RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
Feminicídio em pauta: análise de discurso sobre um crime de gênero que
ganhou destaque nos programas policiais da Paraíba
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v13i24.56068
Resumo:
A violência contra a mulher tem sido frequentemente noticiada pela mídia. Mas como estes
crimes são noticiados? Para contribuir com a resposta a esta questão, o objetivo deste artigo foi
analisar o
Correio Verdade, da TV Correio, afiliada da Rede Record, na Paraíba. Utilizou
Discurso (CHARAUDEAU, 2006), e a teoria do Jornalismo (WOLF, 2001. TRAQUINA, 200
pensar os valores-
notícia da reportagem escolhida. O debate sobre o modo como o feminidio foi
noticiado apoiou-
se em estudos
TIBURI, 2019 e PASINATO, 2016). A análise evidenciou uma práti
de família, entrelaçado à religiosidade, estereótipos de inferioridade de gênero e uma narrativa
simbólica de dominação e subordinação, que naturaliza a morte das mulheres, tratando o feminidio
sem considerar o contexto
de uma cultura estruturada na violência de gênero.
Palavras-chave: Feminicídio; v
iolência contra a mulher;
Femicídio en pauta: análisis del discurso sobre un crimen de género que ganó protagonismo
en los programas
policiales en Paraíba
Resumen:
La violencia contra
comunicación. Pero, ¿cómo se denuncian
pregunta, el objetivo de este artículo fue
feminicidio que ganó destaque
en
red de televisión Record, en Paraíba. Se
Teoría
del Periodismo (WOLF, 2001
reportaje elegido. El debate sobre cómo se denuncia
discuten
el tema (PRADO; SANEMATSU, 2017
mostró una práctica mediática que refuerza
estereotipos de inferioridad de género y una narrativa simbólica de dominación y subordinación, que
naturaliza la muerte de la
mujer, tratando
estructurada en la
violencia de género.
Palabras clave: Feminicidio; v
iolencia contra
1 Glória Rabay.
Doutora em Ciências Sociais (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
Professora do PPG em Jornalismo e do PPG em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Brasil.
https://orcid.org/0000-0002-
0985
2
Felícia Arbex Rosas. Mestra em Jornalismo pela UFPB, Brasil. E
https://orcid.org/0000-0002-
2742
Recebido em 01/10/2022,
aceito para publicação em
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
Feminicídio em pauta: análise de discurso sobre um crime de gênero que
ganhou destaque nos programas policiais da Paraíba
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v13i24.56068
A violência contra a mulher tem sido frequentemente noticiada pela mídia. Mas como estes
crimes são noticiados? Para contribuir com a resposta a esta questão, o objetivo deste artigo foi
discurso da cobertura de um crime de feminicídio que ganhou destaque no programa
Correio Verdade, da TV Correio, afiliada da Rede Record, na Paraíba. Utilizou
Discurso (CHARAUDEAU, 2006), e a teoria do Jornalismo (WOLF, 2001. TRAQUINA, 200
notícia da reportagem escolhida. O debate sobre o modo como o feminidio foi
se em estudos
feministas que discutem o assunto (PRADO; SANEMATSU, 2017.
TIBURI, 2019 e PASINATO, 2016). A análise evidenciou uma práti
ca midiática que reforça um ideal
de família, entrelaçado à religiosidade, estereótipos de inferioridade de gênero e uma narrativa
simbólica de dominação e subordinação, que naturaliza a morte das mulheres, tratando o feminidio
de uma cultura estruturada na violência de gênero.
iolência contra a mulher;
sensacionalismo;
Correio Verdade
Femicídio en pauta: análisis del discurso sobre un crimen de género que ganó protagonismo
policiales en Paraíba
La violencia contra
las mujeres ha sido reportada com
frecuencia por los
comunicación. Pero, ¿cómo se denuncian
estos delitos? Para contribuir a
pregunta, el objetivo de este artículo fue
analizar
el discurso de la cobertura de
en
el programa Correio Verdade, de l
a TV Correio, una afiliada de la
red de televisión Record, en Paraíba. Se
utilizo el Análisis
del Discurso (CHARAUDEAU, 2006) y
del Periodismo (WOLF, 2001
;
TRAQUINA, 2005) para pensar los valores noticiosos
reportaje elegido. El debate sobre cómo se denuncia
el feminicidio se basó
en teóricas feministas que
el tema (PRADO; SANEMATSU, 2017
;
TIBURI, 2019 y PASINATO, 2
mostró una práctica mediática que refuerza
un ideal de familia, entrelazada
estereotipos de inferioridad de género y una narrativa simbólica de dominación y subordinación, que
mujer, tratando
el feminicidio
sin considerar el contexto de una cultura
violencia de género.
iolencia contra
la mujer; sensacionalismo;
Correio Verdade
Doutora em Ciências Sociais (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
Professora do PPG em Jornalismo e do PPG em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Brasil.
Email: gloria.rabay@gmail.com.
0985
-9044.
Felícia Arbex Rosas. Mestra em Jornalismo pela UFPB, Brasil. E
-mail:
felicia.arbex@gmail.com
2742
-2436
aceito para publicação em
02/02/20
23 e disponibilizado online em
01/03/2023.
99
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
Feminicídio em pauta: análise de discurso sobre um crime de gênero que
ganhou destaque nos programas policiais da Paraíba
Glória Rabay1
Felícia Arbex2
A violência contra a mulher tem sido frequentemente noticiada pela mídia. Mas como estes
crimes são noticiados? Para contribuir com a resposta a esta questão, o objetivo deste artigo foi
discurso da cobertura de um crime de feminidio que ganhou destaque no programa
Correio Verdade, da TV Correio, afiliada da Rede Record, na Paraíba. Utilizou
-se a Análise de
Discurso (CHARAUDEAU, 2006), e a teoria do Jornalismo (WOLF, 2001. TRAQUINA, 200
5) para
notícia da reportagem escolhida. O debate sobre o modo como o feminicídio foi
feministas que discutem o assunto (PRADO; SANEMATSU, 2017.
ca midiática que reforça um ideal
de família, entrelaçado à religiosidade, estereótipos de inferioridade de gênero e uma narrativa
simbólica de dominação e subordinação, que naturaliza a morte das mulheres, tratando o feminicídio
Correio Verdade
.
Femicídio en pauta: análisis del discurso sobre un crimen de género que ganó protagonismo
frecuencia por los
medios de
estos delitos? Para contribuir a
la respuesta a esta
el discurso de la cobertura de
un crimen de
a TV Correio, una afiliada de la
del Discurso (CHARAUDEAU, 2006) y
la
TRAQUINA, 2005) para pensar los valores noticiosos
del
en teóricas feministas que
TIBURI, 2019 y PASINATO, 2
026). El análisis
un ideal de familia, entrelazada
con religiosidad,
estereotipos de inferioridad de género y una narrativa simbólica de dominación y subordinación, que
sin considerar el contexto de una cultura
Correio Verdade
.
Doutora em Ciências Sociais (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
Professora do PPG em Jornalismo e do PPG em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas
Email: gloria.rabay@gmail.com.
felicia.arbex@gmail.com
-
23 e disponibilizado online em
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
Femicide in the news agenda: discourse analysis on a gender crime
police programs in Paraíba
Abstract:
The violence against women have been frequently displayed by then media. But how? To
help answering this question, the idea of this report was to analyze the speech used to cover a crime
of
feminicide that got famous on a TV show called "Correio
affiliated.
It was used the speech analysis (CHARAUDEAU,2006), and the theory of journalism
(WOLF, 2001. TRAQUINA,2005) to think about the values
of hoe the feminicide was aired and rooted on feminist theories (PRADO; SANEMATSU, 2017.
TIBURI, 2019 e PASINATO, 2016). The analysis displayed a mediatic practice that reinforce the
concept of an "ideal family". Putting toget
inferiority and the speech that shows the death of women from femicide without consider its main
cause that is the culture of gender violence.
Keywords: Femicide; violence
against
Feminicídio em pauta: análise de discurso sobre um crime de gênero que
ganhou destaque nos programas policiais da Paraíba
Introdução
Ciúmes,
emocional, crime pela honra, o
alguns dos argumentos que têm sido
usados para justificar o
assassinato de
uma mulher, para defender a ideia de
que de alguma forma ela merecia
morrer.
Por séculos a violência contra
mulher foi
considerada uma questão
privada
, resolvida entre quatro
paredes, fora do alcance das políticas
públicas. Falar sobre as
sofridas pelas mulheres no âmbito
familiar
era um tabu e as narrativas
distorcidas sobre os fatos, baseadas
em preconceitos machistas e na
crença da subordinação feminina
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
Femicide in the news agenda: discourse analysis on a gender crime
that gained prominence in
The violence against women have been frequently displayed by then media. But how? To
help answering this question, the idea of this report was to analyze the speech used to cover a crime
feminicide that got famous on a TV show called "Correio
Verdade" from Paraiba state Rede Record
It was used the speech analysis (CHARAUDEAU,2006), and the theory of journalism
(WOLF, 2001. TRAQUINA,2005) to think about the values
-news from thi
s specific report. The debate
of hoe the feminicide was aired and rooted on feminist theories (PRADO; SANEMATSU, 2017.
TIBURI, 2019 e PASINATO, 2016). The analysis displayed a mediatic practice that reinforce the
concept of an "ideal family". Putting toget
her values like practice of religion, stereotypes of gender
inferiority and the speech that shows the death of women from femicide without consider its main
cause that is the culture of gender violence.
against
women; sensacionalism;
Correio Verdade
Feminicídio em pauta: análise de discurso sobre um crime de gênero que
ganhou destaque nos programas policiais da Paraíba
descontrole
emocional, crime pela honra, são
alguns dos argumentos que têm sido
assassinato de
uma mulher, para defender a ideia de
que de alguma forma ela “merecia”
Por culos a violência contra
considerada uma questão
, resolvida entre quatro
paredes, fora do alcance das políticas
públicas. Falar sobre as
agressões
sofridas pelas mulheres no âmbito
era um tabu e as narrativas
distorcidas sobre os fatos, baseadas
em preconceitos machistas e na
crença da subordinação feminina
,
eram compartilhadas pela imprensa.
Como aponta
Blay (2008, p.
a
participação da dia,o preconceito
era reforçado excluindo a mulher da
posição de vítima e a
responsabilizando pela violência
sofrida.
O adágio popular em briga de
marido de mulher, não se mete a
colher” se origina nesta concepção
ainda é amplamente re
mostrando que o problema ainda não
está superado.
O fortalecimento do movimento
feminista no ocidente, a partir da
década de 1960, coloca a pauta da
violência doméstica contra as
mulheres em evidência.
então, as denúncias de violações d
100
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
that gained prominence in
The violence against women have been frequently displayed by then media. But how? To
help answering this question, the idea of this report was to analyze the speech used to cover a crime
Verdade" from Paraiba state Rede Record
It was used the speech analysis (CHARAUDEAU,2006), and the theory of journalism
s specific report. The debate
of hoe the feminicide was aired and rooted on feminist theories (PRADO; SANEMATSU, 2017.
TIBURI, 2019 e PASINATO, 2016). The analysis displayed a mediatic practice that reinforce the
her values like practice of religion, stereotypes of gender
inferiority and the speech that shows the death of women from femicide without consider its main
Correio Verdade
.
Feminicídio em pauta: análise de discurso sobre um crime de gênero que
ganhou destaque nos programas policiais da Paraíba
eram compartilhadas pela imprensa.
Blay (2008, p.
51), com
participação da mídia,o preconceito
era reforçado excluindo a mulher da
posição de vítima e a
responsabilizando pela violência
O adágio popular “em briga de
marido de mulher, não se mete a
colher se origina nesta concepção
e
ainda é amplamente re
petido,
mostrando que o problema ainda não
O fortalecimento do movimento
feminista no ocidente, a partir da
década de 1960, coloca a pauta da
violência doméstica contra as
mulheres em evidência.
