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SANTOS, L. V. O.; BRITO, D. J. M.; SILVA, M. V. A. Diversidade
socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
uma análise de insumo-produto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 14, n. 26, p. 278-302,
mar. 2024.
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(Fluxo contínuo)
Diversidade socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no
Brasil: uma análise de insumo-produto
Lília Vitória Oliveira dos Santos1
Danyella Juliana Martins de Brito2
Marcus Vinícius Amaral e Silva3
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v14i26.61080
Resumo: O setor da cultura representa um eixo relevante para a economia brasileira em termos de
fomento e desenvolvimento econômico, por conseguinte, este trabalho visa examinar como este
segmento está dividido em relação aos diferentes perfis familiares de consumo. Os grupos familiares
são categorizados de acordo com gênero, cor da pele e renda. Adicionalmente, observa-se o impacto
no setor cultural, e em toda a economia, de um choque positivo na demanda final do setor, em termos
de emprego, produto e renda, através da abordagem de insumo-produto. Os principais resultados
mostram que o grupo familiar de renda alta, a despeito de compreender um número relativamente
menor de indivíduos, é responsável por mais da metade do consumo de bens e serviços culturais e
artísticos. Ademais, dentro desse grupo de alta renda, o perfil que mais consome é o das famílias de
principal responsável homens brancos. O grupo familiar de renda média, apesar de possuir pouco mais
da metade dos indivíduos, representa apenas 36,5% do consumo em cultura. O grupo de renda baixa,
representando o menor percentual dos três grupos de renda, constitui somente 7,25% do consumo
total. No que concerne ao choque positivo na demanda final do setor cultural, houve um acréscimo de
R$ 1,025 bilhão no segmento cultural e de R$ 1,593 bilhão em toda a economia, em termos de
produção. Em relação aos postos de trabalho, tal choque positivo na demanda final do setor cultural é
responsável por gerar 29.191 novos empregos no setor da cultura, e 33.076 empregos adicionais na
economia como um todo. No que tange a variação dos rendimentos do setor cultural, houve um
aumento de 324 milhões, e na economia a adição foi de 439 milhões. Por fim, no que diz respeito a
relevância para a economia, e para o setor cultural, das doze tipologias de famílias, foi constatado que
em termos de produção e emprego, os consumos mais expressivos são os das famílias de principal
responsável homens brancos de renda alta, e os menores são observados entre as famílias de principal
responsável mulheres brancas de renda baixa.
Palavras-chave: setor cultural; consumo; insumo-produto.
1 Lília Vitória Oliveira dos Santos. Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de
Pernambuco - Campus Acadêmico do Agreste. Estagiária da Prefeitura Municipal de Caruaru,
Pernambuco, Brasil. E-mail: lilia.oliveira@ufpe.br
2 Danyella Juliana Martins de Brito. Doutora em Economia pelo CEDEPLAR-UFMG/Universidade
Federal de Minas Gerais. Professora do PPGECON/UFPE/CAA/Universidade Federal de
Pernambuco, Brasil. E-mail: danyella.brito@ufpe.br - https://orcid.org/0000-0002-9630-2577
3 Marcus Vinícius Amaral e Silva. Doutor em Economia pelo PPGE/UFJF/Universidade Federal de
Juiz de Fora. Professor do PPGECON/UFPE/CAA/ Universidade Federal de Pernambuco, Brasil. E-
mail: marcus.silva@ufpe.br - https://orcid.org/0000-0002-9361-9448
Recebido em 18/12/2023, aceito para publicação em 19/03/2024.
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socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
uma análise de insumo-produto. PragMATIZES - Revista Latino-
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(Fluxo contínuo)
Diversidad socioeconómica en el consumo y la renta del sector cultural en Brasil: un análisis
input-output
Resumen: El sector cultural representa un eje relevante para la economía brasileña en términos de
promoción y desarrollo económico, por lo que este trabajo tiene como objetivo examinar cómo se divide
este segmento en relación a los diferentes perfiles de consumo familiar. Los grupos familiares se
clasifican según género, color de piel e ingresos. Adicionalmente, se observa el impacto en el sector
cultural, y en toda la economía, de un shock positivo sobre la demanda final del sector, en términos de
empleo, producto e ingresos, a través del enfoque input-output. Los principales resultados muestran
que el grupo familiar de altos ingresos, a pesar de estar compuesto por un número relativamente menor
de personas, es responsable de más de la mitad del consumo de bienes y servicios culturales y
artísticos. Además, dentro de este grupo de altos ingresos, el perfil que más consume es el de familias
con hombres blancos como cuidadores principales. El grupo familiar de ingresos medios, a pesar de
contar con poco más de la mitad de los individuos, representa sólo el 36,5% del consumo cultural. El
grupo de bajos ingresos, que representa el porcentaje más bajo de los tres grupos de ingresos,
constituye sólo el 7,25% del consumo total. En cuanto al shock positivo en la demanda final del sector
cultural, hubo un aumento de R$ 1.025 mil millones en el segmento cultural y de R$ 1.593 mil millones
en toda la economía, en términos de producción. En relación con el empleo, un shock tan positivo en
la demanda final del sector cultural es responsable de generar 29.191 nuevos empleos en el sector
cultural, y 33.076 empleos adicionales en el conjunto de la economía. En cuanto a la variación de los
ingresos en el sector cultural hubo un aumento de 324 millones, y en la economía la incorporación fue
de 439 millones. Finalmente, en cuanto a la relevancia para la economía, y para el sector cultural, de
los doce tipos de familias, se encontró que en términos de producción y empleo, los consumos más
significativos son los de las familias siendo el principal responsable los hombres blancos que tienen
ingresos altos, y los más bajos se observan entre familias con mujeres blancas de bajos ingresos como
cuidadoras principales.
Palabras clave: sector cultural; consumo; entrada y salida.
Socioeconomic diversity in cultural sector consumption and income in Brazil: an input-output
analysis
Abstract: The culture sector represents a relevant axis for the Brazilian economy in terms of promotion
and economic development, therefore, this work aims to examine how this segment is divided in relation
to different family consumption profiles. Family groups are categorized according to gender, skin color
and income. Additionally, the impact on the cultural sector, and on the entire economy, of a positive
shock on the final demand of the sector, in terms of employment, product and income, is observed,
through the input-output approach. The main results show that the high-income family group, despite
comprising a relatively smaller number of individuals, is responsible for more than half of the
consumption of cultural and artistic goods and services. Furthermore, within this high-income group, the
profile that consumes the most is that of families with white men as the main caregiver. The middle-
income family group, despite having just over half of the individuals, represents only 36.5% of cultural
consumption, while the low-income group, representing the smallest percentage of the three income
groups, constitutes only 7.25% of total consumption. Regarding the positive shock in the final demand
of the cultural sector, there was an increase of R$ 1.025 billion in the cultural segment and R$ 1.593
billion in the entire economy, in terms of production. In relation to jobs, such a positive shock in the final
demand of the cultural sector is responsible for generating 29,191 new jobs in the cultural sector, and
33,076 additional jobs in the economy as a whole. Regarding the variation in income in the cultural
sector, there was an increase of 324 million, and in the economy the addition was 439 million. Finally,
with regard to the relevance for the economy and the cultural sector of the twelve profile typologies, it
was found that in terms of production and employment, the most significant consumer profile is that of
high-income white men and the lowest relevance is that of low-income white women.
