BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
A gente faz teatro ensaiando a revolução: movimentos de territórios, cultura e
arte entre Olinda, Recife e Paulista
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i22
Resumo:
Este artigo é uma experimentação na escrita a partir da fala de Genivaldo Balio
da cultura popular em Pernambuco, contando como o teatro apareceu em sua vida e como criou o
Grupo de Teatro Atual (GTA) junto a um grupo de pessoas moradoras das periferias de Recife,
Olinda e Paulista, atravessadas pelas desigualdades raciais e
comunidades. Neste texto a proposta é apresentar a própria forma de transcrição da fala como em si
um processo conjunto de escrita
pausas e seleção de trech
os; e fazer da rememoração uma reflexão teórica ao se contar uma
trajetória coletiva que atravessa bairros periféricos e encontra movimentos de cultura popular, como o
Movimento de Teatro Popular de Pernambuco, o Movimento Negro Unificado, a luta pela cria
espaço cultural Nascedouro de Peixinhos, o Movimento dos Trabalhadores sem Terra, a pedagogia
do oprimido de Paulo Freire, o Teatro Experimental do Negro de Abdias do Nascimento, o teatro do
oprimido de Augusto Boal, a Coordenação Nacional de Entida
Assim, a reflexão sobre o GTA não aparece na narrativa aqui apresentada na forma de uma ntese
explicativa de autores sobre um movimento cultural situado historicamente, mas sim a partir da
apresentação de como discussõe
sua prática de teatro de rua negro e popular.
Palavras-chave:
Hacemos teatro ensayando la revolución: movimientos de territ
Olinda, Recife y Paulista
Resumen:
Este artículo es un experimento de escritura basado en el discurso de Genivaldo Balio,
maestro de la cultura popular en Pernambuco, que cuenta cómo apareció el teatro en su vida y cómo
creó
el Grupo de Teatro Atual (GTA) con un grupo de personas que viven en las
1
Genivaldo Bazílio. Mestre da Cultura Popular. Dir
Mestre do Boi Mandingueiro, responsável pelo repasse das tradições, do sotaque melódico e
composição das toadas. Recife/PE, Brasil. E
0002-6982-3449
2 Maíra C
avalcanti Vale. Doutora em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP). Pós-
Coordenadora Institucional do imuê
vale.maira@gmail.com -
https://orcid.org/0000
*Agradecemos a Mestra Andrea Guerreira e Catarina Morawska
conosco. Pelas parcerias atentas e de vida.
Recebido em 31/08/2021,
aceito para publicação em
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
Americana de Estudos em
mar
. 2022. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
A gente faz teatro ensaiando a revolução: movimentos de territórios, cultura e
arte entre Olinda, Recife e Paulista
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i22
.51414
Genivaldo
Este artigo é uma experimentação na escrita a partir da fala de Genivaldo Balio
da cultura popular em Pernambuco, contando como o teatro apareceu em sua vida e como criou o
Grupo de Teatro Atual (GTA) junto a um grupo de pessoas moradoras das periferias de Recife,
Olinda e Paulista, atravessadas pelas desigualdades raciais e
sociais que marcam o cotidiano destas
comunidades. Neste texto a proposta é apresentar a própria forma de transcrição da fala como em si
um processo conjunto de escrita
-
tanto na passagem de áudio para texto quanto na marcação de
os; e fazer da rememoração uma reflexão teórica ao se contar uma
trajetória coletiva que atravessa bairros periféricos e encontra movimentos de cultura popular, como o
Movimento de Teatro Popular de Pernambuco, o Movimento Negro Unificado, a luta pela cria
espaço cultural Nascedouro de Peixinhos, o Movimento dos Trabalhadores sem Terra, a pedagogia
do oprimido de Paulo Freire, o Teatro Experimental do Negro de Abdias do Nascimento, o teatro do
oprimido de Augusto Boal, a Coordenação Nacional de Entida
des Negras e o movimento sindical.
Assim, a refleo sobre o GTA não aparece na narrativa aqui apresentada na forma de uma ntese
explicativa de autores sobre um movimento cultural situado historicamente, mas sim a partir da
apresentação de como discussõe
s teóricas entraram na própria trajetória do GTA e influenciaram a
sua prática de teatro de rua negro e popular.
teatro de rua; movimentos culturais; resistência; luta popular
Hacemos teatro ensayando la revolución: movimientos de territ
orios, cultura y arte entre
Este artículo es un experimento de escritura basado en el discurso de Genivaldo Balio,
maestro de la cultura popular en Pernambuco, que cuenta cómo apareció el teatro en su vida y cómo
el Grupo de Teatro Atual (GTA) con un grupo de personas que viven en las
Genivaldo Bazílio. Mestre da Cultura Popular. Dir
etor artístico do Grupo de Teatro Atual (GTA).
Mestre do Boi Mandingueiro, responsável pelo repasse das tradições, do sotaque melódico e
composição das toadas. Recife/PE, Brasil. E
-mail: magicova@bol.com.br -
https://orcid.org/0000
avalcanti Vale. Doutora em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas
doutoranda em Antropologia Social na Universidade de São Paulo (USP).
Coordenadora Institucional do im
-
Instituto Mulheres e Economia. São Paulo, Brasil
https://orcid.org/0000
-0001-5562-0352.
*Agradecemos a Mestra Andrea Guerreira e Catarina Morawska
(LE-
E/ UFSCar), por falar e escrever
conosco. Pelas parcerias atentas e de vida.
aceito para publicação em
25/01/20
22 e disponibilizado online em
01/03/2022.
50
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
A gente faz teatro ensaiando a revolução: movimentos de territórios, cultura e
Genivaldo
Bazílio1
Maíra Vale2
Este artigo é uma experimentação na escrita a partir da fala de Genivaldo Bazílio
, mestre
da cultura popular em Pernambuco, contando como o teatro apareceu em sua vida e como criou o
Grupo de Teatro Atual (GTA) junto a um grupo de pessoas moradoras das periferias de Recife,
sociais que marcam o cotidiano destas
comunidades. Neste texto a proposta é apresentar a própria forma de transcrição da fala como em si
tanto na passagem de áudio para texto quanto na marcação de
os; e fazer da rememoração uma reflexão teórica ao se contar uma
trajetória coletiva que atravessa bairros periféricos e encontra movimentos de cultura popular, como o
Movimento de Teatro Popular de Pernambuco, o Movimento Negro Unificado, a luta pela cria
ção do
espaço cultural Nascedouro de Peixinhos, o Movimento dos Trabalhadores sem Terra, a pedagogia
do oprimido de Paulo Freire, o Teatro Experimental do Negro de Abdias do Nascimento, o teatro do
des Negras e o movimento sindical.
Assim, a refleo sobre o GTA não aparece na narrativa aqui apresentada na forma de uma síntese
explicativa de autores sobre um movimento cultural situado historicamente, mas sim a partir da
s teóricas entraram na própria trajetória do GTA e influenciaram a
orios, cultura y arte entre
Este artículo es un experimento de escritura basado en el discurso de Genivaldo Bazílio,
maestro de la cultura popular en Pernambuco, que cuenta cómo apareció el teatro en su vida y cómo
el Grupo de Teatro Atual (GTA) con un grupo de personas que viven en las
periferias de Recife,
etor artístico do Grupo de Teatro Atual (GTA).
Mestre do Boi Mandingueiro, responsável pelo repasse das tradições, do sotaque melódico e
https://orcid.org/0000
-
avalcanti Vale. Doutora em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas
doutoranda em Antropologia Social na Universidade de São Paulo (USP).
Instituto Mulheres e Economia. São Paulo, Brasil
. E-mail:
E/ UFSCar), por falar e escrever
22 e disponibilizado online em
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
Olinda y Paulista, atravesados por las desigualdades raciales y sociales que marcan el día a día de
estas comunidades. En este texto, la propuesta es presentar
misma un proceso de escribir conjuntamente, tanto en el pasaje del audio al texto como en la
marcación de pausas y selección de partes; y convertir la recuerdación de uma trayetctoria colectiva
en una reflexión t
eórica que atraviesa barrios periféricos y encuentra movimientos de cultura popular,
como el Movimento de Teatro Popular de Pernambuco, o Movimento Negro Unificado, la lucha por la
creación del Nascedouro de Peixinhos, el Movimento dos Trabalhadores sem Te
los oprimidos de Paulo Freire, el Teatro Experimental do Negro de Abdias do Nascimento, el teatro de
los oprimidos de Augusto Boal, la Coordenação Nacional de Entidades Negras y el movimiento
sindical. Así, la reflexión sobre GTA no ap
explicativa de autores sobre un movimiento cultural históricamente situado, sino más bien a partir de
la presentación de cómo las discusiones teóricas entraron en la propia trayectoria de GTA e
inf
luyeron en su práctica de un teatro callejero negro y popular.
Palabras clave
: teatro callejero; movimientos culturales; resistencia; lucha popular
We do theater while rehearsing the revolution: movements between territories, culture and art
in Olinda, Recife, and Paulista
Abstract:
This article is an experimentation in writing based on the narratives of Genivaldo Balio,
master of popular culture in Pernambuco, on his involvement with street theater and the founding of
the Grupo de Teatro Atual
(GTA) together with a group of people in the
and Paulista, communities marked by racial and social inequalities. The aim is to turn speech into text
as part of a joint writing process
pauses and selection of sections. In doing so we hope that the act of remembrance becomes itself a
theoretical reflection on a collective trajectory that traverses neighborhoods and encounters
movements of popular culture, such a
Black Movement, the struggle to turn the Nascedouro of Peixinhos into a cultural space, the Landless
Movement, Paulo Freire’s pedagogy of the oppressed,
Thea
ter, Augusto Boal's Oppressed Theater, the National Coordination of Black Entities and the union
movement. Such reflection about GTAs trajectory is not presented by means of a theoretical
discussion and explanatory synthesis of a historically situated cul
showing how authors, movements and theoretical discussions worked their way through GTA and
influenced their practice as a black popular street theater.
Keywords:
street theater; cultural movements; resistance; popular strugg
A gente faz teatro ensaiando a revolução: movimentos de territórios, cultura e
arte entre Olinda, Recife e Paulista
Este texto é uma composição
de muitos encontros. É uma trajetória
coletiva. É arte de fazer escrita da
palavra falada. Caminhamos junto com
Inaldete
Pinheiro (1989a, 1989b, 2001,
2007, 2008, 2010, 2014), Solano
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
Americana de Estudos em
mar
. 2022. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
Olinda y Paulista, atravesados por las desigualdades raciales y sociales que marcan el día a día de
estas comunidades. En este texto, la propuesta es presentar
la propia forma de transcripción como en
sí misma un proceso de escribir conjuntamente, tanto en el pasaje del audio al texto como en la
marcación de pausas y selección de partes; y convertir la recuerdación de uma trayetctoria colectiva
eórica que atraviesa barrios periféricos y encuentra movimientos de cultura popular,
como el Movimento de Teatro Popular de Pernambuco, o Movimento Negro Unificado, la lucha por la
creación del Nascedouro de Peixinhos, el Movimento dos Trabalhadores sem Te
los oprimidos de Paulo Freire, el Teatro Experimental do Negro de Abdias do Nascimento, el teatro de
los oprimidos de Augusto Boal, la Coordenação Nacional de Entidades Negras y el movimiento
sindical. Así, la reflexión sobre GTA no ap
arece en la narrativa aquí presentada en forma de síntesis
explicativa de autores sobre un movimiento cultural históricamente situado, sino más bien a partir de
la presentación de cómo las discusiones teóricas entraron en la propia trayectoria de GTA e
luyeron en su práctica de un teatro callejero negro y popular.
: teatro callejero; movimientos culturales; resistencia; lucha popular
We do theater while rehearsing the revolution: movements between territories, culture and art
This article is an experimentation in writing based on the narratives of Genivaldo Balio,
master of popular culture in Pernambuco, on his involvement with street theater and the founding of
(GTA) together with a group of people in the
periferias
and Paulista, communities marked by racial and social inequalities. The aim is to turn speech into text
as part of a joint writing process
- both in the passage of audio to written
form and in the marking of
pauses and selection of sections. In doing so we hope that the act of remembrance becomes itself a
theoretical reflection on a collective trajectory that traverses neighborhoods and encounters
movements of popular culture, such a
s Pernambuco’s Movement of Popular Theater, the Unified
Black Movement, the struggle to turn the Nascedouro of Peixinhos into a cultural space, the Landless
Movement, Paulo Freires pedagogy of the oppressed,
Abdias do Nascimento’s Black Experimental
ter, Augusto Boal's Oppressed Theater, the National Coordination of Black Entities and the union
movement. Such reflection about GTA’s trajectory is not presented by means of a theoretical
discussion and explanatory synthesis of a historically situated cul
tural movement, but rather by
showing how authors, movements and theoretical discussions worked their way through GTA and
influenced their practice as a black popular street theater.