A partir de
então, as denúncias de violações d
os
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
direitos fundamentais das mulheres
ressoam na sociedade com o apoio de
escritores, intelectuais e jornalistas e a
ideia
da mulher como portadora de
direitos e individualidade começou a
ganhar legitimidade social. Neste
sentido, as demandas pelos direito
das mulheres e a instauração de
políticas blicas que os promovam
passaram a ter repercussão em todo
mundo. A partir das mobilizações
feministas, os organismos
internacionais de promoção dos
direitos humanos promoveram
convenções, conferências, planos d
ação e diversos outros documentos
para a eliminação da discriminação e
da violência contra as mulheres.
No Brasil, a pressão dos
movimentos sociais e das forças
democráticas forçou
o Estado a
assinar diversos documentos
3
Além de ter Assinado a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, de 1948, o Brasil
também é signatário e promulgou os seguintes
documentos que se referem diretamente aos
direitos das mulheres: 1) Convenção
Interamericana sobre a concessão dos direitos
civis da mulher, em 1948. 2)
Convenção sobre
os Direitos Políticos da Mulher
, em 1963;3)
Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher,
em 1994; 4) Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contr
Mulher, em 1979 e seu Comitê CEDAW/ONU;
5) Plataforma do Cairo, 1994; 6) IV
Conferência das Nações Unidas sobre a
Mulher, em 1995 (BRASIL, 2006).
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
direitos fundamentais das mulheres
ressoam na sociedade com o apoio de
escritores, intelectuais e jornalistas e a
da mulher como portadora de
direitos e individualidade começou a
ganhar legitimidade social. Neste
sentido, as demandas pelos direito
s
das mulheres e a instauração de
políticas públicas que os promovam
passaram a ter repercussão em todo
mundo. A partir das mobilizações
feministas, os organismos
internacionais de promoção dos
direitos humanos promoveram
convenções, conferências, planos d
e
ação e diversos outros documentos
para a eliminação da discriminação e
da violência contra as mulheres.
No Brasil, a pressão dos
movimentos sociais e das forças
o Estado a
assinar diversos documentos
3
Além de ter Assinado a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, de 1948, o Brasil
também é signatário e promulgou os seguintes
documentos que se referem diretamente aos
direitos das mulheres: 1) Convenção
Interamericana sobre a concessão dos direitos
Convenção sobre
, em 1963;3)
Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher,
em 1994; 4) Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contr
a a
Mulher, em 1979 e seu Comitê CEDAW/ONU;
5) Plataforma do Cairo, 1994; 6) IV
Conferência das Nações Unidas sobre a
Mulher, em 1995 (BRASIL, 2006).
internacionais de direitos humano
âmbito da Organização das Nações
Unidas (ONU) e da
Estados Americanos (OEA)
resultando em
políticas públicas de
defesa dos direitos das mulheres,
especialmente a partir de 1985, com a
criação do Conselho Nacional de
Direitos da Mulher
mesmo ano, para mencionar apenas
as proposições no âmbito do combate
à violência contra a mulher, foi criada a
primeira Delegacia de Defesa da
Mulher (DDM), na cidade de São
Paulo, proposição que logo se
espalhou por todo país na forma das
Dele
gacias Especializadas de
Atendimento à Mulher (DEAM), além
de diversos Programas de Combate à
Violência Doméstica. A partir dos
governos do Partido dos
Trabalhadores, Conferências
Nacionais de Políticas para Mulheres
(2004, 2007, 2013,
plano
s nacionais de promoção de
direitos para mulheres. Prática não
continuada nos governos posteriores
ao golpe de Estado sofrido pelo
governo da petista Dilma Rousseff, em
2016.
Neste contexto, em 2006, foi
criada a Lei Maria da Penha (Lei
100
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
internacionais de direitos humano
s no
âmbito da Organização das Nações
Unidas (ONU) e da
Organização dos
Estados Americanos (OEA)
,
políticas públicas de
defesa dos direitos das mulheres,
especialmente a partir de 1985, com a
criação do Conselho Nacional de
Direitos da Mulher
(CNDM). No
mesmo ano, para mencionar apenas
as proposições no âmbito do combate
à violência contra a mulher, foi criada a
primeira Delegacia de Defesa da
Mulher (DDM), na cidade de São
Paulo, proposição que logo se
espalhou por todo país na forma das
gacias Especializadas de
Atendimento à Mulher (DEAM), além
de diversos Programas de Combate à
Violência Doméstica. A partir dos
governos do Partido dos
Trabalhadores, Conferências
Nacionais de Políticas para Mulheres
2016) traçaram
s nacionais de promoção de
direitos para mulheres. Prática não
continuada nos governos posteriores
ao golpe de Estado sofrido pelo
governo da petista Dilma Rousseff, em
Neste contexto, em 2006, foi
criada a Lei Maria da Penha (Lei
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
11.340\06) que se t
ornou importante
instrumento para coibir a violência
doméstica e familiar e dar
ao tema da violência de gênero.
caso da Maria da Penha, havia uma
mulher como vítima, ela não podia
mais andar devido às agressões, e
existiam documentos que
co
mprovavam as denúncias feitas
desde 1983, mas como Dora (2016)
ressalta, foi somente após 15 anos
que o caso ganhou repercussão
internacional
porque levado à
Comissão Interamericana de Direitos
Humanos, por organismos feministas e
de direitos humanos. Em 2
Brasil foi responsabilizado por omissão
e negligência e a
criação da lei,foi parte
das reparações simbólicas promovidas
pelo governo brasileiro em
consequência desta condenação.
Outra lei resultante
feministas no Brasil
foi aprovada no
dia
9 de março de 2015. A Lei nº
13.104/015, conhecida popularmente
como Lei do feminicídio que tipifica
feminicídio como homicídio qualificado,
incluído no rol dos crimes hediondos.
De acordo com a lei, considera
feminicídio quando “há razões de
condição
de sexo feminino e o crime
envolve: I -
violência doméstica e
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
ornou importante
instrumento para coibir a violência
doméstica e familiar e dar
visibilidade
ao tema da violência de gênero.
No
caso da Maria da Penha, havia uma
mulher como vítima, ela não podia
mais andar devido às agressões, e
existiam documentos que
mprovavam as denúncias feitas
desde 1983, mas como Dora (2016)
ressalta, foi somente após 15 anos
que o caso ganhou repercussão
porque levado à
Comissão Interamericana de Direitos
Humanos, por organismos feministas e
de direitos humanos. Em 2
001, o
Brasil foi responsabilizado por omissão
criação da lei,foi parte
das reparações simbólicas promovidas
pelo governo brasileiro em
consequência desta condenação.
Outra lei resultante
das pautas
foi aprovada no
9 de março de 2015. A Lei
13.104/015, conhecida popularmente
como Lei do feminicídio que tipifica
feminidio como homidio qualificado,
incluído no rol dos crimes hediondos.
De acordo com a lei, considera
-se
feminidio quando há razões de
de sexo feminino” e “o crime
violência doméstica e
familiar; II -
menosprezo ou
discriminação à condição de mulher.
O Brasil foi o 16º país latino
com legislações punitivas ao
feminicídio.
O termo “femicide foi usado a
primeira vez
pela socióloga sul
africana, Diana Russell, em meados
da década de 1970, para distinguir a
morte de mulheres e evidenciar que se
trata de crime de gênero. Ao traduzir a
obra, Marcela Lagarde (2006)
antropóloga mexicana e responsável
por expandir o termo
para América Latina, destaca que
antes da violência feminicida, ao longo
da vida, a mulher passou por vários
tipos de violência que ameaçaram sua
liberdade e incorpora ao conceito de
Russel (1976) a ideia de ser um crime
legitimado pela so
responsabilidade do Estado perante a
impunidade.
C
onforme os estudos
divulgados pelo
Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (2021)
mulheres foram vítimas de feminidio
em 2020 no país, sendo 61,8% delas
negras. Os dados trazem à tona
ref
lexos da estrutura racista e sexista
da sociedade.
Para Prado e
Sanematsu (2017, p. 59), em países
101
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
menosprezo ou
discriminação à condição de mulher”.
O Brasil foi o 16º país latino
-americano
com legislações punitivas ao
O termo femicide” foi usado a
pela socióloga sul
africana, Diana Russell, em meados
da década de 1970, para distinguir a
morte de mulheres e evidenciar que se
trata de crime de gênero. Ao traduzir a
obra, Marcela Lagarde (2006)
antropóloga mexicana e responsável
por expandir o termo
feminicídio”,
para América Latina, destaca que
antes da violência feminicida, ao longo
da vida, a mulher já passou por vários
tipos de violência que ameaçaram sua
liberdade e incorpora ao conceito de
Russel (1976) a ideia de ser um crime
legitimado pela so
ciedade e de
responsabilidade do Estado perante a
onforme os estudos
Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (2021)
, 1350
mulheres foram vítimas de feminicídio
em 2020 no país, sendo 61,8% delas
negras. Os dados trazem à tona
lexos da estrutura racista e sexista
Para Prado e
Sanematsu (2017, p. 59), em países
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
como o Brasil, o feminicídio parece
“um fenômeno perversamente social e
democrático” que atinge todas as
mulheres. As autoras ressaltam,
entretanto, que as v
ulnerabilidades
enfrentadas pelas mulheres não são
as mesmas. “Estes perigos o
intensificados a partir de
discriminações baseadas nos papéis
de gênero, mas não só: também na
sua classe social, idade, raça, cor e
etnia ou deficiências” (PRADO;
SANEMATSU, 2017, p.
60).
Os estudos do anuário também
mostram que, em 81,5% dos casos de
feminicídios, o autor foi o companheiro
ou o ex-
companheiro. Aspectos
pontuados por Pasinato (2016) como
características de feminicídio íntimo,
que caracterizam os crimes cometid
por homens com quem as vítimas
tiveram relações interpessoais no
momento do crime ou anteriormente.
Quando se trata do estado da
Paraíba, segundo dados do Monitor da
Violência, em 2019 (G1
-
foram 38 casos de feminidio, esse
foi, até então, o
maior registro desde a
criação da
Lei do Feminicídio
13.104/015).
A violência presente na vida da
mulher também é noticiada pela mídia
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
como o Brasil, o feminicídio parece
um fenômeno perversamente social e
democrático que atinge todas as
mulheres. As autoras ressaltam,
ulnerabilidades
enfrentadas pelas mulheres não são
as mesmas. Estes perigos são
intensificados a partir de
discriminações baseadas nos papéis
de gênero, mas não : também na
sua classe social, idade, raça, cor e
etnia ou deficiências” (PRADO;
60).
Os estudos do anuário também
mostram que, em 81,5% dos casos de
feminidios, o autor foi o companheiro
companheiro. Aspectos
pontuados por Pasinato (2016) como
características de feminicídio íntimo,
que caracterizam os crimes cometid
os
por homens com quem as vítimas
tiveram relações interpessoais no
momento do crime ou anteriormente.
Quando se trata do estado da
Paraíba, segundo dados do Monitor da
-
PB, 2020),
foram 38 casos de feminicídio, esse
maior registro desde a
Lei do Feminicídio
(Lei
A violência presente na vida da
mulher também é noticiada pela mídia
e a forma como a imprensa brasileira
faz a cobertura deste tipo de crime
vem sendo observada por
organizações
o governamentais e
por institutos que trabalham com a
questão de gênero envolvendo a
comunicação social.
Quando os casos
de feminicídio se tornam notícia, o
assunto chega a mais pessoas,
conquista atenção do telespectador e
faz com que pensem, falem sobre
tema e assim, abre-
se a oportunidade
de ampliar o debate público sobre a
questão.
Mas como estes crimes estão
sendo noticiados?
A proposta do artigo é analisar
o discurso da cobertura de um crime
de feminicídio que ganhou destaque
no programa Correio Ver
Correio, afiliada da Rede Record na
Paraíba. Entre os quatro programas de
cunho sensacionalista que seguem a
linha de programa policial exibidos no
estado no horário do meio
segundo Kantar Ibope, lidera a
audiência.
