HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
Arte e comunicação para produzir dribles epistêmicos: iniciativas juvenis das
“quebradas” de Salvador (Bahia, Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia)
DOI: https://doi.org/
10.22409/pragmatizes
Resumo:
Neste artigo, proponho contribuir para a refleo sobre a atuação de iniciativas em arte e
comunicação lideradas por jovens em territórios violentados da América Latina, partindo da seguinte
provocação: com suas táticas, produções artísticas e modelos de gestão cultural comunitária, estas
de emancipação dos seus territórios? O que nos revelam estas p
arte e a comunicação como alicerces pedagógicos, a ancestralidade como bússola, o território como
âncora e a aposta pelo comunitário como catalizadora da atuação? Compreendendo que por meio da
arte e da comunicação esta
s juventudes elaboram dribles epistêmicos que convidam para a
composição de outras intelectualidades, não estaríamos rumo às epistemologias das quebradas?
Para avançar nestas reflexões, dialogo com ações culturais promovidas por coletivos atuantes nas
peri
ferias de duas cidades latino
Colômbia).
Palavras-chave:
juventudes, periferias, gestão cultural comunitária, emancipação, epistemologias
Arte y comunicación para producir regates epistémicos
"quebradas" de Salvador (Bahia, Brasil) y Cali (Valle del Cauca, Colombia)
Resumen:
En este artículo me propongo a contribuir con la reflexión sobre la actuación de iniciativas
en arte y comunicación protagonizadas por
siguiente provocación: con sus tácticas, producciones artísticas y modelos de gestión cultural
comunitaria, ¿no estarían estas/os jóvenes en movimiento produciendo conocimiento capaz de incidir
en los pro
cesos de emancipación de sus territorios? ¿Qué nos revelan estas prácticas de gestión
cultural, con el arte y la comunicación como fundamentos pedagógicos, la ancestralidad como brújula,
el territorio como ancla y el compromiso con la comunidad como catali
entendemos que a través del arte y la comunicación estos jóvenes elaboran regates epistémicos que
invitan a la composición de otras intelectualidades, ¿no estaremos encaminándonos hacia las
epistemologías de las barriadas? Para avanz
promovidas por colectivos activos en las periferias de dos ciudades latinoamericanas: Salvador
(Bahia, Brasil) y Cali (Valle del Cauca, Colombia).
1
Bruna Pegna Hercog. Doutora em Cultura e Sociedade pela UFBA. Pesquisadora do Observatório
da Diversidade Cultural
(ODC), Minas Gerais, Brasil
0002-0215-4025
Recebido em 08/03/2023,
aceito para publicação em
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
Arte e comunicação para produzir dribles epistêmicos: iniciativas juvenis das
“quebradasde Salvador (Bahia, Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia)
Bruna Pegna Hercog
10.22409/pragmatizes
.v13i25.57664
Neste artigo, proponho contribuir para a reflexão sobre a atuação de iniciativas em arte e
comunicação lideradas por jovens em territórios violentados da América Latina, partindo da seguinte
provocação: com suas táticas, produções artísticas e modelos de gestão cultural comunitária, estas
juventudes em movimento não estariam produzindo conhecimentos capazes de incidir nos processos
de emancipação dos seus territórios? O que nos revelam estas p
ráticas de gestão cultural que têm a
arte e a comunicação como alicerces pedagógicos, a ancestralidade como bússola, o território como
âncora e a aposta pelo comunitário como catalizadora da atuação? Compreendendo que por meio da
s juventudes elaboram dribles epistêmicos que convidam para a
composição de outras intelectualidades, não estaríamos rumo às epistemologias das quebradas?
Para avançar nestas reflexões, dialogo com ações culturais promovidas por coletivos atuantes nas
ferias de duas cidades latino
-
americanas: Salvador (Bahia, Brasil) e Cali (Valle del Cauca,
juventudes, periferias, gestão cultural comunitária, emancipação, epistemologias
Arte y comunicación para producir regates epistémicos
: iniciativas juveniles de las
"quebradas" de Salvador (Bahia, Brasil) y Cali (Valle del Cauca, Colombia)
En este artículo me propongo a contribuir con la reflexión sobre la actuación de iniciativas
en arte y comunicación protagonizadas por
jóvenes en territorios violentados, partiendo de la
siguiente provocación: con sus tácticas, producciones artísticas y modelos de gestión cultural
comunitaria, ¿no estarían estas/os jóvenes en movimiento produciendo conocimiento capaz de incidir
cesos de emancipación de sus territorios? ¿Qué nos revelan estas prácticas de gestión
cultural, con el arte y la comunicación como fundamentos pedagógicos, la ancestralidad como brújula,
el territorio como ancla y el compromiso con la comunidad como catali
zador de la acción? Si
entendemos que a través del arte y la comunicación estos jóvenes elaboran regates epistémicos que
invitan a la composición de otras intelectualidades, ¿no estaremos encaminándonos hacia las
epistemologías de las barriadas? Para avanz
ar en estas reflexiones, dialogo con acciones culturales
promovidas por colectivos activos en las periferias de dos ciudades latinoamericanas: Salvador
(Bahia, Brasil) y Cali (Valle del Cauca, Colombia).
Bruna Pegna Hercog. Doutora em Cultura e Sociedade pela UFBA. Pesquisadora do Observatório
(ODC), Minas Gerais, Brasil
. bhercog@gmail.com -
https://orcid.org/0000
aceito para publicação em
27/06/20
23 e disponibilizado online em
01/09/2023.
35
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Arte e comunicação para produzir dribles epistêmicos: iniciativas juvenis das
“quebradasde Salvador (Bahia, Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia)
Bruna Pegna Hercog
1
Neste artigo, proponho contribuir para a refleo sobre a atuação de iniciativas em arte e
comunicação lideradas por jovens em territórios violentados da América Latina, partindo da seguinte
provocação: com suas táticas, produções artísticas e modelos de gestão cultural comunitária, estas
juventudes em movimento não estariam produzindo conhecimentos capazes de incidir nos processos
ráticas de gestão cultural que têm a
arte e a comunicação como alicerces pedagógicos, a ancestralidade como bússola, o território como
âncora e a aposta pelo comunitário como catalizadora da atuação? Compreendendo que por meio da
s juventudes elaboram dribles epistêmicos que convidam para a
composição de outras intelectualidades, não estaríamos rumo às epistemologias das quebradas?
Para avançar nestas reflexões, dialogo com ações culturais promovidas por coletivos atuantes nas
americanas: Salvador (Bahia, Brasil) e Cali (Valle del Cauca,
juventudes, periferias, gestão cultural comunitária, emancipação, epistemologias
: iniciativas juveniles de las
En este artículo me propongo a contribuir con la reflexión sobre la actuación de iniciativas
jóvenes en territorios violentados, partiendo de la
siguiente provocación: con sus tácticas, producciones artísticas y modelos de gestión cultural
comunitaria, ¿no estarían estas/os jóvenes en movimiento produciendo conocimiento capaz de incidir
cesos de emancipación de sus territorios? ¿Qué nos revelan estas prácticas de gestión
cultural, con el arte y la comunicación como fundamentos pedagógicos, la ancestralidad como brújula,
zador de la acción? Si
entendemos que a través del arte y la comunicación estos jóvenes elaboran regates epistémicos que
invitan a la composición de otras intelectualidades, ¿no estaremos encaminándonos hacia las
ar en estas reflexiones, dialogo con acciones culturales
promovidas por colectivos activos en las periferias de dos ciudades latinoamericanas: Salvador
Bruna Pegna Hercog. Doutora em Cultura e Sociedade pela UFBA. Pesquisadora do Observatório
https://orcid.org/0000
-
23 e disponibilizado online em
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
Palabras clave:
juventudes, periferias, gestión cult
Art and communication to produce epistemic dribbles: youth initiatives from the "quebradas"
of Salvador (Bahia, Brazil) and Cali (Valle del Cauca, Colombia)
Abstract:
In this article, I propose to
and communication led by young people in violated territories, starting from the following provocation:
with their tactics, artistic productions and models of community cultural manageme
young people in movement be producing knowledge capable of influencing the processes of
emancipation of their territories? What do these cultural management practices that have art and
communication as pedagogical foundations, ancestry a
community as a catalyst for action reveal to us? If we understand that through art and communication
these young people elaborate epistemic dribbles that invite the composition of other intellectualities,
would we n
ot be heading towards the epistemologies of the quebradas? In order to advance in these
reflections, I dialogue with cultural actions promoted by collectives acting in the peripheries of two
Latin American cities: Salvador (Bahia, Brazil) and Cali (Valle
Keywords:
youth, peripheries, community cultural management, emancipation, epistemologies
Arte e comunicação para produzir dribles epistêmicos: iniciativas juvenis das
“quebradas” de Salvador (Bahia, Brasil) e Cali (Valle del
Pontos de partida
Nunca vou esquecer do dia em
que, no auge dos meus 20 e poucos
anos e do título de jornalista rem
conquistado, Seu
liderança indígena do Extremo Sul da
Bahia -
pousou delicadamente a mão
em meu ombro e disse: “
minha filha, tá
vendo aquela mangueira ali? Foi
minha família que plantou. Sabe
quanto tempo demorei para comer
uma manga desse pé? Foi pra mais de
20
anos. Você vai voltar e recomeçar a
atividade com as crianças, tá certo?
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
juventudes, periferias, gestión cult
ural comunitaria, emancipación, epistemologías
Art and communication to produce epistemic dribbles: youth initiatives from the "quebradas"
of Salvador (Bahia, Brazil) and Cali (Valle del Cauca, Colombia)
In this article, I propose to
contribute to the reflection on the performance of initiatives in art
and communication led by young people in violated territories, starting from the following provocation:
with their tactics, artistic productions and models of community cultural manageme
young people in movement be producing knowledge capable of influencing the processes of
emancipation of their territories? What do these cultural management practices that have art and
communication as pedagogical foundations, ancestry a
s a compass, territory as an anchor, and
community as a catalyst for action reveal to us? If we understand that through art and communication
these young people elaborate epistemic dribbles that invite the composition of other intellectualities,
ot be heading towards the epistemologies of the “quebradas”? In order to advance in these
reflections, I dialogue with cultural actions promoted by collectives acting in the peripheries of two
Latin American cities: Salvador (Bahia, Brazil) and Cali (Valle
del Cauca, Colombia).
youth, peripheries, community cultural management, emancipation, epistemologies
Arte e comunicação para produzir dribles epistêmicos: iniciativas juvenis das
“quebradasde Salvador (Bahia, Brasil) e Cali (Valle del
Cauca, Colômbia)
Nunca vou esquecer do dia em
que, no auge dos meus 20 e poucos
anos e do título de jornalista recém
-
conquistado, Seu Zé
Fragoso
liderança indígena do Extremo Sul da
pousou delicadamente a mão
minha filha,
vendo aquela mangueira ali? Foi
minha família que plantou. Sabe
quanto tempo demorei para comer
uma manga desse pé? Foi pra mais de
anos. Você vai voltar e recomeçar a
atividade com as crianças, certo?
”.
Voltei para o espaço na aldeia Tibá
que foi cuidadosamente organizado
para que eu pudesse fazer uma oficina
de comunicação para crianças e
recomecei a atividade, cuidando para
respeitar o tempo
-
saberes produzidos naquele lugar.
Muito antes de ler Milton Santos
e seu conceito-
fundamento de território
usado (2005), as palavras bias de
Seu me ensinavam sobre
pertencimento, tempo, memória,
territorialidades, comu
2
A aldeia Tibá está localizada no Território
Indígena (TI)
Comexatibá, localizado em
Prado, no extremo sul baiano. Seu Zé Fragoso
é o cacique da aldeia.
