DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
Encontros e desencontros de saberes: culturas populares+, teatro e
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v13i25.57945
Resumo:
O texto versa sobre as ausências e presenças das culturas populares nos currículos de
teatro em nível de graduação. Através da análise dos projetos pedagógicos e das grades curriculares
de cursos de graduação em Teatro de universidades federais localizadas
brasileiro,chega-
se a uma constatação de que há uma predominância de conteúdos e referências
europeias e uma ausência ou baixa inserção de conteúdos dos universos nicos afro
currículos de licenciaturas e bacharelados em Teatr
Palavras-chave:
Afro-Populares.
Encuentros y desencuentros de saberes: culturas populares+, teatro y universidad
Resumen:
El texto trata de las ausencias y presencias de las culturas populares en los currículos de
teatro en el nível de graduación. A través del análisis de los proyectos pedagógicos y de los currículos
de los cursos de graduación en Teatro de universidades fede
Brasil, es posible concluir que hay un predominio de contenidos y referencias europeas y una
ausencia o baja inserción de contenidos de los universos esnicos afrobrasileños en los currículos
de los cursos de graduación
y posgrado en Teatro de los once cursos analizados.
Palabras clave:
Graduación y Currículo de Teatro; Racismo Epistémico; Culturas Populares;
Culturas Afro-Populares.
Meetings and mismatches of knowledge: popular cultures+, theater and university
Abstract
: This paper discusses the absence and presence of popular cultures in undergraduate
theater curricula. Through the analysis of the pedagogical projects and curriculums of undergraduate
theater courses of federal universities located in the Northea
there is a predominance of European contents and references and na absence or low insertion of
1
Alexandra Gouvêa Dumas. Doutora em
Fundamentos do Teatro da Universidade Federal da Bahia
Programa de Pós-G
raduação em Culturas Populares da Universidade Federal de Sergipe
Professora do Programa de Pós
adumas@ufba.br
https://orcid.org/0000
Recebido em 02/04/2023,
aceito para publicação em
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
Encontros e desencontros de saberes: culturas populares+, teatro e
universidade
Alexandra Gouvêa Dumas
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v13i25.57945
O texto versa sobre as ausências e presenças das culturas populares nos currículos de
teatro em nível de graduação. Através da análise dos projetos pedagógicos e das grades curriculares
de cursos de graduação em Teatro de universidades federais localizadas
se a uma constatação de que uma predominância de conteúdos e referências
europeias e uma ausência ou baixa inserção de conteúdos dos universos cênicos afro
currículos de licenciaturas e bacharelados em Teatr
o dos onze cursos analisados.
Graduação Teatral e Currículo; Racismo Epistêmico; Culturas Populares; Culturas
Encuentros y desencuentros de saberes: culturas populares+, teatro y universidad
El texto trata de las ausencias y presencias de las culturas populares en los currículos de
teatro en el nível de graduación. A través del análisis de los proyectos pedagógicos y de los currículos
de los cursos de graduación en Teatro de universidades fede
rales localizadas en el Nordeste de
Brasil, es posible concluir que hay un predominio de contenidos y referencias europeas y una
ausencia o baja inserción de contenidos de los universos escénicos afrobrasileños en los currículos
y posgrado en Teatro de los once cursos analizados.
Graduación y Currículo de Teatro; Racismo Epistémico; Culturas Populares;
Meetings and mismatches of knowledge: popular cultures+, theater and university
: This paper discusses the absence and presence of popular cultures in undergraduate
theater curricula. Through the analysis of the pedagogical projects and curriculums of undergraduate
theater courses of federal universities located in the Northea
st of Brazil, it is possible to conclude that
there is a predominance of European contents and references and na absence or low insertion of
Alexandra Gouvêa Dumas. Doutora em
Artes Cênicas pela UFBA.
Professora do Departamento
Fundamentos do Teatro da Universidade Federal da Bahia
(UFBA)
. Professora e
raduação em Culturas Populares da Universidade Federal de Sergipe
Professora do Programa de Pós
-G
raduação em Artes Cênicas da UFBA, Brasil. E
https://orcid.org/0000
-0001-8622-9591
aceito para publicação em
27/06/20
23 e disponibilizado online em
01/09/2023.
346
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
Encontros e desencontros de saberes: culturas populares+, teatro e
Alexandra Gouvêa Dumas
1
O texto versa sobre as ausências e presenças das culturas populares nos currículos de
teatro em nível de graduação. Através da análise dos projetos pedagógicos e das grades curriculares
de cursos de graduação em Teatro de universidades federais localizadas
no Nordeste
se a uma constatação de que há uma predominância de conteúdos e referências
europeias e uma ausência ou baixa inserção de conteúdos dos universos nicos afro
-brasileiros nos
o dos onze cursos analisados.
Graduação Teatral e Currículo; Racismo Epistêmico; Culturas Populares; Culturas
Encuentros y desencuentros de saberes: culturas populares+, teatro y universidad
El texto trata de las ausencias y presencias de las culturas populares en los currículos de
teatro en el nível de graduación. A través del análisis de los proyectos pedagógicos y de los currículos
rales localizadas en el Nordeste de
Brasil, es posible concluir que hay un predominio de contenidos y referencias europeas y una
ausencia o baja inserción de contenidos de los universos esnicos afrobrasileños en los currículos
y posgrado en Teatro de los once cursos analizados.
Graduación y Currículo de Teatro; Racismo Epistémico; Culturas Populares;
Meetings and mismatches of knowledge: popular cultures+, theater and university
: This paper discusses the absence and presence of popular cultures in undergraduate
theater curricula. Through the analysis of the pedagogical projects and curriculums of undergraduate
st of Brazil, it is possible to conclude that
there is a predominance of European contents and references and na absence or low insertion of
Professora do Departamento
. Professora e
cofundadora do
raduação em Culturas Populares da Universidade Federal de Sergipe
(UFS).
raduação em Artes Cênicas da UFBA, Brasil. E
-mail:
23 e disponibilizado online em
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
contents from the Afro-
Brazilians cenic universes in the undergraduate and graduate theater
curriculums of the elev
en courses analyzed.
Keywords:
Undergraduate Theatre and Curriculum; Epistemic Racism; Popular Cultures; Afro
Popular Cultures.
Encontros e desencontros de saberes: culturas populares+, teatro e
Introdução
O estudo da presença (ou da
ausência) de manifestações de caráter
popular2
nas universidades brasileiras
serve para nos apresentar uma faceta
2
Os termos folclore, cultura popular, culturas
populares, saberes tradicionais, entre outros,
são denominações que, de certa forma, se
voltam para práticas culturais gestadas em
matrizes dos povos originários e nas matrizes
africanas. No decorrer dos tempo
folclore tornou-
se desgastado, porém ainda se
faz presente em ementas de graduação em
Teatro, mas não nas denominações das
disciplinas, e sim o termo cultura popular ou
cultura brasileira. Neste texto, o termo
escolhido foi culturas populares, m
sabendo que o termo em si não é satisfatório.
Contudo, a pluralidade aplicada ao termo pode
sugerir um estranhamento ou uma
desconstrução. O acréscimo do sinal + (mais)
está referenciado nos estudos de gênero
LGBTQIPN+ que, ao incluírem tal marca.
evi
denciam a possibilidade permanente de
inclusão de outros e novos termos e suas
respectivas siglas. Em concordância,
evidencio o pensamento da historiadora
Martha Abreu ao conceituar cultura popular: O
fundamental, no meu modo de ver, é
considerar cultura
popular como um
instrumento que serve para nos auxiliar, não
no sentido de resolver, mas no de colocar
problemas, evidenciar diferenças e ajudar a
pensar a realidade social e cultural, sempre
multifacetada, seja ela a da sala de aula, a do
nosso cotidiano
ou a das fontes históricas.
(2003, p. 84).
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
Brazilians cenic universes in the undergraduate and graduate theater
en courses analyzed.
Undergraduate Theatre and Curriculum; Epistemic Racism; Popular Cultures; Afro
Encontros e desencontros de saberes: culturas populares+, teatro e
universidade
O estudo da presença (ou da
ausência) de manifestações de caráter
nas universidades brasileiras
serve para nos apresentar uma faceta
Os termos folclore, cultura popular, culturas
populares, saberes tradicionais, entre outros,
são denominações que, de certa forma, se
voltam para práticas culturais gestadas em
matrizes dos povos originários e nas matrizes
africanas. No decorrer dos tempo
s, o termo
se desgastado, porém ainda se
faz presente em ementas de graduação em
Teatro, mas não nas denominações das
disciplinas, e sim o termo cultura popular ou
cultura brasileira. Neste texto, o termo
escolhido foi culturas populares, m
esmo
sabendo que o termo em si não é satisfatório.
Contudo, a pluralidade aplicada ao termo pode
sugerir um estranhamento ou uma
desconstrução. O acréscimo do sinal + (mais)
está referenciado nos estudos de gênero
LGBTQIPN+ que, ao incluírem tal marca.
denciam a possibilidade permanente de
inclusão de outros e novos termos e suas
respectivas siglas. Em concordância,
evidencio o pensamento da historiadora
Martha Abreu ao conceituar cultura popular: “O
fundamental, no meu modo de ver, é
popular como um
instrumento que serve para nos auxiliar, não
no sentido de resolver, mas no de colocar
problemas, evidenciar diferenças e ajudar a
pensar a realidade social e cultural, sempre
multifacetada, seja ela a da sala de aula, a do
ou a das fontes históricas.”
do racismo epistêmico
ainda impera nesses espaços de
produção e difusão de conhecimento.
Para ilustrar essa afirmação, este
artigo se sustenta nasanálises da
legislação vigent
e, de projetos
pedagógicos e de currículos de cursos
de graduação em Teatro de
universidades federais nordestinas,
além da reflexão sobre algumas
experiências de inserção das culturas
populares em meio acadêmico
3
Termo bastante difundido na atualidade que
é assim defini
do por Ramón Grosfoguel: El
racismo epistémico se refiere a una jerarquía
de dominación colonial donde los
conocimientos
producidos por los
occ
identales (imperiales y oprimidos) dentro
de la zona del ser es considerada a priori
como superior a los
conocimientos
por los
sujetoscoloniales no
zona del no-
ser. (GROSFOGUEL, 2011, p.
102).
4
Esse recorte corresponde ao cam
atuação da autora do texto, que teve formação
da graduação, do mestrado e do doutorado na
Escola de Teatro da UFBA, onde atua como
docente. Teve experiência de ensino, de 2010
a 2018, como professora do Departamento de
Teatro da UFS, universidade com
continua com vínculo como docente do
PPGCULT desde a fundação do programa, em
347
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
Brazilians cenic universes in the undergraduate and graduate theater
Undergraduate Theatre and Curriculum; Epistemic Racism; Popular Cultures; Afro
-
Encontros e desencontros de saberes: culturas populares+, teatro e
do racismo epistêmico
3 e social que
ainda impera nesses espaços de
produção e difuo de conhecimento.
Para ilustrar essa afirmação, este
artigo se sustenta nasanálises da
e, de projetos
pedagógicos e de currículos de cursos
de graduação em Teatro de
universidades federais nordestinas,
além da reflexão sobre algumas
experiências de inserção das culturas
populares em meio acadêmico
4.
Termo bastante difundido na atualidade que
do por Ramón Grosfoguel: “El
racismo epistémico se refiere a una jerarquía
de dominación colonial donde los
producidos por los
sujetos
identales (imperiales y oprimidos) dentro
de la zona del ser es considerada a priori
conocimientos
producidos
sujetoscoloniales no
-occidentales en la
ser. (GROSFOGUEL, 2011, p.
Esse recorte corresponde ao cam
po de
atuação da autora do texto, que teve formação
da graduação, do mestrado e do doutorado na
Escola de Teatro da UFBA, onde atua como
docente. Teve experiência de ensino, de 2010
a 2018, como professora do Departamento de
Teatro da UFS, universidade com
a qual
continua com vínculo como docente do
PPGCULT desde a fundação do programa, em
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culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
Detectamos, no espaço
universitário,
colonizadoras, assim como
raras ações pedagógicas que se
caracterizam como resistência a uma
centralização epistêmica caracterizada
pela predominância de matriz branco
europeia. O texto em tela baseia
em pesquisa realizada em document
de tramitação e
de implementação
curricular, em projetos pedagógicos de
cursos, em revisão de literatura sobre
os temas folclore, cultura popular,
saberes tradicionais,
bem como na
experiência pessoal da autora do
texto, que atua como docente e
pesquisadora
a respeito do recorte
anunciado.
Inicialmente, faz-
se necessário
apresentar um breve percurso histórico
acerca dos termos folclore e cultura
popular e algumas de suas inserções
no campo universitário. Temos, por
ora, como consenso histórico que a
pal
avra folclore surgiu como um
2018, até os dias atuais. Quanto à UnB, esta é
a universidade onde desenvolveu o seu
segundo pós-
doutorado (fevereiro de 2022 a
fevereiro de 2023), voltado para o estudo
currículo, questões raciais e o projeto Encontro
de Saberes, este coordenado pelo professor
José Jorge de Carvalho.
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
Detectamos, no espaço
universitário,
afirmações
colonizadoras, assim como
algumas
raras ações pedagógicas que se
caracterizam como resistência a uma
centralização epistêmica caracterizada
pela predominância de matriz branco
europeia. O texto em tela baseia
-se
em pesquisa realizada em document
os
de implementação
curricular, em projetos pedagógicos de
cursos, em revio de literatura sobre
os temas folclore, cultura popular,
bem como na
experiência pessoal da autora do
texto, que atua como docente e
a respeito do recorte
se necessário
apresentar um breve percurso histórico
acerca dos termos folclore e cultura
popular e algumas de suas inserções
no campo universitário. Temos, por
ora, como consenso histórico que a
avra folclore surgiu como um
2018, até os dias atuais. Quanto à UnB, esta é
a universidade onde desenvolveu o seu
doutorado (fevereiro de 2022 a
fevereiro de 2023), voltado para o estudo
de
currículo, questões raciais e o projeto Encontro
de Saberes, este coordenado pelo professor
neologismo no ano de 1846, numa
publicação inglesa de autoria do
britânico William John Thoms (1803
1885), significando, na tradução literal,
“saber do povo”. Esse amplo campo
relacionado ao vocábulo nos conduz a
uma reflexão c
omplexa que passa pelo
próprio conceito em destaque. No caso
dos estudos de folclore, essa definição
envolve relações de poder, incluindo o
de determinar quem e o que compõe o
povo, em geral definido por um outro
grupo que emerge de um poder
intelectualiza
do, representado por
pesquisadores, aqui, no caso, os
chamados
folcloristas. Um dos
pesquisadores da temática, Roberto
Benjamin, apresenta um trajeto
histórico do conceito
sendo este portador de
acepções. Originalmente, o sentido do
te
rmo em destaque, no conceito de
folclore, indicava os integrantes das
camadas sociais mais baixas das
sociedades camponesas tradicionais.
(BENJAMIN, s/d).
O que se faz importante
salientar para este percurso textual é
que prevalece, nessa conceituação,
u
ma estrutura como dominante no
campo dos estudos do folclore que
passa pela produção e gestão das
348
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
neologismo no ano de 1846, numa
publicação inglesa de autoria do
britânico William John Thoms (1803
-
1885), significando, na tradução literal,
saber do povo. Esse amplo campo
relacionado ao vobulo nos conduz a
omplexa que passa pelo
próprio conceito em destaque. No caso
dos estudos de folclore, essa definição
envolve relações de poder, incluindo o
de determinar quem e o que compõe o
povo, em geral definido por um outro
grupo que emerge de um poder
do, representado por
pesquisadores, aqui, no caso, os
folcloristas. Um dos
pesquisadores da temática, Roberto
Benjamin, apresenta um trajeto
histórico do conceito
de povo como
sendo este portador de
“muitas
acepções. Originalmente, o sentido do
rmo em destaque, no conceito de
folclore, indicava os integrantes das
camadas sociais mais baixas das
sociedades camponesas tradicionais.”
O que se faz importante
salientar para este percurso textual é
que prevalece, nessa conceituação,
ma estrutura como dominante no
campo dos estudos do folclore que
passa pela produção e gestão das
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
narrativas produzidas, em grande
parte por intelectuais, no formato
escrito, sobre práticas culturais e
pessoas que, na maioria, têm seus
conhecimentos grafad
os no corpo,
sem, necessariamente, ter a escrita
como veículo primeiro de elaboração e
comunicação. A filósofa Marilena
Chauí eleva a discussão, destacando
que “[...] os produtores dessa cultura
as chamadas classes ‘populares’
não a designam com o adje
‘popular’, designação empregada por
membros de outras classes sociais
para definir as manifestações culturais
das classes ditas ‘subalternas’ (1986,
p. 10). A fala da historiadora Martha
Abreu (2020) amplia o debate,
questionando:
A cultura sempr
em relações de poder: quem
diz que aquela expreso é
importante ou não? Então,
acho que você viveu desde
pequena essa hierarquização
do campo cultural que a gente
tem que refletir sobre ela.
