OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
Práticas de democratização da literatura: uma etnografia digital de editoras
cartoneras latino
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i22
Resumo:
O texto se debruça sobre algumas cartoneras latino
difundem livros artesanais, confeccionados e pintados à mão, a par
coletados por cooperativas de catadores urbanos. A partir de etnografia digital, o objetivo do artigo é
analisar redes de atuação estabelecidas entre cartoneras de diferentes países, abordando
parte de um movimento cu
produzir e distribuir livros em espaços não institucionalizados e, por outro, incentiva a transformação
de objetos "não artísticos" em arte. Busca
artística colocado em prática pelas cartoneras tem sido responsável por um processo de
democratização de práticas editoriais e literárias na América Latina. Na primeira parte, descrevemos
os desafios metodológicos de uma pesquisa coletiva em
nosso recorte empírico e as ferramentas usadas ao longo da etnografia digital. Em seguida, tratamos
de duas estratégias que agentes têm utilizado para fazer frente a um modelo de produção editorial e
literária que,
para elas/es, é excludente, notadamente as suas redes de atuação e as rotinas coletivas
de trabalho. Por fim, nos debruçamos sobre o livro
usos do papelão como forma de ampliar práticas de democratização do
literatura.
Palavras-chave:
Cartoneras; práticas literárias; democratização; contra
1 Lucas Amaral de Oliveira.
Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo.
Departamento de Sociologia da Universidade Federal da Bahia/UFBA, Brasil. E
lucasoliveira.ufba@gmail.com -
https://orciod.org/
2 Bruna de Santana Souza.
Graduanda
brunassouzza98@gmail.com
3
Isabelle dos Santos Dorea Gonçalves.
isa.dorea333@gmail.com
4
Laura de Souza Oliveira Araújo.
laurasoaraujo94@gmail.com
Os alunos acima integram o PERIFÉRICAS
e Colonialidades, na condição de pesquisadores de Iniciação Científica.
Recebido em 25
/08/2021, aceito para
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Práticas de democratização da literatura: uma etnografia digital de editoras
cartoneras latino
-americanas
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i22
.51322
Lucas Amaral de Oliveira
Bruna de Santana Souza
Isabelle dos Santos Dorea Gonçalves
Laura de Souza Oliveira Araújo
O texto se debruça sobre algumas cartoneras latino
-
americanas, editoras que produzem e
difundem livros artesanais, confeccionados e pintados à mão, a par
tir da reciclagem de materiais
coletados por cooperativas de catadores urbanos. A partir de etnografia digital, o objetivo do artigo é
analisar redes de atuação estabelecidas entre cartoneras de diferentes países, abordando
ltural transnacional que, por um lado, propõe formas alternativas de
produzir e distribuir livros em espaços não institucionalizados e, por outro, incentiva a transformação
de objetos "não artísticos" em arte. Busca
-
se verificar em que medida o potencial d
artística colocado em prática pelas cartoneras tem sido responsável por um processo de
democratização de práticas editoriais e literárias na América Latina. Na primeira parte, descrevemos
os desafios metodológicos de uma pesquisa coletiva em
meio à pandemia da Covid
nosso recorte empírico e as ferramentas usadas ao longo da etnografia digital. Em seguida, tratamos
de duas estratégias que agentes têm utilizado para fazer frente a um modelo de produção editorial e
para elas/es, é excludente, notadamente as suas redes de atuação e as rotinas coletivas
de trabalho. Por fim, nos debruçamos sobre o “livro
-
objeto”, a partir de uma discuso sobre contra
usos do papelão como forma de ampliar práticas de democratização do
acesso ao livro, à leitura e à
Cartoneras; práticas literárias; democratização; contra
-
usos, livro
Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo.
Departamento de Sociologia da Universidade Federal da Bahia/UFBA, Brasil. E
-
mail:
https://orciod.org/
0000-0002-1272-4722.
Graduanda
em Ciências Sociais na UFBA, Brasil. E-
mail:
Isabelle dos Santos Dorea Gonçalves.
Graduanda em Ciências Sociais na UFBA, Brasil. E
Laura de Souza Oliveira Araújo.
Graduanda em Ciências Sociais na UF
BA, Brasil. E
Os alunos acima integram o PERIFÉRICAS
Núcleo de Estudos em Teorias Sociais, Modernidades
e Colonialidades, na condição de pesquisadores de Iniciação Científica.
/08/2021, aceito para
publicação em 25/01/2022, disponibilizado online em
01/03/2022.
520
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Práticas de democratização da literatura: uma etnografia digital de editoras
Lucas Amaral de Oliveira
1
Bruna de Santana Souza
2
Isabelle dos Santos Dorea Gonçalves
3
Laura de Souza Oliveira Araújo
4
americanas, editoras que produzem e
tir da reciclagem de materiais
coletados por cooperativas de catadores urbanos. A partir de etnografia digital, o objetivo do artigo é
analisar redes de atuação estabelecidas entre cartoneras de diferentes países, abordando
-as como
ltural transnacional que, por um lado, propõe formas alternativas de
produzir e distribuir livros em espaços não institucionalizados e, por outro, incentiva a transformação
se verificar em que medida o potencial d
e criatividade
artística colocado em prática pelas cartoneras tem sido responsável por um processo de
democratização de práticas editoriais e literárias na América Latina. Na primeira parte, descrevemos
meio à pandemia da Covid
-19, delimitando
nosso recorte empírico e as ferramentas usadas ao longo da etnografia digital. Em seguida, tratamos
de duas estratégias que agentes têm utilizado para fazer frente a um modelo de produção editorial e
para elas/es, é excludente, notadamente as suas redes de atuação e as rotinas coletivas
objeto, a partir de uma discussão sobre contra
-
acesso ao livro, à leitura e à
usos, livro
-objeto.
Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo.
Professor do
mail:
mail:
Graduanda em Ciências Sociais na UFBA, Brasil. E
-mail:
BA, Brasil. E
-mail:
Núcleo de Estudos em Teorias Sociais, Modernidades
publicação em 25/01/2022, disponibilizado online em
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
Prácticas de democratización literária: una etnografía digital de editoriales cartoneras en
América Latina
Resumen:
El texto se centra en algunas cartoneras latinoamericanas, editoriales que producen y
distribuyen libros hechos a mano, a partir del reciclaje de materiales recolectados por cooperativas de
recicladores urbanos (cartoneros). A partir de una etnografía dig
analizar las redes de acción que se establecen entre cartoneras de diferentes países, entendiéndolas
como parte de un movimiento cultural transnacional que, por un lado, propone formas alternativas de
producir y distri
buir libros en espacios no institucionalizados y, por otro, fomenta la transformación de
objetos "no artísticos" en "arte". Se busca verificar en qué medida el potencial de creatividad artística
puesto en práctica por las cartoneras ha sido responsable de
prácticas editoriales y literarias en América Latina. En la primera parte del texto, describimos los
desafíos metodológicos de una investigación colectiva que ocurrió en medio de la pandemia Covid
19, al mismo tiempo qu
e delimitamos nuestro enfoque empírico y las herramientas utilizadas a lo
largo de la etnografía digital. A continuación, nos ocupamos de dos estrategias que han utilizado los
agentes para afrontar un modelo de producción editorial y literaria que, para el
notablemente sus redes de acción y sus rutinas colectivas de trabajo. Finalmente, nos enfocamos en
el “libro-
objeto”, a partir de una discusión sobre los contra
expandir las prácticas de democratizaci
Palabras clave:
Cartoneras; prácticas literarias; democratización; contra
Practices in democratizing literature: a digital ethnography of Latin American cartonera
publishing
Abstract:
The article focuses on some Latin American
collectives
that produce and distribute hand
materials collected by recycling cooperatives. Based on a d
networks established among
transnational cultural movement that, on the one hand, proposes alternative ways of producing and
distributing books in non-
institutionalized territories and, on the other, encourages the transformation
of "non-
artistic" objects into art. The paper seeks to verify to what extent the potential for artistic
creativity put into practice by
cartoneras
editorial and literary practices in Latin America. In
methodological challenges of a collective research carried out in the midst of the COVID
stablishing our empirical approach and the tools used throughout the digital ethnography. Then, we
consider tw
o strategies that agents have used to confront a model of editorial and literary production
that, for them, is excluding. We examine their networks of action and their collective cultural labor
routines. Finally, we focused on the book
cardboard as a way to expand practices of democratization of the access to books, reading, and
literature.
Keywords: Cartoneras
; literary practices; democratization; counter
Práticas de democratiz
ação da literatura: uma etnografia digital de editoras
cartoneras latino
Introdução
Este texto, além de constituir o
produto de um processo de pesquisa
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Prácticas de democratización literária: una etnografía digital de editoriales cartoneras en
El texto se centra en algunas cartoneras latinoamericanas, editoriales que producen y
distribuyen libros hechos a mano, a partir del reciclaje de materiales recolectados por cooperativas de
recicladores urbanos (cartoneros). A partir de una etnografía dig
ital, el objetivo de este artículo es
analizar las redes de acción que se establecen entre cartoneras de diferentes países, entendiéndolas
como parte de un movimiento cultural transnacional que, por un lado, propone formas alternativas de
buir libros en espacios no institucionalizados y, por otro, fomenta la transformación de
objetos "no artísticos" en "arte". Se busca verificar en qué medida el potencial de creatividad artística
puesto en práctica por las cartoneras ha sido responsable de
un proceso de democratización de las
prácticas editoriales y literarias en América Latina. En la primera parte del texto, describimos los
desafíos metodológicos de una investigación colectiva que ocurrió en medio de la pandemia Covid
e delimitamos nuestro enfoque empírico y las herramientas utilizadas a lo
largo de la etnografía digital. A continuación, nos ocupamos de dos estrategias que han utilizado los
agentes para afrontar un modelo de producción editorial y literaria que, para el
notablemente sus redes de acción y sus rutinas colectivas de trabajo. Finalmente, nos enfocamos en
objeto, a partir de una discusión sobre los “contra
-
usos” del cartón como una forma de
expandir las prácticas de democratizaci
ón del acceso a los libros, la lectura y la literatura.
Cartoneras; prácticas literarias; democratización; contra
-
usos, libro
Practices in democratizing literature: a digital ethnography of Latin American cartonera
The article focuses on some Latin American
cartonera publishers
, literary
that produce and distribute hand
-crafted and hand-
painted, cardboard
materials collected by recycling cooperatives. Based on a d
igital ethnography, the aim is to analyze
networks established among
cartoneras
from different countries, understanding them as a
transnational cultural movement that, on the one hand, proposes alternative ways of producing and
institutionalized territories and, on the other, encourages the transformation
artistic" objects into art. The paper seeks to verify to what extent the potential for artistic
cartoneras
has been responsible for a process of democratization of
editorial and literary practices in Latin America. In
the first part of the text, we describe the
methodological challenges of a collective research carried out in the midst of the COVID
stablishing our empirical approach and the tools used throughout the digital ethnography. Then, we
o strategies that agents have used to confront a model of editorial and literary production
that, for them, is excluding. We examine their networks of action and their collective cultural labor
routines. Finally, we focused on the “book
-object”, based on a
discussion about counter
cardboard as a way to expand practices of democratization of the access to books, reading, and
; literary practices; democratization; counter
-uses, book-
object.
ação da literatura: uma etnografia digital de editoras
cartoneras latino
-americanas
Este texto, além de constituir o
produto de um processo de pesquisa
que envolveu quatro investigadoras/es
que se encontram em distintos
estágios de suas trajetórias
521
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Prácticas de democratización literária: una etnografía digital de editoriales cartoneras en
El texto se centra en algunas cartoneras latinoamericanas, editoriales que producen y
distribuyen libros hechos a mano, a partir del reciclaje de materiales recolectados por cooperativas de
ital, el objetivo de este artículo es
analizar las redes de acción que se establecen entre cartoneras de diferentes países, entendiéndolas
como parte de un movimiento cultural transnacional que, por un lado, propone formas alternativas de
buir libros en espacios no institucionalizados y, por otro, fomenta la transformación de
objetos "no artísticos" en "arte". Se busca verificar en qué medida el potencial de creatividad artística
un proceso de democratización de las
prácticas editoriales y literarias en América Latina. En la primera parte del texto, describimos los
desafíos metodológicos de una investigación colectiva que ocurrió en medio de la pandemia Covid
-
e delimitamos nuestro enfoque empírico y las herramientas utilizadas a lo
largo de la etnografía digital. A continuación, nos ocupamos de dos estrategias que han utilizado los
agentes para afrontar un modelo de producción editorial y literaria que, para el
los, es excluyente,
notablemente sus redes de acción y sus rutinas colectivas de trabajo. Finalmente, nos enfocamos en
usos del cartón como una forma de
ón del acceso a los libros, la lectura y la literatura.
usos, libro
-objeto.
Practices in democratizing literature: a digital ethnography of Latin American cartonera
, literary
community-based
painted, cardboard
-bound books from
igital ethnography, the aim is to analyze
from different countries, understanding them as a
transnational cultural movement that, on the one hand, proposes alternative ways of producing and
institutionalized territories and, on the other, encourages the transformation
artistic" objects into art. The paper seeks to verify to what extent the potential for artistic
has been responsible for a process of democratization of
the first part of the text, we describe the
methodological challenges of a collective research carried out in the midst of the COVID
-19 pandemic,
stablishing our empirical approach and the tools used throughout the digital ethnography. Then, we
o strategies that agents have used to confront a model of editorial and literary production
that, for them, is excluding. We examine their networks of action and their collective cultural labor
discussion about counter
-uses of the
cardboard as a way to expand practices of democratization of the access to books, reading, and
object.
ação da literatura: uma etnografia digital de editoras
que envolveu quatro investigadoras/es
que se encontram em distintos
estágios de suas trajetórias
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
acadêmicas, é ele próprio um
pr
ocesso, firmado a partir de um
exercício de autoria coletiva na
produção do saber sociológico. O
objetivo deste artigo é apresentar
alguns dos desafios metodológicos e
os resultados de um estudo
desenvolvido na Universidade Federal
da Bahia (UFBA), que nas
projeto de iniciação científica, cujo
objetivo foi abordar o fenômeno das
cartoneras latino-
americanas,
iniciativas editoriais e literárias que se
alastraram por diferentes cidades
desde sua origem em Buenos Aires,
na Argentina, em 2003, com Eloí
Cartonera
criada por Javier Barilaro,
Fernanda Laguna e Washington
Cucurto.
As cartoneras o editoras
independentes que buscam resgatar e
ressignificar materiais do lixo urbano
(papelão, cartón
) na fabricação de
livros artesanais, confeccionados e
p
intados à mão e ecologicamente
viáveis, de maneira a fomentar, com
tal prática, o trabalho colaborativo e o
protagonismo de comunidades
majoritariamente marginalizadas
(ARRANZ, 2013; BELL, 2017b). Ainda
que a prática de confeccionar livros
com papelão e ou
tros materiais
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
acadêmicas, é ele próprio um
ocesso, firmado a partir de um
exercio de autoria coletiva na
produção do saber sociológico. O
objetivo deste artigo é apresentar
alguns dos desafios metodológicos e
os resultados de um estudo
desenvolvido na Universidade Federal
da Bahia (UFBA), que nas
ceu de um
projeto de iniciação científica, cujo
objetivo foi abordar o fenômeno das
americanas,
iniciativas editoriais e literárias que se
alastraram por diferentes cidades
desde sua origem em Buenos Aires,
na Argentina, em 2003, com Eloí
sa
criada por Javier Barilaro,
Fernanda Laguna e Washington
As cartoneras são editoras
independentes que buscam resgatar e
ressignificar materiais do lixo urbano
) na fabricação de
livros artesanais, confeccionados e
intados à mão e ecologicamente
viáveis, de maneira a fomentar, com
tal prática, o trabalho colaborativo e o
protagonismo de comunidades
majoritariamente marginalizadas
(ARRANZ, 2013; BELL, 2017b). Ainda
que a prática de confeccionar livros
tros materiais
reciclados não seja criação inédita das
cartoneras e que sua aparição possa
ser localizada em diferentes contextos
históricos
por exemplo, nas
chamadas
culturas de artesanías
estratégias de editoras independentes,
em séries de publicaç
de revistas e fanzines de movimentos
contraculturais dos anos 1960 e 1970
–,
podemos dizer que, enquanto
formato editorial sistematizado, as
cartoneras começaram na Argentina
após a crise econômica que assolou o
país no início do século XX
inflação e o aumento do preço de
insumos básicos, muitas pessoas
passaram a depender da coleta e
venda de materiais recicláveis, como o
papelão (KUDAIBERGEN, 2015).
