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SILVA, Lívia Jeniffer Faria da; TEIXEIRA, Ricardo Roberto Plaza.
Possibilidades educacionais de um cinedebate sobre um filme acerca da
matemática Hipátia. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 14, n. 27, p. 182-203, set. 2024.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
(Fluxo contínuo)
Possibilidades educacionais de um cinedebate sobre um filme acerca da
matemática Hipátia
Lívia Jeniffer Faria da Silva
1
Ricardo Roberto Plaza Teixeira
2
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v14i27.60423
Resumo: Este artigo de pesquisa educacional investiga a realização de um cinedebate que utiliza o
filme "Ágora", sobre a matemática Hipátia, como ponto de partida para discutir a relevância da presença
das mulheres na matemática. O estudo teve como objetivo central examinar como a exibição desse
filme influenciou a percepção, o interesse e o engajamento do público em relação às contribuições das
mulheres no campo da matemática. A metodologia empregada combina abordagens qualitativas e
quantitativas, envolvendo a coleta de dados por meio de questionários e a observação dos tópicos
abordados no debate que ocorreu após a exibição do filme. Os resultados indicam um aumento na
conscientização dos participantes do cinedebate sobre a importância da participação das mulheres na
matemática. Além disso, o estudo identifica questões que mais se sobressaem na percepção dos
participantes acerca desta temática. Este estudo destaca a importância tanto de realizar atividades
educacionais e culturais para ajudar a promover a diversidade de nero na matemática, quanto de
criar ambientes mais inclusivos e equitativos para as mulheres nesse e em outros campos de estudo
das ciências exatas.
Palavras-chave: Gênero; História da Matemática; Equidade; Educação Matemática.
Posibilidades educativas de un cinedebate sobre una película sobre la matemática Hipatia
Resumen: Este artículo de investigación educativa investiga la realización de un cinedebate que utiliza
la película "Agora", sobre la matemática Hipatia, como punto de partida para discutir la relevancia de la
presencia de las mujeres en las matemáticas. El objetivo central del estudio fue examinar cómo la
proyección de esta película influyó en la percepción, el interés y el compromiso del público en relación
con las contribuciones de las mujeres en el campo de las matemáticas. La metodología utilizada
combina enfoques cualitativos y cuantitativos, implicando la recogida de datos a través de cuestionarios
y la observación de los temas tratados en el debate que tuvo lugar tras la proyección de la película. Los
resultados indican un aumento en la conciencia entre los participantes del cinedebate sobre la
importancia de la participación de las mujeres en matemáticas. Además, el estudio identifica cuestiones
que más destacan en la percepción de los participantes sobre este tema. Este estudio destaca la
importancia de realizar actividades educativas y culturales para ayudar a promover la diversidad de
género en matemáticas, y de crear ambientes más inclusivos y equitativos para las mujeres en este y
otros campos de estudio de las ciencias exactas.
1
Lívia Jeniffer Faria da Silva. Estudante do curso de Licenciatura em Física do IFSP-Caraguatatuba,
Brasil. E-mail: livia.faria@aluno.ifsp.edu.br - https://orcid.org/0009-0001-3508-916X
2
Ricardo Roberto Plaza Teixeira. Doutor em Física pela Universidade de São Paulo/USP. Professor
Titular de Física do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo/IFSP-
Caraguatatuba, Brasil. E-mail: rteixeira@ifsp.edu.br - http://orcid.org/0000-0001-7124-1774
Recebido em 03/11/2023, aceito para publicação em 15/05/2024.
183
SILVA, Lívia Jeniffer Faria da; TEIXEIRA, Ricardo Roberto Plaza.
Possibilidades educacionais de um cinedebate sobre um filme acerca da
matemática Hipátia. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 14, n. 27, p. 182-203, set. 2024.
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(Fluxo contínuo)
Palabras Clave: Género; Historia de la Matemática; Equidad; Educación Matemática.
Educational possibilities of a cinedebate about a film about the mathematician Hypathia
Abstract: This educational research article investigates the holding of a cinedebate that uses the film
"Agora", about the mathematics Hypatia, as a starting point to discuss the relevance of the presence of
women in mathematics. The study's central objective was to examine how the screening of this film
influenced the public's perception, interest and engagement in relation to the contributions of women in
the field of mathematics. The methodology used combines qualitative and quantitative approaches,
involving data collection through questionnaires and observation of the topics covered in the debate that
took place after showing the film. The results indicate an increase in awareness among cinedebate
participants about the importance of women's participation in mathematics. Furthermore, the study
identifies issues that stand out most in the participants' perception of this topic. This study highlights the
importance of both carrying out educational and cultural activities to help promote gender diversity in
mathematics, and of creating more inclusive and equitable environments for women in this and other
fields of study in the exact sciences.
Keywords: Gender; History of Mathematics; Male Equity; Math Education.
Possibilidades educacionais de um cinedebate sobre um filme acerca da
matemática Hipátia
Introdução
Este artigo tem o propósito de
examinar a realização de um cinedebate
que envolveu a exibição do filme “Ágora”
que trata da vida da matemática Hipátia
que viveu no final da Idade Antiga, na
cidade de Alexandria, situada no norte de
África e a posterior discussão sobre
questões relacionadas a temas como a
participação feminina na história da
matemática e os preconceitos enfrentados
por mulheres em áreas das ciências
exatas. Esta atividade cultural ocorreu em
25 de maio de 2023, no auditório do
Campus Caraguatatuba do Instituto
Federal de São Paulo (IFSP), onde atuam
os dois autores deste artigo.
Deste modo, este trabalho analisa o
planejamento e a implementação de um
cinedebate que é usado com o objetivo de
discutir acerca da representação e da
presença das mulheres na matemática,
bem como sobre a importância da
diversidade para produzir uma ciência de
melhor qualidade. No seu transcorrer é
estudado como a exibição deste filme
sobre a matemática Hipátia pode
influenciar a percepção, o interesse e o
engajamento do público em relação às
contribuições das mulheres na área da
matemática. Para atingir esse objetivo,
foram realizadas análises qualitativas e
quantitativas das perspectivas dos
participantes do cinedebate, tendo como
base para fundamentação uma revisão
crítica da literatura científica relacionada à
representação das mulheres na
matemática e às estratégias de promoção
da diversidade nesse domínio acadêmico.
A questão norteadora deste trabalho foi:
Como a realização de um cinedebate,
utilizando um filme que aborda a presença
de uma mulher, como Hipátia, na
matemática, pode influenciar a percepção,
o interesse e o engajamento do público em
relação às contribuições das mulheres
nesse campo acadêmico? Além disso,
quais são as concepções mais presentes
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SILVA, Lívia Jeniffer Faria da; TEIXEIRA, Ricardo Roberto Plaza.
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matemática Hipátia. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de
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(Fluxo contínuo)
acerca da participação de mulheres na
área da matemática?
