ISSN 2237
-
1508
Niterói / RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
ARTIGOS EM
FLUXO CONTÍNUO
Hibridación, intermedialidad y
performance en el cortometraje
latinoamericano moderno
Hybridization, intermediality and
performance in the modern Latin American short film
JAVIER COSSALTER
Uma viagem aos meandros do inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do
Hotel Amazonas na revista “O Cruzeiro” 1950-1951
A travel to the meanderings of green hell: discursive plans of Hotel
Amazonas advertising campaign in the magazine “O Cruzeiro” 1950-1951
CATARINA VITORINO
Economia e cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Economy and culture: a study applied in Goiás
ALINE TEREZA BORGHI LEITE
JULIANO DE CASTRO SILVESTRE
Sistema Nacional de Cultura: um estado da arte da produção
acadêmica com foco nos estudos de caso de municípios
National System of Culture: a state of art in academic production with focus
on municipalities study of cases
CLARISSA ALEXANDRA GUAJARDO SEMENSATO
ALEXANDRE DE ALMEIDA BARBALHO
Publicações sobre políticas culturais na Universidade Federal da
Bahia: explorações bibliométricas
Cultural policies publications at Federal University of Bahia: a bibliometric
exploration
RENATA ROCHA, LEONARDO COSTA, NAYANNA MATTOS,
GUSTAVO BRANDÃO
ENSAIO
Afeto e método em Havana
"Filin" and method in Havana
MARCELO NEDER CERQUEIRA
DOSSIÊ / DOSSIER
CULTURA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE
editores: ELIANE COSTA e SERGIO BRANCO
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
Makerspaces as a generators of a culture guided by antidisciplinarity,
toleranceforfailure, and diversity
GABRIELA DA COSTA AGUIAR AGUSTINI
JORGE ROBERTO LOPES DOS SANTOS
Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em tempos
de pandemia
Art & Culture Networks in Public Universities in Times of Pandemic
MICHELE DACAS
Da representação da favela à autorrepresentação: as narrativas
de si nos perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva
Favela 2.0
From the representation of slums to the self-representation: the self-
narratives in the profiles of multimedia correspondents from the Viva
Favela 2.0 website
DANIELLA GUEDES ROCHA
MAYRA COELHO JUCÁ DOS SANTOS
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e pessoa com deficiência
Cultural citizenship, assistive technology and people with disabilities
PATRICIA SILVA DORNELES
CLAUDIA REINOSO ARAUJO DE CARVALHO
EDUARDO CARDOSO
JEFFERSON FERNANDES ALVES
MIRYAM BONADIU PELOSI
Videogames e cultura colaborativa: A audiência como produtora
de conteúdo em Beyond Good and Evil 2
Videogames and collaborative culture: The audience as content
producer in Beyond Good and Evil 2
CAIO TÚLIO OLÍMPIO PEREIRA DA COSTA
BRUNA MARIA DE MENESES
EDUARDO DUARTE GOMES DA SILVA
Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions
Consumo de música no Brasil: uma análise de reproduções de
streaming
GABRIEL BORGES VAZ DE MELO
ANA FLAVIA MACHADO
LUCAS RESENDE DE CARVALHO
O Social Credit System na Era dos Dados
The Social Credit System in the Data Age
FERNANDA PAES LEME PEYNEAU RITO
PEDRO TEIXEIRA GUEIROS
O conceito de privacidade diferencial em relação à
reidentificação de dados pessoais
The concept of differential privacy in relation to the reidentification of
personal data
AGENOR ALEXSANDER C. COSTA
MAURÍCIO C. SAVINO FILÓ
Minority Report e o governo da distopia algorítmica
Minority Report and the rule of the algorithmic dystopia
MARCELO CIZAURRE GUIRAU
ANA ELISA SOBRAL CAETANO DA SILVA FERREIRA
Inteligência artificial e direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
Artificial intelligence and copyright law: challenges and possibilities in
the Brazilian and international legal scenario
RAQUEL VON HOHENDORFF
FERNANDA BORGHETTI CANTALI
FERNANDA FELITTI DA SILVA D'ÁVILA
P r a g M AT I Z E S
Revista
Latino
EDITORES EXECUTIVOS
de Arte, Brasil
Flávia Lages, Universidade
Federal Fluminense, Departamento de Arte, Brasil
Brasil
CONSELHO EDITORIAL
Adair Rocha, Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil
Adriana Facina, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Ahtziri Molina Roldán, Universidad Veracruizana, México
Alberto Fesser, Socio Director de La Fabrica em Ingenieria Cultural / Director
de La Fundación Contemporánea, Espanha
Alexandre Barbalho, Universidade Estadual do Ceará, Brasil
Allan Rocha de Souza, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil
Ana Enne, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Angel Mestres Vila, Universitat de Barcelona, Espanha
Antônio Albino Can
ela Rubin, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Sul, Brasil
Eduardo Paiva, Universidade Estadual de Campinas,
Brasil
Edwin Juno-
Delgado, Université de Bourgogne / ESC Dijon, campus de
Paris, França
Janeiro, Brasil
Fernando Arias, Observato
rio de Industrias Creativas de la Ciudad de
Buenos Aires, Argentina
Flávia Lages, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Guilherme
Werlang, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Hugo Achugar, Universidad de la Republica, Uruguai
Idemburgo Pereira Frazão, Unigranrio, Brasil
Isabel Babo, Universidade Lusófona do Porto, Portugal
J
osé Luís Mariscal Orozco, Universidad de Guadalajara, México
Brasil
Julio Seoane Pinilla, Universidad de Alcalá, Espanha
Lia Calabre, Fundação Casa de Rui Barbosa, Brasil
Lilian Fessler
Vaz, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Lívia Reis, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Janeiro, Brasil
Luiz
Augusto Fernandes Rodrigues, Universidade Federal Fluminense,
Brasil
REALIZAÇÃO:
PARCEIROS e INDEXADORES:
P r a g M AT I Z E S
Latino
-
Americana de Estudos em Cultura
Ano 10 nº 19 - setembro/2020
Luiz Augusto F. Rodrigues, Universidade Federal Fluminense
, Departamento
Federal Fluminense, Departamento de Arte, Brasil
João Domingues, Universidade Federal Fluminense, Departamento de Arte,
Adair Rocha, Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Pontifícia
Adriana Facina, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Ahtziri Molina Roldán, Universidad Veracruizana, México
Alberto Fesser, Socio Director de La Fabrica em Ingenieria Cultural / Director
Alexandre Barbalho, Universidade Estadual do Ceará, Brasil
Allan Rocha de Souza, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil
ela Rubin, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Carlos Henrique Marcondes, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Christina Vital, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Cristina Amélia Pereira de Carvalho, Universidade Federal do Rio Grande do
Daniel Mato, Universidade Nacional Tres de Febrero, Argentina
Danielle Brasiliense, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Durval Muniz de Albuquerque Jr., Universidade Estadual da Paraíba, Brasil
Brasil
Delgado, Université de Bourgogne / ESC Dijon, campus de
Eloisa Porto C. Allevato Braem, Universidade do Estado do Rio de
Fábio Fonseca de Castro, Universidade Federal do Pará, Brasil
rio de Industrias Creativas de la Ciudad de
George Yúdice, Universidae de Miami, Estados Unidos da América
Gizlene Neder, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Werlang, Universidade Federal Fluminense, Brasil
João Domingues, Universidade Federal Fluminense, Brasil
osé Luís Mariscal Orozco, Universidad de Guadalajara, México
José Márcio Barros, Universidade Estadual de Minas Gerais / PUC Minas,
Vaz, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Lívia de Tommasi, Universidade Federal do ABC, Brasil
Luís Edmundo de Souza Moraes, Universidade Federal Rural do Rio de
Augusto Fernandes Rodrigues, Universidade Federal Fluminense,
Luiz Guilherme Vergara, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Manoel Marcondes Machado Neto, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Brasil
Marcela A. País Andrade, Universidad de Bue
Márcia Ferran, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Maria Adelaida Jaramillo Gonzalez, Universidad de Antioquia, Colômbia
Maria Manoel Baptista, Universidade de Aveiro, Portugal
Marialva Barbosa, Universidade Federal do Rio de
Marildo Nercolini, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Marina Bay Frydberg, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Mário Pragmácio Telles,
Faculdades Integradas Hélio Alonso
Marisa Schincariol de Mello, Universidade Cândido Men
Marta Elena Bravo, Universidad Nacional de Colombia
Colombia
Martín A. Becerra, Universidad Nacional de Quilmes, Argentina
Mónica Bernabé, Universidad Nacional de Rosario, Argentina
Muniz Sodré, Universidade Federal do Rio de J
Orlando Alves dos Santos Jr., Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Brasil
Pâmella Passos, Instituto Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Patricio Rivas, Universidad de Chile, Chile
Paulo Carrano, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Paulo
César Silva de Oliveira, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Brasil
Paulo Miguez, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Renata Rocha, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Ricardo Gomes Lima, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Rossi Al
ves Gonçalves, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Simonne Teixeira, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro, Brasil
Stefano Cristante, Università del Salento, Italia
Tamara Quírico, Universid
ade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Teresa Muñoz Gutiérrez, Universidad de La Habana, Cuba
Tunico Amâncio, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Valmor Rhoden, Universidade Federal do Pampa, Brasil
Vladimir Sibylla Pires, Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro, Brasil
Victor Migu
el Vich Flórez, Pontifícia Universidad Católica del Perú, Peru
Zandra Pedraza Gomez, Universidad de Los Andes, Colômbia
CONSELHO EDITORIAL ASSOCIADO JUNIOR:
Deborah Rebello Lima, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Priscilla Oliveira Xavier,
doutora em Planejamento Urbano e Regional pelo
IPPUR-UFRJ, Brasil
CONSELHO DE ÉTICA
Luiz Augusto F. Rodrigues, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Marina Bay Frydberg, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Rossi Alves Gonçalves, Universidade Federal
EQUIPE DE SUPORTE:
Ubirajara Leal, suporte técnico -
IACS/UFF
Dulce Maria Terra Guimarães, Revisão
-
P r a g M AT I Z E S
Americana de Estudos em Cultura
Luiz Guilherme Vergara, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Manoel Marcondes Machado Neto, Universidade do Estado do Rio de
Marcela A. País Andrade, Universidad de Bue
nos Aires, Argentina
Márcia Ferran, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Maria Adelaida Jaramillo Gonzalez, Universidad de Antioquia, Colômbia
Maria Manoel Baptista, Universidade de Aveiro, Portugal
Marialva Barbosa, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Brasil
Marildo Nercolini, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Marina Bay Frydberg, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Faculdades Integradas Hélio Alonso
, Brasil
Marisa Schincariol de Mello, Universidade Cândido Men
des, Brasil
Marta Elena Bravo, Universidad Nacional de Colombia
– sede Medellín,
Martín A. Becerra, Universidad Nacional de Quilmes, Argentina
Mónica Bernabé, Universidad Nacional de Rosario, Argentina
Muniz Sodré, Universidade Federal do Rio de J
aneiro, Brasil
Orlando Alves dos Santos Jr., Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Pâmella Passos, Instituto Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Patricio Rivas, Universidad de Chile, Chile
Paulo Carrano, Universidade Federal Fluminense, Brasil
César Silva de Oliveira, Universidade do Estado do Rio de
Paulo Miguez, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Renata Rocha, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Ricardo Gomes Lima, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
ves Gonçalves, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Simonne Teixeira, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Stefano Cristante, Università del Salento, Italia
ade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Teresa Muñoz Gutiérrez, Universidad de La Habana, Cuba
Tunico Amâncio, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Valmor Rhoden, Universidade Federal do Pampa, Brasil
Vladimir Sibylla Pires, Universidade Federal do Estado do Rio de
el Vich Flórez, Pontifícia Universidad Católica del Perú, Peru
Zandra Pedraza Gomez, Universidad de Los Andes, Colômbia
CONSELHO EDITORIAL ASSOCIADO JUNIOR:
Deborah Rebello Lima, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
doutora em Planejamento Urbano e Regional pelo
Luiz Augusto F. Rodrigues, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Marina Bay Frydberg, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Rossi Alves Gonçalves, Universidade Federal
Fluminense, Brasil
IACS/UFF
-
IACS/UFF
PragMATIZES participa do
compromisso de
São Francisco
(Pacto de DORA)
PragMATIZES – Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura.
Ano X nº 19, (SET/2020). – Niterói, RJ: [s. N.], 2020. (Universidade
Federal Fluminense / Laboratório de Ações Culturais - LABAC e
Programa de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades -
PPCULT)
Semestral
ISSN 2237-1508 (versão on line)
1. Estudos culturais. 2. Planejamento e gestão cultural.
3. Teorias da Arte e da Cultura. 4. Linguagens e
expressões artísticas. I. Título.
CDD 306
Universidade Federal Fluminense - UFF
Instituto de Artes e Comunicação Social - IACS | Laboratório de Ações Culturais - LABAC
Programa de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades - PPCULT
Rua Lara Vilela, 126 - São Domingos - Niterói / RJ - Brasil - CEP: 24210-590
+55 21 2629-9755 / 2629-9756 | pragmatizes@gmail.com
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Sumário / Summary
p. 10 - 23
COLABORADORES DA EDIÇÃO /
p. 24 - 29
EDIT
ORIAL / EDITORIAL
DOSSIÊ / DOSSIER
CULTURA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE
editores: Eliane Costa e Sergio Branco
p. 30 - 50
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela antidisciplinaridade,
tolerância ao erro
e diversidade cognitiva
Makerspaces as a generators of a culture guided by antidisciplinarity, toleranceforfailure, and
diversity
GABRIELA DA COSTA AGUIAR AGUSTINI
JORGE ROBERTO LOPES DOS SANTOS
p. 51- 68
Redes de Arte e Cultura nas universidades pública
Art & Culture Networks in Public Universities in Times of Pandemic
MICHELE DACAS
p. 69- 90
Da representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos perfis dos
correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
From the representation of slums to the self
of multimedia correspondents from the Viva Favela 2.0 website
DANIELLA GUEDES ROCHA
MAYRA COELHO JUCÁ DOS SANTOS
p. 91- 117
Cidadania cultural, tecnologia
Cultural citizenship, assistive technology and people with disabilities
PATRICIA SILVA DORNELES
CLAUDIA REINOSO ARAUJO DE CARVALHO
EDUARDO CARDOSO
JEFFERSON FERNANDES ALVES
MIRYAM BONADIU PELOSI
p. 118- 140
Videogames e
cultura colaborativa: A audiência como produtora de conteúdo em
Beyond Good and Evil 2
Videogames and collaborative culture: The audience as content producer in Beyond Good
and Evil 2
CAIO TÚLIO OLÍMPIO PEREIRA DA COSTA
BRUNA MARIA DE MENESES
EDUARDO
DUARTE GOMES DA SILVA
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Sumário / Summary
COLABORADORES DA EDIÇÃO /
ISSUE'S CONTRIBUTORS
ORIAL / EDITORIAL
CULTURA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE
editores: Eliane Costa e Sergio Branco
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela antidisciplinaridade,
e diversidade cognitiva
Makerspaces as a generators of a culture guided by antidisciplinarity, toleranceforfailure, and
GABRIELA DA COSTA AGUIAR AGUSTINI
JORGE ROBERTO LOPES DOS SANTOS
Redes de Arte e Cultura nas universidades pública
s em tempos de pandemia
Art & Culture Networks in Public Universities in Times of Pandemic
Da representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos perfis dos
correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
From the representation of slums to the self
-representation: the self-
narratives in the profiles
of multimedia correspondents from the Viva Favela 2.0 website
MAYRA COELHO JUCÁ DOS SANTOS
Cidadania cultural, tecnologia
assistiva e pessoa com deficiência
Cultural citizenship, assistive technology and people with disabilities
CLAUDIA REINOSO ARAUJO DE CARVALHO
JEFFERSON FERNANDES ALVES
cultura colaborativa: A audiência como produtora de conteúdo em
Videogames and collaborative culture: The audience as content producer in Beyond Good
CAIO TÚLIO OLÍMPIO PEREIRA DA COSTA
DUARTE GOMES DA SILVA
7
ISSUE'S CONTRIBUTORS
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela antidisciplinaridade,
Makerspaces as a generators of a culture guided by antidisciplinarity, toleranceforfailure, and
s em tempos de pandemia
Da representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos perfis dos
narratives in the profiles
cultura colaborativa: A audiência como produtora de conteúdo em
Videogames and collaborative culture: The audience as content producer in Beyond Good
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
p. 141- 169
Music consumption in Brazil: an analysis of streaming reproductions
Consumo de música no Brasil: uma análise de reproduções de streaming
GABRIEL BORGES VAZ DE MELO
ANA FLAVIA MACHADO
LUCAS RESENDE DE CARVALHO
p. 170 - 213
O Social Credit System
na Era dos D
The Social Credit System in the Data Age
FERNANDA
PAES LEME PEYNEAU
PEDRO TEIXEIRA GUEIROS
p. 214- 231
O conceito de privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais
The concept of
differential privacy in relation to the reidentification of personal data
AGENOR ALEXSANDER C. COSTA
MAURÍCIO C. SAVINO FILÓ
p. 232 - 248
Minority Report
e o governo da distopia algorítmica
Minority Report
and the rule of the algorithmic dystopia
MARCELO
CIZAURRE GUIRAU
ANA ELISA SOBRAL CAETANO DA SILVA FERREIRA
p. 249 - 273
Inteligência artificial e direitos autorais:
brasileiro e internacional
Artificial intelligence and copyright law: challenges and
international legal scenario
RAQUEL VON HOHENDORFF
FERNANDA BORGHETTI CANTALI
FERNANDA FELITTI DA SILVA D'ÁVILA
ARTIGOS / ARTICLES
p. 274 - 297
Hibridación, intermedialidad y performance en el cortometraje latinoamericano
moderno
Hybridization, intermediality and performance in the modern Latin American short film
JAVIER COSSALTER
p. 298 - 323
Uma viagem aos meandros do
publicitária do Hotel Amazonas na revista “O Cruzeiro” 1950
A travel to the meanderings of
campaign in the magazine “O Cruzeiro” 1950
CATARINA VITORINO
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Music consumption in Brazil: an analysis of streaming reproductions
Consumo de música no Brasil: uma análise de reproduções de streaming
GABRIEL BORGES VAZ DE MELO
LUCAS RESENDE DE CARVALHO
na Era dos D
ados
The Social Credit System in the Data Age
PAES LEME PEYNEAU
RITO
O conceito de privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais
differential privacy in relation to the reidentification of personal data
AGENOR ALEXSANDER C. COSTA
e o governo da distopia algorítmica
and the rule of the algorithmic dystopia
CIZAURRE GUIRAU
ANA ELISA SOBRAL CAETANO DA SILVA FERREIRA
Inteligência artificial e direitos autorais:
desafios e possibilidades no cenário jurídico
Artificial intelligence and copyright law: challenges and
possibilities in the Brazilian and
FERNANDA BORGHETTI CANTALI
FERNANDA FELITTI DA SILVA D'ÁVILA
Hibridación, intermedialidad y performance en el cortometraje latinoamericano
Hybridization, intermediality and performance in the modern Latin American short film
Uma viagem aos meandros do
inferno verde: planos
discursivos da campanha
publicitária do Hotel Amazonas na revista “O Cruzeiro” 1950
-1951
A travel to the meanderings of
green hell
: discursive plans of Hotel Amazonas advertising
campaign in the magazine “O Cruzeiro” 1950
-1951
8
Music consumption in Brazil: an analysis of streaming reproductions
O conceito de privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais
differential privacy in relation to the reidentification of personal data
desafios e possibilidades no cenário jurídico
possibilities in the Brazilian and
Hibridación, intermedialidad y performance en el cortometraje latinoamericano
Hybridization, intermediality and performance in the modern Latin American short film
discursivos da campanha
: discursive plans of Hotel Amazonas advertising
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
p. 324 - 349
Economia e cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Economy a
nd culture: a study applied in G
ALINE TEREZA BORGHI LEITE
JULIANO DE CASTRO SILVESTRE
p. 350 - 379
Sistema Nacional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica com foco nos
estudos de caso de municípios
National System of Culture: a state of art in academic production with focus on municipalities
study of cases
CLARISSA ALEXANDRA GUAJARDO SEMENS
ALEXANDRE DE ALMEIDA BARBALHO
p. 380 - 406
Publicações sobre políticas culturais na Universidade Federal da Bahia:
explorações bibliométricas
Cultural policies publications at Federal University of Bahia: a bibliometric exploration
RENATA ROCHA
LEONARDO COSTA
NAYANNA MATTOS
GUSTAVO BRANDÃO
p. 407 - 453
ENSAIO / ESSAY
Afeto e método em Havana
"Filin" and method in Havana
MARCELO NEDER CERQUEIRA
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Economia e cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
nd culture: a study applied in G
oiás
ALINE TEREZA BORGHI LEITE
JULIANO DE CASTRO SILVESTRE
Sistema Nacional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica com foco nos
estudos de caso de municípios
National System of Culture: a state of art in academic production with focus on municipalities
CLARISSA ALEXANDRA GUAJARDO SEMENS
ATO
ALEXANDRE DE ALMEIDA BARBALHO
Publicações sobre políticas culturais na Universidade Federal da Bahia:
explorações bibliométricas
Cultural policies publications at Federal University of Bahia: a bibliometric exploration
Afeto e método em Havana
MARCELO NEDER CERQUEIRA
9
Economia e cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Sistema Nacional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica com foco nos
National System of Culture: a state of art in academic production with focus on municipalities
Publicações sobre políticas culturais na Universidade Federal da Bahia:
Cultural policies publications at Federal University of Bahia: a bibliometric exploration
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Colaboradores da edição
Issue's contributors
Agenor Alexsander C. Costa
de Dados pela UNA/EBRADI, Pós
ESA-OAB/FUMEC.
Advogado, pesquisador em Direito e Tecnologia do ITS Rio, presidente
da Comissão de Tecnologia e Se
em Informática pela UNA/FIT
alexsander.carvalho@itsrio.org
Alexandre Almeida Barbalho
do Ceará (UECE), bacharelado em Ciências Sociais e mestrado em Sociologia pela
Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutorado em Comunicação e Cultura
Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Estágio
Comunicação na Universidade Nova de Lisboa. É professor adjunto do curso de História e
professor permanente dos PPGs em Sociologia e em Políticas Públicas da UECE e em
Comunicação da UFC e colaborador do PPG em Cultura e Territorialidades
Federal Fluminense. Tem experiências nas áreas de Política, Cultura e Comunicação,
atuando principalmente nos seguintes temas: política cultural, política de comunicação,
mídia e cidadania, mídia e minorias, mídia e política, elites. É auto
Relações entre Estado e cultura no Brasil (1998); Cultura e imprensa alternativa (2000); A
modernização da cultura (2005); A criação está no ar: Juventudes, política, cultura e mídia
(2013 -
edição em espanhol: La creación está en el a
comunicación (2014.); Democracia radical e pluralismo cultural. Para ler Chantal Mouffe
(2015); Política cultural e desentendimento (2016); Cultura e democracia (2017); e Sistema
Nacional de Cultura. Campo, saber e pode
Identidades, cultura e mídia (2008) e co
cultura das minorias (com Raquel Paiva, 2005 edição em espanhol: Comunicación y cultura
de las minorías, 2012 ); Políticas Cult
Comunicação e cidadania: Questões contemporâneas (com Bruno Fuser e Denise Cogo,
2011); Cultura e desenvolvimento: Perspectivas políticas e econômicas (com Lia Calabre,
Paulo Miguez e Renata Rocha, 2011); Federalis
Calabre e José Márcio Barros , 2013); Infância, juventude e mídia. Olhares luso
(com Lídia Maropo, 2015) e Políticas culturais no governo Dilma (com Albino Rubim e Lia
Calabre, 2015). E-
mail.:alexandr
4612-6162
Aline Tereza Borghi Leite:
Doutora em Sociologia pela Universidade Federal de São
Carlos (2015). Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás (2007). Graduada
em Ciências Sociais pela UFG e também em Relações Internacionais pela PUC Goiás.
Atualmente, é Coordenadora do cu
permanente do Mestrado em Desenvolvimento e Planejamento Territorial da PUC Goiás. Foi
membro do Programa de Direitos Humanos (PDH), ligado à Coordenação de Extensão da
PUC Goiás. Entre 2017 e 2018, at
Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Goiás. Atua como pesquisadora
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Agenor Alexsander C. Costa
: Pós-
graduando em Advocacia no Direito Digital e Proteção
de Dados pela UNA/EBRADI, Pós
-
graduado em Direito e Processo do Trabalho pela Escola
Advogado, pesquisador em Direito e Tecnologia do ITS Rio, presidente
da Comissão de Tecnologia e Se
gurança da Informação da OAB-
MG, 2ª Subseção. Técnico
em Informática pela UNA/FIT
- Faculdade Infórium de Tecnologia
. Advogado. E
alexsander.carvalho@itsrio.org
- https://orcid.org/0000-0003-1440-0016
Alexandre Almeida Barbalho
: Possui licenciatura
em História pela Universidade Estadual
do Ceará (UECE), bacharelado em Ciências Sociais e mestrado em Sociologia pela
Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutorado em Comunicação e Cultura
Contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Estágio
s
Comunicação na Universidade Nova de Lisboa. É professor adjunto do curso de História e
professor permanente dos PPGs em Sociologia e em Políticas Públicas da UECE e em
Comunicação da UFC e colaborador do PPG em Cultura e Territorialidades
Federal Fluminense. Tem experiências nas áreas de Política, Cultura e Comunicação,
atuando principalmente nos seguintes temas: política cultural, política de comunicação,
mídia e cidadania, mídia e minorias, mídia e política, elites. É auto
r, entre outros, de:
Relações entre Estado e cultura no Brasil (1998); Cultura e imprensa alternativa (2000); A
modernização da cultura (2005); A criação está no ar: Juventudes, política, cultura e mídia
edição em espanhol: La creación está en el a
ire: juventudes, política, cultura y
comunicación (2014.); Democracia radical e pluralismo cultural. Para ler Chantal Mouffe
(2015); Política cultural e desentendimento (2016); Cultura e democracia (2017); e Sistema
Nacional de Cultura. Campo, saber e pode
r (2019). É organizador de Brasil, brasis:
Identidades, cultura e mídia (2008) e co
-
organizador, entre outros, de: Comunicação e
cultura das minorias (com Raquel Paiva, 2005 edição em espanhol: Comunicación y cultura
de las minorías, 2012 ); Políticas Cult
urais no Brasil (com Albino Rubim, 2007);
Comunicação e cidadania: Questões contemporâneas (com Bruno Fuser e Denise Cogo,
2011); Cultura e desenvolvimento: Perspectivas políticas e econômicas (com Lia Calabre,
Paulo Miguez e Renata Rocha, 2011); Federalis
mo e políticas culturais no Brasil (com Lia
Calabre e José Márcio Barros , 2013); Infância, juventude e mídia. Olhares luso
(com Lídia Maropo, 2015) e Políticas culturais no governo Dilma (com Albino Rubim e Lia
mail.:alexandr
ealmeidabarbalho@gmail.com -
https://orcid.org/0000
Doutora em Sociologia pela Universidade Federal de São
Carlos (2015). Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás (2007). Graduada
em Ciências Sociais pela UFG e também em Relações Internacionais pela PUC Goiás.
Atualmente, é Coordenadora do cu
rso de Relações Internacionais da PUC Goiás. É docente
permanente do Mestrado em Desenvolvimento e Planejamento Territorial da PUC Goiás. Foi
membro do Programa de Direitos Humanos (PDH), ligado à Coordenação de Extensão da
PUC Goiás. Entre 2017 e 2018, at
uou como Professora Colaboradora do Programa de Pós
Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Goiás. Atua como pesquisadora
10
graduando em Advocacia no Direito Digital e Proteção
graduado em Direito e Processo do Trabalho pela Escola
Advogado, pesquisador em Direito e Tecnologia do ITS Rio, presidente
MG, 2ª Subseção. Técnico
. Advogado. E
-mail:
em História pela Universidade Estadual
do Ceará (UECE), bacharelado em Ciências Sociais e mestrado em Sociologia pela
Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutorado em Comunicação e Cultura
s
-doutoral em
Comunicação na Universidade Nova de Lisboa. É professor adjunto do curso de História e
professor permanente dos PPGs em Sociologia e em Políticas Públicas da UECE e em
Comunicação da UFC e colaborador do PPG em Cultura e Territorialidades
da Universidade
Federal Fluminense. Tem experiências nas áreas de Política, Cultura e Comunicação,
atuando principalmente nos seguintes temas: política cultural, política de comunicação,
r, entre outros, de:
Relações entre Estado e cultura no Brasil (1998); Cultura e imprensa alternativa (2000); A
modernização da cultura (2005); A criação está no ar: Juventudes, política, cultura e mídia
ire: juventudes, política, cultura y
comunicación (2014.); Democracia radical e pluralismo cultural. Para ler Chantal Mouffe
(2015); Política cultural e desentendimento (2016); Cultura e democracia (2017); e Sistema
r (2019). É organizador de Brasil, brasis:
organizador, entre outros, de: Comunicação e
cultura das minorias (com Raquel Paiva, 2005 edição em espanhol: Comunicación y cultura
urais no Brasil (com Albino Rubim, 2007);
Comunicação e cidadania: Questões contemporâneas (com Bruno Fuser e Denise Cogo,
2011); Cultura e desenvolvimento: Perspectivas políticas e econômicas (com Lia Calabre,
mo e políticas culturais no Brasil (com Lia
Calabre e José Márcio Barros , 2013); Infância, juventude e mídia. Olhares luso
-brasileiros
(com Lídia Maropo, 2015) e Políticas culturais no governo Dilma (com Albino Rubim e Lia
https://orcid.org/0000
-0003-
Doutora em Sociologia pela Universidade Federal de São
Carlos (2015). Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Goiás (2007). Graduada
em Ciências Sociais pela UFG e também em Relações Internacionais pela PUC Goiás.
rso de Relações Internacionais da PUC Goiás. É docente
permanente do Mestrado em Desenvolvimento e Planejamento Territorial da PUC Goiás. Foi
membro do Programa de Direitos Humanos (PDH), ligado à Coordenação de Extensão da
uou como Professora Colaboradora do Programa de Pós
-
Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Goiás. Atua como pesquisadora
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
do grupo de pesquisa de Sociologia das Profissões da UFSCar. É pesquisadora líder do
grupo de pesquisa de Desenvolvim
Núcleo de Pesquisa e Estudos em Relações Internacionais (NUPERI) da PUC Goiás,
coordenando o projeto Desenvolvimento, Direitos Humanos e Relações Internacionais:
análise de regimes internacionais, politic
reformas e reformulações do papel do Estado. Tem experiência como pesquisadora nos
seguintes temas: Relações Internacionais, Desenvolvimento Regional, Desenvolvimento
Humano, Políticas Públicas para o Dese
Pública Contemporânea, Economia Política Internacional, Sociologia do Trabalho e
Sociologia das Profissões. E-
mail: alineborghi1@gmail.com
5702-747X
Ana Elisa Sobral Caetano da
de Berkeley, Califórnia com a supervisão de Richard Kern. Cursando Doutorado em
Linguística na Universidade Federal de São Carlos. Mestre em Educação
em Letras e Especialista em
Psicopedagogia pela Universidade Católica de Santos (2006 e
2010). Trabalha desde 2003 com ensino de língua inglesa, para crianças, jovens e adultos.
Em 2007, implementou e coordenou o centro de avaliação internacional TOEFL IBT na
unidade do CNA em Santo
s. Trabalhou a bordo, em 2008, como Crew Crew Lecturer, na
empresa Costa Cruceire, onde ministrava aulas de português e inglês para estrangeiros,
principalmente para tripulantes asiáticos. Em 2009 iniciou a carreira de professora de Ensino
Médio, lecionand
o língua inglesa, redação e literatura brasileira. Tem experiência na área de
Letras, com ênfase em Línguas Estrangeiras Modernas. Atualmente trabalha como
professora efetiva no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia São Paulo (IFSP),
no campu
s Cubatão, onde ministra aulas para Ensino Médio Integrado de Informática e no
curso de Licenciatura em Letras. No mestrado em Educação (UFSCAR), pesquisou o uso
das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação com ênfase em Redes Sociais e
Educação.
Entre janeiro e março de 2016 participou da primeira turma de capacitação
SETEC/NOVA na San Francisco Community College (CAPES como agência de fomento),
onde foram estudadas metodologias de ensino de inglês como língua estrangeira. Atua nos
grupos de pesqu
isa: Discursos na Rede (UFSCAR) e Grupo de Pesquisa em Educação,
Linguagens, Tecnologia e Inovação (IFSP).
https://orcid.org/0000-0003-
4633
Ana Flavia Machado:
Graduada em Ciências Econômicas pela Univers
Minas Gerais/UFMG (1985), mestrado em Economia pela UFMG (1993) e doutorado em
Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2000). Atualmente é professora
associada IV da Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência na ár
Economia, com ênfase em Economia da Cultura, atuando principalmente nos seguintes
temas: economia criativa, consumo cultural, mercado de trabalho de artistas e economia de
museus. Entre 2010 e 2014, ocupou o cargo de Editora do periódico Nova Economi
Departamento de Ciências Econômicas da UFMG. No período de agosto de 2015 a março
de 2017, ocupou o cargo de Diretora Científico
Atualmente, ocupa o cargo de Diretora de Cooperação Institucional da UFMG. Pesqui
no CNPq em produtividade desde 2004 e membro eleita do Comitê Executivo da Association
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
do grupo de pesquisa de Sociologia das Profissões da UFSCar. É pesquisadora líder do
grupo de pesquisa de Desenvolvim
ento, Direitos Humanos e Relações Internacionais do
Núcleo de Pesquisa e Estudos em Relações Internacionais (NUPERI) da PUC Goiás,
coordenando o projeto Desenvolvimento, Direitos Humanos e Relações Internacionais:
análise de regimes internacionais, politic
as públicas e produção de discursos no contexto de
reformas e reformulações do papel do Estado. Tem experiência como pesquisadora nos
seguintes temas: Relações Internacionais, Desenvolvimento Regional, Desenvolvimento
Humano, Políticas Públicas para o Dese
nvolvimento, Organizações Internacionais, Gestão
Pública Contemporânea, Economia Política Internacional, Sociologia do Trabalho e
mail: alineborghi1@gmail.com
-
https://orcid.org/0000
Ana Elisa Sobral Caetano da
Silva Ferreira: Visitor Scholar (2018-
2019) na Universidade
de Berkeley, Califórnia com a supervisão de Richard Kern. Cursando Doutorado em
Linguística na Universidade Federal de São Carlos. Mestre em Educação
Psicopedagogia pela Universidade Católica de Santos (2006 e
2010). Trabalha desde 2003 com ensino de língua inglesa, para crianças, jovens e adultos.
Em 2007, implementou e coordenou o centro de avaliação internacional TOEFL IBT na
s. Trabalhou a bordo, em 2008, como Crew Crew Lecturer, na
empresa Costa Cruceire, onde ministrava aulas de português e inglês para estrangeiros,
principalmente para tripulantes asiáticos. Em 2009 iniciou a carreira de professora de Ensino
o língua inglesa, redação e literatura brasileira. Tem experiência na área de
Letras, com ênfase em Línguas Estrangeiras Modernas. Atualmente trabalha como
professora efetiva no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia São Paulo (IFSP),
s Cubatão, onde ministra aulas para Ensino Médio Integrado de Informática e no
curso de Licenciatura em Letras. No mestrado em Educação (UFSCAR), pesquisou o uso
das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação com ênfase em Redes Sociais e
Entre janeiro e março de 2016 participou da primeira turma de capacitação
SETEC/NOVA na San Francisco Community College (CAPES como agência de fomento),
onde foram estudadas metodologias de ensino de inglês como língua estrangeira. Atua nos
isa: Discursos na Rede (UFSCAR) e Grupo de Pesquisa em Educação,
Linguagens, Tecnologia e Inovação (IFSP).
E-
mail: anaelisaferreira@ifsp.edu.br
4633
-632X
Graduada em Ciências Econômicas pela Univers
idade Federal de
Minas Gerais/UFMG (1985), mestrado em Economia pela UFMG (1993) e doutorado em
Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2000). Atualmente é professora
associada IV da Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência na ár
Economia, com ênfase em Economia da Cultura, atuando principalmente nos seguintes
temas: economia criativa, consumo cultural, mercado de trabalho de artistas e economia de
museus. Entre 2010 e 2014, ocupou o cargo de Editora do periódico Nova Economi
Departamento de Ciências Econômicas da UFMG. No período de agosto de 2015 a março
de 2017, ocupou o cargo de Diretora Científico
-
Cultural do Espaço do Conhecimento UFMG.
Atualmente, ocupa o cargo de Diretora de Cooperação Institucional da UFMG. Pesqui
no CNPq em produtividade desde 2004 e membro eleita do Comitê Executivo da Association
11
do grupo de pesquisa de Sociologia das Profissões da UFSCar. É pesquisadora líder do
ento, Direitos Humanos e Relações Internacionais do
Núcleo de Pesquisa e Estudos em Relações Internacionais (NUPERI) da PUC Goiás,
coordenando o projeto Desenvolvimento, Direitos Humanos e Relações Internacionais:
as públicas e produção de discursos no contexto de
reformas e reformulações do papel do Estado. Tem experiência como pesquisadora nos
seguintes temas: Relações Internacionais, Desenvolvimento Regional, Desenvolvimento
nvolvimento, Organizações Internacionais, Gestão
Pública Contemporânea, Economia Política Internacional, Sociologia do Trabalho e
https://orcid.org/0000
-0002-
2019) na Universidade
de Berkeley, Califórnia com a supervisão de Richard Kern. Cursando Doutorado em
Linguística na Universidade Federal de São Carlos. Mestre em Educação
- Ufscar. Formada
Psicopedagogia pela Universidade Católica de Santos (2006 e
2010). Trabalha desde 2003 com ensino de língua inglesa, para crianças, jovens e adultos.
Em 2007, implementou e coordenou o centro de avaliação internacional TOEFL IBT na
s. Trabalhou a bordo, em 2008, como Crew Crew Lecturer, na
empresa Costa Cruceire, onde ministrava aulas de português e inglês para estrangeiros,
principalmente para tripulantes asiáticos. Em 2009 iniciou a carreira de professora de Ensino
o língua inglesa, redação e literatura brasileira. Tem experiência na área de
Letras, com ênfase em Línguas Estrangeiras Modernas. Atualmente trabalha como
professora efetiva no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia São Paulo (IFSP),
s Cubatão, onde ministra aulas para Ensino Médio Integrado de Informática e no
curso de Licenciatura em Letras. No mestrado em Educação (UFSCAR), pesquisou o uso
das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação com ênfase em Redes Sociais e
Entre janeiro e março de 2016 participou da primeira turma de capacitação
SETEC/NOVA na San Francisco Community College (CAPES como agência de fomento),
onde foram estudadas metodologias de ensino de inglês como língua estrangeira. Atua nos
isa: Discursos na Rede (UFSCAR) e Grupo de Pesquisa em Educação,
mail: anaelisaferreira@ifsp.edu.br
- ORCID:
idade Federal de
Minas Gerais/UFMG (1985), mestrado em Economia pela UFMG (1993) e doutorado em
Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2000). Atualmente é professora
associada IV da Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência na ár
ea de
Economia, com ênfase em Economia da Cultura, atuando principalmente nos seguintes
temas: economia criativa, consumo cultural, mercado de trabalho de artistas e economia de
museus. Entre 2010 e 2014, ocupou o cargo de Editora do periódico Nova Economi
a do
Departamento de Ciências Econômicas da UFMG. No período de agosto de 2015 a março
Cultural do Espaço do Conhecimento UFMG.
Atualmente, ocupa o cargo de Diretora de Cooperação Institucional da UFMG. Pesqui
sadora
no CNPq em produtividade desde 2004 e membro eleita do Comitê Executivo da Association
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
for Cultural Economics International (ACEI) a partir de 2019.
afmachad@codeplar.ufmg.br
Bruna Maria de Meneses:
Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE). E-
mail: 221bbruna@gmail.com
4652
Bruno Alves Catão Silva:
Possui graduação em Marketing pela Escola de Artes, Ciências e
Humanidades da Universidade d
de Administração, com ênfase em Mercadologia, atuando principalmente nos seguintes
temas: gênero, estereótipo, histórias em quadrinhos, mídia de massa e tirinhas. E
bruno.catao@gmail.com
Caio
Túlio Olímpio Pereira da Costa
Federal de Pernambuco. Especialista em Comunicação Organizacional pela Universidade
Estácio de Sá (2018). Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo
pela Faculdade
Sete de Setembro (2016). Realizou intercâmbio facilitado pelo English
Language Center da Brigham Young University, no estado de Utah, EUA (2013
curso de English Language and Linguistics. É integrante do Gamux
Desenvolviment
o de Jogos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); do Grupo
de Pesquisa Narrativas Contemporâneas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE);
membro da ASPAS -
Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial e da SBC
Sociedade Brasileira de Comp
Comunicação Digital, Videogames, Imagem e Imaginário, Narrativas, Linguagem, Educação,
Cinema, Ficção Seriada e Cultura Pop.
https://orcid.org/0000-0002-
7201
Catarina Vitorino:
Arquiteta pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa
(2004) e Doutora em Arquitetura pela Universidade de Tóquio (2015), com especialização
em Arquitetura Bioclimática pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa
(200
9). Sua tese de doutorado
Ecosystem Services in Architectural Projects
desempenho de projeto de arquitetura e as funções ecológicas locais, seguindo uma
abordagem multicritério com foco em edifícios contemporâneos. Com artigos publicados em
periódicos internacionais revisados
livro "Patterns and Layering. Japanese Spatial Culture, Nature and Archit
trabalho acadêmico foi distinguido com um prêmio de melhor artigo e duas bolsas
internacionais, incluindo MEXT (2010
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (2019),
Universidade de Lisboa, no Instituto Superior Técnico (2016) e no Departamento de
Arquitetura da Universidade de Tóquio (2012). Catarina trabalhou na Universidade Nova de
Lisboa como pesquisadora no GEOTPU
Território e Urbanismo (2006
-
(2009-
2010). Participou de painéis de revisão acadêmica e desenvolveu e ministrou
atividades de capacitação profissional no tema de arquitetura sustentável e projeto de
constr
ução bioclimática na Arqcoop (2017
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
for Cultural Economics International (ACEI) a partir de 2019.
E-mail:
afmachad@codeplar.ufmg.br
- https://orcid.org/0000-0001-8573-7906
Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de
mail: 221bbruna@gmail.com
-
https://orcid.org/0000
Possui graduação em Marketing pela Escola de Artes, Ciências e
Humanidades da Universidade d
e São Paulo / EACH-
USP (2016). Tem experiência na área
de Administração, com ênfase em Mercadologia, atuando principalmente nos seguintes
temas: gênero, estereótipo, histórias em quadrinhos, mídia de massa e tirinhas. E
Túlio Olímpio Pereira da Costa
:
Mestrando em Comunicação pela Universidade
Federal de Pernambuco. Especialista em Comunicação Organizacional pela Universidade
Estácio de Sá (2018). Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo
Sete de Setembro (2016). Realizou intercâmbio facilitado pelo English
Language Center da Brigham Young University, no estado de Utah, EUA (2013
curso de English Language and Linguistics. É integrante do Gamux
-
Grupo de Pesquisa e
o de Jogos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); do Grupo
de Pesquisa Narrativas Contemporâneas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE);
Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial e da SBC
Sociedade Brasileira de Comp
utação. Possui interesse nas áreas de Cibercultura,
Comunicação Digital, Videogames, Imagem e Imaginário, Narrativas, Linguagem, Educação,
Cinema, Ficção Seriada e Cultura Pop.
E-
mail: caiotuliocosta3@gmail.com
7201
-7157
Arquiteta pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa
(2004) e Doutora em Arquitetura pela Universidade de Tóquio (2015), com especialização
em Arquitetura Bioclimática pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa
9). Sua tese de doutorado
-
Interpretation Patterns on the Design Integration of Local
Ecosystem Services in Architectural Projects
-
aborda as relações estabelecidas entre o
desempenho de projeto de arquitetura e as funções ecológicas locais, seguindo uma
abordagem multicritério com foco em edifícios contemporâneos. Com artigos publicados em
periódicos internacionais revisados
por pares e em conferências, é autora de um capítulo no
livro "Patterns and Layering. Japanese Spatial Culture, Nature and Archit
ecture". Seu
trabalho acadêmico foi distinguido com um prêmio de melhor artigo e duas bolsas
internacionais, incluindo MEXT (2010
-
2014). Foi convidada para palestrar em seminários na
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (2019),
Universidade de Lisboa, no Instituto Superior Técnico (2016) e no Departamento de
Arquitetura da Universidade de Tóquio (2012). Catarina trabalhou na Universidade Nova de
Lisboa como pesquisadora no GEOTPU
-
Grupo de Investigação em Ordenamento do
-
2010) e como tutora no Departamento de Engenharia Civil
2010). Participou de painéis de revisão acadêmica e desenvolveu e ministrou
atividades de capacitação profissional no tema de arquitetura sustentável e projeto de
ução bioclimática na Arqcoop (2017
-
2018) e na S + A Saraiva + Associados (2018).
12
Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de
https://orcid.org/0000
-0001-9395-
Possui graduação em Marketing pela Escola de Artes, Ciências e
USP (2016). Tem experiência na área
de Administração, com ênfase em Mercadologia, atuando principalmente nos seguintes
temas: gênero, estereótipo, histórias em quadrinhos, mídia de massa e tirinhas. E
-mail:
Mestrando em Comunicação pela Universidade
Federal de Pernambuco. Especialista em Comunicação Organizacional pela Universidade
Estácio de Sá (2018). Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo
Sete de Setembro (2016). Realizou intercâmbio facilitado pelo English
Language Center da Brigham Young University, no estado de Utah, EUA (2013
-2014), no
Grupo de Pesquisa e
o de Jogos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); do Grupo
de Pesquisa Narrativas Contemporâneas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE);
Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial e da SBC
-
utação. Possui interesse nas áreas de Cibercultura,
Comunicação Digital, Videogames, Imagem e Imaginário, Narrativas, Linguagem, Educação,
mail: caiotuliocosta3@gmail.com
-
Arquiteta pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa
(2004) e Doutora em Arquitetura pela Universidade de Tóquio (2015), com especialização
em Arquitetura Bioclimática pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa
Interpretation Patterns on the Design Integration of Local
aborda as relações estabelecidas entre o
desempenho de projeto de arquitetura e as funções ecológicas locais, seguindo uma
abordagem multicritério com foco em edifícios contemporâneos. Com artigos publicados em
por pares e em conferências, é autora de um capítulo no
ecture". Seu
trabalho acadêmico foi distinguido com um prêmio de melhor artigo e duas bolsas
2014). Foi convidada para palestrar em seminários na
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (2019),
na
Universidade de Lisboa, no Instituto Superior Técnico (2016) e no Departamento de
Arquitetura da Universidade de Tóquio (2012). Catarina trabalhou na Universidade Nova de
Grupo de Investigação em Ordenamento do
2010) e como tutora no Departamento de Engenharia Civil
2010). Participou de painéis de revisão acadêmica e desenvolveu e ministrou
atividades de capacitação profissional no tema de arquitetura sustentável e projeto de
2018) e na S + A Saraiva + Associados (2018).
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Trabalhou com a KKAA Kengo Kuma & Associates (2010) e com a Nikken Sekkei (2014
2015) no Japão, e como consultora de sustentabilidade para a S + A Green Lab (2017
2018), em Po
rtugal. Participou em projetos financiados internacionalmente enquanto
pesquisadora e bolsista de doutorado, e contribuiu para a organização de conferências e
exposições, entre as quais a 15ª Conferência Internacional da Associação Européia de
Estudos Japo
neses (2017) e a Exposição do Catálogo de Terras de 2050 do 24º Congresso
Mundial de Arquitetura da UIA (2011). Trabalha principalmente na área de Ciências Sociais
e Humanidades, com ênfase em Arquitetura e Urbanismo. Seus interesses de pesquisa
estão loca
lizados na intersecção entre história e teoria arquitetônica, estudos urbanos e
sustentabilidade ambiental, enfocando principalmente os seguintes tópicos: trajetórias de
arquitetura ecológica, discurso arquitetônico, arquitetura contemporânea, metodologias
avaliação de sustentabilidade e processos urbanos participativos.
Clarissa Alexandra Guajardo Semensato
Universidade Estadual do Ceará (UECE), Mestre em Políticas Sociais pela Universidade
Estadual do Norte Flum
inense Darcy Ribeiro (UENF). Possui graduação em Ciências
Sociais pela UENF e Licenciatura em Geografia pelo Instituto Federal Fluminense (IFF).
Cursa Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atua em
pesquisas nos seguintes temas:
Gestão Pública, Federalismo, Estado e instrumentos de participação social, como
Conselhos e Conferências. É membro da Cátedra Unesco de Políticas Culturais e Gestão.
Foi professora do curso de Prod
Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB). Trabalhou na Coordenação de Políticas Culturais
da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, com a implantação do Sistema
Estadual de Cultura. E-
mail: claris
4278-0757
Claudia Reinoso Araujo de Carvalho
do Departamento de Terapia Ocupacional e Vice
em Acessibilidade
Cultural da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de
Janeiro-
UFRJ. Doutora e mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública
Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ). Realizou pós
Programa de Pós-Grad
uação em Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar). Especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (ENSP/FIOCRUZ).
Especialista em Acessibilidade Cultural (UFRJ). Especialista em Saúde do Idoso e
Gerontologia (UNIBF). Líder do
e sociedade. Desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão tendo como ênfase a
Terapia Ocupacional, o processo de envelhecimento humano e suas interfaces com a
Cultura e Ciências Sociais. Adic
referentes à formação profissional, metodologia de ensino e pesquisa e extensão
universitária. E-
mail: claudiareinoso@ufrj.br
Claudia Rosa Acevedo:
Graduada em Ec
doutorado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas
Cursou um ano do doutorado com bolsa Sanduíche CAPES na Georgia State University
(1996-
1997) e foi Associate Professor na Quinni
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Trabalhou com a KKAA Kengo Kuma & Associates (2010) e com a Nikken Sekkei (2014
2015) no Japão, e como consultora de sustentabilidade para a S + A Green Lab (2017
rtugal. Participou em projetos financiados internacionalmente enquanto
pesquisadora e bolsista de doutorado, e contribuiu para a organização de conferências e
exposições, entre as quais a 15ª Conferência Internacional da Associação Européia de
neses (2017) e a Exposição do Catálogo de Terras de 2050 do 24º Congresso
Mundial de Arquitetura da UIA (2011). Trabalha principalmente na área de Ciências Sociais
e Humanidades, com ênfase em Arquitetura e Urbanismo. Seus interesses de pesquisa
lizados na intersecção entre história e teoria arquitetônica, estudos urbanos e
sustentabilidade ambiental, enfocando principalmente os seguintes tópicos: trajetórias de
arquitetura ecológica, discurso arquitetônico, arquitetura contemporânea, metodologias
avaliação de sustentabilidade e processos urbanos participativos.
Clarissa Alexandra Guajardo Semensato
:
Doutoranda em Políticas Públicas, pela
Universidade Estadual do Ceará (UECE), Mestre em Políticas Sociais pela Universidade
inense Darcy Ribeiro (UENF). Possui graduação em Ciências
Sociais pela UENF e Licenciatura em Geografia pelo Instituto Federal Fluminense (IFF).
Cursa Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atua em
pesquisas nos seguintes temas:
Política Cultural, Economia Criativa, Patrimônio Cultural,
Gestão Pública, Federalismo, Estado e instrumentos de participação social, como
Conselhos e Conferências. É membro da Cátedra Unesco de Políticas Culturais e Gestão.
Foi professora do curso de Prod
ução Cultural (UFF e CBM) e pesquisadora bolsista da
Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB). Trabalhou na Coordenação de Políticas Culturais
da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, com a implantação do Sistema
mail: claris
saalexandra@gmail.com -
https://orcid.org/0000
Claudia Reinoso Araujo de Carvalho
:
Terapeuta Ocupacional. Professora Adjunta, Chefe
do Departamento de Terapia Ocupacional e Vice
-
coordenadora do Curso de Especialização
Cultural da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de
UFRJ. Doutora e mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública
Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ). Realizou pós
uação em Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar). Especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (ENSP/FIOCRUZ).
Especialista em Acessibilidade Cultural (UFRJ). Especialista em Saúde do Idoso e
Gerontologia (UNIBF). Líder do
grupo de pesquisa Envelhecimento humano: saúde, cultura
e sociedade. Desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão tendo como ênfase a
Terapia Ocupacional, o processo de envelhecimento humano e suas interfaces com a
Cultura e Ciências Sociais. Adic
ionalmente mantém interesse de pesquisa em temáticas
referentes à formação profissional, metodologia de ensino e pesquisa e extensão
mail: claudiareinoso@ufrj.br
- https://orcid.org/0000-0003-
4105
Graduada em Ec
onomia pela Universidade de São Paulo (1989) e
doutorado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas
Cursou um ano do doutorado com bolsa Sanduíche CAPES na Georgia State University
1997) e foi Associate Professor na Quinni
piac University no Departamento de
13
Trabalhou com a KKAA Kengo Kuma & Associates (2010) e com a Nikken Sekkei (2014
-
2015) no Japão, e como consultora de sustentabilidade para a S + A Green Lab (2017
-
rtugal. Participou em projetos financiados internacionalmente enquanto
pesquisadora e bolsista de doutorado, e contribuiu para a organização de conferências e
exposições, entre as quais a 15ª Conferência Internacional da Associação Européia de
neses (2017) e a Exposição do Catálogo de Terras de 2050 do 24º Congresso
Mundial de Arquitetura da UIA (2011). Trabalha principalmente na área de Ciências Sociais
e Humanidades, com ênfase em Arquitetura e Urbanismo. Seus interesses de pesquisa
lizados na intersecção entre história e teoria arquitetônica, estudos urbanos e
sustentabilidade ambiental, enfocando principalmente os seguintes tópicos: trajetórias de
arquitetura ecológica, discurso arquitetônico, arquitetura contemporânea, metodologias
de
Doutoranda em Políticas Públicas, pela
Universidade Estadual do Ceará (UECE), Mestre em Políticas Sociais pela Universidade
inense Darcy Ribeiro (UENF). Possui graduação em Ciências
Sociais pela UENF e Licenciatura em Geografia pelo Instituto Federal Fluminense (IFF).
Cursa Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atua em
Política Cultural, Economia Criativa, Patrimônio Cultural,
Gestão Pública, Federalismo, Estado e instrumentos de participação social, como
Conselhos e Conferências. É membro da Cátedra Unesco de Políticas Culturais e Gestão.
ução Cultural (UFF e CBM) e pesquisadora bolsista da
Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB). Trabalhou na Coordenação de Políticas Culturais
da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, com a implantação do Sistema
https://orcid.org/0000
-0003-
Terapeuta Ocupacional. Professora Adjunta, Chefe
coordenadora do Curso de Especialização
Cultural da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de
UFRJ. Doutora e mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública
Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ). Realizou pós
-doutorado no
uação em Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar). Especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (ENSP/FIOCRUZ).
Especialista em Acessibilidade Cultural (UFRJ). Especialista em Saúde do Idoso e
grupo de pesquisa Envelhecimento humano: saúde, cultura
e sociedade. Desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão tendo como ênfase a
Terapia Ocupacional, o processo de envelhecimento humano e suas interfaces com a
ionalmente mantém interesse de pesquisa em temáticas
referentes à formação profissional, metodologia de ensino e pesquisa e extensão
4105
-9191
onomia pela Universidade de São Paulo (1989) e
doutorado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas
- SP (1998).
Cursou um ano do doutorado com bolsa Sanduíche CAPES na Georgia State University
piac University no Departamento de
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Marketing de 2001 a 2002. Atualmente é professora (regime RDIDP
curso de Marketing da EACH
-
sociedade. Seus projetos investigam se as trocas com
seguras, equitativas (não discriminatórias) e se contribuem para melhorar o bem estar da
sociedade. Alguns dos temas estudados são: (1) práticas de marketing discriminatórias com
consumidores ditos vulneráveis, como por exemplo
de gênero na mídia; (2) consumo de produtos prejudiciais a saúde, como cigarros, drogas
ou alimentos que levam à obesidade; (3) marketing social; (4) práticas de marketing em
relação às crianças e (5) aculturamento
graduação recebeu bolsa de IC FAPESP (1988
CNPQ (2009 a 2012 e 2012 a 2013) de editais universais. Teve 16 orientações de mestrado
concluídas e 6 de Iniciação científica (
trabalhos de conclusão de curso de graduação orientados. Participou de 25 bancas de
defesa de mestrado e 4 bancas de defesa de doutorado (3 na defesa final e uma na
qualificação). Participou de 98 congressos no
melhor pôster apresentado no I Latin American Conference of the Association for Consumer
Research em 2006, melhor artigo indicado ao prêmio Raimar Richers (ANPAD) em 2008 e
Prêmio Excelência em varejo do PROVAR e
julgadora em concurso público de professor para programa de mestrado da Universidade
Metodista de Piracicaba em 2007. Foi editora da revista Remark de 2011 a 2012. É revisora
de várias revistas e congressos nacionais
Public Policy Conference. É membro editorial do EMAC Chronicle e da Revista de
Administração da Unimep. Tem relações internacionais com a Quinnipiac University, com a
Georgia State University, Xavier University,
Universidade da Madeira e Universidade da Beira Interior. E
acevedocampanario@usp.br
Daniella Guedes Rocha:
Doutora em História, Política e Bens Culturais no Centro de
Pesquisa e Documentação de História Con
Getúlio Vargas e Mestra em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais (2010) pela Escola
Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE), com graduação em Comunicação Social,
habilitação em Jornalismo, pela Universid
guedes.dani@gmail.com -
https://orcid.org/0000
Eduardo Cardoso:
Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (2003), Especialista em Tecnologia Computacional
UFRGS (2007), Mestre e Doutor em Design
Tradução Audiovisual Acessível
Acessibilidade na Comunicação nos contextos de: educação inclusiva; me
acessível; e divulgação institucional acessível. É Professor Colaborador do Programa de
Pós-
Graduação em Design e Professor Adjunto do Departamento de Design e Expressão
Gráfica nos Cursos de Graduação em Design Visual e Design de Produto d
Federal do Rio Grande do Sul
Comunicação Acessível e o Núcleo Interdisciplinar Pró
Extensão da UFRGS. E-
mail: eduardo.cardoso@ufrgs.br
1779
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Marketing de 2001 a 2002. Atualmente é professora (regime RDIDP
-
tempo integral) no
-
USP. Suas pesquisas relacionam-
se a área de Marketing e
sociedade. Seus projetos investigam se as trocas com
os consumidores são: justas,
seguras, equitativas (não discriminatórias) e se contribuem para melhorar o bem estar da
sociedade. Alguns dos temas estudados são: (1) práticas de marketing discriminatórias com
consumidores ditos vulneráveis, como por exemplo
, as representações de minorias raciais e
de gênero na mídia; (2) consumo de produtos prejudiciais a saúde, como cigarros, drogas
ou alimentos que levam à obesidade; (3) marketing social; (4) práticas de marketing em
relação às crianças e (5) aculturamento
de imigrantes por meio do consume. Durante a
graduação recebeu bolsa de IC FAPESP (1988
-
1989). Foi agraciada com dois projetos
CNPQ (2009 a 2012 e 2012 a 2013) de editais universais. Teve 16 orientações de mestrado
concluídas e 6 de Iniciação científica (
com 2 bolsas PIBIC, 2 FAPIC e 2 USP). Teve 76
trabalhos de conclusão de curso de graduação orientados. Participou de 25 bancas de
defesa de mestrado e 4 bancas de defesa de doutorado (3 na defesa final e uma na
qualificação). Participou de 98 congressos no
Brasil e no exterior. Recebeu premiação de
melhor pôster apresentado no I Latin American Conference of the Association for Consumer
Research em 2006, melhor artigo indicado ao prêmio Raimar Richers (ANPAD) em 2008 e
Prêmio Excelência em varejo do PROVAR e
m 2012. Participou de banca de comissão
julgadora em concurso público de professor para programa de mestrado da Universidade
Metodista de Piracicaba em 2007. Foi editora da revista Remark de 2011 a 2012. É revisora
de várias revistas e congressos nacionais
e internacionais, como o AMA Marketing and
Public Policy Conference. É membro editorial do EMAC Chronicle e da Revista de
Administração da Unimep. Tem relações internacionais com a Quinnipiac University, com a
Georgia State University, Xavier University,
com a Université du Droit et de la Santé,
Universidade da Madeira e Universidade da Beira Interior. E
-mail:
Doutora em História, Política e Bens Culturais no Centro de
Pesquisa e Documentação de História Con
temporânea do Brasil (CPDOC) pela Fundação
Getúlio Vargas e Mestra em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais (2010) pela Escola
Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE), com graduação em Comunicação Social,
habilitação em Jornalismo, pela Universid
ade do Estado do Rio de Janeiro (2006).
https://orcid.org/0000
-0001-6676-5725
Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade do Vale do
Rio dos Sinos (2003), Especialista em Tecnologia Computacional
Aplicada ao Projeto pela
UFRGS (2007), Mestre e Doutor em Design
-
UFRGS (2009/2016). Especialista em
Tradução Audiovisual Acessível
- Audiodescrição -
UECE (2019). Pesquisa na área de
Acessibilidade na Comunicação nos contextos de: educação inclusiva; me
acessível; e divulgação institucional acessível. É Professor Colaborador do Programa de
Graduação em Design e Professor Adjunto do Departamento de Design e Expressão
Gráfica nos Cursos de Graduação em Design Visual e Design de Produto d
Federal do Rio Grande do Sul
-
UFRGS. Coordena o Grupo de Pesquisa COM Acesso
Comunicação Acessível e o Núcleo Interdisciplinar Pró
-
Cultural Acessível da Pró
mail: eduardo.cardoso@ufrgs.br
-
https://orcid.org/0000
14
tempo integral) no
se a área de Marketing e
os consumidores são: justas,
seguras, equitativas (não discriminatórias) e se contribuem para melhorar o bem estar da
sociedade. Alguns dos temas estudados são: (1) práticas de marketing discriminatórias com
, as representações de minorias raciais e
de gênero na mídia; (2) consumo de produtos prejudiciais a saúde, como cigarros, drogas
ou alimentos que levam à obesidade; (3) marketing social; (4) práticas de marketing em
de imigrantes por meio do consume. Durante a
1989). Foi agraciada com dois projetos
CNPQ (2009 a 2012 e 2012 a 2013) de editais universais. Teve 16 orientações de mestrado
com 2 bolsas PIBIC, 2 FAPIC e 2 USP). Teve 76
trabalhos de conclusão de curso de graduação orientados. Participou de 25 bancas de
defesa de mestrado e 4 bancas de defesa de doutorado (3 na defesa final e uma na
Brasil e no exterior. Recebeu premiação de
melhor pôster apresentado no I Latin American Conference of the Association for Consumer
Research em 2006, melhor artigo indicado ao prêmio Raimar Richers (ANPAD) em 2008 e
m 2012. Participou de banca de comissão
julgadora em concurso público de professor para programa de mestrado da Universidade
Metodista de Piracicaba em 2007. Foi editora da revista Remark de 2011 a 2012. É revisora
e internacionais, como o AMA Marketing and
Public Policy Conference. É membro editorial do EMAC Chronicle e da Revista de
Administração da Unimep. Tem relações internacionais com a Quinnipiac University, com a
com a Université du Droit et de la Santé,
Doutora em História, Política e Bens Culturais no Centro de
temporânea do Brasil (CPDOC) pela Fundação
Getúlio Vargas e Mestra em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais (2010) pela Escola
Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE), com graduação em Comunicação Social,
ade do Estado do Rio de Janeiro (2006).
E-mail:
Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade do Vale do
Aplicada ao Projeto pela
UFRGS (2009/2016). Especialista em
UECE (2019). Pesquisa na área de
Acessibilidade na Comunicação nos contextos de: educação inclusiva; me
diação cultural
acessível; e divulgação institucional acessível. É Professor Colaborador do Programa de
Graduação em Design e Professor Adjunto do Departamento de Design e Expressão
Gráfica nos Cursos de Graduação em Design Visual e Design de Produto d
a Universidade
UFRGS. Coordena o Grupo de Pesquisa COM Acesso
-
Cultural Acessível da Pró
-Reitoria de
https://orcid.org/0000
-0002-1202-
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Eduardo Duarte Gomes da Silva
Católica de São Paulo (2002). Professor Associado do Departamento de Comunicação
Social da Universidade Federal de Pernambuco. Pós
en Science Sociale. Areas de atuação: Antropologia, com ênfase em Epistemologia.
Comunicação e Experiências Estéticas. Atuando principalmente nos seguintes temas:
Cultura visual e imaginário. E
-
0088
Eliane Sarmento Costa:
Consultora nos campos da Gestão Cultural, Cultura Digital,
Políticas Públicas e Políticas de Patrocínio. Foi, de 2003 a 2012, Gerente de Patrocínios da
Petrobras, responsável pela concepção, i
Cultural. Coordena o MBA em Bens Culturais: Cultura, Economia e Gestão da FGV
Doutora em História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia (HCTE/UFRJ), Mestra em
Bens Culturais e Projetos Sociais (CPDOC/FGV)
(ESPM/2003) e Pós-
Graduação Stricto Sensu em Engenharia de Sistemas (COPPE
1984). Graduada em Física (PUC
(Petrobras, 1975). E-mail:
elianecosta.cult@gmail.com
Fernanda Borghetti Cantali
: Doutoranda em Direto pelo programa de pós
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
pós-
graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
PUCRS. LLM em
Direito Empresarial pelo CEU Law School. Professora da UNISINOS e da
ESMAFE. Advogada.
Doutoranda em Direto pelo programa de pós graduação da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
pós graduação em direito da
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
PUCRS (2008). Graduada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (2004). Professora de Direito Empresarial e de Direito da
Propriedade Intelectual na U
niversidade do Vale do Rio dos Sinos
titular de Direito Empresarial da Faculdade de Direito do Centro Universitário Metodista do
IPA. Professora de Direito Empresarial e de Direito das Coisas na Universidade Feevale
(2013-2014). Prof
essora substituta de Direito Comercial da UFRGS (2008
principalmente os seguintes temas: direito societário, direito da propriedade intelectual e
direito contratual. Atuou como advogada na área de contencioso cível de 2004 a 2009. Atua
como
advogada especializada em direito societário, contratos mercantis e propriedade
intelectual. E-
mail: fernandaborghetti@hotmail.com
1889-9881
Fernanda Felitti da Silva
D'ávila
dos Sinos, Rio Grande do Sul. E
https://orcid.org/0000-0001-
6969
Fernanda Paes Leme Peyneau Rito
Professora Titular de Direito Civil do Ibmec/RJ. Doutora em Direito Civil
Mestra em Direito Civil -
UERJ (2011). Especialista em Direito Civil pela Veiga de Almeida
(2009). Advogada OAB-RJ
151918. Graduada em Direito pela Universidade Cândido
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Eduardo Duarte Gomes da Silva
:
Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (2002). Professor Associado do Departamento de Comunicação
Social da Universidade Federal de Pernambuco. Pós
-
doutor pela École des Hautes Études
en Science Sociale. Areas de atuação: Antropologia, com ênfase em Epistemologia.
Comunicação e Experiências Estéticas. Atuando principalmente nos seguintes temas:
-
mail: edwartte@gmail.com -
https://orcid.org/0000
Consultora nos campos da Gestão Cultural, Cultura Digital,
Políticas Públicas e Políticas de Patrocínio. Foi, de 2003 a 2012, Gerente de Patrocínios da
Petrobras, responsável pela concepção, i
mplantação e gestão do Programa Petrobras
Cultural. Coordena o MBA em Bens Culturais: Cultura, Economia e Gestão da FGV
Doutora em História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia (HCTE/UFRJ), Mestra em
Bens Culturais e Projetos Sociais (CPDOC/FGV)
, com MBA Executivo em Comunicação
Graduação Stricto Sensu em Engenharia de Sistemas (COPPE
1984). Graduada em Física (PUC
-
RJ, 1974), com extensão em Análise de Sistemas
elianecosta.cult@gmail.com
: Doutoranda em Direto pelo programa de pós
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
-
UNISINOS. Mestra em Direito pelo programa de
graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Direito Empresarial pelo CEU Law School. Professora da UNISINOS e da
Doutoranda em Direto pelo programa de pós graduação da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
-
UNISINOS. Mestre em Direito pelo programa de
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
PUCRS (2008). Graduada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (2004). Professora de Direito Empresarial e de Direito da
niversidade do Vale do Rio dos Sinos
-
Unisinos. Professora
titular de Direito Empresarial da Faculdade de Direito do Centro Universitário Metodista do
IPA. Professora de Direito Empresarial e de Direito das Coisas na Universidade Feevale
essora substituta de Direito Comercial da UFRGS (2008
principalmente os seguintes temas: direito societário, direito da propriedade intelectual e
direito contratual. Atuou como advogada na área de contencioso cível de 2004 a 2009. Atua
advogada especializada em direito societário, contratos mercantis e propriedade
mail: fernandaborghetti@hotmail.com
- ORCID:
http://orcid.org/0000
D'ávila
: Graduanda em Direito na Universidade do Vale do Rio
dos Sinos, Rio Grande do Sul. E
-mail: fernandafelitti@gmail.com -
ORCID:
6969
-2664
Fernanda Paes Leme Peyneau Rito
:
Coordenadora da graduação em Direito do Ibmec/RJ.
Professora Titular de Direito Civil do Ibmec/RJ. Doutora em Direito Civil
-
UERJ (2016).
UERJ (2011). Especialista em Direito Civil pela Veiga de Almeida
151918. Graduada em Direito pela Universidade Cândido
15
Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (2002). Professor Associado do Departamento de Comunicação
doutor pela École des Hautes Études
en Science Sociale. Areas de atuação: Antropologia, com ênfase em Epistemologia.
Comunicação e Experiências Estéticas. Atuando principalmente nos seguintes temas:
https://orcid.org/0000
-0002-7272-
Consultora nos campos da Gestão Cultural, Cultura Digital,
Políticas Públicas e Políticas de Patrocínio. Foi, de 2003 a 2012, Gerente de Patrocínios da
mplantação e gestão do Programa Petrobras
Cultural. Coordena o MBA em Bens Culturais: Cultura, Economia e Gestão da FGV
-Rio.
Doutora em História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia (HCTE/UFRJ), Mestra em
, com MBA Executivo em Comunicação
Graduação Stricto Sensu em Engenharia de Sistemas (COPPE
-RJ,
RJ, 1974), com extensão em Análise de Sistemas
: Doutoranda em Direto pelo programa de pós
-graduação da
UNISINOS. Mestra em Direito pelo programa de
graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
-
Direito Empresarial pelo CEU Law School. Professora da UNISINOS e da
Doutoranda em Direto pelo programa de pós graduação da
UNISINOS. Mestre em Direito pelo programa de
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
-
PUCRS (2008). Graduada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (2004). Professora de Direito Empresarial e de Direito da
Unisinos. Professora
titular de Direito Empresarial da Faculdade de Direito do Centro Universitário Metodista do
IPA. Professora de Direito Empresarial e de Direito das Coisas na Universidade Feevale
essora substituta de Direito Comercial da UFRGS (2008
-2010). Pesquisa
principalmente os seguintes temas: direito societário, direito da propriedade intelectual e
direito contratual. Atuou como advogada na área de contencioso cível de 2004 a 2009. Atua
advogada especializada em direito societário, contratos mercantis e propriedade
http://orcid.org/0000
-0002-
: Graduanda em Direito na Universidade do Vale do Rio
ORCID:
Coordenadora da graduação em Direito do Ibmec/RJ.
UERJ (2016).
UERJ (2011). Especialista em Direito Civil pela Veiga de Almeida
151918. Graduada em Direito pela Universidade Cândido
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Mendes -
UCAM (2007). Profesora de Direito Civil do IBMEC. Professora convidada nos
cursos de especialização da PUC/RJ, da EMERJ e da CEPED/UERJ. Pesquisadora.
IBMEC-RJ. E-
mail: fernanda.rito@ibmec.edu
Gabriel Borges Vaz de Melo
Planejamento Regional (CEDEPLAR) da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG
(2017). Bacharel em Ciências Econômicas pela UFMG (2
Economia da Cultura, Regional e Urbana. É gerente de Estudos Sociodemográficos e
Econômicos na Subsecretaria de Planejamento Urbano da Prefeitura de Belo Horizonte.
mail: gabrielvazdemelo@gmail.com
Gabriela da Costa Aguiar Agustini
organização social dedicada à diversidade na produção de novas tecnologias. O espaço é
parte da rede de fablabs, criada na universidade dos Estados Unidos MIT, tem sede no Rio
de Janeiro e trabalha globalmente
Como palestrante e consultora, viajou mais de 20 países nos cinco continentes,
apresentando projetos e participando de eventos e conferências ligadas à area. É
professora do MBA de gestão cultural
curadora do Colaboramérica (evento sobre economia colaborativa). É membro dos
conselhos consultivos das seguintes organizações da sociedade civil: Instituto Tecnologia
Sociedade (ITS Rio), Coding Rights,
UNESCO na área e economia criativa e empreendedorismo, co
"De Baixo para Cima" (Aeroplano, 2014), livro coletânea que reúne artigos e experiências
sobre economia colaborativa e cult
Universidade de São Paulo (ECA
Departamento de Artes & Design da PUC Rio. E
http://orcid.org/0000-0002-
4170
Gustavo de Oliveira Brandão
:
em cultura e comunicação (FACOM/UFBA). Técnico em Informatica (IFBA
de Iniciação Cientifica do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura) no projeto
Map
eamento de Políticas Culturais na Bahia. Tem interesse nas áreas: Cinema e
audiovisual, políticas culturais, produção cultural e videogames.
gustavodeoliveirabrandao@gmail.com
Javier Cossalter
: Doctor de la Universidad de Buenos Aires, área Historia y Teoría de las
Artes. Tesis titulada “El cortometraje en Argentina y su relación con la modernidad
cinematográfica (1950-
1976)”. Becario postdoctoral del Consejo Nacional de Investigaciones
Científ
icas y Tecnológicas (CONICET).
Artes Combinadas, por la Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad de Buenos Aires
(UBA). Graduado con diploma de honor. Es docente de la cátedra de Introducción al
leng
uaje de las Artes Combinadas en la carrera de Artes, FFyL, UBA. Forma parte del
Centro de Investigación y Nuevos Estudios sobre Cine (CIyNE), perteneciente al Instituto de
Historia del Arte Argentino y Latinoamericano, FFyL, UBA, donde cumple el rol de
inv
estigador formado participando en diferentes proyectos colectivos financiados.
Desempeña el rol de Secretario general de la Red de Investigadores sobre Cine
Latinoamericano (RICiLa) y es miembro activo de la Asociación Argentina de Estudios sobre
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
UCAM (2007). Profesora de Direito Civil do IBMEC. Professora convidada nos
cursos de especialização da PUC/RJ, da EMERJ e da CEPED/UERJ. Pesquisadora.
mail: fernanda.rito@ibmec.edu
.br - https://orcid.org/0000-
0001
Gabriel Borges Vaz de Melo
:
Mestre em Economia pelo Centro de Desenvolvimento e
Planejamento Regional (CEDEPLAR) da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG
(2017). Bacharel em Ciências Econômicas pela UFMG (2
013). Possui interesse na área de
Economia da Cultura, Regional e Urbana. É gerente de Estudos Sociodemográficos e
Econômicos na Subsecretaria de Planejamento Urbano da Prefeitura de Belo Horizonte.
mail: gabrielvazdemelo@gmail.com
- https://orcid.org/0000-0002-3323-
8635
Gabriela da Costa Aguiar Agustini
: Fundadora e diretora executiva do Olabi, uma
organização social dedicada à diversidade na produção de novas tecnologias. O espaço é
parte da rede de fablabs, criada na universidade dos Estados Unidos MIT, tem sede no Rio
de Janeiro e trabalha globalmente
interligando projetos e pessoas ligadas à inovação social.
Como palestrante e consultora, viajou mais de 20 países nos cinco continentes,
apresentando projetos e participando de eventos e conferências ligadas à area. É
professora do MBA de gestão cultural
da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro,
curadora do Colaboramérica (evento sobre economia colaborativa). É membro dos
conselhos consultivos das seguintes organizações da sociedade civil: Instituto Tecnologia
Sociedade (ITS Rio), Coding Rights,
Global Innovation Gathering. Foi consultora da
UNESCO na área e economia criativa e empreendedorismo, co
-
organizadora e co
"De Baixo para Cima" (Aeroplano, 2014), livro coletânea que reúne artigos e experiências
sobre economia colaborativa e cult
ura digital. Graduada em comunicação social pela
Universidade de São Paulo (ECA
-
USP) e mestre em Desgin, Tecnologia e Sociedade pelo
Departamento de Artes & Design da PUC Rio. E
-
mail: gabiagustini@gmail.com
4170
-1992
:
Graduando em Comunicação com habilitação em produção
em cultura e comunicação (FACOM/UFBA). Técnico em Informatica (IFBA
de Iniciação Cientifica do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura) no projeto
eamento de Políticas Culturais na Bahia. Tem interesse nas áreas: Cinema e
audiovisual, políticas culturais, produção cultural e videogames.
E-mail:
gustavodeoliveirabrandao@gmail.com
: Doctor de la Universidad de Buenos Aires, área Historia y Teoría de las
Artes. Tesis titulada “El cortometraje en Argentina y su relación con la modernidad
1976)”. Becario postdoctoral del Consejo Nacional de Investigaciones
icas y Tecnológicas (CONICET).
Egresado de la carrera de Artes, orientación en
Artes Combinadas, por la Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad de Buenos Aires
(UBA). Graduado con diploma de honor. Es docente de la cátedra de Introducción al
uaje de las Artes Combinadas en la carrera de Artes, FFyL, UBA. Forma parte del
Centro de Investigación y Nuevos Estudios sobre Cine (CIyNE), perteneciente al Instituto de
Historia del Arte Argentino y Latinoamericano, FFyL, UBA, donde cumple el rol de
estigador formado participando en diferentes proyectos colectivos financiados.
Desempeña el rol de Secretario general de la Red de Investigadores sobre Cine
Latinoamericano (RICiLa) y es miembro activo de la Asociación Argentina de Estudios sobre
16
UCAM (2007). Profesora de Direito Civil do IBMEC. Professora convidada nos
cursos de especialização da PUC/RJ, da EMERJ e da CEPED/UERJ. Pesquisadora.
0001
-6909-2204
Mestre em Economia pelo Centro de Desenvolvimento e
Planejamento Regional (CEDEPLAR) da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG
013). Possui interesse na área de
Economia da Cultura, Regional e Urbana. É gerente de Estudos Sociodemográficos e
Econômicos na Subsecretaria de Planejamento Urbano da Prefeitura de Belo Horizonte.
E-
8635
: Fundadora e diretora executiva do Olabi, uma
organização social dedicada à diversidade na produção de novas tecnologias. O espaço é
parte da rede de fablabs, criada na universidade dos Estados Unidos MIT, tem sede no Rio
interligando projetos e pessoas ligadas à inovação social.
Como palestrante e consultora, viajou mais de 20 países nos cinco continentes,
apresentando projetos e participando de eventos e conferências ligadas à area. É
da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro,
curadora do Colaboramérica (evento sobre economia colaborativa). É membro dos
conselhos consultivos das seguintes organizações da sociedade civil: Instituto Tecnologia
Global Innovation Gathering. Foi consultora da
organizadora e co
-autora do
"De Baixo para Cima" (Aeroplano, 2014), livro coletânea que reúne artigos e experiências
ura digital. Graduada em comunicação social pela
USP) e mestre em Desgin, Tecnologia e Sociedade pelo
mail: gabiagustini@gmail.com
-
Graduando em Comunicação com habilitação em produção
em cultura e comunicação (FACOM/UFBA). Técnico em Informatica (IFBA
-Seabra) . Bolsista
de Iniciação Cientifica do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura) no projeto
eamento de Políticas Culturais na Bahia. Tem interesse nas áreas: Cinema e
: Doctor de la Universidad de Buenos Aires, área Historia y Teoría de las
Artes. Tesis titulada “El cortometraje en Argentina y su relación con la modernidad
1976)”. Becario postdoctoral del Consejo Nacional de Investigaciones
Egresado de la carrera de Artes, orientación en
Artes Combinadas, por la Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad de Buenos Aires
(UBA). Graduado con diploma de honor. Es docente de la cátedra de Introducción al
uaje de las Artes Combinadas en la carrera de Artes, FFyL, UBA. Forma parte del
Centro de Investigación y Nuevos Estudios sobre Cine (CIyNE), perteneciente al Instituto de
Historia del Arte Argentino y Latinoamericano, FFyL, UBA, donde cumple el rol de
estigador formado participando en diferentes proyectos colectivos financiados.
Desempeña el rol de Secretario general de la Red de Investigadores sobre Cine
Latinoamericano (RICiLa) y es miembro activo de la Asociación Argentina de Estudios sobre
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Cine y Au
diovisual (AsAECA). Es coautor de los libros Cine y revolución en América Latina.
Una perspectiva comparada de las cinematografías de la región (Imago Mundi, 2014) y
Pantallas transnacionales. Intercambios y relaciones identitarias entre el cine argentino
mexicano del período clásico (Imago Mundi, 2017).
https://orcid.org/0000-0001-
5660
Jefferson Fernandes Alves
:
do Rio Grande do Norte (1991), mestrado em
Rio Grande do Norte (1997) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (2004). Professor Associado do Departamento de Práticas Educativas e
Currículo, do Centro de Educação/UFRN. É
Educação e em Artes Cênicas da UFRN. Orienta e pesquisa na interface Arte, Deficiência e
Acessibilidade, com ênfase na relação Teatro e Deficiência Visual.
jeffersonfernandes248@gmail.com
Jorge Roberto Lopes dos Santos
engineering and technology -
3D para Museus -
Museu Nacional
UK). MSc em Engenharia de Produção (COPPE/UFRJ). Bacharelado em Desenho Industrial
-
UFRJ. Tecnologista do Instituto Nacional de Tecnologia
Tecnologia , Inovações e Comunicações. Pesquisador Conven
e Design - PUC-
Rio. Professor da Pós Graduação
Rio. Coordenador do Núcleo de Experimentação Tridimensional
Pesquisador do Núcleo de Inovação da Escola de Pós
Pesquisador Colaborador do Museu Nacional da UFRJ (Laboratório de Processamento de
Imagem Digital). Pesquisador Colaborador do Museu do Amanhã. E
rio.br - https://orcid.org/0000
-
Juliano Castro Silvestre
: Professor do Instituto Tecnológico do Estado de Goiás (ITEGO)
em Artes Basileu França desde 2013 ministrando aulas no Curso Superior de Tecnologia em
Produção Cênica. Foi supervisor de Eixo Tecnológico de Gestão e Negócios no curso
técnico EAD em A
dministração pelo Pronatec (2016
Noroeste nos cursos de Administração e Ciências Contábeis (2016).Professor Formador da
Rede E-
Tec Brasil da UAB (2015
para cursos de EA
D. Presidente do Conselho Técnico
Produção Cênica. Trabalha na elaboração e revisão de Projetos Políticos Pedagógicos de
Cursos Técnicos e Tecnológico do ITEGO. Formado em Administração de Empresas pela
PUC-GO (2000). É espe
cialista em Marketing pela UFRJ (2002) e em Docência do Ensino
Superior pelo SENAC-
SP (2018). Mestre em Desenvolvimento e Planejamento Territorial
pela PUC-
GO na linha de pesquisa Economia regional. Consultor e Elaborador de Projetos
Culturais. Colaborador
da SBPC/GO. Pesquisador na área da Economia da Cultura nos
pequenos e médios municípios goianos e sua relação com o desenvolvimento regional.
Estudioso do Mercado de Trabalho Profissional em Goiás. Palestrante Educacional.
ju.castrosilvestre@gmail.com
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
diovisual (AsAECA). Es coautor de los libros Cine y revolución en América Latina.
Una perspectiva comparada de las cinematografías de la región (Imago Mundi, 2014) y
Pantallas transnacionales. Intercambios y relaciones identitarias entre el cine argentino
mexicano del período clásico (Imago Mundi, 2017).
E-
mail: javiercossalter@gmail.com
5660
-6704
:
Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (1991), mestrado em
Ciências Sociais pela Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (1997) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (2004). Professor Associado do Departamento de Práticas Educativas e
Currículo, do Centro de Educação/UFRN. É
membro dos Programas de Pós
Educação e em Artes Cênicas da UFRN. Orienta e pesquisa na interface Arte, Deficiência e
Acessibilidade, com ênfase na relação Teatro e Deficiência Visual.
E-
mail:
jeffersonfernandes248@gmail.com
- https://orcid.org/0000-0003-0808-
7115
Jorge Roberto Lopes dos Santos
: Pós-
Doutorado em Manufatura Aditiva
Deakin University Australia). Pós Doutorado em Tecnologias
Museu Nacional
- UFRJ. PhD em Design Product
s (Royal College of Art
UK). MSc em Engenharia de Produção (COPPE/UFRJ). Bacharelado em Desenho Industrial
UFRJ. Tecnologista do Instituto Nacional de Tecnologia
- MCTIC -
Ministério da Ciência,
Tecnologia , Inovações e Comunicações. Pesquisador Conven
iado -
Departamento de Artes
Rio. Professor da Pós Graduação
-
Departamento de Artes e Design
Rio. Coordenador do Núcleo de Experimentação Tridimensional
- DAD -
PUC Rio.
Pesquisador do Núcleo de Inovação da Escola de Pós
-Graduação em
Medicina da PUC Rio.
Pesquisador Colaborador do Museu Nacional da UFRJ (Laboratório de Processamento de
Imagem Digital). Pesquisador Colaborador do Museu do Amanhã. E
-
mail:
-
0002-8162-8291
: Professor do Instituto Tecnológico do Estado de Goiás (ITEGO)
em Artes Basileu França desde 2013 ministrando aulas no Curso Superior de Tecnologia em
Produção Cênica. Foi supervisor de Eixo Tecnológico de Gestão e Negócios no curso
dministração pelo Pronatec (2016
-
2018). Professor da Faculdade
Noroeste nos cursos de Administração e Ciências Contábeis (2016).Professor Formador da
Tec Brasil da UAB (2015
-
2016). Tem experiência na elaboração de material didático
D. Presidente do Conselho Técnico
-
Científico do Curso Superior em
Produção Cênica. Trabalha na elaboração e revisão de Projetos Políticos Pedagógicos de
Cursos Técnicos e Tecnológico do ITEGO. Formado em Administração de Empresas pela
cialista em Marketing pela UFRJ (2002) e em Docência do Ensino
SP (2018). Mestre em Desenvolvimento e Planejamento Territorial
GO na linha de pesquisa Economia regional. Consultor e Elaborador de Projetos
da SBPC/GO. Pesquisador na área da Economia da Cultura nos
pequenos e médios municípios goianos e sua relação com o desenvolvimento regional.
Estudioso do Mercado de Trabalho Profissional em Goiás. Palestrante Educacional.
ju.castrosilvestre@gmail.com
- https://orcid.org/0000-0003-3059-1852
17
diovisual (AsAECA). Es coautor de los libros Cine y revolución en América Latina.
Una perspectiva comparada de las cinematografías de la región (Imago Mundi, 2014) y
Pantallas transnacionales. Intercambios y relaciones identitarias entre el cine argentino
y
mail: javiercossalter@gmail.com
-
Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal
Ciências Sociais pela Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (1997) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (2004). Professor Associado do Departamento de Práticas Educativas e
membro dos Programas de Pós
-Graduação em
Educação e em Artes Cênicas da UFRN. Orienta e pesquisa na interface Arte, Deficiência e
mail:
7115
Doutorado em Manufatura Aditiva
- (Manufacturing
Deakin University Australia). Pós Doutorado em Tecnologias
s (Royal College of Art
-
UK). MSc em Engenharia de Produção (COPPE/UFRJ). Bacharelado em Desenho Industrial
Ministério da Ciência,
Departamento de Artes
Departamento de Artes e Design
- PUC
PUC Rio.
Medicina da PUC Rio.
Pesquisador Colaborador do Museu Nacional da UFRJ (Laboratório de Processamento de
mail:
jorge.lopes@puc-
: Professor do Instituto Tecnológico do Estado de Goiás (ITEGO)
em Artes Basileu França desde 2013 ministrando aulas no Curso Superior de Tecnologia em
Produção Cênica. Foi supervisor de Eixo Tecnológico de Gestão e Negócios no curso
2018). Professor da Faculdade
Noroeste nos cursos de Administração e Ciências Contábeis (2016).Professor Formador da
2016). Tem experiência na elaboração de material didático
Científico do Curso Superior em
Produção Cênica. Trabalha na elaboração e revisão de Projetos Políticos Pedagógicos de
Cursos Técnicos e Tecnológico do ITEGO. Formado em Administração de Empresas pela
cialista em Marketing pela UFRJ (2002) e em Docência do Ensino
SP (2018). Mestre em Desenvolvimento e Planejamento Territorial
GO na linha de pesquisa Economia regional. Consultor e Elaborador de Projetos
da SBPC/GO. Pesquisador na área da Economia da Cultura nos
pequenos e médios municípios goianos e sua relação com o desenvolvimento regional.
Estudioso do Mercado de Trabalho Profissional em Goiás. Palestrante Educacional.
E-mail:
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Leonardo Figueiredo Costa
:
Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Vice
Comunicação (Fac
om), Participante do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura
(CULT/UFBA), da Rede de Pesquisadores de Políticas Culturais (REDEPCULT), do
Observatório de Economia Criativa (OBEC
Culturais e Gestão. Já coordenou
(CULT/UFBA), no período de 2017 a 2018, e o Colegiado da Graduação (Facom/UFBA), no
período de 2013 a 2015. Visiting Scholar (CNPq) na University of Miami (2016
em Cultura e Desenvolvimento pe
e Sociedade (UFBA), com período sanduíche na Université Paris III (Sorbonne Nouvelle).
Mestre em Cibercultura pelo Programa de Pós
Contemporâneas (UFBA). Graduado e
Comunicação e Cultura (UFBA). Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em
Organização da Cultura e Cibercultura. E
0001-6095-2642.
Lucas Resende de Carv
alho
graduação em economia do CEDEPLAR da UFMG e bolsista da CAPES. Pesquisador do
Grupo de Pesquisa em Economia da Saúde e Criminalidade (GEESC) da mesma instituição.
Possui graduação em Ciências Economi
(2014), mestrado em Economia pelo CEDEPLAR/UFMG (2017). Tem experiência na área
de economia, com ênfase em economia da saúde, atuando principalmente nos seguintes
temas: distribuição espacial de serviços de saúd
família, valoração de estados de saúde, EQ
https://orcid.org/0000-0002-
3618
Marcelo Cizaurre Guirau:
Doutor em Letras (Estudos Linguísticos e Literários em Inglês)
pela
Universidade de São Paulo (USP), professor do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia São Paulo (IFSP). Pós
Possui graduação em Letras (Português / Inglês) pela Universidade de São Paulo
(2004
); especialização em Estudos de museus de arte pelo Museu de Arte Contemporânea
da Universidade de São Paulo
e Literários em Inglês) pela Universidade de São Paulo
Lin
guagens da arte pelo Centro Universitário Maria Antônia da Universidade de São Paulo
(2008). E-mail:
cizaurre@ifsp.edu.br
Marcelo Neder Cequeira:
Sociólogo, Cientista Político e Historiador. Professor credenciado
ao Programa de Pós-
graduação em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal
Fluminense (PPCULT/UFF) e pós
Doutor em História Social
pela Universidade Federal Fluminense (UFF, 2016). Mestre em
Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF, 2010). Bacharel em Ciências
Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 2006). Graduado em
Licenciatura Plena em Ciência
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 2010). Pesquisador assistente do Laboratório Cidade e
Poder (LCP/UFF) desde 2004. Membro do corpo editorial de Passagens: revista
internacional de história política e cul
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
:
Atualmente é Professor Associado I da Faculdade de
Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Vice
-
diretor da Faculdade de
om), Participante do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura
(CULT/UFBA), da Rede de Pesquisadores de Políticas Culturais (REDEPCULT), do
Observatório de Economia Criativa (OBEC
-
BA) e da Cátedra UNESCO de Políticas
Culturais e Gestão. Já coordenou
o Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura
(CULT/UFBA), no período de 2017 a 2018, e o Colegiado da Graduação (Facom/UFBA), no
período de 2013 a 2015. Visiting Scholar (CNPq) na University of Miami (2016
em Cultura e Desenvolvimento pe
lo Programa Multidisciplinar de Pós-
Graduação em Cultura
e Sociedade (UFBA), com período sanduíche na Université Paris III (Sorbonne Nouvelle).
Mestre em Cibercultura pelo Programa de Pós
-
Graduação em Comunicação e Cultura
Contemporâneas (UFBA). Graduado e
m Comunicação com habilitação em Produção em
Comunicação e Cultura (UFBA). Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em
Organização da Cultura e Cibercultura. E
-mail: leocosta@ufba.br -
https://orcid.org/0000
alho
:
Atualmente é aluno de doutorado do Programa de pós
graduação em economia do CEDEPLAR da UFMG e bolsista da CAPES. Pesquisador do
Grupo de Pesquisa em Economia da Saúde e Criminalidade (GEESC) da mesma instituição.
Possui graduação em Ciências Economi
as pela Universidade Federal de Minas Gerais
(2014), mestrado em Economia pelo CEDEPLAR/UFMG (2017). Tem experiência na área
de economia, com ênfase em economia da saúde, atuando principalmente nos seguintes
temas: distribuição espacial de serviços de saúd
e, equidade em saúde, estratégia saúde da
família, valoração de estados de saúde, EQ
-5D. E-
mail: lucasrc@codeplar.ufmg.br
3618
-3967
Doutor em Letras (Estudos Linguísticos e Literários em Inglês)
Universidade de São Paulo (USP), professor do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia São Paulo (IFSP). Pós
-
doutorando na Universidade de São Paulo (USP).
Possui graduação em Letras (Português / Inglês) pela Universidade de São Paulo
); especialização em Estudos de museus de arte pelo Museu de Arte Contemporânea
da Universidade de São Paulo
-MAC-
USP (2006); mestrado em Letras (Estudos Linguísticos
e Literários em Inglês) pela Universidade de São Paulo
-
USP (2007); e especialização em
guagens da arte pelo Centro Universitário Maria Antônia da Universidade de São Paulo
cizaurre@ifsp.edu.br
- ORCID: https://orcid.org/0000-0
002
Sociólogo, Cientista Político e Historiador. Professor credenciado
graduação em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal
Fluminense (PPCULT/UFF) e pós
-
doutorando pela FAPERJ Nota 10 no mesmo programa.
pela Universidade Federal Fluminense (UFF, 2016). Mestre em
Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF, 2010). Bacharel em Ciências
Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 2006). Graduado em
Licenciatura Plena em Ciência
s Sociais pela Faculdade de Educação da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 2010). Pesquisador assistente do Laboratório Cidade e
Poder (LCP/UFF) desde 2004. Membro do corpo editorial de Passagens: revista
internacional de história política e cul
tura jurídica. Tem experiência na área de Ciência
18
Atualmente é Professor Associado I da Faculdade de
diretor da Faculdade de
om), Participante do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura
(CULT/UFBA), da Rede de Pesquisadores de Políticas Culturais (REDEPCULT), do
BA) e da Cátedra UNESCO de Políticas
o Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura
(CULT/UFBA), no período de 2017 a 2018, e o Colegiado da Graduação (Facom/UFBA), no
período de 2013 a 2015. Visiting Scholar (CNPq) na University of Miami (2016
-2017). Doutor
Graduação em Cultura
e Sociedade (UFBA), com período sanduíche na Université Paris III (Sorbonne Nouvelle).
Graduação em Comunicação e Cultura
m Comunicação com habilitação em Produção em
Comunicação e Cultura (UFBA). Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em
https://orcid.org/0000
-
Atualmente é aluno de doutorado do Programa de pós
-
graduação em economia do CEDEPLAR da UFMG e bolsista da CAPES. Pesquisador do
Grupo de Pesquisa em Economia da Saúde e Criminalidade (GEESC) da mesma instituição.
as pela Universidade Federal de Minas Gerais
(2014), mestrado em Economia pelo CEDEPLAR/UFMG (2017). Tem experiência na área
de economia, com ênfase em economia da saúde, atuando principalmente nos seguintes
e, equidade em saúde, estratégia saúde da
mail: lucasrc@codeplar.ufmg.br
-
Doutor em Letras (Estudos Linguísticos e Literários em Inglês)
Universidade de São Paulo (USP), professor do Instituto Federal de Educação, Ciência
doutorando na Universidade de São Paulo (USP).
Possui graduação em Letras (Português / Inglês) pela Universidade de São Paulo
-USP
); especialização em Estudos de museus de arte pelo Museu de Arte Contemporânea
USP (2006); mestrado em Letras (Estudos Linguísticos
USP (2007); e especialização em
guagens da arte pelo Centro Universitário Maria Antônia da Universidade de São Paulo
002
-3148-7910
Sociólogo, Cientista Político e Historiador. Professor credenciado
graduação em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal
doutorando pela FAPERJ Nota 10 no mesmo programa.
pela Universidade Federal Fluminense (UFF, 2016). Mestre em
Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF, 2010). Bacharel em Ciências
Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 2006). Graduado em
s Sociais pela Faculdade de Educação da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, 2010). Pesquisador assistente do Laboratório Cidade e
Poder (LCP/UFF) desde 2004. Membro do corpo editorial de Passagens: revista
tura jurídica. Tem experiência na área de Ciência
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Política, Sociologia e História, com ênfase em Teoria Política Contemporânea, Teoria da
História e Pensamento Social no Brasil e na América Latina. Desenvolveu pesquisa de
mestrado sobre a modernidade viene
dramaturgo Arthur Schnitzler (2010). A pesquisa foi publicada pela Editora Prismas com o
título "O Homem Desconfortável: poder e modernidade em Arthur Schnitzler" (2015).
Defendeu tese de doutorado "Relaçõ
poder e subjetividade" em História Social pesquisando as obras de Sérgio Buarque de
Holanda, Jorge Luis Borges e Alejo Carpentier (UFF, 2016). A pesquisa foi contemplada
com a Bolsa FAPERJ Nota-
10. Atuou como
Internacional de História Política e Cultura Jurídica" (2010
participou da Oficina de Música Universal do maestro Itiberê Zwarg, no Rio de Janeiro, entre
2001 e 2014, performando c
omo violonista na gravação de dois discos: "No Caminho da
Paz" (2006) e "Que nem o mundo (2011)", ambos projetos fonográficos desenvolvidos com
composições e arranjos de Itiberê Zwarg. Desde 2006, Marcelo atua regularmente como
violonista e compositor em d
iversos projetos artísticos e culturais. Em 2011, publicou a
coletânea de poemas "Versos que me fizeram", pela Editora Multifoco. Temas principais:
poder, modernidade e estética; teoria política, literatura, epistemologia da história, sociologia
da cultura
, pensamento social e político na América Latina. E
marcelonedercerqueira@gmail.com
Maria Victória Navarro:
Bacharela em Marketing pela
Humanidades da Universidade de São Paulo / EA
- https://orcid.org/0000-0002-
4346
Maurício C. Savino Filó:
Doutor em Direito pelo Programa de Pós
(PPGD) da Universidade Federal de Santa Catarina (2018). Possui Mestrado em Direito pela
U
niversidade Presidente Antônio Carlos
e Pós-
Graduação lato sensu em Direito Processual pela Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais (IEC, 2004). Lecionou na Universidade Presidente Antônio Carlos de
2011/1. Leciona desde agosto de 2011, na Universidade do Extremo Sul Catarinense
(UNESC). Atualmente é Membro do Núcleo Docente Estruturante, sendo que leciona Teoria
Geral do Processo e Prática Processual Administrativa. Possui certificado de con
da língua italiana, emitido pela Università per Stranieri Perugia (2006). Advogado. E
mauriciosavino@hotmail.com
Mayra Coelho Jucá dos Santos
em Hi
stória, Política e Bens Culturais do CPDOC / Fundação Getúlio Vargas. Bacharel em
Comunicação Social com habilitações em Rádio e TV (UFRJ) e Jornalismo (FACHA). Possui
experiência profissional em Jornalismo online, plataformas colaborativas e produção
audi
ovisual (roteiro e direção). É coautora do livro "Maria Muniz, a Sherazade do Rádio"
(2007) e autora da monografia homônima que o originou (1997). Dirigiu os curtas metragens
Túnel (1994) e Carne de Carnaval (2004) e o documentário Pelos Cantos do Planeta
(2008). É realizadora do documentário interativo Periferas Musicais (2019). Ministra cursos e
palestras sobre narrativas interativas. Áreas de interesse de pesquisa: narrativas interativas,
mídias colaborativas, jornalismo cidadão, jornalismo digita
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Política, Sociologia e História, com ênfase em Teoria Política Contemporânea, Teoria da
História e Pensamento Social no Brasil e na América Latina. Desenvolveu pesquisa de
mestrado sobre a modernidade viene
nse na virada para o século XX a partir da obra do
dramaturgo Arthur Schnitzler (2010). A pesquisa foi publicada pela Editora Prismas com o
título "O Homem Desconfortável: poder e modernidade em Arthur Schnitzler" (2015).
Defendeu tese de doutorado "Relaçõ
es de força na passagem à modernidade: cultura,
poder e subjetividade" em História Social pesquisando as obras de Sérgio Buarque de
Holanda, Jorge Luis Borges e Alejo Carpentier (UFF, 2016). A pesquisa foi contemplada
10. Atuou como
assistente editorial de "Passagens: Revista
Internacional de História Política e Cultura Jurídica" (2010
-
2014). Músico e poeta, Marcelo
participou da Oficina de Música Universal do maestro Itiberê Zwarg, no Rio de Janeiro, entre
omo violonista na gravação de dois discos: "No Caminho da
Paz" (2006) e "Que nem o mundo (2011)", ambos projetos fonográficos desenvolvidos com
composições e arranjos de Itiberê Zwarg. Desde 2006, Marcelo atua regularmente como
iversos projetos artísticos e culturais. Em 2011, publicou a
coletânea de poemas "Versos que me fizeram", pela Editora Multifoco. Temas principais:
poder, modernidade e estética; teoria política, literatura, epistemologia da história, sociologia
, pensamento social e político na América Latina. E
-mail:
marcelonedercerqueira@gmail.com
- https://orcid.org/0000-0002-4502-
1644
Bacharela em Marketing pela
Escola de Artes, Ciências e
Humanidades da Universidade de São Paulo / EA
CH-USP. E-
mail: mvictorianavarro@usp.br
4346
-9592
Doutor em Direito pelo Programa de Pós
-
Graduação em Direito
(PPGD) da Universidade Federal de Santa Catarina (2018). Possui Mestrado em Direito pela
niversidade Presidente Antônio Carlos
- PPGD -
UNIPAC (2010), possui Graduação (2004)
Graduação lato sensu em Direito Processual pela Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais (IEC, 2004). Lecionou na Universidade Presidente Antônio Carlos de
2011/1. Leciona desde agosto de 2011, na Universidade do Extremo Sul Catarinense
(UNESC). Atualmente é Membro do Núcleo Docente Estruturante, sendo que leciona Teoria
Geral do Processo e Prática Processual Administrativa. Possui certificado de con
da língua italiana, emitido pela Università per Stranieri Perugia (2006). Advogado. E
mauriciosavino@hotmail.com
- http://orcid.org/0000-0002-7436-1664
Mayra Coelho Jucá dos Santos
:
Doutoranda e mestre pelo Programa de Pós Graduação
stória, Política e Bens Culturais do CPDOC / Fundação Getúlio Vargas. Bacharel em
Comunicação Social com habilitações em Rádio e TV (UFRJ) e Jornalismo (FACHA). Possui
experiência profissional em Jornalismo online, plataformas colaborativas e produção
ovisual (roteiro e direção). É coautora do livro "Maria Muniz, a Sherazade do Rádio"
(2007) e autora da monografia homônima que o originou (1997). Dirigiu os curtas metragens
Túnel (1994) e Carne de Carnaval (2004) e o documentário Pelos Cantos do Planeta
(2008). É realizadora do documentário interativo Periferas Musicais (2019). Ministra cursos e
palestras sobre narrativas interativas. Áreas de interesse de pesquisa: narrativas interativas,
mídias colaborativas, jornalismo cidadão, jornalismo digita
l, audiovisual hipernarrativo,
19
Política, Sociologia e História, com ênfase em Teoria Política Contemporânea, Teoria da
História e Pensamento Social no Brasil e na América Latina. Desenvolveu pesquisa de
nse na virada para o século XX a partir da obra do
dramaturgo Arthur Schnitzler (2010). A pesquisa foi publicada pela Editora Prismas com o
título "O Homem Desconfortável: poder e modernidade em Arthur Schnitzler" (2015).
es de força na passagem à modernidade: cultura,
poder e subjetividade" em História Social pesquisando as obras de Sérgio Buarque de
Holanda, Jorge Luis Borges e Alejo Carpentier (UFF, 2016). A pesquisa foi contemplada
assistente editorial de "Passagens: Revista
2014). Músico e poeta, Marcelo
participou da Oficina de Música Universal do maestro Itiberê Zwarg, no Rio de Janeiro, entre
omo violonista na gravação de dois discos: "No Caminho da
Paz" (2006) e "Que nem o mundo (2011)", ambos projetos fonográficos desenvolvidos com
composições e arranjos de Itiberê Zwarg. Desde 2006, Marcelo atua regularmente como
iversos projetos artísticos e culturais. Em 2011, publicou a
coletânea de poemas "Versos que me fizeram", pela Editora Multifoco. Temas principais:
poder, modernidade e estética; teoria política, literatura, epistemologia da história, sociologia
1644
Escola de Artes, Ciências e
mail: mvictorianavarro@usp.br
Graduação em Direito
(PPGD) da Universidade Federal de Santa Catarina (2018). Possui Mestrado em Direito pela
UNIPAC (2010), possui Graduação (2004)
Graduação lato sensu em Direito Processual pela Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais (IEC, 2004). Lecionou na Universidade Presidente Antônio Carlos de
2009 até
2011/1. Leciona desde agosto de 2011, na Universidade do Extremo Sul Catarinense
(UNESC). Atualmente é Membro do Núcleo Docente Estruturante, sendo que leciona Teoria
Geral do Processo e Prática Processual Administrativa. Possui certificado de con
hecimento
da língua italiana, emitido pela Università per Stranieri Perugia (2006). Advogado. E
-mail:
Doutoranda e mestre pelo Programa de Pós Graduação
stória, Política e Bens Culturais do CPDOC / Fundação Getúlio Vargas. Bacharel em
Comunicação Social com habilitações em Rádio e TV (UFRJ) e Jornalismo (FACHA). Possui
experiência profissional em Jornalismo online, plataformas colaborativas e produção
ovisual (roteiro e direção). É coautora do livro "Maria Muniz, a Sherazade do Rádio"
(2007) e autora da monografia homônima que o originou (1997). Dirigiu os curtas metragens
Túnel (1994) e Carne de Carnaval (2004) e o documentário Pelos Cantos do Planeta
Olinda
(2008). É realizadora do documentário interativo Periferas Musicais (2019). Ministra cursos e
palestras sobre narrativas interativas. Áreas de interesse de pesquisa: narrativas interativas,
l, audiovisual hipernarrativo,
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
documentário interativo, cinema experimental, cinema e cidade, cinema e resistência
política. E-
mail: mayrajuca@gmail.com
Michele Dacas:
Possui graduação em Comunicação Social
(2008) e mestrado em Ciências Sociais (2010) pela Universidade Federal de Santa Maria.
Em 2015, concluiu doutorado em Comunicação Social no PPGCOM da Universidade
Federal de Minas Gerais, investigando a representação da cultura lati
novos modelos de exibição, produção e circulação televisual em rede, como a TAL
(Televisión América Latina). Na UFMG participou ainda do grupo de pesquisa em
Comunicação e Cultura em televisualidades, coordenado pela prof. Simone Rocha. Foi
professora, em 2018, no curso de jornalismo da União Dinâmica de Faculdades Cataratas
(UDC). Desde 2011 é relações públicas da Universidade Federal da Integração Latino
Americana (UNILA), onde coordenou o Núcleo de Integração e Cultura do Instituto Mercos
de Estudos Avançados (IMEA). Atualmente atua no departamento de comunicação e
culturas da Pró-
Reitoria de Extensão (PROEX/UNILA). Seu interesse acadêmico concentra
se na área de políticas e gestão cultural, paisagem e territórios urbanos. Atuou também n
construção de políticas de fomento à cultura na UNILA como a elaboração do edital de
cultura e território de 2018/2019 e colabora na construção de uma política de cultura
institucional, processo que ainda está em andamento. Organiza eventos de cultura co
Festival Cultural da Integração; o I festival gastronômico cultural latino
e o Festival de cinema latino-
americano Três Margens, todos realizados em 2019. Em 2018
organizou o Círculo de ArteTerapia do IMEA e o evento Cram em Cor
música e oficinas de grafite no Centro municipal de Referência à Mulher Vítima de violência.
Também produziu e fez a curadoria e produção de exposições visuais como a mostra
Expresiones. E também a mostra Retinas de la Frontera Trinacional
fotográfico da comunidade universitária sobre o território regional da fronteira entre Brasil,
Paraguai e Argentina, mostra que circulou no Instituto Social do Mercosul (ISM), em
Asunción, Paraguai e na Universidad Autonoma de Aguascal
2019 foi co-
produtora do projeto CineLatino. Com foco na criação e desenvolvimento de
projetos em arte e cultura, e na formação de redes de cooperação no campo da cultura
latino-
americana concebeu e produziu ações em diferen
Muralismo na Ocupação Bubas: histórias de vida e território, no qual coordenou a criação de
30 murais de grafite na maior ocupação urbana do Oeste do Paraná. E o projeto Acervo
Digital da memória cultural da fronteira trinacio
educativas e culturais de Foz do Iguaçu (BR), Ciudad Del Este (PY) e Puerto Iguazu (AR) a
criação de um acervo virtual. No campo da publicação é coordenadora e editora há oito
anos da Revista Peabiru, uma publicação s
adjunta da publicação acadêmica Revista Sures, do Instituto de Arte, Cultura e História da
UNILA. E-mail:
michele.dacas@gmail.com
Miryam Bonadiu Pelosi:
Professora Associada do Departamento de Terapia Ocupacional
da Universidade Federal do Rio de Janeiro possui Graduação em Terapia Ocupacional pela
Universidade Federal de São Carlos, Especialização em Psicopedagogia pelo Centro de
Estudos Psicopedagógicos
do Rio de Janeiro, Mestrado e Doutorado em Educação pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Certificação em Tecnologia Assistiva / ATACP
pela California State University. Pesquisadora da área de Tecnologia Assistiva e Inclusão
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
documentário interativo, cinema experimental, cinema e cidade, cinema e resistência
mail: mayrajuca@gmail.com
- https://orcid.org/0000-0002-
8331
Possui graduação em Comunicação Social
- habili
tação relações públicas
(2008) e mestrado em Ciências Sociais (2010) pela Universidade Federal de Santa Maria.
Em 2015, concluiu doutorado em Comunicação Social no PPGCOM da Universidade
Federal de Minas Gerais, investigando a representação da cultura lati
no-
americana em
novos modelos de exibição, produção e circulação televisual em rede, como a TAL
(Televisión América Latina). Na UFMG participou ainda do grupo de pesquisa em
Comunicação e Cultura em televisualidades, coordenado pela prof. Simone Rocha. Foi
professora, em 2018, no curso de jornalismo da União Dinâmica de Faculdades Cataratas
(UDC). Desde 2011 é relações públicas da Universidade Federal da Integração Latino
Americana (UNILA), onde coordenou o Núcleo de Integração e Cultura do Instituto Mercos
de Estudos Avançados (IMEA). Atualmente atua no departamento de comunicação e
Reitoria de Extensão (PROEX/UNILA). Seu interesse acadêmico concentra
se na área de políticas e gestão cultural, paisagem e territórios urbanos. Atuou também n
construção de políticas de fomento à cultura na UNILA como a elaboração do edital de
cultura e território de 2018/2019 e colabora na construção de uma política de cultura
institucional, processo que ainda está em andamento. Organiza eventos de cultura co
Festival Cultural da Integração; o I festival gastronômico cultural latino
-
americano na Vila C
americano Três Margens, todos realizados em 2019. Em 2018
organizou o Círculo de ArteTerapia do IMEA e o evento Cram em Cor
es, com sarau de
música e oficinas de grafite no Centro municipal de Referência à Mulher Vítima de violência.
Também produziu e fez a curadoria e produção de exposições visuais como a mostra
Expresiones. E também a mostra Retinas de la Frontera Trinacional
, que trouxe o olhar
fotográfico da comunidade universitária sobre o território regional da fronteira entre Brasil,
Paraguai e Argentina, mostra que circulou no Instituto Social do Mercosul (ISM), em
Asunción, Paraguai e na Universidad Autonoma de Aguascal
ientes, no México. Até final de
produtora do projeto CineLatino. Com foco na criação e desenvolvimento de
projetos em arte e cultura, e na formação de redes de cooperação no campo da cultura
americana concebeu e produziu ações em diferen
tes linguagens como o projeto
Muralismo na Ocupação Bubas: histórias de vida e território, no qual coordenou a criação de
30 murais de grafite na maior ocupação urbana do Oeste do Paraná. E o projeto Acervo
Digital da memória cultural da fronteira trinacio
nal que articula com três instituições
educativas e culturais de Foz do Iguaçu (BR), Ciudad Del Este (PY) e Puerto Iguazu (AR) a
criação de um acervo virtual. No campo da publicação é coordenadora e editora há oito
anos da Revista Peabiru, uma publicação s
obre cultura latino-
americana. É também editora
adjunta da publicação acadêmica Revista Sures, do Instituto de Arte, Cultura e História da
michele.dacas@gmail.com
- https://orcid.org/0000-0001-
6330
Professora Associada do Departamento de Terapia Ocupacional
da Universidade Federal do Rio de Janeiro possui Graduação em Terapia Ocupacional pela
Universidade Federal de São Carlos, Especialização em Psicopedagogia pelo Centro de
do Rio de Janeiro, Mestrado e Doutorado em Educação pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Certificação em Tecnologia Assistiva / ATACP
pela California State University. Pesquisadora da área de Tecnologia Assistiva e Inclusão
20
documentário interativo, cinema experimental, cinema e cidade, cinema e resistência
8331
-1618
tação relações públicas
(2008) e mestrado em Ciências Sociais (2010) pela Universidade Federal de Santa Maria.
Em 2015, concluiu doutorado em Comunicação Social no PPGCOM da Universidade
americana em
novos modelos de exibição, produção e circulação televisual em rede, como a TAL
(Televisión América Latina). Na UFMG participou ainda do grupo de pesquisa em
Comunicação e Cultura em televisualidades, coordenado pela prof. Simone Rocha. Foi
professora, em 2018, no curso de jornalismo da União Dinâmica de Faculdades Cataratas
(UDC). Desde 2011 é relações públicas da Universidade Federal da Integração Latino
-
Americana (UNILA), onde coordenou o Núcleo de Integração e Cultura do Instituto Mercos
ul
de Estudos Avançados (IMEA). Atualmente atua no departamento de comunicação e
Reitoria de Extensão (PROEX/UNILA). Seu interesse acadêmico concentra
-
se na área de políticas e gestão cultural, paisagem e territórios urbanos. Atuou também n
a
construção de políticas de fomento à cultura na UNILA como a elaboração do edital de
cultura e território de 2018/2019 e colabora na construção de uma política de cultura
institucional, processo que ainda está em andamento. Organiza eventos de cultura co
mo o II
americano na Vila C
americano Três Margens, todos realizados em 2019. Em 2018
es, com sarau de
música e oficinas de grafite no Centro municipal de Referência à Mulher Vítima de violência.
Também produziu e fez a curadoria e produção de exposições visuais como a mostra
, que trouxe o olhar
fotográfico da comunidade universitária sobre o território regional da fronteira entre Brasil,
Paraguai e Argentina, mostra que circulou no Instituto Social do Mercosul (ISM), em
ientes, no México. Até final de
produtora do projeto CineLatino. Com foco na criação e desenvolvimento de
projetos em arte e cultura, e na formação de redes de cooperação no campo da cultura
tes linguagens como o projeto
Muralismo na Ocupação Bubas: histórias de vida e território, no qual coordenou a criação de
30 murais de grafite na maior ocupação urbana do Oeste do Paraná. E o projeto Acervo
nal que articula com três instituições
educativas e culturais de Foz do Iguaçu (BR), Ciudad Del Este (PY) e Puerto Iguazu (AR) a
criação de um acervo virtual. No campo da publicação é coordenadora e editora há oito
americana. É também editora
adjunta da publicação acadêmica Revista Sures, do Instituto de Arte, Cultura e História da
6330
-7454
Professora Associada do Departamento de Terapia Ocupacional
da Universidade Federal do Rio de Janeiro possui Graduação em Terapia Ocupacional pela
Universidade Federal de São Carlos, Especialização em Psicopedagogia pelo Centro de
do Rio de Janeiro, Mestrado e Doutorado em Educação pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Certificação em Tecnologia Assistiva / ATACP
pela California State University. Pesquisadora da área de Tecnologia Assistiva e Inclusão
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Escolar coordenada o
LabAssistiva, é líder do Grupo de Pesquisa do CNPq intitulado
"Terapia Ocupacional e Tecnologia Assistiva em diferentes contextos", e desenvolve
estudos, produtos e serviços no Núcleo de Pesquisa em Tecnologia Assistiva da UFRJ.
mail: miryampelosi@ufrj.br -
http://orcid.org/0000
Nayanna de Mattos Kuchenbecker
em Produção em Comunicação e Cultura na Universidade Federal da Bahia. Foi bolsista do
Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultu
fomento à cultura no Brasil: estados e Distrito Federal", foi bolsista pelo PIBIC, em parceria
com o Observatório da Economia Criativa da Bahia (OBEC), na pesquisa "Economia criativa
e formação em organização da cultu
como produtora do Programa de Formação e Qualificação de Agentes Culturais e
coordenadora de produção dos XIV e XV Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura
(ENECULT). Atualmente integra, com
estudos em políticas culturais na Bahia", desenvolvida em parceria entre o CULT, a
Fundação Casa de Rui Barbosa e a Cátedra Unesco de Políticas Culturais e Gestão.
mattos.nayanna@gmail.com
Patricia Silva Dorneles:
Possui graduação em Terapia Ocupacional pela Federação das
Faculdades Metodistas do Sul Instituto Porto Alegre (1995).Mestre em Educação pela
Universidade Federal de Santa Catarina
Popular e movim
entos sociais e Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (2011) na linha ambiente, ensino e território. É pós doutora em Terapia
Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos
das politicas
publicas culturais. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em politica
cultural, atuando principalmente nos seguintes temas: ação cultural, política cultural, ação
coletiva, educação popular e saúde e direitos humanos. Trabalhou no Ministério da Cul
entre os anos de 2005 à 2009, implementando o Programa Cultura Viva na Região Sul e as
ações de Cultura e Saúde deste órgão. Atualmente é Professora Adjunta IV do Curso de
Terapia Ocupacional da UFRJ, sendo docente das disciplinas Laboratório A, Labor
Educação Popular e Saúde. Foi Coordenadora substituta de Extensão da Faculdade de
Medicina -
UFRJ, de outubro de 2010 à agosto de 2012. É coordenadora do I Curso de Pós
Graduação em Acessibilidade Cultural para pessoas com deficiência com o apoi
Ministério da Cultura. Foi Superintendente de Difusão Cultural do Fórum de Ciência e
Cultura da UFRJ de 2015 a 2019. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Terapia
Ocupacional e Cultura -
CNPq
https://orcid.org/0000-0003-
3440
Pedro Teixeira Gueiros:
Estudante de Direito do Ibmec
estagiário na Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro com atuação no Núcleo do
Sistema Penitenciário. Foi estagiário no escr
Machado Advogados. Estagia, atualmente, no Tribunal Regional Federal da 2ª Região, junto
ao gabinete do Desembargador Federal Aluisio Mendes, no âmbito do Direito Administrativo
e Processual Civil. Membro do Grup
Penal. Monitor de Teoria Geral do Processo e de Direito Empresarial I no Ibmec
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
LabAssistiva, é líder do Grupo de Pesquisa do CNPq intitulado
"Terapia Ocupacional e Tecnologia Assistiva em diferentes contextos", e desenvolve
estudos, produtos e serviços no Núcleo de Pesquisa em Tecnologia Assistiva da UFRJ.
http://orcid.org/0000
-0002-6109-4296
Nayanna de Mattos Kuchenbecker
: Graduanda em Comunicação Social, com habilitação
em Produção em Comunicação e Cultura na Universidade Federal da Bahia. Foi bolsista do
Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultu
ra (CULT) na pesquisa "Financiamento e
fomento à cultura no Brasil: estados e Distrito Federal", foi bolsista pelo PIBIC, em parceria
com o Observatório da Economia Criativa da Bahia (OBEC), na pesquisa "Economia criativa
e formação em organização da cultu
ra". Profissionalmente atuou, entre outras experiências,
como produtora do Programa de Formação e Qualificação de Agentes Culturais e
coordenadora de produção dos XIV e XV Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura
(ENECULT). Atualmente integra, com
o bolsista PIBIC, a pesquisa "Mapeamento dos
estudos em políticas culturais na Bahia", desenvolvida em parceria entre o CULT, a
Fundação Casa de Rui Barbosa e a Cátedra Unesco de Políticas Culturais e Gestão.
Possui graduação em Terapia Ocupacional pela Federação das
Faculdades Metodistas do Sul Instituto Porto Alegre (1995).Mestre em Educação pela
Universidade Federal de Santa Catarina
-
UFSC (2001) na linha de pesquisa Educação
entos sociais e Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (2011) na linha ambiente, ensino e território. É pós doutora em Terapia
Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos
-
UFSCar. Atua há 20 anos no campo
publicas culturais. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em politica
cultural, atuando principalmente nos seguintes temas: ação cultural, política cultural, ação
coletiva, educação popular e saúde e direitos humanos. Trabalhou no Ministério da Cul
entre os anos de 2005 à 2009, implementando o Programa Cultura Viva na Região Sul e as
ações de Cultura e Saúde deste órgão. Atualmente é Professora Adjunta IV do Curso de
Terapia Ocupacional da UFRJ, sendo docente das disciplinas Laboratório A, Labor
Educação Popular e Saúde. Foi Coordenadora substituta de Extensão da Faculdade de
UFRJ, de outubro de 2010 à agosto de 2012. É coordenadora do I Curso de Pós
Graduação em Acessibilidade Cultural para pessoas com deficiência com o apoi
Ministério da Cultura. Foi Superintendente de Difusão Cultural do Fórum de Ciência e
Cultura da UFRJ de 2015 a 2019. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Terapia
CNPq
. E-mail: patricia.dorneles.ufrj@gmail.com -
3440
-7549
Estudante de Direito do Ibmec
-
RJ, cursando o 10º período. Foi
estagiário na Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro com atuação no Núcleo do
Sistema Penitenciário. Foi estagiário no escr
itório de advocacia criminal Carlos Eduardo
Machado Advogados. Estagia, atualmente, no Tribunal Regional Federal da 2ª Região, junto
ao gabinete do Desembargador Federal Aluisio Mendes, no âmbito do Direito Administrativo
e Processual Civil. Membro do Grup
o Brasileiro da Associação Internacional de Direito
Penal. Monitor de Teoria Geral do Processo e de Direito Empresarial I no Ibmec
21
LabAssistiva, é líder do Grupo de Pesquisa do CNPq intitulado
"Terapia Ocupacional e Tecnologia Assistiva em diferentes contextos", e desenvolve
estudos, produtos e serviços no Núcleo de Pesquisa em Tecnologia Assistiva da UFRJ.
E-
: Graduanda em Comunicação Social, com habilitação
em Produção em Comunicação e Cultura na Universidade Federal da Bahia. Foi bolsista do
ra (CULT) na pesquisa "Financiamento e
fomento à cultura no Brasil: estados e Distrito Federal", foi bolsista pelo PIBIC, em parceria
com o Observatório da Economia Criativa da Bahia (OBEC), na pesquisa "Economia criativa
ra". Profissionalmente atuou, entre outras experiências,
como produtora do Programa de Formação e Qualificação de Agentes Culturais e
coordenadora de produção dos XIV e XV Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura
o bolsista PIBIC, a pesquisa "Mapeamento dos
estudos em políticas culturais na Bahia", desenvolvida em parceria entre o CULT, a
Fundação Casa de Rui Barbosa e a Cátedra Unesco de Políticas Culturais e Gestão.
E-mail:
Possui graduação em Terapia Ocupacional pela Federação das
Faculdades Metodistas do Sul Instituto Porto Alegre (1995).Mestre em Educação pela
UFSC (2001) na linha de pesquisa Educação
entos sociais e Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (2011) na linha ambiente, ensino e território. É pós doutora em Terapia
UFSCar. Atua há 20 anos no campo
publicas culturais. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em politica
cultural, atuando principalmente nos seguintes temas: ação cultural, política cultural, ação
coletiva, educação popular e saúde e direitos humanos. Trabalhou no Ministério da Cul
tura
entre os anos de 2005 à 2009, implementando o Programa Cultura Viva na Região Sul e as
ações de Cultura e Saúde deste órgão. Atualmente é Professora Adjunta IV do Curso de
Terapia Ocupacional da UFRJ, sendo docente das disciplinas Laboratório A, Labor
atório B e
Educação Popular e Saúde. Foi Coordenadora substituta de Extensão da Faculdade de
UFRJ, de outubro de 2010 à agosto de 2012. É coordenadora do I Curso de Pós
-
Graduação em Acessibilidade Cultural para pessoas com deficiência com o apoi
o do
Ministério da Cultura. Foi Superintendente de Difusão Cultural do Fórum de Ciência e
Cultura da UFRJ de 2015 a 2019. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Terapia
RJ, cursando o 10º período. Foi
estagiário na Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro com atuação no Núcleo do
itório de advocacia criminal Carlos Eduardo
Machado Advogados. Estagia, atualmente, no Tribunal Regional Federal da 2ª Região, junto
ao gabinete do Desembargador Federal Aluisio Mendes, no âmbito do Direito Administrativo
o Brasileiro da Associação Internacional de Direito
Penal. Monitor de Teoria Geral do Processo e de Direito Empresarial I no Ibmec
-RJ.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Professor voluntário de inglês no Projeto Só Cria
IBMEC-RJ. E-
mail: pedrogueiros@u
Pietro Henrico Vidal Dignani
Humanidades da Universidade de São Paulo / EACH
https://orcid.org/0000-0002-
1873
Raquel von Hohendorff:
Doutora em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos / UNISINOS (bolsista CAPES). Mestre em Direito Público pela UNISINOS (Conceito
CAPES 6, bolsista CAPES). Professora do Programa de Pós Graduação em Direito
Mestrado e Doutorado da UNISINOS, ministrando a disciplina Educação,
Transdisciplinaridade e Transformação Social. Participante do grupo de pesquisa JUSNANO
(CNPq/Unisinos). Conselheira Municipal do Meio Ambiente, pela Seccional São Leopoldo da
Ordem dos A
dvogados do Brasil. Conselheira titular da Seccional São Leopoldo da Ordem
dos Advogados do Brasil. Possui especialização em direito do trabalho pela UNISINOS, com
atuação na área trabalhista preventiva, especialmente voltada para a saúde, segurança e
meio
ambiente do trabalho. Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (1998), graduação em Bacharelado em Ciências Jurídicas
pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2009) e mestrado em Ciências Veterinárias
pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2003). Atualmente é advogada
de advocacia Dr Arminio Joao von Hohendorff e técnico superior medicina veterinária da
Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Zoologia, com
ênfase em Comportamento Animal, atuando principalmente nos seguintes temas: animais
silvestres, manejo, patologia, cativeiro e doenças infecciosas.
ORCID:
https://orcid.org/0000
Renata Rocha:
Professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da
Bahia (UFBA). Pesquisadora do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT),
também da UFBA. Membro da comissão editorial da Col
editorial do periódico Políticas Culturais em Revista. Atuou como coordenadora do
Colegiado de Graduação em Comunicação (2018) e como vice
(2014-2018). Realizou pós-
doutorado com financiamento do Programa
Doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(PNPD/Capes) em Políticas Culturais no Programa Multidisciplinar de Pós
Cultura e Sociedade da UFBA. Doutora em Cultura e Sociedade (2014) pela UFBA, com
período sanduíche, financiado pelo Programa de Doutorado
também da CAPES, na Universidade Autónoma Metropolitana
e mestra em Cultura e Sociedade (2009) pela mesma instituição. Graduada em
Comunicação -
Jornalismo (2006). Tem experiência nas áreas de Cultura e Comunicação
atuando principalmente nos seguintes temas: políticas culturais, políticas de comunicação,
audiovisual, estudos da cultura na América Latina, TV pública. E
- https://orcid.org/0000-0001-
9968
Sergio Vieira Branco Junior
do Rio de Janeiro / UERJ. Diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.
Professor do doutorado em Dire
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Professor voluntário de inglês no Projeto Só Cria
- Pré-
vestibular Popular da Rocinha.
mail: pedrogueiros@u
ol.com.br - https://orcid.org/0000-
0001
Pietro Henrico Vidal Dignani
: Bacharel em Marketing pela
Escola de Artes, Ciências e
Humanidades da Universidade de São Paulo / EACH
-USP. E-
mail: pietro.dignani@usp.br
1873
-5529
Doutora em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos / UNISINOS (bolsista CAPES). Mestre em Direito Público pela UNISINOS (Conceito
CAPES 6, bolsista CAPES). Professora do Programa de Pós Graduação em Direito
Mestrado e Doutorado da UNISINOS, ministrando a disciplina Educação,
Transdisciplinaridade e Transformação Social. Participante do grupo de pesquisa JUSNANO
(CNPq/Unisinos). Conselheira Municipal do Meio Ambiente, pela Seccional São Leopoldo da
dvogados do Brasil. Conselheira titular da Seccional São Leopoldo da Ordem
dos Advogados do Brasil. Possui especialização em direito do trabalho pela UNISINOS, com
atuação na área trabalhista preventiva, especialmente voltada para a saúde, segurança e
ambiente do trabalho. Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (1998), graduação em Bacharelado em Ciências Jurídicas
pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2009) e mestrado em Ciências Veterinárias
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2003). Atualmente é advogada
de advocacia Dr Arminio Joao von Hohendorff e técnico superior medicina veterinária da
Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Zoologia, com
ênfase em Comportamento Animal, atuando principalmente nos seguintes temas: animais
silvestres, manejo, patologia, cativeiro e doenças infecciosas.
E-mail:
vetraq@gmail.com
https://orcid.org/0000
-0001-7543-2412
Professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da
Bahia (UFBA). Pesquisadora do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT),
também da UFBA. Membro da comissão editorial da Col
eção CULT (EDUFBA) e do corpo
editorial do periódico Políticas Culturais em Revista. Atuou como coordenadora do
Colegiado de Graduação em Comunicação (2018) e como vice
-
coordenadora do CULT
doutorado com financiamento do Programa
Nacional de Pós
Doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(PNPD/Capes) em Políticas Culturais no Programa Multidisciplinar de Pós
Cultura e Sociedade da UFBA. Doutora em Cultura e Sociedade (2014) pela UFBA, com
período sanduíche, financiado pelo Programa de Doutorado
-
sanduíche no Exterior (PDSE),
também da CAPES, na Universidade Autónoma Metropolitana
-
Unidad Iztapalapa (México),
e mestra em Cultura e Sociedade (2009) pela mesma instituição. Graduada em
Jornalismo (2006). Tem experiência nas áreas de Cultura e Comunicação
atuando principalmente nos seguintes temas: políticas culturais, políticas de comunicação,
audiovisual, estudos da cultura na América Latina, TV pública. E
-
mail: renatatrocha@ufba.
9968
-012X
Sergio Vieira Branco Junior
:
Doutor e Mestre em Direito Civil pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro / UERJ. Diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.
Professor do doutorado em Dire
ito da Universidade de Montreal. Professor da Faculdade de
22
vestibular Popular da Rocinha.
.
0001
-5885-420X
Escola de Artes, Ciências e
mail: pietro.dignani@usp.br
-
Doutora em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos / UNISINOS (bolsista CAPES). Mestre em Direito Público pela UNISINOS (Conceito
CAPES 6, bolsista CAPES). Professora do Programa de Pós Graduação em Direito
-
Mestrado e Doutorado da UNISINOS, ministrando a disciplina Educação,
Transdisciplinaridade e Transformação Social. Participante do grupo de pesquisa JUSNANO
(CNPq/Unisinos). Conselheira Municipal do Meio Ambiente, pela Seccional São Leopoldo da
dvogados do Brasil. Conselheira titular da Seccional São Leopoldo da Ordem
dos Advogados do Brasil. Possui especialização em direito do trabalho pela UNISINOS, com
atuação na área trabalhista preventiva, especialmente voltada para a saúde, segurança e
ambiente do trabalho. Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (1998), graduação em Bacharelado em Ciências Jurídicas
pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2009) e mestrado em Ciências Veterinárias
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2003). Atualmente é advogada
- Escritório
de advocacia Dr Arminio Joao von Hohendorff e técnico superior medicina veterinária da
Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Zoologia, com
ênfase em Comportamento Animal, atuando principalmente nos seguintes temas: animais
vetraq@gmail.com
-
Professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da
Bahia (UFBA). Pesquisadora do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT),
eção CULT (EDUFBA) e do corpo
editorial do periódico Políticas Culturais em Revista. Atuou como coordenadora do
coordenadora do CULT
Nacional de Pós
-
Doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(PNPD/Capes) em Políticas Culturais no Programa Multidisciplinar de Pós
-Graduação em
Cultura e Sociedade da UFBA. Doutora em Cultura e Sociedade (2014) pela UFBA, com
sanduíche no Exterior (PDSE),
Unidad Iztapalapa (México),
e mestra em Cultura e Sociedade (2009) pela mesma instituição. Graduada em
Jornalismo (2006). Tem experiência nas áreas de Cultura e Comunicação
atuando principalmente nos seguintes temas: políticas culturais, políticas de comunicação,
mail: renatatrocha@ufba.
br
Doutor e Mestre em Direito Civil pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro / UERJ. Diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.
ito da Universidade de Montreal. Professor da Faculdade de
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Ciências Sociais Aplicadas Ibmec. Professor de direito civil e de propriedade intelectual da
graduação e da pós-
graduação da FGV Direito Rio (2006
Instituto Nacional
de Tecnologia da Informação (2005
desenvolvimento acadêmico do programa de pós
Advogado associado ao escritório Barbosa, Müssnich & Aragão (1999
livros "Memória e Esquecimento na
Alheias", "O Domínio Público no Direito Autoral Brasileiro
e "O que é Creative Commons
Criativo", entre outras obr
as. Especialista em propriedade intelectual pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro / PUC
pela FGV. Graduado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro / UERJ.
Advogado no Rio de Janeiro.
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Ciências Sociais Aplicadas Ibmec. Professor de direito civil e de propriedade intelectual da
graduação da FGV Direito Rio (2006
-
2013). Procurador
de Tecnologia da Informação (2005
-
2006). Coordenador de
desenvolvimento acadêmico do programa de pós
-
graduação da FGV Direito Rio (2005).
Advogado associado ao escritório Barbosa, Müssnich & Aragão (1999
-
2005). Autor dos
livros "Memória e Esquecimento na
Internet"; "Direitos Autorais na Internet e o Uso de Obras
Alheias", "O Domínio Público no Direito Autoral Brasileiro
-
Uma Obra em Domínio Público"
e "O que é Creative Commons
-
Novos Modelos de Direito Autoral em um Mundo Mais
as. Especialista em propriedade intelectual pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro / PUC
-Rio. Pós-
graduado em cinema documentário
pela FGV. Graduado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro / UERJ.
E-mail: sergiovbj@gmail.com
23
Ciências Sociais Aplicadas Ibmec. Professor de direito civil e de propriedade intelectual da
2013). Procurador
-Chefe do ITI-
2006). Coordenador de
graduação da FGV Direito Rio (2005).
2005). Autor dos
Internet"; "Direitos Autorais na Internet e o Uso de Obras
Uma Obra em Domínio Público"
Novos Modelos de Direito Autoral em um Mundo Mais
as. Especialista em propriedade intelectual pela Pontifícia
graduado em cinema documentário
pela FGV. Graduado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro / UERJ.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
EDITORIAL
PragMATIZES -
Revista Latino
trilhando os rumos da interdisciplinaridade e traz junto à presente edição
artigos selecionados para a seção de Fluxo Contínuo, e 10 artigos avaliados e
indicados segundo a chamada pública para o dossiê
Sociedade
que teve editoria dos pesquisadores Eliane Costa e Sergio Branco, a
quem reiteramos os agradeci
edição traz também um ensaio inovador ao mesclar intuição e rigor científico como
recurso metodológico.
Esta edição (Ano 10, nº 19) abarcou 38 autores, oriundos da Argentina, e de
quase todas as regiõ
es brasileiras (só não estamos publicando nenhum autor da
região Norte nesta edição). Tivemos pesquisadores da Bahia, Ceará, Goiás, Minas
Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do
Sul, Santa Catarina e São Paulo.
Segui
ndo nossos compromissos com a difusão e circulação da informação e
pesquisa científica, atualizamos continuamente nosso site, sempre buscando
melhorar a indexação de seus dados. Um ano atrás, junto à edição 17 apresentamos
um conjunto de quantificações ref
agora atualizamos. Atingimos, com a presente edição, 191 artigos, dos quais 16 em
espanhol e 4
na língua inglesa, o que nos mostra parte da abrangência que a revista
vem conquistando, especialmente na
(sendo 31 de fora do Brasil), sendo que 20
nesses dez anos, resultando em diferentes pesquisadores
brasileiras e de 3 continentes (Europa, África e a América
Sul). Consideramos que a abrangência de
desconcentrada; sendo um periódico radicado no RJ.
Junto à edição 17 (setembro de 2019) publicamos um Índice geral (inserido no
final da revista), com título, autor
à 16ª edição. Agora atualizamos, na plataforma, os metadados de cada artigo das
edições 17 em diante, com título, resumo e palavras
português, espanhol e inglês. Passamos a inc
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Revista Latino
-
Americana de Estudos em Cultura
trilhando os rumos da interdisciplinaridade e traz junto à presente edição
artigos selecionados para a seção de Fluxo Contínuo, e 10 artigos avaliados e
indicados segundo a chamada pública para o dossiê
Cultura, Tecnologia
que teve editoria dos pesquisadores Eliane Costa e Sergio Branco, a
quem reiteramos os agradeci
mentos pela valiosa contribuição ao nosso periódico. A
edição traz também um ensaio inovador ao mesclar intuição e rigor científico como
Esta edição (Ano 10, nº 19) abarcou 38 autores, oriundos da Argentina, e de
es brasileiras (só não estamos publicando nenhum autor da
região Norte nesta edição). Tivemos pesquisadores da Bahia, Ceará, Goiás, Minas
Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do
Sul, Santa Catarina e São Paulo.
ndo nossos compromissos com a difusão e circulação da informação e
pesquisa científica, atualizamos continuamente nosso site, sempre buscando
melhorar a indexação de seus dados. Um ano atrás, junto à edição 17 apresentamos
um conjunto de quantificações ref
erentes aos nove primeiros anos da revista, que
agora atualizamos. Atingimos, com a presente edição, 191 artigos, dos quais 16 em
na língua inglesa, o que nos mostra parte da abrangência que a revista
vem conquistando, especialmente na
latino-américa.
Ao todo, foram
(sendo 31 de fora do Brasil), sendo que 20
procuraram a revista mais de uma vez
nesses dez anos, resultando em diferentes pesquisadores
das cinco regiões
brasileiras e de 3 continentes (Europa, África e a América
-
do Norte, Central e do
Sul). Consideramos que a abrangência de
PragMATIZES
desconcentrada; sendo um periódico radicado no RJ.
Junto à edição 17 (setembro de 2019) publicamos um Índice geral (inserido no
final da revista), com título, autor
ia, DOI e resumo, de todos os artigos publicados da
à 16ª edição. Agora atualizamos, na plataforma, os metadados de cada artigo das
edições 17 em diante, com título, resumo e palavras
-
chave nas três línguas:
português, espanhol e inglês. Passamos a inc
luir na página principal da revista o link
24
Americana de Estudos em Cultura
segue
trilhando os rumos da interdisciplinaridade e traz junto à presente edição
cinco
artigos selecionados para a seção de Fluxo Contínuo, e 10 artigos avaliados e
Cultura, Tecnologia
e
que teve editoria dos pesquisadores Eliane Costa e Sergio Branco, a
mentos pela valiosa contribuição ao nosso periódico. A
edição traz também um ensaio inovador ao mesclar intuição e rigor científico como
Esta edição (Ano 10, nº 19) abarcou 38 autores, oriundos da Argentina, e de
es brasileiras (só não estamos publicando nenhum autor da
região Norte nesta edição). Tivemos pesquisadores da Bahia, Ceará, Goiás, Minas
Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do
ndo nossos compromissos com a difusão e circulação da informação e
pesquisa científica, atualizamos continuamente nosso site, sempre buscando
melhorar a indexação de seus dados. Um ano atrás, junto à edição 17 apresentamos
erentes aos nove primeiros anos da revista, que
agora atualizamos. Atingimos, com a presente edição, 191 artigos, dos quais 16 em
na língua inglesa, o que nos mostra parte da abrangência que a revista
Ao todo, foram
296 autores
procuraram a revista mais de uma vez
das cinco regiões
do Norte, Central e do
tem sido bem
Junto à edição 17 (setembro de 2019) publicamos um Índice geral (inserido no
ia, DOI e resumo, de todos os artigos publicados da
à 16ª edição. Agora atualizamos, na plataforma, os metadados de cada artigo das
chave nas três línguas:
luir na página principal da revista o link
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
para acesso aos Mapeamentos e Estatísticas
índice geral das edições. Cremos, com isso, garantir melhor aceso temático aos
nossos textos e ampliar suas indexações.
Cumpre reforçar q
ue os artigos de fluxo contínuo, resenhas e ensaios
submetidos são encaminhados para avaliadores
avaliações por texto
), no sistema duplo
Editorial da revista. Os artigos submetidos para os
também pelos editores do dossiê.
Quanto aos prazos e considerando a semestralidade da revista, os artigos
seguem fluxo contínuo de avaliação pelos pares sempre envidando esforços para
que os prazos girem em torno de 30 dias
Mantemos a semestralidade da revista, mas passamos a indicar apenas o s em
que a mesma é publicada, isto é: MARÇO e SETEMBRO. A tabela a seguir nos
apresenta dados sobre o fluxo de artigos, suas avaliações e tamb
de cadastrados no site de
PragMATIZES
Ano
2011
2012
Edições publicadas 1
Artigos publicados 6
Artigos avaliados
pelos pares
7
Artigos rejeitados 1
Tempo médio de
avaliação (dias)
30
Tempo médio de
publicação (dias)
90
126
Usuários
cadastrados
16
(*): quantitativos extraídos do sistema em maio de 2020.
Obs.: a) Ano 2011: houve apenas a edição inicial, no segundo semestre do ano, e o tempo
médio de avaliação e publicação foi estimado, pois não consta da plataforma
b) No ano de 2017 houve um conjunto maior de artigos avaliados, sendo que parte
deles foi publicada só no ano seguinte.
c) Observa-
se um movimento constante e crescente de usuários que se cadastram no
site da revista.
d) No ano de
2020 conseguiu
como o tempo médio de espera para a publicação do artigo.
