SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
A revolução leitora entre os séculos XX e XXI e
DOI: https://doi.org/
10.22409/pragmatizes
Resumo:
O presente artigo científico, de caráter qualitativo
principais apresentar um recorte sobre o contexto histórico
Frida Kahlo, assim como realizar uma análise dos elementos visuais que atraíram diferentes leitores a
partir de uma persp
isso, conta-
se, como fundamentação teórica, com os estudos de
atratores visuais, e de
Santaella (2004, 2013), que colabora por meio da de
de leitores que se desdobram entre os culos XX e XXI. Para a reconstrução histórica do México e
da biografia de Frida, o estudo baseia
Henestrosa (2012), Herrera (2011), Ket
que o estudo se encontra em andamento, apontam que Frida Kahlo, como
dress-code, ou seja,
um estilo próprio com base em suas raízes histórico
com isso, atraiu os olhares
daqueles
Palavras-chave:
Atratores visuais
La revolución lectora entre los siglos XX y XXI y los atractores visuales de Frida Kahlo
Resumen:
Este artículo científico, de enfoque cualitativo y descriptivo, tiene como principales
objetivos presentar un panorama sobre el contexto histórico
mexicana Frida Kahlo, así como realizar un análisis de los
diferentes lectores desde una perspectiva teórica distinta a la fortuna crítica que ahora se presenta
sobre la pintora. Para ello, c
omo fundamentación teórica,
(2008), con relación a
los atractores visuales, y de Santaella (2004, 2013), que contribuye a través de
la definición sobre los tipos de lectores que se desarrollan entre los siglos XX y XXI. Para la
reconstrucción histórica de xico y de la biografía de Frida, el estudio toma
producciones de Fernández (2002),
(2015) y Zamora (2007). Los resultados parciales, ya que el estudio se encuentra en curso, apuntan
que Frida, como bodyspace
, ha creado un
histórico-sociales y en su
location
acostumbrados a la semiótica impresa por ella.
Palabras clave:
Atractores visuales
1Mariane Rocha Silveira.
Doutoranda em Letras pela Universidade de Passo Fundo (UPF
E-mail: marianesilveira@upf.br -
2 Ivânia Campigotto Aquino. D
outora em Letras
Rio Grande do Sul. P
rofessora Titular III da Universidade de Passo Fundo,
E-mail: ivania@upf.br -
https://orcid.org/0000
Recebido em 29/08/2021,
aceito para publicação em 2
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
A revolução leitora entre os séculos XX e XXI e
os atratores visuais de Frida
Kahlo
10.22409/pragmatizes
.v12i22.51368
Mariane Rocha Silveira
Ivânia Campigotto Aquino
O presente artigo científico, de caráter qualitativo
e
descritivo, tem como objetivos
principais apresentar um recorte sobre o contexto histórico
-
social, a vida e a obra da artista mexicana
Frida Kahlo, assim como realizar uma análise dos elementos visuais que atraíram diferentes leitores a
ectiva teórica
distinta
da fortuna crítica que ora se apresenta sobre a pintora. Para
se, como fundamentação teórica, com os estudos de
Canevacci (2008), em relação aos
Santaella (2004, 2013), que colabora por meio da de
finição quanto aos tipos
de leitores que se desdobram entre os séculos XX e XXI. Para a reconstrução histórica do México e
da biografia de Frida, o estudo baseia
-se nas produções de
Fernández (2002), Florencio (2014),
Henestrosa (2012), Herrera (2011), Ket
tenmann (2015) e Zamora (2007). Os resultados parciais, já
que o estudo se encontra em andamento, apontam que Frida Kahlo, como
bodyspace
um estilo próprio com base em suas raízes histórico
-
sociais e em sua
daqueles
que não estavam acostumados à semiótica impressa por ela.
Atratores visuais
; leitor óptico; Frida Kahlo; México.
La revolución lectora entre los siglos XX y XXI y los atractores visuales de Frida Kahlo
Este artículo científico, de enfoque cualitativo y descriptivo, tiene como principales
objetivos presentar un panorama sobre el contexto histórico
-
social, la vida y la obra de la artista
mexicana Frida Kahlo, así como realizar un análisis de los
elementos visuales que han atraído
diferentes lectores desde una perspectiva teórica distinta a la fortuna crítica que ahora se presenta
omo fundamentación teórica,
se apoya
en los estudios de Canevacci
los atractores visuales, y de Santaella (2004, 2013), que contribuye a través de
la definición sobre los tipos de lectores que se desarrollan entre los siglos XX y XXI. Para la
reconstrucción histórica de México y de la biografía de Frida, el estudio toma
producciones de Fernández (2002),
Florencio (2014), Henestrosa (2012), Herrera (2011), Kettenmann
(2015) y Zamora (2007). Los resultados parciales, ya que el estudio se encuentra en curso, apuntan
, ha creado un
dress-code
, o sea, un estilo propio con base en sus raíces
location
; y, con ello, ha atraído las miradas de aquellos que no estaban
acostumbrados a la semiótica impresa por ella.
Atractores visuales
; lector óptico; Frida Kahlo; México.
Doutoranda em Letras pela Universidade de Passo Fundo (UPF
https://orcid.org/0000-0002-2462-4876
outora em Letras
-
Estudos de Literatura pela Universidade Federal do
rofessora Titular III da Universidade de Passo Fundo,
Rio Grande do Sul, Brasil.
https://orcid.org/0000
-0001-9221-3473.
aceito para publicação em 2
5/01/2022
, disponibilizado online em
01/03/2022.
551
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
os atratores visuais de Frida
Mariane Rocha Silveira
1
Ivânia Campigotto Aquino
2
descritivo, tem como objetivos
social, a vida e a obra da artista mexicana
Frida Kahlo, assim como realizar uma análise dos elementos visuais que atraíram diferentes leitores a
da fortuna crítica que ora se apresenta sobre a pintora. Para
Canevacci (2008), em relação aos
finição quanto aos tipos
de leitores que se desdobram entre os culos XX e XXI. Para a reconstrução histórica do México e
Fernández (2002), Florencio (2014),
tenmann (2015) e Zamora (2007). Os resultados parciais,
bodyspace
, criou um
sociais e em sua
location; e,
que não estavam acostumados à semiótica impressa por ela.
La revolución lectora entre los siglos XX y XXI y los atractores visuales de Frida Kahlo
Este artículo científico, de enfoque cualitativo y descriptivo, tiene como principales
social, la vida y la obra de la artista
elementos visuales que han atraído
diferentes lectores desde una perspectiva teórica distinta a la fortuna crítica que ahora se presenta
en los estudios de Canevacci
los atractores visuales, y de Santaella (2004, 2013), que contribuye a través de
la definición sobre los tipos de lectores que se desarrollan entre los siglos XX y XXI. Para la
reconstrucción histórica de México y de la biografía de Frida, el estudio toma
como base las
Florencio (2014), Henestrosa (2012), Herrera (2011), Kettenmann
(2015) y Zamora (2007). Los resultados parciales, ya que el estudio se encuentra en curso, apuntan
, o sea, un estilo propio con base en sus raíces
; y, con ello, ha atraído las miradas de aquellos que no estaban
Doutoranda em Letras pela Universidade de Passo Fundo (UPF
), RS, Brasil.
Estudos de Literatura pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Brasil.
, disponibilizado online em
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
The reading revolution between the twentieth and twenty
visual attractors
Abstract:
This qualitative, descriptive paper is aimed at presenting a review of the socio
context, life and work of Mexican artist Frida Kahlo, as well as carrying out an analysis of the visual
elements that attracted different readers from a theoretical v
appraisal presently given to the painter. To reach those aims, the theoretical framework was drawn
from studies by
Canevacci (2008), concerning visual attractors, and Santaella (2004, 2013), who
provides definitions of
the types of readers existing between the twentieth and the twenty
centuries. For the reconstruction of Mexican history and Fridas biography, the study draws on works
by
Fernández (2002), Florencio (2014), Henestrosa (2012), Herrera (2011), Kettenma
Zamora (2007). Partial results, as the study is still in progress, suggest that Frida Kahlo, as a
bodyspace, created a dress-
code
location
; and, by doing so, she attracted ey
Keywords: Visual attractors; o
ptical
A revolução leitora entre os séculos XX e XXI e os atratores visuais de Frida
Introdução
Em meio a pessoas vestidas de
forma
sóbria e tradicional, ela se
destaca. Não por uma beleza
extraordinária, mas porque se fez bela
em sua atitude estética
deliberadamente deslocada dos
padrões reguladores da moda. Saia de
corte reto, de veludo ou de algodão
com babado na barra
mult
icolorido e com bordados únicos
feitos à mão. Para acompanhar,
muitas joias:
longos colares, brincos
de tamanho expressivo e numerosos
anéis. Muitos desses adereços feitos
da mais original prata mexicana e de
pedras pré-
colombianas. Como um
imã, ela magnet
iza olhares e cativa
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
The reading revolution between the twentieth and twenty
-
first centuries and Frida Kahlos
This qualitative, descriptive paper is aimed at presenting a review of the socio
context, life and work of Mexican artist Frida Kahlo, as well as carrying out an analysis of the visual
elements that attracted different readers from a theoretical v
iewpoint different from the critical
appraisal presently given to the painter. To reach those aims, the theoretical framework was drawn
Canevacci (2008), concerning visual attractors, and Santaella (2004, 2013), who
the types of readers existing between the twentieth and the twenty
centuries. For the reconstruction of Mexican history and Frida’s biography, the study draws on works
Fernández (2002), Florencio (2014), Henestrosa (2012), Herrera (2011), Kettenma
Zamora (2007). Partial results, as the study is still in progress, suggest that Frida Kahlo, as a
code
, a unique style based on her socio historical background and on her
; and, by doing so, she attracted ey
es that were not used to the semiotics she printed.
ptical
reader; Frida Kahlo; Mexico.
A revolução leitora entre os séculos XX e XXI e os atratores visuais de Frida
Kahlo
Em meio a pessoas vestidas de
sóbria e tradicional, ela se
destaca. Não por uma beleza
extraordinária, mas porque se fez bela
em sua atitude estética
deliberadamente deslocada dos
padrões reguladores da moda. Saia de
corte reto, de veludo ou de algodão
com babado na barra
. Blusão
icolorido e com bordados únicos
feitos à mão. Para acompanhar,
longos colares, brincos
de tamanho expressivo e numerosos
anéis. Muitos desses adereços feitos
da mais original prata mexicana e de
colombianas. Como um
iza olhares e cativa
antes mesmo de se manifestar
ostenta
uma imagem genuína e
atratora. Seu corpo, maculado por
dores, torna-
se uma espécie de
atrator, como um suporte de toda uma
beleza singular, mesmo injuriado pelo
destino.
Eis Frida Kahlo, a
marcou época por sua atitude artística
e revolucionária. A arte não se
manifestava apenas em seus retratos
e autorretratos, mas também em seu
corpo, em sua casa e, inclusive, em
seus posicionamentos
única e além de seu tempo. Como
n
inguém, ela soube enfrentar
maneira
as dores impingidas pela
vida e mesclar a cultura indígena
552
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
first centuries and Frida Kahlo’s
This qualitative, descriptive paper is aimed at presenting a review of the socio
-historic
context, life and work of Mexican artist Frida Kahlo, as well as carrying out an analysis of the visual
iewpoint different from the critical
appraisal presently given to the painter. To reach those aims, the theoretical framework was drawn
Canevacci (2008), concerning visual attractors, and Santaella (2004, 2013), who
the types of readers existing between the twentieth and the twenty
-first
centuries. For the reconstruction of Mexican history and Fridas biography, the study draws on works
Fernández (2002), Florencio (2014), Henestrosa (2012), Herrera (2011), Kettenma
nn (2015) and
Zamora (2007). Partial results, as the study is still in progress, suggest that Frida Kahlo, as a
, a unique style based on her socio historical background and on her
es that were not used to the semiotics she printed.
A revolução leitora entre os séculos XX e XXI e os atratores visuais de Frida
antes mesmo de se manifestar
; afinal,
uma imagem genuína e
atratora. Seu corpo, maculado por
se uma espécie de
atrator, como um suporte de toda uma
beleza singular, mesmo injuriado pelo
Eis Frida Kahlo, a
mulher que
marcou época por sua atitude artística
e revolucionária. A arte não se
manifestava apenas em seus retratos
e autorretratos, mas também em seu
corpo, em sua casa e, inclusive, em
seus posicionamentos
uma mulher
única e além de seu tempo. Como
inguém, ela soube enfrentar
à sua
as dores impingidas pela
vida e mesclar a cultura indígena
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
tehuana
herança de sua mãe e sua
identidade
com o contemporâneo,
fazendo-
se ela própria uma
manifestação artística sem igual, um
corpo atrator expandid
o histórica e
culturalmente.
Essas sucintas informações a
respeito de uma das mais expressivas
artistas do século XX ajudam a
esclarecer o que pretendemos no
presente estudo: apresentar um
recorte sobre o contexto histórico
social, a vida e a obra
mexicana Frida Kahlo, assim como
realizar uma análise dos elementos
visuais que atraíram diferentes leitores
sob uma ótica diferente
abordada por
vários estudos
pintora mexicana.
Para tanto,
b
uscamos refletir sobre o porquê de
Frida Kahlo atrair tantos olhares
enquanto ainda viva e, mesmo
47 anos de seu falecimento, atrair
tantos leitores de sua história e de sua
criação artística. O que a torna
diferente ou especial? E, muito
importante, que leitor é esse que
segue admirando-a
? Para responder a
essas questões, delineamos um
percurso histórico-
bibliográfico, o qual
apresentamos brevemente.
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
herança de sua mãe e sua
com o contemporâneo,
se ela própria uma
manifestação artística sem igual, um
o histórica e
Essas sucintas informações a
respeito de uma das mais expressivas
artistas do século XX ajudam a
esclarecer o que pretendemos no
presente estudo: apresentar um
recorte sobre o contexto histórico
-
social, a vida e a obra
da artista
mexicana Frida Kahlo, assim como
realizar uma análise dos elementos
visuais que atraíram diferentes leitores
sob uma ótica diferente
daquela
vários estudos
acerca da
Para tanto,
uscamos refletir sobre o porquê de
Frida Kahlo atrair tantos olhares
enquanto ainda viva e, mesmo
após
47 anos de seu falecimento, atrair
tantos leitores de sua história e de sua
criação artística. O que a torna
diferente ou especial? E, muito
importante, que leitor é esse que
? Para responder a
essas questões, delineamos um
bibliográfico, o qual
apresentamos brevemente.
Em primeiro lugar, realizamos
um panorama teórico sobre os tipos de
leitores,
fundamentado nas
considerações de Lucia Santaella
(2004, 2013),
bem como
fetichismos e os atratores visuais
base nos pressupostos de Massimo
Canevacci (2008). Após, traçamos
uma concisa exposição
a
o contexto histórico
Frida Kahlo viveu
e sobre sua vida
pessoal. Para isso
, con
aporte
de Fernández (2002), Florencio
(2014), Herrera (2011), Kettenmann
(2015)
e Zamora (2007). E, finalmente,
expomos
a análise a respeito dos
atratores visuais de Frida Kahlo, uma
calcificação histórica
entre os séculos XX e XXI
Entrelaçamentos tricos
Nesta seção,
princípios teóricos que sustentam
nossa análise. Um dos enfoques
observa os estudos da escritora Lucia
Santaella (2004, 2013)
constructos leitores, sobretudo quanto
às definições dos tipos de leitores
estabelecidos por ela e definidos
conforme as tecnologias com as quais
cada leitor
teve contato em sua época.
Nessa parte, ainda, ensaiamos outra
553
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Em primeiro lugar, realizamos
um panorama teórico sobre os tipos de
fundamentado nas
considerações de Lucia Santaella
bem como
sobre os
fetichismos e os atratores visuais
, com
base nos pressupostos de Massimo
Canevacci (2008). Após, traçamos
uma concisa exposição
com relação
o contexto histórico
-social em que
e sobre sua vida
, con
tamos com o
de Fernández (2002), Florencio
(2014), Herrera (2011), Kettenmann
e Zamora (2007). E, finalmente,
a análise a respeito dos
atratores visuais de Frida Kahlo, uma
calcificação histórica
-social dividida
entre os culos XX e XXI
.
Entrelaçamentos teóricos
Nesta seção,
elucidamos os
prinpios teóricos que sustentam
nossa análise. Um dos enfoques
observa os estudos da escritora Lucia
Santaella (2004, 2013)
no tocante aos
constructos leitores, sobretudo quanto
às definições dos tipos de leitores
estabelecidos por ela e definidos
conforme as tecnologias com as quais
teve contato em sua época.
Nessa parte, ainda, ensaiamos outra
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
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definição sobre um tipo de leit
Canevacci (2008) cita em sua obra,
mas que ousamos mesclar com os
leitores do século XXI apontados por
Santaella. O esquadrinhamento a
respeito deste leitor aparecerá
sobretudo,
na última seção do artigo,
destinada à análise em si.
De maneira conso
apresentamos os princípios teóricos
que emergem das pesquisas de
Massimo Canevacci (2008) quanto aos
atratores visuais, descompactados em
três outras conceituações também
essenciais para a análise:
location e dress-code
. Eles aparecem
ora
em interseção, ora em
justaposição, mas sempre muito
próximos,
porque juntos representam a
atração visual que defendemos.
posto
, desenrolamos a fundamentação
teórica.
