CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 100-121, set. 202
2
Mujeres
Creando:
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i23.53397
Resumo: Este estudo
aborda
boliviano Mujeres
Creando,
La Paz, Quito e Santiago
de
”Altares Blasfemos”, essa
díade Estado-Igreja
Católica
a mulher na América
Latina.
imaginário cristão e da
recriação
artistas propuseram uma
espécie
artística que pretende
ser
representar. Dada as
profundas
mentalidades e
instituições
diferentes tipos de
reação
obra a diferentes formas
de
Didi-Huberman, Jacques
levantar questões sobre
as
suas reverberações em
um
poder colonial-capitalista
ainda
Palavras-chave: Mujeres
Creando;
1
Cristiane Checchia. Doutora
em
Literaturas Espanhola e
Hispano
Latino-Americano de Artes,
Cultura
Interdisciplinar em Estudos
Latino
Americana. E-mail:
crischecchia@gmail.com
2
Emerson Pereti.
Doutor em Estudos Liter
Instituto Latino-
Americano de Artes, Cultura e Históri
em Literatura Comparada da Universidade Federal da Integração Latino
emerson.pereti@unila.edu.br –
https://orcid.org/0000
3
Matheus Eduardo de Lima
Mestrando
Universidade Federal da
Integração
https://orcid.org/0000-0001-
6342
Recebido em 07/03/2022,
aceito para publicação em
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
Americana de Estudos em Cultura,
. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Creando:
as imagens latentes dos altares
blasfemos
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i23.53397
Cristiane
Matheus
Eduardo
aborda
três intervenções artísticas do
movimento
Creando,
instaladas em bienais e mostras
artísticas
de
Chile entre os anos de 2016 e 2018.
s
instalações consistiam em uma
crítica
Católica
que sustenta o patriarcado e a
violência
Latina.
Por meio da reprodução
caricaturesca
recriação
de figuras subversivas da
iconografia
espécie
de imagem insuportável, ou
seja,
ser
tão grotesca quanto a experiência
histórica
profundas
estruturas teológico-coloniais
ainda
instituições
latino-americanas, tal sacrilégio
obviamente
reação
- da tentativa literal de exprobração
e
de
censura jurídico-burocrática. Apo
iado
Rancière,
Aline Miklos, entre outros,
o
as
particularidades desse tipo de
intervenção
um
projeto de dissenso radical com as
conformações
ainda
vigente na América Latina.
Creando;
blasfêmia; dissidência artística.
em
Letras pelo Programa de Pós-Graduação em
Hispano
-Americana, da Universidade de São Paulo.
Cultura
e História, e membro do Programa
Latino
-Americanos da Universidade Federal
da
crischecchia@gmail.com
– https://orcid.org/0000-0002-3039-
0463.
Doutor em Estudos Liter
á
rios pela Universidade Federal do Paran
Americano de Artes, Cultura e Históri
a, e membro do Programa de Pós
em Literatura Comparada da Universidade Federal da Integração Latino
https://orcid.org/0000
-0002-5781-625X.
Mestrando
do Programa de Pós-Graduação em
Literatura
Integração
Latino-Americana. E-mail:
meduardodelim
6342
-2938.
aceito para publicação em
18/07/20
22 e disponibilizado online em
01/09/2022.
100
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
blasfemos
Cristiane
Checchia
1
Emerson Pereti
2
Eduardo
de Lima
3
movimento
social
artísticas
realizadas em
Denominadas de
crítica
contundente à
violência
histórica contra
caricaturesca
de imagens do
iconografia
católica, as
seja,
uma expressão
histórica
que visa
ainda
arraigadas nas
obviamente
gerou
e
apagamento da
iado
em trabalhos de
o
estudo procura
intervenção
artística e
conformações
do
Língua Espanhola e
Docente do Instituto
de Pós-Graduação
da
Integração Latino-
0463.
rios pela Universidade Federal do Paran
á. Docente do
a, e membro do Programa de Pós
-Graduação
em Literatura Comparada da Universidade Federal da Integração Latino
-Americana. E-mail:
Literatura
Comparada da
meduardodelim
a@gmail.com –
22 e disponibilizado online em
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 100-121, set. 202
2
Mujeres Creando: Las
imágenes
Resumen: Este estudio
aborda
boliviano Mujeres
Creando,
La Paz, Quito y Santiago
de
Blasfemos", estas in
stalaciones
Estado-Iglesia Católica
que
mujeres en América
Latina.
imaginario cristiano y la
recreación
los artistas propusieron
una
artística que pretende ser
representar. Dadas las pr
ofundas
las mentalidades e
instituciones
diferentes tipos de
reacción,
hasta diferentes formas de
Huberman, Jacques
Rancière,
preguntas sobre las
particularidades
reverberaciones en un
proyecto
colonial-capitalista aún
vigentes
Palabras clave: Mujeres
Creando;
Mujeres Creando: the
latent
Abstract: This study
addr
movement Mujeres
Creando,
Quito and Santiago de
Chile
Blasfemos", these
installations
Church dyad that sustains
America. Through the
caricaturish
imaginary and the
recreation
artists proposed a kind
of
intends to be as
grotesque
the deep theological-
colonial
and institutions, such
sacrilege
the literal attempt to
exprobate
bureaucratic censorship.
Based
Aline Miklos, among
others,
particularities of this type
of
radical dissensus with the
Latin America.
Keywords: Mujeres
Creando;
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
Americana de Estudos em Cultura,
. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
imágenes
latentes de los altares
blasfemos
aborda
tres intervenciones artísticas del
movimiento
Creando,
instaladas en bienales y muestras de
arte
de
Chile entre los años 2016 y 2018.
Llamadas
stalaciones
consistían en una crítica
contundente
que
sostiene el patriarcado y la violencia
histórica
Latina.
Mediante la reproducción
caricaturesca
recreación
de figuras subversivas de la
iconografía
una
especie de imagen insoportable, es
decir,
tan grotesca como la experiencia
histórica
ofundas
estructuras teológico-coloniales
aún
instituciones
latinoamericanas, tal sacrilegio
generó,
reacción,
desde el intento literal de reprochar
censura jurídico-burocrática. A partir
de
Rancière,
Aline Miklos, entre otros, el
estudio
particularidades
de este tipo de
intervención
proyecto
de disenso radical con las
conformaciones
vigentes
en América Latina.
Creando;
blasfemia; disidencia artística.
latent
images oh blasphemous altars
addr
esses three artistic interventions by
the
Creando,
installed in biennials and art
shows
Chile
between the years 2016 and
2018.
installations
consisted of a blunt critique of
the
patriarchy and historical violence
against
caricaturish
reproduction of images
from
recreation
of subversive figures from Catholic
of
unbearable image, that is, an
artistic
grotesque
as the historical experience it aims to
colonial
structures still ingrained in Latin
American
sacrilege
obviously generated different types
exprobate
and erase the work to
different
Based
on works by Didi-Huberman,
Jacqu
others,
the study seeks to raise
questions
of
artistic intervention and its
reverberations
conformations of colonial-capitalist
power
Creando;
blasphemy; artistic dissidence.