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
para acesso aos Mapeamentos e Estatísticas
e também um link de acesso a um
índice geral das edições. Cremos, com isso, garantir melhor aceso temático aos
nossos textos e ampliar suas indexações.
ue os artigos de fluxo contínuo, resenhas e ensaios
submetidos são encaminhados para avaliadores
ad hoc
(num mínimo de duas
), no sistema duplo
-
cego, integrantes sobretudo do Conselho
Editorial da revista. Os artigos submetidos para os
dossiês temáticos são avaliados
também pelos editores do dossiê.
Quanto aos prazos e considerando a semestralidade da revista, os artigos
seguem fluxo contínuo de avaliação pelos pares sempre envidando esforços para
que os prazos girem em torno de 30 dias
ou menos entre o recebimento e o aceite.
Mantemos a semestralidade da revista, mas passamos a indicar apenas o s em
que a mesma é publicada, isto é: MARÇO e SETEMBRO. A tabela a seguir nos
apresenta dados sobre o fluxo de artigos, suas avaliações e tamb
ém os quantitativos
PragMATIZES
.
Estatísticas gerais por ano:
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2 2 2 2 2 2
12 12 25 19 19 25
19 15 27 20 22 40
1 2 2 2 2 9
26 25 50 41 149 100
126
94 77 106 103 172
82 122 181 259 305 394
(*): quantitativos extraídos do sistema em maio de 2020.
Obs.: a) Ano 2011: houve apenas a edição inicial, no segundo semestre do ano, e o tempo
médio de avaliação e publicação foi estimado, pois não consta da plataforma
OJS do periódico.
b) No ano de 2017 houve um conjunto maior de artigos avaliados, sendo que parte
deles foi publicada só no ano seguinte.
se um movimento constante e crescente de usuários que se cadastram no
2020 conseguiu
-
se reduzir bastante o tempo médio de avaliação, assim
como o tempo médio de espera para a publicação do artigo.
25
e também um link de acesso a um
índice geral das edições. Cremos, com isso, garantir melhor aceso temático aos
ue os artigos de fluxo contínuo, resenhas e ensaios
(num mínimo de duas
cego, integrantes sobretudo do Conselho
dossiês temáticos são avaliados
Quanto aos prazos e considerando a semestralidade da revista, os artigos
seguem fluxo contínuo de avaliação pelos pares sempre envidando esforços para
ou menos entre o recebimento e o aceite.
Mantemos a semestralidade da revista, mas passamos a indicar apenas o s em
que a mesma é publicada, isto é: MARÇO e SETEMBRO. A tabela a seguir nos
ém os quantitativos
2017
2018
2019
2020
2 2 2
23 24 31
9 29 41
0 4 10
33 46 14 (*)
132 111 31 (*)
569 628 702 (*)
Obs.: a) Ano 2011: houve apenas a edição inicial, no segundo semestre do ano, e o tempo
OJS do periódico.
b) No ano de 2017 houve um conjunto maior de artigos avaliados, sendo que parte
se um movimento constante e crescente de usuários que se cadastram no
se reduzir bastante o tempo médio de avaliação, assim
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
O conteúdo da edição
A edição 19 traz o dossiê
artigos e editorado por Eli
ane Costa e Sergio Branco
pouco mais a frente -
e, como de costume, os textos apresentados em fluxo
contínuo. Nesta edição temos 5 artigos em fluxo contínuo e um ensaio.
O artigo
Hibridación, intermedialidad y performance en e
latinoamericano moderno
, do argentino Javier Cossalter, aborda o curta
latino-
americano produzido, entre meados da cada do cinquenta e meados dos
anos setenta, praticamente fora da indústria cinematográfica e seu papel
fundamental
na renovação do cinema em um contexto geral de dinamismo e
modernização do campo cultural regional.
O texto de
Catarina Vitorino intitulado
verde: planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na revista
Cruzeiro” 1950-1951
tem como objetivo desenvolver uma reflexão crítica sobre a
temática ambiental reproduzida na esfera do discurso da arquitetura e construção, a
partir da expressão
“Inferno Verde”, uma designação da floresta da Amazónia
proveniente d
o discurso literário.
Economia e cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Tereza Borghi Leite e Juliano de Castro Silvestre,
culturais numa perspectiva de desenvolvimento local e regional aplicado no
muni
cípio de Goiás, com o objetivo de discutir como se relacionam as dinâmicas da
economia e do trabalho local com a cultura advinda do município.
A temática do SNC é tratada no artigo
estado da arte da produção acadêmica com f
municípios,
de Clarissa Semensato e Alexandre Barbalho. Os autores apontam que
o objetivo deste artigo é tecer um estado da arte das monografias realizadas em
cursos de pós-
graduação
Sistemas Municipais de Cultura.
Um grupo de pesquisadores da UFBA integrado por Renata Rocha, Leonardo
Costa, Nayanna Mattos e Gustavo Brandão assinam o artigo
políticas culturais na Universidade Federal da Bahia
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
O conteúdo da edição
A edição 19 traz o dossiê
Cultura, Tecnologia e Sociedade
, integrado por 10
ane Costa e Sergio Branco
-
que passaremos a tratar um
e, como de costume, os textos apresentados em fluxo
contínuo. Nesta edição temos 5 artigos em fluxo contínuo e um ensaio.
Hibridación, intermedialidad y performance en e
, do argentino Javier Cossalter, aborda o curta
americano produzido, entre meados da cada do cinquenta e meados dos
anos setenta, praticamente fora da indústria cinematográfica e seu papel
na renovação do cinema em um contexto geral de dinamismo e
modernização do campo cultural regional.
Catarina Vitorino intitulado
Uma viagem aos meandros do inferno
verde: planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na revista
tem como objetivo desenvolver uma reflexão crítica sobre a
temática ambiental reproduzida na esfera do discurso da arquitetura e construção, a
“Inferno Verde”, uma designação da floresta da Amazónia
o discurso literário.
Economia e cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Tereza Borghi Leite e Juliano de Castro Silvestre,
aborda as relações econômicas e
culturais numa perspectiva de desenvolvimento local e regional aplicado no
cípio de Goiás, com o objetivo de discutir como se relacionam as dinâmicas da
economia e do trabalho local com a cultura advinda do município.
A temática do SNC é tratada no artigo
Sistema Nacional de Cultura: um
estado da arte da produção acadêmica com f
oco nos estudos de caso de
de Clarissa Semensato e Alexandre Barbalho. Os autores apontam que
o objetivo deste artigo é tecer um estado da arte das monografias realizadas em
graduação
stricto sensu
que tenham como temáticas o SNC
Sistemas Municipais de Cultura.
Um grupo de pesquisadores da UFBA integrado por Renata Rocha, Leonardo
Costa, Nayanna Mattos e Gustavo Brandão assinam o artigo
Publicações sobre
políticas culturais na Universidade Federal da Bahia
: explorações
26
, integrado por 10
que passaremos a tratar um
e, como de costume, os textos apresentados em fluxo
contínuo. Nesta edição temos 5 artigos em fluxo contínuo e um ensaio.
Hibridación, intermedialidad y performance en e
l cortometraje
, do argentino Javier Cossalter, aborda o curta
-metragem
americano produzido, entre meados da cada do cinquenta e meados dos
anos setenta, praticamente fora da indústria cinematográfica e seu papel
na renovação do cinema em um contexto geral de dinamismo e
Uma viagem aos meandros do inferno
verde: planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na revista
“O
tem como objetivo desenvolver uma reflexão crítica sobre a
temática ambiental reproduzida na esfera do discurso da arquitetura e construção, a
“Inferno Verde”, uma designação da floresta da Amazónia
Economia e cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
, de Aline
aborda as relações econômicas e
culturais numa perspectiva de desenvolvimento local e regional aplicado no
cípio de Goiás, com o objetivo de discutir como se relacionam as dinâmicas da
Sistema Nacional de Cultura: um
oco nos estudos de caso de
de Clarissa Semensato e Alexandre Barbalho. Os autores apontam que
o objetivo deste artigo é tecer um estado da arte das monografias realizadas em
que tenham como temáticas o SNC
e os
Um grupo de pesquisadores da UFBA integrado por Renata Rocha, Leonardo
Publicações sobre
bibliométricas. A
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
pesquisa utiliza
a bibliometria como ferramenta para mensurar a produção e
disseminação do conhecimento científico a partir das publicações especificadas.
O ensaio de Marcelo Neder Cerqueira
do rigor científico aos
insights
vezes quase ficcional. Trata
campo, realizada em Havana, sobre a obra do escritor cubano Alejo Carpentier. O
ensaio articula a reflexão autobiográfica e hipóteses desenvolvidas ao longo da
pesquisa. Com apresentado, através de "uma narrativa fácil e envolvente, pretende
se trazer uma imagem realista da pesquisa científica no campo das humanidades,
despertando o i
nteresse pela aventura da imaginação sociológica".
Temos convicção que nossos esforços encontrarão ressonância entre os
pesquisadores nacionais e estrangeiros que nos lêem, e conosco publicam.
Niterói/RJ, Primavera de 2020
Os editores
APRESENTAÇÃO DO
No momento em que esta edição da PragMATIZES está sendo elaborada, o mundo
se encontra em uma situação inédita. Após seis meses de circulação do vírus Covid
19, países inteiros se encerraram em suas fronteiras, com enormes grupos
populacionais tran
cados em casa. As atividades econômicas foram reduzidas ao
essencial, o home office
se tornou
para a internet. Estamos todos em uma encruzilhada pragmática: o que fazer e
como agir? Como nos preparamos para
As dúvidas não são poucas nem devem ser simples suas respostas. Espera
os próximos meses uma recessão que se abaterá em todos os continentes.
Precisaremos de um longo tempo para nos recuperarmos economicamente
caminho será tortuoso.
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
a bibliometria como ferramenta para mensurar a produção e
disseminação do conhecimento científico a partir das publicações especificadas.
O ensaio de Marcelo Neder Cerqueira
-
Afeto e método em Havana
insights
"desorganizados" da memória, numa narrativa por
vezes quase ficcional. Trata
-
se de um texto relatando a experiência de pesquisa de
campo, realizada em Havana, sobre a obra do escritor cubano Alejo Carpentier. O
ensaio articula a reflexão autobiográfica e hipóteses desenvolvidas ao longo da
pesquisa. Com apresentado, através de "uma narrativa fácil e envolvente, pretende
se trazer uma imagem realista da pesquisa científica no campo das humanidades,
nteresse pela aventura da imaginação sociológica".
Temos convicção que nossos esforços encontrarão ressonância entre os
pesquisadores nacionais e estrangeiros que nos lêem, e conosco publicam.
Niterói/RJ, Primavera de 2020
APRESENTAÇÃO DO
DOSSIÊ
No momento em que esta edição da PragMATIZES está sendo elaborada, o mundo
se encontra em uma situação inédita. Após seis meses de circulação do vírus Covid
19, países inteiros se encerraram em suas fronteiras, com enormes grupos
cados em casa. As atividades econômicas foram reduzidas ao
se tornou
– tanto quanto possível –
normal, o mundo migrou
para a internet. Estamos todos em uma encruzilhada pragmática: o que fazer e
como agir? Como nos preparamos para
um futuro (ainda mais) desconhecido?
As dúvidas não são poucas nem devem ser simples suas respostas. Espera
os próximos meses uma recessão que se abaterá em todos os continentes.
Precisaremos de um longo tempo para nos recuperarmos economicamente
27
a bibliometria como ferramenta para mensurar a produção e
disseminação do conhecimento científico a partir das publicações especificadas.
Afeto e método em Havana
- transita
"desorganizados" da memória, numa narrativa por
se de um texto relatando a experiência de pesquisa de
campo, realizada em Havana, sobre a obra do escritor cubano Alejo Carpentier. O
ensaio articula a reflexão autobiográfica e hipóteses desenvolvidas ao longo da
pesquisa. Com apresentado, através de "uma narrativa fácil e envolvente, pretende
-
se trazer uma imagem realista da pesquisa científica no campo das humanidades,
Temos convicção que nossos esforços encontrarão ressonância entre os
pesquisadores nacionais e estrangeiros que nos lêem, e conosco publicam.
No momento em que esta edição da PragMATIZES está sendo elaborada, o mundo
se encontra em uma situação inédita. Após seis meses de circulação do vírus Covid
-
19, países inteiros se encerraram em suas fronteiras, com enormes grupos
cados em casa. As atividades econômicas foram reduzidas ao
normal, o mundo migrou
para a internet. Estamos todos em uma encruzilhada pragmática: o que fazer e
um futuro (ainda mais) desconhecido?
As dúvidas não são poucas nem devem ser simples suas respostas. Espera
-se para
os próximos meses uma recessão que se abaterá em todos os continentes.
Precisaremos de um longo tempo para nos recuperarmos economicamente
e o
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Um dos aspectos mais desafiadores é o impacto da atual situação na cultura. Afinal,
um setor que necessita da presença física de blico se tornou desde o início da
pandemia uma grande ameaça à saúde pública. Assim, museus, cin
casas de show e de espetáculos estavam entre os primeiros estabelecimentos a
serem fechados. E, pelas mesmas razões, estarão entre os últimos a reabrir. Afinal,
ao contrário de supermercados e de farmácias, ninguém depende de cultura para
seguir vivendo. Será?
Um dos ensinamentos do momento atual é justamente a importância da cultura em
nosso cotidiano. É graças a livros, filmes, música e outras manifestações artísticas
que muitos dentre nós estão mantendo o equilíbrio necessário para seguir
que tem que ser feito, dia após dia, sem saber ainda aonde esta estranha situação
vai nos levar.
Nesse ponto, a tecnologia é uma grande aliada. Pense na mesma pandemia se
estivéssemos ainda nos anos 1980, diante de 6 canais de televisão, com o
LPs que tínhamos em casa. Seria bem mais difícil. Volte outros 50 anos e perceba
que o desafio seria ainda maior. E mesmo que a tecnologia pareça por vezes uma
ameaça (violação de direitos autorais na internet, por exemplo), ela vai viabilizar
n
ovos modelos de negócio e novos arranjos sociais. O
cinema, mas é o melhor que a gente tem em tempos de carestia. Que cinema virá
depois que voltarmos ao normal (qualquer que ele seja) ainda não sabemos. Mas o
mais provável é
que as tecnologias não se substituam, mas se somem. Foi assim
com o cinema e a televisão e depois com o videocassete. Agora o
agregar à família. O mesmo se dará com o teatro e com essas novas modalidades
de performance online. Não se sabe ainda se elas merecem ser chamadas de
teatro. Questão semântica importante por alguns motivos, mas irrelevante para a
expressão artísti
ca. Mesmo de quarentena, a arte encontra um caminho.
A tecnologia também mudou para sempre a feição do direito. disse Gustavo
Tepedino, um dos maiores nomes brasileiros do direito civil, que “o saudoso
professor Stefano Rodoobservou, em síntese torn
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Um dos aspectos mais desafiadores é o impacto da atual situação na cultura. Afinal,
um setor que necessita da presença física de blico se tornou desde o início da
pandemia uma grande ameaça à saúde pública. Assim, museus, cin
casas de show e de espetáculos estavam entre os primeiros estabelecimentos a
serem fechados. E, pelas mesmas razões, estarão entre os últimos a reabrir. Afinal,
ao contrário de supermercados e de farmácias, ninguém depende de cultura para
Um dos ensinamentos do momento atual é justamente a importância da cultura em
nosso cotidiano. É graças a livros, filmes, música e outras manifestações artísticas
que muitos dentre nós estão mantendo o equilíbrio necessário para seguir
que tem que ser feito, dia após dia, sem saber ainda aonde esta estranha situação
Nesse ponto, a tecnologia é uma grande aliada. Pense na mesma pandemia se
estivéssemos ainda nos anos 1980, diante de 6 canais de televisão, com o
LPs que tínhamos em casa. Seria bem mais difícil. Volte outros 50 anos e perceba
que o desafio seria ainda maior. E mesmo que a tecnologia pareça por vezes uma
ameaça (violação de direitos autorais na internet, por exemplo), ela vai viabilizar
ovos modelos de negócio e novos arranjos sociais. O
streaming
não vai substituir o
cinema, mas é o melhor que a gente tem em tempos de carestia. Que cinema virá
depois que voltarmos ao normal (qualquer que ele seja) ainda não sabemos. Mas o
que as tecnologias não se substituam, mas se somem. Foi assim
com o cinema e a televisão e depois com o videocassete. Agora o
streaming
agregar à família. O mesmo se dará com o teatro e com essas novas modalidades
de performance online. Não se sabe ainda se elas merecem ser chamadas de
teatro. Questão semântica importante por alguns motivos, mas irrelevante para a
ca. Mesmo de quarentena, a arte encontra um caminho.
A tecnologia também mudou para sempre a feição do direito. disse Gustavo
Tepedino, um dos maiores nomes brasileiros do direito civil, que “o saudoso
professor Stefano Rodoobservou, em síntese torn
ada célebre, que a tecnologia
28
Um dos aspectos mais desafiadores é o impacto da atual situação na cultura. Afinal,
um setor que necessita da presença física de blico se tornou desde o início da
pandemia uma grande ameaça à saúde pública. Assim, museus, cin
emas, teatros,
casas de show e de espetáculos estavam entre os primeiros estabelecimentos a
serem fechados. E, pelas mesmas razões, estarão entre os últimos a reabrir. Afinal,
ao contrário de supermercados e de farmácias, ninguém depende de cultura para
Um dos ensinamentos do momento atual é justamente a importância da cultura em
nosso cotidiano. É graças a livros, filmes, música e outras manifestações artísticas
que muitos dentre nós estão mantendo o equilíbrio necessário para seguir
fazendo o
que tem que ser feito, dia após dia, sem saber ainda aonde esta estranha situação
Nesse ponto, a tecnologia é uma grande aliada. Pense na mesma pandemia se
estivéssemos ainda nos anos 1980, diante de 6 canais de televisão, com o
s livros e
LPs que tínhamos em casa. Seria bem mais difícil. Volte outros 50 anos e perceba
que o desafio seria ainda maior. E mesmo que a tecnologia pareça por vezes uma
ameaça (violação de direitos autorais na internet, por exemplo), ela vai viabilizar
não vai substituir o
cinema, mas é o melhor que a gente tem em tempos de carestia. Que cinema virá
depois que voltarmos ao normal (qualquer que ele seja) ainda não sabemos. Mas o
que as tecnologias não se substituam, mas se somem. Foi assim
streaming
vem se
agregar à família. O mesmo se dará com o teatro e com essas novas modalidades
de performance online. Não se sabe ainda se elas merecem ser chamadas de
teatro. Questão semântica importante por alguns motivos, mas irrelevante para a
ca. Mesmo de quarentena, a arte encontra um caminho.
A tecnologia também mudou para sempre a feição do direito. disse Gustavo
Tepedino, um dos maiores nomes brasileiros do direito civil, que “o saudoso
ada célebre, que a tecnologia
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
salvou o Direito Civil assim como a ética salvara, no passado, a filosofia”
meio da tecnologia que algumas das questões mais urgentes do direito civil têm sido
apresentadas à sociedade contemporânea.
Se a privacidade,
valor construído ao longo dos séculos XVIII e XIX, encontra seu
primeiro respaldo acadêmico como “o direito de estar só”, hoje, passados mais de
cem anos, o conceito está intrinsecamente conectado ao controle de informações
pessoais de um indivíduo. Na so
assemelham cada vez mais a nosso cotidiano. Até George Orwell, em seu canônico
“1984”, ficaria espantado de ver o quanto nós contribuímos com o vigilantismo alheio
fornecendo, de boa vontade, nossos própr
episódio de “Black Mirror” ou um Big Brother perpétuo, em que o Direito precisa
encontrar os limites da regulação.
Demandas jurídicas vêm cada vez mais acompanhadas de elementos cnicos, de
modo que os saberes se tor
Poder Judiciário se valer de softwares que predizem qual a probabilidade de alguém
que cometeu um ato criminoso voltar a delinquir? Em que medida programas de
computador são capazes de criar obras de
autorais? Um programa de inteligência artificial pode modelar nosso gosto musical
ou cinematográfico? Em última análise, todas essas perguntas nos remetem aos
contornos da liberdade, valor tão caro às ciências juríd
nossa ideia de humanidade.
Trabalhar na interseção de cultura, tecnologia e direito
é trabalhar na incerteza. O que os textos aqui reunidos procuram fazer é ofertar suas
próprias perguntas para quem
Niterói, setembro de 2020
Eliane Costa e Sergio Branco
1
https://www.oabrj.org.br/colunistas/gustavo
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
salvou o Direito Civil assim como a ética salvara, no passado, a filosofia”
meio da tecnologia que algumas das questões mais urgentes do direito civil têm sido
apresentadas à sociedade contemporânea.
valor construído ao longo dos séculos XVIII e XIX, encontra seu
primeiro respaldo acadêmico como “o direito de estar só”, hoje, passados mais de
cem anos, o conceito está intrinsecamente conectado ao controle de informações
pessoais de um indivíduo. Na so
ciedade da vigilância, obras de ficção distópica se
assemelham cada vez mais a nosso cotidiano. Até George Orwell, em seu canônico
“1984”, ficaria espantado de ver o quanto nós contribuímos com o vigilantismo alheio
fornecendo, de boa vontade, nossos própr
ios dados. O mundo se converteu em um
episódio de “Black Mirror” ou um Big Brother perpétuo, em que o Direito precisa
encontrar os limites da regulação.
Demandas jurídicas vêm cada vez mais acompanhadas de elementos cnicos, de
modo que os saberes se tor
naram irremediavelmente multidisciplinares. É possível o
Poder Judiciário se valer de softwares que predizem qual a probabilidade de alguém
que cometeu um ato criminoso voltar a delinquir? Em que medida programas de
computador são capazes de criar obras de
arte passíveis de proteção por direitos
autorais? Um programa de inteligência artificial pode modelar nosso gosto musical
ou cinematográfico? Em última análise, todas essas perguntas nos remetem aos
contornos da liberdade, valor tão caro às ciências juríd
icas e tão indissociável de
nossa ideia de humanidade.
Trabalhar na interseção de cultura, tecnologia e direito
-
no meio de uma pandemia
é trabalhar na incerteza. O que os textos aqui reunidos procuram fazer é ofertar suas
próprias perguntas para quem
esteja disposto a dialogar.
Niterói, setembro de 2020
Eliane Costa e Sergio Branco
https://www.oabrj.org.br/colunistas/gustavo
-tepedino/as-tecnologias-renovacao-
direito
29
salvou o Direito Civil assim como a ética salvara, no passado, a filosofia”
1
. É por
meio da tecnologia que algumas das questões mais urgentes do direito civil têm sido
valor construído ao longo dos séculos XVIII e XIX, encontra seu
primeiro respaldo acadêmico como “o direito de estar só”, hoje, passados mais de
cem anos, o conceito está intrinsecamente conectado ao controle de informações
ciedade da vigilância, obras de ficção distópica se
assemelham cada vez mais a nosso cotidiano. Até George Orwell, em seu canônico
“1984”, ficaria espantado de ver o quanto nós contribuímos com o vigilantismo alheio
ios dados. O mundo se converteu em um
episódio de “Black Mirror” ou um Big Brother perpétuo, em que o Direito precisa
Demandas jurídicas vêm cada vez mais acompanhadas de elementos cnicos, de
naram irremediavelmente multidisciplinares. É possível o
Poder Judiciário se valer de softwares que predizem qual a probabilidade de alguém
que cometeu um ato criminoso voltar a delinquir? Em que medida programas de
arte passíveis de proteção por direitos
autorais? Um programa de inteligência artificial pode modelar nosso gosto musical
ou cinematográfico? Em última análise, todas essas perguntas nos remetem aos
icas e tão indissociável de
no meio de uma pandemia
-
é trabalhar na incerteza. O que os textos aqui reunidos procuram fazer é ofertar suas
direito
-civil
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela antidisciplinaridade,
tolerância ao erro e diversidade cognitiva
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.42522
Resumo:
Este artigo propõe que três valores assumem um papel importante no estímulo à geração
de novas ideias e ampliação do acesso ao conhecimento
espaços de aprendizagem tecnológica (os espaços de fazer, chamados aqui de labs). São eles:
antidisciplinaridade
, tolerância ao erro e diversidade cognitiva. O trabalho se insere no contexto
marcado pela democratização
de tecnologias que permitem a cidadãos fora de grandes centros de
pesquisa e da indústria materializar suas ideias, expressar sua visão de mundo, sua criatividade e
construir conhecimento a partir da interação com artefatos. E busca contribuir para reflex
sociedade digital e a necessidade de entendermos os fazeres tecnológicos a partir de seus aspectos
culturais.
Palavras-chave
: experimental; design; criatividade; cultura digital; makerspaces.
Espacios de hacer como generadores de una
tolerancia al error y la diversidad cognitiva.
Resumen:
Este artículo propone que tres valores tienen un papel importante en estimular la
generación de nuevas ideas y expandir el acceso al conocimiento, cuand
prácticas de los espacios de aprendizaje tecnológico (los espacios para hacer, aquí llamados
laboratorios). Ellos son: antidisciplinariedad, tolerancia al error y diversidad cognitiva. El trabajo se
inserta en el contexto marcado por
ciudadanos fuera de los principales centros de investigación y la industria materializar sus ideas,
expresar su visión del mundo, su creatividad y generar conocimiento a partir de la interacción con
1
Gabriela da Costa Aguiar Agustini. Mestre em Des
de Artes & Design da PUC Rio. Professora do MBA de Gestão cultural da Universidade Cândido
Mendes, Rio de Janeiro, Brasil. E
1992
2
Jorge Roberto Lopes dos Santos. Doutor em Design Products pelo Royal CollegeofArt, Reino Unido.
P
rofessor Departamento de Artes &
Brasil. E-mail: jorge.lopes@puc-
rio.
Recebido em 04/05/2020,
aceito para publicação em 11
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela antidisciplinaridade,
tolerância ao erro e diversidade cognitiva
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.42522
Gabriela da Costa Aguiar Agustini
Jorge Roberto Lopes dos Santos
Este artigo propõe que três valores assumem um papel importante no estímulo à geração
de novas ideias e ampliação do acesso ao conhecimento
, quando incorporados às práticas dos
espaços de aprendizagem tecnológica (os espaços de fazer, chamados aqui de labs). São eles:
, tolerância ao erro e diversidade cognitiva. O trabalho se insere no contexto
de tecnologias que permitem a cidadãos fora de grandes centros de
pesquisa e da indústria materializar suas ideias, expressar sua visão de mundo, sua criatividade e
construir conhecimento a partir da interação com artefatos. E busca contribuir para reflex
sociedade digital e a necessidade de entendermos os fazeres tecnológicos a partir de seus aspectos
: experimental; design; criatividade; cultura digital; makerspaces.
Espacios de hacer como generadores de una
cultura guiada por la antidisciplinariedad, la
tolerancia al error y la diversidad cognitiva.
Este artículo propone que tres valores tienen un papel importante en estimular la
generación de nuevas ideas y expandir el acceso al conocimiento, cuand
o se incorporan a las
prácticas de los espacios de aprendizaje tecnológico (los espacios para hacer, aquí llamados
laboratorios). Ellos son: antidisciplinariedad, tolerancia al error y diversidad cognitiva. El trabajo se
inserta en el contexto marcado por
la democratización de las tecnologías que permiten a los
ciudadanos fuera de los principales centros de investigación y la industria materializar sus ideas,
expresar su visión del mundo, su creatividad y generar conocimiento a partir de la interacción con
Gabriela da Costa Aguiar Agustini. Mestre em Des
i
gn, Tecnologia e Sociedade pelo Departamento
de Artes & Design da PUC Rio. Professora do MBA de Gestão cultural da Universidade Cândido
Mendes, Rio de Janeiro, Brasil. E
-mail: gabiagustini@gmail.com-
http://orcid.org/0000
Jorge Roberto Lopes dos Santos. Doutor em Design Products pelo Royal CollegeofArt, Reino Unido.
rofessor Departamento de Artes &
Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
rio.
br - https://orcid.org/0000-0002-8162-8291
aceito para publicação em 11
/05/20
20, disponibilizado online em
01/09/2020.
30
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela antidisciplinaridade,
Gabriela da Costa Aguiar Agustini
1
Jorge Roberto Lopes dos Santos
2
Este artigo propõe que três valores assumem um papel importante no estímulo à geração
, quando incorporados às práticas dos
espaços de aprendizagem tecnológica (os espaços de fazer, chamados aqui de labs). São eles:
, tolerância ao erro e diversidade cognitiva. O trabalho se insere no contexto
de tecnologias que permitem a cidadãos fora de grandes centros de
pesquisa e da indústria materializar suas ideias, expressar sua visão de mundo, sua criatividade e
construir conhecimento a partir da interação com artefatos. E busca contribuir para reflex
ões sobre a
sociedade digital e a necessidade de entendermos os fazeres tecnológicos a partir de seus aspectos
cultura guiada por la antidisciplinariedad, la
Este artículo propone que tres valores tienen un papel importante en estimular la
o se incorporan a las
prácticas de los espacios de aprendizaje tecnológico (los espacios para hacer, aquí llamados
laboratorios). Ellos son: antidisciplinariedad, tolerancia al error y diversidad cognitiva. El trabajo se
la democratización de las tecnologías que permiten a los
ciudadanos fuera de los principales centros de investigación y la industria materializar sus ideas,
expresar su visión del mundo, su creatividad y generar conocimiento a partir de la interacción con
los
gn, Tecnologia e Sociedade pelo Departamento
de Artes & Design da PUC Rio. Professora do MBA de Gestão cultural da Universidade Cândido
http://orcid.org/0000
-0002-4170-
Jorge Roberto Lopes dos Santos. Doutor em Design Products pelo Royal CollegeofArt, Reino Unido.
Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
20, disponibilizado online em
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
artefactos. Y busca contribuir a reflexiones sobre la sociedad digital y la necesidad de comprender las
prácticas tecnológicas basadas en sus aspectos culturales.
Palabras clave:
experimental; design; creatividad; cultura digital; espacios de hacer.
Makerspaces as a generators of a culture guided by antidisciplinarity, toleranceforfailure, and
diversity.
Abstract:
This article proposes that three values
generation of new ideas and expanding access to
learning spaces (makerspaces). They are: antidisciplinarity, tolerance for failure and diversity. The
work is inserted in the context marked by the democratization of technologies that allow citizens
outsi
de major research centers and industry to materialize their ideas, express their worldview, their
creativity and build knowledge from the interaction with artifacts. And it seeks to contribute to
reflections on the digital society and the need to understan
cultural aspects.
Keywords
: experimental; design; creativity; digital culture; makerspaces.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela antidisciplinaridade,
tolerância ao erro e diversidade cogni
1. Introdução
Este artigo traz uma reflexão a
respeito do fazer como prática de
aprendizagem, ressaltando o seu
potencial de irradiar valores que
contribuem para a geração de novas
ideias e ampliação do acesso ao
conhecimento. O ponto de partida é a
observação do uso qu
e os cidadãos,
neste início do século XXI, fazem das
ferramentas de criação experimental e de
desenvolvimento disponíveis em espaços
de criatividade conhecidos por nomes
diversos, tais como
makerspaces,fablabs,
hackerspaces
laboratórios cidadãos ou simples
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
artefactos. Y busca contribuir a reflexiones sobre la sociedad digital y la necesidad de comprender las
prácticas tecnológicas basadas en sus aspectos culturales.
experimental; design; creatividad; cultura digital; espacios de hacer.
Makerspaces as a generators of a culture guided by antidisciplinarity, toleranceforfailure, and
This article proposes that three values
assume an important role in stimulating the
generation of new ideas and expanding access to
knowledge, when guiding practices of technological
learning spaces (makerspaces). They are: antidisciplinarity, tolerance for failure and diversity. The
work is inserted in the context marked by the democratization of technologies that allow citizens
de major research centers and industry to materialize their ideas, express their worldview, their
creativity and build knowledge from the interaction with artifacts. And it seeks to contribute to
reflections on the digital society and the need to understan
d technological practices based on their
: experimental; design; creativity; digital culture; makerspaces.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela antidisciplinaridade,
tiva
Este artigo traz uma reflexão a
respeito do fazer como prática de
aprendizagem, ressaltando o seu
potencial de irradiar valores que
contribuem para a geração de novas
ideias e ampliação do acesso ao
conhecimento. O ponto de partida é a
e os cidadãos,
neste início do século XXI, fazem das
ferramentas de criação experimental e de
desenvolvimento disponíveis em espaços
de criatividade conhecidos por nomes
diversos, tais como
hackerspaces
,
laboratórios cidadãos ou simples
mente
laboratórios (os chamamos de
artigo).
Busca-
se entender como o ato de
produzir artefatos pode se constituir em
uma ferramenta importante de geração e
de expressão de novos pensamentos,
colaborar para um processo de
aprendizagem e no desen
desejáveis. E, para que isso ocorra,
entende-
se ser necessária a presença de
três valores: antidisciplinaridade,
tolerância ao erro e diversidade cognitiva
explicados neste artigo.
Esta proposição parte dos
repertórios dos autores somados
crítica de trabalhos recentes conceituados
globalmente e busca estimular a reflexão
31
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
artefactos. Y busca contribuir a reflexiones sobre la sociedad digital y la necesidad de comprender las
experimental; design; creatividad; cultura digital; espacios de hacer.
Makerspaces as a generators of a culture guided by antidisciplinarity, toleranceforfailure, and
assume an important role in stimulating the
knowledge, when guiding practices of technological
learning spaces (makerspaces). They are: antidisciplinarity, tolerance for failure and diversity. The
work is inserted in the context marked by the democratization of technologies that allow citizens
de major research centers and industry to materialize their ideas, express their worldview, their
creativity and build knowledge from the interaction with artifacts. And it seeks to contribute to
d technological practices based on their
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela antidisciplinaridade,
laboratórios (os chamamos de
labs neste
se entender como o ato de
produzir artefatos pode se constituir em
uma ferramenta importante de geração e
de expressão de novos pensamentos,
colaborar para um processo de
aprendizagem e no desen
ho de futuros
desejáveis. E, para que isso ocorra,
se ser necessária a presença de
três valores: antidisciplinaridade,
tolerância ao erro e diversidade cognitiva
explicados neste artigo.
Esta proposição parte dos
repertórios dos autores somados
à leitura
crítica de trabalhos recentes conceituados
globalmente e busca estimular a reflexão
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
sobre o importante papel que a
experimentação pode desempenhar na
construção de futuros desejáveis.
2.1 Construindo conhecimento a partir
da produção de artefatos
Os objetos não são mera execução
de um pensamento pré-
concebido, mas
sim o resultado de um diálogo entre
criador e materiais
o que enfatiza o
protagonismo dos cidadãos na construção
de artefatos.
Tim Ingold defende o desenhar
como “um processo
de pensamento, e
não a projeção de um pensamento” e
explica que “a tarefa do produtor consiste
em trazer as peças para um engajamento,
de maneira que cheguem a uma
correspondência mútua” (INGOLD, 2013,
p. 128 e 69, respectivamente).
Para Ingold, o process
produção não é fruto da dominação do
produtor sobre os materiais com que
trabalha, mas sim da convergência entre
ambos. Dessa convergência resulta um
processo que o autor chama de
“crescimento”, e não de produção, termo
usualmente atribuído a produtos
assim, compara os artefatos a organismos
vivos e afirma que, tal como estes, os
produtos crescem e são moldados. A
visão do britânico resgata um pensamento
pré-
moderno defendido por gregos
clássicos, que considera o trabalho do
artesão na manipul
ação de materiais não
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
sobre o importante papel que a
experimentação pode desempenhar na
construção de futuros desejáveis.
2.1 Construindo conhecimento a partir
Os objetos não são mera execução
concebido, mas
sim o resultado de um diálogo entre
o que enfatiza o
protagonismo dos cidadãos na construção
Tim Ingold defende o desenhar
de pensamento, e
não a projeção de um pensamento” e
explica que “a tarefa do produtor consiste
em trazer as peças para um engajamento,
de maneira que cheguem a uma
correspondência mútua” (INGOLD, 2013,
p. 128 e 69, respectivamente).
Para Ingold, o process
o de
produção não é fruto da dominação do
produtor sobre os materiais com que
trabalha, mas sim da convergência entre
ambos. Dessa convergência resulta um
processo que o autor chama de
“crescimento”, e não de produção, termo
usualmente atribuído a produtos
. Ingold,
assim, compara os artefatos a organismos
vivos e afirma que, tal como estes, os
produtos crescem e são moldados. A
visão do britânico resgata um pensamento
moderno defendido por gregos
clássicos, que considera o trabalho do
ação de materiais não
como fruto de um pensamento racional e
sim como uma “inscrição na ordem da
natureza”, como percebido por Pedro
Pereira Leite (2002).
Entender esse diálogo entre
materiais e pessoas na construção de
objetos ajuda a explicar a importânc
se explorarem as atividades manuais
enquanto ferramentas de aprendizagem.
E, nesse sentido,
diversos pesquisadores
apontam que usar as mãos para criar,
explorar e comunicar é natural para os
humanos. Como escreve Dale Dougherty
(2016, p. XVI-XVII):
F
azer é um tipo de ‘e se’, explorando
questões sobre como algo funciona e
se ele poderia funcionar de maneira
diferente. [...]
Fazer é uma liberdade criativa que
aprendemos a apreciar através da
prática. Podemos melhorar e, como
resultado, mais ainda que
podemos fazer. Nós não sabemos se
temos algum talento especial para
isso até sujarmos as mãos e
tentarmos. Através da prática de
fazer, desenvolvemos o que
chamamos de mentalidade de ‘poder
fazer’ que nos encoraja a agir,
assumir o controle de nossas vida
desenvolver nossas próprias
capacidades. Fazer nos envolve
plena e profundamente como seres
humanos e satisfaz nossas almas
criativas.
Também valiosa a contribuição de
Trevor H. J. Marchand, para quem
“dominar uma ferramenta modifica e
expande nossas
capacidades cognitivas e
físicas integradas. Ferramentas são
32
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
como fruto de um pensamento racional e
sim como uma “inscrição na ordem da
natureza”, como percebido por Pedro
Entender esse diálogo entre
materiais e pessoas na construção de
objetos ajuda a explicar a importânc
ia de
se explorarem as atividades manuais
enquanto ferramentas de aprendizagem.
diversos pesquisadores
apontam que usar as mãos para criar,
explorar e comunicar é natural para os
humanos. Como escreve Dale Dougherty
azer é um tipo de ‘e se’, explorando
questões sobre como algo funciona e
se ele poderia funcionar de maneira
Fazer é uma liberdade criativa que
aprendemos a apreciar através da
prática. Podemos melhorar e, como
resultado, mais ainda que
podemos fazer. Nós não sabemos se
temos algum talento especial para
isso até sujarmos as mãos e
tentarmos. Através da prática de
fazer, desenvolvemos o que
chamamos de mentalidade de ‘poder
fazer’ que nos encoraja a agir,
assumir o controle de nossas vida
s e
desenvolver nossas próprias
capacidades. Fazer nos envolve
plena e profundamente como seres
humanos e satisfaz nossas almas
Também valiosa a contribuição de
Trevor H. J. Marchand, para quem
“dominar uma ferramenta modifica e
capacidades cognitivas e
físicas integradas. Ferramentas são
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
artefatos culturais que possuem sua
própria história de uso e significado
compartilhado e, através da prática,
somos, por assim dizer,
socializados na
ferramenta’” (MARCHAND,
2012, p. 209).
E esse fazer não se restringe ao
desenvolvimento de produtos físicos a
partir do zero: ele também se manifesta
no conserto de produtos avariados e até
mesmo na construção de artefatos
digitais. A esse respeito, é essencial a
leitura de Eterna vigilância: c
omo montei e
desvendei o maior sistema de
espionagem do mundo
, de Edward
Snowden.
Na obra, Snowden (2019)
descreve sua trajetória pela
Central de Inteligência (CIA
pela Agência de Segurança Nacional
(SNA
em inglês). Ele começa por
resgatar suas primeiras memórias de
interação com computadores e reforça o
quanto de sua curiosidade sobre o
funcionamento de máquinas foi formada
enquanto manuseava equipamentos
eletrônicos, às vezes até para consertá
los:
Um dia, meu surrado cartucho do
Super Mario Bros. não carregava,
por mais que eu soprasse dentro
dele. Era o que tínhamos de fazer
naquela época
achávamos que tínhamos de fazer:
soprar na parte aberta do cartucho
para tirar a poeira, detritos e pelos
dos animais que tendiam a
acumular ali. [...]
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
artefatos culturais que possuem sua
própria história de uso e significado
compartilhado e, através da prática,
socializados na
2012, p. 209).
E esse fazer não se restringe ao
desenvolvimento de produtos físicos a
partir do zero: ele também se manifesta
no conserto de produtos avariados e até
mesmo na construção de artefatos
digitais. A esse respeito, é essencial a
omo montei e
desvendei o maior sistema de
, de Edward
Na obra, Snowden (2019)
descreve sua trajetória pela
Agência
em inglês) e
pela Agência de Segurança Nacional
em inglês). Ele começa por
resgatar suas primeiras memórias de
interação com computadores e reforça o
quanto de sua curiosidade sobre o
funcionamento de máquinas foi formada
enquanto manuseava equipamentos
eletrônicos, às vezes até para consertá
-
Um dia, meu surrado cartucho do
Super Mario Bros. não carregava,
por mais que eu soprasse dentro
dele. Era o que tínhamos de fazer
ou o que
achávamos que tínhamos de fazer:
soprar na parte aberta do cartucho
para tirar a poeira, detritos e pelos
dos animais que tendiam a
se
E o pior de tudo é que meu pai havia
acabado de viajar [...]. Por isso
resolvi consertar o troço sozinho. Se
eu conseguisse, sabia que meu pai
ficaria impressionado. [...]
Concluí que, para descobrir o que
havia de errado com aquela
eu primeiro teria que desmontá
Basicamente, eu estava só copiando
ou tentando copiar
movimentos que meu pai repetia
toda vez que se sentava à mesa da
cozinha para consertar o
videocassete ou o aparelho de som
[...]. Demorei cerca d
desmontar o console. [...] mas, por
fim, não consegui. [...]
Meu pai não ficaria orgulhoso de
mim [...]. Para os seus colegas, meu
pai era um engenheiro de sistemas
eletrônicos especializado em
aviônica. Para mim, ele era um
cientista louco
que tentava consertar
tudo sozinho [...]. Eu era seu
ajudante sempre que ele deixava, e
ia conhecendo tanto os prazeres
físicos do trabalho manual quanto os
prazeres intelectuais da mecânica
básica, além dos princípios
fundamentais da eletrônica [...].
To
dos os trabalhos que realizamos
juntos acabavam em um conserto
bem-
sucedido ou em um palavrão
[...]. Eu nunca o julgava por esses
fracassos; sempre ficava
impressionado demais com o fato de
ele ser ousado e se arriscar a tentar.
Quando ele voltou para casa
descobriu o que eu havia feito com o
NES [...]. Ele me explicou que
entender como e por que não havia
dado certo era tão importante quanto
entender qual componente estava
com defeito; descobrir o como e o
porquê permitiria evitar que
acontecesse o mesmo
futuro. (SNOWDEN, 2019, p. 27
33
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
E o pior de tudo é que meu pai havia
acabado de viajar [...]. Por isso
resolvi consertar o troço sozinho. Se
eu conseguisse, sabia que meu pai
ficaria impressionado. [...]
Concluí que, para descobrir o que
havia de errado com aquela
coisa,
eu primeiro teria que desmontá
-la.
Basicamente, eu estava só copiando
ou tentando copiar
os mesmos
movimentos que meu pai repetia
toda vez que se sentava à mesa da
cozinha para consertar o
videocassete ou o aparelho de som
[...]. Demorei cerca d
e uma hora para
desmontar o console. [...] mas, por
fim, não consegui. [...]
Meu pai não ficaria orgulhoso de
mim [...]. Para os seus colegas, meu
pai era um engenheiro de sistemas
eletrônicos especializado em
aviônica. Para mim, ele era um
que tentava consertar
tudo sozinho [...]. Eu era seu
ajudante sempre que ele deixava, e
ia conhecendo tanto os prazeres
físicos do trabalho manual quanto os
prazeres intelectuais da mecânica
básica, além dos princípios
fundamentais da eletrônica [...].
dos os trabalhos que realizamos
juntos acabavam em um conserto
sucedido ou em um palavrão
[...]. Eu nunca o julgava por esses
fracassos; sempre ficava
impressionado demais com o fato de
ele ser ousado e se arriscar a tentar.
Quando ele voltou para casa
e
descobriu o que eu havia feito com o
NES [...]. Ele me explicou que
entender como e por que não havia
dado certo era tão importante quanto
entender qual componente estava
com defeito; descobrir o como e o
porquê permitiria evitar que
acontecesse o mesmo
defeito no
futuro. (SNOWDEN, 2019, p. 27
-29).
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
O relato de Snowden revela: 1) o
potencial que a curiosidade tem para
mover o aprendizado humano; 2) como é
possível trabalhar com conceitos teóricos
a partir da prática, estimulando conexões
entre ambos; 3)
o quanto as áreas do
conhecimento começam a se dissolver
quando olhamos para o cotidiano; 4) como
a lógica de “tentativa e erro” pode ajudar
na aprendizagem de uma série de
conhecimentos técnicos; e 5) que
entender o próprio erro é uma excelente
forma de g
uiar o processo de
aprendizagem.
A memória de infância de
Snowden também
possui serventia para
que se reflita a respeito de
importante do chamado universo
essencial para se compreender o escopo
3
O anglicismo maker
é o nome dado pelas
comunidades de design, tecnologia e inovação
às pessoas que produzem artefatos, tendo
elas formação técnica para tanto ou não. Está
associado ao crescimento da cultura mão
massa, à possibilidade de criação, ao desi
à inovação (DOUGHERTY, 2012):
Uma marca registrada do movimento
maker
é a mentalidade faça você
mesmo (do inglês
Do It Yourself
reúne indivíduos em torno de atividades
diversas, incluindo artesanato têxtil,
robótica, culinária, artesanato em
madeira, eletrônica, fabricação digital,
reparo mecânico, ou criação e produção
de quase tudo. Apesar de sua
diversidade, o movimento é unificado
por um compromisso
em
atividades diversas, incluindo artesanato
têxtil, robótica, culinária, artesana
madeira, eletrônica, compartilhado de
exploração aberta, interesse intrínseco e
ideias criativas (Bravi;
Santos
2018, p. 1339
)
.
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
O relato de Snowden revela: 1) o
potencial que a curiosidade tem para
mover o aprendizado humano; 2) como é
possível trabalhar com conceitos teóricos
a partir da prática, estimulando conexões
o quanto as áreas do
conhecimento começam a se dissolver
quando olhamos para o cotidiano; 4) como
a lógica de “tentativa e erro” pode ajudar
na aprendizagem de uma série de
conhecimentos técnicos; e 5) que
entender o próprio erro é uma excelente
uiar o processo de
A memória de infância de
possui serventia para
que se reflita a respeito de
um aspecto
importante do chamado universo
maker
3
,
essencial para se compreender o escopo
é o nome dado pelas
comunidades de design, tecnologia e inovação
às pessoas que produzem artefatos, tendo
elas formação técnica para tanto ou não. Está
associado ao crescimento da cultura mão
-na-
massa, à possibilidade de criação, ao desi
gn e
à inovação (DOUGHERTY, 2012):
Uma marca registrada do movimento
é a mentalidade faça você
Do It Yourself
), que
reúne indivíduos em torno de atividades
diversas, incluindo artesanato têxtil,
robótica, culinária, artesanato em
madeira, eletrônica, fabricação digital,
reparo mecânico, ou criação e produção
de quase tudo. Apesar de sua
diversidade, o movimento é unificado
em
torno de
atividades diversas, incluindo artesanato
têxtil, robótica, culinária, artesana
to em
madeira, eletrônica, compartilhado de
exploração aberta, interesse intrínseco e
Santos
; Murmura,
do presente artigo: a educação por meio
da “mão na massa”.
Um dos grandes defensores do
“aprender fazendo”, Seymour Papert,
citado por Dougherty (2016, p. 185),
afirma, inclusive, que as crianças
constroem mais facilmente novos
conhecimentos quando estão, de fato,
construindo algo real. Na análise
Ackermann (2015, p. 8), ele chama
atenção para o que considera meios
poderosos de alcançar compreensão a
respeito de algo: “mergulhar” nas
situações em vez de olhar para elas a
distância, estar conectado, e não
separado, do objeto de análise.
Pape
rt, um dos maiores visionários
no uso de tecnologias digitais na
educação, compartilha do mesmo
entusiasmo de Paulo Freire ao entender o
aluno como protagonista em seu processo
de aprendizagem. Tanto o sul
quanto o brasileiro acreditam na
importân
cia de se abrir espaço para que
os interesses e paixões do aluno
prosperem.
E
ntre 1967 e 1968, Papert
desenvolveu uma linguagem de
programação de computadores totalmente
voltada para a educação, a Logo, e suas
teorias embasam boa parte dos estudos
que pens
am os computadores como
instrumento de aprendizagem.
lembra Paulo Blikstein (2018, p. 420
34
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
do presente artigo: a educação por meio
Um dos grandes defensores do
“aprender fazendo”, Seymour Papert,
citado por Dougherty (2016, p. 185),
afirma, inclusive, que as crianças
constroem mais facilmente novos
conhecimentos quando estão, de fato,
construindo algo real. Na análise
de Edith
Ackermann (2015, p. 8), ele chama
atenção para o que considera meios
poderosos de alcançar compreensão a
respeito de algo: “mergulhar” nas
situações em vez de olhar para elas a
distância, estar conectado, e não
separado, do objeto de análise.
rt, um dos maiores visionários
no uso de tecnologias digitais na
educação, compartilha do mesmo
entusiasmo de Paulo Freire ao entender o
aluno como protagonista em seu processo
de aprendizagem. Tanto o sul
-africano
quanto o brasileiro acreditam na
cia de se abrir espaço para que
os interesses e paixões do aluno
ntre 1967 e 1968, Papert
desenvolveu uma linguagem de
programação de computadores totalmente
voltada para a educação, a Logo, e suas
teorias embasam boa parte dos estudos
am os computadores como
instrumento de aprendizagem.
Como
lembra Paulo Blikstein (2018, p. 420
-421):
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
D
epois de trabalhar com Jean Piaget
em Genebra por vários anos, Papert
acrescentou à teoria construtivista a
ideia de que as interações e
experiências dos
aconteceriam com mais vigor se os
alunos se engajassem na construção
de artefatos públicos e
compartilháveis, como robôs,
invenções, castelos de areia ou
programas de computador. Papert
elevou o status cognitivo de
construção e fabricação e reavalio
relação hierárquica entre abstrato e
concreto.
Outro entusiasta do aprender
fazendo”, o filósofo John Dewey enunciou,
no início do século XX, as vantagens
comparativas do fazer para a construção
do conhecimento. Para ele, conforme
relata Nils Gore (2
004, p. 8), essa é uma
forma de estimular o aluno
a pensar sobre
os assuntos de maneiras mais complexas
do que com a “artificialidade peculiar (que)
atribui a muito do que é ensinado nas
escolas”.
Ainda segundo Gore, o
pensamento de Dewey defende que a
exploração com projetos de base material,
criados à mão, promove o
desenvolvimento de um discurso crítico
entre criador e objeto e entre criador e
seus críticos ou colegas.
2.2 Aprender fazendo
As visões de Dewey, Piaget,
Freire, Papert, dentre outros, fo
base conceitual, neste século XXI, a
muitos dos pensamentos por trás de
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
epois de trabalhar com Jean Piaget
em Genebra por vários anos, Papert
acrescentou à teoria construtivista a
ideia de que as interações e
experiências dos
alunos
aconteceriam com mais vigor se os
alunos se engajassem na construção
de artefatos públicos e
compartilháveis, como robôs,
invenções, castelos de areia ou
programas de computador. Papert
elevou o status cognitivo de
construção e fabricação e reavalio
u a
relação hierárquica entre abstrato e
Outro entusiasta do aprender
fazendo”, o filósofo John Dewey enunciou,
no início do século XX, as vantagens
comparativas do fazer para a construção
do conhecimento. Para ele, conforme
004, p. 8), essa é uma
a pensar sobre
os assuntos de maneiras mais complexas
do que com a “artificialidade peculiar (que)
atribui a muito do que é ensinado nas
Ainda segundo Gore, o
pensamento de Dewey defende que a
exploração com projetos de base material,
criados à mão, promove o
desenvolvimento de um discurso crítico
entre criador e objeto e entre criador e
As visões de Dewey, Piaget,
Freire, Papert, dentre outros, fo
rnecem a
base conceitual, neste século XXI, a
muitos dos pensamentos por trás de
ações ligadas ao ensino de tecnologia nas
escolas, em especial às que se valem de
metodologias ligadas aos fazeres
manuais.
Eles nos lembram que aprender,
especialmente hoje,
adquirir informações ou submeter
a ideias ou valores de outras
pessoas do que colocar as próprias
palavras ao mundo ou encontrar a
própria voz e trocar ideias com
outras pessoas (ACKERMANN,
2015, p. 2).
A primeira e mais óbvia impressão
a respeito desses espaços e políticas
educacionais é a de que eles servem
como suporte para o ensino de
habilidades técnicas conectadas ao
universo digital e computacional,
preparando crianças, adolescentes e
jovens adultos para as profissões e
empregos do
futuro. No entanto, como
defende Papert, a tecnologia nas escolas
pode ter um papel mais importante e
funcionar como ferramenta emancipatória
que coloca os materiais de construção
mais poderosos nas mãos das crianças.
“As máquinas e ferramentas
disponibil
izadas pela revolução
comprovaram permitir aos alunos projetar
e construir objetos e invenções
inimagináveis e atender muitas formas de
trabalhar, expressar e construir”, conforme
aponta Blikstein (2018, p. 434
35
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
ações ligadas ao ensino de tecnologia nas
escolas, em especial às que se valem de
metodologias ligadas aos fazeres
Eles nos lembram que aprender,
especialmente hoje,
é muito menos
adquirir informações ou submeter
-se
a ideias ou valores de outras
pessoas do que colocar as próprias
palavras ao mundo ou encontrar a
própria voz e trocar ideias com
outras pessoas (ACKERMANN,
A primeira e mais óbvia impressão
a respeito desses espaços e políticas
educacionais é a de que eles servem
como suporte para o ensino de
habilidades técnicas conectadas ao
universo digital e computacional,
preparando crianças, adolescentes e
jovens adultos para as profissões e
futuro. No entanto, como
defende Papert, a tecnologia nas escolas
pode ter um papel mais importante e
funcionar como ferramenta emancipatória
que coloca os materiais de construção
mais poderosos nas mãos das crianças.
“As máquinas e ferramentas
izadas pela revolução
maker
comprovaram permitir aos alunos projetar
e construir objetos e invenções
inimagináveis e atender muitas formas de
trabalhar, expressar e construir”, conforme
aponta Blikstein (2018, p. 434
-435).
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
Blikstein continua por destaca
potencialidades do movimento
ambiente escolar:
Existem duas maneiras pelas
quais o movimento maker
pode ser radicalmente
inovador. Primeiro, indo além
das visões estereotipadas da
educação técnica e rompendo
a dicotomia entre trabalho
prático
e intelectual. Segundo,
quando, operando nas
escolas, o movimento maker
puder prestar atenção especial
às ideias da psicologia do
desenvolvimento, do design de
interação, do construcionismo
e da educação progressiva
(BLIKSTEIN, 2018, p. 434).
À luz da re
alidade brasileira, e na
busca por soluções nacionais que
contribuam para equidade e diversidade
na educação maker
, Rodrigo Barbosa e
Silva e Luiz Ernesto Merkle elencam três
aspectos importantes que devem guiar o
trabalho em escolas: “primeiro,
reconhecer
as aspirações e práticas dos
alunos, segundo, pensar e promover
práticas de aprendizado pelo fazer, e
terceiro, o relacionamento entre
estudantes e suas próprias necessidades
enquanto participantes cidadãos da
sociedade” (SOLVA; MERKLE, 2016, p.
7).
O diá
logo dos espaços de fazer
com os problemas sociais que rodeiam as
escolas e permeiam a vida dos estudantes
é defendido por Blikstein, cujo trabalho
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
Blikstein continua por destaca
r as
potencialidades do movimento
maker no
Existem duas maneiras pelas
quais o movimento maker
pode ser radicalmente
inovador. Primeiro, indo além
das visões estereotipadas da
educação técnica e rompendo
a dicotomia entre trabalho
e intelectual. Segundo,
quando, operando nas
escolas, o movimento maker
puder prestar atenção especial
às ideias da psicologia do
desenvolvimento, do design de
interação, do construcionismo
e da educação progressiva
(BLIKSTEIN, 2018, p. 434).
alidade brasileira, e na
busca por soluções nacionais que
contribuam para equidade e diversidade
, Rodrigo Barbosa e
Silva e Luiz Ernesto Merkle elencam três
aspectos importantes que devem guiar o
trabalho em escolas: “primeiro,
as aspirações e práticas dos
alunos, segundo, pensar e promover
práticas de aprendizado pelo fazer, e
terceiro, o relacionamento entre
estudantes e suas próprias necessidades
enquanto participantes cidadãos da
sociedade” (SOLVA; MERKLE, 2016, p.
logo dos espaços de fazer
com os problemas sociais que rodeiam as
escolas e permeiam a vida dos estudantes
é defendido por Blikstein, cujo trabalho
teórico promove a aproximação do
pensamento de Papert com o de Paulo
Freire:
Freire defende uma ideia
aparentemente simples: o aluno não
é um receptáculo de informações,
uma cabeça vazia onde
‘depositamos’ conteúdos
Freire chamou de “educação
bancária”. O aluno é um intelectual
ativo que tem suas próprias ideias,
teorias e sonhos; além disso, ele
e
stá imerso em práticas sociais e
culturais muito particulares. Freire
criou uma teoria educacional
baseada na ideia de que, em
primeiro lugar, o currículo escolar
como o conhecemos nasceu
errado; não se pode ensinar uma
criança na Vila Madalena em São
P
aulo e no Sertão nordestino com o
mesmo livro. Em segundo lugar,
educação não deve adestrar a
criança, mas prepará
Freire chama de “emancipação”, ou
seja, usar o conhecimento para
encontrar seu lugar no mundo e
transformá-
lo (BLIKSTEIN, sem d
p. 8).
Citando o trabalho de Edward Deci
e Richard Ryan, Blikstein (s. d., p. 9)
aponta a importância de se repensar os
conteúdos e as ferramentas utilizados em
sala de aula, permitindo que “os alunos
criem modelos e explorem a ciência [tal]
como se
faz ciência hoje em dia”. A dupla
de autores apresenta a noção de como a
motivação dos alunos é fator chave de
sucesso em qualquer projeto educacional
e elenca alguns componentes
fundamentais para que isso ocorra. São
36
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
teórico promove a aproximação do
pensamento de Papert com o de Paulo
Freire defende uma ideia
aparentemente simples: o aluno não
é um receptáculo de informações,
uma cabeça vazia onde
‘depositamos’ conteúdos
o que
Freire chamou de “educação
bancária”. O aluno é um intelectual
ativo que tem suas próprias ideias,
teorias e sonhos; além disso, ele
stá imerso em práticas sociais e
culturais muito particulares. Freire
criou uma teoria educacional
baseada na ideia de que, em
primeiro lugar, o currículo escolar
como o conhecemos nasceu
errado; não se pode ensinar uma
criança na Vila Madalena em São
aulo e no Sertão nordestino com o
mesmo livro. Em segundo lugar,
educação não deve adestrar a
criança, mas prepará
-la para o que
Freire chama de “emancipação”, ou
seja, usar o conhecimento para
encontrar seu lugar no mundo e
lo (BLIKSTEIN, sem d
ata,
Citando o trabalho de Edward Deci
e Richard Ryan, Blikstein (s. d., p. 9)
aponta a importância de se repensar os
conteúdos e as ferramentas utilizados em
sala de aula, permitindo que “os alunos
criem modelos e explorem a ciência [tal]
faz ciência hoje em dia”. A dupla
de autores apresenta a noção de como a
motivação dos alunos é fator chave de
sucesso em qualquer projeto educacional
e elenca alguns componentes
fundamentais para que isso ocorra. São
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
eles: a autonomia (a noção de estar em
controle das próprias ações), a
competência (ser capaz de ter um efeito
socialmente valorizado no ambiente em
que se vive) e o relacionamento
interpessoal (sentir-
se conectado a outras
pessoas).
Blikstein avança na questão da
autonomia, recorrendo aos est
Alfred Bandura e Carol Dweck, nos
seguintes termos:
Quando pais e professores v
aluno desinteressado e desmotivado,
não é mera coincidência ou
vagabundagem. Por que ele está
desmotivado? Em primeiro lugar, o
princípio da autonomia é diariamen
violentado na escola. Os alunos se
sentem parte de um grande rebanho
humano, todos fazendo a mesma
coisa, todos aprendendo o que já é
sabido séculos, e todos seguindo
a mesma trajetória,
independentemente de seus
interesses e aspirações pessoais.
Em
segundo lugar, o princípio da
competência é também violentado:
quanto do que se faz na escola tem
alguma importância para o mundo?
(BLIKSTEIN, s. d., p. 9
-
Para ilustrar, Blikstein conta no
mesmo artigo a história de um estudante
da rede pública da Zo
na Leste de São
Paulo que, aos doze anos, participou de
um desafio em sua escola. O objetivo era
estimular os alunos a olhar para o seu
entorno e propor soluções criativas que
fizessem sentido no contexto local.
pesquisavam problemas na cidade que os
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
eles: a autonomia (a noção de estar em
controle das próprias ações), a
competência (ser capaz de ter um efeito
socialmente valorizado no ambiente em
que se vive) e o relacionamento
se conectado a outras
Blikstein avança na questão da
autonomia, recorrendo aos est
udos de
Alfred Bandura e Carol Dweck, nos
Quando pais e professores v
eem um
aluno desinteressado e desmotivado,
não é mera coincidência ou
vagabundagem. Por que ele está
desmotivado? Em primeiro lugar, o
princípio da autonomia é diariamen
te
violentado na escola. Os alunos se
sentem parte de um grande rebanho
humano, todos fazendo a mesma
coisa, todos aprendendo o que já é
sabido séculos, e todos seguindo
a mesma trajetória,
independentemente de seus
interesses e aspirações pessoais.
segundo lugar, o princípio da
competência é também violentado:
quanto do que se faz na escola tem
alguma importância para o mundo?
-
10).
Para ilustrar, Blikstein conta no
mesmo artigo a história de um estudante
na Leste de São
Paulo que, aos doze anos, participou de
um desafio em sua escola. O objetivo era
estimular os alunos a olhar para o seu
entorno e propor soluções criativas que
fizessem sentido no contexto local.
“Eles
pesquisavam problemas na cidade que os
preocupavam, como poluição, violência,
qualidade da água, transporte público,
conservação de energia ou saneamento
básico, coletavam dados, refletiam sobre
possíveis alternativas e criavam protótipos
para solucioná-los”,
explica (BLIKSTEIN,
s. d., p. 1).
O aluno descrito por Blikstein
resolveu trabalhar na geração de energia
e propôs o uso de lombadas que
capturassem a energia da rotação dos
pneus e do peso do carro. Em três
semanas, conseguiu fazer um protótipo
com uma placa de robótica programável
conect
ada a diversos componentes
eletrônicos (materiais com os quais ele
entrava em contato pela primeira vez).
Criar o protótipo exigiu que o aluno
aprendesse robótica, programação de
computadores e elementos de engenharia
mecânica e elétrica.
Segundo Blikstein
tarde, uma grande empresa nos Estados
Unidos havia começado a instalar
lombadas que geravam energia, seguindo
exatamente o projeto do aluno
propósito, havia ingressado na faculdade
de engenharia.
O objetivo deste trabalho não é se
aprofundar nos diferentes formatos da
inclusão do movimento
e universidades. No entanto, convém
reconhecer sua existência e algumas de
suas bases teóricas. Com base nisso, é
possível levantar um questionamento feito
37
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
preocupavam, como poluição, violência,
qualidade da água, transporte público,
conservação de energia ou saneamento
básico, coletavam dados, refletiam sobre
possíveis alternativas e criavam protótipos
explica (BLIKSTEIN,
O aluno descrito por Blikstein
resolveu trabalhar na geração de energia
e propôs o uso de lombadas que
capturassem a energia da rotação dos
pneus e do peso do carro. Em três
semanas, conseguiu fazer um protótipo
com uma placa de robótica programável
ada a diversos componentes
eletrônicos (materiais com os quais ele
entrava em contato pela primeira vez).
Criar o protótipo exigiu que o aluno
aprendesse robótica, programação de
computadores e elementos de engenharia
Segundo Blikstein
, sete anos mais
tarde, uma grande empresa nos Estados
Unidos havia começado a instalar
lombadas que geravam energia, seguindo
exatamente o projeto do aluno
que, a
propósito, havia ingressado na faculdade
O objetivo deste trabalho não é se
aprofundar nos diferentes formatos da
inclusão do movimento
maker em escolas
e universidades. No entanto, convém
reconhecer sua existência e algumas de
suas bases teóricas. Com base nisso, é
possível levantar um questionamento feito
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
por Blikstein a
respeito da capacidade das
escolas de transformarem suas culturas e,
assim, permitir que o movimento maker
sobreviva em ambientes escolares:
Uma preocupação fundamental é
garantir que esse movimento não se
junte a laptops, tablets e aprendizado
baseado em
vídeo na longa lista de
modismos educacionais exagerados
das últimas décadas. Uma segunda
questão é que, na própria história da
educação tecnológica, é comum as
atividades práticas serem
consideradas tarefas de segunda
classe nas escolas, inferiores ao
tra
balho escolar e associadas
apenas à educação técnica e
profissional (Bennett, 1937).
(BLIKSTEIN, 2018, p. 421).
Apesar de experiências de níveis e
impactos muito diferentes, este estudo
parte da ideia de que um indivíduo
estimulado desde a infância a “pôr
na massa”, montando e desmontando
aparatos, terá a possibilidade de
desenvolver ou aprimorar habilidades que
influenciarão sua forma de se relacionar
com os objetos, com as pessoas e
também com o universo ao seu redor.
2.3 Cultura:
antidisciplinaridade,
tolerância ao erro e diversidade
cognitiva como valores
O movimento maker
dos laboratórios tecnológicos
experimentais tensionam a forma
tradicional de transmissão de
conhecimento, baseada em uma
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
respeito da capacidade das
escolas de transformarem suas culturas e,
assim, permitir que o movimento maker
sobreviva em ambientes escolares:
Uma preocupação fundamental é
garantir que esse movimento não se
junte a laptops, tablets e aprendizado
vídeo na longa lista de
modismos educacionais exagerados
das últimas décadas. Uma segunda
questão é que, na própria história da
educação tecnológica, é comum as
atividades práticas serem
consideradas tarefas de segunda
classe nas escolas, inferiores ao
balho escolar e associadas
apenas à educação técnica e
profissional (Bennett, 1937).
(BLIKSTEIN, 2018, p. 421).
Apesar de experiências de níveis e
impactos muito diferentes, este estudo
parte da ideia de que um indivíduo
estimulado desde a infância a “pôr
a mão
na massa”, montando e desmontando
aparatos, terá a possibilidade de
desenvolver ou aprimorar habilidades que
influenciarão sua forma de se relacionar
com os objetos, com as pessoas e
também com o universo ao seu redor.
antidisciplinaridade,
tolerância ao erro e diversidade
e a cultura
dos laboratórios tecnológicos
experimentais tensionam a forma
tradicional de transmissão de
conhecimento, baseada em uma
autoridade central (o professor), que
ensina os conteúdos aos alunos a partir
de uma posição hierarquicamente
superior. Em contraposição a isso, esses
espaços, chamados aqui de
apresentam uma forma de educação
guiada pelo interesse dos participantes,
que são ativos nessa construção do
conhecimento e dispõem de um conjunto
amplo de ferramentas e materiais para
trilhar o seu processo de aprendizado.
Como afirmam Ito e Howe,
“educação é o que outras pessoas fazem
por você. Aprender é o que você faz por
v
ocê mesmo” (2016, p. 167). Esses
laboratórios são sobre o aprender. E não
apenas porque atendem
população que extrapolam o público
habitual das instituições de ensino, mas
porque promovem uma nova cultura, que
estimula o cidadão, independente
de sua formação ou contexto cultural, a se
entender como um agente em constante
processo de aprendizagem.
É por isso que Erica Halverson e
Kimberly Sheridan defendem que o
movimento maker
pode “transformar como
entendemos o que conta como
aprendizado
, como aprendiz e como
ambiente de aprendizagem” (2014, p.
496). Citados por Haverson e Sheridan,
Kafai, Fields e Searle, por sua vez,
propõem que “os estudantes passem a
ser vistos como solucionadores de
problemas e questionadores e os
38
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
autoridade central (o professor), que
ensina os conteúdos aos alunos a partir
de uma posição hierarquicamente
superior. Em contraposição a isso, esses
espaços, chamados aqui de
labs,
apresentam uma forma de educação
guiada pelo interesse dos participantes,
que são ativos nessa construção do
conhecimento e dispõem de um conjunto
amplo de ferramentas e materiais para
trilhar o seu processo de aprendizado.
Como afirmam Ito e Howe,
“educação é o que outras pessoas fazem
por você. Aprender é o que você faz por
ocê mesmo” (2016, p. 167). Esses
laboratórios são sobre o aprender. E não
apenas porque atendem
a recortes de
população que extrapolam o público
habitual das instituições de ensino, mas
porque promovem uma nova cultura, que
estimula o cidadão, independente
mente
de sua formação ou contexto cultural, a se
entender como um agente em constante
processo de aprendizagem.
É por isso que Erica Halverson e
Kimberly Sheridan defendem que o
pode “transformar como
entendemos o que conta como
, como aprendiz e como
ambiente de aprendizagem” (2014, p.
496). Citados por Haverson e Sheridan,
Kafai, Fields e Searle, por sua vez,
propõem que “os estudantes passem a
ser vistos como solucionadores de
problemas e questionadores e os
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
professores como me
ntores, guias,
produtores” (HALVERSON; SHERIDAN,
2014, p. 496).
Elizabeth Garber, Lisa Hochtritt e
Manisha Sharma
resumem bem
laboratórios focados no fazer:
mexer com materiais, compartilhar e
aprender fazendo em um ambiente que
apoia e incenti
va a curiosidade está no
centro do movimento maker
(2019, p. 9).
Os autores reforçam que esses espaços
foram desenhados para serem
colaborativos, flexíveis e terem áreas em
diálogo. Ou seja, é justamente na
capacidade experimental que reside sua
maior potência.
À luz do que foi dito, o presente
artigo entende que esses espaços têm o
potencial de representar impacto na
transformação cultural do seu entorno
(seja ele uma escola, uma empresa, um
museu, um centro de pesquisa, uma
universidade ou mesmo um bairr
estimular reflexão e produção crítica. Para
isso, no entanto, é necessário que eles
sejam pautados por alguns valores, dos
quais ressaltamos aqui:
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e
diversidade cognitiva. Tais valores são
analisados nos subtóp
icos abaixo.
2.3.1 Antidisciplinaridade
Ito acredita que a forma como a
educação tradicional ainda funciona
nestas primeiras décadas do século XXI
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
ntores, guias,
produtores” (HALVERSON; SHERIDAN,
Elizabeth Garber, Lisa Hochtritt e
resumem bem
laboratórios focados no fazer:
“a ideia de
mexer com materiais, compartilhar e
aprender fazendo em um ambiente que
va a curiosidade está no
(2019, p. 9).
Os autores reforçam que esses espaços
foram desenhados para serem
colaborativos, flexíveis e terem áreas em
diálogo. Ou seja, é justamente na
capacidade experimental que reside sua
À luz do que foi dito, o presente
artigo entende que esses espaços têm o
potencial de representar impacto na
transformação cultural do seu entorno
(seja ele uma escola, uma empresa, um
museu, um centro de pesquisa, uma
universidade ou mesmo um bairr
o) e
estimular reflexão e produção crítica. Para
isso, no entanto, é necessário que eles
sejam pautados por alguns valores, dos
quais ressaltamos aqui:
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e
diversidade cognitiva. Tais valores são
icos abaixo.
Ito acredita que a forma como a
educação tradicional ainda funciona
nestas primeiras décadas do século XXI
contribui “para uma hiperespecialização,
na qual pessoas em diferentes áreas têm
dificuldade em colaborar
comunicar
com pessoas em diferentes
campos” (2016)
4
.
Pensando a integração das áreas
do conhecimento e a aproximação das
artes com as ciências, a pesquisadora
Neri Oxman, do Medialab MIT, propôs em
2016 o Ciclo de Kreb da Criatividade
(KCC),
um modelo conceitual que é uma
tentativa de representar a hipótese
antidisciplinar: que o conhecimento não
pode mais ser atribuído a disciplinas
específicas, ou produzido dentro de limites
disciplinares, mas que está totalmente
enredado.
O objetivo é esta
cartografia experimental, ainda
holística, da inter
domínios, em que um domínio pode
incitar a (r)evolução dentro de outro;
e onde um único indivíduo ou projeto
pode residir em vários domínios
(OXMAN, 2016
).
A proposta de O
como as modalidades da criatividade
humana (definidas por ela como ciência,
engenharia, design e arte) se relacionam,
uma alimentando a outra:
O papel da ciência é explicar e
prever o mundo ao nosso redor;
‘converte’ informações em
conheciment
o. O papel da
engenharia é aplicar o conhecimento
4
https://jods.mitpress.mit.edu/pub/designandsci
ence.
39
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
contribui “para uma hiperespecialização,
na qual pessoas em diferentes áreas têm
dificuldade em colaborar
ou mesmo se
com pessoas em diferentes
Pensando a integração das áreas
do conhecimento e a aproximação das
artes com as ciências, a pesquisadora
Neri Oxman, do Medialab MIT, propôs em
2016 o Ciclo de Kreb da Criatividade
um modelo conceitual que é uma
tentativa de representar a hipótese
antidisciplinar: que o conhecimento não
pode mais ser atribuído a disciplinas
específicas, ou produzido dentro de limites
disciplinares, mas que está totalmente
O objetivo é esta
belecer uma
cartografia experimental, ainda
holística, da inter
-relação entre esses
domínios, em que um domínio pode
incitar a (r)evolução dentro de outro;
e onde um único indivíduo ou projeto
pode residir em vários domínios
).
A proposta de O
xman explica
como as modalidades da criatividade
humana (definidas por ela como ciência,
engenharia, design e arte) se relacionam,
uma alimentando a outra:
O papel da ciência é explicar e
prever o mundo ao nosso redor;
‘converte’ informações em
o. O papel da
engenharia é aplicar o conhecimento
https://jods.mitpress.mit.edu/pub/designandsci
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
científico ao desenvolvimento de
soluções para problemas empíricos;
‘converte’ o conhecimento em
utilidade. O papel do design é
produzir modalidades de soluções
que maximizem a função e
aumentem a experiênc
‘converte’ a utilidade em
comportamento. O papel da arte é
questionar o comportamento humano
e criar consciência do mundo à
nossa volta; ‘converte’ o
comportamento em novas
percepções de informações,
apresentando novamente os dados
que iniciaram
o KCC na Ciência
(Oxman, 2016).
A ciência produz conhecimento que
é usado pelos engenheiros. A
engenharia produz utilidade usada
por designers. Os designers
produzem mudanças no
comportamento que são percebidas
pelos artistas. A arte produz novas
percepçõ
es do mundo, concedendo
acesso a novas informações de
dentro, sobre ele e inspirando novas
investigações científicas (OXMAN,
2016).
Ito diferencia o trabalho
interdisciplinar, resultado do trabalho
conjunto de pessoas de diferentes
disciplinas, do antidis
ciplinar, que consiste
em “trabalhar em espaços que
simplesmente não se encaixam em
nenhuma disciplina acadêmica existente
um campo de estudo específico com suas
próprias palavras, estruturas e métodos”
(ITO, 2016
5
).
5
https://jods.mitpress.mit.edu/pub/designandsci
ence.
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
científico ao desenvolvimento de
soluções para problemas empíricos;
‘converte’ o conhecimento em
utilidade. O papel do design é
produzir modalidades de soluções
que maximizem a função e
aumentem a experiênc
ia humana;
‘converte’ a utilidade em
comportamento. O papel da arte é
questionar o comportamento humano
e criar consciência do mundo à
nossa volta; ‘converte’ o
comportamento em novas
percepções de informações,
apresentando novamente os dados
o KCC na Ciência
A ciência produz conhecimento que
é usado pelos engenheiros. A
engenharia produz utilidade usada
por designers. Os designers
produzem mudanças no
comportamento que são percebidas
pelos artistas. A arte produz novas
es do mundo, concedendo
acesso a novas informações de
dentro, sobre ele e inspirando novas
investigações científicas (OXMAN,
Ito diferencia o trabalho
interdisciplinar, resultado do trabalho
conjunto de pessoas de diferentes
ciplinar, que consiste
em “trabalhar em espaços que
simplesmente não se encaixam em
nenhuma disciplina acadêmica existente
um campo de estudo específico com suas
próprias palavras, estruturas e métodos”
https://jods.mitpress.mit.edu/pub/designandsci
A abordagem antidisciplinar é uma
res
posta à dificuldade de se encaixarem
determinados problemas nas disciplinas
tradicionais. Um exemplo citado por Ito no
mesmo artigo é o do corpo humano,
perfeito em desafiar a interdisciplinaridade
porque as diferentes disciplinas parecem
trançar um mosaic
o complexo que
frequentemente dificulta a compreensão
do objeto
porque nossa linguagem é
muito diferente e nossos microscópios são
definidos de maneira tão diferente”. Para
Ito, a melhor chance de desvendar as
c
omplexidades do corpo humano viria por
meio de uma “
One Science
Outro exemplo da
antidisciplinaridade apontado pelo autor
no artigo é o movimento que formou a
cibernética nas décadas de 1940 e 1950,
reunindo engenheiros, designers,
cientistas, matemáticos, sociólogos,
filósofos, lingu
istas, psicólogos e
pensadores de outros campos. Atraídos
pelo entendimento de como os sistemas
biológicos regulavam o movimento e até
as aplicações do controle de mísseis
balísticos, eles se reuniram para investigar
os sistemas e os ciclos de feedback com
uma maneira de compreender e projetar
sistemas complexos.
Ao criar espaços para projetos e
ideias que estejam entre ou além das
disciplinas, os laboratórios experimentais
contribuem para que essa noção de
antidisciplinaridade seja vivenciada e
40
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
A abordagem antidisciplinar é uma
posta à dificuldade de se encaixarem
determinados problemas nas disciplinas
tradicionais. Um exemplo citado por Ito no
mesmo artigo é o do corpo humano,
perfeito em desafiar a interdisciplinaridade
porque as diferentes disciplinas parecem
o complexo que
frequentemente dificulta a compreensão
porque nossa linguagem é
muito diferente e nossos microscópios são
definidos de maneira tão diferente”. Para
Ito, a melhor chance de desvendar as
omplexidades do corpo humano viria por
One Science
” colaborativa.
Outro exemplo da
antidisciplinaridade apontado pelo autor
no artigo é o movimento que formou a
cibernética nas décadas de 1940 e 1950,
reunindo engenheiros, designers,
cientistas, matemáticos, sociólogos,
istas, psicólogos e
pensadores de outros campos. Atraídos
pelo entendimento de como os sistemas
biológicos regulavam o movimento e até
as aplicações do controle de mísseis
balísticos, eles se reuniram para investigar
os sistemas e os ciclos de feedback com
o
uma maneira de compreender e projetar
Ao criar espaços para projetos e
ideias que estejam entre ou além das
disciplinas, os laboratórios experimentais
contribuem para que essa noção de
antidisciplinaridade seja vivenciada e
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
estimula,
assim, tanto um melhor diálogo
entre as disciplinas e áreas do saber
quanto permite que ideias não previsíveis
surjam. Ou seja, o que se verifica é uma
possibilidade de os laboratórios atuarem
como transformadores da cultura que
compartimenta o conheciment
para uma cultura que tem uma linguagem
comum entre as diferentes disciplinas.
2.3.2 Tolerância ao erro
Outro valor importante na cultura
desses espaços é a aceitação do erro
como parte importante na aprendizagem e
na experimentação.
Os
processos ligados a manusear
ferramentas e equipamentos pela primeira
vez, a entender como funcionam novas
tecnologias e plataformas, bem como a
pensar de forma aplicada ao construir
protótipos e artefatos físicos trazem uma
série de novidades e tiram os
p
articipantes da sua zona de conforto.
Naturalmente, erros e tentativas frustradas
são corriqueiros, e ajudam a construir uma
cultura de maior liberdade experimental e
menor necessidade de respostas rápidas
e prontas.
Isso é importante quando se tem
em ment
e que diversos pesquisadores
afirmaram que “algumas das melhores
ideias vêm de nossas falhas”
(STAPPERS; GIACCARDI, s
/d
erro promove outras formas de fazer as
coisas” (Chris Hay, 2016, p. 76). E apesar
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
assim, tanto um melhor diálogo
entre as disciplinas e áreas do saber
quanto permite que ideias não previsíveis
surjam. Ou seja, o que se verifica é uma
possibilidade de os laboratórios atuarem
como transformadores da cultura que
compartimenta o conheciment
o em áreas
para uma cultura que tem uma linguagem
comum entre as diferentes disciplinas.
Outro valor importante na cultura
desses espaços é a aceitação do erro
como parte importante na aprendizagem e
processos ligados a manusear
ferramentas e equipamentos pela primeira
vez, a entender como funcionam novas
tecnologias e plataformas, bem como a
pensar de forma aplicada ao construir
protótipos e artefatos físicos trazem uma
série de novidades e tiram os
articipantes da sua zona de conforto.
Naturalmente, erros e tentativas frustradas
são corriqueiros, e ajudam a construir uma
cultura de maior liberdade experimental e
menor necessidade de respostas rápidas
Isso é importante quando se tem
e que diversos pesquisadores
afirmaram que “algumas das melhores
ideias vêm de nossas falhas”
/d
) ou que “o
erro promove outras formas de fazer as
coisas” (Chris Hay, 2016, p. 76). E apesar
dos potenciais ganhos que o erro enseja,
a sua valorização ainda é pouco presente
em nossas organizações (incluindo os
espaços educacionais). Como escreve
Amy C. Edmondson (2011):
Fracassos e culpa são praticamente
inseparáveis
na maioria das famílias,
organizações e culturas. Toda
criança apr
ende em algum momento
que admitir o fracasso significa
assumir a culpa. É por isso que tão
poucas organizações mudaram para
uma cultura de segurança
psicológica na qual as recompensas
do aprendizado do fracasso podem
ser plenamente realizadas.
Em O
presente do erro
analisado por Megan Egbert, Jessica
Lahey descreve por que esses pequenos
erros que acompanham o fazer importam,
e ressalta que o erro é essencial para o
processo de aprendizagem. A autora
explica que, quanto mais fácil é recupe
uma informação, mais o nosso cérebro
tende a esquecê-
la. E ao se promoverem
desafios que o estimula, mais o
aprendizado ficará na nossa parte do
cérebro que lida com o longo prazo
(EGBERT, 2016, p. 29). Elizabeth e
Robert Bjork chamaram esses desafios
“dificuldades desejáveis” e Egbert afirma
que o fazer tem um potencial grande de
promovê-
los, pois “possui resultados
desconhecidos e requer tentativa e erro
de design para criar um produto final”
(2016, p. 29).
41
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
dos potenciais ganhos que o erro enseja,
a sua valorização ainda é pouco presente
em nossas organizações (incluindo os
espaços educacionais). Como escreve
Amy C. Edmondson (2011):
Fracassos e culpa são praticamente
na maioria das famílias,
organizações e culturas. Toda
ende em algum momento
que admitir o fracasso significa
assumir a culpa. É por isso que tão
poucas organizações mudaram para
uma cultura de segurança
psicológica na qual as recompensas
do aprendizado do fracasso podem
ser plenamente realizadas.
presente do erro
(de 2015),
analisado por Megan Egbert, Jessica
Lahey descreve por que esses pequenos
erros que acompanham o fazer importam,
e ressalta que o erro é essencial para o
processo de aprendizagem. A autora
explica que, quanto mais fácil é recupe
rar
uma informação, mais o nosso cérebro
la. E ao se promoverem
desafios que o estimula, mais o
aprendizado ficará na nossa parte do
cérebro que lida com o longo prazo
(EGBERT, 2016, p. 29). Elizabeth e
Robert Bjork chamaram esses desafios
de
“dificuldades desejáveis” e Egbert afirma
que o fazer tem um potencial grande de
los, pois “possui resultados
desconhecidos e requer tentativa e erro
de design para criar um produto final”
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
Matthew Sanders, em
Learner (2
012), aponta a diferença entre
um estudante e um aprendiz e reforça que
é justamente o medo de errar do primeiro
que o distancia do segundo.
Egbert propõe que o aprendiz de
Sanders seja substituído pela figura do
maker
. O autor constata como os
frequentad
ores dos espaços de fazer
entendem o aprendizado
isto é, de uma
maneira mais ativa e auto direcionada
associa isso diretamente à cultura do erro
que existe nesses espaços:
No processo de fazer, porque o
produto geralmente é funcional
se destina
a existir
espaço para falhas. Os robôs não se
movem, a solda não fica presa, o
trabalho de impressão é
interrompido, as estruturas quebram,
os circuitos não são concluídos e o
gravador de vídeo nunca é ligado
para começar. Tudo oferece uma
ampla
oportunidade de comprometer
o aprendizado à memória de longo
prazo. O fazer é feito de dificuldade
desejável em cima da dificuldade
desejável. Seu desafio é encontrar
uma maneira de manter os alunos
em movimento, pensando neles,
para que possam obter os b
duradouros de criar (EGBERT, 2016,
p. 30).
No vídeo
Por que você deveria
fazer coisas inúteis
6
,
feito para a
plataforma TED e visualizado mais de
6
Disponível em:
https://www.ted.com/talks/simone_giertz_why_
you_should_make_useless_t
hings. Acesso: 10
fev. 2020.
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
Matthew Sanders, em
Becoming a
012), aponta a diferença entre
um estudante e um aprendiz e reforça que
é justamente o medo de errar do primeiro
Egbert propõe que o aprendiz de
Sanders seja substituído pela figura do
. O autor constata como os
ores dos espaços de fazer
isto é, de uma
maneira mais ativa e auto direcionada
e
associa isso diretamente à cultura do erro
No processo de fazer, porque o
produto geralmente é funcional
ou
a existir
muito
espaço para falhas. Os robôs não se
movem, a solda não fica presa, o
trabalho de impressão é
interrompido, as estruturas quebram,
os circuitos não são concluídos e o
gravador de vídeo nunca é ligado
para começar. Tudo oferece uma
oportunidade de comprometer
o aprendizado à memória de longo
prazo. O fazer é feito de dificuldade
desejável em cima da dificuldade
desejável. Seu desafio é encontrar
uma maneira de manter os alunos
em movimento, pensando neles,
para que possam obter os b
enefícios
duradouros de criar (EGBERT, 2016,
Por que você deveria
feito para a
plataforma TED e visualizado mais de
https://www.ted.com/talks/simone_giertz_why_
hings. Acesso: 10
3,48 milhões de vezes, Simone Giertz
conta como construir robôs
propositalmente inúteis substituiu
pressões e expectativas por entusiasmo e
lhe permitiu experimentar mais e, assim,
aprender uma série de conteúdos.
A verdadeira beleza de fazer coisas
inúteis é esse reconhecimento de
que nem sempre você sabe qual é a
melhor resposta. (...) Isso desliga
voz em sua mente que diz que você
sabe exatamente como o mundo
funciona. Talvez um capacete de
escova de dentes não seja a
resposta, mas pelo menos você está
fazendo a pergunta (GIERTZ, 2018).
Além de “robôs inúteis”, Giertz
também produz objetos que f
como a Truckla
7
, uma versão caminhonete
de um carro Tesla feita por ela mesma. O
processo de transformação do carro foi
assistido mais de 11 milhões de vezes em
um ano e foi matéria de capa da revista
Wired. Na entrevista, Gierzt conta como
const
ruir pequenos objetos criativos e sem
sentido, ou seja, com permissão para
errar, a levou ao estágio de buscar
desenvolver ambiciosos projetos de
design e engenharia (GOODE, 2019).
Em conversa entre Giertz e Kevin
Kelly
8
, fundador da Revista Wired
7
https://www.youtube.com/watch?v=jKv_N0ID
S2A&feature=youtu.be.
8
Disponível em:
https://www.yo
utube.com/watch?v=zzF3n
crn_w
. Acesso: 10 fev. 2020.
9
https://www.wired.com/.
42
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
3,48 milhões de vezes, Simone Giertz
conta como construir robôs
propositalmente inúteis substituiu
as
pressões e expectativas por entusiasmo e
lhe permitiu experimentar mais e, assim,
aprender uma série de conteúdos.
A verdadeira beleza de fazer coisas
inúteis é esse reconhecimento de
que nem sempre você sabe qual é a
melhor resposta. (...) Isso desliga
a
voz em sua mente que diz que você
sabe exatamente como o mundo
funciona. Talvez um capacete de
escova de dentes não seja a
resposta, mas pelo menos você está
fazendo a pergunta (GIERTZ, 2018).
Além de “robôs inúteis”, Giertz
também produz objetos que f
uncionam,
, uma versão caminhonete
de um carro Tesla feita por ela mesma. O
processo de transformação do carro foi
assistido mais de 11 milhões de vezes em
um ano e foi matéria de capa da revista
Wired. Na entrevista, Gierzt conta como
ruir pequenos objetos criativos e sem
sentido, ou seja, com permissão para
errar, a levou ao estágio de buscar
desenvolver ambiciosos projetos de
design e engenharia (GOODE, 2019).
Em conversa entre Giertz e Kevin
, fundador da Revista Wired
9
, Kelly
https://www.youtube.com/watch?v=jKv_N0ID
utube.com/watch?v=zzF3n
-
. Acesso: 10 fev. 2020.
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
afirma que o erro precisa ser aceito e
bem-
vindo. Faça coisas que falhem”,
recomenda.
Podemos aprender quase tanto com
um experimento que não funciona
quanto com um que funciona. O
fracasso não é algo a ser evitado,
mas algo a ser cultivado. Essa é uma
li
ção da ciência que beneficia não
apenas a pesquisa de laboratório,
mas o design, o esporte, a
engenharia, a arte, o
empreendedorismo e até a própria
vida cotidiana. Todas as vias
criativas produzem o máximo quando
as falhas são adotadas. Um ótimo
designer
gráfico gerará muitas
ideias, sabendo que a maioria será
abortada. Um grande dançarino
percebe que a maioria dos novos
movimentos não terá sucesso. O
mesmo vale para qualquer arquiteto,
engenheiro elétrico, escultor,
maratonista, amador ou
microbiologista.
Afinal, o que é
ciência, senão uma maneira de
aprender com as coisas que o
funcionam e não apenas com as que
funcionam? O que esta ferramenta
sugere é que você busque o sucesso
enquanto está preparado para
aprender com uma série de
fracassos. Além disso
com cuidado, mas deliberadamente,
pressionar suas investigações ou
realizações bem-
sucedidas a ponto
de quebrar, fracassar, parar, travar
ou falhar (KELLY, 2011).
Promover uma maior abertura para
o erro, entendendo os resultados
negativos com
o parte importante do
processo de aprendizagem, é um dos
maiores valores dos laboratórios. E esse
valor se incorpora não apenas no
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
afirma que o erro precisa ser aceito e
vindo. Faça coisas que falhem”,
Podemos aprender quase tanto com
um experimento que não funciona
quanto com um que funciona. O
fracasso não é algo a ser evitado,
mas algo a ser cultivado. Essa é uma
ção da ciência que beneficia não
apenas a pesquisa de laboratório,
mas o design, o esporte, a
engenharia, a arte, o
empreendedorismo e até a própria
vida cotidiana. Todas as vias
criativas produzem o máximo quando
as falhas são adotadas. Um ótimo
gráfico gerará muitas
ideias, sabendo que a maioria será
abortada. Um grande dançarino
percebe que a maioria dos novos
movimentos não terá sucesso. O
mesmo vale para qualquer arquiteto,
engenheiro elétrico, escultor,
maratonista, amador ou
Afinal, o que é
ciência, senão uma maneira de
aprender com as coisas que o
funcionam e não apenas com as que
funcionam? O que esta ferramenta
sugere é que você busque o sucesso
enquanto está preparado para
aprender com uma série de
fracassos. Além disso
, você deve,
com cuidado, mas deliberadamente,
pressionar suas investigações ou
sucedidas a ponto
de quebrar, fracassar, parar, travar
ou falhar (KELLY, 2011).
Promover uma maior abertura para
o erro, entendendo os resultados
o parte importante do
processo de aprendizagem, é um dos
maiores valores dos laboratórios. E esse
valor se incorpora não apenas no
processo de tentativa e erro, próprio das
construções de artefatos, mas também no
estímulo a quebrar sistemas em
funcionament
o, como forma de entender
os seus limites e impulsioná
direção a melhorias.
2.3.3 Diversidade cognitiva
Outro ponto importante para
garantir que os espaços experimentais
contribuam para a transformação cultural
do seu entorno e estimulem reflexão e
produção crítica é a capacidade de gerar
diversidade de pensamentos, que
diversidade de “raça, gênero, situação
socioeconômica, área do conhecimento
são importantes, mas somente na medida
em que são elementos para os tipos de
experiências que produzem
cognitiva”
(ITO, 2016, p. 184).
Diversidade cognitiva, por sua vez,
é definida como a extensão em que o
grupo reflete diferenças de conhecimento,
incluindo crenças, preferências e
perspectivas (MILLER
et al
cada vez mais sendo
apontada como fator
importante para a construção de
conhecimento nas organizações, como
escrevem Rebecca Mitchell e Stephen
Nicholas (2006, p. 67-
74).
Ito afirma que, como é impossível
saber antecipadamente quais dos
diversos fatores, experiências
educacionais ou tendências intelectuais
podem produzir grandes avanços,
43
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
processo de tentativa e erro, próprio das
construções de artefatos, mas também no
estímulo a quebrar sistemas em
o, como forma de entender
os seus limites e impulsioná
-los em
2.3.3 Diversidade cognitiva
Outro ponto importante para
garantir que os espaços experimentais
contribuam para a transformação cultural
do seu entorno e estimulem reflexão e
produção crítica é a capacidade de gerar
diversidade de pensamentos, que
diversidade de “raça, gênero, situação
socioeconômica, área do conhecimento
são importantes, mas somente na medida
em que são elementos para os tipos de
experiências que produzem
diversidade
(ITO, 2016, p. 184).
Diversidade cognitiva, por sua vez,
é definida como a extensão em que o
grupo reflete diferenças de conhecimento,
incluindo crenças, preferências e
et al
, 1998) e vem
apontada como fator
importante para a construção de
conhecimento nas organizações, como
escrevem Rebecca Mitchell e Stephen
74).
Ito afirma que, como é impossível
saber antecipadamente quais dos
diversos fatores, experiências
educacionais ou tendências intelectuais
podem produzir grandes avanços,
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
“devemos pensar em nossas diferenças
como forma de talento”.
Para Mitchell e Nicholas,
integração de diversas perspectivas e
conhecimentos previamente
desconectados sustenta a geração de
novos conhecimentos”. Eles explicam que
os grupos se comportam de modo mais
eficaz na criação de conhecimento
“quando [seus] membros individuais
acredita
m na liberdade de expressão e
valorizam a compreensão e a utilização de
pontos de vista divergentes” (MITCHELL;
NICHOLAS, 2006, p. 71)
10
.
A democratização da internet
permitiu que organizações pudessem
aderir a novas formas de trabalho,
ampliando assim a di
versidade de suas
equipes (e, por consequência, a geração
de conhecimento organizacional).
Cite-
se o exemplo de Matt
Mullenweg, analisado em artigo de
Romain
Dilliet. O empresário da indústria
de tecnologia fundou, no início dos anos
2000, uma empresa de s
oftware que, em
2019, valia mais de US$ 3 bilhões. Ela
opera em um modelo descentralizado, ou
seja, não possui uma sede central e
contrata colaboradores em vários países
do mundo (DILLIET, 2019). Mullenweg é o
CEO da Auttomatic, empresa por trás do
WordPre
ss.com, Jetpack e Woo
10
Embora alertem para o fato de que essa
mesma diferença de pensamentos é, muitas
vezes, geradora de conflitos interpessoais.
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
“devemos pensar em nossas diferenças
Para Mitchell e Nicholas,
“a
integração de diversas perspectivas e
conhecimentos previamente
desconectados sustenta a geração de
novos conhecimentos”. Eles explicam que
os grupos se comportam de modo mais
eficaz na criação de conhecimento
“quando [seus] membros individuais
m na liberdade de expressão e
valorizam a compreensão e a utilização de
pontos de vista divergentes” (MITCHELL;
A democratização da internet
permitiu que organizações pudessem
aderir a novas formas de trabalho,
versidade de suas
equipes (e, por consequência, a geração
de conhecimento organizacional).
se o exemplo de Matt
Mullenweg, analisado em artigo de
Dilliet. O empresário da indústria
de tecnologia fundou, no início dos anos
oftware que, em
2019, valia mais de US$ 3 bilhões. Ela
opera em um modelo descentralizado, ou
seja, não possui uma sede central e
contrata colaboradores em vários países
do mundo (DILLIET, 2019). Mullenweg é o
CEO da Auttomatic, empresa por trás do
ss.com, Jetpack e Woo
Embora alertem para o fato de que essa
mesma diferença de pensamentos é, muitas
vezes, geradora de conflitos interpessoais.
Commerce, que juntas somam
novecentos funcionários. Para ele, a
distribuição geográfica dos funcionários
gera uma grande força para a empresa,
que acredita, conforme relata para a
plataforma TED, que:
Talento e inteligência estão
i
gualmente distribuídos pelo mundo.
Mas a oportunidade não está. No
Vale do Silício, as grandes empresas
de tecnologia basicamente pescam
na mesma pequena lagoa ou baía.
Uma empresa distribuída pode
pescar em todo o oceano. Em vez de
contratar alguém no Jap
mora na Califórnia, vo pode
contratar alguém que acorda e vai
dormir onde quer que esteja no
mundo. Eles trazem uma
compreensão diferente dessa cultura
e experiência de vida diferente
Essa noção de inteligência
distribuída cooperando com as
or
ganizações sustenta as ações de
crowdsourcing
, “um modelo on
distribuído de solução de problemas e
produção que aproveita a inteligência
coletiva das comunidades on
atender a objetivos organizacionais
específicos”, conforme explica Daren C.
Brabham (2013, p. XIX).
Por meio do
pessoas com experiências muito variadas,
11
https://www.ted.com/talks/matt_mullenweg_w
hy_working_from_home_is_good_for_busines
s?language=pt-br#t-
94932
12
Exemplos comuns: o apli
Waze, que se baseia na informação coletada
do celular de cada usuário; desafios lançados
44
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
Commerce, que juntas somam
novecentos funcionários. Para ele, a
distribuição geográfica dos funcionários
gera uma grande força para a empresa,
que acredita, conforme relata para a
Talento e inteligência estão
gualmente distribuídos pelo mundo.
Mas a oportunidade não está. No
Vale do Silício, as grandes empresas
de tecnologia basicamente pescam
na mesma pequena lagoa ou baía.
Uma empresa distribuída pode
pescar em todo o oceano. Em vez de
contratar alguém no Jap
ão, que
mora na Califórnia, vo pode
contratar alguém que acorda e vai
dormir onde quer que esteja no
mundo. Eles trazem uma
compreensão diferente dessa cultura
e experiência de vida diferente
11
.
Essa noção de inteligência
distribuída cooperando com as
ganizações sustenta as ações de
, “um modelo on
-line
distribuído de solução de problemas e
produção que aproveita a inteligência
coletiva das comunidades on
-line para
atender a objetivos organizacionais
específicos”, conforme explica Daren C.
Brabham (2013, p. XIX).
Por meio do
crowdsourcing
12
,
pessoas com experiências muito variadas,
https://www.ted.com/talks/matt_mullenweg_w
hy_working_from_home_is_good_for_busines
94932
.
Exemplos comuns: o apli
cativo de trânsito
Waze, que se baseia na informação coletada
do celular de cada usuário; desafios lançados
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
de contextos distintos, podem trazer um
olhar diferente para um determinado
problema e ajudar a resolvê
ainda mais complexos os
questionamentos
propostos pelo
problema. Ito cita um estudo
de administração de Harvard, que
constata uma relação entre soluções bem
sucedidas e o que o pesquisador Karim
Lakhani chamou de “distância do campo”:
“numa linguagem simples, quanto menos
um determina
do solucionador estiver
exposto à disciplina em que o problema
reside, mais propenso ele está de resolvê
lo” (ITO, 2016, p. 182, citando Lakhani,
Jeppesen, Lohse &
Panetta, 2006).
Nesse sentido, criar uma cultura
convidativa à diversidade de
pensamentos, a
traindo pessoas com
perfis variados em relação a gênero, raça,
idade, orientação sexual, condição social,
naturalidade, grau de instrução, área de
conhecimento, religião, gostos, interesses,
entre outros, é uma forma de garantir que
os laboratórios sejam b
erços de novas
ideias e questionamentos, abraçando,
inclusive, pontos de vista não óbvios
por empresas para fazer pesquisa e
desenvolvimento ou melhorar algum outro
processo interno, como os realizados pela
marca Adidas nos últimos anos (
2018).
13
https://www.hbs.edu/faculty/Publication%20Fi
les/07-050_1b57659d-78f0-
4686
925531f05a7b.pdf.
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
de contextos distintos, podem trazer um
olhar diferente para um determinado
problema e ajudar a resolvê
-lo ou tornar
ainda mais complexos os
propostos pelo
problema. Ito cita um estudo
13
da escola
de administração de Harvard, que
constata uma relação entre soluções bem
-
sucedidas e o que o pesquisador Karim
Lakhani chamou de “distância do campo”:
“numa linguagem simples, quanto menos
do solucionador estiver
exposto à disciplina em que o problema
reside, mais propenso ele está de resolvê
-
lo” (ITO, 2016, p. 182, citando Lakhani,
Panetta, 2006).
Nesse sentido, criar uma cultura
convidativa à diversidade de
traindo pessoas com
perfis variados em relação a gênero, raça,
idade, orientação sexual, condição social,
naturalidade, grau de instrução, área de
conhecimento, religião, gostos, interesses,
entre outros, é uma forma de garantir que
erços de novas
ideias e questionamentos, abraçando,
inclusive, pontos de vista não óbvios
.
por empresas para fazer pesquisa e
desenvolvimento ou melhorar algum outro
processo interno, como os realizados pela
marca Adidas nos últimos anos (
PERRY,
https://www.hbs.edu/faculty/Publication%20Fi
4686
-a764-
3. Conclusão
A noção de que os artefatos
resultam do diálogo entre os materiais e
os seus criadores, e não necessariamente
da materialização de ideias pré
planejadas, mostra como as atividades
manuais podem estimular o surgimento de
novas questões e formas de pensamento.
E, por isso, essa noção embasa
atividades e metodologias focadas no
desenvolvimento da criatividade, inclusive
dentro de instituições forma
Com a evolução da computação,
criar e testar sistemas tecnológicos
avançados de forma simples e acessível
não está mais restrito ao desenvolvimento
de códigos na camada do software, e
pode ocorrer, por exemplo, na junção dos
códigos com circuitos eletr
design da estrutura física feita por meio de
técnicas muito variadas (incluindo uso de
impressoras 3D ou até mesmo sucata).
Essas junções e linguagens têm
guiado o trabalho em escolas e
universidades, misturando inclusive
atividades manuais
sistemas computacionais. Isso tem sido
feito tanto para estimular o aprendizado
de habilidades técnicas (em conceitos
ligados a ciências, tecnologia, engenharia,
artes e matemática, o assim chamado
STEAM, do acrônimo em inglês), quanto
par
a estimular habilidades
socioemocionais, tais como trabalho em
equipe, criatividade, solução de problemas
45
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
A noção de que os artefatos
resultam do diálogo entre os materiais e
os seus criadores, e não necessariamente
da materialização de ideias pré
-
planejadas, mostra como as atividades
manuais podem estimular o surgimento de
novas questões e formas de pensamento.
E, por isso, essa noção embasa
atividades e metodologias focadas no
desenvolvimento da criatividade, inclusive
dentro de instituições forma
is.
Com a evolução da computação,
criar e testar sistemas tecnológicos
avançados de forma simples e acessível
não está mais restrito ao desenvolvimento
de códigos na camada do software, e
pode ocorrer, por exemplo, na junção dos
códigos com circuitos eletr
ônicos e com o
design da estrutura física feita por meio de
técnicas muito variadas (incluindo uso de
impressoras 3D ou até mesmo sucata).
Essas junções e linguagens têm
guiado o trabalho em escolas e
universidades, misturando inclusive
atividades manuais
tradicionais com
sistemas computacionais. Isso tem sido
feito tanto para estimular o aprendizado
de habilidades técnicas (em conceitos
ligados a ciências, tecnologia, engenharia,
artes e matemática, o assim chamado
STEAM, do acrônimo em inglês), quanto
a estimular habilidades
socioemocionais, tais como trabalho em
equipe, criatividade, solução de problemas
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
e pensamento crítico. As políticas de
incentivo ao ensino de STEAM
impulsionaram a criação de laboratórios,
usualmente chamado de
makerspaces
em esco
las, universidades e museus em
diversos países.
Este trabalho mostra que os
sejam independentes ou
institucionalizados, podem atuar para: (1)
estimular a conexão entre as diversas
áreas do saber; (2) conectar questões
teóricas com as questões prática
colaborando para soluções ligadas a
problemas macro e do cotidiano; (3) dar
visibilidade à diversidade de
pensamentos, ideias e visões de mundo; e
(4) permitir que ideias, aparatos, produtos
e processos novos surjam como resultado
da exploração guiada p
or tentativa e erro.
Ou seja, é justamente o caráter de
experimentação que deve estar no cerne
desses espaços para que eles consigam
estimular a curiosidade e promover
reflexão crítica
evitando se converter em
um mero ambiente de infraestrutura nova,
mas
que segue velhas práticas
um espaço vazio, sem engajamento de
participantes.
O presente artigo parte da
perspectiva de que esses espaços podem
ter um impacto efetivo
na cultura
entorno (seja ele uma escola, uma
empresa, um museu, um cent
pesquisa, uma universidade ou mesmo
um bairro) quando são
convertidos em
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
e pensamento crítico. As políticas de
incentivo ao ensino de STEAM
impulsionaram a criação de laboratórios,
makerspaces
,
las, universidades e museus em
Este trabalho mostra que os
labs,
sejam independentes ou
institucionalizados, podem atuar para: (1)
estimular a conexão entre as diversas
áreas do saber; (2) conectar questões
teóricas com as questões prática
s,
colaborando para soluções ligadas a
problemas macro e do cotidiano; (3) dar
visibilidade à diversidade de
pensamentos, ideias e visões de mundo; e
(4) permitir que ideias, aparatos, produtos
e processos novos surjam como resultado
or tentativa e erro.
Ou seja, é justamente o caráter de
experimentação que deve estar no cerne
desses espaços para que eles consigam
estimular a curiosidade e promover
evitando se converter em
um mero ambiente de infraestrutura nova,
que segue velhas práticas
ou ainda
um espaço vazio, sem engajamento de
O presente artigo parte da
perspectiva de que esses espaços podem
na cultura
do seu
entorno (seja ele uma escola, uma
empresa, um museu, um cent
ro de
pesquisa, uma universidade ou mesmo
convertidos em
lugar real
de experimentação e
vazão à
investigação proveniente da
aguçada curiosidade humana
então, os labs
estimulem questionamentos
e produção crítica, c
onvido a reflexão a
respeito de um grupo de valores que
acredito serem importantes nesse tipo de
experiência:
Antidisciplinaridad
e:
é fundamental que esses
espaços permitam pensamentos
não óbvios e que não se encaixem
facilmente nas disciplinas
consolidada
s, entendendo
relação entre o conhecimento e o
exercício do aprendizado como
uma troca fluida. Nesse sentido,
vale resgatar o conceito de
antidisciplinaridade apresentado
por Neri Oxman, que
ideia de que existem projetos e
pensamentos que não se
encaixam em nenhuma disciplina
acadêmica tradicional,
trabalham no espaço em branco
que está entre
além
das disciplinas”, como
resume Ito. Em
criado por ela, a hipótese
antidisciplinar indica que o
conhecimento
não pode mais ser
atribuído a, ou produzido dentro de
limites disciplinares, pois está
totalmente enredado.
integrador é importante não para
46
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
de experimentação e
assim dão
investigação proveniente da
aguçada curiosidade humana
. Para que,
estimulem questionamentos
onvido a reflexão a
respeito de um grupo de valores que
acredito serem importantes nesse tipo de
Antidisciplinaridad
é fundamental que esses
espaços permitam pensamentos
não óbvios e que não se encaixem
facilmente nas disciplinas
s, entendendo
a
relação entre o conhecimento e o
exercício do aprendizado como
uma troca fluida. Nesse sentido,
vale resgatar o conceito de
antidisciplinaridade apresentado
por Neri Oxman, que
remete à
ideia de que existem projetos e
pensamentos que não se
encaixam em nenhuma disciplina
acadêmica tradicional,
porque
trabalham no espaço em branco
ou simplesmente
das disciplinas”, como
modelo conceitual
criado por ela, a hipótese
antidisciplinar indica que o
não pode mais ser
atribuído a, ou produzido dentro de
limites disciplinares, pois está
totalmente enredado.
Esse olhar
integrador é importante não para
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
eliminar as disciplinas
existentes, mas para que os
espaços colaborem no necessário
diálogo entre es
pecialistas das
diversas áreas do conhecimento
com foco na construção conjunta,
e não apenas na colaboração
entre as disciplinas (a qual remete
ao conceito de
interdisciplinaridade).
Tolerância ao erro:
encarar os insucessos como parte
de uma jornada de ap
é fundamental para a geração de
ideias e a exploração de novas
linguagens. Na manipulação de
materiais e tecnologias que
ocorrem nos
labs,
tentativas frustradas são comuns e
criam uma cultura de mais
liberdade experimental e menor
necess
idade de produzir respostas
prontas. E é justamente esse o
papel dos labs
: estimular o
“aprender a aprender”, de uma
maneira ativa e auto direcionada; e
não mais o aprender como uma
capacidade de absorção de
conteúdos para a sua reprodução
ou imediata apli
cação. Aceitar
erro é indispensável para que os
espaços de fazer não virem um
lugar de reprodução e “cópia” de
conteúdos previamente elaborados
e, com isso, percam a sua
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
eliminar as disciplinas
existentes, mas para que os
espaços colaborem no necessário
pecialistas das
diversas áreas do conhecimento
com foco na construção conjunta,
e não apenas na colaboração
entre as disciplinas (a qual remete
ao conceito de
Tolerância ao erro:
encarar os insucessos como parte
de uma jornada de ap
rendizagem
é fundamental para a geração de
ideias e a exploração de novas
linguagens. Na manipulação de
materiais e tecnologias que
labs,
erros e
tentativas frustradas são comuns e
criam uma cultura de mais
liberdade experimental e menor
idade de produzir respostas
prontas. E é justamente esse o
: estimular o
“aprender a aprender”, de uma
maneira ativa e auto direcionada; e
não mais o aprender como uma
capacidade de absorção de
conteúdos para a sua reprodução
cação. Aceitar
o
erro é indispensável para que os
espaços de fazer não virem um
lugar de reprodução e “cópia” de
conteúdos previamente elaborados
e, com isso, percam a sua
capacidade de estimular
pensamento crítico.
Diversidade
cognitiva:
estimular que os
labs
sejam frequentados por
grupos heterogêneos e
diversos, do ponto de vista de
gênero, raça, situação
socioeconômica, área de
atuação, idade e religião,
permite uma ampliação de
visões tanto no processo de
aprendizagem quanto no
desenvolvimento de artefatos.
Entender nossas diferenças
como talentos é uma forma
importante para estimular uma
cultura que convida olhares
diferentes e, a partir delas, gera
questionamentos e ideias.
espaço que reúne artistas e
engenheiros tende a estar mais
próximo de atender os
objetivos listados acima do que
um que reúne apenas
estudantes de engenharia, por
exemplo.
Esses valores, longe de
representar uma conclusão pronta e
acabada, são apenas um ponto de partida
para que outros olhares sejam somados
na busca de entender como esses
47
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
capacidade de estimular
pensamento crítico.
Diversidade
estimular que os
sejam frequentados por
grupos heterogêneos e
diversos, do ponto de vista de
gênero, raça, situação
socioeconômica, área de
atuação, idade e religião,
permite uma ampliação de
visões tanto no processo de
aprendizagem quanto no
desenvolvimento de artefatos.
Entender nossas diferenças
como talentos é uma forma
importante para estimular uma
cultura que convida olhares
diferentes e, a partir delas, gera
questionamentos e ideias.
Um
espaço que reúne artistas e
engenheiros tende a estar mais
próximo de atender os
quatro
objetivos listados acima do que
um que reúne apenas
estudantes de engenharia, por
Esses valores, longe de
representar uma conclusão pronta e
acabada, são apenas um ponto de partida
para que outros olhares sejam somados
na busca de entender como esses
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
ambientes podem ser mais bem
aproveitados para estimular que as
inovações do século XXI
preocupações de um conjunto mais amplo
de agentes da sociedade.
Nesse sentido, cabe lembrar que
as tecnologias e novas ferramentas
podem contribuir de imediato com
questões sociais urgentes (como a
erradicação da pobreza, a justa
distribuição
de alimentos pela população
mundial, a mitigação das mudanças
climáticas, a redução das desigualdades
sociais), ao escalar soluções, otimizar
fluxos e processos, por exemplo. E elas
podem também contribuir para
materializar ideias que especulem sobre
futur
os desejáveis, permitindo, inclusive,
maior entendimento dos desafios que
moldam o presente.
Imaginar como o futuro pode ser
passa por redefinir a nossa relação com a
realidade. E levanta possibilidades que
podem ser discutidas, debatidas e usadas
para def
inir coletivamente um futuro
preferível ou desejável. Nesse sentido, os
espaços de fazer podem ser uma
infraestrutura que traga à tona os sonhos
coletivos e nos inspire
“a imaginar que as
coisas podem ser radicalmente diferentes
do que são hoje, e acredita
r que podemos
progredir em direção a esse mundo
imaginário”, tal como descrevem Dunne e
Raby.
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
ambientes podem ser mais bem
aproveitados para estimular que as
reflitam as
preocupações de um conjunto mais amplo
Nesse sentido, cabe lembrar que
as tecnologias e novas ferramentas
podem contribuir de imediato com
questões sociais urgentes (como a
erradicação da pobreza, a justa
de alimentos pela população
mundial, a mitigação das mudanças
climáticas, a redução das desigualdades
sociais), ao escalar soluções, otimizar
fluxos e processos, por exemplo. E elas
podem também contribuir para
materializar ideias que especulem sobre
os desejáveis, permitindo, inclusive,
maior entendimento dos desafios que
Imaginar como o futuro pode ser
passa por redefinir a nossa relação com a
realidade. E levanta possibilidades que
podem ser discutidas, debatidas e usadas
inir coletivamente um futuro
preferível ou desejável. Nesse sentido, os
espaços de fazer podem ser uma
infraestrutura que traga à tona os sonhos
“a imaginar que as
coisas podem ser radicalmente diferentes
r que podemos
progredir em direção a esse mundo
imaginário”, tal como descrevem Dunne e
Dessa forma, os espaços de fazer
podem desempenhar papel similar ao
papel do design/designer defendido por
Dunne e Raby no processo de construção
de futuros:
Desi
gners não devem definir futuros
para todos os outros, mas trabalhar
com especialistas, incluindo
especialistas em ética, cientistas
políticos, economistas e outros,
gerando futuros que atuam como
catalisadores para o debate público e
a discussão sobre os t
que as pessoas realmente desejam.
O design pode dar aos especialistas
permissão para deixar a imaginação
fluir livremente, dar expressão
material aos insights gerados,
fundamentar essas imaginações nas
situações cotidianas e fornecer
plataf
ormas para mais especulações
colaborativas.
Acreditamos que, especulando mais,
em todos os níveis da sociedade, e
explorando cenários alternativos, a
realidade se tornará mais maleável
e, embora o futuro não possa ser
previsto, podemos ajudar a
estabelecer
hoje fatores que
aumentarão a probabilidade de
futuros mais desejáveis
acontecerem. E, igualmente, fatores
que podem levar a futuros
indesejáveis podem ser identificados
desde o início e ser abordados ou
pelo menos limitados (
RABY, 2013, p. 6
É
a partir desta abordagem que o
presente artigo buscou evidenciar a
importância da existência de espaços de
experimentação tecnológica como
fomentadores de uma cultura em que os
48
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
Dessa forma, os espaços de fazer
podem desempenhar papel similar ao
papel do design/designer defendido por
Dunne e Raby no processo de construção
gners não devem definir futuros
para todos os outros, mas trabalhar
com especialistas, incluindo
especialistas em ética, cientistas
políticos, economistas e outros,
gerando futuros que atuam como
catalisadores para o debate público e
a discussão sobre os t
ipos de futuros
que as pessoas realmente desejam.
O design pode dar aos especialistas
permissão para deixar a imaginação
fluir livremente, dar expressão
material aos insights gerados,
fundamentar essas imaginações nas
situações cotidianas e fornecer
ormas para mais especulações
Acreditamos que, especulando mais,
em todos os níveis da sociedade, e
explorando cenários alternativos, a
realidade se tornará mais maleável
e, embora o futuro não possa ser
previsto, podemos ajudar a
hoje fatores que
aumentarão a probabilidade de
futuros mais desejáveis
acontecerem. E, igualmente, fatores
que podem levar a futuros
indesejáveis podem ser identificados
desde o início e ser abordados ou
pelo menos limitados (
DUNNE;
RABY, 2013, p. 6
).
a partir desta abordagem que o
presente artigo buscou evidenciar a
importância da existência de espaços de
experimentação tecnológica como
fomentadores de uma cultura em que os
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
cidadãos possam assumir o protagonismo
e construir juntos outros futuros possív
Referências bibliográficas
ACKERMANN, E. K. Give me a place
to stand and I will move the world! Life
long learning in the digital age.
for the Study of Education and
Development
. Volume 38, Issue 4,
2015.
Disponível em:
https://www.tandfonline.com/doi/full/10.
1080/02103702.2015.1076265
Acesso: 10 mar. 2020.
BLIKSTEIN, P. Maker Movement in
Education: History and Prospects. In:
M.J. de Vries (ed.).
Handbook of
Technology Education
.
International, 2018.
BLIKSTEIN, P.
O mito do mau aluno e
porque o Brasil pode ser o líder
mundial de uma revolução
educacional
. Sem data. Disponível em:
http://blikstein.com/paulo/documents/b
ooks/Blikstein-
Brasil_pode_ser_lider_mundial_em_ed
ucacao.pdf. Acesso: 15 mar. 2020.
DAUGHERTY, M. K. The Prospect of
an “A” in STEM Education.
STEM Education
, Volume 14, Issue
abr.-jun. 2013.
Disponível em:
https://www.jstem.org/jstem/index.php/
JSTEM/article/view/1744/1520
Acesso: 5 mar. 2020.
DOUGHERTY, D.
Free to Make
the Maker Movement I
s Changing Our
Schools, Our Jobs, and Our Minds.
North Atlantic Books, 2016.
DOUGHERTY, D. The Maker
Movement.
MIT Press Journals
Disponível em:
https://www.mitpressjournals.org/doi/p
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
cidadãos possam assumir o protagonismo
e construir juntos outros futuros possív
eis.
ACKERMANN, E. K. Give me a place
to stand and I will move the world! Life
-
long learning in the digital age.
Journal
for the Study of Education and
. Volume 38, Issue 4,
Disponível em:
https://www.tandfonline.com/doi/full/10.
1080/02103702.2015.1076265
.
BLIKSTEIN, P. Maker Movement in
Education: History and Prospects. In:
Handbook of
.
Springer
O mito do mau aluno e
porque o Brasil pode ser o líder
mundial de uma revolução
. Sem data. Disponível em:
http://blikstein.com/paulo/documents/b
Brasil_pode_ser_lider_mundial_em_ed
ucacao.pdf. Acesso: 15 mar. 2020.
DAUGHERTY, M. K. The Prospect of
an “A” in STEM Education.
Journal of
, Volume 14, Issue
2,
Disponível em:
https://www.jstem.org/jstem/index.php/
JSTEM/article/view/1744/1520
.
Free to Make
: How
s Changing Our
Schools, Our Jobs, and Our Minds.
North Atlantic Books, 2016.
DOUGHERTY, D. The Maker
MIT Press Journals
, 2012.
Disponível em:
https://www.mitpressjournals.org/doi/p
df/10.1162/INOV_a_00135.
mar. 2020.
DUNNE, A.; RABY, F.
Everything
: Design, Fiction, and Social
Dreaming. Cambridge, Massachusetts:
The MIT Press, 2013.
EDMONDSON, A.
Learning from Failure
.
Review
. Edição Abril de 2011.
Disponível em:
https://hbr.org/2011/04/strategies
learning-from-
failure.
2020.
EGBERT, M.
Creating Makers
Start a Learning Revolution at Your
Library.
Libraries Unlimited, 2016.
GARBER, E.; HOCHTRITT, L.;
SHARMA, M. Introduction.
C
rafters, Educators
Cultural Change.
Oxford: Routledge,
2019.
GOODE, L. Why the ‘Queen of Shitty
Robots’ Renounced Her Crown.
magazine
, 12 out. 2019. Disponível
em:
https://www.wired.com/story/simone
giertz-build-what-you
-
10 mar. 2020.
GORE, N. Craft and innovation:
Serious play and the direct experience
of the real.
Journal of Architectural
Education
, Volume 58, Issue 1, p. 39
44, 2004.
HALVERSON, E.; SHERIDAN, K. M.
2014.
The Maker Movement in
Education.
Harvard
Review
, Vol. 84, No. 4, inverno de
2014. Disponível em:
https://www.semanticscholar.org/paper
/The-Maker-
Movement
Halverson-
Sheridan/66147755ddbaaa159bd5c59
bcfad72f33e5c427b
.
2020.
49
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
df/10.1162/INOV_a_00135.
Acesso: 10
DUNNE, A.; RABY, F.
Speculative
: Design, Fiction, and Social
Dreaming. Cambridge, Massachusetts:
The MIT Press, 2013.
EDMONDSON, A.
Strategies for
.
Harvard Business
. Edição Abril de 2011.
Disponível em:
https://hbr.org/2011/04/strategies
-for-
failure.
Acesso: 10 mar.
Creating Makers
: How to
Start a Learning Revolution at Your
Libraries Unlimited, 2016.
GARBER, E.; HOCHTRITT, L.;
SHARMA, M. Introduction.
In: Makers,
rafters, Educators
: Working for
Oxford: Routledge,
GOODE, L. Why the ‘Queen of Shitty
Robots’ Renounced Her Crown.
Wired
, 12 out. 2019. Disponível
https://www.wired.com/story/simone
-
-
want/. Acesso:
GORE, N. Craft and innovation:
Serious play and the direct experience
Journal of Architectural
, Volume 58, Issue 1, p. 39
-
HALVERSON, E.; SHERIDAN, K. M.
The Maker Movement in
Harvard
Educational
, Vol. 84, No. 4, inverno de
2014. Disponível em:
https://www.semanticscholar.org/paper
Movement
-in-Education-
Sheridan/66147755ddbaaa159bd5c59
.
Acesso: 7 mar.
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
30
-
50
,
set.
2020.
INGOLD, T. Making
: Anthropology,
Archaeology, Art and Architecture.
Onxford: Routledge, 2013.
ITO, J. Design and Science: Can
design advance science
, and can
science advance design?
Desing and Science
, 12 jan. 2016.
Disponível
https://jods.mitpress.mit.edu/pub/desig
nandscience.
Acesso: 20 mar. 2020.
ITO, J.; HOWE, J.
Disrupção e
inovação
: como sobreviver ao futuro
incerto.
Rio de Janeiro: Alta Books,
2018.
KELLY, K.
What scientific concept
would improve everybody’s cognitive
toolkit?2011.
Disponível em:
https://www.edge.org/response
detail/10422
. Acesso: 5 mar. 2020.
LAND, M. H. Full STEAM Ahead: The
Benefits of Integrating the Arts Into
STEM.
Procedia Computer Science
Volume 20, p. 547-
552, 2013.
LEITE, P. P. Sobre a distinção entre
história e evolução
em Tim Ingold.
Social Evolution & History
,
1, p. 5-
24, jul. 2002. Disponível em:
https://globalherit.hypotheses.org/6719
Acesso: 9 mar. 2020.
MARCHAND, T. H. J. Learning,
Education and Appre
nticeship.
of the Royal Anthropological Institute
18 (1). p. 209-210, 2012.
MITCHELL, R.; NICHOLAS, S.
Knowledge Creation in Groups: The
Value of Cognitive Diversity,
Transactive Memory and Open
mindedness Norms.
Electronic Journal
of Knowledge
Management
Issue 1, p. 67-
74, 2006. Disponível em:
https://www.researchgat
e.net/publicati
on/220826009_Knowledge_Creation_i
n_Groups_The_Value_of_Cognitive_Di
versity_Transactive_Memory_and_Op
AGUSTINI, Gabriela da Costa Aguiar; SANTOS, Jorge Roberto Lopes dos.
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade, tolerância ao erro e diversidade cognitiva
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
: Anthropology,
Archaeology, Art and Architecture.
ITO, J. Design and Science: Can
, and can
science advance design?
Journal Of
, 12 jan. 2016.
em:
https://jods.mitpress.mit.edu/pub/desig
Acesso: 20 mar. 2020.
Disrupção e
: como sobreviver ao futuro
Rio de Janeiro: Alta Books,
What scientific concept
would improve everybody’s cognitive
Disponível em:
https://www.edge.org/response
-
. Acesso: 5 mar. 2020.
LAND, M. H. Full STEAM Ahead: The
Benefits of Integrating the Arts Into
Procedia Computer Science
,
552, 2013.
LEITE, P. P. Sobre a distinção entre
em Tim Ingold.
,
Vol. 1, No.
24, jul. 2002. Disponível em:
https://globalherit.hypotheses.org/6719
MARCHAND, T. H. J. Learning,
nticeship.
Journal
of the Royal Anthropological Institute
,
MITCHELL, R.; NICHOLAS, S.
Knowledge Creation in Groups: The
Value of Cognitive Diversity,
Transactive Memory and Open
-
Electronic Journal
Management
, Volume 4,
74, 2006. Disponível em:
e.net/publicati
on/220826009_Knowledge_Creation_i
n_Groups_The_Value_of_Cognitive_Di
versity_Transactive_Memory_and_Op
enmindedness_Norms
2020.
OXMAN, N.
Age of Entanglement
2016. Disponível em:
https://jods.mitpress.mit.edu/pub/AgeO
fEntanglement
. Acesso: 3 mar. 2020.
SANDERS, M.
Becoming a Learner
Realizing the Opportunity of Education.
Institute for Communication &
Leadership, 2012.
SILVA, R. B.; MERKLE, L. E.
Perspectivas educacionais FabLearn:
conceitos e práticas maker no Brasil.
In: Fablearn
Conference
Disponível em:
https://www.researchgate.net/publicati
on/308098069_Perspectivas_educacio
nais_FabLearn_conceitos_e_praticas_
maker_no_Brasil
. Acesso: 5 mar.
2020.
SNOWDEN, E.
Eterna vigilância
montei e desvendei o maior sistema de
espionag
em do mundo.
Planeta, 2019.
STAPPERS, P.; GIACCARDI, E.
Research through Design.
Encyclopedia of Human
Interaction
, 2nd Ed., Sem data.
Disponível em:
https://www.interaction
design.org/literature/book/the
encyclopedia-of-
human
interaction-2nd-
ed/research
design
50
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
enmindedness_Norms
. Acesso: 5 mar.
Age of Entanglement
.
2016. Disponível em:
https://jods.mitpress.mit.edu/pub/AgeO
. Acesso: 3 mar. 2020.
Becoming a Learner
:
Realizing the Opportunity of Education.
Institute for Communication &
SILVA, R. B.; MERKLE, L. E.
Perspectivas educacionais FabLearn:
conceitos e práticas maker no Brasil.
Conference
, 2016.
Disponível em:
https://www.researchgate.net/publicati
on/308098069_Perspectivas_educacio
nais_FabLearn_conceitos_e_praticas_
. Acesso: 5 mar.
Eterna vigilância
: como
montei e desvendei o maior sistema de
em do mundo.
São Paulo:
STAPPERS, P.; GIACCARDI, E.
Research through Design.
The
Encyclopedia of Human
-Computer
, 2nd Ed., Sem data.
https://www.interaction
-
design.org/literature/book/the
-
human
-computer-
ed/research
-through-
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em tempos de pandemia
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v
Resumo:
Se por um lado as universidades públicas t
novo coronavirus, por outro, elas seguem sendo alvos de uma
Nos últimos anos os avanços tecnológicos também abriram espaço para a circulação de notícias
falsas ou ideias impregnadas por um sentimento antiintelectualista e anticientificista. Esses discursos
têm corrompido a parte ma
is conservadora da sociedade a desvalorizar os serviços e as instituições
públicas em geral, principalmente na educação, na cultura e na saúde e com isso legitimado medidas
de austeridade nesses campos. Entretanto, mesmo neste cenário de pandemia que assol
temos na universidade pública, junto ao sistema Único de Saúde (SUS), umas das instituições
fundamentais para enfrentamento da crise sanitária. São várias as frentes em que as universidades
públicas atuam em todo o país para combater o covid
práticas de saúde coletiva, acolhimentos psicológicos, desenvolvimento de equipamentos através das
engenharias e também com a circulação de iniciativas de arte e a cultura. Esta última recentemente
reconhecida pel
a Organização mundial da Saúde (OMS) como área que deve ser incluída no sistema
sanitário como política de saúde por proporcionar bem estar e melhorar as condições de
enfrentamento a algumas doenças. Neste sentido que muitas universidades públicas estão ut
de suas redes colaborativas e acúmulos de práticas e conhecimentos em arte e cultura para
promover virtualmente o bem estar durante a pandemia. São estas ações específicas que atravessam
o campo da cultura e da educação pública por meio da apropri
comunicação em um contexto de crise sanitária que serão base de reflexão deste estudo.
Palavras-Chave: redes virtuais;
Redes de Arte y Cultura en las universidades públicas e
Resumen:
Si, por un lado, las universidades públicas han actuado en diferentes frentes en la lucha
contra el nuevo coronavirus, por otro, continúan siendo objetos de una política de desmantelamiento
de la educación. En los últimos años, los avances tecnológicos tam
la circulación de noticias falsas o ideas impregnadas de un sentimiento anti
científico. Esos discursos han corrompido a la parte más conservadora de la sociedad para devaluar
los servicios públicos y las
instituciones en general, principalmente las de educación, cultura y salud,
y así pues, legitimar las medidas de austeridad en estos campos. Sin embargo, incluso en este
escenario de pandemia que actualmente ha afectado Brasil, tenemos en la universidad p
con ello Sistema Único de Salud (SUS), una de las instituciones fundamentales para enfrentar la
crisis de salud. Hay muchas frentes en las cuales las universidades blicas trabajan por todo el país
para combatir el covid-
19, contribuyen con
atención psicológica, desarrollo de equipos a través de la ingeniería y también a través de la
1
Michele Dacas. Doutora em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais,
relações públicas e gestora cultural na
UNILA, Paraná, Brasil. E-mail:
michele.dacas@gmail.com
Recebido em 30/04/2020,
aceito para publicação em
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em tempos de pandemia
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v
10i19.42633
Se por um lado as universidades públicas t
ê
m atuado em diferentes frentes no combate ao
novo coronavirus, por outro, elas seguem sendo alvos de uma
política de desmonte da educação.
Nos últimos anos os avanços tecnológicos também abriram espaço para a circulação de notícias
falsas ou ideias impregnadas por um sentimento antiintelectualista e anticientificista. Esses discursos
is conservadora da sociedade a desvalorizar os serviços e as instituições
públicas em geral, principalmente na educação, na cultura e na saúde e com isso legitimado medidas
de austeridade nesses campos. Entretanto, mesmo neste cenário de pandemia que assol
temos na universidade pública, junto ao sistema Único de Saúde (SUS), umas das instituições
fundamentais para enfrentamento da crise sanitária. São várias as frentes em que as universidades
públicas atuam em todo o país para combater o covid
-1
9, contribuem com estudos epidemiológicos,
práticas de saúde coletiva, acolhimentos psicológicos, desenvolvimento de equipamentos através das
engenharias e também com a circulação de iniciativas de arte e a cultura. Esta última recentemente
a Organização mundial da Saúde (OMS) como área que deve ser incluída no sistema
sanitário como política de saúde por proporcionar bem estar e melhorar as condições de
enfrentamento a algumas doenças. Neste sentido que muitas universidades públicas estão ut
de suas redes colaborativas e acúmulos de práticas e conhecimentos em arte e cultura para
promover virtualmente o bem estar durante a pandemia. São estas ações específicas que atravessam
o campo da cultura e da educação pública por meio da apropri
ação das novas tecnologias de
comunicação em um contexto de crise sanitária que serão base de reflexão deste estudo.
universidades públicas; arte e cultura; covid-19
Redes de Arte y Cultura en las universidades públicas e
n tiempos de pandemia
Si, por un lado, las universidades públicas han actuado en diferentes frentes en la lucha
contra el nuevo coronavirus, por otro, continúan siendo objetos de una política de desmantelamiento
de la educación. En los últimos años, los avances tecnológicos tam
bién han abierto un espacio para
la circulación de noticias falsas o ideas impregnadas de un sentimiento anti
científico. Esos discursos han corrompido a la parte más conservadora de la sociedad para devaluar
instituciones en general, principalmente las de educación, cultura y salud,
y así pues, legitimar las medidas de austeridad en estos campos. Sin embargo, incluso en este
escenario de pandemia que actualmente ha afectado Brasil, tenemos en la universidad p
con ello Sistema Único de Salud (SUS), una de las instituciones fundamentales para enfrentar la
crisis de salud. Hay muchas frentes en las cuales las universidades blicas trabajan por todo el país
19, contribuyen con
estudios epidemiológicos, prácticas colectivas de salud,
atención psicológica, desarrollo de equipos a través de la ingeniería y también a través de la
Michele Dacas. Doutora em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais,
relações públicas e gestora cultural na
Universidade Federal da Integração Latino
michele.dacas@gmail.com
- https://orcid.or
g/0000
aceito para publicação em
28
/05/2020, disponibilizado online em
01/09/2020.
51
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em tempos de pandemia
Michele Dacas
1
m atuado em diferentes frentes no combate ao
política de desmonte da educação.
Nos últimos anos os avanços tecnológicos também abriram espaço para a circulação de notícias
falsas ou ideias impregnadas por um sentimento antiintelectualista e anticientificista. Esses discursos
is conservadora da sociedade a desvalorizar os serviços e as instituições
públicas em geral, principalmente na educação, na cultura e na saúde e com isso legitimado medidas
de austeridade nesses campos. Entretanto, mesmo neste cenário de pandemia que assol
ou o Brasil,
temos na universidade pública, junto ao sistema Único de Saúde (SUS), umas das instituições
fundamentais para enfrentamento da crise sanitária. São várias as frentes em que as universidades
9, contribuem com estudos epidemiológicos,
práticas de saúde coletiva, acolhimentos psicológicos, desenvolvimento de equipamentos através das
engenharias e também com a circulação de iniciativas de arte e a cultura. Esta última recentemente
a Organização mundial da Saúde (OMS) como área que deve ser incluída no sistema
sanitário como política de saúde por proporcionar bem estar e melhorar as condições de
enfrentamento a algumas doenças. Neste sentido que muitas universidades públicas estão ut
ilizando
de suas redes colaborativas e acúmulos de práticas e conhecimentos em arte e cultura para
promover virtualmente o bem estar durante a pandemia. São estas ações específicas que atravessam
ação das novas tecnologias de
comunicação em um contexto de crise sanitária que serão base de reflexão deste estudo.
n tiempos de pandemia
Si, por un lado, las universidades públicas han actuado en diferentes frentes en la lucha
contra el nuevo coronavirus, por otro, continúan siendo objetos de una política de desmantelamiento
bién han abierto un espacio para
la circulación de noticias falsas o ideas impregnadas de un sentimiento anti
-intelectual y anti-
científico. Esos discursos han corrompido a la parte más conservadora de la sociedad para devaluar
instituciones en general, principalmente las de educación, cultura y salud,
y así pues, legitimar las medidas de austeridad en estos campos. Sin embargo, incluso en este
escenario de pandemia que actualmente ha afectado Brasil, tenemos en la universidad p
ública, junto
con ello Sistema Único de Salud (SUS), una de las instituciones fundamentales para enfrentar la
crisis de salud. Hay muchas frentes en las cuales las universidades blicas trabajan por todo el país
estudios epidemiológicos, prácticas colectivas de salud,
atención psicológica, desarrollo de equipos a través de la ingeniería y también a través de la
Michele Dacas. Doutora em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais,
Universidade Federal da Integração Latino
-Americana /
g/0000
-0001-6330-7454
/05/2020, disponibilizado online em
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
circulación de iniciativas artísticas y culturales. Este último fue reconocido recientemente por la
Orga
nización Mundial de la Salud (OMS) como un área que debería incluirse en el sistema de salud
como una política de salud para proporcionar bienestar y mejorar las condiciones para hacer frente a
algunas enfermedades. En este sentido, muchas universidades pú
colaboración y acumulaciones de prácticas y conocimientos en arte y cultura para promover
virtualmente el bienestar durante la pandemia. Son estas acciones específicas que cruzan el campo
de la cultura y la educación
comunicación en un contexto de crisis de salud que serán la base para la reflexión en este estudio.
Palavras clave: redes virtuales;
Art & Cul
ture Networks in Public Universities in Times of Pandemic
Abstract:
If, on the one hand, public universities have been active in the front line of combat to the
new coronavirus, in the other, the policy of dismantling public education continues to target
recent years, technological advances have also opened space for the circulation of fake news or ideas
impregnated with anti-
intellectual and anti
most conservative part of society towar
provide, in particular the educational, cultural, and public health, legitimizing the austerity measures in
those fields. However, even in this pandemic scenario that is plaguing Brazil, we
universities, alongside with the universal public health system (SUS), one pillar for facing the current
sanitary crisis. There are several fronts on witch public universities work across the country to combat
COVID-19, by contributing
to epidemiological studies, collective health practices, psychological care,
development of equipment through engineering, and also with the circulation of art and cultural
initiatives. The sanitary system into health policies must include the latter rece
World Health Organization (WHO) seeing as it provides well
coping with some diseases. In this sense, many public universities are using their collaborative
networks and accumulations of practices
being during the pandemic. It is these specific actions that cross the field of culture and public
education through the appropriation of unknown communication technologies in a health crisis that
be the basis for reflection in this study.
Keywords: virtual networks;
public universities
Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em tempos de pandemia
Introdução
Com o objetivo de compreender
os processos de enfrentamento ao
covid-
19 através de diferentes
plataformas promovidas pelas
universidades públicas,
especificamente na med
iação virtual
de redes de arte e cultura, que este
estudo busca relacionar esta atuação
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
circulación de iniciativas artísticas y culturales. Este último fue reconocido recientemente por la
nización Mundial de la Salud (OMS) como un área que debería incluirse en el sistema de salud
como una política de salud para proporcionar bienestar y mejorar las condiciones para hacer frente a
algunas enfermedades. En este sentido, muchas universidades pú
blicas están utilizando sus redes de
colaboración y acumulaciones de prácticas y conocimientos en arte y cultura para promover
virtualmente el bienestar durante la pandemia. Son estas acciones específicas que cruzan el campo
de la cultura y la educación
blica a través de la apropiación de las nuevas tecnologías de
comunicación en un contexto de crisis de salud que serán la base para la reflexión en este estudio.
universidades públicas; arte y cultura; covid-19
ture Networks in Public Universities in Times of Pandemic
If, on the one hand, public universities have been active in the front line of combat to the
new coronavirus, in the other, the policy of dismantling public education continues to target
recent years, technological advances have also opened space for the circulation of fake news or ideas
intellectual and anti
-
scientific feelings. Those narratives have been polluting the
most conservative part of society towar
ds belittling the overall public institutions and the service they
provide, in particular the educational, cultural, and public health, legitimizing the austerity measures in
those fields. However, even in this pandemic scenario that is plaguing Brazil, we
universities, alongside with the universal public health system (SUS), one pillar for facing the current
sanitary crisis. There are several fronts on witch public universities work across the country to combat
to epidemiological studies, collective health practices, psychological care,
development of equipment through engineering, and also with the circulation of art and cultural
initiatives. The sanitary system into health policies must include the latter rece
ntly recognized by the
World Health Organization (WHO) seeing as it provides well
-
being and improves the condition for
coping with some diseases. In this sense, many public universities are using their collaborative
networks and accumulations of practices
and knowledge in art and culture to promote virtually well
being during the pandemic. It is these specific actions that cross the field of culture and public
education through the appropriation of unknown communication technologies in a health crisis that
be the basis for reflection in this study.
public universities
; art and culture; COVID-19.
Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em tempos de pandemia
Com o objetivo de compreender
os processos de enfrentamento ao
19 através de diferentes
plataformas promovidas pelas
universidades públicas,
iação virtual
de redes de arte e cultura, que este
estudo busca relacionar esta atuação
ao contexto de crise política e
desmonte da educação e da cultura
pelo qual essas instituições são
simultaneamente atravessadas. Para
refletir sobre esta questão a estr
metodológic
a seguirá com uma
combinação de instrumentos de
análise e perspectivas para adaptar
um arranjo compatível aos devires
52
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
circulación de iniciativas artísticas y culturales. Este último fue reconocido recientemente por la
nización Mundial de la Salud (OMS) como un área que debería incluirse en el sistema de salud
como una política de salud para proporcionar bienestar y mejorar las condiciones para hacer frente a
blicas están utilizando sus redes de
colaboración y acumulaciones de prácticas y conocimientos en arte y cultura para promover
virtualmente el bienestar durante la pandemia. Son estas acciones específicas que cruzan el campo
blica a través de la apropiación de las nuevas tecnologías de
comunicación en un contexto de crisis de salud que serán la base para la reflexión en este estudio.
If, on the one hand, public universities have been active in the front line of combat to the
new coronavirus, in the other, the policy of dismantling public education continues to target
them. In
recent years, technological advances have also opened space for the circulation of fake news or ideas
scientific feelings. Those narratives have been polluting the
ds belittling the overall public institutions and the service they
provide, in particular the educational, cultural, and public health, legitimizing the austerity measures in
those fields. However, even in this pandemic scenario that is plaguing Brazil, we
found in the public
universities, alongside with the universal public health system (SUS), one pillar for facing the current
sanitary crisis. There are several fronts on witch public universities work across the country to combat
to epidemiological studies, collective health practices, psychological care,
development of equipment through engineering, and also with the circulation of art and cultural
ntly recognized by the
being and improves the condition for
coping with some diseases. In this sense, many public universities are using their collaborative
and knowledge in art and culture to promote virtually well
-
being during the pandemic. It is these specific actions that cross the field of culture and public
education through the appropriation of unknown communication technologies in a health crisis that
will
Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em tempos de pandemia
ao contexto de crise política e
desmonte da educação e da cultura
pelo qual essas instituições são
simultaneamente atravessadas. Para
refletir sobre esta questão a estr
utura
a seguirá com uma
combinação de instrumentos de
análise e perspectivas para adaptar
um arranjo compatível aos devires
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
encontrados na diversidade de
conteúdos
, formatos e sujeitos
presentes nas mediações culturais em
rede,
organizadas pelas universidades
públicas neste período de isolamento
social. Q
uando tratamos deste
conjunto multimodal ao qual
denominamos como mediações
culturais em redes virtuais
referimos à
interlocução entre
universidades e sociedade por meio de
plataformas de conteúdos, interações,
repertórios e públicos destinatários.