street theater; cultural movements; resistance; popular strugg
le
A gente faz teatro ensaiando a revolução: movimentos de territórios, cultura e
arte entre Olinda, Recife e Paulista
Este texto é uma composição
de muitos encontros. É uma trajetória
coletiva. É arte de fazer escrita da
palavra falada. Caminhamos junto com
Pinheiro (1989a, 1989b, 2001,
2007, 2008, 2010, 2014), Solano
Trindade (1958, 1961, 1988, 2008),
Abdias do Nascimento (1961), Paulo
Freire (1974) e tantas pessoas que
construíram na vida, em suas teorias,
os movimentos de resistência cultural
no Brasil de
sde a cada de 1960. É
51
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
Olinda y Paulista, atravesados por las desigualdades raciales y sociales que marcan el día a día de
la propia forma de transcripción como en
sí misma un proceso de escribir conjuntamente, tanto en el pasaje del audio al texto como en la
marcación de pausas y selección de partes; y convertir la recuerdación de uma trayetctoria colectiva
eórica que atraviesa barrios periféricos y encuentra movimientos de cultura popular,
como el Movimento de Teatro Popular de Pernambuco, o Movimento Negro Unificado, la lucha por la
creación del Nascedouro de Peixinhos, el Movimento dos Trabalhadores sem Te
rra, la pedagogía de
los oprimidos de Paulo Freire, el Teatro Experimental do Negro de Abdias do Nascimento, el teatro de
los oprimidos de Augusto Boal, la Coordenação Nacional de Entidades Negras y el movimiento
arece en la narrativa aquí presentada en forma de síntesis
explicativa de autores sobre un movimiento cultural históricamente situado, sino más bien a partir de
la presentación de cómo las discusiones teóricas entraron en la propia trayectoria de GTA e
: teatro callejero; movimientos culturales; resistencia; lucha popular
We do theater while rehearsing the revolution: movements between territories, culture and art
This article is an experimentation in writing based on the narratives of Genivaldo Bazílio,
master of popular culture in Pernambuco, on his involvement with street theater and the founding of
periferias
of Recife, Olinda
and Paulista, communities marked by racial and social inequalities. The aim is to turn speech into text
form and in the marking of
pauses and selection of sections. In doing so we hope that the act of remembrance becomes itself a
theoretical reflection on a collective trajectory that traverses neighborhoods and encounters
s Pernambucos Movement of Popular Theater, the Unified
Black Movement, the struggle to turn the Nascedouro of Peixinhos into a cultural space, the Landless
Abdias do Nascimentos Black Experimental
ter, Augusto Boal's Oppressed Theater, the National Coordination of Black Entities and the union
movement. Such reflection about GTAs trajectory is not presented by means of a theoretical
tural movement, but rather by
showing how authors, movements and theoretical discussions worked their way through GTA and
A gente faz teatro ensaiando a revolução: movimentos de territórios, cultura e
Trindade (1958, 1961, 1988, 2008),
Abdias do Nascimento (1961), Paulo
Freire (1974) e tantas pessoas que
construíram na vida, em suas teorias,
os movimentos de resistência cultural
sde a década de 1960. É
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
também uma experimentação na
escrita a partir da arte da fala de
Genivaldo Bazílio, mestre da cultura
popular em Pernambuco. A narrativa
que aqui apresentamos é, assim, em
sua maior parte, em primeira pessoa,
quando Mestre Genivaldo
o teatro apareceu em sua vida e como
criou o Grupo de Teatro Atual (GTA)
junto a um grupo de pessoas
moradoras das periferias de Recife,
Olinda e Paulista, atravessadas pelas
desigualdades raciais e sociais que
marcam o cotidiano destas
comunidades.
Assim como o nascimento do
GTA foi informado pelos debates das
autoras e autores mencionados,
também este texto se inspira em seu
impulso de construir reflexão teórica a
partir da experiência no mundo. Neste
texto a proposta é dupla: apresentar a
pró
pria forma da transcrição da fala
como em si um processo conjunto de
escrita -
tanto na passagem de áudio
para texto quanto na marcação de
pausas e seleção de trechos; e fazer
da rememoração uma refleo teórica
ao se contar uma trajetória coletiva
3 Este encontro-
texto também é possível
porque oito coletivos de base
de diferentes
bairros de Olinda se juntaram na pandemia
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
Americana de Estudos em
mar
. 2022. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
também uma experimentação na
escrita a partir da arte da fala de
Genivaldo Bazílio, mestre da cultura
popular em Pernambuco. A narrativa
que aqui apresentamos é, assim, em
sua maior parte, em primeira pessoa,
conta como
o teatro apareceu em sua vida e como
criou o Grupo de Teatro Atual (GTA)
junto a um grupo de pessoas
moradoras das periferias de Recife,
Olinda e Paulista, atravessadas pelas
desigualdades raciais e sociais que
marcam o cotidiano destas
Assim como o nascimento do
GTA foi informado pelos debates das
autoras e autores mencionados,
também este texto se inspira em seu
impulso de construir reflexão teórica a
partir da experiência no mundo. Neste
texto a proposta é dupla: apresentar a
pria forma da transcrição da fala
como em si um processo conjunto de
tanto na passagem de áudio
para texto quanto na marcação de
pausas e seleção de trechos; e fazer
da rememoração uma reflexão teórica
ao se contar uma trajetória coletiva
3.
texto também só é possível
de diferentes
bairros de Olinda se juntaram na pandemia
Tal r
eflexão não aparece de maneira
sistematizada, com a ntese de
autores sobre um movimento cultural
situado historicamente, mas sim a
partir da apresentação de como as
discussões teóricas entraram na
própria trajetória do GTA e
influenciaram a sua prática d
de rua.
O que um grupo de teatro de
rua pode ensinar sobre uma trajetória
coletiva? O “eu” deste texto é plural,
sempre expresso como a gente, pois
narra uma trajetória de encontros.
Narra como um grupo de teatro foi se
fazendo por meio das ques
atravessavam, e atravessavam os
corpos negros que o compõem. Essa
narrativa diz muito sobre a época e
sobre o que é fazer cultura na periferia
de Pernambuco entre os anos de 1970
e 1990. Ao abordar o nascimento do
para traçar estratégias de luta e combate ao
espalhamento do coronavírus nas periferias da
cidade -
Boi Mandingueiro e GTA, Grupo
Comunidade Assumindo suas Crianças
(GCASC), Biblioteca Multicultural
Nascedouro (BMN), Biblioteca Solar de Ler,
Grupo S.O.L. (Sonho, Organização e Luta),
Grupo Espaço Mulher e Coletivo Sempre
Vivas. Desde março de 2020, a Rede
Orgânica Periférica de Olinda vem se
articulando, desenvolvendo ações
emergenciais e debate pol
comunidades que a compõem. Essa
articulação é o encontro também da Rede
Orgânica com o imuê -
Instituto Mulheres e
Economia; e do imuê com o GTA.
52
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
eflexão não aparece de maneira
sistematizada, com a síntese de
autores sobre um movimento cultural
situado historicamente, mas sim a
partir da apresentação de como as
discuses teóricas entraram na
própria trajetória do GTA e
influenciaram a sua prática d
e teatro
O que um grupo de teatro de
rua pode ensinar sobre uma trajetória
coletiva? O eu deste texto é plural,
sempre expresso como “a gente”, pois
narra uma trajetória de encontros.
Narra como um grupo de teatro foi se
fazendo por meio das ques
tões que o
atravessavam, e atravessavam os
corpos negros que o compõem. Essa
narrativa diz muito sobre a época e
sobre o que é fazer cultura na periferia
de Pernambuco entre os anos de 1970
e 1990. Ao abordar o nascimento do
para traçar estratégias de luta e combate ao
espalhamento do coronavírus nas periferias da
Boi Mandingueiro e GTA, Grupo
Comunidade Assumindo suas Crianças
(GCASC), Biblioteca Multicultural
do
Nascedouro (BMN), Biblioteca Solar de Ler,
Grupo S.O.L. (Sonho, Organização e Luta),
Grupo Espaço Mulher e Coletivo Sempre
Vivas. Desde março de 2020, a Rede
Orgânica Periférica de Olinda vem se
articulando, desenvolvendo ações
emergenciais e debate pol
ítico nas
comunidades que a compõem. Essa
articulação é o encontro também da Rede
Instituto Mulheres e
Economia; e do imuê com o GTA.
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
GTA, a gente entende a ideia do
o improviso, de como se faz teatro
sendo da classe trabalhadora. Como
se faz teatro contradisciplinar, ao se
opor à hierarquia do palco, à
hierarquia da direção. Essa trama
começa na escola com uma
inquietação em relação à disciplina
escolar do port
uguês da sala de aula,
ao tempo em que se encontra com a
linguagem do teatro. A contradisciplina
segue na oposição à opressão da
ditadura militar, à opressão policial.
Propomos aqui uma escrita com
o corpo e no pretuguês de tanta gente,
teorizado por Léli
a Gonzalez (1984). A
experiência de corpo contada é
marcada por uma divisão racial do
espaço nas cidades, em que se passa
a achar natural que o lugar do negro é
nas favelas, cortiços e alagados e o
lugar do branco é nos centros, prédios
altos e seguros (GO
NZALEZ, 1984). A
trajetória coletiva aqui narrada
atravessa bairros periféricos de Recife
e Olinda, na fronteira com Paulista, e
encontra movimentos de cultura
popular, o Movimento de Teatro
Popular de Pernambuco, o Movimento
Negro Unificado, a luta pelo
N
ascedouro de Peixinhos, o
Movimento dos Trabalhadores sem
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
Americana de Estudos em
mar
. 2022. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
GTA, a gente entende a ideia do
que é
o improviso, de como se faz teatro
sendo da classe trabalhadora. Como
se faz teatro contradisciplinar, ao se
opor à hierarquia do palco, à
hierarquia da direção. Essa trama
começa na escola com uma
inquietação em relação à disciplina
uguês da sala de aula,
ao tempo em que se encontra com a
linguagem do teatro. A contradisciplina
segue na oposição à opressão da
ditadura militar, à opressão policial.
Propomos aqui uma escrita com
o corpo e no pretuguês de tanta gente,
a Gonzalez (1984). A
experiência de corpo contada é
marcada por uma divio racial do
espaço nas cidades, em que se passa
a achar natural que o lugar do negro é
nas favelas, cortiços e alagados e o
lugar do branco é nos centros, prédios
NZALEZ, 1984). A
trajetória coletiva aqui narrada
atravessa bairros periféricos de Recife
e Olinda, na fronteira com Paulista, e
encontra movimentos de cultura
popular, o Movimento de Teatro
Popular de Pernambuco, o Movimento
Negro Unificado, a luta pelo
ascedouro de Peixinhos, o
Movimento dos Trabalhadores sem
Terra, a pedagogia do oprimido de
Paulo Freire, o Teatro Experimental do
Negro de Abdias do Nascimento, o
teatro do oprimido de Augusto Boal, a
Coordenação Nacional de Entidades
Negras (CONEN) e o m
sindical.
A narrativa é assim estruturada
em quatro partes. Desde "Tempo de
experimentos e tramas contra a
disciplina", acompanhamos o primeiro
contato com o teatro e a descoberta da
política. Depois, ao viver O centro do
Recife e encontro com mo
se descobriu a necessidade de
concretizar e formar junto com outros
colegas o Grupo de Teatro Atual. De
volta à comunidade: o lugar dos
amigos e parentes”, o GTA encontra a
luta e os espaços para ensaiar a
revolução e reivindicar os direitos de
moradoras e moradores do Alto da
Bondade. Por fim, fazendo Teatro de
rua na comunidade, encontra as
tensões entre o Movimento de Teatro
Popular de Pernambuco e a
Federação de Teatro de Pernambuco
(Feteape), interessada em um viés
mais mercantil da arte.
do GTA se encerra com o espetáculo
“Das senzalas às favelas”,
apresentado em diversas cidades do
53
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
Terra, a pedagogia do oprimido de
Paulo Freire, o Teatro Experimental do
Negro de Abdias do Nascimento, o
teatro do oprimido de Augusto Boal, a
Coordenação Nacional de Entidades
Negras (CONEN) e o m
ovimento
A narrativa é assim estruturada
em quatro partes. Desde "Tempo de
experimentos e tramas contra a
disciplina", acompanhamos o primeiro
contato com o teatro e a descoberta da
política. Depois, ao viver “O centro do
Recife e encontro com mo
vimentos”,
se descobriu a necessidade de
concretizar e formar junto com outros
colegas o Grupo de Teatro Atual. “De
volta à comunidade: o lugar dos
amigos e parentes”, o GTA encontra a
luta e os espaços para ensaiar a
revolução e reivindicar os direitos de
moradoras e moradores do Alto da
Bondade. Por fim, fazendo “Teatro de
rua na comunidade”, encontra as
tenes entre o Movimento de Teatro
Popular de Pernambuco e a
Federação de Teatro de Pernambuco
(Feteape), interessada em um viés
mais mercantil da arte.
O nascimento
do GTA se encerra com o espetáculo
Das senzalas às favelas”,
apresentado em diversas cidades do
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
nordeste brasileiro e em articulação
com secretarias municipais de
educação e a CONEM. Essa trajetória
conta a história de pessoas
atravessadas p
elas questões raciais
que vinham da própria vivência e eram
reivindicadas pelo movimento negro,
passando pela transformação política
e pelo desejo de uma revolução
cultural que se ensaia no teatro de rua.
Tempo de experimentos e tramas
contra a disciplina
Tive meu primeiro contato com
o teatro na escola estadual
Desembargador Renato Fonseca em
um bairro chamado Jardim Brasil, em
Olinda. Nessa escola encontrei uma
situação extremamente diferente
porque havia uma diretora, acredito eu
hoje, que devia ter alg
aproximação com as ideias de Paulo
Freire, devido à maneira com que
atuava junto aos professores. Ela
estava sempre nas salas. Quando a
gente tinha problemas, ela lidava
diretamente e conversava bastante,
incentivava a gente à leitura. E havia
um quadr
o de professores também
muito bom.
Dentre as atividades que
promovia, levou para a escola uma
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
Americana de Estudos em
mar
. 2022. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
nordeste brasileiro e em articulação
com secretarias municipais de
educação e a CONEM. Essa trajetória
conta a história de pessoas
elas questões raciais
que vinham da própria vivência e eram
reivindicadas pelo movimento negro,
passando pela transformação política
e pelo desejo de uma revolução
cultural que se ensaia no teatro de rua.
Tempo de experimentos e tramas
Tive meu primeiro contato com
o teatro na escola estadual
Desembargador Renato Fonseca em
um bairro chamado Jardim Brasil, em
Olinda. Nessa escola encontrei uma
situação extremamente diferente
porque havia uma diretora, acredito eu
hoje, que devia ter alg
uma
aproximação com as ideias de Paulo
Freire, devido à maneira com que
atuava junto aos professores. Ela
estava sempre nas salas. Quando a
gente tinha problemas, ela lidava
diretamente e conversava bastante,
incentivava a gente à leitura. E havia
o de professores também
Dentre as atividades que
promovia, levou para a escola uma
aula de frevo nos finais de semana
com o professor Coruja do Frevo, que
era de um grupo chamado Coruja e
seus Tangarás. Naquela época, acho
que era 1974, por aí,
isso que hoje chamam de Escola
Aberta, que era atividade nos finais de
semana. Entrei para as aulas de frevo
e depois chegou um professor de
teatro que também se propôs a estar
com a gente nos finais de semana.
