CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
O Slam: linguagem, conhecimento e conscientização
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i23
Resumo:
O Slam é um movimento cultural de natureza artístico
cultivado pela população negra das periferias. Este artigo tem como objetivo abordar o Slam através
de uma perspectiva interdisciplinar
três esferas deste movimento: a trajetória histórica dos sentidos e significados do Slam; a cultura do
Slame a produção de conhecimento; a sua essência pedagógica, isto é, a conscientização pela
linguagem.
Palavras chave:
Slam; conhecimento; linguagem; conscientização; cultura.
Resumen:
El Slam es un movimiento cultural de naturaleza artístico
especialmente cultivado por la población negra de las periferias. Este artículo tiene como objetivo
abordar el Slam desde una perspectiva interdisciplinar
escenario, el texto aborda tres esferas de este movimiento: el desarrollo histórico de los sentidos y
significados del Slam; la cultura del Slam y la producción de conocimiento; su esencia pedagógica, es
decir, la concientización a pa
rtir del lenguaje.
Palabras clave:
Slam; conocimiento; lenguaje; concientización; cultura.
Slam culture: knowledge, language and awareness
Abstract:
The Slam is a cultural movement of an artistic
cultivated by the black population of the peripheries. This article aimed to work the Slam from an
interdisciplinary perspective: historical, social and pedagogica
three dimensions of this movement: the historical development of the senses and meanings of the
Slam; the culture of Slam and knowledge production; the pedagogical nature of Slam, i.e., language
awareness.
Keywords
: Slam; knowledge; language; awareness; culture.
1
Miguel Ahumada Cristi. Doutor em Educação e Sociedade pela Universitat de Barcelona, Espanha.
Ministra aulas de Espanhol, História da Educação e Filosofia da Educação na Universidade Federal
da Integração Latino-
Americana (UNILA), PR, Brasil.
https://orcid.org/0000-0002-
2101
2
Aislene da Silva Lopes. Graduanda de História/Licenciatura na Universidade Federal da Integração
Latino Americana – UNILA -
Foz do Iguaçu, P
https://orcid.org/0000-0002-
5686
Recebido em 15/03/2022,
aceito para publicação em
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
O Slam: linguagem, conhecimento e conscientização
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i23
.53417
Miguel Ahumada Cristi
Aislene da Silva Lopes
O Slam é um movimento cultural de natureza artístico
-
política. No Brasil é especialmente
cultivado pela população negra das periferias. Este artigo tem como objetivo abordar o Slam através
de uma perspectiva interdisciplinar
–histórica, social e pedagógica–
. Nesse sentido, o texto aborda
três esferas deste movimento: a trajetória histórica dos sentidos e significados do Slam; a cultura do
Slame a produção de conhecimento; a sua essência pedagógica, isto é, a conscientização pela
Slam; conhecimento; linguagem; conscientização; cultura.
La cultura Slam: conocimiento, lenguaje y concientización
El Slam es un movimiento cultural de naturaleza artístico
-
política. En Brasil es
especialmente cultivado por la población negra de las periferias. Este artículo tiene como objetivo
abordar el Slam desde una perspectiva interdisciplinar
–histórica, social
y pedagógica. En este
escenario, el texto aborda tres esferas de este movimiento: el desarrollo histórico de los sentidos y
significados del Slam; la cultura del Slam y la producción de conocimiento; su esencia pedagógica, es
rtir del lenguaje.
Slam; conocimiento; lenguaje; concientización; cultura.
Slam culture: knowledge, language and awareness
The Slam is a cultural movement of an artistic
-
political nature. In Brazil, it is especially
cultivated by the black population of the peripheries. This article aimed to work the Slam from an
interdisciplinary perspective: historical, social and pedagogica
l. Considering this, the text considers
three dimensions of this movement: the historical development of the senses and meanings of the
Slam; the culture of Slam and knowledge production; the pedagogical nature of Slam, i.e., language
: Slam; knowledge; language; awareness; culture.
Miguel Ahumada Cristi. Doutor em Educação e Sociedade pela Universitat de Barcelona, Espanha.
Ministra aulas de Espanhol, História da Educação e Filosofia da Educação na Universidade Federal
Americana (UNILA), PR, Brasil.
E-
mail: miguel.cristi@unila.edu.br
2101
-6277
Aislene da Silva Lopes. Graduanda de História/Licenciatura na Universidade Federal da Integração
Foz do Iguaçu, P
R, Brasil. E-
mail: as.lopes.2017@aluno.unila.edu.br
5686
-6554
aceito para publicação em
18/07/20
22 e disponibilizado online em
01/09/2022.
165
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
O Slam: linguagem, conhecimento e conscientização
Miguel Ahumada Cristi
1
Aislene da Silva Lopes
2
política. No Brasil é especialmente
cultivado pela população negra das periferias. Este artigo tem como objetivo abordar o Slam através
. Nesse sentido, o texto aborda
três esferas deste movimento: a trajetória histórica dos sentidos e significados do Slam; a cultura do
Slame a produção de conhecimento; a sua essência pedagógica, isto é, a conscientização pela
política. En Brasil es
especialmente cultivado por la población negra de las periferias. Este artículo tiene como objetivo
y pedagógica. En este
escenario, el texto aborda tres esferas de este movimiento: el desarrollo histórico de los sentidos y
significados del Slam; la cultura del Slam y la producción de conocimiento; su esencia pedagógica, es
political nature. In Brazil, it is especially
cultivated by the black population of the peripheries. This article aimed to work the Slam from an
l. Considering this, the text considers
three dimensions of this movement: the historical development of the senses and meanings of the
Slam; the culture of Slam and knowledge production; the pedagogical nature of Slam, i.e., language
Miguel Ahumada Cristi. Doutor em Educação e Sociedade pela Universitat de Barcelona, Espanha.
Ministra aulas de Espanhol, História da Educação e Filosofia da Educação na Universidade Federal
mail: miguel.cristi@unila.edu.br
-
Aislene da Silva Lopes. Graduanda de História/Licenciatura na Universidade Federal da Integração
mail: as.lopes.2017@aluno.unila.edu.br
-
22 e disponibilizado online em
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
O Slam: linguagem, conhecimento e conscientização
Trajetória, sentidos e significados
do slam
O que é o slam
? É a pergunta
que norteará este primeiro apartado.
Em sua conceição mais global, o
de voz inglesa
corresponde a um
movimento cultural de cunho artístico
político, localizado especialmente nas
periferias e expressado em uma
linguagem poética e corporal. Como
termo, tem origem onomatopeica:
indica uma batida de porta ou janela,
algo próximo do conceito p
portuguesa, vocábulo que adquiriu o
nome a partir do golpe da ferramenta
na terra.
O termo slam
foi adotado nos
para nomear o
Uptown Poetry Slam
evento revolucionário
que surgiu em
Chicago nos anos 80.
Smith diz que chegou no formato
do slam
gradualmente, tentando
transformar os eventos de leitura
de poesia organizados por ele e
seus amigos em bares de um
bairro operário de Chicago, em
uma espécie de show que
atraísse aqueles que não se viam
acolhidos pelo ambiente das
leituras de poesia tradi
(SMITH apud
FREITAS, 2019, p.
2).
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
O Slam: linguagem, conhecimento e conscientização
Trajetória, sentidos e significados
? É a pergunta
que norteará este primeiro apartado.
Em sua conceição mais global, o
slam
corresponde a um
movimento cultural de cunho artístico
-
político, localizado especialmente nas
periferias e expressado em uma
linguagem poética e corporal. Como
termo, tem origem onomatopeica:
indica uma batida de porta ou janela,
algo próximo do conceito p
á, na língua
portuguesa, vocábulo que adquiriu o
nome a partir do golpe da ferramenta
foi adotado nos
Estados Unidos por um trabalhador da
construção civil e poeta, Marc Smith,
Uptown Poetry Slam
,
que surgiu em
Smith diz que chegou no formato
gradualmente, tentando
transformar os eventos de leitura
de poesia organizados por ele e
seus amigos em bares de um
bairro operário de Chicago, em
uma espécie de show que
atraísse aqueles que não se viam
acolhidos pelo ambiente das
leituras de poesia tradi
cionais
FREITAS, 2019, p.
Do conceito
slam
slam poetry
que, no contexto atual, em
especial no Brasil, se entende também
como literatura Hip
-
marginal e periférica. Mas, na
verdade, é difícil definir esta arte,
considerando que ao longo de suas
décadas de história ela se tornou,
sobretudo, um m
ovimento cultural e
social a nível mundial (NASCIMENTO,
2014).
Para Nascimento (2014), ao
representar a relação entre cultura e
sociedade, o slam é revolucionário,
visto que traz uma oportunidade de
transformação na vida dos cidadãos
que vivem na periferi
uma forma de representação da
materialidade das vidas apagadas na
história que, a partir do
anonimato ao se manifestar em uma
poesia que retrata as suas frustrações,
esperanças e sentimentos de justiça e
liberdade.
Pois essa
poesia, com temas
históricos e contingentes, que é
apresentada de forma dinâmica,
traduz-
se na competição de
fato, em estrito rigor, o
166
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
O Slam: linguagem, conhecimento e conscientização
slam
deriva o termo
que, no contexto atual, em
especial no Brasil, se entende também
-
Hop, divergente,
marginal e periférica. Mas, na
verdade, é difícil definir esta arte,
considerando que ao longo de suas
décadas de história ela se tornou,
ovimento cultural e
social a nível mundial (NASCIMENTO,
Para Nascimento (2014), ao
representar a relação entre cultura e
sociedade, o slam é revolucionário,
visto que traz uma oportunidade de
transformação na vida dos cidadãos
que vivem na periferi
a, ao constituir
uma forma de representação da
materialidade das vidas apagadas na
história que, a partir do
slam, saem do
anonimato ao se manifestar em uma
poesia que retrata as suas frustrações,
esperanças e sentimentos de justiça e
poesia, com temas
históricos e contingentes, que é
apresentada de forma dinâmica,
se na competição de
slam. De
fato, em estrito rigor, o
slam é uma
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
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Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
Hip-Hop– que foi impuls
ion
iorquinos, porto-
riquenhos, cubanos e
jamaicanos que procuravam escapar
denunc
iava uma periferia carregada
No que se refere a uma
descrição intersec
cional do
pode-
se concluir como um espaço
dinâmico e representativo dos setores
populares reprimidos: é o espaço onde
os negros e negras
que têm em sua
memória um histórico de repressão e
escravidão, mesmo no período pós
abolição– sentem-
se acolhidos para
denunc
iar, propor e construir
conhecimento a partir da poética da
sua oralidade. Tomando as palavras
de Kilomba (2016), neste cenário, o
“corpo negro vai representar aquilo
que a sociedade branca não quer, ou
seja, a criminalidade, o roubo, a
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Slam: linguagem,
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
disputa a partir da palavra
–como é o
ion
ada pelo
movimento entre negros nov
a
riquenhos, cubanos e
jamaicanos que procuravam escapar
das gangues no bairro Bronx, um lugar
marcado pelas drogas, violência e
ausência dos direitos humanos
(BALBINO, 2016). Essa realidade, que
marcava um descaso político
-social e
iava uma periferia carregada
de tensões, em contrapartida
sinalizava um colo para a
representação da arte de uma
população, seja ela branca,
miscigenada, indígena ou negra.
No que se refere a uma
cional do
slam,
se concluir como um espaço
dinâmico e representativo dos setores
populares reprimidos: é o espaço onde
que têm em sua
memória um histórico de repressão e
escravidão, mesmo no período pós
-
se acolhidos para
iar, propor e construir
conhecimento a partir da poética da
sua oralidade. Tomando as palavras
de Kilomba (2016), neste cenário, o
corpo negro vai representar aquilo
que a sociedade branca não quer, ou
seja, a criminalidade, o roubo, a
prostituição, a vio
lência [...] Tudo o que
se relaciona com esses aspectos é
depositado nos corpos marginais. O
descrito por Kilomba acontece de
maneira similar no
constitui um movimento que amplia e
ecoa as vozes dos moradores da
periferia que, em meio a tanta
situações sociais representadas pelo
jornalismo, como a situação de vida e
de violência que passavam, sentiram
se impulsionados a expressarem suas
histórias, muitas vezes, abscônditas.
O slam mostra a realidades
sem edições, sem truncamentos ou
seleçõe
s do que seria conveniente
expor à sociedade capitalista. Quanto
a esta, conforme Balbino (2016), o
slam apresenta à população o que lhe
caberia da verdade.
O conjunto de características que
tange a literatura
marginal/periférica garante que
as vozes sej
amplificadas, modificando, na
prática, a inserção destes sujeitos
na história, haja vista que os
próprios autores relatam o que
veem, o que vivem, o que
querem, destoando das práticas
da grande mídia, que mesmo
empregando o microfone aos
agent
es periféricos, edita
falas (BALBINO, 2016, p. 27).
A periferia, lugar onde as
pessoas negras ou pardas são
167
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
lência [...] Tudo o que
se relaciona com esses aspectos é
depositado nos corpos marginais”. O
descrito por Kilomba acontece de
maneira similar no
slam, que
constitui um movimento que amplia e
ecoa as vozes dos moradores da
periferia que, em meio a tanta
s
situações sociais representadas pelo
jornalismo, como a situação de vida e
de violência que passavam, sentiram
-
se impulsionados a expressarem suas
histórias, muitas vezes, abscônditas.
