SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
Pensarsentirfazer
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v13i25.
Resumo:
O texto compartilha a
hegemônicoem política e gestão cultural, projeto de pesquisa
processos de gestão cultural de instituições e coletivos da sociedade civil que desenvolvam
voltados para a ampliação dos direitos culturais, sociais, políticos e econômicos de grupos sociais
historicamente subalternizados, gerando impacto nos territórios os quais estão vinculados. Na
Introdução, discute-
se como a Ciência da Administraçã
mercantil inviabilizando uma série de conhecimentos e experiências de gestão vinculadas a uma
racionalidade o instrumental e a processos mais coletivos de criar e de produzir. Em seguida,
propõe que as experiênc
ias de
podem oferecer referências importantes para a construção de uma contra
Apresentando o contexto de realização do LabGestão
UFRB
e as previstas no seu primeiro ciclo (2022
desafios da pesquisa-
ação participante no campo cult
conhecimentos para o campo da administração a partir de experiências que os grupos culturais,
coletivos e instituições geram nos seus diferentes contextos, considerando os protagonistas dessas
experiências como
sujeitos da produção desse conhecimento.
Palavras-chave:
gestão cultural; pesquisa
Pensarsentirfazer
contracolonial en la gestión cultural
Resumen: El texto comparte
la experiencia en curso del "LabGestão
hegemónico em política e gestão cultural",
centra en los
procesos de gestión cultural de instituciones y colectivos de
desarrollan
proyectos dirigidos a
económicos de grupos sociales
a ellos vinculados. En la
Introducción se discute mo
conf
undido con una visión empresarial mercantil, haciendo
experiencias de gestión vinculadas a una racionalidad no instrumental y a procesos de creación y
producción más colectivos. Propone
1 Luciano Simões de Souza.
Doutor em Cultura e Sociedade
de Culturas, Linguagem e Tecnologias Aplicadas (CECULT)/Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia (UFRB), Brasil. E-
mail: lucianosimoes@ufrb.edu.br
2 Laura Bezerra.
Doutora em Cultura e Socie
Culturas, Linguagem e Tecnologias Aplicadas (CECULT)/Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia (UFRB), Brasil. E-mail:
laura.bezerra@ufrb.edu.br
Recebido em 27/02/2023,
aceito para publicação em
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
Pensarsentirfazer
contracolonial em gestão cultural
Luciano Simões de Souza
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v13i25.
57570
O texto compartilha a
experiência em curso do LabGestão
pensarsentirfazer
hegemônicoem política e gestão cultural”, projeto de pesquisa
-
ação participante que se volta para os
processos de gestão cultural de instituições e coletivos da sociedade civil que desenvolvam
voltados para a ampliação dos direitos culturais, sociais, políticos e econômicos de grupos sociais
historicamente subalternizados, gerando impacto nos territórios os quais estão vinculados. Na
se como a Ciência da Administraçã
o se confundiu com uma visão empreendedora
mercantil inviabilizando uma série de conhecimentos e experiências de geso vinculadas a uma
racionalidade não instrumental e a processos mais coletivos de criar e de produzir. Em seguida,
ias de
gestão cultural vivenciadas especialmente por grupos populares
podem oferecer referências importantes para a construção de uma contra
-
história da administração.
Apresentando o contexto de realização do LabGestão
o Território de Identidade do Recô
compartilha os fundamentos e os primeiros passos do projeto, bem como as ações em curso
e as previstas no seu primeiro ciclo (2022
-
2024). Concluindo, o texto apresenta reflexões sobre os
ação participante no campo cult
ural, defendendo a importância de se produzir
conhecimentos para o campo da administração a partir de experiências que os grupos culturais,
coletivos e instituições geram nos seus diferentes contextos, considerando os protagonistas dessas
sujeitos da produção desse conhecimento.
gestão cultural; pesquisa
-ação; colonialidade; gestão contra-
colonial.
contracolonial en la gestión cultural
la experiencia en curso del "LabGestão
pensarsentirfazer
hegemónico em política e gestão cultural",
un proyecto de investigación-
acción participante que se
procesos de gestión cultural de instituciones y colectivos de
la
proyectos dirigidos a
la ampliación de derechos
culturales, sociales, políticos y
históricamente subalternizados, generando impacto
Introducción se discute cómo
la Ciencia de la
Administración se ha
undido con una visión empresarial mercantil, haciendo
inviable una serie de conocimientos y
experiencias de gestión vinculadas a una racionalidad no instrumental y a procesos de creación y
producción más colectivos. Propone
entonces que las experiencias de
gestión cultural vividas
Doutor em Cultura e Sociedade
pela UFBA. Prof
essor
de Culturas, Linguagem e Tecnologias Aplicadas (CECULT)/Universidade Federal do Recôncavo da
mail: lucianosimoes@ufrb.edu.br
- https://orcid.org/0000
-
Doutora em Cultura e Socie
dade pela UFBA. Professora
adjunta do Centro de
Culturas, Linguagem e Tecnologias Aplicadas (CECULT)/Universidade Federal do Recôncavo da
laura.bezerra@ufrb.edu.br
- https://orcid.org/0000-
0003
aceito para publicação em
27/06/20
23 e disponibilizado online em
01/09/2023.
107
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
contracolonial em gestão cultural
Luciano Simões de Souza
1
Laura Bezerra2
pensarsentirfazer
contra-
ação participante que se volta para os
processos de gestão cultural de instituições e coletivos da sociedade civil que desenvolvam
projetos
voltados para a ampliação dos direitos culturais, sociais, políticos e econômicos de grupos sociais
historicamente subalternizados, gerando impacto nos territórios os quais estão vinculados. Na
o se confundiu com uma visão empreendedora
mercantil inviabilizando uma série de conhecimentos e experiências de gestão vinculadas a uma
racionalidade não instrumental e a processos mais coletivos de criar e de produzir. Em seguida,
gestão cultural vivenciadas especialmente por grupos populares
história da administração.
o Território de Identidade do Recô
ncavo e a
compartilha os fundamentos e os primeiros passos do projeto, bem como as ações em curso
2024). Concluindo, o texto apresenta reflexões sobre os
ural, defendendo a importância de se produzir
conhecimentos para o campo da administração a partir de experiências que os grupos culturais,
coletivos e instituições geram nos seus diferentes contextos, considerando os protagonistas dessas
colonial.
pensarsentirfazer
contra-
acción participante que se
la
sociedad civil que
culturales, sociales, políticos y
históricamente subalternizados, generando impacto
en los territorios
Administración se ha
inviable una serie de conocimientos y
experiencias de gestión vinculadas a una racionalidad no instrumental y a procesos de creación y
gestión cultural vividas
essor
adjunto do Centro
de Culturas, Linguagem e Tecnologias Aplicadas (CECULT)/Universidade Federal do Recôncavo da
-
0002-9415-892X
adjunta do Centro de
Culturas, Linguagem e Tecnologias Aplicadas (CECULT)/Universidade Federal do Recôncavo da
0003
-0365-6796
23 e disponibilizado online em
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
especialmente por grupos populares pueden
una contrahistoria de la
administración. Introduciendo
Identidad del Recôncavo y la
UFRB
así como las acciones
en curso y las previstas para su primer ciclo (2022
texto presenta reflexiones sobre los
cultural, defendiendo la
importancia de producir
las experiencias que los grupos, colectivos e instituciones
contextos, considerando a los protagonistas de es
conocimiento.
Palabras clave:
gestión cultural; investigación
Counter-colonial
pensarsentirfazer
Abstract: The text shares
the
hegemônico em política e gestão cultural", a participant
processes of cultural management of
aimed at the expansion
of cultural, social, political
social groups, generating
impact in the
discuss how the Science of
Administration
vision, making a series of
knowledge
rationality and
to more collective processes of
the experiences
of cultural management lived
references for the construction
LabGestão the Territory of
Identity
the first steps of the
project, as well as the
(2022-
2024). In conclusion, the
r
esearch in the cultural field, defending
administration based on
experiences
different contexts, considering
production.
Keywords:
cultural management; action
Pensarsentirfazer
Introdução
Desde a segunda metade do
século XX, o discurso do
desenvolvimento movido por
instituições educacionais, culturais,
políticas e de pesquisa dos Estados
Unidos e da Europa ajudou a construir
imaginários legitimadores de soluções
políticas, econômicas e soci
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
especialmente por grupos populares pueden
ofrecer referencias importantes para
administración. Introduciendo
el contexto del
LabGestão
UFRB
- comparte los fundamentos y los
primeros
en curso y las previstas para su primer ciclo (2022
-
2024).
texto presenta reflexiones sobre los
desafíos de la investigación-
acción participante
importancia de producir
conocimiento para el campo de
las experiencias que los grupos, colectivos e instituciones
culturales
generan
contextos, considerando a los protagonistas de es
tas experiencias como sujetos de
gestión cultural; investigación
-acción; colonialidad; gestión
contracolonial.
pensarsentirfazer
in cultural management
the
ongoing experience of the "LabGestão
pensarsentirfazer
hegemônico em política e gestão cultural", a participant
-action research Project
which
processes of cultural management of
institutions and collectives of civil society
of cultural, social, political
and economic rights of
historically
impact in the
territories to which
they are linked. In the
Administration
has become confused
with a mercantile
knowledge
and management experiences linked
to a non
to more collective processes of
creation and production
unviable. It then
of cultural management lived
especially by popular groups
of a counter-history of
administration. Introducing
Identity
of the Recôncavo and the UFRB -
it shares
project, as well as the
actions underway and those
planned for its first
2024). In conclusion, the
text presents reflections on the challenges
esearch in the cultural field, defending
the importance of producing
knowledge for the
experiences
that cultural groups, collectives and
institutions
the protagonists of these
experiences as subjects
cultural management; action
research; coloniality; counter-
colonial cultural management.
Pensarsentirfazer
contracolonial em gestão cultural
Desde a segunda metade do
culo XX, o discurso do
desenvolvimento movido por
instituições educacionais, culturais,
políticas e de pesquisa dos Estados
Unidos e da Europa ajudou a construir
imaginários legitimadores de soluções
políticas, econômicas e soci
ais dos
países do “Primeiro Mundo como
único modelo viável aplicável para
todos os países do mundo
(ESCOBAR, 2007, p. 23). Este
discurso restringiu a noção de
desenvolvimento à de crescimento
econômico e exaltou os valores
modernos. Também criou categoria
interpretativas sobre os países
108
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
ofrecer referencias importantes para
la construcción de
LabGestão
el Territorio de
primeros
pasos del proyecto,
2024).
En conclusión, el
acción participante
en el campo
conocimiento para el campo de
la gestión a partir de
generan
en sus diferentes
tas experiencias como sujetos de
la producción de
contracolonial.
pensarsentirfazer
contra-
which
focuses on the
that develop projects
historically
subalternized
they are linked. In the
Introduction, we
with a mercantile
entrepreneurial
to a non
-instrumental
unviable. It then
proposes that
may offer important
administration. Introducing
the context of
it shares
the foundations and
planned for its first
cycle
of participant-action
knowledge for the
field of
institutions
generate in their
experiences as subjects
of knowledge
colonial cultural management.
contracolonial em gestão cultural
países do Primeiro Mundo” como
único modelo viável aplicável para
todos os países do mundo
(ESCOBAR, 2007, p. 23). Este
discurso restringiu a noção de
desenvolvimento à de crescimento
econômico e exaltou os valores
modernos. Também criou categoria
s
interpretativas sobre os países
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
africanos e latino-
americanos que
passaram a ser classificados como
subdesenvolvidos e suas populações
percebidas como pobres,
necessitadas, carentes,
universalizando e homogeneizando as
culturas do “Terceiro Mundo
(ESCOBAR, 2007, p. 100).
O modelo de desenvolvimento
do século XX, baseado na
industrialização, na exportação e na
urbanização crescente, não foi
concebido como um processo cultural,
mas como um sistema de intervenções
técnicas aplicáveis de forma universal
com
o objetivo de levar alguns bens
“indispensáveis” às populações alvo.
As economias africanas e latino
americanas foram organizadas de
cima para baixo, a partir de um modelo
tecnocrático, com visões que
ignoravam as realidades locais. As
administrações molda
das de acordo
com os modelos ocidentais do norte do
mundo não reconheceram a
importância das culturas autóctones no
processo de desenvolvimento. Os
saberes e a participação dos povos
locais em processos decisórios que
afetavam suas vidas foram
sistematicam
ente ignorados.
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
americanos que
passaram a ser classificados como
subdesenvolvidos e suas populações
percebidas como pobres,
necessitadas, carentes,
universalizando e homogeneizando as
culturas do Terceiro Mundo”
O modelo de desenvolvimento
do século XX, baseado na
industrialização, na exportação e na
urbanização crescente, não foi
concebido como um processo cultural,
mas como um sistema de intervenções
técnicas aplicáveis de forma universal
o objetivo de levar alguns bens
indispensáveis” às populações alvo.
As economias africanas e latino
-
americanas foram organizadas de
cima para baixo, a partir de um modelo
tecnocrático, com visões que
ignoravam as realidades locais. As
das de acordo
com os modelos ocidentais do norte do
mundo não reconheceram a
importância das culturas autóctones no
processo de desenvolvimento. Os
saberes e a participação dos povos
locais em processos decisórios que
afetavam suas vidas foram
ente ignorados.
