GRILLO, André Peralta. Trabalho, produção, midiativismo
cultural em rede: o Circuito Fora do Eixo.
Americana de Estudos em Cultura,
mar. 2022.
organização horizontal, ou plenamente
horizontal, pode-
se mesmo fazer recurso a um
dos gurus do “horizontalismo”, Antonio Negri,
que em uma entrevista recente afirma que
horizontalidade total —
constituinte, seja numa imaginária constituição
futura —
que aquele tecido de mobilizaçõ
reivindica, me parece um modelo
completamente abstrato de estrutura política.
Pode muito bem valer na fase de agitação,
mas é ilusório quando se busca
verdadeiramente construir e gerir um processo
de transformação constitucional." (disponível
em <http:/
esta-para-a-fabrica-como-a-
para-a-classe-
afirmar, a partir do meu acompanhamento e
observação participante do FdE, em especial
em seus encontros presenciais, é que há uma
grande abertu
ra à participação, protagonismo
difuso e proposição de atividades, embora
mediada pela lógica implícita do “lastro”. Que
há lideranças, além disso, é inegável, e
mesmo explicitamente reivindicado. O discurso
“oficial” é que a rede está aberta a “múltiplas
lideranças”, e que todos podem propor, de
acordo com seu lastro, atividades e projetos, e
ser o protagonista destes. Todos seriam
líderes em alguns projetos, e “base em
outros”, uma dinâmica que, ao menos em uma
Casa FdE menor, como a de Juiz de Fora,
pude
observar. Entretanto, é claro também
que há uma certa hierarquia, embora não
rígida, por meio de uma divisão de funções,
por ex., com o encarregado nacional, regional
e local por determinada frente (banco, partido,
mídia, música, etc.). Embora, como disse
em especial em uma Casa pequena, o
responsável por uma frente poderá ser uma
base em outra, e etc. E, também claramente,
existem as lideranças mais destacadas, como
Capilé, Lenissa, Carol Tokuyo, Marielle
Ramirez, Felipe Altenfender, Talles Lopes, e
et
c, mesmo não havendo o mesmo nível de
protagonismo entre todos os membros, o que
parece funcionar de modo mais espontâneo,
mesmo que não totalmente, do que uma
rigidez hierárquica burocrática.
Particularmente, tenho o entendimento de que
não existe organiz
ação horizontal, e de que no
FdE há uma abertura, que me parece bem
maior do que nos movimentos sociais mais
tradicionais, ao protagonismo e participação.
Lembrando que, atualmente, a organização do
FdE está muito mais fluída e indiferenciada,
não mais est
ruturada em frentes gestoras, e
GRILLO, André Peralta. Trabalho, produção, midiativismo
e militância
- Revista Latino-
2, n. 22, p. 113-136, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Coletivos culturais –
resistências, disputas e potências
organização horizontal, ou plenamente
se mesmo fazer recurso a um
dos gurus do “horizontalismo”, Antonio Negri,
que em uma entrevista recente afirma que
"A
constituinte, seja numa imaginária constituição
que aquele tecido de mobilizaçõ
es
reivindica, me parece um modelo
completamente abstrato de estrutura política.
Pode muito bem valer na fase de agitação,
verdadeiramente construir e gerir um processo
de transformação constitucional." (disponível
-metropole-
-esta-
afirmar, a partir do meu acompanhamento e
observação participante do FdE, em especial
em seus encontros presenciais, é que há uma
ra à participação, protagonismo
difuso e proposição de atividades, embora
mediada pela lógica implícita do “lastro”. Que
há lideranças, além disso, é inegável, e
mesmo explicitamente reivindicado. O discurso
“oficial” é que a rede está aberta a “múltiplas
lideranças”, e que todos podem propor, de
acordo com seu lastro, atividades e projetos, e
ser o protagonista destes. Todos seriam
líderes em alguns projetos, e “base em
outros”, uma dinâmica que, ao menos em uma
Casa FdE menor, como a de Juiz de Fora,
observar. Entretanto, é claro também
que há uma certa hierarquia, embora não
rígida, por meio de uma divisão de funções,
por ex., com o encarregado nacional, regional
e local por determinada frente (banco, partido,
mídia, música, etc.). Embora, como disse
, e
em especial em uma Casa pequena, o
responsável por uma frente poderá ser uma
base em outra, e etc. E, também claramente,
existem as lideranças mais destacadas, como
Capilé, Lenissa, Carol Tokuyo, Marielle
Ramirez, Felipe Altenfender, Talles Lopes, e
c, mesmo não havendo o mesmo nível de
protagonismo entre todos os membros, o que
parece funcionar de modo mais espontâneo,
mesmo que não totalmente, do que uma
Particularmente, tenho o entendimento de que
ação horizontal, e de que no
FdE há uma abertura, que me parece bem
maior do que nos movimentos sociais mais
tradicionais, ao protagonismo e participação.
Lembrando que, atualmente, a organização do
FdE está muito mais fluída e indiferenciada,
ruturada em frentes gestoras, e
ao invés de um julgamento normativo,
me voltei para o sentido subjetivo da
participação na rede, e para as
implicações teóricas mais amplas que
este sentido permitia elucidar. Como
expus aqui brevemente, e detidamente
desenvolvem as habilidades e
qualidades mais valorizadas pela
lógica do trabalho imaterial
uma atividade sem fins lucrativos
(embora isso não seja de todo
estranho à esta lógica), assim como
são formados quadros para a atuação
política estrit
o senso, e para a atuação
na área administrativa da cultura, seja
em órgão públicos ou privados de
gestão cultural, secretarias ou redes
de produtores de eventos.
Entre membros do FdE muito ou
pouco envolvidos com a atividade de
produção em si (o momento d
última etapa de entrevistas (segundo
semestre de 2015) captura
exatamente a grande preponderância,
até a quase exclusividade, da área de
que, quando era uma rede de coletivos, estes
pareciam ter bastante autonomia, apesar de
transpassados por algumas articulações
nacionais.
10
Dominante no mundo do trabalho
contemporâneo, segundo a literatura em geral,
sendo es
te um denominador das suas
diferentes perspectivas (CAMARGO, 2011).
131
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
resistências, disputas e potências
")
ao invés de um julgamento normativo,
me voltei para o sentido subjetivo da
participação na rede, e para as
implicações teóricas mais amplas que
este sentido permitia elucidar. Como
expus aqui brevemente, e detidamente
dE se
desenvolvem as habilidades e
qualidades mais valorizadas pela
lógica do trabalho imaterial
10,mas em
uma atividade sem fins lucrativos
(embora isso não seja de todo
estranho à esta lógica), assim como
são formados quadros para a atuação
o senso, e para a atuação
na área administrativa da cultura, seja
em órgão públicos ou privados de
gestão cultural, secretarias ou redes
de produtores de eventos.
Entre membros do FdE muito ou
pouco envolvidos com a atividade de
produção em si (o momento d
a minha
última etapa de entrevistas (segundo
semestre de 2015) captura
exatamente a grande preponderância,
até a quase exclusividade, da área de
que, quando era uma rede de coletivos, estes
pareciam ter bastante autonomia, apesar de
transpassados por algumas articulações
Dominante no mundo do trabalho
contemporâneo, segundo a literatura em geral,
te um denominador das suas
diferentes perspectivas (CAMARGO, 2011).