A presença das mulheres na
matemática é uma questão de extrema
importância e relevância, não apenas no
que diz respeito à equidade de gênero,
mas também para o progresso da própria
disciplina. Ao longo da história, as
mulheres têm contribuído
significativamente para o desenvolvimento
da matemática, apesar das barreiras e
desigualdades que enfrentaram. A
presença das mulheres na matemática é
importante porque traz perspectivas e
abordagens diversas para a resolução de
problemas matemáticos (Brech, 2018). A
diversidade de experiências e vozes
enriquece a disciplina, impulsionando a
inovação e o progresso científico. Além
disso, a inclusão das mulheres na
matemática é um imperativo ético que
promove a igualdade de oportunidades em
uma sociedade cada vez mais orientada
pela ciência e pela tecnologia (Souto;
Souto, 2022).
No transcorrer deste artigo, após a
introdução, é apresentada a
fundamentação teórica da investigação
que se estruturou por meio da leitura e da
sistematização de trabalhos acadêmicos
relevantes a respeito das temáticas
envolvidas (com um foco maior sobre a
participação das mulheres na História da
Matemática) e que foram, na sua grande
maioria, encontrados na internet a partir da
ferramenta de busca “Google Acadêmico”.
Na sequência, é explicitada a metodologia
usada para a realização do cinedebate que
é foco desta pesquisa. Depois, são
descritos, discutidos e analisados os
resultados obtidos a partir das respostas
dadas pelos participantes do cinedebate a
um questionário que foi elaborado
previamente com o intuito de conhecer as
concepções e pontos de vista dos cidadãos
presentes neste evento cultural; estes
mesmos resultados são cotejados com os
resultados existentes na literatura científica
sobre está temática. Ao término, são
apresentadas as considerações finais, com
algumas reflexões de caráter mais geral
acerca de todo o trabalho realizado.
As mulheres na História da Matemática
As questões relacionadas a gênero
interferem nas relações sociais e
influenciam tudo aquilo que é produzido a
partir delas, inclusive no âmbito da ciência
(Barros; Mourão, 2020). Neste sentido, a
presença das mulheres na história da
matemática é um tema de grande
relevância, pois destaca o papel
fundamental que as mulheres
desempenharam e continuam
desempenhando no desenvolvimento do
conhecimento científico: é fundamental
explorar a importância de estudar e
reconhecer a contribuição das mulheres na
matemática, fornecendo uma base
conceitual sólida para compreender esse
tema (Martins, 2021).
O estudo da história da matemática
é essencial para compreender a evolução
dessa disciplina ao longo do tempo
(Gomes; Rodrigues, 2014).
Tradicionalmente, a história da matemática
tem sido apresentada sob uma perspectiva
masculina, com ênfase nas contribuições
de matemáticos masculinos. No entanto,
um exame mais aprofundado revela a
existência de mulheres que desafiaram as
barreiras de gênero e fizeram contribuições
significativas para a matemática (Araújo,
2018).
A história da matemática é marcada
por desigualdades de nero que limitaram
a participação das mulheres nesse campo.
O acesso restrito à educação formal e a
presença de preconceitos sociais
contribuíram para a exclusão das mulheres
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(Fluxo contínuo)
da matemática ao longo dos séculos. Em
particular, os estereótipos de gênero foram
concebidos como construções sociais para
delimitar quais são os papéis mais
adequados aos homens e às mulheres
(Scott, 1995). Compreender essas
barreiras é algo necessário para valorizar
as contribuições das mulheres na
matemática.
Deste modo, é fundamental o
reconhecimento de mulheres matemáticas
que foram historicamente negligenciadas.
O estudo de suas vidas, obras e
contribuições é essencial para destacar
suas realizações e inspirar gerações
futuras de mulheres na matemática
(Fernandez; Amaral; Viana, 2019).
Exemplos notáveis, neste sentido, incluem
Hipátia de Alexandria (351/370-415 d.C.),
Maria Gaetana de Agnesi (1718-1799),
Sofia Kovalevskaya (1850-1891), Emmy
Noether (1882-1935) e Sophie Germain
(1776-1831), uma parisiense que, para
conseguir estudar na recém-inaugurada
Escola Politécnica (que aceitava
homens em suas fileiras), teve que assumir
a identidade de um aluno homem (Melo,
2017).
A inclusão de mulheres na história
da matemática não é apenas uma questão
de justiça e igualdade, mas também traz
benefícios para o avanço da própria
disciplina. A diversidade de perspectivas e
abordagens enriquece a matemática,
impulsiona a inovação e permite a
resolução de problemas complexos de
maneiras criativas (Benite, 2020).
Reconhecer e valorizar a contribuição das
mulheres é, portanto, fundamental para
impulsionar o progresso da matemática
como um todo.
3
Mais informações sobre o filme “Ágora”
podem ser obtidas em:
A presença de modelos femininos
na história da matemática serve como uma
fonte de motivação e empoderamento para
as meninas e mulheres que atualmente
estão interessadas em seguir carreiras
nesta área do saber humano. É importante
que os estudantes tenham contato com os
desafios que foram enfrentados pelas
mulheres em sua época para que elas
conseguissem produzir conhecimentos
científicos (Galvão; Pereira, 2021).
Conhecer as histórias de mulheres
matemáticas bem-sucedidas pode
encorajar e inspirar as jovens a
perseguirem seus interesses nessa área e
a superarem os obstáculos que possam
encontrar, bem como permite desconstruir
a ideia equivocada de que a matemática é
uma ciência “intrinsecamente” masculina
(Pereira; Cavalari, 2022).
A história da matemática Hipátia (ou
Hipácia) é o tema central do filme “Ágora”
3
,
dirigido por Alejandro Amenábar: esta obra,
que conta com duração de 2 horas e 7
minutos, é uma produção espanhola que
foi lançada em 2009. Esta película é
conhecida pela reconstituição histórica do
período abordado e as suas cenas
procuram traduzir a atmosfera da época
retratada com grande detalhe,
proporcionando uma imersão no mundo de
Alexandria. A atriz Rachel Weisz faz o
papel de Hipátia que é apresentada como
uma matemática e filósofa brilhante,
dedicada ao conhecimento e ao ensino,
que luta para se destacar em uma
sociedade patriarcal.
Hipátia (351/370-415 d.C.) viveu
entre o final do século 4 e o início do século
5 depois de Cristo (já próximo aos anos
finais da Idade Antiga), na cidade de
Alexandria (localizada no norte do atual
https://www.imdb.com/title/tt1186830/?ref_=fn
_al_tt_1.
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(Fluxo contínuo)
Egito), um importante centro intelectual do
mundo antigo. O pai de Hipátia um
matemático, filósofo e astrônomo muito
conhecido no seu tempo lhe ensinou
matemática, ciência, filosofia e arte, o que
a tornou uma mulher respeitada por uns,
mas, infelizmente, odiada por outros que,
motivados por preceitos religiosos,
acreditavam que mulheres não deveriam
ter acesso ao conhecimento, muito menos
ensiná-lo a homens (Araujo; Pinheiro,
2021).