Nesse contexto, a
administração se confundiu com a
visão empreendedora mercantil
difundida no mundo moderno,
fundamentada na busca pela
maximização produtiva e dos lucros e
na ausência de preocupação com o
caráter ideológico e epistemológic
gestão. Nesse modelo de gestão,
assumido como científico, neutro e
técnico, prevalece a racionalidade
instrumental baseada no lculo, na
consecução de objetivos técnicos ou
de fins vinculados a interesses
econômicos ou de poder social,
sempre com o i
ntuito da maximização
dos recursos disponíveis. As relações
sociais, as formas de pensar, as
visões de futuro ficaram marcadas
indelevelmente por este projeto
uniformizante de desenvolvimento.
Segundo o
Financeiro
, “Gestão é uma área das
ciência
s humanas que se dedica à
administração de empresas
outras instituições visando fazer com
que alcancem os seus objetivos de
forma efetiva, eficaz e eficiente
Fernanda Neves, autora do verbete
Gestão no
Dicionário de Políticas
Públicas
, sublinha que
perspectiva surgiu
109
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Nesse contexto, a
administração se confundiu com a
vio empreendedora mercantil
difundida no mundo moderno,
fundamentada na busca pela
maximização produtiva e dos lucros e
na auncia de preocupação com o
caráter ideológico e epistemológic
o da
gestão. Nesse modelo de gestão,
assumido como científico, neutro e
técnico, prevalece a racionalidade
instrumental baseada no cálculo, na
consecução de objetivos técnicos ou
de fins vinculados a interesses
econômicos ou de poder social,
ntuito da maximização
dos recursos disponíveis. As relações
sociais, as formas de pensar, as
vies de futuro ficaram marcadas
indelevelmente por este projeto
uniformizante de desenvolvimento.
Segundo o
Dicionário
, Gestão é uma área das
s humanas que se dedica à
administração de empresas
e de
outras instituições visando fazer com
que alcancem os seus objetivos de
forma efetiva, eficaz e eficiente
.”
Fernanda Neves, autora do verbete
Dicionário de Políticas
, sublinha que
essa
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
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em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
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quando, após a revolução
industrial, os profissionais
decidiram buscar solução para
problemas que não existiam
antes, usando rios métodos
de ciências para administrar os
negócios da época, o que deu
início à ciência da
administr
ação, pois é
necessário o conhecimento e a
aplicação de modelos e
técnicas administrativas.
(CASTRO, GONTIJO,
AMABILE, 2012, p.
Apesar da primeira definição
citada falar em “administração de
empresas e de
outras instituições
ensinamentos sobre
gestão mantêm
uma forte conexão com a esfera
empresarial, o que determina sua
perspectiva, seus referenciais e seus
direcionamentos, muitas vezes
restritos “ao lado prescritivo da gestão
corrente que permanece norteada pela
busca de lucratividade ou da ra
custo/benefício”
(THIOLLENT, 2014,
p. 3). Essa perspectiva costuma refletir
(e consolidar) o “ideário gerencialista
do neoliberalismo” (idem, p. 6), com a
naturalização de uma cultura
organizacional reduzida aos prinpios
e a valores vindos da inicia
orientada pela racionalidade
instrumental e pela competitividade.
Desde a década de 1990 o
gerencialismo vem ocupando espaço
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
quando, após a revolução
industrial, os profissionais
decidiram buscar solução para
problemas que não existiam
antes, usando vários métodos
de ciências para administrar os
negócios da época, o que deu
início à ciência da
ação, pois é
necessário o conhecimento e a
aplicação de modelos e
técnicas administrativas.
(CASTRO, GONTIJO,
AMABILE, 2012, p.
222).
Apesar da primeira definição
citada falar em administração de
outras instituições
”, os
gestão mantêm
uma forte conexão com a esfera
empresarial, o que determina sua
perspectiva, seus referenciais e seus
direcionamentos, muitas vezes
restritos ao lado prescritivo da gestão
corrente que permanece norteada pela
busca de lucratividade ou da ra
zão
(THIOLLENT, 2014,
p. 3). Essa perspectiva costuma refletir
(e consolidar) o ideário gerencialista
do neoliberalismo (idem, p. 6), com a
naturalização de uma cultura
organizacional reduzida aos princípios
e a valores vindos da inicia
tiva privada,
orientada pela racionalidade
instrumental e pela competitividade.
Desde a década de 1990 o
gerencialismo vem ocupando espaço
também na administração pública,
com ênfase no trabalho de
“especialistas” e nas competências
ditas “técnicas”.
Marilena Chauí (1997,
p. 147) refere-
se à pretensa
universalidade do discurso
competente, apontando para sua
perda de “laços com o lugar e o tempo
de origem” e sublinhando que ele, a
um tempo, legitima e oculta o
exercício de poder que constitui a
burocracia:
tem-
se a aparência de que
ninguém exerce poder por que
este emana da racionalidade
imanente do mundo
organizado ou, se preferirmos,
da competência dos cargos e
funções que, por acaso, estão
ocupados por homens
determinados. (CHAUÍ, 1997,
p. 147).
A
inda que atualmente haja
inúmeras evidências do caráter
insustentável do nosso modelo
econômico e de desenvolvimento, seja
pelos seus impactos climáticos e na
biodiversidade, seja em função das
desigualdades que provocam, as
técnicas de gestão concebidas p
mundo mercantil foram espalhadas
para o espaço público e para as
administrações governamentais,
assumindo nos anos 1970 a forma e o
nome da “nova administração pública
110
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
também na administração pública,
com ênfase no trabalho de
especialistas” e nas competências
Marilena Chauí (1997,
se à pretensa
universalidade do discurso
competente, apontando para sua
perda de laços com o lugar e o tempo
de origem e sublinhando que ele, a
um tempo, legitima e oculta o
exercio de poder que constitui a
se a aparência de que
ninguém exerce poder por que
este emana da racionalidade
imanente do mundo
organizado ou, se preferirmos,
da competência dos cargos e
funções que, por acaso, estão
ocupados por homens
determinados. (CHAUÍ, 1997,
inda que atualmente haja
inúmeras evidências do caráter
insustentável do nosso modelo
econômico e de desenvolvimento, seja
pelos seus impactos climáticos e na
biodiversidade, seja em função das
desigualdades que provocam, as
técnicas de gestão concebidas p
ara o
mundo mercantil foram espalhadas
para o espaço público e para as
administrações governamentais,
assumindo nos anos 1970 a forma e o
nome da nova administração pública”
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
(
new public management
permanece ainda hoje como referência
dominante, “me
smo que as aporias de
tais soluções tenham sido
demonstradas e que novos modelos
tenham agora a necessidade de serem
formulados” (FRANÇA FILHO
EYNAUD, 2020, p.16)
Em relação às organizações da
sociedade civil nos seus mais diversos
campos de atuação (dire
itos humanos,
infância e adolescência, cultura,
educação, entre outros), a justificativa
da necessidade de maior
profissionalização dessas
organizações e de seus projetos
favoreceram a adoção da
racionalidade instrumental e de
técnicas características da e
privada mercantil, gerando um
tensionamento entre a defesa de uma
identidade própria para tais
organizações, de um lado, e a
incorporação da lógica empresarial, do
outro (FRANÇA FILHO
;
2020, p.16).
A Ciência da Administração tem
seu mito de o
rigem na obra
of Scientific Management
, de Frederick
Taylor, publicada em 1911 e, em que
pese os inúmeros avanços nos
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
new public management
). Esta
permanece ainda hoje como referência
smo que as aporias de
tais soluções tenham sido
demonstradas e que novos modelos
tenham agora a necessidade de serem
formulados” (FRANÇA FILHO
;
Em relação às organizações da
sociedade civil nos seus mais diversos
itos humanos,
infância e adolescência, cultura,
educação, entre outros), a justificativa
da necessidade de maior
profissionalização dessas
organizações e de seus projetos
favoreceram a adoção da
racionalidade instrumental e de
técnicas características da e
mpresa
privada mercantil, gerando um
tensionamento entre a defesa de uma
identidade própria para tais
organizações, de um lado, e a
incorporação da lógica empresarial, do
;
EYNAUD
A Ciência da Administração tem
rigem na obra
Principles
, de Frederick
Taylor, publicada em 1911 e, em que
pese os inúmeros avanços nos
estudos organizacionais, ainda
prevalece a literatura anglo
Pesquisadores anglo
(CUMMINGS, BRIDGMAN,
HASSARD,
2017)
realizaram uma
pesquisa muito interessante a
partir das revistas mais
conhecidas e mais lidas em
matéria de história das
ciências da organização e da
gestão. Eles coletaram perto
de 2 mil artigos publicados ao
longo dos 60 últimos anos
nes
sas revistas. Em seguida,
eles codificaram esses artigos
em função da localização
geográfica e do seu terreno de
observação. Os resultados o
eloquentes. Em todos esses
anos, a produção científica
dessas revistas de primeiro
nível se focalizou quase que
e
ssencialmente sobre casos
ingleses e norte
Europa continental, a Ásia, a
África e a América do Sul o
praticamente ausentes nos
trabalhos publicados.
(FRANÇA FILHO
2020, p. 24).
Ainda sobre os estudos de
Cummings, Bridgman, Hassard,
Rowlinson (2017), França Filho e
Eynaud (2020) destacam que Os
historiadores da gestão começam sua
reflexão no início do Século XIX, o
que desconsidera as questões
organizacionais nas civilizações pré
modernas. Esses reducionismos têm
um forte impacto n
quadros técnicos e gestores de
111
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
estudos organizacionais, ainda
prevalece a literatura anglo
-saxônica:
Pesquisadores anglo
-saxões
(CUMMINGS, BRIDGMAN,
HASSARD,
ROWLINSON,
realizaram uma
pesquisa muito interessante a
partir das revistas mais
conhecidas e mais lidas em
matéria de história das
ciências da organização e da
gestão. Eles coletaram perto
de 2 mil artigos publicados ao
longo dos 60 últimos anos
sas revistas. Em seguida,
eles codificaram esses artigos
em função da localização
geográfica e do seu terreno de
observação. Os resultados são
eloquentes. Em todos esses
anos, a produção científica
dessas revistas de primeiro
nível se focalizou quase que
ssencialmente sobre casos
ingleses e norte
-americanos. A
Europa continental, a Ásia, a
África e a América do Sul são
praticamente ausentes nos
trabalhos publicados.
(FRANÇA FILHO
; EYNAUD
2020, p. 24).
Ainda sobre os estudos de
Cummings, Bridgman, Hassard,
Rowlinson (2017), França Filho e
Eynaud (2020) destacam que “Os
historiadores da gestão começam sua
reflexão no início do Século XIX”, o
que desconsidera as questões
organizacionais nas civilizações pré
-
modernas. Esses reducionismos têm
um forte impacto n
a formação dos
quadros técnicos e gestores de
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
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organização de todo o mundo, uma
vez que nas universidades e demais
instituições de formação adotam uma
histórica única da teoria das
organizações, apresentada
cronologicamente nos manuais.
Essa concentração in
um enorme conjunto de experiências e
reduz o conhecimento sobre os
estudos organizacionais a um recorte
geográfico e cultural muito estreito,
afetando nossa capacidade de pensar
novas possibilidades e responder de
forma mais inventiva aos desafi
contemporâneos. A teoria das
organizações, tal como ela vem sendo
predominantemente formada, é
predominantemente uma expressão da
ideologia de mercado (GUERREIRO
RAMOS, 1981).
No livro “Colonialidade do
Saber”, Aníbal Quijano nos mostra
como a Modernid
ade se sustenta na
legitimação de um conhecimento dito
universal, que opera deslegitimando
formas diversas de produção de
conhecimento. Seus dispositivos de
transmissão ocultam que todo saber
surge em um determinado momento e
em um determinado contexto
geo
cultural (KUSCH, 2007). Foi
Iluminismo, com sua devoção à
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
organização de todo o mundo, uma
vez que nas universidades e demais
instituições de formação adotam uma
histórica única da teoria das
organizações, apresentada
cronologicamente nos manuais.
Essa concentração in
visibiliza
um enorme conjunto de experiências e
reduz o conhecimento sobre os
estudos organizacionais a um recorte
geográfico e cultural muito estreito,
afetando nossa capacidade de pensar
novas possibilidades e responder de
forma mais inventiva aos desafi
os
contemporâneos. A teoria das
organizações, tal como ela vem sendo
predominantemente formada, é
predominantemente uma expressão da
ideologia de mercado (GUERREIRO
No livro Colonialidade do
Saber, Aníbal Quijano nos mostra
ade se sustenta na
legitimação de um conhecimento dito
universal, que opera deslegitimando
formas diversas de produção de
conhecimento. Seus dispositivos de
transmissão ocultam que todo saber
surge em um determinado momento e
em um determinado contexto
cultural (KUSCH, 2007). Foi
o
Iluminismo, com sua devoção à
racionalidade e sua crença na
objetividade, que criou uma matriz
para a produção de conhecimento com
dispositivos normatizadores, baseados
na razão instrumental, na
fragmentação, na separação suj
objeto e na criação de hierarquias a
partir de um pensar fundamentado em
pares binários (civilização
cultura-
natureza, centro
Assim, uma perspectiva mono
é transferida para o mundo como
“universal”, validando uma única f
de produção de conhecimento. Os
saberes, fazeres e mesmo as
memórias de grupos subalternizados
são apagadas das representações
dominantes.
Nenhum processo de
dominação, no entanto, consegue ser
imposto de forma totalizante. O
múltiplo está nos fatos,
incapacidade das instituições e dos
paradigmas do mercado enquadrarem
tudo e da vitalidade das práticas
econômicas híbridas e locais. Na
periferia das grandes cidades, por
exemplo, onde grande parte da
população es excluída desse
processo de
múltiplas estratégias de sobrevivência
são construídas por famílias e
112
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
racionalidade e sua crença na
objetividade, que criou uma matriz
para a produção de conhecimento com
dispositivos normatizadores, baseados
na razão instrumental, na
fragmentação, na separação suj
eito-
objeto e na criação de hierarquias a
partir de um pensar fundamentado em
pares binários (civilização
-barbárie,
natureza, centro
-periferia).
