PAIVA, Carla Conceição da Silva; SANTOS, Martiane Ribeiro dos.
Violência contra as mulheres negras em A vida depois do tombo (2021)
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p.149-184
Cada um dos participantes é
selecionado com o intuito de ter
um papel específico no show da
re
alidade. Esse objetivo começa
a ser traçado ainda na longa
etapa de seleção dos confinados,
feita com cuidado para que a
casa seja composta por pessoas
dos mais diversos perfis, que se
completem, causem atritos, e
sejam capazes de despertar a
empatia ou an
(...) Se os autores e diretores dos
folhetins quase sempre seguem
uma mesma lógica na escolha
dos atores –
frágeis mocinhas e muitos outros
tipos rotulados –
ser dito do “BBB”, que traz perfis
obrigató
rios em todas as edições:
belas mulheres, homens sarados,
e um ou outro representante de
minorias, como gays, lésbicas,
negros ou pobres (SANTOS,
2010, p. 31).
Segundo Ribeiro (2018), a falta
de diálogo entre a cultura branca
privilegiada e as mulheres ne
será interrompida quando houver o
entendimento sobre a necessidade de
fortalecer os debates sobre a questão
da representatividade e compreender
porquê as mulheres negras devem sim
“afrontar” e brigar por esse lugar que é
seu, disputando narrativas
mulheres brancas e homens brancos e
negros.
Se pensarmos quais os papéis
são destinados às mulheres negras
historicamente, percebemos que o que
aconteceu com Karol não foi algo
PAIVA, Carla Conceição da Silva; SANTOS, Martiane Ribeiro dos.
Violência contra as mulheres negras em A vida depois do tombo (2021)
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas narrativas midiáticas
Cada um dos participantes é
selecionado com o intuito de ter
um papel específico no show da
alidade. Esse objetivo começa
a ser traçado ainda na longa
etapa de seleção dos confinados,
feita com cuidado para que a
casa seja composta por pessoas
dos mais diversos perfis, que se
completem, causem atritos, e
sejam capazes de despertar a
(...) Se os autores e diretores dos
folhetins quase sempre seguem
uma mesma lógica na escolha
frágeis mocinhas e muitos outros
ser dito do “BBB”, que traz perfis
rios em todas as edições:
belas mulheres, homens sarados,
e um ou outro representante de
minorias, como gays, lésbicas,
negros ou pobres (SANTOS,
Segundo Ribeiro (2018), a falta
de diálogo entre a cultura branca
privilegiada e as mulheres ne
gras só
será interrompida quando houver o
entendimento sobre a necessidade de
fortalecer os debates sobre a questão
da representatividade e compreender
porquê as mulheres negras devem sim
“afrontar” e brigar por esse lugar que é
seu, disputando narrativas
com
mulheres brancas e homens brancos e
Se pensarmos quais os papéis
são destinados às mulheres negras
historicamente, percebemos que o que
aconteceu com Karol não foi algo
inédito, mas sim resultado de uma
estrutura social, que está impregnada
d
e violência simbólica, inclusive na
esfera midiática, ou seja Karol foi
previamente selecionada para
incorporar o lugar que estruturalmente
é destinada a mulheres parecidas com
ela.
Fica claro que o documentário
não desconstrói a imagem que foi
criada da cantora, durante o período
em que esteve confinada na casa do
BBB, mas reafirma alguns arquétipos
da mulher negra a partir da
personagem em questão. Segundo
Rodrigues (2011), no cinema
brasileiro, não se apresenta
personagens reais e individualiz
negros, mas apenas arquétipos ou
caricaturas que são reproduzidos e
moldado a cada nova narrativa. Muitos
desses tipos existem desde o tempo
da escravidão, e outros v
construindo no imaginário coletivo
brasileiro paulatinamente, como em
vida de
estereótipos podem ser observados
dentro dessa narrativa, a partir da
análise da própria protagonista.
No documentário, Karol o tempo
todo é associada a caricatura da negra
revoltada, a partir dos diversos trechos
163
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas narrativas midiáticas
")
inédito, mas sim resultado de uma
estrutura social, que está impregnada
e violência simbólica, inclusive na
esfera midiática, ou seja Karol foi
previamente selecionada para
incorporar o lugar que estruturalmente
é destinada a mulheres parecidas com
Fica claro que o documentário
não desconstrói a imagem que foi
criada da cantora, durante o período
em que esteve confinada na casa do
BBB, mas reafirma alguns arquétipos
da mulher negra a partir da
personagem em questão. Segundo
Rodrigues (2011), no cinema
brasileiro, não se apresenta
personagens reais e individualiz
ados
negros, mas apenas arquétipos ou
caricaturas que são reproduzidos e
moldado a cada nova narrativa. Muitos
desses tipos existem desde o tempo
da escravidão, e outros v
êm se
construindo no imaginário coletivo
brasileiro paulatinamente, como em
A
. Alguns desses
estereótipos podem ser observados
dentro dessa narrativa, a partir da
análise da própria protagonista.
No documentário, Karol o tempo
todo é associada a caricatura da negra
revoltada, a partir dos diversos trechos