O contexto social da época em que
Hipátia viveu na cidade de Alexandria no
norte do atual Egito é marcado por uma
mistura de culturas e religiões, com
cristãos, judeus e pagãos coexistindo
dentro da cidade. A filosofia e a ciência
floresciam no âmbito da famosa Biblioteca
de Alexandria, onde estudiosos de
diferentes áreas se reuniam para debater e
produzir conhecimentos. No entanto, a
tensão religiosa e política estava cada vez
mais presente e a ascensão do
cristianismo, foi acompanhada por um
período de conflitos e intolerância. Hipátia
era vista como uma mulher sábia, com
erudição reconhecida e, portanto, com uma
autoridade moral que era cobiçada pelos
governantes que buscavam seus
conselhos, o que garantia a ela uma
participação ativa nos assuntos da cidade
de Alexandria (MELO, 2019). A história de
Hipátia se desenrola em meio a um cenário
de mudanças e conflitos: o filme aborda
temas como fé, razão e poder no contexto
histórico daquela época. Hipátia recusou
converter-se ao cristianismo e foi
brutalmente assassinada por cristãos
fundamentalistas (Cunha et al., 2014).
Desigualdades de gênero na ciência
O gênero não se refere apenas a
uma diferença corporal, sendo uma
categoria inerente às estruturas sociais,
linguísticas e discursivas (Keller, 2006). Os
estudos de gênero nas ciências naturais
destacam a necessidade de discutir a
busca pela equidade considerando as
variadas contribuições femininas na
produção do conhecimento, de modo a
reconhecê-las como parte de um processo
de construção social e tornar as áreas
científicas mais acessíveis e inclusivas.
Para isso, as instituições de pesquisa
precisam adotar mecanismos que
colaborem para preservar as mulheres nas
carreiras científicas, por exemplo, pela
garantia do retorno das pesquisadoras
após a licença-maternidade ao mundo da
pesquisa e pelos estímulos aos seus
avanços profissionais (Osada, 2006).
O preconceito em relação à
maternidade no meio acadêmico
manifesta-se amplamente, por exemplo,
pelas afirmações de membros da
comunidade universitária que questionam
a relevância de discutir a maternidade
nesse contexto. Além disso, as
pesquisadoras que são mães
frequentemente se sentem marginalizadas,
reforçando a noção de que o ambiente
acadêmico é mais propício aos homens,
socialmente vistos como mais disponíveis
para atividades acadêmicas, uma vez que
não são usualmente os principais
responsáveis pelo cuidado dos filhos
(Bitencourt, 2014).
Na sociedade brasileira e nas de
muitas outras nações ainda persistem
concepções preconcebidas sobre a
profissionalização feminina, com a noção
de que certas carreiras são “mais
adequadas” para mulheres do que outras:
neste contexto, as áreas de ciências exatas
e naturais são frequentemente
consideradas "menos adequadas" para
elas. É importante destacar a desigualdade
presente no meio acadêmico e lembrar que
ela será superada com a adoção de
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medidas e políticas públicas que
incentivem a participação feminina na
ciência, bem como a manutenção das
mulheres que escolheram seguir carreiras
científicas. É um desperdício o fato de que,
de modo geral, a comunidade científica
brasileira ainda perca a chance de se
beneficiar da inteligência e da capacidade
de muitas mulheres, embora seja preciso
ressaltar que nas últimas décadas tenham
sido observadas mudanças significativas e
positivas para as cientistas brasileiras
(Tabak, 2002).
Embora o avanço das mulheres nas
carreiras científicas seja algo essencial
para a construção de uma sociedade
equilibrada, é evidente que a igualdade
com os homens não será alcançada sem
que certos aspectos da ciência e da cultura
científica sejam também submetidos a uma
análise de gênero. Três desafios centrais
são importantes e devem ser enfrentados:
aumentar a presença feminina na ciência,
reformar as culturas científicas e introduzir
novas questões de pesquisa. Todos esses
são problemas tanto institucionais quanto
intelectuais (Schiebinger, 2001),
Uma análise histórico-filosófica da
ciência moderna possibilita perceber que
as correntes filosóficas que orientam o
pensamento científico não são isentas de
viés de gênero: por exemplo, algumas
teorias e visões de mundo que definem
rigidamente o que é ser homem e ser
mulher, sugerem uma suposta dificuldade
das mulheres em enfrentar os desafios da
produção de conhecimento. Isso se atribui
a uma tendência à subjetividade, a
predominância de emoções sobre a razão
e a falta de agressividade, vista como
necessária para a postura de domínio que
um cientista deve ter sobre seu objeto de
estudo. Consequentemente, as regras,
valores, comportamentos esperados e
incentivados nos estudantes que se voltam
para a pesquisa científica refletem
pensamentos que são dominantes no
campo científico, no que diz respeito às
condições consideradas necessárias para
compreender os fenômenos e desenvolver
todos de investigação da natureza.
Deste modo, muitas cientistas percebem
sua identidade feminina como um possível
obstáculo para alcançar seus objetivos,
pois esta identidade está associada a
características da experiência humana
frequentemente vistas como
contraproducentes para a geração de
conhecimento (Lima e Souza, 2003).
As escolas, com frequência, não
apenas reproduzem, mas também
legitimam os valores sociais dominantes,
de maneira a perpetuar desigualdades.
Isso é evidente na maneira discriminatória
como os papéis de gênero são definidos,
contribuindo para a estruturação de
preconceitos e estereótipos. Com
frequência, o currículo oculto no processo
de educação formal as normas e os
valores que são transmitidos
implicitamente , não apenas distribui
desigualmente tipos específicos de
conhecimentos, mas também naturaliza as
desigualdades sociais existentes (Matos et
al., 2020).
Para o desenvolvimento econômico
do país, é essencial um investimento
significativo em Ciência e Tecnologia
(C&T) de modo a atrair e fixar novos
talentos para estas áreas do
conhecimento: portanto, é vital incentivar a
ativa participação das mulheres que
constituem metade da força de trabalho
nesses setores estratégicos. A ainda baixa
representação feminina em certas áreas
científicas e em posições de liderança
aponta para um desperdício de recursos
humanos. Aproveitar esse potencial não
apenas contribuiria significativamente para
o desenvolvimento científico, mas também
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(Fluxo contínuo)
enriqueceria este processo com maior
diversidade de valores, comportamentos e
ações (Leta, 2003).