Keywords: cultural sector; consumer profile; input-output.
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(Fluxo contínuo)
Diversidade socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no
Brasil: uma análise de insumo-produto
1 Introdução
A relação entre cultura e
desenvolvimento econômico desperta
questionamentos a respeito do quão
importante a cultura é, de fato, para a
economia e suas variáveis econômicas.
Inquietação que justifica-se no longo
tempo em que o setor da cultura
permaneceu escamoteado pelos
economistas, por considerarem os
bens culturais como sendo bens não
econômicos e cujos valores não são
mensuráveis, julgando seu consumo
como um luxo dispensável (TOLILA,
2007).
Conforme Benhamou (2016), o
patrimônio cultural é formado por
diversos tipos de bens que
compartilham a característica de fazer
alusão à história e à arte, podendo
assumir formatos tangíveis e
intangíveis. É fruto das interações
sociais, constituindo-se, portanto, como
mutável ao longo do tempo.
evidências da potencialidade do setor
cultural em difundir investimentos feitos
nele para toda a economia, resultando
em desenvolvimento socioeconômico
(TOHMO, 2005; TOLILA, 2007; LLOP;
ARAUZO-CAROD, 2012; VIVANT,
2012).
inúmeros processos
econômicos envolvidos nas relações de
produção e venda dos bens culturais.
Um sistema de comércio que engloba
consumidores, fornecedores, críticos e
instituições é observado, constituindo
um mecanismo natural de interações
econômicas de oferta e demanda
(MARTINS et al., 2015).
O setor da cultura possui
relevância não apenas no sentido de
propagar investimentos, elevando
indicadores como o quantitativo de
empregos, de rendimentos e de
produto da economia, mas também
dispõe da capacidade de proporcionar
experiências que aprimoram e elevam
a própria existência humana,
permitindo a vivência e a observação
de valores imateriais. Dessa forma, a
presença de artistas e um ambiente
cultural efervescente são fatores
apontados como capazes de elevar a
qualidade de vida e criar ambientes
favoráveis à criatividade e ao
estabelecimento de empresas
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socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
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(Fluxo contínuo)
inovadoras (TOHMO, 2005; VIVANT,
2012).
O setor cultural está interligado
às outras esferas da economia, onde os
setores se conectam dentro de suas
cadeias produtivas de forma direta e
indireta. Portanto, este estudo fará uso
da metodologia insumo-produto para
compreender de forma minuciosa as
contribuições do setor da cultura para a
economia brasileira e a estrutura da
sua demanda, através da análise do
impacto de um investimento adicional
de um bilhão de reais no setor da
cultura brasileiro e da compreensão do
perfil de seus consumidores. O
investimento citado foi anunciado pelo
Ministério da Cultura e se deu por meio
do descongelamento de recursos
arrecadados através da Lei de
Incentivo à Cultura, conhecida como
Lei Rouanet, criada em 1991 com o
objetivo de fomentar o segmento
cultural brasileiro.
A Lei de Incentivo à Cultura
consiste em captar recursos de
pessoas físicas e jurídicas através da
dedução de porcentagens do imposto
de renda que são direcionadas para o
setor cultural no formato de doação ou
patrocínio. Os valores arrecadados e
destinados ao setor da cultura,
possuem uma característica de
inclusão social, na medida em que os
projetos abarcados pelo patrocínio
precisam ofertar ingressos ou produtos
culturais de forma gratuita ou a preços
inclusivos, assim como propiciar
capacitações e formações às
comunidades carentes.
Deste modo, este trabalho visa,
especificamente, examinar de maneira
fragmentada por gênero, cor da pele e
renda o perfil dos consumidores de
cultura, bem como mensurar o impacto
causado pelo investimento público no
setor cultural e na economia brasileira,
com o objetivo de captar melhor as
características intrínsecas dos
consumidores de cultura e a potência
econômica do segmento cultural. Tal
análise faz-se importante pois tem o
potencial de subsidiar políticas públicas
de incentivo à cultura direcionadas a
grupos familiares específicos.
Com base nos dados da matriz
de insumo-produto para o ano de 2015
e na Pesquisa de Orçamentos
Familiares (POF) de 2017-2018, ambas
disponibilizadas pelo IBGE, pretende-
se responder os seguintes
questionamentos: O setor da cultura
possui uma demanda representativa e
inclusiva em termos de gênero, cor da
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SANTOS, L. V. O.; BRITO, D. J. M.; SILVA, M. V. A. Diversidade
socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
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(Fluxo contínuo)
pele e renda? Variações positivas na
demanda final atingem o setor cultural
de qual forma, em termos de produção,
emprego e renda? Considerando as
desigualdades que assolam a
sociedade brasileira desde a sua
formação, qual o perfil dos
consumidores de cultura?
O procedimento metodológico
de insumo-produto foi utilizado na
economia da cultura por Tohmo (2005)
para examinar o festival de música
folclórica de Kaustinen, ocorrido na
Finlândia, Llop e Arauzo-Carod (2012)
que investigam as repercussões na
economia regional advindas do Centro
Gaudí, na Espanha, e Silva e Brito
(2019), Machado et al. (2022) e Pereira,
Silva e Brito (2023) que examinam o
setor cultural brasileiro. O diferencial da
presente pesquisa está na análise
minuciosa do perfil dos consumidores
de bens culturais no Brasil, observando
não apenas a importância do setor para
a economia como um todo, mas
também se o acesso à cultura é
igualitário.
A presente pesquisa está
dividida em cinco seções, com essa
introdução. A segunda seção apresenta
uma breve revisão de literatura, que faz
um apanhado dos estudos que
utilizaram o método de insumo-produto
para compreender o setor cultural. Na
terceira seção é apresentada a
metodologia empregada. A quarta
seção apresenta os resultados obtidos,
e a quinta, e última seção, traz as
principais conclusões desse estudo.
2 Revisão de literatura
O setor cultural possui uma
potencialidade em difundir
investimentos feitos nele e transformá-
los em desenvolvimento econômico,
aumentando o nível de renda, emprego
e produto de toda uma sociedade
(TOHMO, 2005; TOLILA, 2007; LLOP;
ARAUZO-CAROD, 2012; VIVANT,
2012). Apesar da potência observada
no segmento cultural, é necessário
conhecer o perfil do consumidor dos
bens e serviços culturais e artísticos
para examinar se a renda gerada pelo
setor da cultura é difundida de forma
igualitária na sociedade brasileira
(BERSANI, 2018; GONÇALVES, 2018;
JULIÃO; DIB; OLIVEIRA, 2021).
Segundo Amestoy (2009), a
satisfação individual que os bens
culturais proporcionam muda de acordo
com o nível de capital cultural dos
indivíduos. Logo, a identificação da
importância do bem cultural é dada
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SANTOS, L. V. O.; BRITO, D. J. M.; SILVA, M. V. A. Diversidade
socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
uma análise de insumo-produto. PragMATIZES - Revista Latino-
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(Fluxo contínuo)
através das circunstâncias as quais o
indivíduo está inserido, que formam o
capital humano e o capital cultural.