Esses coletores ficaram conhecidas
como cartoneros
(BILBIJA, 2014;
PERELMAN; BOY,
2010). O pequeno
grupo que começou a produção dos
livros de papelão com Eloísa
Cartonera comprava o material de
cartoneros
e os envolvia no processo
de transformação do material em
“livro-
objeto”. Pouco a pouco, o
modelo se difundiu, chegando
rapidamente a
outros países, como
Peru (Sarita Cartonera), Chile (Animita
Cartonera), Bolívia (Yerba Mala
522
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
reciclados não seja criação inédita das
cartoneras e que sua aparição possa
ser localizada em diferentes contextos
por exemplo, nas
culturas de artesanías
, em
estratégias de editoras independentes,
em ries de public
ões alternativas
de revistas e fanzines de movimentos
contraculturais dos anos 1960 e 1970
podemos dizer que, enquanto
formato editorial sistematizado, as
cartoneras começaram na Argentina
após a crise econômica que assolou o
país no início do culo XX
I. Com a
inflação e o aumento do preço de
insumos básicos, muitas pessoas
passaram a depender da coleta e
venda de materiais recicláveis, como o
papelão (KUDAIBERGEN, 2015).
Esses coletores ficaram conhecidas
(BILBIJA, 2014;
2010). O pequeno
grupo que começou a produção dos
livros de papelão com Eloísa
Cartonera comprava o material de
e os envolvia no processo
de transformação do material em
objeto. Pouco a pouco, o
modelo se difundiu, chegando
outros países, como
Peru (Sarita Cartonera), Chile (Animita
Cartonera), Bolívia (Yerba Mala
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
Cartonera), Paraguai (Yiyi Jambo) e
Brasil (Dulcinéia Catadora).
O que nos chamou a atenção foi
justamente a rapidez da transmissão
do modelo das cartoneras por v
cidades latino-
americanas. Com isso,
novos projetos começaram a surgir
instigados por Eloísa Cartonera, ao
passo que adaptavam o modelo
editorial a realidades locais e
regionais. Esse fato nos levou ao
trabalho de Aurelio Meza
(2014)
próprio escritor, editor e agente
cartonero mexicano (Kodama
Cartonera). Em uma de suas análises,
o pesquisador propõe uma abordagem
genealógica das iniciativas cartoneras
desde o início dos anos 2000, expondo
algumas das principais interroga
que entraram em jogo e que
propiciaram uma “tomada de
consciência” sobre a existência de um
suposto “movimento cartonero.
No entanto, quando realizamos
nosso trabalho de campo, sobretudo
com as entrevistas, notamos que não
eram todas/os as/os agente
percebiam
como partes de um
movimento cultural propriamente dito,
precisamente porque haveria
variabilidades e heterogeneidades
internas. De fato, essa atribuição tem
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Cartonera), Paraguai (Yiyi Jambo) e
Brasil (Dulcinéia Catadora).
O que nos chamou a atenção foi
justamente a rapidez da transmissão
do modelo das cartoneras por v
árias
americanas. Com isso,
novos projetos começaram a surgir
instigados por Eloísa Cartonera, ao
passo que adaptavam o modelo
editorial a realidades locais e
regionais. Esse fato nos levou ao
(2014)
ele
próprio escritor, editor e agente
cartonero mexicano (Kodama
Cartonera). Em uma de suas análises,
o pesquisador propõe uma abordagem
genealógica das iniciativas cartoneras
desde o início dos anos 2000, expondo
algumas das principais interroga
ções
que entraram em jogo e que
propiciaram uma tomada de
consciência sobre a existência de um
suposto movimento cartonero”.
No entanto, quando realizamos
nosso trabalho de campo, sobretudo
com as entrevistas, notamos que não
eram todas/os as/os agente
s que se
como partes de um
movimento cultural propriamente dito,
precisamente porque haveria
variabilidades e heterogeneidades
internas. De fato, essa atribuição tem
gerado
altercações nos estudos
produzidos sobre essas iniciativas
editoriais h
á quem prefira, por
exemplo, “universo cartonero
esse aparente dissenso que nos
motivou a perscrutar até que ponto
iniciativas editoriais que se
identificavam enquanto cartoneras” se
aproximavam em termos de
repertórios de atuação, rotinas labora
e maneiras de entender o livro
literário de papelão, mesmo que
funcionassem a partir de suas próprias
singularidades estéticas, seus
contextos urbanos e suas demandas
locais.
Na primeira parte deste texto,
descrevemos os desafios
metodológicos
de uma pesquisa feita a
muitas mãos em meio a uma
pandemia que impactou, fortemente,
as rotinas acadêmicas, ao mesmo
tempo em que delimitamos nosso
recorte empírico e as ferramentas
usadas ao longo da etnografia
digital.Na segunda parte, tratamos de
duas
estratégias que agentes têm
5
Em entrevista, a editora chilena Elizabeth
Cárdenas disse: “Creio que movimento é uma
palavra que limita as cartoneras. Prefiro
‘universo cartonero’, que inclui maior
interculturalidade e
diversidade; pois uma
característica das cartoneras é o discurso sem
fronteiras” (Entrevista com Elizabeth
Cárdenas, La Joyita Cartonera, 01/05/2021).
523
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
altercações nos estudos
produzidos sobre essas iniciativas
á quem prefira, por
exemplo, universo cartonero”
5. E foi
esse aparente dissenso que nos
motivou a perscrutar até que ponto
iniciativas editoriais que se
identificavam enquanto “cartoneras” se
aproximavam em termos de
repertórios de atuação, rotinas labora
is
e maneiras de entender o “livro
-objeto”
literário de papelão, mesmo que
funcionassem a partir de suas próprias
singularidades estéticas, seus
contextos urbanos e suas demandas
Na primeira parte deste texto,
descrevemos os desafios
de uma pesquisa feita a
muitas mãos em meio a uma
pandemia que impactou, fortemente,
as rotinas acadêmicas, ao mesmo
tempo em que delimitamos nosso
recorte empírico e as ferramentas
usadas ao longo da etnografia
digital.Na segunda parte, tratamos de
estratégias que agentes têm
Em entrevista, a editora chilena Elizabeth
Cárdenas disse: Creio que ‘movimento’ é uma
palavra que limita as cartoneras. Prefiro
universo cartonero, que inclui maior
diversidade; pois uma
característica das cartoneras é o discurso sem
fronteiras (Entrevista com Elizabeth
Cárdenas, La Joyita Cartonera, 01/05/2021).
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
utilizado para
fazer frente a um modelo
de produção editorial e literária que,
para elas/es, é excludente,
notadamente as suas redes de
atuação e as rotinas coletivas de
trabalho. Na terceira parte, nos
debruçamos sobre o “livro
partir de uma discussão sobre contra
usos do papelão enquanto forma de
ampliar práticas de democratização do
acesso ao livro, à leitura e à literatura.
Pressupostos teórico-
metodológicos da pesquisa
Por se tratar de um projeto que
deveria ser desenvolvido em um prazo
de doze meses, com recursos
financeiros escassos e submetido
impeditivos de uma pandemia, em
termos metodológicos, a realização da
pesquisa envolveu duas estratégias
principais de col
eta de dados: uma
etnografia digital realizada de modo
permanente e extensivo, que foi
acompanhada da elaboração de um
banco de dados com informações
sobre as cartoneras latino-
americanas.
A etnografia digital se provou
indispensável em razão do contexto
pandêmico.
A partir da discussão
sobre os desafios de interações
mediadas por tecnologias de
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
fazer frente a um modelo
de produção editorial e literária que,
para elas/es, é excludente,
notadamente as suas redes de
atuação e as rotinas coletivas de
trabalho. Na terceira parte, nos
debruçamos sobre o livro
-objeto”, a
partir de uma discussão sobre contra
-
usos do papelão enquanto forma de
ampliar práticas de democratização do
acesso ao livro, à leitura e à literatura.
metodológicos da pesquisa
Por se tratar de um projeto que
deveria ser desenvolvido em um prazo
de doze meses, com recursos
financeiros escassos e submetido
aos
impeditivos de uma pandemia, em
termos metodológicos, a realização da
pesquisa envolveu duas estratégias
eta de dados: uma
etnografia digital realizada de modo
permanente e extensivo, que foi
acompanhada da elaboração de um
banco de dados com informações
americanas.
A etnografia digital se provou
indispenvel em rao do contexto
A partir da discussão
sobre os desafios de interações
mediadas por tecnologias de
comunicação online
pesquisas acadêmicas (FERRAZ,
2019; HINE, 2015; MILLER, 2020),
arquitetamos um procedimento inicial
para otimizar o
uso de
etnográficas em esferas digitais. O
procedimento envolveu pesquisas de
mídia e arquivos sobre cartoneras,
montagem de um banco bibliográfico,
bem como acompanhamento das
atividades das editoras cartoneras em
redes sociais, a começar por contato
estabelecidos previamente com
algumas iniciativas editoriais e com a
Red de Editoriales Cartoneras de
Latinoamérica6
. Também elaboramos
uma pasta colaborativa com materiais,
manifestos, textos da imprensa,
intervenções públicas, livros e demais
publicaçõ
es referentes às cartoneras;
além de acompanhar a rotina de
alguns projetos, bem como a dinâmica
de agentes em sites, fóruns, grupos de
debates e plataformas digitais.
No planejamento e na
consecução da pesquisa em
ambientes virtuais, também adotamos
6
A pesquisa também fez uso de bases de
dados já existentes, como a Latin American
Cartonera Publishers D
atabase (University of
Wisconsin –
Madison), e o Cartonera
Publishing, projeto desenvolvido por Lucy Bell
(University of Surrey), Alex Flynn (University of
California) e Patrick O’Hare (University of
Cambridge).
524
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
em contextos de
pesquisas acadêmicas (FERRAZ,
2019; HINE, 2015; MILLER, 2020),
arquitetamos um procedimento inicial
uso de
ferramentas
etnográficas em esferas digitais. O
procedimento envolveu pesquisas de
mídia e arquivos sobre cartoneras,
montagem de um banco bibliográfico,
bem como acompanhamento das
atividades das editoras cartoneras em
redes sociais, a começar por contato
s
estabelecidos previamente com
algumas iniciativas editoriais e com a
Red de Editoriales Cartoneras de
. Também elaboramos
uma pasta colaborativa com materiais,
manifestos, textos da imprensa,
intervenções públicas, livros e demais
es referentes às cartoneras;
além de acompanhar a rotina de
alguns projetos, bem como a dinâmica
de agentes em sites, fóruns, grupos de
debates e plataformas digitais.
No planejamento e na
consecução da pesquisa em
ambientes virtuais, também adotamos
A pesquisa também fez uso de bases de
dados já existentes, como a Latin American
atabase (University of
Madison), e o Cartonera
Publishing, projeto desenvolvido por Lucy Bell
(University of Surrey), Alex Flynn (University of
California) e Patrick OHare (University of
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
press
upostos metodológicos da
etnografia multi-
situada (Marcus,
1995), a fim de identificar práticas e
categorias operacionalizadas por
agentes em distintos contextos sociais
e geográficos, mas que, de alguma
maneira, “representassem o
cartoneirismo enquanto u
artística. À medida que construímos o
nosso banco de dados nos foi sendo
possível vislumbrar a dimensão e as
principais características que
atravessam o fenômeno, o que nos
possibilitou mapear projetos ativos e
inativos7
, assim como “rastrear,
diferentes cenários virtuais
projetos que foram selecionados para
uma segunda fase da pesquisa
(entrevistas e questionários)
7
O mapeamento foi importante para o
entendi
mento da extensão do fenômeno das
cartoneras, mas tamm para perceber como
esse universo é fugaz, com projetos que
nascem e desaparecem em pouco tempo. Por
exemplo, dentre as 236 cartoneras
Latina e do Caribe mapeadas em nosso banco
de dados, t
emos a seguinte conformação:
Argentina –
17 (7 ativas); Bolívia
Brasil – 41(24ativas); Chile
38 (13 ativas);
Colômbia –
9 (6 ativas); Equador
ativa); México
56 (25 ativas); Paraguai
(1ativa); Peru –
28 (14 ativas); Uruguai
ativa); Venezuela –
4 (1 ativa); Guatemala
(3 ativas); Costa Rica –
3 (1 ativa); Porto Rico
2 (1 ativa); República Dominicana
(nenhuma com atividade recente); El Salvador
2 (nenhuma com atividade recente);
Panamá –
2 (nenhuma com ativida
Cuba –
2 (nenhuma com atividade recente).
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
upostos metodológicos da
situada (Marcus,
1995), a fim de identificar práticas e
categorias operacionalizadas por
agentes em distintos contextos sociais
e geográficos, mas que, de alguma
maneira, representassem” o
cartoneirismo enquanto u
ma prática
artística. À medida que construímos o
nosso banco de dados nos foi sendo
posvel vislumbrar a dimensão e as
principais características que
atravessam o fenômeno, o que nos
possibilitou mapear projetos ativos e
, assim como rastrear”,
em
diferentes cenários virtuais
dentre os
projetos que foram selecionados para
uma segunda fase da pesquisa
(entrevistas e questionários)
–, uma
O mapeamento foi importante para o
mento da extensão do fenômeno das
cartoneras, mas também para perceber como
esse universo é fugaz, com projetos que
nascem e desaparecem em pouco tempo. Por
exemplo, dentre as 236 cartoneras
da América
Latina e do Caribe mapeadas em nosso banco
emos a seguinte conformação:
17 (7 ativas); Bolívia
– 6 (2 ativas);
38 (13 ativas);
9 (6 ativas); Equador
– 10 (1
56 (25 ativas); Paraguai
– 7
28 (14 ativas); Uruguai
– 3 (1
4 (1 ativa); Guatemala
– 4
3 (1 ativa); Porto Rico
2 (1 ativa); República Dominicana
– 2
(nenhuma com atividade recente); El Salvador
2 (nenhuma com atividade recente);
2 (nenhuma com ativida
de recente);
2 (nenhuma com atividade recente).
“identidade” possível, contingente e
maleável entre diferentes iniciativas.
Essa articulação teórico
metodol
ógica nos permitiu produzir um
retrato etnográfico do cartoneirismo
enquanto um tipo de “formação cultural
contemporânea produzida em
diferentes localidades (MARCUS,
1995, p. 99).
Assim, a partir dessa
etnografia digital e multi
construímos, de f
orma colaborativa,
um banco de dados com informações
sobre as cartoneras com as quais nos
deparamos nas redes sociais ao longo
de dez meses de investigação, entre
2020 e 2021. Esse exercio de
acompanhamento e mapeamento das
iniciativas revelou que difere
projetos se aproximam em termos de
modo de produção e estratégias de
atuação. A despeito do hibridismo das
práticas e estéticas observadas, de
variabilidades e heterogeneidades
internas, as iniciativas cartoneras
apresentam algumas correlações entre
s
i, operando a partir de continuidades
no que se refere ao fazer
forma como percebem o trabalho
editorial.
Nos últimos meses, realizamos
entrevistas semiestruturadas e
aplicamos questionários com
525
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
identidade possível, contingente e
maleável entre diferentes iniciativas.
Essa articulação teórico
-
ógica nos permitiu produzir um
retrato etnográfico do cartoneirismo
enquanto um tipo de “formação cultural
contemporânea produzida em
diferentes localidades” (MARCUS,
Assim, a partir dessa
etnografia digital e multi
-situada,
orma colaborativa,
um banco de dados com informações
sobre as cartoneras com as quais nos
deparamos nas redes sociais ao longo
de dez meses de investigação, entre
2020 e 2021. Esse exercício de
acompanhamento e mapeamento das
iniciativas revelou que difere
ntes
projetos se aproximam em termos de
modo de produção e estratégias de
atuação. A despeito do hibridismo das
práticas e estéticas observadas, de
variabilidades e heterogeneidades
internas, as iniciativas cartoneras
apresentam algumas correlações entre
i, operando a partir de continuidades
no que se refere ao fazer
-literário e à
forma como percebem o trabalho
Nos últimos meses, realizamos
entrevistas semiestruturadas e
aplicamos questionários com
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
responsáveis de treze projetos, sete
no Brasil
Candeeiro Cartonera e
Viajeira Cartonera (Caruaru
Cartonera das Iaiá (Cachoeira
Vento Norte Cartonero (Santa Maria
RS), Lua Negra Cartonera (Maceió
AL), Malha Fina Cartonera (São Paulo
SP), Ganesha Cartonera (Rio de
Janeiro-RJ)
e seis de out
latino-americanos
Dirtsa Cartonera
(Maracay, Venezuela), La Joyita
Cartonera e Olga Cartonera (Santiago,
Chile), Lumpérica Cartonera (Lima,
Peru), Liberta Cartonera (Quito,
Equador) e La Biznaga Cartonera
(Cajeme, México).