O slam mostra a realidades
sem edições, sem truncamentos ou
s do que seria conveniente
expor à sociedade capitalista. Quanto
a esta, conforme Balbino (2016), o
slam apresenta à população o que lhe
O conjunto de características que
tange a literatura
marginal/periférica garante que
as vozes sej
am ouvidas e
amplificadas, modificando, na
prática, a inserção destes sujeitos
na história, haja vista que os
próprios autores relatam o que
veem, o que vivem, o que
querem, destoando das práticas
da grande mídia, que mesmo
empregando o microfone aos
es periféricos, edita
-lhes as
falas (BALBINO, 2016, p. 27).
A periferia, lugar onde as
pessoas negras ou pardas são
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
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set. 2022.
maioria, é produto de um Estado
negligente. A periferia é o resultado de
políticas blicas que o contemplam
eficientemente esse público que vive
na marginalização, onde a população
periférica passa por toda espécie de
vulnerabilidade, desde o material aos
valores éticos (RIBEIRO; COST
2016). Essa população cresce às
margens ao invés de se desenvolver
por meio dessas mesmas margens.
Em consequência, crescem as
emoções de rejeição, de sentimentos
de abandono político a uma parte da
sociedade que tem uma inscrição,
uma legitimação, um p
ertencimento a
um espaço geográfico e histórico. De
fato, segundo o INCB (2003) é por
essa realidade que atravessa toda
periferia que os marginalizados
acabam por naturalizar essa situação
ao ponto de entendê-
la como parte do
destino. Este sentimento de
de
sesperança gera, infelizmente,
aspetos negativos como o consumo de
drogas e a massificação da violência.
Precisamente, essa realidade constitui
um palco para a omissão das
verdades de um povo corrompido pela
falta de oportunidades que as políticas
pública
s não oferecem. Pior ainda,
quase a única alternativa para
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
maioria, é produto de um Estado
negligente. A periferia é o resultado de
políticas públicas que não contemplam
eficientemente esse público que vive
na marginalização, onde a população
periférica passa por toda espécie de
vulnerabilidade, desde o material aos
valores éticos (RIBEIRO; COST
A,
2016). Essa população cresce às
margens ao invés de se desenvolver
por meio dessas mesmas margens.
Em consequência, crescem as
emoções de rejeição, de sentimentos
de abandono político a uma parte da
sociedade que tem uma inscrição,
ertencimento a
um espaço geográfico e histórico. De
fato, segundo o INCB (2003) é por
essa realidade que atravessa toda
periferia que os marginalizados
acabam por naturalizar essa situação
la como parte do
destino. Este sentimento de
sesperança gera, infelizmente,
aspetos negativos como o consumo de
drogas e a massificação da violência.
Precisamente, essa realidade constitui
um palco para a omissão das
verdades de um povo corrompido pela
falta de oportunidades que as políticas
s não oferecem. Pior ainda,
quase a única alternativa para
sobreviver nesse ambiente é se
costumando ou se unindo a essa
violência.
Foi precisamente nesse
contexto que surge uma arte que
influenciou decisivamente no
Hip-
Hop. Cornell Benjamin, mem
da gangue Ghetto Brothers, ao
solicitar um acordo de paz em um
contexto de massificação da violência
entre gangues, em 1971, foi atingido
por um golpe de uma das gangues
presentes, o que lhe deu morte
(BALBINO, 2016, p. 38). Ao contrário
do que se espe
rava, a vingança e
continuação da violência, Benjamin
Melendez, conhecido como Yellow
Benjy, propôs um tratado de paz que
foi aceito por quarenta e duas
gangues. Ainda que isso não
significasse o fim dos conflitos, abriu
caminho para um acontecimento
histó
rico: a construção da cultura Hip
Hop.
A oportunidade de paz entre as
gangues permitiu que a população das
periferias se reunisse em espaços
abertos para a convivência, chamados
de blockparty.
Nestes encontros, por
iniciativa de Clive Campbell, em 1971,
começa a surgir o Hip
foi oficializada em novembro de 1974,
168
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
sobreviver nesse ambiente é se
costumando ou se unindo a essa
Foi precisamente nesse
contexto que surge uma arte que
influenciou decisivamente no
slam, o
Hop. Cornell Benjamin, mem
bro
da gangue Ghetto Brothers, ao
solicitar um acordo de paz em um
contexto de massificação da violência
entre gangues, em 1971, foi atingido
por um golpe de uma das gangues
presentes, o que lhe deu morte
(BALBINO, 2016, p. 38). Ao contrário
rava, a vingança e
continuação da violência, Benjamin
Melendez, conhecido como Yellow
Benjy, propôs um tratado de paz que
foi aceito por quarenta e duas
gangues. Ainda que isso não
significasse o fim dos conflitos, abriu
caminho para um acontecimento
rico: a construção da cultura Hip
-
A oportunidade de paz entre as
gangues permitiu que a população das
periferias se reunisse em espaços
abertos para a convincia, chamados
Nestes encontros, por
iniciativa de Clive Campbell, em 1971,
começa a surgir o Hip
-Hop, arte que
foi oficializada em novembro de 1974,
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conhecimento e conscientização.
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Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
conjunto articulad
o de expressões é
(BALBINO, 2016, p. 40).
Após esse fato histórico,
surgem cada vez mais encontros que
permitem conhecer, a partir da
oralidade, as realidades que as
pessoas das periferias vivenciam.
Esse novo convívio impuls
releitura, uma inquietação e
desbravamento de realidades, sonhos
e sentimentos. Estas caraterísticas,
que foram moldando o que hoje
conhecemos como slam,
favoreceram
que se espalhasse por rios outros
países, entres estes Alemanha,
Canadá, Zimbab
we e Japão. Hoje o
slam
está presente no mundo todo.
No caso do Brasil, este
suas
experiências e verdades. Em
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
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2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
quando Kevin Donavan incorpora
outros elementos da cultura de rua,
como DJ, MC, Break e Graffiti. Esse
o de expressões é
batizado como cultura Hip
-Hop
Após esse fato histórico,
surgem cada vez mais encontros que
permitem conhecer, a partir da
oralidade, as realidades que as
pessoas das periferias vivenciam.
Esse novo convívio impuls
iona uma
releitura, uma inquietação e
desbravamento de realidades, sonhos
e sentimentos. Estas caraterísticas,
que foram moldando o que hoje
favoreceram
que se espalhasse por vários outros
países, entres estes Alemanha,
we e Japão. Hoje o
está presente no mundo todo.
No caso do Brasil, este
sentimento tão perspicaz, expressado
poeticamente, se inicia também nas
periferias, quando Carolina Maria de
Jesus, mineira da cidade de
Sacramento, transforma em versos as
experiências e verdades. Em
nosso país o relicário poético e
experiencial da periferia nasce com
esta mulher negra moradora da favela
de Canindé. Por esse motivo, ela é
frequentemente recordada pela cultura
slam do Brasil, como uma fonte de
inspiração. Co
m Carolina Maria de
Jesus a literatura periférica se
desabrocha sob os olhares de quem
enxerga com a alma e consegue
retratar poeticamente suas
experiências existenciais (ROSA;
SILVA, 2020).
O espaço geográfico chamado
de favela, muitas vezes minimizado,
um espaço de comunidades que
produzem cultura, ou seja,
conhecimentos. Para Balbino:
Ser um escritor
marginal/periférico sinaliza que o
autor é oriundo da periferia e
embora nem todas as periferias
apresentem as mesmas
condições, o fato de estar fora do
centro é o que une os autores em
um movimento cada vez mais
sólido e encorpado por seu
espaço geográfico (BALBINO,
2016, p. 49).
Em outras palavras, quando
um(a) autor(a) da periferia produz sua
poesia, ela(e) fala do que está em sua
volta, em seu interior, em suas
vivencias. Instancia que motiva a
muitos escritores a falarem de suas
vidas, a praticar a empatia, a
representar uma vo
z que muitas vezes
é silenciada por não poder expressar
sua história e argumentos, ou ainda
169
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
frequentemente recordada pela cultura
slam do Brasil, como uma fonte de
m Carolina Maria de
Jesus a literatura periférica se
desabrocha sob os olhares de quem
enxerga com a alma e consegue
retratar poeticamente suas
experiências existenciais (ROSA;
O espaço geográfico chamado
de favela, muitas vezes minimizado,
é
um espaço de comunidades que
produzem cultura, ou seja,
conhecimentos. Para Balbino:
Ser um escritor
marginal/periférico sinaliza que o
autor é oriundo da periferia e
embora nem todas as periferias
apresentem as mesmas
condições, o fato de estar fora do
centro é o que une os autores em
um movimento cada vez mais
sólido e encorpado por seu
espaço geográfico (BALBINO,
Em outras palavras, quando
um(a) autor(a) da periferia produz sua
poesia, ela(e) fala do que está em sua
volta, em seu interior, em suas
vivencias. Instancia que motiva a
muitos escritores a falarem de suas
vidas, a praticar a empatia, a
z que muitas vezes
é silenciada por não poder expressar
sua história e argumentos, ou ainda
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
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set. 2022.
suas histórias.
Voltando a trajetória do
saraus de Chicago foram
gradua
lmente ressignificados, até se
transformarem em palco de
expressões dos menos favorecidos no
mundo capitalista: os excluídos
socialmente, as mulheres oprimidas.
Neste ponto, Balbino (2016, p. 71)
salienta que “vivenciar o ambiente do
sarau e ocupar, dentro
posição de destaque [...] energiza
estas mulheres a acompanharem o
movimento que é insurgente nas
periferias”. Esta característica de
acolhimento que o
slam
diferencia de outros espaços, pois aí
todas as raças, gêneros, classes
sociais sentem-
se à vontade para
expressar por meio da oralidade seus
profundos sentimentos e visões,
partindo de uma ótica que repudia
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2, n. 23, p.165-190, www.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
pelo cansaço de suas vivências. Isto
pode ser observado no desgaste de
uma sociedade representada pelos
negros e negras, assim como pela
comunidade LGBTQIA
+, pelas
mulheres, pela classe social
trabalhadora; ou seja, aquela
população menos abastada que não é
enxergada a partir das suas próprias
falas e identidades, o que nega as
Voltando a trajetória do
slam, os
saraus de Chicago foram
lmente ressignificados, até se
transformarem em palco de
expressões dos menos favorecidos no
mundo capitalista: os excluídos
socialmente, as mulheres oprimidas.
Neste ponto, Balbino (2016, p. 71)
salienta que vivenciar o ambiente do
dele, uma
posição de destaque [...] energiza
estas mulheres a acompanharem o
movimento que é insurgente nas
periferias. Esta característica de
slam
tem o
diferencia de outros espaços, pois
todas as raças, gêneros, classes
se à vontade para
expressar por meio da oralidade seus
profundos sentimentos e visões,
partindo de uma ótica que repudia
posturas preconceituosas.
O slam
é um grito que nasceu e
cresceu dentro das periferias e que
hoje conecta o mundo. Trata
um
a posição de mundo que abre um
caminho que conduz a um lugar que
antes não existia, e que já lhe deveria
ter sido garantido por direito: a
dignidade. Esse mundo, ainda injusto,
precisa ser ressignificado todos os
dias, mas muitas vezes isso acontece
pelo s
angue de um povo que vive às
margens e que de certa forma sente
se dentro de um ato já vivenciado pelo
negro, mostrado na continuidade do
ato de aquilombar como estratégia de
resistência e coletividade e designar
experiências de organização e
intervenção
social protagonizadas pela
população negra na atualidade
(KILOMBA, 2020, p. 141).
Esta dinâmica de dar
significado real ao espaço é algo em
continuidade na periferia,
independente de quem o ocupe. Veja
que nos vários palcos ocupados pela
representação de uma história, ali
também está a ressignificação de uma
classe, raça ou gênero numa
diária. No Brasil, muitos foram os
saraus que abrigaram a arte da
literatura e da autorrepresentação de
170
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
posturas preconceituosas.
é um grito que nasceu e
cresceu dentro das periferias e que
hoje conecta o mundo. Trata
-se de
a posição de mundo que abre um
caminho que conduz a um lugar que
antes não existia, e que lhe deveria
ter sido garantido por direito: a
dignidade. Esse mundo, ainda injusto,
precisa ser ressignificado todos os
dias, mas muitas vezes isso acontece
angue de um povo que vive às
margens e que de certa forma sente
-
se dentro de um ato já vivenciado pelo
negro, mostrado na “continuidade do
ato de aquilombar como estratégia de
resistência e coletividade e designar
experiências de organização e
social protagonizadas pela
população negra na atualidade”
(KILOMBA, 2020, p. 141).
Esta dinâmica de dar
significado real ao espaço é algo em
continuidade na periferia,
independente de quem o ocupe. Veja
que nos vários palcos ocupados pela
representação de uma história, ali
também está a ressignificação de uma
classe, raça ou gênero numa
batalha
diária. No Brasil, muitos foram os
saraus que abrigaram a arte da
literatura e da autorrepresentação de
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
homens e mulheres. Cabe aqui,
portanto, ressaltar o slam como
espaço que também a mulher agora
tem. Por exemplo, o Cooperifa (2001)
em São Paulo
deu voz as poetisas e
slammer
Roberta Estrela DAlva, Edite
Marques, Rose Dórea, entre outras.