Portanto, a reflexão deste estudo irá
combinar a análise de múltiplos casos
e as respectivas discussões
bibliográficas suscitadas pelos
mesmos, considerando o contexto
social e p
olítico ao qual se inscrevem e
são influenciadas essas iniciativas de
arte e cultura online, perpetuadas
pelas universidades públicas como
uma entre as formas de combater a
pandemia porque auxiliam no
fortalecimento da prática preventiva do
isolamento.
Por
tanto propomos como
perspectiva metodológica central a
internet como campo de análise no
qual o pesquisador realiza a sua
imersão e coleta de dados por meio da
navegação na interface online,
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
encontrados na diversidade de
, formatos e sujeitos
presentes nas mediações culturais em
organizadas pelas universidades
públicas neste período de isolamento
uando tratamos deste
conjunto multimodal ao qual
denominamos como mediações
culturais em redes virtuais
, nos
interlocução entre
universidades e sociedade por meio de
plataformas de conteúdos, interações,
repertórios e públicos destinatários.
Portanto, a reflexão deste estudo irá
combinar a análise de múltiplos casos
e as respectivas discussões
bibliográficas suscitadas pelos
mesmos, considerando o contexto
olítico ao qual se inscrevem e
são influenciadas essas iniciativas de
arte e cultura online, perpetuadas
pelas universidades públicas como
uma entre as formas de combater a
pandemia porque auxiliam no
fortalecimento da prática preventiva do
tanto propomos como
perspectiva metodológica central a
internet como campo de análise no
qual o pesquisador realiza a sua
imersão e coleta de dados por meio da
navegação na interface online,
conforme aponta Fragoso, Recuero e
Amaral (2012). Imersão a qual
flexibilidade ao pesquisador no campo
da internet, podendo traçar panoramas
de análise que contemplem diferentes
eixos em relação a linguagem,
apropriação tecnológica, práticas de
consumo e socialização online, entre
outras. Com base nas perspectiv
metodológicas levantadas pelas
autoras, nos interessa como diretriz a
abordagem praxeológica
a internet como mídia, dotada de
práticas e estratégias comunicacionais
que dialogam com determinadas
culturas, envolvendo narrativas,
agenciamento
s e infraestruturas. E a
abordagem que compreende a internet
como artefato cultural que integra os
âmbitos online e offline, que a observa
como elemento da cultura e não como
algo à
parte. ‘A ideia de artefato
cultural compreende que existem
diferentes sig
nificados culturais em
diferentes objetos de uso” (AMARAL,
FRAGOSO, RECUERO, 2012, p. 42).
Dessa forma, o objeto de estudo
implica na análise da conjuntura e a
2
Segundo as autoras (2012, p.44), a
abordagem proposta pelo grupo de Barcelona
é embasada no conceito de praxeologia que é
a teoria ou a ciência da ação que procura
estabelecer as leis que governam a ação
humana.
53
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
conforme aponta Fragoso, Recuero e
Amaral (2012). Imersão a qual
permite
flexibilidade ao pesquisador no campo
da internet, podendo traçar panoramas
de análise que contemplem diferentes
eixos em relação a linguagem,
apropriação tecnológica, práticas de
consumo e socialização online, entre
outras. Com base nas perspectiv
as
metodológicas levantadas pelas
autoras, nos interessa como diretriz a
abordagem praxeológica
2
que entende
a internet como mídia, dotada de
práticas e estratégias comunicacionais
que dialogam com determinadas
culturas, envolvendo narrativas,
s e infraestruturas. E a
abordagem que compreende a internet
como artefato cultural que integra os
âmbitos online e offline, que a observa
como elemento da cultura e não como
parte. ‘A ideia de artefato
cultural compreende que existem
nificados culturais em
diferentes objetos de uso” (AMARAL,
FRAGOSO, RECUERO, 2012, p. 42).
Dessa forma, o objeto de estudo
implica na análise da conjuntura e a
Segundo as autoras (2012, p.44), a
abordagem proposta pelo grupo de Barcelona
é embasada no conceito de praxeologia que é
a teoria ou a ciência da ação que procura
estabelecer as leis que governam a ação
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
partir disso, a valorização dos dados
para a elaboração de uma
interpretação com base na constit
de categorias norteadas pela aliança
entre observação e teorias.
Sendo assim, a constituição do
corpus deste trabalho contempla a
experiência de três universidades
federais que implementaram iniciativas
de arte e cultura como meio de
amenizar efeito
s negativos para a
população durante o isolamento social,
instrumento de prevenção ao novo
coronavirus implementado em vários
países e recomendado pela OMS
Faremos aqui uma imersão em sites,
blogs, plataformas streaming e redes
sociais do cleo cultural
UFCSPA
4
, do Departamento de
Difusão Cultural da UFRGS
Centro Cultural UFSJ
6
, para coletar e
analisar os objetivos, os processos, os
conteúdos e interlocutores envolvidos
3
Organização Mundial da Saúde
4
Universida
de Federal de Ciências da Saúde
de Porto Alegre
(
www.ufcspa.edu.br/index.php/ultimas
noticias/34-noticias/8328-
conexao
espaco-de-manifestacao-
cultural
5
Universidade Federal
do Rio Grande do Su
(
www.ufrgs.br/difusaocultural/ddc
aulas-performances-e-resgata-a
-
em-meio-a-quarentena)
6
Universidade Federal de São
João
(www.ufsj.edu.br/noticias_le
r.php?codigo_notic
ia=7886)
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
partir disso, a valorização dos dados
para a elaboração de uma
interpretação com base na constit
uição
de categorias norteadas pela aliança
entre observação e teorias.
Sendo assim, a constituição do
corpus deste trabalho contempla a
experiência de três universidades
federais que implementaram iniciativas
de arte e cultura como meio de
s negativos para a
população durante o isolamento social,
instrumento de prevenção ao novo
coronavirus implementado em vários
países e recomendado pela OMS
3
.
Faremos aqui uma imersão em sites,
blogs, plataformas streaming e redes
sociais do cleo cultural
da
, do Departamento de
Difusão Cultural da UFRGS
5
e do
, para coletar e
analisar os objetivos, os processos, os
conteúdos e interlocutores envolvidos
Organização Mundial da Saúde
de Federal de Ciências da Saúde
www.ufcspa.edu.br/index.php/ultimas
-
conexao
-cultura-um-
cultural
-em-rede)
do Rio Grande do Su
l
www.ufrgs.br/difusaocultural/ddc
-oferece-
-
sua-historia-
João
Del Rei
r.php?codigo_notic
nessas ações. Essas plataformas
mesmo tendo sua programação
conduzida e suas
organizadas por determinadas
instituições de ensino superior,
apresentam conforme Castells (2009)
a convergência de uma rede
horizontal, com caráter e forma
multimodal, devido
à
de autorias diversas, e multiplicidade
de formato
s midiáticos. Entretanto,
com base na perspectiva metodológica
exposta esses elementos das
plataformas de arte e cultura serão
interpretados conforme o contexto
social e político e a grave crise
sanitária em que elas se inscrevem.
Também autores como Manue
Castells (2009), observam a internet
como um campo que integra,
influencia e é afetado pelo contexto,
não se tratando assim de um mundo
virtual, mas de
“una virtualidad real
integrada en otras formas de
interacción en una vida diaria cada vez
más híbrida
(CASTELLS, 2009,
p.105)
Realidade offline: qual o contexto
sociopolítico das universidades
públicas?
54
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
nessas ações. Essas plataformas
mesmo tendo sua programação
conduzida e suas
estruturas
organizadas por determinadas
instituições de ensino superior,
apresentam conforme Castells (2009)
a convergência de uma rede
horizontal, com caráter e forma
à
colaboratividade
de autorias diversas, e multiplicidade
s midiáticos. Entretanto,
com base na perspectiva metodológica
exposta esses elementos das
plataformas de arte e cultura serão
interpretados conforme o contexto
social e político e a grave crise
sanitária em que elas se inscrevem.
Também autores como Manue
l
Castells (2009), observam a internet
como um campo que integra,
influencia e é afetado pelo contexto,
não se tratando assim de um mundo
“una virtualidad real
integrada en otras formas de
interacción en una vida diaria cada vez
(CASTELLS, 2009,
Realidade offline: qual o contexto
sociopolítico das universidades
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
Desde a instauração dos cortes
de gastos com saúde e educação em
2016 e o recente contingenciamento
orçamentário das instituições de
ensino superior,
não há previsão para
impressão da publicação cultural. Os
últimos exemplares impressos da
revista foram financiados pelo extinto
Ministério da Cultura (
MinC
de programa
7
voltado para as
universidade públicas, para subsidiar
seus próprios projetos
, planos e
políticas culturais, que reconhecia o
potencial dessas instituições de ensino
para o fomento de toda a cadeia
produtiva da arte e da cultura em suas
esferas de abrangência.
Segundo Gobira, Rolla, Simon
da Silveira e
Lemos, (2017) desde a
abertura democrática, e especialmente
no início do século XXI, tivemos uma
mudança nos olhares políticos sobre a
cultura. Com o impulso das novas
tecnologias e a pressão dos
movimentos culturais,
passa a ser
estruturada a pasta admin
istrativa e as
respectivas políticas para promover a
produção e o acesso à arte e à cultura.
Também o desenvolvimento das
diretrizes econômicas para subsidiar a
produção criativa da cultura passam a
legitimar os investimentos para a sua
produção em caráter
local e, ao
mesmo tempo, com alcance global.
7
Programa Mais Cultura nas Universidades
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
Desde a instauração dos cortes
de gastos com saúde e educação em
2016 e o recente contingenciamento
orçamentário das instituições de
não há previsão para
impressão da publicação cultural. Os
últimos exemplares impressos da
revista foram financiados pelo extinto
MinC
), através
voltado para as
universidade públicas, para subsidiar
, planos e
políticas culturais, que reconhecia o
potencial dessas instituições de ensino
para o fomento de toda a cadeia
produtiva da arte e da cultura em suas
Segundo Gobira, Rolla, Simon
Lemos, (2017) desde a
abertura democrática, e especialmente
no início do século XXI, tivemos uma
mudança nos olhares políticos sobre a
cultura. Com o impulso das novas
tecnologias e a pressão dos
passa a ser
istrativa e as
respectivas políticas para promover a
produção e o acesso à arte e à cultura.
Também o desenvolvimento das
diretrizes econômicas para subsidiar a
produção criativa da cultura passam a
legitimar os investimentos para a sua
local e, ao
mesmo tempo, com alcance global.
Programa Mais Cultura nas Universidades
.
Com isso, surge em 2010, através da
Lei 12.343, o plano nacional de
cultura (PNC), onde ocorre uma
convergência de iniciativas e o
estabelecidos parâmetros e metas
para a assegurar o direito
cu
ltura no país. Esse plano influ
atravessa outras instâncias públicas,
para além das esferas municipais,
estaduais e do próprio
as universidades federais que
começaram a despontar como atores
culturais e a criar também seus
próprios p
lanos e políticas
institucionais de cultura. Incentivadas
também por programas como o
citado “Mais Cultura nas
Universidades”.
Entretanto esse panorama
retrocedeu, tanto em interesse e apoio
do Estado, como na manutenção e
ampliação de investimentos na
cultura. Com a mudança de cenário
político e o aprofundamento das crises
nas instituições democráticas
testemunhamos o desmonte da
educação e da cultura, o que inclui a
conversão do MinC
em uma secretaria
subordinada ao ministério do Turismo.
Tam
bém a substituição de nomes
técnicos em cargos diretivos de órgãos
8
A Constituição
brasileira, em seu artigo 215,
prevê que “O Estado garantirá a todos o pleno
exercício dos direitos culturais e acesso às
fontes da cultura nacional, e apoiará e
incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais” (BRASIL, 2016).
55
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
Com isso, surge em 2010, através da
Lei 12.343, o plano nacional de
cultura (PNC), onde ocorre uma
convergência de iniciativas e o
estabelecidos parâmetros e metas
para a assegurar o direito
8
à arte e à
ltura no país. Esse plano influ
encia e
atravessa outras instâncias públicas,
para além das esferas municipais,
estaduais e do próprio
MinC, e alcança
as universidades federais que
começaram a despontar como atores
culturais e a criar também seus
lanos e políticas
institucionais de cultura. Incentivadas
também por programas como o
citado “Mais Cultura nas
Entretanto esse panorama
retrocedeu, tanto em interesse e apoio
do Estado, como na manutenção e
ampliação de investimentos na
área da
cultura. Com a mudança de cenário
político e o aprofundamento das crises
nas instituições democráticas
,
testemunhamos o desmonte da
educação e da cultura, o que inclui a
em uma secretaria
subordinada ao ministério do Turismo.
bém a substituição de nomes
técnicos em cargos diretivos de órgãos
brasileira, em seu artigo 215,
prevê que “O Estado garantirá a todos o pleno
exercício dos direitos culturais e acesso às
fontes da cultura nacional, e apoiará e
incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais” (BRASIL, 2016).
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
gestores e deliberativos dos setores
culturais por indicações político
ideológicas e ainda a redução
draconiana no Fundo Nacional de
Cultura
9
entre outros ataques. E agora
com a crise sanit
ária vivenciada pela
expansão mundial do covid
situação da enfraquecida estrutura
dos setores culturais e da categoria de
trabalhadores criativos se agrava.
Ainda assim, educação e
cultura, dois campos fundamentais da
vida, ambos desestabili
políticas de desmonte seguem
paradoxalmente avançando em meio
crise sanitária e econômica. Criam
formas de reconfigurar a sua atuação
e valendo-
se das novas tecnologias
tornam-
se imprescindíveis para o
combate das desigualdades, para
assegurar
os direitos humanos de
qualquer cidadão à
informação,
cultura, à saúde e à
vida. São as
universidades públicas que junto a
organismos da saúde públicos estão
9
“O Fundo
Nacional da Cultura (FNC) é a
principal ferramenta de apoio direto à cultura
do Governo Federal. É um dos três pilares da
Lei de Incentivo à Cultura (a Lei Rouanet),
principal estrutura de fomento a projetos
culturais no país. O programa recebe
investimen
to do próprio governo, e a aplicação
de recursos é feita por meio de convênios,
editais e premiações. Em 2010, o fundo foi
responsável por injetar 344 milhões de reais
na cultura brasileira. Foram 461 iniciativas
contempladas. Já no ano passado, o primeiro
da gestão Bolsonaro, foram apenas sete
projetos contemplados, totalizando R$ 995
mil’. fonte: observatório Nacional da cultura.
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
gestores e deliberativos dos setores
culturais por indicações político
-
ideológicas e ainda a redução
draconiana no Fundo Nacional de
entre outros ataques. E agora
ária vivenciada pela
expansão mundial do covid
-19, toda a
situação da enfraquecida estrutura
dos setores culturais e da categoria de
trabalhadores criativos se agrava.
Ainda assim, educação e
cultura, dois campos fundamentais da
vida, ambos desestabili
zados por
políticas de desmonte seguem
paradoxalmente avançando em meio
à
crise sanitária e econômica. Criam
formas de reconfigurar a sua atuação
se das novas tecnologias
se imprescindíveis para o
combate das desigualdades, para
os direitos humanos de
informação,
à
vida. São as
universidades públicas que junto a
organismos da saúde públicos estão
Nacional da Cultura (FNC) é a
principal ferramenta de apoio direto à cultura
do Governo Federal. É um dos três pilares da
Lei de Incentivo à Cultura (a Lei Rouanet),
principal estrutura de fomento a projetos
culturais no país. O programa recebe
to do próprio governo, e a aplicação
de recursos é feita por meio de convênios,
editais e premiações. Em 2010, o fundo foi
responsável por injetar 344 milhões de reais
na cultura brasileira. Foram 461 iniciativas
contempladas. Já no ano passado, o primeiro
da gestão Bolsonaro, foram apenas sete
projetos contemplados, totalizando R$ 995
mil’. fonte: observatório Nacional da cultura.
se posicionando e colocando
disposição da sociedade todo o seu
acúmulo de recursos humanos e
m
ateriais para fazer um enfrentamento
à crise impulsionada
pelo vírus.
Apesar de todo o programa de
contingenciamento, estão na linha de
frente com atendimento hospitalar,
difusão de informações, acolhimento
psicológico, pesquisas, análises de
conjuntura,
e outras medidas de
melhoramentos das condições de
contenção da pandemia, atuando
diretamente com a salvaguarda de
seus territórios. As universidades
federais
m colocado toda
produção acadêmica e científica
serviço de suprir as necessidades da
p
opulação, auxiliando os profissionais
de saúde com estudos sobre os
impactos da pandemia na sociedade,
desenvolvimento de respiradores
mecânicos, EPIs (equipamentos de
proteção individual).
Essa atuação é possível
porque a autonomia universitária
permit
e que mesmo o poder executivo
tomando medidas contrárias às
recomendadas pela comunidade
científica, o compromisso dessas
instituições mantém
produção e circulação do
conhecimento para o bem estar da
população e preservação da
biodiversidade.
Quanto mais
56
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
se posicionando e colocando
à
disposição da sociedade todo o seu
acúmulo de recursos humanos e
ateriais para fazer um enfrentamento
pelo vírus.
Apesar de todo o programa de
contingenciamento, estão na linha de
frente com atendimento hospitalar,
difusão de informações, acolhimento
psicológico, pesquisas, análises de
e outras medidas de
melhoramentos das condições de
contenção da pandemia, atuando
diretamente com a salvaguarda de
seus territórios. As universidades
m colocado toda
a sua
produção acadêmica e científica
a
serviço de suprir as necessidades da
opulação, auxiliando os profissionais
de saúde com estudos sobre os
impactos da pandemia na sociedade,
desenvolvimento de respiradores
mecânicos, EPIs (equipamentos de
Essa atuação é possível
porque a autonomia universitária
e que mesmo o poder executivo
tomando medidas contrárias às
recomendadas pela comunidade
científica, o compromisso dessas
instituições mantém
-se alinhado à
produção e circulação do
conhecimento para o bem estar da
população e preservação da
Quanto mais
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
assegurada a democratização do
acesso, a gratuidade, e a autonomia
da universidade pública, em maior
proporção estará garantida a atuação
dessas instituições a serviço do
interesse público. Portanto justificar a
redução do investimento público
universidades brasileiras através de
propostas que visam trazer “inovação”
a partir do financiamento privado é
submeter toda a sua contribuição para
o desenvolvimento local sustentável
pautado nas demandas da sociedade
a um modelo de negócio. Por não
estarem submetidas ao mercado, que
em uma crise sanitária
econômica-
social como a que estamos
vivenciando, as principais iniciativas de
prevenção e combate à
epidemia v
das universidades públicas e não das
instituições de ensino superior
privadas, nas quais o modelo
pedagógico objetiva finalidades
mercadológicas, tanto em sua
formação, quanto no seu escasso
campo da pesquisa. Portanto,
popularizar a defesa da universidade
pública para que sua atuação ocorra
em prol da ética e do compromiss
com a sociedade é uma
tarefa complexa, mas imprescindível
para fortalecer as lutas sociais em
prol do bem viver dos povos, da
crítica à colonialidade do saber e da
colonialidade do poder decorrente do
racismo. Iniciativa crucial, também,
para a afirmação
capacidades criadoras dos povos
diante de todas as formas de
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
assegurada a democratização do
acesso, a gratuidade, e a autonomia
da universidade pública, em maior
proporção estará garantida a atuação
dessas instituições a serviço do
interesse público. Portanto justificar a
redução do investimento público
nas
universidades brasileiras através de
propostas que visam trazer “inovação”
a partir do financiamento privado é
submeter toda a sua contribuição para
o desenvolvimento local sustentável
pautado nas demandas da sociedade
a um modelo de negócio. Por não
estarem submetidas ao mercado, que
em uma crise sanitária
-política-
social como a que estamos
vivenciando, as principais iniciativas de
epidemia v
êm
das universidades públicas e não das
instituições de ensino superior
privadas, nas quais o modelo
pedagógico objetiva finalidades
mercadológicas, tanto em sua
formação, quanto no seu escasso
campo da pesquisa. Portanto,
popularizar a defesa da universidade
pública para que sua atuação ocorra
em prol da ética e do compromiss
o
tarefa complexa, mas imprescindível
para fortalecer as lutas sociais em
prol do bem viver dos povos, da
crítica à colonialidade do saber e da
colonialidade do poder decorrente do
racismo. Iniciativa crucial, também,
plena das
capacidades criadoras dos povos
diante de todas as formas de
antissecularismo, opressão
exploração operacionalizadas tanto
pelo conhecimento produzido para
dominar e subjugar as pessoas e a
natureza, e, nos tempos atuais,
como pela difusão
que pretende interditar o próprio
pensamento científico. A ciência e a
tecnologia podem ser criadas com
base na ética da produção do
conhecimento, procurando respostas
e formas de intervenção que
possibilitem o bem viver dos povos,
mas p
odem, também, estar inseridas
em dispositivos de poder que tornam
o conhecimento uma ferramenta em
prol de fins particularistas, bélicos, e
mesmo em favor de aparatos técnico
científicos que comprometem a
biodiversidade e a vida humana.
(
LEHER, 2019,p.39
Segundo Leher (2019), a
principal narrativa para desqualificar as
universidades públicas pelo atual
governo segue duas nervuras
principais, uma que atribui a elas um
lugar de doutrinação ideológica, de
predominância do que a ultradireita
internacional den
supostamente por “marxismo cultural’.
E a outra que afirma o baixo retorno
das universidades em relação aos
altos investimentos públicos do
governo. Narrativas assim, além de
permeadas por um sentimento
anticientificista, antiintelectualista e
anticulturalista
m por base a
classificação em rankings
internacionais que estabelecem
critérios a partir da “força relativa dos
países nas relações de poder mundial”
(LEHER, 2019, p.29). Também
ignoram os cortes orçamentários, e
57
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
antissecularismo, opressão
, e de
exploração operacionalizadas tanto
pelo conhecimento produzido para
dominar e subjugar as pessoas e a
natureza, e, nos tempos atuais,
como pela difusão
do irracionalismo
que pretende interditar o próprio
pensamento científico. A ciência e a
tecnologia podem ser criadas com
base na ética da produção do
conhecimento, procurando respostas
e formas de intervenção que
possibilitem o bem viver dos povos,
odem, também, estar inseridas
em dispositivos de poder que tornam
o conhecimento uma ferramenta em
prol de fins particularistas, bélicos, e
mesmo em favor de aparatos técnico
científicos que comprometem a
biodiversidade e a vida humana.
LEHER, 2019,p.39
)
Segundo Leher (2019), a
principal narrativa para desqualificar as
universidades públicas pelo atual
governo segue duas nervuras
principais, uma que atribui a elas um
lugar de doutrinação ideológica, de
predominância do que a ultradireita
internacional den
ominou
supostamente por “marxismo cultural’.
E a outra que afirma o baixo retorno
das universidades em relação aos
altos investimentos públicos do
governo. Narrativas assim, além de
permeadas por um sentimento
anticientificista, antiintelectualista e
m por base a
classificação em rankings
internacionais que estabelecem
critérios a partir da “força relativa dos
países nas relações de poder mundial”
(LEHER, 2019, p.29). Também
ignoram os cortes orçamentários, e
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
processos repressivos dos qua
universidades brasileiras foram alvos
na época da ditadura de 1964
Desconsideram outros fatores
históricos determinantes para o
fortalecimento das universidades
europeias e estadunidenses que
diferem do tardio processo de
consolidação das unive
brasileiras.
Diferentemente do Brasil, os
processos de revolução burguesa
nos EUA, Inglaterra e França, e com
especificidades, na
abriram vias para projetos
autopropelidos de nação.
industrialização, no século XIX, se
deu a partir de o
bjetivos e meios
nacionais: por isso, o apoio ativo do
estado às suas grandes
universidades engendrou notável
fortalecimento da pesquisa nestas.
ainda nos dias de hoje, esses
estados alocam grandes somas de
recursos em suas universidades. O
recente anúncio
do governo alemão
de recriação da infraestrutura
acadêmica do país, aportando
bilhões de euros, se som
investimentos feitos nos E
China. A
Harvard
Company declara um fundo de U$$
37,1 bilhões (Moody
, 2018), quase 3
vezes o das 63 un
federais juntas. (LEHER, 2019, p.29)
Portanto as duas narrativas, a
ideológica e a
da insuficiência de
resultados legitima o apoio de uma
parte da sociedade a medidas
governamentais como os cortes
inscritos na emenda Constitucional n.
95/2016
10
, o bloqueio de 30% dos
10
A
provada no governo Temer, é a medida
que reduz, ano a ano, o equivalente a 0,8% do
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
processos repressivos dos qua
is as
universidades brasileiras foram alvos
na época da ditadura de 1964
-1980.
Desconsideram outros fatores
históricos determinantes para o
fortalecimento das universidades
europeias e estadunidenses que
diferem do tardio processo de
consolidação das unive
rsidades
Diferentemente do Brasil, os
processos de revolução burguesa
nos EUA, Inglaterra e França, e com
especificidades, na
Alemanha,
abriram vias para projetos
autopropelidos de nação.
A
industrialização, no século XIX, se
bjetivos e meios
nacionais: por isso, o apoio ativo do
estado às suas grandes
universidades engendrou notável
fortalecimento da pesquisa nestas.
ainda nos dias de hoje, esses
estados alocam grandes somas de
recursos em suas universidades. O
do governo alemão
de recriação da infraestrutura
acadêmica do país, aportando
bilhões de euros, se som
a aos
investimentos feitos nos E
UA e na
Harvard
Management
Company declara um fundo de U$$
, 2018), quase 3
vezes o das 63 un
iversidades
federais juntas. (LEHER, 2019, p.29)
Portanto as duas narrativas, a
da insuficiência de
resultados legitima o apoio de uma
parte da sociedade a medidas
governamentais como os cortes
inscritos na emenda Constitucional n.
, o bloqueio de 30% dos
provada no governo Temer, é a medida
que reduz, ano a ano, o equivalente a 0,8% do
recursos de todas as federais ao
mesmo tempo em que lançam um
pacote chamado
future
desobriga o Estado a custear as
universidades públicas.
medidas somam-
se aos ataques em
outras frentes como as tentativas de
debilitar a autonomia universitária
como o Decreto 9.794
que possibilita intervenção do governo
na escolha de cargo diretivos e o
decreto 9.7954, de 11/04/2019, que
extingue cargos efetivos das áreas
administrativas das universidades.
Parado
xalmente o caminho que
pavimenta a defesa das universidades
públicas e o seu protagonismo social
se estabelece nesse que é o período
de mais grave crise e desestabilização
das bases democráticas no Brasil
desde a ditadura. Nesse momento em
que as universid
ades sofrem intensos
cortes devido à
investimento da educação pública
superior, são protagonistas no
PIB dos gastos públicos com as políticas
sociais e os investimentos públicos. (LEHER,
2019, p.31)
11
É
o estrangulamento orçamentário e a
conversão das universidades em agências
captadoras de (inexistentes) projetos de
pesquisa e desenvolvimentos privados.
(LEHER, 2019, p.31)
12
Estabelece que a no
meação para os cargos
de direção das universidades federais devem
ser precedidos de análise dos nomes pelo
governo federal, instituindo o sistema
Integrado de Nomeações e Consultas.
(LEHER, 2019, p.32)
58
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
recursos de todas as federais ao
mesmo tempo em que lançam um
future
-se
11
, que
desobriga o Estado a custear as
universidades públicas.
Essas
se aos ataques em
outras frentes como as tentativas de
debilitar a autonomia universitária
como o Decreto 9.794
12
de 15/05/2019
que possibilita intervenção do governo
na escolha de cargo diretivos e o
decreto 9.7954, de 11/04/2019, que
extingue cargos efetivos das áreas
administrativas das universidades.
xalmente o caminho que
pavimenta a defesa das universidades
públicas e o seu protagonismo social
se estabelece nesse que é o período
de mais grave crise e desestabilização
das bases democráticas no Brasil
desde a ditadura. Nesse momento em
ades sofrem intensos
redução no
investimento da educação pública
superior, são protagonistas no
PIB dos gastos públicos com as políticas
sociais e os investimentos públicos. (LEHER,
o estrangulamento orçamentário e a
conversão das universidades em agências
captadoras de (inexistentes) projetos de
pesquisa e desenvolvimentos privados.
meação para os cargos
de direção das universidades federais devem
ser precedidos de análise dos nomes pelo
governo federal, instituindo o sistema
Integrado de Nomeações e Consultas.
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
combate ao covid-
19 no país.
com os campus
vazios, é possível
navegar pelos sites dessas instituições
e observar uma série de medidas que
vão desde plantão de atendimento de
saúde, acolhimento psicológico,
programas de difusão de esportes,
arte e cultura, divulgação científica,
dados e mapeamentos sobre a
pandemia, campanhas de doação e
informações úteis entre outros.
do enfrentamento e
m hospitais e
bairros com equipes de profissionais
da saúde da universidade, é
de plataformas online que essas
instituições buscam amenizar os
efeitos do isolamento social
asseguram o bem estar da população
para aqueles que estão em
quarentena,
disponibilidade de
acervos e cursos online com temáticas
e formações diversas.
Entre tantas frentes
protagonizadas pelas universidades
públicas na pandemia que assola
também o Brasil, está também a
contribuição e adaptação de iniciativas
de arte e cul
tura para amenizar a
ansiedade, depressão, entreter, e
auxiliar no período de isolamento
social, uma medida recomendada pela
organização Mundial da Saúde
a todos os países afetados para conter
a expansão do contágio do
coronavírus a que se tenha u
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
19 no país.
Mesmo
vazios, é possível
navegar pelos sites dessas instituições
e observar uma série de medidas que
vão desde plantão de atendimento de
saúde, acolhimento psicológico,
programas de difusão de esportes,
arte e cultura, divulgação científica,
dados e mapeamentos sobre a
pandemia, campanhas de doação e
informações úteis entre outros.
Além
m hospitais e
bairros com equipes de profissionais
da saúde da universidade, é
por meio
de plataformas online que essas
instituições buscam amenizar os
efeitos do isolamento social
, e
asseguram o bem estar da população
;
para aqueles que estão em
disponibilidade de
acervos e cursos online com temáticas
Entre tantas frentes
protagonizadas pelas universidades
públicas na pandemia que assola
também o Brasil, está também a
contribuição e adaptação de iniciativas
tura para amenizar a
ansiedade, depressão, entreter, e
auxiliar no período de isolamento
social, uma medida recomendada pela
organização Mundial da Saúde
- OMS,
a todos os países afetados para conter
a expansão do contágio do
coronavírus a que se tenha u
ma
vacina. A difusão de conteúdos,
espetáculos, acervos, cursos
promovidos por diferentes agentes,
entre eles as universidades públicas,
além de colaborar para a saúde
pública e bem estar da população,
amplia repertórios e permite uma
aproximação das pesso
artístico através das plataformas
digitais para contornar o isolamento
social.
Estudos de caso: usos criativos de
plataformas virtuais pelas IFES
Apesar de muitas universidades
que dispõem
departamentos e coordenações de
cultura verem a necessidade de
interromper suas atividades para evitar
aglomerações e serem vetores de
propagação do vírus, prontamente,
três instituições adotaram meios
alternativos e adaptaram suas
programaçõe
s artísticas ao formato
online. A UFRGS, a UFSJ, e a
UFCSPA são os três casos de
universidades que iremos analisar
como instituições de ensino superior
que buscaram alternativas, não
apenas para seguir de algum modo
com a sua programação cultural, mas
para
contribuir para o fortalecimento
das medidas de prevenção ao novo
coronavirus através da arte e da
13
Instituições
Federais de
59
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
vacina. A difusão de conteúdos,
espetáculos, acervos, cursos
promovidos por diferentes agentes,
entre eles as universidades públicas,
além de colaborar para a saúde
pública e bem estar da população,
amplia repertórios e permite uma
aproximação das pesso
as ao mundo
artístico através das plataformas
digitais para contornar o isolamento
Estudos de caso: usos criativos de
plataformas virtuais pelas IFES
13
Apesar de muitas universidades
de núcleos,
departamentos e coordenações de
cultura verem a necessidade de
interromper suas atividades para evitar
aglomerações e serem vetores de
propagação do vírus, prontamente,
três instituições adotaram meios
alternativos e adaptaram suas
s artísticas ao formato
online. A UFRGS, a UFSJ, e a
UFCSPA são os três casos de
universidades que iremos analisar
como instituições de ensino superior
que buscaram alternativas, não
apenas para seguir de algum modo
com a sua programação cultural, mas
contribuir para o fortalecimento
das medidas de prevenção ao novo
coronavirus através da arte e da
Federais de
Ensino Superior.
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
cultura. Antes mesmo de adentrarmos
ao contexto da pandemia causada
pelo covid-
19, a OMS, em estudo
recente (FANCOURT;
FINN
publicou um informativo
que adverte
as autoridades sobre a necessidade
de incluir a arte nas políticas de saúde.
Dados
os benefícios que
atividades dessa natureza podem
acarretar ao melhoramento das
condições físicas e mentais da
população. Comprovando em um
estudo organizado em
ampla escala
pela OMS que compilou dados
levantados por pesquisadores de todo
o mundo, os quais fundamentaram
esse informativo que marcou um
esforço da entidade para cobrar dos
governos que apliquem melhorias na
colaboração entre o setor artístico e
sanit
ário. seguindo os indicativos da
OMs, a arte pode contribuir para o
bem estar e o combate a doenças
tanto em caráter preventivo, quanto
emergencial, fator que podemos
observar com as diversas iniciativas no
campo da arte e da cultura que se
multiplicaram e
m canais online já no
início da pandemia, como forma de
evitar e/ou amenizar casos de
depressão, ansiedade, e desconforto
durante a prática de isolamento social.
Artistas e agentes de cultura tem
utilizado as novas tecnologias de
informação para dar seguim
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
cultura. Antes mesmo de adentrarmos
ao contexto da pandemia causada
19, a OMS, em estudo
FINN
, 2019),
que adverte
as autoridades sobre a necessidade
de incluir a arte nas políticas de saúde.
os benefícios que
atividades dessa natureza podem
acarretar ao melhoramento das
condições físicas e mentais da
população. Comprovando em um
ampla escala
pela OMS que compilou dados
levantados por pesquisadores de todo
o mundo, os quais fundamentaram
esse informativo que marcou um
esforço da entidade para cobrar dos
governos que apliquem melhorias na
colaboração entre o setor artístico e
ário. seguindo os indicativos da
OMs, a arte pode contribuir para o
bem estar e o combate a doenças
tanto em caráter preventivo, quanto
emergencial, fator que podemos
observar com as diversas iniciativas no
campo da arte e da cultura que se
m canais online já no
início da pandemia, como forma de
evitar e/ou amenizar casos de
depressão, ansiedade, e desconforto
durante a prática de isolamento social.
Artistas e agentes de cultura tem
utilizado as novas tecnologias de
informação para dar seguim
ento às
apresentações
14
e circulação de
trabalhos como peças de teatro,
recitais, festivais de cinemas,
exposições, musicais, oficinas
artísticas, entre outras atuações.
Uma das primeiras instituições
a organizar ações específicas de arte
e cultura para est
e período de crise
sanitária, como forma de contribuir
para a propagação do covid
UFCSPA. Essa universidade possui
todos os seus cursos de graduação e
pós-
graduação e programas de
pesquisa e extensão voltados para a
área da saúde, porém em sua
es
trutura disponível no site
encontramos o núcleo Cultural e
caráter interdisciplinar e a importância
que a instituição atribui a esse campo
como aliado das áreas da saúde.Em
decorrência de possuir essa
estrutura e uma política que inclui a
arte e a cult
ura em seu organograma
esta universidade desde o início do
período de quarentena apresentou o
programa ‘conexão cultural UFSCPA.
Uma ação que nas palavras do próprio
setor possui como objetivo
para que a população atravesse este
momento com mai
14
www.fundacaobienal.art.br
do Mercosul que pela impossibilidade de
realizar mostra física lança uma plataforma
online para difundir a exposição de 2020.
15
www.ufcspa.edu.br/index.php/nucleo
cultural
60
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
e circulação de
trabalhos como peças de teatro,
recitais, festivais de cinemas,
exposições, musicais, oficinas
artísticas, entre outras atuações.
Uma das primeiras instituições
a organizar ações específicas de arte
e período de crise
sanitária, como forma de contribuir
para a propagação do covid
-19, foi a
UFCSPA. Essa universidade possui
todos os seus cursos de graduação e
graduação e programas de
pesquisa e extensão voltados para a
área da saúde, porém em sua
trutura disponível no site
15
encontramos o núcleo Cultural e
caráter interdisciplinar e a importância
que a instituição atribui a esse campo
como aliado das áreas da saúde.Em
decorrência de possuir essa
estrutura e uma política que inclui a
ura em seu organograma
esta universidade desde o início do
período de quarentena apresentou o
programa ‘conexão cultural UFSCPA.
Uma ação que nas palavras do próprio
setor possui como objetivo
“contribuir
para que a população atravesse este
momento com mai
s leveza”. O
www.fundacaobienal.art.br
site da Bienal 12
do Mercosul que pela impossibilidade de
realizar mostra física lança uma plataforma
online para difundir a exposição de 2020.
www.ufcspa.edu.br/index.php/nucleo
-
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
programa
definido como um espaço de
manifestação cultural virtual, possui
três ações específicas:
janela, o mundo,
Palavra de Artista
Coral Virtual
. Todas veiculadas nas
redes
16
sociais do núcleo cultural.
O programa na minha janela
mundo trabalha com a linguagem da
fotografia e convoca a população em
geral para enviar ao setor imagens
relacionadas a paisagem vivenciada
pelas pessoas em quarentena. A
maioria das fotos enviadas e
publicadas nas redes culturais da
UCFSPA são de pess
oas vinculadas a
universidade, o que demonstra que
essas iniciativas, ao menos no que diz
respeito a colaboração das autorias,
16
I
nstagram, facebook e twitter Núcl
UFCSPA
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
definido como um espaço de
manifestação cultural virtual, possui
três ações específicas:
Na minha
Palavra de Artista
e
. Todas veiculadas nas
sociais do núcleo cultural.
O programa na minha janela
, o
mundo trabalha com a linguagem da
fotografia e convoca a população em
geral para enviar ao setor imagens
relacionadas a paisagem vivenciada
pelas pessoas em quarentena. A
maioria das fotos enviadas e
publicadas nas redes culturais da
oas vinculadas a
universidade, o que demonstra que
essas iniciativas, ao menos no que diz
respeito a colaboração das autorias,
nstagram, facebook e twitter Núcl
eo Cultural
ainda é restrita ao público acadêmico.
Fato que não limita que a recepção
dessas imagens possua alcance e
identificação mais amp
está na mesma situação, com uma
visibilidade do mundo enquadrada pela
janela da sua casa.
Os outros dois eixos do
programa da UFCSPA, palavra de
artista e banda virtual, englobam um
espaço para manifestações artísticas
vinculadas à instituição.
um espaço aberto às diferentes
linguagens da música, das artes
visuais e da literatura que tenham
participado da agenda cultural
promovida pelo setor. E o terceiro eixo
é promovido por apresentações
virtuais do coral da universidade.
Abai
xo seguem imagens que ilustram
essas ações:
61
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
ainda é restrita ao público acadêmico.
Fato que não limita que a recepção
dessas imagens possua alcance e
identificação mais amp
los de quem
está na mesma situação, com uma
visibilidade do mundo enquadrada pela
Os outros dois eixos do
programa da UFCSPA, palavra de
artista e banda virtual, englobam um
espaço para manifestações artísticas
vinculadas à instituição.
No primeiro é
um espaço aberto às diferentes
linguagens da música, das artes
visuais e da literatura que tenham
participado da agenda cultural
promovida pelo setor. E o terceiro eixo
é promovido por apresentações
virtuais do coral da universidade.
xo seguem imagens que ilustram
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
Tabela. 01 -
montagem com a logo do programa e as respectivas ações
Fonte: instagram @nucleocultural e site:
Em meio à quarentena forçada em
razão da pandemia de co
Departamento de Difusão Cultural da
UFRGS oferece ao público, desde
março deste ano, diversas ações
culturais em suas redes sociais
(Facebook e Instagram). Diversas
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
montagem com a logo do programa e as respectivas ações
Fonte: instagram @nucleocultural e site:
www.ufcspa.edu.br
Em meio à quarentena forçada em
razão da pandemia de co
ronavírus, o
Departamento de Difusão Cultural da
UFRGS oferece ao público, desde
março deste ano, diversas ações
culturais em suas redes sociais
(Facebook e Instagram). Diversas
atividades como aulas de desenho e
de aquarela com professoras
egressas do Ins
UFRGS como
Teresa Poester
Piano, coordenado por Ney Fialkow,
do Departamento de Música da
62
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
montagem com a logo do programa e as respectivas ações
www.ufcspa.edu.br
atividades como aulas de desenho e
de aquarela com professoras
egressas do Ins
tituto de Artes da
UFRGS como
Laura Castilhos e
Teresa Poester
; o projeto Solo
Piano, coordenado por Ney Fialkow,
do Departamento de Música da
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
UFRGS; sugestões de filmes para
você assistir; além do resgate de
atividades históricas desenvolvidas
pelo departamento ao longo de sua
trajetória, dentre elas shows feitos no
projeto Unimúsica com
Melodia, Tom Zé, Arnaldo
Antunes
, dentre outros.
(www
.ufrgs.br/difusaocultural/ddc
oferece-aulas-
performances
resgata-a-sua-historia-
em
quarentena -
grifos do original
O texto acima é a apresentação
das estratégias do departamento de
difusão cultural da UFRGS em relação
à condução das suas ativida
durante a pandemia. Inicialmente sem
uma campanha ou programa
específico para o período o setor de
cultura busca em seu próprio
repertório adequar as ações
canceladas devido ao isolamento. Em
matéria anterior, no dia 13 de março, o
DDC/UFRGS comunicou
cancelamento das atividades do centro
Tabela 02. imagens da
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
UFRGS; sugestões de filmes para
você assistir; além do resgate de
atividades históricas desenvolvidas
pelo departamento ao longo de sua
trajetória, dentre elas shows feitos no
projeto Unimúsica com
Luiz
Melodia, Tom Zé, Arnaldo
, dentre outros.
.ufrgs.br/difusaocultural/ddc
-
performances
-e-
em
-meio-a-
grifos do original
)
O texto acima é a apresentação
das estratégias do departamento de
difusão cultural da UFRGS em relação
à condução das suas ativida
des
durante a pandemia. Inicialmente sem
uma campanha ou programa
específico para o período o setor de
cultura busca em seu próprio
repertório adequar as ações
canceladas devido ao isolamento. Em
matéria anterior, no dia 13 de março, o
DDC/UFRGS comunicou
o
cancelamento das atividades do centro
cultural coordenado pelo setor e um
mês depois apresentou a série de
ações, citadas acima, em seu site.
Podemos interpretar que inicialmente a
estratégia foi interromper as ações
devido à
s impossibilidades de
realiza
ção de apresentações e oficinas
em seu espaço físico, o centro cultural,
porém com o tempo de algumas
semanas a equipe pode encontrar nas
redes sociais instagram, facebook e
youtube,
uma forma de seguir os
trabalhos do campo das artes. O texto
citado refle
te bem a utilização de seu
próprio repertório e acervo cultural e
artístico, além de recorrer
colaboração de parceiros da própria
instituição para elaborar as ações no
período da quarentena.
Tabela 02. imagens da
nota sobre o covid e em seguida as ações de quarentena
63
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
cultural coordenado pelo setor e um
mês depois apresentou a série de
ações, citadas acima, em seu site.
Podemos interpretar que inicialmente a
estratégia foi interromper as ações
s impossibilidades de
ção de apresentações e oficinas
em seu espaço físico, o centro cultural,
porém com o tempo de algumas
semanas a equipe pode encontrar nas
redes sociais instagram, facebook e
uma forma de seguir os
trabalhos do campo das artes. O texto
te bem a utilização de seu
próprio repertório e acervo cultural e
artístico, além de recorrer
à
colaboração de parceiros da própria
instituição para elaborar as ações no
período da quarentena.
nota sobre o covid e em seguida as ações de quarentena
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
Fonte: site, instagram e facebook Difusão Cultural UFRGS
As estratégias da área de
cultura foram das ações de
compartilhamento de repertório e
acervo cultural da universidade à
campanha colaborativa
#coisasessenciaisddcufrgs. Essa ação
foi recentemente lançada e demonstra
que a organização cultural em tempos
de pandemia é inerente ao próprio
processo enfrentado pela sociedade e
pode vir a multiplicar-
se em diferentes
desdobramentos a partir do momento
em que se desloca de seu
planejamento inicial.
Por fim, a última universidade
que iremos retratar é a UFSJ que
organizou uma atividade específica
denominada por
1º Festival Fica em
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
Fonte: site, instagram e facebook Difusão Cultural UFRGS
As estratégias da área de
cultura foram das ações de
compartilhamento de repertório e
acervo cultural da universidade à
campanha colaborativa
#coisasessenciaisddcufrgs. Essa ação
foi recentemente lançada e demonstra
que a organização cultural em tempos
de pandemia é inerente ao próprio
processo enfrentado pela sociedade e
se em diferentes
desdobramentos a partir do momento
em que se desloca de seu
Por fim, a última universidade
que iremos retratar é a UFSJ que
organizou uma atividade específica
1º Festival Fica em
Casa UFSJ, ainda e
Articulado para circular totalmente em
sua página do facebook, o festival foi
uma ação especificamente voltada
para reagir ao isolamento enfrentado
pela população diante do covid
além de abrir espaço para a
colaboratividade inserindo em seu
ca
nal manifestações de diferentes
grupos e artistas vinculados
instituição, houve ainda a preocupação
em dar visibilidade
precariedade que os artistas poderiam
vir a enfrentar diante da crise sanitária
e da ausência de políticas
emergenciais voltadas para a cultura.
Diante da situação decorrente da
pandemia de Covid
coronavírus SARS
64
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
Casa UFSJ, ainda e
m março.
Articulado para circular totalmente em
sua página do facebook, o festival foi
uma ação especificamente voltada
para reagir ao isolamento enfrentado
pela população diante do covid
-19.
além de abrir espaço para a
colaboratividade inserindo em seu
nal manifestações de diferentes
grupos e artistas vinculados
à
instituição, houve ainda a preocupação
em dar visibilidade
à situação de
precariedade que os artistas poderiam
vir a enfrentar diante da crise sanitária
e da ausência de políticas
emergenciais voltadas para a cultura.
Diante da situação decorrente da
pandemia de Covid
-19, causada pelo
coronavírus SARS
-CoV-2, é
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
imprescindível que a população fique
em casa. Após a suspensão de suas
atividades e programação cultural, o
Centro Cultural UFSJ, procurando
reduzir os efeitos causados pelo
isolamento social, criou o
Fica em Casa UFSJ.
simples: a UFS
J vem promover
cultura e arte online, com conteúdo
100% gratuito. A primeira edição
está planejada a partir de contação
de histórias, shows, exibição de
documentários e outras formas de
expressão artística, além de
atividades lúdicas para as crianças.
O Fe
stival quer também gerar renda
para os artistas que estão sendo
afetados diretamente pelas
restritivas
de circulação. Quem se
inscrever, poderá divulgar links para
financiamento
coletivo de suas
atividades.
(ww
w.ufsj.edu.br/noticias_ler.php?co
digo_noticia=7886 -
grifo do original
As três iniciativas demonstram
que a situação atípica exigiu das
universidades, no que tange aos seus
respectivos setores culturais, recorrer
a meios alternativos disponíveis na
internet. Todas elas se valeram
principalme
nte das redes sociais para
não apenas circularem seus
conteúdos, como para interagirem com
o público, e principalmente, com a
comunidade universitária que
encontra
em situação de isolamento,
assim como o corpo docente e
administrativo do próprio setor d
cultura. É
possível observar ainda que
o caráter imediato da situação de
emergência restringe entre os canais
disponibilizados pelas instituições,
salvo as que estão compartilhando
seus próprios conteúdos, a criação de
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
imprescindível que a população fique
em casa. Após a suspensão de suas
atividades e programação cultural, o
Centro Cultural UFSJ, procurando
reduzir os efeitos causados pelo
isolamento social, criou o
Festival
Fica em Casa UFSJ.
A ideia é
J vem promover
cultura e arte online, com conteúdo
100% gratuito. A primeira edição
está planejada a partir de contação
de histórias, shows, exibição de
documentários e outras formas de
expressão artística, além de
atividades lúdicas para as crianças.
stival quer também gerar renda
para os artistas que estão sendo
afetados diretamente pelas
medidas
de circulação. Quem se
inscrever, poderá divulgar links para
coletivo de suas
w.ufsj.edu.br/noticias_ler.php?co
grifo do original
)
As três iniciativas demonstram
que a situação atípica exigiu das
universidades, no que tange aos seus
respectivos setores culturais, recorrer
a meios alternativos disponíveis na
internet. Todas elas se valeram
nte das redes sociais para
não apenas circularem seus
conteúdos, como para interagirem com
o público, e principalmente, com a
comunidade universitária que
se
em situação de isolamento,
assim como o corpo docente e
administrativo do próprio setor d
e
possível observar ainda que
o caráter imediato da situação de
emergência restringe entre os canais
disponibilizados pelas instituições,
salvo as que estão compartilhando
seus próprios conteúdos, a criação de
um acervo como documento e
memória
desse período a partir das
expressões artísticas.
de vincular essas ações de cultura aos
benefícios para a saúde e acolhimento
da população, é importante destacar
que os materiais coletados
principalmente através das campanhas
exclusivas d
este período, como a ação
na minha janela, o mundo, podem
constituir objetos de memória.
A relação entre sociedade,
tecnologia, e essas instituições de
ensino superior por meio da difusão
cultural em tempos de pandemia
remete ainda ao conceito de
convergê
ncia cultural de Jenkins
(2009). Segundo o autor
convergência não ocorre por meio de
aparelhos, por mais sofisticados que
venham a ser. A convergência ocorre
dentro dos cérebros de consumidores
individuais e em suas interações
sociais com outros.” (JENKINS, p.30,
2009). Nesse sentido, as
universidades,
ao utilizar
tecnologias para circular seu repertório
cultural passam em pouco tempo a
abrir janelas para a colaboração de
conteúdos,
a partir dos usuários. No
caso da UFRGS é possível observar a
direção para uma estratégia mais
interativa, co
m a inserção da
campanha
#coisasessenciaisddcufrgs
na medida em que avança o
65
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
um acervo como documento e
desse período a partir das
expressões artísticas.
Além do objetivo
de vincular essas ações de cultura aos
benefícios para a saúde e acolhimento
da população, é importante destacar
que os materiais coletados
principalmente através das campanhas
este período, como a ação
na minha janela, o mundo, podem
constituir objetos de memória.
A relação entre sociedade,
tecnologia, e essas instituições de
ensino superior por meio da difusão
cultural em tempos de pandemia
remete ainda ao conceito de
ncia cultural de Jenkins
(2009). Segundo o autor
“a
convergência não ocorre por meio de
aparelhos, por mais sofisticados que
venham a ser. A convergência ocorre
dentro dos cérebros de consumidores
individuais e em suas interações
sociais com outros.” (JENKINS, p.30,
2009). Nesse sentido, as
ao utilizar
em as novas
tecnologias para circular seu repertório
cultural passam em pouco tempo a
abrir janelas para a colaboração de
a partir dos usuários. No
caso da UFRGS é possível observar a
direção para uma estratégia mais
m a inserção da
#coisasessenciaisddcufrgs
,
na medida em que avança o
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
isolamento social. outras
universidades como a UFCSPA,
procurou mesclar a ação colaborativa
com o compartilhamento de repertório,
incluindo inclusive a possibilidade de
inserç
ão de conteúdos da população
em geral. E a UFSJ, parte da ação
colaborativa, mas restringe seu
alcance ao utilizar apenas um canal de
suas redes sociais para o Festival.
“Em vez de falar sobre
produtores e consumidores de mídia
como ocupantes de papéis
podemos agora considerá
participantes interagindo de acordo
com um novo conj
unto de regras”.
(JENKINS, 2009, p.30
). Em síntese, o
conceito de convergência não figura
um processo tecnológico que une
múltiplas funções dentro dos mesmos
ap
arelhos. Mais que isso, “é onde as
velhas e as novas mídias colidem,
onde a mídia corporativa e onde a
mídia alternativa se cruzam, onde o
poder do produtor de mídia e o poder
do consumidor interagem de maneiras
imprevisíveis.” (JENKINS,
2009,
Traze
ndo esse conceito para nosso
estudo de casos podemos afirmar que
a convergência se aplica para a
conformação não apenas de
instituições de ensino, comunidade,
mas também para reagir e conformar o
cenário de emergência sanitária em
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
isolamento social. outras
universidades como a UFCSPA,
procurou mesclar a ação colaborativa
com o compartilhamento de repertório,
incluindo inclusive a possibilidade de
ão de conteúdos da população
em geral. E a UFSJ, parte da ação
colaborativa, mas restringe seu
alcance ao utilizar apenas um canal de
suas redes sociais para o Festival.
“Em vez de falar sobre
produtores e consumidores de mídia
como ocupantes de papéis
separados,
podemos agora considerá
-los como
participantes interagindo de acordo
unto de regras”.
). Em síntese, o
conceito de convergência não figura
um processo tecnológico que une
múltiplas funções dentro dos mesmos
arelhos. Mais que isso, “é onde as
velhas e as novas mídias colidem,
onde a mídia corporativa e onde a
mídia alternativa se cruzam, onde o
poder do produtor de mídia e o poder
do consumidor interagem de maneiras
2009,
p.29).
ndo esse conceito para nosso
estudo de casos podemos afirmar que
a convergência se aplica para a
conformação não apenas de
instituições de ensino, comunidade,
mas também para reagir e conformar o
cenário de emergência sanitária em
que esse processo comunic
inscreve.
São essas possibilidades de
interação com os públicos através da
formação de redes inseridas em novas
mídias que podem provocar novas
significações e espaços de atuação no
campo da cultura. Não somente para
este período de pandemia, mas
todo o contexto que surge
desse momento de ruptura, de revisão
dos planos e com públicos que
passam a ser mais segmentados,
interativos, seletivos e produtores de
conteúdo. As transformações
proporcionadas pelas tecnologias
digitais, segundo Ca
sempre estiveram em nosso horizonte,
mas com a pandemia provocada pelo
novo coronavírus, as mudanças
adquirem um caráter acelerado, muito
mais que progressivo. Podemos esta
cada vez mais segmentados, públicos,
agentes de cultura, universida
ainda não podemos afirmar se este
contexto e seus meios poder
de modo permanente valores, gostos,
estilos de vida e as formas de fazer e
consumir cultura.
Entretanto, nenhum avanço
positivo virá sem que tenhamos
incentivo e fomento público
Somente a tecnologia não dá conta de
66
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
que esse processo comunic
ativo se
São essas possibilidades de
interação com os públicos através da
formação de redes inseridas em novas
mídias que podem provocar novas
significações e espaços de atuação no
campo da cultura. Não somente para
este período de pandemia, mas
em
todo o contexto que surge
à frente
desse momento de ruptura, de revisão
dos planos e com públicos que
passam a ser mais segmentados,
interativos, seletivos e produtores de
conteúdo. As transformações
proporcionadas pelas tecnologias
digitais, segundo Ca
stells (2005),
sempre estiveram em nosso horizonte,
mas com a pandemia provocada pelo
novo coronavírus, as mudanças
adquirem um caráter acelerado, muito
mais que progressivo. Podemos esta
r
cada vez mais segmentados, públicos,
agentes de cultura, universida
des,
ainda não podemos afirmar se este
contexto e seus meios poder
ão alterar
de modo permanente valores, gostos,
estilos de vida e as formas de fazer e
Entretanto, nenhum avanço
positivo virá sem que tenhamos
incentivo e fomento público
à cultura.
Somente a tecnologia não dá conta de
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
atender à
s demandas da sociedade,
sem que tenhamos uma forma de
retomar o papel das universidades
públicas na democratização da cultura,
que sejam elaboradas políticas
públicas para que elas possam
fomentar c
ulturalmente os seus
territórios. Com o covid-
19 foi possível
observar a importância das diferentes
frentes de contribuição dessas
instituições públicas de ensino superior
para a sociedade, mesmo em
condições de desmonte da educação.
Um fator comum foi pos
sível observar
nas três ações expostas, que
nenhuma delas pode disponibilizar
qualquer recurso material e/ou
financeiro, somente o conjunto de
práticas e saberes produzidos em suas
instituições, e a possibilidade de
organizar campanhas, conteúdos e
difundi
r esses materiais para melhor
acolher a população em um cenário de
calamidade.
Considerações Finais
A atuação das universidades
públicas demonstra que mesmo as
universidades que recorreram a
repertórios artístico-
culturais próprios
ou as que buscaram int
manifestações, inscrevendo suas
ações em um recorte mais interativo e
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
s demandas da sociedade,
sem que tenhamos uma forma de
retomar o papel das universidades
públicas na democratização da cultura,
que sejam elaboradas políticas
públicas para que elas possam
ulturalmente os seus
19 foi possível
observar a importância das diferentes
frentes de contribuição dessas
instituições públicas de ensino superior
para a sociedade, mesmo em
condições de desmonte da educação.
sível observar
nas três ações expostas, que
nenhuma delas pode disponibilizar
qualquer recurso material e/ou
financeiro, somente o conjunto de
práticas e saberes produzidos em suas
instituições, e a possibilidade de
organizar campanhas, conteúdos e
r esses materiais para melhor
acolher a população em um cenário de
A atuação das universidades
públicas demonstra que mesmo as
universidades que recorreram a
culturais próprios
ou as que buscaram int
ercambiar
manifestações, inscrevendo suas
ações em um recorte mais interativo e
imediato que relaciona as expressões
culturais ao período da pandemia,
estão a buscar,
ainda que com
intenções temporárias, novas formas
de praticar a difusão cultural. E mais
que isso, de entender o papel da
cultura para a sociedade e suas
próprias instituições de ensino
superior. Perpetuaram ações, abrindo
mão de planejamentos de atividades
previamente estabelecidos,
contornando a escassez de recursos
humanos, financeiros em s
reduzidas equipes para se apropriarem
das possibilidades das novas
tecnologias, as
mesma
mecanismos
de sustentação de eixos
de dominação da sociedade.
Quando falamos nesses
campos de domínio estamos nos
referindo aos mesmo
investem em discursos que
deslegitimam a existência e a atuação
das universidades públicas. O capital
financeiro e privatizador que domina a
dia comercial, também detém os
espaços proporcionados pelas novas
tecnologias, porém não totalmente.
sempre fendas
par
práticas de resistência e organizarem
formas de sobrevivência em meio ao
caos, e à
s políticas de desmonte dos
bens públicos. A
inda assim, as novas
tecnologias,
a depender de seus uso
e de
sua apropriação, podem fazer
67
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
imediato que relaciona as expressões
culturais ao período da pandemia,
ainda que com
intenções temporárias, novas formas
de praticar a difusão cultural. E mais
que isso, de entender o papel da
cultura para a sociedade e suas
próprias instituições de ensino
superior. Perpetuaram ações, abrindo
mão de planejamentos de atividades
previamente estabelecidos,
contornando a escassez de recursos
humanos, financeiros em s
uas
reduzidas equipes para se apropriarem
das possibilidades das novas
mesma
s que são
de sustentação de eixos
de dominação da sociedade.
Quando falamos nesses
campos de domínio estamos nos
referindo aos mesmo
s grupos que
investem em discursos que
deslegitimam a existência e a atuação
das universidades públicas. O capital
financeiro e privatizador que domina a
dia comercial, também detém os
espaços proporcionados pelas novas
tecnologias, porém não totalmente.
par
a perpetuar as
práticas de resistência e organizarem
formas de sobrevivência em meio ao
s políticas de desmonte dos
inda assim, as novas
a depender de seus uso
s
sua apropriação, podem fazer
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
tempos de pandemia. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p
res
soar vozes invisibilizadas,
instituições deslegitimadoras e
fortalecer o bem comum em benefício
da sociedade. A
lém disso, nosso
estudo pontua a necessidade de as
universidades serem alvos de políticas
públicas de cultura, pois possuem
capacidade e permeabi
lidade em seus
territórios, para fomentar o
desenvolvimento cultural local
de serem instituições com potencial e
conexões capazes de propagar essas
ações e manifestações locais a vel
global, alçando territórios e suas
comunidades para outros patama
Referências Bibliográficas
CASTELLS, Manuel.
A Sociedade em
Rede
. São Paulo: Paz e Terra, 2005
CASTELLS, Manuel.
Comunicación y
Poder.
Madrid: Alianza Editorial, 2009.
FANCOURT, Daisy
; FINN,
Health Evidence Network synthesis
report 67
: What is the evidence on the
role of the arts in improving health and
well-
being? A scoping review,
(World Health Organization), Regional
Office for Europe, 2019.
FRAGOSO, Suely; RECUERO,
Raquel; AMARAL, Adriana.
de pesquisa para internet.
Alegre: Sulina, ed.1, 2012.
GOBIRA, Pablo; ROLLA, Marco Paulo;
SIMON DA SILVEIRA, Yuri, LEMOS,
Flávia.
Arte e cultura na universidade:
passos na construção de uma política
de cultura, In: ____ (orgs.
).
sobre a cultura
: Política cultural,
memó
ria e universidade, Belo
Horizonte: EduEMG, 2017. p. 138
DACAS, Michele. Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em
Revista Latino
-Americana de
, p
51-68, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
soar vozes invisibilizadas,
instituições deslegitimadoras e
fortalecer o bem comum em benefício
lém disso, nosso
estudo pontua a necessidade de as
universidades serem alvos de políticas
públicas de cultura, pois possuem
lidade em seus
territórios, para fomentar o
desenvolvimento cultural local
, além
de serem instituições com potencial e
conexões capazes de propagar essas
ações e manifestações locais a vel
global, alçando territórios e suas
comunidades para outros patama
res.
Referências Bibliográficas
A Sociedade em
. São Paulo: Paz e Terra, 2005
.
Comunicación y
Madrid: Alianza Editorial, 2009.
; FINN,
Saoirse,
Health Evidence Network synthesis
: What is the evidence on the
role of the arts in improving health and
being? A scoping review,
WHO
(World Health Organization), Regional
FRAGOSO, Suely; RECUERO,
Raquel; AMARAL, Adriana.
Métodos
de pesquisa para internet.
Porto
GOBIRA, Pablo; ROLLA, Marco Paulo;
SIMON DA SILVEIRA, Yuri, LEMOS,
Arte e cultura na universidade:
passos na construção de uma política
).
Refletindo
: Política cultural,
ria e universidade, Belo
Horizonte: EduEMG, 2017. p. 138
-160.
JENKINS, H.
Cultura da Convergência
São Paulo: Aleph, 2009
LEHER, Roberto.
Autoritarismo contra
a Universidade:
O desafio de
popularizar a defesa da educação
pública.
São Paulo: Fundação Rosa
Luxemburgo, Expressão Popular,
2019.
LEMOS, A; LÉVY, P.
internet
: em direção a uma
ciberdemocracia planetária.
Paulo: Paulus, 2010.
68
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
Cultura da Convergência
.
São Paulo: Aleph, 2009
.
Autoritarismo contra
O desafio de
popularizar a defesa da educação
São Paulo: Fundação Rosa
Luxemburgo, Expressão Popular,
LEMOS, A; LÉVY, P.
O futuro da
: em direção a uma
ciberdemocracia planetária.
São
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
Da representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v
Resumo
: O portal “Viva Favela 2.0” esteve acessível entre 2010 e 2013 como uma plataforma
colaborativa voltada para o compartilhamento de conteúdo sobre favelas. A iniciativa se insere no
contexto das mudanças nas Tecnologias da Informação e Comunicação que perm
participar ativamente na elaboração e disseminação de produções digitais, renovando as
representações midiáticas. Os colaboradores do site preenchiam um formulário de cadastro cujo
campo “Sobre Mim” trazia uma biografia. As autorrepresen
são o principal objeto de análise deste artigo. Trata
dos atores que buscaram o portal como local de expressão.
Palavras-chave
: Representação de favelas
Favela.
De la representación de las favelas hasta la auto
perfiles de los correspondientes multimedia del portal Viva Favela 2.0
Resumen
: El portal "Viva Favela 2.0"
colaboración destinada a compartir contenido sobre favelas. La iniciativa es parte del contexto de
cambios en lasTecnologías de la Información y la Comunicación que permitieron a la audiencia
particip
ar activamente en la elaboración y difusión de producciones digitales, renovando las
representaciones de los medios. Los colaboradores del sitio completaron un formulario de registro
cuyo campo "Acerca de mí" contenía una biografía. Las autorrepresentacion
sitio son el principal objeto de análisis en este artículo. Estas son auto
diversidad de los actores que buscaron el portal como un lugar de expresión.
Palabras clave
: Representación de favelas
From the representation of slums to the self
of multimedia correspondents from the Viva Favela 2.0 website
1
Daniella Guedes Rocha. Doutora em História, Política e Bens Culturais pelo CPDOC
Professora da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, Brasil. E
https://orcid.org/0000-0001-
6676
2
Mayra Coelho Jucá dos Santos. Dout
FGV, Rio de Janeiro, Brasil. E-
mail: mayrajuca@gmail.com
Recebido em 04/05/2020,
aceito para publicação em
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
Da representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v
10i19.42517
Daniella Guedes Rocha
Mayra Coelho Jucá dos Santos
: O portal “Viva Favela 2.0” esteve acessível entre 2010 e 2013 como uma plataforma
colaborativa voltada para o compartilhamento de conteúdo sobre favelas. A iniciativa se insere no
contexto das mudanças nas Tecnologias da Informação e Comunicação que perm
participar ativamente na elaboração e disseminação de produções digitais, renovando as
representações midiáticas. Os colaboradores do site preenchiam um formulário de cadastro cujo
campo “Sobre Mim” trazia uma biografia. As autorrepresen
tações “garimpadas” nesta seção do site
são o principal objeto de análise deste artigo. Trata
-
se de narrativas de si que refletem a diversidade
dos atores que buscaram o portal como local de expressão.
: Representação de favelas
; autorrepresentação;
autonarrativa
De la representación de las favelas hasta la auto
-
representación: las auto narrativas en los
perfiles de los correspondientes multimedia del portal Viva Favela 2.0
: El portal "Viva Favela 2.0"
fue accesible entre 2010 y 2013 como una plataforma de
colaboración destinada a compartir contenido sobre favelas. La iniciativa es parte del contexto de
cambios en lasTecnologías de la Información y la Comunicación que permitieron a la audiencia
ar activamente en la elaboración y difusión de producciones digitales, renovando las
representaciones de los medios. Los colaboradores del sitio completaron un formulario de registro
cuyo campo "Acerca de mí" contenía una biografía. Las autorrepresentacion
es en esta sección del
sitio son el principal objeto de análisis en este artículo. Estas son auto
-
narraciones que reflejan la
diversidad de los actores que buscaron el portal como un lugar de expresión.
: Representación de favelas
; auto-representación; identidad;
subjetividad
From the representation of slums to the self
-representation: the self-
narratives in the profiles
of multimedia correspondents from the Viva Favela 2.0 website
Daniella Guedes Rocha. Doutora em História, Política e Bens Culturais pelo CPDOC
Professora da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, Brasil. E
-
mail: guedes.dani@gmail.com
6676
-5725
Mayra Coelho Jucá dos Santos. Dout
oranda em História, Política e Bens Culturais pelo CPDOC
mail: mayrajuca@gmail.com
-
https://orcid.org/0000
aceito para publicação em
11/05/20
20, disponibilizado online em
01/09/2020.
69
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
Da representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
Daniella Guedes Rocha
1
Mayra Coelho Jucá dos Santos
2
: O portal “Viva Favela 2.0” esteve acessível entre 2010 e 2013 como uma plataforma
colaborativa voltada para o compartilhamento de conteúdo sobre favelas. A iniciativa se insere no
contexto das mudanças nas Tecnologias da Informação e Comunicação que perm
itiram à audiência
participar ativamente na elaboração e disseminação de produções digitais, renovando as
representações midiáticas. Os colaboradores do site preenchiam um formulário de cadastro cujo
tações “garimpadas” nesta seção do site
se de narrativas de si que refletem a diversidade
autonarrativa
; escrita de si; Viva
representación: las auto narrativas en los
fue accesible entre 2010 y 2013 como una plataforma de
colaboración destinada a compartir contenido sobre favelas. La iniciativa es parte del contexto de
cambios en lasTecnologías de la Información y la Comunicación que permitieron a la audiencia
ar activamente en la elaboración y difusión de producciones digitales, renovando las
representaciones de los medios. Los colaboradores del sitio completaron un formulario de registro
es en esta sección del
narraciones que reflejan la
subjetividad
; Viva Favela.
narratives in the profiles
Daniella Guedes Rocha. Doutora em História, Política e Bens Culturais pelo CPDOC
-FGV.
mail: guedes.dani@gmail.com
-
oranda em História, Política e Bens Culturais pelo CPDOC
-
https://orcid.org/0000
-0002-8331-1618
20, disponibilizado online em
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
Abstract
: The “Viva Favela 2.0” web portal
platform aimed at sharing content about Brazilian favelas (slums). The initiative is part of the context of
changes in Information and Communication Technologies that allowed the audience to participa
actively in the elaboration and dissemination of digital productions, renewing media representations.
The site collaborators filled out a registration form whose About Mefield contained a biography. The
self-
representations in this section of the web
are self-
narratives that reflect the diversity of the actors who sought the portal as a channel of
expression.
Keywords
: Representation of slums
Favela.
Da representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
1. Introdução
O portal Viva Favela, projeto da
ONG Viva Rio lançado em 2001, foi o
primeiro site na internet brasileira
voltado exclusivamente para a difusão
de conteúdo sobre favelas, produzido
pelos próprios moradores. O objetivo
original era tornar-
se fonte para a
im
prensa convencional, influenciando
a cobertura das comunidades e
combatendo os estigmas que recaíam
sobre seus habitantes.
Ativo por treze anos, entre 2001 e
2014, o Viva Favela tem sua trajetória
marcada pelas mudanças radicais nas
Tecnologias da Informa
Comunicação (TICs) do período. Se
nos primeiros anos a referência central
era o jornalismo, e o portal se
estruturava como uma redação
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
: The “Viva Favela 2.0” web portal
was accessible between 2010 and 2013 as a collaborative
platform aimed at sharing content about Brazilian favelas (slums). The initiative is part of the context of
changes in Information and Communication Technologies that allowed the audience to participa
actively in the elaboration and dissemination of digital productions, renewing media representations.
The site collaborators filled out a registration form whose About Mefield contained a biography. The
representations in this section of the web
site are the main object of analysis in this article. These
narratives that reflect the diversity of the actors who sought the portal as a channel of
: Representation of slums
; self-representation; self-narratives;
identity
Da representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
O portal Viva Favela, projeto da
ONG Viva Rio lançado em 2001, foi o
primeiro site na internet brasileira
voltado exclusivamente para a difusão
de conteúdo sobre favelas, produzido
pelos próprios moradores. O objetivo
se fonte para a
prensa convencional, influenciando
a cobertura das comunidades e
combatendo os estigmas que recaíam
Ativo por treze anos, entre 2001 e
2014, o Viva Favela tem sua trajetória
marcada pelas mudanças radicais nas
Tecnologias da Informa
ção e
Comunicação (TICs) do período. Se
nos primeiros anos a referência central
era o jornalismo, e o portal se
estruturava como uma redação
remunerada, formada por repórteres,
fotógrafos e editores cobrindo um
determinado número de favelas
cariocas; na fa
se “colaborativa”, quase
dez anos depois, o modelo era de uma
rede social, um coletivo de indivíduos
auto--
identificados como
favela compartilhando conteúdo a
partir de seus próprios interesses, sem
fronteiras geográficas e sem
intervenção dir
eta de editores ou
moderadores
3
.
3
No Viva Favela 2.0 a moderação se limitava a
conteúdo que fosse abusivo ou radicalmente
fora do contexto temático proposto, o que
poderia levar à exclusão do material ou a um
pedido diretamente ao autor para que revisse
a decisão de publicá-
lo na platafor
atribuições mais corriqueiras dos editores do
portal eram indicar quando um conteúdo fosse
postado fora da seção adequada, auxílio
tecnológico aos colaboradores e comentários
públicos estimulando a produção e o diálogo
entre membros da rede.
70
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
was accessible between 2010 and 2013 as a collaborative
platform aimed at sharing content about Brazilian favelas (slums). The initiative is part of the context of
changes in Information and Communication Technologies that allowed the audience to participa
te
actively in the elaboration and dissemination of digital productions, renewing media representations.
The site collaborators filled out a registration form whose About Mefield contained a biography. The
site are the main object of analysis in this article. These
narratives that reflect the diversity of the actors who sought the portal as a channel of
identity
; subjectivity; Viva
Da representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
remunerada, formada por repórteres,
fotógrafos e editores cobrindo um
determinado número de favelas
se “colaborativa”, quase
dez anos depois, o modelo era de uma
rede social, um coletivo de indivíduos
identificados como
moradores de
favela compartilhando conteúdo a
partir de seus próprios interesses, sem
fronteiras geográficas e sem
eta de editores ou
No Viva Favela 2.0 a moderação se limitava a
conteúdo que fosse abusivo ou radicalmente
fora do contexto temático proposto, o que
poderia levar à exclusão do material ou a um
pedido diretamente ao autor para que revisse
lo na platafor
ma. As
atribuições mais corriqueiras dos editores do
portal eram indicar quando um conteúdo fosse
postado fora da seção adequada, auxílio
tecnológico aos colaboradores e comentários
públicos estimulando a produção e o diálogo
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
Entre 2004 e 2005, a internet
avançava para o que foi chamado de
“web 2.0”, fase em que qualquer
usuário da rede potencialmente passa
a ser também um produtor e difusor de
conteúdo (GILLMOR, 2004). Graças à
mudança no cenár
io das TICs, até o
final da década 00, a audiência, que
antes correspondia à massa de
indivíduos que recebia conteúdo
produzido e distribuído por meios,
passaria a ser formada de pessoas
dotadas “de um grau inédito de poder
de comunicação” (ANDERSON
SHIRKY, 2013, p. 39).
Grupos de consumidores de
notícias, até então “passivos”, se
converteram em criadores, editores e
veículos da informação, graças a
“ferramentas da Web fáceis de usar,
conexões permanentes e
equipamentos portáteis cada vez mais
efici
entes”, que deram à audiência
“meios para tornar-
se um ativo
participante da criação e disseminação
de notícias e informações” (BOWMAN
WILLIS, 2003, p. 7
MORETZSOHN, 2013, p. 263).
O acesso facilitado aos meios de
criação e compartilhamento digital de
textos, áudios, fotografias e vídeos, o
barateamento dos
smartphones
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
Entre 2004 e 2005, a internet
avançava para o que foi chamado de
“web 2.0”, fase em que qualquer
usuário da rede potencialmente passa
a ser também um produtor e difusor de
conteúdo (GILLMOR, 2004). Graças à
io das TICs, até o
final da década 00, a audiência, que
antes correspondia à massa de
indivíduos que recebia conteúdo
produzido e distribuído por meios,
passaria a ser formada de pessoas
dotadas “de um grau inédito de poder
de comunicação” (ANDERSON
; BELL;
Grupos de consumidores de
notícias, até então “passivos”, se
converteram em criadores, editores e
veículos da informação, graças a
“ferramentas da Web fáceis de usar,
conexões permanentes e
equipamentos portáteis cada vez mais
entes”, que deram à audiência
se um ativo
participante da criação e disseminação
de notícias e informações” (BOWMAN
;
WILLIS, 2003, p. 7
apud
MORETZSOHN, 2013, p. 263).
O acesso facilitado aos meios de
criação e compartilhamento digital de
textos, áudios, fotografias e vídeos, o
smartphones
e/ou
seu novo status de produto essencial
nesta era levam à produção e
consumo massivo de conteúdo
amador, repleto d
e representações do
cotidiano e da vida privada, difundidos
nas redes sociais. O que antes estava
mais para uma vitrine se torna uma
grande praça com um mercado livre
para trocas de conteúdo. O cidadão
comum passa a se expressar
projetando sua própria “voz
tornando-
a acessível a uma audiência
potencialmente maior do que a dos
veículos de comunicação tradicionais.
O portal Viva Favela ilustra, na
prática, esta mudança. Em sua
primeira versão, em 2001, buscava
contribuir para romper ou, ao menos,
ameniz
ar, os estigmas propagados
pela representação de favelas na
“grande mídia”. Não havia então outro
modo de interferir neste processo de
construção de representações. A mídia
comercial ou institucional era o campo
de batalha onde se dava a disputa de
narrati
vas e imaginários.
Naturalmente, o portal seguia o
modelo de produção dos veículos que
desejava impactar.
Em 2010, quando o Viva Favela foi
reformulado recebendo o sufixo “2.0”,
as construções de representações e
71
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
seu novo status de produto essencial
nesta era levam à produção e
consumo massivo de conteúdo
e representações do
cotidiano e da vida privada, difundidos
nas redes sociais. O que antes estava
mais para uma vitrine se torna uma
grande praça com um mercado livre
para trocas de conteúdo. O cidadão
comum passa a se expressar
projetando sua própria “voz
e
a acessível a uma audiência
potencialmente maior do que a dos
veículos de comunicação tradicionais.
O portal Viva Favela ilustra, na
prática, esta mudança. Em sua
primeira versão, em 2001, buscava
-se
contribuir para romper ou, ao menos,
ar, os estigmas propagados
pela representação de favelas na
“grande mídia”. Não havia então outro
modo de interferir neste processo de
construção de representações. A mídia
comercial ou institucional era o campo
de batalha onde se dava a disputa de
vas e imaginários.
Naturalmente, o portal seguia o
modelo de produção dos veículos que
Em 2010, quando o Viva Favela foi
reformulado recebendo o sufixo “2.0”,
as construções de representações e
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
disputas de narrativas haviam sido
atra
vessadas por redes sociais como
Orkut, Facebook e YouTube. A
internet, portanto, estava sendo
apropriada por produtores de conteúdo
de diversas procedências e perfis
identitários, provocando uma polifonia
inédita até então.
Neste contexto, a nova plata
do Viva Favela abria espaço para um
conteúdo mais autoral, trazendo a
subjetividade dos colaboradores e
contribuindo para a formação de um
corpus
de representações mais
diversas, íntimas das comunidades,
capaz de revelar a identidade dos
sujeitos alé
m do cotidiano dos
territórios
4
. Nossa reflexão é motivada
pela riqueza do material produzido
pelos colaboradores do site nesta
etapa, precisamente os textos “auto
narrativos”
que revelam um mosaico
de identidades multifacetadas e que
juntos contribuem par
a a visão de uma
identidade coletiva na rede de
colaboradores do Viva Favela 2.0
As autoras do presente artigo
participaram diretamente do processo
de desenvolvimento e manutenção do
Viva Favela 2.0, como profissionais
4
As re
lações entre territorialidades urbanas e
identidades construídas a partir da cibercultura
é extensamente analisada por
Costa
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
disputas de narrativas haviam sido
vessadas por redes sociais como
Orkut, Facebook e YouTube. A
internet, portanto, estava sendo
apropriada por produtores de conteúdo
de diversas procedências e perfis
identitários, provocando uma polifonia
Neste contexto, a nova plata
forma
do Viva Favela abria espaço para um
conteúdo mais autoral, trazendo a
subjetividade dos colaboradores e
contribuindo para a formação de um
de representações mais
diversas, íntimas das comunidades,
capaz de revelar a identidade dos
m do cotidiano dos
. Nossa reflexão é motivada
pela riqueza do material produzido
pelos colaboradores do site nesta
etapa, precisamente os textos “auto
-
que revelam um mosaico
de identidades multifacetadas e que
a a visão de uma
identidade coletiva na rede de
colaboradores do Viva Favela 2.0
.
As autoras do presente artigo
participaram diretamente do processo
de desenvolvimento e manutenção do
Viva Favela 2.0, como profissionais
lações entre territorialidades urbanas e
identidades construídas a partir da cibercultura
Costa
(2017).
atuantes em diferentes funções na
e
quipe do portal, mas ambas tendo
acesso direto ao conteúdo produzido,
aos bastidores do projeto e aos
próprios correspondentes. Esta
aproximação facilitou a realização da
presente pesquisa, bem como a que
resulta na dissertação de mestrado de
Mayra Jucá
5
,
cujos dados são
analisados sob outra perspectiva neste
trabalho.
Nosso estudo de caso será o
material “garimpado” no acervo
do Viva Favela 2.0, que esteve no ar
entre 2010 e 2013, quando foi extinto.
Nos debruçamos sobre textos
postados num dos cam
usuário do site, intitulado “Sobre mim”,
cujo objetivo era permitir que o autor
se apresentasse diante da audiência,
associando informações pessoais e
profissionais ao conteúdo produzido. É
o uso deste espaço por parte do
“correspondente m
ultimídia” para a
criação de uma biografia, controlando
a própria narrativa
representação de seu território
se objetivou analisar nesta pesquisa.
5
Ver “Vozes ativas das favelas 2.0
autorrepresentações midiáticas numa rede de
comunicadores periféricos”, disponível em
https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10
438/12531
72
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
atuantes em diferentes funções na
quipe do portal, mas ambas tendo
acesso direto ao conteúdo produzido,
aos bastidores do projeto e aos
próprios correspondentes. Esta
aproximação facilitou a realização da
presente pesquisa, bem como a que
resulta na dissertação de mestrado de
cujos dados são
analisados sob outra perspectiva neste
Nosso estudo de caso será o
material “garimpado” no acervo
offline
do Viva Favela 2.0, que esteve no ar
entre 2010 e 2013, quando foi extinto.
Nos debruçamos sobre textos
postados num dos cam
pos do perfil do
usuário do site, intitulado “Sobre mim”,
cujo objetivo era permitir que o autor
se apresentasse diante da audiência,
associando informações pessoais e
profissionais ao conteúdo produzido. É
o uso deste espaço por parte do
ultimídia” para a
criação de uma biografia, controlando
a própria narrativa
- de si e da
representação de seu território
-, que
se objetivou analisar nesta pesquisa.
Ver “Vozes ativas das favelas 2.0
-
autorrepresentações midiáticas numa rede de
comunicadores periféricos”, disponível em
https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
Na próxima seção, trazemos uma
visão panorâmica e não sistemática,
muito menos exaustiva,
representações de favelas ao longo do
século XX, que contribuem para a
formação de um senso comum que
começa a ser questionado nas suas
décadas finais. O objetivo desta seção
é situar historicamente o crescimento
(mais lento que gradual) do espaço
ocup
ado pela perspectiva do morador
nestas representações, até que
estivesse montado o cenário que seria
pano de fundo para o desenvolvimento
do projeto Viva Favela em 2001 e o
seu desdobramento, que levaria à
reformulação do projeto em 2010.
Em seguida, apre
alguns elementos relevantes da
história do projeto Viva Favela,
contextualizando seu impacto na
construção das representações de
favelas no Rio de Janeiro,
especialmente entre 2001 e 2005.
Nesta seção apresentamos também
algumas etapas do proces
transição entre os dois modelos do
Viva Favela.
Finalmente, na quarta seção,
antecedendo as considerações finais,
trazemos uma ampla gama de
exemplos comentados dos textos
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
Na próxima seção, trazemos uma
visão panorâmica e não sistemática,
muito menos exaustiva,
das
representações de favelas ao longo do
século XX, que contribuem para a
formação de um senso comum que
começa a ser questionado nas suas
décadas finais. O objetivo desta seção
é situar historicamente o crescimento
(mais lento que gradual) do espaço
ado pela perspectiva do morador
nestas representações, até que
estivesse montado o cenário que seria
pano de fundo para o desenvolvimento
do projeto Viva Favela em 2001 e o
seu desdobramento, que levaria à
reformulação do projeto em 2010.
Em seguida, apre
sentaremos
alguns elementos relevantes da
história do projeto Viva Favela,
contextualizando seu impacto na
construção das representações de
favelas no Rio de Janeiro,
especialmente entre 2001 e 2005.
Nesta seção apresentamos também
algumas etapas do proces
so de
transição entre os dois modelos do
Finalmente, na quarta seção,
antecedendo as considerações finais,
trazemos uma ampla gama de
exemplos comentados dos textos
produzidos pelos colaboradores do
Viva Favela 2.0 para publicação na
página
de sua assinatura, sob o título
“sobre mim”.
2. Um passeio pelas representações
de favelas em voz passiva e voz
ativa
Ao longo do século XX a
representação das favelas, seja na
literatura, na imprensa ou no cinema,
foi marcada pela narrativa estrangeira
ou “de fora”, em que esses territórios
são desbravados e identificados pela
ausência, pelo que lhes falta, ou pelo
crime, a violência e a marginalidade
(VALLADARES, 2005; ZALUAR
ALVITO, 2006). A perspectiva negativa
e problemática, que se cristalizou e
virou o século, perdurando até os dias
atuais, começa a ser escrita antes
mesmo do termo “favela” passar a ser
usado como substantivo genérico para
designar essas áreas, o que
a
conteceria a partir dos anos 1920.
É de 1908 a
conhecida crônica
de João do Rio “Os livres
acampamentos da miséria”, que
contribui para fundar, na opinião
pública, a dicotomia “cidade x morro”
73
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
produzidos pelos colaboradores do
Viva Favela 2.0 para publicação na
de sua assinatura, sob o título
2. Um passeio pelas representações
de favelas em voz passiva e voz
Ao longo do século XX a
representação das favelas, seja na
literatura, na imprensa ou no cinema,
foi marcada pela narrativa estrangeira
ou “de fora”, em que esses territórios
são desbravados e identificados pela
ausência, pelo que lhes falta, ou pelo
crime, a violência e a marginalidade
(VALLADARES, 2005; ZALUAR
;
ALVITO, 2006). A perspectiva negativa
e problemática, que se cristalizou e
virou o século, perdurando até os dias
atuais, começa a ser escrita antes
mesmo do termo “favela” passar a ser
usado como substantivo genérico para
designar essas áreas, o que
conteceria a partir dos anos 1920.
conhecida crônica
de João do Rio “Os livres
acampamentos da miséria”, que
contribui para fundar, na opinião
pública, a dicotomia “cidade x morro”
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
atualizada mais tarde para “asfalto x
favela”
6
:
E quando de no
vo cheguei ao alto do
morro, dando outra vez com os olhos
na cidade, que embaixo dormia
iluminada, imaginei chegar de uma
longa viagem a um outro ponto da
terra, de uma corrida pelo arraial da
sordidez alegre, pelo horror
inconsciente da miséria cantadeira
com a visão dos casinhotos e das
caras daquele povo vigoroso,
refestelado de indigência em vez de
trabalhar, conseguindo bem no
centro de uma grande cidade a
construção inédita de um
acampamento de indolência, livre de
todas as leis.
no final do sécu
lo, a mais de
oito décadas de distância do desejo de
João do Rio de reafirmar uma cidade
moderna em oposição ao morro, um
“arraial” arcaico, o jornalista Zuenir
Ventura lançaria o livro “Cidade
Partida”, cujo título se tornou
expressão síntese da questão s
no Rio de Janeiro nos anos 90 e início
dos 2000.
As duas incursões de cronistas
interessados em reportar a favela para
o leitor externo, uma em 1908 e a
outra em 1994, ilustram a passagem
de um século em que as favelas foram
6
Publicada pela primeira vez em 3 de
novembro de 1908 na Gazeta de Notícias com
o título “A cidade do morro de Santo
Antônio/Impressão noturna”, a crônica seria
incluída em 1911 na coletânea Vida
Vertiginosa com outro título, “Os livres
acampamentos da miséria”, como ficou mais
conhecida.
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
atualizada mais tarde para “asfalto x
vo cheguei ao alto do
morro, dando outra vez com os olhos
na cidade, que embaixo dormia
iluminada, imaginei chegar de uma
longa viagem a um outro ponto da
terra, de uma corrida pelo arraial da
sordidez alegre, pelo horror
inconsciente da miséria cantadeira
,
com a visão dos casinhotos e das
caras daquele povo vigoroso,
refestelado de indigência em vez de
trabalhar, conseguindo bem no
centro de uma grande cidade a
construção inédita de um
acampamento de indolência, livre de
lo, a mais de
oito décadas de distância do desejo de
João do Rio de reafirmar uma cidade
moderna em oposição ao morro, um
“arraial” arcaico, o jornalista Zuenir
Ventura lançaria o livro “Cidade
Partida”, cujo título se tornou
expressão síntese da questão s
ocial
no Rio de Janeiro nos anos 90 e início
As duas incursões de cronistas
interessados em reportar a favela para
o leitor externo, uma em 1908 e a
outra em 1994, ilustram a passagem
de um século em que as favelas foram
Publicada pela primeira vez em 3 de
novembro de 1908 na Gazeta de Notícias com
o título “A cidade do morro de Santo
Antônio/Impressão noturna”, a crônica seria
incluída em 1911 na coletânea Vida
Vertiginosa com outro título, “Os livres
acampamentos da miséria”, como ficou mais
mantidas à margem da cid
visitadas por narradores de fora, e
cujas impressões, inevitavelmente
afetadas pelo distanciamento e pela
falta de identificação dos autores com
os locais e seus moradores,
influenciaram fortemente o senso
comum.
A produção de representações
internas
, criadas dentro das próprias
favelas em meio impresso
circulação se limitava ao seu território
se deu inicialmente através de jornais
comunitários como “A Voz do Morro”,
que começou a ser publicado em
março de 1935 como informativo da
Escola de
Samba Estação Primeira de
Mangueira. Muitos outros surgiram ao
longo do século XX, como o “União da
Maré”, que circulou de 1980 a 1982, e
“O Cidadão”, editado desde 1999 no
Complexo da Maré (CHAGAS, 2009).
A primeira narrativa sobre a vida
numa favela es
crita por alguém “de
dentro” a obter sucesso como obra
literária, alcançando um público amplo,
é o livro “Quarto de Despejo: diário de
uma favelada”, de Carolina Maria de
Jesus, lançado em 1960. Apesar da
mediação de um jornalista responsável
pela “descobe
rta” do manuscrito e sua
publicação, o relato do cotidiano da
74
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
mantidas à margem da cid
ade,
visitadas por narradores de fora, e
cujas impressões, inevitavelmente
afetadas pelo distanciamento e pela
falta de identificação dos autores com
os locais e seus moradores,
influenciaram fortemente o senso
A produção de representações
, criadas dentro das próprias
favelas em meio impresso
e cuja
circulação se limitava ao seu território
-
se deu inicialmente através de jornais
comunitários como “A Voz do Morro”,
que começou a ser publicado em
março de 1935 como informativo da
Samba Estação Primeira de
Mangueira. Muitos outros surgiram ao
longo do século XX, como o “União da
Maré”, que circulou de 1980 a 1982, e
“O Cidadão”, editado desde 1999 no
Complexo da Maré (CHAGAS, 2009).
A primeira narrativa sobre a vida
crita por alguém “de
dentro” a obter sucesso como obra
literária, alcançando um público amplo,
é o livro “Quarto de Despejo: diário de
uma favelada”, de Carolina Maria de
Jesus, lançado em 1960. Apesar da
mediação de um jornalista responsável
rta” do manuscrito e sua
publicação, o relato do cotidiano da
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
autora é um marco da entrada em
circulação de uma “fala” inédita de
uma representante da classe social
tida como “sem voz”.
A década de 1960 é marcada
pelo aumento do interesse de
historiadore
s e cientistas sociais pelo
estudo das populações pobres e
marginalizadas e o consequente
registro de entrevistas com seus
representantes. Surgem em artigos
acadêmicos e livros voltados para um
público intelectualizado,
as falas de
moradores de favelas, ta
mediadas pelos autores, editadas a
serviço de seus problemas de
pesquisa. Em uma reflexão sobre o
desenvolvimento da metodologia da
história oral neste período, Alberti
(2008) recorre à metáfora da voz,
muitas vezes acionada para se colocar
em questão
a representação e a
autorrepresentação dos que estão à
margem:
Na década de 1960, paralelamente
ao aperfeiçoamento do gravador
portátil, tornaram-
se frequentes
também as "entrevistas de história
de vida" com membros de grupos
sociais que, em geral, o de
registros escritos de suas
experiências e formas de ver o
mundo. Foi a fase conhecida como
da História oral "militante", praticada
por pesquisadores que identificavam
na nova metodologia uma solução
para "dar voz" às minorias e
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
autora é um marco da entrada em
circulação de uma “fala” inédita de
uma representante da classe social
A década de 1960 é marcada
pelo aumento do interesse de
s e cientistas sociais pelo
estudo das populações pobres e
marginalizadas e o consequente
registro de entrevistas com seus
representantes. Surgem em artigos
acadêmicos e livros voltados para um
as falas de
moradores de favelas, ta
mbém
mediadas pelos autores, editadas a
serviço de seus problemas de
pesquisa. Em uma reflexão sobre o
desenvolvimento da metodologia da
história oral neste período, Alberti
(2008) recorre à metáfora da voz,
muitas vezes acionada para se colocar
a representação e a
autorrepresentação dos que estão à
Na década de 1960, paralelamente
ao aperfeiçoamento do gravador
se frequentes
também as "entrevistas de história
de vida" com membros de grupos
sociais que, em geral, o de
ixavam
registros escritos de suas
experiências e formas de ver o
mundo. Foi a fase conhecida como
da História oral "militante", praticada
por pesquisadores que identificavam
na nova metodologia uma solução
para "dar voz" às minorias e
possibilitar a existê
História "vinda de baixo".
Se no ambiente acadêmico, no
campo das Ciências Humanas, a “voz
dos moradores de favelas e periferias
passou a ser valorizada na segunda
metade do século XX, na imprensa
hegemônica a cobertura das favelas
se manteve
distante dos moradores.
As pautas foram, como ainda são,
geradas atendendo a demandas de
atores sociais externos, como órgãos
governamentais e a polícia. Uma
pesquisa divulgada em 2007 chega a
documentar o
meaculpa
pela cobertura estigmatizan
realiza sobre favelas e periferias. A
maioria dos profissionais ouvidos
reconhece que os seus veículos têm
grande responsabilidade na
caracterização dos territórios
populares como espaços exclusivos de
violência” (PAIVA;
RAMOS, 2007).
Passaram-
se
décadas desde o lançamento de
“Quarto de Despejo” até que um
segundo livro escrito por um morador
de favela fosse lançado e reconhecido
no meio literário brasileiro: o romance
“Cidade de Deus”, de Paulo Lins,
publicado em 1997. O aumento da
es
cala de produções textuais trazendo
75
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
possibilitar a existê
ncia de uma
História "vinda de baixo".
Se no ambiente acadêmico, no
campo das Ciências Humanas, a “voz
dos moradores de favelas e periferias
passou a ser valorizada na segunda
metade do século XX, na imprensa
hegemônica a cobertura das favelas
distante dos moradores.
As pautas foram, como ainda são,
geradas atendendo a demandas de
atores sociais externos, como órgãos
governamentais e a polícia. Uma
pesquisa divulgada em 2007 chega a
meaculpa
da imprensa
pela cobertura estigmatizan
te que
realiza sobre favelas e periferias. A
maioria dos profissionais ouvidos
reconhece que os seus veículos têm
grande responsabilidade na
caracterização dos territórios
populares como espaços exclusivos de
RAMOS, 2007).
se
quase quatro
décadas desde o lançamento de
“Quarto de Despejo” até que um
segundo livro escrito por um morador
de favela fosse lançado e reconhecido
no meio literário brasileiro: o romance
“Cidade de Deus”, de Paulo Lins,
publicado em 1997. O aumento da
cala de produções textuais trazendo
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
relatos de experiências e do estilo de
vida da população pobre nas cidades,
a partir do olhar dos próprios
moradores e com espaço para
subjetividades, ocorreria de fato no
século XXI (DALCASTAGNÈ, 2007).
A subjetivid
ade do morador de
favela é destacada em obras pontuais
do fim do século XX, mas raramente
em “voz ativa”. Em “Cidade Partida”,
Zuenir Ventura observa com rara
proximidade o cotidiano de um dos
traficantes no comando de Vigário
Geral, comunidade que frequen
durante dez meses, durante os quais
realizou inúmeras e longas entrevistas
com moradores. o documentário
“Babilônia 2000”, de Eduardo
Coutinho, lançado em 2001, se
destaca por apresentar o morro da
Babilônia colocando a perspectiva
humana em primeir
o plano, uma
marca do diretor. Diversos filmes do
período, de ficção e documentário,
abordam a favela como cenário de
violência, mas buscando trazer
personagens menos estigmatizados,
abordando as trajetórias de vida que
conduziram alguns ao crime, outros
n
ão. De 2002, “Cidade de Deus”, de
Fernando Meirelles, baseado no
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
relatos de experiências e do estilo de
vida da população pobre nas cidades,
a partir do olhar dos próprios
moradores e com espaço para
subjetividades, ocorreria de fato no
século XXI (DALCASTAGNÈ, 2007).
ade do morador de
favela é destacada em obras pontuais
do fim do século XX, mas raramente
em “voz ativa”. Em “Cidade Partida”,
Zuenir Ventura observa com rara
proximidade o cotidiano de um dos
traficantes no comando de Vigário
Geral, comunidade que frequen
tou
durante dez meses, durante os quais
realizou inúmeras e longas entrevistas
com moradores. o documentário
“Babilônia 2000”, de Eduardo
Coutinho, lançado em 2001, se
destaca por apresentar o morro da
Babilônia colocando a perspectiva
o plano, uma
marca do diretor. Diversos filmes do
período, de ficção e documentário,
abordam a favela como cenário de
violência, mas buscando trazer
personagens menos estigmatizados,
abordando as trajetórias de vida que
conduziram alguns ao crime, outros
ão. De 2002, “Cidade de Deus”, de
Fernando Meirelles, baseado no
romance de Paulo Lins, é o exemplo
mais relevante desta categoria.
A perspectiva do morador de
favela ganha relevo nos cinemas com
a produção “Cinco X Favela
por nós mesmos”, de 2010
derivado do longa “Cinco Vezes
Favela”, de 1962, considerado um
clássico do Cinema Novo. O filme traz
cinco curtas dirigidos por Wagner
Novais, Rodrigo Felha, Cacau Amaral,
Luciano Vidigal, Luciana Bezerra,
Cadu Barcellos e Manaíra Carneiro,
jove
ns cineastas oriundos das favelas
representadas, sob coordenação de
Cacá Diegues, um dos diretores do
filme original. A esta altura, o
reconhecimento do direito dos
representantes das classes sociais
desfavorecidas à autorrepresentação,
ao lugar de autores
narrativas, era reconhecido e
defendido por uma parcela expressiva
da sociedade carioca e brasileira.
Neste mesmo ano, em meio a
diversas iniciativas como a de Cacá
Diegues, que apontavam para um
deslocamento simbólico “da periferia
p
ara o centro” e proclamavam a
emergência da cultura da periferia ou a
cultura da favela, o Viva Rio lançaria o
novo portal Viva Favela 2.0.
76
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
romance de Paulo Lins, é o exemplo
mais relevante desta categoria.
A perspectiva do morador de
favela ganha relevo nos cinemas com
a produção “Cinco X Favela
Agora
por nós mesmos”, de 2010
, projeto
derivado do longa “Cinco Vezes
Favela”, de 1962, considerado um
clássico do Cinema Novo. O filme traz
cinco curtas dirigidos por Wagner
Novais, Rodrigo Felha, Cacau Amaral,
Luciano Vidigal, Luciana Bezerra,
Cadu Barcellos e Manaíra Carneiro,
ns cineastas oriundos das favelas
representadas, sob coordenação de
Cacá Diegues, um dos diretores do
filme original. A esta altura, o
reconhecimento do direito dos
representantes das classes sociais
desfavorecidas à autorrepresentação,
de suas próprias
narrativas, era reconhecido e
defendido por uma parcela expressiva
da sociedade carioca e brasileira.
Neste mesmo ano, em meio a
diversas iniciativas como a de Cacá
Diegues, que apontavam para um
deslocamento simbólico “da periferia
ara o centro” e proclamavam a
emergência da cultura da periferia ou a
cultura da favela, o Viva Rio lançaria o
novo portal Viva Favela 2.0.
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
3. O Viva Favela 2.0, uma rede
colaborativa
O Viva Favela, lançado em
2001, fazia parte de um projeto
ambicioso – e bem-
sucedido durante
ao menos quatro anos
implementação de pontos de acesso
gratuito à internet, via sinal de rádio,
em cerca de uma dezena de favelas
cariocas. A Estação Futuro f
precursora das
lanhouses
comunidades e servia inicialmente de
escritório de redação para os
“correspondentes comunitários” do
Viva Favela, um jornal online que
oferecia notícias sobre favelas criadas
pelos próprios moradores, visando
influenciar a c
obertura da mídia para
uma representação mais humana. A
proposta principal era mostrar o lado
positivo da vida e da cultura das
favelas, afastando-
se do
enquadramento dominante que as
representava exclusivamente como
espaço da criminalidade.
Os computadore
s de cada
Estação Futuro tinham o Viva Favela
como página inicial. O conteúdo era
destinado ao consumo tanto de
moradores das comunidades quanto
do público em geral. Desde o início o
portal atraía, entre os “de fora”,
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
3. O Viva Favela 2.0, uma rede
O Viva Favela, lançado em
2001, fazia parte de um projeto
sucedido durante
ao menos quatro anos
de
implementação de pontos de acesso
gratuito à internet, via sinal de rádio,
em cerca de uma dezena de favelas
cariocas. A Estação Futuro f
oi
lanhouses
nas
comunidades e servia inicialmente de
escritório de redação para os
“correspondentes comunitários” do
Viva Favela, um jornal online que
oferecia notícias sobre favelas criadas
pelos próprios moradores, visando
obertura da mídia para
uma representação mais humana. A
proposta principal era mostrar o lado
positivo da vida e da cultura das
se do
enquadramento dominante que as
representava exclusivamente como
s de cada
Estação Futuro tinham o Viva Favela
como página inicial. O conteúdo era
destinado ao consumo tanto de
moradores das comunidades quanto
do público em geral. Desde o início o
portal atraía, entre os “de fora”,
principalmente jornalistas e
pesquisad
ores do tema.
Na fase inicial, foram
selecionados entre 12 e 15 moradores
de favelas com perfil de
comunicadores ou de lideranças
comunitárias para atuarem como
“correspondentes comunitários”.
Trabalhando em duplas de fotógrafo e
repórter, realizavam a cob
cotidiano de comunidades como
Cidade de Deus, Complexo da Maré,
Complexo do Alemão e Rocinha. Os
correspondentes produziam uma
primeira versão da matéria, que era
depois revisada pelos editores do site,
profissionais formados em
Comunicação Socia
l, a maioria com
passagem por redações de jornais
cariocas.
Reuniões de pauta semanais
definiam os temas a serem
trabalhados. Esses momentos eram a
materialização do encontro e do
diálogo entre “asfalto” e favela,
gerando debates calorosos, momentos
de em
oção e de surpresa, como
quando uma correspondente
descobriu, incrédula, que as mulheres
que formam grupos de estudantes em
suas casas para ajudar com as lições
da escola eram personagens
77
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
principalmente jornalistas e
ores do tema.
Na fase inicial, foram
selecionados entre 12 e 15 moradores
de favelas com perfil de
comunicadores ou de lideranças
comunitárias para atuarem como
“correspondentes comunitários”.
Trabalhando em duplas de fotógrafo e
repórter, realizavam a cob
ertura do
cotidiano de comunidades como
Cidade de Deus, Complexo da Maré,
Complexo do Alemão e Rocinha. Os
correspondentes produziam uma
primeira versão da matéria, que era
depois revisada pelos editores do site,
profissionais formados em
l, a maioria com
passagem por redações de jornais
Reuniões de pauta semanais
definiam os temas a serem
trabalhados. Esses momentos eram a
materialização do encontro e do
diálogo entre “asfalto” e favela,
gerando debates calorosos, momentos
oção e de surpresa, como
quando uma correspondente
descobriu, incrédula, que as mulheres
que formam grupos de estudantes em
suas casas para ajudar com as lições
da escola eram personagens
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
desconhecidos de quem não mora em
favela. “Meu Deus do céu, vocês
sabem o que é explicadora!”
(RAMALHO, 2007, p. 74). Não raro,
pesquisadores participavam das
reuniões. Um deles, professor de
Direitos Humanos e Mídia da
Universidade de Nova York, escreveu
sobre a experiência:
Toda segunda-
feira à tarde, havia
uma
reunião de pauta na sede do
Viva Rio, no bairro da Glória. Os
fotógrafos, os jornalistas e editores
do projeto propunham ideias de
pautas, relatavam o andamento das
matérias que estavam fazendo e
entregavam as reportagens prontas.
(...) Um dos jornalistas
escrever sobre o preconceito que os
loiros naturais sofriam nas favelas.
Alguém falava sobre as pequenas
piscinas que as pessoas têm dentro
das comunidades. Um dos fotógrafos
mostrava imagens de uma mulher
que fazia e distribuía sopa para as
pessoas
famintas em sua
comunidade. Outro correspondente
descrevia o crescimento vertical das
casas e os problemas quando uma
laje extra de repente bloqueia a vista
de seu vizinho para o mar. Enquanto
isso, as manchetes da imprensa em
qualquer segunda-
feira grita
a violência do tráfico de drogas e a
brutalidade policial nas favelas
(LUCAS, 2012 p. 6).
Um ano depois da entrada do Viva
Favela na rede, a trágica morte do
jornalista Tim Lopes, executado por
traficantes da Vila Cruzeiro, marcaria
um distanciame
nto ainda mais
contundente entre a imprensa
convencional e as comunidades e
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
desconhecidos de quem não mora em
favela. “Meu Deus do céu, vocês
o
sabem o que é explicadora!”
(RAMALHO, 2007, p. 74). Não raro,
pesquisadores participavam das
reuniões. Um deles, professor de
Direitos Humanos e Mídia da
Universidade de Nova York, escreveu
feira à tarde, havia
reunião de pauta na sede do
Viva Rio, no bairro da Glória. Os
fotógrafos, os jornalistas e editores
do projeto propunham ideias de
pautas, relatavam o andamento das
matérias que estavam fazendo e
entregavam as reportagens prontas.
(...) Um dos jornalistas
queria
escrever sobre o preconceito que os
loiros naturais sofriam nas favelas.
Alguém falava sobre as pequenas
piscinas que as pessoas têm dentro
das comunidades. Um dos fotógrafos
mostrava imagens de uma mulher
que fazia e distribuía sopa para as
famintas em sua
comunidade. Outro correspondente
descrevia o crescimento vertical das
casas e os problemas quando uma
laje extra de repente bloqueia a vista
de seu vizinho para o mar. Enquanto
isso, as manchetes da imprensa em
feira grita
m sobre
a violência do tráfico de drogas e a
brutalidade policial nas favelas
Um ano depois da entrada do Viva
Favela na rede, a trágica morte do
jornalista Tim Lopes, executado por
traficantes da Vila Cruzeiro, marcaria
nto ainda mais
contundente entre a imprensa
convencional e as comunidades e
alçaria o Viva Favela ao status de
referência central para repórteres e
editores (RAMALHO, 2005; RAMOS
PAIVA, 2007). Durante os anos
seguintes, o Viva Favela seria
procurado diari
amente por jornalistas
em busca de pautas, personagens,
contatos para entrevistas ou visitas
agendadas. O objetivo de influenciar a
cobertura da mídia sobre as favelas
cariocas seria atingido, embora isso
não significasse que as notícias
reportando as fave
las pelo viés da
carência e da violência parassem de
ser produzidas e publicadas.
Por cerca de quatro anos o Viva
Favela manteve o modelo original,
com algumas substituições nas
equipes de correspondentes e de
jornalistas profissionais, a entrada de
novas
favelas no raio de cobertura e
alterações pontuais no sistema de
trabalho. Em 2005, uma crise
financeira abalou o projeto, que sem
patrocinador passou por várias
rodadas de demissões na equipe,
transformou os correspondentes
inicialmente em
freelancers
voluntários, e por fim teve a produção
de conteúdo temporariamente
suspensa.
O período imediatamente posterior à
crise de 2005 foi marcado por uma
78
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
alçaria o Viva Favela ao status de
referência central para repórteres e
editores (RAMALHO, 2005; RAMOS
;
PAIVA, 2007). Durante os anos
seguintes, o Viva Favela seria
amente por jornalistas
em busca de pautas, personagens,
contatos para entrevistas ou visitas
agendadas. O objetivo de influenciar a
cobertura da mídia sobre as favelas
cariocas seria atingido, embora isso
não significasse que as notícias
las pelo viés da
carência e da violência parassem de
ser produzidas e publicadas.
Por cerca de quatro anos o Viva
Favela manteve o modelo original,
com algumas substituições nas
equipes de correspondentes e de
jornalistas profissionais, a entrada de
favelas no raio de cobertura e
alterações pontuais no sistema de
trabalho. Em 2005, uma crise
financeira abalou o projeto, que sem
patrocinador passou por várias
rodadas de demissões na equipe,
transformou os correspondentes
freelancers
, depois em
voluntários, e por fim teve a produção
de conteúdo temporariamente
O período imediatamente posterior à
crise de 2005 foi marcado por uma
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
sequência de tentativas de se manter
o Viva Favela no ar enquanto
buscava-
se novos patrocinadores.
M
as embora nunca tenha deixado de
funcionar nem tenha ficado
completamente à deriva, sem uma
equipe (por menor que fosse) que
zelasse por ele, o projeto foi
considerado extinto por muitos dos
que o conheceram na sua fase de
maior visibilidade (SANTOS, 2014)
A partir de 2006, com as
sucessivas transformações nas
Tecnologias de Comunicação e
Informação ampliando o potencial de
interação e colaboração do
consumidor/usuário nas plataformas
online, a ideia de que o Viva Favela
deveria ser atualizado para o mode
de colaboração aberta, acessível a
“correspondentes” de todo o Brasil,
sem a revisão de editores
profissionais, passou a circular no Viva
Rio.
Neste mesmo ano seria lançado
o site colaborativo Overmundo, tendo
Hermano Vianna como um dos
mentores. O Ove
rmundo seria a
principal referência para a elaboração
do projeto do Viva Favela 2.0. Seus
fundadores se tornaram parceiros da
equipe de comunicação do Viva Rio e
uma série de reuniões marcou a
criação das bases do novo portal, que
entraria de fato na WWW q
depois.
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
sequência de tentativas de se manter
o Viva Favela no ar enquanto
se novos patrocinadores.
as embora nunca tenha deixado de
funcionar nem tenha ficado
completamente à deriva, sem uma
equipe (por menor que fosse) que
zelasse por ele, o projeto foi
considerado extinto por muitos dos
que o conheceram na sua fase de
maior visibilidade (SANTOS, 2014)
.
A partir de 2006, com as
sucessivas transformações nas
Tecnologias de Comunicação e
Informação ampliando o potencial de
interação e colaboração do
consumidor/usuário nas plataformas
online, a ideia de que o Viva Favela
deveria ser atualizado para o mode
lo
de colaboração aberta, acessível a
“correspondentes” de todo o Brasil,
sem a revisão de editores
profissionais, passou a circular no Viva
Neste mesmo ano seria lançado
o site colaborativo Overmundo, tendo
Hermano Vianna como um dos
rmundo seria a
principal referência para a elaboração
do projeto do Viva Favela 2.0. Seus
fundadores se tornaram parceiros da
equipe de comunicação do Viva Rio e
uma série de reuniões marcou a
criação das bases do novo portal, que
entraria de fato na WWW q
uatro anos
Lançado em 2010, o Viva
Favela 2.0 era uma plataforma
multimídia e colaborativa. Moradores
de favelas e periferias de todo o Brasil
podiam, através de um cadastro no
site, enviar suas produções para o
portal. O acesso era livre para
qual
quer pessoa interessada, e as
contribuições eram publicadas sem
revisão ou mediação por parte de
editores. Além da ampliação da
abrangência geográfica, os conteúdos
deixaram de ser apenas em texto e
foto, com a possibilidade de postagem
de vídeos e áudios.
atraiu produtores de conteúdo
atuantes em rádios comunitárias e
projetos de produção audiovisual, que
então se multiplicavam pelas periferias
do país com apoio do programa dos
Pontos de Cultura, do Governo
Federal.
O modelo de gestão do
conte
údo não se inspirava numa
redação de jornal convencional. A
aprovação da pauta por editores era
restrita a uma única seção, a da
Revista Multimídia, uma publicação
mensal onde as colaborações ainda
eram remuneradas. No portal como
um todo, as colaboraçõ
voluntárias e livres, a escolha do tema,
79
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
Lançado em 2010, o Viva
Favela 2.0 era uma plataforma
multimídia e colaborativa. Moradores
de favelas e periferias de todo o Brasil
podiam, através de um cadastro no
site, enviar suas produções para o
portal. O acesso era livre para
quer pessoa interessada, e as
contribuições eram publicadas sem
revisão ou mediação por parte de
editores. Além da ampliação da
abrangência geográfica, os conteúdos
deixaram de ser apenas em texto e
foto, com a possibilidade de postagem
de vídeos e áudios.
Esta mudança
atraiu produtores de conteúdo
atuantes em rádios comunitárias e
projetos de produção audiovisual, que
então se multiplicavam pelas periferias
do país com apoio do programa dos
Pontos de Cultura, do Governo
O modelo de gestão do
údo não se inspirava numa
redação de jornal convencional. A
aprovação da pauta por editores era
restrita a uma única seção, a da
Revista Multimídia, uma publicação
mensal onde as colaborações ainda
eram remuneradas. No portal como
um todo, as colaboraçõ
es eram
voluntárias e livres, a escolha do tema,
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
estilo, e formato cabia exclusivamente
ao autor.
A hierarquia de destaques na
home
e gina inicial de cada seção
era definida não mais por critérios
humanos, mas pela combinação da
atualidade do conteúdo c
quantidade de avaliações positivas dos
próprios usuários, e o cálculo era feito
por algoritmo. Também não havia
parceria entre o autor amador e um
jornalista profissional para o controle
de qualidade dos textos, áudios,
vídeos ou fotografias publicada
todas essas transformações, o Viva
Favela 2.0 se aproximava muito mais
de uma rede social do que de um
jornal online.
Se em 2001 os correspondentes
comunitários do Viva Favela não
possuíam acesso aos meios de
produção em suas casas, usando a
Estação
Futuro como escritório e
posteriormente a própria sede do Viva
Rio, na Glória, o contexto era outro em
2010. Embora uma sala
permanecesse equipada e disponível
para correspondentes do Rio de
Janeiro que quisessem usar algum
recurso específico, os novos
co
laboradores, que passaram a ser
identificados no projeto como
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
estilo, e formato cabia exclusivamente
A hierarquia de destaques na
e gina inicial de cada seção
era definida não mais por critérios
humanos, mas pela combinação da
atualidade do conteúdo c
om a
quantidade de avaliações positivas dos
próprios usuários, e o cálculo era feito
por algoritmo. Também não havia
parceria entre o autor amador e um
jornalista profissional para o controle
de qualidade dos textos, áudios,
vídeos ou fotografias publicada
s. Com
todas essas transformações, o Viva
Favela 2.0 se aproximava muito mais
de uma rede social do que de um
Se em 2001 os correspondentes
comunitários do Viva Favela não
possuíam acesso aos meios de
produção em suas casas, usando a
Futuro como escritório e
posteriormente a própria sede do Viva
Rio, na Glória, o contexto era outro em
2010. Embora uma sala
permanecesse equipada e disponível
para correspondentes do Rio de
Janeiro que quisessem usar algum
recurso específico, os novos
laboradores, que passaram a ser
identificados no projeto como
“Correspondentes
Multimídia”, pos
suíam acesso a ferramentas de
trabalho como computadores e
Internet de alta velocidade (em casa
ou em lanhouses
), celulares com
câmeras, câmeras compactas que
f
ilmam em HD e fotografam com
muitos megapixels.
Em 2013, três anos depois de
lançado, o Viva Favela 2.0 possuía
2519usuários cadastrados, sendo que
365 destes eram “correspondentes”
contribuindo regularmente, e cujas
assinaturas levavam a uma página de
p
erfil onde era exibida a sua
autobiografia sob o título “Sobre Mim”.
4. “Sobre mim”:
autorrepresentações no Viva Favela
2.0
O “Sobre mim” do Viva Favela 2.0
era um campo de texto livre, cujo
preenchimento não era obrigatório,
onde o colaborador era estim
redigir uma apresentação pessoal.
Tanto os comentários quanto as
produções publicadas em seções de
conteúdo traziam a assinatura do autor
(não era pedido o nome completo,
muitos indicavam um apelido) com um
hiperlink
levando à gina de seu
“perfil
”. Nela, era possível encontrar
80
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
Multimídia”, pos
-
suíam acesso a ferramentas de
trabalho como computadores e
Internet de alta velocidade (em casa
), celulares com
câmeras, câmeras compactas que
ilmam em HD e fotografam com
Em 2013, três anos depois de
lançado, o Viva Favela 2.0 possuía
2519usuários cadastrados, sendo que
365 destes eram “correspondentes”
contribuindo regularmente, e cujas
assinaturas levavam a uma página de
erfil onde era exibida a sua
autobiografia sob o título “Sobre Mim”.
autorrepresentações no Viva Favela
O “Sobre mim” do Viva Favela 2.0
era um campo de texto livre, cujo
preenchimento não era obrigatório,
onde o colaborador era estim
ulado a
redigir uma apresentação pessoal.
Tanto os comentários quanto as
produções publicadas em seções de
conteúdo traziam a assinatura do autor
(não era pedido o nome completo,
muitos indicavam um apelido) com um
levando à gina de seu
”. Nela, era possível encontrar
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
sua apresentação pessoal em texto, o
local onde vivia (campo livre,
geralmente preenchido com o nome de
uma comunidade, um bairro ou
cidade), sua fotografia e outros dados,
como o endereço eletrônico de suas
contas em redes sociais.
As produções textuais enviadas
neste formulário ficavam armazenadas
no banco de dados que reunia a
totalidade do conteúdo do portal. A
fonte do material que ora analisamos é
uma cópia desta base de dados feita
em 2013
7
para fins da pesquisa que
resultou na citada dissertação que
analisa a rede de colaboradores do
Viva Favela 2.0 (SANTOS, 2014).
As autobiografias
postadas
campo “Sobre mim” revelam a
diversidade da rede de colaboradores.
Dos 560 textos analisados p
artigo, 117 eram de usuários que se
declaravam jornalistas e 24,
estudantes de jornalismo. Ainda que
os jornalistas e futuros jornalistas
representassem uma parcela
considerável da rede, estavam longe
de ser maioria (cerca de ¼ do total
7
Em 2014, uma nova versão do Viva Favela
substituiu a 2.0, ficando no ar por pouco mais
de um ano. Desde então, não há notícias de
que o Viva Rio possua uma cópia acessível da
plataforma do Viva Favela 2.0 e seu banco de
dados.
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
sua apresentação pessoal em texto, o
local onde vivia (campo livre,
geralmente preenchido com o nome de
uma comunidade, um bairro ou
cidade), sua fotografia e outros dados,
como o endereço eletrônico de suas
As produções textuais enviadas
neste formulário ficavam armazenadas
no banco de dados que reunia a
totalidade do conteúdo do portal. A
fonte do material que ora analisamos é
uma cópia desta base de dados feita
para fins da pesquisa que
resultou na citada dissertação que
analisa a rede de colaboradores do
Viva Favela 2.0 (SANTOS, 2014).
postadas
no
campo “Sobre mim” revelam a
diversidade da rede de colaboradores.
Dos 560 textos analisados p
ara este
artigo, 117 eram de usuários que se
declaravam jornalistas e 24,
estudantes de jornalismo. Ainda que
os jornalistas e futuros jornalistas
representassem uma parcela
considerável da rede, estavam longe
de ser maioria (cerca de ¼ do total
Em 2014, uma nova versão do Viva Favela
substituiu a 2.0, ficando no ar por pouco mais
de um ano. Desde então, não há notícias de
que o Viva Rio possua uma cópia acessível da
plataforma do Viva Favela 2.0 e seu banco de
avaliado).
Porém, em relação aos 14
correspondentes comunitários do Viva
Favela em sua fase inicial, eles
formariam uma redação com dez
vezes mais componentes, caso o
modelo jornalístico permanecesse e
este fosse um critério de seleção. No
auge do projeto 1.0, a equ
ter no máximo 30 integrantes, entre
amadores e profissionais.
Se nos primeiros anos do Viva
Favela a parceria entre moradores de
comunidades
8
e jornalistas
profissionais era uma exigência para
que o conteúdo pudesse de fato
competir com o da m
ídia convencional,
o que chegou a gerar tensão por conta
da assinatura compartilhada das
matérias (RAMALHO, 2007, p.68), a
presença de jornalistas profissionais
que eram, também, moradores de
favela, foi uma novidade na rede de
colaboradores do Viva Favela
Certamente as políticas públicas que
facilitaram o acesso de jovens de
baixa renda às universidades,
implementadas no período, tiveram
impacto sobre este dado.
8
Em 2001, os correspondente
não possuíam formação superior, mas ao
longo dos anos o próprio Viva Rio intermediou
a aquisição de bolsas de estudos para alguns,
que cursaram jornalismo e se
profissionalizaram.
81
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
Porém, em relação aos 14
correspondentes comunitários do Viva
Favela em sua fase inicial, eles
formariam uma redação com dez
vezes mais componentes, caso o
modelo jornalístico permanecesse e
este fosse um critério de seleção. No
auge do projeto 1.0, a equ
ipe chegou a
ter no máximo 30 integrantes, entre
amadores e profissionais.
Se nos primeiros anos do Viva
Favela a parceria entre moradores de
e jornalistas
profissionais era uma exigência para
que o conteúdo pudesse de fato
ídia convencional,
o que chegou a gerar tensão por conta
da assinatura compartilhada das
matérias (RAMALHO, 2007, p.68), a
presença de jornalistas profissionais
que eram, também, moradores de
favela, foi uma novidade na rede de
colaboradores do Viva Favela
2.0.
Certamente as políticas públicas que
facilitaram o acesso de jovens de
baixa renda às universidades,
implementadas no período, tiveram
impacto sobre este dado.
Em 2001, os correspondente
s selecionados
não possuíam formação superior, mas ao
longo dos anos o próprio Viva Rio intermediou
a aquisição de bolsas de estudos para alguns,
que cursaram jornalismo e se
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
Ser jornalista, entretanto, não era
mais tão relevante no Viva Favela 2.0
quanto teria si
do para um
correspondente do “1.0”. Mesmo entre
os jornalistas já formados, a identidade
“jornalista” não é a única mencionada
no “Sobre mim”. Alan de Jesus, de
Guapimirim
9
, é jornalista, mas também
publicitário, “atuando em jornais
impressos, assessoria d
comunicação, diagramação (...) e
produção cultural”. Paulo Campello, da
comunidade Santo Amaro, estudou
“comunicação, teatro, música e hoje
em dia estuda cinema”. Fica evidente
que os interesses e experiências
transitam entre disciplinas e
linguagens, fa
zendo dos
colaboradores indivíduos de múltiplas
habilidades ou potenciais, o que de
fato os aproxima do apelido
“correspondente multimídia”.
Para Grohmann (2016), as
mudanças do trabalho dos jornalistas
nas últimas décadas levaram a um
tensionamento da “f
igura criada e
mitificada como sendo ‘a’ única e
possível do jornalista (...): a do
jornalista que trabalha na redação de
9
Os nomes e localidades dos usuários são
citados exatamente
como foram inseridos
pelos autores. Não buscamos acrescentar
dados como nome completo ou a
cidade/estado onde a comu
nidade se insere.
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
Ser jornalista, entretanto, não era
mais tão relevante no Viva Favela 2.0
do para um
correspondente do “1.0”. Mesmo entre
os jornalistas já formados, a identidade
“jornalista” não é a única mencionada
no “Sobre mim”. Alan de Jesus, de
, é jornalista, mas também
publicitário, “atuando em jornais
impressos, assessoria d
e
comunicação, diagramação (...) e
produção cultural”. Paulo Campello, da
comunidade Santo Amaro, estudou
“comunicação, teatro, música e hoje
em dia estuda cinema”. Fica evidente
que os interesses e experiências
transitam entre disciplinas e
zendo dos
colaboradores indivíduos de múltiplas
habilidades ou potenciais, o que de
fato os aproxima do apelido
“correspondente multimídia”.
Para Grohmann (2016), as
mudanças do trabalho dos jornalistas
nas últimas décadas levaram a um
igura criada e
mitificada como sendo ‘a’ única e
possível do jornalista (...): a do
jornalista que trabalha na redação de
Os nomes e localidades dos usuários são
como foram inseridos
pelos autores. Não buscamos acrescentar
dados como nome completo ou a
nidade se insere.
uma grande empresa de comunicação
e que possui carteira de trabalho
assinada”. Hoje o jornalista pode ser
“um blogueiro, um vlogger, u
jornalista independente, um jornalista
freelancer, um jornalista
empreendedor, um jornalista gestor ou
um jornalista desempregado, por
exemplo” (GROHMANN, 2016, p. 12).
Esta “marca” atribuída a si próprio
compõe a “narrativa do eu”, o que para
o autor si
mboliza seu lugar de fala,
podendo também abarcar mais de
uma denominação: “a pessoa pode
escolher uma marca e não outra,
conviver com várias, ou ainda não
conviver com nenhuma, afastando
dos sentidos vinculados a sua
profissão”.
Outra percepção possív
destas apresentações é a de que as
qualificações profissionais muitas
vezes se misturam a traços de
personalidade ou a interesses mais
subjetivos. Evaduarte, de Ouro Preto,
é “jornalista, origamista, blogueira,
hedonista”. Érica Magni, da Vila
Kennedy, é “jornalista, poeta,
entusiasta e praticante da paz”. Vivian
Renata, de Jaú, é “poetisa, jornalista,
artista plástica e amante da arte”.
Marina Duarte, do ABC Paulista, se
82
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
uma grande empresa de comunicação
e que possui carteira de trabalho
assinada”. Hoje o jornalista pode ser
“um blogueiro, um vlogger, u
m
jornalista independente, um jornalista
freelancer, um jornalista
empreendedor, um jornalista gestor ou
um jornalista desempregado, por
exemplo” (GROHMANN, 2016, p. 12).
Esta “marca” atribuída a si próprio
compõe a “narrativa do eu”, o que para
mboliza seu lugar de fala,
podendo também abarcar mais de
uma denominação: “a pessoa pode
escolher uma marca e não outra,
conviver com várias, ou ainda não
conviver com nenhuma, afastando
-se
dos sentidos vinculados a sua
Outra percepção possív
el a partir
destas apresentações é a de que as
qualificações profissionais muitas
vezes se misturam a traços de
personalidade ou a interesses mais
subjetivos. Evaduarte, de Ouro Preto,
é “jornalista, origamista, blogueira,
hedonista”. Érica Magni, da Vila
Kennedy, é “jornalista, poeta,
entusiasta e praticante da paz”. Vivian
Renata, de Jaú, é “poetisa, jornalista,
artista plástica e amante da arte”.
Marina Duarte, do ABC Paulista, se
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
identifica como “jornalista e arteira”.
São outras “marcas”, outros lugare
de-
fala que vão sendo adicionados a
um perfil que não se enquadra em
uma categoria, seja ela o endereço
ou a profissão.
O Viva Favela 2.0 revelou
talentos para a escrita em prosa,
crônica, reportagem, conto e poesia.
Mesmo limitando esta análise ao
ca
mpo “sobre mim” do formulário de
perfil, encontramos diversos exemplos
de textos que se encaixam em alguns
dos estilos literários citados.
Rosalinabrito, da Cidade de Deus, se
apresenta assim: “Sou sobrevivente
das enchentes, / sou sobrevivente das
drogas,
/ sou sobrevivente da fome, /
sou sobrevivente de abandono, / do
poder público,
/ sou sobrevivente da
cidade de deus”. Marina Luna, de Vila
Valqueire, também traz poesia para
sua assinatura no portal:
Não tento ser outra pessoa
Não tento quase nada,mas
tentar ser eu mais vezes.
Queria correr por sem medo de ir
e não vir
Eu tenho tantos planos que eu não
faço
Eles
m sem que eu peça,me tirem
esses planos!
Queria apenas poder gozar dessa
vontade de tentar ser eu de uma
forma melhor.
O céu vai na
scer nublado hoje
Por que eu quero que seja
assim,mas não que eu seja Deus
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
identifica como “jornalista e arteira”.
São outras “marcas”, outros lugare
s-
fala que vão sendo adicionados a
um perfil que não se enquadra em
uma categoria, seja ela o endereço
O Viva Favela 2.0 revelou
talentos para a escrita em prosa,
crônica, reportagem, conto e poesia.
Mesmo limitando esta análise ao
mpo “sobre mim” do formulário de
perfil, encontramos diversos exemplos
de textos que se encaixam em alguns
dos estilos literários citados.
Rosalinabrito, da Cidade de Deus, se
apresenta assim: “Sou sobrevivente
das enchentes, / sou sobrevivente das
/ sou sobrevivente da fome, /
sou sobrevivente de abandono, / do
/ sou sobrevivente da
cidade de deus”. Marina Luna, de Vila
Valqueire, também traz poesia para
Não tento ser outra pessoa
Não tento quase nada,mas
queria
tentar ser eu mais vezes.
Queria correr por sem medo de ir
Eu tenho tantos planos que eu não
m sem que eu peça,me tirem
Queria apenas poder gozar dessa
vontade de tentar ser eu de uma
scer nublado hoje
Por que eu quero que seja
assim,mas não que eu seja Deus
Eu gosto de dias fechados pra
pensar no que eu acho que quero
pra mim
Se o que eu quero pra mim são dias
ensolarados,
então estaria eu entrando em
contradição?
A escolha da forma c
apresentam, ainda que o destaque
esteja na formação profissional, revela
a identidade que cada colaborador
deseja evidenciar na rede. Para
Polivanov (2019), a cultura digital
possibilita que “performatizemos a nós
mesmos através de plataformas como
Facebook, Twitter, dentre outras,
apresentando nossos selves de
diferentes modos”. Estas “narrativas
de si” seriam equivalentes a
performances que compõem as
dinâmicas de construção do próprio
sujeito e de sua identidade.
Em diversos perfis a narrativa
destaca a inconstância e as múltiplas
identidades, como que numa ilustração
direta da teoria de Hall (2006), sobre
identidades fragmentadas e
contraditórias. Anymoon, que não
indica sua comunidade/procedência,
se apresenta em apenas três palavras:
“eu mud
o constantemente”. Angelina
Miranda, do Capão Redondo, se
define como “jornalista, poeta,
83
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
Eu gosto de dias fechados pra
pensar no que eu acho que quero
Se o que eu quero pra mim são dias
então estaria eu entrando em
A escolha da forma c
omo se
apresentam, ainda que o destaque
esteja na formação profissional, revela
a identidade que cada colaborador
deseja evidenciar na rede. Para
Polivanov (2019), a cultura digital
possibilita que “performatizemos a nós
mesmos através de plataformas como
Facebook, Twitter, dentre outras,
apresentando nossos selves de
diferentes modos”. Estas “narrativas
de si” seriam equivalentes a
performances que compõem as
dinâmicas de construção do próprio
sujeito e de sua identidade.
Em diversos perfis a narrativa
destaca a inconstância e as múltiplas
identidades, como que numa ilustração
direta da teoria de Hall (2006), sobre
identidades fragmentadas e
contraditórias. Anymoon, que não
indica sua comunidade/procedência,
se apresenta em apenas três palavras:
o constantemente”. Angelina
Miranda, do Capão Redondo, se
define como “jornalista, poeta,
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
cronista, um ser oscilante”. Janaína
Oliveira, do Morro Agudo, tinha como
nome artístico Re.Fem, que significa
Revolta Feminina. Descreve
“Mulher, Negra, Femi
nista, Rapper,
Cineasta, Publicitária, Produtora,
Ativista dos Movimentos de Mulheres e
Juventude Negra”, e autora do
primeiro documentário carioca a tratar
do tema Hip Hop Feminino, Rap de
Saia (2006).
Sibilia (2004) ressalta que o “eu”,
uma “entidade
frágil e complexa”, seria
“primorosamente costurada na
linguagem: nas narrativas de si, a
própria experiência adquire forma e
conteúdo, ganha existência e se
alicerça em torno de um determinado
‘eu’” (SIBILIA, 2004, p.
Araújo, da Rocinha, costura
modo o seu “eu”:
Desde pequenininha eu brincava
com uma escova de cabelo na mão,
dizia que seria uma repórter. Lembro
que eu achava Paulo Francis um
chato com aquela vozinha irritante no
final de cada frase, mas mesmo
assim,
o imitava. Foi com esse
sonho que me formei em jornalismo,
trabalhando na faculdade em que
estudava para garantir a bolsa de
estudos. Na Rocinha, tenho amigos
que não gostam de me acompanhar
na descida das vielas, dizem que eu
paro em toda a esquina pra falar com
alguém, que eu d
candidatar. E assim vou... mostrando
que viver em uma comunidade não é
um bicho de sete cabeças e que
todos devem ter seu espaço. Pobre
ou rico, as pessoas são
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
cronista, um ser oscilante”. Janaína
Oliveira, do Morro Agudo, tinha como
nome artístico Re.Fem, que significa
Revolta Feminina. Descreve
-se como
nista, Rapper,
Cineasta, Publicitária, Produtora,
Ativista dos Movimentos de Mulheres e
Juventude Negra”, e autora do
primeiro documentário carioca a tratar
do tema Hip Hop Feminino, Rap de
Sibilia (2004) ressalta que o “eu”,
frágil e complexa”, seria
“primorosamente costurada na
linguagem: nas narrativas de si, a
própria experiência adquire forma e
conteúdo, ganha existência e se
alicerça em torno de um determinado
3). Landa
Araújo, da Rocinha, costura
desse
Desde pequenininha eu brincava
com uma escova de cabelo na mão,
dizia que seria uma repórter. Lembro
que eu achava Paulo Francis um
chato com aquela vozinha irritante no
final de cada frase, mas mesmo
o imitava. Foi com esse
sonho que me formei em jornalismo,
trabalhando na faculdade em que
estudava para garantir a bolsa de
estudos. Na Rocinha, tenho amigos
que não gostam de me acompanhar
na descida das vielas, dizem que eu
paro em toda a esquina pra falar com
alguém, que eu d
everia me
candidatar. E assim vou... mostrando
que viver em uma comunidade não é
um bicho de sete cabeças e que
todos devem ter seu espaço. Pobre
ou rico, as pessoas são
simplesmente humanos tentando
sobreviver no mesmo espaço. Sou
comum e quem não é?
Em
várias apresentações o
colaborador integra numa mesma
narrativa sua identidade profissional e
a de morador de favela ou periferia.
Em alguns casos, o mesmo texto
apresenta a procedência geográfica e
de classe social do autor. ainda os
que incluem refer
ências às raízes
familiares, à base educacional, à
religião, entre outras. Bruno Almeida,
de Magé, conta como se tornou
jornalista e insere diversos outros
elementos na sua composição:
No começo da minha adolescência,
meu pai tinha um depósito de
bebidas
e uma gráfica. Eu me
oscilava entre um comércio e outro.
Tomava porres escondido e ia
aprender a imprimir livros e jornais.
Nunca aprendi a operar nenhuma
máquina (me lembro agora que
quase perco a mão esquerda em
uma ocasião), mas o gosto pelo
impresso e
suas tintas, além do
rock'n'roll e do violão, ficou (benditas
tardes com Luís, Rui, Edinho e
companhia). (...) Mais tarde, o Novo
Testamento se revelou a mim como
um relato jornalístico fiel,
testemunhal mesmo, fantástico, e
tudo fez mais sentido. Minha mã
incentivou a estudar, e meu pai
também teria feito se a vida lhe
desse mais oportunidade. Pai, esse
diploma de jornalismo é para o
senhor, que tanto sonhou com ele.
Eliane Costa (2017), ao analisar
as relações entre territorialidades
urbanas e a cibe
rcultura, aponta para
84
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
simplesmente humanos tentando
sobreviver no mesmo espaço. Sou
comum e quem não é?
várias apresentações o
colaborador integra numa mesma
narrativa sua identidade profissional e
a de morador de favela ou periferia.
Em alguns casos, o mesmo texto
apresenta a procedência geográfica e
de classe social do autor. ainda os
ências às raízes
familiares, à base educacional, à
religião, entre outras. Bruno Almeida,
de Magé, conta como se tornou
jornalista e insere diversos outros
elementos na sua composição:
No começo da minha adolescência,
meu pai tinha um depósito de
e uma gráfica. Eu me
oscilava entre um comércio e outro.
Tomava porres escondido e ia
aprender a imprimir livros e jornais.
Nunca aprendi a operar nenhuma
máquina (me lembro agora que
quase perco a mão esquerda em
uma ocasião), mas o gosto pelo
suas tintas, além do
rock'n'roll e do violão, ficou (benditas
tardes com Luís, Rui, Edinho e
companhia). (...) Mais tarde, o Novo
Testamento se revelou a mim como
um relato jornalístico fiel,
testemunhal mesmo, fantástico, e
tudo fez mais sentido. Minha mã
e me
incentivou a estudar, e meu pai
também teria feito se a vida lhe
desse mais oportunidade. Pai, esse
diploma de jornalismo é para o
senhor, que tanto sonhou com ele.
Eliane Costa (2017), ao analisar
as relações entre territorialidades
rcultura, aponta para
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
“um contexto em que o território é
recurso simbólico mobilizado por
sujeitos para a construção/circulação
de suas narrativas”. Em sua tese, a
autora recorre à definição do geógrafo
Jorge Luiz Barbosa, para quem o
território é a “escri
ta de sujeitos no
chão de suas existências” (BARBOSA,
2015 apud
COSTA, 2017 p.
sujeito, ao construir suas narrativas no
ciberespaço, traz consigo o seu lugar,
mescla a sua identidade ao local onde
vive, talvez como uma forma de tornar
mais concreta
a sua presença.
O fato de estarem criando um
perfil individual numa plataforma cuja
proposta é apresentar conteúdo sobre
favelas certamente influencia a
decisão de evidenciar, em sua
autobiografia, a legitimidade de sua
produção sobre o tema. De certa
for
ma, este lugar de fala dos
correspondentes, o de morador de
uma favela, que pode falar “de dentro”,
não está dado. Ele pode ser anunciado
ou reivindicado no perfil, quando o
autor se identifica com ele. Viviane
Oliveira, da Vila do João, diz que
procura “p
or meio dos meus textos e
imagens contar um pouco das histórias
e do cotidiano dos moradores das 16
favelas que compõem o conjunto
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
“um contexto em que o território é
recurso simbólico mobilizado por
sujeitos para a construção/circulação
de suas narrativas”. Em sua tese, a
autora recorre à definição do geógrafo
Jorge Luiz Barbosa, para quem o
ta de sujeitos no
chão de suas existências” (BARBOSA,
COSTA, 2017 p.
16). O
sujeito, ao construir suas narrativas no
ciberespaço, traz consigo o seu lugar,
mescla a sua identidade ao local onde
vive, talvez como uma forma de tornar
a sua presença.
O fato de estarem criando um
perfil individual numa plataforma cuja
proposta é apresentar conteúdo sobre
favelas certamente influencia a
decisão de evidenciar, em sua
autobiografia, a legitimidade de sua
produção sobre o tema. De certa
ma, este lugar de fala dos
correspondentes, o de morador de
uma favela, que pode falar “de dentro”,
não está dado. Ele pode ser anunciado
ou reivindicado no perfil, quando o
autor se identifica com ele. Viviane
Oliveira, da Vila do João, diz que
or meio dos meus textos e
imagens contar um pouco das histórias
e do cotidiano dos moradores das 16
favelas que compõem o conjunto
Maré”. Jessicabalbino, da Zona Sul de
São Paulo, se descreve em terceira
pessoa: “Jéssica escreve para a
massa. E por o con
mão desse vício tornou
acreditou na utopia de mudar o
mundo. Hoje tenta mudar o local onde
vive”.
A articulação de experiências e
eventos na construção das
do campo “Sobre mim” também
prescinde, em muitos casos,
referência a atividades profissionais.
Thiago Sena, da Maré, se descreve
como “carioca, mas com um pezinho
no Nordeste, mareense, amarrado em
arte (todas elas), na minha mãe, na
qual enxergo uma verdadeira lição de
vida, e nos meus amigos”. Monica
Lope
s, de Salvador, afirma ser “negra,
43 anos, duas filhas e tenho muito
interesse em temas relacionados a
comunidades e matrizes afro
religiosas”. Cita a monografia e o
desejo de fazer mestrado e doutorado,
mas não informa qual a sua área de
formação. Dani
ella Vieira, do
Terreirão, diz apenas qual seu objetivo
no site: “Com a intenção de tirar a
venda de hipocrisia dos olhos
burgueses, escrevo sobre a vida
garrida e alegre das favelas do RJ, pra
85
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
Maré”. Jessicabalbino, da Zona Sul de
São Paulo, se descreve em terceira
pessoa: “Jéssica escreve para a
massa. E por o con
seguir largar
mão desse vício tornou
-se jornalista.
acreditou na utopia de mudar o
mundo. Hoje tenta mudar o local onde
A articulação de experiências e
eventos na construção das
narrativas
do campo “Sobre mim” também
prescinde, em muitos casos,
de
referência a atividades profissionais.
Thiago Sena, da Maré, se descreve
como “carioca, mas com um pezinho
no Nordeste, mareense, amarrado em
arte (todas elas), na minha mãe, na
qual enxergo uma verdadeira lição de
vida, e nos meus amigos”. Monica
s, de Salvador, afirma ser “negra,
43 anos, duas filhas e tenho muito
interesse em temas relacionados a
comunidades e matrizes afro
religiosas”. Cita a monografia e o
desejo de fazer mestrado e doutorado,
mas não informa qual a sua área de
ella Vieira, do
Terreirão, diz apenas qual seu objetivo
no site: “Com a intenção de tirar a
venda de hipocrisia dos olhos
burgueses, escrevo sobre a vida
garrida e alegre das favelas do RJ, pra
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
mostrar pro mundo que na favela não
existe só tiro, gritos de
desespero e
caos. também honestidade,
exemplos de vida e muita coisa boa
pra quem quiser enxergar!”. TAG
Pexe, de Ambaí, celebra sua entrada
na faculdade, também sem se
identificar profissionalmente. Em sua
narrativa, a história de vida ganha
mais relev
ância que o currículo:
Sou morador do bairro do Ambaí
desde os 8 anos de idade e cresci
dentre suas vielas almejando
modificar o meu bairro através de
minhas iniciativas. A princípio na
escola era o revolucionário, o dico
que acreditava e ainda acredita
pode mudar o mundo! E depois da
escola, provei ser possível sendo o
primeiro da minha família a entrar na
faculdade e ainda uma federal! Hoje,
depois de um ano como voluntário
sou funcionário da Casa do Menor
São Miguel Arcanjo, situada no
Bairro de
Miguel Couto próximo de
onde moro. A união de ideologias se
firmaram, esta ONG recupera jovens
sem oportunidades entregues às
drogas, violências sexuais e
problemas familiares... e é através
da arte, cultura e profissionalização
que devolvemos a sociedade,
jovens, antes marginalizados!
