FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com o “Cultura
Zona Oeste no Rio de Janeiro
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i22.51063
Resumo:
Este artigo trata de um recorte de uma pesquisa participante e tem como
objetivo discutir pistas contra
organização de um coletivo cultural de jovens urbanos
cidade do Rio de Janeiro. Os saberes compartilhados e discutidos aqui partiram de
uma produção coletiva e horizontal, inspirada na Investigação Ação
Orlando Fals Borda. Esta escolha metodológica parte de um comp
social com os participantes e suas pautas sociopolíticas. O desenvolvimento do
artigo perpassa pelos modos de organização e atuação do coletivo Cultura Zona
Oeste no território, pelas suas produções artístico culturais e as dimensões políti
nelas pautadas, articulando, desta forma, teorias e conceitos que nos possibilitam
refletir as ações contra-
coloniais presentes na movimentação do coletivo pelo
território.
Palavras-chaves: Contra-
colonialidades
jovens urbanos periféricos
; p
1 Jean Vitor Alves Fontes.
Psicólogo. Doutorando em Psicossociologia
Social no Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil. E
jean.vitor37@gmail.com -
https://
2 Beatriz Akemi Takeiti
. Doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC/SP), docente do Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina e do
Programa de Pós-
Graduação em Psic
Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil. E
biatakeiti@medicina.ufrj.br -
https://orcid.org/0000
3 Ricardo Lopes Correia
. Doutor em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do ABC
(FMABC, Santo André), docente do Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina
e do Programa de Pós-Gr
aduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social do
Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil. E
ricardo@medicina.ufrj.br -
https://orcid.org/0000
Recebido em 25/08/2021,
aceito para publicação em
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com o “Cultura
Zona Oeste” no Rio de Janeiro
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i22.51063
Jean Vitor Alves Fontes
Beatriz Akemi Takeiti
Ricardo Lopes Correia
Este artigo trata de um recorte de uma pesquisa participante e tem como
objetivo discutir pistas contra
-
coloniais nas ações, movimentos e modos de
organização de um coletivo cultural de jovens urbanos
periféricos da zona oeste da
cidade do Rio de Janeiro. Os saberes compartilhados e discutidos aqui partiram de
uma produção coletiva e horizontal, inspirada na Investigação Ação
Orlando Fals Borda. Esta escolha metodológica parte de um comp
social com os participantes e suas pautas sociopolíticas. O desenvolvimento do
artigo perpassa pelos modos de organização e atuação do coletivo Cultura Zona
Oeste no território, pelas suas produções artístico culturais e as dimensões políti
nelas pautadas, articulando, desta forma, teorias e conceitos que nos possibilitam
coloniais presentes na movimentação do coletivo pelo
colonialidades
; decolonialidade; c
oletivos
; p
sicossociologia de comunidades.
Psilogo. Doutorando em Psicossociologia
de Comunidades e Ecologia
Social no Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil. E
https://
orcid.org/0000-0001-5542-0852.
. Doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC/SP), docente do Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina e do
Graduação em Psic
ossociologia de Comunidades e Ecologia Social no Instituto de
Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil. E
-mail:
https://orcid.org/0000
-0003-2847-0787
. Doutor em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do ABC
(FMABC, Santo André), docente do Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina
aduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social do
Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil. E
https://orcid.org/0000
-0003-3108-2224
aceito para publicação em
25/01/20
22 e disponibilizado online em
01/03/2022.
137
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com o “Cultura
Jean Vitor Alves Fontes
1
Beatriz Akemi Takeiti
2
Ricardo Lopes Correia
3
Este artigo trata de um recorte de uma pesquisa participante e tem como
coloniais nas ações, movimentos e modos de
periféricos da zona oeste da
cidade do Rio de Janeiro. Os saberes compartilhados e discutidos aqui partiram de
uma produção coletiva e horizontal, inspirada na Investigação Ação
-Participante de
Orlando Fals Borda. Esta escolha metodológica parte de um comp
romisso ético e
social com os participantes e suas pautas sociopolíticas. O desenvolvimento do
artigo perpassa pelos modos de organização e atuação do coletivo Cultura Zona
Oeste no território, pelas suas produções artístico culturais e as dimensões políti
cas
nelas pautadas, articulando, desta forma, teorias e conceitos que nos possibilitam
coloniais presentes na movimentação do coletivo pelo
oletivos
culturais; arte;
de Comunidades e Ecologia
Social no Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil. E
-mail:
. Doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC/SP), docente do Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina e do
ossociologia de Comunidades e Ecologia Social no Instituto de
. Doutor em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do ABC
(FMABC, Santo André), docente do Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina
aduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social do
Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil. E
-mail:
22 e disponibilizado online em
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
Contra-
colonialidades en colectivos juvenis: una experiencia con el Cultura
Zona Oeste” en Rio de Janeiro
Resumen:
Este artículo es parte de una investigación participante y tiene
objetivo discutir pistas contra
organización de un
colectivo cultural de jóvenes urbanos periféricos
Oeste de Río de Janeiro. El conocimiento compartido y discutido aqui partió de una
producción
colectiva y horizontal, inspirada
de Orlando Fals Borda, esta elección metodológica parte de
social con
los participantes y sus agendas sociopolíticas. El desarrollo
permeal
os modos de organización y actuación
el
territorio, sus producciones artísticas culturales y las dimensiones políticas
basadas en
ellas, y finalmente,
permiten discutir lãs
acciones
Palabras claves: Contra-c
olonialidad
juventud urbana periférica
; p
Counter-colonialities
in youth collectives: an experience with the “West Zone
Culture” in Rio de Janeiro
Abstract:
This article is part of a participant research and aims to discuss counter
colonial clues in the actions, movements and modes of organization of a cultural
collective of peripheral urban youths in the West Zone of Rio de Janeiro. The
knowledge shared and d
iscussed here departed from a collective and horizontal
production, inspired in the Participating Action Research by Orlando Fals
methodological choice starts from an ethical and social commitment with the
participants and their sociopolitical
permeates the modes of organization and performance of the Cultura Zona Oeste
collective in the territory, its cultural artistic productions and the political dimensions
based on them, and finally, the articulations
allow us to discuss about counter
collective.
Keywords: Counter-
colonialities
urban youth; p
sychosociology
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
colonialidades en colectivos juvenis: una experiencia con el Cultura
Zona Oeste en Rio de Janeiro
Este artículo es parte de una investigación participante y tiene
objetivo discutir pistas contra
-coloniales en las
acciones, movimientos y modos de
colectivo cultural de jóvenes urbanos periféricos
Oeste de Río de Janeiro. El conocimiento compartido y discutido aqui partió de una
colectiva y horizontal, inspirada
en la Investigación
Acción Participativa
de Orlando Fals Borda, esta elección metodológica parte de
un
compromiso ético y
los participantes y sus agendas sociopolíticas. El desarrollo
os modos de organización y actuación
del
colectivo Cultura Zona Oeste
territorio, sus producciones artísticas culturales y las dimensiones políticas
ellas, y finalmente,
las
articulaciones entre teorías y conceptos que
acciones
contra-coloniales en los movimentos
del
olonialidad
; decolonialidad; colectivos c
ulturales
; p
sicosociología de comunidades.
in youth collectives: an experience with the “West Zone
Culturein Rio de Janeiro
This article is part of a participant research and aims to discuss counter
colonial clues in the actions, movements and modes of organization of a cultural
collective of peripheral urban youths in the West Zone of Rio de Janeiro. The
iscussed here departed from a collective and horizontal
production, inspired in the Participating Action Research by Orlando Fals
methodological choice starts from an ethical and social commitment with the
participants and their sociopolitical
agendas. The development of the article
permeates the modes of organization and performance of the Cultura Zona Oeste
collective in the territory, its cultural artistic productions and the political dimensions
based on them, and finally, the articulations
between theories and concepts that
allow us to discuss about counter
-
colonial actions presents in the movement of the
colonialities
; decoloniality; cultural collectives
; a
sychosociology
of communities.
138
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
colonialidades en colectivos juvenis: una experiencia con el “Cultura
Este artículo es parte de una investigación participante y tiene
como
acciones, movimientos y modos de
colectivo cultural de jóvenes urbanos periféricos
en la Zona
Oeste de Río de Janeiro. El conocimiento compartido y discutido aqui partió de una
Acción Participativa
compromiso ético y
los participantes y sus agendas sociopolíticas. El desarrollo
del artículo
colectivo Cultura Zona Oeste
en
territorio, sus producciones artísticas culturales y las dimensiones políticas
articulaciones entre teorías y conceptos que
del
colectivo.
ulturales
; arte;
in youth collectives: an experience with the “West Zone
This article is part of a participant research and aims to discuss counter
-
colonial clues in the actions, movements and modes of organization of a cultural
collective of peripheral urban youths in the West Zone of Rio de Janeiro. The
iscussed here departed from a collective and horizontal
production, inspired in the Participating Action Research by Orlando Fals
Borda, this
methodological choice starts from an ethical and social commitment with the
agendas. The development of the article
permeates the modes of organization and performance of the Cultura Zona Oeste
collective in the territory, its cultural artistic productions and the political dimensions
between theories and concepts that
colonial actions presents in the movement of the
; a
rt; peripheral
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com o “Cultura
Zona Oeste no Rio de Janeiro.
Introdução:
Vivemos em uma sociedade
constantemente atravessada por
padrões de hierarquização e
opressões. Desde o marco da
colonização, a ideia de raça tem sido
um dos principais marcadores para as
violências provocadas por esses
padrões, estando os povos
considerados “racializados” na
constante mira destes
atravessamentos (QUIJANO, 2000).
As relações precárias de trabalho e
e
xploração, a ausência de políticas
públicas e/ou a implementação de
políticas violentas presentes nas
periferias e no cotidiano dos povos
periféricos podem ser compreendidas
como resultados da operação de uma
matriz colonial de poder, que atua no
controle
subjetivo e material de
diversas dimensões e âmbitos da vida
social (QUIJANO, 2007).
Para além desses
atravessamentos que
alcançam uma
dimensão socialmente
ampla,existem também
os
atravessamentos que marcam uma
dimensão individual/subjetiva dos
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com o “Cultura
Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
Vivemos em uma sociedade
constantemente atravessada por
padrões de hierarquização e
opressões. Desde o marco da
colonização, a ideia de raça tem sido
um dos principais marcadores para as
violências provocadas por esses
padrões, estando os povos
considerados racializados” na
constante mira destes
atravessamentos (QUIJANO, 2000).
As relações precárias de trabalho e
xploração, a auncia de políticas
públicas e/ou a implementação de
políticas violentas presentes nas
periferias e no cotidiano dos povos
periféricos podem ser compreendidas
como resultados da operação de uma
matriz colonial de poder, que atua no
subjetivo e material de
diversas dimensões e âmbitos da vida
Para além desses
alcançam uma
dimensão socialmente
atravessamentos que marcam uma
dimensão individual/subjetiva dos
povos negr
os e indígenas
brasileiros devido
os processos
de
colonização e
fazendo com que estes povos sejam
considerados inferiores
intelectualmente, sem
alma”, distantes
da ideia de
beleza, tidos apenas
como objetos de
desejo
e não merecedores de
(SANTOS, 2015).
Contrário a esses marcos e
atravessamentos,
são diversos os
movimentos sociais
coletivas que vêm
tentando
novos significados, representações e
modos de vida para os povos negros,
indígenas e periféricos.
iremos olhar especificamente
para uma juventude
urbana periférica
e sua atuação por meio de um coletivo
cultural.
De acordo com Takeiti
e Vicentin (2019),
existe uma potência
na juventude urbana periférica
produtora de arte e cultura que passa
pel
a reinvenção de diferentes modos
de ser e da produção de novas
subjetivações para si enquanto sujeito,
139
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com o “Cultura
os e indígenas
os processos
colonização e
de colonialidade,
fazendo com que estes povos sejam
considerados inferiores
intelectualmente, “sem
da ideia de
como objetos de
e não merecedores de
afeto
Contrário a esses marcos e
o diversos os
movimentos sociais
e ações
tentando
construir
novos significados, representações e
modos de vida para os povos negros,
indígenas e periféricos.
Neste trabalho,
iremos olhar especificamente
urbana periférica
e sua atuação por meio de um coletivo
De acordo com Takeiti
existe uma potência
na juventude urbana periférica
produtora de arte e cultura que passa
a reinvenção de diferentes modos
de ser e da produção de novas
subjetivações para si enquanto sujeito,
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
para o coletivo envolvido e para o
território de atuação. Estas
reinvenções vão de encontro a
padrões e ideias hegemônicas sobre a
periferia e o ser periférico.