Esse empoderamento das mulheres
sinalizou o berço de obras
representadas por elas. Por exemplo,
com a obra “Pretextos de Mulheres
Negras” (2013) expandiu
mais a literatura marginal/periférica, o
que veio legitimar o discurso dos
subalternos compreendidos por
diferentes inscrições sociais. Ocupar
esses espaços tem o peso de ter a
história de um povo materializado, não
unicamente enquanto raça, gênero, ou
a classe em si, mas sim suas
verdades.
Importa destacar que os
espaços para a oralidade não são algo
recente. Só por dar um exemplo, ainda
que remoto, na Atenas antiga existiu
um espaço público para pluralidade,
chamado de Ágora. Os cidadãos
gregos se en
contravam neste espaço
plural de expressão da
palavra
), do diálogo e da discussão
sobre os assuntos de Estado:
mostravam-
se no mundo e construíam
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
homens e mulheres. Cabe aqui,
portanto, ressaltar o slam como
espaço que também a mulher agora
tem. Por exemplo, o Cooperifa (2001)
deu voz as poetisas e
Roberta Estrela D’Alva, Edite
Marques, Rose Dórea, entre outras.
Esse empoderamento das mulheres
sinalizou o berço de obras
representadas por elas. Por exemplo,
com a obra Pretextos de Mulheres
Negras (2013) expandiu
-se ainda
mais a literatura marginal/periférica, o
que veio legitimar o discurso dos
subalternos compreendidos por
diferentes inscrições sociais. Ocupar
esses espaços tem o peso de ter a
história de um povo materializado, não
unicamente enquanto raça, gênero, ou
a classe em si, mas sim suas
Importa destacar que os
espaços para a oralidade não são algo
recente. Só por dar um exemplo, ainda
que remoto, na Atenas antiga existiu
um espaço público para pluralidade,
chamado de Ágora. Os cidadãos
contravam neste espaço
plural de expressão da
lexis(gr.
), do diálogo e da discussão
sobre os assuntos de Estado:
se no mundo e construíam
conhecimento a partir da pluralidade
da palavra (MIRÓN, 2014). O
tem uma natureza relativamente
parecida, pois é similar no sentido de
constituir um espaço plural de cunho
político, onde a palavra é o elemento,
mas se diferencia ao ser uma
competição poética para qualquer
pessoa e por meio de regras
sistematizadas. Na ágora ateniense,
esse espaço er
a apenas ocupado pela
masculinidade livre. Isto é importante
se consideramos que o oral constrói
grande parte do que somos, já que
nos define como sujeitos pertencentes
a um grupo que compartilha a cultura,
e uma visão de mundo plural, onde a
palavra tem p
apel fundamental em nos
conectarmos com s mesmos (as), o
ser em particular, e com o externo a
nós, a sociedade (HOOKS, 2013).
Assim, o
slammer poetry
apresenta usando o próprio corpo e
voz para se auto representar ou
representar uma identidade por me
da poesia autoral e inédita, a qual se
justifica por remeter a uma
subjetividade e que ainda não foi
divulgada em nenhum outro espaço
público.
A dinâmica do
acontece com uma apresentação que
171
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
conhecimento a partir da pluralidade
da palavra (MIRÓN, 2014). O
slam
tem uma natureza relativamente
parecida, pois é similar no sentido de
constituir um espaço plural de cunho
político, onde a palavra é o elemento,
mas se diferencia ao ser uma
competição poética para qualquer
pessoa e por meio de regras
sistematizadas. Na ágora ateniense,
a apenas ocupado pela
masculinidade livre. Isto é importante
se consideramos que o oral constrói
grande parte do que somos, que
nos define como sujeitos pertencentes
a um grupo que compartilha a cultura,
e uma visão de mundo plural, onde a
apel fundamental em nos
conectarmos com nós mesmos (as), o
ser em particular, e com o externo a
nós, a sociedade (HOOKS, 2013).
slammer poetry
se
apresenta usando o próprio corpo e
voz para se auto representar ou
representar uma identidade por me
io
da poesia autoral e inédita, a qual se
justifica por remeter a uma
subjetividade e que ainda não foi
divulgada em nenhum outro espaço
A dinâmica do
slam poetry
acontece com uma apresentação que
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
deve durar até três minutos. Tal
performance é avaliada por cinco
juradas(os) que são escolhidos no
momento em que o evento acontece.
Estes atribuem à poesia uma
pontuação de 0a 10. Ganha a
competição o slammer
que tiver a
maior pontuação. Para participar e ser
o vencedor do encontro, o
tem que apresentar três poesias
naquele momento. Os três poemas
são avaliados, podendo totalizar até
30 pontos. Sobre isto, Balbino (2016,
p. 151) menciona que devem ser
“poemas de autoria própria, poesias
de até três minutos e o poeta sem
figurino
s ou acompanhamento
musical”.
Imagem 1: Slam Brasil –
A Poesia na Sua
Melhor Forma
Fonte: Aurculture
3
O primeiro slam
acontecido no
3
Disponível em:
https://aurculture.com/slam
brasil-poesia-na-sua-melhor-
forma/
em: 07 fev. 2022.
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
deve durar até três minutos. Tal
performance é avaliada por cinco
juradas(os) que são escolhidos no
momento em que o evento acontece.
Estes atribuem à poesia uma
pontuação de 0a 10. Ganha a
que tiver a
maior pontuação. Para participar e ser
o vencedor do encontro, o
slammer
tem que apresentar três poesias
naquele momento. Os três poemas
são avaliados, podendo totalizar até
30 pontos. Sobre isto, Balbino (2016,
p. 151) menciona que devem ser
poemas de autoria própria, poesias
de até três minutos e o poeta sem
s ou acompanhamento
A Poesia na Sua
3
acontecido no
https://aurculture.com/slam
-
forma/
. Acesso
Brasil, denominado de Zona Autônoma
da Palavra, teve como berço o bairro
da Pompeia, em São Paulo, em 2008.
Foi realizado nos recintos do Núcleo
Bartolomeu de Depoimentos e
idealizado por Roberta Estrela DAlva.
Porém, com a desativação do prédio
deste Núcleo, o evento passa
acontecer nas r
uas, sem lugar fixo, o
que difere do slam
de outros países
que acontecia em espaços fechados
devido às suas peculiaridades
culturais e territoriais. Assim, tendo
como palco as praças, neste gesto de
liberdade, os slam
brasileiros acolhem
a todos e todas qu
posição sobre determinada questão
social, bem como aqueles que em
algum momento foram rejeitados pela
sociedade a partir da formação
ideológica, histórica e discursiva que
move o seu ser pensante, constituído
por sua exterioridade.
Dessa for
ma,
considera:
Um espaço para que o sagrado
direito à liberdade de expressão,
o livre pensamento e o diálogo
entre as diferenças sejam
exercitados. Um espaço
autônomo onde é celebrada a
palavra, a fala, e, ainda mais
fundamental num mundo como o
que vivemos
(NASCIMENTO,
2016, p. 154).
172
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
Brasil, denominado de Zona Autônoma
da Palavra, teve como berço o bairro
da Pompeia, em São Paulo, em 2008.
Foi realizado nos recintos do Núcleo
Bartolomeu de Depoimentos e
idealizado por Roberta Estrela D’Alva.
Porém, com a desativação do prédio
deste Núcleo, o evento passa
uas, sem lugar fixo, o
de outros países
que acontecia em espaços fechados
devido às suas peculiaridades
culturais e territoriais. Assim, tendo
como palco as praças, neste gesto de
brasileiros acolhem
a todos e todas qu
e possuem uma
posição sobre determinada questão
social, bem como aqueles que em
algum momento foram rejeitados pela
sociedade a partir da formação
ideológica, histórica e discursiva que
move o seu ser pensante, constituído
por sua exterioridade.
ma,
o slam se
Um espaço para que o sagrado
direito à liberdade de expressão,
o livre pensamento e o diálogo
entre as diferenças sejam
exercitados. Um espaço
autônomo onde é celebrada a
palavra, a fala, e, ainda mais
fundamental num mundo como o
que vivemos
o ouvir
(NASCIMENTO,
apud BALBINO,
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
Este cenário poético adquiriu
imensuráveis dimensões e foi se
propagando rápido, pois hoje se
repete em muitos outros estados
brasileiros. Os novos cenários,
geralmente contam com a participação
de artistas que lançam seus livros e
CDs, e que apresentam su
sem concorrerem às batalhas do
Para Freitas:
Na slam poetry
, a poesia deixa o
ambiente acadêmico, abandona
os circuitos tradicionais de
curadoria e produção de sentido,
flerta com a canção popular e
torna-
se uma prática coletiva e,
como tal, se estabelece no limite
entre o oral, o escrito e o visual,
fazendo da pe
rformance um
elemento central (FREITAS,
2020, p. 3).
Trata-
se de uma narrativa que
potencializa o poema, em primeira
pessoa, a partir da declamação,
muitas vezes sem improvisos, e
articulada com o público. Isto pode ser
observado no slam
da Guilhermina, na
zona Leste de São Paulo que, desde
fevereiro de 2012, acontece sem fins
lucrativos, como todos os outros
d
o Brasil. Somente em o Paulo se
realizam cerca de quarenta e quatro
eventos, ressaltando-
se o Slam
Resistência, que é fruto
de encontros
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Este cenário poético adquiriu
imensuráveis dimensões e foi se
propagando rápido, pois hoje se
repete em muitos outros estados
brasileiros. Os novos cenários,
geralmente contam com a participação
de artistas que lançam seus livros e
CDs, e que apresentam su
as poesias
sem concorrerem às batalhas do
slam.
, a poesia deixa o
ambiente acadêmico, abandona
os circuitos tradicionais de
curadoria e produção de sentido,
flerta com a canção popular e
se uma prática coletiva e,
como tal, se estabelece no limite
entre o oral, o escrito e o visual,
rformance um
elemento central (FREITAS,
se de uma narrativa que
potencializa o poema, em primeira
pessoa, a partir da declamação,
muitas vezes sem improvisos, e
articulada com o público. Isto pode ser
da Guilhermina, na
zona Leste de São Paulo que, desde
fevereiro de 2012, acontece sem fins
lucrativos, como todos os outros
slam
o Brasil. Somente em São Paulo se
realizam cerca de quarenta e quatro
se o Slam
de encontros
ocorridos na Praça Roosevelt entre
“advogados ativistas e os movimentos
sociais que discutiam a truculência da
polícia durante as manifestações de
2013” (FREITAS, 2020. p. 4).
No
slam
explosão de magia que nenhum
veículo tecnoló
gico seria capaz de
transmitir, conforme aponta Roberta
Estrela D’Alva (2011, p. 121):
De fato, a aura (Benjamin,
1985) do slam, o momento
presente em que o encontro se
dá, não é passível de
reprodução, e muito embora
existam registros dos
campeonatos e
de antologias com os poemas
que são recitados, nada substitui
a presença física, o encontro, o
diálogo entre as diferenças, ponto
central desse tipo de
manifestação.
Nesse prisma de
acontecimentos, a mulher, mais
precisamente a mulher negra, marca
seu espaço, ainda que timidamente,
no cenário brasileiro; mas com maior
representatividade que nos demais
países, sustentando a estrutura social
desde o período escravocrata
dias atuais. Tal aparição feminina gera
um acontecimento histórico, tais
exemplos como: no Rio de Janeiro,
Luz Ribeiro abrilhantou o Flup no ano
de 2015, sendo a vencedora do
173
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
ocorridos na Praça Roosevelt entre
advogados ativistas e os movimentos
sociais que discutiam a truculência da
polícia durante as manifestações de
2013 (FREITAS, 2020. p. 4).
acontece uma
explosão de magia que nenhum
gico seria capaz de
transmitir, conforme aponta Roberta
Estrela DAlva (2011, p. 121):
De fato, a “aura” (Benjamin,
1985) do slam, o momento
presente em que o encontro se
dá, não é passível de
reprodução, e muito embora
existam registros dos
campeonatos e
até mesmo livros
de antologias com os poemas
que são recitados, nada substitui
a presença física, o encontro, o
diálogo entre as diferenças, ponto
central desse tipo de
Nesse prisma de
acontecimentos, a mulher, mais
precisamente a mulher negra, marca
seu espaço, ainda que timidamente,
no cenário brasileiro; mas com maior
representatividade que nos demais
países, sustentando a estrutura social
desde o período escravocrata
até os
dias atuais. Tal aparição feminina gera
um acontecimento histórico, tais
exemplos como: no Rio de Janeiro,
Luz Ribeiro abrilhantou o Flup no ano
de 2015, sendo a vencedora do
slam;
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
nesse mesmo ano, Roberta Estrela
D’Alva ficou em terceiro lugar no
c
ampeonato Mundial da França.
Nessa concepção de aparições,
Balbino (2016, p. 251) indica que há,
sim, um mecanismo que vem
preterindo mulheres ao longo da
construção deste movimento que
emerge das periferias”.
