BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
2
3
, p.
83
-
99
,
.
202
2
.
Cidade da Memória: uma experiência estética e midiatizada que mescla
passado e presente no cotidiano
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i23.
Resumo:
Este artigo propõe um flanar por entre as ruas da Velha Montreal, no Canadá, e traz
reflexões acerca da maior exposição de arte imersiva ao ar livre do mundo: o
Cidade da Memória,
que desde 2016 vem encantando moradores e visitantes do local. Essa
experiência estética e midiatizada
as transformações daquela comunidade de forma participativa e humana e faz, p
visão rica e texturizada do passado, uma declaração de amor também para o tempo presente.
Mémoire
propõe a cidade como uma obra de arte, que se dispõe aos devires das mídias digitais,
resgatando emoções por meio de experiências estéticas e reinve
projetadas em muros, prédios, arvoredos,
espaços, reacendendo movimentos reflexivos perpassados por perspectivas históricas e culturais que
interpelam o pensar, o ser e o
imersão na arte e nas raízes daquele povo.
urbano e ser interpelado por essas imagens pode nos conduzir a novas percepções da cidade.
Palavras-chave: Cité Mémoire;
arte d
Ciudad de la Memoria: una experiencia estética y mediatizada que mezcla pasado y presente
Resumen:
Este trabajo propone un paseo por las calles del Viejo Montreal, Canadá, y trae
reflexiones sobre la exposición de arte digital inmersivo al aire libre más grande del mundo: la
Mémoire
, o Ciudad de la Memoria, que desde hace 2016 encanta a los residen
lugar. Esta experiencia estética y mediatizada brinda, de manera fantástica y lúdica, la posibilidad de
comprender las transformaciones de esa comunidad de manera participativa y humana y hace, a
1
Ana Cristina da Silva Bandeira:
da Universidade Federal Fluminense
https://orcid.org/0000-0002-
2296
2
Dagmar de Mello e Silva.
Doutora em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ).
Professora Associada da Universidade Federal Fluminense
dmesilva@id.uff.br -
https://orcid.org/0000
3
Walcéa Barreto Alves
. Doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense.
Adjunta da Faculdade de Educão da Universidad
walceaalves@id.uff.br -
https://orcid.org/0000
Recebido em 02/03/2022,
aceito para publicação em
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Cidade da Memória: uma experiência estética e midiatizada que mescla
passado e presente no cotidiano
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i23.
53323
Ana Cristina da Silva Bandeira
Dagmar de Mello e Silva
Walcéa Barreto Alves
Este artigo propõe um flanar por entre as ruas da Velha Montreal, no Canadá, e traz
reflexões acerca da maior exposição de arte imersiva ao ar livre do mundo: o
que desde 2016 vem encantando moradores e visitantes do local. Essa
experiência estética e midiatizada
proporciona, de maneira fantástica e lúdica, a chance de entender
as transformações daquela comunidade de forma participativa e humana e faz, p
visão rica e texturizada do passado, uma declaração de amor também para o tempo presente.
propõe a cidade como uma obra de arte, que se dispõe aos devires das mídias digitais,
resgatando emoções por meio de experiências estéticas e reinve
nções de mundos.
projetadas em muros, prédios, arvoredos,
oferecem
novas formas de viver a cidade, ressignificando
espaços, reacendendo movimentos reflexivos perpassados por perspectivas hisricas e culturais que
interpelam o pensar, o ser e o
fazer.
As mídias utilizadas para dar vida à obra promovem uma
imersão na arte e nas raízes daquele povo.
Como um flaneur
contemporâneo, observar esse cenário
urbano e ser interpelado por essas imagens pode nos conduzir a novas percepções da cidade.
arte d
igital; experiência estética; mídias digitais
; f
Ciudad de la Memoria: una experiencia estética y mediatizada que mezcla pasado y presente
en la cotidianidad
Este trabajo propone un paseo por las calles del Viejo Montreal, Canadá, y trae
reflexiones sobre la exposición de arte digital inmersivo al aire libre más grande del mundo: la
, o Ciudad de la Memoria, que desde hace 2016 encanta a los residen
lugar. Esta experiencia estética y mediatizada brinda, de manera fantástica y lúdica, la posibilidad de
comprender las transformaciones de esa comunidad de manera participativa y humana y hace, a
Ana Cristina da Silva Bandeira:
Mestranda pelo Programa de Pós-
Graduação em Mídia e Cotidiano
da Universidade Federal Fluminense
(UFF), RJ, Brasil. Email:
anabandeira@id.uff.br
2296
-2900
Doutora em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Professora Associada da Universidade Federal Fluminense
, RJ, Brasil
. E
https://orcid.org/0000
-0002-5863-3607
. Doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense.
Adjunta da Faculdade de Educação da Universidad
e Federal Fluminense (UFF). E
https://orcid.org/0000
-0001-8294-917X
aceito para publicação em
18/07/2022 e
disponibilizado online em
01/09/2022.
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periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
Cidade da Memória: uma experiência estética e midiatizada que mescla
Ana Cristina da Silva Bandeira
1
Dagmar de Mello e Silva
2
Walcéa Barreto Alves
3
Este artigo propõe um flanar por entre as ruas da Velha Montreal, no Canadá, e traz
reflexões acerca da maior exposição de arte imersiva ao ar livre do mundo: o
Cité Mémoire, ou
que desde 2016 vem encantando moradores e visitantes do local. Essa
proporciona, de maneira fantástica e lúdica, a chance de entender
as transformações daquela comunidade de forma participativa e humana e faz, p
or meio de uma
visão rica e texturizada do passado, uma declaração de amor também para o tempo presente.
Cité
propõe a cidade como uma obra de arte, que se dispõe aos devires das mídias digitais,
nções de mundos.
As imagens,
novas formas de viver a cidade, ressignificando
espaços, reacendendo movimentos reflexivos perpassados por perspectivas históricas e culturais que
As mídias utilizadas para dar vida à obra promovem uma
contemporâneo, observar esse cenário
urbano e ser interpelado por essas imagens pode nos conduzir a novas percepções da cidade.
; f
laneurismo.
Ciudad de la Memoria: una experiencia estética y mediatizada que mezcla pasado y presente
Este trabajo propone un paseo por las calles del Viejo Montreal, Canadá, y trae
reflexiones sobre la exposición de arte digital inmersivo al aire libre más grande del mundo: la
Cité
, o Ciudad de la Memoria, que desde hace 2016 encanta a los residen
tes y visitantes del
lugar. Esta experiencia estética y mediatizada brinda, de manera fantástica y lúdica, la posibilidad de
comprender las transformaciones de esa comunidad de manera participativa y humana y hace, a
Graduação em Mídia e Cotidiano
anabandeira@id.uff.br
-
Doutora em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
. E
-mail:
. Doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense.
Professora
e Federal Fluminense (UFF). E
-mail:
disponibilizado online em
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
2
3
, p.