101
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
blasfemos
movimiento
social
arte
realizadas en
Llamadas
"Altares
contundente
a la díada
histórica
contra las
caricaturesca
de imágenes del
iconografía
católica,
decir,
una expresión
histórica
que pretende
aún
arraigadas en
generó,
obviamente,
y borrar la obra,
de
trabajos de Didi-
estudio
busca plantear
intervención
artística y sus
conformaciones
del poder
the
Bolivian social
shows
held in La Paz,
2018.
Called "Altares
the
State-Catholic
against
women in Latin
from
the Christian
iconography, the
artistic
expression that
represent. Given
American
mentalities
of reaction - from
different
forms of legal-
Jacqu
es Rancière,
questions
about the
reverberations
in a project of
power
still in force in
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 100-121, set. 202
2
Mujeres
Creando:
Imagem insuportável
No começo do
mês
de 2016, as artistas
Danitza
Esther Argollo e
Maria
integrantes do
movimento
boliviano Mujeres
Creando,
propor mais uma
intervenção
nas ruas de La Paz.
Convidadas
organização da Bienal de
Arte
as artistas resolveram
diferente. Conhecidas
pelos
pixos nos muros ou
pelas
performances,
estratégias
recorrentes em
seus
artísticos-literários,
desta
Mujeres Creando
escolheram
um trabalho gráfico e
textual
escala, especificamente
exterior que é também a
parte
do Museu Nacional de
Arte.
execução parecia
bastante
nas imediações do
Palácio
de Bolívia e a uma quadra
Metropolitana Nuestra
Señora
Paz. Neste espaço,
as
traçaram um mural
particular,
melhor dizendo,
ergueram
bidimensional de apr
oximadamente
oitenta metros
quadrados.
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
Americana de Estudos em Cultura,
. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Creando:
as imagens latentes dos altares
blasfemos
mês
de outubro
Danitza
Luna,
Maria
Galindo,
movimento
social
Creando,
decidiram
intervenção
urbana
Convidadas
pela
Arte
SIART,
fazer algo
pelos
ágeis
pelas
longas
estratégias
bastante
seus
projetos
desta
vez, as
escolheram
executar
textual
de larga
no muro
parte
de trás
Arte.
O local de
bastante
oportuno,
Palácio
Legislativo
da Catedral
Señora
de La
as
artistas
particular,
ou,
ergueram
um altar
oximadamente
quadrados.
A ideia do
projeto: escrever
uma
desenhar um
sacrilégio
imagética e verbal –
e uma crítica
contundente
Estado-Igreja
Católica
historicamente o
patriarca
O Altar
Blasfemo
(figura 1) foi
assim
grande mural
composto
seções separadas
onduladas em preto
narrativamente,
seguem
escrita hegemônica
extrema esquerda
está
de autoria
coletiva
Creando, escrita em
letra
com um fundo
branco,
de suas
intervenções.
parece ser o ponto
fluxo narrativo,
também
denúncia de que o
museu
assassinado por
uma
se como espaço
de
acesso a um tipo
específico
No lado esquerdo
superior,
em preto e branco,
mas
fundo de tom
roxo,
representação
reinventada
santidade católica,
102
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
blasfemos
uma
carta blasfema,
sacrilégio
– uma ofensa
uma provocação
contundente
à díade
Católica
que sustenta
patriarca
do no país.
Blasfemo
de La Paz
assim
erguido como
composto
por nove
por bordas
e dourado que,
seguem
o caminho da
no ocidente. Na
está
uma assinatura
coletiva
das Mujeres
letra
cursiva preta
branco,
estilo particular
intervenções.
Nesse, que
do qual parte o
também
se grafa a
museu
está sendo
uma
elite, mantendo-
de
privilégio de
específico
de arte.
superior,
também
mas
com plano de
roxo,
há uma
reinventada
de uma
nomeada de
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
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2
”Virgem Pecadora”, a
padroeira
vítimas de feminicídio.
Coberta
uma capa e um
vestido
representações cristãs
europeias
santas católicas, a
imagem
sua cabeça uma coroa de
quatro
fechados – ao estilo das
monarcas espanhóis e
portugueses
período colonial – e uma
treze pontas e treze
estrelas.
representação aponta a
fora, na mão direita
segura
pequeno tridente e com
mostra o dedo do meio,
perfazendo
insulto. Logo abaixo, na
seção
esquerdo inferior, em
preto
azul, há uma frase
escrita,
em letra cursiva, em que
Dios se quede huérfano
sin
Virgen”. No topo, também
branco num fundo
roxo,
mulher nua, pregada a
uma
forma humana na qual
se
rapidamente a figura
de
católico com sua tiara
papal.
central superior,
seguindo
tipo de caligrafia, se
encontra,
em um fundo roxo, a
frase:
llena eres de rebeldía”.
inferior, há a repr
esentação
padre católico se
masturbando
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
Americana de Estudos em Cultura,
. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
padroeira
das
Coberta
por
vestido
típico das
europeias
de
imagem
ostenta em
quatro
arcos
usadas por
portugueses
no
auréola de
estrelas.
A
língua para
segura
um
a esquerda
perfazendo
o
seção
do lado
preto
ao fundo
escrita,
novamente
se lê:" Que
sin
madre, ni
em preto e
roxo,
há uma
uma
cruz em
se
reconhece
de
um papa
papal.
Na parte
seguindo
o mesmo
encontra,
disposta
frase:
”Ave María
No centro
esentação
de um
masturbando
enquanto está
sentado
gestatória (poltrona
quase nu, em sua
cabeça
coroa de dois
arcos.
superior, outra
imagem,
cena mítica da
crucificação
Cristo carregando
uma
pontas fálicas. Na
logo abaixo, está
escrito:
crucifica mujeres
cada
feminismo, las
resucita”.
esquerda, a última
parte
encerra como
uma
manifesto que se
ingobernables”.
Em poucas
horas,
concluído e
apresentado,
de La Paz foi
recebido
celeuma pelos
espectadores,
eram também parte
da Calle Comercio.
Agora,
espaço público
com
logotipos de
marcas
lojas, com os
símbolos
monumentos que
preservado centro do
cidade, a
intervenção
Creando logo
passou
curiosa
atenção.
começaram a
pipocar
sociais digitais e
103
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
sentado
em uma sedia
de transporte),
cabeça
está uma
arcos.
Na parte direita
imagem,
dessa vez, a
crucificação
de Jesus
uma
cruz de quatro
seção posterior,
escrito:
”Tu iglesia
cada
día, nuestro
resucita”.
Na extrema
parte
do mural se
uma
espécie de
intitula: ”somos
horas,
depois de
apresentado,
o altar-mural
recebido
com muita
espectadores,
que
dos transeuntes
Agora,
dividindo o
com
os outdoors,
marcas
e fachadas de
símbolos
religiosos e
demarcam o
poder colonial na
intervenção
das Mujeres
passou
a ser alvo de
atenção.
Fatalmente,
pipocar
pelas redes
na televisão
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 100-121, set. 202
2
comentários de efeito
escandaloso.