Compreende-
se, então, que o
slam proporcion
a às mulheres da
periferia, e também aos homens, o
espaço para que o corpo e a voz
enunciem realidades. A partir de cada
lugar em que o sujeito fala, ou está
inscrito, as suas palavras retratam as
verdades que estão sendo silenciadas
nos discursos jornalís
hegemônicos. Por exemplo, neste
espaço de realidade podemos citar a
Roberta Estrela D’Alva, que em 2013
fez um poema-
rap contra a redução da
maioridade penal no Brasil:
Parem a lei, parem a máquina,
Parem o processo, apaguem as páginas
Pare a mente perversa e ávida
Por sangue novo e vidas pálidas
Prende e é sujeira pra baixo do tapete
Tranca e é truque barato, segurança é o
Cacetete, e o pau come é só quem sente
É quem no passado levava no pescoço
Coerentes sejamos, de que lado
Porque não são nossos filhos, só
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
nesse mesmo ano, Roberta Estrela
DAlva ficou em terceiro lugar no
ampeonato Mundial da França.
Nessa concepção de aparições,
Balbino (2016, p. 251) indica que “há,
sim, um mecanismo que vem
preterindo mulheres ao longo da
construção deste movimento que
se, então, que o
a às mulheres da
periferia, e também aos homens, o
espaço para que o corpo e a voz
enunciem realidades. A partir de cada
lugar em que o sujeito fala, ou está
inscrito, as suas palavras retratam as
verdades que estão sendo silenciadas
nos discursos jornalís
ticos e
hegemônicos. Por exemplo, neste
espaço de realidade podemos citar a
Roberta Estrela DAlva, que em 2013
rap contra a redução da
maioridade penal no Brasil:
Parem.
Parem a lei, parem a máquina,
Parem o processo, apaguem as páginas
Pare a mente perversa e ávida
Por sangue novo e vidas pálidas
Prende e é sujeira pra baixo do tapete
Tranca e é truque barato, segurança é o
cacete
Cacetete, e o pau come é só quem sente
É quem no passado levava no pescoço
as correntes
Coerentes sejamos, de que lado
estamos?
Porque não são nossos filhos, só
E assim deixamos errar e erramos
esquecendo as palavras que um dia
Contra a contratação de quem trata com
E trancafia, o fio, afia a faca e corta as
E tira devagar a vida a voz, a vez, o voo
O tiro sairá pela culatra, guarde seu
Ele não valerá nada, na hora marcada da
No encontro com o verdadeiro Juiz
A Grande Lei, eu sei, é só uma pra todos
Vacilou, cachimbo vai cair
Parem a lei, parem a máquina,
Parem o processo, apaguem as páginas
Pare a mente perversa e ávida
Por sangue novo e vidas pálidas
Agora pros muleque fica letra é
Que a arapuca tá armada pra pegar você
Consciência, atitude já disseram, eu vô
A vaga tá lá esperando você."
(
ROBERTA ESTRELA D ALVA
No poema percebe
representação da foa de uma voz
que não se cala, e que exala sua
interioridade, sua leitura acerca do
tema. Trata-
se de uma exortação
proclamada por meio da liberdade de
expressão.
Essa dinâmica faz alusão à fala
de Pereira e Espo
sito (2019, p. 3) ao
colocarem que é possível
compreender as comunidades de
poesia slam
e sua rede de integrantes
como promovedores de um tipo de
prática de letramento, que estimula
174
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
observamos?
E assim deixamos errar e erramos
esquecendo as palavras que um dia
juramos?
Contra a contratação de quem trata com
tração que mata
E trancafia, o fio, afia a faca e corta as
asas
E tira devagar a vida a voz, a vez, o voo
O tiro sairá pela culatra, guarde seu
tesouro
Ele não valerá nada, na hora marcada da
espada
No encontro com o verdadeiro Juiz
A Grande Lei, eu sei, é só uma pra todos
numadianta,
Vacilou, cachimbo vai cair
Portanto
Parem a lei, parem a máquina,
Parem o processo, apaguem as páginas
Pare a mente perversa e ávida
Por sangue novo e vidas pálidas
Agora pros muleque fica letra é
bom sabê
Que a arapuca tá armada pra pegar você
Consciência, atitude já disseram, eu vô
dizê"
A vaga tá lá esperando você."
ROBERTA ESTRELA D ALVA
, 2013)
No poema percebe
-se a
representação da força de uma voz
que não se cala, e que exala sua
interioridade, sua leitura acerca do
se de uma exortação
proclamada por meio da liberdade de
Essa dinâmica faz alusão à fala
sito (2019, p. 3) ao
colocarem que “é possível
compreender as comunidades de
e sua rede de integrantes
como promovedores de um tipo de
prática de letramento, que estimula
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
aprendizado e compreensões acerca
de determinada realidade social.
Dessa forma, o slam
sugere muitos
caminhos entrelaçados ao diálogo, à
aparição de uma identidade que foi
esquecida, apagada, silenciada e traz
ao ser humano o que lhe é de
direito Constitucional, o direito da
expressão. A partir dessas ideias, o
slam pode se
r compreendido como um
bem cultural que agrega, cria e recria
valores, conceitos e significados,
criando novos sentidos e gerando
novas lutas sociais.
O slam: produção de
pela linguagem
Até agora observamos que o
slam tem-
se mostrado como um bem
cultural e de produção de
conhecimentos. Isto porque é palco de
desabafos e de representações de
mundo em um momento, em
consonância com suas características
peculiares que se traduzem na
expressão oral e corporal. Roberta
Es
trela D’Alva (2014, p. 105) afirma
que “não como negar o caráter
inclusivo e libertário de um
slam
”. Portanto, nesta articulação, a
formação discursiva e o gênero do
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
aprendizado e compreensões acerca
de determinada realidade social”.
sugere muitos
caminhos entrelaçados ao diálogo, à
aparição de uma identidade que foi
esquecida, apagada, silenciada e traz
ao ser humano o que já lhe é de
direito Constitucional, o direito da
expressão. A partir dessas ideias, o
r compreendido como um
bem cultural que agrega, cria e recria
valores, conceitos e significados,
criando novos sentidos e gerando
conhecimentos e conscientização
Até agora observamos que o
se mostrado como um bem
cultural e de produção de
conhecimentos. Isto porque é palco de
desabafos e de representações de
mundo em um só momento, em
consonância com suas características
peculiares que se traduzem na
expressão oral e corporal. Roberta
trela DAlva (2014, p. 105) afirma
que não há como negar o caráter
inclusivo e libertário de um
poetry
. Portanto, nesta articulação, “a
formação discursiva e o gênero do
discurso pelos quais os sujeitos
enunciam seus textos na literatura
marginal/pe
riférica podem contribuir,
formular e circular sentidos próprios
(BALBINO, 2016, p. 250). Estes
sentidos levam a compreender o
funcionamento do histórico e da
memória de um povo que tem em seu
discurso a materialidade de um
acontecimento que só faz sentid
porque está atravessado por uma
cultura, um conhecimento: estar no
slam
é ter a possibilidade de expressar
um conhecimento que já se
concretizou no interior de um povo. Na
continuação observaremos estas
ideias de forma mais ampla.
Para compreender as
dimensões que o
slam
cidadania, é necessário atentar
diferenças sociais que atravessam por
séculos a formação dos estados
nações. Estas diferenças, que não são
casuais, se convertem no marcador
basal da vida e história de nossos
povos de
sde o período pós
As narrativas e memórias corroboram
as diferentes tensões que permearam
e permeiam os cenários geográficos e
históricos. E neste espaço de
diferenças, a poesia oral não tem só o
papel de uma luta estética, visto que a
175
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
discurso pelos quais os sujeitos
enunciam seus textos na literatura
riférica podem contribuir,
formular e circular sentidos próprios”
(BALBINO, 2016, p. 250). Estes
sentidos levam a compreender o
funcionamento do histórico e da
memória de um povo que tem em seu
discurso a materialidade de um
acontecimento que faz sentid
o
porque está atravessado por uma
cultura, um conhecimento: estar no
é ter a possibilidade de expressar
um conhecimento que se
concretizou no interior de um povo. Na
continuação observaremos estas
ideias de forma mais ampla.
Para compreender as
slam
representa na
cidadania, é necessário atentar
-se às
diferenças sociais que atravessam por
séculos a formação dos estados
nações. Estas diferenças, que não são
casuais, se convertem no marcador
basal da vida e história de nossos
sde o período pós
-colonial.
As narrativas e memórias corroboram
as diferentes tensões que permearam
e permeiam os cenários geográficos e
históricos. E neste espaço de
diferenças, a poesia oral não tem o
papel de uma luta estética, visto que “a
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
poesia or
al cumpre [uma] função mais
lúdica que estética: ela garante essa
partida no conceito vital, na liturgia
cósmica. Ao mesmo tempo, é um
enigma, ensinamento, divertimento e
luta” (ZUMTHOR, 1997, p. 279
Tal mistura de acontecimentos,
culminada na ludici
dade e na estética,
torna a poesia algo vitalizador que
emerge de situações que não foram
pensadas historicamente para a
ascensão de um povo. Sobre isto,
segundo Souto (2020, p. 136):
A partir da perspectiva pós
colonial, podemos entender o
momento
histórico presente como
um espaço de significantes
abertos, um entre lugar, onde os
efeitos de um passado colonial
recente ainda perduram e se
desdobram, ao mesmo tempo em
que coexistem com formas
emergentes de existir no mundo.
Esse espaço de significant
abertos perdura na
contemporaneidade e deixa uma
lacuna “nos deslocamentos das
noções de centro e de periferia
(SOUTO, 2020, p. 136). De acordo
com esta mesma autora, neste tempo
espaço contemporâneo “encontram
em constante negociação o velho e o
no
vo, o conservador e o progressista,
o tradicional e o inovador, sendo a
cultura a dimensão social que melhor
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
al cumpre [uma] função mais
lúdica que estética: ela garante essa
partida no conceito vital, na liturgia
cósmica. Ao mesmo tempo, é um
enigma, ensinamento, divertimento e
luta (ZUMTHOR, 1997, p. 279
-280).
Tal mistura de acontecimentos,
dade e na estética,
torna a poesia algo vitalizador que
emerge de situações que não foram
pensadas historicamente para a
ascensão de um povo. Sobre isto,
segundo Souto (2020, p. 136):
A partir da perspectiva pós
-
colonial, podemos entender o
histórico presente como
um espaço de significantes
abertos, um entre lugar, onde os
efeitos de um passado colonial
recente ainda perduram e se
desdobram, ao mesmo tempo em
que coexistem com formas
emergentes de existir no mundo.
Esse espaço de significant
es
abertos perdura na
contemporaneidade e deixa uma
lacuna nos deslocamentos das
noções de centro e de periferia”
(SOUTO, 2020, p. 136). De acordo
com esta mesma autora, neste tempo
-
espaço contemporâneo encontram
-se
em constante negociação o velho e o
vo, o conservador e o progressista,
o tradicional e o inovador, sendo a
cultura a dimensão social que melhor
compreende as disputas e embates de
ordem simbólica” (
Aquilo é uma demanda de ações que
não param e crescem a cada novo
ressurgir ou
a cada existência
enfraquecida: não há espaço para
engessamento, ou ao menos não
deveria haver, porque há sempre algo
funcionando, que parte de todos os
lugares de constituição de sentidos e
de identidades.
A produção da cultura, de
acordo com Lima, “est
em um conjunto de saberes
atravessados por relações de poder e
seus regimes de visibilidade e
verdade” (LIMA, 2018,
2020, p. 142). Estes saberes partem
dos centros, mas deveriam partir
também das margens, pois o campo
cultural de
ve “refletir as demandas
atuais enunciadas a partir das
margens, incorporando os discursos
insurgentes no intuito de deslocar
fronteiras e criar projetos de
organização social” (SOUTO, 2020, p.
138).
A luta pela visibilidade é um
direito que, de fato, está preconizado
no Parágrafo II da Declaração
Universal dos Direitos Humanos:
Todo homem tem capacidade
176
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
compreende as disputas e embates de
ordem simbólica (
Idem, p. 136).
Aquilo é uma demanda de ações que
não param e crescem a cada novo
a cada existência
enfraquecida: não espaço para
engessamento, ou ao menos não
deveria haver, porque sempre algo
funcionando, que parte de todos os
lugares de constituição de sentidos e
A produção da cultura, de
acordo com Lima, est
á fundamentada
em um conjunto de saberes
atravessados por relações de poder e
seus regimes de visibilidade e
verdade (LIMA, 2018,
apud SOUTO,
2020, p. 142). Estes saberes partem
dos centros, mas deveriam partir
também das margens, pois o campo
ve refletir as demandas
atuais enunciadas a partir das
margens, incorporando os discursos
insurgentes no intuito de deslocar
fronteiras e criar projetos de
organização social (SOUTO, 2020, p.
A luta pela visibilidade é um
direito que, de fato, está preconizado
no Parágrafo II da Declaração
Universal dos Direitos Humanos:
Todo homem tem capacidade
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
para gozar os direitos e as
liberdades estabelecidas nesta
Declaração, sem distinção de
qualquer
espécie, seja de raça,
cor, sexo, língua, religião, opinião
política ou de outra natureza,
origem nacional ou social,
riqueza, nascimento ou qualquer
outra condição
UNIDAS).
