimensões
locais com a esfera internacional. Com
esse novo contorno da morfologia do
trabalho contemporâneo (ANTUNES,
2005, 2009), os estudos
sobre a
precarização do trabalho se
intensificaram na década de 1990,
principalmente como resposta às
teorias que decretavam o fim da classe
Um importante destaque se faz
necessário: a diferença entre
precarização e precariedade do
. A precarização do trabalho é
compreendida como um processo de
supressão dos direitos trabalhistas
acumulados e garantidos pelo trabalho
assalariado (ALVES, 2007). a
precariedade do trabalho designa a
sensação de risco, de vulnerabilidade
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
ou de desagra
do que acomete o
trabalhador por conta da atividade que
exerce (VARGAS, 2016). Essa
precariedade pode ser avaliada a partir
de duas dimensões: do
emprego/ocupação econômica
objetiva (proteções e garantias
trabalhistas e previdenciárias) e
subjetivamente
(insatisfação,
sofrimento, desânimo, medo)
profissão reconhecida, pois além do
emprego, avalia a precariedade do
reconhecimento social, da valorização
laboral e da formação de identidades
individuais e coletivas.
No Brasil, o debate sobre
precariza
ção do trabalho ganha
complexidade, uma vez que as formas
e relações de trabalho brasileiras
apresentam profunda heterogeneidade
estrutural e nunca se consolidou, aqui,
uma sociedade salarial (CASTEL,
2001; VARGAS, 2016) na qual a
classe trabalhadora manti
relação estável e protegida com seu
salário. A ambiguidade é tanta que o
mesmo Estado brasileiro que
assegurou o trabalho como um direito
de todos os cidadãos na Constituição
Federal de 1988, também promoveu
políticas neoliberais de
desregulament
ação do mercado de
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
do que acomete o
trabalhador por conta da atividade que
exerce (VARGAS, 2016). Essa
precariedade pode ser avaliada a partir
de duas dimensões: do
emprego/ocupação econômica
-
objetiva (proteções e garantias
trabalhistas e previdenciárias) e
(insatisfação,
sofrimento, desânimo, medo)
-; e da
profissão reconhecida, pois além do
emprego, avalia a precariedade do
reconhecimento social, da valorização
laboral e da formação de identidades
No Brasil, o debate sobre
ção do trabalho ganha
complexidade, uma vez que as formas
e relações de trabalho brasileiras
apresentam profunda heterogeneidade
estrutural e nunca se consolidou, aqui,
uma sociedade salarial (CASTEL,
2001; VARGAS, 2016) na qual a
classe trabalhadora manti
vesse uma
relação estável e protegida com seu
salário. A ambiguidade é tanta que o
mesmo Estado brasileiro que
assegurou o trabalho como um direito
de todos os cidadãos na Constituição
Federal de 1988, também promoveu
políticas neoliberais de
ação do mercado de
trabalho no início dos anos 1990
(VARGAS, 2016).
É nesse cenário que as
metamorfoses ocorridas no trabalho do
educador de exposições começam a
se desenrolar e serem debatidas entre
seus trabalhadores. Entre os
educadores um consenso:
precariedade do trabalho é uma
realidade verificável, como veremos
adiante. Contudo, estariam estes
trabalhadores sujeitos ao processo de
precarização do trabalho, entendido
como perda das proteções e das
garantias do trabalho assalariado? Ou
estariam em
uma condição anterior, a
saber, sem possibilidade de perder
direitos trabalhistas visto que seu
trabalho o é reconhecido como uma
profissão?
2.
O trabalhador sem profissão
Muitas confusões são
produzidas quando se pensa no
trabalho do educador de exposiç
maioria das pessoas avalia que a
função deste trabalhador é transmitir
conhecimentos consolidados por
autoridades legitimadas no campo das
artes e apresentar respostas prontas
às indagações dos públicos (“o que o
artista quis dizer?”, por exemplo).
76
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
trabalho no início dos anos 1990
É nesse cenário que as
metamorfoses ocorridas no trabalho do
educador de exposições começam a
se desenrolar e serem debatidas entre
seus trabalhadores. Entre os
educadores um consenso:
a
precariedade do trabalho é uma
realidade verificável, como veremos
adiante. Contudo, estariam estes
trabalhadores sujeitos ao processo de
precarização do trabalho, entendido
como perda das proteções e das
garantias do trabalho assalariado? Ou
uma condição anterior, a
saber, sem possibilidade de perder
direitos trabalhistas visto que seu
trabalho o é reconhecido como uma
O trabalhador sem profissão
Muitas confusões são
produzidas quando se pensa no
trabalho do educador de exposiç
ões. A
maioria das pessoas avalia que a
função deste trabalhador é transmitir
conhecimentos consolidados por
autoridades legitimadas no campo das
artes e apresentar respostas prontas
às indagações dos públicos (“o que o
artista quis dizer?”, por exemplo).
Essa
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
compreensão se dá, principalmente,
porque ainda se pensa nas origens
dessa atividade laboral realizada pelos
primeiros monitores de museus.
Embora essa seja uma das muitas
formas de exercer a atividade,
propomos a atualização do que se
sabe sobre o co
nteúdo deste trabalho
e a defesa de um modo de execução
das práticas educativas do educador
de exposições.
De início, esse trabalho consiste
em mediação cultural
10
na perspectiva
de produção coletiva de significados.
Desse modo, as interpretações são
produ
zidas pelo cruzamento de quatro
dimensões do saber: as obras
expostas; o universo cultural de
referência; as pesquisas e
do educador; e o repertório e saberes
dos públicos (DARRAS, 2009). A
mediação cultural se alinha à
educação não-
formal por n
de conteúdos obrigatórios,
institucionalizados ou ordenados por
níveis de complexidade.
10
É importante destacar que o uso do termo
não é usado exclusivamente pelo setor
educativo mas também por outros setores dos
equipamentos de culturais como a
Comunicação e Curadoria que também
promovem mediação por meio de textos de
par
ede, catálogos, diálogo entre obras
expostas, expografia, iluminação, etc.
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
compreensão se dá, principalmente,
porque ainda se pensa nas origens
dessa atividade laboral realizada pelos
primeiros monitores de museus.
Embora essa seja uma das muitas
formas de exercer a atividade,
propomos a atualização do que se
nteúdo deste trabalho
e a defesa de um modo de execução
das práticas educativas do educador
De início, esse trabalho consiste
na perspectiva
de produção coletiva de significados.
Desse modo, as interpretações são
zidas pelo cruzamento de quatro
dimensões do saber: as obras
expostas; o universo cultural de
referência; as pesquisas e
expertises
do educador; e o repertório e saberes
dos públicos (DARRAS, 2009). A
mediação cultural se alinha à
formal por n
ão dispor
de conteúdos obrigatórios,
institucionalizados ou ordenados por
É importante destacar que o uso do termo
não é usado exclusivamente pelo setor
educativo mas também por outros setores dos
equipamentos de culturais como a
Comunicação e Curadoria que também
promovem mediação por meio de textos de
ede, catálogos, diálogo entre obras
expostas, expografia, iluminação, etc.
Ao qualificar o conteúdo do
trabalho do educador de exposições,
podemos nos referir como a atividade
laboral desenvolvida pelo setor
educativo nas exposições
apresentadas em museus e
equipamentos culturais, sejam eles
artísticos, históricos ou científicos.