83
-
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,
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2
.
través de una rica y matizada visión de
Cité Mémoire
propone la ciudad como obra de arte, que se pone a disposición de los devenires de los
medios digitales, rescatando emociones a través de experiencias estéticas y reinvenciones de
mund
os. Las imágenes, proyectadas en paredes, edificios, árboles, ofrecen nuevas formas de vivir la
ciudad, resignificando los espacios, reavivando movimientos reflexivos permeados por perspectivas
históricas y culturales que interpelan el pensar, el ser y el
la obra promueven una inmersión en el arte y en las raíces de ese pueblo. Como un
contemporáneo, observar este entorno urbano y ser interpelado por estas imágenes puede llevarnos
a nuevas percepciones de
la ciudad.
Palabras clave: Cité Mémoire;
a
City of Memory: an aesthetic and mediatized experience that mixes past and present in
Abstract: This article
proposes a stroll
reflections about world's largest
Memory, whic
since 2016 has been
mediatized experience
provides, in a fantastic and ludic
transformations of that
community in a participatory and human way and makes, through a rich and
textured visión of the
past, a declaration
city as a work of art, which is
aesthetic
experiences and reinventions
offer new ways of living the
city, giving new meaning
permeated by
historical and cultural perspectives
medias used to bring life to this
p
contemporary flaneur, observing
to new perceptions of the city.
Keywords: Cité Mémoire
, digital art, a
Cidade da Memória: uma experiência estética e midiatizada que mescla
passado e presente no
Introdução
Nove de outubro de 2018.
Outono em Montreal, no Canadá.
Enquanto a noite caía, no encontro
das ruas dês Récollets e
St
região conhecida por Velha Montreal,
um cortejo fúnebre se materializava na
larga e alta parede do edifício daquela
esquina. A imagem projetada em
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
través de una rica y matizada visión de
l pasado, una declaración de amor también por el presente.
propone la ciudad como obra de arte, que se pone a disposición de los devenires de los
medios digitales, rescatando emociones a través de experiencias estéticas y reinvenciones de
os. Las imágenes, proyectadas en paredes, edificios, árboles, ofrecen nuevas formas de vivir la
ciudad, resignificando los espacios, reavivando movimientos reflexivos permeados por perspectivas
históricas y culturales que interpelan el pensar, el ser y el
hacer. Los medios utilizados para dar vida a
la obra promueven una inmersión en el arte y en las raíces de ese pueblo. Como un
contemporáneo, observar este entorno urbano y ser interpelado por estas imágenes puede llevarnos
la ciudad.
a
rte digital; experiencia estética; medios digitales
;
City of Memory: an aesthetic and mediatized experience that mixes past and present in
everyday life
proposes a stroll
through the streets
of Old Montreal, Canada, and brings
outdoor immersive digital art exhibition: the
Cité Mémoire
since 2016 has been
enchanting residents and visitors of
the place. This
provides, in a fantastic and ludic
way, the chance to
community in a participatory and human way and makes, through a rich and
past, a declaration
of love also for the present time.
Cité Mémoire
available
to the becomings
of digital media, rescuing
experiences and reinventions
of worlds. The images, projected on
walls, buildings, trees,
city, giving new meaning
to
spaces, rekindling reflexive movements
historical and cultural perspectives
that challenge
thinking, being and doing. The
p
roject promote an immersion in the art
and roots
this urban setting and being challenged by
these
, digital art, a
esthetic experience, digital media, f
laneurism.
Cidade da Memória: uma experiência estética e midiatizada que mescla
passado e presente no
cotidiano
Nove de outubro de 2018.
Outono em Montreal, no Canadá.
Enquanto a noite caía, no encontro
St
-Pierre, na
região conhecida por Velha Montreal,
um cortejo fúnebre se materializava na
larga e alta parede do edifício daquela
esquina. A imagem projetada em
grande escala era de 1889. Tratava
do funeral de Joe Beef, um ilustre
dono de taverna, conhe
lendária generosidade. O carro
fúnebre era puxado por cavalos e as
pessoas em procissão se viravam
lentamente para encarar o público do
século XXI (Fotografia 1).
sonho. Tampouco
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periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
l pasado, una declaración de amor también por el presente.
propone la ciudad como obra de arte, que se pone a disposición de los devenires de los
medios digitales, rescatando emociones a través de experiencias estéticas y reinvenciones de
os. Las imágenes, proyectadas en paredes, edificios, árboles, ofrecen nuevas formas de vivir la
ciudad, resignificando los espacios, reavivando movimientos reflexivos permeados por perspectivas
hacer. Los medios utilizados para dar vida a
la obra promueven una inmersión en el arte y en las raíces de ese pueblo. Como un
flaneur
contemporáneo, observar este entorno urbano y ser interpelado por estas imágenes puede llevarnos
;
flaneurismo.
City of Memory: an aesthetic and mediatized experience that mixes past and present in
of Old Montreal, Canada, and brings
Cité Mémoire
, or City of
the place. This
aesthetic and
way, the chance to
understand the
community in a participatory and human way and makes, through a rich and
Cité Mémoire
proposes the
of digital media, rescuing
emotions through
walls, buildings, trees,
spaces, rekindling reflexive movements
thinking, being and doing. The
and roots
of that people. As a
these
images can lead us
laneurism.
Cidade da Memória: uma experiência estética e midiatizada que mescla
grande escala era de 1889. Tratava
-se
do funeral de Joe Beef, um ilustre
dono de taverna, conhe
cido por sua
lendária generosidade. O carro
fúnebre era puxado por cavalos e as
pessoas em procissão se viravam
lentamente para encarar o público do
século XXI (Fotografia 1).
Não era um
alucinação.
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
2
3
, p.
83
-
99
,
.
202
2
.
Ao caminhar pelo centro histórico da cidade, durante uma viagem de celebração à
vida, sem saber, participávamos do
ao ar livre do mundo.
Inaugurada em maio de 2016, a instalação, aclamada pela crítica, provou ser
um grande sucesso entre moradores e visitantes. Diariamente, a partir do anoitecer
até a meia-
noite, 24 quadros de projeções de vídeo
com imagens de personagens
o funeral de Joe Beef, que mobilizou a cidade inteira, devido a sua boa reputação
surgem pelas ruas em dois circuitos distintos, que podem ser percor
caminhadas de 30, 60 ou 90 minutos. Pode
sequência específica. Os deos são projetados em paredes de edifícios, no chão de
ruas e vielas, até em árvores frondosas (Fotografias 2, 3 e 4).
4
Traduzido do francês: Cidade da Memória.
5
Traduzido do francês: os nascidos na região.