No Brasil trata-
se de um direito
Independência
e pela proclamação da
isto, apesarque a hist
ória de um povo
já está direcionada nas legislações.
As performances traduzidas no
slam
são também uma busca pela
igualdade e respeito.
A sociedade da periferia
faz-
se menção a tudo que parece ser
perifér
ico sob a ótica dos que estão
fora dela
sofre todos os movimentos
criados para atender uma minoria,
mesmo sabendo que estar na
margem é ser parte do todo, mas fora
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
para gozar os direitos e as
liberdades estabelecidas nesta
Declaração, sem distinção de
espécie, seja de raça,
cor, sexo, língua, religião, opinião
política ou de outra natureza,
origem nacional ou social,
riqueza, nascimento ou qualquer
(NACÕES
se de um direito
que foi conquistado pela
e pela proclamação da
República, mas que de acordo com
alguns olhares insiste em ser
esquecido, saqueado, anulado pela
própria história que o ser humano vai
construindo a partir daquilo que ele
acredita, defende, cria, modifica. Tudo
ória de um povo
já está direcionada nas legislações.
As performances traduzidas no
são também uma busca pela
consagração de direitos que o ser
humano tem, pois a cada poesia
declamada, há produções e efeitos
sendo sacramentados num grito de
A sociedade da periferia
aqui
se menção a tudo que parece ser
ico sob a ótica dos que estão
sofre todos os movimentos
criados para atender uma minoria,
mesmo sabendo que “estar na
margem é ser parte do todo, mas fora
do corpo principal” (KILOMBA, 2019,
p. 67). Portanto, estar na margem, ou
no centro, dever
ia ser algo geográfico
e não social, ou muito menos histórico.
Dispõe Souto (2020, p. 138):
Considerando a profunda
imbricação entre os aspectos
políticos e culturais no que se
refere a (re)organização
geopolítica global, fica evidente o
papel da cultura e
território de fronteira, de
tensionamento político, onde
ocorre a elaboração, expressão,
negociação e disputa entre as
narrativas em jogo.
Essa realidade vai sendo
apurada a passo que as pessoas vão
se conscientizando de suas histórias e
de seus
direitos. Assim, vão
assumindo suas posições como
sujeitos de um espaço, de uma
sociedade que sabe aonde quer
chegar e como isso se dará,
apoderando-
se da autorrepresentação.
Sobre isto, ressalta Bhabha (
SOUTO, 2020, p. 137) que ao
“descentralizar a u
niversalidade, as
margens têm a chance de
autorrepresentação". Portanto, uma
percepção faz-
se necessária além do
conhecimento acerca do que é, e do
que não é cultura, já que cabe
compreender “de que forma e para
que fins a cultura vem sendo
177
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
do corpo principal (KILOMBA, 2019,
p. 67). Portanto, estar na margem, ou
ia ser algo geográfico
e não social, ou muito menos histórico.
Dispõe Souto (2020, p. 138):
Considerando a profunda
imbricação entre os aspectos
políticos e culturais no que se
refere a (re)organização
geopolítica global, fica evidente o
papel da cultura e
nquanto
território de fronteira, de
tensionamento político, onde
ocorre a elaboração, expressão,
negociação e disputa entre as
narrativas em jogo.
Essa realidade vai sendo
apurada a passo que as pessoas vão
se conscientizando de suas histórias e
direitos. Assim, vão
assumindo suas posições como
sujeitos de um espaço, de uma
sociedade que sabe aonde quer
chegar e como isso se dará,
se da autorrepresentação.
Sobre isto, ressalta Bhabha (
apud
SOUTO, 2020, p. 137) que ao
niversalidade, as
margens têm a chance de
autorrepresentação". Portanto, uma
se necessária além do
conhecimento acerca do que é, e do
que não é cultura, que cabe
compreender de que forma e para
que fins a cultura vem sendo
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
apropriada e qu
e papel desempenha
no contexto contemporâneo (SOUTO,
2020, p. 138).
. O slam
: conscientização pela
linguagem
Neste espaço de
conscientização, de libertação e de
empoderamento, o
slam
poder da transformação, pois, ao
promover a crítica e a reflexão, esses
“espaços se constituem como de
produção cultural, de estabelecimento
de um tipo de poesia que carrega
referências históricas e performances
críticas”, (PEREIRA, 2019, p. 109).
Por outra parte, cria
possibilidade para o lúdico ao trazer a
performance e, de acordo com o
mesmo autor, “ao mesmo tempo em
que é
uma espécie de desabafo social,
na medida em que temas atuais,
ligados à exclusão social, são
colocados em pauta por
praticantes” (2019, p. 100).
Outra vertente que o
engloba é o letramento, pois durante
uma apresentação acontecem muitas
trocas de ideias e muitas
compreensões são remetidas e
desenvolvidas por meio da oralidade,
da expressão corporal, da produç
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
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Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
e papel desempenha
no contexto contemporâneo” (SOUTO,
: conscientização pela
Neste espaço de
conscientização, de libertação e de
slam
assume o
poder da transformação, pois, ao
promover a crítica e a reflexão, esses
espaços se constituem como de
produção cultural, de estabelecimento
de um tipo de poesia que carrega
referências históricas e performances
críticas, (PEREIRA, 2019, p. 109).
Por outra parte, cria
-se uma
possibilidade para o lúdico ao trazer a
performance e, de acordo com o
mesmo autor, ao mesmo tempo em
uma espécie de desabafo social,
na medida em que temas atuais,
ligados à exclusão social, o
colocados em pauta por
seus
praticantes (2019, p. 100).
Outra vertente que o
slam
engloba é o letramento, pois durante
uma apresentação acontecem muitas
trocas de ideias e muitas
compreensões são remetidas e
desenvolvidas por meio da oralidade,
da expressão corporal, da produç
ão
da poesia e do tema em si. Conforme
aponta Pereira (2019, p. 101):
Ao nos apoiarmos no conceito de
letramento, devemos reconhecer
a relevância e o impacto das
competições poéticas, tanto na
esfera individual, que atua sobre
os sujeitos participantes, o
e usuários, como de modo mais
amplo, considerando as redes de
compartilhamento.
Nessa manifestação da arte
não ganhador, pois todos e todas
vencem: os participantes e o público
que presenciou o evento não saem
deste da mesma forma como
chegaram: são muitas denúncias e
concepções de mundo que são
expostas, e assim o
uma fonte inesgotável da
transparência de uma interioridade,
“construindo se como espaço de
aprendizagens e saberes, que é
marcado pela transmissão de
referências críticas e influências para
os outros poetas competidores e de
seu público” (PEREIRA, 2019,
Ao mesmo tempo, as competições
abrem espaços para o político,
considerando o lugar de onde os
poetry slam
falam. Este lugar não está
sendo compreendido apenas como o
espaço geográfico, muito mais como
lugar que permite visibilizar vozes que
178
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
da poesia e do tema em si. Conforme
aponta Pereira (2019, p. 101):
Ao nos apoiarmos no conceito de
letramento, devemos reconhecer
a relevância e o impacto das
competições poéticas, tanto na
esfera individual, que atua sobre
os sujeitos participantes, o
uvintes
e usuários, como de modo mais
amplo, considerando as redes de
compartilhamento.
Nessa manifestação da arte
não há ganhador, pois todos e todas
vencem: os participantes e o público
que presenciou o evento não saem
deste da mesma forma como
chegaram: são muitas denúncias e
concepções de mundo que são
expostas, e assim o
slam constitui
uma fonte inesgotável da
transparência de uma interioridade,
construindo se como espaço de
aprendizagens e saberes, que é
marcado pela transmissão de
referências críticas e influências para
os outros poetas competidores e de
seu público (PEREIRA, 2019,
p. 109).
Ao mesmo tempo, as competições
abrem espaços para o político,
considerando o lugar de onde os
falam. Este lugar não está
sendo compreendido apenas como o
espaço geográfico, muito mais como
lugar que permite visibilizar vozes que
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
são l
egitimadas ao longo do processo
histórico.
Essas vozes são retratadas nas
legislações, assim como também nas
legislações educacionais porque não
basta conhecer um valor somente
quando necessita recorrer
importante conhecer os valores
enquanto
pode ser constituído por ele.
Nesta intenção, os documentos
pedagógicos escolares contemplam
em suas diretrizes apontamentos que
estruturam o ensino e a aprendizagem
de qualidade para todos. Nessa
consonância, a Base Nacional Comum
Curricular (2017) é um s
uporte para o
desenvolvimento da pessoa em sua
integridade, orientando acerca das
habilidades e competências que o
estudante deve desenvolver ao longo
de uma etapa escolar.
Essas habilidades e
competências estão incutidas nos
diversos documentos escolares
como na Base Nacional Comum
Curricular que traz como primeira
Competência Geral da Educação
Básica “Valorizar e utilizar os
conhecimentos historicamente
construídos sobre o mundo físico,
social, cultural e digital para entender
e explicar a realida
de, continuar
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
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PragMATIZES
- Revista Latino-
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2, n. 23, p.165-190, www.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
egitimadas ao longo do processo
Essas vozes são retratadas nas
legislações, assim como também nas
legislações educacionais porque não
basta conhecer um valor somente
quando necessita recorrer
-se dele. É
importante conhecer os valores
pode ser constituído por ele.
Nesta intenção, os documentos
pedagógicos escolares contemplam
em suas diretrizes apontamentos que
estruturam o ensino e a aprendizagem
de qualidade para todos. Nessa
consonância, a Base Nacional Comum
uporte para o
desenvolvimento da pessoa em sua
integridade, orientando acerca das
habilidades e competências que o
estudante deve desenvolver ao longo
Essas habilidades e
competências estão incutidas nos
diversos documentos escolares
, assim
como na Base Nacional Comum
Curricular que traz como primeira
Competência Geral da Educação
Básica Valorizar e utilizar os
conhecimentos historicamente
construídos sobre o mundo físico,
social, cultural e digital para entender
de, continuar
aprendendo e colaborar para a
construção de uma sociedade justa,
democrática e inclusiva(2017, p. 11).
Dessa forma, cabe pensar o quanto o
slam
corresponde aos documentos
norteadores escolares atuais, visto
pelas palavras historicamente,
cultural”, “construção, inclusiva; que
refletem ao slam
ser um espaço de
acontecimentos e de cultura. De fato,
a habilidade 13 da disciplina Língua
Portuguesa, Ensino Médio, apresenta
a ideia de
Expressar-
se e atuar em
processos de criação autorais
individuais e coletivos nas
diferentes linguagens artísticas
(artes visuais, audiovisual, dança,
música e teatro) e nas
intersecções entre elas,
recorrendo a referências
estéticas e culturais,
conhecime
ntos de naturezas
diversas (artísticos, históricos,
sociais e políticos) e experiências
individuais e coletivas (BNCC,
2017, p. 498).
Percebe-
se nestes documentos
algo em comum com o que se propõe
no slam
, haja vista as palavras
“expressão”, “criação,
"experiências individuais e coletivas,
que remetem tanto ao participante
quanto ao aluno, e ainda desenvolve a
emoção, a afetividade, os valores,
ressignificando as ações desses
179
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
aprendendo e colaborar para a
construção de uma sociedade justa,
democrática e inclusiva”(2017, p. 11).
Dessa forma, cabe pensar o quanto o
corresponde aos documentos
norteadores escolares atuais, visto
pelas palavras “historicamente”,
cultural, construção”, “inclusiva”; que
ser um espaço de
acontecimentos e de cultura. De fato,
a habilidade 13 da disciplina Língua
Portuguesa, Ensino Médio, apresenta
se e atuar em
processos de criação autorais
individuais e coletivos nas
diferentes linguagens artísticas
(artes visuais, audiovisual, dança,
música e teatro) e nas
intersecções entre elas,
recorrendo a referências
estéticas e culturais,
ntos de naturezas
diversas (artísticos, históricos,
sociais e políticos) e experiências
individuais e coletivas (BNCC,
se nestes documentos
algo em comum com o que se propõe
, haja vista as palavras
expressão, criação”,
linguagens”,
"experiências individuais e coletivas”,
que remetem tanto ao participante
quanto ao aluno, e ainda desenvolve a
emoção, a afetividade, os valores,
ressignificando as ações desses
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
sujeitos. Nesse ponto, para Roberta
Estrela D’Alva (2011, p. 120
slam
se tornou, além de um
acontecimento poético, um movimento
social, cultural, artístico que se
expande progressivamente e é
celebrado em comunidades em todo o
mundo”.
Esta mesma autora aponta que
“a necessidade de composição
minuciosa obriga os
slammers
explorarem o máximo de seus corpos
vozes, em sua musicalidade,
dinâmicas de respiração e
movimentação corporal” (Idem, p.
123), o que traz à tona a profundidade
de sua interioridade, verdade e
historicidade. Ainda, para os
mostrar
em integridade em suas
performances, usam “Voz, entonação,
ritmo, flow
, olhar, jeito de corpo e
gestos” (FREITAS, 2020, p. 6)
externando a oralidade. Ademais, de
acordo com D’Alva (2011), para o
poetry slam
entrar em cena, duas
coisas são necessárias, um m
e uma ideia. Dentro dessa afinidade
de ações e resultados, conforme
ressalta Zumthor (2007), está a
performance que, ao comunicar,
marca-
se o conhecimento.
