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ROLLEMBERG, Márcia; LIMA, Deborah Rebello; RODRIGUES, Luiz
Augusto F. Política Nacional de Cultura Viva: possibilidades e futuros –
entrevista com Márcia Rollemberg. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 14, n. 26, p. 78-104,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura Viva: do Programa à Lei – questões estruturantes no
Brasil e demais políticas de Cultura Viva Comunitária")
capacidade de produzir e circular a informação pela editora e criar uma política de
distribuição. E ao mesmo tempo, sentíamos falta de abordar aquilo tudo, toda aquela
informação para os usuários de uma maneira mais interessante, mais instigante. E aí
começou todo um trabalho aqui no Rio com relação à descentralização da saúde, à
municipalização dos hospitais e nesses hospitais estava o Hospital Nise da Silveira, o
Instituto Nise da Silveira, na época o Centro Psiquiátrico Pedro II, estava a Colônia
Juliano Moreira e estava ausente o Pinel, e à época - eu gosto sempre de procurar
trabalho, eu acho - e aí eu falei “gente, cadê a cláusula documental?” Porque o
documento não se municipaliza, era um fundo federal. No máximo você transfere a
guarda e em função disso, eu vim para o Rio de Janeiro, então fazer inventário desses
acervos, e fui me envolvendo com todo esse universo.
E por coincidência, eu quando fiz Serviço Social, o meu primeiro trabalho de fim de
curso foi sobre a Nise da Silveira, eu vim no Rio, tentei entrevistá-la, ainda assisti
reunião do grupo de estudos. E ali eu já me encantava com a psicologia, com a arte,
com essa questão de juntar essas coisas e o Serviço Social dá essa possibilidade de
você estudar em vários cursos. Então foi muito interessante. Com esse trabalho
despertou um pouco a ideia de montar o Centro Cultural da Saúde, porque eu vi ali o
acervo do Bispo [do Rosário]5, o acervo da Nise, que era um acervo precioso, maior
acervo de psiquiatria do mundo, mais de 300.000 imagens. E eu comecei, pelo
Ministério, a apoiar esses acervos. O Ministério, pela primeira vez, começou a
trabalhar preservando acervos. Inclusive o acervo da primeira faculdade de Medicina,
na Bahia, onde a Nise estudou, onde o Juliano Moreira estudou, então, tudo meio se
conectava, eu falava que era o circuito das capitais Salvador, Rio de Janeiro e Brasília
me conectava, falava desse circuito das capitais.
E aí comecei a fazer esse trabalho e isso gerou o Centro Cultural da Saúde, que era
um lugar que surgiu para ser o Centro Bispo do Rosário, no início, o centro de
referência da saúde mental. Mas eu já trabalhava com a biblioteca virtual, já fazia
áreas temáticas. A gente estava fazendo a área de saúde mental, estava fazendo a
5NE: Arthur Bispo do Rosário (1911 – 1989) foi um artista plástico brasileiro que, por sofrer de
esquizofrenia, residiu em diversas instituições psiquiátricas por quase 50 anos.