Supostamente, o que
as
deveriam apreender
ali
”mensagem” intencional
imagem, que era como
bastante didático sobre
termos de iconografia, ou
iconoclastia,
poderíamos
repensar
representações
sacralizadas
cristianismo. Isso, a fim
de
hereticamente, uma
narrativa
denúncia ao abuso
histórico
e da igreja contra as
mulheres.
caso especial,
“profanando”
sagradas, devolvendo-as
ao
em figuras
subversivas,
Virgem Dolorosa, por
exemplo.
oportunidade, a
historiadora
Aline Miklos, no artigo
Contemporâneas: a
reinvenção
Virgem por coletivos
de
feministas”, de 2016,
abordou
trazendo também o
exemplo
artistas. É óbvio que
não
muito para que as
acusatórias se
tornassem
intolerância. Alguns
começaram a ser feitos
em
altar-mural (figuras 1 e
rasuras que ofendiam
as
confessas”, de
maneira
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
Americana de Estudos em Cultura,
. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
escandaloso.
as
pessoas
ali
era a
do texto-
um alerta
como, em
iconoclastia,
repensar
as
sacralizadas
do
de
contrapor,
narrativa
de
histórico
do estado
mulheres.
Nesse
“profanando”
imagens
ao
mundano
subversivas,
como a
exemplo.
Na
historiadora
da arte
”Mitoforias
reinvenção
da
de
artistas
abordou
o tema
exemplo
das
não
demorou
celeumas
tornassem
ações de
rabiscos
em
cima do
2). Eram
as
”hereges
maneira
pessoal,
retratando-as como
bruxas,
mulheres de vida
sexual
se qualquer uma das
de fato um
distúrbio,
um ”problema
doentio
digno de
xingamentos
Alguns apelavam
para
respeito daquelas
imagens,
outros ofendiam
as
termos do jargão
antifeminista,
”feminazi”, por
exemplo.
havia rasuras
que
presunção ou ao
cinismo
“salvadores de
almas”,
sempre o perdão
conversão cristã,
pois
definitivamente
“não
dizem”. Não sendo
resta a ideia da
purificação
O epíteto de bruxas
e
sobre a obra: “No
pero quiero que te
evocar um
passado
casca do presente,
um
do imaginário
inquisicional,
inscrição antiga feita
forca, iluminada
por
fogueira.
104
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
bruxas,
gordas, ou
sexual
inativa; como
três coisas fosse
distúrbio,
entendido como
doentio
e criminoso”,
xingamentos
e represálias.
para
a ”falta” de
imagens,
enquanto
as
artistas com
antifeminista,
como
exemplo.
Também
que
tendiam à
cinismo
dos ditos
almas”,
afinal, há
por meio da
pois
as pecadoras
“não
sabem o que
assim, também
purificação
pelo fogo.
e
a frase rasurada
soycatolico (sic),
quemes”, parece
passado
entalhado na
um
rabisco ruinoso
inquisicional,
uma
em um poste de
por
uma trêmula
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 100-121, set. 202
2
Figura 1: El Milagroso Altar
Blasfemo
Fonte: El
desconcierto
Figura 2: Maria Galindo em
frente
Blasfemo (La
Paz)
Fonte: El
Desconcierto
Ainda assim, o
ato
suportava uma
coexistência
sistemas sensíveis
axiologicamente
divergentes em status de
primeiro seria o que
chamar, em uma
generalização
4
Figuras 1 e 2, disponíveis
https://www.eldesconcierto.cl/tendencias/2017/
09/04/maria-galindo-la-feminista
-
pinto-un-mural-con-el-papa-
masturbandose
en-el-museo-de-bellas-artes-de-
bolivia.html
Acesso em: 10 out. 2021.
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
Americana de Estudos em Cultura,
. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Blasfemo
(La Paz)
desconcierto
4
frente
ao Altar
Paz)
Desconcierto
ato
de rasurar
coexistência
entre dois
axiologicamente
conflito – o
poderíamos
generalização
Figuras 1 e 2, disponíveis
em:
https://www.eldesconcierto.cl/tendencias/2017/
-
boliviana-que-
masturbandose
-
bolivia.html
.
temporária, de
tradição
católica. Não sa
tisfeitos,
transeuntes
passaram
rasurar a imagem
intolerável
repressiva ação de
apagar
insuportável (figura
mesmo dia, em
13
2016, um grupo de
devotos
católica se reuniu
em
mural. Este episódio
pode
em uma transmissão
Facebook. O
objetivo
parecia ser um
ato
munidos de rolos de
som de rezas, a
multidão
enquanto um
homem,
pela vestimenta,
aplicava
de cor branca
sobre
artistas. Tudo isso
ao
fervorosa Ave Maria.
(figuras
Figura 3: Protesto e ra
suras
Fonte: Captura
de
5
Tanto o vídeo
a partir do qual foram
as f
iguras 3, 4 e 5, quanto a figura 6 estão
disponíveis
https://anteriorportal.erbol.com.bo/noticia/socia
l/12102016/galindo_llama_censura_fanatica_al
105
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
tradição
da iconologia
tisfeitos,
alguns
passaram
do estágio de
intolerável
para a
apagar
a imagem
6). Então, no
13
de outubro de
devotos
da igreja
em
frente ao altar-
pode
ser assistido
via streaming no
objetivo
da congregação
ato
de exorcismo:
tinta branca e ao
multidão
caminhava,
homem,
talvez um padre
aplicava
uma demão
sobre
o altar das
ao
som de uma
(figuras
3, 4 e 5).
suras
no Altar Blasfemo
de
tela, Erbol
5
a partir do qual foram
extraídas
iguras 3, 4 e 5, quanto a figura 6 estão
em:
https://anteriorportal.erbol.com.bo/noticia/socia
l/12102016/galindo_llama_censura_fanatica_al
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 100-121, set. 202
2
Figura 4: Protesto e rasuras no
Altar
Fonte: Captura de tela,
Figura 5:Protesto e rasuras no
Altar
Fonte: Captura de
tela,Erbol
_tapado_de_polemico_mural
. Acesso
out. 2021.
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
Americana de Estudos em Cultura,
. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Altar
Blasfemo
Erbol
Altar
Blasfemo
tela,Erbol
. Acesso
em: 15
106
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 100-121, set. 202
2
Como era de se
esperar,
episódio produziu,
generalizados
comentários
muita revolta nas redes
sociais
entre aqueles que
defendiam
impossível permanência
Altares Blasfemos e
aqueles
parabenizavam o
apagamento
purificador dos
beatos.
intervenção sobre o
muro
consequências
contraditórias,
mais uma vez, como é
recorrente
registro histórico de
obras
literárias que foram
lançadas
fogueira da censura, a
própria
de repreensão matizou o
reformulando-o em uma
instalação palimpséstica
de
repressão e
devoção,
obviamente reforçou a
Como de praxe,
debates
travados na televisão
nacional, inúmeros textos
em blogs de opinião e
comentários
apoiadores de todos os
multiplicaram nas
plataformas
As Mujeres Creando, já
com os enfrentamentos
que
outra advêm de suas
performances,
até mesmo com os
debates universitários
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
Americana de Estudos em Cultura,
. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
esperar,
esse
além de
comentários
midiáticos,
sociais
digitais,
defendiam
a já
intacta dos
aqueles
que
apagamento
beatos.
