MELO, Ricardo Moreno de. Quem de lembrar
lembrado: disputas simbólicas pela memória
Machadinha/RJ. PragMATIZES -
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 396-
disse ainda que à
Mariana já tinha visto o que tinha sido
feito e teria afirmado que foi um
rompimento de acordo. Foi
argumentado por parte das
coordenadoras do projeto que não
foram elas que tinham feito as
mudanças e sim a “comunidade” que
não via sentid
própria Alexandra Moreira, segundo
relatos de algumas pessoas presentes,
esteve lá no momento do lançamento
do livro. Eu estava dentro do Memorial
e não pude ver sua reação, mas
posteriormente ela chegou só
porta do espaço e não entrou, o que
foi interpretado pelos envolvidos no
evento como um gesto que denota
desaprovação9.
Em síntese, o que aconteceu, e
aqui tento fazer uma ponte para a
parte em que aprofundo os aspectos
mais analíticos desta seção,
uma instituição foi pensada, o
Memorial, para ao mesmo tempo
integrar um circuito turístico que
9
Tempos depois estive com a própria
Alexandra para uma entrevista e ela me disse
que não esteve lá na
quela noite. Eu lhe disse
que as pessoas da comunidade tinham me
dito que a viram, e que, na perspectiva deles,
ela não quis entrar no Memorial. Ela disse
que essa informação não procedia.
e o que deve ser
ocial no quilombo
-Americana de Estudos
20, mar. 2022. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
Mariana já tinha visto o que tinha sido
feito e teria afirmado que foi um
rompimento de acordo. Foi
argumentado por parte das
coordenadoras do projeto que não
foram elas que tinham feito as
mudanças e sim a “comunidade” que
própria Alexandra Moreira, segundo
relatos de algumas pessoas presentes,
esteve lá no momento do lançamento
do livro. Eu estava dentro do Memorial
e não pude ver sua reação, mas
posteriormente ela chegou só
até a
porta do espaço e não entrou, o que
foi interpretado pelos envolvidos no
evento como um gesto que denota
Em síntese, o que aconteceu, e
aqui tento fazer uma ponte para a
parte em que aprofundo os aspectos
mais analíticos desta seção,
é que
uma instituição foi pensada, o
Memorial, para ao mesmo tempo
integrar um circuito turístico que
Tempos depois estive com a própria
Alexandra para uma entrevista e ela me disse
quela noite. Eu lhe disse
que as pessoas da comunidade tinham me
dito que a viram, e que, na perspectiva deles,
ela não quis entrar no Memorial. Ela disse
-me
que essa informação não procedia.
comporia o que viria a ser chamado de
Complexo Cultural de Machadinha
mas também ser uma espécie de
instituição mantenedora ou guardiã da
memória local.
pesquisa, que em conversa com
Darlene Monteiro, então integrante da
ONG 3H, responsável pela reativação
de várias práticas culturais tradicionais
da comunidade com intenção de
geração de renda mas também na
intenção de ser uma espéc
retomada de práticas históricas ou
tradicionais da comunidade, que havia
a intenção de se construir um espaço
dessa natureza. Lembro que ainda
nessa época o nome “memorial” já
estava definido. Acontece que a
instituição foi outorgada à comunidade
e e
sta teve pouca ingerência nos
modos através dos quais a memória
iria ser produzida e gerida. A pergunta
que estava subliminarmente colocada
era: o que deve ser lembrado? Junto
com a instituição veio um pacote de
10
A expressão “Complexo Cultural de
Machadinha” foi um termo cunh
público municipal com vistas a finalidades
turísticas. Ela envolve o casario da antiga
senzala, as ruínas da casa grande e a capela
Nossa Senhora do Patrocínio. Como aponta
Soneghetti (2016), esta expressão encontra
pouco uso entre os morado
utilizada pela Prefeitura de Quissamã e pelas
pessoas da comunidade que estão mais
envolvidas em um diálogo com a prefeitura.
412
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
comporia o que viria a ser chamado de
Complexo Cultural de Machadinha
10,
mas também ser uma espécie de
instituição mantenedora ou guardiã da
pesquisa, que em conversa com
Darlene Monteiro, então integrante da
ONG 3H, responsável pela reativação
de várias práticas culturais tradicionais
da comunidade com intenção de
geração de renda mas também na
intenção de ser uma espéc
ie de
retomada de práticas históricas ou
tradicionais da comunidade, que havia
a intenção de se construir um espaço
dessa natureza. Lembro que ainda
nessa época o nome “memorial” já
estava definido. Acontece que a
instituição foi outorgada à comunidade
sta teve pouca ingerência nos
modos através dos quais a memória
iria ser produzida e gerida. A pergunta
que estava subliminarmente colocada
era: o que deve ser lembrado? Junto
com a instituição veio um pacote de
A expressão “Complexo Cultural de
Machadinha” foi um termo cunh
ado pelo poder
público municipal com vistas a finalidades
turísticas. Ela envolve o casario da antiga
senzala, as ruínas da casa grande e a capela
Nossa Senhora do Patrocínio. Como aponta
Soneghetti (2016), esta expressão encontra
pouco uso entre os morado
res, sendo mais
utilizada pela Prefeitura de Quissamã e pelas
pessoas da comunidade que estão mais
envolvidas em um diálogo com a prefeitura.