Com isso, este artigo apresenta
um recorte de uma pesquisa
participante realizada junto ao coletivo
Cultura Zona Oeste. Trata
movimento cultural, organizado por
jovens que valorizam e promovem
uma cultura de base territorial e
comunitária
, majoritariamente no bairro
de Campo Grande, na zona oeste da
cidade do Rio de Janeiro. O coletivo
imprime em suas diversas ações
artísticas, marcas das assimetrias
territoriais que implicam nos modos de
participação e desigualdade,
sobretudo da população
jovem, que se
reproduzem enquanto marcas e
atravessamentos coloniais.
Desta forma, produziu
pesquisa horizontalizada, a
apresentar e discutir pistas contra
coloniais
presentes nas ações,
movimentos e modos de organização
do coletivo cultural, identificadas
através de uma construção de saber
múltiplo, em processos de
intersubjetividades, alinhado a pautas
sociopolíticas em comum.
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
para o coletivo envolvido e para o
território de atuação. Estas
reinvenções vão de encontro a
padrões e ideias hegemônicas sobre a
Com isso, este artigo apresenta
um recorte de uma pesquisa
participante realizada junto ao coletivo
Cultura Zona Oeste. Trata
-se de um
movimento cultural, organizado por
jovens que valorizam e promovem
uma cultura de base territorial e
, majoritariamente no bairro
de Campo Grande, na zona oeste da
cidade do Rio de Janeiro. O coletivo
imprime em suas diversas ões
artísticas, marcas das assimetrias
territoriais que implicam nos modos de
participação e desigualdade,
jovem, que se
reproduzem enquanto marcas e
atravessamentos coloniais.
Desta forma, produziu
-se uma
pesquisa horizontalizada, a
fim de
apresentar e discutir pistas contra
-
presentes nas ações,
movimentos e modos de organização
do coletivo cultural, identificadas
através de uma construção de saber
múltiplo, em processos de
intersubjetividades, alinhado a pautas
O artigo está organizado em
quatro par
tes: I) os caminhos
metodológicos da pesquisa; II) o modo
de organização e ão no território do
coletivo Cultura Zona Oeste; III) as
suas produções artístico culturais e
dimensões políticas pautadas,
trazendo temas dos bastidores para a
cena; e,IV) uma
leitura conceitual
sobre a contra-
colonialidade presente
nas ações do coletivo.
Percurso metodológico: o caminho
se faz ao caminhar
A aproximação entre o
pesquisador e o coletivo Cultura Zona
Oeste se deu a partir do alinhamento
de posicionamentos políti
e a identificação com a arte. Em
seguida, as relações foram se
estreitando a partir de convites para
trocas,conversas, acompanhamento
de ações e andanças pelo território da
Zona Oeste na cidade do Rio de
Janeiro. Assim o percurso
metodológico
foi se desenhando,
partindo das vivências do campo até o
encontro com a perspectiva
metodológica de Investigação Ação
Participante (IAP) de Orlando Fals
Borda (2014).
140
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
O artigo está organizado em
tes: I) os caminhos
metodológicos da pesquisa; II) o modo
de organização e ação no território do
coletivo Cultura Zona Oeste; III) as
suas produções artístico culturais e
as
dimensões políticas pautadas,
trazendo temas dos bastidores para a
leitura conceitual
colonialidade presente
nas ações do coletivo.
Percurso metodológico: o caminho
A aproximação entre o
pesquisador e o coletivo Cultura Zona
Oeste se deu a partir do alinhamento
de posicionamentos políti
cos e sociais
e a identificação com a arte. Em
seguida, as relações foram se
estreitando a partir de convites para
trocas,conversas, acompanhamento
de ações e andanças pelo território da
Zona Oeste na cidade do Rio de
Janeiro. Assim o percurso
foi se desenhando,
partindo das vivências do campo até o
encontro com a perspectiva
metodológica de Investigação Ação
-
Participante (IAP) de Orlando Fals
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
A Investigação Ação
Participante (IAP) é uma ferramenta
teórico-
metodológica e também
p
olítica. Orlando Fals Borda (2014), ao
compartilhar suas experiências e
objetivos, vai desenhando algumas
diretrizes que definem o que é a IAP e
como ela pode ser desenvolvida.
Destacando aqui algumas destas
orientações dadas pelo autor,
podemos pensar que
a IAP caminha
na direção da quebra de
hierarquizações no modo de se
produzir ciência, no fim de uma
imposição de saberes e é posvel
de ser desenvolvida a partir de um
comprometimento ético e social entre
pesquisador e participante que os
levem a um d
os principais objetivos da
teoria -
a transformação social.
De acordo com Fals Borda
(2014), se comprometer a desenvolver
a IAP é colocar nossos pensamentos e
ferramentas a serviço de uma causa,
isso exige de nós a ocupação do lugar
de pesquisador militan
pesquisador que se envolve e deixa
ser envolvido pelos atravessamentos e
afetos do campo de pesquisa, para
que junto com os participantes,
possam encontrar resoluções para
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
A Investigação Ação
-
Participante (IAP) é uma ferramenta
metodológica e também
olítica. Orlando Fals Borda (2014), ao
compartilhar suas experiências e
objetivos, vai desenhando algumas
diretrizes que definem o que é a IAP e
como ela pode ser desenvolvida.
Destacando aqui algumas destas
orientações dadas pelo autor,
a IAP caminha
na direção da quebra de
hierarquizações no modo de se
produzir ciência, no fim de uma
imposição de saberes e só é possível
de ser desenvolvida a partir de um
comprometimento ético e social entre
pesquisador e participante que os
os principais objetivos da
a transformação social.
De acordo com Fals Borda
(2014), se comprometer a desenvolver
a IAP é colocar nossos pensamentos e
ferramentas a serviço de uma causa,
isso exige de nós a ocupação do lugar
de pesquisador militan
te, um
pesquisador que se envolve e deixa
ser envolvido pelos atravessamentos e
afetos do campo de pesquisa, para
que junto com os participantes,
possam encontrar resoluções para
problemas sociais que afetam aquele
grupo.
Esses pensamentos defendidos
por
Fals Borda, segundo Bringel e
Maldonado (2016),
dizem sobre uma
ideia de subversão, compreendida por
ele como a transformação de uma
estrutura social anterior injusta por
uma nova e mais justa. Os autores
chamam à atenção para a não
ingenuidade da busca po
enquanto movimento da IAP, pois,
como alerta
Fals Borda, há a
possibilidade da não realização total
desta subversão, deste plano
revolucionário.
O pesquisador, portanto,
agente militante, pois está envolvido
com a causa da pesquisa, e a
compreende
como uma prática social,
que rompe com os processos de
colonização, na qual muitas vezes ele,
o pesquisador, é o agente reprodutor.
A militância na pesquisa diz
sobre os modos o ocidentais de
produção de ciência, modos que vão
de encontro a coloni
alidade do saber.
Um dos processos da colonização, no
qual foi sendo imposto pelos povos
euro-
ocidentais, é o saber
hierarquizado, utilizado como mais
uma arma para eliminar violentamente
141
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
problemas sociais que afetam aquele
Esses pensamentos defendidos
Fals Borda, segundo Bringel e
dizem sobre uma
ideia de subvero, compreendida por
ele como a transformação de uma
estrutura social anterior injusta por
uma nova e mais justa. Os autores
chamam à atenção para a não
ingenuidade da busca po
r justiça
enquanto movimento da IAP, pois,
Fals Borda, a
possibilidade da não realização total
desta subvero, deste plano
O pesquisador, portanto,
é
agente militante, pois está envolvido
com a causa da pesquisa, e a
como uma prática social,
que rompe com os processos de
colonização, na qual muitas vezes ele,
o pesquisador, é o agente reprodutor.
A militância na pesquisa diz
sobre os modos não ocidentais de
produção de ciência, modos que vão
alidade do saber.
Um dos processos da colonização, no
qual foi sendo imposto pelos povos
ocidentais, é o saber
hierarquizado, utilizado como mais
uma arma para eliminar violentamente
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
tudo o que não partia do ocidente,
posto como irrelevante, duvidoso
falso (MIGNOLO, 2010).
Castro-
Goméz e Grosfoguel
(2007) chamam atenção também para
a visão universalista e eurontrica de
ponto zero, no qual se
acredita que a
tomada para a produção de
conhecimentos nos campos das
ciências humanas e sociais deve part
de um “ponto neutro”, sendo essa ideia
uma estratégia ocidental de
dominação econômica, política e
cognitiva do mundo, da qual as
ciências sociais fizeram parte. O saber
está presente e atravessado nos
grupos subalternizados, minorias
sociais, povos que
estão à frente de
movimentos sociais e defensores de
causas, portanto é necessário a
produção de um conhecimento
político, posicionado e que não tenha
pretensões de neutralidade e
objetividade.
Foi a partir desses
embasamentos teóricos metodológicos
que
fomos desenvolvendo a pesquisa
de mestrado intitulada Contra
colonialidades nos movimentos
artísticos-
culturais de jovens urbanos
periféricos: um estudo em
psicossociologia na Zona Oeste do Rio
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
tudo o que não partia do ocidente,
posto como irrelevante, duvidoso
ou
Goméz e Grosfoguel
(2007) chamam atenção também para
a vio universalista e eurocêntrica de
acredita que a
tomada para a produção de
conhecimentos nos campos das
ciências humanas e sociais deve part
ir
de um ponto neutro, sendo essa ideia
uma estratégia ocidental de
dominação econômica, política e
cognitiva do mundo, da qual as
ciências sociais fizeram parte. O saber
está presente e atravessado nos
grupos subalternizados, minorias
estão à frente de
movimentos sociais e defensores de
causas, portanto é necessário a
produção de um conhecimento
político, posicionado e que não tenha
pretensões de neutralidade e
Foi a partir desses
embasamentos teóricos metodológicos
fomos desenvolvendo a pesquisa
de mestrado intitulada “Contra
-
colonialidades nos movimentos
culturais de jovens urbanos
periféricos: um estudo em
psicossociologia na Zona Oeste do Rio
de Janeiro”, nos anos de 2019 e 2021
junto ao Coletivo Cultur
Os saberes e conteúdos foram
produzidos inicialmente em 2019 a
partir de encontros e
acompanhamento do coletivo em
eventos e apresentações presenciais.
Porém no ano de 2020, devido a
pandemia da covid
impossibilidade de nos encontrarmos
presencialmente, passamos a dialogar
e dar continuidade a pesquisa por
meio de rodas de conversas em
grupos de Whatsapp®, chamadas de
vídeo via plataformas Zoom e Google
Meet e produção de vídeos teóricos e
artís
ticos utilizando o Youtube como
plataforma facilitadora para o envio e
compartilhamento de produções
estético-artísticas.
O contato inicial para a
realização do campo da pesquisa foi
com as lideranças do Cultura Zona
Oeste, para quem foram apresentadas
as propostas da
investigação e em
seguida para os demais participantes
do coletivo. Após um mapeamento
para verificar a facilidade de acesso à
internet
de todos os participantes,
criamos um grupo no Whatsapp® onde
organizamos e realizamos os
encontros e ativ
idades, nos quais
142
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
de Janeiro, nos anos de 2019 e 2021
junto ao Coletivo Cultur
a Zona Oeste.
Os saberes e conteúdos foram
produzidos inicialmente em 2019 a
partir de encontros e
acompanhamento do coletivo em
eventos e apresentações presenciais.
Porém no ano de 2020, devido a
pandemia da covid
-19 e a
impossibilidade de nos encontrarmos
presencialmente, passamos a dialogar
e dar continuidade a pesquisa por
meio de rodas de conversas em
grupos de Whatsapp®, chamadas de
deo via plataformas Zoom e Google
Meet e produção de vídeos teóricos e
ticos utilizando o Youtube como
plataforma facilitadora para o envio e
compartilhamento de produções
O contato inicial para a
realização do campo da pesquisa foi
com as lideranças do Cultura Zona
Oeste, para quem foram apresentadas
investigação e em
seguida para os demais participantes
do coletivo. Após um mapeamento
para verificar a facilidade de acesso à
de todos os participantes,
criamos um grupo no Whatsapp® onde
organizamos e realizamos os
idades, nos quais
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
foram colocados em diálogo os
seguintes temas: 1. Raça, identidade e
apagamentos; 2. Negros de pele clara,
política de embranquecimento e o
pardo no Brasil; 3. Colonialidade do
Poder: a "nova cara" do
colonialismo;4. Decolonialidade e
contra-
colonialidade: caminhos
antirracistas; 5. Colonialidade,
invenção do dualismo sexual e da
binaridade de gênero; 6. Vies de
mundo, religiões e colonialidade. No
último encontro compartilhamos as
experiências e discutimos os
encaminhamentos para a pesq
a análise dos dados se deu a partir da
triangulação dos resultados da
pesquisa, a fim de identificar o eixo de
análise.
