SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
Gestão em patrimônio cultural: a experiência da Casa Candeeiro do Oeste
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v13i25.
Resumo:
Neste texto procuramos contribuir para a ampliação da compreensão sobre gestão do
patrimônio cultural. As discussões aqui apresentadas derivam de pesquisas e estudos sobre o
patrimônio cultural e suas implicações sociais na atualidade. Abordaremos
exploratória alguns elementos da gestão cultural, evidenciados por pesquisadores brasileiros, que
envolvem a relação entre a gestão cultural, o território e sua população. Dada a complexidade do
tema e suas múltiplas possibilidades, p
apurado sobre a experiência do ponto de cultura Casa Candeeiro do Oeste, localizada no munipio
de Sítio do Mato, no estado da Bahia.
Palavras-chave:
gestão patrimonial; gestão cultural; patrimônio c
Gestión en el patrimonio cultural: la experiencia de Casa Candeeiro do Oeste
Resumen:
En este texto buscamos contribuir a la ampliación de la comprensión sobre la gestión del
patrimonio cultural. Las discusiones presentadas aquí se derivan de investigaciones y estudios sobre
el patrimonio cultural y sus implicaciones sociales en la actuali
y exploratoria algunos elementos de la gestión cultural, evidenciados por investigadores brasileños,
que implican la relación entre la gestión cultural, el territorio y su población. Dada la complejidad del
tema y sus
múltiples posibilidades, comenzamos con un estudio de caso, profundizando en la
experiencia del punto de cultura Casa Candeeiro do Oeste, ubicado en el municipio de Sítio do Mato,
en el estado de Bahía.
1
José Roberto Severino. Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Professor
do PPG em Cultura e Sociedade da UFBA, Brasil.
https://orcid.org/0000-0001-
9023
2 Nara Pessoa
. Doutoranda em Cultura e Sociedade pela UFBA. Professora do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), Brasil. E
pessoa.nc@gmail.com -
https://orcid.org/0000
3
Joelma Stella. Mestranda em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA),
Brasil. E-mail:
jcsmstella@gmail.com
Recebido em 31/07/2022,
aceito para publicação em
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
Gestão em patrimônio cultural: a experiência da Casa Candeeiro do Oeste
José Roberto Severino
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v13i25.
55472
Neste texto procuramos contribuir para a ampliação da compreensão sobre gestão do
patrimônio cultural. As discussões aqui apresentadas derivam de pesquisas e estudos sobre o
patrimônio cultural e suas implicações sociais na atualidade. Abordaremos
de forma descritiva e
exploratória alguns elementos da gestão cultural, evidenciados por pesquisadores brasileiros, que
envolvem a relação entre a gestão cultural, o território e sua população. Dada a complexidade do
tema e suas múltiplas possibilidades, p
artiremos de um estudo de caso, lançando um olhar mais
apurado sobre a experiência do ponto de cultura Casa Candeeiro do Oeste, localizada no munipio
de Sítio do Mato, no estado da Bahia.
gestão patrimonial; gestão cultural; patrimônio c
ultural; memória; Casa Candeeiro.
Gestión en el patrimonio cultural: la experiencia de Casa Candeeiro do Oeste
En este texto buscamos contribuir a la ampliación de la comprensión sobre la gestión del
patrimonio cultural. Las discusiones presentadas aquí se derivan de investigaciones y estudios sobre
el patrimonio cultural y sus implicaciones sociales en la actuali
dad. Abordaremos de forma descriptiva
y exploratoria algunos elementos de la gestión cultural, evidenciados por investigadores brasileños,
que implican la relación entre la gestión cultural, el territorio y su población. Dada la complejidad del
múltiples posibilidades, comenzamos con un estudio de caso, profundizando en la
experiencia del punto de cultura Casa Candeeiro do Oeste, ubicado en el municipio de Sítio do Mato,
José Roberto Severino. Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Professor
do PPG em Cultura e Sociedade da UFBA, Brasil.
E-mail:
beto.severino452@gmail.com
9023
-0560
. Doutoranda em Cultura e Sociedade pela UFBA. Professora do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), Brasil. E
-mail:
https://orcid.org/0000
-0003-3125-716X
Joelma Stella. Mestranda em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA),
jcsmstella@gmail.com
- https://orcid.org/0000-0001-5066-5121
aceito para publicação em
27/06/20
23 e disponibilizado online em
01/09/2023.
80
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Gestão em patrimônio cultural: a experiência da Casa Candeeiro do Oeste
José Roberto Severino
1
Nara Pessoa2
Joelma Stella3
Neste texto procuramos contribuir para a ampliação da compreensão sobre gestão do
patrimônio cultural. As discuses aqui apresentadas derivam de pesquisas e estudos sobre o
de forma descritiva e
exploratória alguns elementos da gestão cultural, evidenciados por pesquisadores brasileiros, que
envolvem a relação entre a gestão cultural, o território e sua população. Dada a complexidade do
artiremos de um estudo de caso, lançando um olhar mais
apurado sobre a experiência do ponto de cultura Casa Candeeiro do Oeste, localizada no município
ultural; memória; Casa Candeeiro.
Gestión en el patrimonio cultural: la experiencia de Casa Candeeiro do Oeste
En este texto buscamos contribuir a la ampliación de la comprensión sobre la gestión del
patrimonio cultural. Las discusiones presentadas aquí se derivan de investigaciones y estudios sobre
dad. Abordaremos de forma descriptiva
y exploratoria algunos elementos de la gestión cultural, evidenciados por investigadores brasileños,
que implican la relación entre la gestión cultural, el territorio y su población. Dada la complejidad del
múltiples posibilidades, comenzamos con un estudio de caso, profundizando en la
experiencia del punto de cultura Casa Candeeiro do Oeste, ubicado en el municipio de Sítio do Mato,
José Roberto Severino. Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Professor
beto.severino452@gmail.com
-
. Doutoranda em Cultura e Sociedade pela UFBA. Professora do Instituto Federal de
Joelma Stella. Mestranda em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA),
23 e disponibilizado online em
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
Palabras clave:
gestión del patrimonio; gestión cult
Candeeiro.
Management in cultural heritage: the experience of Casa Candeeiro do Oeste
Abstract:
In this text we seek to contribute to the expansion of understanding about cultural heritage
management. The discussions presented here derive from research and studies on cultural heritage
and its social implications today. We will expose some cultural m
and exploratory way, evidenced by Brazilian researchers, which involve the relationship between
cultural management, the territory and its population. Given the complexity of the theme and its
multiple possibilities, we
will start with a case study, taking a closer look at the experience of the Casa
Candeeiro do Oeste culture point, located in Sítio do Mato County, in the Bahia state.
Keywords:
Heritage management; cultural management; cultural heritage; memory; Casa Ca
Gestão em patrimônio cultural: a experiência da Casa Candeeiro do Oeste
Introdução
Neste texto procuramos
contribuir para a ampliação da
compreensão sobre gestão do
patrimônio cultural.
As discussões aqui
apresentadas derivam de pesquisas e
estudos sobre o patrimônio cultural e
suas implicações sociais na
atualidade, a exemplo das pesquisas
sobre o protagonismo no patrimônio na
América Latina e Caribe (SAN
MARTIN, 2022). Abordaremos algu
elementos da gestão cultural,
evidenciados por pesquisadores
brasileiros, que envolvem a relação
entre a gestão cultural, o território e
sua população. Dada a complexidade
do tema e suas múltiplas
possibilidades, partiremos de um
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
gestión del patrimonio; gestión cult
ural; patrimonio cultural; memoria; Casa
Management in cultural heritage: the experience of Casa Candeeiro do Oeste
In this text we seek to contribute to the expansion of understanding about cultural heritage
management. The discussions presented here derive from research and studies on cultural heritage
and its social implications today. We will expose some cultural m
anagement elements, in a descriptive
and exploratory way, evidenced by Brazilian researchers, which involve the relationship between
cultural management, the territory and its population. Given the complexity of the theme and its
will start with a case study, taking a closer look at the experience of the Casa
Candeeiro do Oeste culture point, located in Sítio do Mato County, in the Bahia state.
Heritage management; cultural management; cultural heritage; memory; Casa Ca
Gestão em patrimônio cultural: a experiência da Casa Candeeiro do Oeste
Neste texto procuramos
contribuir para a ampliação da
compreensão sobre gestão do
As discussões aqui
apresentadas derivam de pesquisas e
estudos sobre o patrimônio cultural e
suas implicações sociais na
atualidade, a exemplo das pesquisas
sobre o protagonismo no patrimônio na
América Latina e Caribe (SAN
MARTIN, 2022). Abordaremos algu
ns
elementos da gestão cultural,
evidenciados por pesquisadores
brasileiros, que envolvem a relação
entre a gestão cultural, o território e
sua população. Dada a complexidade
do tema e suas múltiplas
possibilidades, partiremos de um
estudo de caso, lançand
mais apurado sobre a experiência do
ponto de cultura Casa Candeeiro do
Oeste, localizada na cidade de Sítio do
Mato, no estado da Bahia.
O termo gestão cultural começa a
ser empregado, no Brasil, na década
de 1980. Na década seguinte, há um
dese
nvolvimento mais potente
enquanto campo de formação
profissional e acadêmica, com alguns
cursos sendo oferecidos no Brasil. Na
primeira década dos anos 2000, a
gestão cultural é compreendida de
maneira ampliada, por agentes e
profissionais do campo cult
acompanhando principalmente o
entendimento alargado do conceito de
cultura. Na segunda década do culo
81
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
ural; patrimonio cultural; memoria; Casa
Management in cultural heritage: the experience of Casa Candeeiro do Oeste
In this text we seek to contribute to the expansion of understanding about cultural heritage
management. The discussions presented here derive from research and studies on cultural heritage
anagement elements, in a descriptive
and exploratory way, evidenced by Brazilian researchers, which involve the relationship between
cultural management, the territory and its population. Given the complexity of the theme and its
will start with a case study, taking a closer look at the experience of the Casa
Candeeiro do Oeste culture point, located in Sítio do Mato County, in the Bahia state.
Heritage management; cultural management; cultural heritage; memory; Casa Ca
deeiro.
Gestão em patrimônio cultural: a experiência da Casa Candeeiro do Oeste
estudo de caso, lançand
o um olhar
mais apurado sobre a experiência do
ponto de cultura Casa Candeeiro do
Oeste, localizada na cidade de Sítio do
Mato, no estado da Bahia.
O termo gestão cultural começa a
ser empregado, no Brasil, na década
de 1980. Na década seguinte, um
nvolvimento mais potente
enquanto campo de formação
profissional e acadêmica, com alguns
cursos sendo oferecidos no Brasil. Na
primeira década dos anos 2000, a
gestão cultural já é compreendida de
maneira ampliada, por agentes e
profissionais do campo cult
ural,
acompanhando principalmente o
entendimento alargado do conceito de
cultura. Na segunda década do século
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
vinte e um, uma expansão da
compreensão de gestão cultural nos
campos de debate, reflexão e
produção de conhecimento no país.
Assim, nos último
s anos, a gestão
cultural é apresentada e analisada nas
publicações acadêmicas, também a
partir de estudos que abarcam práticas
emergentes do campo da cultura.
Na literatura específica, a gestão
cultural pode ser tratada sob vários
enfoques: relacionada diretamente às
políticas culturais e à gestão pública
da cultura (BARBALHO, 2016),
(BARBALHO; BARROS; CALABRE,
2013),
(RUBIM, 2010),
BARBALHO, 2007) e (RU
BARBALHO; CALABRE, 2015)
prática institucionalizada de
organizações (AVELAR, 2013); sob a
perspectiva dos públicos (
RATTES; LEAL, 2019) e (
NUSSBAUMER, 2019); associada às
questões da formação profissional do
gestor cultural (COS
TA; MELLO,
2016), (CUNHA, 2007) e (RUBIM,
2005); voltada às questões territoriais
e identitárias de uma população
(RODRIGUES, 2021), (BARROS;
OLIVEIRA, 2011) e (BARROS;
BEZERRA, 2018) analisada sob a
perspectiva da estrutura de
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
vinte e um, há uma expansão da
compreensão de gestão cultural nos
campos de debate, reflexão e
produção de conhecimento no país.
s anos, a gestão
cultural é apresentada e analisada nas
publicações acadêmicas, também a
partir de estudos que abarcam práticas
emergentes do campo da cultura.