Especificamente no caso das
exposições de artes, esse trabalhador
mobiliza seus conhecimentos cultural
cognitivos (Arte; História da Arte;
linguagens e procedimentos artísticos;
biografia e trajetória dos artistas;
contextos culturais, sociais, políticos
econômicos) e pedagógico
(Educação; perspectivas
epistemológicas; metodologias e
estratégias de ensino
-
A tarefa central desta ocupação
consiste em desenvolver diversos
métodos e estratégias para ler e
interpretar as representaçõ
simbólicas dos objetos artísticos
expostos
que possibilitem a
participação equitativa de todos os
envolvidos na visita, incentivando o
compartilhamento dos saberes de
modo a desenvolver, enriquecer,
ampliar, dar voz e questionar os
processos interpretat
2009; LARROSA, 2002; RANCIÈRE,
77
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Ao qualificar o conteúdo do
trabalho do educador de exposições,
podemos nos referir como a atividade
laboral desenvolvida pelo setor
educativo nas exposições
apresentadas em museus e
equipamentos culturais, sejam eles
artísticos, históricos ou científicos.
Especificamente no caso das
exposições de artes, esse trabalhador
mobiliza seus conhecimentos cultural
-
cognitivos (Arte; História da Arte;
linguagens e procedimentos artísticos;
biografia e trajetória dos artistas;
contextos culturais, sociais, políticos
e
econômicos) e pedagógico
-didáticos
(Educação; perspectivas
epistemológicas; metodologias e
-
aprendizagem).
A tarefa central desta ocupação
consiste em desenvolver diversos
métodos e estratégias para ler e
interpretar as representaçõ
es
simbólicas dos objetos artísticos
que possibilitem a
participação equitativa de todos os
envolvidos na visita, incentivando o
compartilhamento dos saberes de
modo a desenvolver, enriquecer,
ampliar, dar voz e questionar os
processos interpretat
ivos (DARRAS,
2009; LARROSA, 2002; RANCIÈRE,
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
2002). O educador de exposições
reconhece, valoriza e inclui os
repertórios e saberes específicos dos
públicos que, somados aos
conhecimentos clássicos e científicos
(expertise
do educador), serão os
elementos c
onstituintes deste
processo educativo (SAVIANI, 1997).
Dito de outro modo, o trabalho
do educador de exposições consiste
em criar as condições necessárias
para a produção de sentidos coletiva e
colaborativamente com o público enão,
necessariamente, de apen
as transmitir
as interpretações legitimadas de
artistas, curadores e historiadores da
arte.Assim, seu objetivo principal é
estimular a colaboração dos públicos
atendidos, por meio da fala e da
escuta atenta, incentivando a reflexão,
argumentação e criticid
ade, para que
os visitantes elaborem sentidos
coletivos durante a visita. Esse
compromisso se baseia no
pressuposto de que o conhecimento
humano é dado por um processo
histórico, inacabado e em constante
transformação, que sofre sucessivas
interferências d
o meio cultural no qual
está inserido, baseados na concepção
de educação e mediação de Freire
(1996, 2013) e Vygotsky (1930, 1998).
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
2002). O educador de exposições
reconhece, valoriza e inclui os
repertórios e saberes específicos dos
públicos que, somados aos
conhecimentos clássicos e científicos
do educador), serão os
onstituintes deste
processo educativo (SAVIANI, 1997).
Dito de outro modo, o trabalho
do educador de exposições consiste
em criar as condições necessárias
para a produção de sentidos coletiva e
colaborativamente com o público enão,
as transmitir
as interpretações legitimadas de
artistas, curadores e historiadores da
arte.Assim, seu objetivo principal é
estimular a colaboração dos públicos
atendidos, por meio da fala e da
escuta atenta, incentivando a reflexão,
ade, para que
os visitantes elaborem sentidos
coletivos durante a visita. Esse
compromisso se baseia no
pressuposto de que o conhecimento
humano é dado por um processo
histórico, inacabado e em constante
transformação, que sofre sucessivas
o meio cultural no qual
está inserido, baseados na concepção
de educação e mediação de Freire
(1996, 2013) e Vygotsky (1930, 1998).
A atividade mais conhecida do
educador de exposições é, sem
dúvidas, o atendimento realizado
diretamente junto aos blicos.
visitas educativas podem ser
agendadas ou espontâneas;
realizadas com grupos de crianças, de
adolescentes, de especialistas ou de
idosos; e ter entre
pessoas participantes. O resultado da
elaboração desses significados
construídos coletiva
mente se no
acolhimento de impressões,
argumentos, posicionamentos de
modo crítico e reflexivo. Para Miriam
Celeste Martins (2003), essas visitas
devem ser compreendidas como
encontros dialógicos, de saberes não
hierarquizados e de caráter
rizomático
11
,
no qual os participantes
(educador, público, obras e mundo
cultural de referência) compartilham
visões e atribuem colaborativamente
os sentidos para determinados objetos
artísticos.
Todavia, o conteúdo do trabalho
do educador de exposições não se
limita a
o atendimento direto aos
públicos, incluindo uma gama de
atividades complementares e
11
Conceito da botânica utilizado por Deleuze e
Guattari (1995).
78
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
A atividade mais conhecida do
educador de exposições é, sem
dúvidas, o atendimento realizado
diretamente junto aos blicos.
As
visitas educativas podem ser
agendadas ou espontâneas;
realizadas com grupos de crianças, de
adolescentes, de especialistas ou de
idosos; e ter entre
duas e vinte
pessoas participantes. O resultado da
elaboração desses significados
mente se no
acolhimento de impressões,
argumentos, posicionamentos de
modo crítico e reflexivo. Para Miriam
Celeste Martins (2003), essas visitas
devem ser compreendidas como
encontros dialógicos, de saberes não
-
hierarquizados e de caráter
no qual os participantes
(educador, público, obras e mundo
cultural de referência) compartilham
visões e atribuem colaborativamente
os sentidos para determinados objetos
Todavia, o conteúdo do trabalho
do educador de exposições não se
o atendimento direto aos
públicos, incluindo uma gama de
atividades complementares e
Conceito da botânica utilizado por Deleuze e
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
integradas que apresentam o mesmo
nível de complexidade. Esse
trabalhador desenvolve atividades
educativas com abordagens e
metodologias variadas, tendo como
objetivo prin
cipal estabelecer um
diálogo com os mais diversos públicos,
a fim de provocar reflexões, criticidade,
incentivando o aprofundamento das
argumentações e interpretações por
meio de bens culturais.
A partir da experiência da
cidade de São Paulo, podemos suge
a seguinte descrição sumária das
atividades exercidas pelo educador de
exposições, compreendendo que não
se trata de uma proposta que
generalize essa atividade em todo o
território nacional: educam públicos
heterogêneos de faixas etárias e
desenvolvime
nto cognitivo variados.
Promovem debates e reflexões por
meio de bens culturais; compartilham
saberes com visitantes; orientam os
públicos. Realizam pesquisas de
conteúdos didático-
pedagógicos e
cultural-
cognitivos (gerais e
específicos); elaboram e prepar
propostas de roteiros e materiais
educativos; planejam, organizam e/ou
realizam ações educativas, artísticas
e/ou culturais como oficinas, palestras
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
integradas que apresentam o mesmo
nível de complexidade. Esse
trabalhador desenvolve atividades
educativas com abordagens e
metodologias variadas, tendo como
cipal estabelecer um
diálogo com os mais diversos públicos,
a fim de provocar reflexões, criticidade,
incentivando o aprofundamento das
argumentações e interpretações por
A partir da experiência da
cidade de São Paulo, podemos suge
rir
a seguinte descrição sumária das
atividades exercidas pelo educador de
exposições, compreendendo que não
se trata de uma proposta que
generalize essa atividade em todo o
território nacional: educam públicos
heterogêneos de faixas etárias e
nto cognitivo variados.
