LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
LIBARINO, David; MACIEL,
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
Interface entre medicina e antropologia médica: o método etnográfico
na formação médica. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
3
, n.
2
4
Interface entre medicina e antropologia médica: o método etnográfico na
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v1
Resumo:
A unicidade da formação e da prática médica compreende o conhecimento e a
compreensão do processo saúde
antropologia médica, vem ganhando cada vez mais destaque nas graduações em medicina. Neste
ce
nário, para subsidiar a construção de um saber prático atras da inserção no território como
campo de prática, a questão da alteridade entre estudantes de medicina e comunidade sob etnografia
se faz necessária. Assim, o objetivo deste artigo é descrever a
com a execução de etnografias breves, destacando sua relevância para a formação médica. Trata
de um estudo descritivo, do tipo qualitativo, na modalidade relato de experiência, no qual
contextualiza-se a realização
das práticas etnográficas e apresenta os principais resultados em
termos de aprendizagem e de troca com a comunidade. Constata
processo formativo aprimora habilidades essenciais ao exercício médico.
Palavras-chave: An
tropologia médica,
1 G
abriela Garcia de Carvalho Laguna. Graduação em Medicina. Instituto Multidisciplinar em Saúde,
Universidade Federal da Bahia.
gabrielagcl@outlook.com
2
Ana Luiza Ferreira Gusmão. Graduação em Medicina. Instituto Multidisciplinar em Saúde,
Universidade Federal da Bahia.
ana.gusmao@ufba.br
3
Ana Beatriz Ferreira Gusmão. Graduação em Medicina. Instituto Multidisciplinar em Saúde,
Universidade Federal da Bahia.
anagusmao@ufba.br
4
David Santos Libarino. Graduação em Medicina. Instituto Multidisciplinar em Saúde, Universidade
Federal da Bahia. davidl
ibarino@gmail.com
5
Fernanda Beatriz Melo Maciel. Bracharela interdisciplinar em saúde, Graduação em Medicina.
Instituto Multidisciplinar em Saúde, Universidad
https://orcid.org/0000-0002-
6421
6
Paloma Santos da Hora. Graduação em Medicina. Instituto Multidiscipli
Federal da Bahia.
paloma.hora@ufba.br
7
Paulo Rogers da Silva Ferreira. Doutor em antropo
Universidade Federal da Bahia.
Paulo.rogers@ufba.br
Recebido em
28/08/2022, aceito para publicação em 02/02/2023, disponibilizado online em
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
Interface entre medicina e antropologia médica: o método etnográfico
Revista Latino
-Americana de
, p.
220
-
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,
mar
.
202
3
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Interface entre medicina e antropologia médica: o método etnográfico na
formação médica
Gabriela Garcia de Carvalho Laguna
Ana Luiza Ferreira Gusmão
Ana Beatriz Ferreira Gusmão
David
Fernanda Beatriz Melo Maciel
Paloma Santos da Hora
Paulo Rogers da Silva Ferreira
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v1
3i24.55711
A unicidade da formação e da prática médica compreende o conhecimento e a
compreensão do processo saúde
-doença-
cuidado. A etnografia breve, técnica de pesquisa em
antropologia médica, vem ganhando cada vez mais destaque nas graduações em medicina. Neste
nário, para subsidiar a construção de um saber prático através da inserção no território como
campo de prática, a questão da alteridade entre estudantes de medicina e comunidade sob etnografia
se faz necesria. Assim, o objetivo deste artigo é descrever a
experiência de estudantes de medicina
com a execução de etnografias breves, destacando sua relevância para a formação médica. Trata
de um estudo descritivo, do tipo qualitativo, na modalidade relato de experiência, no qual
das práticas etnográficas e apresenta os principais resultados em
termos de aprendizagem e de troca com a comunidade. Constata
-
se que a aplicação da etnografia no
processo formativo aprimora habilidades essenciais ao exercício médico.
tropologia médica,
Antropologia cultural, Educação.
abriela Garcia de Carvalho Laguna. Graduação em Medicina. Instituto Multidisciplinar em Saúde,
gabrielagcl@outlook.com
. https://orcid.org/0000
-
Ana Luiza Ferreira Gusmão. Graduação em Medicina. Instituto Multidisciplinar em Saúde,
ana.gusmao@ufba.br
. https://orcid.org/0000-
0001
Ana Beatriz Ferreira Gusmão. Graduação em Medicina. Instituto Multidisciplinar em Saúde,
anagusmao@ufba.br
. https://orcid.org/0000-
0002
David Santos Libarino. Graduação em Medicina. Instituto Multidisciplinar em Saúde, Universidade
ibarino@gmail.com
. https://orcid.org/0000-0002-7763-
5026
Fernanda Beatriz Melo Maciel. Bracharela interdisciplinar em saúde, Graduação em Medicina.
Instituto Multidisciplinar em Saúde, Universidad
e Federal da Bahia.
Fernanda.melo@ufba.br
6421
-3940 .
Paloma Santos da Hora. Graduação em Medicina. Instituto Multidiscipli
nar em Saúde, Universidade
paloma.hora@ufba.br
. https://orcid.org/0000-0001-9990-7363
Paulo Rogers da Silva Ferreira. Doutor em antropo
logia. Instituto Multidisciplinar em Saúde,
Paulo.rogers@ufba.br
. https://orcid.org/0000-
0003
28/08/2022, aceito para publicação em 02/02/2023, disponibilizado online em
01/03/2023.
220
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Interface entre medicina e antropologia médica: o método etnográfico na
Gabriela Garcia de Carvalho Laguna
1
Ana Luiza Ferreira Gusmão
2
Ana Beatriz Ferreira Gusmão
3
David
Santos Libarino4
Fernanda Beatriz Melo Maciel
5
Paloma Santos da Hora
6
Paulo Rogers da Silva Ferreira
7
A unicidade da formação e da prática médica compreende o conhecimento e a
cuidado. A etnografia breve, técnica de pesquisa em
antropologia médica, vem ganhando cada vez mais destaque nas graduações em medicina. Neste
nário, para subsidiar a construção de um saber prático atras da inserção no território como
campo de prática, a questão da alteridade entre estudantes de medicina e comunidade sob etnografia
experiência de estudantes de medicina
com a execução de etnografias breves, destacando sua relevância para a formação médica. Trata
-se
de um estudo descritivo, do tipo qualitativo, na modalidade relato de experiência, no qual
das práticas etnográficas e apresenta os principais resultados em
se que a aplicão da etnografia no
abriela Garcia de Carvalho Laguna. Graduação em Medicina. Instituto Multidisciplinar em Saúde,
-
0001-7396-647X .
Ana Luiza Ferreira Gusmão. Graduação em Medicina. Instituto Multidisciplinar em Saúde,
0001
-7087-5935 .
Ana Beatriz Ferreira Gusmão. Graduação em Medicina. Instituto Multidisciplinar em Saúde,
0002
-7218-5505 .
David Santos Libarino. Graduação em Medicina. Instituto Multidisciplinar em Saúde, Universidade
5026
.
Fernanda Beatriz Melo Maciel. Bracharela interdisciplinar em saúde, Graduação em Medicina.
Fernanda.melo@ufba.br
.
nar em Saúde, Universidade
logia. Instituto Multidisciplinar em Saúde,
0003
-3686-2449
28/08/2022, aceito para publicação em 02/02/2023, disponibilizado online em
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
LIBARINO, David; MACIEL,
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
Interface entre medicina e antropologia médica: o método etnográfico
na formação médica. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
3
, n.
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4
Interfaz entre la medicina y la antropología médica: el método etnográfico en la educación
médica
Resumen:
La singularidad de la educación y la práctica médica comprende el conocimiento y la
comprensión del proceso salud
investigación en antropología médica, ha ido ganando cada vez más protagonismo en los estudios de
pregrado en medicina. En este escenario, para sustentar la construcción
través de la inserción en el territorio como campo de práctica, se hace necesaria la cuestión de la
alteridad entre los estudiantes de medicina y la comunidad bajo la etnografía. Así, el objetivo de este
artículo es describir la exp
eriencia de los estudiantes de medicina con la realización de etnografías
breves, destacando su relevancia para la educación médica. Se trata de un estudio descriptivo,
cualitativo, en forma de relato de experiencia, en el que se contextualiza la realizaci
etnográficas y se presentan los principales resultados en términos de aprendizaje e intercambio con la
comunidad. Parece que la aplicación de la etnografía en el proceso de formación mejora habilidades
esenciales para la práctica médica.