Procedimentos metodológicos
Este é um trabalho de pesquisa em
educação de caráter exploratório que
mistura abordagens qualitativas e
quantitativas e é caracterizado por sua
abordagem multifacetada, que visa
aprofundar o entendimento de uma ação
cultural e educacional da forma mais
completa e abrangente: a realização de um
cinedebate envolvendo a exibição e o
posterior debate acerca do filme “Ágora”
que trata da história da vida da matemática
Hipátia que viveu na antiguidade, há cerca
de 1600 anos. Esta atividade foi realizada
de modo presencial no auditório do
Campus de Caraguatatuba do Instituto
Federal de São Paulo (IFSP), no período
matutino (a partir das 9:30 da manhã) do
dia 25 de maio de 2023, uma quinta-feira,
durante a XI Semana Cultural desta
instituição de ensino.
O primeiro passo foi a escolha do
filme exibido neste cinedebate. A obra
“Ágora” foi selecionada por ser relevante
para o tema da presença das mulheres na
matemática, ao abordar as contribuições,
desafios e histórias envolvendo diferentes
momentos da vida de Hipátia. A escolha do
filme foi fundamentada em uma revisão da
literatura para garantir de fato a sua
pertinência para o objetivo do evento.
O cinedebate em si foi
cuidadosamente organizado e planejado
algumas semanas antes de ocorrer, o que
incluiu a seleção de local, da data e do
horário de início, bem como a forma da sua
divulgação prévia para atingir os potenciais
interessados em participar deste evento e
a definição de alguns conceitos, ideias e
informações importantes que poderiam ser
levados para a discussão após a exibição
do filme.
A revisão crítica da literatura
existente sobre o tema da presença das
mulheres na matemática e sobre a eficácia
de cinedebates como estratégia
educacional, colaborou para estruturar a
atividade da melhor forma possível e
contextualizar os resultados obtidos.
O público que esteve presente
participando deste cinedebate foi
constituído de estudantes de cursos do
próprio IFSP-Caraguatatuba. O cinedebate
foi organizado pelos autores deste
trabalho, que chegaram no auditório do
IFSP-Caraguatatuba 30 minutos antes do
horário marcado para o seu início, de modo
a testarem os equipamentos necessários
para a exibição da película, mas
especificamente o computador, o
datashow (projetor) e as caixas de som.
Antes da exibição, foi feita uma
breve introdução tanto sobre o filme
“Ágora”, quanto sobre a vida da
matemática Hipátia, bem como sobre o
contexto histórico da época em que ela
viveu, de modo a preparar o público para
os principais temas abordados pela obra
que confere ênfase às questões que
surgem quando mulheres se destacam em
profissões e áreas consideradas como
sendo tradicionalmente masculinas.
Durante o cinedebate, o longa que
está aberto e disponível para ser assistido
no site de armazenamento de vídeos
YouTube foi exibido na sua versão
dublada. Os participantes foram
encorajados previamente para que,
durante a exibição, prestassem atenção
nos aspectos mais relevantes da vida de
Hipátia, na sua relação com a matemática
e no contexto histórico em que ela viveu.
Depois da exibição do filme, um
questionário curto e com onze perguntas
foi distribuído para que os participantes o
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(Fluxo contínuo)
respondessem, com o intuito de
compreender melhor as concepções deles
sobre os temas retratados no filme. Este
questionário foi elaborado com perguntas
sobre a opinião dos participantes acerca
dos temas tratados pela obra
cinematográfica exibida, sobre a questão
da participação das mulheres na
matemática e sobre os conhecimentos que
eles possuíam acerca desta temática. Ao
todo, 15 participantes responderam ao
questionário: as respostas fornecidas pelos
participantes serão analisadas mais à
frente neste artigo.
Em termos metodológicos, a coleta
tanto de dados quantitativos com as
informações sobre a demografia dos
participantes e as respostas a perguntas
fechadas (com alternativas) do
questionário quanto de dados qualitativos
com as respostas a perguntas abertas
(discursivas) do questionário e as
observações feitas pelos autores durante o
transcorrer do cinedebate possibilitou
conhecer melhor acerca das concepções e
perspectivas existentes acerca do tema da
participação das mulheres na matemática.
A análise dos dados incluiu
estatísticas descritivas para os dados
quantitativos, bem como uma análise
qualitativa para identificar tendências e
padrões nas respostas às perguntas
discursivas do questionário. Uma
triangulação dos diferentes dados obtidos
foi feita para produzir uma análise mais
abrangente.
Com o término da exibição do filme
e após os participantes responderem ao
questionário, ocorreu um debate entre os
presentes sobre os assuntos tratados na
obra, no qual os presentes puderam
compartilhar suas percepções, emoções e
pensamentos sobre diferentes tópicos,
como, por exemplo, sobre o papel das
mulheres na sociedade da época de
Hipátia e nos dias de hoje e sobre as
relações existentes entre religião e ciência.
O debate foi conduzido de modo a
estimular que os presentes participassem
da discussão que ocorreu em um ambiente
respeitoso e acolhedor para as diferentes
opiniões que foram manifestadas.
As discussões realizadas
propiciaram uma reflexão mais profunda
sobre a importância de estudar a
participação das mulheres na história da
matemática. Os autores deste trabalho
foram os mediadores do debate que
ocorreu e procuraram facilitar a discussão
e assegurar que todos os participantes
tivessem a oportunidade de expressar suas
opiniões e contribuir com suas
perspectivas. Os presentes foram
incentivados a refletir sobre a relevância da
figura de Hipátia, sobre o impacto da
participação das mulheres na matemática
ao longo da história, sobre as formas como
superar barreiras de gênero e sobre a
importância da diversidade no campo
científico.
Resultados obtidos
A atividade (cinedebate)
investigada neste artigo teve como eixo
central a vida da matemática Hipátia e, de
modo mais geral, a participação das
mulheres na matemática ao longo da
história que com frequência foi
negligenciada, devido, dentre outros
fatores, a preconceitos que perduram até
os dias de hoje: o debate sobre o filme
“Ágora” se mostrou bastante adequado
neste contexto e esse assunto também
esteve presente nas questões elaboradas
para constar no questionário que foi
respondido pelos participantes.
É importante ressaltar que a
amostra com N=15 participantes que
responderam ao questionário na atividade
realizada foi obtida por conveniência:
190
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(Fluxo contínuo)
portanto, os resultados apresentados aqui
não m qualquer pretensão de rigor
estatístico. Tendo esta ressalva em vista,
as respostas fornecidas pelos participantes
podem contribuir para indicar algumas
tendências e certos padrões, o que pode
ser útil tanto para professores que
pretendam realizar ações educacionais
similares, quanto para investigadores que
planejem implementar pesquisas
adicionais acerca deste tema.
No questionário, antes das 11
perguntas para conhecer os pontos de
vista dos participantes sobre temas
tratados durante o cinedebate, foram
colocadas três questões prévias com o
propósito de caracterizar o perfil do público
que participou das atividades, no que diz
respeito a gênero, raça e faixa etária.
