ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
Muralismo, grafite e pichação: potencialidades para a transformação da escola
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i23
Resumo:
o presente artigo deriva do Trabalho de Conclusão de Curso
desenvolve a partir da apresentação da história do muralismo, do grafite e da pichação,
reconhecendo-
os como um gri
economicamente impostas.Posteriormente, realiza um debate que os indica como ferramentas
pedagógicas, dado que permitem transcender a educação tradicional e incorporar o ensino
Geografia, sobre
social.Nesta direção, as orientações pedagógicas
trilhados pelo primeiro autor, cujos trabalhos poderão ser conhecidos neste artigo.
aqui aventadas visam a oportunizar às escolas, por meio do ensino de Geografia, o desenvolvimento
dos(das) estudantes ao favorecer suas próprias análises espaciais e o entendimento das paisagens
em seus múltiplos sentidos e dos territórios em
Palavras-chave: e
nsino de Geografia;
Muralismo, grafitis y grafitis: potencialidades para la transformación escolar
Resumen
: el presente artículo fue elaborado con base en el Trabajo de Conclusión de Curso del
primer autor y se desarrolla a partir de la presentación de la historia del muralismo, del grafitti y del
tag, reconociéndolos como un grito de resistencia frente a las
económicamente impuestas. Posteriormente, los aborda en cuanto herramientas pedagógicas, una
vez que permite transcender la educación tradicional y incorporar la enseñanza de Geografía,
sobretodo en escuelas públicas, compr
dirección, la orientaciones pedagógicas
primer autor, cuyos trabajos podrán ser conocidos en este artículo. Las reflexiones aquí ex
visan a favorecer a las escuelas, por medio de la enseñanza de Geografia, el desarrollo de los(las)
1
Pedro Paulo de Almeida.
Graduado em Geografia Licenciatura pela Universidade Federal da
Integração Latino-
Americana (UNILA)
pp.almeida.2017@aluno.unila.edu.br
2
Juliiana Franzi.
Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).
Universidade Federal da Integração Latino
juliana.franzi@unila.edu.br -
https://orcid.org/0000
3
Marcelo Augusto Rocha.
Doutor em Ensino pela Universidade Estadual de Londrina (PECEM/UEL)
Professor Adjunto no Curso de Geografia
Interdisciplinar em Estudos Latino
marcellusaugustus@gmail.com
-
Recebido em 02/03/2022,
aceito para publicação em
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Muralismo, grafite e pichação: potencialidades para a transformação da escola
Pedro Paulo de Almeida
Marcelo Augusto Rocha
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i23
.53346
o presente artigo deriva do Trabalho de Conclusão de Curso
do primeiro autor e se
desenvolve a partir da apresentação da história do muralismo, do grafite e da pichação,
os como um gri
to de resistência perante as opressões sociais, culturais e
economicamente impostas.Posteriormente, realiza um debate que os indica como ferramentas
pedagógicas, dado que permitem transcender a educação tradicional e incorporar o ensino
tudo em escolas públicas, comprometido com a transformação da realidade
social.Nesta direção, as orientações pedagógicas
teóricas e práticas
respaldam
já trilhados pelo primeiro autor, cujos trabalhos poderão ser conhecidos neste artigo.
aqui aventadas visam a oportunizar às escolas, por meio do ensino de Geografia, o desenvolvimento
dos(das) estudantes ao favorecer suas próprias análises espaciais e o entendimento das paisagens
em seus múltiplos sentidos e dos territórios em
seus múltiplos agentes.
nsino de Geografia;
ferramenta pedagógica; muralismo; g
rafite,
Muralismo, grafitis y grafitis: potencialidades para la transformación escolar
: el presente artículo fue elaborado con base en el Trabajo de Conclusión de Curso del
primer autor y se desarrolla a partir de la presentación de la historia del muralismo, del grafitti y del
tag, reconociéndolos como un grito de resistencia frente a las
presiones sociales, culturales y
económicamente impuestas. Posteriormente, los aborda en cuanto herramientas pedagógicas, una
vez que permite transcender la educación tradicional y incorporar la enseñanza de Geografía,
sobretodo en escuelas públicas, compr
ometidas con la transformación de la realidad social. En esta
dirección, la orientaciones pedagógicas
teóricas y prácticas –
se basan en caminos ya trillados pelo
primer autor, cuyos trabajos podrán ser conocidos en este artículo. Las reflexiones aquí ex
visan a favorecer a las escuelas, por medio de la enseñanza de Geografia, el desarrollo de los(las)
Graduado em Geografia Licenciatura pela Universidade Federal da
Americana (UNILA)
, Foz do Iguaçu, PR, Brasil. E-mail:
pp.almeida.2017@aluno.unila.edu.br
- https://orcid.org/0000-0002-6573-9530
Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).
Docente da
Universidade Federal da Integração Latino
-Americana (UNILA), Foz do Iguaçu
, PR,
https://orcid.org/0000
-0001-5840-9982.
Doutor em Ensino pela Universidade Estadual de Londrina (PECEM/UEL)
Professor Adjunto no Curso de Geografia
e d
ocente Permanente do Programa de Pós
Interdisciplinar em Estudos Latino
-Americanos (PPG-IELA/UNILA). E-mail:
-
https://orcid.org/0000-0002-9769-0487
aceito para publicação em
18/07/20
22 e disponibilizado online em
01/09/2022.
59
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
Muralismo, grafite e pichação: potencialidades para a transformação da escola
Pedro Paulo de Almeida
1
Juliana Franzi
2
Marcelo Augusto Rocha
3
do primeiro autor e se
desenvolve a partir da apresentação da história do muralismo, do grafite e da pichação,
to de resistência perante as opressões sociais, culturais e
economicamente impostas.Posteriormente, realiza um debate que os indica como ferramentas
pedagógicas, dado que permitem transcender a educação tradicional e incorporar o ensino
de
tudo em escolas públicas, comprometido com a transformação da realidade
respaldam
-se em caminhos
já trilhados pelo primeiro autor, cujos trabalhos poderão ser conhecidos neste artigo.
As reflexões
aqui aventadas visam a oportunizar às escolas, por meio do ensino de Geografia, o desenvolvimento
dos(das) estudantes ao favorecer suas próprias análises espaciais e o entendimento das paisagens
rafite,
pichação.
Muralismo, grafitis y grafitis: potencialidades para la transformación escolar
: el presente artículo fue elaborado con base en el Trabajo de Conclusión de Curso del
primer autor y se desarrolla a partir de la presentación de la historia del muralismo, del grafitti y del
presiones sociales, culturales y
económicamente impuestas. Posteriormente, los aborda en cuanto herramientas pedagógicas, una
vez que permite transcender la educación tradicional y incorporar la enseñanza de Geografía,
ometidas con la transformación de la realidad social. En esta
se basan en caminos ya trillados pelo
primer autor, cuyos trabajos podrán ser conocidos en este artículo. Las reflexiones aquí ex
ploradas
visan a favorecer a las escuelas, por medio de la enseñanza de Geografia, el desarrollo de los(las)
Graduado em Geografia Licenciatura pela Universidade Federal da
Docente da
, PR,
Brasil. E-mail:
Doutor em Ensino pela Universidade Estadual de Londrina (PECEM/UEL)
.
ocente Permanente do Programa de Pós
-Graduação
22 e disponibilizado online em
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da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
estudiantes al permitir sus propias análisis espaciales y el entendimiento de los paisajes en sus
múltiplos sentidos y de los territorios en sus mú
Palabras clave:
enseñanza de Geografia; h
Muralism, graffiti and spray painting: potential for school transformation
Abstract: This
article derives from
presentation of the history of
muralism, graffiti
resistance in the face of social, cultural and
carries out a debate that
indicates
education and incorporating the
transformation
of social reality. In this
are based on paths already
trodden
reflections proposed here aim
development of students by
favoring
their multiple senses and
territories in their
Keywords: Geography
teaching; p
Muralismo, grafite e pichação:
Introdução
O primeiro autor deste artigo é
grafiteiro e Licenciado em Geografia,
pela Universidade Federal da
Integração Latino-
Americana
de Foz do Iguaçu -
PR. Durante a
elaboração de atividades do estágio
supervisionado e em parcerias
profissionais alcançad
as com diretores
de escolas da cidade de Foz do Iguaçu
e de São Paulo, foi possível a
realização de murais com a
participação de estudantes da
Educação Básica. Com base nessa
trajetória, percebeu-
se o interesse dos
discentes pela arte e como esta pode
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
estudiantes al permitir sus propias análisis espaciales y el entendimiento de los paisajes en sus
múltiplos sentidos y de los territorios en sus mú
ltiplos agentes.
enseñanza de Geografia; h
errmienta pedagógica; muralismo;
grafitti, t
Muralism, graffiti and spray painting: potential for school transformation
article derives from
the first author's Final Course Essay
and
muralism, graffiti
and spray
painting, recognizing
resistance in the face of social, cultural and
economically imposed
oppressions. Subsequently, it
indicates
them as pedagogical tools, since they allow
transcending
Geography teaching, especially in public
schools, committed
of social reality. In this
direction, the pedagogical guidelines
theorical
trodden
by the first author, whose works can be
known in this
to provide schools, through the teaching of
Geography, with
favoring
their own spatial analysis and
understanding
territories in their
multiple agents.
teaching; p
edagogical tool; muralism; graffiti; spray
painting.
Muralismo, grafite e pichação:
potencialidades para a transformação da escola
O primeiro autor deste artigo é
grafiteiro e Licenciado em Geografia,
pela Universidade Federal da
Americana
UNILA
PR. Durante a
elaboração de atividades do estágio
supervisionado e em parcerias
as com diretores
de escolas da cidade de Foz do Iguaçu
e de São Paulo, foi possível a
realização de murais com a
participação de estudantes da
Educação Básica. Com base nessa
se o interesse dos
discentes pela arte e como esta pode
ser
um instrumento de diálogo,
favorecendo os processos de ensino e
de aprendizagem.
A partir dessa experiência, o
presente artigo busca desenvolver
uma abordagem analítica que articula
o muralismo, o grafite e também o pixo
como instrumentos pedagógicos para
o ensino de Geografia, e com isso,
proporcionar reflexões críticas e
metodologias diferenciadas sobre as
realidades, contraditórias e desiguais,
vividas pelos estudantes de escolas
públicas.