O recorte do mat
trata da cobertura do fato transmitido
na capital paraibana no dia 16 de abril
de 2019 e está disponível no canal do
youtube
da emissora. Naquele ano,
102
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
e a forma como a imprensa brasileira
faz a cobertura deste tipo de crime
vem sendo observada por
o governamentais e
por institutos que trabalham com a
questão de gênero envolvendo a
Quando os casos
de feminidio se tornam notícia, o
assunto chega a mais pessoas,
conquista atenção do telespectador e
faz com que pensem, falem sobre
o
se a oportunidade
de ampliar o debate público sobre a
Mas como estes crimes estão
A proposta do artigo é analisar
o discurso da cobertura de um crime
de feminidio que ganhou destaque
no programa Correio Ver
dade, da TV
Correio, afiliada da Rede Record na
Paraíba. Entre os quatro programas de
cunho sensacionalista que seguem a
linha de programa policial exibidos no
estado no horário do meio
-dia, este,
segundo Kantar Ibope, lidera a
O recorte do mat
erial analisado
trata da cobertura do fato transmitido
na capital paraibana no dia 16 de abril
de 2019 e está disponível no canal do
da emissora. Naquele ano,
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
foram 38 feminicídios, mas nem todos
os crimes foram noticiados.
O que muita gente não
que antes de ser pauta, o
acontecimento passa por seleções,
que avaliam a relevância do assunto e
o
tempo destinado a matéria, que
depende da disponibilidade na grade
da emissora
televisiva. Além disso,
entre as estratégias para atrair o
público e c
onquistar a audiência,
abordagem sensacionalista é um
recurso muito usado no discurso das
coberturas midiáticas de
envolvem violência contra mulher,
quase sempre uma abordagem factual,
com viés policial.
A matéria selecionada, sobre o
feminicí
dio de Dayse Auricea está
entre os casos ocorridos no ano de
2019 e que tiveram mais espaço na
mídia televisiva, este,
principalmente
por se tratar de pessoas conhecidas
na sociedade.
A proposta deste trabalho foi
buscar analisar qual o discurso acerca
do feminicídio foi transmitido ao
público pelo referido programa.
fazer a análise aplicou
metodologia da Análise de Discurso de
linha francesa que toma o discurso
como objeto. E
sse tipo de análise teve
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
foram 38 feminidios, mas nem todos
os crimes foram noticiados.
O que muita gente não
sabe é
que antes de ser pauta, o
acontecimento passa por seleções,
que avaliam a relencia do assunto e
tempo destinado a matéria, que
depende da disponibilidade na grade
televisiva. Além disso,
entre as estratégias para atrair o
onquistar a audiência,
a
abordagem sensacionalista é um
recurso muito usado no discurso das
crimes que
envolvem violência contra mulher,
quase sempre uma abordagem factual,
A matéria selecionada, sobre o
dio de Dayse Auricea está
entre os casos ocorridos no ano de
2019 e que tiveram mais espaço na
principalmente
por se tratar de pessoas conhecidas
A proposta deste trabalho foi
buscar analisar qual o discurso acerca
do feminidio foi transmitido ao
público pelo referido programa.
Para
fazer a análise aplicou
-se a
metodologia da Análise de Discurso de
linha francesa que toma o discurso
sse tipo de análise teve
início na década de 1960 e tem como
principais precursores Michel Pêcheux
e Michel Foucault, mas, anos antes, já
existiam outros estudos voltados para
diferentes perspectivas do
conhecimento da língua e da produção
dos sentidos. Pi
oneira dos estudos no
Brasil, Orlandi (1999) explica que a
Análise de Discurso é herdeira de três
fontes do conhecimento: a linguística,
a marxista e a psicanalítica, mas não
segue totalmente o modelo dos três
campos, visto que ela não reduz o
objeto à lin
guística, não considera o
discurso como fala, mas sim, como
efeito de sentido. Isso significa que
uma notícia sobre feminidio, exibida
em um programa televisivo, pode ser
interpretada de formas diferentes
também a depender do contexto do
leitor.
Critérios de noticiabilidade e
Valores-notícia
O dia a dia é repleto de
acontecimentos de todos os tipos, em
todas as áreas e que podem surgir a
qualquer instante. Entretanto,
sabemos que os fatos não se esgotam
aqui e que não há espaço nos veículos
103
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
início na década de 1960 e tem como
principais precursores Michel Pêcheux
e Michel Foucault, mas, anos antes,
existiam outros estudos voltados para
diferentes perspectivas do
conhecimento da língua e da produção
oneira dos estudos no
Brasil, Orlandi (1999) explica que a
Análise de Discurso é herdeira de três
fontes do conhecimento: a linguística,
a marxista e a psicanalítica, mas não
segue totalmente o modelo dos três
campos, visto que ela não reduz o
guística, o considera o
discurso como fala, mas sim, como
efeito de sentido. Isso significa que
uma notícia sobre feminicídio, exibida
em um programa televisivo, pode ser
interpretada de formas diferentes
também a depender do contexto do
Critérios de noticiabilidade e
O dia a dia é repleto de
acontecimentos de todos os tipos, em
todas as áreas e que podem surgir a
qualquer instante. Entretanto,
sabemos que os fatos não se esgotam
aqui e que não há espaço nos veículos
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
de com
unicação para divulgação de
todos eles.
Para escolher qual fato vai
ganhar espaço no telejornal, é
aplicado o “critério de noticiabilidade
que, de acordo com Wolf (
p.170), é um “conjunto de critérios,
operações e instrumentos com os
quais os órgãos
de informação,
enfrentam a tarefa de escolher,
quotidianamente, entre um número
imprevisível e indefinido de factos,
uma quantidade finita e
tendencialmente estável de notícias”.
O autor ressalta que a definição da
escolha do que é noticiável sempre é
orie
ntada pela “factibilidade do produto
informativo a realizar em tempos e
com recursos limitados” (
2001
Como componente
noticiabilidade existem os valores
notícia, que,
segundo Wolf (
p.
175), buscam responder à pergunta
sobre “quais aconteci
mentos que o
considerados suficientemente
interessantes, significativos e
relevantes para serem transformados
em notícia?”
Na seleção dos acontecimentos,
os critérios de relevância atuam em
conjunto com combinações que se
estabelecem entre diferentes val
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sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
unicação para divulgação de
Para escolher qual fato vai
ganhar espaço no telejornal, é
aplicado o critério de noticiabilidade”
que, de acordo com Wolf (
2001,
p.170), é um conjunto de critérios,
operações e instrumentos com os
de informação,
enfrentam a tarefa de escolher,
quotidianamente, entre um número
imprevivel e indefinido de factos,
uma quantidade finita e
tendencialmente estável de notícias”.
O autor ressalta que a definição da
escolha do que é noticiável sempre é
ntada pela factibilidade do produto
informativo a realizar em tempos e
2001
p.171).
Como componente
s da
noticiabilidade existem os valores
segundo Wolf (
2001,
175), buscam responder à pergunta
mentos que são
considerados suficientemente
interessantes, significativos e
relevantes para serem transformados
Na seleção dos acontecimentos,
os critérios de relevância atuam em
conjunto com combinações que se
estabelecem entre diferentes val
ores-
notícia e a seleção desse material de
acordo com Wolf (2001), é feita com
agilidade e de forma quase
automática. Esses critérios estão
presentes ao longo de todo processo
da notícia, não só da seleção.
Na perspectiva do autor, os
valores notícia deriv
seguintes formas:
características substantivas das
notícias e ao seu conteúdo.
caso, fatores como a importância e o
interesse da notícia são essenciais na
articulação dos critérios substantivos.
Wolf (2001, p. 179-
192)
importância
é determinada por
algumas variáveis e a principal é o
grau e o nível hierárquico dos
indivíduos envolvidos no
acontecimento noticiável, como
pessoas da elite e de grau de poder
institucional.
b. critérios relativos ao
produto informativo
principais fatores analisados na
disponibilidade do material está a
necessidade de não ultrapassar um
determinado comprimento das notícias
especialmente televisivas.
c. critérios relativos ao meio
de comunicação,
quando se trata da
informação
televisiva, faz parte da
104
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
notícia e a seleção desse material de
acordo com Wolf (2001), é feita com
agilidade e de forma quase
automática. Esses critérios estão
presentes ao longo de todo processo
da notícia, não da seleção.
Na perspectiva do autor, os
valores notícia deriv
am destas
seguintes formas:
a. às
características substantivas das
notícias e ao seu conteúdo.
Neste
caso, fatores como a importância e o
interesse da notícia são essenciais na
articulação dos critérios substantivos.
192)
defende que a
é determinada por
algumas variáveis e a principal é “o
grau e o nível hierárquico dos
indivíduos envolvidos no
acontecimento noticiável”, como
pessoas da elite e de grau de poder
b. critérios relativos ao
produto informativo
, que entre os
principais fatores analisados na
disponibilidade do material está “a
necessidade de não ultrapassar um
determinado comprimento das notícias
especialmente televisivas”.
c. critérios relativos ao meio
quando se trata da
televisiva, faz parte da
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
avaliação da noticiabilidade de um
acontecimento , ter boas imagens e
material visual .
d. critérios relativos ao
público e a concorrência,
baseiam na visão que o jornalista tem
em relação ao telespectador, nas
notícias que permitem identificação
com o público e em relação a
concorrência o autor aponta que
competição tem também como
consequência contribuir para o
estabelecimento dos parâ
profissionais, dos modelos de
referência”.
Para tratarmos o assunto,
também vamos seguir a elaboração
desses valores notícia baseadas nas
perspectivas de Traquina (2005) que
leva como referência os estudos de
Wolf e propõe fazer a distinção entre
os valores-
notícia de seleção,
classificados em valores: substantivos,
contextuais e de seleção.
Ao abordar sobre alguns
valores-
notícias, ressaltamos a
que, para Traquina (2005), é um valor
fundamental, pois “Onde há mortes há
jornalistas”. O autor de
valores como o conflito
, a c
quando tem a presença da
seja simbólica ou física tem mais
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sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
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122, mar. 2023.
www.
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(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
avaliação da noticiabilidade de um
acontecimento , ter boas imagens e
d. critérios relativos ao
público e a concorrência,
se
baseiam na visão que o jornalista tem
em relação ao telespectador, nas
notícias que permitem identificação
com o público e em relação a
concorrência o autor aponta que
A
competição tem também como
consequência contribuir para o
estabelecimento dos pa
metros
profissionais, dos modelos de
Para tratarmos o assunto,
também vamos seguir a elaboração
desses valores notícia baseadas nas
perspectivas de Traquina (2005) que
leva como referência os estudos de
Wolf e propõe fazer a distinção entre
notícia de seleção,
classificados em valores: substantivos,
Ao abordar sobre alguns
notícias, ressaltamos a
morte
que, para Traquina (2005), é um valor
fundamental, pois Onde há mortes
jornalistas”. O autor de
fende que
, a c
ontrovérsia
quando tem a presença da
violência,
seja simbólica ou física tem mais
noticiabilidade. Traquina (2005, p.85)
afirma que “um crime mais violento,
com um maior número de vítimas,
equivale a maior noticiabilid
esse crime. Qualquer crime pode ficar
com mais valor-
notícia se a violência
lhe estiver associada. Durante essa
seleção de valores, dificilmente um
feminicídio será avaliado por se tratar
de um crime de gênero, de ódio, mas
sim pelo nível de crue
barbaridade que envolve a história.
Nos valores-
notícia de seleção,
também constam os critérios
contextuais, que tratam do processo
de produção das notícias, definidos
como
disponibilidade,
facilidade de fazer a cobertura dos
acontecimen
tos e os meios que a
cobertura jornalística exige. Tendo em
vista esses aspectos, não é posvel
descartar que vários fatores
influenciam para que um
acontecimento tenha valor
por isso não esgota a possibilidade de
valores e vale ressaltar que ca
empresa de comunicação segue uma
linha editorial.