Breve percurso de leitores e um
novo caminho de leitura
Com o passar do tempo e co
as consequentes inovações
tecnológicas, as leituras e os leitores
se transformaram. No início da era
pré-
industrial, existia o leitor do livro
impresso, das imagens fixas e
expositivas. Referimo-
nos, aqui, a
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
definição sobre um tipo de leit
or que
Canevacci (2008) cita em sua obra,
mas que ousamos mesclar com os
leitores do culo XXI apontados por
Santaella. O esquadrinhamento a
respeito deste leitor aparecerá
,
na última seção do artigo,
De maneira conso
ante,
apresentamos os prinpios teóricos
que emergem das pesquisas de
Massimo Canevacci (2008) quanto aos
atratores visuais, descompactados em
três outras conceituações também
essenciais para a análise:
bodyscape,
. Eles aparecem
em interseção, ora em
justaposição, mas sempre muito
porque juntos representam a
atração visual que defendemos.
Isso
, desenrolamos a fundamentação
Breve percurso de leitores e um
Com o passar do tempo e co
m
as consequentes inovações
tecnológicas, as leituras e os leitores
se transformaram. No início da era
industrial, existia o leitor do livro
impresso, das imagens fixas e
nos, aqui, a
o
leitor contemplativo, que começava a
ler para
si próprio devido à instauração
do silêncio nas bibliotecas d
Idade Média. Assim
, aos poucos, as
palavras passaram a
interior.
Mais tarde, como resultado da
Revolução Industrial, surgiu o leitor
movente, o “leitor do mundo em
movim
ento, dinâmico, mundo
(SANTAELLA, 2004, p. 19). Um leitor
que assistiu à “explosão do jornal, das
novas eras da eletrônica, da asceno
da fotografia, do surgimento da
televisão, e que
teve
modificada.
Naquele ínterim
passo
u a estar envolto por imagens
que fascinavam a
queles
que eram
reproduzidas e substituídas
por outras mais atraentes,
incessantemente,
como
consumismo da época:
cotidiana passou a ser um espectro
visual, um desfile de
fugidias, um jogo de imagens que
hipnotizam e seduzem (SANTAELLA,
2004, p. 28).
Com a ascensão do mundo
virtual, no início do culo XXI, a
sociedade de modo geral sofreu
transformações
com relação
comportamentos e sua visão de
554
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
leitor contemplativo, que começava a
si próprio devido à instauração
do silêncio nas bibliotecas d
urante a
, aos poucos, as
palavras passaram a
ocupar o espaço
Mais tarde, como resultado da
Revolução Industrial, surgiu o leitor
movente, o leitor do mundo em
ento, dinâmico, mundo
híbrido”
(SANTAELLA, 2004, p. 19). Um leitor
que assistiu à explosão do jornal”, das
novas eras da eletrônica, da ascensão
da fotografia, do surgimento da
teve
sua própria vida
Naquele ínterim
, tudo
u a estar envolto por imagens
queles
que as viam,
reproduzidas e substituídas
por outras mais atraentes,
como
marca do
consumismo da época:
a vida
cotidiana passou a ser um espectro
visual, um desfile de
aparências
fugidias, um jogo de imagens que
hipnotizam e seduzem” (SANTAELLA,
Com a ascensão do mundo
virtual, no início do século XXI, a
sociedade de modo geral sofreu
com relação
a seus
comportamentos e sua visão de
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
mundo. Essa
sociedade, em um novo
traçado cultural, em rede e digital,
inaugura-se e
envolve até
que não possuíam internet em suas
residências, mas que usavam variados
serviços,
como bancos e caixas de
autoatendimento ou
home bankings
Além disso, n
ão foi necesrio um
grande período
para que clientes
passassem a usar um
celular com
várias funções tecnológicas; eleitores
passassem a eleger por voto
eletrônico; pessoas começassem a se
comunicar em um mundo dirigido cada
vez mais pela interação entre h
e máquina. E, através
d
universo, surgiu um
outro tipo de leitor,
na denominação de Santaella (2004,
p. 33), o leitor imersivo, o qual
[...] navega numa tela,
programando leituras, num
universo de signos evanescentes
eternamente disponíveis,
contanto que não se perca a rota
que leva a eles. Não é mais
tampouco um leitor contemplativo
que segue as sequências de um
texto, virando páginas,
m
anuseando volumes,
percorrendo com passos lentos a
biblioteca, mas um leitor em
prontidão, conectando
nós e nexos num roteiro
multilinear e labiríntico que ele
próprio ajudou a construir ao
interagir com os nós entre
palavras, imagens,
documentaçã
o, músicas, deos
etc.
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
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(Fluxo contínuo)
sociedade, em um novo
traçado cultural, em rede e digital,
envolve até
os sujeitos
que não possuíam internet em suas
residências, mas que usavam variados
como bancos e caixas de
home bankings
.
ão foi necessário um
para que clientes
celular com
várias funções tecnológicas; eleitores
passassem a eleger por voto
eletrônico; pessoas começassem a se
comunicar em um mundo dirigido cada
vez mais pela interação entre h
omem
d
esse novo
outro tipo de leitor,
na denominação de Santaella (2004,
p. 33), o leitor imersivo, o qual
[...] navega numa tela,
programando leituras, num
universo de signos evanescentes
eternamente disponíveis,
contanto que não se perca a rota
que leva a eles. Não é mais
tampouco um leitor contemplativo
que segue as sequências de um
texto, virando páginas,
anuseando volumes,
percorrendo com passos lentos a
biblioteca, mas um leitor em
prontidão, conectando
-se entre
nós e nexos num roteiro
multilinear e labiríntico que ele
próprio ajudou a construir ao
interagir com os s entre
palavras, imagens,
o, músicas, vídeos
Contudo, ainda em meio ao
século XXI e a seu desenfreado
desenvolvimento, alinhado para que as
pessoas tenham suas rotinas
facilitadas, os
smartphones
ainda mais destaque,
quase como extensões dos corpos
humanos.
Nesse contexto, surge
também um
novo leitor
estudos de Santaella (2013), o
ubíquo descende dos
referenciados anteriormente e
apresenta características muito
semelhantes a eles, visto que n
um processo de agregação e de
desenvolvimento, ou seja,
“aciona habilidades cognitivas
específicas de modo que um não pode
substituir o outro. Cada um deles
contribui de modo diferencial para a
formação de um leitor provido de
habilidades
cognitivas cada vez mais
híbridas e cada vez mais complexas
(SANTAELLA, 2013, p. 281). Por
conseguinte, o leitor ubíquo segue
lendo e “transitando entre formas,
volumes, massas, interações de
forças, movimentos, direções, traços,
cores, luzes que se acend
apagam, pistas, mapas” (SANTAELLA,
2013, p. 278
). Em suma, sua prática
leitora
se assemelha com a d
555
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Contudo, ainda em meio ao
culo XXI e a seu desenfreado
desenvolvimento, alinhado para que as
pessoas tenham suas rotinas
smartphones
ganham
ainda mais destaque,
tornando-se
quase como extensões dos corpos
Nesse contexto, surge
novo leitor
. Segundo os
estudos de Santaella (2013), o
leitor
ubíquo descende dos
leitores
referenciados anteriormente e
apresenta características muito
semelhantes a eles, visto que n
ão
um processo de agregação e de
desenvolvimento, ou seja,
cada um
aciona habilidades cognitivas
espeficas de modo que um não pode
substituir o outro. Cada um deles
contribui de modo diferencial para a
formação de um leitor provido de
cognitivas cada vez mais
híbridas e cada vez mais complexas”
(SANTAELLA, 2013, p. 281). Por
conseguinte, o leitor ubíquo segue
lendo e transitando entre formas,
volumes, massas, interações de
forças, movimentos, direções, traços,
cores, luzes que se acend
em e se
apagam, pistas, mapas” (SANTAELLA,
). Em suma, sua prática
se assemelha com a d
o leitor
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
movente; como também
leitor imersivo, que
por meio do uso do
celular
[...]
pode penetrar no ciberespaço
informacional, assim como
conversar silenciosamente com
alguém ou com um grupo de
pessoas a vinte centímetros ou a
continentes de distância
(SANTAELLA, 2013, p. 278)
O leitor ubíquo, porém, possui
uma capacidade distinta dos demais
leitores: a de estar presente nos mais
dive
rsos lugares e em qualquer tempo
Isso é possível porque, em
conformidade com Santaella (2013, p.
278), a ubiquidade
justamente “a sistemas
computacionais de pequeno porte, e
até mesmo invisíveis, que se fazem
presentes nos ambientes e que podem
ser transportados de um lugar a outro.
Ness
a acepção, o aparelho celular,
como um dispositivo que permite não
apena
s a conversação, mas também
estabelece várias outras
multimí
diais, passa a ser
imprescindível para o leitor ubíquo,
bem como passa a ser uma marca de
sua identidade.
Passados alguns anos desde a
publicação de Santaella (
respeito do leitor
ubíquo, percebemos,
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
com a do
por meio do uso do
pode penetrar no ciberespaço
informacional, assim como
pode
conversar silenciosamente com
alguém ou com um grupo de
pessoas a vinte centímetros ou a
continentes de distância
.
(SANTAELLA, 2013, p. 278)
O leitor ubíquo, porém, possui
uma capacidade distinta dos demais
leitores: a de estar presente nos mais
rsos lugares e em qualquer tempo
.
Isso é possível porque, em
conformidade com Santaella (2013, p.
refere-se
justamente a sistemas
computacionais de pequeno porte, e
até mesmo inviveis, que se fazem
presentes nos ambientes e que podem
ser transportados de um lugar a outro”.
a acepção, o aparelho celular,
como um dispositivo que permite não
s a conversação, mas também
estabelece várias outras
relações
diais, passa a ser
imprescindível para o leitor ubíquo,
bem como passa a ser uma marca de
Passados alguns anos desde a
publicação de Santaella (
2013) a
ubíquo, percebemos,
além desses aspectos referenciados
por ela, que com esse sistema de
comunicação multimodal, multim
portátil em mãos, os sujeitos do culo
XXI passaram a
se
forma ainda mais pida, a registrar
suas rotinas de forma instantânea por
redes sociais e a seguir e recriar os
“ensinamentos” dos fenômenos
Youtubers e
Instagramers
descobriram rentáveis formas de viver
haja vista que
estão
inse
ridos em uma recepção que não
apenas os recebe, segue e curte, mas
que se potencializa e amplia pela
energia de seus conteúdos e pela
acessibilidade de suas formas de
comunicação. Ademais, os novos
leitores
essa nova recepção, que
aqui consideramos leito
passaram a adorar e a consumir,
quase que compulsivamente
criações verbais e imagéticas de seus
ídolos porque simplesmente se sentem
atraídos por eles. Esse é o caso de
Frida Kahlo, “redescoberta e
“consumida”
atualmente
entendimen
to será apresentado na
última seção, quando mostramos os
atratores visuais de Frida Kahlo no
século XXI e quem o,
556
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
além desses aspectos referenciados
por ela, que com esse sistema de
comunicação multimodal, multim
ídia e
portátil em mãos, os sujeitos do século
se
comunicar de
forma ainda mais rápida, a registrar
suas rotinas de forma instantânea por
redes sociais e a seguir e recriar os
ensinamentos” dos fenômenos
Instagramers
, os quais
descobriram rentáveis formas de viver
,
estão
plenamente
ridos em uma recepção que não
apenas os recebe, segue e curte, mas
que se potencializa e amplia pela
energia de seus conteúdos e pela
acessibilidade de suas formas de
comunicação. Ademais, os novos
essa nova recepção, que
aqui consideramos leito
res ópticos
passaram a adorar e a consumir,
quase que compulsivamente
, as
criações verbais e imagéticas de seus
ídolos porque simplesmente se sentem
atraídos por eles. Esse é o caso de
Frida Kahlo, redescoberta” e
atualmente
. Esse
to será apresentado na
última seção, quando mostramos os
atratores visuais de Frida Kahlo no
culo XXI e quem são,
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
possivelmente, os leitores
atraídos por ela. Para melhor
compreensão desta ideia, antes,
verificamos
o ponto de vista de
Massimo
Canevacci (2008) sobre os
atratores visuais.
Fetichismo e atração visual
De forma constante,
observamos mudanças
representativas na sociedade quanto a
novas nuances de valores e padrões
estéticos. A estética é
um
que rediscute padrões e,
muit
elege o que porventura poderia ser
refratado ou repelido como uma nova
forma de beleza. Isso
ocorre
encontra em jogo
um processo que
significa mais do que ser bonito ou
desejável.
Em outras palavras, o
sentido das coisas busca a sedução e
isso pode estar fora das linhas da
simetria e da proporcionalidade. Nesse
aspecto, a sedução parece uma
espécie de salvaguarda ao que
poderia se adequar
à pureza das
políticas dominantes, que oprimem a
originalidade, aq
uilo que se tem como
identidade. Na linha do que seduz e
3 Eróptico
é o termo utilizado por Canevacci
(2008), em nosso trabalho optamos pelo
emprego, de forma analógica, do termo
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
possivelmente, os leitores
erópticos3
atraídos por ela. Para melhor
compreensão desta ideia, antes,
o ponto de vista de
Canevacci (2008) sobre os
Fetichismo e atração visual
De forma constante,
observamos mudanças
representativas na sociedade quanto a
novas nuances de valores e padrões
um
movimento
muit
as vezes,
elege o que porventura poderia ser
refratado ou repelido como uma nova
ocorre
porque se
um processo que
significa mais do que ser bonito ou
Em outras palavras, o
sentido das coisas busca a sedução e
isso pode estar fora das linhas da
simetria e da proporcionalidade. Nesse
aspecto, a sedução parece uma
espécie de salvaguarda ao que
à pureza das
políticas dominantes, que oprimem a
uilo que se tem como
identidade. Na linha do que seduz e
é o termo utilizado por Canevacci
(2008), em nosso trabalho optamos pelo
emprego, de forma analógica, do termo
óptico.
perigosamente atrai, fora das
contingências de um belo pacificado,
passivo de visão, iluminado e puro, o
fetichismo visual pode evitar a
objetivação dos sujeitos, já que a
sedução confere subjetivida
se mostra, olhar ao que se deixa ver,
corpo ao que se poderia reificar,
erotismo que jamais se deixa possuir
totalmente.
Aliás,
“1.Trazer, puxar ou
solicitar para si. 2. Seduzir, fascinar. 3.
Chamar, incitar a aproximar
Provocar, suscitar
sentimentos, etc.)” é a definição
encontrada no dicionário Aurélio sobre
o
verbo “atrair” (FERREIRA, 2010, p.
77) e que nos auxilia a entender o
conceito que Massimo Canevacci trata
no livro intitulado
Fetichismos visuais:
corpus erópticos e me
comunicacional
(2008). O ato de atrair
configura uma ação dupla: ao mesmo
tempo em que o objeto atrator puxa
para si o que deseja, o objeto (ou o
sujeito) atraído é seduzido, ou seja,
sua atenção volta-
se para aquela força
atratora. Canevacci (2008
principalmente sob a perspectiva do
universo configurado pela cultura
digital e ampliado nas áreas
metropolitanas, expõe sobre o que
557
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
perigosamente atrai, fora das
contingências de um belo pacificado,
passivo de visão, iluminado e puro, o
fetichismo visual pode evitar a
objetivação dos sujeitos, que a
sedução confere subjetivida
de ao que
se mostra, olhar ao que se deixa ver,
corpo ao que se poderia reificar,
erotismo que jamais se deixa possuir
1.Trazer, puxar ou
solicitar para si. 2. Seduzir, fascinar. 3.
Chamar, incitar a aproximar
-se. 4.
Provocar, suscitar
(opiniões,
sentimentos, etc.) é a definição
encontrada no dicionário Aurélio sobre
verbo atrair (FERREIRA, 2010, p.
77) e que nos auxilia a entender o
conceito que Massimo Canevacci trata
Fetichismos visuais:
corpus erópticos e me
trópole
(2008). O ato de atrair
configura uma ação dupla: ao mesmo
tempo em que o objeto atrator puxa
para si o que deseja, o objeto (ou o
sujeito) atraído é seduzido, ou seja,
se para aquela força
atratora. Canevacci (2008
), assim,
principalmente sob a perspectiva do
universo configurado pela cultura
digital e ampliado nas áreas
metropolitanas, expõe sobre o que
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
pode potencializar os efeitos de algo
a atração
que instaura e se
segmenta muito tempo e em
distintas á
reas, como na arte, na
moda, no cinema, entre outras, de
modo a comprovar uma “[...] mutação
visual dos fetichismos incorporados
por movimentos atratores. Atratores
irregulares e perversos” (CANEVACCI,
2008, p. 15).
De acordo com
(2008, p. 16),
os atratores configuram
se como “códigos nimos em
detalhes mais ou menos micrológicos
que têm a capacidade de exercitar
uma potente atração visiva, graças ao
elevado conteúdo de fetichismo visual
incorporado”. Mostram-
aqueles elementos que,
tempo
rariamente, têm o poder de
“congelar” o tempo e de suspender a
razão, atraindo os olhares, as
atenções e os julgamentos.
atrator “anula temporariamente o
movimento do olho exercendo um
poder que une o olhar e a coisa e que
determina os novos curso
fetichismos visuais difundidos na
metrópole comunicacional
(CANEVACCI, 2008, p. 16).
elementos atratores, de naturezas
diversas, demonstram que por si
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
pode potencializar os efeitos de algo
que já instaura e se
segmenta há muito tempo e em
reas, como na arte, na
moda, no cinema, entre outras, de
modo a comprovar uma [...] mutação
visual dos fetichismos incorporados
por movimentos atratores. Atratores
irregulares e perversos” (CANEVACCI,
De acordo com
Canevacci
os atratores configuram
-
se como digos mínimos em
detalhes mais ou menos micrológicos
que têm a capacidade de exercitar
uma potente atração visiva, graças ao
elevado conteúdo de fetichismo visual
-
se como
aqueles elementos que,
rariamente, têm o poder de
congelar o tempo e de suspender a
razão, atraindo os olhares, as
atenções e os julgamentos.