Na literatura espefica, a gestão
cultural pode ser tratada sob vários
enfoques: relacionada diretamente às
políticas culturais e à gestão pública
da cultura (BARBALHO, 2016),
(BARBALHO; BARROS; CALABRE,
(RUBIM, 2010),
(RUBIM;
BARBALHO, 2007) e (RU
BIM;
BARBALHO; CALABRE, 2015)
; como
prática institucionalizada de
organizações (AVELAR, 2013); sob a
perspectiva dos públicos (
KAUARK;
RATTES; LEAL, 2019) e (
SANTANA;
NUSSBAUMER, 2019); associada às
questões da formação profissional do
TA; MELLO,
2016), (CUNHA, 2007) e (RUBIM,
2005); voltada às questões territoriais
e identitárias de uma população
(RODRIGUES, 2021), (BARROS;
OLIVEIRA, 2011) e (BARROS;
BEZERRA, 2018) analisada sob a
perspectiva da estrutura de
funcionamento de equipamento
espaços culturais (
KAUARK; RATTES;
LEAL, 2019) e (KAUARK; LEAL,
2019)
; entre muitos outros ângulos
possíveis.
Ao caminharmos pela literatura
brasileira mais recente que aborda a
gestão cultural, trazemos elementos
identificados nesse recorte.
Inicialme
nte apresentamos a gestão
cultural sob quatro focos: políticas
públicas; formação; públicos; e
espaços culturais. Em seguida
abordamos elementos presentes nos
debates atuais sobre gestão cultural,
que estão em consonância com a ideia
de gestão do patrimôni
eles:
transversalidade da cultura;
coletividade, horizontalidade e
autonomia; territorialidade;
engajamento político ligado à
consciência da cultura como direito
social; diversidade cultural; e
sustentabilidade para além da
perspectiva capi
talista.
A emergência das
preocupações com a gestão e a
salvaguarda do patrimônio cultural
remontam ao romantismo e ao estado
nacional (CHOAY, 2001), mas estão
presentes em formas mais ou menos
democráticas ao longo do culo XX
82
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
funcionamento de equipamento
s e
KAUARK; RATTES;
LEAL, 2019) e (KAUARK; LEAL,
; entre muitos outros ângulos
Ao caminharmos pela literatura
brasileira mais recente que aborda a
gestão cultural, trazemos elementos
identificados nesse recorte.
nte apresentamos a gestão
cultural sob quatro focos: políticas
públicas; formação; públicos; e
espaços culturais. Em seguida
abordamos elementos presentes nos
debates atuais sobre gestão cultural,
que estão em consonância com a ideia
de gestão do patrimôni
o cultural. São
transversalidade da cultura;
coletividade, horizontalidade e
autonomia; territorialidade;
engajamento político ligado à
consciência da cultura como direito
social; diversidade cultural; e
sustentabilidade para além da
talista.
A emergência das
preocupações com a gestão e a
salvaguarda do patrimônio cultural
remontam ao romantismo e ao estado
nacional (CHOAY, 2001), mas estão
presentes em formas mais ou menos
democráticas ao longo do século XX
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
(CANDAU, 2021, CANCLINI, 20
No s segunda guerra ganham
escala internacional, com forte
protagonismo da UNESCO nas últimas
décadas (BORTOLOTTO, 2011). Na
chave aqui proposta, os debates sobre
a
gestão do patrimônio cultural
institucionalidade e as transformações
históricas
, foram realizados por
(2020), Fonseca (1997), Botelho
(2016), Abreu e Chagas (2003),
Calabre (2007, 2019), entre outros,
quando as preocupações com a
gestão cultural aparecem de forma
mais enfática, marcadamente na
década de 1980.
A noção de patrim
ônio cultural
como legado comum encontra abrigo
na concepção de memória e cultura
como direito, preconizada na
constituição de 1988 (CHAUÍ, 2006).
Segundo Martins (2006), o conceito de
patrimônio histórico e artístico,
utilizado desde o século XIX, foi
pau
latinamente sendo substituído pelo
conceito mais amplo de patrimônio
cultural, de acordo com as
atualizações dos estudos
antropológicos que deram abrangência
a este campo do saber e ainda
consoante com a concepção
antropológica de cultura (MARTINS,
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
(CANDAU, 2021, CANCLINI, 20
03).
No pós segunda guerra ganham
escala internacional, com forte
protagonismo da UNESCO nas últimas
décadas (BORTOLOTTO, 2011). Na
chave aqui proposta, os debates sobre
gestão do patrimônio cultural
, sua
institucionalidade e as transformações
, foram realizados por
Chuva
(2020), Fonseca (1997), Botelho
(2016), Abreu e Chagas (2003),
Calabre (2007, 2019), entre outros,
quando as preocupações com a
gestão cultural aparecem de forma
mais enfática, marcadamente na
ônio cultural
como legado comum encontra abrigo
na concepção de memória e cultura
como direito, preconizada na
constituição de 1988 (CHAUÍ, 2006).
Segundo Martins (2006), o conceito de
patrimônio histórico e artístico,
utilizado desde o século XIX, foi
latinamente sendo substituído pelo
conceito mais amplo de patrimônio
cultural, de acordo com as
atualizações dos estudos
antropológicos que deram abrangência
a este campo do saber e ainda
consoante com a concepção
antropológica de cultura (MARTINS,
2015).
No Artigo 216, da Seção II
sobre cultura, da Constituição
Brasileira, o patrimônio cultural é
descrito como "os bens de natureza
material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade,
à ão, à memória dos dife
grupos formadores da sociedade
brasileira" (BRASIL, 1988).
Essa concepção de patrimônio,
utilizada na constituição, que é
baseada em um viés antropológico de
cultura, supera os limites do conceito,
quando o termo mantinha uma forma
de atribuição de
valor a partir de um
lugar classista e determinista do que
deve ser enquadrado pela moldura
patrimonial. Dessa maneira, com base
em uma abordagem mais ampla e
flexível do termo, compreende
um espaço físico, uma expreso
cultural material ou imateri
caráter patrimonial quando um
determinado grupo ou sociedade lhes
atribui valor afetivo (MARTINS, 2015),
e essa relação afetiva desdobra
valor histórico e patrimonial. É por isso
que a gestão do patrimônio cultural
deve ser pensada e reali
diálogo com a sociedade que
reivindica esse patrimônio como seu.
83
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
No Artigo 216, da Seção II
sobre cultura, da Constituição
Brasileira, o patrimônio cultural é
descrito como "os bens de natureza
material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto,
portadores de referência à identidade,
à ação, à memória dos dife
rentes
grupos formadores da sociedade
brasileira" (BRASIL, 1988).
Essa concepção de patrimônio,
utilizada na constituição, que é
baseada em um viés antropológico de
cultura, supera os limites do conceito,
quando o termo mantinha uma forma
valor a partir de um
lugar classista e determinista do que
deve ser enquadrado pela moldura
patrimonial. Dessa maneira, com base
em uma abordagem mais ampla e
flexível do termo, compreende
-se que
um espaço físico, uma expressão
cultural material ou imateri
al, ganham
caráter patrimonial quando um
determinado grupo ou sociedade lhes
atribui valor afetivo (MARTINS, 2015),
e essa relação afetiva desdobra
-se em
valor histórico e patrimonial. É por isso
que a gestão do patrimônio cultural
deve ser pensada e reali
zada em
diálogo com a sociedade que
reivindica esse patrimônio como seu.
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
Porém, como observa Martins (2015),
esse diálogo não é consensual, não
por falta de interesse da população,
mas justamente por falta de condições
básicas que favoreçam esse interesse:
No
processo de preservação
do patrimônio humano, ou
cultural, em geral, observamos
uma ausência de participação
popular. Desse processo de
excluir a população do que é
seu, advém uma rie de
outros desconhecimentos. O
ideal seria a participação total
da
população local nas
decisões relativas à sua
própria cidade. Mas é possível
uma população com
problemas de primeira
necessidade, como
alimentação, trabalho,
segurança, econômicos, de
saúde e sem informações, se
interessar pelo destino de uma
igreja barroca
, de casas
coloniais, de uma floresta ou
de uma praça? (MARTINS,
2015, p. 54).
Procuramos contribuir para as
reflexões sobre as práticas de gestão
do patrimônio cultural
que podem ser
observadas em vários relatos sobre os
Pontos de Memória, modalidade de
Pontos de Cultura, fruto do programa
Cultura Viva do Ministério da Cultura
no Brasil (BARBOSA, 2011). Com esta
perspectiva é que apresentamos a
experiência
da Casa Candeeiro do
Oeste, buscando contextualizar
territorialmente o ponto de cultura e
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
Porém, como observa Martins (2015),
esse diálogo não é consensual, não
por falta de interesse da população,
mas justamente por falta de condições
básicas que favoreçam esse interesse:
processo de preservação
do patrimônio humano, ou
cultural, em geral, observamos
uma auncia de participação
popular. Desse processo de
excluir a população do que é
seu, advém uma série de
outros desconhecimentos. O
ideal seria a participação total
população local nas
decies relativas à sua
própria cidade. Mas é possível
uma população com
problemas de primeira
necessidade, como
alimentação, trabalho,
segurança, econômicos, de
saúde e sem informações, se
interessar pelo destino de uma
, de casas
coloniais, de uma floresta ou
de uma praça? (MARTINS,
Procuramos contribuir para as
reflexões sobre as práticas de gestão
que podem ser
observadas em vários relatos sobre os
Pontos de Memória, modalidade de
Pontos de Cultura, fruto do programa
Cultura Viva do Ministério da Cultura
no Brasil (BARBOSA, 2011). Com esta
perspectiva é que apresentamos a
da Casa Candeeiro do
Oeste, buscando contextualizar
territorialmente o ponto de cultura e
em seguid
a apontar para os elementos
que se sobressaem no histórico e na
gestão da casa. Nossos objetivos o
reconhecer e evidenciar modos de
gestão do patrimônio cultural por meio
da experiência vivenciada nesse
âmbito. Por fim, faremos algumas
considerações que
refletem sobre a
gestão do patrimônio cultural.
Gestão cultural e políticas públicas
A gestão cultural vem sendo
analisada sob a ótica da gestão
pública da cultura por vários
pesquisadores e estudiosos
brasileiros, a exemplo de: Barbalho
(2016), Barbalho; Barros; Calabre
(2013),
Botelho (2016),
(2008),
Chauí (1982)
Rubim;
Barbalho (2007) e Rubim;
Barbalho; Calabre (2015)
Fernandes (2019), ao levantar um
Histórico da gestão cultural no Brasil
inicia o seu texto pontuando uma
característica irrefutável, ao nosso ver:
"A gestão cultural é uma atividade que
se def
ine a partir do conceito de
cultura acionado" (FERNANDES,
2019, p. 33). Assim também, Luiz
Augusto Rodrigues, em
território: aproximando saberes
defende que a noção de gestão
84
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
a apontar para os elementos
que se sobressaem no histórico e na
gestão da casa. Nossos objetivos são
reconhecer e evidenciar modos de
gestão do patrimônio cultural por meio
da experiência vivenciada nesse
âmbito. Por fim, faremos algumas
refletem sobre a
gestão do patrimônio cultural.
Gestão cultural e políticas públicas
A gestão cultural vem sendo
analisada sob a ótica da gestão
pública da cultura por vários
pesquisadores e estudiosos
brasileiros, a exemplo de: Barbalho
(2016), Barbalho; Barros; Calabre
Botelho (2016),
Calabre
Chauí (1982)
Rubim (2010),
Barbalho (2007) e Rubim;
Barbalho; Calabre (2015)
. Taiane
Fernandes (2019), ao levantar um
Histórico da gestão cultural no Brasil
,
inicia o seu texto pontuando uma
característica irrefutável, ao nosso ver:
"A gestão cultural é uma atividade que
ine a partir do conceito de
cultura acionado" (FERNANDES,
2019, p. 33). Assim também, Luiz
Augusto Rodrigues, em
Cultura e
território: aproximando saberes
,
defende que a noção de gestão
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
cultural se refere "ao entendimento de
que a gestão de políticas cultu
focaliza a palavra cultura, não gestão"
(RODRIGUES, 2021, p. 213). Nesse
sentido, é fundamental a compreensão
de que ao pensarmos a gestão cultural
associada às políticas culturais, muitas
concepções de gestão podem
aparecer. Por exemplo, no Brasil, n
governos autoritários do Estado Novo
e da Ditadura Militar, a gestão pública
da cultura permitiu a censura artística
e o desenvolvimento da ideia de uma
cultura nacional única. Portanto, a
concepção de cultura adotada por uma
gestão pode determinar o to
políticas públicas de cultura (LIMA;
ORTELLADO; SOUZA, 2013).
