OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da gestão do maior
evento de estudos em cultura no
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v13i25.56055
Resumo:
As análises presentes no texto são parte do itinerário do Encontro de Estudos
Multidisciplinares em Cultura. Desse modo, buscamos contribuir para o exercício da auto
reflexividade na gestão cultural, a partir da construção do maior e mais tradicional event
aos estudos em cultura do país. Nesse sentido, além de expressar as teorias da cultura que nos
provocaram a refletir sobre o Enecult, em suas inter
movimento a partir da
escrevivência
em especial suas XVII e XVIII edição
consonância com o que propõe Conceição Evaristo, vem sendo progressivamente utilizada como
instrumento de constr
ução de conhecimento, considerando que não é posvel dissociar o
que se vive do que se escreve. Assim, ao tempo em que pesquisamos e produzimos conhecimento
sobre a cultura, vivenciamos e refletimos coletivamente sobre este encontro, a partir
singularidades.
Palavras-chave
: gestão cultural; escrevincias; Enecult; evento; teoria e prática.
1
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior - Brasil (CAPES)
-
2
Gleise Cristiane Ferreira de Oliveira
Sociedade da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Brasil. E
https://orcid.org/0000-0002-
4467
3 Delmira Nunes.
Mestranda no PPGEISU
Interdisciplinares sobre a Universidade,
https://orcid.org/0000-0002-
3206
4 Renata Rocha.
Doutora em Cultura e Sociedade pela UFBA.
Bahia (UFBA), Brasil. .E-mail:
renataptrocha@gmail.com
UFBA.
5 Natalia Coimbra de Sá..
Doutora em Cultura e
Departamento de Ciências Humanas I, campus Salvador, da Universidade do Estado da Bahia
(UNEB), Brasil. E-mail:
natalia.coimbra@gmail.com
Recebido em 30/09/2022,
aceito para publicação em
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da gestão do maior
evento de estudos em cultura no
Brasil1
Gleise Cristiane Ferreira de Oliveira
Natalia Coimbra de Sá
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v13i25.56055
As análises presentes no texto são parte do itinerário do Encontro de Estudos
Multidisciplinares em Cultura. Desse modo, buscamos contribuir para o exercício da auto
reflexividade na gestão cultural, a partir da construção do maior e mais tradicional event
aos estudos em cultura do país. Nesse sentido, além de expressar as teorias da cultura que nos
provocaram a refletir sobre o Enecult, em suas inter
-trans-
multidisciplinaridades, nos colocamos em
escrevivência
sobre os proce
ssos que tocam o pensar e gerir este encontro,
em especial suas XVII e XVIII edição
, com foco em sua programação. Esta escolha metodológica, em
consonância com o que propõe Conceição Evaristo, vem sendo progressivamente utilizada como
ução de conhecimento, considerando que o é possível dissociar o
que se vive do que se escreve. Assim, ao tempo em que pesquisamos e produzimos conhecimento
sobre a cultura, vivenciamos e refletimos coletivamente sobre este encontro, a partir
: gestão cultural; escrevivências; Enecult; evento; teoria e prática.
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
-
Código de Financiamento 001.
Gleise Cristiane Ferreira de Oliveira
. Doutoranda no programa de pós-
graduação em Cultura e
Sociedade da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Brasil. E
-mail:
gleise.cultura@gmail.com
4467
-9188
Mestranda no PPGEISU
– Programa de Pós-
graduação em Estudos
Interdisciplinares sobre a Universidade,
UFBA, Brasil. E-mail:
delmiranunes@gmail.com
3206
-4266 UFBA,
Doutora em Cultura e Sociedade pela UFBA.
Professora da Universidade Federal
renataptrocha@gmail.com
- https://orcid.org/0000-
0001
Doutora em Cultura e
Sociedade pela UFBA.
Professora adjunta no
Departamento de Ciências Humanas I, campus Salvador, da Universidade do Estado da Bahia
natalia.coimbra@gmail.com
- https://orcid.org/0000-0001
-
aceito para publicação em
27/06/20
23 e disponibilizado online em
01/09/2023.
218
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da gestão do maior
Gleise Cristiane Ferreira de Oliveira
2
Delmira Nunes3
Renata Rocha4
Natalia Coimbra de Sá
5
As análises presentes no texto são parte do itinerário do Encontro de Estudos
Multidisciplinares em Cultura. Desse modo, buscamos contribuir para o exercício da auto
reflexividade na gestão cultural, a partir da construção do maior e mais tradicional event
o dedicado
aos estudos em cultura do país. Nesse sentido, além de expressar as teorias da cultura que nos
multidisciplinaridades, nos colocamos em
ssos que tocam o pensar e gerir este encontro,
, com foco em sua programação. Esta escolha metodológica, em
consonância com o que propõe Conceição Evaristo, vem sendo progressivamente utilizada como
ução de conhecimento, considerando que não é posvel dissociar o
registro do
que se vive do que se escreve. Assim, ao tempo em que pesquisamos e produzimos conhecimento
sobre a cultura, vivenciamos e refletimos coletivamente sobre este encontro, a partir
de nossas
: gestão cultural; escrevincias; Enecult; evento; teoria e prática.
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
graduação em Cultura e
gleise.cultura@gmail.com
-
graduação em Estudos
delmiranunes@gmail.com
-
Professora da Universidade Federal
da
0001
-9968-012X
Professora adjunta no
Departamento de Ciências Humanas I, campus Salvador, da Universidade do Estado da Bahia
-
9922-6584 UNEB..
23 e disponibilizado online em
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
Enecult 18 años: reflexiones sobre los itinerarios y desafíos de la gestión del mayor evento de
estudios en cultura en Brasil
Resumen:
Los análisis presentes en el texto forman parte del itinerario del Enecult
Estudios Multidisciplinarios en Cultura
al ejercicio de la autorreflexividad en la gestión cultural, a par
más tradicional evento dedicado a los estudios culturales en Brasil. En ese sentido, además de
expresar las teorías de la cultura que nos incitaron a reflexionar sobre el Enecult, en su inter
transdisciplinariedad, n
os ponemos en marcha desde el proceso de escritura sobre los procesos que
inciden en pensar y gestionar este encuentro, en particular su XVII y XVIII edición, centrándose en su
programación. Esta elección metodológica, en línea con lo que propone Conceição
progresivamente utilizada como instrumento para la construcción del conocimiento, considerando que
no es posible disociar el registro de lo que se vive de lo que se escribe. Así, al mismo tiempo que
investigamos y producimos conocimiento
colectivamente sobre este encuentro, a partir de nuestras singularidades.
Palabras clave
: gestión cultural; escrevivências; Enecult; evento; teoría y práctica.
Enecult 18 years: reflections on the
largest event of studies in culture in Brazil
Abstract:
In this paper we present part of the itinerary of Enecult
Multidisciplinares em Cultura
, the Annual Meeting of Multidisciplinary Studies in Culture. We seek to
contribute to the exercise of self
promoting the largest and most traditional event dedicated to the studies of cul
sense, in addition to expressing the theories of culture that inspired us to reflect on Enecult, with its
inter-trans-
multidisciplinarity, we departure from the
managing this event, e
specially its XVII and XVIII edition, focusing on its program. This
methodological choice, aligned with Conceição Evaristo proposal, has been progressively used as an
instrument for the construction of knowledge, considering that it is not possible to diss
lived from what is written. Thus, while we research and produce knowledge about culture, we
experience and reflect collectively on this event, based on our singularities.
Keywords
: cultural management;
Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da gestão do maior
evento de estudos em cultura no Brasil
1.
Sobre mapas, guias e sapatos
"Em alguns momentos a sabedoria está
em não calçar os sapatos errados"
Lívia Natália
Configurando-
se como o
evento de estudos sobre cultura no
Brasil, e provavelmente da América
Latina, o Encontro de Estudos
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
Enecult 18 años: reflexiones sobre los itinerarios y desafíos de la gestión del mayor evento de
Los análisis presentes en el texto forman parte del itinerario del Enecult
Estudios Multidisciplinarios en Cultura
-
que ocurre anualmente. De esta forma, buscamos contribuir
al ejercicio de la autorreflexividad en la gestión cultural, a par
tir de la construcción del más grande y
más tradicional evento dedicado a los estudios culturales en Brasil. En ese sentido, además de
expresar las teorías de la cultura que nos incitaron a reflexionar sobre el Enecult, en su inter
os ponemos en marcha desde el proceso de escritura sobre los procesos que
inciden en pensar y gestionar este encuentro, en particular su XVII y XVIII edición, centrándose en su
programación. Esta elección metodológica, en línea con lo que propone Conceição
progresivamente utilizada como instrumento para la construcción del conocimiento, considerando que
no es posible disociar el registro de lo que se vive de lo que se escribe. Así, al mismo tiempo que
investigamos y producimos conocimiento
sobre la cultura, experimentamos y reflexionamos
colectivamente sobre este encuentro, a partir de nuestras singularidades.
: gestión cultural; escrevivências; Enecult; evento; teoría y práctica.
Enecult 18 years: reflections on the
itineraries and challenges of the management of the
largest event of studies in culture in Brazil
In this paper we present part of the itinerary of Enecult
-
Encontro de Estudos
, the Annual Meeting of Multidisciplinary Studies in Culture. We seek to
contribute to the exercise of self
-
reflexivity in cultural management, speaking from the experience of
promoting the largest and most traditional event dedicated to the studies of cul
sense, in addition to expressing the theories of culture that inspired us to reflect on Enecult, with its
multidisciplinarity, we departure from the
escrevivências
on the processes of imagining and
specially its XVII and XVIII edition, focusing on its program. This
methodological choice, aligned with Conceição Evaristo proposal, has been progressively used as an
instrument for the construction of knowledge, considering that it is not possible to diss
lived from what is written. Thus, while we research and produce knowledge about culture, we
experience and reflect collectively on this event, based on our singularities.
: cultural management;
escrevivências; Enecult; event; theory
and practice.
Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da gestão do maior
evento de estudos em cultura no Brasil
Sobre mapas, guias e sapatos
"Em alguns momentos a sabedoria está
em não calçar os sapatos errados"
Lívia Natália
(2020, s/p)
se como o
maior
evento de estudos sobre cultura no
Brasil, e provavelmente da América
Latina, o Encontro de Estudos
Multidisciplinares em Cultura (Enecult)
atingiu em 2022 o marco de realização
de sua décima oitava edição. O
Encon
tro é realizado pelo Centro de
Estudos Multidisciplinares em Cultura
(CULT) da Universidade Federal da
Bahia, com a participação do
219
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Enecult 18 años: reflexiones sobre los itinerarios y desafíos de la gestión del mayor evento de
Los análisis presentes en el texto forman parte del itinerario del Enecult
- Encuentro de
que ocurre anualmente. De esta forma, buscamos contribuir
tir de la construcción del más grande y
más tradicional evento dedicado a los estudios culturales en Brasil. En ese sentido, además de
expresar las teorías de la cultura que nos incitaron a reflexionar sobre el Enecult, en su inter
-
os ponemos en marcha desde el proceso de escritura sobre los procesos que
inciden en pensar y gestionar este encuentro, en particular su XVII y XVIII edición, centrándose en su
programación. Esta elección metodológica, en línea con lo que propone Conceição
Evaristo, ha sido
progresivamente utilizada como instrumento para la construcción del conocimiento, considerando que
no es posible disociar el registro de lo que se vive de lo que se escribe. Así, al mismo tiempo que
sobre la cultura, experimentamos y reflexionamos
: gestión cultural; escrevivências; Enecult; evento; teoría y práctica.
itineraries and challenges of the management of the
Encontro de Estudos
, the Annual Meeting of Multidisciplinary Studies in Culture. We seek to
reflexivity in cultural management, speaking from the experience of
promoting the largest and most traditional event dedicated to the studies of cul
ture in Brazil. In this
sense, in addition to expressing the theories of culture that inspired us to reflect on Enecult, with its
on the processes of imagining and
specially its XVII and XVIII edition, focusing on its program. This
methodological choice, aligned with Conceição Evaristo proposal, has been progressively used as an
instrument for the construction of knowledge, considering that it is not possible to diss
ociate what is
lived from what is written. Thus, while we research and produce knowledge about culture, we
and practice.
Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da gestão do maior
Multidisciplinares em Cultura (Enecult)
atingiu em 2022 o marco de realização
de sua décima oitava edição. O
tro é realizado pelo Centro de
Estudos Multidisciplinares em Cultura
(CULT) da Universidade Federal da
Bahia, com a participação do
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
Programa Multidisciplinar de Pós
Graduação em Cultura e Sociedade
(Pós-
Cultura) do Instituto de
Humanidades, Artes e Ciência
Professor Milton Santos (IHAC) e da
Faculdade de Comunicação (Facom),
todos da UFBA.
A reflexão sobre um evento
como este pode partir de múltiplos
interrogantes e distintas perspectivas.
O Enecult vem sendo alvo de
pesquisas e estudos, seja como objeto
c
entral de investigação, como em
Souza (2014) e Rubim, Vieira e Souza
(2014), seja como base informacional,
em especial no intuito de compreender
a produção de conhecimento em áreas
como a gestão cultural, como em
Ramos (2015), Ramos e Lustosa da
Costa (201
9), Oliveira (2019); e as
políticas culturais, como em Calabre
(2014), Vieira et al
. (2016), OIiveira
(2018), Vieira et al
. (2021) e Rocha
al. (2021).
Tal profusão encontra
correspondência na temática, porte,
persistência e abrangência do Enecult.
Desd
e 2005, o Encontro acontece
anualmente de forma ininterrupta,
envolvendo o trabalho de professores,
servidores, colaboradores e
estudantes que atuam de forma
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
Programa Multidisciplinar de Pós
-
Graduação em Cultura e Sociedade
Cultura) do Instituto de
Humanidades, Artes e Ciência
s
Professor Milton Santos (IHAC) e da
Faculdade de Comunicação (Facom),
A reflexão sobre um evento
como este pode partir de múltiplos
interrogantes e distintas perspectivas.
O Enecult vem sendo alvo de
pesquisas e estudos, seja como objeto
entral de investigação, como em
Souza (2014) e Rubim, Vieira e Souza
(2014), seja como base informacional,
em especial no intuito de compreender
a produção de conhecimento em áreas
como a gestão cultural, como em
Ramos (2015), Ramos e Lustosa da
9), Oliveira (2019); e as
políticas culturais, como em Calabre
. (2016), OIiveira
. (2021) e Rocha
et
Tal profuo encontra
correspondência na temática, porte,
persistência e abrangência do Enecult.
e 2005, o Encontro acontece
anualmente de forma ininterrupta,
envolvendo o trabalho de professores,
servidores, colaboradores e
estudantes que atuam de forma
voluntária, além da participação de
uma reduzida equipe profissional,
contratada de forma temporár
tal perspectiva, e como preparação
para o percurso, cabe salientar a
atuação implicada das autoras deste
texto, em funções e papéis distintos e,
ainda, ao longo de diversas edições do
Enecult.
Considerando as várias
possibilidades de refletir sobre
encontro, apostamos na necessidade
de destacar a indissociabilidade entre
os papéis ora desempenhados pelas
autoras deste texto. Assumimos como
ponto de partida que não há
distanciamento entre o idealizar,
planejar, produzir e gerir o Enecult. A
prod
ução deste texto envolve,
portanto, para além da reflexão
teórico-
metodológica, da
sistematização de dados do evento e
da análise documental, o relato
pessoal das autoras, ou
“escrevivências”, como define
Conceição Evaristo (2020), pois trata
se de um regi
stro da vida cotidiana e
memórias recentes que nos permitem
contar a história enquanto
participantes do momento histórico.