Em ração ao gênero, 33% dos
participantes se identificaram como sendo
do gênero masculino e 67% (a maioria)
como sendo do gênero feminino. No que
diz respeito à raça dos participantes, 47%
se autodeclararam brancos, 33% pardos e
20% negros. Quanto à faixa etária dos 15
participantes, verificou-se que 47% deles
tinham entre 13 e 17 anos, 26% tinham
entre 18 e 22 anos, 20% tinham entre 23 e
59 anos e 7% tinham 60 anos ou mais.
As demais 11 perguntas
“temáticas” estavam relacionadas a
assuntos analisados nesta pesquisa e
tinham o objetivo de entender as
concepções dos participantes, por
exemplo, sobre igualdade, diversidade e
tópicos correlatos: com este objetivo foram
feitas oito questões fechadas e três
questões abertas, cujas respostas serão
analisadas a seguir.
A primeira pergunta fechada
apresentada aos participantes e que será
analisada a seguir foi: “Qual é o grau do
seu interesse por assuntos relacionados à
participação das mulheres na
matemática?”. As opções de respostas
fornecidas foram: “Muito grande”;
“Grande”; “Razoável”; “Pequeno”; Muito
pequeno”. Para esta pergunta, 27% dos
participantes afirmaram ter um interesse
muito grande sobre a participação das
mulheres na Matemática, enquanto 40%
manifestaram um interesse grande sobre
este tema e 33% dos participantes
indicaram ter um interesse razoável sobre
ele. Nenhum dos participantes afirmou ter
um interesse pequeno ou muito pequeno,
sugerindo um nível significativo na
disposição por aprender mais acerca desse
assunto (Figura 1).
Esses resultados estão alinhados a
estudos anteriores que demonstram um
crescente reconhecimento sobre a
importância da participação das mulheres
na matemática. De fato, tem havido um
interesse mais acentuado pelo tema da
participação feminina em diferentes áreas
científicas nos últimos anos (Silveira,
2019). Esse fenômeno reflete uma
mudança de paradigma na maneira como
a participação das mulheres nesse campo
do saber é percebida e enfatiza a
importância de promover um debate mais
profundo sobre equidade de gênero,
inclusive no âmbito educacional.
É importante ressaltar, no que diz
respeito a esta primeira pergunta, a
importância de refletir sobre os significados
conferidos para os termos “mulher” e
“homem” de modo a superar visões que
tomam as noções de “feminino” e
“masculino”, como essências,
naturalizando-as (Souza; Fonseca, 2017).
191
SILVA, Lívia Jeniffer Faria da; TEIXEIRA, Ricardo Roberto Plaza.
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matemática Hipátia. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de
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(Fluxo contínuo)
Figura 1 Distribuição percentual das respostas à pergunta: “Qual é o grau do seu interesse por
assuntos relacionados à participação das mulheres na matemática?” (N=15).
Fonte: Elaboração baseada nos dados da pesquisa (2023).
A segunda pergunta fechada
apresentada aos participantes foi: “Você já
tinha ouvido falar sobre a história da
Hipátia antes desta atividade?” As opções
de respostas fornecidas foram: “Sim”;
“Não”. Os resultados revelaram que 20%
dos participantes tinham conhecimento
prévio sobre a história da Hipátia, enquanto
80% admitiram não ter conhecimento
algum sobre ela (Figura 2). Esses dados
destacam a falta de familiaridade dos
participantes com a história da Hipátia,
uma importante matemática e filósofa da
Antiguidade, o que indica a existência de
lacunas na educação formal que
negligenciam a contribuição das mulheres
para a história da matemática e de outras
áreas da ciência, algo que pode ter um
impacto negativo na percepção das
mulheres como protagonistas e cientistas,
de modo a desencorajar o envolvimento
das meninas nesse campo do saber
(Sachs et al., 2022).
Figura 2 Distribuição percentual das respostas à pergunta: “Você já tinha ouvido falar sobre a
história da Hipátia antes desta atividade?” (N=15).
Fonte: Elaboração baseada nos dados da pesquisa (2023).
27%
40% 33%
0% 0%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
Muito grande Grande Razoável Pequeno Nenhum
Distribuição das porcentagens das respostas à
questão: "Qual é o grau do seu interesse por
assuntos relacionados à participação das
mulheres na Matemática?"
20%
80%
0%
50%
100%
Sim Não
Distribuição das porcentagens das respostas à
questão: "Você já tinha ouvido falar sobre a
história de Hipácia antes desta atividade?"
192
SILVA, Lívia Jeniffer Faria da; TEIXEIRA, Ricardo Roberto Plaza.
Possibilidades educacionais de um cinedebate sobre um filme acerca da
matemática Hipátia. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de
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(Fluxo contínuo)
A terceira pergunta fechada
apresentada aos participantes foi: “Você
considera o seu meio social machista?” As
opções de respostas fornecidas foram:
“Sim, muito”; “Sim, um pouco”; “Não”. Os
resultados revelaram que 47% dos
participantes consideraram seu meio social
como muito machista, enquanto 40%
afirmaram que seu meio social era um
pouco machista e 13% dos participantes
acreditavam que seu meio social não era
machista (Figura 3). Esses dados indicam
que uma parte significativa dos
participantes tinha noção da presença do
machismo no meio social em que vive: de
fato, o machismo está presente na
subjetividade das pessoas e, deste modo,
mesmo que seja uma ordem externa ao
nosso desejo, ele é introjetado em nós
como um modo orgânico de pensar, de
sentir e de agir (Tiburi, 2018). Essa
percepção pode ser influenciada por
experiências pessoais e pela consciência
das desigualdades de gênero ainda
existentes na sociedade. Esses números
destacam a importância de perseverar na
promoção de uma cultura mais igualitária
entre os gêneros.
Figura 3 Distribuição percentual das respostas à pergunta: “Você considera o seu meio social
machista?” (N=15).
Fonte: Elaboração baseada nos dados da pesquisa (2023).
A quarta pergunta fechada
apresentada aos participantes foi: “Você
considera o Brasil um país machista?” As
opções de respostas fornecidas foram:
“Sim, muito”; “Sim, um pouco”; “Não”. A
maioria expressiva, 87% dos participantes,
afirmou que o Brasil é muito machista e
13% afirmaram que o Brasil é apenas um
pouco machista, enquanto nenhum
participante alegou que o Brasil não é
machista (Figura 4). Esses resultados
refletem a percepção generalizada dos
participantes de que o Brasil enfrenta
desafios significativos em relação a
preconceitos contra mulheres: de fato, o
machismo estrutural em nosso país é
resultante de uma cultura patriarcal
relacionada à construção histórica do
conceito de superioridade de gênero
(Paula; Sant’ana, 2022). O reconhecimento
47%
40%
13%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
Sim, muito Sim, um pouco Não
Distribuição das porcentagens das respostas à
questão: "Você considera o seu meio social
machista?"