Diante disso, a razão de haver
diferentes valores concebidos para os
mesmos bens culturais fica mais clara,
pois o caráter singular das escolhas e
preferências atreladas a este segmento
é perceptivo. Para Ponte e Mattoso
(2014) uma propensão em
determinadas pessoas a proximidade
com a cultura, tornando-as mais
suscetíveis ao seu consumo. Assim, os
indivíduos que possuem alguma
familiaridade com as atividades
artísticas e culturais seja devido ao
contato com parentes inseridos no
mercado de trabalho do referido setor,
ou devido ao elevado nível de
escolaridade –, apresentam uma
propensão maior ao consumo e fruição
de bens e serviços culturais (PONTE;
MATTOSO, 2014; ALMEIDA; LIMA;
GATTO, 2020; PEREIRA, 2022).
No que tange trabalhos sobre o
impacto econômico de eventos e
atividades culturais, que usaram a
metodologia da matriz insumo-produto,
é possível destacar alguns estudos
internacionais. Tohmo (2005) observou
o impacto do festival de música
folclórica de Kaustinen, ocorrido na
Finlândia. O artigo utilizou tabelas
regionais de insumo-produto para as
regiões Finlandesas de 1995 e
questionários aplicados no festival em
1994, para realizar a análise. Em seus
resultados, constatou que, em termos
de produção houve um aumento de 1,7
milhões de euros, onde o impacto direto
foi 1,6 milhões de euros e o indireto
61.984 euros. Em relação a emprego e
renda, ocorreu o acréscimo de 27
funcionários e o rendimento líquido das
famílias teve o incremento de 262
milhares de euros. O festival aumentou
a arrecadação dos impostos regionais
em torno de 66.000 euros, valor que
representa 163,5% do montante
máximo investido pela cidade para
custear anualmente o evento. Esses
resultados demonstram que o festival
de música folclórica de Kaustinen é um
potente estímulo para a economia local
e um excelente vetor de propagação de
renda e desenvolvimento em termos de
retorno de investimentos.
Os autores Llop e Arauzo-Carod
(2012), em seu trabalho sobre as
repercussões na economia regional
advindas do novo museu Centro Gaudí,
buscaram compreender o quanto de
movimentação econômica a
implementação deste centro provocou.
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SANTOS, L. V. O.; BRITO, D. J. M.; SILVA, M. V. A. Diversidade
socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
uma análise de insumo-produto. PragMATIZES - Revista Latino-
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(Fluxo contínuo)
Por meio do método de insumo-
produto, constatam que, em relação à
demanda direta do museu, o setor de
serviços realmente é superior,
representando 99,7% do total,
enquanto o setor de não-serviços
representa 0,3%. Porém, em relação ao
impacto total, a representação do setor
de serviços diminui para 68,4% do
aumento total da produção e a do setor
de não-serviços aumenta para 31,6%.
Assim, Llop e Arauzo-Carod (2012)
constatam a potencialidade do setor
cultural em fomentar diversos outros
setores da economia, e não apenas os
diretamente ligados a ele.
Na literatura nacional, Silva e Brito
(2019) buscam compreender a
importância do setor cultural na
economia brasileira e a repercussão de
choques neste segmento, em termos
de emprego e renda. Para observar de
forma mais pontual esse impacto,
aplicaram um choque hipotético de
10% a menos na demanda final deste
setor. Eles constatam que a redução
em 10% no consumo de atividades
culturais, gera uma diminuição de R$
2,7 bilhões na produção total deste
setor e, em relação ao produto total
brasileiro, um recuo de R$ 4,2
bilhões. O setor de serviços é o mais
atingido pelo choque. Por exemplo, as
atividades imobiliárias sofreram uma
contração de R$ 239 milhões, sendo a
mais atingida pelo choque após o
próprio setor de atividades artísticas,
criativas e de espetáculos. No que
tange a questão da mão de obra, são
77.176 trabalhadores a menos no setor
da cultura e 87.447 na economia como
um todo.
A fim de analisar as
adversidades trazidas para a economia
da cultura através da pandemia da
COVID-19, Machado et al. (2022)
utilizaram a metodologia da matriz
insumo-produto para examinar essas
perdas para o setor. Os autores
consideram um choque de demanda
correspondente a paralização na
procura por atividades artísticas
durante cinco meses, e constatam uma
redução de R$ 18,5 bilhões em termos
de produto da economia, considerando
a interrupção das atividades culturais
fora do domicílio. Em relação ao setor
cultural, em específico, houve uma
queda de 21,2% no valor da sua
produção total.
Em abordagem semelhante,
Pereira, Silva e Brito (2023) investigam,
por meio da metodologia insumo-
produto, o setor da cultura através da
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SANTOS, L. V. O.; BRITO, D. J. M.; SILVA, M. V. A. Diversidade
socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
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(Fluxo contínuo)
distribuição de seus consumidores em
diferentes grupos de renda, e também
mensuram o impacto sofrido pelo setor
em decorrência da pandemia da
COVID-19. Considerando que a queda
sofrida na demanda do setor de
atividades artísticas e culturais trazida
pela COVID-19 foi de 30,8%, e
analisando esse choque de forma
isolada, Pereira, Silva e Brito (2023)
constatam um efeito direto de R$ 8,3
bilhões a menos no produto do setor
cultural, e o efeito indireto de menos R$
12,9 bilhões na produção da economia
em geral. A esfera mais atingida,
tirando o próprio setor em específico,
foi o de atividades imobiliárias, que
representou 6% do recuo total, em
conformidade com o encontrado por
Silva e Brito (2019). No que se refere a
mão de obra, foram perdidos 237.701
postos de trabalho no setor da cultura e
31.635 no restante dos setores. No
tocante à distribuição da demanda do
setor cultural por renda, os autores
constataram que o grupo de renda mais
alta, que corresponde apenas a 3% da
população, é responsável por 22% da
demanda cultural. Resultado que revela
o caráter desigual do acesso aos bens
e serviços culturais, e reforça o que fora
observado previamente por Almeida,
Lima e Gatto (2020), Paglioto e
Machado (2012) e Amestoy (2009).
um alto potencial nos eventos
culturais em difundir renda de forma
direta e indireta nos locais onde eles
ocorrem. Dentro do setor cultural,
encontros como festivais musicais,
espetáculos e exposições são
importantes para a economia e o
turismo. Eventos realizados,
especialmente, em épocas como o
carnaval, a Páscoa, o São João, o
réveillon e até mesmo em estações do
ano, como no caso dos festivais de
inverno funcionam como uma injeção
de liquidez na economia local. O
comércio ganha com o consumo dos
turistas, que são atraídos para as
cidades sedes e desfrutam de
alimentação, hospedagem, transporte,
entre outros serviços. Ademais, os
próprios residentes do local têm gastos
atípicos com salões de beleza, roupas,
transporte, bebidas, etc., fomentando o
desenvolvimento local, especialmente,
a curto prazo. Em relação aos efeitos
indiretos de longo prazo é possível
citar: a apreciação do valor de imóveis
em território de alta significação cultural
e artística; a atração de empresas com
potencial para investir no setor cultural;
o aprimoramento da capacidade do
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socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
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(Fluxo contínuo)
local em abrigar novos habitantes; e,
por fim, a criação de uma identidade
cultural e emocional dos residentes
com a região (ALMEIDA;
ROSSIGNOLI, 2019).