O uso de “escrevivências” tem
sido utilizado “como método de
220
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
voluntária, além da participação de
uma reduzida equipe profissional,
contratada de forma temporár
ia. Sob
tal perspectiva, e como preparação
para o percurso, cabe salientar a
atuação implicada das autoras deste
texto, em funções e papéis distintos e,
ainda, ao longo de diversas edições do
Considerando as várias
possibilidades de refletir sobre
este
encontro, apostamos na necessidade
de destacar a indissociabilidade entre
os papéis ora desempenhados pelas
autoras deste texto. Assumimos como
ponto de partida que não
distanciamento entre o idealizar,
planejar, produzir e gerir o Enecult. A
ução deste texto envolve,
portanto, para além da reflexão
metodológica, da
sistematização de dados do evento e
da análise documental, o relato
pessoal das autoras, ou
escrevivências”, como define
Conceição Evaristo (2020), pois trata
-
stro da vida cotidiana e
memórias recentes que nos permitem
contar a história enquanto
participantes do momento histórico.
O uso de escrevivências” tem
sido utilizado como método de
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
investigação, de produção de
conhecimento e de posicionalidade
implicada
”, como definiram
Soares e Paula Machado (2017, p.
206):
“A escrevivência, em meio a
diversos recursos metodológicos de
escrita, utiliza-
se da experiência do
autor para viabilizar narrativas que
dizem respeito à experiência (...).
Essa vivência
passa pelo individual e
avança para um coletivo. Sob tal
perspectiva, a adoção do escreviver
implica contar histórias da intimidade,
mas sempre acionar o que pode estar
no coletivo.
Escreviver significa, nesse
sentido, contar histórias absolutamente
parti
culares, mas que remetem a
outras experiências coletivizadas, uma
vez que se compreende existir um
comum constituinte entre autora e
protagonista, quer seja por
características compartilhadas através
de marcadores sociais, quer seja pela
experiência vivenc
iada, ainda que de
posições distintas. (SOARES;
MACHADO, 2017).
Nossa escrevivência traz a
experiência, a vivência de
nossa condição de pessoa
brasileira de origem africana,
uma nacionalidade hifenizada,
na qual me coloco e me
pronuncio para afirmar a
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
investigação, de produção de
conhecimento e de posicionalidade
, como definiram
Lissandra
Soares e Paula Machado (2017, p.
A escrevivência, em meio a
diversos recursos metodológicos de
se da experiência do
autor para viabilizar narrativas que
dizem respeito à experiência (...)”.
passa pelo individual e
avança para um coletivo. Sob tal
perspectiva, a adoção do escreviver
implica contar histórias da intimidade,
mas sempre acionar o que pode estar
Escreviver significa, nesse
sentido, contar histórias absolutamente
culares, mas que remetem a
outras experiências coletivizadas, uma
vez que se compreende existir um
comum constituinte entre autora e
protagonista, quer seja por
características compartilhadas através
de marcadores sociais, quer seja pela
iada, ainda que de
posições distintas. (SOARES;
Nossa escrevivência traz a
experiência, a vivência de
nossa condição de pessoa
brasileira de origem africana,
uma nacionalidade hifenizada,
na qual me coloco e me
pronuncio para afirmar a
minh
a origem de povos
africanos e celebrar a minha
ancestralidade e me conectar
tanto com os povos africanos,
como com a diáspora
africana.
(...). Mas, ao mesmo
tempo, tenho tido a percepção
que, mesmo partindo de uma
experiência tão específica, a
de uma afro
consigo compor um discurso
literário que abarca um sentido
de universalidade humana.
Percebo, ainda, que
experiências espeficas
convocam as mais
diferenciadas pessoas.
(EVARISTO, 2020, p. 30
A partir desta perspectiva,
portanto,
assumimos, não sem
problematizações, a metodologia
reivindicada para este texto, que
possui dentre suas autoras duas pós
graduandas negras não retintas e duas
professoras doutoras, ambas brancas.
Assim reivindicamos, por um lado, a
universalidade proposta
por outro, ressaltamos a
impossibilidade da submissão deste
texto sem a presença das autoras
brancas, devido às regras de titulação
impostas para a submissão neste e em
tantos outros periódicos, que por sua
vez reproduzem as hierarquias das
agências de fomento à pesquisa e
pós-
graduação do país.
Assim, a epígrafe escolhida
para esta introdução nos parece uma
221
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
a origem de povos
africanos e celebrar a minha
ancestralidade e me conectar
tanto com os povos africanos,
como com a diáspora
(...). Mas, ao mesmo
tempo, tenho tido a percepção
que, mesmo partindo de uma
experiência tão específica, a
de uma afro
-brasilidade,
consigo compor um discurso
literário que abarca um sentido
de universalidade humana.
Percebo, ainda, que
experiências específicas
convocam as mais
diferenciadas pessoas.
(EVARISTO, 2020, p. 30
-31).
A partir desta perspectiva,
assumimos, não sem
problematizações, a metodologia
reivindicada para este texto, que
possui dentre suas autoras duas pós
-
graduandas negras não retintas e duas
professoras doutoras, ambas brancas.
Assim reivindicamos, por um lado, a
universalidade proposta
por Evaristo e,
por outro, ressaltamos a
impossibilidade da submissão deste
texto sem a presença das autoras
brancas, devido às regras de titulação
impostas para a submissão neste e em
tantos outros periódicos, que por sua
vez reproduzem as hierarquias das
agências de fomento à pesquisa e
graduação do país.
Assim, a epígrafe escolhida
para esta introdução nos parece uma
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
metáfora adequada para a reflexão
sobre o lugar, ou os sapatos, que nos
cabe enquanto pesquisadoras,
intelectuais e profissionais envol
com o campo da gestão e produção
culturais, em uma universidade pública
do nordeste do Brasil. Pretendemos,
portanto
ao narrar e refletir sobre as
interfaces entre o Encontro de Estudos
Multidisciplinares em Cultura e nossos
itinerários pessoais-co
letivos
contribuir para o exercício da auto
reflexividade sobre a gestão cultural e
a produção de conhecimento no
campo, sob a perspectiva dos estudos
em cultura.
Gleise Oliveira -
de escreviver tenho me
empenhado em estar presente
nas minh
as produções sejam
elas acadêmicas ou laborais.
Essa presença se conecta
com o método à medida que é
possível relacioná
outras experiências, grupos e
contextos.
Neste sentido fundamental me
apresentar como tenho me
traduzido nos tempos atuais:
uma
mulher cisgênero, negra
de pele não retinta e
socialmente aceita, mãe de
duas meninas pequenas,
Maria com quatro e Bia com
quase dois anos, pesquisadora
das políticas culturais,
doutoranda em Cultura e
Sociedade e atravessamentos
diversos.
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
metáfora adequada para a reflexão
sobre o lugar, ou os sapatos, que nos
cabe enquanto pesquisadoras,
intelectuais e profissionais envol
vidas
com o campo da gestão e produção
culturais, em uma universidade pública
do nordeste do Brasil. Pretendemos,
ao narrar e refletir sobre as
interfaces entre o Encontro de Estudos
Multidisciplinares em Cultura e nossos
letivos
contribuir para o exercio da auto
reflexividade sobre a gestão cultural e
a produção de conhecimento no
campo, sob a perspectiva dos estudos
No exercício
de escreviver tenho me
empenhado em estar presente
as produções sejam
elas acadêmicas ou laborais.
Essa presença se conecta
com o método à medida que é
possível relacio
-lo com
outras experiências, grupos e
Neste sentido fundamental me
apresentar como tenho me
traduzido nos tempos atuais:
mulher cisgênero, negra
de pele não retinta e
socialmente aceita, mãe de
duas meninas pequenas,
Maria com quatro e Bia com
quase dois anos, pesquisadora
das políticas culturais,
doutoranda em Cultura e
Sociedade e atravessamentos
Acreditamos qu
escrevivência como método para a
trajetória proposta possibilita incluir na
produção intelectual as fissuras sociais
a partir do lugar da experiência e
trajetória de vida.
Delmira Nunes
servidora lotada no CULT, me
envolvia direta
indiretamente nas atividades
acadêmico-
culturais e demais
iniciativas e ações
desenvolvidas pelo Centro e,
especialmente, trabalhando na
produção e organização de
todas as edições do Enecult
desde 2005 até a atual em
2022.
Foi despertado o interesse
pel
o campo da cultura e
constatado que esta é uma
importante fonte para
aprofundamento dos estudos,
além de uma perspectiva de
ampliar os conhecimentos e
poder colaborar para futuras
pesquisas, trazer
contribuições nos processos
de gestão universitária e ain
na formação e
desenvolvimento de pessoas.
Após anos de troca de
experiências, execução de
atividades, participação em
pesquisas e convincia
permanente no ambiente
qualificado de refleo sobre a
cultura, pude tornar
também pesquisadora,
mestranda e
Interdisciplinares sobre a
Universidade na UFBA,
desenvolvendo uma pesquisa
sobre a presença da cultura na
programação dos seus
Congressos de Pesquisa,
Ensino e Exteno.
Escrever o que se vive faz parte
do contar a história de pontos de vista
222
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Acreditamos qu
e assumir a
escrevivência como método para a
trajetória proposta possibilita incluir na
produção intelectual as fissuras sociais
a partir do lugar da experiência e
Delmira Nunes
- Enquanto
servidora lotada no CULT, me
envolvia direta
ou
indiretamente nas atividades
culturais e demais
iniciativas e ações
desenvolvidas pelo Centro e,
especialmente, trabalhando na
produção e organização de
todas as edições do Enecult
desde 2005 até a atual em
Foi despertado o interesse
o campo da cultura e
constatado que esta é uma
importante fonte para
aprofundamento dos estudos,
além de uma perspectiva de
ampliar os conhecimentos e
poder colaborar para futuras
pesquisas, trazer
contribuições nos processos
de gestão universitária e ain
da
na formação e
desenvolvimento de pessoas.
Após anos de troca de
experiências, execução de
atividades, participação em
pesquisas e convivência
permanente no ambiente
qualificado de reflexão sobre a
cultura, pude tornar
-me
também pesquisadora,
mestranda e
m Estudos
Interdisciplinares sobre a
Universidade na UFBA,
desenvolvendo uma pesquisa
sobre a presença da cultura na
programação dos seus
Congressos de Pesquisa,
Ensino e Extensão.
Escrever o que se vive faz parte
do contar a história de pontos de vista
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
d
iferentes. Pretendemos ao longo
deste relato acionar uma rie de
acontecimentos que têm sido vividos
enquanto nossa prática intelectual é
maturada e, adicionalmente, implicar
as escolhas e conceitos que entrarão
em diálogo ao longo deste texto com
as hist
órias de vida e seus impactos
na intimidade das pesquisadoras
autoras-
viventes mas que também
ajudam a documentar vivências
amplas.
Nossas experiências, portanto,
se distanciam e se entrelaçam.
Renata Rocha
ingressei na Faculdade de
Comunicação d
a Universidade
Federal da Bahia em 2001 me
senti, a princípio, uma
outsider. Nasci e vivi toda a
minha infância no interior do
estado da Bahia, vim morar
em Salvador com treze anos e
embora seja de uma família de
classe média, o costumava
frequentar espa
ços culturais,
não imaginava seguir carreira
acadêmica, e o campo
científico, na acepção de
Bourdieu, era para mim um
grande mistério. Talvez por
conta dessa sensação de
deslocamento, me senti tão
representada quando, ao
ingressar na iniciação
científica,
travei contato com
os estudos da cultura, em
especial em sua vertente
latinoamericana a partir de
autores como Ortiz, García
Canclini e Martín
percepção da importância das
estruturas sociais e políticas
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
iferentes. Pretendemos ao longo
deste relato acionar uma série de
acontecimentos que têm sido vividos
enquanto nossa prática intelectual é
maturada e, adicionalmente, implicar
as escolhas e conceitos que entrarão
em diálogo ao longo deste texto com
órias de vida e seus impactos
na intimidade das pesquisadoras
-
viventes mas que também
ajudam a documentar vivências
Nossas experiências, portanto,
se distanciam e se entrelaçam.
Renata Rocha
- Quando
ingressei na Faculdade de
a Universidade
Federal da Bahia em 2001 me
senti, a princípio, uma
outsider. Nasci e vivi toda a
minha infância no interior do
estado da Bahia, vim morar
em Salvador com treze anos e
embora seja de uma família de
classe média, não costumava
ços culturais,
não imaginava seguir carreira
acadêmica, e o campo
científico, na acepção de
Bourdieu, era para mim um
grande mistério. Talvez por
conta dessa sensação de
deslocamento, me senti tão
representada quando, ao
ingressar na iniciação
travei contato com
os estudos da cultura, em
especial em sua vertente
latinoamericana a partir de
autores como Ortiz, García
-
Canclini e Martín
-Barbero. A
percepção da importância das
estruturas sociais e políticas
no campo cultural e das
imbricações entre
poder foi quase uma epifania.
Isso fez de mim uma
pesquisadora. E a busca por
ampliar a compreeno sobre
tais processos segue me
movendo hoje em minha
produção intelectual.
Partimos de lugares e vivências
bastante distintos, mas com diversos
as
pectos comuns, entre os quais é
possível destacar uma constante e
profícua imbricação entre atuação
profissional, produção intelectual e
prática política inserida no campo da
cultura. A fim de nos debruçarmos
sobre tal relação, em especial a partir
das dua
s edições mais recentes do
Encontro,
dividimos o texto em quatro
seções, além desta breve introdução.
Na primeira, realizamos uma refleo
sobre a cultura e a imbricação da
teoria e da prática, o que nos auxilia a
defender a metodologia escolhida para
cont
ar a história e avaliar a gestão do
Enecult, enfocando sua programação.
Na segunda, o evento é apresentado,
de forma a tornar explícitos seu
histórico, seus pressupostos, suas
dinâmicas de gestão e produção e os
principais resultados alcançados ao
longo do
s anos. Na terceira seção é
elaborado um breve panorama sobre
223
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
no campo cultural e das
imbricações entre
cultura e
poder foi quase uma epifania.
Isso fez de mim uma
pesquisadora. E a busca por
ampliar a compreensão sobre
tais processos segue me
movendo hoje em minha
produção intelectual.
Partimos de lugares e vivências
bastante distintos, mas com diversos
pectos comuns, entre os quais é
posvel destacar uma constante e
profícua imbricação entre atuação
profissional, produção intelectual e
prática política inserida no campo da
cultura. A fim de nos debruçarmos
sobre tal relação, em especial a partir
s edições mais recentes do
dividimos o texto em quatro
seções, além desta breve introdução.
Na primeira, realizamos uma reflexão
sobre a cultura e a imbricação da
teoria e da prática, o que nos auxilia a
defender a metodologia escolhida para
ar a história e avaliar a gestão do
Enecult, enfocando sua programação.
Na segunda, o evento é apresentado,
de forma a tornar explícitos seu
histórico, seus pressupostos, suas
dinâmicas de gestão e produção e os
principais resultados alcançados ao
s anos. Na terceira seção é
elaborado um breve panorama sobre
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
os processos que subsidiaram a
construção da programação do evento,
em meio a
o contexto de grave crise
que o Brasil atravessa, aprofundada
pela pandemia da covid-
19. Por fim,
iremos discutir os
principais desafios e
perspectivas para este evento, que
nesta edição alcança sua maioridade.
2.
Preparando o farnel
“[...] não quero a faca nem o queijo, eu
quero a fome
Adélia Prado (1991, p.157)
Dado que “[...] somente a
prática pode se pronunciar sobre a
validade teórica; no entanto, sem uma
validade teórica nenhuma prática pode
ser avaliada" (BAL, 2009, p. 25), esta
seção propõe elucidar, por meio da
problematização e, ao mesmo tempo,
operaciona
lização da complexa noção
de cultura como provisão necesria
para nutrir nossa travessia. Cabe
salientar que, em uma análise
multi/inter/transdisciplinar como a que
ora iniciamos, é impossível cobrir
todos os clássicos, períodos e culos,
bem como todas
as principais teorias
utilizadas. Assim, por sua
complexidade e seu caráter
intersubjetivo, propomos assumir
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
os processos que subsidiaram a
construção da programação do evento,
o contexto de grave crise
que o Brasil atravessa, aprofundada
19. Por fim,
principais desafios e
perspectivas para este evento, que
nesta edição alcança sua maioridade.