Promovem debates e reflexões por
meio de bens culturais; compartilham
saberes com visitantes; orientam os
públicos. Realizam pesquisas de
pedagógicos e
cognitivos (gerais e
específicos); elaboram e prepar
am
propostas de roteiros e materiais
educativos; planejam, organizam e/ou
realizam ações educativas, artísticas
e/ou culturais como oficinas, palestras
e formação de professores. Organizam
o trabalho cotidiano; garantem o bom
funcionamento do espaço exposi
avaliam estratégias e metodologias
educativas; salvaguardam o acervo
exposto; elaboram materiais de
documentação.
Para pensar a ocupação do
educador de exposições no mundo do
trabalho contemporâneo, é importante
esclarecer as diferenças entre
trabal
ho, ocupação, emprego e
profissão. Entendemos o trabalho
como toda atividade metabólica entre
os seres humanos e a natureza que,
por meio de instrumentos e
ferramentas, modifica a matéria
(externa e interna) e constrói objetos a
partir de um projeto mental
que antecede sua execução (MARX,
2017, p. 211/212). A ocupação deve
ser compreendida como uma atividade
que agrupa membros do mesmo ofício,
que comungam de habilidades,
competências e saberes específicos,
que mobilizam um conjunto de
afazeres t
écnicos, sistemáticos,
ordenados e autônomos (FREIDSON,
1996). o emprego é a ocupação
remunerada ou assalariada, deve ser
avaliada a partir do vínculo trabalhista
estabelecido entre o empregador que
79
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
e formação de professores. Organizam
o trabalho cotidiano; garantem o bom
funcionamento do espaço exposi
tivo;
avaliam estratégias e metodologias
educativas; salvaguardam o acervo
exposto; elaboram materiais de
Para pensar a ocupação do
educador de exposições no mundo do
trabalho contemporâneo, é importante
esclarecer as diferenças entre
ho, ocupação, emprego e
profissão. Entendemos o trabalho
como toda atividade metabólica entre
os seres humanos e a natureza que,
por meio de instrumentos e
ferramentas, modifica a matéria
(externa e interna) e constrói objetos a
partir de um projeto mental
e criativo
que antecede sua execução (MARX,
2017, p. 211/212). A ocupação deve
ser compreendida como uma atividade
que agrupa membros do mesmo ofício,
que comungam de habilidades,
competências e saberes específicos,
que mobilizam um conjunto de
écnicos, sistemáticos,
ordenados e autônomos (FREIDSON,
1996). o emprego é a ocupação
remunerada ou assalariada, deve ser
avaliada a partir do vínculo trabalhista
estabelecido entre o empregador que
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
contrata e o empregado que recebe
remuneração.
Entreta
nto, a definição que mais
nos interessa para qualificar o trabalho
do educador de exposições será a de
profissionalização. De modo geral, a
sociologia das profissões atribui ao
trabalhador alçado à categoria
profissional um lugar de destaque, de
reconhecim
ento e de prestígio social.
De acordo com o levantamento
realizado por Maria da Gloria Bonelli e
Silvana Donatoni (1996), em países
anglo-
saxões, por exemplo, para ser
chamado de profissional, o trabalhador
precisa possuir um diploma do ensino
superior e,
assim, entrar no mercado
de trabalho. Ao pensar a
profissionalização pela perspectiva da
formação escolarizada, Marli Diniz
(1998, p.172) destaca que a noção de
profissão é recente no Brasil, visto que
as primeiras universidades brasileiras
foram criadas n
a década de 1930 e a
maioria das profissões foi
regulamentada após os anos de 1960,
o que torna o debate ainda mais
complexo no território brasileiro.
Segundo Maria Helena
Machado (1995), é possível dizer que
profissão é o que faz as ocupações
reconheci
das, e profissionalização é o
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
contrata e o empregado que recebe
nto, a definição que mais
nos interessa para qualificar o trabalho
do educador de exposições será a de
profissionalização. De modo geral, a
sociologia das profissões atribui ao
trabalhador alçado à categoria
profissional um lugar de destaque, de
ento e de prestígio social.
De acordo com o levantamento
realizado por Maria da Gloria Bonelli e
Silvana Donatoni (1996), em países
saxões, por exemplo, para ser
chamado de profissional, o trabalhador
precisa possuir um diploma do ensino
assim, entrar no mercado
de trabalho. Ao pensar a
profissionalização pela perspectiva da
formação escolarizada, Marli Diniz
(1998, p.172) destaca que a noção de
profissão é recente no Brasil, visto que
as primeiras universidades brasileiras
a década de 1930 e a
maioria das profissões foi
regulamentada após os anos de 1960,
o que torna o debate ainda mais
complexo no território brasileiro.
Segundo Maria Helena
Machado (1995), é possível dizer que
profissão é o que faz as ocupações
das, e profissionalização é o
modo pelo qual estas ocupações se
organizam em busca do
reconhecimento profissional. Para que
uma ocupação seja reconhecida como
profissão é preciso considerar alguns
aspectos: identidade profissional
formada por uma sólida ba
(conjunto de conhecimento esotéricos
e abstratos); autonomia e autoridade
sobre o processo do trabalho;
formação escolarizada, inicial e
continuada, realizada por pares e por
meio de códigos e linguagem própria
da ocupação; especialização do
t
rabalho; associações profissionais de
apoio mútuo, autorregulação e
fiscalização (DINIZ, 1998; DUBAR,
2012; FREIDSON, 1996, 1998;
MACHADO, 1995).
O ponto a destacar é que o
educador de exposições não é
reconhecido legalmente como uma
profissão no mundo do
apesar da alta qualificação requerida.
A descrição deste trabalho não consta
na Classificação Brasileira de
Ocupações (BRASIL, 2010),
documento oficial que organiza e
atualiza a realidade do mercado de
trabalho brasileiro
12
. Embora a CBO
12
A Classificação Brasileira de Ocupações
CBO, instituída por portaria ministerial nº. 397
80
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
modo pelo qual estas ocupações se
organizam em busca do
reconhecimento profissional. Para que
uma ocupação seja reconhecida como
profissão é preciso considerar alguns
aspectos: identidade profissional
formada por uma sólida ba
se cognitiva
(conjunto de conhecimento esotéricos
e abstratos); autonomia e autoridade
sobre o processo do trabalho;
formação escolarizada, inicial e
continuada, realizada por pares e por
meio de códigos e linguagem própria
da ocupação; especialização do
rabalho; associações profissionais de
apoio mútuo, autorregulação e
fiscalização (DINIZ, 1998; DUBAR,
2012; FREIDSON, 1996, 1998;
O ponto a destacar é que o
educador de exposições não é
reconhecido legalmente como uma
profissão no mundo do
trabalho,
apesar da alta qualificação requerida.
A descrição deste trabalho não consta
na Classificação Brasileira de
Ocupações (BRASIL, 2010),
documento oficial que organiza e
atualiza a realidade do mercado de
. Embora a CBO
A Classificação Brasileira de Ocupações
-
CBO, instituída por portaria ministerial nº. 397
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
não tenha
caráter regulatório das
profissões, a ausência de um código
que descreve e classifica o trabalho do
educador de exposições aumenta a
precariedade do trabalho, pois não
parâmetros para compreender do que
trata essa atividade, abrindo espaço
para interpr
etações individuais de cada
gestor ou instituição cultural.
3.