A literatura sobre o setor cultural
é abrangente no sentido de investigar
os fatores inerentes ao consumo da
esfera cultural, como o valor cultural e
artístico, que se difere do valor
econômico usual (KLAMER, 2003;
DINIZ; MACHADO, 2011; ALMEIDA,
2017). Também há uma vasta literatura
que examina o caráter intrínseco da
valorização ou desvalorização da
cultura e dos bens culturais, e as
tendências no consumo individual dos
bens culturais e artísticos (AMESTOY,
2009; PONTE; MATTOSO, 2014;
ALMEIDA; LIMA; GATTO, 2020;
PEREIRA, 2022). Ademais, conforme
discutido, diversos autores
investigam a importância do setor da
cultura em difundir renda e
desenvolvimento (TOHMO, 2005;
LLOP; ARAUZO-CAROD, 2012;
SILVA; BRITO, 2019; MACHADO et al.,
2022; PEREIRA; SILVA; BRITO, 2023).
No entanto, ainda uma lacuna na
literatura no que se refere ao exame
dos diferentes perfis de consumo pelo
setor cultural, principalmente no que diz
respeito a gênero, cor da pele e renda
(PAGLIOTO; MACHADO, 2012;
PONTE; MATTOSO, 2014; ALMEIDA;
LIMA; GATTO, 2020; PEREIRA;
SILVA; BRITO, 2023). Desse modo,
apesar dos estudos citados serem
relevantes para a análise do consumo
individual dos bens e serviços culturais,
este trabalho possui o diferencial de
realizar uma análise agregada a
respeito dos perfis dos consumidores
de cultura no Brasil.
3 Metodologia
3.1 Dados
Os dados utilizados neste
trabalho são da matriz insumo-produto
2015 nível 67 setores, elaborada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) através das Tabelas
de Recursos e Usos (TRU), os
resultados advindos dessa matriz são
capazes de mostrar o quanto os
setores econômicos estão ligados uns
aos outros e o quanto uma variação na
demanda final impacta toda a estrutura
produtiva analisada. Adicionalmente,
este estudo também utiliza dados da
Pesquisa de Orçamentos Familiares
(POF) de 2017-2018. Através do perfil
dos gastos e rendimentos das famílias
brasileiras obtidos pelos dados da POF
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socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
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(Fluxo contínuo)
2017-2018, é possível traçar o
consumo desses domicílios em bens e
serviços culturais. O setor cultural é
representado, neste trabalho, pelas
atividades artísticas, criativas e de
espetáculos que representam um dos
sessenta e sete setores da matriz
insumo-produto 2015 utilizada nesta
análise.
Para proporcionar uma análise
mais eficaz do perfil dos consumidores
dos bens e serviços culturais no Brasil,
o presente estudo utiliza os dados da
POF 2017-2018 para dividir a demanda
do setor em termos de renda, gênero e
cor da pele. Em relação aos grupos de
renda observados, a delimitação de
três perfis domiciliares: renda baixa (1),
renda média (2) e renda alta (3). O perfil
de renda baixa considera domicílios
com uma renda mensal inferior a R$
477 reais, domicílios com renda média
engloba aqueles na faixa de renda
entre R$ 477 e R$ 1.908, e a última
classificação inclui domicílios com
renda igual ou acima de R$ 1.9084
(NERI, 2020; PEREIRA, 2022). O
estudo também divide a amostra em
homens e mulheres, e em pessoas
brancas e não brancas. A classificação
4 O salário mínimo no ano de 2015 era de R$
788,00 reais.
de pessoas brancas engloba indivíduos
autodeclarados brancos e amarelos, e
a classificação de pessoas não brancas
engloba pessoas autodeclaradas
pardas e pretas. Por conseguinte, ao
combinar cada característica individual
em grupos com três atributos, por
exemplo, homens não brancos de
renda baixa representaria um perfil e
mulheres brancas de renda média
configuraria outro, doze perfis distintos
são criados e utilizados para examinar
se tendências no consumo da
cultura no Brasil.
3.2 Composição da matriz insumo-
produto
A matriz insumo-produto é uma
ferramenta para análise de uma
estrutura produtiva, pois permite
observar os fluxos de bens e serviços
de determinados setores econômicos e
suas relações de oferta e demanda de
insumos com outros setores da
economia. A estratégia empírica tem
por base Silva e Brito (2019), Machado
et al. (2022) e Pereira, Silva e Brito
(2023).
A matriz insumo-produto foi
elaborada por Wassily Leontief e é
288
SANTOS, L. V. O.; BRITO, D. J. M.; SILVA, M. V. A. Diversidade
socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
uma análise de insumo-produto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 14, n. 26, p. 278-302,
mar. 2024.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
(Fluxo contínuo)
representada por um conjunto de
equações lineares e não homogêneas.
Para utilizá-la, é necessário a coleta de
dados das transações de bens e
serviços entre os setores da economia
a ser analisada e da demanda final,
composta pela demanda dos produtos
finais externos ao segmento produtivo.
Dessa forma, o conjunto de equações
(1) expressa a composição da matriz
insumo-produto, onde 𝑥 representa a
produção total dos setores da
economia, 𝑧 retrata o somatório das
movimentações de compra e venda de
insumos, representando as transações
entre cada setor 𝑖 para cada setor 𝑗, e 𝑦
equivale a demanda final das
atividades5.
𝑥
=
𝑧
+
𝑧
+
+
𝑧
+
𝑦
𝑥
=
𝑧
+
𝑧
+
+
𝑧
+
𝑥
=
𝑧
+
𝑧
+
+
𝑧
+
𝑦
(1)
Na estrutura de estudo da
metodologia insumo-produto, as trocas
intersetoriais entre os setores 𝑖 e 𝑗
dependem do volume de produção de
𝑗. Dessa maneira, por haver uma
5 Essa subseção é baseada em Grijó e Bêrni (2006);
Guilhoto (2011) e Pereira, Silva e Brito (2023).
relação fixa entre a produção dos
setores e a utilização dos seus
insumos, o modelo considera retornos
constantes de escala. A equação (2)
abaixo representa esta dinâmica e
intitula-se como coeficiente técnico.