Frente ao que está sendo
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
sujeitos. Nesse ponto, para Roberta
Estrela DAlva (2011, p. 120
) “o poetry
se tornou, além de um
acontecimento poético, um movimento
social, cultural, artístico que se
expande progressivamente e é
celebrado em comunidades em todo o
Esta mesma autora aponta que
a necessidade de composição
slammers
a
explorarem o máximo de seus corpos
-
vozes, em sua musicalidade,
dinâmicas de respiração e
movimentação corporal (Idem, p.
123), o que traz à tona a profundidade
de sua interioridade, verdade e
historicidade. Ainda, para os
slammers
em integridade em suas
performances, usam Voz, entonação,
, olhar, jeito de corpo e
gestos (FREITAS, 2020, p. 6)
externando a oralidade. Ademais, de
acordo com DAlva (2011), para o
entrar em cena, duas
coisas são necessárias, um m
icrofone
e uma ideia. Dentro dessa afinidade
de ações e resultados, conforme
ressalta Zumthor (2007), está a
performance que, ao comunicar,
se o conhecimento.
Frente ao que está sendo
contemplado, percebe
slam
tem um caráter inclusivo, que
liberta numa proposta de diálogo e,
por que o, de conflito. Oportuniza
batalhas espetaculares, um jogo entre
palavras e sentimentos, significados e
significantes que se entrelaçam
despertando a memória e a escuta.
Balbino (2
016) reforça que já com os
saraus os autores da periferia tiveram
um aliado para a expressão de suas
experiências, ao usarem o microfone
para entoarem seus gritos por meio
das crônicas e poesias.
Assim, o
slam
espaço de acontecimentos, de cu
e de produção de conhecimento ao
trazer as habilidades e competências
que traduzem o desenvolvimento
humano, enquanto sujeito de formação
histórica, ideológica e de discurso,
conforme pode ser visto nas vozes de
mulheres que entoam seus versos
como f
orma de expressar que não há
limite entre o interior e sua
exterioridade.
O Slam
como acontecimento no
mundo feminino
Para as mulheres o
a liberdade de expressão num mundo
sinalizado pelas diferenças sociais, de
180
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
contemplado, percebe
-se o quanto o
tem um caráter inclusivo, que
liberta numa proposta de diálogo e,
por que não, de conflito. Oportuniza
batalhas espetaculares, um jogo entre
palavras e sentimentos, significados e
significantes que se entrelaçam
despertando a memória e a escuta.
016) reforça que com os
saraus os autores da periferia tiveram
um aliado para a expressão de suas
experiências, ao usarem o microfone
para entoarem seus gritos por meio
das crônicas e poesias.
slam
revela ser um
espaço de acontecimentos, de cu
ltura
e de produção de conhecimento ao
trazer as habilidades e competências
que traduzem o desenvolvimento
humano, enquanto sujeito de formação
histórica, ideológica e de discurso,
conforme pode ser visto nas vozes de
mulheres que entoam seus versos
orma de expressar que não
limite entre o interior e sua
como acontecimento no
Para as mulheres o
slam trouxe
a liberdade de expressão num mundo
sinalizado pelas diferenças sociais, de
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
raça e de gênero; trouxe sua ascensão
e fortalecimento junto com a
possibilidade de mostrar suas
verdades e a inverdade reproduzida
num espaço em que a mulher não
tinha voz. Segundo Balbino (2016, p.
159), “A denúncia, neste caso, pode
ser compreendida no
práticas de linguagem, pelo gesto,
pelo sujeito, pela sua relação com a
verdade e com o
interlocutor/ouvinte/leitor”. Isso basta
para ressignificar a linguagem no
mundo feminino enquanto liberdade e
empoderamento, pois
As mulheres periféricas que
escrevem, lançam livros,
escrevem outros livros e vivem às
margens são as guerreiras do
cotidiano brasileiro. Um
verdadeiro arsenal vivo que
revoluciona o mundo por meio da
literatura e do corpo contra o que
lhe aflige, seja o p
reconceito, os
estereótipos, os padrões
impostos, a beleza engessada
pela sociedade midiática; a etnia,
ou comportamento que são
reformulados enquanto ocupam
se verdade legitimada (BALBINO,
2016, p. 166).
Para muitas mulheres ter o
slam é voltar à vida,
que muitas se
autoafirmaram como participante das
competições: ali produziram suas
poesias e organizaram eventos.
Roberta Estrela D’Alva, a precursora
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
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Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
raça e de gênero; trouxe sua ascensão
e fortalecimento junto com a
possibilidade de mostrar suas
verdades e a inverdade reproduzida
num espaço em que a mulher não
tinha voz. Segundo Balbino (2016, p.
159), A denúncia, neste caso, pode
ser compreendida no
interior de
práticas de linguagem, pelo gesto,
pelo sujeito, pela sua relação com a
verdade e com o
interlocutor/ouvinte/leitor. Isso basta
para ressignificar a linguagem no
mundo feminino enquanto liberdade e
As mulheres periféricas que
escrevem, lançam livros,
escrevem outros livros e vivem às
margens são as guerreiras do
cotidiano brasileiro. Um
verdadeiro arsenal vivo que
revoluciona o mundo por meio da
literatura e do corpo contra o que
reconceito, os
estereótipos, os padrões
impostos, a beleza engessada
pela sociedade midiática; a etnia,
ou comportamento que são
reformulados enquanto ocupam
-
se verdade legitimada (BALBINO,
Para muitas mulheres ter o
já que muitas se
autoafirmaram como participante das
competições: ali produziram suas
poesias e organizaram eventos.
Roberta Estrela DAlva, a precursora
do slam
no Brasil, inclusive organizou
o ZAP! Zona Autônoma da Palavra em
São Paulo. Nas palavras de
(2020, p. 3) “ela foi a primeira
brasileira a participar da Copa do
Mundo de Slam, em 2011, e a primeira
pesquisadora a publicar um artigo
sobre a cena da
slam poetry
Paulo”.
Dessa forma, cabe entender
porque o
slam
representada pela palavra que se
materializa por meio de vozes também
femininas, conforme apresenta Freitas
(2020, p. 8-9):
Talvez por contraste com as
batalhas de MCs e seu universo
majoritariamente masculino, o
protagonismo da slam poetryno
Brasil tende a ser feminino:
Roberta Estrela DAlva, Mel
Duarte, Luz Ribeiro, Mariana
Félix, Luíza Romão, Kimani, MC
Martina, Carol Dall Farra,
Gênesis, Pieta Poeta, Meimei
Bastos e Luna Vitrolira
Paulina Turra, Tawane Theodoro
e Patrícia Meira.
Diante desta realidade, Balbino
completa que “Percebemos que a voz
poética e a manifestação do eu
destas escritoras ficam mais evidente
e utiliza-
se não apenas da forma
escrita, mas da linguagem corporal, do
tom de voz, de recursos teatrais na
hora de
declamar, para exprimir o que
181
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
no Brasil, inclusive organizou
o ZAP! Zona Autônoma da Palavra em
São Paulo. Nas palavras de
Freitas
(2020, p. 3) ela foi a primeira
slammer
brasileira a participar da Copa do
Mundo de Slam, em 2011, e a primeira
pesquisadora a publicar um artigo
slam poetry
em São
Dessa forma, cabe entender
slam
é a riqueza
representada pela palavra que se
materializa por meio de vozes também
femininas, conforme apresenta Freitas
Talvez por contraste com as
batalhas de MC’s e seu universo
majoritariamente masculino, o
protagonismo da slam poetryno
Brasil tende a ser feminino:
Roberta Estrela D’Alva, Mel
Duarte, Luz Ribeiro, Mariana
Félix, Luíza Romão, Kimani, MC
Martina, Carol Dall Farra,
Gênesis, Pieta Poeta, Meimei
Bastos e Luna Vitrolira
além de
Paulina Turra, Tawane Theodoro
e Patrícia Meira.
Diante desta realidade, Balbino
completa que Percebemos que a voz
poética e a manifestação do ‘eu’
destas escritoras ficam mais evidente
se não apenas da forma
escrita, mas da linguagem corporal, do
tom de voz, de recursos teatrais na
declamar, para exprimir o que
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
acontece” (2016, p. 16). Tal ascensão
tem-
se fortalecido pela unidade, pela
representatividade, pela exposição de
como a vida é na realidade, pelas
experiências com “a desigualdade,
exclusão, o machismo, o racismo e a
homofob
ia” (FREITAS, 2020, p. 4).
Temas esses que estão presentes nas
vidas brasileiras.
Neste cenário de interfaces e
desmistificação, onde o
estabelece como bem cultural e de
produção de conhecimentos, Balbino
acrescenta que “é nítido que nem toda
mulher periférica brasileira se tornará
uma escritora, mas, é por meio da
escrita que muitas delas conseguem
se auto representar, como veremos
adi
ante, e por conseguinte,
representar todo um grupo (2016, p.
54). Isso porque uma sensibilidade
que emana, que transcende o feminino
e, nesta perspectiva, a cultura popular
negra representa a narrativa cultural
insurgente que assola o país.
As acepçõe
s que foram
no slam. S
ão vários os nomes que
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
acontece (2016, p. 16). Tal ascensão
se fortalecido pela unidade, pela
representatividade, pela exposição de
como a vida é na realidade, pelas
experiências com a desigualdade,
exclusão, o machismo, o racismo e a
ia (FREITAS, 2020, p. 4).
Temas esses que estão presentes nas
Neste cenário de interfaces e
desmistificação, onde o
slam se
estabelece como bem cultural e de
produção de conhecimentos, Balbino
acrescenta que é nítido que nem toda
mulher periférica brasileira se tornará
uma escritora, mas, é por meio da
escrita que muitas delas conseguem
se auto representar, como veremos
ante, e por conseguinte,
representar todo um grupo” (2016, p.
54). Isso porque há uma sensibilidade
que emana, que transcende o feminino
e, nesta perspectiva, a cultura popular
negra representa a narrativa cultural
insurgente que assola o país.
s que foram
recorrentes neste espaço mostram a
participação acentuada das mulheres
ão vários os nomes que
ganham espaço e vozes que denotam
a fortaleza na delicadeza, a
determinação na sensibilidade e até a
emoção quando o coração já não
responde
mais à razão. Essas
mulheres periféricas, estão
representadas por Débora Garcia,
neste poema sobre a vivência da
juventude periférica:
Desde pequeno, institucionalizado
Pele negra, seu legado
Foi criado e educado
Por aquela que não lhe FE(Z) BEM
Treinado para matar e morrer
Aprendeu muito bem
Se graduou na escória
E escreveu sua história
Em documentos oficiais
Ocorrências, processos, relatórios sociais
Estatísticas, manchetes, mídias
Que bom desempenho! Vai longe esse
E agora... A formatura!16 anos! Quanta
Molotov finalmente foi para detenção!
Lá acendeu o pavio
Que desde o nascimento
O Estado colocou em suas mãos.
Nessa poesia moram os gestos
mais internos, neste caso, de Débora
Garcia (2015) frente à juventude negra
e periférica do país. Nesta mesma
linha, a slammer
Elizandra Souza
revela a ancestralidade de um povo:
182
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
emoção quando o coração não
mais à razão. Essas
mulheres periféricas, estão
representadas por Débora Garcia,
neste poema sobre a vivência da
juventude periférica:
Molotov
Desde pequeno, institucionalizado
Pais, ignorados
Não alfabetizado
Pele negra, seu legado
Foi criado e educado
Por aquela que não lhe FE(Z) BEM
Treinado para matar e morrer
Aprendeu muito bem
Se graduou na escória
E escreveu sua história
Em documentos oficiais
Ocorrências, processos, relatórios sociais
Estatísticas, manchetes, mídias
Páginas policiais
Que bom desempenho! Vai longe esse
rapaz!
E agora... A formatura!16 anos! Quanta
emoção
Molotov finalmente foi para detenção!
Lá acendeu o pavio
Que desde o nascimento
O Estado colocou em suas mãos.
Nessa poesia moram os gestos
mais internos, neste caso, de Débora
Garcia (2015) frente à juventude negra
e periférica do país. Nesta mesma
Elizandra Souza
revela a ancestralidade de um povo:
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
Preservando Heranças
As argolas
em volta do pescoço
São para sustentar a exuberância do meu
Os tecidos que uso na cabeça
Demonstram a sabedoria da minha
ancestralidade
Os vestidos que moldam meu corpo
Dignificam o meu instrumento de existir
As argolas, os tecidos, os vestidos
Mais do que acessórios
São heranças que me ajudam a persistir
(Elizandra Souza, 2013, publicado no
Águas da Cabaça)
Concordamos com Balbino
(2016, p. 165) no sentido que aqui
compreendemos que evocar esta
espiritualidade fortemente amparada
na ancestralidade ajuda a voz poética
a se inspirar, se curar, se empoderar e
muitas vezes, se enegrecer".
Finalmente, de todas as
acepções compartilhadas neste
espaço que cabe a todas as raças, as
classes e os gêneros, importa também
afirmar o poder da materialidade de
um discurso que representa uma
história, uma vida, uma verdade, como
entremeio do dito e do
não dito.