60
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
estudiantes al permitir sus propias análisis espaciales y el entendimiento de los paisajes en sus
grafitti, t
ag.
and
develops from the
painting, recognizing
them as a cry of
oppressions. Subsequently, it
transcending
traditional
schools, committed
to the
theorical
and practical -
known in this
article. The
Geography, with
the
understanding
of landscapes in
painting.
potencialidades para a transformação da escola
um instrumento de diálogo,
favorecendo os processos de ensino e
A partir dessa experiência, o
presente artigo busca desenvolver
uma abordagem analítica que articula
o muralismo, o grafite e também o pixo
como instrumentos pedagógicos para
o ensino de Geografia, e com isso,
proporcionar reflexões críticas e
metodologias diferenciadas sobre as
realidades, contraditórias e desiguais,
vividas pelos estudantes de escolas
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
História do Muralismo e do Grafite
Segundo Claudia Mandel
(2007),
o movimento Muralista nasce
no México no início do século XX
procurando a unificação dos povos
indígenas e camponeses com a queda
de Porfirio Dias (1911),
cuja postura
ditatorial comandou
o México por mais
de três décadas.
Com o advento da Revolução
Mexicana, uma notável valorização
da prática do muralismo, inclusive no
contexto educacional.
Nas palavras de
Mandel (2007, p. 39):
No podemos analizar el
fenómeno del muralismo
desvinculado de una actividad
educativa global,
contemplado a
la luz del proyecto cultural del
Estado, la iconografía del
muralismo, al recrear la imagen
de la revolución obrera y
campesina, crea un arte
consagratorio que el Estado
usufructuó en su proceso de
legitimación y homogeneización
nacional.
L
ogo em seguida,com o término
da Revolução Mexicana (1924) os
murais passaram a ser observados
como verdadeiras obras de artes
expostas em prédios blicos como o
museu de belas artes e na secretaria
de educação. O muralismo ganhou
força com pinturas em mui
públicos da cidade do México para que
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
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Artes e culturas nas cidades
História do Muralismo e do Grafite
Segundo Claudia Mandel
o movimento Muralista nasce
no México no início do século XX
procurando a unificação dos povos
indígenas e camponeses com a queda
cuja postura
o México por mais
Com o advento da Revolução
Mexicana, há uma notável valorização
da prática do muralismo, inclusive no
Nas palavras de
No podemos analizar el
fenómeno del muralismo
desvinculado de una actividad
contemplado a
la luz del proyecto cultural del
Estado, la iconografía del
muralismo, al recrear la imagen
de la revolución obrera y
campesina, crea un arte
consagratorio que el Estado
usufructuó en su proceso de
legitimación y homogeneización
ogo em seguida,com o término
da Revolução Mexicana (1924) os
murais passaram a ser observados
como verdadeiras obras de artes
expostas em prédios públicos como o
museu de belas artes e na secretaria
de educação. O muralismo ganhou
força com pinturas em mui
tos prédios
públicos da cidade do México para que
a população pudesse desfrutar dessa
arte e passasse a criar suas próprias
interpretações acerca dos
acontecimentos políticos e sociais
ocorridos durante a Revolução
Mexicana de 1910.
Os principais muralista
mexicanos foram Diego Rivera (1886
1957), Davi Siqueiros (1896
Clemente Orozco (1883
trabalhosforam de suma importância
para essa arte se propagar de forma
que os ideais em suas pinturas
revelassem a inclusão dos
campesinatos na
sociedade de forma
justa, igualitária e democrática.
conta disso,ocorre a instauração de
uma nova ordem social.Segundo
Traspadini (2020),
moderno mexicano foi importante por
constituir-
se em uma escola de arte
política que veio a cumprir s
junto a revolução mexicana.
Com o passar do tempo o
movimento muralista se tornou um dos
alicerces
dos ideais que estavam se
instaurando naquele país.
até os dias atuais, o muralismo
relevante no México
para as
características políticas nas
pinturas,
contando com
artistas, como Diego Rivera
61
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
a população pudesse desfrutar dessa
arte e passasse a criar suas próprias
interpretações acerca dos
acontecimentos políticos e sociais
ocorridos durante a Revolução
Os principais muralista
s
mexicanos foram Diego Rivera (1886
1957), Davi Siqueiros (1896
1974) e
Clemente Orozco (1883
1949). Seus
trabalhosforam de suma importância
para essa arte se propagar de forma
que os ideais em suas pinturas
revelassem a inclusão dos
sociedade de forma
justa, igualitária e democrática.
Por
conta disso,ocorre a instauração de
uma nova ordem social.Segundo
o muralismo
moderno mexicano foi importante por
se em uma escola de arte
política que veio a cumprir s
eu papel
junto a revolução mexicana.
Com o passar do tempo o
movimento muralista se tornou um dos
dos ideais que estavam se
instaurando naquele país.
Com efeito,
até os dias atuais, o muralismo
é
relevante no México
, com destaque
características políticas nas
contando com
diversos
artistas, como Diego Rivera
. Rivera
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
por ser um dos maiores artistas em
destaque na arte muralista da história,
passa a ser convidado por diversos
empresários e galerias nos Estados
Unidos sendo, alguns
deles,
Bryant Ford (filho único de Henry Ford)
e Nelson Rockfeller.
Conforme nos explica Ramos
(2012), na cada de 1930,
chegar na cidade de Detroit
Estados Unidos,perma
neceu alguns
meses conhecendo os costumes e
visitando dive
rsos locais entre eles a
fábrica da Ford na cidade de River
Rouge.
Com o entusiasmo do artista,
junto de sua esposa Frida Kahlo,
efetuaram a pintura de vinte sete
painéis ao redor do pátio do Instituto
de Artes de Detroit.Entre eles está um
dos mais import
antes: A indústria de
Detroit
4
.
Este imenso painel representa
uma reflexão sobre a alegoria fordista
diante do potencial emancipador da
tecnologia,no qual Rivera expressa
seu posicionamento diante do lado
taylorizado da exploração do trabalho
e,deste modo,
por meio da arte
explicita a crítica ao trabalho
alienado”.
4
Uma
imagem da obra: A indústria de Detroit,
pode ser visualizada no link a seguir:
https://historia-
arte.com/obras/murales
industria-de-detroit
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Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
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, set. 2022.
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Artes e culturas nas cidades
por ser um dos maiores artistas em
destaque na arte muralista da história,
passa a ser convidado por diversos
empresários e galerias nos Estados
deles,
Edsel
Bryant Ford (filho único de Henry Ford)
Conforme nos explica Ramos
(2012), na década de 1930,
Rivera ao
chegar na cidade de Detroit
nos
neceu alguns
meses conhecendo os costumes e
rsos locais entre eles a
fábrica da Ford na cidade de River
Com o entusiasmo do artista,
junto de sua esposa Frida Kahlo,
efetuaram a pintura de vinte sete
painéis ao redor do pátio do Instituto
de Artes de Detroit.Entre eles está um
antes: A indústria de
Este imenso painel representa
uma reflexão sobre a alegoria fordista
diante do potencial emancipador da
tecnologia,no qual Rivera expressa
seu posicionamento diante do lado
taylorizado da exploração do trabalho
por meio da arte
explicita a crítica ao “trabalho
imagem da obra: A indústria de Detroit,
pode ser visualizada no link a seguir:
arte.com/obras/murales
-de-la-
Com a viagem de Diego Rivera
aos Estados Unidos foi possível
propagar as suas críticas perante uma
sociedade industrializada e, assim,
prosseguir com seus trabalhos pelo
país, onde, ao terminar
Detroit, seguiu para New York a
convite de Nelson Rockefeller para
efetuar a pintura de mais um mural,
desta vez no edifício Rockfeller Center.
Conforme Scott (1977), Rivera, ao
receber a proposta, deu início ao seu
trabalho, no qual, ele e
Frida Khallo iniciaram a imensa
pintura.A cada dia que passava era
evidente o posicionamento político e
ideológico de Rivera em suas
obras,causando por meio
rosto de Lenin, um furor público a
respeito do mural.
De tal modo, em 24
de abril de 1933,
ocorreu
no Jornal Telegram com a seguinte
manchete “Rivera pinta cenas
comunistas”.
Logo em seguida Nelson
Rockfeller e outros tentaram persuadir
o artista a remover a imagem
por Thomas Jefferson, mas Rivera
disse pr
eferir pintar Abrahan
libertador americano.
foi aceita por Rivera e nem
assistentes
que acabaram se retirando
do edifício Rockefeller Center, onde,
62
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
Com a viagem de Diego Rivera
aos Estados Unidos foi possível
propagar as suas críticas perante uma
sociedade industrializada e, assim,
prosseguir com seus trabalhos pelo
país, onde, ao terminar
suas obras, em
Detroit, seguiu para New York a
convite de Nelson Rockefeller para
efetuar a pintura de mais um mural,
desta vez no edifício Rockfeller Center.
Conforme Scott (1977), Rivera, ao
receber a proposta, deu início ao seu
trabalho, no qual, ele e
sua esposa
Frida Khallo iniciaram a imensa
pintura.A cada dia que passava era
evidente o posicionamento político e
ideológico de Rivera em suas
obras,causando por meio
da pintura do
rosto de Lenin, um furor público a
De tal modo, em 24
ocorreu
a publicação
no Jornal Telegram com a seguinte
manchete Rivera pinta cenas
Logo em seguida Nelson
Rockfeller e outros tentaram persuadir
o artista a remover a imagem
de Lenin
por Thomas Jefferson, mas Rivera
eferir pintar Abrahan
Lincoln,
libertador americano.
A remoção não
foi aceita por Rivera e nem
por seus
que acabaram se retirando
do edifício Rockefeller Center, onde,
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
mais tarde, tiveram sua entrada
proibida.
Em 1934, trabalhadores
americanos,
nacionalistas, adentraram
ao edifíci
o para transformar a obra em
ruí
nas. Mesmo assim, Diego Rivera,
conforme Scott (1977),
teria usado o
dinheiro dos Rockefeller a favor das
massas.
Após o incidente, Rivera contou
com a oferta de
diversos muros para
pint
ar em Nova York, mas não aceitou
tais propostas, retornando ao México
para concluir a pintura do muro de
dentro do Palácio Belas
Artes,
afresco intitulado:
“O homem e a
encruzilhada”. Esta obra encontra
disponível para admiração
atuais.