As relações de trabalho
disfarçadas
Apesar de toda a complexidade
da atuação do educador de
exposições explicitada na seção
anterior, suas relações de trabalho são
problemáticas e a precariedade
facilmente constatada, objetiva e
subjetivamente. Como esse trabalho é
frequentemente provisório e
descontinuado pelas instituições
culturais, é comum verificar relações
de emprego disfarçadas e flexíveis,
configuradas “pela tentativa de burlar a
relaçã
o típica de emprego como forma
de 9 de outubro de 2002
, tem por finalidade a
identificação das ocupações no mercado de
trabalho para fins classificatórios junto aos
registros administrativos e domiciliares. Os
efeitos de uniformização pretendida pela
Classificação Brasileira de Ocupações são de
ordem administ
rativa e não se estendem as
relações de trabalho.”. Disponível em:
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/home.
jsf
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
caráter regulatório das
profissões, a ausência de um código
que descreve e classifica o trabalho do
educador de exposições aumenta a
precariedade do trabalho, pois não
parâmetros para compreender do que
trata essa atividade, abrindo espaço
etações individuais de cada
gestor ou instituição cultural.
As relações de trabalho
Apesar de toda a complexidade
da atuação do educador de
exposições explicitada na seção
anterior, suas relações de trabalho são
problemáticas e a precariedade
é
facilmente constatada, objetiva e
subjetivamente. Como esse trabalho é
frequentemente provisório e
descontinuado pelas instituições
culturais, é comum verificar relações
de emprego disfarçadas e flexíveis,
configuradas “pela tentativa de burlar a
o típica de emprego como forma
, tem por finalidade a
identificação das ocupações no mercado de
trabalho para fins classificatórios junto aos
registros administrativos e domiciliares. Os
efeitos de uniformização pretendida pela
Classificação Brasileira de Ocupações são de
rativa e não se estendem as
relações de trabalho.”. Disponível em:
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/home.
de baratear os custos da formalização
e possibilitar maior liberdade ao
empregador na gestão da relação de
emprego” (KREIN, 2007, p.159).
Como o educador de
exposições se caracteriza como um
trabalhador sem profissão, difere
formas de contratação são realizadas.
Nos casos de contratação via CLT, o
departamento de pessoal utiliza
diversas categorias da CBO, segundo
o interesse de cada instituição.
Destacamos, assim, três tendências
de contratação dos educadores de
exposiçõ
es: terceirização, estágio e
contrato de pessoa jurídica (PJ).
No Brasil dos anos de 1990, em
meio aos processos de abertura
econômica e privatização, proliferaram
o aparecimento das empresas de
terceirização, prometendo eficiência e
diminuição dos custos
trabalho (DIEESE, 2007). Essa
tendência não foi diferente no campo
da cultura,muitas empresas de
terceirização passaram a intermediar
as relações de trabalho entre
equipamentos culturais e educadores
de exposições, além de se
responsabilizar
pelas formações
iniciais e continuadas e da gestão das
equipes. Interessante destacar que os
81
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
de baratear os custos da formalização
e possibilitar maior liberdade ao
empregador na gestão da relação de
emprego” (KREIN, 2007, p.159).
Como o educador de
exposições se caracteriza como um
trabalhador sem profissão, difere
ntes
formas de contratação são realizadas.
Nos casos de contratação via CLT, o
departamento de pessoal utiliza
diversas categorias da CBO, segundo
o interesse de cada instituição.
Destacamos, assim, três tendências
de contratação dos educadores de
es: terceirização, estágio e
contrato de pessoa jurídica (PJ).
No Brasil dos anos de 1990, em
meio aos processos de abertura
econômica e privatização, proliferaram
o aparecimento das empresas de
terceirização, prometendo eficiência e
diminuição dos custos
com a força de
trabalho (DIEESE, 2007). Essa
tendência não foi diferente no campo
da cultura,muitas empresas de
terceirização passaram a intermediar
as relações de trabalho entre
equipamentos culturais e educadores
de exposições, além de se
pelas formações
iniciais e continuadas e da gestão das
equipes. Interessante destacar que os
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
proprietários destas empresas de
terceirização, de modo geral,
possuíam vasto conhecimento sobre o
trabalho, pois haviam atuado
também como educadores.
Em seg
uida, a tendência é a
contratação de estudantes por meio de
estágios e sob a alegação de que este
trabalho visa contribuir com a
formação profissional. Atualmente
essa modalidade de contrato é a mais
realizada nos espaços de cultura.
Dentre os muitos prob
salientamos que além de o ser
considerado emprego -
e, portanto, o
estagiário não gozar dos direitos
trabalhistas e previdenciários
tipo de relação de trabalho coloca
sobre os ombros de jovens estudantes
uma enorme carga de
responsabilidad
e que pode ser
adquirida com anos de experiência.
A terceira tendência em
destaque é a admissão como pessoa
jurídica (PJ), a “pejotização”. Essa
nova modalidade encobre a relação de
trabalho ao contratar uma empresa em
vez de um trabalhador e, desse mod
migrar a natureza do contrato para o
Direito Civil, em vez do Direito do
Trabalho (ORBEM, 2016). Se, como
apontado acima, museus e
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
proprietários destas empresas de
terceirização, de modo geral,
possuíam vasto conhecimento sobre o
trabalho, pois haviam atuado
também como educadores.
uida, a tendência é a
contratação de estudantes por meio de
estágios e sob a alegação de que este
trabalho visa contribuir com a
formação profissional. Atualmente
essa modalidade de contrato é a mais
realizada nos espaços de cultura.
Dentre os muitos prob
lemas,
salientamos que além de o ser
e, portanto, o
estagiário não gozar dos direitos
trabalhistas e previdenciários
-, esse
tipo de relação de trabalho coloca
sobre os ombros de jovens estudantes
uma enorme carga de
e que pode ser
adquirida com anos de experiência.
A terceira tendência em
destaque é a admissão como pessoa
jurídica (PJ), a “pejotização”. Essa
nova modalidade encobre a relação de
trabalho ao contratar uma empresa em
vez de um trabalhador e, desse mod
o,
migrar a natureza do contrato para o
Direito Civil, em vez do Direito do
Trabalho (ORBEM, 2016). Se, como
apontado acima, museus e
equipamentos culturais contratavam
Micro e Pequenas Empresas como
forma de triangulação da força de
trabalho, foi a par
tir de 2008 que se
criou a figura do Microempreendedor
Individual
13
(MEI), restringindo o
campo de atuação das empresas de
terceirização. A falsa ideia de
empreendedorismo passa a ser
incluída no trabalho dos educadores
Esse tipo de admissão costuma ser
direcionado a profissionais que
exercem trabalhos de maior
qualificação e complexidade, como
prestação de serviços educacionais,
culturais e artísticos (KREIN, 2007,
p.163).
Na maior parte das formas de
contratação apresentadas acima, a
precariedade do tra
balho do educador
de exposições é patente como será
discutida a seguir. A este trabalhador
são oferecidas relações e condições
de trabalho inadequadas que
dificultam ou impedem o planejamento
pedagógico, o aprimoramento das
possibilidades de atuação, a pro
13
Lei Complementar nº 128/2008
14
Em semelhança ao processo crescente do
empreendedorismo no campo cultural em
Tommasi e Silva (2020).
82
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
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Trabalho cultural e precarização
")
equipamentos culturais contratavam
Micro e Pequenas Empresas como
forma de triangulação da força de
tir de 2008 que se
criou a figura do Microempreendedor
(MEI), restringindo o
campo de atuação das empresas de
terceirização. A falsa ideia de
empreendedorismo passa a ser
incluída no trabalho dos educadores
14
.