36
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
ural comunitaria, emancipación, epistemologías
Art and communication to produce epistemic dribbles: youth initiatives from the "quebradas"
contribute to the reflection on the performance of initiatives in art
and communication led by young people in violated territories, starting from the following provocation:
with their tactics, artistic productions and models of community cultural manageme
nt, wouldn't these
young people in movement be producing knowledge capable of influencing the processes of
emancipation of their territories? What do these cultural management practices that have art and
s a compass, territory as an anchor, and
community as a catalyst for action reveal to us? If we understand that through art and communication
these young people elaborate epistemic dribbles that invite the composition of other intellectualities,
ot be heading towards the epistemologies of the quebradas? In order to advance in these
reflections, I dialogue with cultural actions promoted by collectives acting in the peripheries of two
del Cauca, Colombia).
youth, peripheries, community cultural management, emancipation, epistemologies
Arte e comunicação para produzir dribles epistêmicos: iniciativas juvenis das
Cauca, Colômbia)
Voltei para o espaço na aldeia Tibá
2,
que foi cuidadosamente organizado
para que eu pudesse fazer uma oficina
de comunicação para crianças e
recomecei a atividade, cuidando para
-
presente e os
saberes produzidos naquele lugar.
Muito antes de ler Milton Santos
fundamento de território
usado (2005), as palavras sábias de
Seu Zé me ensinavam sobre
pertencimento, tempo, memória,
territorialidades, comu
nicação, cultura,
A aldeia Tibá está localizada no Território
Comexatibá, localizado em
Prado, no extremo sul baiano. Seu Zé Fragoso
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
lugar, espaço habitado. Seu alerta
afetuoso apontava para a necessidade
de observar as diferentes cosmovies
que configuram a sociedade brasileira
e a latino-americana
distintas formas e tempos de produção
de conhecimento.
se passaram
quase 20 anos desse acontecimento,
acumulei outros títulos e experiências
profissionais e o ensinamento de Seu
Fragoso me acompanha em todos
os passos que dou. Sigo empenhada
em construir processos dialógicos e
afetivos (muito melhor do q
com quem se dedica a construir outras
formas de viver, de gerir e de produzir
conhecimentos, desafiando
diariamente a lógica neoliberal de
desenvolvimento, ciência e cultura.
Neste sentido, ao longo do
processo de doutoramento, tive a
oportuni
dade de estreitar o diálogo
com jovens que desenvolvem
processos comunitários em duas
cidades latino-
americanas: Salvador
(Bahia, Brasil) e Cali (Valle del Cauca,
Colômbia)3
e de tecer uma
3
Ver: HERCOG, Bruna. Rumo às
epistemologias das quebradas: iniciativas
(Valle del Cauca, Colômbia). (Tese de
Doutorado
). UFBA. Salvador, Bahia, 2022.
Disponível em:
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
lugar, espaço habitado. Seu alerta
afetuoso apontava para a necessidade
de observar as diferentes cosmovisões
que configuram a sociedade brasileira
e para as
distintas formas e tempos de produção
Já se passaram
quase 20 anos desse acontecimento,
acumulei outros títulos e experiências
profissionais e o ensinamento de Seu
Zé Fragoso me acompanha em todos
os passos que dou. Sigo empenhada
em construir processos dialógicos e
afetivos (muito melhor do q
ue efetivos)
com quem se dedica a construir outras
formas de viver, de gerir e de produzir
conhecimentos, desafiando
diariamente a lógica neoliberal de
desenvolvimento, ciência e cultura.
Neste sentido, ao longo do
processo de doutoramento, tive a
dade de estreitar o diálogo
com jovens que desenvolvem
processos comunitários em duas
americanas: Salvador
(Bahia, Brasil) e Cali (Valle del Cauca,
e de tecer uma
teia-tese4
Ver: HERCOG, Bruna. Rumo às
epistemologias das quebradas: iniciativas
juvenis em Salvador (Bahia, Brasil) e Cali
(Valle del Cauca, Colômbia). (Tese de
). UFBA. Salvador, Bahia, 2022.
com eles e elas. Nos dedicamos a
compreender de que form
produções artísticas destes e destas
jovens produzem conhecimentos
capazes de incidir nos processos de
emancipação de seus territórios.
São jovens moradores de
territórios violentados
em movimentos, coletivos, grupos de
arte
e comunicação para enfrentar as
marcas de estigmatização decorrentes
do apagamento histórico, do racismo e
da exclusão social. o juventudes em
movimento
em menção tanto à
noção de Raúl Zibechi (2013) de
sociedades em movimento quanto à
de Nilma Lino Go
https://repositorio.ufba.br/handle/ri/35390
Acesso em 03 mar 2023.
4 A noção de teia-
tese relaciona
“dinâmica da teia”, disparadora e
de processos de reflexão, diálogo e escrita
coletiva. A teia se estrutura em três principais
convites: “o trajeto do eu”; os nós e o trajeto
de nós”. Seu principal objetivo é horizontalizar
as relações entre os diferentes sujeitos,
aproximar
e sistematizar os fazeres cotidianos,
abrir caminhos para diálogos horizontalizados
sobre temas estruturantes da luta social e
estimular o processo de elaboração de textos
coletivos por meio da valorização da oralidade,
da memória, do diálogo (HERCOG, 202
Trata-
se de um recurso metodológico que
venho construindo desde 2012, em distintos
contextos e com diferentes públicos, e que foi
utilizado ao longo do processo de
doutoramento.
5
Por “território violentado, entendo as
localidades historicamente subme
série de violências (estruturais, simbólicas e
físicas).
37
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
com eles e elas. Nos dedicamos a
compreender de que form
a as táticas e
produções artísticas destes e destas
jovens produzem conhecimentos
capazes de incidir nos processos de
emancipação de seus territórios.
São jovens moradores de
territórios violentados
5 que se reúnem
em movimentos, coletivos, grupos de
e comunicação para enfrentar as
marcas de estigmatização decorrentes
do apagamento histórico, do racismo e
da excluo social. São juventudes em
em menção tanto à
noção de Raúl Zibechi (2013) de
sociedades em movimento quanto à
de Nilma Lino Go
mes (2017) de
https://repositorio.ufba.br/handle/ri/35390
tese relaciona
-se com a
dinâmica da teia, disparadora e
mantenedora
de processos de reflexão, diálogo e escrita
coletiva. A teia se estrutura em três principais
convites: o trajeto do eu; “os nóse “o trajeto
de nós. Seu principal objetivo é horizontalizar
as relações entre os diferentes sujeitos,
e sistematizar os fazeres cotidianos,
abrir caminhos para diálogos horizontalizados
sobre temas estruturantes da luta social e
estimular o processo de elaboração de textos
coletivos por meio da valorização da oralidade,
da memória, do diálogo (HERCOG, 202
2).
se de um recurso metodológico que
venho construindo desde 2012, em distintos
contextos e com diferentes blicos, e que foi
utilizado ao longo do processo de
Por território violentado”, entendo as
localidades historicamente subme
tidas a uma
série de violências (estruturais, simbólicas e
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
negras e negros em movimento
realizam saraus de poesia, publicam
livros, produzem documentários, criam
bibliotecas comunitárias, promovem
festivais de cinema, transformam
muros em telas e ruas em espaços
culturais etc.
Por meio do uso
palavra elaboram
epistêmicos
: táticas coletivas
que se propõem
ressignificar os imaginários
estigmatizados
, produções de
conhecimento que se dão na
tensão, na
constante
, e que encontram
esteio nas
cosmovisões
afrodiaspóricas
2022, p. 9 [
grifos nossos
É sobre estes dribles
epistêmicos que vamos prosear aqui, a
partir do diálogo com ações realizadas
por coletivos de Salvador e Cali. Com
suas práticas, estas e estes jovens
passam a estruturar formas de gestão
cultural comunitária pautadas pelo
fortalecimento dos laços comunitários,
pela formação de pares, pelo
desenvolvimento territorial.
Mas, por que conectar Brasil e
Colômbia? Por que aproximar
Salvador e Cali? Ambas são cidades
com populações afrodiaspórica
marcadas por processos colonizatórios
violentos e por resistências
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
negras e negros em movimento
que
realizam saraus de poesia, publicam
livros, produzem documentários, criam
bibliotecas comunitárias, promovem
festivais de cinema, transformam
muros em telas e ruas em espaços
Por meio do uso
político da
palavra elaboram
dribles
: táticas coletivas
que se propõem
a
ressignificar os imaginários
, produções de
conhecimento que se dão na
teno, na
negociação
, e que encontram
cosmovisões
(HERCOG,
grifos nossos
]).
É sobre estes dribles
epistêmicos que vamos prosear aqui, a
partir do diálogo com ações realizadas
por coletivos de Salvador e Cali. Com
suas práticas, estas e estes jovens
passam a estruturar formas de gestão
cultural comunitária pautadas pelo
fortalecimento dos laços comunitários,
pela formação de pares, pelo
Mas, por que conectar Brasil e
Colômbia? Por que aproximar
Salvador e Cali? Ambas são cidades
com populações afrodiaspórica
s
marcadas por processos colonizatórios
violentos e por resistências
contundentes. Nelas, assim como em
toda Latinoamérica, o suas
populações negras e indígenas que
estão colocadas às margens dos
projetos de cidade, dos modelos de
urbanização, das estrut
de produção de conhecimento, mas,
também, são essas populações que se
aquilombam
tomando a perspectiva
do quilombismo como ideia
(NASCIMENTO, 1980)
vida, arte, cultura mesmo diante da
iminência constante da morte. Como
bem diz Grada Kilomba (2019, p.
ao citar bell hooks: a margem não
deve ser vista apenas como um
espaço periférico, um espaço de perda
e privação, mas sim como um espaço
de resistência e possibilidade.
Em Cali e em Salvador, o as
juventudes negras
vítimas da violência e da criminalidade,
mas também são elas que resistem e
elaboram respostas que nos ajudam a
repensar modos de organização que
fortalecem a capacidade de tomada de
decisões das coletividades. Neste
sentido, assim como já d
outra oportunidade6
, mais do que
6 Ver:
BONFIM, C.; FRANÇA, N; HERCOG, B.;
VIEIRA, V. Rumo a uma epistemologia das
quebradas: ativismos juvenis para além da
38
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
contundentes. Nelas, assim como em
toda Latinoamérica, são suas
populações negras e indígenas que
estão colocadas às margens dos
projetos de cidade, dos modelos de
urbanização, das estrut
uras “oficiais”
de produção de conhecimento, mas,
também, o essas populações que se
tomando a perspectiva
do quilombismo como ideia
-força
(NASCIMENTO, 1980)
- e produzem
vida, arte, cultura mesmo diante da
iminência constante da morte. Como
bem diz Grada Kilomba (2019, p.
68),
ao citar bell hooks: “a margem não
deve ser vista apenas como um
espaço periférico, um espaço de perda
e privação, mas sim como um espaço
de resistência e possibilidade”.
Em Cali e em Salvador, são as
as principais
timas da violência e da criminalidade,
mas também o elas que resistem e
elaboram respostas que nos ajudam a
repensar modos de organização que
fortalecem a capacidade de tomada de
decies das coletividades. Neste
sentido, assim como d
issemos em
, mais do que
BONFIM, C.; FRANÇA, N; HERCOG, B.;
VIEIRA, V. Rumo a uma epistemologia das
quebradas: ativismos juvenis para além da
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
resistir, essas juventudes estão
elaborando potentes ofensivas
culturais emancipadoras
relação à noção de juventudes
adotada, importante destacar que,
para além da especificação etária,
comporta a dimensão
territorial e
comunitária. Esse território que se
constrói a partir da dinâmica dos
lugares, tornando-
se espaço habitado
onde se desenvolvem relações
humanas de identidade, vizinhança,
solidariedades e construção política
(SANTOS, 2005).
A noção de gestão
acionada aqui também se relaciona
diretamente com a dimensão territorial.
Para Luana Vilutis (2019, p. 174): o
território se configura como
fundamento para a cultura, base para
sua realização e renovação e a
gestão cultural comunitária, portanto
expressa uma forma de
organização social da cultura
pautada pela
pluralidade
pela diversidade
, sua prática
resistência. PragMATIZES
Revista Latino
Americana de Estudos
em Cultura
12, n. 22, p. 245-269, mar.
2022.
em
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i22.51
098
7
Ofensiva cultural é uma categoria pensada
pelo professor Carlos
Bonfim, que acompanha
os escritos e atuações do grupo de pesquisa e
intervenção Rede ao Redor, do qual faço
parte.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
resistir, essas juventudes estão
elaborando potentes ofensivas
culturais emancipadoras
7. Com
relação à noção de juventudes
adotada, importante destacar que,
para além da especificação etária,
territorial e
comunitária. Esse território que se
constrói a partir da dinâmica dos
se espaço habitado
onde se desenvolvem relações
humanas de identidade, vizinhança,
solidariedades e construção política
A noção de gestão
cultural
acionada aqui também se relaciona
diretamente com a dimensão territorial.