Esse professor era Fernando
que foi Secretário de Cultura de
Olinda, presidente da associação de
bonecos e do grupo de mamulengos
Tiridá, que é bastante conhecido por
aqui.
Tive esse primeiro contato com
o teatro porque estava achando chatas
algumas aulas, e quando ele entr
gente era dispensado da primeira aula.
Mas isso foi em duas semanas ,
antes de passar para o final de
semana, e essas duas aulas eram
justamente as aulas de português.
Hoje percebo que o era questão da
professora, é que português sempre
me deixou
agoniado e eu até hoje não
consigo compreender uma rie de
coisas dessa disciplina escolar. Então
vi uma oportunidade de me livrar um
54
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
aula de frevo nos finais de semana
com o professor Coruja do Frevo, que
era de um grupo chamado Coruja e
seus Tangarás. Naquela época, acho
que era 1974, por aí,
a gente tinha
isso que hoje chamam de Escola
Aberta, que era atividade nos finais de
semana. Entrei para as aulas de frevo
e depois chegou um professor de
teatro que também se propôs a estar
com a gente nos finais de semana.
Esse professor era Fernando
Augusto,
que foi Secretário de Cultura de
Olinda, presidente da associação de
bonecos e do grupo de mamulengos
Tiridá, que é bastante conhecido por
Tive esse primeiro contato com
o teatro porque estava achando chatas
algumas aulas, e quando ele entr
ou a
gente era dispensado da primeira aula.
Mas isso foi em duas semanas só,
antes de passar para o final de
semana, e essas duas aulas eram
justamente as aulas de português.
Hoje percebo que não era questão da
professora, é que português sempre
agoniado e eu até hoje não
consigo compreender uma série de
coisas dessa disciplina escolar. Então
vi uma oportunidade de me livrar um
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
pouco dessa aula e digo, bom, vou ver
essa história de teatro.
O professor Fernando Augusto,
bem jovem, se identificava
gente, mas o processo de formação
dele era um processo stanislavskiano.
E o teatro de Stanislavski é aquela
coisa mais marcada, mais quadrada,
mais para o palco quadrado, embora
ele tivesse algumas ousadias. E
tinha que ter, porque a gente não tin
estrutura para fazer com tanto rigor
dentro daquela proposta que ele trazia.
Então, ali e aqui se atrapalhava,
voltava, a gente dava uma sugestão,
mas ele trouxe essa experiência que
exige mais disciplina, mais rigor nas
marcações, na decoração de texto
que foi uma coisa que sempre tive
dificuldade. Não foi ruim porque me
deu um sentido de uma coisa também
mais de disciplina, de exigência
artística, de exigência técnica dentro
da atividade.
Finalmente, essa experiência
terminou com a gente estreando a
adaptação de um espetáculo no
festival estudantil no teatro de Santa
Isabel, no Recife, chamado Festa no
Céu. A adaptação foi justamente por
isso, a estrutura não existia, a
disciplina técnica e
ra muito difícil
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
Americana de Estudos em
mar
. 2022. www.
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(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
pouco dessa aula e digo, bom, vou ver
O professor Fernando Augusto,
bem jovem, se identificava
com a
gente, mas o processo de formação
dele era um processo stanislavskiano.
E o teatro de Stanislavski é aquela
coisa mais marcada, mais quadrada,
mais para o palco quadrado, embora
ele já tivesse algumas ousadias. E
tinha que ter, porque a gente não tin
ha
estrutura para fazer com tanto rigor
dentro daquela proposta que ele trazia.
Então, ali e aqui se atrapalhava,
voltava, a gente dava uma sugestão,
mas ele trouxe essa experiência que
exige mais disciplina, mais rigor nas
marcações, na decoração de texto
s
que foi uma coisa que sempre tive
dificuldade. Não foi ruim porque me
deu um sentido de uma coisa também
mais de disciplina, de exigência
artística, de exigência técnica dentro
Finalmente, essa experiência
terminou com a gente estreando a
adaptação de um espetáculo no
festival estudantil no teatro de Santa
Isabel, no Recife, chamado Festa no
Céu. A adaptação foi justamente por
isso, a estrutura não existia, a
ra muito difícil
porque a gente vinha de uma realidade
em que disciplina para a gente era
uma coisa muito presente, na forma de
exigência, de repressão. Então,
quando em qualquer lugar a gente
tinha a oportunidade, a gente tramava
contra essa disciplina, e
que negociar, e terminou que a última
vez que a gente esteve com ele foi
nesse espetáculo quando a secretaria
de educação suspendeu o contrato
dele, mas a gente ficou com o grupo
na escola. Passei três anos na escola,
ele passou um ano e pouco
dizer, quase um ano e meio a gente
ficou com o grupo na escola e o
pessoal me delegou a missão de
coordenador o grupo, isso nos anos
1974.
Se no ano que ele estava com a
gente, essa coisa mais rígida, mais
técnica, essa disciplina, essa coisa da
art
e do texto ali sem a gente poder
colocar nada mais, daquela marcação
que era três passos, então era três
passos, da empostação da voz muito
elaborada... se isso era difícil, quando
ele saiu e eu fiquei na coordenação,
restou um grupo de rebeldes juntos, e
a coisa desandou. A gente achou o
caminho da gente, o que, como a
gente queria fazer e passou a ser
55
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
porque a gente vinha de uma realidade
em que disciplina para a gente era
uma coisa muito presente, na forma de
exigência, de repressão. Então,
quando em qualquer lugar a gente
tinha a oportunidade, a gente tramava
contra essa disciplina, e
ele teve
que negociar, e terminou que a última
vez que a gente esteve com ele foi
nesse espetáculo quando a secretaria
de educação suspendeu o contrato
dele, mas a gente ficou com o grupo
na escola. Passei três anos na escola,
ele passou um ano e pouco
, quer
dizer, quase um ano e meio a gente
ficou com o grupo na escola e o
pessoal me delegou a missão de
coordenador o grupo, isso nos anos
Se no ano que ele estava com a
gente, essa coisa mais rígida, mais
técnica, essa disciplina, essa coisa da
e do texto ali sem a gente poder
colocar nada mais, daquela marcação
que era três passos, então era três
passos, da empostação da voz muito
elaborada... se isso era difícil, quando
ele saiu e eu fiquei na coordenação,
restou um grupo de rebeldes juntos, e
aí a coisa desandou. A gente achou o
caminho da gente, o que, como a
gente queria fazer e passou a ser
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
conhecido na escola, no bairro.
Entramos para fazer peças com o
pessoal da igreja católica que
chamava a gente para reproduzir
algumas coisas que eram te
bíblicos. Foi um tempo de muito
experimento que vem influenciar
depois com quem fui me juntar e me
identificar, com o que fui encontrando.
Esses anos, essa época que
falo, é uma época também muito
circulada da miséria muito mais
profunda, em que a ge
nte ia para
escola para merendar. Alguns de nós
que eram mais inquietos, mais
sonhadores, ia para ver os amigos,
para trocar ideias, para ter um espaço
de convivência. Éramos nós
exatamente, que nos disseram
inquietos, que trazíamos para a escola
as tensõe
s, mas a gente também
trazia coisas criativas. Lembro que os
meus amigos, de quem me
aproximava, era o pessoal que mais
fazia a zoada na escola, a gente era
observado e considerado como os
garotos até certo ponto problema, mas
lembro também que em alguns
m
omentos as pessoas se espantavam,
se admiravam, se surpreendiam com
algumas coisas nossas.
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
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resistências, disputas e potências
conhecido na escola, no bairro.
Entramos para fazer peças com o
pessoal da igreja católica que
chamava a gente para reproduzir
algumas coisas que eram te
xtos
bíblicos. Foi um tempo de muito
experimento que vem influenciar
depois com quem fui me juntar e me
identificar, com o que fui encontrando.
Esses anos, essa época que
falo, é uma época também muito
circulada da miria muito mais
nte ia para
escola para merendar. Alguns de nós
que eram mais inquietos, mais
sonhadores, ia para ver os amigos,
para trocar ideias, para ter um espaço
de convivência. Éramos nós
exatamente, que nos disseram
inquietos, que trazíamos para a escola
s, mas a gente também
trazia coisas criativas. Lembro que os
meus amigos, de quem me
aproximava, era o pessoal que mais
fazia a zoada na escola, a gente era
observado e considerado como os
garotos até certo ponto problema, mas
lembro também que em alguns
omentos as pessoas se espantavam,
se admiravam, se surpreendiam com
No colégio, na época, não era
possível fazer grêmios livres, tudo isso
estava proibido. Mas lá no Renato
Fonseca, a diretora resolveu fazer o
centro cívico que era t
ela, mas como tinha alguma coisa
diferente, resolveu fazer uma
indicação parcial. Indicou uma
quantidade de alunos de cada sala,
dois, três alunos, e mandou a gente
fazer uma ou duas chapas,
dependendo de como a gente
entendesse. Foram trê
gente fez as eleições e minha chapa
ganhou. Por a gente já estava
pensando as experiências de
discriminação racial que sofríamos,
mas a política propriamente dita,
aquela que estava acontecendo no
maior, no mais macro, estadual e
nacional, v
im a despertar, a ter
consciência de que ela tinha
possibilidade da gente influenciar e
participar, quando estava na escola de
aprendiz de marinheiro.
Um rapaz chamado Cajá, na
época era de um movimento chamado
MR8, o Movimento Revolucionário 8
de Outubro
, e estudante da
universidade, fazia uns discursos, foi
perseguido e preso. Houve uma
comoção dentro dos movimentos
56
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
No colégio, na época, não era
posvel fazer grêmios livres, tudo isso
estava proibido. Mas no Renato
Fonseca, a diretora resolveu fazer o
centro vico que era t
odo indicado por
ela, mas como tinha alguma coisa
diferente, resolveu fazer uma
indicação parcial. Indicou uma
quantidade de alunos de cada sala,
dois, três alunos, e mandou a gente
fazer uma ou duas chapas,
dependendo de como a gente
entendesse. Foram trê
s chapas, a
gente fez as eleições e minha chapa
ganhou. Por aí a gente estava
pensando as experiências de
discriminação racial que sofríamos,
mas a política propriamente dita,
aquela que estava acontecendo no
maior, no mais macro, estadual e
im a despertar, a ter
consciência de que ela tinha
possibilidade da gente influenciar e
participar, quando estava na escola de
aprendiz de marinheiro.
Um rapaz chamado Cajá, na
época era de um movimento chamado
MR8, o Movimento Revolucionário 8
, e estudante da
universidade, fazia uns discursos, foi
perseguido e preso. Houve uma
comoção dentro dos movimentos
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
estudantis. E a gente, como estava na
escola da aprendiz de marinheiro,
terminou compreendendo, tomou
conhecimento daquilo. Dentro da
escola
não se falava, mas a gente saía
nos finais de semana, tinha contato
com amigos e começou a entender
sobre isso.
A verdade é que a gente
achava que, como era uma escola, a
gente podia se movimentar como
qualquer outra escola. E deu errado.
Porque por conta
disso a gente fez
uma reunião na capela quando chegou
um oficial com o pessoal dos fuzileiros
navais. Fomos recolhidos, passei cinco
dias no que a gente chamava de
balhéus, o presídio dentro da escola
de aprendiz de marinheiro
simples, não tem nad
a de agressivo.
Você fica preso, na hora de comer,
sai, tem umas conversas de vez em
quando com os oficiais, que o
educadores, mas são militares. Então
o processo de educação não é de
educação, é de adestramento, aquela
coisa de repetir, de ameaçar
nada que nem se aproxima do que já
ouvi falar por aí. Percebi que havia
uma movimentação maior, mais geral,
mais nacional, mais articulada.
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revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
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mar
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(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
estudantis. E a gente, como estava na
escola da aprendiz de marinheiro,
terminou compreendendo, tomou
conhecimento daquilo. Dentro da
não se falava, mas a gente saía
nos finais de semana, tinha contato
com amigos e começou a entender
A verdade é que a gente
achava que, como era uma escola, a
gente podia se movimentar como
qualquer outra escola. E deu errado.
disso a gente fez
uma reunião na capela quando chegou
um oficial com o pessoal dos fuzileiros
navais. Fomos recolhidos, passei cinco
dias no que a gente chamava de
balhéus, o predio dentro da escola
de aprendiz de marinheiro
que é
a de agressivo.
Você fica lá preso, na hora de comer,
sai, tem umas conversas de vez em
quando lá com os oficiais, que são
educadores, mas o militares. Então
o processo de educação não é de
educação, é de adestramento, aquela
coisa de repetir, de ameaçar
, mas
nada que nem se aproxima do que
ouvi falar por aí. Percebi que havia
uma movimentação maior, mais geral,
mais nacional, mais articulada.
Saí da escola de aprendiz de
marinheiro depois da segunda prisão,
foi aconselhado que eu saísse, porque
se
o saísse seria expulso, e se
fosse expulso teria uma rie de
dificuldades depois profissionais. Mas
foi ali o despertar mesmo, aquela coisa
de que existe um mundo aqui, uma
disputa política. Depois eu vim a
entender a questão da luta de classe,
das lutas
por dentro da questão racial
mais institucional, estrutural, mas ali
eu vi que havia uma coisa maior. Foi
ali a descoberta da política
propriamente dita, quer dizer,
tornando-
me mais consciente dessa
descoberta, porque muitas outras
coisas na vida de uma p
filho de uma empregada doméstica,
negro, de família negra, de uma
periferia, constantemente a gente é
cobrado a perceber essas disputas,
essas tentativas de dominação, de
intimidação.
Teve outra coisa muito forte
também para mim que foi a ques
movimento
blackpower
curtia muito o que a gente chamava
aqui de assustados. Assustados eram
festas que a gente fazia quando
alguém aniversariava e cada um
levava alguma coisa, levava os vinis
57
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
Saí da escola de aprendiz de
marinheiro depois da segunda prisão,
foi aconselhado que eu saísse, porque
o saísse seria expulso, e se
fosse expulso teria uma série de
dificuldades depois profissionais. Mas
foi ali o despertar mesmo, aquela coisa
de que existe um mundo aqui, uma
disputa política. Depois eu vim a
entender a questão da luta de classe,
por dentro da questão racial
mais institucional, estrutural, mas ali
eu vi que havia uma coisa maior. Foi
ali a descoberta da política
propriamente dita, quer dizer,
me mais consciente dessa
descoberta, porque muitas outras
coisas na vida de uma p
essoa que é
filho de uma empregada doméstica,
negro, de família negra, de uma
periferia, constantemente a gente é
cobrado a perceber essas disputas,
essas tentativas de dominação, de
Teve outra coisa muito forte
também para mim que foi a ques
tão do
blackpower
porque eu
curtia muito o que a gente chamava
aqui de assustados. Assustados eram
festas que a gente fazia quando
alguém aniversariava e cada um
levava alguma coisa, levava os vinis
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
debaixo do braço e a vitrola. E aquilo
era feit
o no segredo para o
aniversariante não saber, aconteceu
um susto, um assustado na hora que
ele chegava em casa e a gente estava
tudo lá.