Optamos pela escolha
cartoneras por três motivos. O primeiro
é que, em meio à pandemia, os
projetos escolhidos seguiam
realizando suas atividades
que permitiua prática da etnografia
digital. Segundo, porque eram
iniciativas com certo grau de
diversidade geográfica
na América
Latina, sobretudo iniciativas brasileiras
(que têm sido pouco estudadas), o que
nos possibilitou
colher informações de
diferentes latitudes. Por fim,
consideramos o que poderíamos
chamar de
“nova geração:
lado, muitos trabalhos acad
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
responsáveis de treze projetos, sete
Candeeiro Cartonera e
Viajeira Cartonera (Caruaru
-PE),
Cartonera das Iaiá (Cachoeira
-BA),
Vento Norte Cartonero (Santa Maria
-
RS), Lua Negra Cartonera (Maceió
-
AL), Malha Fina Cartonera (São Paulo
-
SP), Ganesha Cartonera (Rio de
e seis de out
ros países
Dirtsa Cartonera
(Maracay, Venezuela), La Joyita
Cartonera e Olga Cartonera (Santiago,
Chile), Lumpérica Cartonera (Lima,
Peru), Liberta Cartonera (Quito,
Equador) e La Biznaga Cartonera
Optamos pela escolha
dessas
cartoneras por três motivos. O primeiro
é que, em meio à pandemia, os
projetos escolhidos seguiam
online, o
que permitiua prática da etnografia
digital. Segundo, porque eram
iniciativas com certo grau de
na América
Latina, sobretudo iniciativas brasileiras
(que têm sido pouco estudadas), o que
colher informações de
diferentes latitudes. Por fim,
consideramos o que poderíamos
nova geração”:
de um
lado, muitos trabalhos acad
êmicos
sobre cartoneras se restringem ainda
às editoras fundadoras ou a projetos já
consolidados; de outro, queríamos
averiguar em que medida iniciativas
mais recentes se viam influenciadas
por tais projetos pioneiros e o quanto
elas se identificavam como
um “movimento cartonero.
As entrevistas trataram de
muitos eixos, uma vez que tentavam
dar conta dos objetivos de cada plano
de trabalho individual que compunha a
base do projeto de pesquisa sobre as
cartoneras. Para além de informações
básicas q
ue constavam nos
questionários e entrevistas sobre cada
uma das iniciativas
condições de surgimento, influências,
responsáveis, fundação, localidade,
edições, idiomas, formas de
distribuição, eixos de atuação, políticas
editoriais, procedência
estratégias de uso de plataformas
digitais
, nosso escopo abarcou
táticas
que protagonistas agenciavam
para driblar desafios impostos pelo
mercado editorial e pela carência de
políticas de
incentivo ao livro, à leitura
e à literatura, bem
como o modo
percebiam dinâmicas transnacionais
de parcerias entre diferentes
cartoneras.
526
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
sobre cartoneras se restringem ainda
às editoras fundadoras ou a projetos
consolidados; de outro, queríamos
averiguar em que medida iniciativas
mais recentes se viam influenciadas
por tais projetos pioneiros e o quanto
elas se identificavam como
parte de
um movimento cartonero”.
As entrevistas trataram de
muitos eixos, uma vez que tentavam
dar conta dos objetivos de cada plano
de trabalho individual que compunha a
base do projeto de pesquisa sobre as
cartoneras. Para além de informações
ue constavam nos
questionários e entrevistas sobre cada
uma das iniciativas
contexto e
condições de surgimento, influências,
responsáveis, fundação, localidade,
edições, idiomas, formas de
distribuição, eixos de atuação, políticas
editoriais, procedência
dos materiais e
estratégias de uso de plataformas
, nosso escopo abarcou
que protagonistas agenciavam
para driblar desafios impostos pelo
mercado editorial e pela carência de
incentivo ao livro, à leitura
como o modo
como
percebiam dinâmicas transnacionais
de parcerias entre diferentes
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
Algumas questões orientavam o
início da pesquisa: (i) Que expedientes
eram investidos pelas/os agentes para
ressignificar a produção de seus
objetos literários?
(ii) Em que medida
as cartoneras refletem as
especificidades de seus contextos de
atuação? (iii) Considerando a intenção
de alguns projetos de fazer circular
literatura por espaços não
institucionalizados e não “enobrecidos
da cidade, como um livro
considerado “marginal” (feito do lixo
urbano, com capa de papelão) foi
implantado visando tensionar modelos
dominantes do fazer-
literário?
A partir dessas questões, nós
nos debruçamos sobre algumas
pesquisas importantes que tratam
desses eixos, em especi
dinâmicas da descentralização de
práticas culturais a partir das periferias
(BELL, 2018; GARCÍA CANCLINI,
2003; 2014; HOLMES, 2012; 2016;
2017; OLIVEIRA, 2020; ROSE, 2003).
Outras se voltam para projetos
estéticos alternativos por meio dos
quais nov
os/as agentes urbanos, antes
excluídos/as do processo de produção
de objetos simbólicos, constroem as
condições de definição de sua própria
imagem, de sua escrita e de sua
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Algumas questões orientavam o
início da pesquisa: (i) Que expedientes
eram investidos pelas/os agentes para
ressignificar a produção de seus
(ii) Em que medida
as cartoneras refletem as
especificidades de seus contextos de
atuação? (iii) Considerando a intenção
de alguns projetos de fazer circular
literatura por espaços não
institucionalizados e não enobrecidos
da cidade, como um livro
-objeto
considerado marginal (feito do lixo
urbano, com capa de papelão) foi
implantado visando tensionar modelos
literário?
A partir dessas questões, nós
nos debruçamos sobre algumas
pesquisas importantes que tratam
desses eixos, em especi
al das
dinâmicas da descentralização de
práticas culturais a partir das periferias
(BELL, 2018; GARCÍA CANCLINI,
2003; 2014; HOLMES, 2012; 2016;
2017; OLIVEIRA, 2020; ROSE, 2003).
Outras se voltam para projetos
estéticos alternativos por meio dos
os/as agentes urbanos, antes
excluídos/as do processo de produção
de objetos simbólicos, constroem as
condições de definição de sua própria
imagem, de sua escrita e de sua
história (CARRIÓN, 2012;
NASCIMENTO, 2009; OLIVEIRA,
2017; MUNIZ JR.;
OLIVEIRA, 2015
OLIVEIRA;
PARDUE, 2018; PARDUE,
2015). A articulação dessas searas
nos levou a inferir que práticas
editoriais e literárias alternativas,
autônomas ou independentes
(GARCÍA CANCLINI, 2005; LUDMER,
2009), tendem a se diferenciar
daquelas do campo literári
(MUNIZ JR., 2016; SALOM, 2014;
SERRANO, 2014; SILVA, 2013;
SMITH, 2015; TENNINA, 2010),
submetidas a formas mais
“mercadológicas” de controle laboral,
difusão do saber e seleção de livros
publicáveis.
Uma coletânea de ensaios e
manifestos edit
ada por Ksenija
e Paloma Carbajal (2009) mostra
como algumas editoras cartoneras
pioneiras foram cruciais nesse
processo, sobretudo por gerar
oportunidades culturais em bairros
populares de cidades latino
americanas. Em outra perspectiva, as
investigações de Lucy Bell (2017a;
2018) expõem
certos padrões de
atuação de cartoneras, sublinhando,
de um lado, o associativismo ligado à
reciclagem e, de outro, os processos
527
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
história (CARRIÓN, 2012;
NASCIMENTO, 2009; OLIVEIRA,
OLIVEIRA, 2015
;
PARDUE, 2018; PARDUE,
2015). A articulação dessas searas
nos levou a inferir que práticas
editoriais e literárias alternativas,
autônomas ou independentes
(GARCÍA CANCLINI, 2005; LUDMER,
2009), tendem a se diferenciar
daquelas do campo literári
o dominante
(MUNIZ JR., 2016; SALOM, 2014;
SERRANO, 2014; SILVA, 2013;
SMITH, 2015; TENNINA, 2010),
submetidas a formas mais
mercadológicas” de controle laboral,
difusão do saber e seleção de livros
Uma coletânea de ensaios e
ada por Ksenija
Bilbija
e Paloma Carbajal (2009) mostra
como algumas editoras cartoneras
pioneiras foram cruciais nesse
processo, sobretudo por gerar
oportunidades culturais em bairros
populares de cidades latino
-
americanas. Em outra perspectiva, as
investigações de Lucy Bell (2017a;
certos padrões de
atuação de cartoneras, sublinhando,
de um lado, o associativismo ligado à
reciclagem e, de outro, os processos
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
políticos que editoriais independentes
enfrentam contra grandes
conglomerados e
ditoriais. Há, ainda,
trabalhos importantes argumentando
que as cartoneras permitem que redes
de sociabilidade entre bairros e
cidades floresçam (BONELLI, 2014;
PALOMINO, 2003), selos literários
locais, translocais e transnacionais
proliferem (CATONIO, 201
de cultura independente se ampliem
em áreas vulneráveis (COLLEU, 2007;
FANJUL, 2016) e recursos sejam mais
bem distribuídos no campo literário
(TIBURCIO;
CANDELARIO, 2014).
Essas últimas pesquisas nos
mostraram que, nos diferentes
contextos latino-
americanos, as
cartoneras apontam para nculos
materiais e simbólicos entre literatura e
cidade. Assim, outra aposta preliminar
do nosso estudo foi que, desse vínculo
entre espaço e prática literária, podem
emergir formas mais inclusivas,
colaborativ
as, descentralizadas e
sustentáveis do fazer-
literário, bem
como um fomentoao acesso direto a
bens culturais, mediante
disponibilização online, gratuita ou a
baixo custo de textos. Essa aposta,
verificada nas entrevistas que fizemos,
é ratificada por pesqu
isas que indicam
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
políticos que editoriais independentes
enfrentam contra grandes
ditoriais. Há, ainda,
trabalhos importantes argumentando
que as cartoneras permitem que redes
de sociabilidade entre bairros e
cidades floresçam (BONELLI, 2014;
PALOMINO, 2003), selos literários
locais, translocais e transnacionais
proliferem (CATONIO, 201
7), espaços
de cultura independente se ampliem
em áreas vulneráveis (COLLEU, 2007;
FANJUL, 2016) e recursos sejam mais
bem distribuídos no campo literário
CANDELARIO, 2014).
Essas últimas pesquisas nos
mostraram que, nos diferentes
americanos, as
cartoneras apontam para vínculos
materiais e simbólicos entre literatura e
cidade. Assim, outra aposta preliminar
do nosso estudo foi que, desse vínculo
entre espaço e prática literária, podem
emergir formas mais inclusivas,
as, descentralizadas e
literário, bem
como um fomentoao acesso direto a
bens culturais, mediante
disponibilização online, gratuita ou a
baixo custo de textos. Essa aposta,
verificada nas entrevistas que fizemos,
isas que indicam
o envolvimento das/os agentes no
processo de produção, da coleta do
papelão até a materialização do
projeto editorial (BELL, 2017
CANOSA, 2017; FLYNN
HARRISON, 2016; JOHNS
alli
, 2017; VILHENA, 2015; 2017), o
cuidado na seleção de autoras/
(BILBIJA, 2014; REYES, 2011) e a
busca por formatos não convencionais
feitos da reciclagem, em oficinas
coletivas, etc. (KUDAIBERGEM, 2015;
BELL;
O’HARE, 2019).
Em seu estudo, Aurelio
(2014) apresenta aspectos inova
das cartoneras em diferentes cidades
latino-
americanas, classificando
“transgressoras” em relação ao campo
literário e a seus espaços de atuação
na cidade, uma vez que verteriam
resíduos sólidos urbanos em arte.
Com isso, os projetos tensionari
fronteiras entre literatura, artes visuais,
experiência urbana, cidade e
cooperativismo. Nessa medida,
percebemos que é na justaposição
desses processos que as cartoneras
procuram
verter o tradicional fazer
literário
especializado e a
traído por ditames
mercadológicos
em prática coletiva,
híbrida e disruptiva.
528
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
o envolvimento das/os agentes no
processo de produção, da coleta do
papelão até a materialização do
projeto editorial (BELL, 2017
a; 2018b;
CANOSA, 2017; FLYNN
; BELL, 2019;
HARRISON, 2016; JOHNS
-PUTRA et
, 2017; VILHENA, 2015; 2017), o
cuidado na seleção de autoras/
ES
(BILBIJA, 2014; REYES, 2011) e a
busca por formatos não convencionais
feitos da reciclagem, em oficinas
coletivas, etc. (KUDAIBERGEM, 2015;
OHARE, 2019).
Em seu estudo, Aurelio
Meza
(2014) apresenta aspectos inova
dores
das cartoneras em diferentes cidades
americanas, classificando
-as de
transgressoras” em relação ao campo
literário e a seus espaços de atuação
na cidade, uma vez que verteriam
reduos lidos urbanos em arte.
Com isso, os projetos tensionari
am
fronteiras entre literatura, artes visuais,
experiência urbana, cidade e
cooperativismo. Nessa medida,
percebemos que é na justaposição
desses processos que as cartoneras
verter o tradicional fazer
-
individualizado,
traído por ditames
em prática coletiva,
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
Contudo, percebemos também
que pouca atenção havia sido dada à
análise conjunta do fenômeno em seus
aspectos
socioculturais, urbanos e
estéticos. De um lado, ainda que as
cartoneras gerem
fontes alternativas
de renda para moradoras/es de bairros
periféricos e aproxime pessoas por
meio do associativismo comunitário,
circulação urbana e iniciativas
pedagógicas e sustentáveis de
incentivo à leitura, é insuficiente
compreendê-las fora
das intenções de
agentes de integrar processos de
artificação (SHAPIRO;
HEINICH, 2013;
SHAPIRO, 2007). Por sua vez, as
sujeições sociais, econômicas e
culturais que cartoneras sofrem o
entraves para o desenvolvimento de
suas atividades. Contudo, as
res
istências analíticas que insistem em
qualificar objetos e práticas como
“pouco artísticas” ou parte do
“voluntarismo social”, somadas à
persistência de governos e
organizações civis em ler essas
iniciativas como parte da “economia da
cultura
”, também dific
reconhecimento desses projetos
literários.
Buscando enfrentar esse lapso,
nossa pesquisa tratou de analisar
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Contudo, percebemos também
que pouca atenção havia sido dada à
análise conjunta do fenômeno em seus
socioculturais, urbanos e
estéticos. De um lado, ainda que as
fontes alternativas
de renda para moradoras/es de bairros
periféricos e aproxime pessoas por
meio do associativismo comunitário,
circulação urbana e iniciativas
pedagógicas e sustentáveis de
incentivo à leitura, é insuficiente
das intenções de
agentes de integrar processos de
HEINICH, 2013;
SHAPIRO, 2007). Por sua vez, as
sujeições sociais, econômicas e
culturais que cartoneras sofrem são
entraves para o desenvolvimento de
suas atividades. Contudo, as
istências analíticas que insistem em
qualificar objetos e práticas como
pouco artísticas” ou parte do
voluntarismo social, somadas à
persistência de governos e
organizações civis em ler essas
iniciativas como parte da economia da
, também dific
ultam o
reconhecimento desses projetos
Buscando enfrentar esse lapso,
nossa pesquisa tratou de analisar
alguns dos fatores que formatam a
proposta sociocultural, urbana e
estética de cartoneras latino
americanas, a partir daquilo que
suas/seus
protagonistas mobilizam em
termos de prática e discurso, o que
inclui dois eixos complementares: os
processos de descentralização de
saberes, estéticas e rotinas laborais,
movidos pela ideia de democratização
do acesso ao livro, à leitura e à
literatura;
e a forma como esses
processos dependem da constituição
de redes interculturais e transnacionais
de ação e atuação, decorrentes,
sobretudo, da circulação de saberes,
projetos e objetos literários.