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Ao caminhar pelo centro histórico da cidade, durante uma viagem de celebração à
vida, sem saber, participávamos do
Cité Mémoire
4
: a maior exposição de arte digital
Fotografia 1: Cortejo de Joe Beef
Fonte: Arquivo pessoal
Inaugurada em maio de 2016, a instalação, aclamada pela crítica, provou ser
um grande sucesso entre moradores e visitantes. Diariamente, a partir do anoitecer
noite, 24 quadros de projeções de vídeo
em proporções gigantescas,
com imagens de personagens
-chave e eventos marcantes para
québécois
o funeral de Joe Beef, que mobilizou a cidade inteira, devido a sua boa reputação
surgem pelas ruas em dois circuitos distintos, que podem ser percor
caminhadas de 30, 60 ou 90 minutos. Pode
-
se começar de onde quiser, não há uma
sequência específica. Os vídeos são projetados em paredes de edifícios, no chão de
ruas e vielas, até em árvores frondosas (Fotografias 2, 3 e 4).
Traduzido do francês: Cidade da Memória.
Traduzido do francês: os nascidos na região.
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- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
Ao caminhar pelo centro histórico da cidade, durante uma viagem de celebração à
: a maior exposição de arte digital
Inaugurada em maio de 2016, a instalação, aclamada pela crítica, provou ser
um grande sucesso entre moradores e visitantes. Diariamente, a partir do anoitecer
em proporções gigantescas,
québécois
5
como
o funeral de Joe Beef, que mobilizou a cidade inteira, devido a sua boa reputação
–,
surgem pelas ruas em dois circuitos distintos, que podem ser percor
ridos em
se começar de onde quiser, não há uma
sequência específica. Os vídeos são projetados em paredes de edifícios, no chão de
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
2
3
, p.
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BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
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Niterói/RJ, Ano 12, n. www.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Fotografia 2: Projeções em árvores
Fonte: Arquivo pessoal
Fotografia 3: Arvores ganham alma
Fonte: Arquivo pessoal
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Artes e culturas nas cidades
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Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
2
3
, p.
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,
.
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2
.
De quinta a sábado
Palácio da Justiça de Montreal cedem espaço para a exibição do
Mémoire
(Fotografias 5, 6 e 7):
duração de 35 minutos, o filme traz uma visão geral dos mais de 375 anos de
história da cidade. Além de valorizarem a arquitetura da Velha Montreal, as
projeções reinserem no cotidiano, por meio de imagens me
que sonharam e construíram aquela comunidade.
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Fotografia 4: Região do Velho Porto
Fonte: Arquivo pessoal
De quinta a sábado
, as paredes laterais dos dois arranha
-
Palácio da Justiça de Montreal cedem espaço para a exibição do
(Fotografias 5, 6 e 7):
a apresentação mais emblemática da mostra. Com
duração de 35 minutos, o filme traz uma visão geral dos mais de 375 anos de
história da cidade. Além de valorizarem a arquitetura da Velha Montreal, as
projeções reinserem no cotidiano, por meio de imagens me
morialistas, as pessoas
que sonharam e construíram aquela comunidade.
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Artes e culturas nas cidades
")
-
céus ao lado do
Palácio da Justiça de Montreal cedem espaço para a exibição do
Grand Cité
a apresentação mais emblemática da mostra. Com
duração de 35 minutos, o filme traz uma visão geral dos mais de 375 anos de
história da cidade. Além de valorizarem a arquitetura da Velha Montreal, as
morialistas, as pessoas
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
Revista Latino-
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Fotografia 6
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midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
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Artes e culturas nas cidades
Fotografia 5 –Grand Cité Mémoire
Fonte: Arquivo pessoal
Fotografia 6
– Projeção ao lado do Palácio
Fonte: Arquivo pessoal
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Artes e culturas nas cidades
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Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
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Americana de Estudos em Cultura,
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, p.
83
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,
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Fotografia 7
Os atores que participam dos
vídeos interpretando personagens
diversos e históricos não falam
(Fotografias 8 e 9), mas seus
pensamentos podem ser acessados
por meio de um aplicativo gratuito de
realidade aumentada, para
smartphones e tablets
, que traz suas
vozes para cada cena. Caso seja do
interesse de quem baixar a
ferramenta, os áudios podem ser
ouvidos simultaneamente às projeções
das imagens. O aplicativo possibilita
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midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Fotografia 7
– Cena final da homenagem
Fonte: Arquivo pessoal
Os atores que participam dos
vídeos interpretando personagens
diversos e históricos o falam
(Fotografias 8 e 9), mas seus
pensamentos podem ser acessados
por meio de um aplicativo gratuito de
realidade aumentada, para
, que traz suas
vozes para cada cena. Caso seja do
interesse de quem baixar a
ferramenta, os áudios podem ser
ouvidos simultaneamente às projeções
das imagens. O aplicativo possibilita
aos espectadores interagirem com a
obra em outras esferas: há conteúdos
dramáticos e d
escritivos, áudios
contendo informações
complementares sobre as obras
projetadas e trilhas sonoras, que
podem ser escutadas enquanto se
experimenta o flanar pelas ruas. Os
quadros transitam entre o drama e o
humor, abrem um campo para a
imaginação e para p
singularização inaugurais, nos dando a
ver que a arte é uma potência, produz
89
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- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
aos espectadores interagirem com a
obra em outras esferas: conteúdos
escritivos, áudios
contendo informações
complementares sobre as obras
projetadas e trilhas sonoras, que
podem ser escutadas enquanto se
experimenta o flanar pelas ruas. Os
quadros transitam entre o drama e o
humor, abrem um campo para a
imaginação e para p
rocessos de
singularização inaugurais, nos dando a
ver que a arte é uma potência, produz
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
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, p.
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,
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efeitos através de experiências
estéticas que nos ajudam a enxergar o
mundo por aberturas que escapam
dos poderes normativos instituídos que
produzem subjetivações cap
(GUATTARI; ROLNIK, 1996
[...] a produção de subjetividade
talvez seja mais importante do
que qualquer outro tipo de
produção, mais essencial até do
que o petróleo e as energias. [...]
Tais mutações da subjetividade
não funcionam apenas n
das ideologias, mas no próprio
coração dos indivíduos, em sua
maneira de perceber o mundo, de
se articular como tecido urbano
[...]
Fotografia 8: Ator e
m cena
Fonte: Arquivo pessoal
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midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
PragMATIZES -
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Niterói/RJ, Ano 12, n. www.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
efeitos através de experiências
estéticas que nos ajudam a enxergar o
mundo por aberturas que escapam
dos poderes normativos instituídos que
produzem subjetivações cap
italistas
(GUATTARI; ROLNIK, 1996
, p. 26).
[...] a produção de subjetividade
talvez seja mais importante do
que qualquer outro tipo de
produção, mais essencial até do
que o petróleo e as energias. [...]