No debate sobre as políticas
públicas de cultura em um estado de
direito democrático, um elemento
primordial é o direito cultural. Embora
legitimado na Constituição Brasileira
de 1988, na prática,
o direito cultural
não é plenamente consolidado
observado por Fernandes
gestão cultural é a política cultural em
marcha, ou seja,
corresponde ao seu
processo de execução
" (FERNANDES,
2019, p. 34). Dessa forma, é
verdadeiro afir
mar que, durante o
governo de Jair Messias Bolsonaro
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
cultural se refere "ao entendimento de
que a gestão de políticas cultu
rais
focaliza a palavra cultura, não gestão"
(RODRIGUES, 2021, p. 213). Nesse
sentido, é fundamental a compreensão
de que ao pensarmos a gestão cultural
associada às políticas culturais, muitas
concepções de gestão podem
aparecer. Por exemplo, no Brasil, n
os
governos autoritários do Estado Novo
e da Ditadura Militar, a gestão pública
da cultura permitiu a censura artística
e o desenvolvimento da ideia de uma
cultura nacional única. Portanto, a
concepção de cultura adotada por uma
gestão pode determinar o to
m das
políticas públicas de cultura (LIMA;
ORTELLADO; SOUZA, 2013).
No debate sobre as políticas
públicas de cultura em um estado de
direito democrático, um elemento
primordial é o direito cultural. Embora
legitimado na Constituição Brasileira
o direito cultural
não é plenamente consolidado
. Como
observado por Fernandes
"(...) a
gestão cultural é a política cultural em
corresponde ao seu
" (FERNANDES,
2019, p. 34). Dessa forma, é
mar que, durante o
governo de Jair Messias Bolsonaro
(2019-
2022), a população ficou órfã de
qualquer direito cultural, quadro que
pode ser revertido na gestão do
governo de Luís Inácio Lula da Silva
(2023-
2026), a partir da retomada do
Ministério da Cultura.
Nas gestões anteriores (governos
Lula 2003-
2010 e Dilma 2011
construiu-
se um modelo de política
cultural no Brasil, a partir do Programa
Cultura Viva que garantiu, entre outras
coisas, o direito à cultura, participação,
fruição, criação, difusã
O Programa, internacionalmente
reconhecido, permitiu que as
diferentes culturas brasileiras fossem
legitimadas pelo Estado e, portanto,
cumpriu a garantia do direito cultural
para uma parcela significativa da
população.
Gestão cultural e f
ormação
Os estudos que abordam a
gestão cultural sob o prisma da
formação buscam, entre outras coisas,
compreender a área de atuação do
gestor cultural para esboçar o perfil
profissional que irá abarcar as funções
compreendidas como essenciais para
tal tra
balhador. As competências para
esse profissional não devem ser
demasiado determinadas e enrijecidas,
85
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
2022), a população ficou órfã de
qualquer direito cultural, quadro que
pode ser revertido na gestão do
governo de Luís Inácio Lula da Silva
2026), a partir da retomada do
Nas gestões anteriores (governos
2010 e Dilma 2011
-2016),
se um modelo de política
cultural no Brasil, a partir do Programa
Cultura Viva que garantiu, entre outras
coisas, o direito à cultura, participação,
fruição, criação, difu
o e identidade.
O Programa, internacionalmente
reconhecido, permitiu que as
diferentes culturas brasileiras fossem
legitimadas pelo Estado e, portanto,
cumpriu a garantia do direito cultural
para uma parcela significativa da
ormação
Os estudos que abordam a
gestão cultural sob o prisma da
formação buscam, entre outras coisas,
compreender a área de atuação do
gestor cultural para esboçar o perfil
profissional que irá abarcar as funções
compreendidas como essenciais para
balhador. As competências para
esse profissional não devem ser
demasiado determinadas e enrijecidas,
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
que o gestor cultural lida com
elementos que não são estanques,
pois se relacionam com questões mais
amplas, político-
sociais, ou mais
específicas, como
a mediação cultural.
No escopo das competências
necessárias para esse profissional,
estão definidas as capacidades
técnicas de planejamento, execução,
avaliação e análise de resultados. Sob
uma visão mais política, no sentido do
engajamento, estão as comp
de articulação social, de comunicação,
de conhecimento da realidade, de
reconhecimento e legitimação pela
comunidade na qual o profissional está
inserido.
Vale lembrar que, no Brasil, a
formação em produção/gestão cultural
e o próprio reconhecimen
to da atuação
desse trabalhador como atividade
profissional se revelou em paralelo ao
advento das leis de incentivo à cultura,
inicialmente federal e posteriormente
estaduais e municipais. O mecanismo
de financiamento à cultura via
programas de leis de inc
todos os seus editais, normas,
protocolos, formulários e modelos
padrão, exigiu um profissional
habilitado para lidar com tais
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
já que o gestor cultural lida com
elementos que não são estanques,
pois se relacionam com questões mais
sociais, ou mais
a mediação cultural.
No escopo das competências
necessárias para esse profissional,
estão definidas as capacidades
técnicas de planejamento, execução,
avaliação e análise de resultados. Sob
uma vio mais política, no sentido do
engajamento, estão as comp
etências
de articulação social, de comunicação,
de conhecimento da realidade, de
reconhecimento e legitimação pela
comunidade na qual o profissional está
Vale lembrar que, no Brasil, a
formação em produção/gestão cultural
to da atuação
desse trabalhador como atividade
profissional se revelou em paralelo ao
advento das leis de incentivo à cultura,
inicialmente federal e posteriormente
estaduais e municipais. O mecanismo
de financiamento à cultura via
programas de leis de inc
entivo, com
todos os seus editais, normas,
protocolos, formulários e modelos
padrão, exigiu um profissional
habilitado para lidar com tais
especificidades técnicas que até então
não eram exigidas no setor cultural.
É necessário salientar que a
despeito do
surgimento da formação
em produção/gestão cultural e o
amadurecimento do setor no Brasil
terem acontecido no contexto
histórico-
político em que se deu a
ascensão das leis de incentivo, essa
perspectiva não esgota o debate no
campo. Os principais cursos de
graduação em produção cultural
costumam levantar questões e apontar
críticas relacionadas ao financiamento
da cultura por empresas privadas, via
isenção fiscal.
Além disso, ao contribuírem para
a compreensão da formação em
produção/gestão cultural, muitos
pesquisadores trazem um perfil
multidisciplinar, evidenciando que o
profissional precisa adquirir
competências cnicas, mas também
desenvolver habilidades da ordem do
sensível (AVELAR, 2013; COSTA;
MELLO, 2016; CUNHA, 2007; RUBIM,
2005, VICH, 2017). Estu
recentes defendem uma
mais crítica e de uma atuação mais
engajada por parte dos gestores
culturais" (
NUSSBAUMER; KAUARK,
2021, p. 199). Esse profissional deve,
86
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
especificidades técnicas que até então
não eram exigidas no setor cultural.
É necessário salientar que a
surgimento da formação
em produção/gestão cultural e o
amadurecimento do setor no Brasil
terem acontecido no contexto
político em que se deu a
ascensão das leis de incentivo, essa
perspectiva não esgota o debate no
campo. Os principais cursos de
graduação em produção cultural
costumam levantar questões e apontar
críticas relacionadas ao financiamento
da cultura por empresas privadas, via
Além disso, ao contribuírem para
a compreensão da formação em
produção/gestão cultural, muitos
pesquisadores trazem um perfil
multidisciplinar, evidenciando que o
profissional precisa adquirir
competências técnicas, mas também
desenvolver habilidades da ordem do
sensível (AVELAR, 2013; COSTA;
MELLO, 2016; CUNHA, 2007; RUBIM,
2005, VICH, 2017). Estu
dos mais
recentes defendem uma
"formação
mais crítica e de uma atuação mais
engajada por parte dos gestores
NUSSBAUMER; KAUARK,
2021, p. 199). Esse profissional deve,
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
portanto, se posicionar criticamente,
estar atento e comprometido com as
questões da realidade brasileira.
Gestão cultural e públicos
Sabe-
se que no Brasil o
escassos os estudos e pesquisas
sobre os públicos da cultura com
capacidade para embasar modelos de
gestão cultural que deem conta dos
diferentes blicos e de
particularidades (SANTANA;
NUSSBAUMER, 2019). As
pesquisadoras Adriana Alves Santana
e Gisele Nussbaumer (2019) no artigo
Os públicos e a gestão da cultura
analisam quatro pesquisas nacionais
que se preocuparam em compreender
os públicos da cultura. E
pesquisas evidenciam resultados que
se assemelham aos do Departamento
de Estudos da Previsão e da
Estatística (DEPS) do Ministério da
Cultura e da Comunicação da França
sobre as práticas culturais dos
franceses. O estudo, desenvolvido
desde 1973, é a
principal referência
internacional em termos de pesquisa
sobre públicos.
Um ponto fundamental para a
compreensão da própria ideia de
público e dos modelos de gestão
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
portanto, se posicionar criticamente,
estar atento e comprometido com as
questões da realidade brasileira.
Gestão cultural e públicos
se que no Brasil são
escassos os estudos e pesquisas
sobre os públicos da cultura com
capacidade para embasar modelos de
gestão cultural que deem conta dos
diferentes públicos e de
suas
particularidades (SANTANA;
NUSSBAUMER, 2019). As
pesquisadoras Adriana Alves Santana
e Gisele Nussbaumer (2019) no artigo
Os públicos e a gestão da cultura
analisam quatro pesquisas nacionais
que se preocuparam em compreender
os públicos da cultura. E
ssas
pesquisas evidenciam resultados que
se assemelham aos do Departamento
de Estudos da Previsão e da
Estatística (DEPS) do Ministério da
Cultura e da Comunicação da França
sobre as práticas culturais dos
franceses. O estudo, desenvolvido
principal referência
internacional em termos de pesquisa
Um ponto fundamental para a
compreensão da própria ideia de
público e dos modelos de gestão
pública da cultura é a constatação de
que os valores de ingressos para
atividades culturais
primeiras barreiras para o acesso e a
fruição cultural. Essa verificação foi
necessária para a mudança de
paradigma nas políticas culturais,
passando da democratização cultural
para a democracia cultural. No
primeiro, a cultura é reconhecida no
singular e, consequentemente, o
público é tido como homogêneo. Já no
segundo paradigma, as culturas o
plurais e, portanto, os públicos
também, mostrando
heterogêneos.
Ao se identificar que a questão
financeira o é o principal empecilho
para
o hábito cultural, se reconhece
que não se pode falar em um público
homogêneo, na medida em que as
motivações para determinado
consumo cultural são diversas. Além
disso, é desenvolvida a compreensão
de que os públicos o o elementos
passivos em um circ
uito cultural. Pelo
contrário, eles podem alternar,
combinar e incorporar papéis e
funções diferentes, como as de
público, criador, produtor, etc. Nesse
sentido, a atividade executiva de
gestão cultural, além de estar imbuída
87
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
pública da cultura é a constatação de
que os valores de ingressos para
não são as
primeiras barreiras para o acesso e a
fruição cultural. Essa verificação foi
necessária para a mudança de
paradigma nas políticas culturais,
passando da democratização cultural
para a democracia cultural. No
primeiro, a cultura é reconhecida no
singular e, consequentemente, o
público é tido como homogêneo. no
segundo paradigma, as culturas são
plurais e, portanto, os públicos
também, mostrando
-se assim,
Ao se identificar que a questão
financeira não é o principal empecilho
o hábito cultural, se reconhece
que não se pode falar em um público
homogêneo, na medida em que as
motivações para determinado
consumo cultural o diversas. Além
disso, é desenvolvida a compreensão
de que os públicos não são elementos
uito cultural. Pelo
contrário, eles podem alternar,
combinar e incorporar papéis e
funções diferentes, como as de
público, criador, produtor, etc. Nesse
sentido, a atividade executiva de
gestão cultural, além de estar imbuída
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
do conceito de cultura que foi
acionado, espelhará também o
entendimento sobre os seus públicos.
Gestão cultural e espaços culturais
A gestão cultural, ao ser pensada
sob a ótica dos espaços culturais
(públicos, privados, fechados, abertos,
ao ar livre, entre outros) incorpora
todos
os debates anteriores. Os
espaços culturais requerem políticas
culturais que norteiem as suas
atividades. Assim, a gestão do espaço
cultural precisa ter uma compreensão
de cultura que guie as tomadas de
decisão. Os espaços culturais devem
envolver equipes
com competências e
habilidades para as funções
desenvolvidas, reforçando a dimeno
da formação. Os blicos que
participam, dialogam e são convidados
a estarem presentes nesses espaços
também são figuras fundamentais a
serem trabalhadas nessa dimensão.