Ainda, o
atrator anula temporariamente o
movimento do olho exercendo um
poder que une o olhar e a coisa e que
determina os novos curso
s dos
fetichismos visuais difundidos na
metrópole comunicacional”
(CANEVACCI, 2008, p. 16).
Logo, os
elementos atratores, de naturezas
diversas, demonstram que por si
bastam, que eles próprios se fazem
comunicação.
Nesse sentido, os fluxos
comunicaciona
is criados a partir de
movimentos ou de objetos atratores,
caracterizam-se
[...] por uma taxa crescente de
fetichism
o visual de matriz digital.
(
Os fluxos comunicacionais
disseminam e incorporam
minuciosos
atratores: fragmentos
simbólicos que atravessam
modos perceptíveis de um olhar
que de modo nenhum é ingênuo
ou manipulável, embora
condicionado à decodificação.
Desejoso de selecionar e
distinguir. De ser selecionado e
de ser distinguido
2008, p. 14-
15, grifo do autor).
Segundo o autor,
chamou a atenção para a realização
do estudo sobre os atratores visuais,
quase uma exigência pessoal
obsessiva, foi
o fato de que há uma
“mutação visual dos fetichismos
incorporados por movimentos
atratores
(CANEVACCI, 2008, p. 15,
grifo do auto
r). Ou seja, com o passar
do tempo e com a mudança dos
comportamentos políticos, há uma
transformação dos “corpos ambíguos
fetichisticamente envolvidos e de
qualquer maneira induzidos por um
olhar etnográfico perigosamente
fetichista” (CANEVACCI, 2008, p.1
558
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
bastam, já que eles próprios se fazem
Nesse sentido, os fluxos
is criados a partir de
movimentos ou de objetos atratores,
[...] por uma taxa crescente de
o visual de matriz digital.
Os fluxos comunicacionais
)
disseminam e incorporam
atratores: fragmentos
simbólicos que atravessam
os
modos perceptíveis de um olhar
que de modo nenhum é ingênuo
ou manipulável, embora
condicionado à decodificação.
Desejoso de selecionar e
distinguir. De ser selecionado e
de ser distinguido
(CANEVACCI,
15, grifo do autor).
Segundo o autor,
o que lhe
chamou a atenção para a realização
do estudo sobre os atratores visuais,
quase uma exigência pessoal
o fato de que uma
mutação visual dos fetichismos
incorporados por movimentos
(CANEVACCI, 2008, p. 15,
r). Ou seja, com o passar
do tempo e com a mudança dos
comportamentos políticos, uma
transformação dos corpos ambíguos
fetichisticamente envolvidos e de
qualquer maneira induzidos por um
olhar etnográfico perigosamente
fetichista (CANEVACCI, 2008, p.1
5).
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
Esse aspecto interessa
maneira especial,
pois o fenômeno
Frida Kahlo irrompe
movimento fetichista muito recente,
resultado sobretudo dos fluxos
comunicacionais em que os leitores
ubíquos
que se transformaram em
leitores ópticos parti
cipam de forma
ativa ao consumir o resultado da
reificação de Frida Kahlo, isto é, da
objetificação de sua criação artística,
uma perversão fetichista conflagrada
digitalmente. Esse aspecto confirma
aquilo que Canevacci (2008) discorre a
respeito da transp
osição limítrofe da
pele em relação ao corpo:
[...] quando a pele transpõe seus
limites, ela se liga aos tecidos
“orgânicos”
da metrópole. Nesse
sentido, o corpo o é apenas
corporal. O corpo expandido em
edifícios, coisas
mercadorias, imagens, é
que se entende aqui por
fetichismo visual (CANEVACCI,
2008, p. 18).
Durante a realização de seu
estudo, Canevacci
(2008)
seleção de imagens,
pertencentes à
cultura visual,
com potencial fetichista.
Ele percebeu, com isso, uma disjunção
que t
urbava “os velhos dualismos
orgânico e o inorgânico, as coisas e o
humano, o material e o imaterial, a
natureza e a cultura, o masculino e o
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Esse aspecto interessa
-nos de
pois o fenômeno
como um
movimento fetichista muito recente,
resultado sobretudo dos fluxos
comunicacionais em que os leitores
que se transformaram em
cipam de forma
ativa ao consumir o resultado da
reificação de Frida Kahlo, isto é, da
objetificação de sua criação artística,
uma pervero fetichista conflagrada
digitalmente. Esse aspecto confirma
aquilo que Canevacci (2008) discorre a
osição limítrofe da
[...] quando a pele transpõe seus
limites, ela se liga aos tecidos
da metrópole. Nesse
sentido, o corpo não é apenas
corporal. O corpo expandido em
edifícios, coisas
-objetos-
mercadorias, imagens, é
aquilo
que se entende aqui por
fetichismo visual (CANEVACCI,
Durante a realização de seu
(2008)
fez uma
pertencentes à
com potencial fetichista.
Ele percebeu, com isso, uma disjunção
urbava os velhos dualismos
o
orgânico e o inorgânico, as coisas e o
humano, o material e o imaterial, a
natureza e a cultura, o masculino e o
feminino, os corpos e a urbanística
para sintetizá-
los na direção de
alguma coisa perversa e normal
(CANEVAC
CI, 2008, p. 20). Logo,
lógica consumista e transgressora
olhar passou a ser
cotidiano social.
Por meio de sua análise,
Canevacci
(2008) definiu três
conceitos que para nosso estudo
também se fazem imprescindíveis
quanto à movimentação fetichista
sócio-histórica:
bodyscape
dress-code
. O primeiro refere
“corpo panorâmico que flutua entre os
interstícios da metrópo
comunicacional. Atrai e é atraído pelas
locations
mutantes. É uma
corpo. Corpo espaçado
(CANEVACCI, 2008, p. 42). Podemos
inferir, a partir desta definição, em
analogia às apresentações de
Canevacci (2008), que o
constrói assentado
padrões impostos de uma determinada
situação, de um tempo ou de um
espaço; constrói-
se a partir de uma
location
, ao passo que também se põe
em seus interstícios, onde paira,
favorece sua mutação ou, ainda, em
contraste, conflitua com esta
circunstância.
Ademais
559
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
feminino, os corpos e a urbanística
los na direção de
alguma coisa perversa e normal”
CI, 2008, p. 20). Logo,
a
lógica consumista e transgressora
do
normalizada no
Por meio de sua análise,
(2008) definiu três
conceitos que para nosso estudo
também se fazem imprescindíveis
quanto à movimentação fetichista
bodyscape
, location e
. O primeiro refere
-se a um
corpo panorâmico que flutua entre os
interstícios da metrópo
le
comunicacional. Atrai e é atraído pelas
mutantes. É uma
location do
corpo. Corpo espaçado”
(CANEVACCI, 2008, p. 42). Podemos
inferir, a partir desta definição, em
analogia às apresentações de
Canevacci (2008), que o
bodyscape se
na fuga dos
padrões impostos de uma determinada
situação, de um tempo ou de um
se a partir de uma
, ao passo que também se põe
em seus interstícios, onde paira,
favorece sua mutação ou, ainda, em
contraste, conflitua com esta
Ademais
, o bodyscape
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
[...] persegue acelerações dos
códigos antes invisíveis que um
corpo insere para
sucessivas ao longo da própria
configuração para construir uma
fisionomia temporária.
Publicidade, arquitetura, arte, em
particular, body-art
e arte digital,
coreografia, design
e
tatuagens-
escarificações
piercing, todos são configurações
parciais uma vez bem separadas
e que agora citam, vestem,
influenciam umas às outras ao
longo dos itinerários flutuantes e
fortemente
(CANEVACCI, 2008, p. 30)
Assim, um portador de
bodyscape mostra-
se alguém que
aplica uma semiótica espontânea ao
próprio corpo, um intérprete ativo
como também seu leitor
apresenta-
se. De forma consequente
ele narra “[...] as próprias mudanças
comunicacionais e os próprios desejos
sensoriais: isto é, é a comunicação,
entrelaçada ao consumo e à cultura,
que aqui redefine as fisionomias
recortadas ao invés da sociedade
(CANEVACCI, 2008, p. 32).
Por sua vez
, o segundo
conceito, location
, mostra
“um lugar, um espaço ou uma zona
intersticial que inscreve movimentos
simétricos fora dos corpos
panorâmicos” (CANEVACCI, 2008, p.
42). Na perspectiva de
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
[...] persegue acelerações dos
digos antes invisíveis que um
corpo insere para
assemblages
sucessivas ao longo da própria
configuração para construir uma
fisionomia temporária.
Publicidade, arquitetura, arte, em
e arte digital,
e
webdesign,
escarificações
-
piercing, todos o configurações
parciais uma vez bem separadas
e que agora citam, vestem,
influenciam umas às outras ao
longo dos itinerários flutuantes e
fortemente
sincréticos
(CANEVACCI, 2008, p. 30)
.
Assim, um portador de
se alguém que
aplica uma semiótica espontânea ao
próprio corpo, um intérprete ativo
como também seu leitor
eróptico
se. De forma consequente
,
ele narra [...] as próprias mudanças
comunicacionais e os próprios desejos
sensoriais: isto é, é a comunicação,
entrelaçada ao consumo e à cultura,
que aqui redefine as fisionomias
recortadas ao invés da sociedade”
(CANEVACCI, 2008, p. 32).
, o segundo
, mostra
-se como
um lugar, um espaço ou uma zona
intersticial que inscreve movimentos
simétricos fora dos corpos
panorâmicos” (CANEVACCI, 2008, p.
Canevacci
(2008, p. 32), a
location
um
a identidade dada como fixa, única,
compacta, certa, tradicional
igualmente
aparece como um espaço
que, talvez, se
mostre de complexa
articulação com o conceito de
identidade.Porém,
as duas
identidade e espaço
intersecção na med
compactuam na movimentação do
ambiente eletrônico (
onde se estende a
web
flutuantes multividuais,
interconectados e
(CANEVACCI, 2008, p. 33, grifos do
autor).
Ambos os conceitos,
e location
, em conformidade com
Canevacci (2008), abrem
terceiro conceito,
dress
também explicitamos aqui. Antes,
contudo
, é válido enfatizar
primeiros
[...] exprimem atratores sexuados
em um jogo performativo com
contínuas citaçõe
inversões, perveres,
multiversões, subveres. Ambos
são como duas identidades
fluidíssimas e mutantes, que não
têm gênero (masculino
lugar (público-
privado), ontologias
(orgânico-
inorgânico), morais
(bem-
mal), dicotômicas
(natureza-
cultura), hierárquicas
(alto-
baixo): ao contrário,
percorrem os territórios do
560
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
location
manifesta “[...]
a identidade dada como fixa, única,
compacta, certa, tradicional
,e
aparece como um espaço
mostre de complexa
articulação com o conceito de
as duas
definições
identidade e espaço
demonstram
intersecção na med
ida em que
compactuam na movimentação do
ambiente eletrônico (
e-space), “[...]
web
que tece fios
flutuantes multividuais,
interconectados e
mix-midiais”
(CANEVACCI, 2008, p. 33, grifos do
Ambos os conceitos,
bodyscape
, em conformidade com
Canevacci (2008), abrem
-se para o
dress
-code, o qual
também explicitamos aqui. Antes,
, é válido enfatizar
que os dois
[...] exprimem atratores sexuados
em um jogo performativo com
contínuas citaçõe
s, trocas,
inveres, perversões,
multiveres, subversões. Ambos
o como duas identidades
fluidíssimas e mutantes, que não
têm gênero (masculino
-feminino),
privado), ontologias
inorgânico), morais
mal), dicotômicas
cultura), hierárquicas
baixo): ao contrário,
percorrem os territórios do
além
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
de
. A força de tais atratores não
se opõe (ao poder, por exemplo),
mas o ultra-passa.
Ultra
(CANEVACCI, 2008, p. 37, grifos
do autor).
Logo, a última definição,
code, indica “[...]
uma pragmática do
corpo que se modifica, constrói
espaços, ressignifica fetiches através
de escolhas cosméticas de um sujeito
mutante. [...] é a chave de acesso que
favorece o trânsito semiótico entre
location e bodyscape
(CANEVA
2008, p. 42). Esse conceito, entre os já
apresentados, identifica
proximamente com a personagem
objeto de análise deste artigo
Kahlo, já que
[...] o dress
envolve e move
aquelas práticas que aqui
caracterizam escolha,
incorporação, com
composição/
assemblage
morphing
, e, enfim, a seleção
decisiva em direção ao contexto
onde expor o resultado final.
Code
é um código que indica as
escolhas da transformação, as
lógicas sob e sobre a atividade
semiótica que o corpo adquire
sobre a base de escolhas
espontâneas/construídas por
parte do sujeito
(CANEVACCI,
2008, p. 38, grifos do autor).
Essa acepção faz-
se ess
porque está intimamente relacionada
às anteriores:
sintonizados, o
bodyscape e a location
convergem e
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
. A força de tais atratores não
se opõe (ao poder, por exemplo),
Ultra
-passante
(CANEVACCI, 2008, p. 37, grifos
Logo, a última definição,
dress-
uma pragmática do
corpo que se modifica, constrói
espaços, ressignifica fetiches através
de escolhas cosméticas de um sujeito
mutante. [...] é a chave de acesso que
favorece o trânsito semiótico entre
(CANEVA
CCI,
2008, p. 42). Esse conceito, entre os
apresentados, identifica
-se mais
proximamente com a personagem
objeto de análise deste artigo
, Frida
envolve e move
aquelas práticas que aqui
caracterizam escolha,
incorporação, com
binação,
assemblage
, cut-up,
, e, enfim, a seleção
decisiva em direção ao contexto
onde expor o resultado final.
é um digo que indica as
escolhas da transformação, as
lógicas sob e sobre a atividade
semiótica que o corpo adquire
sobre a base de escolhas
espontâneas/constrdas por
(CANEVACCI,
2008, p. 38, grifos do autor).
se ess
encial
porque está intimamente relacionada
sintonizados, o
convergem e
são naturalmente atraídos pelo
code.
Com isso, o
codeapresenta-
se como uma voz
polifônica e dissonante que ecoa em
cima dos códigos exp
historicamente. Nas palavras de
Canevacci (2008, p. 39, grifos do
autor),
são
as notas de um verdadeiro
sound-design
que
sonora de um filme, do próprio
filme corpo
transformam o corpo em
paisagem acústica, que pe
um mix
de linguagens, cujas
distinções entre linguagem do
corpo, da cosmética, do estilo,
das roupas centrais e dos
acessórios periféricos se tornam
inúteis. Os atratores emergem em
uma espécie de alfabeto
imagético e sonoro
a ser decifr
ado
de um papel integrante mais que
suplementar do eu
Sendo assim
, situado entre o
bodyscape e a
location
interstício dos dois, o
mostra-
se como a chave de acesso a
eles. Para conhecer os anteriores,
analise-
se, assim, toda a linguagem
expressa pelos atratores semióticos
que esse código escancara aos
leitores erópticos
singular altamente fetichista. É o que
se pretend
e realizar na análise que
passamos a discorrer nas próximas
561
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
o naturalmente atraídos pelo
dress-
Com isso, o
dress-
se como uma voz
polifônica e dissonante que ecoa em
cima dos códigos exp
ostos, social e
historicamente. Nas palavras de
Canevacci (2008, p. 39, grifos do
as notas de um verdadeiro
que
como a trilha
sonora de um filme, do próprio
filme corpo
-no-espaço
transformam o corpo em
paisagem astica, que pe
rforma
de linguagens, cujas
distinções entre linguagem do
corpo, da cosmética, do estilo,
das roupas centrais e dos
acessórios periféricos se tornam
inúteis. Os atratores emergem em
uma espécie de alfabeto
imagético e sonoro
um enigma
ado
no desempenho
de um papel integrante mais que
suplementar do eu
-narrador.
, situado entre o
location
, isto é, no
interstício dos dois, o
dress-code
se como a chave de acesso a
eles. Para conhecer os anteriores,
se, assim, toda a linguagem
expressa pelos atratores semióticos
que esse digo escancara aos
numa narrativa
singular altamente fetichista. É o que
e realizar na análise que
passamos a discorrer nas próximas
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
seções. Um convite para conhecer o
dress-code
de Frida Kahlo, ela que,
como bodyscape
, marcou seu
território, sua location
, e ganhou o
mundo. Antes, entretanto, delineamos
os procedimentos metodol
sustentam a pesquisa.
Procedimentos metodológicos
O estudo que apresentamos
neste artigo, de acordo com as
definições de Prodanov e Freitas
(2013), quanto à natureza,
como qualitativo,
e quanto aos
objetivos,
como descritivo. Em relação
ao procedimento técnico, caracteriza
se como uma pesquisa bibliográfica,
alicerçada sobretudo nas
considerações de Lucia Santaella
(2004, 2013) a respeito dos diferentes
tipos de leitores, e nos estudos de
Massimo Canevacci (20
08) sobre os
atratores visuais.
o processo de coleta de
dados ocorreu
por meio da observação
de elementos recorrentes na
bibliografia sobre Frida Kahlo,
principalmente quanto aos aspectos
visuais e sua relação intrínseca com o
contexto sócio-
histórico m
Através
dessa observação analítica,
tem-se as seguintes
categorias de
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
seções. Um convite para conhecer o
de Frida Kahlo, ela que,
, marcou seu
, e ganhou o
mundo. Antes, entretanto, delineamos
os procedimentos metodol
ógicos que
Procedimentos metodológicos
O estudo que apresentamos
neste artigo, de acordo com as
definições de Prodanov e Freitas
estrutura-se
e quanto aos
como descritivo. Em relação
ao procedimento técnico, caracteriza
-
se como uma pesquisa bibliográfica,
alicerçada sobretudo nas
considerações de Lucia Santaella
(2004, 2013) a respeito dos diferentes
tipos de leitores, e nos estudos de
08) sobre os
o processo de coleta de
por meio da observação
de elementos recorrentes na
bibliografia sobre Frida Kahlo,
principalmente quanto aos aspectos
visuais e sua relação intrínseca com o
histórico m
exicano.
dessa observação analítica,
categorias de
análise: o contexto
baseou seus
políticos,
a Revolução Mexicana e
seus desdobramentos
ela esteve viva, em meio às tragédias
pessoais
e à criação de sua arte
momento de sua ascensão como
figura pop
, já no século XXI.