Entre rotinas laborais e redes de
atuação
Em uma sociedade de
massificação de informações, o campo
editorial é mais um setor que está
submetido às lógicas mercadológicas
de verticalização da produção, difuo
e consumo de bens literários, bem
como de condensação, padronização
e normalização do con
forma que são esperadas ao final
desse processo produtivo. Ao menos é
este o diagnóstico da editora peruana
Wendy Yashira, que, em entrevista,
529
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
alguns dos fatores que formatam a
proposta sociocultural, urbana e
estética de cartoneras latino
-
americanas, a partir daquilo que
protagonistas mobilizam em
termos de prática e discurso, o que
inclui dois eixos complementares: os
processos de descentralização de
saberes, estéticas e rotinas laborais,
movidos pela ideia de democratização
do acesso ao livro, à leitura e à
e a forma como esses
processos dependem da constituição
de redes interculturais e transnacionais
de ação e atuação, decorrentes,
sobretudo, da circulação de saberes,
projetos e objetos literários.
Entre rotinas laborais e redes de
Em uma sociedade de
massificação de informações, o campo
editorial é mais um setor que está
submetido às lógicas mercadológicas
de verticalização da produção, difusão
e consumo de bens literários, bem
como de condensação, padronização
e normalização do con
teúdo e da
forma que o esperadas ao final
desse processo produtivo. Ao menos é
este o diagnóstico da editora peruana
Wendy Yashira, que, em entrevista,
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
nos argumentou
que as cartoneras
tentam se opor a “este mercado super
concentrado, monolítico, sem
mov
imento e dinamismo”, que não vê
a prática literária de outra forma senão
subordinada à “centralidade da
autoria” e do “trabalho individualizado
(Entrevista com Wendy Yashira,
Lumpérica Cartonera, 08/05/2021).
José de Souza Muniz Jr. (2016)
e Gustavo Sorá
(2017) mostram como
o mercado do livro é marcado, na
América Latina, por uma cultura
editorial uniforme, com pouca abertura
a experimentalismos estéticos,
suprimindo expressividades
consideradas “menores” do circuito
hegemônico de vendas, com catálogos
de
alta rotatividade, prioridade a
sellers,
ritmos industriais de produção
e elevados investimentos em poucos
autores mais lucrativos. Um dos
efeitos perniciosos dessa forma de agir
é a homogeneização de ideias e
formatos possíveis.
Basta tomarmos como
os três principais mercados editoriais
da América Latina –
Brasil, Argentina e
México
, caracterizados por
comerciais do setor livreiro. Segundo
Muniz Jr. (2016), os países
concentram “capitais editoriais” (São
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
que as cartoneras
tentam se opor a este mercado super
concentrado, monolítico, sem
imento e dinamismo, que não
a prática literária de outra forma senão
subordinada à centralidade da
autoria e do trabalho individualizado”
(Entrevista com Wendy Yashira,
Lumpérica Cartonera, 08/05/2021).
Jo de Souza Muniz Jr. (2016)
(2017) mostram como
o mercado do livro é marcado, na
América Latina, por uma cultura
editorial uniforme, com pouca abertura
a experimentalismos estéticos,
suprimindo expressividades
consideradas menores” do circuito
hegemônico de vendas, com catálogos
alta rotatividade, prioridade a
best-
ritmos industriais de produção
e elevados investimentos em poucos
autores mais lucrativos. Um dos
efeitos perniciosos dessa forma de agir
é a homogeneização de ideias e
Basta tomarmos como
exemplo
os três principais mercados editoriais
Brasil, Argentina e
, caracterizados por
êxitos
comerciais do setor livreiro. Segundo
Muniz Jr. (2016), os países
concentram capitais editoriais” (São
Paulo, Buenos Aires e Cidade
México), onde a edição, produção e
comercialização de livros o
atividades amplamente
profissionalizadas e institucionalizadas
logo, onde pouco espaço para o
reconhecimento do independente,
“alternativo”, “marginal. Nos três
países,
grande c
poder nas mãos de poucos grupos
empresariais que monopolizam
mercados editoriais regionais, o que
significa a perda de diversidade
cultural e editorial (Nicolau Netto,
2012), queda em índices de
“bibliodiversidade” (
AGUILERA
MUNIZ JR.
, 2016), homogeneização
de gostos, gêneros, tendências e
preferências, bem como excluo
das/os “destoantes” e dos
experimentos estéticos.
Essa análise corrobora a
pesquisa de Lucy Bell (2017a), que, ao
examinar resistências de cartoneras,
aponta a tentati
va da gigante
Alfaguara em reacender um tipo de
pan-
hispanismo adaptado a um
neocolonialismo do mercado editorial
justificado pelo idioma. Mas ao fim se
tratou de um
empreendimento d
conglomerado
para
nova hegemonia espanhola sobre
530
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Paulo, Buenos Aires e Cidade
do
México), onde a edição, produção e
comercialização de livros são
atividades amplamente
profissionalizadas e institucionalizadas
logo, onde há pouco espaço para o
reconhecimento do “independente”,
alternativo, marginal”. Nos três
grande c
oncentração de
poder nas mãos de poucos grupos
empresariais que monopolizam
mercados editoriais regionais, o que
significa a perda de diversidade
cultural e editorial (Nicolau Netto,
2012), queda em índices de
AGUILERA
, 2013;
, 2016), homogeneização
de gostos, gêneros, tendências e
preferências, bem como exclusão
das/os destoantes” e dos
experimentos estéticos.
Essa análise corrobora a
pesquisa de Lucy Bell (2017a), que, ao
examinar resistências de cartoneras,
va da gigante
Alfaguara em reacender um tipo de
hispanismo adaptado a um
neocolonialismo do mercado editorial
justificado pelo idioma. Mas ao fim se
empreendimento d
o
para
promover uma
nova hegemonia espanhola sobre
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
países out
rora colônias, ignorando a
diversidade cultural do continente
como algo vivo.
A
s editoras cartoneras,
historicamente,
a partir de diversas
estratégias, têm feito f
rente a
grupos empresariais e, na medida do
possível, enfrentando investidas
mercadológicas como essas ao
defender a diversidade cultural e um
modo diferente de fazer livros.
O que temos hoje é uma
ampliação dos contextos em que
se desenvolvem cartoneras:
escolares, de cooperativas de
trabalhadores, acadêmicas,
mantidas por coletivos, que
concentram toda a produção num
indivíduo só. Então, temos
projetos mais autônomos e
radica
lmente independentes,
assim como outros relacionados
a instituições públicas ou
privadas. Com isso, fica difícil
chegar a um consenso sobre
métodos próprios que
caracterizem a produção
cartonera. Mas acredito que, se
um, ele acaba sendo a
liberdade para
a produção de
livros desamarrados da
normatização e da lógica do
mercado editorial, que ainda é a
possibilidade que mais atrai
possíveis escritoras/es e
editoras/es a realizarem suas
publicações de papelão e a
fundarem editoras cartoneras
(Entrevista com
Prazeres, Cartonera das Iaiá,
07/04/2021).
Portanto, não se trata de
competição
afinal, para competir
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
rora colônias, ignorando a
diversidade cultural do continente
s editoras cartoneras,
a partir de diversas
rente a
esses
grupos empresariais e, na medida do
posvel, enfrentando investidas
mercadológicas como essas ao
defender a diversidade cultural e um
modo diferente de fazer livros.
O que temos hoje é uma
ampliação dos contextos em que
se desenvolvem cartoneras:
escolares, de cooperativas de
trabalhadores, acadêmicas,
mantidas por coletivos, que
concentram toda a produção num
indiduo . Então, temos
projetos mais autônomos e
lmente independentes,
assim como outros relacionados
a instituições públicas ou
privadas. Com isso, fica difícil
chegar a um consenso sobre
métodos próprios que
caracterizem a produção
cartonera. Mas acredito que, se
há um, ele acaba sendo a
a produção de
livros desamarrados da
normatização e da lógica do
mercado editorial, que ainda é a
possibilidade que mais atrai
possíveis escritoras/es e
editoras/es a realizarem suas
publicações de papelão e a
fundarem editoras cartoneras
(Entrevista com
Andressa
Prazeres, Cartonera das Iaiá,
Portanto, não se trata de
afinal, para competir
cartoneras teriam que reproduzir a
mesma lógica de mercado das
grandes editoras às quais opõem
mas de táticas de resistência (BELL,
2017a).
Nesse contexto, as iniciativas
constituiriam, segundo as/os agentes
cartoneras/os, verdadeiros boles
contra-
hegemônicos no que tange à
edição, mostrando que o fazer
pode ser efetivado diferentemente
(MEZA, 2014), mesclando
especificidades ur
sustentabilidade para ampliar o acesso
ao livro, à leitura e à literatura.
Astrid Salazar, fundadora da
venezuelana Dirtsa Cartonera, acredita
que uma das táticas para enfrentar
essa
concentração econômica
excludente” é abrir mais espaços
colabor
ativos e transgressores de
criação editorial”, com alianças
transnacionais e redes entre as
cartoneras.
(Buscamos) cultivar a
bibliodiversidade, com edições
pensadas e feitas em conjunto
com colegas de outros países, o
que pode nos assegurar uma
diversidad
e cultural que está
presente em toda a América
Latina. Por exemplo, a aliança
que fizemos com a Candeeiro
Cartonera, do Brasil, com uma
experiência de coedição, é uma
pequena amostra desse tipo de
estratégia de trabalho, pois a
divulgação da poesia de noss
ancestrais
531
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
cartoneras teriam que reproduzir a
mesma lógica de mercado das
grandes editoras às quais opõem
-se–,
mas de táticas de resistência (BELL,
Nesse contexto, as iniciativas
constituiriam, segundo as/os agentes
cartoneras/os, verdadeiros bolsões
hegemônicos no que tange à
edição, mostrando que o fazer
-literário
pode ser efetivado diferentemente
(MEZA, 2014), mesclando
especificidades ur
banas e
sustentabilidade para ampliar o acesso
ao livro, à leitura e à literatura.
Astrid Salazar, fundadora da
venezuelana Dirtsa Cartonera, acredita
que uma das táticas para enfrentar
concentração econômica
excludente é abrir mais “espaços
ativos e transgressores de
criação editorial, com alianças
transnacionais e redes entre as
(Buscamos) cultivar a
bibliodiversidade, com edições
pensadas e feitas em conjunto
com colegas de outros países, o
que pode nos assegurar uma
e cultural que está
presente em toda a América
Latina. Por exemplo, a aliança
que fizemos com a Candeeiro
Cartonera, do Brasil, com uma
experiência de coedição, é uma
pequena amostra desse tipo de
estratégia de trabalho, pois a
divulgação da poesia de noss
os
a poesia Piaroa,
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
Wayúu, Pemón, Kariña
a aproximar leitores de outras
latitudes de nossas literaturas.
Este é um passo em direção à
concretização da
bibliodiversidade
(Entrevista com
Astrid Salazar, Dirtsa Cartonera,
24/04/2021).
As coedições são exemplos
interessantes de como funcionam na
prática as redes de ão e atuação
entre cartoneras. O editor
pernambucano Marcelo Barbosa
mencionou outros:
Letras de Cartón
livro confeccionado pela Candeeiro e a
Catapoesia, mas que envolveu
editoras de oito países; e
Indígena Venezolana,
coeditado com
Dirtsa Cartonera. É esse modelo de
colaboração e coedição que deu luz ao
livro em espanhol “Poesía indígena
venezolana”, no qual se preservam
atributos originais, como
particularid
ades idiomáticas e a
diagramação pensada pela/o autor/a,
mantendo o que Eduardo de La
Fuente (2019) chamou de texturas do
lugar”, que implica reproduzir a forma,
a sensação e o senso de lugar na
criação literária, no esforço de
movimentar a identidade do
que ela surge para outras latitudes.
Assim, a coedição possibilita que
pessoas de diferentes contextos
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
– nos leva
a aproximar leitores de outras
latitudes de nossas literaturas.
Este é um passo em direção à
concretização da
(Entrevista com
Astrid Salazar, Dirtsa Cartonera,
As coedições são exemplos
interessantes de como funcionam na
prática as redes de ação e atuação
entre cartoneras. O editor
pernambucano Marcelo Barbosa
Letras de Cartón
,
livro confeccionado pela Candeeiro e a
Catapoesia, mas que envolveu
vinte
editoras de oito países; e
Poesía
coeditado com
Dirtsa Cartonera. É esse modelo de
colaboração e coedição que deu luz ao
livro em espanhol Poesía indígena
venezolana, no qual se preservam
atributos originais, como
ades idiomáticas e a
diagramação pensada pela/o autor/a,
mantendo o que Eduardo de La
Fuente (2019) chamou de “texturas do
lugar, que implica reproduzir a forma,
a sensação e o senso de lugar na
criação literária, no esforço de
movimentar a identidade do
lugar em
que ela surge para outras latitudes.
Assim, a coedição possibilita que
pessoas de diferentes contextos
conheçam a literatura e as
características da linguagem de outros
países afinal,
existe uma linguagem
própria de cada lugar
Marcelo Barbosa da Candeeiro
Cartonera, 30/04/2021).
Essas parcerias aparecem, no
discurso das/os agentes, como
contraponto ao que Marcelo Barbosa
chamou “lógica mercadológica dos
grandes grupos, pois o
vincula-se
a um “modo de fazer, mas
também a um movimento
inconformista de produção editorial
pensado de forma
colaborativa.Segundo o editor
mexicano Martín Jaramiilo
ideia de movimento na produção de
ideias e projetos é um fator que explica
a proliferação de cartoneras:
8Aqui, retomando
a tipologia que Howard
Becker (1977) propôs para enquadrar modos
do fazer artístico, podemos compreender tais
movimentos, respectivamente, como
“integrados” e “inconformistas. Artist
integradas/os” seriam aquelas/es que
produzem objetos de consumo direcionados a
gostos socialmente consolidados no mercado,
a partir de estilos consagrados e fazendo uso
de convenções vigentes. Já as/os artistas
inconformistas”, pelo contrário, em opos
ao cânone ou a um modo de fazer tradicional,
seriam aquelas/es que recusam as normas
vigentes de trabalho artístico e literário,
enfrentando com isso dificuldades, mas
buscando construir críticas às instituições
estabelecidas e, a partir disso, propor
alternativos de produção e divulgação de seus
produtos.
532
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
conheçam a literatura e as
características da linguagem de outros
existe uma linguagem
própria de cada lugar
(Entrevista com
Marcelo Barbosa da Candeeiro
Cartonera, 30/04/2021).
Essas parcerias aparecem, no
discurso das/os agentes, como
contraponto ao que Marcelo Barbosa
chamou lógica mercadológica” dos
grandes grupos, pois o
cartoneirismo
a um modo de fazer”, mas
também a um “movimento
inconformista de produção editorial”
8,
pensado de forma
colaborativa.Segundo o editor
mexicano Martín Jaramiilo
Cuen, a
ideia de movimento na produção de
ideias e projetos é um fator que explica
a proliferação de cartoneras:
a tipologia que Howard
Becker (1977) propôs para enquadrar modos
do fazer artístico, podemos compreender tais
movimentos, respectivamente, como
integrados e inconformistas”. “Artist
as
integradas/os seriam aquelas/es que
produzem objetos de consumo direcionados a
gostos socialmente consolidados no mercado,
a partir de estilos consagrados e fazendo uso
de convenções vigentes. Já as/os “artistas
inconformistas, pelo contrário, em opos
ição
ao cânone ou a um modo de fazer tradicional,
seriam aquelas/es que recusam as normas
vigentes de trabalho artístico e literário,
enfrentando com isso dificuldades, mas
buscando construir críticas às instituições
estabelecidas e, a partir disso, propor
canais
alternativos de produção e divulgação de seus
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
Em 2013,
conhecemos Israel
Soberanes, de La Rueda
Cartonera, que é um projeto
mexicano, durante um encontro
nacional sobre gestão cultural
que ocorreu em Cajeme, em
Sonora, México; na ocasião, ele
nos ensinou a metodologia da
encadernação cartonera, além de
nos co
ntar sobre o movimento
internacional das cartoneras. No
mesmo ano, nasceu La Biznaga,
que inicialmente se concentrava
em realizar oficinas de produção
de livros cartoneros em
comunidades marginalizadas e
na criação de públicos leitores;
somente em 2016 nós
publicamos o nosso primeiro livro
(Entrevista com Martín Jaramiilo
Cuen, La Biznaga Cartonera,
28/04/2021).