Ao estudar o movimento
muralista é possível perceber
nuances
entre elementos constituintes
do hip hop e o grafite,
exemplo a forma de passar
mensagens e gerar reflexões nas
pessoas, seja por meio de rimas ou
sons ou ainda através de imag
Outros aspectos semelhantes dizem
respeito à
construção de identidades
sociais e dos lugares, à
valorização de
grupos sociais e espaços urbanos
esquecidos ou ignorados pelo poder
público.
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Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
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, set. 2022.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
mais tarde, tiveram sua entrada
Em 1934, trabalhadores
nacionalistas, adentraram
o para transformar a obra em
nas. Mesmo assim, Diego Rivera,
teria usado o
dinheiro dos Rockefeller a favor das
Após o incidente, Rivera contou
diversos muros para
ar em Nova York, mas não aceitou
tais propostas, retornando ao México
para concluir a pintura do muro de
Artes,
em seu
O homem e a
encruzilhada. Esta obra encontra
-se
até os dias
Ao estudar o movimento
muralista é possível perceber
certas
entre elementos constituintes
do hip hop e o grafite,
como por
exemplo a forma de passar
mensagens e gerar reflexões nas
pessoas, seja por meio de rimas ou
sons ou ainda através de imag
ens.
Outros aspectos semelhantes dizem
construção de identidades
valorização de
grupos sociais e espaços urbanos
esquecidos ou ignorados pelo poder
Segundo o
documentário
Wars legendary
graffiti
(1983)
5
,
quando o hip hop surge nos
Estados Unidos da América, em New
York, em 1970,nos bairros do Brooklin,
Bronx
e Harlem, antes bairros
ocupados por uma classe média
estadunidense
surge também o grafite
como a forma escrita do
movimento.Esse
s locais abandonados,
devido à crise econômica
da década de 70,
recebeu
de muitos negros advindos da Jamaica
e outros países da América Central e
ainda de latinos do sul que iniciam
seus processos de marcações
territoriais de seus res
iniciando-
se, por meio deste processo,
a consolidação do grafite que temos
hoje no mundo todo.
Do surgimento do movimento
hip hop que aborda o Break Dance
(dança), Disk Jockey (Dj), Mc (vocal) e
o Grafite (forma escrita) surgem
diversos en
contros,nos quais o intuito
era de cada um demonstrar suas
habilidades.
Com o passar do tempo o
grafite passa a ser visto não apenas
nos espaç
os de encontros em
5
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=7DXD1HBa
LX0
63
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- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
documentário
Style
graffiti
documentary
quando o hip hop surge nos
Estados Unidos da América, em New
York, em 1970,nos bairros do Brooklin,
e Harlem, antes bairros
ocupados por uma classe média
surge também o grafite
como a forma escrita do
s locais abandonados,
devido à crise econômica
petrolífera
recebeu
a chegada
de muitos negros advindos da Jamaica
e outros países da América Central e
ainda de latinos do sul que iniciam
seus processos de marcações
territoriais de seus res
pectivos grupos,
se, por meio deste processo,
a consolidação do grafite que temos
Do surgimento do movimento
hip hop que aborda o Break Dance
(dança), Disk Jockey (Dj), Mc (vocal) e
o Grafite (forma escrita) surgem
contros,nos quais o intuito
era de cada um demonstrar suas
Com o passar do tempo o
grafite passa a ser visto o apenas
os de encontros em
https://www.youtube.com/watch?v=7DXD1HBa
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
estações e
neis do metrô, onde
diversas “tribos” ou gangues trocavam
assinaturas e marcavam
rompem os limites dos bairros para
ganhar outras partes da cidade de
New York.
Ley e Cybriwisky (1974)
assimilam as assinaturas em New
York como marcadores territoriais de
gangues,
tornando a rivalidade pela
disputa territorial cada vez mais
acirrada em
vagões de metrôs, tú
e portas de comércio.
Diferentemente
do muralismo mexicano que efetuava
suas práticas em locais blicos para
que a população desfrutasse,
não estab
elecia nenhuma regra, pois o
intuito era somente de ocupar os
espaços pelas gangues e demarcar
todo o território onde havia muitos
porto-
riquenhos, Mexicanos e negros.
Era por meio dessa disputa que estes
demonstravam seu poder naquele
espaço ocupado, sube
ntendendo que,
quanto maior a demarcação, maior era
o território daquele grupo.
Na sequência,
apresenta
algumas imagens de obras famosas
com o intuito de convidar
o(a) leitor(a)
a uma reflexão a respeito dos limites e
possibilidades da junção do grafite
do muralismo,na
contribuição para a
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
neis do metrô, onde
diversas tribos ou gangues trocavam
assinaturas e marcavam
território se
rompem os limites dos bairros para
ganhar outras partes da cidade de
Ley e Cybriwisky (1974)
assimilam as assinaturas em New
York como marcadores territoriais de
tornando a rivalidade pela
disputa territorial cada vez mais
vagões de metrôs,
neis
Diferentemente
do muralismo mexicano que efetuava
suas práticas em locais públicos para
que a população desfrutasse,
o grafite
elecia nenhuma regra, pois o
intuito era somente de ocupar os
espaços pelas gangues e demarcar
todo o território onde havia muitos
riquenhos, Mexicanos e negros.
Era por meio dessa disputa que estes
demonstravam seu poder naquele
ntendendo que,
quanto maior a demarcação, maior era
apresenta
-se
algumas imagens de obras famosas
o(a) leitor(a)
a uma reflexão a respeito dos limites e
possibilidades da junção do grafite
e
contribuição para a
valorização dos espaços, para a
construção de identidades sociais e
para o trabalho pedagógico com
estudantes e comunidades periféricas.
A imagem do mural, a seguir,
por exemplo, de Diego Rivera, 1934,
expõe o homem c
universo.
Ela encontra
Belas Artes
no México.
desse mural é dividida em três partes.
Ao centro, o operário aparece
controlando a máquina que controla o
universo, enquanto
este
manipula a vida e divide
microcosmos. N
o mesmo painel
abaixo
e a esquerda,
sociedade capitalista, há uma
representação de Charles Darwin que
alude à
importância da ciência. Há
também uma escultura de pedra
simbolizando a religião em contraste
com a ciência
as guerra
classes. É possível ver ainda, abaixo
direita,
a representação do mundo
socialista através das imagens
Vladimir Lênin, Karl Marx, Leon
Trotsky e Friedrich Engels, bem como
o exército vermelho e a classe
trabalhadora representada na praça
ve
rmelha na antiga
(Figura 1).
64
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- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
valorização dos espaços, para a
construção de identidades sociais e
para o trabalho pedagógico com
estudantes e comunidades periféricas.
A imagem do mural, a seguir,
por exemplo, de Diego Rivera, 1934,
expõe o homem c
ontrolador do
Ela encontra
-se no Palácio
no México.
A composição
desse mural é dividida em três partes.
Ao centro, o operário aparece
controlando a máquina que controla o
este
, por sua vez,
manipula a vida e divide
os
o mesmo painel
e a esquerda,
no papel da
sociedade capitalista, uma
representação de Charles Darwin que
importância da ciência.
também uma escultura de pedra
simbolizando a religião em contraste
as guerra
s e a luta de
classes. É possível ver ainda, abaixo
à
a representação do mundo
socialista através das imagens
Vladimir Lênin, Karl Marx, Leon
Trotsky e Friedrich Engels, bem como
o exército vermelho e a classe
trabalhadora representada na praça
rmelha na antiga
União Soviética
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
Imagem1:
A
próxima Imagem 2
Orozco, data de 1934 e está no
possível destruição renovadora com a chegada dos meios tecnológicos.Sua obra
denuncia os possíveis perigos decorrentes do desenvolvimento, demonstrando a
degradação social e a anarquia geral.
Imagem2:
6
Disponível em:
https://www.npr.org/2014/03/09/287745199/destroyed
trespassed-on-political-vision
. Acesso em: 30
7
Disponível em:
https://pt.wahooart.com/@@/8XYCLL
30 jun. 2022.
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Imagem1:
Mural de Diego Rivera no México
Fonte: NRP, 2014
6
próxima Imagem 2
do mural, intitulado de “A
Catarse”, de José Clemente
Orozco, data de 1934 e esno
Palácio Belas Artes
do México. Esta demo
possível destruição renovadora com a chegada dos meios tecnológicos.Sua obra
denuncia os possíveis perigos decorrentes do desenvolvimento, demonstrando a
degradação social e a anarquia geral.
Imagem2:
Mural de José Clemente Orozco no México
Fonte: Rojas, 2017
7
https://www.npr.org/2014/03/09/287745199/destroyed
-
by
. Acesso em: 30
jun. 2022.
https://pt.wahooart.com/@@/8XYCLL
-Jose-Clemente-Orozco-
Catarse
65
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- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
Catarse, de José Clemente
do México. Esta demo
nstra uma
possível destruição renovadora com a chegada dos meios tecnológicos.Sua obra
denuncia os possíveis perigos decorrentes do desenvolvimento, demonstrando a
by
-rockefellers-mural-
Catarse
. Acesso em:
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
Entre as reflexões presentes nos murais abordados é possível perceber a
importância deste tipo de arte para compreensão
no contexto contemporâneo. Pode
questões ligadas a educação geográfica e a formação do território e suas relações
com a escola e a comunidade do seu entorno. As imagens presente
permitem decifrar as relações que foram estabelecidas para aquele espaço, para
aquela comunidade, fazendo com que a escola se torne um território de resistência e
um espaço de reflexões constantes por meio da arte.
Imagem 3:
Grafite de DONDI
Aos grafites podem ser aplicadas a mesma lógica que abarca os processos
de resistência, como observados nos bairros pobres dos Estados Unido
apresentado na Imagem
3, a qual demonstra o trabalho realizado pelo artista Donald
Joseph White, conhecido como DONDI. Grafiteiro
afro-
americano, foi um dos primeiros a ter seus trabalhos expostos em museus da
Alemanha e Holanda e ahoje é um
falecer de AIDS em 2 de outubro de 1998 (GONZALEZ, 2019).
8
Disponível em:
https://www.nytimes.com/2019/02/27/obituaries/dondi
overlooked.html Acesso em:
30 jun
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Entre as reflexões presentes nos murais abordados é possível perceber a
importância deste tipo de arte para compreensão
das relações sociais e econômicas
no contexto contemporâneo. Pode
-se ainda
, utilizar a história para trabalhar
questões ligadas a educação geográfica e a formação do território e suas relações
com a escola e a comunidade do seu entorno. As imagens presente
permitem decifrar as relações que foram estabelecidas para aquele espaço, para
aquela comunidade, fazendo com que a escola se torne um território de resistência e
um espaço de reflexões constantes por meio da arte.