Para Luana Vilutis (2019, p. 174): “o
território se configura como
fundamento para a cultura, base para
sua realização e renovação” e a
gestão cultural comunitária, portanto
:
expressa uma forma de
organização social da cultura
pluralidade
e
, sua prática
Revista Latino
-
em Cultura
, Nitertói, v.
2022.
Disponível
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i22.51
Ofensiva cultural é uma categoria pensada
Bonfim, que acompanha
os escritos e atuações do grupo de pesquisa e
intervenção Rede ao Redor, do qual faço
é coletiva e orientada pelo
diálogo intercultural
integração social e produtiva,
pela convivência e pelo
compartilhamento, aspectos
que
configuram ambiente fértil
para a reprodução da
diversidade(VILUTIS, 2019, p.
172 [
grifos nossos
Feitos os esclarecimentos
iniciais, o convite que faço
me a tantas outras pesquisadoras e
pesquisadores -
abordagem propositiva que pos
contribuir para a disseminação do
tanto que vem sendo gestado nestes
nossos outros centros, que insistimos
em chamar periferias. Mas, como nos
alerta Kilomba, em diálogo com bell
hooks, é preciso cuidado para não
romantizar a opressão:
Em que medida es
idealizando posições
periféricas e ao fazê
minando a violência do centro?
[...] bell hooks argumenta que
este não é um exercio
romântico, mas o simples
reconhecimento da margem
como uma posição
complexa
que incorpora mais
de um local. A
um
lugar de repressão
quanto um
resistência
(KILOMBA, 2019, p. 68, [
nossos])
Compreendendo, portanto, as
complexidades das margens,
39
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
é coletiva e orientada pelo
diálogo intercultural
, pela
integração social e produtiva,
pela convivência e pelo
compartilhamento, aspectos
configuram ambiente fértil
para a reprodução da
diversidade(VILUTIS, 2019, p.
grifos nossos
])
Feitos os esclarecimentos
iniciais, o convite que faço
- somando-
me a tantas outras pesquisadoras e
é para uma
abordagem propositiva que pos
sa
contribuir para a disseminação do
tanto que vem sendo gestado nestes
nossos outros centros, que insistimos
em chamar periferias. Mas, como nos
alerta Kilomba, em diálogo com bell
hooks, é preciso cuidado para não
romantizar a opressão:
Em que medida es
tamos
idealizando posições
periféricas e ao fazê
-lo
minando a violência do centro?
[...] bell hooks argumenta que
este não é um exercício
romântico, mas o simples
reconhecimento da margem
como uma posição
que incorpora mais
de um local. A
margem é tanto
lugar de repressão
quanto um
lugar de
[hooks, 1990]
(KILOMBA, 2019, p. 68, [
grifos
Compreendendo, portanto, as
complexidades das margens,
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
questiono: que formas outras de
letramentos, ação cultural, ação
política, espaço/eq
culturais, centros/periferias constroem
estas juventudes que se juntam em
coletivos, grupos, movimentos? Quais
aprendizagens nos trazem essas
práticas contestatórias de gestão
cultural assentadas nos chãos do
cotidiano?
“Aqui a gente é quilomb
experiências de gestão cultural
comunitária em Salvador e Cali
A partir da pesquisa de
doutorado citada foi possível
mapear uma série de iniciativas
comunitárias geridas por jovens em
Salvador e em Cali
identificados 127 grupos na capital
baiana e 46 em Cali que desenvolviam
8
Em Salvador, o mapeamento foi feito de
forma articulada à cartografia
Rede ao Redor:
iniciativas juvenis em arte e comunicação nas
periferias de Salvador
, um projeto coordenado
pelo professor Carlos Bonfim e desenvolvido
no Instituto de Artes e Ciências Prof. Milton
Santos (IHAC/UFBA). Em Cali, não foi
possível desenvolver um mapeamento nos
mesmos moldes. Realizei uma busca ativa e
contei com
apoio dos coletivos A La Hora e A
Ritmo de Ladera para fazer o levantamento
dos grupos com atuação nas periferias da
cidade. Também utilizei como fonte o
mapeamento
Mapeando la Comunicación
Comunitária en Cali.
Disponível em:
https://www.mapeandolacomunicacion.com/
Acesso em 13 jan. 2022.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
questiono: que formas outras de
letramentos, ação cultural, ação
política, espaço/eq
uipamentos
culturais, centros/periferias constroem
estas juventudes que se juntam em
coletivos, grupos, movimentos? Quais
aprendizagens nos trazem essas
práticas contestatórias de gestão
cultural assentadas nos chãos do
Aqui a gente é quilomb
o”:
experiências de gestão cultural
comunitária em Salvador e Cali
A partir da pesquisa de
doutorado já citada foi possível
mapear uma rie de iniciativas
comunitárias geridas por jovens em
Salvador e em Cali
8: foram
identificados 127 grupos na capital
baiana e 46 em Cali que desenvolviam
Em Salvador, o mapeamento foi feito de
Rede ao Redor:
iniciativas juvenis em arte e comunicação nas
, um projeto coordenado
pelo professor Carlos Bonfim e desenvolvido
no Instituto de Artes e Ciências Prof. Milton
Santos (IHAC/UFBA). Em Cali, não foi
posvel desenvolver um mapeamento nos
mesmos moldes. Realizei uma busca ativa e
apoio dos coletivos A La Hora e A
Ritmo de Ladera para fazer o levantamento
dos grupos com atuação nas periferias da
cidade. Também utilizei como fonte o
Mapeando la Comunicación
Disponível em:
https://www.mapeandolacomunicacion.com/
atividades artísticas, comunicacionais
e educacionais nas periferias. As
linguagens artísticas o diversas
dança, música, literatura, produção
audiovisual, poesia, teatro d
etc.
, assim como as atividades
realizadas.
Entre elas podemos citar a
promoção de espaços formativos;
publicação de livros, filmes,
videoclipes, documentários; projetos
de turismo comunitário; realização de
eventos como saraus poéticos,
bata
lhas de poesia, batalhas de hip
hop, desfiles de moda; atuação em
escolas públicas, praças, transportes
coletivos, instâncias de participação
institucional como Conselhos de
Direitos etc. Em Cali, a maior parte dos
grupos mapeados atua com produção
audiovi
sual e cinematográfica,
literatura, música, teatro, circo,
cicloativismo, hip hop, grafite,
muralismo, entre outras linguagens.
No geral, o tempo de existência
dos grupos varia entre 5 e 10 anos,
porém também encontramos iniciativas
com mais tempo de cami
é o caso do Grupo de Arte Popular A
Pombagem9
, fundado em 2009 e a
9
https://www.instagram.com/apombagem/
40
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
atividades artísticas, comunicacionais
e educacionais nas periferias. As
linguagens artísticas são diversas
-
dança, música, literatura, produção
audiovisual, poesia, teatro d
e rua, circo
, assim como as atividades
Entre elas podemos citar a
promoção de espaços formativos;
publicação de livros, filmes,
videoclipes, documentários; projetos
de turismo comunitário; realização de
eventos como saraus poéticos,
lhas de poesia, batalhas de hip
hop, desfiles de moda; atuação em
escolas públicas, praças, transportes
coletivos, instâncias de participação
institucional como Conselhos de
Direitos etc. Em Cali, a maior parte dos
grupos mapeados atua com produção
sual e cinematográfica,
literatura, música, teatro, circo,
cicloativismo, hip hop, grafite,
muralismo, entre outras linguagens.
No geral, o tempo de existência
dos grupos varia entre 5 e 10 anos,
porém também encontramos iniciativas
com mais tempo de cami
nhada, como
é o caso do Grupo de Arte Popular A
, fundado em 2009 e a
https://www.instagram.com/apombagem/
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
Rede de Jovens Protagonistas da
Península de Itapagipe (Reprotai)
atuante desde 2004, em Salvador, ou
da Associación Festival Nacional Cine
y Video Comunitario del Distrito de
Aguablanca (FESDA)11
e do Circo
Capuccini12
, ambos com mais de 20
anos de atuação na cidade de Cali.
Em ambas as cidades, a grande parte
dos coletivos mapeados concentram
suas atividades nos bairros onde
moram seus/suas integrantes.
São inúmeras e diversif
as ações realizadas pelos grupos, por
isso convido a quem me lê que
acompanhe os coletivos nas redes
sociais, visitem seus espaços,
conheçam suas produções, escutem
as vozes de suas e seus integrantes.
Aqui, vamos dialogar com algumas
dentre tantas
ações realizadas. Em
Salvador, no ano de 2016, o Coletivo
Cutucar destacou-
se com o projeto
Mocambos Marginais: Olhares
Identitários sobre o Subúrbio de
10
https://www.facebook.com/reprotai/
11
https://www.facebook.com/FESDAcine
12
https://www.facebook.com/Forculvida
Capuchini-Circo-Teatro-
119259485345234/
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
Rede de Jovens Protagonistas da
Península de Itapagipe (Reprotai)
10,
atuante desde 2004, em Salvador, ou
da Associación Festival Nacional Cine
y Video Comunitario del Distrito de
e do Circo
, ambos com mais de 20
anos de atuação na cidade de Cali.
Em ambas as cidades, a grande parte
dos coletivos mapeados concentram
suas atividades nos bairros onde
moram seus/suas integrantes.
São inúmeras e diversif
icadas
as ações realizadas pelos grupos, por
isso convido a quem me que
acompanhe os coletivos nas redes
sociais, visitem seus espaços,
conheçam suas produções, escutem
as vozes de suas e seus integrantes.
Aqui, vamos dialogar com algumas
ações realizadas. Em
Salvador, no ano de 2016, o Coletivo
se com o projeto
Mocambos Marginais: Olhares
Identitários sobre o Subúrbio de
https://www.facebook.com/reprotai/
https://www.facebook.com/FESDAcine
https://www.facebook.com/Forculvida
-
119259485345234/
Salvador13
, financiado via edital
cultural municipal.14
Artistas e moradores/as da
região do Subúrbio Fe
Salvador15
, as/os integrantes do
coletivo fizeram uma intervenção
fotográfica em oito dos 22 bairros da
região e a partir de um processo
dialogado com as/os moradores.
Foram produzidas 150 poesias
fotográficas com até 10 metros de
altura. As im
agens foram expostas em
pontos estratégicos dos bairros,
definidos de forma conjunta entre o
coletivo e as/os fotografadas/os.
A proposta do Mocambos
Marginais era ocupar oito
comunidades do Subúrbio
Ferroviário com fotografias.
Fazer uma ocupação
fotográ
fica dentro dessas
oito comunidades
exposição a u aberto, onde
nós tivemos todo um processo
de mobilização, de contato
com essas comunidades
(
Raiane Vasconcelos,
integrante do Coletivo Cutucar
[
grifos nossos
13
https://www.instagram.com/coletivocutucar/
14
O projeto foi aprovado no Edital Arte em
Toda Parte III, promovido pela Fundação
Gregório de Matos, ligada à P
Municipal de Salvador.
15
Atualmente, de acordo com a Prefeitura
Municipal de Salvador, o Subúrbio Ferroviário
é formado por 12 bairros e 3 ilhas. Disponível
em:
https://prefeiturabairro.salvador.ba.gov.br/prefe
itura-bairro-suburbio-
ilhas/
2023
41
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
, financiado via edital
Artistas e moradores/as da
região do Subúrbio Fe
rroviário de
, as/os integrantes do
coletivo fizeram uma intervenção
fotográfica em oito dos 22 bairros da
região e a partir de um processo
dialogado com as/os moradores.
Foram produzidas 150 poesias
fotográficas com até 10 metros de
agens foram expostas em
pontos estratégicos dos bairros,
definidos de forma conjunta entre o
coletivo e as/os fotografadas/os.
A proposta do Mocambos
Marginais era ocupar oito
comunidades do Subúrbio
Ferroviário com fotografias.