Naquele momento a gente
passava a ter contato com as músicas
brasileiras, mas também algumas
músicas americanas, e com
músicas vinham as histórias, vinham
os costumes. Vinham as capas de
discos com aqueles caras com os
black
, aqueles negão com cara de
orgulhoso da sua imagem. Aquilo ali
afetava a gente também, e de repente
a gente começava a procurar saber o
que era. Is
so no final dos anos 70,
começo dos anos 80. A gente
começou até fazer isso também,
deixar o cabelo da gente ficar
utilizava um pente que era de uns
arames. Era uma outra influência
muito forte porque era algo que tinha
uma identidade conosco, tanto
como do ponto de vista político das
imagens que estavam ali, das coisas
que estavam colocadas lá nos Estados
Unidos que chegavam para a gente
através desse movimento que a gente
participava, de dança, de ir para os
clubes, de ir para as chamadas
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
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resistências, disputas e potências
debaixo do braço e a vitrola. E aquilo
o no segredo para o
aniversariante não saber, aconteceu
um susto, um assustado na hora que
ele chegava em casa e a gente estava
Naquele momento a gente
passava a ter contato com as músicas
brasileiras, mas também algumas
músicas americanas, e com
as
músicas vinham as histórias, vinham
os costumes. Vinham as capas de
discos com aqueles caras com os
, aqueles negão com cara de
orgulhoso da sua imagem. Aquilo ali
afetava a gente também, e de repente
a gente começava a procurar saber o
so no final dos anos 70,
começo dos anos 80. A gente
começou até fazer isso também,
deixar o cabelo da gente ficar
black,
utilizava um pente que era de uns
arames. Era uma outra influência
muito forte porque era algo que tinha
uma identidade conosco, tanto
estética
como do ponto de vista político das
imagens que estavam ali, das coisas
que estavam colocadas lá nos Estados
Unidos que chegavam para a gente
através desse movimento que a gente
participava, de dança, de ir para os
clubes, de ir para as chamadas
gafieiras que existem até hoje ainda
nas periferias.
E foi quando eu, retomando a
ideia de fazer teatro novamente,
pensei em aliar essas duas coisas, o
teatro e o soul
, ritmo que chegava
também aqui com Tony Tornado
dançando aqueles passos diferentes,
interessantes. A gente começava a
ouvir os Jackson Five, aí chegava
alguma coisa de Jimmy Hendrix na
guitarra, a gente admirava aquele solo
de guitarra. E a gente foi pensando
em colocar aquilo tudo no teatro. Mas
voltei a fazer mais fortemente teatro
m
esmo, quando, depois de um
tempo, era, o quê isso? Acho que
era 81, 82 mais ou menos. Morava no
Alto da Bondade, saía para a cidade
para trabalhar, tinha um custo de
passagem, tinha um custo de
alimentação e eu e uma amiga, a
gente fez uma conta e
gente alugar, nós dois, dividir um
apartamento ou alguma coisa ali no
centro da cidade, talvez saia mais
barato. A gente se acorda na hora
do trabalho, volta para perto. E aí foi
um momento muito bacana também
porque passei a viver o ce
Recife.
58
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
gafieiras que existem até hoje ainda
E aí foi quando eu, retomando a
ideia de fazer teatro novamente,
pensei em aliar essas duas coisas, o
, ritmo que chegava
também aqui com Tony Tornado
dançando aqueles passos diferentes,
interessantes. A gente começava a
ouvir os Jackson Five, chegava
alguma coisa de Jimmy Hendrix na
guitarra, a gente admirava aquele solo
de guitarra. E aí a gente foi pensando
em colocar aquilo tudo no teatro. Mas
voltei a fazer mais fortemente teatro
esmo, quando, já depois de um
tempo, aí era, o quê isso? Acho que
era 81, 82 mais ou menos. Morava no
Alto da Bondade, saía para a cidade
para trabalhar, tinha um custo de
passagem, tinha um custo de
alimentação e aí eu e uma amiga, a
gente fez uma conta e
pensou, se a
gente alugar, nós dois, dividir um
apartamento ou alguma coisa ali no
centro da cidade, talvez saia mais
barato. A gente já se acorda na hora
do trabalho, já volta para perto. E foi
um momento muito bacana também
porque passei a viver o ce
ntro do
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
O centro do Recife e encontro com
movimentos
Estando no centro do Recife,
estava próximo da Universidade
Católica, estava próximo da FAFIRE,
que a faculdade de filosofia, estava
próximo dos DCEs, estava próximo da
Ação Católica Operária,
próximo do Treze de Maio onde
algumas pessoas se reuniam, estava
próximo da Biblioteca Pública. E
comecei a sentir a necessidade de
voltar a estudar. Descobri uma escola
pública chamada Valdemar de Oliveira
em que não precisava estar na sala de
aula
o tempo todo. Na época a gente
ia até lá, comprava uma apostilazinha
bem barata, estudava aquela apostila,
quando a gente se sentia seguro, a
gente voltava e pagava um valor
pequeno também e fazia a prova.
Nesse intervalo, inclusive, tinha
professores
de plantão e a gente podia
consultar. Essa era uma maneira de
acelerar e trazer de volta pessoas que
tinham deixado a sala de aula.
Paralelo a isso, tinha acontecido
em 76 eu acho, mas não tive
percepção disso, vim a ter contato
com isso e ter uma infl
uência para mim
justamente aí. Foi a morte de um
estudante negro, acho que no Rio de
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
Americana de Estudos em
mar
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resistências, disputas e potências
O centro do Recife e encontro com
Estando no centro do Recife,
estava próximo da Universidade
Católica, estava próximo da FAFIRE,
que a faculdade de filosofia, estava
próximo dos DCEs, estava próximo da
Ação Católica Operária,
estava
próximo do Treze de Maio onde
algumas pessoas se reuniam, estava
próximo da Biblioteca Pública. E
comecei a sentir a necessidade de
voltar a estudar. Descobri uma escola
pública chamada Valdemar de Oliveira
em que não precisava estar na sala de
o tempo todo. Na época a gente
ia até lá, comprava uma apostilazinha
bem barata, estudava aquela apostila,
quando a gente se sentia seguro, a
gente voltava lá e pagava um valor
pequeno também e fazia a prova.
Nesse intervalo, inclusive, tinha
de plantão e a gente podia
consultar. Essa era uma maneira de
acelerar e trazer de volta pessoas que
tinham deixado a sala de aula.
Paralelo a isso, tinha acontecido
em 76 eu acho, mas não tive
percepção disso, vim a ter contato
uência para mim
justamente aí. Foi a morte de um
estudante negro, acho que no Rio de
Janeiro, que teve uma comoção
nacional. Isso provocou várias
movimentações e entre elas um
congresso que houve aqui em
Pernambuco, o Congresso
Afrobrasileiro, era o CAB, p
um grande companheiro advogado,
Edvaldo Ramos, uma referência até
hoje. Houve também a fundação do
MNU, Movimento Negro Unificado, que
vim a conhecer em 82, justamente
esse momento que estou tentando
reiniciar os estudos. Foi quando vi pela
primeira vez alguns discursos
interessantes, vi Darcy Ribeiro na
Universidade Católica. Enfim, nesse
clima de redemocratização, de luta
pelas Diretas Já, eu encontro um
grupo de amigos.
Lembro que uma delas
chamava-
se Arsilane, que era do Rio
de Janeiro e
depois de passar em
várias cidades, veio parar em Recife e
resolveu voltar a estudar. Tinha um
outro chamado Mauro Moraes que
veio de um interior perto de Caruaru
chamado São Caetano da Raposa e
veio para Recife para trabalhar.
Chegou aqui, morava numa pe
resolveu estudar. Tinha Walter Sander,
que era um cara de Peixinhos que
gostava de escrever, gostava de fazer
59
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
Janeiro, que teve uma comoção
nacional. Isso provocou várias
movimentações e entre elas um
congresso que houve aqui em
Pernambuco, o Congresso
Afrobrasileiro, era o CAB, p
residido por
um grande companheiro advogado,
Edvaldo Ramos, uma referência até
hoje. Houve também a fundação do
MNU, Movimento Negro Unificado, que
vim a conhecer já em 82, justamente
esse momento que estou tentando
reiniciar os estudos. Foi quando vi pela
primeira vez alguns discursos
interessantes, vi Darcy Ribeiro na
Universidade Católica. Enfim, nesse
clima de redemocratização, de luta
pelas Diretas , eu encontro um
Lembro que uma delas
se Arsilane, que era do Rio
depois de passar em
várias cidades, veio parar em Recife e
resolveu voltar a estudar. Tinha um
outro chamado Mauro Moraes que
veio de um interior perto de Caruaru
chamado São Caetano da Raposa e
veio para Recife para trabalhar.
Chegou aqui, morava numa pe
nsão e
resolveu estudar. Tinha Walter Sander,
que era um cara de Peixinhos que
gostava de escrever, gostava de fazer
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
poesia e quando a gente ia fazer as
provas, ele ficava ali por baixo e já
trazia uma poesia. Tinha uma menina
chamada Madalena, que era de
Peixinhos, mas de uma área bem mais
pra cá, quase em Águas Compridas.
Começamos a conversar sobre as
experiências de cada um de nós,
sobre as nossas ideias políticas, e o
pessoal, assim: “então, porque a gente
não faz aqui mesmo um grupo de
teatro daqui, d
a escola, a gente está
sempre se encontrando, tem um
espaço aqui, é bem ao lado da
Biblioteca Pública?”. A gente começou
a se encontrar e ensaiar o que seria
mais na frente o Grupo de Teatro
Atual.
O apartamento que a gente
alugou para morar também tinha
m
inha oficina de máquina de escrever
e máquina de calcular. A gente alugou
o apartamento que tinha uma área,
que era a área da empregada, aquele
vãozinho que fica do lado do
apartamento, ali no fim quando o
pessoal empurra a empregada e mais
um bocado de
tralha e bota lá. Aí eu
botei minhas tralhas dessa oficina
mecânica. E era um pulo do
apartamento. Atravessava a rua,
estava no Treze de Maio, passava
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
Americana de Estudos em
mar
. 2022. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
poesia e quando a gente ia fazer as
provas, ele ficava ali por baixo e
trazia uma poesia. Tinha uma menina
chamada Madalena, que era de
Peixinhos, mas de uma área bem mais
pra , quase em Águas Compridas.
Começamos a conversar sobre as
experiências de cada um de s,
sobre as nossas ideias políticas, e o
pessoal, assim: então, porque a gente
não faz aqui mesmo um grupo de
a escola, a gente está
sempre se encontrando, tem um
espaço aqui, é bem ao lado da
Biblioteca Pública?. A gente começou
a se encontrar e ensaiar o que seria
mais na frente o Grupo de Teatro
O apartamento que a gente
alugou para morar também tinha
inha oficina de máquina de escrever
e máquina de calcular. A gente alugou
o apartamento que tinha uma área,
que era a área da empregada, aquele
vãozinho que fica do lado do
apartamento, ali lá no fim quando o
pessoal empurra a empregada e mais
tralha e bota lá. eu
botei minhas tralhas dessa oficina
menica. E aí era um pulo do
apartamento. Atravessava a rua,
estava no Treze de Maio, passava
pela biblioteca pública, atrás já estava
na escola e me encontrava com a
galera. A gente montou o esp
chamado Romeleu e Jumeleta, pelo
nome dá para entender, era uma tira
do clássico de Shakespeare, Romeu e
Julieta, uma versão nordestina dessa
dramaturgia. Uma vero da história
que tinha forró, era
casamento matuto, algo que a gente
convivia o tempo todo aqui nas
quadrilhas matutas. A adaptação foi
feita por Walter Sander, Mauro Moraes
era o diretor e a gente era o elenco,
mas não tinha um nome nem tinha um
norte. A gente queria era
experimentar.
Depois dessa montagem,
entraram mais dois companheiros que
propuseram a gente fazer um curso.
Eram dois caras mais velhos muito
enfronhados, articulados dentro do
teatro amador de Pernambuco. Nesse
curso vieram novamente as técnicas
stanisla
vskianas, aquelas coisas de
Stanilavski do teatro realista, da arte
pela arte, da arte ilusionista e aquilo
não satisfez muito ao grupo do ponto
de vista de norte, mas as técnicas
eram muito interessantes, os
laboratórios. que deu um rolo no
final por c
onta disso, porque a gente
60
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
pela biblioteca pública, atrás estava
na escola e me encontrava com a
galera. A gente montou o esp
etáculo
chamado Romeleu e Jumeleta, pelo
nome dá para entender, era uma sátira
do clássico de Shakespeare, Romeu e
Julieta, uma vero nordestina dessa
dramaturgia. Uma versão da história
praticamente um
casamento matuto, algo que a gente
convivia o tempo todo aqui nas
quadrilhas matutas. A adaptação foi
feita por Walter Sander, Mauro Moraes
era o diretor e a gente era o elenco,
mas não tinha um nome nem tinha um
norte. A gente queria era
Depois dessa montagem,
entraram mais dois companheiros que
propuseram a gente fazer um curso.