Como que essas expressões
culturais são qualificadas
Como elas são significadas,
valorizadas ou não? Em que
caixa são colocadas essas
expressões? Quem define
quem é o quê? Não é o artista
popular. Quem define em geral
é quem tá na academia ou
quem na indústria
fonográfica ou quem tá no
Ministério da Cul
tura...
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
narrativas produzidas, em grande
parte por intelectuais, no formato
escrito, sobre práticas culturais e
pessoas que, na maioria, têm seus
os no corpo,
sem, necessariamente, ter a escrita
como veículo primeiro de elaboração e
comunicação. A filósofa Marilena
Chauí eleva a discuso, destacando
que [...] os produtores dessa cultura
as chamadas classes populares’
não a designam com o adje
tivo
popular, designação empregada por
membros de outras classes sociais
para definir as manifestações culturais
das classes ditas subalternas’” (1986,
p. 10). A fala da historiadora Martha
Abreu (2020) amplia o debate,
A cultura tá sempr
e envolvida
em relações de poder: quem
diz que aquela expressão é
importante ou não? Então,
acho que vo viveu desde
pequena essa hierarquização
do campo cultural que a gente
tem que refletir sobre ela.
Como que essas expressões
culturais o qualificadas
?
Como elas o significadas,
valorizadas ou não? Em que
caixa o colocadas essas
expressões? Quem define
quem é o quê? Não é o artista
popular. Quem define em geral
é quem tá na academia ou
quem tá na indústria
fonográfica ou quem no
tura...
O historiador Roger Chartier
problematiza tal questão afirmando
que “A cultura popular é uma categoria
erudita”. Para tanto, destaca que:
[...] os debates em torno da
própria definição de cultura
popular foram (e o) travados
a propósito de um c
que quer delimitar, caracterizar
e nomear práticas que nunca
são designadas pelos seus
atores como pertencendo à
“cultura popular. Produzido
como uma categoria erudita
destinada a circunscrever e
descrever produções e
condutas situadas fora da
cul
tura erudita, o conceito de
cultura popular tem traduzido,
nas suas múltiplas e
contraditórias acepções, as
relações mantidas pelos
intelectuais ocidentais (e, entre
eles, os scholars) com uma
alteridade cultural ainda mais
difícil de ser pensada que a
dos
mundos exóticos”
(CHARTIER, 1995, p. 179).
A segunda questão salientada
aqui diz respeito à vinculação de
estudiosos brasileiros nesse campo
com os estudos provenientes do
contexto europeu, sobretudo com as
formulações intelectuais advindas do
século XI
X. Para o contexto europeu,
coletar, sistematizar e divulgar dados
como sendo próprios de um
determinado espaço dialoga com a
imposição da demarcação formal do
349
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
O historiador Roger Chartier
problematiza tal questão afirmando
que A cultura popular é uma categoria
erudita. Para tanto, destaca que:
[...] os debates em torno da
própria definição de cultura
popular foram (e são) travados
a propósito de um c
onceito
que quer delimitar, caracterizar
e nomear práticas que nunca
o designadas pelos seus
atores como pertencendo à
cultura popular”. Produzido
como uma categoria erudita
destinada a circunscrever e
descrever produções e
condutas situadas fora da
tura erudita, o conceito de
cultura popular tem traduzido,
nas suas múltiplas e
contraditórias acepções, as
relações mantidas pelos
intelectuais ocidentais (e, entre
eles, os scholars) com uma
alteridade cultural ainda mais
difícil de ser pensada que a
mundos “exóticos”
(CHARTIER, 1995, p. 179).
A segunda questão salientada
aqui diz respeito à vinculação de
estudiosos brasileiros nesse campo
com os estudos provenientes do
contexto europeu, sobretudo com as
formulações intelectuais advindas do
X. Para o contexto europeu,
coletar, sistematizar e divulgar dados
como sendo próprios de um
determinado espaço dialoga com a
imposição da demarcação formal do
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
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Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
território, o que implica propriedade
espacial em nome de uma nação e a
afirmação de uma identid
forma, com esses propósitos, os
estudos acerca do folclore se
sedimentam e da Europa chegam a
alcançar outros continentes, outros
países, a exemplo do Brasil, sem, no
entanto, perder seus vínculos originais.
A historiadora Martha Abreu afirma:
O
folclore no Brasil [
um caminho semelhante ao da
Europa. Em geral, serviu para
formar as novas nações, no
final do século XIX e início do
XX, resgatar a identidade do
passado e os sentimentos
populares diante do
cosmopolitismo liberal do
períod
o. (2003, p. 86).
O registro em formato escrito de
conhecimentos gestados no fazer, no
contar, no dançar (entre outras formas
de produção e grafias de
conhecimento) passou a ser uma ação
recorrente nos estudos do folclore que
coletava e classificava prát
culturais grafadas no corpo de grupos
que não necessariamente tinham o
domínio da escrita e da própria
pesquisa. A sistematização dos dados
coletados acerca do “povo, no Brasil,
esteve em larga escala associada a
uma noção de nacionalismo com um
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3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
território, o que implica propriedade
espacial em nome de uma nação e a
afirmação de uma identid
ade. Dessa
forma, com esses prositos, os
estudos acerca do folclore se
sedimentam e da Europa chegam a
alcançar outros continentes, outros
países, a exemplo do Brasil, sem, no
entanto, perder seus vínculos originais.
A historiadora Martha Abreu afirma:
folclore no Brasil [
...] seguiu
um caminho semelhante ao da
Europa. Em geral, serviu para
formar as novas nações, no
final do culo XIX e início do
XX, resgatar a identidade do
passado e os sentimentos
populares diante do
cosmopolitismo liberal do
o. (2003, p. 86).
O registro em formato escrito de
conhecimentos gestados no fazer, no
contar, no dançar (entre outras formas
de produção e grafias de
conhecimento) passou a ser uma ação
recorrente nos estudos do folclore que
coletava e classificava prát
icas
culturais grafadas no corpo de grupos
que não necessariamente tinham o
domínio da escrita e da própria
pesquisa. A sistematização dos dados
coletados acerca do povo”, no Brasil,
esteve em larga escala associada a
uma noção de nacionalismo com um
uso,
muitas vezes, político e identitário
que intentava uma homogeneização
da pluralidade de culturas tanto dos
povos originários da nossa terra
quanto de outras origens que
passaram a povoar e construir o
Brasil, advindas, sobretudo, do
processo escravocrat
migratórios outros que aconteceram
com a chancela governamental.
Aplicar referências e
metodologias europeias para o estudo
de práticas brasileiras sem considerar
efetivamente suas particularidades
demonstra um tipo de relação com um
idea
l de cunho dominador que
atravessa as universidades brasileiras,
inclusive os cursos de graduação em
Teatro.
A cientifização dos saberes do
povo: a legitimação pelo crivo da
universidade
O conceito de folclore veio se
modificando no decorrer dos tempos.
A sua organização como campo de
estudo esteve atrelada a intelectuais
não necessariamente acadêmicos,
mas agrupados em associações,
espaços de pesquisa
órgãos, a exemplo da Campanha de
350
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
muitas vezes, político e identitário
que intentava uma homogeneização
da pluralidade de culturas tanto dos
povos originários da nossa terra
quanto de outras origens que
passaram a povoar e “construir” o
Brasil, advindas, sobretudo, do
processo escravocrat
a e de processos
migratórios outros que aconteceram
com a chancela governamental.
Aplicar referências e
metodologias europeias para o estudo
de práticas brasileiras sem considerar
efetivamente suas particularidades
demonstra um tipo de relação com um
l de cunho dominador que
atravessa as universidades brasileiras,
inclusive os cursos de graduação em
A cientifização dos saberes do
povo: a legitimação pelo crivo da
O conceito de folclore veio se
modificando no decorrer dos tempos.
A sua organização como campo de
estudo esteve atrelada a intelectuais
não necessariamente acadêmicos,
mas agrupados em associações,
espaços de pesquisa
e exposição,
órgãos, a exemplo da Campanha de
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
Defesa do Folclore Brasileiro
em 1958, subordinad
a ao Ministério de
Estado da Educação e Cultura, com
respaldo do governo federal. Mesmo
tendo uma vinculação com áreas de
conhecimento que se estabeleceram
no meio acadêmico, como as Ciências
Sociais e a Antropologia, a
“institucionalização dos estudos de
5
Decreto nº 43.178, de 05/02/1958/PE
Executivo Federal (D.O.U. 04/02/1958). Institui
a Campanha de Defesa do Folclore Brasilei
Art. 2º Caberá à Campanha promover, em
âmbito nacional, o estudo, a pesquisa a
divulgação e a defesa do folclore brasileiro.
Art. 3º A Campanha terá por finalidades
precípuas:
a) promover e incentivar o estudo e as
pesquisas folclóricas;
b) levantar do
cumentação, relativa às diversas
manifestações folclóricas;
c) editar documentos e obras folclóricas;
d) cooperar na realização de congressos,
exposições, cursos e festivais e outras
atividades relacionadas com o folclore;
e) cooperar com instituições públ
provadas congêneres;
f) esclarecer a opinião pública quanto à
significação do folclore;
g) manter intercâmbio com entidades afins;
h) propor medidas que assegurem proteção
aos folguedos e artes populares e respectivo
artesanato;
i) proteger e
estimular os grupos folclóricos
organizados;
j) formar o pessoal para a pesquisa folclórica.
Disponível em:
https://www.diario
dasleis.com.br/legislacao/fed
eral/91013-institui-a-campanha-
de
folclore-brasileiro.html
. Acesso em: 27 jan.
2023.
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
Defesa do Folclore Brasileiro
5, criada
a ao Ministério de
Estado da Educação e Cultura, com
respaldo do governo federal. Mesmo
tendo uma vinculação com áreas de
conhecimento que se estabeleceram
no meio acadêmico, como as Ciências
Sociais e a Antropologia, a
institucionalização dos estudos de
Decreto nº 43.178, de 05/02/1958/PE
- Poder
Executivo Federal (D.O.U. 04/02/1958). Institui
a Campanha de Defesa do Folclore Brasilei
ro.
Art. 2º Caberá à Campanha promover, em
âmbito nacional, o estudo, a pesquisa a
divulgação e a defesa do folclore brasileiro.
Art. 3º A Campanha terá por finalidades
a) promover e incentivar o estudo e as
cumentação, relativa às diversas
c) editar documentos e obras folclóricas;
d) cooperar na realização de congressos,
exposições, cursos e festivais e outras
atividades relacionadas com o folclore;
e) cooperar com instituições públ
icas e
f) esclarecer a opinião pública quanto à
g) manter intercâmbio com entidades afins;
h) propor medidas que assegurem proteção
aos folguedos e artes populares e respectivo
estimular os grupos folclóricos
j) formar o pessoal para a pesquisa folclórica.
dasleis.com.br/legislacao/fed
de
-defesa-do-
. Acesso em: 27 jan.
folclore, em especial a partir da
década de 1950, seguiu rumos
diversos”, como afirma a professora e
pesquisadora Maria Laura Viveiros de
Castro Cavalcanti. Segundo ela: O
Movimento Folclórico foi bem sucedido
na constituição de comises, museus,
institu
tos, órgãos governamentais, mas
não obteve sucesso em seus esforços
em favor da introdução de disciplinas
específicas nas universidades,
também tão almejadas pelos
folcloristas” (CAVALCANTI, 2012, p.
75).
Essa linha de pensamento
funcionou como um guia, in
academia certa valorização da
produção de conhecimentos do povo,
porém numa perspectiva impositiva de
validação, promovendo o abandono
do amadorismo e a conquista da
cientificidade”, como assinala Maria
Laura Cavalcanti (2012, p. 86). A
aut
ora traz ainda outro dado: A
preocupação com a cientificidade e a
busca da nacionalidade convergiam: o
povo, definido pelo projeto intelectual
do folclore, estabelecia ao mesmo
tempo um campo de conhecimento e
um campo político de ação.
(CAVALCANTI, 2012
, p. 92).
351
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
folclore, em especial a partir da
década de 1950, seguiu rumos
diversos”, como afirma a professora e
pesquisadora Maria Laura Viveiros de
Castro Cavalcanti. Segundo ela: “O
Movimento Folclórico foi bem sucedido
na constituição de comissões, museus,
tos, órgãos governamentais, mas
não obteve sucesso em seus esforços
em favor da introdução de disciplinas
espeficas nas universidades,
também tão almejadas pelos
folcloristas” (CAVALCANTI, 2012, p.
Essa linha de pensamento
funcionou como um guia, in
stituindo na
academia certa valorização” da
produção de conhecimentos do povo,
porém numa perspectiva impositiva de
validação, promovendo o “abandono
do amadorismo e a conquista da
cientificidade, como assinala Maria
Laura Cavalcanti (2012, p. 86). A
ora traz ainda outro dado: “A
preocupação com a cientificidade e a
busca da nacionalidade convergiam: o
povo, definido pelo projeto intelectual
do folclore, estabelecia ao mesmo
tempo um campo de conhecimento e
um campo político de ação.”
, p. 92).
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
A legitimação social dos
estudos de folclore pela via da
cientifização teve nas universidades
um alvo na realização desse intento. A
professora Cáscia Frade afirma que
“Mesmo tendo apresentado um projeto
de lei propondo a criação de uma
cadeira
de folclore na Faculdade de
Filosofia, os folcloristas não
conseguiram assegurar espaço na
vida universitária.” Dentre as tentativas
de introduzir os estudos do folclore no
meio acadêmico, o intelectual negro,
folclorista, baiano Edison Carneiro traz
a seguinte informação:
Desde 1951 se discute,
publicamente, a necessidade
de organização do ensino de
folclore em nível universitário.
Chegou-
se a falar na criação
de uma cátedra de folclore nas
Faculdades de Filosofia, mas o
movimento nesse sentido, que
se
esboçava até mesmo no
Parlamento, arrefeceu ante a
consideração (sem dúvida
prudente) de que a nova
cadeira traria consigo,
inevitavelmente, a
improvisação de cinquenta e
tantos professores por esse
Brasil afora... (2008, p. 119)
Entre ter a inclusão cur
disciplinas relacionadas ao folclore ou
cursos específicos de graduação na
área, Carneiro elaborou e tornou
pública, em 1963, uma proposta
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
A legitimação social dos
estudos de folclore pela via da
cientifização teve nas universidades
um alvo na realização desse intento. A
professora Cáscia Frade afirma que
Mesmo tendo apresentado um projeto
de lei propondo a criação de uma
de folclore na Faculdade de
Filosofia, os folcloristas não
conseguiram assegurar espaço na
vida universitária. Dentre as tentativas
de introduzir os estudos do folclore no
meio acadêmico, o intelectual negro,
folclorista, baiano Edison Carneiro traz
Desde 1951 se discute,
publicamente, a necessidade
de organização do ensino de
folclore em nível universitário.
se a falar na criação
de uma tedra de folclore nas
Faculdades de Filosofia, mas o
movimento nesse sentido, que
esboçava amesmo no
Parlamento, arrefeceu ante a
consideração (sem dúvida
prudente) de que a nova
cadeira traria consigo,
inevitavelmente, a
improvisação de cinquenta e
tantos professores por esse
Brasil afora... (2008, p. 119)
Entre ter a incluo cur
ricular de
disciplinas relacionadas ao folclore ou
cursos espeficos de graduação na
área, Carneiro elaborou e tornou
pública, em 1963, uma proposta
assaz
abrangente para o Ensino Superior
brasileiro com foco nos estudos do
folclore. Algumas matérias esta
campo das artes, por exemplo: Artes e
Técnicas, Danças Folclóricas, Música
Popular e Folclórica
2008, p. 120-
121). Em se tratando da
“inclusão de pontos de interesse
folclórico nos programas das escolas
superiores”, o autor propõe o segu
roteiro, aqui destacado para as áreas
artísticas:
-
Escola de Belas
cerâmica, escultura, pintura e
gravura populares, decoração
de interiores;
-
Conservatórios e escolas de
Música
música popular e
folclore musical;
-
Escolas de Educação
Escolas de Dança e Escolas
de Teatro
representações populares;
(CARNEIRO, 2008, p. 124).