Fazer uma ocupação
fica dentro dessas
oito comunidades
. Uma
exposição a céu aberto, onde
nós tivemos todo um processo
de mobilização, de contato
com essas comunidades
Raiane Vasconcelos,
integrante do Coletivo Cutucar
grifos nossos
]).
https://www.instagram.com/coletivocutucar/
O projeto foi aprovado no Edital Arte em
Toda Parte III, promovido pela Fundação
Gregório de Matos, ligada à P
refeitura
Atualmente, de acordo com a Prefeitura
Municipal de Salvador, o Subúrbio Ferroviário
é formado por 12 bairros e 3 ilhas. Disponível
https://prefeiturabairro.salvador.ba.gov.br/prefe
ilhas/
. Acesso em 10abr.
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
[...] não foram fotografias,
foram poesias. Poesia
marginal feita por pessoas do
Subúrbio Ferroviário que
produziram essas poesias a
partir da ida nas localidades. E
a ideia é essa: de construir
com as pessoas e pensar essa
comunidade. Pensar esse
cotid
iano, esse dia a dia, essa
poesia que está aí, dentro
desse local.
O que é que nós
podemos falar desse
cotidiano, o que é que nós
podemos comunicar a partir
do dia a dia? (
Vaguiner Braz,
integrante do Coletivo Cutucar
[grifos nossos]).
Foi a
primeira expo
céu aberto do Subúrbio
Ferroviário de Salvador [...]
Foi muito bonito, porque
pessoas chegavam pra
gente e falavam assim:
"poxa, eu me vi. Eu me
vi"
[...] Essas fotos foram
colocadas em casas, em locais
que as pessoas passavam e
viam.
Muitas pess
reconheciam tanto que
pegavam as fotos.
caso muito legal: de uma
senhora que tiraram uma foto,
ela pegou a foto e levou pra
casa. Porque era ela, ela se
sentiu bonita. Porque ela dizia
assim: "ah, não, eu sou feia".
Essa foto que estou falan
o Vaguiner [Vaguiner Braz]
que fez. E a senhora dizia
"não, eu não quero não. Eu
sou feia". Vaguiner: "não, vo
é muito linda". E tirou a foto
dessa senhora, e aí, quando a
gente voltou, a foto já não
estava lá, porque a senhora
pegou a foto e c
casa. [...]
Quando está na
rua, não é mais da gente.
Ficamos felizes por essa
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
[...] não foram só fotografias,
foram poesias. Poesia
marginal feita por pessoas do
Subúrbio Ferroviário que
produziram essas poesias a
partir da ida nas localidades. E
a ideia é essa: de construir
com as pessoas e pensar essa
comunidade. Pensar esse
iano, esse dia a dia, essa
poesia que está aí, dentro
O que é que nós
podemos falar desse
cotidiano, o que é que nós
podemos comunicar a partir
Vaguiner Braz,
integrante do Coletivo Cutucar
primeira expo
sição a
céu aberto do Subúrbio
Ferroviário de Salvador [...]
Foi muito bonito, porque
as
pessoas chegavam pra
gente e falavam assim:
"poxa, eu me vi. Eu me
[...] Essas fotos foram
colocadas em casas, em locais
que as pessoas passavam e
Muitas pess
oas se
reconheciam tanto que
pegavam as fotos.
Teve um
caso muito legal: de uma
senhora que tiraram uma foto,
ela pegou a foto e levou pra
casa. Porque era ela, ela se
sentiu bonita. Porque ela dizia
assim: "ah, não, eu sou feia".
Essa foto que estou falan
do foi
o Vaguiner [Vaguiner Braz]
que fez. E aí a senhora dizia
"não, eu não quero não. Eu
sou feia". Vaguiner: "não, você
é muito linda". E tirou a foto
dessa senhora, e aí, quando a
gente voltou, a foto não
estava lá, porque a senhora
pegou a foto e c
olocou em
Quando está na
rua, não é mais da gente.
Ficamos felizes por essa
senhora ter se reconhecido
na foto.
integrante do Coletivo Cutucar
[
grifos nossos
Como é possível notar pelos
relatos das jovens, as ruas
transformaram-
se em grandes galerias
de arte, as “pessoas comuns
tornaram-
se artistas. As obras de arte
foram levadas e passaram a ocupar
outros lugares -
salas, muros de casa.
Este projeto exemplifica uma ação
tática16
dos coletivos que subverte
cânones estéticos. Apesar de forjar
nossos imaginários, estes nones
não são universais.
Ações culturais como a
realizada pelo Cutucar evidenciam
metodologias que subvertem lógicas
cristalizadas, disputam narrativas e
constroem outras leituras sobre
territórios violentados e as pessoas
que os constroem cotidianamente.
Concordo, portanto, com É
Pessanha do Nascimento (2011)
quando diz que a produção cultural
dos sujeitos periféricos
16
A noção de ticas está sendo
compreendida na perspectiva de
Certeau (2014) como aquelas produzidas
pelas pessoas comuns fora do campo de visão
do inimigo, como respostas ágeis às
necessidades que surgem articuladas sobre as
invenções do cotidiano.
42
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
senhora ter se reconhecido
na foto.
(Marina Lima,
integrante do Coletivo Cutucar
grifos nossos
]).
Como é possível notar pelos
relatos das jovens, as ruas
se em grandes galerias
de arte, as pessoas comuns”
se artistas. As obras de arte
foram levadas e passaram a ocupar
salas, muros de casa.
Este projeto exemplifica uma ão
dos coletivos que subverte
nones estéticos. Apesar de forjar
nossos imaginários, estes cânones
Ações culturais como a
realizada pelo Cutucar evidenciam
metodologias que subvertem lógicas
cristalizadas, disputam narrativas e
constroem outras leituras sobre
territórios violentados e as pessoas
que os constroem cotidianamente.
Concordo, portanto, com É
rica
Pessanha do Nascimento (2011)
quando diz que a produção cultural
dos sujeitos periféricos
- marcada por
A noção de táticas está sendo
compreendida na perspectiva de
Michel de
Certeau (2014) como aquelas produzidas
pelas pessoas comuns fora do campo de visão
do inimigo, como respostas ágeis às
necessidades que surgem articuladas sobre as
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
subversões linguísticas e estéticas
positiva identidades coletivas.
Na mesma direção do
Mocambos Marginais
, podemos citar o
Festival Nacional de
Cine y Video
Comunitario del Distrito de Aguablanca
(FESDA)
, realizado, desde 2008, no
Distrito de Aguablanca17
, em Cali, pelo
coletivo homônimo. O evento reúne
produtoras/es audiovisuais e
comunicadoras/es comunitárias/os do
Oriente de Cali. Segundo suas/s
realizadoras/es, o objetivo da iniciativa
é contribuir para a divulgação e
formação em cinema comunitário para
a população do setor e possibilitar a
difusão de iniciativas comunitárias que
têm pouco espaço nos meios
massivos de comunicação.
Desta form
a, o FESDA fortalece
uma rede de artistas do audiovisual e
fomenta a divulgação de produções
que dificilmente conseguem se inserir
nos circuitos tradicionais de difusão
audiovisual. Permitem, também, a
difusão de narrativas que vão na
contracorrente dos di
17 Formada pelas comunas
13, 14, 15 e 21, a
região orienta
l de Cali é conhecida como
Distrito de Aguablanca. Dados do
Departamento Administrativo Nacional de
Estatística -
DANE (2005) indicavam que 70%
da população negra de Cali morava neste
setor.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
subveres linguísticas e estéticas
-
positiva identidades coletivas.
Na mesma direção do
, podemos citar o
Cine y Video
Comunitario del Distrito de Aguablanca
, realizado, desde 2008, no
, em Cali, pelo
coletivo homônimo. O evento reúne
produtoras/es audiovisuais e
comunicadoras/es comunitárias/os do
Oriente de Cali. Segundo suas/s
eus
realizadoras/es, o objetivo da iniciativa
é contribuir para a divulgação e
formação em cinema comunitário para
a população do setor e possibilitar a
difusão de iniciativas comunitárias que
têm pouco espaço nos meios
massivos de comunicação.
a, o FESDA fortalece
uma rede de artistas do audiovisual e
fomenta a divulgação de produções
que dificilmente conseguem se inserir
nos circuitos tradicionais de difusão
audiovisual. Permitem, também, a
difusão de narrativas que vão na
contracorrente dos di
scursos
13, 14, 15 e 21, a
l de Cali é conhecida como
Distrito de Aguablanca. Dados do
Departamento Administrativo Nacional de
DANE (2005) indicavam que 70%
da população negra de Cali morava neste
legitimados pelos meios de
comunicação massivos que, por sua
vez, refletem os interesses das elites
econômicas e políticas da Colômbia.
No final da noite, o coletivo
FESDA realizou uma exibição
de filmes ao ar livre, que
mostrou curtas nacionais e
internacionais sobre a
organização da comunidade
na defesa dos territórios,
assim como a importância do
cinema e da mídia audiovisual
para tornar viveis as lutas
que estão sendo realizadas
Assim como o Coletivo Cutucar,
com suas ações, estes jovens
transformam ruas de territórios
marcados por estigmas e violências
sistemáticas em salas de cinema, em
escolas de audiovisual. Permitem que
pessoas que nunca foram a uma sala
“convencional” de cin
possam ter a oportunidade de assistir
filmes como possam experimentar
processos de produção. As/os
idealizadora/es definem o Festival não
apenas como um evento, mas como
um processo social que fortalece quem
produz audiovisual, forma público
estimula que crianças, adolescentes,
jovens e mulheres sejam
18 Disponível em:
https://www.facebook.com/page/12973582736
25675/s
earch/?q=primer%20campamento
Acesso em 16 fev. 2022
43
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
legitimados pelos meios de
comunicação massivos que, por sua
vez, refletem os interesses das elites
econômicas e políticas da Colômbia.
No final da noite, o coletivo
FESDA realizou uma exibição
de filmes ao ar livre, que
mostrou curtas nacionais e
internacionais sobre a
organização da comunidade
na defesa dos territórios,
assim como a importância do
cinema e da mídia audiovisual
para tornar visíveis as lutas
que estão sendo realizadas
.18
Assim como o Coletivo Cutucar,
com suas ações, estes jovens
transformam ruas de territórios
marcados por estigmas e violências
sistemáticas em salas de cinema, em
escolas de audiovisual. Permitem que
pessoas que nunca foram a uma sala
convencional de cin
ema, não
possam ter a oportunidade de assistir
filmes como possam experimentar
processos de produção. As/os
idealizadora/es definem o Festival não
apenas como um evento, mas como
um processo social que fortalece quem
já produz audiovisual, forma público
e
estimula que crianças, adolescentes,
jovens e mulheres sejam
https://www.facebook.com/page/12973582736
earch/?q=primer%20campamento
.
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
apresentadas/os à linguagem
audiovisual por meio de atividades
formativas. Em suas redes sociais,
ressaltam:
O Festival promove a
formação, exibição e estimula
os processos de criação
audiovis
ual comunitária
através da assessoria coletiva,
ao mesmo tempo que
possibilita redes de
distribuição de peças
audiovisuais. Da mesma
forma, este espaço é criado
para
ampliar o campo de
ação de cada um dos
coletivos e formar o público
para a recepção dos
pr
odutos realizados por este
tipo de produtores
comunitários [
grifos nossos
Da mesma maneira que ruas
são transformadas em galerias de arte
e salas de cinema, estes grupos
convertem os transportes coletivos em
palcos para recitais poéticos,
equipamentos
públicos abandonados
ou casas particulares em
equipamentos culturais como
bibliotecas, escolas, centros culturais,
ou seja, espaços com usos
comunitários diversos. Estabelece
uma rasura na ideia convencional de
espaço cultural
associada à produção espa
feita pelo Estado e/ou pelo
mercado, enfocando aqueles
edifícios
salas de cinema,
teatros, museus, bibliotecas
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
apresentadas/os à linguagem
audiovisual por meio de atividades
formativas. Em suas redes sociais,
O Festival promove a
formação, exibição e estimula
os processos de criação
ual comunitária
através da assessoria coletiva,
ao mesmo tempo que
possibilita redes de
distribuição de peças
audiovisuais. Da mesma
forma, este espaço é criado
ampliar o campo de
ação de cada um dos
coletivos e formar o público
para a recepção dos
odutos realizados por este
tipo de produtores
grifos nossos
].