Grafite de DONDI
em New York – Estados Unidos
1980
Fonte: The Bridges of Graffiti,2021
8
Aos grafites podem ser aplicadas a mesma lógica que abarca os processos
de resistência, como observados nos bairros pobres dos Estados Unido
3, a qual demonstra o trabalho realizado pelo artista Donald
Joseph White, conhecido como “DONDI”. Grafiteiro
estadunidense
americano, foi um dos primeiros a ter seus trabalhos expostos em museus da
Alemanha e Holanda e até hoje é um
dos ícones do movimento. Infelizmente, veio a
falecer de AIDS em 2 de outubro de 1998 (GONZALEZ, 2019).
https://www.nytimes.com/2019/02/27/obituaries/dondi
-
30 jun
. 2022.
66
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Artes e culturas nas cidades
")
Entre as reflexões presentes nos murais abordados é possível perceber a
das relações sociais e econômicas
, utilizar a história para trabalhar
questões ligadas a educação geográfica e a formação do território e suas relações
com a escola e a comunidade do seu entorno. As imagens presente
s nos murais
permitem decifrar as relações que foram estabelecidas para aquele espaço, para
aquela comunidade, fazendo com que a escola se torne um território de resistência e
1980
Aos grafites podem ser aplicadas a mesma lógica que abarca os processos
de resistência, como observados nos bairros pobres dos Estados Unido
s conforme
3, a qual demonstra o trabalho realizado pelo artista Donald
da década de 70,
americano, foi um dos primeiros a ter seus trabalhos expostos em museus da
dos ícones do movimento. Infelizmente, veio a
-
donald-joseph-white-
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
Atualmente no Brasil, o grafite
parece estar mais contextualizado na
contemporaneidade dos estudantes
por chamar
mais a atenção, ou seja,
por ser facilmente visualizado no
espaço urbano. Acerca desta questão,
faz-
se necessário frisar que esta
técnica possui o mesmo potencial de
ativismo e de reflexão dos murais. Na
sequência, apresenta-
se um breve
histórico da chegad
a do grafite no
Brasil.
A chegada do grafite ao Brasil e
início da pichação
Os primeiros grafites do Brasil
iniciam–
se em São Paulo, na década
de 80, com John Howard e Alex
Vallauri cuja manifestação artística
passa a ser conhecida como pop arte
tupiniqu
im.Logo em seguida
criaram o grupo TUPINÃODÁ e, assim,
efetivamente ganha força a história do
grafite no Brasil em meados de
1991
.Em seguida surgem os gêmeos,
Zezão, Vitche e Binho ainda
adolescentes que hoje estão
consolidados no mundo da arte de ru
no Brasil (BESIDECOLORS, 2020).
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
www.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Atualmente no Brasil, o grafite
parece estar mais contextualizado na
contemporaneidade dos estudantes
mais a atenção, ou seja,
por ser facilmente visualizado no
espaço urbano. Acerca desta questão,
se necessário frisar que esta
técnica possui o mesmo potencial de
ativismo e de reflexão dos murais. Na
se um breve
a do grafite no
A chegada do grafite ao Brasil e
Os primeiros grafites do Brasil
se em São Paulo, na década
de 80, com John Howard e Alex
Vallauri cuja manifestação artística
passa a ser conhecida como pop arte
im.Logo em seguida
, eles
criaram o grupo TUPINÃODÁ e, assim,
efetivamente ganha força a história do
grafite no Brasil em meados de
.Em seguida surgem os gêmeos,
Zezão, Vitche e Binho ainda
adolescentes que hoje estão
consolidados no mundo da arte de ru
a
no Brasil (BESIDECOLORS, 2020).
Imagem 4:
Grafites de NASA e VOGAL
Avenida São Miguel e (B) Avenida Ipiranga
São Paulo
Fonte:
Google Maps, 2021
O grafite no Brasil ganha força
nas periferias, impulsionado pela
criatividade e pelos desafios cotidianos
de sua população. Devido à
9
Disponível em:
https://www.google.com.br/maps/@
23.5429142,-
46.6408818,3a,24.3y,153.35h,85.28t/data=!3m
6!1e1!3m4!1s3LUecvrQGj6vQNy3apGRSg!2e
0!7i16384!8i8192
Acesso em
A
67
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- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
Grafites de NASA e VOGAL
– (A)
Avenida São Miguel e (B) Avenida Ipiranga
São Paulo
Google Maps, 2021
9
O grafite no Brasil ganha força
nas periferias, impulsionado pela
criatividade e pelos desafios cotidianos
de sua população. Devido à
https://www.google.com.br/maps/@
-
46.6408818,3a,24.3y,153.35h,85.28t/data=!3m
6!1e1!3m4!1s3LUecvrQGj6vQNy3apGRSg!2e
Acesso em
: 30 jun. 2022.
B
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
dificuldade em adquirir os materiais de
trabalho, os grafiteiros brasileiros
passam a utilizar o látex misturado a
corante
e spray para efetuar os
contornos de suas obras, tornando a
atividade mais acessível e contribuindo
com os primeiros contornos da
identidade nacional. O uso dessa
técnica, por artistas como Gêmeos e
Zezão, rendeu destaque internacional
ao grafite brasileiro. Nas
imagens
4b, é possível verificar como são feitos
os contornos em torno das letras
efetuadas com essa técnica,
conhecida nas ruas como bomb que
significa bombardeio, forma rápida de
registro das letras.
Conforme exposto
nas imagens
anteriores, a inten
ção do estilo do
grafite bomb”
está na sua
demarcação territorial em lugares
geralmente abandonados das cidades.
Espaços caracterizados por Santos
(2008), por serem determinados pelo
movimento da sociedade, da produção
criando–
se um mosaico de re
de formas, funções e sentidos.
Com o passar do tempo foram
construídos diversos murais
internacionais utilizando a técnica
brasileira de mistura de materiais para
baratear os custos. A ampliação do
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
dificuldade em adquirir os materiais de
trabalho, os grafiteiros brasileiros
passam a utilizar o látex misturado a
e spray para efetuar os
contornos de suas obras, tornando a
atividade mais acessível e contribuindo
com os primeiros contornos da
identidade nacional. O uso dessa
técnica, por artistas como Gêmeos e
Zezão, rendeu destaque internacional
imagens
4a e
4b, é possível verificar como são feitos
os contornos em torno das letras
efetuadas com essa técnica,
conhecida nas ruas como “bomb” que
significa bombardeio, forma rápida de
nas imagens
ção do estilo do
está na sua
demarcação territorial em lugares
geralmente abandonados das cidades.
Espaços caracterizados por Santos
(2008), por serem determinados pelo
movimento da sociedade, da produção
se um mosaico de re
lações,
de formas, funções e sentidos.
Com o passar do tempo foram
construídos diversos murais
internacionais utilizando a técnica
brasileira de mistura de materiais para
baratear os custos. A ampliação do
acesso fez com que se passasse a
produzir também d
esenhos, além de
letras. Consolidando a identidade
nacional do grafite e do muralismo. Na
sequência, apresenta
imagens de artistas brasileiros
utilizando essa técnica em murais de
Portugal e nos Estados Unidos.
Imagem5:
(A) Mural em
York
dedicado ao hip hop; (B) PIPA
Zezão em Portugal.
Fonte:
(A) Os Gêmeos, 2017;(B)
Instituto Pipa
10
Disponível em:
https://www.pipaprize.com/pag/zezao/
em: 30 jun. 2022.
A
B
68
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- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
acesso fez com que se passasse a
esenhos, além de
letras. Consolidando a identidade
nacional do grafite e do muralismo. Na
sequência, apresenta
-se algumas
imagens de artistas brasileiros
utilizando essa técnica em murais de
Portugal e nos Estados Unidos.
(A) Mural em
New
dedicado ao hip hop; (B) PIPA
-
Zezão em Portugal.
(A) Os Gêmeos, 2017;(B)
Instituto Pipa
, 2014
10
https://www.pipaprize.com/pag/zezao/
Acesso
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
O grafite brasileiro ganha
destaque internacional em meados
dos anos de 2000 com esses
precursores da década de 90 por meio
do trabalho dos
Gêmeos, Zezão,
Vitche e
Binho Ribeiro. A partir do
destaque internacional, essa arte
desponta para além da periferia
ganhando importância em outros
cenários.
A pichação inicia-
se no Brasil na
década de 80, onde muitos jovens
eram influenciados pelos logos
capas de discos de rock in ro
Nesses, ocorriam performances
estéticas que influenciavam muitos
desses jovens, criando e recriando um
conjunto linguístico e de
representações de mundo, altamente
sofisticadas, adaptadas a nossa
realidade que pa
ssaram a se
comunicar para além de seus laços de
territorialidade,
estabelecendo assim,
uma subcultura dimensional, mas com
oralidade e sentidos próprios dos
artistas e dos acontecimentos daqui.
Assim, o grafite, a pichação e o
muralismo brasileiro, demons
estética natural e interligada entre
diversos grupos, nos quais esses se
comunicam através de seus desenhos
e letras, criando uma pedagogia
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
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Artes e culturas nas cidades
O grafite brasileiro ganha
destaque internacional em meados
dos anos de 2000 com esses
precursores da década de 90 por meio
Gêmeos, Zezão,
Binho Ribeiro. A partir do
destaque internacional, essa arte
desponta para além da periferia
ganhando importância em outros
se no Brasil na
década de 80, onde muitos jovens
eram influenciados pelos logos
de
capas de discos de rock in ro
ll e punk.
Nesses, ocorriam performances
estéticas que influenciavam muitos
desses jovens, criando e recriando um
conjunto linguístico e de
representações de mundo, altamente
sofisticadas, adaptadas a nossa
ssaram a se
comunicar para além de seus laços de
estabelecendo assim,
uma subcultura dimensional, mas com
oralidade e sentidos próprios dos
artistas e dos acontecimentos daqui.
Assim, o grafite, a pichação e o
muralismo brasileiro, demons
tram sua
estética natural e interligada entre
diversos grupos, nos quais esses se
comunicam através de seus desenhos
e letras, criando uma pedagogia
autônoma das ruas em que seus
agentes não se vinculam a nenhum
padrão oral ou linguístico e criam as
suas p
róprias regras nesse contexto
suburbano.