A nova
muro
teve
contraditórias,
já que,
recorrente
ao
obras
artístico-
lançadas
na
própria
atitude
altar-mural,
espécie de
de
blasfêmia,
devoção,
o que
polêmica.
debates
foram
em rede
publicados
comentários
de
”lados” se
plataformas
digitais.
experientes
que
vez ou
performances,
ou
acalorados
dos quais
participam,
decidiram
atenção para outra
artistas, a já
esperada
dos transeuntes
não
quanto o
silenciamento
adotado pela
própria
Bienal de Arte
SIART,
momento algum
emitiu
repúdio ou moveu
internas na busca
de
obra que fazia parte
ou depois de
apagada.
Figura 6 Altar Blasfemo
(La
Fonte:
Erbol
El Milagroso A
ltar
intimidade da
política
Em 29 de
julho
um ano depois
do
Blasfemo, de La
Paz,
Esther Argollo e
viajaram até Quito
para
promessa: tornar os
Altar
107
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
decidiram
então chamar a
pauta. Para as
esperada
ação repressiva
não
foi tão grave
silenciamento
”diplomático”
própria
organização da
SIART,
que em
emitiu
uma carta de
suas influências
de
”proteger” uma
da mostra, antes
apagada.
(La
Paz) censurado
Erbol
ltar
Blasfemo e a
política
julho
de 2017, quase
do
primeiro Altar
Paz,
Danitza Luna,
Maria Galindo
para
cumprir uma
Altar
es Blasfemos
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
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2
uma obra contínua, ou,
nas
Descolonización y
Despatriarcalización”.
Metropolitano, como parte
curadoria de Rosa
Martinez,
Apresentaram então,
após
similar à primeira em
suas
Trabalhando, sobretudo,
na
figuradas em ”virgens”
que
artistas propunham agora
gênero não binário, seja
por
ou pela formulação de
outras
obra se dá também pelo
local
mural foi ”levantado” na
parte
Tal construção, como o
Museu
edifício conservado dos
civilizatória,
expropriadora
qualquer cidade latino-
americana.
Figura
6
Figuras 7 e 11 disponíveis em:
https://artishockrevista.com/2017/08/04/la
reacciones-lo-confirman/.
Acesso
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
Americana de Estudos em Cultura,
. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
nas
palavras das artistas: ”señas para
un
Despatriarcalización”.
Desta vez, a convite
do
da mostra artística coletiva ”La
intimidad
Martinez,
propuseram El Milagroso Altar
Blasfemo
após
três dias de trabalho prático, uma
composição
suas
disposições materiais, técnicas
e
na
reconfiguração de novas
personagens
que
insinuam ilustrações de Guamán
Poma
um jogo simbólico para sugerir outras
por
meio de personagens transexuais
com
outras
santas subversivas. A
semelhança
local
de sua instalação, uma vez que
este
parte
de trás da cúpula da Iglesia de
laCompañía
Museu
Nacional de Arte, de La Paz, é
empreendimentos do capital-colonial
expropriadora
e catequizadora, um orgulho
patrimonial,
americana.
Figura
7: El Milagroso Altar Blasfemo (Quito)
Fonte: Artishock
6
https://artishockrevista.com/2017/08/04/la
-
intimidad
Acesso
em: 30 nov. 2021.
108
periodicos.uff.br/pragmatizes
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Artes e culturas nas cidades
")
Nuevo mapa de
do
Centro Cultural
intimidad
es política”, de
Blasfemo
(figura 7).
composição
bastante
e
representativas.
personagens
subversivas,
Poma
de Ayala, as
possibilidades de
com
traços indígenas
semelhança
com a primeira
este
segundo altar-
laCompañía
de Jésus.
um emblemático
em sua missão
patrimonial,
aliás, de
intimidad
-politica-las-
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
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2
Novamente,
neste
episódio, o ímpeto
aniquilador
capital-patriarcal-colonial
se
ativo. Antes mesmo de
enfrentarem
parede branca, as
Mujeres
receberam uma
notificação
sobre o ”conteúdo
imagético”
rascunhos que foram
apresentados
aprovados para a mostra.
solicitação, com ”tons de
problema era
parcializado.
advertência sugeria que a
parte
do altar-mural, onde
representações de
Jesus
carregar uma cruz de
pontas
(figura 8), outra de um
Cristo
com o pênis preso a
uma
típica de igreja católica
colonial (figura 9), e a
imagem
se masturbando (figura
10),
tapadas, pois eram
demais”. Foi o que
denunciou
Galindo em um vídeo
em
censura, encarando o
pedido
uma tentativa de ”salvar”
das Mujeres Creando na
mostra.
obviamente foi
considerado
ofensa pelas artistas, que,
sua jornada artística
tomam
indispensável a tarefa de
dessacralizar
o corpo masculino,
também
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
Americana de Estudos em Cultura,
. www.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
neste
segundo
aniquilador
do
se
mostrou
enfrentarem
a
Mujeres
Creando
notificação
da diretoria
imagético”
dos
apresentados
e
Na primeira
censura”, o
parcializado.
A
parte
inferior
estão as
Jesus
Cristo a
pontas
fálicas
Cristo
ajoelhado
uma
estrutura
do período
imagem
de papa
10),
fossem
”perigosas
denunciou
Maria
em
resposta à
pedido
como
a presença
mostra.
Isso
considerado
uma
ao longo de
tomam
como
dessacralizar
também
através de
composições
visuais.
advertência dava
remediação, nos
sentidos
semântico. Para
mantê
pediram que fosse
feita
panorâmica do altar-
mural,
esse registro em
escala
setenta metros
quadrados
original, e colada
num
interno do CCM.
Tal
também foi
rechaçada
terceira proposta,
que
uma contraproposta
artistas, sugeria que
em
ou imprimir em
menor
apresentação
interna,
uma fotografia
panorâmica
mural para ser
projetada
dimensões, na
mesma
todo o período
da
alternativa mostrou-
se
que a tecnologia
requerida
indisponível para o
CCM,
quase todo espaço
público
de cultura na
América
dificuldades
orçamentárias.
109
periodicos.uff.br/pragmatizes
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Artes e culturas nas cidades
")
visuais.
A segunda
a ideia de
sentidos
midiático e
mantê
-las na mostra,
feita
uma fotografia
mural,
imprimindo
escala
reduzida aos
quadrados
da proposta
num
outro espaço
Tal
recomendação
rechaçada
pelo grupo. A
que
na verdade foi
por parte das
em
vez de apagar
menor
escala numa
interna,
fosse produzida
panorâmica
do altar-
projetada
nas mesmas
mesma
parede, por
da
mostra. Tal
se
impossível, já
requerida
estava
CCM,
que, como
público
municipal
América
Latina, enfrenta
orçamentárias.
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
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2
Figura 8: El Milagroso Altar
Blasfemo
Fonte: Captura de tela
Mujeres
Figura 9: El Milagroso Altar
Blasfemo
Fonte: Captura de tela
MujeresCreando
7
As figuras 8, 9, 10, 12 e 13
são capturas de
tela do vídeo “
MANIFIESTO de MUJERES
CREANDO ante la Censura del Milagroso Altar
Blasfemo”. Y
outube. 10 ago. 2017.
Disponívelem:
https://www.youtube.com/watch?v=_v5XANDB
7mo. Acesso em: 20 set. 2021.