Palavras clave:
Antropología médica
Interface between medicine and medical anthropology: the ethnographic method in medical
education
Abstract:
The singularity of education and medical practice comprises knowledge and
of the health-enfermedad-
atención process. Brief ethnography, a research technique in medical
anthropology, has gained increasing prominence in medical studies. In this scenario, in order to
support the construction of practical knowledge thr
the investigation of alterity between medicine students and the community under ethnography is
necessary. Therefore, the objective of this article is to describe the experience of medical students
wit
h the realization of brief ethnographies, highlighting their relevance to medical education. It is a
descriptive, qualitative study, in the form of an experience report, in which the realization of
ethnographic practices is contextualized and the main resu
exchange with the community. It seems that the application of ethnography in the training process
improves essential skills for medical practice.
Keywords: Medical a
nthropology
Interface entre medicina e antropologia médica: o método etnográfico na
Introdução
O método etnográfico como campo
de prática na formação médica vem
sendo cada vez mais adotado pelas
escolas médicas brasileiras. Com a
inserção das competências em
antropologia médica nos currículos em
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
Interface entre medicina e antropologia médica: o método etnográfico
Revista Latino
-Americana de
, p.
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,
mar
.
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3
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Interfaz entre la medicina y la antropología médica: el método etnográfico en la educación
La singularidad de la educación y la práctica médica comprende el conocimiento y la
comprensión del proceso salud
-enfermedad-
atención. La etnografía breve, una técnica de
investigación en antropología médica, ha ido ganando cada vez más protagonismo en los estudios de
pregrado en medicina. En este escenario, para sustentar la construcción
de saberes prácticos a
través de la inserción en el territorio como campo de práctica, se hace necesaria la cuestión de la
alteridad entre los estudiantes de medicina y la comunidad bajo la etnografía. Así, el objetivo de este
eriencia de los estudiantes de medicina con la realización de etnografías
breves, destacando su relevancia para la educación médica. Se trata de un estudio descriptivo,
cualitativo, en forma de relato de experiencia, en el que se contextualiza la realizaci
etnográficas y se presentan los principales resultados en términos de aprendizaje e intercambio con la
comunidad. Parece que la aplicación de la etnografía en el proceso de formación mejora habilidades
esenciales para la práctica médica.
Antropología médica
; antropología cultural; educación.
Interface between medicine and medical anthropology: the ethnographic method in medical
The singularity of education and medical practice comprises knowledge and
atención process. Brief ethnography, a research technique in medical
anthropology, has gained increasing prominence in medical studies. In this scenario, in order to
support the construction of practical knowledge thr
ough insertion in the territory as a field of practice,
the investigation of alterity between medicine students and the community under ethnography is
necessary. Therefore, the objective of this article is to describe the experience of medical students
h the realization of brief ethnographies, highlighting their relevance to medical education. It is a
descriptive, qualitative study, in the form of an experience report, in which the realization of
ethnographic practices is contextualized and the main resu
lts are presented in terms of learning and
exchange with the community. It seems that the application of ethnography in the training process
improves essential skills for medical practice.
nthropology
; cultural anthropology; education.
Interface entre medicina e antropologia médica: o método etnográfico na
formação médica
O método etnográfico como campo
de prática na formação médica vem
sendo cada vez mais adotado pelas
escolas médicas brasileiras. Com a
inserção das competências em
antropologia médica nos currículos em
medicina no Brasil8
, a etnografia breve
aplicada a e
stas escolas, tem feito
8
As novas Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCNs) do curso de graduação em medicina,
publicadas em 2014, analisam saúde e doença de
maneira multidisciplinar e multifatorial, colocando
em evidência os saberes e práticas das
comunidades sob assistência que
favorecer no diagnóstico e terapêutica.
9
A etnografia breve é uma modalidade de
etnografia aplicada aos cursos de saúde.
Diferentemente de uma etnografia tradicional, em
que o antropólogo passa a conviver com a
221
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Interfaz entre la medicina y la antropología médica: el método etnográfico en la educación
La singularidad de la educación y la práctica médica comprende el conocimiento y la
atención. La etnografía breve, una técnica de
investigación en antropología médica, ha ido ganando cada vez más protagonismo en los estudios de
de saberes prácticos a
través de la inserción en el territorio como campo de práctica, se hace necesaria la cuestión de la
alteridad entre los estudiantes de medicina y la comunidad bajo la etnografía. Así, el objetivo de este
eriencia de los estudiantes de medicina con la realización de etnografías
breves, destacando su relevancia para la educación médica. Se trata de un estudio descriptivo,
cualitativo, en forma de relato de experiencia, en el que se contextualiza la realizaci
ón de prácticas
etnográficas y se presentan los principales resultados en términos de aprendizaje e intercambio con la
comunidad. Parece que la aplicación de la etnografía en el proceso de formación mejora habilidades
Interface between medicine and medical anthropology: the ethnographic method in medical
The singularity of education and medical practice comprises knowledge and
understanding
atención process. Brief ethnography, a research technique in medical
anthropology, has gained increasing prominence in medical studies. In this scenario, in order to
ough insertion in the territory as a field of practice,
the investigation of alterity between medicine students and the community under ethnography is
necessary. Therefore, the objective of this article is to describe the experience of medical students
h the realization of brief ethnographies, highlighting their relevance to medical education. It is a
descriptive, qualitative study, in the form of an experience report, in which the realization of
lts are presented in terms of learning and
exchange with the community. It seems that the application of ethnography in the training process
Interface entre medicina e antropologia médica: o método etnográfico na
, a etnografia breve
9,
stas escolas, tem feito
As novas Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCNs) do curso de graduação em medicina,
publicadas em 2014, analisam saúde e doença de
maneira multidisciplinar e multifatorial, colocando
em evidência os saberes e práticas das
comunidades sob assistência que
possam
favorecer no diagnóstico e terapêutica.
A etnografia breve é uma modalidade de
etnografia aplicada aos cursos de saúde.
Diferentemente de uma etnografia tradicional, em
que o antropólogo passa a conviver com a
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
LIBARINO, David; MACIEL,
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
Interface entre medicina e antropologia médica: o método etnográfico
na formação médica. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
3
, n.
2
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, p.
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estudantes refletirem sobre alteridade,
etnocentrismo e antropocentrismo na
prática médica. Entre os cenários
abordados como campo de prática para a
execução da etnografia breve estão as
unidades de saúde públicas, os hospitais
públ
icos e privados, as comunidades
assistidas pelo Sistema Único de Saúde
(SUS), pelo programa Mais Médicos, o
código de ética médico, entre outros. A
etnografia breve configura-
se como uma
(des)construção analítica de uma
operacionalidade dita integral em
medicina.
A inserção do método no Brasil
ganhou força e importância
primeiramente no curso de Saúde
Coletiva, direcionado a intensificação do
uso de métodos qualitativos como marca
distintiva deste campo (CAPRARA
LANDIM, 2008). Em medicina, sobretudo
em me
dicina social, ele foi empregado
por antropólogos desde os anos 1940,
quando a antropologia médica ainda era
chamada de etnomedicina no Canadá e
população sob estudo por um longo pe
tempo, no caso da etnografia breve, este tempo é
reduzido, ajustado a grade curricular das escolas
médicas. Muitas são as polêmicas sobre o tempo
que deve ser reservado ao trabalho etnográfico
(Nakamura, 2011)
, porém, e como já apontava
Favret-Sa
ada (2002), não é o tempo que define a
boa etnografia, mas o deixar-
se afetar no trabalho
de campo, sua intensidade, sensibilidade e
desenvoltura.