Considerando essas
informações, dividimos o texto em
duas partes. A primeira atende à
fundamentação teórica, na qual
apresentamos o conteúdo
indispensável à análise co
Canevacci (2008) e em Santaella
(2004, 2013). Por sua vez, na segunda
parte, preocupamo-
nos em apresentar
o citado enquadramento da vida de
Frida Kahlo, sobretudo quanto a suas
origens e a seus posicionamentos ante
diferentes aspectos, como o
história e a sociedade. Para tanto,
baseamo-
nos nas produções de
Fernández (2002), Florencio (2014),
Henestrosa (2012), Herrera (2011),
Kettenmann (2015)
e Zamora (2007).
E, por fim, na última seção, tecemos a
análise
quanto aos atratores
aos leitores
erópticos
perspectiva fetichis
ta a respeito de
Frida Kahlo.
562
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
no qual Frida
posicionamentos
a Revolução Mexicana e
seus desdobramentos
;a época em que
ela esteve viva, em meio às tragédias
e à criação de sua arte
;e o
momento de sua ascensão como
, já no século XXI.
Considerando essas
informações, dividimos o texto em
duas partes. A primeira atende à
fundamentação teórica, na qual
apresentamos o conteúdo
indispenvel à análise co
m base em
Canevacci (2008) e em Santaella
(2004, 2013). Por sua vez, na segunda
nos em apresentar
o já citado enquadramento da vida de
Frida Kahlo, sobretudo quanto a suas
origens e a seus posicionamentos ante
diferentes aspectos, como o
amor, a
história e a sociedade. Para tanto,
nos nas produções de
Fernández (2002), Florencio (2014),
Henestrosa (2012), Herrera (2011),
e Zamora (2007).
E, por fim, na última seção, tecemos a
quanto aos atratores
visuais e
erópticos
, por uma
ta a respeito de
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
Frida, sua história e a de seu país
Magdalena Carmen Frida Kahlo
y Calderón nasceu em Coyoan, na
Cidade do México, na mesma
residência
conhecida como Casa
Azul
em que faleceu, no ano de
1954, e que hoje abriga o Museu Frida
Kahlo. Trata-
se de um dos espaços
culturais mais conhecidos e visitados
do México e, talvez, do mundo, já que,
todos os anos, recebe milhares de
turistas de diferentes países, sem
contabil
izar aqueles leitores que
realizam a visita virtual ao museu,
outra possibilidade existente para que
se conheça o lugar em que Frida
Kahlo viveu, espaço
no qual
seu refúgio e que ainda representa a
extensão de seu próprio corpo.
disso, diz respeito a
um dos lugares
que testemunhou as fraturas físicas e
emocionais da artista, como em sua
infância, quando as redondezas da
casa e ela própria f
oram palco da
Revolução Mexicana.
A história de Frida começa
se mescla
à Revolução Mexicana e
ao México. Nas paredes da casa de
Coyoacán, em um dos quartos, acima
de um armário, lê-
se a seguinte frase
“aqui nació Frida Kahlo El
día 7 de julio
de 1910
. De acordo com Herrera
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Frida, sua história e a de seu país
Magdalena Carmen Frida Kahlo
y Calderón nasceu em Coyoacán, na
Cidade do México, na mesma
conhecida como Casa
em que faleceu, no ano de
1954, e que hoje abriga o Museu Frida
se de um dos espaços
culturais mais conhecidos e visitados
do México e, talvez, do mundo, que,
todos os anos, recebe milhares de
turistas de diferentes países, sem
izar aqueles leitores que
realizam a visita virtual ao museu,
outra possibilidade existente para que
se conheça o lugar em que Frida
no qual
constituiu
seu refúgio e que ainda representa a
exteno de seu próprio corpo.
Além
um dos lugares
que testemunhou as fraturas físicas e
emocionais da artista, como em sua
infância, quando as redondezas da
oram palco da
A história de Frida começa
e
à Revolução Mexicana e
ao México. Nas paredes da casa de
Coyoan, em um dos quartos, acima
se a seguinte frase
:
día 7 de julio
. De acordo com Herrera
(2011, p. 17-18),
as palavras foram
escritas quatro anos após sua morte,
quando a casa se
tornou um museu.
Porém, o autor esclarece que,
conforme
a certidão de nascimento da
artista, ela nasceu em 6 de julho de
1907. Portanto,
talvez
optando por uma verdade
mais estrita do que o fato
permitiria, ela escolheu nascer
em 1910,
ano da ecloo da
Revolução Mexicana. Uma vez
que era filha da década
revolucionária, quando as ruas da
Cidade do México estavam
coalhadas de caos e
derramamento de sangue, Frida
decidiu que ela e o México
moderno haviam nascido no
mesmo ano (HERRERA, 2011
18).
Independentemente de sua data
de nascimento,
Frida viveu
momento histórico decisivo
páginas de seu diário,
primeiras memórias sobre
Recuerdo que yo tenía 4 años
cuando la decena trágica. Yo
presencié con mis ojos la lucha
campesina de Zapata contra los
carrancistas.
Mi situación fue muy
clara. Mi madre por la calle de
Allende
abriendo los balcones
les daba acceso a los zapatistas
ha
ciendo que los heridos y
hambrientos saltaran por
valcones [sic] de mi casa hacia la
“sala”.
Ella los curaba y les daba
gorditas de maíz único alimento
que en ese entonces se podía
conseguir en Coyoan. Eramos
[sic] cuatro hermanas Matita Adri
563
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
as palavras foram
escritas quatro anos após sua morte,
tornou um museu.
Porém, o autor esclarece que,
a certidão de nascimento da
artista, ela nasceu em 6 de julho de
optando por uma verdade
mais estrita do que o fato
permitiria, ela escolheu nascer
ano da eclosão da
Revolução Mexicana. Uma vez
que era filha da década
revolucionária, quando as ruas da
Cidade do México estavam
coalhadas de caos e
derramamento de sangue, Frida
decidiu que ela e o México
moderno haviam nascido no
mesmo ano (HERRERA, 2011
, p.
Independentemente de sua data
Frida viveu
aquele
momento histórico decisivo
e, nas
páginas de seu diário,
registrou as
primeiras memórias sobre
o período:
Recuerdo que yo tenía 4 años
cuando la decena trágica. Yo
presencié con mis ojos la lucha
campesina de Zapata contra los
Mi situación fue muy
clara. Mi madre por la calle de
abriendo los balcones
les daba acceso a los zapatistas
ciendo que los heridos y
hambrientos saltaran por
valcones [sic] de mi casa hacia la
Ella los curaba y les daba
gorditas de maíz único alimento
que en ese entonces se podía
conseguir en Coyoacán. Eramos
[sic] cuatro hermanas Matita Adri
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
yo (Frida)
y Cristi, la chaparrita.
[…]
La emoción clara y precisa
que yo guardo de la
mexicana”
fue la base para que a
los 13 años de edad ingresara en
la juventud comunista (KAHLO,
2014, p. 282).
Esse importante e decisivo
momento histórico para o México
também se mostrou crucial para a vida
de Frida Kahlo. Direta ou
indiretamente, a defesa das classes
menos valorizadas, aquilo que
representou
a Revolução Mexicana,
refletiu em sua formação pessoal
seu caráter, em suas atitudes e em
seu fazer artístico. Ao longo de sua
vida, a pintora fez
questão de mostrar
suas raízes indígenas,
ora
seus traços físicos, ora
ornamentando
se com roupas e acesrios
demonstrando su
a repulsa àqueles
que não desejava
m a igualdade, como
escreveu em seu diário:
[...] He leído la historia de mi país
y de casi todos los pueblos.
Conozco ya sus conflictos de
clase y económicos. Comprendo
claramente la dialéctica
materialista. […] Por primera vez,
en mi vida la pintura mía trata de
ayudar a la línea trazada por el
partido. Realismo
Revolucionario
Antes solamente f mi mas [sic]
antigua experiencia. Soy
solamente una lula del
complejo mecanismo
revolucionario de los pueblos por
la paz y de los pueblos nuevos,
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
y Cristi, la chaparrita.
La emoción clara y precisa
que yo guardo de la
“revolución
fue la base para que a
los 13 años de edad ingresara en
la juventud comunista (KAHLO,
Esse importante e decisivo
momento histórico para o México
também se mostrou crucial para a vida
de Frida Kahlo. Direta ou
indiretamente, a defesa das classes
menos valorizadas, aquilo que
a Revolução Mexicana,
refletiu em sua formação pessoal
em
seu caráter, em suas atitudes e em
seu fazer artístico. Ao longo de sua
questão de mostrar
ora
exaltando
ornamentando
-
se com roupas e acessórios
, ora
a repulsa àqueles
m a igualdade, como
[...] He leído la historia de mi país
y de casi todos los pueblos.
Conozco ya sus conflictos de
clase y económicos. Comprendo
claramente la dialéctica
materialista. [] Por primera vez,
en mi vida la pintura mía trata de
ayudar a la línea trazada por el
Revolucionario
.
Antes solamente fuí mi mas [sic]
antigua experiencia. Soy
solamente una célula del
complejo mecanismo
revolucionario de los pueblos por
la paz y de los pueblos nuevos,
soviéticos
checoeslovacos, polacos
ligados
en la sangre a mi propia
persona. Y al indígena de México.
Entre esas grandes multitudes de
gente asiáticas, siempre habrá
rostros míos
piel oscura y bella forma de
elegancia sin límite, también
estarían ya liberados los negros,
tan hermos
os y tan valientes.
(Mexicanos y negros están por el
momento
sojuzgados
capitalistas sobre todo Norte
América
(E.U. e Inglaterra)
(KAHLO, 2014
, p. 255
Isso exposto
, para melhor
compreensão sobre esse período,
traçamos
uma concisa retomada
histórica sobre o estopim da
Revolução Mexicana e o que ela
representou. Nosso objetivo não é
detalhar o que aconteceu na época,
até porque a história d
como ele próprio, mostra
abundante em personagens reais
transformaram o país e as gerações
futuras. Buscamos,
uma parte da história de Frida Kahlo
ao mostrar suas motivações políticas,
sociais, artísticas e pessoais, suas
escolhas e o seu lugar.
564
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
soviéticos
chinos
checoeslovacos, polacos
en la sangre a mi propia
persona. Y al indígena de México.
Entre esas grandes multitudes de
gente asiáticas, siempre habrá
mexicanos de
piel oscura y bella forma de
elegancia sin límite, también
estarían ya liberados los negros,
os y tan valientes.
(Mexicanos y negros están por el
sojuzgados
por países
capitalistas sobre todo Norte
(E.U. e Inglaterra)
, p. 255
-257).
, para melhor
compreensão sobre esse período,
uma concisa retomada
histórica sobre o estopim da
Revolução Mexicana e o que ela
representou. Nosso objetivo não é
detalhar o que aconteceu na época,
até porque a história d
o México, assim
como ele próprio, mostra
-se rica e
abundante em personagens reais
que
transformaram o país e as gerações
aqui, reconstituir
uma parte da história de Frida Kahlo
ao mostrar suas motivações políticas,
sociais, artísticas e pessoais, suas
escolhas e o seu lugar.
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
A inspiração de Frida: p
histórico
do México entre os
séculos XIX e XX
No final do século XIX, o México
era comandado por líderes que inibiam
a reforma agrária e as melhores
condições para aqueles que viviam em
precariedade no campo, uma histórica
desvalorização das classes menos
abastada
s. No início da Revolução
Mexicana, Porfírio
az era o
presidente, no período que ficou
conhecido como
Porfiriato
1911), quando a democracia
verdadeira estava distante da
realidade, que em seu mandato
tentou controlar todas as classes com
o apoio do E
xército, em uma contínua
centralização do poder, mesmo que
para isso despojasse
campesinos e
indígenas de suas terras e reprimisse
os opositores políticos.
Nesse sentido,
o presidente
realizou a expropriação de territórios
indígenas que não haviam
demarcados
e obrigou as pessoas
desenraizadas de suas origens e de
sua cultura
a trabalhar de forma
precária em outros lugares,
principalmente na Cidade do México,
capital do país, aumentando a
população urbana periférica e
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
A inspiração de Frida: p
anorama
do México entre os
No final do culo XIX, o México
era comandado por líderes que inibiam
a reforma agrária e as melhores
condições para aqueles que viviam em
precariedade no campo, uma histórica
desvalorização das classes menos
s. No início da Revolução
az era o
presidente, no período que ficou
Porfiriato
(1876 a
1911), quando a democracia
verdadeira estava distante da
realidade, já que em seu mandato
tentou controlar todas as classes com
xército, em uma contínua
centralização do poder, mesmo que
campesinos e
indígenas de suas terras e reprimisse
o presidente
realizou a expropriação de territórios
indígenas que não haviam
sido
e obrigou as pessoas
desenraizadas de suas origens e de
a trabalhar de forma
preria em outros lugares,
principalmente na Cidade do xico,
capital do país, aumentando a
população urbana periférica e
desfavorecida economica
mesmo passo em que favorecia os
latifundiários, os quais ocuparam
antigas terras
indígenas
À
época, era a elite quem
escolhia o líder que lhe interessava
fim de garantir a
manutenção d
privilégios
. Esses benefícios para as
classes ma
is altas, não por acaso,
alinhavam-
se diretamente aos
interesses do país vizinho, os Estados
Unidos.
Outrossim, a
Estados Unidos e México
XIX,começaram
a se estreitar
que Porfírio
az concede
de terras, campos petrolíferos e
mineradoras para empresas
americanas e britânicas, adaptando
ao capital estrangeiro e desenvolvendo
seu país, mesmo que isso o
comprometesse democrática e
culturalmente.De forma consequente,
o
processo de ind
iniciado. Em contrapartida,
um proletariado que se
mais tarde, aos camponeses para uma
mudança de realidade.
Começa, eno, ao final do
Porfiriato
, no início do culo XX, a
luta de classes. Segundo Fernández
(2002), os
movimentos de resistência
ganhara
m força em busca de uma
565
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
desfavorecida economica
mente, ao
mesmo passo em que favorecia os
latifundiários, os quais ocuparam
as
indígenas
.
época, era a elite quem
escolhia o líder que lhe interessava
a
manutenção d
e seus
. Esses benefícios para as
is altas, não por acaso,
se diretamente aos
interesses do país vizinho, os Estados
Outrossim, a
s relações entre
Estados Unidos e México
, no século
a se estreitar
, posto
az concede
u benefícios
de terras, campos petrolíferos e
mineradoras para empresas
americanas e britânicas, adaptando
-se
ao capital estrangeiro e desenvolvendo
seu país, mesmo que isso o
comprometesse democrática e
culturalmente.De forma consequente,
processo de ind
ustrialização é
iniciado. Em contrapartida,
se forma
um proletariado que se
associaria,
mais tarde, aos camponeses para uma
mudança de realidade.
Começa, então, ao final do
, no início do século XX, a
luta de classes. Segundo Fernández
movimentos de resistência
m força em busca de uma
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
reforma agrária, tendo como líderes
Pancho Villa e Emiliano Zapata.
político Francisco Madero, rival de
Porfírio Díaz, une-se
campesino para fortalecê-
lo. É Madero
quem
começa uma revolução, agora
por outra frente
na cidade
defendendo o voto secreto para a
escolha do governo e a criação de
uma legislação trabalhista.
Essa pressão popular corrobora
para a criação da Revolução
Mexicana, o que obriga Porfírio D
re
nunciar de seu cargo na presidência.
Logo, trava-
se um pacto entre os três
líderes e a nova presidência passa
para as mãos do líder urbano Madero.
O problema, porém, é que
mudanças sociais não acontecem
que Madero deixa a situação como
estava: passa
a evitar a reforma
agrária
principal proposta do grupo
e mantém as relações com os Estados
Unidos, até porque não interessava ao
país norte-
americano que os líderes
camponeses assumissem.
Devido ao extremo
conservadorismo do governo e ao não
atendime
nto às classes campesinas e
aos operários, Zapata rompe com o
presidente e afirma
que a revolução
ainda não tinha acontecido
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
reforma agrária, tendo como líderes
Pancho Villa e Emiliano Zapata.
O
político Francisco Madero, rival de
ao grupo
lo. É Madero
começa uma revolução, agora
na cidade
–,
defendendo o voto secreto para a
escolha do governo e a criação de
uma legislação trabalhista.
Essa pressão popular corrobora
para a criação da Revolução
Mexicana, o que obriga Porfírio D
íaz a
nunciar de seu cargo na presidência.
se um pacto entre os três
líderes e a nova presidência passa
para as mãos do líder urbano Madero.
O problema, porém, é que
as
mudanças sociais não acontecem
,
que Madero deixa a situação como
a evitar a reforma
principal proposta do grupo
e mantém as relações com os Estados
Unidos, até porque não interessava ao
americano que os líderes
camponeses assumissem.
Devido ao extremo
conservadorismo do governo e ao não
nto às classes campesinas e
aos operários, Zapata rompe com o
que a revolução
ainda não tinha acontecido
, mas que
deveria ocorrer
com a reforma agrária
imediata (
FLORENCIO
Entretanto,
o movimento
angariar o ódio, inclusive de outros
países, além dos Estados Unidos, até
porque o mundo estava em guerra
naquele momento,
e as organizações
sociais assustavam a todos porque
representavam
a asceno do
socialismo.
Em suma, e
Zapata de cena.