No que se atribui à função do
fenômeno da informação, Charaudeau
(2006) define-
a como uma máquina de
informar, uma máquina humana e feita
105
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
noticiabilidade. Traquina (2005, p.85)
afirma que um crime mais violento,
com um maior número de vítimas,
equivale a maior noticiabilid
ade para
esse crime. Qualquer crime pode ficar
notícia se a violência
lhe estiver associada.” Durante essa
seleção de valores, dificilmente um
feminidio será avaliado por se tratar
de um crime de gênero, de ódio, mas
sim pelo nível de crue
ldade e de
barbaridade que envolve a história.
notícia de seleção,
também constam os critérios
contextuais, que tratam do processo
de produção das notícias, definidos
disponibilidade,
que é a
facilidade de fazer a cobertura dos
tos e os meios que a
cobertura jornalística exige. Tendo em
vista esses aspectos, não é possível
descartar que vários fatores
influenciam para que um
acontecimento tenha valor
-notícia e
por isso não esgota a possibilidade de
valores e vale ressaltar que ca
da
empresa de comunicação segue uma
No que se atribui à função do
fenômeno da informação, Charaudeau
a como uma máquina de
informar, uma máquina humana e feita
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
por inúmeros atores como: o jornalista
que escreveu, o redator, o
direção do canal que orienta, além de
qual maneira e de qual linha seguir ao
tratar a informação.
Breve histórico dos programas
Correio Verdade
O programa Correio Verdade é
transmitido pela TV Correio, afiliada da
Rede Record na Paraíba, no can
na grande João Pessoa e canal 13 no
interior do estado. Vai ao ar de
segunda a sexta-
feira, das 11h50 às
13h30 e, aos sábados, das 12h até
13h10.
Para focar no período em que a
matéria analisada
foi publicada será
abordado o ano de 2019, em relação
às informações sobre audiência de TV
na Paraíba. As pesquisas no estado
são medidas pela Kantar Ibope e,
segundo elas, o Correio Verdade lidera
a audiência no horário do meio
entre os outros três programas
televisivos do estado da Paraíba,
também de cu
nho sensacionalista.
Em setembro de 2019, no site
oficial4
da TV Correio, foi publicada
4 Informação disponível em:
Correio Verdade
alcança 44,90% de share e é líder no horário
Portal Correio. Acesso em:
16 nov. 2022.
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
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(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
por inúmeros atores como: o jornalista
que escreveu, o redator, o
editor, a
direção do canal que orienta, além de
qual maneira e de qual linha seguir ao
Breve histórico dos programas
O programa Correio Verdade é
transmitido pela TV Correio, afiliada da
Rede Record na Paraíba, no can
al 12
na grande João Pessoa e canal 13 no
interior do estado. Vai ao ar de
feira, das 11h50 às
13h30 e, aos bados, das 12h até
Para focar no período em que a
foi publicada será
abordado o ano de 2019, em relação
às informações sobre audiência de TV
na Paraíba. As pesquisas no estado
o medidas pela Kantar Ibope e,
segundo elas, o Correio Verdade lidera
a audiência no horário do meio
-dia
entre os outros três programas
televisivos do estado da Paraíba,
nho sensacionalista.
Em setembro de 2019, no site
da TV Correio, foi publicada
Correio Verdade
alcança 44,90% de share e é líder no horário
-
16 nov. 2022.
uma matéria que apontava o programa
Correio Verdade como líder de
audiência no horário,
de 44,90%, contra 27,15% da
emissora B.’’
Share
comparativa do desempenho de um
programa, da percentagem do número
de espectadores em relação aos níveis
dos outros programas concorrentes
com a participação do percentual de
domicílios sintonizados em
determinada emissora. Esse dado
revela qu
e o programa teve um
“representativo crescimento de 65,88%
em relação à pesquisa anterior,
segundo a matéria.
Para Angrimani (1995),
sensacionalismo é a produção de
noticiário que superdimensiona o fato,
que precisa chocar o público e busca
envolver a pes
soa emocionalmente no
assunto, com uma linguagem que,
geralmente, vem com tom
escandaloso, espalhafatoso, com
gírias e palavrões.
Segundo Machado (2001), as
principais características de um
telejornal são: ser um programa ao
vivo, mesmo que se utilize arq
material pré-
gravado, ser composto
por um apresentador, por repórter e
por entrevistas com fontes que
106
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
uma matéria que apontava o programa
Correio Verdade como líder de
audiência no horário,
share individual
de 44,90%, contra 27,15% da
Share
é a análise
comparativa do desempenho de um
programa, da percentagem do número
de espectadores em relação aos níveis
dos outros programas concorrentes
com a participação do percentual de
domilios sintonizados em
determinada emissora. Esse dado
e o programa teve um
representativo crescimento de 65,88%
em relação à pesquisa anterior”,
Para Angrimani (1995),
sensacionalismo é a produção de
noticiário que superdimensiona o fato,
que precisa chocar o blico e busca
soa emocionalmente no
assunto, com uma linguagem que,
geralmente, vem com tom
escandaloso, espalhafatoso, com
Segundo Machado (2001), as
principais características de um
telejornal o: ser um programa ao
vivo, mesmo que se utilize arq
uivo ou
gravado, ser composto
por um apresentador, por repórter e
por entrevistas com fontes que
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
articulam fatos do cotidiano.
caso, o formato do Correio Verdade
utiliza esses aspectos e explora a
atuação do apresentador.
Machado (2001,
também explica que o telejornal
opinativo “baseia-
se fortemente em
mecanismos de identificação entre
público e apresentador (nesse sentido,
não é raro que, para colocar em
operação esses mecanismos, o
apresentador simule indignação, pesar
ou temor
diante das notícias
apresentadas)’’.
Para Charaudeau (2006), o
apresentador é quem assegura a
coordenação e traz contribuição
pessoal para o telejornal, por isso este
pensador atribui à
função o papel
principal pelo conjunto de encenação
do telejornal e
pelos modos
discursivos usados, exercendo uma
dupla função de interface:
mundo referencial e o telespectador e
o estúdio. Dessa forma, o intelectual
francês arremata que o discurso
personalizado faz parte desta
estratégia. Em outras palavras,
O con
tato entre o estúdio e
telespectador se estabelece
desde a abertura do jornal, pela
função do apresentador que se
acha instalado em seu lugar de
exercício profissional, em posição
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
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(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
articulam fatos do cotidiano.
Neste
caso, o formato do Correio Verdade
utiliza esses aspectos e explora a
Machado (2001,
p. 110)
também explica que o telejornal
se fortemente em
mecanismos de identificação entre
público e apresentador (nesse sentido,
não é raro que, para colocar em
operação esses mecanismos, o
apresentador simule indignação, pesar
diante das notícias
Para Charaudeau (2006), o
apresentador é quem assegura a
coordenação e traz contribuição
pessoal para o telejornal, por isso este
função o papel
principal pelo conjunto de encenação
pelos modos
discursivos usados, exercendo uma
dupla função de interface:
entre o
mundo referencial e o telespectador e
o estúdio. Dessa forma, o intelectual
frans arremata que o discurso
personalizado faz parte desta
estratégia. Em outras palavras,
tato entre o estúdio e
telespectador se estabelece
desde a abertura do jornal, pela
função do apresentador que se
acha instalado em seu lugar de
exercício profissional, em posição
frontal, e anuncia o sumário.
Depois, todo desenrolar do jornal,
ele constru
irá uma imagem de
enunciador personalizado um
(eu) que se expressa como se
estivesse falando diretamente a
cada indivíduo da coletividade
dos telespectadores: hora
participando sua própria emoção
em relação aos acontecimentos
dramáticos do mundo
(enunciaçã
o elocutiva) , ora
solicitado sua atenção ou seu
interesse e mesmo interpelando
o (enunciação locutiva), tudo isso
com auxílio de movimentos do
rosto (mesmo os mais discretos),
de certos tons de voz, da escolha
de determinadas palavras
(CHARAUDEAU, 2006,
Tendo em vista as percepções
dos autores, o Correio Verdade segue
essas estruturas e se enquadra como
um telejornal, enquanto um gênero
televisivo.
Neste caso, o telejornal
policial se apropria desses elementos,
mas se difere do tradicional, por
manter características de jornalismo
policial na TV. Como é posvel
observar no telejornal policial, a
maioria do conteúdo exibido é voltado
para violência e criminalidade, utilizam
com frequência trilhas sonoras de
suspense nas matérias e durante os
come
ntários do apresentador.
Entre essas diferenças, Romão
(2013, p.
13) aponta que o discurso do
jornalismo policial é marcado por um
107
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
frontal, e anuncia o sumário.
Depois, todo desenrolar do jornal,
irá uma imagem de
enunciador personalizado um
(eu) que se expressa como se
estivesse falando diretamente a
cada indiduo da coletividade
dos telespectadores: hora
participando sua própria emoção
em relação aos acontecimentos
dramáticos do mundo
o elocutiva) , ora
solicitado sua atenção ou seu
interesse e mesmo interpelando
-
o (enunciação locutiva), tudo isso
com auxílio de movimentos do
rosto (mesmo os mais discretos),
de certos tons de voz, da escolha
de determinadas palavras
(CHARAUDEAU, 2006,
p. 229).
Tendo em vista as percepções
dos autores, o Correio Verdade segue
essas estruturas e se enquadra como
um telejornal, enquanto um gênero
Neste caso, o telejornal
policial se apropria desses elementos,
mas se difere do tradicional, por
manter características de jornalismo
policial na TV. Como é possível
observar no telejornal policial, a
maioria do conteúdo exibido é voltado
para violência e criminalidade, utilizam
com frequência trilhas sonoras de
suspense nas matérias e durante os
ntários do apresentador.
Entre essas diferenças, Romão
13) aponta que o discurso do
jornalismo policial é marcado por um
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
intenso ódio pelos bandidos que em
suas vozes pode se notar a raiva
dirigida aos executores dos crimes
noticiados e seus ped
idos de justiça,
soam como um pedido de vingança.
Ademais, não qualquer discussão
mais aprofundada sobre o problema
da violência’’.
Neves (2015) afirma que a
história da emissora segue como
formato, um telejornal voltado para o
estilo popular, com matér
intercalam comentários do
apresentador com
(merchandising?)
de patrocinadores do
programa de TV. Ainda conforme o
autor, o Correio Verdade foi ao ar pela
primeira vez em 2003, apresentado
por Samuka Duarte, que,
constantemente, mostrava
indignado com os crimes,
conquistando os telespectadores com
seus comentári
os como “defensor da
família”.
Ao abordar em seus estudos o
protagonismo dos apresentadores no
contrato de comunicação de
programas policiais na Paraíba,
Gerônimo (2019) entrevistou Samuka
e em trechos da entrevista o
apresentador explica que não faz
nenhu
ma preparação corporal ou
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
intenso ódio pelos bandidos que “em
suas vozes pode se notar a raiva
dirigida aos executores dos crimes
idos de justiça,
soam como um pedido de vingança.
Ademais, não há qualquer discussão
mais aprofundada sobre o problema
Neves (2015) afirma que a
história da emissora segue como
formato, um telejornal voltado para o
estilo popular, com matér
ias que
intercalam comentários do
apresentador com
merchans
de patrocinadores do
programa de TV. Ainda conforme o
autor, o Correio Verdade foi ao ar pela
primeira vez em 2003, apresentado
por Samuka Duarte, que,
constantemente, mostrava
-se
indignado com os crimes,
conquistando os telespectadores com
os como defensor da
Ao abordar em seus estudos o
protagonismo dos apresentadores no
contrato de comunicação de
programas policiais na Paraíba,
Gerônimo (2019) entrevistou Samuka
e em trechos da entrevista o
apresentador explica que não faz
ma preparação corporal ou
vocal, que tem o dom de improvisar e
prefere não procurar saber sobre o
assunto que vai ao ar para comentar.
“Não olho matéria, não olho o que tem,
não faço nada. Se eu olhar antes eu
perco a graça quando eu entro no ar.
(Samuka
Duarte, entrevista cedida à
Aderlon Gerônimo, apêndice D, 2019).
Formado em matemática e em
biologia, Samuka Duarte ficou à frente
do programa até dezembro de 2020,
quando Nilvan Ferreira assumiu o
posto.
Análise Caso Dayse
O feminicídio de Dayse Auricea
ao ar na maioria dos programas
televisivos do estado no dia 16 de abril
de 2019. Ela
era secretária de
educação do município de Boa Vista,
no Cariri Paraibano. Mulher branca,
mãe de duas meninas, foi morta a tiros
pelo ex-
marido, quatro dias depois de
completar 40 anos.
Segundo
Brasileiro de Segurança Pública
(2021), o principal instrumento
empregado são as armas de fogo que
foram utilizadas em 64% de todos os
assassinatos de mulheres no Brasil.