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
Interface entre medicina e antropologia médica: o todo etnográfico
Revista Latino
-Americana de
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www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
estudantes refletirem sobre alteridade,
etnocentrismo e antropocentrismo na
prática médica. Entre os cenários
abordados como campo de prática para a
execução da etnografia breve estão as
unidades de saúde públicas, os hospitais
icos e privados, as comunidades
assistidas pelo Sistema Único de Saúde
(SUS), pelo programa Mais Médicos, o
digo de ética médico, entre outros. A
se como uma
(des)construção analítica de uma
operacionalidade dita integral em
A inserção do método no Brasil
ganhou força e importância
primeiramente no curso de Saúde
Coletiva, direcionado a intensificação do
uso de métodos qualitativos como marca
distintiva deste campo (CAPRARA
;
LANDIM, 2008). Em medicina, sobretudo
dicina social, ele foi empregado
por antropólogos desde os anos 1940,
quando a antropologia médica ainda era
chamada de etnomedicina no Canadá e
população sob estudo por um longo pe
ríodo de
tempo, no caso da etnografia breve, este tempo é
reduzido, ajustado a grade curricular das escolas
médicas. Muitas são as polêmicas sobre o tempo
que deve ser reservado ao trabalho etnográfico
, porém, e como já apontava
ada (2002), não é o tempo que define a
se afetar no trabalho
de campo, sua intensidade, sensibilidade e
nos Estados Unidos (SAILLANT
GENEST, 2012). Naquela época, a
pesquisa etnográfica era executada por
antropólog
os e por médicos. Foram e
ainda são diversas as contribuições da
etnografia breve em medicina: a análise
do universo cultural de médicos e
pacientes (etnomedicina); as questões
das desigualdades sociais influenciadas
pelo contexto sociocultural e/ou
determ
inantes sociais da saúde
(antropologia médica crítica); a trajetória
simbólica de médicos e pacientes
significando suas existências culturais
(antropologia existencial e
fenomenológica) e, finalmente, a
reparação da assimetria entre humanos e
não humanos n
o protagonismo da prática
médica, ou melhor, a crítica à
centralidade das decies nos humanos
(antropocentrismo) do fazer medicina
(antropologia médica pós
As Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCNs) do curso de graduação
em medicina no Brasil
10
A antropologia médica pós
CHAGAS
, no prelo) nasce com a virada
ontológica em antropolog
ia. Em sua delimitação
epistemológica para se diferenciar de uma
antropologia médica crítica, ela se centra em uma
reflexão sobre a impertinência do
antropocentrismo e da centralidade na crítica
social em antropologia médica crítica, quando
esta última lim
ita a história da medicina ao
protagonismo de médicos, de pacientes, da
indústria farmacêutica, entre outros.
222
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
nos Estados Unidos (SAILLANT
;
GENEST, 2012). Naquela época, a
pesquisa etnográfica era executada por
os e por médicos. Foram e
ainda são diversas as contribuições da
etnografia breve em medicina: a análise
do universo cultural de médicos e
pacientes (etnomedicina); as questões
das desigualdades sociais influenciadas
pelo contexto sociocultural e/ou
inantes sociais da saúde
(antropologia médica crítica); a trajetória
simbólica de médicos e pacientes
significando suas existências culturais
(antropologia existencial e
fenomenológica) e, finalmente, a
reparação da assimetria entre humanos e
o protagonismo da prática
médica, ou melhor, a crítica à
centralidade das decisões nos humanos
(antropocentrismo) do fazer medicina
(antropologia médica pós
-crítica10).
As Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCNs) do curso de graduação
em medicina no Brasil
visam a formação
A antropologia médica pós
-critica (FERREIRA;
, no prelo) nasce com a virada
ia. Em sua delimitação
epistemológica para se diferenciar de uma
antropologia médica crítica, ela se centra em uma
reflexão sobre a impertinência do
antropocentrismo e da centralidade na crítica
social em antropologia médica crítica, quando
ita a história da medicina ao
protagonismo de médicos, de pacientes, da
indústria farmacêutica, entre outros.
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
LIBARINO, David; MACIEL,
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
Interface entre medicina e antropologia médica: o método etnográfico
na formação médica. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
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de um médico com perfil generalista,
humanista, crítico e reflexivo, que esteja
preparado para trabalhar no serviços
públicos de saúde e conhecendo a
realidade local (BRASIL, 2014). É nesse
ensejo que se insere o método
etnográfico nos cur
sos de medicina, em
que a antropologia médica passa a ser
uma das disciplinas essenciais à
formação do perfil almejado.
É válido ressaltar que a
antropologia médica se divide em três
fases e em cada fase, o método
etnográfico ganha em particularidade. Na
primeira fase, chamada de etnomedicina,
datada dos anos 1940 a 1960, nos
Estados Unidos, os antropólogos
centralizam suas etnografias no conceito
de cultura para explicar as concepções
de doença e saúde de médicos e
pacientes. Os modelos biomédicos e a
cos
mologia dos pacientes eram
classificados como culturalmente
construídos, isto é, eram sinônimo de
ritos, mitos e símbolos. Quanto à
segunda fase, a passagem da
etnomedicina para a antropologia médica
crítica, datada de 1970, os antropólogos
passaram a cons
iderar, além do conceito
de cultura, os determinantes sociais da
saúde (classe, renda, cor/raça,
escolaridade) no entendimento da prática
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
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-Americana de
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mar
.
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(Fluxo contínuo)
de um médico com perfil generalista,
humanista, crítico e reflexivo, que esteja
preparado para trabalhar no serviços
públicos de saúde e conhecendo a
realidade local (BRASIL, 2014). É nesse
ensejo que se insere o método
sos de medicina, em
que a antropologia médica passa a ser
uma das disciplinas essenciais à
É válido ressaltar que a
antropologia médica se divide em três
fases e em cada fase, o método
etnográfico ganha em particularidade. Na
primeira fase, chamada de etnomedicina,
datada dos anos 1940 a 1960, nos
Estados Unidos, os antropólogos
centralizam suas etnografias no conceito
de cultura para explicar as concepções
de doença e saúde de médicos e
pacientes. Os modelos biomédicos e a
mologia dos pacientes eram
classificados como culturalmente
construídos, isto é, eram sinônimo de
ritos, mitos e mbolos. Quanto à
segunda fase, a passagem da
etnomedicina para a antropologia médica
crítica, datada de 1970, os antropólogos
iderar, além do conceito
de cultura, os determinantes sociais da
saúde (classe, renda, cor/raça,
escolaridade) no entendimento da prática
médica e de pacientes. Este modelo é
hoje adotado nas graduações em
medicina, orientando a etnografia a um
olhar críti
co sobre médicos e pacientes.
Ressaltamos que a antropologia
existencial ou fenomenológica aplicada à
medicina também se enquadra na
antropologia médica crítica, pois ela tem
como objeto história de vida de médicos
e pacientes e a consciência (crítica)
des
sa história. Finalmente, a fase atual,
chamada de antropologia médica pós
crítica, centrada em uma crítica a
antropologia médica crítica no que diz
respeito a centralidade da etnografia
apenas no protagonismo de seres
humanos (médicos e pacientes)
colocand
o como pano de fundo os não
humanos (órgãos, tecidos, vírus,
bactérias) que também exercem
protagonismo no fazer (colaborando no
entendimento de cura para um paciente)
(FERREIRA;
CHAGAS,
O método etnográfico, que pode
adotar qualquer uma
antropologia médica, deve ser inserido
dentro do processo formativo dos
estudantes de medicina, uma vez que é
durante a formação acadêmica que o
estudante poderá perceber, na
consolidação de sua ética profissional, a
necessidade da alter
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www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
médica e de pacientes. Este modelo é
hoje adotado nas graduações em
medicina, orientando a etnografia a um
co sobre médicos e pacientes.
Ressaltamos que a antropologia
existencial ou fenomenológica aplicada à
medicina também se enquadra na
antropologia médica crítica, pois ela tem
como objeto história de vida de médicos
e pacientes e a consciência (crítica)
sa história. Finalmente, a fase atual,
chamada de antropologia médica pós
-
crítica, centrada em uma crítica a
antropologia médica crítica no que diz
respeito a centralidade da etnografia
apenas no protagonismo de seres
humanos (médicos e pacientes)
o como pano de fundo os não
humanos (órgãos, tecidos, vírus,
bactérias) que também exercem
protagonismo no fazer (colaborando no
entendimento de cura para um paciente)
CHAGAS,
[2023], no prelo).
O método etnográfico, que pode
adotar qualquer uma
das três fases da
antropologia médica, deve ser inserido
dentro do processo formativo dos
estudantes de medicina, uma vez que é
durante a formação acadêmica que o
estudante poderá perceber, na
consolidação de sua ética profissional, a
necessidade da alter
idade e como ela
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
LIBARINO, David; MACIEL,
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
Interface entre medicina e antropologia médica: o método etnográfico
na formação médica. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
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pode permitir uma maior aproximação da
relação médico-
paciente, bem como um
melhor direcionamento da hipótese
diagnóstica em medicina. Nesse sentido,
o objetivo deste estudo é descrever a
experiência de estudantes do curso de
Medicina do I
nstituto Multidisciplinar em
Saúde da Universidade Federal da Bahia
(IMS-
CAT/UFBA), com a execução do
método etnográfico em diferentes
campos de prática, por conseguinte,
destaca-
se também a emergência da
antropologia médica para a formação
médica brasileira.