Na perspectiva de Florencio
(2014), em 1911, Madero estava
prevendo que aconteceria uma
revolução, uma suposta guinada à
esquerda de liderança, e ele
conseguia controlar seus antigos
parceiros. Por isso
, os Estados Unidos
intervêm: se alia
m
Victoriano Huerta e retira
poder, episódio
que ficou conhecido
como Contrarrevolução
forma irônica, em consonância com
Fernández (2002), o líder popular que
assumiu por meio de um golpe
também
é destituído por um.
Contudo
, apesar de todos os
esforços norte-
americanos e de seus
aliados mexicanos, especialmente
Huerta, os líderes populares
mexicanos não cedem e tampouco o
vencidos. Dentro dos referidos grupos
566
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
com a reforma agrária
FLORENCIO
, 2014).
o movimento
começa a
angariar o ódio, inclusive de outros
países, além dos Estados Unidos, até
porque o mundo estava em guerra
e as organizações
sociais assustavam a todos porque
a ascensão do
Em suma, e
ra preciso tirar
Na perspectiva de Florencio
(2014), em 1911, Madero estava
prevendo que aconteceria uma
revolução, uma suposta guinada à
esquerda de liderança, e ele
não
conseguia controlar seus antigos
, os Estados Unidos
m
ao general
Victoriano Huerta e retira
m Madero do
que ficou conhecido
como Contrarrevolução
. Assim, de
forma irônica, em consonância com
Fernández (2002), o líder popular que
assumiu por meio de um golpe
é destituído por um.
, apesar de todos os
americanos e de seus
aliados mexicanos, especialmente
Huerta, os líderes populares
mexicanos não cedem e tampouco são
vencidos. Dentro dos referidos grupos
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
revolucionários, alguns líderes
destacaram por sua mod
eração, como
Venustiano
Carranza, que era
secretário de Guerra
e da
Madero, e tinha em seu projeto de
governo algumas ideias populares,
mas o possuí a
o pensamento de
esquerda
estatização e coletivização
das propriedades mexicanas. De
acordo
com Florencio (2014),
Carranza
, ao assumir o governo no
lugar de Huerta, garante apoio
internacional e conta com os líderes
populares, principalmente Zapata e
Villa, consolidando uma suposta
Revolução Mexicana.
Vale dizer que
constitui um novo es
tilo de governo
caráter central,
o que acalma
partes, a população
; dado que
uma estatização completa e uma
tomada dos Estados Unidos. Apesar
disso, nas palavras de Florencio
(2014, p. 112), “a
s medidas
anunciadas pelo novo governo não
atenderam aos anseios da população
e seguiu-
se uma onda de greves de
grandes proporções, afetando setores
nevrálgicos, tais como o petrolífero, o
minerador, o têxtil, o de construção
civil e o agropecuário”. O err
Carranza, ainda segundo Florencio
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
revolucionários, alguns líderes
se
eração, como
Carranza, que era
e da
Marinha de
Madero, e tinha em seu projeto de
governo algumas ideias populares,
o pensamento de
estatização e coletivização
das propriedades mexicanas. De
com Florencio (2014),
, ao assumir o governo no
lugar de Huerta, garante apoio
internacional e conta com os líderes
populares, principalmente Zapata e
Villa, consolidando uma suposta
Carranza
tilo de governo
, de
o que acalma
, em
; dado que
evita
uma estatização completa e uma
tomada dos Estados Unidos. Apesar
disso, nas palavras de Florencio
s medidas
anunciadas pelo novo governo o
atenderam aos anseios da população
se uma onda de greves de
grandes proporções, afetando setores
nevrálgicos, tais como o petrolífero, o
minerador, o têxtil, o de construção
civil e o agropecuário. O err
o de
Carranza, ainda segundo Florencio
(2014), foi pensar que já havia atingido
os objetivos da Revolução, quando na
verdade reprimiu o movimento
trabalhista e rompeu os laços entre
operários urbanos e camponeses
depostos de suas terras
Consequentemente,
perde a governabilidade. E, mais uma
vez, o aliado de ontem, o general
Obregón, virou o inimigo de hoje:
Carranza foi assassinado em uma
emboscada preparada por Obregón,
que assumiu a presidência em 1920,
ficando no poder até 1924
(FLORENCIO
, 2014, p. 113).
Obregón no poder, acontece a
redistribuição de terras aos
camponeses e o investimento em
escolas rurais
o novo líder percebe
que a base de poder mexicano residia
no campo e não na estrutura fundiária
que Carranza voltava a defender,
p
receito herdado de Porfírio Díaz.
Para mais,
conm destacar
que u
m dos grandes legados da
Revolução Mexicana
de 1917 (em vigor), mas nunca
aprovada em sua totalidade por
Carranza. No documento, entre outras
conquistas, estão a “[...] pro
Igreja e estrangeiros terem a
propriedade do subsolo mexicano; fim
567
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(2014), foi pensar que havia atingido
os objetivos da Revolução, quando na
verdade reprimiu o movimento
trabalhista e rompeu os laços entre
operários urbanos e camponeses
depostos de suas terras
.
Consequentemente,
o presidente
perde a governabilidade. E, “mais uma
vez, o aliado de ontem, o general
Obregón, virou o inimigo de hoje:
Carranza foi assassinado em uma
emboscada preparada por Obregón,
que assumiu a presidência em 1920,
ficando no poder até 1924”
, 2014, p. 113).
Com
Obregón no poder, acontece a
redistribuição de terras aos
camponeses e o investimento em
o novo líder percebe
que a base de poder mexicano residia
no campo e não na estrutura fundiária
que Carranza voltava a defender,
receito herdado de Porfírio Díaz.
convém destacar
m dos grandes legados da
Revolução Mexicana
é a Constituição
de 1917 (em vigor), mas nunca
aprovada em sua totalidade por
Carranza. No documento, entre outras
conquistas, estão a [...] pro
ibição de a
Igreja e estrangeiros terem a
propriedade do subsolo mexicano; fim
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
do monopólio da Igreja no campo da
educação; e instituição do salário
mínimo, de direitos trabalhistas
avançados e de um sistema de
previdência social”
(FLORENCIO,
2014, p. 113). Trata-
se de um grande
avanço no percurso democrático
mexicano, decisivo para a constituição
de outras aquisições nos anos
seguintes.
E foi essa a
Revolução
inspirou a arte no México, sobretudo a
pintura, colocando o país na
vanguarda artística, por
grandiosas obras, principalmente os
murais concebidos por artistas como
Diego Rivera, grande amor de Frida
Kahlo. Através destas criações visuais
as obras de Frida e os murais de
Diego Rivera, entre outros importantes
pintores mexicanos, como Oro
Siqueiros, também muralistas
possível recordar e reviver a memória
popular das grandes revoluções, uma
tentativa de reconstrução da
identidade mexicana que se
consolidou por meio da memória
artística.
Frida e suas fraturas: a dor e a
identidade
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
do monopólio da Igreja no campo da
educação; e instituição do salário
mínimo, de direitos trabalhistas
avançados e de um sistema de
(FLORENCIO,
se de um grande
avanço no percurso democrático
mexicano, decisivo para a constituição
de outras aquisições nos anos
Revolução
que
inspirou a arte no México, sobretudo a
pintura, colocando o país na
vanguarda artística, por
meio de
grandiosas obras, principalmente os
murais concebidos por artistas como
Diego Rivera, grande amor de Frida
Kahlo. Através destas criações visuais
as obras de Frida e os murais de
Diego Rivera, entre outros importantes
pintores mexicanos, como Oro
zco e
Siqueiros, também muralistas
é
posvel recordar e reviver a memória
popular das grandes revoluções, uma
tentativa de reconstrução da
identidade mexicana que se
consolidou por meio da memória
Frida e suas fraturas: a dor e a
A pintora mexicana Frida Kahlo
teve uma vida marcada pela dor.
Quando criança, sofreu com as
consequências físicas
mais tarde, quando jovem, em
setembro de 1925, ao sofrer um
acidente em um bond
chocou contra um ônibus, teve seu
corpo praticamente dilacerado e
reconstruído após inúmeras cirurgias.
Seus movimentos passaram a ser
ainda mais restritos e representativa
parte de sua vida resumiu
contíguo espaço de seu quarto, às
esta
dias nos hospitais, para
complicados procedimentos cirúrgicos,
e às visitas aos médicos. Contudo, ao
mesmo tempo em que seu corpo se
dilacerou fisicamente, a arte passou,
literalmente, a iluminá
Segundo Fuentes (
quando
sofreu o acidente,
veículo, provavelmente, um pintor de
casas que carregava um pacote com
ouro em e, com a força da colio,
Frida
ficou nua e coberta com o ouro
como uma previsão do brilho que
mostraria em sua vida (e mesmo após
sua morte):
[...] el impacto
del choque dejó a
Frida sangrienta y desnuda, pero
cubierta de oro.
ropa, el cuerpo desnudo de Frida
568
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
A pintora mexicana Frida Kahlo
teve uma vida marcada pela dor.
Quando criança, sofreu com as
consequências físicas
da poliomielite;
mais tarde, quando jovem, em
setembro de 1925, ao sofrer um
acidente em um bond
e, o qual se
chocou contra um ônibus, teve seu
corpo praticamente dilacerado e
reconstruído após inúmeras cirurgias.
Seus movimentos passaram a ser
ainda mais restritos e representativa
parte de sua vida resumiu
-se ao
contíguo espaço de seu quarto, às
dias nos hospitais, para
complicados procedimentos cirúrgicos,
e às visitas aos médicos. Contudo, ao
mesmo tempo em que seu corpo se
dilacerou fisicamente, a arte passou,
literalmente, a iluminá
-la.
Segundo Fuentes (
2014, p.12),
sofreu o acidente,
estava no
veículo, provavelmente, um pintor de
casas que carregava um pacote com
ouro em pó e, com a força da colisão,
ficou nua e coberta com o ouro
como uma previo do brilho que
mostraria em sua vida (e mesmo após
del choque dejó a
Frida sangrienta y desnuda, pero
cubierta de oro.
Despojada de la
ropa, el cuerpo desnudo de Frida
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
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PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
recibió, como un rocío fantástico, la
llovizna de un paquete de oro en
polvo que llevaba a su traje un
artesano”.
Frida, depois deste moment
a pintar a revolta, o escárnio, a dor e o
amor; pintou a si mesma e ao México
que tanto amava; transformou
própria em um corpo artístico e atrator.
Em suma, a
pós o acidente, a
pintura passou a ser a principal válvula
de escape de Frida,
uma vez que a
artista começou a pintar logo que
recobrou alguns movimentos.
Impossibilitada
de levantar
um desejo quase inexplivel de
expressar-
se, ela começou sua
entrega à arte. C
erta vez,
revelou essa ânsia
ao escrever uma
carta
destinada a seu amigo Antonio
Rodríguez:
Mi mamá mandó hacer con un
carpintero un caballete, así se
le puede llamar a un aparato
especial que podía acoplarse a la
cama donde yo estaba porque el
corset de yeso no me deja sentar.
Así comencé a pintar el c
un retrato de una amiga mía.
Después hice dos retratos más
de mis amigos de la escuela,
luego un autorretrato y, cuando
ya pude sentarme, pinté dos o
tres cosas más…Desde
entonces, mi obsesión fue
recomenzar de nuevo pintando
las cosas tal y como la
como yo las veía con mis propios
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
recibió, como un roo fantástico, la
llovizna de un paquete de oro en
polvo que llevaba a su traje un
Frida, depois deste moment
o, passou
a pintar a revolta, o esrnio, a dor e o
amor; pintou a si mesma e ao México
que tanto amava; transformou
-se ela
própria em um corpo artístico e atrator.
pós o acidente, a
pintura passou a ser a principal válvula
uma vez que a
artista começou a pintar logo que
recobrou alguns movimentos.
de levantar
-se e com
um desejo quase inexplicável de
se, ela começou sua
erta vez,
Frida
ao escrever uma
destinada a seu amigo Antonio
Mi mamá mandó hacer con un
carpintero un caballete, así se
le puede llamar a un aparato
especial que podía acoplarse a la
cama donde yo estaba porque el
corset de yeso no me deja sentar.
A comen a pintar el c
uadro,
un retrato de una amiga mía.
Después hice dos retratos más
de mis amigos de la escuela,
luego un autorretrato y, cuando
ya pude sentarme, pinté dos o
tres cosas más…Desde
entonces, mi obsesión fue
recomenzar de nuevo pintando
las cosas tal y como la
s veía
como yo las veía con mis propios
ojos y nada más…
2007, p. 251).
Os primeiros rabiscos dessa
história começaram, como a própria
Frida manifestou, pelos retratos de
amigos e de pessoas conhecidas. Em
seguida, desenhou paisagens
urbanas, alg
uns esboços de figuras
humanas usando lápis e papel; mas foi
um ano mais tarde que ela pintou seu
primeiro autorretrato (Autorretrato con
traje de terciopelo), ria,
contemplativa, aos 19 anos. Uma
pintura em tons mais escuros, com
poucos detalhes, ao e
inclusive em relação à vestimenta, um
requintado vestido de modelo
renascentista, e ao penteado do
cabelo, um elegante coque
ela ainda o expressava de forma
artística a marcante presença de sua
herança indígena. Como fundo da
Frida pintou o mar com tom azul
escuro, profundo e soturno, como
“símbolo de sua vida, conforme
contou por meio de uma carta
destinada a Alejandro Arias, seu
namorado da época e para quem fez a
aquarela (ZAMORA, 2007). A partir do
segundo autorretra
to, no entanto, seu
estilo passa a ser outro, como uma
569
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ojos y nada más…
(ZAMORA,
Os primeiros rabiscos dessa
história começaram, como a própria
Frida manifestou, pelos retratos de
amigos e de pessoas conhecidas. Em
seguida, desenhou paisagens
uns esboços de figuras
humanas usando lápis e papel; mas foi
um ano mais tarde que ela pintou seu
primeiro autorretrato (“Autorretrato con
traje de terciopelo”), séria,
contemplativa, aos 19 anos. Uma
pintura em tons mais escuros, com
poucos detalhes, ao e
stilo europeu
inclusive em relação à vestimenta, um
requintado vestido de modelo
renascentista, e ao penteado do
cabelo, um elegante coque
–, ou seja,
ela ainda não expressava de forma
artística a marcante presença de sua
herança indígena. Como fundo da
tela,
Frida pintou o mar com tom azul
escuro, profundo e soturno, como
mbolo de sua vida”, conforme
contou por meio de uma carta
destinada a Alejandro Arias, seu
namorado da época e para quem fez a
aquarela (ZAMORA, 2007). A partir do
to, no entanto, seu
estilo passa a ser outro, como uma
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
mulher do povo, uma mexicana. De
acordo com Herrera (2011, p.140
grifos do autor),
sua
blusa rendada é um exemplar
típico das roupas baratas
vendidas no México em bancas
do mercado, e suas joias
bri
ncos de estilo colonial e contas
de jade pré-
colombianas
simbolizam a identificação da
pintora como
mestiza
que provém do cruzamento de
sangue indígena e espanhol. Em
outra época eu me vestia como
menino, com cabelo raspado,
calças, botas e jaqu
eta de couro,
Frida disse certa vez. Mas
quando eu ia ver Diego punha um
traje tehuano”.
A arte, todavia, segundo
Zamora (2007), havia entrado na
vida de Frida um pouco antes do
acidente, ainda que indiretamente. Ela,
em idade escolar, viu o famoso
muralista Diego Rivera pintar, em
1921, no colégio onde estudava, o
mural “La creación”, o qual muito
tempo depois foi destruído por um
movimento estudantil. Nessa época, já
irreverente, Frida contemplava o
trabalho de Diego, fazia todo o tipo de
brincadei
ras com ele e
provocava o ciúme da então esposa
do pintor, Lupe Marín. Um tempo mais
tarde, após sua parcial recuperação do
acidente, e tomada pelo anseio da
aprovação de sua arte, a pintora levou
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
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(Fluxo contínuo)
mulher do povo, uma mexicana. De
acordo com Herrera (2011, p.140
,
blusa rendada é um exemplar
típico das roupas baratas
vendidas no México em bancas
do mercado, e suas joias
ncos de estilo colonial e contas
colombianas
simbolizam a identificação da
mestiza
(pessoa
que provém do cruzamento de
sangue indígena e espanhol. “Em
outra época eu me vestia como
menino, com cabelo raspado,
eta de couro”,
Frida disse certa vez. “Mas
quando eu ia ver Diego punha um
A arte, todavia, segundo
Zamora (2007), já havia entrado na
vida de Frida um pouco antes do
acidente, ainda que indiretamente. Ela,
em idade escolar, viu o famoso
muralista Diego Rivera pintar, em
1921, no colégio onde estudava, o
mural La creación, o qual muito
tempo depois foi destruído por um
movimento estudantil. Nessa época,
irreverente, Frida contemplava o
trabalho de Diego, fazia todo o tipo de
ras com ele e
, inclusive,
provocava o ciúme da então esposa
do pintor, Lupe Marín. Um tempo mais
tarde, após sua parcial recuperação do
acidente, e tomada pelo anseio da
aprovação de sua arte, a pintora levou
quatro telas para que Diego
avaliasse, enqua
nto ele pintava mais
um de seus murais na Secretaria de
Educação da
Cidade do México.
O artista, muito simpático,
disse-
lhe que seu autorretrato parecia
ser muito original, mas que os outros,
de natureza diferente, pareciam ser
resultado de influências ext
outros artistas. Sugeriu
pintasse outro quadro e que voltasse
no próximo domingo
foi o que Frida fez,
e o famoso pintor,
reconhecido mundialmente, anuiu o
talento da jovem. Ela, de acordo com
Zamora (2007), volto
u outras inúmeras
vezes para visitar Diego, quando o
romance entre os dois começou; e
muito mais tardiamente, em 1929, os
dois artistas se casaram, sob
desaprovação da família de Frida:
“decían que era como casar a
elefante com un
a paloma (ZAMORA,
2007, p. 40).