O editor carioca Ary Pimentel
afirmou que sua cartonera trabalha
com outras iniciativas internacionais,
como Ultramarina Cartonera
(Espanha), Eva
Cartonera (Portugal),
Eloísa Cartonera (Argentina), Dirtsa
Cartonera (Venezuela), etc. Josemilda
Félix da Silva Lima, da Viajeira
Cartonera, também credita a essa
movimentação de ideias o próprio
surgimento de seu projeto, que veio do
incentivo da Candeeir
o Cartonera,
também de Caruaru. Em sentido
similar, Gaudêncio Gaudério, que está
à frente do Vento Norte Cartonero, nos
explicou:
O Vento Norte Cartonero nasceu,
em 2014, a partir de uma
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
conhecemos Israel
Soberanes, de La Rueda
Cartonera, que é um projeto
mexicano, durante um encontro
nacional sobre gestão cultural
que ocorreu em Cajeme, em
Sonora, México; na ocasião, ele
nos ensinou a metodologia da
encadernação cartonera, além de
ntar sobre o movimento
internacional das cartoneras. No
mesmo ano, nasceu La Biznaga,
que inicialmente se concentrava
em realizar oficinas de produção
de livros cartoneros em
comunidades marginalizadas e
na criação de públicos leitores;
somente em 2016 nós
publicamos o nosso primeiro livro
(Entrevista com Martín Jaramiilo
Cuen, La Biznaga Cartonera,
O editor carioca Ary Pimentel
afirmou que sua cartonera trabalha
com outras iniciativas internacionais,
como Ultramarina Cartonera
Cartonera (Portugal),
Eloísa Cartonera (Argentina), Dirtsa
Cartonera (Venezuela), etc. Josemilda
Félix da Silva Lima, da Viajeira
Cartonera, também credita a essa
movimentação de ideias o próprio
surgimento de seu projeto, que veio do
o Cartonera,
também de Caruaru. Em sentido
similar, Gaudêncio Gaudério, que está
à frente do Vento Norte Cartonero, nos
O Vento Norte Cartonero nasceu,
em 2014, a partir de uma
experiência anterior que eu
também havia coordenado aqui
na cidade de
chamada ‘Maria Papelão, mas
também do contato com outras
iniciativas, como do
conhecimento partilhado e de
conversas com o pessoal do
projeto Amapola Cartonera, da
Colômbia
(Entrevista com
Gaudêncio Gaudério, Vento Norte
Cartonero,
29/04/2021).
Gaudêncio Gaudério, na mesma
conversa, comentou que seu projeto
tem atuado e trabalhado de maneira
colaborativa com outras editoras
cartoneras, brasileiras e internacionais,
com uma série de coedições e
parcerias cruzadas. Desde 2019, o
edito
r gaúcho é organizador de uma
exposição itinerante internacional
denominada
“O universo dos livros
cartoneros”, que apresenta produções
cartoneras de diversos países como
maneira de fomentar o intermbio de
ideias e projetos. Além disso, lidera um
grupo d
e cartoneras de vários países
que se encontram regularmente,
intitulada Confederação Mundial
Cartonera, que foi o nome dado por
Gaudêncio Gaudério a uma série de
encontros eatividades virtuais, com
eventos, oficinas e leituras de textos,
entre as cartonera
s parceiras
Kodama Cartonera (México), La
Rueda Cartonera (México), La Joyita
533
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
experiência anterior que eu
também havia coordenado aqui
na cidade de
Santa Maria,
chamada Maria Papelão’, mas
também do contato com outras
iniciativas, como do
conhecimento partilhado e de
conversas com o pessoal do
projeto Amapola Cartonera, da
(Entrevista com
Gaudêncio Gaudério, Vento Norte
29/04/2021).
Gaudêncio Gaudério, na mesma
conversa, comentou que seu projeto
tem atuado e trabalhado de maneira
colaborativa com outras editoras
cartoneras, brasileiras e internacionais,
com uma rie de coedições e
parcerias cruzadas. Desde 2019, o
r gaúcho é organizador de uma
exposição itinerante internacional
O universo dos livros
cartoneros”, que apresenta produções
cartoneras de diversos países como
maneira de fomentar o intercâmbio de
ideias e projetos. Além disso, lidera um
e cartoneras de vários países
que se encontram regularmente,
intitulada Confederação Mundial
Cartonera, que foi o nome dado por
Gaudêncio Gaudério a uma série de
encontros eatividades virtuais, com
eventos, oficinas e leituras de textos,
s parceiras
como
Kodama Cartonera (México), La
Rueda Cartonera (México), La Joyita
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
Cartonera (Chile) e outras
pensam projetos conjuntamente.
As redes são, então, mais que
um predicado do cartoneirismo, uma
prática que dirige seu
modus operandi
elas
constituem, a nível discursivo,
uma categoria explicativa bastante
operacionalizada por agentes. O livro e
a literatura que viajam e circulam
através de diferentes latitudes e
contextos não é uma realidade
materializada na difusão do livro
em
si, mas também metáfora para dar
conta do movimento de ideias e
projetos, do intercâmbio que se dá de
forma material, mas também
simbólica. A esse respeito, a editora
Andressa Prazeres diz:
Participei, em 2019, da coletânea
Letras de Cartón, organizada p
Candeeiro Cartonera e pela
Catapoesia. Essa coletânea
reúne poemas e aforismos de
editoras cartoneras de rios
países. Em 2020, no contexto da
pandemia, Marcus Gusmão,
editor da Licuri Livros Artesanais,
uma cartonera de Salvador, na
Bahia, organizou,
Gaudêncio Gaudério, da editora
gaúcha Vento Norte Cartonera,
encontros semanais e virtuais
que ficaram conhecidos como
Confederação Mundial Cartonera,
[...] que é uma “conspiração de
papelão” que me deu a
oportunidade de conhecer
editores e edit
oras cartoneras do
México, da Colômbia, do Chile,
da Argentina e de rios estados
brasileiros, projetos que hoje
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Cartonera (Chile) e outras
–, que
pensam projetos conjuntamente.
As redes o, então, mais que
um predicado do cartoneirismo, uma
modus operandi
;
constituem, a nível discursivo,
uma categoria explicativa bastante
operacionalizada por agentes. O livro e
a literatura que viajam e circulam
através de diferentes latitudes e
contextos não é só uma realidade
materializada na difuo do livro
-objeto
si, mas também metáfora para dar
conta do movimento de ideias e
projetos, do intercâmbio que se de
forma material, mas também
simbólica. A esse respeito, a editora
Participei, em 2019, da coletânea
Letras de Cartón, organizada p
ela
Candeeiro Cartonera e pela
Catapoesia. Essa coletânea
reúne poemas e aforismos de
editoras cartoneras de vários
países. Em 2020, no contexto da
pandemia, Marcus Gusmão,
editor da Licuri Livros Artesanais,
uma cartonera de Salvador, na
junto com
Gaudêncio Gaudério, da editora
gaúcha Vento Norte Cartonera,
encontros semanais e virtuais
que ficaram conhecidos como
Confederação Mundial Cartonera,
[...] que é uma conspiração de
papelão que me deu a
oportunidade de conhecer
oras cartoneras do
México, da Colômbia, do Chile,
da Argentina e de vários estados
brasileiros, projetos que hoje
acompanho pelas redes sociais
(Entrevista com Andressa
Prazeres, Cartonera das Iaiá,
07/04/2021).
Assim, os coletivos buscam
construir agenda
s estáveis de atuação,
cujos projetos representam a tentativa
de criar uma “conspiração de papelão,
ou seja, uma rede de integração
transnacional e intercultural entre as
cartoneras, com a organização de
workshops, oficinas, coedições e
publicações cruzad
coletivos, circulação de ideias e de
pessoas, bem como a colaboração no
estabelecimento de novas editoras. Ao
longo da pesquisa, notamos um
discurso que valoriza o trabalho
conjunto para visibilizar a diversidade
cultural da América Latina, me
promoção de atividades editoriais e
literárias independentes e sua
articulação com novos públicos.
processo vem se atrelando à
constituição de redes transnacionais
de atuação intercultural, decorrentes
da
circulação de saberes, projetos,
prát
icas e objetos literários.
Com a pandemia da COVID
o espaço digital
se consolidou como
meio para que as iniciativas atuassem
534
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
acompanho pelas redes sociais
(Entrevista com Andressa
Prazeres, Cartonera das Iaiá,
Assim, os coletivos buscam
s estáveis de atuação,
cujos projetos representam a tentativa
de criar uma conspiração de papelão”,
ou seja, uma rede de integração
transnacional e intercultural entre as
cartoneras, com a organização de
workshops, oficinas, coedições e
publicações cruzad
as, projetos
coletivos, circulação de ideias e de
pessoas, bem como a colaboração no
estabelecimento de novas editoras. Ao
longo da pesquisa, notamos um
discurso que valoriza o trabalho
conjunto para visibilizar a diversidade
cultural da América Latina, me
diante a
promoção de atividades editoriais e
literárias independentes e sua
articulação com novos públicos.
Esse
processo vem se atrelando à
constituição de redes transnacionais
de atuação intercultural, decorrentes
circulação de saberes, projetos,
icas e objetos literários.
Com a pandemia da COVID
-19,
se consolidou como
meio para que as iniciativas atuassem
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
conjuntamente9
. Isso incrementou as
rotinas de trabalho entre cartoneras,
ao permitir que editoras/es
alcançassem maior grau d
transnacionalidade em suas redes e
em seus projetos. Nesse sentido, as
plataformas digitais
apareceram, nas
entrevistas que realizamos, como
estratégias que facilitaram a
disseminação das ideias cartoneras e
o encontro de novas/os
interlocutoras/es e púb
licos, o que
agregou valor à ampliação das
publicações, que é um ponto
importante da discussão sobre
democratização do acesso ao livro, à
leitura e à literatura.
Colaboramos com coedições
importantes graças a convites de
companheiros de outros países,
com
o o pessoal de La Vieja Sapa
Cartonera (Chile). [Dentro dessas
colaborações] me interessam a
escrita coletiva e os projetos em
comum, que pautem o trabalho
não somente de produção
editorial de livros, mas também
de criação textual. Nossos
autores não pensa
literário de forma individualizada,
mas como algo mais conjunto,
democratizado, para possibilitar
vários conhecimentos e formas
de criar, a exemplo da poesia
expansiva e de reescritas
9
A exemplo disso, entre 24 e 28 de fevereiro
de 2021, durante a pandemia, foi realizado o
Festival del Libro Cartonero, evento digital que
contou com a participação de 40 editoriais
cartonero
s de diversos países do mundo.
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
. Isso incrementou as
rotinas de trabalho entre cartoneras,
ao permitir que editoras/es
alcançassem maior grau d
e
transnacionalidade em suas redes e
em seus projetos. Nesse sentido, as
apareceram, nas
entrevistas que realizamos, como
estratégias que facilitaram a
disseminação das ideias cartoneras e
o encontro de novas/os
licos, o que
agregou valor à ampliação das
publicações, que é um ponto
importante da discussão sobre
democratização do acesso ao livro, à
Colaboramos com coedições
importantes graças a convites de
companheiros de outros países,
o o pessoal de La Vieja Sapa
Cartonera (Chile). [Dentro dessas
colaborações] me interessam a
escrita coletiva e os projetos em
comum, que pautem o trabalho
não somente de produção
editorial de livros, mas também
de criação textual. Nossos
autores não pensa
m o labor
literário de forma individualizada,
mas como algo mais conjunto,
democratizado, para possibilitar
rios conhecimentos e formas
de criar, a exemplo da poesia
expansiva e de reescritas
A exemplo disso, entre 24 e 28 de fevereiro
de 2021, durante a pandemia, foi realizado o
Festival del Libro Cartonero, evento digital que
contou com a participação de 40 editoriais
s de diversos países do mundo.
colaborativas
Wendy Yashira, Lumpérica
Cartone
ra, 08/05/2021).
Isso nos remete ao modo como
parte da sociologia da arte tem
buscado dar conta de processos e
rotinas laborais na produção de o
de arte, entre elas a literatura,
consideradas a partir dos esforços
coletivos de trabalho
criações individuais (BECKER, 1977;
ZOLBERG, 2006). Esses aportes nos
fazem refletir sobre
centrais do trabalho na elaboração de
obras artísticas. Entre elas,
destacamos a coordenação de
atividades necessárias à elaboração
do bem literário,
que, de um lado, se
concretiza nas redes e atuações
conjuntas, mas, de outro,
sempre levando em conta uma série
de convenções que são incorporadas
em uma prática comum de produzir
livros cartoneros. São convenções que
permitem atividades cooperativ
através das quais o os
papelão, mas também um modo
específico de os produzir se atualizem
continuamente. Para
as convenções partilhadas entre as
cartoneras são fundamentais, pois
535
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
colaborativas
(Entrevista com
Wendy Yashira, Lumpérica
ra, 08/05/2021).
Isso nos remete ao modo como
parte da sociologia da arte tem
buscado dar conta de processos e
rotinas laborais na produção de o
bras
de arte, entre elas a literatura,
consideradas a partir dos esforços
coletivos de trabalho
, e não como
criações individuais (BECKER, 1977;
ZOLBERG, 2006). Esses aportes nos
fazem refletir sobre
características
centrais do trabalho na elaboração de
obras artísticas. Entre elas,
destacamos a coordenação de
atividades necessárias à elaboração
que, de um lado, se
concretiza nas redes e atuações
conjuntas, mas, de outro,
ocorre
sempre levando em conta uma série
de convenções que são incorporadas
em uma prática comum de produzir
livros cartoneros. São convenções que
permitem atividades cooperativ
as
através das quais não os
livros de
papelão, mas também um modo
espefico de os produzir se atualizem
Wendy Yashira,
as convenções partilhadas entre as
cartoneras o fundamentais, pois
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
possibilitam a cooperação que
transcende fronteiras.
Valorizo muito as parcerias e
tento sempre colaborar com
companheiros de todo o universo
da edição cartonera, a nível local,
regional, internacional. Trato de
estar apoiando a difuo desses
processos e trabalhos. Creio que
a articulação sempre se
uma forma ou de outra, com
projetos sociais e de interesses
afins, mas sempre articulando em
conjunto, mediante uma difuo
que transcende fronteiras
(Entrevista com Wendy Yashira,
Lumpérica Cartonera, 08/05/21).
No universo das cartoneras, há
uma
rotina de trabalho, muitas vezes
partilhada através de ações e
atuações coletivas. Dentro dessas
rotinas, são firmados
convencionais de se desempenhar
atividades na produção e distribuição
de livros. Contudo, como veremos a
seguir, essa forma convenc
produzir e difundir
não engessa a
estética dos livros cartoneros, pois há
quemos reproduza a partir de
convenções e quem tensione essas
convenções.
O “livro-
objeto” e os contra
papelão
Podemos dizer que um
elemento que aproxima diferentes
iniciativas diz respeito à forma
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
possibilitam a cooperação que
Valorizo muito as parcerias e
tento sempre colaborar com
companheiros de todo o universo
da edição cartonera, a nível local,
regional, internacional. Trato de
estar apoiando a difusão desses
processos e trabalhos. Creio que
a articulação sempre se
de
uma forma ou de outra, com
projetos sociais e de interesses
afins, mas sempre articulando em
conjunto, mediante uma difusão
que transcende fronteiras
(Entrevista com Wendy Yashira,
Lumpérica Cartonera, 08/05/21).