De
ssa maneira, todos os elementos
levantados anteriormente se
encontram e se entrelaçam nos
espaços culturais. Como na própria
dinâmica da cultura, as questões se
atravessam.
Outro aspecto que tem sido
colocado nos debates acerca dos
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
do conceito de cultura que foi
acionado, espelhará também o
entendimento sobre os seus públicos.
Gestão cultural e espaços culturais
A gestão cultural, ao ser pensada
sob a ótica dos espaços culturais
(públicos, privados, fechados, abertos,
ao ar livre, entre outros) incorpora
os debates anteriores. Os
espaços culturais requerem políticas
culturais que norteiem as suas
atividades. Assim, a gestão do espaço
cultural precisa ter uma compreensão
de cultura que guie as tomadas de
decio. Os espaços culturais devem
com competências e
habilidades para as funções
desenvolvidas, reforçando a dimensão
da formação. Os públicos que
participam, dialogam e o convidados
a estarem presentes nesses espaços
também o figuras fundamentais a
serem trabalhadas nessa dimensão.
ssa maneira, todos os elementos
levantados anteriormente se
encontram e se entrelaçam nos
espaços culturais. Como na própria
dinâmica da cultura, as questões se
Outro aspecto que tem sido
colocado nos debates acerca dos
espaços culturais é a di
território. Nesta perspectiva, sinalizam
Giuliana Kauark e Nathalia Leal (2019)
que
O estabelecimento da noção
de pertencimento junto ao
território implica considerá
na sua dimeno simbólica
através da compreeno e
acepção das práticas cultu
estabelecidas na comunidade,
das demandas e anseios
locais, de modo a firmar uma
identificação efetiva entre o
território e o equipamento
cultural (KAUARK, LEAL,
2019, pp. 140
A gestão do espaço cultural
deve estar relacionada com as
questões
e as pessoas do território no
qual o espaço está inserido. Assim, o
seu fortalecimento acontece à medida
que as pessoas da comunidade estão
inseridas no seu funcionamento. As
autoras trazem como exemplo de
gestões culturais vinculadas às
questões do territ
ório as experiências
do Centro Cultural Alagados e do
Centro Cultural Plataforma.
(...) localizados em regiões
periféricas de Salvador, cujas
comunidades possuem um
histórico de lutas sociais e de
reivindicação em termos de
políticas públicas que as
inclue
m como atores principais
nos processos decirios.
Nesses equipamentos, o corpo
funcional, incluindo a gestão, é
formado majoritariamente por
88
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
espaços culturais é a di
mensão do
território. Nesta perspectiva, sinalizam
Giuliana Kauark e Nathalia Leal (2019)
O estabelecimento da noção
de pertencimento junto ao
território implica considerá
-lo
na sua dimensão simbólica
através da compreensão e
acepção das práticas cultu
rais
estabelecidas na comunidade,
das demandas e anseios
locais, de modo a firmar uma
identificação efetiva entre o
território e o equipamento
cultural (KAUARK, LEAL,
2019, pp. 140
-141).
A gestão do espaço cultural
deve estar relacionada com as
e as pessoas do território no
qual o espaço está inserido. Assim, o
seu fortalecimento acontece à medida
que as pessoas da comunidade estão
inseridas no seu funcionamento. As
autoras trazem como exemplo de
gestões culturais vinculadas às
ório as experiências
do Centro Cultural Alagados e do
Centro Cultural Plataforma.
(...) localizados em regiões
periféricas de Salvador, cujas
comunidades possuem um
histórico de lutas sociais e de
reivindicação em termos de
políticas públicas que as
m como atores principais
nos processos decisórios.
Nesses equipamentos, o corpo
funcional, incluindo a gestão, é
formado majoritariamente por
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
pessoas do território e a
programação e regras de
funcionamento são definidas
em alinhamento com a
comunidade e gr
locais (KAUARK; LEAL, 2019,
p. 141).
Gestão cultural: elementos para
reflexão
A gestão cultural, ao estar
envolvida com a condição de vida da
população e de seu território,
apresenta elementos relevantes para
uma prática mais engajada e crít
realidade. Em um exercio de
sistematização, apresentamos esses
elementos da seguinte forma:
transversalidade da cultura;
coletividade, horizontalidade e
autonomia; territorialidade;
engajamento político ligado à
consciência da cultura como direito
social; diversidade cultural; e
sustentabilidade para além da
perspectiva capitalista.
A necessidade de pensarmos a
cultura transversalmente é uma
premissa para a transformação da
realidade, que o campo da cultura
constantemente atravessa as outras
dimensões da vida cotidiana. No texto
Gestão cultural nos próximos dez
anos, Albino Rubim,
Luana Vilutis e
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
pessoas do território e a
programação e regras de
funcionamento são definidas
em alinhamento com a
comunidade e gr
upos sociais
locais (KAUARK; LEAL, 2019,
Gestão cultural: elementos para
A gestão cultural, ao estar
envolvida com a condição de vida da
população e de seu território,
apresenta elementos relevantes para
uma prática mais engajada e crít
ica da
realidade. Em um exercício de
sistematização, apresentamos esses
elementos da seguinte forma:
transversalidade da cultura;
coletividade, horizontalidade e
autonomia; territorialidade;
engajamento político ligado à
consciência da cultura como direito
social; diversidade cultural; e
sustentabilidade para além da
A necessidade de pensarmos a
cultura transversalmente é uma
premissa para a transformação da
realidade, já que o campo da cultura
constantemente atravessa as outras
dimensões da vida cotidiana. No texto
Gestão cultural nos próximos dez
Luana Vilutis e
Gleise de Oliveira relembram que "A
noção ampliada afirma que a cultura
enquanto dimensão simbólica
perpassa toda sociedade e, por
conseguinte, dialoga com os mais
diversos campos sociais" (RUBIM;
VILUTIS; OLIVEIRA, 2021, p. 22). Em
seguida
, os autores afirmam que
busca da transversalidade se impõe
como algo essencial para uma gestão
cultural qualificada que impacte
inclusive a potencialização dos
recursos para a cultura" (Idem).
Em
Formação e prática em
gestão cultural
: entre o
engajamento
, Gisele Nussbaumer e
Giuliana Kauark (2021), ao tratarem de
espaços culturais independentes,
coletivos e redes de artistas abordam
a transversalidade da cultura sob a
perspectiva do gestor cultural e
afirmam que, para esses profi
A transversalidade da cultura
não é mera retórica e a ideia
de competência está
associada à capacidade de
colaboração e
compartilhamento
propósitos
,
com a ideia de
desculturalização da cultura
na medida em que
atuação é capaz de produzir
respostas e desmontar
imaginários hegemônicos
difundindo,
de representações sociais
urgentes e necessárias numa
89
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Gleise de Oliveira relembram que "A
noção ampliada afirma que a cultura
enquanto dimensão simbólica
perpassa toda sociedade e, por
conseguinte, dialoga com os mais
diversos campos sociais" (RUBIM;
VILUTIS; OLIVEIRA, 2021, p. 22). Em
, os autores afirmam que
"a
busca da transversalidade se impõe
como algo essencial para uma gestão
cultural qualificada que impacte
inclusive a potencialização dos
recursos para a cultura" (Idem).
Formação e prática em
: entre o
tecnicismo e o
, Gisele Nussbaumer e
Giuliana Kauark (2021), ao tratarem de
espaços culturais independentes,
coletivos e redes de artistas abordam
a transversalidade da cultura sob a
perspectiva do gestor cultural e
afirmam que, para esses profi
ssionais,
A transversalidade da cultura
não é mera retórica e a ideia
de competência está
associada à capacidade de
colaboração e
compartilhamento
. Seus
,
portanto, dialogam
com a ideia de
desculturalização da cultura
,
na medida em que
sua
atuação é capaz de produzir
respostas e desmontar
imaginários hegemônicos
,
assim, outros tipos
de representações sociais
,
urgentes e necessárias numa
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
proposição mais crítica
engajada e contemporânea da
formação de pessoal no
campo da gestão cultural
(NUSSBAUMER; KAUARK,
2021, p. 207).
Na mesma direção, Rodrigues
interpreta a noção de
desculturalização da cultura, de Victor
Vich (2014), para afirmar que nela está
implicada a necessidade de "arrancar
a cultura de sua suposta
autonomia e
de sua estreita ligação com a arte e
utilizá-
la como recurso para intervir na
transformação social" (RODRIGUES,
2021, p. 215).
Coletividade, horizontalidade e
autonomia são elementos também
identificados nos estudos sobre gestão
cultural. Ao t
ratarem da gestão cultural
comunitária, Rubim, Vilutis e Oliveira
(2021) destacam princípios próprios
desse âmbito como união, afeto,
solidariedade, cooperação,
convivência e compartilhamento. Os
autores compreendem que a gestão
cultural comunitária
Ocorre
inscrita em um território
e seu caráter coletivo e
compartilhado configuram
suas principais características.
Ela é realizada por agentes
culturais implicados social,
política e economicamente no
território e na ação cultural
mobilizada. Por estarem
direta
mente envolvidos no
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
proposição mais crítica
,
engajada e contemporânea da
formação de pessoal no
campo da gestão cultural
(NUSSBAUMER; KAUARK,
Na mesma direção, Rodrigues
interpreta a noção de
desculturalização da cultura, de Victor
Vich (2014), para afirmar que nela está
implicada a necessidade de "arrancar
autonomia e
de sua estreita ligação com a arte e
la como recurso para intervir na
transformação social" (RODRIGUES,
Coletividade, horizontalidade e
autonomia o elementos também
identificados nos estudos sobre gestão
ratarem da gestão cultural
comunitária, Rubim, Vilutis e Oliveira
(2021) destacam prinpios próprios
desse âmbito como união, afeto,
solidariedade, cooperação,
convivência e compartilhamento. Os
autores compreendem que a gestão
inscrita em um território
e seu caráter coletivo e
compartilhado configuram
suas principais características.
Ela é realizada por agentes
culturais implicados social,
política e economicamente no
território e na ação cultural
mobilizada. Por estarem
mente envolvidos no
fazer cultural, esses agentes
combinam criação e fruição
com participação e gestão
(RUBIM; VILUTIS; OLIVEIRA,
2021, p. 19).
Em outro artigo,
comunitária em três dimenes
simbólica,
cidadã e econômica
Viltutis (2019),
propõe a distinção entre
a gestão cultural comunitária da de
outros tipos de gestão cultural
acionando seu "
caráter coletivo e
comunitário
, praticado por agentes
culturais envolvidos no fazer cultural e
implicados socialmente, politicame
e economicamente nessa ação
(VILUTIS, 2019, p. 172). Adiante, a
autora coloca que em alguns casos
pode haver lideranças na comunidade
que tenham a vocação para estar à
frente de processos, mas ressalta que:
na gestão cultural comunitária
o trabal
ho de gestão é
compartilhado
são coletivas
especial na sistematização de
experiências e na
transparência para que o
conjunto da comunidade esteja
situado e possa se envolver
nas ações com informação e
conhecimento (
p. 181).
Para além da cooperação
compartilhamento e da atuação
coletiva,
a dimensão do território está
90
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
fazer cultural, esses agentes
combinam criação e fruição
com participação e gestão
(RUBIM; VILUTIS; OLIVEIRA,
2021, p. 19).
Em outro artigo,
Gestão cultural
comunitária em três dimensões
:
cidadã e econômica
, Luana
propõe a distinção entre
a gestão cultural comunitária da de
outros tipos de gestão cultural
,
caráter coletivo e
, praticado por agentes
culturais envolvidos no fazer cultural e
implicados socialmente, politicame
nte
e economicamente nessa ação
"
(VILUTIS, 2019, p. 172). Adiante, a
autora coloca que em alguns casos
pode haver lideranças na comunidade
que tenham a vocação para estar à
frente de processos, mas ressalta que:
na gestão cultural comunitária
,
ho de gestão é
compartilhado
, as decisões
o coletivas
, um cuidado
especial na sistematização de
experiências e na
transparência para que o
conjunto da comunidade esteja
situado e possa se envolver
nas ações com informação e
conhecimento (
VILUTIS, 2019,
Para além da cooperação
, do
compartilhamento e da atuação
a dimensão do território es
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
presente nos textos que se propõem a
analisar e refletir sobre
possibilidades de gestão cultural
construção da cultura no t
orientada por relações de proximidade
convivência e confiança
,
princípios da gestão cultural
comunitária.