Preparando o farnel
[...] não quero a faca nem o queijo, eu
quero a fome”
Adélia Prado (1991, p.157)
Dado que [...] somente a
prática pode se pronunciar sobre a
validade teórica; no entanto, sem uma
validade teórica nenhuma prática pode
ser avaliada" (BAL, 2009, p. 25), esta
seção propõe elucidar, por meio da
problematização e, ao mesmo tempo,
lização da complexa noção
de cultura como provio necessária
para nutrir nossa travessia. Cabe
salientar que, em uma análise
multi/inter/transdisciplinar como a que
ora iniciamos, é impossível cobrir
todos os clássicos, períodos e séculos,
as principais teorias
utilizadas. Assim, por sua
complexidade e seu caráter
intersubjetivo, propomos assumir
marcos comuns a fim de explicitar as
perspectivas e todos adotados.
Como sugere Mieke Bal (2009, p. 23),
“concordar não significa concordar
com o
conteúdo, mas sim concordar
com as regras básicas do jogo: se
você usar um conceito, estará usando
o de uma certa maneira para que sua
discordância com o conteúdo faça
sentido." (tradução nossa) Além de
enfatizar a importância dos conceitos,
ressaltamos a
importância de se
conhecer também o contexto, marcos
e concepções teóricas que o
sustentam e envolvem.
Partiremos da explicitação da
noção de cultura acionada,
fundamental não apenas como revio
teórica, mas como pressuposto que
embasa e orienta as ferramentas
metodológicas acionadas. Atualmente,
uma predominância da
reivindicação de um conceito de
cult
ura no sentido antropológico nos
diversos campos científicos,
disciplinares ou não, que se debruçam
sobre a cultura, na prática profissional
em cultura e mesmo nas políticas
culturais, como atesta o paradigmático
discurso de posse de Gilberto Gil
como Mini
stro da Cultura, em 2003
(GIL, 2013). Com isso, busca
224
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
marcos comuns a fim de explicitar as
perspectivas e métodos adotados.
Como sugere Mieke Bal (2009, p. 23),
concordar não significa concordar
conteúdo, mas sim concordar
com as regras básicas do jogo: se
vo usar um conceito, estará usando
-
o de uma certa maneira para que sua
discordância com o conteúdo faça
sentido." (tradução nossa) Além de
enfatizar a importância dos conceitos,
importância de se
conhecer também o contexto, marcos
e concepções teóricas que o
sustentam e envolvem.
Partiremos da explicitação da
noção de cultura acionada,
fundamental não apenas como revisão
teórica, mas como pressuposto que
embasa e orienta as ferramentas
metodológicas acionadas. Atualmente,
há uma predominância da
reivindicação de um conceito de
ura no sentido antropológico nos
diversos campos científicos,
disciplinares ou não, que se debruçam
sobre a cultura, na prática profissional
em cultura e mesmo nas políticas
culturais, como atesta o paradigmático
discurso de posse de Gilberto Gil
stro da Cultura, em 2003
(GIL, 2013). Com isso, busca
-se
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
afirmar que a cultura não será
pensada apenas como belas artes ou
alta cultura, mas num sentido mais
ampliado: cultura seria então tudo que
o ser humano elabora e produz,
simbólica e materialmente. N
no seio da antropologia, e não apenas
nesta disciplina, tal conceito é foco de
um agudo dissenso.
Em que pesem as contribuições
metodológicas e ético
advindas da antropologia, no senso
comum a cultura segue sendo
identificada com alta
cultura, belas
artes, civilidade. Apesar disso, é
inegável a contribuição que a
antropologia traz para o pensamento
contemporâneo, ao relativizar e
colocar em xeque os colonialismos, o
etnocentrismo e o racismo. Assim,
mesmo que seja difícil precisar todas
as suas características, a noção
antropológica de cultura pode ser
bastante produtiva conceitual,
metodológica e politicamente.
Neste sentido, amparados no
pensamento produzido sobre a cultura
no contexto latino-
americano, nos
estudos culturais de origem
e no pensamento do italiano Antonio
Gramsci, os pesquisadores Alejandro
Grimson e Pablo Semán (2005)
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
afirmar que a cultura não será
pensada apenas como belas artes ou
alta cultura, mas num sentido mais
ampliado: cultura seria então tudo que
o ser humano elabora e produz,
simbólica e materialmente. N
o entanto,
no seio da antropologia, e não apenas
nesta disciplina, tal conceito é foco de
Em que pesem as contribuições
metodológicas e ético
-políticas
advindas da antropologia, no senso
comum a cultura segue sendo
cultura, belas
artes, civilidade. Apesar disso, é
inegável a contribuição que a
antropologia traz para o pensamento
contemporâneo, ao relativizar e
colocar em xeque os colonialismos, o
etnocentrismo e o racismo. Assim,
mesmo que seja difícil precisar todas
as suas características, a noção
antropológica de cultura pode ser
bastante produtiva conceitual,
metodológica e politicamente.
Neste sentido, amparados no
pensamento produzido sobre a cultura
americano, nos
estudos culturais de origem
anglo saxã
e no pensamento do italiano Antonio
Gramsci, os pesquisadores Alejandro
Grimson e Pablo Semán (2005)
propõem a compreensão de um
conceito de cultura que parte de uma
perspectiva processual e relacional.
Nele, tomam relevo as questões
relativas a
o poder e seus efeitos nas
lutas simbólicas pela construção e
interpretação dos significados. Cultura
não representa uma dimeno dentre
outras na luta social, mas se refere
aos “[...] modos espeficos como os
atores se enfrentam, se aliam ou
negociam”. (
GRIMSON; SEMÁN,
2005, p. 8, tradução nossa). Cultura é,
portanto, “sempre história, agência e
poder, disputa e alteração. A vida
social é uma condição processual, não
uma causa automática, dos modos de
pensar e agir.” (GRIMSON; SEMÁN,
2005, p. 9, tradução
nossa).
Pensar a cultura sob tais
perspectivas é de extrema relevância
diante das constantes tensões,
pressões e, principalmente,
desigualdade de forças inerentes ao
campo cultural. Mas para produzir um
conhecimento científico que contribua
para uma atuaçã
o contra hegemônica,
necessário se faz articular e
contextualizar os conceitos já
assinalados e a prática política.
Gleise Oliveira
implicações ficam evidentes
225
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
propõem a compreensão de um
conceito de cultura que parte de uma
perspectiva processual e relacional.
Nele, tomam relevo as questões
o poder e seus efeitos nas
lutas simbólicas pela construção e
interpretação dos significados. Cultura
não representa uma dimensão dentre
outras na luta social, mas se refere
aos [...] modos específicos como os
atores se enfrentam, se aliam ou
GRIMSON; SEMÁN,
2005, p. 8, tradução nossa). Cultura é,
portanto, sempre história, agência e
poder, disputa e alteração. A vida
social é uma condição processual, não
uma causa automática, dos modos de
pensar e agir. (GRIMSON; SEMÁN,
nossa).
Pensar a cultura sob tais
perspectivas é de extrema relevância
diante das constantes tensões,
pressões e, principalmente,
desigualdade de forças inerentes ao
campo cultural. Mas para produzir um
conhecimento científico que contribua
o contra hegemônica,
necessário se faz articular e
contextualizar os conceitos
assinalados e a prática política.
Gleise Oliveira
- Tais
implicações ficam evidentes
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
quando o Enecult é desafiado
a ampliar o diálogo com outras
esferas sociais e de
conhecim
ento que extrapolam
os acadêmicos. Isso se deu de
forma mais estreita, ao meu
ver, com a criação dos
“Relatos de Experiência.
Nessas sessões eram
priorizadas atividades do
campo da cultura sem relação
com pesquisadores como
intermediário ou voz
protagonis
ta. Foi o espaço
criado para os fazedores que
antes eram objeto de análise
e/ou convidados para partes
comemorativas do Encontro.
Essa mudança fez para mim
total sentido como a frase que
ressoa das experiências que
vivi na gestão da rede estadual
da Bahia
do Programa Cultura
Viva e dos Pontos de
Cultura"Nada sobre nós, sem
nós”
era permitir a voz
daqueles que estavam
efetivamente promovendo as
ações.
Isaura Botelho (2001), no texto
Dimensões da cultura e políticas
públicas,
clássico para o estudo das
políticas culturais, explicita a existência
de duas dimensões
antropológica e
uma sociológica –
do ponto de vista de
uma política pública. Segundo a
autora, ambas são igualmente
importantes, mas exigem estratégias
diferentes.
Na dimensão antropológica, a
cultura se produz através da interação
social dos indivíduos, que elaboram
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
quando o Enecult é desafiado
a ampliar o diálogo com outras
esferas sociais e de
ento que extrapolam
os acadêmicos. Isso se deu de
forma mais estreita, ao meu
ver, com a criação dos
Relatos de Experiência”.
Nessas sessões eram
priorizadas atividades do
campo da cultura sem relação
com pesquisadores como
intermediário ou voz
ta. Foi o espaço
criado para os fazedores que
antes eram objeto de análise
e/ou convidados para partes
comemorativas do Encontro.
Essa mudança fez para mim
total sentido como a frase que
ressoa das experiências que
vivi na gestão da rede estadual
do Programa Cultura
Viva e dos Pontos de
Cultura"Nada sobre nós, sem
era permitir a voz
daqueles que estavam
efetivamente promovendo as
Isaura Botelho (2001), no texto
Dimensões da cultura e políticas
já clássico para o estudo das
políticas culturais, explicita a existência
antropológica e
do ponto de vista de
uma política pública. Segundo a
autora, ambas são igualmente
importantes, mas exigem estratégias
Na dimeno antropológica, a
cultura se produz através da interação
social dos indivíduos, que elaboram
seus modos de pensar e sentir,
constroem seus valores, manejam
suas identidades e diferenças e
estabelecem suas rotinas. Por sua
vez, a dimensão sociológica não se
constitui no pla
no do cotidiano do
indivíduo, mas sim em âmbito
especializado: é uma produção
elaborada com a intenção explícita de
construir determinados sentidos e de
alcançar algum tipo de público, atras
de meios específicos de expressão.
Refere-
se, portanto, a um co
diversificado de demandas
profissionais, institucionais, políticas e
econômicas, tendo, portanto,
visibilidade em si própria.
Em nossa prática cotidiana na
produção, gestão e políticas culturais,
lidamos de modo mais palpável com a
dimensão sociológ
ica da cultura. A
dimensão antropológica fica, portanto,
relegada ao plano do discurso, visto
que, para atingi-
la, se faz necessário
uma reorganização das estruturas
sociais e uma redistribuição de
recursos econômicos. As
transformações que permitem interf
no estilo de vida das pessoas ocorrem
de forma lenta e dependem de um
processo que exige mudanças radicais
e uma articulação ampla.
226
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
seus modos de pensar e sentir,
constroem seus valores, manejam
suas identidades e diferenças e
estabelecem suas rotinas. Por sua
vez, a dimensão sociológica o se
no do cotidiano do
indivíduo, mas sim em âmbito
especializado: é uma produção
elaborada com a intenção explícita de
construir determinados sentidos e de
alcançar algum tipo de público, através
de meios espeficos de expressão.
se, portanto, a um co
njunto
diversificado de demandas
profissionais, institucionais, políticas e
econômicas, tendo, portanto,
visibilidade em si própria.
Em nossa prática cotidiana na
produção, gestão e políticas culturais,
lidamos de modo mais palpável com a
ica da cultura. A
dimensão antropológica fica, portanto,
relegada ao plano do discurso, visto
la, se faz necessário
uma reorganização das estruturas
sociais e uma redistribuição de
recursos econômicos. As
transformações que permitem interf
erir
no estilo de vida das pessoas ocorrem
de forma lenta e dependem de um
processo que exige mudanças radicais
e uma articulação ampla.
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
É necessário, porém, que a
dimensão antropológica penetre este
circuito organizado, característico da
dimensão sociológ
ica. Trata
de incluir o questionamento como
diretriz global de construção,
contribuindo para a geração de
processos de redefinição tanto do
sistema político como das práticas
econômicas, sociais e culturais que
resultem em um ordenamento social
d
emocrático, justo e inclusivo. Estão
em jogo, neste processo, a circulação
das várias formas de conhecimento, o
uso de linguagens diversificadas e a
promoção de formas de cultura que
permitam avançar, o apenas
artisticamente, mas também em
qualidade de vida.
Nesse sentido, devemos inserir
o conceito antropológico de cultura
como projeto político em nossa
atuação. Mas como fazê-
lo?
Precisamos, mais do que
nunca, questionar e politizar nossa
prática cultural cotidiana. Acreditamos
que nós, como parte do sis
cultural
seja como criadoras,
gestoras, produtoras, comunicadoras,
pesquisadoras, críticas, ou mesmo
como público
precisamos assumir,
nesse caso sem medo de tomarmos
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
É necessário, porém, que a
dimensão antropológica penetre este
circuito organizado, característico da
ica. Trata
-se, pois,
de incluir o questionamento como
diretriz global de construção,
contribuindo para a geração de
processos de redefinição tanto do
sistema político como das práticas
econômicas, sociais e culturais que
resultem em um ordenamento social
emocrático, justo e inclusivo. Estão
em jogo, neste processo, a circulação
das várias formas de conhecimento, o
uso de linguagens diversificadas e a
promoção de formas de cultura que
permitam avançar, não apenas
artisticamente, mas também em
Nesse sentido, devemos inserir
o conceito antropológico de cultura
como projeto político em nossa
lo?
Precisamos, mais do que
nunca, questionar e politizar nossa
prática cultural cotidiana. Acreditamos
que nós, como parte do sis
tema
seja como criadoras,
gestoras, produtoras, comunicadoras,
pesquisadoras, críticas, ou mesmo
precisamos assumir,
nesse caso sem medo de tomarmos
uma atitude intervencionista, a
necessidade de se construir uma nova
cultura no B
rasil e na América Latina
que leve em conta o nosso contexto de
imensas desigualdades sociais,
exclusão econômica e marginalização
das diferenças culturais.
As perspectivas teóricas
acionadas, em maior ou menor grau,
servem de baliza para a realização, e
e
m especial na definição da
programação, dos Encontros de
Estudos Multidisciplinares em Cultura,
visto que
Um fenômeno a destacar o
os efeitos não programados
que se desdobraram a partir
da consolidação do evento. Ao
longo das suas edições, o
Enecult extr
de simples encontro
acadêmico sobre temas
ligados ao campo de estudos
da cultura e tornou
espécie de semeadura que se
desdobrou em iniciativas
distintas, mas correlacionadas
ao campo da produção
acadêmica, uma vez que
ajudou a fazer
pós-
graduação (Pós
articulou rede de pesquisas
(...), inspirou a criação de
tantos outros eventos similares
(com destaque para os
Seminários Internacionais de
Políticas Culturais,
organizados pela Fundação
Casa de Rui Barbosa),
publicações de referência para
estudiosos da cultura, com
especial ênfase para a
Coleção CULT.
227
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
uma atitude intervencionista, a
necessidade de se construir uma nova
rasil e na América Latina
que leve em conta o nosso contexto de
imensas desigualdades sociais,
exclusão econômica e marginalização
das diferenças culturais.
As perspectivas teóricas
acionadas, em maior ou menor grau,
servem de baliza para a realização, e
m especial na definição da
programação, dos Encontros de
Estudos Multidisciplinares em Cultura,
Um fenômeno a destacar são
os efeitos o programados
que se desdobraram a partir
da consolidação do evento. Ao
longo das suas edições, o
Enecult extr
apolou seu papel
de simples encontro
acadêmico sobre temas
ligados ao campo de estudos
da cultura e tornou
-se uma
espécie de semeadura que se
desdobrou em iniciativas
distintas, mas correlacionadas
ao campo da produção
acadêmica, uma vez que
ajudou a fazer
brotar cursos de
graduação (Pós
-Cultura),
articulou rede de pesquisas
(...), inspirou a criação de
tantos outros eventos similares
(com destaque para os
Seminários Internacionais de
Políticas Culturais,
organizados pela Fundação
Casa de Rui Barbosa),
gerou
publicações de referência para
estudiosos da cultura, com
especial ênfase para a
Coleção CULT.