A pichação em sua estética
apresenta traços firmes e retos, nos
quais, sem seguir um padrão
linguístico ou norma da linguagem
culta, expressa sua indignação na
paisagem urbana deixando claro, no
alto dos prédios, o
descaso de uma
sociedade consumista que exclui cada
vez mais as pessoas de certos pontos
da cidade e dos serviços que estes
oferecem.
Dessa forma, a pichação
simboliza, entre outras coisas, o
desejo de retomar
esses espaços e o
grito dos excluídos dizendo
cidade não tem dono, ou pelo menos,
que não deveria ter. Assim, essa
pedagogia da resistência, demonstra
seu poder de ocupação dos espaços e
abre a possibilidade para a geração de
reflexões e questionamentos,
denunciando a falta de políticas
públicas
e o ocultamento dos
problemas sociais e a baixa
infraestrutura dos bairros da periferia
das cidades. Dessa forma, o ato de
pichar não deve ser
mero vandalismo, sem antes ser
69
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- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
autônoma das ruas em que seus
agentes não se vinculam a nenhum
padrão oral ou linguístico e criam as
róprias regras nesse contexto
A pichação em sua estética
apresenta traços firmes e retos, nos
quais, sem seguir um padrão
linguístico ou norma da linguagem
culta, expressa sua indignação na
paisagem urbana deixando claro, no
descaso de uma
sociedade consumista que exclui cada
vez mais as pessoas de certos pontos
da cidade e dos serviços que estes
Dessa forma, a pichação
simboliza, entre outras coisas, o
esses espaços e o
grito dos excluídos dizendo
que a
cidade não tem dono, ou pelo menos,
que não deveria ter. Assim, essa
pedagogia da resistência, demonstra
seu poder de ocupação dos espaços e
abre a possibilidade para a geração de
reflexões e questionamentos,
denunciando a falta de políticas
e o ocultamento dos
problemas sociais e a baixa
infraestrutura dos bairros da periferia
das cidades. Dessa forma, o ato de
confundido com
mero vandalismo, sem antes ser
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
analisado em sua totalidade e
contexto. Na maior parte dos casos,
pichoremete a resistência de pessoas
esquecidas em seus direitos pelo
poder púbico, ou excluídas dos
interesses do mercado. Na sequência,
apresenta-
se uma proposta didática
com o grafite como alternativa
pedagógica ao ensino de geografia e
ao trabalho interdisciplinar.
Muralismo, grafite e pichação como
ferramentas pedagógicas
O ambiente escolar é construído
a partir de um conjunto de influências
culturais
sociais e econômicas as
quais refletem nas formas de
organização das estruturas
culturas escolares.
A ocupação do espaço escolar
pelos estudantes para a realização de
atividades culturais, como a
construção de murais utilizando o
grafite, pode auxiliar na autonomia dos
discentes e na valorização da escola
enquanto espaço coletivo de
aprendizag
em e socialização de
conhecimentos, de ideias e de
experiências.
A ideia da construção dos
murais em escolas como instrumento
didático por meio do grafite consiste
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
analisado em sua totalidade e
contexto. Na maior parte dos casos,
o
pichoremete a resistência de pessoas
esquecidas em seus direitos pelo
poder púbico, ou excluídas dos
interesses do mercado. Na sequência,
se uma proposta didática
com o grafite como alternativa
pedagógica ao ensino de geografia e
Muralismo, grafite e pichação como
ferramentas pedagógicas
O ambiente escolar é construído
a partir de um conjunto de influências
sociais e econômicas as
quais refletem nas formas de
organização das estruturas
e das
A ocupação do espaço escolar
pelos estudantes para a realização de
atividades culturais, como a
construção de murais utilizando o
grafite, pode auxiliar na autonomia dos
discentes e na valorização da escola
enquanto espaço coletivo de
em e socialização de
conhecimentos, de ideias e de
A ideia da construção dos
murais em escolas como instrumento
didático por meio do grafite consiste
em ampliar as possibilidades de
construção de conhecimento para
além das salas de aula, util
espaços externos do ambiente escolar
para reescrever a história das
comunidades nas quais as escolas
estão inseridas. Nessa metodologia,
os alunos são os protagonistas
orientados pelos professores, desde a
pesquisa inicial
para desvendar as
histó
rias e as figuras locais que
representam e dão voz à comunidade,
até a possibilidade de auxiliarem na
escolha e desenvolvimento das
imagens. O passo seguinte é contar
com a colaboração e a experiência
artística de um grafiteiro,
preferencialmente pertencen
região para dar apoio profissional
construção efetiva da obra em parceria
com a direção da escola.
A depender da região onde se
localiza a unidade escolar, uma das
possibilidades é auxiliar os alunos a
verificar a evolução socioespacial
históri
ca do bairro,retratando nos
murais, as estruturas territoriais e as
relações de poder que oprimem e
calam a maioria dos cidadãos ali
instalados, ressaltando, dessa forma, a
importância do muralismo como
instrumento de reflexão social e
70
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Artes e culturas nas cidades
")
em ampliar as possibilidades de
construção de conhecimento para
além das salas de aula, util
izando os
espaços externos do ambiente escolar
para reescrever a história das
comunidades nas quais as escolas
estão inseridas. Nessa metodologia,
os alunos são os protagonistas
orientados pelos professores, desde a
para desvendar as
rias e as figuras locais que
representam e dão voz à comunidade,
até a possibilidade de auxiliarem na
escolha e desenvolvimento das
imagens. O passo seguinte é contar
com a colaboração e a experiência
artística de um grafiteiro,
preferencialmente pertencen
te àquela
região para dar apoio profissional
à
construção efetiva da obra em parceria
com a direção da escola.
A depender da região onde se
localiza a unidade escolar, uma das
possibilidades é auxiliar os alunos a
verificar a evolução socioespacial
ca do bairro,retratando nos
murais, as estruturas territoriais e as
relações de poder que oprimem e
calam a maioria dos cidadãos ali
instalados, ressaltando, dessa forma, a
importância do muralismo como
instrumento de reflexão social e
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
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Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
política, revelando,
nas imagens
territoriais
As relações de produção e
consequentemente as relações
de poder, e é decifrando
se chega à
estrutura profunda.
Do estado ao indivíduo, passando
por todas as organizações
pequenas ou grandes encontram
se atores sintagmátic
produzem o território
(RAFFESTIN, 1993,
Ao dar voz aos alunos, a
atividade de construção de murais
também pode transformá
atores sociais e, a partir daí, em
produtores e não mais apenas em
produtos daquele espaço e das
relações de
poder ali estabelecidas.
O fato de a maioria dos
grafiteiros e pichadores serem
oriundos das zonas periféricas das
grandes cidades
faz com que muitos
tragam consigo em sua
marcantes do resultado de anos de
segregações socioespaciais,
socioeconô
micas e socioculturais que
as diversas relações de poder
imprimem sobre esse território e sobre
seu povo.
Defende-
se neste estudo que a
realização do muralismo em escolas
pode ser uma opção pedagógica
interessante, não apenas para escolas
de periferia, mas
principalmente para
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
nas imagens
As relações de produção e
consequentemente as relações
de poder, e é decifrando
-as que
estrutura profunda.
Do estado ao indivíduo, passando
por todas as organizações
pequenas ou grandes encontram
se atores sintagmátic
os que
produzem o território
p.152).
Ao dar voz aos alunos, a
atividade de construção de murais
também pode transformá
-los em
atores sociais e, a partir daí, em
produtores e não mais apenas em
produtos daquele espaço e das
poder ali estabelecidas.
O fato de a maioria dos
grafiteiros e pichadores serem
oriundos das zonas periféricas das
faz com que muitos
tragam consigo em sua
arte traços
marcantes do resultado de anos de
segregações socioespaciais,
micas e socioculturais que
as diversas relações de poder
imprimem sobre esse território e sobre
se neste estudo que a
realização do muralismo em escolas
pode ser uma opção pedagógica
interessante, não apenas para escolas
principalmente para
estas
nas quais a retratação do
cotidiano e da cultura da comunidade
nos murais viabiliza outras formas de
comunicação, de ensino e de
aprendizagem, para além das
tradicionais, oportunizando um
trabalho pedagógico
transfor
mar a escola em um território
de transformação da identidade social
dos seus alunos a partir dos conteúdos
trabalhados nos murais, como
continuidade das aulas, ou como
objeto de alfabetização política e
cidadã.
Outra opção com foco no ensino
de geografia é
pensar a construção
dos murais a partir de análises
socioespaciais por meio das
categorias geográficas de paisagem,
lugar, região e território.
A paisagem, por exemplo, pode
ser representada nos murais por meio
de tudo o que se vê, abarcando
as per
cepções que chegam aos
sentidos. Esse tipo de representação
pode ser meramente ilustrativa, conter
críticas socioculturais,
socioambientais, ou ainda estar
carregada de sentimentos impressos
na criatividade e na visão peculiar ou
coletiva dos artistas que
dada realidade.
71
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
nas quais a retratação do
cotidiano e da cultura da comunidade
nos murais viabiliza outras formas de
comunicação, de ensino e de
aprendizagem, para além das
tradicionais, oportunizando um
trabalho pedagógico
com vistas a
mar a escola em um território
de transformação da identidade social
dos seus alunos a partir dos conteúdos
trabalhados nos murais, como
continuidade das aulas, ou como
objeto de alfabetização política e
Outra opção com foco no ensino
pensar a construção
dos murais a partir de análises
socioespaciais por meio das
categorias geográficas de paisagem,
lugar, região e território.
A paisagem, por exemplo, pode
ser representada nos murais por meio
de tudo o que se vê, abarcando
ainda,
cepções que chegam aos
sentidos. Esse tipo de representação
pode ser meramente ilustrativa, conter
críticas socioculturais,
socioambientais, ou ainda estar
carregada de sentimentos impressos
na criatividade e na visão peculiar ou
coletiva dos artistas que
vivem aquela
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
A análise de problemas
cotidianos, como a falta de moradia,
partir da ótica da categoria paisagem,
pode se transformar em um imenso
laboratório a céu aberto para a prática
do muralismo, bem como o olhar sobre
a ausência de po
líticas públicas nas
periferias, responsáveis por
determinadas disputas
por espaços
pela cidade entre jovens dessas
comunidades. Eventualmente, essas
disputas implicam na reorientação
desses jovens,
uma vez que, muitos
precisam se reinventar,
reexistir nos
espaços que ocupam para que suas
vozes sejam ouvidas, embora
pouquíssimas vezes
essas vozes
consigam ser interpretadas e suas
necessidades
atendidas. Esse
movimento,
vindo de jovens invisíveis
a uma parte da sociedade, ecoa como
um grito silencioso na
urbana, materializando-
se, muitas
vezes, em traços e códigos
indecifráveis aos olhos da maioria das
pessoas.