Pouco tempo após o
casamento, o casal mudou
estado mexicano
instalando-se na
conhecida cidade de
Cuernavaca, onde Diego pintou um
mural no Palácio de Cortés,
patrocinado pelo embaixador
americano Dwight W. Morrow, trabalho
570
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
quatro telas para que Diego
as
nto ele pintava mais
um de seus murais na Secretaria de
Cidade do México.
O artista, muito simpático,
lhe que seu autorretrato parecia
ser muito original, mas que os outros,
de natureza diferente, pareciam ser
resultado de influências ext
ernas, de
outros artistas. Sugeriu
-lhe, então, que
pintasse outro quadro e que voltasse
no próximo domingo
para lhe mostrar;
e o famoso pintor,
reconhecido mundialmente, anuiu o
talento da jovem. Ela, de acordo com
u outras inúmeras
vezes para visitar Diego, quando o
romance entre os dois começou; e
não
muito mais tardiamente, em 1929, os
dois artistas se casaram, sob
desaprovação da família de Frida:
dean que era como casar a
um
a paloma” (ZAMORA,
Pouco tempo após o
casamento, o casal mudou
-se para o
de Morelos,
conhecida cidade de
Cuernavaca, onde Diego pintou um
mural no Palácio de Cortés,
patrocinado pelo embaixador
americano Dwight W. Morrow, trabalho
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
que lhe rendeu um valor muito alto
para a época (ZAMORA, 2007). Mais
tarde, em meio a conflitos políticos e a
desvalorização da arte muralista no
México, Frida e Diego viajaram para os
Estados Unidos para que ele pintasse
murais pelos quais fora contratad
onde também deu aula de afrescos
(HERRERA, 2011).A
ssim, passaram
pelas cidades de São Francisco,
Detroit e Nova York.
Conforme
(2007), foi uma época muito diferente
na vida do casal, principalmente para
Frida, que teve de se reinventar para
que
não lhe restasse o papel de
coadjuvante como esposa do grande
protagonista da arte muralista, Diego
Rivera, perdendo o brilho a que estava
destinada. A
biógrafa da pintora
descreve
aqueles momentos:
[...] (Frida)
se codeaba con
embajadores, grandes
empresarios como los Ford y los
Rockefeller, perfeccionaba su
inglés, que llegó a dominar
incluso en expresiones
idiomáticas y juegos de palabras;
pulía más y más su imagen y su
incisivo humor. Creaba con
cuidado el esp
ectáculo de su
presencia para atraer la atención
y así no quedar constreñida al
papel de la esposa del maestro y
pintaba algunos cuadros,
principalmente retratos de las
personas que los rodeaban en
esas ciudades (ZAMORA, 2007,
p. 43).
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
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(Fluxo contínuo)
que lhe rendeu um valor muito alto
para a época (ZAMORA, 2007). Mais
tarde, em meio a conflitos políticos e a
desvalorização da arte muralista no
México, Frida e Diego viajaram para os
Estados Unidos para que ele pintasse
murais pelos quais fora contratad
o, e
onde também deu aula de afrescos
ssim, passaram
pelas cidades de São Francisco,
Conforme
Zamora
(2007), foi uma época muito diferente
na vida do casal, principalmente para
Frida, que teve de se reinventar para
não lhe restasse o papel de
coadjuvante como esposa do grande
protagonista da arte muralista, Diego
Rivera, perdendo o brilho a que estava
biógrafa da pintora
aqueles momentos:
se codeaba con
embajadores, grandes
empresarios como los Ford y los
Rockefeller, perfeccionaba su
inglés, que llegó a dominar
incluso en expresiones
idiomáticas y juegos de palabras;
pulía más y más su imagen y su
incisivo humor. Creaba con
ectáculo de su
presencia para atraer la atención
y así no quedar constreñida al
papel de la esposa del maestro y
pintaba algunos cuadros,
principalmente retratos de las
personas que los rodeaban en
esas ciudades (ZAMORA, 2007,
Por onde passava, F
marcava com sua presença exótica e,
particularmente, gostava do efeito
disso. Segundo Herrera (2011), ao
contrário do que se poderia imagina
Diego não sentia ciúmes, mas se
orgulhava de Frida e da atenção que
ela recebia, o que aparecia de forma
con
stante em seus relatos, como
quando contou sobre uma festa para
qual foram convidados por Henry Ford,
empreendedor e engenheiro
mecânico, dono da
Company
: “Linda em seu traje
mexicano, Frida tornou
atrações. Ford dançou com ela várias
vezes” (HERRERA, 2011, p. 172).
Todavia, a despeito des
aparente tranquilidade, de luxo e de
glamour, Zamora (2007) salienta que
foi um tempo difícil em ou
aspectos. O trabalho de Diego, apesar
da valorização da arte muralista e de
seu sucesso, sofreu duras críticas,
tanto pelos resultados quanto pelo seu
teor político. Chegou a ter destruído o
seu mural no Rockefeller Center de
Nova York, acusado por al
todos sabiam, fazia parte de seu
repertório e constituía sua própria
essência como alguém que conhecia a
si próprio e que se posicionava como
571
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Por onde passava, F
rida
marcava com sua presença exótica e,
particularmente, gostava do efeito
disso. Segundo Herrera (2011), ao
contrário do que se poderia imagina
r,
Diego não sentia ciúmes, mas se
orgulhava de Frida e da atenção que
ela recebia, o que aparecia de forma
stante em seus relatos, como
quando contou sobre uma festa para
a
qual foram convidados por Henry Ford,
empreendedor e engenheiro
menico, dono da
Ford Motor
: Linda em seu traje
mexicano, Frida tornou
-se o centro das
atrações. Ford dançou com ela várias
vezes” (HERRERA, 2011, p. 172).
Todavia, a despeito des
sa
aparente tranquilidade, de luxo e de
glamour, Zamora (2007) salienta que
foi um tempo difícil em ou
tros
aspectos. O trabalho de Diego, apesar
da valorização da arte muralista e de
seu sucesso, sofreu duras críticas,
tanto pelos resultados quanto pelo seu
teor político. Chegou a ter destruído o
seu mural no Rockefeller Center de
Nova York, acusado por al
go que,
todos sabiam, já fazia parte de seu
repertório e constituía sua própria
essência como alguém que conhecia a
si próprio e que se posicionava como
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
tal, ou seja, o seu perfil socialista,
altamente de esquerda. Por seu lado,
após quatro anos vivendo no
Unidos,
Frida sentia saudades do
México e das pessoas de lá,
empreendesse
curtas visitas a seu
querido país. Nesse período, ela
perdeu sua mãe e sofreu sérios
problemas ginecológicos, resultados
de um aborto, algo que deixou
expresso em um
quadro que recebeu
o nome do hospital para o qual foi
levada e no qual permaneceu
aproximadamente 15 dias
Henry Ford”.
Também nessa época
muito cansada do tecnicismo e da
falta de humanidade americana, ela
pintou um quadro que fug
estândares de sua pintura: Mi Vestido
Cuelga
Ahí”, no qual, ironicamente,
mostra um vestido sozinho, sem
nenhuma figura humana, como era
natural nas pinturas de Frida. Mas,
independentemente dessa
peculiaridade, a obra
é considerada
um autorretrato
devido à presença de
sua marca (elemento atrator): a roupa
tipicamente tehuana.
Nessa tela, feita à tinta óleo e
colagem, a única com esta técnica,
Frida
imprime uma profuo de
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
tal, ou seja, o seu perfil socialista,
altamente de esquerda. Por seu lado,
após quatro anos vivendo no
s Estados
Frida sentia saudades do
México e das pessoas de lá,
embora
curtas visitas a seu
querido país. Nesse período, ela
perdeu sua mãe e sofreu sérios
problemas ginecológicos, resultados
de um aborto, algo que deixou
quadro que recebeu
o nome do hospital para o qual foi
levada e no qual permaneceu
aproximadamente 15 dias
“Hospital
Também nessa época
, em1933,
já muito cansada do tecnicismo e da
falta de humanidade americana, ela
pintou um quadro que fug
ia dos
estândares de sua pintura: “Mi Vestido
Ahí, no qual, ironicamente,
mostra um vestido sozinho, sem
nenhuma figura humana, como era
natural nas pinturas de Frida. Mas,
independentemente dessa
é considerada
devido à presença de
sua marca (elemento atrator): a roupa
Nessa tela, feita à tinta óleo e
colagem, a única com esta técnica,
imprime uma profusão de
imagens, construídas detalhe a
detalhe, em uma entrega artística que
começava a lhe
ser característica.
De acordo com Kettenmann (2015, p.
36), o quadro “está repleto de
símbolos da sociedade industrial da
América
moderna e aponta para a
decadência social e para a destruição
de valores humanos fundamentais”. A
artista mexicana começou sua obra
quando estava farta dos Estados
Unidos, enquanto ela e Diego Rivera
moravam em Nova York e já haviam
passado todo tipo de
recepções nas casas de grandes
influências americanas, festas e
luxuosos jantares, a escândalos
políticos e humilhações públicas
devido aos posicionamentos políticos
socialistas de Diego, que renderam
muitas manchetes jornalísticas,
conforme
elucida Herrera (2011).
Atrás do referido quadro, a
artista escreveu com giz a seguinte
frase: “Pintei este quadro em Nova
York, quando Diego estava pintando o
mural no Rockefeller Center
(HERRERA, 2011, p. 215). Algum
tempo depois, Frida Kahlo presenteo
a pintura a seu grande amigo, o
médico torácico Leo Eloesser, o qual
conheceu enquanto esteve internada
572
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
imagens, construídas detalhe a
detalhe, em uma entrega artística que
ser característica.
De acordo com Kettenmann (2015, p.
36), o quadro está repleto de
mbolos da sociedade industrial da
moderna e aponta para a
decadência social e para a destruição
de valores humanos fundamentais”. A
artista mexicana começou sua obra
quando já estava farta dos Estados
Unidos, enquanto ela e Diego Rivera
moravam em Nova York e haviam
passado todo tipo de
situação: de
recepções nas casas de grandes
influências americanas, festas e
luxuosos jantares, a escândalos
políticos e humilhações públicas
devido aos posicionamentos políticos
socialistas de Diego, que renderam
muitas manchetes jornalísticas,
elucida Herrera (2011).
Atrás do referido quadro, a
artista escreveu com giz a seguinte
frase: Pintei este quadro em Nova
York, quando Diego estava pintando o
mural no Rockefeller Center”
(HERRERA, 2011, p. 215). Algum
tempo depois, Frida Kahlo presenteo
u
a pintura a seu grande amigo, o
médico torácico Leo Eloesser, o qual
conheceu enquanto esteve internada
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
em São Francisco, em quem confiava
e sempre escrevia cartas contando
sobre
sua vida e pedindo conselhos
sobre sua saúde.
Ainda acerca de
Mi Vestido
Cuelga
Ahí”, Frida gravou toda sua
perplexidade diante do capitalismo dos
Estados Unidos, que contrastava em
demasia com seus valores e com o
México vivo, pulsante, natural, colorido
e humano que sempre aparecia em
suas obras porque constituía sua
própria
essência, a qual nunca foi
abandonada, apesar do tempo vivido
em outro país. Essa natureza
mexicana é mostrada tanto nas roupas
típicas que Frida seguia usando,
mesmo na “Gringolândia”, quanto em
suas pinturas. Aliás, a
s roupas de
estilo indígena aparecerã
o em outras
tantas produções artísticas suas, com
variações de cores e tonalidades
Frida Kahlo teve uma vida
intensa. Sorriu, chorou, lamentou
sofreu, amou, lutou. Lutou como
ninguém por si própria e por seu povo.
Também a
mou como ninguém. Amou
a todo
s que a rodearam. Amou a arte
porque ela foi a
sua salvão. Um ano
após sua única exposição no México
enquanto estava viva e alguns dias
depois de participar de uma
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
em São Francisco, em quem confiava
e sempre escrevia cartas contando
sua vida e pedindo conselhos
“Mi Vestido
Ahí, Frida gravou toda sua
perplexidade diante do capitalismo dos
Estados Unidos, que contrastava em
demasia com seus valores e com o
México vivo, pulsante, natural, colorido
e humano que sempre aparecia em
suas obras porque constituía sua
essência, a qual nunca foi
abandonada, apesar do tempo vivido
em outro país. Essa natureza
mexicana é mostrada tanto nas roupas
típicas que Frida seguia usando,
mesmo na Gringolândia, quanto em
s roupas de
o em outras
tantas produções artísticas suas, com
variações de cores e tonalidades
.
Frida Kahlo teve uma vida
intensa. Sorriu, chorou, lamentou
-se,
sofreu, amou, lutou. Lutou como
ninguém por si própria e por seu povo.
mou como ninguém. Amou
s que a rodearam. Amou a arte
sua salvação. Um ano
após sua única exposição no México
enquanto estava viva e alguns dias
depois de participar de uma
manifestação comunista, faleceu em
sua casa, em 13 de julho de 1954.
Segundo Herrera (2011
certidão de óbito apontar a causa da
morte como embolia pulmonar, muitos
dizem que foi suicídio devido às pistas
que a artista deixou
:
os atos fúnebres e o conteúdo das
últimas páginas de seu diário, nas
quais desenhou um anj
provavelmente o anjo da morte
onde escreveu “Espero alegre
y espero no volver jamás (KAHLO,
2014, p. 285).
Poucos anos depois de sua
morte, a casa onde nasceu, viveu e
morreu, a Casa Azul, tornou
Museu Frida Kahlo, mantido em quas
sua totalidade como na época em que
Frida ali viveu
, tornando
físico a própria extensão de seu corpo.
A maioria dos objetos pessoais da
artista, como os vestidos, no entanto,
ficaram
guardados por muito tempo
visto que foram
encontrados
de 2004, no banheiro da Casa Azul,
conforme
Henestrosa (2012)
descoberta, criou-
se uma exposição
na própria casa, La
engañan”, para que o público
conhecesse de perto as peças que
exprimem seu estilo e sua identidade,
573
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
manifestação comunista, faleceu em
sua casa, em 13 de julho de 1954.
Segundo Herrera (2011
), apesar de a
certidão de óbito apontar a causa da
morte como embolia pulmonar, muitos
dizem que foi suidio devido às pistas
:
conversar sobre
os atos fúnebres e o conteúdo das
últimas páginas de seu diário, nas
quais desenhou um anj
o
provavelmente o anjo da morte
e
onde escreveu Espero alegre
la salida
y espero no volver jamás (KAHLO,
Poucos anos depois de sua
morte, a casa onde nasceu, viveu e
morreu, a Casa Azul, tornou
-se o
Museu Frida Kahlo, mantido em quas
e
sua totalidade como na época em que
, tornando
o espaço
físico a própria extensão de seu corpo.
A maioria dos objetos pessoais da
artista, como os vestidos, no entanto,
guardados por muito tempo
,
encontrados
no ano
de 2004, no banheiro da Casa Azul,
Henestrosa (2012)
. Após a
se uma exposição
na própria casa, “La
s apariencias
engañan, para que o público
conhecesse de perto as peças que
exprimem seu estilo e sua identidade,
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
as peças q
ue foram e continuam
sendo atratoras de Frida Kahlo.
Frida Kahlo e seus atratores visuais
Na época em que Frida viveu,
no
início do século XX, o
conservadorismo nas vestimentas, ao
mais puro estilo europeu, herança do
colonialismo, predominava em seu
país. A pintora mexicana, como
sempre mostrou em sua história, não
se entregava ao óbvio e, por isso,
passou a ousar também em
rompendo essa barreira do tradicional.
Devido à deformidade em sua perna
esquerda, causada pela poliomielite,
obrigou-
se a usar, desde muito cedo,
sapatos com uma pequena plataforma
e a adotar calças
incomum às
mulheres até então
ou saias
E engana-se quem
pensa que para ela
isso se mostrava
um fardo;
contrariando as
expectativas, […]
esmeraba mucho al crear su estilo, de
pies a cabeza, adornándose ella
misma con las sedas, rebozos, lazos y
faldas más espectaculares, siempre
acompañados por joyería
prehispánica, en plata u oro
(HENESTROSA, 2012, p. 2).
As roupas, assim como as
pint
uras, as cartas e o diário, atuavam
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
ue foram e continuam
sendo atratoras de Frida Kahlo.
Frida Kahlo e seus atratores visuais
Na época em que Frida viveu,
início do século XX, o
conservadorismo nas vestimentas, ao
mais puro estilo europeu, herança do
colonialismo, predominava em seu
país. A pintora mexicana, como
sempre mostrou em sua história, não
se entregava ao óbvio e, por isso,
passou a ousar também em
seu estilo,
rompendo essa barreira do tradicional.
Devido à deformidade em sua perna
esquerda, causada pela poliomielite,
se a usar, desde muito cedo,
sapatos com uma pequena plataforma
incomum às
ou saias
longas.
pensa que para ela
um fardo;
expectativas, “[…]
se
esmeraba mucho al crear su estilo, de
pies a cabeza, adornándose ella
misma con las sedas, rebozos, lazos y
faldas más espectaculares, siempre
acompañados por joyería
prehispánica, en plata u oro”
(HENESTROSA, 2012, p. 2).
As roupas, assim como as
uras, as cartas e o diário, atuavam
como uma forma de comunicação.