Da mesma maneira que ruas
o transformadas em galerias de arte
e salas de cinema, estes grupos
convertem os transportes coletivos em
palcos para recitais poéticos,
públicos abandonados
ou casas particulares em
equipamentos culturais como
bibliotecas, escolas, centros culturais,
ou seja, espaços com usos
comunitários diversos. Estabelece
-se
uma rasura na ideia convencional de
associada à produção espa
cial
feita pelo Estado e/ou pelo
mercado, enfocando aqueles
salas de cinema,
teatros, museus, bibliotecas
etc.
consideração pelos governos e
pelo segmento empresarial
nas políticas culturais que
estabelecem (ALBINATI, 2019,
p. 87)
Para compreender essas
atuações é preciso acionar uma noção
ampliada de espaço cultural que
considere as diferentes formas de
espacialização da expressão cultural
(ALBINATI, 2019). Neste sentido, em
sintonia com Mariana Albinati,
compreendo que estas ini
quebradas de Salvador e de Cali com
suas ações, constroem espaços do
encontro cultural, que podem ser
provisórios (ocupados pela auncia
de outros mais adequados) ou
temporários (que se realizam em
alguns momentos, mas não
permanentemente, c
sobreposição de territórios”
(ALBINATI, 2019, p. 87
Vejamos mais dois exemplos: a
Biblioteca Comunitária Zeferina Beiru
(BZB), localizada no bairro do
Beiru/Tancredo Neves, em Salvador, e
a Casa de Cultura Fundpiana, no
Distrito de Aguablan
Inaugurada em novembro de 2015, a
Biblioteca Comunitária Zeferina Beiru é
“uma organização comunitária,
44
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
que merecem
consideração pelos governos e
pelo segmento empresarial
nas políticas culturais que
estabelecem (ALBINATI, 2019,
Para compreender essas
atuações é preciso acionar uma noção
ampliada de espaço cultural que
considere as diferentes formas de
espacialização da expressão cultural
(ALBINATI, 2019). Neste sentido, em
sintonia com Mariana Albinati,
compreendo que estas ini
ciativas das
quebradas de Salvador e de Cali com
suas ações, constroem “espaços do
encontro cultural, que podem ser
provirios (ocupados pela ausência
de outros mais adequados) ou
temporários (que se realizam em
alguns momentos, mas não
permanentemente, c
riando uma
sobreposição de territórios”
(ALBINATI, 2019, p. 87
-88).
Vejamos mais dois exemplos: a
Biblioteca Comunitária Zeferina Beiru
(BZB), localizada no bairro do
Beiru/Tancredo Neves, em Salvador, e
a Casa de Cultura Fundpiana, no
Distrito de Aguablan
ca, Cali.
Inaugurada em novembro de 2015, a
Biblioteca Comunitária Zeferina Beiru é
uma organização comunitária,
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
autônoma e quilombola”
19
onde funciona a Biblioteca já havia
sido o Centro Comunitário do Arenoso,
construído no final da década de
e ao longo de décadas abrigou uma
série de iniciativas comunitárias,
inclusive uma escola infantil, onde
alguns dos atuais gestores do espaço
estudaram.
Em 2013, um grupo de jovens
a partir do diálogo com lideranças
comunitárias locais
decidiu c
biblioteca comunitária no espaço que
estava abandonado. O espaço
funciona como biblioteca, ofertando
livros para a comunidade e como
equipamento cultural onde são
realizados cursos, oficinas,
apresentações artísticas, festivais etc.
Eu vejo esse es
paço como um
espaço formativo e
diferencial
, assim como
muitos outros
quilombos
a gente tem nasnossas
periferias e que o apagados.
Nessa minha vivência aqui eu
percebi que
o território não é
um mero bairro, é um
território vivo,
pessoas têm um
de pertencimento muito
grande
, principalmente com
momentos históricos que
aconteceram aqui e que o
19
Descrição da Biblioteca em suas redes
sociais. Disponível em:
https://www.instagram.com/bibliotecazeferina_
beiru/ Acesso em 07 mar 2023.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
19
. O prédio
onde funciona a Biblioteca havia
sido o Centro Comunitário do Arenoso,
construído no final da década de
1980,
e ao longo de décadas abrigou uma
rie de iniciativas comunitárias,
inclusive uma escola infantil, onde
alguns dos atuais gestores do espaço
Em 2013, um grupo de jovens
a partir do diálogo com lideranças
decidiu c
riar a
biblioteca comunitária no espaço que
estava abandonado. O espaço
funciona como biblioteca, ofertando
livros para a comunidade e como
equipamento cultural onde são
realizados cursos, oficinas,
apresentações artísticas, festivais etc.
paço como um
espaço formativo e
, assim como
quilombos
que
a gente tem nasnossas
periferias e que são apagados.
Nessa minha vivência aqui eu
o território não é
um mero bairro, é um
território vivo,
onde as
sentimento
de pertencimento muito
, principalmente com
momentos históricos que
aconteceram aqui e que são
Descrição da Biblioteca em suas redes
https://www.instagram.com/bibliotecazeferina_
muito marcantes para formar e
constituir essa identidade hoje.
Eu vim pra também porque
a comunidade precisa ter
referências
p
essoas que foram para a
universidade, que conseguem
um emprego, pode não tá
ganhando essas maravilhas
todas de dinheiro, mas
demonstra que é possível vo
se tornar um acadêmico, um
político, um médico, um
bibliotecário, um sociólogo,
psicólogo
(Diego Sant
Biblioteca Comunitária
Zeferina Beiru, Salvador)
[
grifos nossos
Qual a cara da Biblioteca? A
gente não é uma biblioteca
pública, nesse formato que as
pessoas vão lá, bota o nome,
se registra, tem que botar
CPF, endereço para pegar um
livro, é u
ma burocracia para
liberar para pegar um livro,
tem que devolver 15 dias
depois.
A gente é mais do
que uma biblioteca, a gente
é um centro de cultura, é um
centro que trabalha a
identidade do bairro
oficina de poesia, aula de
boxe, aula de capoeira, a
de violão, aula de inglês,
festivais de rap, oficinas de
dança. (
Quelmonis Souza
Biblioteca Comunitária
Zeferina Beiru, Salvador)
[
grifos nossos
20
Ambos depoimentos foram retirados do
episódio “Caminhos da Resistência, que
integra a série audiovisual Memorial Zeferina.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?app=desktop
&v=ir6xmNQm8sg%23menu
fev. 2022.
45
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
muito marcantes para formar e
constituir essa identidade hoje.
Eu vim pra também porque
a comunidade precisa ter
referências
, precisa ver
essoas que foram para a
universidade, que conseguem
um emprego, pode não
ganhando essas maravilhas
todas de dinheiro, mas
demonstra que é possível você
se tornar um acadêmico, um
político, um médico, um
biblioterio, um sociólogo,
(Diego Sant
os
Biblioteca Comunitária
Zeferina Beiru, Salvador)
grifos nossos
].
Qual a cara da Biblioteca? A
gente não é uma biblioteca
pública, nesse formato que as
pessoas vão lá, bota o nome,
se registra, tem que botar
CPF, endereço para pegar um
ma burocracia para
liberar para pegar um livro,
tem que devolver 15 dias
A gente é mais do
que uma biblioteca, a gente
é um centro de cultura, é um
centro que trabalha a
identidade do bairro
, tem
oficina de poesia, aula de
boxe, aula de capoeira, a
ula
de violão, aula de inglês,
festivais de rap, oficinas de
Quelmonis Souza
-
Biblioteca Comunitária
Zeferina Beiru, Salvador)
grifos nossos
]20
Ambos depoimentos foram retirados do
epidio Caminhos da Resistência”, que
integra a série audiovisual “Memorial Zeferina”.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?app=desktop
&v=ir6xmNQm8sg%23menu
Acesso em 22
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
A partir de processos distintos
de conquista de uma sede para o
coletivo, porém com convergências no
uso dado ao espaço, trago a
experiência da Fundación Un Distrito
en Paz (FUNDP). O grupo é formado
por jovens que faziam parte da torcida
(barra brava)
Barón Rojo Sur, dentro
do time América de Cali e não se
identificavam com algumas atitudes de
jovens int
egrantes da agremiação que,
via de regra, se valiam de atos
violentos para expressar a rivalidade
entre integrantes de torcidas rivais.
Para produzir outras respostas,
começaram a apostar no trabalho
comunitário, no chamado
social21. Em 2021, no ma
rco do
Nacional
da Colômbia que ganhou
projeção internacional e ficou
conhecido como
Estallido Social,
conseguiram conquistar uma sede
própria.
21 O barrismo
é um fenômeno social que
ganhou força nas últimas décadas na
Colômbia. As barras
são grupos que se juntam
em torno da afinidade que têm por um mesmo
time de futebol. Inspiram-
se nos modelos das
barras bravas
” da Argentina e dos Hooligans,
da Eu
ropa. As narrativas sobre estes grupos
costumam se deter nas ações de violência que
acontecem dentro e fora dos estádios. No
entanto, há um movimento importante entre
algumas barras
futebolísticas na Colômbia de
transição para uma ação coletiva, comunitári
e política (ARANA, 2019) (HERCOG, 2022, p.
154).
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
A partir de processos distintos
de conquista de uma sede para o
coletivo, porém com convergências no
uso dado ao espaço, trago a
experiência da Fundación Un Distrito
en Paz (FUNDP). O grupo é formado
por jovens que faziam parte da torcida
Barón Rojo Sur, dentro
do time América de Cali e não se
identificavam com algumas atitudes de
egrantes da agremiação que,
via de regra, se valiam de atos
violentos para expressar a rivalidade
entre integrantes de torcidas rivais.
Para produzir outras respostas,
começaram a apostar no trabalho
comunitário, no chamado
barrismo
rco do
Paro
da Colômbia que ganhou
projeção internacional e ficou
Estallido Social,
conseguiram conquistar uma sede
é um fenômeno social que
ganhou força nas últimas décadas na
são grupos que se juntam
em torno da afinidade que têm por um mesmo
se nos modelos das
da Argentina e dos Hooligans,
ropa. As narrativas sobre estes grupos
costumam se deter nas ações de violência que
acontecem dentro e fora dos estádios. No
entanto, há um movimento importante entre
futebolísticas na Colômbia de
transição para uma ação coletiva, comunitári
a
e política (ARANA, 2019) (HERCOG, 2022, p.
[...] foi um diálogo que se deu
no âmbito do Estallido Social.
Deste diálogo nasceu uma
iniciativa munic
todos os setores convergem
Compromiso Valle
financiada com fundos de
empresas privadas do Valle
del Cauca. Há dois anos atrás
já tínhamos uma proposta para
uma sede e como torná
autossustentável. Com essa
oportunidade, nós
apres
entamos a proposta para
a iniciativa e ela foi apoiada.
Desde outubro de 2021, temos
nossa própria sede [...].
sede servirá como um lugar
para o desenvolvimento
cultural de todos os jovens
da comunidade
Obando
FUNDP, Cali)
nossos].
Batizada como Casa de Cultura
Fundpiana”, é definida pelos seus
gestores como “um espaço para todos,
a materialização de um sonho e a
construção de uma realidade coletiva
que transpassa horizontes”. No local,
são oferecidas oficinas artísticas e
esportiva
s gratuitas, cursos, entre
outras atividades e está funcionando
o “Comedor Futbolero y Comunitário
NuTRiLonchera”.
Muitas outras iniciativas
similares poderiam ser citadas aqui,
como o QUIAL -
Quilombo Aldeia
Tubarão, espaço cultural localizado em
Parip
e, na região do Subúrbio
Ferroviário de Salvador. A sede é a
46
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
[...] foi um diálogo que se deu
no âmbito do “Estallido Social”.
Deste diálogo nasceu uma
iniciativa munic
ipal na qual
todos os setores convergem
-
Compromiso Valle
- e que é
financiada com fundos de
empresas privadas do Valle
del Cauca. dois anos atrás
já tínhamos uma proposta para
uma sede e como torná
-la
autossustentável. Com essa
oportunidade, nós
entamos a proposta para
a iniciativa e ela foi apoiada.
Desde outubro de 2021, temos
nossa própria sede [...].