Tais mutações da subjetividade
não funcionam apenas n
o registro
das ideologias, mas no próprio
coração dos indivíduos, em sua
maneira de perceber o mundo, de
se articular como tecido urbano
m cena
Fonte: Arquivo pessoal
Fotografia 9:
Trem atravessa parede
Fonte: Arquivo
Cada pessoa cria sua própria
trajetória e desenvolve uma relação
sensorial e estética com a cidade,
bastante particular. Nós, que
desconhecíamos o aplicativo,
permitimos que aquelas narrativas nos
atravessassem sem qualquer
direcionamento e nos ar
genuinamente. Nosso olhar inaugural
recebeu aqueles signos com espanto,
admiração e encantamento, em toda a
sua potência. Vivemos Montreal como
um texto, como uma tela, como uma
90
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- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
Trem atravessa parede
Fonte: Arquivo
pessoal
Cada pessoa cria sua própria
trajetória e desenvolve uma relação
sensorial e estética com a cidade,
bastante particular. Nós, que
desconhecíamos o aplicativo,
permitimos que aquelas narrativas nos
atravessassem sem qualquer
direcionamento e nos ar
rebatassem
genuinamente. Nosso olhar inaugural
recebeu aqueles signos com espanto,
admiração e encantamento, em toda a
sua potência. Vivemos Montreal como
um texto, como uma tela, como uma
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
Revista Latino-
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2
3
, p.
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obra de arte viva, que movimentou e
nos tocou profundamente, produz
deslocamentos nos modos como nos
relacionamos com a cidade.
Quando passado, presente e futuro
se encontram
Essa vivência multimídia urbana
proporciona, de maneira fantástica e
lúdica, a chance de entender as
transformações daquela comunidade
de form
a participativa e humana e faz,
por meio de uma
visão rica e
texturizada do passado, uma
declaração de amor também para o
tempo presente. Trata-
se de uma
experiência estética, posto que o corpo
é afetado no encontro com os signos
que as imagens emitem. Exp
sensível que nos atravessa pelas
forças do fora. Mas também, uma
experiência forte (
Erfahrung),
cujas
percepções sensoriais mantêm a
força de transmissividade que a 'vida
moderna' carece,
tal qual preconizou
Walter Benjamin (1987). Numa
ana
logia com a poesia de Baudelaire,
as imagens projetadas no
Mémoire cumprem
“a tarefa poética a
que se propõe o poeta, ou seja; a de
articular as vivências desgarradas da
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
obra de arte viva, que movimentou e
nos tocou profundamente, produz
indo
deslocamentos nos modos como nos
relacionamos com a cidade.
Quando passado, presente e futuro
Essa vivência multimídia urbana
proporciona, de maneira fantástica e
lúdica, a chance de entender as
transformações daquela comunidade
a participativa e humana e faz,
visão rica e
texturizada do passado, uma
declaração de amor também para o
se de uma
experiência estética, posto que o corpo
é afetado no encontro com os signos
que as imagens emitem. Exp
eriência
sensível que nos atravessa pelas
forças do fora. Mas também, uma
Erfahrung),
aquela
percepções sensoriais mantêm a
força de transmissividade que a 'vida
tal qual preconizou
Walter Benjamin (1987). Numa
logia com a poesia de Baudelaire,
as imagens projetadas no
Cité
a tarefa poética” a
que se propõe o poeta, ou seja; “a de
articular as vivências desgarradas da
modernidade em uma autêntica
experiência” (MURICY, 1999, p. 193).
Experiência q
ue nos leva a uma
visão dialética da história, na
entre passado, presente e futuro
(BENJAMIN, 2006)
. O passado como
rememoração, mas, sobretudo, como
redenção que, no encontro com o
presente, explode o
história que caminha em direção
progresso, como eterno porvir.
Desprezando a potência do caráter
destrutivo
6
das ruínas deixadas no
percurso histórico. O que Benjamin
espera do passado, é que ele nos
desperte do torpor que nos impede de
enxergar, no presente, aquilo que nos
convidar
ia a manter esperanças no
futuro:
O método novo, dialético, de
escrever a história, apresenta
como a arte de experienciar o
presente como mundo da vigília
ao qual se refere o sonho que
chamamos de ocorrido. Elaborar
o ocorrido na recordação do
sonho!
Quer dizer: recordação
e despertar estão intimamente
6
Em seu ensaio sobre o Caráter Destrutivo,
Benjamin (1986) nos apresenta o conceito de
destruição de modo ampliado. Para esse
pensador da modernidade,
dialético remove as ruínas do passado, para
tornar visíveis os processos de dominação da
herança cultural: “
O carácter destrutivo só
conhece um lema: criar espaço; apenas uma
actividade: esvaziar. A sua necessidade de
ar puro e espaço livre é maior do que
qualquer ódio.
(BENJAMIN, 1986, p.187
91
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
modernidade em uma autêntica
experiência (MURICY, 1999, p. 193).
ue nos leva a uma
visão dialética da história, na
relação
entre passado, presente e futuro
. O passado como
rememoração, mas, sobretudo, como
redenção que, no encontro com o
presente, explode o
continuum da
história que caminha em direção
ao
progresso, como eterno porvir.
Desprezando a potência do “caráter
das ruínas deixadas no
percurso histórico. O que Benjamin
espera do passado, é que ele nos
desperte do torpor que nos impede de
enxergar, no presente, aquilo que nos
ia a manter esperanças no
O método novo, dialético, de
escrever a história, apresenta
-se
como a arte de experienciar o
presente como mundo da vigília
ao qual se refere o sonho que
chamamos de ocorrido. Elaborar
o ocorrido na recordação do
Quer dizer: recordação
e despertar estão intimamente
Em seu ensaio sobre o Caráter Destrutivo,
Benjamin (1986) nos apresenta o conceito de
destruição de modo ampliado. Para esse
pensador da modernidade,
o historiador
dialético remove as ruínas do passado, para
tornar visíveis os processos de dominação da
O carácter destrutivo só
conhece um lema: criar espaço; apenas uma
actividade: esvaziar. A sua necessidade de
ar puro e espaço livre é maior do que
(BENJAMIN, 1986, p.187
-188).
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
2
3
, p.
83
-
99
,
.
202
2
.
relacionados. O despertar é,
como efeito, a revolução
copernicana e dialética da
rememoração. (BENJAMIN,
2006, p. 434).
Como um
contemporâneo, observar esse cenário
urbano, ser interpelado por essas
imagens, pode nos conduzir a novas
percepções da cidade. As imagens
multimídias projetadas nos arranha
céus criam uma sensibilidade estética
que produz novas possibilidades de
olhar pa
ra as grandes metrópoles.
Frequentemente percebidas como
espaços/tempos rápidos às capturas
do olhar e excludentes aos passantes
que necessitam de tempo para uma
atenção mais acurada,
Montreal nos
ensina que uma outra experiência
citadina é possível.
Aqui
, o choque entre as
imagens-
tempo memorialísticas do
passado e a
transitoriedade fugaz
próprias das grandes cidades, que
produzem visualidades
7
de fachada,
explode em forma de contra
7
Nicholas Mirzoeff (2016) em sua obra: O
direito
a olhar define a visualidade como um
conceito criado no início do século XIX, para
se referir à visualização da história. Para
esse autor, esse conceito tem assumido
papel fundamental para a legitimação da
hegemonia ocidental.