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Blasfemo
(Quito)
Mujeres
Creando
7
Blasfemo
(Quito)
MujeresCreando
são capturas de
MANIFIESTO de MUJERES
CREANDO ante la Censura del Milagroso Altar
outube. 10 ago. 2017.
https://www.youtube.com/watch?v=_v5XANDB
Figura 10 – El
Milagroso
(
Quito)
Fonte: Captura de
tela
A instalação
foi
no catálogo da
mostra,
placas que
“advertiam”
sobre o conteúdo
ofensivo” daquelas
11). Depois de dois
dias
aberta ao
público,
Conferência
Episcopal
(CEE) entre
bispos
conselheiros e o
então
cultura, Pablo Corral,
nome da
Secretária
informe que
condenava
proibindo o acesso
do
ao terraço ao sul
do
Metropolitano
(CCM),
obra (figura 12).
Diferente
censura pública,
ali
110
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Artes e culturas nas cidades
")
Milagroso
Altar Blasfemo
Quito)
tela
MujeresCreando
foi
por fim inclusa
mostra,
mas com
“advertiam”
os visitantes
”possivelmente
imagens (figura
dias
de exposição
público,
após uma
Episcopal
Equatoriana
bispos
locais,
então
secretário da
foi publicado, em
Secretária
Cultural, um
condenava
o altar-mural,
do
público visitante
do
Centro Cultural
(CCM),
onde estava a
Diferente
da ação de
ali
decorreu um
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
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2
episódio de censura
oportunamente
amparada
Segundo o informe, além
”provocação” aos
símbolos
o que as
MujeresCreando
sustentar El Milagroso
Altar
descumpria as resoluções
Metropolitano de
Patrimônio
não terem solicitado uma
prévia para a intervenção
um bem patrimonial:
uma
jurídica para dizer que a
censura
justificada ao se
configurar
prevenção ao crime de
Recomendaram ainda,
de
burocrática, que o então
Quito, Mauricio Rodas,
destitui
Estrada, que ocupava a
condição
diretora do CCM. Em
reação
esta cena de
epistemicídio,
MujeresCreando
solicitaram
organizadores da mostra
colocado, na planta
exposição, durante todo
o
mostra, um aviso de
quatro
quadrados onde se
denunciava que
naquela
estava ocorrendo um
episódio
tirava o paradoxalmente
incerto
de expressão,
justamente
exposição cujo título
tentava
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
institucional
amparada
pela lei.
de ser uma
símbolos
religiosos,
MujeresCreando
faziam, ao
Altar
Blasfemo,
do Instituto
Patrimônio
(IMP), por
autorização
artística em
uma
manobra
censura
era
configurar
como
vandalismo.
de
maneira
prefeito de
destitui
-se Pilar
condição
de
reação
a mais
epistemicídio,
as
solicitaram
aos
que fosse
baixa da
o
período da
quatro
metros
admitia e
naquela
exposição
episódio
que
incerto
direito
justamente
numa
tentava
plasmar
intimidades políticas,
palavras (figura
13).
pedido tampouco foi
esse novo
episódio,
chegaram a
publicar
manifesto no qual
reiteravam
estético-política de
seu
los altares
sirvieron
didácticos donde
aprender,
aceptar historias de
sumisión,
Altar Blasfemo nos
redime
para aprender a
leer
libertad, para jugar
significados”
(MUJERES
2017).
Figura 11: Aviso do
Municipio
intervenção
da
MujeresCreandonaexposición
Política". Fotografi
a:
Fonte:
Artishock
111
periodicos.uff.br/pragmatizes
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Artes e culturas nas cidades
")
em suas exatas
13).
Obviamente tal
atendido. Sobre
episódio,
as artistas
publicar
um vídeo
reiteravam
a ênfase
seu
trabalho: “Si
sirvieron
como relatos
aprender,
asimilar y
sumisión,
nuestro
redime
y nos sirve
leer
nuestra propia
con símbolos y
(MUJERES
CREANDO,
Municipio
de Quito sobre
da
obra de
MujeresCreandonaexposición
"La Intimidad es
a:
Fabian Patiño
Artishock
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
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2
Figura 12: Aviso ao público do
Centro
Metropolitano de Quito
(2017)
Fonte: Captura de tela,
MujeresCreando
Figura 13: Nota de
MujeresCreando
realação à censura do
Milagroso
Blasfemo, em
Quito
Fonte: Captura de tela
MujeresCreando
Depois de quatro
semanas,
exposição do El
Milagroso
Blasfemo foi reaberta e se
ao atender o pedido
de
autoridades culturais do
crítica ”especializada”
manifestou sobre a
obra
uniforme, ainda
que
predominado as
manifestações
posicionamento
anticensura.
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
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Artes e culturas nas cidades
Centro
Cultural
(2017)
MujeresCreando
MujeresCreando
em
Milagroso
Altar
Quito
MujeresCreando
semanas,
a
Milagroso
Altar
manteve ali
de
algumas
Equador. A
que se
obra
não foi
que
tenham
manifestações
de um
anticensura.
Vale a
pena ressaltar o
algumas dessas ”
figuras
para ampliarmos
”imagem
insuportável”
aqui. Para o crítico
de
independente,
Rodolfo
publicou o texto
“La
política: hay más
mujeres
creando”, ainda
que
Altar Blasfemo
estivesse
com o sólido ensaio
discursivo
dos outros
dezessete
partilhavam a
mostra,
”imponente” altar-
mural,
espaço externo do
CCM,
ironia, nas palavras
obras potentes y
conviertan apenas
en
laexposición”
(PARALAJE,
Para ele, isso seria
curadoria, uma
vez
colocava em risco
todo
artistas que
participavam
exposição, tornando
-
gravitação
destrutiva.
ver, sua pergunta
central
com a seguinte
questão:
en riesgo la
visibilidad
grupo de artistas,
cuyos
de complejidades
brindan
pensar [...], por
un
112
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
comentário de
figuras
de prestígio”,
o conceito de
insuportável”
proposto até
de
arte e curador
Rodolfo
Chambers, que
“La
intimidad es
mujeres
(y hombres)
que
o El Milagroso
estivesse
em sintonia
discursivo
e visual
dezessete
artistas que
mostra,
a presença do
mural,
lançado no
CCM,
gerava uma
do autor: ”varias
sofisticadas se
en
el relleno de
(PARALAJE,
2017, s.p).
um problema de
vez
que a obra
todo
o grupo de
participavam
da
-
se um ponto de
destrutiva.
Como podemos
central
se preocupa
questão:
“¿vale poner
visibilidad
de un gran
cuyos
trabajos llenos
brindan
más que
un
trabajo cuyos
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
PragMATIZES - Revista Latino-
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2
recursos están
claramente
a bloquear cualquier
(PARALAJE, 2017, s.p).