Método
Este artigo apresenta um estudo
descritivo, do tipo qualitativo, classificado
como relato de experiência. Por relato de
experiência, Tessmer e Rutz (2021)
conceituam: “Os relatos de experiência
trazem uma descrição de determinado
fato, na maior
parte das vezes, não
provém de pesquisas, pois é apresentada
a experiência individual ou de um
determinado grupo/profissionais sobre
uma determinada situação” (TESSMER
RUTZ, 2021, p. 1).
O relato de experiência aqui
delineado centrou-
se em três trabalhos
de campo, a saber: uma horta
comunitária urbana; reuniões com um
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
Interface entre medicina e antropologia médica: o todo etnográfico
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mar
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.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
pode permitir uma maior aproximação da
paciente, bem como um
melhor direcionamento da hipótese
diagnóstica em medicina. Nesse sentido,
o objetivo deste estudo é descrever a
experiência de estudantes do curso de
nstituto Multidisciplinar em
Saúde da Universidade Federal da Bahia
CAT/UFBA), com a execução do
método etnográfico em diferentes
campos de prática, por conseguinte,
se também a emergência da
antropologia médica para a formação
Este artigo apresenta um estudo
descritivo, do tipo qualitativo, classificado
como relato de experiência. Por relato de
experiência, Tessmer e Rutz (2021)
conceituam: Os relatos de experiência
trazem uma descrição de determinado
parte das vezes, o
provém de pesquisas, pois é apresentada
a experiência individual ou de um
determinado grupo/profissionais sobre
uma determinada situação (TESSMER
;
O relato de experiência aqui
se em três trabalhos
de campo, a saber: uma horta
comunitária urbana; reuniões com um
grupo de mulheres gestantes, adeptas do
parto humanizado, e, na confecção de
um etnodicionário, relacionado às
nomenclaturas populares das doenças
pelos usuários de unidades de saúde,
todos
em Vitória da Conquista/BA. A
aplicabilidade do método etnográfico
breve teve como objetivo comum
possibilitar aos alunos conhecer e
entender melhor como cada grupo
etnografado experimentava o processo
saúde-doença-
cuidado.
Resultados
Horta comunitária u
rbana
O trabalho de campo na horta
comunitária compusera o primeiro
contato dos graduandos com a prática
etnográfica, ainda no primeiro ano da
graduação, e foi executado por toda a
turma, separada em três grupos
de 12 a 16 alunos por grupo. Um grup
centrou sua atenção nos agricultores
comerciantes da horta, outro nos
compradores-
consumidores e o último no
entorno (vizinhança), incluindo
moradores e comerciantes que residiam
próximos da horta.
No que diz respeito ao método
etnográfico breve emprega
comunitária urbana, os estudantes
passaram a comprar hortaliças, interagir
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www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
grupo de mulheres gestantes, adeptas do
parto humanizado, e, na confecção de
um etnodicionário, relacionado às
nomenclaturas populares das doenças
pelos usuários de unidades de saúde,
em Vitória da Conquista/BA. A
aplicabilidade do método etnográfico
breve teve como objetivo comum
possibilitar aos alunos conhecer e
entender melhor como cada grupo
etnografado experimentava o processo
cuidado.
rbana
O trabalho de campo na horta
comunitária compusera o primeiro
contato dos graduandos com a prática
etnográfica, ainda no primeiro ano da
graduação, e foi executado por toda a
turma, separada em três grupos
- cerca
de 12 a 16 alunos por grupo. Um grup
o
centrou sua atenção nos agricultores
-
comerciantes da horta, outro nos
consumidores e o último no
entorno (vizinhança), incluindo
moradores e comerciantes que residiam
No que diz respeito ao método
etnográfico breve emprega
do na horta
comunitária urbana, os estudantes
passaram a comprar hortaliças, interagir
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
LIBARINO, David; MACIEL,
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
Interface entre medicina e antropologia médica: o método etnográfico
na formação médica. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
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com os agricultores locais, sentir diversos
aromas de plantas, conhecer novas
receitas de chás, identificar pulgões,
besouros e a importância da chuva e do
sol; etnograf
ar os moradores do bairro; o
papel da prefeitura; dos clientes que
frequentavam o espaço e a concepção
de alimentação saudável sem
agrotóxicos, entre outros temas.
Como método etnográfico, o
sugerido pela antropóloga Jeanne Favret
Saada: “Quando um etnógr
afo aceita ser
afetado, isso o implica identificar
com o ponto de vista do nativo, nem
aproveitar-
se da experiência de campo
para exercitar seu narcisismo. Aceitar ser
afetado supõe, todavia, que se assuma o
risco de ver seu projeto de conhecimento
se desfazer” (FAVRET-
SAADA, 2005, p.
160). Dito de outro modo, os estudantes
evitaram questionários semiestruturados;
o a priori
de perguntas de pesquisas
estudos prévios sobre hortas
comunitárias urbanas optando,
finalmente, por experimentar a vivência
di
reta e breve em uma horta comunitária,
compreendendo, e ainda e com Favret
11
A inspiração vem de Viveiros de Castro (2002),
quando discorre sobre a necessidade de executar
etnografia buscando não aplicar às perguntas
formuladas a priori
pelo antropólogo sobre
determinado tema, mas procurar as formuladas
pelo grupo etnografado e as respostas que estes
grupos dão às suas perguntas.
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
Interface entre medicina e antropologia médica: o todo etnográfico
Revista Latino
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(Fluxo contínuo)
com os agricultores locais, sentir diversos
aromas de plantas, conhecer novas
receitas de chás, identificar pulgões,
besouros e a importância da chuva e do
ar os moradores do bairro; o
papel da prefeitura; dos clientes que
frequentavam o espaço e a concepção
de alimentação saudável sem
agrotóxicos, entre outros temas.
Como método etnográfico, o
sugerido pela antropóloga Jeanne Favret
-
afo aceita ser
afetado, isso não implica identificar
-se
com o ponto de vista do nativo, nem
se da experiência de campo
para exercitar seu narcisismo. Aceitar ser
afetado supõe, todavia, que se assuma o
risco de ver seu projeto de conhecimento
SAADA, 2005, p.
160). Dito de outro modo, os estudantes
evitaram questionários semiestruturados;
de perguntas de pesquisas
11,
estudos prévios sobre hortas
comunitárias urbanas optando,
finalmente, por experimentar a vivência
reta e breve em uma horta comunitária,
compreendendo, e ainda e com Favret
-
A inspiração vem de Viveiros de Castro (2002),
quando discorre sobre a necessidade de executar
etnografia buscando não aplicar às perguntas
pelo antropólogo sobre
determinado tema, mas procurar as formuladas
pelo grupo etnografado e as respostas que estes
Saada: “Entre pessoas igualmente
afetadas por estarem ocupando tais
lugares, acontecem coisas às quais
jamais é dada a um etnógrafo assistir [...].
Experimentando as intensidades li
a tal lugar, descobre
-
um apresenta uma espécie particular de
objetividade” (FAVRET
160).
O papel central da horta
comunitária, na vida da população
etnografada e para uma medicina
comunitária, foi evidenciado para
uma mera questão mercadológica, de
compra e venda de hortaliças, mas, e
sobretudo, como um
consumindo alimentação orgânica e
cobrindo de verde (plantas) o bairro. Em
um outro momento do trabalho de
campo, os estudantes puderam também
etno
grafar as pequenas hortas mantidas
nos quintais das casas dos moradores do
bairro.
Além disso, a população da
cidade, no geral, também se mostrou
adepta do consumo dos alimentos
cultivados naquela horta, pois entendiam
que, por conhecerem a procedência do
produto12
, estava mais segura contra
12
Sobre a periculosidade da procedência de
produtos, Fleischer (2018), ao etnografar o uso d
medicamentos pela população, sendo estes
disponibilizados pelas unidades de saúde no
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- ISSN 2237-1508
Saada: Entre pessoas igualmente
afetadas por estarem ocupando tais
lugares, acontecem coisas às quais
jamais é dada a um etnógrafo assistir [...].
Experimentando as intensidades li
gadas
-
se, aliás, que cada
um apresenta uma espécie particular de
objetividade (FAVRET
-SAADA, 2005, p.