A
sede servi como um lugar
para o desenvolvimento
cultural de todos os jovens
da comunidade
(Hector
FUNDP, Cali)
[grifos
Batizada como “Casa de Cultura
Fundpiana, é definida pelos seus
gestores como um espaço para todos,
a materialização de um sonho e a
construção de uma realidade coletiva
que transpassa horizontes”. No local,
o oferecidas oficinas artísticas e
s gratuitas, cursos, entre
outras atividades e já está funcionando
o Comedor Futbolero y Comunitário
Muitas outras iniciativas
similares poderiam ser citadas aqui,
Quilombo Aldeia
Tubarão, espaço cultural localizado em
e, na região do Subúrbio
Ferroviário de Salvador. A sede é a
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
casa da gestora do grupo, Natureza
França, que foi adaptada para receber
crianças, adolescentes, jovens e
mulheres do bairro para participarem
de rodas de capoeira, aula de dança,
oficinas de div
ersas linguagens
artísticas, projetos de estímulo à
leitura, entre outras tantas atividades.
O QUIAL se apresenta como espaço
de arte educação e atividades
culturais, formativas e sociais,
biblioteca e brinquedoteca, centro de
referência em culturas popul
brasileiras e indígenas”. Nas palavras
de Natureza:
As expressões culturais, as
atividades de lazer e todas
mais que acontecem no
território estão em cruzo
constante com as dinâmicas
sociais deste lugar.
como separar vida e
celebração.Os c
compõem o organismo da
comunidade e suas práticas
são os movimentos que
fazem acontecer a dinâmica
local.
Todos são movimentos
das relações humanas que
tecem o organismo de
Tubarão e cada movimento é
referência para o
desenvolvimento de uma
compreens
ão mais substancial
sobre o território e sobre os
sujeitos que nele vivem.
(BONFIM, C.; FRANÇA, N;
HERCOG, B.; VIEIRA, V.,
2022, p. 263-
264, [
nossos])
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
casa da gestora do grupo, Natureza
França, que foi adaptada para receber
crianças, adolescentes, jovens e
mulheres do bairro para participarem
de rodas de capoeira, aula de dança,
ersas linguagens
artísticas, projetos de estímulo à
leitura, entre outras tantas atividades.
O QUIAL se apresenta como “espaço
de arte educação e atividades
culturais, formativas e sociais,
biblioteca e brinquedoteca, centro de
referência em culturas popul
ares afro-
brasileiras e indígenas”. Nas palavras
As expressões culturais, as
atividades de lazer e todas
mais que acontecem no
território estão em cruzo
constante com as dinâmicas
sociais deste lugar.
Não
como separar vida e
celebração.Os c
orpos
compõem o organismo da
comunidade e suas práticas
são os movimentos que
fazem acontecer a dinâmica
Todos o movimentos
das relações humanas que
tecem o organismo de
Tubarão e cada movimento é
referência para o
desenvolvimento de uma
ão mais substancial
sobre o território e sobre os
sujeitos que nele vivem.
(BONFIM, C.; FRANÇA, N;
HERCOG, B.; VIEIRA, V.,
264, [
grifos
Exemplos como os citados aqui
revelam como nos bairros onde vivem
e atuam, as/os jovens contribue
a criação, ocupação ou reapropriação
de espaços em seus bairros,
aproximando-
os do que Mariana
Albinati conceitua como espaços
culturais insurgentes”:
este tipo de espaço se
concretiza quando os agentes
produtores de cultura inventam
espaços própri
sentido da propriedade, mas
no da apropriação
conseguirem ou mesmo por
não desejarem se apropriar
dos espaços culturais que o
Estado e o mercado lhes
oferecem (ALBINATI, 2019, p.
98 [
grifos nossos
No que se refere às formas de
ges
tão desenvolvidas nestes espaços
culturais insurgentes, vale ressaltar
que tanto nos grupos de Cali
quanto nos de Salvador uma
intencionalidade de desenvolverem
modelos horizontalizados. A lógica de
encontro das/dos jovens tem como
princípio excluir
as noções de mando e
de obediência e encontrar outras
formas de fazer política, de aprender,
de ensinar, de construir outras
histórias, bairros, escolas, cidades,
corpos possíveis” (HERCOG, 2022, p.
213). Esta intencionalidade não está,
47
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Exemplos como os citados aqui
revelam como nos bairros onde vivem
e atuam, as/os jovens contribue
m para
a criação, ocupação ou reapropriação
de espaços em seus bairros,
os do que Mariana
Albinati conceitua como “espaços
culturais insurgentes:
este tipo de espaço se
concretiza quando os agentes
produtores de cultura inventam
espaços própri
os, não no
sentido da propriedade, mas
no da apropriação
, por não
conseguirem ou mesmo por
não desejarem se apropriar
dos espaços culturais que o
Estado e o mercado lhes
oferecem (ALBINATI, 2019, p.
grifos nossos
]).
No que se refere às formas de
tão desenvolvidas nestes “espaços
culturais insurgentes”, vale ressaltar
que há tanto nos grupos de Cali
quanto nos de Salvador uma
intencionalidade de desenvolverem
modelos horizontalizados. “A lógica de
encontro das/dos jovens tem como
as noções de mando e
de obediência e encontrar outras
formas de fazer política, de aprender,
de ensinar, de construir outras
histórias, bairros, escolas, cidades,
corpos posveis” (HERCOG, 2022, p.
213). Esta intencionalidade não está,
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
evidentemente, imun
e a contradições
e a conflitos internos.
Mas, em geral, uma busca
por construção de modelos de gestão
que se afastam das tradicionais
estruturas de sindicatos e partidos
políticos, por exemplo. Esta busca não
se restringe aos mecanismos de
gestão insti
tucional, mas também à
forma como os coletivos se relacionam
com o público. Há uma
intencionalidade pedagógica nas
metodologias que desenvolvem. Mais
do que contribuir para que a população
local acesse produtos culturais, há o
desejo que os seus e as suas
construam pensamento crítico,
participem dos processos criativos e
também possam contar as suas
próprias histórias. Neste sentido,
destaco três principais metodologias
de gestão que, a meu ver, disparam
processos de aprendizagem e de
construção de conhecim
territórios onde as/os jovens atuam.
São elas: “leitura afetiva do território e
escuta ativa de pares”; criação de
espaços educativos” e “construção de
alianças táticas (HERCOG, 2022).
A primeira tem relação com os
processos de diagnóstico, de
mapeamento, de escuta dos anseios
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
e a contradições
Mas, em geral, há uma busca
por construção de modelos de gestão
que se afastam das tradicionais
estruturas de sindicatos e partidos
políticos, por exemplo. Esta busca não
se restringe aos mecanismos de
tucional, mas também à
forma como os coletivos se relacionam
com o público. uma
intencionalidade pedagógica nas
metodologias que desenvolvem. Mais
do que contribuir para que a população
local acesse produtos culturais, o
desejo que os seus e as suas
construam pensamento crítico,
participem dos processos criativos e
também possam contar as suas
próprias histórias. Neste sentido,
destaco três principais metodologias
de gestão que, a meu ver, disparam
processos de aprendizagem e de
construção de conhecim
ento nos
territórios onde as/os jovens atuam.
São elas: leitura afetiva do território e
escuta ativa de pares”; “criação de
espaços educativos” e construção de
alianças táticas (HERCOG, 2022).
A primeira tem relação com os
processos de diagnóstico, de
mapeamento, de escuta dos anseios
da comunidade para que possam
oferecer ações culturais conectadas
com os interesses das pessoas que
fazem aquele lugar. Prevalecem a
leitura afetiva do território
ativa de pares. Para isso, são
realizadas oficinas, feiras, entre outros
eventos que reúnem crianças, idosos,
jovens e adultos e criam uma
ambiência que favorece o diálogo e a
escuta. A perspectiva que predomina é
o de “fazer com e não fazer p
como demonstra Vaguiner Braz,
integrante do Coletivo Cutucar, ao
narrar o processo de criação do
projeto Mocambos Marginais:
Dentro dessa ida às
comunidades, a gente fazia a
leitura visual do local. Tinha
todo um
mapeamento muito mais
sen
sível, um mapeamento
afetivo também, emotivo.
Porque a vida dessas pessoas
eram vidas que se misturam
com a nossa, porque toda a
equipe eram pessoas do
Subúrbio Ferroviário. A ideia é
trabalhar com pessoas do
Subúrbio Ferroviário (toda a
equipe técnica que
dentro do Mocambos
Marginais), então
olhar estrangeiro, é o nosso
cotidiano, é a nossa vida, é a
nossa escrevivência
(
Vaguiner Braz, Coletivo
Cutucar
nossos]).
48
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
da comunidade para que possam
oferecer ações culturais conectadas
com os interesses das pessoas que
fazem aquele lugar. Prevalecem a
leitura afetiva do território
e a escuta
ativa de pares. Para isso, são
realizadas oficinas, feiras, entre outros
eventos que reúnem crianças, idosos,
jovens e adultos e criam uma
ambiência que favorece o diálogo e a
escuta. A perspectiva que predomina é
o de fazer com e não “fazer p
ara”,
como demonstra Vaguiner Braz,
integrante do Coletivo Cutucar, ao
narrar o processo de criação do
projeto Mocambos Marginais:
Dentro dessa ida às
comunidades, a gente fazia a
leitura visual do local. Tinha
todo um
processo de
mapeamento muito mais
sível, um mapeamento
afetivo também, emotivo.
Porque a vida dessas pessoas
eram vidas que se misturam
com a nossa, porque toda a
equipe eram pessoas do
Subúrbio Ferroviário. A ideia é
trabalhar com pessoas do
Subúrbio Ferroviário (toda a
equipe técnica que
estava
dentro do Mocambos
Marginais), então
não era um
olhar estrangeiro, é o nosso
cotidiano, é a nossa vida, é a
nossa escrevivência
Vaguiner Braz, Coletivo
Salvador [grifos
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
Importante destacar que neste
processo de busca ativa fe
próprio território, os jovens o
estimulados a sistematizar
informações e a produzir
conhecimentos em diálogo com atores
sociais que, via de regra, o
representados de forma estigmatizada
pela mídia, pelas produções
acadêmicas etc. A “criação de e
educativos”, outra metodologia
convergente nas atuações dos
coletivos de Cali e de
Salvador,também se conecta com a
perspectiva horizontalizada de gestão,
em que se valoriza o processo de
crescimento mútuo, feito a partir das
trocas estabelecidas co
comunidade.
Os saraus de poesia realizados
nas periferias de Salvador
exemplificam bem esse prinpio
metodológico. O objetivo o é apenas
“levar poesia” para os moradores de
determinado bairro, mas despertar
processos educativos e críticos e
estimul
ar que outros jovens também
produzam sua própria arte, como
explica Adriele do Carmo, idealizadora
dos saraus Erótica Sarau Online e
Sarau das Artes da Santa Cruz:
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
Importante destacar que neste
processo de busca ativa fe
ita no
próprio território, os jovens o
estimulados a sistematizar
informações e a produzir
conhecimentos em diálogo com atores
sociais que, via de regra, são
representados de forma estigmatizada
pela mídia, pelas produções
acadêmicas etc. A criação de e
spaços
educativos, outra metodologia
convergente nas atuações dos
coletivos de Cali e de
Salvador,também se conecta com a
perspectiva horizontalizada de gestão,
em que se valoriza o processo de
crescimento mútuo, feito a partir das
trocas estabelecidas co
m a
Os saraus de poesia realizados
nas periferias de Salvador
exemplificam bem esse princípio
metodológico. O objetivo não é apenas
levar poesia para os moradores de
determinado bairro, mas despertar
processos educativos e críticos e
ar que outros jovens também
produzam sua própria arte, como
explica Adriele do Carmo, idealizadora
dos saraus Erótica Sarau Online e
Sarau das Artes da Santa Cruz:
[...]
os saraus em Salvador
são uma verdadeira
tecnologia social
ele não é um sarau
periférico feito para a periferia,
com a periferia, pela periferia,
ele
não é só um sarau
artístico e cultural, ele
também é um sarau social.
Porque levanta temas e
questões que atingem os
jovens, principalmente os
joven
s das periferias [...] esses
temas são levantados nos
saraus através da arte e é feita
uma mobilização
social.
Através do sarau e a
partir do sarau, a gente
conseguiu trazer as pessoas
dos bairros em volta para
dentro do
espaçouniversitário e
também consegu
recursos da universidade
pra esses territórios
do Carmo
nossos].