Portanto, este recorte da
pesquisa que será apresentado aqui
trata-
se de um conteúdo produzido,
analisado e discutido em
colabo
com o Coletivo Cultura Zona Oeste,
destacando as experiências dos
percursos da pesquisa. Não há um
olhar vertical analítico que aponta
categorias de explicação sobre o
comportamento do Coletivo e, sim, a
produção da pesquisa como uma
tecnologia de in
tervenção na realidade
sobre/com os sujeitos que utilizam de
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
foram colocados em diálogo os
seguintes temas: 1. Raça, identidade e
apagamentos; 2. Negros de pele clara,
política de embranquecimento e o
pardo no Brasil; 3. Colonialidade do
Poder: a "nova cara" do
colonialismo;4. Decolonialidade e
colonialidade: caminhos
antirracistas; 5. Colonialidade,
invenção do dualismo sexual e da
binaridade de gênero; 6. Visões de
mundo, religiões e colonialidade. No
último encontro compartilhamos as
experiências e discutimos os
encaminhamentos para a pesq
uisa. E
a análise dos dados se deu a partir da
triangulação dos resultados da
pesquisa, a fim de identificar o eixo de
Portanto, este recorte da
pesquisa que será apresentado aqui
se de um conteúdo produzido,
colabo
ração
com o Coletivo Cultura Zona Oeste,
destacando as experiências dos
percursos da pesquisa. Não um
olhar vertical analítico que aponta
categorias de explicação sobre o
comportamento do Coletivo e, sim, a
produção da pesquisa como uma
tervenção na realidade
sobre/com os sujeitos que utilizam de
seus corpos, envolvidos nas práticas e
linguagens estético
-
acionar transformações no território.
Por isso, convidar os participantes
para acessar referenciais teóricos,
previamen
te definidos pelos
pesquisadores, bem como as
inclinações metodogicas, contribuiu
para promover e aguçar oolhar e
discutir as realidades sociais a partir
de diferentes perspectivas. Esta
escolha metodológica nos possibilitou
produzir um saber que diz sob
diálogo entre a presença do
pesquisador, os atravessamentos da
realidade social e a presença do
coletivo sobre si e sobre os saberes
que foram produzidos.
Por onde caminha um coletivo de
cultura -
experiências com o
Cultura Zona Oeste
O Coletivo Cu
é um coletivo que nasceu a partir de
um marco de reivindicações populares
após o assassinato da vereadora
Marielle Franco em 14 de março de
2018, no bairro Estácio na cidade do
Rio de Janeiro. O coletivo foi criado
por dois jovens motivado
aos protestos realizados pela
população em repúdio ao ato de
extrema violência (FONTES, 2021). A
143
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
seus corpos, envolvidos nas práticas e
-
artísticas, para
acionar transformações no território.
Por isso, convidar os participantes
para acessar referenciais teóricos,
te definidos pelos
pesquisadores, bem como as
inclinações metodológicas, contribuiu
para promover e aguçar oolhar e
discutir as realidades sociais a partir
de diferentes perspectivas. Esta
escolha metodológica nos possibilitou
produzir um saber que diz sob
re um
diálogo entre a presença do
pesquisador, os atravessamentos da
realidade social e a presença do
coletivo sobre si e sobre os saberes
que foram produzidos.
Por onde caminha um coletivo de
experiências com o
O Coletivo Cu
ltura Zona Oeste
é um coletivo que nasceu a partir de
um marco de reivindicações populares
após o assassinato da vereadora
Marielle Franco em 14 de março de
2018, no bairro Estácio na cidade do
Rio de Janeiro. O coletivo foi criado
por dois jovens motivado
s em meio
aos protestos realizados pela
população em repúdio ao ato de
extrema violência (FONTES, 2021). A
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
partir destes atravessamentos, os
jovens sentiram a necessidade de
fazer algo voltado aos povos pretos e
periféricos e outros grupos
minoritários, as
sim como defendia
Marielle Franco. Neste momento, a
arte e a cultura emergiram como uma
ferramenta para a ação, visto que
estas faziam parte da cotidianidade
dos jovens que, somado às dinâmicas
do território, se tornou um espaço de
luta e produção de vida.
Reconhecer e nomear o coletivo
a partir do território em que está
localizado foi uma das escolhas do
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
partir destes atravessamentos, os
jovens sentiram a necessidade de
fazer algo voltado aos povos pretos e
periféricos e outros grupos
sim como defendia
Marielle Franco. Neste momento, a
arte e a cultura emergiram como uma
ferramenta para a ação, visto que
estas já faziam parte da cotidianidade
dos jovens que, somado às dinâmicas
do território, se tornou um espaço de
Reconhecer e nomear o coletivo
a partir do território em que está
localizado foi uma das escolhas do
Cultura Zona Oeste para mostrar que
a sua militância fala de um lugar
específico e é atravessado por todas
as características, problemáticas,
necessid
ades e potências desse lugar,
sendo este também responsável por
moldar e ir definindo os caminhos do
coletivo e as suas ações.
O principal território de atuação
do Coletivo é o bairro de Campo
Grande, Rio de Janeiro
identificado pelo número 144 e
realçado em vermelho na figura
abaixo:
144
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
Cultura Zona Oeste para mostrar que
a sua militância fala de um lugar
espefico e é atravessado por todas
as características, problemáticas,
ades e potências desse lugar,
sendo este também responsável por
moldar e ir definindo os caminhos do
coletivo e as suas ações.
O principal território de atuação
do Coletivo é o bairro de Campo
Grande, Rio de Janeiro
-RJ,
identificado pelo número 144 e
realçado em vermelho na figura
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
Figura 1
Fonte:
Mapa retirado dos dados do munipio disponibilizados no site do DATA RIO, acessado no
link:
http://www.data.rio/datasets/mapa
C
onsiderado o bairro mais
populoso do município, de acordo com
o Instituto Pereira Passos (IPP) com
base no Censo de 2010, Campo
Grande possui um total de 328.370
habitantes, o que equivale a 5,2% da
população da cidade do Rio de
Janeiro. Apesar do seu gran
populacional e extensa área territorial,
se compararmos aos dados de saúde,
educação e transporte do centro da
cidade e da zona sul disponíveis na
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
-
Mapa dos bairros do município do Rio de Janeiro.
Mapa retirado dos dados do município disponibilizados no site do DATA RIO, acessado no
http://www.data.rio/datasets/mapa
-dos-bairros-do-munic%C3%ADpio-do-rio-
de
19 de julho de 2021.
onsiderado o bairro mais
populoso do munipio, de acordo com
o Instituto Pereira Passos (IPP) com
base no Censo de 2010, Campo
Grande possui um total de 328.370
habitantes, o que equivale a 5,2% da
população da cidade do Rio de
Janeiro. Apesar do seu gran
de volume
populacional e extensa área territorial,
se compararmos aos dados de saúde,
educação e transporte do centro da
cidade e da zona sul disponíveis na
plataforma do Instituto Pereira Passos,
o bairro de Campo Grande é um dos
mais desassistidos pela a
pública municipal.
Foi neste território e a partir
destas ausências do poder público que
o Cultura
Zona Oeste iniciou as suas
ações e as mantêm até hoje, dando os
primeiros passos no ano de 2018 por
meio de aulas de dança para a
juventude da região. As aulas
145
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
Mapa dos bairros do munipio do Rio de Janeiro.
Mapa retirado dos dados do munipio disponibilizados no site do DATA RIO, acessado no
de
-janeiro-2017 , em
plataforma do Instituto Pereira Passos,
o bairro de Campo Grande é um dos
mais desassistidos pela a
ssistência
Foi neste território e a partir
destas ausências do poder público que
Zona Oeste iniciou as suas
ações e as mantêm até hoje, dando os
primeiros passos no ano de 2018 por
meio de aulas de dança para a
juventude da região. As aulas
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
aconteciam na casa de um dos jovens
fundadores do coletivo.
A partir daí, com o passar do
temp
o, o coletivo foi realizando
articulações e conseguindo se
desenvolver e ganhar mais espaço no
território, tendo o apoio do sindicato de
professores e faculdades da região, se
conectando com outros líderes
comunitários e ativistas locais e
ampliando também
o quadro de jovens
líderes e de monitores para a
realização das oficinas artísticas.
Todos os envolvidos no coletivo atuam
de forma voluntária e têm como
objetivos promover transformação
Figura 2
Fonte: Arquivos de imagens do Coletivo, acessado no
link:
https://www.facebook.com/photo?fbid=463636127763038&set=a.207132833413370
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
aconteciam na casa de um dos jovens
A partir daí, com o passar do
o, o coletivo foi realizando
articulações e conseguindo se
desenvolver e ganhar mais espaço no
território, tendo o apoio do sindicato de
professores e faculdades da região, se
conectando com outros deres
comunitários e ativistas locais e
o quadro de jovens
líderes e de monitores para a
realização das oficinas artísticas.
Todos os envolvidos no coletivo atuam
de forma voluntária e têm como
objetivos promover transformação
social a partir das suas ações
comunitárias.
Nos anos de 2019 e 2020, o
coletivo Cultura Zona Oeste atendeu
uma média de 98 jovens com idades
entre 16 e 24 anos, oferecendo
oficinas de teatro e dança que eram
realizadas na sede de uma
universidade privada do ba
Campo Grande, por meio de uma
parceria; nesse mesmo período o
coletivo possuía 6 lideranças que
estavam à frente das ações e
articulações do coletivo, 5 deles eram
jovens com idade entre 19 a 21 anos
(FONTES, 2021).
Figura 2
- Foto do Coletivo Cultura Zona Oeste
Fonte: Arquivos de imagens do Coletivo, acessado no
https://www.facebook.com/photo?fbid=463636127763038&set=a.207132833413370
julho de 2021.
146
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
social a partir das suas ações
Nos anos de 2019 e 2020, o
coletivo Cultura Zona Oeste atendeu
uma média de 98 jovens com idades
entre 16 e 24 anos, oferecendo
oficinas de teatro e dança que eram
realizadas na sede de uma
universidade privada do ba
irro de
Campo Grande, por meio de uma
parceria; nesse mesmo período o
coletivo possuía 6 lideranças que
estavam à frente das ões e
articulações do coletivo, 5 deles eram
jovens com idade entre 19 a 21 anos
(FONTES, 2021).
https://www.facebook.com/photo?fbid=463636127763038&set=a.207132833413370
, em 19 de
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
O Cultura Zona Oeste mantém
como princípios a valorização do
território da Zona Oeste do Rio de
Janeiro, incentivando
o protagonismo
e liderança juvenil e defendendo os
direitos de vidas pretas e periféricas.
Esses princípios o base e orientam
as ões artísticas e socioculturais do
coletivo que tendem a se desenvolver
em rede com e para os moradores do
território, a fi
m de promover o acesso à
cultura e arte na direção do
desenvolvimento de um pensamento
crítico.
O protagonismo juvenil não está
presente apenas como uma ideia a ser
defendida pelo coletivo, mas também
no seu modo de organização, na
nomeação dos líderes, m
onitores e na
construção da imagem do grupo. Para
eles, é importante que os jovens
ocupem lugares políticos e de
liderança no território da Zona Oeste
do Rio de Janeiro, a fim de promover
novos movimentos, novas ideias e
olhares, visto que a representação
esses jovens possuem da política e
organização social territorial
pessoas “mais velhas” que sempre
ocuparam os cargos e posições, sejam
eles institucionais ou não, e
determinam como esses espaços irão
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
O Cultura Zona Oeste mantém
como prinpios a valorização do
território da Zona Oeste do Rio de
o protagonismo
e liderança juvenil e defendendo os
direitos de vidas pretas e periféricas.
Esses prinpios dão base e orientam
as ações artísticas e socioculturais do
coletivo que tendem a se desenvolver
em rede com e para os moradores do
m de promover o acesso à
cultura e arte na direção do
desenvolvimento de um pensamento
O protagonismo juvenil não está
presente apenas como uma ideia a ser
defendida pelo coletivo, mas também
no seu modo de organização, na
onitores e na
construção da imagem do grupo. Para
eles, é importante que os jovens
ocupem lugares políticos e de
liderança no território da Zona Oeste
do Rio de Janeiro, a fim de promover
novos movimentos, novas ideias e
olhares, visto que a representação
que
esses jovens possuem da política e
organização social territorial
é de
pessoas mais velhas” que sempre
ocuparam os cargos e posições, sejam
eles institucionais ou não, e
determinam como esses espaços irão
funcionar, quais normas serão
delimitadas e co
mo irão atender as
pessoas.