O papel central da horta
comunitária, na vida da população
etnografada e para uma medicina
comunitária, foi evidenciado para
além de
uma mera questão mercadológica, de
compra e venda de hortaliças, mas, e
sobretudo, como um
bem-viver
consumindo alimentação orgânica e
cobrindo de verde (plantas) o bairro. Em
um outro momento do trabalho de
campo, os estudantes puderam também
grafar as pequenas hortas mantidas
nos quintais das casas dos moradores do
Além disso, a população da
cidade, no geral, também se mostrou
adepta do consumo dos alimentos
cultivados naquela horta, pois entendiam
que, por conhecerem a procedência do
, estava mais segura contra
Sobre a periculosidade da procedência de
produtos, Fleischer (2018), ao etnografar o uso d
e
medicamentos pela populão, sendo estes
disponibilizados pelas unidades de saúde no
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
LIBARINO, David; MACIEL,
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
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na formação médica. PragMATIZES -
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Estudos em Cultura,
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possíveis intoxicações. Entretanto, isso
não impedia conflitos de interesse no que
tange os comerciantes da horta e da
região, e os moradores do entorno. Os
estudantes puderam reconhecer essas
nuances, muitas vezes no q
silenciado, como exercício frequente e
fundamental para a compreensão das
dinâmicas que perpassam o território. Ao
final, a experiência de cada grupo foi
descrita por escrito, em formato de diário
de campo, compartilhado na modalidade
seminário com a
turma em um encontro.
Reuniões com grupo de mulheres
gestantes adeptas do parto humanizado
A etnografia breve com o parto
humanizado, na formação de estudantes
do módulo de ginecologia e obstetrícia,
colaborou, juntamente com uma análise
documental e vivê
ncia nas rodas de
conversas, para compreender as
reflexões suscitadas pela experiência do
contato com integrantes de um grupo de
gestantes e profissionais de saúde, cujo
escopo baseou-
se na experiência
Distrito Federal, acresce: “Uma senhora explicou
sobre periculosidade: ‘O remédio de planta, a
gente não vai tomar aquelas plantas que a gente
não tem o costume delas. E
, no caso da médica,
é difícil ela passar um remédio que a gente já
tenha o costume dele’.Por isso, segundo sua
lógica, o ‘remédio da cidade’ era potencialmente
mais perigoso e merecia ser acompanhado com
mais cautela” (FLEISCHER, 2018, p. 199
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
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(Fluxo contínuo)
posveis intoxicações. Entretanto, isso
não impedia conflitos de interesse no que
tange os comerciantes da horta e da
região, e os moradores do entorno. Os
estudantes puderam reconhecer essas
nuances, muitas vezes no q
ue é
silenciado, como exercio frequente e
fundamental para a compreensão das
dinâmicas que perpassam o território. Ao
final, a experiência de cada grupo foi
descrita por escrito, em formato de diário
de campo, compartilhado na modalidade
turma em um encontro.
Reuniões com grupo de mulheres
gestantes adeptas do parto humanizado
A etnografia breve com o parto
humanizado, na formação de estudantes
do módulo de ginecologia e obstetrícia,
colaborou, juntamente com uma análise
ncia nas rodas de
conversas, para compreender as
reflexões suscitadas pela experiência do
contato com integrantes de um grupo de
gestantes e profissionais de saúde, cujo
se na experiência
Distrito Federal, acresce: Uma senhora explicou
sobre periculosidade: O remédio de planta, a
gente não vai tomar aquelas plantas que a gente
, no caso da médica,
é difícil ela passar um remédio que a gente já
tenha o costume dele.Por isso, segundo sua
lógica, o remédio da cidade era potencialmente
mais perigoso e merecia ser acompanhado com
mais cautela (FLEISCHER, 2018, p. 199
-200)
compartilhada da gravidez, no combate a
violência obst
étrica e na promoção do
parto natural humanizado, fundamentado
em medicina baseada em evidências
que culminou em um relato de
experiência enquanto artigo científico.
Considerando o etnocentrismo como
uma visão de mundo definida a
partir de valores cul
particulares, nota
gestantes [...], um universo
etnocêntrico no tocante ao evento
parto na vida da mulher, construído
a partir de suas concepções e
significando-
o com ênfase na
positividade do chamado parto
natural humanizado. Es
é composto pela crença na MBE
[Medicina Baseada em Evidências],
por ritos discursivos enaltecendo o
‘cientificamente comprovado, por
citações de autores previamente
selecionados e por elogios ao
humanizado (MACIEL
FERREIRA, 2019, p. 1
A etnografia breve, com o parto
humanizado, se deu em dois cenários,
um no qual representantes do grupo de
gestantes foram convidadas a palestrar
em sala de aula com os estudantes, nas
dependências do IMS
outro no qual os estudantes
se até a sede da roda de gestantes, em
dois grupos, para presenciar o modelo
com que os encontros ocorrem. Em
ambos c
enários a coleta de dados foi
norteada pela etnografia breve sucedida
pelo registro das percepções discentes,
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- ISSN 2237-1508
compartilhada da gravidez, no combate a
étrica e na promoção do
parto natural humanizado, fundamentado
em medicina baseada em evidências
- o
que culminou em um relato de
experiência enquanto artigo científico.
Considerando o etnocentrismo como
uma vio de mundo definida a
partir de valores cul
turais
particulares, nota
-se, nesta roda de
gestantes [...], um universo
etnontrico no tocante ao evento
parto na vida da mulher, construído
a partir de suas concepções e
o com ênfase na
positividade do chamado ‘parto
natural humanizado’. Es
te universo
é composto pela crença na MBE
[Medicina Baseada em Evidências],
por ritos discursivos enaltecendo o
cientificamente comprovado’, por
citações de autores previamente
selecionados e por elogios ao
humanizado (MACIEL
; SANTOS;
FERREIRA, 2019, p. 1
55)
A etnografia breve, com o parto
humanizado, se deu em dois cenários,
um no qual representantes do grupo de
gestantes foram convidadas a palestrar
em sala de aula com os estudantes, nas
dependências do IMS
-CAT/UFBA, e
outro no qual os estudantes
deslocaram-
se até a sede da roda de gestantes, em
dois grupos, para presenciar o modelo
com que os encontros ocorrem. Em
enários a coleta de dados foi
norteada pela etnografia breve sucedida
pelo registro das percepções discentes,
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
LIBARINO, David; MACIEL,
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
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na formação médica. PragMATIZES -
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os quais foram pos
sistematizados e categorizados
qualitativamente. Logo, foi posvel
verificar que o grupo sob etnografia
corroborava implicitamente na promoção
de condutas, no incentivo ao controle
social e na institucionalização do
chamado parto natural human
intermédio de intelectualismo, mediante
os atributos científicos, humanitários e
ativistas, favorecendo a relevância e
aceitabilidade aos argumentos
desenvolvidos e socializados.
Como método etnográfico, o
sugerido por Favret-
Saada: “[O] ponto
partida é o reconhecimento de que a
comunicação etnográfica ordinária
comunicação verbal, voluntária e
intencional, visando à aprendizagem de
um sistema de representações nativas
constitui uma das mais pobres
variedades da comunicação humana. El
é especialmente imprópria para fornecer
informações sobre os aspectos não
verbais e involuntários da experiência
humana” (FAVRET-
SAADA, 2005, p.
160).
Confecção de um etnodicionário
nomenclaturas populares das doenças
Por fim, no que concerne a
cons
trução do etnodicionário sobre a
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
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(Fluxo contínuo)
os quais foram pos
teriormente
sistematizados e categorizados
qualitativamente. Logo, foi possível
verificar que o grupo sob etnografia
corroborava implicitamente na promoção
de condutas, no incentivo ao controle
social e na institucionalização do
chamado parto natural human
izado, por
intermédio de intelectualismo, mediante
os atributos científicos, humanitários e
ativistas, favorecendo a relevância e
aceitabilidade aos argumentos
desenvolvidos e socializados.
Como método etnográfico, o
Saada: [O] ponto
de
partida é o reconhecimento de que a
comunicação etnográfica ordinária
- uma
comunicação verbal, voluntária e
intencional, visando à aprendizagem de
um sistema de representações nativas
-
constitui uma das mais pobres
variedades da comunicação humana. El
a
é especialmente imprópria para fornecer
informações sobre os aspectos não
verbais e involuntários da experiência
SAADA, 2005, p.
Confeão de um etnodicionário
-
nomenclaturas populares das doenças
Por fim, no que concerne a
trução do etnodicionário sobre a
nomenclatura popular e local de doenças,
o objetivo foi etnografar e catalogar
brevemente os principais termos
populares das doenças utilizados por
usuários de unidades de saúde, para,
assim, produzir um dicionário destinad
aos médicos que ali trabalhavam (muitos
de fora do município e do Estado),
aprimorando, assim, a comunicação
entre médico e paciente. Os estudantes
passaram a conviver, de forma informal,
com moradores de bairros, usuários das
unidades de saúde, previame
selecionados pelos agentes comunitários
de saúde.