Neste sentido, há uma coneo
com o que Gisele Nussbaumer e
Giuliana Kauark (2021) apontam como
características do modelo de gestão
adotado por espaços,
culturais que deveriam inspirar os
modelos públicos de gestão da cultura,
alargando os seus parâmetros.
um pensamento que inclui,
para além da apresentação do
resultado de uma
produçãocultural, o
compartilhamento de
seuprocesso de criação, por
meio da realizaçãode oficinas
e debates, ou seja, há um
cuidadopara que diferentes
públicos
49
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
os saraus em Salvador
são uma verdadeira
tecnologia social
[...]O sarau,
ele não é um sarau
periférico feito para a periferia,
com a periferia, pela periferia,
não é um sarau
artístico e cultural, ele
também é um sarau social.
Porque levanta temas e
questões que atingem os
jovens, principalmente os
s das periferias [...] esses
temas o levantados nos
saraus através da arte e é feita
uma mobilização
Através do sarau e a
partir do sarau, a gente
conseguiu trazer as pessoas
dos bairros em volta para
dentro do
espaçouniversitário e
também consegu
iu levar
recursos da universidade
pra esses territórios
(Adriele
do Carmo
Salvador [grifos
Neste sentido, uma conexão
com o que Gisele Nussbaumer e
Giuliana Kauark (2021) apontam como
características do modelo de gestão
adotado por espaços,
coletivos e redes
culturais que deveriam inspirar os
modelos públicos de gestão da cultura,
alargando os seus parâmetros.
Há um pensamento que inclui,
para além da apresentação do
resultado de uma
produçãocultural, o
compartilhamento de
seuprocesso de criação, por
meio da realizaçãode oficinas
e debates, ou seja, um
cuidadopara que diferentes
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
interessadostenham a
possibilidade de participar
nãoapenas como
espectadores, mas como
indivíduosque se mobilizam
a partir de processosde
identificação e, também, de
reconhecimentode
diferenças
. Para boa parte
dosgestores que atuam
nesses espaços ou
emcoletivos e redes cultura
a transversalidadeda cultura
não é mera retórica e a
ideiade competência está
associada à capacidadede
colaboração e
compartilhamento
(NUSSBAUMER; KAUARK,
2021, p. 207 [
grifos nossos
Esta capacidade de
colaboração e compartilhamento
também aparece
na terceira
metodologia de gestão: a aliança
tática”. Em que pese todas as
diferenças entre o Brasil e a Colômbia
no que tange às suas políticas
culturais e modelos de fomento
não conseguiremos explanar neste
artigo -
, conseguir se manter
financeir
amentesegue sendo o
principal desafio dos grupos. Portanto,
agir taticamente para conseguir
garantir a sustentabilidade das ações é
fundamental. Para isso, os coletivos
lançam mão de diversos caminhos:
cooperação internacional; editais
públicos; parcerias
com o setor
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
interessadostenham a
possibilidade de participar
nãoapenas como
espectadores, mas como
indivíduosque se mobilizam
a partir de processosde
identificação e, também, de
reconhecimentode
. Para boa parte
dosgestores que atuam
nesses espaços ou
emcoletivos e redes cultura
is,
a transversalidadeda cultura
não é mera retórica e a
ideiade competência está
associada à capacidadede
colaboração e
compartilhamento
(NUSSBAUMER; KAUARK,
grifos nossos
]).
Esta capacidade de
colaboração e compartilhamento
na terceira
metodologia de gestão: a “aliança
tática. Em que pese todas as
diferenças entre o Brasil e a Colômbia
no que tange às suas políticas
culturais e modelos de fomento
que
não conseguiremos explanar neste
, conseguir se manter
amentesegue sendo o
principal desafio dos grupos. Portanto,
agir taticamente para conseguir
garantir a sustentabilidade das ações é
fundamental. Para isso, os coletivos
lançam mão de diversos caminhos:
cooperação internacional; editais
com o setor
empresarial, não-
governamental, com
igrejas; fazem rifas e vaquinhas
online” etc. Concordo com Érica do
Nascimento quando diz que
embora os artistas periféricos
construam seus discursos e
autoimagens pautados nas
ideias de independência,
autog
estão e autossuficiência
(e certos meios de
comunicação de massa
tendem a corroborá
meio das conexões ativas
entre representantes de
diferentes camadas e espaços
sociais que as ações culturais
aqui focalizadas se tornaram
possíveis e as identid
delas resultantes adquiri
especificidades
(
NASCIMENTO, 2011, p.
2016).
Estas conexões ativas, ou o que
estou chamando de alianças táticas,
portanto, são fundamentais para que
as ões culturais possam se
concretizar. E elas não dependem
exclusivamente de apoio financeiro. As
alianças táticas são feitas com duas
principais motivações: garantir a
sustentabilidade financeira do coletivo
e fortalecer/ampliar sua atuação e
capilaridade territorial. Nestesentido, a
figura dos “aliados” é fundam
como explica Ángel Gonlez, do
Colectivo A La Hora 30:
[...] temos uma figura muito
bonita que é a figura dos
50
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
governamental, com
igrejas; fazem rifas e vaquinhas
online etc. Concordo com Érica do
Nascimento quando diz que
embora os artistas periféricos
construam seus discursos e
autoimagens pautados nas
ideias de independência,
estão e autossuficiência
(e certos meios de
comunicação de massa
tendem a corroborá
-las), é por
meio das conexões ativas
entre representantes de
diferentes camadas e espaços
sociais que as ações culturais
aqui focalizadas se tornaram
possíveis e as identid
ades
delas resultantes adquiri
ram
especificidades
NASCIMENTO, 2011, p.
Estas conexões ativas, ou o que
estou chamando de alianças táticas,
portanto, o fundamentais para que
as ações culturais possam se
concretizar. E elas não dependem
exclusivamente de apoio financeiro. As
alianças táticas o feitas com duas
principais motivações: garantir a
sustentabilidade financeira do coletivo
e fortalecer/ampliar sua atuação e
capilaridade territorial. Nestesentido, a
figura dos aliados é fundam
ental,
como explica Ángel González, do
Colectivo A La Hora 30:
[...] temos uma figura muito
bonita que é a figura dos
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
aliados, que são os amigos
que vem de vez em quando
em alguma oportunidade.
Temos feito muitos passeios,
feito laboratório, formando uns
a
os outros com a consciência
do corpo e a utilização do
corpo para cenas de lutas
diretas não-
violentas (
González, Colectivo A La Hora
30 – Cali)
O uso dos recursos públicos
também tem uma dimeno tática.
Tanto em Cali, como em Salvador,
como visto,
identificamos ações
carregadas de contundentes críticas
sociais que foram financiadas por
secretarias estaduais ou municipais de
cultura, por apoio direto ou via editais.
Assim, “o que pode aparentar
contradição pode ser lido como tática.
Uma vez que u
m uso hábil do
recurso para permitir a viabilidade da
ação, sem que ela perca a força
política de denúncia das auncias e
visibilização das potências das
juventudes e territórios violentados”
(HERCOG, 2022, p. 229).
“A gente age com malícia e manha.
Tem
que gingar, tocar no chão e dar
uma rasteira”: dribles epistêmicos
para tecer outras tramas
Importante destacar que as
dinâmicas dos grupos em Salvador e
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
aliados, que o os amigos
que vem de vez em quando
em alguma oportunidade.
Temos feito muitos passeios,
feito laboratório, formando uns
os outros com a consciência
do corpo e a utilização do
corpo para cenas de lutas
violentas (
Ángel
González, Colectivo A La Hora
O uso dos recursos blicos
também tem uma dimensão tática.
Tanto em Cali, como em Salvador,
identificamos ações
carregadas de contundentes críticas
sociais que foram financiadas por
secretarias estaduais ou municipais de
cultura, por apoio direto ou via editais.
Assim, o que pode aparentar
contradição pode ser lido como tática.
m uso hábil do
recurso para permitir a viabilidade da
ação, sem que ela perca a força
política de denúncia das ausências e
visibilização das potências das
juventudes e territórios violentados”
A gente age com malícia e manha.
que gingar, tocar no chão e dar
uma rasteira: dribles epistêmicos
Importante destacar que as
dinâmicas dos grupos em Salvador e
Cali são diferentes, uma vez que cada
cidade tem seu contexto cio
específico, logo suas juv
produzem distintas ofensivas. Porém,
detenho-
me aqui a observar as
convergências nas atuações juvenis
destas suas sociedades
afrodiaspóricas.
As ações realizadas pelos
grupos acontecem de forma articulada
com agendas de luta social como o
enfrentam
ento ao racismo, ao
genocídio da população negra, ao
patriarcado. Articulam
a promoção da equidade de gênero,
da defesa dos direitos sexuais e
reprodutivos das mulheres, do direito à
comunicação e à cultura, entre outros.
Em Salvador, a dimen
apareceu de forma mais explícita nas
narrativas das/dos jovens e na atuação
dos coletivos do que nos grupos de
Cali, o que não significa dizer que a
pauta racial não esteja entre as
prioridades de alguns grupos
colombianos. Corrobora, contudo, o
que diz o pesquisador Cristiano
Rodrigues (2020) sobre a completa
invisibilização da população negra ao
longo da construção da sociedade
colombiana: “a principal diferença
entre as ideologias sobre mestiçagem
51
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
Cali o diferentes, uma vez que cada
cidade tem seu contexto sócio
-político
espefico, logo suas juv
entudes
produzem distintas ofensivas. Porém,
me aqui a observar as
convergências nas atuações juvenis
destas suas sociedades
As ações realizadas pelos
grupos acontecem de forma articulada
com agendas de luta social como o
ento ao racismo, ao
genodio da população negra, ao
patriarcado. Articulam
-se também com
a promoção da equidade de gênero,
da defesa dos direitos sexuais e
reprodutivos das mulheres, do direito à
comunicação e à cultura, entre outros.
Em Salvador, a dimen
são racial
apareceu de forma mais explícita nas
narrativas das/dos jovens e na atuação
dos coletivos do que nos grupos de
Cali, o que não significa dizer que a
pauta racial não esteja entre as
prioridades de alguns grupos
colombianos. Corrobora, contudo, o
que diz o pesquisador Cristiano
Rodrigues (2020) sobre a completa
invisibilização da população negra ao
longo da construção da sociedade
colombiana: a principal diferença
entre as ideologias sobre mestiçagem
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
difundidas na Colômbia e no Brasil é
que na pr
imeira os negros foram
completamente invisibilizados
enquanto na segunda eles foram, ao
menos discursivamente, incluídos
(RODRIGUES, 2020, posição 1363).
Em que pese todas as
especificidades de cada país, e como
tratam suas questões étnico
que
os conecta é o fato de serem
sociedades afrodiaspóricas. Nesta
condição reside trauma, sofrimento
psíquico, mas também, potência. Para
Luiz Rufino (2019), a diáspora
transatlântica oferece a possibilidade
de criar outras tramas para os fios das
experiências negro-
africanas que
foram forçadamente desalinhados com
a escravização. A diáspora, portanto, é
compreendida como “assentamento,
“chão sacralizado”, uma trama
cosmopolita e solidária de
sociabilidades transafricanas
(RUFINO, 2019).
É a partir de seu
portanto, tecendo essas tramas, que
juventudes
herdeiras de movimentos
históricos de luta social -
afirmam suas
identidades, ecoam suas vozes e
disputam as narrativas que seguem
reproduzindo as “estruturas coloniais
de opressão(CUSICANQUI, 2
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
difundidas na Colômbia e no Brasil é
imeira os negros foram
completamente invisibilizados
enquanto na segunda eles foram, ao
menos discursivamente, incluídos”
(RODRIGUES, 2020, posição 1363).
Em que pese todas as
especificidades de cada país, e como
tratam suas questões étnico
-raciais, o
os conecta é o fato de serem
sociedades afrodiaspóricas. Nesta
condição reside trauma, sofrimento
pquico, mas também, potência. Para
Luiz Rufino (2019), a diáspora
transatlântica oferece a possibilidade
de criar outras tramas para os fios das
africanas que
foram forçadamente desalinhados com
a escravização. A diáspora, portanto, é
compreendida como assentamento”,
chão sacralizado, uma “trama
cosmopolita e solidária de
sociabilidades transafricanas”
É a partir de seu
s lugares,
portanto, tecendo essas tramas, que
herdeiras de movimentos
afirmam suas
identidades, ecoam suas vozes e
disputam as narrativas que seguem
reproduzindo as estruturas coloniais
de opressão (CUSICANQUI, 2
010, p.