Eram dois caras mais velhos muito
enfronhados, articulados dentro do
teatro amador de Pernambuco. Nesse
curso vieram novamente as técnicas
vskianas, aquelas coisas de
Stanilavski do teatro realista, da arte
pela arte, da arte ilusionista e aquilo
não satisfez muito ao grupo do ponto
de vista de norte, mas as técnicas
eram muito interessantes, os
laboratórios. Só que deu um rolo no
onta disso, porque a gente
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
não estava querendo aquilo, aquela
coisa rígida de direção. No curso deles
tinha essas coisas: o diretor, o
cenógrafo, toda essa estrutura aí que
o pessoal tem. E a gente não queria, a
gente queria fazer todo mundo junto,
todo mu
ndo dirigia, todo mundo era
autor, um dizia um pedaço, o outro
dizia outro pedaço… e deu um pau
danado nesse negócio, os caras foram
embora e a gente então resolveu que
a gente ia fazer um grupo desse jeito.
Como a gente estava morando
ali pelo centro
da cidade, a gente
começou a andar e conhecer outras
experiências, outros grupos, e
começou a ver que tinha uma galera
que estava fazendo teatro assim
mesmo, pensando arte, performance
dessa maneira. O pessoal se juntava,
fazia a história, fazia de forma
i
mprovisada, não tinha todo aquele
critério do teatro de caixa, e levava
para rua. E a gente montou outro
espetáculo, que toda vez que a
gente ia fazer uma apresentação,
mudava o elenco porque alguém não
podia, porque estava trabalhando,
outro tinha e
scola. às vezes era 5,
às vezes era 6, às vezes era 10, às
vezes era 12, às vezes era 3. Quando
rolou a história de fazer um nome para
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
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mar
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resistências, disputas e potências
não estava querendo aquilo, aquela
coisa rígida de direção. No curso deles
tinha essas coisas: o diretor, o
cenógrafo, toda essa estrutura que
o pessoal tem. E a gente o queria, a
gente queria fazer todo mundo junto,
ndo dirigia, todo mundo era
autor, um dizia um pedaço, o outro
dizia outro pedaço e deu um pau
danado nesse negócio, os caras foram
embora e a gente então resolveu que
a gente ia fazer um grupo desse jeito.
Como a gente estava morando
da cidade, a gente
começou a andar e conhecer outras
experiências, outros grupos, e
começou a ver que tinha uma galera
que estava fazendo teatro assim
mesmo, pensando arte, performance
dessa maneira. O pessoal se juntava,
fazia a história, fazia de forma
mprovisada, não tinha todo aquele
critério do teatro de caixa, e levava
para rua. E aí a gente montou outro
espetáculo, só que toda vez que a
gente ia fazer uma apresentação,
mudava o elenco porque alguém não
podia, porque estava trabalhando,
scola. Aí às vezes era 5,
às vezes era 6, às vezes era 10, às
vezes era 12, às vezes era 3. Quando
rolou a história de fazer um nome para
o grupo, isso pesou porque o grupo
não era um grupo que a gente podia
ter um nome porque ele era sempre
aquele grupo q
ue estava apresentando
naquele momento. A gente teve um
estresse primeiro por conta disso, era
um estresse que era todo mundo
cobrando de todo mundo. Depois a
gente chegou à concluo de que a
gente era aquilo, que a gente era
atual, era aquela formação at
gente tinha a cada dia. Um dia tinha 6,
outro dia tinha 8, tinha 10 e funcionava
justamente porque o espetáculo da
gente fugia àquelas regras rígidas do
teatro mais clássico, do teatro mais
tradicional. A gente fazia um roteiro,
nesse roteiro cad
a um se encaixava
com o seu personagem e dava conta
de construir a história, de construir o
drama naquele dia, naquele momento
e foi por isso que o grupo passou a
ser Grupo de Teatro Atual, GTA.
No GTA havia toda essa
influência do momento que a gente
estava vivendo, cada um de nós que
fazia parte do grupo tinha uma relação
com o cotidiano. Eu me dediquei mais
a lidar com o movimento negro, que
tinha a ver com tudo aquilo que eu,
quando jovem, quando criança,
vivenciei por conta da minha família,
61
periodicos.uff.br/pragmatizes
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resistências, disputas e potências
")
o grupo, isso pesou porque o grupo
não era um grupo que a gente podia
ter um nome porque ele era sempre
ue estava apresentando
naquele momento. A gente teve um
estresse primeiro por conta disso, era
um estresse que era todo mundo
cobrando de todo mundo. Depois a
gente chegou à conclusão de que a
gente era aquilo, que a gente era
atual, era aquela formação at
ual que a
gente tinha a cada dia. Um dia tinha 6,
outro dia tinha 8, tinha 10 e funcionava
justamente porque o espetáculo da
gente fugia àquelas regras rígidas do
teatro mais clássico, do teatro mais
tradicional. A gente fazia um roteiro,
a um se encaixava
com o seu personagem e dava conta
de construir a história, de construir o
drama naquele dia, naquele momento
e aí foi por isso que o grupo passou a
ser Grupo de Teatro Atual, GTA.
No GTA havia toda essa
influência do momento que a gente
estava vivendo, cada um de nós que
fazia parte do grupo tinha uma relação
com o cotidiano. Eu me dediquei mais
a lidar com o movimento negro, que
tinha a ver com tudo aquilo que eu,
quando jovem, quando criança,
vivenciei por conta da minha família,
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
por co
nta da aproximação da
religiosidade afro, por conta da
discriminação que a gente passava e
que a gente passa até hoje, por conta
do preconceito que a gente teve que
enfrentar, então eu me identificava
mais com isso. Começamos a ler
sobre socialismo, comuni
marxismo. Ler que digo, assim, é uma
leitura sem nenhuma sistematização.
Alguém trazia alguma coisa e dizia,
“olha, eu vi isso, eu vi aquilo, soube
disso”, “ah, vai ter um encontro da
Juventude Socialista lá na
universidade tal”. Aí a gente estava por
ali pela cidade, “ah, é, quem te
disse?”, “fulano”, “vamos lá?, vamos”,
a gente ia e participava.
Nisso conheci um cara
chamado Joacir
de Castro, grande
mestre remanescente do MCP
Movimento Cultura Popular de
Pernambuco. Através dele conheci
Paulo Freire pessoalmente. Conheci
Padre Reginaldo Veloso, Dom Hélder
Câmara e uma série de pessoas da
área de teatro, de música, da área de
educa
ção, a esquerda da cultura de
Pernambuco da época. Participei no
Rio de Janeiro da última comemoração
da Revolução Soviética que aconteceu
no Brasil, fui com o espetáculo que
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mar
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(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
nta da aproximação da
religiosidade afro, por conta da
discriminação que a gente passava e
que a gente passa até hoje, por conta
do preconceito que a gente teve que
enfrentar, então eu me identificava
mais com isso. Começamos a ler
sobre socialismo, comuni
smo,
marxismo. Ler que digo, assim, é uma
leitura sem nenhuma sistematização.
Alguém trazia alguma coisa e dizia,
olha, eu vi isso, eu vi aquilo, soube
disso, ah, vai ter um encontro da
Juventude Socialista na
universidade tal. Aí a gente estava por
ali pela cidade, ah, é, quem te
disse?, fulano, vamos lá?”, “vamos”,
Nisso conheci um cara
de Castro, grande
mestre remanescente do MCP
-
Movimento Cultura Popular de
Pernambuco. Através dele conheci
Paulo Freire pessoalmente. Conheci
Padre Reginaldo Veloso, Dom Hélder
Câmara e uma rie de pessoas da
área de teatro, de música, da área de
ção, a esquerda da cultura de
Pernambuco da época. Participei no
Rio de Janeiro da última comemoração
da Revolução Soviética que aconteceu
no Brasil, fui com o espetáculo que
ele. A gente não fez o espetáculo,
mas participou de debates, ganhou
livros. F
oi um cara que teve muita
influência no GTA porque tudo que
pude conhecer dentro do grupo de
espetáculo dele, que era
Teatro
, procurava compartilhar com o
pessoal no GTA.
Pronto, é nesse clima que surge
o Grupo de Teatro Atual, com um
grupo de pe
ssoas que estava
querendo voltar a estudar, a
compreender a vida. A gente estava
entre o surgimento do MNU, a
reorganização dos partidos, a
construção da Juventude Socialista, a
reorganização do Partido Democrático
Trabalhista (PDT), o surgimento do
Partid
o dos Trabalhadores (PT),
surgimento do Partido Socialista
Brasileiro (PSB). A gente era chamado
para fazer apresentações,
performances nos encontros desses
grupos de esquerda. Aí veio as Diretas
Já, que foi muito emblemático
também. A gente trouxe então p
dentro do grupo de teatro a prática da
reflexão, do estudo, da pesquisa e de
compreender a arte como um canal de
expressão, de levar a reflexão, de
levar o debate para as ruas.
62
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
ele. A gente não fez o espetáculo,
mas participou de debates, ganhou
oi um cara que teve muita
influência no GTA porque tudo que
pude conhecer dentro do grupo de
espetáculo dele, que era
Cooperar
, procurava compartilhar com o
Pronto, é nesse clima que surge
o Grupo de Teatro Atual, com um
ssoas que estava
querendo voltar a estudar, a
compreender a vida. A gente estava
entre o surgimento do MNU, a
reorganização dos partidos, a
construção da Juventude Socialista, a
reorganização do Partido Democrático
Trabalhista (PDT), o surgimento do
o dos Trabalhadores (PT),
surgimento do Partido Socialista
Brasileiro (PSB). A gente era chamado
para fazer apresentações,
performances nos encontros desses
grupos de esquerda. veio as Diretas
, que foi muito emblemático
também. A gente trouxe então p
ara
dentro do grupo de teatro a prática da
reflexão, do estudo, da pesquisa e de
compreender a arte como um canal de
expressão, de levar a reflexão, de
levar o debate para as ruas.
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
De volta à comunidade: o lugar dos
amigos e parentes
Esse período em que e
centro da cidade foi um período de
incubação, de gestação do GTA, que
acho que vem ser parido mesmo
quando voltei para o Alto da Bondade.
no final de 1983, primeiro sentia
muita saudade do frenesi da
comunidade que é diferente do centro
do Reci
fe. E, segundo, minha oficina
de máquina começava a sofrer uma
certa dificuldade, porque as grandes
empresas como a IBM, a Remington,
começaram a lançar as máquinas
elétricas e aí os escritórios e empresas
para quem trabalhava começaram a
renovar seus a
cervos de máquinas
tanto de calcular como de escrever. Eu
não tinha essa preparação, só
trabalhava com máquina mecânica, e
começou a diminuir a minha renda.
E já comecei também a observar que a
área de artes era o que eu gostava e
queria, e podia me esp
ecializar mais e
fazer disso também uma fonte de
renda.
Voltei para o Alto da Bondade
no início de 1984, passei um período
me rearticulando nas coisas da
comunidade quando estava
acontecendo um grande momento de
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
Americana de Estudos em
mar
. 2022. www.
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(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
De volta à comunidade: o lugar dos
Esse período em que e
stava no
centro da cidade foi um período de
incubação, de gestação do GTA, que
acho que vem ser parido mesmo
quando voltei para o Alto da Bondade.
Aí no final de 1983, primeiro sentia
muita saudade do frenesi da
comunidade que é diferente do centro
fe. E, segundo, minha oficina
de máquina já começava a sofrer uma
certa dificuldade, porque as grandes
empresas como a IBM, a Remington,
começaram a lançar as máquinas
elétricas e aí os escritórios e empresas
para quem trabalhava começaram a
cervos de máquinas
tanto de calcular como de escrever. Eu
não tinha essa preparação,
trabalhava com máquina mecânica, e
aí começou a diminuir a minha renda.
E já comecei também a observar que a
área de artes era o que eu gostava e
ecializar mais e
fazer disso também uma fonte de
Voltei para o Alto da Bondade
no início de 1984, passei um período
me rearticulando nas coisas da
comunidade quando estava
acontecendo um grande momento de
luta por conta de uma tubulação de
gás que
ia passar no centro da
comunidade, destruindo alguns
lugares de lazer, removendo alguns
moradores. Nesse mesmo período, na
favela de Cubatão, aconteceu um
grande desastre em que uma
tubulação de gás, acho que era o gás
metano, explodiu. E aí a comunidade
f
icou toda tensa com isso e a gente
começou a se envolver, e claro se
envolver com a nossa forma, com a
nossa linguagem que era o teatro. Foi
que reconstruímos o GTA, ou
melhor, construímos na verdade o
GTA no Alto da Bondade. Dessa vez
de uma outra mane
ira porque, antes
de sair da cidade, conheci uma figura
que é hoje a alma, o espírito que
encarnou, que acompanhou, que
conduziu o grupo, Inaldete Pinheiro.
Presidente do centro que tem o nome
do poeta negro pernambucano Solano
Trindade, tinha aproximação
família de Solano, tinha toda uma
paixão por sua obra e com quem
conhecemos uma discussão mais
profunda sobre a poética e a
dramaturgia negra. A gente retorna
para a comunidade com essa
bagagem da relação com o centro.
63
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- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
luta por conta de uma tubulação de
ia passar no centro da
comunidade, destruindo alguns
lugares de lazer, removendo alguns
moradores. Nesse mesmo período, na
favela de Cubatão, aconteceu um
grande desastre em que uma
tubulação de gás, acho que era o gás
metano, explodiu. E a comunidade
icou toda tensa com isso e a gente
começou a se envolver, e claro se
envolver com a nossa forma, com a
nossa linguagem que era o teatro. Foi
aí que reconstruímos o GTA, ou
melhor, construímos na verdade o
GTA no Alto da Bondade. Dessa vez
ira porque, antes
de sair da cidade, conheci uma figura
que é hoje a alma, o espírito que
encarnou, que acompanhou, que
conduziu o grupo, Inaldete Pinheiro.
Presidente do centro que tem o nome
do poeta negro pernambucano Solano
Trindade, tinha aproximação
com a
família de Solano, tinha toda uma
paixão por sua obra e com quem
conhecemos uma discussão mais
profunda sobre a poética e a
dramaturgia negra. A gente retorna
para a comunidade com essa
bagagem da relação com o centro.
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
Dessa gestação, veio o momento
parir o GTA na luta, em 1985.
Conversa
Eita negro!
quem foi que disse
que a gente não é gente?
quem foi esse demente,
se tem olhos não vê
-
Que foi que fizeste mano
pra tanto falar assim?
-
Plantei os canaviais do
nordeste
-
E tu, mano, o que fizeste?