Essas escolhas visuais transformavam
a mulher fragilizada pela doença, pelo
acidente e pelos abortos em alguém
forte, magnético
conhecia seu efeito sedutor e o poder
que as v
estes tinham
tendo
de representar quem as usa e
fez isso a seu favor. Segundo
Henestrosa (2012), quando saía à rua,
as crianças perguntavam a ela onde
estava o circo; os amigos, por sua vez,
questionavam se as peças de estilos,
texturas e core
combinavam. E ela, ignorando tais
comentários, até porque sabia que ali
residia a sua força e o seu escape dos
problemas, seguia arrumando
primorosamente todos os dias
Recordando a seção a respeito
do percurso de leitores e de leitura,
nes
sa época, em meio à exploo
demográfica, à intensificação
capitalista e ao surgimento das
metrópoles
também
seção sobre a
Revolução Mexicana
deu-
se a transição entre o leitor das
formas fixas, o contemplativo, para o
leitor das formas din
movente, o qual começava a se
acostumar com novos ritmos de
atenção. É esse leitor que observa a
574
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- ISSN 2237-1508
como uma forma de comunicação.
Essas escolhas visuais transformavam
a mulher fragilizada pela doença, pelo
acidente e pelos abortos em alguém
forte, magnético
atrator. Ela
conhecia seu efeito sedutor e o poder
estes tinham
e seguem
de representar quem as usa e
fez isso a seu favor. Segundo
Henestrosa (2012), quando saía à rua,
as crianças perguntavam a ela onde
estava o circo; os amigos, por sua vez,
questionavam se as peças de estilos,
texturas e core
s diferentes
combinavam. E ela, ignorando tais
comentários, até porque sabia que ali
residia a sua força e o seu escape dos
problemas, seguia arrumando
-se
primorosamente todos os dias
.
Recordando a seção a respeito
do percurso de leitores e de leitura,
sa época, em meio à explosão
demográfica, à intensificação
capitalista e ao surgimento das
também
mostrada na
Revolução Mexicana
–,
se a transição entre o leitor das
formas fixas, o contemplativo, para o
leitor das formas din
âmicas, o
movente, o qual começava a se
acostumar com novos ritmos de
atenção. É esse leitor que observa a
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
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Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
presença das cores, das texturas, das
formas atratoras diferenciadas usadas
por Frida Kahlo. Seus olhos não
estavam acostumados a essa
vivacidade, ao dress-code
um bodyscape
que impunha uma
atitude estética, apesar de todo
contexto tradicional; e, por isso, aos
poucos, as configurações kahlianas
quanto ao estilo de arte e de
vestimentas
foram conquistando os
leitores de diversas partes
primeiro os estrangeiros, os quais viam
na artista um nome para o movimento
surrealista.
Porém, s
obre essa posvel
influência do surrealismo
, a própria
Frida negava com veemência: ela
afirmava que pintava o que vinha em
sua cabeça, sem conside
nada, ainda que suas produções
demonstrassem claramente suas
peculiaridades
surrealistas, conforme
destaca Herrera (2011). Talvez isso
representasse a ela uma tentativa de
mostrar a originalidade de sua arte e
ainda, exercer
um posvel
afastamento das influências
estrangeiras, embora
Frida soubesse
que “o rótulo do surrealismo a ajudaria
a conquistar a aclamação da crítica, e
ela ficou feliz de ser aceita nos rculos
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
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(Fluxo contínuo)
presença das cores, das texturas, das
formas atratoras diferenciadas usadas
por Frida Kahlo. Seus olhos não
estavam acostumados a essa
imposto por
que impunha uma
atitude estética, apesar de todo
contexto tradicional; e, por isso, aos
poucos, as configurações kahlianas
quanto ao estilo de arte e de
foram conquistando os
leitores de diversas partes
do mundo
primeiro os estrangeiros, os quais viam
na artista um nome para o movimento
obre essa possível
, a própria
Frida negava com veemência: ela
afirmava que pintava o que vinha em
sua cabeça, sem conside
rar mais
nada, ainda que suas produções
demonstrassem claramente suas
surrealistas, conforme
destaca Herrera (2011). Talvez isso
representasse a ela uma tentativa de
mostrar a originalidade de sua arte e
,
um possível
afastamento das influências
Frida soubesse
que o rótulo do surrealismo a ajudaria
a conquistar a aclamação da crítica, e
ela ficou feliz de ser aceita nos círculos
surrealistas” (HERRERA, 2011, p.
309). E foi com esse títu
surrealista, dado pelo principal mentor
do movimento, e seu amigo particular,
André Breton, que ela ficou conhecida
por todo o mundo, mesmo que suas
escolhas não representassem o
universo onírico, abstrato e irreal do
movimento, mas a trágic
seus próprios pesadelos reais, aliada
ao traço cultural
de sua subjetividade,
em adesão à estética de um país que
se assume como periférico, apesar de
centro vivo que alimenta a arte de
Kahlo. Dor e nacionalidade, erotismo e
cultura, criação
e nativismo estão na
obra de alguém que não se assume
como representante de qualquer
movimento que o
aflições e as alegrias do México vivo.
Ao aplicar uma semiótica
espontânea ao próprio corpo, Frida
Kahlo assumiu-
se
bodyscape.
Isso significa que, vivendo
no interstício entre as formas
tradicionais e fixas, e as formas
modernas e flutuantes, já que se
mostrava além de seu tempo, a artista
transformou-
se numa intérprete ativa
de sua location,
revoluções.
Logo, com ta
ela mesma passou a narrar, por meio
575
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
surrealistas” (HERRERA, 2011, p.
309). E foi com esse títu
lo, de artista
surrealista, dado pelo principal mentor
do movimento, e seu amigo particular,
André Breton, que ela ficou conhecida
por todo o mundo, mesmo que suas
escolhas não representassem o
universo onírico, abstrato e irreal do
movimento, mas a trágic
a realidade de
seus próprios pesadelos reais, aliada
de sua subjetividade,
em adesão à estética de um país que
se assume como periférico, apesar de
centro vivo que alimenta a arte de
Kahlo. Dor e nacionalidade, erotismo e
e nativismo estão na
obra de alguém que não se assume
como representante de qualquer
movimento que não
simbolize as
aflições e as alegrias do México vivo.
Ao aplicar uma semiótica
espontânea ao próprio corpo, Frida
se
portadora de
Isso significa que, vivendo
no interstício entre as formas
tradicionais e fixas, e as formas
modernas e flutuantes, que se
mostrava além de seu tempo, a artista
se numa intérprete ativa
o México das
Logo, com ta
is mudanças,
ela mesma passou a narrar, por meio
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
de seu corpo e dos cuidados com sua
imagem
ainda que seu interior
estivesse dilacerado –,
“[...] as próprias
mudanças comunicacionais e os
próprios desejos sensoriais: isto é, é a
comunicação, entrelaçada
ao consumo
e à cultura, que aqui redefine as
fisionomias recortadas ao invés da
sociedade” (CANEVACCI, 2008, p.
32).
No primeiro casamento com
Diego
após o divórcio, ocorrido por
solicitação de Diego em 1939, eles se
casaram novamente no ano de 1940
(HERRERA, 2011),
Frida Kahlo
começou a mostrar sua tendência à
valorização da cultura do México
tradicional, a principal marca como
bodyscape
, que cria seu
assim como também realizou mais
uma de suas reprimendas ao
colonialismo europeu e às cons
intervenções norte-
americanas
se vestindo
uma tradicional
tehuana
, a qual pegou emprestada de
uma criada indígena (HERRERA,
2011). Nas palavras de Herrera (2011
p. 140
), com essa conduta, Frida
[...] estava escolhendo uma nova
identida
de, o que ela fez com
todo o fervor de uma freira que
toma o véu. Mesmo em menina,
para Frida as roupas eram uma
espécie de linguagem, e a partir
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
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(Fluxo contínuo)
de seu corpo e dos cuidados com sua
ainda que seu interior
[...] as próprias
mudanças comunicacionais e os
próprios desejos sensoriais: isto é, é a
ao consumo
e à cultura, que aqui redefine as
fisionomias recortadas ao invés da
sociedade (CANEVACCI, 2008, p.
No primeiro casamento com
após o divórcio, ocorrido por
solicitação de Diego em 1939, eles se
casaram novamente no ano de 1940
Frida Kahlo
começou a mostrar sua tendência à
valorização da cultura do México
tradicional, a principal marca como
, que cria seu
dress-code,
assim como também realizou mais
uma de suas reprimendas ao
colonialismo europeu e às cons
tantes
americanas
: casou-
uma tradicional
roupa
, a qual pegou emprestada de
uma criada indígena (HERRERA,
2011). Nas palavras de Herrera (2011
,
), com essa conduta, Frida
[...] estava escolhendo uma nova
de, o que ela fez com
todo o fervor de uma freira que
toma o véu. Mesmo em menina,
para Frida as roupas eram uma
espécie de linguagem, e a partir
de seu casamento
relações entre roupas e
autoimagem
, e entre estilo
pessoal e estilo de pintura,
formam uma das tramas
secundárias do desenrolar de seu
drama.
O referido traje típico mexicano
pertence
às mulheres do
Tehuantepec (localizado no sudeste
do estado mexicano de Oaxaca), onde
vivem em
uma sociedade matriarcal,
em que elas são responsáveis pelos
mercados e pelas questões fiscais,
além de possuírem controle sobre os
homens (HERRERA, 2011). Ademais,
são célebres por sua imponência,
sensualidade, astúcia, coragem e
força, como, aliás, Frida
mostrou,
apesar de não pertencer a
essa comunidade
sua mãe era, sim,
descendente de indígenas mexicanas,
mas seu pai era alemão. O vestido
típico tehuano
, presença constante
nas telas, como apresentado
anteriormente, e na vestimenta diária
de
Frida, de acordo com Herrera
(2011, p.140),
era constituído por um bluo
bordado e uma saia comprida,
geralmente de veludo vermelho
ou púrpura, com uma prega de
algodão branco na bainha. Os
acessórios incluem correntes de
ouro e colares de moedas de
ouro
, que constituem o
arduamente conquistado dote das
576
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- ISSN 2237-1508
de seu casamento
as intricadas
relações entre roupas e
, e entre estilo
pessoal e estilo de pintura,
formam uma das tramas
secundárias do desenrolar de seu
O referido traje típico mexicano
às mulheres do
Istmo de
Tehuantepec (localizado no sudeste
do estado mexicano de Oaxaca), onde
uma sociedade matriarcal,
em que elas o responsáveis pelos
mercados e pelas questões fiscais,
além de possuírem controle sobre os
homens (HERRERA, 2011). Ademais,
o lebres por sua imponência,
sensualidade, astúcia, coragem e
força, como, aliás, Frida
sempre se
apesar de não pertencer a
sua mãe era, sim,
descendente de indígenas mexicanas,
mas seu pai era alemão. O vestido
, presença constante
nas telas, como apresentado
anteriormente, e na vestimenta diária
Frida, de acordo com Herrera
era constituído por um blusão
bordado e uma saia comprida,
geralmente de veludo vermelho
ou púrpura, com uma prega de
algodão branco na bainha. Os
acessórios incluem correntes de
ouro e colares de moedas de
, que constituem o
arduamente conquistado dote das
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
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PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
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202
moças, em, em ocasiões
especiais, um primoroso adorno
de cabeça com plissês rendados
e engomados, semelhantes a um
rufo elisabetano de tamanho fora
do comum.
Nesse sentido, o
tehuano constitui a p
resença identitária
de Frida, o seu
dress
escancara a voz polifônica, postura
que, como bodyscape
, ela assumiu ao
fazer suas escolhas para uma vida. O
estilo de Frida não se configurou como
uma predileção
fugaz, mas algo que
de fato sempre
a representou. Sua
personalidade e suas escolhas
destoavam e, analogamente, ecoavam
sobre os códigos
convencionais
manifestados social e historicamente
na location
onde estava situada
fisicamente, o México tradicional do
início do século XX
que sua m
sempre esteve num
além de
Canevacci (2008) reiter
ou
do bodyscape
. Seu corpo, na época,
transformou-
se no espaço cultural,
como corpo expandido, que buscava
mostrar também em suas pinturas;
uma fusão de cores e de tradições, um
mix de
linguagens, a visão de alguém
que, por sua história, o mostrava
a preocupação com os olhares rígidos
e questionadores de uma sociedade
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
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202
2.
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(Fluxo contínuo)
moças, em, em ocasiões
especiais, um primoroso adorno
de cabeça com plissês rendados
e engomados, semelhantes a um
rufo elisabetano de tamanho fora
Nesse sentido, o
vestido
resença identitária
dress
-code, que
escancara a voz polifônica, postura
, ela assumiu ao
fazer suas escolhas para uma vida. O
estilo de Frida não se configurou como
fugaz, mas algo que
a representou. Sua
personalidade e suas escolhas
destoavam e, analogamente, ecoavam
convencionais
,
manifestados social e historicamente
onde estava situada
fisicamente, o México tradicional do
já que sua m
ente
além de
, como
ou
a respeito
. Seu corpo, na época,
se no espaço cultural,
como corpo expandido, que buscava
mostrar também em suas pinturas;
uma fuo de cores e de tradições, um
linguagens, a vio de alguém
que, por sua história, já não mostrava
a preocupação com os olhares rígidos
e questionadores de uma sociedade
que se penalizava de sua dor.
Frida Kahlo decidiu, assim como seus
heróis nacionais, revolucionar.
Sua prime
ira aparição como
ícone de estilo
ocorreu
Vogue em outubro de 1937, como
Henestrosa (2012, p. 2) registra:
Fue cuando la visionaria directora
de la revista, Edna Woolman
(desde1914 hasta 1952), la
retrató por primera vez en sus
páginas. Por med
Toni Frissell inmortalizó la imagen
de la mujer que se convertiría e
una de las artistas más
emblemáticas del siglo XX.
Obsesionada con la dimensión
visual de sí misma, ya antes de
su primera exhibición individual
Kahlo captó la atención de las
revistas de moda con de su
personalidad y su arte, como lo
ha hecho en los últi
inspirando desde entonces a
tantos diseñadores.
Ainda segundo Henestrosa
(2012), em seguida, vieram outros
reconhecedores de seu fazer
como André Breton e a exposição
“Mexique”, em Paris, no ano de 1939,
com a presença da própria Fri
acordó
com Henestrosa (
“su vestido étnico tehuano causó tanta
sensación entre las élites europeas
que se dice que la diseñadora estrella
de aquel entonces, Elsa Schiaparelli,
creó un vestido llamado
Madame Rivera
(el vestido Mad
577
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
que se penalizava de sua dor.
Então,
Frida Kahlo decidiu, assim como seus
heróis nacionais, revolucionar.
ira aparição como
ocorreu
na revista
Vogue em outubro de 1937, como
Henestrosa (2012, p. 2) registra:
Fue cuando la visionaria directora
de la revista, Edna Woolman
(desde1914 hasta 1952), la
retrató por primera vez en sus
páginas. Por med
io de su lente,
Toni Frissell inmortalizó la imagen
de la mujer que se convertiría e
n
una de las artistas más
emblemáticas del siglo XX.
Obsesionada con la dimensión
visual de sí misma, ya antes de
su primera exhibición individual
Kahlo captó la atención de las
revistas de moda con de su
personalidad y su arte, como lo
ha hecho en los últi
mos 75 años,
inspirando desde entonces a
tantos diseñadores.
Ainda segundo Henestrosa
(2012), em seguida, vieram outros
reconhecedores de seu fazer
-se arte,
como André Breton e a exposição
Mexique, em Paris, no ano de 1939,
com a presença da própria Fri
da. De
com Henestrosa (
2012, p. 2),
su vestido étnico tehuano causó tanta
sensación entre las élites europeas
que se dice que la diseñadora estrella
de aquel entonces, Elsa Schiaparelli,
creó un vestido llamado
La Robe
(el vestido Mad
ame
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
Rivera), en su honor”.
Após sua morte,
Frida seguiu influenciando os artistas
da moda, a exemplo de Jean Paul
Gaultier e
Christian Lacroix
sua coleção primavera
-
1998,
homenagearam a pintora
mexicana. Posteriormente
, foi a vez de
Kris
Van Assche, no outono de 2002;
no ano de 2005, os estilistas britânicos
Clements
Riveiro e Temperly
também se renderam ao seu universo
surreal. Tao Kurhara, em 2009, exibiu
bonecas escandinavas com
referências a Frida; em 2012, Rei
Kawakubo mestre
de Tao Kurhara
apresentou sua coleção
White Drama
(“Drama Branco”), na qual “
color y materiales como satén y encaje
blanco, llevó al espectador
hacia
el universo de Frida
salienta Henestrosa (2012, p. 3).
Com isso, como um
e por meio de uma maior exposição
midiática, pela qual o filme Frida
produzido em 2002 por
Julie Taymo
inspirado na obra
Frida: a biografia
Hayden Herrera (2011)
responsável, a artista
chegou aos
olhos e aos ouvidos, como um
design
(CANEVACCI, 2008), dos
novos leitores que começavam a
aparecer,
atraídos pelas escolhas
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Após sua morte,
Frida seguiu influenciando os artistas
da moda, a exemplo de Jean Paul
Christian Lacroix
, que em
-
verão, em
homenagearam a pintora
, foi a vez de
Van Assche, no outono de 2002;
no ano de 2005, os estilistas britânicos
Riveiro e Temperly
London
também se renderam ao seu universo
surreal. Tao Kurhara, em 2009, exibiu
bonecas escandinavas com
referências a Frida; em 2012, Rei
de Tao Kurhara
White Drama
(Drama Branco), na qual
a través del
color y materiales como satén y encaje
blanco, llevó al espectador
en un viaje
el universo de Frida
”, como
salienta Henestrosa (2012, p. 3).
eu-narrador
e por meio de uma maior exposição
midiática, pela qual o filme “Frida”
Julie Taymo
e
Frida: a biografia
, de
também foi
chegou aos
olhos e aos ouvidos, como um
sound-
(CANEVACCI, 2008), dos
novos leitores que começavam a
atraídos pelas escolhas
magnéticas de Frida. O primeiro a ser
conquistado, quando a
a const
ituir parte das rotinas de uma
maior parte da sociedade, foi o
imersivo, que navegando na internet,
começou a adentrar no universo virtual
e a (re)encontrar Frida Kahlo. Esse foi
o momento em que a
como nominou Henestrosa (
começou a alça
r voo, principalmente
quando, em 2004, o guarda
Frida foi descoberto no banheiro da
Casa Azul e, hoje, os objetos
pessoais, como roupas e acesrios,
compõem a exposição
apariencias
engañan
casa.