Quanto à organização da
proposta, a etnografia breve envolveu a
divisão dos alunos em pequenos grupos,
de 2 a 3 alunos, e cada grupo pode
acompanhar os membros de uma família,
visando melhor compreensã
percepções de saúde e doença, durante
trabalho de campo à casa da família em
um turno semanal, por três semanas.
Não foram utilizados questionários
prévios e, além de catalogar vobulos,
os estudantes mantiveram um diálogo
aberto a fim de con
familiar, as crenças e relações cotidianas
dos moradores, sobretudo as impressões
sobre as doenças que os acometiam. A
etnografia breve foi basilar para ampliar
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nomenclatura popular e local de doenças,
o objetivo foi etnografar e catalogar
brevemente os principais termos
populares das doenças utilizados por
usuários de unidades de saúde, para,
assim, produzir um dicionário destinad
o
aos médicos que ali trabalhavam (muitos
de fora do munipio e do Estado),
aprimorando, assim, a comunicação
entre médico e paciente. Os estudantes
passaram a conviver, de forma informal,
com moradores de bairros, usuários das
unidades de saúde, previame
nte
selecionados pelos agentes comunitários
Quanto à organização da
proposta, a etnografia breve envolveu a
divio dos alunos em pequenos grupos,
de 2 a 3 alunos, e cada grupo pode
acompanhar os membros de uma família,
visando melhor compreensã
o acerca das
percepções de saúde e doença, durante
trabalho de campo à casa da família em
um turno semanal, por três semanas.
Não foram utilizados questionários
prévios e, além de catalogar vocábulos,
os estudantes mantiveram um diálogo
aberto a fim de con
hecer a dinâmica
familiar, as crenças e relações cotidianas
dos moradores, sobretudo as impressões
sobre as doenças que os acometiam. A
etnografia breve foi basilar para ampliar
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
LIBARINO, David; MACIEL,
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
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na formação médica. PragMATIZES -
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Estudos em Cultura,
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conhecimentos para além de uma
nomenclatura formal e hipóteses
diagnósticas de doenças.
Notou-
se, inicialmente, nos
primeiros encontros, certa resistência por
parte da comunidade em dialogar
abertamente sobre os conhecimentos
próprios de saúde e doença. Nesse
sentido, a maioria negava ou omitia
informações ou termos utilizados pela
comunidade cotidianamente, fazendo uso
de algumas palavras usualmente ouvidas
na unidade de saúde. Foi constatada a
influência das unidades de saúde nas
nomenclaturas populares, sobretudo a
necessidade da população local,
selecionada pelos agentes de saúd
o trabalho de campo, em repetir termos
utilizados pelos agentes, por medo de
perder algum benefício nas unidades.
Uma outra constatação foi a repetição da
mesma nomenclatura proferida pelos
médicos das unidades como forma de
demarcar uma comunidade
capacitada
em tais nomenclaturas (símbolo de
status).
No decorrer do trabalho de campo,
entretanto, os moradores, pouco a pouco,
passaram a falar, de maneira
emancipada, sobre como conheciam as
doenças e seus meios terapêuticos. Esta
abertura se deu pe
lo método etnográfico
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
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conhecimentos para além de uma
nomenclatura formal e hipóteses
se, inicialmente, nos
primeiros encontros, certa resistência por
parte da comunidade em dialogar
abertamente sobre os conhecimentos
próprios de saúde e doença. Nesse
sentido, a maioria negava ou omitia
informações ou termos utilizados pela
comunidade cotidianamente, fazendo uso
de algumas palavras usualmente ouvidas
na unidade de saúde. Foi constatada a
influência das unidades de saúde nas
nomenclaturas populares, sobretudo a
necessidade da população local,
selecionada pelos agentes de saúd
e para
o trabalho de campo, em repetir termos
utilizados pelos agentes, por medo de
perder algum benefício nas unidades.
Uma outra constatação foi a repetição da
mesma nomenclatura proferida pelos
médicos das unidades como forma de
“capacitada”
em tais nomenclaturas (símbolo de
No decorrer do trabalho de campo,
entretanto, os moradores, pouco a pouco,
passaram a falar, de maneira
emancipada, sobre como conheciam as
doenças e seus meios terapêuticos. Esta
lo método etnográfico
adotado: a vivência com a comunidade
sem perguntas prévias elaboradas pelos
estudantes em que estes estudantes
passaram a conviver mais intimamente
com a comunidades (através de
whatsapps, de encontros com bolos,
sucos, doces, em bare
entre outros espaços de convivência
proporcionados pela comunidade).
Outra questão pertinente, durante
a etnografia, foi a percepção pelos
estudantes sobre a forte ligação da
comunidade com as plantas e a utilização
da fitoterapia. Muito
s moradores tinham
hortas em casa, sendo perceptível que a
comunidade comumente recorre a fontes
curativas alternativas, por meio do uso de
chás e xaropes preparados por eles
com o direcionamento de anciãos que
detém e repassam seus conhecimentos
acerca
de cada erva e planta e seu papel
na cura. Dessa forma, para além de
conhecer os termos locais para cada
enfermidade, os estudantes tiveram
contato com a forma como a comunidade
pensa e age no cuidado com a saúde e
doença e suas crenças entre medicação
pre
scrita pelos médicos e os chás e
xaropes indicados por vizinhos e pela
própria família, de forma geracional.
Ao final da cada encontro, os
estudantes se reuniam com o professor
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- ISSN 2237-1508
adotado: a vivência com a comunidade
sem perguntas prévias elaboradas pelos
estudantes em que estes estudantes
passaram a conviver mais intimamente
com a comunidades (através de
whatsapps, de encontros com bolos,
sucos, doces, em bare
s, jogando sinuca,
entre outros espaços de convivência
proporcionados pela comunidade).
Outra questão pertinente, durante
a etnografia, foi a percepção pelos
estudantes sobre a forte ligação da
comunidade com as plantas e a utilização
s moradores tinham
hortas em casa, sendo perceptível que a
comunidade comumente recorre a fontes
curativas alternativas, por meio do uso de
chás e xaropes preparados por eles
-
com o direcionamento de anciãos que
detém e repassam seus conhecimentos
de cada erva e planta e seu papel
na cura. Dessa forma, para além de
conhecer os termos locais para cada
enfermidade, os estudantes tiveram
contato com a forma como a comunidade
pensa e age no cuidado com a saúde e
doença e suas crenças entre medicação
scrita pelos médicos e os chás e
xaropes indicados por vizinhos e pela
própria família, de forma geracional.
Ao final da cada encontro, os
estudantes se reuniam com o professor
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
LIBARINO, David; MACIEL,
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
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para abordar suas dificuldades e
percepções e, finalizadas as três
semanas de trabalho de campo,
compartilharam com os colegas seus
resultados no que tange as palavras e
traduções para o etnodicionário. Destaca
se que a oportunidade de realizar a
etnografi
a com grupos menores de
estudantes permitiu uma atuação mais
ativa de cada integrante e, portanto, uma
melhor apropriação das vivências,
estratégias e conceitos a partir das visitas
domiciliares. Além disso, o fato da visita
domiciliar depender do interess
disponibilidade da família, demandou que
os estudantes desenvolvessem
estratégias para a permanência durante
as três semanas, um desafio e uma
aprendizagem, que não foi possível para
todos os grupos, casos em que lidar com
a frustração foi necessári
o e também
educativo, porque a recusa também faz
parte do trabalho etnográfico.
O método adotado foi o sugerido
por Favret-
Saada: “Quando o etnógrafo
lembra-
se do que houve de único em sua
estadia no campo, ele fala sempre de
situações em que não estava e
condições de praticar essa comunicação
pobre, pois estava invadido por uma
situação e/ou por seus próprios afetos.
Nas etnografias, essas situações, apesar
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
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(Fluxo contínuo)
para abordar suas dificuldades e
percepções e, finalizadas as três
semanas de trabalho de campo,
compartilharam com os colegas seus
resultados no que tange as palavras e
traduções para o etnodicionário. Destaca
-
se que a oportunidade de realizar a
a com grupos menores de
estudantes permitiu uma atuação mais
ativa de cada integrante e, portanto, uma
melhor apropriação das vivências,
estratégias e conceitos a partir das visitas
domiciliares. Além disso, o fato da visita
domiciliar depender do interess
e e da
disponibilidade da família, demandou que
os estudantes desenvolvessem
estratégias para a permanência durante
as três semanas, um desafio e uma
aprendizagem, que não foi possível para
todos os grupos, casos em que lidar com
o e também
educativo, porque a recusa também faz
parte do trabalho etnográfico.