Assim, uma perspectiva mono
-cultural
é transferida para o mundo como
universal, validando uma única f
orma
de produção de conhecimento. Os
saberes, fazeres e mesmo as
memórias de grupos subalternizados
o apagadas das representações
Nenhum processo de
dominação, no entanto, consegue ser
imposto de forma totalizante. O
múltiplo está nos fatos,
por conta da
incapacidade das instituições e dos
paradigmas do mercado enquadrarem
tudo e da vitalidade das práticas
econômicas híbridas e locais. Na
periferia das grandes cidades, por
exemplo, onde grande parte da
população está excluída desse
desenvolvimento,
múltiplas estratégias de sobrevivência
o construídas por famílias e
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
comunidades, gerando uma realidade
bastante heterogênea de atividades
produtivas, comerciais e culturais.
Produção para a
autossubsistência, agricultura familiar,
econ
omia solidária, cooperativas
locais, turismo cultural comunitário,
processos de desenvolvimento que se
baseiam em recursos próprios
alicerçados em pequenas
propriedades, formas não capitalistas
de produção e troca entre as
comunidades são práticas sociais
estão nas bordas, fora da
epistemologia dominante e que
demandam pesquisas sobre gestão
que se proponha a confrontar e buscar
alternativas à lógica instrumental e
gerencialista, constituindo as bases
possíveis para invenção de novas
formas de organizaç
socioeconômicas e de novos marcos
para as políticas públicas (FRANÇA
FILHO; EYNAUD, 2020).
É preciso desenvolver outros
imaginários em ruptura com a
ideologia dominante da competição e
da performance financeira. Antes de
sermos reais, somos sonhados”,
filósofo Paul Valéry. Podemos pensar
em construir uma contra-
história sobre
a ciência da administração, a partir da
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
comunidades, gerando uma realidade
bastante heterogênea de atividades
produtivas, comerciais e culturais.
Produção para a
autossubsistência, agricultura familiar,
omia solidária, cooperativas
locais, turismo cultural comunitário,
processos de desenvolvimento que se
baseiam em recursos próprios
alicerçados em pequenas
propriedades, formas não capitalistas
de produção e troca entre as
comunidades são práticas sociais
que
estão nas bordas, fora da
epistemologia dominante e que
demandam pesquisas sobre gestão
que se proponha a confrontar e buscar
alternativas à lógica instrumental e
gerencialista, constituindo as bases
posveis para invenção de novas
formas de organizaç
ão
socioeconômicas e de novos marcos
para as políticas públicas (FRANÇA
É preciso desenvolver outros
imaginários em ruptura com a
ideologia dominante da competição e
da performance financeira. “Antes de
sermos reais, somos sonhados”,
diz o
filósofo Paul Valéry. Podemos pensar
história sobre
a ciência da administração, a partir da
qual a gestão não se limitaria a ser
suporte e apoio a gestores formados
nas lógicas de mercado, mas também
capaz de inspirar process
emancipação e do fortalecimento de
valores como democracia,
participação, justiça, equidade e bem
estar social (FRANÇA FILHO
EYNAUD, 2020).
O campo da cultura dispõe de
um amplo e diverso conjunto de
experiências de gestão coletiva que
são
formas insurgentes de co
coletivamente, de cocriar, capazes de
lidar com os desafios dos seus
projetos e das instabilidades próprias
desse campo. Experiências
inovadoras, mas que apesar da
relevância, estão dispersas,
insuficientemente sistematiz
fragilizando sua contribuição
produção científica sobre gestão.
1. P
ode a gestão cultural contribuir
para uma outra ciência e prática da
administração?
A política cultural que
prevaleceu no Brasil até 2003,
correspondia às ões do Estado ou
de outras instituições muito
frequentemente reduzida apenas à
produção e consumo de bens
113
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
qual a gestão não se limitaria a ser
suporte e apoio a gestores formados
nas lógicas de mercado, mas também
capaz de inspirar process
os a favor da
emancipação e do fortalecimento de
valores como democracia,
participação, justiça, equidade e bem
-
estar social (FRANÇA FILHO
;
O campo da cultura dispõe de
um amplo e diverso conjunto de
experiências de gestão coletiva que
formas insurgentes de co
-produzir
coletivamente, de cocriar, capazes de
lidar com os desafios dos seus
projetos e das instabilidades próprias
desse campo. Experiências
inovadoras, mas que apesar da
relevância, estão dispersas,
insuficientemente sistematiz
adas,
fragilizando sua contribuição
para a
produção científica sobre gestão.
ode a gestão cultural contribuir
para uma outra ciência e prática da
A política cultural que
prevaleceu no Brasil até 2003,
correspondia às ações do Estado ou
de outras instituições muito
frequentemente reduzida apenas à
produção e consumo de bens
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
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em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
culturais: artes plásticas, cinema,
teatro, literatura, dança, entre outras.
Este caminho baseava
conceito convencional de cultura como
constituída de um conjunto de crenças,
representações e artefatos canônicos
que representavam certa identidade
brasileira e os traços culturais
universais que deveríamos ter como
repertório.
Esta perspectiva contribuiu
para tornar invisíveis práticas culturais
cotidianas como um terreno para
fonte de
práticas políticas. (RUBIM,
2007).
A gestão de Gilberto Gil a frente
do MINC a partir de 2003 representa o
início do rompimento desta trad
partir da postura do Ministro em a)
reivindicar um conceito de cultura mais
alargado, abrindo fronteiras para
englobaras culturas populares, afro
brasileiras, indígenas, de gênero, das
periferias, as culturas tecnológicas b)
privilegiar toda a soci
edade brasileira
como público das políticas culturais, c)
retomar o papel ativo do Estado nas
políticas culturais e d) associar
políticas culturais com democracia e
inclusão social.
Ao assumir a gestão no
Ministério da Cultura, Gil fez referência
à tradiçã
o milenar chinesa, que
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
culturais: artes plásticas, cinema,
teatro, literatura, dança, entre outras.
Este caminho baseava
-se num
conceito convencional de cultura como
constituída de um conjunto de crenças,
representações e artefatos canônicos
que representavam certa identidade
brasileira e os traços culturais
universais que deveríamos ter como
Esta perspectiva contribuiu
para tornar inviveis práticas culturais
cotidianas como um terreno para
e
práticas políticas. (RUBIM,
A gestão de Gilberto Gil a frente
do MINC a partir de 2003 representa o
início do rompimento desta trad
ição, a
partir da postura do Ministro em a)
reivindicar um conceito de cultura mais
alargado, abrindo fronteiras para
englobaras culturas populares, afro
-
brasileiras, indígenas, de gênero, das
periferias, as culturas tecnológicas b)
edade brasileira
como público das políticas culturais, c)
retomar o papel ativo do Estado nas
políticas culturais e d) associar
políticas culturais com democracia e
Ao assumir a gestão no
Ministério da Cultura, Gil fez referência
o milenar chinesa, que
reconhece e massageia pontos
energéticos em benefício do bem
do corpo e da mente. O
antropológico, expreso utilizada por
Gil, se propôs a identificar, valorizar e
dar autonomia às diversas formas de
manifestação cultura
l existente no país
e não somente as institucionalizadas e
consagradas. Também ampliou o foco
das políticas culturais para além das
linguagens artísticas, incluindo os
saberes, fazeres e modos de vida dos
diversos grupos sociais. Nesta mesma
ocasião, Gilbe
rto Gil reconheceu e
valorizou o que sempre foi produzido
pela sociedade, ressaltando no seu
discurso de posse que a criatividade
popular brasileira, dos primeiros
tempos coloniais até hoje, foi sempre
muito além do que permitiam as
condições educacionais
econômicas de nossa existência, a
multiplicidade cultural brasileira é um
fato”, “a diversidade interna é, hoje, um
dos nossos traços identitários mais
nítidos”. (GIL, 2003)
Um dos caminhos mais
impactantes dessa massagem dos
pontos de nosso
corpo cultural foi o
Programa Cultura Viva, que teve como
objetivo principal a ampliação do
acesso da população brasileira aos
114
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
reconhece e massageia pontos
energéticos em benefício do bem
-estar
do corpo e da mente. O
do in
antropológico, expressão utilizada por
Gil, se propôs a identificar, valorizar e
dar autonomia às diversas formas de
l existente no país
e não somente as institucionalizadas e
consagradas. Também ampliou o foco
das políticas culturais para além das
linguagens artísticas, incluindo os
saberes, fazeres e modos de vida dos
diversos grupos sociais. Nesta mesma
rto Gil reconheceu e
valorizou o que sempre foi produzido
pela sociedade, ressaltando no seu
discurso de posse que “a criatividade
popular brasileira, dos primeiros
tempos coloniais até hoje, foi sempre
muito além do que permitiam as
condições educacionais
, sociais e
econômicas de nossa existência”, “a
multiplicidade cultural brasileira é um
fato, a diversidade interna é, hoje, um
dos nossos traços identitários mais
Um dos caminhos mais
impactantes dessa massagem dos
corpo cultural foi o
Programa Cultura Viva, que teve como
objetivo principal a ampliação do
acesso da população brasileira aos
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
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em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
seus direitos culturais, mediante o
fortalecimento das ações de grupos
culturais atuantes nas comunidades. O
conceito de direito
cultural que
estruturou Cultura Viva articula de
maneira indissociável o acesso e
fruição à pluralidade de saberes,
símbolos, experiências produzidas
pelos diversos grupos sociais e a
possibilidade de participar fazendo
circular seus próprios conteúdos e
expressões.
O Ponto de Cultura, iniciativa
que compunha o Programa Cultura
Viva, permitiu que grupos e iniciativas
culturais historicamente excluídos das
políticas tivessem acesso aos recursos
públicos, criando também
oportunidades de intercâmbio e de
ar
ticulação em rede entre eles. Além
das expressões artísticas, estavam
incluídas nesta iniciativa o
reconhecimento, registro e proteção do
patrimônio imaterial, que diz respeito
aos nossos saberes, fazeres,
tradições, lugares, ritos e linguagens.
Essa polít
ica blica contribui
largamente para a visibilidade desse
conjunto diverso de experiências
culturais que sempre foram referências
para as suas comunidades, não
apenas por suas manifestações,
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
seus direitos culturais, mediante o
fortalecimento das ações de grupos
culturais atuantes nas comunidades. O
cultural que
estruturou Cultura Viva articula de
maneira indissociável o acesso e
fruição à pluralidade de saberes,
mbolos, experiências produzidas
pelos diversos grupos sociais e a
possibilidade de participar fazendo
circular seus próprios conteúdos e
O Ponto de Cultura, iniciativa
que compunha o Programa Cultura
Viva, permitiu que grupos e iniciativas
culturais historicamente excluídos das
políticas tivessem acesso aos recursos
públicos, criando também
oportunidades de intermbio e de
ticulação em rede entre eles. Além
das expressões artísticas, estavam
incluídas nesta iniciativa o
reconhecimento, registro e proteção do
patrimônio imaterial, que diz respeito
aos nossos saberes, fazeres,
tradições, lugares, ritos e linguagens.
ica pública contribui
largamente para a visibilidade desse
conjunto diverso de experiências
culturais que sempre foram referências
para as suas comunidades, não
apenas por suas manifestações,
linguagens e práticas culturais, mas
também por suas metodologia
criação em grupo, suas estratégias
para existir, seus modos de gestão. A
partir dessas experiências podemos
vislumbrar a gestão cultural como
forma de ação política, que promove a
articulação entre cultura, democracia e
cidadania. (VICH, 2014)
Pensar
na gestão cultural como
forma de ação política, como propõe o
pesquisador peruano V
(2014) significa entender que a gestão
cultural não pode ser um processo
meramente técnico, de planejamento
de projetos, de entregas de produtos e
de resultados.
Reduzida a isso, a
gestão cultural se tornaria puramente
uma “administração do existente
(RANCIÈRE, 2005), formas que
privilegiam resultados em vez de
processos. Uma vez que o papel da
arte e da cultura sempre foi também o
de imaginar novas possibilidades
políticas, novas formas de pensar,
narrar e existir, uma outra gestão que
possibilite essas práticas, linguagens e
manifestações seriam também
capazes de enfrentar o desafio de
articular lógicas e modelos de
institucionalização e legitimação
singulares”
(BARROS, 2009, p. 71),
115
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
linguagens e práticas culturais, mas
também por suas metodologia
s de
criação em grupo, suas estratégias
para existir, seus modos de gestão. A
partir dessas experiências podemos
vislumbrar a gestão cultural como
forma de ação política, que promove a
articulação entre cultura, democracia e
cidadania. (VICH, 2014)
na gestão cultural como
forma de ação política, como propõe o
pesquisador peruano V
íctor Vich
(2014) significa entender que a gestão
cultural não pode ser um processo
meramente técnico, de planejamento
de projetos, de entregas de produtos e
Reduzida a isso, a
gestão cultural se tornaria puramente
uma administração do existente”
(RANCIÈRE, 2005), formas que
privilegiam resultados em vez de
processos. Uma vez que o papel da
arte e da cultura sempre foi também o
de imaginar novas possibilidades
políticas, novas formas de pensar,
narrar e existir, uma outra gestão que
possibilite essas práticas, linguagens e
manifestações seriam também
capazes de enfrentar “o desafio de
articular lógicas e modelos de
institucionalização e legitimação
(BARROS, 2009, p. 71),
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
perceptíveis ao olharmos com mais
vagar para as diversas formas de
gestão dos grupos populares,
tradicionais e comunitários
O campo da cultura oferece
uma diversidade de experiências de
gestão de coletivos, Pontos de Cultura,
associa
ções civis sem fins lucrativos,
redes, entre outros, que são práticas
de gestão coletiva, formas de cocriar e
coproduzir criativas e insurgentes
gerando forte impacto nos territórios
onde atuam. A despeito da
heterogeneidade dessas organizações
ainda é com
um quando se pensa em
profissionalização do campo recorrer a
padrões, técnicas, modelos de gestão
e linguagens que vêm das empresas e
de um campo de conhecimento
reconhecido como “Administração
Científica”.