Aderlon Bezerra de Souza, homem
branco de 42 ano
s, trabalhava como
motorista da prefeitura de Boa Vista e
108
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
vocal, que tem o dom de improvisar e
prefere não procurar saber sobre o
assunto que vai ao ar para comentar.
Não olho matéria, não olho o que tem,
não faço nada. Se eu olhar antes eu
perco a graça quando eu entro no ar.”
Duarte, entrevista cedida à
Aderlon Gerônimo, apêndice D, 2019).
Formado em matemática e em
biologia, Samuka Duarte ficou à frente
do programa até dezembro de 2020,
quando Nilvan Ferreira assumiu o
O feminidio de Dayse Auricea
foi
ao ar na maioria dos programas
televisivos do estado no dia 16 de abril
era secretária de
educação do munipio de Boa Vista,
no Cariri Paraibano. Mulher branca,
mãe de duas meninas, foi morta a tiros
marido, quatro dias depois de
Segundo
o Anuário
Brasileiro de Segurança Pública
(2021), o principal instrumento
empregado o as armas de fogo que
foram utilizadas em 64% de todos os
assassinatos de mulheres no Brasil.
Aderlon Bezerra de Souza, homem
s, trabalhava como
motorista da prefeitura de Boa Vista e
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
tinha convidado a ex-
mulher para
comemorar o aniversário dela em um
motel na cidade de Campina Grande,
local onde cometeu o crime e depois
se matou, com a mesma arma. De
acordo com parentes, ele ins
reatar o relacionamento.
O fato de a TV Correio ter uma
sucursal na cidade em que aconteceu
o crime facilitou o acesso da apuração
sobre o caso. No entanto, a posição
social das pessoas envolvidas
valor-
notícia de seleção que regeu a
construção da cobertura sobre este
feminicídio.
Casamento e religião
O programa inicia e a foto de
Dayse e do ex-
marido Aderlon ocupa
todo o telão no cenário do programa,
enquanto a voz do apresentador
anuncia que tem o caso completo,
pede aos telespectad
ores para não
mudarem de canal e olharem a foto
que diz se tratar de um casal. Durante
toda a cobertura, eles são tratados
como se ainda estivessem casados,
contradizendo os relatos apresentados
pelas fontes entrevistadas que são:
Aletson Souza, irmão de A
Nercília Dantas, a delegada do caso, e
Jandira da Silva, mãe de Dayse:
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
mulher para
comemorar o aniversário dela em um
motel na cidade de Campina Grande,
local onde cometeu o crime e depois
se matou, com a mesma arma. De
acordo com parentes, ele ins
istia em
O fato de a TV Correio ter uma
sucursal na cidade em que aconteceu
o crime facilitou o acesso da apuração
sobre o caso. No entanto, a posição
social das pessoas envolvidas
foi o
notícia de seleção que regeu a
construção da cobertura sobre este
O programa inicia e a foto de
marido Aderlon ocupa
todo o telão no cenário do programa,
enquanto a voz do apresentador
anuncia que tem o caso completo,
ores para não
mudarem de canal e olharem a foto
que diz se tratar de um casal. Durante
toda a cobertura, eles são tratados
como se ainda estivessem casados,
contradizendo os relatos apresentados
pelas fontes entrevistadas que são:
Aletson Souza, irmão de A
derlon,
Nerlia Dantas, a delegada do caso, e
Jandira da Silva, mãe de Dayse:
Foram para um motel em
Campina Grande, ela
aniversariou sexta feira. Ontem,
segunda-
feira ele disse:
meu amor, vamos comemorar
vamos comemorar
(sic) organizar
bater um papo
motel. a
gente fica à vontade
conversa e organiza a vida
disse: vamos! Aí, ele matou a
mulher e se matou
O apresentador muda o tom de
voz para interpretar esse diálogo
imaginário narrado em ling
clichê, sensacionalista que, segundo
Angrimani (1995, p.
“o cadáver fará rir, às vezes, atrairá
descargas projetivas dicas,
recalcadas, punitivas, vingativas; às
vezes, tem um registro corriqueiro; às
vezes, compõe uma história
ima
ginosa’’. Na sequência, depois de
apontar três vezes para tela repetindo
o nome da vítima e do acusado, com a
foto do casal no telão e som, ao fundo,
de suspense, Samuka repete o
discurso que compõe uma outra
história imaginada, de que toda mulher
sonha em
se casar com o príncipe
encantado.
Minha gente, todo mundo quando
pensa em (sic) casar,
mulher sonha com o príncipe
encantado.
Todo homem sonha
com a mulher ideal para vida
dele.
quando encontra ou acha
que encontra juram eterno amor.
109
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
Foram para um motel em
Campina Grande, ela
aniversariou sexta feira. Ontem,
feira ele disse:
olha,
meu amor, vamos comemorar
,
vamos comemorar
, vamos se
(sic) organizar
a gente precisa
bater um papo
, vamos para um
gente fica à vontade
conversa e organiza a vida
. Ela
disse: vamos! Aí, ele matou a
mulher e se matou
(sic).
O apresentador muda o tom de
voz para interpretar esse diálogo
imaginário narrado em ling
uagem
clichê, sensacionalista que, segundo
56), permite que
o cadáver fará rir, às vezes, atrairá
descargas projetivas sádicas,
recalcadas, punitivas, vingativas; às
vezes, tem um registro corriqueiro; às
vezes, compõe uma história
ginosa. Na sequência, depois de
apontar três vezes para tela repetindo
o nome da vítima e do acusado, com a
foto do casal no telão e som, ao fundo,
de suspense, Samuka repete o
discurso que compõe uma outra
história imaginada, de que toda mulher
se casar com o príncipe
Minha gente, todo mundo quando
pensa em (sic) casar,
toda
mulher sonha com o príncipe
Todo homem sonha
com a mulher ideal para vida
Aí quando encontra ou acha
que encontra juram eterno amor.
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
É ou, não é?
O padre lá
perguntou, ou o pastor
com ele na alegria, na tristeza e
na dor? Ela diz: sim!
promete viver com ele sim! Aí é
isso que todo mundo espera, mas
olha
o que aconteceu com esse
casal e acontece com muitos.
Não é o primeiro caso, o
san
gue de Cristo tem poder!
O trecho dito pelo apresentador
mostra, como afirma Tiburi (2019) que
o patriarcado é um sistema
profundamente enraizado na cultura e
nas Instituições com crenças firmadas
em verdades que se dizem absolutas.
Dentro desse contexto,
o discurso faz
alusão à família perfeita, ao sonho do
casamento, do amor eterno, do
príncipe e da mulher ideal. Símbolos
que dialogam com o que a autora
define como padrões hétero
construídos do patriarcado. Assim, ele
generaliza que o sonho de toda mulhe
é encontrar um homem, um namorado,
um marido, um príncipe encantado.
Ideias ensinadas às meninas, desde
criança, pelas histórias dos contos de
fadas, junto com atribuições que o
dadas ao gênero feminino ao longo da
vida: de saber cozinhar, lavar, passa
cuidar bem dos filhos, da casa, do
marido, para, então, passar com
sucesso em todas essas avaliações de
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
O padre lá
perguntou, ou o pastor
, viver
com ele na alegria, na tristeza e
na dor? Ela diz: sim!
Ela
promete viver com ele sim! é
isso que todo mundo espera, mas
o que aconteceu com esse
casal e acontece com muitos.
Não é o primeiro caso, o
gue de Cristo tem poder!
O trecho dito pelo apresentador
mostra, como afirma Tiburi (2019) que
o patriarcado é um sistema
profundamente enraizado na cultura e
nas Instituições com crenças firmadas
em verdades que se dizem absolutas.
o discurso faz
alusão à família perfeita, ao sonho do
casamento, do amor eterno, do
príncipe e da mulher ideal. Símbolos
que dialogam com o que a autora
define como padrões hétero
construídos do patriarcado. Assim, ele
generaliza que o sonho de toda mulhe
r
é encontrar um homem, um namorado,
um marido, um príncipe encantado.
Ideias ensinadas às meninas, desde
criança, pelas histórias dos contos de
fadas, junto com atribuições que são
dadas ao gênero feminino ao longo da
vida: de saber cozinhar, lavar, passa
r,
cuidar bem dos filhos, da casa, do
marido, para, então, passar com
sucesso em todas essas avaliações de
atributos, receber o título de boa
esposa”.
Ao encenar
parte dos dizeres de
uma cerimônia de casamento, o
apresentador fala: “viver com ele na
alegr
ia, na tristeza e na dor. A
expressão “na dor” foi acrescentada, e
não está presente nos textos
tradicionais de votos de casamento.
Dessa forma, é reforçada a ideia
naturalizada de a mulher ter que
aguentar e passar por vários tipos de
situações em nome d
Pois, como diz Saffioti (2004, p.
mulheres “são socializadas para
desenvolver comportamentos dóceis,
cordatos, apaziguadores. Os homens
ao contrário, são estimulados a
desenvolver condutas agressivas,
perigosas, que revelam força e
coragem’’.
Discursos religiosos como este
impedem que as mulheres se
enxerguem como vítimas da violência
doméstica, e contribuem para que
muitas, apegadas às crenças
religiosas não tenham coragem de
denunciar. Assim, sofrem caladas em
nome da família e são de
seguir à risca os votos de estar na
companhia do esposo até que a morte
os separe”.
110
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
atributos, receber o título de “boa
parte dos dizeres de
uma cerimônia de casamento, o
apresentador fala: viver com ele na
ia, na tristeza e na dor”. A
expressão na dor foi acrescentada, e
não está presente nos textos
tradicionais de votos de casamento.
Dessa forma, é reforçada a ideia
naturalizada de a mulher ter que
aguentar e passar por vários tipos de
situações em nome d
o casamento.
Pois, como diz Saffioti (2004, p.
37), as
mulheres o socializadas para
desenvolver comportamentos dóceis,
cordatos, apaziguadores. Os homens
ao contrário, o estimulados a
desenvolver condutas agressivas,
perigosas, que revelam força e
Discursos religiosos como este
impedem que as mulheres se
enxerguem como vítimas da violência
doméstica, e contribuem para que
muitas, apegadas às crenças
religiosas não tenham coragem de
denunciar. Assim, sofrem caladas em
nome da família e são de
stinadas a
seguir à risca os votos de estar na
companhia do esposo “até que a morte
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
Quando o apresentador
questiona “é ou, não é?
intenç
ão de reforçar a opinião dele,
como uma verdade que, segundo
Charaudeau (2006 p. 267), interessa
ao
espaço social e, entre essas
verdades, a verdade de opinião se
baseia em sistema de crenças e
procura ser compartilhada pela
maioria, sendo que este
compartilhamento estabelece um
consenso que seria garantidor de seu
valor’’. Nessas verdades a posição da
mulher é inferiorizada perante o
homem, pois como aponta Bourdieu
(2002, p. 18), a sociedade
constrói o corpo como realidade
sexuada e como depositário de
princípios de visão e de divio
sexualizantes. Esse programa
social de percepção incorporad
aplica-
se a todas as coisas do
mundo e, antes de tudo, ao
próprio corpo.
Enquanto na tela passam fotos
dos envolvidos de os dadas,
sorrindo, o apresentador comenta que
as fotos mostram que os dois eram
felizes até o dia do crime:
Estava em crise e tal, foram
conversar em um motel.
resolveu matar
Aderlon Bezerra. Um
de anos
, como eu falei, fruto de
dois filhos. Um de 17 e outro de 8
anos. O relacionamento
terminou de forma trágica
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
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(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
Quando o apresentador
questiona é ou, não é?”
tem a
ão de reforçar a opinião dele,
como uma verdade que, segundo
Charaudeau (2006 p. 267), interessa
espaço social e, entre essas
verdades, a verdade de opinião “se
baseia em sistema de crenças e
procura ser compartilhada pela
maioria, sendo que este
compartilhamento estabelece um
consenso que seria garantidor de seu
valor. Nessas verdades a posição da
mulher é inferiorizada perante o
homem, pois como aponta Bourdieu
constrói o corpo como realidade
sexuada e como depositário de
prinpios de vio e de divisão
sexualizantes. Esse programa
social de percepção incorporad
o
se a todas as coisas do
mundo e, antes de tudo, ao
Enquanto na tela passam fotos
dos envolvidos de mãos dadas,
sorrindo, o apresentador comenta que
as fotos mostram que os dois eram
Estava em crise e tal, foram
conversar em um motel.