𝑎

=
𝑧

𝑥
Destrinchando a equação acima,
(𝑎) é dado pela razão entre 𝑧 - que
representa as movimentações
econômicas entre os setores
vendedores (𝑖) e os setores
compradores (𝑗), e 𝑥 - que representa
a produção total de (𝑗). Considerando
esta última equação (2), é possível
substituir 𝑧, por 𝑎 𝑥 no sistema de
equações (1):
𝑥
=
𝑎

𝑥
+
𝑎

𝑥
+
+
𝑎
𝑥
+
𝑦
𝑥
=
𝑎

𝑥
+
𝑎

𝑥
+
+
𝑎

𝑥
+
𝑦
𝑥
=
𝑎
𝑥
+
𝑎
𝑥
+
+
𝑎

𝑥
+
𝑦
Reescrevendo o sistema de
equações (3) em formato matricial,
obtém-se:
𝐱
=
𝑨
𝐱
+
𝒚
289
SANTOS, L. V. O.; BRITO, D. J. M.; SILVA, M. V. A. Diversidade
socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
uma análise de insumo-produto. PragMATIZES - Revista Latino-
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(Fluxo contínuo)
A equação (4) acima também
pode ser descrita como:
𝐱
=
(
𝑰
𝑨
)
𝒚
(5)
Nesta última equação, é possível
notar a relação direta entre a produção
total da economia, ditada por 𝐱, e a
demanda final 𝒚 para cada setor. Dessa
maneira, quando mudança na
demanda final, os efeitos diretos e
indiretos são vistos através de cada
elemento da matriz (𝑰 – 𝑨) ,
conhecida como Inversa de Leontief.
No caso dos efeitos diretos, são
verificados no próprio setor de análise
após a variação na demanda final, e no
caso dos efeitos indiretos, são notados
a partir das mudanças nos setores
ligados ao setor em foco, em
decorrência das variações na demanda
final.
O multiplicador de produção é
uma ferramenta que permite verificar os
efeitos diretos em termos de produção
em um determinado setor de um
choque na demanda, e os efeitos
indiretos nos outros setores da
economia. Através da equação (5) é
possível realizar essa análise setorial
dos impactos na produção no setor
afetado e nos demais, a equação (6)
abaixo representa a fórmula para obter
o multiplicador de produção:
𝑀𝑃
=
𝑏

Onde 𝑀𝑃 representa o
multiplicador de produção do j ésimo
setor, e 𝑏 é dado pelo ij ésimo
elemento da matriz inversa de Leontief.
O multiplicador de emprego segue
linha similar ao de produção, também é
utilizado para mensurar o impacto de
choques na demanda de um setor e
seus efeitos diretos e indiretos no setor
analisado e nos demais setores da
economia. Esta análise é possível
através da equação (7) abaixo:
𝑀𝐸
=
𝐺𝐸
𝑐𝑒
Onde 𝑀𝐸 representa o
multiplicador de emprego, que é dado
pela razão entre 𝐺𝐸, o gerador de
empregos, e 𝑐𝑒 que constitui o
coeficiente direto de emprego.
O multiplicador de renda permite captar
os efeitos de variações na demanda de
um determinado setor, neste e nos
demais setores da economia em
termos de mudanças nos seus
290
SANTOS, L. V. O.; BRITO, D. J. M.; SILVA, M. V. A. Diversidade
socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
uma análise de insumo-produto. PragMATIZES - Revista Latino-
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(Fluxo contínuo)
rendimentos. É obtido através da
equação (8) abaixo:
𝑀𝑅
=
𝐺𝑅
𝑐𝑟
(8)
Onde 𝑀𝑅 é o multiplicador da
renda, obtido através da razão entre
𝐺𝑅, o gerador de renda, e 𝑐𝑟, o
coeficiente de renda. Os coeficientes
de produção, emprego e renda foram
utilizados neste trabalho para examinar
as repercussões do choque positivo de
um bilhão de reais na demanda final do
setor da cultura, no próprio setor
cultural e artístico e nos demais setores
da economia.
4 Resultados
Os objetivos deste trabalho
foram analisar o consumo dos bens e
serviços culturais e artísticos de acordo
com os seus diferentes perfis
consumidores, mais precisamente, por
gênero, cor da pele e renda, assim
como investigar as repercussões do
choque positivo na demanda final do
setor cultural e artístico, de modo a
verificar a sua repercussão neste e nos
demais setores da economia. Para isto,
6 Para mais detalhes sobre os bens e serviços
que compõem a despesa com cultura ver Silva
e Brito (2019).
foram utilizados os dados da POF
2017-2018, para destrinchar os perfis
dos principais responsáveis dos
domicílios brasileiros; e os dados da
matriz insumo-produto referente ao ano
de 2015, para examinar o consumo
desses perfis de acordo com os setores
produtivos e elaborar os resultados do
choque na demanda final.
O Quadro 1 mostra as doze
tipologias de famílias, investigadas de
acordo com o número de indivíduos, a
quantidade de famílias, a renda dia
salarial, o desvio-padrão da renda
média, a despesa6 e os rendimentos
com cultura em cada grupo. Conforme
mencionado, os doze perfis utilizados
neste trabalho são divididos através
das seguintes classificações: renda
baixa (1), renda média (2), renda alta
(3), homem (1), mulher (2), branco (1),
não branco (2).
Em relação a quantidade de
indivíduos por grupos de renda, são
59.045.513 na faixa de baixa renda,
109.177.747 na renda média, e
38.798.234 indivíduos em domicílios de
alta renda, representando,
respectivamente, 28,5%, 52,7% e
291
SANTOS, L. V. O.; BRITO, D. J. M.; SILVA, M. V. A. Diversidade
socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
uma análise de insumo-produto. PragMATIZES - Revista Latino-
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(Fluxo contínuo)
18,7% do total. No que tange a questão
da renda média, a faixa de renda baixa
apresenta média de R$ 263,20, o grupo
de renda média R$ 999,80 e a parcela
de renda alta R$ 4.438,50.
É válido ressaltar que, dentre os
quatro perfis de renda baixa, os
domicílios onde o principal responsável
é um homem não branco e uma mulher
não branca possuem os maiores
números de indivíduos, constituindo
73,28% desse grupo. Na classe de
renda média, o perfil que mais possui
indivíduos são os chefiados por
homens não brancos, equivalendo a
33,45%. No grupo de renda alta, o perfil
que se sobressai em relação ao
número de indivíduos é o composto por
homens brancos, retratando 42,15% do
total desse grupo.
Quadro 1 - Distribuição das doze tipologias de famílias, considerando gênero, cor da pele e renda do
principal responsável
Grupos
familiares
Número de
indivíduos
Número de
famílias
Renda
média
R$
Desvio
padrão
R$
Despesa
no
setor cultural
(R$ milhões)
Rendimento
no
setor cultural
(R$ milhões)
111 8.656.981 2.332.145 287 127 384 83
112 22.950.484 5.853.161 265 126 732 649
121 6.384.810 1.771.831 273 131 206 129
122 20.320.488 5.141.489 255 128 470 320
211 28.462.432 9.359.184 1.102 380 2.920 1.436
212 36.520.314 12.103.774 999 366 2.891 1.631
221 17.441.188 6.514.947 1.077 376 1.380 961
222 25.781.678 9.112.524 968 358 1.830 1.127
311 16.353.915 6.361.583 5.382 6.961 6.836 1.941
312 8.507.117 3.445.492 3.919 3.007 2.841 978
321 8.920.116 4.250.577 4.754 4.204 3.007 1.074
322 4.705.004 2.174.747 3.793 3.317 1.218 647
Fonte: Elaboração própria.