Defendemos a importância de
se produzir conhecim
entos para o
campo da administração a partir de
experiências e movimentos concretos
que os grupos culturais, coletivos e
instituições geram nos seus diferentes
contextos e desafios de existência,
considerando os protagonistas dessas
experiências como sujei
produção de conhecimento e não
como objetos de pesquisa. Assim,
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
perceptíveis ao olharmos com mais
vagar para as diversas formas de
gestão dos grupos populares,
O campo da cultura oferece
uma diversidade de experiências de
gestão de coletivos, Pontos de Cultura,
ções civis sem fins lucrativos,
redes, entre outros, que são práticas
de gestão coletiva, formas de cocriar e
coproduzir criativas e insurgentes
gerando forte impacto nos territórios
onde atuam. A despeito da
heterogeneidade dessas organizações
um quando se pensa em
profissionalização do campo recorrer a
padrões, técnicas, modelos de gestão
e linguagens que vêm das empresas e
de um campo de conhecimento
reconhecido como Administração
Defendemos a importância de
entos para o
campo da administração a partir de
experiências e movimentos concretos
que os grupos culturais, coletivos e
instituições geram nos seus diferentes
contextos e desafios de existência,
considerando os protagonistas dessas
experiências como sujei
tos de
produção de conhecimento e não
como objetos de pesquisa. Assim,
nasce em 2022 o LabGestão:
pensarsentirfazer
contra
em Política e Gestão Cultural,
de pesquisa-
ação participante que se
volta para os processos de gestão
cultural
de instituições e coletivos da
sociedade civil que desenvolvam
projetos voltados para a ampliação dos
direitos culturais, sociais, políticos e
econômicos de grupos sociais
historicamente subalternizados,
gerando impacto nos territórios os
quais estão vincu
lados.
O LabGestão pensa de forma
colaborativa e dialógica sobre os
processos de gestão dessas
instituições e coletivos, construindo
coletivamente novas metodologias de
atuação que poderão ser
implementadas, acompanhadas e
avaliadas pelo grupo de pesquisad
(as) docentes, discentes, ativistas
culturais e gestores(as) envolvidos(as)
no projeto, gerando uma espiral
contínua de aprendizagens e de
práticas de gestão cultural.
Como segundo objetivo,
complementar e articulado ao primeiro,
o projeto de pesquisa
participante LabGestão também se
propõe a pensar propositivamente
políticas e estratégias de gestão
116
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
nasce em 2022 o “LabGestão:
contra
-hegemônico
em Política e Gestão Cultural”,
projeto
ação participante que se
volta para os processos de gestão
de instituições e coletivos da
sociedade civil que desenvolvam
projetos voltados para a ampliação dos
direitos culturais, sociais, políticos e
econômicos de grupos sociais
historicamente subalternizados,
gerando impacto nos territórios os
lados.
O LabGestão pensa de forma
colaborativa e dialógica sobre os
processos de gestão dessas
instituições e coletivos, construindo
coletivamente novas metodologias de
atuação que poderão ser
implementadas, acompanhadas e
avaliadas pelo grupo de pesquisad
ores
(as) docentes, discentes, ativistas
culturais e gestores(as) envolvidos(as)
no projeto, gerando uma espiral
contínua de aprendizagens e de
práticas de gestão cultural.
Como segundo objetivo,
complementar e articulado ao primeiro,
o projeto de pesquisa
-ação
participante LabGestão também se
propõe a pensar propositivamente
políticas e estratégias de gestão
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
pública da cultura comprometidas com
processos emancipatórios, com a
democracia participativa e com o
direito cultural de grupos sociais
subalternizados.
A pesquisa se fundamenta em
uma perspectiva que integra o pensar,
o sentir e o fazer, tanto em termos
teóricos, quanto metodológicos.
Propõe-
se a romper com a dicotomia
sujeito e objeto de pesquisa ao
enfatizar o protagonismo de indivíduos
e de coletiv
idades usualmente
enquadrados como objetos de estudo.
2. Horizontes
de busca do
LabG
estão: pesquisa, extensão e
ensino
2.1
O Território de Identidade do
Recôncavo, a Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia
e o Campo Cultural
“Conhecimento para quê?
Conhecimento para quem?, assim
inicia Edgardo Lander suas Reflexões
sobre a universidade e a geopolítica
dos saberes hegemônicos” (In:
PALERMO, 2015, p. 41
pergunta, relevante para as
instituições de ensino superior na
contemporaneidade, adquir
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, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
pública da cultura comprometidas com
processos emancipatórios, com a
democracia participativa e com o
direito cultural de grupos sociais
A pesquisa se fundamenta em
uma perspectiva que integra o pensar,
o sentir e o fazer, tanto em termos
teóricos, quanto metodológicos.
se a romper com a dicotomia
sujeito e objeto de pesquisa ao
enfatizar o protagonismo de indivíduos
idades usualmente
enquadrados como objetos de estudo.
de busca do
estão: pesquisa, extensão e
O Território de Identidade do
Recôncavo, a Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia
Conhecimento para quê?
Conhecimento para quem?”, assim
inicia Edgardo Lander suas “Reflexões
sobre a universidade e a geopolítica
dos saberes hegemônicos” (In:
PALERMO, 2015, p. 41
-68). Essa
pergunta, relevante para as
instituições de ensino superior na
contemporaneidade, adquir
e ainda
maior relevância na Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia
(UFRB).
O Recôncavo da Bahia é o
espaço geográfico que margeia a Baía
de Todos os Santos. Entre os
principais aspectos que configuram
essa região, ressaltamos uma história
marcada poli
ticamente pela relação
desigual colônia
-
economicamente pelo ciclo da cana de
açúcar, monocultura de exportação,
com seus engenhos e mão de obra
composta por africanos/as
escravizados/as.
Pertencentes a diferentes
culturas e religiões, os (as)
(as) e seus descendentes moldaram e
ainda moldam o Recôncavo.
Destacamos a presença, atualmente,
de 45 comunidades quilombolas, um
grande número de terreiros de
candomblé, ricas manifestações
culturais populares, além um conjunto
arquitetônico e
reconhecido
o que representa um
legado cultural vivo e pulsante,
atualizado permanentemente por sua
população.
As bases históricas da
conformação das universidades
brasileiras reproduzem modelos
117
periodicos.uff.br/pragmatizes
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Gestão cultural e diversidade
")
maior relevância na Universidade
Federal do Rencavo da Bahia
O Rencavo da Bahia é o
espaço geográfico que margeia a Baía
de Todos os Santos. Entre os
principais aspectos que configuram
essa região, ressaltamos uma história
ticamente pela relação
-
metrópole e
economicamente pelo ciclo da cana de
açúcar, monocultura de exportação,
com seus engenhos e mão de obra
composta por africanos/as
Pertencentes a diferentes
culturas e religiões, os (as)
africanos
(as) e seus descendentes moldaram e
ainda moldam o Recôncavo.
Destacamos a presença, atualmente,
de 45 comunidades quilombolas, um
grande número de terreiros de
candomblé, ricas manifestações
culturais populares, além um conjunto
arquitetônico e
paisagístico
o que representa um
legado cultural vivo e pulsante,
atualizado permanentemente por sua
As bases históricas da
conformação das universidades
brasileiras reproduzem modelos
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
europeus, ditos universais”,
mantendo as cul
turas formadoras do
país, afastadas de seu interior.,
excluindo, por exemplo, a população
do Recôncavo e seus saberes.
Entretanto, as ambiguidades e
contradições da modernidade
(QUIJANO, 2000) possibilitaram que
universidades e movimentos sociais
iniciass
em a busca de outros modelos
de ensino superior.
Uma das 18 universidades
surgidas no contexto do REUNI e
comprometida com as discussões em
torno da “Universidade Nova, a
Universidade Federal do Rencavo
da Bahia (UFRB), primeira
universidade federal no
Bahia, é parte do movimento de
expansão e democratização do ensino
superior brasileiro, iniciado no início do
séc. XXI.
Em uma universidade
socialmente referenciada, situada em
uma região com população
predominantemente negra, a relação
cultura-
educação foi o fundamento de
sua criação, que tem em suas bases
processos de territorialização, de
reafirmação/ressignificação de
identidades locais e de busca pela
promoção da diversidade.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
europeus, ditos universais”,
turas formadoras do
país, afastadas de seu interior.,
excluindo, por exemplo, a população
do Rencavo e seus saberes.
Entretanto, as ambiguidades e
contradições da modernidade
(QUIJANO, 2000) possibilitaram que
universidades e movimentos sociais
em a busca de outros modelos
Uma das 18 universidades
surgidas no contexto do REUNI e
comprometida com as discussões em
torno da Universidade Nova”, a
Universidade Federal do Recôncavo
da Bahia (UFRB), primeira
interior da
Bahia, é parte do movimento de
expano e democratização do ensino
superior brasileiro, iniciado no início do
Em uma universidade
socialmente referenciada, situada em
uma região com população
predominantemente negra, a relação
educação foi o fundamento de
sua criação, que tem em suas bases
processos de territorialização, de
reafirmação/ressignificação de
identidades locais e de busca pela
Desde seu início, a
Universidade Federal do Rencavo
da Bahia
(UFRB) desenvolveu
políticas afirmativas para abrir suas
portas para grupos tradicionalmente
excluídos de espaços de letramento.
Dezesseis anos após sua fundação, a
UFRB tem um corpo discente formado
em sua maioria por mulheres e negros,
oriundos das class
es C, D e E, sendo
muitos deles os primeiros de suas
famílias a ingressar no ensino
superior. Assim sendo, a pergunta
colocada por Lander, Conhecimento
para quê? Conhecimento para
quem?”, é uma questão inescapável.
Não por acaso, a frase foi pixada na
ent
rada de um de seus
Cabe, entretanto, salientar que
a busca por mudanças desse quilate
no ensino universitário, é parte de um
processo ainda incipiente e de uma
disputa acirrada. Compete, portanto, à
comunidade acadêmica construir
diariamente mosai
hegemônicos e é nesse contexto que
se situa o projeto de pesquisa
LabGestão:
pensarsentirfazer
hegemônico e o Programa de
Extensão LabGestão, ambos
vinculados ao Grupo de Pesquisa
“Estado, sociedade, democracia:
118
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Desde seu início, a
Universidade Federal do Recôncavo
(UFRB) desenvolveu
políticas afirmativas para abrir suas
portas para grupos tradicionalmente
excluídos de espaços de letramento.
Dezesseis anos após sua fundação, a
UFRB tem um corpo discente formado
em sua maioria por mulheres e negros,
es C, D e E, sendo
muitos deles os primeiros de suas
famílias a ingressar no ensino
superior. Assim sendo, a pergunta
colocada por Lander, “Conhecimento
para quê? Conhecimento para
quem?, é uma questão inescapável.
Não por acaso, a frase foi pixada na
rada de um de seus
campi.
Cabe, entretanto, salientar que
a busca por mudanças desse quilate
no ensino universitário, é parte de um
processo ainda incipiente e de uma
disputa acirrada. Compete, portanto, à
comunidade acadêmica construir
diariamente mosai
cos contra-
hegemônicos e é nesse contexto que
se situa o projeto de pesquisa
pensarsentirfazer
contra-
hegemônico e o Programa de
Exteno LabGestão, ambos
vinculados ao Grupo de Pesquisa
Estado, sociedade, democracia:
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
experiências contra-
colonia
articulados com atividades de
visam conhecer, visibilizar e fortalecer
outras formas de gestão vislumbradas
no território, articulando diferentes
atores sociais, conectando saberes
diversos e tecendo um novo caminho,
uma senda confeccion
ada dialógica e
colaborativamente a várias mãos.
2.2
LabGestão: porque pesquisa
ação no campo da gestão
cultural
Como dito, a partir da década
de 1990, o modelo gerencialista, com
sua lógica eficientista e ênfase em
saberes ditos “técnicos”, passa a ser
predominante no campo da
administração pública do Brasil. Com a
naturalização do discurso neoliberal,
esse modelo irradia para
a sociedade
civil, alcançando os coletivos culturais
incluindo os grupos populares e
tradicionais..
Contudo, ter o modelo
capita
lista hegemônico e seus valores
de mercado como eixo central da
gestão cultural reforça os graves
problemas sócio-
políticos existentes
no território do Recôncavo. A vio
tecnocrática induz ao “ocultamento de
las desigualdades que determinan
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
colonia
is”, que,
articulados com atividades de
ensino,
visam conhecer, visibilizar e fortalecer
outras formas de gestão vislumbradas
no território, articulando diferentes
atores sociais, conectando saberes
diversos e tecendo um novo caminho,
ada dialógica e
colaborativamente a várias mãos.