Em diversos perfis a história de
vida está presente na construção da
identidade. Resgatando a reflexão de
Alberti (2008) sobre a “história oral
militante” nos anos 60, pode
indagar se o Viva Favela 2.0 não teria
rep
resentado um avanço em relação
aos projetos que buscaram preencher
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
mostrar pro mundo que na favela não
desespero e
caos. também honestidade,
exemplos de vida e muita coisa boa
pra quem quiser enxergar!”. TAG
Pexe, de Ambaí, celebra sua entrada
na faculdade, também sem se
identificar profissionalmente. Em sua
narrativa, a história de vida ganha
ância que o currículo:
Sou morador do bairro do Ambaí
desde os 8 anos de idade e cresci
dentre suas vielas almejando
modificar o meu bairro através de
minhas iniciativas. A princípio na
escola era o revolucionário, o dico
que acreditava e ainda acredita
, que
pode mudar o mundo! E depois da
escola, provei ser possível sendo o
primeiro da minha família a entrar na
faculdade e ainda uma federal! Hoje,
depois de um ano como voluntário
sou funcionário da Casa do Menor
São Miguel Arcanjo, situada no
Miguel Couto próximo de
onde moro. A união de ideologias se
firmaram, esta ONG recupera jovens
sem oportunidades entregues às
drogas, violências sexuais e
problemas familiares... e é através
da arte, cultura e profissionalização
que devolvemos a sociedade,
esses
jovens, antes marginalizados!
Em diversos perfis a história de
vida está presente na construção da
identidade. Resgatando a reflexão de
Alberti (2008) sobre a “história oral
militante” nos anos 60, pode
-se
indagar se o Viva Favela 2.0 não teria
resentado um avanço em relação
aos projetos que buscaram preencher
lacunas de representação de atores
sociais sub representados. O portal
colaborativo teria oferecido, por seu
recorte temático, um espaço de
visibilidade a sujeitos que desejavam
conscientem
ente combater os
estigmas impostos à comunidade
“favelada” expressando
mesmos, se apropriando da
construção da sua identidade de
morador de favela.
Muitas biografias revelam
momentos de dificuldades, tornando
ainda mais íntimo e contundente o
contato do colaborador com sua
audiência. Limax, da Cidade de Deus,
afirma morar na comunidade desde os
4 anos. “Já vi de tudo e vivi coisas
escabrosas. Aos 1
6 anos comecei a
estudar teatro e essa seria minha
profissão se não fosse a dificuldade
em criar filho e sustentar mulher”.
Valéria Barbosa, do Anil, é ex
moradora da Praia do Pinto, de onde
foi removida para a Cidade de Deus.
Sua identidade é multifacetad
tantas outras que analisamos: “Sou
pedagoga, agente de cultura popular,
compositora de cantigas de umbanda,
poeta”.
A opção de postar áudios no
Viva Favela 2.0 atraiu músicos e
86
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
lacunas de representação de atores
sociais sub representados. O portal
colaborativo teria oferecido, por seu
recorte temático, um espaço de
visibilidade a sujeitos que desejavam
ente combater os
estigmas impostos à comunidade
“favelada” expressando
-se por si
mesmos, se apropriando da
construção da sua identidade de
Muitas biografias revelam
momentos de dificuldades, tornando
ainda mais íntimo e contundente o
contato do colaborador com sua
audiência. Limax, da Cidade de Deus,
afirma morar na comunidade desde os
4 anos. “Já vi de tudo e vivi coisas
6 anos comecei a
estudar teatro e essa seria minha
profissão se não fosse a dificuldade
em criar filho e sustentar mulher”.
Valéria Barbosa, do Anil, é ex
-
moradora da Praia do Pinto, de onde
foi removida para a Cidade de Deus.
Sua identidade é multifacetad
a, como
tantas outras que analisamos: “Sou
pedagoga, agente de cultura popular,
compositora de cantigas de umbanda,
A opção de postar áudios no
Viva Favela 2.0 atraiu músicos e
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
compositores. Diegoandrade, de
Guadalupe, se define como músico
não fo
rmado, mesmo tocando violão,
guitarra, contrabaixo, bateria e teclado.
Liu Mr, de Heliópolis, era estudante de
jornalismo e rapper, além de
apresentador de um programa na
Rádio Heliópolis. As seções Imagens e
Vídeos, por sua vez, atraíram
fotógrafos e vide
omakers
Schuindt, de Costa Barros, era
documentarista, professor de
audiovisual e Vice-
Presidente na ONG
Luz, Câmera e Ação em sua
comunidade. AF Rodrigues, da Nova
Holanda, define deste modo sua
atividade:
Eu, eu sou fotógrafo.
Fotografo os meus.
Pessoas iguais a
mim, que trabalham, estudam, se
divertem, que tem fé e os que não
tem...
Fotografar para mim é uma tentativa
feliz de entender o outro, o mundo
em que vivo. A fotografia que faço é
a minha percepção de mundo
apresentada aos outros. As pess
podem me conhecer um pouco mais
vendo as minhas fotografias.
Tento ter empatia pelo que fotografo
e assim me sinto a vontade para
fotografar. Caso o contrário me sinto
mal, como se estivesse furtando
algo.
Algumas pessoas gostam de jogar
bola, andar
de bicicleta, nadar..., eu
gosto é de fotografar. Fotografar
para mim não é trabalho, é lazer, é
diversão, é di – ver –
são!!!
Ao destacar as biografias cujo
conteúdo revela mais da subjetividade
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
compositores. Diegoandrade, de
Guadalupe, se define como músico
rmado, mesmo tocando violão,
guitarra, contrabaixo, bateria e teclado.
Liu Mr, de Heliópolis, era estudante de
jornalismo e rapper, além de
apresentador de um programa na
Rádio Heliópolis. As seções Imagens e
Vídeos, por sua vez, atraíram
omakers
. Renan
Schuindt, de Costa Barros, era
documentarista, professor de
Presidente na ONG
Luz, Câmera e Ação em sua
comunidade. AF Rodrigues, da Nova
Holanda, define deste modo sua
Pessoas iguais a
mim, que trabalham, estudam, se
divertem, que tem fé e os que não
Fotografar para mim é uma tentativa
feliz de entender o outro, o mundo
em que vivo. A fotografia que faço é
a minha percepção de mundo
apresentada aos outros. As pess
oas
podem me conhecer um pouco mais
vendo as minhas fotografias.
Tento ter empatia pelo que fotografo
e assim me sinto a vontade para
fotografar. Caso o contrário me sinto
mal, como se estivesse furtando
Algumas pessoas gostam de jogar
de bicicleta, nadar..., eu
gosto é de fotografar. Fotografar
para mim não é trabalho, é lazer, é
são!!!
Ao destacar as biografias cujo
conteúdo revela mais da subjetividade
do autor, estamos omitindo um volume
expressivo de textos
adequa perfeitamente ao que se
espera de um mini currículo
profissional, perfeitamente alinhado ao
tema da plataforma, como é o caso do
perfil de “Chico Serra, 32 anos, é
produtor e diretor de cinema e vídeo.
Trabalha como produtor de audiovi
da TV Morrinho, projeto da ONG
Morrinho(
www.morrinho.com
localizada na comunidade Pereira da
Silva, em Laranjeiras”. Nestes casos,
fica claro que o colaborador não era,
ou não tinha interesse em se dizer
morador de favela, e que utilizava a
plataforma como um portfólio para a
divulgação de seus trabalhos,
criaç
ões, projetos culturais ou
institucionais, desvinculando tais
atividades de sua identidade pessoal.
Sibilia (2004) se pergunta quem
seria o “eu” que assina e protagoniza
“as narrativas de si, textos como os
blogs, os diários íntimos e as
autobiografias?”.
A resposta não é
simples: “o eu é uma unidade ilusória
construída na linguagem a partir da
multiplicidade caótica de toda e
qualquer existência individual”.
Os textos de apresentação dos
colaboradores publicados no campo
87
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
do autor, estamos omitindo um volume
expressivo de textos
cuja forma se
adequa perfeitamente ao que se
espera de um mini currículo
profissional, perfeitamente alinhado ao
tema da plataforma, como é o caso do
perfil de “Chico Serra, 32 anos, é
produtor e diretor de cinema e vídeo.
Trabalha como produtor de audiovi
sual
da TV Morrinho, projeto da ONG
www.morrinho.com
),
localizada na comunidade Pereira da
Silva, em Laranjeiras”. Nestes casos,
fica claro que o colaborador não era,
ou não tinha interesse em se dizer
morador de favela, e que utilizava a
plataforma como um portfólio para a
divulgação de seus trabalhos,
ões, projetos culturais ou
institucionais, desvinculando tais
atividades de sua identidade pessoal.
Sibilia (2004) se pergunta quem
seria o “eu” que assina e protagoniza
“as narrativas de si, textos como os
blogs, os diários íntimos e as
A resposta não é
simples: “o eu é uma unidade ilusória
construída na linguagem a partir da
multiplicidade caótica de toda e
qualquer existência individual”.
Os textos de apresentação dos
colaboradores publicados no campo
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
“Sobre Mim do Viva Favela 2.0
co
nstruíram um panorama rico e
diverso de “eus”, revelando a
“multiplicidade caótica” não dos
sujeitos, mas das comunidades
representadas e da própria rede social
que o portal constituiu.
5. Considerações finais
As representações de favelas na
mídia, d
esde as primeiras crônicas até
o final do século XX, quando esses
espaços populares completavam um
século de existência, reproduziam
(como ainda reproduzem) o estigma
da favela como território de ausências
e cenário de violência, impondo aos
seus habitante
s a constante
associação de suas identidades a
estas perspectivas negativas
(VALLADARES, 2005; ZALUAR
ALVITO, 2006).
A partir da virada para o século
XXI, entre meados da década de 1990
e 2010, cresce o volume de estudos,
livros, filmes e outros produto
culturais e de mídia que apontam para
um desejo de conhecer a favela “por
dentro”, “dar voz” aos moradores, e
uma busca por reparação contra a sua
“inferiorização simbólica”
(FERNANDES, 2019). Neste mesmo
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
“Sobre Mim do Viva Favela 2.0
nstruíram um panorama rico e
diverso de “eus”, revelando a
“multiplicidade caótica” não dos
sujeitos, mas das comunidades
representadas e da própria rede social
As representações de favelas na
esde as primeiras crônicas até
o final do século XX, quando esses
espaços populares completavam um
século de existência, reproduziam
(como ainda reproduzem) o estigma
da favela como território de ausências
e cenário de violência, impondo aos
s a constante
associação de suas identidades a
estas perspectivas negativas
(VALLADARES, 2005; ZALUAR
;
A partir da virada para o século
XXI, entre meados da década de 1990
e 2010, cresce o volume de estudos,
livros, filmes e outros produto
s
culturais e de mídia que apontam para
um desejo de conhecer a favela “por
dentro”, “dar voz” aos moradores, e
uma busca por reparação contra a sua
“inferiorização simbólica”
(FERNANDES, 2019). Neste mesmo
período, as transformações das TICs
passam a perm
itir a participação de
pessoas comuns, antes apenas
consumidores de informação, na
produção e difusão de conteúdo
midiático, o que permite que a “voz” de
atores sociais sub representados
ganhe projeção.
O portal Viva Favela, estudo de
caso analisado no pre
emerge como experimento icônico
deste período e contexto. O site surge
em 2001 como uma revista online
produzida por “correspondentes
comunitários” em parceria com
jornalistas profissionais. O objetivo era
combater o estigma que pesa sobre
mo
radores de favelas, construindo
novas representações, com a
perspectiva interna, mais humana,
destes territórios populares. Nove anos
depois, uma reformulação altera o
formato do portal e sua política
editorial. Surge no domínio
www.vivafavela.com
colaborativa aberta e descentralizada,
cujo conteúdo é “postado” sem
mediação por usuários cadastrados,
agora identificados como
“correspondentes multimídia”.
No modelo inicial, o conteúdo partia
“de dentro
da favela, mas a demanda
88
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
período, as transformações das TICs
itir a participação de
pessoas comuns, antes apenas
consumidores de informação, na
produção e difusão de conteúdo
midiático, o que permite que a “voz” de
atores sociais sub representados
O portal Viva Favela, estudo de
caso analisado no pre
sente artigo,
emerge como experimento icônico
deste período e contexto. O site surge
em 2001 como uma revista online
produzida por “correspondentes
comunitários” em parceria com
jornalistas profissionais. O objetivo era
combater o estigma que pesa sobre
radores de favelas, construindo
novas representações, com a
perspectiva interna, mais humana,
destes territórios populares. Nove anos
depois, uma reformulação altera o
formato do portal e sua política
editorial. Surge no domínio
uma plataforma
colaborativa aberta e descentralizada,
cujo conteúdo é “postado” sem
mediação por usuários cadastrados,
agora identificados como
“correspondentes multimídia”.
No modelo inicial, o conteúdo partia
da favela, mas a demanda
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
por sua produção ainda era externa.
Com a mudança para o Viva Favela
2.0, a demanda parte dos próprios
correspondentes, que controlam todo o
processo, desde a “pauta” até a
publicação. Assim, os compositores
vão postar músicas de
sua autoria; os
fotógrafos, suas imagens; os cineastas
suas produções audiovisuais; os
poetas, suas poesias e os jornalistas,
suas reportagens. Aqueles que lutam
por moradia ou por melhores
condições de vida em suas
comunidades farão denúncias e
cobranças
às autoridades em suas
postagens. Os que trabalham na
promoção da cultura das periferias irão
promover eventos.
Mas em meio ao conteúdo que
os colaboradores desejaram
compartilhar nesta rede, são as
autobiografias que nos revelam com
maior contundência e
autenticidade a
perspectiva “de dentro” da favela,
impregnada de uma subjetividade
impraticável para as narrativas “de
fora”. Estas autonarrativas ou
autorrepresentações, que talvez
tenham passado despercebidas
enquanto o portal esteve no ar, nos
ajudam a
compreender, com maior
distanciamento, o que talvez tenha
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
por sua produção ainda era externa.
Com a mudança para o Viva Favela
2.0, a demanda parte dos próprios
correspondentes, que controlam todo o
processo, desde a “pauta” até a
publicação. Assim, os compositores
sua autoria; os
fotógrafos, suas imagens; os cineastas
suas produções audiovisuais; os
poetas, suas poesias e os jornalistas,
suas reportagens. Aqueles que lutam
por moradia ou por melhores
condições de vida em suas
comunidades farão denúncias e
às autoridades em suas
postagens. Os que trabalham na
promoção da cultura das periferias irão
Mas em meio ao conteúdo que
os colaboradores desejaram
compartilhar nesta rede, são as
autobiografias que nos revelam com
autenticidade a
perspectiva “de dentro” da favela,
impregnada de uma subjetividade
impraticável para as narrativas “de
fora”. Estas autonarrativas ou
autorrepresentações, que talvez
tenham passado despercebidas
enquanto o portal esteve no ar, nos
compreender, com maior
distanciamento, o que talvez tenha
justificado a reformulação do portal
Viva Favela em 2010 e sua passagem
do modelo jornalístico para o de uma
plataforma colaborativa: a demanda
destes atores sociais por um canal de
compartilhament
o de narrativas
identitárias e de demarcação de
territórios simbólicos ou lugares de
fala.
O resultado de nosso “garimpo”
na base de dados de apresentações
pessoais dos correspondentes
multimídia do Viva Favela 2.0 ilustra,
por um lado, esta demanda, ao m
tempo em que contribui para uma
visão mais viva, diversa e plural das
fave
las e periferias brasileiras.
Referências bibliográficas
ALBERTI, Verena.
Histórias dentro da
História.
In: PINSKY, Carla B
Históricas. São P
aulo: Contexto,
ANDERSON, C.
W
SHIRKY, Clay.
O jornalismo pós
industrial.
Revista de Jornalismo
ESPM,
5, ano 2, p.30
abr/mai/jun 2013.
BARBOSA, Jorge Luiz.
como conceito e prática social
Observatório de Favelas, 2015.
BOWMAN, Shayne;
WILLIS, Chris.
media. How
audiences are shaping
future of news
and
Stanford: The Media Center at The
American Press Institute, jul
CHAGAS, Viktor.
Por que é Cidadão o
Jornalista Cidadão?
89
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
justificado a reformulação do portal
Viva Favela em 2010 e sua passagem
do modelo jornalístico para o de uma
plataforma colaborativa: a demanda
destes atores sociais por um canal de
o de narrativas
identitárias e de demarcação de
territórios simbólicos ou lugares de
O resultado de nosso “garimpo”
na base de dados de apresentações
pessoais dos correspondentes
multimídia do Viva Favela 2.0 ilustra,
por um lado, esta demanda, ao m
esmo
tempo em que contribui para uma
visão mais viva, diversa e plural das
las e periferias brasileiras.
Referências bibliográficas
Histórias dentro da
In: PINSKY, Carla B
. Fontes
aulo: Contexto,
2008.
W
.; BELL, Emily;
O jornalismo pós
-
Revista de Jornalismo
5, ano 2, p.30
-88,
BARBOSA, Jorge Luiz.
O território
como conceito e prática social
.
Observatório de Favelas, 2015.
WILLIS, Chris.
We
audiences are shaping
the
and
information.
Stanford: The Media Center at The
American Press Institute, jul
. 2003.
Por que é Cidadão o
Jornalista Cidadão?
(Mestrado em
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
69
-
90
,
set.
2020.
História, Política e Bens
Fundação Getúlio Vargas, 2009.
COSTA, Eliane Sarmento.
Digital. Rio de Janeiro:
Rocco, 2011.
COSTA, Eliane Sarmento.
Territorialidades urbanas em
ciberculturas plurais
: o vital e o virtual
nas periferias do Rio de Janeiro.
(Doutorado em
História das Ciências e
das Técnicas e Epistemologia).
Universidade Fe
deral do Rio de
Janeiro, 2017.
DALCASTAGNÈ, Regina
.
representação de grupos
marginalizados: tensões e estratégias
na narrativa contemporânea.
Hoje,
Porto Alegre, 2007. D
em:
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/in
dex.php/fale/article/viewFile/4110/3112
FERNANDES, Karla.
Favelados, não.
Cidadãos da favela”:
o discurso
audiovisual dos media alternativos
sobre as favelas.
Revista Mediação
Belo Horizonte, v. 21,
n.28, jan./jun.
2019.
GILLMOR, Dan. We
the media
grassroots journalism by
for the people.
Sebastopol: O’Reilly
2004.
HALL, Stuart.
A identidade cultural na
pós-modernidade
. Rio de Janeiro:
DP&A, 2006.
LUCAS, Peter.
Viva Favela
Fotojornalismo, inclusão visual e
direitos humanos. Disponível em
http://novo.vivafavela.com.br/publique/
cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=460
78etsid=15.
MORETZSOHN, Silvia.
contra os fatos:
jornalismo e cotidiano:
ROCHA, Daniella Guedes; SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Da
representação da favela à autorrepresentação: as narrativas de si nos
perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
.
Americana de Estudos em Cultura,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e
História, Política e Bens
Culturais)
Fundação Getúlio Vargas, 2009.
COSTA, Eliane Sarmento.
Jangada
Rocco, 2011.
COSTA, Eliane Sarmento.
Territorialidades urbanas em
: o vital e o virtual
nas periferias do Rio de Janeiro.
História das Ciências e
das Técnicas e Epistemologia).
deral do Rio de
.
A auto-
representação de grupos
marginalizados: tensões e estratégias
na narrativa contemporânea.
Letras de
Porto Alegre, 2007. D
isponível
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/in
dex.php/fale/article/viewFile/4110/3112
Favelados, não.
o discurso
audiovisual dos media alternativos
Revista Mediação
,
n.28, jan./jun.
the media
:
the people,
Sebastopol: O’Reilly
,
A identidade cultural na
. Rio de Janeiro:
Viva Favela
:
Fotojornalismo, inclusão visual e
direitos humanos. Disponível em
http://novo.vivafavela.com.br/publique/
cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=460
MORETZSOHN, Silvia.
Pensando
jornalismo e cotidiano:
do senso comum ao senso crí
de Janeiro: Revan, 2007.
POLIVANOV, Beatriz Brandão.
Identidades na contemporaneidade:
uma reflexão sobre performances em
sites de redes sociais.
Centro de Pesquisa e Formação
jul. 2019.
RAMALHO, Cristiane.
Favela. R
io de Janeiro: Aeroplano,
2007.
RAMOS, Silvia; PAIVA, Anabela.
e violência:
tendências na cobertura da
criminalidade e segurança no Brasil.
Rio de Janeiro: Iuperj, 2007.
SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos.
Vozes ativas das favelas 2.0
Autorrepresentaçõe
s midiáticas numa
rede de comunicadores periféricos.
(Mestrado em História, Política e Bens
Culturais) Fundação Getúlio Vargas,
2014.
SIBILIA, Paula.
Autenticidade e
performance:
a construção de si como
personagem visível.
Revista Fronteiras
estudos midi
áticos
set./dez. 2015.
SIBILIA, Paula.
O “eu” dos blogs e das
webcams:
autor, narrador ou
personagem? IV Encontro dos Núcleos
de Pesquisa da Intercom, 2004.
VALLADARES, Licia do Prado.
invenção da favela.
Do mito de origem
à favela.com. Rio d
2005.
VENTURA, Zuenir.
São Paulo: Companhia das Letras,
1994.
ZALUAR, Alba;
ALVITO, Marcos.
século de favela.
Rio de Janeiro: FGV,
2006.
90
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e
Sociedade")
do senso comum ao senso crí
tico. Rio
de Janeiro: Revan, 2007.
POLIVANOV, Beatriz Brandão.
Identidades na contemporaneidade:
uma reflexão sobre performances em
sites de redes sociais.
Revista do
Centro de Pesquisa e Formação
, 8,
RAMALHO, Cristiane.
Notícias da
io de Janeiro: Aeroplano,
RAMOS, Silvia; PAIVA, Anabela.
Mídia
tendências na cobertura da
criminalidade e segurança no Brasil.
Rio de Janeiro: Iuperj, 2007.
SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos.
Vozes ativas das favelas 2.0
-
s midiáticas numa
rede de comunicadores periféricos.
(Mestrado em História, Política e Bens
Culturais) Fundação Getúlio Vargas,
Autenticidade e
a construção de si como
Revista Fronteiras
áticos
, Unisinos,
O “eu” dos blogs e das
autor, narrador ou
personagem? IV Encontro dos Núcleos
de Pesquisa da Intercom, 2004.
VALLADARES, Licia do Prado.
A
Do mito de origem
à favela.com. Rio d
e Janeiro: FGV,
VENTURA, Zuenir.
Cidade Partida.
São Paulo: Companhia das Letras,
ALVITO, Marcos.
Um
Rio de Janeiro: FGV,
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e pessoa com deficiência
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v
Resumo:
Nos últimos anos, a inclusão dos recursos de acessibilidade em produtos, projetos e
programas artísticos culturais tem se ampliado como exigência em políticas de fomento a fim de
garantir o direito cultural das pessoas com deficiência. Tais exigências são
no âmbito cultural de diferentes atores, pessoas com deficiência ou não, que atuam nas áreas da
produção artística e nos campos da cultura e dos direitos humanos. O cenário destas conquistas
compõe os processos políticos de democ
diversidade como eixo estruturante das políticas culturais contemporâneas, e ainda em desafio, o
fortalecimento da perspectiva da inclusão a partir do modelo social da deficiência. Neste contexto, a
efetivação da legislação no campo cultural na perspectiva da acessibilidade para o público de
pessoas com deficiência provocou deslocamentos de áreas e aproximação de saberes a fim de inter
1
Patrí
cia Silva Dorneles. Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
p
rofessora do Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Univ
Federal do Rio de Janeiro
UFRJ, Brasil. E
https://orcid.org/0000-0003-
3440
2
Claudia Reinoso
Araujo de Carvalho. Doutora em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz.
Professora do Departamento de
Federal do Rio de Janeiro -
UFRJ, Brasil. E
4105-9191
3
Eduardo Cardoso. Doutor em Design
professor da
Faculdade de Arquitetura da UFRGS,
https://orcid.org/0000-0002-
1202
4
Jefferson Fernandes Alves. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
UFRN, professor do Ce
ntro de Educação da UFRN, Brasil. E
- https://orcid.org/0000-0003-
0808
5
Miryam Bonadiu Pelosi. Do
utora em Educação pela Universid
UERJ, professora do Departamento de Terapia Ocupac
Universidade Federal do Rio de Janeiro
http://orcid.org/0000-0002-6109-
4296
Recebido em 30/04/20
20,aceito para publicação em 07
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e pessoa com deficiência
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v
10i19.42436
Patrícia Silva Dorneles
Cláudia Reinoso
Araujo de Carvalho
Eduardo Cardoso
Jefferson Fernandes Alves
Miryam
Nos últimos anos, a inclusão dos recursos de acessibilidade em produtos, projetos e
programas artísticos culturais tem se ampliado como exigência em políticas de fomento a fim de
garantir o direito cultural das pessoas com deficiência. Tais exigências são
resultado da luta política
no âmbito cultural de diferentes atores, pessoas com deficiência ou não, que atuam nas áreas da
produção artística e nos campos da cultura e dos direitos humanos. O cenário destas conquistas
compõe os processos políticos de democ
ratização da cultura, a inserção do direito cultural e da
diversidade como eixo estruturante das políticas culturais contemporâneas, e ainda em desafio, o
fortalecimento da perspectiva da inclusão a partir do modelo social da deficiência. Neste contexto, a
efetivação da legislação no campo cultural na perspectiva da acessibilidade para o público de
pessoas com deficiência provocou deslocamentos de áreas e aproximação de saberes a fim de inter
cia Silva Dorneles. Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
rofessora do Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Univ
UFRJ, Brasil. E
-
mail: patricia.dorneles.ufrj@gmail.com
3440
-7549
Araujo de Carvalho. Doutora em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz.
Professora do Departamento de
Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade
UFRJ, Brasil. E
-mail: claudiareinoso@ufrj.br -
https://orcid.org/0000
Eduardo Cardoso. Doutor em Design
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Faculdade de Arquitetura da UFRGS,
Brasil. E-
mail: eduardo.cardoso@ufrgs.br
1202
-1779
Jefferson Fernandes Alves. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
ntro de Educação da UFRN, Brasil. E
-
mail: jeffersonfernandes248@gmail.com
0808
-7115
utora em Educação pela Universid
ade do Estado do Rio de Janeiro
UERJ, professora do Departamento de Terapia Ocupac
ional da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Rio de Janeiro
- UFRJ, Brasil. E-
mail: miryampelosi@ufrj.br
4296
20,aceito para publicação em 07
/05/20
20, disponibilizado online em
01/09/2020.
91
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e pessoa com deficiência
Patrícia Silva Dorneles
1
Araujo de Carvalho
2
Eduardo Cardoso
3
Jefferson Fernandes Alves
4
Bonadiu Pelosi
5
Nos últimos anos, a inclusão dos recursos de acessibilidade em produtos, projetos e
programas artísticos culturais tem se ampliado como exigência em políticas de fomento a fim de
resultado da luta política
no âmbito cultural de diferentes atores, pessoas com deficiência ou não, que atuam nas áreas da
produção artística e nos campos da cultura e dos direitos humanos. O cenário destas conquistas
ratização da cultura, a inserção do direito cultural e da
diversidade como eixo estruturante das políticas culturais contemporâneas, e ainda em desafio, o
fortalecimento da perspectiva da inclusão a partir do modelo social da deficiência. Neste contexto, a
efetivação da legislação no campo cultural na perspectiva da acessibilidade para o público de
pessoas com deficiência provocou deslocamentos de áreas e aproximação de saberes a fim de inter
cia Silva Dorneles. Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
rofessora do Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Univ
ersidade
mail: patricia.dorneles.ufrj@gmail.com
-
Araujo de Carvalho. Doutora em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz.
Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade
https://orcid.org/0000
-0003-
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
- UFRGS,
mail: eduardo.cardoso@ufrgs.br
-
Jefferson Fernandes Alves. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
mail: jeffersonfernandes248@gmail.com
ade do Estado do Rio de Janeiro
-
ional da Faculdade de Medicina da
mail: miryampelosi@ufrj.br
-
20, disponibilizado online em
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
e transdisciplinar buscar soluções tecnológicas que qualifiquem a
público. Este artigo tem como objetivo apresentar um breve contexto da pauta da cidadania cultural
das pessoas com deficiência no âmbito das políticas culturais, o papel da universidade blica na
qualificação do campo,
a inserção dos recursos e serviços de tecnologia assistiva nos ambientes
culturais e os desafios da qualificação das políticas culturais para pessoas com deficiência.
Palavras Chaves: Cultura;
Políticas Culturais
Ciudadanía cultural, tecnología
Resumen: En
los últimos años, la
programas artísticos culturales se ha ampliado como un
garantizar el
derecho cultural de las personas con
la lucha política en
la esfera cultural de diferentes actores, personas con
trabajan en
las áreas de producción artística y en
El
escenario de estos logros compone
inserción del
derecho cultural y la
contemporáneas, y aún desafía
social de discapacidad.
En este contexto, la
la perspectiva de accesibi
lidad para el público de las personas con
desplazamiento de áreas y la
aproximación
interdisciplinarias que califiquen
tiene como objetivo presentar un breve contexto de la agenda de ciudadanía cultural de las personas
con
discapacidad dentro del alcance de las políticas culturales, el papel de la
la calificación del campo, la
inserción
desafíos de las políticas culturales
Palabras clave:
Cultura; Políticas culturales; Derechos humanos; Accesibilidad Cultural
Cultural citizenship, as
sistive technology and people with disabilities
Abstract:
In recent years, the inclusion of accessibility resources in products, projects and cultural
artistic programs has expanded as a requirement in development policies in order to guarantee the
cultural right of people with disabilities. Such demands are the result of the political struggle in the
cultural sphere of different actors, people with disabilities or not, who work in the areas of artistic
production and in the fields of culture and hum
the political processes of democratization of culture, the insertion of cultural law and diversity as a
structuring axis of contemporary cultural policies, and still in challenge the strengthening of
perspective of inclusion from the social model of disability. In this context, the implementation of
legislation in the cultural field in the perspective of accessibility for the public of people with disabilities
caused displacement of areas and appr
technological solutions that qualify the mediation and aesthetic enjoyment of this public. This article
aims to present a brief context of the agenda of cultural citizenship of people with dis
scope of cultural policies, the role of the public university in the qualification of the field, the insertion of
assistive technologies in cultural environments and the challenges of qualifying cultural policies for
people with disabilities.
Keywords
: Culture; Cultural Policies; Human Rights; Cultural Accessibility
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
e transdisciplinar buscar soluções tecnológicas que qualifiquem a
mediação e a fruição estética deste
público. Este artigo tem como objetivo apresentar um breve contexto da pauta da cidadania cultural
das pessoas com deficiência no âmbito das políticas culturais, o papel da universidade blica na
a inserção dos recursos e serviços de tecnologia assistiva nos ambientes
culturais e os desafios da qualificação das políticas culturais para pessoas com deficiência.
Políticas Culturais
; Direitos humanos;
Acessibilidade Cultural
Ciudadanía cultural, tecnología
asistencial y personas con discapacidad
los últimos años, la
inclusión de recursos de accesibilidad en
productos, proyectos y
programas artísticos culturales se ha ampliado como un
requisito en
las políticas de desarrollo para
derecho cultural de las personas con
discapacidad. Tales demandas son
la esfera cultural de diferentes actores, personas con
discapacidad o no, que
las áreas de producción artística y en
los campos de la cultura y los
escenario de estos logros compone
los
procesos políticos de democratización de la cultura, la
derecho cultural y la
diversidad como eje estructurante
de las políticas culturales
el fortalecimiento de la perspectiva de inclusión
En este contexto, la
implementación de la legislación
en
lidad para el público de las personas con
discapacidad
aproximación
del
conocimiento para encontrar soluciones tecnológicas
la
mediación y el disfrute estético de esta audiencia.
tiene como objetivo presentar un breve contexto de la agenda de ciudadanía cultural de las personas
discapacidad dentro del alcance de las políticas culturales, el papel de la
universidad pública en
inserción
de tecnologías de asistencia
en entornos culturales y los
desafíos de las políticas culturales
calificadas para personas con discapacidad.
Cultura; Políticas culturales; Derechos humanos; Accesibilidad Cultural
sistive technology and people with disabilities
In recent years, the inclusion of accessibility resources in products, projects and cultural
artistic programs has expanded as a requirement in development policies in order to guarantee the
cultural right of people with disabilities. Such demands are the result of the political struggle in the
cultural sphere of different actors, people with disabilities or not, who work in the areas of artistic
production and in the fields of culture and hum
an rights. The scenario of these achievements is part of
the political processes of democratization of culture, the insertion of cultural law and diversity as a
structuring axis of contemporary cultural policies, and still in challenge the strengthening of
perspective of inclusion from the social model of disability. In this context, the implementation of
legislation in the cultural field in the perspective of accessibility for the public of people with disabilities
caused displacement of areas and appr
oximation of knowledge in order to inter and trans disciplinary
technological solutions that qualify the mediation and aesthetic enjoyment of this public. This article
aims to present a brief context of the agenda of cultural citizenship of people with dis
scope of cultural policies, the role of the public university in the qualification of the field, the insertion of
assistive technologies in cultural environments and the challenges of qualifying cultural policies for
: Culture; Cultural Policies; Human Rights; Cultural Accessibility
.
92
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
mediação e a fruição estética deste
público. Este artigo tem como objetivo apresentar um breve contexto da pauta da cidadania cultural
das pessoas com deficiência no âmbito das políticas culturais, o papel da universidade blica na
a inserção dos recursos e serviços de tecnologia assistiva nos ambientes
culturais e os desafios da qualificação das políticas culturais para pessoas com deficiência.
Acessibilidade Cultural
.
productos, proyectos y
las políticas de desarrollo para
discapacidad. Tales demandas son
el resultado de
discapacidad o no, que
los campos de la cultura y los
derechos humanos.
procesos políticos de democratización de la cultura, la
de las políticas culturales
basada en el modelo
en
el campo cultural en
discapacidad
provocó el
conocimiento para encontrar soluciones tecnológicas
mediación y el disfrute estético de esta audiencia.
Este artículo
tiene como objetivo presentar un breve contexto de la agenda de ciudadanía cultural de las personas
universidad pública en
en entornos culturales y los
Cultura; Políticas culturales; Derechos humanos; Accesibilidad Cultural
.
In recent years, the inclusion of accessibility resources in products, projects and cultural
artistic programs has expanded as a requirement in development policies in order to guarantee the
cultural right of people with disabilities. Such demands are the result of the political struggle in the
cultural sphere of different actors, people with disabilities or not, who work in the areas of artistic
an rights. The scenario of these achievements is part of
the political processes of democratization of culture, the insertion of cultural law and diversity as a
structuring axis of contemporary cultural policies, and still in challenge the strengthening of
the
perspective of inclusion from the social model of disability. In this context, the implementation of
legislation in the cultural field in the perspective of accessibility for the public of people with disabilities
oximation of knowledge in order to inter and trans disciplinary
technological solutions that qualify the mediation and aesthetic enjoyment of this public. This article
aims to present a brief context of the agenda of cultural citizenship of people with dis
abilities within the
scope of cultural policies, the role of the public university in the qualification of the field, the insertion of
assistive technologies in cultural environments and the challenges of qualifying cultural policies for
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e pessoa com deficiência
Introdução
Como parte da Cidadania
Cultural, a pauta da acessibilidade
cultural para pessoas com deficiência
é recente junto às políticas, projetos,
programas e ações culturais. Ainda
assim, a legislação
brasileira mostra
se, de certa forma, abrangente na
garantia dos direitos culturais da
pessoa com deficiência, pois, verifica
se que o tema está presente em
diversos dispositivos constitucionais e
legais. Contudo, não obstante os
avanços na legislação, ain
observa certa disparidade entre o que
diz a lei e a prática, bem como
persistem os desafios atuais da
qualificação e fortalecimento da pauta
junto às políticas públicas, o que exige
um esforço intersetorial (DORNELES
CARVALHO;
MEFANO, 2019).
Enquant
o campo em
construção, a acessibilidade cultural
deve ser inicialmente compreendida
como o direito de vivenciar
experiências de fruição cultural com
igualdade de oportunidades para
diversos públicos, entre eles, pessoas
com deficiência e mobilidade reduzid
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e pessoa com deficiência
Como parte da Cidadania
Cultural, a pauta da acessibilidade
cultural para pessoas com deficiência
é recente junto às políticas, projetos,
programas e ações culturais. Ainda
brasileira mostra
-
se, de certa forma, abrangente na
garantia dos direitos culturais da
pessoa com deficiência, pois, verifica
-
se que o tema está presente em
diversos dispositivos constitucionais e
legais. Contudo, não obstante os
avanços na legislação, ain
da se
observa certa disparidade entre o que
diz a lei e a prática, bem como
persistem os desafios atuais da
qualificação e fortalecimento da pauta
junto às políticas públicas, o que exige
um esforço intersetorial (DORNELES
;
MEFANO, 2019).
o campo em
construção, a acessibilidade cultural
deve ser inicialmente compreendida
como o direito de vivenciar
experiências de fruição cultural com
igualdade de oportunidades para
diversos públicos, entre eles, pessoas
com deficiência e mobilidade reduzid
a.
Para se promover a inclusão de
pessoas com deficiência nos espaços
culturais é necessário garantir que
qualquer pessoa que tenha o desejo
de se beneficiar de tais equipamentos
não seja excluída por conta de
diferentes formas de locomoção,
cognição e per
cepção. Desta forma, a
“acessibilidade nos espaços culturais
pressupõe o desenvolvimento de
novas estratégias de mediação, nas
quais todos os sentidos inerentes à
percepção sejam envolvidos”
(SARRAF, 2012, p.68).
Este artigo tem como objetivo
apresentar e
discutir a pauta da
cidadania cultural das pessoas com
deficiência no âmbito das políticas
culturais. Para isso, apresenta
breve contexto da construção histórica
recente dessa pauta, aborda
papel da universidade pública na
qualificação do campo
a inserção dos recursos e serviços de
tecnologia assistiva em ambientes e
produtos culturais, bem como os
desafios inerentes à qualificação das
políticas culturais para pessoas com
deficiência.
93
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e pessoa com deficiência
Para se promover a inclusão de
pessoas com deficiência nos espaços
culturais é necessário garantir que
qualquer pessoa que tenha o desejo
de se beneficiar de tais equipamentos
não seja excluída por conta de
diferentes formas de locomoção,
cepção. Desta forma, a
“acessibilidade nos espaços culturais
pressupõe o desenvolvimento de
novas estratégias de mediação, nas
quais todos os sentidos inerentes à
percepção sejam envolvidos”
(SARRAF, 2012, p.68).
Este artigo tem como objetivo
discutir a pauta da
cidadania cultural das pessoas com
deficiência no âmbito das políticas
culturais. Para isso, apresenta
-se um
breve contexto da construção histórica
recente dessa pauta, aborda
-se o
papel da universidade pública na
qualificação do campo
em construção,
a inserção dos recursos e serviços de
tecnologia assistiva em ambientes e
produtos culturais, bem como os
desafios inerentes à qualificação das
políticas culturais para pessoas com
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
Cidadania cultural das pessoas com
deficiência
no âmbito das políticas
culturais
Em outubro 2008, a então
Secretaria de Identidade e Diversidade
Cultural –
SID, do Ministério da Cultura
-
MinC realizou, em parceria com a
Fundação Oswaldo Cruz
-
Oficina Nacional de Indicação de
Políticas Púb
licas Culturais para
Pessoas com Deficiência. Tal iniciativa
representou o processo de
institucionalização da política de
acessibilidade cultural junto ao
governo federal.
Embora, no âmbito do MinC, por
meio da Fundação Nacional das Artes
- FUNARTE- RJ
existisse uma ação
de fomento e difusão da produção
estética, artística e cultural de pessoas
com deficiência, em parceria com a
organização brasileira Arte sem
Barreiras, foi na referida
oficinapromovida pela SID que a pauta
acessibilidade no sentido de
cultural da pessoa com deficiência à
fruição estética surgiu como demanda
do movimento social para que tal
direito fosse institucionalizado junto às
políticas públicas de cultura
(DORNELES;
CARVALHO
2019). Foi justamente a pauta da
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
Cidadania cultural das pessoas com
no âmbito das políticas
Em outubro 2008, a então
Secretaria de Identidade e Diversidade
SID, do Ministério da Cultura
MinC realizou, em parceria com a
-
Fiocruz, a
Oficina Nacional de Indicação de
licas Culturais para
Pessoas com Deficiência. Tal iniciativa
representou o processo de
institucionalização da política de
acessibilidade cultural junto ao
Embora, no âmbito do MinC, por
meio da Fundação Nacional das Artes
existisse uma ação
de fomento e difusão da produção
estética, artística e cultural de pessoas
com deficiência, em parceria com a
organização brasileira Arte sem
Barreiras, foi na referida
oficinapromovida pela SID que a pauta
acessibilidade no sentido de
direito
cultural da pessoa com deficiência à
fruição estética surgiu como demanda
do movimento social para que tal
direito fosse institucionalizado junto às
políticas públicas de cultura
CARVALHO
; MEFANO,
2019). Foi justamente a pauta da
acessib
ilidade que provocou os
deslocamentose aproximações entre
as áreas e saberes a fim de a
buscar,inter e transdisciplinarmente, as
soluções tecnológicas visando
qualificar a mediação e a fruição
estética deste público.
A SID foi constituída em 2004
com o obj
etivo de elaborar e
implementar uma política que
assegurasse a todos os segmentos da
sociedade a possibilidade de produzir
e difundir suas manifestações culturais
em diferentes escalas. A realização de
oficinas temáticas junto a alguns
segmentos da diversi
compôs um conjunto de iniciativas
metodológicas de aproximação com o
público alvo da secretaria e suas
demandas para a
s políticas culturais.
Embora o Brasil tenha se tornado
signatário da Convenção da
Diversidade Cultural desde 2007,
sabe-se
que a partir de 2003, na
gestão do ministro da cultura Gilberto
Gil, o governo brasileiro desenvolveu
uma política de cultura baseada no
conceito amplo de cultura dedicado,
então, a toda a sociedade e rompendo
com a perspectiva das gestões
anteriores que e
struturava
atender às artes e outros segmentos
94
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
ilidade que provocou os
deslocamentose aproximações entre
as áreas e saberes a fim de a
buscar,inter e transdisciplinarmente, as
soluções tecnológicas visando
qualificar a mediação e a fruição
estética deste público.
A SID foi constituída em 2004
etivo de elaborar e
implementar uma política que
assegurasse a todos os segmentos da
sociedade a possibilidade de produzir
e difundir suas manifestações culturais
em diferentes escalas. A realização de
oficinas temáticas junto a alguns
segmentos da diversi
dade cultural
compôs um conjunto de iniciativas
metodológicas de aproximação com o
público alvo da secretaria e suas
s políticas culturais.
Embora o Brasil tenha se tornado
signatário da Convenção da
Diversidade Cultural desde 2007,
que a partir de 2003, na
gestão do ministro da cultura Gilberto
Gil, o governo brasileiro desenvolveu
uma política de cultura baseada no
conceito amplo de cultura dedicado,
então, a toda a sociedade e rompendo
com a perspectiva das gestões
struturava
-se para
atender às artes e outros segmentos
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
da cultura não atendidos pelo
mecanismo de renúncia fiscal (DUPIN,
2015).
Nesta perspectiva, a Oficina
Nacional de Indicação de Políticas
Públicas Culturais para a Inclusão de
Pessoas com Deficiência
foi realizada
com a participação de mais de 60
pessoas envolvidas com o tema, de
diferentes regiões do país e de
representatividade institucional,
composta por colaboradores ativos,
pessoas com deficiência ou não, que
atuavam, no período, no campo da
produ
ção artística de pessoas com
deficiência, ou, que estavam
envolvidas com a temática da
acessibilidade cultural no que diz
respeito ao direito da fruição estética
da pessoa com deficiência em relação
aos diferentes produtos culturais. Por
ser uma oficin
a com o princípio de
escutar o setor (DUPIN
sistematizar por meio de grupos de
trabalhos ações e diretrizes
visandoorientar a constituição de uma
política cultural para o mesmo, o grupo
participante sugeriu que a publicação
do relatório final e a
própria oficina
fosse denominada com o lema de luta
das pessoas com deficiência, “Nada
sobre nós sem nós”, como tal é
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
da cultura não atendidos pelo
mecanismo de renúncia fiscal (DUPIN,
Nesta perspectiva, a Oficina
Nacional de Indicação de Políticas
Públicas Culturais para a Inclusão de
foi realizada
com a participação de mais de 60
pessoas envolvidas com o tema, de
diferentes regiões do país e de
representatividade institucional,
composta por colaboradores ativos,
pessoas com deficiência ou não, que
atuavam, no período, no campo da
ção artística de pessoas com
deficiência, ou, que estavam
envolvidas com a temática da
acessibilidade cultural no que diz
respeito ao direito da fruição estética
da pessoa com deficiência em relação
aos diferentes produtos culturais. Por
a com o princípio de
escutar o setor (DUPIN
, 2015) e
sistematizar por meio de grupos de
trabalhos ações e diretrizes
visandoorientar a constituição de uma
política cultural para o mesmo, o grupo
participante sugeriu que a publicação
própria oficina
fosse denominada com o lema de luta
das pessoas com deficiência, “Nada
sobre nós sem nós”, como tal é
reconhecida até hoje. Cabe destacar
que a oficina foi realizada no mesmo
ano que o Brasil se tornou signatário
da Convenção dos Direito
Pessoas com Deficiência, e a mesma
tornou-
se um dos resultados dos
compromissos do MinC à demanda
latente da sociedade civil que atuava
no campo da produção e difusão
artística e cultural das pessoas com
deficiência.
É importante ressaltar a
significat
iva contribuição do grupo
articulado do movimento Artes sem
Barreiras no que se refere a
sistematização e articulação da
demanda da sociedade civil em
relação à pauta de uma política
cultural para a produção estética e
artística das pessoas com deficiência
incluindo a pauta da acessibilidade
cultural junto ao
MinC
O “Arte sem Barreiras”, nos
anos 90, reuniu um grupo de artistas e
profissionais com ou sem deficiência
de diferentes áreas das artes, e se
constituiu como
um trabalho articulado
em rede nacional de forma voluntária
com o objetivo de mapear iniciativas e
produções artísticas para articular
fomento, difusão e qualificação
profissional dos grupos e indivíduos
95
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
reconhecida até hoje. Cabe destacar
que a oficina foi realizada no mesmo
ano que o Brasil se tornou signatário
da Convenção dos Direito
s das
Pessoas com Deficiência, e a mesma
se um dos resultados dos
compromissos do MinC à demanda
latente da sociedade civil que atuava
no campo da produção e difusão
artística e cultural das pessoas com
É importante ressaltar a
iva contribuição do grupo
articulado do movimento Artes sem
Barreiras no que se refere a
sistematização e articulação da
demanda da sociedade civil em
relação à pauta de uma política
cultural para a produção estética e
artística das pessoas com deficiência
,
incluindo a pauta da acessibilidade
MinC
.
O “Arte sem Barreiras”, nos
anos 90, reuniu um grupo de artistas e
profissionais com ou sem deficiência
de diferentes áreas das artes, e se
um trabalho articulado
em rede nacional de forma voluntária
com o objetivo de mapear iniciativas e
produções artísticas para articular
fomento, difusão e qualificação
profissional dos grupos e indivíduos
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
envolvidos com o direito cultural das
pessoas com d
eficiência. Esta rede,
inicialmente foi fomentada a partir da
Fundação Nacional das Artes
FUNARTE/RJ através de uma figura
preciosa ao grupo, senhora Albertina
Brasil. Funcionária de carreira da
instituição, Albertina, sensibilizada por
experiências inte
rnacionais da
associação Very Special
iniciou um trabalho no Brasil instituindo
na ocasião o Programa Arte sem
Barreiras na FUNARTE/RJ em
parceria com diferentes atores do
campo da produção cultural e artística
junto a pessoas com deficiência
(D
ORNELES; CARVALHO; SILVA;
MEFANO, 2018). O
umprograma criado em 1974 pela Sra.
Jean Kennedy Smith
no Kennedy
Center Performing
Arts, em
Washington, D.C., com o objetivo de
possibilitar o desenvolvimento da
capacidade de criação da pessoa com
deficiência.
O Programa Arte sem Barreiras
se desenvolveu com pouco apoio do
MinC, mas encontrou algum
acolhimento nas iniciativas do
Ministério da Educação
relação a promoção dos encontros
nacionais de arte-
educação. Nestes
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
envolvidos com o direito cultural das
eficiência. Esta rede,
inicialmente foi fomentada a partir da
Fundação Nacional das Artes
FUNARTE/RJ através de uma figura
preciosa ao grupo, senhora Albertina
Brasil. Funcionária de carreira da
instituição, Albertina, sensibilizada por
rnacionais da
Arts - VSA
iniciou um trabalho no Brasil instituindo
na ocasião o Programa Arte sem
Barreiras na FUNARTE/RJ em
parceria com diferentes atores do
campo da produção cultural e artística
junto a pessoas com deficiência
ORNELES; CARVALHO; SILVA;
VSA é
umprograma criado em 1974 pela Sra.
no Kennedy
Arts, em
Washington, D.C., com o objetivo de
possibilitar o desenvolvimento da
capacidade de criação da pessoa com
O Programa Arte sem Barreiras
se desenvolveu com pouco apoio do
MinC, mas encontrou algum
acolhimento nas iniciativas do
MEC em
relação a promoção dos encontros
educação. Nestes
encontros, Albertina e colegas
FUNARTE com um considerável grupo
de representantes de diferentes
entidades de arte e da educação
inclusiva constituem o comitê no Brasil
do Programa Very
Special
comitê, associado à
rede internacional
do mesmo nomefoi formado em 1998,
e rea
lizou em maio do mesmo ano em
parceria com o Serviço Social do
Comércio -
SESC/SP o “1º Festival
Latino-
Americano de Artes sem
Barreiras" e o "1º Congresso Latino
Americano de Arte
Inclusiva". A partir de então uma
agenda intensa e de articulação
nacional foi desenvolvida com o
objetivo de articulação, capacitação e
difusão em prol da valorização da
produção estético artística das
pessoas com deficiência no Brasil.
O resultado potente deste
trabalho, associado às orientações dos
grupos internacion
ais foi a formação
de representações regionais do Arte
sem Barreiras. As representações
regionais da associação serviram de
base de mobilização e articulação local
e nacional de diferentes intercâmbios
deste trabalho em rede e da realização
dos Festivais A
rtes sem Barreiras.
Como resultados da atuação deste
96
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
encontros, Albertina e colegas
da
FUNARTE com um considerável grupo
de representantes de diferentes
entidades de arte e da educação
inclusiva constituem o comitê no Brasil
Special
Arts. Este
rede internacional
do mesmo nomefoi formado em 1998,
lizou em maio do mesmo ano em
parceria com o Serviço Social do
SESC/SP o “1º Festival
Americano de Artes sem
Barreiras" e o "1º Congresso Latino
-
Americano de Arte
-Educação
Inclusiva". A partir de então uma
agenda intensa e de articulação
nacional foi desenvolvida com o
objetivo de articulação, capacitação e
difusão em prol da valorização da
produção estético artística das
pessoas com deficiência no Brasil.
O resultado potente deste
trabalho, associado às orientações dos
ais foi a formação
de representações regionais do Arte
sem Barreiras. As representações
regionais da associação serviram de
base de mobilização e articulação local
e nacional de diferentes intercâmbios
deste trabalho em rede e da realização
rtes sem Barreiras.
Como resultados da atuação deste
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
grupo, entre tantos outros, observa
a visibilidade da produção estética e
artística da pessoa com deficiência, a
rica troca de experiências e a
qualidade do trabalho em rede, o
fortalecimento do campo
cidadania cultural das pessoas com
deficiência, a construção da rede
nacional Artes sem Barreiras e seus
núcleos específicos de dança, teatro,
artes visuais entre outros. O legado
cultural e artístico para a diversidade
da cultura brasileira,
identificado na
contribuição da produção estética e
artística das pessoas com deficiência
nas políticas culturais, se deve a este
grupo e ao seu trabalho.
A separação institucional da
ONG Artes sem Barreiras com a
FUNARTE/RJ ocorreu nos anos 2000.
O grupo
Arte sem Barreiras buscou
novos apoios para dar continuidade às
suas ações. A gestão da
FUNARTE/RJ do ano de 2006,
atendendo as demandas do grupo e
de outros militantes da pauta, realizou
com o apoio da Caixa Econômica
Federal o edital Além dos Limites que
apoiou iniciativas, indivíduos,
promoveu debates e a qualificação e
circulação dos projetos artísticos
premiados. No fim de 2007, a
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
grupo, entre tantos outros, observa
-se
a visibilidade da produção estética e
artística da pessoa com deficiência, a
rica troca de experiências e a
qualidade do trabalho em rede, o
político da
cidadania cultural das pessoas com
deficiência, a construção da rede
nacional Artes sem Barreiras e seus
núcleos específicos de dança, teatro,
artes visuais entre outros. O legado
cultural e artístico para a diversidade
identificado na
contribuição da produção estética e
artística das pessoas com deficiência
nas políticas culturais, se deve a este
A separação institucional da
ONG Artes sem Barreiras com a
FUNARTE/RJ ocorreu nos anos 2000.
Arte sem Barreiras buscou
novos apoios para dar continuidade às
suas ações. A gestão da
FUNARTE/RJ do ano de 2006,
atendendo as demandas do grupo e
de outros militantes da pauta, realizou
com o apoio da Caixa Econômica
Federal o edital Além dos Limites que
apoiou iniciativas, indivíduos,
promoveu debates e a qualificação e
circulação dos projetos artísticos
premiados. No fim de 2007, a
FUNARTE passou a política de cultura
para pessoas com deficiência para
SID. Umas das razões da
transferência da pauta para
que esta secretaria iniciou uma política
nacional de cultura dedicada às ações
e expressões culturais e artísticas que
se encontravam no grupo das pessoas
com sofrimento psíquico e ou
transtorno mental. A SID em parceria
com a FIOCRUZ, realizou em
Oficina Nacional de Políticas Culturais
para pessoas em sofrimento psíquico
e vulnerabilidade social, chamada
Loucos pela Diversidade. Em 2008, as
duas instituições lançaram o edital de
premiação “Loucos pela Diversidade”,
que homenageou o autor do
Bicho de Sete Cabeças
Carrano.
No exercício das políticas
públicas culturais neste período se
observava ainda um olhar restrito
sobre acessibilidade cultural para
pessoas com deficiência. A
perspectiva limitada reduzindoà
acessibilida
de física do espaço e não
do produto ou objeto cultural foi
rompida a partir da Oficina “Nada
sobre nós sem nós”. A oficina teve
como objetivo escutar, conhecer e
sistematizar as experiências no campo
97
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
FUNARTE passou a política de cultura
para pessoas com deficiência para
SID. Umas das razões da
transferência da pauta para
a SID é
que esta secretaria iniciou uma política
nacional de cultura dedicada às ações
e expressões culturais e artísticas que
se encontravam no grupo das pessoas
com sofrimento psíquico e ou
transtorno mental. A SID em parceria
com a FIOCRUZ, realizou em
2007 a
Oficina Nacional de Políticas Culturais
para pessoas em sofrimento psíquico
e vulnerabilidade social, chamada
Loucos pela Diversidade. Em 2008, as
duas instituições lançaram o edital de
premiação “Loucos pela Diversidade”,
que homenageou o autor do
livro
Bicho de Sete Cabeças
Austregésilo
No exercício das políticas
públicas culturais neste período se
observava ainda um olhar restrito
sobre acessibilidade cultural para
pessoas com deficiência. A
perspectiva limitada reduzindoà
de física do espaço e não
do produto ou objeto cultural foi
rompida a partir da Oficina “Nada
sobre nós sem nós”. A oficina teve
como objetivo escutar, conhecer e
sistematizar as experiências no campo
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
da interface de políticas e produção
estética, artístic
a e cultural das/e para
as pessoas com deficiência; construir,
a partir dos Grupos de Trabalho sobre
o fomento, patrimônio, difusão e
acessibilidade, ações e diretrizes
orientadoras para uma política pública
cultural para pessoas com deficiência.
A inclusã
o do GT Acessibilidade foi o
que fez a diferença desta oficina em
relação às outras organizadas pela
SID para construção de políticas
públicas culturais. Entre os resultados,
destacaram-
se a ampliação e o
fortalecimento do debate sobre o tema
e o direito d
a cidadania cultural da
pessoa com deficiência nas
conferências municipais, estaduais e
nacional de cultura. (DORNELES
CARVALHO; SILVA, 2017)
Somando as ações e diretrizes
para uma política blica cultural para
pessoas com deficiência, registra
também
na publicação dos resultados
da Oficina
Nada sobre nós
nota técnica 001/2009 que
apresentou: a necessidade de
incorporação da política de
acessibilidade na Lei Rouanet, nos
sites e editais do MinC de forma geral;
a importância da implementação de
uma política de livro acessível; a
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
da interface de políticas e produção
a e cultural das/e para
as pessoas com deficiência; construir,
a partir dos Grupos de Trabalho sobre
o fomento, patrimônio, difusão e
acessibilidade, ações e diretrizes
orientadoras para uma política pública
cultural para pessoas com deficiência.
o do GT Acessibilidade foi o
que fez a diferença desta oficina em
relação às outras organizadas pela
SID para construção de políticas
públicas culturais. Entre os resultados,
se a ampliação e o
fortalecimento do debate sobre o tema
a cidadania cultural da
pessoa com deficiência nas
conferências municipais, estaduais e
nacional de cultura. (DORNELES
;
Somando as ações e diretrizes
para uma política blica cultural para
pessoas com deficiência, registra
-se
na publicação dos resultados
Nada sobre nós
sem nós, a
nota técnica 001/2009 que
apresentou: a necessidade de
incorporação da política de
acessibilidade na Lei Rouanet, nos
sites e editais do MinC de forma geral;
a importância da implementação de
uma política de livro acessível; a
incorporação da acessibilidade nas
produções culturais
diálogo com os outros ministérios para
ampliar a articulação interinstitucional
para a implementação das políticas de
fomento, difusão, patrimônio e
acessibilidade junto às produções
estéticas e artísticas das pessoas com
deficiência. Percebeu
necessidade de ampliar o conceito de
acessibilidade cultural a então
utilizado pelo MinC que se reduzia a
perspectiva de gratuidade e de valores
acessíveis para espetáculos e outros
produtos culturais beneficiados pela
Lei Rouanet. Assim, se
do MinC a partir da oficina, o
compromisso de orientar e fomentar a
aplicabilidade de acessibilidade
cultural nas políticas e gestões
públicas culturais, no que diz respeito
ao direito de fruição estética,
ampliando os formatos de
acessibilid
ade dos diversos produtos
culturais.
A partir da oficina, registraram
se novas iniciativas do MinC em
relação a acessibilidade cultural. Em
2010 a Secretaria do Audiovisual,
através da Programadora Brasil incluiu
30 filmes com audiodescrição que
fazem par
te dos kits distribuídos pelo
98
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
incorporação da acessibilidade nas
produções culturais
do órgão e o
diálogo com os outros ministérios para
ampliar a articulação interinstitucional
para a implementação das políticas de
fomento, difusão, patrimônio e
acessibilidade junto às produções
estéticas e artísticas das pessoas com
deficiência. Percebeu
-se também a
necessidade de ampliar o conceito de
acessibilidade cultural a então
utilizado pelo MinC que se reduzia a
perspectiva de gratuidade e de valores
acessíveis para espetáculos e outros
produtos culturais beneficiados pela
Lei Rouanet. Assim, se
torna função
do MinC a partir da oficina, o
compromisso de orientar e fomentar a
aplicabilidade de acessibilidade
cultural nas políticas e gestões
públicas culturais, no que diz respeito
ao direito de fruição estética,
ampliando os formatos de
ade dos diversos produtos
A partir da oficina, registraram
-
se novas iniciativas do MinC em
relação a acessibilidade cultural. Em
2010 a Secretaria do Audiovisual,
através da Programadora Brasil incluiu
30 filmes com audiodescrição que
te dos kits distribuídos pelo
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
programa. No ano seguinte, o MinC
lançou o edital Prêmio Arte e Cultura
Inclusiva Albertina Brasil para 30
iniciativas culturais. Em 2012 o
Instituto Brasileiro de Museus
lançou o Cadernos Museológicos 2
com o tema esp
ecial Acessibilidade a
Museus.
Em 2013 a pauta da
acessibilidade cultural tornou
fortalecida. O MinC publicou a
Instrução Normativa -
IN da Lei
Rouanet que previu medidas de
acessibilidade cultural. Hoje novas INs
na lei
m qualificando a inserção
recursos de acessibilidade nos
projetos que pretendem ser
beneficiados pela lei. No mesmo ano,
em parceria com a UFRJ o MinC
realizou a primeira turma do Curso de
Especialização em
Acessibilidade
Cultural em um projeto que se estende
por quase uma déc
ada, com diferentes
iniciativas de formação e difusão da
pauta. Ainda em 2013 ocorreu a
inclusão da rubrica de acessibilidade
cultural nos editais dos Pontos de
Cultura, de valor de 2% à 5% do total
do projeto cultural do Ponto, e em 19
de setembro do mesm
o ano lançou
o Dia Nacional do Teatro Acessível
pelo então Deputado Federal Jean
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
programa. No ano seguinte, o MinC
lançou o edital Prêmio Arte e Cultura
Inclusiva Albertina Brasil para 30
iniciativas culturais. Em 2012 o
Instituto Brasileiro de Museus
- IBRAM
lançou o Cadernos Museológicos 2
ecial Acessibilidade a
Em 2013 a pauta da
acessibilidade cultural tornou
-se mais
fortalecida. O MinC publicou a
IN da Lei
Rouanet que previu medidas de
acessibilidade cultural. Hoje novas INs
m qualificando a inserção
dos
recursos de acessibilidade nos
projetos que pretendem ser
beneficiados pela lei. No mesmo ano,
em parceria com a UFRJ o MinC
realizou a primeira turma do Curso de
Acessibilidade
Cultural em um projeto que se estende
ada, com diferentes
iniciativas de formação e difusão da
pauta. Ainda em 2013 ocorreu a
inclusão da rubrica de acessibilidade
cultural nos editais dos Pontos de
Cultura, de valor de 2% à 5% do total
do projeto cultural do Ponto, e em 19
o ano lançou
-se
o Dia Nacional do Teatro Acessível
pelo então Deputado Federal Jean
Willys
em parceria com a Escola de
Gente/ RJ (Projeto de Lei 129/2013). A
criação do Grupo de Trabalho
Interministerial de Acessibilidade: GTI
SCDC/MinC e Secretaria de
Humanos d
a Presidência da República
SDH/
PR; e o edital projeto
Acessibilidade em Bibliotecas
Públicas, parceria MinC e a instituição
Mais Diferença também foram
desenvolvidos no mesmo período.
No ano de 2014 a Agência
Nacional de Cinema
estabeleceu a Instrução Normativa
116 obrigando a inclusão de recursos
de acessibilidade nas cópias das obras
audiovisuais fomentadas com recursos
públicos federais. Também foi previsto
que todos os projetos apresentados à
agência que utilizassem rec
renúncia fiscal ou do Prêmio Adicional
de Renda deveriam incluir os recursos
de legendagem, legendagem
descritiva, audiodescrição e Libras.
Esta medida ocasionou que
praticamente a totalidade do conteúdo
audiovisual brasileiro voltado ao
segmento
de exibição cinematográfica
passasse a contar com os recursos de
acessibilidade. Cabe destacar que a
Ancine, desde 2015, passou a incluir
em editais que empregam recursos do
99
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
em parceria com a Escola de
Gente/ RJ (Projeto de Lei 129/2013). A
criação do Grupo de Trabalho
Interministerial de Acessibilidade: GTI
-
SCDC/MinC e Secretaria de
Direitos
a Presidência da República
PR; e o edital projeto
Acessibilidade em Bibliotecas
Públicas, parceria MinC e a instituição
Mais Diferença também foram
desenvolvidos no mesmo período.
No ano de 2014 a Agência
Nacional de Cinema
- Ancine
estabeleceu a Instrução Normativa
- IN
116 obrigando a inclusão de recursos
de acessibilidade nas cópias das obras
audiovisuais fomentadas com recursos
públicos federais. Também foi previsto
que todos os projetos apresentados à
agência que utilizassem rec
ursos de
renúncia fiscal ou do Prêmio Adicional
de Renda deveriam incluir os recursos
de legendagem, legendagem
descritiva, audiodescrição e Libras.
Esta medida ocasionou que
praticamente a totalidade do conteúdo
audiovisual brasileiro voltado ao
de exibição cinematográfica
passasse a contar com os recursos de
acessibilidade. Cabe destacar que a
Ancine, desde 2015, passou a incluir
em editais que empregam recursos do
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
Fundo Setorial do Audiovisual a
obrigatoriedade dos recursos de
acessibilidade. Ne
sse sentido as INs
132/2017 e 145/2018 qualificaram a IN
116/2014.
Em 2015, o Brasil aprovou o
Tratado de Marr
aqueche
qualificada prevista no §do artigo
da Constituição Federal, conforme o
Projeto de Decreto Legislativo
347/2015 do Senado F
(57/2015, na Câmara dos Deputados).
O Tratado de Marr
aqueche tem como
objetivo facilitar o acesso a obras
publicadas a pessoas cegas, com
deficiência visual ou com outras
dificuldades para ter acesso ao texto
impresso.
A Secretaria de Audiovisual do
MinC lançou em 2016 em parceria
com a Universidade de Brasília
e parceiros, o Guia de Produções
Audiovisuais Acessíveis com o objetivo
de trazer parâmetros para os recursos
de acessibilidade para que todos os
envolvidos com a produção
audiovisual pu
dessem seguir um
padrão de qualidade de maneira a
atender a comunidade de pessoas
com deficiência visual e auditiva.
No âmbito dos Museus não
até o momento uma orientação
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
Fundo Setorial do Audiovisual a
obrigatoriedade dos recursos de
sse sentido as INs
132/2017 e 145/2018 qualificaram a IN
Em 2015, o Brasil aprovou o
aqueche
na forma
qualificada prevista no §do artigo
da Constituição Federal, conforme o
Projeto de Decreto Legislativo
347/2015 do Senado F
ederal
(57/2015, na Câmara dos Deputados).
aqueche tem como
objetivo facilitar o acesso a obras
publicadas a pessoas cegas, com
deficiência visual ou com outras
dificuldades para ter acesso ao texto
A Secretaria de Audiovisual do
MinC lançou em 2016 em parceria
com a Universidade de Brasília
- UnB
e parceiros, o Guia de Produções
Audiovisuais Acessíveis com o objetivo
de trazer parâmetros para os recursos
de acessibilidade para que todos os
envolvidos com a produção
dessem seguir um
padrão de qualidade de maneira a
atender a comunidade de pessoas
com deficiência visual e auditiva.
No âmbito dos Museus não
até o momento uma orientação
específica, mas observa
crescente de ações acessíveis nestes
ambientes cultu
rais. As iniciativas se
baseiam nas orientações do Estatuto
dos Museus -
lei 11904/2009 que
orientam a universalidade e a
importância de um plano museológico
de acessibilidade, e a IN IPHAN
1/2003.
A pauta da acessibilidade
cultural é destacada no Plano
de Cultura
PNCdesde 2010, através
da meta 29, que nos desafia a atingir
“100% de bibliotecas públicas,
museus, cinemas, teatros, arquivos
públicos e centros culturais atendendo
aos requisitos legais de acessibilidade
e desenvolvendo ações de pr
da fruição cultural por parte das
pessoas com deficiência”.Sobre o
acompanhamento do PNC observa
que os Museus t
ê
quesitos de acessibilidade física
(MINISTÉRIO DA CULTURA, 2010).
Atualmente Secretaria de Cidadania e
Diversidade Cultu
ral
realizado algumas iniciativas que
contemplam a população com
deficiência, como o caso do Edital de
Cultura Populares de 2018 e o apoio
ao VI e VII Encontro Nacional de
Acessibilidade Cultural
100
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
específica, mas observa
-se o
crescente de ações acessíveis nestes
rais. As iniciativas se
baseiam nas orientações do Estatuto
lei 11904/2009 que
orientam a universalidade e a
importância de um plano museológico
de acessibilidade, e a IN IPHAN
A pauta da acessibilidade
cultural é destacada no Plano
Nacional
PNCdesde 2010, através
da meta 29, que nos desafia a atingir
“100% de bibliotecas públicas,
museus, cinemas, teatros, arquivos
públicos e centros culturais atendendo
aos requisitos legais de acessibilidade
e desenvolvendo ações de pr
omoção
da fruição cultural por parte das
pessoas com deficiência”.Sobre o
acompanhamento do PNC observa
-se
ê
m ampliado os
quesitos de acessibilidade física
(MINISTÉRIO DA CULTURA, 2010).
Atualmente Secretaria de Cidadania e
ral
- SCDC tem
realizado algumas iniciativas que
contemplam a população com
deficiência, como o caso do Edital de
Cultura Populares de 2018 e o apoio
ao VI e VII Encontro Nacional de
Acessibilidade Cultural
- ENAC.
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
Na atual conjuntura política
brasileira,
observamos desde 2016
uma situação bastante adversa para a
cultura,
bem como as questões dos
direitos das pessoas com deficiência,
implicando em uma fragilidade na
continuidade e no desmonte de
importantes ações.
As conquistas
anteriores que representam um
processo, ainda permanecem vivas na
pauta dos atores que atuam em prol
da cidadania cultural das pessoas com
deficiência.
Contribuições da Universidade
Pública para a Cidadania Cultural
das Pessoas Com Deficiência
Como parte importante do
esforço intersetorial da pauta da
promoção da acessibilidade cultural
encontra-
se a universidade, que pode
mobilizar todo ciclo dinâmico da
cultura, dada a sua complexidade. A
universidade, no âmbito da cultura,
pode atuar na: cria
ção, transmissão,
difusão, distribuição, veiculação,
preservação, consumo, pesquisa,
crítica, curadoria, organização e
legitimação.
Nas Universidades as
manifestações culturais e a expressão
de linguagens artísticas das mais
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
Na atual conjuntura política
observamos desde 2016
uma situação bastante adversa para a
bem como as questões dos
direitos das pessoas com deficiência,
implicando em uma fragilidade na
continuidade e no desmonte de
As conquistas
anteriores que representam um
processo, ainda permanecem vivas na
pauta dos atores que atuam em prol
da cidadania cultural das pessoas com
Contribuições da Universidade
Pública para a Cidadania Cultural
das Pessoas Com Deficiência
Como parte importante do
esforço intersetorial da pauta da
promoção da acessibilidade cultural
se a universidade, que pode
mobilizar todo ciclo dinâmico da
cultura, dada a sua complexidade. A
universidade, no âmbito da cultura,
ção, transmissão,
difusão, distribuição, veiculação,
preservação, consumo, pesquisa,
crítica, curadoria, organização e
Nas Universidades as
manifestações culturais e a expressão
de linguagens artísticas das mais
variadas encontram espaço,
conferindo, de certa maneira, um
terreno no qual o pensamento reflexivo
costuma envolver muitas vezes a
formação de sujeitos com um olhar
mais permeável à diversidade,
diferença, à
inclusão e ao acolhimento
de visões alternativ
as sobre o mundo
(FRANÇA JUNIOR
RODRIGUES, 2018). No entanto, a
atuação das universidades, em se
tratando das ações culturais, o têm
se dado em todo o seu potencial
devido ao desconhecimento,
desarticulação e redundância das
ações (RUBIM, 2019). P
papel da universidade na relação com
a cultura e sua contribuição com as
políticas culturais nos últimos anos
observou-se a sua
qualificação através
da constituição depolíticas ou planos
de cultura. A Universidade Federal do
Rio de Janeiro
pioneirismo neste processo, incluído a
acessibilidade cultural como uma
meta. A Universidade Federal do Rio
Grande do Norte
Universidade Federal do Rio Grande
do Sul
UFRGS têm estruturado
ações identificadas com a constituição
de s
eus planos e políticas culturais.
101
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
variadas encontram espaço,
conferindo, de certa maneira, um
terreno no qual o pensamento reflexivo
costuma envolver muitas vezes a
formação de sujeitos com um olhar
mais permeável à diversidade,
à
inclusão e ao acolhimento
as sobre o mundo
(FRANÇA JUNIOR
; LIMA;
RODRIGUES, 2018). No entanto, a
atuação das universidades, em se
tratando das ações culturais, o têm
se dado em todo o seu potencial
devido ao desconhecimento,
desarticulação e redundância das
ações (RUBIM, 2019). P
ara qualificar o
papel da universidade na relação com
a cultura e sua contribuição com as
políticas culturais nos últimos anos
qualificação através
da constituição depolíticas ou planos
de cultura. A Universidade Federal do
UFRJ tem
pioneirismo neste processo, incluído a
acessibilidade cultural como uma
meta. A Universidade Federal do Rio
Grande do Norte
UFRN e a
Universidade Federal do Rio Grande
UFRGS têm estruturado
ações identificadas com a constituição
eus planos e políticas culturais.
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
Os contextos de formação inicial
e continuada, sob o protagonismo das
universidades, no que se refere aos
diversos campos profissionais, em
especial aqueles que se orientam
diretamente pelas esferas da cultura e
da educaçã
o, são carentes de
experiências curriculares em torno das
temáticas da acessibilidade e da
inclusão. Os componentes ofertados,
tais como LIBRAS e fundamentos ou
noções da educação especial na
perspectiva inclusiva, são insuficientes
para o enfrentamento da
s demandas
contemporâneas de formação das
diversas profissões que precisam
considerar novos desenhos de
profissionalidadee de
profissionalização, levando em conta a
perspectiva da reinvenção social a
partir da consideração das pessoas
com deficiência ou co
singulares de ser e de estar no mundo
como protagonistas culturais.
O Curso de Especialização em
Acessibilidade Cultural da UFRJ tem
colaborado no sentido de
capacitação no nível lato s
ensu
diz respeito ao uso de tecnologia
assist
iva como instrumento de
mediação para a fruição estética, e
para a constituição e fortalecimento de
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
Os contextos de formação inicial
e continuada, sob o protagonismo das
universidades, no que se refere aos
diversos campos profissionais, em
especial aqueles que se orientam
diretamente pelas esferas da cultura e
o, são carentes de
experiências curriculares em torno das
temáticas da acessibilidade e da
inclusão. Os componentes ofertados,
tais como LIBRAS e fundamentos ou
noções da educação especial na
perspectiva inclusiva, são insuficientes
s demandas
contemporâneas de formação das
diversas profissões que precisam
considerar novos desenhos de
profissionalidadee de
profissionalização, levando em conta a
perspectiva da reinvenção social a
partir da consideração das pessoas
com deficiência ou co
m formas
singulares de ser e de estar no mundo
como protagonistas culturais.
O Curso de Especialização em
Acessibilidade Cultural da UFRJ tem
colaborado no sentido de
promover
ensu
no que
diz respeito ao uso de tecnologia
iva como instrumento de
mediação para a fruição estética, e
para a constituição e fortalecimento de
uma rede de formação em
acessibilidade cultural nacional e
internacional de caráter
interdisciplinar. Este curso de pós
graduação é uma iniciativa única d
formação sobre o tema em nível de
lato sensu
na América Latina com
enfoque inter e transdisciplinar. O
projeto surgiu, em 2010, inspirado nas
demandas e nas necessidades de
capacitação e formação, tendo como
referência os direitos culturais da
pessoa com
deficiência e é dirigido a
gestores públicos de cultura, Pontos
de Cultura, professores universitários,
representantes do terceiro setor e
produtores culturais.
A acessibilidade cultural é um
campo em construção, complexo e
interdisciplinar. O domínio das
tecnologias para a aplicabilidade da
acessibilidade cultural encontra
centrado na iniciativa privada, que
garante
um mercado e uma
sustentabilidade, a partir de
consultorias, prestações de serviços e
formação. As universidades públicas
brasileiras
ainda abordam timidamente
essa temática e faz
constituição de um campo. As poucas
iniciativas de formação e pesquisa nas
universidades parecem partir de ações
102
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
uma rede de formação em
acessibilidade cultural nacional e
internacional de caráter
interdisciplinar. Este curso de pós
-
graduação é uma iniciativa única d
e
formação sobre o tema em nível de
na América Latina com
enfoque inter e transdisciplinar. O
projeto surgiu, em 2010, inspirado nas
demandas e nas necessidades de
capacitação e formação, tendo como
referência os direitos culturais da
deficiência e é dirigido a
gestores públicos de cultura, Pontos
de Cultura, professores universitários,
representantes do terceiro setor e
A acessibilidade cultural é um
campo em construção, complexo e
interdisciplinar. O domínio das
tecnologias para a aplicabilidade da
acessibilidade cultural encontra
-se
centrado na iniciativa privada, que
lhe
um mercado e uma
sustentabilidade, a partir de
consultorias, prestações de serviços e
formação. As universidades públicas
ainda abordam timidamente
essa temática e faz
-se urgente a
constituição de um campo. As poucas
iniciativas de formação e pesquisa nas
universidades parecem partir de ações
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
isoladas e solitárias de alguns
professores e técnicos e na sua
grande maioria se di
recionam para
uma única linguagem de mediação,
um único formato de comunicação
acessível específico para um tipo de
deficiência (DORNELES;
CARVALHO
CASTRO, 2017).
O curso embasa-
se fortemente
na legislação pertinente ao campo dos
direitos sociais, cultur
ais e aos direitos
da pessoa com deficiência. A proposta
da formação em acessibilidade cultural
da UFRJ configura-
se como uma
formação acadêmica
e de ação
cultural, identificada com a concepção
de Freire (1981) para quem ação
cultural é ação política, isto
coletiva e engajada. Assim, ela se
caracteriza pelo “diálogo libertador,
que promove conhecimento e práxis,
comunhão de sujeitos participantes da
transformação da realidade” (FREIRE,
1981, p. 85). Portanto, na perspectiva
do curso, cada aluno deve
um multiplicador de conhecimento e
um ator político-
social de promoção da
política pública de acessibilidade
cultural para pessoas com deficiência.
Desenvolve-
se uma metodologia da
implicação, caracterizada pelo
compromisso político da aplicabil
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
isoladas e solitárias de alguns
professores e técnicos e na sua
recionam para
uma única linguagem de mediação,
um único formato de comunicação
acessível específico para um tipo de
CARVALHO
;
se fortemente
na legislação pertinente ao campo dos
ais e aos direitos
da pessoa com deficiência. A proposta
da formação em acessibilidade cultural
se como uma
e de ação
cultural, identificada com a concepção
de Freire (1981) para quem ação
cultural é ação política, isto
é, ação
coletiva e engajada. Assim, ela se
caracteriza pelo “diálogo libertador,
que promove conhecimento e práxis,
comunhão de sujeitos participantes da
transformação da realidade” (FREIRE,
1981, p. 85). Portanto, na perspectiva
do curso, cada aluno deve
tornar-se
um multiplicador de conhecimento e
social de promoção da
política pública de acessibilidade
cultural para pessoas com deficiência.
se uma metodologia da
implicação, caracterizada pelo
compromisso político da aplicabil
idade
do conhecimento adquirido, da difusão
e da reflexão sobre a prática,
pretendendo a implementação de
metodologias ativas capazes de
construir programas de sensibilização
e políticas de institucionalização para a
pauta.
A matriz curricular da Curso é
composta por 12 disciplinas: Política e
Diversidade Cultural, Aspectos Gerais
das Deficiências, Tecnologia Assistiva
I, Tecnologia Assistiva II,
Audiodescrição I, Audiodescrição II,
Exposição Acessível I, Exposição
Acessível II, Braile e outros recursos,
S
ensibilização em Libras, Seminário
de Projeto I e Seminário de Projeto II.
A formação profissional dos
alunos foi diversificada, ao longo das
três edições do curso, o que contribuiu
para uma produção científica com
diferentes enfoques. Entre os temas
dos
trabalhos finais destacam
políticas culturais, a
acessibilidade nos
Pontos de Cultura, a
acessibilidade em
equipamentos culturais,
profissional, os recursos de
acessibilidade, e acessibilidade no
contexto da deficiência, entre outros.
No pro
jeto de formação ainda
se associa a realização do Encontro
Nacional de Acessibilidade Cultural
103
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
do conhecimento adquirido, da difusão
e da reflexão sobre a prática,
pretendendo a implementação de
metodologias ativas capazes de
construir programas de sensibilização
e políticas de institucionalização para a
A matriz curricular da Curso é
composta por 12 disciplinas: Política e
Diversidade Cultural, Aspectos Gerais
das Deficiências, Tecnologia Assistiva
I, Tecnologia Assistiva II,
Audiodescrição I, Audiodescrição II,
Exposição Acessível I, Exposição
Acessível II, Braile e outros recursos,
ensibilização em Libras, Seminário
de Projeto I e Seminário de Projeto II.
A formação profissional dos
alunos foi diversificada, ao longo das
três edições do curso, o que contribuiu
para uma produção científica com
diferentes enfoques. Entre os temas
trabalhos finais destacam
-se:
acessibilidade nos
acessibilidade em
equipamentos culturais,
a formação
profissional, os recursos de
acessibilidade, e acessibilidade no
contexto da deficiência, entre outros.
jeto de formação ainda
se associa a realização do Encontro
Nacional de Acessibilidade Cultural
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
ENAC, que em 2019 chegou a
edição. Os ENAC m contribuído para
a construção da política cultural de
acessibilidade. Cabe destacar que o I
ENAC foi realizad
o em 2013 em
parceria com a UFRGS que somou a
sua iniciativa de realizar o II Seminário
Nacional de Acessibilidade em
Ambientes Culturais –
SENAC. Junto a
esta iniciativa realizou
Conferência Livre em Acessibilidade
Cultural que apresentou 90 proposta
para última Conferência Nacional de
Cultura, aprovando como prioritária a
proposta 3.18 do eixo 4.Entre o ex
alunos, alguns foram delegados nas
conferências municipais, estaduais e
nacional de cultura, o que confere o
sucesso da metodologia empregada.
No
II ENAC realizado em 2014 em
parceria com a UFRGS e a UFRN
como uma atividade do TEIA
Encontro Nacional dos Pontos de
Cultura se constituiu o GT de
Acessibilidade Cultural dos Pontos de
Cultura e a circulação do abaixo
assinado, hoje legislação, da incl
da janela de libras na produção
audiovisual brasileira.
Desde sua proposição inicial, a
especialização em acessibilidade
cultural se orientou pela perspectiva de
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
ENAC, que em 2019 chegou a
edição. Os ENAC m contribuído para
a construção da política cultural de
acessibilidade. Cabe destacar que o I
o em 2013 em
parceria com a UFRGS que somou a
sua iniciativa de realizar o II Seminário
Nacional de Acessibilidade em
SENAC. Junto a
esta iniciativa realizou
-se a
Conferência Livre em Acessibilidade
Cultural que apresentou 90 proposta
s
para última Conferência Nacional de
Cultura, aprovando como prioritária a
proposta 3.18 do eixo 4.Entre o ex
-
alunos, alguns foram delegados nas
conferências municipais, estaduais e
nacional de cultura, o que confere o
sucesso da metodologia empregada.
II ENAC realizado em 2014 em
parceria com a UFRGS e a UFRN
como uma atividade do TEIA
Encontro Nacional dos Pontos de
Cultura se constituiu o GT de
Acessibilidade Cultural dos Pontos de
Cultura e a circulação do abaixo
assinado, hoje legislação, da incl
usão
da janela de libras na produção
Desde sua proposição inicial, a
especialização em acessibilidade
cultural se orientou pela perspectiva de
aglutinar pesquisadores de outras
universidades, tendo como referência
a necessidade de q
emergisse no ambiente universitário e
que permitisse a convergência de
esforços interinstitucionais. De fato, a
questão da acessibilidade manifesta
se no contexto universitário em íntima
relação com a Tecnologia Assistiva e
com a Educação Esp
ecial. No entanto,
sua qualificação para os múltiplos
cenários artísticos e culturais é algo
recente e ainda incipiente. Verificam
se esforços investigativos articulados
na Universidade Estadual do Ceará
(UECE), com o Grupo LEAD
(Legendagem e Audiodescriçã
Universidade Federal da Bahia, com o
Grupo TRAMAD (Tradução, Mídia e
Audiodescrição) e iniciativas de
pesquisadores em outras
universidades. Do ponto de vista
formativo, é recorrente a oferta de
cursos de extensão, sobretudo, em
audiodescrição. Dest
sentido, as iniciativas de s
graduação (especialização) em
audiodescrição da Universidade
Federal de Juiz de Fora (UFJF) e da
UECE, sendo que essa última
universidade também ofereceu uma
especialização em Legendagem para
104
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
aglutinar pesquisadores de outras
universidades, tendo como referência
a necessidade de q
ue esta pauta
emergisse no ambiente universitário e
que permitisse a convergência de
esforços interinstitucionais. De fato, a
questão da acessibilidade manifesta
-
se no contexto universitário em íntima
relação com a Tecnologia Assistiva e
ecial. No entanto,
sua qualificação para os múltiplos
cenários artísticos e culturais é algo
recente e ainda incipiente. Verificam
-
se esforços investigativos articulados
na Universidade Estadual do Ceará
(UECE), com o Grupo LEAD
(Legendagem e Audiodescriçã
o), na
Universidade Federal da Bahia, com o
Grupo TRAMAD (Tradução, Mídia e
Audiodescrição) e iniciativas de
pesquisadores em outras
universidades. Do ponto de vista
formativo, é recorrente a oferta de
cursos de extensão, sobretudo, em
audiodescrição. Dest
acam-se, nesse
sentido, as iniciativas de s
-
graduação (especialização) em
audiodescrição da Universidade
Federal de Juiz de Fora (UFJF) e da
UECE, sendo que essa última
universidade também ofereceu uma
especialização em Legendagem para
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
Surdos e Ensurdeci
dos, ambas as
formações na modalidade EAD. Ainda
cabe ressaltar as disciplinas de
acessibilidade cultural que estão
sendo constituída em diferentes cursos
de graduação a partir de discentes da
pós-graduação
da UFRJ multiplicando
a pauta.Entre elas podemos d
a disciplina “Acessibilidade Cultural” no
Curso de Terapia
Ocupacional,“Gastronomia Acessível”
no curso de Gastronomia da UFRJ,
“Teatro Acessível” no curso de Teatro
da Universidade Federal do Amapá
UNIFAP, e a disciplina “Produção
Cultural Acess
ível” no Instituto Federal
do Rio de Janeiro.
Em vista disso, foi sendo
delineada uma rede de articulação
envolvendo a UFRJ, a UFRGS e a
UFRN em torno da temática da
Acessibilidade Cultural em favor de
ações convergentes que mobilizassem
asuniversidades
blicas na
consolidação dessa temática,
considerando a observância dos
direitos culturais da pessoa com
deficiência. Além de identificação e
estabelecimento de interlocução com
pesquisadores de outras instituições
públicas de ensino superior, almeja
a co
nstituição de uma plataforma de
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
dos, ambas as
formações na modalidade EAD. Ainda
cabe ressaltar as disciplinas de
acessibilidade cultural que estão
sendo constituída em diferentes cursos
de graduação a partir de discentes da
da UFRJ multiplicando
a pauta.Entre elas podemos d
estacar
a disciplina “Acessibilidade Cultural” no
Curso de Terapia
Ocupacional,“Gastronomia Acessível”
no curso de Gastronomia da UFRJ,
“Teatro Acessível” no curso de Teatro
da Universidade Federal do Amapá
UNIFAP, e a disciplina “Produção
ível” no Instituto Federal
Em vista disso, foi sendo
delineada uma rede de articulação
envolvendo a UFRJ, a UFRGS e a
UFRN em torno da temática da
Acessibilidade Cultural em favor de
ações convergentes que mobilizassem
blicas na
consolidação dessa temática,
considerando a observância dos
direitos culturais da pessoa com
deficiência. Além de identificação e
estabelecimento de interlocução com
pesquisadores de outras instituições
públicas de ensino superior, almeja
-se
nstituição de uma plataforma de
formação continuada que possa
ampliar a capacidade de ofertas
formativas, considerando a dimensão
continental do Brasil. Para tanto, é
fundamental o delineamento de ações
investigativas compartilhadas que
permitam a construç
ão e socialização
de saberes, procedimentos e
tecnologia assistiva que concorram
para a consecução dos objetiv
acessibilidade cultural.
Da Tecnologia assistiva
As definições mundiais sobre
Tecnologia Assistiva relacionadas às
políticas públicas, às classificações de
saúde, de educação e de movimentos
sociais têm sido atualizadas e
modificadas constantemente, com o
intuito de contemplar as demandas da
população mundial.
No Brasil, o desenvolvimento da
área de Tecnologia Assistiva, a partir
da ótica das políticas públicas, teve
marcos importantes nas áreas da
educação e saúde. Entre elas
destacam-
se: o Programa de
Implantação de Salas de Recursos
Multifuncionais, q
ue levou para a
escola um conjunto de recursos de
Tecnologia Assistiva (BRASIL, 2007);
o Programa de Formação continuada
105
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
formação continuada que possa
ampliar a capacidade de ofertas
formativas, considerando a dimensão
continental do Brasil. Para tanto, é
fundamental o delineamento de ações
investigativas compartilhadas que
ão e socialização
de saberes, procedimentos e
tecnologia assistiva que concorram
para a consecução dos objetiv
os da
acessibilidade cultural.
Da Tecnologia assistiva
As definições mundiais sobre
Tecnologia Assistiva relacionadas às
políticas públicas, às classificações de
saúde, de educação e de movimentos
sociais têm sido atualizadas e
modificadas constantemente, com o
intuito de contemplar as demandas da
No Brasil, o desenvolvimento da
área de Tecnologia Assistiva, a partir
da ótica das políticas públicas, teve
marcos importantes nas áreas da
educação e saúde. Entre elas
se: o Programa de
Implantação de Salas de Recursos
ue levou para a
escola um conjunto de recursos de
Tecnologia Assistiva (BRASIL, 2007);
o Programa de Formação continuada
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
de Professores na Educação Especial
com o objetivo de favorecer o
desenvolvimento de práticas
pedagógicas inclusivas apoiadas pelos
rec
ursos de TA (BRASIL, 2014a); o
Programa de Assistência à Pessoa
com Deficiência em 2008, que
compreendeu um conjunto de políticas
públicas estruturadas em quatro eixos:
Acesso à Educação, Inclusão social,
Atenção à Saúde e Acessibilidade
(BRASIL, 2014b); e
o Plano Nacional
dos Direitos da Pessoa com
Deficiência -
Viver sem Limite de 2011,
com novas iniciativas que
intensificaram ações em benefício das
pessoas com deficiência (BRASIL,
2011a).
Entre outras ações, destaca
a inauguração, em 2012, do Centro
Nacional de Referência em Tecnologia
Assistiva -
CNRTA com o objetivo de
orientar uma rede de núcleos de
pesquisa em universidades públicas,
estabelecer diretrizes e articular a
atuação dos núcleos de produção
científica e tecnológica do país; o
crédito fa
cilitado para produtos de
Tecnologia Assistiva, lançado em 2012
pelo Governo Federal, que tinha como
meta financiar a aquisição de produtos
de tecnologia assistiva (BRASIL,
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
de Professores na Educação Especial
com o objetivo de favorecer o
desenvolvimento de práticas
pedagógicas inclusivas apoiadas pelos
ursos de TA (BRASIL, 2014a); o
Programa de Assistência à Pessoa
com Deficiência em 2008, que
compreendeu um conjunto de políticas
públicas estruturadas em quatro eixos:
Acesso à Educação, Inclusão social,
Atenção à Saúde e Acessibilidade
o Plano Nacional
dos Direitos da Pessoa com
Viver sem Limite de 2011,
com novas iniciativas que
intensificaram ações em benefício das
pessoas com deficiência (BRASIL,
Entre outras ações, destaca
-se
a inauguração, em 2012, do Centro
Nacional de Referência em Tecnologia
CNRTA com o objetivo de
orientar uma rede de núcleos de
pesquisa em universidades públicas,
estabelecer diretrizes e articular a
atuação dos núcleos de produção
científica e tecnológica do país; o
cilitado para produtos de
Tecnologia Assistiva, lançado em 2012
pelo Governo Federal, que tinha como
meta financiar a aquisição de produtos
de tecnologia assistiva (BRASIL,
2014b); e na área da Saúde, o
investimento do Governo Federal na
criação de Centros
Especializados em
Reabilitação (CER) buscando garantir
o desenvolvimento de habilidades
funcionais das pessoas com
deficiência e promover sua autonomia
e independência (BRASIL, 2014b).
Além dessas ações, desde 2010
o Ministério de Ciência e Tecnologia
M
CT em parceria com a Financiadora
de Estudos e Projetos
outros parceiros tem investido através
de diferentes editais na composição
de Núcleos de Pesquisa em
Tecnologia Assistiva no país, com o
intuito de favorecer iniciativas de
desenvolvimen
to de tecnologias de
baixo custo; tecnologias desenvolvidas
a partir do conceito de desenho
universal, além de produtos que
pudessem substituir recursos
importados; apoiando projetos
cooperativos entre empresas e
instituições científicas e tecnológicas
com
o objetivo de estimular o
desenvolvimento e a inovação de
produtos de Tecnologia Assistiva e
desenvolvimento de produtos ou
soluções inovadoras que pudessem
trazer maior qualidade de vida para as
pessoas com deficiência. Ainda em
106
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
2014b); e na área da Saúde, o
investimento do Governo Federal na
Especializados em
Reabilitação (CER) buscando garantir
o desenvolvimento de habilidades
funcionais das pessoas com
deficiência e promover sua autonomia
e independência (BRASIL, 2014b).
Além dessas ações, desde 2010
o Ministério de Ciência e Tecnologia
CT em parceria com a Financiadora
de Estudos e Projetos
–FINEP entre
outros parceiros tem investido através
de diferentes editais na composição
de Núcleos de Pesquisa em
Tecnologia Assistiva no país, com o
intuito de favorecer iniciativas de
to de tecnologias de
baixo custo; tecnologias desenvolvidas
a partir do conceito de desenho
universal, além de produtos que
pudessem substituir recursos
importados; apoiando projetos
cooperativos entre empresas e
instituições científicas e tecnológicas
o objetivo de estimular o
desenvolvimento e a inovação de
produtos de Tecnologia Assistiva e
desenvolvimento de produtos ou
soluções inovadoras que pudessem
trazer maior qualidade de vida para as
pessoas com deficiência. Ainda em
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
2013, foi lançada a Chama
CNPq n°84/2013 de Tecnologia
Assistiva, que teve como foco o apoio
financeiro a projetos de pesquisa em
Tecnologia Assistiva, com a entrega
de produtos ou serviços tecnológicos
que pudessem promover a
independência e melhorar a qualidade
de vida
e inclusão social de pessoas
com deficiência, ou mobilidade
reduzida (BRASIL, 2013b).
Em 2015 aconteceu mais um
financiamento na área que foi a
chamada da FINEP “Viver Sem
Limites”, com recursos não
reembolsáveis oriundos do Fundo
Nacional de Desenvolvime
Científico e Tecnológico (FNDCT) que
contemplou 14 projetos com ações de
11 estados do país (FINEP, 2016),
além dos estímulos regionais como a
Seleção Pública Fapesp e
MCTI/FINEP/FNDCT -
Propostas para
Inovação - PAPPE-
PIPE Fase 3
2018, que com recu
rsos orçamentários
da FAPESP estimulou projetos de
pesquisa para o desenvolvimento de
produtos, processos e serviços
inovadores, por pequenas empresas
paulistas, visando o desenvolvimento
de projetos em tecnologia assistiva
(FAPESP, 2018).
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
2013, foi lançada a Chama
da Pública
CNPq n°84/2013 de Tecnologia
Assistiva, que teve como foco o apoio
financeiro a projetos de pesquisa em
Tecnologia Assistiva, com a entrega
de produtos ou serviços tecnológicos
que pudessem promover a
independência e melhorar a qualidade
e inclusão social de pessoas
com deficiência, ou mobilidade
Em 2015 aconteceu mais um
financiamento na área que foi a
chamada da FINEP “Viver Sem
Limites”, com recursos não
reembolsáveis oriundos do Fundo
Nacional de Desenvolvime
nto
Científico e Tecnológico (FNDCT) que
contemplou 14 projetos com ações de
11 estados do país (FINEP, 2016),
além dos estímulos regionais como a
Seleção Pública Fapesp e
Propostas para
PIPE Fase 3
-
rsos orçamentários
da FAPESP estimulou projetos de
pesquisa para o desenvolvimento de
produtos, processos e serviços
inovadores, por pequenas empresas
paulistas, visando o desenvolvimento
de projetos em tecnologia assistiva
O conceito ofici
Assistiva, no Brasil, foi elaborado pelo
Comitê de Ajudas Técnicas e foi
incluído na Lei Brasileira de Inclusão
(LBI)/Estatuto da Pessoa com
Deficiência (Lei no 13.146, de
6/7/2015) como “produtos, recursos,
metodologias, estratégias, prát
serviços que objetivam promover a
funcionalidade, relacionada à atividade
e participação, de pessoas com
deficiência, incapacidades ou
mobilidade reduzida, visando sua
autonomia, independência, qualidade
de vida e inclusão social” (BRASIL,
2017).
A
Lei Brasileira de
Inclusãogarantiu à pessoa com
deficiência acesso a produtos,
recursos, estratégias, práticas,
processos, métodos e serviços de
Tecnologia Assistiva que ampliassem
sua autonomia, mobilidade pessoal e
qualidade de vida, e o governo se
compr
ometeu a facilitar o acesso a
crédito especializado; criar
mecanismos de fomento à pesquisa e
à produção nacional de Tecnologia
Assistiva; ampliar o rol de produtos
distribuídos no âmbito do SUS; e
agilizar, simplificar e priorizar
procedimentos de import
107
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
O conceito ofici
al de Tecnologia
Assistiva, no Brasil, foi elaborado pelo
Comitê de Ajudas Técnicas e foi
incluído na Lei Brasileira de Inclusão
(LBI)/Estatuto da Pessoa com
Deficiência (Lei no 13.146, de
6/7/2015) como “produtos, recursos,
metodologias, estratégias, prát
icas e
serviços que objetivam promover a
funcionalidade, relacionada à atividade
e participação, de pessoas com
deficiência, incapacidades ou
mobilidade reduzida, visando sua
autonomia, independência, qualidade
de vida e inclusão social” (BRASIL,
Lei Brasileira de
Inclusãogarantiu à pessoa com
deficiência acesso a produtos,
recursos, estratégias, práticas,
processos, métodos e serviços de
Tecnologia Assistiva que ampliassem
sua autonomia, mobilidade pessoal e
qualidade de vida, e o governo se
ometeu a facilitar o acesso a
o
crédito especializado; criar
mecanismos de fomento à pesquisa e
à produção nacional de Tecnologia
Assistiva; ampliar o rol de produtos
distribuídos no âmbito do SUS; e
agilizar, simplificar e priorizar
procedimentos de import
ação de
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
tecnologia assistiva
sobre esse
último item, o Projeto de Lei no
10.425/2018 vem sendo analisado
pela Câmara dos Deputados
(CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2018).
Tecnologia Assistiva em Ambientes
e Produtos Culturais
Entendendo o ambiente cultural
enquan
to “agente humanizador” do
processo de desenvolvimento do
homem e da humanidade, Bruno
(2010, p. 124) salienta que “a profunda
relação entre o homem e o bem
cultural nos contextos culturais, tal
como museus, não depende apenas
da comunicação das evidências
objeto, mas também do espaço como
agente da troca”. Essa troca ocorre
pela administração, conservação e
organização de novas maneiras de
informação por meio da elaboração de
discursos expositivos e estratégias
pedagógicas (BRUNO,
1996)
Na perspectiva
da passagem do
sujeito passivo e contemplativo para o
que age e transforma a sua realidade,
preservar o patrimônio cultural
aproxima-
se cada vez mais de uma
nova prática social, ressaltando a
importância da inclusão de todos
nessa dinâmica (GABRIELE, 2014)
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
sobre esse
último item, o Projeto de Lei no
10.425/2018 vem sendo analisado
pela Câmara dos Deputados
(CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2018).
Tecnologia Assistiva em Ambientes
Entendendo o ambiente cultural
to “agente humanizador” do
processo de desenvolvimento do
homem e da humanidade, Bruno
(2010, p. 124) salienta que “a profunda
relação entre o homem e o bem
cultural nos contextos culturais, tal
como museus, não depende apenas
da comunicação das evidências
do
objeto, mas também do espaço como
agente da troca”. Essa troca ocorre
pela administração, conservação e
organização de novas maneiras de
informação por meio da elaboração de
discursos expositivos e estratégias
1996)
.
da passagem do
sujeito passivo e contemplativo para o
que age e transforma a sua realidade,
preservar o patrimônio cultural
se cada vez mais de uma
nova prática social, ressaltando a
importância da inclusão de todos
nessa dinâmica (GABRIELE, 2014)
.
Cury (2009) salienta que o público, o
autor e os profissionais da cultura são
todos sujeitos desse processo, uma
vez que "participam da (re)significação
do objeto patrimonial e da circulação
da significação” de forma mútua e
compartilhada, denotando a di
social relatada nas abordagens para
construção do conhecimento. A
imaginação é um aspecto importante
para a interpretação do público e
resulta do seu envolvimento emocional
com a obra, mediada também por seus
conhecimentos prévios. Assim como o
significado da
experiência vivida
continua no trabalho “imaginativo” do
público que o incorpora consigo em
sua agenda, experiências e
sentimentos.
Araújo (2004, p. 306
que
a relação homem a
obra/experiência não se constitui
apenas em um processo de
comunicação, mas de interação
informativa, onde o homem se
transforma pela apreensão da
informação, e o objeto/realidade
pela revitalização e ampliação de
seu valor simbólico, em um
processo contínuo e recípro
constitutivo e constituidor
Assim, quando a experiência
ocorre de forma eficaz e didática, pode
“gerar uma nova dimensão no contexto
e tem o seu grau de pertencimento
108
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
Cury (2009) salienta que o público, o
autor e os profissionais da cultura são
todos sujeitos desse processo, uma
vez que "participam da (re)significação
do objeto patrimonial e da circulação
da significação” de forma mútua e
compartilhada, denotando a di
nâmica
social relatada nas abordagens para
construção do conhecimento. A
imaginação é um aspecto importante
para a interpretação do público e
resulta do seu envolvimento emocional
com a obra, mediada também por seus
conhecimentos prévios. Assim como o
experiência vivida
continua no trabalho “imaginativo” do
público que o incorpora consigo em
sua agenda, experiências e
Araújo (2004, p. 306
-307) afirma
a relação homem a
obra/experiência não se constitui
apenas em um processo de
comunicação, mas de interação
informativa, onde o homem se
transforma pela apreensão da
informação, e o objeto/realidade
pela revitalização e ampliação de
seu valor simbólico, em um
processo contínuo e recípro
co,
constitutivo e constituidor
.
Assim, quando a experiência
ocorre de forma eficaz e didática, pode
“gerar uma nova dimensão no contexto
e tem o seu grau de pertencimento
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
reativado”, fortalecendo um dos
principais objetivos das instituições
culturais: a difusão do conhecimento
para insti
gar a capacidade de reflexão
e o questionamento (GABRIELE,
2014, p. 46).
Frente aos avanços
tecnológicos e às mudanças do
público, que se tornou mais diverso
ativo, os ambientes culturais devem
seguir novos rumos. Primo (2006)
salienta que um novo caminh
na renovação da apresentação das
informações e experiências, adotando
linguagens mais diretas, abertas e
potencializadoras da reflexão crítica
pelo visitante por meio de concepções
de ambientes culturais que assumam
processos de comunicação mais
interativos, que façam apelo aos
sentidos, às emoções, às memórias.
Para tanto, a interdisciplinaridade é
considerada como um instrumento
promotor da transformação e,
enquanto veículo de comunicação
interativa, opera pela apresentação
sensível dos objetos
expostos, seja em
uma linguagem visual, audível ou tátil.
Segundo Neves (2009), para
um espaço cultural receber a todos
deverá pensar antecipadamente em
cada um e nas possíveis interações
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
reativado”, fortalecendo um dos
principais objetivos das instituições
culturais: a difusão do conhecimento
gar a capacidade de reflexão
e o questionamento (GABRIELE,
Frente aos avanços
tecnológicos e às mudanças do
público, que se tornou mais diverso
e
ativo, os ambientes culturais devem
seguir novos rumos. Primo (2006)
salienta que um novo caminh
o implica
na renovação da apresentação das
informações e experiências, adotando
linguagens mais diretas, abertas e
potencializadoras da reflexão crítica
pelo visitante por meio de concepções
de ambientes culturais que assumam
processos de comunicação mais
interativos, que façam apelo aos
sentidos, às emoções, às memórias.
Para tanto, a interdisciplinaridade é
considerada como um instrumento
promotor da transformação e,
enquanto veículo de comunicação
interativa, opera pela apresentação
expostos, seja em
uma linguagem visual, audível ou tátil.
Segundo Neves (2009), para
um espaço cultural receber a todos
deverá pensar antecipadamente em
cada um e nas possíveis interações
entre os diversos públicos, onde uma
abordagem inclusiva preveja l
soluções, flexíveis e adaptáveis a
diferentes situações. Consoante a isto,
é essencial compreender o conceito de
Tecnologia Assistiva (TA) e os
principais recursos e estratégia de
acessibilidade que podem ser
empregados em ambientes culturais
para r
ecepção, experiência e fruição
pelo maior número de pessoas em
suas diferenças e capacidades.
O maior acesso aos recursos de
tecnologia assistiva pessoais como
cadeira de rodas, andadores e
bengalas, óculos, aparelhos auditivos,
recursos de comunicação alt
ampliam a possibilidade de
participação da população nos
ambientes culturais, contudo, esses
espaços necessitam desenvolver uma
série de estratégias para favorecer a
fruição.
Entre as soluções mais
empregadas em ambientes culturais,
destacam-se: o
s audioguias, enquanto
sistema eletrônico de tour
personalizado; Língua Brasileira de
Sinais -
LIBRAS para Surdos e
Legendas descritivas para Surdos e
Ensurdecidos (LSE); Recursos táteis,
que podem englobar maquetes táteis,
109
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
entre os diversos públicos, onde uma
abordagem inclusiva preveja l
tiplas
soluções, flexíveis e adaptáveis a
diferentes situações. Consoante a isto,
é essencial compreender o conceito de
Tecnologia Assistiva (TA) e os
principais recursos e estratégia de
acessibilidade que podem ser
empregados em ambientes culturais
ecepção, experiência e fruição
pelo maior número de pessoas em
suas diferenças e capacidades.
O maior acesso aos recursos de
tecnologia assistiva pessoais como
cadeira de rodas, andadores e
bengalas, óculos, aparelhos auditivos,
recursos de comunicação alt
ernativa
ampliam a possibilidade de
participação da população nos
ambientes culturais, contudo, esses
espaços necessitam desenvolver uma
série de estratégias para favorecer a
Entre as soluções mais
empregadas em ambientes culturais,
s audioguias, enquanto
sistema eletrônico de tour
personalizado; Língua Brasileira de
LIBRAS para Surdos e
Legendas descritivas para Surdos e
Ensurdecidos (LSE); Recursos táteis,
que podem englobar maquetes táteis,
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
taxidermia, réplicas e toque em
artefatos originais tais
como artefatos
arqueológicos; a audiodescrição,
enquanto tradução das informações e
mensagens visuais no meio sonoro; o
texto ampliado, como recurso às
pessoas com visão residual, como as
pessoas com baixa visão; o Braille,
enquant
o sistema de escrita com
pontos em relevo; e o
closed
como sistema de transmissão de
legendas que descreve os sons e falas
presentes nas imagens e cenas.
Outras soluções menos usuais,
mas igualmente importantes, envolvem
os Sistemas de Comunicação
Aumentativa e Alternativa, enquanto
formatos para comunicação com
diferentes públicos, principalmente
pessoas com dificuldades
comunicar por meio da fala ou da
escrita; o texto simples, que traduz
conteúdos complexos dos diferentes
equipamentos cult
urais considerando
as necessidades das pessoas com
deficiência intelectual, e pessoas com
dificuldades de leitura, ou que não têm
o Português como primeira língua; o
texto apoiado por pictogramas que tem
o objetivo de facilitar a compreensão
do conteúdo a
ser transmitido; o uso
do QRCode como dispositivo de
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
taxidermia, réplicas e toque em
como artefatos
arqueológicos; a audiodescrição,
enquanto tradução das informações e
mensagens visuais no meio sonoro; o
texto ampliado, como recurso às
pessoas com visão residual, como as
pessoas com baixa visão; o Braille,
o sistema de escrita com
closed
caption,
como sistema de transmissão de
legendas que descreve os sons e falas
presentes nas imagens e cenas.
Outras soluções menos usuais,
mas igualmente importantes, envolvem
os Sistemas de Comunicação
Aumentativa e Alternativa, enquanto
formatos para comunicação com
diferentes públicos, principalmente
pessoas com dificuldades
de se
comunicar por meio da fala ou da
escrita; o texto simples, que traduz
conteúdos complexos dos diferentes
urais considerando
as necessidades das pessoas com
deficiência intelectual, e pessoas com
dificuldades de leitura, ou que não têm
o Português como primeira língua; o
texto apoiado por pictogramas que tem
o objetivo de facilitar a compreensão
ser transmitido; o uso
do QRCode como dispositivo de
ampliação das informações de
acessibilidade como a audiodescrição
de uma imagem, ou a apresentação de
informações em áudio ou como um
vídeo em Libras; e o uso de
dispositivos de alta tecnologia como
comp
utadores, comunicadores e
dispositivos móveis como facilitadores
do processo de fruição estética. Assim,
novas estratégias e recursos começam
a ser empregadas para aproximação
ao público geral por meio de novas
oportunidades de percepção.
Um espaço cultur
receber pessoas que tenham
dificuldades comunicativas e, por essa
razão, é fundamental que haja
pranchas de comunicação disponíveis
que possibilitem ao visitante fazer
perguntas, comentários e escolhas
dentro daquele espaço. Para oferecer
o acesso
à “Exposição Cidade
Acessível”, que aconteceu na Casa da
Ciência da UFRJ, foram elaboradas 34
pranchas impressas. As pranchas de
comunicação foram organizadas a
partir dos diferentes espaços da
exposição como a entrada”, a “praça”,
o “ônibus” e a “escola”
2015).
Sabe-
se que somente a
implementação das tecnologias
110
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
ampliação das informações de
acessibilidade como a audiodescrição
de uma imagem, ou a apresentação de
informações em áudio ou como um
vídeo em Libras; e o uso de
dispositivos de alta tecnologia como
utadores, comunicadores e
dispositivos móveis como facilitadores
do processo de fruição estética. Assim,
novas estratégias e recursos começam
a ser empregadas para aproximação
ao público geral por meio de novas
oportunidades de percepção.
Um espaço cultur
al pode
receber pessoas que tenham
dificuldades comunicativas e, por essa
razão, é fundamental que haja
pranchas de comunicação disponíveis
que possibilitem ao visitante fazer
perguntas, comentários e escolhas
dentro daquele espaço. Para oferecer
à “Exposição Cidade
Acessível”, que aconteceu na Casa da
Ciência da UFRJ, foram elaboradas 34
pranchas impressas. As pranchas de
comunicação foram organizadas a
partir dos diferentes espaços da
exposição como a entrada”, a “praça”,
o “ônibus” e a “escola”
(PELOSI et al.,
se que somente a
implementação das tecnologias
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
assistivas não é
suficiente para
garantir a qualidade de fruição cultural
das pessoas com deficiência os
produtos culturais. As dimensões de
acessibilidade arquitetônica,
comunic
acional e instrumental devem
ser acompanhadas de iniciativas de
acessibilidades atitudinais e
metodológicas a fim de romper as
barreiras e buscar alternativas que
qualifiquem o conforto, a inclusão, a
convivência em diversidade, a
autonomia para a real par
ticipação da
pessoa com deficiência no uso e no
consumo dos produtos culturais. Desta
forma, cabe aos gestores dos
diferentes ambientes culturais buscar
informação e capacitação de sua
equipe para a qualificação do
atendimento a este público, bem como
ampl
iar a participação de profissionais
da área para colaborar na construção
de programas e projetos culturais
acessíveis. Do mesmo modo, se faz
necessário que a implementação de
tais iniciativas se comprometa a
atender a diversidade das deficiências.
Sem dúvi
da, esta não é uma tarefa
fácil e se torna urgente que
comprometidos com uma
políticacultural afinada com a
promoção da diversidade cultural
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
suficiente para
garantir a qualidade de fruição cultural
das pessoas com deficiência os
produtos culturais. As dimensões de
acessibilidade arquitetônica,
acional e instrumental devem
ser acompanhadas de iniciativas de
acessibilidades atitudinais e
metodológicas a fim de romper as
barreiras e buscar alternativas que
qualifiquem o conforto, a inclusão, a
convivência em diversidade, a
ticipação da
pessoa com deficiência no uso e no
consumo dos produtos culturais. Desta
forma, cabe aos gestores dos
diferentes ambientes culturais buscar
informação e capacitação de sua
equipe para a qualificação do
atendimento a este público, bem como
iar a participação de profissionais
da área para colaborar na construção
de programas e projetos culturais
acessíveis. Do mesmo modo, se faz
necessário que a implementação de
tais iniciativas se comprometa a
atender a diversidade das deficiências.
da, esta não é uma tarefa
fácil e se torna urgente que
comprometidos com uma
políticacultural afinada com a
promoção da diversidade cultural
estejamos mais atentos ao público
com deficiência.
É importante destacar que os
avanços da obrigatoriedade de
acess
ibilidade nos produtos culturais,
seja pelo avanço do debate e das
conquistas no âmbito das políticas
culturais ou pela LBI tem provocado
uma rede de contatos e ampliado o
diálogo qualificado entre os
trabalhadores culturais, profissionais
de diferentes á
reas que atuam na
promoção da inclusão e pessoas com
deficiência. Nesta aproximação
observa-
se que um significativo
número de profissionais da área
cultural tem buscado formação não
para qualificar seus projetos culturais
em função de atender a legislaç
mas também para incorporar as
diferentes tecnologias assistivas como
recurso de linguagem de sua obra
artística. Do mesmo modo, um
conjunto de pessoas com deficiência
tem se qualificado para atuar como
mediadores nos ambientes culturais e
consultores d
e implementações de
projetos acessíveis. Entre estas
iniciativas destaca
audiodescrição, uma área identificada
no campo da tradução e considerada
uma tecnologia assistiva que tem
111
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
estejamos mais atentos ao público
É importante destacar que os
avanços da obrigatoriedade de
ibilidade nos produtos culturais,
seja pelo avanço do debate e das
conquistas no âmbito das políticas
culturais ou pela LBI tem provocado
uma rede de contatos e ampliado o
diálogo qualificado entre os
trabalhadores culturais, profissionais
reas que atuam na
promoção da inclusão e pessoas com
deficiência. Nesta aproximação
se que um significativo
número de profissionais da área
cultural tem buscado formação não
para qualificar seus projetos culturais
em função de atender a legislaç
ão,
mas também para incorporar as
diferentes tecnologias assistivas como
recurso de linguagem de sua obra
artística. Do mesmo modo, um
conjunto de pessoas com deficiência
tem se qualificado para atuar como
mediadores nos ambientes culturais e
e implementações de
projetos acessíveis. Entre estas
iniciativas destaca
-se a
audiodescrição, uma área identificada
no campo da tradução e considerada
uma tecnologia assistiva que tem
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
crescido com rapidez no mercado
brasileiro e que de forma qualificada
exige-
se um consultor com deficiência
visual e de preferência com formação
na área da audiodescrição para atuar
na elaboração dos roteiros
audiodescritos para diferentes áreas.
Neste contexto, observa
-
amplia o número de
pessoas da área
cultural atentas à
s orientações da luta
das pessoas com deficiência que nos
provocam a atualização constante
através da perspectiva do modelo
social da deficiência e sua luta
legitimada no tema “Nada sobre nós
sem nós”.
Sabe-
se que a partir da
obrigatoriedade da incl
recursos acessíveis nos projetos
financiados pela Lei Rouanet
ampliaram-
se em escala significativa
as diferentes iniciativas culturais
acessíveis no país. As iniciativas de
acessibilidade geralmente até então
encontradas em grandes centros
culturai
s ou museus agora se
estendem a espetáculos das diferentes
áreas artísticas, tornando-
se comum a
presença do intérprete de libras em
diferentes shows e a o uso de
mochilas áudio táteis e piso vibratório
para uso da comunidade surda que
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
crescido com rapidez no mercado
brasileiro e que de forma qualificada
se um consultor com deficiência
visual e de preferência com formação
na área da audiodescrição para atuar
na elaboração dos roteiros
audiodescritos para diferentes áreas.
-
se que se
pessoas da área
s orientações da luta
das pessoas com deficiência que nos
provocam a atualização constante
através da perspectiva do modelo
social da deficiência e sua luta
legitimada no tema “Nada sobre nós
se que a partir da
obrigatoriedade da incl
usão de
recursos acessíveis nos projetos
financiados pela Lei Rouanet
se em escala significativa
as diferentes iniciativas culturais
acessíveis no país. As iniciativas de
acessibilidade geralmente até então
encontradas em grandes centros
s ou museus agora se
estendem a espetáculos das diferentes
se comum a
presença do intérprete de libras em
diferentes shows e a o uso de
mochilas áudio táteis e piso vibratório
para uso da comunidade surda que
possibilita a dime
nsão física da
experiência musical. A incorporação
da obrigatoriedade nas iniciativas da
Lei Rouanet fez também com que o
MinC fosse gradualmente
incorporando para o seu quadro de
pareceristas perfil qualificado para
avaliação dos quesitos de
acessibilidade.
Do mesmo modo, cabe aqui
destacar o pioneirismo do Brasil na
área do audiovisual tanto no que diz
respeito a produção cinematográfica
com acessibilidade bem como da
obrigatoriedade
de as
cinema do país oferecer
de acessibilidade cultural para
pessoas com deficiência auditiva e
visual. Após a MP 917/19 que adiou
até janeiro de 2021 a IN 128/2016 da
Ancine, todos os exibidores deverão
oferecer legendagem, legendagem
descritiva, audiodescrição e Libras
par
a quem solicitar.Filmes nacionais
com financiamento público ou não e
filmes internacionais são produzidos
com os recursos de acessibilidade
para exibição no Brasil. A iniciativa
brasileira tem provocado a política
internacional da produção e exibição
au
diovisual para os quesitos de
acessibilidade. Na produção
112
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
nsão física da
experiência musical. A incorporação
da obrigatoriedade nas iniciativas da
Lei Rouanet fez também com que o
MinC fosse gradualmente
incorporando para o seu quadro de
pareceristas perfil qualificado para
avaliação dos quesitos de
Do mesmo modo, cabe aqui
destacar o pioneirismo do Brasil na
área do audiovisual tanto no que diz
respeito a produção cinematográfica
com acessibilidade bem como da
de as
3.336 salas de
cinema do país oferecer
em recursos
de acessibilidade cultural para
pessoas com deficiência auditiva e
visual. Após a MP 917/19 que adiou
até janeiro de 2021 a IN 128/2016 da
Ancine, todos os exibidores deverão
oferecer legendagem, legendagem
descritiva, audiodescrição e Libras
a quem solicitar.Filmes nacionais
com financiamento público ou não e
filmes internacionais são produzidos
com os recursos de acessibilidade
para exibição no Brasil. A iniciativa
brasileira tem provocado a política
internacional da produção e exibição
diovisual para os quesitos de
acessibilidade. Na produção
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
audiovisual para TV brasileira se
observa o número crescente da
produção audiovisual acessível que
tem cumprido a legislação.
No âmbito da política do Livro e
Leitura muito o que se fazer. O
tratado de Marr
aqueche, tem como
objetivo possibilitar a criação de cópias
de obras em formatos acessíveis e
permite aos países signatários
adotarem o intercâmbio transfronteiriço
dessas obras por intermédio de
entidades autorizadas. Muitas
questõesproblema
tizadoras surgem a
partir do tratado, entre elas destaca
se: de autorização de algumas
entidades selecionadas para tal
atividade concentrando esta produção
a autonomia da pessoa com
deficiência visual em poder escolher a
obra a
que quer ter acesso
atu
alização das iniciativas que
ampliam o direito cultural das pessoas
com deficiência a leitura através de
livros multiformatos
que atendem
diferentes deficiências e a própria LBI,
no capítulo 9§
1 que ao destacar que
“É vedada a recusa de oferta de obra
in
telectual emformato acessível à
pessoa com deficiência, sob qualquer
argumento, inclusive sob a alegação
de proteção dos direitos de
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
audiovisual para TV brasileira se
observa o número crescente da
produção audiovisual acessível que
No âmbito da política do Livro e
Leitura muito o que se fazer. O
aqueche, tem como
objetivo possibilitar a criação de cópias
de obras em formatos acessíveis e
permite aos países signatários
adotarem o intercâmbio transfronteiriço
dessas obras por intermédio de
entidades autorizadas. Muitas
tizadoras surgem a
partir do tratado, entre elas destaca
m-
se: de autorização de algumas
entidades selecionadas para tal
atividade concentrando esta produção
;
a autonomia da pessoa com
deficiência visual em poder escolher a
que quer ter acesso
; a
alização das iniciativas que
ampliam o direito cultural das pessoas
com deficiência a leitura através de
que atendem
diferentes deficiências e a própria LBI,
1 que ao destacar que
“É vedada a recusa de oferta de obra
telectual emformato acessível à
pessoa com deficiência, sob qualquer
argumento, inclusive sob a alegação
de proteção dos direitos de
propriedade intelectual” coloca em
questão o papel das editoras na
produção de obras acessíveis para
diferentes públicos.
É
fundamental ampliar os
recursos destinados
dos recursos de acessibilidade para os
projetos e produtos culturais. O pouco
conhecimento dos gestores públicos
sobre a demanda tem sido
representado no baixo orçamento para
tal,
o que tem dificu
realizador cumprir suas metas de
acessibilidade com qualidade nos seus
produtos culturais. É urgente a
aproximação dos trabalhadores e
gestores culturais ao conhecimento da
demanda de acessibilidade cultural,
bem como aos serviços a serem
cont
ratados. A qualidade dos serviços
é fundamental para a fruição do
público com deficiência. Do mesmo
modo, é hora também
com deficiência ampliarem sua
visibilidade como público e plateianas
atividades culturais acessíveis, bem
como os ambiente
s culturais atuarem
com a formação de público com esta
população.
113
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
propriedade intelectual” coloca em
questão o papel das editoras na
produção de obras acessíveis para
fundamental ampliar os
recursos destinados
à implementação
dos recursos de acessibilidade para os
projetos e produtos culturais. O pouco
conhecimento dos gestores públicos
sobre a demanda tem sido
representado no baixo orçamento para
o que tem dificu
ltado para o
realizador cumprir suas metas de
acessibilidade com qualidade nos seus
produtos culturais. É urgente a
aproximação dos trabalhadores e
gestores culturais ao conhecimento da
demanda de acessibilidade cultural,
bem como aos serviços a serem
ratados. A qualidade dos serviços
é fundamental para a fruição do
público com deficiência. Do mesmo
modo, é hora também
de as pessoas
com deficiência ampliarem sua
visibilidade como público e plateianas
atividades culturais acessíveis, bem
s culturais atuarem
com a formação de público com esta
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
Considerações finais
Tais reflexõesreiteram a
importância de considerar os direitos
culturais da pessoa com deficiência e
a perspectiva inclusiva na medida em
que os espaços e as mentali
alterados para considerar as
mediações comunicacionais diversas,
e também, a necessidade de retomada
de investimentos públicos no
desenvolvimento de pesquisa em
acessibilidade e no fortalecimento dos
Núcleos de Pesquisa em Tecnologia
Assistiva e
o correlato
desenvolvimento de grupos e redes de
pesquisa, especialmente, entre as
Instituições Públicas de Ensino
Superior.
Importante salientar que os
recursos e estratégias de tecnologia
assistiva que o empregados com o
foco nas pessoas com deficiênci
podem ser facultados a todos. Assim,
proporcionando experiências únicas,
uma vez que os sentidos podem ser
estimulados de outras maneiras,
considerando as vivências dos mais
diversos públicos ao respeitar suas
diferenças, potencializando suas
experiênci
as e promovendo a inclusão.
O apelo à experiência multissensorial
e à interatividade também conduz
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
Tais reflexõesreiteram a
importância de considerar os direitos
culturais da pessoa com deficiência e
a perspectiva inclusiva na medida em
que os espaços e as mentali
dades são
alterados para considerar as
mediações comunicacionais diversas,
e também, a necessidade de retomada
de investimentos públicos no
desenvolvimento de pesquisa em
acessibilidade e no fortalecimento dos
Núcleos de Pesquisa em Tecnologia
o correlato
desenvolvimento de grupos e redes de
pesquisa, especialmente, entre as
Instituições Públicas de Ensino
Importante salientar que os
recursos e estratégias de tecnologia
assistiva que o empregados com o
foco nas pessoas com deficiênci
a,
podem ser facultados a todos. Assim,
proporcionando experiências únicas,
uma vez que os sentidos podem ser
estimulados de outras maneiras,
considerando as vivências dos mais
diversos públicos ao respeitar suas
diferenças, potencializando suas
as e promovendo a inclusão.
O apelo à experiência multissensorial
e à interatividade também conduz
a
soluções lúdico-
pedagógicas muito
apreciadas pelo público infantil, que
pode ter a oportunidade de atuar
ativamente (NEVES, 2009).
Uma abordagem multissensorial
visa fundamentalmente a inclusão pela
oferta de experiências em distintos
níveis de complexidade e por diversos
recursos e meios de comunicação
para todos, levando em consideração
as capacidades e eficiências de um
público mai
s diverso e as
possibilidades de interação entres
diferentes públicos em um mesmo
espaço. Tal perspectiva, alinha
compreensão expansiva da Tecnologia
Assistiva como área interdisciplinar, a
qual não se reduz ao paradigma
clínico-
médico centrando
na adaptação individual, levando em
conta, sobretudo, o caráter dialógico
das interações sociais em diversas
esferas, como por exemplo, a artística
e a cultural.
Um caminho longo foi
percorrido, mas o desafio de qualificar
a aproximação do uso da
assistiva nos ambientes e produtos
culturais nos convoca não a ampliar
as experiências interdisciplinares, mas
ao aprofundamento em pesquisa da
aplicabilidade destes recursos no bom
114
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
pedagógicas muito
apreciadas pelo público infantil, que
pode ter a oportunidade de atuar
ativamente (NEVES, 2009).
Uma abordagem multissensorial
visa fundamentalmente a inclusão pela
oferta de experiências em distintos
níveis de complexidade e por diversos
recursos e meios de comunicação
para todos, levando em consideração
as capacidades e eficiências de um
s diverso e as
possibilidades de interação entres
diferentes públicos em um mesmo
espaço. Tal perspectiva, alinha
-se à
compreensão expansiva da Tecnologia
Assistiva como área interdisciplinar, a
qual não se reduz ao paradigma
médico centrando
-se apenas
na adaptação individual, levando em
conta, sobretudo, o caráter dialógico
das interações sociais em diversas
esferas, como por exemplo, a artística
Um caminho longo foi
percorrido, mas o desafio de qualificar
a aproximação do uso da
tecnologia
assistiva nos ambientes e produtos
culturais nos convoca não a ampliar
as experiências interdisciplinares, mas
ao aprofundamento em pesquisa da
aplicabilidade destes recursos no bom
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
uso dos processos de mediação e
consumo do produto cultural.
sentido se faz necessário ampliar a
sensibilização dos gestores públicos
de cultura e os diversos atores do
campo para o conhecimento técnico
destas tecnologias que atuam no
processo de participação e autonomia
das pessoas com deficiência. Cabe
universidade pública e a
o setor blico
cultural, bem como à
sociedade civil,
atuarem juntos na busca de recursos
viabilizando a continuidade da
promoção da cidadania cultural das
pessoas com deficiência expl
nos compromissos da política pública
cul
tural e na LBI, entre outros.
Em tempos de pandemia de
COVID 19 observou-
se a mobilização
mundial de artistas e gestores de
ambientes culturais na difusão de suas
obras e conteúdos culturais através de
diferentes recursos tecnológicos.
Raríssimas foram as
lives
acervos de forma virtual que
ofereceram os recursos de
acessibilidade para a população com
deficiência. Com certeza, estes
tempos de reclusão serão expandidos
e traduzidos em novas iniciativas que
com o tempo aperfeiçoar
recursos
de mediação cultural. As
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
uso dos processos de mediação e
consumo do produto cultural.
Neste
sentido se faz necessário ampliar a
sensibilização dos gestores públicos
de cultura e os diversos atores do
campo para o conhecimento técnico
destas tecnologias que atuam no
processo de participação e autonomia
das pessoas com deficiência. Cabe
à
o setor blico
sociedade civil,
atuarem juntos na busca de recursos
viabilizando a continuidade da
promoção da cidadania cultural das
pessoas com deficiência expl
ícita
nos compromissos da política pública
tural e na LBI, entre outros.
Em tempos de pandemia de
se a mobilização
mundial de artistas e gestores de
ambientes culturais na difusão de suas
obras e conteúdos culturais através de
diferentes recursos tecnológicos.
lives
e visitas a
acervos de forma virtual que
ofereceram os recursos de
acessibilidade para a população com
deficiência. Com certeza, estes
tempos de reclusão serão expandidos
e traduzidos em novas iniciativas que
com o tempo aperfeiçoar
ão os
de mediação cultural. As
tecnologias assistivas e as pessoas
com deficiência devem ser inseridas
com qualidade como público e plateia
participando em de igualdade com
os demais na construção deste novo
momento histórico da humanidade.
Referências bibli
ográficas:
ARAÚJO, Marcelo M. Comunicação
Museológica: desafios e perspectivas.
In:
Anais do Seminário de Capacitação
museológica
. Belo Horizonte: Instituto
Cultural Flávio Gut
ierrez, 2004. p.
304–314.
BRASIL. DECRETO 7.612, de 17
de novembro de 2011
Plano Nacional dos Direitos da Pessoa
com Deficiência
Plano Viver sem
Limite (2011a). Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_At
o2011-
2014/2011/Decreto/D7612.htm.
Acesso: 22 jul. 2016.
BRASIL. Financiadora de Estudos e
Pesquisas
FINEP. Chamada MCTI
SECIS/CNPQ no 84/2013
assistiva. (2013a
). Disponível em:
http://resultado.cnpq.br/809787424357
2530. Acesso:
20 mar. 2020.
BRASIL. Financiadora de Estudos e
Projetos
FINEP. Chamada pública
MCT/FINEP -
ação transversal
tecnologia assistiva
Disponível em:
http://www.finep.gov.br/chamadas
publicas/chamadapublica/569. Acesso
20 mar. 2020.
BRASIL. Financiadora de Estudos e
Projetos
FINEP. Chamada pública
MCTI/SECIS/FINEP/FNDCT
cooperação empresa
-
assistiva
01/2011. (2011b).
Disponível em:
115
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
tecnologias assistivas e as pessoas
com deficiência devem ser inseridas
com qualidade como público e plateia
participando em de igualdade com
os demais na construção deste novo
momento histórico da humanidade.
ográficas:
ARAÚJO, Marcelo M. Comunicação
Museológica: desafios e perspectivas.
Anais do Seminário de Capacitação
. Belo Horizonte: Instituto
ierrez, 2004. p.
BRASIL. DECRETO 7.612, de 17
de novembro de 2011
que institui o
Plano Nacional dos Direitos da Pessoa
Plano Viver sem
Limite (2011a). Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_At
2014/2011/Decreto/D7612.htm.
BRASIL. Financiadora de Estudos e
FINEP. Chamada MCTI
-
SECIS/CNPQ no 84/2013
tecnologia
). Disponível em:
http://resultado.cnpq.br/809787424357
20 mar. 2020.
BRASIL. Financiadora de Estudos e
FINEP. Chamada pública
ação transversal
-
tecnologia assistiva
01/2010.
Disponível em:
http://www.finep.gov.br/chamadas
-
publicas/chamadapublica/569. Acesso
:
BRASIL. Financiadora de Estudos e
FINEP. Chamada pública
MCTI/SECIS/FINEP/FNDCT
-
ICT tecnologia
01/2011. (2011b).
Disponível em:
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
http://coral.ufsm.br/prpgp/images/editai
s-
externos/ChamadaPublica
2011-ICT-Empresa-29-12-
2011.pdf.
Acesso: 30 mar. 2020.
BRASIL. Financiadora de Estudos e
Projetos
FINEP. Chamada pública
MCT
I/SECIS/FINEP/FNDCT
cooperação ICT-empresa
assistiva
01/2013. (2013
Disponível em:
https://docplayer.com.br/18925861
Chamada-publica-mcti-
secis
fndct-cooperacao-ict-
empresa
tecnologia-assistiva-01-
2013.html.
Acesso: 30 mar. 2020.
BRASIL.
Financiadora de Estudos e
Projetos - FINEP
. Edital Viver sem
Limites. Disponível em:
http://www.finep.gov.br/noticias/todas
noticias/5260-finep-divulga
-
do-edital-viver-sem-
limites. Acesso
ago. 2016.
BRASIL. Ministério da Educação e
Cu
ltura. Programas do MEC voltados à
formação de professores, 2014a.
Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?opti
on=com_
content&view=article&id=15944:progra
mas-do-mec-voltados-a-
formacao
professores. Acesso:
20 mar. 2020.
BRASIL. Observatório M
Pessoa com Deficiência, 2014b.
Disponível em:
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade
/secretarias/pessoa_com_deficiencia/o
bservatorio_municipal_da_pessoa_co
m_deficiencia/index.php?p=274862.
Acesso: 25 mar. 2020.
BRASIL. PORTARIA NORMATIVA
1
3, DE 24 DE ABRIL DE 2007. Disp
sobre a criação do
Programa de.
Implantação de Salas de Recursos
(2007). Disponível em:
portal.mec.gov.br/docman/fevereiro
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
http://coral.ufsm.br/prpgp/images/editai
externos/ChamadaPublica
-Assistiva-
2011.pdf.
BRASIL. Financiadora de Estudos e
FINEP. Chamada pública
I/SECIS/FINEP/FNDCT
tecnologia
01/2013. (2013
b).
Disponível em:
https://docplayer.com.br/18925861
-
secis
-finep-
empresa
-
2013.html.
Financiadora de Estudos e
. Edital Viver sem
Limites. Disponível em:
http://www.finep.gov.br/noticias/todas
-
-
resultado-
limites. Acesso
: 4
BRASIL. Ministério da Educação e
ltura. Programas do MEC voltados à
formação de professores, 2014a.
Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?opti
content&view=article&id=15944:progra
formacao
-de-
20 mar. 2020.
BRASIL. Observatório M
unicipal da
Pessoa com Deficiência, 2014b.
Disponível em:
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade
/secretarias/pessoa_com_deficiencia/o
bservatorio_municipal_da_pessoa_co
m_deficiencia/index.php?p=274862.
BRASIL. PORTARIA NORMATIVA
-
3, DE 24 DE ABRIL DE 2007. Disp
õe
Programa de.
Implantação de Salas de Recursos
(2007). Disponível em:
portal.mec.gov.br/docman/fevereiro
-
2012-pdf/9935-
portaria
2007. Acesso:
20 mar
BRUNO, M. C. O. (c
M.
M.; COUTINHO, M. I. L. (c
evidência dos contextos museológicos
In: ______. Waldisa
Guarnieri:
textos e contextos de uma
trajetória profissional
Pinacoteca; ICOM, 2010. v. 1.
BRUNO, Maria Cristina Oliveira.
Museologi
a e comunicação.
de Sociomuseologia
Universidade Lus
Humanidades e Tecnologias
1996.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto
de Lei no 10.425/2018 que isenta de
IPI produtos de tecnologia assistiva
destinados às pessoas com deficiênc
sob a autoria do deputado Lindomar
Garçon (PRB-
RO). Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/camaranoti
cias/noticias/direitos-
humanos/564673
projeto-isenta-de-ipi-
produtos
tecnologia-assistiva-
destinados
pessoas-com-
deficiencia.html. Acesso:
22 mar. 2020.
CURY, Marília X. O sujeito do Museu.
MUSAS
Revista Brasileira de
Museus e Museologia
Instituto Brasileiro de Museus n. 4, p.
86–97, 2009.
DORNELES, Patrí
cia
cultural das pessoas com deficiência.
Revista de Polí
tica Públicas da UFMA
v. 22, p. 138, 2018.
DORNELES, Patrí
cia
Claudia R. A. de;
MEFANO, Vânia.
Breve histórico da acessibilidade nas
políticas culturais no Brasil.
XV ENECULT
. Salvador:UFBA,
DUPIN, G. Dez anos da Conv
Diversidade. In
: KAUARK, Giuliana;
BARROS
, José rcio Barros
MIGUEZ, Paulo
(orgs.)
116
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
portaria
-13-24-abril-
20 mar
. 2016.
BRUNO, M. C. O. (c
oord.); ARAUJO,
M.; COUTINHO, M. I. L. (c
ol.). A
evidência dos contextos museológicos
.
Rússio Camargo
textos e contextos de uma
trajetória profissional
. São Paulo:
Pinacoteca; ICOM, 2010. v. 1.
BRUNO, Maria Cristina Oliveira.
a e comunicação.
Cadernos
de Sociomuseologia
, Lisboa,
Universidade Lus
ófona de
Humanidades e Tecnologias
, n. 9,
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto
de Lei no 10.425/2018 que isenta de
IPI produtos de tecnologia assistiva
destinados às pessoas com deficiênc
ia
sob a autoria do deputado Lindomar
RO). Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/camaranoti
humanos/564673
-
produtos
-de-
destinados
-as-
deficiencia.html. Acesso:
CURY, Marília X. O sujeito do Museu.
Revista Brasileira de
Museus e Museologia
, Rio de Janeiro,
Instituto Brasileiro de Museus n. 4, p.
cia
et al. Do direito
cultural das pessoas com deficiência.
tica Públicas da UFMA
,
cia
S.; CARVALHO,
MEFANO, Vânia.
Breve histórico da acessibilidade nas
políticas culturais no Brasil.
Anais do
. Salvador:UFBA,
2019.
DUPIN, G. Dez anos da Conv
enção da
: KAUARK, Giuliana;
, José rcio Barros
;
(orgs.)
. Diversidade
DORNELES, Patrícia S et al.
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
pessoa com deficiência. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19
, p.
Cultural: po
ticas, visibilidades
midiáticas e redes.
Salvador
2015.
FAPESP. Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo.
Seleção P
ública Fapesp e
MCTI/FINEP/FNDCT -
Propostas para
Inovação - PAPPE-
PIPE Fase 3
2018. Disponível em:
http://www.fapesp.br/11554. Acesso
29 mar. 2020.
FRANÇA JR, Luis Celestino de
Yasmin Gonçalves;
RODRIGUES,
Thiago. A Cultura na Universidade.
Memórias da Pró-
Reitoria de Cultura
da Universidade Federal do Cariri.
Anais do XIV ENECULT
UFBA, 2018.
FREIRE, Paulo.
Ação cultural para a
liberdade
. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1981.
GABRIELE, Ma
ria Cecília Figueiras
Lima. Sociomuseologia: uma reflexão
sobre a relação museus e sociedade.
Expressa Extensão
,
Universidade
Federal de Pelotas, vol.
19 n. 2, 2014.
MELO, Francisco Ricardo Lins Vieira
de;
ARAUJO, Eliana Rodrigues.
Núcleos de Aces
sibilidade nas
Universidades: reflexões a partir de
uma experiência institucional.
Esc. Educ. [online]
, vol.22, n.
p.57-66, 2018.
NEVES, Josélia. Comunicação multi
sensorial em contexto museológico.
Actas do 1 Seminário de Investigação
em
Museologia dos países de língua
portuguesa e espanhola
. Vol. 2, p 180
192, 2009.
PASSERINO, L. M. A tecnologia
assistiva na política pública brasileira e
a formaçãode professores: que relação
é essa? In: BAPTISTA, C. R. (org.).
Escolarização e deficiência
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e
Revista Latino
-Americana de
, p.
91-117, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Cultura, Tecnologia e Sociedade
ticas, visibilidades
Salvador
: EDUFBA
FAPESP. Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo.
ública Fapesp e
Propostas para
PIPE Fase 3
-
2018. Disponível em:
http://www.fapesp.br/11554. Acesso
:
FRANÇA JR, Luis Celestino de
; .LIMA,
RODRIGUES,
Thiago. A Cultura na Universidade.
Reitoria de Cultura
da Universidade Federal do Cariri.
Anais do XIV ENECULT
. Salvador,
Ação cultural para a
. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
ria Cecília Figueiras
Lima. Sociomuseologia: uma reflexão
sobre a relação museus e sociedade.
,
Pelotas,
Federal de Pelotas, vol.
MELO, Francisco Ricardo Lins Vieira
ARAUJO, Eliana Rodrigues.
sibilidade nas
Universidades: reflexões a partir de
uma experiência institucional.
Psicol.
, vol.22, n.
spe,
NEVES, Josélia. Comunicação multi
-
sensorial em contexto museológico.
Actas do 1 Seminário de Investigação
Museologia dos países de língua
. Vol. 2, p 180
-
PASSERINO, L. M. A tecnologia
assistiva na política pública brasileira e
a formaçãode professores: que relação
é essa? In: BAPTISTA, C. R. (org.).
Escolarização e deficiência
:
configurações nas políticas de inclusão
escolar. São Carlos:
Manzini: ABPEE, 2015. p. 189
PELOSI, M.B. et al
. A Comunicação
Alternativa na Exposição Cidade
Acessível da Casa da Ciência. In:
Congresso Brasileiro de Comunicação
Alternat
iva Isaac Brasil,
Campinas. Anais
[....]. Marília: ABPEE,
2015.
PRIMO, Judite. Museologia e Design
na const
rução de objetos
comunicantes.
Caleidoscópio
Revista de Comunicação e Cultura do
Departamento de Ciências da
Comunicação, Artes e Tecnologias
Informação da Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologias
(ULHT), Portugal, 2006.
RUBIM, Albino Canelas
Universidade, cultura e políticas
culturais.
Revista de Educação
Popular, p. 6-
17, 4 jun. 2019.
SARRAF, Viviane Panelli.
Comunicação dos
Cinco Sentidos em
Espaços Culturais.
Cisc 20 anos
p. 107-118, 2012.
117
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cultura, Tecnologia e Sociedade
")
configurações nas políticas de inclusão
escolar. São Carlos:
Marquezine &
Manzini: ABPEE, 2015. p. 189
-203.
. A Comunicação
Alternativa na Exposição Cidade
Acessível da Casa da Ciência. In:
VI
Congresso Brasileiro de Comunicação
iva Isaac Brasil,
2015,
[....]. Marília: ABPEE,
PRIMO, Judite. Museologia e Design
rução de objetos
Caleidoscópio
Revista de Comunicação e Cultura do
Departamento de Ciências da
Comunicação, Artes e Tecnologias
da
Informação da Universidade Lusófona
de Humanidades e Tecnologias
(ULHT), Portugal, 2006.
RUBIM, Albino Canelas
. A.