Ele
a mulher,
Aderlon Bezerra. Um
casamento
, como eu falei, fruto de
dois filhos. Um de 17 e outro de 8
anos. O relacionamento
terminou de forma trágica
,
como eu falei, a noite
amor terminou
Quase três minutos depois dos
comentários feitos pelo apresentador,
a matéria da repórter Daniela Pimentel
é exibida.
Começa com a imagem de
uma conversa de Aderlon com o
irmão, por um aplicativo de
mensagens do celular, na
marido de Dayse avisava que tinha
matado a ex-
mulher e que iria tirar a
própria vida. Este fato segue como
enredo, o irmão aparece mostrando o
aparelho para a repórter e conta como
foi:
...aí ele fez duas chamadas para
mim e ele já tinha falad
comigo que
tinha matado ela.
Matei Dayse
perdão,
eu tentei falar com
ele:não faça isso, não faça
isso
! 22h04 foi quando ele não
visualizou mais,
acionei os amigos da polícia e
pedi que fossem para lá
Ao contar que acionou os
amigos da polícia, demonstra o
privilégio que teve de ser atendido com
mais eficácia pelos agentes da
segurança pública. Provavelmente,
uma pessoa sem essa influência não
teria garantias dessa agilidade. Os
privilégios que envolvem o poder
aquisitivo dos
envolvidos, posição
111
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
como eu falei, a noite
juras de
amor terminou
… (sic).
Quase três minutos depois dos
comentários feitos pelo apresentador,
a matéria da repórter Daniela Pimentel
Começa com a imagem de
uma conversa de Aderlon com o
irmão, por um aplicativo de
mensagens do celular, na
qual o ex-
marido de Dayse avisava que tinha
mulher e que iria tirar a
própria vida. Este fato segue como
enredo, o irmão aparece mostrando o
aparelho para a repórter e conta como
...aí ele fez duas chamadas para
mim e aí ele tinha falad
o
tinha matado ela.
Matei Dayse
[...] Me pediu
eu tentei falar com
ele:não faça isso, não faça
! 22h04 foi quando ele o
visualizou mais,
foi quando eu
acionei os amigos da polícia e
pedi que fossem para lá…
Ao contar que acionou os
amigos da polícia, demonstra o
privilégio que teve de ser atendido com
mais eficia pelos agentes da
segurança pública. Provavelmente,
uma pessoa sem essa influência não
teria garantias dessa agilidade. Os
privilégios que envolvem o poder
envolvidos, posição
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
social, racial e grau de instrução
também são identificados em vários
pontos da cobertura, como nas
imagens apresentadas. A matéria é
construída com aspectos
sensacionalistas em que a tendência é
explorar ao máximo o ambiente do
crime,
mas neste caso, a fachada do
motel é poupada, a imagem que
aparece na tela quando o local é
citado, é do portão da garagem,
marca que o identifique. Sem closes
ou imagens de detalhes. Diferente do
que geralmente acontece nas
coberturas deste tipo de cr
os envolvidos são pessoas pretas ou
periféricas.
Assim, confirmam
percepções de Blay (2008, p.
relação aos assassinatos de mulheres
e à espetacularização dos casos:
“quando envolvem pessoas de
projeção ou de status social,
evidencia-
se o comportamento
diferenciado da mídia”.
Na entrevista, a delegada não
fala sobre o crime de feminidio,
apenas que Aderlon
foi preparado para
praticar o crime e que funcionários
escutaram os tiros. De acordo com a
família, eles estavam em cri
menos, um ano e, poucos dias, ele
tinha se mudado para a casa da mãe.
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
social, racial e grau de instrução
também são identificados em vários
pontos da cobertura, como nas
imagens apresentadas. A matéria é
construída com aspectos
sensacionalistas em que a tendência é
explorar ao máximo o ambiente do
mas neste caso, a fachada do
motel é poupada, a imagem que
aparece na tela quando o local é
citado, é do portão da garagem,
sem
marca que o identifique. Sem closes
ou imagens de detalhes. Diferente do
que geralmente acontece nas
coberturas deste tipo de cr
ime quando
os envolvidos o pessoas pretas ou
Assim, confirmam
-se as
percepções de Blay (2008, p.
12) em
relação aos assassinatos de mulheres
e à espetacularização dos casos:
quando envolvem pessoas de
projeção ou de status social,
se o comportamento
Na entrevista, a delegada não
fala sobre o crime de feminicídio,
foi preparado para
praticar o crime e que funcionários
escutaram os tiros. De acordo com a
família, eles estavam em cri
se há, pelo
menos, um ano e, há poucos dias, ele
tinha se mudado para a casa da mãe.
A repórter também apresenta a
informação de que os dois e as filhas
comemoravam o aniverrio de Dayse
e que, desde a separação, ele passou
a monitorar a ex-
esposa pelas r
sociais
“Ciúme seria o motivo
desentendimentos, mesmo assim
Dayse ainda pensava em reatar o
casamento
finaliza a repórter, com o
discurso que mostra o
desentendimento a respeito do ciclo da
violência e reforça a ideia de que a
vítima também quer
ia estar com ele, já
que “pensava em reatar e, assim, a
culpa pela própria morte é associada à
mulher que quis voltar.
controlar a vida da ex
é algo reforçado na entrevista da mãe
de Dayse.
Às vezes, eu dizia a ele,
Aderlon
tu não
né?
‘Não, não vou fazer nada
estou indo para igreja estou
bem’
. Eu disse: é meu filho, não
faz besteira não, porque
tudo se resolve, se for da
vontade de Deus tudo vai se
resolver e vocês vão voltar
muito bem.
mudar.
Deixa esse ciúme
vou ver, vou ver.
Nesta cobertura, o apelo
emocional se dá em torno da
construção do que é uma família
entrelaçada com padrões religiosos, e
112
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
A repórter também apresenta a
informação de que os dois e as filhas
comemoravam o aniversário de Dayse
e que, desde a separação, ele passou
esposa pelas r
edes
“Ciúme seria o motivo
dos
desentendimentos, mesmo assim
,
Dayse ainda pensava em reatar o
finaliza a repórter, com o
discurso que mostra o
desentendimento a respeito do ciclo da
violência e reforça a ideia de que a
ia estar com ele,
que pensava em reatar” e, assim, a
culpa pela própria morte é associada à
mulher que quis voltar.
A forma de
controlar a vida da ex
-mulher também
é algo reforçado na entrevista da mãe
Às vezes, eu dizia a ele,
tu não
vai fazer besteira
Não, não vou fazer nada
,
estou indo para igreja estou
. Eu disse: é meu filho, não
faz besteira não, porque
isso
tudo se resolve, se for da
vontade de Deus tudo vai se
resolver e vocês vão voltar
basta você
Deixa esse ciúme
. É, eu
vou ver, vou ver.
Infelizmente....
Nesta cobertura, o apelo
emocional se dá em torno da
construção do que é uma família
entrelaçada com padrões religiosos, e
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
a igreja foi apontada como
instituição que garante a perpetuação
da
ordem do gênero como Bourdieu
(2002) aponta e, para o autor, à família
cabe o principal papel na reprodução
da dominação e da visão masculina:
é na família que se impõe a
experiência precoce da divio
sexual do trabalho e da
representação legítima dessa
d
ivisão, garantida pelo direito e
inscrita na linguagem. Quanto à
Igreja, marcada pelo
antifeminismo profundo de um
clero pronto a condenar todas as
faltas femininas à dencia,
sobretudo em matéria de trajes, e
a reproduzir, do alto de sua
sabedoria, uma v
isão pessimista
das mulheres e da feminilidade,
ela inculca (ou inculcava)
explicitamente uma moral
familiarista, completamente
dominada pelos valores
patriarcais e principalmente pelo
dogma da inata inferioridade das
mulheres. Ela age, além disso, de
mane
ira mais indireta, sobre as
estruturas históricas do
inconsciente (BOURDIEU,
p.104).
O irmão de Aderlon também
deixa clara a forma como este se
comportava, diz que ele era doente de
ciúmes que seguia os passos da ex
mulher, situação que demonstra se
conhecimento dos familiares. Ele
largava o celular, vinte quatro horas
ligado nela
..., se sabia que ela ia
caminhar,
ele estava colado
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
a igreja já foi apontada como
instituição que garante a perpetuação
ordem do gênero como Bourdieu
(2002) aponta e, para o autor, à família
cabe o principal papel na reprodução
da dominação e da visão masculina:
é na família que se impõe a
experiência precoce da divisão
sexual do trabalho e da
representação legítima dessa
ivio, garantida pelo direito e
inscrita na linguagem. Quanto à
Igreja, marcada pelo
antifeminismo profundo de um
clero pronto a condenar todas as
faltas femininas à decência,
sobretudo em matéria de trajes, e
a reproduzir, do alto de sua
isão pessimista
das mulheres e da feminilidade,
ela inculca (ou inculcava)
explicitamente uma moral
familiarista, completamente
dominada pelos valores
patriarcais e principalmente pelo
dogma da inata inferioridade das
mulheres. Ela age, além disso, de
ira mais indireta, sobre as
estruturas históricas do
inconsciente (BOURDIEU,
2002,
O irmão de Aderlon também
deixa clara a forma como este se
comportava, diz que ele era doente de
ciúmes que seguia os passos da ex
-
mulher, situação que demonstra se
r do
conhecimento dos familiares. “Ele
não
largava o celular, vinte quatro horas
..., se sabia que ela ia
ele estava colado
, se sabia
que ela ia para Igreja católica, ele ia lá.
Não ficava junto com ela, mas ficava lá
atrás olhando. En
tendeu? O irmão
reforça para a repórter que Aderlon era
“doente de ciúmes”.
Neste caso, as manifestações
da cultura de violência que envolvem
as relações de gênero o reforçadas,
pois como aponta Blay (2008, p.
Ciúmes, dominação e relações de
poder,
disfarçadas em amor,
pretendem justificar os
comportamentos fatais. Uma cultura
aprendida e reproduzida na sociedade
brasileira, em todas as classes sociais
em todos os grupos étnicos
geracionais em que pessoas do sexo
feminino são alvo constante.
Alega
ções como “doente de ciúmes’
são usadas com frequência pelos
autores dos crimes, pelas autoridades
policiais e, como afirmam Prado e
Saneamatsu
(2017, p.
reproduzidas com frequência pela
imprensa para justificar um feminidio
como um “ataque de ciú
a cabeça”, “estava fora de si, ficou
transtornado”, “teve um surto, ataque
de loucura”. Argumentos que também
são reproduzidos quando Samuka
retorna do estúdio, para comentar a
113
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
que ela ia para Igreja católica, ele ia lá.
Não ficava junto com ela, mas ficava lá
tendeu?” O irmão
reforça para a repórter que Aderlon era
Neste caso, as manifestações
da cultura de violência que envolvem
as relações de gênero são reforçadas,
pois como aponta Blay (2008, p.
213)
Ciúmes, dominação e relações de
disfarçadas em amor,
pretendem justificar os
comportamentos fatais. “Uma cultura
aprendida e reproduzida na sociedade
brasileira, em todas as classes sociais
em todos os grupos étnicos
geracionais em que pessoas do sexo
feminino o alvo constante”.
ções como doente de ciúmes’’
o usadas com frequência pelos
autores dos crimes, pelas autoridades
policiais e, como afirmam Prado e
(2017, p.
143),
reproduzidas com frequência pela
imprensa para justificar um feminicídio
como um ataque de ciú
mes”, “perdeu
a cabeça, estava fora de si”, “ficou
transtornado, teve um surto”, “ataque
de loucura. Argumentos que também
o reproduzidos quando Samuka
retorna do estúdio, para comentar a
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
matéria que finalizou com a fala do
irmão do acusado.