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
Ademais, o ENECULT
extrapolou sua dimeno
acadêmica ao imprimir
também um caráter político em
suas reflexões, pois muitas
das ideias ali debatidas
tornaram-
se fundamento para
que estudiosos da cultura que
ali transitaram pudessem
contribuir para formulação de
políticas culturais não só para
a Bahia, como também para
outros lugares do Brasil
(VIEIRA et al
., 2021, p. 111
112).
Ou seja, a realização do
Enecult, ao longo dos anos, possui
como propósito manter o diálogo com
os diversos contextos políticos
atravessados pelo país ao longo de
suas dezoito edições, assumindo as
diversas dimensões da cultura e
acentuando aspectos diversos que
“[...] atravessam
o campo das teorias e
estudos culturais que se encarregam
de analisar seus deslocamentos e
transformações. das complexas
mutações econômicas e
sociocomunicativas, mas também
acadêmico-
disciplinares, deste final de
século” (RICHARD, 2005, p. 457,
tradução nossa).
3. A
estrada que nos trouxe até aqui
"E da história que me resta
estilhaçados sons esculpem
partes de uma música inteira.
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
Ademais, o ENECULT
extrapolou sua dimensão
acadêmica ao imprimir
também um caráter político em
suas reflexões, pois muitas
das ideias ali debatidas
se fundamento para
que estudiosos da cultura que
ali transitaram pudessem
contribuir para formulação de
políticas culturais não para
a Bahia, como também para
outros lugares do Brasil
., 2021, p. 111
-
Ou seja, a realização do
Enecult, ao longo dos anos, possui
como propósito manter o diálogo com
os diversos contextos políticos
atravessados pelo país ao longo de
suas dezoito edições, assumindo as
diversas dimenes da cultura e
acentuando aspectos diversos que
o campo das teorias e
estudos culturais que se encarregam
de analisar seus deslocamentos e
transformações. das complexas
mutações econômicas e
sociocomunicativas, mas também
disciplinares, deste final de
culo (RICHARD, 2005, p. 457,
estrada que nos trouxe até aqui
"E da história que me resta
estilhaçados sons esculpem
partes de uma música inteira.
Traço então a nossa roda gira
em que os de ontem, os de hoje,
e os de amanhã se reconhecem
nos pedaços uns dos outros.
Conceição Evaristo (2017, p. 12).
Eric Hobsbawm nos lembra que
é “olhando para trás, vemos a estrada
que nos trouxe até aqui (2012, p. 25
26). Nesse percurso, iremos descrever
o Enecult e suas trajetórias, adotando
como ponto de partida uma b
descrição do CULT,
responsável pela realização do
Encontro.
O CULT foi instituído pela
Congregação da Facom em maio de
2003, como órgão complementar da
UFBA. Posteriormente, com a criação
do IHAC, em 2008, o Centro foi
transferido para a nova
acadêmica, devido ao seu caráter
multidisciplinar. Desde sua criação,
docente de várias unidades da UFBA e
de outras universidades públicas;
estudantes de graduação e pós
graduação, pesquisadores e
servidores técnico
vinculados ao
CULT realizam
atividades de formação, pesquisa e
extensão. Para além da gestão do
Enecult, o CULT se destaca por
produções como a Coleção CULT, em
228
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Traço então a nossa roda gira
-gira
em que os de ontem, os de hoje,
e os de amanhã se reconhecem
nos pedaços uns dos outros.
Inteiros."
Conceição Evaristo (2017, p. 12).
Eric Hobsbawm nos lembra que
é olhando para trás, vemos a estrada
que nos trouxe até aqui” (2012, p. 25
-
26). Nesse percurso, iremos descrever
o Enecult e suas trajetórias, adotando
como ponto de partida uma b
reve
descrição do CULT,
entidade
responsável pela realização do
O CULT foi instituído pela
Congregação da Facom em maio de
2003, como órgão complementar da
UFBA. Posteriormente, com a criação
do IHAC, em 2008, o Centro foi
transferido para a nova
unidade
acadêmica, devido ao seu caráter
multidisciplinar. Desde sua criação,
docente de várias unidades da UFBA e
de outras universidades públicas;
estudantes de graduação e s
-
graduação, pesquisadores e
servidores técnico
-administrativos
CULT realizam
atividades de formação, pesquisa e
exteno. Para além da gestão do
Enecult, o CULT se destaca por
produções como a Coleção CULT, em
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
parceria com a Editora da
Universidade Federal da Bahia
(Edufba) e o periódico Políticas
Culturais em Revista
, em parceria com
o Pós-Cultura e a Edufba.
O CULT mantém intermbio
acadêmico-
cultural, no Brasil e no
exterior, com entidades, instituições,
associações, universidades, centros
de pesquisa e extensão, publicações,
estudiosos e profissionais de cultura.
O Centro é filiado ao Conselho Latino
Americano de Ciências Sociais
(CLACSO) e membro da Cátedra
Unesco de Políticas Culturais e Gestão
da Fundação Casa de Rui
Barbosa/Secretaria Especial de
Cultura.
Ao analisar o desenvolvimento
recente dos estudos em
culturais no Brasil, a partir da produção
de conhecimento e da prática
profissional dos principais
pesquisadores vinculados ao Centro
de Estudos Multidisciplinares em
Cultura, Mariella Pitombo Vieira et al.
(2021, 126-
127) assevera que
O trânsito
estreito que os
pesquisadores estabelecem
entre o campo acadêmico e o
político confere
caráter bifronte na sua
atuação. Ou seja: ao tempo
em que são agentes que se
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
parceria com a Editora da
Universidade Federal da Bahia
(Edufba) e o periódico Políticas
, em parceria com
O CULT mantém intercâmbio
cultural, no Brasil e no
exterior, com entidades, instituições,
associações, universidades, centros
de pesquisa e exteno, publicações,
estudiosos e profissionais de cultura.
O Centro é filiado ao Conselho Latino
-
Americano de Ciências Sociais
(CLACSO) e membro da Cátedra
Unesco de Políticas Culturais e Gestão
da Fundação Casa de Rui
Barbosa/Secretaria Especial de
Ao analisar o desenvolvimento
recente dos estudos em
políticas
culturais no Brasil, a partir da produção
de conhecimento e da prática
profissional dos principais
pesquisadores vinculados ao Centro
de Estudos Multidisciplinares em
Cultura, Mariella Pitombo Vieira et al.
127) assevera que
estreito que os
pesquisadores estabelecem
entre o campo acadêmico e o
político confere
-lhes um
caráter bifronte na sua
atuação. Ou seja: ao tempo
em que o agentes que se
ocupam em refletir sobre o
tema das políticas culturais
através de uma produção
cie
ntífica profícua, atuam, por
outro lado, como agentes
nativos da esfera das políticas
culturais ao ocuparem postos
de gestão, colaborando assim
para a constituição de práticas
e discursos sobre o fazer das
políticas culturais. Tal
dinâmica (...) confere
especificidade na
epistemologia gerada por
esses estudos, qual seja: um
alinhamento de ideologias
entre o campo político e o
campo intelectual.
Tal constatação encontra, na
prática cotidiana do CULT, um duplo
lastro. Desde os primeiros níveis de
formação, pesquisadoras e
pesquisadores do Centro aderem a
este caráter bifronte de atuação, que
também acaba por envolver servidores
e docentes. Tais pro
estudantes, entre bolsistas e
voluntários, além de suas atividades
rotineiras atuam na organização e
apoio às diversas atividades de
extensão, pesquisa, consultorias e
formação em cultura promovidas, com
destaque para o Enecult. Ademais, à
med
ida em que há um trânsito entre os
pesquisadores do Centro e a gestão
pública, é possível verificar diversos
exemplos de atuação em cargos na
gestão pública e, certamente, na
229
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
ocupam em refletir sobre o
tema das políticas culturais
através de uma produção
ntífica profícua, atuam, por
outro lado, como agentes
nativos da esfera das políticas
culturais ao ocuparem postos
de gestão, colaborando assim
para a constituição de práticas
e discursos sobre o “fazer” das
políticas culturais. Tal
dinâmica (...) confere
uma
especificidade na
epistemologia gerada por
esses estudos, qual seja: um
alinhamento de ideologias
entre o campo político e o
campo intelectual.
Tal constatação encontra, na
prática cotidiana do CULT, um duplo
lastro. Desde os primeiros níveis de
formação, pesquisadoras e
pesquisadores do Centro aderem a
este caráter bifronte de atuação, que
também acaba por envolver servidores
e docentes. Tais pro
fissionais e
estudantes, entre bolsistas e
voluntários, além de suas atividades
rotineiras atuam na organização e
apoio às diversas atividades de
exteno, pesquisa, consultorias e
formação em cultura promovidas, com
destaque para o Enecult. Ademais, à
ida em que há um trânsito entre os
pesquisadores do Centro e a gestão
pública, é posvel verificar diversos
exemplos de atuação em cargos na
gestão pública e, certamente, na
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
docência universitária. Esse duplo
olhar, nos parece, é fundamental para
uma atuação qualificada.
Gleise Oliveira -
minha trajetória é marcada
pela prática e refleo em
torno das políticas culturais
sob diferentes aspectos, o que
evidencia a
multidisciplinaridade.
oportunidade que o Enecult
me de me aproximar e
cont
ribuir com pesquisas e nos
bastidores da gestão para
proporcionar espaços de
diálogo sobre culturas e suas
diversas transversalidades
contemporâneas é instigante e
me põe em movimento e em
contato com um vasto universo
de pesquisas e culturas nas
suas dist
intas dimenes.
Frente à relevância deste
evento para o Centro e para os
estudos da cultura no Brasil cabe
colocar em suspenso, inclusive sua
classificação enquanto evento,
conforme anotado por Albino Rubim
(2014, p. 58):
A crítica correta e sempre
acionada assinala o caráter
eventual do evento. Ou seja,
ele é vento que passa e por
vezes refresca, mas que não
deixa nada de mais
substantivo para a cultura. O
caráter eventual do evento
torna-
se deste modo o grande
inimigo de uma atuação
cultural mais c
porque orientada pela busca
de impactos culturais mais
permanentes e persistentes.
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
docência universitária. Esse duplo
olhar, nos parece, é fundamental para
Avalio que a
minha trajetória é marcada
pela prática e reflexão em
torno das políticas culturais
sob diferentes aspectos, o que
evidencia a
multidisciplinaridade.
A
oportunidade que o Enecult
me dá de me aproximar e
ribuir com pesquisas e nos
bastidores da gestão para
proporcionar espaços de
diálogo sobre culturas e suas
diversas transversalidades
contemporâneas é instigante e
me põe em movimento e em
contato com um vasto universo
de pesquisas e culturas nas
intas dimensões.
Frente à relevância deste
evento para o Centro e para os
estudos da cultura no Brasil cabe
colocar em suspenso, inclusive sua
classificação enquanto evento,
conforme anotado por Albino Rubim
A crítica correta e sempre
acionada assinala o caráter
eventual do evento. Ou seja,
ele é vento que passa e por
vezes refresca, mas que não
deixa nada de mais
substantivo para a cultura. O
caráter eventual do evento
se deste modo o grande
inimigo de uma atuação
cultural mais c
onsistente,
porque orientada pela busca
de impactos culturais mais
permanentes e persistentes.
A distinção que o autor propõe,
parece dar conta de caracterizar o
Enecult a partir de outra categoria de
evento. Seria o Encontro, um evento
programa uma vez q
perspectiva de, mesmo sendo um
evento, ter a característica de mover
outras estruturas e para além dele,
deixar um legado e promover uma
abertura para políticas de cultura, por
exemplo.
A potência do evento
programa, deste segundo tipo,
necess
ita ser ampla, desde o
início. Dificilmente um evento
programa frágil terá
possibilidade de realizar esta
mutação. Ele igualmente deve
possuir condições de se
desenvolver e de ganhar ainda
mais potência, pois ela
aparece como condição para a
própria transf
sentido, o evento
precisa, desde seus
primórdios, estar bem inserido
em uma teia social que
possibilite articulações, sem as
quais o processo corre enorme
risco de ser interditado
(RUBIM, 2014, p. 61)
Sob tal perspectiva é que nos
debruçamos sobre o Enecult.
Conforme mencionado, o Enecult é
voltado para os estudos sobre cultura
sob uma perspectiva multidisciplinar e
transversal, por meio de uma
230
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
A distinção que o autor propõe,
parece dar conta de caracterizar o
Enecult a partir de outra categoria de
evento. Seria o Encontro, um evento
-
programa uma vez q
ue assume a
perspectiva de, mesmo sendo um
evento, ter a característica de mover
outras estruturas e para além dele,
deixar um legado e promover uma
abertura para políticas de cultura, por
A potência do evento
-
programa, deste segundo tipo,
ita ser ampla, desde o
início. Dificilmente um evento
-
programa frágil terá
possibilidade de realizar esta
mutação. Ele igualmente deve
possuir condições de se
desenvolver e de ganhar ainda
mais potência, pois ela
aparece como condição para a
própria transf
ormação. Neste
sentido, o evento
-programa
precisa, desde seus
primórdios, estar bem inserido
em uma teia social que
possibilite articulações, sem as
quais o processo corre enorme
risco de ser interditado
(RUBIM, 2014, p. 61)
Sob tal perspectiva é que nos
debruçamos sobre o Enecult.
Conforme já mencionado, o Enecult é
voltado para os estudos sobre cultura
sob uma perspectiva multidisciplinar e
transversal, por meio de uma
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
programação que engloba (ou
englobou) diversas modalidades de
participação. Em quase t
odas elas, à
exceção da fruição nos momentos
festivos, são apresentadas pesquisas,
estudos científicos em cultura, debates
nos mais variados campos dos
saberes.
Em seus dezoito anos, o
Enecult possui como atividade central
a apresentação de trabalhos com
submissão, avaliação e seleção de
artigos para apresentação oral e
publicação em anais.
Estudantes em
diversos níveis de formação, a partir
da graduação, podem submeter
artigos ao evento. Embora as
atividades sejam abertas ao público,
para confirmar a apres
entação oral
dos trabalhos e para obter certificação
é necessário o pagamento em valores
diferenciados para graduandos, pós
graduandos (stricto e
lato sensu
profissionais, pesquisadores e
professores. Ouvintes que desejem
receber a certificação também
desde a XVII edição, um valor mais
acessível.
Natalia Coimbra
grandes questões para o
CULT, tanto na atuação do
Centro, quanto na organização
do Enecult, é garantir a
diversidade de interlocução
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
programação que engloba (ou
englobou) diversas modalidades de
odas elas, à
exceção da fruição nos momentos
festivos, o apresentadas pesquisas,
estudos científicos em cultura, debates
nos mais variados campos dos
Em seus dezoito anos, o
Enecult possui como atividade central
a apresentação de trabalhos com
submissão, avaliação e seleção de
artigos para apresentação oral e
Estudantes em
diversos níveis de formação, a partir
da graduação, podem submeter
artigos ao evento. Embora as
atividades sejam abertas ao público,
entação oral
dos trabalhos e para obter certificação
é necessário o pagamento em valores
diferenciados para graduandos, pós
-
lato sensu
) e
profissionais, pesquisadores e
professores. Ouvintes que desejem
receber a certificação também
pagam,
desde a XVII edição, um valor mais
Natalia Coimbra
Uma das
grandes questões para o
CULT, tanto na atuação do
Centro, quanto na organização
do Enecult, é garantir a
diversidade de interlocução
cotidiana nas suas ações, na
programação do
redes que o estabelecidas.
Desse modo, buscando
ativamente trazer para seus
espaços de diálogo e decio
pessoas de diversas origens e
instituições, que atuem a partir
das suas múltiplas vivências,
experiências e perspectivas. E
não apenas p
mas também artistas,
fazedores/as da cultura,
ativistas, participantes dos
movimentos sociais,
gestores/as, profissionais dos
mais diversos campos de
atuação etc.
Assim, a
lém da apresentação
de trabalhos, a programação inclui
relatos de e
xperiências subjetivas e
práticas de gestão, atividades para
articulação de redes, exposições,
práticas artísticas e espaços de
discussão, de modo a diversificar a
programação do evento. Além disso, a
difusão de pesquisas, diagnósticos e
mapeamentos articu
instituições públicas e privadas, a
publicização de manifestos e eventos
paralelos, tem como propósito interferir
na realidade cultural do país. Não é
fácil garantir, e nem sempre o fazemos
com efetividade, a interlocução com a
imensa diversidade
circuitos desse complexo campo.