Universidade, cultura e políticas
Revista de Educação
17, 4 jun. 2019.
SARRAF, Viviane Panelli.
Cinco Sentidos em
Cisc 20 anos
, v. 1,
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
Videogames e cultura colaborativa:
DOI: https://doi.org/
10.22409/pragmatizes.v10i19.4
Resumo:
O trabalho pondera acercado engajamento de fãs a partir da observação do
jogos da franquia
Beyond Good and Evil
anunciado entre 2017 e 2018, foram criados espaços online nos quais os fãs podem colaborar para a
produção de conteúdo do novo jogo em diversos âmbitos, como artes e trilhas sonoras, os quais
pretendemos versar a fim de analisar nuances do engajamento, apu
oferecidas.
A metodologia, que se utiliza de um levantamento bibliogfico acerca de cultura de s, conta
com mapeamento do espectro de mecânicas colaborativas da produção, realizando estudo de caso do
jogo. O jogador, nesse âm
bito, se torna consumidor não apenas do produto final, mas, ao fazer parte
do processo de criação, se mais próximo do seu objeto de adoração
fortes com o produto e com outros fãs a partir das trocas de experiências e ideias
Palavras-chave
: Fandom; Cultura da Participação; Games; Beyond
Video
juegos y cultura colaborativa: l
Good and Evil 2
Resumen:
El artículo científico aborda elcompromiso de
juegos de la franquia
Beyond Good and Evil
anunciado entre 2017 y 2018, fueroncreadosespacios online en que fanspodrían colaborar
conlaprodución de contenidodeln
pretendemos analizarelcompromiso, determinando los tipos de cooperaciónofrecidos. La metodología
utiliza una bibliografía sobre la cultura de losfans, conunmapeodel espectro de mecánicas de
produc
ión colaborativa, realizando un estúdio de caso deljuego. El jugador, en este contexto, se
convierteen consumidor no solo delproducto final, pero, haciendo parte delproceso de creacion, esta
1
Caio Túlio Olímpio Pereira da Costa. Mestrando em Comunicação pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), Brasil. E-
mail: caiotuliocosta3@gmail.com
7157
2
Bruna Maria d
e Meneses. Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE), Brasil. E-
mail: 221bbruna@gmail.com
3
Eduardo Duarte Gomes da Silva.
de São Paulo (PUC-
SP), Professor Associado do Dept. de Comunicação Social da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), Brasil. E
7272-0088
Recebido em 06/01/2020, aceito para publicação em 26/04/2020,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
Videogames e cultura colaborativa:
a
audiência como produtora de conteúdo
em Beyond Good and Evil 2
10.22409/pragmatizes.v10i19.4
0302
Caio Túlio Olímpio Pereira da
Bruna Maria de Meneses
Eduardo Duarte Gomes da Silva
O trabalho pondera acercado engajamento de fãs a partir da observação do
Beyond Good and Evil
. Com o primeiro título apresentado em 2003 e o segundo
anunciado entre 2017 e 2018, foram criados espaços online nos quais os fãs podem colaborar para a
produção de conteúdo do novo jogo em diversos âmbitos, como artes e trilhas sonoras, os quais
pretendemos versar a fim de analisar nuances do engajamento, apu
rando os tipos de cooperação
A metodologia, que se utiliza de um levantamento bibliogfico acerca de cultura de s, conta
com mapeamento do espectro de mecânicas colaborativas da produção, realizando estudo de caso do
bito, se torna consumidor não apenas do produto final, mas, ao fazer parte
do processo de criação, se mais próximo do seu objeto de adoração
-
o jogo
fortes com o produto e com outros fãs a partir das trocas de experiências e ideias
: Fandom; Cultura da Participação; Games; Beyond
Good and
Evil.
juegos y cultura colaborativa: l
a
audiencia como productora de contenido
El artículo científico aborda elcompromiso de
fans a través de laobservacióndel
Beyond Good and Evil
.
Com suprimerotitulo presentado en 2003 y elsecondo
anunciado entre 2017 y 2018, fueroncreadosespacios online en que fanspodrían colaborar
conlaprodución de contenidodeln
uevojuegoenvarios âmbitos, como arte y banda sonora, en que
pretendemos analizarelcompromiso, determinando los tipos de cooperaciónofrecidos. La metodología
utiliza una bibliografía sobre la cultura de losfans, conunmapeodel espectro de mecánicas de
ión colaborativa, realizando un estúdio de caso deljuego. El jugador, en este contexto, se
convierteen consumidor no solo delproducto final, pero, haciendo parte delproceso de creacion, esta
Caio Túlio Olímpio Pereira da Costa. Mestrando em Comunicação pela Universidade Federal de
mail: caiotuliocosta3@gmail.com
-
https://orcid.org/0000
e Meneses. Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco
mail: 221bbruna@gmail.com
- https://orcid.org/0000-0001-
9395
Eduardo Duarte Gomes da Silva.
Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica
SP), Professor Associado do Dept. de Comunicação Social da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), Brasil. E
-mail: edwartte@gmail.com -
https://orcid.org/0000
Recebido em 06/01/2020, aceito para publicação em 26/04/2020,
disponibilizado online em
01/09/2020.
118
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
audiência como produtora de conteúdo
Caio Túlio Olímpio Pereira da
Costa
1
Bruna Maria de Meneses
2
Eduardo Duarte Gomes da Silva
3
O trabalho pondera acercado engajamento de fãs a partir da observação do
fandom de
. Com o primeiro título apresentado em 2003 e o segundo
anunciado entre 2017 e 2018, foram criados espaços online nos quais os fãs podem colaborar para a
produção de conteúdo do novo jogo em diversos âmbitos, como artes e trilhas sonoras, os quais
rando os tipos de cooperação
A metodologia, que se utiliza de um levantamento bibliogfico acerca de cultura de s, conta
com mapeamento do espectro de mecânicas colaborativas da produção, realizando estudo de caso do
bito, se torna consumidor não apenas do produto final, mas, ao fazer parte
o jogo
-, criando vínculos
fortes com o produto e com outros fãs a partir das trocas de experiências e ideias
realizadas.
Evil.
audiencia como productora de contenido
en Beyond
fans a través de laobservacióndel
fandom de
Com suprimerotitulo presentado en 2003 y elsecondo
anunciado entre 2017 y 2018, fueroncreadosespacios online en que fanspodrían colaborar
uevojuegoenvarios âmbitos, como arte y banda sonora, en que
pretendemos analizarelcompromiso, determinando los tipos de cooperaciónofrecidos. La metodología
utiliza una bibliografía sobre la cultura de losfans, conunmapeodel espectro de mecánicas de
ión colaborativa, realizando un estúdio de caso deljuego. El jugador, en este contexto, se
convierteen consumidor no solo delproducto final, pero, haciendo parte delproceso de creacion, esta
Caio Túlio Olímpio Pereira da Costa. Mestrando em Comunicação pela Universidade Federal de
https://orcid.org/0000
-0002-7201-
e Meneses. Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco
9395
-4652
Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica
SP), Professor Associado do Dept. de Comunicação Social da Universidade
https://orcid.org/0000
-0002-
disponibilizado online em
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
cerca de su objeto de adoración
compartir experiencias e ideas.
Palabras clave
: Fandom; Cultura de Participación; Games; Beyond Good and Evil.
Videoga
mes and collaborative culture: t
Evil 2
Abstract:
The research considers the fan engagement through observation of the Beyond Good and
Evil franchise and its fandom. With the first title released in 2003 and the second announced between
2017 and 2018, online communities emerged, in which fans
for the new game in distinct fields, such as art and soundtracks, being relevant to the research
approach on the engagement, to explore the possible offered contributions. The methodology carried
out a literature su
rvey concerning fan culture, mapping the collaborative mechanics of production,
considering it a case study. The player does not become only a consumer of the final product,
however, while being part of the creation process, it gets closer to the beloved o
bonding with the product and other fans based on the experiences and ideas exchange.
Keywords
: Fandom; Collaboration Culture
Videogames e cultura colaborativa: a audiência como produtora de conteúdo
Introdução
Em 2018 ocorreu a E3, a
Electronic
Entertainment Expo
aconvenção internacional realizada
anualmente em que fabricantes,
distribuidoras e desenvolvedoras de
jogos eletrônicos apresentam seus
novos produtos à imprensa
especializada e fãs do segmento.
Durante suas duas últimas edições,
especificamente, foi int
roduzido ao
mundo dos gamers
o trailer do jogo
Beyond Good and Evil
2
antecessor e primeiro título lançado
em 2003, até o trailer de anúncio da
sequência haviam se passado catorze
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
cerca de su objeto de adoración
– eljuego -, forjando fuertes vín
culos conelproducto y conotrosfans al
: Fandom; Cultura de Participación; Games; Beyond Good and Evil.
mes and collaborative culture: t
he audience as content producer in
The research considers the fan engagement through observation of the Beyond Good and
Evil franchise and its fandom. With the first title released in 2003 and the second announced between
2017 and 2018, online communities emerged, in which fans
could contribute with content production
for the new game in distinct fields, such as art and soundtracks, being relevant to the research
approach on the engagement, to explore the possible offered contributions. The methodology carried
rvey concerning fan culture, mapping the collaborative mechanics of production,
considering it a case study. The player does not become only a consumer of the final product,
however, while being part of the creation process, it gets closer to the beloved o
bonding with the product and other fans based on the experiences and ideas exchange.
: Fandom; Collaboration Culture
; Games; Beyond Good and Evil.
Videogames e cultura colaborativa: a audiência como produtora de conteúdo
em Beyond Good and Evil 2
Em 2018 ocorreu a E3, a
Entertainment Expo
,
aconvenção internacional realizada
anualmente em que fabricantes,
distribuidoras e desenvolvedoras de
jogos eletrônicos apresentam seus
novos produtos à imprensa
especializada e fãs do segmento.
Durante suas duas últimas edições,
roduzido ao
o trailer do jogo
2
. Com seu
antecessor e primeiro título lançado
em 2003, até o trailer de anúncio da
sequência haviam se passado catorze
anos de espera para os jogadores e
admiradores da franquia. Durante
tempo, muitos detalhes mudaram e se
reinventaram no campo da tecnologia.
Houve inovações na maneira como os
jogos são desenvolvidos, recebidos
pelo público e até mesmo jogados.
Dentre as mudanças, aspectos
técnicos também acompanharam esse
quadro, co
mo é o caso dos campos do
design e roteiros. No entanto, o
presente trabalho não tem como foco
descrever as transformações sofridas
pelos jogos eletrônicos, mas sim
abordar as mudanças do ponto de
vista de interação entre consumidores
119
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
culos conelproducto y conotrosfans al
: Fandom; Cultura de Participación; Games; Beyond Good and Evil.
he audience as content producer in
Beyond Good and
The research considers the fan engagement through observation of the Beyond Good and
Evil franchise and its fandom. With the first title released in 2003 and the second announced between
could contribute with content production
for the new game in distinct fields, such as art and soundtracks, being relevant to the research
approach on the engagement, to explore the possible offered contributions. The methodology carried
rvey concerning fan culture, mapping the collaborative mechanics of production,
considering it a case study. The player does not become only a consumer of the final product,
however, while being part of the creation process, it gets closer to the beloved o
bject the game-,
bonding with the product and other fans based on the experiences and ideas exchange.
Videogames e cultura colaborativa: a audiência como produtora de conteúdo
anos de espera para os jogadores e
admiradores da franquia. Durante
esse
tempo, muitos detalhes mudaram e se
reinventaram no campo da tecnologia.
Houve inovações na maneira como os
jogos são desenvolvidos, recebidos
pelo público e até mesmo jogados.
Dentre as mudanças, aspectos
técnicos também acompanharam esse
mo é o caso dos campos do
design e roteiros. No entanto, o
presente trabalho não tem como foco
descrever as transformações sofridas
pelos jogos eletrônicos, mas sim
abordar as mudanças do ponto de
vista de interação entre consumidores
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
e produtores. Ou melh
or, entre os s
da franquia e os criadores de
Good and Evil
, levando em
consideração aspectos de
aproximação entre esses dois grupos
graças ao advento da internet e da
consequente mudança de papéis que
a conexão em rede permite.
Entende-
se que ao l
anos, tais transformações tecnológicas
foram essenciais para reconfigurar as
práticas de interação social. Na rede
surgiram grupos de fãs, comunidades,
espaços propícios para que se
encontre pessoas com interesse
semelhante e para que se interaja
elas
. Ao mesmo tempo, as trocas
também são possíveis em um nível
expectador/consumidor-
produto. Não é
que aqueles que antes eram apenas
jogadores subitamente passaram a
criar em cima de jogos digitais, mas o
aspecto de conexão e coletividade
(JENKINS,
2009) permitiu que
houvesse maior interação e
engajamento. Ou seja, os jogadores,
como audiência, podem ser vistos,
ouvidos e entendidos tanto por outros
jogadores quanto pelos criadores, em
uma comunicação horizontal e menos
hierarquizada, graças às diver
plataformas interacionais que o mundo
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
or, entre os s
da franquia e os criadores de
Beyond
, levando em
consideração aspectos de
aproximação entre esses dois grupos
graças ao advento da internet e da
consequente mudança de papéis que
a conexão em rede permite.
se que ao l
ongo dos
anos, tais transformações tecnológicas
foram essenciais para reconfigurar as
práticas de interação social. Na rede
surgiram grupos de fãs, comunidades,
espaços propícios para que se
encontre pessoas com interesse
semelhante e para que se interaja
com
. Ao mesmo tempo, as trocas
também são possíveis em um nível
produto. Não é
que aqueles que antes eram apenas
jogadores subitamente passaram a
criar em cima de jogos digitais, mas o
aspecto de conexão e coletividade
2009) permitiu que
houvesse maior interação e
engajamento. Ou seja, os jogadores,
como audiência, podem ser vistos,
ouvidos e entendidos tanto por outros
jogadores quanto pelos criadores, em
uma comunicação horizontal e menos
hierarquizada, graças às diver
sas
plataformas interacionais que o mundo
globalizado permite. Quando Bailén
(2009) traz apontamentos sobre a
audiência no futuro, é dito que
buscará acesso às
recursos que alimentem sua existência
psicológica, o que reforça o sentido d
pertencimento. Quanto
aqui significa dar sugestões, criar
artes, sicas, vídeos e discutir
conceitos relacionados ao universo
dos jogos digitais, categorizando os
participantes como verdadeiros
agentes multimídia (CANCLINI, 2007)
os qu
ais veremos mais
detalhadamente no decorrer do
trabalho.
Sendo assim, o que nos
interessa refletir nesse artigo é a
produção do jogo
Beyond Good and
Evil 2
a partirda cultura da participação
em que o fandom
4
atuar.
Vamos, em primeiro lugar,
a
presentar uma breve revisão
bibliográfica que traz subdios para que
a compreensão acerca desse espectro
da cultura da participação seja posvel
e justifivel. Pretende
pesquisa exploraria com intento de
gerar familiarização com a temática
4
De acordo com Jenkins (2010),
refere às estruturas sociais e práticas culturais
criadas por consumidores da mídia de massa.
120
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
globalizado permite. Quando Bailén
(2009) traz apontamentos sobre a
audiência no futuro, é dito que
esta
experiências e
recursos que alimentem sua existência
psicológica, o que reforça o sentido d
e
pertencimento. Quanto
à participação,
aqui significa dar sugestões, criar
artes, sicas, vídeos e discutir
conceitos relacionados ao universo
dos jogos digitais, categorizando os
participantes como verdadeiros
agentes multimídia (CANCLINI, 2007)
ais veremos mais
detalhadamente no decorrer do
Sendo assim, o que nos
interessa refletir nesse artigo é a
Beyond Good and
a partirda cultura da participação
é convocado a
Vamos, em primeiro lugar,
presentar uma breve revisão
bibliográfica que traz subdios para que
a compreensão acerca desse espectro
da cultura da participação seja posvel
e justifivel. Pretende
-seainda uma
pesquisa exploraria com intento de
gerar familiarização com a temática
. Em
De acordo com Jenkins (2010),
fandom se
refere às estruturas sociais e práticas culturais
criadas por consumidores da mídia de massa.
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
segundo lugar serão abordadas
exemplificões de mecânicas
colaborativas que fazem jus ao
contemporâneo potencial das
audiências em relação à
s mídias que
permeiam a sociedade conectada,
trazendo conceituações que
referenciam a sociabilidade.
lugar, a partir de um estudo mais
aprofundado sobre a construção e
desenvolvimento colaborativo do jogo
Beyond Good and Evil 2
, optamos por
estudo de caso. O estudo de caso é
paraYin (2001, p.
32) uma investigão
emrica de um fenômeno
conte
mporâneo dentro de um contexto
da vida real”.Goode e Hatt (1979, p.
421-
422) observam que o estudo de
caso “é um meio de organizar dados
sociais preservando o caráter unirio do
objeto social estudado. Através de
análise da produção do jogo, audiência
e
demais variáveis que permeiam essa
relação temos a seguinte questão que
norteia esse artigo: Como a cultura de
s pode modificar o todo de
produção de jogos de videogame e
construir conteúdos colaborativos na
contemporaneidade?
Cultura da participação
em jogos
As reverberaçõesda comunicação do
culo XXI tendem a se ramificar
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
segundo lugar serão abordadas
exemplificões de mecânicas
colaborativas que fazem jus ao
contemporâneo potencial das
s mídias que
permeiam a sociedade conectada,
trazendo conceituações que
referenciam a sociabilidade.
Em terceiro
lugar, a partir de um estudo mais
aprofundado sobre a construção e
desenvolvimento colaborativo do jogo
, optamos por
estudo de caso. O estudo de caso é
32) uma investigão
emrica de um fenômeno
mporâneo dentro de um contexto
da vida real”.Goode e Hatt (1979, p.
422) observam que o estudo de
caso “é um meio de organizar dados
sociais preservando o caráter unirio do
objeto social estudado. Através de
análise da produção do jogo, audiência
demais variáveis que permeiam essa
relação temos a seguinte questão que
norteia esse artigo: Como a cultura de
s pode modificar o todo de
produção de jogos de videogame e
construir conteúdos colaborativos na
em jogos
As reverberaçõesda comunicação do
culo XXI tendem a se ramificar
por
distintos meios. As incontáveis
possibilidades desse novo espectro
comunicativo ocasionaram diferentes
formas de lidar com a informação,
sobretudo em um cerio onde as
nões
de espaço virtual, mais
ubíquos a cada dia, nos representa e
dá voz, diferente de um passado em
que o receptor de mensagens agia,
sem escolha, com passividade
(SANTAELLA, 2013).
A comunicação na cultura das
redes, ainda que o seja a única força
motriz d
essa tendência de
modernidade, promoveu guinadas nas
avaliações de receptor passivo dos
conteúdos que vêm de meios de
comunicação de massa, ressignificando
as possibilidades do receptor quanto
informação. Com comunidades virtuais
se alicerçando progressi
meio de sociedades conectadas, um
salto no que concerne
sociabilidade e compartilhamento de
conhecimento fez-
se vigente nessa
esfera. Os mesmos corpos sociais, para
Jenkins (2009), independem de
instituições e governos que acla
problemas e provee
m as únicas vias de
informação viáveis. Existe, nesse
campo, uma cultura da participão,
visto que, como audiência ativa e
tamm possessora de informação, se
estipula uma comunicação horizontal
121
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
distintos meios. As incontáveis
possibilidades desse novo espectro
comunicativo ocasionaram diferentes
formas de lidar com a informação,
sobretudo em um cerio onde as
de espaço virtual, mais
ubíquos a cada dia, nos representa e
dá voz, diferente de um passado em
que o receptor de mensagens agia,
sem escolha, com passividade
(SANTAELLA, 2013).
A comunicação na cultura das
redes, ainda que o seja a única força
-
essa tendência de
modernidade, promoveu guinadas nas
avaliações de receptor passivo dos
conteúdos que vêm de meios de
comunicação de massa, ressignificando
as possibilidades do receptor quanto
à
informação. Com comunidades virtuais
se alicerçando progressi
vamente por
meio de sociedades conectadas, um
salto no que concerne
aos processos de
sociabilidade e compartilhamento de
se vigente nessa
esfera. Os mesmos corpos sociais, para
Jenkins (2009), independem de
instituições e governos que acla
rem
m as únicas vias de
informação viáveis. Existe, nesse
campo, uma cultura da participão,
visto que, como audiência ativa e
tamm possessora de informação, se
estipula uma comunicação horizontal
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
nesses ramos, onde todos rem
aptio
de compartilhamento.
Shirky atesta que “participar é
agir como se sua presença importasse,
como se, quando você ou ouve algo,
sua resposta fizesse parte do evento”
(SHIRKY, 2011,
p. 25). Esse poder de
voz, que tende a contentar a vontade
intrínseca de
participação, corrobora
uma ideia de pertencimento, que além
dafinalidade de comunicar, motiva que
todas as pessoas em rede também
concebam e mobilizem causas
coletivas. vy revela que essa sintonia
de informações partilhadas no mesmo
ambiente promove o q
ue ele conceitua
como
inteligência coletiva
distribda por toda parte,
incessantemente valorizada,
coordenada em tempo real, que resulta
em uma mobilizão efetiva das
compencias” (VY, 1998
Pires (2017)
atesta que o presente
contex
to comunicacional em que
estamos inseridos é apontado por ser
participativo, coletivo,
descentralizado,multimídiático e firme
em princípios colaborativos. E, os
consumidores de informação,
historicamente alocados na extremidade
do processo comunicacional
receptores, agora tamm produzem
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
nesses ramos, onde todos rem
de compartilhamento.
Shirky atesta que “participar é
agir como se sua presença importasse,
como se, quando você ou ouve algo,
sua resposta fizesse parte do evento”
p. 25). Esse poder de
voz, que tende a contentar a vontade
participação, corrobora
uma ideia de pertencimento, que além
dafinalidade de comunicar, motiva que
todas as pessoas em rede também
concebam e mobilizem causas
coletivas. vy revela que essa sintonia
de informações partilhadas no mesmo
ue ele conceitua
inteligência coletiva
, que “é
distribda por toda parte,
incessantemente valorizada,
coordenada em tempo real, que resulta
em uma mobilizão efetiva das
compencias” (VY, 1998
, p. 28).
atesta que o presente
to comunicacional em que
estamos inseridos é apontado por ser
participativo, coletivo,
descentralizado,multimídiático e firme
em princípios colaborativos. E, os
consumidores de informação,
historicamente alocados na extremidade
do processo comunicacional
como
receptores, agora tamm produzem
conteúdo e exercem mais força sobre
como e quando as informações circulam
nas redes” (PIRES, 2017
Tendo em vistaque os
videogames podem agir como uma
forma de expressão cultural de nossa
atualidade digital, é
possível reiterar que
essa inovação representada em
dispositivos eletrônicos também permite
que a cultura da participão esteja
presente.
Sendo o universo dico
expostopelos videogames um local em
que conexões entre componentes
visuais, textuais e multim
determinam enquanto cruzam barreiras
geográficas, também circunstâncias
de crião e compartilhamento, dentro e
fora do meio dos jogos, reforçando a
concepção de inteligência coletiva,
fomentada pela interatividade dessa
dia.
Canclini af
irma que consumir
conteúdos culturais (proveniente ou o
de jogos) resulta em um “conjunto de
processos socioculturais nos quais se
realiza a aproprião e o uso dos
produtos”, e, nesse uso é que se
constrói parte da racionalidade
integrativa e comunicat
sociedade” (CANCLINI,1993, p. 53).O
fandom
, nesse campo, é um dos
122
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
conteúdo e exercem mais força sobre
como e quando as informações circulam
nas redes” (PIRES, 2017
, p. 2).
Tendo em vistaque os
videogames podem agir como uma
forma de expressão cultural de nossa
possível reiterar que
essa inovação representada em
dispositivos eletrônicos também permite
que a cultura da participão esteja
Sendo o universo dico
expostopelos videogames um local em
que conexões entre componentes
visuais, textuais e multim
idiáticos se
determinam enquanto cruzam barreiras
geográficas, também circunstâncias
de crião e compartilhamento, dentro e
fora do meio dos jogos, reforçando a
concepção de inteligência coletiva,
fomentada pela interatividade dessa
irma que consumir
conteúdos culturais (proveniente ou o
de jogos) resulta em um “conjunto de
processos socioculturais nos quais se
realiza a aproprião e o uso dos
produtos”, e, nesse uso é que se
constrói parte da racionalidade
integrativa e comunicat
iva de uma
sociedade” (CANCLINI,1993, p. 53).O
, nesse campo, é um dos
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
centrais disseminadores dessa
sucessão. Podendo ser
formadotamm por usuários de
videogames, ele
auxilia para que as
informações se apresentem em
contínua multiplicação, seja na figura de
fanfics, wikis
, fóruns online ou
ambiências virtuais.
Elucidando esse
panorama dentro do meio de jogos
online, Goalves Jr. e Anchieta
p. 83) alegam que:
A
compreensão do funcionamento da
comunidade proporciona
experiências muito intensas aos
sujeitos. Para além do contato
interpessoal, um conjunto de novas
possibilidades se descortinam.
Compartilhar sonhos, desejos e
acima de tudo, um convívio, ainda
que
virtual, com pessoas que
buscam se entreter e se dedicar com
as mesmas coisas [...], cria uma
atmosfera de fantasia e liberdade na
qual se partilham as percepções do
mundo em prol da construção de
uma nova realidade, onde as
fronteiras são determinadas pel
próprios participantes. Os sujeitos se
atraem e desta relação de
cumplicidade se materializam novas
impressões das coisas e,
consequentemente, novas memórias
são trazidas para suas vidas
cotidianas em forma de aprendizado
e de poder de transformação de
realidades).
Observa-
se disso a produção de
conteúdo elaborada por fãs da franquia
de jogos de videogame
Mass Effect
Palomino, em mapeamento da
produtividade fã, ratifica que é posvel
encontrar mais de 15 mil
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
centrais disseminadores dessa
sucessão. Podendo ser
formadotamm por usuários de
auxilia para que as
informações se apresentem em
contínua multiplicação, seja na figura de
, fóruns online ou
Elucidando esse
panorama dentro do meio de jogos
online, Goalves Jr. e Anchieta
(2017,
compreensão do funcionamento da
comunidade proporciona
experiências muito intensas aos
sujeitos. Para além do contato
interpessoal, um conjunto de novas
possibilidades se descortinam.
Compartilhar sonhos, desejos e
acima de tudo, um convívio, ainda
virtual, com pessoas que
buscam se entreter e se dedicar com
as mesmas coisas [...], cria uma
atmosfera de fantasia e liberdade na
qual se partilham as percepções do
mundo em prol da construção de
uma nova realidade, onde as
fronteiras são determinadas pel
os
próprios participantes. Os sujeitos se
atraem e desta relação de
cumplicidade se materializam novas
impressões das coisas e,
consequentemente, novas memórias
são trazidas para suas vidas
cotidianas em forma de aprendizado
e de poder de transformação de
suas
se disso a produção de
conteúdo elaborada por fãs da franquia
Mass Effect
.
Palomino, em mapeamento da
produtividade fã, ratifica que é posvel
encontrar mais de 15 mil
fanfics na
internet; obras
audiovisuais viabilizadas
noYouTube
e em grupos de
áudio-
dramatizações; deos
musicais;fanartse
memes
variados objetos replicáveis e trazidos
pela própria dinâmica da comunidade
(PALOMINO, 2015, p. 74).
Breve considerações sobre fãs
Na literatura dos estudos de s
e fandom
, encontramos variadas
tentativas de definir e caracterizar tais
grupos. Dayan
considera os fãs a
partir de quatro características: “o
sentimento reflexivo de pertencer a
uma comunidade imaginada, a
capacidade de emitir opiniões ou
pedidos narrativos, o aparecimento de
uma sociabilidade direta, e a
existência de uma dimensão de
perfo
rmance” (DAYAN, 2006
PARMEGIANNI, 2014, p.
Thompson (2014), o ato de ser
envolve questões afetivas e atividades
sociais entre pessoas. Klastrup (2010)
destaca o envolvimento emocional e a
identificação com uma obra, um
etc.
Para J
enkins (2015), conceituar
fandom
requer englobá
considerando cinco dimensões de
atividades. A primeira afirma que o
123
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
audiovisuais viabilizadas
e em grupos de
Facebook;
dramatizações; deos
memes
, além de
variados objetos replicáveis e trazidos
pela própria dinâmica da comunidade
(PALOMINO, 2015, p. 74).
Breve considerações sobre fãs
Na literatura dos estudos de s
, encontramos variadas
tentativas de definir e caracterizar tais
considera os fãs a
partir de quatro características: “o
sentimento reflexivo de pertencer a
uma comunidade imaginada, a
capacidade de emitir opiniões ou
pedidos narrativos, o aparecimento de
uma sociabilidade direta, e a
existência de uma dimensão de
rmance” (DAYAN, 2006
apud
PARMEGIANNI, 2014, p.
28). Para
Thompson (2014), o ato de ser
envolve questões afetivas e atividades
sociais entre pessoas. Klastrup (2010)
destaca o envolvimento emocional e a
identificação com uma obra, um
artista
enkins (2015), conceituar
requer englobá
-lo
considerando cinco dimensões de
atividades. A primeira afirma que o
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
fandom
está relacionado com “uma
modalidade específica de recepção
(Ibidem, p.
280), a qual envolve os
processos de compartilhar, discuti
com os outros, fazer releituras de
textos etc.”
a segunda dimensão
afirma o fandom
a partir de “um
conjunto específico de práticas críticas
e interpretativas” (
Ibidem
Essa colocação diz respeito às
atividades dos fãs com relação ao
modo como
seu objeto de adoração é
explorado, a partir de certas práticas
de leituras que são preferidas pela
comunidade. Esse aspecto considera,
por exemplo, que a comunidade de fãs
de
Beyond Good and Evil
modo particular de leitura, consumo e
participaç
ão ao interagir entre si e com
o jogo.
O terceiro ponto considera que
o fandom
“constitui uma base para o
ativismo consumidor” (
Ibidem
Nesse tópico, Jenkins argumenta que
boa parte dos fandoms
se originam
como resposta a uma suposta
“impotência d
o consumidor diante das
poderosas instituições de produção e
circulação cultural” (JENKINS, 2015, p.
281). Devemos considerar, porém, que
esse texto é originário de 1992. Assim,
o autor explicita que os conglomerados
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
está relacionado com “uma
modalidade específica de recepção
280), a qual envolve os
processos de compartilhar, discuti
r
com os outros, fazer releituras de
a segunda dimensão
a partir de “um
conjunto específico de práticas críticas
Ibidem
, p. 280).
Essa colocação diz respeito às
atividades dos fãs com relação ao
seu objeto de adoração é
explorado, a partir de certas práticas
de leituras que são preferidas pela
comunidade. Esse aspecto considera,
por exemplo, que a comunidade de fãs
Beyond Good and Evil
possui um
modo particular de leitura, consumo e
ão ao interagir entre si e com
O terceiro ponto considera que
“constitui uma base para o
Ibidem
, p. 280).
Nesse tópico, Jenkins argumenta que
se originam
como resposta a uma suposta
o consumidor diante das
poderosas instituições de produção e
circulação cultural” (JENKINS, 2015, p.
281). Devemos considerar, porém, que
esse texto é originário de 1992. Assim,
o autor explicita que os conglomerados
de mídia não querem que os fãs façam
ex
igências e que apenas aceitem o
que lhes é imposto. Portanto, Jenkins
considera o
fandom
comunidade o oficial, onde os
participantes discutem
desenvolvimentos e desdobramentos
alternativos para a obra. As
comunidades de s oficiais seriam
aquel
as que mantêm os interesses dos
espectadores regulares e continuam
gerando retorno (muitas vezes
financeiro) para empresas. A diferença
entre a publicação (1992) e o ano
presente (2019) nos leva a repensar
essa configuração. Recuero (
JENKINS, 2016) co
transformações tecnológicas, a
internet, redes sociais e semelhantes
funcionam como espaços e
ambiências digitais onde os
se reúnem e constroem sentidos. É
importante refletir sobre essas
mudanças e o impacto delas na
relação entre fãs
e conglomerados
midiáticos, uma vez que o
direcionamento e empresa não
necessariamente é uma relação
binária, onde o
fandom
apresenta como oposto aos interesses
da empresa. Pelo contrário, a cultura
dos fandoms
atual, que tem como
124
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
de mídia não querem que os fãs façam
igências e que apenas aceitem o
que lhes é imposto. Portanto, Jenkins
fandom
como uma
comunidade o oficial, onde os
participantes discutem
desenvolvimentos e desdobramentos
alternativos para a obra. As
comunidades de s oficiais seriam
as que mantêm os interesses dos
espectadores regulares e continuam
gerando retorno (muitas vezes
financeiro) para empresas. A diferença
entre a publicação (1992) e o ano
presente (2019) nos leva a repensar
essa configuração. Recuero (
apud
JENKINS, 2016) co
loca que as
transformações tecnológicas, a
internet, redes sociais e semelhantes
funcionam como espaços e
ambiências digitais onde os
fandoms
se reúnem e constroem sentidos. É
importante refletir sobre essas
mudanças e o impacto delas na
e conglomerados
midiáticos, uma vez que o
direcionamento e empresa não
necessariamente é uma relação
fandom
sempre se
apresenta como oposto aos interesses
da empresa. Pelo contrário, a cultura
atual, que tem como
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
base a rede,
pode ser pensada a partir
da contribuição de seus participantes
para com a obra, através de práticas
de engajamento, as quais também
veremos mais adiante.
Recuero atesta
o engajamento como “decorrência do
envolvimento das pessoas entre si e
com a marca co
mo persona. É a
construção de laços mais fortes, de
capital social naquele espaço e
naquela rede” (RECUERO, 2013,
online).
A quarta dimensão dos
para Jenkins (2015) está relacionada
com a produção cultural. Diz respeito
arte que é criada pelos
“atendem interesses especializados da
comunidade de s” (
idem
considerado que dentro do
não existe divisão definida entre
artistas e consumidores: todos ali têm
talentos em potencial que podem ser
descobertos e explorados dentro
daquele contexto de forma a enaltecer
uma obra específica.Por fim, o quinto
aspecto afirma o
fandom
“comunida
de social alternativa”
(Ibidem, p.
282), em que certos valores
“podem ser mais humanitários e
democráticos do que os da sociedade
mundana” (JENKINS, 2015, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
pode ser pensada a partir
da contribuição de seus participantes
para com a obra, através de práticas
de engajamento, as quais também
Recuero atesta
o engajamento como “decorrência do
envolvimento das pessoas entre si e
mo persona. É a
construção de laços mais fortes, de
capital social naquele espaço e
naquela rede” (RECUERO, 2013,
A quarta dimensão dos
fandoms
para Jenkins (2015) está relacionada
com a produção cultural. Diz respeito
à
arte que é criada pelos
s e que
“atendem interesses especializados da
idem
, p.281). É
considerado que dentro do
fandom
não existe divisão definida entre
artistas e consumidores: todos ali têm
talentos em potencial que podem ser
descobertos e explorados dentro
daquele contexto de forma a enaltecer
uma obra específica.Por fim, o quinto
fandom
como
de social alternativa”
282), em que certos valores
“podem ser mais humanitários e
democráticos do que os da sociedade
mundana” (JENKINS, 2015, p.
282).
Dentre esses cinco tópicos
definidos por Jenkins, damos destaque
ao terceiro e ao quarto, um
esse trabalho associa principalmente
os níveis do engajamento entre os fãs
a partir do consumo e das produções
artísticas do mesmo em relação ao
jogo. O terceiro, relacionado
fandom
e suas produções de
conteúdo, dão novos sentidos ao
víncu
lo entre empresas e fãs, fazendo
a manutenção de espaços sociais que
contribuem para a disseminação da
obra. o quarto, que iguala ao
mesmo patamar toda e qualquer
produção de conteúdo de uma obra,
é considerado também um “portfólio”
geral da cultura
fandom
segmento ou franquia.
Beyond Good and Evil
Vamos então ao jogo. Em 2003
o
Ubisoft Montpellier Studios
desenvolve o jogo
Beyond Good and
Evil
, o primeiro trabalho da franquia
homônima, visto como jogo dos
gêneros aventura e ficção científica.
jogador encarna a repórter e fotógrafa
Jade, uma das escassas personagens
femininas em evidência que se retira
125
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Dentre esses cinco tópicos
definidos por Jenkins, damos destaque
ao terceiro e ao quarto, um
a vez que
esse trabalho associa principalmente
os níveis do engajamento entre os fãs
a partir do consumo e das produções
artísticas do mesmo em relação ao
jogo. O terceiro, relacionado
à ação
e suas produções de
conteúdo, dão novos sentidos ao
lo entre empresas e fãs, fazendo
a manutenção de espaços sociais que
contribuem para a disseminação da
obra. o quarto, que iguala ao
mesmo patamar toda e qualquer
produção de conteúdo de uma obra,
é considerado também um “portfólio”
fandom
de um
segmento ou franquia.
Beyond Good and Evil
Vamos então ao jogo. Em 2003
Ubisoft Montpellier Studios
Beyond Good and
, o primeiro trabalho da franquia
homônima, visto como jogo dos
gêneros aventura e ficção científica.
O
jogador encarna a repórter e fotógrafa
Jade, uma das escassas personagens
femininas em evidência que se retira
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
do grupo hiper-
sexualizado
de
Beyond Good and Evil
usuário para uma existência ficcional
no ano 2435, em um futuro de
tecnolo
gias avançadas e diferentes
raças alienígenas. Vivendo
noplanetaHyllis, em sítio longínquo do
cosmos, Jade e a população do local
são repetidamente atacadas por
inimigos tiranos estelares.
tempo, o domínio militar ditatorial no
planeta é incapaz d
e trazer segurança
à população, o que levanta suspeitas
de sua atuação, dando luz à entidade
rebelde IRIS Network
. O grupo
revolucionário associa
a tentativa
frustrada de impedir os atacantes a
uma conspiração do regime, visto que
as tentativas de salvação
sempre resultam em mais baixas do
que o esperado. Jade, convocada pela
resistência após a morte de um ente
querido, passa a colabora
contra-
hegemônica, empregando sua
competência com fotografia para reunir
evidências que desmascarem a
administração existente, provando a
5
Reportagem a respeito da hiper
de personagens femininas em jogos
eletrônicos:
http://www.mapinguanerd.com.br/oito
de-um-breve-historico-das-
personagens
femininas-nos-games/
Acesso: 05 mar. 2019.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
sexualizado
5
. A ficção
Beyond Good and Evil
guia o
usuário para uma existência ficcional
no ano 2435, em um futuro de
gias avançadas e diferentes
raças alienígenas. Vivendo
noplanetaHyllis, em sítio longínquo do
cosmos, Jade e a população do local
são repetidamente atacadas por
Ao mesmo
tempo, o domínio militar ditatorial no
e trazer segurança
à população, o que levanta suspeitas
de sua atuação, dando luz à entidade
. O grupo
a tentativa
frustrada de impedir os atacantes a
uma conspiração do regime, visto que
as tentativas de salvação
frustrada
sempre resultam em mais baixas do
que o esperado. Jade, convocada pela
resistência após a morte de um ente
querido, passa a colabora
r de forma
hegemônica, empregando sua
competência com fotografia para reunir
evidências que desmascarem a
administração existente, provando a
Reportagem a respeito da hiper
-sexualização
de personagens femininas em jogos
http://www.mapinguanerd.com.br/oito
-icones-
personagens
-
Acesso: 05 mar. 2019.
conspiração e salvandoa nação que
vive em conjuntura de desgraça.
Lidando com temáticas que
dialogam com falta de justiça,
preconceito, contrabando humano,
protagonismo da mulher e união pela
mesma causa,
Beyond Good and
teve triunfo na crítica, sendo nominado
à premiação
Game Developers
Awards
6
como Jogo do Ano, no ano
posterior ao lançamento. Contudo,
resultou em fiasco comercial, que
levou o título ao esquecimento do
grande público, ainda que
posteriormente, devido a seu teor,
tenha obtido a condição de “
Meia década após a difusão de
Be
yond Good and Evil
Ubisoft divulgou em sua convenção
anual para a imprensa
que viria a ser a continuação da obra,
Beyond Good and Evil
então, amadureciam cotidianamente o
entusiasmo em espaços online tais
como wikis, f
óruns e coletividades
cibernéticas (figura 1). Não obstante,
6
Convenção que garante premiações aos
melhores jogos lançados. Uma espécie de
“Oscar dos Videogames”:
http://www.gamechoiceawards.com/archive/gd
ca_4th.html
Acesso: 08 mar. 2019.
7
Convenção
da Ubisoft para a imprensa:
http://www.ubidays.com/
Acesso
2019.
126
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
conspiração e salvandoa nação que
vive em conjuntura de desgraça.
Lidando com temáticas que
dialogam com falta de justiça,
preconceito, contrabando humano,
protagonismo da mulher e união pela
Beyond Good and
Evil
teve triunfo na crítica, sendo nominado
Game Developers
Choice
como Jogo do Ano, no ano
posterior ao lançamento. Contudo,
resultou em fiasco comercial, que
levou o título ao esquecimento do
grande público, ainda que
posteriormente, devido a seu teor,
tenha obtido a condição de “
cult”.
Meia década após a difusão de
yond Good and Evil
, em 2008, a
Ubisoft divulgou em sua convenção
anual para a imprensa
7
um trailer do
que viria a ser a continuação da obra,
Beyond Good and Evil
2. Os fãs,
então, amadureciam cotidianamente o
entusiasmo em espaços online tais
óruns e coletividades
cibernéticas (figura 1). Não obstante,
Convenção que garante premiações aos
melhores jogos lançados. Uma espécie de
“Oscar dos Videogames”:
http://www.gamechoiceawards.com/archive/gd
Acesso: 08 mar. 2019.
da Ubisoft para a imprensa:
Acesso
: 10 mar.
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
com múltiplas conferências posteriores
com o passar do tempo e sem
apresentar notícias acerca da obra, os
apreciadores da franquia
desacreditaram no lançamento.
Entretempo, somente nove anos após
o trailer passado, durante a E3 2017,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
com múltiplas conferências posteriores
com o passar do tempo e sem
apresentar notícias acerca da obra, os
apreciadores da franquia
desacreditaram no lançamento.
Entretempo, somente nove anos após
o trailer passado, durante a E3 2017,
retornos emergiram. Em reunião com
declarações e reconhecimento do
diretor criativo e diretora de narrativas
da Ubisoft
8
, a centelha do
reanimada com um novo trailer e
moveu novamente a massa de fãs da
franquia.
8
Demonstração de
Beyond Good and Evil
na E3 com Michel Ancel (diretor criativo) e
Gabrielle Shrager (diretora de narrativas):
https://www.youtube.com/watch?v=1_jCaoJsjO
k&t=239s
Acesso: 10 mar. 2019.
127
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
retornos emergiram. Em reunião com
declarações e reconhecimento do
diretor criativo e diretora de narrativas
, a centelha do
fandom foi
reanimada com um novo trailer e
moveu novamente a massa de fãs da
Beyond Good and Evil
2
na E3 com Michel Ancel (diretor criativo) e
Gabrielle Shrager (diretora de narrativas):
https://www.youtube.com/watch?v=1_jCaoJsjO
Acesso: 10 mar. 2019.
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
Figura 1: Print-
Screen da seção de comentários do YouTube
9
Trailer de
Beyond Good and Evil
Acesso: 10 mar. 2019.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
Screen da seção de comentários do YouTube
9
em trailer de
Fonte: YouTube
Beyond Good and Evil
2, em 2008: https://www.youtube.com/watc
h?v=vkCXE1l5MVI
128
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
em trailer de
2008.
h?v=vkCXE1l5MVI
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
Ainda na E3 2017, foi anunciado
que o próximo títulose estruturaria
linha temporal antes dos ocorridos de
seu predecessor, harmoniza
universo com junção de etnias e
culturas, povoado por homens e
mestiços de animais nas
peculiaridades de um século 24
ficcional. Nessa instância simulada,
corporações geram pessoas h
os subjugam à escravidão, para
excursões de colonizaçãode planetas.
Em oposição à
injustiça, um grupo de
resistência combate pela autonomia.
Com as minúcias apresentadas
pelo trailer e pela convenção, as
esferas virtuais retornam ao
movimento de
engajamento nos
fóruns, partilhando outra vez ocasiões
e interesses comunitários que no
passado propiciaram a harmonia entre
esses mesmos conjuntos. Tópicos que
abordam os melhores momentos que
usuários gozaram em
Beyond
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
Ainda na E3 2017, foi anunciado
que o próximo títulose estruturaria
em
linha temporal antes dos ocorridos de
seu predecessor, harmoniza
ndo um
universo com junção de etnias e
culturas, povoado por homens e
mestiços de animais nas
peculiaridades de um século 24
ficcional. Nessa instância simulada,
corporações geram pessoas h
íbridas e
os subjugam à escravidão, para
excursões de colonizaçãode planetas.
injustiça, um grupo de
resistência combate pela autonomia.
Com as minúcias apresentadas
pelo trailer e pela convenção, as
esferas virtuais retornam ao
engajamento nos
fóruns, partilhando outra vez ocasiões
e interesses comunitários que no
passado propiciaram a harmonia entre
esses mesmos conjuntos. Tópicos que
abordam os melhores momentos que
Beyond
Good
and Evil
são recorrentes no fórum
oficial da Ubisoft
10
debates acerca da trilha sonora, o
design do jogo e demais experiências
que enaltecem a sociabilidade por
meio de perfis que integram o online e
off-line.
A E3 2017 também contou com
a apresentação
de uma nova
ferramenta de reforço à construção do
novo jogo, o
Space Monkey
O projeto evidencia uma plataforma
colaborativa comum aos usuários e
desenvolvedores da Ubisoft, em que o
conteúdo produzido pode ser
elaborado de forma síncrona, isto é,
contando com participação ativa dos
entusiastas da franquia. Para adentrar
à iniciativa, jogadores precisam
conectar-
se ao site oficial
Good and Evil 2
, registrar uma conta e
usufruir de pesquisas de conteúdo,
interações em comunidades virtuais
oficiais e notícias em primeira mão.
10
Fórum oficial de
Beyond Good and Evil
tópicos de discussões sobre o jogo:
https://forums.ubi.com/showthread.php/169866
9-Strong-Female-
Characters
2019.
11
Site oficial do Space MonkeyProgram:
https://
Beyond Good and Evil
us/spacemonkeyprogram
2019.
129
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
são recorrentes no fórum
10
, assim como
debates acerca da trilha sonora, o
design do jogo e demais experiências
que enaltecem a sociabilidade por
meio de perfis que integram o online e
A E3 2017 também contou com
de uma nova
ferramenta de reforço à construção do
Space Monkey
Program.
O projeto evidencia uma plataforma
colaborativa comum aos usuários e
desenvolvedores da Ubisoft, em que o
conteúdo produzido pode ser
elaborado de forma síncrona, isto é,
contando com participação ativa dos
entusiastas da franquia. Para adentrar
à iniciativa, jogadores precisam
se ao site oficial
11
de Beyond
, registrar uma conta e
usufruir de pesquisas de conteúdo,
interações em comunidades virtuais
oficiais e notícias em primeira mão.
Beyond Good and Evil
em
tópicos de discussões sobre o jogo:
https://forums.ubi.com/showthread.php/169866
Characters
Acesso: 10 mar.
Site oficial do Space MonkeyProgram:
Beyond Good and Evil
.ubisoft.com/en-
Acesso: 10 mar.
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
Figura 2: Aspectos sociais do fandom no fórum oficial do jogo
12
O fórum oficial de
Beyond Good and Evil
https://forums.ubi.com/showthread.php/1894569
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
Figura 2: Aspectos sociais do fandom no fórum oficial do jogo
Fonte: Fórum de Beyond Good and Evil
Beyond Good and Evil
e questões de sociabilidade:
https://forums.ubi.com/showthread.php/1894569
-Hello!!! Acesso em: 10 mar. 2
019.
130
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Figura 2: Aspectos sociais do fandom no fórum oficial do jogo
12
.
019.
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
Em 2018, também durante a
E3,foram divulgadas mais notícias
sobre o novo título, e mais um trailer
apresentando personagens. O jogo
(online e cooperativo entre jogadores)
se passa, até então,numa cidadela
digitale algumas mecânicas de jogo da
sequência também foram difundidos
A p
lataforma de colaboração, agora
acessível para usuários de todos os
continentes, contava com exemplos da
gama de possibilidades de criação de
conteúdo, como artes e audiovisual,
que aprimorado pelos u
suários terão
presença no jogo.
Houve acordo entre
a Ubi
soft e a instituição parceira
HITRECORD, que assegurou que o
13
Vídeo da conferência da Ubisoft na E3 2018:
https://www.youtube.com/watch?v=PeK9CP84
Qlk&t=465s
Acesso: 10 mar. 2019.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
Em 2018, também durante a
E3,foram divulgadas mais notícias
sobre o novo título, e mais um trailer
apresentando personagens. O jogo
(online e cooperativo entre jogadores)
se passa, até então,numa cidadela
digitale algumas mecânicas de jogo da
sequência também foram difundidos
13
.
lataforma de colaboração, agora
acessível para usuários de todos os
continentes, contava com exemplos da
gama de possibilidades de criação de
conteúdo, como artes e audiovisual,
suários terão
Houve acordo entre
soft e a instituição parceira
HITRECORD, que assegurou que o
Vídeo da conferência da Ubisoft na E3 2018:
https://www.youtube.com/watch?v=PeK9CP84
Acesso: 10 mar. 2019.
material produzido por fãs seria
firmado no título e nas narrativas dos
jogadores ao percorrerem as
ambiências digitais presentes (figura
3). Mediando o processo, a parceira
administradesde o ci
demandas (em formato de
vídeo) até a instância de pagamento
pela produção fã. Ademais, o projetose
reafirma como uma plataforma aberta
que supre a comunidade colaborativa,
considerando sua finalidade
da possibilidade de
criar conteúdo do
princípio, é permitido, inclusive,
colaborar a partir de matrizes
otimizadas por outros por meio de
edição.
14
Página da HITRECORD referenciando o
dinamismo dos projetos
colaborativos:
https://hitrecord.org/help
10 mar. 2019.
131
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
material produzido por fãs seria
firmado no título e nas narrativas dos
jogadores ao percorrerem as
ambiências digitais presentes (figura
3). Mediando o processo, a parceira
administradesde o ci
clo que divulga
demandas (em formato de
briefing e
vídeo) até a instância de pagamento
pela produção fã. Ademais, o projetose
reafirma como uma plataforma aberta
que supre a comunidade colaborativa,
considerando sua finalidade
14
. Apesar
criar conteúdo do
princípio, é permitido, inclusive,
colaborar a partir de matrizes
otimizadas por outros por meio de
Página da HITRECORD referenciando o
https://hitrecord.org/help
Acesso:
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
No programa HITRECORD
são expostas demandas dos
produtores do jogo,que os usuários
verificam e dão início ao processo
criativo caso tenham interesse. Os
administradores reproduzem
com orientações e delim
objetivo almejado, logo, com essa
divulgação, a incumbência se instaura.
A plataforma não promove uma
competição direta aos moldes de um
concurso. Entretanto, oportuniza e põe
em evidência o estímulo colaborativo
de produção em grupo. Dentro dos
projetos musicais, Shankara, uma
música a ser tocada em ambiências
digitais do jogo que evoca a ideia de
15
Página oficial dos projetos colaborativos
abertos em
Beyond Good and Evil
https://hitrecord.org/productions/3502858
Acesso: 10 mar. 2019.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
Figura 3: Ubisoft na E3 2018.
Fonte: Site Koopatv.org
No programa HITRECORD
15
são expostas demandas dos
produtores do jogo,que os usuários
verificam e dão início ao processo
criativo caso tenham interesse. Os
administradores reproduzem
briefings
com orientações e delim
itações do
objetivo almejado, logo, com essa
divulgação, a incumbência se instaura.
A plataforma não promove uma
competição direta aos moldes de um
concurso. Entretanto, oportuniza e põe
em evidência o estímulo colaborativo
de produção em grupo. Dentro dos
projetos musicais, Shankara, uma
música a ser tocada em ambiências
digitais do jogo que evoca a ideia de
Página oficial dos projetos colaborativos
Beyond Good and Evil
2:
https://hitrecord.org/productions/3502858
devocional com mantras. Com mais de
60 contribuições de músicos,
produtores, vocalistas e compositores,
a iniciativa é explorada de diferentes
form
as. a proposta de efeitos
adicionais de voz pelo usuário
pablojgarmon
, letras compostas por
Aradhyeaxat
, dublagem no idioma
híndi de trechos da música por
Dixit
e até mesmo a adição do
instrumento aborígene didjeridu por
Samuel Stokes
16
, dentre
Artes gráficas também contam
com seu espaço de produção na
plataforma. Um exemplo é a iniciativa
Anti-
Hybrid Propaganda,
baseia em arte urbana, anúncios,
cartazes e outras expressões
16
Página do projeto Shankara:
https://hitrecord.org/projects/3550096/interests/
all. A
cesso: 13 mar. 2019.
132
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
devocional com mantras. Com mais de
60 contribuições de músicos,
produtores, vocalistas e compositores,
a iniciativa é explorada de diferentes
as. a proposta de efeitos
adicionais de voz pelo usuário
, letras compostas por
, dublagem no idioma
híndi de trechos da música por
Ananya
e até mesmo a adição do
instrumento aborígene didjeridu por
, dentre
muitos outros.
Artes gráficas também contam
com seu espaço de produção na
plataforma. Um exemplo é a iniciativa
Hybrid Propaganda,
que se
baseia em arte urbana, anúncios,
cartazes e outras expressões
Página do projeto Shankara:
https://hitrecord.org/projects/3550096/interests/
cesso: 13 mar. 2019.
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
referentes à opinião de certos
personagens que comp
orão o quadro
do jogo. As colaborações,
aproximadamente 1,3 mil, são
Figura 4: Interface do projeto Anti
17
Página do projeto
colaborativo de
https://hitrecord.org/projects/3505007/interests/all
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
referentes à opinião de certos
orão o quadro
do jogo. As colaborações,
aproximadamente 1,3 mil, são
disponibilizadas para conferência e
modificação por qualquer usuário, com
a HITRECORD assegurando créditos
e legalidades da imagem (figura 4).
Figura 4: Interface do projeto Anti
-Hybrid Propaganda
17
Fonte: HITRECORD
colaborativo de
Anti-Hybrid Propaganda:
https://hitrecord.org/projects/3505007/interests/all
. Acessom: 13 mar. 2019.
133
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
disponibilizadas para conferência e
modificação por qualquer usuário, com
a HITRECORD assegurando créditos
e legalidades da imagem (figura 4).
17
.
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
Além das parcerias citadas, há,
conjuntamente, a realização de
mecânicas de
puzzles
cabeças), enigmas e padrões de
imagem a partir de design de jogos.
Segundo o vídeo de instruções e
briefing do projeto
Geoglyph Puzzles
o jogo conta com desafios para
jogadores desvendarem a partir de
marcações gráficas no solo das
ambiências. D
esenhos gigantes que
podem ser vistos como um todo do
alto vão estar presentes, onde a
criatividade dos produtores rege as
opções disponíveis. Uma formação
rochosa que simula linhas e geoglifos
de Naz
ca, no Peru, por exemplo,
assim como uma seta
apontando para
tesouros ou templos religiosos
escondidos podem trazer à narrativa
um detalhamento que facilita a
imersão e projeção-
identificação com a
história do jogo (figura 5).
18
Projeto Geoglyph Puzzles:
https://hitrecord.org/projects/3505079/highlight
s Acesso: 13 mar. 2019.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
Além das parcerias citadas, há,
conjuntamente, a realização de
puzzles
(quebra-
cabeças), enigmas e padrões de
imagem a partir de design de jogos.
Segundo o vídeo de instruções e
Geoglyph Puzzles
18
,
o jogo conta com desafios para
jogadores desvendarem a partir de
marcações gráficas no solo das
esenhos gigantes que
podem ser vistos como um todo do
alto vão estar presentes, onde a
criatividade dos produtores rege as
opções disponíveis. Uma formação
rochosa que simula linhas e geoglifos
ca, no Peru, por exemplo,
apontando para
tesouros ou templos religiosos
escondidos podem trazer à narrativa
um detalhamento que facilita a
identificação com a
história do jogo (figura 5).
https://hitrecord.org/projects/3505079/highlight
Para além das composições em
colaboração, a Ubisoft foca nas
atividades dos
admiradores que
reforçam a franquia desde sua
distribuição. Pode-
se verificar no site
oficial uma aba de nome
Spotlight
(Holofote na Comunidade,
em livre tradução), que abrange perfis
que apoiam o universo do jogo com
elaboração de conteúdo inéd
difundindo conhecimentos, e a
mesmo com produções audiovisuais.
Esse modo de exposição de
engajamento traz holofotes para o
fandom
, evidenciando produtores de
conteúdo que antes eram
desconhecidos e são significativos
para a franquia(figura 6).
134
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Para além das composições em
colaboração, a Ubisoft foca nas
admiradores que
reforçam a franquia desde sua
se verificar no site
oficial uma aba de nome
Community
(Holofote na Comunidade,
em livre tradução), que abrange perfis
que apoiam o universo do jogo com
elaboração de conteúdo inéd
ito,
difundindo conhecimentos, e a
mesmo com produções audiovisuais.
Esse modo de exposição de
engajamento traz holofotes para o
, evidenciando produtores de
conteúdo que antes eram
desconhecidos e são significativos
para a franquia(figura 6).
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
Figura 5: Trecho do vídeo explicativo do projeto de conteúdo Geoglyph Puzzles e proposta do usuário
Jofwa com a ideia de criar um templo/cidade em uma ilha no formato de tartaruga marinha
19
Proposta do usuário Jofwa:
https://hitrecord.org/records/3518557/comments
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
Figura 5: Trecho do vídeo explicativo do projeto de conteúdo Geoglyph Puzzles e proposta do usuário
Jofwa com a ideia de criar um templo/cidade em uma ilha no formato de tartaruga marinha
Fonte: HITRECORD
https://hitrecord.org/records/3518557/comments
Acesso: 13 mar. 2019.
135
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Figura 5: Trecho do vídeo explicativo do projeto de conteúdo Geoglyph Puzzles e proposta do usuário
Jofwa com a ideia de criar um templo/cidade em uma ilha no formato de tartaruga marinha
19
.
Acesso: 13 mar. 2019.
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
Mesmo com as produções
colaborativas acontecendo, a data de
distribuição do jogo ainda não foi
anunciada. Todavia, na cidade
francesa de Montpellier, a Ubisoft
sediará o BGE Fest
20
, uma convenção
com foco em Beyond
Good and Evil
que busca ampliar os elos e promover
sociabilidade entre jogadores,
desenvolvedores e mentes criativas.
Os responsáveis pelo jogo
acompanham os trabalhos
colaborativos e costumam trazer
feedbacks
e atualizações esporádicas
20
Mais informações do BGE Fest:
https://Beyond Good and Evil
.ubisoft.com/en
us/bgefest
Acesso: 13 mar. 2019.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
Mesmo com as produções
colaborativas acontecendo, a data de
distribuição do jogo ainda não foi
anunciada. Todavia, na cidade
francesa de Montpellier, a Ubisoft
, uma convenção
Good and Evil
que busca ampliar os elos e promover
sociabilidade entre jogadores,
desenvolvedores e mentes criativas.
Os responsáveis pelo jogo
acompanham os trabalhos
colaborativos e costumam trazer
e atualizações esporádicas
Mais informações do BGE Fest:
.ubisoft.com/en
-
Acesso: 13 mar. 2019.
através de deos
ao vivo, os
Monkey Reports
, na plataforma
YouTube
. Essa transparência e
comunicação horizontal promove
comunicabilidade, regulando ideias
durante as “lives
21
”. A partir das formas
de engajamento oferecidas e
levantadas anteriormente, uma tabela
foi criada para apresentar de maneira
sucinta as diferentes possibilidades de
interação entre fãs e empresa. Foram
acrescentados, também, outros
exemplos de produções d
presentes nas plataformas.
21
Space MonkeyReport:
https://www.youtube.com/watch?v=tGFi3_N
TD8
Acesso: 11 mar. 2019.
136
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
ao vivo, os
Space
, na plataforma
. Essa transparência e
comunicação horizontal promove
comunicabilidade, regulando ideias
”. A partir das formas
de engajamento oferecidas e
levantadas anteriormente, uma tabela
foi criada para apresentar de maneira
sucinta as diferentes possibilidades de
interação entre fãs e empresa. Foram
acrescentados, também, outros
exemplos de produções d
o fandom
presentes nas plataformas.
https://www.youtube.com/watch?v=tGFi3_N
-
Acesso: 11 mar. 2019.
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
Tabela 1
NOME
DESCRIÇÃO
Fórum oficial
Evidencia a
sociabilidade dos fãs
no que diz respeito
ao jogo.
Space
MonkeyProgram
Plataforma
colaborativa entre os
criadores do jogo e a
audiência.
HITRECORD
23
Comunidade criativa
online que faz arte
de maneira
colaborativa.
Apresenta outros
projetos além de
Beyond Good and
Evil.
22
Community Spotlight: https://
BeyondGoodandEvil
2019.
23
Dados de 25 de outubro de 2019.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
Figura 6: Fandomno Community Spotlight
22
.
Fonte: Site de Beyond Good and Evil
Tabela 1
Possibilidades de Interação Fandom em BGE2
CONTRIBUIÇÃO DA
AUDIÊNCIA
EXEMPLOS
sociabilidade dos fãs
no que diz respeito
Melhores momentos:
- Trilha Sonora;
- Design;
- Experiências.
-
Mapeamento de notícias sobre o
lançamento da franquia, feito de
fãs para fãs, em arquivos
disponibilizados no fórum.
-
Ideias para criação de
personagens, históricos e
narrativas.
colaborativa entre os
criadores do jogo e a
- Ideias;
- Vídeos;
- Artes;
- Conceitos.
-
Sugestão de dubladores, de
criação
de personagens (raças
específicas), corridas com veículos
diferenciados.
Comunidade criativa
online que faz arte
Apresenta outros
projetos além de
Beyond Good and
- Música (24 projetos
abertos);
-Visual (5 projetos
abertos);
- Outros (2 projetos
abertos).
-
Músicas futuristas, temas para
piratas, rock, músicas para
meditação e espiritualidade etc.
-
Design de arte, pôsteres,
propagandas temáticas, murais
religiosos, símbolos etc.
- Quebra-
cabeças;
- Áudios p
ara a rádio presente no
jogo (spots, gravações, etc.).
BeyondGoodandEvil
.ubisoft.com/en-us/spotlight
.
Acesso: 11 mar.
Dados de 25 de outubro de 2019.
137
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Possibilidades de Interação Fandom em BGE2
Mapeamento de notícias sobre o
lançamento da franquia, feito de
fãs para fãs, em arquivos
disponibilizados no fórum.
Ideias para criação de
personagens, históricos e
Sugestão de dubladores, de
de personagens (raças
específicas), corridas com veículos
Músicas futuristas, temas para
piratas, rock, músicas para
meditação e espiritualidade etc.
Design de arte, pôsteres,
propagandas temáticas, murais
religiosos, símbolos etc.
cabeças;
ara a rádio presente no
jogo (spots, gravações, etc.).
Acesso: 11 mar.
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
Considerações finais
A comunidade de
Beyond Good
and Evil
apresenta uma combinação
de todas essas nuances: o jogador é
também aquele que contribui
ativamente para a produção do jogo.
Essa contribuição se dá, dentre outros
exemplos, a partir de ideias,
sugestões, produção de material
artísticoetc.
embasadas na
e interpretações particulares que a
comunidade faz da obra.
Observando a tabela a
retomamos algumas das
características de
apresentadas por Jenkins (
citadas previamente neste trabalho,
sendo possível identificá
m
aneira mais prática. Dentre as
dimensões consideradas, temos o
fandom
envolvido em um modo
específico de recepção, que novo
significado às possibilidades de
produção, além de incorporar práticas
críticas e interpretativas. Outros dois
pontos são o papel
do ativismo do
consumidor, elencando suas
produções e liberdade como
representatividade, e a relevância da
produção cultural artística dos fãs,
compondo de forma macro o universo
considerado pela comunidade (2015).
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
Considerações finais
Beyond Good
apresenta uma combinação
de todas essas nuances: o jogador é
também aquele que contribui
ativamente para a produção do jogo.
Essa contribuição se dá, dentre outros
exemplos, a partir de ideias,
sugestões, produção de material
embasadas na
recepção
e interpretações particulares que a
Observando a tabela a
nterior,
retomamos algumas das
fandom
apresentadas por Jenkins (
op. cit.) e
citadas previamente neste trabalho,
sendo possível identificá
-las de
aneira mais prática. Dentre as
dimensões consideradas, temos o
envolvido em um modo
específico de recepção, que novo
significado às possibilidades de
produção, além de incorporar práticas
críticas e interpretativas. Outros dois
do ativismo do
consumidor, elencando suas
produções e liberdade como
representatividade, e a relevância da
produção cultural artística dos fãs,
compondo de forma macro o universo
considerado pela comunidade (2015).
O jogador seconsumidor não
apenas do
produto final, mas, ao fazer
parte do processo de criação, ele se
mais próximo do seu objeto de
adoração
o jogo de videogame
criando nculos mais fortes não
apenas com o produto, mas também
com outros fãs a partir das trocas de
experiências, idei
as e valores
realizadas naquele meio. Os
produtores tendem a conseguir
respostas mais diretas dos fãs. A
proximidade pode permitir que seu
trabalho tenha resultados mais bem
aceitos na versão final do jogo.
cultura da participação toca em
inúmeros juí
zos, os jogos não estariam
fora desse espectro. A ideia de
inteligência coletiva se afirma em
distintos formatos, resultando,
também, em audiências ativas,
aprimorando a sociedade conectivista
em que vivemos. Representatividade,
pertencimento e a descentra
hierarquias marcam esse avanço,
transformando o ato de jogar em
termos de experiência.
A partir dessas considerações,
entende-
se que a dinâmica
apresentada por
Beyond Good and
Evil 2
proporciona inovação para os
envolvidos, além de destacar a
138
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
O jogador seconsumidor não
produto final, mas, ao fazer
parte do processo de criação, ele se
mais próximo do seu objeto de
o jogo de videogame
-,
criando nculos mais fortes não
apenas com o produto, mas também
com outros fãs a partir das trocas de
as e valores
realizadas naquele meio. Os
produtores tendem a conseguir
respostas mais diretas dos fãs. A
proximidade pode permitir que seu
trabalho tenha resultados mais bem
aceitos na versão final do jogo.
Se a
cultura da participação toca em
zos, os jogos não estariam
fora desse espectro. A ideia de
inteligência coletiva se afirma em
distintos formatos, resultando,
também, em audiências ativas,
aprimorando a sociedade conectivista
em que vivemos. Representatividade,
pertencimento e a descentra
lização de
hierarquias marcam esse avanço,
transformando o ato de jogar em
termos de experiência.
A partir dessas considerações,
se que a dinâmica
Beyond Good and
proporciona inovação para os
envolvidos, além de destacar a
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
im
portância da internet para que essas
interações funcionem de forma
satisfatória e que o papel de agente
multimídia dos fãs tenha
potencialidades para ser reforçado.
Naturalmente que tudo o que aqui
fazemos é estudar e analisar um
processo que ainda está em
andamento. O resultado que vai
emergir dessa rede cooperativa ainda
vamos conhecer com o lançamento do
jogo, entretanto, o processo
demonstra ser muito rica a cultura
cooperativa de um
fandom
realização de um produto de usufruto
comum a todos, fãs o
u não.
Referências bibliográficas:
BAILÉN, Amparo Huertas.
Audiencia Investigada.
Gedisa, 2009.
CAJAZEIRA, P. E. S. L.; SOUZA, J. J.
G. de Interatividade digital, audiência e
webdocumentários.
Doc On
Revista Digital de Cinema
Documentário
, n. 18, 2015.
CANCLINI, Nestór García.
cultural y suestudioenMexico
propuesta teórica. Mexico: CNCA,
1993.
CANCLINI, Nestór García.
Espectadores e Internautas
Paulo: Iluminuras, 2007.
GONÇALVES JÚNIOR, R. J.;
ANCHIETA, W. Comunidade fandom
de roleplay em World of Warcraft no
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
portância da internet para que essas
interações funcionem de forma
satisfatória e que o papel de agente
multimídia dos fãs tenha
potencialidades para ser reforçado.
Naturalmente que tudo o que aqui
fazemos é estudar e analisar um
processo que ainda está em
andamento. O resultado que vai
emergir dessa rede cooperativa ainda
vamos conhecer com o lançamento do
jogo, entretanto, o processo
demonstra ser muito rica a cultura
fandom
na
realização de um produto de usufruto
u não.
Referências bibliográficas:
BAILÉN, Amparo Huertas.
La
Barcelona:
CAJAZEIRA, P. E. S. L.; SOUZA, J. J.
G. de Interatividade digital, audiência e
Doc On
-Line:
Revista Digital de Cinema
, n. 18, 2015.
CANCLINI, Nestór García.
El consumo
cultural y suestudioenMexico
: una
propuesta teórica. Mexico: CNCA,
CANCLINI, Nestór García.
Leitores,
Espectadores e Internautas
. São
GONÇALVES JÚNIOR, R. J.;
ANCHIETA, W. Comunidade fandom
de roleplay em World of Warcraft no
Brasil: suas narrativas, performances e
representações. In:
Alunos de Pós-
Graduação em
Comunicação. 2017, Rio de
Janeiro. Anais.
Rio de Janeiro:
Compós, 2017.
GOODE, W.J.; HATT, P.K.
em pesquisa social
Nacional, 1979.
GRAY, J.; SANDVOSS, C.;
HARRINGTON, C. L.
Identities and Communities in a
Mediated World. New York: New
York University Press, 2017.
Disponível
https://books.google.com.br/books/ab
out/Fandom_Second_Edition.html?id
=_cflAQAACAAJ&redir_esc=y.
Acesso: 03 mar. 2019.
JENKINS, H.
Cultura da convergência
São Paulo: Aleph, 2009.
JENKINS, H.
participatoryculture, and Web 2.0.
Syllabus.
Disponí
http://henryjenkins.org/blog/2010/01/fa
ndom_participatory_culture_a.html.
Acesso: 03 mar. 2019.
JENKINS, H.
Invasores do texto
e cultura participativa.
RJ: Marsupial, 2015.
KLASTRUP, L.
Publics for a day?
The Affective “Audiences”
Facebook.
Dinamarca: Universityof
Copenhagen, 2010.
LÉVY, P.
A inteligência coletiva
Paulo: Edições Loyola, 1998.
PALOMINI, P. T. We
o fandom como forma de participação
dos fãs no desenvolvimento do
universo transmidiático do
masseffect.
São Carlos: Repositório
Institucional Ufscar, 2015.
139
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Brasil: suas narrativas, performances e
Seminário de
Graduação em
Comunicação. 2017, Rio de
Rio de Janeiro:
GOODE, W.J.; HATT, P.K.
Métodos
em pesquisa social
. São Paulo:
GRAY, J.; SANDVOSS, C.;
HARRINGTON, C. L.
Fandom:
Identities and Communities in a
Mediated World. New York: New
York University Press, 2017.
em:
https://books.google.com.br/books/ab
out/Fandom_Second_Edition.html?id
=_cflAQAACAAJ&redir_esc=y.
Acesso: 03 mar. 2019.
Cultura da convergência
.
São Paulo: Aleph, 2009.
JENKINS, H.
Fandom,
participatoryculture, and Web 2.0.
A
Disponí
vel em:
http://henryjenkins.org/blog/2010/01/fa
ndom_participatory_culture_a.html.
Acesso: 03 mar. 2019.
Invasores do texto
: fãs
e cultura participativa.
Nova Iguaçu,
Publics for a day?
The Affective “Audiences”
on
Dinamarca: Universityof
A inteligência coletiva
. São
Paulo: Edições Loyola, 1998.
will hold the line:
o fandom como forma de participação
dos fãs no desenvolvimento do
universo transmidiático do
jogo
São Carlos: Repositório
Institucional Ufscar, 2015.
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
produtora de conteúdo em Beyond Good and
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
1
9
, p.
118
-
140
, set. 2020.
PARMEGGIANI, B. Fãs e sites de
redes sociais: um estudo de caso da
participação no programa the voice.
Revista GEMInIS
, [S.l.], v. 5, n. 2, p.
23-
46, jul. 2014. Disponível em:
http://www.
revistageminis.ufscar.br/in
dex.php/geminis/article/view/188.
Acesso: 14 mar. 2019.
PIRES, R. V. Jogando com a mente
coletiva: mecânicas colaborativas em
videogames e literacia digital em
tempos de compartilhamento
SBGames
. 2017,
Curitiba. Proceedings.
Curitiba: Sbc,
2017.
RECUERO, R.
Engajamento x
Audiência no Facebook
: uma breve
discussão. Pelotas: 2013. Disponível
em:
http://www.raquelrecuero.com/arquiv
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, Caio Túlio Pereira da; MENESES, Bruna Maria de; SILVA, Eduardo
Duarte Gomes da. Videogames e cultura colaborativa: a audiência
como
Evil 2. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
PARMEGGIANI, B. Fãs e sites de
redes sociais: um estudo de caso da
participação no programa the voice.
, [S.l.], v. 5, n. 2, p.
46, jul. 2014. Disponível em:
revistageminis.ufscar.br/in
dex.php/geminis/article/view/188.
PIRES, R. V. Jogando com a mente
coletiva: mecânicas colaborativas em
videogames e literacia digital em
tempos de compartilhamento
.In:
. 2017,
Curitiba: Sbc,
Engajamento x
: uma breve
discussão. Pelotas: 2013. Disponível
http://www.raquelrecuero.com/arquiv
os/2013/03/engajamento
audienciano-
facebook.html. Acesso:
14 mar. 2019.
RECUERO, R. Problematizand
e Fanfictions 20 anos depois.In
JENKINS, Henry.
Invasores do texto
fãs e cultura participativa. Nova
Iguaçu, RJ: Marsupial, 2015.
SANTAELLA, L.
Comunicação Ubíqua:
Repercussões na Cultura e na
Educação
. São Paulo: Paulus, 2013.
SHIRKY, C.
A Cultura
Criatividade e Generosidade no Mundo
Conectado. Rio de Janeiro: Zahar,
2011.
YIN, R. K.
Estudo de caso
planejamento e métodos. Porto Alegre:
Bookman, 2010.
140
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
os/2013/03/engajamento
-x-
facebook.html. Acesso:
RECUERO, R. Problematizand
o Fãs
e Fanfictions 20 anos depois.In
:
Invasores do texto
:
fãs e cultura participativa. Nova
Iguaçu, RJ: Marsupial, 2015.
Comunicação Ubíqua:
Repercussões na Cultura e na
. São Paulo: Paulus, 2013.
A Cultura
da Participação:
Criatividade e Generosidade no Mundo
Conectado. Rio de Janeiro: Zahar,
Estudo de caso
:
planejamento e métodos. Porto Alegre:
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
Music consumption in Brazil: an analysis of streaming reproductions
DOI: https://doi.org/1
0.22409/pragmatizes.v10i19.40565
Abstract:
Music is one of the cultural segments that most adapts and innovates, as observed in the
recent rise of streaming services. The consumption of digital music has altered the dynamics of the
market and the way people enjoy it. The a
individuals, taking into account musical genres. For this purpose, it uses data of playlists collected
from the Spotify streaming platform through its API. The results show that genres such as se
universitário and international pop have great national reach. However, other national genres and
artists with less popularity have a relevant and distinct demand in some Brazilian cities. Our analysis
indicates both the maintenance of the traditio
model. Therefore, a regionalization of the musical taste in Brazil is evidenced,which suggests a
potential of musical niches in the context of the streaming market.
Keywords:
consumption; music; genre;
Consumo de música no Brasil: uma análise de reproduções de streaming
Resumo:
A música é um dos segmentos culturais que mais se adapta e inova, tal como observa
na recente ascensão dos serviços de streaming. O objetivo deste artigo é mostrar
gostos dos indivíduos, levando em consideração os gêneros musicais. Para tal, foram utilizados
dados da plataforma Spotify. Os resultados apontam que gêneros como sertanejo universitário e pop
internacional possuem grande alcance nacional. Po
demanda relevante e distinta em algumas cidades brasileiras. Evidencia
regionalização do gosto musical no Brasil, o que sugere um potencial de nichos musicais quando
inseridos no contexto do merca
do de streaming.
Palavras-chave:
consumo; música; gênero; streaming
1
Gabriel Borges Vaz de Melo.
Mestre em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), Brasil. E-
mail: gabrielvazdemelo@gmail.com
2
Ana Flavia Machado. D
outora em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,
professora da Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil.
https://orcid.org/0000-0001-
8573
3
Lucas Resende de Carvalho. D
Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG e bolsista da CAPES, Brasil.
lucasrc@codeplar.ufmg.br -
https://orcid.org/0000
Recebido em 29/01/2020, aceito para publicação em 26/04/2020, disponibilizado online em
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
Music consumption in Brazil: an analysis of streaming reproductions
0.22409/pragmatizes.v10i19.40565
Gabriel Borges Vaz de Melo
Ana Flavia Machado
Lucas Resende
Music is one of the cultural segments that most adapts and innovates, as observed in the
recent rise of streaming services. The consumption of digital music has altered the dynamics of the
market and the way people enjoy it. The a
im of this article is to show trends and tastes of Brazilian
individuals, taking into account musical genres. For this purpose, it uses data of playlists collected
from the Spotify streaming platform through its API. The results show that genres such as se
universitário and international pop have great national reach. However, other national genres and
artists with less popularity have a relevant and distinct demand in some Brazilian cities. Our analysis
indicates both the maintenance of the traditio
nal consumption as the rise of the mass
model. Therefore, a regionalization of the musical taste in Brazil is evidenced,which suggests a
potential of musical niches in the context of the streaming market.
consumption; music; genre;
streaming
Consumo de música no Brasil: uma análise de reproduções de streaming
A música é um dos segmentos culturais que mais se adapta e inova, tal como observa
na recente ascensão dos serviços de streaming. O objetivo deste artigo é mostrar
gostos dos indivíduos, levando em consideração os gêneros musicais. Para tal, foram utilizados
dados da plataforma Spotify. Os resultados apontam que gêneros como sertanejo universitário e pop
internacional possuem grande alcance nacional. Po
rém, outros gêneros nacionais possuem uma
demanda relevante e distinta em algumas cidades brasileiras. Evidencia
regionalização do gosto musical no Brasil, o que sugere um potencial de nichos musicais quando
do de streaming.
consumo; música; gênero; streaming
Mestre em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais
mail: gabrielvazdemelo@gmail.com
- https://orcid.org/0000-
0002
outora em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,
professora da Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil.
E-
mail: afmachad@codeplar.ufmg.br
8573
-7906
Lucas Resende de Carvalho. D
outorando do Programa de Pós-
Graduação em Economia da
Universidade Federal de Minas Gerais/UFMG e bolsista da CAPES, Brasil.
E-
mail:
https://orcid.org/0000
-0002-3618-3967
Recebido em 29/01/2020, aceito para publicação em 26/04/2020, disponibilizado online em
01/09/2020
141
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Music consumption in Brazil: an analysis of streaming reproductions
Gabriel Borges Vaz de Melo
1
Ana Flavia Machado
2
Lucas Resende
de Carvalho
3
Music is one of the cultural segments that most adapts and innovates, as observed in the
recent rise of streaming services. The consumption of digital music has altered the dynamics of the
im of this article is to show trends and tastes of Brazilian
individuals, taking into account musical genres. For this purpose, it uses data of playlists collected
from the Spotify streaming platform through its API. The results show that genres such as se
rtanejo
universitário and international pop have great national reach. However, other national genres and
artists with less popularity have a relevant and distinct demand in some Brazilian cities. Our analysis
nal consumption as the rise of the mass
-replacement
model. Therefore, a regionalization of the musical taste in Brazil is evidenced,which suggests a
A música é um dos segmentos culturais que mais se adapta e inova, tal como observa
-se
na recente ascensão dos serviços de streaming. O objetivo deste artigo é mostrar
tendências e
gostos dos indivíduos, levando em consideração os gêneros musicais. Para tal, foram utilizados
dados da plataforma Spotify. Os resultados apontam que gêneros como sertanejo universitário e pop
rém, outros gêneros nacionais possuem uma
demanda relevante e distinta em algumas cidades brasileiras. Evidencia
-se, portanto, uma
regionalização do gosto musical no Brasil, o que sugere um potencial de nichos musicais quando
Mestre em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais
0002
-3323-8635
outora em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,
mail: afmachad@codeplar.ufmg.br
-
Graduação em Economia da
mail:
Recebido em 29/01/2020, aceito para publicação em 26/04/2020, disponibilizado online em
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
Consumo de música en Brasil: un análisis de reproducciones en streaming
Resumen:
La música es uno de los segmentos culturales que más se adapta y innova, tal como se
observa en la recie
nte ascensión de los servicios de streaming. El objetivo de este artículo es mostrar
tendencias y gustos de los individuos, teniendo en cuenta los géneros musicales. Para esto, se
utilizaron datos de la plataforma Spotify. Los resultados apuntan que género
universitario y pop internacional poseen gran alcance nacional. Sin embargo, otros géneros
nacionales poseen una demanda relevante y distinta en algunas ciudades brasileñas. Se evidencia,
por lo tanto, una regionalización del gusto musical
musicales cuando se inserta en el contexto del mercado de streaming.
Palabras clave:
consumo; musica; género; streaming
Music consumption in Brazil: an analysis of streaming reproductions
Introduction
Music is one of the most
primitive forms of cultural
However, it wasn’t until the twentieth
century that it began to be marketed as
a consumer good. Since then, the
music market has become more and
more dynamic and creative in terms of
musicians’ production and listeners’
consumption (CVETKOVSKI,
THROSBY, 2002). Throsby (2002)
points out that there is a paradox in
relation to music, precisely because of
this dichotomy between the past,
linked to cultural expression and
creativity, and the present, associated
with market ideologies and mass
production.
Leyshon (2014) states that the
history of music from the late 1990s is
a good example of innovation and
adaptability: sharing and downloading
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
Consumo de música en Brasil: un análisis de reproducciones en streaming
La música es uno de los segmentos culturales que más se adapta y innova, tal como se
nte ascensión de los servicios de streaming. El objetivo de este artículo es mostrar
tendencias y gustos de los individuos, teniendo en cuenta los géneros musicales. Para esto, se
utilizaron datos de la plataforma Spotify. Los resultados apuntan que género
universitario y pop internacional poseen gran alcance nacional. Sin embargo, otros géneros
nacionales poseen una demanda relevante y distinta en algunas ciudades brasileñas. Se evidencia,
por lo tanto, una regionalización del gusto musical
en Brasil, lo que sugiere un potencial de nichos
musicales cuando se inserta en el contexto del mercado de streaming.
consumo; musica; género; streaming
Music consumption in Brazil: an analysis of streaming reproductions
Music is one of the most
primitive forms of cultural
expression.
However, it wasn’t until the twentieth
century that it began to be marketed as
a consumer good. Since then, the
music market has become more and
more dynamic and creative in terms of
musicians’ production and listeners’
consumption (CVETKOVSKI,
2004;
THROSBY, 2002). Throsby (2002)
points out that there is a paradox in
relation to music, precisely because of
this dichotomy between the past,
linked to cultural expression and
creativity, and the present, associated
with market ideologies and mass
Leyshon (2014) states that the
history of music from the late 1990s is
a good example of innovation and
adaptability: sharing and downloading
of files, the crisis in physical sales,
and, more recently, the rise of
streaming platforms and subscri
Those changes are directly associated
with the technological innovations
absorbed by the phonographic market.
Regarding digital services,
especially streaming, P
Brasil (2017) points to significant
changes in perspectives in the music
mark
et. One of these services, Spotify,
launched in 2008, stood out for having
quickly gained a significant part of the
world market by offering features that
personalize the experience of digital
music enjoyment.
In this way, in the context of a
limited datab
ase about cultural
consumption in Brazil, the use of digital
media and platforms is an opportunity
for the studies of cultural economics
and, more specifically, as it is intended
142
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
La música es uno de los segmentos culturales que más se adapta y innova, tal como se
nte ascensión de los servicios de streaming. El objetivo de este artículo es mostrar
tendencias y gustos de los individuos, teniendo en cuenta los géneros musicales. Para esto, se
utilizaron datos de la plataforma Spotify. Los resultados apuntan que género
s como sertanejo
universitario y pop internacional poseen gran alcance nacional. Sin embargo, otros géneros
nacionales poseen una demanda relevante y distinta en algunas ciudades brasileñas. Se evidencia,
en Brasil, lo que sugiere un potencial de nichos
Music consumption in Brazil: an analysis of streaming reproductions
of files, the crisis in physical sales,
and, more recently, the rise of
streaming platforms and subscri
ptions.
Those changes are directly associated
with the technological innovations
absorbed by the phonographic market.
Regarding digital services,
especially streaming, P
-Música
Brasil (2017) points to significant
changes in perspectives in the music
et. One of these services, Spotify,
launched in 2008, stood out for having
quickly gained a significant part of the
world market by offering features that
personalize the experience of digital
In this way, in the context of a
ase about cultural
consumption in Brazil, the use of digital
media and platforms is an opportunity
for the studies of cultural economics
and, more specifically, as it is intended
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
in this work, for the analysis of music
consumption. Spotify, launched in
Bra
zil in 2014, already has a relatively
large and growing number of users.
For this reason, it could be a good
sample of digital consumption and its
dimensions.
This paper aims, therefore, to
map and analyze music consumption
using reproduction data from Spo
Brazil, considering the development of
a specific algorithm to organize data
collection of digital music. The analysis
of the consumption behavior of the
users contemplates genres and
musical taste.
Besides this introduction and the
final considera
tions, the paper is
divided into three more sections. The
first one presents a brief review of the
literature related to effects of
digitalization on cultural consumption.
The subsequent section treats the
methodological strategy. In the final
part, the ma
in observations and results
are described.
Cultural consumption, taste, and
music
Recent changes in consumption
are directly associated with the new
technologies and the virtual space in
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
in this work, for the analysis of music
consumption. Spotify, launched in
zil in 2014, already has a relatively
large and growing number of users.
For this reason, it could be a good
sample of digital consumption and its
This paper aims, therefore, to
map and analyze music consumption
using reproduction data from Spo
tify in
Brazil, considering the development of
a specific algorithm to organize data
collection of digital music. The analysis
of the consumption behavior of the
users contemplates genres and
Besides this introduction and the
tions, the paper is
divided into three more sections. The
first one presents a brief review of the
literature related to effects of
digitalization on cultural consumption.
The subsequent section treats the
methodological strategy. In the final
in observations and results
Cultural consumption, taste, and
Recent changes in consumption
are directly associated with the new
technologies and the virtual space in
which the products have been inserted.
According to Potts (2014), in
economic theory, technology and
innovation are important variables and
commonly analyzed in terms of
production, but they are also important
in consumption analysis.
Since the spread of file
services in the 2000s, studies have
examined
the impact of digitalization
on music consumption. Mainly related
to “piracy”, some of these studies
attest to the negative effect on physical
sales revenues (LIEBOWITZ, 2004).
Others, however, question and
propose alternative analyses
(OBERHOLZER-
GEE; ST
2007). However, it is argued that it is
practically impossible to adopt a
favorable or contrary opinion, since the
effect is quite dependent on other
factors, as well as on the information
used in each study (LIEBOWITZ,
2014).
Aguiar and Waldfogel (
show that, despite the fall in physical
revenues, digitalization favors the
quality of the musical product by
allowing individuals to easily access
new content in the market. Studies on
Spotify specifically are even more
scarce. Aguiar and Waldfogel
143
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
which the products have been inserted.
According to Potts (2014), in
traditional
economic theory, technology and
innovation are important variables and
commonly analyzed in terms of
production, but they are also important
in consumption analysis.
Since the spread of file
-sharing
services in the 2000s, studies have
the impact of digitalization
on music consumption. Mainly related
to “piracy”, some of these studies
attest to the negative effect on physical
sales revenues (LIEBOWITZ, 2004).
Others, however, question and
propose alternative analyses
GEE; ST
RUMPF,
2007). However, it is argued that it is
practically impossible to adopt a
favorable or contrary opinion, since the
effect is quite dependent on other
factors, as well as on the information
used in each study (LIEBOWITZ,
Aguiar and Waldfogel (
2016)
show that, despite the fall in physical
revenues, digitalization favors the
quality of the musical product by
allowing individuals to easily access
new content in the market. Studies on
Spotify specifically are even more
scarce. Aguiar and Waldfogel
(2015)
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
find evidence that the service reduces
piracy and, in relation to sales, is
relatively neutral.
Potts (2014) points out that one
consequence of new technologies,
such as streaming, in the cultural
consumption would be an increase in
variety and dive
rsity of goods, which
constitutes a form of market
expansion, accompanied by low costs
of insertion. This consequence is
consistent with the hypothesis known
as "Long Tail" proposed by Anderson
(2006).
Anderson (2006) argues that
digitalization has led to
a drop in mass
production and a shift in consumer
preferences, especially as a
consequence of the increase in the
variety of products and in the media
and entertainment market. In addition,
the costs of storage of physical
products are practically nullifie
distribution costs are reduced.
According to Anderson (2006),
technology converts mass production
into millions of niches and thus
reduces the concentration of the
cultural goods market. Some markets,
usually of monopolistic competition,
including t
hat of entertainment, present
strong concentration in few actors,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
find evidence that the service reduces
piracy and, in relation to sales, is
Potts (2014) points out that one
consequence of new technologies,
such as streaming, in the cultural
consumption would be an increase in
rsity of goods, which
constitutes a form of market
expansion, accompanied by low costs
of insertion. This consequence is
consistent with the hypothesis known
as "Long Tail" proposed by Anderson
Anderson (2006) argues that
a drop in mass
production and a shift in consumer
preferences, especially as a
consequence of the increase in the
variety of products and in the media
and entertainment market. In addition,
the costs of storage of physical
products are practically nullifie
d, and
distribution costs are reduced.
According to Anderson (2006),
technology converts mass production
into millions of niches and thus
reduces the concentration of the
cultural goods market. Some markets,
usually of monopolistic competition,
hat of entertainment, present
strong concentration in few actors,
called the "superstars" effect (CAVES,
2006; ROSEN, 1981). The
phonographic market could be a typical
example where superstars and more
popular artists are too few compared to
a large number
of smaller, independent
artists. Digitalization, on the other
hand, allows greater access to market
niches where less popular artists are
concentrated, ensuring that music
previously obscured by the products of
the big stars
"hits," according to
Anderson (2006)
gain visibility and
may have an effective demand.
In this way, the "non
content of the niche markets becomes
as relevant as the hits, in terms of both
costs and profitability. Such
equalization would be represented by
the shape of a long t
Anderson (2006) argues that niches
gain notoriety not only because they
are available or visible, but also
because consumers alter their
preferences by having infinite choices
provided by the digitalization.
Prey (2015) considers that the
new streaming services represent "new
spaces" of music consumption, where
the objective is to regain control of
digital music after Napster,
reintegrating the listeners again in the
144
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
called the "superstars" effect (CAVES,
2006; ROSEN, 1981). The
phonographic market could be a typical
example where superstars and more
popular artists are too few compared to
of smaller, independent
artists. Digitalization, on the other
hand, allows greater access to market
niches where less popular artists are
concentrated, ensuring that music
previously obscured by the products of
"hits," according to
gain visibility and
may have an effective demand.
In this way, the "non
-hits"
content of the niche markets becomes
as relevant as the hits, in terms of both
costs and profitability. Such
equalization would be represented by
the shape of a long t
ail distribution.
Anderson (2006) argues that niches
gain notoriety not only because they
are available or visible, but also
because consumers alter their
preferences by having infinite choices
provided by the digitalization.
Prey (2015) considers that the
new streaming services represent "new
spaces" of music consumption, where
the objective is to regain control of
digital music after Napster,
reintegrating the listeners again in the
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
environment of the music industry. In a
sense, consumers are considered a
active audience, since the behaviors
and tastes of users on the streaming
platforms serve as inputs and help the
service itself in the development of its
functions. For the author, Spotify is one
of the services that has most
developed and used these pra
Considering this potential of
Spotify, in the next section, we
describe the methodology for capturing
platform information to reach the goals
proposed in this paper.
Data mining: methodology
description
In the digital market, the
emergence of Spotify is one of the
most expressive in the streaming
service, offering a relevant range of
information. Given the possibility of
extracting data, the main objective of
this article is to map and analyze the
consump
tion of music from data of
reproductions of users in Brazil.
Secondary goals run through how
consumers have been changing their
ways of using music when inserted into
digital platforms. Among these are (i)
analyzing the consumption behavior of
users concer
ning musical genres, (ii)
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
environment of the music industry. In a
sense, consumers are considered a
n
active audience, since the behaviors
and tastes of users on the streaming
platforms serve as inputs and help the
service itself in the development of its
functions. For the author, Spotify is one
of the services that has most
developed and used these pra
ctices.
Considering this potential of
Spotify, in the next section, we
describe the methodology for capturing
platform information to reach the goals
Data mining: methodology
In the digital market, the
emergence of Spotify is one of the
most expressive in the streaming
service, offering a relevant range of
information. Given the possibility of
extracting data, the main objective of
this article is to map and analyze the
tion of music from data of
reproductions of users in Brazil.
Secondary goals run through how
consumers have been changing their
ways of using music when inserted into
digital platforms. Among these are (i)
analyzing the consumption behavior of
ning musical genres, (ii)
verifying the insertion of genres and
international artists in the national
scene, and (iii) ascertaining patterns of
musical consumed taste with the main
styles.
There are three steps to achieve
these objectives. First, there are
collection and organization and, finally,
analysis. It should be emphasized that
it is not an objective of this work to
create fixed definitions of musical
styles, much less to elaborate
judgments or to legitimize or devalue
whatever gender, artist,
The data collection process was
started by reading and analyzing the
routines made available by Spotify
through its API, Spotify Web API
(SPOTIFY, 2014). After explaining the
available information, we proceeded to
the elaboration of routines of
p
rogramming and data collection
the most reproduced songs at the
national level, as well as those that
were distinctly or locally more popular
in some cities. Both collections follow a
similar logic of two-
step division. In the
Brazilian case, a first e
4
Algorithms available in Author (2017).
145
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
verifying the insertion of genres and
international artists in the national
scene, and (iii) ascertaining patterns of
musical consumed taste with the main
There are three steps to achieve
these objectives. First, there are
data
collection and organization and, finally,
analysis. It should be emphasized that
it is not an objective of this work to
create fixed definitions of musical
styles, much less to elaborate
judgments or to legitimize or devalue
whatever gender, artist,
or music.
The data collection process was
started by reading and analyzing the
routines made available by Spotify
through its API, Spotify Web API
(SPOTIFY, 2014). After explaining the
available information, we proceeded to
the elaboration of routines of
rogramming and data collection
4
of
the most reproduced songs at the
national level, as well as those that
were distinctly or locally more popular
in some cities. Both collections follow a
step division. In the
Brazilian case, a first e
xtraction of the
Algorithms available in Author (2017).
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
most played songs in Spotify Charts
was made, followed by a search for
additional information and respective
artists and albums through Spotify
Web API. It should be noted that the
playlists have a total number of songs
always equal to 20
0, which is higher
than the local playlists of the cities,
which usually contain 100. Besides,
the Spotify Charts platform also offers
the total streamings or reproductions of
each track in the country, which is not
possible in the extraction of cities.
5
Available at:
https://spotifycharts.com/regional/br/daily/latest
. Access date: August 28, 2018.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
most played songs in Spotify Charts
5
was made, followed by a search for
additional information and respective
artists and albums through Spotify
Web API. It should be noted that the
playlists have a total number of songs
0, which is higher
than the local playlists of the cities,
which usually contain 100. Besides,
the Spotify Charts platform also offers
the total streamings or reproductions of
each track in the country, which is not
possible in the extraction of cities.
https://spotifycharts.com/regional/br/daily/latest
The second extraction of the
playlists of the cities was only possible
because of their availability in the
Every Place at Once
6
the lists obtained in each municipality,
consultations were made us
Web API, achieving the same
information about the songs, artists,
and albums of the national collection.
The collection period was extended
from September 2016 to May 2017.
Therefore, the variables of interest are
listed:
6
Available at:
http://everynoise.com/everyplace.cgi.Access
date: May 11, 2017.
146
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
The second extraction of the
playlists of the cities was only possible
because of their availability in the
6
project. Through
the lists obtained in each municipality,
consultations were made us
ing Spotify
Web API, achieving the same
information about the songs, artists,
and albums of the national collection.
The collection period was extended
from September 2016 to May 2017.
Therefore, the variables of interest are
http://everynoise.com/everyplace.cgi.Access
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
Variables
Description
Playlist City’s playlist
name (e.g.,
Number
Position of the track in the playlist, according to the difference of the reproductions
in the city
Artist Artist name
Track Track name
Preview Link of
a preview of 30 seconds of the track
Pop_track
Popularity of the track, ranging from 0 to 100, where 100 is the most popular
possible
Markets
Countries where the track is available for playback
Album
Name of the album that contains the track
Pop_artist
Popularity of artist, ranging from 0 to 100, where 100 is the most popular possible
Followers
Total artist followers
Genre Track genre
Release date
Release date of the album in which the track is contained
URI
Uniform resource identifier
Music consumption described by
playlists
To achieve the purpose of this
article, first, we analyzed the
consumption of the most reproduced
songs in Brazil, according to the
playlists
disposable in the domain
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
Table 1 - Selected variables
name (e.g.,
The Sound of Sao Paulo BR)
Position of the track in the playlist, according to the difference of the reproductions
a preview of 30 seconds of the track
Popularity of the track, ranging from 0 to 100, where 100 is the most popular
Countries where the track is available for playback
Name of the album that contains the track
Popularity of artist, ranging from 0 to 100, where 100 is the most popular possible
Total artist followers
Release date of the album in which the track is contained
Uniform resource identifier
(URI) tags for artists, tracks, and albums
Source: SPOTIFY (2014).
Music consumption described by
To achieve the purpose of this
article, first, we analyzed the
consumption of the most reproduced
songs in Brazil, according to the
disposable in the domain
Spotify Charts. Figure 1 shows the
different genres of the 200 songs most
played by the users in November 2016.
Pop genres
international
universitário
stand out
147
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Position of the track in the playlist, according to the difference of the reproductions
Popularity of the track, ranging from 0 to 100, where 100 is the most popular
Popularity of artist, ranging from 0 to 100, where 100 is the most popular possible
(URI) tags for artists, tracks, and albums
Spotify Charts. Figure 1 shows the
different genres of the 200 songs most
played by the users in November 2016.
most of them
and sertanejo
stand out
.
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
Fig. 1: Most heard
genres, Brazil, November 2016. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
This result resembles, in part,
some studies in other countries. As
Coulangeon and Lemel (2007, p. 98)
point out, "
music listening habits tend
to focus
mainly on the various genres
of pop music, and, on average, the
audiences for the other genres appear
to be quite marginal."
The American or
English-
speaking pop genre dominates
much of the global market, while other
local genres incorporate other market
s
lices. In Brazil, much of the remaining
market is absorbed by the genre
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
genres, Brazil, November 2016. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
This result resembles, in part,
some studies in other countries. As
Coulangeon and Lemel (2007, p. 98)
music listening habits tend
mainly on the various genres
of pop music, and, on average, the
audiences for the other genres appear
The American or
speaking pop genre dominates
much of the global market, while other
local genres incorporate other market
lices. In Brazil, much of the remaining
market is absorbed by the genre
sertanejo universitário
marketing appeal and space in
traditional media. However, Figure 1
presents other minor genres that are
among the most played songs,
indicating
an expressive consumption
of those as well. Subsequently, it was
observed that these gender patterns
differ for Brazilian cities. Figure 2
shows the same ranges, but distributed
according to their position in the list
and by gender classifications.
148
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
genres, Brazil, November 2016. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
sertanejo universitário
, which has great
marketing appeal and space in
traditional media. However, Figure 1
presents other minor genres that are
among the most played songs,
an expressive consumption
of those as well. Subsequently, it was
observed that these gender patterns
differ for Brazilian cities. Figure 2
shows the same ranges, but distributed
according to their position in the list
and by gender classifications.
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
Fig. 2: Songs’ positions, Brazil, November 2016. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
This suggests the prominence of
the aforementioned genres.
the pop and
sertanejo universitário
genres are present in practically the
whole playlist
, and the difference in the
amount of followers of the artists of
each genre in the international genres
is evident. Clearly, this number is far
superior to sertanejo
. It is worth
the low presence of bands
compared to sertanejo
7
The pop genre includes three categories:
Canadian pop, dance pop, and pop.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
Fig. 2: Songs’ positions, Brazil, November 2016. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
This suggests the prominence of
the aforementioned genres.
7
Songs of
sertanejo universitário
genres are present in practically the
, and the difference in the
amount of followers of the artists of
each genre in the international genres
is evident. Clearly, this number is far
. It is worth
noting
the low presence of bands
of other
The pop genre includes three categories:
Canadian pop, dance pop, and pop.
national genres, such as funk,
forró
, Brazilian hip hop, and Brazilian
pop.
9
Figure 3 shows the total
streaming of the songs according to
their genres. Visualization is seen as a
pat
tern of consumption different from
what has been observed so far.
8
Acronym for Brazilian popular music.
9
Brazilian hip hop
is more associated with
national rap
artists (e.g., Projota) and Brazilian
pop singers (e.g., Anitta).
149
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Fig. 2: Songs’ positions, Brazil, November 2016. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
national genres, such as funk,
MPB
8
,
, Brazilian hip hop, and Brazilian
Figure 3 shows the total
streaming of the songs according to
their genres. Visualization is seen as a
tern of consumption different from
what has been observed so far.
Acronym for Brazilian popular music.
is more associated with
artists (e.g., Projota) and Brazilian
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
Fig. 3: Total streamings, Brazil, November 2016. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
Analyzing the number of
reproductions,
sertanejo universitário
was the most reproduced genre in
November 2016, followed by the
subdivisions of pop. Only after do other
national genres appear, like funk,
Brazilian hip hop, and deep Brazilian
pop. Assoc
iated with the highest
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
Fig. 3: Total streamings, Brazil, November 2016. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
Analyzing the number of
sertanejo universitário
was the most reproduced genre in
November 2016, followed by the
subdivisions of pop. Only after do other
national genres appear, like funk,
MPB,
Brazilian hip hop, and deep Brazilian
iated with the highest
number of songs among the 200 most
played, the large number of
reproductions make
potentially the most reproduced genre
in Brazil. However, analyzing the
composition of
streaming
November 2016, a different and
curious trend is encountered.
150
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Fig. 3: Total streamings, Brazil, November 2016. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
number of songs among the 200 most
played, the large number of
reproductions make
sertanejo
potentially the most reproduced genre
in Brazil. However, analyzing the
streaming
(Figure 4) in
November 2016, a different and
curious trend is encountered.
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
Fig. 4: Streaming ratio, Brazil, September 2016 to May 2017. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
Graphically, it is noticeable that,
from December 2016, there is an
expressive ascendancy in the funk
streaming volume (deep funk
when compared to other national and
international genres. This behavior
may be associated with the production
company
KondZilla, responsible for
launching several video clips of
“MCs”
10
monthly and with wide reach
of views on YouTube. The YouTube
channel has more than 13 million
subscribers and more than 6 billion
views (May 2017 figures). The initial
10
“MC” is a common acronym
used before the
name of several artists, mainly of the funk
genre.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
Fig. 4: Streaming ratio, Brazil, September 2016 to May 2017. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
Graphically, it is noticeable that,
from December 2016, there is an
expressive ascendancy in the funk
streaming volume (deep funk
carioca)
when compared to other national and
international genres. This behavior
may be associated with the production
KondZilla, responsible for
launching several video clips of
monthly and with wide reach
of views on YouTube. The YouTube
channel has more than 13 million
subscribers and more than 6 billion
views (May 2017 figures). The initial
used before the
name of several artists, mainly of the funk
surge occurred betwe
2016 and January 2017 with release of
the song
Deu Onda
the first week of January 2017, the
song reached more than 3,400,000
reproductions on Spotify, occupying
the first place. Figure 5 shows the
evolution of streaming of the n
genres with the highest reproductions.
151
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Fig. 4: Streaming ratio, Brazil, September 2016 to May 2017. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
surge occurred betwe
en December
2016 and January 2017 with release of
Deu Onda
by MC G15. In
the first week of January 2017, the
song reached more than 3,400,000
reproductions on Spotify, occupying
the first place. Figure 5 shows the
evolution of streaming of the n
ational
genres with the highest reproductions.
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
Fig. 5: Evolution of streamings, Brazil, September 2016 to May 2017. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
Except for
universitário
and funk, other national
genres show little variation. However,
sertanejo
had an ascendancy much
smaller than that of funk. Between
September 2016 and May 2017, the
growth of funk-related
streamings
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
Fig. 5: Evolution of streamings, Brazil, September 2016 to May 2017. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
sertanejo
and funk, other national
genres show little variation. However,
had an ascendancy much
smaller than that of funk. Between
September 2016 and May 2017, the
streamings
was
approximately 500%, while that of
sertanejo
was about 43%. Figure 6
includes the popularity of artists as an
analysis variable. In order to better
present the information, some genres
were aggregated by similarity.
152
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Fig. 5: Evolution of streamings, Brazil, September 2016 to May 2017. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
approximately 500%, while that of
was about 43%. Figure 6
includes the popularity of artists as an
analysis variable. In order to better
present the information, some genres
were aggregated by similarity.
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
Fig. 6: Popularity of Artists, Brazi
Again, the dominance of pop
and sertanejo
is observed, although
the most popular artists are
international. Other genres stand out
for having a high range of popularity of
artists, such as
sertanejo universitário
itself and deepfunk
carioca
observations may indicate that these
genres allow
for a greater variety of
artists, some more popular than others.
Through the most listened
songs in Brazil, at the national level, it
would be reasonable to assume that
Spotify users are predominantly pop
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
Fig. 6: Popularity of Artists, Brazi
l, November 2016. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
Again, the dominance of pop
is observed, although
the most popular artists are
international. Other genres stand out
for having a high range of popularity of
sertanejo universitário
carioca
. Such
observations may indicate that these
for a greater variety of
artists, some more popular than others.
Through the most listened
-to
songs in Brazil, at the national level, it
would be reasonable to assume that
Spotify users are predominantly pop
listeners, mainly international,
sertanejo unive
rsitário
the first two historically experiencing
mass production and greater
commercial appeal. The digital
platform facilitates the insertion of
genres that already have reached
traditional media like radio, television,
and physical format
same ease of access can be achieved
by artists of other styles and by the
evident diversity and cultural
production of the country. It is assumed
153
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
l, November 2016. Source: SPOTIFY (2014, 2016).
listeners, mainly international,
rsitário
, and funk, with
the first two historically experiencing
mass production and greater
commercial appeal. The digital
platform facilitates the insertion of
genres that already have reached
traditional media like radio, television,
and physical format
s. However, the
same ease of access can be achieved
by artists of other styles and by the
evident diversity and cultural
production of the country. It is assumed
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
that the national level does not reflect
digital consumption as a whole.
The descriptive and s
research of the genres consumed at
the local level partly proves this
assumption. The most distinctly
reproduced songs, or those that stand
out locally in the municipalities
collected, allow us to better decipher
the taste, pattern, and consumption
relations of the users in the cities.
Many artists and genres exposed by
these playlists
, on some level, have
less reach in the national scene, or as
interpreted, are more consumed in
their place of origin.
After an initial analysis of the
genres, it was o
bserved that some
original classifications were sometimes
misleading, while others were
undefined. It was therefore decided to
redefine some of these
classifications.
11
The frequencies of
genres of the songs collected in the
playlists
of the cities confirm
reach of the local genres, many of
which have not even been observed at
11
In this sense, reclassification is also subject
to critic
ism and misunderstanding. However,
again, it is emphasized that, in the diverse
environment of music, a fixed framing of
genres is a difficult task, and this work does
not propose to address such complexity of
classifications.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
that the national level does not reflect
digital consumption as a whole.
The descriptive and s
patial
research of the genres consumed at
the local level partly proves this
assumption. The most distinctly
reproduced songs, or those that stand
out locally in the municipalities
collected, allow us to better decipher
the taste, pattern, and consumption
relations of the users in the cities.
Many artists and genres exposed by
, on some level, have
less reach in the national scene, or as
interpreted, are more consumed in
After an initial analysis of the
bserved that some
original classifications were sometimes
misleading, while others were
undefined. It was therefore decided to
redefine some of these
The frequencies of
genres of the songs collected in the
of the cities confirm
a greater
reach of the local genres, many of
which have not even been observed at
In this sense, reclassification is also subject
ism and misunderstanding. However,
again, it is emphasized that, in the diverse
environment of music, a fixed framing of
genres is a difficult task, and this work does
not propose to address such complexity of
the national level. The predominance
of sertanejo
is still remarkable, since it
is heavily consumed in Brazil and very
little in cities of other countries. The
low frequency
of pop, mainly
international, is justified by being
widely heard in other places in the
world, so the algorithm, with
exceptions, does not select it as
distinct for Brazilian cities.
A first identification of the genres
was centered on the
Brazilian capitals. Figure 7 shows the
visual frequency of the genres of the
most distinctly consumed music in six
capitals.
154
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
the national level. The predominance
is still remarkable, since it
is heavily consumed in Brazil and very
little in cities of other countries. The
of pop, mainly
international, is justified by being
widely heard in other places in the
world, so the algorithm, with
exceptions, does not select it as
distinct for Brazilian cities.
A first identification of the genres
was centered on the
playlists of some
Brazilian capitals. Figure 7 shows the
visual frequency of the genres of the
most distinctly consumed music in six
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
(a)
São Paulo
(c) Manaus
(
(e)
Florianópolis
Fig. 7: Genres observed in Brazilian
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
São Paulo
(SP) (b)
Belo Horizonte (MG)
(
AM) (d)
Belém
Florianópolis
(SC) (f)
Brası
́
lia
Fig. 7: Genres observed in Brazilian
capitals, November 2016. Source: McDONALD (2013);
SPOTIFY (2014).
155
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Belo Horizonte (MG)
Belém
(PA)
Brası
́
lia
(DF)
capitals, November 2016. Source: McDONALD (2013);
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
As observed, there is a pattern of consumption of various musical styles in
each of these cities, not just one or two genres. Peterson (1992) refers to individuals
who consume various types of cultural goods or activities as omnivores, not
restricting them
selves to a single taste. City
songs that users listen to in the
suggest, through correlation analyses, that Spotify's various rankings are good
measures or indicative
of their general use. Thus, for the capitals presented, due to
the heterogeneity of genres, a possible omnivorous pattern regarding the
consumption of music in these cities is indicated.
Besides
sertanejo universitário
capitals, other genres stand out. Brazilian hip hop in São Paulo and Florianópolis,
Brazilian gospel in Manaus, Brazilian indie in Belém,
and others are in smaller proportion. Figure 8 presents six other capitals with di
consumption patterns from the previous ones.
(a) Rio de Janeiro (RJ) (b) Porto Alegre (RS)
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
As observed, there is a pattern of consumption of various musical styles in
each of these cities, not just one or two genres. Peterson (1992) refers to individuals
who consume various types of cultural goods or activities as omnivores, not
selves to a single taste. City
playlists
are mere representations of the
songs that users listen to in the
streaming
service. Aguiar and Waldfogel (2015)
suggest, through correlation analyses, that Spotify's various rankings are good
of their general use. Thus, for the capitals presented, due to
the heterogeneity of genres, a possible omnivorous pattern regarding the
consumption of music in these cities is indicated.
sertanejo universitário
and deep funk in Rio, consumed in th
capitals, other genres stand out. Brazilian hip hop in São Paulo and Florianópolis,
Brazilian gospel in Manaus, Brazilian indie in Belém,
MPB
and pop in Florianópolis,
and others are in smaller proportion. Figure 8 presents six other capitals with di
consumption patterns from the previous ones.
(a) Rio de Janeiro (RJ) (b) Porto Alegre (RS)
156
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
As observed, there is a pattern of consumption of various musical styles in
each of these cities, not just one or two genres. Peterson (1992) refers to individuals
who consume various types of cultural goods or activities as omnivores, not
are mere representations of the
service. Aguiar and Waldfogel (2015)
suggest, through correlation analyses, that Spotify's various rankings are good
of their general use. Thus, for the capitals presented, due to
the heterogeneity of genres, a possible omnivorous pattern regarding the
and deep funk in Rio, consumed in th
e six
capitals, other genres stand out. Brazilian hip hop in São Paulo and Florianópolis,
and pop in Florianópolis,
and others are in smaller proportion. Figure 8 presents six other capitals with di
fferent
(a) Rio de Janeiro (RJ) (b) Porto Alegre (RS)
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
(c) Salvador (BA) (d) Recife (PE)
(e)
Fortaleza
Fig. 8: Genres observed in Brazilian capitals, November 2016. Source: McDONALD (2013);
All the capitals shown in Figure
8 have a specific consumption pattern
for certain genres. In some of the
capitals, this pattern is more evident,
such as nativist and rock music in
Porto Alegre, axé
in Salvador,
and brega
in Fortaleza, and
sertanejouniversitário
in Goiânia. In
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
(c) Salvador (BA) (d) Recife (PE)
Fortaleza
(CE) (f)
Goiânia
Fig. 8: Genres observed in Brazilian capitals, November 2016. Source: McDONALD (2013);
SPOTIFY (2014).
All the capitals shown in Figure
8 have a specific consumption pattern
for certain genres. In some of the
capitals, this pattern is more evident,
such as nativist and rock music in
in Salvador,
forró
in Fortaleza, and
in Goiânia. In
Rio de Janeiro and Recife, the
consumption is divided into a few
genres. Recife divides among Brazilian
indie, forró, and
brega
Janeiro is divided among funk,
and Brazilian hip hop. These capitals
would typ
ically be classified as
univorable consumption patterns,
157
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
(c) Salvador (BA) (d) Recife (PE)
Goiânia
(GO)
Fig. 8: Genres observed in Brazilian capitals, November 2016. Source: McDONALD (2013);
Rio de Janeiro and Recife, the
consumption is divided into a few
genres. Recife divides among Brazilian
brega
, while Rio de
Janeiro is divided among funk,
pagode,
and Brazilian hip hop. These capitals
ically be classified as
univorable consumption patterns,
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
according to the propositions of
Peterson (1992).
This univorous consumption can
be explained by the tradition and
history of some genres in these places.
In Rio de Janeiro (Figure 8a), for
example,
as Vicente (2014) points out,
the origins of funk refer to the
American soul and funk movement of
the 1970s and, as in the United States,
maintained a strong presence in the
black population. The style explodes in
the late 1990s with the melody funk
phase
. In 2001, it rises the phase of
batidão and proibidão
funk. In the late
2000s, funk was renewed again with
the ostentação
phase with themes
related to the consumption of goods,
such as cars and electronic equipment,
as a symbol of distinction in the
p
eriphery. Similarly, the genres
observed in Recife (Figure 8d)
establish a direct association with the
Mangue Beat. This was an artistic and
social movement that emerged in the
late 1980s but gained strength in the
early 1990s and overcame Recife’s
barriers. The a
in Salvador (Figure
8c), according to Paulafreitas (2004),
dates back to the origins of this style in
the 1950s, with the creation of the
elétrico
by Dodô and Osmar
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
according to the propositions of
This univorous consumption can
be explained by the tradition and
history of some genres in these places.
In Rio de Janeiro (Figure 8a), for
as Vicente (2014) points out,
the origins of funk refer to the
American soul and funk movement of
the 1970s and, as in the United States,
maintained a strong presence in the
black population. The style explodes in
the late 1990s with the melody funk
. In 2001, it rises the phase of
funk. In the late
2000s, funk was renewed again with
phase with themes
related to the consumption of goods,
such as cars and electronic equipment,
as a symbol of distinction in the
eriphery. Similarly, the genres
observed in Recife (Figure 8d)
establish a direct association with the
Mangue Beat. This was an artistic and
social movement that emerged in the
late 1980s but gained strength in the
early 1990s and overcame Recife’s
in Salvador (Figure
8c), according to Paulafreitas (2004),
dates back to the origins of this style in
the 1950s, with the creation of the
trio
by Dodô and Osmar
, and the
afoxé
blocks such as Filhos de Gandhi
(1949)
and Ilê Ayê
Bahian axé
scene would come in the
late 1980s, accompanied by a new
moment in the Brazilian music scene
as a whole.
Observed these, we can divide
those cities into two groups of
consumption patterns. Those of
diversified or omnivorous pattern
São Paulo,
Belo Horizonte
Belém,
Florianópolis
Those of univorous consumption or a
specific genre are Rio de Janeiro
Recife,
Porto Alegre
Fortaleza,
and Goiânia
analysis expanded to other Brazilian
cit
ies and capitals. Figure 9 shows
diagrams of the most consumed
genres in each Brazilian capital. The
data were collected in November
2016.
12
12
For this month, it was not
data about capital Campo Grande (MS).
158
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
blocks such as Filhos de Gandhi
and Ilê Ayê
(1974). A new
scene would come in the
late 1980s, accompanied by a new
moment in the Brazilian music scene
Observed these, we can divide
those cities into two groups of
consumption patterns. Those of
diversified or omnivorous pattern
are
Belo Horizonte
, Manaus,
Florianópolis
, and Brası
́
lia.
Those of univorous consumption or a
specific genre are Rio de Janeiro
,
Porto Alegre
, Salvador,
and Goiânia
. Then the
analysis expanded to other Brazilian
ies and capitals. Figure 9 shows
diagrams of the most consumed
genres in each Brazilian capital. The
data were collected in November
For this month, it was not
possible to collect
data about capital Campo Grande (MS).
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
Fig. 9: Consumption by genders, Brazilian capitals, November 2016. Sour
There are very different patterns
of consumption, and those presented
previously are evident. For example,
the univorable pattern of capital cities
such as Porto Alegre, Rio de Janeiro,
Salvador, Recife, Fortaleza, and
Goiânia is proven.
Like Goiânia,
Cuia
(MT), Rio Branco (AC), and
Boa Vista (RR) are intense consumers
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
Fig. 9: Consumption by genders, Brazilian capitals, November 2016. Sour
(2013); SPOTIFY (2014).
There are very different patterns
of consumption, and those presented
previously are evident. For example,
the univorable pattern of capital cities
such as Porto Alegre, Rio de Janeiro,
Salvador, Recife, Fortaleza, and
Like Goiânia,
(MT), Rio Branco (AC), and
Boa Vista (RR) are intense consumers
of
sertanejo universitário
capitals have a more omnivorous and
distributed pattern. In addition to those
presented in Figure 8, we can mention
Palmas (TO), São Luís (MA), and
Maceió
(AL). Among other patterns
already observed, the following genres
are distinguished, in smaller or larger
proportions, in the respective capitals:
159
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Fig. 9: Consumption by genders, Brazilian capitals, November 2016. Sour
ce: McDONALD
sertanejo universitário
. Other
capitals have a more omnivorous and
distributed pattern. In addition to those
presented in Figure 8, we can mention
Palmas (TO), São Luís (MA), and
(AL). Among other patterns
already observed, the following genres
are distinguished, in smaller or larger
proportions, in the respective capitals:
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
Axé: Salvador;
Brazilian gospel: Manaus, Belém,
São Luís, João Pessoa (PB);
Brazilian hip hop: São Paulo,
Flo
rianópolis, Brasília (DF);
Brazilian indie: Recife, Belém;
Deep funk carioca
: Rio de Janeiro;
Forró and brega
: Recife, Fortaleza;
MPB
and national rock:
Florianópolis, Aracaju (SE), Natal (RN);
Nativist and rock
gaúcho
Alegre;
Pop and techno: Floria
Curitiba (PR);
Samba and pagode
: Rio de Janeiro;
Sertanejo universitário: Goiânia,
Cuiabá, Rio Branco, Boa Vista.
There are a few capitals where
funk and sertanejo
do not have a
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
Brazilian gospel: Manaus, Belém,
São Luís, João Pessoa (PB);
Brazilian hip hop: São Paulo,
rianópolis, Brasília (DF);
Brazilian indie: Recife, Belém;
: Rio de Janeiro;
: Recife, Fortaleza;
and national rock:
Florianópolis, Aracaju (SE), Natal (RN);
gaúcho
: Porto
Pop and techno: Floria
nópolis,
: Rio de Janeiro;
Sertanejo universitário: Goiânia,
Cuiabá, Rio Branco, Boa Vista.
There are a few capitals where
do not have a
minimum consumption.
national rock also have a well
distribu
ted consumption in the national
territory, except perhaps the Midwest
region, where the dominion of
sertanejo is clear.
Forró
capitals of the Northeast region, has
reach in Belo Horizonte, Brasília,
Manaus, and Belém.
We verified how consumpti
and tastes present themselves in the
other Brazilian cities, including as a
way of ascertaining the power of
influence of the capitals in the rest of
the cities. Figure 10 shows the
consumption patterns of all 108 cities
collected in November 2016, from
9,302 songs available in playlists in the
Every Place at Once domain.
160
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
minimum consumption.
MPB and
national rock also have a well
-
ted consumption in the national
territory, except perhaps the Midwest
region, where the dominion of
Forró
, besides the
capitals of the Northeast region, has
reach in Belo Horizonte, Brasília,
We verified how consumpti
on
and tastes present themselves in the
other Brazilian cities, including as a
way of ascertaining the power of
influence of the capitals in the rest of
the cities. Figure 10 shows the
consumption patterns of all 108 cities
collected in November 2016, from
9,302 songs available in playlists in the
Every Place at Once domain.
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
Fig. 10: Consumption by genders, Brazilian cities, November 2016. Source: McDONALD
In addition to the prevalence of
sertanejo
, there is a strong proximity
and spatial correlation of genders.
Among the 108 cities, there are 86
predominate songs from
universitário
, mostly in cities in the
South, Southeast, and Midwest, where
deep funk carioca
considerable consumption
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
Fig. 10: Consumption by genders, Brazilian cities, November 2016. Source: McDONALD
(2013); SPOTIFY(2014).
In addition to the prevalence of
, there is a strong proximity
and spatial correlation of genders.
Among the 108 cities, there are 86
predominate songs from
sertanejo
, mostly in cities in the
South, Southeast, and Midwest, where
also has
considerable consumption
. In the
South,
the capital cities Porto Alegre
and Florianópolis are exceptions
sertanejo
does not predominate, as
previously shown. In the Southeast,
sertanejo
has a lower proportion in the
cities of the states of Rio de Janeiro
and Espírito Santo. In the Northeast
and in the largest capitals of the North,
its scope is limited. The Northeast
161
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Fig. 10: Consumption by genders, Brazilian cities, November 2016. Source: McDONALD
the capital cities Porto Alegre
and Florianópolis are exceptions
, and
does not predominate, as
previously shown. In the Southeast,
has a lower proportion in the
cities of the states of Rio de Janeiro
and Espírito Santo. In the Northeast
and in the largest capitals of the North,
its scope is limited. The Northeast
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
region is where less
sertanejo
is consumed. In this region, ma
axé, forró, and MPB
are consumed.
Brazilian gospel, besides the
consumption already highlighted in
Manaus, São Luís, and João Pessoa,
is also distinguished in some cities of
the metropolitan region of the city of
Rio de Janeiro, such as São Gonçalo,
D
uque de Caxias, and Nova Iguaçu,
and also in Vila Velha (ES).
and pagode, which are predominant in
Rio de Janeiro, present relevant
consumption also in other cities of the
state. On the other hand, music from
the state of Rio Grande do Sul (nativist
and rock gaúcho) presents a minimum
consumption in other cities, but far
from the proportion in its capital, Porto
Alegre. They are Florianópolis,
(a) January 2017
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
sertanejo
and funk
is consumed. In this region, ma
inly
are consumed.
Brazilian gospel, besides the
consumption already highlighted in
Manaus, São Luís, and João Pessoa,
is also distinguished in some cities of
the metropolitan region of the city of
Rio de Janeiro, such as São Gonçalo,
uque de Caxias, and Nova Iguaçu,
and also in Vila Velha (ES).
Samba
and pagode, which are predominant in
Rio de Janeiro, present relevant
consumption also in other cities of the
state. On the other hand, music from
the state of Rio Grande do Sul (nativist
and rock gaúcho) presents a minimum
consumption in other cities, but far
from the proportion in its capital, Porto
Alegre. They are Florianópolis,
Curitiba, Santos (SP), Manaus, and
Natal. Likewise, axé
consumption in practically all the cities
of the Northeast, not reaching the
same proportion of Salvador.
In order to monitor the evolution
of this consumption and to verify that
the pattern for November remains,
Figure 11 presents consumpti
patterns for the months of January,
March, and May 2017. A total of 115,
84, and 106
playlists
from cities for each month,
respectively, totaling 9,530, 7,607, and
9,954 songs. The months were
interspersed in order to obtain greater
varia
bility of the playlists. For better
visualization, some cities were omitted
without affecting the analysis, given a
similar spatial pattern.
(a) January 2017
(b) March 2017
162
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Curitiba, Santos (SP), Manaus, and
has a minimum
consumption in practically all the cities
of the Northeast, not reaching the
same proportion of Salvador.
In order to monitor the evolution
of this consumption and to verify that
the pattern for November remains,
Figure 11 presents consumpti
on
patterns for the months of January,
March, and May 2017. A total of 115,
playlists
were collected
from cities for each month,
respectively, totaling 9,530, 7,607, and
9,954 songs. The months were
interspersed in order to obtain greater
bility of the playlists. For better
visualization, some cities were omitted
without affecting the analysis, given a
similar spatial pattern.
(b) March 2017
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
Fig. 11:
Evolution of consumption by gender, Brazilian cities. Source: McDONALD (2013);
Most genres maintain their
spatial reference. However, some
changes are noteworthy. An expansion
of funk is confirmed,
especially if we
observe the maps of January and
March of 2017. In March,
pagode
lost space to other genres in
the state of Rio de Janeiro. In relation
to axé
, there was an increase in
consumption in the Northeast. In
addition to Salvador, incre
consumption was found mainly in
Aracaju, Fortaleza, Feira de Santana
(BA), and Vitória da Conquista (BA). In
May, however, this consumption
contracted, when there was an
increase in the proportion of
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
(c) May 2017
Evolution of consumption by gender, Brazilian cities. Source: McDONALD (2013);
SPOTIFY (2014).
Most genres maintain their
spatial reference. However, some
changes are noteworthy. An expansion
especially if we
observe the maps of January and
March of 2017. In March,
samba and
lost space to other genres in
the state of Rio de Janeiro. In relation
, there was an increase in
consumption in the Northeast. In
addition to Salvador, incre
ased
consumption was found mainly in
Aracaju, Fortaleza, Feira de Santana
(BA), and Vitória da Conquista (BA). In
May, however, this consumption
contracted, when there was an
increase in the proportion of
forró and
brega
in the cities of the Northeast.
Foc
using on Salvador, it is possible to
see this expansion;
market share, practically dividing
consumption with
forró
Fortaleza, the consumption of this
genre reached a univorous level similar
to the consumption of
o
ther cities, such as Goiânia and
Cuiabá. In the same month, there was
also an increase in consumption of
Brazilian hip hop music, particularly in
the Southeast and South regions.
Samba and
pagode
consumption levels in the cities of the
state of Ri
o de Janeiro that they
obtained in November 2016 and
163
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Evolution of consumption by gender, Brazilian cities. Source: McDONALD (2013);
in the cities of the Northeast.
using on Salvador, it is possible to
see this expansion;
axé reduced its
market share, practically dividing
forró
and brega. In
Fortaleza, the consumption of this
genre reached a univorous level similar
to the consumption of
sertanejo in
ther cities, such as Goiânia and
Cuiabá. In the same month, there was
also an increase in consumption of
Brazilian hip hop music, particularly in
the Southeast and South regions.
pagode
regained
consumption levels in the cities of the
o de Janeiro that they
obtained in November 2016 and
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
January 2017. Pop and techno also
showed a small increase in
consumption over the months.
In this range, it is also worth
mentioning the expansion of Brazilian
gospel in some places. Presence is
maintain
ed in Manaus, São Luís, and
João Pessoa, while increasing
consumption in the cities already
mentioned in the metropolitan region of
Rio de Janeiro, including Belford Roxo
and São João do Meriti, and in the
cities of Espírito Santo, such as Vitória,
Serra,
and Vila Velha. In the cities of
the metropolitan region of Rio de
Janeiro, gospel divides the
consumption, mainly with funk,
and pagode
. In the capital, however,
the consumption of gospel is
inexpressive. There are also increases
in other cities, s
uch as Feira de
Santana (BA), Campina Grande (PE),
Palmas, Belém, and Brasília.
The analysis by the Brazilian
territory confirms that there are close
relationships of some genres with the
cultural identity of the cities where they
are consumed, while other
be associated with mass production
processes and greater market
emphasis. More obvious examples of
the first situation would be cities with
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
January 2017. Pop and techno also
showed a small increase in
consumption over the months.
In this range, it is also worth
mentioning the expansion of Brazilian
gospel in some places. Presence is
ed in Manaus, São Luís, and
João Pessoa, while increasing
consumption in the cities already
mentioned in the metropolitan region of
Rio de Janeiro, including Belford Roxo
and São João do Meriti, and in the
cities of Espírito Santo, such as Vitória,
and Vila Velha. In the cities of
the metropolitan region of Rio de
Janeiro, gospel divides the
consumption, mainly with funk,
samba,
. In the capital, however,
the consumption of gospel is
inexpressive. There are also increases
uch as Feira de
Santana (BA), Campina Grande (PE),
Palmas, Belém, and Brasília.
The analysis by the Brazilian
territory confirms that there are close
relationships of some genres with the
cultural identity of the cities where they
are consumed, while other
s seem to
be associated with mass production
processes and greater market
emphasis. More obvious examples of
the first situation would be cities with
extremely univorious consumption
patterns in one or two genders. The
second situation could include those
cities where, even considering the
most distinctly consumed songs, the
consumption of
sertanejo universitário
is still significant, sharing space with
other genres, often
funk carioca
. According to Junior
(2008, p. 40):
It is possible to
relation between the musical
label and a supposed taste of
the listener (...). In virtual
terms, the genres and their
settings in the songs describe
not only who the consumers
are, but also the possibilities of
meaning of a certain type of
music f
or a particular
audience. In the labeling there
is a certain way of sharing
experience and musical
knowledge. (authors’
translation)
As Paulafreitas (2004) notes,
especially in the last decade, the
phonographic market generally
underwent restructuring an
segmentation. The digital music
consumption described by Spotify's
playlists features both traditional and
mass-
replacement models. This would
be represented by the genres typically
with greater marketing appeal, such as
164
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
extremely univorious consumption
patterns in one or two genders. The
second situation could include those
cities where, even considering the
most distinctly consumed songs, the
sertanejo universitário
is still significant, sharing space with
other genres, often
MPB and deep
. According to Junior
It is possible to
notice a
relation between the musical
label and a supposed taste of
the listener (...). In virtual
terms, the genres and their
settings in the songs describe
not only who the consumers
are, but also the possibilities of
meaning of a certain type of
or a particular
audience. In the labeling there
is a certain way of sharing
experience and musical
knowledge. (authors’
As Paulafreitas (2004) notes,
especially in the last decade, the
phonographic market generally
underwent restructuring an
d
segmentation. The digital music
consumption described by Spotify's
playlists features both traditional and
replacement models. This would
be represented by the genres typically
with greater marketing appeal, such as
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
sertanejo universitário
and, more
recently, funk.
In the same way that Anderson
(2006) advocates for other services
and segments, it is possible to say that
there is a "Spotify Long Tail" where
local genres and artists or those with
less popularity than the "big stars" can
be heard. Figur
e 12 demonstrates this
assumption. There were 920 artists
collected in the playlists of Brazil and
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
and, more
In the same way that Anderson
(2006) advocates for other services
and segments, it is possible to say that
there is a "Spotify Long Tail" where
local genres and artists or those with
less popularity than the "big stars" can
e 12 demonstrates this
assumption. There were 920 artists
collected in the playlists of Brazil and
the cities between November 2016 and
March 2017. The distribution of the first
characterizes exactly the decay of the
Power Law, the same observed for
other
phenomena of "Long Tail", where
few items are consumed in high
volume and most are consumed in
small volumes, but which together
represent a significant portion (PARK
et al., 2007).
(a) Artists’ Followers
165
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
the cities between November 2016 and
March 2017. The distribution of the first
characterizes exactly the decay of the
Power Law, the same observed for
phenomena of "Long Tail", where
few items are consumed in high
volume and most are consumed in
small volumes, but which together
represent a significant portion (PARK
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
Fig. 12: Long Tail of streaming music. Source: McDONALD (2013); SPOTIFY (2014, 2016).
Most of the artists present in the
national playlists refer to the
international pop genres or the great
stars of
sertanejo universitário
national pop. These occupy the top
positions in relation to both the
followers and popularity, and, as
Anderson (2006) affirms, those are the
great successes that always had space
in the physical market. However, the
cu
rve shows a large number of artists
with followers below 1.5 million, most
of whose songs are on local playlists, a
grouping that Anderson (2006) calls
“non-hits.”
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
(b) Artists’ Popularity
Fig. 12: Long Tail of streaming music. Source: McDONALD (2013); SPOTIFY (2014, 2016).
Most of the artists present in the
national playlists refer to the
international pop genres or the great
sertanejo universitário
and
national pop. These occupy the top
positions in relation to both the
followers and popularity, and, as
Anderson (2006) affirms, those are the
great successes that always had space
in the physical market. However, the
rve shows a large number of artists
with followers below 1.5 million, most
of whose songs are on local playlists, a
grouping that Anderson (2006) calls
Therefore, it is possible that
streaming services will be an effective
tool and drive an eff
ective demand of
less popular genres and artists, to the
point where this “non
rivals that of hits. The
recommendations, playlists, stations,
and other resources available in the
application would be facilitators
“link between supply and
and even possible
guides.” As pointed out by Peltier
(2015), the simultaneous consumption
of “hits” and “non-
hits” is possible in
the digital markets due to search
166
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Fig. 12: Long Tail of streaming music. Source: McDONALD (2013); SPOTIFY (2014, 2016).
Therefore, it is possible that
streaming services will be an effective
ective demand of
less popular genres and artists, to the
point where this “non
-hits” market
rivals that of hits. The
recommendations, playlists, stations,
and other resources available in the
application would be facilitators
the
“link between supply and
demand
and even possible
hits’and niche
guides.” As pointed out by Peltier
et al.
(2015), the simultaneous consumption
hits” is possible in
the digital markets due to search
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
engines and recommendation services.
Thus, we would initially imagine that
sertanejo universitário
predominate in the whole of Brazil;
however, it is observed that the genres
of market niches also have a relevant
local appreciation when inserted in t
digital service.
Final remarks
We believe that this work
contributes to a better understanding
and dimension of music consumption
in Brazil. Particularly regarding
innovations in the phonographic sector
and the advancement of streaming
platforms, the a
nalysis of this
consumption from data from Spotify
reveals crucial results and suggests
questions for future research. The first
concerns democratization and reduced
costs of access to music. Currently,
with Internet access, a music listener
can listen to
an extensive list of genres
and artists, free of charge, through
digital platforms. Also, for a monetary
value, sometimes less than the
purchase of a single CD, it is possible
to purchase monthly subscriptions for
streaming music services, such as
Spotify.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
engines and recommendation services.
Thus, we would initially imagine that
sertanejo universitário
would
predominate in the whole of Brazil;
however, it is observed that the genres
of market niches also have a relevant
local appreciation when inserted in t
he
We believe that this work
contributes to a better understanding
and dimension of music consumption
in Brazil. Particularly regarding
innovations in the phonographic sector
and the advancement of streaming
nalysis of this
consumption from data from Spotify
reveals crucial results and suggests
questions for future research. The first
concerns democratization and reduced
costs of access to music. Currently,
with Internet access, a music listener
an extensive list of genres
and artists, free of charge, through
digital platforms. Also, for a monetary
value, sometimes less than the
purchase of a single CD, it is possible
to purchase monthly subscriptions for
streaming music services, such as
The possibility of constructing
robust indicators with the data provided
by the Spotify API (Spotify Web API) is
a proposed methodological advance.
Access to these types of data or any
data from digital platforms guarantees
the elaboration of a diverse ra
indicators at a low cost and with
sample representativeness only
verified in census collections,
recognized by their high price and,
therefore, with periodicity in most
countries. Thus, in the field of the
culture economy, where changes have
occurre
d in a vertiginous way due to
the digitization process, and where
there is no scope or periodicity in the
construction of secondary databases,
access to APIs has become an
essential and alternative data tool.
The observation of almost real
time consumption
trends and their evolution according to
musical styles. As an example, there
was a relatively significant
consumption of gospel style in some
cities. There was also a substantial rise
in funk consumption at the national
level, but mainly i
n the South and
Southeast regions. This may reveal a
shift from the segment industry to a
mass market profile.
167
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
The possibility of constructing
robust indicators with the data provided
by the Spotify API (Spotify Web API) is
a proposed methodological advance.
Access to these types of data or any
data from digital platforms guarantees
the elaboration of a diverse ra
nge of
indicators at a low cost and with
sample representativeness only
verified in census collections,
recognized by their high price and,
therefore, with periodicity in most
countries. Thus, in the field of the
culture economy, where changes have
d in a vertiginous way due to
the digitization process, and where
there is no scope or periodicity in the
construction of secondary databases,
access to APIs has become an
essential and alternative data tool.
The observation of almost real
-
helps to follow
trends and their evolution according to
musical styles. As an example, there
was a relatively significant
consumption of gospel style in some
cities. There was also a substantial rise
in funk consumption at the national
n the South and
Southeast regions. This may reveal a
shift from the segment industry to a
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
Finally, it is emphasized that
dimensioning, describing, and mapping
culture and cultural goods are arduous
tasks for both the symbolic and
immeasurable value of the object in
question. Particularly regarding music,
at no time was it intended to value or
devalue specific genres or artists. On
the contrary, in the diversity of the
territorial and cultural extension of
Brazil, every manifestatio
micro, local, regional, and national
levels, is valued. It is believed that
dimensioning art is a way of
strengthening cultural identities,
thinking of ways of encouraging,
perpetuating, and evaluating them.
Acknowledgements:
We thank all
Spotif
y Web API, Python, R, QGIS, Beautiful
Soup, ggplot2 and wordcloud (R Core Team
2018; QGIS Development Team 2009;
Richardson 2017; Wickham 2016; Fellows
2014) contributors which made possible this
work.
References:
AGUIAR, L.; WALDFOGEL, J. Even
the losers
get lucky sometimes: New
products and the evolution of music
quality since Napster.
Economics and Policy
, Elsevier, v. 34,
p. 1–15, 2016.
AGUIAR, L.; WALDFOGEL, J.
Streaming Reaches Flood Stage
Spotify Stimulate or Depress Music
Sales?
NBER Working Paper,
(w21653). Available at SSRN:
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
Finally, it is emphasized that
dimensioning, describing, and mapping
culture and cultural goods are arduous
tasks for both the symbolic and
immeasurable value of the object in
question. Particularly regarding music,
at no time was it intended to value or
devalue specific genres or artists. On
the contrary, in the diversity of the
territorial and cultural extension of
Brazil, every manifestatio
n, at the
micro, local, regional, and national
levels, is valued. It is believed that
dimensioning art is a way of
strengthening cultural identities,
thinking of ways of encouraging,
perpetuating, and evaluating them.
We thank all
y Web API, Python, R, QGIS, Beautiful
Soup, ggplot2 and wordcloud (R Core Team
2018; QGIS Development Team 2009;
Richardson 2017; Wickham 2016; Fellows
2014) contributors which made possible this
AGUIAR, L.; WALDFOGEL, J. Even
get lucky sometimes: New
products and the evolution of music
quality since Napster.
Information
, Elsevier, v. 34,
AGUIAR, L.; WALDFOGEL, J.
Streaming Reaches Flood Stage
: Does
Spotify Stimulate or Depress Music
NBER Working Paper,
(w21653). Available at SSRN:
https://ssrn.com/abstract=2679691.
2015.
ANDERSON, C.
A Cauda Longa
de Janeiro: Elsevier Brasil, 2006.
CAVES, R. E. Organization of arts and
entertainment industries.
the Economics of Art a
Elsevier, Amsterdã, v. 1, p. 533
2006.
COULANGEON, P.; LEMEL, Y. Is
“distinction” really outdated?
Questioning the meaning of the
omnivorization of musical taste in
contemporary France.
Elsevier, v. 35, n. 2, p. 93
CVET
KOVSKI, T. The Political
Economy of the Music Industry: Its
Rise and Stall. In:
Australasian Political
Studies Association Conference
Adelaide: University of Adelaide, 2004.
FELLOWS, I.
wordcloud
R package version 2.5. 2014.
LEYSHON, A.
Refo
Networks, and the Transformation of
the Music Industry
. Oxford: Oxford
University Press, 2014.
LIEBOWITZ, S. J. How much of the
decline in sound recording sales is due
to file-sharing?
Journal of Cultural
Economics
, Springer, v. 40, n. 1, p.
13–28, 2014.
LIEBOWITZ, S. J. Will MP3 Downloads
Annihilate the Record Industry? The
Evidence so Far. In: LIBECAP, G.
(ed.).
Intellectual Property and
Entrepreneurship
. Emerald Group
Publishing Limited, 2004. p. 229
MCDONALD, G.
Every Place at Once
2013.
http://everynoise.com/everyplace.cgi
Accessed 28 August 2018.
MELO, Gabriel Borges
do Spotify BR
: dimensões do consumo
168
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
https://ssrn.com/abstract=2679691.
A Cauda Longa
. Rio
de Janeiro: Elsevier Brasil, 2006.
CAVES, R. E. Organization of arts and
entertainment industries.
Handbook of
the Economics of Art a
nd Culture,
Elsevier, Amsterdã, v. 1, p. 533
–566,
COULANGEON, P.; LEMEL, Y. Is
“distinction” really outdated?
Questioning the meaning of the
omnivorization of musical taste in
contemporary France.
Poetics,
Elsevier, v. 35, n. 2, p. 93
–111, 2007.
KOVSKI, T. The Political
Economy of the Music Industry: Its
Australasian Political
Studies Association Conference
.
Adelaide: University of Adelaide, 2004.
wordcloud
: Word Clouds.
R package version 2.5. 2014.
Refo
rmatted: Code,
Networks, and the Transformation of
. Oxford: Oxford
University Press, 2014.
LIEBOWITZ, S. J. How much of the
decline in sound recording sales is due
Journal of Cultural
, Springer, v. 40, n. 1, p.
LIEBOWITZ, S. J. Will MP3 Downloads
Annihilate the Record Industry? The
Evidence so Far. In: LIBECAP, G.
Intellectual Property and
. Emerald Group
Publishing Limited, 2004. p. 229
–260.
Every Place at Once
.
http://everynoise.com/everyplace.cgi
.
Accessed 28 August 2018.
MELO, Gabriel Borges
Vaz de. O Som
: dimensões do consumo
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
reproductions. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 141-169
, set. 2020.
de música digital no Brasil. (Mestrado
em Economia). Centro de
Desenvolvimento e Planejamento
Regiona
l, Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.
OBERHOLZER-
GEE, F.; STRUMPF,
K. The effect of file sharing on record
sales: An empirical analysis.
Political Economy
, The University of
Chicago Press, v. 115, n. 1, p. 1
2007.
PARK, J.; CELMA, O.;
KOPPENBERGER, M., CANO, P.,
BULDÚ, J. M. The social network of
contemporary popular musicians.
International Journal of Bifurcation and
Chaos
, World Scientific, v. 17, n. 07, p.