Ciúme
s, Doença e Rede Social
O apresentador aparece no
estúdio com um celular na mão,
mostra o aparelho para a câmera e
começa um discurso que aborda
temas como: comportamento de
homens e mulheres casados com a
rede social, com dicas de como a
mulher deve faze
r para conquistar um
homem e não perturbar o marido e dá
exemplo de outro crime que aconteceu
em motel.
Hoje, a rede social é um inferno
na vida de muita gente. Mas é um
inferno na vida de quem não sabe
utilizar. Muita gente não sabe
utilizar, tem mulher que fica no
WhatsApp, no Instagram,
procurando a vida fica naquela
doidera sem fim, como se fosse
protege
r o marido ou resolver
alguma coisa ...
conquistá-
lo cada dia mais
é no zap zap dele(sic).
espantar, chatear, o cara
pensar: nossa!
pera ai
humano precisa de sua liberdade,
não é libertinagem. O homem do
mesmo jeito, te
m cabra que fica
a mulher não pode fazer
academia, não pode,
no (sic) mercado, estudar
fica vinte quatro horas feito um
doido.Às vezes, a
mulher é tão
direita
, tão bacana que o cara
fica vendo
visagem
dormindo com outro. Teve um
cara que invadiu um motel
achou que a mulher dele estava
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
matéria que finalizou com a fala do
s, Doença e Rede Social
O apresentador aparece no
estúdio com um celular na mão,
mostra o aparelho para a câmera e
começa um discurso que aborda
temas como: comportamento de
homens e mulheres casados com a
rede social, com dicas de como a
r para conquistar um
homem e não perturbar o marido e
exemplo de outro crime que aconteceu
Hoje, a rede social é um inferno
na vida de muita gente. Mas é um
inferno na vida de quem não sabe
utilizar. Muita gente não sabe
utilizar, tem mulher que fica no
WhatsApp, no Instagram,
procurando a vida fica naquela
doidera sem fim, como se fosse
r o marido ou resolver
alguma coisa ...
Para você
lo cada dia mais
não
é no zap zap dele(sic).
Você vai
espantar, chatear, o cara
vai
pera ai
! Todo ser
humano precisa de sua liberdade,
não é libertinagem. O homem do
m cabra que fica
:
a mulher não pode fazer
academia, não pode,
não pode ir
no (sic) mercado, estudar
e ele
fica vinte quatro horas feito um
mulher é tão
, tão bacana que o cara
visagem
. ela
dormindo com outro. Teve um
cara que invadiu um motel
,
achou que a mulher dele estava
em um motel
carro.
Para o apresentador, a família
foi destruída pelo ciúme doentio, ele
repete essa ideia e dá exemplos de
como alguém de família pode s
comportar perante a sociedade.
Uma mulher postar no Instagram
dela que está fazendo atividade
física não é nada demais. Postar
que está na igreja, qual o
problema, rapaz? Aí o c
doente por causa disso?
Quando o cara é doente de
ciúmes
pode acon
coisas: ou ele
canganha
porque a
com raiva de tanto ciúme
diz, agora eu vô
infeliz! Fica desconfiando de mim,
olha infeliz das costas
ocas!
Você vai levar um par de
chifres e vai andar empinado
por
causa dos ciúmes
acontecer uma tragédia
no caso dele.
direita, toda família sabe
mulher, secretária de
educação, trabalhadeira,
inteligente, direita. Mas ele era
um doente.
Seguindo o racionio do
discurso patriarcal f
eito por meio de
uma narrativa sensacionalista, o
apresentador brinca com o assunto da
virilidade, que na visão machista é um
dos principais pontos afetados quando
se trata da infidelidade por parte da
mulher. Nessa ótica, a exaltação dos
valores masculin
os tem sua
114
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
em um motel
, tocou fogo no
Para o apresentador, a família
foi destruída pelo ciúme doentio, ele
repete essa ideia e exemplos de
como alguém de família pode s
e
comportar perante a sociedade.
Uma mulher postar no Instagram
dela que está fazendo atividade
física não é nada demais. Postar
que está na igreja, qual o
problema, rapaz? Aí o c
ara ficar
doente por causa disso?
Quando o cara é doente de
pode acon
tecer duas
coisas: ou ele
leva cangalha,
porque a
mulher fica
com raiva de tanto ciúme
. Ela
diz, agora eu
botá nesse
infeliz! Fica desconfiando de mim,
olha aí infeliz das costas
Você vai levar um par de
chifres e vai andar empinado
causa dos ciúmes
, ou pode
acontecer uma tragédia
que foi
no caso dele.
Uma mulher
direita, toda família sabe
... ela
mulher, secretária de
educação, trabalhadeira,
inteligente, direita. Mas ele era
Seguindo o raciocínio do
eito por meio de
uma narrativa sensacionalista, o
apresentador brinca com o assunto da
virilidade, que na visão machista é um
dos principais pontos afetados quando
se trata da infidelidade por parte da
mulher. Nessa ótica, “a exaltação dos
os tem sua
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
contrapartida tenebrosa nos medos e
nas angústias que a feminilidade
suscita: fracas e princípios de fraqueza
enquanto encarnações da
vulnerabilidade da honra
(BOURDIEU, 2002, p.
67). A proibição
em relação às roupas usadas, aos
lugares frequen
tados também é algo
presente no discurso e pode remeter
aos ideais patriarcais referentes à
submissão da mulher na sociedade e à
liberdade limitada a que estavam
renegadas, acobertada muitos anos
pela lei.
Como lembra Saffioti (2004, p.
140), até 1962, ao
casar, a mulher
perdia direitos civis, “era literal e
legalmente tutelada por seu njuge.
No momento que cita as
qualidades da vítima, em primeiro
lugar vem a avaliação de confirmação
de que era uma “mulher direita e
todas as afirmações desses
estereóti
pos são acompanhadas de
confirmações, como ao usar, logo em
seguida, “toda família sabe. Essa
legitimação representa as relações de
dominação e, assim, uma construção
simbólica de apoio, que validade ao
discurso.
O apresentador sai totalmente
do foco e
o contexto do crime é
ignorado, o enredo se volta para dicas
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
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(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
contrapartida tenebrosa nos medos e
nas angústias que a feminilidade
suscita: fracas e prinpios de fraqueza
enquanto encarnações da
vulnerabilidade da honra”
67). A proibição
em relação às roupas usadas, aos
tados também é algo
presente no discurso e pode remeter
aos ideais patriarcais referentes à
submissão da mulher na sociedade e à
liberdade limitada a que estavam
renegadas, acobertada muitos anos
Como lembra Saffioti (2004, p.
casar, a mulher
perdia direitos civis, era literal e
legalmente tutelada por seu cônjuge”.
No momento que cita as
qualidades da vítima, em primeiro
lugar vem a avaliação de confirmação
de que era uma mulher direita” e
todas as afirmações desses
pos o acompanhadas de
confirmações, como ao usar, logo em
seguida, toda família sabe”. Essa
legitimação representa as relações de
dominação e, assim, uma construção
simbólica de apoio, que dá validade ao
O apresentador sai totalmente
o contexto do crime é
ignorado, o enredo se volta para dicas
de “empoderamento masculino e com
esse tipo de persuasão é possível que,
mesmo por alguns instantes, o público
esqueça que o principal assunto
noticiado era o caso de feminidio.
Se você é
homem e tem essa
doença
eu vou pedir pra Deus
libertar. Se vo vive vendo o
celular da sua mulher é porque
você não confia nela, então não
adianta.
Você não se garante,
acha que qualquer cara é
melhor que você. O cara tem
que ser macho se garantir e
dizer
: rapaz eu sou cabra
macho para minha mulher, ela
não vai olhar para outro.
caras vão olhar para ela,
não vai olhar para eles.
que a cabra tem que confiar
(sic).
A virilidade masculina é
reforçada em um discurso voltado para
a autoestim
a dos homens, para que se
tornem pessoas mais seguras nos
relacionamentos afetivos. Samuka
volta a dar exemplos que dão ênfase
ao assunto de não mexer no celular do
companheiro (a). Enquanto isso, o
volume do som de suspense aumenta
e, no telão, a imagem p
mensagem que o acusado mandou
para o irmão e, assim, o apresentador
diz “aí ele se matou por causa do
ciúme doente que ataca homens e
mulheres porque não confiam em si
115
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
de empoderamento masculino” e com
esse tipo de persuasão é possível que,
mesmo por alguns instantes, o público
esqueça que o principal assunto
noticiado era o caso de feminicídio.
homem e tem essa
eu vou pedir pra Deus
libertar. Se você vive vendo o
celular da sua mulher é porque
vo não confia nela, então não
Você não se garante,
acha que qualquer cara é
melhor que você. O cara tem
que ser macho se garantir e
: rapaz eu sou cabra
macho para minha mulher, ela
não vai olhar para outro.
Os
caras vão olhar para ela,
mas ela
não vai olhar para eles.
É nisso
que a cabra tem que confiar
A virilidade masculina é
reforçada em um discurso voltado para
a dos homens, para que se
tornem pessoas mais seguras nos
relacionamentos afetivos. Samuka
volta a dar exemplos que o ênfase
ao assunto de não mexer no celular do
companheiro (a). Enquanto isso, o
volume do som de suspense aumenta
e, no telão, a imagem p
assa a ser da
mensagem que o acusado mandou
para o irmão e, assim, o apresentador
diz aí ele se matou por causa do
ciúme doente que ataca homens e
mulheres porque não confiam em si
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
mesmos e vivem acorrentados, sem
paz, a hora da
tragédia. Ciúme é isso
A
contece que a violência
doméstica o se explica por ciúme,
ou por descontrole, a violência contra
as mulheres es estruturada nas
diferentes posições que mulheres e
homens ocupam na sociedade. A
concepção criada para os papéis de
gênero faz com que muit
os homens se
sintam no direito de possuir e controlar
a parceira ou ex
(UNIVERSA, 2020, p. 27).
Afirmações como essas, o
replicadas pela maioria das pessoas,
palavras
de uso comum como aponta
Lage (2001), que operam no sistema
de trocas ideológicas com cargas
inevitáveis de implicações e
conotações. Então quando o discurso
associa “à doença”, “aos ciúmes” para
explicar o feminicídio, reproduz um
padrão social machista j
ustificando a
violência.
Neste contexto, o efeito de
sentido remete ao imaginário, à
imagem da pessoa perturbada pela
suspeita de infidelidade e, de forma
implícita, retorna à ideia do discurso do
crime em defesa da honra. Tese
usada, até recentemente, no
do júri a favor do homem, para
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
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(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
mesmos e vivem acorrentados, sem
tragédia. Ciúme é isso
!
contece que a violência
doméstica não se explica por ciúme,
ou por descontrole, a violência contra
as mulheres está estruturada nas
diferentes posições que mulheres e
homens ocupam na sociedade. “A
concepção criada para os papéis de
os homens se
sintam no direito de possuir e controlar
a parceira ou ex
-parceira”
Afirmações como essas, são
replicadas pela maioria das pessoas,
de uso comum como aponta
Lage (2001), que operam no sistema
de trocas ideológicas com cargas
inevitáveis de implicações e
conotações. Então quando o discurso
associa à doença, aos ciúmes” para
explicar o feminidio, reproduz um
ustificando a
Neste contexto, o efeito de
sentido remete ao imaginário, à
imagem da pessoa perturbada pela
suspeita de infidelidade e, de forma
implícita, retorna à ideia do discurso do
crime em defesa da honra. Tese
usada, até recentemente, no
s tribunais
do júri a favor do homem, para
justificar o assassinato de mulheres
(BLAY, 2008;
SAFFIOTI,
Apenas em 2021, o Supremo Tribunal
Federal proibiu
o uso da tese
defesa da honra”
contribui para a perpetuação da
violênc
ia contra a mulher. Apesar
desta proibição, o conceito está
presente em vários momentos desta
cobertura.
A repórter retorna em uma
transmissão ao vivo direto da casa de
velórios, com informações sobre a
cerimônia e trata o caso como uma
tragédia. O aprese
ntador
estúdio com a foto do casal no telão e
finaliza a cobertura, apelando para o
valor-
notícia da emoção, com ênfase
no sentimento de sofrimento. Dessa
forma, como explica Arbex (2002, p.