No universo das cartoneras,
rotina de trabalho, muitas vezes
partilhada através de ações e
atuações coletivas. Dentro dessas
rotinas, são firmados
modos
convencionais de se desempenhar
atividades na produção e distribuição
de livros. Contudo, como veremos a
seguir, essa forma convenc
ional de
não engessa a
estética dos livros cartoneros, pois
quemos reproduza a partir de
convenções e há quem tensione essas
objetoe os contra
-usos do
Podemos dizer que um
elemento que aproxima diferentes
iniciativas diz respeito à forma
convencional de produzir livros dentro
de uma perspectiva de trabalho
editorial ecologicamente viável, por
intermédio da manipulação do papelão
transformado em livro
entanto, aqui vale uma distinção:
quando falamos de objeto
“livro-
objeto”, tratamos de duas
categorias diferentes. O livro
tende a manter seu formato de dice,
embora com certa maleabilidade em
termos de transformar e reajustar es
formato, sem dispen
referência. O objeto
propositalmente do códice ao explorar
outros tipos de objetos para a
transmissão textual, a partir de
abordagens não convencionais
(CLIMENT-
ESPINO, 2020).
Podemos entender as/os
agentes
cartoneros como criadores de
livros-
objetos literários; afinal, o
formato do códice é mantido em sua
estrutura elementar, ainda que com
variações
em termos do uso do
papelão e da ressignificação do
formato do objeto literário, subvertido
dentro da estétic
a do precário ou
10
Um exemplo seria a obra Cabezas rascan
paredes”, de Julio Fernández Peláez, que
transmite o texto por meio de fósforos em uma
caixa, de onde podem ser retirados, lidos sem
qualquer ordem e, enfim, acesos e
dispensados.
536
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
convencional de produzir livros dentro
de uma perspectiva de trabalho
editorial ecologicamente viável, por
intermédio da manipulação do papelão
transformado em livro
-objeto. No
entanto, aqui vale uma distinção:
quando falamos de “objeto
-livro” e
objeto, tratamos de duas
categorias diferentes. O livro
-objeto
tende a manter seu formato de códice,
embora com certa maleabilidade em
termos de transformar e reajustar es
se
formato, sem dispensá
-lo enquanto
referência. O objeto
-livro foge
propositalmente do códice ao explorar
outros tipos de objetos para a
transmissão textual, a partir de
abordagens não convencionais
10
ESPINO, 2020).
Podemos entender as/os
cartoneros como criadores de
objetos literários; afinal, o
formato do dice é mantido em sua
estrutura elementar, ainda que com
em termos do uso do
papelão e da ressignificação do
formato do objeto literário, subvertido
a do precário ou
Um exemplo seria a obra “Cabezas rascan
paredes, de Julio Fernández Peláez, que
transmite o texto por meio de fósforos em uma
caixa, de onde podem ser retirados, lidos sem
qualquer ordem e, enfim, acesos e
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
indesejável, daquilo que foi
“enclausurado dentro das latas ou dos
contêineres de lixo sem que fiquem à
mostra, quase sempre sem poder
voltar à vida: silenciados pelo
esquecimento que se oferece a quem
só pode incomodar se tiver voz (LIMA
2009, p. 40).
Os livros cartoneros surgem
dentro de práticas que lhes garantem
certo grau de autonomia
11
circuitos editoriais hegemônicos, ao
mesmo tempo em que conferem
distinção estética em relação aos livros
criados nos moldes tradicionais.
Nessas táticas distintivas da prática
cartonera, uma preocupação em
reformular o a dinâmica de
trabalho na produção artesanal do
livro, mas a própria relação entre
conteúdo e forma. Isso nos leva à
concepção de Herbert Marcuse (2007)
11 Po
deríamos dizer que a autonomia das
cartoneras faz parte das “literaturas pós
autônomas” (LUDMER, 2009), relacionada às
novas formas de circulação, produção e
leitura, em que noções clássicas de autor/a,
leitor/a e editor/a se misturam. Além disso,
essa é u
ma literatura que não pode ser lida
sem que tomemos como centrais seu contexto
de produção, as condições materiais de sua
existência e os/as agentes envolvidas/os em
sua realização. A pós-
autonomia implica uma
estratégia contra-
hegemônica de superação
das
colonialidade das práticas literárias e da
integração de imaginários que as políticas
linguísticas e culturais coloniais omitiram e
proibiram (VILA, 2016).
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
indesejável, daquilo que foi
enclausurado dentro das latas ou dos
contêineres de lixo sem que fiquem à
mostra, quase sempre sem poder
voltar à vida: silenciados pelo
esquecimento que se oferece a quem
pode incomodar se tiver voz” (LIMA
,
Os livros cartoneros surgem
dentro de práticas que lhes garantem
11
frente aos
circuitos editoriais hegemônicos, ao
mesmo tempo em que conferem
distinção estética em relação aos livros
criados nos moldes tradicionais.
Nessas táticas distintivas da prática
cartonera, há uma preocupação em
reformular não a dinâmica de
trabalho na produção artesanal do
livro, mas a própria relação entre
conteúdo e forma. Isso nos leva à
concepção de Herbert Marcuse (2007)
deríamos dizer que a autonomia das
cartoneras faz parte das literaturas pós
-
autônomas (LUDMER, 2009), relacionada às
novas formas de circulação, produção e
leitura, em que noções clássicas de autor/a,
leitor/a e editor/a se misturam. Além disso,
ma literatura que não pode ser lida
sem que tomemos como centrais seu contexto
de produção, as condições materiais de sua
existência e os/as agentes envolvidas/os em
autonomia implica uma
hegemônica de superação
colonialidade das práticas literárias e da
integração de imaginários que as políticas
linguísticas e culturais coloniais omitiram e
sobre os indíc
ios de uma arte política,
ou seja, uma arte que apresenta uma
mudança não de estilo e forma,
mas também de uma técnica política
que é prenunciadora de mudanças
sociais. A essa arte interessa a forma
do conteúdo”, e não o conteúdo em si,
pois é dentro d
a forma estética e de
sua dinâmica de elaboração, que
sintetiza a forma produtiva de um bem
simbólico, que encontramos o
potencial político da arte.
No livro cartonero, sua forma
importa tanto quanto seu conteúdo
talvez até mais, considerando que a
forma - cartón
é um dos definidores do
status de cartonera
em livros “tradicionais o texto tende a
ser mais relevante que a forma. Tendo
isso em vista, nos parece importante
pontuar a forma material e o modo de
produção livro-
objeto cartonero. Para
entender a relação entre conteúdo e
forma, é nece
ssária a avaliação da
materialidade do livro
forma como se a objetificação de
um texto em artefato particular. Essa
problemática nos parece crucial, pois,
para além das influências,
interferências e modificações que um
texto pode sofrer
no decorrer de sua
construção
que o processo de
537
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ios de uma arte política,
ou seja, uma arte que apresenta uma
mudança não de estilo e forma,
mas também de uma técnica política
que é prenunciadora de mudanças
sociais. A essa arte interessa a “forma
do conteúdo, e não o conteúdo em si,
a forma estética e de
sua dinâmica de elaboração, que
sintetiza a forma produtiva de um bem
simbólico, que encontramos o
potencial político da arte.
No livro cartonero, sua forma
importa tanto quanto seu conteúdo
talvez até mais, considerando que a
é um dos definidores do
–, enquanto que
em livros tradicionais” o texto tende a
ser mais relevante que a forma. Tendo
isso em vista, nos parece importante
pontuar a forma material e o modo de
objeto cartonero. Para
entender a relação entre conteúdo e
ssária a avaliação da
materialidade do livro
-objeto em si, da
forma como se dá a objetificação de
um texto em artefato particular. Essa
problemática nos parece crucial, pois,
para além das influências,
interferências e modificações que um
no decorrer de sua
já que o processo de
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
interpretação é uma constante
entendemos que a materialidade do
livro é constituída de elementos
paratextuais (SILVA;
VIEIRA, 2019),
que mediam a relação entre livro e
leitoras/es em potencial. Esses
elementos constituem itens para além
do texto em si, mas que ajudam a
guiar a leitura, organizar a estrutura e
contextualizar o texto. Esses
elementos compreendem a
materialidade do livro, a capa, a arte
envolvida na preparação do miolo, o
tipo de folha,
a tipografia, etc.
Trazendo essa perspectiva para
as cartoneras, notamos a importância
desses elementos paratextuais
relacionados à materialidade do livro.
As capas feitas à mão, com trabalhos
de pintura, colagem ou bordado,
tornam cada edição única e
art
isticamente distinta entre si. Essa
fuga da padronização da produção em
série leva à discussão sobre a
singularidade de cada obra:
Com o cartón (“papelão em
espanhol) recolhido nas ruas, o
produzidas uma a uma as capas
artesanais, cortadas, dobradas,
pi
ntadas e costuradas à mão. Os
livros que compõem o catálogo
da Ganesha Cartonera derivam
dessa confecção artesanal e não
apresentam a uniformidade de
uma produção industrial em rie,
sendo, portanto, cada um deles
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
interpretação é uma constante
–,
entendemos que a materialidade do
livro é constituída de elementos
VIEIRA, 2019),
que mediam a relação entre livro e
leitoras/es em potencial. Esses
elementos constituem itens para além
do texto em si, mas que ajudam a
guiar a leitura, organizar a estrutura e
contextualizar o texto. Esses
elementos compreendem a
materialidade do livro, a capa, a arte
envolvida na preparação do miolo, o
a tipografia, etc.
Trazendo essa perspectiva para
as cartoneras, notamos a importância
desses elementos paratextuais
relacionados à materialidade do livro.
As capas feitas à mão, com trabalhos
de pintura, colagem ou bordado,
tornam cada edição única e
isticamente distinta entre si. Essa
fuga da padronização da produção em
rie leva à discussão sobre a
singularidade de cada obra:
Com o cartón (papelão” em
espanhol) recolhido nas ruas, são
produzidas uma a uma as capas
artesanais, cortadas, dobradas,
ntadas e costuradas à mão. Os
livros que compõem o catálogo
da Ganesha Cartonera derivam
dessa confecção artesanal e não
apresentam a uniformidade de
uma produção industrial em série,
sendo, portanto, cada um deles
um produto irrepetível. Cada capa
é única
, não existindo duas iguais
(Entrevista com Ary Pimentel,
Ganesha Cartonera, 27/04/2021).
O livro-
objeto é resultado de
uma ação para alterar a forma
elementar do papelão, ou, se
quisermos, de uma“elaboraçãosobre
esse resíduo descartável
vez indica
um trabalho de
agenciamento subjetivo que ocorre ao
longo do processo de produção dos
livros. Segundo nos sugeriu a
responsável pelo projeto Lua Negra
Cartonera, o livro-
objeto cartonero, em
sua versão final, é produto de um
trabalho coletivo e aut
“reelaboração de afetos” que podem
estar presentes em oficinas de
produção, nas trocas interculturais,
nas coedições, no processo de
produção artesanal que envolvem
desde a coleta do papelão até a
difusão do artefato literário, mas
também na
unicidade de cada uma
das edições lançadas
Ana Karina Luna, Lua Negra
Cartonera, 29/04/2021). Nesse
sentido, o livro-
objeto é a objetificação
desses afetos, a ntese de muitos
processos, subjetividades e
presenças.
538
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
um produto irrepetível. Cada capa
, não existindo duas iguais
(Entrevista com Ary Pimentel,
Ganesha Cartonera, 27/04/2021).
objeto é resultado de
uma ação para alterar a forma
elementar do papelão, ou, se
quisermos, de uma“elaboração”sobre
esse reduo descartável
, que por sua
um trabalho de
agenciamento subjetivo que ocorre ao
longo do processo de produção dos
livros. Segundo nos sugeriu a
responsável pelo projeto Lua Negra
objeto cartonero, em
sua vero final, é produto de um
trabalho coletivo e aut
ogerido, uma
reelaboração de afetos” que podem
estar presentes em oficinas de
produção, nas trocas interculturais,
nas coedições, no processo de
produção artesanal que envolvem
desde a coleta do papelão até a
difusão do artefato literário, mas
unicidade de cada uma
das edições lançadas
(Entrevista com
Ana Karina Luna, Lua Negra
Cartonera, 29/04/2021). Nesse
objeto é a objetificação
desses afetos, a ntese de muitos
processos, subjetividades e
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
Essa elaboração, motiva
sobre o desejo de criar livros
com capa de papelão a partir de um
modo de produção colaborativo que
objetiva fugir das determinações do
mercado editorial,
também indica um
uso não corrente desse material que, a
priori, seria descartado. A
transf
ormação desse material em
artefato literário
amiúde, associado
às elites culturais
é, portanto, uma
forma de contra-
uso de um dos
elementos menos valorizados: o lixo.
Seguindo a formulação de Rogério
Proença Leite (2002) a respeito dos
usos insurgentes
de espaços urbanos,
por contra-
uso nos referimos ao modo
de atribuir a um objeto, lugar ou
situação um aproveitamento diferente
daquele pensado originalmente em
seu processo de produção formal.
O primeiro ponto a ser
considerado, nesse sentido, é que
ess
a maneira inventiva de usar o
papelão e de vinculá-
lo ao universo da
produção literária varia de acordo com
a região. Cada livro-
objeto expressa
particularidades do lugar em que é
produzido, uma vez que as editoras
cartoneras acabam incorporando,
mesmo que
muitas vezes de forma
inconsciente, no seu processo de
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Essa elaboração, motiva
da
sobre o desejo de criar livros
-objetos
com capa de papelão a partir de um
modo de produção colaborativo que
objetiva fugir das determinações do
também indica um
uso não corrente desse material que, a
priori, seria descartado. A
ormação desse material em
amiúde, associado
é, portanto, uma
uso de um dos
elementos menos valorizados: o lixo.
Seguindo a formulação de Rogério
Proença Leite (2002) a respeito dos
de espaços urbanos,
uso nos referimos ao modo
de atribuir a um objeto, lugar ou
situação um aproveitamento diferente
daquele pensado originalmente em
seu processo de produção formal.
O primeiro ponto a ser
considerado, nesse sentido, é que
a maneira inventiva de usar o
lo ao universo da
produção literária varia de acordo com
objeto expressa
particularidades do lugar em que é
produzido, uma vez que as editoras
cartoneras acabam incorporando,
muitas vezes de forma
inconsciente, no seu processo de
produção e em suas rotinas de
trabalho, características das cidades
onde são criadas.
Atuamos como forma de dar
acesso a diferentes públicos de
nossa cidade à literatura. O custo
do livro em geral é
questão inflacionária em países
latino-
americanos, sobretudo
aqui, o que tornam a leitura e a
literatura luxos. [...] Na verdade,
eu me sinto uma facilitadora em
oficinas de escrita criativa e de
produção cartonera que
organizamos em minha
co
munidade, e isso me permite
que eu me envolva mais no
processo de quem dá vida
cultural à cidade [...]. A cidade
não está separada da literatura,
sendo que a cada dia eles se
fundem mais
Astrid Salazar, Dirtsa Cartonera,
24/04/2021).
Fundem-
se, sobretudo, em
razão da importância do papelão no
processo de produção do livro
cartonero. A singularidade de cada
livro-
objeto está conectada à sua
materialidade. Nessa medida, o
papelão surge como um marco político
das editoras cartoneras desde
O papelão, em sua materialidade,
é um marco estético e político
para nos lembrar da necessidade
de inventar a atmosfera onde a
nossa literatura possa respirar, a
casa onde possa ser acolhida
sem reivindicar uma entrada pela
porta dos fundos ou à
elite cultural e do mercado
editorial hegemônicos
com Andressa Prazeres,
Cartonera das Iaiá, 07/04/2021).
539
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
produção e em suas rotinas de
trabalho, características das cidades
Atuamos como forma de dar
acesso a diferentes públicos de
nossa cidade à literatura. O custo
do livro em geral é
alto devido à
questão inflacionária em países
americanos, sobretudo
aqui, o que tornam a leitura e a
literatura luxos. [...] Na verdade,
eu me sinto uma facilitadora em
oficinas de escrita criativa e de
produção cartonera que
organizamos em minha
munidade, e isso me permite
que eu me envolva mais no
processo de quem vida
cultural à cidade [...]. A cidade
não está separada da literatura,
sendo que a cada dia eles se
fundem mais
(Entrevista com
Astrid Salazar, Dirtsa Cartonera,
se, sobretudo, em
razão da importância do papelão no
processo de produção do livro
cartonero. A singularidade de cada
objeto está conectada à sua
materialidade. Nessa medida, o
papelão surge como um marco político
das editoras cartoneras desde
o início:
O papelão, em sua materialidade,
é um marco estético e político
para nos lembrar da necessidade
de inventar a atmosfera onde a
nossa literatura possa respirar, a
casa onde possa ser acolhida
sem reivindicar uma entrada pela
porta dos fundos ou à
margem da
elite cultural e do mercado
editorial hegemônicos
(Entrevista
com Andressa Prazeres,
Cartonera das Iaiá, 07/04/2021).