É nessa forte relação
simbiótica entre cultura e território que
é gestado o sentido de pertencimento
de grupos s
ociais" (VILUTIS, 2019, p.
174-175).
Ao se ocuparem da gestão de
equipamentos culturais no texto
Camadas tangíveis e intangíveis da
gestão de espaços culturais
Leal tocam em um ponto fundamental
que diz respeito ao território: as
pessoas envolvid
as, ora o públicos,
ora são criadores, produtores ou
gestores, ou melhor, podem ser tudo
isso ao mesmo tempo. Am disso, as
autoras falam da importância da
participação social, inclusive em
espaços culturais sob cautela do
Estado, nos quais a ideia de
p
articipação e ão colaborativa
também devem existir. Assim,
defendem que:
Uma guinada neste sentido
impele que a gestão de um
espaço cultural procure
fortalecer suas redes
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
presente nos textos que se propõem a
analisar e refletir sobre
as
possibilidades de gestão cultural
. "A
construção da cultura no t
erritório é
orientada por relações de proximidade
,
,
valores e
prinpios da gestão cultural
É nessa forte relação
simbiótica entre cultura e território que
é gestado o sentido de pertencimento
ociais" (VILUTIS, 2019, p.
Ao se ocuparem da gestão de
equipamentos culturais no texto
Camadas tangíveis e intangíveis da
gestão de espaços culturais
, Kauark e
Leal tocam em um ponto fundamental
que diz respeito ao território: as
as, ora são públicos,
ora o criadores, produtores ou
gestores, ou melhor, podem ser tudo
isso ao mesmo tempo. Além disso, as
autoras falam da importância da
participação social, inclusive em
espaços culturais sob cautela do
Estado, nos quais a ideia de
articipação e ação colaborativa
também devem existir. Assim,
Uma guinada neste sentido
impele que a gestão de um
espaço cultural procure
fortalecer suas redes
territoriais enxergando os
grupos sociais locais não
somente como espectadores,
mas
como fazedores e, por
que não, possíveis gestores ou
co-
gestores do mesmo. Ter
comunidades e grupos sociais
territoriais no centro das
gestões de equipamentos
culturais, sobretudo quando
estes são vinculados
patrimonialmente ao Estado,
significa entender
processos históricos e de lutas
do território, cujo resultado
deve ser a construção de um
espaço cultural com e para a
comunidade (KAUARK; LEAL,
2019, p. 141).
Para além do envolvimento dos
moradores na gestão de espaços
culturais localizados em suas
comunidades, como profissionais
específicos e em atividades
remuneradas, quando se trata da
participação dessas pessoas, o que
está em jogo vai muito além de
cumprir uma função. Há um
engajamento político relacionado a
essa colaboração que permeia as
quest
ões vividas por elas. Os
movimentos insurgentes
contemporâneos denunciam epidios
de racismo, sexismo, homofobia e
censura, típicos do pensamento
conservador que ganhou força em
alguns espaços da sociedade
brasileira (NUSSBAUMER; KAUARK,
91
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
territoriais enxergando os
grupos sociais locais não
somente como espectadores,
como fazedores e, por
que não, possíveis gestores ou
gestores do mesmo. Ter
comunidades e grupos sociais
territoriais no centro das
gestões de equipamentos
culturais, sobretudo quando
estes são vinculados
patrimonialmente ao Estado,
significa entender
os
processos históricos e de lutas
do território, cujo resultado
deve ser a construção de um
espaço cultural com e para a
comunidade (KAUARK; LEAL,
2019, p. 141).
Para além do envolvimento dos
moradores na gestão de espaços
culturais localizados em suas
comunidades, como profissionais
espeficos e em atividades
remuneradas, quando se trata da
participação dessas pessoas, o que
está em jogo vai muito além de
cumprir uma função. um
engajamento político relacionado a
essa colaboração que permeia as
ões vividas por elas. Os
movimentos insurgentes
contemporâneos denunciam episódios
de racismo, sexismo, homofobia e
censura, típicos do pensamento
conservador que ganhou força em
alguns espaços da sociedade
brasileira (NUSSBAUMER; KAUARK,
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
2021). A cultura,
portanto, ao mesmo
tempo que tem a capacidade de
manter a ordem vigente, sob o
pretexto do próprio pensamento
conservador, por outro lado, tem o
poder de transformar, de ser mola
propulsora da mudança (BAUMAN,
1998). Nesse contexto, a gestão
cultural pode
ser operacionalizada por
meio de outra categoria de análi
gestão cultural engajada, ideia
apontada por Nussbaumer
Assim, as autoras colocam que:
Uma gestão cultural engajada
e democrática deve,
necessariamente, possibilitar
que diferentes
grupos acessem o poder de se
representarem e significarem
sua própria condição, bem
como tornar visíveis estruturas
de poder que impedem a
participação e a contribuição
de muitos na vida e no fazer
cultural. (NUSSBAUMER;
KAUARK, 2021, pp. 203
É perceptível a relação entre a
gestão cultural engajada e o
compromisso com a democracia, a
cidadania e com valores que devem
permear as políticas culturais ao
entenderem que a cultura é um direito
social. Nesse sentido, destacamos o
debate que relaciona
diversidade cultural, acionado
principalmente após a constituição de
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
portanto, ao mesmo
tempo que tem a capacidade de
manter a ordem vigente, sob o
pretexto do próprio pensamento
conservador, por outro lado, tem o
poder de transformar, de ser mola
propulsora da mudança (BAUMAN,
1998). Nesse contexto, a gestão
ser operacionalizada por
meio de outra categoria de análi
se, a
gestão cultural engajada, ideia
apontada por Nussbaumer
e Kauark.
Assim, as autoras colocam que:
Uma gestão cultural engajada
e democrática deve,
necessariamente, possibilitar
que diferentes
sujeitos e
grupos acessem o poder de se
representarem e significarem
sua própria condição, bem
como tornar visíveis estruturas
de poder que impedem a
participação e a contribuição
de muitos na vida e no fazer
cultural. (NUSSBAUMER;
KAUARK, 2021, pp. 203
-204).
É perceptível a relação entre a
gestão cultural engajada e o
compromisso com a democracia, a
cidadania e com valores que devem
permear as políticas culturais ao
entenderem que a cultura é um direito
social. Nesse sentido, destacamos o
debate que relaciona
gestão e
diversidade cultural, acionado
principalmente após a constituição de
1988 e suas emendas referentes à
cultura.
José Márcio Barros (2011)
defende a urgência de não se reduzir a
gestão cultural em um modelo único e
desenvolveu seu principal tema de
pesquisa, a diversidade cultural, sob
esse prisma. Para o autor,
Diversidade cultural e gestão
são expressões que, longe de
revelarem consenso e
homogeneidade, nos remetem
ao campo das ambiguidades e
contradições com que
pensamos e nomeamos
nossas diferenç
modos de geri
portanto, a necessidade de, ao
relacionar os dois termos,
submetê-
los a uma espécie de
filtro do pensamento
complexo, inaugurando a
possibilidade efetiva de
superação de abordagens
normativas e disciplinares
(BARROS, 2011
Desse modo, Barros (2011)
argumenta que as diferentes
dinâmicas da cultura não podem ser
compreendidas e geridas sob o
mesmo olhar porque tudo o que lhes
diz respeito se comporta de maneiras
variadas. Um exemplo corriqueiro
disso é a pretensão d
diferentes atividades culturais por meio
de editais de financiamento. Ora, o uso
de formulários específicos,
padronizados, baseados na escrita
92
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
1988 e suas emendas referentes à
Jo Márcio Barros (2011)
defende a urgência de não se reduzir a
gestão cultural em um modelo único e
desenvolveu seu principal tema de
pesquisa, a diversidade cultural, sob
esse prisma. Para o autor,
Diversidade cultural e gestão
o expressões que, longe de
revelarem consenso e
homogeneidade, nos remetem
ao campo das ambiguidades e
contradições com que
pensamos e nomeamos
nossas diferenç
as e nossos
modos de geri
-las. Há,
portanto, a necessidade de, ao
relacionar os dois termos,
los a uma espécie de
filtro do pensamento
complexo, inaugurando a
possibilidade efetiva de
superação de abordagens
normativas e disciplinares
(BARROS, 2011
, p. 20).
Desse modo, Barros (2011)
argumenta que as diferentes
dinâmicas da cultura não podem ser
compreendidas e geridas sob o
mesmo olhar porque tudo o que lhes
diz respeito se comporta de maneiras
variadas. Um exemplo corriqueiro
disso é a preteno d
e fomentar as
diferentes atividades culturais por meio
de editais de financiamento. Ora, o uso
de formulários específicos,
padronizados, baseados na escrita
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
formal, com espaços determinados
para os preenchimentos que se
esperam adequados para se obter tal
recurso, não é uma ferramenta que
atende às urgências de todas as
pessoas envolvidas (nem mesmo da
maioria) com a cultura. Ademais, não
se trata apenas de uma superposição
utilitária, por exemplo, a utilização da
gestão cultural em prol da cultura.
Para Ba
rros não existe um modelo
pronto quando se concebe a
diversidade cultural. É necessário o
reconhecimento de diferentes modos
de instituir, que as concepções da
realidade são diversas. O autor
esclarece que
Não se trata de pensar apenas
o que a cultura,
múltiplas formas de expressão,
tem a contribuir com os
modelos normativos de gestão
e nem tão pouco, como tais
modelos podem nos ajudar a
compreender e domesticar a
cultura. Trata-
se de pensar na
imbricação entre os termos, ou
seja, ao se falar de
cultural nos referimos a
modelos normativos diversos
que ordenam o apenas a
produção e as trocas
simbólicas no campo estético,
religioso e lúdico, mas que se
referem também às maneiras
como se definem as formas de
aprendizagem, circulação,
ap
ropriação, distribuição,
mercantilização de bens e
processos culturais. A
diversidade cultural é,
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
formal, com espaços determinados
para os preenchimentos que se
esperam adequados para se obter tal
recurso, não é uma ferramenta que
atende às urgências de todas as
pessoas envolvidas (nem mesmo da
maioria) com a cultura. Ademais, não
se trata apenas de uma superposição
utilitária, por exemplo, a utilização da
gestão cultural em prol da cultura.
rros não existe um modelo
pronto quando se concebe a
diversidade cultural. É necessário o
reconhecimento de diferentes modos
de instituir, já que as concepções da
realidade o diversas. O autor
Não se trata de pensar apenas
o que a cultura,
em suas
múltiplas formas de expressão,
tem a contribuir com os
modelos normativos de gestão
e nem tão pouco, como tais
modelos podem nos ajudar a
compreender e domesticar a
se de pensar na
imbricação entre os termos, ou
seja, ao se falar de
diversidade
cultural nos referimos a
modelos normativos diversos
que ordenam não apenas a
produção e as trocas
simbólicas no campo estético,
religioso e lúdico, mas que se
referem também às maneiras
como se definem as formas de
aprendizagem, circulação,
ropriação, distribuição,
mercantilização de bens e
processos culturais. A
diversidade cultural é,
forçosamente, mais que um
conjunto de diferenças de
expressão, um campo de
diferentes e, por vezes,
divergentes modos de
instituição. Chamo a isso,
modos de i
nstituir, de modelos
de gestão. Para além de
reconhecer a necessidade de
se construir competências
gerenciais nos diferentes
campos culturais, o desafio
parece ser o de estar atento
para os modos de gestão que
se fazem presentes nos
diferentes padrões cult
Reconhecer na diversidade
cultural apenas a presença de
diferenças estéticas é
simplificar a questão. Há
sempre, e é isso que torna a
questão complexa, a teno
política e cognitiva de
diferentes modelos de
ordenamento e gestão.
Diversidade cultural
diversidade de modos de se
instituir e gerir a relação com a
realidade (BARROS, 2011, p.
20-21).
Nesse sentido, vale apontar a
perspectiva da gestora cultural Stéfane
Souto (2020), em seu texto
Aquilombar-
se: insurgências negras na
gestão cultural co
ntemporânea''. Ela
sugere a ideia do "aquilombamento no
campo das artes e da cultura" para
"compreender o que a identidade
negra afro diaspórica, como categoria
social dissidente, permite vislumbrar
em termos de tecnologia de
93
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
forçosamente, mais que um
conjunto de diferenças de
expressão, um campo de
diferentes e, por vezes,
divergentes modos de
instituição. Chamo a isso,
nstituir, de modelos
de gestão. Para além de
reconhecer a necessidade de
se construir competências
gerenciais nos diferentes
campos culturais, o desafio
parece ser o de estar atento
para os modos de gestão que
se fazem presentes nos
diferentes padrões cult
urais.