Por isso, é presente nas falas e
posicionamentos das lideranças do
coletivo a necessidade de mostrar que
os jovens possuem a própria voz, não
precisam de outras pessoas para falar
por eles, podendo eles serem
responsáveis pela
produção cultural,
estarem presentes na participação
política e serem agentes da
transformação social local. Tudo isso
partindo de um lugar de quem vive os
atravessamentos psicossociológicos
de raça, classe, gênero e outros
marcadores presentes na periferi
que se tornam questões a serem
debatidas e transformadas.
O coletivo compreende o
movimento da ação artística e cultural
no território como um processo
emancipatório da juventude, que
passa a assumir um lugar de
potenciais criadores, responveis e
art
iculadores da comunidade. Reforça
se que esse processo vem sendo
produzido através da arte e da cultura.
Vale lembrar que a escolha desse
caminho se também pela ausência
de acesso a espaços e produções
artísticas e culturais na região da Zona
147
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
funcionar, quais normas serão
mo irão atender as
Por isso, é presente nas falas e
posicionamentos das lideranças do
coletivo a necessidade de mostrar que
os jovens possuem a própria voz, não
precisam de outras pessoas para falar
por eles, podendo eles serem
produção cultural,
estarem presentes na participação
política e serem agentes da
transformação social local. Tudo isso
partindo de um lugar de quem vive os
atravessamentos psicossociológicos
de raça, classe, gênero e outros
marcadores presentes na periferi
a,
que se tornam questões a serem
debatidas e transformadas.
O coletivo compreende o
movimento da ação artística e cultural
no território como um processo
emancipatório da juventude, que
passa a assumir um lugar de
potenciais criadores, responsáveis e
iculadores da comunidade. Reforça
-
se que esse processo vem sendo
produzido através da arte e da cultura.
Vale lembrar que a escolha desse
caminho se dá também pela ausência
de acesso a espaços e produções
artísticas e culturais na região da Zona
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
Oeste do R
io de Janeiro, região que os
jovens apontam como uma localidade
sucateada e pouco lembrada também
no âmbito cultural.
Reinventando-
se e criando
estratégias para as suas ações, o
coletivo nomeia a sua forma de
atuação na arte e cultura como uma
produção cu
ltural popular, na qual a
busca por apoio para a realização de
ações acontece dentro da própria
região e é “financiada pelos
moradores. As aulas, oficinas e
workshops são ofertadas de forma
voluntária por outros jovens artistas da
região e os espaços de r
ealização das
ações e atividades o
disponibilizados por meio de parcerias
institucionais. Tudo isso acontece
através de uma mobilização
comunitária e em rede, somando a
iniciativa dos líderes do coletivo ao
apoio de pessoas que acreditam no
movimento e n
a potência
socioeducativa e crítica que pode ser
oferecida por meio do acesso a arte e
cultura.
Em meio a essas
movimentações, o coletivo lança
também para a ocupação de espaços
culturais, seja promovendo ações em
espaços existentes na região ou
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
io de Janeiro, região que os
jovens apontam como uma localidade
sucateada e pouco lembrada também
se e criando
estratégias para as suas ões, o
coletivo nomeia a sua forma de
atuação na arte e cultura como uma
ltural popular, na qual a
busca por apoio para a realização de
ações acontece dentro da própria
região e é financiada” pelos
moradores. As aulas, oficinas e
workshops o ofertadas de forma
voluntária por outros jovens artistas da
ealização das
ações e atividades o
disponibilizados por meio de parcerias
institucionais. Tudo isso acontece
através de uma mobilização
comunitária e em rede, somando a
iniciativa dos líderes do coletivo ao
apoio de pessoas que acreditam no
a potência
socioeducativa e crítica que pode ser
oferecida por meio do acesso a arte e
Em meio a essas
movimentações, o coletivo lança
-se
também para a ocupação de espaços
culturais, seja promovendo ações em
espaços já existentes na região ou
cob
rando o poder blico na garantia
de espaços e instrumentos culturais
novos. E ainda, o coletivo se coloca a
reinventar o território, no qual os
jovens tendem a transformar espaços
públicos como praças, parques e
calçadões em espaços culturais,
utilizando
esses locais para ensaios,
aulas e intervenções artísticas.
O
utro ponto de destaque nessa
perspectiva de “ocupação defendida
pelo coletivo é o fato de um dos líderes
do Cultura Zona Oeste ter se tornado a
pessoa mais nova a ocupar uma
cadeira do Conselho
Cultura do Estado do Rio de Janeiro,
visando também o lugar da ocupação
política/institucional como um caminho
possível para a garantia de políticas
públicas voltadas ao seu território e se
tornando um representante público
que parte de um col
diretamente ligado e preocupado com
as problemáticas da sua comunidade.
A partir desta ocupação, em
novembro de 2019 foi desenvolvido e
realizado pelo Coletivo Cultura Zona
Oeste o I Fórum de Cultura e Inovação
de Campo Grande, com apoio do
Governo do Estado do Rio de Janeiro
e a Fundação Anita Mantuano de Artes
do Estado do Rio de Janeiro
148
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
rando o poder público na garantia
de espaços e instrumentos culturais
novos. E ainda, o coletivo se coloca a
reinventar o território, no qual os
jovens tendem a transformar espaços
públicos como praças, parques e
calçadões em espaços culturais,
esses locais para ensaios,
aulas e intervenções artísticas.
utro ponto de destaque nessa
perspectiva de ocupação” defendida
pelo coletivo é o fato de um dos líderes
do Cultura Zona Oeste ter se tornado a
pessoa mais nova a ocupar uma
cadeira do Conselho
Estadual de
Cultura do Estado do Rio de Janeiro,
visando também o lugar da ocupação
política/institucional como um caminho
posvel para a garantia de políticas
públicas voltadas ao seu território e se
tornando um representante público
que parte de um col
etivo que está
diretamente ligado e preocupado com
as problemáticas da sua comunidade.
A partir desta ocupação, em
novembro de 2019 foi desenvolvido e
realizado pelo Coletivo Cultura Zona
Oeste o I Fórum de Cultura e Inovação
de Campo Grande, com apoio do
Governo do Estado do Rio de Janeiro
e a Fundação Anita Mantuano de Artes
do Estado do Rio de Janeiro
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
(FUNARJ), a fim de se discutir e
elaborar planos e ações para a
ampliação e permanência cultural no
bairro de Campo Grande, sendo
convidados a juventude d
agentes culturais, lideranças de outros
coletivos e moradores em geral para
discutir e pensar as políticas culturais
da região.
Os debates e a abertura para o
diálogo é uma das vias na qual o
Cultura Zona Oeste tende a caminhar
como uma perspect
envolvimento comunitário,
principalmente da juventude. De
acordo com a visão dos líderes do
Cultura Zona Oeste, por exemplo, a
abertura de espaço para rodas de
conversa é importante para a
aproximação das pessoas que o
alcançadas pelo coletivo dos
sobre arte, cultura e educação,
podendo assim compartilhar a ideia
defendida pelo coletivo de uma arte
posicionada politicamente e que
possibilita uma construção de
caminhos que parte não só da
formação artística, mas também de
uma formação políti
ca, comunitária e
cidadã.
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
(FUNARJ), a fim de se discutir e
elaborar planos e ações para a
ampliação e permanência cultural no
bairro de Campo Grande, sendo
convidados a juventude d
o bairro,
agentes culturais, lideranças de outros
coletivos e moradores em geral para
discutir e pensar as políticas culturais
Os debates e a abertura para o
diálogo é uma das vias na qual o
Cultura Zona Oeste tende a caminhar
como uma perspect
iva de
envolvimento comunitário,
principalmente da juventude. De
acordo com a vio dos líderes do
Cultura Zona Oeste, por exemplo, a
abertura de espaço para rodas de
conversa é importante para a
aproximação das pessoas que são
alcançadas pelo coletivo dos
debates
sobre arte, cultura e educação,
podendo assim compartilhar a ideia
defendida pelo coletivo de uma arte
posicionada politicamente e que
possibilita uma construção de
caminhos que parte não da
formação artística, mas também de
ca, comunitária e
Produções artísticas em coletivo
numa dimensão política do
cotidiano
As produções artísticas
produzidas pelo Coletivo Cultura Zona
Oeste carregam em si dimenes
políticas que perpassam as músicas,
passos de dança e interpretaçõ
cênicas, sendo apresentadas nos
palcos, ruas e praças da cidade do Rio
de Janeiro. A arte do coletivo, para
além de uma ferramenta que contribui
na expressão individual dos e das
participantes, passa a ocupar uma
ferramenta de comunicação coletiva,
enqu
anto dialogicidade comunitária
sobre os seus posicionamentos, lutas
e militâncias que acontecem nos
bastidores”.
O modo que esta arte possibilita
a comunicação é de uma maneira que
sensibiliza e alcança a comunidade, de
modo que ao retratar as realidades
periféricas, quem está ali enquanto
espectador, passa a perceber
tema/questões de um outro lugar, um
lugar de quem permitiu ser tocado e
sensibilizado pelo espaço que a arte
produz e pelo conteúdo que ela
oferece. Todas essas questões
ocupam uma di
mensão subjetiva e por
149
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
Produções artísticas em coletivo
numa dimensão política do
As produções artísticas
produzidas pelo Coletivo Cultura Zona
Oeste carregam em si dimensões
políticas que perpassam as sicas,
passos de dança e interpretaçõ
es
nicas, sendo apresentadas nos
palcos, ruas e praças da cidade do Rio
de Janeiro. A arte do coletivo, para
além de uma ferramenta que contribui
na expressão individual dos e das
participantes, passa a ocupar uma
ferramenta de comunicação coletiva,
anto dialogicidade comunitária
sobre os seus posicionamentos, lutas
e militâncias que acontecem “nos
O modo que esta arte possibilita
a comunicação é de uma maneira que
sensibiliza e alcança a comunidade, de
modo que ao retratar as realidades
periféricas, quem está ali enquanto
espectador, passa a perceber
aquele
tema/questões de um outro lugar, um
lugar de quem permitiu ser tocado e
sensibilizado pelo espaço que a arte
produz e pelo conteúdo que ela
oferece. Todas essas questões
mensão subjetiva e por
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
isso apresentamos aqui estas
reflexões.
A figura 3 é o registro de uma
cena que envolve dança e teatro,
nomeada pelo coletivo como
“Marielle
”. A cena aborda questões em
torno das vivências de jovens negros
periféricos que tem sua vida rompida
precocemente pela violência policial,
questões em torno do lugar da mulher,
das mulheres pretas e mulheres
periféricas na sociedade. Enquanto o
coletivo
está em cena, é
constantemente reivindicado o direito
de viver, o direito a uma vida digna
para os povos pretos e periféricos e a
necessidade de transformação de uma
realidade que é tão dura, atravessada
pelo racismo e por outras imposições
coloniais. Esta
cena foi apresentada
pelo coletivo no ato de um ano sem
respostas após a morte da vereadora
Marielle Franco, que aconteceu na
Cinelândia, no centro do Rio de
Janeiro
RJ. Além disso, a cena
esteve presente em outros festivais de
arte periféricas como o F
Mixtura que aconteceu no bairro de
Campo Grande, em 2019 e o Festival
Pelo Nosso Futuro que aconteceu no
Parque de Madureira, no mesmo ano.
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
isso apresentamos aqui estas
A figura 3 é o registro de uma
cena que envolve dança e teatro,
nomeada pelo coletivo como
. A cena aborda questões em
torno das vivências de jovens negros
periféricos que tem sua vida rompida
precocemente pela violência policial,
questões em torno do lugar da mulher,
das mulheres pretas e mulheres
periféricas na sociedade. Enquanto o
está em cena, é
constantemente reivindicado o direito
de viver, o direito a uma vida digna
para os povos pretos e periféricos e a
necessidade de transformação de uma
realidade que é tão dura, atravessada
pelo racismo e por outras imposições
cena foi apresentada
pelo coletivo no ato de um ano sem
respostas após a morte da vereadora
Marielle Franco, que aconteceu na
Cinelândia, no centro do Rio de
RJ. Além disso, a cena
esteve presente em outros festivais de
arte periféricas como o F
estival
Mixtura que aconteceu no bairro de
Campo Grande, em 2019 e o Festival
Pelo Nosso Futuro que aconteceu no
Parque de Madureira, no mesmo ano.