Em outros centros
universitários, a proposição de
inserção do folclore nos cursos de
graduação também foi discutida. Em
correspondência e
nviada para o
pesquisador Bráulio Nascimento
6
“Naturalidade: João Pessoa
22 de março de 1924 // Falecimento: 26 de
setembro de 2016. Atividades artístico
cultur
ais: Professor, jornalista, crítico literário e
folclorista, especialista em romances e contos
populares. [...]
Na Campanha de Defesa do
Folclore Brasileiro, atuou como chefe da
Divisão de Proteção ao Folclore e secretário
352
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
abrangente para o Ensino Superior
brasileiro com foco nos estudos do
folclore. Algumas matérias esta
riam no
campo das artes, por exemplo: Artes e
Técnicas, Danças Folclóricas, Música
Popular e Folclórica
(CARNEIRO,
121). Em se tratando da
inclusão de pontos de interesse
folclórico nos programas das escolas
superiores”, o autor propõe o segu
inte
roteiro, aqui destacado para as áreas
Escola de Belas
Artes
cerâmica, escultura, pintura e
gravura populares, decoração
de interiores;
Conservarios e escolas de
música popular e
folclore musical;
Escolas de Educação
Física,
Escolas de Dança e Escolas
danças, cortejos e
representações populares;
(CARNEIRO, 2008, p. 124).
Em outros centros
universitários, a proposição de
inserção do folclore nos cursos de
graduação também foi discutida. Em
nviada para o
pesquisador Bráulio Nascimento
6,
Naturalidade: João Pessoa
-PB. Nascimento:
22 de março de 1924 // Falecimento: 26 de
setembro de 2016. Atividades artístico
-
ais: Professor, jornalista, crítico literário e
folclorista, especialista em romances e contos
Na Campanha de Defesa do
Folclore Brasileiro, atuou como chefe da
Divio de Proteção ao Folclore e secretário
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
datada de 27 de junho de 1976,
quando ele exercia a direção executiva
da Campanha de Defesa do Folclore
Brasileiro, a antropóloga sergipana e
professora da Universidade Federal de
Sergipe Beatriz Gois Dantas i
Quanto à criação da disciplina
Folclore no Brasil a funcionar
como uma disciplina regular na
Universidade, o Departamento
aprovou o projeto, que foi
também aprovado por um
outro órgão colegiado da
Universidade, faltando agora o
pronunciamento do
de Ensino e Pesquisa da UFS.
Estou aguardando o resultado,
que espero seja positivo, e
neste caso faremos o anúncio
na Semana que estamos
promovendo juntamente com a
Comissão Sergipana de
Folclore, a realizar
Agosto. (Acervo da Biblioteca
A
madeu Amaral, do Centro
Nacional de Folclore e Cultura
Popular/RJ, Fundo documental
Comissões de Folclore
Técnica de Descrição
Arquivística
CNFCP/CDFB INF/IPHAN
da Revista Brasileira de Folclore
. Em 1974,
assumiu a direção executiva, onde
permaneceu até 1982, sendo o responsável
pela conquista da primeira sede própria desta
instituição, bem como pela sua transformação,
em 1979, em Instituto Nacional do Folclore, no
âmbito da então recém-
criada Fu
Nacional de Arte
Funarte. Foi ainda vice
presidente e presidente da Comissão Nacional
de Folclore, do Instituto Brasileiro de
Educação Ciência e Cultura, no período 1981
a 2000, mandatos que o conduziram ao cargo
vitalício de Presidente de Honra d
Comissão.”
(Fonte: Paraíba Criativa.
Disponível em:
https://www.paraibacriativa.com.br/artista/braul
io-do-nascimento/
. Acesso em: 12 dez. 2022).
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
datada de 27 de junho de 1976,
quando ele exercia a direção executiva
da Campanha de Defesa do Folclore
Brasileiro, a antropóloga sergipana e
professora da Universidade Federal de
Sergipe Beatriz Gois Dantas i
nforma:
Quanto à criação da disciplina
Folclore no Brasil a funcionar
como uma disciplina regular na
Universidade, o Departamento
já aprovou o projeto, que foi
também aprovado por um
outro órgão colegiado da
Universidade, faltando agora o
pronunciamento do
Conselho
de Ensino e Pesquisa da UFS.
Estou aguardando o resultado,
que espero seja positivo, e
neste caso faremos o anúncio
na Semana que estamos
promovendo juntamente com a
Comissão Sergipana de
Folclore, a realizar
-se em
Agosto. (Acervo da Biblioteca
madeu Amaral, do Centro
Nacional de Folclore e Cultura
Popular/RJ, Fundo documental
Comissões de Folclore
Ficha
Técnica de Descrição
Fundo
CNFCP/CDFB INF/IPHAN
-
. Em 1974,
assumiu a direção executiva, onde
permaneceu até 1982, sendo o responsável
pela conquista da primeira sede própria desta
instituição, bem como pela sua transformação,
em 1979, em Instituto Nacional do Folclore, no
criada Fu
ndação
Funarte. Foi ainda vice
-
presidente e presidente da Comissão Nacional
de Folclore, do Instituto Brasileiro de
Educação Ciência e Cultura, no período 1981
a 2000, mandatos que o conduziram ao cargo
vitalício de Presidente de Honra d
aquela
(Fonte: Paraíba Criativa.
https://www.paraibacriativa.com.br/artista/braul
. Acesso em: 12 dez. 2022).
Estante 01, Módulo 02, Caixa
009, Pasta 13/14)
A legitimação dos estudos do
folclore, por volta da década de 1950,
teve como alvo também o ambiente
escolar, não só o acadêmico. Nesse
caso, o público almejado era formado
sobretudo por crianças, o que sugeria
uma intenção de afirmação e
propagação dos conhecimentos
voltados para len
das, brincadeiras,
danças, conteúdos localizados
prioritariamente no campo atrativo do
divertimento. Além do intuito de
homogeneização cultural e unificação
da nação, a historiadora Martha Abreu
atenta para a infantilização como
elemento de desqualificação
saberes e dos/das seus/suas
detentores/as:
Na perspectiva dos folcloristas,
como Renato Almeida,
Amadeu Amaral e Celia
Meireles, os estudos
folclóricos deveriam participar
do processo educativo como
um conteúdo curricular e como
orientador da aç
socializadora dos professores.
Eles precisavam ser
vivenciados nas escolas,
principalmente no ensino
primário, como estratégia de
valorização do que os
folcloristas consideravam
como "nossas tradições
nacionais", uma espécie de
"ensino cívico
353
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
Estante 01, Módulo 02, Caixa
009, Pasta 13/14)
A legitimação dos estudos do
folclore, por volta da década de 1950,
teve como alvo também o ambiente
escolar, não só o acadêmico. Nesse
caso, o público almejado era formado
sobretudo por crianças, o que sugeria
uma intenção de afirmação e
propagação dos conhecimentos
das, brincadeiras,
danças, conteúdos localizados
prioritariamente no campo atrativo do
divertimento. Além do intuito de
homogeneização cultural e unificação
da nação, a historiadora Martha Abreu
atenta para a infantilização como
elemento de desqualificação
desses
saberes e dos/das seus/suas
Na perspectiva dos folcloristas,
como Renato Almeida,
Amadeu Amaral e Cecília
Meireles, os estudos
folclóricos deveriam participar
do processo educativo como
um conteúdo curricular e como
orientador da
ão pedagógica
socializadora dos professores.
Eles precisavam ser
vivenciados nas escolas,
principalmente no ensino
primário, como estratégia de
valorização do que os
folcloristas consideravam
como "nossas tradições
nacionais", uma espécie de
"ensino vico
", mas vinculado
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
ao estímulo de um "sentimento
comum" de pertencimento,
como demonstrou Luís
Rodolfo Vilhena. Sentindo e
vivendo o que os folcloristas
consideravam como as
tradições populares
para a formação da identidade
nacional brasileira
c
rianças poderiam enraizar
na cultura de seu país,
valorizando-
o e respeitando
As festas e os folguedos, por
mobilizarem toda a
comunidade escolar
especialmente as de São
João, uma das mais difundidas
devoções no Brasil
tornaram-
se uma excelente
oportunidade para a aplicação
desta estratégia no ensino.
(ABREU, 2003, p. 97).
Voltando para o campo
universitário, entre os anos de 1961 e
1964 registramos na história
universitária brasileira mais um
encontro entre a intelectualidade
hegemônica e os “s
aberes do povo,
desta vez através da atuação do
Centro Popular de Cultura
criado pela União dos Estudantes
UNE, uma das principais
representações estudantis do Ensino
Superior brasileiro. Gestado por um
grupo de intelectuais de esquerda,
tinha co
mo propósito a junção das
artes ao popular com uma ideologia
pretensamente revolucionária. Ligado
ao Partido Comunista Brasileiro, o
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
ao estímulo de um "sentimento
comum" de pertencimento,
como demonstrou Luís
Rodolfo Vilhena. Sentindo e
vivendo o que os folcloristas
consideravam como as
tradições populares
base
para a formação da identidade
nacional brasileira
—, as
rianças poderiam enraizar
-se
na cultura de seu país,
o e respeitando
-o.
As festas e os folguedos, por
mobilizarem toda a
comunidade escolar
especialmente as de São
João, uma das mais difundidas
devoções no Brasil
—,
se uma excelente
oportunidade para a aplicação
desta estratégia no ensino.
(ABREU, 2003, p. 97).
Voltando para o campo
universitário, entre os anos de 1961 e
1964 registramos na história
universitária brasileira mais um
encontro entre a intelectualidade
aberes do povo”,
desta vez através da atuação do
Centro Popular de Cultura
CPC,
criado pela União dos Estudantes
UNE, uma das principais
representações estudantis do Ensino
Superior brasileiro. Gestado por um
grupo de intelectuais de esquerda,
mo propósito a junção das
artes ao popular com uma ideologia
pretensamente revolucionária. Ligado
ao Partido Comunista Brasileiro, o
grupo efetivou práticas engajadas
através da criação de departamentos
voltados para o teatro, o cinema, a
literatura, a arq
uitetura, as artes
visuais que se resvalaram em
produções como shows musicais,
peças de teatro, publicações, eventos
etc. As atividades que marcaram as
ações universitárias ligadas ao CPC
não alcançaram, de forma direta, a
formalidade curricular, porém o
c
onjunto de pensamentos
coordenados pela instituição estudantil
promoveu um fazer artístico engajado
com base no nacional/popular muito
determinante para o período político
brasileiro, assim como para a política
acadêmica. O propósito centrava
em:
[...]
falar do povo, pelo povo,
dar a palavra ao próprio povo,
as variantes e debates eram
muitos, mas o centro
continuava sendo a busca das
raízes do autêntico homem do
povo, cuja identidade nacional
seria completada
verdadeiramente no futuro, no
processo da re
brasileira (RIDENTI, 2014, p.
83).
Assim como os estudos e ações
em torno do folclore, a cultura popular
do CPC voltou-
se para a categoria
“povo” na busca de uma construção e
354
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
grupo efetivou práticas engajadas
através da criação de departamentos
voltados para o teatro, o cinema, a
uitetura, as artes
visuais que se resvalaram em
produções como shows musicais,
peças de teatro, publicações, eventos
etc. As atividades que marcaram as
ações universitárias ligadas ao CPC
não alcançaram, de forma direta, a
formalidade curricular, porém o
onjunto de pensamentos
coordenados pela instituição estudantil
promoveu um fazer artístico engajado
com base no nacional/popular muito
determinante para o período político
brasileiro, assim como para a política
acadêmica. O propósito centrava
-se
falar do povo, pelo povo,
dar a palavra ao próprio povo,
as variantes e debates eram
muitos, mas o centro
continuava sendo a busca das
raízes do autêntico homem do
povo, cuja identidade nacional
seria completada
verdadeiramente no futuro, no
processo da re
volução
brasileira (RIDENTI, 2014, p.
Assim como os estudos e ações
em torno do folclore, a cultura popular
se para a categoria
povo na busca de uma construção e
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
afirmação de uma identidade nacional.
Reconhecida como manifestação de
um “romantismo revolucionário que
idealizava utopicamente um devir
brasileiro, distante das contaminações
imperialistas estadunidenses
do povo do CPC vinha prenhe de uma
idealização voltada para a a
integração do intelectual com o
homem
simples do povo” (RIDENTI,
2014, p. 24).
Após o golpe militar dado em
1964 e a ditadura que o seguiu,
organizações como a UNE foram
perseguidas e eliminadas oficialmente
da política pública brasileira. Porém,
as ações promovidas pelo CPC
continuam sendo re
levantes, seja pelo
legado fincado numa arte engajada,
seja pelas reflexões decorrentes dessa
experiência. Das observações
relacionadas ao pensamento de uma
proposição atual, em perspectiva
crítica, seria interessante rever pontos
como a questão do pertenc
gestores desse movimento cultural e
seu entendimento como uma classe de
poder intelectual e uma revio da
criação e difusão das narrativas feitas
pelo representativo desse poder em
relação a esse outro, o povo, pois no
CPC eram intelectuais lid
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
afirmação de uma identidade nacional.
Reconhecida como manifestação de
um romantismo revolucionário” que
idealizava utopicamente um devir
brasileiro, distante das contaminações
imperialistas estadunidenses
, a cultura
do povo do CPC vinha prenhe de uma
idealização voltada para a “a
integração do intelectual com o
simples do povo (RIDENTI,
Após o golpe militar dado em
1964 e a ditadura que o seguiu,
organizações como a UNE foram
perseguidas e eliminadas oficialmente
da política pública brasileira. Porém,
as ações promovidas pelo CPC
levantes, seja pelo
legado fincado numa arte engajada,
seja pelas reflexões decorrentes dessa
experiência. Das observações
relacionadas ao pensamento de uma
proposição atual, em perspectiva
crítica, seria interessante rever pontos
como a questão do pertenc
imento dos
gestores desse movimento cultural e
seu entendimento como uma classe de
poder intelectual e uma revisão da
criação e difuo das narrativas feitas
pelo representativo desse poder em
relação a esse outro, o povo, pois no
CPC eram intelectuais lid
ando com
conteúdo popular, mas sem,
necessariamente, incluir os/as
detentores/as dos conhecimentos
como protagonistas de ações e
decisões.
Essa questão encontra no
projeto Encontro de Saberes
oposição de pensamento. Trata
uma proposição pedagóg
criada em meio universitário, originada
na Universidade de Brasília
ano de 2010, voltada para o popular,
mais efetivamente para mestres e
mestras de saberes tradicionais
são convidados/as a exercerem a
docência em formato de dis
curricular, respeitando e valorizando a
natureza de suas formações e seus
conhecimentos. No entanto, em
relação ao CPC, a perspectiva é de
outra ordem, pois é condição
elementar que o/a mestre/a seja não
o/a protagonista da sua narrativa
pedagóg
ica, mas também o/a seu/sua
emissor/a direto/a, pois, segundo seu
idealizador, o professor Jo Jorge de
Carvalho,
7
Para maiores informações, existe uma
considerável produção textual sobre o
Encontro de Saberes. A
Revista
produziu um dossiê sobre o tema que está
disponível no link que segue:
https://www.seer.ufal.br/index.php/revistamund
au/article/view/11128.
355
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
conteúdo popular, mas sem,
necessariamente, incluir os/as
detentores/as dos conhecimentos
como protagonistas de ações e
Essa questão encontra no
projeto Encontro de Saberes
7 uma
oposição de pensamento. Trata
-se de
uma proposição pedagóg
ica vigente
criada em meio universitário, originada
na Universidade de Brasília
UnB, no
ano de 2010, voltada para o “popular”,
mais efetivamente para mestres e
mestras de saberes tradicionais
que
o convidados/as a exercerem a
docência em formato de dis
ciplina
curricular, respeitando e valorizando a
natureza de suas formações e seus
conhecimentos. No entanto, em
relação ao CPC, a perspectiva é de
outra ordem, pois é condição
elementar que o/a mestre/a seja não
o/a protagonista da sua narrativa
ica, mas também o/a seu/sua
emissor/a direto/a, pois, segundo seu
idealizador, o professor José Jorge de
Para maiores informações, existe uma
considerável produção textual sobre o
Revista
Mundaú
produziu um dossiê sobre o tema que está
disponível no link que segue:
https://www.seer.ufal.br/index.php/revistamund
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
[...]
os professores capacitados
para transmiti-
los com maior
autoridade e legitimidade
intelectual são justamente os
mestres e mestras que
reproduzem, recriam e
transmitem para os demais
membros das suas
comunidades, seguindo
tradições seculares (que o,
na maioria das vezes, mais
antigas que a própria tradição
universitária brasileira). (2021,
p. 57-58).