Reconhecer na diversidade
cultural apenas a presença de
diferenças estéticas é
simplificar a questão.
sempre, e é isso que torna a
questão complexa, a tensão
política e cognitiva de
diferentes modelos de
ordenamento e gestão.
Diversidade cultural
é a
diversidade de modos de se
instituir e gerir a relação com a
realidade (BARROS, 2011, p.
Nesse sentido, vale apontar a
perspectiva da gestora cultural Stéfane
Souto (2020), em seu texto
se: insurgências negras na
ntemporânea''. Ela
sugere a ideia do "aquilombamento no
campo das artes e da cultura" para
"compreender o que a identidade
negra afro diaspórica, como categoria
social dissidente, permite vislumbrar
em termos de tecnologia de
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
organização e insurgência cult
anticolonial" (SOUTO, 2020, p. 135).
Dentre os elementos
relacionados ao debate sobre a gestão
cultural atual, a sustentabilidade das
práticas culturais também requer ser
compreendida sob óticas outras que
não as tradicionalmente mercantis.
Como evide
nciam Rubim, Vilutis e
Oliveira (2021), "Se um grupo cultural
não gera receitas próprias nem possui
bilheteria, seguramente ele move
outras dinâmicas de sustentabilidade,
muitas vezes não monetárias, como
trocas diretas de produtos e serviços,
doações, aju
da mútua etc." (2021, p.
23). Não se trata de negar a
importância financeira ou do devido
pagamento dos agentes e profissionais
envolvidos nas atividades culturais,
mas de compreender outras
dimensões que não se inserem na
lógica capitalista.
Na mesma pers
Nussbaumer e Kauark (2021) ao
destacarem a gestão coletiva e
engajada de espaços culturais afirmam
que a sustentabilidade não se associa
diretamente a questão financeira,
"mas, sobretudo, aos desejos e
propósitos dos artistas e dos gestores
envolv
idos e à ideia de colaboração,
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
organização e insurgência cult
ural
anticolonial" (SOUTO, 2020, p. 135).
Dentre os elementos
relacionados ao debate sobre a gestão
cultural atual, a sustentabilidade das
práticas culturais também requer ser
compreendida sob óticas outras que
não as tradicionalmente mercantis.
nciam Rubim, Vilutis e
Oliveira (2021), "Se um grupo cultural
não gera receitas próprias nem possui
bilheteria, seguramente ele move
outras dinâmicas de sustentabilidade,
muitas vezes não monetárias, como
trocas diretas de produtos e serviços,
da mútua etc." (2021, p.
23). Não se trata de negar a
importância financeira ou do devido
pagamento dos agentes e profissionais
envolvidos nas atividades culturais,
mas de compreender outras
dimensões que não se inserem na
Na mesma pers
pectiva,
Nussbaumer e Kauark (2021) ao
destacarem a gestão coletiva e
engajada de espaços culturais afirmam
que a sustentabilidade não se associa
diretamente a questão financeira,
"mas, sobretudo, aos desejos e
propósitos dos artistas e dos gestores
idos e à ideia de colaboração,
tão cara a uma gestão cultural que se
pretenda mais comprometida e
contemporânea" (NUSSBAUMER;
KAUARK, 2021, p. 206). É nesse
sentido que reconhecemos a
concepção de sustentabilidade, à
medida que as ações fortalecem a
cultur
a e o desenvolvimento local,
portanto, um propósito que condiz com
os ideais democráticos. Na mesma
direção, lembramos da ideia dos
estudos de cultura por demanda, que
nos convida a uma invero das
dinâmicas de poder/saber envolvidas
nos processos de inte
mediação cultural. Esta invero
corresponde a disponibilidade das
iniciativas de valoração inclusivas dos
centros e lugares de pesquisa de se
deixar interpelar pelas comunidades e
povos, desde as suas próprias
demandas e agendas, permitindo que
a
sua ciência obtenha um lugar, uma
razão no caminho do presente
(SEGATTO, 2018),
SEVERINO, 2022).
Apresentamos a seguir a Casa
Candeeiro do Oeste, espaço de gestão
do patrimônio cultural, compreendida
aqui como um exemplo
contemporâneo das
possibilidades de
gestão cultural tratadas até aqui.
94
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
tão cara a uma gestão cultural que se
pretenda mais comprometida e
contemporânea" (NUSSBAUMER;
KAUARK, 2021, p. 206). É nesse
sentido que reconhecemos a
concepção de sustentabilidade, à
medida que as ações fortalecem a
a e o desenvolvimento local,
portanto, um propósito que condiz com
os ideais democráticos. Na mesma
direção, lembramos da ideia dos
estudos de cultura por demanda, que
nos convida a uma inversão das
dinâmicas de poder/saber envolvidas
nos processos de inte
ração e
mediação cultural. Esta inversão
corresponde a disponibilidade das
iniciativas de valoração inclusivas dos
centros e lugares de pesquisa de se
deixar interpelar pelas comunidades e
povos, desde as suas próprias
demandas e agendas, permitindo que
sua ciência obtenha um lugar, uma
razão no caminho do presente
(SEGATTO, 2018),
(FRAGA;
Apresentamos a seguir a Casa
Candeeiro do Oeste, espaço de gestão
do patrimônio cultural, compreendida
aqui como um exemplo
possibilidades de
gestão cultural tratadas até aqui.
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
A Casa Candeeiro do Oeste e seu
território de atuação
Sítio do Mato é uma cidade
ribeirinha margeada por dois rios: o
Corrente e o São Francisco.
Localizada na região oeste da Bahia,
ela foi distrito da
cidade de Bom Jesus
da Lapa até sua emancipação em
1989. Segundo o IBGE, a população
estimada para o município em 2021 é
de 13.104 habitantes, com densidade
demográfica de 6,88 habitantes por
km² e com renda per capita média de
1,4 salários-
mínimos por ha
ocupando o trecentésimo octogésimo
primeiro lugar no Estado em
distribuição de renda.
Geograficamente a cidade se divide
em sede
urbana, distrito, território
quilombola
Quilombo Mangal Barro
Vermelho
, e uma ampla zona rural,
ocupada principal
mente por famílias
assentadas pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária
INCRA, durante a primeira década do
século XXI.
A Casa Candeeiro do Oeste é
um espaço cultural que fica na sede
urbana do município, mas se faz
presente em outros terr
itórios a partir
da realização de atividades e projetos
culturais. O espaço foi certificado pelo
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
A Casa Candeeiro do Oeste e seu
Sítio do Mato é uma cidade
ribeirinha margeada por dois rios: o
Corrente e o São Francisco.
Localizada na região oeste da Bahia,
cidade de Bom Jesus
da Lapa até sua emancipação em
1989. Segundo o IBGE, a população
estimada para o município em 2021 é
de 13.104 habitantes, com densidade
demográfica de 6,88 habitantes por
km² e com renda per capita média de
mínimos por ha
bitante,
ocupando o trecentésimo octogésimo
primeiro lugar no Estado em
distribuição de renda.
Geograficamente a cidade se divide
urbana, distrito, território
Quilombo Mangal Barro
, e uma ampla zona rural,
mente por famílias
assentadas pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária
-
INCRA, durante a primeira década do
A Casa Candeeiro do Oeste é
um espaço cultural que fica na sede
urbana do munipio, mas se faz
itórios a partir
da realização de atividades e projetos
culturais. O espaço foi certificado pelo
Estado da Bahia como Ponto de
Cultura no ano de 2020, e é resultado
de um movimento iniciado vinte anos
antes, em 1999, encabeçado por um
grupo de mulheres art
na busca por direitos sociais e
culturais para a comunidade. O grupo
começou na casa da professora
Jussara Moreira, imóvel onde hoje
está instalada a Casa Candeeiro. Ela,
ao contrário das demais integrantes do
grupo, não é natural de Sítio
tendo nascido em São Vicente, no
estado de São Paulo.
Jussara conheceu Sítio do Mato
em 1978, quando concluiu o curso
técnico de enfermagem e soube por
uma colega que a Associação
Presbiteriana de Sítio do Mato estava
contratando profissionais par
trabalharem na cidade. Na época, Sítio
do Mato era acessível de barco,
através do rio São Francisco, e não
contava com escolas, sistema de
saúde ou saneamento básico. A única
escola do município e a única clínica
médica eram mantidas pela
Associação P
resbiteriana. No período
em que residiu na cidade, entre 1978 e
1980, Jussara atuou na área da saúde
e na área cultural, junto ao seu pai,
João Gabriel, que a acompanhou na
95
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Estado da Bahia como Ponto de
Cultura no ano de 2020, e é resultado
de um movimento iniciado vinte anos
antes, em 1999, encabeçado por um
grupo de mulheres art
esãs, engajadas
na busca por direitos sociais e
culturais para a comunidade. O grupo
começou na casa da professora
Jussara Moreira, imóvel onde hoje
está instalada a Casa Candeeiro. Ela,
ao contrário das demais integrantes do
grupo, não é natural de Sítio
do Mato,
tendo nascido em São Vicente, no
Jussara conheceu Sítio do Mato
em 1978, quando concluiu o curso
técnico de enfermagem e soube por
uma colega que a Associação
Presbiteriana de Sítio do Mato estava
contratando profissionais par
a
trabalharem na cidade. Na época, Sítio
do Mato era acessível de barco,
através do rio São Francisco, e não
contava com escolas, sistema de
saúde ou saneamento básico. A única
escola do munipio e a única clínica
médica eram mantidas pela
resbiteriana. No período
em que residiu na cidade, entre 1978 e
1980, Jussara atuou na área da saúde
e na área cultural, junto ao seu pai,
João Gabriel, que a acompanhou na
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
mudança. Seu João criou a Festa do
Candeeiro inspirado no Tooro
Nagashi, festa de o
rigem nipônica que
cresceu vendo na sua cidade natal,
Registro, localizada no Vale da Ribeira
em o Paulo. O Tooro Nagashi ainda
acontece todo ano em Registro.
Mesmo depois do retorno de Jussara a
São Paulo, a família continuou
viajando todos os anos para
para acompanhar a
realização da
Festa do Candeeiro, que além de ser
uma festa, era também um movimento
político em prol da emancipação de
Sítio do Mato, que até então era
distrito do município de Bom Jesus da
Lapa. A emancipação ocorreu em
1992,
e a festa continuou a ser
realizada até o ano de 2002.
de 1998, vinte anos após a chegada
da família em Sítio do Mato, e depois
de um longo período de idas e vindas
sazonais, Jussara resolveu
estabelecer moradia definitiva na
cidade. A mudança a
conteceu em
março de 1999, e poucos meses
depois funcionava na sua casa a
sala de leitura, que existe até hoje na
Casa Candeeiro. No mesmo ano, junto
com duas amigas, Preta e Rita, ela
fundou o coletivo de artesãs, que anos
depois viria a se tornar a As
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
mudança. Seu João criou a Festa do
Candeeiro inspirado no Tooro
rigem nipônica que
cresceu vendo na sua cidade natal,
Registro, localizada no Vale da Ribeira
em São Paulo. O Tooro Nagashi ainda
acontece todo ano em Registro.
Mesmo depois do retorno de Jussara a
São Paulo, a família continuou
viajando todos os anos para
a cidade
realização da
Festa do Candeeiro, que além de ser
uma festa, era também um movimento
político em prol da emancipação de
Sítio do Mato, que até então era
distrito do munipio de Bom Jesus da
Lapa. A emancipação ocorreu em
e a festa continuou a ser
realizada até o ano de 2002.
No final
de 1998, vinte anos após a chegada
da família em Sítio do Mato, e depois
de um longo período de idas e vindas
sazonais, Jussara resolveu
estabelecer moradia definitiva na
conteceu em
março de 1999, e poucos meses
depois já funcionava na sua casa a
sala de leitura, que existe até hoje na
Casa Candeeiro. No mesmo ano, junto
com duas amigas, Preta e Rita, ela
fundou o coletivo de artesãs, que anos
depois viria a se tornar a As
sociação
de Mulheres Empreendedoras de Sítio
do Mato, responsável pela gestão da
Casa Candeeiro.