O método adotado foi o sugerido
Saada: Quando o etnógrafo
se do que houve de único em sua
estadia no campo, ele fala sempre de
situações em que não estava e
m
condições de praticar essa comunicação
pobre, pois estava invadido por uma
situação e/ou por seus próprios afetos.
Nas etnografias, essas situações, apesar
de banais e recorrentes, de comunicação
involuntária e desprovida de
intencionalidade não o jama
consideradas como aquilo que o
(FAVRET-
SAADA, 2005, p. 160).
Discussão
Os estudantes tiveram contato
direto com noções dos grupos
etnografados, tais como alimentação
saudável, parto humanizado e etimologia
popular de doenças, sendo essas, muitas
vez
es, distintas da visão do profissional
de saúde que assiste tais grupos. Por
meio do método etnográfico breve, os
estudantes sedimentaram a percepção
da importância de o profissional da saúde
conhecer as interpretações dos conceitos
inerentes a cada grupo
conceitos podem demonstrar a
(in)eficácia da aplicabilidade das
intervenções terapêuticas utilizadas por
profissionais de saúde. No curso dos
trabalhos de campo, nos diferentes
campos de prática, os informantes
também demonstraram dispor de
co
nhecimentos tradicionais para o uso de
plantas medicinais, técnicas caseiras
para o parto e definições locais de
doenças.
O trabalho com etnografia breve
na graduação em medicina do Instituto
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- ISSN 2237-1508
de banais e recorrentes, de comunicação
involuntária e desprovida de
intencionalidade não são jama
is
consideradas como aquilo que são”
SAADA, 2005, p. 160).
Os estudantes tiveram contato
direto com noções dos grupos
etnografados, tais como alimentação
saudável, parto humanizado e etimologia
popular de doenças, sendo essas, muitas
es, distintas da visão do profissional
de saúde que assiste tais grupos. Por
meio do método etnográfico breve, os
estudantes sedimentaram a percepção
da importância de o profissional da saúde
conhecer as interpretações dos conceitos
inerentes a cada grupo
e como tais
conceitos podem demonstrar a
(in)eficácia da aplicabilidade das
intervenções terapêuticas utilizadas por
profissionais de saúde. No curso dos
trabalhos de campo, nos diferentes
campos de prática, os informantes
também demonstraram dispor de
nhecimentos tradicionais para o uso de
plantas medicinais, técnicas caseiras
para o parto e definições locais de
O trabalho com etnografia breve
na graduação em medicina do Instituto
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
LIBARINO, David; MACIEL,
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
Interface entre medicina e antropologia médica: o método etnográfico
na formação médica. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
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Multidisciplinar em Saúde da
Universidade Federal da Bahia (IM
UFBA) proporcionou ao estudante um
campo de prática sensível e diferenciado.
Neste sentido, foram adotados os
principais passos de Favret-
Saada (2005)
em sua etnografia para uma antropologia
das terapias, isto é, 1) O ponto de partida
da etnografia não d
eve se centrar em
uma comunicação verbal, voluntária e
intencional, visando à aprendizagem de
um sistema de representões nativas
sobre horta, parto e doenças, pois tal
comunicação não conta do sentir o
ambiente, ser afetado por ele, para além
das repr
esentações culturais; 2) Os
estudantes precisam tolerar viver tudo
que os afeta no trabalho de campo; 3) a
transcrição dos dados não podem ser
feito durante a experiência, pois é preciso
ser afetado por ela, e, por fim, 4) o
material recolhido pode trazer
formas de pensar medicina
diagnósticas, campos de prática, MBE,
medicina da família e da comunidade,
entre outros temas.
Nesse sentido, essas vivências
dialogam com a bibliografia apresentada
nas disciplinas de antropologia médica
oferta
das no curso de medicina do
IMS/UFBA, a exemplo do conceito de
corpos múltiplos
de Annemarie Mol
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
Interface entre medicina e antropologia médica: o todo etnográfico
Revista Latino
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(Fluxo contínuo)
Multidisciplinar em Saúde da
Universidade Federal da Bahia (IM
S-
UFBA) proporcionou ao estudante um
campo de prática sensível e diferenciado.
Neste sentido, foram adotados os
Saada (2005)
em sua etnografia para uma antropologia
das terapias, isto é, 1) O ponto de partida
eve se centrar em
uma comunicação verbal, voluntária e
intencional, visando à aprendizagem de
um sistema de representações nativas
sobre horta, parto e doenças, pois tal
comunicação não dá conta do sentir o
ambiente, ser afetado por ele, para além
esentações culturais; 2) Os
estudantes precisam tolerar viver tudo
que os afeta no trabalho de campo; 3) a
transcrição dos dados não podem ser
feito durante a experiência, pois é preciso
ser afetado por ela, e, por fim, 4) o
material recolhido pode trazer
novas
- hipóteses
diagnósticas, campos de prática, MBE,
medicina da família e da comunidade,
Nesse sentido, essas vivências
dialogam com a bibliografia apresentada
nas disciplinas de antropologia médica
das no curso de medicina do
IMS/UFBA, a exemplo do conceito de
de Annemarie Mol
(2002), relacionado a viagem que
concepções de um corpo humano faz dos
estudos de caso em laboratório, os
chamados casos clínicos, passando pelo
diagnóstico,
respaldado por estes casos,
pelo médico, em assistência a um
paciente, e pelo paciente em si e sua
comunidade. Executar o trabalho
etnográfico é, portanto, ser senvel a
essas “viagens”.
No caso das hortas comunitárias,
as hortaliças também fazem uma
“vi
agem” desde o agricultor
planta, atravessando quem a consome
até a valorização do orgânico sem
agrotóxicos, em cada etapa, a hortaliça
se difere produzindo plantar
múltiplos. No parto humanizado também
se constatou essa viagem, des
grávida que participa pela primeira vez da
roda de conversa, sua concepção de
parto, o momento que esta participante
conhece o parto, a partir da medicina
baseada em evidência, passando pela
violência obstétrica no parto até a
humanização no parto. Em
partos ltiplos. Por fim, a concepção de
doenças pela população em que tal
concepção “viaja” desde crenças, ritos e
ensinamentos dos mais velhos até o uso
dos medicamentos distribuídos pelas
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- ISSN 2237-1508
(2002), relacionado a “viagem” que
concepções de um corpo humano faz dos
estudos de caso em laboratório, os
chamados casos clínicos, passando pelo
respaldado por estes casos,
pelo médico, em assistência a um
paciente, e pelo paciente em si e sua
comunidade. Executar o trabalho
etnográfico é, portanto, ser sensível a
No caso das hortas comunitárias,
as hortaliças também fazem uma
agem desde o agricultor
-urbano que a
planta, atravessando quem a consome
até a valorização do orgânico sem
agrotóxicos, em cada etapa, a hortaliça
se difere produzindo plantar
-alimentar
múltiplos. No parto humanizado também
se constatou essa “viagem”, des
de a
grávida que participa pela primeira vez da
roda de conversa, sua concepção de
parto, o momento que esta participante
conhece o parto, a partir da medicina
baseada em evidência, passando pela
violência obstétrica no parto até a
humanização no parto. Em
cada etapa,
partos múltiplos. Por fim, a concepção de
doenças pela população em que tal
concepção viaja desde crenças, ritos e
ensinamentos dos mais velhos até o uso
dos medicamentos distribuídos pelas
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
LIBARINO, David; MACIEL,
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
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na formação médica. PragMATIZES -
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unidades de saúde. Em cada etapa,
nomenclaturas múltiplas.
O
utro conceito trabalhado após a
etnografia breve foi o de
abstrato forçado
de Philippe Pignarre (1999),
problematizando a abstração da hipótese
diagnóstica em medicina. Trata
perceber como, com o método de
critérios de inclusão e excluo,
epidemiologia e com o resultado do caso
clínico, em medicina, se produzem
hipóteses diagnósticas como uma
espécie de abstrato forçado, isto é, como
o “resultado final” do caso clínico exclui
um mundo de eventos para se legitimar
abstratamente. Ora, n
a etnografia breve
com hortas comunitárias, parto
humanizado e nomenclaturas populares
de doenças, evitou-
se excluir dados de
campo considerados “fora do objeto de
estudo”, como foi o caso, para citar um
exemplo, da confecção do etnodicionário
que não se l
imitou apenas em catalogar
nomes de doenças, mas conviver com a
comunidade sob etnografia breve para
compreender como se faz a doença na
prática, isto é, em seus ritos, crenças e
experimentos cotidianos.