A faceta pedagógica do
slam
A trajetória, prática e
significados do slam, que temos
apresentado até aqui,
mostram
o movimento possui também uma
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Preservando Heranças
em volta do pescoço
São para sustentar a exuberância do meu
sorriso
Os tecidos que uso na cabeça
Demonstram a sabedoria da minha
ancestralidade
Os vestidos que moldam meu corpo
Dignificam o meu instrumento de existir
As argolas, os tecidos, os vestidos
Mais do que acessórios
São heranças que me ajudam a persistir
(Elizandra Souza, 2013, publicado no
Águas da Cabaça)
Concordamos com Balbino
(2016, p. 165) no sentido que “aqui
compreendemos que evocar esta
espiritualidade fortemente amparada
na ancestralidade ajuda a voz poética
a se inspirar, se curar, se empoderar e
muitas vezes, se enegrecer".
Finalmente, de todas as
acepções compartilhadas neste
espaço que cabe a todas as raças, as
classes e os gêneros, importa também
afirmar o poder da materialidade de
um discurso que representa uma
história, uma vida, uma verdade, como
não dito.
slam
A trajetória, prática e
significados do slam, que temos
mostram
como
o movimento possui também uma
dimensão pedagógica. Isto,
basicamente
, porque a natureza do
slam promove a interpretação e
tra
nsmissão de saberes, realidades e
a criação de conhecimentos. Promove,
de igual modo, valores democráticos,
plurais e apela à integração e
igualdade em suas múltiplas
dimensões. Em estrito rigor, o
também um espaço para o ensino e
aprendizagem. Port
anto, tem uma
faceta educativa.
No que se refere aos sistemas
escolares, o slam vem ganhando
considerável
espaço
existem alguns projetos e planos de
aula disponíveis em acesso livre para
trabalhar o slam
nas escolas
Paulo tempo que foi criado o Slam
Interescolar, um
concurso
participar estudantes adolescentes,
cujas regras são praticamente
idênticas
às regras do slam dos
espaços públicos.
4
Exemplo de plano de aula completo no link:
https://www.institutoclaro.org.br/educacao/para
-ensinar/planos-de-
aula/plano
poesia-falada/
. Acesso em: 07 fev. 2022.
183
periodicos.uff.br/pragmatizes
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Artes e culturas nas cidades
")
dimensão pedagógica. Isto,
, porque a natureza do
slam promove a interpretação e
nsmissão de saberes, realidades e
a criação de conhecimentos. Promove,
de igual modo, valores democráticos,
plurais e apela à integração e
igualdade em suas múltiplas
dimensões. Em estrito rigor, o
slam é
também um espaço para o ensino e
anto, tem uma
No que se refere aos sistemas
escolares, o slam vem ganhando
espaço
. Por exemplo,
existem alguns projetos e planos de
aula disponíveis em acesso livre para
nas escolas
4
. Em São
Paulo há tempo que foi criado o Slam
concurso
onde podem
participar estudantes adolescentes,
cujas regras são praticamente
às regras do slam dos
Exemplo de plano de aula completo no link:
https://www.institutoclaro.org.br/educacao/para
aula/plano
-de-aula-slam-
. Acesso em: 07 fev. 2022.
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
Imagem 2:
Slam Interescolar SP 2018 EMEF
Henrique Pedado
Fonte: PROFS
5
Para mostrar o funcionamento
do slam
como prática pedagógica nos
Comum Curricular (2017)
6
5
Print de tela tomado de:
https://www.youtube.com/watch?v=nl7g0D285
e0. Acesso em: 07 fev. 2022.
6
Sabemos que a BCCN tem protagonizado
bastante polêmica, sobretudo pelo fato de
propor um sistema de ensino baseado em
competências a partir de conteúdo. N
entanto, o que aqui nos importa é que o BCCN
contempla a oralidade e produção de
conhecimento como um eixo relevante para a
educação histórica.
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
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2, n. 23, p.165-190, www.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
Slam Interescolar SP 2018 EMEF
Para mostrar o funcionamento
como prática pedagógica nos
sistemas escolares, serão retomadas
algumas considerações apresentadas
no documento norteador da Educação
Básica do Brasil, a Base Nacional
e a partir da
disciplina de História, justamente por
dialogar com a ideologia e a
discursividade, termos que embalam o
slam. Para a BNCC (2017), o
componente curricular de História
https://www.youtube.com/watch?v=nl7g0D285
Sabemos que a BCCN tem protagonizado
bastante polêmica, sobretudo pelo fato de
propor um sistema de ensino baseado em
competências a partir de conteúdo. N
o
entanto, o que aqui nos importa é que o BCCN
contempla a oralidade e produção de
conhecimento como um eixo relevante para a
abarca vários saberes:
Entre os saberes produzidos,
destaca-
se a capacidad
comunicação e diálogo,
instrumento necessário para o
respeito à pluralidade cultural,
social e política, bem como para
o enfrentamento de
circunstâncias marcadas pela
tensão e pelo conflito. A lógica da
palavra, da argumentação, é
aquela que permite a
enfrentar os problemas e propor
soluções com vistas à superação
das contradições políticas,
econômicas e sociais do mundo
em que vivemos. (BNCC, p. 400).
Portanto, essa capacidade de
comunicação, mencionada no
componente de História, se repete no
slam.
O respeito à pluralidade é um
excelente exemplo, porque só se
houver um primeiro elemento, o
respeito, é possível o
acontecimento. Portanto, enqua
o(a)
poetry slammer
poesia, uma posição é revelada a
outros sujeitos ouvintes, e se não
houver o respeito, a comunicação
torna-
se falha. Ademais, a
argumentação instalada no discurso
do slammer,
representada na poesia,
permite a expressão e a
representação de uma memória.
Sobre essa articulação
consagrada no slam
, entre discurso e
sujeito, Bakhtin afirma que os gêneros
184
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
abarca vários saberes:
Entre os saberes produzidos,
se a capacidad
e de
comunicação e diálogo,
instrumento necessário para o
respeito à pluralidade cultural,
social e política, bem como para
o enfrentamento de
circunstâncias marcadas pela
tensão e pelo conflito. A lógica da
palavra, da argumentação, é
aquela que permite a
o sujeito
enfrentar os problemas e propor
soluções com vistas à superação
das contradições políticas,
econômicas e sociais do mundo
em que vivemos. (BNCC, p. 400).
Portanto, essa capacidade de
comunicação, mencionada no
componente de História, se repete no
O respeito à pluralidade é um
excelente exemplo, porque se
houver um primeiro elemento, o
respeito, é possível o
slam como
acontecimento. Portanto, enqua
nto
poetry slammer
apresenta sua
poesia, uma posição é revelada a
outros sujeitos ouvintes, e se não
houver o respeito, a comunicação
se falha. Ademais, a
argumentação instalada no discurso
representada na poesia,
permite a expressão e a
representação de uma memória.
Sobre essa articulação
, entre discurso e
sujeito, Bakhtin afirma que os gêneros
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
discursivos “refletem de modo mais
imediato, preciso e flexível todas as
mudan
ças que transcorrem na vida
social. Os enunciados e seus tipos,
isto é, os gêneros discursivos, são
correias de transmissão entre a
história da sociedade e a história da
linguagem” (BAKHTIN, 2011, p. 264).
Na exposição feita em um
percebe-se essa cor
reia que liga uma
verdade a um povo, e isso acontece
no imediatismo e nas práticas
pedagógicas em que o conhecimento
exposto, por meio de um gênero,
torna-
se uma realidade a partir de uma
ação que se expande a uma
sociedade de alunos e alunas que
estão nos
interiores das salas de aula.
Cabe ainda considerar que
durante a apresentação do slam,
muitos gêneros discursivos são
articulados; a poesia, o monólogo, a
dramatização, a encenação, entre
outros. Uma versatilidade que se
expande em Bakhtin quando aponta
que:
A riqueza e a diversidade dos
gêneros do discurso são infinitas
porque são inesgotáveis as
possibilidades da multiforme
atividade humana e porque em
cada campo dessa atividade é
integral o repertório de gêneros
do discurso, que cresce e se
diferencia à med
ida que se
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
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2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
discursivos refletem de modo mais
imediato, preciso e flexível todas as
ças que transcorrem na vida
social. Os enunciados e seus tipos,
isto é, os gêneros discursivos, o
correias de transmissão entre a
história da sociedade e a história da
linguagem (BAKHTIN, 2011, p. 264).
Na exposição feita em um
slam,
reia que liga uma
verdade a um povo, e isso acontece
no imediatismo e nas práticas
pedagógicas em que o conhecimento
exposto, por meio de um gênero,
se uma realidade a partir de uma
ação que se expande a uma
sociedade de alunos e alunas que
interiores das salas de aula.
Cabe ainda considerar que
durante a apresentação do slam,
muitos gêneros discursivos são
articulados; a poesia, o monólogo, a
dramatização, a encenação, entre
outros. Uma versatilidade que se
expande em Bakhtin quando aponta
A riqueza e a diversidade dos
gêneros do discurso são infinitas
porque são inesgotáveis as
possibilidades da multiforme
atividade humana e porque em
cada campo dessa atividade é
integral o repertório de gêneros
do discurso, que cresce e se
ida que se
desenvolve e se complexifica um
determinado campo. (BAKHTIN,
2011, p. 262).
Tal pluralidade está no cenário
escolar em todos os componentes
curriculares. Isto, devido a que a
escola está repleta de gêneros
discursivos que deveriam ter a mesma
intenção do slam: liberdade da
expressão para fomentar a capacidade
de criação de sentidos. Se a escola
não promove o espírito criativo, e só
se baseia na repetição, que tipo de
escola é? Sobre isto, Viana assevera
que:
Sob esse aspecto, quando
propomos
que o aluno possa
manifestar-
se, escrevendo sobre
temas que o emocionem ou que
o sensibilizem, expondo sua
visão de mundo aos colegas, por
meio do slam, estamos, na
verdade, o reconhecendo como
um sujeito de linguagem, dotado
de ideologia, que precisa e
me
rece ser (re)conhecida pela
escola (VIANA, 2018, p. 51).
A possibilidade de levar à um
conjunto de estudantes a expressar
garante reflexão, apontamentos,
fundamentação, responsabilidade pelo
que está sendo pronunciado.
Paralelamente, se trabalha questão
léxica, vocabular da oralidade, a
organização do discurs
185
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
desenvolve e se complexifica um
determinado campo. (BAKHTIN,
Tal pluralidade está no cenário
escolar em todos os componentes
curriculares. Isto, devido a que a
escola está repleta de gêneros
discursivos que deveriam ter a mesma
intenção do slam: liberdade da
expressão para fomentar a capacidade
de criação de sentidos. Se a escola
não promove o espírito criativo, e
se baseia na repetição, que tipo de
escola é? Sobre isto, Viana assevera
Sob esse aspecto, quando
que o aluno possa
se, escrevendo sobre
temas que o emocionem ou que
o sensibilizem, expondo sua
visão de mundo aos colegas, por
meio do slam, estamos, na
verdade, o reconhecendo como
um sujeito de linguagem, dotado
de ideologia, que precisa e
rece ser (re)conhecida pela
escola (VIANA, 2018, p. 51).
A possibilidade de levar à um
conjunto de estudantes a expressar
-se
garante reflexão, apontamentos,
fundamentação, responsabilidade pelo
que está sendo pronunciado.
Paralelamente, se trabalha questão
léxica, vocabular da oralidade, a
organização do discurs
o, bem como a
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
História e Sociologia.
Outro detalhe importante é que
no momento da e
xposição, o/a
conceitos pré-
estabelecidos (FREI
instigá-
lo, ela provoca esse movimento
sendo dialogado.
Veja por essas acepções, o
que o
enriquece ainda mais. Sobre
isto, Viana aponta que:
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
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2, n. 23, p.165-190, www.
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
sua autenticidade. Ou seja, o slam
pode ser abordado nas escolas de
forma interdisciplinar, por exemplo,
estabelecendo o diálogo entre as
disciplinas de Língua Portuguesa,
Outro detalhe importante é que
xposição, o/a
estudante tem a possibilidade de falar
do lugar em que está inscrito,
conforme sua formação histórica,
valorativa e discursiva e se cria um
espaço onde é possível aprender da
palavra enunciada e não apenas de
estabelecidos (FREI
RE,
1987). Mas que isso também o leve a
se desinstalar, pois a reflexão tende a
lo, ela provoca esse movimento
interno, uma maturidade que se
compila diante de um tema que está
Veja por essas acepções, o
quanto a oportunidade oral
do discurso
permite ao indivíduo construir suas
histórias acerca do mundo e no mundo
em que está inserido, por meio de
diferentes linguagens e narrações
(BNCC, 2017). O/a poeta, em sua
performance, é uma riqueza de
expressão, com um fato específico,
enriquece ainda mais. Sobre
O poeta o escreve para
alguém, mas por alguém e revela
um grupo que lhe é próprio em
sua voz. Nesse contexto, o estilo
do poeta é fruto de sua fala
interior, que, por sua vez, é fruto
de sua vida social inteira.
Quando o poeta fala, ele não fala
sozinho
, mas carrega a voz de
seu grupo social. O mesmo se dá
com o ouvinte, que participa
ativamente dos enunciados
(VIANA, 2018, p. 22).