Esse tipo de admissão costuma ser
direcionado a profissionais que
exercem trabalhos de maior
qualificação e complexidade, como
prestação de serviços educacionais,
culturais e artísticos (KREIN, 2007,
Na maior parte das formas de
contratação apresentadas acima, a
balho do educador
de exposições é patente como será
discutida a seguir. A este trabalhador
são oferecidas relações e condições
de trabalho inadequadas que
dificultam ou impedem o planejamento
pedagógico, o aprimoramento das
possibilidades de atuação, a pro
jeção
Lei Complementar nº 128/2008
Em semelhança ao processo crescente do
empreendedorismo no campo cultural em
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
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de carreira e o reconhecimento
profissional (SILVA, 2017).
Os dados, a seguir,
correspondem a três tipos de
empregadores: Instituições Privadas
(IPs), Instituições Estatais geridas por
Organizações Sociais (OSs) e
Empresas de Terceirização (ETs). T
escolha foi feita com o intuito de
verificar as formas de contratação
oferecidas pelos equipamentos de
cultura da cidade de São Paulo no
período da pesquisa (2015
Três representantes de cada tipo de
empregadores foram selecionados
Assim, entre
vistamos nove
coordenadores/as pedagógicos/as
responsáveis pela seleção,
contratação e formação dos
educadores de exposições
17
15
As en
trevistas foram realizadas e gravadas
entre dezembro de 2015 e maio de 2016. O
nome dos entrevistados e os respectivos
equipamentos culturais e empresas de
terceirização estão em sigilo.
16
Critérios de seleção: (1) ter equipes
educativas notoriamente conso
lidadas e
reconhecidas; (2) ter práticas educativas e
reflexão pedagógica relevantes (de certo, a
escolha foi subjetiva e não mensurável).
17
Apenas oito entrevistas foram utilizadas
nesse levantamento, pois uma das IPs, depois
de conceder entrevista se rec
usou a assinar a
carta de cessão que autorizava o uso dos
dados informados para a pesquisa de
mestrado, alegando que 70% do conteúdo era
sigiloso. Por e-
mail informou que, caso
houvesse interesse, forneceria nova entrevista
com os 30% restantes (e autoriza
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
de carreira e o reconhecimento
profissional (SILVA, 2017).
Os dados, a seguir,
correspondem a três tipos de
empregadores: Instituições Privadas
(IPs), Instituições Estatais geridas por
Organizações Sociais (OSs) e
Empresas de Terceirização (ETs). T
al
escolha foi feita com o intuito de
verificar as formas de contratação
oferecidas pelos equipamentos de
cultura da cidade de São Paulo no
período da pesquisa (2015
-2016)
15
.
Três representantes de cada tipo de
empregadores foram selecionados
16
.
vistamos nove
coordenadores/as pedagógicos/as
responsáveis pela seleção,
contratação e formação dos
17
.
trevistas foram realizadas e gravadas
entre dezembro de 2015 e maio de 2016. O
nome dos entrevistados e os respectivos
equipamentos culturais e empresas de
Critérios de seleção: (1) ter equipes
lidadas e
reconhecidas; (2) ter práticas educativas e
reflexão pedagógica relevantes (de certo, a
escolha foi subjetiva e não mensurável).
Apenas oito entrevistas foram utilizadas
nesse levantamento, pois uma das IPs, depois
usou a assinar a
carta de cessão que autorizava o uso dos
dados informados para a pesquisa de
mestrado, alegando que 70% do conteúdo era
mail informou que, caso
houvesse interesse, forneceria nova entrevista
com os 30% restantes (e autoriza
do) do
Antes de apresentar alguns
resultados, é necessário salientar duas
importantes ressalvas. Primeira, esta
pesquisa não pretendeu
dados estatísticos, o que significa dizer
que diante da complexidade,
quantidade e diversidade dos
equipamentos culturais da cidade de
São Paulo, não é possível garantir que
esse seja o cenário médio das
contratações. Segunda ressalva, os
dados
obtidos foram colhidos dos
relatos dos coordenadores
entrevistados e não de registros de
contratos ou documentação
equivalente, devendo ser consideradas
as aproximações e generalizações por
eles realizadas.
A partir do
s dados levantados,
foi possível verificar que o tipo de
contratação mais realizada era por
meio do registro na Carteira de
Trabalho e Previdência Social (CTPS),
via Consolidação das Leis Trabalhistas
(CLT), seja esta por tempo
indeterminado ou determinado
roteiro. Decidimos que a recusa seria um dado
de análise tão importante quanto as
informações da morfologia do trabalho. Por
que dados relacionados à relação de trabalho
são considerados sigilosos? Em que medida
divulgar estas informações pode
“comp
rometer” a imagem da instituição privada
em questão? O que pode sugerir o velamento
destes dados?
83
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Antes de apresentar alguns
resultados, é necessário salientar duas
importantes ressalvas. Primeira, esta
pesquisa não pretendeu
apresentar
dados estatísticos, o que significa dizer
que diante da complexidade,
quantidade e diversidade dos
equipamentos culturais da cidade de
São Paulo, não é possível garantir que
esse seja o cenário médio das
contratações. Segunda ressalva, os
obtidos foram colhidos dos
relatos dos coordenadores
entrevistados e não de registros de
contratos ou documentação
equivalente, devendo ser consideradas
as aproximações e generalizações por
s dados levantados,
foi possível verificar que o tipo de
contratação mais realizada era por
meio do registro na Carteira de
Trabalho e Previdência Social (CTPS),
via Consolidação das Leis Trabalhistas
(CLT), seja esta por tempo
indeterminado ou determinado
.
roteiro. Decidimos que a recusa seria um dado
de análise tão importante quanto as
informações da morfologia do trabalho. Por
que dados relacionados à relação de trabalho
são considerados sigilosos? Em que medida
divulgar estas informações pode
rometer” a imagem da instituição privada
em questão? O que pode sugerir o velamento
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
Tabela 1
Fonte: Entrevistas. Elaboração própria.
A relação de trabalho oferecida
ao educador de exposições em 2016
era a seguinte: o salário variava entre
R$1.610,00 e R$ 2.750,00; a jornada
de trabalho de 20 a 40 horas
semanais; os direitos trabalhistas
(férias, 13º salário, vale-
transporte) e
previdenciários (INSS, FGTS) eram
garantidos em contratos CLT conforme
legislação, eventualmente acrescidos
de alguns benefícios pactuados na
Convençã
o Coletiva do Trabalho (vale
refeição/alimentação; assistência
médica/odontológica; seguro de vida).
O valor médio da hora-
aula era de R$
15,78/h
18
, correspondendo ao valor
pago aos professores do Estado de
São Paulo, cujo piso salarial era de R$
18
Somou-
se a remuneração paga por hora
dos oito ECs participantes, dividindo também
por oito.
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
Tabela 1
- Regime de Contratação
Fonte: Entrevistas. Elaboração própria.
A relação de trabalho oferecida
ao educador de exposições em 2016
era a seguinte: o salário variava entre
R$1.610,00 e R$ 2.750,00; a jornada
de trabalho de 20 a 40 horas
semanais; os direitos trabalhistas
transporte) e
previdenciários (INSS, FGTS) eram
garantidos em contratos CLT conforme
legislação, eventualmente acrescidos
de alguns benefícios pactuados na
o Coletiva do Trabalho (vale
-
refeição/alimentação; assistência
médica/odontológica; seguro de vida).
aula era de R$
, correspondendo ao valor
pago aos professores do Estado de
São Paulo, cujo piso salarial era de R$
se a remuneração paga por hora
dos oito ECs participantes, dividindo também
15,00/h pa
ra professores do Ensino
Fundamental II, segundo o Sindicato
dos Professores de São Paulo.