A
paisagem, nessa perspectiva,
não exerce apenas uma função
ilustrativa, ela é antes interpretativa,
uma vez que é formada da junção de
so
ns, odores, movimentos, entre
outros apreendidos por meio dos
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
www.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
A análise de problemas
cotidianos, como a falta de moradia,
a
partir da ótica da categoria paisagem,
pode se transformar em um imenso
laboratório a céu aberto para a prática
do muralismo, bem como o olhar sobre
líticas públicas nas
periferias, responsáveis por
por espaços
pela cidade entre jovens dessas
comunidades. Eventualmente, essas
disputas implicam na reorientação
uma vez que, muitos
reexistir nos
espaços que ocupam para que suas
vozes sejam ouvidas, embora
essas vozes
consigam ser interpretadas e suas
atendidas. Esse
vindo de jovens invisíveis
a uma parte da sociedade, ecoa como
um grito silencioso na
paisagem
se, muitas
vezes, em traços e digos
indecifráveis aos olhos da maioria das
paisagem, nessa perspectiva,
não exerce apenas uma função
ilustrativa, ela é antes interpretativa,
uma vez que é formada da junção de
ns, odores, movimentos, entre
outros apreendidos por meio dos
sentidos.
Para Milton Santos, a
paisagem
Nada tem de fixo, de imóvel.
Cada vez que a
por um processo de mudança, a
economia, as relações sociais e
políticas também mudam, em
ritm
os e intensidades variados. A
mesma coisa acontece em
relação ao espaço e à paisagem
que se transforma para se
adaptar às novas necessidades
da sociedade (SANTOS, 1997, p.
37).
Nessa perspectiva,
prática pedagógica em sala de aula e
reforçada c
om o trabalho com
muralismo, o conceito e a visão acerca
da paisagem renasce a partir do
entrelaçamento de diferentes olhares,
múltiplas escalas espaciais e
temporais, aproximando o
conhecimento geográfico e científico
dos estudantes.
A participação como a
retratação da paisagem cotidiana,
numa perspectiva crítica de educação,
por meio da arte do muralismo, pode
contribuir para que a maioria dos
estudantes
não apenas percebam
analisem o mundo ao seu redor, mas
que também os auxilie na construção
do
s seus posicionamentos diante de
políticas públicas esvaziadas de
humanismo e carregadas de
72
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- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
Para Milton Santos, a
Nada tem de fixo, de imóvel.
Cada vez que a
sociedade passa
por um processo de mudança, a
economia, as relações sociais e
políticas também mudam, em
os e intensidades variados. A
mesma coisa acontece em
relação ao espaço e à paisagem
que se transforma para se
adaptar às novas necessidades
da sociedade (SANTOS, 1997, p.
Nessa perspectiva,
atrelada a
prática pedagógica em sala de aula e
om o trabalho com
muralismo, o conceito e a visão acerca
da paisagem renasce a partir do
entrelaçamento de diferentes olhares,
múltiplas escalas espaciais e
temporais, aproximando o
conhecimento geográfico e científico
A participação como a
utor da
retratação da paisagem cotidiana,
numa perspectiva crítica de educação,
por meio da arte do muralismo, pode
contribuir para que a maioria dos
não apenas percebam
e
analisem o mundo ao seu redor, mas
que também os auxilie na construção
s seus posicionamentos diante de
políticas públicas esvaziadas de
humanismo e carregadas de
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
preconceitos, responsáveis por afastar
as pessoas ao invés de uni
direção, este estudo defende
o grafite utilizando a pichação como o
muralismo
são ferramentas com
potencial para a construção de um
trabalho multidisciplinar com
momentos interdisciplinares no âmbito
escolar, expressando por meio da arte,
conceitos,reflexões, sentimentos,
valores e reforçando a ideia de
muralismo representa de
material e, por vezes
simbólica, um
contraponto às
relações de poder que
divide as pessoas e
segrega
mais os espaços e os saberes.
O debate sobre muralismo,
grafite e pichação como ferramentas
pedagógicas
objetivam, além de dar
voz aos diferentes atores sociais, a
construção de escolas comprometidas
com a transformação e a justiça social.
A visão a respeito do muralismo,
grafite e principalmente sobre a
pichação como arte se
opõe a
imposta por uma pa
rte da elite que
busca criminalizar e reprimir esse
movimento, desde que este surgiu no
Brasil, impondo o silê
ncio
população historicamente excluída.
Um exemplo disso é o
artigo 65 da Lei
de Crimes Ambientais, Lei nº 9.605, de
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
preconceitos, responsáveis por afastar
as pessoas ao invés de uni
-las.Nesta
direção, este estudo defende
que tanto
o grafite utilizando a pichação como o
são ferramentas com
potencial para a construção de um
trabalho multidisciplinar com
momentos interdisciplinares no âmbito
escolar, expressando por meio da arte,
conceitos,reflexões, sentimentos,
valores e reforçando a ideia de
que o
muralismo representa de
forma
simbólica, um
relações de poder que
segrega
cada vez
mais os espaços e os saberes.
O debate sobre muralismo,
grafite e pichação como ferramentas
objetivam, além de dar
voz aos diferentes atores sociais, a
construção de escolas comprometidas
com a transformação e a justiça social.
A visão a respeito do muralismo,
grafite e principalmente sobre a
opõe a
visão
rte da elite que
busca criminalizar e reprimir esse
movimento, desde que este surgiu no
ncio
a uma
população historicamente excluída.
artigo 65 da Lei
de Crimes Ambientais, Lei 9.605, de
12 de fevereiro de 1998
pena de detenção de três meses a um
ano, e multa, a quem pichar, grafitar
ou por outro meio conspurcar
edificação ou monumento urbano.
Caso o ato tenha sido realizado em
monumento ou coisa tombada em
virtude do seu valor artístico,
arqueológic
o ou histórico, a pena é de
seis meses a um ano de detenção e
multa (BRASIL, 1998).
Atualmente, as detenções que
constam na legislação raramente têm
sido impostas, sendo mais
frequentemente convertidas em
serviços comunitários ou pagamento
de cestas básic
as. Isso se deve, em
parte, ao fato de que
pessoas acerca do trabalho
desenvolvido no muralismo, no grafite
e inclusive na
pichação
nas últimas décadas, alcançando o
status de arte moderna, deixando aos
poucos de serem vistos ap
uma linguagem transgressora. Prova
disso, é o parágrafo segundo da Lei de
Crimes Ambientais 9.605, de 12 de
fevereiro de 1998, incluído pela Lei nº
12.408, de 2011 que diz que
Não constitui crime a prática de
grafite realizada com o objetivo
d
e valorizar o patrimônio público
ou privado mediante
73
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- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
12 de fevereiro de 1998
, que impõem
pena de detenção de três meses a um
ano, e multa, a quem pichar, grafitar
ou por outro meio conspurcar
edificação ou monumento urbano.
Caso o ato tenha sido realizado em
monumento ou coisa tombada em
virtude do seu valor artístico,
o ou histórico, a pena é de
seis meses a um ano de detenção e
multa (BRASIL, 1998).
Atualmente, as detenções que
constam na legislação raramente têm
sido impostas, sendo mais
frequentemente convertidas em
serviços comunitários ou pagamento
as. Isso se deve, em
a percepção das
pessoas acerca do trabalho
desenvolvido no muralismo, no grafite
pichação
vem mudando
nas últimas décadas, alcançando o
status de arte moderna, deixando aos
poucos de serem vistos ap
enas como
uma linguagem transgressora. Prova
disso, é o parágrafo segundo da Lei de
Crimes Ambientais nº 9.605, de 12 de
fevereiro de 1998, incluído pela Lei
12.408, de 2011 que diz que
Não constitui crime a prática de
grafite realizada com o objetivo
e valorizar o patrimônio público
ou privado mediante
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
manifestação artística, desde que
consentida pelo proprietário e,
quando couber, pelo locatário ou
arrendatário do bem privado e, no
caso de bem público, com a
autorização do órgão competente
e a observâ
ncia das posturas
municipais e das normas editadas
pelos órgãos governamentais
responsáveis pela preservação e
conservação do patrimônio
histórico e artístico nacional
(BRASIL, 1998).
O fato de haver maior
valorização da arte do grafite na
atualidade não diminui o seu potencial
como forma de protesto
às
perversas das relações de poder ao
povo da periferia.
Historicament
silenciar e oprimir o povo tê
estratégias de que
m está no poder.
Dessa forma,
a negação ao direito à
cidadania se de diferentes formas:
privatizações, imposição de
de juros e, sobretudo, pelas formas de
agir autoritária, as quais por vezes
sequer
são percebidas pela
população, devido às narrativas
criadas pelos meios midiáticos de
massa.
Dessa forma, o muralismo, o
grafite e a pichação
são instrumentos
de resistência a essas dinâmicas
imposta
s pelos poderes hegemônicos.
Através de suas artes,
buscam confrontar tais formas de
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
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Artes e culturas nas cidades
manifestação artística, desde que
consentida pelo proprietário e,
quando couber, pelo locatário ou
arrendatário do bem privado e, no
caso de bem público, com a
autorização do órgão competente
ncia das posturas
municipais e das normas editadas
pelos órgãos governamentais
responsáveis pela preservação e
conservação do patrimônio
histórico e artístico nacional
O fato de haver maior
valorização da arte do grafite na
atualidade não diminui o seu potencial
às
imposições
perversas das relações de poder ao
Historicament
e,
silenciar e oprimir o povo
m sido
m está no poder.
a negação ao direito à
cidadania se dá de diferentes formas:
privatizações, imposição de
altas taxas
de juros e, sobretudo, pelas formas de
agir autoritária, as quais por vezes
são percebidas pela
população, devido às narrativas
criadas pelos meios midiáticos de
Dessa forma, o muralismo, o
são instrumentos
de resistência a essas dinâmicas
s pelos poderes hegemônicos.