LabGestão: porque pesquisa
-
ação no campo da gestão
Como dito, a partir da década
de 1990, o modelo gerencialista, com
sua lógica eficientista e ênfase em
saberes ditos técnicos”, passa a ser
predominante no campo da
administração pública do Brasil. Com a
naturalização do discurso neoliberal,
a sociedade
civil, alcançando os coletivos culturais
incluindo os grupos populares e
Contudo, ter o modelo
lista hegemônico e seus valores
de mercado como eixo central da
gestão cultural reforça os graves
políticos existentes
no território do Recôncavo. A visão
tecnocrática induz ao ocultamento de
las desigualdades que determinan
la
vida cotidi
ana de
(YAÑEZ CANAL, 2016, p. 97) e, sendo
assim, é necessário que, na disputa
ideológica impulsionada pelo
neoliberalismo, a gestão cultural
assuma uma perspectiva situada e
estimule o pensamento crítico e as
potencialidades emancipatórias
sujeitos.
Em busca de um processo
coletivo de produção de conhecimento
adequado à diversidade de modelos,
lógicas e tecnologias disponíveis no
território, encontramos um caminho
promissor nos métodos participativos,
em especial na pesquisa
partic
ipativa (PAP), desenvolvida
partir dos anos 1970 por Orlando Fals
Borda com forte influência de Paulo
Freire e atualizada por diversos
autores.
Em perspectiva crítica
colonialismo intelectual, a
pesquisa-
ão transpõe o
molde elitista e polarizador
que foi formulada a ciência
ocidental e promove a prática
de uma ecologia de saberes,
reaproximando pensar e agir,
o científico e o popular, o
coletivo e o individual, o
objetivo e o subjetivo, o
masculino e o feminino.
(BORDA,
2021, p. 75
).
119
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
ana de
la población.”
(YAÑEZ CANAL, 2016, p. 97) e, sendo
assim, é necessário que, na disputa
ideológica impulsionada pelo
neoliberalismo, a gestão cultural
assuma uma perspectiva situada e
estimule o pensamento crítico e as
potencialidades emancipatórias
dos
Em busca de um processo
coletivo de produção de conhecimento
adequado à diversidade de modelos,
lógicas e tecnologias disponíveis no
território, encontramos um caminho
promissor nos métodos participativos,
em especial na pesquisa
-ação
ipativa (PAP), desenvolvida
a
partir dos anos 1970 por Orlando Fals
Borda com forte influência de Paulo
Freire e atualizada por diversos
Em perspectiva crítica
ao
colonialismo intelectual, a
ação transpõe o
molde elitista e polarizador
em
que foi formulada a ciência
ocidental e promove a prática
de uma ecologia de saberes,
reaproximando pensar e agir,
o científico e o popular, o
coletivo e o individual, o
objetivo e o subjetivo, o
masculino e o feminino.
(BORDA,
apud COLETTE,
).
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
A PAP nos a possibilidade
trabalhar a partir das experiências de
gestão coletiva disponíveis no
Recôncavo; de conectar saberes
práticos, emergentes com o
conhecimento científico; de realizar
ações de incidência política no
território promovendo a re
flexão crítica
sobre elas;
de integrar ensino
pesquisa-
extensão. Não se trata,
entretanto, de “um corpo de
conhecimentos único, com fronteiras
fechadas” (COLETTE, 2021, p. 82),
mas de um leque de modalidades e
abordagens com aplicação, no Brasil,
princip
almente nas áreas de
educação, saúde e meio
Iniciando a utilização da PAP na
gestão cultural será necessário
investirmos na construção coletiva de
novas metodologias, mais adequadas
às experiências e às singularidades do
território.
Nos últimos anos,
dos inúmeros coletivos culturais das
“periferias” do país começa a ser
percebida.
Em que pese nossas
tradições políticas autoritárias e os
mecanismos de subalternização
vigentes, a potência desses coletivos
se impôs evidenciando a existên
outras racionalidades nos processos
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
A PAP nos dá a possibilidade
trabalhar a partir das experiências de
gestão coletiva disponíveis no
Rencavo; de conectar saberes
práticos, emergentes com o
conhecimento científico; de realizar
ações de incidência política no
flexão crítica
de integrar ensino
-
exteno. Não se trata,
entretanto, de um corpo de
conhecimentos único, com fronteiras
fechadas (COLETTE, 2021, p. 82),
mas de um leque de modalidades e
abordagens com aplicação, no Brasil,
almente nas áreas de
educação, saúde e meio
-ambiente.
Iniciando a utilização da PAP na
gestão cultural será necessário
investirmos na construção coletiva de
novas metodologias, mais adequadas
às experiências e às singularidades do
a presença
dos inúmeros coletivos culturais das
periferias” do país começa a ser
Em que pese nossas
tradições políticas autoritárias e os
mecanismos de subalternização
vigentes, a potência desses coletivos
se impôs evidenciando a existên
cia de
outras racionalidades nos processos
de gestão, de outras tecnologias de
organização comunitária, de formas
outras de convívio.
O
se contenta em compreender ou
explicar esses processos, mas
pretende co-
criar propostas de ação e
reflexã
o no território com os sujeitos
de conhecimento e de ão envolvidos
na pesquisa. Somente assim, num
esforço de imaginação coletiva,
conseguiremos construir caminhos de
atuação insurgentes, que radicalizem a
democracia, refutando as práticas de
dominação v
igentes e apontando para
a existência de projetos alternativos de
sociedade.
3. Caminhada
O LabGestão:
contra-
hegemônico em Política e
Gestão Cultural é um projeto de
pesquisa-
ação participante contínuo,
que tem como primeiro ciclo três anos,
entre 2022 e 2024. Este primeiro ciclo
será desenvolvido através de três
processos complementares e
articulados entr
e si, denominados
“TECER”, “COCRIAR
“COLABORAR”. Desde as primeiras
ideias que resultaram neste projeto de
pesquisa, pensamos o conhecimento
120
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
de gestão, de outras tecnologias de
organização comunitária, de formas
O
LabGestão não
se contenta em compreender ou
explicar esses processos, mas
criar propostas de ação e
o no território com os sujeitos
de conhecimento e de ação envolvidos
na pesquisa. Somente assim, num
esforço de imaginação coletiva,
conseguiremos construir caminhos de
atuação insurgentes, que radicalizem a
democracia, refutando as práticas de
igentes e apontando para
a existência de projetos alternativos de
O LabGestão:
pensarsentirfazer
hegemônico em Política e
Gestão Cultural é um projeto de
ação participante contínuo,
que tem como primeiro ciclo três anos,
entre 2022 e 2024. Este primeiro ciclo
será desenvolvido através de três
processos complementares e
e si, denominados
TECER, COCRIAR”
e
COLABORAR. Desde as primeiras
ideias que resultaram neste projeto de
pesquisa, pensamos o conhecimento
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
que desejamos produzir como um
tecido, produzido a várias mãos. Na
tecelagem, os fios longitudinais
compõem a urdidura,
e os transversais
formam a trama.
A etapa do TECER
representa o primeiro movimento de
confecção deste tecido, em que a
urdidura são os conceitos iniciais que
inspiram e fundamentam este projeto
de pesquisa, e a trama, os saberes
que serão agregad
os pelos outros
sujeitos da pesquisa que se integrarão
durante o processo.
Iniciando o TECER, o grupo de
docentes e discentes da UFRB,
participantes de primeira mão e
proponentes dessa pesquisa, se
dedicaram, em 2022, aos estudos de
conceitos, conteúdos e
inspiram e formam a base inicial desta
proposta, a saber: de(s)colonialidade,
políticas blicas emancipatórias,
gestão social, metodologias de
pesquisa de cunho emancipatório e
participativo (
investigacción
participativa-
IAP, pesquisa par
e sistematização de práticas e de
experiências de pesquisa e
participação).
Ainda como parte da etapa
TECER realizamos nos meses de
novembro e dezembro de 2022 dois
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
que desejamos produzir como um
tecido, produzido a várias mãos. Na
tecelagem, os fios longitudinais
e os transversais
A etapa do TECER
representa o primeiro movimento de
confecção deste tecido, em que a
urdidura são os conceitos iniciais que
inspiram e fundamentam este projeto
de pesquisa, e a trama, os saberes
os pelos outros
sujeitos da pesquisa que se integrarão
Iniciando o TECER, o grupo de
docentes e discentes da UFRB,
participantes de primeira mão e
proponentes dessa pesquisa, se
dedicaram, em 2022, aos estudos de
conceitos, conteúdos e
temas que
inspiram e formam a base inicial desta
proposta, a saber: de(s)colonialidade,
políticas públicas emancipatórias,
gestão social, metodologias de
pesquisa de cunho emancipatório e
investigacción
-acción
IAP, pesquisa par
ticipante
e sistematização de práticas e de
experiências de pesquisa e
Ainda como parte da etapa
TECER realizamos nos meses de
novembro e dezembro de 2022 dois
Encontros com Gestoras e Gestores
Culturais do Recôncavo, no Centro de
Cultura, L
inguagens e Tecnologias
Aplicadas (CECULT), campus da
UFRB em Santo Amaro, cujos
desdobramentos compartilhamos
abaixo.
3.1
Escuta do Território
No primeiro encontro, em 16 de
novembro de 2022, foi debatido com
aproximadamente 50 membros e
coordenadores(as) de coletivos
culturais e gestores(as) públicos quais
formações seriam prioritárias para que
os projetos, as instituições, os
coletivos e os pro
jetos culturais do
Recôncavo se tornassem mais
sustentáveis, colaborativos e com
maior impacto no território.
se discutiu como a UFRB poderia
realizar parcerias com a gestão pública
das cidades do Recôncavo e com as
organizações da sociedade civil
que criássemos juntos um Ciclo
Permanente de Formação na Área de
Política e Gestão Cultural. As reflexões
foram sistematizadas, fundamentando
as propostas apresentadas no
encontro seguinte, realizado no dia 07
de dezembro de 2022, que também
levou em
conta os temas caros ao
121
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Encontros com Gestoras e Gestores
Culturais do Recôncavo, no Centro de
inguagens e Tecnologias
Aplicadas (CECULT), campus da
UFRB em Santo Amaro, cujos
desdobramentos compartilhamos
Escuta do Território
No primeiro encontro, em 16 de
novembro de 2022, foi debatido com
aproximadamente 50 membros e
coordenadores(as) de coletivos
culturais e gestores(as) públicos quais
formações seriam prioritárias para que
os projetos, as instituições, os
jetos culturais do
Rencavo se tornassem mais
sustentáveis, colaborativos e com
maior impacto no território.
Também
se discutiu como a UFRB poderia
realizar parcerias com a gestão pública
das cidades do Recôncavo e com as
organizações da sociedade civil
para
que criássemos juntos um Ciclo
Permanente de Formação na Área de
Política e Gestão Cultural. As reflexões
foram sistematizadas, fundamentando
as propostas apresentadas no
encontro seguinte, realizado no dia 07
de dezembro de 2022, que também
conta os temas caros ao
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
projeto de pesquisa, tais como,
participação política, emancipação,
autonomia, entre outros.
No segundo encontro, docentes
e discentes pesquisadores(as) do
projeto LabGestão apresentaram
algumas propostas de formação na
área da polí
tica e da gestão cultural,
voltada para gestores(as) de espaços
e instituições culturais da sociedade
civil, conselheiros(as) de cultura,
mestras e mestres da cultura popular,
integrantes de coletivos culturais,
produtores(as) e artistas em geral.
Como res
ultado dos dois encontros,
foram definidas as seguintes
prioridades para os anos de 2023 e
2024: a) a realização de encontros de
intercâmbio entre coletivos, batizado
de TRAMA, b) o desenvolvimento de
atividade de formação sobre Cultura,
Política e Partici
pação, c) a formação
de Agentes Culturais Multiplicadores
para Mobilização de Recursos, d)
capacitação sobre Comunicação
Estratégica para Projetos e e)
consultoria para gestoras e gestores
públicos de Santo Amaro sobre
elaboração de Editais para a Cultu
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
projeto de pesquisa, tais como,
participação política, emancipação,
No segundo encontro, docentes
e discentes pesquisadores(as) do
projeto LabGestão apresentaram
algumas propostas de formação na
tica e da gestão cultural,
voltada para gestores(as) de espaços
e instituições culturais da sociedade
civil, conselheiros(as) de cultura,
mestras e mestres da cultura popular,
integrantes de coletivos culturais,
produtores(as) e artistas em geral.
ultado dos dois encontros,
foram definidas as seguintes
prioridades para os anos de 2023 e
2024: a) a realização de encontros de
intermbio entre coletivos, batizado
de TRAMA, b) o desenvolvimento de
atividade de formação sobre Cultura,
pação, c) a formação
de Agentes Culturais Multiplicadores
para Mobilização de Recursos, d)
a
capacitação sobre Comunicação
Estratégica para Projetos e e)
consultoria para gestoras e gestores
públicos de Santo Amaro sobre
elaboração de Editais para a Cultu
ra.
