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TURINO, Célio; LIMA, Deborah Rebello; RODRIGUES, Luiz Augusto F.
Cultura Viva e o transbordamento de fronteira – entrevista com Célio
Turino. PragMATIZES - Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura Viva: do Programa à Lei – questões estruturantes no
Brasil e demais políticas de Cultura Viva Comunitária")
José, na Costa Rica. A proposta foi do Manuel Beregond, que era ministro da cultura
da Costa Rica e músico, ele que propôs dar o nome de IberCultura Viva. Inicialmente,
o único voto contrário a esse nome, por incrível que pareça, foi do Brasil, mas aí ficou
meio constrangedor e teve outros ministros falando que eles estavam dando esse
nome em homenagem à experiência brasileira, e assim se definiu o nome IberCultura
Viva para o programa. Mas pra chegar nesse momento, em paralelo ao Congresso da
SEGIB, houve o encontro com mais de 500 pessoas de toda América Latina, de pontos
de cultura que já começavam a pipocar pelo continente, ao final perto de 1000
pessoas, porque vieram muitos de coletivos da Costa Rica. Assim, nós fizemos a
mobilização. Naquele estágio, em 2013, eu já tinha percorrido toda a América Latina
e todos esses lugares. Já tinha estado com o ministro da Cultura na Costa Rica,
criando relações próximas, de respeito e amizade, bem como com outros. Também
no México, El Salvador, da Colômbia. A Colômbia sempre foi um pouco particular,
pelas condições do país, a Cultura Viva é muito abraçada por lá, mas não pelo governo
central, que, até Petro, eram de direita. Foi muito particular, trilhamos pelas cidades,
Bogotá, em Cali, Medellín. As prefeituras são muito fortes, inclusive no governo do
Gustavo Petro, quando ele introduziu o programa Cultura Viva na Prefeitura de
Bogotá, onde ele foi prefeito. Era pelas prefeituras, não pelo governo central. Quando
chegou no congresso da SEGIB lá de Cultura na Costa Rica, estava um processo já
construído. Notem que sempre foi uma construção comunitária, em todos os lugares,
com agentes locais.
Dou exemplo: na Bolívia. Eu fui na Bolívia, a primeira vez em 2012, perdi a conta de
quantas vezes estive lá. Fui a convite do Ivan Nogales, uma pessoa muito importante
para a cultura viva, querido amigo. Ele que organizou o primeiro Congresso Latino-
americano da Cultura Viva em La Paz com 1300 pessoas, de 17 países. Fiquei
hospedado na casa dele, que é também um centro cultural maravilhoso em El Alto,
são cinco andares, que tem espaço de teatro, um monte de coisas, todo construído
com sucata e materiais de demolição…. Ivan é um criador, era, porque já faleceu. E
mais, era assim, um agente comunitário de teatro muito bom, talentoso, pensador,
agitador, escritor, tudo. Mas que não era considerado no país, ao menos pelos
agentes de Estado. Quando eu vou pra lá, já haviam passados dois anos da minha
saída do governo, mas mesmo assim eu fui tratado como um “pop rock”, a embaixada