Duas décadas depois, o ponto
de cultura ainda é gerido pelas suas
fundadoras, acrescidas de filhas e
netas que entraram para o grupo de
mulheres, e que seg
fazer a diferença na cidade de modo
positivo. Elas vêm transformando
pouco a pouco um terreno inóspito
para o debate cultural, em solo fértil
para se pensar cultura, memória e
patrimônio. A partir
autonomia e protagonismo
socioc
ultural, proposto por Célio Turino
para os Pontos de Cultura (2010), elas
elaboraram ões concretas de
impacto na comunidade. Para o autor:
Em comunidades muito pobres
ou em pequenos municípios, o
Ponto de Cultura faz a
diferença como aglutinador de
pesso
as mais ousadas, que
antes teriam por opção jogar
ideias ao vento sem base
material ou simbólica para a
implementação de suas ideias
(TURINO, 2010
Hoje o Ponto de Cultura conta
com uma sala de leitura, cozinha
comunitária, palco para apresentações
e espaço para oficinas. Além disso, há
na Casa Candeeiro uma exposição
com cerâmicas da etnia indígena
96
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
de Mulheres Empreendedoras de Sítio
do Mato, responsável pela gestão da
Duas décadas depois, o ponto
de cultura ainda é gerido pelas suas
fundadoras, acrescidas de filhas e
netas que entraram para o grupo de
mulheres, e que seg
uem tentando
fazer a diferença na cidade de modo
positivo. Elas vêm transformando
pouco a pouco um terreno inóspito
para o debate cultural, em solo fértil
para se pensar cultura, memória e
do conceito de
autonomia e protagonismo
ultural, proposto por Célio Turino
para os Pontos de Cultura (2010), elas
elaboraram ações concretas de
impacto na comunidade. Para o autor:
Em comunidades muito pobres
ou em pequenos municípios, o
Ponto de Cultura faz a
diferença como aglutinador de
as mais ousadas, que
antes teriam por opção “jogar
ideias ao vento” sem base
material ou simbólica para a
implementação de suas ideias
(TURINO, 2010
, p. 43).
Hoje o Ponto de Cultura conta
com uma sala de leitura, cozinha
comunitária, palco para apresentações
e espaço para oficinas. Além disso,
na Casa Candeeiro uma exposição
com cerâmicas da etnia indígena
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
Aratu, oriundos de sítios arqueológicos
do município
, e um acervo de
fotografias e objetos antigos, registros
de momentos que legitimam, em
alguma medida, a identidade político
cultural da cidade, (CANDAU, 2021),
e, portanto, têm valor memorial e
afetivo para a população. Parte do
acervo fotográfico da Casa
disponível para consulta virtual, graças
ao projeto de digitalização do acervo
fotográfico, financiado pelo prêmio
Jorge Portugal de Artes Visuais,
vinculado à Fundação Cultural do
Estado da Bahia -
FUNCEB, que
contou com recursos oriundos da Lei
Ald
ir Blanc (2020). A Casa também
abriga os apetrechos do boi bumbá, e
é responsável pela sua encenação
durante os festejos do Divino Espírito
Santo. Os espaços expositivos e a
biblioteca são constantemente
solicitados pelas escolas municipais e
estaduais de
Sítio do Mato para
visitação e consulta. os demais
espaços são utilizados por artistas e
artesãos locais.
Cabe destacar que o Ponto de
Cultura adquiriu caráter de espaço de
memória no município a partir de 2012,
quando moradores descobriram tios
arqueológicos na zona rural da cidade,
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
Aratu, oriundos de tios arqueológicos
, e um acervo de
fotografias e objetos antigos, registros
de momentos que legitimam, em
alguma medida, a identidade político
cultural da cidade, (CANDAU, 2021),
e, portanto, têm valor memorial e
afetivo para a população. Parte do
acervo fotográfico da Casa
está
disponível para consulta virtual, graças
ao projeto de digitalização do acervo
fotográfico, financiado pelo prêmio
Jorge Portugal de Artes Visuais,
vinculado à Fundação Cultural do
FUNCEB, que
contou com recursos oriundos da Lei
ir Blanc (2020). A Casa também
abriga os apetrechos do boi bumbá, e
é responsável pela sua encenação
durante os festejos do Divino Espírito
Santo. Os espaços expositivos e a
biblioteca o constantemente
solicitados pelas escolas municipais e
Sítio do Mato para
visitação e consulta. os demais
espaços o utilizados por artistas e
Cabe destacar que o Ponto de
Cultura adquiriu caráter de espaço de
memória no munipio a partir de 2012,
quando moradores descobriram sítios
arqueológicos na zona rural da cidade,
com presença de pinturas rupestres,
cerâmicas indígenas e urnas
funerárias.
Os moradores que fizeram
a descoberta entraram em contato
com a Polícia Militar, que intermediou
o diálogo com a Universidade Federal
da Bahia (UFBA), resultando em uma
pesquisa arqueológica da UFBA na
região, em parceria com a
Universidade Federal do Rec
da Bahia (UFRB), e liderada pelo
professor doutor Luydy Abraham
Fernandes. Durante o trabalho de
campo, os responsáveis pela pesquisa
conheceram a Casa Candeeiro e
decidiram devolver as peças
restauradas para a comunidade, tendo
como premissa que el
expostas naquele local.
As mulheres da Casa já
atuavam em manifestações culturais
tradicionais da cidade, como festejos
populares e atividades artesanais.
Porém, não havia entre elas a
consciência de que estas atividades
reuniam em si caracterí
poderiam categorizá
patrimônio, se não em nível estadual,
ao menos dentro do munipio. A
descoberta dos sítios arqueológicos
contribuiu não para que o ponto de
cultura adquirisse, em certa medida, o
97
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
com presença de pinturas rupestres,
cerâmicas indígenas e urnas
Os moradores que fizeram
a descoberta entraram em contato
com a Polícia Militar, que intermediou
o diálogo com a Universidade Federal
da Bahia (UFBA), resultando em uma
pesquisa arqueológica da UFBA na
região, em parceria com a
Universidade Federal do Rec
ôncavo
da Bahia (UFRB), e liderada pelo
professor doutor Luydy Abraham
Fernandes. Durante o trabalho de
campo, os responveis pela pesquisa
conheceram a Casa Candeeiro e
decidiram devolver as peças
restauradas para a comunidade, tendo
como premissa que el
as ficassem
expostas naquele local.
As mulheres da Casa
atuavam em manifestações culturais
tradicionais da cidade, como festejos
populares e atividades artesanais.
Porém, não havia entre elas a
consciência de que estas atividades
reuniam em si caracterí
sticas que
poderiam categorizá
-las como
patrimônio, se não em nível estadual,
ao menos dentro do município. A
descoberta dos tios arqueológicos
contribuiu não para que o ponto de
cultura adquirisse, em certa medida, o
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
papel de museu na sua estrutura
f
ísica, mas principalmente, abriu
espaço para que o debate sobre
patrimônio cultural se instalasse na
cidade, discussão que até então não
acontecia no município.
museu vivo e experienciado por um
legado que nos pertence.
Atualmente, além de se
resp
onsabilizar pelas peças
encontradas nos sítios arqueológicos,
a gestão da Casa também firmou
parceria com o movimento de
moradores de Gameleira, para
conseguir o restauro e tombamento da
igreja de Santo Antônio, construção
que corre risco de desmoronamento
que tem valor memorial e afetivo para
os moradores do distrito. A partir desta
parceria foi realizado um documentário
junto à comunidade para trazer
visibilidade para a causa da igreja, e
também se iniciou o movimento de
arrecadação de fundos para a re
A gestão da Casa também vem
intermediando o diálogo da população
com profissionais da área de
engenharia e restauro.
Um espaço de mediação entre
público e as políticas culturais
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
papel de museu na sua estrutura
ísica, mas principalmente, abriu
espaço para que o debate sobre
patrimônio cultural se instalasse na
cidade, discussão que até então não
acontecia no munipio.
Temos um
museu vivo e experienciado por um
Atualmente, além de se
onsabilizar pelas peças
encontradas nos tios arqueológicos,
a gestão da Casa também firmou
parceria com o movimento de
moradores de Gameleira, para
conseguir o restauro e tombamento da
igreja de Santo Antônio, construção
que corre risco de desmoronamento
, e
que tem valor memorial e afetivo para
os moradores do distrito. A partir desta
parceria foi realizado um documentário
junto à comunidade para trazer
visibilidade para a causa da igreja, e
também se iniciou o movimento de
arrecadação de fundos para a re
forma.
A gestão da Casa também vem
intermediando o diálogo da população
com profissionais da área de
Um espaço de mediação entre
público e as políticas culturais
Ao longo de mais de vinte anos
de atuação na cidade, com momentos
de
maior e menor atividade, a Casa
Candeeiro do Oeste tem sido um
espaço de mediação entre a
população sítio-
matense e o direito
cultural. A partir das ações realizadas
no ponto de cultura junto à
comunidade, a população ressignifica
a própria história e toma
do próprio valor, direito tantas vezes
negado a populações colocadas à
margem. Essa “autoestima cultural
está intimamente ligada à ideia de
patrimônio como bem comum
(SEVERINO, 2021, p. 105), e que
permite que um grupo narre a si
próprio (CAN
DAU, 2021) e construa
uma identidade coletiva. Nesse
sentido, a Casa cumpre, antes mesmo
da certificação, o que é proposto no
projeto Ponto de Cultura, conforme
descrito por Alice Lacerda, Carolina de
Carvalho Marques e Sophia Cardoso
Rocha (2010):
O Proje
to Cultura Viva tende a
valorizar o local, reconhecer os
saberes e criar o sentimento
de pertencimento. Além disso,
tem por objetivo a
potencialização das energias
sociais e culturais, dando
vazão à dinâmica própria das
comunidades e criando um
movimento t
uma rede orgânica de gestão e
98
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Ao longo de mais de vinte anos
de atuação na cidade, com momentos
maior e menor atividade, a Casa
Candeeiro do Oeste tem sido um
espaço de mediação entre a
matense e o direito
cultural. A partir das ações realizadas
no ponto de cultura junto à
comunidade, a população ressignifica
a própria história e toma
consciência
do próprio valor, direito tantas vezes
negado a populações colocadas à
margem. Essa autoestima cultural”
está intimamente ligada à ideia de
patrimônio como bem comum
(SEVERINO, 2021, p. 105), e que
permite que um grupo narre a si
DAU, 2021) e construa
uma identidade coletiva. Nesse
sentido, a Casa cumpre, antes mesmo
da certificação, o que é proposto no
projeto Ponto de Cultura, conforme
descrito por Alice Lacerda, Carolina de
Carvalho Marques e Sophia Cardoso
to Cultura Viva tende a
valorizar o local, reconhecer os
saberes e criar o sentimento
de pertencimento. Além disso,
tem por objetivo a
potencialização das energias
sociais e culturais, dando
vao à dinâmica própria das
comunidades e criando um
movimento t
ransformador em
uma rede orgânica de gestão e
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
criação cultural (LACERDA;
MARQUES; ROCHA, 2010, p.
118).
Mais do que isso, a Casa tem
um papel educativo, sendo a
comunidade agente ativo na
construção dessa relação dialógica.
Inspirado na pedagogia
Freiriana, de
que saber ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar
possibilidades para a sua própria
produção (FREIRE, 2021), que a
equipe da Casa vem construindo sua
teia de projetos e de atuação, numa
escuta ativa, estabelecida entre a
gestão e a c
omunidade, do que é
reivindicado.
O ponto de cultura, apesar de
ter nascido de uma iniciativa de
moradoras da cidade, passou por
momentos de desconfiança na
comunidade, como se o local fosse
apenas uma extensão da escola,
restrito à visitação deste público
dias específicos. Foi especialmente a
partir da realização do projeto Causos
do Sítio, no ano de 2021, no qual a
equipe do ponto de cultura ia de casa
em casa entrevistando idosos sobre a
história da cidade, que essa
desconfiança diminuiu, e a populaçã
passou a se sentir mais confortável
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
criação cultural (LACERDA;
MARQUES; ROCHA, 2010, p.
Mais do que isso, a Casa tem
um papel educativo, sendo a
comunidade agente ativo na
construção dessa relação dialógica.
Freiriana, de
que saber ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar
possibilidades para a sua própria
produção (FREIRE, 2021), que a
equipe da Casa vem construindo sua
teia de projetos e de atuação, numa
escuta ativa, estabelecida entre a
omunidade, do que é
O ponto de cultura, apesar de
ter nascido de uma iniciativa de
moradoras da cidade, passou por
momentos de desconfiança na
comunidade, como se o local fosse
apenas uma extensão da escola,
restrito à visitação deste público
em
dias espeficos. Foi especialmente a
partir da realização do projeto Causos
do Sítio, no ano de 2021, no qual a
equipe do ponto de cultura ia de casa
em casa entrevistando idosos sobre a
história da cidade, que essa
desconfiança diminuiu, e a populaçã
o
passou a se sentir mais confortável
para ocupar o espaço. Ouvir a
comunidade mostrou
caminho (SEVERINO, 2021) para
aproximar as pessoas do ponto de
cultura.