3.2 Trama
A Trama
é uma atividade de
intercâmbio através da qual um grupo
anfitrião receberá em seu território um
grupo visitante, apresentando sua
história, seus fazeres e saberes, seu
território e, especialmente, suas
práticas e desafios de gestão. Serão
encontros de até
duração, planejados pelas lideranças
do grupo anfitrião em diálogo com os
docentes e discentes da UFRB,
integrantes do Grupo de Pesquisa
LabGestão. Na Programação, serão
contemplados espaços de fala e outras
formas de troca tanto do grupo
anf
itrião, quanto do visitante. O grupo
visitante será o grupo anfitrião no
encontro seguinte. Serão realizados ao
todo quatro encontros entre março e
outubro de 2023 e feita uma avaliação
para se pensar as formas de
continuidade nos anos seguintes. Tão
impor
tante quanto o encontro
propriamente dito são seus processos
de concepção, planejamento e
avaliação. Os participantes da Trama
são grupos e coletivos autônomos, não
vinculados a grandes instituições, e as
bases
metodológicas o a escuta, o
intercâmbio de
experiências e a
122
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
é uma atividade de
intermbio através da qual um grupo
anfitrião receberá em seu território um
grupo visitante, apresentando sua
história, seus fazeres e saberes, seu
território e, especialmente, suas
práticas e desafios de gestão. Serão
encontros de até
seis horas de
duração, planejados pelas lideranças
do grupo anfitrião em diálogo com os
docentes e discentes da UFRB,
integrantes do Grupo de Pesquisa
LabGestão. Na Programação, serão
contemplados espaços de fala e outras
formas de troca tanto do grupo
itrião, quanto do visitante. O grupo
visitante será o grupo anfitrião no
encontro seguinte. Serão realizados ao
todo quatro encontros entre março e
outubro de 2023 e feita uma avaliação
para se pensar as formas de
continuidade nos anos seguintes. Tão
tante quanto o encontro
propriamente dito o seus processos
de concepção, planejamento e
avaliação. Os participantes da Trama
o grupos e coletivos autônomos, não
vinculados a grandes instituições, e as
metodológicas são a escuta, o
experiências e a
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
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construção colaborativa de
conhecimento.
Além do apoio estrutural, caberá
aos integrantes do Grupo de Pesquisa
LabGestão o papel de moderação.
Moderar significa atuar no processo e
na comunicação interpessoal,
contribuindo para que o enc
atenda aos objetivos previamente
acordados com os/as participantes,
respeitando a autonomia dos grupos e
favorecendo um clima de confiança,
respeito e transparência. A moderação
zela pelo desenvolvimento de
processos de aprendizagem e de
construção d
e conhecimento que
valorizem e potencializem a
participação ativa dos presentes.
A proposta de realizar a Trama
surgiu quando no encontro de
Gestoras e Gestores do Rencavo,
as lideranças destacaram que cada
coletivo, a despeito da falta de
recursos fina
nceiros e do pouco apoio
do Estado, desenvolve práticas e
saberes insurgentes de gestão cultural
e que esses conhecimentos deveriam
ser compartilhados, gerando novas
aprendizagens e possibilidades de
ações coletivas no território. Assim, a
Trama significa
aquilo que será tecido
a várias mãos, conjunto de fios que se
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
construção colaborativa de
Além do apoio estrutural, cabe
aos integrantes do Grupo de Pesquisa
LabGestão o papel de moderação.
Moderar significa atuar no processo e
na comunicação interpessoal,
contribuindo para que o enc
ontro
atenda aos objetivos previamente
acordados com os/as participantes,
respeitando a autonomia dos grupos e
favorecendo um clima de confiança,
respeito e transparência. A moderação
zela pelo desenvolvimento de
processos de aprendizagem e de
e conhecimento que
valorizem e potencializem a
participação ativa dos presentes.
A proposta de realizar a Trama
surgiu quando no encontro de
Gestoras e Gestores do Recôncavo,
as lideranças destacaram que cada
coletivo, a despeito da falta de
nceiros e do pouco apoio
do Estado, desenvolve práticas e
saberes insurgentes de gestão cultural
e que esses conhecimentos deveriam
ser compartilhados, gerando novas
aprendizagens e possibilidades de
ações coletivas no território. Assim, a
aquilo que será tecido
a várias mãos, conjunto de fios que se
entrelaçam, produzindo um tecido
efeito coletivo. Trama também é o
enredo, a produção de (novas)
histórias. Juntos, tramamos algo,
combinamos uma ão, nesse caso,
formas de existir e gerir que
de forma insurgente a colonialidade e
criam novos imaginários e formas de
viver coletivamente.
Nossa Trama tem como
princípios inspiradores a valorização
do convívio, o encontro de saberes e o
Ubuntu.
O encontro entre os coletivos,
assume a pers
pectiva da gestão como
acontecimento convivial, que deve ser
compreendida a partir de sua práxis
localizada, territorializada. Encontro
com o corpo presente, no espaço
físico, na presença física, na
materialidade do espaço físico e com a
materialidade do c
orpo físico vivo.
Contágio, imersão que favorece a
inefabilidade e trocas linguísticas
verbais e o verbais, que favorece a
comunicação (DUBATTI, 2020). O
convívio, a territorialidade, o corpo a
corpo como forma de favorecer a ética
da alteridade, da escu
diálogo. O aprendizado se dá pelo
pensarsentirfazer
, conceito que que
condensa a resistência ontológica dos
negros com suas filosofias
123
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
entrelaçam, produzindo um tecido
-
efeito coletivo. Trama também é o
enredo, a produção de (novas)
histórias. Juntos, tramamos algo,
combinamos uma ação, nesse caso,
formas de existir e gerir que
enfrentam
de forma insurgente a colonialidade e
criam novos imaginários e formas de
Nossa Trama tem como
prinpios inspiradores a valorização
do convio, o encontro de saberes e o
O encontro entre os coletivos,
pectiva da gestão como
acontecimento convivial, que deve ser
compreendida a partir de sua práxis
localizada, territorializada. Encontro
com o corpo presente, no espaço
físico, na presença física, na
materialidade do espaço físico e com a
orpo físico vivo.
Contágio, imero que favorece a
inefabilidade e trocas linguísticas
verbais e não verbais, que favorece a
comunicação (DUBATTI, 2020). O
convio, a territorialidade, o corpo a
corpo como forma de favorecer a ética
da alteridade, da escu
ta do outro, do
diálogo. O aprendizado se pelo
, conceito que que
condensa a resistência ontológica dos
negros com suas filosofias
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
sistematizadas por Fals Borda (1976
2008), Escobar (2014) e outros
intelectuais e militantes integrantes
dos processos das comunidades
negras e em defesa do Pafico
colombiano. O conceito faz parte de
uma virada ontológica relacional que
rompe com as divisões normativas
entre sujeito e objeto; mente, espírito e
corpo; o humano e o humano; o
orgânico e o in
orgânico: é a forma
como as comunidades territorializadas
aprenderam a arte de viver
(ESCOBAR, 2014, p. 16).
o Encontro de Saberes
reconhece que todas as pessoas
presentes na Trama são portadoras de
conhecimentos relevantes para o
grupo, construídos a
diferentes trajetórias. Os saberes
tradicionais e populares não o
apenas objetos de estudos, mas
também referentes de conhecimentos
tão válidos quanto os acadêmicos.
cosmovisões indígenas, de matriz
africana e populares, presentes em
muito
s coletivos do Recôncavo da
Bahia são fontes de saber que através
do intercâmbio poderão potencializar a
criatividade coletiva.
Como princípio inspirador da
Trama, Ubuntu indica que como
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
sistematizadas por Fals Borda (1976
-
2008), Escobar (2014) e outros
intelectuais e militantes integrantes
dos processos das comunidades
negras e em defesa do Pacífico
colombiano. O conceito faz parte de
uma virada ontológica relacional que
rompe com as divisões normativas
entre sujeito e objeto; mente, espírito e
corpo; o humano e não humano; o
orgânico: “é a forma
como as comunidades territorializadas
aprenderam a arte de viver”
o Encontro de Saberes
reconhece que todas as pessoas
presentes na Trama o portadoras de
conhecimentos relevantes para o
partir de
diferentes trajetórias. Os saberes
tradicionais e populares não são
apenas objetos de estudos, mas
também referentes de conhecimentos
tão válidos quanto os acadêmicos.
As
cosmovies indígenas, de matriz
africana e populares, presentes em
s coletivos do Recôncavo da
Bahia são fontes de saber que através
do intermbio poderão potencializar a
Como prinpio inspirador da
Trama, Ubuntu indica que como
humano, dependemos de outros seres
humanos e do cosmos. O humano não
é o indivíduo atomizado da tradição
ocidental, mas está incorporado em
relações sociais e biofísicas. Daí o
investimento nos encontros, nas trocas
e nas tramas de projetos coletivos
como uma maneira afroperspectivista
de resistência e de configuração dos
valores humanos em prol de uma
comunidade que seja capaz de
compartilhar a existência e seus
projetos futuros, seu devir.
3.3
Formação de Agentes Culturais
Multiplicadores para Mobilização
de Recursos
Uma das grandes dificuldades
para os grupos culturais apontada no
Encontro de Gestoras e Gestores é a
capacidade de acessar recursos
financeiros públicos e privados
viabilizem a realização de suas ações,
de forma contínua e com as condições
materiais
e infraestrutura necessárias.
Ao mesmo tempo, foi destacada a
habilidade dos grupos de
desenvolverem processos
colaborativos, acionarem recursos
locais não monetários e mobilizarem a
participação das pessoas da
comunidade nos seus projetos. Dessa
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periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
humano, dependemos de outros seres
humanos e do cosmos. O humano não
é o indiduo atomizado da tradição
ocidental, mas está incorporado em
relações sociais e biofísicas. Daí o
investimento nos encontros, nas trocas
e nas tramas de projetos coletivos
como uma maneira afroperspectivista
de resistência e de configuração dos
valores humanos em prol de uma
comunidade que seja capaz de
compartilhar a existência e seus
projetos futuros, seu devir.
Formação de Agentes Culturais
Multiplicadores para Mobilização
Uma das grandes dificuldades
para os grupos culturais apontada no
Encontro de Gestoras e Gestores é a
capacidade de acessar recursos
financeiros públicos e privados
que
viabilizem a realização de suas ações,
de forma contínua e com as condições
e infraestrutura necessárias.
Ao mesmo tempo, foi destacada a
habilidade dos grupos de
desenvolverem processos
colaborativos, acionarem recursos
locais não monetários e mobilizarem a
participação das pessoas da
comunidade nos seus projetos. Dessa
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
forma, se
decidiu como prioridade para
o LabGestão desenvolver nos
próximos dois anos uma formação de
Agentes Culturais Multiplicadores para
a Mobilização de Recursos.
Consideramos como Agentes
Culturais os estudantes da UFRB que,
de uma posição privilegiada entre
ativismo e a universidade, possuem
uma atuação profissional, semi
profissional ou amadora no campo
cultural
e que passam a desempenhar
um papel de dinamizador das
potencialidades culturais da
comunidade onde atua. O caráter
Multiplicador diz respeito a
compromisso assumido pelos
participantes de compartilhar os
aprendizados obtidos na formação
com os grupos culturais do território, a
partir de Oficinas por eles ministradas
e atividade de mentoria de projetos.
A mobilização de recursos é
parte das estra
tégias de fortalecimento
da sustentabilidade dos coletivos,
envolvendo a captação de recursos
financeiros, materiais e cnicos. Um
coletivo tem sua sustentabilidade
fortalecida quando consegue articular
a capacidade de desenvolver ações
culturais transfor
madoras de forma
continuada, a credibilidade pública e a
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
decidiu como prioridade para
o LabGestão desenvolver nos
próximos dois anos uma formação de
Agentes Culturais Multiplicadores para
a Mobilização de Recursos.
Consideramos como Agentes
Culturais os estudantes da UFRB que,
de uma posição privilegiada entre
o
ativismo e a universidade, possuem
uma atuação profissional, semi
-
profissional ou amadora no campo
e que passam a desempenhar
um papel de dinamizador das
potencialidades culturais da
comunidade onde atua. O caráter
Multiplicador diz respeito a
o
compromisso assumido pelos
participantes de compartilhar os
aprendizados obtidos na formação
com os grupos culturais do território, a
partir de Oficinas por eles ministradas
e atividade de mentoria de projetos.
A mobilização de recursos é
tégias de fortalecimento
da sustentabilidade dos coletivos,
envolvendo a captação de recursos
financeiros, materiais e técnicos. Um
coletivo tem sua sustentabilidade
fortalecida quando consegue articular
a capacidade de desenvolver ações
madoras de forma
continuada, a credibilidade pública e a
capacidade de acesso a recursos
financeiros.
A Formação para Mobilização
de Recursos acontecerá a partir da
seleção de discentes da UFRB que
atuam ou têm a potencialidade de
atuar como Agentes Cultur
Multiplicadores
no Rencavo. O foco
do primeiro ano da formação será a
escrita de projetos culturais,
competência fundamental para o
acesso aos recursos públicos e
privados.
A Formação acontecerá em três
etapas articuladas: a) Oficinas para
Elaboraç
ão de Projetos para os
Agentes Culturais Multiplicadores, b)
Formação no Território para
Elaboração de Projetos ministradas
pelos Agentes Formados e c) Mentoria
para Projetos. Inicialmente serão
selecionados (as) cerca de 25
discentes da UFRB e membros das
comunidades que atuem ou tenham
interesse e potencialidade de atuar
como Agente Multiplicador nas
comunidades das cidades de Santo
Amaro (BA) e Saubara (BA). Esses
agentes participarão das Oficinas para
Elaboração de Projetos, ministradas
por docentes da
UFRB. Serão cinco
encontros no qual, através de uma
125
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
capacidade de acesso a recursos
A Formação para Mobilização
de Recursos acontecerá a partir da
seleção de discentes da UFRB que
atuam ou têm a potencialidade de
atuar como Agentes Cultur
ais
no Recôncavo. O foco
do primeiro ano da formação será a
escrita de projetos culturais,
competência fundamental para o
acesso aos recursos públicos e
A Formação acontecerá em três
etapas articuladas: a) Oficinas para
ão de Projetos para os
Agentes Culturais Multiplicadores, b)
Formação no Território para
Elaboração de Projetos ministradas
pelos Agentes Formados e c) Mentoria
para Projetos. Inicialmente serão
selecionados (as) cerca de 25
discentes da UFRB e membros das
comunidades que atuem ou tenham
interesse e potencialidade de atuar
como Agente Multiplicador nas
comunidades das cidades de Santo
Amaro (BA) e Saubara (BA). Esses
agentes participarão das Oficinas para
Elaboração de Projetos, ministradas
UFRB. Serão cinco
encontros no qual, através de uma
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
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em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
metodologia prático-
teórica, os
participantes desenvolverão a
capacidade de elaborar por escrito
projetos mais aptos a acessar os
recursos públicos e privados.