Alguns destaques interessantes:
a IP que pagava o menor salário (r$
1.610,00) oferecia, ao mesmo tempo,
a melhor remuneração (R$20,15/hora)
-
mas não garantia nenhu
benefício, pois o contrato era via MEI;
embora todas as OSs oferecessem
contratos por prazo indeterminado,
remuneravam seus educadores abaixo
da média (R$14,00/hora);
consideramos possível declarar a
inexistência do plano de carreira em
todos
os equipamentos culturais,
levando em consideração dois
aspectos gerais: 1. as contratações
são temporárias, rotativas e
intermitentes, não oferecendo
84
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
ra professores do Ensino
Fundamental II, segundo o Sindicato
dos Professores de São Paulo.
Alguns destaques interessantes:
a IP que pagava o menor salário (r$
1.610,00) oferecia, ao mesmo tempo,
a melhor remuneração (R$20,15/hora)
mas não garantia nenhu
m direito ou
benefício, pois o contrato era via MEI;
embora todas as OSs oferecessem
contratos por prazo indeterminado,
remuneravam seus educadores abaixo
da média (R$14,00/hora);
consideramos possível declarar a
inexistência do plano de carreira em
os equipamentos culturais,
levando em consideração dois
aspectos gerais: 1. as contratações
são temporárias, rotativas e
intermitentes, não oferecendo
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
garantias de consolidação e
crescimento profissional; 2. mesmo
quando contratados por prazo
indeterminado
, as atividades,
responsabilidades e salários dos
educadores de exposição
permanecem com baixa mobilidade
(no caso dos salários, as alterações se
devem ao dissídio coletivo).
Os resultados podem sugerir
uma contradição, uma vez que se
tenta apresentar como
precários os
vínculos trabalhistas estabelecidos
entre contratante e contratado nos
espaços de cultura. Cabe, portanto,
uma observação mais cuidadosa por
tipos de contratantes.
As
Instituições Privadas (IP)
são as que apresentam resultados
mais objetivos
quando levamos em
conta as relações de trabalho
precárias e disfarçadas. Aqui parece
fácil compreender esse tipo de
contratação, pois, embora essas
instituições se apresentem como
entidades sem fins lucrativos,
funcionam sob a ótica de gestão de
uma empres
a privada. Isso significa
dizer que faz parte de sua lógica
administrativa promover ações que
possibilitem o maior retorno possível
de seus investimentos (CARRION,
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
garantias de consolidação e
crescimento profissional; 2. mesmo
quando contratados por prazo
, as atividades,
responsabilidades e salários dos
educadores de exposição
permanecem com baixa mobilidade
(no caso dos salários, as alterações se
devem ao dissídio coletivo).
Os resultados podem sugerir
uma contradição, uma vez que se
precários os
vínculos trabalhistas estabelecidos
entre contratante e contratado nos
espaços de cultura. Cabe, portanto,
uma observação mais cuidadosa por
Instituições Privadas (IP)
são as que apresentam resultados
quando levamos em
conta as relações de trabalho
precárias e disfarçadas. Aqui parece
fácil compreender esse tipo de
contratação, pois, embora essas
instituições se apresentem como
entidades sem fins lucrativos,
funcionam sob a ótica de gestão de
a privada. Isso significa
dizer que faz parte de sua lógica
administrativa promover ações que
possibilitem o maior retorno possível
de seus investimentos (CARRION,
2000). Essa lucratividade, mesmo sem
um destinatário específico, amplia a
visibilidade e o c
ampo de atuação
destas instituições. Desse modo, é
esperado que haja um esforço
administrativo para economizar os
gastos em todos os setores, incluindo
a força de trabalho. Cabe lembrar que
apenas duas instituições permitiram a
divulgação dos dados e esse
não significa a ausência de
contratações formalizadas por parte
das IPs.
As
Organizações Sociais
(OSs),
“instituições não
governamentais, associações ou
fundações de direito privado e sem fins
lucrativos que atuam na área
cultural”
19
, são entidade
para gerenciar museus e
equipamentos culturais do Estado de
São Paulo. A Secretaria de Cultura e
Economia Criativa, por meio de
Convocações Públicas, contrata essas
empresas para gerenciar seus
equipamentos estatais. Quando
examinamos os resu
19
Portal Transparência Cultura, da Secretaria
de Cultura e Econo
mia Criativa. Disponível
em:
http://www.transparenciacultura.sp.gov.br/orga
nizacoes-sociais-de-
cultura/o
Acesso em: 24 mar. 2021.
85
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
2000). Essa lucratividade, mesmo sem
um destinatário específico, amplia a
ampo de atuação
destas instituições. Desse modo, é
esperado que haja um esforço
administrativo para economizar os
gastos em todos os setores, incluindo
a força de trabalho. Cabe lembrar que
apenas duas instituições permitiram a
divulgação dos dados e esse
resultado
não significa a ausência de
contratações formalizadas por parte
Organizações Sociais
“instituições não
-
governamentais, associações ou
fundações de direito privado e sem fins
lucrativos que atuam na área
, são entidade
s contratadas
para gerenciar museus e
equipamentos culturais do Estado de
São Paulo. A Secretaria de Cultura e
Economia Criativa, por meio de
Convocações Públicas, contrata essas
empresas para gerenciar seus
equipamentos estatais. Quando
examinamos os resu
ltados obtidos
Portal Transparência Cultura, da Secretaria
mia Criativa. Disponível
http://www.transparenciacultura.sp.gov.br/orga
cultura/o
-que-sao/.
Acesso em: 24 mar. 2021.
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exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
sobre as relações de trabalho dos
educadores das OSs, vemos que as
contratações são realizadas via CLT
por prazo indeterminado. Esse tipo de
relação contratual garante aos
trabalhadores mais estabilidade
financeira, maior permanência no
camp
o do trabalho e o acesso a todos
os direitos trabalhistas e
previdenciários garantidos por lei.
Contudo dois aspectos
dignos de nota. A primeira, mais
aparente, é que podemos entender
essa contratação como uma relação
trilateral de trabalho (KREIN, 200
seja, uma forma de contratação
terceirizada. Ter um contrato
terceirizado significa que o trabalhador
(1) é contratado por seu empregador
(2) para desempenhar sua ocupação
em uma empresa (3) que contratou
seu empregador (2), o que configura
uma tria
ngulação. A segunda nota,
mais submersa, diz respeito à
estabilidade do vínculo trabalhista
como resultado padrão desta tipologia.
Embora não haja nenhuma cláusula
regulamentar que determine um
quadro permanente de funcionários,
um dos critérios avaliados
20
Na última Convocação Pública que recebeu
propostas para gerenciar o Museu da Língua
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
sobre as relações de trabalho dos
educadores das OSs, vemos que as
contratações são realizadas via CLT
por prazo indeterminado. Esse tipo de
relação contratual garante aos
trabalhadores mais estabilidade
financeira, maior permanência no
o do trabalho e o acesso a todos
os direitos trabalhistas e
previdenciários garantidos por lei.
Contudo dois aspectos
dignos de nota. A primeira, mais
aparente, é que podemos entender
essa contratação como uma relação
trilateral de trabalho (KREIN, 200
7), ou
seja, uma forma de contratação
terceirizada. Ter um contrato
terceirizado significa que o trabalhador
(1) é contratado por seu empregador
(2) para desempenhar sua ocupação
em uma empresa (3) que contratou
seu empregador (2), o que configura
ngulação. A segunda nota,
mais submersa, diz respeito à
estabilidade do vínculo trabalhista
como resultado padrão desta tipologia.