Durante as gravações da rie
Causos do Sítio, uma das
entrevistadas, dona Maria Vent
manifestou a sua insatisfação com o
enfraquecimento do reisado na cidade.
A equipe do ponto de cultura prometeu
à dona Maria que iria mobilizar a
comunidade para realizar o festejo no
ano seguinte. Quando a Secretaria de
Cultura lançou o edital que
trabalhos na área de memória e
tradições, o plano para realização do
reisado já estava elaborado e pronto
para execução, independente do
prêmio. O plano de execução foi
inscrito no edital e assim surgiu o
projeto Reisado Virtual, realizado em
janeiro de 2022 pelo Prêmio Cultura na
Palma da Mão da Secretaria de
Cultura do Estado da Bahia, com
recursos oriundos da Lei Aldir Blanc.
Hoje a população é estimulada
a participar de todos os trabalhos
realizados no ponto de cultura, e os
projetos que co
financiamento público contam com
equipes formadas por moradores da
99
periodicos.uff.br/pragmatizes
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Gestão cultural e diversidade
")
para ocupar o espaço. Ouvir a
comunidade mostrou
-se o melhor
caminho (SEVERINO, 2021) para
aproximar as pessoas do ponto de
Durante as gravações da série
Causos do Sítio, uma das
entrevistadas, dona Maria Vent
urina,
manifestou a sua insatisfação com o
enfraquecimento do reisado na cidade.
A equipe do ponto de cultura prometeu
à dona Maria que iria mobilizar a
comunidade para realizar o festejo no
ano seguinte. Quando a Secretaria de
Cultura lançou o edital que
iria premiar
trabalhos na área de memória e
tradições, o plano para realização do
reisado já estava elaborado e pronto
para execução, independente do
prêmio. O plano de execução foi
inscrito no edital e assim surgiu o
projeto Reisado Virtual, realizado em
janeiro de 2022 pelo Prêmio Cultura na
Palma da Mão da Secretaria de
Cultura do Estado da Bahia, com
recursos oriundos da Lei Aldir Blanc.
Hoje a população é estimulada
a participar de todos os trabalhos
realizados no ponto de cultura, e os
projetos que co
ntam com
financiamento público contam com
equipes formadas por moradores da
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
cidade. As equipes de trabalho
assumem caráter formativo, a partir do
ensino e do compartilhamento de
saberes entre gerações. É atras
dessa troca que saberes tradicionais
são tra
nsmitidos e registrados,
principalmente em formato audiovisual,
garantindo a preservação e a
salvaguarda de elementos importantes
para a cultura da cidade.
Considerações Finais
O relato da Casa Candeeiro
sugere uma prática contra o
desperdício da
experiência, conforme
nos alertou Boaventura de Sousa
Santos (2002). A perspectiva de refletir
e levar em conta a experiência dos
saberes técnicos somados às
experiências dos saberes tradicionais,
conforme sugere Martin
(2008), aponta para reflexõe
saberes indispensáveis em suas
perspectivas lógico
históricas e estéticas.
Um fator importante para a
consolidação do ponto de cultura como
espaço de mediação e gestão do
patrimônio cultural no munipio, foi o
ingresso de algumas da
s integrantes
da segunda geração do coletivo de
mulheres na universidade, em cursos
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
cidade. As equipes de trabalho
assumem caráter formativo, a partir do
ensino e do compartilhamento de
saberes entre gerações. É através
dessa troca que saberes tradicionais
nsmitidos e registrados,
principalmente em formato audiovisual,
garantindo a preservação e a
salvaguarda de elementos importantes
O relato da Casa Candeeiro
sugere uma prática contra o
experiência, conforme
nos alertou Boaventura de Sousa
Santos (2002). A perspectiva de refletir
e levar em conta a experiência dos
saberes técnicos somados às
experiências dos saberes tradicionais,
conforme sugere Martin
-Barbero
(2008), aponta para reflexõe
s sobre os
saberes indispenveis em suas
perspectivas lógico
-simbólicas,
Um fator importante para a
consolidação do ponto de cultura como
espaço de mediação e gestão do
patrimônio cultural no município, foi o
s integrantes
da segunda geração do coletivo de
mulheres na universidade, em cursos
como administração, história, artes
visuais e produção cultural. O trânsito
dessas mulheres por um novo
ambiente de formação contribuiu para
o aperfeiçoamento do trabalho t
no espaço, mas também para a
ampliação da consciência do coletivo
acerca da relevância do que é
produzido ali. Esse diálogo entre
técnica e engajamento social foi um
marco divisor na organização do ponto
de cultura e no estabelecimento desse
espaço
cultural e das pessoas que ali
atuam, como mediadores culturais. Se
antes havia o engajamento social e
político do coletivo de mulheres na
cultura local, agora há também o
domínio técnico necessário para que o
trabalho do grupo na Casa Candeeiro
se torne s
ólido e estruturado. O
acesso ao ensino superior foi
fundamental para as gestoras da Casa
Candeeiro.
O ingresso das integrantes do
coletivo na universidade foi posvel
graças a ampliação do acesso ao
ensino superior realizada por políticas
públicas do Min
istério da Educação,
como o Programa Universidade para
Todos (ProUni/2004), o Fundo de
Financiamento Estudantil (Fies/1999) e
o Programa de Apoio a Planos de
100
periodicos.uff.br/pragmatizes
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Gestão cultural e diversidade
")
como administração, história, artes
visuais e produção cultural. O trânsito
dessas mulheres por um novo
ambiente de formação contribuiu para
o aperfeiçoamento do trabalho t
écnico
no espaço, mas também para a
ampliação da consciência do coletivo
acerca da relevância do que é
produzido ali. Esse diálogo entre
técnica e engajamento social foi um
marco divisor na organização do ponto
de cultura e no estabelecimento desse
cultural e das pessoas que ali
atuam, como mediadores culturais. Se
antes havia o engajamento social e
político do coletivo de mulheres na
cultura local, agora também o
domínio técnico necessário para que o
trabalho do grupo na Casa Candeeiro
ólido e estruturado. O
acesso ao ensino superior foi
fundamental para as gestoras da Casa
O ingresso das integrantes do
coletivo na universidade foi possível
graças a ampliação do acesso ao
ensino superior realizada por políticas
istério da Educação,
como o Programa Universidade para
Todos (ProUni/2004), o Fundo de
Financiamento Estudantil (Fies/1999) e
o Programa de Apoio a Planos de
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
Reestruturação e Expano das
Universidades Federais (Reuni/2007).
A maioria das mulheres do grupo
ingressou no ensino superior é a
primeira pessoa da família a fazer
faculdade. As mulheres da primeira
geração, fundadoras do coletivo, em
geral o terminaram o ensino médio,
ou concluíram através de programas
como o
Exame Nacional para
Certificação
de Competências de
Jovens e Adultos (
Encceja). A
formação universitária ampliou a
compreensão das integrantes sobre
patrimônio e cultura, além de contribuir
diretamente para a instrumentalização
técnica do grupo. A busca por
melhores condições de vida a pa
educação no grupo de mulheres é
consequência do engajamento político
cultural delas no seu território de
atuação, além do caráter formador do
coletivo na vida das integrantes e das
suas famílias. Por outro lado, como
explica Vich (2017), no texto
um gestor?
, a escola não é a única
nem a principal esfera educacional na
sociedade. Afirma ainda que as
políticas culturais lidam com os
aspectos educacionais e estão
envolvidas em tudo que enriquece e
educa os indivíduos. Da perspectiva
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2023.
www.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais (Reuni/2007).
A maioria das mulheres do grupo
que
ingressou no ensino superior é a
primeira pessoa da família a fazer
faculdade. As mulheres da primeira
geração, fundadoras do coletivo, em
geral não terminaram o ensino médio,
ou concluíram através de programas
Exame Nacional para
de Competências de
Encceja). A
formação universitária ampliou a
compreensão das integrantes sobre
patrimônio e cultura, além de contribuir
diretamente para a instrumentalização
técnica do grupo. A busca por
melhores condições de vida a pa
rtir da
educação no grupo de mulheres é
consequência do engajamento político
cultural delas no seu território de
atuação, além do caráter formador do
coletivo na vida das integrantes e das
suas famílias. Por outro lado, como
explica Vich (2017), no texto
O que é
, a escola não é a única
nem a principal esfera educacional na
sociedade. Afirma ainda que as
políticas culturais lidam com os
aspectos educacionais e estão
envolvidas em tudo que enriquece e
educa os indivíduos. Da perspectiva
de gestão c
ultural proposta pelo autor,
é importante destacar também a noção
de transversalidade:
As políticas culturais devem
ser sempre transversais, e
estar articuladas com políticas
econômicas, da saúde, da
habitação, do meio ambiente,
de gênero, de segurança,
ci
dadã e do combate à
corrupção. Se as políticas
culturais não estão articuladas
com esferas fora de si
mesmas, o mais provável é
que a cultura continue sendo
vista como entretenimento ou
como assunto para
especialistas (VICH, 2017, p.
50).
A Casa Candeeiro se consolida
como ponto de cultura a partir da
experiência transversal das suas
gestoras na área cultural, em um
cenário territorial pouco assistido por
políticas sicas de saúde e
educação, similar ao que ocorre em
muitos outros territór
um Brasil que pouco vê a si mesmo"
(TURINO, 2010, p. 14). O
engajamento do grupo para constituir
um espaço de diálogo com a
comunidade, mas também de
formação, transformou o ponto de
cultura em um local de memória e
preservação do patrimôn
cidade, mas também naquilo que Célio
Turino (2010) considera o conceito
101
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
ultural proposta pelo autor,
é importante destacar também a noção
As políticas culturais devem
ser sempre transversais, e
estar articuladas com políticas
econômicas, da saúde, da
habitação, do meio ambiente,
de gênero, de segurança,
dadã e do combate à
corrupção. Se as políticas
culturais não estão articuladas
com esferas fora de si
mesmas, o mais provável é
que a cultura continue sendo
vista como entretenimento ou
como assunto para
especialistas (VICH, 2017, p.
A Casa Candeeiro se consolida
como ponto de cultura a partir da
experiência transversal das suas
gestoras na área cultural, em um
cenário territorial pouco assistido por
políticas básicas de saúde e
educação, similar ao que ocorre em
muitos outros territór
ios do país, "em
um Brasil que pouco a si mesmo"
(TURINO, 2010, p. 14). O
engajamento do grupo para constituir
um espaço de diálogo com a
comunidade, mas também de
formação, transformou o ponto de
cultura em um local de memória e
preservação do patrimôn
io cultural da
cidade, mas também naquilo que Célio
Turino (2010) considera o conceito
SEVERINO, José Roberto; PESSOA, Nara; STELLA, Joelma. Gestão em
patrimônio cultural. A experiência da Casa Candeeiro do Oeste.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 80-106, set. 2023.
fundador da ideia de ponto de cultura:
um local de autonomia sociocultural,
gerido por e para a comunidade.
Poderíamos indicar outras
experiências
na produção e gestão d
patrimônio cultural,
como a análise de
gestão e cultura de Davel e Rosa
(2017) feitas sobre o Cortejo Afro,
ligado à história do terreiro Ilê Axé Oyá
na comunidade de Pirajá
imersão no ambiente cultural de
Salvador.
Nesse sentido, apontamos para
a
experiência da Casa Candeeiro
como uma possibilidade de
compreensão da gestão do patrimônio
cultural. A atuação da Casa está
conectada com as questões do
território e de sua população.
Chegando no final deste texto, de
forma ainda provisória, mas
contunde
nte, nos parece que o
exemplo da Casa revela que existem
outras formas de pensarmos,
concebermos e praticarmos a gestão
cultural.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
fundador da ideia de ponto de cultura:
um local de autonomia sociocultural,
gerido por e para a comunidade.
Poderíamos indicar outras
na produção e gestão d
o
como a análise de
gestão e cultura de Davel e Rosa
(2017) feitas sobre o Cortejo Afro,
ligado à história do terreiro Ilê Axé Oyá
na comunidade de Pirajá
e sua
imero no ambiente cultural de
Nesse sentido, apontamos para
experiência da Casa Candeeiro
como uma possibilidade de
compreensão da gestão do patrimônio
cultural. A atuação da Casa está
conectada com as questões do
território e de sua população.
Chegando no final deste texto, de
forma ainda provisória, mas
nte, nos parece que o
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