Culturas
populares+ em
experiê
ncias de encontros com a
academia
Nesse item serão destacadas
duas experiências envolvendo culturas
populares + e a academia, trabalhadas
numa perspectiva mais emancipatória,
em propostas que se estabelecem em
diálogo com conceitos decoloniais,
voltadas pa
ra uma prática
pluriepistêmica. O recorte está na
inserção de mestres e mestras
populares como docentes em ações
pedagógicas, assim como o
reconhecimento de seus saberes
através da titulação de Notório Saber.
São ações, apartadas mais
diretamente do meio t
eatral, mas que
aqui são referendadas pelo caráter de
respeito epistêmico que podem
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
os professores capacitados
los com maior
autoridade e legitimidade
intelectual o justamente os
mestres e mestras que
os
reproduzem, recriam e
transmitem para os demais
membros das suas
comunidades, seguindo
tradições seculares (que são,
na maioria das vezes, mais
antigas que a própria tradição
universitária brasileira). (2021,
populares+ em
ncias de encontros com a
Nesse item serão destacadas
duas experiências envolvendo culturas
populares + e a academia, trabalhadas
numa perspectiva mais emancipatória,
em propostas que se estabelecem em
diálogo com conceitos decoloniais,
ra uma prática
pluriepistêmica. O recorte está na
inserção de mestres e mestras
populares como docentes em ações
pedagógicas, assim como o
reconhecimento de seus saberes
através da titulação de Notório Saber.
São ações, apartadas mais
eatral, mas que
aqui o referendadas pelo caráter de
respeito epistêmico que podem
iluminar cenas a serem desenvolvidas
no meio cênico universitário.
A Universidade Federal de
Sergipe (UFS)
, atualmente, tem entre
os seus programas de pós
um
mestrado acadêmico
interdisciplinar destinado para as
Culturas Populares
Pós-
Graduação em Culturas
Populares/PPGCULT, criado em 2017
–,
no qual o campo das artes
compõe,em evidência, uma das suas
duas linhas de pesquisa, sendo esse a
Linha1
, nomeada Artes Populares:
processos analíticos, pedagógicos,
criativos. O programa em questão
inaugurou, na universidade onde está
localizado, a inserção de mestras/es
de “saberes tradicionais” como
membros avaliadores de dissertação
em defesa pública.
N
a primeira delas, do trabalho
Festa da Retomada: uma celebração
identitária de ser Xokó na Ilha de São
Pedro
Porto da Folha/SE
2020, o cacique Bá, Lucimário
Apolonio Lima, foi examinador externo,
8
Trabalho orientado pelo professor Fernando
Aguiar
(PPGCULT/UFS) e de autoria de
Angelita Queiroz. A banca foi composta
também pelos professores Roberto Lacerda
(PPGCULT/UFS)
e José Adelson Lopes
Peixoto (UNEAL).
356
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
iluminar cenas a serem desenvolvidas
no meio cênico universitário.
A Universidade Federal de
, atualmente, tem entre
os seus programas de pós
-graduação
mestrado acadêmico
interdisciplinar destinado para as
o Programa de
Graduação em Culturas
Populares/PPGCULT, criado em 2017
no qual o campo das artes
compõe,em evidência, uma das suas
duas linhas de pesquisa, sendo esse a
, nomeada Artes Populares:
processos analíticos, pedagógicos,
criativos. O programa em questão
inaugurou, na universidade onde está
localizado, a inserção de mestras/es
de saberes tradicionais” como
membros avaliadores de dissertação
a primeira delas, do trabalho
A
Festa da Retomada: uma celebração
identitária de ser Xona Ilha de São
Porto da Folha/SE
8, no ano de
2020, o cacique , Lucimário
Apolonio Lima, foi examinador externo,
Trabalho orientado pelo professor Fernando
(PPGCULT/UFS) e de autoria de
Angelita Queiroz. A banca foi composta
também pelos professores Roberto Lacerda
e José Adelson Lopes
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
sendo anteriormente titulado pela
própria universidade como
Saberes e Fazeres da Comunidade
Indígena Xokó. No ano de 2022, duas
das mestras protagonistas de uma das
pesquisas realizadas no PPGCULT
compuseram a banca examinadora da
defesa do trab
alho intitulado
Josefas, rezas e rodas: a práxis do
cuidado em saúde e o empoderamento
da mulher quilombola9
, sendo elas
Josefa Maria da Silva Santos e Josefa
Santos de Jesus. A primeira Josefa é
conhecida como Zefa da Guia,
referência no território
quilombola onde vive. Nascida em
Poço Redondo, em uma comunidade
chamada Risada, no dia 7 de
setembro de 1944, ela é parteira e
rezadeira com uma longa trajetória de
formação e atuação como mestra,
construída com
conhecimentos
transmitidos pela s
ua avó Flebona
pela sua
mãe Maria e desenvolvidos
numa extensa prática que, segundo
ela, conta com mais de cinco mil
9
Trabalho de autoria de Maria Taíres dos
Santos, orientado pelo professor Roberto
Lacerda (UFS), sendo membros da banca,
além das mestras citadas, as professoras
Clarice Mota (UFBA), Alexandra G. Dumas
(UFBA/UFS) e Raphaela
Schiassi Hernandes
(UFS). A defesa ocorreu em 17 de maio de
2022 em meio digital.
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
sendo anteriormente titulado pela
própria universidade como
Mestre dos
Saberes e Fazeres da Comunidade
Indígena Xo. No ano de 2022, duas
das mestras protagonistas de uma das
pesquisas realizadas no PPGCULT
compuseram a banca examinadora da
alho intitulado
Entre
Josefas, rezas e rodas: a práxis do
cuidado em saúde e o empoderamento
, sendo elas
Josefa Maria da Silva Santos e Josefa
Santos de Jesus. A primeira Josefa é
conhecida como Zefa da Guia,
referência no território
serrano e
quilombola onde vive. Nascida em
Poço Redondo, em uma comunidade
chamada Risada, no dia 7 de
setembro de 1944, ela é parteira e
rezadeira com uma longa trajetória de
formação e atuação como mestra,
conhecimentos
ua avó Flebona
e
mãe Maria e desenvolvidos
numa extensa prática que, segundo
ela, conta com mais de cinco mil
Trabalho de autoria de Maria Taíres dos
Santos, orientado pelo professor Roberto
Lacerda (UFS), sendo membros da banca,
além das mestras citadas, as professoras
Clarice Mota (UFBA), Alexandra G. Dumas
Schiassi Hernandes
(UFS). A defesa ocorreu em 17 de maio de
partos realizados. “Aos 11 anos de
idade Dona Zefa já vestia morto,
rezava terço e novena. Foi também
nessa idade que ela realizou o seu
primeiro parto.” (SANTOS, 2022, p.
127). Pela UFS, recebeu o título de
Mestra dos Saberes e Fazeres.
Josefa Santos de Jesus,
liderança da comunidade quilombola
Sítio Alto, em Simão Dias, Sergipe,
conhecida como Dona Finha, é mestra
de Dança de Roda, gu
sementes crioulas, além de outras
ações mobilizadoras que ela realiza
em sua comunidade. Nasceu em 8 de
agosto de 1957 e tem uma história de
vida dedicada à agricultura familiar, às
cantigas e danças tradicionais da sua
comunidade. É mestra das Ar
Cultura Popular pela UFS.
São duas mulheres
afroindígenas com alto grau de
conhecimentos elaborados na
experiência coletiva e ancestral,
portadoras de grande sabedoria
relacionada numa via direta à vida das
10
Para maiores informações, ver o
documentário “Zefa da Guia, parteira do
sertão”, disponível em:
https://w
ww.youtube.com/watch?v=RjL6c0dF4
QA.
11
Para maiores informações, ver Dona Josefa
- Quilombo Sítio Alto-
SE”, disponível em:
https://youtu.be/-VWT0ql-
S_Y
357
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
partos realizados. Aos 11 anos de
idade Dona Zefa vestia morto,
rezava terço e novena. Foi também
nessa idade que ela realizou o seu
primeiro parto. (SANTOS, 2022, p.
127). Pela UFS, recebeu o título de
Mestra dos Saberes e Fazeres.
10
Josefa Santos de Jesus,
liderança da comunidade quilombola
Sítio Alto, em Simão Dias, Sergipe,
conhecida como Dona Finha, é mestra
de Dança de Roda, gu
ardiã de
sementes crioulas, além de outras
ações mobilizadoras que ela realiza
em sua comunidade. Nasceu em 8 de
agosto de 1957 e tem uma história de
vida dedicada à agricultura familiar, às
cantigas e danças tradicionais da sua
comunidade. É mestra das Ar
tes e
Cultura Popular pela UFS.
11
São duas mulheres
afroindígenas com alto grau de
conhecimentos elaborados na
experiência coletiva e ancestral,
portadoras de grande sabedoria
relacionada numa via direta à vida das
Para maiores informações, ver o
documentário Zefa da Guia, parteira do
ww.youtube.com/watch?v=RjL6c0dF4
Para maiores informações, ver “Dona Josefa
SE, disponível em:
S_Y
.
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
pessoas e dos seus respectivos
cotidianos,
seja na saúde, na
educação, na arte, na mediação de
conflitos etc. Elas não são
alfabetizadas no letramento que
constitui a escrita da dissertação que
foram convidadas a avaliar. Contudo, o
orientador, professor Roberto Lacerda,
conduziu o processo avalia
forma a possibilitar a contribuição das
mestras ao solicitar os seus relatos
acerca da pesquisa de campo
realizada pela autora do trabalho, a
mestranda Maria Taíres dos Santos.
Dessa forma, as mestras puderam
trazer suas observações vividas
unicame
nte por elas a respeito de uma
parte essencial da pesquisa. Os
relatos foram relevantes na avaliação
da mestranda, sendo singulares e
complementares às falas
membras da banca. Essa conduta
metodológica do professor Lacerda
pode ser vista como um
a interessante
estratégia de inclusão epistêmica,
pois, ao explorar uma linguagem
comum às mestras envolvidas no
processo, possibilitou a
avaliação de
uma etapa da pesquisa vivenciada
apenas pelas mestras Josefa que
compuseram a banca. A realização da
defe
sa do mestrado em questão
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
pessoas e dos seus respectivos
seja na saúde, na
educação, na arte, na mediação de
conflitos etc. Elas não são
alfabetizadas no letramento que
constitui a escrita da dissertação que
foram convidadas a avaliar. Contudo, o
orientador, professor Roberto Lacerda,
conduziu o processo avalia
tivo de
forma a possibilitar a contribuição das
mestras ao solicitar os seus relatos
acerca da pesquisa de campo
realizada pela autora do trabalho, a
mestranda Maria Taíres dos Santos.
Dessa forma, as mestras puderam
trazer suas observações vividas
nte por elas a respeito de uma
parte essencial da pesquisa. Os
relatos foram relevantes na avaliação
da mestranda, sendo singulares e
das demais
membras da banca. Essa conduta
metodológica do professor Lacerda
a interessante
estratégia de inclusão epistêmica,
pois, ao explorar uma linguagem
comum às mestras envolvidas no
avaliação de
uma etapa da pesquisa vivenciada
apenas pelas mestras Josefa que
compuseram a banca. A realização da
sa do mestrado em questão
ocorreu em consonância com uma
prática metodológica pluriepistêmica
ao adotar,
de forma equânime, tanto a
leitura da dissertação escrita como via
de avaliação, feita por professoras
universitárias, como a leitura direta
do traba
lho de campo realizada pelas
mestras envolvidas na pesquisa.
A possibilidade de incluo de
mestras “populares” em bancas de
defesa de mestrado tem uma relação
direta com uma outra iniciativa, que é
o lançamento de um edital que
regulamenta a concessão de
Mérito Universitário Especial no âmbito
da Universidade Federal de Sergipe,
através da Resolução nº
14/2019/CONEPE, de 3 de junho de
2019, que concedeu, até janeiro de
2023, 64 tulos entre 2019 e 2021
No que tange à ampliação das
possibilida
des de ão voltadas ao/à
detentor/a do Grau de Mérito
Universitário Especial, o artigo 8 da
referida Resolução explicita que ele/a
pode:
I.
ser convidado a participar
de programas e projetos de
ensino, pesquisa ou exteno
12
Dados consultados na PROEXT (Pró
Reitoria de Extensão)/UFS, que também
informa que um edital se encontra aberto, o
que ampliará o quantitativo de mestres/as
titulados/as através da Resolução citada.
358
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
ocorreu em consonância com uma
prática metodológica pluriepistêmica
de forma equânime, tanto a
leitura da dissertação escrita como via
de avaliação, feita por professoras
universitárias, como a “leitura” direta
lho de campo realizada pelas
mestras envolvidas na pesquisa.
A possibilidade de inclusão de
mestras populares” em bancas de
defesa de mestrado tem uma relação
direta com uma outra iniciativa, que é
o lançamento de um edital que
regulamenta a concessão de
Grau de
Mérito Universitário Especial no âmbito
da Universidade Federal de Sergipe,
através da Resolução
14/2019/CONEPE, de 3 de junho de
2019, que já concedeu, até janeiro de
2023, 64 títulos entre 2019 e 2021
12.
No que tange à ampliação das
des de ação voltadas ao/à
detentor/a do Grau de Mérito
Universitário Especial, o artigo 8 da
referida Resolução explicita que ele/a
ser convidado a participar
de programas e projetos de
ensino, pesquisa ou extensão
Dados consultados na PROEXT (Pró
-
Reitoria de Extensão)/UFS, que também
informa que um edital se encontra aberto, o
que ampliará o quantitativo de mestres/as
titulados/as atras da Resolução citada.
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
na Universidade, podendo o
convite
ser feito pela Gestão
da UFS, ou coordenador de
Centro, Campi ou do programa
ou projeto, recebendo o
mesmo tratamento dispensado
a um consultor, sem implicar
vínculo empregatício com a
instituição;
II.
ser eventualmente
chamado a colaborar com a
Universidade
em deliberações
que digam respeito a Saberes
Práticos, Artes da Doncia,
Artes e Ofícios Tradicionais e
Populares, diálogos
interculturais ou matéria
pertinente a sua particular
perícia;
III.
encaminhar às autoridades
universitárias projetos que
digam respeito
a sua área de
conhecimento e tê
apreciados por instância
acadêmica competente, e,
IV.
ser recomendado por esta
Universidade a outra
instituição com fins educativos
e/ou culturais a que se dirija,
com o propósito de difundir
seu conhecimento, saber, arte
ou perícia.13
O professor José Jorge de
Carvalho traz relevantes contribuições
nas discussões que cercam a
concessão de titulação a mestres e
mestras pelas universidades, a
exemplo do Notório Saber,
considerando o conhecimento de
13
Artigo 8º da Resolução 14/2019/CONEPE,
da UFS, disponível em:
https://daffy.ufs.br/uploads/page_attach/path/1
6887/informativo_14_2019.pdf.
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
na Universidade, podendo o
ser feito pela Gestão
da UFS, ou coordenador de
Centro, Campi ou do programa
ou projeto, recebendo o
mesmo tratamento dispensado
a um consultor, sem implicar
nculo empregatício com a
ser eventualmente
chamado a colaborar com a
em deliberações
que digam respeito a Saberes
Práticos, Artes da Docência,
Artes e Ofícios Tradicionais e
Populares, diálogos
interculturais ou matéria
pertinente a sua particular
encaminhar às autoridades
universitárias projetos que
a sua área de
conhecimento e
-los
apreciados por instância
acadêmica competente, e,
ser recomendado por esta
Universidade a outra
instituição com fins educativos
e/ou culturais a que se dirija,
com o propósito de difundir
seu conhecimento, saber, arte
O professor Jo Jorge de
Carvalho traz relevantes contribuições
nas discussões que cercam a
concessão de titulação a mestres e
mestras pelas universidades, a
exemplo do Notório Saber,
considerando o conhecimento de
Artigo 8º da Resolução 14/2019/CONEPE,
https://daffy.ufs.br/uploads/page_attach/path/1
pessoas formadas em outras
epistemes por vezes distintas das
dominantes nos meios acadêmico e
social. Para ele:
[...] a fundamentação do
Notório Saber para os mestres
tradicionais propõe um
encaminhamento para a
validação, não somente de
docentes com letr
acadêmico pleno e sem
diploma de pós
mas também dos mestres
tradicionais, cujo tipo de
transmissão de saber pode ser
denominado de oralidade
acadêmica plena sem diploma.