Embora não haja nenhuma cláusula
regulamentar que determine um
quadro permanente de funcionários,
um dos critérios avaliados
20
nas
Na última Convocação Pública que recebeu
propostas para gerenciar o Museu da Língua
propostas de gestão é se a OS prevê
um número suficiente de trabalhadores
para a realização das metas
projetadas. Esse critério nos ajuda a
entender melhor o motivo pelo qual as
OSs realizam vínculos mais
permanentes com seus funcionários
ao menos o
s compreendidos como
executores de atividade
As
Empresas de Terceirização
(ET)
costumam ser contratadas pelos
equipamentos culturais para prestarem
seus serviços educativos, culturais e
artísticos para projetos específicos.
Esse é um dos motivos pelo
contratam via CLT por prazo
determinado: seus contratos também
são temporários. Nesse caso, o
Portuguesa (RESOLUÇÃO SC N.° 26/2019,
DE 13 DE DEZEMBRO DE 2019), temos como
resultado de avliação: “dimensionamento das
equipes para alcance das metas, por
programa ou ei
xo de trabalho, com indicação
das iniciativas previstas de capacitação
continuada dos funcionários em suas áreas de
atuação, bem como indicação da rotina de
treinamentos periódicos que será estabelecida
referente à segurança e salvaguarda de locais
de atua
ção, públicos e acervos, e da rotina de
treinamento periódico associado a códigos de
ética, integridade e conduta.” (Art. 13º, Inciso
II, Alínea “e”). Disponível em:
http://www.transparenciacultura.sp.gov.br/eess
eers/2015/09/Resolu%C3%A7%C3%A3o_SC_
26_2019_MLP.pdf.
Acesso em
21
Ver Contrato de Gestão nº 01/2020, Anexo II
e III (Museu da Língua Portuguesa).
Disponível em:
<http://ww
w.transparenciacultura.sp.gov.br/mu
seu-da-lingua-portuguesa
-
Acesso em: 24 mar. 2021.
86
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
propostas de gestão é se a OS prevê
um número suficiente de trabalhadores
para a realização das metas
projetadas. Esse critério nos ajuda a
entender melhor o motivo pelo qual as
OSs realizam vínculos mais
permanentes com seus funcionários
-
s compreendidos como
executores de atividade
-fim
21
.
Empresas de Terceirização
costumam ser contratadas pelos
equipamentos culturais para prestarem
seus serviços educativos, culturais e
artísticos para projetos específicos.
Esse é um dos motivos pelo
s quais
contratam via CLT por prazo
determinado: seus contratos também
são temporários. Nesse caso, o
Portuguesa (RESOLUÇÃO SC N.° 26/2019,
DE 13 DE DEZEMBRO DE 2019), temos como
resultado de avliação: “dimensionamento das
equipes para alcance das metas, por
xo de trabalho, com indicação
das iniciativas previstas de capacitação
continuada dos funcionários em suas áreas de
atuação, bem como indicação da rotina de
treinamentos periódicos que será estabelecida
referente à segurança e salvaguarda de locais
ção, públicos e acervos, e da rotina de
treinamento periódico associado a códigos de
ética, integridade e conduta.” (Art. 13º, Inciso
II, Alínea “e”). Disponível em:
http://www.transparenciacultura.sp.gov.br/eess
eers/2015/09/Resolu%C3%A7%C3%A3o_SC_
Acesso em
: 24 mar. 2021.
Ver Contrato de Gestão nº 01/2020, Anexo II
e III (Museu da Língua Portuguesa).
w.transparenciacultura.sp.gov.br/mu
-
2020-2025/>.
Acesso em: 24 mar. 2021.
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
necessidade de “revelar” o caráter
triangular da relação do trabalho,
entretanto compreender a escolha
gerencial pela terceirização para que
possa au
xiliar na análise dos
resultados. Segundo Krein (2007) a
terceirização da mão de obra beneficia
as grandes empresas tanto no
ajustamento às oscilações de
demanda descontinuadas quanto na
redução das despesas contratuais.
Assim, equipamentos culturais de
gr
ande porte, mesmo com ampla
oferta de exposições, podem
economizar custos com educadores
nas semanas de desmontagem e
montagem de exposições. Além disso,
não precisam garantir direitos
trabalhistas, uma vez que temporários
não são incluídos nas “normas
col
etivas de trabalho e dos benefícios
da categoria principal” (KREIN, 2007,
p.128).
Mesmo considerando que a
contratação temporária carrega em si
a expressão da precariedade, essa
relação formalizada via CLT amortece,
minimamente, os impactos da
supressão d
as garantias. Ela poderia
ser pior. Mas por que essas ETs
admitiam via CLT e não por outras
formas atípicas de contratação?
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
necessidade de “revelar” o caráter
triangular da relação do trabalho,
entretanto compreender a escolha
gerencial pela terceirização para que
xiliar na análise dos
resultados. Segundo Krein (2007) a
terceirização da mão de obra beneficia
as grandes empresas tanto no
ajustamento às oscilações de
demanda descontinuadas quanto na
redução das despesas contratuais.
Assim, equipamentos culturais de
ande porte, mesmo com ampla
oferta de exposições, podem
economizar custos com educadores
nas semanas de desmontagem e
montagem de exposições. Além disso,
não precisam garantir direitos
trabalhistas, uma vez que temporários
não são incluídos nas “normas
etivas de trabalho e dos benefícios
da categoria principal” (KREIN, 2007,
Mesmo considerando que a
contratação temporária carrega em si
a expressão da precariedade, essa
relação formalizada via CLT amortece,
minimamente, os impactos da
as garantias. Ela poderia
ser pior. Mas por que essas ETs
admitiam via CLT e não por outras
formas atípicas de contratação?
Considerando os dados verdadeiros, a
hipótese é que, tendo atuado como
educadores no passado e
compreendendo a vulnerabilidade à
qual estes trabalhadores estão
expostos, os proprietários destas
empresas tentam minimizar essa difícil
situação. Outra hipótese possível é a
de que os entrevistados não
partilharam todas as formas de
contratação.
Considerações finais
No final do século
acompanhamos transformações
econômicas e sociais que
possibilitaram um novo cenário
educativo nos equipamentos culturais.
Os exemplos expressos neste artigo
apresentam como o Estado brasileiro
produziu as condições legais
necessárias para justificar a
a expansão de novos mercados para a
cultura. Sobre isso, assinalamos a
ampliação das
leis de incentivo fiscal
que permitiu a apropriação da arte e
da cultura enquanto mercadoria; a
publicização
que possibilitou a criação
das OSs, repassando à sociedade
civil
22
a responsabilidade de promover
22
É importante nos perguntarmos quem são
esses representantes da sociedade civil e
87
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Considerando os dados verdadeiros, a
hipótese é que, tendo atuado como
educadores no passado e
compreendendo a vulnerabilidade à
qual estes trabalhadores estão
expostos, os proprietários destas
empresas tentam minimizar essa difícil
situação. Outra hipótese possível é a
de que os entrevistados não
partilharam todas as formas de
Considerações finais
No final do século
XX,
acompanhamos transformações
econômicas e sociais que
possibilitaram um novo cenário
educativo nos equipamentos culturais.
Os exemplos expressos neste artigo
apresentam como o Estado brasileiro
produziu as condições legais
necessárias para justificar a
criação e
a expansão de novos mercados para a
cultura. Sobre isso, assinalamos a
leis de incentivo fiscal
que permitiu a apropriação da arte e
da cultura enquanto mercadoria; a
que possibilitou a criação
das OSs, repassando à sociedade
a responsabilidade de promover
É importante nos perguntarmos quem são
esses representantes da sociedade civil e
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
e fomentar condições de acesso e de
democratização de conteúdos
artísticos e culturais; o
cultural
que fomentou as
megaexposições que, patrocinadas
por grandes empresas e instituições
bancárias, modificaram a rota de
circulação simbólica das artes,
aumentando expressivamente a
visitação aos equipamentos culturais
para justificar um maior aporte
financeiro (mas não necessariamente
por meio das práticas
críticas e continuadas). O crescimento
dos setores educativos nas exposições
serviu para os fins que aquela
conjuntura política se pretendia: a
“democratização” do acesso a diversos
públicos.