47), o telespectador se identifica com
um certo enredo,
assim como nas
telenovelas e se permite certas
emoções”. O apelo emocional ao
abordar a situação dos filhos que
perderam os pais, junto com a música
de suspense ao fundo é proposital
para prender atenção do
telespectador:
Dois filhos, ? Um papaizinho?
Do
is filhos como ficam
mãe e sem o pai? Como vai ficar
a cabeça?
116
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
justificar o assassinato de mulheres
SAFFIOTI,
2004).
Apenas em 2021, o Supremo Tribunal
o uso da tese
“legítima
entendendo que
contribui para a perpetuação da
ia contra a mulher. Apesar
desta proibição, o conceito está
presente em vários momentos desta
A repórter retorna em uma
transmissão ao vivo direto da casa de
velórios, com informações sobre a
cerimônia e trata o caso como uma
ntador
volta do
estúdio com a foto do casal no telão e
finaliza a cobertura, apelando para o
notícia da emoção, com ênfase
no sentimento de sofrimento. Dessa
forma, como explica Arbex (2002, p.
47), o telespectador se identifica com
assim como nas
telenovelas e se permite certas
emoções. O apelo emocional ao
abordar a situação dos filhos que
perderam os pais, junto com a música
de suspense ao fundo é proposital
para prender atenção do
Dois filhos, né? Um papaizinho?
is filhos como ficam
? Sem a
mãe e sem o pai? Como vai ficar
a cabeça?
Não é o
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
sofrimento da família,
que vão ter acompanhamento
psicológico
, é uma tragédia que
destrói com a vida de todos.
Que Deus proteja você, sua
mulher e seu marido.
tem esse problema, comece a se
libertar
, faça um tratamento
para isso. Tem tratamento e
medicamentos para doença
Se não confia deixe...
diabo começa a trabalhar para
tragédia.
Dessa forma, por rias vezes,
a morte da mulher por questão de
nero foi desviada e minimizada por
exemplos desconexos sobre redes
sociais, religião e situações de ciúmes.
Com afirmação de cura para o que é
tratado na cobertura sobre o crime,
como uma infeliz consequência de
uma doença.
Considerações finais
Dados do Monitor da Violência
apontam que o Brasil tem, em média,
um caso de feminicídio registrado a
cada sete horas.
No estado da
Paraíba, todos os meses de 2019
tiveram casos de feminidios. De
acordo com os estudos consultados,
foi o ano com mais regi
stros deste tipo
de crime no estado desde a criação da
Lei 13.104/2015, sobre feminidio no
país. Fator que chama atenção para
urgência de se abordar o assunto na
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
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(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
sofrimento da família,
dos filhos
que vão ter acompanhamento
, é uma tragédia que
destrói com a vida de todos.
Que Deus proteja você, sua
mulher e seu marido.
Se você
tem esse problema, comece a se
, faça um tratamento
para isso. Tem tratamento e
medicamentos para doença
...
Se não confia deixe...
Que o
diabo começa a trabalhar para
Dessa forma, por várias vezes,
a morte da mulher por questão de
nero foi desviada e minimizada por
exemplos desconexos sobre redes
sociais, religião e situações de ciúmes.
Com afirmação de cura para o que é
tratado na cobertura sobre o crime,
como uma infeliz consequência de
Dados do Monitor da Violência
apontam que o Brasil tem, em média,
um caso de feminidio registrado a
No estado da
Paraíba, todos os meses de 2019
tiveram casos de feminicídios. De
acordo com os estudos consultados,
stros deste tipo
de crime no estado desde a criação da
Lei 13.104/2015, sobre feminicídio no
país. Fator que chama atenção para
urgência de se abordar o assunto na
mídia, mas ao noticiar a morte de
Dayse, dados e estatísticas acerca do
tema foram totalment
programa Correio Verdade.
Informações sobre mecanismos
de denúncia e até mesmo expressões
como “feminicídio” e violência contra
mulher” sequer foram citadas em
quinze minutos de cobertura sobre
tema. Pelo contrário, a forma como a
notícia foi transmitida aos
telespectadores reproduz um discurso
machista e moralista.
A emissora pertence ao
empresário e bispo evangélico Edir
Macedo, vale ressaltar, que ele é um
grande apoiador do então President
Jair Bolsonaro, que
flexibilizou decretos que facilitaram a
posse e o controle de armas no país.
Fator preocupante, pois, como já
abordado neste trabalho, a arma de
fogo é o principal instrumento usado
para tirar a vida de mulheres no Brasil.
Além disso, o levantamento feito
pelo Instituto de Estudos
Socioeconômicos -
aponta que durante a gestão, o
governo Bolsonaro propôs, no
Orçamento da União, 94% menos de
recursos para políticas espeficas de
117
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
mídia, mas ao noticiar a morte de
Dayse, dados e estatísticas acerca do
tema foram totalment
e ignorados pelo
programa Correio Verdade.
Informações sobre mecanismos
de denúncia e até mesmo expressões
como feminidio e “violência contra
mulher sequer foram citadas em
quinze minutos de cobertura sobre
o
tema. Pelo contrário, a forma como a
notícia foi transmitida aos
telespectadores reproduz um discurso
machista e moralista.
A emissora pertence ao
emprerio e bispo evangélico Edir
Macedo, vale ressaltar, que ele é um
grande apoiador do então President
e
Jair Bolsonaro, que
desde 2019
flexibilizou decretos que facilitaram a
posse e o controle de armas no país.
Fator preocupante, pois, como
abordado neste trabalho, a arma de
fogo é o principal instrumento usado
para tirar a vida de mulheres no Brasil.
Além disso, o levantamento feito
pelo Instituto de Estudos
Inesc (2022)
aponta que durante a gestão, o
governo Bolsonaro propôs, no
Orçamento da União, 94% menos de
recursos para políticas específicas de
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
combate à violência contra a mulh
do que nos quatro anos anteriores.
Foi possível perceber que a
ideologia de cunho religioso defendida
pelo dono da emissora, também faz
parte da linha editorial do programa
que foca a narrativa na história da
tragédia familiar, com elementos de
apelo em
ocional e dramático.
Aspectos como o fato da vítima ser
descrita várias vezes como mulher
direita’’
retoma um discurso que impõe
valores morais de como a mulher
precisa se comportar para ser aceita e
respeitada na sociedade,
com as ordens patriar
cais de fidelidade
e de obediência. Assim acontece com
a expressão “Mulher honesta,
presente no código Penal Brasileiro de
1940, uma expressão do poder
patriarcal, usada para julgar a conduta
moral e sexual das mulheres vítimas
de crimes sexuais, de viol
doméstica, de feminicídio entre outros
e fazer a distinção entre as que
mereciam sofrer a violência e as que
não mereciam a partir do que se
considera obediência aos padrões de
bons costumes.
Em torno desses significados e,
devido a essas crenças, de
implícita, o discurso da cobertura,
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
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(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
combate à violência contra a mulh
er
do que nos quatro anos anteriores.
Foi posvel perceber que a
ideologia de cunho religioso defendida
pelo dono da emissora, também faz
parte da linha editorial do programa
que foca a narrativa na história da
tragédia familiar, com elementos de
ocional e dramático.
Aspectos como o fato da vítima ser
descrita várias vezes como “mulher
retoma um discurso que impõe
valores morais de como a mulher
precisa se comportar para ser aceita e
de acordo
cais de fidelidade
e de obediência. Assim acontece com
a expressão Mulher honesta’’,
presente no código Penal Brasileiro de
1940, uma expreso do poder
patriarcal, usada para julgar a conduta
moral e sexual das mulheres vítimas
de crimes sexuais, de viol
ência
doméstica, de feminidio entre outros
e fazer a distinção entre as que
mereciam sofrer a violência e as que
não mereciam a partir do que se
considera obediência aos padrões de
Em torno desses significados e,
devido a essas crenças, de
forma
implícita, o discurso da cobertura,
seguindo a mesma lógica poderia
indicar a aceitabilidade do feminidio,
caso a vítima fosse descrita com
características contrias a de mulher
honesta, direita”,o que evidencia que a
presença da tese da defesa
permanece viva no imaginário social e
na cobertura do feminidio pelo
programa analisado.
Ao falar de Aderlon,
mostrou cuidado ao associá
autor do crime. O privilégio masculino
é preservado, que o discurso é
usado para asso
ciar o comportamento
do feminici
da a um momento de
“descontrole”, uma doença,
isentando-
o de responsabilidade, já
que é visto como doente.
validar essa narrativa, o apresentador
recomenda até mesmo tratamento e
remédio. Por várias vezes as fotos
m
ostradas e a narrativa descrevem os
dois como um casal, como se ainda
fossem casados, mas Dayse já tinha
rompido a relação e dessa forma
também é violentada por meio do
discurso, que ignora a decisão da
mulher e enaltece a vontade do
homem de permanecer co
casamento.
Como aponta Tiburi (2019), o
sistema de violência contra as
118
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- ISSN 2237-1508
Violência contra as Mulheres nas
narrativas midiáticas")
seguindo a mesma lógica poderia
indicar a aceitabilidade do feminicídio,
caso a vítima fosse descrita com
características contrárias a de “mulher
honesta, direita,o que evidencia que a
presença da tese da defesa
da honra
permanece viva no imaginário social e
na cobertura do feminicídio pelo
Ao falar de Aderlon,
a cobertura
mostrou cuidado ao associá
-lo como
autor do crime. O privilégio masculino
é preservado, já que o discurso é
ciar o comportamento
da a um momento de
descontrole, uma “doença”,
o de responsabilidade,
que é visto como “doente”.
Para
validar essa narrativa, o apresentador
recomenda até mesmo tratamento e
remédio. Por várias vezes as fotos
ostradas e a narrativa descrevem os
dois como um casal, como se ainda
fossem casados, mas Dayse tinha
rompido a relação e dessa forma
também é violentada por meio do
discurso, que ignora a decisão da
mulher e enaltece a vontade do
homem de permanecer co
m o
Como aponta Tiburi (2019), o
sistema de violência contra as
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
da Paraíba. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 24, p. 99-
122, mar. 2023.
mulheres funciona como uma
repetição de uma lógica reproduzida e
legitimada nas versões veiculadas pela
mídia, que como abordado neste
trabalho, não costumam apresentar
informaçõ
es sobre a dimensão do
contexto que envolve o feminidio.
Dessa forma, fica evidente a
necessidade de refletir sobre a
importância de contribuir para uma
cobertura midiática que o apresente
um discurso que sustente e legitime as
negligências sobre as vi
praticadas contra a mulher. Que
ofereça informação sobre denúncias,
busque apresentar uma abordagem
livre de estereótipos, julgamentos e
fortaleça a
conscientização sobre o
assunto contribuindo para reduzir os
casos de feminicídio.
Portanto, foi
possível observar
que a notícia analisada o colaborou
para este objetivo e o debate público
proporcionado pelo discurso do
Correio Verdade sobre o crime de
feminicídio reforça a imagem da
mulher como inferior perante o
homem, com uma narrativa simbólica
de dominação e subordinação. Além
disso, promove
uma cobertura
machista, que naturaliza a morte das
mulheres, t
ratando o feminidio fora
RABAY, Glória; ARBEX, Felícia. Feminicídio em pauta: análise de discurso
sobre um crime de gênero que ganhou destaque nos programas policiais
Americana de Estudos em
122, mar. 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Violência contra as Mulheres nas
mulheres funciona como uma
repetição de uma lógica reproduzida e
legitimada nas veres veiculadas pela
mídia, que como já abordado neste
trabalho, não costumam apresentar
es sobre a dimensão do
contexto que envolve o feminicídio.
Dessa forma, fica evidente a
necessidade de refletir sobre a
importância de contribuir para uma
cobertura midiática que não apresente
um discurso que sustente e legitime as
negligências sobre as vi
olências
praticadas contra a mulher. Que
ofereça informação sobre denúncias,
busque apresentar uma abordagem
livre de estereótipos, julgamentos e
conscientização sobre o
assunto contribuindo para reduzir os
posvel observar
que a notícia analisada não colaborou
para este objetivo e o debate público
proporcionado pelo discurso do
Correio Verdade sobre o crime de
feminidio reforça a imagem da
mulher como inferior perante o
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de dominação e subordinação. Além
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