Através de suas artes,
os jovens
buscam confrontar tais formas de
poder, articulando-
se
urbano e criando
identidades nesses
espaços, que fomentam ainda mais as
reflexões sobre o cotidiano da cidade.
Dessa forma,viabilizar e expandir as
possibilidades acerca da arte pública
como a construção de murais por meio
do grafite em espaços de educação
formais, poderia
fazer parte de um
Programa de Estado e assim fazer
com que os alunos passem a serem
produtores daquele espaço, utilizando
fatos e acontecimentos históricos e
situaçõe
s do cotidiano, como
instrumentos de representação política
e de alfabetização cidadã.
Uma das formas de se trabalhar
o grafite em
espaços de educação
formais pode ser por meio de oficinas,
nas quais
cada estudante ou grupos
de estudantes realizem pesquisa
preliminares
a partir de conteúdos
escolares específicos, ou ainda de
fotos, jornais, revistas ou relatos
provenientes de pessoas ou de
lugares representativos da história da
própria comunidade,
pano de fundo para as imagens que
formarão os murais.
As paisagens representadas
nos murais podem
abarcar
percepção socioespacial
74
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- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
se
no espaço
identidades nesses
espaços, que fomentam ainda mais as
reflexões sobre o cotidiano da cidade.
Dessa forma,viabilizar e expandir as
possibilidades acerca da arte pública
,
como a construção de murais por meio
do grafite em espaços de educação
fazer parte de um
Programa de Estado e assim fazer
com que os alunos passem a serem
produtores daquele espaço, utilizando
fatos e acontecimentos históricos e
s do cotidiano, como
instrumentos de representação política
e de alfabetização cidadã.
Uma das formas de se trabalhar
espaços de educação
formais pode ser por meio de oficinas,
cada estudante ou grupos
de estudantes realizem pesquisa
s
a partir de conteúdos
escolares específicos, ou ainda de
fotos, jornais, revistas ou relatos
provenientes de pessoas ou de
lugares representativos da história da
para servirem de
pano de fundo para as imagens que
As paisagens representadas
abarcar
desde a
percepção socioespacial
às
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
socioambientais, alimentadas e
ressignificadas, pela história, pelos
sentidos e olhares das pessoas locais
(SANTOS, 2008)
. Neste sentido,
defende-se que a ge
ografia escolar
pode ser um importante agente desse
processo, sobretudo quando se tratar
de
análises espaciais e/ou territoriais,
ou ainda, da produção do espaço
geográfico,
possibilitando um olhar
crítico e analítico sobre essas
questões
, favorecendo os s
aspectos:
- criando
maneiras de interpretar as
cidades e os ambientes escolares por
outra lógica de produção espacial,
fortalecendo as culturas paralelas
silenciadas ou excluídas pela lógica
capitalista e mercantil;
- fortalecendo
a escola como território
de diálogo e de luta, no qual os
currículos são produzidos nas práticas
socioespaciais de alunos, professores
e demais sujeitos da educação
(GIROTTO, 2018).
Esse diálogo é essencial para a
construção de reflexões
revoluci
onárias, que, através da
intersubjetividade, iniciam (re)ações
sobre a realidade com vistas à
transformação e humanização dos
seres humanos (FREIRE, 1987).
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
socioambientais, alimentadas e
ressignificadas, pela história, pelos
sentidos e olhares das pessoas locais
. Neste sentido,
ografia escolar
pode ser um importante agente desse
processo, sobretudo quando se tratar
análises espaciais e/ou territoriais,
ou ainda, da produção do espaço
possibilitando um olhar
crítico e analítico sobre essas
, favorecendo os s
eguintes
maneiras de interpretar as
cidades e os ambientes escolares por
outra lógica de produção espacial,
fortalecendo as culturas paralelas
silenciadas ou excluídas pela lógica
a escola como território
de diálogo e de luta, no qual os
currículos são produzidos nas práticas
socioespaciais de alunos, professores
e demais sujeitos da educação
Esse diálogo é essencial para a
construção de reflexões
e ações
onárias, que, através da
intersubjetividade, iniciam (re)ações
sobre a realidade com vistas à
transformação e humanização dos
seres humanos (FREIRE, 1987).
Considera-
se que, por meio de
oficinas
é possível desenvolver
métodos de reflexão conjunta na
const
rução dos murais com recortes
de revista, fotos ou reportagens
jornalísticas e, assim, efetuar um
debate sobre as realidades trazidas
por cada estudante e levando
desenvolverem, por exemplo, em folha
de papel A4
seus respectivos
desenhos relacionados
trazidos.
Para a elaboração dos murais
será necessário, além da orientação
de um profissional do grafite, o uso de
tinta spray, látex, corantes, pincéis e
rolos de pintura de 5cm
estudantes, com a orientação do
professor responsável e
um
grafiteiro, coordenarão, juntos, a
transposição das figuras das folhas de
papel A4 para o muro. Com isso,
possível trabalhar as relações e
socialização para a construção do
mural criando a valorização do espaço
em que serão aplicadas as imagens.
Ao proporcionarem esse tipo de
ações e reflexões em seus estudantes,
as escolas tornam
comprometidas com a possibilidade de
mudança e justiça social.
com grafite e muralismo está atrelado
75
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Artes e culturas nas cidades
")
se que, por meio de
é possível desenvolver
métodos de reflexão conjunta na
rução dos murais com recortes
de revista, fotos ou reportagens
jornalísticas e, assim, efetuar um
debate sobre as realidades trazidas
por cada estudante e levando
-os a
desenvolverem, por exemplo, em folha
seus respectivos
desenhos relacionados
aos temas
Para a elaboração dos murais
será necessário, além da orientação
de um profissional do grafite, o uso de
tinta spray, látex, corantes, pincéis e
rolos de pintura de 5cm
. Os
estudantes, com a orientação do
professor responsável e
juntamente a
grafiteiro, coordenarão, juntos, a
transposição das figuras das folhas de
papel A4 para o muro. Com isso,
é
possível trabalhar as relações e
socialização para a construção do
mural criando a valorização do espaço
em que serão aplicadas as imagens.
Ao proporcionarem esse tipo de
ações e reflexões em seus estudantes,
as escolas tornam
-se mais
comprometidas com a possibilidade de
mudança e justiça social.
O trabalho
com grafite e muralismo está atrelado
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
a essa perspectiva de luta pela
educação. Nas pa
lavras de Girotto
(2018, p. 28
), “a luta pelo direito à
educação pressupõe a defesa,
intransigente, de que cada homem e
mulher possa, apropriando
escola como território, construir outros
territórios de outro mundo mais justo e
solidário”. Nessa persp
espaço geográfico passa a ser mais do
que um conjunto de objetos e ações,
incorporando a linguagem e a cultura
ancestral dos seus povos, bem como
as práticas territoriais
subjetivas às
relações históricas ali estabelecidas no
tempo e no espaço. Sendo assim, lutar
pelo direito à educação propõe a
territorialidade e a cultura como forma
de comunicação dos estudantes e
trabalhadores. Para Santos
herança cultural é um reaprendizad
de relações entre os homens e os
seus meios como um resultado obtido
pelo próprio processo de vivência.
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
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Artes e culturas nas cidades
a essa perspectiva de luta pela
lavras de Girotto
), a luta pelo direito à
educação pressupõe a defesa,
intransigente, de que cada homem e
mulher possa, apropriando
-se da
escola como território, construir outros
territórios de outro mundo mais justo e
solidário. Nessa persp
ectiva, o
espaço geográfico passa a ser mais do
que um conjunto de objetos e ações,
incorporando a linguagem e a cultura
ancestral dos seus povos, bem como
subjetivas às
relações históricas ali estabelecidas no
tempo e no espaço. Sendo assim, lutar
pelo direito à educação propõe a
territorialidade e a cultura como forma
de comunicação dos estudantes e
trabalhadores. Para Santos
(1987), a
herança cultural é um reaprendizad
o
de relações entre os homens e os
seus meios como um resultado obtido
pelo próprio processo de vivência.
Imagem 6:
povos indígenas do território latino
americano
Fonte:
Pedro Nasa, Omar Yuka e Rocio Funy
grafite realizado em Foz do Iguaçu
A implantação da arte como
alternativa pedagógica de linguagem,
pode promover um olhar crítico aos
estudantes e uma maior aproximação
dos conteúdos escolares com sua
realidade. Para Henckemaier (2016)
os fazeres artísticos podem ser
exercitados na escola,
estudante possa ter contato com a
prática artística e, com base nos
murais efetuados com grafite, exercer
a sensibilização da criticidade como
pinturas de culturas indígenas e povos
oriundos daquele território instalado.
Nesta direção, o pri
meiro autor deste
artigo possui alguns trabalhos que
76
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Artes e culturas nas cidades
")
povos indígenas do território latino
-
americano
Pedro Nasa, Omar Yuka e Rocio Funy
grafite realizado em Foz do Iguaçu
– PR
A implantação da arte como
alternativa pedagógica de linguagem,
pode promover um olhar crítico aos
estudantes e uma maior aproximação
dos conteúdos escolares com sua
realidade. Para Henckemaier (2016)
os fazeres artísticos podem ser
exercitados na escola,
de forma que o
estudante possa ter contato com a
prática artística e, com base nos
murais efetuados com grafite, exercer
a sensibilização da criticidade como
pinturas de culturas indígenas e povos
oriundos daquele território instalado.
meiro autor deste
artigo possui alguns trabalhos que
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
podem ser explorados nesta
perspectiva, como na obra
apresentada na
possibilitando
reflexões a respeito
valorização da cultura dos povos
indígenas do território latino
americano, com destaque
região da tríplice fronteira: Brasil,
Paraguay e Argentina. Nesta região, a
maciça e permanente presença do
Estado, seja por intermédio militar
seja
por meio do desenvolvimento de
grandes projetos de infraestrutura,
como a Usina de Itaipu, fez
os povos originários entrassem em
declínio. A execução desta obra
contou com o olhar profissional de dois
artistas:
Yuka, do México e Nasa,
codinome do primeiro autor deste
trabalho, do Brasil. O local escolhido
para o seu desenvolvimento foi a
cidade de Foz do Iguaçu
de 2019.