231
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
cotidiana nas suas ações, na
programação do
evento e nas
redes que são estabelecidas.
Desse modo, buscando
ativamente trazer para seus
espaços de diálogo e decisão
pessoas de diversas origens e
instituições, que atuem a partir
das suas múltiplas vivências,
experiências e perspectivas. E
não apenas p
esquisadores/as,
mas também artistas,
fazedores/as da cultura,
ativistas, participantes dos
movimentos sociais,
gestores/as, profissionais dos
mais diversos campos de
atuação etc.
lém da apresentação
de trabalhos, a programação inclui
xperiências subjetivas e
práticas de gestão, atividades para
articulação de redes, exposições,
práticas artísticas e espaços de
discuso, de modo a diversificar a
programação do evento. Além disso, a
difusão de pesquisas, diagnósticos e
mapeamentos articu
lados com
instituições públicas e privadas, a
publicização de manifestos e eventos
paralelos, tem como propósito interferir
na realidade cultural do país. Não é
fácil garantir, e nem sempre o fazemos
com efetividade, a interlocução com a
de linguagens e
circuitos desse complexo campo.
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
A trajetória do evento, a partir
de seus principais números, está
Quadro 1: Principais números do Enecult
Edição do evento
Ano
Inscritos
I ENECULT
2005
II ENECULT
2006
III ENECULT
2007
IV ENECULT
2008
V ENECULT
2009
VI ENECULT
2010
VII ENECULT
2011
VIII ENECULT
2012
IX ENECULT
2013
X ENECULT
2014
XI ENECULT
2015
XII ENECULT
2016
XIII ENECULT
2017
XIV ENECULT
2018
XV ENECULT
2019
XVI ENECULT**
2020
XVII ENECULT**
2021
XVIII ENECULT***
2022
Fonte: elaboração das autoras com base em dados do Encontro.
* Edições que consideraram como modalidade de submissão artigos individuais e mesas
coordenadas.
** Edições em formato online
*** Edição em
formato híbrido
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
A trajetória do evento, a partir
de seus principais números, está
explicitada no quadro 1, a seguir.
Quadro 1: Principais números do Enecult
Inscritos
Trabalhos
submetidos
Trabalhos
apresentados e
publicados
270
132
113
280
122
99
318
312*
170
333
318*
227
444
397*
238
623
557*
291
763
576*
403
665
630*
289
445
431*
260
493
375
246
622
524
287
692
600
311
678
540
300
642
659
325
766
736
373
1477
0
0
652
408*
346
573
371*
328
Fonte: elaboração das autoras com base em dados do Encontro.
* Edições que consideraram como modalidade de submissão artigos individuais e mesas
formato híbrido
232
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
explicitada no quadro 1, a seguir.
Trabalhos
apresentados e
publicados
Pareceristas
20
15
12
11
16
74
115
78
96
91
114
194
217
225
359
0
330
271
Fonte: elaboração das autoras com base em dados do Encontro.
* Edições que consideraram como modalidade de submissão artigos individuais e mesas
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
Para
que se tenha uma ideia da
dimensão deste evento-
programa, em
sua mais recente edição realizada em
2022,
em formato híbrido, entre os
dias 9 e 12 de agosto de 2022
com uma vasta programação que
envolveu 17 mesas coordenadas,
sessões de apresentação de artigos
submetidos aos 22 grupos de trabalho,
quatro mesas especiais de Diálogos
Emergentes, duas mesas redondas,
mesas de abertura e de encerramento
e ainda lançamento de 13 livros com
confraternização presencial. Nesta
edição foram 573
inscritos,
na apresentação oral de 328 trabalhos
cujos artigos, por fim, compuseram os
anais.
Como qualquer outro evento
cultural, o Enecult passa pelas três
etapas para sua realização: pré
produção, produção propriamente dita
e pós-
produção (RUBIM, L., 2005, p.
25). Na pré-
produção, a equipe
elabora o planejamento do que vai ser
executado, definin
do: calendário,
formato, comissões, entre outras. Uma
das primeiras etapas é a chamada
para submissão de artigos e a sua
consequente seleção pela Comissão
Científica. A partir do resultado desta
seleção, é elaborada a programação
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
que se tenha uma ideia da
programa, em
sua mais recente edição realizada em
em formato híbrido, entre os
dias 9 e 12 de agosto de 2022
, contou
com uma vasta programação que
envolveu 17 mesas coordenadas,
59
sessões de apresentação de artigos
submetidos aos 22 grupos de trabalho,
quatro mesas especiais de Diálogos
Emergentes, duas mesas redondas,
mesas de abertura e de encerramento
e ainda lançamento de 13 livros com
confraternização presencial. Nesta
inscritos,
resultando
na apresentação oral de 328 trabalhos
cujos artigos, por fim, compuseram os
Como qualquer outro evento
cultural, o Enecult passa pelas três
etapas para sua realização: pré
-
produção, produção propriamente dita
produção (RUBIM, L., 2005, p.
produção, a equipe
elabora o planejamento do que vai ser
do: calendário,
formato, comissões, entre outras. Uma
das primeiras etapas é a chamada
para submissão de artigos e a sua
consequente seleção pela Comissão
Científica. A partir do resultado desta
seleção, é elaborada a programação
completa do encontro, pros
com as demais atividades
relacionadas ao encontro.
Desde sua primeira edição, o
Enecult é gerido por diversas
Comissões. Atualmente o Encontro é
organizado estruturalmente a partir
das Comissões Organizadora,
Científica e de Programação. Além das
coordenações Geral, de Secretaria e
Comunicação.
As decisões de cunho mais
abrangentes sobre o encontro o
tomadas coletivamente nas reuniões
do Conselho Consultivo do CULT,
formado por coordenadores e ex
coordenadores do órgão. É essa
plenária que, a par
tir de parâmetros e
diálogos, decide pela data de
realização, formato, estrutura e tema
geral do Encontro. Algumas dessas
decisões estão pautadas em questões
pragmáticas, como a realização do
evento
durante o período de férias da
UFBA, considerando a nece
espaços físicos para comportar a
realização de diversas atividades
simultâneas. as decisões sobre
tema, convidados e formato têm
variado ao longo dos anos. Para citar
um exemplo recente, em 2020, devido
à pandemia de covid
233
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
completa do encontro, pros
seguindo
com as demais atividades
relacionadas ao encontro.
Desde sua primeira edição, o
Enecult é gerido por diversas
Comissões. Atualmente o Encontro é
organizado estruturalmente a partir
das Comissões Organizadora,
Científica e de Programação. Além das
coordenações Geral, de Secretaria e
As decisões de cunho mais
abrangentes sobre o encontro são
tomadas coletivamente nas reuniões
do Conselho Consultivo do CULT,
formado por coordenadores e ex
-
coordenadores do órgão. É essa
tir de parâmetros e
diálogos, decide pela data de
realização, formato, estrutura e tema
geral do Encontro. Algumas dessas
decies estão pautadas em questões
pragmáticas, como a realização do
durante o período de férias da
UFBA, considerando a nece
ssidade de
espaços físicos para comportar a
realização de diversas atividades
simultâneas. as decisões sobre
tema, convidados e formato têm
variado ao longo dos anos. Para citar
um exemplo recente, em 2020, devido
à pandemia de covid
-19, o Encontro
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
ader
iu à modalidade online e,
adicionalmente, considerando as
condições desiguais de produção
acadêmica, resolveu-
se por não
realizar os Grupos de Trabalho
temáticos. Ainda observando o
contexto adverso, que no Brasil foi
atenuado
pela gestão irresponvel da
pandemia pelo executivo federal, o
Enecult naquela edição foi totalmente
gratuito.
Em cada edição do evento
foram ocorrendo diferentes formas de
organização e especialmente quando
se refere aos eixos temáticos, estes
não seguem uma padronização e
foram se
atualizando e alterando em
cada ano conforme avaliação de
demanda e temática: foram feitas
junções, exclusões ou inclusões de
novos
Grupos de Trabalho (
mudando as abordagens ou ganhando
novas nomenclaturas, adaptando
às necessidades ou à própria
conjuntura.
A cada ano, a coordenação
geral também elabora projetos de
captação de recursos para
participação em editais de diversas
agências de fomento e instituições de
apoio à cultura. Ao longo de sua
trajetória o evento recebeu
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
iu à modalidade online e,
adicionalmente, considerando as
condições desiguais de produção
se por não
realizar os Grupos de Trabalho
temáticos. Ainda observando o
contexto adverso, que no Brasil foi
pela gestão irresponsável da
pandemia pelo executivo federal, o
Enecult naquela edição foi totalmente
Em cada edição do evento
foram ocorrendo diferentes formas de
organização e especialmente quando
se refere aos eixos temáticos, estes
não seguem uma padronização e
atualizando e alterando em
cada ano conforme avaliação de
demanda e temática: foram feitas
junções, exclues ou inclusões de
Grupos de Trabalho (
GTs),
mudando as abordagens ou ganhando
novas nomenclaturas, adaptando
-se
às necessidades ou à própria
A cada ano, a coordenação
geral também elabora projetos de
captação de recursos para
participação em editais de diversas
agências de fomento e instituições de
apoio à cultura. Ao longo de sua
trajetória o evento já recebeu
apoio de
instituições
como: Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado da
Bahia (FAPESB), Instituto Itaú
Cultural, Agência Espanhola de
Cooper
ação Internacional para o
Desenvolvimento (AECID), Petróleo
Brasileiro S.A. (PETROBRAS), Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (SEBRAE), etc.
Obviamente, a relação entre um
evento que propõe pensar a cultura de
forma crítica e implicada
diversidade de financiadores como a
exemplificada não se dá sem atritos e
disputas.
Gleise Oliveira
momentos chave para
entender o posicionamento do
CULT diante as exigências e
ideologias de apoiadores foi,
sem dúvida, a retirada de um
apoi
o considerando os
interesses do patrocinador que
estavam ideologicamente
contrários às discussões que o
evento resolveu travar em uma
das edições. Do ponto de vista
da produção/captação de
recursos esse é um relevante
ponto a se verificar. Existe
interdiçã
o de algum
posicionamento ou convidado?
Neste impasse, restou
evidente a posição do Centro
de Estudos que seguiu
234
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
como: Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado da
Bahia (FAPESB), Instituto It
Cultural, Agência Espanhola de
ação Internacional para o
Desenvolvimento (AECID), Petróleo
Brasileiro S.A. (PETROBRAS), Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (SEBRAE), etc.
Obviamente, a relação entre um
evento que propõe pensar a cultura de
forma crítica e implicada
com a
diversidade de financiadores como a
exemplificada não se sem atritos e
Gleise Oliveira
- Um dos
momentos chave para
entender o posicionamento do
CULT diante as exigências e
ideologias de apoiadores foi,
sem dúvida, a retirada de um
o considerando os
interesses do patrocinador que
estavam ideologicamente
contrários às discussões que o
evento resolveu travar em uma
das edições. Do ponto de vista
da produção/captação de
recursos esse é um relevante
ponto a se verificar. Existe
o de algum
posicionamento ou convidado?
Neste impasse, restou
evidente a posição do Centro
de Estudos que seguiu
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
“perdendo” um apoio mas
reforçando a sua definição
crítica diante o contexto em
análise. Ou seja, o Enecult não
estava disposto a negociar
inte
rdições ao pensamento
crítico e isso ficou evidente
com essa vivência.
Quanto à produção
propriamente dita, além do
envolvimento das comissões, é
necessário a contratação de
profissionais para as atividades de
comunicação e produção cultural.
Estes
últimos, conforme Linda Rubim
(2005, p. 26) devem saber lidar com
números, recursos financeiros,
orçamentos, cronogramas de
produção, tabela de custos etc.
Estabelecem também relações com
distintas instâncias e órgãos na
Universidade a exemplo da Produto
Júnior, Agenda de Arte e Cultura e
Laboratório de Fotografia da
Faculdade de Comunicação, além de
alunos bolsistas dos cursos de
graduação em Produção e Jornalismo
da Facom, Bacharelados
Interdisciplinares e pós-
graduandos do
Programa em Cultura e Socie
IHAC que atuam na monitoria do
Encontro.
Ao longo do tempo, a
programação ganhou novos formatos,
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
perdendo um apoio mas
reforçando a sua definição
crítica diante o contexto em
análise. Ou seja, o Enecult não
estava disposto a negociar
rdições ao pensamento
crítico e isso ficou evidente
com essa vincia.
Quanto à produção
propriamente dita, além do
envolvimento das comissões, é
necessário a contratação de
profissionais para as atividades de
comunicação e produção cultural.
últimos, conforme Linda Rubim
(2005, p. 26) devem saber lidar com
números, recursos financeiros,
orçamentos, cronogramas de
produção, tabela de custos etc”.
Estabelecem também relações com
distintas instâncias e órgãos na
Universidade a exemplo da Produto
ra
nior, Agenda de Arte e Cultura e
Laboratório de Fotografia da
Faculdade de Comunicação, além de
alunos bolsistas dos cursos de
graduação em Produção e Jornalismo
da Facom, Bacharelados
graduandos do
Programa em Cultura e Socie
dade do
IHAC que atuam na monitoria do
Ao longo do tempo, a
programação ganhou novos formatos,
adaptando-
se à realidade, dado que
pode ser exemplificado pelo contexto
de pandemia. Mas, mesmo em
edições anteriores, experimentamos,
com frequência,
diferentes questões
que nos impulsionaram a ampliar os
espaços de discussão e interação.
Delmira Nunes
do Minicurso Acessibilidade
Cultural
Políticas Culturais e
Formação Acadêmica, como
parte a programação da XI
edição em 2015 foi o pont
inicial para a incluo em
todas as edições
subsequentes da tradução em
libras das palestras, e da
impressão da programação em
braille e em fonte ampliada. A
acessibilidade para pessoas
com deficiência é executada
com o apoio do NAPE
de Apoio
Deficiência da UFBA e para
mapear a demanda do
Encontro, utilizamos os dados
dos relatórios de inscrições.
Mesmo sem uma demanda
ampla, sobretudo na
programação que fica de
legado no canal do CULT no
youtube, temos feito a escolha
política de
parte possível da
programação.
Este é um, dentre outros,
exemplos de aplicação dos
pressupostos teóricos acionados na
prática cotidiana da produção e da
articulação, no Enecult, entre forma e
conteúdo.
235
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
se à realidade, dado que
pode ser exemplificado pelo contexto
de pandemia. Mas, mesmo em
edições anteriores, experimentamos,
diferentes questões
que nos impulsionaram a ampliar os
espaços de discussão e interação.
Delmira Nunes
- A realização
do Minicurso Acessibilidade
Políticas Culturais e
Formação Acadêmica, como
parte a programação da XI
edição em 2015 foi o pont
apé
inicial para a inclusão em
todas as edições
subsequentes da tradução em
libras das palestras, e da
impressão da programação em
braille e em fonte ampliada. A
acessibilidade para pessoas
com deficiência é executada
com o apoio do NAPE
- Núcleo
de Apoio
à Pessoa com
Deficiência da UFBA e para
mapear a demanda do
Encontro, utilizamos os dados
dos relatórios de inscrições.
Mesmo sem uma demanda
ampla, sobretudo na
programação que fica de
legado no canal do CULT no
youtube, temos feito a escolha
política de
traduzir a maior
parte possível da
programação.
Este é um, dentre outros,
exemplos de aplicação dos
pressupostos teóricos acionados na
prática cotidiana da produção e da
articulação, no Enecult, entre forma e
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
Por fim, a etapa de pós
produção fic
a a cargo da Coordenação
Geral, que assume as prestações de
contas e demais atividades, inclusive
com reuniões de avaliação do evento.
E, por óbvio, por se tratar de um
evento que não se esgota na
eventualidade, se inicia o
planejamento para a próxima e
4.
Fazendo o caminho ao caminhar
“[...] a invenção do hoje é o meu único
meio de instaurar o futuro.