(CARVALHO, 2021, p.60)
O seu pensamento crítico eleva
a discussão e
pistêmica para um
campo propositivo que incita a
inclusão de saberes tradicionais,
quilombolas, indígenas,
afrorreferenciados em currículos e
demais práticas pedagógicas
acadêmicas, assim como defende a
inserção de mestres e mestras como
docentes de seus p
conhecimentos, pois, para o estudioso,
[...] mestre ou mestra não é
apenas quem domina uma
determinada área de
conhecimento (e na
universidade é isso que
justamente define um
docente), mas alguém que foi
colocado na condição de
transmissor do conhecimento
que encarna, colorindo
uma conota
359
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
pessoas formadas em outras
epistemes por vezes distintas das
dominantes nos meios acadêmico e
[...] a fundamentação do
Notório Saber para os mestres
tradicionais propõe um
encaminhamento para a
validação, não somente de
docentes com letr
amento
acadêmico pleno e sem
diploma de pós
-graduação,
mas também dos mestres
tradicionais, cujo tipo de
transmissão de saber pode ser
denominado de oralidade
acadêmica plena sem diploma.
(CARVALHO, 2021, p.60)
O seu pensamento crítico eleva
pistêmica para um
campo propositivo que incita a
incluo de saberes tradicionais,
quilombolas, indígenas,
afrorreferenciados em currículos e
demais práticas pedagógicas
acadêmicas, assim como defende a
inserção de mestres e mestras como
docentes de seus p
róprios
conhecimentos, pois, para o estudioso,
[...] mestre ou mestra não é
apenas quem domina uma
determinada área de
conhecimento (e na
universidade é isso que
justamente define um
docente), mas alguém que foi
colocado na condição de
transmissor do conhecimento
que encarna, colorindo
-o com
uma conota
ção de
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
singularidade
mesmo, insubstituível. É
intrínseca ao mestre, portanto,
a condição de maturidade do
saber, o que o coloca no lugar
de um patrimônio vivo da sua
comunidade e mesmo da
nação. E é desse lugar de
tesouro vivo que o mestre se
torna irrepresentável: nem o
docente universitário que atua
como seu parceiro e nem o
seu discípulo podem ensinar
aquilo que o mestre tradicional
ensina. O saber trazido pelo
mestre é sempre transmitido
em presença, no aqui e agora
da sua relação com os
es
tudantes, sem a mediação
necessária de livros, manuais
ou réplicas virtuais do seu
encontro direto com eles na
situação de transmissão que
sucede principalmente na sala
de aula. (CARVALHO, 2021, p.
61).
Destarte, a inclusão de mestres
e mestras em bancas
examinadoras
em pós-
graduação, especialmente em
se tratando de pesquisas referentes
aos seus próprios meios e
conhecimentos, constitui uma ação
subversiva, academicamente falando,
na medida em que
conhecimento gestado por outros
meios e por diver
sas culturas e corpos
em equivalência aos status proferidos
pelos diplomas e certificações emitidos
convencionalmente pela própria
universidade, representativa do
conhecimento socialmente dominante.
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
e por isso
mesmo, insubstituível. É
intrínseca ao mestre, portanto,
a condição de maturidade do
saber, o que o coloca no lugar
de um patrimônio vivo da sua
comunidade e mesmo da
nação. E é desse lugar de
tesouro vivo que o mestre se
torna irrepresentável: nem o
docente universitário que atua
como seu parceiro e nem o
seu discípulo podem ensinar
aquilo que o mestre tradicional
ensina. O saber trazido pelo
mestre é sempre transmitido
em presença, no aqui e agora
da sua relação com os
tudantes, sem a mediação
necessária de livros, manuais
ou réplicas virtuais do seu
encontro direto com eles na
situação de transmissão que
sucede principalmente na sala
de aula. (CARVALHO, 2021, p.
Destarte, a incluo de mestres
examinadoras
graduação, especialmente em
se tratando de pesquisas referentes
aos seus próprios meios e
conhecimentos, constitui uma ação
subversiva, academicamente falando,
valida o
conhecimento gestado por outros
sas culturas e corpos
em equivalência aos status proferidos
pelos diplomas e certificações emitidos
convencionalmente pela própria
universidade, representativa do
conhecimento socialmente dominante.
Ter as Josefa avaliando, juntamente
com docentes efetivos
universidade, em pesquisa que as
inclui, numa metodologia de avaliação
respeitosa e inclusiva,
pensado como inspiração para
programas e práticas universitárias
que se pretendem pluriepistêmicas e
mais condizentes com a diversidade
c
ultural e histórica brasileira.
como expõe o professor Carvalho:
“[...]a exclusão dos mestres e mestras
dos saberes tradicionais do
docentes das nossas universidades
não ocorre por razões de incapacidade
epistêmica, científica ou humaníst
mas por razões estritamente políticas
(sociais,étnicas e raciais)
58). A inclusão desses mestres e
mestras como docentes no PPGCULT
tem como um dos referenciais o
Encontro de Saberes, projeto que há
mais de uma década vem
experienciando ess
respeitosa e dialógica envolvendo
saberes acadêmicos e saberes
gestados em outras epistemes,
especialmente as afro
360
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
Ter as Josefa avaliando, juntamente
com docentes efetivos
da
universidade, em pesquisa que as
inclui, numa metodologia de avaliação
respeitosa e inclusiva,
é algo a ser
pensado como inspiração para
demais
programas e práticas universitárias
que se pretendem pluriepistêmicas e
mais condizentes com a diversidade
ultural e histórica brasileira.
Afinal,
como expõe o professor Carvalho:
[...]a excluo dos mestres e mestras
dos saberes tradicionais do
quadro de
docentes das nossas universidades
não ocorre por razões de incapacidade
epistêmica, científica ou humaníst
ica,
mas por raes estritamente políticas
(sociais,étnicas e raciais)”
(2021, p.
58). A incluo desses mestres e
mestras como docentes no PPGCULT
tem como um dos referenciais o
Encontro de Saberes, projeto que
mais de uma década vem
experienciando ess
a relação
respeitosa e dialógica envolvendo
saberes acadêmicos e saberes
gestados em outras epistemes,
especialmente as afro
-indígenas.
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
Teatro e currículo: o racismo
epistêmico em cena
Para além dos recortes
históricos e experienciais destacados
até ag
ora no que tange a relação
universidade e culturas populares +,
os currículos de graduações em Teatro
entram em cena como foco de
observação. O recorte
recai sobre os
currículos de graduação de
universidades federais do Nordeste
brasileiro. Em todos os
nove estados
que compõem a região, graduação
em Teatro nas universidades federais,
totalizando onze cursos, dos quais oito
são licenciaturas e três o
bacharelados14
. Desse contingente,
cinco cursos não têm disciplinas
obrigatórias voltadas para as cult
populares, sendo eles localizados na
UFBA, na UFRN e na UFC.
É importante destacar o
imaginário cultural formado em torno
das culturas populares dessa região, o
que torna a invisibilização ao seu
14 UFMA –
Licenciatura em Teatro, UFPI
Licenciatura em Educação Artística,
habi
litação em Artes Cênicas, UFRN
Licenciatura em Teatro, UFC –
Licenciatura
em Teatro, UFPB –
Bacharelado em Teatro,
UFPE –
Licenciatura em Teatro, UFAL
Licenciatura em Teatro, UFS –
Licenciatura
em Teatro, UFBA –
Licenciatura em Teatro,
Bacharelado em D
ireção Teatral e
Bacharelado em Interpretação Teatral.
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
Teatro e currículo: o racismo
Para além dos recortes
históricos e experienciais destacados
ora no que tange a relação
universidade e culturas populares +,
os currículos de graduações em Teatro
entram em cena como foco de
recai sobre os
currículos de graduação de
universidades federais do Nordeste
nove estados
que compõem a região, há graduação
em Teatro nas universidades federais,
totalizando onze cursos, dos quais oito
o licenciaturas e três são
. Desse contingente,
cinco cursos não têm disciplinas
obrigatórias voltadas para as cult
uras
populares, sendo eles localizados na
UFBA, na UFRN e na UFC.
É importante destacar o
imaginário cultural formado em torno
das culturas populares dessa região, o
que torna a invisibilização ao seu
Licenciatura em Teatro, UFPI
Licenciatura em Educação Artística,
litação em Artes Cênicas, UFRN
Licenciatura
Bacharelado em Teatro,
Licenciatura em Teatro, UFAL
Licenciatura
Licenciatura em Teatro,
ireção Teatral e
Bacharelado em Interpretação Teatral.
constructo pelos cursos de Teatro algo
revelador do ra
cismo epistêmico. O
pensamento de Stuart Hall ilumina
essa questão quando afirma que A
escola e o sistema educacional o
exemplos de instituições que
distinguem a parte valorizada da
cultura, a herança cultural, a história a
ser transmitida, da parte se
(2003, p. 257). Mesmo tendo a
obrigatoriedade do ensino de cultura
afro-
brasileira nos
Fundamental e dio, através da
determinação legal de número 10.639,
do ano de 2003, muitos currículos do
Ensino Superior ainda ignoram a
relevância da
inclusão desse item
vinculado ao aspecto afirmativo da
“contribuição do povo negro nas áreas
social, econômica e política
pertinentes à História do Brasil (Lei
no
10.639/2003/MEC).
A quantidade e qualidade de
fenômenos populares de caráter
cênico, assim
como a existência de
mestres e mestras de relevantes
saberes atestado pelo respeito
adquirido em suas comunidades, é
algo bastante expressivo, inclusive
explorado, quando conm, pelas
instâncias governamentais e
mercadológicas. A indagação torna
361
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
constructo pelos cursos de Teatro algo
cismo epistêmico. O
pensamento de Stuart Hall ilumina
essa questão quando afirma que “A
escola e o sistema educacional são
exemplos de instituições que
distinguem a parte valorizada da
cultura, a herança cultural, a história a
ser transmitida, da parte ‘se
m valor’”
(2003, p. 257). Mesmo tendo a
obrigatoriedade do ensino de cultura
brasileira nos
Ensinos
Fundamental e Médio, através da
determinação legal de número 10.639,
do ano de 2003, muitos currículos do
Ensino Superior ainda ignoram a
inclusão desse item
vinculado ao aspecto afirmativo da
contribuição do povo negro nas áreas
social, econômica e política
pertinentes à História do Brasil” (Lei
10.639/2003/MEC).
A quantidade e qualidade de
fenômenos populares de caráter
como a existência de
mestres e mestras de relevantes
saberes atestado pelo respeito
adquirido em suas comunidades, é
algo bastante expressivo, inclusive
explorado, quando convém, pelas
instâncias governamentais e
mercadológicas. A indagação torna
-se
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
inevit
ável: o que poderia promover o
descarte dos conhecimentos populares
nos currículos em cursos de
graduação em Teatro
mediante suas
territorializações em espaços culturais
tão pujantes em manifestações
cênicas de natureza popular e, mais
especificamente, afr
opopular? A
professora Nilma Lino Gomes afirma
que “Currículo é seleção. O currículo é
escolha intencional. Nós selecionamos
uma série de elementos para entrar no
currículo e apartamos outros. Então, o
quê que nós temos apartado? E o quê
que nós temos sele
cionado? [...] Que
currículo é esse? A quem ele serve?
(2023, s/p).
Apesar de a resposta parecer
óbvia, mensurar e apresentar as
razões dessa ausência pode fugir das
exigências convencionais que ainda
predominam nos moldes hegemônicos
de se fazer pesquis
universidades brasileiras.O ponto de
partida
para análise é o Projeto
Pedagógico dos Cursos
documento com diretrizes comuns aos
cursos e que serve como um
dispositivo revelador e orientador da
formação profissional. Sua relevância
vem por sua
amplitude justamente por
conter o propósito político e
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
ável: o que poderia promover o
descarte dos conhecimentos populares
nos currículos em cursos de
mediante suas
territorializações em espaços culturais
tão pujantes em manifestações
nicas de natureza popular e, mais
opopular? A
professora Nilma Lino Gomes afirma
que Currículo é seleção. O currículo é
escolha intencional. Nós selecionamos
uma rie de elementos para entrar no
currículo e apartamos outros. Então, o
quê que nós temos apartado? E o quê
cionado? [...] Que
currículo é esse? A quem ele serve?”
Apesar de a resposta parecer
óbvia, mensurar e apresentar as
razões dessa ausência pode fugir das
exigências convencionais que ainda
predominam nos moldes hegemônicos
de se fazer pesquis
a nas
universidades brasileiras.O ponto de
para análise é o Projeto
Pedagógico dos Cursos
PPC,
documento com diretrizes comuns aos
cursos e que serve como um
dispositivo revelador e orientador da
formação profissional. Sua relevância
amplitude justamente por
conter o propósito político e
pedagógico e constarem itens exigidos
como: contextualização histórica,
grade curricular e ementário, perfil de
egressos, carga horária especificada,
sistema de avaliação, entre outros
itens.
Dessa fo
rma, apresentaremos
alguns dados, tendo como foco de
observação a presença/ausência do
conteúdo Culturas Populares nas
grades curriculares dos cursos de
graduação em Teatro das
universidades federais nordestinas.
Partimos do entendimento do
“currículo como
um território em
disputa”, como afirma Miguel Arroyo
(2013, p. 15). Essa disputa tem uma
relação direta com o papel central que
esse documento ocupa, hoje, no
cotidiano escolar, universitário.
Dessa centralização e
relevância surge a normatividade que
ch
ega a determinar nos cursos de
Teatro, por exemplo, em consonância
com as diretrizes curriculares
aprovadas pelo Conselho Nacional de
Educação15
, a obrigatoriedade de uma
formação profissional que revele o
15
Resolução nº 4 de 8 de março de 2004, que
aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais do
Curso de Graduação em Teatro, pelo
Conselho Nacional de Educação, da Câmara
de Educação Superior.
362
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
pedagógico e constarem itens exigidos
como: contextualização histórica,
grade curricular e ementário, perfil de
egressos, carga horária especificada,
sistema de avaliação, entre outros
rma, apresentaremos
alguns dados, tendo como foco de
observação a presença/ausência do
conteúdo Culturas Populares nas
grades curriculares dos cursos de
graduação em Teatro das
universidades federais nordestinas.
Partimos do entendimento do
um território em
disputa, como afirma Miguel Arroyo
(2013, p. 15). Essa disputa tem uma
relação direta com o papel central que
esse documento ocupa, hoje, no
cotidiano escolar, universitário.
Dessa centralização e
relevância surge a normatividade que
ega a determinar nos cursos de
Teatro, por exemplo, em consonância
com as diretrizes curriculares
aprovadas pelo Conselho Nacional de
, a obrigatoriedade de uma
formação profissional que revele o
Resolução nº 4 de 8 de março de 2004, que
aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais do
Curso de Graduação em Teatro, pelo
Conselho Nacional de Educação, da Câmara
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
ensino de “competências e
habilidades” em determina
conteúdos como: “conhecimento da
história do teatro, da dramaturgia e da
literatura dramática” (Artigo 4,
Resolução 4/2004/ CNE)
.
entanto, alguma indicação explícita
que indique a obrigatoriedade da
inserção de conteúdos e saberes do
que pod
eria ser da ordem do popular.
O que podemos notar na resolução
citada são indicações amplas em
denominações como: integrar o
indivíduo na sociedade e tornando
participativo de suas
manifestações culturais
”(grifo nosso)
e
“trabalho educacional
Quadro 1 –
Dados coletados dos Projetos Pedagógicos dos cursos citados
Universidade/Curso
* Entre parênteses es o
ano de implementação do
currículo vigente até a
última data de consulta,
janeiro de 2023
UFBA Licenciatura em
Teatro (2020), Bacharelado
em Interpretação Teatral
(2014), Bacharelado em
Direção Teatral (2014)
1.
antiguidade clássica ao romantismo (68
horas);
2.
3.
UFS Licenciatura em 1.
2.
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
ensino de competências e
habilidades em determina
dos
conteúdos como: conhecimento da
história do teatro, da dramaturgia e da
literatura dramática (Artigo 4,
.
Não há, no
entanto, alguma indicação explícita
que indique a obrigatoriedade da
inserção de conteúdos e saberes do
eria ser da ordem do popular.
O que podemos notar na resolução
citada o indicações amplas em
denominações como: “integrar o
indivíduo na sociedade e tornando
-o
participativo de suas
múltiplas
(grifo nosso)
trabalho educacional
direcionado
para o teatro e suas
manifestações
”(grifo nosso)(Artigo 4,
Resolução 4/2004/CNE).