2281–2288, 2007.
PAULAFREITAS, A. Música de rua de
Salvad
or: preparando a cena para a
axé music. In: C
ULT. I ENECULT
Encontro de Estudos Multidisciplinares
em Cultura.
Salvador, 2004.
PELTIER, S.; BENHAMOU, F.;
TOURÉ, M. Does the long tail really
favor small publishers?
Cultural Economics
, Springer,
2015.
PETERSON, R. A. Understanding
audience segmentation: From elite and
mass to omnivore and univore.
Poetics
, Elsevier, v. 21, n. 4, p. 243
258, 1992.
POTTS, J. New technologies and
cultural consumption. In:
GINSBURGH, V. A.; THROSBY, D.
(ed.).
Handbook of the Economics of
Art and Culture.
2. ed. Amsterdam:
Elsevier, 2014. p. 215–
231.
PREY, R.
Now Playing. You: Big Data
and the Production of Music Streaming
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
MELO, Gabriel Borges Vaz de; MACHADO, Ana Flavia; CARVALHO, Lucas
resende de. Music consumption in Brazil: an analysis of streaming
Americana de Estudos em
, set. 2020.
de música digital no Brasil. (Mestrado
em Economia). Centro de
Desenvolvimento e Planejamento
l, Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.
GEE, F.; STRUMPF,
K. The effect of file sharing on record
sales: An empirical analysis.
Journal of
, The University of
Chicago Press, v. 115, n. 1, p. 1
–42,
PARK, J.; CELMA, O.;
KOPPENBERGER, M., CANO, P.,
BULDÚ, J. M. The social network of
contemporary popular musicians.
International Journal of Bifurcation and
, World Scientific, v. 17, n. 07, p.
PAULAFREITAS, A. Música de rua de
or: preparando a cena para a
ULT. I ENECULT
Encontro de Estudos Multidisciplinares
Salvador, 2004.
PELTIER, S.; BENHAMOU, F.;
TOURÉ, M. Does the long tail really
favor small publishers?
Journal of
, Springer,
p. 1–20,
PETERSON, R. A. Understanding
audience segmentation: From elite and
mass to omnivore and univore.
, Elsevier, v. 21, n. 4, p. 243
POTTS, J. New technologies and
cultural consumption. In:
GINSBURGH, V. A.; THROSBY, D.
Handbook of the Economics of
2. ed. Amsterdam:
231.
Now Playing. You: Big Data
and the Production of Music Streaming
Space
. Doctoral dissertation.
Communication, Art & Technology:
School of Communication.
Fraser University, 2015.
PRÓ-
MÚSICA BRASIL, P. F. A.
Mercado Fonográfico Mundial e
Brasileiro em 2016
: Relatório Anual
Eletrônico Pró-
Música Brasil.
https://pro-
musicabr.org.br/home/numeros
mercado/. Accessed 17 September
2018.
QGIS Develop
ment Team. QGIS
Geographic Information System. Open
Source Geospatial Foundation, 2009.
R Core Team. R: A Language and
Environment for Statistical Computing.
R Foundation for Statistical Computing,
Vienna, Austria, 2018.
RICHARDSON, L. Beautiful Soup
Docum
entation, 2017.
https://buildmedia.readthedocs.org/me
dia/pdf/beautiful-soup
-
4/latest/beautiful-
soup
4.4.0. Accessed 28 November 2018.
SPOTIFY.
Spotify Charts,
https://spotifycharts.com/regional.
Accessed 28 August 2018.
SPOTIFY.
Spotify Web API,
API. https://developer.spotify.com/web
api/. Accessed 28 August 2018.
THROSBY, D. The Music Industry in
the New Millennium: Global and local
perspectives.
Global Alliance for
Cultural Diversity
, UNESCO Division of
Arts and Cultural
Enterprise, 2002.
WICKHAM, H.
ggplot2
Graphics for Data Analysis.
Verlag New York, 2016.
169
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
. Doctoral dissertation.
Communication, Art & Technology:
School of Communication.
Simon
Fraser University, 2015.
MÚSICA BRASIL, P. F. A.
Mercado Fonográfico Mundial e
: Relatório Anual
Música Brasil.
2017.
musicabr.org.br/home/numeros
-do-
mercado/. Accessed 17 September
ment Team. QGIS
Geographic Information System. Open
Source Geospatial Foundation, 2009.
R Core Team. R: A Language and
Environment for Statistical Computing.
R Foundation for Statistical Computing,
Vienna, Austria, 2018.
RICHARDSON, L. Beautiful Soup
entation, 2017.
https://buildmedia.readthedocs.org/me
-
soup
-4.pdf. Release
4.4.0. Accessed 28 November 2018.
Spotify Charts,
2016.
https://spotifycharts.com/regional.
Accessed 28 August 2018.
Spotify Web API,
2014. b
API. https://developer.spotify.com/web
-
api/. Accessed 28 August 2018.
THROSBY, D. The Music Industry in
the New Millennium: Global and local
Global Alliance for
, UNESCO Division of
Enterprise, 2002.
ggplot2
: Elegant
Graphics for Data Analysis.
Springer-
Verlag New York, 2016.
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
O
Social Credit System
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.
Resumo
: O presente trabalho visa investigar o controverso sistema de crédito social chinês,
denominado
Social Credit System
breves considerações acerca da era dos dados e a espetacularização da vida,
supremacia do processamento de dados e sua transfiguração em sistemas sociopolíticos disruptivos
de hipervigilância, verificados, inclusive, no Brasil. Conclui
componente ético por meio do devido reconhecimen
fundamental.
Palavras-Chave:
Social Credit System
El Social Credit System en la Era de los Datos
Resumen
: El presente trabajo tiene como objetivo
chino, llamado Social Credit System, y sus impactos en la vida de las personas. Por lo tanto,
comienza con breves consideraciones sobre la era de los datos y la espectacularización de la vida,
marcada p
or la supremacía del procesamiento de datos y su transfiguración en sistemas
sociopolíticos disruptivos de hipervigilancia, verificada, incluso en Brasil. Concluye con la valoración
necesaria de un componente ético mediante el debido reconocimiento de los
un derecho humano fundamental.
Palabras clave
: Social Credit System
The Social Credit System in the Data Age
Abstract:
This present work aims to investigate the controversial Chinese social credit system, and its
impacts onto individuals' lives. Therefore, it starts from brief considerations about the data age,
marked by the supremacy of data processingand the spectaculari
into disruptive hypervigilance sociopolitical systems, even found in Brazil. It is concluded by the
1
Fernanda Paes Leme Peyneau Rito.
Janeiro /
UERJ. Professora Titular de Direito Civil do Ibmec/RJ
fernanda.rito@ibmec.edu.br -
https://orcid.org/0000
2
Pedro Teixeira Gueiros
Graduando em Direito pelo Ibmec
pedrogueiros@uol.com.br -
https://orcid.org/0000
Recebido em 04/05/2020,
aceito para publicação em
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
Social Credit System
na Era dos Dados
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.
42516
Pedro Teixeira Gueiros
: O presente trabalho visa investigar o controverso sistema de crédito social chinês,
Social Credit System
, e seus impactos na vida dos indivíduos. Para tanto, parte de
breves considerações acerca da era dos dados e a espetacularização da vida,
supremacia do processamento de dados e sua transfiguração em sistemas sociopolíticos disruptivos
de hipervigilância, verificados, inclusive, no Brasil. Conclui
-
se pela necessária valoração de um
componente ético por meio do devido reconhecimen
to dos dados pessoais como direito humano
Social Credit System
; dataísmo; capitalismo de vigilância; p
roteção de dados.
El Social Credit System en la Era de los Datos
: El presente trabajo tiene como objetivo
investigar el controvertido sistema de crédito social
chino, llamado Social Credit System, y sus impactos en la vida de las personas. Por lo tanto,
comienza con breves consideraciones sobre la era de los datos y la espectacularización de la vida,
or la supremacía del procesamiento de datos y su transfiguración en sistemas
sociopolíticos disruptivos de hipervigilancia, verificada, incluso en Brasil. Concluye con la valoración
necesaria de un componente ético mediante el debido reconocimiento de los
datos personales como
un derecho humano fundamental.
: Social Credit System
; dataismo; vigilancia del capitalismo; p
rotección de datos.
The Social Credit System in the Data Age
This present work aims to investigate the controversial Chinese social credit system, and its
impacts onto individuals' lives. Therefore, it starts from brief considerations about the data age,
marked by the supremacy of data processingand the spectaculari
zation of life, and its transfiguration
into disruptive hypervigilance sociopolitical systems, even found in Brazil. It is concluded by the
Fernanda Paes Leme Peyneau Rito.
Doutora em Direito Civil
pela Universidade do Estado do Rio de
UERJ. Professora Titular de Direito Civil do Ibmec/RJ
, Brasil. E-mail:
https://orcid.org/0000
-0001-6909-2204
Graduando em Direito pelo Ibmec
-RJ, Brasil. E-mail:
https://orcid.org/0000
-0001-5885-420X
aceito para publicação em
08/05/20
20, disponibilizado online em
01/09/2020.
170
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
Fernanda Rito
1
Pedro Teixeira Gueiros
2
: O presente trabalho visa investigar o controverso sistema de crédito social chinês,
, e seus impactos na vida dos indivíduos. Para tanto, parte de
breves considerações acerca da era dos dados e a espetacularização da vida,
marcada pela
supremacia do processamento de dados e sua transfiguração em sistemas sociopolíticos disruptivos
se pela necessária valoração de um
to dos dados pessoais como direito humano
roteção de dados.
investigar el controvertido sistema de crédito social
chino, llamado Social Credit System, y sus impactos en la vida de las personas. Por lo tanto,
comienza con breves consideraciones sobre la era de los datos y la espectacularización de la vida,
or la supremacía del procesamiento de datos y su transfiguración en sistemas
sociopolíticos disruptivos de hipervigilancia, verificada, incluso en Brasil. Concluye con la valoración
datos personales como
rotección de datos.
This present work aims to investigate the controversial Chinese social credit system, and its
impacts onto individuals' lives. Therefore, it starts from brief considerations about the data age,
zation of life, and its transfiguration
into disruptive hypervigilance sociopolitical systems, even found in Brazil. It is concluded by the
pela Universidade do Estado do Rio de
20, disponibilizado online em
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
necessary valuation of an ethical component through the proper recognition of personal data as a
fundamental human right.
Keyword: Social Credit System
; dataism;s
O
Social Credit System
1.
Considerações iniciais:
dados e a espetacularização da vida
A ficção criou diversas
sociedades futuristas, nas quais a
tecnologia e a inteligência de dados
são características primordiais de uma
organização social vigilante, preditiva e
ranqueadora dos cidadãos.
Mirror,1984, Minority
Report
Divergente e
O preço do amanhã
alguns exemplos de sociedades
distópicas e com emprego de alta
tecnologia.
Contemporaneamente, no
entanto, o distanciamento entre o que
era ficção e a realidade vem
diminuindo consideravelmente. Todos
se depararam com
algum
para a qual a melhor definição era
black mirror
”. Assistentes pessoais
virtuais; GPS
; ofertas personalizadas;
edição genética; híbridos humanos;
implantação de chips em pessoas com
o objetivo de melhoramento
(transumanos), enfim, a realidade qu
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
necessary valuation of an ethical component through the proper recognition of personal data as a
; dataism;s
urveillance capitalism; data protection.
Social Credit System
na Era dos Dados
Considerações iniciais:
a era dos
dados e a espetacularização da vida
A ficção criou diversas
sociedades futuristas, nas quais a
tecnologia e a inteligência de dados
são características primordiais de uma
organização social vigilante, preditiva e
ranqueadora dos cidadãos.
Black
Report
, Elysium,
O preço do amanhã
são
alguns exemplos de sociedades
distópicas e com emprego de alta
Contemporaneamente, no
entanto, o distanciamento entre o que
era ficção e a realidade vem
diminuindo consideravelmente. Todos
algum
a situação
para a qual a melhor definição era
”. Assistentes pessoais
; ofertas personalizadas;
edição genética; híbridos humanos;
implantação de chips em pessoas com
o objetivo de melhoramento
(transumanos), enfim, a realidade qu
e
se apresenta hoje está muito próxima
da ficção de ontem.
de se perguntar como isso é
possível e a resposta,
necessariamente, perpassa dois
aspectos: evolução tecnológica e a
espetacularização da vida, mas,
sobretudo, o ciclo vicioso estabelecido
entr
e esses dois aspectos. A rigor, o
sistema de crédito social chinês, objeto
de análise, está inserido em um
contexto histórico muito mais
abrangente e de escala mundial,
identificado como dataísmo
inédito na civilização humana, em que
a crença e o uso desenfreado de
3
O termo foi cunhado originalmente pelo
jornalista David Brooks ao descrever a
capacidade dos dados determinarem cada vez
mais os padrões e comportamentos humanos,
interferindo na capacidade de tomada de
decisões (2013). Para o historiador Yuval
Noah Harari
, “o Universo consiste num fluxo
de dados e o valor de qualquer fenômeno ou
entidade é determinado por sua contribuição
ao processamento de dados” (2016, p. 399).
Nesse sentido, “dataísmo” é entendido como o
fenômeno caracterizado pela supervalorização
dos
dados produzidos e comercializados,
sobretudo, em ambientes virtuais.
171
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
necessary valuation of an ethical component through the proper recognition of personal data as a
se apresenta hoje está muito próxima
de se perguntar como isso é
possível e a resposta,
necessariamente, perpassa dois
aspectos: evolução tecnológica e a
espetacularização da vida, mas,
sobretudo, o ciclo vicioso estabelecido
e esses dois aspectos. A rigor, o
sistema de crédito social chinês, objeto
de análise, está inserido em um
contexto histórico muito mais
abrangente e de escala mundial,
identificado como dataísmo
3
: momento
inédito na civilização humana, em que
a crença e o uso desenfreado de
O termo foi cunhado originalmente pelo
jornalista David Brooks ao descrever a
capacidade dos dados determinarem cada vez
mais os padrões e comportamentos humanos,
interferindo na capacidade de tomada de
decisões (2013). Para o historiador Yuval
, “o Universo consiste num fluxo
de dados e o valor de qualquer fenômeno ou
entidade é determinado por sua contribuição
ao processamento de dados” (2016, p. 399).
Nesse sentido, “dataísmo” é entendido como o
fenômeno caracterizado pela supervalorização
dados produzidos e comercializados,
sobretudo, em ambientes virtuais.
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
dados definem o estágio antropológico
contemporâneo.
O dataísmo, por sua vez, foi
potencializado por uma mudança
comportamental anterior: a
espetacularização da vida e
publici
zação daquilo que,
tradicionalmente, era mantido na
esfera privada e até íntima. As
facilitações prometidas pelos diversos
usos da internet e, principalmente, a
alteração nas formas de interação
social medidas por plataformas,
acompanhadas da naturalização
compartilhamento de dados e
informações pessoais, possibilitaram a
coleta de um sem número de
informações pessoais, etapa
imprescindível e necessária para o
desenvolvimento das diversas
aplicações existentes hoje, tal como o
sistema de crédito social c
hinês.
É possível dizer que, desde as
revoluções burguesas em meados do
séc. XVII, vigorou o culto ao
humanismo, marcado pelo valor
supremo da vida humana, em que o
ser humano passa a ser visto como o
mais avançado sistema capaz de
processar dados ou infor
Atualmente, no entanto, com o
desenvolvimento da internet, viu
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
dados definem o estágio antropológico
O dataísmo, por sua vez, foi
potencializado por uma mudança
comportamental anterior: a
espetacularização da vida e
zação daquilo que,
tradicionalmente, era mantido na
esfera privada e até íntima. As
facilitações prometidas pelos diversos
usos da internet e, principalmente, a
alteração nas formas de interação
social medidas por plataformas,
acompanhadas da naturalização
do
compartilhamento de dados e
informações pessoais, possibilitaram a
coleta de um sem número de
informações pessoais, etapa
imprescindível e necessária para o
desenvolvimento das diversas
aplicações existentes hoje, tal como o
hinês.
É possível dizer que, desde as
revoluções burguesas em meados do
séc. XVII, vigorou o culto ao
humanismo, marcado pelo valor
supremo da vida humana, em que o
ser humano passa a ser visto como o
mais avançado sistema capaz de
processar dados ou infor
mações.
Atualmente, no entanto, com o
desenvolvimento da internet, viu
-se a
emersão dos dados como um novo
valor inestimável, fruto do avanço
tecnológico e do desenvolvimento das
inteligências artificiais.
Destarte, a humanidade vem
depositando suas ident
capacidades e habilidades em
algoritmos externos
inteligência avançada, com o fito de
facilitar e promover a qualidade de
vida
5
. O propósito inicial parece, de
fato, nobre. “Nunca a humanidade
viveu o bem”, conforme indicam os
“dados”
6
e, tal fato, é facilmente
constatável desde a substituição das
atividades mecânicas humanas
das Revoluções Industriais
4
Algoritmos externos podem ser entendidos
como conjunto de raciocínios lógicos
artificialmente concebidos. (SOLON, 2019).
5
Nesse sentido, ao conceituar o processo do
“dataísmo”,
explicita Yuval Noah Harari que “O
trabalho de processamento de dados deveria,
portanto, ser confiado a algoritmos eletrônicos,
cuja capacidade excede muito a do cérebro
humano. Na prática, os dataístas são céticos
no que diz respeito ao conhecimento e à
s
abedoria humanos, e preferem depositar sua
confiança em megadados e em algoritmos
computacionais”. (2016, p. 400).
6
Max Roser, de 34 anos, defende, com dados
e gráficos, a tese de que nunca a humanidade
viveu tão bem como hoje em dia. Roser
argumenta que,
se olharmos para os últimos
200 anos, temos vários motivos para estarmos
bastante otimistas com os rumos que
tomamos
(ORENSTEIN, 2019).
7
Antes da Revolução Industrial, o mercado de
energia humano dependida quase
exclusivamente das plantas. As pessoas
vivi
am diante de um reservatório de energia
172
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
emersão dos dados como um novo
valor inestimável, fruto do avanço
tecnológico e do desenvolvimento das
inteligências artificiais.
Destarte, a humanidade vem
depositando suas ident
idades,
capacidades e habilidades em
algoritmos externos
4
, dotados de
inteligência avançada, com o fito de
facilitar e promover a qualidade de
. O propósito inicial parece, de
fato, nobre. “Nunca a humanidade
viveu o bem”, conforme indicam os
e, tal fato, é facilmente
constatável desde a substituição das
atividades mecânicas humanas
, fruto
das Revoluções Industriais
7
.
Algoritmos externos podem ser entendidos
como conjunto de raciocínios lógicos
artificialmente concebidos. (SOLON, 2019).
Nesse sentido, ao conceituar o processo do
explicita Yuval Noah Harari que “O
trabalho de processamento de dados deveria,
portanto, ser confiado a algoritmos eletrônicos,
cuja capacidade excede muito a do cérebro
humano. Na prática, os dataístas são céticos
no que diz respeito ao conhecimento e à
abedoria humanos, e preferem depositar sua
confiança em megadados e em algoritmos
computacionais”. (2016, p. 400).
Max Roser, de 34 anos, defende, com dados
e gráficos, a tese de que nunca a humanidade
viveu tão bem como hoje em dia. Roser
se olharmos para os últimos
200 anos, temos vários motivos para estarmos
bastante otimistas com os rumos que
(ORENSTEIN, 2019).
Antes da Revolução Industrial, o mercado de
energia humano dependida quase
exclusivamente das plantas. As pessoas
am diante de um reservatório de energia
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
O que se verifica na
contemporaneidade, entretanto, é algo
sem precedentes. Trata
apenas do desenvolvimento de
intelig
ências artificiais próximas ao
raciocínio cognitivo humano
uma efetiva transferência da
autonomia dos indivíduos à autoridade
algorítmica externa. Porquanto, as
inteligências artificiais se apresentam
tão poderosas às elucidações da
natureza human
a, que o próprio
indivíduo corre o grande risco de se
tornar insignificante, consoante a
profecia de Frankenstein
9
.
verde carregando 3 mil hexajoules por ano e
tentavam extrair o máximo possível dessa
energia. Mas havia um claro limite à
quantidade que podia ser extraída. Durante a
Revolução Industrial, passamos a perceber
que na
verdade estamos vivendo ao lado de
um oceano enorme de energia, que contém
bilhões e mais bilhões de hexajoules de
energia em potencial. Tudo que precisamos
fazer é inventar geradores melhores (HARARI,
2016, p. 349-350).
8
Há quem diga que os microprocessadores
quânticos são difíceis de controlar e que se
demonstrará que a Lei de Moore, que diz que
a cada dois anos o poder de cálculo dobra,
está errada porque os chips enfrentarão
barreiras físicas intransponíveis. Eu, no
ent
anto, acredito que surgirão novas propostas
tecnológicas e considero viável que a
capacidade de computação do cérebro possa
ser replicada em um tempo razoável
(ADALMA, apud
ABBEEL, 2019)
9
O mito do Frankenstein
confronta o
sapiens com o fato de que o
s últimos dias
estão se aproximando depressa. A não ser
que alguma catástrofe nuclear ou ecológica
intervenha, diz a história, o ritmo do
desenvolvimento tecnológico logo levará à
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
O que se verifica na
contemporaneidade, entretanto, é algo
sem precedentes. Trata
-se não
apenas do desenvolvimento de
ências artificiais próximas ao
raciocínio cognitivo humano
8
, mas de
uma efetiva transferência da
autonomia dos indivíduos à autoridade
algorítmica externa. Porquanto, as
inteligências artificiais se apresentam
tão poderosas às elucidações da
a, que o próprio
indivíduo corre o grande risco de se
tornar insignificante, consoante a
verde carregando 3 mil hexajoules por ano e
tentavam extrair o máximo possível dessa
energia. Mas havia um claro limite à
quantidade que podia ser extraída. Durante a
Revolução Industrial, passamos a perceber
verdade estamos vivendo ao lado de
um oceano enorme de energia, que contém
bilhões e mais bilhões de hexajoules de
energia em potencial. Tudo que precisamos
fazer é inventar geradores melhores (HARARI,
Há quem diga que os microprocessadores
quânticos são difíceis de controlar e que se
demonstrará que a Lei de Moore, que diz que
a cada dois anos o poder de cálculo dobra,
está errada porque os chips enfrentarão
barreiras físicas intransponíveis. Eu, no
anto, acredito que surgirão novas propostas
tecnológicas e considero viável que a
capacidade de computação do cérebro possa
ser replicada em um tempo razoável
ABBEEL, 2019)
confronta o
Homo
s últimos dias
estão se aproximando depressa. A não ser
que alguma catástrofe nuclear ou ecológica
intervenha, diz a história, o ritmo do
desenvolvimento tecnológico logo levará à
Deter informação, assim como o
conhecimento de uma maneira geral,
sempre esteve relacionado a poder
No atual estágio do desenvolvimento
t
ecnológico, para maximizar o poder
associado à capacidade de lucrar e
impor valores em uma sociedade,
torna-
se cada vez mais imprescindível
angariar e controlar o maior número
possível de informações sobre todos
os indivíduos, grupos e organizações.
O cont
role sobre dados privados é a
melhor expressão desse tipo de
dominação. Na atualidade, as
substituição do
Homo sapiens
completamente diferentes que têm não
psique diferente como também mundos
cognitivos e emocionais muito diferentes. Isso
é algo que maioria dos
sapiens
extremamente desconcertante (HARARI,
2016, p. 423).
10
Ainda no século XIX, Alexis de Tocqueviile já
constatava que a liberdade
sua função de fazer circular a informação, era
um dos pilares do sucesso da democracia
estadunidense: “Reduzida a esses únicos
recursos, a imprensa ainda exerce um imenso
poder na América. Ela faz circular a vida
política em todas as porç
ões desse vasto
território. É ela cujo olho sempre aberto põe
incessantemente a nu os mecanismos
secretos da política e força os homens
públicos a comparecer sucessivamente diante
do tribunal da opinião. É ela que agrupa os
interesses em torno de certas do
formula o símbolo dos partidos; é por ela que
estes se falam sem se ver, se ouvem sem ser
postos em contato. Quando um grande
número de órgãos da imprensa consegue
caminhar no mesmo sentido, sua influência se
torna, com o tempo, quase irresistíve
opinião pública, atingida sempre do mesmo
lado, acaba cedendo a seus golpes” (2005, p.
214).
173
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
Deter informação, assim como o
conhecimento de uma maneira geral,
sempre esteve relacionado a poder
10
.
No atual estágio do desenvolvimento
ecnológico, para maximizar o poder
associado à capacidade de lucrar e
impor valores em uma sociedade,
se cada vez mais imprescindível
angariar e controlar o maior número
possível de informações sobre todos
os indivíduos, grupos e organizações.
role sobre dados privados é a
melhor expressão desse tipo de
dominação. Na atualidade, as
Homo sapiens
por seres
completamente diferentes que têm não
só uma
psique diferente como também mundos
cognitivos e emocionais muito diferentes. Isso
sapiens
considera
extremamente desconcertante (HARARI,
Ainda no século XIX, Alexis de Tocqueviile já
constatava que a liberdade
de imprensa, com
sua função de fazer circular a informação, era
um dos pilares do sucesso da democracia
estadunidense: “Reduzida a esses únicos
recursos, a imprensa ainda exerce um imenso
poder na América. Ela faz circular a vida
ões desse vasto
território. É ela cujo olho sempre aberto põe
incessantemente a nu os mecanismos
secretos da política e força os homens
públicos a comparecer sucessivamente diante
do tribunal da opinião. É ela que agrupa os
interesses em torno de certas do
utrinas e
formula o símbolo dos partidos; é por ela que
estes se falam sem se ver, se ouvem sem ser
postos em contato. Quando um grande
número de órgãos da imprensa consegue
caminhar no mesmo sentido, sua influência se
torna, com o tempo, quase irresistíve
l, e a
opinião pública, atingida sempre do mesmo
lado, acaba cedendo a seus golpes” (2005, p.
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
empresas perceberam que as pessoas
estavam muito interessadas em
compartilhar suas próprias
informações e constataram que era
possível lucrar em cima de tais trocas
s
ociais (SNOWDEN, 2019, p. 10).
Essa necessidade de
compartilhar experiências é o traço
marcante da espetacularização da
vida. Em uma sociedade
espetacularizada
11
, pessoas criam
cenários de vida perfeitos e contam
suas histórias da forma como
idealizam. Rec
ortam e divulgam o que
querem compartilhar, claro. A
experiência alcança o seu patamar
máximo se compartilhado
11
O conceito de “sociedade do espetáculo” foi
estabelecido pela primeira vez por Guy Debord
na França, antes das revoltas de maio de
1968. Segundo o autor, “
o espetáculo é ao
mesmo tempo parte da sociedade, a própria
sociedade e seu instrumento de unificação.
Enquanto parte da sociedade, o espetáculo
concentra todo o olhar e toda a consciência.
Por ser algo separado, ele é o foco do olhar
iludido e da falsa co
nsciência; a unificação que
realiza não é outra coisa senão a linguagem
oficial da separação generalizada” (DEBORD,
1997, p. 14)
12
Os dataístas acreditam que experiências não
têm valor se não forem compartilhadas e que
não precisamos –
na verdade não podemo
encontrar significado em nosso interior. Só
precisamos gravar e conectar nossa
experiência ao grande fluxo de dados, e os
algoritmos vão descobrir seu significado e nos
dizer o que fazer. Vinte anos atrás, turistas
japoneses eram o motivo de riso unive
porque levavam consigo câmeras e tiravam
fotos de tudo o que estava à vista. Hoje todos
fazem isso. Se você for à Índia e deparar com
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
empresas perceberam que as pessoas
estavam muito interessadas em
compartilhar suas próprias
informações e constataram que era
possível lucrar em cima de tais trocas
ociais (SNOWDEN, 2019, p. 10).
Essa necessidade de
compartilhar experiências é o traço
marcante da espetacularização da
vida. Em uma sociedade
, pessoas criam
cenários de vida perfeitos e contam
suas histórias da forma como
ortam e divulgam o que
querem compartilhar, claro. A
experiência alcança o seu patamar
máximo se compartilhado
12
. Essa
O conceito de “sociedade do espetáculo” foi
estabelecido pela primeira vez por Guy Debord
na França, antes das revoltas de maio de
o espetáculo é ao
mesmo tempo parte da sociedade, a própria
sociedade e seu instrumento de unificação.
Enquanto parte da sociedade, o espetáculo
concentra todo o olhar e toda a consciência.
Por ser algo separado, ele é o foco do olhar
nsciência; a unificação que
realiza não é outra coisa senão a linguagem
oficial da separação generalizada” (DEBORD,
Os dataístas acreditam que experiências não
têm valor se não forem compartilhadas e que
na verdade não podemo
s –
encontrar significado em nosso interior. Só
precisamos gravar e conectar nossa
experiência ao grande fluxo de dados, e os
algoritmos vão descobrir seu significado e nos
dizer o que fazer. Vinte anos atrás, turistas
japoneses eram o motivo de riso unive
rsal
porque levavam consigo câmeras e tiravam
fotos de tudo o que estava à vista. Hoje todos
fazem isso. Se você for à Índia e deparar com
necessidade de compartilhamento da
vida, por si , é preocupante, pois,
necessariamente resulta na divulgação
de diversas informaçõ
além de possíveis consequências na
saúde, sobretudo psicológica. Agrava
se ainda mais porque, ao fazerem
isso, as pessoas se transportam para
uma ficção autocriada, na qual se
sentem mais seguras e acabam
revelando ainda mais informações.
Ess
a alteração comportamental
associada ao desenvolvimento
tecnológico sedimenta o capitalismo
de vigilância, espécie de
vivendi
de índole digital. Nesse
sentido, imperioso registrar que, no
âmbito das relações travadas entre
indivíduos e empresas de te
os serviços prestados por estas não
são gratuitos. Trata
verdadeiro
trade off
participarem das redes virtuais, os
um elefante, você não vai olhar para o animal
e se perguntar “O que estou sentindo?”
estará ocupado demais peg
smartphone
, tirando uma foto do elefante,
postando-a no Facebook
, e depois conferindo
sua conta a cada dois minutos para ver
quantas curtidas obteve. Manter um diário
particular –
prática humanista comum em
gerações anteriores –
parece, para os jovens
de hoje, ser algo totalmente fora de propósito.
Para que escrever al
guma coisa que mais
ninguém vai ler? O novo lema é: “Se você
experimentar algo –
grave. Se gravar algo
faça upload. Se fizer
upload
compa
rtilhe” (HARARI, 2016, p. 419).
174
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
necessidade de compartilhamento da
vida, por si , é preocupante, pois,
necessariamente resulta na divulgação
de diversas informaçõ
es pessoais,
além de possíveis consequências na
saúde, sobretudo psicológica. Agrava
-
se ainda mais porque, ao fazerem
isso, as pessoas se transportam para
uma ficção autocriada, na qual se
sentem mais seguras e acabam
revelando ainda mais informações.
a alteração comportamental
associada ao desenvolvimento
tecnológico sedimenta o capitalismo
de vigilância, espécie de
modus
de índole digital. Nesse
sentido, imperioso registrar que, no
âmbito das relações travadas entre
indivíduos e empresas de te
cnologia,
os serviços prestados por estas não
são gratuitos. Trata
-se de um
trade off
, ao qual ao
participarem das redes virtuais, os
um elefante, você não vai olhar para o animal
e se perguntar “O que estou sentindo?”
– você
estará ocupado demais peg
ando seu
, tirando uma foto do elefante,
, e depois conferindo
sua conta a cada dois minutos para ver
quantas curtidas obteve. Manter um diário
prática humanista comum em
parece, para os jovens
de hoje, ser algo totalmente fora de propósito.
guma coisa que mais
ninguém vai ler? O novo lema é: “Se você
grave. Se gravar algo
upload
de algo –
rtilhe” (HARARI, 2016, p. 419).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
indivíduos cedem seus dados pessoais
às redes sociais e demais meios de
comunicação online, que lucram por
meio
de remuneração indireta como
propagandas e comercialização dos
dados pessoais obtidos. Assim, a
relação travada parece gratuita, mas
efetiva prestação de serviço por
meio de remuneração indireta,
consoante o disposto na legislação
consumerista
13
, relaçã
o esta
reconhecida pelo STJ
14
.
13
Art. 3°, do
Código de Defesa do Consumidor
(Lei nº 8.078/90): Fornecedor é
toda pessoa
física ou jurídica, pública ou privada, nacional
ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem
atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização
produtos ou prestação de serviços. § 2°
Serviço é qualquer atividade fornecida no
mercado de consumo, mediante remuneração,
inclusive as de natureza bancária, financeira,
de crédito e securitária, salvo as decorrentes
das relações de caráter trabalhista
1990).
14
CIVIL E CONSUMIDOR. INTERNET.
RELAÇÃO DE CONSUMO. INCIDÊNCIA DO
CDC.GRATUIDADE DO SERVIÇO.
INDIFERENÇA. PROVEDOR DE PESQUISA
VOLTADA AO COMÉRCIO
ELETRÔNICO.INTERMEDIAÇÃO.
AUSÊNCIA. FORNECEDOR. NÃO
CONFIGURADO.1. Ação ajuizada em
17/09/20
07. Recurso especial interposto em
28/10/2013 e distribuído a este Gabinete em
26/08/2016.2. A exploração comercial da
Internet sujeita as relações de consumo daí
advindas à Lei nº 8.078/90.3. O fato de o
serviço prestado pelo provedor de serviço de
Intern
et ser gratuito não desvirtua a relação de
consumo.4. Existência de múltiplas formas de
atuação no comércio eletrônico.5. O provedor
de buscas de produtos que não realiza
qualquer intermediação entre consumidor e
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
indivíduos cedem seus dados pessoais
às redes sociais e demais meios de
comunicação online, que lucram por
de remuneração indireta como
propagandas e comercialização dos
dados pessoais obtidos. Assim, a
relação travada parece gratuita, mas
efetiva prestação de serviço por
meio de remuneração indireta,
consoante o disposto na legislação
o esta
Código de Defesa do Consumidor
toda pessoa
física ou jurídica, pública ou privada, nacional
ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem
atividade de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização
de
produtos ou prestação de serviços. § 2°
Serviço é qualquer atividade fornecida no
mercado de consumo, mediante remuneração,
inclusive as de natureza bancária, financeira,
de crédito e securitária, salvo as decorrentes
das relações de caráter trabalhista
(BRASIL,
CIVIL E CONSUMIDOR. INTERNET.
RELAÇÃO DE CONSUMO. INCIDÊNCIA DO
CDC.GRATUIDADE DO SERVIÇO.
INDIFERENÇA. PROVEDOR DE PESQUISA
ELETRÔNICO.INTERMEDIAÇÃO.
AUSÊNCIA. FORNECEDOR. NÃO
CONFIGURADO.1. Ação ajuizada em
07. Recurso especial interposto em
28/10/2013 e distribuído a este Gabinete em
26/08/2016.2. A exploração comercial da
Internet sujeita as relações de consumo daí
advindas à Lei nº 8.078/90.3. O fato de o
serviço prestado pelo provedor de serviço de
et ser gratuito não desvirtua a relação de
consumo.4. Existência de múltiplas formas de
atuação no comércio eletrônico.5. O provedor
de buscas de produtos que não realiza
qualquer intermediação entre consumidor e
À frente de fatores como a
consolidação de uma sociedade de
massa, o aumento exponencial das
produções, o consumo de bens e
serviços e um rápido desenvolvimento
tecnológico, chega-
se a um ambiente
em que novos produtos e se
utilizam os dados pessoais como
principal insumo de suas atividades
(MULHOLLAND, 2019, p. 107).
Refere-
se a uma valiosa massa de
informações, denominada como
“novo petróleo”, numa alusão a sua
crescente expressão econômica e
mercadológica. Não à
marcas mais valiosas do mundo, nove
são empresas que
pessoais como principal
Uma vez compilados e cruzados, os
dados são capazes de revelar
padrões, tendências e associações
vendedor não pode ser responsabilizado por
qualquer vício da mercadoria ou
inadimplemento contratual.6. Recurso especial
provido (STJ, 2016).
15
De acordo com o ranking de 2020, as
marcas mais valiosas do mundo são: 1)
Amazon: US$ 221bilhões (varejo); 2) Google:
US$ 160 bilhões (tecnologia); 3) Appl
141 bilhões (tecnologia); 4) Microsoft: US$ 117
bilhões (tecnologia); 5) Samsung: US$ 94
bilhões (tecnologia); 6) ICBC: US$ 81 bilhões
(financeiro); 7) Facebook: US$ 80 bilhões
(mídia); 8) Walmart: US$ 78 bilhões (varejo);
9) PingAn: US$ 69 bilhões
Huawei: US$ 65 bilhões (tecnologia) (FIGO,
2020).
175
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
À frente de fatores como a
consolidação de uma sociedade de
massa, o aumento exponencial das
produções, o consumo de bens e
serviços e um rápido desenvolvimento
se a um ambiente
em que novos produtos e se
rviços
utilizam os dados pessoais como
principal insumo de suas atividades
(MULHOLLAND, 2019, p. 107).
se a uma valiosa massa de
informações, denominada como
“novo petróleo”, numa alusão a sua
crescente expressão econômica e
mercadológica. Não à
toa, das dez
marcas mais valiosas do mundo, nove
utilizam dados
pessoais como principal
commodity
15
.
Uma vez compilados e cruzados, os
dados são capazes de revelar
padrões, tendências e associações
vendedor não pode ser responsabilizado por
qualquer vício da mercadoria ou
inadimplemento contratual.6. Recurso especial
De acordo com o ranking de 2020, as
marcas mais valiosas do mundo são: 1)
Amazon: US$ 221bilhões (varejo); 2) Google:
US$ 160 bilhões (tecnologia); 3) Appl
e: US$
141 bilhões (tecnologia); 4) Microsoft: US$ 117
bilhões (tecnologia); 5) Samsung: US$ 94
bilhões (tecnologia); 6) ICBC: US$ 81 bilhões
(financeiro); 7) Facebook: US$ 80 bilhões
(mídia); 8) Walmart: US$ 78 bilhões (varejo);
9) PingAn: US$ 69 bilhões
(seguros); 10)
Huawei: US$ 65 bilhões (tecnologia) (FIGO,
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
relativas ao comportamento humano.
Tem-se a monetização do
big data
Nesse sentido, como possuem
uma alta expressão econômica, os
metadados
17
são facilmente
comercializados em diversos
segmentos do mercado que
necessitam de um conhecimento e
perfil estratégico para perseguir sua
finalidade econômica
18
. Ocorre que,
antes de adquirirem qualquer viés
patrimonial, tais dados são
essencialmente inerentes à dignidade,
privacidade e liberdade da pessoa
humana. Observa-
se que o atual
enriquecimento tecnológico se deflagra
16
Termo de origem anglófona para denominar
a
análise e a interpretação de grandes
volumes de dados de grande variedade. Seus
principais aspectos são definidos por “5Vs”:
Volume, Variedade, Vel
ocidade, Veracidade e
Valor (HELDER, 2018).
17
(…) metadados são dados sobre dados.
Mais exatamente, são dados feitos por dados
– um punhado de tags
e marcadores que
permitem que os dados sejam ú
teis. A maneira
mais direta de pensar nos metadados, no
entanto, é como dados de atividade: todos os
registros de tudo que você faz em seus
dispositivos eletrônicos e tudo que eles fazem
por conta própria (SNOWDEN, 2019, p. 156).
18
Acerca da rentabilidade das empresas de
tecnologia sobre dados pessoais, é possí
perceber duas fases principais. Em primeiro
lugar, visa-
se alcançar uma massa crítica de
usuários e, posteriormente, parte
exploração e a monetização da rede social,
por meio da venda de espaços para a
publicidade, da comercialização de produ
(como publicações patrocinadas) e da “venda”
de perfis, cadastros e dados pessoais de seus
usuários (TEFFÉ; BODIN DE MORAES, 2017,
p. 122).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
relativas ao comportamento humano.
big data
16
.
Nesse sentido, como possuem
uma alta expressão econômica, os
são facilmente
comercializados em diversos
segmentos do mercado que
necessitam de um conhecimento e
perfil estratégico para perseguir sua
. Ocorre que,
antes de adquirirem qualquer viés
patrimonial, tais dados são
essencialmente inerentes à dignidade,
privacidade e liberdade da pessoa
se que o atual
enriquecimento tecnológico se deflagra
Termo de origem anglófona para denominar
análise e a interpretação de grandes
volumes de dados de grande variedade. Seus
principais aspectos são definidos por “5Vs”:
ocidade, Veracidade e
(…) metadados são dados sobre dados.
Mais exatamente, são dados feitos por dados
e marcadores que
teis. A maneira
mais direta de pensar nos metadados, no
entanto, é como dados de atividade: todos os
registros de tudo que você faz em seus
dispositivos eletrônicos e tudo que eles fazem
por conta própria (SNOWDEN, 2019, p. 156).
Acerca da rentabilidade das empresas de
tecnologia sobre dados pessoais, é possí
vel
perceber duas fases principais. Em primeiro
se alcançar uma massa crítica de
usuários e, posteriormente, parte
-se para a
exploração e a monetização da rede social,
por meio da venda de espaços para a
publicidade, da comercialização de produ
tos
(como publicações patrocinadas) e da “venda”
de perfis, cadastros e dados pessoais de seus
usuários (TEFFÉ; BODIN DE MORAES, 2017,
na medida do empobrecimento
humano,
dada à relativização de sua
autodeterminação. Tem
do projeto inicial das inteligências
artificiais, de facilitador da vida
humana, para atendimento de
propósitos capitalistas de vigilância,
onde a pessoa humana se insere em
uma posição abst
considerada
19
.
A coleta massiva e inteligente
de dados, outrossim, não se limita aos
ambientes virtuais. Outro espaço que
também se revela um agente
19
Ciência e tecnologia não abrem somente
espaços de liberdade, podendo assim liberar
constrições naturais e cultu
também a processos de expropriação, de
redução dramática da liberdade de escolha,
que podem ser combatidos exaltando ao
máximo as potencialidades da
autodeterminação. Não quero aqui insistir
sobre as tecnologias do controle. Quero
assinala
r aquela que chamarei a entrega da
pessoa à sociedade do algoritmo. Refletindo
sobre a última crise financeira, colocou
evidência como muitas decisões sobre os
investimentos foram confiadas a algoritmos
elaborados por matemáticos e físicos. Uma
das p
otências que governam o mundo, o
Google, foi construída com base em um
algoritmo que decide sobre coleta, seleção e
apresentação das informações. Algoritmos são
cada vez mais a base da ininterrupta produção
de perfis individuais, familiares, de grupo, que
se tornaram elemento constitutivo da
sociedade de classificação e que produzem
novas hierarquias sociais. A própria
construção da identidade é subtraída da
consciência da pessoa e confiada ao
automatic computing
. A pessoa, de novo
entregue à abstração, des
a um fantasma tecnológico? (RODOTÁ, 2018,
p. 152)
176
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
na medida do empobrecimento
dada à relativização de sua
autodeterminação. Tem
-se a disrupção
do projeto inicial das inteligências
artificiais, de facilitador da vida
humana, para atendimento de
propósitos capitalistas de vigilância,
onde a pessoa humana se insere em
uma posição abst
ratamente
A coleta massiva e inteligente
de dados, outrossim, não se limita aos
ambientes virtuais. Outro espaço que
também se revela um agente
Ciência e tecnologia não abrem somente
espaços de liberdade, podendo assim liberar
constrições naturais e cultu
rais. Dão início
também a processos de expropriação, de
redução dramática da liberdade de escolha,
que podem ser combatidos exaltando ao
máximo as potencialidades da
autodeterminação. Não quero aqui insistir
sobre as tecnologias do controle. Quero
r aquela que chamarei a entrega da
pessoa à sociedade do algoritmo. Refletindo
sobre a última crise financeira, colocou
-se em
evidência como muitas decisões sobre os
investimentos foram confiadas a algoritmos
elaborados por matemáticos e físicos. Uma
otências que governam o mundo, o
Google, foi construída com base em um
algoritmo que decide sobre coleta, seleção e
apresentação das informações. Algoritmos são
cada vez mais a base da ininterrupta produção
de perfis individuais, familiares, de grupo, que
se tornaram elemento constitutivo da
sociedade de classificação e que produzem
novas hierarquias sociais. A própria
construção da identidade é subtraída da
consciência da pessoa e confiada ao
. A pessoa, de novo
entregue à abstração, des
encarnada, reduzida
a um fantasma tecnológico? (RODOTÁ, 2018,
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
“minerador” de dados são os espaços
físicos públicos
20
. Atualmente, em
meio às medidas de contençã
pandemia do novo coronavírus, a
vulgarização do uso dos dados
pessoais, inclusive, sensíveis por
meio, por exemplo, de câmeras de
vigilância e aparelhos de
geolocalização, ameaçam direitos
fundamentais à privacidade e às
liberdades civis mundo afora,
conforme aponta Chiara de Teffé
20
O barateamento da tecnologia e a
consequente popularização desses
equipamentos tornaram quase impossível
circular por espaços urbanos sem ser alvo das
câmeras em algum momento. As nova
tecnologias digitais de processamento de
imagem potencializam práticas de
identificação. O uso disseminado e
descontrolado interfere na administração de
espaços públicos pela intensificação do
policiamento preventivo, permitindo abusos
ligados ao chamado
racial profiling
gentrificação
(EVANGELISTA, 2018, p. 397).
21
Alguns exemplos —
replicados em vários
países —
de aplicação de tecnologias de
controle e vigilância para a contenção da
doença são: aplicativos que usam sinais de
Bluetooth entre celulares
para verificar se
possíveis portadores do coronavírus estão em
contato próximo com outras pessoas
(Cingapura); análises de transações com
cartões de crédito, de dados de localização e
conversas para rastrear casos confirmados e
informar às pessoas se elas
chegaram perto
de um port
ador de coronavírus (Coréia do
Sul); na Índia, carimbos
nas mãos de pessoas
suspeitas
de ter a doença e rastreamento a
partir de seus celulares e dados pessoais, de
forma a reforçar as quarentenas; diálogo entre
governo e empresas de tecnologia sobre a
possibilidade de usar dados de localização e
movimentação dos smartphones (EUA);
empresa
de telecomunicações usando dados
de localização geográfica do cartão SIM para
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
“minerador” de dados são os espaços
. Atualmente, em
meio às medidas de contençã
o da
pandemia do novo coronavírus, a
vulgarização do uso dos dados
pessoais, inclusive, sensíveis por
meio, por exemplo, de câmeras de
vigilância e aparelhos de
geolocalização, ameaçam direitos
fundamentais à privacidade e às
liberdades civis mundo afora,
conforme aponta Chiara de Teffé
21
.
O barateamento da tecnologia e a
consequente popularização desses
equipamentos tornaram quase impossível
circular por espaços urbanos sem ser alvo das
câmeras em algum momento. As nova
s
tecnologias digitais de processamento de
imagem potencializam práticas de
identificação. O uso disseminado e
descontrolado interfere na administração de
espaços públicos pela intensificação do
policiamento preventivo, permitindo abusos
racial profiling
e à
(EVANGELISTA, 2018, p. 397).
replicados em vários
de aplicação de tecnologias de
controle e vigilância para a contenção da
doença são: aplicativos que usam sinais de
para verificar se
possíveis portadores do coronavírus estão em
contato próximo com outras pessoas
(Cingapura); análises de transações com
cartões de crédito, de dados de localização e
conversas para rastrear casos confirmados e
chegaram perto
ador de coronavírus (Coréia do
nas mãos de pessoas
de ter a doença e rastreamento a
partir de seus celulares e dados pessoais, de
forma a reforçar as quarentenas; diálogo entre
governo e empresas de tecnologia sobre a
possibilidade de usar dados de localização e
movimentação dos smartphones (EUA);
de telecomunicações usando dados
de localização geográfica do cartão SIM para
Nesse contexto específico e
com peculiaridades e objetivos
próprios, vem sendo desenvolvido
desde 2014 o sistema de crédito social
chinês
Social Credit System (SCS)
objeto da análise aqui proposta. Em
síntese, trata-
se de um sistema que
ranqueia e classifica os cidadãos em
razão de hábitos e comportamentos,
utilizando alta tecnologia e massiva
coleta e tratamento de dados.
Importante frisar que não se
trata de uma invenção chinesa ou de
uma iniciativa única, ao contr
ranqueamento e a utilização de dados
pessoais é uma realidade em diversas
sociedades. No Brasil, por exemplo,
temos os cadastros de bons e maus
pagadores, de dados de saúde por
planos, operadoras e
estabelecimentos de saúde e de
usuários dos mais d
por aplicativos.
No entanto, o modelo chinês
vem causando preocupações por parte
da comunidade global, vez que o
cenário deflagrado na China é fruto da
se comunicar com as autoridades quando
mais de vinte telefones forem detectados em
uma área de cem metros
quadrados
(Suíça);
uso massivo de reconhecimento facial
para identificar quem está violando
a quarentena (Rússia);
e uso de drones para
vigiar os cidadãos e impedir reuniões ao ar
livre em locais na China
(2020).
177
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
Nesse contexto específico e
com peculiaridades e objetivos
próprios, vem sendo desenvolvido
desde 2014 o sistema de crédito social
Social Credit System (SCS)
-,
objeto da análise aqui proposta. Em
se de um sistema que
ranqueia e classifica os cidadãos em
razão de hábitos e comportamentos,
utilizando alta tecnologia e massiva
coleta e tratamento de dados.
Importante frisar que não se
trata de uma invenção chinesa ou de
uma iniciativa única, ao contr
ário, o
ranqueamento e a utilização de dados
pessoais é uma realidade em diversas
sociedades. No Brasil, por exemplo,
temos os cadastros de bons e maus
pagadores, de dados de saúde por
planos, operadoras e
estabelecimentos de saúde e de
usuários dos mais d
iversos serviços
No entanto, o modelo chinês
vem causando preocupações por parte
da comunidade global, vez que o
cenário deflagrado na China é fruto da
se comunicar com as autoridades quando
mais de vinte telefones forem detectados em
quadrados
uso massivo de reconhecimento facial
para identificar quem está violando
e uso de drones para
vigiar os cidadãos e impedir reuniões ao ar
(2020).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
confluência de um Estado
historicamente marcado por sua
opressão e controle social com
nova era de supervalorização dos
dados, denominada por alguns
cientistas sociais como “dataísmo”.
Consequentemente, embora haja
muitas indefinições quanto à
identidade da realidade chinesa que
vem sendo delineada, é possível
constatar elementos quanto
funcionalidade e as consequências
suportadas por indivíduos, tendo em
vista, dentre outras coisas, que a
existência de leis próprias de
regulamentação da internet e do uso
de dados pessoais na China
demonstra-
se ineficaz diante da
imposição de um cap
italismo de
vigilância. Indubitavelmente, a eficácia
na adoção de tamanhos mecanismos
de vigilância e controle em massa
impacta todos os aspectos da vida das
pessoas.
Nesse sentido, o presente artigo
apresenta um estudo do modelo de
crédito social chinês,
de modo a
identificar seu funcionamento
sistêmico. Com base na bibliografia
sobre o tema, procedeu-
se à coleta e
análise das informações e medidas do
governo central chinês, incluindo a
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
confluência de um Estado
historicamente marcado por sua
opressão e controle social com
uma
nova era de supervalorização dos
dados, denominada por alguns
cientistas sociais como “dataísmo”.
Consequentemente, embora haja
muitas indefinições quanto à
identidade da realidade chinesa que
vem sendo delineada, é possível
constatar elementos quanto
à sua
funcionalidade e as consequências
suportadas por indivíduos, tendo em
vista, dentre outras coisas, que a
existência de leis próprias de
regulamentação da internet e do uso
de dados pessoais na China
se ineficaz diante da
italismo de
vigilância. Indubitavelmente, a eficácia
na adoção de tamanhos mecanismos
de vigilância e controle em massa
impacta todos os aspectos da vida das
Nesse sentido, o presente artigo
apresenta um estudo do modelo de
de modo a
identificar seu funcionamento
sistêmico. Com base na bibliografia
se à coleta e
análise das informações e medidas do
governo central chinês, incluindo a
realização de entrevista com uma
cidadã chinesa a respeito da
experiên
cia de viver sob o sistema
mais avançado de controle de dados
pessoais operante no mundo. Para
a compreensão do
System
, o estudo foi subdividido em
três pontos centrais: a coleta e
unificação de dados; a elaboração das
listas de classific
ação, “negra” e
“vermelha”; e a concretização de um
sistema de recompensas e punições.
Em seguida, comparam
realidades chinesa e brasileira diante
da era dos dados, demonstrando que
ambos os países compartilham um
mesmo movimento no sentido da
existê
ncia de uma forte cultura de
desvalorização dos dados pessoais e
consequente proposição de medidas
que ameaçam o direito à privacidade e
à proteção de dados pessoais.
Apresentam-
se considerações finais
no sentido de alertar sociedade civil e
governantes pa
ra a urgência da
valoração de um componente ético no
desenvolvimento tecnológico e
algorítmico, funcionalizado aos valores
fundamentais de uma sociedade, tais
como a igualdade, a liberdade, a
solidariedade e a dignidade da pessoa
humana.
178
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
realização de entrevista com uma
cidadã chinesa a respeito da
cia de viver sob o sistema
mais avançado de controle de dados
pessoais operante no mundo. Para
a compreensão do
Social Credit
, o estudo foi subdividido em
três pontos centrais: a coleta e
unificação de dados; a elaboração das
ação, “negra” e
“vermelha”; e a concretização de um
sistema de recompensas e punições.
Em seguida, comparam
-se as
realidades chinesa e brasileira diante
da era dos dados, demonstrando que
ambos os países compartilham um
mesmo movimento no sentido da
ncia de uma forte cultura de
desvalorização dos dados pessoais e
consequente proposição de medidas
que ameaçam o direito à privacidade e
à proteção de dados pessoais.
se considerações finais
no sentido de alertar sociedade civil e
ra a urgência da
valoração de um componente ético no
desenvolvimento tecnológico e
algorítmico, funcionalizado aos valores
fundamentais de uma sociedade, tais
como a igualdade, a liberdade, a
solidariedade e a dignidade da pessoa
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
2. O Social Credit
System
O SCS
é um sistema criado e
em desenvolvimento na China com o
objetivo de medir a credibilidade de
cidadãos e empresas, a partir da
atribuição de
avaliações recíprocas
representativas da confiança que
despertam em razão dos seus
comportamentos.
O programa foi
iniciado em 2014 de forma facultativa e
se tornará, segundo as autoridades,
compulsório no ano corrente para os
quase um 1,4bilhões de chineses
Conforme o documento oficial
de lançamento do programa, o
parte integrante do sistema econômico
e de governança da China. A
justificativa para a implementação do
programa seria “Promover a
construção de um sistema de crédito
social de maneira abrangente, um
meio eficaz para melhorar a
integridade social, promo
confiança mútua social e reduzir as
contradições sociais” (CHINA, 2014)
A leitura do documento
evidencia a adoção da racionalidade
econômica como premissa para a
construção e justificação do sistema.
De pronto, o problema que se
22
Conforme dados estatísticos de 2018 do
Banco Mundial (BANCO MUNDIAL, 2020).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
System
(SCS)
é um sistema criado e
em desenvolvimento na China com o
objetivo de medir a credibilidade de
cidadãos e empresas, a partir da
avaliações recíprocas
representativas da confiança que
despertam em razão dos seus
O programa foi
iniciado em 2014 de forma facultativa e
se tornará, segundo as autoridades,
compulsório no ano corrente para os
quase um 1,4bilhões de chineses
22
.
Conforme o documento oficial
de lançamento do programa, o
SCS é
parte integrante do sistema econômico
e de governança da China. A
justificativa para a implementação do
programa seria “Promover a
construção de um sistema de crédito
social de maneira abrangente, um
meio eficaz para melhorar a
integridade social, promo
ver a
confiança mútua social e reduzir as
contradições sociais” (CHINA, 2014)
.
A leitura do documento
evidencia a adoção da racionalidade
econômica como premissa para a
construção e justificação do sistema.
De pronto, o problema que se
Conforme dados estatísticos de 2018 do
Banco Mundial (BANCO MUNDIAL, 2020).
identifica é justam
ente uma inversão
valorativa: as pessoas e os seus
dados pessoais são
instrumentalizados para a construção
de um sistema de crédito eficiente
quando, em nosso entendimento, o
sistema de crédito deveria ser
instrumento de promoção e melhora
da condição de v
ida das pessoas.
Não se discute que um bom
sistema de crédito, com redução de
custos de transação e facilitação de
acesso traz benefícios para a
população em geral. Entretanto, de
se questionar se o
trade off
sendo imposto é realmente benéfico
condizente com um modelo social
pretendido. Afinal, as pessoas estão
sendo transformadas em dados, que
uma vez coletados, tratados,
combinados e compartilhados de
diferentes formas, as classificam e
condicionam o exercício de direitos e
interações socia
is. A título de exemplo,
diversos canais de comunicação
noticiaram que mais de 20 milhões de
chineses foram impedidos de viajar em
2019 em razão de sua baixa
classificação no SCS
23
23
Conforme as informações publicadas, cerca
de 17,5 milhões de passagens áreas foram
canceladas e 5,5 milhões de assentos de trens
recusados, com base na Lista Negra de
179
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
ente uma inversão
valorativa: as pessoas e os seus
dados pessoais são
instrumentalizados para a construção
de um sistema de crédito eficiente
quando, em nosso entendimento, o
sistema de crédito deveria ser
instrumento de promoção e melhora
ida das pessoas.
Não se discute que um bom
sistema de crédito, com redução de
custos de transação e facilitação de
acesso traz benefícios para a
população em geral. Entretanto, de
trade off
que está
sendo imposto é realmente benéfico
e
condizente com um modelo social
pretendido. Afinal, as pessoas estão
sendo transformadas em dados, que
uma vez coletados, tratados,
combinados e compartilhados de
diferentes formas, as classificam e
condicionam o exercício de direitos e
is. A título de exemplo,
diversos canais de comunicação
noticiaram que mais de 20 milhões de
chineses foram impedidos de viajar em
2019 em razão de sua baixa
23
.
Conforme as informações publicadas, cerca
de 17,5 milhões de passagens áreas foram
canceladas e 5,5 milhões de assentos de trens
recusados, com base na Lista Negra de
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
O projeto foi iniciado em 2014 e
em sua fase final de implementação
ficou estruturado em três etapas:
coleta e unificação de dados;
elaboração das listas de classificação,
negra e vermelha; e concretização de
um sistema de recompensas e
punições.
A primei
ra etapa consiste na
coleta descentralizada dos dados por
todas as esferas e autoridades
administrativas, com apoio e
participação direta da iniciativa privada
para posterior consolidação em um
banco único, a Plataforma Nacional de
Compartilhamento de Info
sobre Crédito - NCISP
24
, instituída
Comissão Nacional de
Desenvolvimento e Reforma
NDRC
25
, principal responsável pela
implementação do SCS.
A Plataforma
Nacional de Compartilhamento de
Informações sobre Crédito,
caracterizada como a “espinha d
do sistema, efetivamente funciona
I
nfratores, mantida pelo Supremo Tribunal
Popular (MCDONALD, 2019); (RFI, 2020);
(REISINGER, 2019).
24
Tradução livre para
National Credit
Information Sharing Platform (
CREDIT CHINA
2019).
25
Tradução livre para
National Development
and Reform Commission (
PEOPLE’S
REPUBLIC OF CHINA, 2014).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
O projeto foi iniciado em 2014 e
em sua fase final de implementação
ficou estruturado em três etapas:
coleta e unificação de dados;
elaboração das listas de classificação,
negra e vermelha; e concretização de
um sistema de recompensas e
ra etapa consiste na
coleta descentralizada dos dados por
todas as esferas e autoridades
administrativas, com apoio e
participação direta da iniciativa privada
para posterior consolidação em um
banco único, a Plataforma Nacional de
Compartilhamento de Info
rmações
, instituída
pela
Comissão Nacional de
Desenvolvimento e Reforma
, principal responsável pela
A Plataforma
Nacional de Compartilhamento de
Informações sobre Crédito,
caracterizada como a “espinha d
orsal”
do sistema, efetivamente funciona
nfratores, mantida pelo Supremo Tribunal
Popular (MCDONALD, 2019); (RFI, 2020);
National Credit
CREDIT CHINA
,
National Development
PEOPLE’S
como a base central dos dados
(MEISSNER, 2017).
Como referido, no sistema de
crédito social chinês são coletados
dados de pessoas e de empresas. A
título de exemplificação, as principais
categorias de dados de p
coletados e consolidados na
são: informações de identidade e
emprego; informação financeira;
histórico jurídico e processual;
infrações regulatórias e legais;
comportamento cívico; prêmios e
conquistas; e dados políticos. Sobre as
empresas, as principais categorias de
dados coletado
s e consolidados são:
informações básicas de identificação;
informações de pessoal e
representação da empresa;
informações financeiras; licenças e
qualificações; registros de infrações
legais e administrativas; prêmios e
menções; registros de propriedade
i
ntelectual e dados políticos.
Importante destacar que os dados das
empresas abrangem não apenas as
chinesas, mas também as estrangeiras
que fazem negócios na China.
Na verdade, o governo chinês
possui muitos dados das pessoas e
das empresas e, não obst
continuidade da coleta, essa etapa
180
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
como a base central dos dados
Como referido, no sistema de
crédito social chinês são coletados
dados de pessoas e de empresas. A
título de exemplificação, as principais
categorias de dados de p
essoas
coletados e consolidados na
NCISP
são: informações de identidade e
emprego; informação financeira;
histórico jurídico e processual;
infrações regulatórias e legais;
comportamento cívico; prêmios e
conquistas; e dados políticos. Sobre as
empresas, as principais categorias de
s e consolidados são:
informações básicas de identificação;
informações de pessoal e
representação da empresa;
informações financeiras; licenças e
qualificações; registros de infrações
legais e administrativas; prêmios e
menções; registros de propriedade
ntelectual e dados políticos.
Importante destacar que os dados das
empresas abrangem não apenas as
chinesas, mas também as estrangeiras
que fazem negócios na China.
Na verdade, o governo chinês
possui muitos dados das pessoas e
das empresas e, não obst
ante a
continuidade da coleta, essa etapa
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
inicial objetiva principalmente a
consolidação e a unificação das
informações. Consequentemente, o
governo central chinês passou a
desempenhar um papel de “possuidor
dos dados registrados”, cuja finalidade
é consol
idar em arquivos
governamentais uma base de dados
central das pontuações de crédito
social coletadas por entidades
participantes do sistema.
Através de tal base única e
centralizada, o governo chinês
disponibiliza a agências estatais,
autoridades locais,
bancos, grupos
industriais e, inclusive, ao público em
geral, os dados dos indivíduos e de
companhias para que estes possam
fazer suas próprias listas, a partir de
seus próprios critérios. Nesse sentido,
deve-
se questionar se, ao revés da
proposta original
mente concebida pelo
governo chinês (de que o
um mecanismo de pontuação de
cidadãos e companhias com base em
seus comportamentos), a melhor
definição do sistema de crédito social
chinês não seria a de um massivo
serviço de compartilhamento de dad
sob controle do Estado, uma vez que
ele é o detentor da totalidade das
informações.
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
inicial objetiva principalmente a
consolidação e a unificação das
informações. Consequentemente, o
governo central chinês passou a
desempenhar um papel de “possuidor
dos dados registrados”, cuja finalidade
idar em arquivos
governamentais uma base de dados
central das pontuações de crédito
social coletadas por entidades
Através de tal base única e
centralizada, o governo chinês
disponibiliza a agências estatais,
bancos, grupos
industriais e, inclusive, ao público em
geral, os dados dos indivíduos e de
companhias para que estes possam
fazer suas próprias listas, a partir de
seus próprios critérios. Nesse sentido,
se questionar se, ao revés da
mente concebida pelo
governo chinês (de que o
SCS seria
um mecanismo de pontuação de
cidadãos e companhias com base em
seus comportamentos), a melhor
definição do sistema de crédito social
chinês não seria a de um massivo
serviço de compartilhamento de dad
os
sob controle do Estado, uma vez que
ele é o detentor da totalidade das
Desse cenário de imenso
compartilhamento e armazenamento
de dados, deriva o segundo elemento
norteador do SCS
ou a segunda etapa
do programa: a criação das “Listas
Negras”
26
e das “Listas Vermelhas”. A
proposta do governo central é utilizar
tais listas para punir pessoas que não
cumprem determinações legais. No
entanto, a utilização das “Listas
Negras” é bastante complexa. Elas
não são gerenciadas e definidas pelo
gover
no central, uma vez que cada
órgão governamental local é
responsável pela elaboração de suas
próprias “Listas” atendendo à
finalidade que deseja coibir
Negra” mais conhecida é a “Lista
Negra dos Infratores”
Supremo Tribunal Popula
26
Tradução livre de black
list
WATCH,
2019). Merece crítica o uso do termo
“preto” ou “negro” para adjetivar essa
modalidade de lista, tendo em vista a
imputação negativa a um atributo de cor,
factível de se
r associado à uma raça,
caracterizando a identidade de um grupo ou
população.
27
Dentre as condutas mais comuns quanto à
entrada em Listas Negras, destacam
cumprimento de obrigações civis; não
pagamento de impostos; pôr em risco à
segurança de pas
sageiros em transportes etc.
(
SOCIAL CREDIT WATCH
28
Consoante sítio eletrônico do Tribunal em se
mantém a “Rede aberta de informações
executivas da China” (SUPREMO TRIBUNAL
POPULAR, 2019).
181
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
Desse cenário de imenso
compartilhamento e armazenamento
de dados, deriva o segundo elemento
ou a segunda etapa
do programa: a criação das “Listas
e das “Listas Vermelhas”. A
proposta do governo central é utilizar
tais listas para punir pessoas que não
cumprem determinações legais. No
entanto, a utilização das “Listas
Negras” é bastante complexa. Elas
não são gerenciadas e definidas pelo
no central, uma vez que cada
órgão governamental local é
responsável pela elaboração de suas
próprias “Listas” atendendo à
finalidade que deseja coibir
27
. A “Lista
Negra” mais conhecida é a “Lista
Negra dos Infratores”
28
, mantida pelo
Supremo Tribunal Popula
r, a Corte
list
(SOCIAL CREDIT
2019). Merece crítica o uso do termo
“preto” ou “negro” para adjetivar essa
modalidade de lista, tendo em vista a
imputação negativa a um atributo de cor,
r associado à uma raça,
caracterizando a identidade de um grupo ou
Dentre as condutas mais comuns quanto à
entrada em Listas Negras, destacam
-se: o não
cumprimento de obrigações civis; não
pagamento de impostos; pôr em risco à
sageiros em transportes etc.
SOCIAL CREDIT WATCH
, 2019).
Consoante sítio eletrônico do Tribunal em se
mantém a “Rede aberta de informações
executivas da China” (SUPREMO TRIBUNAL
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
mais alta no país
29
, como mecanismo
de coerção direcionado aos processos
judiciais de execução em curso
Paralelamente às “Listas
Negras”, existem as “Listas
Vermelhas”
31
. Estas, por sua vez,
correspondem a menções honrosas
atribuídas a cidadãos
e companhias
considerados exemplares e tomados
como referência de boa reputação
Cumpre ressaltar que as
duas “Listas”,
elaboradas pelas respectivas
autoridades locais, são nacionalmente
divulgadas e disponibilizadas pelo
29
O presidente do Supremo Tribunal Popular
da China explicou
que o Sistema Judiciário
chinês é composto pelo Supremo Tribunal
Popular; pelos Tribunais do Povo, que são
divididos em três instâncias (básica,
intermediária e superior); e pelos Tribunais
Especiais do Povo, que têm competências
específicas, como os milit
ares e marítimos
(STF, 2009).
30
Dentre os mecanismos de restrição impostas
pela Corte, destacam-
se: proibição de viajar
em primeira classe nos transportes
ferroviários, aéreos e marítimos; vedação a
“consumos sofisticados” em hotéis, clubes e
boates; compra
e imóveis em construção e
sofisticados; viajar nas férias; matricular filhos
em
escolas de alto padrão; restrições quanto
locação de escritórios e hotéis. (
THE
SUPREME PEOPLE’S COURT OF THE
PEOPLE’S REPUBLIC OF CHINA
31
Tradução livre para Red lists (
SOCIAL
CREDIT WATCH, 2019).
32
Manutenção de relações harmoniosas em
ambientes de trabalho, bom histórico em
pagamento de seguros, boa situação de
créditos financeiros, desenvolvimento de
produtos inovadores, participação ativa em
caridades, proteção
ambiental e recursos de
conservação, são alguns exemplos (
CREDIT WATCH, 2019).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
, como mecanismo
de coerção direcionado aos processos
judiciais de execução em curso
30
.
Paralelamente às “Listas
Negras”, existem as “Listas
. Estas, por sua vez,
correspondem a menções honrosas
e companhias
considerados exemplares e tomados
como referência de boa reputação
32
.
duas “Listas”,
elaboradas pelas respectivas
autoridades locais, são nacionalmente
divulgadas e disponibilizadas pelo
O presidente do Supremo Tribunal Popular
que o Sistema Judiciário
chinês é composto pelo Supremo Tribunal
Popular; pelos Tribunais do Povo, que são
divididos em três instâncias (básica,
intermediária e superior); e pelos Tribunais
Especiais do Povo, que têm competências
ares e marítimos
Dentre os mecanismos de restrição impostas
se: proibição de viajar
em primeira classe nos transportes
ferroviários, aéreos e marítimos; vedação a
“consumos sofisticados” em hotéis, clubes e
e imóveis em construção e
sofisticados; viajar nas férias; matricular filhos
escolas de alto padrão; restrições quanto
THE
SUPREME PEOPLE’S COURT OF THE
PEOPLE’S REPUBLIC OF CHINA
, 2019).
SOCIAL
Manutenção de relações harmoniosas em
ambientes de trabalho, bom histórico em
pagamento de seguros, boa situação de
créditos financeiros, desenvolvimento de
produtos inovadores, participação ativa em
ambiental e recursos de
conservação, são alguns exemplos (
SOCIAL
Sistema Nacional de Publicidade
Informação sobre Crédito Empresarial
NECIPS
33
em sítio eletrônico
mídias sociais oficiais estatais e
exibidas em locais públicos, como
estações de trens.
a terceira etapa consiste na
Estrutura de Recompensas e
Punições
34
. Trata-
se de uma série
acordos legais em que os órgãos
governamentais se comprometem,
reciprocamente, a cumprir os
propósitos por trás de suas Listas
Negras e Vermelhas. Uma vez incluída
a pessoa natural ou jurídica
das “Listas” por uma autoridade local,
o registro se
vincula ao seu histórico
de crédito. Em seguida, a informação é
compartilhada pela
NECIPS
, de forma a circular por outros
níveis governamentais. Tem
portanto, um “efeito cascata”, em que
as penalidades e recompensas são
aplicáveis pelas ma
autoridades
35
.
33
Tradução livre para
National Enterprise
Credit Information Publicity System
CREDIT WATCH, 2019).
34
Tradução livre para
Unified Rewards and
Punishments (SOCIAL
CREDIT WATCH
2019).
35
Dentre as agências governamentais, em
nível nacional, que mais concebem
recompensas e punições, destacam
Administração Geral Alfandegária,
182
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
Sistema Nacional de Publicidade
e
Informação sobre Crédito Empresarial
em sítio eletrônico
pelas
mídias sociais oficiais estatais e
exibidas em locais públicos, como
a terceira etapa consiste na
Estrutura de Recompensas e
se de uma série
de
acordos legais em que os órgãos
governamentais se comprometem,
reciprocamente, a cumprir os
propósitos por trás de suas Listas
Negras e Vermelhas. Uma vez incluída
a pessoa natural ou jurídica
em uma
das “Listas” por uma autoridade local,
vincula ao seu histórico
de crédito. Em seguida, a informação é
compartilhada pela
NCISP e pelo
, de forma a circular por outros
níveis governamentais. Tem
-se,
portanto, um “efeito cascata”, em que
as penalidades e recompensas são
aplicáveis pelas ma
is diversas
National Enterprise
Credit Information Publicity System
. (SOCIAL
Unified Rewards and
CREDIT WATCH
,
Dentre as agências governamentais, em
nível nacional, que mais concebem
recompensas e punições, destacam
-se:
Administração Geral Alfandegária,
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
Além disso, constata
intenso fomento à cultura do crédito
social por parte do governo central às
municipalidades e provincialidades,
para que elas criem seus próprios
mecanismos de punições e
recompensas, preferencialmente,
forma a definir o acesso a serviços
públicos
36
.
Em maio de 2019, mais de
300 aplicações e projetos participaram
da “Copa do Crédito”, promovido pela
emissora estatal Xinhua
. Nessa toada,
instaura-
se uma retroalimentação do
uso dos dados. O governo centra
colhe e os fornece a
aplicações e autoridades locais por
meio de sua “Base Central”
os aplicativos os requalificam
conforme a interação das pessoas.
privilegiando ou sancionando importações e
exportações de companhias; Ministério de
Ecologi
a e Meio Ambiente, aumentando ou
diminuindo taxas de consumo de energia
elétrica; Administração de Aviação Civil,
impedindo o acesso ou oferecendo cortesias
em viagens; e Administração do Ciberespaço,
censurando aqueles que violem a “moralidade
social, éti
ca nos negócios, honestidade e
integridade” no âmbito virtual (
SOCIAL
CREDIT WATCH, 2019).
36
Em junho deste ano o governo elaborou
uma cartilha às autoridades locais para
fomentar o bom comportamento de crédito, de
forma a oferecer tratamento preferencial
serviços públicos, tais como acordos,
educação, viagens, moradia, emprego, saúde
e questões burocráticas (GOVERNO
POPULAR CENTRAL, 2019).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
Além disso, constata
-se um
intenso fomento à cultura do crédito
social por parte do governo central às
municipalidades e provincialidades,
para que elas criem seus próprios
mecanismos de punições e
recompensas, preferencialmente,
de
forma a definir o acesso a serviços
Em maio de 2019, mais de
300 aplicações e projetos participaram
da “Copa do Crédito”, promovido pela
. Nessa toada,
se uma retroalimentação do
uso dos dados. O governo centra
l os
diferentes
aplicações e autoridades locais por
meio de sua “Base Central”
NCISP e
os aplicativos os requalificam
conforme a interação das pessoas.
privilegiando ou sancionando importações e
exportações de companhias; Ministério de
a e Meio Ambiente, aumentando ou
diminuindo taxas de consumo de energia
elétrica; Administração de Aviação Civil,
impedindo o acesso ou oferecendo cortesias
em viagens; e Administração do Ciberespaço,
censurando aqueles que violem a “moralidade
ca nos negócios, honestidade e
SOCIAL
Em junho deste ano o governo elaborou
uma cartilha às autoridades locais para
fomentar o bom comportamento de crédito, de
forma a oferecer tratamento preferencial
em
serviços públicos, tais como acordos,
educação, viagens, moradia, emprego, saúde
e questões burocráticas (GOVERNO
Atualmente, existem centenas
de aplicações desenvolvidas pelas
autoridades locais
em parceria com
empresas de crédito privado,
operacionalizando e fomentando o
SCS
37
. Dentre essas, aplicações
que avaliam comportamentos pessoais
e as que, efetivamente, ranqueiam os
indivíduos através de notas.
Dentre as aplicações
avaliadoras de compor
aplicativo Chengxin
Chunyun
um sistema de crédito social que avalia
comportamentos considerados
perturbadores e ilegais dentro de meios
de transporte, como aves, trens e
embarcações (ABACUS, 2019). Lutar,
quebrar equipamentos, fumar,
sem multa, abrir saídas de emergência,
são algumas condutas que podem
resultar na proibição de viagens futuras.
Tais circunstâncias são relatadas a
diversas agências governamentais
nacionais
39
.
O aplicativo aceita relatórios
positivos e negativos
sobre a qualidade
do serviço de transporte e o
37
Inclusive ganhadoras de prêmios em
eventos promovidos pelo governo chinês
(CREDIT CHINA, 2019).
38
Desenvolvido
pelas empresas
Credit e Pengyuan Credit
39
Tais como o próprio
NDRC
Transportes, Secretaria de Segurança Pública,
Administração da Aviação Civil, Companhia
Ferroviária da China (SHAEFER, 2019).
183
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
Atualmente, existem centenas
de aplicações desenvolvidas pelas
em parceria com
empresas de crédito privado,
operacionalizando e fomentando o
. Dentre essas, aplicações
que avaliam comportamentos pessoais
e as que, efetivamente, ranqueiam os
indivíduos através de notas.
Dentre as aplicações
avaliadoras de compor
tamentos, o
Chunyun
38
concebe
um sistema de crédito social que avalia
comportamentos considerados
perturbadores e ilegais dentro de meios
de transporte, como aves, trens e
embarcações (ABACUS, 2019). Lutar,
quebrar equipamentos, fumar,
embarcar
sem multa, abrir saídas de emergência,
são algumas condutas que podem
resultar na proibição de viagens futuras.
Tais circunstâncias são relatadas a
diversas agências governamentais
O aplicativo aceita relatórios
sobre a qualidade
do serviço de transporte e o
Inclusive ganhadoras de prêmios em
eventos promovidos pelo governo chinês
pelas empresas
Tianxia
(SCHAEFER, 2019).
NDRC
, Ministério dos
Transportes, Secretaria de Segurança Pública,
Administração da Aviação Civil, Companhia
Ferroviária da China (SHAEFER, 2019).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
comportamento dos passageiros. Os
utentes podem fazer
uploads
evidências fotogficas e, depois que os
incidentes forem investigados e
verificados, os relatórios serão registrados
no arquivo de crédito soci
al da pessoa
alvo.
a plataforma
Checker
40
, por sua vez, fornece dados
à “Lista Negra dos Infratores”
mantida pela Supremo Tribunal
Popular, contendo informações de
indivíduos e companhias que falharam
em cumprir decisões judiciais.Os
usuários po
dem pesquisar pelo nome
dos inadimplentes, visualizar detalhes
do histórico jurídico e ver o status atual
de cumprimento. Além disso,
disponibiliza-
se um mapa, em tempo
real, com a localização dos devedores
de “Listas Negras” mais próximos às
pessoas. Ou seja, trata
-
monitoramento em tempo real e,
inclusive, da localização dos cidadãos,
o que além de violar em larga escala a
privacidade, possibilita confrontos
sociais indesejáveis.
Além disso, um vazamento
divulgado pelo Consórcio Internacional
40
Desenvolvida pela empresa
Xiamen
Network Company
(SHAEFER, 2019).
41
Tradução livre para Defaulter
Blacklist
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
comportamento dos passageiros. Os
uploads
de
evidências fotogficas e, depois que os
incidentes forem investigados e
verificados, os relatórios serão registrados
al da pessoa
-
a plataforma
Laolai
, por sua vez, fornece dados
à “Lista Negra dos Infratores”
41
,
mantida pela Supremo Tribunal
Popular, contendo informações de
indivíduos e companhias que falharam
em cumprir decisões judiciais.Os
dem pesquisar pelo nome
dos inadimplentes, visualizar detalhes
do histórico jurídico e ver o status atual
de cumprimento. Além disso,
se um mapa, em tempo
real, com a localização dos devedores
de “Listas Negras” mais próximos às
-
se de um
monitoramento em tempo real e,
inclusive, da localização dos cidadãos,
o que além de violar em larga escala a
privacidade, possibilita confrontos
Além disso, um vazamento
divulgado pelo Consórcio Internacional
Xiamen
Tuoke
(SHAEFER, 2019).
Blacklist
.
de J
ornalistas Investigativos
que a popular plataforma
intensifica a opressão aos uigures
detidos na região de Xinjiang
meio da instalação compulsória do
aplicativo, autoridades locais
monitoram e controlam todas as
atividades civis do grupo minoritário de
etnia muçulmana. Dentre os
42
Tradução livre para
International
of Investigative
Journalists
denominou-
se China Cables ou
Papers
. Adoção do nome se dá de forma
similar ao Panama
Papers
imensa quantidade de documentos secretos
vazados, no caso, mais de 400 páginas, já
traduzidas do chinês para o inglês, conforme
matéria jornalística investigativa
disponibilizada pelo jornal The New York
Times (RAMZY; BUCKLEY, 2019).
43
Muçulmanos em todo o mundo estão
migrando para um aplicativo móvel de
compartilhamento de arquivos chamado
Zapya, desenvolvido por uma startup de
P
equim que incentiva os usuários a baixar o
Alcorão e compartilhar ensinamentos
religiosos com entes queridos (ALECCI, 2019).
44
O regime de Xi Jinping, em sua campanha
de repressão contra a minoria muçulmana
uigur, não só acelerou a prisão forçada de
moradores de Xinjiang —
pelo menos um milhão de uigures estão
presos em campos
, como também tentou
vigiar todos os seus movimentos no
estrangeiro. E para isso estendeu os
tentáculos de seu macrossistema de vigilância
a embaixadas e consulados
informação e através dos quais persegue essa
minoria (GARRIDO; GRASSO, 2019).
45
However, the UN believes Xinjiang to
site of potential systemic
human
against Muslim
minorities. Since 2017, China
is widely reported to have
a million –
some estimates
three million – Uighur
Muslims in detention
facilities that Beijing has
described as
vocational training centres (WITHNALL, 2020).
184
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
ornalistas Investigativos
42
revelou
que a popular plataforma
Zapya
43
intensifica a opressão aos uigures
44
detidos na região de Xinjiang
45
. Por
meio da instalação compulsória do
aplicativo, autoridades locais
monitoram e controlam todas as
atividades civis do grupo minoritário de
etnia muçulmana. Dentre os
International
Consortium
Journalists
. O escândalo
se China Cables ou
Xinjiang
. Adoção do nome se dá de forma
Papers
, quando há uma
imensa quantidade de documentos secretos
vazados, no caso, mais de 400 páginas, já
traduzidas do chinês para o inglês, conforme
matéria jornalística investigativa
disponibilizada pelo jornal The New York
Times (RAMZY; BUCKLEY, 2019).
Muçulmanos em todo o mundo estão
migrando para um aplicativo móvel de
compartilhamento de arquivos chamado
Zapya, desenvolvido por uma startup de
equim que incentiva os usuários a baixar o
Alcorão e compartilhar ensinamentos
religiosos com entes queridos (ALECCI, 2019).
O regime de Xi Jinping, em sua campanha
de repressão contra a minoria muçulmana
uigur, não só acelerou a prisão forçada de
a ONU calcula que
pelo menos um milhão de uigures estão
, como também tentou
vigiar todos os seus movimentos no
estrangeiro. E para isso estendeu os
tentáculos de seu macrossistema de vigilância
a embaixadas e consulados
, dos quais obtém
informação e através dos quais persegue essa
minoria (GARRIDO; GRASSO, 2019).
However, the UN believes Xinjiang to
be the
human
-rights abuses
minorities. Since 2017, China
detained more than
some estimates
put the figure at
Muslims in detention
described as
vocational training centres (WITHNALL, 2020).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
mecanismos de coerção impostos pelo
governo central, no caso específico
dos uigures, h
á um sistema de
controle comportamental traduzido em
pontos pautados em condutas após
processos de “transformação
ideológica, estudos, treinamento e
compromisso com a disciplina”
pode resultar em punições
severas ou
em recompensas
permiss
ão para fazer contato com a
família. Importante ressaltar que no
SCS
existem proibições específicas
quanto à inclusão de dados sobre
crenças religiosas, por exemplo. No
entanto, ao que parece, comprovado
pela análise do caso dos uigures, essa
informação po
de ser extraída dos
dados comportamentais gerais, o que,
sem dúvida, é um grave problema.
Ainda não existe uma
plataforma nacional que avalie os
indivíduos em notas quanto à
reputação. No entanto, existem
algumas aplicações concebidas por
autoridades loca
is que desenvolvem
tal mecanismo e que, efetivamente,
adotam um sistema de pontuação de
indivíduos, que controla o acesso a
46
Consoante as informações analisadas por
Sophie Richardson, diretora da
Human
Watch
para a China (BBC, 2019).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
mecanismos de coerção impostos pelo
governo central, no caso específico
á um sistema de
controle comportamental traduzido em
pontos pautados em condutas após
processos de “transformação
ideológica, estudos, treinamento e
compromisso com a disciplina”
46
, que
pode resultar em punições
mais
em recompensas
como a
ão para fazer contato com a
família. Importante ressaltar que no
existem proibições específicas
quanto à inclusão de dados sobre
crenças religiosas, por exemplo. No
entanto, ao que parece, comprovado
pela análise do caso dos uigures, essa
de ser extraída dos
dados comportamentais gerais, o que,
sem dúvida, é um grave problema.
Ainda não existe uma
plataforma nacional que avalie os
indivíduos em notas quanto à
reputação. No entanto, existem
algumas aplicações concebidas por
is que desenvolvem
tal mecanismo e que, efetivamente,
adotam um sistema de pontuação de
indivíduos, que controla o acesso a
Consoante as informações analisadas por
Human
Rights
para a China (BBC, 2019).
benefícios sociais. As notas atribuídas
variam em escalas numéricas. Em
Suzhou, as pontuações variam de 0 a
200; em Hangzou, de 0 a
mesmo nas cidades que utilizam as
mesmas escalas, os modelos
algorítmicos utilizados podem ser bem
distintos
47
.
A cidade de
desenvolveu a plataforma
que disponibiliza diversas informações
civis
48
e possibilita que tudo possa ser
a
tendido na mesma aplicação
um sistema de avaliação dos
indivíduos, em que são concedidos
“pontos verdes” com base em
condutas como andar a pé e utilizar
transporte público. , portanto,
somente um sistema de recompensas,
sem (ainda) quaisquer p
Por sua vez, na cidade de
Xiamen há o Xiamen
47
Com base na comparação dos diferentes
modelos implementados por cidades chinesas
(SCHAEFER, 2019).
48
São alguns exemplos: a malha do transporte
urbano, dados ambientais, hospitais,
prestadores
de serviços públicos, pontos
turísticos, agências de assuntos civis,
tribunais, escolas, instituições financeiras
locais e organizações de caridade (SHAEFER,
2019).
49
Tais como: ver multas e alertas de trânsito,
pagar contas e impostos, marcar consultas
médicas, fazer investimentos bancários,
procurar ajuda jurídica, requerer informações
cartorárias, candidatar-
se em trabalho
voluntário (SHAEFER, 2019).
185
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
benefícios sociais. As notas atribuídas
variam em escalas numéricas. Em
Suzhou, as pontuações variam de 0 a
200; em Hangzou, de 0 a
1000. E
mesmo nas cidades que utilizam as
mesmas escalas, os modelos
algorítmicos utilizados podem ser bem
A cidade de
Nanjing
desenvolveu a plataforma
My Nanjing,
que disponibiliza diversas informações
e possibilita que tudo possa ser
tendido na mesma aplicação
49
. Nele,
um sistema de avaliação dos
indivíduos, em que são concedidos
“pontos verdes” com base em
condutas como andar a pé e utilizar
transporte público. , portanto,
somente um sistema de recompensas,
sem (ainda) quaisquer p
unições.
Por sua vez, na cidade de
Egret Points, que
Com base na comparação dos diferentes
modelos implementados por cidades chinesas
São alguns exemplos: a malha do transporte
urbano, dados ambientais, hospitais,
de serviços públicos, pontos
turísticos, agências de assuntos civis,
tribunais, escolas, instituições financeiras
locais e organizações de caridade (SHAEFER,
Tais como: ver multas e alertas de trânsito,
pagar contas e impostos, marcar consultas
médicas, fazer investimentos bancários,
procurar ajuda jurídica, requerer informações
se em trabalho
voluntário (SHAEFER, 2019).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
forja, da mesma forma, tão somente
um sistema de recompensas, em um
formato de ranking
dos indivíduos,
utilizando os dados da
entanto, as recompensas se limitam a
empréstimos
gratuitos em bibliotecas,
aluguel de bicicleta sem depósito e
descontos em estacionamentos.
Assim, verifica-
se uma baixa adesão
da população.
Nesse sentido, não levou tempo
para que o SCS
se adaptasse às
medidas de contenção quanto à
disseminação do novo
Cidades como Hangzou publicaram
em sua lista negra municipal o nome
de nove pessoas que tentaram fraudar
seu histórico de viagens. Passada a
humilhação desses indivíduos, eles
terão que assinar um termo em que se
comprometem a se tornar honestos.
Em
Rongcheng, doações de dinheiro
ou materiais de proteção ao vírus
aumentam a pontuação ali existente.
Em Zhucheng, as equipes médicas se
destacam na frente dos demais
cidadãos, mas a adoção de
comportamentos não-
confiáveis pode
gerar o banimento de abri
r negócios, o
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
forja, da mesma forma, tão somente
um sistema de recompensas, em um
dos indivíduos,
utilizando os dados da
NCISP. No
entanto, as recompensas se limitam a
gratuitos em bibliotecas,
aluguel de bicicleta sem depósito e
descontos em estacionamentos.
se uma baixa adesão
Nesse sentido, não levou tempo
se adaptasse às
medidas de contenção quanto à
disseminação do novo
COVID-19.
Cidades como Hangzou publicaram
em sua lista negra municipal o nome
de nove pessoas que tentaram fraudar
seu histórico de viagens. Passada a
humilhação desses indivíduos, eles
terão que assinar um termo em que se
comprometem a se tornar honestos.
Rongcheng, doações de dinheiro
ou materiais de proteção ao vírus
aumentam a pontuação ali existente.
Em Zhucheng, as equipes médicas se
destacam na frente dos demais
cidadãos, mas a adoção de
confiáveis pode
r negócios, o
impedimento de empregos no governo
e até de deixarem o país
Além disso, de acordo com
informações publicadas pelo The New
York Times
51
, foi implantada,
coercitivamente, uma série de
mecanismos de monitoramento
eletrônico nos celulares chineses, até
então sem precedentes. O
Health Code
52
, software médico de
monitoramento eletrônico, determina a
obrigatoriedade da permanência em
quar
entena, por meio da classificação
das pessoas como sendo “verdes”,
50
Conforme informações relatadas pela Wired
(WIRED, 2020).
51
Such surveillance creep
precedent, said Maya Wang, a China
researcher for Human
Rights
has a record of
using major events, including
the 2008 Beijing Olympics
Expo in Shanghai, to
introduce new monitoring
tools that out last
their original purpo
Wang said (MOZUR, Paul; ZHONG, Raymond;
KROLIK, Aaron, 2020).
52
The epidemic
prevention
China is advancing at the
Internet. The typical
representative
Alipay Health Code. After
Code was
launched in Hangzhou
11, it has
landed in more than 100 cities
a week. On
February 15, the E
Office of
the General Office of
Council instructed Alipay
and
accelerate the
development
integrated government
service
epidemic prevention and
control
Subsequently, Sichuan, Zhejiang, and
achieved province-wide
coverage. A digital
anti-epidemic "Skynet" is
being
at the speed
of China, and
has become
the standard for digital epidemic
prevention in various
places (XINHUANET,
2020).
186
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
impedimento de empregos no governo
e até de deixarem o país
50
.
Além disso, de acordo com
informações publicadas pelo The New
, foi implantada,
coercitivamente, uma série de
mecanismos de monitoramento
eletrônico nos celulares chineses, até
então sem precedentes. O
Alipay
, software médico de
monitoramento eletrônico, determina a
obrigatoriedade da permanência em
entena, por meio da classificação
das pessoas como sendo “verdes”,
Conforme informações relatadas pela Wired
would have historical
precedent, said Maya Wang, a China
Rights
Watch. China
using major events, including
the 2008 Beijing Olympics
and the 2010 World
introduce new monitoring
their original purpo
se, Ms.
Wang said (MOZUR, Paul; ZHONG, Raymond;
prevention
map of Digital
speed of the
representative
of this is
the Alipay Health
launched in Hangzhou
on February
landed in more than 100 cities
within
February 15, the E
-Government
the General Office of
the State
and
Alibaba Cloud to
development
of a national
service
platform for
control
health codes.
Subsequently, Sichuan, Zhejiang, and
Hainan
coverage. A digital
being
fully rolled out
of China, and
Alipay health code
the standard for digital epidemic
places (XINHUANET,
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
“amarelas” e “vermelhas”, em alusão
aos sinais de trânsito
classificação, que corresponde a um
tipo de estigmatização, ocorre sem
qualquer explicação oficial por parte do
governo cent
ral, possuindo ainda
falhas
54
.
No âmbito dessa pesquisa,
observou-
se que as aplicações que
efetivamente avaliam os
comportamentos dos indivíduos o
mais perigosas do que as que
atribuem notas aos cidadãos. Isso
porque, são compulsórias e lhes
causam rep
resálias por quaisquer
motivos de inadimplência, adoção de
comportamentos reprováveis ou por
questões puramente preconceituosas
e xenófobas. Há, nesse viés, violação
à dignidade humana, em seus quatro
substratos
55
: (i) ao estabelecer um
53
People in China sign up
through
popular wallet app, Alipay, and are assigned a
color code — green, yellow or
red
indicates their health
status. The system is
already in use in 200 cities and
is
out nationwide, Ant says (Idem
, 2020).
54
Conforme as informações reportadas pelo
The New York Times, Vanessa Wong,
residente na província de Hubei, foi obrigada a
ficar em casa por semanas, por ser
classificada com um sinal vermelho, mesmo
não tendo qualquer sintoma do coronavírus
(Idem, 2020).
55
Acerca dos quatro substratos da dignidade
da pessoa humana, explicita Maria Celina
Bodin de Moraes: O substrato material da
dignidade assim entendida pode ser
desdobrado em quatro postulados: i) o sujeito
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
“amarelas” e “vermelhas”, em alusão
aos sinais de trânsito
53
. Tal
classificação, que corresponde a um
tipo de estigmatização, ocorre sem
qualquer explicação oficial por parte do
ral, possuindo ainda
No âmbito dessa pesquisa,
se que as aplicações que
efetivamente avaliam os
comportamentos dos indivíduos o
mais perigosas do que as que
atribuem notas aos cidadãos. Isso
porque, são compulsórias e lhes
resálias por quaisquer
motivos de inadimplência, adoção de
comportamentos reprováveis ou por
questões puramente preconceituosas
e xenófobas. Há, nesse viés, violação
à dignidade humana, em seus quatro
: (i) ao estabelecer um
through
Ant’s
popular wallet app, Alipay, and are assigned a
red
— that
status. The system is
is
being rolled
, 2020).
Conforme as informações reportadas pelo
The New York Times, Vanessa Wong,
residente na província de Hubei, foi obrigada a
ficar em casa por semanas, por ser
classificada com um sinal vermelho, mesmo
não tendo qualquer sintoma do coronavírus
Acerca dos quatro substratos da dignidade
da pessoa humana, explicita Maria Celina
Bodin de Moraes: O substrato material da
dignidade assim entendida pode ser
desdobrado em quatro postulados: i) o sujeito
tratamento legalment
sujeitos; (ii) ao aviltar a integridade
física e moral das pessoas ao
estigmatizá-
las e rotulá
violar a incolumidade física quanto à
liberdade de se locomover livremente;
e (iv) ao criar uma sociedade que,
efetivamente, isola
convivência sadia e empática.
Além disso, os dados que
compõe a NCISP
, categorizados em
400 variáveis, são angariados de
forma manifestamente imprecisa e
temerária. De acordo com um relatório
governamental
56
, tornam
registro, a ser
compartilhado com o
“povo supremo” (toda a população),
dados como: retaliações por relatar
informações, estar sendo processado
por informações, penalidades
comportamentais e administrativas; e,
a ser compartilhado entre os
ministérios, informações acerc
moral (ético) reconhece a existência dos
outros co
mo sujeitos iguais a ele; ii)
merecedores do mesmo respeito à integridade
psicofísica de que é titular; iii) é dotado de
vontade livre, de autodeterminação; iv) é parte
do grupo social, em relação ao qual tem a
garantia de não vir a ser marginalizado. São
corolários desta elaboração os princípios
jurídicos da igualdade, da integridade física e
moral – psicofísica -
, da liberdade e da
solidariedade (2003, p. 83).
56
Conforme disposição do Gabinete de
Comissão Nacional de Desenvolvimento e
Reforma (HBC CREDIT,
2019).
187
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
tratamento legalment
e desigual entre
sujeitos; (ii) ao aviltar a integridade
física e moral das pessoas ao
las e rotulá
-las; (iii) ao
violar a incolumidade física quanto à
liberdade de se locomover livremente;
e (iv) ao criar uma sociedade que,
indivíduos à
convivência sadia e empática.
Além disso, os dados que
, categorizados em
400 variáveis, são angariados de
forma manifestamente imprecisa e
temerária. De acordo com um relatório
, tornam
-se objeto de
compartilhado com o
“povo supremo” (toda a população),
dados como: retaliações por relatar
informações, estar sendo processado
por informações, penalidades
comportamentais e administrativas; e,
a ser compartilhado entre os
ministérios, informações acerc
a de:
moral (ético) reconhece a existência dos
mo sujeitos iguais a ele; ii)
merecedores do mesmo respeito à integridade
psicofísica de que é titular; iii) é dotado de
vontade livre, de autodeterminação; iv) é parte
do grupo social, em relação ao qual tem a
garantia de não vir a ser marginalizado. São
corolários desta elaboração os princípios
jurídicos da igualdade, da integridade física e
, da liberdade e da
solidariedade (2003, p. 83).
Conforme disposição do Gabinete de
Comissão Nacional de Desenvolvimento e
2019).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
estudantes com bolsa de estudos,
obtenção de grau acadêmico no
exterior, relatos morais sobre
professores, dados médicos quanto a
doenças infectocontagiosas, aspectos
ruins encontrados em aplicativos de
dispositivos móveis, registros nominais
na inte
rnet, etc. Tal lógica, em que
controlado se torna controlador,
funciona em analogia às
contemporâneas inovações
tecnológicas de facilidade de obtenção
dos dados, tornando o sistema mais
eficiente e previsível, fenômeno
observado por Stefano Rodo
Ressalte-
se que,o relatório
supramencionado é datado de 2016
Embora ainda não haja confirmação
acerca da utilização de câmeras de
vigilância com reconhecimento facial
57
Porém o reconhecimento de um direito de
acesso aos bancos de dados públicos (e
privados) demonstra que esse não é o único
modelo possível: o controlado pode se tornar,
por sua vez, controlador, tornando desta forma
mais transparentes os comportame
quem colhe as informações. Assim como a
inovação tecnológica progressivamente pôs
em funcionamento instrumentos de
comunicação de mão dupla, também a
inovação institucional pode tornar efetivos
sistemas de controle em mão dupla, que
partam da colet
ividade em direção aos bancos
de dados e não somente do alto em direção ao
baixo (2008, p. 47).
58
Conforme disposição do Gabinete de
Comissão Nacional de Desenvolvimento e
Reforma (HBC CREDIT, 2019).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
estudantes com bolsa de estudos,
obtenção de grau acadêmico no
exterior, relatos morais sobre
professores, dados médicos quanto a
doenças infectocontagiosas, aspectos
ruins encontrados em aplicativos de
dispositivos móveis, registros nominais
rnet, etc. Tal lógica, em que
controlado se torna controlador,
funciona em analogia às
contemporâneas inovações
tecnológicas de facilidade de obtenção
dos dados, tornando o sistema mais
eficiente e previsível, fenômeno
observado por Stefano Rodo
57
se que,o relatório
supramencionado é datado de 2016
58
.
Embora ainda não haja confirmação
acerca da utilização de câmeras de
vigilância com reconhecimento facial
Porém o reconhecimento de um direito de
acesso aos bancos de dados públicos (e
privados) demonstra que esse não é o único
modelo possível: o controlado pode se tornar,
por sua vez, controlador, tornando desta forma
mais transparentes os comportame
ntos de
quem colhe as informações. Assim como a
inovação tecnológica progressivamente pôs
em funcionamento instrumentos de
comunicação de mão dupla, também a
inovação institucional pode tornar efetivos
sistemas de controle em mão dupla, que
ividade em direção aos bancos
de dados e não somente do alto em direção ao
Conforme disposição do Gabinete de
Comissão Nacional de Desenvolvimento e
pelo sistema
59
, sabe
-
de mecanismo foi amplamente
utilizado para conter o av
COVID-
19. Para se ter uma ideia, no
ano passado eram cerca de 200
milhões de câmeras do tipo
espalhadas pelas ruas; até o final
deste ano, o número chegará a mais
de600 milhões de dispositivos
falta de transparência e de
acessibilidade revela
considerando que os dados “roubados”
dos cidadãos enquadrar
“Listas Negras” ou “Vermelhas”para,
consequentemente, fundamentar a
59
Another fear is
that data collection
heart of the
social credit system will
include facial recognition
from
identifying people and
their
instant. But despite
concerns
artificial intelligence
and facial recognition
being applied
to social credit,
system today boils down
to
like driver’s
licenses, court
government awards
certifications
government office to
another (BORAK, 2019).
60
O país é conhecido por empregar uma ampla
rede de tecnologias de mon
inclui a coleta dados sobre viagens de seus
cidadãos, a vigilância de redes sociais e da
internet e o uso de softwares de
reconhecimento facial em locais públicos:
estimativas apontam que a China poderá ter
mais de 600 milhões de câmeras co
mecanismo até o fim de 2020. O governo
afirma que todo esse aparato faz parte de uma
estratégia de segurança para identificar
criminosos, mas críticos do sistema acusam
no de violar a privacidade e de ser usado para
perseguir opositores políticos e
(CARBINATTO, 2020)
188
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
-
se que este tipo
de mecanismo foi amplamente
utilizado para conter o av
anço do
19. Para se ter uma ideia, no
ano passado eram cerca de 200
milhões de câmeras do tipo
espalhadas pelas ruas; até o final
deste ano, o número chegará a mais
de600 milhões de dispositivos
60
. A
falta de transparência e de
acessibilidade revela
-se alarmante,
considerando que os dados “roubados”
dos cidadãos enquadrar
-se-ão em
“Listas Negras” ou “Vermelhas”para,
consequentemente, fundamentar a
that data collection
at the
social credit system will
eventually
from
traffic systems,
their
locations in an
concerns
about high-tech
and facial recognition
to social credit,
much of the
to
sharing information
licenses, court
records or
certifications
from one
another (BORAK, 2019).
O país é conhecido por empregar uma ampla
rede de tecnologias de mon
itoramento, que
inclui a coleta dados sobre viagens de seus
cidadãos, a vigilância de redes sociais e da
internet e o uso de softwares de
reconhecimento facial em locais públicos:
estimativas apontam que a China poderá ter
mais de 600 milhões de câmeras co
m esse
mecanismo até o fim de 2020. O governo
afirma que todo esse aparato faz parte de uma
estratégia de segurança para identificar
criminosos, mas críticos do sistema acusam
-
no de violar a privacidade e de ser usado para
perseguir opositores políticos e
minorias
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
decisão de quem te acesso à
cidadania.
Cria-
se um cenário onde estão
presentes: i) opacidade
,resultado da
obscuridade quanto a funcionalidades
do sistema; ii) escala
, elevada ao país
mais populoso do mundo
61
verificada nas violações a direitos
humanos. Tais elementos ensejam a
formação de uma “arma de destruição
matemática”
62
, express
ão cunhada
pela matemática Cathy
O’Neil para
descrever aplicações com
embasamento matemático que
potencializam a economia de dados
baseados nas escolhas feitas por tão
falíveis seres humanos (2016, p. 2).
A deflagração de tal sistema
tecnopolítico se me
diante formas
disruptivas de controle estatal sobre a
população, em que a
hiperconectividade da vida humana se
traduz em hipervigilância
governamental. O resultado é o
constante estado de insegurança e de
violações à autodeterminação
informativa. Em suma,
ressignificação da cidadania pautada
no produto de algoritmos externos
61
Conforme dados estatísticos do Banco
Mundial de 2018 (ibid, 2020).
62
Tradução livre para
Weapons of Math
Destruction.
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
decisão de quem te acesso à
se um cenário onde estão
,resultado da
obscuridade quanto a funcionalidades
, elevada ao país
61
; e iii) dano,
verificada nas violações a direitos
humanos. Tais elementos ensejam a
formação de uma “arma de destruição
ão cunhada
O’Neil para
descrever aplicações com
embasamento matemático que
potencializam a economia de dados
baseados nas escolhas feitas por tão
falíveis seres humanos (2016, p. 2).
A deflagração de tal sistema
diante formas
disruptivas de controle estatal sobre a
população, em que a
hiperconectividade da vida humana se
traduz em hipervigilância
governamental. O resultado é o
constante estado de insegurança e de
violações à autodeterminação
informativa. Em suma,
tem-se a
ressignificação da cidadania pautada
no produto de algoritmos externos
Conforme dados estatísticos do Banco
Weapons of Math
potencialmente enviesados e
completamente alheios aos indivíduos.
Trata-
se do biopoder, fenômeno
observado
por Michel Foucault ainda
no séc. XX
63
, potencializado pelo
desenvolvi
mento tecnológico atual e
agravado por ser operacionalizado não
apenas pelo governo, mas por
empresas privadas a partir das
aplicações acima mencionadas.
Destarte, analisando
opacidade quanto à funcionalidade dos
algoritmos externos existentes nos
sis
temas de pontuações de crédito nos
Estados Unidos
64
, Frank Pasquale
assinala que tais pontuações
escaparam de seu contexto financeiro
e se estabilizaram como árbitros de
63
Aquém, portanto, do grande poder absoluto,
dramático, sombrio que era o poder da
soberania, e que consistia em
morrer, eis que aparece agora, com essa
tecnologia do biopoder, com essa tecnologia
do poder sobre a ‘população’ enquanto tal,
sobre
o homem enquanto ser vivo, um poder
contínuo, científico, que é o poder de ‘fazer
viver’. A soberania fazia morrer e deixava
viver. E eis que agora aparece um poder que
eu chamaria de regulamentação e que
consiste, ao contrário, em fazer viver e em
deixar
morrer. (FOUCAULT, 2010, p. 207).
64
Corrobora-
se, a título de exemplo do
contexto estadunidense de concessão de
cré
dito, a instituição financeira
vem sendo investigada pelo Departamento de
Serviços Financeiros de Nova York, sob
suspeita da a
dotarem algoritmos com vieses
sexistas, verificados após denúncias de que
quanto aos limites de crédito concedidos ao
cartão Apple Card
,mulheres estariam
recebendo limites menores do que homens
(MATSUURA, 2019).
189
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
potencialmente enviesados e
completamente alheios aos indivíduos.
se do biopoder, fenômeno
por Michel Foucault ainda
, potencializado pelo
mento tecnológico atual e
agravado por ser operacionalizado não
apenas pelo governo, mas por
empresas privadas a partir das
aplicações acima mencionadas.
Destarte, analisando
-se a
opacidade quanto à funcionalidade dos
algoritmos externos existentes nos
temas de pontuações de crédito nos
, Frank Pasquale
assinala que tais pontuações
escaparam de seu contexto financeiro
e se estabilizaram como árbitros de
Aquém, portanto, do grande poder absoluto,
dramático, sombrio que era o poder da
soberania, e que consistia em
poder fazer
morrer, eis que aparece agora, com essa
tecnologia do biopoder, com essa tecnologia
do poder sobre a ‘população’ enquanto tal,
o homem enquanto ser vivo, um poder
contínuo, científico, que é o poder de ‘fazer
viver’. A soberania fazia morrer e deixava
viver. E eis que agora aparece um poder que
eu chamaria de regulamentação e que
consiste, ao contrário, em fazer viver e em
morrer. (FOUCAULT, 2010, p. 207).
se, a título de exemplo do
contexto estadunidense de concessão de
dito, a instituição financeira
Goldman Sachs
vem sendo investigada pelo Departamento de
Serviços Financeiros de Nova York, sob
dotarem algoritmos com vieses
sexistas, verificados após denúncias de que
quanto aos limites de crédito concedidos ao
,mulheres estariam
recebendo limites menores do que homens
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
confiabilidade em geral em áreas
distintas (2015, p. 23). Por derradeiro,
a pontuação d
e crédito se torna um
fator decisivo em determinar o sucesso
ou o fracasso de um indivíduo,
tradução de estar na “Lista Vermelha”
ou na “Lista Negra” chinesa por meio
de avaliações de uma sociedade de
vigilância.
Nesse contexto, é possível
observar a mudan
ça paradigmática de
uma “sociedade disciplinar” para a
“sociedade de desempenho ou
“sociedade do cansaço”, constatada
pelo filósofo Byung-
Chil Han (2015, p.
25). A constante busca pela
maximização da produção e do poder,
como ocorre na China, resulta nest
eficiente mecanismo de controle
estatal, próprio do séc. XXI. O
monitoramento e a vigilância
intrínsecos ao desenvolvimento
humano concebem a violenta
autoexploração individual. “O
explorador é ao mesmo tempo o
explorado. Agressor e vítima não
podem mais
ser distinguidos. Essa
autorreferenciabilidade gera uma
liberdade paradoxal que, em virtude
das estruturas coercitivas que lhe o
inerentes, se transforma em violência”
(ibid, p. 30).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
confiabilidade em geral em áreas
distintas (2015, p. 23). Por derradeiro,
e crédito se torna um
fator decisivo em determinar o sucesso
ou o fracasso de um indivíduo,
tradução de estar na “Lista Vermelha”
ou na “Lista Negra” chinesa por meio
de avaliações de uma sociedade de
Nesse contexto, é possível
ça paradigmática de
uma “sociedade disciplinar” para a
“sociedade de desempenho ou
“sociedade do cansaço”, constatada
Chil Han (2015, p.
25). A constante busca pela
maximização da produção e do poder,
como ocorre na China, resulta nest
e
eficiente mecanismo de controle
estatal, próprio do séc. XXI. O
monitoramento e a vigilância
intrínsecos ao desenvolvimento
humano concebem a violenta
autoexploração individual. “O
explorador é ao mesmo tempo o
explorado. Agressor e vítima não
ser distinguidos. Essa
autorreferenciabilidade gera uma
liberdade paradoxal que, em virtude
das estruturas coercitivas que lhe o
inerentes, se transforma em violência”
A comparação com o
episódio da terceira temporada da
série Black Mirror
65
,
Nosedive
inevitável. Na trama,
Lacie
mundo aparentemente idílico, onde
nível de gentileza e simpatia é
mensurado por meio de uma
instantânea e habitual avaliação
recíproca entre as pessoas através de
seus
smartphones
ambição governamental chinesa). No
entanto, na forma visceral como é
abordado o desenvolvimento
tecnológico, é possível perceber suas
implicações extremamente negativas,
isto é, os efeitos nefastos de um
sistema que rotula de forma arbitrária
e superficial
indivíduos dotados de
identidades e peculiaridades próprias,
gerando desconfiança, preconceitos e
marginalizações (tal como pode se
elevar o SCS)
66
.
65
Black Mirror
é uma da série da
originária da televisão britânica, antológica de
ficção científica criada por
centrada em temas obscuros e satíricos que
examinam a sociedade moderna,
particularmente a respeito das consequências
imprevistas das novas tecnologias.
66
Ness
e sentido, Arthur Coelho Bezerra
sintetiza a correlação da ficção idealizada na
série, com aspectos da realidade:
limitadas aos interesses diretos de um governo
totalitário, as práticas individuais de vigilância
de pessoas sobre outras pessoas e
sociedades consideradas democráticas se
alastram através de outros agenciamentos
sociotécnicos, que encontram no
190
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
A comparação com o
primeiro
episódio da terceira temporada da
Nosedive
, parece
Lacie
vive em um
mundo aparentemente idílico, onde
o
nível de gentileza e simpatia é
mensurado por meio de uma
instantânea e habitual avaliação
recíproca entre as pessoas através de
smartphones
(algo como a
ambição governamental chinesa). No
entanto, na forma visceral como é
abordado o desenvolvimento
tecnológico, é possível perceber suas
implicações extremamente negativas,
isto é, os efeitos nefastos de um
sistema que rotula de forma arbitrária
indivíduos dotados de
identidades e peculiaridades próprias,
gerando desconfiança, preconceitos e
marginalizações (tal como pode se
é uma da série da
Netflix,
originária da televisão britânica, antológica de
ficção científica criada por
Charlie Brooker e
centrada em temas obscuros e satíricos que
examinam a sociedade moderna,
particularmente a respeito das consequências
imprevistas das novas tecnologias.
e sentido, Arthur Coelho Bezerra
sintetiza a correlação da ficção idealizada na
série, com aspectos da realidade:
não estando
limitadas aos interesses diretos de um governo
totalitário, as práticas individuais de vigilância
de pessoas sobre outras pessoas e
m
sociedades consideradas democráticas se
alastram através de outros agenciamentos
sociotécnicos, que encontram no
voyeurismo
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
Sentiu-
se falta de inserir um
dado real, diretamente obtido através
de um cidadão do país, qu
contribuísse com uma visão “de
dentro”, da pessoa que sofre
cotidianamente o impacto do sistema
em sua vida e privacidade. Ou seja,
pareceu importante tentar
compreender um pouco melhor o
sistema a partir do ponto de vista de
um cidadão. Essa busca, limi
possibilidades disponíveis, conduziu
ao estabelecimento de contato com
um grupo de chineses que lecionam o
idioma mandarim no Rio de Janeiro
uma chinesa concordou em conceder
uma entrevista sobre o
Residente há alguns anos no Brasil,
midiático um estímulo para que uns vigiem os
outros. Em Nosedive
, todas as conversas e
demais interações pessoais,
tradicionalmente
inseridas em uma economia invisível de trocas
simbólicas, ganham materialidade em um
sistema de avaliações instantâneas por
celular, que são computadas para gerar notas
pa
ra cada indivíduo. Como mencionado, as
notas afetam não apenas as re
lações sociais,
mas também as possibilidades de acesso a
trabalho e a serviços básicos, levando às
últimas consequências a perspectiva
deleuziana das sociedades de controle,
segundo a qual “os indivíduos tornaram
‘dividuais’, divisíveis, e as massas tor
amostras, dados, mercados ou ‘bancos’ (2018,
p. 30).
67
Será resguardado o nome do
estabelecimento de línguas, direito
constitucionalmente assegurado pelo artigo 5º,
XIV da Constituição da República (BRASIL,
1988).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
se falta de inserir um
dado real, diretamente obtido através
de um cidadão do país, qu
e
contribuísse com uma visão “de
dentro”, da pessoa que sofre
cotidianamente o impacto do sistema
em sua vida e privacidade. Ou seja,
pareceu importante tentar
compreender um pouco melhor o
sistema a partir do ponto de vista de
um cidadão. Essa busca, limi
tada às
possibilidades disponíveis, conduziu
ao estabelecimento de contato com
um grupo de chineses que lecionam o
idioma mandarim no Rio de Janeiro
67
e
uma chinesa concordou em conceder
uma entrevista sobre o
SCS.
Residente há alguns anos no Brasil,
midiático um estímulo para que uns vigiem os
, todas as conversas e
tradicionalmente
inseridas em uma economia invisível de trocas
simbólicas, ganham materialidade em um
sistema de avaliações instantâneas por
celular, que são computadas para gerar notas
ra cada indivíduo. Como mencionado, as
lações sociais,
mas também as possibilidades de acesso a
trabalho e a serviços básicos, levando às
últimas consequências a perspectiva
deleuziana das sociedades de controle,
segundo a qual “os indivíduos tornaram
-se
‘dividuais’, divisíveis, e as massas tor
naram-se
amostras, dados, mercados ou ‘bancos’ (2018,
estabelecimento de línguas, direito
constitucionalmente assegurado pelo artigo 5º,
XIV da Constituição da República (BRASIL,
Xiao Wang
68
acredita que, na prática,
muitos chineses foram indiferentes à
instituição do SCS
, visto que a maioria
da população segue estritamente as
duras regras socialmente impostas
pelo Estado. Portanto, segundo ela, a
população não se sente afetada direta
e negativamente pelo sistema.
Ressalta que, no geral, os chineses
não veem com “maus olhos”, mas sim
como uma ferramenta a mais, usada
para "incentivar" as pessoas a
cumprirem com seus deveres e
obrigações.
No entanto, como Xiao Wang
não mora mais no
país, o soube dar
muitos detalhes sobre o estado atual
do sistema, se circunscrevendo a
repassar as informações conforme
relatos de amigos próximos que ainda
moram na China. Em suas palavras:
“acho que o povo sofre tanto com
controle do Estado, que pa
foi mais uma dentre as formas de
controle. Na prática, para quem
segue as regras, acaba sendo
indiferente” (informação verbal)
68
Nome fictício com o intuito de p
identidade real da entrevistada.
69
Entrevista fornecida por Xiao Wang aos
autores no Rio de Janeiro, em outubro de
2019.
191
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
acredita que, na prática,
muitos chineses foram indiferentes à
, visto que a maioria
da população segue estritamente as
duras regras socialmente impostas
pelo Estado. Portanto, segundo ela, a
população não se sente afetada direta
e negativamente pelo sistema.
Ressalta que, no geral, os chineses
não veem com “maus olhos”, mas sim
como uma ferramenta a mais, usada
para "incentivar" as pessoas a
cumprirem com seus deveres e
No entanto, como Xiao Wang
país, o soube dar
muitos detalhes sobre o estado atual
do sistema, se circunscrevendo a
repassar as informações conforme
relatos de amigos próximos que ainda
moram na China. Em suas palavras:
“acho que o povo sofre tanto com
controle do Estado, que pa
ra eles
foi mais uma dentre as formas de
controle. Na prática, para quem
segue as regras, acaba sendo
indiferente” (informação verbal)
69
.
Nome fictício com o intuito de p
reservar a
identidade real da entrevistada.
Entrevista fornecida por Xiao Wang aos
autores no Rio de Janeiro, em outubro de
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
Com efeito, subsiste uma série
de equívocos e mal-
entendidos quanto
à compreensão mundial do sistema de
crédito s
ocial chinês, muito em função
de existirem inúmeras barreiras
socioculturais. Por exemplo, a
conjugação das palavras “crédito
social” pode ter interpretações distintas
na comparação linguística sino
portuguesa. No mundo ocidental, o
termo foi concebido pel
o engenheiro
Clifford Douglas
70
, como um
mecanismo de maior intervenção
social nas relações econômicas. no
oriente, sobretudo na China, o termo
se assemelha à “confiança pública”
ou a um “termo de trabalho”
70
Não estamos acusando o poder financeiro de
hostilidade maligna à sociedade, embora seus
efeitos sejam tais que tornem a acu
plausível. O efeito é inerente à separação do
Crédito Real do Crédito Financeiro
Social, ou seja, do Crédito Financeiro
controlado por empresas privadas. E o
principal objetivo do presente Esquema é
restaurar à comunidade o uso pleno do C
Financeiro como um instrumento necessário
para o uso pleno do seu Crédito Real.
Esperamos que os meios sejam mais claros à
medida que prosseguirmos (DOUGLAS, 1921,
p. 166).
71
To an English speaker, the
two
together might
signal a reference
interpersonal
relationships. In Chinese, the
term is more closely associated
with a phrase
like “public trust.”(MATSAKIS,
apud
2019).
72
Some of the mischaracterized
foreign
media are understandable
loose use of the phrase
“social credit”
(社会信用
, shehuixinyong) in China. One
professor I spoke
to in Beijing encouraged me
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
Com efeito, subsiste uma série
entendidos quanto
à compreensão mundial do sistema de
ocial chinês, muito em função
de existirem inúmeras barreiras
socioculturais. Por exemplo, a
conjugação das palavras “crédito
social” pode ter interpretações distintas
na comparação linguística sino
-
portuguesa. No mundo ocidental, o
o engenheiro
, como um
mecanismo de maior intervenção
social nas relações econômicas. no
oriente, sobretudo na China, o termo
se assemelha à “confiança pública”
71
ou a um “termo de trabalho”
72
.
Não estamos acusando o poder financeiro de
hostilidade maligna à sociedade, embora seus
efeitos sejam tais que tornem a acu
sação
plausível. O efeito é inerente à separação do
Crédito Real do Crédito Financeiro
- Crédito
Social, ou seja, do Crédito Financeiro
controlado por empresas privadas. E o
principal objetivo do presente Esquema é
restaurar à comunidade o uso pleno do C
rédito
Financeiro como um instrumento necessário
para o uso pleno do seu Crédito Real.
Esperamos que os meios sejam mais claros à
medida que prosseguirmos (DOUGLAS, 1921,
two
words
signal a reference
to
relationships. In Chinese, the
with a phrase
apud
DAUM,
accounts in
media are understandable
given the
“social credit”
, shehuixinyong) in China. One
law
to in Beijing encouraged me
3.
Sistema de Crédito Social no
Brasil?
Naturalmente, Brasil e China
são países distintos, com regimes
políticos diferentes e com
especificidades socioculturais também
distintas. Nesse contexto, poder
concluir que um sistema de crédito
social seria inviável no Brasil. Talvez,
um sistema da
magnitude do chinês
esteja longe da nossa realidade, mas
certamente, há diversos sistemas de
vigilância e, sim, avaliadores e
ranqueadores de nossos
comportamentos.
A rigor, existem diferenças
importantes entre os dois
ordenamentos jurídicos, sobretudo,
q
uanto ao direito à privacidade e à
segurança dos dados pessoais.
Porém, a comparação se demonstra
pertinente em um contexto de
globalização. No Brasil, por exemplo,
já é uma realidade e com a sua licitude
reconhecida pelo STJ
to think of it as a “working
category encompassing
several
of a broader
policy agenda that includes both
national
initiatives as well as city
projects that do not
generalize to a country
wide
scale (AHMED, 2019).
73
Consoante entendimento firmado na Súmula
nº 550 do STJ: “A utilização de escore de
crédito, método estatístico de avaliação de
192
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
Sistema de Crédito Social no
Naturalmente, Brasil e China
são países distintos, com regimes
políticos diferentes e com
especificidades socioculturais também
distintas. Nesse contexto, poder
-se-ia
concluir que um sistema de crédito
social seria inviável no Brasil. Talvez,
magnitude do chinês
esteja longe da nossa realidade, mas
certamente, há diversos sistemas de
vigilância e, sim, avaliadores e
ranqueadores de nossos
A rigor, existem diferenças
importantes entre os dois
ordenamentos jurídicos, sobretudo,
uanto ao direito à privacidade e à
segurança dos dados pessoais.
Porém, a comparação se demonstra
pertinente em um contexto de
globalização. No Brasil, por exemplo,
já é uma realidade e com a sua licitude
reconhecida pelo STJ
73
, a utilização do
term,” an umbrella
several
moving parts
policy agenda that includes both
initiatives as well as city
-level pilot
generalize to a country
scale (AHMED, 2019).
Consoante entendimento firmado na Súmula
nº 550 do STJ: “A utilização de escore de
crédito, método estatístico de avaliação de
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
escore de cr
édito, consistente em
método matemático de análise de
concessão de crédito para as relações
de consumo. Esse sistema não
necessita da expressa autorização dos
indivíduos e a licitude da aplicação da
ferramenta se fundamenta no artigo 5º,
IV, da Lei do Cad
astro Positivo (Lei
12.414/11), que
estabelece condição
sine qua non
de que os consumidores
têm direito de
conhecer os principais
elementos e critérios considerados
para a análise de risco, resguardado o
segredo empresarial”
74
.
As informações que compõe
as pontuações de crédito devem ser
intrínsecas à análise do crédito, sendo
vedado o uso de informações de
dados pessoais sensíveis
risco que não co
nstitui banco de dados,
dispensa o consentimento do consumidor, que
terá o direito de solicitar esclarecimentos sobre
as informações pessoais valoradas e as fontes
dos dados considerados no respectivo cálculo”
(STJ, 2015).
74
Art. 5º, Lei nº 12.414/11: São
direitos do
cadastrado: IV -
conhecer os principais
elementos e critérios considerados para a
análise de risco, resguardado o segredo
empresarial (BRASIL, 2011).
75
Consoante Art. 7º-A
, Lei nº 12.414/11:
elementos e critérios considerados para
composiçã
o da nota ou pontuação de crédito
de pessoa cadastrada em banco de dados de
que trata esta Lei, não podem ser utilizadas
informações: I -
que não estiverem vinculadas
à análise de risco de crédito e aquelas
relacionadas à origem social e étnica, à saúde,
à
informação genética, ao sexo e às
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
édito, consistente em
método matemático de análise de
concessão de crédito para as relações
de consumo. Esse sistema não
necessita da expressa autorização dos
indivíduos e a licitude da aplicação da
ferramenta se fundamenta no artigo 5º,
astro Positivo (Lei
estabelece condição
de que os consumidores
conhecer os principais
elementos e critérios considerados
para a análise de risco, resguardado o
As informações que compõe
m
as pontuações de crédito devem ser
intrínsecas à análise do crédito, sendo
vedado o uso de informações de
dados pessoais sensíveis
75
. Tal
nstitui banco de dados,
dispensa o consentimento do consumidor, que
terá o direito de solicitar esclarecimentos sobre
as informações pessoais valoradas e as fontes
dos dados considerados no respectivo cálculo”
direitos do
conhecer os principais
elementos e critérios considerados para a
análise de risco, resguardado o segredo
, Lei nº 12.414/11:
Nos
elementos e critérios considerados para
o da nota ou pontuação de crédito
de pessoa cadastrada em banco de dados de
que trata esta Lei, não podem ser utilizadas
que não estiverem vinculadas
à análise de risco de crédito e aquelas
relacionadas à origem social e étnica, à saúde,
informação genética, ao sexo e às
exigência vai ao encontro da Lei Geral
de Proteção de Dados (Lei
13.709/18), diploma que regula a
coleta, uso, tra
compartilhamento de dados, que,
provavelmente, entrará em vigor em
maio de 2021, consoante a
postergação determinada pela Medida
Provisória nº 959/2020
consonância com a legislação
europeia de proteção de dados,
determina que o trata
utilização de dados pessoais
sensíveis
77
seja excepcional e em
hipóteses específicas, tendo como
convicções políticas, religiosas e filosóficas
(BRASIL, 2011).
76
De acordo com o art. 4º da MP nº 959/2020,
à exceção dos dispositivos que regulam a
Autoridade Nacional de Proteção de Dados
ANPD, os demais artigos da LGP
em vigor em maio de 2021. Cumpre ressaltar
que a possibilidade de adiamento da lei de
proteção de dados estava sendo negociada no
Congresso Nacional e, até o presente
momento, foi aprovada a prorrogação
escalonada, isto é, os dispositivos refere
ANDP entrariam em vigor em janeiro de 2021,
enquanto os demais artigos, em agosto de
2021, conforme disposto no Projeto de Lei nº
1179/2020, responsável pela prorrogação de
prazos contratuais privados devido à
pandemia do COVID-19.
77
Também discipli
nados na LGPD;
n 13.709/18: Para os fins desta Lei, considera
se: II -
dado pessoal sensível: dado pessoal
sobre origem racial ou étnica, convicção
religiosa, opinião política, filiação a sindicato
ou a organização de caráter religioso, filosóf
ou político, dado referente à saúde ou à vida
sexual, dado genético ou biométrico, quando
vinculado a uma pessoa natural (BRASIL,
2018).
193
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
exigência vai ao encontro da Lei Geral
de Proteção de Dados (Lei
13.709/18), diploma que regula a
coleta, uso, tra
tamento e
compartilhamento de dados, que,
provavelmente, entrará em vigor em
maio de 2021, consoante a
postergação determinada pela Medida
Provisória nº 959/2020
76
. A LGPD, em
consonância com a legislação
europeia de proteção de dados,
determina que o trata
mento e
utilização de dados pessoais
seja excepcional e em
hipóteses específicas, tendo como
convicções políticas, religiosas e filosóficas
De acordo com o art. 4º da MP nº 959/2020,
à exceção dos dispositivos que regulam a
Autoridade Nacional de Proteção de Dados
-
ANPD, os demais artigos da LGP
D entrarão
em vigor em maio de 2021. Cumpre ressaltar
que a possibilidade de adiamento da lei de
proteção de dados estava sendo negociada no
Congresso Nacional e, até o presente
momento, foi aprovada a prorrogação
escalonada, isto é, os dispositivos refere
ntes à
ANDP entrariam em vigor em janeiro de 2021,
enquanto os demais artigos, em agosto de
2021, conforme disposto no Projeto de Lei nº
1179/2020, responsável pela prorrogação de
prazos contratuais privados devido à
nados na LGPD;
Art. 5º, Lei
n 13.709/18: Para os fins desta Lei, considera
-
dado pessoal sensível: dado pessoal
sobre origem racial ou étnica, convicção
religiosa, opinião política, filiação a sindicato
ou a organização de caráter religioso, filosóf
ico
ou político, dado referente à saúde ou à vida
sexual, dado genético ou biométrico, quando
vinculado a uma pessoa natural (BRASIL,
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
regra, o consentimento prévio do
titular
78
. Ressalta-
se que a própria
LGPD admite o tratamento de dados
pessoais à tutela de crédito em seu
art. 7º, X.
De
ntre as in
governamentais envolvendo coleta e
tratamento de dados, ou seja,
ini
ciativas de tecnopolítica, merecem
destaque as inovações legislativas que
têm por objeto diversas modalidades
de controle social a partir da criação
de bancos de dados.
Os Decretos 10.046/19 e
10.047/19 criaram o Cadastro Base do
Cidadão
79
, o Comitê
Central de
Governança de Dados
80
Cadastro Nacional de Informações
Sociais - CNIS
81
. Nas palavras do
78
Art. 11, Lei nº 13.709/18: O tratamento de
dados pessoais sensíveis somente poderá
ocorrer nas seguintes
hipóteses:I
titular ou seu responsável legal consentir, de
forma específica e destacada, para finalidades
específicas; II -
sem fornecimento de
consentimento do titular, nas hipóteses em
que for indispensável para: (...) (BRASIL,
2018).
79
Art. 16, Decreto nº 10.046/19:
Fica instituído
o Cadastro Base do Cidadão com a finalidade
de: (...) (BRASIL, 2019).
80
Art. 21, Decreto nº 10.046/19: Fica
instituído o Comitê Central de Governança de
Dados, a quem compete deliberar sobre: (...)
(BRASIL, 2019).
81
Art. 1º, Decreto nº 10.047/19: Este Decreto
dispõe sobre a governança do Cadastro
Nacional de Informações Sociais
institui o programa Observatório de
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
regra, o consentimento prévio do
se que a própria
LGPD admite o tratamento de dados
pessoais à tutela de crédito em seu
ntre as in
iciativas
governamentais envolvendo coleta e
tratamento de dados, ou seja,
ciativas de tecnopolítica, merecem
destaque as inovações legislativas que
têm por objeto diversas modalidades
de controle social a partir da criação
Os Decretos 10.046/19 e
10.047/19 criaram o Cadastro Base do
Central de
80
, além do
Cadastro Nacional de Informações
. Nas palavras do
Art. 11, Lei nº 13.709/18: O tratamento de
dados pessoais sensíveis somente poderá
hipóteses:I
- quando o
titular ou seu responsável legal consentir, de
forma específica e destacada, para finalidades
sem fornecimento de
consentimento do titular, nas hipóteses em
que for indispensável para: (...) (BRASIL,
Fica instituído
o Cadastro Base do Cidadão com a finalidade
Art. 21, Decreto nº 10.046/19: Fica
instituído o Comitê Central de Governança de
Dados, a quem compete deliberar sobre: (...)
Art. 1º, Decreto nº 10.047/19: Este Decreto
dispõe sobre a governança do Cadastro
Nacional de Informações Sociais
- Cnis e
institui o programa Observatório de
secretário
de Governo Digital do
Ministério da Economia, Luis Felipe
Monteiro, à época da promulgação, "o
objetivo é que o Cadastro Base do
Cidadão
se consolide como a única
referência de informações dos
cidadãos para o governo. Será
composto pelos dados do CPF e
também pela integração de dados
específicos de outras bases dos
órgãos públicos" (MINISTÉRIO DA
ECONOMIA, 2019).
Na prática, podem ser objet
compartilhamento entre entidades da
Administração Pública Federal, dados
cadastrais
82
, além de atributos
biográficos
83
, genéticos
Previdência e Informações do Cnis
2019).
82
Art. 2º, Decreto nº 10.046/19:
Decreto, considera-se: III
-
informações identificadoras perante os
cadastros de órgãos públicos, tais como: a) os
atributos biográficos; b) o número de inscrição
no Cadastro de Pessoas Físicas
número de inscrição no Cadas
Pessoas Jurídicas -
CNPJ; d) o Número de
Identificação Social -
NIS; e) o número de
inscrição no Programa de Integração Social
PIS;
f) o número de inscrição no Programa de
Formação do Patrimônio do Servidor Público
Pasep; g) o número do
Título de Eleitor; h) a
razão social, o nome fantasia e a data de
constituição da pessoa jurídica, o tipo
societário, a composição societária atual e
histórica e a Classificação Nacional de
Atividades Econômicas -
CNAE; e i) outros
dados públicos relativo
s à pessoa jurídica ou à
empresa individual (BRASIL, 2019).
83
Art. 2º, Decreto nº 10.046/19:
deste Decreto, considera-
se: I
biográficos -
dados de pessoa natural relativos
194
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
de Governo Digital do
Ministério da Economia, Luis Felipe
Monteiro, à época da promulgação, "o
objetivo é que o Cadastro Base do
se consolide como a única
referência de informações dos
cidadãos para o governo. Será
composto pelos dados do CPF e
também pela integração de dados
específicos de outras bases dos
órgãos públicos" (MINISTÉRIO DA
Na prática, podem ser objet
o de
compartilhamento entre entidades da
Administração Pública Federal, dados
, além de atributos
, genéticos
84
e
Previdência e Informações do Cnis
(BRASIL,
Art. 2º, Decreto nº 10.046/19:
Para fins deste
-
dados cadastrais -
informações identificadoras perante os
cadastros de órgãos públicos, tais como: a) os
atributos biográficos; b) o número de inscrição
no Cadastro de Pessoas Físicas
- CPF; c) o
número de inscrição no Cadas
tro Nacional de
CNPJ; d) o Número de
NIS; e) o número de
inscrição no Programa de Integração Social
-
f) o número de inscrição no Programa de
Formação do Patrimônio do Servidor Público
-
Título de Eleitor; h) a
razão social, o nome fantasia e a data de
constituição da pessoa jurídica, o tipo
societário, a composição societária atual e
histórica e a Classificação Nacional de
CNAE; e i) outros
s à pessoa jurídica ou à
empresa individual (BRASIL, 2019).
Art. 2º, Decreto nº 10.046/19:
Para fins
se: I
- atributos
dados de pessoa natural relativos
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
biométricos. Estes, nada mais são do
que “características biológicas e
comportamentais mensuráveis da
pessoa natural que
podem ser
coletadas para reconhecimento
automatizado, tais como a palma da
mão, as digitais dos dedos, a retina ou
a íris dos olhos, o formato da face, a
voz e a maneira de andar” (BRASIL,
2019). Com o fito de facilitar o
compartilhamento e o cruzamento
informações inerentes a 210 milhões
de pessoas
86
, se depositada ao
Cadastro de Base do Cidadão,
contendo, minimamente, dados
cadastrais e biográficos
87
. Por sua vez,
aos fatos da sua vida, tais como nome civil ou
social, data de
nascimento, filiação,
naturalidade, nacionalidade, sexo, estado civil,
grupo familiar, endereço e vínculos
empregatícios (BRASIL, 2019).
84
Art. 2º, Decreto nº 10.046/19:
Para fins deste
Decreto, considera-se: IV -
atributos genéticos
- características here
ditárias da pessoa
natural, obtidas pela análise de ácidos
nucleicos ou por outras análises científicas
(BRASIL, 2019).
85
Art. 16, Decreto nº 10.046/19
. Fica
instituído o Cadastro Base do Cidadão com a
finalidade de: V -
facilitar o compartilhamento
de da
dos cadastrais do cidadão entre os
órgãos da administração pública; e
o cruzamento de informações das bases de
dados cadastrais oficiais a partir do número de
inscrição do cidadão no CPF (BRASIL, 2019).
86
Conforme dados estatísticos do Instit
Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE,2020).
87
Art. 18, Decreto nº 10.046/19
. A base
integradora será, inicialmente, disponibilizada
com os dados biográficos que constam da
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
biométricos. Estes, nada mais são do
que “características biológicas e
comportamentais mensuráveis da
podem ser
coletadas para reconhecimento
automatizado, tais como a palma da
mão, as digitais dos dedos, a retina ou
a íris dos olhos, o formato da face, a
voz e a maneira de andar” (BRASIL,
2019). Com o fito de facilitar o
compartilhamento e o cruzamento
85
de
informações inerentes a 210 milhões
, se depositada ao
Cadastro de Base do Cidadão,
contendo, minimamente, dados
. Por sua vez,
aos fatos da sua vida, tais como nome civil ou
nascimento, filiação,
naturalidade, nacionalidade, sexo, estado civil,
grupo familiar, endereço e vínculos
Para fins deste
atributos genéticos
ditárias da pessoa
natural, obtidas pela análise de ácidos
nucleicos ou por outras análises científicas
. Fica
instituído o Cadastro Base do Cidadão com a
facilitar o compartilhamento
dos cadastrais do cidadão entre os
órgãos da administração pública; e
VI - realizar
o cruzamento de informações das bases de
dados cadastrais oficiais a partir do número de
inscrição do cidadão no CPF (BRASIL, 2019).
Conforme dados estatísticos do Instit
uto
Brasileiro de Geografia e Estatística
– IBGE
. A base
integradora será, inicialmente, disponibilizada
com os dados biográficos que constam da
a fiscalização e administração dessa
valiosa massa de dados ficará a cargo
exclusivo
88
d
e membros do Poder
Executivo,por meio do Comitê Central
de Governança de Dados.
Paralelamente, no Decreto
10.047/19, o compartilhamento de
dados entre as entidades federais,
voltado à formação de uma base de
informação laborais e previdenciárias,
o d
enominado Cadastro Nacional de
Informações Sociais
vez, a administração dessa base de
dados ficará a cargo do Instituto
Nacional de Seguro Social
base temática do CPF. § 1º Os atributos
biográficos e cadastrais q
ue inicialmente
comporão a base integradora serão, no
mínimo, os seguintes: (...)
88
Art. 22, Decreto nº 10.046/19: O Comitê
Central de Governança de Dados é composto
por representantes dos seguintes órgãos e
entidade:I -
dois do Ministério d
dentre os quais um da Secretaria Especial de
Desburocratização, Gestão e Governo Digital,
que o presidirá, e um da Secretaria Especial
da Receita Federal do Brasil;II
Civil da Presidência da República;III
Secretaria de Tran
sparência e Prevenção da
Corrupção da Controladoria
-
um da Secretaria Especial de Modernização
do Estado da Secretaria-
Geral da Presidência
da República;V -
um da Advocacia
União; e VI -
um do Instituto Nacional do
Seguro Social
(BRASIL, 2019).
89
Art. 3º, Decreto nº 10.047/19: Compete ao
Instituto Nacional do Seguro Social
administrar e operacionalizar o Cnis, com base
nas orientações e nos atos normativos
editados pela Secretaria Especial de
Previdência e Trabalho do
Economia; II -
administrar e gerir permissões e
níveis de acesso ao Cnis e suas informações;
195
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
a fiscalização e administração dessa
valiosa massa de dados ficará a cargo
e membros do Poder
Executivo,por meio do Comitê Central
de Governança de Dados.
Paralelamente, no Decreto
10.047/19, o compartilhamento de
dados entre as entidades federais,
voltado à formação de uma base de
informação laborais e previdenciárias,
enominado Cadastro Nacional de
Informações Sociais
CNIS. Por sua
vez, a administração dessa base de
dados ficará a cargo do Instituto
Nacional de Seguro Social
INSS
89
.
base temática do CPF. § 1º Os atributos
ue inicialmente
comporão a base integradora serão, no
mínimo, os seguintes: (...)
(BRASIL, 2019).
Art. 22, Decreto nº 10.046/19: O Comitê
Central de Governança de Dados é composto
por representantes dos seguintes órgãos e
dois do Ministério d
a Economia,
dentre os quais um da Secretaria Especial de
Desburocratização, Gestão e Governo Digital,
que o presidirá, e um da Secretaria Especial
da Receita Federal do Brasil;II
- um da Casa
Civil da Presidência da República;III
- um da
sparência e Prevenção da
Corrupção da Controladoria
-Geral da União;IV
um da Secretaria Especial de Modernização
Geral da Presidência
um da Advocacia
-Geral da
um do Instituto Nacional do
(BRASIL, 2019).
Art. 3º, Decreto nº 10.047/19: Compete ao
Instituto Nacional do Seguro Social
- INSS: I -
administrar e operacionalizar o Cnis, com base
nas orientações e nos atos normativos
editados pela Secretaria Especial de
Previdência e Trabalho do
Ministério da
administrar e gerir permissões e
níveis de acesso ao Cnis e suas informações;
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
Compor-se-
ão ao CNIS cinquenta e
uma bases dos mais variados
sistemas e repositórios,
informações sensíveis como, por
exemplo, dados relativos à saúde,
cadastros de informação de
gestantes
90
, câncer de mama
colo de útero
92
; e dados relativos à
educação, envolvendo programas de
financiamento estudantil
93
e frequência
escolar
94
. A
lém disso, no que toca ao
acesso e à obtenção dos dados que
comporão o CNIS, consoante artigo 3º,
§3º do referido decreto, “fica
dispensada a celebração de convênio,
acordo de cooperação técnica ou
instrumentos congêneres para a
III -
administrar e gerir as demandas de
desenvolvimento do Cnis; IV -
incorporar ao
Cnis as informões necessárias à concessão,
à manutenção, à rev
isão e às verificações
periódicas de benefícios administrados pelo
INSS; e V -
encaminhar à Secretaria Especial
de Previdência e Trabalho do Ministério da
Economia propostas de ações ou de
normativos relacionados às competências de
que trata o art. 2º (BRA
SIL, 2019).
90
24.
Sistema de Acompanhamento da
Gestante –SisPreNatal
(BRASIL, 2019).
91
33.
Sistema de Informação do câncer de
mama –Sismama
(BRASIL, 2019).
92
32. Sistema de Informação do câncer do
colo do útero –Siscolo
(BRASIL, 2019).
93
14. Programa
Universidade para Todos
ProUni; 17.
Financiamento Estudantil
(BRASIL, 2019).
94
16.
Monitoramento da frequência escolar do
Programa Bolsa Família –
Presença
2019).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
ão ao CNIS cinquenta e
uma bases dos mais variados
sistemas e repositórios,
contendo
informações sensíveis como, por
exemplo, dados relativos à saúde,
cadastros de informação de
, câncer de mama
91
e de
; e dados relativos à
educação, envolvendo programas de
e frequência
lém disso, no que toca ao
acesso e à obtenção dos dados que
comporão o CNIS, consoante artigo 3º,
§3º do referido decreto, “fica
dispensada a celebração de convênio,
acordo de cooperação técnica ou
instrumentos congêneres para a
administrar e gerir as demandas de
incorporar ao
Cnis as informões necessárias à concessão,
isão e às verificações
periódicas de benefícios administrados pelo
encaminhar à Secretaria Especial
de Previdência e Trabalho do Ministério da
Economia propostas de ações ou de
normativos relacionados às competências de
SIL, 2019).
Sistema de Acompanhamento da
(BRASIL, 2019).
Sistema de Informação do câncer de
(BRASIL, 2019).
32. Sistema de Informação do câncer do
(BRASIL, 2019).
Universidade para Todos
-
Financiamento Estudantil
– Fies
Monitoramento da frequência escolar do
Presença
(BRASIL,
efetivação do compartilhame
dados com o INSS” (BRASIL, 2019).