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
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Niterói/RJ, Ano 12, n. www.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
relacionados. O despertar é,
como efeito, a revolução
copernicana e dialética da
rememoração. (BENJAMIN,
flaneur
contemporâneo, observar esse cenário
urbano, ser interpelado por essas
imagens, pode nos conduzir a novas
percepções da cidade. As imagens
multimídias projetadas nos arranha
-
céus criam uma sensibilidade estética
que produz novas possibilidades de
ra as grandes metrópoles.
Frequentemente percebidas como
espaços/tempos rápidos às capturas
do olhar e excludentes aos passantes
que necessitam de tempo para uma
Montreal nos
ensina que uma outra experiência
, o choque entre as
tempo memorialísticas do
transitoriedade fugaz
próprias das grandes cidades, que
de fachada,
explode em forma de contra
-
Nicholas Mirzoeff (2016) em sua obra: O
a olhar define a visualidade como um
conceito criado no início do século XIX, para
se referir à visualização da história. Para
esse autor, esse conceito tem assumido
papel fundamental para a legitimação da
visualidades
8
que projetam estilhaços
nas ruas, criando esperanças de que
“o direito à cidade” (LEFEBVRE, 2011)
é possível. Principalmente quando se
criam territórios existenciais urbanos,
que corporificam tempos mais lentos
da vida e as imagens assumem uma
posição na história. Gesto nada
simples” para Didi-
Huberman (2017,
p.1
5), pois: “Tomar posição é situar
pelo menos duas vezes, em pelo
menos duas frentes que toda posição
comporta, pois toda posição é,
fatalmente relativa. [...] Trata
também de situar-
se no tempo. Tomar
posição é desejar, é exigir algo, é
situar-se no
presente para visar um
futuro” e foi essa a experiência que as
imagens do
Grand Cité Mémoire,
proporcionaram.
Caminhando e ressignificando
espaços
Essas imagens, projetadas em
muros, prédios, arvoredos,
proporcionam um contato diferenciado
e imersivo
com a arte.
nessa vivência novas formas de
experienciar a cidade, de ressignificar
8
As contra-
visualidades constituem modos de
resistência que nos conferem o direito a
olhar” a que se refere
Mirzoeff (2016)
92
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
que projetam estilhaços
nas ruas, criando esperanças de que
o direito à cidade (LEFEBVRE, 2011)
é possível. Principalmente quando se
criam territórios existenciais urbanos,
que corporificam tempos mais lentos
da vida e as imagens assumem uma
posição na história. “Gesto nada
Huberman (2017,
5), pois: Tomar posição é situar
-se
pelo menos duas vezes, em pelo
menos duas frentes que toda posição
comporta, pois toda posição é,
fatalmente relativa. [...] Trata
-se
se no tempo. Tomar
posição é desejar, é exigir algo, é
presente para visar um
futuro e foi essa a experiência que as
Grand Cité Mémoire,
nos
Caminhando e ressignificando
Essas imagens, projetadas em
muros, prédios, arvoredos,
proporcionam um contato diferenciado
com a arte.
Transmutam-se
nessa vivência novas formas de
experienciar a cidade, de ressignificar
visualidades constituem modos de
resistência que nos conferem “o direito a
Mirzoeff (2016)
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
2
3
, p.
83
-
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,
.
202
2
.
espaços, reacender movimentos
reflexivos perpassados por
perspectivas históricas e culturais que
interpelam o pensar, o ser e o fazer.
Nesse processo, a arte se
como experiência estética que nos
enleva enquanto seres humanos,
convocando-
nos gentilmente, ao
mesmo tempo
em
arrebatadoramente, a um movimento
de suspensão do fluxo da
cotidianidade.
Permitem uma
experienciação que nos encaminha a
refletir
e desnaturalizar etapas que se
perfazem sistematicamente nos
nossos modos de vida. O encontro
com a arte promove a possibilidade de
um diálogo intrínseco a "formas
superiores de objetivação" mediante o
intercambiamento subjetivo daquele
que observa, que s
ignifica.
O conteúdo da obra, e
consequentemente o conteúdo da
sua eficácia, é a experiência que
o indivíduo faz de si mesmo na
ampla riqueza de sua vida na
sociedade e
mediação dos traços
essencialmente novos das
relações humanas assim
reveladas
da sua existência
como parte e momento do
desenvolvimento da humanidade,
como seu compêndio
concentrado. (LUKÁCS, 1970,
p.198)
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
espaços, reacender movimentos
reflexivos perpassados por
perspectivas históricas e culturais que
interpelam o pensar, o ser e o fazer.
Nesse processo, a arte se
constitui
como experiência estética que nos
enleva enquanto seres humanos,
nos gentilmente, ao
em
que
arrebatadoramente, a um movimento
de suspensão do fluxo da
Permitem uma
experienciação que nos encaminha a
e desnaturalizar etapas que se
perfazem sistematicamente nos
nossos modos de vida. O encontro
com a arte promove a possibilidade de
um diálogo intrínseco a "formas
superiores de objetivação" mediante o
intercambiamento subjetivo daquele
ignifica.
O conteúdo da obra, e
consequentemente o conteúdo da
sua eficácia, é a experiência que
o indivíduo faz de si mesmo na
ampla riqueza de sua vida na
através da
mediação dos traços
essencialmente novos das
relações humanas assim
da sua existência
como parte e momento do
desenvolvimento da humanidade,
como seu compêndio
concentrado. (LUKÁCS, 1970,
O percurso dialético ao qual nos
provocam as experiências estéticas
impulsiona o nosso existir em um
movimento essencial e
a interioridade e a exterioridade, de
modo a não sucumbirmos a processos
de alienação. A interioridade repercute
da ação e reflexão interna, subjetiva,
de se compor e se compreender como
ser histórico, que ao mesmo tempo em
que vive a hist
ória, a constrói. A
exterioridade se compreende aqui
enquanto forças externas que
compõem o contexto social e, ao
mesmo tempo, o indivíduo, mas que
culminam, caso não se estabeleça
uma relação dialética com o mundo,
num processo de empobrecimento da
autono
mia e da consciência. Nesse
sentido, a conscientização e o
discernimento sobre as estruturas e
condições humanas, políticas,
culturais, econômicas e sociais que
circunstanciam a existência
perpassam a busca do homem por sua
humanização. Busca essa que se d
em muitas vias, mas especialmente
pela via da expressão, pelos meios em
que promove encontros com outras
subjetividades, outras histórias, outras
linguagens. Esses encontros
promovem capturas importantes que
93
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
O percurso dialético ao qual nos
provocam as experiências estéticas
impulsiona o nosso existir em um
movimento essencial e
constante entre
a interioridade e a exterioridade, de
modo a não sucumbirmos a processos
de alienação. A interioridade repercute
da ação e reflexão interna, subjetiva,
de se compor e se compreender como
ser histórico, que ao mesmo tempo em
ória, a constrói. A
exterioridade se compreende aqui
enquanto forças externas que
compõem o contexto social e, ao
mesmo tempo, o indivíduo, mas que
culminam, caso não se estabeleça
uma relação dialética com o mundo,
num processo de empobrecimento da
mia e da consciência. Nesse
sentido, a conscientização e o
discernimento sobre as estruturas e
condições humanas, políticas,
culturais, econômicas e sociais que
circunstanciam a existência
perpassam a busca do homem por sua
humanização. Busca essa que se d
á
em muitas vias, mas especialmente
pela via da expressão, pelos meios em
que promove encontros com outras
subjetividades, outras histórias, outras
linguagens. Esses encontros
promovem capturas importantes que
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
2
3
, p.
