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CALABRE, Lia. O Programa Arte, Cultura e Cidadania – Cultura Viva:
diálogos no tempo. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 14, n. 26, p. 105-121, mar. 2024.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura Viva: do Programa à Lei – questões estruturantes no
Brasil e demais políticas de Cultura Viva Comunitária")
muitas vezes anistiados de suas
dívidas com o erário público. Alguns
problemas começavam ainda na
abertura das contas bancárias e
seguiram ao longo do caminho em uma
infinidade de direções.
Retomando o fio do potencial
discursivo do Programa, em 2004, o
Ministro Gilberto Gil afirmava que:
O Programa Cultura Viva é,
sobretudo, uma política pública de
mobilização e encantamento social.
Mais que um conjunto de obras
físicas e equipamentos, ele envolve
a potencialização das energias
criadoras do povo brasileiro. Não
pode ser considerado um simples
‘deixa fazer’, porque parte de uma
instigação, uma emulação, que é o
próprio do-in antropológico, mas os
rumos, as escolhas, as definições
ao longo do processo, são livres. E
os resultados imprevisíveis. E
provavelmente surpreendentes.”
(BRASIL, 2010, p. 37)
O Programa foi crescendo com
base em um processo de diálogo entre
o governo e os fazedores de cultura, a
partir dos insumos que foram sendo
produzidos e do potencial que emergia
do campo cultural. A Ação Griot, por
exemplo, foi uma modalidade surgida a
partir da experiência bem sucedida de
um ponto de cultura do primeiro edital.
Quando o Ministro Gil afirmou, na
citação acima, que o Programa não
poderia ser considerado um “simples
deixar fazer”, ele estava embasado
pela ideia de que o Cultura Viva se
transformaria no “meio de ligação entre
as ações do poder público”, - como
garantidor dos meios de fruição,
produção e difusão cultural – “e as
ações da própria comunidade;” assim
como seria, “o meio de ligação entre as
ações culturais das diversas
comunidades articuladas” através do
trabalho em rede. (GIL apud ALMEIDA;
ALBERNAZ; SIQUEIRA, 2013, p. 330)
Ao buscar inverter a lógica da
aplicação dos escassos recursos
orçamentários o Ministério da Cultura,
passou a se empenhar em atender
áreas periféricas que nunca foram
atendidas, tornano-se alvo de críticas,
dentro do próprio setor cultural. Tais
críticas partiram, principalmente, de
artistas consagrados, de
reconhecimento nacional e
internacional. Em uma entrevista
concedida a revista Carta Capital, em
2006, em que o tema eram as políticas
que estavam sendo implementadas, o
Ministro Gil, afirma sobre as críticas
recebidas:
Acho que tem a ver com a
discriminação positiva, digamos
assim, que estamos tentando fazer,
focando áreas que não eram
focadas e, portanto, estabelecendo
um conflito distributivo com esses