Clarice Lispector (1998, p.12),
Considerando a programação
um elemento que transversaliza toda a
gestão do Enecult escolhemos adotá
la como enfoque central da reflexão
proposta. Para s, quando olhamos
para a programação do encontro fica
evidente as nossas escolhas enquanto
gestoras, or
ganizadoras e produtoras
do Enecult e também os limites para o
ousar, se considerarmos o
financiamento, como uma variável.
Como aspectos a serem pontuados,
por exemplo, existe uma
posicionalidade entre o recebimento
de proposta (mesas coordenadas e
artigos
) que compõem a parte
acadêmica do evento e que
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
Por fim, a etapa de pós
-
a a cargo da Coordenação
Geral, que assume as prestações de
contas e demais atividades, inclusive
com reuniões de avaliação do evento.
E, por óbvio, por se tratar de um
evento que não se esgota na
eventualidade, já se inicia o
planejamento para a próxima e
dição.
Fazendo o caminho ao caminhar
[...] a invenção do hoje é o meu único
meio de instaurar o futuro.”
Clarice Lispector (1998, p.12),
Considerando a programação
um elemento que transversaliza toda a
gestão do Enecult escolhemos adotá
-
la como enfoque central da reflexão
proposta. Para nós, quando olhamos
para a programação do encontro fica
evidente as nossas escolhas enquanto
ganizadoras e produtoras
do Enecult e também os limites para o
ousar, se considerarmos o
financiamento, como uma variável.
Como aspectos a serem pontuados,
por exemplo, existe uma
posicionalidade entre o recebimento
de proposta (mesas coordenadas e
) que compõem a parte
acadêmica do evento e que
acontecem por via de submiso mas
também a parte da programação que
prescinde de uma curadoria da
organização e implica uma relação
direta com escolhas, temas e também
valores que estão relacionados
diretame
nte com as discussões que
estejam em evidência no campo e
entre os temas de pesquisa dos
fazedores mais diretamente
relacionados com as temáticas.
Ademais, a definição da programação
do Enecult se relaciona também com
limitações que dizem respeito à
agenda
s, recursos, ou, de forma mais
ampla pelo contexto que o atravessa.
Nos dois últimos anos, para nos
atermos às duas mais recentes
edições, o mundo e por consequência
o Encontro foi impactado pela covid
19. No Brasil, a
conjugada com um contex
político-
institucional determinante para
os campos da cultura e da ciência.
Conforme atestam pesquisadores:
A conjuntura foi atingida pela
pandemia, que infestou o
mundo e o país. O
pandemônio no maltrato da
pandemia matou, de modo
criminoso, m
pessoas no país, até março de
2022, além de atingir milhões
de brasileiros(as). O
pandemônio não ficou restrito
à desastrosa gestão da
236
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
acontecem por via de submissão mas
também a parte da programação que
prescinde de uma curadoria da
organização e implica uma relação
direta com escolhas, temas e também
valores que estão relacionados
nte com as discussões que
estejam em evidência no campo e
entre os temas de pesquisa dos
fazedores mais diretamente
relacionados com as temáticas.
Ademais, a definição da programação
do Enecult se relaciona também com
limitações que dizem respeito à
s, recursos, ou, de forma mais
ampla pelo contexto que o atravessa.
Nos dois últimos anos, para nos
atermos às duas mais recentes
edições, o mundo e por consequência
o Encontro foi impactado pela covid
-
19. No Brasil, a
pandemia foi
conjugada com um contex
to adverso
institucional determinante para
os campos da cultura e da ciência.
Conforme atestam pesquisadores:
A conjuntura foi atingida pela
pandemia, que infestou o
mundo e o país. O
pandemônio no maltrato da
pandemia matou, de modo
criminoso, m
ais de 650 mil
pessoas no país, até março de
2022, além de atingir milhões
de brasileiros(as). O
pandemônio não ficou restrito
à desastrosa gestão da
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
pandemia. Ele se disseminou
por todo governo e por toda
sociedade:
caos econômico
pela ausência de projet
econômico e descontrole da
inflação;
caos social
índices enormes de
desemprego e volta do Brasil
ao mapa da fome;
político
, com tentações
autoritárias contra instituições
e pessoas e agressões à vida
democrática;
educacional-
universitário
cortes de verbas e ataques à
autonomia das universidades;
caos científico
, com redução
de recursos e de bolsas de
pesquisa;
caos cultural
(RUBIM; OLIVEIRA; TEÓFILO,
2022, p. 14, grifos dos autores)
A conjunção entre
neoliberalismo, neofascismos
19 tem efeitos funes
tos para a vida em
sociedade. que se observar que se
comprova o papel paradoxal da
pandemia p
ara a construção do
Enecult se observarmos os impactos
da mesma para a cultura em seus
diversos modos de fazer.
Seu impacto no campo cultural
é enorme e paradoxal. A
cultura presencial ao vivo foi
uma das primeiras áreas a ter
as atividades suspensas e
será uma das últimas a
retornar à vida, sofrendo
profundamente com a
pandemia, pois tem como
seiva vital a convivên
cultura virtual, mediada por
aparatos sociotecnológicos,
demonstrou-
se companheira
inseparável das multidões
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
pandemia. Ele se disseminou
por todo governo e por toda
caos econômico
,
pela auncia de projet
o
econômico e descontrole da
caos social
, com
índices enormes de
desemprego e volta do Brasil
ao mapa da fome;
caos
, com tentações
autoritárias contra instituições
e pessoas e agressões à vida
democrática;
caos
universitário
, com
cortes de verbas e ataques à
autonomia das universidades;
, com redução
de recursos e de bolsas de
caos cultural
(...).
(RUBIM; OLIVEIRA; TEÓFILO,
2022, p. 14, grifos dos autores)
A conjunção entre
neoliberalismo, neofascismos
e covid-
tos para a vida em
sociedade. Há que se observar que se
comprova o papel paradoxal da
ara a construção do
Enecult se observarmos os impactos
da mesma para a cultura em seus
Seu impacto no campo cultural
é enorme e paradoxal. A
cultura presencial ao vivo foi
uma das primeiras áreas a ter
as atividades suspensas e
será uma das últimas a
retornar à vida, sofrendo
profundamente com a
pandemia, pois tem como
seiva vital a convivên
cia. a
cultura virtual, mediada por
aparatos sociotecnológicos,
se companheira
inseparável das multidões
solitárias aprisionadas em
quarentena, quando as
condições sociais e
econômicas permitiam. A
cultura midiatizada se tornou
imprescindível
emocional e mental das
pessoas submetidas a
situações limite de intensa
solidão, dado o rompimento
das suas relações sociais e
afetivas. Com a longa duração
da pandemia, a cultura
midiatizada também afetou e
deprimiu a cultura mediada,
pois seus e
ser renovados por novas
obras, que requerem
fabricação convivencial ao
vivo. (RUBIM; VILUTIS;
OLIVEIRA, 2021, p. 13).
A pandemia
mudanças profundas no dia
distanciamentos sociais, uso de
máscaras, paralisações de atividade
lockdown
, sobrecarga dos serviços de
saúde e inúmeras
mortes.
Renata Rocha
2021 foi realizada a eleição
para a coordenação do Centro.
Eu estava bastante reticente
em assumir essa empreitada,
não pelo trabalho em si, mas
diante de todo
pessoal. Eu estava em
isolamento social, em um
momento de absoluta
incerteza sobre o que
estávamos vivenciando,
cuidando de um bebê de dois
anos sem rede de apoio.
Manter o ritmo necessário para
a construção de um Enecult
não parecia viável
motivo Natália assumiu a
coordenação da XVII edição
237
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
solitárias aprisionadas em
quarentena, quando as
condições sociais e
econômicas permitiam. A
cultura midiatizada se tornou
imprescindível
à saúde
emocional e mental das
pessoas submetidas a
situações limite de intensa
solidão, dado o rompimento
das suas relações sociais e
afetivas. Com a longa duração
da pandemia, a cultura
midiatizada também afetou e
deprimiu a cultura mediada,
pois seus e
stoques precisam
ser renovados por novas
obras, que requerem
fabricação convivencial ao
vivo. (RUBIM; VILUTIS;
OLIVEIRA, 2021, p. 13).
A pandemia
provocou
mudanças profundas no dia
-a-dia:
distanciamentos sociais, uso de
máscaras, paralisações de atividade
s,
, sobrecarga dos serviços de
mortes.
Renata Rocha
- Em janeiro de
2021 foi realizada a eleição
para a coordenação do Centro.
Eu estava bastante reticente
em assumir essa empreitada,
não pelo trabalho em si, mas
diante de todo
o meu contexto
pessoal. Eu estava em
isolamento social, em um
momento de absoluta
incerteza sobre o que
estávamos vivenciando,
cuidando de um bebê de dois
anos sem rede de apoio.
Manter o ritmo necessário para
a construção de um Enecult
não parecia viável
e por esse
motivo Natália assumiu a
coordenação da XVII edição
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
com a minha contribuição
eventual, em especial nos
processos relativos à
comissão científica e também
no acompanhamento da parte
burocrática e de gestão dos
recursos.
Somaram-
se a este fato,
c
onstantes ataques às ciências, a falta
de recursos para a educação, a
defasagem dos orçamentos das
universidades, tornando ainda mais
difícil a realização de eventos
acadêmicos. Assim, o
Enecult sofreu
sucessivas reduções de aportes
financeiros, seja no qu
e diz respeito
aos recursos necessários à sua
organização, seja quanto aos
programas de apoio à participação de
pesquisadores, docentes e estudantes
em eventos acadêmicos.
2021, por exemplo, o Enecult não
contou com quaisquer apoio e/ou
financiamento. Na edição de 2022, o
evento foi contemplado com um edital
da CAPES e recebeu o apoio da
Deputada Estadual Neusa Cadore, por
meio de emenda parlamentar.
Natalia Coimbra -
duas edições mais recentes do
Enecult foi um trabalho
verda
deiramente coletivo. Não
tínhamos como desconsiderar
o difícil momento vivido, diante
da pandemia que assolou todo
o planeta e que, em nosso
país, escancarou uma crise
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
com a minha contribuição
eventual, em especial nos
processos relativos à
comissão científica e também
no acompanhamento da parte
burocrática e de gestão dos
se a este fato,
onstantes ataques às ciências, a falta
de recursos para a educação, a
defasagem dos orçamentos das
universidades, tornando ainda mais
difícil a realização de eventos
Enecult sofreu
sucessivas reduções de aportes
e diz respeito
aos recursos necessários à sua
organização, seja quanto aos
programas de apoio à participação de
pesquisadores, docentes e estudantes
em eventos acadêmicos.
Em 2020 e
2021, por exemplo, o Enecult não
contou com quaisquer apoio e/ou
financiamento. Na edição de 2022, o
evento foi contemplado com um edital
da CAPES e recebeu o apoio da
Deputada Estadual Neusa Cadore, por
meio de emenda parlamentar.
Fazer essas
duas edições mais recentes do
Enecult foi um trabalho
deiramente coletivo. Não
tínhamos como desconsiderar
o difícil momento vivido, diante
da pandemia que assolou todo
o planeta e que, em nosso
país, escancarou uma crise
que ainda abarca tantas
dimensões: sanitária, política,
econômica, social, ambiental,
cu
ltural... Mas, mesmo em
tempos tão difíceis, é
importante destacar a alegria
que foi compartilhar, primeiro
exclusivamente no remoto e
depois no formato híbrido, o
nosso lugar, a partir do
contexto da universidade
pública, e sua importância
inconteste, pri
diante desse complexo
contexto.
“Trocar o pneu com o carro em
movimento” é como fazer ao sabor do
tempo e do momento. Assim tem se
movido o Enecult sem ser
descontinuado para se posicionar
diante de tantos contextos
paralisantes. Na edição d
tema “A cultura na encruzilhada fazia
referência às possibilidades de
caminhos e questionava sobre quais
as possibilidades para
esses difíceis
tempos. O ano ainda
estava fortemente marcado pelos
impactos da pandemia (ainda não
me
didos em sua plenitude) então, o
Enecult mais uma vez se realiza para
ressaltar que
“cultura é vida
contrapõe à irresponsabilidade, no
âmbito das políticas
no trato de uma crise
precedentes e
as numerosas per
238
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
que ainda abarca tantas
dimenes: sanitária, política,
econômica, social, ambiental,
ltural... Mas, mesmo em
tempos tão difíceis, é
importante destacar a alegria
que foi compartilhar, primeiro
exclusivamente no remoto e
depois no formato brido, o
nosso lugar, a partir do
contexto da universidade
pública, e sua importância
inconteste, pri
ncipalmente,
diante desse complexo
Trocar o pneu com o carro em
movimento é como fazer ao sabor do
tempo e do momento. Assim tem se
movido o Enecult sem ser
descontinuado para se posicionar
diante de tantos contextos
paralisantes. Na edição d
e 2021 o
tema A cultura na encruzilhada” fazia
referência às possibilidades de
caminhos e questionava sobre quais
as possibilidades para
sobreviver a
tempos. O ano ainda
estava fortemente marcado pelos
impactos da pandemia (ainda não
didos em sua plenitude) então, o
Enecult mais uma vez se realiza para
cultura é vida”
e se
contrapõe à irresponsabilidade, no
públicas no país,
no trato de uma crise
sanitária sem
as numerosas per
das
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
humanas, vítimas da infecção viral e
do descaso político quanto às suas
consequências
socioeconômicas.
Renata Rocha -
que considero de muita
relevância que, nas duas
edições mais recentes, foi o
fato de que as comissões
eram formadas em su
maioria por mulheres. Embora
em estágios diferentes em
suas vidas pessoais, o nível de
qualificação da equipe era
muito alto, inclusive partindo
dos parâmetros tradicionais de
titulação, mas também de
experiência profissional. Esta
condição trouxe
qualidade para a gestão do
evento e para as discussões
de âmbito teórico e, sem
dúvidas, foi um impulsionador
para a problematização das
condições enfrentadas por
pesquisadores, e em especial
pesquisadoras frente à
pandemia. No entanto, esta
também
foi uma circunstância
limitadora, diante dos entraves
e condicionantes que
enfrentávamos todas pela
frequente imposição social das
atividades de cuidado ao
gênero feminino. Mesmo
considerando as diferenças
interseccionais, não foram
poucas as vezes que nos
alternamos na assunção de
funções diversas frente às
restrições impostas pelos
cuidados domésticos e, em
especial, de familiares.
Nesta edição o Enecult se
aproxima da casa legislativa e se
coloca em diálogo com artistas. Esse
setor, primeiro a ser inter
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
humanas, vítimas da infecção viral e
do descaso político quanto às suas
socioeconômicas.
Um aspecto
que considero de muita
relencia que, nas duas
edições mais recentes, foi o
fato de que as comissões
eram formadas em su
a imensa
maioria por mulheres. Embora
em estágios diferentes em
suas vidas pessoais, o nível de
qualificação da equipe era
muito alto, inclusive partindo
dos parâmetros tradicionais de
titulação, mas também de
experiência profissional. Esta
condição trouxe
muita
qualidade para a gestão do
evento e para as discussões
de âmbito teórico e, sem
dúvidas, foi um impulsionador
para a problematização das
condições enfrentadas por
pesquisadores, e em especial
pesquisadoras frente à
pandemia. No entanto, esta
foi uma circunstância
limitadora, diante dos entraves
e condicionantes que
enfrentávamos todas pela
frequente imposição social das
atividades de cuidado ao
gênero feminino. Mesmo
considerando as diferenças
interseccionais, não foram
poucas as vezes que nos
alternamos na assunção de
funções diversas frente às
restrições impostas pelos
cuidados domésticos e, em
especial, de familiares.
Nesta edição o Enecult se
aproxima da casa legislativa e se
coloca em diálogo com artistas. Esse
setor, primeiro a ser inter
ditado e
último a retomar à sua normalidade,
necessitava ter políticas e aporte de
recursos. Pois, subvertendo a canção,
a fome de cultura e arte estava sendo
suplantada pela ausência da comida.