83
-
99
,
.
202
2
.
se configuram como parte inerente da
dimensão racional-afetiva
ser humano. O indivíduo da vida
cotidiana, imerso nas ações
intrínsecas à sua sobrevivência, na
condição de experimentar modos de
produção de vida e sentido
dimensionados pela linguagem
artística, tem potencializado o seu
proce
sso de humanização. A
"humanização do homem" (HELLER,
1972) requer a compreensão de que o
ser humano é quem desenha,
destrincha e vive a sua própria história.
Nesse amálgama, desponta
na contemporaneidade um elemento
que traz novas configurações ao
modus vivendi
dos indivíduos e
perpassa as experienciações dos
sujeitos: o avanço tecnológico e a
consequente midiatização do
cotidiano. Na experiência estética que
vem fornecendo elementos para a
tessitura das reflexões e proposições
deste trabalho, o pro
midiatização foi exponencial na fruição
das vivências do flanar por Montreal,
pois a sensação de imersão provocada
pela obra Cité Mémoire
transporta a
consciência para um espaço de
compartilhamento intenso com a
história, as memórias e com os
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
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midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
PragMATIZES -
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
se configuram como parte inerente da
-volitiva do
ser humano. O indivíduo da vida
cotidiana, imerso nas ações
intrínsecas à sua sobrevivência, na
condição de experimentar modos de
produção de vida e sentido
dimensionados pela linguagem
artística, tem potencializado o seu
sso de humanização. A
"humanização do homem" (HELLER,
1972) requer a compreensão de que o
ser humano é quem desenha,
destrincha e vive a sua própria história.
Nesse amálgama, desponta
-se
na contemporaneidade um elemento
que traz novas configurações ao
dos indivíduos e
perpassa as experienciações dos
sujeitos: o avanço tecnológico e a
consequente midiatização do
cotidiano. Na experiência estética que
vem fornecendo elementos para a
tessitura das reflexões e proposições
deste trabalho, o pro
cesso de
midiatização foi exponencial na fruição
das vivências do flanar por Montreal,
pois a sensação de imersão provocada
transporta a
consciência para um espaço de
compartilhamento intenso com a
história, as memórias e com os
elem
entos da atualidade da cidade.
imersão surge quando a obra de arte e
o aparato técnico, a mensagem e o
meio de percepção convergem para
um todo inseparável. (GRAU, 2007, p.
405). A
arte interativa traz em si a ideia
utópica de transformar o mundo real
e transportar o observador para dentro
da obra, aumentando seu poder sobre
o público.
Uma experiência estética e
midiatizada
O uso dos artefatos
tecnológicos
promove
Mémoire
, uma experiência ímpar e
particular no contato com a arte. As
escolhas de cada vivência vão desde
as possibilidades de seleção e acesso
aos conteúdos complementares
disponíveis pelo aplicativo para
celulares e tablets
, à própria decisão
de acessá-
los ou não. Os
desdobramentos que decorrem de
nossas escolhas reconfig
sentidos e a própria experiência.
A partir da compreensão desse
espectro, podemos dizer que o
processo de midiatização, intensificado
pela possibilidade de uso e acesso a
redes digitais, se numa perspectiva
de diálogo intenso e contínuo com os
94
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
entos da atualidade da cidade.
“A
imersão surge quando a obra de arte e
o aparato técnico, a mensagem e o
meio de percepção convergem para
um todo inseparável. (GRAU, 2007, p.
arte interativa traz em si a ideia
utópica de transformar o “mundo real”
e transportar o observador para dentro
da obra, aumentando seu poder sobre
Uma experiência estética e
O uso dos artefatos
promove
, no caso de Cité
, uma experiência ímpar e
particular no contato com a arte. As
escolhas de cada vivência vão desde
as possibilidades de seleção e acesso
aos conteúdos complementares
disponíveis pelo aplicativo para
, à própria decisão
los ou não. Os
desdobramentos que decorrem de
nossas escolhas reconfig
uram os
sentidos e a própria experiência.
A partir da compreensão desse
espectro, podemos dizer que o
processo de midiatização, intensificado
pela possibilidade de uso e acesso a
redes digitais, se dá numa perspectiva
de diálogo intenso e contínuo com os
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
2
3
, p.
83
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,
.
202
2
.
construtos simbólicos que constituem
as vivências e as relações sociais. As
interfaces potencializadas pelas mídias
digitais vão se constituindo como
mensagem que se configura a partir do
próprio meio por onde é transmitida
(MCLUHAN, 1996). O meio,
signifi
cado enquanto mediação,
delimitou enquadres e proporcionou
um alcance que ressituou e
ressignificou tanto os elementos
contidos na exposição artística quanto
as próprias experiências anteriores de
contato com a arte. Tal oportunidade
preconizou um modo pec
vivenciar o movimento estético, em
especial no tocante ao que se
preconiza nas exposições e espaços
de vivência da arte mais tradicionais. A
presença preponderante das mídias na
sociedade contemporânea vai se
ramificando e, dialeticamente, se
apro
pria de sentidos, de instituições,
ao mesmo tempo em que é apropriada
por elas e pelos sujeitos (HJARVARD,
2014).
Desse modo, a arte, que
consiste numa ferramenta importante
para a suspensão do cotidiano
(HELLER, 1972), tem seu alcance e
suas formas de ex
perienciação
potencializadas pelas novas
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
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midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
construtos simbólicos que constituem
as vivências e as relações sociais. As
interfaces potencializadas pelas mídias
digitais vão se constituindo como
mensagem que se configura a partir do
próprio meio por onde é transmitida
(MCLUHAN, 1996). O meio,
cado enquanto mediação,
delimitou enquadres e proporcionou
um alcance que ressituou e
ressignificou tanto os elementos
contidos na exposição artística quanto
as próprias experiências anteriores de
contato com a arte. Tal oportunidade
preconizou um modo pec
uliar de
vivenciar o movimento estético, em
especial no tocante ao que se
preconiza nas exposições e espaços
de vivência da arte mais tradicionais. A
presença preponderante das mídias na
sociedade contemporânea vai se
ramificando e, dialeticamente, se
pria de sentidos, de instituições,
ao mesmo tempo em que é apropriada
por elas e pelos sujeitos (HJARVARD,
Desse modo, a arte, que
consiste numa ferramenta importante
para a suspensão do cotidiano
(HELLER, 1972), tem seu alcance e
perienciação
potencializadas pelas novas
tecnologias e mídias digitais. Já a
experiência estética proporcionada por
essas mídias em um contexto artístico
promove
afetos que nos mobilizam
para uma percepção do cotidiano mais
criativa, inventiva, afetiva
arte se expressa pelas sensações que
provoca e produz espaços para além
dos lugares próprios da cidade.