Figura 3 -
Foto da cena Marielle.
Fonte: Acervo de imagens do Coletivo Cultura
Zona Oeste.
Outras pautas promovidas pelo
coletivo nas suas produções artísticas
é a valorização da cultura periférica,
tendo o funk como o grande
protagonista. O uso das músicas de
funk, os rebolados, quadradinhos” e
closes
durante as performances
movimentam os corp
os dos jovens do
coletivo demarcando um lugar no
palco, no intuito de defender o valor
estético e cultural que o funk possui, e
romper com as hierarquizações
artísticas e culturais. Em uma das
performances do coletivo, uma das
falas enunciadas em protesto
funk é cultura, o funk não é crime!,
frase que tem o intuito de romper com
as constantes associações deste estilo
150
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
Foto da cena “Marielle”.
Fonte: Acervo de imagens do Coletivo Cultura
Zona Oeste.
Outras pautas promovidas pelo
coletivo nas suas produções artísticas
é a valorização da cultura periférica,
tendo o funk como o grande
protagonista. O uso das músicas de
funk, os rebolados, “quadradinhos” e
durante as performances
os dos jovens do
coletivo demarcando um lugar no
palco, no intuito de defender o valor
estético e cultural que o funk possui, e
romper com as hierarquizações
artísticas e culturais. Em uma das
performances do coletivo, uma das
falas enunciadas em protesto
é “O
funk é cultura, o funk não é crime!”,
frase que tem o intuito de romper com
as constantes associações deste estilo
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
musical com o tráfico ou outros tipos
de crimes, estigmatizando o lugar de
produção destas músicas
e as pessoas que se envo
geralmente, jovens pretos e
periféricos.
Figura 4 -
Foto do Coletivo Cultura Zona Oeste
no palco do Festival Pelo Nosso Futuro.
Fonte: Acervo de imagens do Coletivo Cultura
Zona Oeste.
Os debates em torno das
sexualidades e dos gêneros també
são constantemente pautados pelo
coletivo. De acordo com as falas das
participantes, estar em contato com
esse modo de se produzir arte em
coletivo, por meio da dança e do
teatro, os coloca em um lugar de
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
musical com o tráfico ou outros tipos
de crimes, estigmatizando o lugar de
produção destas músicas
- as favelas
e as pessoas que se envo
lvem -
geralmente, jovens pretos e
Foto do Coletivo Cultura Zona Oeste
no palco do Festival Pelo Nosso Futuro.
Fonte: Acervo de imagens do Coletivo Cultura
Os debates em torno das
sexualidades e dos gêneros també
m
o constantemente pautados pelo
coletivo. De acordo com as falas das
participantes, estar em contato com
esse modo de se produzir arte em
coletivo, por meio da dança e do
teatro, já os coloca em um lugar de
produzir novos pensamentos e se
desconstruírem
diante das imposições
sexuais e de gênero.
De acordo com Lugones (2008),
as imposições sexuais e de gênero
que vivemos estão ligadas a um
sistema de gênero moderno/colonial
que integra o projeto de colonialidade,
no qual os povos brancos por meio da
idei
a de hierarquização racial e
inferiorização das culturas dos povos
racializados, impuseram um modo
ocidental de se relacionar com sexo e
gênero, a fim de animalizar estes
povos devido aos seus
de se relacionarem com sexo e
gênero.
Os povos
iorubás por exemplo,
segundo Oyèrónké
não possuíam uma relação sexual
dualística e oposta, como as relações
ocidentais de homem
acordo com a autora, o que mais se
aproximava das definições de gênero
para os iorubás eram os term
e okunrin
, que eram definidos pela
imagem/aparência dos indiduos e
não por questões biológicas. E ainda,
o “gênero” não era um marcador para
a hierarquia social, possibilitando a
existência de diversas comunidades
matriarcais.
151
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
produzir novos pensamentos e se
diante das imposições
De acordo com Lugones (2008),
as imposições sexuais e de gênero
que vivemos estão ligadas a um
sistema de gênero moderno/colonial
que integra o projeto de colonialidade,
no qual os povos brancos por meio da
a de hierarquização racial e
inferiorização das culturas dos povos
racializados, impuseram um modo
ocidental de se relacionar com sexo e
gênero, a fim de animalizar estes
povos devido aos seus
modos distintos
de se relacionarem com sexo e
iorubás por exemplo,
Oyěwùmí (2021)
não possuíam uma relação sexual
dualística e oposta, como as relações
ocidentais de homem
- mulher. De
acordo com a autora, o que mais se
aproximava das definições de gênero
para os iorubás eram os term
os obinrin
, que eram definidos pela
imagem/aparência dos indivíduos e
não por questões biológicas. E ainda,
o gênero não era um marcador para
a hierarquia social, possibilitando a
existência de diversas comunidades
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
Neste sentido,
o processo de
colonização produziu múltiplas
estratégias dentro do sistema de
gênero moderno/colonial, a fim de
fazer funcionar e estabilizar as
relações de poderes dos povos
brancos ocidentais sob os outros
povos, sendo elas: a construção e
difusão de um
deus, pai e todo
poderoso; a destruição de governos
matriarcais; a retirada dos povos
colonizados do seu território; e, a
imposição de um núcleo familiar que
reforça e atualiza os poderes branco
hétero-
patriarcais (LUGONES, 2008).
Abaixo, ilustra-
se com a
mensagens que foram compartilhadas
no grupo de Whatsapp® da pesquisa,
enquanto discutíamos sobre outros
modos de pensar as relações de sexo,
gênero e sexualidades, baseadas nas
teorias e discussões de Maria Lugones
e Oyèrónké Oyěwùmí:
E no meio artístico vo deve
estar disposto a tudo, se for no
teatro você pode em algum
momento pegar o papel de um
outro gênero. na dança tem a
questão de ser visto como algo
feminino o fato de dançar alguns
estilos (isso é muito ?????) então
se vc é
um homem que se atrai
por dança tem que rolar toda
uma desconstrução (Participante
1)
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
o processo de
colonização produziu múltiplas
estratégias dentro do sistema de
gênero moderno/colonial, a fim de
fazer funcionar e estabilizar as
relações de poderes dos povos
brancos ocidentais sob os outros
povos, sendo elas: a construção e
deus, pai e todo
poderoso; a destruição de governos
matriarcais; a retirada dos povos
colonizados do seu território; e, a
imposição de um núcleo familiar que
reforça e atualiza os poderes branco
-
patriarcais (LUGONES, 2008).
se com a
lgumas
mensagens que foram compartilhadas
no grupo de Whatsapp® da pesquisa,
enquanto discutíamos sobre outros
modos de pensar as relações de sexo,
gênero e sexualidades, baseadas nas
teorias e discuses de Maria Lugones
E no meio artístico você deve
estar disposto a tudo, se for no
teatro vo pode em algum
momento pegar o papel de um
outro gênero. Já na dança tem a
questão de ser visto como algo
feminino o fato de dançar alguns
estilos (isso é muito ?????) então
um homem que se atrai
por dança já tem que rolar toda
uma desconstrução (Participante
Em relação ao pudor, levando pra
uma questão machista, de mulher
na arte em geral, eu me via antes
pensando em como dançar
determinadas danças ou fazer
determinadas ce
as achar alguma coisa, tipo ficar
me policiando, ainda faço isso
inconscientemente porém menos
(Participante 2)
Discutir machismo,
performances de gêneros e
sexualidades estão presentes no
cotidiano dos participantes do Cultura
Zona Oeste, são atravessamentos que
marcam o individual e se encontram
também no coletivo, nas marcas de
um grupo de pessoas que falam das
periferias, a partir do lugar do ser
jovem e de um olhar crítico e
transformador para a sociedade.
152
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
Em relação ao pudor, levando pra
uma questão machista, de mulher
na arte em geral, eu me via antes
pensando em como dançar
determinadas danças ou fazer
determinadas ce
nas poderia fazer
as achar alguma coisa, tipo ficar
me policiando, ainda faço isso
inconscientemente porém menos
(Participante 2)
Discutir machismo,
performances de gêneros e
sexualidades estão presentes no
cotidiano dos participantes do Cultura
Zona Oeste, são atravessamentos que
marcam o individual e se encontram
também no coletivo, nas marcas de
um grupo de pessoas que falam das
periferias, a partir do lugar do ser
jovem e de um olhar crítico e
transformador para a sociedade.
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
Figura 5 - Foto
do Coletivo Cultura Zona Oeste
num ato pela diversidade em julho de 2021,
em frente a Alerj, Rio de Janeiro
Fonte: Acervo de imagens do Coletivo Cultura
Zona Oeste.
Quando os jovens do coletivo
retornam o olhar para as suas próprias
ações, as r
eflexões o diversas
dentro dessa dimensão social e
política do cotidiano, como aconteceu
nas trocas de mensagens do grupo de
WhatsAp ao refletirmos sobre as
produções artísticas periféricas e a
ideia de romper com padrões e
imposições coloniais. Abaixo
acompanhar alguns relatos sobre a
ideia de conscientização sociopolítica
através d
o corpo e das performances:
[...] A relação do meu corpo, arte
e ativismo é usar ele como forma
de conscientização, como essa
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
do Coletivo Cultura Zona Oeste
num ato pela diversidade em julho de 2021,
em frente a Alerj, Rio de Janeiro
-RJ.
Fonte: Acervo de imagens do Coletivo Cultura
Quando os jovens do coletivo
retornam o olhar para as suas próprias
eflexões são diversas
dentro dessa dimeno social e
política do cotidiano, como aconteceu
nas trocas de mensagens do grupo de
WhatsApp® ao refletirmos sobre as
produções artísticas periféricas e a
ideia de romper com padrões e
imposições coloniais. Abaixo
podemos
acompanhar alguns relatos sobre a
ideia de conscientização sociopolítica
o corpo e das performances:
[...] A relação do meu corpo, arte
e ativismo é usar ele como forma
de conscientização, como essa
coreografia, por exemplo. E foi
como eu
disse: "não seja
marionete da OPINIÃO da
sociedade", eu quis dizer que a
opinião da sociedade não deve
controlar você, vo deve fazer,
ou não, as coisas em cima do
que for você se sentir bem
(Participante 3)
Ainda, relatos sobre acesso a
arte, rompimento de ideias
preconceituosas e a arte periférica
enquanto criadora de identidades e
valorizadora de potenciais periféricos:
Acho que sim, a arte ainda é
muito elitista. Aqui mesmo no Rio,
quando uma peça grande e
em cartaz, são todas pela Zona
Sul e afins, para perceber que
até as estruturas dos teatros
mudam. Acredito que arte
periférica quebra bastante isso,
de que o que vem de fora é
legal, "certo" ou "bonito", ela que
carrega muito a essência e
ident
idade do povo e desenvolve
várias críticas socias, acredito
que isso ajuda muito na quebra
de certas ideias (Participante 4)
E por fim, é necessário pensar a
arte enquanto criadora de novos
modos de aprendizagens e
compartilhamento de saberes, no qual
to
do tipo de conhecimento é válido,
sem hierarquizar devido a títulos e
certificações:
153
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
coreografia, por exemplo. E foi
disse: "não seja
marionete da OPINIÃO da
sociedade", eu quis dizer que a
opinião da sociedade não deve
controlar vo, você deve fazer,
ou não, as coisas em cima do
que for você se sentir bem
(Participante 3)
Ainda, relatos sobre acesso a
arte, rompimento de ideias
preconceituosas e a arte periférica
enquanto criadora de identidades e
valorizadora de potenciais periféricos:
Acho que sim, a arte ainda é
muito elitista. Aqui mesmo no Rio,
quando uma peça grande e
ntra
em cartaz, o todas pela Zona
Sul e afins, dá para perceber que
até as estruturas dos teatros
mudam. Acredito que arte
periférica quebra bastante isso,
de que o que vem de fora é
legal, "certo" ou "bonito", ela que
carrega muito a essência e
idade do povo e desenvolve
rias críticas socias, acredito
que isso ajuda muito na quebra
de certas ideias (Participante 4)
E por fim, é necessário pensar a
arte enquanto criadora de novos
modos de aprendizagens e
compartilhamento de saberes, no qual
do tipo de conhecimento é válido,
sem hierarquizar devido a títulos e
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
Então eu acredito que a arte nas
periferias sejam "contra
coloniais". Porque, embora
alguns não tenham formação
profissional, eles tem bagagem
para compartilhar conhecimen
Por exemplo os monitores do
cultura, que mesmo não tenham
formação para dar aula, eles
sabem muita coisa e podem
compartilhar com a gente
(Participante 5)
A arte produzida na periferia
pelo Cultura Zona Oeste possui
reinvenções, criatividades e
dese
nvolvimento de potências que se
dão por meio da atuação coletiva e do
trabalho em rede, trazendo para cena
questões do cotidiano periférico, em
busca de comunicar a realidade
através de um lugar crítico e dar luz a
possíveis resoluções.