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
Isso nos conduz a uma
discussão sobre amaneira de
conseguir o material para as capas e
contracapas dos livros. A primeira
ed
itora criada, Eloísa Cartonera,
obtinha o papelão diretamente com
cooperativa de catadores urbanos,
estratégia também seguida por outras
editoras, como as brasileiras Dulcinéia
Catadora (São Paulo) e a Severina
Catadora (Garanhuns). Contudo, o
vínculo entr
e cooperativas,
e editoras não configura uma prática
corrente entre a “nova geração das
cartoneras, ainda que a tentativa de
ressignificar o livro-
objeto e levá
para outros espaços siga sendo uma
constante. Das treze iniciativas sobre
as qua
is nos debruçamos mais
substancialmente, ao menos dez
comentaram em conversa não ter
vínculos institucionais com
cooperativas de catadores urbanos de
suas cidades, sendo que o papelão é
coletado pelas/os agentes em
mercados, ruas, depósitos ou
comprado a baixo custo.
Portanto, o que ocorre com
maior frequência é a coleta individual
de material pelas ruas. Esse
movimento de andar por espaços
urbanos em busca de papelão aparece
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Isso nos conduz a uma
discuso sobre amaneira de
conseguir o material para as capas e
contracapas dos livros. A primeira
itora criada, Eloísa Cartonera,
obtinha o papelão diretamente com
cooperativa de catadores urbanos,
estratégia também seguida por outras
editoras, como as brasileiras Dulcinéia
Catadora (São Paulo) e a Severina
Catadora (Garanhuns). Contudo, o
e cooperativas,
cartoneros
e editoras não configura uma prática
corrente entre a nova geração” das
cartoneras, ainda que a tentativa de
objeto e levá
-lo
para outros espaços siga sendo uma
constante. Das treze iniciativas sobre
is nos debruçamos mais
substancialmente, ao menos dez
comentaram em conversa não ter
nculos institucionais com
cooperativas de catadores urbanos de
suas cidades, sendo que o papelão é
coletado pelas/os agentes em
mercados, ruas, depósitos ou
Portanto, o que ocorre com
maior frequência é a coleta individual
de material pelas ruas. Esse
movimento de andar por espaços
urbanos em busca de papelão aparece
no discurso das/os agentes
forma de aproximar, de um lado,
literatura e cidade, de outro, pessoas
envolvidas com cartoneras com a
questão do descarte de reduos que
podem ser ressignificados.
O papelão, que viraria lixo, é
recuperado e dá início a um novo
ciclo, servindo ago
proteger as páginas nas quais
novas obras de autores iniciantes
encontram seu suporte, sua
materialização e sua
possibilidade de circulação. Foi
papelão descartado, agora faz
parte do circuito editorial e do
mundo da cultura literária
“cartón era
, hoy es libro
(Entrevista com Ary Pimentel,
Ganesha Cartonera, 27/04/2021).
Dessa interação com a cidade e
com o que “resta” dela em termos
materiais
o resíduo sólido
descartável e a priori considerado lixo
, o papelão passa a ser enxergado
tamb
ém virtualmente, enquanto um
objeto cultural, um livro em potencial.
É certo que o papelão se tornou,
desde o aparecimento das cartoneras,
símbolo maior desse modelo editorial;
contudo, a visão que as editoras têm
sobre a função do material varia, a
depend
er de cada projeto:
O papelão [cartón] é importante,
sim, e inclusive dá o nome de
“cartonera” às editoras, mas não
é a única coisa que define essas
editoras. Na verdade, não existe
uma definição única para as
540
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
no discurso das/os agentes
como
forma de aproximar, de um lado,
literatura e cidade, de outro, pessoas
envolvidas com cartoneras com a
questão do descarte de resíduos que
podem ser ressignificados.
O papelão, que viraria lixo, é
recuperado e início a um novo
ciclo, servindo ago
ra para
proteger as páginas nas quais
novas obras de autores iniciantes
encontram seu suporte, sua
materialização e sua
possibilidade de circulação. Foi
papelão descartado, agora faz
parte do circuito editorial e do
mundo da cultura literária
, hoy es libro
-arte”
(Entrevista com Ary Pimentel,
Ganesha Cartonera, 27/04/2021).
Dessa interação com a cidade e
com o que resta dela em termos
o resíduo sólido
descartável e a priori considerado lixo
, o papelão passa a ser enxergado
ém virtualmente, enquanto um
objeto cultural, um livro em potencial.
É certo que o papelão se tornou,
desde o aparecimento das cartoneras,
mbolo maior desse modelo editorial;
contudo, a vio que as editoras têm
sobre a função do material varia, a
er de cada projeto:
O papelão [cartón] é importante,
sim, e inclusive o nome de
cartonera às editoras, mas não
é a única coisa que define essas
editoras. Na verdade, não existe
uma definição única para as
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
cartoneras [...] Em minha opinião,
para ser um
a cartonera, além do
papelão, deve haver um espírito
de trabalho em equipe, a
reciclagem de materiais, bem
como uma forma de aproximar a
literatura das pessoas. Por
exemplo, fazer livros digitais
estaria no limite desse processo,
mas eu não diria que uma
seria cartonera trabalhando
apenas digitalmente
com
Olga Sotomayor Sánchez,
Olga Cartonera
, 26/03/2021).
Marcelo Barbosa percebe o
papelão como parte da identidade das
cartoneras:
Eu não consigo perceber um
livro, com título de ca
o uso do papelão.Eu não consigo
perceber um e-
book cartonero,
por exemplo; [...] O livro cartonero
é físico e ele tem que ter capas
de papelão; se ele não tiver a
capa de papelão, o adianta. O
livro cartonero faz parte do
universo de publica
independente, mas os livros
independentes não o
necessariamente cartoneros,
entende? Para ser cartonero, tem
que ser de papelão. É a nossa
marca
(Entrevista com Marcelo
Barbosa, Candeeiro Cartonera,
30/04/2021).
Para outras/os editoras/os, é
importa
nte que as editoras publiquem
livros com capa de papelão, ainda que
possam usar, paralelamente, outros
formatos híbridos de edição. É nesse
raciocínio que segue Astrid Salazar, da
Dirtsa Cartonera, que compreende o
papelão reciclado como o fundamento
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
cartoneras [...] Em minha opinião,
a cartonera, além do
papelão, deve haver um “espírito”
de trabalho em equipe, a
reciclagem de materiais, bem
como uma forma de aproximar a
literatura das pessoas. Por
exemplo, fazer livros digitais
estaria no limite desse processo,
mas eu não diria que uma
editora
seria cartonera trabalhando
apenas digitalmente
(Entrevista
Olga Sotomayor Sánchez,
, 26/03/2021).
Marcelo Barbosa percebe o
papelão como parte da identidade das
Eu não consigo perceber um
livro, com título de ca
rtonero, sem
o uso do papelão.Eu não consigo
book cartonero,
por exemplo; [...] O livro cartonero
é físico e ele tem que ter capas
de papelão; se ele não tiver a
capa de papelão, não adianta. O
livro cartonero faz parte do
universo de publica
ção
independente, mas os livros
independentes não são
necessariamente cartoneros,
entende? Para ser cartonero, tem
que ser de papelão. É a nossa
(Entrevista com Marcelo
Barbosa, Candeeiro Cartonera,
Para outras/os editoras/os, é
nte que as editoras publiquem
livros com capa de papelão, ainda que
possam usar, paralelamente, outros
formatos híbridos de edição. É nesse
racionio que segue Astrid Salazar, da
Dirtsa Cartonera, que compreende o
papelão reciclado como o fundamento
das c
artoneras, isto é, como o ponto
de partida das cartoneras”:
O papelão é o nosso coração; ele
vida e inicia nosso processo
de edição. [...] O papelão
atravessa todo um processo
formativo que engloba a arte de
escrever, criar, corrigir, divulgar e
difun
dir, toda uma tarefa literária
e cultural que envolve o editor
com o autor e seus leitores. É a
partir desse material reciclado
que a criação acontece. [...] O
papelão é nosso ponto de partida,
a essência de todo o movimento
(
Entrevista com Astrid Salazar,
Dirtsa Cartonera, 24/04/2021).
Diferente das três editoras
citadas anteriormente, as iniciativas da
Cartonera das Iaiá e La Joyita
Cartonera, apesar de reconhecerem a
importância do papelão para a
consolidação da prática do
cartoneirismo na América Latin
produzem em formatos híbridos. Essas
estratégias também acabam sendo
capitalizadas dentro do discurso de
democratização do acesso ao livro, à
leitura e à literatura. A Cartonera das
Iaiá, recentemente, adicionou ao seu
modo de edição os audiolivros,
con
siderados pela fundadora do
projeto, Andressa Prazeres, uma
forma de
abarcar a literatura de modo
multidimensional
”, vale dizer,
transmitir os sons da história e as
paisagens sonoras
(Entrevista com
541
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
artoneras, isto é, “como o ponto
de partida das cartoneras”:
O papelão é o nosso coração; ele
dá vida e inicia nosso processo
de edição. [...] O papelão
atravessa todo um processo
formativo que engloba a arte de
escrever, criar, corrigir, divulgar e
dir, toda uma tarefa literária
e cultural que envolve o editor
com o autor e seus leitores. É a
partir desse material reciclado
que a criação acontece. [...] O
papelão é nosso ponto de partida,
a essência de todo o movimento
Entrevista com Astrid Salazar,
Dirtsa Cartonera, 24/04/2021).
Diferente das três editoras
citadas anteriormente, as iniciativas da
Cartonera das Iaiá e La Joyita
Cartonera, apesar de reconhecerem a
importância do papelão para a
consolidação da prática do
cartoneirismo na América Latin
a,
produzem em formatos híbridos. Essas
estratégias também acabam sendo
capitalizadas dentro do discurso de
democratização do acesso ao livro, à
leitura e à literatura. A Cartonera das
Iaiá, recentemente, adicionou ao seu
modo de edição os audiolivros,
siderados pela fundadora do
projeto, Andressa Prazeres, uma
abarcar a literatura de modo
, vale dizer,
transmitir os sons da história e as
(Entrevista com
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
Andressa Prazeres, Cartonera das
Iaiá, 07/04/2021).
La Joyita, por sua vez,
digitalizou parte do seu acervo. Sua
editora argumenta que a internet e os
textos em formato digital o maneiras
de difundir a literatura mais
rapidamente
(Entrevista com
Elizabeth Cárdenas, La Joyita
Cartonera, 01/05/2021). Para
logo o livro é publicado, ele ganha vida
própria e passa a se movimentar por
outros espaços, que o acesso
digital, em e-book
, permite ao livro
chegar a outros países e, com efeito,
ser acessado de forma gratuita. Assim,
a internet surge como f
acilitadora no
processo de democratização dos
livros.
Desse modo, há quem
compreenda o processo de
digitalização de acervos e a publicação
de e-books
como a Malha Fina
Cartonera e La Joyita Cartonera, por
exemplo
, como forma de agilizar a
divulgação li
terária entre as
cartoneras, uma vez que pessoas
geograficamente distantes ou que não
podem comprar o livro físico, passam
a ter a oportunidade de apreciá
seu formato digital (Entrevista com
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Andressa Prazeres, Cartonera das
La Joyita, por sua vez,
digitalizou parte do seu acervo. Sua
editora argumenta que a internet e os
textos em formato digital são maneiras
de difundir a literatura mais
(Entrevista com
Elizabeth Cárdenas, La Joyita
Cartonera, 01/05/2021). Para
ela, tão
logo o livro é publicado, ele ganha vida
própria e passa a se movimentar por
outros espaços, já que o acesso
, permite ao livro
chegar a outros países e, com efeito,
ser acessado de forma gratuita. Assim,
acilitadora no
processo de democratização dos
Desse modo, quem
compreenda o processo de
digitalização de acervos e a publicação
como a Malha Fina
Cartonera e La Joyita Cartonera, por
, como forma de agilizar a
terária entre as
cartoneras, uma vez que pessoas
geograficamente distantes ou que não
podem comprar o livro físico, passam
a ter a oportunidade de aprec
-lo em
seu formato digital (Entrevista com
Elizabeth Cárdenas, La Joyita
Cartonera, 01/05/21).
Todavi
a, vale ressaltar que esse
é um tema controverso no universo
cartonero. Enquanto o meio digital é
entendido, por algumas cartoneras,
como ferramenta para a digitalização e
propagação/difusão dos livros e um
caminho plausível para o futuro
cartonero, outras
o veem apenas como
facilitador na configuração de redes de
ação e atuação, firmamento de
parcerias e trabalho colaborativo, isto
é, ferramenta utilitária que permite o
compartilhamento de ideias.
Nesse debate, é importante
levar em conta que o universo digital
ainda não está aberto e acessível a
todos/as, pois existem muitos grupos
ainda excluídos dessa realidade
mediada pela tecnologia
desigualdade que a pandemia de
Covid-
19 escancarou.
as editoras cartoneras se distinguem
de um fazer-
literário tradicional porque,
com o papelão, criaram uma
possibilidade de alcançar aquelas
pessoas que não possuem tanto
acesso ou familiaridade com o mundo
digital ou com a compra de um livr
comercializado em livrarias.
542
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Elizabeth Cárdenas, La Joyita
Cartonera, 01/05/21).
a, vale ressaltar que esse
é um tema controverso no universo
cartonero. Enquanto o meio digital é
entendido, por algumas cartoneras,
como ferramenta para a digitalização e
propagação/difusão dos livros e um
caminho plauvel para o futuro
o veem apenas como
facilitador na configuração de redes de
ação e atuação, firmamento de
parcerias e trabalho colaborativo, isto
é, ferramenta utilitária que permite o
compartilhamento de ideias.
Nesse debate, é importante
levar em conta que o universo digital
ainda não está aberto e acessível a
todos/as, pois existem muitos grupos
ainda excluídos dessa realidade
mediada pela tecnologia
mais uma
desigualdade que a pandemia de
19 escancarou.
Nesse sentido,
as editoras cartoneras se distinguem
literário tradicional porque,
com o papelão, criaram uma
possibilidade de alcançar aquelas
pessoas que não possuem tanto
acesso ou familiaridade com o mundo
digital ou com a compra de um livr
o
comercializado em livrarias.
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
Sobre digitalização de acervo
se publicação de e-
books
cartoneras, como a Dirtsa e a
Candeeiro, consideram importante a
diversificação de formatos para
ampliar o acesso à leitura, mas não a
entendem como prioridade,
atribuem maior valor à materialidade
do livro-
objeto. Astrid Salazar, editora
da Dirtsa Cartonera, acredita que,
apesar de não descartar a
possibilidade de, em algum momento,
ter publicações online
, considera que a
era digital não é realidade para mu
pessoas de Maracay, cidade de seu
projeto. Por isso, ela preferência
aos livros de papelão distribuídos a
baixo custo. Fazer o objeto circular por
lugares nos quais a “era digital não
chegou é uma estratégia de tornar
mais acessível o livro, a lei
literatura.