A arte conserva, é a única coisa
no mundo que se conserva. [...] O
que se conserva, a coisa ou a
obra de arte, é um bloco de
sensações, isto
de perceptos e afectos. Os
perceptos não mais são
percepções, são independentes
do estado daqueles que os
experimentam; os afectos não
são mais sentimentos ou
afecções, transbordam a força
daqueles que são atravessados
por eles. As sensaçõe
perceptos e afectos, são seres
que valem por si mesmos e
excedem qualquer vivido
(DELEUZE; GUATTARI, 1996, p.
213).
Os perceptos fazem parte do
mundo da arte. o conjuntos de
percepções e sensações que vão além
de quem as sente, ou seja, são
sensaçõe
s visuais, auditivas e quase
gustativas que se tornam
independentes dessas pessoas. A arte
consistência aos perceptos. No
entanto, não existem perceptos sem
os devires que transbordam do
95
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
tecnologias e mídias digitais. a
experiência estética proporcionada por
essas mídias em um contexto artístico
afetos que nos mobilizam
para uma percepção do cotidiano mais
criativa, inventiva, afetiva
e social. A
arte se expressa pelas sensações que
provoca e produz espaços para além
dos lugares próprios da cidade.
A arte conserva, é a única coisa
no mundo que se conserva. [...] O
que se conserva, a coisa ou a
obra de arte, é um bloco de
sensações, isto
é, um composto
de perceptos e afectos. Os
perceptos não mais são
percepções, são independentes
do estado daqueles que os
experimentam; os afectos não
são mais sentimentos ou
afecções, transbordam a força
daqueles que são atravessados
por eles. As sensaçõe
s,
perceptos e afectos, são seres
que valem por si mesmos e
excedem qualquer vivido
(DELEUZE; GUATTARI, 1996, p.
Os perceptos fazem parte do
mundo da arte. São conjuntos de
percepções e sensações que vão além
de quem as sente, ou seja, são
s visuais, auditivas e quase
gustativas que se tornam
independentes dessas pessoas. A arte
dá consistência aos perceptos. No
entanto, não existem perceptos sem
os devires que transbordam do
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
2
3
, p.
83
-
99
,
.
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2
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indivíduo e que passam por eles.
Esses devires são os afectos, que
arrastam para potências acima de
nossa compreensão. (BOUTANG,
1988, 1989).
Nesses devires, os
processos de mediação significam os
contextos e as vivências e se
desenvolvem a partir da relação com
os meios que perfazem sua trajetória.
"Os recursos técn
icos o remetem
apenas a certos formatos industriais e
certas estratégias comerciais, mas
também a um outro modo de narrar"
(MARTÍN-
BARBERO, 1997, p.190).
Deste modo,
Cité Mémoire
cidade como uma obra de arte
interativa, dialógica, que se dispõe aos
devires das mídias digitais, resgatando
emoções por meio de experiências
estéticas e reinvenções de mundos.
Essas mídias proporcionaram uma
imersão na arte e nas raízes daquele
povo. As ruas de paralelepípedos
(Fotografias 10 e 11) eram rios
caudalosos a nos conduzir por seus
fluxos; as paredes nos fitavam como
olhos que nos devolvem o olhar. Em
cada esquina um sentido mágico
insurgia.
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
PragMATIZES -
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
indivíduo e que passam por eles.
Esses devires são os afectos, que
nos
arrastam para potências acima de
nossa compreensão. (BOUTANG,
Nesses devires, os
processos de mediação significam os
contextos e as vivências e se
desenvolvem a partir da relação com
os meios que perfazem sua trajetória.
icos não remetem
apenas a certos formatos industriais e
certas estratégias comerciais, mas
também a um outro modo de narrar"
BARBERO, 1997, p.190).
Cité Mémoire
propõe a
cidade como uma obra de arte
interativa, dialógica, que se dispõe aos
devires das mídias digitais, resgatando
emoções por meio de experiências
estéticas e reinvenções de mundos.
Essas mídias proporcionaram uma
imersão na arte e nas raízes daquele
povo. As ruas de paralelepípedos
(Fotografias 10 e 11) eram rios
caudalosos a nos conduzir por seus
fluxos; as paredes nos fitavam como
olhos que nos devolvem o olhar. Em
cada esquina um sentido mágico
Fotografia 10:
Rua que vira rio
Fonte:
Arquivo pessoal
96
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
Rua que vira rio
Arquivo pessoal
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
2
3
, p.
83
-
99
,
.
202
2
.
Fotografia 11:
Paralelepípedos animados
Fonte: Arquivo pessoal
A cidade não é apenas um
lugar. É também um lugar praticado
mas principalmente um espaço onde
metáforas e semânticas são criadas,
onde surgem enunciados. É
praticar a cidade para entendê
preciso senti-
la primeiro, para depois
9
Segundo Michel de Certeau, a cidade como
um lugar é apenas um conjunto de objetos
em ordenação, mas como lugar praticado
torna-se e
spaço. “O espaço é um
cruzamento de móveis. É de certo modo
animado pelo conjunto dos movimentos que
aí se desdobram”. (CERTEAU, 1998, p.
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Paralelepípedos animados
Fonte: Arquivo pessoal
A cidade não é apenas um
lugar. É também um lugar praticado
9
,
mas principalmente um espaço onde
metáforas e semânticas são criadas,
onde surgem enunciados. É
preciso
praticar a cidade para entendê
-la. É
la primeiro, para depois
Segundo Michel de Certeau, a cidade como
um lugar é apenas um conjunto de objetos
em ordenação, mas como lugar praticado
spaço. O espaço é um
cruzamento de móveis. É de certo modo
animado pelo conjunto dos movimentos que
aí se desdobram. (CERTEAU, 1998, p.
202).
analisá-
la. É preciso vivê
Mémoire
traz vida à cidade, gera um
bloco de sensações, isto é, um
composto de perceptos e afectos,
proporcionando novas e sensíveis
v
ivências da cidade, que possibilitam à
textura da experiência se entrelaçar à
textura da memória (SILVERSTONE,
2002, p. 237).
A obra é tão impactante, que
pessoas desconhecidas se unem nas
ruas devido ao encantamento causado
pelas projeções. Multidisciplin
apresenta uma nova valoração da
experiência visual e adquire
mobilidade e intercambialidade sem
precedentes (CRARY, 2016, p. 22).
Arte, história, cotidiano e tecnologia se
mesclam em uma vivência ímpar, que
intensifica a experiência sensorial e
emo
cional dos indivíduos.
Considerações finais
As linguagens artísticas nos
ensinam a ler o mundo com um olhar
de delicadeza, poético e imaginativo,
por isso são necessárias à vida.