Eu plantei algodão
nos campos do sul
pros homens de sangue azul
que pagavam o meu trabalho
com surra de cipó
-
- Basta, mano,
pra eu não chorar,
E tu, Ana,
Conta-
me tua vida,
Na senzala, no terreiro
- Eu…
cantei embolada,
pra sinhá dormir,
fiz tranças nela,
pra sinhá sair,
tomando cachaça,
servi de amor,
dancei no terreiro,
pra sinhozinho,
apanhei surras grandes,
sem mal eu fazer.
Eita! quanta coisa
tu tens pra contar…
não conta mais nada,
pra eu não chorar
E tu, Manoel,
que andaste a fazer
-
Eu sempre fui malandro
Ó tia Maria,
gostava de terreiro,
como ninguém,
subi para o morro,
fiz sambas bonitos,
conquistei as mulatas
bonitas de lá…
Eita negro!
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revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
Americana de Estudos em
mar
. 2022. www.
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(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
Dessa gestação, veio o momento
de
parir o GTA na luta, em 1985.
quem foi que disse
que a gente não é gente?
quem foi esse demente,
se tem olhos não vê…
Que foi que fizeste mano
pra tanto falar assim?
Plantei os canaviais do
E tu, mano, o que fizeste?
Eu plantei algodão
nos campos do sul
pros homens de sangue azul
que pagavam o meu trabalho
-pau.
pra eu não chorar,
me tua vida,
Na senzala, no terreiro
tomando cachaça,
dancei no terreiro,
apanhei surras grandes,
tu tens pra contar
não conta mais nada,
pra eu não chorar
-
que andaste a fazer
Eu sempre fui malandro
gostava de terreiro,
subi para o morro,
fiz sambas bonitos,
conquistei as mulatas
-
Quem foi que disse
que a gente não é gente?
Quem foi esse demente,
se tem olhos não vê.
(Solano Trindade, 2008)
Nessa trajetória tiveram as
experiências também que a gente
trouxe da relação com o movimento
popular. Aqui novamente tenho que
retornar um pouco porque a minha
relação com o movimento comunitário
também data de antes. E aí vai dan
para ver na história também que morei
em muitos lugares, a gente não tinha
casa. O meu pai de criação, meu
padrasto, era carpinteiro, e minha mãe
empregada doméstica. A gente, além
de não ter casa, não tinha como pagar
aluguel. Então era muito natural
p
assar um tempo num lugar, daqui a
pouco não dava mais para pagar o
aluguel, atrasava, o povo botava para
fora, a gente ia para outro. Então
morei em vários lugares. Um deles foi
a Campina do Barreto, um bairro da
Zona Norte do Recife que é bem
vizinho de P
eixinhos, um outro grande
bairro entre Recife e Olinda, onde
conheci o líder comunitário Olvídio de
Paula. Era também da igreja católica,
ligado ao encontro de irmãos e do
grupo de Dom Hélder Câmara,
acredito hoje que fazia parte da
64
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- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
Quem foi que disse
que a gente não é gente?
Quem foi esse demente,
se tem olhos não vê.
(Solano Trindade, 2008)
Nessa trajetória tiveram as
experiências também que a gente
trouxe da relação com o movimento
popular. Aqui novamente tenho que
retornar um pouco porque a minha
relação com o movimento comunitário
também data de antes. E vai dan
do
para ver na história também que morei
em muitos lugares, a gente não tinha
casa. O meu pai de criação, meu
padrasto, era carpinteiro, e minha mãe
empregada doméstica. A gente, além
de não ter casa, não tinha como pagar
aluguel. Então era muito natural
assar um tempo num lugar, daqui a
pouco não dava mais para pagar o
aluguel, atrasava, o povo botava para
fora, a gente ia para outro. Então
morei em vários lugares. Um deles foi
a Campina do Barreto, um bairro da
Zona Norte do Recife que é bem
eixinhos, um outro grande
bairro entre Recife e Olinda, onde
conheci o líder comunitário Olvídio de
Paula. Era também da igreja católica,
ligado ao encontro de irmãos e do
grupo de Dom Hélder Câmara,
acredito hoje que fazia parte da
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
Teologia da Libertação
organizava em uma associação da
comunidade de Cabo Gato, uma
comunidade ribeirinha bem pertinho ali
de onde hoje fica a Biblioteca
Multicultural do Nascedouro.
Olvídio era líder da associação
de moradores que por algumas vezes
foi atacada pela políci
a, pelo Estado,
para expulsar da área ribeirinha. Eram
casebres de madeira e de papelão que
o pessoal ocupou porque não tinha
moradia. Era um momento de muita
ação, de ocupação pela necessidade.
A ocupação não foi de forma
organizada, o pessoal se organizo
depois que entrou na ocupação, viu a
necessidade de se organizar para
resistir e caminhei por ali, participei de
reuniões. Também ia para o outro
lado, em Peixinhos, que era a área
onde a gente ia ver mamulengo,
fandango, ciranda. Era a área onde eu
ia v
iver essa coisa da arte, da cultura,
da cultura popular e beber um pouco
nessa fonte que até hoje me abastece.
Peixinhos também tinha suas lutas.
Era todo alagado, a Rua do Condor,
por exemplo, até hoje ainda é alagada,
quando chove é uma agonia. Imagine
q
uando eu tinha 17 anos, 16 anos
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revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
Americana de Estudos em
mar
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(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
Teologia da Libertação
e se
organizava em uma associação da
comunidade de Cabo Gato, uma
comunidade ribeirinha bem pertinho ali
de onde hoje fica a Biblioteca
Multicultural do Nascedouro.
Oldio era líder da associação
de moradores que por algumas vezes
a, pelo Estado,
para expulsar da área ribeirinha. Eram
casebres de madeira e de papelão que
o pessoal ocupou porque não tinha
moradia. Era um momento de muita
ação, de ocupação pela necessidade.
A ocupação não foi de forma
organizada, o pessoal se organizo
u
depois que entrou na ocupação, viu a
necessidade de se organizar para
resistir e caminhei por ali, participei de
reuniões. Também ia para o outro
lado, em Peixinhos, que era a área
onde a gente ia ver mamulengo,
fandango, ciranda. Era a área onde eu
iver essa coisa da arte, da cultura,
da cultura popular e beber um pouco
nessa fonte que até hoje me abastece.
Peixinhos também tinha suas lutas.
Era todo alagado, a Rua do Condor,
por exemplo, até hoje ainda é alagada,
quando chove é uma agonia. Imagine
uando eu tinha 17 anos, 16 anos
- eu
estou com 62 -
é que a história era
terrível, era tudo de madeira.
Em Peixinhos havia um
Matadouro que alimentava o pessoal
tanto da Campina do Barreto como de
Peixinhos. Boa parte das pessoas ali
vivia das vísceras
dos bois que eram
abatidos. Hoje você vai no mercado e
compra tripa, compra bucho, compra
rins, compra língua, naquela época
não, tudo isso era descartado em uma
área chamada magarefe. Era um
quartinho que tinha para o lado da rua
e o pessoal ia com panel
Era o grande bolsão de miria,
sempre foi. Políticas públicas, se hoje
não existe, antes nem se achava que
existia, nem se achava que tinha
direito a isso. E eu comecei a
conhecer o movimento popular com
essa galera, que eu fazia parte
ta
mbém, a gente se alimentava disso,
a gente corria atrás disso também.
Então foi essa a minha
experiência em Campina do Barreto,
em Peixinhos, Jardim Brasil, bairros
em que sempre morou a classe
trabalhadora, tanto empregada,
desempregada, trabalhadores
in
formais. A grande marca desses
locais, desses bairros, sempre foi a
falta de políticas públicas e a presença
65
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
aí é que a história era
terrível, era tudo de madeira.
Em Peixinhos havia um
Matadouro que alimentava o pessoal
tanto da Campina do Barreto como de
Peixinhos. Boa parte das pessoas ali
dos bois que eram
abatidos. Hoje você vai no mercado e
compra tripa, compra bucho, compra
rins, compra língua, naquela época
não, tudo isso era descartado em uma
área chamada magarefe. Era um
quartinho que tinha para o lado da rua
e o pessoal ia com panel
a, com prato.
Era o grande bolsão de miséria,
sempre foi. Políticas públicas, se hoje
não existe, antes nem se achava que
existia, nem se achava que tinha
direito a isso. E aí eu comecei a
conhecer o movimento popular com
essa galera, que eu fazia parte
mbém, a gente se alimentava disso,
a gente corria atrás disso também.
Então foi essa a minha
experiência em Campina do Barreto,
em Peixinhos, Jardim Brasil, bairros
em que sempre morou a classe
trabalhadora, tanto empregada,
desempregada, trabalhadores
formais. A grande marca desses
locais, desses bairros, sempre foi a
falta de políticas públicas e a presença
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
violenta do Estado através da polícia,
porque nós sempre fomos vistos como
problemas. Cansei de quando parava
o ônibus que a polícia subia,
que era alvo de abordagem. Quando
vinha na rua que a polícia vinha, já
sabia que ia parar para abordagem. A
gente sempre teve muito mais medo
de transitar nas ruas de madrugada ou
em lugares mais ermos, mais
esquisitos, mais medo da polícia do
que ser at
acado por delinquentes, por
marginais.
Figura 1 - Fragmento 1
Fonte: Abdias do Nascimento (1961, p. 166)
De uns anos para cá, acho que
de uns 20 para cá, a gente começou a
conhecer instrumentos e caminhos
para denunciar, para se defender, mas
antes disso -
acho que até meus 30,
35 anos de idade -
em todas essas
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
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(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
violenta do Estado atras da polícia,
porque nós sempre fomos vistos como
problemas. Cansei de quando parava
o ônibus que a polícia subia,
sabia
que era alvo de abordagem. Quando
vinha na rua que a polícia vinha,
sabia que ia parar para abordagem. A
gente sempre teve muito mais medo
de transitar nas ruas de madrugada ou
em lugares mais ermos, mais
esquisitos, mais medo da polícia do
acado por delinquentes, por
Fonte: Abdias do Nascimento (1961, p. 166)
De uns anos para cá, acho que
de uns 20 para , a gente começou a
conhecer instrumentos e caminhos
para denunciar, para se defender, mas
acho que a meus 30,
em todas essas
comunidades que eu vivi, tapa na cara
era motivo
de baixar a cabeça e ficar
calado. Não tinha o que fazer não e se
fizesse alguma coisa era pior, os caras
podiam à noite invadir nossas casas.
Isso mudou, mas o muito porque
continuam com umas ações muito
violentas nos nossos bairros, nesses
bairros que
a gente viveu, como
Jardim Brasil, Peixinhos, Campina do
Barreto, Jordão, Alto Santa Terezinha
e Alto da Bondade. Esses lugares
sempre foram o bolsão de miria, o
exército de reserva do sistema de
produção e, na grande maioria,
éramos e somos até hoje ne
jogados pelas circunstâncias, pela
conjuntura para esses lugares. Um
lugar mais afastado, mais abandonado
e a gente pôde ocupar terrenos ou
pôde comprar ou adquirir terrenos
baratos, enfim, havia condições de
botar um barraco, outro quando
conseguia
um terrenozinho maior,
dava um pedaço para outro que
chegava na necessidade.
Sempre foi esse o dia
desses bairros, durante o inverno é
água, é enchente, em outras áreas é
barreira caindo. Durante o verão é
poeira, muita poeira, e durante todo o
tempo
uma repressão sempre enorme
66
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resistências, disputas e potências
")
comunidades que eu vivi, tapa na cara
de baixar a cabeça e ficar
calado. Não tinha o que fazer não e se
fizesse alguma coisa era pior, os caras
podiam à noite invadir nossas casas.
Isso mudou, mas não muito porque
continuam com umas ações muito
violentas nos nossos bairros, nesses
a gente viveu, como
Jardim Brasil, Peixinhos, Campina do
Barreto, Jordão, Alto Santa Terezinha
e Alto da Bondade. Esses lugares
sempre foram o bolsão de miséria, o
exército de reserva do sistema de
produção e, na grande maioria,
éramos e somos até hoje ne
gros,
jogados pelas circunstâncias, pela
conjuntura para esses lugares. Um
lugar mais afastado, mais abandonado
e a gente pôde ocupar terrenos ou
pôde comprar ou adquirir terrenos
baratos, enfim, havia condições de
botar um barraco, outro quando
um terrenozinho maior,
dava um pedaço para outro que
chegava na necessidade.
Sempre foi esse o dia
-a-dia
desses bairros, durante o inverno é
água, é enchente, em outras áreas é
barreira caindo. Durante o verão é
poeira, muita poeira, e durante todo o
uma represo sempre enorme
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revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
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Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
para controlar a desgraceira feita pela
falta de política blica, pela falta de
oportunidade, pela qualidade do
ensino. Muitos garotos da minha
época não se sentiam atraídos pela
escola, muito pelo contrário, se
sentiam exp
ulsos da escola. Poucos
desenvolveram o hábito de ler, poucos
desenvolveram o gosto pela arte, pela
própria cultura. Poucos desenvolveram
o hábito de sonhar e de olhar para a
vida como uma possibilidade coletiva.
Então, não deixo de estar nesses
bairros,at
é porque sou eles. É neles
que estão os meus amigos, meus
parentes, as pessoas que me identifico
e que me articulo, seja aqueles que
têm uma visão política mais apurada,
uma visão cultural mais apurada ou
seja aqueles que ainda precisam
descobrir. São os m
eus irmãos que
estão nesses bairros.
Quando a gente volta, encontra
a comunidade em ebulição com duas
questões. A primeira era essa do gás,
uma empresa cortando as ruas,
derrubando as coisas para colocar
uma tubulação de gás e as pessoas
assustadas sabi
am que houve um
acidente em outro lugar. A segunda
era o presidente da associação de
moradores mais de 20 anos, do
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
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(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
para controlar a desgraceira feita pela
falta de política pública, pela falta de
oportunidade, pela má qualidade do
ensino. Muitos garotos da minha
época não se sentiam atraídos pela
escola, muito pelo contrário, se
ulsos da escola. Poucos
desenvolveram o hábito de ler, poucos
desenvolveram o gosto pela arte, pela
própria cultura. Poucos desenvolveram
o hábito de sonhar e de olhar para a
vida como uma possibilidade coletiva.