193
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matemática Hipátia. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de
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(Fluxo contínuo)
do machismo como um problema presente
na sociedade brasileira é crucial para
promover mudanças e implementar
políticas e ações que combatam a
desigualdade de gênero. Em especial, em
certos ambientes considerados “nerds”,
próximos às áreas científicas e
tecnológicas, para além do machismo, são
comuns manifestações de misoginia com
ofensas e assédio que tornam o ambiente
desagradável para mulheres com o intuito
de afastá-las (Castro; Pereira; Carvalho,
2022).
Figura 4 Distribuição percentual das respostas à pergunta: “Você considera o Brasil um país
machista?” (N=15).
Fonte: Elaboração baseada nos dados da pesquisa (2023).
A quinta pergunta fechada
apresentada aos participantes foi: “Na
escola, você se lembra de ter estudado
sobre quantas mulheres que se
destacaram na história da matemática?” As
opções de respostas fornecidas foram:
“Zero”; “1”; “2”; “3”; “4 ou mais”. A ampla
maioria, 53% dos participantes, afirmou
nunca ter estudado sobre nenhuma mulher
matemática. Além disso, 7% afirmaram ter
estudado sobre apenas uma mulher
matemática, 13% estudaram sobre duas
mulheres matemáticas, 7% estudaram
sobre três e 20% estudaram sobre 4 ou
mais mulheres matemáticas (Figura 5).
Esses resultados evidenciam que,
nos processos educacionais, são pouco
abordadas histórias sobre mulheres que
tenham se destacado ao longo da história
da matemática (Cordeiro et al., 2019). A
ausência de mulheres matemáticas nos
currículos escolares contribui para a
perpetuação de estereótipos de gênero e
impede que jovens interessadas em
carreiras nessa área encontrem modelos e
referências inspiradoras. Essa lacuna
histórica compromete o desenvolvimento
de um ambiente equitativo e diverso na
matemática, privando as mulheres de
oportunidades e reconhecimento
merecidos. Para promover a igualdade de
gênero e incentivar o potencial das
mulheres na matemática, é fundamental
abordar essas questões na educação,
ampliando o conhecimento sobre as
contribuições das mulheres ao longo da
história e garantindo sua visibilidade e
valorização nos currículos educacionais.
87%
13%
0%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Sim, muito Sim, um pouco Não
Distribuição das porcentagens das respostas à
questão: "Você considera o Brasil um país
machista?"
194
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(Fluxo contínuo)
Figura 5 Distribuição percentual das respostas à pergunta: “Na escola, você se lembra de ter
estudado sobre quantas mulheres que se destacaram na história da matemática?” (N=15).
Fonte: Elaboração baseada nos dados da pesquisa (2023).
A sexta pergunta fechada
apresentada aos participantes foi: “Na
escola, você se lembra de ter estudado
sobre quantos homens se destacaram na
história da matemática?”. As opções de
respostas fornecidas foram novamente:
“Zero”; “1”; “2”; “3”; “4 ou mais”. A ampla
maioria, 73% dos participantes, afirmou ter
estudado sobre 4 ou mais homens
matemáticos. Além disso, 13% afirmaram
ter estudado sobre três homens
matemáticos, 7% estudaram sobre um
homem matemático e 7% nunca estudaram
sobre algum homem matemático; nenhum
participante afirmou ter estudado sobre
dois homens matemáticos (Figura 6).
Esses resultados reforçam a tendência
histórica de enfatizar as contribuições dos
homens na história da matemática e
negligenciar as das mulheres: no que diz
respeito à participação no mundo
acadêmico, a maioria dos nomes
importantes citados no ensino é de homens
(Oliveira, 2012). A predominância do
estudo de homens matemáticos nos
currículos escolares perpetua a ideia de
que a matemática é um campo dominado
por homens, marginalizando as mulheres e
diminuindo sua representatividade.
195
SILVA, Lívia Jeniffer Faria da; TEIXEIRA, Ricardo Roberto Plaza.
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matemática Hipátia. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de
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(Fluxo contínuo)
Figura 6 Distribuição percentual das respostas à pergunta: “Na escola, você se lembra de ter
estudado sobre quantas mulheres que se destacaram na história da matemática?” (N=15).
Fonte: Elaboração baseada nos dados da pesquisa (2023).
A sétima pergunta fechada
apresentada aos participantes foi: “Você
acredita que as mulheres matemáticas da
atualidade sofrem algum tipo de
preconceito de gênero?” As opções de
respostas fornecidas foram: “Sim”; “Não”;
“Não sei”. Para esta questão, 67% dos
participantes responderam que as
mulheres matemáticas da atualidade ainda
sofrem preconceito de gênero, enquanto
33% afirmaram não saber; nenhum
participante respondeu que as mulheres
não sofrem preconceito atualmente (Figura
7). Esses resultados refletem a consciência
da uma parcela dos participantes sobre a
persistência do preconceito de gênero
enfrentado pelas mulheres matemáticas na
atualidade (Silveira; Ferreira; Souza,
2019). O reconhecimento do preconceito é
um passo importante para a
conscientização e para que surjam ações
visando à promoção da igualdade de
gênero nesse e em outros campos do
saber.
A matriz de regras, atitudes e
tendências que o indivíduo internaliza ao
longo de sua socialização sem
necessariamente seguir regras explícitas,
sem depender da intenção consciente de
atingir objetivos específicos ou do controle
explícito dos processos necessários para
isso, e sem a necessidade de um diretor
organizador é profundamente
influenciada por fatores como classe, raça
e gênero. Este "habitus" androcêntrico
(Bourdieu, 2002) influencia na formação da
identidade dos indivíduos dentro de
espaços específicos, como o campo da
Matemática. Para superar as barreiras
existentes, é comum em campos com
predominância masculina, como a
matemática, que mulheres optem por
dispensar certos símbolos tradicionais de
feminilidade, adotando um visual mais
discreto ao renunciar a vestidos, saias,
tecidos estampados e bijuterias, buscando
assim passar despercebidas e, como
consequência, internalizando um conjunto
de percepções que as levam,
simbolicamente, a se enxergarem como
homens (Silva, 2017).
7% 7% 0%
13%
73%
0%
20%
40%
60%
80%
Zero Um Dois Três 4 ou mais
Distribuição das porcentagens das respostas à
questão: "Na escola, você se lembra de ter
estudado sobre quantos homens que se
destacaram na História da matemática?"
196
SILVA, Lívia Jeniffer Faria da; TEIXEIRA, Ricardo Roberto Plaza.
Possibilidades educacionais de um cinedebate sobre um filme acerca da
matemática Hipátia. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de
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(Fluxo contínuo)
Figura 7 Distribuição percentual das respostas à pergunta: “Você acredita que as mulheres
matemáticas da atualidade sofrem algum tipo de preconceito de gênero?” (N=15).