A contra-colonial
idade nos
movimentos, produções e
organização do Cultura Zona Oeste
Pensar sobre contra
colonialidade nos movimentos do
coletivo Cultura Zona Oeste parte
primeiramente de uma perspectiva
crítica da sociedade e de seu modo de
organização, compreendendo que
é regida pelo que Quijano (1991)
nomeia como colonialidade do poder
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
Então eu acredito que a arte nas
periferias sejam "contra
-
coloniais". Porque, embora
alguns não tenham formação
profissional, eles tem bagagem
para compartilhar conhecimen
to.
Por exemplo os monitores do
cultura, que mesmo não tenham
formação para dar aula, eles
sabem muita coisa e podem
compartilhar com a gente
A arte produzida na periferia
pelo Cultura Zona Oeste possui
reinvenções, criatividades e
nvolvimento de potências que se
dão por meio da atuação coletiva e do
trabalho em rede, trazendo para cena
questões do cotidiano periférico, em
busca de comunicar a realidade
através de um lugar crítico e dar luz a
idade nos
movimentos, produções e
organização do Cultura Zona Oeste
Pensar sobre contra
-
colonialidade nos movimentos do
coletivo Cultura Zona Oeste parte
primeiramente de uma perspectiva
crítica da sociedade e de seu modo de
organização, compreendendo que
esta
é regida pelo que Quijano (1991)
nomeia como colonialidade do poder
-
sistema de poder social sutil
sustentado “implicitamente pela
Europa e Estados Unidos. Esse
sistema atua e se mantém
principalmente por meio da
modernidade, do capitalismo, da
glob
alização e o eurocentrismo,
estratégias que atualizam
constantemente o controle e a
violência sobre os países que foram
colonizados e as pessoas
“racializadas”, explorando o território, a
natureza, o trabalho, as pessoas e
suas subjetividades (QUIJANO, 200
Segundo Maldonado
(2007), a colonialidade
colonialismo, mas ao mesmo tempo
sobrevive a este, visto que esta diz
sobre a forma que o trabalho, o
conhecimento, a autoridade e as
relações subjetivas se articulam entre
si, determinando hierarquias e
relações de poder baseadas na ideia
de r
aça. Com isso, podemos
compreender os processos atuais do
racismo em seus diferentes tipos como
processos da colonialidade, desde o
genocídio do povo preto favelado até a
imposição da cultura branca
enquanto cultura ideal, moderna.
Os estudos ace
colonialidade tiveram uma maior
154
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
sistema de poder social sutil
sustentado implicitamente” pela
Europa e Estados Unidos. Esse
sistema atua e se mantém
principalmente por meio da
modernidade, do capitalismo, da
alização e o eurocentrismo,
estratégias que atualizam
constantemente o controle e a
violência sobre os países que foram
colonizados e as pessoas
racializadas, explorando o território, a
natureza, o trabalho, as pessoas e
suas subjetividades (QUIJANO, 200
2).
Segundo Maldonado
-Torres
(2007), a colonialidade
antecede o
colonialismo, mas ao mesmo tempo
sobrevive a este, visto que esta diz
sobre a forma que o trabalho, o
conhecimento, a autoridade e as
relações subjetivas se articulam entre
si, determinando hierarquias e
relações de poder baseadas na ideia
aça. Com isso, podemos
compreender os processos atuais do
racismo em seus diferentes tipos como
processos da colonialidade, desde o
genodio do povo preto favelado até a
imposição da cultura branca
-europeia
enquanto cultura ideal, moderna.
Os estudos ace
rca da
colonialidade tiveram uma maior
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
concentração e destaque com o grupo
Colonialidade/Modernidade, sugerindo
o termo decolonialidade
termo ideal para se pensar estratégias
que vão de encontro aos modos de
organização imperialista, violento e
exp
lorador do sistema global
(MIGNOLO, 2007). Ao falar sobre
decolonialidade, o grupo
Colonialidade/Modernidade está mais
direcionado a um “pensamento
decolonial.
Não que o termo
decolonialidade
não se aplique a
ações e movimentos da vida prática e
cotidian
a para além do campo do
pensamento, porém escolhemos nos
apoiar aqui na contra-
colonialidade,
termo utilizado por Antônio Bispo dos
Santos (2019), pesquisador e
pensador quilombola brasileiro, que
nomeia como contra-
colonialidade os
movimentos de resistênc
ia dos povos
afro-
pindorâmicos (povos negros e
indígenas brasileiros) desenvolvidos
no cotidiano como formas de criar
subsídios para manter vivas as suas
culturas e saberes, criar estratégias
contra as violências e produzir o bem
viver.
Portanto, quando o
Zona Oeste se propõe a pautar e
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
concentração e destaque com o grupo
Colonialidade/Modernidade, sugerindo
como um
termo ideal para se pensar estratégias
que vão de encontro aos modos de
organização imperialista, violento e
lorador do sistema global
(MIGNOLO, 2007). Ao falar sobre
decolonialidade, o grupo
Colonialidade/Modernidade está mais
direcionado a um pensamento”
Não que o termo
não se aplique a
ações e movimentos da vida prática e
a para além do campo do
pensamento, porém escolhemos nos
colonialidade,
termo utilizado por Antônio Bispo dos
Santos (2019), pesquisador e
pensador quilombola brasileiro, que
colonialidade os
ia dos povos
pindorâmicos (povos negros e
indígenas brasileiros) desenvolvidos
no cotidiano como formas de criar
subsídios para manter vivas as suas
culturas e saberes, criar estratégias
contra as violências e produzir o bem
Portanto, quando o
Cultura
Zona Oeste se propõe a pautar e
buscar soluções para problemáticas
sociais locais que atingem as
populações pretas e periféricas,
questões estas que partem do sistema
da colonialidade do poder e suas
opressões, podemos considerar que
eles estão se
posicionando contra
colonialmente, produzindo brechas
para promover direitos e qualidade de
vida para sua comunidade.
Em tela, esta ideia de
comunidade é em sua maioria formada
por pessoas negras (pretas e pardas),
assim como a maioria das populações
de f
avelas e periferias brasileiras.
Segundo a última publicação da
revista “Retrato das Desigualdades de
Gênero e Raça” (IPEA, 2011), a
população negra representa maioria
nos territórios de favela, sendo 66,2%
dos domicílios chefiados por homens
e/ou mulheres
negras.
As ões contra
povos afro-
pindorâmicos podem ser
realizadas em diversos âmbitos, sejam
eles políticos, sociais, subjetivos,
artísticos e/ou culturais (SANTOS,
2019). Assim, compreendemos a arte
e a cultura como um ponto de
concentr
ação para a atuação contra
colonial do Cultura Zona Oeste, porém
a produção de arte e cultura por si
155
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
buscar soluções para problemáticas
sociais locais que atingem as
populações pretas e periféricas,
questões estas que partem do sistema
da colonialidade do poder e suas
opressões, podemos considerar que
posicionando contra
-
colonialmente, produzindo brechas
para promover direitos e qualidade de
vida para sua comunidade.
Em tela, esta ideia de
comunidade é em sua maioria formada
por pessoas negras (pretas e pardas),
assim como a maioria das populações
avelas e periferias brasileiras.
Segundo a última publicação da
revista Retrato das Desigualdades de
Gênero e Raça (IPEA, 2011), a
população negra representa maioria
nos territórios de favela, sendo 66,2%
dos domilios chefiados por homens
negras.
As ações contra
-coloniais dos
pindorâmicos podem ser
realizadas em diversos âmbitos, sejam
eles políticos, sociais, subjetivos,
artísticos e/ou culturais (SANTOS,
2019). Assim, compreendemos a arte
e a cultura como um ponto de
ação para a atuação contra
-
colonial do Cultura Zona Oeste, porém
a produção de arte e cultura por si
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
não é o objetivo final e nem delimita as
ações do coletivo. Pois, quando o
coletivo se propõe a lidar e superaras
vulnerabilidades do território, a part
da oferta de acesso a bens culturais
de maneira popular e emancipatória,
como pela “cobrança” destes bens ao
poder público, o coletivo está
rompendo com uma das ferramentas
de exploração da populão e do
território que é a precarização. De
acordo com Q
uijano (2002) a
precarização é um estado necesrio
para a instalação da dominação,
ninguém pode explorar ninguém se
não o domina e, para dominar
primeiramente, é necessário tornar os
dominados dependentes, assim como
aconteceu no processo de
colonização,
a escassez, a violência, a
precariedade eram promovidas como
ferramentas para tornar os povos
dominados reféns de um poder. A
mesma “mão” que possui o poder de
fornecer direitos e acessos, possui
também o poder de os retirar e,
retirando-
os, torna aqueles
necessitam dependentes e, portanto,
vulneráveis a este.
Ainda sobre o processo de
colonização, Antônio Bispo dos Santos
(2019) expõe em seu livro
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
não é o objetivo final e nem delimita as
ações do coletivo. Pois, quando o
coletivo se propõe a lidar e superaras
vulnerabilidades do território, a part
ir
da oferta de acesso a bens culturais
de maneira popular e emancipatória,
como pela cobrança destes bens ao
poder público, o coletivo está
rompendo com uma das ferramentas
de explorão da população e do
território que é a precarização. De
uijano (2002) a
precarização é um estado necessário
para a instalação da dominação,
ninguém pode explorar ninguém se
não o domina e, para dominar
primeiramente, é necesrio tornar os
dominados dependentes, assim como
aconteceu no processo de
a escassez, a violência, a
precariedade eram promovidas como
ferramentas para tornar os povos
dominados reféns de um poder. A
mesma mão que possui o poder de
fornecer direitos e acessos, possui
também o poder de os retirar e,
os, torna aqueles
que
necessitam dependentes e, portanto,
Ainda sobre o processo de
colonização, Antônio Bispo dos Santos
(2019) expõe em seu livro
“Colonização Quilombos: modos e
significações” as Bulas Papais, cartas
trocadas e outros documentos
histó
ricos deste período, que nos
permitem observar o quanto a
produção de narrativas foi uma
importante ferramenta para a produção
do poder, principalmente as narrativas
acerca de um Deus, pai e todo
poderoso, que determinava quem
eram os possuidores de alma e
não eram, qual a cor da pele de quem
possui o pecado e, portanto,quem
deve servir aqueles que não o possui.
Foi construído, com base em
narrativas, uma intelegibilidade euro
cristã que produzia, e continua
produzindo, verdades e imposições
para os po
vos colonizados.
Assim, podemos perceber
também a importância do processo de
produção de narrativas que o Cultura
Zona Oeste vem se propondo a
construir, contrariando narrativas
estigmatizadas e produzindo um olhar
para a juventude periférica enquanto
age
ntes potentes, produtores de arte e
cultura, bem articulados, responveis
e capazes de gerir e promover ações
diversas nos seus territórios.
Demonstram que a generalização de
histórias e conceitos está implicada no
156
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
Colonização Quilombos: modos e
significações as Bulas Papais, cartas
trocadas e outros documentos
ricos deste período, que nos
permitem observar o quanto a
produção de narrativas foi uma
importante ferramenta para a produção
do poder, principalmente as narrativas
acerca de um Deus, pai e todo
poderoso, que determinava quem
eram os possuidores de alma e
quem
não eram, qual a cor da pele de quem
possui o pecado e, portanto,quem
deve servir aqueles que não o possui.
Foi construído, com base em
narrativas, uma intelegibilidade euro
-
cristã que produzia, e continua
produzindo, verdades e imposições
vos colonizados.
Assim, podemos perceber
também a importância do processo de
produção de narrativas que o Cultura
Zona Oeste vem se propondo a
construir, contrariando narrativas
estigmatizadas e produzindo um olhar
para a juventude periférica enquanto
ntes potentes, produtores de arte e
cultura, bem articulados, responsáveis
e capazes de gerir e promover ações
diversas nos seus territórios.
Demonstram que a generalização de
histórias e conceitos está implicada no
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
risco de produzir estigmas, gerar
violên
cias e mortes, portanto contrariá
los é produzir outras possibilidades
para viver. Neste sentido, percebe
que a arte urbana funciona como
dispositivo analisador das amarras
contra-
culturais, descolonizando
corpos e mentes.