Mais que uma negação do
digital, ou a defesa irrestrita do livro
físico, uma defesa daampliação do
acesso. É assim que a produção
cartonera persegue o ideal de
democratização do acesso ao livro, à
leitura e à literatura, seja crian
partir do papelão, seja com audiolivros
e e-books
, ou ainda realizando
encontros e saraus, oficinas de criação
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Sobre digitalização de acervo
books
, algumas
cartoneras, como a Dirtsa e a
Candeeiro, consideram importante a
diversificação de formatos para
ampliar o acesso à leitura, mas não a
entendem como prioridade,
pois
atribuem maior valor à materialidade
objeto. Astrid Salazar, editora
da Dirtsa Cartonera, acredita que,
apesar de não descartar a
possibilidade de, em algum momento,
, considera que a
era digital não é realidade para mu
itas
pessoas de Maracay, cidade de seu
projeto. Por isso, ela dá preferência
aos livros de papelão distribuídos a
baixo custo. Fazer o objeto circular por
lugares nos quais a era digital” não
chegou é uma estratégia de tornar
mais acessível o livro, a lei
tura e a
Mais que uma negação do
digital, ou a defesa irrestrita do livro
físico, há uma defesa daampliação do
acesso. É assim que a produção
cartonera persegue o ideal de
democratização do acesso ao livro, à
leitura e à literatura, seja crian
do a
partir do papelão, seja com audiolivros
, ou ainda realizando
encontros e saraus, oficinas de criação
e bibliotecas comunitárias. Aliás, a
própria organização de saraus e
eventos de leitura públicas é prática
comum no universo cartonero, uma
forma de reunir leitoras/es e
demonstrar que a literatura vai além do
papel
Queremos definir preços
acessíveis para os livros que
produzimos, porque a vida na
cidade é cara.Queremos pagar
uma boa porcentagem das
vendas a escritores, em especial
aos emer
gentes, pois sabemos
que é difícil para eles ganhar a
vida fazendo seu trabalho no
mercado tradicional. Além disso,
no bairro de atuação de nossa
cartonera, a rede de bibliotecas
públicas não é muito perceptível,
por isso também estamos
interessados
em c
biblioteca comunitária com outros
coletivos locais
Martín Jaramiilo Cuen, La
Biznaga Cartonea, 28/04/2021).
A discuso sobre
democratização é uma forma de
politizar a discussão sobre literatura.
Conforme nos disse um editor sob
os processos de ampliação do acesso
ao livro e à leitura:
A gente precisa tornar o livro um
objeto mais acessível. Eu vejo o
livro como objeto que precisa
estar acessível a todos. E o livro
independente, o livro cartonero, é
revolucionário nesse aspecto
A ideia da Candeeiro é tornar o
livro mais palpável, mais fácil de
se entender, para que possamos
quebrar essa barreira de que o
543
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
e bibliotecas comunitárias. Aliás, a
própria organização de saraus e
eventos de leitura públicas é prática
comum no universo cartonero, uma
forma de reunir leitoras/es e
demonstrar que a literatura vai além do
Queremos definir preços
acessíveis para os livros que
produzimos, porque a vida na
cidade já é cara.Queremos pagar
uma boa porcentagem das
vendas a escritores, em especial
gentes, pois sabemos
que é difícil para eles ganhar a
vida fazendo seu trabalho no
mercado tradicional. Além disso,
no bairro de atuação de nossa
cartonera, a rede de bibliotecas
públicas não é muito perceptível,
por isso também estamos
em c
omeçar uma
biblioteca comunitária com outros
coletivos locais
(Entrevista com
Martín Jaramiilo Cuen, La
Biznaga Cartonea, 28/04/2021).
A discussão sobre
democratização é uma forma de
politizar a discussão sobre literatura.
Conforme nos disse um editor sob
re
os processos de ampliação do acesso
A gente precisa tornar o livro um
objeto mais acessível. Eu vejo o
livro como objeto que precisa
estar acessível a todos. E o livro
independente, o livro cartonero, é
revolucionário nesse aspecto
[...]
A ideia da Candeeiro é tornar o
livro mais palpável, mais fácil de
se entender, para que possamos
quebrar essa barreira de que o
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
livro está ali ao meu alcance, mas
eu não posso tocá-
lo, não posso
ser autor, não posso ser leitor,
entendeu?
(Entrevist
Marcelo Barbosa, Candeeiro
Cartonera, 30/04/2021).
O discurso da democratização
da literatura é fundamental entre as
editoras cartoneras desde seus inícios,
o que pode ser visto também na
prática do copyleft
, um dos elementos
compartilhados por
todas as editoras
cartoneras sobre as quais nos
debruçamos: “A possibilidade de
publicação sob licença livre e sem
ISBN, além da ‘despadronização do
design das capas como possibilidade
para tiragens de exemplares
exclusivos”, é uma forma de aproximar
o livro-
objeto das pessoas (Entrevista
com Andressa Prazeres, Cartonera
das Iaiá, 07/04/2021). A prática do
copyleft
também viabiliza o trabalho
cartonero porque, ao cederem os
direitos autorais de publicação dos
livros, os custos de fabricação caem.
No caso
da Cartonera das Iaiá,
a realização do ideal democrático vem
da ideia de abrir caminhos para grupos
marginalizados e a participação menos
hierárquica na produção editorial:
São muitos os exemplos de
editoras que realizam esse ideal
[democrático] de produçã
literária: a Padê Editorial e suas
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
livro está ali ao meu alcance, mas
lo, não posso
ser autor, não posso ser leitor,
(Entrevist
a com
Marcelo Barbosa, Candeeiro
Cartonera, 30/04/2021).
O discurso da democratização
da literatura é fundamental entre as
editoras cartoneras desde seus inícios,
o que pode ser visto também na
, um dos elementos
todas as editoras
cartoneras sobre as quais nos
debruçamos: A possibilidade de
publicação sob licença livre e sem
ISBN, além da despadronização’ do
design das capas como possibilidade
para tiragens de exemplares
exclusivos”, é uma forma de aproximar
objeto das pessoas (Entrevista
com Andressa Prazeres, Cartonera
das Iaiá, 07/04/2021). A prática do
também viabiliza o trabalho
cartonero porque, ao cederem os
direitos autorais de publicação dos
livros, os custos de fabricação caem.
da Cartonera das Iaiá,
a realização do ideal democrático vem
da ideia de abrir caminhos para grupos
marginalizados e a participão menos
hierárquica na produção editorial:
São muitos os exemplos de
editoras que realizam esse ideal
[democrático] de produçã
o
literária: a Padê Editorial e suas
publicações de escritorxs
LGBTQIA+; a Vento Norte
Cartonero com publicações de
escritorxs privadas/os de
liberdade; s mesmas, da
Cartonera das Iaiá, com
publicações de literatura negra de
escritoras, em sua maioria,
e
streantes. Além das atividades
como saraus públicos, oficinas de
escrita e feitura de livros,
lançamentos em espaços
abertos, encontros para
discussão sobre formas de
viabilizar o nosso trabalho e de
criar novas cartoneras
com Andressa Prazeres
Cartonera das Iaiá, 07/04/2021).
A analogia usada por Andressa
Prazeres é que aquelas/es
envolvidas/os com iniciativas
cartoneras trabalham como feirantes
de livros e de ideias, tendo, a priori,
uma ação mais local, mas sem perder
de vista uma pers
transnacional.
Essa metáfora mostra
como o modo de pensar e atuar das
cartoneras opõem-
se
editorial tradicional, sobretudo dando
mais concretude ao discurso da
democratização do acesso. Assim
como na feira os produtos vêm de
diversas par
tes, com uma quantidade
limitada ede pequenos produtores, as
publicações cartoneras o, em sua
maioria, de autoras/es que não têm
espaço no mercado comum. Ao
espaços para vozes que não
544
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
publicações de escritorxs
LGBTQIA+; a Vento Norte
Cartonero com publicações de
escritorxs privadas/os de
liberdade; nós mesmas, da
Cartonera das Iaiá, com
publicações de literatura negra de
escritoras, em sua maioria,
streantes. Além das atividades
como saraus públicos, oficinas de
escrita e feitura de livros,
lançamentos em espaços
abertos, encontros para
discussão sobre formas de
viabilizar o nosso trabalho e de
criar novas cartoneras
(Entrevista
com Andressa Prazeres
,
Cartonera das Iaiá, 07/04/2021).
A analogia usada por Andressa
Prazeres é que aquelas/es
envolvidas/os com iniciativas
cartoneras trabalham como “feirantes
de livros e de ideias”, tendo, a priori,
uma ação mais local, mas sem perder
de vista uma pers
pectiva
Essa metáfora mostra
como o modo de pensar e atuar das
se
ao mercado
editorial tradicional, sobretudo dando
mais concretude ao discurso da
democratização do acesso. Assim
como na feira os produtos vêm de
tes, com uma quantidade
limitada ede pequenos produtores, as
publicações cartoneras são, em sua
maioria, de autoras/es que não têm
espaço no mercado comum. Ao
forçar
espaços para vozes que não
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
conseguem publicar dentro do
mercado editorial hegemônico, abre
mais possibilidades para o fazer
literário
tanto em termos de forma,
quanto de conteúdo.
Considerações finais
A vel de produção de
conhecimento, este projeto teve por
finalidade epistemológica contribuir
para a compreensão de novas formas
do fazer-
literário em países latino
americanos, mediante análise do
discurso e das práticas de algumas
cartoneras. Para tanto, a partir de uma
etnografia digital que embasou a
confecção de um banco de dados com
editoras cartoneras, tentamos expandir
discussões s
obre formas sustentáveis,
inovadoras, inclusivas e transgressivas
de produção editorial e literária,
destacando o uso de materiais
recicláveis na produção de livros.
Nosso estudo, ainda em
andamento, mostrou que diferentes
iniciativas se aproximam e, muita
vezes, atuam em consonância
justamente porque o conhecimento
que circula junto com livros e ideias,
pessoas e projetos, tem fomentado a
criação de redes transnacionais de
ação e atuação e, com efeito, aberto
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
conseguem publicar dentro do
mercado editorial hegemônico, abre
-se
mais possibilidades para o fazer
-
tanto em termos de forma,
A nível de produção de
conhecimento, este projeto teve por
finalidade epistemológica contribuir
para a compreeno de novas formas
literário em países latino
-
americanos, mediante análise do
discurso e das práticas de algumas
cartoneras. Para tanto, a partir de uma
etnografia digital que embasou a
confecção de um banco de dados com
editoras cartoneras, tentamos expandir
obre formas sustentáveis,
inovadoras, inclusivas e transgressivas
de produção editorial e literária,
destacando o uso de materiais
recicláveis na produção de livros.
Nosso estudo, ainda em
andamento, mostrou que diferentes
iniciativas se aproximam e, muita
s
vezes, atuam em consonância
justamente porque o conhecimento
que circula junto com livros e ideias,
pessoas e projetos, tem fomentado a
criação de redes transnacionais de
ação e atuação e, com efeito, aberto
espaço para o surgimento de outras
cartoneras.
Tais redes parecem
impulsionar
diversos projetos coletivos,
dinamizado a produção, difusão e
consumo de livros-
objetos artesanais
feitos do papelão, a partir de um
discurso de democratização do acesso
ao livro, à leitura e à literatura. A
atuação em rede,
estimulada pelas
possibilidades
criadas pelo espaço
digital para a cooperação
transnacional, mostrou
atributos mais significativos das
cartoneras, sendo que o saber literário
produzido a partir dessas atuações é
compartilhado
seja através da
c
irculação física de livros, seja pela
sua transposição e difusão digitais.
Contudo,não se trata apenas de
um discurso, mas também de uma
prática, na medida em que as
cartoneras, tensionando modos
corriqueiros do fazer
combatem um certo imaginári
associa o mundo literário
classes com maior poder aquisitivo
12
Em 2020, um tributo de 12% sobre a venda
de livros no Brasil foi proposto pelo governo de
Jair
Bolsonaro e enviado para análise à
Câmara dos Deputados. Na mesma época, em
um documento oficial, a Receita Federal
defendeu aumentar a tributação com o
argumento de que “pessoas pobres não leem
livros”, citando dados da Pesquisa de
Orçamentos Familiares (
POF), de 2019, que
indicariam que famílias com renda de até dois
545
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
espaço para o surgimento de outras
Tais redes parecem
diversos projetos coletivos,
dinamizado a produção, difusão e
objetos artesanais
feitos do papelão, a partir de um
discurso de democratização do acesso
ao livro, à leitura e à literatura. A
estimulada pelas
criadas pelo espaço
digital para a cooperação
transnacional, mostrou
-se um dos
atributos mais significativos das
cartoneras, sendo que o saber literário
produzido a partir dessas atuações é
seja através da
irculação física de livros, seja pela
sua transposição e difusão digitais.
Contudo,não se trata apenas de
um discurso, mas também de uma
prática, na medida em que as
cartoneras, tensionando modos
corriqueiros do fazer
-literário,
combatem um certo imaginári
o que
associa o mundo literário
a pessoas e
classes com maior poder aquisitivo
12.
Em 2020, um tributo de 12% sobre a venda
de livros no Brasil foi proposto pelo governo de
Bolsonaro e enviado para análise à
Câmara dos Deputados. Na mesma época, em
um documento oficial, a Receita Federal
defendeu aumentar a tributação com o
argumento de que pessoas pobres não leem
livros, citando dados da Pesquisa de
POF), de 2019, que
indicariam que famílias com renda de até dois
OLIVEIRA, Lucas Amaral de et alli
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
americanas . PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 520-550,
Desse modo, uma articulação entre
as dinâmicas nos processos de
produção editorial independente e os
projetos de democratização do fazer
literário
, centrados no aproveitamento
de material reciclável na feitura de
livros-
objetos artesanais. Essa
articulação pode indicar uma carga
simbólica do trabalho das cartoneras,
cujo objetivo é vincular arte da rua e
do lixo com cultura letrada e do livro,
um po
tencial de criatividade posto em
prática por editoras cartoneras,
masque influi positivamente em
processos de democratização da
literatura na América Latina.
Dentre os aspectos levantados
por nossa pesquisa, neste texto,
buscamos problematizar os elemento
que mais aproximam diferentes
iniciativas cartoneras, que,
argumentamos, são os mesmos
salários mínimos não possuem o hábito de
consumir livros não didáticos, e que a maior
parte desses livros seria consumida por
famílias com renda igual e superior a dez
salários mínimos. Após
muita resistência na
sociedade civil, até o momento da submissão
deste capítulo, o governo parece ter recuado
na proposta de taxação de livros. Mesmo o
Ministério da Economia tendo submetido o
projeto que permite a taxação, o ministro
Paulo Guedes indicou
que “jamais quis taxar
livros”. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/0
5/jamais-quis-taxar-livros-diz-
guedes
enviar-projeto-que-permite-
taxacao
livros.shtml. Ac
esso em: 29/06/2021.
.Práticas de democratização da
literatura: uma etnografia digital de editoras cartoneras latino
-
Americana de Estudos em
,
mar. 2022.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Desse modo, há uma articulação entre
as dinâmicas nos processos de
produção editorial independente e os
projetos de democratização do fazer
-
, centrados no aproveitamento
de material reciclável na feitura de
objetos artesanais. Essa
articulação pode indicar uma carga
simbólica do trabalho das cartoneras,
cujo objetivo é vincular arte da rua e
do lixo com cultura letrada e do livro,
tencial de criatividade posto em
prática por editoras cartoneras,
masque influi positivamente em
processos de democratização da
literatura na América Latina.
Dentre os aspectos levantados
por nossa pesquisa, neste texto,
buscamos problematizar os elemento
s
que mais aproximam diferentes
iniciativas cartoneras, que,
argumentamos, o os mesmos
salários mínimos não possuem o hábito de
consumir livros não didáticos, e que a maior
parte desses livros seria consumida por
famílias com renda igual e superior a dez
muita resistência na
sociedade civil, até o momento da submissão
deste capítulo, o governo parece ter recuado
na proposta de taxação de livros. Mesmo o
Ministério da Economia tendo submetido o
projeto que permite a taxação, o ministro
que jamais quis taxar
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2021/0
guedes
-apos-
taxacao
-de-
esso em: 29/06/2021.
elementos que distinguem um livro
objeto cartonero de publicações mais
tradicionais. O primeiro desses
elementos diz respeito ao
produção
artesanal e colaborat
pautado em redes de ação e atuação;
o segundo, à
forma do livro
que abarca tanto o lugar do papelão
nas rotinas laborais das/os agentes,
quanto a maneira como essas/es
agentes atribuem um contra
material reciclado no próprio processo
de produção do livro-
objeto, ampliando
processos de democratização
acesso ao livro, à leitura e à literatura
Referências bibliográficas
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en cultura: una condición necesaria
para la democratización del libro y la
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- ISSN 2237-1508
elementos que distinguem um livro
-
objeto cartonero de publicações mais
tradicionais. O primeiro desses
elementos diz respeito ao
modo de
artesanal e colaborat
ivo,
pautado em redes de ação e atuação;
forma do livro
-objeto, o
que abarca tanto o lugar do papelão
nas rotinas laborais das/os agentes,
quanto a maneira como essas/es
agentes atribuem um contra
-uso ao
material reciclado no próprio processo
objeto, ampliando
processos de democratização
do
acesso ao livro, à leitura e à literatura
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- ISSN 2237-1508