Por fim, foi recobrada na análise
dos dados etnográ
ficos, a investigação
sobre os modos de existência em Bruno
Latour (2019), isto é, sobre como
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
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(Fluxo contínuo)
unidades de saúde. Em cada etapa,
utro conceito trabalhado após a
abstrato forçado
de Philippe Pignarre (1999),
problematizando a abstração da hipótese
diagnóstica em medicina. Trata
-se de
perceber como, com o método de
critérios de incluo e exclusão,
com a
epidemiologia e com o resultado do caso
clínico, em medicina, se produzem
hipóteses diagnósticas como uma
espécie de abstrato forçado, isto é, como
o resultado final do caso clínico exclui
um mundo de eventos para se legitimar
a etnografia breve
com hortas comunitárias, parto
humanizado e nomenclaturas populares
se excluir dados de
campo considerados fora do objeto de
estudo, como foi o caso, para citar um
exemplo, da confecção do etnodicionário
imitou apenas em catalogar
nomes de doenças, mas conviver com a
comunidade sob etnografia breve para
compreender como se faz a doença na
prática, isto é, em seus ritos, crenças e
Por fim, foi recobrada na análise
ficos, a investigação
sobre os modos de existência em Bruno
Latour (2019), isto é, sobre como
podemos perceber que hortaliças, as
cadeiras das rodas das mulheres
gestantes, vírus, bactérias e órgãos do
corpo humano produzindo doenças o
modos de existênci
a que exercem ação,
que produzem resoluções e até filosofia,
retirando o protagonismo de médicos e
pacientes. Em medicina, estávamos
acostumados com a intervenção ou
tomada de decisão de médicos e
pacientes como os
únicos
(sujeitos de ão) p
doenças, porém a etnografia nos mostrou
a urgência de uma antropologia médica
pós-crítica.
Com esse etnográfico, trata
agora, de etnografar hortaliças, as
cadeiras de roda de gestante e os vírus
para entender como, no modo de existir
de hortaliças, cadeiras e vírus, eles
produzem ão que também influenciam
médicos e pacientes, retirando, portanto,
o antropocentrismo da tomada de
decisão de humanos. Dito de outra
maneira, como uma cadeira produzindo
conforto e acolhida
age
de conversa das gestantes seja posvel.
Ou seja, a cadeira não é um objeto
passivo, estático, construído pelo homem
e sem anima (alma
em latim), mas ao se
sustentar, fisicamente falando, enquanto
cadeira, ao proporcionar conforto a roda,
231
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
podemos perceber que hortaliças, as
cadeiras das rodas das mulheres
gestantes, vírus, bactérias e órgãos do
corpo humano produzindo doenças são
a que exercem ação,
que produzem resoluções e até filosofia,
retirando o protagonismo de médicos e
pacientes. Em medicina, estávamos
acostumados com a intervenção ou
tomada de decio de médicos e
únicos
protagonistas
(sujeitos de ação) p
ara o controle de
doenças, porém a etnografia nos mostrou
a urgência de uma antropologia médica
Com esse etnográfico, trata
-se,
agora, de etnografar hortaliças, as
cadeiras de roda de gestante e os vírus
para entender como, no modo de existir
de hortaliças, cadeiras e vírus, eles
produzem ação que também influenciam
médicos e pacientes, retirando, portanto,
o antropocentrismo da tomada de
decio de humanos. Dito de outra
maneira, como uma cadeira produzindo
age
para que a roda
de conversa das gestantes seja possível.
Ou seja, a cadeira o é um objeto
passivo, estático, construído pelo homem
em latim), mas ao se
sustentar, fisicamente falando, enquanto
cadeira, ao proporcionar conforto a roda,
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
LIBARINO, David; MACIEL,
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
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na formação médica. PragMATIZES -
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Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
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ela é um equi
pamento de apoio
(FERRAZ; FERREIRA, [
2023
logo um agente ativo, protagonista do
evento tal qual as mulheres que
organizam a roda. Nessa perspectiva, o
trabalho etnográfico descentralizando o
protagonismo de médicos e pacientes foi
fundamental
para traçar uma etnografia
breve.
A vivência prática com a
etnográfica também foi significativa para
o desenvolvimento de trabalhos
descritivos e pesquisas teóricas relativas
à antropologia médica, com um olhar
diferenciado para o que muitas vezes não
est
á em destaque na prática médica, mas
não por isso deixa de ser importante e
necessário, como a experiência
compartilhada em grupo e a de grupos
cuja vivência afetiva nem sempre é
acolhida e aproveitada no direcionamento
de propostas de promoção de saúde
como poderia (GONZAGA
et al
LAGUNA; EVANGELISTA; FERREIRA,
2022).
13 A pas
sagem de um objeto inanimado a um
equipamento de apoio (com
aprofundando por Ferraz e Ferreira (2023, no
prelo). Trata-
se de etnografar a ação que objetos
ditos materiais (uma cadeira, por exemplo)
exercem na cura de pacientes, apoiando médicos
na assistência.
LAGUNA, Gabriela; GUSMÃO, Ana Luiza; GUSMÃO, Ana Beatriz;
Fernanda; HORA, Paloma; FERREIRA, Paulo.
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(Fluxo contínuo)
pamento de apoio
13
2023
], no prelo),
logo um agente ativo, protagonista do
evento tal qual as mulheres que
organizam a roda. Nessa perspectiva, o
trabalho etnográfico descentralizando o
protagonismo de médicos e pacientes foi
para traçar uma etnografia
A vivência prática com a
etnográfica também foi significativa para
o desenvolvimento de trabalhos
descritivos e pesquisas teóricas relativas
à antropologia médica, com um olhar
diferenciado para o que muitas vezes não
á em destaque na prática médica, mas
não por isso deixa de ser importante e
necessário, como a experiência
compartilhada em grupo e a de grupos
cuja vivência afetiva nem sempre é
acolhida e aproveitada no direcionamento
de propostas de promoção de saúde
et al
., 2022,
LAGUNA; EVANGELISTA; FERREIRA,
sagem de um objeto inanimado a um
equipamento de apoio (com
anima) foi
aprofundando por Ferraz e Ferreira (2023, no
se de etnografar a ação que objetos
ditos materiais (uma cadeira, por exemplo)
exercem na cura de pacientes, apoiando médicos
Conclusão
Com a experiência do método
etnográfico em três campos de práticas
(hortas comunitárias, grupo de gestantes
e confec
ção de um etnodicionário), os
estudantes perceberam a d
fundamentar e (des)construir toda e
qualquer aplicabilidade de uma prática
médica pautada em um modelo fechado,
etnocêntrico de análise. A aplicação da
etnografia breve ainda na graduação em
medicina como prática e vivência
favorece uma melhor
eventos, dos rituais, dos elementos
dialógicos e etnocêntricos de invenção,
interdição e institucionalização da prática
médica em território.
Assim, na pesquisa etnográfica, o
estudante aprimora habilidades
essenciais ao exercio médico,
quais a capacidade de escrita, de
reflexão e de expressão, a relação
dialógica, o estabelecimento de vínculos
de proximidade e (des)confiança,
refletindo sobre prinpios éticos em
medicina, sobre a inovação e capacidade
de seleção de práticas e cond
Referências:
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do curso de graduação em Medicina.
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232
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- ISSN 2237-1508
Com a experiência do método
etnográfico em três campos de práticas
(hortas comunitárias, grupo de gestantes
ção de um etnodicionário), os
estudantes perceberam a d
elicadeza de
fundamentar e (des)construir toda e
qualquer aplicabilidade de uma prática
médica pautada em um modelo fechado,
etnocêntrico de análise. A aplicação da
etnografia breve ainda na graduação em
medicina como prática e vivência
favorece uma melhor
compreensão dos
eventos, dos rituais, dos elementos
dialógicos e etnontricos de invenção,
interdição e institucionalização da prática
Assim, na pesquisa etnográfica, o
estudante aprimora habilidades
essenciais ao exercício médico,
tais
quais a capacidade de escrita, de
reflexão e de expressão, a relação
dialógica, o estabelecimento de vínculos
de proximidade e (des)confiança,
refletindo sobre princípios éticos em
medicina, sobre a inovação e capacidade
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- ISSN 2237-1508