Fonte: Elaboração baseada nos dados da pesquisa (2023).
A oitava pergunta fechada
apresentada aos participantes foi: “Você
pensa que a religião está atrelada aos
atuais preconceitos impostos às mulheres
no acesso ao conhecimento?” As opções
de respostas fornecidas foram: “Sim, a
religião está associada aos preconceitos
impostos às mulheres no acesso ao
conhecimento, pois certas interpretações
religiosas promovem visões patriarcais que
limitam a participação das mulheres na
esfera intelectual”; “Não, a religião não está
diretamente relacionada aos preconceitos
impostos às mulheres em relação ao
conhecimento e os preconceitos têm
origem em fatores culturais e históricos
independentes das crenças religiosas”;
“Outro” (neste caso, havia um espaço para
o participante escrever qual seria o porquê
de sua opinião). Para esta questão, 74%
dos participantes responderam que a
religião está atrelada aos preconceitos de
gênero, 13% afirmaram que não está e
13% não responderam à pergunta;
ninguém assinalou a opção “Outro” (Figura
7).
Esses resultados sugerem
que a percepção da maioria dos
participantes é de que algumas
interpretações religiosas promovem visões
patriarcais que limitam o acesso das
mulheres ao conhecimento. Essa visão
está alinhada com as discussões
acadêmicas sobre o papel das crenças
religiosas na perpetuação de
desigualdades de gênero (Bernardi, 2016);
no entanto, é importante ressaltar que
outras opiniões também foram expressas
pelos participantes, indicando que fatores
culturais e históricos independentes das
crenças religiosas também desempenham
um papel importante na manutenção dos
preconceitos de gênero. É importante
pontuar que se, historicamente, são os
homens que dominam a produção do que
é 'sagrado' nas sociedades humanas,
definindo as normas, regras e doutrinas na
imensa maioria das religiões conhecidas,
são as mulheres, por outro lado, que
investem mais no campo das práticas
religiosas e no dia a dia dos seus rituais
(Rosado-Nunes, 2005).
67%
0%
33%
0%
20%
40%
60%
80%
Sim Não Não sei
Distribuição das porcentagens das respostas à
questão: "Você acredita que as mulheres
matemáticas da atualidade sofrem algum tipo
de preconceito de gênero?"
197
SILVA, Lívia Jeniffer Faria da; TEIXEIRA, Ricardo Roberto Plaza.
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matemática Hipátia. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 14, n. 27, p. 182-203, set. 2024.
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(Fluxo contínuo)
Figura 8 Distribuição percentual das respostas à pergunta: “Você pensa que a religião está atrelada
aos atuais preconceitos impostos às mulheres no acesso ao conhecimento?” (N=15).
Fonte: Elaboração baseada nos dados da pesquisa (2023).
A seguir analisaremos as respostas
dadas para as três questões abertas. A
primeira pergunta aberta e discursiva foi:
“Qual é a mensagem principal do filme
‘Ágora’ em relação à questão de gênero, na
sua opinião?” O Quadro 1 apresenta
algumas das respostas dos participantes a
esta questão. Dentre as mensagens
identificadas como sendo as mais
relevantes do filme “Ágora” em relação à
questão de gênero estão: a marginalização
das mulheres em ambientes
predominantemente masculinos, o
tratamento das mulheres como objetos e a
resistência dos homens em permitir que as
mulheres adquiram mais poder e
influência. Essas percepções são
consistentes com a temática central do
filme, que retrata a luta de Hipátia, uma
mulher matemática e filósofa, contra os
preconceitos e a opressão de gênero em
uma sociedade dominada por homens.
Quadro 1 Algumas das respostas dadas para a pergunta: “Qual é a mensagem principal do filme
‘Ágora’ em relação à questão de gênero, na sua opinião?”
Algumas das respostas dadas para a pergunta aberta: “Qual é a mensagem principal do
filme ‘Ágora’ em relação à questão de gênero, na sua opinião?”
“Que mulheres não podem ter o poder dos homens, porém, elas são muitas vezes as mais
importantes na história”
“O jeito que as mulheres eram tratadas como objeto”
“Que os homens querem dominar em tudo, principalmente as mulheres”
“Retratar como na antiguidade a intolerância com aqueles que "pensam diferente" e com as
mulheres era extrema”
“O combate ao preconceito de que ‘mulheres não poderiam ensinar’ e o apagamento histórico que
sofreram
“Se o mundo fosse menos machista e ignorante, poderia ter se desenvolvido mais rápido”
“Que muitos homens se acham melhores que as mulheres, mas quem mais chegou perto da
realidade naquela época foi uma mulher”
“Que mulheres têm capacidade científica igual as dos homens”
Fonte: Elaboração baseada nos dados da pesquisa (2023).
74%
13%
13%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80%
Sim, a religião está associada aos
preconceitos impostos às…
Não, a religião não está
diretamente relacionada aos…
Não respondeu
Distribuição das porcentagens das respostas à
questão: "Você pensa que a religião está atrelada
aos atuais preconceitos impostos às mulheres no
acesso ao conhecimento?"
198
SILVA, Lívia Jeniffer Faria da; TEIXEIRA, Ricardo Roberto Plaza.
Possibilidades educacionais de um cinedebate sobre um filme acerca da
matemática Hipátia. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 14, n. 27, p. 182-203, set. 2024.
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(Fluxo contínuo)
A segunda pergunta aberta e
discursiva foi: “Qual é o tema abordado no
filme ‘Ágora’ que mais despertou o seu
interesse? Explique o motivo, por favor.” O
Quadro 2 apresenta algumas das
respostas dos participantes a essa
pergunta. Muitas respostas enfatizaram a
importância de abordar o tema da
participação das mulheres na história da
matemática nas escolas, acrescentando
que é crucial combater estereótipos de
gênero, promover a igualdade de
oportunidades, incentivar mais mulheres a
seguirem carreiras na matemática e
fornecer referências de exemplos de
mulheres matemáticas para que as
meninas tenham modelos a serem
seguidos e se sintam encorajadas a
explorar o campo da matemática.
Quadro 2 Algumas das respostas dadas para a pergunta: “Qual é o tema abordado no filme ‘Ágora
que mais despertou o seu interesse? Explique o motivo, por favor.”
Algumas das respostas dadas para a pergunta aberta: “Qual é o tema abordado no filme
‘Ágora’ que mais despertou o seu interesse? Explique o motivo, por favor”
"A ação da mulher na Astronomia, pois não é muito comentado”
“Tanto a questão da astronomia quanto da religião, pois de alguma forma os dois estão ligados”
“Fanatismo religioso, preconceito contra mulher”
“Sobre astronomia e o quanto teria avançado se Hipátia tivesse sobrevivido”
“A opressão em nome de Deus”
“A necessidade de se refletir sobre as crenças e verdades que são impostas e de compreendermos
a influência da forma pura”
“A questão de gênero e ver a história de uma mulher na matemática, a representatividade me
alegrou”
“Como a igreja era absoluta e ninguém discordava, as pessoas eram facilmente manipuladas”
“O machismo contra a mulher”
“Como a igreja pode afetar uma sociedade”
Fonte: Elaboração baseada nos dados da pesquisa (2023).