Então, não deixo de estar nesses
é porque sou eles. É neles
que estão os meus amigos, meus
parentes, as pessoas que me identifico
e que me articulo, seja aqueles que
têm uma vio política mais apurada,
uma vio cultural mais apurada ou
seja aqueles que ainda precisam
eus irmãos que
Quando a gente volta, encontra
a comunidade em ebulição com duas
questões. A primeira era essa do gás,
uma empresa cortando as ruas,
derrubando as coisas para colocar
uma tubulação de gás e as pessoas
am que houve um
acidente em outro lugar. A segunda
era o presidente da associação de
moradores há mais de 20 anos, do
conselho de moradores, que nunca fez
uma eleição e que se colocou contra a
população. Aquele que a gente
chamava na época de pelego, que é
cara que ficava contra a comunidade a
partir de qualquer vantagenzinha que
pudesse aparecer para ele. E aí o
pessoal resolveu dizer não, já que não
teve eleição até agora, vai ter.
Passamos então a convidar as
pessoas para fazer uma oficina de
teatro q
ue conclui com a montagem do
espetáculo sobre esse momento da
comunidade. A gente queria provocar
uma reflexão, um questionamento para
que a comunidade pudesse se
mobilizar mais para lutar por essas
duas coisas. convidamos para nos
auxiliar as pessoas q
do antigo movimento por moradia, o
Movimento de Defesa dos Favelados,
uns companheiros do Alto Cajueiro,
que é vizinho do Alto da Bondade, do
Alto Conquista e o GTA.
Enquanto na cidade a gente
chegava
a gente chamou o pessoal para fazer
uma oficina, o grupo terminou com 25
integrantes. Meninos e meninas lá da
comunidade, todo mundo a fim de
cantar, de dançar e de pensar as
coisas. Nesse período a gente discutiu
67
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resistências, disputas e potências
")
conselho de moradores, que nunca fez
uma eleição e que se colocou contra a
população. Aquele que a gente
chamava na época de pelego, que é
o
cara que ficava contra a comunidade a
partir de qualquer vantagenzinha que
pudesse aparecer para ele. E o
pessoal resolveu dizer não, que não
teve eleição até agora, vai ter.
Passamos então a convidar as
pessoas para fazer uma oficina de
ue conclui com a montagem do
espetáculo sobre esse momento da
comunidade. A gente queria provocar
uma refleo, um questionamento para
que a comunidade pudesse se
mobilizar mais para lutar por essas
duas coisas. Aí convidamos para nos
auxiliar as pessoas q
ue participavam
do antigo movimento por moradia, o
Movimento de Defesa dos Favelados,
uns companheiros do Alto Cajueiro,
que é vizinho do Alto da Bondade, do
Alto Conquista e o GTA.
Enquanto na cidade a gente
a ter 6, 7, 8 pessoas, quando
a gente chamou o pessoal para fazer
uma oficina, o grupo terminou com 25
integrantes. Meninos e meninas da
comunidade, todo mundo a fim de
cantar, de dançar e de pensar as
coisas. Nesse período a gente discutiu
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
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Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
também que o
nosso grupo não ia se
dedicar a montar os espetáculos que
fossem de qualquer tema, mas que
tivesse o recorte da questão racial,
que era o que nos unia. Trouxemos a
primeira vez Inaldete para fazer um
debate com a gente sobre a poética de
Solano Trindade,
sobre o Teatro
Experimental do Negro. Ela nos trouxe
Fonte: Abdias do Nascimento (1961, p. 190)
Teatro de rua na comunidade
Além da carência econômica
comum da comunidade, havia também
uma carência muito grande intelectual,
cultural e, assim, uma questão afetiva
também nos lares. Talvez por isso
quando a gente chegou e falou numa
oficina de teatro, a gente juntou tantos
garotos
, tantas garotas, a gente
enquanto garotos naquela época
também se juntou. Cheguei uma certa
época até a perceber e conversar
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
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(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
nosso grupo não ia se
dedicar a montar os espetáculos que
fossem de qualquer tema, mas que
tivesse o recorte da questão racial,
que era o que nos unia. Trouxemos a
primeira vez Inaldete para fazer um
debate com a gente sobre a poética de
sobre o Teatro
Experimental do Negro. Ela nos trouxe
um texto chamado Sortilégio (1961),
de Abdias do Nascimento, alguém que
depois tive o prazer de conhecer e
conviver um pouco em Salvador.
Considero que nesse momento, com
essa composição, com esse contex
a gestação terminava e a gente estava
parindo, a gente estava colocando no
mundo o Grupo de Teatro Atual.
Figura 2 – Fragmento 2
Fonte: Abdias do Nascimento (1961, p. 190)
Teatro de rua na comunidade
Além da carência econômica
comum da comunidade, havia também
uma carência muito grande intelectual,
cultural e, assim, uma questão afetiva
também nos lares. Talvez por isso
quando a gente chegou e falou numa
oficina de teatro, a gente juntou tantos
, tantas garotas, a gente
enquanto garotos naquela época
também se juntou. Cheguei uma certa
época até a perceber e conversar
sobre como algumas pessoas estavam
ali exatamente porque não tinha outro
ambiente, não era às vezes nem pela
opção, pela arte, pel
conhecimento, por estar em um
ambiente onde a gente estava
frequentemente lendo textos,
refletindo, trabalhando o corpo,
trabalhando a mente, trabalhando o
que a arte nos apontava e o que essa
inquietação nos apontava, mas para
muitas pessoas er
a por não suportar
68
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resistências, disputas e potências
")
um texto chamado Sortilégio (1961),
de Abdias do Nascimento, alguém que
depois tive o prazer de conhecer e
conviver um pouco em Salvador.
Considero que nesse momento, com
essa composição, com esse contex
to,
a gestação terminava e a gente estava
parindo, a gente estava colocando no
mundo o Grupo de Teatro Atual.
sobre como algumas pessoas estavam
ali exatamente porque não tinha outro
ambiente, não era às vezes nem pela
opção, pela arte, pel
a busca do
conhecimento, por estar em um
ambiente onde a gente estava
frequentemente lendo textos,
refletindo, trabalhando o corpo,
trabalhando a mente, trabalhando o
que a arte nos apontava e o que essa
inquietação nos apontava, mas para
a por não suportar
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
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mar
mesmo por muito tempo aquele
ambiente familiar onde a falta de
alimento, a falta de afeto, a falta de
compreensão. Então, nas oficinas
tinha uma parte que vinha para ocupar
o tempo, para ter com quem se
encontrar, que a escola era um
tempo curto -
era até mais curto na
época e não existia aquela história de
escola aberta no final de semana, aliás
não existia nem escola que estava
sendo construída ainda, quem
estudava, estudava fora, era um
sacrifício e tinha pouca gente também
que ia p
ara escola, tinha muita gente
fora da escola.
O primeiro espetáculo que a
gente montou foi contextualizando
essa história do conselho e a questão
do gás metano com um grupo de
meninos e de mulheres. Aliás uma
coisa que é importante que se diga é
que o movi
mento popular de
associação de moradores, esse
movimento mais de luta, já nos anos
1980, era majoritariamente de
mulheres. O assumir das mulheres era
muito forte, embora a gente tivesse, e
isso a gente faz uma crítica e até hoje
existe, conselhos de mães,
clubes de mães -
Andréa está
lembrando aqui -
, dirigidos por homens
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resistências, disputas e potências
mesmo por muito tempo aquele
ambiente familiar onde a falta de
alimento, a falta de afeto, a falta de
compreensão. Então, nas oficinas
tinha uma parte que vinha para ocupar
o tempo, para ter com quem se
encontrar, já que a escola era um
era até mais curto na
época e não existia aquela história de
escola aberta no final de semana, aliás
não existia nem escola que estava
sendo construída ainda, quem
estudava, estudava fora, era um
sacrifício e tinha pouca gente também
ara escola, tinha muita gente
O primeiro espetáculo que a
gente montou foi contextualizando
essa história do conselho e a questão
do gás metano com um grupo de
meninos e de mulheres. Aliás uma
coisa que é importante que se diga é
mento popular de
associação de moradores, esse
movimento mais de luta, nos anos
1980, era majoritariamente de
mulheres. O assumir das mulheres era
muito forte, embora a gente tivesse, e
isso a gente faz uma crítica e até hoje
existe, conselhos de mães,
aliás,
Andréa está
, dirigidos por homens
geralmente desses que a gente
chamava pelego, essa galera que usa
como capital eleitoral. Mas em todas
as outras partes do movimento a
grande maioria era de mulheres,
algumas delas
nem assimilavam essa
proposta do protagonismo feminino,
estavam ali pelo sentido mesmo desse
da opressão estar mais pesado
sobre elas e elas reagiam muito mais
rápido, sempre reagiram muito mais
rápido do que os homens.
O GTA apesar de a gente falar
qu
e era um grupo de teatro, na
verdade era um grupo de teatro de rua
que tinha como objetivo principal
pesquisar, montar e encenar
espetáculos de teatro com recorte da
questão racial, mas que contribuísse
para a mobilização e organização
popular.Conseguimos
gás, na frente de todos os tratores que
vinham cortando, a gente se colocou e
conseguiu um grupo pequeno da
comunidade, que a comunidade
tímida, oprimida, identificava a gente
como agitadores -
isso incitado pelo
presidente do conselho que
revoltado porque a gente estava
envolvido também em tirá
conselho que era apoiado pelos
órgãos públicos, por alguns políticos,
69
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resistências, disputas e potências
")
geralmente desses que a gente
chamava pelego, essa galera que usa
como capital eleitoral. Mas em todas
as outras partes do movimento a
grande maioria era de mulheres,
nem assimilavam essa
proposta do protagonismo feminino,
estavam ali pelo sentido mesmo desse
pé da opressão estar mais pesado
sobre elas e elas reagiam muito mais
rápido, sempre reagiram muito mais
rápido do que os homens.
O GTA apesar de a gente falar
e era um grupo de teatro, na
verdade era um grupo de teatro de rua
que tinha como objetivo principal
pesquisar, montar e encenar
espetáculos de teatro com recorte da
questão racial, mas que contribuísse
para a mobilização e organização
popular.Conseguimos
parar a obra do
gás, na frente de todos os tratores que
vinham cortando, a gente se colocou e
conseguiu um grupo pequeno da
comunidade, que a comunidade
tímida, oprimida, identificava a gente
isso incitado pelo
presidente do conselho que
estava
revoltado porque a gente estava
envolvido também em tirá
-lo do
conselho que era apoiado pelos
órgãos públicos, por alguns políticos,
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revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
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Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
porque ele na verdade arregimentava
votos na época de eleição para o
pessoal que estava no poder. Em uma
reunião par
a discutir o conselho, veio
vereador, veio prefeito para defendê
lo. a gente conseguiu um pastor da
Igreja Metodista, a gente chamava
Pastor Davi, mas ele tinha um nome
em inglês que ele era estrangeiro e
estava querendo montar a Igreja
Metodista aqui.
A gente conseguiu o
apoio dele, conseguiu o apoio de uma
comerciante que também estava
chateada com as coisas que já tinha
estourado à frente do Comércio e em
meio a isso organizávamos esquetes,
não era nem espetáculo.
Esse primeiro espetáculo foi
grande,
a gente botou como
personagem o presidente da
associação, a gente botou o prefeito
como personagem, a gente colocou
três pessoas aqui que eram da área de
futebol que também agiam como
pelegos e estavam do lado dele. Foi
um momento muito interessante
porqu
e mesmo a gente tendo muitas
derrotas -
derrota de voltar para casa
frustrado, passava 2, 3 dias até se
reunir para ensaiar e chegava todo
mundo de cabeça baixa
aprendizado muito grande dentro da
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resistências, disputas e potências
porque ele na verdade arregimentava
votos na época de eleição para o
pessoal que estava no poder. Em uma
a discutir o conselho, veio
vereador, veio prefeito para defendê
-
lo. Aí a gente conseguiu um pastor da
Igreja Metodista, a gente chamava
Pastor Davi, mas ele tinha um nome
em inglês que ele era estrangeiro e
estava querendo montar a Igreja
A gente conseguiu o
apoio dele, conseguiu o apoio de uma
comerciante que também estava
chateada com as coisas que tinha
estourado à frente do Comércio e em
meio a isso organizávamos esquetes,
Esse primeiro espetáculo foi
a gente botou como
personagem o presidente da
associação, a gente botou o prefeito
como personagem, a gente colocou
três pessoas aqui que eram da área de
futebol que também agiam como
pelegos e estavam do lado dele. Foi
um momento muito interessante
e mesmo a gente tendo muitas
derrota de voltar para casa
frustrado, passava 2, 3 dias até se
reunir para ensaiar e chegava todo
mundo de cabeça baixa
-, foi um
aprendizado muito grande dentro da
comunidade. Foi um aprendizado
muito grande para o
grupo de teatro, e
finalmente a gente conseguiu fazer a
eleição do conselho. Tiveram três
chapas, ele perdeu e ficou no terceiro
lugar. A construção do gás continuou,
mas com critérios que tiveram que ser
discutidos com a comunidade. Veio
gente da Petrobr
as, veio gente da
prefeitura, veio gente do governo do
estado. Foi um momento muito rico,
muito rico mesmo de aprendizado.
A gente se articulou com o
MTP-
PE, Movimento de Teatro
Popular de Pernambuco, que
congregava uma série de grupos
similares ao nosso.
Grupos de igreja
que faziam a Paixão de Cristo e
também outras coisas; grupos que
surgiram em associações de
moradores; grupos mais da vanguarda
que surgiram nos sindicatos, o
sindicato dos bancários tinha um grupo
de teatro específico de lá; grupos mais
anarquistas que era a galera
independente, mas que se encontrava
na Praça Maciel Pinheiro no centro da
cidade para tomar uma e aí fazia
poesia rodando o chapéu.Criaram o
MTP-
PE e faziam parte da Federação
de Teatro de Pernambuco (Feteape).
70
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resistências, disputas e potências
")
comunidade. Foi um aprendizado
grupo de teatro, e
finalmente a gente conseguiu fazer a
eleição do conselho. Tiveram três
chapas, ele perdeu e ficou no terceiro
lugar. A construção do gás continuou,
mas com critérios que tiveram que ser
discutidos com a comunidade. Veio
as, veio gente da
prefeitura, veio gente do governo do
estado. Foi um momento muito rico,
muito rico mesmo de aprendizado.