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
podem ser explorados nesta
perspectiva, como na obra
imagem6,
reflexões a respeito
da
valorização da cultura dos povos
indígenas do território latino
-
para os da
região da tríplice fronteira: Brasil,
Paraguay e Argentina. Nesta região, a
maciça e permanente presença do
Estado, seja por intermédio militar
,
por meio do desenvolvimento de
grandes projetos de infraestrutura,
como a Usina de Itaipu, fez
com que
os povos originários entrassem em
declínio. A execução desta obra
contou com o olhar profissional de dois
Yuka, do México e Nasa,
codinome do primeiro autor deste
trabalho, do Brasil. O local escolhido
para o seu desenvolvimento foi a
PR, no ano
Imagem 7:
ancestralidades e povos originários
no território latino
Fonte:
Pedro Nasa, Omar Yuka e
Rocio Funy. Grafite realizado em São Paulo
SP Projeto cultural arte e cultura na Kebrada
zona
leste
Este e outros trabalhos
efetuados no Brasil fazem parte de um
projeto de conexão artística entre
México e Brasil, no qual, os artistas
são estimulados a refletir sobre
ancestralidades e povos originários no
território latino-
americano.
A obra apres
imagem7, demon
stra a importância da
cultura indígena latino
relevância do reconhecimento da sua
presença no território, possibilitando
77
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
ancestralidades e povos originários
no território latino
-americano
Pedro Nasa, Omar Yuka e
Rocio Funy. Grafite realizado em São Paulo
-
SP Projeto cultural arte e cultura na Kebrada
leste
Este e outros trabalhos
efetuados no Brasil fazem parte de um
projeto de conexão artística entre
México e Brasil, no qual, os artistas
são estimulados a refletir sobre
ancestralidades e povos originários no
americano.
A obra apres
entada na
stra a importância da
cultura indígena latino
-americana e a
relevância do reconhecimento da sua
presença no território, possibilitando
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
debates críticos sobre suas origens,
sobre sua permanência e sobre formas
de valorização da
cultura dos povos
originários. Esta obra foi efetuada em
um evento na cidade de São Paulo
conhecido como:
“Arte e Cultura na
Fonte:
Pedro Nasa e Francisco Vogal
o mural apresentado na
figura 8, reflete a situação política do
Brasil no ano de 2019, no qual
ocorreram diversas queimadas na
Amazônia e no Pantanal mato
grossense. A figura revela uma mulher
em meio a uma floresta olhando pelo
celular o país em chamas
representado pela cor vermelha ao
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
debates críticos sobre suas origens,
sobre sua permanência e sobre formas
cultura dos povos
originários. Esta obra foi efetuada em
um evento na cidade de o Paulo
Arte e Cultura na
Kebrada”, no ano
de 2019,
com a presença de diversos artistas
nacionais e internacionais,
possibilitando mais uma vez a
entre Nasa e Yuka.
Imagem 8: Queimadas na Amazônia
Pedro Nasa e Francisco Vogal
- Foz do Iguaçu -
PR 2019.
Já o mural apresentado na
figura 8, reflete a situação política do
Brasil no ano de 2019, no qual
ocorreram diversas queimadas na
Amazônia e no Pantanal mato
-
grossense. A figura revela uma mulher
em meio a uma floresta olhando pelo
celular o país em chamas
,
representado pela cor vermelha ao
fundo.
Este é um alerta para a
emergência da situação, contrastando
com a cor azul, na parte de baixo, a
qual
apresenta os nomes dos artistas:
Nasa e Vogal,representando os rios e
a diversidade biológica das florestas.
E
sta obra também está localizada na
cidade de Foz do Iguaçu
78
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
de 2019,
que contou
com a presença de diversos artistas
nacionais e internacionais,
possibilitando mais uma vez a
parceria
PR 2019.
Este é um alerta para a
emergência da situação, contrastando
com a cor azul, na parte de baixo, a
apresenta os nomes dos artistas:
Nasa e Vogal,representando os rios e
a diversidade biológica das florestas.
sta obra também está localizada na
cidade de Foz do Iguaçu
– PR.
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
Imagem
Pedro Nasa, Felipe PhilaicoMei, Rafael Kamada e Francisco Vogal. Foz do Iguaçu
realizado no
Por fim, a figura 9 apresenta
uma obra desenvolvida
dependências do colégio Flavio
Warken, em Foz do Iguaçu, localizado
na região da vila C, bairro de antigos
operários que
participaram da
construção da hidrelétrica de Itaipu. A
obra é resultado da parceria entre
grafiteiros participantes do projeto
Grafite latino. O projeto contou com os
artistas Nasa, Vogal, Philaico, Kamada
e Boca, todos oriundos da cidade de
São Paulo.
A
ideia central desse mural foi
abordar a importância da arte no
contexto escolar, de modo a estimular
e difundir a técnica dos murais e do
grafite, mas também de proporcionar o
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Imagem
9: a arte no contexto escolar
Pedro Nasa, Felipe PhilaicoMei, Rafael Kamada e Francisco Vogal. Foz do Iguaçu
realizado no
colégio Flavio Warken na Vila C – Itaipu
Por fim, a figura 9 apresenta
uma obra desenvolvida
nas
dependências do colégio Flavio
Warken, em Foz do Iguaçu, localizado
na região da vila C, bairro de antigos
participaram da
construção da hidrelétrica de Itaipu. A
obra é resultado da parceria entre
grafiteiros participantes do projeto
Grafite latino. O projeto contou com os
artistas Nasa, Vogal, Philaico, Kamada
e Boca, todos oriundos da cidade de
ideia central desse mural foi
abordar a importância da arte no
contexto escolar, de modo a estimular
e difundir a técnica dos murais e do
grafite, mas também de proporcionar o
desenvolvimento e a socialização da
arte em espaços públicos, valorizando
os e aproximando-
os da comunidade.
Foi a partir dessa experiência que
aumentou o nosso interesse na
difusão do grafite e do muralismo
como instrumentos pedagógicos.
Considerações finais
Na trajetória percorrida pelo
primeiro autor, como grafiteiro, aluno
de es
cola pública durante a Educação
Básica na periferia de São Paulo e
Licenciado em Geografia, pela
Universidade Federal da Integração
Latino-
Americana, observa
partir do conhecimento trazido pelos
estudantes
e a inter
79
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- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
Pedro Nasa, Felipe PhilaicoMei, Rafael Kamada e Francisco Vogal. Foz do Iguaçu
– PR Grafite
desenvolvimento e a socialização da
arte em espaços públicos, valorizando
-
os da comunidade.
Foi a partir dessa experiência que
aumentou o nosso interesse na
difusão do grafite e do muralismo
como instrumentos pedagógicos.
Considerações finais
Na trajetória percorrida pelo
primeiro autor, como grafiteiro, aluno
cola pública durante a Educação
Básica na periferia de o Paulo e
Licenciado em Geografia, pela
Universidade Federal da Integração
Americana, observa
-se que, a
partir do conhecimento trazido pelos
e a inter
-relação desses,
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
da escola. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 59-82
, set. 2022.
com os saberes
disciplinares
relacionados às
situações vividas em
seus cotidianos, uma abordagem
didática envolvendo o muralismo por
meio do grafite, pode favorecer a
compreensão a respeito de diversos
temas abordados em sala de aula.
A esse respeito, o presente
artigo
abre espaço para a proposição
de futuros debates sobre a construção
de murais associados ao grafite em
espaços escolares como forma de
valorização desses espaços e da
socialização entre alunos, professores
e comunidade externa. Assim, em
futuros estudos,
serão organizadas
oficinas de arte, de modo
sistemático,por meio de uma
sequência didática que aproxime os
saberes escolares e os conhecimentos
articulados no presente artigo.
importância de uma
didática que envolva a comunidade
escolar na
construção de murais, além
de uma prática pedagógica
interdisciplinar pode
vir a ser também
um “laboratório social” de reflexão
conjunta,
podendo trabalhar
pedagogicamente
as questões
territoriais, políticas e sociais através
de imagens.
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
Americana de Estudos em
, set. 2022.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
disciplinares
situações vividas em
seus cotidianos, uma abordagem
didática envolvendo o muralismo por
meio do grafite, pode favorecer a
compreensão a respeito de diversos
temas abordados em sala de aula.
A esse respeito, o presente
abre espaço para a proposição
de futuros debates sobre a construção
de murais associados ao grafite em
espaços escolares como forma de
valorização desses espaços e da
socialização entre alunos, professores
e comunidade externa. Assim, em
serão organizadas
oficinas de arte, de modo
sistemático,por meio de uma
sequência didática que aproxime os
saberes escolares e os conhecimentos
articulados no presente artigo.
A
importância de uma
abordagem
didática que envolva a comunidade
construção de murais, além
de uma prática pedagógica
vir a ser também
um laboratório social de reflexão
podendo trabalhar
as questões
territoriais, políticas e sociais através
Não obstante, o e
palco de algumas reflexões
desenvolvidas na presente pesquisa,
também passa a ser local de
resistência de uma parcela excluída da
população, que a partir da sua
oralidade, o “grafite”, passa a criar
formas alternativas de ensino e da
percepç
ão da paisagem e do território
escolar.
Observando e analisando a
história dos murais, do grafite e das
pichações no Brasil e no mundo, é
possível perceber conexões
pedagógicas que podem favorecer o
diálogo com estudantes e com
comunidades de periferia, au
os a refletir, analisar e representar os
seus pensamentos, a sua história, a
sua cultura, os desafios comuns, e
suas angústias cotidianas. Defende
ainda que
abordagens didáticas
diferenciadas
podem estabelecer uma
ressignificação dos espaços es
transformando-
os em territórios de luta
e comprometimento com a
transformação e a justiça social.
80
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
Não obstante, o e
spaço escolar,
palco de algumas reflexões
desenvolvidas na presente pesquisa,
também passa a ser local de
resistência de uma parcela excluída da
população, que a partir da sua
oralidade, o grafite”, passa a criar
formas alternativas de ensino e da
ão da paisagem e do território
Observando e analisando a
história dos murais, do grafite e das
pichações no Brasil e no mundo, é
possível perceber conexões
pedagógicas que podem favorecer o
diálogo com estudantes e com
comunidades de periferia, au
xiliando-
os a refletir, analisar e representar os
seus pensamentos, a sua história, a
sua cultura, os desafios comuns, e
suas angústias cotidianas. Defende
-se
abordagens didáticas
podem estabelecer uma
ressignificação dos espaços es
colares,
os em territórios de luta
e comprometimento com a
transformação e a justiça social.
ALMEIDA, Pedro Paulo de; FRANZI, Juliana; ROCHA, Marcelo Augusto.
Muralismo, grafite e pichação: potencialiodades para a transformação
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