A seguir analisaremos as respostas
dadas para a terceira e última questão
aberta: “Escreva sobre uma iniciativa que
você acha possível implantar para
combater o machismo na nossa
sociedade”. O Quadro 3 apresenta
algumas das respostas dos participantes a
essa pergunta que indicam uma série de
ações que, na opinião deles, podem ser
tomadas para combater o machismo. Entre
essas ações estão: realizar campanhas de
conscientização e divulgação das
contribuições das mulheres em diferentes
áreas, dar mais voz e empoderar as
mulheres em áreas tidas como masculinas,
valorizar a importância das mulheres ao
longo da história e educar as crianças para
que valorizem a equidade. Essas ações, na
visão dos participantes, ajudariam a criar
ambientes mais inclusivos, inspiradores e
igualitários, que combatessem de fato o
machismo em nossa sociedade.
199
SILVA, Lívia Jeniffer Faria da; TEIXEIRA, Ricardo Roberto Plaza.
Possibilidades educacionais de um cinedebate sobre um filme acerca da
matemática Hipátia. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 14, n. 27, p. 182-203, set. 2024.
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(Fluxo contínuo)
Quadro 3 Algumas das respostas dadas para a pergunta aberta: “Escreva sobre uma iniciativa que
você acha possível implantar para combater o machismo na nossa sociedade”.
Algumas das respostas dadas para a pergunta aberta: “Escreva sobre uma iniciativa que
você acha possível implantar para combater o machismo na nossa sociedade”.
“Dar mais valor às mulheres na história seria um começo”
“Ao colocar e dar voz a mais mulheres em lugares em que tem maior número de homens”
“Palestras e debates sobre o tema, incentivo à participação das mulheres nas posições sociais
tidas como masculinas”
“Ensinar, desde pequenos, os meninos sobre como as mulheres possuem capacidades e direitos
iguais aos homens”
“Legalização do aborto, taxa mínima de mulheres em certos campos, programas de ajuda contra o
abuso domiciliar”
“As pessoas se enxergarem e verem que não são melhores que ninguém
“Igualdade dos salários e a criação de leis para ajudar as mulheres”
“Dar mais autonomia para as mulheres e principalmente ensiná-las autodefesa pessoal”
“Principalmente estudar sobre as mulheres e sobre quais papéis elas faziam durante toda a
história?”
Fonte: Elaboração baseada nos dados da pesquisa (2023).
De modo geral, as respostas
fornecidas apontam que os participantes
do cinedebate investigado têm
preocupações genuínas com os temas
abordados durante a atividade, sobretudo
com a importância da equidade e da
diversidade no âmbito científico, de modo
geral, e matemático, em particular.
Depois de conduzir o estudo e
analisar os dados coletados, sobretudo a
partir das observações feitas pelos autores
durante o transcorrer do evento, os
resultados indicaram que ocorreu um
incremento na conscientização dos
participantes sobre as contribuições das
mulheres para a matemática ao longo da
história, bem como mudanças positivas
nas atitudes em relação à igualdade de
gênero na matemática e em outros campos
das denominadas ciências exatas. Isto está
relacionado ao objetivo de incentivar os
participantes a refletirem sobre a
importância da diversidade para a
produção de uma ciência com maior
probabilidade de resolver os problemas
existentes em um certo período histórico.
As discussões geradas pelo cinedebate
influenciaram o interesse e o engajamento
do público em relação ao tema,
colaborando na promoção de uma
matemática mais plural.
Considerações Finais
Este artigo buscou explorar a
importância da realização de uma atividade
envolvendo a exibição e o posterior debate
sobre o filme “Ágora”, que retrata a vida e
a obra da matemática Hipátia, uma
matemática, astrônoma, filósofa e
professora que viveu na antiguidade em
Alexandria. Ao longo deste estudo, foi
possível compreender a relevância desta
obra cinematográfica como uma
ferramenta pedagógica para despertar o
interesse dos alunos pela história da
matemática e promover reflexões sobre o
papel das mulheres nesse campo. A
atividade realizada proporcionou aos
participantes uma imersão no contexto
histórico da antiga Alexandria em que a
ciência e a filosofia floresciam sob o
domínio do Império Romano. O filme
retratou a vida de Hipátia, uma das poucas
mulheres matemáticas conhecidas na
Antiguidade, que enfrentou desafios e
preconceitos para se destacar em um
200
SILVA, Lívia Jeniffer Faria da; TEIXEIRA, Ricardo Roberto Plaza.
Possibilidades educacionais de um cinedebate sobre um filme acerca da
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(Fluxo contínuo)
campo que é dominado pelos homens até
os dias de hoje.
A exibição do filme permitiu que os
participantes compreendessem a vida e a
obra de Hipátia, seus estudos e suas
contribuições para diversas áreas do
conhecimento, incluindo a matemática, de
modo a perceber a importância da
observação científica e da busca pelo
conhecimento, valores fundamentais que
Hipátia defendeu em sua vida. Além disso,
o debate posterior à exibição proporcionou
uma oportunidade valiosa para a troca de
ideias e reflexões sobre os temas
abordados no filme, em particular no que
diz respeito a questões relacionadas à
desigualdade de gênero, ao poder da
educação e à intolerância religiosa. Essas
discussões procuraram estimular o
pensamento crítico e a empatia, bem como
encorajar os alunos a considerarem
diferentes perspectivas e a desenvolverem
habilidades de argumentação.
Os dados obtidos pela realização
do cinedebate permitem compreender a
importância de enfatizar no âmbito
educacional a presença e as contribuições
das mulheres na história da matemática,
para permitir que os alunos compreendam
as barreiras enfrentadas por elas,
valorizem as mulheres matemáticas que
historicamente foram negligenciadas e
reconheçam o impacto positivo da
diversidade para a ciência em geral. Esse
tipo de abordagem pode ajudar a inspirar e
encorajar futuras gerações de mulheres a
se envolverem com a matemática e a
desafiar estereótipos de gênero.
Em suma, a realização da atividade
cultural investigada mostrou-se
extremamente enriquecedora, tanto do
ponto de vista educacional, quanto cultural.
O filme Ágora” proporcionou uma conexão
direta com a história da matemática e com
a figura inspiradora de Hipátia, contribuindo
para a conscientização sobre a importância
das mulheres nas ciências e despertando
nos participantes o interesse pela história
da matemática, sobretudo no que está
relacionado às contribuições de mulheres
para este campo do saber.
Agradecimentos
Agradecemos ao IFSP pelo
fomento concedido a esta pesquisa.
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