Com a ascensão das redes
sociais
e o fácil acesso aos
móveis, os
smartphones
começou a acompanhar e a divulgar o
universo de Frida Kahlo. O leitor
ubíquo, ao ser atraído por aquela
imagem intrigante e atratora, por uma
sobrancelha única, flores adornando
os cabelo
s negros, cores e tecidos
extravagantes, além de uma história
forte, comovente e inspiradora,
adjetivos que sempre acompanharão
Frida Kahlo, não apenas contempla e
aprofunda seus conhecimentos sobre
578
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
magnéticas de Frida. O primeiro a ser
conquistado, quando a
web começava
ituir parte das rotinas de uma
maior parte da sociedade, foi o
imersivo, que navegando na internet,
começou a adentrar no universo virtual
e a (re)encontrar Frida Kahlo. Esse foi
o momento em que a
Fridomania,
como nominou Henestrosa (
2012),
r voo, principalmente
quando, em 2004, o guarda
-roupa de
Frida foi descoberto no banheiro da
Casa Azul e, hoje, os objetos
pessoais, como roupas e acessórios,
compõem a exposição
Las
engañan
”, nessa mesma
Com a ascensão das redes
e o fácil acesso aos
aparelhos
smartphones
, outro leitor
começou a acompanhar e a divulgar o
universo de Frida Kahlo. O leitor
ubíquo, ao ser atraído por aquela
imagem intrigante e atratora, por uma
sobrancelha única, flores adornando
s negros, cores e tecidos
extravagantes, além de uma história
forte, comovente e inspiradora,
adjetivos que sempre acompanharão
Frida Kahlo, não apenas contempla e
aprofunda seus conhecimentos sobre
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
ela, como se torna alguém que
efetivamente participa dess
É o leitor que compartilha suas
produções. É o leitor que se inspira em
sua caminhada como personagem
real. N
esse contexto, as lebres
frases de Frida Kahlo
principalmente em seu diário e nas
cartas destinadas aos seus muitos
amigos, insuflam,
mulheres leitoras que possam
fracas, tristes ou desamparadas.
Muitas citações de Frida
fortalecer e dar coragem àquelas que
prec
isam lutar, diariamente, contra a
violência, o preconceito e a
desvalorização. As publicações nas
redes sociais, como no
Instagram
exemplo, conferem significação,
ganham expressividade e dão voz
àqueles leitores que antes se
apresentavam como mero
espectadores.
Em uma pesquisa
rápida na rede social
, ao digitar o
nome “Frida”, numerosos perfis e
hashtags
aparecem na tela, com
intuito comercial ou não. Entre os não
comerciais, estão, por exemplo, os
perfis “Filhas de Frida”, “Todas Frida,
Frida Feminista”, entre outros, que
divulgam as frases mais famosas de
Frida Kahlo
, bem como
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
ela, como se torna alguém que
efetivamente participa dess
a história.
É o leitor que compartilha suas
produções. É o leitor que se inspira em
sua caminhada como personagem
esse contexto, as célebres
frases de Frida Kahlo
, escritas
principalmente em seu diário e nas
cartas destinadas aos seus muitos
amigos, insuflam,
sobremodo,
mulheres leitoras que possam
se sentir
fracas, tristes ou desamparadas.
Muitas citações de Frida
ajudam a
fortalecer e dar coragem àquelas que
isam lutar, diariamente, contra a
violência, o preconceito e a
desvalorização. As publicações nas
Instagram
, por
exemplo, conferem significação,
ganham expressividade e dão voz
àqueles leitores que antes se
apresentavam como mero
s ouvintes-
Em uma pesquisa
, ao digitar o
nome Frida, numerosos perfis e
aparecem na tela, com
intuito comercial ou não. Entre os não
-
comerciais, estão, por exemplo, os
perfis Filhas de Frida, Todas Frida”,
Frida Feminista, entre outros, que
divulgam as frases mais famosas de
, bem como
outras
publicações com frases motivacionais
de autorias diversas
experiências próprias ou de outrem.
Assim, de
bodyscape
alguém que fez uso
de um
intuitivo, um corpo semiótico que atraiu
e segue atraindo, marcado em uma
location
historicamente em luta, Frida
passou a ser um ícone
consumido. Nesse momento, com
essa versão insigne da artista, emerge
o leitor óptico
, não
Santaella quanto a seus perfis leitores,
mas apresentado por Canevacci
(2008). Neste artigo, ressignificamos o
conceito de Canevacci sobre esse
leitor; o autor não especifica que ele se
apresenta como ser humano, mas
suas considerações deix
essa possibilidade interpretativa. Em
seu texto, Canevacci
afirma:
Então, o código de barras é um
formidável indicador para
entender o trânsito da cidade
industrial para a metrópole
comunicacional. É a carta de
identidade da
nome e sobrenome, a sua
residência, a idade, a cor, o
tamanho. É o valor agregado
informacional que assume a
mercadoria no ato de ser vista
por um leitor óptico que
transforma os dados não apenas
e não tanto em preço. O ato
decisivo é bem
em tempo real [...].
579
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
publicações com frases motivacionais
de autorias diversas
e/ou relatos de
experiências próprias ou de outrem.
bodyscape
, como
de um
dress-code
intuitivo, um corpo semiótico que atraiu
e segue atraindo, marcado em uma
historicamente em luta, Frida
passou a ser um ícone
pop altamente
consumido. Nesse momento, com
essa vero insigne da artista, emerge
, não
relacionado por
Santaella quanto a seus perfis leitores,
mas apresentado por Canevacci
(2008). Neste artigo, ressignificamos o
conceito de Canevacci sobre esse
leitor; o autor não especifica que ele se
apresenta como ser humano, mas
suas considerações deix
am em aberto
essa possibilidade interpretativa. Em
seu texto, Canevacci
(2008, p. 96)
Então, o digo de barras é um
formidável indicador para
entender o trânsito da cidade
industrial para a metrópole
comunicacional. É a carta de
identidade da
mercadoria, o seu
nome e sobrenome, a sua
residência, a idade, a cor, o
tamanho. É o valor agregado
informacional que assume a
mercadoria no ato de ser vista
por um leitor óptico que
transforma os dados não apenas
e não tanto em preço. O ato
decisivo é bem
mais complexo
em tempo real [...].
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
O universo de Frida Kahlo, sua
história, suas pinturas, suas produções
escritas
cartas, bilhetes e diário
sua casa, sua vida,
atualmente
desenrolar do
século XXI,
consumo desenfreado, está sendo
consumido por leitores ó
pticos
uma mercadoria
num
fetichista perverso. Esses leitores não
se contentam em admirar, como o
leitor contemplativo; a conhecer pela
rede comunicacional, como o leitor
imersivo
; ou a socializar, como o leitor
ubíquo. Ele precisa consumir.
Portanto, consome
“produtos
”, desde objetos, como
canecas, chaveiros, quadros e
almofadas, até a própria vida de Frida
Kahlo, como acontece com outras
personagens, reais ou fictícias
torna perceptível quando se
número de pessoas que compram os
produtos que estampam sua figura
que se vestem como a artista em
diversas situações, principalmente em
festas e em ensaios fotográficos, ou
que
passam a viver conforme seu
estil
o. Uma breve pesquisa nas redes
sociais revela o quanto esses leitores
visuais ópticos
orgulhosos em mostrarem
artista, mesmo que, talvez,
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
O universo de Frida Kahlo, sua
história, suas pinturas, suas produções
cartas, bilhetes e diário
–,
atualmente
, no
culo XXI,
na era do
consumo desenfreado, está sendo
pticos
como
num
contexto
fetichista perverso. Esses leitores não
se contentam em admirar, como o
leitor contemplativo; a conhecer pela
rede comunicacional, como o leitor
; ou a socializar, como o leitor
ubíquo. Ele precisa consumir.
diferentes
, desde objetos, como
canecas, chaveiros, quadros e
almofadas, até a própria vida de Frida
Kahlo, como acontece com outras
personagens, reais ou fictícias
. Isso se
torna perceptível quando se
nota o
número de pessoas que compram os
produtos que estampam sua figura
,
que se vestem como a artista em
diversas situações, principalmente em
festas e em ensaios fotográficos, ou
passam a viver conforme seu
o. Uma breve pesquisa nas redes
sociais revela o quanto esses leitores
sentem-se
orgulhosos em mostrarem
-se fãs da
artista, mesmo que, talvez,
desconheçam sua verdadeira história
ou extrapolem os limites da admiração
ao assumir-
se como Frida, uma
persona criada por uma lógica
consumista transgressora.
Porém, apesar dessa
dicotômica realidade, que contrasta
em demasia com suas concepções
socialistas, Frida, como sempre
desejou, marcou-
se como um
bodyscape ultra-
passante
denominações de Canevacci (2008).
Nunca se entregou aos problemas, às
fraturas que constanteme
tiravam do prumo. Ao contrário, amou,
lutou e ultrapassou os tempos. Chegou
ao século XXI como alguém que
merece ser lembrado por sua força e
por sua atitude estética que atraiu e
que segue atraindo olhares, como um
imã que nunca perde sua energia,
como um olhar que vê quando
e que consome quando é consumido.
Considerações finais
No início deste artigo,
expusemos os principais objetivos que
buscávamos com o estudo sobre os
atratores de Frida:
recorte sobre o contexto histórico
social, a vida e a obra da artista
mexicana Frida Kahlo, assim como
580
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
desconheçam sua verdadeira história
ou extrapolem os limites da admiração
se como Frida, uma
persona criada por uma lógica
consumista transgressora.
Porém, apesar dessa
dicotômica realidade, que contrasta
em demasia com suas concepções
socialistas, Frida, como sempre
se como um
passante
, usando as
denominações de Canevacci (2008).
Nunca se entregou aos problemas, às
fraturas que constanteme
nte lhe
tiravam do prumo. Ao contrário, amou,
lutou e ultrapassou os tempos. Chegou
ao culo XXI como alguém que
merece ser lembrado por sua força e
por sua atitude estética que atraiu e
que segue atraindo olhares, como um
imã que nunca perde sua energia,
como um olhar que vê quando
é visto,
e que consome quando é consumido.
Considerações finais
No início deste artigo,
expusemos os principais objetivos que
busvamos com o estudo sobre os
atratores de Frida:
apresentar um
recorte sobre o contexto histórico
-
social, a vida e a obra da artista
mexicana Frida Kahlo, assim como
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
realizar uma análise dos elementos
visuais que atraíram diferentes leitores
a partir de uma perspectiva teórica
diferente da fortuna crític
a que ora se
apresenta sobre a pintora. Devido à
natureza do estudo, um artigo de
caráter acadêmico, as ideias que aqui
oferecemos apenas sinalizam todo o
potencial que a pesquisa oferece;
portanto, esperamos que o leitor que
se identifica com
o tema o s
pelo fato de não encontrar o
aprofundamento que, talvez,
esperasse. A intenção foi justamente
de provocar leituras que podem ser
inéditas a quem se interesse pela
produção e pela própria personalidade
de Frida Kahlo, a menina que, ao
tornar-se mu
lher, da pior maneira,
redescobriu-
se e atraiu os olhares de
todas as partes do mundo.
Muito provavelmente, a pintora
mexicana foi uma das únicas
personalidades que alcançou tamanho
sucesso e com tantos perfis de
leitores. O leitor movente, durante o
sécu
lo XX, sentia um estranhamento
e, concomitantemente, uma
curiosidade em relação às condutas
semióticas do
bodyscape
Kahlo se
tornou ao criar seu
code
numa época em que a
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
realizar uma análise dos elementos
visuais que atraíram diferentes leitores
a partir de uma perspectiva teórica
a que ora se
apresenta sobre a pintora. Devido à
natureza do estudo, um artigo de
caráter acadêmico, as ideias que aqui
oferecemos apenas sinalizam todo o
potencial que a pesquisa oferece;
portanto, esperamos que o leitor que
o tema não s
e frustre
pelo fato de não encontrar o
aprofundamento que, talvez,
esperasse. A intenção foi justamente
de provocar leituras que podem ser
inéditas a quem se interesse pela
produção e pela própria personalidade
de Frida Kahlo, a menina que, ao
lher, da pior maneira,
se e atraiu os olhares de
todas as partes do mundo.
Muito provavelmente, a pintora
mexicana foi uma das únicas
personalidades que alcançou tamanho
sucesso e com tantos perfis de
leitores. O leitor movente, durante o
lo XX, sentia um estranhamento
e, concomitantemente, uma
curiosidade em relação às condutas
bodyscape
que Frida
tornou ao criar seu
dress-
numa época em que a
location
se
mostrava séria e tradicional;
leitores imersivos
transição entre os culo
passaram a sentir admiração pela
mulher que transcendeu seu tempo e
seu espaço.P
or sua vez, ao unir todas
as caraterísticas dos leitores
anteriores, o leitor
admira e consome em uma
perspe
ctiva altamente fetichista; e, ao
assumir essa postura, traçou uma
lógica de consumo pelo olhar que é
seduzido. Para esse leitor, não basta
conhecer, é preciso consumir Frida
Kahlo. De certa forma, o olhar que
quer consumir se perde no interstício
de uma c
oisa jamais conquistada, já
que é
sedutora e poderosa ao
extremo. Frida é um sujeito mesmo
quando
se objetiva; é uma mulher,
mesmo que inanimada em uma
boneca;
é uma pele que se marca pelo
vestuário e parament
que a cultura industrial do
en
tretenimento pensa produzir para
venda. Mas o venda, há uma
troca entre corpos. Há um câmbio
amoroso, em um êxtase de sentidos
atraídos.
Enfim, Frida Kahlo teve o corpo
fraturado e fragilizado, mas confirmou
sua existência pelas escolhas que fez,
581
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
mostrava ria e tradicional;
os
e ubíquos, na
transição entre os século
s XX e XXI,
passaram a sentir admiração pela
mulher que transcendeu seu tempo e
or sua vez, ao unir todas
as caraterísticas dos leitores
anteriores, o leitor
óptico observa,
admira e consome em uma
ctiva altamente fetichista; e, ao
assumir essa postura, traçou uma
lógica de consumo pelo olhar que é
seduzido. Para esse leitor, não basta
conhecer, é preciso consumir Frida
Kahlo. De certa forma, o olhar que
quer consumir se perde no interstício
oisa jamais conquistada,
sedutora e poderosa ao
extremo. Frida é um sujeito mesmo
se objetiva; é uma mulher,
mesmo que inanimada em uma
é uma pele que se marca pelo
vestuário e parament
a todos os itens
que a cultura industrial do
tretenimento pensa produzir para
venda. Mas não há venda, uma
troca entre corpos. um câmbio
amoroso, em um êxtase de sentidos
Enfim, Frida Kahlo teve o corpo
fraturado e fragilizado, mas confirmou
sua existência pelas escolhas que fez,
SILVEIRA, Mariane Rocha; AQUINO, Ivânia Ca
m
leitora entre os séculos XX e XXI e os atratore
s
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 551-582, mar.
202
pela
s pinturas que realizou, pela moda
criou. Com o passar do tempo, teve o
corpo culturalmente expandido e
plasmado, como uma moldura, nas
diversas recriações que ecoaram pelas
mãos de outros artistas. Porém,
alcançou efetivamente ressignificações
em meio à c
ultura digital, no culo
XXI. Traçou, como ninguém, uma
revolução dos códigos e uma
revolução leitora que ainda não
muito pelo contrário, a história do
México e a história de Frida
interligam em diferentes aspectos
mostram o potencial que
caminho que outros pesquisadores
ainda podem seguir como uma
inesgotável fonte de observação, de
descobertas e redescobertas.
Frida Kahlo!
Referências
bibliográficas
CANEVACCI, Massimo.
visuais:
corpos erópticos e metrópole
comunicacional. São Paulo: Ateliê
Editorial, 2008.
FERNÁNDEZ, Iñigo.
Historia de
Mexico:
un recorrido desde los tiempos
prehistóricos hasta la época actual.
Ciudad de México: Monclem
Ediciones, 2002.
FERREIRA, Aurélio Buarque de
Holanda. Mini Aurélio:
o dicionário da
língua portuguesa.
Curitiba: Positivo,
2010.
m
pigotto. A revolução
s
visuais de Frida Kahlo.
Americana de Estudos em Cultura,
202
2.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
s pinturas que realizou, pela moda
criou. Com o passar do tempo, teve o
corpo culturalmente expandido e
plasmado, como uma moldura, nas
diversas recriações que ecoaram pelas
mãos de outros artistas. Porém,
alcançou efetivamente ressignificações
ultura digital, no século
XXI. Traçou, como ninguém, uma
revolução dos digos e uma
revolução leitora que ainda não
findou;
muito pelo contrário, a história do
México e a história de Frida
–que se
interligam em diferentes aspectos
mostram o potencial que
têm, um
caminho que outros pesquisadores
ainda podem seguir como uma
inesgotável fonte de observação, de
descobertas e redescobertas.
¡Viva
bibliográficas
CANEVACCI, Massimo.
Fetichismos
corpos erópticos e metrópole
comunicacional. São Paulo: Ateliê
Historia de
un recorrido desde los tiempos
prehistóricos hasta la época actual.
Ciudad de México: Monclem
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un íntimo autorretrato. Hong
Kong: Midas Printing, 2014.
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Disponível em:
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content/uploads/2020/12/Las
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