56-
57). Este enfrentamento é tático,
como bem diz Mariana Oxente Gente,
do Coletivo ZeferinaS: a gente age
com malícia e manha. Eu não posso
bater de frente com esse governo, se
não vai ser tiro e bala. Tem que gingar,
tocar no chão e dar uma rast
Para as juventudes destes territórios
violentados que buscam caminhos
para se desatar da espiral da violência
que perpassa suas vidas e define
definha seus imaginários desde o
nascimento, o que está em jogo é a
reivindicação de outras políticas de
r
epresentação (HERCOG, 2022).
Neste aspecto, dialogo com Stéfane
Souto (2020):
A partir da afirmação de suas
identidades, tais grupos
sociais vêm disputando
territórios até então ocupados
por narrativas hegemônicas,
como os campos do
conhecimento e da produ
cultural, na mesma medida em
que reivindicam também novos
regimes de representação e
visibilidade (SOUTO, 2020, p.
134).
Em todas as ações destes
coletivos, “o uso político da palavra, da
imagem e do corpo é a operação tática
adotada para realizar dr
epistêmicos, ou seja, para disputar as
narrativas hegemônicas construídas
52
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
57). Este enfrentamento é tático,
como bem diz Mariana Oxente Gente,
do Coletivo ZeferinaS: “a gente age
com malícia e manha. Eu não posso
bater de frente com esse governo, se
não vai ser tiro e bala. Tem que gingar,
tocar no chão e dar uma rast
eira”.
Para as juventudes destes territórios
violentados que buscam caminhos
para se desatar da espiral da violência
que perpassa suas vidas e define
-
definha seus imaginários desde o
nascimento, o que está em jogo é a
reivindicação de outras políticas de
epresentação (HERCOG, 2022).
Neste aspecto, dialogo com Stéfane
A partir da afirmação de suas
identidades, tais grupos
sociais vêm disputando
territórios a então ocupados
por narrativas hegemônicas,
como os campos do
conhecimento e da produ
ção
cultural, na mesma medida em
que reivindicam também novos
regimes de representação e
visibilidade (SOUTO, 2020, p.
Em todas as ações destes
coletivos, o uso político da palavra, da
imagem e do corpo é a operação tática
adotada para realizar dr
ibles
epistêmicos, ou seja, para disputar as
narrativas hegemônicas construídas
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
sobre seus territórios e suas
identidades” (HERCOG, 2022, p. 247
248). Esta disputa se na criação e
gestão de espaços e equipamentos
culturais, nos saraus de poesia, nas
pro
duções audiovisuais, radiofônicas
etc. Desta forma, estas juventudes
compõem outras formas de produção
de conhecimentos que conferem
nuances às formas consagradas.
Como provoca, Mariana Oxente
Gente, do Coletivo ZeferinaS, de
Salvador:
Questionam e tentam
invisibilizar, estigmatizando
nossas produções, nossos
artistas e nos excluindo do
cenário cultural. Mas, aí é que
está, oquestionamento não é
acerca da validade das nossas
artes e da nossa produção: a
poesia marginal, a capoeira, o
rap. O real questioname
sobre a nossa capacidade
intelectual de produzir
saberes, conhecimentos, em
produzir arte.22
É preciso, portanto, que
mudemos as lentes que temos
disponíveis para que enxerguemos
estes saberes produzidos nas lutas por
emancipação política e social,
palavras de Nilma Lino Gomes (2017),
22
Disponível em:
https://www.instagram.com/p/CCmdQEtFBzz/
Acesso em 24 jan. 2022.
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
sobre seus territórios e suas
identidades (HERCOG, 2022, p. 247
-
248). Esta disputa se dá na criação e
gestão de espaços e equipamentos
culturais, nos saraus de poesia, nas
duções audiovisuais, radiofônicas
etc. Desta forma, estas juventudes
compõem outras formas de produção
de conhecimentos que conferem
nuances às formas consagradas.
Como provoca, Mariana Oxente
Gente, do Coletivo ZeferinaS, de
Questionam e tentam
invisibilizar, estigmatizando
nossas produções, nossos
artistas e nos excluindo do
cenário cultural. Mas, é que
está, oquestionamento não é
acerca da validade das nossas
artes e da nossa produção: a
poesia marginal, a capoeira, o
rap. O real questioname
nto é
sobre a nossa capacidade
intelectual de produzir
saberes, conhecimentos, em
É preciso, portanto, que
mudemos as lentes que temos
disponíveis para que enxerguemos
estes saberes produzidos nas lutas por
emancipação política e social,
ou nas
palavras de Nilma Lino Gomes (2017),
Disponível em:
https://www.instagram.com/p/CCmdQEtFBzz/
saberes emancipatórios que traduzem
uma forma de conhecer o mundo, de
produzir uma racionalidade marcada
pelos marcadores raciais e de intervir
nesta sociedade racializada por meio
da criação, recriação, produção
potência.
Convite
A noção de epistemologias das
quebradas que elaboro na tese e trago
brevemente para que dialoguemos
aqui é justamente um convite para
essa mudança de lentes, para que
ocupemos o sentido convencional do
termo epistemologia
filosofia do conhecimento. Ocupemos
assim como o fez Boaventura de
Souza Santos (2009) para formular as
Epistemologias do Sul que se propõe a
“identificar e valorizar aquilo que
muitas vezes nem sequer figura como
conhecimento à luz das
epistemologias dom
(SANTOS, 2009, posição
Ou como o fez Nilma Limo Gomes
(2017) ao articulá-
lo com a produção
de conhecimento dos movimentos
negros brasileiros. Luiz Rufino, por sua
vez, também ocupa a epistemologia e
a “esculhamba” para formular a
“pe
dagogia das encruzilhadas”.
53
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
saberes emancipatórios que traduzem
uma forma de conhecer o mundo, de
produzir uma racionalidade marcada
pelos marcadores raciais e de intervir
nesta sociedade racializada por meio
da criação, recriação, produção
e
A noção de epistemologias das
quebradas que elaboro na tese e trago
brevemente para que dialoguemos
aqui é justamente um convite para
essa mudança de lentes, para que
ocupemos o sentido convencional do
termo epistemologia
- teoria ou
filosofia do conhecimento. Ocupemos
assim como o fez Boaventura de
Souza Santos (2009) para formular as
Epistemologias do Sul que se propõe a
identificar e valorizar aquilo que
muitas vezes nem sequer figura como
conhecimento à luz das
epistemologias dom
inantes”
(SANTOS, 2009, posição
- p. 230-238).
Ou como o fez Nilma Limo Gomes
lo com a produção
de conhecimento dos movimentos
negros brasileiros. Luiz Rufino, por sua
vez, também ocupa a epistemologia e
a esculhamba para formular a
dagogia das encruzilhadas”.
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
Ocupando o conceito e trazendo
outros matizes a ele é que aponto
quatro eixos centrais para o que estou
chamando de posveis
epistemologias das quebradas. São
eles: a arte e a comunicação como
alicerces pedagógicos; o
como âncora; a ancestralidade como
bússola e a aposta pelo comunitário
como catalizadora da atuação. Em
linhas gerais, aponto que o
entrelaçamento das dimenes
artística, política e identitária sustenta
a base dos processos de construção
de co
nhecimentos dos coletivos que
atuam nas quebradas (HERCOG,
2022, p. 236). Esta base ética e
estética guia os coletivos. A arte e a
comunicação têm, portanto, uma
dimensão pedagógica.
Como quilombos urbanos, estes
coletivos têm o território vivido como
âncora
no sentido de apoio, amparo,
proteção, base
e alavanca, pois as
relações tecidas ali alimentam os
ativismos. A construção de
territorialidades específicas por parte
destas juventudes dentro de um bairro
marginalizado é forjada por uma
multiplicidade
de identidades e formas
organizativas. “O conhecimento
ancestral diaspórico é herdado pelos
www.
periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Gestão cultural e diversidade
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das quebradas” de Salvador (Bahia,
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. 35-56,
Ocupando o conceito e trazendo
outros matizes a ele é que aponto
quatro eixos centrais para o que estou
chamando de possíveis
epistemologias das quebradas. São
eles: a arte e a comunicação como
alicerces pedagógicos; o
território
como âncora; a ancestralidade como
bússola e a aposta pelo comunitário
como catalizadora da atuação. Em
linhas gerais, aponto que “o
entrelaçamento das dimensões
artística, política e identitária sustenta
a base dos processos de construção
nhecimentos dos coletivos que
atuam nas quebradas (HERCOG,
2022, p. 236). Esta base ética e
estética guia os coletivos. A arte e a
comunicação têm, portanto, uma
Como quilombos urbanos, estes
coletivos têm o território vivido como
no sentido de apoio, amparo,
e alavanca, pois as
relações tecidas ali alimentam os
ativismos. A construção de
territorialidades específicas por parte
destas juventudes dentro de um bairro
marginalizado é forjada por uma
de identidades e formas
organizativas. O conhecimento
ancestral diaspórico é herdado pelos
movimentos sociais negros e
indígenas e amalgama as práticas dos
coletivos culturais” (HERCOG, 2022, p.
264). A ancestralidade é bússola. O
convite para que a memó
seja revivida é tática, é
intencionalidade pedagógica. O corpo
transforma o
destierro
ação, produção, reexistência. Por fim,
a aposta pelo comunitário à medida
que catalisa a atuação, conforma a
base ética e estética dos coletivos d
quebradas.
Organizadas/os em processos
comunitários horizontalizados,
estas/es jovens questionam nones e
propõem mudanças nas formas
tradicionais de organização política.
Mais do que um conceito acabado, a
noção de epistemologias das
quebradas, ao a
largar o próprio
entendimento de epistemologia,
convida a ler as práticas artísticas e
comunicacionais das juventudes das
quebradas como forma efetiva de
produção de conhecimentos.
O convite é para que e olhemos
essas e esses jovens como
produtoras/es de
conhecimento, a
despeito de todos os marcadores de
opressão que marcam seus corpos,
sejam eles geracionais, de gênero, de
54
periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Gestão cultural e diversidade
")
movimentos sociais negros e
indígenas e amalgama as práticas dos
coletivos culturais” (HERCOG, 2022, p.
264). A ancestralidade é ssola. O
convite para que a memó
ria apagada
seja revivida é tática, é
intencionalidade pedagógica. O corpo
destierro
em locus de
ação, produção, reexistência. Por fim,
a aposta pelo comunitário à medida
que catalisa a atuação, conforma a
base ética e estética dos coletivos d
as
Organizadas/os em processos
comunitários horizontalizados,
estas/es jovens questionam cânones e
propõem mudanças nas formas
tradicionais de organização política.
Mais do que um conceito acabado, a
noção de epistemologias das
largar o próprio
entendimento de epistemologia,
convida a ler as práticas artísticas e
comunicacionais das juventudes das
quebradas como forma efetiva de
produção de conhecimentos.
O convite é para que e olhemos
essas e esses jovens como
conhecimento, a
despeito de todos os marcadores de
opressão que marcam seus corpos,
sejam eles geracionais, de gênero, de
HERCOG, Bruna Pegna. Arte e comunicação para produzir dribles
epistêmicos: iniciativas juvenis das “quebradas de Salvador (Bahia,
Brasil) e Cali (Valle del Cauca, Colômbia).
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2023.
classe ou de raça. Assim, retomo e
partilho os questionamentos que me
acompanharam durante todo o
processo de doutoramento: com suas
t
áticas e produções artísticas não
estariam os coletivos das quebradas
Referências
ALBINATI, M. Espacialização das
diferentes expressões culturais na
cidade. In: KAUARK, G; RATTES, P;
LEAL, N (orgs.).
Um lugar para os
espaços culturais.
Salvador: EDUFBA,
2019, p. 135 - 156.
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- Revista Latino-
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3, n. 25, p. 35-56,
classe ou de raça. Assim, retomo e
partilho os questionamentos que me
acompanharam durante todo o
processo de doutoramento: com suas
áticas e produções artísticas não
estariam os coletivos das quebradas
produzindo conhecimentos capazes de
influenciar nos processos de
emancipação dos seus territórios? Não
estaríamos, portanto, rumo às
epistemologias das quebradas?
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