Nota: 111- famílias na categoria de baixa renda de principal responsável homem branco; 112- famílias
na categoria de baixa renda de principal responsável homem não branco; 121- famílias na categoria de
baixa renda de principal responsável mulher branca; 122- famílias na categoria de baixa renda de
principal responsável mulher não branca; 211- famílias na categoria de renda média de principal
responsável homem branco; 212- famílias na categoria de renda média de principal responsável
homem não branco; 221- famílias na categoria de renda média de principal responsável mulher branca;
222- famílias na categoria de renda média de principal responsável mulher não branca; 311- famílias
na categoria de renda alta de principal responsável homem branco; 312- famílias na categoria de renda
alta de principal responsável homem não branco; 321- famílias na categoria de renda alta de principal
responsável mulher branca; 322- famílias na categoria de renda alta de principal responsável mulher
não branca.
292
SANTOS, L. V. O.; BRITO, D. J. M.; SILVA, M. V. A. Diversidade
socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
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(Fluxo contínuo)
No tocante ao consumo dos
bens e serviços culturais e artísticos de
acordo com os três perfis de renda
domiciliar, o Quadro 1 mostra que
apenas 7,25% do consumo em cultura
é usufruído pelo grupo de renda baixa,
a parcela mais pobre da população. Os
perfis dentro da classificação de renda
média, que representam 52,7% dos
indivíduos, são responsáveis por 36,5%
do consumo cultural. Por outro lado, o
grupo de renda alta, que tem a menor
porcentagem de indivíduos entre os
três grupos de renda, constitui 56,25%
do total do consumo de bens e serviços
culturais e artísticos. Tais resultados
deixam evidente a desigualdade de
acesso aos bens culturais no Brasil.
No que concerne as doze
tipologias de famílias, é possível notar
uma diferença no nível de consumo das
famílias chefiadas por homens brancos
e não brancos de renda média, em
relação ao consumo das famílias
chefiadas por mulheres brancas e não
brancas também de renda média, no
primeiro caso o consumo de bens
culturais corresponde a 64,42% do total
consumido pela classe média e no
segundo caso representa apenas
35,58%. Com relação a classe de renda
alta, apesar de tais famílias
representarem mais da metade do
consumo dos bens culturais e
artísticos, o cenário é bastante distinto
entre os quatro perfis que o compõe.
Nesse contexto, as famílias chefiadas
por homens brancos constituem
49,17% do total consumido de bens
culturais dentro do grupo de renda alta,
o consumo das famílias com principal
responsável homens não brancos e
mulheres brancas são semelhantes
nessa faixa de renda, equivalendo a
20,44% e 21,63%, respectivamente. O
perfil que mais se afasta do referido
patamar é o das famílias com principal
responsável mulher não branca de
renda alta, correspondendo apenas a
8,76% do total consumido dentro do
grupo.
Ainda que as porcentagens de
consumo dos bens culturais
mantenham uma linha similar de baixa
inserção na classe de renda baixa, a
menor participação dentro do grupo é
observada nos perfis de mulheres
brancas, com 11,51% do total
consumido pela faixa de renda baixa,
enquanto que a maior participação é
observada nos perfis de homens não
brancos, constituindo 40,85% do total
consumido pelo grupo. De acordo com
os resultados obtidos, o consumo dos
293
SANTOS, L. V. O.; BRITO, D. J. M.; SILVA, M. V. A. Diversidade
socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
uma análise de insumo-produto. PragMATIZES - Revista Latino-
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(Fluxo contínuo)
bens e serviços culturais e artísticos se
mostrou desigual ao considerar a sua
distribuição pelas doze tipologias de
famílias observadas neste estudo.
Acerca dos rendimentos do setor
cultural de acordo com os doze grupos
familiares, o Quadro 1 mostra os
valores de acordo com cada tipologia.
Em relação aos três grupos de renda,
os principais responsáveis pelo
domicílio que estão inseridos na renda
baixa, representam apenas 10,76% dos
rendimentos do setor cultural. Por outro
lado, o grupo familiar de renda média,
corresponde a 46,96% da renda do
segmento cultural e artístico; e as
famílias na classe de renda alta
equivalem aos 42,28% restantes do
rendimento cultural.
As famílias de principal
responsável homens brancos de renda
baixa auferem a menor porcentagem
do rendimento no setor cultural, com
0,75% do total. Dentro do grupo de
renda baixa, as famílias de principal
responsável homens o brancos têm
a maior participação no rendimento do
setor cultural, com 5,91% do total dos
rendimentos no setor. Na classe de
renda média, as famílias de principal
responsável homens brancos e não
brancos têm as maiores participações,
constituindo 13,08% e 14,86% do total
da renda do setor, respectivamente.
Por último, assim como acontece no
caso do consumo cultural, o perfil
familiar que possui a maior participação
nos rendimentos do segmento cultural
e artístico é o de principal responsável
homem branco de renda alta,
representando 17,68% do total.
Em relação ao perfil familiar com
menor participação nos rendimentos
culturais dentro do grupo de renda alta,
também de forma semelhante ao que
acontece no consumo, as famílias de
principal responsável mulheres não
brancas constituem a menor
participação, com apenas 5,9% do total
dos rendimentos do setor cultural e
artístico. Ao se entender quais os perfis
dos trabalhadores do segmento cultural
e artístico brasileiro, é possível
compreender melhor as estruturas do
setor da cultura e de seus
consumidores, pois o fato de que as
disparidades por tipologias de família
são semelhantes no nível de consumo
e de rendimentos do setor cultural,
ressalta tendências pontuadas por
autores que defendem o capital cultural
e o capital humano como fatores de
inclinação ao consumo cultural
(AMESTOY, 2009; PONTE;
294
SANTOS, L. V. O.; BRITO, D. J. M.; SILVA, M. V. A. Diversidade
socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
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(Fluxo contínuo)
MATTOSO, 2014; ALMEIDA; LIMA;
GATTO, 2020; PEREIRA, 2022).
Ao considerar os recursos
advindos da Lei de Incentivo à Cultura
que foram desbloqueados pelo setor
público como uma política de incentivo
ao consumo cultural, constituindo um
choque de cerca de um bilhão de reais
na demanda final do setor cultural, este
trabalho observa as repercussões
deste aumento em termos de produto,
trabalho e renda na economia como um
todo, de acordo com a matriz insumo-
produto. A Lei de Incentivo à Cultura de
nº 8.313, conhecida como Lei Rouanet,
foi sancionada no dia 23 de dezembro
de 1991 e instituiu o Programa Nacional
de Apoio à Cultura (Pronac), assim
como delimitou providências para
garantir o cumprimento do objetivo da
Lei de Incentivo à Cultura, que fora o de
fomentar os investimentos em Cultura
no Brasil de forma igualitária (Lei
8.313/1991). A Lei Rouanet consiste
em captar recursos para atividades
culturais através da dedução de parte
do imposto de renda, de maneira em
que recursos investidos no segmento
cultural por doação ou patrocínio de
empresas e pessoas físicas podem ser
deduzidos do valor total ou parcial do
imposto de renda (BRASIL, 1991;
BRASIL, 2023).