Nesse diapasão, constata
criação de um massivo aparato de
vigilância estatal, dotado de extrema
vagueza quanto à motivação,
operandi
e destinação final dos dados
passiveis de coleta. Reafirma
fatídic
a consequência do capitalismo
de vigilância, em que informações tão
ricas, em ambos os sentidos
existencial e patrimonial da palavra,
são relativizadas e apequenadas
frente à redação normativa
empregada, bem como à opção
legislativa utilizada. Esse context
potencialidades dessas novas
proposições legislativas se tornam
ainda mais preocupantes no contexto
social brasileiro, visto que as pessoas
se preocupam pouco com os seus
dados pessoais ou, ainda que se
preocupem, entendem como benéfico
o oferecimen
to de seus dados em
troca de supostas vantagens
95
As pessoas ainda se preocupam pouco
com os seus dados no Brasil. Somos
nação que informa o CPF na farmácia só para
ver se tem desconto e que cadastra a digital
dos dedos para entrar na academia de
ginástica. Você sabe o que a farmácia faz com
a ligação entre o seu CPF e a lista de
remédios que você compra? Você sabe com
q
uem mais a sua academia compartilha um
dado tão essencialmente identificador como a
digital do seu dedo? A digital é um dado tão
196
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
efetivação do compartilhame
nto de
dados com o INSS” (BRASIL, 2019).
Nesse diapasão, constata
-se a
criação de um massivo aparato de
vigilância estatal, dotado de extrema
vagueza quanto à motivação,
modus
e destinação final dos dados
passiveis de coleta. Reafirma
-se a
a consequência do capitalismo
de vigilância, em que informações tão
ricas, em ambos os sentidos
existencial e patrimonial da palavra,
são relativizadas e apequenadas
frente à redação normativa
empregada, bem como à opção
legislativa utilizada. Esse context
o e as
potencialidades dessas novas
proposições legislativas se tornam
ainda mais preocupantes no contexto
social brasileiro, visto que as pessoas
se preocupam pouco com os seus
dados pessoais ou, ainda que se
preocupem, entendem como benéfico
to de seus dados em
troca de supostas vantagens
95
.
As pessoas ainda se preocupam pouco
com os seus dados no Brasil. Somos
uma
nação que informa o CPF na farmácia só para
ver se tem desconto e que cadastra a digital
dos dedos para entrar na academia de
ginástica. Você sabe o que a farmácia faz com
a ligação entre o seu CPF e a lista de
remédios que você compra? Você sabe com
uem mais a sua academia compartilha um
dado tão essencialmente identificador como a
digital do seu dedo? A digital é um dado tão
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
Interessante notar que,
enquanto o Cadastro de Base do
Cidadão tem por finalidade “aumentar
a confiabilidade dos cadastros de
cidadãos existentes na administração
pública, por meio de mecanismos de
manuten
ção da integridade das bases
de dados para torná-
las qualificadas e
consistentes” (BRASIL, 2019), o
Credit System
afirma que “a virtude é
um requisito interno, e o mecanismo
de recompensa e punição se baseia
na confiabilidade e não confiabilidade,
com o objetivo de melhorar a
integridade e o nível de crédito de toda
a sociedade” (CHINA, 2014). Não
obstante a menção a
o mecanismo de
recompensa e punição, é possível
inferir, pela dicção dos comandos sino
brasileiros, o elevado grau de
similaridade entre os sistemas
tecnopolíticos, conforme apontado
por alguns especialistas
96
.
poderoso que ele é requerido quando você
viaja para entrar em países com esquemas
mais rigorosos de segurança nas fronteiras e
aeroportos. Mais uma razão para você se
sentir um turista quando for na sua academia
(SOUZA, Carlos Affonso, 2019).
96
O decreto de Bolsonaro vai na contramão do
que a gente vê em países como Reino Unido,
Austrália, Canadá e Finlândia, de ter um nível
de us
o de dados com certa interoperablidade
entre eles, feito dentro de um ordenamento de
transparência, com instrumentos que dão
controle ao cidadão de como o dado dele é
usado. A gente não vê nada disso nesse
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
Interessante notar que,
enquanto o Cadastro de Base do
Cidadão tem por finalidade “aumentar
a confiabilidade dos cadastros de
cidadãos existentes na administração
pública, por meio de mecanismos de
ção da integridade das bases
las qualificadas e
consistentes” (BRASIL, 2019), o
Social
afirma que “a virtude é
um requisito interno, e o mecanismo
de recompensa e punição se baseia
na confiabilidade e não confiabilidade,
com o objetivo de melhorar a
integridade e o nível de crédito de toda
a sociedade” (CHINA, 2014). Não
o mecanismo de
recompensa e punição, é possível
inferir, pela dicção dos comandos sino
-
brasileiros, o elevado grau de
similaridade entre os sistemas
tecnopolíticos, conforme apontado
poderoso que ele é requerido quando você
viaja para entrar em países com esquemas
mais rigorosos de segurança nas fronteiras e
aeroportos. Mais uma razão para você se
sentir um turista quando for na sua academia
O decreto de Bolsonaro vai na contramão do
que a gente vê em países como Reino Unido,
Austrália, Canadá e Finlândia, de ter um nível
o de dados com certa interoperablidade
entre eles, feito dentro de um ordenamento de
transparência, com instrumentos que dão
controle ao cidadão de como o dado dele é
usado. A gente não vê nada disso nesse
Nesse cenário, a LGPD se
caracteriza como
instrumento para a tutela e orientação
do tratamento dos dados pessoais,
frente à resistente cultura de
relativização destes. Sua importância é
demonstrada, inclusive, diante do atual
cenário de pandemia mundial,
constatado pelo aumento expon
de medidas arbitrárias e temerárias a
adequada tutela dos dados pessoais
Imperioso destacar, nesse viés, que a
própria edição da Lei 13.979/20,
que dispõe sobre as medidas de
enfrentamento do COVID
pontos problemáticos, como a
obriga
toriedade de compartilhamento
de dados sensíveis entre os órgãos da
Administração Pública Federal
decreto. (...) é como se o Brasil tivesse aberto
m
ão dos bons exemplos desses países e
tivesse optado por uma mistura do Aadhaar,
da Índia, com o credit score da China (DE
LUCA, apud
DONEDA, 2019).
97
Aqui no Brasil, esses projetos também já
começaram a ser feitos. Um grupo de
operadoras –
Algar Telecom, Cl
Vivo –
vão disponibilizar um grande banco de
dados para o
Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações
(MCTIC)
, a partir das informações de suas
torres de transmissão, que podem identificar a
movimentação das pessoas (ROMANI,
98
Art. 6º, Lei nº 13.979/20: É obrigatório o
compartilhamento entre órgãos e entidades da
administração pública federal, estadual,
distrital e municipal de dados essenciais à
identificação de pessoas infectadas ou com
suspeita de infecção pelo coron
197
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
Nesse cenário, a LGPD se
caracteriza como
um importante
instrumento para a tutela e orientação
do tratamento dos dados pessoais,
frente à resistente cultura de
relativização destes. Sua importância é
demonstrada, inclusive, diante do atual
cenário de pandemia mundial,
constatado pelo aumento expon
encial
de medidas arbitrárias e temerárias a
adequada tutela dos dados pessoais
97
.
Imperioso destacar, nesse viés, que a
própria edição da Lei 13.979/20,
que dispõe sobre as medidas de
enfrentamento do COVID
-19, possui
pontos problemáticos, como a
toriedade de compartilhamento
de dados sensíveis entre os órgãos da
Administração Pública Federal
98
e a
decreto. (...) é como se o Brasil tivesse aberto
ão dos bons exemplos desses países e
tivesse optado por uma mistura do Aadhaar,
da Índia, com o credit score da China (DE
DONEDA, 2019).
Aqui no Brasil, esses projetos também já
começaram a ser feitos. Um grupo de
Algar Telecom, Cl
aro, Oi, Tim e
vão disponibilizar um grande banco de
Ministério da Ciência,
Tecnologia, Inovações e Comunicações
, a partir das informações de suas
torres de transmissão, que podem identificar a
movimentação das pessoas (ROMANI,
2020).
Art. 6º, Lei nº 13.979/20: É obrigatório o
compartilhamento entre órgãos e entidades da
administração pública federal, estadual,
distrital e municipal de dados essenciais à
identificação de pessoas infectadas ou com
suspeita de infecção pelo coron
avírus, com a
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
suspensão de prazos quanto aos
pedidos de acesso à informação dos
referidos órgãos federais
99
.
Mais recentemente, em outro
desdobramento da mencionada lei
enfrentamento ao novo coronavírus
(Lei 13.979/20), a Medida Provisória
954, de 17 de abril de 2020,
determina
que empresas de telefonia
repassem dados de clientes ao IBGE,
tais como, nomes, meros de
telefone e endereços de seus
consumidores, pe
ssoas naturais ou
jurídicas
100
,enquanto perdurar o atual
estágio de prevenção ao COVID
sob a justificativa de tratar
finalidade exclusiva de evitar a sua
propagação (BRASIL, 2020).
99
Art.6º-
B, Lei nº 13.979/20: Serão atendidos
prioritariamente os pedidos de acesso à
informação, de que trata a Lei nº 12.527, de
2011, relacionados com medidas de
enfrentamento
da emergência de saúde
pública de que trata esta Lei. § 1º Ficarão
suspensos os prazos de resposta a pedidos de
acesso à informação nos órgãos ou nas
entidades da administração pública cujos
servidores estejam sujeitos a regime de
quarentena, teletrabalh
o ou equivalentes e
que, necessariamente, dependam de: I
acesso presencial de agentes públicos
encarregados da resposta; ou II
-
público ou setor prioritariamente envolvido
com as medidas de enfrentamento da situação
de emergência de que trata est
a Lei (BRASIL,
2020).
100
Art. 2º, Medida Provisória nº 954/20: As
empresas de telecomunicação prestadoras do
STFC e do SMP deverão disponibilizar à
Fundação IBGE, em meio eletrônico, a relação
dos nomes, dos números de telefone e dos
endereços de seus consu
midores, pessoas
físicas ou jurídicas (BRASIL, 2020).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
suspensão de prazos quanto aos
pedidos de acesso à informação dos
.
Mais recentemente, em outro
desdobramento da mencionada lei
de
enfrentamento ao novo coronavírus
(Lei 13.979/20), a Medida Provisória
954, de 17 de abril de 2020,
que empresas de telefonia
repassem dados de clientes ao IBGE,
tais como, nomes, meros de
telefone e endereços de seus
ssoas naturais ou
,enquanto perdurar o atual
estágio de prevenção ao COVID
-19,
sob a justificativa de tratar
-se de fins
finalidade exclusiva de evitar a sua
B, Lei nº 13.979/20: Serão atendidos
prioritariamente os pedidos de acesso à
informação, de que trata a Lei nº 12.527, de
2011, relacionados com medidas de
da emergência de saúde
pública de que trata esta Lei. § 1º Ficarão
suspensos os prazos de resposta a pedidos de
acesso à informação nos órgãos ou nas
entidades da administração pública cujos
servidores estejam sujeitos a regime de
o ou equivalentes e
que, necessariamente, dependam de: I
-
acesso presencial de agentes públicos
-
agente
público ou setor prioritariamente envolvido
com as medidas de enfrentamento da situação
a Lei (BRASIL,
Art. 2º, Medida Provisória nº 954/20: As
empresas de telecomunicação prestadoras do
STFC e do SMP deverão disponibilizar à
Fundação IBGE, em meio eletrônico, a relação
dos nomes, dos números de telefone e dos
midores, pessoas
físicas ou jurídicas (BRASIL, 2020).
meramente estatísticos. Apesar da
normativa vedar o compartilhamento
dos dados
101
e de tratar
um órgão de Estado, d
a credibilidade por ser responsável
pela coleta, tratamento e análise das
estatísticas oficiais do país, uma
clara violação aos princípios da
finalidade e necessidade do uso dos
dados. Não à toa, este foi também
entendimento adotado pe
derrubar liminarmente a medida,
asseverando que a suspensão visa
“prevenir danos irreparáveis à
intimidade e ao sigilo da vida privada
de mais de uma centena de milhão de
usuários dos serviços de telefonia fixa
e móvel”
102
.
101
Art. 3º,Medida Provisória nº 954/20: Os
dados compartilhados: I -
sigiloso; II -
serão usados exclusivamente para
a finalidade prevista no § 1º do art. 2º; e III
não serão utilizados c
omo objeto de certidão
ou meio de prova em processo administrativo,
fiscal ou judicial, nos termos do disposto na Lei
nº 5.534, de 14 de novembro de 1968. § 1º É
vedado à Fundação IBGE disponibilizar os
dados a que se refere o caput do art. 2º a
quaisquer
empresas públicas ou privadas ou a
órgãos ou entidades da administração pública
direta ou indireta de quaisquer dos entes
federativos (BRASIL, 2020).
102
Consoante decisão liminar da Ministra Rosa
Weber, de 24/04/2020: “a fim de prevenir
danos irreparáveis à
intimidade e ao sigilo da
vida privada de mais de uma centena de
milhão
de usuários dos serviços de telefonia
fixa e móvel, com o caráter precário
aos juízos perfunctórios e sem prejuízo de
exame mais
aprofundado quando do
julgamento do mérito, def
iro a medida cautelar
198
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
meramente estatísticos. Apesar da
normativa vedar o compartilhamento
e de tratar
-se o IBGE de
um órgão de Estado, d
etentor de toda
a credibilidade por ser responsável
pela coleta, tratamento e análise das
estatísticas oficiais do país, uma
clara violação aos princípios da
finalidade e necessidade do uso dos
dados. Não à toa, este foi também
o
entendimento adotado pe
lo STF ao
derrubar liminarmente a medida,
asseverando que a suspensão visa
“prevenir danos irreparáveis à
intimidade e ao sigilo da vida privada
de mais de uma centena de milhão de
usuários dos serviços de telefonia fixa
Art. 3º,Medida Provisória nº 954/20: Os
terão caráter
serão usados exclusivamente para
a finalidade prevista no § 1º do art. 2º; e III
-
omo objeto de certidão
ou meio de prova em processo administrativo,
fiscal ou judicial, nos termos do disposto na Lei
nº 5.534, de 14 de novembro de 1968. § 1º É
vedado à Fundação IBGE disponibilizar os
dados a que se refere o caput do art. 2º a
empresas públicas ou privadas ou a
órgãos ou entidades da administração pública
direta ou indireta de quaisquer dos entes
federativos (BRASIL, 2020).
Consoante decisão liminar da Ministra Rosa
Weber, de 24/04/2020: “a fim de prevenir
intimidade e ao sigilo da
vida privada de mais de uma centena de
de usuários dos serviços de telefonia
fixa e móvel, com o caráter precário
próprio
aos juízos perfunctórios e sem prejuízo de
aprofundado quando do
iro a medida cautelar
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
Sendo assim, com a prová
postergação da LGPD, o cenário
delineado quanto ao tratamento de
dados pessoais se torna ainda mais
preocupante em tempos de
relativização das liberdades civis e
direitos fundamentais que visam o
controle e contenção do novo vírus. A
propósito, o conte
xto de sucessivas
medidas temerárias à segurança dos
dados pessoais não se restringe à
seara civil, mas também
Segue em vigor a Lei do Pacote
Anticrime (Lei 13.964/19), que
dentre as controversas medidas de
recrudescimento penal,
debates
103
, destaca-
se o dispositivo
que pre o alargamento do Banco
Nacional de Perfis Genéticos
requerida, ad referendum do Plenário desta
Suprema Corte, para
suspender a eficácia da
Medida Provisória n. 954/2020,
determinando,em consequência, que o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBGE se abstenha de requerer a
disponibilização dos dados objeto da
medida provisória e, caso já o tenha feito, que
suste tal pedido,com imediata comunicação
à(s) operadora(s) de telefonia” (STF, 2020).
103
A ADIN nº 6.345 proposta pela
Associão Nacional das
Defensoras
Defensores Públicos questiona
dispositivos do pacote
anticrime
13.964/19) que tratam dos
aumentos
pena, tornam mais rigoroso o
regime
cumprimento da pena privativa
de
e restringe direitos
concedidos
(MIGALHAS, 2020).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
Sendo assim, com a prová
vel
postergação da LGPD, o cenário
delineado quanto ao tratamento de
dados pessoais se torna ainda mais
preocupante em tempos de
relativização das liberdades civis e
direitos fundamentais que visam o
controle e contenção do novo vírus. A
xto de sucessivas
medidas temerárias à segurança dos
dados pessoais não se restringe à
seara civil, mas também
à criminal.
Segue em vigor a Lei do Pacote
Anticrime (Lei 13.964/19), que
dentre as controversas medidas de
objeto de
se o dispositivo
que pre o alargamento do Banco
Nacional de Perfis Genéticos
requerida, ad referendum do Plenário desta
suspender a eficácia da
determinando,em consequência, que o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBGE se abstenha de requerer a
disponibilização dos dados objeto da
referida
medida provisória e, caso já o tenha feito, que
suste tal pedido,com imediata comunicação
à(s) operadora(s) de telefonia” (STF, 2020).
A ADIN nº 6.345 proposta pela
ANADEP -
Defensoras
e dos
no STF
anticrime
(Lei
aumentos
de
regime
de
de
liberdade
concedidos
BNPG
104
, instituído pela Lei de
Identificação Criminal (Lei
12.037/09), bem como a criação do
Banco Nacional Multibiométrico e de
Impressões Digitais
“tem como objetivo armazenar dados
de registros biométricos, de
impressões digitais e, quando
possível, de íris, face e voz, para
subsidiar investigações criminais
federais, estaduais ou distrital”
Malgrado questionar
própria eficácia em se
mecanismos de punição como
instrumento de ressocialização de
pessoas condenadas criminalmente,
tem-
se uma imensa relativização aos
direitos constitucionalmente
assegurados de não apenas não
produzir provas contra si mesmo
como de não permitir
104
Dentre os mecanismos de alargamento do
Banco Nacional de Perfis Genéticos
destacam-
se a compulsoriedade à submissão
de coleta de dados genéticos, em que a
recusa incide em falta grave aos condenados,
previstos no art. 9º-
A, §4º e art. 8º da Lei
13.964/19 (BRASIL, 2019).
105
Art. 7º-
C, § 2º, Lei nº 13.964/19 (BRASIL,
2019).
106
Art. 5º,
LXIII, CFRB 1988
informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo
assistência da família e de advogado (BRASIL,
1988).
199
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
, instituído pela Lei de
Identificação Criminal (Lei
12.037/09), bem como a criação do
Banco Nacional Multibiométrico e de
Impressões Digitais
BNMID. Este,
“tem como objetivo armazenar dados
de registros biométricos, de
impressões digitais e, quando
possível, de íris, face e voz, para
subsidiar investigações criminais
federais, estaduais ou distrital”
105
.
Malgrado questionar
-se a
própria eficácia em se
adotar mais
mecanismos de punição como
instrumento de ressocialização de
pessoas condenadas criminalmente,
se uma imensa relativização aos
direitos constitucionalmente
assegurados de não apenas não
produzir provas contra si mesmo
106
,
como de não permitir
a violação de
Dentre os mecanismos de alargamento do
Banco Nacional de Perfis Genéticos
– BNPG
se a compulsoriedade à submissão
de coleta de dados genéticos, em que a
recusa incide em falta grave aos condenados,
A, §4º e art. 8º da Lei
13.964/19 (BRASIL, 2019).
C, § 2º, Lei nº 13.964/19 (BRASIL,
LXIII, CFRB 1988
- o preso será
informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo
-lhe assegurada a
assistência da família e de advogado (BRASIL,
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
sua integridade psicofísica
nesse viés, quaisquer menções à
regulamentação e ao tratamento de
dados biológicos na LGPD, tampouco
à Lei de Identificação Criminal,
fazendo com que a medida de caráter
compulsório, seja extremamente
ar
bitrária à dignidade da pessoa
humana
108
.
Ao analisar a
constitucionalidade da criação do
Banco Nacional Multibiométrico e de
Impressões Digitais
Instituto Brasileiro de Ciências
Criminais IBCCRIM
109
, entidade não
107
Art. 5º, XLIX, CFRB 1988 -
é assegurado
aos presos o respeito à integridade física e
moral (BRASIL, 1988).
108
No direito brasileiro, após mais de duas
décadas de ditadura sob o regime militar, a
Constituição democrática de 1988 explicitou,
no arti
go 1º, III, a dignidade da pessoa
humana com um dos “fundamentos da
República”. A dignidade humana, assim, não é
criação da ordem constitucional, embora seja
por ela protegida. A Constituição consagrou o
princípio e, considerando a sua eminência,
proclamou-
o entre os princípios fundamentais,
atribuindo-
lhe o valor supremo de alicerce da
ordem jurídica democrática (BODIN DE
MORAES, 2003, p. 83).
109
O IBCCRIM, ao concluir pela
inconstitucionalidade duvidosa da criação do
Banco Nacional Multibiométrico e de
Impressões Digitais –
BNMID, destacando:
“No mais, ainda que a modernização das
formas de identificação seja, de certa forma,
natural, há que se ter algum cuidado com a
criação de um projeto como esse,
especialmente no
que diz respeito à violação
de privacida
de. Um banco de voz ou face, em
tese, pode individualizar uma pessoa mesmo
sem o auxílio de qualquer método adicional ou
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
107
. Não há,
nesse viés, quaisquer menções à
regulamentação e ao tratamento de
dados biológicos na LGPD, tampouco
à Lei de Identificação Criminal,
fazendo com que a medida de caráter
compulsório, seja extremamente
bitrária à dignidade da pessoa
Ao analisar a
constitucionalidade da criação do
Banco Nacional Multibiométrico e de
BNMID, o
Instituto Brasileiro de Ciências
, entidade não
-
é assegurado
aos presos o respeito à integridade física e
No direito brasileiro, após mais de duas
décadas de ditadura sob o regime militar, a
Constituição democrática de 1988 explicitou,
go 1º, III, a dignidade da pessoa
humana com um dos “fundamentos da
República”. A dignidade humana, assim, não é
criação da ordem constitucional, embora seja
por ela protegida. A Constituição consagrou o
princípio e, considerando a sua eminência,
o entre os princípios fundamentais,
lhe o valor supremo de alicerce da
ordem jurídica democrática (BODIN DE
O IBCCRIM, ao concluir pela
inconstitucionalidade duvidosa da criação do
Banco Nacional Multibiométrico e de
BNMID, destacando:
“No mais, ainda que a modernização das
formas de identificação seja, de certa forma,
natural, há que se ter algum cuidado com a
criação de um projeto como esse,
que diz respeito à violação
de. Um banco de voz ou face, em
tese, pode individualizar uma pessoa mesmo
sem o auxílio de qualquer método adicional ou
governamental voltada à promoção
direitos humanos na seara criminal,
esclarece que, no tocante à colheita de
padrões de voz, o STF asseverou
que a coerção do acusado a ceder
padrões amostrais de sua voz para
fins periciais acarreta em nulidade
processual por violação do privilégio
contra sua não-
incriminação
Noutro giro, quanto à realidade
chinesa, infere-
se que uma série de
aspectos sociais, políticos,
econômicos e culturais propiciam um
ambiente favorável à implementação
do sistema. Trata-
se de um país onde
70 anos vigora o ú
Comunista da China (PCC)
historicamente marcado por
sucessivos governos centralizados de
sem coleta de material biológico, por meio do
uso de aplicativos específicos. No limite, um
banco de voz e face permitiria a base de um
sistema global de espionagem de indivíduos
em público. Esse perigo de violação de
privacidade e vazamento de dados sensíveis
deve ser avaliado em termos de custo
benefício, e ser objeto de maior discussão
entre especialistas em segurança digital antes
de
serem previstos em lei” (IBCCRIM, 2019).
110
STF. Habeas Corpus
nº 83.096 / RJ.
Segunda Turma. Ministra Relatora Ellen
Gracie. Data de julgamento: 12/12/2003.
111
Há 70 (setenta) anos, em 1º de outubro de
1949, a China deu início à Revolução
Comunista, promovi
da por
estabelecendo o Partido Comunista da China
(PCC), poder único que controla todo o país
(BBC BRASIL, 2019).
200
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
governamental voltada à promoção
de
direitos humanos na seara criminal,
esclarece que, no tocante à colheita de
padrões de voz, o STF asseverou
que a coerção do acusado a ceder
padrões amostrais de sua voz para
fins periciais acarreta em nulidade
processual por violação do privilégio
incriminação
110
.
Noutro giro, quanto à realidade
se que uma série de
aspectos sociais, políticos,
econômicos e culturais propiciam um
ambiente favorável à implementação
se de um país onde
70 anos vigora o ú
nico Partido
Comunista da China (PCC)
111
,
historicamente marcado por
sucessivos governos centralizados de
sem coleta de material biológico, por meio do
uso de aplicativos específicos. No limite, um
banco de voz e face permitiria a base de um
sistema global de espionagem de indivíduos
em público. Esse perigo de violação de
privacidade e vazamento de dados sensíveis
deve ser avaliado em termos de custo
-
benefício, e ser objeto de maior discussão
entre especialistas em segurança digital antes
serem previstos em lei” (IBCCRIM, 2019).
nº 83.096 / RJ.
Segunda Turma. Ministra Relatora Ellen
Gracie. Data de julgamento: 12/12/2003.
Há 70 (setenta) anos, em 1º de outubro de
1949, a China deu início à Revolução
da por
Mao Tsé-tung,
estabelecendo o Partido Comunista da China
(PCC), poder único que controla todo o país
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
intenso controle e autoritarismo
Peculiaridades que atreladas ao atual
estado da era dos dados,
potencializam-
se, mediante a
sofisticação de mecanismo
coerção e vigilância. O resultado é a
extrema relativização dos direitos
humanos e fundamentais.
A conjectura sociopolítica
chinesa e sua consequente cultura de
crédito social é uma realidade distante
da de muitos países democráticos
A vigilância massiva e o controle sobre
dados são uma ameaça quase
universal às nações, seja mediante o
domínio de empresas privadas, seja
por ingerências governamentais. A
propósito, tais mecanismos de controle
112
O estado de constante vigilância e controle
assemelha-
se ao modelo arquitetônico do
Panóptico, segundo ao qual consegue: induz
no detento um estado consciente e
permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento automático do poder. Fazer
com que a vigilância seja permanente em seus
efeitos, mesmo se é descontínua em sua
ação; que a perfeição do poder tenda a tornar
inútil
a atualidade de seu exercício; que esse
aparelho arquitetural seja uma máquina de
criar e sustentar uma relação de poder
independente daquele que o exerce; enfim,
que os detentos se encontrem presos numa
situação de poder de que eles mesmos são os
portad
ores (FOUCAULT, 1999, p. 217
113
Consoante relatório publicado pela
Economist
, em 2015, 79 países enquadravam
se ao ranking de Democracias Plena ou
Imperfeita. O Brasil enquadra-
se na 51ª
posição, como Democracia Imperfeita e a
China em 136ª, como R
egime Autoritário (THE
ECONOMIST, 2015).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
intenso controle e autoritarismo
112
.
Peculiaridades que atreladas ao atual
estado da era dos dados,
se, mediante a
sofisticação de mecanismo
s de
coerção e vigilância. O resultado é a
extrema relativização dos direitos
A conjectura sociopolítica
chinesa e sua consequente cultura de
crédito social é uma realidade distante
da de muitos países democráticos
113
.
A vigilância massiva e o controle sobre
dados são uma ameaça quase
universal às nações, seja mediante o
domínio de empresas privadas, seja
por ingerências governamentais. A
propósito, tais mecanismos de controle
O estado de constante vigilância e controle
se ao modelo arquitetônico do
Panóptico, segundo ao qual consegue: induz
ir
no detento um estado consciente e
permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento automático do poder. Fazer
com que a vigilância seja permanente em seus
efeitos, mesmo se é descontínua em sua
ação; que a perfeição do poder tenda a tornar
a atualidade de seu exercício; que esse
aparelho arquitetural seja uma máquina de
criar e sustentar uma relação de poder
independente daquele que o exerce; enfim,
que os detentos se encontrem presos numa
situação de poder de que eles mesmos são os
ores (FOUCAULT, 1999, p. 217
-218)
Consoante relatório publicado pela
The
, em 2015, 79 países enquadravam
-
se ao ranking de Democracias Plena ou
se na 51ª
posição, como Democracia Imperfeita e a
egime Autoritário (THE
atingiram um ponto crítico de
violações
aos direitos humanos
Nesse sentido, ao constatar que o país
mais populoso do mundo está em vias
de substituir a autodeterminação de
sua população por um sofisticado
sistema tecnopolítico,
distorção do significado de cidadania
com o fito de atend
buscas de maximização de lucros e de
crescimento econômico.
Tal realidade não é diferente no
Brasil. No plano governamental, a
insegurança quanto à proteção dos
dados também é identificada em
tendências arbitrárias praticadas pelo
Poder
blico. Claros exemplos de
tais inclinações são constatáveis nos
recentes
Decretos nº 10.046/19 e nº
10.047/19, bem como na Lei do
Pacote Anticrime, todos originários da
atual gestão do Governo Federal. A
rigor, o Brasil demonstra adotar
114
De acordo com o relatório publicado em
novembro deste ano, pela Anistia
Internacional, o Google e o Facebook, e seus
demais domínio, estabeleceram o maior
domínio de controle fora da China, onde detêm
a onipresen
ça da vigilância e do controle de
dados.Constatou que as condutas abusivas
praticadas por essas companhias atingiram
um ponto crítico, deflagrado por um modelo de
negócios incompatível com o direito à
privacidade, representa uma ameaça a direitos
como libe
rdade de opinião e expressão,
liberdade de pensamento e direito à igualdade
e não discriminação (ANISTIA
INTERNACIONAL, 2019).
201
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
atingiram um ponto crítico de
aos direitos humanos
114
.
Nesse sentido, ao constatar que o país
mais populoso do mundo está em vias
de substituir a autodeterminação de
sua população por um sofisticado
sistema tecnopolítico,
-se a
distorção do significado de cidadania
com o fito de atend
er a incessantes
buscas de maximização de lucros e de
crescimento econômico.
Tal realidade não é diferente no
Brasil. No plano governamental, a
insegurança quanto à proteção dos
dados também é identificada em
tendências arbitrárias praticadas pelo
blico. Claros exemplos de
tais inclinações são constatáveis nos
Decretos nº 10.046/19 e nº
10.047/19, bem como na Lei do
Pacote Anticrime, todos originários da
atual gestão do Governo Federal. A
rigor, o Brasil demonstra adotar
De acordo com o relatório publicado em
novembro deste ano, pela Anistia
Internacional, o Google e o Facebook, e seus
demais domínio, estabeleceram o maior
domínio de controle fora da China, onde detêm
ça da vigilância e do controle de
dados.Constatou que as condutas abusivas
praticadas por essas companhias atingiram
um ponto crítico, deflagrado por um modelo de
negócios incompatível com o direito à
privacidade, representa uma ameaça a direitos
rdade de opinião e expressão,
liberdade de pensamento e direito à igualdade
e não discriminação (ANISTIA
INTERNACIONAL, 2019).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
algumas medidas sem
àquelas adotadas na China no que
tange ao uso disruptivo de dados,
demonstrado por ações recentes
tomadas pelo Poder Executivo
Federal. Assim, “se não tivermos
cuidado, o resultado disso poderia ser
um estado de polícia orwelliano, que
constanteme
nte monitora e controla
não somente todos os nossos atos,
mas até mesmo o que acontece dentro
de nossos corpos e cérebros”
Em vistas deste cenário, se
torna necessária a construção de um
componente ético apto a ampliar para
os novos meios tecnológicos o valor
da dignidade da pessoa humana,
inserida cada vez mais em
ciberespaços. Isto porque, o
desenvolvimento algorítmico e sua
inteligências artificiais somente se
115
“Se não tivermos cuidado, o resultado
disso poderia ser um estado de polícia
orwelliano, que constantemente monitora e
controla não somente todos os nossos atos,
mas até mesmo o que acontece dentro de
nossos corpos e cérebros. Imagine
os usos qu
e Stálin poderia achar para
sensores biométricos onipresentes e que usos
Putin ainda pode achar para eles. No entanto,
enquanto os defensores da individualidade
humana temem uma repetição de pesadelos
do século XX e se preparam para resistir aos
familiares
inimigos orwellianos, a
individualidade humana enfrenta agora uma
ameaça ainda maior que vem de direção
oposta. No século XXI há mais probabilidade
de que o indivíduo se desintegre suavemente
por dentro do que brutalmente esmagado por
fora (HARARI, 2016, p. 374).
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
algumas medidas sem
elhantes
àquelas adotadas na China no que
tange ao uso disruptivo de dados,
demonstrado por ações recentes
tomadas pelo Poder Executivo
Federal. Assim, “se não tivermos
cuidado, o resultado disso poderia ser
um estado de polícia orwelliano, que
nte monitora e controla
não somente todos os nossos atos,
mas até mesmo o que acontece dentro
de nossos corpos e cérebros”
115
Em vistas deste cenário, se
torna necessária a construção de um
componente ético apto a ampliar para
os novos meios tecnológicos o valor
da dignidade da pessoa humana,
inserida cada vez mais em
ciberespaços. Isto porque, o
desenvolvimento algorítmico e sua
s
inteligências artificiais somente se
“Se não tivermos cuidado, o resultado
disso poderia ser um estado de polícia
orwelliano, que constantemente monitora e
controla não somente todos os nossos atos,
mas até mesmo o que acontece dentro de
nossos corpos e cérebros. Imagine
-se apenas
e Stálin poderia achar para
sensores biométricos onipresentes e que usos
Putin ainda pode achar para eles. No entanto,
enquanto os defensores da individualidade
humana temem uma repetição de pesadelos
do século XX e se preparam para resistir aos
inimigos orwellianos, a
individualidade humana enfrenta agora uma
ameaça ainda maior que vem de direção
oposta. No século XXI há mais probabilidade
de que o indivíduo se desintegre suavemente
por dentro do que brutalmente esmagado por
mostram merecedores de tutela se
devidamente funcionalizados pelos
elementos principiológicos inerentes à
tábua axiológica constitucional, tais
como o respeito à vida privada, à
individualidade e à autodeterminação.
O
s indivíduos detêm o direito de
participar da era virtual, de forma
segura e protetiva, porquanto, as
palavras “pessoas” e “dados” são
redundantes, cuja tutela de uma
resulta no intrínseco respeito à
outra
116
.
4.
Considerações finais
O presente trabalho busc
realizar uma análise do atual sistema
de controle de dados pessoais do
governo chinês, o
metodologia civil constitucional.
Em vista à atual conjectura da
era dos dados, verificada pela
dicotômica relação entre o
enriquecimento dos meios
te
cnológicos e o empobrecimento de
valores humanos, constata
116
Diante da multiplicação de situações
trazidas pelas novas tecnologias, muda
radicalmente a técnica legislativa, valendo
o legislador de inúmeras cláusulas gerais
quais permitem ao intérprete amolda às
previsões normativas às peculiarid
caso concreto -
, e os princípios, dotados de
força normativa, tornam-
se fundamentais para
determinação dos ordenamentos aplicáveis
aos casos concretos, cada vez mais inusitados
(TEPEDINO, 2009, p. 17)
.
202
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
mostram merecedores de tutela se
devidamente funcionalizados pelos
elementos principiológicos inerentes à
tábua axiológica constitucional, tais
como o respeito à vida privada, à
individualidade e à autodeterminação.
s indivíduos detêm o direito de
participar da era virtual, de forma
segura e protetiva, porquanto, as
palavras “pessoas” e “dados” são
redundantes, cuja tutela de uma
resulta no intrínseco respeito à
Considerações finais
O presente trabalho busc
ou
realizar uma análise do atual sistema
de controle de dados pessoais do
governo chinês, o
SCS, à luz da
metodologia civil constitucional.
Em vista à atual conjectura da
era dos dados, verificada pela
dicotômica relação entre o
enriquecimento dos meios
cnológicos e o empobrecimento de
valores humanos, constata
-se o franco
Diante da multiplicação de situações
trazidas pelas novas tecnologias, muda
-se
radicalmente a técnica legislativa, valendo
-se
o legislador de inúmeras cláusulas gerais
- as
quais permitem ao intérprete amolda às
previsões normativas às peculiarid
ades do
, e os princípios, dotados de
se fundamentais para
determinação dos ordenamentos aplicáveis
aos casos concretos, cada vez mais inusitados
.
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
desenvolvimento de sistemas privados
e públicos invasivos à privacidade e à
autodeterminação informativa. Em
países de baixa ou recente
democracia, infere-
se que a cultura de
vigilância
existentes se tornam
otimizados à adoção de medidas ainda
mais latentes e invasivas.
Nesse viés, os mecanismos de
vigilância e controle de dados,
formalmente instaurados na China (por
meio do SCS
) e identificados em
recentes medidas do Poder Executivo
Federal (por meio de leis, decretos e
medidas provisórias) no Brasil,
revelam-
se inconcebíveis sob o prisma
existencial da pessoa humana, cuja
não observância de sua dignidade não
faz jus às vagas justificativas de
construção de integridade ou
confiabilid
ade nos respectivos âmbitos
nacionais. Não se nega, entretanto,
que a realidade chinesa é
extremamente agravada pela falta de
garantias e de liberdades, marcada
pelo regime totalitário, no qual vigora o
sistema único de filiação política
quase um século
. O sistema de crédito
social é, de fato, a transfiguração
coercitiva à era digital.
Este mecanismo, denominado
Social Credit System
, ainda se
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
desenvolvimento de sistemas privados
e públicos invasivos à privacidade e à
autodeterminação informativa. Em
países de baixa ou recente
se que a cultura de
existentes se tornam
otimizados à adoção de medidas ainda
Nesse viés, os mecanismos de
vigilância e controle de dados,
formalmente instaurados na China (por
) e identificados em
recentes medidas do Poder Executivo
Federal (por meio de leis, decretos e
medidas provisórias) no Brasil,
se inconcebíveis sob o prisma
existencial da pessoa humana, cuja
não observância de sua dignidade não
faz jus às vagas justificativas de
construção de integridade ou
ade nos respectivos âmbitos
nacionais. Não se nega, entretanto,
que a realidade chinesa é
extremamente agravada pela falta de
garantias e de liberdades, marcada
pelo regime totalitário, no qual vigora o
sistema único de filiação política
. O sistema de crédito
social é, de fato, a transfiguração
Este mecanismo, denominado
, ainda se
encontra em estágio inicial, gerando
uma série de imprecisões quanto às
suas finalidades. Ainda assim, é
possível
identificar três pontos
nevrálgicos de sua funcionalidade
sistêmica. Primeiramente, um
massivo compartilhamento de dados,
compilados a uma base central. A
seguir, tem-
se as subjetivas avaliações
sociocomportamentais de indivíduos,
de modo a classificá
dicotômicas listas, boas e ruins. Por
fim, consoante as rotulações
estabelecidas nas listas, aplicam
instrumentos de punições e
recompensas, regulando a efetiva
participação e acesso de indivíduos à
cidadania. O sistema se retroalimenta
por co
nstantes coletas e
requalificações dos dados, angariados
sem quaisquer consentimentos, de
forma aleatória e difusa. Subsiste
uma temerária tentativa chinesa em
definir conceitos obscuros de boa
cidadania. Como resultado, tem
uma sociedade de desemp
voltada à autoexploração dos
indivíduos.
Partindo-
se para análise do
contexto nacional, reconhece
existência do escore de crédito, em
que as pontuações individuais se
203
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
encontra em estágio inicial, gerando
uma série de imprecisões quanto às
suas finalidades. Ainda assim, é
identificar três pontos
nevrálgicos de sua funcionalidade
sistêmica. Primeiramente, um
massivo compartilhamento de dados,
compilados a uma base central. A
se as subjetivas avaliações
sociocomportamentais de indivíduos,
de modo a classificá
-los em
dicotômicas listas, boas e ruins. Por
fim, consoante as rotulações
estabelecidas nas listas, aplicam
-se os
instrumentos de punições e
recompensas, regulando a efetiva
participação e acesso de indivíduos à
cidadania. O sistema se retroalimenta
nstantes coletas e
requalificações dos dados, angariados
sem quaisquer consentimentos, de
forma aleatória e difusa. Subsiste
-se
uma temerária tentativa chinesa em
definir conceitos obscuros de boa
cidadania. Como resultado, tem
-se a
uma sociedade de desemp
enho
voltada à autoexploração dos
se para análise do
contexto nacional, reconhece
-se a
existência do escore de crédito, em
que as pontuações individuais se
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
limitam às relações consumeristas,
encontrando freios em importantes
movimentos
regulatórios como a Lei
do Cadastro Positivo e a Lei Geral de
Proteção de Dados. Ainda assim,
constata-
se uma forte cultura de
desvalorização dos dados pessoais,
sobretudo, sob seu viés existencial.
Tal fato é corroborado pelas diversas
medidas promovidas
pela atual gestão
do Governo Federal, em perigosas
relativizações do uso e tratamento de
dados pessoais coletados por
entidades blicas, permitindo
coletas, inclusive, de dados pessoais
sensíveis, genéticos e biológicos.
Destaca-
se a urgência da
cons
trução de um componente ético
norteador do desenvolvimento e
utilização desses meios tecnológicos,
de forma a assegurar o valor da
dignidade da pessoa humana e os
direitos fundamentais nos
ciberespaços. O desenvolvimento
tecnológico não será interrompido e
qualquer tentativa nesse sentido seria
inócua e em total descompasso com
um cenário social existente e
prevalente. Por outro lado, se torna
imprescindível a adoção de um
elemento ético no desenvolvimento
tecnológico e algorítmico. O desafio
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
limitam às relações consumeristas,
encontrando freios em importantes
regulatórios como a Lei
do Cadastro Positivo e a Lei Geral de
Proteção de Dados. Ainda assim,
se uma forte cultura de
desvalorização dos dados pessoais,
sobretudo, sob seu viés existencial.
Tal fato é corroborado pelas diversas
pela atual gestão
do Governo Federal, em perigosas
relativizações do uso e tratamento de
dados pessoais coletados por
entidades blicas, permitindo
-se
coletas, inclusive, de dados pessoais
sensíveis, genéticos e biológicos.
se a urgência da
trução de um componente ético
norteador do desenvolvimento e
utilização desses meios tecnológicos,
de forma a assegurar o valor da
dignidade da pessoa humana e os
direitos fundamentais nos
ciberespaços. O desenvolvimento
tecnológico não será interrompido e
qualquer tentativa nesse sentido seria
inócua e em total descompasso com
um cenário social existente e
prevalente. Por outro lado, se torna
imprescindível a adoção de um
elemento ético no desenvolvimento
tecnológico e algorítmico. O desafio
posto à civ
ilização humana mostra,
dentre outras questões, a
conscientização de que “pessoa” e
“dado” são sinônimos e a tutela
protetiva de um impõe o mesmo dever
sobre o outro.
Consoante tais preconizações
básicas, chega-
se ao fim desta
análise, sem a pretensão de e
debate. Considera-
se um avanço em si
mesmo a oportunidade de agregar
alguma reflexão a tema tão urgente e
de importância sem precedentes.
Ressalta-
se a necessidade de buscar
uma atenta percepção das
formulações jurídicas e políticas no
que tange a
o tema do uso dos dados,
bem como das demais contribuições
acadêmicas provenientes das mais
variadas áreas, com o objetivo de
alcançar mais esclarecimento e
informação. Este será dentre outros
temas, como as mudanças climáticas
e as pandemias como o COVID
um dos maiores desafios a serem
enfrentados pela comunidade mundial.
Adota-
se um viés otimista de se ter,
ainda, o acesso à discussão, posto
que, em futuro próximo, arrisca
ser afirmado que “com exceção dos
poucos centímetros que cada um
possuía d
entro do crânio, ninguém
204
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
ilização humana mostra,
dentre outras questões, a
conscientização de que “pessoa” e
“dado” são sinônimos e a tutela
protetiva de um impõe o mesmo dever
Consoante tais preconizações
se ao fim desta
análise, sem a pretensão de e
sgotar o
se um avanço em si
mesmo a oportunidade de agregar
alguma reflexão a tema tão urgente e
de importância sem precedentes.
se a necessidade de buscar
uma atenta percepção das
formulações jurídicas e políticas no
o tema do uso dos dados,
bem como das demais contribuições
acadêmicas provenientes das mais
variadas áreas, com o objetivo de
alcançar mais esclarecimento e
informação. Este será dentre outros
temas, como as mudanças climáticas
e as pandemias como o COVID
-19,
um dos maiores desafios a serem
enfrentados pela comunidade mundial.
se um viés otimista de se ter,
ainda, o acesso à discussão, posto
que, em futuro próximo, arrisca
-se a
ser afirmado que “com exceção dos
poucos centímetros que cada um
entro do crânio, ninguém
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
tinha nada de seu” (ORWELL, 2009, p.
35).
Referências bibliográficas
ABACUS. China’s super-
app We Chat
now let’s flyers pay offline on flights
Disponível em: scmp.com/tech/big
tech/article/3029501/chinas
wechat-now-lets-flyers-pay
-
flights. Acesso: nov. 2019.
ADALMA, Zigor.
Surgirá uma
inteligência maior do que a humana?
Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/07/
29/tecnologia/1564354846_969018.ht
ml. Acesso: nov. 2019.
AHMED, Shazeda.
The Messy Truth
About Social Credit.
Disponível em:
https://logicmag.io/china/the
truth-about-social-credit/.
Acesso: out.
2019.
ALECCI, Scilla.
How China Targets
Uighurs ‘One By One Fo
Mobile App.
Disponível em:
https://www.icij.org/investigations/china
-cables/how-china-targets-
uighurs
by-one-for-using-a-mobile-
app/
Acesso: nov. 2019.
ALLEN-
EBRAHIMIAN, Bethany.
Exposed
: China’s Operating Manuals
For Mass Internment And Arrest By
Algorithm.
Disponível em:
https://www.icij.org/investigations/china
-cables/exposed-chinas-
operating
manuals-for-mass-
internment
arrest-by-algorithm/.
Acesso: nov.
2019.
ANISTIA INTERNACIONAL.
Surveillance giants
: how the business
model of Google and Facebook
threatens human rights.
Disponível em:
https://www.amnesty.org/en/document
s/pol30/1404/2019/en/.
Acesso: nov.
2019.
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
tinha nada de seu” (ORWELL, 2009, p.
Referências bibliográficas
app We Chat
now let’s flyers pay offline on flights
.
Disponível em: scmp.com/tech/big
-
tech/article/3029501/chinas
-super-app-
-
offline-
Surgirá uma
inteligência maior do que a humana?
Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/07/
29/tecnologia/1564354846_969018.ht
The Messy Truth
Disponível em:
https://logicmag.io/china/the
-messy-
Acesso: out.
How China Targets
Uighurs ‘One By One Fo
r Using A
Disponível em:
https://www.icij.org/investigations/china
uighurs
-one-
app/
.
EBRAHIMIAN, Bethany.
: China’s Operating Manuals
For Mass Internment And Arrest By
Disponível em:
https://www.icij.org/investigations/china
operating
-
internment
-and-
Acesso: nov.
ANISTIA INTERNACIONAL.
: how the business
model of Google and Facebook
Disponível em:
https://www.amnesty.org/en/document
Acesso: nov.
ASIAPEDIA. Cyber-
security law of the
People´s Republic of China
em:
https://www.dezshira.com/library/legal/
cyber-security-law-
china
Acesso: nov. 2019.
BANCO MUNDIAL.
Population, total
China
. Disponível em:
https://data.worldbank.org/indicator/SP
.POP.TOTL?locations=CN
abr. 2020.
BBC BRASIL.
70 anos da Revolução
na China:
Como o Partido Comunista
controla o país
. Disponível em:
bbc.com/portuguese/internacional
49890359. Acesso: out. 2019.
BBC BRASIL.
Entenda o escândalo de
uso político de dados que derrubou
valor do Facebook e o colocou na mira
de autoridades
. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/intern
acional-43461751
. Acesso: out. 2019.
BBC BRASIL.
Os documentos
secretos que revelam lavagem
cerebral de presos de minoria étnica
na China
. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/intern
acional-50543654
. Acesso: abr. 2020.
BEZERRA, Arthur Coelho.
do Grande Irmão no admirável espelho
novo de Black Mirr
or
Sérgio; TEFFÉ, Chiara Spadaccini de
(orgs.).
Privacidade em Perspectiva
Rio de Janeiro: Lumens Juris: 2018.
BODIN DE MORAES, Maria Celina.
Danos à pessoa humana
civil-
constitucional dos danos morais.
Rio de Janeiro: Renovar,
BODIN DE MORAES, Maria Celina.
Na medida da pessoa humana
estudos de direito civil
Rio de Janeiro: Renovar, 2010.
BORAK, Masha.
China isusing social
credit apps to ‘gamify
205
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
security law of the
People´s Republic of China
. Disponível
https://www.dezshira.com/library/legal/
china
-8013.html.
Population, total
-
. Disponível em:
https://data.worldbank.org/indicator/SP
.POP.TOTL?locations=CN
. Acesso:
70 anos da Revolução
Como o Partido Comunista
. Disponível em:
bbc.com/portuguese/internacional
-
49890359. Acesso: out. 2019.
Entenda o escândalo de
uso político de dados que derrubou
valor do Facebook e o colocou na mira
. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/intern
. Acesso: out. 2019.
Os documentos
secretos que revelam lavagem
cerebral de presos de minoria étnica
. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/intern
. Acesso: abr. 2020.
BEZERRA, Arthur Coelho.
Os reflexos
do Grande Irmão no admirável espelho
or
. In: BRANCO,
Sérgio; TEFFÉ, Chiara Spadaccini de
Privacidade em Perspectiva
.
Rio de Janeiro: Lumens Juris: 2018.
BODIN DE MORAES, Maria Celina.
Danos à pessoa humana
: uma leitura
constitucional dos danos morais.
Rio de Janeiro: Renovar,
2003.
BODIN DE MORAES, Maria Celina.
Na medida da pessoa humana
:
estudos de direito civil
-constitucional.
Rio de Janeiro: Renovar, 2010.
China isusing social
credit apps to ‘gamify
government’.
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
Disponível em:
https://www.abacusnews.com/tech/chi
na-using-social-credit-apps
government/article/3033202
nov. 2019.
BRASIL.
Constituição da República
Federativa do Brasil de 198
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/co
nstituicao/constituicao.htm
. Acesso:
out. 2019.
BRASIL.
Decreto 10.046 de 09 de
outubro de 2019.
Dispõe sobre a
governança no compartilhamento de
dados no âmbito da administração
pública federal e institui o Cadastro
Base do Cidadão e o Comitê Central
de Governança de Dados
. Disponível
em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at
o2019-
2022/2019/decreto/D10046.htm
Acesso: nov. 2019.
BRASIL.
Decreto 10.047 de 09 de
outubro de 2019.
Dispõe sobre a
governança do Cadastro Nacional de
Informações Sociais e institui o
programa Obser
vatório de Previdência
e Informações, no âmbito do Cadastro
Nacional de Informações Sociais
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at
o2019-
2022/2019/dec
reto/D10047.htm
Acesso: nov. 2019.
BRASIL.
Lei 12.414 de 09 de junho
de 2011.
Disciplina a formação e
consulta a bancos de dados com
informações de adimplemento, de
pessoas naturais ou de pessoas
jurídicas, para formação de histórico
de crédito. Dispon
ível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at
o2011-
2014/2011/lei/l12414.htm
Acesso: out. 2019.
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
Disponível em:
https://www.abacusnews.com/tech/chi
-gamify-
government/article/3033202
. Acesso:
Constituição da República
Federativa do Brasil de 198
8.
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/co
. Acesso:
Decreto 10.046 de 09 de
Dispõe sobre a
governança no compartilhamento de
dados no âmbito da administração
pública federal e institui o Cadastro
Base do Cidadão e o Comitê Central
. Disponível
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at
2022/2019/decreto/D10046.htm
.
Decreto 10.047 de 09 de
Dispõe sobre a
governança do Cadastro Nacional de
Informações Sociais e institui o
vatório de Previdência
e Informações, no âmbito do Cadastro
Nacional de Informações Sociais
.
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at
reto/D10047.htm
.
Lei 12.414 de 09 de junho
Disciplina a formação e
consulta a bancos de dados com
informações de adimplemento, de
pessoas naturais ou de pessoas
jurídicas, para formação de histórico
ível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at
2014/2011/lei/l12414.htm
.
BRASIL. Lei 13.709 de 14 de
agosto de 2018
. Lei Geral de Proteção
de
Dados Pessoais (LGPD)
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at
o2015-
2018/2018/lei/L13709.htm
Acesso: out. 2019.
BRASIL.
Lei 13.797 de 06 de
fevereiro de 2020.
Dispõe sobre as
medidas para enfrentamento da
emergência de saúde pública de
importância internacional decorrente
do coronavírus responsável pelo surto
de 2019
. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at
o2019-
2022/2020/lei/L13979.htm
Acesso: abr. 2020.
BRASIL.
Lei 13.964 de 24 de
dezembro de 2019
legislação penal e processual penal
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
o2019-
2022/2019/lei/L13964.htm.
Acesso: fev. 2020.
BRASIL.
Lei 13.965 de 23 de abril
de 2014.
Estabelece princípios,
garantias, direitos e deveres para o
uso da Internet no Brasil
em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at
o2011-
2014/2014/lei/l12965.htm
Acesso: out. 2019.
BRASIL.
Lei 8.078 de 11 de
setembro de 1990
.
proteção do consumidor e dá outras
providências
. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis
/l8078.htm
. Acesso: abr
BRASIL.
Medida Provisória 954 de
17 de abril de 2020
.
compartilhamento de dados por
empresas de teleco
prestadoras de Serviço Telefônico Fixo
Comutado e de Serviço Móvel Pessoal
com a Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, para fins de
206
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
BRASIL. Lei 13.709 de 14 de
. Lei Geral de Proteção
Dados Pessoais (LGPD)
.
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at
2018/2018/lei/L13709.htm
.
Lei 13.797 de 06 de
Dispõe sobre as
medidas para enfrentamento da
emergência de saúde pública de
importância internacional decorrente
do coronavírus responsável pelo surto
. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at
2022/2020/lei/L13979.htm
.
Lei 13.964 de 24 de
dezembro de 2019
. Aperfeiçoa a
legislação penal e processual penal
.
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
_at
2022/2019/lei/L13964.htm.
Lei 13.965 de 23 de abril
Estabelece princípios,
garantias, direitos e deveres para o
uso da Internet no Brasil
. Disponível
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at
2014/2014/lei/l12965.htm
.
Lei 8.078 de 11 de
.
Dispõe sobre a
proteção do consumidor e dá outras
. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis
. Acesso: abr
. 2020.
Medida Provisória 954 de
.
Dispõe sobre o
compartilhamento de dados por
empresas de teleco
municações
prestadoras de Serviço Telefônico Fixo
Comutado e de Serviço Móvel Pessoal
com a Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, para fins de
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
suporte à produção estatística oficial
durante a situação de emergência de
saúde pública de i
internacional decorrente do
coronavírus (covid-
19), de que trata a
Lei 13.979, de 6 de fevereiro de
2020
. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03
_Ato2019-
2022/2020/Mpv/mpv954.htm
abr. 2020.
BRASIL.
Medida Provisória 959 de
29 de abril de 2020.
Estabelece a
operacionalização do pagamento do
Benefício Emergencial de Preservação
do Emprego e da Renda e do
benefício emergencial mensal de q
trata a Medida Provisória 936, de
de abril de 2020, e prorroga a
legis
da Lei nº 13.709, de 14 de agosto
de 2018, que estabelece a Lei Geral
de Proteção de Dados Pessoais
LGPD
. Disponível em:
http://www.in.gov.br/web/dou/
provisoria-n-959-de-29-de-
abril
2020-254499639
. Acesso: abr
BRASIL.
Projeto de Lei Anticrime
Disponível em:
https://www.justica.gov.br/news/collecti
ve-nitf-content-
1549284631.06/projeto
de-lei-anticrime.pdf.
Acesso: nov
2019.
BROOKS, David. The
Philosophy of
Data. Disponível
nytimes.com/2013/02/05/opinion/brook
s-the-philosophy-of-
data.html. Acesso:
nov. 2019.
CAMPBELL, Charlie; CHENGDU.
China Is Using “Social Credit Scores”
to Reward and Punish Its Citizens
Disponível em:
https://time.com/collection/davos
2019/5502592/china-social
-
score/
. Acesso em: outubro, 2019.
CARBINATTO, Bruno.
China está
usando vigilância em
massa para
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
suporte à produção estatística oficial
durante a situação de emergência de
saúde pública de i
mportância
internacional decorrente do
19), de que trata a
Lei 13.979, de 6 de fevereiro de
. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03
/
2022/2020/Mpv/mpv954.htm
. Acesso:
Medida Provisória 959 de
Estabelece a
operacionalização do pagamento do
Benefício Emergencial de Preservação
do Emprego e da Renda e do
benefício emergencial mensal de q
ue
trata a Medida Provisória 936, de
de abril de 2020, e prorroga a
vacatio
da Lei nº 13.709, de 14 de agosto
de 2018, que estabelece a Lei Geral
de Proteção de Dados Pessoais
-
. Disponível em:
http://www.in.gov.br/web/dou/
-/medida-
abril
-de-
. Acesso: abr
. 2020.
Projeto de Lei Anticrime
.
Disponível em:
https://www.justica.gov.br/news/collecti
1549284631.06/projeto
-
Acesso: nov
.
Philosophy of
em:
nytimes.com/2013/02/05/opinion/brook
data.html. Acesso:
CAMPBELL, Charlie; CHENGDU.
How
China Is Using “Social Credit Scores”
to Reward and Punish Its Citizens
.
Disponível em:
https://time.com/collection/davos
-
-
credit-
. Acesso em: outubro, 2019.
China está
massa para
combater
coronavirus
https://super.abril.com.br/tecnologia/chi
na-esta-usando-
tecnologias
vigilancia-em-massa-
para
coronavirus/
. Acesso: abr
CHINA.
Aviso do Conselho de Estado
sobre Impressão e Distribuição do
Esboço da Construção do Sistema de
Crédito Social (2014-
2020)
em:
http://www.gov.cn/zhengce/content/20
14-
06/27/content_8913.htm
set. 2019.
COMITÊ CNICO NACIONAL DE
PADRONIZAÇÃO DE SEGURANÇA
DA INFORMAÇÃO DA CHINA.
Informação de Segura
Tecnologia
(Tradução livre). Disponível
em:
https://www.tc260.org.cn/upload/2018
01-
24/1516799764389090333.pdf
Acesso: nov. 2019.
COMITÊ CNICO NACIONAL DE
PADRONIZAÇÃ
O DE SEGURANÇA
DA INFORMAÇÃO DA CHINA
(TC260).
Especificação de Segurança
de Informações Pessoais
em:
https://www.tc260.org.cn/upload/2018
01-
24/1516799764389090333.pdf
Acesso: out.2019.
CREDIT CHINA.
2019 "Xinhua Credit
Cup" National Credit Case Collection
and Credit Application Scenario
Excellent Micro Video Call for Event
Winning Works Announcement
Dis
ponível em:
https://credit.ankang.gov.cn/web/cont_
2c817d96d2944fb9bc1f85f51183ca6f.h
tml
. Acesso em: novembro, 2019.
CREDIT CHINA.
Credit e
website navigation
. Disponível em:
https://www.creditchina.gov.cn/wangzh
andaohang_newOne/?navPage=15
Acesso: out. 2019.
207
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
coronavirus
. Disponível em:
https://super.abril.com.br/tecnologia/chi
tecnologias
-de-
para
-combater-
. Acesso: abr
. 2020.
Aviso do Conselho de Estado
sobre Impressão e Distribuição do
Esboço da Construção do Sistema de
2020)
. Disponível
http://www.gov.cn/zhengce/content/20
06/27/content_8913.htm
. Acesso:
COMITÊ CNICO NACIONAL DE
PADRONIZAÇÃO DE SEGURANÇA
DA INFORMAÇÃO DA CHINA.
Informação de Segura
nça e
(Tradução livre). Disponível
https://www.tc260.org.cn/upload/2018
-
24/1516799764389090333.pdf
.
COMITÊ CNICO NACIONAL DE
O DE SEGURANÇA
DA INFORMAÇÃO DA CHINA
Especificação de Segurança
de Informações Pessoais
. Disponível
https://www.tc260.org.cn/upload/2018
-
24/1516799764389090333.pdf
.
2019 "Xinhua Credit
Cup" National Credit Case Collection
and Credit Application Scenario
Excellent Micro Video Call for Event
Winning Works Announcement
.
ponível em:
https://credit.ankang.gov.cn/web/cont_
2c817d96d2944fb9bc1f85f51183ca6f.h
. Acesso em: novembro, 2019.
Credit e
-government
. Disponível em:
https://www.creditchina.gov.cn/wangzh
andaohang_newOne/?navPage=15
.
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
CREDIT CHINA.
Nanjing won another
award at the 2019 National
Summit Forum.
Disponível em:
http://www.njcredit.gov.cn/xydt/201909/
t20190927_5959670.html
. Acesso: out
2019.
DE LUCA, Cristina.
Decreto de
Bolsonaro aproxima uso de
dados a países como China
Disponível em:
https://porta23.blogosfera.uol.com.br/2
019/10/13/governo-tem-
noss
mas-nao-deve-trata-los-
como
fosse-o-dono-deles/
. Acesso: out
2019.
DE TEFFÉ, Chiara Spadaccini.
saúde na
sociedade da vigilância
como proteger
os dados sensíveis?
Disponível
https://m.migalhas.com.br/coluna/migal
has-de-
vulnerabilidade/324485/a
saude-na-sociedade-da-
vigilan
como-proteger-os-dados-
sensiveis?fbclid=IwAR2ybqQmoskHgU
8Es62BAiujo9bpOSS_FZLergSljSrSHd
yHaZKYXkppW24
. Acesso: abr
DEBORD, Guy.
A sociedade do
espetáculo: comentários
sociedade do espetáculo. Rio de
Janeiro: Contraponto, 1997.
DOUGLAS, Clifford Hugh.
Power and Democracy
. Londres: Cecil
Palmer, 1921.
ENCCLA. O que é
whistle
Disponível em:
http://enccla.camara.leg.br/noticias/o
que-e-o-whistleblower
. Acesso: out
2019.
EUROPEAN COMISSION
Intelligence:
A European Perspective
Disponível em:
https://ec.europa.eu/jrc/en/publication/
artificial-intelligence-
european
perspective. Acesso: nov.
2019.
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
Nanjing won another
award at the 2019 National
Credit
Disponível em:
http://www.njcredit.gov.cn/xydt/201909/
. Acesso: out
.
Decreto de
Bolsonaro aproxima uso de
nossos
dados a países como China
.
Disponível em:
https://porta23.blogosfera.uol.com.br/2
noss
os-dados-
como
-se-
. Acesso: out
.
DE TEFFÉ, Chiara Spadaccini.
A
sociedade da vigilância
:
os dados sensíveis?
em:
https://m.migalhas.com.br/coluna/migal
vulnerabilidade/324485/a
-
vigilan
cia-
sensiveis?fbclid=IwAR2ybqQmoskHgU
8Es62BAiujo9bpOSS_FZLergSljSrSHd
. Acesso: abr
. 2020.
A sociedade do
sobre a
sociedade do espetáculo. Rio de
Janeiro: Contraponto, 1997.
DOUGLAS, Clifford Hugh.
Credit-
. Londres: Cecil
whistle
blower?
Disponível em:
http://enccla.camara.leg.br/noticias/o
-
. Acesso: out
.
EUROPEAN COMISSION
. Artificial
A European Perspective
.
Disponível em:
https://ec.europa.eu/jrc/en/publication/
european
-
2019.
EVANGELISTA, Rafael
mapeamento coletivo de câmeras de
vigilância como visibilização da
informatização do espaço urbano
BRUNO, Fernanda
Tecnopolíticas da vigilância
Paulo: Boitempo, 2018.
FIGO, Anderson.
Este gráfico mostra
as 100 marcas mais valiosas do
mundo em 2020.
https://www.infomoney.com.br/consum
o/este-grafico-mostra
-
mais-valiosas-do-
mundo
Acesso: abr. 2020.
FOUCAULT, Michel.
Sociedade
. São Paulo: Martins Fontes,
2010.
FOUCAULT, Michel.
nascimento da prisão
Vozes, 1999.
G1.
Entenda o caso de Edward
Snowden, que revelou espionagem
dos EUA
. Disponível em:
http://g1.globo.com/mundo/noticia/201
3/07/entenda-o-caso-
de
snowden-que-
revelou
dos-eua.html
. Acesso: out
GARRIDO, Óscar Gutiérrez; GRASSO,
Daniele.
China usa sua rede de
embaixadas para estender o assédio à
etnia uigur
. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/11/
24/internacional/1574587269_365570.
html. Acesso: nov.
2019.
GOVERNO POPULAR
CENTRAL.
Sobre a implementação de
incentivos co
njuntos para a prática da
honestidade e confiabilidade
orientadoras sobre a aceleração da
construção do sistema de crédito
pessoal
. Disponível em:
http://www.gov.cn/hudong/2019
06/03/5397131/files/e3dc39de555f4fba
a18e6fc3716550c3.pdf
2019.
208
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
EVANGELISTA, Rafael
et al. Dio: o
mapeamento coletivo de câmeras de
vigilância como visibilização da
informatização do espaço urbano
. In:
et al. (orgs.).
Tecnopolíticas da vigilância
. São
Paulo: Boitempo, 2018.
Este gráfico mostra
as 100 marcas mais valiosas do
Disponível em:
https://www.infomoney.com.br/consum
-
as-100-marcas-
mundo
-em-2020/.
FOUCAULT, Michel.
Em Defesa da
. São Paulo: Martins Fontes,
FOUCAULT, Michel.
Vigiar e punir:
nascimento da prisão
. Petrópolis, RJ:
Entenda o caso de Edward
Snowden, que revelou espionagem
. Disponível em:
http://g1.globo.com/mundo/noticia/201
de
-edward-
revelou
-espionagem-
. Acesso: out
. 2019.
GARRIDO, Óscar Gutiérrez; GRASSO,
China usa sua rede de
embaixadas para estender o assédio à
. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/11/
24/internacional/1574587269_365570.
2019.
GOVERNO POPULAR
Sobre a implementação de
njuntos para a prática da
honestidade e confiabilidade
: opiniões
orientadoras sobre a aceleração da
construção do sistema de crédito
. Disponível em:
http://www.gov.cn/hudong/2019
-
06/03/5397131/files/e3dc39de555f4fba
a18e6fc3716550c3.pdf
. Acesso: nov.
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
HAN, Byung-Chul.
Sociedade do
Cansaço. Petrópolis, RJ
: Vozes, 2019.
HARRARI, Yuval.
Homo Deus
Janeiro: Companhia das Letras, 2016.
HARRARI, Yuval.
Uma breve história
da humanidade.
Porto Alegre: L&PM
Editores, 2016.
HBC CREDIT.
Documento do
Gabinete da Comissão Nacional de
Desenvolvimento e
Reforma (tradução
livre)
. Disponível em:
http://www.hbcredit.gov.cn/xyjs/tzgg/20
1608/P020160812332922961444.pdf
Acesso: nov. 2019.
HELDER.
Os 5 Vs do Big Data
Disponí
vel em:
https://culturaanalitica.com.br/os
big-data. Acesso: out.
2019.
HORNBY, Lucy.
China changes tack
on ‘social credit’ scheme plan
Disponível em:
https://www.ft.com/content/f772a9ce
60c4-11e7-91a7-
502f7ee26895
Acesso: out. 2019.
HOUSER, Kristin.
Report
Has a Social Credit System Much Like
China’s.
Disponível em:
https://futurism.com/america
credit-system-china.
Acesso: set
2019.
INSTITUTO BRASILEIRO DE
CIÊNCIAS CRIMINAIS.
Nota técnica
sobre Pacote Anticrime
: comentários
do Instituto Brasileiro de Ciências
Criminais (IBCCRIM) sobre o Pacote
Anticrime (PL
882/2019 e PL
1.864/2019)
. Disponível em:
http://ibccrim.org.br/media/documentos
/doc-31-03-2020-20-54-01-
570213.pdf
Acesso: abr. 2020.
INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
Projeção da população do Brasil e das
Unidades da Federação
. Disponível
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
Sociedade do
: Vozes, 2019.
Homo Deus
. Rio de
Janeiro: Companhia das Letras, 2016.
Uma breve história
Porto Alegre: L&PM
Documento do
Gabinete da Comissão Nacional de
Reforma (tradução
. Disponível em:
http://www.hbcredit.gov.cn/xyjs/tzgg/20
1608/P020160812332922961444.pdf
.
Os 5 Vs do Big Data
.
vel em:
https://culturaanalitica.com.br/os
-5-vs-
2019.
China changes tack
on ‘social credit’ scheme plan
.
Disponível em:
https://www.ft.com/content/f772a9ce
-
502f7ee26895
.
Report
: America
Has a Social Credit System Much Like
Disponível em:
https://futurism.com/america
-social-
Acesso: set
.
INSTITUTO BRASILEIRO DE
Nota técnica
: comentários
do Instituto Brasileiro de Ciências
Criminais (IBCCRIM) sobre o Pacote
882/2019 e PL
. Disponível em:
http://ibccrim.org.br/media/documentos
570213.pdf
.
INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
Projeção da população do Brasil e das
. Disponível
em:
https://www.ibge.gov.br/apps/populaca
o/projecao/
. Acesso: out
KELSEN, Hans.
Teoria Pura do
Direito.
São Paulo: Martins Fontes,
1999.
KISSINGER, Henry.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
LEWIS, Dev.
All Carrots and No Sticks:
A Case Study on Social Credit Scores
in Xiamen and Fuzhou
https://medium.com/berkman
center/social-credit-
case
citizen-scores-in-
xiamen
2a65feb2bbb3. Ac
esso: nov
MA, Alexandra.
China reportedly made
an app to show people if they're
standing near someone in debt
new part of its intrusive 'social credit'
policy.
Disponível em:
https://www.businessinsider.com/china
-app-shows-map-of-
people
social-credit-system-
report
Acesso: nov. 2019.
MAI
A, Roberta Mauro Medina.
nas nuvens: dados pessoais são
objeto de propriedade?
Gustavo;
MENEZES, Joyceane
Bezerra de (c
oord.).
privada, liberdade existencial e direitos
fundamentais.
Belo Horizonte: Fórum,
2019.
MARR, Bernard.
Chinese Social Credit
Score:
Utopian Big Data Bliss Or Black
Mirror On Steroids?
https://www.forbes.com/sites/bernardm
arr/2019/01/21/chinese
score-utopian-big-
data
mirror-on-
steroids/#66741c2148b8
Acesso: out. 2019.
MATSAKIS, Louise.
How the West Got
China's Social Credit System Wrong
Disponível em:
https://www.wired.com/story/china
209
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
https://www.ibge.gov.br/apps/populaca
. Acesso: out
. 2019.
Teoria Pura do
São Paulo: Martins Fontes,
KISSINGER, Henry.
Sobre a China.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
All Carrots and No Sticks:
A Case Study on Social Credit Scores
in Xiamen and Fuzhou
. Disponível em:
https://medium.com/berkman
-klein-
case
-study-city-
xiamen
-and-fuzhou-
esso: nov
.2019.
China reportedly made
an app to show people if they're
standing near someone in debt
a
new part of its intrusive 'social credit'
Disponível em:
https://www.businessinsider.com/china
people
-in-debt-for-
report
-2019-1.
A, Roberta Mauro Medina.
Vivendo
nas nuvens: dados pessoais são
objeto de propriedade?
In: TEPEDINO,
MENEZES, Joyceane
oord.).
Autonomia
privada, liberdade existencial e direitos
Belo Horizonte: Fórum,
Chinese Social Credit
Utopian Big Data Bliss Or Black
Mirror On Steroids?
Disponível em:
https://www.forbes.com/sites/bernardm
arr/2019/01/21/chinese
-social-credit-
data
-bliss-or-black-
steroids/#66741c2148b8
.
How the West Got
China's Social Credit System Wrong
.
Disponível em:
https://www.wired.com/story/china
-
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
social-credit-score-system/
. Acesso
out. 2019.
MATSUURA, Sérgio.
reproduzem machismo e racismo por
se basearem em p
discriminatórias dos humanos
Disponível em:
https://oglobo.globo.com/economia/alg
oritmos-reproduzem-
machismo
racismo-por-se-basearem-
em
discriminatorias-dos-
humanos
24085081. Acesso: nov.
2019.
MCDONALD, Joe.
China bars
from
travel for ‘social credit’ offenses
Disponível em:
https://apnews.com/9d43f4b74260411
797043ddd391c13d8
. Acesso: mar
2020.
MEISSNER, Mirjam.
China’s Social
Credit System: a big-
data enabled
approach to market regulation with
broad implications
for doing business
in China.
Disponível em:
https://www.merics.org/sites/default/file
s/2017-
09/China%20Monitor_39_SOCS_EN.p
df. Acesso: out. 2019.
MIGALHAS. STF:
Associação de
defensores públicos questiona
dispositivos do pacote anticrime
Disponível em:
https://www.migalhas
.com.br/quentes/
323707/stf-associacao-de-
defensores
publicos-questiona-
dispositivos
pacote-anticrime
. Acesso: abr
MINISTÉRIO DA ECONOMIA.
Cadastro base facilitará acesso dos
cidadãos a serviços públicos federais
Disponível em:
http://www.economia.gov.br/noticias/20
19/10/cadastro-base-
facilitara
dos-cidadaos-a-servicos-
publicos
federais. Acesso: nov.
2019.
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E
SEGURANÇA PÚBLICA.
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
. Acesso
:
Algoritmos
reproduzem machismo e racismo por
se basearem em p
ráticas
discriminatórias dos humanos
.
Disponível em:
https://oglobo.globo.com/economia/alg
machismo
-
em
-praticas-
humanos
-
2019.
China bars
millions
travel for ‘social credit’ offenses
.
Disponível em:
https://apnews.com/9d43f4b74260411
. Acesso: mar
.
China’s Social
data enabled
approach to market regulation with
for doing business
Disponível em:
https://www.merics.org/sites/default/file
09/China%20Monitor_39_SOCS_EN.p
Associação de
defensores públicos questiona
dispositivos do pacote anticrime
.
Disponível em:
.com.br/quentes/
defensores
-
dispositivos
-do-
. Acesso: abr
. 2020.
MINISTÉRIO DA ECONOMIA.
Cadastro base facilitará acesso dos
cidadãos a serviços públicos federais
.
Disponível em:
http://www.economia.gov.br/noticias/20
facilitara
-acesso-
publicos
-
2019.
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E
SEGURANÇA PÚBLICA.
Governo
Federal lança campanha publicitária
do Pacote Anticrime
https://www.justica.gov.br/news/collecti
ve-nitf-content-
1570111509.73
Acesso: nov. 2019.
MOSHER, Steve.
China’s new ‘social
credit system’ is a dystopian
nightmare. D
isponível em:
https://nypost.com/2019/05/18/chinas
new-social-credit-
system
1984-into-reality/.
Acesso
MOZUR, Paul;
ZHONG, Raymond;
KROLIK, Aaron.
In Coronavirus Fight,
China Gives Citizens a Color Code,
With Red Flags
.
https://www.nytimes.com/2020/03/01/b
usiness/china-
coronavirus
surveillance.html
. Acesso: mar
MULHOLLAND, Caitlin.
pessoa humana e tecnologias: a
Internet das coisas e a proteção do
direito à privacidade
JR, Eroulths; EHRHARDT JR, Marcos;
(orgs.).
Transformações no
Privado nos 30 anos da Constituição
estudos em homenagem a Luiz Edson
Fachin. Belo Horizonte: Forum, 2019.
MY NANJING
. Disponível em:
http://www.mynj.cn/
. Acesso em: nov
2019.
NATIONAL ENTERPRISE CREDIT
INFORMATION PUBLICITY SYSTEM,
Disponível em:
http://www.gsxt.gov.cn/index.html
Acesso: nov. 2019.
O’NEIL, Cathy.
Weapons of Math
Destruction
. Portland: Broadway
Books, 2017.
ORENSTEIN, José.
Por que o mundo
nunca esteve tão bem, segundo dados
deste pesquisador alemão
em:
htt
ps://www.nexojornal.com.br/express
o/2017/05/29/Por-
que
esteve-t%C3%A3o-
bem
210
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
Federal lança campanha publicitária
do Pacote Anticrime
. Disponível em:
https://www.justica.gov.br/news/collecti
1570111509.73
.
China’s new ‘social
credit system’ is a dystopian
isponível em:
https://nypost.com/2019/05/18/chinas
-
system
-turns-orwells-
Acesso
: out. 2019.
ZHONG, Raymond;
In Coronavirus Fight,
China Gives Citizens a Color Code,
.
Disponível em:
https://www.nytimes.com/2020/03/01/b
coronavirus
-
. Acesso: mar
. 2020.
MULHOLLAND, Caitlin.
Mercado,
pessoa humana e tecnologias: a
Internet das coisas e a proteção do
. In: CORTIANO
JR, Eroulths; EHRHARDT JR, Marcos;
Transformações no
Direito
Privado nos 30 anos da Constituição
:
estudos em homenagem a Luiz Edson
Fachin. Belo Horizonte: Forum, 2019.
. Disponível em:
. Acesso em: nov
.
NATIONAL ENTERPRISE CREDIT
INFORMATION PUBLICITY SYSTEM,
Disponível em:
http://www.gsxt.gov.cn/index.html
.
Weapons of Math
. Portland: Broadway
Por que o mundo
nunca esteve tão bem, segundo dados
deste pesquisador alemão
. Disponível
ps://www.nexojornal.com.br/express
que
-o-mundo-nunca-
bem
-segundo-
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
dados-deste-pesquisador-
alem%C3%A3o. Acesso:
out
ORWELL, George.
1984
Janeiro: Companhia das Letras, 2009.
PASQUALE, Frank.
The Black Society:
the secret algorithms that control
money and information
. Cambridge:
Harvard University Press, 2015.
PEOPLE’S REPUBLIC OF CHINA.
Main Functions of the NDRC.
Disponível em:
http://en.ndrc.gov.cn/
Acesso: outubro, 2019.
POHLMANN, Markus.
George Orwell
na China
: digitalização como meio de
controle social total. Disponível em:
https://www.jota.info/opiniao
analise/artigos/george-
orwell
digitalizacao-como-meio-
de
social-total-07102019.
Acesso: out
2019.
RAMZY, Austin; BUCKLEY, Chris.
‘Absolutely No Mercy’:
Leaked Files
Expose How China Organized Mass
Detentions of Muslims.
Disponível em:
https://www.nytimes.com/interactive/20
19/11/16/world/asia/china-
xinjiang
documents.html.
Acesso: nov
REISINGER, Don.
China Banned 23
Million People From Traveling Last
Year for Poor ‘Social Credit’ Scores
Disponível em:
https://fortune.com/2019/02/22/china
social-credit-travel-ban/
. Acesso: mar
2020.
RFI.
China chega à fase final de
sistema de avaliação de cidadãos e
preocupa Ocidente
. Disponível em:
http://www.rfi.fr/br/mundo/20200102
em-2020-china-termina-de
-
sistema-de-
cr%C3%A9ditos
assusta-ocidente
. Acesso: mar
RODOTÀ, Stefano.
A vida na
sociedade da vigilância
: a privacidade
hoje. [
Organização, seleção e
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
out
. 2019.
1984
. Rio de
Janeiro: Companhia das Letras, 2009.
The Black Society:
the secret algorithms that control
. Cambridge:
Harvard University Press, 2015.
PEOPLE’S REPUBLIC OF CHINA.
Main Functions of the NDRC.
http://en.ndrc.gov.cn/
.
George Orwell
: digitalização como meio de
controle social total. Disponível em:
https://www.jota.info/opiniao
-e-
orwell
-na-china-
de
-controle-
Acesso: out
.
RAMZY, Austin; BUCKLEY, Chris.
Leaked Files
Expose How China Organized Mass
Disponível em:
https://www.nytimes.com/interactive/20
xinjiang
-
Acesso: nov
. 2019.
China Banned 23
Million People From Traveling Last
Year for Poor ‘Social Credit’ Scores
.
Disponível em:
https://fortune.com/2019/02/22/china
-
. Acesso: mar
.
China chega à fase final de
sistema de avaliação de cidadãos e
. Disponível em:
http://www.rfi.fr/br/mundo/20200102
-
-
testar-seu-
cr%C3%A9ditos
-sociais-e-
. Acesso: mar
. 2020.
A vida na
: a privacidade
Organização, seleção e
apresentação de
Maria Celina Bodin
de Moraes. Tradução: Danilo Doneda
e Luciana Cabral Doneda
Janeiro: Renovar, 2008.
RODOTÀ, Stefano. Autodeterminação
e laicidade.
Revista Brasileira de
Direito Civil -
RBDCivil, Belo Horizonte,
2018. Disponível em:
https://heinonline.org/HOL/LandingPag
e?handle=hein.journals/rvbsdirec17&di
v=10&id=&page=
. Acesso: out
RODOTÀ, Stefano. Transformações
do Corpo. R
evista Trimestral de Direito
Civil, Rio de Janeiro
,
2004.
ROMANI, Bruno.
Uso de dados de
localização no combate à covid
pode ameaçar privacidade
em:
https://link.estadao.com.br/noticias/cult
ura-digital,uso-de-
dados
localizacao-no-
combate
pode-ameacar-
privacidade,70003268063
abr. 2020.
SCHAEFER, Kendra.
apps of China’s social credit system
Disponível em:
http://ub.triviumchina.com/2019/10/lon
g-read-the-apps-of-
chinas
credit-system/
. Acesso: out
SENADO FEDERAL.
conclui análise de vetos sobre
proteção de dados
. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/m
aterias/2019/10/02/congresso
analise-de-vetos-
sobre
dados. Acesso: nov.
2019.
SENADO FEDERAL.
1179, de 2020.
https://www25.senado.leg.br/web/ativid
ade/materias/-
/materia/141306
Acesso: abr. 2020.
SHENG, Wei.
One year after GDPR,
China strengthens personal data
211
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
Maria Celina Bodin
de Moraes. Tradução: Danilo Doneda
e Luciana Cabral Doneda
] Rio de
Janeiro: Renovar, 2008.
RODOTÀ, Stefano. Autodeterminação
Revista Brasileira de
RBDCivil, Belo Horizonte,
2018. Disponível em:
https://heinonline.org/HOL/LandingPag
e?handle=hein.journals/rvbsdirec17&di
. Acesso: out
. 2019.
RODOTÀ, Stefano. Transformações
evista Trimestral de Direito
,
vol. 19, jul.-set.
Uso de dados de
localização no combate à covid
-19
pode ameaçar privacidade
. Disponível
https://link.estadao.com.br/noticias/cult
dados
-de-
combate
-a-covid-19-
privacidade,70003268063
. Acesso:
SCHAEFER, Kendra.
[Long read] The
apps of China’s social credit system
.
Disponível em:
http://ub.triviumchina.com/2019/10/lon
chinas
-social-
. Acesso: out
. 2019.
SENADO FEDERAL.
Congresso
conclui análise de vetos sobre
. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/m
aterias/2019/10/02/congresso
-conclui-
sobre
-protecao-de-
2019.
SENADO FEDERAL.
Projeto de Lei
Disponível em:
https://www25.senado.leg.br/web/ativid
/materia/141306
.
One year after GDPR,
China strengthens personal data
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
regulations, welcoming dedicated law
Disponível em:
https://technode.com/2019/06/19/chin
data-protections-law/
. Acesso: nov
2019.
SHIEL, Fergus; CHAVKIN, Sasha.
China Cables:
Who Are The Uighurs
And Why Mass Detention?
em:
https://www.icij.org/investiga
-cables/china-cables-who-
are
uighurs-and-why-mass-
detention/
Acesso: nov. 2019.
SNOWDEN, Edward.
Eterna vigilância
São Paulo: Planeta, 2019.
SOCIAL CREDIT WATCH.
credit isn’t
. Disponívelem:
http://socialcredit.triviumchina.com/wha
t-is-social-credit/what-
social
isnt/. Acesso: nov. 2019.
SOLON, Olivia.
Sorry, Y’All
Humanity’s
Nearingan
toIrrelevance.
Disponível em:
https://www.wired.com/2017/02/yuval
harari-tech-is-the-new-
religion/
Acesso: nov. 2019.
SOPRANA, Paula.
PSDB, PSB, PSOL
e OAB vão a
o STF impedir repasse de
dados de operadoras ao IBGE
Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/mercado
/2020/04/psdb-psb-e-oab-
vao
impedir-repasse-de-dados-
de
operadoras-ao-ibge.shtml
. Acesso:
abr. 2020.
SOUZA, Carlos Affonso.
Por que é um
risco um cadastro com rosto, RG e até
nosso modo de andar.
Disponível em:
h
ttps://tecfront.blogosfera.uol.com.br/2
019/10/11/governo-cria-
base
dados-unificada-que-liga-
cpf
forma-de-
andar/. Acesso: nov
SOUZA, Jessica.
Sistema de crédito
social na China vai ser aplicado a
empresas europeias
. Disponível em
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
regulations, welcoming dedicated law
.
Disponível em:
https://technode.com/2019/06/19/chin
-
. Acesso: nov
.
SHIEL, Fergus; CHAVKIN, Sasha.
Who Are The Uighurs
And Why Mass Detention?
Disponível
https://www.icij.org/investiga
tions/china
are
-the-
detention/
.
Eterna vigilância
.
SOCIAL CREDIT WATCH.
What social
. Disponívelem:
http://socialcredit.triviumchina.com/wha
social
-credit-
Sorry, Y’All
Nearingan
Upgrade
Disponível em:
https://www.wired.com/2017/02/yuval
-
religion/
.
PSDB, PSB, PSOL
o STF impedir repasse de
dados de operadoras ao IBGE
.
Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/mercado
vao
-ao-stf-
de
-
. Acesso:
Por que é um
risco um cadastro com rosto, RG e até
Disponível em:
ttps://tecfront.blogosfera.uol.com.br/2
base
-de-
cpf
-rosto-e-
andar/. Acesso: nov
. 2019.
Sistema de crédito
social na China vai ser aplicado a
. Disponível em
:
https://jornaleconomico.sapo.pt/noticia
s/sistema-de-credito-
social
vai-ser-aplicado-a-
empresas
europeias-483358.
Aces
STEVESON, Alexandra; MOZUR,
Paul.
China Scores Businesses, and
Low Grades Could Be a Trade
Weapon.
Disponível em:
https://www.nytimes.com/2019/09/22/b
usiness/china-social-
credit
business.html.
Acesso: out
STF.
Ação Direta d
Inconstitucionalidade
: ADI 6387 MC /
DF. Ministra relatora: Rosa Weber. DJ:
24/04/2020. Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/processos/detalh
e.asp?incidente=5895165
abr. 2020.
STF.
Habeas Corpus
Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/processos/detalh
e.asp?incidente=2122576
abr. 2020.
STF.
Presidente do STF encontra
presidente do Supremo Tribunal
Popular da China
. Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/noticias/verNotici
aDetalhe.asp?idConteudo=113615&ori
=1. Acesso: out.
2019.
STJ. Direito d
o Consumidor:
Proteção Ao Crédito
Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/t
oc.jsp?livre=(sumula%20adj1%20%20
550).sub.#TIT1TEMA0
2020.
STJ.
Recurso Especial
144008/RS
. Terceira Turma. Relatora:
Ministra Nancy Andrighi. DJ:
09/11/2016. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/i
nteiroteor/?n
um_registro=2014006464
60&dt_publicacao=09/11/2016
Acesso: abr. 2020.
212
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
https://jornaleconomico.sapo.pt/noticia
social
-na-china-
empresas
-
Aces
so: set. 2019.
STEVESON, Alexandra; MOZUR,
China Scores Businesses, and
Low Grades Could Be a Trade
-War
Disponível em:
https://www.nytimes.com/2019/09/22/b
credit
-
Acesso: out
. 2019.
Ação Direta d
e
: ADI 6387 MC /
DF. Ministra relatora: Rosa Weber. DJ:
24/04/2020. Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/processos/detalh
e.asp?incidente=5895165
. Acesso:
Habeas Corpus
. HC nº83.096.
Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/processos/detalh
e.asp?incidente=2122576
. Acesso:
Presidente do STF encontra
presidente do Supremo Tribunal
. Disponível em:
http://portal.stf.jus.br/noticias/verNotici
aDetalhe.asp?idConteudo=113615&ori
2019.
o Consumidor:
Serviço e
Proteção Ao Crédito
- Súmula nº 550.
Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/t
oc.jsp?livre=(sumula%20adj1%20%20
550).sub.#TIT1TEMA0
. Acesso: abr.
Recurso Especial
: REsp
. Terceira Turma. Relatora:
Ministra Nancy Andrighi. DJ:
09/11/2016. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/i
um_registro=2014006464
60&dt_publicacao=09/11/2016
.
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
dos Dados. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 170-213
, set. 2020.
SUPREMO TRIBUNAL POPULAR DA
CHINA.
Rede aberta de informações
executivas da China
. Disponível em:
http://zxgk.court.gov.cn/shixin/
Acesso: nov. 2019.
TEPEDINO, Gustavo.
Temas de
Direito Civil.
Rio de Janeiro: Renovar,
2009.
THE CLIFFORD HUGH DOUGLAS
INSTITUTE. What
is social credit?
Disponível em:
https://www.socred.org/s-c
-
theory/what-is-social-
credit.
nov. 2019.
THE ECONOMIST.
Democracy Index
2015:
Democracy in an age of
Disponível em:
https://www.yabiladi.com/img/content/E
IU-Democracy-Index-
2015.pdf
Acesso: nov. 2019.
THE SUPREME PEOPLE’S COURT
OF THE PEOPLE’S REPUBLIC OF
CHINA. R
estricted consumption order
Disponível
http://zxgk.court.gov.cn/shixin/restraini
ngOrder.html. Acesso: nov
.
TOCQUEVILLE, Alexis de.
democracia na América.
Martins Fontes, 2005.
WANG, Xian.
Entrevista concedida a
Pedro Teixeira Gueiros
Janeiro, novembro, 2019.
WIKILEAKS.
What is Wikileaks
Disponível
https://wikileaks.org/What-
is
WikiLeaks.html. Acesso: o
ut
WIRED.
China is using coronavirus to
boost its dystopian social credit
system.
Disponível em:
https://www.wired.co.uk/article/china
social-credit-coronavirus
. Acesso: mar
2020.
WITHNALL, Adam.
UK government
urged to ban import of
Chinese
RITO, Fernanda; GUEIROS, Pedro Teixeira. O Social Credit System na Era
Americana de Estudos em
, set. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
SUPREMO TRIBUNAL POPULAR DA
Rede aberta de informações
. Disponível em:
http://zxgk.court.gov.cn/shixin/
.
Temas de
Rio de Janeiro: Renovar,
THE CLIFFORD HUGH DOUGLAS
is social credit?
.
Disponível em:
-
credit.
Acesso:
Democracy Index
Democracy in an age of
anxiety.
Disponível em:
https://www.yabiladi.com/img/content/E
2015.pdf
.
THE SUPREME PEOPLE’S COURT
OF THE PEOPLE’S REPUBLIC OF
estricted consumption order
.
em:
http://zxgk.court.gov.cn/shixin/restraini
.
2019.
TOCQUEVILLE, Alexis de.
A
São Paulo:
Entrevista concedida a
Pedro Teixeira Gueiros
. Rio de
What is Wikileaks
.
em:
is
-
ut
. 2019.
China is using coronavirus to
boost its dystopian social credit
Disponível em:
https://www.wired.co.uk/article/china
-
. Acesso: mar
.
UK government
Chinese
cotton
‘made using
Uighur
labour'.
Disponível em:
https://www.independent.co.uk/news/u
k/home-
news/chinese
government-
important
labour-
a9478501.html
2020.
XIAMEN BIG DATA INDUSTRY
SERVICE PLATFORM
social credit system?
http://www.xmdata.com.cn/
nov. 2019.
XINHUA.
Tribunais chineses impedem
mais de 14,5 milhões
(Tradução livre). Disponível em:
http://www.xinhuanet.com/english/2019
-
07/11/c_138217837.htm
2019.
XINHUANET.
Alipay
landed in 100
cities in 7 days, digital
epidemic
prevention
"Chinese speed".
http://www.xinhuanet.com/tech/2020
02/19/c_1125596647.htm
abr. 2020.
213
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Cultura, Tecnologia e Sociedade"
)
Uighur
Muslim forced
Disponível em:
https://www.independent.co.uk/news/u
news/chinese
-cotton-uk-
important
-uighur-muslim-
a9478501.html
. Acesso: abr.
XIAMEN BIG DATA INDUSTRY
SERVICE PLATFORM
. What is the
social credit system?
Disponível em:
http://www.xmdata.com.cn/
. Acesso:
Tribunais chineses impedem
de inadimplentes
(Tradução livre). Disponível em:
http://www.xinhuanet.com/english/2019
07/11/c_138217837.htm
. Acesso: nov.
Alipay
health code
cities in 7 days, digital
prevention
ran out of
Disponível em:
http://www.xinhuanet.com/tech/2020
-
02/19/c_1125596647.htm
. Acesso:
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
O conceito de privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.4
Resumo:
O presente artigo tem por objetivo pesquisar uma das lacunas encontradas na Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais (Lei 13.709/2018), que
conformidade
pode expor os dados de clientes e usuários
seguinte questionamento: fragilidade na proteção de dados do cidadão, em razão dos
mecanismos adotados pela legislação Brasileira? Num primeiro momento, tratou
anonimização de dados pessoais face
aplicação da privacidade diferencial.
método de interpretação jurídica foi o tópico sistemático. Verificou
conceitos sobre segurança da informação de forma a transcender a mera obrigação legal, motivando
de igual forma a inovação, a criatividade e a responsabilidade no tratamento de dados pessoais.
Conclui-
se, em linhas gerais, que a noção de segurança
do tratamento de dados pessoais, desde a concepção de um produto ou serviço.
Palavras chave
: Cidadania; Inovação; Governança Digital; PrivacybyDesing; Privacidade Diferencial.
El concepto de privacidad
diferencial enrelaciónconlareidentificación de datospersonales
Resumen
: Este artículo tiene como objetivo investigar una de las lagunas encontradas enlaLey
General de Protección de Datos de Carácter Personal (Ley No 13.709/2018), que, si está mal
implementada ensu programa de cumplimiento, puedeexponerlosdatos de clientes y
problema de lainvestigación se reduce a lasiguiente pregunta: ¿existe fragilidadenlaprotección de
losdatos de losciudadanos, debido a los mecanismos adoptados por lalegislaciónbrasileña? Al
principio, se trataba brevemente de laanonimización d
conelfin de poder tratar, más tarde, conlaaplicación de laprivacidad diferencial. El método utilizado
enel enfoque fuedescriptivo-
sistemático. El método de interpretación jurídica fueel tema sistemático.
Se en
contró que es imperativo repensar los conceptos de seguridad de lainformación para
trascenderla mera obligación legal, motivando tambiénlainnovación, lacreatividad y
1
Agenor Alexsander Carvalho Costa.
Dados pela UNA/EBRADI,
Pós
OAB/FUMEC. Advogado, pesquisador em Direito e Tecnologia do ITS Rio
alexsander.carvalho@itsrio.org -
2
Maurício da Cunha Savino Filó.
(PPGD) da Universidade Federal de Santa Catarina, professor da Universidade do Extremo Sul
Catarinense (UNESC), Brasil. E
-
1664
Recebi
do em 26/03/2020, aceito para publicação em 26/
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
O conceito de privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados
pessoais
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.4
1180
Agenor Alexsander C. Costa
Maurício C. S.
O presente artigo tem por objetivo pesquisar uma das lacunas encontradas na Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais (Lei 13.709/2018), que
se mal implementada em seu programa de
pode expor os dados de clientes e usuários
. O problema de pesquisa se resume ao
seguinte questionamento: fragilidade na proteção de dados do cidadão, em razão dos
mecanismos adotados pela legislação Brasileira? Num primeiro momento, tratou
anonimização de dados pessoais face
à reidenticação, a fim de se poder tratar, posteriormente, da
aplicação da privacidade diferencial.
O método utilizado na abordagem foi o descritivo
método de interpretação jurídica foi o tópico sistemático. Verificou
-
se que é imperioso repe
conceitos sobre segurança da informação de forma a transcender a mera obrigação legal, motivando
de igual forma a inovação, a criatividade e a responsabilidade no tratamento de dados pessoais.
se, em linhas gerais, que a noção de segurança
e de sigilo deve permear todas as atividades
do tratamento de dados pessoais, desde a concepção de um produto ou serviço.
: Cidadania; Inovação; Governança Digital; PrivacybyDesing; Privacidade Diferencial.
diferencial enrelaciónconlareidentificación de datospersonales
: Este artículo tiene como objetivo investigar una de las lagunas encontradas enlaLey
General de Protección de Datos de Carácter Personal (Ley No 13.709/2018), que, si está mal
implementada ensu programa de cumplimiento, puedeexponerlosdatos de clientes y
problema de lainvestigación se reduce a lasiguiente pregunta: ¿existe fragilidadenlaprotección de
losdatos de losciudadanos, debido a los mecanismos adoptados por lalegislaciónbrasileña? Al
principio, se trataba brevemente de laanonimización d
e losdatospersonales frente a larehidratación,
conelfin de poder tratar, más tarde, conlaaplicación de laprivacidad diferencial. El método utilizado
sistemático. El método de interpretación jurídica fueel tema sistemático.
contró que es imperativo repensar los conceptos de seguridad de lainformación para
trascenderla mera obligación legal, motivando tambiénlainnovación, lacreatividad y
Agenor Alexsander Carvalho Costa.
Pós-
graduando em Advocacia no Direito Digital e Proteção de
Pós
-
graduado em Direito e Processo do Trabalho pela Escola ESA
OAB/FUMEC. Advogado, pesquisador em Direito e Tecnologia do ITS Rio
https://orcid.org/0000-0003-1440-0016
Maurício da Cunha Savino Filó.
Doutor em Direito pelo Programa de Pós-
Graduação em Direito
(PPGD) da Universidade Federal de Santa Catarina, professor da Universidade do Extremo Sul
-
mail: mauriciosavino@hotmail.com -
http://orcid.org/0000
do em 26/03/2020, aceito para publicação em 26/
04/2020, disponibilizado onlin
01/09/2020
214
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
O conceito de privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados
Agenor Alexsander C. Costa
1
Maurício C. S.
Filó
2
O presente artigo tem por objetivo pesquisar uma das lacunas encontradas na Lei Geral de
se mal implementada em seu programa de
. O problema de pesquisa se resume ao
seguinte questionamento: fragilidade na proteção de dados do cidadão, em razão dos
mecanismos adotados pela legislação Brasileira? Num primeiro momento, tratou
-se, brevemente, da
à reidenticação, a fim de se poder tratar, posteriormente, da
O método utilizado na abordagem foi o descritivo
-sistemático. O
se que é imperioso repe
nsar os
conceitos sobre segurança da informação de forma a transcender a mera obrigação legal, motivando
de igual forma a inovação, a criatividade e a responsabilidade no tratamento de dados pessoais.
e de sigilo deve permear todas as atividades
: Cidadania; Inovação; Governança Digital; PrivacybyDesing; Privacidade Diferencial.
diferencial enrelaciónconlareidentificación de datospersonales
: Este artículo tiene como objetivo investigar una de las lagunas encontradas enlaLey
General de Protección de Datos de Carácter Personal (Ley No 13.709/2018), que, si está mal
implementada ensu programa de cumplimiento, puedeexponerlosdatos de clientes y
usuarios. El
problema de lainvestigación se reduce a lasiguiente pregunta: ¿existe fragilidadenlaprotección de
losdatos de losciudadanos, debido a los mecanismos adoptados por lalegislaciónbrasileña? Al
e losdatospersonales frente a larehidratación,
conelfin de poder tratar, más tarde, conlaaplicación de laprivacidad diferencial. El método utilizado
sistemático. El método de interpretación jurídica fueel tema sistemático.
contró que es imperativo repensar los conceptos de seguridad de lainformación para
trascenderla mera obligación legal, motivando tambiénlainnovación, lacreatividad y
graduando em Advocacia no Direito Digital e Proteção de
graduado em Direito e Processo do Trabalho pela Escola ESA
-
OAB/FUMEC. Advogado, pesquisador em Direito e Tecnologia do ITS Rio
, Brasil. E-mail:
Graduação em Direito
(PPGD) da Universidade Federal de Santa Catarina, professor da Universidade do Extremo Sul
http://orcid.org/0000
-0002-7436-
04/2020, disponibilizado onlin
e em
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
laresponsabilidadeneltratamiento de datospersonales. Se concluye, en general, que lanoción
seguridad y confidencialidaddebe impregnar todas lasactividadesdeltratamiento de datospersonales,
desde laconcepción de unproducto o servicio.
Palabras clave
: Ciudadanía; Innovación; Gobernanza digital; Privacidad por Desing; Privacidad
diferencial.
The concept of differential privacy in relation to the reidentification of personal data
Abstract
: The purpose of this article is to research one of the gaps found in the General Personal
Data Protection Law (Law No. 13,709/2018), which
can expose customer and user data. The research problem boils down to the following question: is
there a weakness in protecting citizens' data, due to the mechanisms adopted by Brazilian legislation?
At first, it was
briefly about the anonymization of personal data in view of their re
to be able to deal, later, with the application of differential privacy. The method used in the approach
was descriptive-
systematic. The method of legal interpre
that it is imperative to rethink the concepts of information security in order to transcend the mere legal
obligation, equally motivating innovation, creativity and responsibility in the processing of personal
data. It is concluded, in general, that the notion of security and confidentiality must permeate all
activities of the processing of personal data, from the conception of a product or service.
Keywords
: Citizenship; Digital Governance; Innovation; Privacy
O conceito de privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados
Introdução
Esta pesquisa possui como
objetivo geral identificar possíveis
falhas na proteção de dados pessoais,
que violaria a intimidade e a vida
privada, consagradas no
inciso X, do
art. 5º, da Constituição da República
de 1988. A relevância deste artigo
alberga-
se na crescente preocupação
global sobre a fragilidade dos
mecanismos de proteção aos dados
do cidadão.
Na Ordem Jurídica Brasileira, a
Lei 13.709, de 14 de ag
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
laresponsabilidadeneltratamiento de datospersonales. Se concluye, en general, que lanoción
seguridad y confidencialidaddebe impregnar todas lasactividadesdeltratamiento de datospersonales,
desde laconcepción de unproducto o servicio.
: Ciudadanía; Innovación; Gobernanza digital; Privacidad por Desing; Privacidad
The concept of differential privacy in relation to the reidentification of personal data
: The purpose of this article is to research one of the gaps found in the General Personal
Data Protection Law (Law No. 13,709/2018), which
- if poorly
implemented in its compliance program
can expose customer and user data. The research problem boils down to the following question: is
there a weakness in protecting citizens' data, due to the mechanisms adopted by Brazilian legislation?
briefly about the anonymization of personal data in view of their re
-
identification, in order
to be able to deal, later, with the application of differential privacy. The method used in the approach
systematic. The method of legal interpre
tation was the systematic topic. It was found
that it is imperative to rethink the concepts of information security in order to transcend the mere legal
obligation, equally motivating innovation, creativity and responsibility in the processing of personal
data. It is concluded, in general, that the notion of security and confidentiality must permeate all
activities of the processing of personal data, from the conception of a product or service.
: Citizenship; Digital Governance; Innovation; Privacy
by Desing; Differential Privacy.
O conceito de privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados
pessoais
Esta pesquisa possui como
objetivo geral identificar possíveis
falhas na proteção de dados pessoais,
que violaria a intimidade e a vida
inciso X, do
art. 5º, da Constituição da República
de 1988. A relevância deste artigo
se na crescente preocupação
global sobre a fragilidade dos
mecanismos de proteção aos dados
Na Ordem Jurídica Brasileira, a
Lei 13.709, de 14 de ag
osto de
2018, surgiu para dispor sobre a
proteção de dados pessoais, sendo
alterada pela Lei 13.853, de 08 de
julho de 2019, que criou a Autoridade
Nacional de Proteção de Dados.
Destarte, configurou-
se a Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Apesar dos avanços
legislativos, sabe
-
mecanismos de proteção podem ser
mal interpretados, tornando
equivocada a implementação de seu
programa de conformidade, expondo
dados de clientes e usuários.
215
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
laresponsabilidadeneltratamiento de datospersonales. Se concluye, en general, que lanoción
de
seguridad y confidencialidaddebe impregnar todas lasactividadesdeltratamiento de datospersonales,
: Ciudadanía; Innovación; Gobernanza digital; Privacidad por Desing; Privacidad
The concept of differential privacy in relation to the reidentification of personal data
: The purpose of this article is to research one of the gaps found in the General Personal
implemented in its compliance program
-
can expose customer and user data. The research problem boils down to the following question: is
there a weakness in protecting citizens' data, due to the mechanisms adopted by Brazilian legislation?
identification, in order
to be able to deal, later, with the application of differential privacy. The method used in the approach
tation was the systematic topic. It was found
that it is imperative to rethink the concepts of information security in order to transcend the mere legal
obligation, equally motivating innovation, creativity and responsibility in the processing of personal
data. It is concluded, in general, that the notion of security and confidentiality must permeate all
activities of the processing of personal data, from the conception of a product or service.
by Desing; Differential Privacy.
O conceito de privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados
2018, surgiu para dispor sobre a
proteção de dados pessoais, sendo
alterada pela Lei 13.853, de 08 de
julho de 2019, que criou a Autoridade
Nacional de Proteção de Dados.
se a Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Apesar dos avanços
-
se que os
mecanismos de proteção podem ser
mal interpretados, tornando
equivocada a implementação de seu
programa de conformidade, expondo
dados de clientes e usuários.
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
O problema de pesquisa está na
seguinte pergunta:
fragilidade na
proteção de dados do cidadão, em
razão dos mecanismos adotados pela
legislação Brasileira? Parte
premissa de que se devem repensar
os conceitos adotados no Brasil sobre
segurança da informação, indo além
do mero legalismo jurídico,
inovar no tratamento de dados
pessoais.
Para poder responder ao
problema, o artigo será desenvolvido
em dois momentos distintos. Na
primeira seção de desenvolvimento
explicar-se-
á, de forma sucinta, o que
é a anonimização e reidentificação de
dad
os pessoais. Estes conceitos são
fundamentais para se realizar a
segunda seção, que é verificar como
ocorre a aplicação da privacidade
diferencial.
O método eleito para esta
abordagem será o descritivo
sistemático. O método de
interpretação jurí
dica será
sistemático.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
O problema de pesquisa está na
fragilidade na
proteção de dados do cidadão, em
razão dos mecanismos adotados pela
legislação Brasileira? Parte
-se da
premissa de que se devem repensar
os conceitos adotados no Brasil sobre
segurança da informação, indo além
do mero legalismo jurídico,
a fim de
inovar no tratamento de dados
Para poder responder ao
problema, o artigo será desenvolvido
em dois momentos distintos. Na
primeira seção de desenvolvimento
á, de forma sucinta, o que
é a anonimização e reidentificação de
os pessoais. Estes conceitos são
fundamentais para se realizar a
segunda seção, que é verificar como
ocorre a aplicação da privacidade
O método eleito para esta
abordagem será o descritivo
-
sistemático. O método de
dica será
o tópico
1 -
O conceito da anonimização e
reidentificação de dados pessoais
A Lei Geral de Proteção de
Dados inova ao criar um conjunto de
novos conceitos jurídicos que
estabelecem as condições nas quais
os dados pessoais podem ser
tratados,
define um conjunto de
direitos para os titulares dos dados, e
gera novas obrigações específicas
para os controladores dos dados ao
criar uma série de procedimentos e
normas para que haja maior cuidado
no tratamento de dados pessoais e
compartilhamento com
No que diz respeito ao
compartilhamento de dados pessoais
com terceiros, a primeira
recomendação a se fazer quando se
pensa nas novas exigências trazidas
pela legislação seria que: “bancos de
dados que compartilham informações
de consumidores d
evem informá
previamente acerca da utilização
desses dados, sob pena de terem que
pagar indenização por danos morais”,
conforme orienta a Terceira Turma do
216
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
O conceito da anonimização e
reidentificação de dados pessoais
A Lei Geral de Proteção de
Dados inova ao criar um conjunto de
novos conceitos jurídicos que
estabelecem as condições nas quais
os dados pessoais podem ser
define um conjunto de
direitos para os titulares dos dados, e
gera novas obrigações específicas
para os controladores dos dados ao
criar uma série de procedimentos e
normas para que haja maior cuidado
no tratamento de dados pessoais e
compartilhamento com
terceiros.
No que diz respeito ao
compartilhamento de dados pessoais
com terceiros, a primeira
recomendação a se fazer quando se
pensa nas novas exigências trazidas
pela legislação seria que: “bancos de
dados que compartilham informações
evem informá
-los
previamente acerca da utilização
desses dados, sob pena de terem que
pagar indenização por danos morais”,
conforme orienta a Terceira Turma do
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
Superior Tribunal de Justiça
(STJ)
3
.
3
RECURSO ESPECIAL. FUNDAMENTO NÃO
IMPUGNADO. SÚM. 283/STF. AÇÃO DE
COMPENSAÇÃO DE DANO MORAL. BANCO
DE DADOS. COMPARTILHAMENTO DE
INFORMAÇÕES PESSOAIS. DEVER DE
INFORMAÇÃO. VIOLAÇÃO. DANO MORAL
IN RE IPSA. JULGAMENTO: CPC/15. 2. O
propósito recursal é diz
er sobre: (i) a
ocorrência de inovação recursal nas razões da
apelação interposta pelo recorrido; (ii) a
caracterização do dano moral em decorrência
da disponibilização/comercialização de dados
pessoais do recorrido em banco de dados
mantido pela recorrent
e. [...] 5. A gestão do
banco de dados impõe a estrita observância
das exigências contidas nas respectivas
normas de regência –
CDC e Lei 12.414/2011
– dentre as quais se
destaca o dever de
informação
, que tem como uma de suas
vertentes o dever de comunica
r por escrito ao
consumidor a abertura de cadastro, ficha,
registro e dados pessoais e de consumo,
quando não solicitada por ele. 6.
consumidor tem o direito de tomar
conhecimento de que informações a seu
respeito estão sendo
arquivadas/comercializadas p
or terceiro
sem a sua autorização, porque desse direito
decorrem outros dois que lhe são assegurados
pelo ordenamento jurídico: o direito de acesso
aos dados armazenados e o direito à
retificação das informações incorretas. 7. A
inobservância dos deveres
associados ao
tratamento (que inclui a coleta, o
armazenamento e a transferência a terceiros)
dos dados do consumidor –
dentre os quais se
inclui o dever de informar –
faz nascer para
este a pretensão de indenização pelos danos
causados e a de fazer cessar
, imediatamente,
a ofensa aos direitos da personalidade. 8. Em
se tratando de
compartilhamento das
informações
do consumidor pelos bancos de
dados, prática essa autorizada pela Lei
12.414/2011 em seus arts. 4º, III, e 9º, deve
ser observado o disposto no art. 5º, V, da Lei
12.414/2011, o qual prevê o direito do
cadastrado ser informado previamente sobre a
identidade do gestor e sobre o
armazenamento e o objetivo do tratamento
dos dados pessoais. 9. O fato, por si só, de se
tratarem de dados usualmente fornecidos
pelos próprios consumidores quando da
realização de qualquer compra no comércio,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL. FUNDAMENTO NÃO
IMPUGNADO. SÚM. 283/STF. AÇÃO DE
COMPENSAÇÃO DE DANO MORAL. BANCO
DE DADOS. COMPARTILHAMENTO DE
INFORMAÇÕES PESSOAIS. DEVER DE
INFORMAÇÃO. VIOLAÇÃO. DANO MORAL
IN RE IPSA. JULGAMENTO: CPC/15. 2. O
er sobre: (i) a
ocorrência de inovação recursal nas razões da
apelação interposta pelo recorrido; (ii) a
caracterização do dano moral em decorrência
da disponibilização/comercialização de dados
pessoais do recorrido em banco de dados
e. [...] 5. A gestão do
banco de dados impõe a estrita observância
das exigências contidas nas respectivas
CDC e Lei 12.414/2011
destaca o dever de
, que tem como uma de suas
r por escrito ao
consumidor a abertura de cadastro, ficha,
registro e dados pessoais e de consumo,
quando não solicitada por ele. 6.
O
consumidor tem o direito de tomar
conhecimento de que informações a seu
or terceiro
,
sem a sua autorização, porque desse direito
decorrem outros dois que lhe são assegurados
pelo ordenamento jurídico: o direito de acesso
aos dados armazenados e o direito à
retificação das informações incorretas. 7. A
associados ao
tratamento (que inclui a coleta, o
armazenamento e a transferência a terceiros)
dentre os quais se
faz nascer para
este a pretensão de indenização pelos danos
, imediatamente,
a ofensa aos direitos da personalidade. 8. Em
compartilhamento das
do consumidor pelos bancos de
dados, prática essa autorizada pela Lei
12.414/2011 em seus arts. 4º, III, e 9º, deve
ser observado o disposto no art. 5º, V, da Lei
12.414/2011, o qual prevê o direito do
cadastrado ser informado previamente sobre a
armazenamento e o objetivo do tratamento
dos dados pessoais. 9. O fato, por si só, de se
tratarem de dados usualmente fornecidos
pelos próprios consumidores quando da
realização de qualquer compra no comércio,
Neste sentido, é preciso
entender que será necessário c
consentimento inequívoco de todos os
clientes cadastrados em seu
sistema de banco de dados, bem
como revisar seus contratos atuais, a
fim de
coletar o consentimento de
futuros clientes. Conforme expresso no
art. 5º, XII, da Lei 13.709/2018
consentimento: manifestação livre,
informada e inequívoca pela qual o
titular concorda com o tratamento de
seus dados pessoais para uma
finalidade determinada”
No que diz respeito à forma de
coleta deste consentimento, a lei não
impõe uma forma em especí
vista disto, poderá a coleta ser feita
por intermédio do envio de e
não afasta a responsabi
lidade do gestor do
banco de dados, na medida em que, quando o
consumidor o faz não está, implícita e
automaticamente, autorizando o comerciante a
divulgá-
los no mercado; está apenas
cumprindo as condições necessárias à
concretização do respectivo negócio
entabulado apenas entre as duas partes,
confiando ao fornecedor a proteção de suas
informações pessoais. 10. Do mesmo modo, o
fato de alguém publicar em rede social uma
informação de caráter pessoal não implica o
consentimento, aos usuários que ac
conteúdo, de utilização de seus dados para
qualquer outra finalidade, ainda mais com fins
lucrativos. 11. Hipótese em que se configura o
dano moral in reipsa
. (STJ
MG 2017/0006521-
9, RELATOR(A): Min.
NANCY ANDRIGHI -
TERCEIRA TURM
Data de Julgamento 11/12/2019 (12:20), T3
TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe
19/11/2019 - grif
os nossos)
217
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Neste sentido, é preciso
entender que será necessário c
oletar o
consentimento inequívoco de todos os
clientes cadastrados em seu
sistema de banco de dados, bem
como revisar seus contratos atuais, a
coletar o consentimento de
futuros clientes. Conforme expresso no
art. 5º, XII, da Lei 13.709/2018
consentimento: manifestação livre,
informada e inequívoca pela qual o
titular concorda com o tratamento de
seus dados pessoais para uma
finalidade determinada”
.
No que diz respeito à forma de
coleta deste consentimento, a lei não
impõe uma forma em especí
fico.À
vista disto, poderá a coleta ser feita
por intermédio do envio de e
-mail com
lidade do gestor do
banco de dados, na medida em que, quando o
consumidor o faz não está, implícita e
automaticamente, autorizando o comerciante a
los no mercado; está apenas
cumprindo as condições necessárias à
concretização do respectivo negócio
jurídico
entabulado apenas entre as duas partes,
confiando ao fornecedor a proteção de suas
informações pessoais. 10. Do mesmo modo, o
fato de alguém publicar em rede social uma
informação de caráter pessoal não implica o
consentimento, aos usuários que ac
essam o
conteúdo, de utilização de seus dados para
qualquer outra finalidade, ainda mais com fins
lucrativos. 11. Hipótese em que se configura o
. (STJ
- REsp nº 1758799
9, RELATOR(A): Min.
TERCEIRA TURM
A,
Data de Julgamento 11/12/2019 (12:20), T3
-
TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe
os nossos)
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
objetivo da obtenção de assinaturas
digitais face aos contratos firmados,
e a inclusão de cláusula específica de
tratamento de dados para futuros
contratos.
Bem como ob
servar os mesmos
cuidados no informar sobre o
compartilhamento destes dados:
Art. 7º, § 5º, da Lei 13.709/2018
O controlador que obteve o
consentimento referido no inciso I do
caput deste artigo que necessitar
comunicar ou
compartilhardados
pessoais c
om outros
controladores
deverá obter
consentimento específico do titular
para esse fim, ressalvadas as
hipóteses de dispensa do
consentimento previstas nesta Lei;
(grifos nossos)
Entretanto, ainda é preciso se
ponderar que o compartilhamento
desses dados
pessoais sempre deverá
ser realizado de forma anonimizada. E
aqui encontra-
se a lacuna para o
vazamento de dados, que, mesmo
anonimizados podem ser recuperados
face ao cruzamento de dados,
realizados por diferentes plataformas.
Conforme Bioni
(2019
Esse processo pode se valer de
diferentes técnicas que buscam
eliminar tais elementos
identificadores de uma base de
dados, variando entre: a) supressão;
b) generalização; c) randomização e;
d) pseudoanonimização.
Todavia, Bioni (2019,
p.73) prossegue
afirmando que “Torna-
se cada vez
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
objetivo da obtenção de assinaturas
digitais face aos contratos firmados,
e a inclusão de cláusula específica de
tratamento de dados para futuros
servar os mesmos
cuidados no informar sobre o
compartilhamento destes dados:
Art. 7º, § 5º, da Lei 13.709/2018
-
O controlador que obteve o
consentimento referido no inciso I do
caput deste artigo que necessitar
compartilhardados
om outros
deverá obter
consentimento específico do titular
para esse fim, ressalvadas as
hipóteses de dispensa do
consentimento previstas nesta Lei;
Entretanto, ainda é preciso se
ponderar que o compartilhamento
pessoais sempre deverá
ser realizado de forma anonimizada. E
se a lacuna para o
vazamento de dados, que, mesmo
anonimizados podem ser recuperados
face ao cruzamento de dados,
realizados por diferentes plataformas.
(2019
, p.71),
Esse processo pode se valer de
diferentes técnicas que buscam
eliminar tais elementos
identificadores de uma base de
dados, variando entre: a) supressão;
b) generalização; c) randomização e;
d) pseudoanonimização.
p.73) prossegue
se cada vez
mais recorrente a publicação de
estudos que demonstram se o
processo de anonimização algo
falível”.
A recente pesquisa realizada
por Kurtz
(2020) ao IRIS
Referência em Internet e Sociedade
revela que ainda será preciso lidar
com o conceito de reidentificação,
pois,
“dada uma série de informações
aparentemente desconexas que,
juntas, revelam situações e
características, nos b
ancos de dados é
possível combinar informações para
descobrir algo sobre indivíduos
singulares”.
Em igual sentido,
(2020) alerta que Dasha
Metropolitansky e Kian
pesquisadores de Harvard, deram
prova disso ao desenvolver uma
ferra
menta que faz uma varredura a
partir de conjuntos de dados de
consumidores que foram vazados na
web.
Metropolitansky e Attari explicaram à
Motherboard
4
que o programa foi
criado para juntar e ligar informações
“não tão anônimas”
nomes de u
suário
“anônimos” que foram encontrados
em bases de dados vazadas de
praticamente mil domínios diferentes,
indo desde a Adobe ao YouPorn. E
4
Motherboard é uma revista online e canal de
vídeo dedicado à tecnologia, ciência e seres
humanos. (VICE, 2009)
218
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
mais recorrente a publicação de
estudos que demonstram se o
processo de anonimização algo
A recente pesquisa realizada
(2020) ao IRIS
- Instituto de
Referência em Internet e Sociedade
-,
revela que ainda será preciso lidar
com o conceito de reidentificação,
“dada uma série de informações
aparentemente desconexas que,
juntas, revelam situações e
ancos de dados é
possível combinar informações para
descobrir algo sobre indivíduos
Em igual sentido,
Wodinsky
(2020) alerta que Dasha
Metropolitansky e Kian
Attari, ambos
pesquisadores de Harvard, deram
prova disso ao desenvolver uma
menta que faz uma varredura a
partir de conjuntos de dados de
consumidores que foram vazados na
Metropolitansky e Attari explicaram à
que o programa foi
criado para juntar e ligar informações
“não tão anônimas”
– como e-mails e
suário
a dados
“anônimos” que foram encontrados
em bases de dados vazadas de
praticamente mil domínios diferentes,
indo desde a Adobe ao YouPorn. E
Motherboard é uma revista online e canal de
vídeo dedicado à tecnologia, ciência e seres
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
apesar desses conjuntos de dados
serem “anonimizados”, identificar
alguém em um determinado
vazamento não
é nada difícil
segundo os pesquisadores. (
nossos)
Assim sendo,
“o fato de os
repositórios operarem com dados
anonimizados, ou com aqueles que
passaram por processos de
pseudonimização, não é garantia
nenhuma para a aplicação da LGPD”
(SIMÕES, 2019).
Ante o exposto, além das
formas de anonimização
apresentadas por Bioni
, será preciso
acrescentar a privacidade diferencial a
este rol,visando com isso se evitar a
possibilidade de compreensão destes
dados em um futuro cruzamento de
dados entre Big Datas
5
, ou mesmo em
razão de um vazamento de um
Broker
6
, mantendo a sua utilidade da
estatística.
2 -
O conceito da privacidade
diferencial
5
Big Data é a área do conhec
imento que
estuda como tratar, analisar e obter
informações a partir de conjuntos de dados
grandes demais para serem analisados por
sistemas tradicionais.(
Significados, 2020)
6
U
ma pessoa ou empresa cujo negócio é
vender informões sobre empresas,
mercados et
c.(Cambridge Dicionary, tradução
nossa)
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
apesar desses conjuntos de dados
serem “anonimizados”, identificar
alguém em um determinado
é nada difícil
,
segundo os pesquisadores. (
grifos
“o fato de os
repositórios operarem com dados
anonimizados, ou com aqueles que
passaram por processos de
pseudonimização, não é garantia
nenhuma para a aplicação da LGPD”
Ante o exposto, além das
formas de anonimização
, será preciso
acrescentar a privacidade diferencial a
este rol,visando com isso se evitar a
possibilidade de compreensão destes
dados em um futuro cruzamento de
, ou mesmo em
razão de um vazamento de um
Data
, mantendo a sua utilidade da
O conceito da privacidade
imento que
estuda como tratar, analisar e obter
informações a partir de conjuntos de dados
grandes demais para serem analisados por
Significados, 2020)
ma pessoa ou empresa cujo negócio é
vender informões sobre empresas,
c.(Cambridge Dicionary, tradução
Resumidamente,
diferencial é uma tecnologia que
coloca diversos ruídos nas
informaçõ
es a ponto de tornar inviável
o rastreamento da fonte por meio do
cruzamento de informação entre
bancos de dados relacionais. As
informações são embaralhadas, como
alterar a idade ou sexo da pessoa,
mas sem prejudicar as informações
que são importantes.
Segundo
Chen
"privacidade diferencial é uma técnica
matemática que torna esse processo
rigoroso, medindo o quanto a
privacidade aumenta quando o ruído é
adicionado". E mais, "o método já é
usado pela Apple e pelo Facebook
para coletar dados agregad
identificar usuários específicos".
A seguir, será verificado como o
conceito da privacidade diferencial
vem sendo adotado por estas
empresas em seus produtos e
serviços, e o seu significado.
2.1 -
Privacidade diferencial da
Apple
Para a Apple, a pr
seus usuários sempre foi muito
importante e, durante a WWDC 2016
Apple Worldw
ide
219
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Resumidamente,
a privacidade
diferencial é uma tecnologia que
coloca diversos ruídos nas
es a ponto de tornar inviável
o rastreamento da fonte por meio do
cruzamento de informação entre
bancos de dados relacionais. As
informações são embaralhadas, como
alterar a idade ou sexo da pessoa,
mas sem prejudicar as informações
Chen
(2020),
"privacidade diferencial é uma técnica
matemática que torna esse processo
rigoroso, medindo o quanto a
privacidade aumenta quando o ruído é
adicionado". E mais, "o método já é
usado pela Apple e pelo Facebook
para coletar dados agregad
os sem
identificar usuários específicos".
A seguir, será verificado como o
conceito da privacidade diferencial
vem sendo adotado por estas
empresas em seus produtos e
serviços, e o seu significado.
Privacidade diferencial da
Para a Apple, a pr
ivacidade de
seus usuários sempre foi muito
importante e, durante a WWDC 2016
-
ide
Developers
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
Conference
, o seu vice
sênior de engenharia veio a público
explicar abertamente como o método
chamado de privacidade diferencialé
usado pela empresa.
"Acreditamos que você deve ter
ótimos recursos e muita privacidade
disse Craig Federighi
GREENBERG, 2016, tradução nossa)
à multidão de desenvolvedores
presentes no evento.
A privacidade diferencial é um tópico
de pesquisa nas áreas de estatística
e análise de dados que usa
sub-
amostragem e injeção de ruído
para permitir o aprendizado por meio
de crowdsourcing
9
, mantendo os
dados de usuários individuais
completamente p
rivados. A Apple
está realizando um trabalho super
importante nesta área para permitir
que a privacidade diferencial seja
implantada em escala
(FEDERIGHI, apud
GREENBERG,
2016, tradução nossa)
7
No original:
"We believe you should have
great features and great privacy"
8
Hash é a transformação de uma grande
quantidade de dados em uma pequena
quantidade de informações.(
Wikipédia, março
2020)
9
Crowdsourcing, em português, significa
contribuição colaborativa ou colaboração
coletiva.(Wikipédia, janeiro 2020)
10
No original
: "Differential privacy is a
research topic in the areas of statistics and
data analytics that uses hashing, subsampling
and noi
se injection to enable...crowdsourced
learning while keeping the data of individual
users completely private. Apple has been
doing some super-
important work in this area
to enable differential privacy to be deployed at
scale."
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
, o seu vice
-presidente
sênior de engenharia veio a público
explicar abertamente como o método
chamado de privacidade diferencialé
"Acreditamos que você deve ter
ótimos recursos e muita privacidade
7
",
disse Craig Federighi
(apud
GREENBERG, 2016, tradução nossa)
à multidão de desenvolvedores
A privacidade diferencial é um tópico
de pesquisa nas áreas de estatística
e análise de dados que usa
hash
8
,
amostragem e injeção de ruído
para permitir o aprendizado por meio
, mantendo os
dados de usuários individuais
rivados. A Apple
está realizando um trabalho super
importante nesta área para permitir
que a privacidade diferencial seja
implantada em escala
10
.
GREENBERG,
"We believe you should have
great features and great privacy"
.
Hash é a transformação de uma grande
quantidade de dados em uma pequena
Wikipédia, março
Crowdsourcing, em português, significa
contribuição colaborativa ou colaboração
: "Differential privacy is a
research topic in the areas of statistics and
data analytics that uses hashing, subsampling
se injection to enable...crowdsourced
learning while keeping the data of individual
users completely private. Apple has been
important work in this area
to enable differential privacy to be deployed at
Em uma explicação mais
detalhada sobre o assunto:
A
privacidade diferencial, traduzida
da linguagem Apple, é a ciência
estatística de tentar aprender o
máximo possível sobre um grupo
enquanto aprende o mínimo possível
sobre qualquer indivíduo nele.
privacidade diferenciada, a Apple
pode coletar e armaze
de seus usuários em um formato que
permite coletar noções úteis sobre o
que as pessoas fazem, dizem,
gostam e querem.
extrair nada sobre uma única e
específica daquelas pessoas que
podem representar uma violação de
privacidade.
E
hackers ou agências de
inteligência
11
.(GREENBERG, 2016,
tradução nossa)
Aaron Roth, professor de
ciência da computação da
Universidade da Pensilvânia, a quem
Federighi(apud
GREENBERG, 2016,
tradução nossa) citou em seu discurso
como "escrev
endo o livro sobre
privacidade diferencial
A privacidade diferencial permite que
você obtenha insights
conjuntos de dados, mas com uma
11
No original:
“Differential privacy, translated
from Apple-
speak, is the statistical science of
trying to learn as much as possible about a
group while learning as little as possible about
any individual in it. With differential privacy,
Apple can collect and store its
format that lets it glean useful notions about
what people do, say, like and want. But it can't
extract anything about a single, specific one of
those people that might represent a privacy
violation.
Andneither, in theory, could hackers
orintelligence agencies.”
12
Insight
é o entendimento de uma causa e
efeito específicos dentro de um contexto
específico.(
Significados, 2014
220
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Em uma explicação mais
detalhada sobre o assunto:
privacidade diferencial, traduzida
da linguagem Apple, é a ciência
estatística de tentar aprender o
máximo possível sobre um grupo
enquanto aprende o mínimo possível
sobre qualquer indivíduo nele.
Com
privacidade diferenciada, a Apple
pode coletar e armaze
nar os dados
de seus usuários em um formato que
permite coletar noções úteis sobre o
que as pessoas fazem, dizem,
gostam e querem.
Mas não pode
extrair nada sobre uma única e
específica daquelas pessoas que
podem representar uma violação de
E
nem, em teoria,
hackers ou agências de
.(GREENBERG, 2016,
Aaron Roth, professor de
ciência da computação da
Universidade da Pensilvânia, a quem
GREENBERG, 2016,
tradução nossa) citou em seu discurso
endo o livro sobre
privacidade diferencial
" afirma que,
A privacidade diferencial permite que
você obtenha insights
12
de grandes
conjuntos de dados, mas com uma
“Differential privacy, translated
speak, is the statistical science of
trying to learn as much as possible about a
group while learning as little as possible about
any individual in it. With differential privacy,
Apple can collect and store its
users’ data in a
format that lets it glean useful notions about
what people do, say, like and want. But it can't
extract anything about a single, specific one of
those people that might represent a privacy
Andneither, in theory, could hackers
é o entendimento de uma causa e
efeito específicos dentro de um contexto
Significados, 2014
).
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
prova matemática de que ninguém
pode aprender sobre um único
indivíduo
13
.
Nesta esteira,
Como
Roth observa, quando se
refere a uma "prova matemática", a
privacidade diferencial não tenta
apenas ofuscar ou "anonimizar" os
dados dos usuários. Essa
abordagem de anonimato, ele
argumenta, tende a falhar. Em 2007,
por exemplo, a Netflix lançou uma
grande
coleção de classificações de
filmes de seus telespectadores como
parte de uma competição para
otimizar suas recomendações,
removendo o nome das pessoas e
outros detalhes de identificação e
publicando apenas as classificações
da Netflix. Mas os pesquisador
logo fizeram uma referência cruzada
dos dados da Netflix com os dados
públicos de revisão no IMDB
comparar padrões semelhantes de
recomendações entre os sites e
adicionar nomes novamente ao
banco de dados supostamente
anônimo da Netflix
15
.(GREENBER
2016, tradução nossa)
Significa dizer que, "Se você
começar a remover o nome das
pessoas dos dados, isso não impedirá
13
No original: "
Differential privacy lets you gain
insights from large datasets, but with a
mathematical proof that
no one can learn
about a single individual."
14
O IMB é um website onde as pessoas
compartilham suas impressões sobre filmes
(BIONI, 2019, p.73).
15
No original:
“As Roth notes when he refers
to a "mathematical proof," differential privacy
doesn't merely try
to obfuscate or "anonymize"
users' data. That anonymization approach, he
argues, tends to fail. In 2007, for instance,
Netflix released a large collection of its
viewers' film ratings as part of a competition to
optimize its recommendations, removing
peop
le's names and other identifying details
and publishing only their Netflix ratings.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
prova matemática de que ninguém
pode aprender sobre um único
Roth observa, quando se
refere a uma "prova matemática", a
privacidade diferencial não tenta
apenas ofuscar ou "anonimizar" os
dados dos usuários. Essa
abordagem de anonimato, ele
argumenta, tende a falhar. Em 2007,
por exemplo, a Netflix lançou uma
coleção de classificações de
filmes de seus telespectadores como
parte de uma competição para
otimizar suas recomendações,
removendo o nome das pessoas e
outros detalhes de identificação e
publicando apenas as classificações
da Netflix. Mas os pesquisador
es
logo fizeram uma referência cruzada
dos dados da Netflix com os dados
públicos de revisão no IMDB
14
para
comparar padrões semelhantes de
recomendações entre os sites e
adicionar nomes novamente ao
banco de dados supostamente
.(GREENBER
G,
Significa dizer que, "Se você
começar a remover o nome das
pessoas dos dados, isso não impedirá
Differential privacy lets you gain
insights from large datasets, but with a
no one can learn
O IMB é um website onde as pessoas
compartilham suas impressões sobre filmes
“As Roth notes when he refers
to a "mathematical proof," differential privacy
to obfuscate or "anonymize"
users' data. That anonymization approach, he
argues, tends to fail. In 2007, for instance,
Netflix released a large collection of its
viewers' film ratings as part of a competition to
optimize its recommendations, removing
le's names and other identifying details
and publishing only their Netflix ratings.
que as pessoas façam referências
cruzadas inteligentes
Roth (apud
GREENBERG, 2016,
tradução nossa). Concluindo que,
"Esse é o tipo de coisa que é
comprovadamente impedida pela
privacidade diferencial"
Em contrapartida,
(2017, tradução nossa) nos revela que
a privacidade diferencial não é uma
simples alternâ
ncia entre privacidade
total e invasão sem restrições
prossegue
um novo estudo, que
investiga profundamente como a Apple
realmente implementa a técnica,
sugere que a empresa aumentou
ainda mais essa discrepância em
direção à mineração de dados
agress
iva do que suas promessas
públicas implicam”
19
.
Pesquisadores da Universidade do
Sul da Califórnia, da Universidade de
Indiana e da Universidade de
Tsinghua da China adotaram o
código dos sistemas operacionais
Mac
OS e iOS da Apple para fazer
16
No original:
"If you start to remove people’s
names from data, it doesn’t stop people from
doing clever cross-
referencing."
17
No original:
"That’s the kind of thing that
provably prevented by differential privacy"
18
No original: “[...]
differential privacy isn't a
simple toggle switch between total privacy and
no-holds-
barred invasiveness.”
19
No original:”[...] a new
study
deeply into how Apple actually implements the
technique, suggests the company has
ratcheted that dial further toward aggressive
data-
mining than its public promises imply”.
221
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
que as pessoas façam referências
cruzadas inteligentes
16
", diz Aaron
GREENBERG, 2016,
tradução nossa). Concluindo que,
"Esse é o tipo de coisa que é
comprovadamente impedida pela
privacidade diferencial"
17
.
Em contrapartida,
Greenberg
(2017, tradução nossa) nos revela que
a privacidade diferencial não é uma
ncia entre privacidade
total e invasão sem restrições
18
, e
um novo estudo, que
investiga profundamente como a Apple
realmente implementa a técnica,
sugere que a empresa aumentou
ainda mais essa discrepância em
direção à mineração de dados
iva do que suas promessas
.
Pesquisadores da Universidade do
Sul da Califórnia, da Universidade de
Indiana e da Universidade de
Tsinghua da China adotaram o
código dos sistemas operacionais
OS e iOS da Apple para fazer
"If you start to remove people’s
names from data, it doesn’t stop people from
referencing."
"That’s the kind of thing that
's
provably prevented by differential privacy"
differential privacy isn't a
simple toggle switch between total privacy and
barred invasiveness.”
study
, which delves
deeply into how Apple actually implements the
technique, suggests the company has
ratcheted that dial further toward aggressive
mining than its public promises imply”.
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
engenharia
reversa da maneira como
os dispositivos da empresa
implementam privacidade diferencial
na prática. Eles examinaram como o
software da Apple injeta ruídos
aleatórios em informações pessoais
desde o uso de emojis até o histórico
de navegação, dados do Heal
consultas de pesquisa
iPhone
ou o MacBook carregue
esses dados nos servidores da
Apple.
Idealmente, essa ofuscação ajuda a
proteger seus dados privados de
qualquer hacker ou agên
governamental que acesse os
bancos de dados da Apple,
anunciantes que a Apple algum dia
os venderão, ou até a própria equipe
da Apple. Porém, a eficácia da
privacidade diferencial depende de
uma variável conhecida como
"parâmetro de perda de privacidad
ou "epsilon", que determina quanta
especificidade um coletor de dados
está disposto a sacrificar para
proteger os segredos de seus
usuários.
Ao desmontar o software da Apple
para determinar o epsilon escolhido
pela empresa, os pesquisadores
descobrira
m que o MacOS carrega
dados significativamente mais
específicos do que o típico
pesquisador diferencial de
privacidade pode considerar
privado.
20
(GREENBERG, 2017,
tradução nossa)
20
No original:
“Researchers at the University of
Southern Calif
ornia, Indiana University, and
China's Tsinghua University have dug into the
code of Apple's MacOS and iOS operating
systems to reverse-
engineer just how the
company's devices implement differential
privacy in practice. They've examined how
Apple's softwar
e injects random noise into
personal information—
ranging from emoji
usage to your browsing history to HealthKit
data to search queries—
before your iPhone or
MacBook upload that data to Apple's servers.
Ideally, that obfuscation helps protect your
private d
ata from any hacker or government
agency that accesses Apple's databases,
advertisers Apple might someday sell it to, or
even Apple's own staff. But differential
privacy's effectiveness depends on a variable
known as the "privacy loss parameter," or
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
reversa da maneira como
os dispositivos da empresa
implementam privacidade diferencial
na prática. Eles examinaram como o
software da Apple injeta ruídos
aleatórios em informações pessoais
-
desde o uso de emojis até o histórico
de navegação, dados do Heal
th Kit e
consultas de pesquisa
- antes que o
ou o MacBook carregue
esses dados nos servidores da
Idealmente, essa ofuscação ajuda a
proteger seus dados privados de
qualquer hacker ou agên
cia
governamental que acesse os
bancos de dados da Apple,
anunciantes que a Apple algum dia
os venderão, ou até a própria equipe
da Apple. Porém, a eficácia da
privacidade diferencial depende de
uma variável conhecida como
"parâmetro de perda de privacidad
e",
ou "epsilon", que determina quanta
especificidade um coletor de dados
está disposto a sacrificar para
proteger os segredos de seus
Ao desmontar o software da Apple
para determinar o epsilon escolhido
pela empresa, os pesquisadores
m que o MacOS carrega
dados significativamente mais
específicos do que o típico
pesquisador diferencial de
privacidade pode considerar
(GREENBERG, 2017,
“Researchers at the University of
ornia, Indiana University, and
China's Tsinghua University have dug into the
code of Apple's MacOS and iOS operating
engineer just how the
company's devices implement differential
privacy in practice. They've examined how
e injects random noise into
ranging from emoji
usage to your browsing history to HealthKit
before your iPhone or
MacBook upload that data to Apple's servers.
Ideally, that obfuscation helps protect your
ata from any hacker or government
agency that accesses Apple's databases,
advertisers Apple might someday sell it to, or
even Apple's own staff. But differential
privacy's effectiveness depends on a variable
known as the "privacy loss parameter," or
Destarte, a privacidade
diferencial é uma das 10 tecnologias
mais promissoras de 2020, segundo
lista do MIT -
InstituteofTechnology
.(KURTZ, 2020)
2.2 -
Privacidade diferencial do
Google e sua biblioteca open
source
A privacidade diferencial
uma invenção exclusiva da Apple.
Conforme
Fagundes
pesquisadores da Berkeley
Universidade da Califórnia, que
desenvolveram a ferramenta de
código aberto que limita o quanto os
funcionários podem aprender sobre os
clientes individu
ais, analisando os
dados dos usuários
sobre a privacidade diferencial
ocorrem anos e é resultado do
trabalho de vários especialistas em
segurança e privacidade.
Outro exemplo de como a
privacidade diferencial não é uma
exclusividade da
Apple, seria citarmos
o Google Fotos, cujo aplicativo permite
"epsil
on," which determines just how much
specificity a data collector is willing to sacrifice
for the sake of protecting its users' secrets. By
taking apart Apple's software to determine the
epsilon the company chose, the researchers
found that MacOS uploads si
specific data than the typical differential privacy
researcher might consider private.”
222
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Destarte, a privacidade
diferencial é uma das 10 tecnologias
mais promissoras de 2020, segundo
Massachusetts
.(KURTZ, 2020)
Privacidade diferencial do
Google e sua biblioteca open
-
A privacidade diferencial
não é
uma invenção exclusiva da Apple.
Fagundes
(2018), foram os
pesquisadores da Berkeley
-
Universidade da Califórnia, que
desenvolveram a ferramenta de
código aberto que limita o quanto os
funcionários podem aprender sobre os
ais, analisando os
”. Seus estudos
sobre a privacidade diferencial
ocorrem anos e é resultado do
trabalho de vários especialistas em
segurança e privacidade.
Outro exemplo de como a
privacidade diferencial não é uma
Apple, seria citarmos
o Google Fotos, cujo aplicativo permite
on," which determines just how much
specificity a data collector is willing to sacrifice
for the sake of protecting its users' secrets. By
taking apart Apple's software to determine the
epsilon the company chose, the researchers
found that MacOS uploads si
gnificantly more
specific data than the typical differential privacy
researcher might consider private.”
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
que os usuários armazenem na nuvem
do Google um número ilimitado de
fotos de celular. Encontraremos
maiores informações sobre como a
empresa utiliza a privacidade
diferencial neste tipo de
arma
zenamento nos Termos de uso
do Google (2017), onde informa suas
duas técnicas para proteger tais
dados:
Generalização dos dados”
Adição de ruídos aos dados”
Temos ainda o navegador
Chrome, que, segundo
Santana
[...]
utiliza um código aberto
privacidade diferencial
denominado RAPPOR
(RandomizedAggregatablePrivacy
Preserving Ordinal Response) para
anonimizar os dados e declara em
alto e bom som que o seu sistema
tem um coeficiente épsilon 2, com
limite 8 ou 9 considerando toda a
vida do usuário.
Lado outro, o mais interessante
é que o Google tornou
source
21
sua biblioteca de privacidade
diferencial:
"Nossa biblioteca de
código aberto foi projetada para
atender às necessidades dos
21
O software de código aberto é fabricado por
muitas pessoas e distribuído sob uma licença
compatível com OSD que concede todos os
direitos de uso, estu
do, alteração e
compartilhamento do software na forma
modificada e não modificada. A liberdade de
software é essencial para permitir o
desenvolvimento comunitário de software de
código aberto.(
Open SourceInitiative
tradução nossa)
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
que os usuários armazenem na nuvem
do Google um número ilimitado de
fotos de celular. Encontraremos
maiores informações sobre como a
empresa utiliza a privacidade
diferencial neste tipo de
zenamento nos Termos de uso
do Google (2017), onde informa suas
duas técnicas para proteger tais
Generalização dos dados”
e a
Adição de ruídos aos dados”
.
Temos ainda o navegador
Santana
(2017)
utiliza um código aberto
de
privacidade diferencial
denominado RAPPOR
(RandomizedAggregatablePrivacy
-
Preserving Ordinal Response) para
anonimizar os dados e declara em
alto e bom som que o seu sistema
tem um coeficiente épsilon 2, com
limite 8 ou 9 considerando toda a
Lado outro, o mais interessante
é que o Google tornou
open-
sua biblioteca de privacidade
"Nossa biblioteca de
código aberto foi projetada para
atender às necessidades dos
O software de código aberto é fabricado por
muitas pessoas e distribuído sob uma licença
compatível com OSD que concede todos os
do, alteração e
compartilhamento do software na forma
modificada e não modificada. A liberdade de
software é essencial para permitir o
desenvolvimento comunitário de software de
Open SourceInitiative
desenvolvedores. Além de ser
acessível gratuitamente, que
que ela fosse cil de implantar e útil
[...]" (GOOGLE, 2019).