A gente se articulou com o
PE, Movimento de Teatro
Popular de Pernambuco, que
congregava uma rie de grupos
Grupos de igreja
que faziam a Paixão de Cristo e
também outras coisas; grupos que
surgiram em associações de
moradores; grupos mais da vanguarda
que surgiram nos sindicatos, o
sindicato dos banrios tinha um grupo
de teatro espefico de lá; grupos mais
anarquistas que era a galera
independente, mas que se encontrava
na Praça Maciel Pinheiro no centro da
cidade para tomar uma e fazia
poesia rodando o chapéu.Criaram o
PE e faziam parte da Federação
de Teatro de Pernambuco (Feteape).
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
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mar
As reuniões da f
giravam em torno de patronio, pauta
no teatro, qualidade estética.Mas
quem estava mais na comunidade,
vivendo, lidando com as contradições
e disputas que estavam ali, com a
ausência do poder público, com as
carências culturais, intelectuais,
afe
tivas, políticas, sociais que estavam
por ali incomodando, nós que
fazíamos esses grupos, a gente queria
discutir e atuar diante dessas coisas. E
na Feteape os grupos estavam
preocupados em quem é que ia entrar
no Santa Isabel, quem é que consegue
entrar n
o Teatro do Parque, no
Valdemar de Oliveira, quem é que
consegue patrocínio, o cartaz, a mídia.
Isso entediava os grupos na reunião e
criava uma tensão porque a gente
terminava a questionar aquilo e dava
aquele pega.
Conseguiu-
se fazer uma
diretoria de Te
atro Popular dentro da
Feteape, foi o companheiro Amaro
Filho, que era de um grupo de teatro
de rua também. Mas de qualquer
forma a diretoria não dava certo
porque o objetivo da Feteape era
mercantil, eles estavam pensando a
partir do mercado, da indústria
Para a gente havia a necessidade de
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
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Americana de Estudos em
mar
. 2022. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
As reuniões da f
ederação
giravam em torno de patrocínio, pauta
no teatro, qualidade estética.Mas
quem estava mais na comunidade,
vivendo, lidando com as contradições
e disputas que estavam ali, com a
ausência do poder público, com as
carências culturais, intelectuais,
tivas, políticas, sociais que estavam
por ali incomodando, nós que
faamos esses grupos, a gente queria
discutir e atuar diante dessas coisas. E
na Feteape os grupos estavam
preocupados em quem é que ia entrar
no Santa Isabel, quem é que consegue
o Teatro do Parque, no
Valdemar de Oliveira, quem é que
consegue patronio, o cartaz, a mídia.
Isso entediava os grupos na reunião e
criava uma teno porque a gente
terminava a questionar aquilo e dava
se fazer uma
atro Popular dentro da
Feteape, foi o companheiro Amaro
Filho, que era de um grupo de teatro
de rua também. Mas de qualquer
forma a diretoria não dava certo
porque o objetivo da Feteape era
mercantil, eles estavam pensando a
partir do mercado, da indústria
cultural.
Para a gente havia a necessidade de
ter recurso, a gente sonhava com a
possibilidade de ser independente
para fazer isso financeiramente, mas
eram mais fortes as questões que nos
incomodavam. Era mais forte para a
gente a luta contra tudo aquilo
incomodava. Para a gente, a revolução
cultural é que era capaz de dar
resposta a isso, a transformação
cultural. A gente não queria ser meros
vendedores de arte, não queria virar
uma mercadoria.
A gente então se aproximou da
Central Única dos Trabalh
(CUT) enquanto Movimento de Teatro
Popular e GTA. Por meio da cultura, a
gente se aproximou do movimento
sindical. Isso aconteceu porque o
movimento sindical tinha seus
momentos de assembleia, de greve,
que eram momentos coletivos. A gente
como vinh
a fazendo umas coisas na
comunidade que eram importantes em
momentos de tensão, eles perceberam
que isso poderia ser importante para
melhorar a forma de diálogo do
sindicato com seus associados. Aí
passou a surgir essa possibilidade da
gente alinhar a noss
também poder ter um retorno, porque
os sindicatos pagavam para gente
fazer isso, ter um recurso e contemplar
71
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
ter recurso, a gente sonhava com a
possibilidade de ser independente
para fazer isso financeiramente, mas
eram mais fortes as questões que nos
incomodavam. Era mais forte para a
gente a luta contra tudo aquilo
que
incomodava. Para a gente, a revolução
cultural é que era capaz de dar
resposta a isso, a transformação
cultural. A gente não queria ser meros
vendedores de arte, não queria virar
A gente então se aproximou da
Central Única dos Trabalh
adores
(CUT) enquanto Movimento de Teatro
Popular e GTA. Por meio da cultura, a
gente se aproximou do movimento
sindical. Isso aconteceu porque o
movimento sindical tinha seus
momentos de assembleia, de greve,
que eram momentos coletivos. A gente
a fazendo umas coisas na
comunidade que eram importantes em
momentos de tensão, eles perceberam
que isso poderia ser importante para
melhorar a forma de diálogo do
sindicato com seus associados.
passou a surgir essa possibilidade da
gente alinhar a noss
a militância e
também poder ter um retorno, porque
os sindicatos pagavam para gente
fazer isso, ter um recurso e contemplar
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
também essa questão da gente,
contribuir para o que a gente queria,
que era a revolução cultural.
O sindicato nos oferecia o
espaço
com público e deixava a gente
à vontade para abordar os temas que
eles estavam discutindo com a nossa
linguagem, da nossa maneira, com
nossa criatividade e ainda inserindo,
por exemplo no caso do GTA, a
questão racial dentro da questão do
trabalhador. Com
assessoria de
Inaldete Pinheiro, de Joaquim de
Castro, com a participação em
diversos eventos onde a gente pôde
conviver com padre Reginaldo, com
Paulo Freire, com Jairo do MST e
outras pessoas também do PT, do
movimento sindical, dos movimentos
sociais nas comunidades.
A gente montou um espetáculo
que é um clássico do GTA, que levou
a gente para um bocado de lugar,
chamado "Das senzalas às favelas".
Para esse espetáculo fiz quatro
oficinas com a meninada e nessas
oficinas utilizei muitas das
experiências
que tive das técnicas de
teatro do primeiro momento do GTA,
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
Americana de Estudos em
mar
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(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
também essa questão da gente,
contribuir para o que a gente queria,
que era a revolução cultural.
O sindicato nos oferecia o
com público e deixava a gente
à vontade para abordar os temas que
eles estavam discutindo com a nossa
linguagem, da nossa maneira, com
nossa criatividade e ainda inserindo,
por exemplo no caso do GTA, a
questão racial dentro da questão do
assessoria de
Inaldete Pinheiro, de Joaquim de
Castro, com a participação em
diversos eventos onde a gente pôde
conviver com padre Reginaldo, com
Paulo Freire, com Jairo do MST e
outras pessoas também do PT, do
movimento sindical, dos movimentos
A gente montou um espetáculo
que é um clássico do GTA, que levou
a gente para um bocado de lugar,
chamado "Das senzalas às favelas".
Para esse espetáculo fiz quatro
oficinas com a meninada e nessas
oficinas utilizei muitas das
que tive das técnicas de
teatro do primeiro momento do GTA,
do momento que estava na escola
Renato Fonseca, mas utilizei muito
também em termos de conteúdo as
questões do Centro Solano Trindade e
de Inaldete Pinheiro. Escrevi o texto no
formato da dramatu
rgia para teatro,
mas ele foi resultado dessas
discussões coletivas. O espetáculo
teve mais de 500 apresentações. A
gente apresentou na comunidade, em
Peixinhos, em Caruaru, no interior de
Pernambuco. A gente fez
apresentação em João Pessoa. Nas
escolas de
Recife e Maceió, por meio
das
secretarias de educação.
Maceió apresentamos em 11 escolas e
no projeto da Coordenação Nacional
de Entidades Negras (CONEN) dos
300 anos de Zumbi dos Palmares e a
gente foi para as escolas levar esse
espetáculo, depois a g
União dos Palmares lá na Serra da
Barriga. Depois participou de festivais
como o Festival de Teatro de Rua de
Recife, a mostra paralela do Festival
de Teatro Nacional do Recife, a Mostra
de Teatro de Olinda, Mostra de Teatro
de Paulista, en
fim, foi um espetáculo
que rodou muito.
72
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resistências, disputas e potências
")
do momento que estava na escola
Renato Fonseca, mas utilizei muito
também em termos de conteúdo as
questões do Centro Solano Trindade e
de Inaldete Pinheiro. Escrevi o texto no
rgia para teatro,
mas ele foi resultado dessas
discuses coletivas. O espetáculo
teve mais de 500 apresentações. A
gente apresentou na comunidade, em
Peixinhos, em Caruaru, no interior de
Pernambuco. A gente fez
apresentação em João Pessoa. Nas
Recife e Maceió, por meio
secretarias de educação.
Em
Maceió apresentamos em 11 escolas e
no projeto da Coordenação Nacional
de Entidades Negras (CONEN) dos
300 anos de Zumbi dos Palmares e a
gente foi para as escolas levar esse
espetáculo, depois a g
ente foi para a
União dos Palmares na Serra da
Barriga. Depois participou de festivais
como o Festival de Teatro de Rua de
Recife, a mostra paralela do Festival
de Teatro Nacional do Recife, a Mostra
de Teatro de Olinda, Mostra de Teatro
fim, foi um espetáculo
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
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Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
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revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
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resistências, disputas e potências
Figura 3 – Panfletos
Fonte: Acervo GTA.
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BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
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Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
Figura 4 -
Esboço da logomarca
artista gráfico Amauri Cunha.
Fonte:
Acervo GTA, 1989.
Como um movimento cultural
feito de encontros e atravessado pelos
problemas cotidianos das periferias, o
GTA segue readequando a sua
linguagem para que possa levar
adiante reflexões sobre o momento
que estamos vivendo, levando em
conside
ração o papel político que a
arte vem cumprindo. É cada vez mais
importante registrar e escrever,
contribuir com a história da nossa
participação em Pernambuco como
artistas, militantes e pessoas que
sonham, e que buscam lutar por esses
sonhos.
O GTA nunca quis ser um teatro
na rua. A gente se tornou um teatro de
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
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mar
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(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
Esboço da logomarca
feita pelo
artista gráfico Amauri Cunha.
Acervo GTA, 1989.
Como um movimento cultural
feito de encontros e atravessado pelos
problemas cotidianos das periferias, o
GTA segue readequando a sua
linguagem para que possa levar
adiante reflees sobre o momento
que estamos vivendo, levando em
ração o papel político que a
arte vem cumprindo. É cada vez mais
importante registrar e escrever,
contribuir com a história da nossa
participação em Pernambuco como
artistas, militantes e pessoas que
sonham, e que buscam lutar por esses
O GTA nunca quis ser um teatro
na rua. A gente se tornou um teatro de
rua, que facilita o acesso das pessoas
à arte e diminui o espaço que o
galpão, a arena, faz separar ao trazer
uma estética do teatro de caixa,
produzindo uma divisão entre artistas
e púb
lico. Preferimos uma estrutura de
camelô, em que o povo entra no meio,
em que encenamos com o cachorro
que passa. O teatro estruturado afasta
as pessoas e a interação. Com a
gente, as pessoas pensam que estão
assistindo, mas estão atuando.
Como Augusto Boal (1991), do
teatro do oprimido, diz: o artista não
fará a revolução, mas pode levar as
pessoas a ensaiar a revolução. A
gente faz teatro ensaiando a
revolução. Não podemos permitir que
a pessoa se sin
ta fora, não
a ensaiar a revolução. E assim como o
GTA faz na rua, este texto também
convida quem o a atuar com a
gente, fazendo de espaços de
construção de conhecimento
acadêmico também uma
experimentação. Nosso texto, assim, é
um exercício
de escrita coletiva a partir
do encontro de uma experiência
histórica de resistência cultural com
intelectuais dos movimentos
populares, do movimento negro e dos
trabalhadores no período da
74
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resistências, disputas e potências
")
rua, que facilita o acesso das pessoas
à arte e diminui o espaço que o
galpão, a arena, faz separar ao trazer
uma estética do teatro de caixa,
produzindo uma divisão entre artistas
lico. Preferimos uma estrutura de
camelô, em que o povo entra no meio,
em que encenamos com o cachorro
que passa. O teatro estruturado afasta
as pessoas e a interação. Com a
gente, as pessoas pensam que estão
assistindo, mas estão atuando.
Como Augusto Boal (1991), do
teatro do oprimido, diz: o artista não
fará a revolução, mas pode levar as
pessoas a ensaiar a revolução. A
gente faz teatro ensaiando a
revolução. Não podemos permitir que
ta fora, não
-convidada,
a ensaiar a revolução. E assim como o
GTA faz na rua, este texto também
convida quem o lê a atuar com a
gente, fazendo de espaços de
construção de conhecimento
acadêmico também uma
experimentação. Nosso texto, assim, é
de escrita coletiva a partir
do encontro de uma experiência
histórica de resistência cultural com
intelectuais dos movimentos
populares, do movimento negro e dos
trabalhadores no período da
BAZÍLIO, Genivaldo; VALE, Maíra. A gente faz teatro ensaiando a
revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
e Paulista. PragMATIZES - Revista Latino-
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Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 22, p. 50-78,
mar
redemocratização brasileira. Que esta
rememoração da trajetória co
um teatro de rua negro e popular
Figura 5
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revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
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(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
redemocratização brasileira. Que esta
rememoração da trajetória co
letiva de
um teatro de rua negro e popular
possa ensaiar por aqui também novos
encontros.
Figura 5
Fotografias (legendas acompanhando as imagens)
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resistências, disputas e potências
")
possa ensaiar por aqui também novos
Fotografias (legendas acompanhando as imagens)
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revolução: movimentos de territórios, cultura e arte entre Olinda, Recife
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TRINDADE, Solano.
Tem gente com
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Oficial, 1988.
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-
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Seleção e introdução de Zenir Campos
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. São Paulo: H. Melo, 1958.
Tem gente com
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Departamento Geral da Imprensa
78
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