Dessa forma, dos currículos
analisados dos onze cursos de
graduação em Teatro de universidades
públicas federais nordestinas, todos
abordam conteúdos rel
história do Teatro com perfis
aproximados em disciplinas
obrigatórias, e, quanto à dramaturgia,
mesmo não sendo totalitária, é
ensinada na maioria dos cursos,
conforme apresentação no quadro que
segue.
Dados coletados dos Projetos Pedagógicos dos cursos citados
Disciplinas História
Disciplinas Dramaturgia
História do Teatro Ocidental: da
antiguidade clássica ao romantismo (68
horas);
História do Teatro Ocidental moderno e
contemporâneo (68 horas);
História doTeatro no Brasil e na Bahia
(68 horas).
Análise de texto (68
horas)
História do Teatro I (60 horas);
História do Teatro II (60 horas);
Texto Teatral I
363
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
para o teatro e suas
diversas
(grifo nosso)(Artigo 4,
Resolução 4/2004/CNE).
Dessa forma, dos currículos
analisados dos onze cursos de
graduação em Teatro de universidades
públicas federais nordestinas, todos
abordam conteúdos rel
acionados à
história do Teatro com perfis
aproximados em disciplinas
obrigatórias, e, quanto à dramaturgia,
mesmo não sendo totalitária, é
ensinada na maioria dos cursos,
conforme apresentação no quadro que
Dados coletados dos Projetos Pedagógicos dos cursos citados
Disciplinas Dramaturgia
Análise de texto (68
horas)
Texto Teatral I
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
Teatro (2020) 3.
4.
5.
6.
UFRN Licenciatura em
Teatro (2018)
UFPI Licenciatura em
Educação Artística/
Habilitação Artes Cênicas
(2012)
OBS: O programa não se encontra
disponível no site institucional do curso. A
escolha de inseri
base o programa de componentes similares.
UFPE Licenciatura em
Teatro (2019)
UFPB Bacharelado
Teatro (2015)
UFMA Licenciatura em
Teatro (2015)
UFC Licenciatura em
Teatro (2020)
UFAL Licenciatura em
Teatro (2019)
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3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
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História do Teatro Brasileiro (60 horas);
História do Teatro III (60 horas);
História do Teatro em Sergipe
(60horas);
Teatro latino americano (30 horas).
(60horas)
1. História do Teatro I (60 horas);
2. História do Teatro Brasileiro I (60
horas);
3. História do Teatro II (60 horas);
4. História do Teatro Brasileiro II (60
horas);
5. História do Teatro III;
6. História do Teatro Brasileiro III.
1. Evolução do Teatro e da Dança I
OBS: O programa o se encontra
disponível no site institucional do curso. A
escolha de inseri
-la nesse item teve como
base o programa de componentes similares.
1. História do Teatro Mundial (60
horas).
Não há componente
curricular específico.
1. Teatro antigo, medieval e
renascentista (60 horas);
2. O drama burguês e o teatro do
século XIX (60 horas);
3. O século XX e as bases para o
teatro contemporâneo (60 horas).
Não há componente
curricular específico.
1. História do Teatro I (75horas);
2. História do Teatro II (75horas);
3. História do Teatro III (75horas).
Não há componente
curricular específico.
1. Prototeatro e teatro greco-romano
(48 horas);
2. Teatro medieval ao romântico (48
horas);
3. Teatro moderno ao contemporâneo
(48 horas).
1. História do Teatro I (54 horas);
2. História do Teatro II (54 horas);
3. História da Arte I (54 horas);
4. História da Arte II (54 horas);
5. História do Teatro Alagoano (54
horas).
364
ISSN 2237-1508
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")
(60horas)
1. Dramaturgia I
(60 horas);
2. Dramaturgia II
(60 horas).
1. Dramaturgia (75
horas)
Não componente
curricular específico.
Não componente
curricular específico.
Não componente
curricular específico.
1. Estudos de
dramaturgia e
análise de texto
(48 horas)
1. Literatura
Dramática I (54
horas);
2. Literatura
Dramática II (54
horas);
3. Literatura
Dramática III
(54 horas);
4. Literatura
Dramática IV
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
Se tomarmos como
observação o conteúdo História do
Teatro em disciplinas obrigatórias,
podemos aferir que as graduações em
Teatro das universidades federais no
Nordeste brasileiro têm uma
perspectiva monoepistêmica, visto que
o referencial europeu impera na sua
c
omposição curricular máxima e nas
indicações bibliográficas.
constatação dialoga com o que o
professor Arroyo afirma: [...] os
currículos favorecem que os rostos de
alguns coletivos apareçam na história,
e que os rostos de outros coletivos
humanos se
gregados se apaguem, se
percam” (2013, p. 262).
Dentro do aspecto legislativo, os
currículos de graduação em Teatro
cumprem a indicação da Resolução nº
4/2004/CNE, obedecendo à
sinalização voltada para a formação
do/da profissional da área com
competência
s ligadas a conteúdos da
história do teatro e da dramaturgia.
Porém, grande parte desses cursos
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
OBS: No site do curso,
constam 45 horas, já no
Projeto Pedagógico
constam 54 horas para
os componentes
citados.
Fonte: Elaborado pela autora, 2023.
Se tomarmos como
ponto de
observação o conteúdo História do
Teatro em disciplinas obrigatórias,
podemos aferir que as graduações em
Teatro das universidades federais no
Nordeste brasileiro têm uma
perspectiva monoepistêmica, visto que
o referencial europeu impera na sua
omposição curricular máxima e nas
indicações bibliográficas.
Essa
constatação dialoga com o que o
professor Arroyo afirma: “[...] os
currículos favorecem que os rostos de
alguns coletivos apareçam na história,
e que os rostos de outros coletivos
gregados se apaguem, se
Dentro do aspecto legislativo, os
currículos de graduação em Teatro
cumprem a indicação da Resolução
4/2004/CNE, obedecendo à
sinalização voltada para a formação
do/da profissional da área com
s ligadas a conteúdos da
história do teatro e da dramaturgia.
Porém, grande parte desses cursos
negligencia o indicativo referente ao
seu artigo 3º, que diz:
O curso de graduação em
Teatro deve ensejar, como
perfil desejado do formando,
capacitação para a
apropriação do pensamento
reflexivo e da sensibilidade
artística, compreendendo
sólida formação técnica,
artística, ética e cultural, com
aptidão para constru
formas de expressão e de
linguagem corporal e de
propostas estéticas, inclusive
como elemento de valorização
humana e da auto
visando a integrar o indiduo
na sociedade e tornando
participativo de suas
manifestações culturais
(Resolução no 4/2004/CNE,
grifo nosso).
Tomando como base o que se
denomina “múltiplas e diversas”,a
questão da pluralidade epistêmica
poderia ser contemplada, porém se
percebe uma predominância do
conhecimento teatral europeu em
detrimento de express
matrizes africanas e indígenas, mesmo
em se tratando de culturas populares,
365
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
(54 horas).
OBS: No site do curso,
constam 45 horas, já no
Projeto Pedagógico
constam 54 horas para
os componentes
citados.
negligencia o indicativo referente ao
seu artigo 3º, que diz:
O curso de graduação em
Teatro deve ensejar, como
perfil desejado do formando,
capacitação para a
apropriação do pensamento
reflexivo e da sensibilidade
artística, compreendendo
lida formação técnica,
artística, ética e cultural, com
aptidão para constru
ir novas
formas de expressão e de
linguagem corporal e de
propostas estéticas, inclusive
como elemento de valorização
humana e da auto
-estima,
visando a integrar o indivíduo
na sociedade e tornando
-o
participativo de suas
múltiplas
manifestações culturais
.
(Resolução no 4/2004/CNE,
grifo nosso).
Tomando como base o que se
denomina múltiplas e “diversas”,a
questão da pluralidade epistêmica
poderia ser contemplada, porém se
percebe uma predominância do
conhecimento teatral europeu em
detrimento de express
ões nicas de
matrizes africanas e indígenas, mesmo
em se tratando de culturas populares,
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
como se pode observar no recorte
Quadro 2 –
Instituições e disciplinas voltadas para as culturas
UNIVERSIDADE/CURSO
UFBA
Licenciatura em Teatro (2020),
Bacharelado em Interpretação Teatral (2014),
Bacharelado em Direção Teatral (2014)
UFS –
Licenciatura em Teatro (2020)
UFRN –
Licenciatura em Teatro (2018)
UFPI
Licenciatura em Educação Artística/
Habilitação Artes Cênicas (2012)
UFPE –
Licenciatura em Teatro (2019)
UFPB –
Bacharelado em Teatro (2015)
UFMA –
Licenciatura em Teatro (2015)
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
como se pode observar no recorte
exposto no quadro a seguir.
Instituições e disciplinas voltadas para as culturas
populares
UNIVERSIDADE/CURSO
DISCIPLINA OBRIGATÓRIA VOLTADA PARA AS
CULTURAS POPULARES
Nome e ementa
Licenciatura em Teatro (2020),
Bacharelado em Interpretação Teatral (2014),
Bacharelado em Direção Teatral (2014)
Não componente curricular
nenhum dos seus três cursos.
Licenciatura em Teatro (2020)
Manifestações cênicas da cultura brasileira (60
horas)
Ementa: Abordagens interdisciplinares a propósito
das manifestações cênicas da cultura brasileira.
Discussão de matrizes
culturais do povo brasileiro a
partir de manifestações cênicas. Processos
artísticos e/ou pedagógicos referenciados nas
culturas populares. Relações entre tradição e
contemporaneidade nas práticas nicas.
Licenciatura em Teatro (2018)
Não há comp
onente curricular específico.
Licenciatura em Educação Artística/
Habilitação Artes Cênicas (2012)
Cultura popular (60 horas)
Ementa: 1. Teoria do folclore. 2. Pré
Cultura Popular do Brasil. 3. Caracterização do
folclore piauiense. 4. F
ronteiras da Cultura Popular.
5. Observação do comportamento e de criação da
Arte popular. 6. Aplicação da Cultura Popular na
Educação. Genealogia do conceito de Cultura.
Etnografia dos eventos da cultura popular brasileira.
Relação entre cultura popular,
Influências da formação cultural brasileira e
piauiense. Estudo das contribuições dos elementos
étnico-
raciais negro e indígena na cultura brasileira.
Licenciatura em Teatro (2019)
Processos Culturais no Brasil (60 horas)
Ementa
: Introdução a teorias culturais
contemporâneas aplicadas ao processo histórico do
Brasil: nação,tradição, identidade, diferença. Os
cruzamentos culturais: equivalências e divergências.
Identidadenacional e culturas no Brasil. Diversidade
cultural: abordag
ens antropológicas, políticas
epedagógicas, contemplando-
se conteúdos exigidos
para cumprimento da Lei 10.639, de 9 de janeirode
2003.
Bacharelado em Teatro (2015)
Prática de interpretação de origem popular (90
horas)
Ementa: A CommediaDell’Arte; o
Bufão; o Teatro do Improviso. A diferença entre tipo
e personagem. O Tempo e o Ritmo da cena cômica.
A Comédia. O estabelecimento de digos.
Abordagem de práticas curriculares que visem o
ensino dos conteúdos da disciplina.
Licenciatura em Teatro (2015)
Práticas espetaculares da cultura brasileira (60
horas)
Ementa: Estudo da cultura e história afro
africana e indígena a partir das práticas
366
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
exposto no quadro a seguir.
populares
DISCIPLINA OBRIGATÓRIA VOLTADA PARA AS
CULTURAS POPULARES
Nome e ementa
Não há componente curricular
específico em
Manifestações cênicas da cultura brasileira (60
Ementa: Abordagens interdisciplinares a propósito
das manifestações cênicas da cultura brasileira.
culturais do povo brasileiro a
partir de manifestações cênicas. Processos
artísticos e/ou pedagógicos referenciados nas
culturas populares. Relações entre tradição e
contemporaneidade nas práticas cênicas.
onente curricular específico.
Ementa: 1. Teoria do folclore. 2. Pré
-História da
Cultura Popular do Brasil. 3. Caracterização do
ronteiras da Cultura Popular.
5. Observação do comportamento e de criação da
Arte popular. 6. Aplicação da Cultura Popular na
Educação. Genealogia do conceito de Cultura.
Etnografia dos eventos da cultura popular brasileira.
Relação entre cultura popular,
erudita e de massa.
Influências da formação cultural brasileira e
piauiense. Estudo das contribuições dos elementos
raciais negro e indígena na cultura brasileira.
Processos Culturais no Brasil (60 horas)
: Introdução a teorias culturais
contemporâneas aplicadas ao processo histórico do
Brasil: nação,tradição, identidade, diferença. Os
cruzamentos culturais: equivalências e divergências.
Identidadenacional e culturas no Brasil. Diversidade
ens antropológicas, políticas
se conteúdos exigidos
para cumprimento da Lei 10.639, de 9 de janeirode
Prática de interpretação de origem popular (90
Ementa: A CommediaDellArte; o
Circo; o Clown; o
Bufão; o Teatro do Improviso. A diferença entre tipo
e personagem. O Tempo e o Ritmo da cena cômica.
A Comédia. O estabelecimento de códigos.
Abordagem de práticas curriculares que visem o
ensino dos conteúdos da disciplina.
Práticas espetaculares da cultura brasileira (60
Ementa: Estudo da cultura e história afro
-brasileira,
africana e indígena a partir das práticas
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
UFC –
Licenciatura em Teatro (2020)
UFAL –
Licenciatura em Teatro (2019)
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados dos Projetos Pedagógicos dos cursos, 2023.
Do total dos onze cursos de
graduação em Teatro do Nordest
brasileiro, apenas seis têm
componente curricular nomeado e
voltado diretamente para a cultura
popular, sendo que, mesmo sem haver
o componente, a UFAL mantém
conteúdos de caráter popular
transversalizando algumas disciplinas.
Através da ementa e dos
ref
erenciais bibliográficos, entramos
um pouco mais no perfil dos cursos.
Além de chamarem atenção as
ausênciasde conteúdos de caráter
popular em universidades como a
UFBA, a UFC e a UFRN, numa análise
geral, destacamos o fato de o
“popular” trabalhado na UFP
basear em expressões europeias
como a Commedia
Dell’Arte, mesmo
sendo o curso localizado em um
estado com fortes expressões nicas
de caráter popular, afropopular. Tal
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
espetaculares, seguindo pressupostos da
etnocenologia e dos estudos cultur
articulação com o ensino de Teatro. Enfoque na
espetacularidade, analisando e experimentando os
aspectos gestuais, sonoros, espaciais e estéticos
das manifestações culturais, considerando os
processos de aprendizagem e transmissão do
conhecimento.
Licenciatura em Teatro (2020)
Não há componente curricular específico.
Licenciatura em Teatro (2019)
Não componente curricular específico, porém
ocorre uma transversalização do tema em rios
componentes curriculares, como: Fundamentos da
Encenação, Teatro na comunidade, Jogo TeatralI e
II, entre outros.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados dos Projetos Pedagógicos dos cursos, 2023.
Do total dos onze cursos de
graduação em Teatro do Nordest
e
brasileiro, apenas seis têm
componente curricular nomeado e
voltado diretamente para a cultura
popular, sendo que, mesmo sem haver
o componente, a UFAL mantém
conteúdos de caráter popular
transversalizando algumas disciplinas.
Através da ementa e dos
erenciais bibliográficos, entramos
um pouco mais no perfil dos cursos.
Além de chamarem atenção as
ausênciasde conteúdos de caráter
popular em universidades como a
UFBA, a UFC e a UFRN, numa análise
geral, destacamos o fato de o
popular trabalhado na UFP
B se
basear em expreses europeias
DellArte, mesmo
sendo o curso localizado em um
estado com fortes expressões cênicas
de caráter popular, afropopular. Tal
situação confirma que a inspiração
europeia foi basilar tanto na
implementação das
universidades em
solo brasileiro quanto nos estudos do
folclore, até quando este adentra as
universidades. O professor Augustin
de Tugny problematiza a formação de
artistas no Ensino Superior no Brasil,
dizendo que ela “[...] se estabeleceu
historicamente
pela absorção de
diversas tradições de formação
específicas a cada uma das artes
canônicas: pintura, desenho, gravura,
escultura, música, dança, teatro, todas
herdadas das belas
-
filhas das musas da Antiguidade
grega.” (2020, p. 509). Na s
crítica, ele também
assinala:
De fato, em quais dessas
categorias oriundas as belas
artes podemos considerar um
bumba meu boi do Maranhão
ou um cavalo marinho de
Pernambuco: teatro,dança,
música, ópera, artes visuais,
367
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
espetaculares, seguindo pressupostos da
etnocenologia e dos estudos cultur
ais em
articulação com o ensino de Teatro. Enfoque na
espetacularidade, analisando e experimentando os
aspectos gestuais, sonoros, espaciais e estéticos
das manifestações culturais, considerando os
processos de aprendizagem e transmissão do
Não há componente curricular específico.