Portanto, quando os e as
estudantes escrevem, de certa forma,
endereçam seu texto a alguém. No
slam, a poesia apresentada
direcionada a um blico, que talvez
vivenciou, ou vivencia, a mesma
tônica. O sujeito ouvinte, em
determinado momento, passa a fazer
parte do texto pronunciado, pois nele
se identifica e se representado no
que está sendo proclamado. No slam,
mesmo pe
nsando que talvez o poeta
não tenha a pretensão de direcionar
seu texto a alguém, para Tezza o que
importa:
É o fato de que enquanto na
prosa existe uma pluralidade de
vozes, que podem ser expressas
sob a “encarnação de
personagens, revelando pontos
de vi
sta, maneiras de viver e
outros elementos que sejam
distintos do próprio prosador, de
maneira que a própria voz do
autor não seja interpelada por
essas outras vozes, na poesia o
poeta pode ter compromisso
186
periodicos.uff.br/pragmatizes
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Artes e culturas nas cidades
")
O poeta não escreve para
alguém, mas por alguém e revela
um grupo que lhe é próprio em
sua voz. Nesse contexto, o estilo
do poeta é fruto de sua fala
interior, que, por sua vez, é fruto
de sua vida social inteira.
Quando o poeta fala, ele não fala
, mas carrega a voz de
seu grupo social. O mesmo se
com o ouvinte, que participa
ativamente dos enunciados
(VIANA, 2018, p. 22).
Portanto, quando os e as
estudantes escrevem, de certa forma,
endereçam seu texto a alguém. No
slam, a poesia apresentada
é
direcionada a um público, que talvez
vivenciou, ou vivencia, a mesma
tônica. O sujeito ouvinte, em
determinado momento, passa a fazer
parte do texto pronunciado, pois nele
se identifica e se vê representado no
que está sendo proclamado. No slam,
nsando que talvez o poeta
não tenha a pretensão de direcionar
seu texto a alguém, para Tezza o que
É o fato de que enquanto na
prosa existe uma pluralidade de
vozes, que podem ser expressas
sob a encarnação” de
personagens, revelando pontos
sta, maneiras de viver e
outros elementos que sejam
distintos do próprio prosador, de
maneira que a própria voz do
autor não seja interpelada por
essas outras vozes, na poesia o
poeta pode ter compromisso
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
apenas com sua própria voz,
pois ainda que tente ex
ponto de vista de outro, é por
sua voz que o faz (TEZZA, 2014,
apud
VIANA, 2018, p. 42).
Trata-
se de uma sintonia que se
estende nas articulações poéticas pela
facilidade do diálogo interior do autor
com o seu exterior (enquanto que na
prosa o diálogo acontece pelas
margens das hipóteses). É um
momento que, embora aconteça de
forma natural nos
mais variados
espaços, traz algo de extraordinário
para a linguagem e a sociedade,
justamente porque “todo fenômeno
que funciona como signo ideológico
tem uma encarnação material, seja
como som, como massa física, como
cor, como movimento do corpo ou
como
outra coisa qualquer (VIANA,
2018, p. 31). Esse signo linguístico,
quando materializado é interpelado
pelo sujeito ouvinte que muitas vezes
se reconhece como parte do discurso.
Esse turbilhão de manifestação da
linguagem representado pelo slam faz
parte
do meio escolar a todo momento,
pois falar de escola é trazer os signos,
a ideias e os sentidos à tona, além da
gama de gêneros e compreensões que
dissipam neste universo.
Outra vertente representada no
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
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(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
apenas com sua própria voz,
pois ainda que tente ex
pressar o
ponto de vista de outro, é por
sua voz que o faz (TEZZA, 2014,
VIANA, 2018, p. 42).
se de uma sintonia que se
estende nas articulações poéticas pela
facilidade do diálogo interior do autor
com o seu exterior (enquanto que na
prosa o diálogo acontece pelas
margens das hipóteses). É um
momento que, embora aconteça de
mais variados
espaços, traz algo de extraordinário
para a linguagem e a sociedade,
justamente porque todo fenômeno
que funciona como signo ideológico
tem uma encarnação material, seja
como som, como massa física, como
cor, como movimento do corpo ou
outra coisa qualquer” (VIANA,
2018, p. 31). Esse signo linguístico,
quando materializado é interpelado
pelo sujeito ouvinte que muitas vezes
se reconhece como parte do discurso.
Esse turbilhão de manifestação da
linguagem representado pelo slam faz
do meio escolar a todo momento,
pois falar de escola é trazer os signos,
a ideias e os sentidos à tona, além da
gama de gêneros e compreensões que
Outra vertente representada no
slam
que se traduz no espaço escolar
é a ludicidade
, um jogo intencional
para aproximar, aliviar a tensão,
permitir a exploração, possibilitar a
escuta e a produção. De acordo com
Viana (2018, p. 39):
É por meio do discurso lúdico,
pautado na arte, como no caso
do poetry slam, que podemos
romper com este d
autoritário, quando
reconhecemos que o ambiente
escolar precisa ser, por sua
essência, promulgador dos vários
discursos que o permeiam, por
meio das relações dialógicas
estabelecidas entre os sujeitos
integrantes do processo de
ensino-
aprendizagem.
escola para ouvir o que os jovens
têm a dizer, atribuindo sentido
aos seus discursos, deixamos o
autoritarismo para dar lugar ao
dialogismo, aos discursos
polissêmicos.
É fato que o
slam
algo inovador, isto é, algo que vem
trazer para o espaço escolar o
dinamismo, o rompimento com o
engessado, colocar aos estudantes
em uma posição ativa, como
pertencentes a um grupo dono do seu
espaço. Poderia se dizer, então, que o
slam é u
ma estratégia metodológica,
mas ao mesmo tempo, um recurso
que sustenta uma sequência didática
desde a produção da escrita,
passando pela arte, interpretação, a
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periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
que se traduz no espaço escolar
, um jogo intencional
para aproximar, aliviar a tensão,
permitir a exploração, possibilitar a
escuta e a produção. De acordo com
É por meio do discurso lúdico,
pautado na arte, como no caso
do poetry slam, que podemos
romper com este d
iscurso
autoritário, quando
reconhecemos que o ambiente
escolar precisa ser, por sua
essência, promulgador dos vários
discursos que o permeiam, por
meio das relações dialógicas
estabelecidas entre os sujeitos
integrantes do processo de
aprendizagem.
Quando a
escola para ouvir o que os jovens
têm a dizer, atribuindo sentido
aos seus discursos, deixamos o
autoritarismo para dar lugar ao
dialogismo, aos discursos
slam
direciona para
algo inovador, isto é, algo que vem
trazer para o espaço escolar o
dinamismo, o rompimento com o
engessado, colocar aos estudantes
em uma posição ativa, como
pertencentes a um grupo dono do seu
espaço. Poderia se dizer, então, que o
ma estratégia metodológica,
mas ao mesmo tempo, um recurso
que sustenta uma sequência didática
desde a produção da escrita,
passando pela arte, interpretação, a
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
ocupação do espaço ambiental. O
slam tem algo que estimula o
pensamento nesse processo de
apren
dizagem, como “os processos de
identificação, comparação,
contextualização, interpretação e
análise de um objeto” (BNCC, 2017, p.
400).
Em conclusão, percebe
slam
tem uma faceta pedagógica de
valor incalculável: suas características
são aplicávei
s para trabalhar os
conteúdos curriculares de várias
disciplinas, para além de valores e
sentidos que os alunos e alunas
precisam adquirir como cidadãos
deste século XXI.
Considerações finais
Ao pensar no contexto histórico,
dos sentidos que atravessam as
representações nos espaços
públicos, o slam
revelou
fonte de empoderamento, de um
lugar de inscrição de um povo que
luta, que procura seu espaço e
história. O slam
abre a possibilidade
para que corpos e vozes enunciem as
suas realidades, sobretudo
está sendo silenciado nos discursos
jornalísticos e hegemônicos.
Nesse cenário, homens e
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
ocupação do espaço ambiental. O
slam tem algo que estimula o
pensamento nesse processo de
dizagem, como os processos de
identificação, comparação,
contextualização, interpretação e
análise de um objeto (BNCC, 2017, p.
Em conclusão, percebe
-se que o
tem uma faceta pedagógica de
valor incalculável: suas características
s para trabalhar os
conteúdos curriculares de várias
disciplinas, para além de valores e
sentidos que os alunos e alunas
precisam adquirir como cidadãos
Ao pensar no contexto histórico,
dos sentidos que atravessam as
representações nos espaços
revelou
-se como
fonte de empoderamento, de um
lugar de inscrição de um povo que
luta, que procura seu espaço e
abre a possibilidade
para que corpos e vozes enunciem as
suas realidades, sobretudo
o que
está sendo silenciado nos discursos
jornalísticos e hegemônicos.
Nesse cenário, homens e
mulheres se pronunciam sem que
importe sua classe social, cultural,
raça, etnia ou gênero. De fato, como
foi mostrado no texto, muitas
mulheres, como Roberta Estrela
d’Alva e Luz Ribeiro, ascenderam na
sociedade ao trazer suas
contribuições a partir do
As performances deste
movimento social assumem o poder
da transformação ao promover a
crítica e a reflexão, pois esses
“espaços se constituem como de
produção cultural, de estabelecimento
de um tipo de poesia que carrega
referências históricas e perfo
críticas” (PEREIRA, 2019, p. 109).
Percebe-
se também que essa
competição engloba o letramento, a
aprendizagem ENTRE pessoas, pois
durante uma apresentação
acontecem muitas trocas e muitas
compreensões que são remetidas e
desenvolvidas por meio da o
da expressão corporal, da produção
da poesia e do tema em si.
Por outra parte, a Base Nacional
Comum Curricular, documento
norteador da Educação Básica do
Brasil, ainda que polêmico por estar
baseado em um sistema de
competências, dialoga com o
188
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Artes e culturas nas cidades
")
mulheres se pronunciam sem que
importe sua classe social, cultural,
raça, etnia ou gênero. De fato, como
foi mostrado no texto, muitas
mulheres, como Roberta Estrela
dAlva e Luz Ribeiro, ascenderam na
sociedade ao trazer suas
contribuições a partir do
slam.
As performances deste
movimento social assumem o poder
da transformação ao promover a
crítica e a reflexão, pois esses
espaços se constituem como de
produção cultural, de estabelecimento
de um tipo de poesia que carrega
referências históricas e perfo
rmances
críticas (PEREIRA, 2019, p. 109).
se também que essa
competição engloba o letramento, a
aprendizagem ENTRE pessoas, pois
durante uma apresentação
acontecem muitas trocas e muitas
compreensões que são remetidas e
desenvolvidas por meio da o
ralidade,
da expressão corporal, da produção
da poesia e do tema em si.
Por outra parte, a Base Nacional
Comum Curricular, documento
norteador da Educação sica do
Brasil, ainda que polêmico por estar
baseado em um sistema de
competências, dialoga com o
slam ao
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
conhecimento e conscientização.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2022.
remeter a discursividade em seus
conteúdos curriculares, além de
pautar em suas orientações a
capacidade de comunicação e
diálogo que leva à pluralidade
cultural, social e política (BNCC,
2017, p. 400). Estas orientações
geram o espaço para que
valorize como uma importante prática
discursiva na sala de aula. Em outras
palavras, o slam
aparece como um
espaço de acontecimentos, de cultura
e de produção de conhecimento ao
trazer as habilidades e competências
que promovem o desenvolvimento
human
o, enquanto formação
histórica, ideológica e de discurso.
Nesse prisma, o
slam
pode levar aos e as estudantes a
expressar-
se e garantir a reflexão,
apontamentos, fundamentação,
responsabilidade pelo que está sendo
pronunciado. Paralelamente, se
desenvolve a questão vocabular, a
oralidade, a organização do discurso,
bem como su
a autenticidade. É por
estas razões que o
slam
forte dimensão pedagógica,
considerando toda a sua
aplicabilidade de conteúdos, valores e
sentidos que os alunos e alunas
precisam adquirir ao longo de sua
CRISTI, Miguel Ahumada; LOPES, Aislene da Silva. O
Slam: linguagem,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
2, n. 23, p.165-190, www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Artes e culturas nas cidades
remeter a discursividade em seus
conteúdos curriculares, além de
pautar em suas orientações a
capacidade de comunicação e
diálogo que leva à pluralidade
cultural, social e política (BNCC,
2017, p. 400). Estas orientações
geram o espaço para que
slam se
valorize como uma importante prática
discursiva na sala de aula. Em outras
aparece como um
espaço de acontecimentos, de cultura
e de produção de conhecimento ao
trazer as habilidades e competências
que promovem o desenvolvimento
o, enquanto formação
histórica, ideológica e de discurso.
slam
também
pode levar aos e as estudantes a
se e garantir a reflexão,
apontamentos, fundamentação,
responsabilidade pelo que está sendo
pronunciado. Paralelamente, se
desenvolve a questão vocabular, a
oralidade, a organização do discurso,
a autenticidade. É por
slam
tem uma
forte dimensão pedagógica,
considerando toda a sua
aplicabilidade de conteúdos, valores e
sentidos que os alunos e alunas
precisam adquirir ao longo de sua
vida escolar, preparando
vida na so
ciedade, isto é, para o
exercício de uma cidadania pluralista,
mais justa e responsável.
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periodicos.uff.br/pragmatizes
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