No tocante aos recursos obtidos
através da Lei de Incentivo à Cultura,
parte das arrecadações estavam
bloqueadas desde o início de 2022 por
questões referentes a decisões
políticas, por conseguinte, os recursos
não chegavam até os agentes culturais
para a realização efetiva dos projetos,
travando as operações. Contudo, no
início de 2023 o Ministério da Cultura
anunciou o desbloqueio de cerca de um
bilhão de reais em recursos travados e
a liberação desta verba para os
agentes de atividades culturais
(BRASIL, 1991; BRASIL, 2023). Dessa
maneira, o presente trabalho examina o
acréscimo desse valor de cerca de um
bilhão de reais no segmento cultural
como um choque na demanda final do
setor da cultura. A justificativa do
exame de tal choque está na relevância
desse valor, em termos de fomento ao
setor cultural e à economia como um
todo, além do fato de representar uma
política pública recente de incentivo ao
consumo cultural e cujo impacto ainda
não foi mensurado.
O Quadro 2 mostra o impacto do
choque positivo de um bilhão de reais
adicionados na demanda final do setor
295
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socioeconômica no consumo e rendimento do setor cultural no Brasil:
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(Fluxo contínuo)
cultural em termos de produção. O
setor cultural e artístico obteve um
aumento de 1,025 bilhão na sua
produção decorrente do incentivo fiscal
implementado, representando 64,37%
do aumento total na economia, que foi
de 1,593 bilhão. Após o segmento
cultural, o setor mais impactado com o
choque foi o de atividades imobiliárias,
constituindo 5,67% do aumento total na
produção da economia. Esta
interligação entre os setores é
esperada, devido a tendência do setor
cultural de realizar locações de
espaços para apresentações, ensaios,
shows, aulas de dança, entre outros.
Tal resultado também condiz com o
encontrado na literatura (SILVA;
BRITO, 2019; PEREIRA; SILVA;
BRITO, 2023).
Quadro 2 - Setores econômicos mais impactados pelo choque na demanda final em termos de
produção
Setores
Aumento da
produção
(R$ milhões)
Aumento da
produção (%)
Atividades artísticas, criativas e de espetáculos 1.025 64,37%
Atividades imobiliárias 90 5,67%
Outras atividades profissionais, científicas e técnicas 49 3,08%
Intermediação financeira, seguros e previdência complementar 44 2,74%
Energia elétrica, gás natural e outras utilidades 40 2,51%
Atividades jurídicas, contábeis, consultoria e sedes de empresas 38 2,39%
Outras atividades administrativas e serviços complementares 36 2,28%
Comércio por atacado e varejo 36 2,25%
Fonte: Elaboração própria.
O Quadro 3 mostra o impacto do aumento na demanda final do setor cultural
em termos de empregos gerados na economia7. O choque de um bilhão de reais na
demanda final do setor cultural tem o potencial de criar 33.076 novos postos de
trabalho em toda a economia, dos quais 29.191 vagas dentro do próprio segmento
cultural. Em segundo lugar, ficou o setor de outras atividades administrativas e
serviços complementares, com 719 postos de trabalho adicionais. Devido ao referido
segmento realizar trabalhos administrativos relacionados a diversas demandas
7 Na matriz de insumo produto, os postos de trabalho englobam empregos formais, informais e por
conta própria.
296
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(Fluxo contínuo)
culturais e, portanto, prestar muitos serviços para o setor, é justificável a alta geração
de empregos observada neste segmento e condiz com o encontrado na literatura
(SILVA; BRITO, 2019; PEREIRA; SILVA; BRITO, 2023).
Quadro 3 - Setores econômicos mais impactados pelo choque na demanda final em termos de
geração de empregos
Setores
Quantidade
de empregos
gerados
Quantidade de
empregos
gerados (%)
Atividades artísticas, criativas e de espetáculos 29.191 88,25%
Outras atividades administrativas e serviços complementares 719 2,17%
Comércio por atacado e varejo 616 1,86%
Atividades jurídicas, contábeis, consultoria e sedes de empresas 346 1,05%
Outras atividades profissionais, científicas e técnicas 261 0,79%
Transporte terrestre 210 0,64%
Atividades de vigilância, segurança e investigação 142 0,43%
Confecção de artefatos do vestuário e acessórios 130 0,39%
Fonte: Elaboração própria.
O Quadro 4 mostra o impacto do
choque de um bilhão de reais na
demanda final do setor cultural em
termos de rendimentos adicionados na
economia. O choque positivo na
demanda final do setor da cultura tem o
potencial de adicionar 0,324 bilhão no
segmento cultural, e 0,439 bilhão na
economia como um todo. O segundo
setor mais afetado pelo choque de um
bilhão na demanda final em termos de
rendimentos, é o de outras atividades
administrativas e serviços
complementares com 0,017 bilhão de
aumento, representando 3,96% do total
adicionado. O setor de outras
atividades administrativas e serviços
complementares esteve entre os
segmentos mais afetados em termos
de produção e emprego, por
conseguinte, o aumento relevante
observado em seus rendimentos condiz
com os demais resultados.
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(Fluxo contínuo)
Quadro 4 – Setores econômicos mais impactados pelo choque na demanda final em termos de
rendimentos
Setores
Aumento na
renda (R$
milhões)
Aumento na
renda (%)
Atividades artísticas, criativas e de espetáculos 324,95 74,02%
Outras atividades administrativas e serviços complementares 17,37 3,96%
Comércio por atacado e varejo 11,24 2,56%
Intermediação financeira, seguros e previdência complementar 10,87 2,48%
Atividades jurídicas, contábeis, consultoria e sedes de empresas 10,62 2,42%
Outras atividades profissionais, científicas e técnicas 5,83 1,33%
Administração pública, defesa e seguridade social 4,75 1,08%
Atividades de vigilância, segurança e investigação 4,64 1,06%
Fonte: Elaboração própria.
Os resultados que evidenciam a
relevância da demanda pelo setor
cultural e artístico nas distintas
tipologias de famílias são apresentados
no Quadro 5. A análise é feita através
da redução hipotética do consumo de
cada uma das doze tipologias de
famílias a zero, buscando medir através
do impacto na produção e no emprego
a importância de cada grupo para o
segmento cultural e para a economia
como um todo. Ao observar a redução
da produção do setor cultural de acordo
com os grupos de tipologias de
famílias, é possível notar que a maior
redução é causada pela ausência do
consumo das famílias de renda alta
com principal responsável homens
brancos, representando o recuo de
7,008 bilhões no setor da cultura.
Resultado análogo é constatado para
redução do produto total da economia
considerando o referido grupo familiar,
constituindo 10,887 bilhões a menos na
produção. A tipologia que representa o
menor impacto em termos de redução
da produção, tanto no setor da cultura
quanto na economia por completo, é o
das famílias de principal responsável
mulheres brancas de renda baixa, cujo
perfil reduz a produção do setor cultural
em apenas 212 milhões, e a produção
da economia em 329 milhões.