Quando verificamos os
conteúdos do trabalho do educ
exposições nos deparamos com uma
atividade laboral bastante complexa,
especializada e qualificada. Essa
ocupação requer deste trabalhador
conhecimentos muito amplos sobre
arte e educação, visto que precisam
oferecer suas ações educativas para
um pe
rfil de público muito variável e
diverso, em exposições igualmente
como definem quais conteúdos devem ser
acessados e democratizados?
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
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PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
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(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
e fomentar condições de acesso e de
democratização de conteúdos
artísticos e culturais; o
marketing
que fomentou as
megaexposições que, patrocinadas
por grandes empresas e instituições
bancárias, modificaram a rota de
circulação simbólica das artes,
aumentando expressivamente a
visitação aos equipamentos culturais
para justificar um maior aporte
financeiro (mas não necessariamente
educativas
críticas e continuadas). O crescimento
dos setores educativos nas exposições
serviu para os fins que aquela
conjuntura política se pretendia: a
“democratização” do acesso a diversos
Quando verificamos os
conteúdos do trabalho do educ
ador de
exposições nos deparamos com uma
atividade laboral bastante complexa,
especializada e qualificada. Essa
ocupação requer deste trabalhador
conhecimentos muito amplos sobre
arte e educação, visto que precisam
oferecer suas ações educativas para
rfil de público muito variável e
diverso, em exposições igualmente
como definem quais conteúdos devem ser
complexas. Os processos seletivos
são exigentes e pedem como pré
requisito formação de nível superior,
ainda que esteja em andamento, no
caso dos estagiários. Contudo, ainda
que executem at
conteúdo muito semelhante, muitos
são os entendimentos e as avaliações
que os equipamentos culturais fazem a
respeito deste trabalho, variando em
tipos de contrato, remuneração e
tempo de contratação.
Como vimos, poucos
empregadores celebram
CLT por tempo indeterminado. Ao
contrário, oferecem trabalhos
temporários e por projetos que duram
alguns meses, com relações de
emprego disfarçadas (estágio,
terceirização e pejotização) que
acabam resultando em ausência de
estabilidade finan
impossibilidade de projeção de carreira
profissional. Desse modo, poucos
trabalhadores conseguem se manter
atuantes nesse campo e acabam
migrando para outras áreas, como o
da educação formal.
Essa ocupação não está
incluída na CBO e sua ausência é
anterior à regulamentação profissional.
Assim, podemos afirmar que o
88
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
complexas. Os processos seletivos
são exigentes e pedem como pré
-
requisito formação de nível superior,
ainda que esteja em andamento, no
caso dos estagiários. Contudo, ainda
que executem at
ividades com
conteúdo muito semelhante, muitos
são os entendimentos e as avaliações
que os equipamentos culturais fazem a
respeito deste trabalho, variando em
tipos de contrato, remuneração e
tempo de contratação.
Como vimos, poucos
empregadores celebram
contrato via
CLT por tempo indeterminado. Ao
contrário, oferecem trabalhos
temporários e por projetos que duram
alguns meses, com relações de
emprego disfarçadas (estágio,
terceirização e pejotização) que
acabam resultando em ausência de
estabilidade finan
ceira e
impossibilidade de projeção de carreira
profissional. Desse modo, poucos
trabalhadores conseguem se manter
atuantes nesse campo e acabam
migrando para outras áreas, como o
Essa ocupação não está
incluída na CBO e sua ausência é
anterior à regulamentação profissional.
Assim, podemos afirmar que o
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
educador de exposições não passou
pelo processo de precarização, afinal,
não tendo uma profissão formalizada e
reconhecida, nem mesmo acessou
direitos trabalhistas e previdenciários
como
categoria profissional. O não
reconhecimento dessa ocupação
dificulta ainda a obtenção de dados
estatísticos sobre este trabalhador.
Pesquisas domésticas e censitárias
como a Relação Anual de Informações
Sociais (Rais), a Pesquisa Nacional
por Amostra de
Domicílio (Pnad) e o
Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), que
mapeiam emprego, desemprego e
renda baseiam suas análises nas
informações obtidas via CBO.
O sucateamento da Cultura, em
seus recorrentes e progressivos
contingenciamentos de verba, tem
provocado demissões nos quadros de
funcionários. Em 2020, com o
fechamento dos equipamentos
culturais devido ao contexto de
pandemia da Covid-
19, vimos irromper
o número de educadores demitidos ou
desempregados, os quais viviam as
incertezas do mundo do trabalho nos
tempos de “pleno emprego flexível".
Poucos estudos se debruçaram
sobre essa problemática pelo viés
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
educador de exposições não passou
pelo processo de precarização, afinal,
não tendo uma profissão formalizada e
reconhecida, nem mesmo acessou
direitos trabalhistas e previdenciários
categoria profissional. O não
-
reconhecimento dessa ocupação
dificulta ainda a obtenção de dados
estatísticos sobre este trabalhador.
Pesquisas domésticas e censitárias
como a Relação Anual de Informações
Sociais (Rais), a Pesquisa Nacional
Domicílio (Pnad) e o
Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), que
mapeiam emprego, desemprego e
renda baseiam suas análises nas
informações obtidas via CBO.
O sucateamento da Cultura, em
seus recorrentes e progressivos
contingenciamentos de verba, tem
provocado demissões nos quadros de
funcionários. Em 2020, com o
fechamento dos equipamentos
culturais devido ao contexto de
19, vimos irromper
o número de educadores demitidos ou
desempregados, os quais viviam as
incertezas do mundo do trabalho nos
tempos de “pleno emprego flexível".
Poucos estudos se debruçaram
sobre essa problemática pelo viés
apresentado neste artigo, sendo esse
um campo d
e exploração bastante
fecundo para futuras investigações
qualitativas e quantitativas. Por isso,
muitas perguntas para serem
respondidas: Quantas pessoas atuam
como educadores de exposição em
território nacional? Qual o tipo de
contratação mais comum of
pelos equipamentos culturais
brasileiros? É possível verificar a
importância deste trabalho para a
democratização cultural? Nesse artigo,
pretendemos apresentar algumas
considerações acerca do trabalhador
de espaços expositivos e propor uma
reflexã
o sobre sua importância frente
ao projeto de acesso à cultura.
Referências bibliográficas
ALENCAR, Valéria Peixoto de.
mediador cultural:
sobre a formação e profissionalização
de educadores de museus e
exposições de arte. 2008. 97 f.
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sociologia do trabalho. Londrina:
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ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso
d
e. Estudo de caso em pesquisa e
89
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
apresentado neste artigo, sendo esse
e exploração bastante
fecundo para futuras investigações
qualitativas e quantitativas. Por isso,
muitas perguntas para serem
respondidas: Quantas pessoas atuam
como educadores de exposição em
território nacional? Qual o tipo de
contratação mais comum of
erecida
pelos equipamentos culturais
brasileiros? É possível verificar a
importância deste trabalho para a
democratização cultural? Nesse artigo,
pretendemos apresentar algumas
considerações acerca do trabalhador
de espaços expositivos e propor uma
o sobre sua importância frente
ao projeto de acesso à cultura.
Referências bibliográficas
:
ALENCAR, Valéria Peixoto de.
O
considerações
sobre a formação e profissionalização
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exposições de arte. 2008. 97 f.
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