Numa segunda etapa, os
Agentes Multiplicador
es ministrarão
Oficinas de Elaboração de Projetos
para produtores, artistas e lideranças
culturais das cidades de Santo Amaro
(BA) e Saubara (BA). Concluindo o
ciclo, serão identificados alguns
projetos que receberão o apoio de
Mentoria por parte dos Agent
Multiplicadores, que irão orientar e
acompanhar a escrita de um projeto, a
partir de uma oportunidade concreta
de concorrer a um recurso público ou
privado. O desafio é conquistar
parcerias com financiadores,
preservando os interesses, a
identidade, a c
riticidade e a autonomia
dos coletivos culturais.
No decorrer do
processo, serão realizadas as
avaliações, envolvendo integrantes do
LabGestão, os Agentes Culturais
Multiplicadores e os (as) gestores (as)
culturais beneficiados (as) com a
atuação dos Age
ntes para que se
possa definir as prioridades e
estratégias do ano seguinte
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
teórica, os
participantes desenvolverão a
capacidade de elaborar por escrito
projetos mais aptos a acessar os
recursos públicos e privados.
Numa segunda etapa, os
es ministrarão
Oficinas de Elaboração de Projetos
para produtores, artistas e lideranças
culturais das cidades de Santo Amaro
(BA) e Saubara (BA). Concluindo o
ciclo, serão identificados alguns
projetos que receberão o apoio de
Mentoria por parte dos Agent
es
Multiplicadores, que irão orientar e
acompanhar a escrita de um projeto, a
partir de uma oportunidade concreta
de concorrer a um recurso público ou
privado. O desafio é conquistar
parcerias com financiadores,
preservando os interesses, a
riticidade e a autonomia
No decorrer do
processo, serão realizadas as
avaliações, envolvendo integrantes do
LabGestão, os Agentes Culturais
Multiplicadores e os (as) gestores (as)
culturais beneficiados (as) com a
ntes para que se
possa definir as prioridades e
estratégias do ano seguinte
Vale destacar que o objetivo da
escrita do projeto não tem como
destinatário apenas os potenciais
financiadores, nem apenas a função
de apoiar a mobilização de recursos.
Escrever u
m projeto é um processo de
aprendizado para o próprio grupo
criador e responsável por sua
realização. Compreendemos os
projetos como processos vivos, em
constante mudança, e as organizações
realizadoras como comunidades de
sentido e de
conhecimento, capaz
de aprender com a própria experiência
e
de se autoconstruir durante o
processo contínuo de pensar,
escrever, realizar, avaliar e reescrever
seus projetos. É o
pensarsentirfazer
princípio do LabGestão.
3.4. Formação em Cultura, Política e
Participação
Um aspecto
de destaque no
Encontro de Gestoras e Gestores foi a
sensação de invisibilidade dos grupos
culturais em relação aos poderes
públicos. Alguns reportaram a
dificuldade de aproximação dos
governos e a necessidade de
mediação na relação poderes p
e sociedade. Inicialmente, os grupos
sugeriram que a universidade
126
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Vale destacar que o objetivo da
escrita do projeto não tem como
destinatário apenas os potenciais
financiadores, nem apenas a função
de apoiar a mobilização de recursos.
m projeto é um processo de
aprendizado para o próprio grupo
criador e responsável por sua
realização. Compreendemos os
projetos como processos vivos, em
constante mudança, e as organizações
realizadoras como comunidades de
conhecimento, capaz
es
de aprender com a própria experiência
de se autoconstruir durante o
processo contínuo de pensar,
escrever, realizar, avaliar e reescrever
pensarsentirfazer
,
prinpio do LabGestão.
3.4. Formação em Cultura, Política e
de destaque no
Encontro de Gestoras e Gestores foi a
sensação de invisibilidade dos grupos
culturais em relação aos poderes
públicos. Alguns reportaram a
dificuldade de aproximação dos
governos e a necessidade de
mediação na relação poderes p
úblicos
e sociedade. Inicialmente, os grupos
sugeriram que a universidade
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
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em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
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mediasse essa relação, mas, tendo em
vista que na proposta do LabGestão é
trabalhar em prol do protagonismo e
da autonomia dos grupos,
apresentamos uma contraproposta,
que conecta es
ta demanda com dois
outros aspectos apresentados na
Escuta. Em primeiro lugar, a
consciência de que existe um saber
nos grupos, mas que eles, mesmo
dispondo de uma rica experiência, não
“sabem conversar” com os poderes
públicos. Em segundo, as dificuldades
de mobilização dos grupos para a
ação política.
Entendemos que essas
dificuldades estão relacionadas, por
um lado, com o desafio de
compreender os meandros da
burocracia estatal. Por outro, pelos
diversos mecanismos de
subalternização acionados
tradiciona
lmente na relação Estado
Sociedade, com sua democracia
liberal,
imperfeita, que dificulta o
exercício pleno da cidadania por
grupos majoritários do Brasil. O
precário reconhecimento de sujeitos
pobres, pretos, periféricos, de
mulheres e da população LGBTQ
grupos que compõem majoritariamente
o Recôncavo
como sujeitos de
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contracolonial
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-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
mediasse essa relação, mas, tendo em
vista que na proposta do LabGestão é
trabalhar em prol do protagonismo e
da autonomia dos grupos,
apresentamos uma contraproposta,
ta demanda com dois
outros aspectos apresentados na
Escuta. Em primeiro lugar, a
consciência de que existe um saber
nos grupos, mas que eles, mesmo
dispondo de uma rica experiência, não
sabem conversar com os poderes
públicos. Em segundo, as dificuldades
de mobilização dos grupos para a
Entendemos que essas
dificuldades estão relacionadas, por
um lado, com o desafio de
compreender os meandros da
burocracia estatal. Por outro, pelos
diversos mecanismos de
subalternização acionados
lmente na relação Estado
-
Sociedade, com sua democracia
imperfeita, que dificulta o
exercio pleno da cidadania por
grupos majoritários do Brasil. O
prerio reconhecimento de sujeitos
pobres, pretos, periféricos, de
mulheres e da população LGBTQ
IA+
grupos que compõem majoritariamente
como sujeitos de
direito pelo Estado, assim como a falta
de reconhecimento de si próprios (dos
grupos e ativistas culturais) como
sujeitos políticos, impedem a
percepção de sua capacidade de
interferê
ncia no processo público de
tomada de decisões, aspecto
intrínseco à cidadania cultural (CHAUÍ,
2006).
Assim, nossa contraproposta,
aceita pelos grupos no segundo
encontro, foi reforçar a autonomia e o
protagonismo dos grupos através de
uma ação coletiva c
demonstre sua capacidade de
agência, a partir da ampliação, por um
lado, de um maior conhecimento da
burocracia, mas, ao mesmo tempo,
acionando as tecnologias sociais
disponíveis nos coletivos,
a compreensão do agenciamento, do
processo de conscientização de que é
possível alterar as condições ou as
políticas por meio da ação coletiva.
(GOHN, 1997, p. 88).
O LabGestão irá, portanto, durante
o ano de 2023 promover ações para
qualificar o diálogo entre a sociedade
civil e os poder
es públicos, incluindo
ações específicas para os
conselheiros(as) de cultura. Em
destaque, uma oficina sobre
127
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
direito pelo Estado, assim como a falta
de reconhecimento de si próprios (dos
grupos e ativistas culturais) como
sujeitos políticos, impedem a
percepção de sua capacidade de
ncia no processo público de
tomada de decisões, aspecto
intrínseco à cidadania cultural (CHAUÍ,
Assim, nossa contraproposta,
aceita pelos grupos no segundo
encontro, foi reforçar a autonomia e o
protagonismo dos grupos através de
uma ação coletiva c
oncreta, que
demonstre sua capacidade de
agência, a partir da ampliação, por um
lado, de um maior conhecimento da
burocracia, mas, ao mesmo tempo,
acionando as tecnologias sociais
disponíveis nos coletivos,
estimulando
a compreensão do agenciamento, do
processo de conscientização de que é
posvel alterar as condições ou as
políticas por meio da ação coletiva.”
O LabGestão irá, portanto, durante
o ano de 2023 promover ações para
qualificar o diálogo entre a sociedade
es públicos, incluindo
ações espeficas para os
conselheiros(as) de cultura. Em
destaque, uma oficina sobre
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
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em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
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orçamento público buscando ampliar a
participação social na definição da
LOA 2024. No centro da oficina, duas
questões: Como funciona o orçamento
p
úblico? Que possibilidades de
interferência da sociedade civil
existem? Em quatro encontros ,
trabalharemos, de forma adequada a
públicos variados e não profissionais,
muitos com pouco letramento, com
conceitos básicos, tais com orçamento
público, Plano Pl
urianual, Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO), Lei
Orçamentária Anual (LOA), incluindo
algumas referências de Políticas de
Financiamento da Cultura nos
municípios
Finalmente, será
planejado
com o grupo, uma ação
coletiva concreta de incidência na LOA
2024 nos municípios dos participantes.
A ideia é dar início a um processo
de aprendizado coletivo na perspectiva
de um projeto de radicalização da
democracia, na construção de um
repertório de articulação entre grupos
culturais do Recôncavo, que se
perceba
m (e se coloquem) como
agentes de transformação, como
atores de um processo de mudança
sistêmica, a partir das tecnologias
disponíveis nos próprios coletivos e de
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, set. 2023. www.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
orçamento público buscando ampliar a
participação social na definição da
LOA 2024. No centro da oficina, duas
questões: Como funciona o orçamento
úblico? Que possibilidades de
interferência da sociedade civil
existem? Em quatro encontros ,
trabalharemos, de forma adequada a
públicos variados e não profissionais,
muitos com pouco letramento, com
conceitos básicos, tais com orçamento
urianual, Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO), Lei
Orçamentária Anual (LOA), incluindo
algumas referências de Políticas de
Financiamento da Cultura nos
Finalmente, será
com o grupo, uma ação
coletiva concreta de incidência na LOA
2024 nos munipios dos participantes.
A ideia é dar início a um processo
de aprendizado coletivo na perspectiva
de um projeto de radicalização da
democracia, na construção de um
repertório de articulação entre grupos
culturais do Rencavo, que se
m (e se coloquem) como
agentes de transformação, como
atores de um processo de mudança
sistêmica, a partir das tecnologias
disponíveis nos próprios coletivos e de
formas de atuação situadas no seu
horizonte de pertença.
4.
Consultoria para gestoras e
gestore
s públicos de Santo Amaro
sobre elaboração de Editais para a
Cultura.
Os gestores (as) públicos da
Secretaria de Cultura de Santo Amaro
presentes nos encontros informaram
que pretendem lançar nos próximos
anos uma chamada pública para
financiamento de proj
cidade e pediram orientação técnica
da UFRB para a sua formatação. A
proposta do LabGestão é orientar a
formatação do edital e o seu processo
de funcionamento de maneira que haja
transparência, segurança jurídica
eparticipação social no p
da implementação de critérios e
procedimentos mais inclusivos..
À
guisa de conclusão: futuros
possíveis
A possibilidade é o movimento
(SANTOS, 2002, p. 256
A proposta do LabGestão é
revisitar
modelos vigentes de
produção de conhecimento a partir de
128
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
formas de atuação situadas no seu
horizonte de pertença.
Consultoria para gestoras e
s públicos de Santo Amaro
sobre elaboração de Editais para a
Os gestores (as) públicos da
Secretaria de Cultura de Santo Amaro
presentes nos encontros informaram
que pretendem lançar nos próximos
anos uma chamada pública para
financiamento de proj
etos culturais da
cidade e pediram orientação técnica
da UFRB para a sua formatação. A
proposta do LabGestão é orientar a
formatação do edital e o seu processo
de funcionamento de maneira que haja
transparência, segurança jurídica
eparticipação social no p
rocesso, além
da implementação de critérios e
procedimentos mais inclusivos..
guisa de conclusão: futuros
A possibilidade é o movimento
do mundo.
(SANTOS, 2002, p. 256
).
A proposta do LabGestão é
modelos vigentes de
produção de conhecimento a partir de
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
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em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
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um diálogo intercultural que valoriza os
saberes experienciais dos grupos
culturais encontrados no entorno da
UFRB, a partir do entendimento que
As políticas, as
práticas culturais, constituídas
pela diversidade, pela
multiculturalidade, compõem
um campo irradiador de
saberes, conhecimentos,
epistemologias, etnométodos e
também de circulação de
informação, diálogo de
identidades e ambiente de
interação
e teno na
sociedade contemporânea []
(NASCIMENTO; BARATA;
ALVES, 2016, p. 28
Considerando os três primeiros
anos de trabalho e as ações
delineadas anteriormente, temos como
visão de futuro para 2024 a
constituição de “grupo de
aprendizado”, um
grupo de
pesquisadores(as) ampliado com a
inclusão de sujeitos não acadêmicos,
gestores que desejem vivenciar o
processo de construção coletiva de
conhecimento e ação. Assim, as(os)
ativistas culturais passam a ser
pesquisadoras(es) do projeto, assim
como
as (os) docentes e discentes da
UFRB, ultrapassando a dissociação
entre sujeitos e objetos de pesquisa.