Sobre isso, Takeiti e Vicentin
(2017) argumentam que jovens
periféricos que se inserem em
coletivos culturais conseguem romper
fronteiras e limitações colocadas pela
sociedade, desconstruindo os
estigmas e tornando posvel o
reconhecimento e a ocupação de
novos espaços.
A ocupação p
olítica institucional
que alguns dos participantes do
coletivo se envolvem une esses dois
aspectos discutidos anteriormente: o
“fim” da precarização, apontado por
Quijano (2002) e a produção de
narrativas, colocada por Antônio Bispo
dos Santos (2019). Ness
a ocupação
política institucional, a ocupação de
um espaço de poder ou de disputa de
poderes que não foi pensado
estruturalmente para ser ocupado por
pessoas periféricas. Portanto a
ocupação de um(a) jovem periférico(a)
alinhado às pautas da periferia n
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
risco de produzir estigmas, gerar
cias e mortes, portanto contrariá
-
los é produzir outras possibilidades
para viver. Neste sentido, percebe
-se
que a arte urbana funciona como
dispositivo analisador das amarras
culturais, descolonizando
Sobre isso, Takeiti e Vicentin
(2017) argumentam que jovens
periféricos que se inserem em
coletivos culturais conseguem romper
fronteiras e limitações colocadas pela
sociedade, desconstruindo os
estigmas e tornando possível o
reconhecimento e a ocupação de
olítica institucional
que alguns dos participantes do
coletivo se envolvem une esses dois
aspectos discutidos anteriormente: o
fim da precarização, apontado por
Quijano (2002) e a produção de
narrativas, colocada por Antônio Bispo
a ocupação
política institucional, há a ocupação de
um espaço de poder ou de disputa de
poderes que não foi pensado
estruturalmente para ser ocupado por
pessoas periféricas. Portanto a
ocupação de um(a) jovem periférico(a)
alinhado às pautas da periferia n
esses
espaços produz a possibilidade da
produção de políticas públicas que
promovam à comunidade uma melhor
qualidade de vida, partindo de uma
lógica resolutiva e o burocrática ou
apenas “por aparência. E ainda, a
construção de um outro olhar para as
po
tências e possibilidades
sociopolíticas da juventude periférica,
transformando o espaço social como
lugar também de cultura.
Enquanto não pudermos pensar
em outros modos de sistema político
social que não esta democracia,
aliada ao poder importado do oc
a ocupação e a diversidade se tornam
importantes dispositivos provirios
para os povos pretos, periféricos, e
diversas minorias sociais, que não o
representadas na cidadania do Estado.
Os processos de ensino
aprendizagem promovidos pelo
Coletiv
o podem também ser
compreendidos como contra
ou como Mota Neto (2018) nomeia
uma pedagogia decolonial, na qual os
processos de produção e expano de
saber estão diretamente ligados aos
povos periféricos e organicamente
ligados às suas vivênci
O ensino das artes, as discussões e
rodas de conversa sobre juventudes e
157
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
espaços produz a possibilidade da
produção de políticas blicas que
promovam à comunidade uma melhor
qualidade de vida, partindo de uma
lógica resolutiva e não burocrática ou
apenas por aparência”. E ainda, a
construção de um outro olhar para as
tências e possibilidades
sociopolíticas da juventude periférica,
transformando o espaço social como
lugar também de cultura.
Enquanto não pudermos pensar
em outros modos de sistema político
-
social que não esta “democracia”,
aliada ao poder importado do oc
idente,
a ocupação e a diversidade se tornam
importantes dispositivos provisórios
para os povos pretos, periféricos, e
diversas minorias sociais, que não são
representadas na cidadania do Estado.
Os processos de ensino
-
aprendizagem promovidos pelo
o podem também ser
compreendidos como contra
-coloniais,
ou como Mota Neto (2018) nomeia
-
uma pedagogia decolonial, na qual os
processos de produção e expansão de
saber estão diretamente ligados aos
povos periféricos e organicamente
ligados às suas vivênci
as no cotidiano.
O ensino das artes, as discussões e
rodas de conversa sobre juventudes e
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
temas políticos e sociais promovidas
pelo Cultura Zona Oeste está
diretamente ligada às questões do
território e fazem os jovens refletirem e
aprenderem sobre questõe
sobre o lugar social de cada um, seus
atravessamentos e formas de se
posicionar diante disso.
Além do saber compartilhado
não ser um saber formal, disciplinar,
as pessoas que o compartilham
também não possuem
necessariamente uma formação
insti
tucional, uma certificação ou algo
do tipo. Para compartilhar
conhecimento, basta saber sobre e
saber ensinar, os processos de ensino
e aprendizagem caminham juntos,
misturando no coletivo os saberes
artísticos, culturais e políticos com
outros saberes pre
sentes no cotidiano.
Ao falarmos das produções
artísticas do coletivo e suas
apresentações, o conceito de
biointeração cunhado por Antônio
Bispo dos Santos (2019), permite
romper com ciclos sintéticos da vida
cotidiana e produzir ciclos orgânicos.
Para es
pecificar essa ideia, o autor
usa o exemplo de elementos que o
retirados da natureza, transformados
em produtos sintéticos e não podem
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
temas políticos e sociais promovidas
pelo Cultura Zona Oeste está
diretamente ligada às questões do
território e fazem os jovens refletirem e
aprenderem sobre questõe
s que dizem
sobre o lugar social de cada um, seus
atravessamentos e formas de se
Além do saber compartilhado
não ser um saber formal, disciplinar,
as pessoas que o compartilham
também não possuem
necessariamente uma formação
tucional, uma certificação ou algo
do tipo. Para compartilhar
conhecimento, basta saber sobre e
saber ensinar, os processos de ensino
e aprendizagem caminham juntos,
misturando no coletivo os saberes
artísticos, culturais e políticos com
sentes no cotidiano.
Ao falarmos das produções
artísticas do coletivo e suas
apresentações, o conceito de
biointerão cunhado por Antônio
Bispo dos Santos (2019), permite
romper com ciclos sintéticos da vida
cotidiana e produzir ciclos orgânicos.
pecificar essa ideia, o autor
usa o exemplo de elementos que são
retirados da natureza, transformados
em produtos sintéticos e não podem
mais ser aproveitados pela natureza
novamente, como é o caso da
borracha, diferente de
produtos/produções orgânicas, qu
são retiradas da natureza enquanto
matéria prima e depois podem voltar e
serem reaproveitadas novamente,
como ativadores da terra, adubo, ou
mesmo para as demandas do
cotidiano humano como cestos de
palha e vasos de barro.
Neste sentido, quando o Cultur
Zona Oeste produz as suas
cenas/espetáculos a partir da
realidade cotidiana da periferia e
depois apresenta essas cenas em
formatos estéticos para a comunidade,
eles estão biointeragindo, promovendo
através dessa biointeração uma outra
forma da comunidad
e compreender a
sua realidade e tomar consciência
crítica dos atravessamentos
opressores que os rodeiam, na qual
muitas vezes são lidos ou
compreendidos como uma experiência
individual. Compreender que esses
atravessamentos do racismo,
capitalismo, machism
fobia, são processos históricos e
coletivos podem promover outras
formas de os indivíduos da
158
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
mais ser aproveitados pela natureza
novamente, como é o caso da
borracha, diferente de
produtos/produções orgânicas, qu
e
o retiradas da natureza enquanto
matéria prima e depois podem voltar e
serem reaproveitadas novamente,
como ativadores da terra, adubo, ou
mesmo para as demandas do
cotidiano humano como cestos de
palha e vasos de barro.
Neste sentido, quando o Cultur
a
Zona Oeste produz as suas
cenas/espetáculos a partir da
realidade cotidiana da periferia e
depois apresenta essas cenas em
formatos estéticos para a comunidade,
eles estão biointeragindo, promovendo
através dessa biointeração uma outra
e compreender a
sua realidade e tomar consciência
crítica dos atravessamentos
opressores que os rodeiam, na qual
muitas vezes são lidos ou
compreendidos como uma experiência
individual. Compreender que esses
atravessamentos do racismo,
capitalismo, machism
o, da LGBTQia+
fobia, o processos históricos e
coletivos podem promover outras
formas de os indivíduos da
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
comunidade se relacionarem e se
posicionarem diante disso.
Nesse mesmo processo de
compreender atravessamentos
históricos e coletivos pode ir
acont
ecendo por parte da comunidade
e dos participantes do coletivo um
processo de construção de
identidades, de se compreenderem
enquanto pessoas negras/indígenas,
suas histórias e memórias,
compreenderem também o lugar da
branquitude e os privilégios que esse
lugar produz, e assim passar a
visualizar outra dimensão das políticas
cotidianas da colonialidade que como
já foi citado, ocorre de maneira sutil.
Fannon (2008) olha para o
processo de construção de identidades
dos povos negros como um fator de
extrema
importância para o
rompimento da opressão colonial, pois
segundo ele, a humanidade foi negada
ao povo negro, povo este que foi
resumido a ser apenas o exterior ao
branco, tendo suas histórias, culturas,
heranças e potências apagadas.
Quijano (1991) aponta
processos de apagamentos foi uma
estratégia dos povos ocidentais
durante a colonização, fazendo com
que as identidades dos povos
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
comunidade se relacionarem e se
Nesse mesmo processo de
compreender atravessamentos
históricos e coletivos pode ir
ecendo por parte da comunidade
e dos participantes do coletivo um
processo de construção de
identidades, de se compreenderem
enquanto pessoas negras/indígenas,
suas histórias e memórias,
compreenderem também o lugar da
branquitude e os privilégios que esse
lugar produz, e assim passar a
visualizar outra dimeno das políticas
cotidianas da colonialidade que como
já foi citado, ocorre de maneira sutil.
Fannon (2008) olha para o
processo de construção de identidades
dos povos negros como um fator de
importância para o
rompimento da opressão colonial, pois
segundo ele, a humanidade foi negada
ao povo negro, povo este que foi
resumido a ser apenas o exterior ao
branco, tendo suas histórias, culturas,
heranças e potências apagadas.
Quijano (1991) aponta
que esses
processos de apagamentos foi uma
estratégia dos povos ocidentais
durante a colonização, fazendo com
que as identidades dos povos
colonizados se perdessem nos
labirintos da colonização para que
estes se tornassem dependentes dos
colonizadores.
Po
r fim, pensar no modo em
que o coletivo Cultura Zona Oeste se
organiza nos leva a compartilhar dos
elementos que Antônio Bispo dos
Santos (2019) irá chamar de
cosmovisão dos povos politeístas, no
sentido de fazer com que as coisas
aconteçam através das red
em constante diálogo com os
envolvidos, se envolver com o território
e desenvolver melhorias para este e
para a comunidade e seguir resistindo
e encontrando brechas para defender
e continuar desenvolvendo seus
modos de produzir arte e cultura, de
maneiras horizontais, colaborativas e
compartilhadas.
Considerações Finais
Pesquisar, dialogar e produzir
saberes junto ao coletivo Cultura Zona
Oeste nos deu pistas sobre contra
colonialidades, sobre modos de atuar
de maneira prática e direta para a
res
olução de problemas sociais
investidos e sustentados pela
colonialidade. É por meio de uma
atenção sensível, política e ética que
159
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
colonizados se perdessem nos
labirintos da colonização para que
estes se tornassem dependentes dos
r fim, pensar no modo em
que o coletivo Cultura Zona Oeste se
organiza nos leva a compartilhar dos
elementos que Antônio Bispo dos
Santos (2019) irá chamar de
cosmovio dos povos politeístas, no
sentido de fazer com que as coisas
aconteçam através das red
es, estar
em constante diálogo com os
envolvidos, se envolver com o território
e desenvolver melhorias para este e
para a comunidade e seguir resistindo
e encontrando brechas para defender
e continuar desenvolvendo seus
modos de produzir arte e cultura, de
maneiras horizontais, colaborativas e
Considerações Finais
Pesquisar, dialogar e produzir
saberes junto ao coletivo Cultura Zona
Oeste nos deu pistas sobre contra
-
colonialidades, sobre modos de atuar
de maneira prática e direta para a
olução de problemas sociais
investidos e sustentados pela
colonialidade. É por meio de uma
atenção senvel, política e ética que
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
vamos identificando ações e
ferramentas de resistências potentes e
presentes no cotidiano.
A atuação do coletivo frente aos
p
adrões coloniais ocorre de forma
múltipla, pois parte de um desejo que
é promover o bem viver para a sua
comunidade, seu povo, que é
constantemente oprimida como as
populações negras, indígenas,
periféricas. Para alcançar o bem viver
é necessário estarmos
em atenção
constante e em engajamento ativo a
uma extensa dimensão de áreas,
assuntos e temas da sociedade.