O Encontro também se solidariza com
as famílias que perderam
vítimas da covid-
19 e se aproxima de
fazedores de cultura que estavam
sofrendo com as auncias de
políticas. Com isso, nasce a
Campanha Abraço Solidário na Cultura
realizada em parceria com os Artistas
Solidários da Bahia e que arrecadou
recurs
os para colaborar com artistas e
grupos de fazedores da cultura que
estavam desassistidos e em situação
de grande vulnerabilidade.
Graças ao avanço das
pesquisas que tiveram como alvo o
coronavírus e a tentativa de
contenção, aliado ao desenvolvimento
de v
acinas capazes de colaborar com
a retomada gradual das atividades.
Renata Rocha
CULT e fazer o Enecult é
sempre um trabalho denso,
complexo, articulado, fecundo,
coletivo. O Enecult é um lugar
de reflexões e de trocas de
experiências e estudos no
campo da cultura, mas não é
apenas isso. É também um
ambiente
de produção de
cultura, vem se tornando um
corpus substantivo para quem
239
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
último a retomar à sua normalidade,
necessitava ter políticas e aporte de
recursos. Pois, subvertendo a canção,
a fome de cultura e arte estava sendo
suplantada pela ausência da comida.
O Encontro também se solidariza com
as famílias que perderam
seus entes
19 e se aproxima de
fazedores de cultura que estavam
sofrendo com as ausências de
políticas. Com isso, nasce a
Campanha Abraço Solidário na Cultura
realizada em parceria com os Artistas
Solidários da Bahia e que arrecadou
os para colaborar com artistas e
grupos de fazedores da cultura que
estavam desassistidos e em situação
de grande vulnerabilidade.
Graças ao avanço das
pesquisas que tiveram como alvo o
coronavírus e a tentativa de
contenção, aliado ao desenvolvimento
acinas capazes de colaborar com
a retomada gradual das atividades.
Renata Rocha
- Coordenar o
CULT e fazer o Enecult é
sempre um trabalho denso,
complexo, articulado, fecundo,
coletivo. O Enecult é um lugar
de reflees e de trocas de
experiências e estudos no
campo da cultura, mas não é
apenas isso. É também um
de produção de
cultura, vem se tornando um
corpus substantivo para quem
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
quer entender os estudos da
cultura do Brasil, e é também
um lugar de encontro, de
afeto. É ainda uma iniciativa
acadêmica que busca dialogar
com o seu tempo, com todos
os imensos desa
fios que este
propósito traz.Quando
começamos a pensar em
como seria o evento de 2022,
em conjunto com o conselho
consultivo do CULT, ainda no
ano anterior, ideias como as
de mudança, renovação,
utopias, esperança foram
recorrentes. A maioridade que
o Enec
ult alcança se realiza
também a partir dessa
necessidade de rejuvenescer,
como propunha Belchior, na
canção velha roupa colorida,
uma das grandes inspirações
desta edição.
Com a retomada da
programação acadêmica de
submissão de trabalhos, foi possível
rec
orrer novamente a editais de
fomento. Se por um lado abre
leque de possibilidades para a
realização do Encontro a partir dos
recursos captados, por outro a
programação tem que atender aos
requisitos acionados pela ideia de
produção intelectual com ba
contextos do produtivismo moderno,
que vem se impondo de forma cada
vez mais feroz nas ciências sociais e
humanidades. Pontuada por
intelectuais como o baiano Milton
Santos (1992) e como o venezuelano
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
quer entender os estudos da
cultura do Brasil, e é também
um lugar de encontro, de
afeto. É ainda uma iniciativa
acadêmica que busca dialogar
com o seu tempo, com todos
fios que este
propósito traz.Quando
começamos a pensar em
como seria o evento de 2022,
em conjunto com o conselho
consultivo do CULT, ainda no
ano anterior, ideias como as
de mudança, renovação,
utopias, esperança foram
recorrentes. A maioridade que
ult alcança se realiza
também a partir dessa
necessidade de rejuvenescer,
como propunha Belchior, na
canção velha roupa colorida,
uma das grandes inspirações
Com a retomada da
programação acadêmica de
submissão de trabalhos, foi possível
orrer novamente a editais de
fomento. Se por um lado abre
-se um
leque de possibilidades para a
realização do Encontro a partir dos
recursos captados, por outro a
programação tem que atender aos
requisitos acionados pela ideia de
produção intelectual com ba
se nos
contextos do produtivismo moderno,
que vem se impondo de forma cada
vez mais feroz nas ciências sociais e
humanidades. Pontuada por
intelectuais como o baiano Milton
Santos (1992) e como o venezuelano
Daniel Mato (2004), essas lógicas,
ainda que tra
gam alguns avanços, em
especial no âmbito das ciências duras,
contribuem para o empobrecimento da
crítica e para a desvinculação do
trabalho intelectual de uma atuação
ética e política.
De qualquer forma, sempre
que falamos de cultura temos
que falar de mu
hibridismo, diferenciações
internas, habitus herdados e
relações de poder, mas
também de uma agência
humana que pode ser capaz
de transformar tudo isso.
Como dispositivo de controle e
poder social ou ferramenta
para transformar um modo de
vida, os o
bjetos culturais estão
diretamente relacionados à
desigualdade, discriminação e
dominação social. Entendida
como domesticação de
pulsões, progresso social ou,
ao contrário, usada como
crítica a uma forma particular
de entender o progresso, a
cultura é uma
estratégica para qualquer
projeto político
28)
No caso de um evento
acadêmico, uma tendência a definir
a programação com base na
hierarquização, os convidados o
categorizados, muitas vezes tomando
como base titulação, quantitativo de
produção e origens territoriais e
econômicas. Simultaneamente, é
240
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Daniel Mato (2004), essas lógicas,
gam alguns avanços, em
especial no âmbito das ciências duras,
contribuem para o empobrecimento da
crítica e para a desvinculação do
trabalho intelectual de uma atuação
De qualquer forma, sempre
que falamos de cultura temos
que falar de mu
dança,
hibridismo, diferenciações
internas, habitus herdados e
relações de poder, mas
também de uma agência
humana que pode ser capaz
de transformar tudo isso.
Como dispositivo de controle e
poder social ou ferramenta
para transformar um modo de
bjetos culturais estão
diretamente relacionados à
desigualdade, discriminação e
dominação social. Entendida
como domesticação de
pules, progresso social ou,
ao contrário, usada como
crítica a uma forma particular
de entender o progresso, a
cultura é uma
instância
estratégica para qualquer
projeto político
(VICH, 2014, p.
No caso de um evento
acadêmico, há uma tendência a definir
a programação com base na
hierarquização, os convidados são
categorizados, muitas vezes tomando
como base titulação, quantitativo de
produção e origens territoriais e
econômicas. Simultaneamente, é
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
relegada a segundo plano a
participação de intelectuais e
pesquisadores oriundos de grupos
populares, da gestão e produção
cultural, gestores culturais, de
movimentos sociais e até mesmo o
público.
Natália Coimbra
maiores dificuldades relativas
à programação, todos os anos,
é o real desejo de incluir
fazedores culturais nas mesas
e atividades destacadas.
Mesmo que reconheçamos a
relevância da contribuição das
práticas intelectuais não
acadêmicas, nos esbarramos
em dificuldades como agenda
desses
agentes, auncia de
interesse em participar de um
evento acadêmico e, por fim,
os entraves para a
remuneração deste tipo de
participação.
Assim, em sua XVIII edição, o
Enecult buscou promover, ainda que
de forma limitada, devido às
imposições do context
o de crise
sanitária e econômica, o
compartilhamento de experiências de
gestão e produção cultural associadas
a práticas contra-
hegemônicas e
buscando atender, na programação de
curadoria do próprio evento, a
diversidade racial, territorial, de gênero
e de
perspectiva. Certamente, tais
escolhas buscaram dialogar, em
simultâneo, com titulação, experiência
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
relegada a segundo plano a
participação de intelectuais e
pesquisadores oriundos de grupos
populares, da gestão e produção
cultural, gestores culturais, de
movimentos sociais e até mesmo o
Natália Coimbra
- Uma das
maiores dificuldades relativas
à programação, todos os anos,
é o real desejo de incluir
fazedores culturais nas mesas
e atividades destacadas.
Mesmo que reconheçamos a
relencia da contribuição das
práticas intelectuais não
acadêmicas, nos esbarramos
em dificuldades como agenda
agentes, ausência de
interesse em participar de um
evento acadêmico e, por fim,
os entraves para a
remuneração deste tipo de
Assim, em sua XVIII edição, o
Enecult buscou promover, ainda que
de forma limitada, devido às
o de crise
sanitária e econômica, o
compartilhamento de experiências de
gestão e produção cultural associadas
hegemônicas e
buscando atender, na programação de
curadoria do próprio evento, a
diversidade racial, territorial, de gênero
perspectiva. Certamente, tais
escolhas buscaram dialogar, em
simultâneo, com titulação, experiência
acadêmica e posições já legitimadas
no campo científico (BOURDIEU,
2011). Além de dar ênfase à
diversidade da atuação nos diversos
contextos, com a presenç
tentativa) de convidados das diversas
regiões do país e da América Latina,
buscamos debater também os
processos de formação (sejam eles
formais ou não), a atuação profissional
e/ou militância e a pesquisa na política
e gestão cultural.
5. Mirando o
futuro
"O fogo queimou sinuoso o campo
Hoje sua cicatriz é a língua mais
Ida Vitale (2020, p. 61)
Acreditamos que os dados
corroboram a relevância de
levantamentos como o então
empreendido, dado o papel dos
eventos enquanto espaço qualificado
de
debate e reflexão, contribuindo para
o intercâmbio acadêmico e para a
formação de novos pesquisadores.
Delmira Nunes
longo percurso em que atuo no
Enecult, e lá se o dezoito
anos, foram criados nculos e
laços, tanto profissionais
quant
o de amizades e afetos.
Por conseguinte, me tornei
cada vez mais vinculada ao
241
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
acadêmica e posições legitimadas
no campo científico (BOURDIEU,
2011). Além de dar ênfase à
diversidade da atuação nos diversos
contextos, com a presenç
a (ou
tentativa) de convidados das diversas
regiões do país e da América Latina,
buscamos debater também os
processos de formação (sejam eles
formais ou não), a atuação profissional
e/ou militância e a pesquisa na política
futuro
"O fogo queimou sinuoso o campo
Hoje sua cicatriz é a língua mais
verde."
Ida Vitale (2020, p. 61)
Acreditamos que os dados
corroboram a relevância de
levantamentos como o então
empreendido, dado o papel dos
eventos enquanto espaço qualificado
debate e refleo, contribuindo para
o intermbio acadêmico e para a
formação de novos pesquisadores.
Delmira Nunes
- Durante esse
longo percurso em que atuo no
Enecult, e se vão dezoito
anos, foram criados vínculos e
laços, tanto profissionais
o de amizades e afetos.
Por conseguinte, me tornei
cada vez mais vinculada ao
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
campo dos estudos em cultura
e totalmente envolvida nos
mais diversos aspectos da
realização do Enecult.
Atravessando conjunturas
políticas spares no país ao longo de
suas tra
jetórias, e enfrentando
atualmente um momento
particularmente crítico, tais iniciativas
representam uma relevante parcela do
profícuo desenvolvimento da produção
científica sobre a cultural, nos anos
recentes, mas também,
reiteradamente um lugar de afeto.
Natália Coimbra
então se tornou para mim, e
acredito que para todas nós da
organização e que esperamos
que também tenha sido assim
para os/as participantes, não
apenas um lugar de reflees
e de trocas de experiências e
estudos no campo da cult
mas um ambiente de
resistência, de construção de
afetos, de acolhimento, de
inclusão e de fortalecimento do
esperançar, como nos ensinou
Paulo Freire. Um lugar de
onde desejamos, também,
abraçar coletivamente a
cultura.
No vasto campo da cultura,
além de questionarmos as fronteiras
disciplinares, precisamos colocar em
xeque as fronteiras existentes entre as
práticas realizadas no âmbito
acadêmico e as práticas que o
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
campo dos estudos em cultura
e totalmente envolvida nos
mais diversos aspectos da
realização do Enecult.
Atravessando conjunturas
políticas díspares no país ao longo de
jetórias, e enfrentando
atualmente um momento
particularmente crítico, tais iniciativas
representam uma relevante parcela do
profícuo desenvolvimento da produção
científica sobre a cultural, nos anos
recentes, mas também,
reiteradamente um lugar de afeto.
Natália Coimbra
- O Enecult
então se tornou para mim, e
acredito que para todas nós da
organização e que esperamos
que também tenha sido assim
para os/as participantes, não
apenas um lugar de reflexões
e de trocas de experiências e
estudos no campo da cult
ura,
mas um ambiente de
resistência, de construção de
afetos, de acolhimento, de
incluo e de fortalecimento do
esperançar, como nos ensinou
Paulo Freire. Um lugar de
onde desejamos, também,
abraçar coletivamente a
No vasto campo da cultura,
além de questionarmos as fronteiras
disciplinares, precisamos colocar em
xeque as fronteiras existentes entre as
práticas realizadas no âmbito
acadêmico e as práticas que o
transcendem e se desenvolvem em
outros contextos. Se por
nós pesquisadoras é difícil prescindir
dos recursos aportados pelas
agências, é necessário se pensar
formatos que articulem práticas
diversas e não apenas as
caracterizadas como acadêmicas. Por
isso nos apropriamos aqui da
perspectiva de Dan
iel Mato (2019), ao
utilizar o termo “práticas intelectuais
em cultura e poder e não
simplesmente estudos em cultura.
Nossa atuação intelectual deve
buscar, diante da impossibilidade
imediata de alterar essa lógica,
mesclá-
la com outras práticas.
Gleise O
liveira
para seguir contribuindo com
futuras discussões em cultura
estão sempre em disputa. Os
temas e atravessamentos
socioculturais se apresentam
na rotina e não estão
dissociados do fazer pesquisa.
Avalio que o jovem Enecult
com seus 18 an
futuro enormes inflees. Com
“pedras” no meio do caminho
que podem ser relacionadas
com o financiamento, como
evidenciam
provenientes da crise
multissistêmica, e também
uma urgência em ser
sustentável, mas também dos
conceitos, di
pertencimentos. Mas diante da
sua trajetória sabemos que ele
é sagaz e atento às
transformações.
242
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
transcendem e se desenvolvem em
outros contextos. Se por
um lado, para
nós pesquisadoras é difícil prescindir
dos recursos aportados pelas
agências, é necessário se pensar
formatos que articulem práticas
diversas e não apenas as
caracterizadas como acadêmicas. Por
isso nos apropriamos aqui da
iel Mato (2019), ao
utilizar o termo práticas intelectuais
em cultura e poder” e não
simplesmente estudos em cultura.
Nossa atuação intelectual deve
buscar, diante da impossibilidade
imediata de alterar essa lógica,
la com outras práticas.
liveira
- Os desafios
para seguir contribuindo com
futuras discussões em cultura
estão sempre em disputa. Os
temas e atravessamentos
socioculturais se apresentam
na rotina e não estão
dissociados do fazer pesquisa.
Avalio que o jovem Enecult
com seus 18 an
os tem para o
futuro enormes inflexões. Com
pedras” no meio do caminho
que podem ser relacionadas
com o financiamento, como
os cortes
provenientes da crise
multissistêmica, e também
uma urgência em ser
sustentável, mas também dos
conceitos, di
scussões e
pertencimentos. Mas diante da
sua trajetória sabemos que ele
é sagaz e atento às
transformações.
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
Cabe salientar que, sob os
pressupostos agências de fomento, há
um formato de produção
acadêmicos, periódicos, livros e
atividades de pe
squisa e exteno
que privilegia a produção intelectual
em moldes tradicionais em articulação
entre pares, relegando a segundo
plano a interação com os agentes que
são, via de regra, objetos de estudos
das humanidades e ciências sociais. É
necessário ele
var, portanto, esses
objetos à categoria de sujeitos e
buscar um modo de fazer que garanta,
ao mesmo tempo, o necessário
financiamento à promoção da
diversidade pretendida.
