como tendo um lugar e uma função de
recurso natural global, e, ao mesmo
tempo, produzindo também suas
segregações internas, nas “franjas” das
principais capitais.
Percebemos, no entanto, que
esta região, apesar da enorme
degradação sofrida pelo Paraíba do
Sul, ainda guarda resquícios de uma
experiência sensorial intensa e
aprazível, bem como a possibilidade de
um aprendizado com essa brutal
perturbação da ordem do projeto de
mundo humano civilizador, como
mestre soberano e absoluto da
natureza. Neste sentido, buscamos
pensar a noção de “erosão” como uma
metáfora existencial, um campo de
experimentação estética e um modo de
crítica cultural em tempos de colapso
ambiental.
No campo do patrimônio,
podemos pensar o conceito de
destruição enquanto potência positiva,
que também acarreta novas agências e
possibilidades de recriação e
adaptação às mudanças no território,
junto com ele. Talvez esse gesto possa
funcionar como estratégia para não
saímos do campo de disputa que é o do
patrimônio, uma vez que esta não pode
se resumir, no Brasil, a reproduzir as
estruturas herdadas da matriz
eurocentrada, herdeira de uma lógica
colonial, que buscava justamente
dizimar os modos de vida locais,
desqualificando-os. Pesquisar sobre o
tema do patrimônio em Atafona faz com
que identifiquemos que muitas vezes, o
elo ou o laço que mantem tensionada
alguma (ainda que frágil) noção de
comunidade pode passar pelas
dinâmicas e agenciamentos
comunitários, antes de os respectivos
materiais ou espaços definidos,
defendidos e protegidos como
“comuns”.
Pressupõe-se uma necessária
associação entre memória e seus
suportes materiais, os quais
deveriam ser preservados para que
aquela se conservasse. Alguns
autores têm recentemente
problematizado essa relação,
mostrando que não
necessariamente a preservação,
mas muitas vezes a destruição de
objetos e espaços materiais pode
ser o elemento gerador de
identidades e memórias
(Gonçalves, 2015, p. 223).
A tensão entre manutenção e
destruição no campo do patrimônio se
dá atualmente em um terreno aberto e
em efetiva disputa. Nos apropriarmos e,
de alguma forma, positivarmos
“desobediências epistêmicas”, os
termos de Mignolo, como estratégias