Para essas tarefas, vimos por
meio da pesquisa a cultura e a arte
como ferramentas potentes de
atuação, que facilita a junção de
pessoas e formação
de grupos, a
sensibilização humana e o olhar para o
outro, e ainda, promove um amplo
alcance comunitário, pois é por meio
de festivais, feiras e outros eventos
festivos que o coletivo consegue se
comunicar e apresentar as suas
pautas para a comunidade. A
social se torna componente envolvido
ao entretenimento.
A juventude periférica se coloca
enquanto protagonista no seu
território, tomando para si uma batalha
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
vamos identificando ações e
ferramentas de resistências potentes e
A atuação do coletivo frente aos
adrões coloniais ocorre de forma
múltipla, pois parte de um desejo que
é promover o bem viver para a sua
comunidade, seu povo, que é
constantemente oprimida como as
populações negras, indígenas,
periféricas. Para alcançar o bem viver
em atenção
constante e em engajamento ativo a
uma extensa dimeno de áreas,
assuntos e temas da sociedade.
Para essas tarefas, vimos por
meio da pesquisa a cultura e a arte
como ferramentas potentes de
atuação, que facilita a junção de
de grupos, a
sensibilização humana e o olhar para o
outro, e ainda, promove um amplo
alcance comunitário, pois é por meio
de festivais, feiras e outros eventos
festivos que o coletivo consegue se
comunicar e apresentar as suas
pautas para a comunidade. A
luta
social se torna componente envolvido
A juventude periférica se coloca
enquanto protagonista no seu
território, tomando para si uma batalha
que é extensa, histórica, muito antiga,
fazendo aquilo que podem e que
acreditam que promove
a subversão das regras e opressões
sociais, nos dando caminhos enquanto
sujeitos implicados com a
transformação social por meio da
crença em possíveis mudanças e da
organicidade que caminham nesta
direção.
Portanto, estar atento aos
movime
ntos que partem das periferias,
dos povos afropindorâmicos, é uma
direção necessária a ser tomada
quando falamos de caminhos para a
transformação social, de ações contra
coloniais. Os povos afropindorâmicos
têm sido historicamente um povo de
muitas criativ
idades e resistências,
produzindo saídas para a subsistência
dos seus por meio da fé, da cultura, da
multiplicidade de saberes e da
compreensão do movimento e da
circularidade como elementos vitais.
Aprendamos com eles, traduzindo
modos de ver e agirna vid
coletivamente.
Referências
bibliográficas
BRINGEL, B.; MALDONADO, E. E.
Pensamento crítico latino
pesquisa militante em Orlando Fals
Borda: práxis, subvero e libertação.
160
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
que é extensa, histórica, muito antiga,
fazendo aquilo que podem e que
acreditam que promove
a libertação e
a subvero das regras e opressões
sociais, nos dando caminhos enquanto
sujeitos implicados com a
transformação social por meio da
crença em posveis mudanças e da
organicidade que caminham nesta
Portanto, estar atento aos
ntos que partem das periferias,
dos povos afropindorâmicos, é uma
direção necesria a ser tomada
quando falamos de caminhos para a
transformação social, de ações contra
-
coloniais. Os povos afropindorâmicos
têm sido historicamente um povo de
idades e resistências,
produzindo saídas para a subsistência
dos seus por meio da fé, da cultura, da
multiplicidade de saberes e da
compreensão do movimento e da
circularidade como elementos vitais.
Aprendamos com eles, traduzindo
modos de ver e agirna vid
a
bibliográficas
BRINGEL, B.; MALDONADO, E. E.
Pensamento crítico latino
-americano e
pesquisa militante em Orlando Fals
Borda: práxis, subversão e libertação.
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
Revista Direito e Práxis
Janeiro, v. 7, n. 13, p. 389
DOI: 10.12957/dep.2016.21832| ISSN:
2179-8966
CASTRO-
GOMÉZ, S. GROSFOGUEL,
R. El giro decolonial
: Reflexiones para
una diversidad epistémica más alládel
capitalismo global. Bogotá
Hombre Editores, 2007.
FALS BORDA, O. Reflexiones sobre
laaplicacióndel método de estudio
acciónenColombia.
In: FARFÁN, N. A.
H.; GUZMÁN, L. L. (comp.).
compromisso y cambio social
[
Colección: Pensamiento
Latinoamericano].
Montevideo:
Editorial El Colectivo,
2014
282.
FANNON, F.
Peles negras,
brancas
. Salvador: EDUFBA, 2008.
FONTES, J. V. A.
colonialidades nos movimentos
artísticos-
culturais de jovens urbanos
periféricos
: um estudo participante em
psicossociologia na Zona Oeste da
cidade do Rio de Janeiro. (Mestrado
em Psicossoc
iologia de Comunidades
e Ecologia Social).
Instituto de
Psicologia, Universidade Federal do
Rio de Janeiro, 2021.
INSTITUTO DE PESQUISA
ECONÔMICA APLICADA.
desigualdades de gênero e raça
Brasília: IPEA, 2011.
INSTITUTO PEREIRA PASSOS,
Populaçã
o residente por cor ou raça,
segundo Áreas de Planejamento (AP),
Regiões de Planejamento (RP),
Regiões Administrativas (RA) e Bairros
no Município do Rio de Janeiro
Disponível em:
http://www.data.rio/datasets/popula%C
3%A7%C3%A3o-residente
-
ra%C3%A7a-segundo-as-
%C3%A1reas-de-
planejamento
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
Revista Direito e Práxis
, Rio de
Janeiro, v. 7, n. 13, p. 389
-413, 2016.
DOI: 10.12957/dep.2016.21832| ISSN:
GOMÉZ, S. GROSFOGUEL,
: Reflexiones para
una diversidad epistémica más alládel
capitalismo global. Bogotá
: Siglo del
FALS BORDA, O. Reflexiones sobre
laaplicacióndel método de estudio
-
In: FARFÁN, N. A.
H.; GUZMÁN, L. L. (comp.).
Ciencia,
compromisso y cambio social
.
Colección: Pensamiento
Montevideo:
2014
. p. 265-
Peles negras,
máscaras
. Salvador: EDUFBA, 2008.
FONTES, J. V. A.
Contra-
colonialidades nos movimentos
culturais de jovens urbanos
: um estudo participante em
psicossociologia na Zona Oeste da
cidade do Rio de Janeiro. (Mestrado
iologia de Comunidades
Instituto de
Psicologia, Universidade Federal do
INSTITUTO DE PESQUISA
ECONÔMICA APLICADA.
Retrato das
desigualdades de gênero e raça
.
INSTITUTO PEREIRA PASSOS,
o residente por cor ou raça,
segundo Áreas de Planejamento (AP),
Regiões de Planejamento (RP),
Regiões Administrativas (RA) e Bairros
no Munipio do Rio de Janeiro
– 2010.
Disponível em:
http://www.data.rio/datasets/popula%C
-
por-cor-ou-
planejamento
-ap-
regi%C3%B5es-de-
planejamento
regi%C3%B5es-
administrativas
bairros-no-
munic%C3%ADpio
de-janeiro-2010.
Acesso em: 07 abr
2020.
LUGONES, M. Colonialidad y Género.
Tabula Rasa
, Bogotá
2008.
MALDONADO, N. Sobre
colonialidaddel ser: contribuciones al
desarrollo de un concepto. In: GOMÉZ,
S. C.; GROSFOGUEL, R.
decolonial. Bogotá:
Siglo
Editores, 2007
. p. 127
MIGNOLO, W. D. El pensamiento
decolonial
: desprendimento y apertura:
um manifiesto. In: GOMÉZ, S. C.;
GROSFOGUEL, R.
El giro decolonial
Bogotá: Siglo del
Hombre Editores,
2007. p. 25-46.
MIGNOLO, W. Desobediencia
epistémica: Retórica de la
modernidade, lógica de lacolonialidad
y gramática de la
Buenos Aires: Ediciones Del Signo,
2010.
MOTA NETO, J. C. Paulo Freire e
Orlando Fals Borda na genealogia da
pedagogia decolonial latino
Folios
, Bogotá, n. 48, p. 3
OYĚWÙMÍ, O.
A invenção das
mulheres
: Construindo um
africano para os discursos ocidentais
de gênero. Rio de Janeiro: Bazar do
Tempo, 2021.
QUIJANO, A. ¿Sobrevivirá América
Latina? Publicado em português em
Perspectiva
, São Paulo, v. 7, n. 2, p.
60 – 67, 1991.
QUIJANO, A. Colonialidad
euro
centrismo y América Latina. La
colonialidad
del saber: eurocentrismo y
ciências sociales
In:
horizontes: de la dependencia
161
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
planejamento
-rp-
administrativas
-ra-e-
munic%C3%ADpio
-do-rio-
Acesso em: 07 abr
.
LUGONES, M. Colonialidad y Género.
, Bogotá
, n. 9, p. 73-101,
MALDONADO, N. Sobre
La
colonialidaddel ser: contribuciones al
desarrollo de un concepto. In: GOMÉZ,
S. C.; GROSFOGUEL, R.
El giro
Siglo
del Hombre
. p. 127
-168.
MIGNOLO, W. D. El pensamiento
: desprendimento y apertura:
um manifiesto. In: GOMÉZ, S. C.;
El giro decolonial
.
Hombre Editores,
MIGNOLO, W. Desobediencia
epistémica: Retórica de la
modernidade, lógica de lacolonialidad
descolonialidad.
Buenos Aires: Ediciones Del Signo,
MOTA NETO, J. C. Paulo Freire e
Orlando Fals Borda na genealogia da
pedagogia decolonial latino
-americana.
, Bogotá, n. 48, p. 3
-13, 2018.
A invenção das
: Construindo um
sentido
africano para os discursos ocidentais
de gênero. Rio de Janeiro: Bazar do
QUIJANO, A. ¿Sobrevivirá América
Latina? Publicado em português em
, São Paulo, v. 7, n. 2, p.
QUIJANO, A. Colonialidad
del poder,
centrismo y América Latina. La
del saber: eurocentrismo y
In:
Cuestiones y
horizontes: de la dependencia
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
Lopes. Contra-
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
o “Cultura Zona Oeste” no Rio de Janeiro.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ,
137
-
16
2
,
.
202
2
.
histórico-
estructural a la
colonialidad/descolonialidad del
poder.Buenos Aires:
FLACSO
p. 201-246.
QUIJANO, A.
Colonialidaddel poder y
clasificación social. In: GOMÉZ, S. C.;
GROSFOGUEL, R.
El giro decolonial
Bogotá: Siglo del
Hombre Editores,
2007. p. 93-126.
QUIJANO, A. Colonialidade, poder,
globalização e democracia.
Rumos, v. 17, n. 37, 2002.
SANTOS, A. B. dos.
Colonização,
Quilombos
: modos e significações.
Brasília: AYÔ, 2019.
SANTOS, A. B. dos.
Colonização,
quilombos
: modos e significações.
Bra
sília: Instituto Nacional de Ciê
Tecnologia/INCTI, 2015.
TAKEITI, B. A.; VICENTIN, M. C. G.
Juventude(s)
periférica(s) e
subjetivações: narrativas de
(re)existência juvenil em territórios
culturais. Fractal
: Revista de
Psicologia, Nitéroi, v. 31, n. esp., p.
256-262, 2019.
TAKEITI, B. A.; VICENTIN, M. C. G.
Periferias (in)visíveis: o território
da
Brasilândia na perspectiva de
jovens moradores.
DistúrbComun
Paulo, p. 144-157, 2017.
FONTES, Jean Vitor Alves; TAKEITI, Beatriz Akemi; CORREIA, Ricardo
colonialidades nos coletivos juvenis: uma experiência com
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ,
Ano 12, n. 22, p. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
estructural a la
colonialidad/descolonialidad del
FLACSO
, 2000.
Colonialidaddel poder y
clasificación social. In: GOMÉZ, S. C.;
El giro decolonial
.
Hombre Editores,
QUIJANO, A. Colonialidade, poder,
globalização e democracia.
Novos
Colonização,
: modos e significações.
Colonização,
: modos e significações.
lia: Instituto Nacional de Ciê
ncia e
TAKEITI, B. A.; VICENTIN, M. C. G.
periférica(s) e
subjetivações: narrativas de
(re)existência juvenil em territórios
: Revista de
Psicologia, Nitéroi, v. 31, n. esp., p.
TAKEITI, B. A.; VICENTIN, M. C. G.
Periferias (in)visíveis: o território
-vivo
Brasilândia na perspectiva de
DistúrbComun
, São
162
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")