No texto intitulado
¿Provocar
quién?, o professor de
artes,
Cagigal, também
escreveu
paralaje. Para ele, o
segundo
Blasfemo atende uma
panfletária, de forma que
crea un enemigo
volcándose
valores morales [...],
buenos y malos,
blancos
donde, por supuesto, en
el
los buenos frente a
unidimensional de la
iglesia
seguidores” (PARALAJE,
2017,
acadêmico sustenta
ainda
tipo de ”ativismo
artístico”,
performance, como
movimento
apenas ensaia uma
tentativa
mudança das políticas
públicas,
nada de concreto é
alcançado. Segundo
Cagigal
s.p), “son necesarias
otras
en el activismo y en el
arte.
grotesca, que tuvo sus
cumbre en la historia, ha
ser más bien
contraproducente
actual contexto de
tensiones”.
exemplo de outra
estratégia
”sóbria”, na mesma
exposição,
trabalho apresentado por
Regina
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
claramente
destinados
diálogo?”
¿Provocar
a
artes,
Pedro
escreveu
ao site
segundo
Altar
dinâmica
“fácilmente
volcándose
en
planteando
blancos
y negros,
el
arte están
la maldad
iglesia
y sus
2017,
s.p). O
ainda
que, neste
artístico”,
a
movimento
cínico,
tentativa
de
públicas,
mas
realmente
Cagigal
(2017,
otras
estrategias
arte.
La sátira
momentos
demostrado
contraproducente
en el
tensiones”.
Um
estratégia
mais
exposição,
seria o
Regina
José
Galindo, intitulado
No
14), no qual, em
um
tridimensional, a
artista
escreve, tal qual
um
bíblico, uma única
frase.
(2017, s.p), no
trabalho
uma alternativa
como
os símbolos
religiosos,
”sin burlas ni
acusaciones,
inserta un
mensaje
código religioso de
hackeando los
mandamientos”.
Figura 14: Foto da
obra
mostraLa Intimidad es
Política
Galindo.
Fonte: Regina
José
8
Disponívelem:
https://www.reginajosegalindo.com/no
violaras-la-intimidad-es-
politica/
set. 2021.
113
periodicos.uff.br/pragmatizes
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Artes e culturas nas cidades
")
No
violarás (figura
um
bloco quadrado
artista
guatemalteca
um
mandamento
frase.
Para Cagigal
trabalho
da artista se vê
como
com jogar com
religiosos,
enfrentando-os
acusaciones,
[donde se]
mensaje
feminista enel
la ciudad, casi
mandamientos”.
obra
No Violarás na
Política
, de Regina José
Galindo.
José
Galindo
8
https://www.reginajosegalindo.com/no
-
politica/
. Acesso 21
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
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2
Blasfêmias em
muros
rígidos
O terceiro Altar
Blasfemo
erguido em Santiago, no
Chile
15), fazendo parte da
”Muros Blandos”, de
curadoria
Daniela Berger, Lily
Hall
Kjærgaard Præst,
realizada
meados de 2017 até o
início
no Museu da Solidar
iedade
Allende. Sobre este, até
então,
Altar Blasfemo, não
houve
de censura, apagamento,
nem
expressivos
comentários
escandalosos. Em escala
um pouco menor,
levantada
painel externo, a nova
obra
temática dos muros que
nomearam
exposição. Apesar de
ser
em um espaço
diferente
anteriores, agora em
uma
móvel, este Altar
trabalha
reorganização dos
elementos
e textuais de seus
predecessores.
Ainda assim, sua orient
ação
se manteve, em
linhas
coerente com as demais
e,
contextualizada pela
visão
autoras expressam
sobre
político chileno
contemporâneo.
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
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Artes e culturas nas cidades
muros
menos
Blasfemo
foi
Chile
(figura
exposição
curadoria
de
Hall
e Mette
realizada
entre
início
de 2018,
iedade
Salvador
então,
último
houve
episódios
nem
sequer
comentários
dimensional
levantada
em um
obra
seguiu a
nomearam
a
ser
formulada
diferente
dos
uma
superfície
trabalha
uma
elementos
gráficos
predecessores.
ação
discursiva
linhas
gerais,
e,
desta vez,
visão
que as
sobre
o cenário
contemporâneo.
Figura 15: Foto de
Radio
Villafrancia
Altar Blasfemo,
em
Fonte:
Arainfo
Depois de
estar
última imagem dos
Altares
vem a pergunta:
por
mural não foi
censurado como nas
A historiadora da
arte
Prado, que
ocupa
coordenadora de
programação
MSSA, pode nos
dar
dessas diferenças
geopolíticas
acabam por
dinamizar
sobre o que
entendemos
políticas da arte.
“Prácticas
incómodas
9
Disponível em:
https://arainfo.org/maria
galindo-no-hay-libertad-
politica
libertad-sexual-los-
milagrosos
blasfemos-y-el-concepto-
de
despatriarcalizacion/
. Acesso
2021.
114
periodicos.uff.br/pragmatizes
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Artes e culturas nas cidades
")
Villafrancia
do Terceiro
em
Santiago.
Arainfo
9
estar
diante dessa
Altares
Blasfemos
por
que este altar-
“profanado” ou
outras ocasiões?
arte
Daniela Berger
ocupa
o cargo de
programação
do
dar
algumas pistas
geopolíticas
que
dinamizar
as análises
entendemos
como
Em seu artigo
en el Museo de
https://arainfo.org/maria
-
politica
-si-no-hay-
milagrosos
-altares-
de
-
. Acesso
em: 22 set.
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 100-121, set. 202
2
la Solidaridad Salvador
Allende:
traidoras a la pátria”,
publicado
2019, ela afirma que
“Para
radicalidad de la premisa
pertinencia de este tipo de
el eje curatorial que
establecen, [...] es
retroceder al contexto
posible al MSSA y a su
utópica” (PRADO, 2019, p.
se de um museu
criado
durante o governo
Allende,
solidariedade de artistas
países da América Latina
e
do mundo em apoio ao
povo
carta fundacional da
assinada pelo brasileiro
Mário
(apud PRADO, 2019,
p.165),
que a doação das obras
dos
artistas para a criação do
museu
manifestação compar
tilhada
esperança por uma
sociedade
justa, mais livre e
mais
encarnada então pela
revolução
Chile. Com o golpe de
1973,
redesenhado como
Internacional de la
Salvador Allende (MIRSA)
atividades de forma
itinerante
até 1990. Hoje, o
MSSA
orientar-se pela
busca
“institucionalidad más
blanda”,
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
Americana de Estudos em Cultura,
. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Allende:
tres
publicado
em
“Para
entender la
museal y la
prácticas en
en él se
importante
que hace
constitución
164). Trata-
criado
em 1971,
Allende,
reunindo a
de diversos
e
do restante
povo
chileno. A
instituição,
Mário
Pedrosa
p.165),
sublinha
dos
diversos
museu
era a
tilhada
de sua
sociedade
mais
mais
humana,
revolução
no
1973,
o museu,
Museo
Resistencia
seguiu suas
itinerante
no exílio
MSSA
busca
busca
de
blanda”,
que
priorize vozes e
práticas
sobretudo
femininas,
história da Arte
canônicos
(PEDROSA,
A partir da
compreensão
memória
institucional,
diferentemente
dos
anteriores, o Museo
Salvador Allende
não
como um local
histórico
permanência do
patriarcal e religioso
e
aberto às artes
menores,
dizer
parafraseando
Guattari (2017,
p.39):
uma perspectiva
discursos
hegemônicos
pelo
agenciamento
enunciação, geram
atritos
artes estabelecidas.
museu marca
também
latente de um
espaço
esse poder, como a
destruição
de tantas mulheres
Creando
denunciam,
explique sua
“constituição
O trabalho do
Mujeres
que em uma
instituição
poderes coloniais foi
como sátira
“contraproducente no
tensões”, ganha
um
115
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
práticas
artísticas,
ignoradas pela
e da literatura
(PEDROSA,
2019, p.166).
compreensão
dessa
institucional,
percebe-se que,
dos
espaços
de
La Solidaridad
não
se configura
histórico
que marca a
poder colonial,
e
sim um espaço
menores,
pode-se a
parafraseando
a Deleuze e
aquelas que, de
marginal aos
hegemônicos
e mobilizadas
agenciamento
coletivo da
atritos
no seio das
Além disso, o
também
a presença
espaço
destruído por
destruição
da vida
que as Mujeres
denunciam,
o que talvez
“constituição
utópica”.