Renata Rocha
obviamente, uma constante
tensão entre o idealizar e o
executar
e estar entre estas
duas funções pode ser uma
limitação e uma potência. A
limitação acontece na
autocensura, na perspectiva
de que o inovar quase sempre
resulta numa atenção
redobrada quanto à sua plena
consecução. Por outro lado, há
a potência de produzir
prática refletida. Nesse
sentido, o fazer, no Enecult, é
resultado de uma refleo
coletiva acerca das escolhas,
das terminologias e dos
processos adotados. A
determinação acerca de
formatos, peças e textos da
comunicação, taxas, modelos
de programaçã
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
Cabe salientar que, sob os
pressupostos agências de fomento,
um formato de produção
eventos
acadêmicos, periódicos, livros e
squisa e extensão
que privilegia a produção intelectual
em moldes tradicionais em articulação
entre pares, relegando a segundo
plano a interação com os agentes que
o, via de regra, objetos de estudos
das humanidades e ciências sociais. É
var, portanto, esses
objetos à categoria de sujeitos e
buscar um modo de fazer que garanta,
ao mesmo tempo, o necessário
financiamento à promoção da
Renata Rocha
- Há,
obviamente, uma constante
teno entre o idealizar e o
e estar entre estas
duas funções pode ser uma
limitação e uma potência. A
limitação acontece na
autocensura, na perspectiva
de que o inovar quase sempre
resulta numa atenção
redobrada quanto à sua plena
consecução. Por outro lado, há
a potência de produzir
uma
prática refletida. Nesse
sentido, o fazer, no Enecult, é
resultado de uma reflexão
coletiva acerca das escolhas,
das terminologias e dos
processos adotados. A
determinação acerca de
formatos, peças e textos da
comunicação, taxas, modelos
de programaçã
o, temas
abordados resultavam de (e
em alguns momentos em)
debates profícuos que
dialogavam com os aportes
teóricos acionados em nossos
projetos de investigação, bem
como com a realidade
brasileira, em especial no
campo cultural
Ou seja, assumir, como p
Victor Vich (2014, p. 33), (...) a
heterogeneidade e a diferença como
categorias básicas de políticas
culturais implica a opção de observar
antagonismos sociais para tornar
visíveis, a partir daí, as relações de
poder que se reproduzem entre as
dive
rsas culturas” (tradução nossa).
Em outras palavras, se a cultura, em
seu sentido antropológico, é história,
agência, poder e disputa, ela precisa
inundar a dimensão sociológica, em
seus circuitos, e contribuir para a
promoção de mudanças em prol de
uma cu
ltura cidadã, participativa,
plural, democrática.
Referências:
BAL, Mieke.
Conceptos viajeros en las
humanidades
: una guía de viaje.
Tradução de Yaiza Hernández
Velázquez. Murcia: CENDEAC, 2009.
BOTELHO, Isaura. Dimenes da
cultura e políticas públicas.
243
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
abordados resultavam de (e
em alguns momentos em)
debates profícuos que
dialogavam com os aportes
teóricos acionados em nossos
projetos de investigação, bem
como com a realidade
brasileira, em especial no
campo cultural
.
Ou seja, assumir, como p
ropõe
Victor Vich (2014, p. 33), “(...) a
heterogeneidade e a diferença como
categorias básicas de políticas
culturais implica a opção de observar
antagonismos sociais para tornar
visíveis, a partir daí, as relações de
poder que se reproduzem entre as
rsas culturas” (tradução nossa).
Em outras palavras, se a cultura, em
seu sentido antropológico, é história,
agência, poder e disputa, ela precisa
inundar a dimensão sociológica, em
seus circuitos, e contribuir para a
promoção de mudanças em prol de
ltura cidadã, participativa,
Conceptos viajeros en las
: una guía de viaje.
Tradução de Yaiza Hernández
Velázquez. Murcia: CENDEAC, 2009.
BOTELHO, Isaura. Dimensões da
cultura e políticas públicas.
São Paulo
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
em Perspectiva
, São Paulo, v. 15, n. 2,
p. 73-83, abr.-jun. 2001.
BOURDIEU, Pierre. O mercado de
bens s
imbólicos. In: MICELI, Sérgio
(org.).
A economia das trocas
simbólicas. São Paulo:
Perspectiva,
2007. p. 99-135.
CALABRE, Lia. Estudos acadêmicos
contemporâneos sobre políticas
culturais no Brasil: análises e
tendências. Prag
MATIZES
Latino Americana de Estudos em
Cultura, ano 4, n. 7, p.
109
EVARISTO, Conceição. A
es
crevivência e seus subtextos. In:
DUARTE, Constância Lima; NUNES,
Isabella Rosado (orgs.).
Escrevincia
a escrita de nós. Reflexões sobre a
obra de Conceição Evaristo. Rio de
Janeiro: Mina Comunicação e Arte,
2020, p. 26-46.
EVARISTO, Conceição.
Poemas d
Recordação e outros movimentos
de Janeiro: Malê, 2017.
GIL, Gilberto. 2 de janeiro de 2003,
Solenidade de transmissão do cargo.
Brasília. Discurso. In: ALMEIDA,
Armando; ALBERNAZ, Maria Beatriz;
SIQUEIRA, Maurício (o
rg.).
pela palavra.
Coletânea de artigos,
entrevistas e discursos dos ministros
da Cultura 2003-
2010. Rio de Janeiro:
Versal, 2013. p. 229-234.
GRIMSON, Alejandro; SEMÁN Pablo.
Presentación: La cuestión "cultura".
Etnografías contemporáneas
año 1, n. 1, p. 11-22, abr
. 2005.
HOBSBAWM, Eric.
Era dos extremos
o breve século XX. São Paulo:
Companhia das Letras, 2012.
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
, São Paulo, v. 15, n. 2,
BOURDIEU, Pierre. O mercado de
imbólicos. In: MICELI, Sérgio
A economia das trocas
Perspectiva,
CALABRE, Lia. Estudos acadêmicos
contemporâneos sobre políticas
culturais no Brasil: análises e
MATIZES
: Revista
Latino Americana de Estudos em
109
-129, 2014.
EVARISTO, Conceição. A
crevivência e seus subtextos. In:
DUARTE, Constância Lima; NUNES,
Escrevivência
:
a escrita de nós. Reflexões sobre a
obra de Conceição Evaristo. Rio de
Janeiro: Mina Comunicação e Arte,
Poemas d
a
Recordação e outros movimentos
. Rio
GIL, Gilberto. 2 de janeiro de 2003,
Solenidade de transmissão do cargo.
Bralia. Discurso. In: ALMEIDA,
Armando; ALBERNAZ, Maria Beatriz;
rg.).
Cultura
Coletânea de artigos,
entrevistas e discursos dos ministros
2010. Rio de Janeiro:
GRIMSON, Alejandro; SEMÁN Pablo.
Presentación: La cuestión "cultura".
Etnografías contemporáneas
, Bogotá,
. 2005.
Era dos extremos
:
o breve culo XX. São Paulo:
Companhia das Letras, 2012.
LISPECTOR, Clarice.
de Janeiro: Rocco, 1998.
MATO, Daniel. Estudios y otras
prácticas intelectuales
latinoamericanas en cultura y poder.
Ciên
cias Sociais Unisinos
p. 139-162, maio/ago
.
NATÁLIA, Lívia.
Correntezas e outros
estudos marinhos.
Salv
autora [e-book]
, 2020.
OLIVEIRA, Gleise Cristiane Ferreira
de.
Institucionalidade cultural
programa cultura viva
Lei 13018/2014. Dissertação
(Mestrado em Cultura e Sociedade)
Universidade Federal da Bahia,
Salvador, 2018.
OLIVEIRA, Gleise. Gestão Cultural
enquanto objeto de estudo: uma breve
catalogação. In: RUBIM, Antonio
Albino Canelas (o
rg.).
[
Coleção Sala de Aula, v. 13
Salvador: Edufba, 2019
PRADO, Adélia.
Poesia reunida
Paulo: Arx, 1991.
RAMOS, Bárbara Heliodora Andrade.
A especificidade da gestão cultural no
Brasil
: uma leitura crítica dos Anais do
ENECULT (2005-
2014). Dissertação
(Mestrado em Administração)
U
niversidade Federal Fluminense,
Niterói, 2015.
RAMOS, Bárbara Heliodora Andrade;
LUSTOSA DA COSTA, Frederico
José.
A produção acadêmica sobre
Gestão Cultural no Brasil
partir dos Anais do Encontro dos
Estudos Multidisciplinares em Cultura
Enecult (2005-
2014).
Encontro da ANPAD 2019
244
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
LISPECTOR, Clarice.
Água viva. Rio
de Janeiro: Rocco, 1998.
MATO, Daniel. Estudios y otras
prácticas intelectuales
latinoamericanas en cultura y poder.
cias Sociais Unisinos
, v. 55, n. 2,
.
2019.
Correntezas e outros
Salv
ador: Edição da
, 2020.
OLIVEIRA, Gleise Cristiane Ferreira
Institucionalidade cultural
: o
programa cultura viva
da criação até a
Lei nº 13018/2014. Dissertação
(Mestrado em Cultura e Sociedade)
-
Universidade Federal da Bahia,
OLIVEIRA, Gleise. Gestão Cultural
enquanto objeto de estudo: uma breve
catalogação. In: RUBIM, Antonio
rg.).
Gestão Cultural.
Coleção Sala de Aula, v. 13
].
Salvador: Edufba, 2019
. p. 49-66.
Poesia reunida
. São
RAMOS, Bárbara Heliodora Andrade.
A especificidade da gestão cultural no
: uma leitura crítica dos Anais do
2014). Dissertação
(Mestrado em Administração)
-
niversidade Federal Fluminense,
RAMOS, Bárbara Heliodora Andrade;
LUSTOSA DA COSTA, Frederico
A produção acadêmica sobre
Gestão Cultural no Brasil
: reflexões a
partir dos Anais do Encontro dos
Estudos Multidisciplinares em Cultura
2014).
Anais do XLIII
Encontro da ANPAD 2019
.
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
25
, p.
218
-
24
, set. 2023.
RICHARD, Nelly. Globalización
académica, estudios culturales y crítica
latinoamericana. In: MATO, Daniel.
Cultu
ra, política y sociedad
Perspectivas latinoamericanas
Buenos Aires, Argentina: Conselho
Latino-
americano de Ciências Sociais
(CLACSO). 2005. p. 455-
470.
ROCHA, Renata; BRANDÃO, Gustavo
de Oliveira; SOUZA, Delmira Nunes
de. Estudos em políticas culturais
dois eventos nacionais: contribuições e
desafios de uma pesquisa
bibliométrica. In: COSTA, Leonardo;
ROCHA, Renata (o
rgs.).
Ciência de Dados.
Salvador: Edufba,
2021, p. 137-168.
RUBIM, Antonio Albino Canelas.
Políticas culturais na Bahia
contemporânea
. Salvador: EDUFBA,
2014.
RUBIM, Antonio Albino Canelas;
OLIVEIRA, Gleise; TEÓFILO, Tony.
Políticas culturais e seus agentes em
tempo sombrios 2016
-
COLLI
NG, Leandro; SAMPAIO,
Adriano (orgs.).
A cultura em tempos
sombrios.
Salvador: Edufba, 2022
11-42.
RUBIM, Antonio Albino Canelas;
VILUTIS, Luana; OLIVEIRA, Gleise
Cristiane Ferreira de. Gestão cultural
nos próximos dez anos.
Extraprensa,
v. 14, n. 2, p. 9
RUBIM, Linda (org.).
Organização e
produção da cultura.
Salvador: Edufba,
2005.
RUBIM, Linda; VEIRA, Mariella;
SOUZA, Delmira (o
rgs.).
anos
. Salvador: EDUFBA, 2014.
OLIVEIRA, Gleise C. F. de; NUNES, Delmira; ROCHA, Renata; SÁ, Natalia
C. de. Enecult 18 anos: reflexões sobre os itinerários e desafios da
gestão do maior evento de estudos em cultura no Brasil.
PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
RICHARD, Nelly. Globalización
académica, estudios culturales y crítica
latinoamericana. In: MATO, Daniel.
ra, política y sociedad
Perspectivas latinoamericanas
.
Buenos Aires, Argentina: Conselho
americano de Ciências Sociais
470.
ROCHA, Renata; BRANDÃO, Gustavo
de Oliveira; SOUZA, Delmira Nunes
de. Estudos em políticas culturais
em
dois eventos nacionais: contribuições e
desafios de uma pesquisa
bibliométrica. In: COSTA, Leonardo;
rgs.).
Cultura e
Salvador: Edufba,
RUBIM, Antonio Albino Canelas.
Políticas culturais na Bahia
. Salvador: EDUFBA,
RUBIM, Antonio Albino Canelas;
OLIVEIRA, Gleise; TEÓFILO, Tony.
Políticas culturais e seus agentes em
-2022. In:
NG, Leandro; SAMPAIO,
A cultura em tempos
Salvador: Edufba, 2022
. p.
RUBIM, Antonio Albino Canelas;
VILUTIS, Luana; OLIVEIRA, Gleise
Cristiane Ferreira de. Gestão cultural
nos próximos dez anos.
Revista
v. 14, n. 2, p. 9
-26, 2021.
Organização e
Salvador: Edufba,
RUBIM, Linda; VEIRA, Mariella;
rgs.).
Enecult 10
. Salvador: EDUFBA, 2014.
VICH, Victor.
Desculturalizar la cultura
La gestión cultural como forma de
acción política. Buenos Aires: Siglo
Veintiuno Editores, 2014.
VIEIRA, Mariella Pitombo
dos estudos sobre políticas culturais a
partir do Enecult.
ENECULT
. Salvador: UFBA, 2016.
VIEIRA, Mariel
la Pitombo; BARBOSA,
Frederico; NASCIMENTO, Leonardo
F.; SOUZA, Laercio. Intérpretes e
produções sobre políticas culturais no
Brasil: a radiografia de uma elite
hegemônica. In: COSTA, Leonardo;
ROCHA, Renata (
o
Ciência de Dados.
Salvador: E
2021, p. 107-135.
SANTOS, Milton. 1992: a redescoberta
da Natureza.
Estudos avançados
1992, p. 95-106.
SOARES, Lissandra Vieira;
MACHADO, Paula Sandrine.
"Escrevivências" como ferramenta
metodológica na produção de
conhecimento em Psicologia
Rev. psicol. polít.,
vol.17, n.39, p. 203
219, 2017
SOUZA, Delmira Nunes.
Encontro de Estudos Multidisciplinares
em Cultura e suas contribuições para
os estudos no campo da cultura na
Universidade Federal da Bahia.
Monografia (Especialização em
Gestão de Processos Universitários)
Universidade Federal da Bahia,
Salvador, 2014.
VITALE, Ida.
Não sonhar flores
Janeiro: Editora Roça Nova, 2020.
245
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Desculturalizar la cultura
:
La gestión cultural como forma de
acción política. Buenos Aires: Siglo
Veintiuno Editores, 2014.
VIEIRA, Mariella Pitombo
et al. O perfil
dos estudos sobre políticas culturais a
partir do Enecult.
Anais do XII
. Salvador: UFBA, 2016.
la Pitombo; BARBOSA,
Frederico; NASCIMENTO, Leonardo
F.; SOUZA, Laercio. Intérpretes e
produções sobre políticas culturais no
Brasil: a radiografia de uma elite
hegemônica. In: COSTA, Leonardo;
o
rgs.). Cultura e
Salvador: E
dufba,
SANTOS, Milton. 1992: a redescoberta
Estudos avançados
,
SOARES, Lissandra Vieira;
MACHADO, Paula Sandrine.
"Escrevivências" como ferramenta
metodológica na produção de
conhecimento em Psicologia
Social.
vol.17, n.39, p. 203
-
SOUZA, Delmira Nunes.
O ENECULT:
Encontro de Estudos Multidisciplinares
em Cultura e suas contribuições para
os estudos no campo da cultura na
Universidade Federal da Bahia.
Monografia (Especialização em
Gestão de Processos Universitários)
-
Universidade Federal da Bahia,
Não sonhar flores
. Rio de
Janeiro: Editora Roça Nova, 2020.