Não há componente curricular específico, porém
ocorre uma transversalização do tema em vários
componentes curriculares, como: Fundamentos da
Encenação, Teatro na comunidade, Jogo TeatralI e
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados dos Projetos Pedagógicos dos cursos, 2023.
situação confirma que a inspiração
europeia foi basilar tanto na
universidades em
solo brasileiro quanto nos estudos do
folclore, até quando este adentra as
universidades. O professor Augustin
de Tugny problematiza a formação de
artistas no Ensino Superior no Brasil,
dizendo que ela [...] se estabeleceu
pela absorção de
diversas tradições de formação
espeficas a cada uma das artes
canônicas: pintura, desenho, gravura,
escultura, música, dança, teatro, todas
-
artes europeias,
filhas das musas da Antiguidade
grega. (2020, p. 509). Na s
ua reflexão
assinala:
De fato, em quais dessas
categorias oriundas as belas
-
artes podemos considerar um
bumba meu boi do Maranhão
ou um cavalo marinho de
Pernambuco: teatro,dança,
música, ópera, artes visuais,
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
poesia? Nenhuma dessas
abordagens, isolada ou
tomadas em conjunto, dará
conta da força e da
experiência artística do evento,
porque elas respondem
fundamentalmente a outros
modelos de fazer e vivenciar
as artes; porque elas foram
elaboradas em o
epistemológicas.
2020, p. 511).
No entanto, se percebe que
ocorre a inserção das culturas
populares no currículo paraibano da
graduação em Teatro, porém está
condicionada a uma hierarquização
em que o popular europeu é colocado
em cond
ição primeira de atenção em
relação à gama de manifestações
populares que circundam o meio
universitário paraibano. Além do
descarte, nas demais situações,
podemos perceber um outro emprego
da hierarquia em que o popular
brasileiro fica subjugado ao constr
epistêmico europeu, a exemplo da
UFBA,num componente curricular já
extinto, como veremos posteriormente.
Partimos agora para um
segundo elemento advindo da
observação dos currículos nicos de
graduação em solo nordestino,
especificamente localizado
nomeado majoritariamente como
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
poesia? Nenhuma dessas
abordagens, isolada ou
tomadas em conjunto, dará
conta da força e da
riqueza da
experiência artística do evento,
porque elas respondem
fundamentalmente a outros
modelos de fazer e vivenciar
as artes; porque elas foram
elaboradas em o
utras bases
(TUGNY,
No entanto, se percebe que
ocorre a inserção das culturas
populares no currículo paraibano da
graduação em Teatro, porém está
condicionada a uma hierarquização
em que o popular europeu é colocado
ição primeira de atenção em
relação à gama de manifestações
populares que circundam o meio
universitário paraibano. Além do
descarte, nas demais situações,
podemos perceber um outro emprego
da hierarquia em que o popular
brasileiro fica subjugado ao constr
ucto
epistêmico europeu, a exemplo da
UFBA,num componente curricular
extinto, como veremos posteriormente.
Partimos agora para um
segundo elemento advindo da
observação dos currículos cênicos de
graduação em solo nordestino,
especificamente localizado
no campo
nomeado majoritariamente como
Bibliografia Básica. Consta nesse item,
como o próprio nome sugere, uma
produção exclusivamente concentrada
em livros. Essa escolha por material
estritamente produzido em livros
evidencia a seleção de conhecimentos
es
truturados numa forma muito
associada ao universo europeu,
descartando epistemes corporais
registradas em vídeos, fotografias,
áudios, documentários,
podcasts, depoimentos e até outras
formas de
escrita gestadas fora do
domínio europeu. A professora
pesquisadora Leda Maria Martins
escreve que “[...] a escrita como lugar
de memória, é um dos instrumentos de
expressão mais enaltecidos e habita
os lugares de memória privilegiados no
Ocidente” (2021, p. 29). Tendo como
ponto de observação a prioridade
à expressão discursiva da escrita no
Ocidente, Martins afirma que esse
modo:
[...] se realiza, como
pensamento, pelo quase
absoluto domínio da escrita
alfabética como plataforma de
grafias de fixação de sua
narratologia e de suas
escrituras, ignorando
preterindo outros modos de
fixação dos saberes, dentre
eles os que se perfazem pela
voz em suas ressonâncias nas
corporeidades. (2021, p. 32).
368
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
Bibliografia Básica. Consta nesse item,
como o próprio nome sugere, uma
produção exclusivamente concentrada
em livros. Essa escolha por material
estritamente produzido em livros
evidencia a seleção de conhecimentos
truturados numa forma muito
associada ao universo europeu,
descartando epistemes corporais
registradas em vídeos, fotografias,
áudios, documentários,
lives,
podcasts, depoimentos e até outras
escrita gestadas fora do
domínio europeu. A professora
e
pesquisadora Leda Maria Martins
escreve que [...] a escrita como lugar
de memória, é um dos instrumentos de
expressão mais enaltecidos e habita
os lugares de memória privilegiados no
Ocidente (2021, p. 29). Tendo como
ponto de observação a prioridade
dada
à expressão discursiva da escrita no
Ocidente, Martins afirma que esse
[...] se realiza, como
pensamento, pelo quase
absoluto domínio da escrita
alfabética como plataforma de
grafias de fixação de sua
narratologia e de suas
escrituras, ignorando
ou
preterindo outros modos de
fixação dos saberes, dentre
eles os que se perfazem pela
voz em suas ressonâncias nas
corporeidades. (2021, p. 32).
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
A escolha por um determinado
dispositivo de ensino diz também da
sua associação com um tipo de
conhecimento
. Trazer não as
temáticas raciais, mas também as
epistemes negras em toda a sua
potencialidade para os currículos de
graduação em Teatro, pode, em certa
medida, promover rupturas na própria
estrutura curricular, pois esta também
funciona como um veículo
pensamento, no caso asso
modelo europeu, branco
centrado.
Mais um terceiro elemento se
destaca na leitura geral do quadro
exposto. Trata-
se da associação direta
do popular com as questões étnico
raciais, como observamos em trechos
das ementas de disciplinas que tratam
da cultura popular: “Estudo das
contribuições
dos elementos étnico
raciais negro e indígena na cultura
brasileira” (UFPI); “Estudo da cultura e
história afro-
brasileira, africana e
indígena a partir das práticas
espetaculares” (UFMA); “cumprimento
da Lei 10.639/ 2003 (UFPE).
Entretanto, não propo
ementário que toque nos
tensionamentos e aprofundamentos
referentes ao racismo, sobretudo o
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
A escolha por um determinado
dispositivo de ensino diz também da
sua associação com um tipo de
. Trazer não as
temáticas raciais, mas também as
epistemes negras em toda a sua
potencialidade para os currículos de
graduação em Teatro, pode, em certa
medida, promover rupturas na própria
estrutura curricular, pois esta também
funciona como um veículo
de
pensamento, no caso asso
ciado a um
centrado.
Mais um terceiro elemento se
destaca na leitura geral do quadro
se da associação direta
do popular com as questões étnico
-
raciais, como observamos em trechos
das ementas de disciplinas que tratam
da cultura popular: Estudo das
dos elementos étnico
-
raciais negro e indígena na cultura
brasileira (UFPI); Estudo da cultura e
brasileira, africana e
indígena a partir das práticas
espetaculares” (UFMA); cumprimento
da Lei 10.639/ 2003” (UFPE).
Entretanto, não há propo
sição no
ementário que toque nos
tensionamentos e aprofundamentos
referentes ao racismo, sobretudo o
racismo epistêmico que promove
ausências e/ou equívocos no plano
curricular. Como afirma a professora
Abreu, de forma geral, As fronteiras
entre as catego
rias tradicional e
‘moderno’, ‘popular’ e negro ou afro
brasileiro’ são embaraçadas e pouco
precisas” (2018, p.27).
A dominância de matrizes
africanas nas culturas populares
brasileiras é flagrante.
muitos casos, ocorre a inserção do
p
opular como conteúdo por vezes até
em intersecção com a cultura negra,
mas sem colocar em evidência
discussões que tocam o racismo e
seus temas subsequentes
como:apropriação cultural,
universalização, branquitude,
hierarquização. Dessa forma, a
inclusão da
cultura popular em
currículos acadêmicos pode até
caracterizar uma suposta
pluriepistemia, mas não
necessariamente ser uma ação
antirracista, com embasamento no
enfrentamento às violências voltadas
para povos e culturas negros. Ao falar
do termo cultura p
historiadora Abreu afirma que tratar
desse tema
369
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
racismo epistêmico que promove
ausências e/ou equívocos no plano
curricular. Como afirma a professora
Abreu, de forma geral, “As fronteiras
rias ‘tradicional’ e
moderno, popular e ‘negro’ ou ‘afro
-
brasileiro o embaraçadas e pouco
precisas (2018, p.27).
A dominância de matrizes
africanas nas culturas populares
brasileiras é flagrante.
No entanto, em
muitos casos, ocorre a inserção do
opular como conteúdo por vezes até
em interseão com a cultura negra,
mas sem colocar em evidência
discuses que tocam o racismo e
seus temas subsequentes
como:apropriação cultural,
universalização, branquitude,
hierarquização. Dessa forma, a
cultura popular em
currículos acadêmicos pode a
caracterizar uma suposta
pluriepistemia, mas não
necessariamente ser uma ação
antirracista, com embasamento no
enfrentamento às violências voltadas
para povos e culturas negros. Ao falar
do termo cultura p
opular, a
historiadora Abreu afirma que tratar
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
[...] seria remeter ao conflito,
ao conflito social e quando
você acrescenta o negro vo
está discutindo o racismo.
Você está discutindo como
dentro dessas expressões
culturais... temos que trazer
problema do racismo e da
presença, da herança e do
legado africano no Brasil. Esse
é um longo problema no
conceito de cultura popular,
pois em um longo tempo ele
foi confundido com
mestiçagem. E a mestiçagem
no sentido do branqueamento.
(2020, s/p).
El
a segue problematizando
essa questão, afirmando:
O uso de “cultura negra é um
conceito de afirmação e de
reparação por uma herança
africana tão esquecida, tão
colocada como sobrevivência,
como coisa do passado,
guetificada... Então, tratar de
cultura negr
a, eu acho que é
uma forma de afirmação, de
reparação e de luta contra o
racismo. Então, a gente tem
um outro ingrediente a
acrescentar na cultura popular.
Ela é uma cultura popular e
negra também, porque afirma
uma história e um passado
brasileiro de l
uta por direito a
exercer a sua cultura.
(ABREU, 2020, s/p).
Ao considerar as instâncias de
poder que marcam a nossa história
colonial, que resvala inclusive na área
acadêmica, o apagamento, a
dominação e o descarte do povo
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
[...] seria remeter ao conflito,
ao conflito social e quando
vo acrescenta o negro você
está discutindo o racismo.
Vo está discutindo como
dentro dessas expressões
culturais... temos que trazer
o
problema do racismo e da
presença, da herança e do
legado africano no Brasil. Esse
é um longo problema no
conceito de cultura popular,
pois em um longo tempo ele
foi confundido com
mestiçagem. E a mestiçagem
no sentido do branqueamento.
a segue problematizando
O uso de cultura negra” é um
conceito de afirmação e de
reparação por uma herança
africana tão esquecida, tão
colocada como sobrevivência,
como coisa do passado,
guetificada... Então, tratar de
a, eu acho que é
uma forma de afirmação, de
reparação e de luta contra o
racismo. Então, aí a gente tem
um outro ingrediente a
acrescentar na cultura popular.
Ela é uma cultura popular e
negra também, porque afirma
uma história e um passado
uta por direito a
exercer a sua cultura.
(ABREU, 2020, s/p).
Ao considerar as instâncias de
poder que marcam a nossa história
colonial, que resvala inclusive na área
acadêmica, o apagamento, a
dominação e o descarte do povo
representado nas culturas
suba
lternizadas como as negras e as
indígenas são ações que referendam a
afirmação branco-
dominadora. O
professor Arroyo explicita:
Em nossa formação histórica a
apropriação
conhecimento agiu e age
como demarcação
reconhecimento ou
segregação da div
coletivos sociais, étnicos,
raciais, de gênero, campo,
periferias. Não apenas foi
negado e dificultado seu
acesso ao conhecimento
produzido, mas foram
despojados de seus
conhecimentos, culturas,
modos de pensar
pensar o mundo e a histór
Foram decretados
inexistentes, à margem da
história intelectual e cultural da
humanidade. Logo, seus
saberes, culturas, modos de
pensar não foram
incorporados no dito
conhecimento socialmente
produzido e acumulado que as
diretrizes curriculares
legitim
am como núcleo
comum. (2013, p. 14
A obrigatoriedade da inserção
de conteúdos étnico
especificamente nas licenciaturas em
Teatro, veio
com maior força atras
da Resolução 2, de 2015/CNE
16 Define as
Diretrizes Curriculares Nacionais
para a formação inicial em nível superior
(cursos de licenciatura, cursos de formação
pedagógica para graduados e cursos de
370
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
representado nas culturas
lternizadas como as negras e as
indígenas o ações que referendam a
dominadora. O
professor Arroyo explicita:
Em nossa formação histórica a
-negação do
conhecimento agiu e age
como demarcação
-
reconhecimento ou
segregação da div
ersidade de
coletivos sociais, étnicos,
raciais, de gênero, campo,
periferias. Não apenas foi
negado e dificultado seu
acesso ao conhecimento
produzido, mas foram
despojados de seus
conhecimentos, culturas,
modos de pensar
-se e de
pensar o mundo e a histór
ia.
Foram decretados
inexistentes, à margem da
história intelectual e cultural da
humanidade. Logo, seus
saberes, culturas, modos de
pensar não foram
incorporados no dito
conhecimento socialmente
produzido e acumulado que as
diretrizes curriculares
am como núcleo
comum. (2013, p. 14
-15).
A obrigatoriedade da inserção
de conteúdos étnico
-raciais, mais
especificamente nas licenciaturas em
com maior força através
da Resolução nº 2, de 2015/CNE
16,
Diretrizes Curriculares Nacionais
para a formação inicial em nível superior
(cursos de licenciatura, cursos de formação
pedagógica para graduados e cursos de
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
que prevê que o projeto de formação
em toda
s as áreas da licenciatura deve
contemplar, dentre outras coisas,
respeito e a valorização da diversidade
étnico-
racial”. A exigência legal
advinda de reivindicações dos
movimentos negros
gerou a força
promotora para a realização da
reformulação curricu
lar em muitos
cursos de licenciatura em Teatro,
modo a dar conta das determinações
contidas na resolução citada. A
licenciatura em Teatro da UFBA, por
exemplo, incluiu a temática racial em
ementas17
, assim como criou um
componente curricular obrigatório
específico, Teatro Negro18
. os seus
segunda licenciatura) e para a formação
continuada.
17
Exemplo: Laboratório de Práticas
Pedagógicas
I, em que consta: “Aplicação
articulada em práticas laboratoriais dos
conteúdos didático pedagógicos e específicos
do fazer teatral [...]”. “No contexto escolar, com
ênfase na abordagem de temas relacionados à
educação para relações étnico-
raciais”. Teatr
em Comunidades.
18
Ementa (2020): Estudo teórico
modos de transmissão e produção de saberes
afrocentrados tradicionais e/ou
contemporâneos e o ensino do teatro.
Pesquisas e análises de experiências
pedagógicas voltadas para o ensino de teatro
e da história e cultura afrobrasileira, com base
em referenciais teóricos e metodologias
afrocentradas. Realização de prática de
natureza extensionista através da oferta de
cursos, oficinas ou produtos artísticos para a
comunidade. Conteúdo programático: C
discurso de raça e poéticas diaspóricas. Lei
10.639/2003 e sua aplicabilidade no ensino de
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
que prevê que o projeto de formação
s as áreas da licenciatura deve
contemplar, dentre outras coisas,
“o
respeito e a valorização da diversidade
racial. A exigência legal
advinda de reivindicações dos
gerou a força
promotora para a realização da
lar em muitos
cursos de licenciatura em Teatro,
de
modo a dar conta das determinações
contidas na resolução citada. A
licenciatura em Teatro da UFBA, por
exemplo, incluiu a temática racial em
, assim como criou um
componente curricular obrigatório
e
. os seus
segunda licenciatura) e para a formação
Exemplo: Laboratório de Práticas
I, em que consta: Aplicação
articulada em práticas laboratoriais dos
conteúdos didático pedagógicos e específicos
do fazer teatral [...]. No contexto escolar, com
ênfase na abordagem de temas relacionados à
raciais”. Teatr
o
Ementa (2020): Estudo teórico
-prático dos
contemporâneos e o ensino do teatro.