Mujeres
Creando,
instituição
herdeira dos
visto por Cagigal
grotesca
atual contexto de
um
espaço de
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 12, n. 23, p. 100-121, set. 202
2
acolhimento nesta outra
mais permeável ao teor
confli
obra e à sua dimensão
alegórica.
Altar carrega uma perda
histórica
imagem nos amedronta,
nos
faz com que cubramos
nossos
A pequena igreja que
carrega
amarrado pelo pênis, a
cruz
que se carrega por
imposição
ordem colonial são
imagens
cárceres ruinosos que se
arrastam
tempo histórico, daí
também
configuração escritural
altares. Vale lembrar
que,
língua portuguesa como
na
uma das acepções
antigas
“enojo” é também “luto” “
duelo
sentimento de repulsa
desperta num indivíduo,
evitá-lo, aquilo pelo
qual
repugnância, asco, é
essa
histórica, ela é grotesca
por
porque grotesca foi sua
consumação.
Os muros das con
struções
de La Paz e Quito
literalmente
suportaram tal
representação
talvez ela os deixasse
nus,
todas suas vergonhas,
como
pudico Pero Vaz de
Caminha.
transeuntes, sejam
devotos
católicos”, preferem ver
e
que conservam presas
sua
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
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. www.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
instituição,
confli
tivo da
alegórica.
O
histórica
cuja
nos
enoja e
nossos
olhos.
carrega
o Cristo
cruz
de falo
imposição
da
imagens
moventes,
arrastam
no
também
a
linear dos
que,
tanto na
na
espanhola,
antigas
de “nojo”
duelo
”, aqui o
que algo
que o faz
qual
se sente
essa
perda
por
natureza
consumação.
struções
coloniais
literalmente
não
representação
porque
nus,
mostrando
como
diria um
Caminha.
Os
devotos
ou “não
e
sses muros
sua
visão e sua
existência bem
conservados, como
devem
todas as estruturas
coloniais.
Uma breve
conclusão,
imagens em estado
de
Como
explica
Morss (2018) em
passado, os
apagamentos
de um
procedimento
controle e
subalternização
Ocidente, de tal
maneira
possível criar um
desses
acontecimentos
história escrita –
sem
ainda permanecem
nossa percepção
mais
a luz de galáxias
distantes
refere Giorgio
Agamben
ensaio sobre
contemporânea
(2009,
luz que ruma em
nossa
nunca alcançar
nossos
algum modo, a p
erda
uma presença, seja
reminiscentes, seja
pelo
silêncio que
engendra.
diferentes
camadas,
documentos
jurídicos
de terra, de
cimento,
devir interpretativo.
Aqui,
novamente o
conceito
116
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
pintados e
devem
ser, afinal,
coloniais.
conclusão,
ou as
de
latência
explica
Susan Buck-
O presente do
apagamentos
são parte
procedimento
sistemático de
subalternização
no
maneira
que é
grande relatório
acontecimentos
ao longo da
sem
contar os que
inalcançáveis à
mais
aguçada, como
distantes
à qual se
Agamben
em seu
a condição
(2009,
p. 64-66), uma
nossa
direção sem
nossos
olhos. De
erda
passada cobra
por seus rastros
pelo
vazio e pelo
engendra.
Coberta por
camadas,
de tinta, de
jurídicos
e burocráticos,
cimento,
ela espera seu
Aqui,
vale trazer
conceito
de (alétheia,
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
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Americana de Estudos em Cultura,
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2
aleteia),
10
tida entre os
gregos
conceito de verdade.
Harald
(2001), em seu estudo
sobre
crítica do esquecimento
na
ocidental, chama a
atenção
interior desta palavra,
permanece o termo
Lethe,
rio do esquecimento
na
grega, precedido pelo
prefixo
aqui traz a ideia de
negação.
entre as acepções
dessa
conceito estaria também a
algo que não pode ser
esquecido
encoberto. É de Lete
que
palavra “latente” comum
língua, é a partir dela
que
agora finalizar nosso
argumento.
Como
conhecemos
arte famosas sem ter
condições
visitar a grandes
museus,
também, ao longo desta
pesquisa
vimos impossibilitados
de
Bolívia por conta da
tivemos também de ler
Blasfemos por meio
do
digital, em fotos ou vídeos
postados
rede. Para isso, tivemos
de
um exercício narrativo,
10
Cf. PERETI, Emerson. De
desaparecidos
reaparecidos: as políticas da
morte,
da vida e a latência das artes.
In:
Latina: estudos comparados em
outras artes. São Carlos: Pedro
&
Editores, 2020, p. 141-163.
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.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
gregos
como
Harald
Weinrich
sobre
a arte e
na
literatura
atenção
para o
na qual
Lethe,
o famoso
na
mitologia
prefixo
“a” que
negação.
Logo,
dessa
palavra-
natureza de
esquecido
ou
que
advém a
em nossa
que
tentamos
argumento.
conhecemos
obras de
condições
de
museus,
como
pesquisa
nos
de
viajar à
pandemia,
os Altares
do
simulacro
postados
na
de
nos propor
de ordem
desaparecidos
e
morte,
o impulso
In:
América
literaturas e
&
João
meramente
ficcional.
nossas impressões,
colocar diante
daquelas
Imaginamos que
nossa
neurológica para
interpretar
capacidade natural
padrões, nos faça
apertar
aprofundar o foco e
da camada de
tinta
estado de latência
nossas pontes
sinápticas
em nossa
memória
representações
cristãs
parecido com isso.
Esse
em que,diante da
apresentados ao
teorema
universo da lógica
sobre
Estamos diante
daquilo
chamar de ”
apresentação”
conteúdo. Esta
nova
inunda as
possibilidades
contatos de estética
que tais
contatos
estabelecidos
anteriormente.
Agora, a
imagem
começa a se relevar
em
sístole, então é
possível
que se vê e
proferir,
maneiras, o que
perturbadoras
imagens
insuportáveis.
117
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
ficcional.