é um refúgio. E ao mesmo tempo cria
novas formas de viver. Aguça as
sensibilidades.
Cité Mémoire
ao público a experiência de um
que caminha pelas ruas tentando
97
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
la. É preciso vivê
-la. E Cité
traz vida à cidade, gera um
bloco de sensações, isto é, um
composto de perceptos e afectos,
proporcionando novas e sensíveis
ivências da cidade, que possibilitam à
textura da experiência se entrelaçar à
textura da memória (SILVERSTONE,
A obra é tão impactante, que
pessoas desconhecidas se unem nas
ruas devido ao encantamento causado
pelas projeções. Multidisciplin
ar, ela
apresenta uma nova valoração da
experiência visual e adquire
mobilidade e intercambialidade sem
precedentes (CRARY, 2016, p. 22).
Arte, história, cotidiano e tecnologia se
mesclam em uma vivência ímpar, que
intensifica a experiência sensorial e
cional dos indivíduos.
Considerações finais
As linguagens artísticas nos
ensinam a ler o mundo com um olhar
de delicadeza, poético e imaginativo,
por isso são necessárias à vida.
A arte
é um refúgio. E ao mesmo tempo cria
novas formas de viver. Aguça as
Cité Mémoire
propõe
ao público a experiência de um
flaneur
que caminha pelas ruas tentando
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
2
3
, p.
83
-
99
,
.
202
2
.
compreender melhor o passado e o
presente; a história e o cotidiano
daquel
a região. O transitar dá vida aos
espaços. “Viver a cidade como
é atentar aos nomes e símbolos, é
criar, então, relatos que nos dizem
uma cidade própria e particular para
cada um” (MEDEIROS, 2016, p.106).
O flaneur
, aquele que caminha e
vivencia o
processo como algo da
ordem estética, pratica a cidade. O
espaço é um lugar praticado
(CERTEAU, 1998, p. 202).
Vivenciar a arte praticando a
cidade ao caminhar por entre mídias
digitas contemporâneas
múltiplas sensações e expandem os
sentidos
ativa todo um novo
repertório de habilidades sensório
motoras, perceptivas, emocionais e
sociais. Essas mídias
permeiam as
instituições sociais e culturais
(HJARVARD, 2012) como uma
combinação de cores cambiantes e
diversas, que se matizam em um único
elemento. Em
Cité moire
experiências estéticas e midiatizadas
também se mesclam à vida real,
extrapolando todo e qualquer espaço
formal para a exibição de uma
proposta artística, ao mesmo tempo
em que oferecem um sopro de leveza
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
compreender melhor o passado e o
presente; a história e o cotidiano
a região. O transitar dá vida aos
espaços. Viver a cidade como
flaneur
é atentar aos nomes e símbolos, é
criar, então, relatos que nos dizem
uma cidade própria e particular para
cada um (MEDEIROS, 2016, p.106).
, aquele que caminha e
processo como algo da
ordem estética, pratica a cidade. “O
espaço é um lugar praticado”
Vivenciar a arte praticando a
cidade ao caminhar por entre mídias
que geram
múltiplas sensações e expandem os
ativa todo um novo
repertório de habilidades sensório
-
motoras, perceptivas, emocionais e
permeiam as
instituições sociais e culturais
(HJARVARD, 2012) como uma
combinação de cores cambiantes e
diversas, que se matizam em um único
Cité Mémoire
, as
experiências estéticas e midiatizadas
também se mesclam à vida real,
extrapolando todo e qualquer espaço
formal para a exibição de uma
proposta artística, ao mesmo tempo
em que oferecem um sopro de leveza
como em uma brincade
escapa da “ordinariedade
cotididiana (como algo que não é essa
ordinariedade)” (SILVERSTONE,
2002, p. 115, 116)
para as subjetividades de cada sujeito.
Reconhecer o papel da mídia em
contribuir para os diferentes
timbre e
matizes da vida diária;
para seu caráter ordinário, como
também para sua natureza única;
tanto para a generalidade como
para a intensidade da
experiência: esses eventos
seminais, estruturais que são,
para indivíduos e grupos,
decisivos na definição da
iden
tidade e da cultura.
(SILVERSTONE, 2002, p. 113).
Naquele outono, fomos
caminhando, praticando e saboreando
os signos da “Cidade da Memória
como uma criança que se lambuza
com um sorvete de casquinha. Aquela
magia escorria em nossos corpos por
inteiro. E
stávamos entregues àquela
vivência. Arrebatadas. Parafraseando
Eduardo Galeano (1989), ao tratar da
função primeira da arte, foi tanta
imensidão, e tanto fulgor, que ficamos
mudas de beleza. Era a arte,
transformando almas, atravessando
com toda a intensid
forças que nos interpelam. Afetou não
apenas a viagem e o transitar por uma
cidade desconhecida, como suscitou
98
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
como em uma brincade
ira, que
escapa da ordinariedade
da vida
cotididiana (como algo que não é essa
ordinariedade) (SILVERSTONE,
e abrem espaço
para as subjetividades de cada sujeito.
Reconhecer o papel da mídia em
contribuir para os diferentes
matizes da vida diária;
para seu caráter ordinário, como
também para sua natureza única;
tanto para a generalidade como
para a intensidade da
experiência: esses eventos
seminais, estruturais que são,
para indivíduos e grupos,
decisivos na definição da
tidade e da cultura.
(SILVERSTONE, 2002, p. 113).
Naquele outono, fomos
caminhando, praticando e saboreando
os signos da Cidade da Memória”
como uma criança que se lambuza
com um sorvete de casquinha. Aquela
magia escorria em nossos corpos por
stávamos entregues àquela
vivência. Arrebatadas. Parafraseando
Eduardo Galeano (1989), ao tratar da
função primeira da arte, foi tanta
imensidão, e tanto fulgor, que ficamos
mudas de beleza. Era a arte,
transformando almas, atravessando
com toda a intensid
ade que produz
forças que nos interpelam. Afetou não
apenas a viagem e o transitar por uma
cidade desconhecida, como suscitou
BANDEIRA, Ana Cristina da Silva; SILA, Dagmar de Mello e; ALVES,
Walcéa Barreto. Cidade da Memória: uma experiência estética e
midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
2
3
, p.
83
-
99
,
.
202
2
.
um frisson
e o desejo de compartilhar
aquele sentimento, de pesquisar como
a arte digital imersiva pode afetar e
atravessar as pes
soas, e entender
seus reflexos na vida cotidiana
daqueles que a vivenciam.
Referências:
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Documentos de
cultura, documentos de barbárie:
escritos escolhidos.
Seleção e
apresentação Willi Bolle
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Visão e modernidade no
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midiatizada que mescla passado e presente no cotidiano.
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Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
e o desejo de compartilhar
aquele sentimento, de pesquisar como
a arte digital imersiva pode afetar e
soas, e entender
seus reflexos na vida cotidiana
Documentos de
cultura, documentos de barbárie:
Seleção e
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