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KUSPIOSZ, Douglas Meurer. A metrópole da ilusão: o teatro social de
Uberaba de 1940 [Resenha de: A metrópole imaginária, de André
Azevedo da Fonseca]. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 14, n. 26, p. 303-306, mar. 2024.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
(Resenha)
Dividido em quatro capítulos, o livro realiza uma análise dos processos sociais
de encenação social das elites do interior de Minas Gerais na primeira metade do
século XX. Para isso, emprega como fontes as colunas sociais da imprensa da época,
observando a manipulação das regras de etiqueta como forma de distinção e de
violência simbólica contra quem ameaçava o imaginário da modernidade.
Em uma crítica à perspectiva memorialista da produção histórica financiada
pelos poderes públicos locais, Fonseca atualiza a história da cidade e aponta os
fatores que a levaram ao apogeu e à decadência econômica, quando os coronéis
foram acionados para disciplinar os trabalhadores locais e criminalizar a “vadiagem”.
Contudo, na década de 1930, no contexto da criação de um novo imaginário de
modernização, civilização e cultura nos termos do Estado Novo, o controle e a
disciplina pela violência dos coronéis deu lugar a um controle social mais sutil,
empreendo pela teatralização da vida social.
O livro apresenta as várias artimanhas utilizadas pela elite uberabense para
manter a aura de superioridade e sustentar seu poder simbólico. Um desses pontos
era a encenação do próprio requinte, em contraste com a estrutura urbana precária
da cidade. Fonseca lança mão do conceito de “teatrocracia” de Georges Balandier
para mostrar como, a partir dos imaginários sociais, a coletividade constrói uma
representação de si. A partir dessa perspectiva, ele observou que, na década de 1940,
a imprensa de Uberaba servia, acima de tudo, para estabelecer um palco para a elite
local. Se por um lado a cidade era caracterizada pela pobreza generalizada, por outro
impunha-se a narrativa, através dos jornais, de uma terra próspera e civilizada,
povoada por uma elite instruída e avançada. Assim, o jornal Lavoura e Comércio teve
papel fundamental na construção da imagem da elite distinta e elegante da cidade
empobrecida. Fonseca destaca que as melhorias urbanas da época contribuíram para
sustentar esse imaginário. Mas a realidade concreta do município era diferente da
fantasia encenada nas páginas de jornais.
Entre as táticas adotadas por esses atores sociais está o que o historiador
chama de “circuitos de amabilidade”. Em suma, esses uberabenses tidos como
distintos trocavam elogios efusivos entre si. Um exemplo trazido no livro é o caso do
diretor do departamento de eletricidade da época: se por um lado o serviço era
reconhecidamente ruim, por outro esse personagem era descrito como “ilustrado”,