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(Fluxo contínuo)
Quadro 5 – Efeitos do multiplicador da queda no consumo familiar por tipologias de famílias e em
termos de produção e emprego
Grupos
familiares
Consumo
cultural
(R$
milhões)
Rendimento
cultural
(R$
milhões)
Variação
na
produção
do setor
cultural
(R$
milhões)
Variação
na
produção
da
economia
(R$
milhões)
Variação
no
emprego
do setor
cultural
Variação
no
emprego
da
economia
111 384 83 -394 -612 -11.213 -12.706
112 732 649 -751 -1.166 -21.376 -24.220
121 206 129 -212 -329 -6.025 -6.827
122 470 320 -482 -748 -13.712 -15.537
211 2.920 1.436 -2.994 -4.651 -85.253 -96.599
212 2.891 1.631 -2.963 -4.603 -84.378 -95.608
221 1.380 961 -1.414 -2.197 -40.270 -45.629
222 1.830 1.127 -1.876 -2.915 -53.421 -60.531
311 6.836 1.941 -7.008 -10.887 -199.542 -226.098
312 2.841 978 -2.912 -4.524 -82.927 -93.964
321 3.007 1.074 -3.083 -4.790 -87.788 -99.472
322 1.218 647 -1.248 -1.939 -35.548 -40.279
Fonte: Elaboração própria.
Nota: 111- famílias na categoria de baixa renda de principal responsável homem branco; 112- famílias
na categoria de baixa renda de principal responsável homem não branco; 121- famílias na categoria de
baixa renda de principal responsável mulher branca; 122- famílias na categoria de baixa renda de
principal responsável mulher não branca; 211- famílias na categoria de renda média de principal
responsável homem branco; 212- famílias na categoria de renda média de principal responsável
homem não branco; 221- famílias na categoria de renda média de principal responsável mulher branca;
222- famílias na categoria de renda média de principal responsável mulher não branca; 311- famílias
na categoria de renda alta de principal responsável homem branco; 312- famílias na categoria de renda
alta de principal responsável homem não branco; 321- famílias na categoria de renda alta de principal
responsável mulher branca; 322- famílias na categoria de renda alta de principal responsável mulher
não branca.
A redução do emprego no setor
da cultura e na economia, medida pela
redução hipotética do consumo de cada
uma das tipologias de famílias
examinadas, também é apresentada no
Quadro 5. É possível observar que,
assim como acontece com a produção,
o perfil que mais reduz o quantitativo de
empregos no segmento cultural e na
economia é o de agregados familiares
compostos por principais responsáveis
homens brancos de renda alta,
representando 199.542 e 226.098
empregos a menos, respectivamente,
no segmento cultural e na economia
por completo. De maneira similar, o
grupo familiar de principal responsável
mulheres brancas de baixa renda
reduz, em apenas, 6.025 empregos
culturais e artísticos, e em 6.827 os
empregos gerais da economia.
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(Fluxo contínuo)
Em suma, os resultados obtidos
são sugestivos da forte desigualdade
em termos de consumo dos bens e
serviços culturais e artísticos. O grupo
de renda alta possui domínio em
termos das porcentagens de consumo
e rendimentos do setor cultural, assim
como os agregados familiares de
principal responsável homens
apresentam uma vantagem em
comparação as de principal
responsável mulheres. Ademais,
principalmente no grupo de renda alta,
observa-se uma diferença considerável
entre os níveis de consumo e de
rendimentos entre agregados
familiares chefiados por indivíduos
brancos e não brancos. Desse modo, é
necessário que mais ações de incentivo
à cultura sejam implementadas, dando
ênfase a implementação de políticas
públicas que busquem dissipar as
disparidades referentes a gênero, cor
da pele e renda ainda presentes no
setor cultural e artístico brasileiro.
Conclusões
Este trabalho analisa o consumo
dos bens e serviços culturais e
artísticos no Brasil, especificamente
verificando o impacto do
descongelamento de um bilhão de
reais, em recursos adquiridos através
da Lei de Incentivo à Cultura, em
termos de produção, renda e emprego
para o setor cultural e para a economia
como um todo. O exame empírico é
conduzido através da metodologia da
matriz insumo-produto.
Os principais resultados da análise dos
consumidores de bens e serviços
culturais por diferentes grupos
familiares, demonstraram que apesar
do grupo de renda média representar
52,7% do total de indivíduos, seu
consumo cultural é de apenas 36,5%.
Por outro lado, o grupo de renda alta,
que representa apenas 18,7% do total
de indivíduos, configura 56,25% do
consumo dos bens e serviços culturais
e artísticos. Em relação às famílias na
classe de renda média, uma
diferença considerável entre o nível de
consumo das famílias de principal
responsável homens e mulheres, tanto
entre principais responsáveis brancos,
quanto entre não brancos.
Dentre todos os grupos
familiares observados, o que
apresentou menor participação nas
despesas com consumo cultural foi o
das famílias de principal responsável
mulheres brancas de renda baixa; e o
que demonstrou maior participação foi
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(Fluxo contínuo)
o de famílias de principal responsável
homens brancos de renda alta. Vale
ressaltar que dentre os quatro perfis
que integram o grupo de renda alta, o
que possui menor participação nas
despesas de consumo com bens
culturais é o das famílias de principal
responsável mulheres não brancas.
A respeito da análise do impacto
econômico de um choque positivo de
um bilhão de reais na demanda final do
setor da cultura brasileiro, foi
observado o aumento de 1,593 bilhão
em termos de produto na economia
como um todo, e de 1,025 bilhão no
setor cultural. O segundo segmento
mais afetado pelo choque em termos
de produção, foi o de atividades
imobiliárias com um aumento de 90
milhões. No que tange a criação de
postos de trabalhos, foram observados
29.191 novos empregos no setor da
cultura e 33.076 na economia como um
todo. O segmento de outras atividades
administrativas e serviços
complementares representou 2,17%
dos postos adicionais, configurando-se
como o setor mais afetado após o
segmento cultural. Em relação ao
aumento na renda decorrido do choque
na demanda final, foi constatado a
adição de 324 milhões no setor cultural,
e de 439 milhões na economia por
inteiro. Assim como no quantitativo de
empregos, o setor de outras atividades
administrativas e serviços
complementares foi o segundo mais
impactado pelo choque, com 17
milhões a mais em seus rendimentos,
constituindo 3,96% do aumento total
observado.
No que concerne a análise da
participação relativa de cada tipologia
observada em termos de produto e
empregos do setor cultural e de toda a
economia, através da extração
hipotética de cada tipologia de família
na demanda final, observou-se um
elevado grau de relevância do consumo
das famílias de renda alta com principal
responsável homens brancos, tanto no
que tange o nível de produção quanto à
quantidade de empregos. Tais
resultados demonstram que , de fato,
desigualdades no consumo cultural a
serem superadas. Portanto, a
implementação de políticas públicas de
incentivo ao consumo de bens e
serviços culturais por determinadas
tipologias familiares, que apresentaram
menor participação no consumo e nos
rendimentos do setor cultural e
artístico, representa uma alternativa
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