Por meio de
procuramos nos
daquelas
imagens.
nossa
propensão
interpretar
e a nossa
para reconhecer
apertar
os olhos,
enxergar, abaixo
tinta
branca – em
–, figuras que
sinápticas
identificam
memória
como
cristãs
ou algo
Esse
é o momento
imagem, somos
teorema
visual, ao
sobre
o que se vê.
daquilo
que se pode
apresentação”
em forma e
nova
informação
possibilidades
de proferir
e política, ainda
contatos
já estejam
anteriormente.
imagem
latente
em
sua diástole e
possível
interpretar o
proferir,
de outras
faz daquelas
representações,
insuportáveis.
No entanto,
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
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2
este trabalho de
interpretação
ainda um desafio ao
espectador
parede mal apagada.
Desafio
repete ao olhar para o
Altar
(La Paz) como alguém
que,
preferiu deixar que
aquelas
expressassem suas
possibilidades
incontidas. Para isso,
algumas direções
apontada
Huberman em O que
vemos,
nos olha (2013). Nesse
texto,
discorre sobre um
olhar
dialética da suspensão,
aprendizado
este herdado de uma
releitura
Walter Benjamin.
Compelido
imagens, Didi-Huberman
uma crítica a duas
modalidades
contrárias sobre a
ausência
vazio, suporta algo além
Como a noção de
encarnação
à representação cristã
(crença)
ambivalência do ver, que
imagem voltada
apenas
(tautologia). Ao abord
armos
visuais pelo prisma do
dilema,
o autor, “acreditamos
poder
um lado, isto é, obter
finalmente
posição estável; mas
na
encerramo-nos na
imobilidade
recurso das ideias fixas,
das
entrincheiradas” (DIDI-
HUBERMAN,
2013, p.75). Isso nos
condena
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
interpretação
reserva
espectador
da
Desafio
que se
Altar
Blasfemo
que,
por opção,
aquelas
imagens
possibilidades
seguimos
apontada
s por Didi-
vemos,
o que
texto,
o autor
olhar
voltado à
aprendizado
releitura
de
Compelido
pelas
estabelece
modalidades
ausência
que, no
do visível.
encarnação
comum
(crença)
e à
considera a
apenas
para si
armos
as coisas
dilema,
propõe
poder
escolher
finalmente
uma
na
realidade
imobilidade
sem
das
posições
HUBERMAN,
condena
a uma
guerra imóvel:
transformado em
estátua,
Não há que
escolher
vemos (com
exclusiva
num
fixa, a saber: a
nos olha
(com
exclusivo no
discurso
a saber: a
crença).
voltar ao
ponto
convertibilidade,
dialético de
todas
o momento
em
juntamente
começa
pelo o que
momento que
excesso de
sentido
glorifica), nem
de sentido
(que
glorifica). É o
se abre o
antro
que nos
olha
(DIDI-
HUBERMAN,
Didi-H
uberman
proposição mais
detalhadamente
Diante da Imagem,
particularmente
capítulo nomeado ”
A
rasgadura e a
morte
encarnado”. Essa
inversão
autor se refere
engloba
de “dialetizar:
pensar
antítese, a
arquitetura
falhas, a regra com
sua
o discurso com seu
com sua disfunção
[...],
com sua
rasgadura.
HUBERMAN, 2017,
também é o
expediente
acionado por Raúl
Antelo
118
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Artes e culturas nas cidades
")
“um conflito
estátua,
medusado”.
escolher
entre o que
sua consequência
num
discurso que o
tautologia) e o que
(com
seu embargo
discurso
que o fixa,
crença).
[...] É preciso
ponto
de inversão e de
convertibilidade,
ao motor
todas
as oposições. É
em
que o que vemos
começa
a ser atingido
nos olha - um
não impõe nem o
sentido
(que a crença
a ausência clínica
(que
a tautologia
momento em que
antro
escavado pelo o
olha
no que vemos.
HUBERMAN,
2013, p. 77)
uberman
segue esta
detalhadamente
em
particularmente
no
A
imagem como
morte
do deus
inversão
à qual o
engloba
também o ato
pensar
a tese com a
arquitetura
com suas
sua
transgressão,
lapso, a função
[...],
ou do tecido
rasgadura.
(DIDI-
p. 190). Esse
expediente
também
Antelo
(2004) ao
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
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2
falar de Potências da
Imagem
que batiza o livro, no
qual
”mais do que espaço,
precisa de tempo, por
requerer
processo de associações
incessantes”
(p. 8). Tais associações
discursos suportados na
que imagens são ”uma
discursiva que
obedece
condições de
possibilidade:
repetição e o recorte” (p.
9).
concomitantemente,
Antelo:"produzem um
regime
significação que apela
aos
da memória psíquica e,
elaborando
como sintoma, [...]
exigindo
alarguem, [...] os
modelos
temporalidade e que se
sua sobrevivência para
espaço cultural originário”
meio deste expediente o
autor
encontrar, como enfatizo
u,
forças de sentido” (p. 12),
análoga buscamos
contínuas forças de
dissensos.
O que nos olha
atravessando
aqueles estratos
narrativos
muro atrás do Museu
Nacional,
Paz, chegando até nós
janelas digitas?
Como,
narrativas, cobrindo
umas
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
.
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Artes e culturas nas cidades
Imagem
, termo
qual
afirma que
a imagem
requerer
um
incessantes”
engendram
medida em
construção
obedece
a duas
possibilidade:
a
9).
Imagens,
argumenta
regime
de
aos
processos
elaborando
-se
exigindo
que se
modelos
da
acompanhe
além do
(p. 9). Por
autor
buscou
u,
”renovadas
de maneira
encontrar
dissensos.
atravessando
narrativos
naquele
Nacional,
em La
através de
Como,
aquelas
umas
às outras,
desnudam nosso
olhar
nosso passado-
presente
verdades elas
encobrem
visão é
“insuportável”
converter em pedra,
como
Huberman?
Quando
Creando falaram da
ideia
Altares Blasfemos
uma
talvez não
tivessem
dimensão de
representacionais
que
transeuntes, dos
burocratas da arte
imprimiriam
trabalho. Nosso
passado
nesta parte de
convencionamos
chamar
Latina, é tão
saturado
desigualdade
social,
racismo, classismo,
religioso, crueldade
olhar para ele nos
aqueles que se
repugnância,
outros
esconder aquilo que
tentam
obstinadamente
objeto de repulsa,
aqueles que
tentam
grotesca história
sem
pedra, eles olham
par
com nojo, é certo,
mas
que esse sentimento
e revolta.
119
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Artes e culturas nas cidades
")
olhar
em relação a
presente
colonial? Que
encobrem
e por que tal
“insuportável”
a ponto de nos
como
afirma Didi-
Quando
as Mujeres
ideia
de tornar os
uma
obra contínua,
tivessem
em mente a
possibilidades
que
as ações dos
beatos e dos
imprimiriam
a seu
passado
-presente,
mundo que
chamar
de América
saturado
de exploração,
social,
machismo,
fundamentalismo
e violência que
causa asco. Há
afastam com
outros
que querem
perturba, outros
obstinadamente
eliminar o
mas
também há
tentam
observar essa
sem
se converter em
par
a essa história,
mas
também sabem
engloba luto, ira
CHECCHIA, Cristiane; PERETI, Emerson; LIMA, Matheus Eduardo de
Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
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Mujeres Creando: as imagens latentes dos altares blasfemos.
Americana de Estudos em Cultura,
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
O
que é
outros
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Diante da
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