Pesquisas e análises de experiências
pedagógicas voltadas para o ensino de teatro
e da história e cultura afrobrasileira, com base
em referenciais teóricos e metodologias
afrocentradas. Realização de prática de
natureza extensionista atras da oferta de
cursos, oficinas ou produtos artísticos para a
comunidade. Conteúdo programático: C
orpo,
discurso de raça e poéticas diaspóricas. Lei
10.639/2003 e sua aplicabilidade no ensino de
dois bacharelados, não havendo uma
determinação da instância
governamental, continuam
descartando a produção teatral
negrorreferenciada, assim como a
pluralidade epistêmica de práticas
cênicas populares afrodiaspóric
indígenas.
No entanto, no tocante à
existência de disciplinas obrigatórias
de abordagem das culturas populares
nos cursos de Teatro da UFBA, existiu
uma designada Expressões
Dramáticas do Folclore Brasileiro, que,
diante da reforma e implementação
cu
rricular realizada em 2004, foi
retirada da grade sem haver uma
reintrodução com atualizações nas
reformas subsequentes. O
componente curricular citado obedecia
aos pressupostos políticos da época e
demonstrava uma afinidade com as
diretrizes nacionais dos
folclore” que condicionava a sua
legitimação pelo crivo da cientifização
acadêmica. Na sua ementa original,
referia-
se a “modalidades folclóricas” e
teatro. O saber afrocentrado tradicional e
contemporâneo e o ensino de teatro.
Experiências pedagógicas para o ensino com
referencial na história e cultura afr
Metodologias de ensino e criação cênica
negrorreferenciadas.
371
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
dois bacharelados, não havendo uma
determinação da instância
governamental, continuam
descartando a produção teatral
negrorreferenciada, assim como a
pluralidade epistêmica de práticas
nicas populares afrodiaspóric
as e
No entanto, no tocante à
existência de disciplinas obrigatórias
de abordagem das culturas populares
nos cursos de Teatro da UFBA, existiu
uma designada Expressões
Dramáticas do Folclore Brasileiro, que,
diante da reforma e implementação
rricular realizada em 2004, foi
retirada da grade sem haver uma
reintrodução com atualizações nas
reformas subsequentes. O
componente curricular citado obedecia
aos pressupostos políticos da época e
demonstrava uma afinidade com as
diretrizes nacionais dos
“estudos do
folclore que condicionava a sua
legitimação pelo crivo da cientifização
acadêmica. Na sua ementa original,
se a modalidades folclóricas” e
teatro. O saber afrocentrado tradicional e
contemporâneo e o ensino de teatro.
Experiências pedagógicas para o ensino com
referencial na história e cultura afr
obrasileira.
Metodologias de ensino e criação cênica
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
ao “teatro popular”, evidenciando como
fim a “transposição dessas formas
populares para o teat
ro de nível
erudito”19
. Ou seja, o conhecimento
popular, marcadamente negro e
indígena, seria legitimado,
se passasse pelo crivo
ocidental-branco-
europeu. Isso
porque, como afirma Abreu, O (termo)
cultura popular foi usado durante muito
tempo como símbolo de uma
brasilidade mestiça branqueada,
embranquecida, onde a herança
africana iria desaparecer. Os
intelectuais folclo
ristas apostaram no
desaparecimento da herança africana
no Brasil” (2020, s/p). O professor
André Lázaro corrobora tal reflexão:
Quando o Brasil quer se
apresentar pra fora do país,
ele vai recorrer a todos os
elementos da cultura negra: é
o carnaval como
feijoada como comida, é o
samba como expressão
cultural e outras variáveis
dessa mesma matriz africana.
Então, é curioso que quando
19
Ementa: “A disciplina tem como objetivo
transmitir conceitos e informações sobre as
modalidades tradicional-
populares de teatro do
Brasil, sejam aquelas usualmente
denominadas ‘fol
clóricas’, sejam as
denominadas ‘teatro-
popular’ em bibliografias
mais recentes. Aos estudantes de teatro tais
informações capacitarão na transposição
dessas formas populares para o teatro de nível
erudito, com o seu aproveitamento na
dramaturgia, na inter
pretação, na direção e na
cenografia.” (Pesquisa em acervo pessoal).
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
ao teatro popular, evidenciando como
fim a transposição dessas formas
ro de nível
. Ou seja, o conhecimento
popular, marcadamente negro e
indígena, seria legitimado,
no caso,
do teatro
europeu. Isso
porque, como afirma Abreu, “O (termo)
cultura popular foi usado durante muito
tempo como mbolo de uma
brasilidade mestiça branqueada,
embranquecida, onde a herança
africana iria desaparecer. Os
ristas apostaram no
desaparecimento da herança africana
no Brasil (2020, s/p). O professor
André Lázaro corrobora tal reflexão:
Quando o Brasil quer se
apresentar pra fora do país,
ele vai recorrer a todos os
elementos da cultura negra: é
o carnaval como
festa, é a
feijoada como comida, é o
samba como expressão
cultural e outras variáveis
dessa mesma matriz africana.
Então, é curioso que quando
Ementa: A disciplina tem como objetivo
transmitir conceitos e informações sobre as
populares de teatro do
Brasil, sejam aquelas usualmente
clóricas, sejam as
popular em bibliografias
mais recentes. Aos estudantes de teatro tais
informações capacitarão na transposição
dessas formas populares para o teatro de nível
erudito, com o seu aproveitamento na
pretação, na direção e na
cenografia. (Pesquisa em acervo pessoal).
queremos nos mostrar
exóticos pra capturar
interesses turísticos e outros,
nós trazemos o movimento
negro, a cri
ação da população
negra. Mas, quando queremos
nos reconhecer como nação,
continuamos como nação que
quer embranquecer. (2023,
s/p).
De todo modo, quando há a
promoção do cruzamento da
racialização dos conhecimentos da
cultura afro-
popular brasileira com o
conhecimentos validados pela
universidade, se
mascaramento dos seus
tensionamentos
Entretanto, numa observação atenta,
fica evidente a
rejeição e/ou o controle
da produção epistêmica gestada pela
cultura afro-
popular em espaços
acadê
micos. Para o pensador e artista
Abdias Nascimento:
[...] o sistema educacional
funciona como aparelhamento
de controle nessa estrutura de
discriminação cultural. Em
todos os níveis do ensino
brasileiro
secundário, universitário o
elenco das matérias ensinadas
[...] constitui um ritual da
formal
idade e da ostentação
das salas da Europa e, mais
recentemente, dos Estados
Unidos. Se consequência é
memória e futuro, quando e
onde está a memória africana,
parte inalienável da
consciência brasileira, no
372
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
queremos nos mostrar
exóticos pra capturar
interesses turísticos e outros,
nós trazemos o movimento
ação da população
negra. Mas, quando queremos
nos reconhecer como nação,
continuamos como nação que
quer embranquecer. (2023,
De todo modo, quando a
promoção do cruzamento da
racialização dos conhecimentos da
popular brasileira com o
s
conhecimentos validados pela
nota um
mascaramento dos seus
intrínsecos.
Entretanto, numa observação atenta,
rejeição e/ou o controle
da produção epistêmica gestada pela
popular em espaços
micos. Para o pensador e artista
[...] o sistema educacional
funciona como aparelhamento
de controle nessa estrutura de
discriminação cultural. Em
todos os níveis do ensino
brasileiro
primário,
secundário, universitário o
elenco das matérias ensinadas
[...] constitui um ritual da
idade e da ostentação
das salas da Europa e, mais
recentemente, dos Estados
Unidos. Se consequência é
memória e futuro, quando e
onde está a memória africana,
parte inalienável da
consciência brasileira, no
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
currículo escolar? Onde e
quando a história da Áf
desenvolvimento de suas
culturas e civilizações, as
características do seu povo,
foram ensinadas nas escolas
brasileiras? Ao contrário,
quando alguma referência
ao africano ou negro, é no
sentido do afastamento e da
alienação da identidade negra
(2016, p. 113).
O curculo é um recorte valioso
para a leitura do universo didático
pedagógico do teatro acadêmico. Para
uma perspectiva transformadora, a
professora Gomes traz um conjunto de
indagações que podem orientar uma
elaboração curricular mai
emancipatória:
Onde estão os diferentes
sujeitos, onde está a
diversidade, onde estão as
lutas em prol da educação
realizadas pelos mais diversos
grupos, povos, etnias, raças,
nos nossos currículos? Onde é
que isso está? Nossos
currículos expressam isso?
nossos currículos de formação
inicial de professores e
professoras formam as nossas
professoras, os nossos
professores, hoje, para essa
realidade pujante que é a
brasileira? Pra essa escola
pública brasileira que é uma
escola cada vez mais diversa
e qu
e cada vez mais recebe
vidas que são o marcadas
pela pobreza, pela
desigualdade, pelo racismo?
[...]
Quando s olhamos
nossos currículos [...] nós
encontramos quais respostas
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
currículo escolar? Onde e
quando a história da Áf
rica, o
desenvolvimento de suas
culturas e civilizações, as
características do seu povo,
foram ensinadas nas escolas
brasileiras? Ao contrário,
quando há alguma referência
ao africano ou negro, é no
sentido do afastamento e da
alienação da identidade negra
.
O currículo é um recorte valioso
para a leitura do universo didático
-
pedagógico do teatro acadêmico. Para
uma perspectiva transformadora, a
professora Gomes traz um conjunto de
indagações que podem orientar uma
elaboração curricular mai
s
Onde estão os diferentes
sujeitos, onde está a
diversidade, onde estão as
lutas em prol da educação
realizadas pelos mais diversos
grupos, povos, etnias, raças,
nos nossos currículos? Onde é
que isso está? Nossos
currículos expressam isso?
Os
nossos currículos de formação
inicial de professores e
professoras formam as nossas
professoras, os nossos
professores, hoje, para essa
realidade pujante que é a
brasileira? Pra essa escola
pública brasileira que é uma
escola cada vez mais diversa
e cada vez mais recebe
vidas que o tão marcadas
pela pobreza, pela
desigualdade, pelo racismo?
Quando nós olhamos
nossos currículos [...] nós
encontramos quais respostas
para essas perguntas? [...]
Então, se o currículo no qual
eu faço parte, ou qu
organizo como gestora, como
professora, não me dá
respostas emancipatórias
diante dessas questões,
desses questionamentos,
então ele é colonial. (2023,
s/p).
O currículo o é um retrato
estático, tampouco exato, do cotidiano
didático de aprendizado
constitui um valioso documento
orientador voltado para a formação de
licenciados/as e bacharéis em Teatro.
Apesar do processo burocrático
frequentemente lento de elaboração e
tramitação administrava, é preciso
compreendê-
lo no diálogo permane
com as demandas sociais. Afinal,
A emancipação dos currículos
é mais do que a inserção de
novos conteúdos ou de
conteúdos sobre a questão
racial, sobre a África... Isso faz
parte! Mas, ela diz respeito a
uma postura, uma mudança de
postura e uma mudan
concepção de educação, de
concepção de currículo e de
concepção de aprendizagem.
(GOMES, 2023, s/p).
A propósito, intrinsecamente à
necessária revisão de grande parte
dos currículos no que tange às
questões étnico-
raciais e à inclusão da
diversidad
e cênica brasileira, é
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ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
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para essas perguntas? [...]
Então, se o currículo no qual
eu faço parte, ou qu
e eu
organizo como gestora, como
professora, não me
respostas emancipatórias
diante dessas questões,
desses questionamentos,
então ele é colonial. (2023,
O currículo não é um retrato
estático, tampouco exato, do cotidiano
didático de aprendizado
s, porém se
constitui um valioso documento
orientador voltado para a formação de
licenciados/as e bacharéis em Teatro.
Apesar do processo burocrático
e
frequentemente lento de elaboração e
tramitação administrava, é preciso
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nte
com as demandas sociais. Afinal,
A emancipação dos currículos
é mais do que a inserção de
novos conteúdos ou de
conteúdos sobre a questão
racial, sobre a África... Isso faz
parte! Mas, ela diz respeito a
uma postura, uma mudança de
postura e uma mudan
ça de
concepção de educação, de
concepção de currículo e de
concepção de aprendizagem.
(GOMES, 2023, s/p).
A propósito, intrinsecamente à
necessária revio de grande parte
dos currículos no que tange às
raciais e à inclusão da
e nica brasileira, é
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
culturas populares+, teatro e universidade.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
346-376, set. 2023.
importante promover a formação
continuada de servidores da educação
para que os corpos discentes sejam
[...] orientados por professores
qualificados para o ensino das
diferentes áreas de
conhecimentos; com formação
para lidar com as
relações produzidas pelo
racismo e discriminações,
sensíveis e capazes de
conduzir a reeducação das
relações entre diferentes
grupos étnicoraciais, ou seja,
entre descendentes de
africanos, de europeus, de
asiáticos, e povos indígenas.
(PARECER CNE/
003/2004).
Compreendendo o currículo
como mais um elemento constitutivo
da cadeia didático-
pedagógica, faz
importante destacar a necessidade de
efetivação da transversalização da
educação étnico-
racial e da
pluriepistemia cênica na formação dos
qua
dros docentes das universidades
brasileiras e suas respectivas
graduações em Teatro e Artes
Cênicas. Essa compreensão de
currículo faz com que a sua revio
seja detonadora de uma rie de
outras revisões, o que implica, por
exemplo, em uma avaliação das
f
ormas e conteúdos usuais de seleção
docente.
DUMAS, Alexandra Gouvêa. Encontros e desencontros de saberes:
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
3, n. 25, p. www.periodicos.uff.br/pragmatizes -
(Dossiê "
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
importante promover a formação
continuada de servidores da educação
para que os corpos discentes sejam
[...] orientados por professores
qualificados para o ensino das
diferentes áreas de
conhecimentos; com formação
para lidar com as
tensas
relações produzidas pelo
racismo e discriminações,
senveis e capazes de
conduzir a reeducação das
relações entre diferentes
grupos étnicoraciais, ou seja,
entre descendentes de
africanos, de europeus, de
asiáticos, e povos indígenas.
(PARECER CNE/
CP
Compreendendo o currículo
como mais um elemento constitutivo
pedagógica, faz
-se
importante destacar a necessidade de
efetivação da transversalização da
racial e da
pluriepistemia cênica na formação dos
dros docentes das universidades
brasileiras e suas respectivas
graduações em Teatro e Artes
Cênicas. Essa compreensão de
currículo faz com que a sua revisão
seja detonadora de uma série de
outras revies, o que implica, por
exemplo, em uma avaliação das
ormas e conteúdos usuais de seleção
Por fim, vale destacar que
perceber o universo pluriepistêmico
cultural brasileiro no qual os cursos
estão mergulhados, assim como se
engajar nas demandas sociais, deve
ser uma meta na ão de docentes
negros e
não negros na condução de
revisões e reformulações curriculares
no campo das graduações em Teatro.
Referências
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uma proposta de educação decolonial.
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conceito e várias histórias.
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temáticas e metodologia. Rio de
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ABREU, Martha.
Live nos passos da
nossa História.
conversa com Marta Abreu e Matthias
Assunção. Tema: Cultura Popular: um
conceito e
várias histórias. Realização
Instituto Brincante. Setembro de 2020.
Disponível em:
https://www.youtube.com/live/t
IJBM0YLK8?feature=share
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ABREU, Martha; ASSUNÇÃO
Matthias. Da cultura popular à cultura
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: ABREU, Martha;XAVIER,
Giovana; MONTEIRO, Lívia; BRASIL,
374
ISSN 2237-1508
Imagens reflexas sobre os Encontros de Saberes no ensino superior
")
Por fim, vale destacar que
perceber o universo pluriepistêmico
cultural brasileiro no qual os cursos
estão mergulhados, assim como se
engajar nas demandas sociais, deve
ser uma meta na ação de docentes
não negros na condução de
revies e reformulações curriculares
no campo das graduações em Teatro.
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Josefas, rezas e rodas
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