No horizonte, o desejo que esse
grupo produza dois diagnósticos
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134
, set. 2023. www.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
um diálogo intercultural que valoriza os
saberes experienciais dos grupos
culturais encontrados no entorno da
UFRB, a partir do entendimento que
As políticas, as
teorias, as
práticas culturais, constituídas
pela diversidade, pela
multiculturalidade, compõem
um campo irradiador de
saberes, conhecimentos,
epistemologias, etnométodos e
também de circulação de
informação, diálogo de
identidades e ambiente de
e tensão na
sociedade contemporânea […]
(NASCIMENTO; BARATA;
ALVES, 2016, p. 28
-29).
Considerando os três primeiros
anos de trabalho e as ações
delineadas anteriormente, temos como
vio de futuro para 2024 a
constituição de grupo de
grupo de
pesquisadores(as) ampliado com a
incluo de sujeitos não acadêmicos,
gestores que desejem vivenciar o
processo de construção coletiva de
conhecimento e ação. Assim, as(os)
ativistas culturais passam a ser
pesquisadoras(es) do projeto, assim
as (os) docentes e discentes da
UFRB, ultrapassando a dissociação
entre sujeitos e objetos de pesquisa.
No horizonte, o desejo que esse
grupo produza dois diagnósticos
complementares. O primeiro, sobre os
desafios para o desenvolvimento de
uma gestão de in
stituições, projetos e
coletivos que seja efetiva na ampliação
dos direitos culturais, sociais, políticos
e econômicos de grupos sociais
subalternizados, gerando impacto nos
territórios aos quais estão vinculados.
O segundo, sobre os desafios para se
desen
volver políticas e estratégias de
gestão pública que contribuam com
processos de emancipações, com a
democracia participativa e com o
direito cultural de grupos sociais
subalternizados. Também nesta
terceira etapa, os objetivos e o próprio
percurso metodol
ógico do Projeto
LabGestão serão repensados e
pactuados pelos integrantes deste
grupo ampliado de pesquisadoras (es).
Projetamos que, com isso, tenha início
um novo ciclo de pesquisa
quando vislumbramos a criação de
uma rede de gestores culturais do
Recôncavo.
As palavras usadas aqui
(“vislumbrar”, “ter como horizonte)
indicam entregas em aberto, visto que,
uma construção efetivamente dialógica
implica em processos complexos, com
alguma perda de controle sobre as
metas e os tempos. Este, entretanto,
129
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Gestão cultural e diversidade
")
complementares. O primeiro, sobre os
desafios para o desenvolvimento de
stituições, projetos e
coletivos que seja efetiva na ampliação
dos direitos culturais, sociais, políticos
e econômicos de grupos sociais
subalternizados, gerando impacto nos
territórios aos quais estão vinculados.
O segundo, sobre os desafios para se
volver políticas e estratégias de
gestão pública que contribuam com
processos de emancipações, com a
democracia participativa e com o
direito cultural de grupos sociais
subalternizados. Também nesta
terceira etapa, os objetivos e o próprio
ógico do Projeto
LabGestão serão repensados e
pactuados pelos integrantes deste
grupo ampliado de pesquisadoras (es).
Projetamos que, com isso, tenha início
um novo ciclo de pesquisa
-ação,
quando vislumbramos a criação de
uma rede de gestores culturais do
As palavras usadas aqui
(vislumbrar, ter como horizonte”)
indicam entregas em aberto, visto que,
uma construção efetivamente dialógica
implica em processos complexos, com
alguma perda de controle sobre as
metas e os tempos. Este, entretanto,
é
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
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em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
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um indicativo que
a busca de uma
maior integração da universidade com
as realidades (e o problemas) locais é
algo que esbarra, muitas vezes,
os processos acadêmicos
prevalecentes e com as estruturas
universitárias. As diferentes visões da
universid
ade produzem divergências
sobre suas finalidades, sobre as
formas possíveis de relação ciência
sociedade, sobre metodologias,
processos e produtos admisveis.
A ciência não é neutra, as
estruturas universitárias induzem a um
determinado tipo de trabalho
a
cadêmico. Apesar da
indissociabilidade de ensino, pesquisa
e extensão ser uma determinação
constitucional, extensão e mesmo o
ensino são profundamente
desvalorizados em relação à pesquisa.
As estruturas universitárias não
apenas privilegiam a pesquisa, com
também
um tipo determinado de
investigação.
Isso significa também
que elas trazem alguns obstáculos à
realização de pesquisas que
confrontam o “senso comum científico
tradicional” (SANTOS, 2002, p. 253),
aquelas que se afastam das lógicas
positivistas e buscam
a resolução de
problemas emergentes e transversais,
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, set. 2023. www.
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
a busca de uma
maior integração da universidade com
as realidades (e o problemas) locais é
algo que esbarra, muitas vezes,
com
os processos acadêmicos
prevalecentes e com as estruturas
universitárias. As diferentes visões da
ade produzem divergências
sobre suas finalidades, sobre as
formas posveis de relação ciência
-
sociedade, sobre metodologias,
processos e produtos admissíveis.
A ciência não é neutra, as
estruturas universitárias induzem a um
determinado tipo de trabalho
cadêmico. Apesar da
indissociabilidade de ensino, pesquisa
e extensão ser uma determinação
constitucional, exteno e mesmo o
ensino o profundamente
desvalorizados em relação à pesquisa.
As estruturas universitárias não
apenas privilegiam a pesquisa, com
o
um tipo determinado de
Isso significa também
que elas trazem alguns obstáculos à
realização de pesquisas que
confrontam o senso comum científico
tradicional (SANTOS, 2002, p. 253),
aquelas que se afastam das lógicas
a resolução de
problemas emergentes e transversais,
conectando ciência e prática e/ou
lógicas distintas de produção de
conhecimento.
A relação dialógica
com grupos o acadêmicos
percebidos como capazes de
coproduzir conhecimento, a
criatividad
e e a imbricação entre o
pensar, sentir e o fazer o alguns dos
desafios metodológicos de uma
pesquisa comprometida com
processos de transformação social.
Além disso, os critérios de
“qualidade acadêmica, os Comitês
Técnicos, as agências financiadoras
pr
ivilegiam pesquisas disciplinares e
“seguras”
(no sentido de uma maior
previsibilidade dos resultados), com
pesquisadores (homens brancos de
classe média ou alta, em sua maioria)
apartados de seus “objetos” e visando
prioritariamente a publicação de
artig
os. Os indicadores vigentes e
seus rankings, fundamentados em
uma lógica produtivista, estimulam a
competitividade entre instituições e
pesquisadores. O alinhamento da
ciência brasileira ao mercado editorial
e mesmo os tão renomados (e
importantes) process
internacionalização por vezes reforçam
processos de colonização (AROCENA;
GORENSSEN; STUTZ, 2019).
130
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
conectando ciência e prática e/ou
lógicas distintas de produção de
A relação dialógica
com grupos não acadêmicos
percebidos como capazes de
coproduzir conhecimento, a
e e a imbricação entre o
pensar, sentir e o fazer são alguns dos
desafios metodológicos de uma
pesquisa comprometida com
processos de transformação social.
Além disso, os critérios de
qualidade acadêmica”, os Comitês
Técnicos, as agências financiadoras
ivilegiam pesquisas disciplinares e
(no sentido de uma maior
previsibilidade dos resultados), com
pesquisadores (homens brancos de
classe média ou alta, em sua maioria)
apartados de seus objetos” e visando
prioritariamente a publicação de
os. Os indicadores vigentes e
seus rankings, fundamentados em
uma lógica produtivista, estimulam a
competitividade entre instituições e
pesquisadores. O alinhamento da
ciência brasileira ao mercado editorial
e mesmo os tão renomados (e
importantes) process
os de
internacionalização por vezes reforçam
processos de colonização (AROCENA;
GORENSSEN; STUTZ, 2019).
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
Um projeto como o LabGestão,
que na sua base questiona os pares
binários tradicionais -
pensar e sentir,
sujeito e objeto, saberes e fazeres
enfrenta
uma série de desafios,
começando com o próprio registro de
um projeto que conjuga
pesquisa/extensão e a
obtenção de
financiamento. também a
necessidade criar metodologias e
ambientes de trabalho que integrem
acadêmicos e não acadêmicos na
construção c
ompartilhada de
conhecimento, operando com
problemas reais, e administrar os
riscos de insucesso acadêmico em
função dos critérios vigentes de
qualidade acadêmica. Além disso,
demanda esforço e disposição
estabelecer relações de confiança com
grupos e inst
ituições não acadêmicas:
lidar com suas expectativas e manter o
envolvimento de atores o diversos
por um período de tempo mais longo,
necessário aos meandros das
construções coletivas, bem como
“traduzir” a linguagem científica de
forma acessível a todos.
Dificuldades significam desafios
que precisam ser enfrentados. A
ciência é perpassada por relações de
poder e é necessário ocupar os
Pensarsentirfazer
contracolonial
Revista Latino
-Americana de Estudos
134
, set. 2023. www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
Um projeto como o LabGestão,
que na sua base questiona os pares
pensar e sentir,
sujeito e objeto, saberes e fazeres
-
uma série de desafios,
começando com o próprio registro de
um projeto que conjuga
obtenção de
financiamento. Há também a
necessidade criar metodologias e
ambientes de trabalho que integrem
acadêmicos e não acadêmicos na
ompartilhada de
conhecimento, operando com
problemas reais, e administrar os
riscos de insucesso acadêmico em
função dos critérios vigentes de
qualidade acadêmica. Além disso,
demanda esforço e disposição
estabelecer relações de confiança com
ituições não acadêmicas:
lidar com suas expectativas e manter o
envolvimento de atores tão diversos
por um período de tempo mais longo,
necessário aos meandros das
construções coletivas, bem como
traduzir a linguagem científica de
Dificuldades significam desafios
que precisam ser enfrentados. A
ciência é perpassada por relações de
poder e é necessário ocupar os
espaços institucionais da universidade
e disputar a agenda acadêmica para
se construir estruturas mais
adequadas aos pro
blemas e vocações
da contemporaneidade. No horizonte,
um série de conquistas que nos
animam nessa senda: a)o grupo
ampliado de pesquisadores; b)
aformação de gestores culturais mais
capacitados tanto em relação aos
aspectos técnicos da gestão de
projetos,
como também com uma
visão crítica, humanista e cidadã sobre
o papel da cultura para a sociedade; c)
projetos e coletivos culturais mais
sustentáveis, capacitados tanto a
mobilizar recursos de financiamento
público e privado, quanto em
desenvolver práticas
tais como, mutualização de recursos,
contribuições voluntárias, práticas
reciprocitárias, entre outros;
af
ormação de uma Rede de Gestores
Culturais, que passem a atuar
colaborativamente tanto no
desenvolvimento de seus projetos
quanto
na participação junto ao poder
público para o desenvolvimento de
políticas culturais estruturantes nas
suas cidades; e) além do próprio
amadurecimento do projeto
LabGestão.
131
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
espaços institucionais da universidade
e disputar a agenda acadêmica para
se construir estruturas mais
blemas e vocações
da contemporaneidade. No horizonte,
um série de conquistas que nos
animam nessa senda: a)o grupo
ampliado de pesquisadores; b)
aformação de gestores culturais mais
capacitados tanto em relação aos
aspectos técnicos da gestão de
como também com uma
vio crítica, humanista e cidadã sobre
o papel da cultura para a sociedade; c)
projetos e coletivos culturais mais
sustentáveis, capacitados tanto a
mobilizar recursos de financiamento
público e privado, quanto em
desenvolver práticas
de solidariedade,
tais como, mutualização de recursos,
contribuições voluntárias, práticas
reciprocitárias, entre outros;
d)
ormação de uma Rede de Gestores
Culturais, que passem a atuar
colaborativamente tanto no
desenvolvimento de seus projetos
na participação junto ao poder
público para o desenvolvimento de
políticas culturais estruturantes nas
suas cidades; e) além do próprio
amadurecimento do projeto
SOUIZA, Luciano S. de; BEZERRA, Laura.
Pensarsentirfazer
em gestão cultural. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 13, n. 25, p. 107-
134
O Recôncavo é constituído em
sua maioria por negros(as), mulheres
e pobres, grupos
majoritários em
termos numéricos, mas econômica e
politicamente excluídos dos espaços
de poder. A proposta de reforçar o
agenciamento desses grupos, criando
estratégias que contribuam para sua
participação efetiva nas decisões
sobre as políticas culturais
em seu território a partir das
tecnologias disponíveis localmente,
são pequenos mosaicos de
transformação no sentido de ampliar a
compreensão e democratizar as
práticas da gestão cultural e, assim,
construir sentidos mais orgânicos e
palpáveis d
e democracia no Brasil.
Referências
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(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
O Rencavo é constituído em
sua maioria por negros(as), mulheres
majoritários em
termos numéricos, mas econômica e
politicamente excluídos dos espaços
de poder. A proposta de reforçar o
agenciamento desses grupos, criando
estratégias que contribuam para sua
participação efetiva nas decisões
sobre as políticas culturais
efetivadas
em seu território a partir das
tecnologias disponíveis localmente,
o pequenos mosaicos de
transformação no sentido de ampliar a
compreensão e democratizar as
práticas da gestão cultural e, assim,
construir sentidos mais orgânicos e
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