2.2.1 -
Vulnerabilidades e possíveis
soluções para se mitigar riscos
Tudo isso pode trazer muitos
benefícios significativos aos serviços já
existentes, que têm a se beneficiar
com a biblioteca de código aberto
desenvolvida pelo Google.
Por outro lado, segundo
Santana
(2017), a privacidade
diferencial poderá não ser tão
diferencial assim.É sempre bom
ficarmos atentos, pois o Google
poderia rastrear movimentos de
pessoas por meio de seus presentes
em celulares pelo mundo: "Quando o
Google está ganhando de alguém em
algum quesito relacionado à
privacidade, sabemos que algo
está exatamente certo".
No mesmo sentido de Santana,
Fagundes
(2018) recorda que:
Mesmo gigantes da computação,
como o Facebook, entregaram dados
de usuários que adequadamente
manipulados podem ter influenciado
as eleições americanas. Além do
roubo de informões, algoritmos de
Machine Learning
22
Machinelearning é uma
área da ciência da
computação que significa ¨aprendizado da
máquina¨.(Significados, 2018)
223
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
desenvolvedores. Além de ser
acessível gratuitamente, que
ríamos
que ela fosse cil de implantar e útil
[...]" (GOOGLE, 2019).
Vulnerabilidades e possíveis
soluções para se mitigar riscos
Tudo isso pode trazer muitos
benefícios significativos aos serviços já
existentes, que têm a se beneficiar
com a biblioteca de código aberto
desenvolvida pelo Google.
Por outro lado, segundo
(2017), a privacidade
diferencial poderá não ser tão
diferencial assim.É sempre bom
ficarmos atentos, pois o Google
poderia rastrear movimentos de
pessoas por meio de seus presentes
em celulares pelo mundo: "Quando o
Google está ganhando de alguém em
algum quesito relacionado à
privacidade, sabemos que algo
não
está exatamente certo".
No mesmo sentido de Santana,
(2018) recorda que:
Mesmo gigantes da computação,
como o Facebook, entregaram dados
de usuários que adequadamente
manipulados podem ter influenciado
as eleições americanas. Além do
roubo de informões, algoritmos de
Machine Learning
22
podem
área da ciência da
computação que significa ¨aprendizado da
máquina¨.(Significados, 2018)
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
estabelecer relações entre dados e
definir comportamentos de usuários,
mesmo usando dados anonimizados.
Para além do exposto,
(2019)
durante a abertura do Web
Summit 2019, realizado em Lisboa,
afirmou que,
Dados não são
inofensivos ou abstratos quando se
trata do ser humano. Não s
que estão sendo explorados. São
pessoas que estão sendo exploradas
Mais adiante, recorda a pergunta que
se faz até hoje:
O que pode ser feito
quando as instituições mais poderosas
da sociedade se tornaram as menos
responsáveis?”.
À vista disso,
segundo Pinheiro
(2018, p. 95),
O grande paradigma não está no
conceito ético ou mesmo
filosófico se a privacidade deve
ou não ser protegida (claro que
deve ser), mas sim no modelo de
negócios estabelecido, visto que
a informação virou não apenas a
riquez
a do século XXI como
também a moeda de pagamento.
Outrossim, segundo
(2018) "o uso combinado de
Blockchain
23
e a inteligência artificial
podem, se não resolver por completo,
23
A blockchain é uma tecnologia de registro
distribuído que visa a descentralização como
medida de segurança.(Wikipédia, fevereiro
2020)
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
estabelecer relações entre dados e
definir comportamentos de usuários,
mesmo usando dados anonimizados.
Para além do exposto,
Snowden
durante a abertura do Web
Summit 2019, realizado em Lisboa,
Dados não são
inofensivos ou abstratos quando se
trata do ser humano. Não s
ão dados
que estão sendo explorados. São
pessoas que estão sendo exploradas
”.
Mais adiante, recorda a pergunta que
O que pode ser feito
quando as instituições mais poderosas
da sociedade se tornaram as menos
segundo Pinheiro
O grande paradigma não está no
conceito ético ou mesmo
filosófico se a privacidade deve
ou não ser protegida (claro que
deve ser), mas sim no modelo de
negócios estabelecido, visto que
a informação virou não apenas a
a do século XXI como
também a moeda de pagamento.
Outrossim, segundo
Fagundes
(2018) "o uso combinado de
e a inteligência artificial
podem, se não resolver por completo,
A blockchain é uma tecnologia de registro
distribuído que visa a descentralização como
medida de segurança.(Wikipédia, fevereiro
minimizar o risco de vazamento de
informações privadas".
Portanto, a fim de mitigar riscos,
estar sempre atento à inovação e às
novas tecnologias será mais que uma
exigência, mas também um diferencial
competitivo. Afinal,
Atheniense
p.
22) recorda que
estimular o desenvolvimento de uma
cultur
a de proteção de dados
esta lei, de forma alguma, põe fim aos
dilemas atuais ou se esgota em si
mesma; porém, ela serve de estímulo
à inovação.
Ainda segundo
(2019,
p.12), o "
conformidade à LGPD não tem uma
reta de chegada. É u
continuado, portanto o espere
encerrar a questão do dia para noite.
Tão importante quanto estar em
conforme é se manter conforme
Neste sentido, verifica
nenhuma empresa deve prescindir
de algum nível de proteção
envolvendo u
so de softwares que
propiciem maior controle sobre os
riscos de segurança da informação
para repelir invasões, antivírus e
manutenção periódica de
equipamentos e atualização de
softwares. (ATHENIENSE
p.21)
Nada obstante, a
regulamentação, aqui, não
mostrar como uma mera burocracia
224
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
minimizar o risco de vazamento de
informações privadas".
Portanto, a fim de mitigar riscos,
estar sempre atento à inovação e às
novas tecnologias será mais que uma
exigência, mas também um diferencial
Atheniense
(2019,
22) recorda que
a LGPD quer
estimular o desenvolvimento de uma
a de proteção de dados
”, pois
esta lei, de forma alguma, põe fim aos
dilemas atuais ou se esgota em si
mesma; porém, ela serve de estímulo
Ainda segundo
Atheniense
p.12), o "
caminho da
conformidade à LGPD não tem uma
reta de chegada. É u
m processo
continuado, portanto o espere
encerrar a questão do dia para noite.
Tão importante quanto estar em
conforme é se manter conforme
".
Neste sentido, verifica
-se por pontual:
nenhuma empresa deve prescindir
de algum nível de proteção
so de softwares que
propiciem maior controle sobre os
riscos de segurança da informação
para repelir invasões, antivírus e
manutenção periódica de
equipamentos e atualização de
softwares. (ATHENIENSE
, 2019,
Nada obstante, a
regulamentação, aqui, não
deve se
mostrar como uma mera burocracia
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
estatal, e sim como um meio efetivo de
impedir que as grandes corporações
tecnológicas continuem se valendo
das “pegadas digitais” para guiarem o
mundo a seu alvedrio.
Diante deste cenário, adverte
Cabella(2018,
p.75) que uma empresa
brasileira, dependendo de sua
atividade, “[...] pode ter um website
ou aplicativo para dispositivo móvel
que é passível de ser acessado por
uma pessoa natural localizada
fisicamente em algum país membro da
União Europeia”.
Fato este
que, por si só,
representa grande risco. Visto que,
conforme previsão do “artigo 30 do
GDPR, o valor da multa por infração
pode chegar a 20 milhões de euros
(aproximadamente 78 milhões de
reais) ou 4% do faturamento global
anual da empresa no ano anteri
que for maior” (CABELLA, 2018
77).
a LGPD, tem previsto no seu
artigo 52 a aplicação de multa simples,
de até 2% (dois por cento) do
faturamento da pessoa jurídica de
direito privado, grupo ou conglomerado
no Brasil no seu último exercício,
24
Website é uma palavra que r
esulta da
justaposição das palavras inglesas web (rede)
e site (sítio, lugar).(Significados, 2011)
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
estatal, e sim como um meio efetivo de
impedir que as grandes corporações
tecnológicas continuem se valendo
das “pegadas digitais” para guiarem o
Diante deste cenário, adverte
p.75) que uma empresa
brasileira, dependendo de sua
atividade, “[...] pode ter um website
24
ou aplicativo para dispositivo móvel
que é passível de ser acessado por
uma pessoa natural localizada
fisicamente em algum país membro da
que, por si só,
representa grande risco. Visto que,
conforme previsão do “artigo 30 do
GDPR, o valor da multa por infração
pode chegar a 20 milhões de euros
(aproximadamente 78 milhões de
reais) ou 4% do faturamento global
anual da empresa no ano anteri
or, o
que for maior” (CABELLA, 2018
, p.
a LGPD, tem previsto no seu
artigo 52 a aplicação de multa simples,
de até 2% (dois por cento) do
faturamento da pessoa jurídica de
direito privado, grupo ou conglomerado
no Brasil no seu último exercício,
esulta da
justaposição das palavras inglesas web (rede)
e site (sítio, lugar).(Significados, 2011)
ex
cluídos os tributos, limitada, no total,
a R$ 50.000.000,00 (cinquenta
milhões de reais) por infração, entre
várias outras implicações.
O que faz da prevenção na
adoção de uma maior segurança da
informação e incentivos à inovação um
grande negócio. Segundo
(2016a, p.
98), legislar sobre a
privacidade e sobre a proteção de
dados impacta a economia digital, sob
o risco de afetar a f
própria internet vem se
desenvolvendo:
A segurança da
informação sempre encontrou uma
barreira natural na privacidade
“evidente que o direito à privacidade
constitui um limite natural ao direito à
informação”. (PINHEIRO, 2016
481)
3 -
Considerações finais
Como se observa, no que tange
à parte técnica, o compartilhamento
seguro e responsável de dados
pessoais
mesmo que anonimizados
será uma tarefa mais complexa que
o mero consentimento previsto em Lei
Geral de Proteção de Dados Pessoais.
Dito isso, para se pensar em
uma efetiva conformidade em
privacidade e a proteção de dados do
225
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
cluídos os tributos, limitada, no total,
a R$ 50.000.000,00 (cinquenta
milhões de reais) por infração, entre
várias outras implicações.
O que faz da prevenção na
adoção de uma maior segurança da
informação e incentivos à inovação um
grande negócio. Segundo
Pinheiro
98), legislar sobre a
privacidade e sobre a proteção de
dados impacta a economia digital, sob
o risco de afetar a f
orma de como a
própria internet vem se
A segurança da
informação sempre encontrou uma
barreira natural na privacidade
.” Sendo
“evidente que o direito à privacidade
constitui um limite natural ao direito à
informação”. (PINHEIRO, 2016
b, p.
Considerações finais
Como se observa, no que tange
à parte técnica, o compartilhamento
seguro e responsável de dados
mesmo que anonimizados
será uma tarefa mais complexa que
o mero consentimento previsto em Lei
Geral de Proteção de Dados Pessoais.
Dito isso, para se pensar em
uma efetiva conformidade em
privacidade e a proteção de dados do
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
cidadão, e para além do que agora
está previsto em le
i, será preciso
investir em novas tecnologias,
inovação e constante atualização dos
seus colaboradores.
Simplesmente anonimizar
dados pessoais na busca por isenção
de responsabilidade, apenas por que a
lei assim o permite não é estar em
compliance
25
, visto
que, conforme
Wodinsky
(2020) a Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais deixa em
aberto esta lacuna
àqueles "
recorrem a essa linha de pensamento
para manter a consciência limpa,
sabendo que a coleta de dados estaria
de acordo com as regras".
Neste cont
exto, a observância à
Governança Digital apresenta
essencial para gerenciar os riscos que
a Tecnologia da Informação oferece ao
negócio e garantir segurança para a
empresa. Pois ela atua como um
mecanismo de controle que assegura
a proteção das inf
ormações, diminui
custos, otimiza recursos e dá suporte à
tomada de decisões.
Ao se pensar na privacidade
devemos estar sempre atentos à
metodologia Privacy by
Desing, que,
25
Compliance é o dever de estar em
conformidade com atos, normas e leis, para
seu efetivo cumprimento. (
BOBSIN
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
cidadão, e para além do que agora
i, será preciso
investir em novas tecnologias,
inovação e constante atualização dos
Simplesmente anonimizar
dados pessoais na busca por isenção
de responsabilidade, apenas por que a
lei assim o permite não é estar em
que, conforme
(2020) a Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais deixa em
àqueles "
que
recorrem a essa linha de pensamento
para manter a consciência limpa,
sabendo que a coleta de dados estaria
exto, a observância à
Governança Digital apresenta
-se como
essencial para gerenciar os riscos que
a Tecnologia da Informação oferece ao
negócio e garantir segurança para a
empresa. Pois ela atua como um
mecanismo de controle que assegura
ormações, diminui
custos, otimiza recursos e dá suporte à
Ao se pensar na privacidade
devemos estar sempre atentos à
Desing, que,
Compliance é o dever de estar em
conformidade com atos, normas e leis, para
BOBSIN
, 2019)
segundo Bruno Bioni (2019
a ideia de que a proteção de dados
pessoais de
ve orientar a concepção de
um produto ou serviços, devendo eles
ser embarcados com tecnologias que
facilitem o controle e a proteção das
informações pessoais
mais, conforme
Souza
“[...]
segurança e sigilo aparecem
como dois
elementos incontornáveis
para que se possa afirmar que dados
(pessoais) o protegidos. Dito de
outra forma, não existe proteção de
dados sem segurança e sigilo dos
mesmos”.
Antecipa a lei:
Art. 12, da Lei 13.709/2018
dados anonimizados não serão
considerados dados pessoais para
os fins desta Lei,
processo de anonimização ao qual
foram submetidos for revertido
utilizando exclusivamente meios
próprios, ou quando, com esforços
razoáveis, puder ser revertido. (
nossos)
Para além
da Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais,
devemos igualmente nos ater ainda ao
Marco Civil da Internet (Lei
12.965/2014),
onde se encontra
prevista, nos artigos 13 e 15, a
determinação expressa de que o
regime de guarda dos dados
armazenados pelos pr
conexão e pelos provedores de
226
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
segundo Bruno Bioni (2019
, p.176) é
a ideia de que a proteção de dados
ve orientar a concepção de
um produto ou serviços, devendo eles
ser embarcados com tecnologias que
facilitem o controle e a proteção das
informações pessoais
”. De mais a
Souza
(2019, p. 418),
segurança e sigilo aparecem
elementos incontornáveis
para que se possa afirmar que dados
(pessoais) o protegidos. Dito de
outra forma, não existe proteção de
dados sem segurança e sigilo dos
Art. 12, da Lei 13.709/2018
- Os
dados anonimizados não serão
considerados dados pessoais para
os fins desta Lei,
salvo quando o
processo de anonimização ao qual
foram submetidos for revertido
,
utilizando exclusivamente meios
próprios, ou quando, com esforços
razoáveis, puder ser revertido. (
grifos
da Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais,
devemos igualmente nos ater ainda ao
Marco Civil da Internet (Lei
onde se encontra
prevista, nos artigos 13 e 15, a
determinação expressa de que o
regime de guarda dos dados
armazenados pelos pr
ovedores de
conexão e pelos provedores de
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
aplicação deverá atender a parâmetros
de controle e segurança:
Art. 13 -
Na provisão de conexão à
internet, cabe ao administrador de
sistema autônomo respectivo o dever
de manter os registros de conexão,
sob sigilo
, em
controlado e de segurança
prazo de 1 (um) ano, nos termos do
regulamento.
Art. 15 -
O provedor de aplicações de
internet constituído na forma de
pessoa jurídica e que exerça essa
atividade de forma organizada,
profissionalmente e com f
econômicos deverá manter os
respectivos registros de acesso a
aplicações de internet,
em
ambiente controlado e de
segurança
, pelo prazo de 6 (seis)
meses, nos termos do regulamento.
(grifos nossos)
Como se observa, a segurança
no
armazenamento de dados não é
algo que possa simplesmente ser
esquivado por conta meramente do
cumprimento de determinação legal,
visto que a própria lei deixa em aberto
quais os métodos a serem adotados
para a segurança, mas é pontual no
que determina que
tais dados devem
ser armazenados em ambien
controlado e de segurança.
Souza (2019, p.
421) defende a
importância de que a consciência das
pessoas se desperte para a relevância
dos seus dados pessoais, a fim de que
a segurança e o sigilo acerca deles
aumentem. Parece haver a
necessidade de se saber que o
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
aplicação deverá atender a parâmetros
Na provisão de conexão à
internet, cabe ao administrador de
sistema autônomo respectivo o dever
de manter os registros de conexão,
, em
ambiente
controlado e de segurança
, pelo
prazo de 1 (um) ano, nos termos do
O provedor de aplicações de
internet constituído na forma de
pessoa jurídica e que exerça essa
atividade de forma organizada,
profissionalmente e com f
ins
econômicos deverá manter os
respectivos registros de acesso a
aplicações de internet,
sob sigilo,
ambiente controlado e de
, pelo prazo de 6 (seis)
meses, nos termos do regulamento.
Como se observa, a segurança
armazenamento de dados não é
algo que possa simplesmente ser
esquivado por conta meramente do
cumprimento de determinação legal,
visto que a própria lei deixa em aberto
quais os métodos a serem adotados
para a segurança, mas é pontual no
tais dados devem
ser armazenados em ambien
te
controlado e de segurança.
421) defende a
importância de que a consciência das
pessoas se desperte para a relevância
dos seus dados pessoais, a fim de que
a segurança e o sigilo acerca deles
aumentem. Parece haver a
necessidade de se saber que o
tratamento de dados pessoais é do
int
eresse de todos. Esta compreensão
encontra guarida em
180-
253), para quem o sentido
contemporâneo de direito à
privacidade passou a necessitar de
uma perspectiva e proteção coletivas.
Conclusão
Verificou-
se que um dos muitos
paradoxos do f
uturo tecnológico
envolve, cada vez mais, o campo da
privacidade pessoal. Toda a pesquisa
leva à conclusão de que os dados
pessoais, por mais anônimos que as
empresas digam que estejam, não
estão protegidos corretamente.
Cabe à legislação a
regulamentação
adequada, com o fim
de garantir condições para a
implementação de uma eficaz
Proteção de Dados Pessoais.
Entretanto, os avanços legislativos o
inócuos na proteção da intimidade e
da privacidade das pessoas.
Testemunham este entender as mais
recentes pesq
uisas ao que denunciam
que 85% das empresas nacionais não
estão preparadas para a vigência da
Lei Geral de Proteção de Dados
Pessoais.
227
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
tratamento de dados pessoais é do
eresse de todos. Esta compreensão
encontra guarida em
Olivo (2016, p.
253), para quem o sentido
contemporâneo de direito à
privacidade passou a necessitar de
uma perspectiva e proteção coletivas.
se que um dos muitos
uturo tecnológico
envolve, cada vez mais, o campo da
privacidade pessoal. Toda a pesquisa
leva à conclusão de que os dados
pessoais, por mais anônimos que as
empresas digam que estejam, não
estão protegidos corretamente.
Cabe à legislação a
adequada, com o fim
de garantir condições para a
implementação de uma eficaz
Proteção de Dados Pessoais.
Entretanto, os avanços legislativos o
inócuos na proteção da intimidade e
da privacidade das pessoas.
Testemunham este entender as mais
uisas ao que denunciam
que 85% das empresas nacionais não
estão preparadas para a vigência da
Lei Geral de Proteção de Dados
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
A atuação cidadã se inicia,
primeiro, no reconhecimento do
problema do tratamento dado aos
dados pessoais, para
posteri
reivindicar e pensar em uma maior
responsabilização de todos os
envolvidos no manuseio destes dados.
E o mais preocupante é que
tudo isso tem sido feito a partir de uma
série de dados que podem parecer
irrelevantes para o cidadão comum, e
este é
o ponto de maior
vulnerabilidade: quando não
preocupação em ler e entender as
diretivas de tratamento de dados
pessoais no ato de contratação de um
serviço, qual tecnologia será aplicada
por determinada empresa ou mesmo
qual aplicativo será utilizado pa
referido serviço: por
geralmente, é costume apensar aceitar
os termos de uso sem os ter lido
devidamente.
Revela-
se importante um
debate amplo, aberto, sincero e
democrático a respeito do avanço da
tecnologia. Não se mostra viável, de
modo
algum, que as pessoas
continuem sem respostas sobre o que
é feito com seus dados pessoais,
tendo seus dados utilizados como
moeda de troca nas plataformas
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
A atuação cidadã se inicia,
primeiro, no reconhecimento do
problema do tratamento dado aos
posteri
ormente
reivindicar e pensar em uma maior
responsabilização de todos os
envolvidos no manuseio destes dados.
E o mais preocupante é que
tudo isso tem sido feito a partir de uma
série de dados que podem parecer
irrelevantes para o cidadão comum, e
o ponto de maior
vulnerabilidade: quando não
preocupação em ler e entender as
diretivas de tratamento de dados
pessoais no ato de contratação de um
serviço, qual tecnologia será aplicada
por determinada empresa ou mesmo
qual aplicativo será utilizado pa
ra o
referido serviço: por
default,
geralmente, é costume apensar aceitar
os termos de uso sem os ter lido
se importante um
debate amplo, aberto, sincero e
democrático a respeito do avanço da
tecnologia. Não se mostra viável, de
algum, que as pessoas
continuem sem respostas sobre o que
é feito com seus dados pessoais,
tendo seus dados utilizados como
moeda de troca nas plataformas
digitais, comsua intimidade violada de
maneira brutal, sem que nada possam
fazer em relação a isso.
A
solução para a maioria
desses problemas enfrentados na
sociedade da informação passa pela
Educação Digital, que possui o viés de
atingir um maior número de pessoas,
visto serpelo estudo que se leva ao
conhecimento de si próprio como
sujeito de direitos.
Referências bibliográficas:
ATHENIENSE, Alexandre Rodrigues.
Lei Geral de Proteção de Dados nos
escritórios de advocacia.
Deepcontent, 2019. p.12, 21, 22
BIONI, Bruno Ricardo. Dados
‘anônimos’ como a antítese de dados
pessoais: filtro da
razoabilidade.
Proteção de Dados Pessoais
Função e os Limites do
Consentimento. Rio de Janeiro:
Editora Forense, 2019. p.71, 73, 176.
BOBSIN
, Arthur. 2019.
é compliance e como colocar em
prática.
(2019). Disponível em:
https://www.aur
um.com.br/blog/o
e-
compliance/ Acesso: 30 mar. 2020.
BRASIL.
Marco Civil da Internet
25ª ed. São Paulo: Vade
Tradicional; Editora Saraiva, 2018.
p.2217-2218.
BRASIL.
Lei Geral de Proteção de
Dados Pessoais (LGPD).
Da Fiscali
zação Seção, Das Sanções
Administrativas. Disponível em:
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato201
5-
2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso:
20 mar. 2020.
228
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
digitais, comsua intimidade violada de
maneira brutal, sem que nada possam
fazer em relação a isso.
solução para a maioria
desses problemas enfrentados na
sociedade da informação passa pela
Educação Digital, que possui o viés de
atingir um maior número de pessoas,
visto serpelo estudo que se leva ao
conhecimento de si próprio como
Referências bibliográficas:
ATHENIENSE, Alexandre Rodrigues.
Lei Geral de Proteção de Dados nos
escritórios de advocacia.
São Paulo:
Deepcontent, 2019. p.12, 21, 22
BIONI, Bruno Ricardo. Dados
‘anônimos’ como a antítese de dados
razoabilidade.
In:
Proteção de Dados Pessoais
- A
Função e os Limites do
Consentimento. Rio de Janeiro:
Editora Forense, 2019. p.71, 73, 176.
, Arthur. 2019.
Entenda o que
é compliance e como colocar em
(2019). Disponível em:
um.com.br/blog/o
-que-
compliance/ Acesso: 30 mar. 2020.
Marco Civil da Internet
(2014).
25ª ed. São Paulo: Vade
Mecum
Tradicional; Editora Saraiva, 2018.
Lei Geral de Proteção de
Dados Pessoais (LGPD).
Capítulo VIII,
zação Seção, Das Sanções
Administrativas. Disponível em:
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato201
2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso:
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
CABELLA, Daniela Motta Monte
Serrat. A GDPR pode puxar o tapete
da sua empresa: saiba como se
prevenir. In: Dire
ito Digital Aplicado
3.0
, São Paulo: Thomson Reuters,
2018. p.57,77.
CABELLA, Daniela Motta Monte
Serrat.
Cambridge Dicionary
broker.
Disponível em:
https://dictionary.cambridge.org/pt/dicio
nario/ingles/data-
broker. Acesso: 30
mar. 2020.
CHEN, Angela
. Differentialprivacy.
In:
10 Breakthrough Technologies
2020
. Disponível em:
https://www.technologyreview.com/lists
/technologies/2020/ Acesso: 15 mar.
2020.
EUROPA.
General Data Protection
Regulation (GDPR).
Capítulo IV.
Controllerand processor. Disponível
em: https://gdpr-
info.eu/chapter
Acesso: 20 mar. 2020.
FAGUNDES, Eduardo.
Blockchain e IA podem proteger sua
privacidade.
Disponível em:
https://efagundes.com/blog/uso
blockchain-e-inteligencia-
artificial
proteger-dados-
pessoais/. Acesso: 15
mar. 2020.
FAGUNDES, Eduardo. GOOGLE,
2017.
Privacidade & Termos: Como o
Google Anonimiza os dados
Disponível em:
https://policies.google.com/
s/anonymization?hl=pt-
BR. Acesso: 17
mar. 2020.
FAGUNDES, Eduardo. GOOGLE,
2019.
Permitindo que desenvolvedores
e organizações usem privacidade
diferencial.
Disponível em:
https://brasil.googleblog.com/2019/09/
permitindo-que-
desenvolvedores
organizacoes-usem-
privacidade
diferencial.html
. Acesso: 25 mar. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
CABELLA, Daniela Motta Monte
Serrat. A GDPR pode puxar o tapete
da sua empresa: saiba como se
ito Digital Aplicado
, São Paulo: Thomson Reuters,
CABELLA, Daniela Motta Monte
Cambridge Dicionary
. Data
Disponível em:
https://dictionary.cambridge.org/pt/dicio
broker. Acesso: 30
. Differentialprivacy.
10 Breakthrough Technologies
. Disponível em:
https://www.technologyreview.com/lists
/technologies/2020/ Acesso: 15 mar.
General Data Protection
Capítulo IV.
Controllerand processor. Disponível
info.eu/chapter
-4/
FAGUNDES, Eduardo.
Como
Blockchain e IA podem proteger sua
Disponível em:
https://efagundes.com/blog/uso
-de-
artificial
-para-
pessoais/. Acesso: 15
FAGUNDES, Eduardo. GOOGLE,
Privacidade & Termos: Como o
Google Anonimiza os dados
.
Disponível em:
https://policies.google.com/
technologie
BR. Acesso: 17
FAGUNDES, Eduardo. GOOGLE,
Permitindo que desenvolvedores
e organizações usem privacidade
Disponível em:
https://brasil.googleblog.com/2019/09/
desenvolvedores
-e-
privacidade
-
. Acesso: 25 mar. 2020.
FAGUNDES, Eduardo. GOOGLE,
2020.Differential-
privacy
em:
https://github.com/google/differential
privacy/tree/master/differential_privacy.
Acesso: 17 mar. 2020.
GREENBERG, Andy.
‘Differential Privacy’ Is About Collecting
Your Data—
But Not Your Data
(
,2016). Disponível em:
https://www.wired
.com/2016/06/apples
-differential-privacy-
collecting
Acesso: 16 mar. 2020.
GREENBERG, Andy.
Apple's Key Privacy Safeguards Falls
Short
(2017).Disponível
https://www.wired.com/story/apple
differential-privacy-
shortcomings/
Acesso: 26 mar. 2020.
KURTZ, Lahis.
Privacidade diferencial:
o ruído anonimizador.
http
://irisbh.com.br/privacidade
diferencial-o-ruido-
anonimizador/.
Acesso: 2 mar. 2020.
OLIVO, Mikhail Vieira Cancelier de.
Infinito particular: privacidade no
século XXI e a manutenção do direito
de estar só.
(Doutorado em Direito).
Universidade Federal de S
Catarina, 2016. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/
123456789/174424.
Acesso: 20 mar.
2020.
OLIVO, Mikhail Vieira Cancelier de.
Open Source Initiative
and protect open source software and
communities...
Disponível em:
https://opensource.org/ aberto.
Acesso: 30 mar. 2020.
PINHEIRO, Patrícia Peck. Privacidade
e anonimato. In:
Direito Digital
rev., atual e ampl.
Saraiva, 2016a. p.
95, 98.
PINHEIRO, Patrícia Peck. Proteção de
dados pessoais. In:
229
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
FAGUNDES, Eduardo. GOOGLE,
privacy
. Disponível
https://github.com/google/differential
-
privacy/tree/master/differential_privacy.
Acesso: 17 mar. 2020.
GREENBERG, Andy.
Apple’s
‘Differential Privacy’ Is About Collecting
But Not Your Data
.
,2016). Disponível em:
.com/2016/06/apples
collecting
-data/.
Acesso: 16 mar. 2020.
GREENBERG, Andy.
How One of
Apple's Key Privacy Safeguards Falls
(2017).Disponível
em:
https://www.wired.com/story/apple
-
shortcomings/
.
Acesso: 26 mar. 2020.
Privacidade diferencial:
o ruído anonimizador.
Disponível em:
://irisbh.com.br/privacidade
-
anonimizador/.
OLIVO, Mikhail Vieira Cancelier de.
Infinito particular: privacidade no
século XXI e a manutenção do direito
(Doutorado em Direito).
Universidade Federal de S
anta
Catarina, 2016. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/
Acesso: 20 mar.
OLIVO, Mikhail Vieira Cancelier de.
Open Source Initiative
. To promote
and protect open source software and
Disponível em:
https://opensource.org/ aberto.
Acesso: 30 mar. 2020.
PINHEIRO, Patrícia Peck. Privacidade
Direito Digital
. 6. ed.
rev., atual e ampl.
São Paulo:
95, 98.
PINHEIRO, Patrícia Peck. Proteção de
Direito Digital. 6.
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
ed. rev., atual e ampl. –
Saraiva, 2016b. p.481.
SANTANA, Bruno.
A privacidade
diferencial da Apple pode não ser tão
diferencial assim, como mostra este
estudo.
Disponível em:
https://macmagazine.uol.com.br/post/2
017/09/18/a-privacidade-
diferencial
apple-pode-nao-ser-tao-
diferencial
assim-como-mostra-este-
estudo/.
Acesso: 17 mar. 2020.
SANTANA, Bruno. Big data. In:
Significados
, (março 2020). Disponível
em:
https://www.significados.com.br/big
data/. Acesso: 17 mar. 2020.
SANTANA, Bruno. Insight. In:
Significados.
(2014)..Disponível em:
https://www.significados.com.br/insight
/. Acesso: 17 mar. 2020.
SANTANA, Bruno. Machinelearning.
In: Significados. (2018)..
em:
https://www.significados.com.br/machi
ne-
learning/. Acesso: 15 mar. 2020.
SANTANA, Bruno. Website. In:
Significados. (2011).
Disponível em:
https://www.significados.com.br/websit
e/. Acesso: 16 mar. 2020.
SIMÕES, Moisés.
Anonimização e
pseu
donimização o o suficiente?
Disponível em:
https://www.serpro.gov.br/lgpd/noticias
/2019/anonimizacao-
pseudonimizacao
dados-suficientes-adequar
-
Acesso: 10 fev. 2020.
SNOWDEN,
Edward.
Snowden: ‘Não são dados sendo
explorados, são pessoas’.
em:
https://epocanegocios.globo.com/Web
Summit/noticia/2019/11/edward
snowden-nao-sao-dados-
sendo
explorados-sao-
pessoas.html. Acesso:
13 out. 2019.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
São Paulo:
A privacidade
diferencial da Apple pode não ser tão
diferencial assim, como mostra este
Disponível em:
https://macmagazine.uol.com.br/post/2
diferencial
-da-
diferencial
-
estudo/.
SANTANA, Bruno. Big data. In:
, (março 2020). Disponível
https://www.significados.com.br/big
-
data/. Acesso: 17 mar. 2020.
SANTANA, Bruno. Insight. In:
(2014)..Disponível em:
https://www.significados.com.br/insight
SANTANA, Bruno. Machinelearning.
Disponível
https://www.significados.com.br/machi
learning/. Acesso: 15 mar. 2020.
SANTANA, Bruno. Website. In:
Disponível em:
https://www.significados.com.br/websit
Anonimização e
donimização o o suficiente?
Disponível em:
https://www.serpro.gov.br/lgpd/noticias
pseudonimizacao
-
-
lgpd.
Edward.
Edward
Snowden: ‘Não são dados sendo
explorados, são pessoas’.
Disponível
https://epocanegocios.globo.com/Web
-
Summit/noticia/2019/11/edward
-
sendo
-
pessoas.html. Acesso:
SOUZA, Carlos Affonso Pereira de.
Blockchain. In:
Wikipédia (
2020). Disponível em:
https:
//pt.wikipedia.org/wiki/Blockchain.
Acesso: 16 mar. 2020.
SOUZA, Carlos Affonso Pereira de.
Crowdsourcing. In:
Wikipédia (
2020).
Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Crowdsour
cing. Acesso: 26 mar. 2020.
SOUZA, Carlos Affonso Pereira de.
Hash. In:
Wikipédia. (
Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fun%C3%
A7%C3%A3o_hash. Acesso: 26 mar.
2020.
SOUZA, Carlos Affonso Pereira de.
Segurança e Sigilo dos Dados
Pessoais: primeiras impressões à luz
da Lei 13.709/2018
.
Proteção de dados Pessoais e suas
Repercussões no Direito Brasileiro
São Paulo: Thomson Reuters Brasil,
2019. p.418, 421.
SOUZA, Carlos Affonso Pereira de.
STJ. Recurso Especial REsp
1758799 / MG (2017/0006521
Relator(a): Min. Nancy Andrighi
Te
rceira Turma, Data de Julgamento
11/12/2019. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/d
ocumento/mediado/?componente=ITA
&sequencial=1888267&num_registro=
201700065219&data=20191119&form
ato=PDF
. Acesso: 25 mar. 2020.
SOUZA, Carlos Affonso Pereira de..
Compartilhamento de informações de
banco de dados exi
prévia ao consumidor
Disponível em:
http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Pagin
as/Comunicacao/Noticias/Compartilha
mento-de-
informacoes
dados-exige-
notificacao
consumidor.aspx Acesso: 04/03/2020
230
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
SOUZA, Carlos Affonso Pereira de.
Wikipédia (
fevereiro
2020). Disponível em:
//pt.wikipedia.org/wiki/Blockchain.
Acesso: 16 mar. 2020.
SOUZA, Carlos Affonso Pereira de.
Wikipédia (
janeiro
Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Crowdsour
cing. Acesso: 26 mar. 2020.
SOUZA, Carlos Affonso Pereira de.
Wikipédia. (
março 2020).
Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fun%C3%
A7%C3%A3o_hash. Acesso: 26 mar.
SOUZA, Carlos Affonso Pereira de.
Segurança e Sigilo dos Dados
Pessoais: primeiras impressões à luz
.
In: Lei Geral de
Proteção de dados Pessoais e suas
Repercussões no Direito Brasileiro
.
São Paulo: Thomson Reuters Brasil,
SOUZA, Carlos Affonso Pereira de.
STJ. Recurso Especial REsp
1758799 / MG (2017/0006521
-9)
Relator(a): Min. Nancy Andrighi
-
rceira Turma, Data de Julgamento
11/12/2019. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/d
ocumento/mediado/?componente=ITA
&sequencial=1888267&num_registro=
201700065219&data=20191119&form
. Acesso: 25 mar. 2020.
SOUZA, Carlos Affonso Pereira de..
Compartilhamento de informações de
banco de dados exi
ge notificação
prévia ao consumidor
.STJ. Notícias.
Disponível em:
http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Pagin
as/Comunicacao/Noticias/Compartilha
informacoes
-de-banco-de-
notificacao
-previa-ao-
consumidor.aspx Acesso: 04/03/2020
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 214-231 , s
et. 2020.
TANG, J.; KO
ROLOVA, A.; BAI, X.;
WANG, X.; WANG, X.
Privacy Loss in
Apple’s Implementation of Differential
Privacy on MacOS 10.12
.
em:
https://arxiv.org/pdf/1709.02753.pdf.
Acesso: 26 mar. 2020.
WODINSKY, Shoshana.
anônimos não ajudam a realmente
proteger identidades.
Disponível em:
https://gizmodo.uol.com.br/dados
anonimos-nao-protegem-
identidades/.
Acesso: 10 fev. 2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
COSTA, AgenosAlexsander C.; FILÓ, Maurício C. S. O conceito e
privacidade diferencial em relação à reidentificação de dados pessoais.
Americana de Estudos em Cultura,
et. 2020.
ROLOVA, A.; BAI, X.;
Privacy Loss in
Apple’s Implementation of Differential
.
Disponível
https://arxiv.org/pdf/1709.02753.pdf.
WODINSKY, Shoshana.
Dados
anônimos não ajudam a realmente
Disponível em:
https://gizmodo.uol.com.br/dados
-
identidades/.
231
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
Minority Report
DOI: https://doi.org/
10.22409/pragmatizes.v10i19.42292
Resumo
: Tendo como objetivo refletir sobre o ideário de vigilância e de livre
tecnologias digitais nas últimas duas décadas, analisaremos a
sintetizadas no dispositivo Pré-
Crime
1956 e adaptado para o cinema por Steven Spielberg em 2002, como uma figuração literária de
impasses também capturados conceitualmente em noções como
(ZUBOFF, 2019) e “g
overnamentalidade algo
labirinto conceitual derivado de um cenário novo e dinâmico, podemos voltar o olhar para a ficção
científica à procura de exercícios de imaginação especulativa consistentes que tentem mapear, por
meio da construç
ão de universos ficcionais futurísticos alternativos à nossa realidade, alguns dos
dilemas que constituem a nossa experiência presente. Assim, leremos o conto
uma tradução formal de impasses e uma construção ficcional na qual utopia e
lados da mesma moeda
(LARREGUE
Palavras-chave:
Capitalismo de Vigilância; Governamentalidade algorítmica; Distopia; Ficção
Científica; Philip K. Dick.
Minority Report
y el gobierno de la distopía algorítmica
Resumen
: Con el objetivo de reflexionar sobre las ideas de vigilancia y libre albedrío frente a las
tecnologías digitales en las últimas dos décadas, analizaremos la encrucijada de ambivalencias
sintetizadas en el dispositivo Precrimen creado en
publicado en 1956 y adaptado para el cine por Steven Spielberg en 2002, como figuración literaria de
puntos muertos también capturados conceptualmente en nociones como "capitalismo de vigilancia"
(ZUBOFF, 2019) y "guber
namentalidad algorítmica" (ROUVROY
laberinto conceptual derivado de un escenario nuevo y dinámico, podemos recurrir a la ciencia ficción
en busca de ejercicios consistentes de imaginación especulativa que intenten mapear, a trav
construcción de universos futuristas de ficción alternativos a nuestra realidad, algunos de los dilemas
que constituyen nuestra experiencia actual. Por lo tanto, leeremos el cuento
1
Marcelo Cizaurre Guirau.
Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Professor do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia São Paulo (IFSP)
cizaurre@ifsp.edu.br -
https://orcid.org/0000
2
Ana Elisa Sobral Caetano da Silva Ferreira
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia São Paulo (IFSP)
anaelisaferreira@ifsp.edu.br -
https://orcid.org/0000
Recebido em 22/04/2020, aceito para publicação em 26/04/2020, disponibiliz
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
Minority Report
e o governo da distopia algorítmica
10.22409/pragmatizes.v10i19.42292
Marcelo Cizaurre Guirau
Ana Elisa Sobral Caetano da Silva Ferreira
: Tendo como objetivo refletir sobre o ideário de vigilância e de livre
tecnologias digitais nas últimas duas décadas, analisaremos a
s
encruzilhadas de ambivalências
Crime
criado em Minority Report,
conto de Philip K. Dick publicado em
1956 e adaptado para o cinema por Steven Spielberg em 2002, como uma figuração literária de
impasses também capturados conceitualmente em noções como
c
apitalismo de
overnamentalidade algo
rítmica” (ROUVROY;
BERNS, 201
labirinto conceitual derivado de um cenário novo e dinâmico, podemos voltar o olhar para a ficção
científica à procura de exercícios de imaginação especulativa consistentes que tentem mapear, por
ão de universos ficcionais futurísticos alternativos à nossa realidade, alguns dos
dilemas que constituem a nossa experiência presente. Assim, leremos o conto
Minority Report
uma tradução formal de impasses e uma construção ficcional na qual utopia e
(LARREGUE
; WANNYN; DARTIGUES, 2019).
Capitalismo de Vigilância; Governamentalidade algorítmica; Distopia; Ficção
y el gobierno de la distopía algorítmica
: Con el objetivo de reflexionar sobre las ideas de vigilancia y libre albedrío frente a las
tecnologías digitales en las últimas dos décadas, analizaremos la encrucijada de ambivalencias
sintetizadas en el dispositivo Precrimen creado en
Minority Report
, un cuento de Philip K. Dick
publicado en 1956 y adaptado para el cine por Steven Spielberg en 2002, como figuración literaria de
puntos muertos también capturados conceptualmente en nociones como "capitalismo de vigilancia"
namentalidad algorítmica" (ROUVROY
;
BERNS, 201
laberinto conceptual derivado de un escenario nuevo y dinámico, podemos recurrir a la ciencia ficción
en busca de ejercicios consistentes de imaginación especulativa que intenten mapear, a trav
construcción de universos futuristas de ficción alternativos a nuestra realidad, algunos de los dilemas
que constituyen nuestra experiencia actual. Por lo tanto, leeremos el cuento
Minority Report
Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Professor do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia São Paulo (IFSP)
, Brasil. E-
mail:
https://orcid.org/0000
-0002-3148-7910
Ana Elisa Sobral Caetano da Silva Ferreira
.
Doutoranda em Linguística (UFSCAR);
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia São Paulo (IFSP)
, Brasil. E-
mail:
https://orcid.org/0000
-0003-4633-632X
Recebido em 22/04/2020, aceito para publicação em 26/04/2020, disponibiliz
01/09/2020
232
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
e o governo da distopia algorítmica
Marcelo Cizaurre Guirau
1
Ana Elisa Sobral Caetano da Silva Ferreira
2
: Tendo como objetivo refletir sobre o ideário de vigilância e de livre
-arbítrio frente às
encruzilhadas de ambivalências
conto de Philip K. Dick publicado em
1956 e adaptado para o cinema por Steven Spielberg em 2002, como uma figuração literária de
apitalismo de
vigilância”
BERNS, 201
8). Em meio ao
labirinto conceitual derivado de um cenário novo e dinâmico, podemos voltar o olhar para a ficção
científica à procura de exercícios de imaginação especulativa consistentes que tentem mapear, por
ão de universos ficcionais futurísticos alternativos à nossa realidade, alguns dos
Minority Report
como
uma tradução formal de impasses e uma construção ficcional na qual utopia e
distopia podem ser
Capitalismo de Vigilância; Governamentalidade algorítmica; Distopia; Ficção
: Con el objetivo de reflexionar sobre las ideas de vigilancia y libre albedrío frente a las
tecnologías digitales en las últimas dos décadas, analizaremos la encrucijada de ambivalencias
, un cuento de Philip K. Dick
publicado en 1956 y adaptado para el cine por Steven Spielberg en 2002, como figuración literaria de
puntos muertos también capturados conceptualmente en nociones como "capitalismo de vigilancia"
BERNS, 201
8). En medio del
laberinto conceptual derivado de un escenario nuevo y dinámico, podemos recurrir a la ciencia ficción
en busca de ejercicios consistentes de imaginación especulativa que intenten mapear, a trav
és de la
construcción de universos futuristas de ficción alternativos a nuestra realidad, algunos de los dilemas
Minority Report
como
Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Professor do
mail:
Doutoranda em Linguística (UFSCAR);
professora do
mail:
Recebido em 22/04/2020, aceito para publicação em 26/04/2020, disponibiliz
ado online em
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
una traducción formal de puntos muertos y una
pueden ser lados de la misma moneda (LARREGUE
Palabras claves
: Capitalismo de vigilancia; Gubernamentalidad algorítmica; Distopía; Ciencia ficción;
Philip K. Dick.
Minority Report
and the rule of the algorithmic dystopia
Abstract
: With the purpose of reflecting about
digital technology of the last two decades, we intend to analyze the crossway of ambivalences
condensed in the Pre-
Crime system created in
published
in 1956 and screen played by Seven Spielberg in 2002, as a literary figuration of impasses
also conceptually captured in notions such as
“al
gorithmic governmentality” (ROUVROY
derived from a new and dynamic landscape, we
exercises in speculative imagin
ation which try to map, through the construction of futuristic fictional
universes alternative to our reality, some of the dilemmas which constitute our present experience. In
this way, we intend to read the short
a fictional construction in which utopia and dystopia can be sides of the same coin (LARREGUE
WANNYN;DARTIGUES, 2019).
Keywords:
Surveillance capitalism; Algorithmic governmentality; Dystopia; Science Fiction; Philip K.
Dick.
Minority Report
Introdução
No início dos anos 90, Pierre
Lévy lançou um livro dedicado às
tecnologias da inteligência cuja
reflexão sobre
o futuro do pensamento
na era da informática
também propõe,
no capítulo das coletividades
pensantes, o fim da metafísica. Nas
palavras do autor,
A ecologia
cognitiva substitui as oposições
radicais da metafísica por um mundo
matizado, misturado, no qual
de subjetividade
emergem de
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
una traducción formal de puntos muertos y una
construcción ficticia en la que la utopía y la distopía
pueden ser lados de la misma moneda (LARREGUE
; WANNYN;
DARTIGUES, 2019).
: Capitalismo de vigilancia; Gubernamentalidad algorítmica; Distopía; Ciencia ficción;
and the rule of the algorithmic dystopia
: With the purpose of reflecting about
ideason surveillance and free-
will in the face of the
digital technology of the last two decades, we intend to analyze the crossway of ambivalences
Crime system created in
Minority Report, a short-
story by Philip K Dick
in 1956 and screen played by Seven Spielberg in 2002, as a literary figuration of impasses
also conceptually captured in notions such as
surveillance
capitalism (ZUBOFF, 2019) and
gorithmic governmentality” (ROUVROY
;
BERNS, 2013). Encircled by the conceptual labyrinth
derived from a new and dynamic landscape, we
turn our gaze to science fiction in search of consistent
ation which try to map, through the construction of futuristic fictional
universes alternative to our reality, some of the dilemmas which constitute our present experience. In
this way, we intend to read the short
-story Minority Report as a formal translat
ion of impasses and as
a fictional construction in which utopia and dystopia can be sides of the same coin (LARREGUE
Surveillance capitalism; Algorithmic governmentality; Dystopia; Science Fiction; Philip K.
Minority Report
e o governo da distopia algorítmica
No início dos anos 90, Pierre
Lévy lançou um livro dedicado às
tecnologias da inteligência cuja
o futuro do pensamento
também propõe,
no capítulo das coletividades
pensantes, o fim da metafísica. Nas
A ecologia
cognitiva substitui as oposições
radicais da metafísica por um mundo
matizado, misturado, no qual
efeitos
emergem de
processos locais e transitórios
2016, p. 170,
grifos do autor).
Isto é, Lévy, ao utilizar a
metáfora d
o cérebro como computador
(memória de trabalho), baseia
teorias da psicologia cognitiva sobre
memória para construir sua tese de
uma ecologia cognitiva do pensamento
fundido a dispositivos técnicos. Para o
autor,
pensar é um devir coletivo no
qual misturam-
se homens e coisas
(LÉVY, 2016
, p. 171). Tal mistura, na
era da informática, daria vazão a uma
inteligência coletiva mediada pela
233
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
construcción ficticia en la que la utopía y la distopía
DARTIGUES, 2019).
: Capitalismo de vigilancia; Gubernamentalidad algorítmica; Distopía; Ciencia ficción;
will in the face of the
digital technology of the last two decades, we intend to analyze the crossway of ambivalences
story by Philip K Dick
in 1956 and screen played by Seven Spielberg in 2002, as a literary figuration of impasses
capitalism (ZUBOFF, 2019) and
BERNS, 2013). Encircled by the conceptual labyrinth
turn our gaze to science fiction in search of consistent
ation which try to map, through the construction of futuristic fictional
universes alternative to our reality, some of the dilemmas which constitute our present experience. In
ion of impasses and as
a fictional construction in which utopia and dystopia can be sides of the same coin (LARREGUE
;
Surveillance capitalism; Algorithmic governmentality; Dystopia; Science Fiction; Philip K.
e o governo da distopia algorítmica
processos locais e transitórios
(LÉVY,
grifos do autor).
Isto é, Lévy, ao utilizar a
o cérebro como computador
(memória de trabalho), baseia
-se nas
teorias da psicologia cognitiva sobre
memória para construir sua tese de
uma ecologia cognitiva do pensamento
fundido a dispositivos técnicos. Para o
pensar é um devir coletivo no
se homens e coisas
, p. 171). Tal mistura, na
era da informática, daria vazão a uma
inteligência coletiva mediada pela
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
informática e regida por uma
tecnodemocracia.
A visão utópica e entusiasta de
Lévy se choca com a
posição quase
dis
tópica de Régis Debray
30), que
afirma ser a
“ciberdemocracia”
o sonho do
tecnocrata que esqueceu sua parte
animal”
. Em meio ao labirinto
conceitual derivado de um cenário
novo e dinâmico como o que esses
pensadores buscam investigar,
podemos vo
ltar o olhar para a ficção
científica à procura de exercícios de
imaginação especulativa consistentes
que tentem mapear, por meio da
construção de universos ficcionais
futurísticos alternativos à nossa
realidade, alguns dos impasses que
vêm marcando o deba
te filosófico
acima referido.
Dessa forma
analisaremos o conto
Minority Report
escrito por Philip K Dick, como uma
formalização de impasses
construção na qual utopia e distopia
podem ser lados da mesma moeda
(LARREGUE;
DARTIGUES, 2019).
Publicado em 1956 e adaptado
para o cinema por Steven Spielberg
em 2002
com roteiro de Scott Frank
e Jon Cohen –,
Minority Report
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
informática e regida por uma
A visão utópica e entusiasta de
posição quase
tópica de Régis Debray
(2000, p.
afirma ser a
o sonho do
tecnocrata que esqueceu sua parte
. Em meio ao labirinto
conceitual derivado de um cenário
novo e dinâmico como o que esses
pensadores buscam investigar,
ltar o olhar para a ficção
científica à procura de exercícios de
imaginação especulativa consistentes
que tentem mapear, por meio da
construção de universos ficcionais
futurísticos alternativos à nossa
realidade, alguns dos impasses que
te filosófico
Dessa forma
,
Minority Report
,
escrito por Philip K Dick, como uma
formalização de impasses
e uma
construção na qual utopia e distopia
podem ser lados da mesma moeda
WANNYN;
Publicado em 1956 e adaptado
para o cinema por Steven Spielberg
com roteiro de Scott Frank
Minority Report
traz
um mundo em que o crime foi
praticamente extinto pela Divisão
Crime,
que, por meio de um dispositivo
formado pelas
visões do futuro
próximo feitas por três
filtradas por um sistema
computadorizado, faz prisões
momentos antes do crime ser
concretizado.
Assim
pessoas são condenadas por crimes
que efetivamente não cometeram,
situação que arma um di
relacionado a
questões sobre livre
arbítrio: por um lado, a ação da
Crime salva
vidas; por outro, pessoas
são detidas e condenadas por ações
apenas previstas, o que retira delas a
chance de tomar um caminho diferente
e evitar a ação violenta: elas estão,
dessa forma, presas a um destino
imutável e são condenadas com base
em uma pré-visão
d
como monolítico.
Todo o sistema é posto em
xeque
quando Anderton, o chefe
dos criadores
da Divisão
intercepta uma previsão de que ele
cometeria um assassinato. Um
intrincado jogo de interesses,
conduzido por diversos
se desdobra a partir daí. Anderton
lançado, pelo próprio sistema que ele
234
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
um mundo em que o crime foi
praticamente extinto pela Divisão
Pré-
que, por meio de um dispositivo
visões do futuro
próximo feitas por três
precogs e
filtradas por um sistema
computadorizado, faz prisões
momentos antes do crime ser
Assim
, milhares de
pessoas são condenadas por crimes
que efetivamente não cometeram,
situação que arma um di
lema
questões sobre livre
-
arbítrio: por um lado, a ação da
Pré-
vidas; por outro, pessoas
são detidas e condenadas por ações
apenas previstas, o que retira delas a
chance de tomar um caminho diferente
e evitar a ação violenta: elas estão,
dessa forma, presas a um destino
imutável e são condenadas com base
d
e um futuro tido
Todo o sistema é posto em
quando Anderton, o chefe
e um
da Divisão
Pré-Crime,
intercepta uma previsão de que ele
cometeria um assassinato. Um
intrincado jogo de interesses,
conduzido por diversos
personagens,
se desdobra a partir daí. Anderton
é
lançado, pelo próprio sistema que ele
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
luta para manter, em um conflito entre
livre-
arbítrio e a crença na
infalibilidade do mecanismo anti
crimes que vem garantindo a
s
egurança do mundo em que vive.
Ao con
siderarmos a narrativa
como distópica, concordamos com a
afirmação de Botello (201
pensar a contemporaneidade
As distopias permitem dramatizar as
tensões, esperanças e medos que
vivem as sociedades
contemporâneas. Além disso, elas
proporcionam
espaços cognitivos
que permitem visualizar as
morfologias da dominação e do
poder. Propiciam cenários de
resistências ao futuro, mas também
projetos que buscam transformar
ficção em realidade. (p.
A proposta de uma instituição
que prevê e evita crime
s antes que
eles sejam cometidos
flerta
sonho utópico de um entusiasta
tecnológico que acredita no poder
irrefutável da ciência. A trajetória do
personagem Anderton, no entanto,
coloca dúvidas ao leitor quando joga
com a possibilidade da falha.
Logo
nas primeiras linhas do
conto, instala-
se uma dialética entre
livre-
arbítrio e Estado em que a
autonomia individual é abolida em
nome do interesse público e da
garantia de funcionamento perfeito do
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
luta para manter, em um conflito entre
arbítrio e a crença na
infalibilidade do mecanismo anti
-
crimes que vem garantindo a
egurança do mundo em que vive.
siderarmos a narrativa
como distópica, concordamos com a
afirmação de Botello (201
8) para
pensar a contemporaneidade
:
As distopias permitem dramatizar as
tensões, esperanças e medos que
vivem as sociedades
contemporâneas. Além disso, elas
espaços cognitivos
que permitem visualizar as
morfologias da dominação e do
poder. Propiciam cenários de
resistências ao futuro, mas também
projetos que buscam transformar
ficção em realidade. (p.
232)
A proposta de uma instituição
s antes que
flerta
com o
sonho utópico de um entusiasta
tecnológico que acredita no poder
irrefutável da ciência. A trajetória do
personagem Anderton, no entanto,
coloca dúvidas ao leitor quando joga
com a possibilidade da falha.
nas primeiras linhas do
se uma dialética entre
arbítrio e Estado em que a
autonomia individual é abolida em
nome do interesse público e da
garantia de funcionamento perfeito do
Sistema Pré-Crime.
conto constrói uma apor
pressupondo que o sistema funcione,
a intervenção policial antes do fato,
dado como certo, permite a salvação
da vítima e a prisão do criminoso; por
outro lado, o preso pagará por um
crime que não cometeu e que poderia
não ter sido cometido
sistema, ao intervir na iminência do
crime, retira
do indivíduo a autonomia
do julgamento sobre sua ação. Como
Anderton explica a Witwer, “a
execução do crime em si é
absolutamente metafísica. Afirmamos
que são condenáveis” (DICK, 2012, p.
129). Assim,
no universo do conto,
está abolido um dos alicerces
fundamentais do direito penal em
sociedades democráticas: a presunção
de inocência. Uma das máximas do
direito, de que
todo indivíduo é
inocente até que se prov
pressupõe a materialidade do
para a condenação. Essas
salvaguardas jurídicas são abolidas
em Minority Report
, mas em nome de
uma utopia: a extinção dos crimes. O
conto cria, dessa
maneira
em que a eliminação de um direito
fundamental traz um benefício coletivo
inegáv
el e dos mais
235
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Dessa forma, o
conto constrói uma apor
ia:
pressupondo que o sistema funcione,
a intervenção policial antes do fato,
dado como certo, permite a salvação
da vítima e a prisão do criminoso; por
outro lado, o preso pagará por um
crime que não cometeu e que poderia
não ter sido cometido
. Isto é, o
sistema, ao intervir na iminência do
do indivíduo a autonomia
do julgamento sobre sua ação. Como
Anderton explica a Witwer, “a
execução do crime em si é
absolutamente metafísica. Afirmamos
que são condenáveis” (DICK, 2012, p.
no universo do conto,
está abolido um dos alicerces
fundamentais do direito penal em
sociedades democráticas: a presunção
de inocência. Uma das máximas do
todo indivíduo é
inocente até que se prov
e o contrário,
pressupõe a materialidade do
crime
para a condenação. Essas
salvaguardas jurídicas são abolidas
, mas em nome de
uma utopia: a extinção dos crimes. O
maneira
, um dilema
em que a eliminação de um direito
fundamental traz um benefício coletivo
el e dos mais
desejados.
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
Anderton se gaba da redução de 99.8
por cento dos crimes grave
2012, p. 131) e o leitor é levado, nesse
ponto da narrativa, a compartilhar do
entusiasmo de Witw
er pelo
Pré-Crime
: “Um assassinato em cinco
anos
Witwer retomava a confiança.
Um recorde bastante impressionante...
motivo de orgulho
3
(DICK, 2012, p.
131). Aqui vemos a atuação
pêndulo de incertezas na economia do
conto: Witwer, após ter suas
convicções questionadas pelas
primeiras dúvidas colo
cadas por
Anderton e pela visão da triste figura
dos precogs, retoma sua confiança
como nos informa o narrador
números impressionantes da
Crime.
O sistema todo se sustenta,
ética e juridicamente, na premissa de
infalibilidade do
dispositivo
Estabelece-
se, assim, uma metafisica
da ciência, representada no conto pelo
aparato de precognição, em que a
certeza científica é inquestionável.
No começo do conto, Anderton,
já certo das intenções de Witwer de
substituí-
lo, evoca, com ironia
3
No original: “‘
One murder in five years.
Witwer’s confidence was returning.
impressive record…something to be proud of
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
Anderton se gaba da redução de 99.8
por cento dos crimes grave
s (DICK,
2012, p. 131) e o leitor é levado, nesse
ponto da narrativa, a compartilhar do
er pelo
Sistema
: “Um assassinato em cinco
Witwer retomava a confiança.
Um recorde bastante impressionante...
(DICK, 2012, p.
131). Aqui vemos a atuação
de um
pêndulo de incertezas na economia do
conto: Witwer, após ter suas
convicções questionadas pelas
cadas por
Anderton e pela visão da triste figura
dos precogs, retoma sua confiança
como nos informa o narrador
com os
números impressionantes da
Pré-
O sistema todo se sustenta,
ética e juridicamente, na premissa de
dispositivo
Pré-Crime.
se, assim, uma metafisica
da ciência, representada no conto pelo
aparato de precognição, em que a
certeza científica é inquestionável.
No começo do conto, Anderton,
já certo das intenções de Witwer de
lo, evoca, com ironia
, o pouco
One murder in five years.
Witwer’s confidence was returning.
‘Quite an
impressive record…something to be proud of
’.”
conhecimento do seu adversário sobre
o funcionamento do sistema
familiarizado com a teoria do
Crime
, é claro. Suponho que seja
ponto pacífico
4
(DICK, 2012, p. 129).
Além de contribuir para a construção,
no texto, do antagonismo de
em relação a Witw
er, essa pergunta
indireta cria o
contexto para
apresente ao leitor a t
sustenta o Sistema
Pré
Tenho as informações disponíveis ao
público
respondeu Witwer. Com o
auxílio de seus mutantes
precognitivos,
ousadia e êxito o sistema punitivo
pós-
crime, baseado em presídios e
penalidades. Como todos sabemos,
a punição nunca foi muito
dissuasiva, e servia de pouco
consolo a uma vítima morta
(DICK, 2012, p. 129)
A fala de Witwer, que denota
uma adesão entusiasmada à imagem
pública de êxito construída da teoria
do Pré-Crime
, estabelece esse
personagem como um dos extremos
do pêndulo de incertezas que move a
4
No original: “You’re acquainted with the
theory of precrime, of course. I presume we
can take that for granted.”
5
No original: “I have the information publicly
available”,
Witwer replied. “With the aid of your
precog mutants, you’ve boldly and successful
abolished the post-
crime punitive system of
jails and fines. As we all realise, punishment
was never much of a deterrent, and could
scarcely have afforded the comfort to a victim
already dead.”
236
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
conhecimento do seu adversário sobre
o funcionamento do sistema
: “Já está
familiarizado com a teoria do
Pré-
, é claro. Suponho que seja
(DICK, 2012, p. 129).
Além de contribuir para a construção,
no texto, do antagonismo de
Anderton
er, essa pergunta
contexto para
que se
apresente ao leitor a t
eoria que
Pré
-Crime:
Tenho as informações disponíveis ao
respondeu Witwer. Com o
auxílio de seus mutantes
você aboliu com
ousadia e êxito o sistema punitivo
crime, baseado em presídios e
penalidades. Como todos sabemos,
a punição nunca foi muito
dissuasiva, e servia de pouco
consolo a uma vítima morta
5
.
(DICK, 2012, p. 129)
A fala de Witwer, que denota
uma adesão entusiasmada à imagem
pública de êxito construída da teoria
, estabelece esse
personagem como um dos extremos
do pêndulo de incertezas que move a
No original: “You’re acquainted with the
theory of precrime, of course. I presume we
No original: “I have the information publicly
Witwer replied. “With the aid of your
precog mutants, you’ve boldly and successful
ly
crime punitive system of
jails and fines. As we all realise, punishment
was never much of a deterrent, and could
scarcely have afforded the comfort to a victim
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
narrativa. Nas linhas seguintes,
surgem,
do diálogo entre Witwer e
Anderton, os primei
ros obstáculos à
tese da infalibilidade que constitui o
amparo legal e ético do
S
Crime :
Você deve ter notado o
inconveniente legal básico da
metodologia do Pré-
Crime
prendendo indivíduos que não
infringiram lei alguma.
Mas com
certeza vão infringir
Witwer afirmou com convicção.
Felizmente não infringem… porque
os capturamos primeiro, antes que
possam cometer um ato de violência.
Portanto, a execução do crime em si
é absolutamente metafísica.
Afirmamos que são condenáveis.
El
es, por outro lado, afirmam
eternamente que são inocentes. E,
em certo sentido, são inocentes.
(...)
Em nossa sociedade, não temos
qualquer crime grave
Anderton
, mas temos, sim, um
campo de detenção cheio de
supostos criminosos
6
. (DICK,
p. 129)
6
No original: “You’ve probably already
grasped the basic l
egalistic drawback to
precrime methodology. We’re taking in
individuals who have broken no law.” “But
surely, they will,” Witwer affirmed with
conviction. “Happily, they don’t
get to them first, before they can commit an act
of violence. So th
e commission of the crime
itself is absolute metaphysics. We can claim
they are culpable. They, on the other hand,
can eternally claim they’re innocent. And, in a
sense, they are innocent.” (…) “In our society,
we have no major crimes,” Anderton went on,
but we do have a detention camp full of
would-be criminals.”
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
narrativa. Nas linhas seguintes,
do diálogo entre Witwer e
ros obstáculos à
tese da infalibilidade que constitui o
S
istema Pré-
Você deve ter notado o
inconveniente legal básico da
Crime
. Estamos
prendendo indivíduos que não
certeza vão infringir
Witwer afirmou com convicção.
Felizmente não infringem… porque
os capturamos primeiro, antes que
possam cometer um ato de violência.
Portanto, a execução do crime em si
é absolutamente metafísica.
Afirmamos que são condenáveis.
es, por outro lado, afirmam
eternamente que são inocentes. E,
em certo sentido, são inocentes.
Em nossa sociedade, não temos
qualquer crime grave
prosseguiu
, mas temos, sim, um
campo de detenção cheio de
. (DICK,
2012,
No original: “You’ve probably already
egalistic drawback to
precrime methodology. We’re taking in
individuals who have broken no law.” “But
surely, they will,” Witwer affirmed with
because we
get to them first, before they can commit an act
e commission of the crime
itself is absolute metaphysics. We can claim
they are culpable. They, on the other hand,
can eternally claim they’re innocent. And, in a
sense, they are innocent.” (…) “In our society,
we have no major crimes,” Anderton went on,
but we do have a detention camp full of
A distopia algorítmica no governo
da vida
Guardando semelhanças com
Divisão Pré-
Crime
conto de Dick, nossa realidade conta
com um sistema
ainda mais
e abrangente. A
carrega em seu próprio nome o ideário
de potência e a ambição de uma rede
que pretende alcançar todo o globo
por meio de uma linguagem intrincada
e opaca: a programação algorítmica.
Inicialmente idealizada como
um espaço de troca e coletividade
(LÉVY, 20
16 ; 2014
colonizada pela lógica capitalista,
tornou-
se um espaço
como Google,
Amazon
Apple
(GAFA) impõem suas práticas
no ciberespaço, escrevendo seus
próprios termos e promovendo uma
mutação no sistema capitalista que a
pesquisadora
Shoshana Zuboff (2015,
2019)
nomeia como
vigilância”
. Tal sistema baseia
coleta e cruzamen
to dos dados e
metadados de seus usuários para
traçar um perfil a fim de
seus serviços. Entretanto, esse
processo de personalização é, na
realidade, uma ferramenta para
produção de previsões sobre futuras
237
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
A distopia algorítmica no governo
Guardando semelhanças com
a
Crime
apresentada no
conto de Dick, nossa realidade conta
ainda mais
complexo
e abrangente. A
world wide web
carrega em seu próprio nome o ideário
de potência e a ambição de uma rede
que pretende alcançar todo o globo
por meio de uma linguagem intrincada
e opaca: a programação algorítmica.
Inicialmente idealizada como
um espaço de troca e coletividade
16 ; 2014
), a internet,
colonizada pela lógica capitalista,
se um espaço
onde empresas
Amazon
, Facebook e
(GAFA) impõem suas práticas
no ciberespaço, escrevendo seus
próprios termos e promovendo uma
mutação no sistema capitalista que a
Shoshana Zuboff (2015,
nomeia como
“capitalismo de
. Tal sistema baseia
-se na
to dos dados e
metadados de seus usuários para
traçar um perfil a fim de
personalizar
seus serviços. Entretanto, esse
processo de personalização é, na
realidade, uma ferramenta para
produção de previsões sobre futuras
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
necessidades, escolhas e tendências
de
cada usuário ou de um grupo
específico.
O capitalismo de vigilância tem início
com a descoberta do excedente
comportamental. Mais dados de
comportamento são colhidos do que
os necessários para
a
serviços. O excedente alimenta a
inteligência d
as máquinas
meio de produção
previsões do comportamento do
usuário. Isso significa que esses
produtos serão vendidos no mercado
de comportamentos futuros.
(ZUBOFF, 2019, p. 96) (tradução
nossa)
Atualmente, as transações
humanas depen
dem cada vez mais da
mediação de tecnologias digitais. De
sistemas de bancos ao acesso de
plataformas escolares, passando pelas
mídias sociais, a programação
algorítmica modificou o modo como
interagimos com o espaço
offline
. Zuboff afirma que tal
representa simbolicamente eventos,
objetos e processos, que se tornam
passíveis de serem conhecidos e
compartilhados de uma nova maneira
(ZUBOFF, 2018).
Essa nova maneira de
compartilhamento de dados produz o
que Zuboff (2019) chama de
“behavioral surplus”
7
, ou excedente
7
A autora estabelece um diálogo com o
conceito de mais-valia (surplus-
value) filiando
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
necessidades, escolhas e tendências
cada usuário ou de um grupo
O capitalismo de vigilância tem início
com a descoberta do excedente
comportamental. Mais dados de
comportamento são colhidos do que
a
melhoria de
serviços. O excedente alimenta a
as máquinas
novo
que fabrica
previsões do comportamento do
usuário. Isso significa que esses
produtos serão vendidos no mercado
de comportamentos futuros.
(ZUBOFF, 2019, p. 96) (tradução
Atualmente, as transações
dem cada vez mais da
mediação de tecnologias digitais. De
sistemas de bancos ao acesso de
plataformas escolares, passando pelas
mídias sociais, a programação
algorítmica modificou o modo como
interagimos com o espaço
online e
. Zuboff afirma que tal
mediação
representa simbolicamente eventos,
objetos e processos, que se tornam
passíveis de serem conhecidos e
compartilhados de uma nova maneira
Essa nova maneira de
compartilhamento de dados produz o
que Zuboff (2019) chama de
, ou excedente
A autora estabelece um diálogo com o
value) filiando
-
comportamental, a matéria prima de
um capitalismo baseado na vigilância.
Essa mutação do sistema capitalista
tem desdobramentos profundos na
modulação de comportamentos dos
indivíduos (SILVEIRA, 2017) e
apresenta-
se como um novo
afetação pré-
consciente da ação
humana (ROUVROY;
Zuboff (2019) afirma que sob o
capitalismo de vigilância, os meios de
produção correspondem aos meios de
modificação comportamental. Ela
denomina o poder dessas empresas
como instrume
ntarismo
como a instrumentação e
instrumentalização do comportamento
humano com o propósito de modificar,
prever, monetizar e controlar.
A autora afirma ainda que
capitalismo de vigilância não é apenas
uma faceta diferente do capitalismo e
s
im um golpe contra a democracia,
não no sentido
político
Estado (coup détat
), mas
se a corrente materialista dialética ao utilizar
termos como surplus e
means of production
propondo uma atu
alização desses conceitos
frente as mudanças tecnológicas. Entretanto,
entendemos que o conceito
está relacionado ao produto excedente da
navegação, os rastros deixados pelo
internauta.
8
No original, “instrumentarianism” (ZUBOFF,
2019).
238
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
comportamental, a matéria prima de
um capitalismo baseado na vigilância.
Essa mutação do sistema capitalista
tem desdobramentos profundos na
modulação de comportamentos dos
indivíduos (SILVEIRA, 2017) e
se como um novo
modo de
consciente da ação
BERNS, 2018).
Zuboff (2019) afirma que sob o
capitalismo de vigilância, os meios de
produção correspondem aos meios de
modificação comportamental. Ela
denomina o poder dessas empresas
ntarismo
8
”, definindo-o
como a instrumentação e
instrumentalização do comportamento
humano com o propósito de modificar,
prever, monetizar e controlar.
A autora afirma ainda que
capitalismo de vigilância não é apenas
uma faceta diferente do capitalismo e
im um golpe contra a democracia,
político
de um golpe de
), mas
de um golpe
se a corrente materialista dialética ao utilizar
means of production
,
alização desses conceitos
frente as mudanças tecnológicas. Entretanto,
entendemos que o conceito
surplus behavioral
está relacionado ao produto excedente da
navegação, os rastros deixados pelo
No original, “instrumentarianism” (ZUBOFF,
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
involuntário e
inconsequente
gens) perpetrado por
fascinados por
tecnologia em
movimento de derrubada dos direitos
humanos em troca de
agilidade tecnológica.
A
dinâmica do poder
instrumentário descrito por Zuboff
(2019) dialoga com
o
civilizatório proposto por Debray
(2019). Instaura-se, assim,
espionagem sem testemunhas que
cria necessidades, de
sumaniza as
experiências e direciona
comportamentos de um modo
silencioso e persistente para que as
bases da civilização sejam definidas
segundo as práticas do capitalismo de
vigilância.
A vitória pode ser declarada quando,
em vez de uma, existe apenas a
c
ivilização, sua língua uma língua
franca e sua moeda uma medida
comum. Quando ela pode se retirar
para sua terra natal e ainda ser um
farol. Quando tribos alógenas
adotam seus tiques, hábitos e
normas, sem nem mesmo
perceberem que estão copiando.
Quando o
comandante não precisa
mais comandar. Uma civilização
venceu quando todas as suas
formas se tornam naturais.
(DEBRAY, 2019, p. 14)
nossa)
A crença na infalibilidade da
programação algorítmica
faz parte do
processo civilizatório
do homem
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
inconsequente
(coup de
indivíduos
tecnologia em
movimento de derrubada dos direitos
conforto e
dinâmica do poder
instrumentário descrito por Zuboff
o
movimento
civilizatório proposto por Debray
um jogo de
espionagem sem testemunhas que
sumaniza as
experiências e direciona
comportamentos de um modo
silencioso e persistente para que as
bases da civilização sejam definidas
segundo as práticas do capitalismo de
A vitória pode ser declarada quando,
em vez de uma, existe apenas a
ivilização, sua língua uma língua
franca e sua moeda uma medida
comum. Quando ela pode se retirar
para sua terra natal e ainda ser um
farol. Quando tribos alógenas
adotam seus tiques, hábitos e
normas, sem nem mesmo
perceberem que estão copiando.
comandante não precisa
mais comandar. Uma civilização
venceu quando todas as suas
formas se tornam naturais.
(DEBRAY, 2019, p. 14)
(tradução
A crença na infalibilidade da
faz parte do
do homem
contemporâneo, a
diferença é que
esse processo acontece em um
espaço que antes não existia:
ciberespaço.
A linha tênue entre o real e o
virtual foi apagada por práticas
naturalizadas em objetos técnicos
cada vez
mais
celulares que coleta
m a todo instante
dados de seus usuários. A
naturalização do uso desses
objetos,
tidos como inofensivos,
parte da engrenagem de um sistema
governado
por algoritmos.
inofensividade, a 'passividade' do
governo algorítmico é apenas
aparente: o governo al
uma realidade ao menos tanto quanto
registra”
(ROUVROY
p. 127). R
ealidade que é fruto de um
minucioso cruzamento de dados feito
por algoritmos cada vez mais
autônomos, vide o desenvolvimento da
inteligência artificial e do
learning (O'
NEIL, 2016)
O'Neil (2016) explica como a
programação algorítmica é definitiva
em decisões que o do aceite na
universidade, passando pela
aprovação de créditos bancários, até à
escolha dos candidatos à presidência
Em uma sociedade onde o
239
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
diferença é que
esse processo acontece em um
espaço que antes não existia:
o
A linha tênue entre o real e o
virtual foi apagada por práticas
naturalizadas em objetos técnicos
portáteis, como
m a todo instante
dados de seus usuários. A
naturalização do uso desses
tidos como inofensivos,
faz
parte da engrenagem de um sistema
por algoritmos.
“A
inofensividade, a 'passividade' do
governo algorítmico é apenas
aparente: o governo al
gorítmico 'cria'
uma realidade ao menos tanto quanto
(ROUVROY
; BERNS, 2018,
ealidade que é fruto de um
minucioso cruzamento de dados feito
por algoritmos cada vez mais
autônomos, vide o desenvolvimento da
inteligência artificial e do
machine
NEIL, 2016)
.
O'Neil (2016) explica como a
programação algorítmica é definitiva
em decisões que o do aceite na
universidade, passando pela
aprovação de créditos bancários, até à
escolha dos candidatos à presidência
.
Em uma sociedade onde o
data mining
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
é responsável pela construção de
perfis que direcionam as escolhas dos
sujeitos, tanto online
quanto
impõe-
se a pergunta sobre o quanto
os indivíduos estariam dispostos a
sacrificar do ideário do livre
favor
de uma lógica de
personalização. Segundo Rouvroy e
Berns (2018, p. 120),
O governo algorítmico parece, por
essa razão, assinar a conclusão de
um processo de dissipação das
condições espaciais, temporais, e
linguísticas da subjetivação e da
individuação em benefício de uma
regulação objetiva, opera
condutas possíveis.
Isto é, diante da lógica da
sociedade governada pela linguagem
algorítmica, quase tudo é reduzido a
cálculos para prever e até modificar
comportamentos em um process
dessubjetivação do indivíduo
atravessado pelo ideário da
matemática como linguagem universal
(FINN, 2017). A utilização de
algoritmos como receitas ou
sequências instrucionais para calcular
um determinado resultado não é
novidade na matemática; porém
ciências computacionais, juntamente
com a popularização da internet,
fomentaram
o debate sobre como a
programação algorítmica apresenta
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
é responsável pela construção de
perfis que direcionam as escolhas dos
quanto
offline,
se a pergunta sobre o quanto
os indivíduos estariam dispostos a
sacrificar do ideário do livre
-arbítrio em
de uma lógica de
personalização. Segundo Rouvroy e
O governo algorítmico parece, por
essa razão, assinar a conclusão de
um processo de dissipação das
condições espaciais, temporais, e
linguísticas da subjetivação e da
individuação em benefício de uma
regulação objetiva, opera
cional, das
Isto é, diante da lógica da
sociedade governada pela linguagem
algorítmica, quase tudo é reduzido a
cálculos para prever e até modificar
comportamentos em um process
o de
dessubjetivação do indivíduo
,
atravessado pelo ideário da
matemática como linguagem universal
(FINN, 2017). A utilização de
algoritmos como receitas ou
sequências instrucionais para calcular
um determinado resultado não é
novidade na matemática; porém
, as
ciências computacionais, juntamente
com a popularização da internet,
o debate sobre como a
programação algorítmica apresenta
consequências dentro e fora do
ciberespaço. Para Doneda e Almeida
(2018, p. 141),
algoritmos são basicamente um
con
junto de instruções para realizar
uma tarefa, produzindo um resultado
final
a partir de algum ponto de
partida. Atualmente, os algoritmos
embarcados em sistemas e
dispositivos eletrônicos são
incumbidos cada vez mais de
decisões, avaliações e análises que
têm impactos concretos em nossa
vida. [...] Quanto mais aumentam a
sofisticação e a utilidade dos
algoritmos, mais se mostram
"autônomos", chegando a dar a
impressão de que existe uma
"máquina pensante" por detrás de
alguns raciocínios misteriosos, uma
ima
gem que remonta aos pri
da informática.
A imagem da máquina pensante
e seus raciocínios misteriosos também
faz parte da narrativa do conto
Report
, que se apoia no ideário da
ciência como receita para a solução de
crimes. No entanto, o dispositivo de
precognição em que todo o
Pré-Crime se
baseia constitui
uma estranha combinação e
elementos sobrenaturais e físicos. As
previsões partem de seres
cognoscentes que inexplicavelmente
possuem a capacidade de ver o futuro.
O tributo pago por esse dom é a
completa inatividade física e mental.
Os
precogs são apresentados
pelo narrador:
240
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
consequências dentro e fora do
ciberespaço. Para Doneda e Almeida
algoritmos são basicamente um
junto de instruções para realizar
uma tarefa, produzindo um resultado
a partir de algum ponto de
partida. Atualmente, os algoritmos
embarcados em sistemas e
dispositivos eletrônicos são
incumbidos cada vez mais de
decisões, avaliações e análises que
têm impactos concretos em nossa
vida. [...] Quanto mais aumentam a
sofisticação e a utilidade dos
algoritmos, mais se mostram
"autônomos", chegando a dar a
impressão de que existe uma
"máquina pensante" por detrás de
alguns raciocínios misteriosos, uma
gem que remonta aos pri
mórdios
A imagem da máquina pensante
e seus raciocínios misteriosos também
faz parte da narrativa do conto
Minority
, que se apoia no ideário da
ciência como receita para a solução de
crimes. No entanto, o dispositivo de
precognição em que todo o
Sistema
baseia constitui
-se de
uma estranha combinação e
elementos sobrenaturais e físicos. As
previsões partem de seres
cognoscentes que inexplicavelmente
possuem a capacidade de ver o futuro.
O tributo pago por esse dom é a
completa inatividade física e mental.
precogs são apresentados
assim
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
Na penumbra, os três dementes
estavam sentados, balbuciando.
Cada declaração incoerente, cada
sílaba aleatória, era analisada,
comparada, reorganizada em forma
de símbolos visuais, transcrita em
cartões pe
rfurados convencionais e
ejetada para dentro de diversas
fendas codificadas. Durante todo o
dia os dementes balbuciavam,
aprisionados em suas cadeiras
especiais de encosto alto, mantidos
numa única posição rígida por tiras
de metal, feixes de fios e grampo
Suas necessidades físicas eram
atendidas automaticamente. Não
tinham nenhuma necessidade
espiritual. Vegetativos, murmuravam,
cochilavam e existiam. Suas mentes
eram embotadas, confusas, perdidas
nas sombras.
Mas não nas sombras de hoje. As
três criatur
as gaguejantes,
tartamudeantes, com cabeças
inchadas e corpos debilitados,
contemplavam o futuro. O
maquinário analítico registrava suas
profecias e, à medida que os três
dementes precogs falavam, as
máquinas ouviam com atenção
(DICK, 2012, p. 129, 130)
9
No original: “In the gloomy half
-
three idiots sat babbling. Every incoherent
utterance, every random syllable, was
analysed, compared, reassembled in the form
of visual symbols, transcribed
on conventional
punch
cards, and ejected into various coded
slots. All day long the idiots babbled,
imprisoned in their special high-
backed chairs,
held in one rigid position by metal bands, and
bundles of wiring, clamps. Their physical
needs were taken c
are of automatically. They
had no spiritual needs. Vegetable
muttered and dozed and existed. Their minds
were dull, confused, lost in shadows.
But not shadows of today. The three gibbering,
fumbling creatures with their enlarged head
and wasted
bodies, were contemplating the
future. The analytical machinery was recording
prophecies, and as the three precog idiots
talked, the machinery carefully listened”.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
Na penumbra, os três dementes
estavam sentados, balbuciando.
Cada declaração incoerente, cada
sílaba aleatória, era analisada,
comparada, reorganizada em forma
de símbolos visuais, transcrita em
rfurados convencionais e
ejetada para dentro de diversas
fendas codificadas. Durante todo o
dia os dementes balbuciavam,
aprisionados em suas cadeiras
especiais de encosto alto, mantidos
numa única posição rígida por tiras
de metal, feixes de fios e grampo
s.
Suas necessidades físicas eram
atendidas automaticamente. Não
tinham nenhuma necessidade
espiritual. Vegetativos, murmuravam,
cochilavam e existiam. Suas mentes
eram embotadas, confusas, perdidas
Mas não nas sombras de hoje. As
as gaguejantes,
tartamudeantes, com cabeças
inchadas e corpos debilitados,
contemplavam o futuro. O
maquinário analítico registrava suas
profecias e, à medida que os três
dementes precogs falavam, as
máquinas ouviam com atenção
9
.
(DICK, 2012, p. 129, 130)
-
darkness the
three idiots sat babbling. Every incoherent
utterance, every random syllable, was
analysed, compared, reassembled in the form
on conventional
cards, and ejected into various coded
slots. All day long the idiots babbled,
backed chairs,
held in one rigid position by metal bands, and
bundles of wiring, clamps. Their physical
are of automatically. They
had no spiritual needs. Vegetable
-like, they
muttered and dozed and existed. Their minds
were dull, confused, lost in shadows.
But not shadows of today. The three gibbering,
fumbling creatures with their enlarged head
bodies, were contemplating the
future. The analytical machinery was recording
prophecies, and as the three precog idiots
talked, the machinery carefully listened”.
Em termos composicionais, a
demência dos precogs se explica por
dois motivos: por um lado, ela
transfere para a parte do “maquinário
analítico” do dispositivo a
responsabilidade pela interpretação
dos dados, uma vez que as visões
aparecem para os precogs
desordenada e eles não dispõem de
capacidade cognitiva para
a possuíssem, os computadores que
atuam na decifração das imagens do
futuro não teriam razão de existir no
conto. Assim, não haveria um
dispositivo analítico, mas apenas a
presença do sobrenatural, encarnada
na figura dos precogs
a demência desses seres especiais
reforça sua aura oculta e sobrenatural
-
eles são admirados e quase
santificados pelos seus dons, fato que
é muito mais explorado na versão
cinema
tográfica do conto.
10
A hipótese do controle das interpretações do
futuro originada da demência dos precogs é
co
nfirmada por Anderton: “O talento absorve
tudo. O lobo da percepção extrassensorial
reduz o equilíbrio da área frontal. Mas o que
isso nos importa? Temos suas profecias. Eles
transmitem o que precisamos.
nada, mas nós entendemos” (DICK, 2012,
130). No original: “The talent absorbs
everything; the esp-
lobe shrivels the balance
of the frontal area. But what do we care? We
get their prophecies. They pass on what we
need. They don’t understand any of it, but we
do”.
241
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Em termos composicionais, a
demência dos precogs se explica por
dois motivos: por um lado, ela
transfere para a parte do “maquinário
analítico” do dispositivo a
responsabilidade pela interpretação
dos dados, uma vez que as visões
aparecem para os precogs
de maneira
desordenada e eles não dispõem de
capacidade cognitiva para
-las. Caso
a possuíssem, os computadores que
atuam na decifração das imagens do
futuro não teriam razão de existir no
conto. Assim, não haveria um
dispositivo analítico, mas apenas a
presença do sobrenatural, encarnada
na figura dos precogs
10
; por outro lado,
a demência desses seres especiais
reforça sua aura oculta e sobrenatural
eles são admirados e quase
santificados pelos seus dons, fato que
é muito mais explorado na versão
tográfica do conto.
A hipótese do controle das interpretações do
futuro originada da demência dos precogs é
nfirmada por Anderton: “O talento absorve
tudo. O lobo da percepção extrassensorial
reduz o equilíbrio da área frontal. Mas o que
isso nos importa? Temos suas profecias. Eles
transmitem o que precisamos.
Não entendem
nada, mas nós entendemos” (DICK, 2012,
p.
130). No original: “The talent absorbs
lobe shrivels the balance
of the frontal area. But what do we care? We
get their prophecies. They pass on what we
need. They don’t understand any of it, but we
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
Essa conjunção exótica de
elementos sobrenaturais e
pretensamente científicos que define,
no conto, o dispositivo de precognição
de crimes é retomada em outro trecho
da narrativa. Em cena de grande apelo
visual, Anderton, enquanto exa
de seu esconderijo em um hotel, um
dente quebrado em um espelho
também quebrado, escuta em uma
transmissão radiofônica as palavras
oficiais sobre o S
istema
que são repetidas em diferentes
aparelhos em vários quartos vizinhos:
o sistema de
três precogs tem
origem nos computadores de
meados deste século. Como são
verificados os resultados de um
computador eletrônico? Pela entrada
de dados num segundo computador
com estrutura idêntica. Mas dois
computadores o são suficientes.
Se cada computa
dor chegar a
respostas diferentes, é impossível
saber a priori qual é a correta. A
solução, baseada num criterioso
estudo estatístico, é usar um terceiro
computador para verificar os
resultados dos dois primeiros. Desse
modo, obtém-
se o chamado relatório
m
ajoritário. É possível supor, com
alta probabilidade, que a
concordância entre dois dos três
computadores indica qual dos
resultados alternativos é exato. o
seria provável que dois
computadores chegassem a
s
oluções incorretas idênticas...
[...]
a unanimi
dade entre os três precogs
é um fenômeno desejado, mas
raramente alcançado, explica o
comissário interino, Witwer. É muito
mais comum obtermos um relatório
majoritário colaborativo, de dois
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
Essa conjunção exótica de
elementos sobrenaturais e
pretensamente científicos que define,
no conto, o dispositivo de precognição
de crimes é retomada em outro trecho
da narrativa. Em cena de grande apelo
visual, Anderton, enquanto exa
mina,
de seu esconderijo em um hotel, um
dente quebrado em um espelho
também quebrado, escuta em uma
transmissão radiofônica as palavras
istema
Pré-Crime,
que são repetidas em diferentes
aparelhos em vários quartos vizinhos:
três precogs tem
origem nos computadores de
meados deste século. Como são
verificados os resultados de um
computador eletrônico? Pela entrada
de dados num segundo computador
com estrutura idêntica. Mas dois
computadores o são suficientes.
dor chegar a
respostas diferentes, é impossível
saber a priori qual é a correta. A
solução, baseada num criterioso
estudo estatístico, é usar um terceiro
computador para verificar os
resultados dos dois primeiros. Desse
se o chamado relatório
ajoritário. É possível supor, com
alta probabilidade, que a
concordância entre dois dos três
computadores indica qual dos
resultados alternativos é exato. o
seria provável que dois
computadores chegassem a
oluções incorretas idênticas...
dade entre os três precogs
é um fenômeno desejado, mas
raramente alcançado, explica o
comissário interino, Witwer. É muito
mais comum obtermos um relatório
majoritário colaborativo, de dois
precogs, acrescentado de um
relatório minoritário com uma leve
var
iação, geralmente relativa a
tempo e local, do terceiro mutante.
Isso é explicado pela teoria dos
futuros múltiplos. Caso existisse
apenas uma via temporal, a
informação precognitiva não teria a
menor importância, uma vez que, ao
possuirmos tal informação,
haveria possibilidade alguma de
alterar o futuro. No trabalho da
Divisão Pré-
Crime,
em primeiro lugar...
149)
Essas palavras, despejadas de
rádios que cercam Anderton em
quartos vizinhos ao seu, procuram
11
No original: “‘…the system
finds its genesis in the computers of the middle
decades of this century. How are the results of
an electronic computer checked? By feeding
data to a second computer of identical design.
But two computers are not sufficient. If each
comput
er arrived at a different answer, it is
impossible to tell a priori which is correct. The
solution, based on a careful study of statistical
method, is to utilize a third computer to check
the results of the first two. In this manner, a so
called majority r
eport is obtained. It can be
assumed with fair probability that the
agreement of two out of three computers
indicates which of the alternative results is
accurate. It would not be likely that two
computers would arrive at identically incorrect
solutions — ’
(…)
‘…unanimity of all three precogs is a hoped
but seldom achieved phenomenon, acting
Commissioner Witwer explains. It is much
more common to obtain a collaborative
majority report of two precogs, plus a
Report
of some slight variation, us
reference to time or place, from the third
mutant. This is explained by the theory of
multiple-
futures. If only one time
precognitive information would be of no
importance, since no possibility would exist, in
possessing this infor
mation, of altering the
future. In the Precrime Agency’s work we must
first of all assume —'”.
242
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
precogs, acrescentado de um
relatório minoritário com uma leve
iação, geralmente relativa a
tempo e local, do terceiro mutante.
Isso é explicado pela teoria dos
futuros múltiplos. Caso existisse
apenas uma via temporal, a
informação precognitiva não teria a
menor importância, uma vez que, ao
possuirmos tal informação,
não
haveria possibilidade alguma de
alterar o futuro. No trabalho da
Crime,
temos de supor,
em primeiro lugar...
11
(DICK, 2012, p.
Essas palavras, despejadas de
rádios que cercam Anderton em
quartos vizinhos ao seu, procuram
No original: “‘…the system
of three precogs
finds its genesis in the computers of the middle
decades of this century. How are the results of
an electronic computer checked? By feeding
data to a second computer of identical design.
But two computers are not sufficient. If each
er arrived at a different answer, it is
impossible to tell a priori which is correct. The
solution, based on a careful study of statistical
method, is to utilize a third computer to check
the results of the first two. In this manner, a so
-
eport is obtained. It can be
assumed with fair probability that the
agreement of two out of three computers
indicates which of the alternative results is
accurate. It would not be likely that two
computers would arrive at identically incorrect
‘…unanimity of all three precogs is a hoped
-for
but seldom achieved phenomenon, acting
-
Commissioner Witwer explains. It is much
more common to obtain a collaborative
majority report of two precogs, plus a
Minority
of some slight variation, us
ually with
reference to time or place, from the third
mutant. This is explained by the theory of
futures. If only one time
-path existed,
precognitive information would be of no
importance, since no possibility would exist, in
mation, of altering the
future. In the Precrime Agency’s work we must
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
trazer o selo
de garantia empírica
concedido pelo caráter pretensamente
científico de um sistema
computadorizado “basead[o] num
criterioso estudo estatístico”. Na cena,
um contraste se entre o conteúdo
dessas palavras e a figura de
Anderton, ambivalentemente
avalizador e obstáculo à
confiabilidade
no sistema que as palavras de Witwer
tentam reafirmar. Anderton, tendo
acesso a previsão de seu próprio
crime, procura fugir dessa previsão, o
que, inicialmente, provaria um erro do
sistema. O confronto com sua imagem
no espelho quebrado enq
uanto ouve o
discurso em defesa do sistema
Crime de
seu esconderijo captura em
rico quadro a encruzilhadas de
ambivalências que o conto cria.
Essa ambivalência entre
elementos racionais e irracionais que o
conto cria na figura no dispositivo de
previs
ão de crimes foi detectada por
Theodor Adorno em seu estudo da
coluna de astrologia do
Los Angeles
Times
(ADORNO, 2008). Em seu
estudo, Adorno procura evidenciar a
“...configuração do racional e do
irracional na astrologia” (ADORNO,
2008) e que à conclusão
de que
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
de garantia empírica
concedido pelo caráter pretensamente
científico de um sistema
computadorizado “basead[o] num
criterioso estudo estatístico”. Na cena,
um contraste se entre o conteúdo
dessas palavras e a figura de
Anderton, ambivalentemente
confiabilidade
no sistema que as palavras de Witwer
tentam reafirmar. Anderton, tendo
acesso a previsão de seu próprio
crime, procura fugir dessa previsão, o
que, inicialmente, provaria um erro do
sistema. O confronto com sua imagem
uanto ouve o
discurso em defesa do sistema
Pré-
seu esconderijo captura em
rico quadro a encruzilhadas de
ambivalências que o conto cria.
Essa ambivalência entre
elementos racionais e irracionais que o
conto cria na figura no dispositivo de
ão de crimes foi detectada por
Theodor Adorno em seu estudo da
Los Angeles
(ADORNO, 2008). Em seu
estudo, Adorno procura evidenciar a
“...configuração do racional e do
irracional na astrologia” (ADORNO,
de que
de forma muito semelhante à
indústria cultural, a astrologia tende
a eliminar a distinção entre fato e
ficção: seu conteúdo é muitas vezes
exageradamente realista, ao mesmo
tempo que sugere atitudes baseadas
em fontes inteiramente irracionais,
com
o o conselho de se evitar fechar
negócios em determinado dia.
(ADORNO, 2008, p. 59)
Alegoricamente, as
ambivalências entre sobrenatural e
empírico-
científico sintetizadas no
dispositivo Pré-
Crime
impasses do processo de
algoriti
mização da vida
apresentado em diversos exemplos.
De fato, a dependência de elementos
sobrenaturais (as visões dos precogs)
confere ao sistema todo uma
incontornável variável de incerteza que
interdita o domínio completo da frieza
analítica do algoritmo.
As ambiva
lências sobre a
margem de certeza do sistema são
mantidas até o final. Anderton, ao ver
a relatório de um dos precogs que
prevê sua ação homicida, cria um
novo futuro em que ele decide não
matar. Esse novo caminho interfere no
próximo relatório, que o inco
como dado. Ao final do conto,
Anderton decide matar para não
desacreditar o sistema. Dessa forma,
cria-
se um final ambivalente em que
243
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
de forma muito semelhante à
indústria cultural, a astrologia tende
a eliminar a distinção entre fato e
ficção: seu conteúdo é muitas vezes
exageradamente realista, ao mesmo
tempo que sugere atitudes baseadas
em fontes inteiramente irracionais,
o o conselho de se evitar fechar
negócios em determinado dia.
(ADORNO, 2008, p. 59)
Alegoricamente, as
ambivalências entre sobrenatural e
científico sintetizadas no
Crime
s figuram os
impasses do processo de
mização da vida
aqui
apresentado em diversos exemplos.
De fato, a dependência de elementos
sobrenaturais (as visões dos precogs)
confere ao sistema todo uma
incontornável variável de incerteza que
interdita o domínio completo da frieza
analítica do algoritmo.
lências sobre a
margem de certeza do sistema são
mantidas até o final. Anderton, ao ver
a relatório de um dos precogs que
prevê sua ação homicida, cria um
novo futuro em que ele decide não
matar. Esse novo caminho interfere no
próximo relatório, que o inco
rpora
como dado. Ao final do conto,
Anderton decide matar para não
desacreditar o sistema. Dessa forma,
se um final ambivalente em que
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
coexistem o livre-arbítrio
, uma vez que
Anderton se convence a matar para
provar que o sistema funciona, e a
confirmação do próprio sistema que
restringe a autonomia humana, que
Anderton, de fato, comete o
assassinato que está previsto de
acontecer. Assim sendo
, não se pode
conc
luir que o conto se encerre com a
vitória do livre-
arbítrio, uma vez que,
ainda que a decisão de matar seja
consciente e planejada como uma
medida necessária para evitar um mal
maior, ela de fato cumpre a previsão
dos precogs. A ambiguidade aqui é
instruti
va, visto que sintetiza
figurativamente os impasses de uma
equação (livre-
arbítrio x racionalização
total da experiência humana) para o
qual ainda não se achou um resultado
plenamente satisfatório.
Conclusão:
Minority Report
capitalismo de vigilância
Em um mundo governado por
algoritmos, nos quais deposita
crença de infalibilidade da ciência,
muitas vezes somos conduzidos
assim como Witwer, apenas por meio
das informações que se tornam
públicas, sem saber ao certo como o
cruzamento de dados são
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
, uma vez que
Anderton se convence a matar para
provar que o sistema funciona, e a
confirmação do próprio sistema que
restringe a autonomia humana, que
Anderton, de fato, comete o
assassinato que está previsto de
, não se pode
luir que o conto se encerre com a
arbítrio, uma vez que,
ainda que a decisão de matar seja
consciente e planejada como uma
medida necessária para evitar um mal
maior, ela de fato cumpre a previsão
dos precogs. A ambiguidade aqui é
va, visto que sintetiza
figurativamente os impasses de uma
arbítrio x racionalização
total da experiência humana) para o
qual ainda não se achou um resultado
Minority Report
e o
Em um mundo governado por
algoritmos, nos quais deposita
-se a
crença de infalibilidade da ciência,
muitas vezes somos conduzidos
,
assim como Witwer, apenas por meio
das informações que se tornam
públicas, sem saber ao certo como o
cruzamento de dados são
responsáveis pela modulação de
comportamentos e qual o seu alcance
para definir decisões futuras.
Um exemplo
aproxima
do mundo imaginado em
Minority Report
e retoma a discussão
sobre justiça
e livre
utilização do software
acrônimo de
Correctional Offender
Management Profiling for Alternative
Sanctions
12
, criado pela empresa
estadunidense
Equivant
segundo o manual do usuário
disponível no site oficial
funciona como um sistema de
gerenciamento para profis
justiça criminal
que tem por objetivo
auxiliar decisões nos casos de p
julgamento, prisão e liberdade
condicional. O
COMPAS Core
desenvolvido para analisar dados de
homens e mulheres infratores que
podem ou não estar em cárcere.
Ainda seg
undo o manual do
usuário, os primeiros estudos para o
desenvolvimento do software
começaram em 1998 com base em
12
Tradução: Gerenciamento de Perfis de
Infratores para Penas Alternativas
13
http://www.equivant.com/wp
content/uploads/Practitioners
COMPAS-Core-
040419.pdf. A
mar.2020.
244
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
responsáveis pela modulação de
comportamentos e qual o seu alcance
para definir decisões futuras.
Um exemplo
real que se
do mundo imaginado em
e retoma a discussão
e livre
-arbítrio é a
utilização do software
COMPAS,
Correctional Offender
Management Profiling for Alternative
, criado pela empresa
Equivant
e que,
segundo o manual do usuário
disponível no site oficial
da empresa
13
,
funciona como um sistema de
gerenciamento para profis
sionais da
que tem por objetivo
auxiliar decisões nos casos de p
-
julgamento, prisão e liberdade
COMPAS Core
foi
desenvolvido para analisar dados de
homens e mulheres infratores que
podem ou não estar em cárcere.
undo o manual do
usuário, os primeiros estudos para o
desenvolvimento do software
começaram em 1998 com base em
Tradução: Gerenciamento de Perfis de
Infratores para Penas Alternativas
.
http://www.equivant.com/wp
-
content/uploads/Practitioners
-Guide-to-
040419.pdf. A
cesso: 23
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
dois modelos de risco: risco geral de
reincidência e risco geral de
reincidência violenta. O modelo da
programação do software tem como
referênc
ia estudos que apontam que
avaliações estatísticas tendem a ser
superiores
(grifo nosso) ao julgamento
humano.
O software funciona cruzando
os dados de casos específicos
informados pelos profissionais da
justiça criminal com informações
disponíveis no
banco de dados. Assim,
o software é capaz de calcular uma
pontuação para cada indivíduo de
acordo com os modelos de risco e
definir qual seria a sentença
diante dos resultados.
A empresa defende o ideário da
big data e do
machine learning
soluções mais precisas e menos
tendenciosas para definir as
sentenças. Entretanto, um estudo
recente (DRESSEL;
FARID, 2018)
aponta que esse ideário não
corresponde à realidade e afirma que
as sentenças dadas pelo software
equivalem a previsões feitas
pessoas com pouco ou nenhum
conhecimento jurídico.
Assim como no conto de Dick,
estamos diante da naturalização de
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
dois modelos de risco: risco geral de
reincidência e risco geral de
reincidência violenta. O modelo da
programação do software tem como
ia estudos que apontam que
avaliações estatísticas tendem a ser
(grifo nosso) ao julgamento
O software funciona cruzando
os dados de casos específicos
informados pelos profissionais da
justiça criminal com informações
banco de dados. Assim,
o software é capaz de calcular uma
pontuação para cada indivíduo de
acordo com os modelos de risco e
definir qual seria a sentença
mais justa
A empresa defende o ideário da
machine learning
como
soluções mais precisas e menos
tendenciosas para definir as
sentenças. Entretanto, um estudo
FARID, 2018)
aponta que esse ideário não
corresponde à realidade e afirma que
as sentenças dadas pelo software
equivalem a previsões feitas
por
pessoas com pouco ou nenhum
Assim como no conto de Dick,
estamos diante da naturalização de
um discurso que coloca a segurança
frente da privacidade e do livre arbítrio.
Governos totalitários utilizam a
tecnologia digital
para vigiar e punir
seus cidadãos. Na China, por
exemplo, foi adotado um sistema de
pontuação,
Sesame Credit
dados e avalia o comportamento de
cada cidadão de acordo com suas
finanças e suas relações com o
governo. Segundo Zuboff (2019), o
sist
ema produz um perfil holístico que
avalia além de pagamentos de contas
e empréstimos. Critérios como
qualidade e quantidade de amigos,
históricos de compras e nível escolar
também interferem na qualificação do
cidadão dentro do
Sesame Credit
As consequências dessa
avaliação são tão profundas que
pessoas com uma baixa pontuação
são marginalizadas pelos próprios
amigos, que temem ter seus números
afetados. Assim como acontece no
COMPAS
, a lógica da desigualdade é
propagada no
Sesame Credit
sistema dificulta a mobilidade social.
Os critérios de julgamento
criminal no conto de Dick são muito
mais sujeitos a
deslizes
adotados pelos algoritmos, pois
dependem das visões dos precogs e
245
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
um discurso que coloca a segurança
à
frente da privacidade e do livre arbítrio.
Governos totalitários utilizam a
para vigiar e punir
seus cidadãos. Na China, por
exemplo, foi adotado um sistema de
Sesame Credit
, que cruza
dados e avalia o comportamento de
cada cidadão de acordo com suas
finanças e suas relações com o
governo. Segundo Zuboff (2019), o
ema produz um perfil holístico que
avalia além de pagamentos de contas
e empréstimos. Critérios como
qualidade e quantidade de amigos,
históricos de compras e nível escolar
também interferem na qualificação do
Sesame Credit
.
As consequências dessa
avaliação são tão profundas que
pessoas com uma baixa pontuação
são marginalizadas pelos próprios
amigos, que temem ter seus números
afetados. Assim como acontece no
, a lógica da desigualdade é
Sesame Credit
, que o
sistema dificulta a mobilidade social.
Os critérios de julgamento
criminal no conto de Dick são muito
deslizes
do que os
adotados pelos algoritmos, pois
dependem das visões dos precogs e
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
de um complexo sistema de
checagens e rechecage
ns baseado
em computadores. Entretanto, existe
um caráter de interpretação que
também apresenta vestígios na
programação algorítmica. Tal
interpretação está presente naquilo
que Ierardo (2018) define como a
consciência do programador frente a
um modus cogitandi
instrumental
econômico-
liberal insistente de um
capitalismo que sempre transforma,
mas que nunca altera seu princípio
constante: a otimização de ganâncias
e do poder econômico como um valor
de si mesmo” (IERARDO, 2018, p. 28)
(tradução nossa).
A col
onização da internet se
em um recorte histórico propício à falta
de debate, especialmente aqueles que
são considerados
políticos
(2000), ao descrever a lógica do pós
modernismo como uma dominante
cultural, aponta que a predileção pela
estética
“degradada” o acontece
somente no campo cultural, na
predileção por “seriados de TV e da
cultura Reader’s Digest”
, ressaltando
que o pós-
modernismo é, ao mesmo
tempo, “necessariamente uma posição
política, implícita ou explícita, com
respeito à natureza
do capitalismo
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
de um complexo sistema de
ns baseado
em computadores. Entretanto, existe
um caráter de interpretação que
também apresenta vestígios na
programação algorítmica. Tal
interpretação está presente naquilo
que Ierardo (2018) define como a
consciência do programador frente a
instrumental
liberal insistente de um
capitalismo que sempre transforma,
mas que nunca altera seu princípio
constante: a otimização de ganâncias
e do poder econômico como um valor
de si mesmo” (IERARDO, 2018, p. 28)
onização da internet se
em um recorte histórico propício à falta
de debate, especialmente aqueles que
políticos
. Jameson
(2000), ao descrever a lógica do pós
-
modernismo como uma dominante
cultural, aponta que a predileção pela
“degradada” o acontece
somente no campo cultural, na
predileção por “seriados de TV e da
, ressaltando
modernismo é, ao mesmo
tempo, “necessariamente uma posição
política, implícita ou explícita, com
do capitalismo
multinacional” (JAMESON, 2000, p.
29)
Para Harari
arbítrio é a principal base do
liberalismo, pois, segundo o autor, é o
ideário da singularidade do indivíduo
que permite que esse sistema
funcione, tanto polític
economicamente. O homem da s
modernidade de Jameson ou do
liberalismo de Harari naturalizaram
práticas que prezam pela segurança
individual, pela personalização e pela
facilidade, mesmo que isso signifique
sacrificar a privacidade.
A sociedade i
maginada por Dick
aceita a D
ivisão
quanto a nossa aceita as políticas de
privacidade das grandes empresas
que controlam o fluxo de dados na
internet. No início da narrativa,
informados de que o Sistema
Crime reduziu
o número de cr
violentos em
99,8%
131), enfatizando o lado positivo
sujeição a tal sistema
semelhante ao que acontece com o
discurso adotado nas políticas de
privacidade ao afirmarem que a coleta
de dados funciona para melhorar e
personalizar a experiência de cada
usuário.
246
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
multinacional” (JAMESON, 2000, p.
Para Harari
(2015), o livre-
arbítrio é a principal base do
liberalismo, pois, segundo o autor, é o
ideário da singularidade do indivíduo
que permite que esse sistema
funcione, tanto polític
a quanto
economicamente. O homem da s
-
modernidade de Jameson ou do
liberalismo de Harari naturalizaram
práticas que prezam pela segurança
individual, pela personalização e pela
facilidade, mesmo que isso signifique
sacrificar a privacidade.
maginada por Dick
ivisão
Pré-Crime tanto
quanto a nossa aceita as políticas de
privacidade das grandes empresas
que controlam o fluxo de dados na
internet. No início da narrativa,
somos
informados de que o Sistema
Pré-
o número de cr
imes
99,8%
(DICK, 2012, p.
131), enfatizando o lado positivo
da
sujeição a tal sistema
, muito
semelhante ao que acontece com o
discurso adotado nas políticas de
privacidade ao afirmarem que a coleta
de dados funciona para melhorar e
personalizar a experiência de cada
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
Mas, assim como no conto, o
preço a se pagar pela segurança é
el
evado. A personalização dos
serviços tornou-
se pouco a pouco uma
manobra de modulação de
comportamentos,
amplamente utilizada no capitalismo
de vigilância que tem desdobramentos
profundos no Estado de direito.
Referências
bibliográficas:
ADORNO, T. W.
As estrelas descem à
terra:
a coluna de astrologia do Los
Angeles Times: um estudo sobre
superstição secundária.
São Paulo:
Editora UNESP, 2008.
BOTELLO, N. A América Latina e o
apocalipse: ícones visuais em
Runner e Elysium. In
: BRUNO, F.
Tecnopolíticas da Vigilância:
perspectivas da margem.
Boitempo, 2018.
DEBRAY, R. Civilization:
How We All
Became American.
New York: Verso,
2019.
DEBRAY, R. Transmitir:
o segredo e a
força das idéias.
Petrópolis, RJ:
Vozes, 2000.
DICK, P. K.
Realidades adaptadas:
contos de Philip K. Dick que
inspiraram grandes sucessos do
cinema.
São Paulo: Aleph, 2012.
DONEDO, D.;
ALMEIDA, V. O que é
governança de algoritmos
F. et al.
Tecnopolíticas da Vigilância:
perspectivas da
margem. São Paulo:
Boitempo, 2018.
DRESSEL, J.;
FARID, H.
accuracy, fairness, and limits of
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
Mas, assim como no conto, o
preço a se pagar pela segurança é
evado. A personalização dos
se pouco a pouco uma
manobra de modulação de
estratégia
amplamente utilizada no capitalismo
de vigilância que tem desdobramentos
profundos no Estado de direito.
bibliográficas:
As estrelas descem à
a coluna de astrologia do Los
Angeles Times: um estudo sobre
São Paulo:
BOTELLO, N. A América Latina e o
apocalipse: ícones visuais em
Blade
: BRUNO, F.
et al.
Tecnopolíticas da Vigilância:
São Paulo:
How We All
New York: Verso,
o segredo e a
Petrópolis, RJ:
Realidades adaptadas:
os
contos de Philip K. Dick que
inspiraram grandes sucessos do
São Paulo: Aleph, 2012.
ALMEIDA, V. O que é
governança de algoritmos
In: BRUNO,
Tecnopolíticas da Vigilância:
margem. São Paulo:
FARID, H.
The
accuracy, fairness, and limits of
predicting recidivism
.
https://advances.scien
nt/4/1/eaao5580
FINN, E.
What Algorithms Want:
Imagination in the Age of Computing
Cam
bridge: MIT Press, 2017.
HARARI, Y.
Homo Deus:
história do amanhã
Companhia das Letras, 2015.
IERARDO, E.
Mundo Virtual:
Mirror, posapocalipsis y ciberadicción
Buenos Aires: Continente, 2018.
JAMESON, F.
Pós
lógica cultural do capitalismo tardio
São Paulo: Ática, 2000.
LARREGUE J., WANNYN W.
DARTIGUES L.
Vérité romanesque et
fictions scientifiques: Philip K. Dick
chez les criminologues
ligne], 13 | 2019, mis en ligne le 08
janvier 2020
. Disponível
http://journ
als.openedition.org/socio/78
19
. Acesso: 12 mar. 2020.
LÉVY, P.
As tecnologias da
inteligência:
o futuro do pensamento
na era da informática.
Editora 34, 2016.
LÉVY, P.
Cibercultura.
Editora 34, 2014.
O'NEIL, C.
Weapons of Math
Destruction:
How Big Data Increases
Inequality and Threatens Democracy.
New York: Broadway Books, 2016.
ROUVROY A.;
Governamentalidade algorítmica e
perspectivas de emancipação: o
díspar como condição de individuação
pela relação? In
: BRUNO, F.
Tecnopolíticas da Vigilância:
p
erspectivas da margem
Boitempo, 2013.
SIBILIA, P. Você é o que o Google diz
que você é: a vida editável, entre o
247
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
.
Disponível em:
https://advances.scien
cemag.org/conte
What Algorithms Want:
Imagination in the Age of Computing
.
bridge: MIT Press, 2017.
Homo Deus:
Uma breve
história do amanhã
. São Paulo.
Companhia das Letras, 2015.
Mundo Virtual:
Black
Mirror, posapocalipsis y ciberadicción
.
Buenos Aires: Continente, 2018.
Pós
-modernismo: a
lógica cultural do capitalismo tardio
.
São Paulo: Ática, 2000.
LARREGUE J., WANNYN W.
;
Vérité romanesque et
fictions scientifiques: Philip K. Dick
chez les criminologues
. Socio [En
ligne], 13 | 2019, mis en ligne le 08
. Disponível
em:
als.openedition.org/socio/78
. Acesso: 12 mar. 2020.
As tecnologias da
o futuro do pensamento
na era da informática.
São Paulo:
Cibercultura.
São Paulo:
Weapons of Math
How Big Data Increases
Inequality and Threatens Democracy.
New York: Broadway Books, 2016.
BERNS T.
Governamentalidade algorítmica e
perspectivas de emancipação: o
díspar como condição de individuação
: BRUNO, F.
et al.
Tecnopolíticas da Vigilância:
erspectivas da margem
. São Paulo:
SIBILIA, P. Você é o que o Google diz
que você é: a vida editável, entre o
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
Report e o governo da distopia algorítmica.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
232-248, set. 2020.
controle e o espetáculo. In
: BRUNO, F.
et al.
Tecnopolíticas da Vigilância:
perspectivas da margem.
Boitempo, 2018.
SILVEIRA, S. A. D.
Tudo sobre tod@s:
redes digitais, privacidade e venda de
dados pessoais.
São Paulo: SESC
São Paulo, 2017.
ZUBOFF, S. Big other: Capitalismo de
vigilância e perspectivas para uma
civilização de informação.
F. et al.
Tecnopolíticas da Vigilância:
perspectivas da margem.
Boitempo, 2018.
ZUBOFF, S.
The Age of Surveillance
Capitalism. v. 1.
New York: Public
Affairs, 2019.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
GUIRAU, Marcelo Cizaurre; FERREIRA, Ana Elisa S. C. da S. Minority
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
: BRUNO, F.
Tecnopolíticas da Vigilância:
São Paulo:
Tudo sobre tod@s:
redes digitais, privacidade e venda de
São Paulo: SESC
ZUBOFF, S. Big other: Capitalismo de
vigilância e perspectivas para uma
civilização de informação.
In: BRUNO,
Tecnopolíticas da Vigilância:
São Paulo:
The Age of Surveillance
New York: Public
248
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
Inteligência artificial e direitos autorais: desafios e possibilidades no cenário
jurídico brasileiro e internacional
DOI: https://doi.org/1
0.22409/pragmatizes.v10i19.41210
Resumo: É irrefutável que
softwares
antes eram apena afetos
aos seres humanos. Desde 1970 existem obras artísticas criadas por
inteligências artificiais e, inclusive, em formato que é possível consider
fato ensejou o e
nfrentamento teórico sobre a (im
direitos autorais. Existem, pelo menos, três correntes teóricas sobre o tema:
autorais diretamente à inteligência artificial, a partir da criação de uma personalidade eletrônica, ou
desenvolvendo uma coautoria c
programador do software ou à empresa por trás do investimento, e a terceira defende que não há que
se falar em direito autoral neste caso, pertencendo a obra ao domínio público. A disc
enfrenta questões enraizadas sobre a forma de compreensão do mundo pelo ser humano, de grande
complexidade, relacionadas a problemas de ordem filosófica, psicológica, social e também jurídica. E
é por esta razão que nenhuma das correntes teór
plena todos os desafios impostos ao Direito Autoral, que o cerne para solução do tema proposto é
a compreensão da própria inteligência humana e suas limitações. Para a realização da análise
teórica, a part
ir de pesquisa exploratória e bibliográfica, partiu
portanto, do método indutivo para elaboração do trabalho.
Palavras-chave:
Inteligência artificial
Inteligencia artificial y
derechos de autor:desafíos y posibilidadesenelescenario legal brasileño
e internacional
Resumen:
Es irrefutable que los
que anteriormente solo fueron
afecto
1
Raquel von Hohendorff.
Doutora em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
UNISINOS. Professora do Programa de Pós
Sul, Brasil. E-mail:
vetraq@gmail.com
2
Fernanda Borghetti Cantali. Doutoranda em Dire
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Brasil. E-
mail: fernandaborghetti@hotmail.com
3
Fernanda Felitti da Silva D'ávila. Graduanda em Direito na Universidade do Vale do Rio dos Sinos,
Rio Grande do Sul, Brasil. E-
mail: fernandafelitti@gmail.com
Recebido em 29/03/2020, aceito para publicação em 26/04/2020, disponibilizado online em
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
Inteligência artificial e direitos autorais: desafios e possibilidades no cenário
jurídico brasileiro e internacional
0.22409/pragmatizes.v10i19.41210
Raquel Von
Fernanda Borghetti Cantali
Fernanda Felitti da Silva D'ávila
softwares
de inteligência artificial, cada vez mais, produzem conteúdo
aos seres humanos. Desde 1970 existem obras artísticas criadas por
inteligências artificiais e, inclusive, em formato que é possível consider
á-
las originais e criativas. Tal
nfrentamento teórico sobre a (im
)possibilidade de tais obras sere
direitos autorais. Existem, pelo menos, três correntes teóricas sobre o tema:
a primeira atribui direitos
autorais diretamente à inteligência artificial, a partir da criação de uma personalidade eletrônica, ou
desenvolvendo uma coautoria c
om a inteligência artificial; a segunda atribui os direitos autorais ao
programador do software ou à empresa por trás do investimento, e a terceira defende que não há que
se falar em direito autoral neste caso, pertencendo a obra ao domínio público. A disc
enfrenta questões enraizadas sobre a forma de compreensão do mundo pelo ser humano, de grande
complexidade, relacionadas a problemas de ordem filosófica, psicológica, social e também jurídica. E
é por esta razão que nenhuma das correntes teór
icas apresentadas conseguem solucionar de forma
plena todos os desafios impostos ao Direito Autoral, que o cerne para solução do tema proposto é
a compreensão da própria inteligência humana e suas limitações. Para a realização da análise
ir de pesquisa exploratória e bibliográfica, partiu
-
se de casos concretos, utilizando
portanto, do método indutivo para elaboração do trabalho.
Inteligência artificial
;obras intelectuais; Direito Autoral.
derechos de autor:desafíos y posibilidadesenelescenario legal brasileño
Es irrefutable que los
softwares
de inteligencia artificial producen cada vez más contenido
afecto
s
a los seres humanos. Desde 1970, hay obras artísticas creadas
Doutora em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
UNISINOS. Professora do Programa de Pós
-
graduação e graduação da UNISINOS, Rio Grande do
vetraq@gmail.com
- https://orcid.org/0000-0001-7543-2412
Fernanda Borghetti Cantali. Doutoranda em Dire
ito pelo programa de pós-
graduação da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
- UNISINOS, professora da UNISINOS,
Rio Grande do Sul,
mail: fernandaborghetti@hotmail.com
- http://orcid.org/0000-0002-1889-
9881
Fernanda Felitti da Silva D'ávila. Graduanda em Direito na Universidade do Vale do Rio dos Sinos,
mail: fernandafelitti@gmail.com
- https://
orcid.org/0000
Recebido em 29/03/2020, aceito para publicação em 26/04/2020, disponibilizado online em
01/09/2020
249
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Inteligência artificial e direitos autorais: desafios e possibilidades no cenário
Raquel Von
Hohendorff
1
Fernanda Borghetti Cantali
2
Fernanda Felitti da Silva D'ávila
3
de inteligência artificial, cada vez mais, produzem conteúdo
s que
aos seres humanos. Desde 1970 existem obras artísticas criadas por
las originais e criativas. Tal
)possibilidade de tais obras sere
m protegidas por
a primeira atribui direitos
autorais diretamente à inteligência artificial, a partir da criação de uma personalidade eletrônica, ou
om a inteligência artificial; a segunda atribui os direitos autorais ao
programador do software ou à empresa por trás do investimento, e a terceira defende que não há que
se falar em direito autoral neste caso, pertencendo a obra ao domínio público. A disc
ussão do tema
enfrenta questões enraizadas sobre a forma de compreensão do mundo pelo ser humano, de grande
complexidade, relacionadas a problemas de ordem filosófica, psicológica, social e também jurídica. E
icas apresentadas conseguem solucionar de forma
plena todos os desafios impostos ao Direito Autoral, que o cerne para solução do tema proposto é
a compreensão da própria inteligência humana e suas limitações. Para a realização da análise
se de casos concretos, utilizando
-se,
derechos de autor:desafíos y posibilidadesenelescenario legal brasileño
de inteligencia artificial producen cada vez más contenido
s
a los seres humanos. Desde 1970, hay obras artísticas creadas
Doutora em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
-
graduação e graduação da UNISINOS, Rio Grande do
graduação da
Rio Grande do Sul,
9881
Fernanda Felitti da Silva D'ávila. Graduanda em Direito na Universidade do Vale do Rio dos Sinos,
orcid.org/0000
-0001-6969-2664
Recebido em 29/03/2020, aceito para publicação em 26/04/2020, disponibilizado online em
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
por inteligenciasartificiales, e enun formato que puede ser considerado original y creativo. Tal
hechodio lugar a laconfrontación teó
por derechos de autor. Existen al menos trescorrientes teóricas sobre el tema:
laprimeraasignalosderechos de autor directamente a lainteligencia artificial, a través de lacreaciónde
una personalidad electrónica o desarrollando una coautoríaco
asignaderechos de autor al desarrolladordelsoftware o lacompañía detrás de lainversión; y latercera
argumenta que no haynecesidad de hablar de derechos de autor, en este caso eltrabajopertenece al
dominio público. La discusió
ndel tema enfrenta preguntas profundamente arraigadas sobre la forma
en que los seres humanos entiendenel mundo, de grancomplejidad, relacionadas con problemas
filosóficos, psicológicos, sociales y tambiénlegales. Y es por esta razón que ninguna de lascorr
teóricas presentadas puede resolver completamente todos losdesafíosimpuestos a laLey de
Derechos de Autor, ya que el cerne para resolver el tema propuesto es lacomprensión de
lainteligencia humana ensímisma y sus limitaciones. Para larealizacióndela
basadoenlainvestigaciónexploratoria y bibliográfica, comenzamoscon casos concretos, utilizando el
método inductivo para preparar eltrabajo.
Palabras clave:
Inteligencia artificial
Artificial
intelligence and copyright law: challenges and possibilities in the Brazilian and
international legal scenario
Abstract:
It is undeniable that artificial intelligence software increasingly produces content
previously only affected humans. Since 197
intelligences and even in a format that can be considered original and creative. This fact gave rise to
the theoretic
al confrontation about the (in)
are at least three theories on the subject: the first assigns copyright directly to artificial intelligence,
from the creation of an electronic personality, or by developing a co
intelligence; the second assigns copyrig
investment, and the third argues that there is no need to talk about copyright in this case, because the
work would belong to the public domain. The discussion of the subject faces deep
about the way human beings understand the world, of great complexity, related to philosophical,
psychological, social and also legal problems. And it is for this reason that none of the theoretical
currents presented are able to fully solve all the chall
of the matter for solving the proposed issue is the understanding of human intelligence itself and its
limitations. For the realization of the theoretical analysis, based on exploratory and bibliographic
resea
rch, we started with concrete cases, using, therefore, the inductive method for preparing the
work.
Keywords: Artificial intelligence
;i
Inteligência artificial e direitos autorais: desafios e possibilidades no cenário
jurídico brasileiro e internacional
1. Introdução
A inteligência artificial faz
parte do dia a dia de muitas pessoas.
Cada vez mais, o ser humano se
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
por inteligenciasartificiales, e enun formato que puede ser considerado original y creativo. Tal
hechodio lugar a laconfrontación teó
rica sobre la (im)
posibilidad de que tales obras estén prote
por derechos de autor. Existen al menos trescorrientes teóricas sobre el tema:
laprimeraasignalosderechos de autor directamente a lainteligencia artificial, a través de lacreaciónde
una personalidad electrónica o desarrollando una coautoríaco
nlaintel
igencia artificial; la segunda
asignaderechos de autor al desarrolladordelsoftware o lacompañía detrás de lainversión; y latercera
argumenta que no haynecesidad de hablar de derechos de autor, en este caso eltrabajopertenece al
ndel tema enfrenta preguntas profundamente arraigadas sobre la forma
en que los seres humanos entiendenel mundo, de grancomplejidad, relacionadas con problemas
filosóficos, psicológicos, sociales y tambiénlegales. Y es por esta razón que ninguna de lascorr
teóricas presentadas puede resolver completamente todos losdesafíosimpuestos a laLey de
Derechos de Autor, ya que el cerne para resolver el tema propuesto es lacomprensión de
lainteligencia humana ensímisma y sus limitaciones. Para larealizacióndela
basadoenlainvestigaciónexploratoria y bibliográfica, comenzamoscon casos concretos, utilizando el
método inductivo para preparar eltrabajo.
Inteligencia artificial
;obras intelectuales;derecho autoral.
intelligence and copyright law: challenges and possibilities in the Brazilian and
It is undeniable that artificial intelligence software increasingly produces content
previously only affected humans. Since 197
0, there have been artistic works created by artificial
intelligences and even in a format that can be considered original and creative. This fact gave rise to
al confrontation about the (in)
possibility of such works being protected by copyrig
are at least three theories on the subject: the first assigns copyright directly to artificial intelligence,
from the creation of an electronic personality, or by developing a co
-
authorship with artificial
intelligence; the second assigns copyrig
ht to the software developer or the company behind the
investment, and the third argues that there is no need to talk about copyright in this case, because the
work would belong to the public domain. The discussion of the subject faces deep
about the way human beings understand the world, of great complexity, related to philosophical,
psychological, social and also legal problems. And it is for this reason that none of the theoretical
currents presented are able to fully solve all the chall
enges imposed on Copyright Law, since the crux
of the matter for solving the proposed issue is the understanding of human intelligence itself and its
limitations. For the realization of the theoretical analysis, based on exploratory and bibliographic
rch, we started with concrete cases, using, therefore, the inductive method for preparing the
;i
ntellectual works;copyright.
Inteligência artificial e direitos autorais: desafios e possibilidades no cenário
jurídico brasileiro e internacional
A inteligência artificial faz
parte do dia a dia de muitas pessoas.
Cada vez mais, o ser humano se
utiliza de
softwares
suporte nas mais diversas áreas e
atividades, especialmente com o
advento da quarta revolução industrial
250
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
por inteligenciasartificiales, e enun formato que puede ser considerado original y creativo. Tal
posibilidad de que tales obras estén prote
gidas
por derechos de autor. Existen al menos trescorrientes teóricas sobre el tema:
laprimeraasignalosderechos de autor directamente a lainteligencia artificial, a través de lacreaciónde
igencia artificial; la segunda
asignaderechos de autor al desarrolladordelsoftware o lacompañía detrás de lainversión; y latercera
argumenta que no haynecesidad de hablar de derechos de autor, en este caso eltrabajopertenece al
ndel tema enfrenta preguntas profundamente arraigadas sobre la forma
en que los seres humanos entiendenel mundo, de grancomplejidad, relacionadas con problemas
filosóficos, psicológicos, sociales y tambiénlegales. Y es por esta razón que ninguna de lascorr
ientes
teóricas presentadas puede resolver completamente todos losdesafíosimpuestos a laLey de
Derechos de Autor, ya que el cerne para resolver el tema propuesto es lacomprensión de
lainteligencia humana ensímisma y sus limitaciones. Para larealizacióndela
nálisis teórico,
basadoenlainvestigaciónexploratoria y bibliográfica, comenzamoscon casos concretos, utilizando el
intelligence and copyright law: challenges and possibilities in the Brazilian and
It is undeniable that artificial intelligence software increasingly produces content
s that
0, there have been artistic works created by artificial
intelligences and even in a format that can be considered original and creative. This fact gave rise to
possibility of such works being protected by copyrig
ht. There
are at least three theories on the subject: the first assigns copyright directly to artificial intelligence,
authorship with artificial
ht to the software developer or the company behind the
investment, and the third argues that there is no need to talk about copyright in this case, because the
work would belong to the public domain. The discussion of the subject faces deep
-rooted questions
about the way human beings understand the world, of great complexity, related to philosophical,
psychological, social and also legal problems. And it is for this reason that none of the theoretical
enges imposed on Copyright Law, since the crux
of the matter for solving the proposed issue is the understanding of human intelligence itself and its
limitations. For the realization of the theoretical analysis, based on exploratory and bibliographic
rch, we started with concrete cases, using, therefore, the inductive method for preparing the
Inteligência artificial e direitos autorais: desafios e possibilidades no cenário
softwares
para lhe dar
suporte nas mais diversas áreas e
atividades, especialmente com o
advento da quarta revolução industrial
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
e dos avanços da tecnologia. Desta
forma, também o fato de que
surgem
obras criadas a partir desses
programas, por meio da inteligênci
artificial, de forma muito mais
autônoma do que se pode imaginar,
muitas vezes, sendo desenvolvidas
criações artísticas sem qualquer
interferência humana.
E
redor do mundo, inúmeras obras deste
tipo, nas mais diversas áreas da arte,
fruto da in
teligência artificial. Como
exemplo, tem-
se o projeto
Rembrandt, a música
Daddy’s
roteiro do curta-metragem
Sunspring
Diante dos
proporcionados pela inteligência
artificial aplicada à criação de obras
intelectuais,
o que vem modi
forma de exteriorização da cultura,
busca-se fomentar
a discussão sobre
tal tema no Direito,
utilizando
premissa o sistema autoral brasileiro e
o internacional, e apresentando
desafios e as diversas perspectivas
encontradas para a co
mpreensão d
fenômeno. Pretende-se
destrinchar as
principais correntes teóricas
tema e responder a seguinte questão:
quais são os desafios impostos pela
criação de obras intelectuais p
inteligências artificiais
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
e dos avanços da tecnologia. Desta
forma, também o fato de que
obras criadas a partir desses
programas, por meio da inteligênci
a
artificial, de forma muito mais
autônoma do que se pode imaginar,
muitas vezes, sendo desenvolvidas
criações artísticas sem qualquer
E
xistem, ao
redor do mundo, inúmeras obras deste
tipo, nas mais diversas áreas da arte,
teligência artificial. Como
se o projeto
The Next
Daddy’s
Car, e o
Sunspring
.
avanços
proporcionados pela inteligência
artificial aplicada à criação de obras
o que vem modi
ficando a
forma de exteriorização da cultura,
a discussão sobre
utilizando
-se como
premissa o sistema autoral brasileiro e
o internacional, e apresentando
seus
desafios e as diversas perspectivas
mpreensão d
o
destrinchar as
principais correntes teóricas
sobre o
tema e responder a seguinte questão:
quais são os desafios impostos pela
criação de obras intelectuais p
or
ao Direito
Autoral e quais são as p
soluções?
O
objetivo principal d
compreender o fenômeno da criação
de obras intelectuais
inteligência artificial e seus impactos
no Direito Autoral.
específicos, têm-
se: verificar casos
que estão trazendo
possibilidades para o Direito Autoral
internacional e brasileiro; entender o
que é a inteligência artificial,
principalmente aquela que pode gerar
obras intelectuais passíveis de direito
autoral; realizar uma discussão acerca
da criação de obras
inteligência artificial, questionando se
podem ser protegidas pelo Direito
Autoral e a quem seria atribuída sua
autoria; buscar soluções e
perspectivas para o enfrentamento
desses desafios, tanto no cenário
brasileiro, como internacional;
fim, estudar e analisar esse fenômeno
dentro do contexto da quarta revolução
industrial e de tecnologias emergentes
que estão se tornando parte da vida
cotidiana, da
cultura e
mundial. A partir desta pesquisa, será
possível perceber que
redor do mundo, obras sendo criadas
desde 1970 por meio da inteligência
251
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Autoral e quais são as p
ossíveis
objetivo principal d
o estudo é
compreender o fenômeno da criação
de obras intelectuais
através de
inteligência artificial e seus impactos
Como objetivos
se: verificar casos
que estão trazendo
desafios e
possibilidades para o Direito Autoral
internacional e brasileiro; entender o
que é a inteligência artificial,
principalmente aquela que pode gerar
obras intelectuais passíveis de direito
autoral; realizar uma discussão acerca
da criação de obras
intelectuais pela
inteligência artificial, questionando se
podem ser protegidas pelo Direito
Autoral e a quem seria atribuída sua
autoria; buscar soluções e
perspectivas para o enfrentamento
desses desafios, tanto no cenário
brasileiro, como internacional;
e, por
fim, estudar e analisar esse fenômeno
dentro do contexto da quarta revolução
industrial e de tecnologias emergentes
que estão se tornando parte da vida
cultura e
da economia
mundial. A partir desta pesquisa, será
possível perceber que
existem, ao
redor do mundo, obras sendo criadas
desde 1970 por meio da inteligência
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
artificial em um formato que faz com
que seja possível considerá
originais e criativas. Também se
poderá notar que a proteção dessas
obras pelo Direito Autoral prec
discutida, porquanto deve-
se perguntar
se haverá um desestímulo ou não aos
artistas e às empresas no investimento
para a criação de obras intelectuais
com a inteligência artificial, se essas
obras não forem protegidas
legalmente, ingressando em dom
público.
É cristalino que a questão da
autoria das obras produzidas p
máquinas
é discussão relevante em
matéria de propriedade intelectual,
mais especificamente para o
Autoral
o qual tutela todas as formas
de
exteriorização da cultura humana
impactando a forma como
as
expressam
suas ideias e
pensamentos, e influenciando
diretamente no desenvolvimento
humano.
2. A
inteligência artificial, o cenário
das novas tecnologias e o direito
As revoluções tecnológicas
sempre tiveram
importante influência
sobre o
Direito em geral. Em breve
análise, verifica-se que a
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
artificial em um formato que faz com
que seja possível considerá
-las
originais e criativas. Também se
poderá notar que a proteção dessas
obras pelo Direito Autoral prec
isa ser
se perguntar
se haverá um desestímulo ou não aos
artistas e às empresas no investimento
para a criação de obras intelectuais
com a inteligência artificial, se essas
obras não forem protegidas
legalmente, ingressando em dom
ínio
É cristalino que a questão da
autoria das obras produzidas p
or
é discussão relevante em
matéria de propriedade intelectual,
mais especificamente para o
Direito
o qual tutela todas as formas
exteriorização da cultura humana
,
as
gerações
suas ideias e
pensamentos, e influenciando
diretamente no desenvolvimento
inteligência artificial, o cenário
das novas tecnologias e o direito
As revoluções tecnológicas
importante influência
Direito em geral. Em breve
modificação
e a criação do Direito estão
permeadas de mudanças que ocorrem
nasociedade e na relação do indivíduo
com o mundo a sua volta. Não é
diferente como Direito Autor
tem
caminhado lado a
avanços culturais e sociais.
Autoral tem um papel de destaque na
economia mundial, e pode ser
considerado um dos ramos do Direito
que mais avançou nas últimas
décadas
(ABRÃO, 2014, p. 30
Nas palavr
as de Tridente
Atualmente, os direitos autorais e
industriais são responsáveis pela
movimentação de elevadas parcelas
do Produto Interno Bruto dos países
e representam muitas vezes ativos
valiosos do patrimônio das
empresas. A virada do milên
porém, um período marcado por
fortes questionamentos dos direitos
de propriedade intelectual. A
massificação da internet e das
tecnologias digitais trouxe mudanças
significativas para os hábitos e
valores de extensas parcelas da
população, o que levo
ilegalidade generalizada e vem
colocando em xeque a adequação
do sistema legal.
A partir dessas mudanças,
muitos estudiosos buscaram
compreender de que forma as novas
tecnologias poderiam afetar a
sociedade.
É bem verdade que até
mesmo o nascimento do Direito
Autoral esteve relacionado com novas
tecnologias. Na época
252
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
e a criação do Direito estão
permeadas de mudanças que ocorrem
nasociedade e na relação do indivíduo
com o mundo a sua volta. Não é
diferente como Direito Autor
al, o qual
caminhado lado a
lado com os
avanços culturais e sociais.
O Direito
Autoral tem um papel de destaque na
economia mundial, e pode ser
considerado um dos ramos do Direito
que mais avançou nas últimas
(ABRÃO, 2014, p. 30
-44).
as de Tridente
(2009, p. 2):
Atualmente, os direitos autorais e
industriais são responsáveis pela
movimentação de elevadas parcelas
do Produto Interno Bruto dos países
e representam muitas vezes ativos
valiosos do patrimônio das
empresas. A virada do milên
io é,
porém, um período marcado por
fortes questionamentos dos direitos
de propriedade intelectual. A
massificação da internet e das
tecnologias digitais trouxe mudanças
significativas para os hábitos e
valores de extensas parcelas da
população, o que levo
u a uma
ilegalidade generalizada e vem
colocando em xeque a adequação
do sistema legal.
A partir dessas mudanças,
muitos estudiosos buscaram
compreender de que forma as novas
tecnologias poderiam afetar a
É bem verdade que até
mesmo o nascimento do Direito
Autoral esteve relacionado com novas
tecnologias. Na época
século XV
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
Gutenberg
desenvolvia a máquina de
imprensa (TRIDENTE
, 2009, p. 2).
C
om a possibilidade de massificação
das cópias passou a fazer s
tratar de um direito sobr
e
gerou copyright
(ABRÃO, 2014, p. 4
Atualmente se está diante de
uma mesma
realidade transformadora
do Direito
que existiu no século XV,
séculos XVIII e XIX
com a Revolução
Industrial e
no século XX, em
de 1960, com a Revolução da
Informática.
Para compreender esse
momento de ruptura de paradigmas e
de modificação econômica e social,
muitos pesquisadores buscaram
explicá-lo.
Uma forma de explicar este
pe
ríodo de rupturas foi identificá
como uma
nova revolução industrial.
Klaus Schwab
(2016, p. 15
sustenta que se vive a
revolução industrial
a qual vem
provocando
uma modificação profunda
e sistemática na
sociedade.
revolução industrial seria
tecnologias emergentes que
convergido entre si, em uma mistura
das tecnologias da primeira, segunda
e terceira revoluções industriais, que
estão modificando os sistemas como
se conhece, como as normas, as
regras, as expectativas, os objetivos,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
desenvolvia a máquina de
, 2009, p. 2).
om a possibilidade de massificação
das cópias passou a fazer s
entido
e
elas, o que
(ABRÃO, 2014, p. 4
8).
Atualmente se está diante de
realidade transformadora
que existiu no século XV,
com a Revolução
no século XX, em
meados
de 1960, com a Revolução da
Para compreender esse
momento de ruptura de paradigmas e
de modificação econômica e social,
muitos pesquisadores buscaram
Uma forma de explicar este
ríodo de rupturas foi identificá
-lo
nova revolução industrial.
(2016, p. 15
-17)
sustenta que se vive a
quarta
a qual vem
uma modificação profunda
sociedade.
A quarta
revolução industrial seria
fruto das
tecnologias emergentes que
têm
convergido entre si, em uma mistura
das tecnologias da primeira, segunda
e terceira revoluções industriais, que
estão modificando os sistemas como
se conhece, como as normas, as
regras, as expectativas, os objetivos,
as instituições, a política, a econ
a sociedade como um todo.
dizer que
Internet das coisas,
tecnologia vestível, drones,
impressora 3D, robótica, carros
autônomos, nanotecnologia, moedas
digitais,
blockchain
importante IA são algumas das
tecnologias revolucionárias que
estão impactando os indivíduos, as
organizações, os governos e a
sociedade.
[...]
tecnologias trazem ruptura social e
jurídica. Não
como o Direito ficar
alheio às t
ransformações. (CANTALI,
2018)
E
ssas tecnologias
Inteligência Artificial (IA)
modificando, inclusive, o que se
considera humano. Está acontecendo
um verdadeiro rompimento, guiado
pelas tecnologias disruptivas
ruptura dos paradig
mas tradicionais
Nas palavras de Schwab
Ciente das várias definições e
argumentos acadêmicos utilizados
para descrever as três primeiras
revoluções industriais, acredito que
hoje estamos no início de uma
quarta revolução industrial. Ela teve
início na virada do século e baseia
se na revolução di
caracterizada por uma internet mais
ubíqua e móvel, por sensores
menores e mais poderosos que se
tornaram mais baratos e pela
inteligência artificial e aprendizagem
automática (ou aprendizado de
máquina). As tecnologias digitais,
fundamentadas no
software
e redes, não são novas,
mas estão causando rupturas à
terceira revolução industrial; estão se
tornando mais sofisticadas e
integradas e, consequentemente,
253
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
as instituições, a política, a econ
omia e
a sociedade como um todo.
Pode-se
Internet das coisas,
big data,
tecnologia vestível, drones,
impressora 3D, robótica, carros
autônomos, nanotecnologia, moedas
blockchain
e a não menos
importante IA são algumas das
tecnologias revolucionárias que
estão impactando os indivíduos, as
organizações, os governos e a
[...]
Estas novas
tecnologias trazem ruptura social e
como o Direito ficar
ransformações. (CANTALI,
ssas tecnologias
, dentre elas a
Inteligência Artificial (IA)
, estão
modificando, inclusive, o que se
considera humano. Está acontecendo
um verdadeiro rompimento, guiado
pelas tecnologias disruptivas
; uma
mas tradicionais
.
Nas palavras de Schwab
(2016, p. 16):
Ciente das várias definições e
argumentos acadêmicos utilizados
para descrever as três primeiras
revoluções industriais, acredito que
hoje estamos no início de uma
quarta revolução industrial. Ela teve
início na virada do século e baseia
-
se na revolução di
gital. É
caracterizada por uma internet mais
ubíqua e móvel, por sensores
menores e mais poderosos que se
tornaram mais baratos e pela
inteligência artificial e aprendizagem
automática (ou aprendizado de
máquina). As tecnologias digitais,
fundamentadas no
computador,
e redes, não são novas,
mas estão causando rupturas à
terceira revolução industrial; estão se
tornando mais sofisticadas e
integradas e, consequentemente,
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
transformando a sociedade e
economia global.
Por isso, nesse momento de
transiç
ão, será necessário modificar
novamente as normas e
regulamentações existentes quanto ao
Direit
o Autoral, para que se adequem
à
s novas tecnologias, e ainda, aos
novíssimos suportes para a criação
cultural e intelectual.
Para a melhor
compreensão de como is
so é possível
e de que forma essa transição afeta o
Direito Autoral, faz-
se necessário
destrinchar o que é a inteligência
artificial e como ela funciona.
Quando se fala em inteligência
artificial, existe um imaginário
formado pelas produções
cinematográ
ficas e pela literatura de
ficção científica que envolvem o tema,
não representando o que é a IA e
como ela tem se desenvolvido nos
dias de hoje.
Assim, os avanços, as
consequências e, principalmente, a
conver
gência dessas novas
tecnologias
trouxeram diver
preocupações com o futuro. Inclusive,
tem-
se pensado nessas questões
desde a década de 1950
ESPÍNDOLA, 2015, p. 119
-
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
transformando a sociedade e
Por isso, nesse momento de
ão, será necessário modificar
novamente as normas e
regulamentações existentes quanto ao
o Autoral, para que se adequem
s novas tecnologias, e ainda, aos
novíssimos suportes para a criação
Para a melhor
so é possível
e de que forma essa transição afeta o
se necessário
destrinchar o que é a inteligência
artificial e como ela funciona.
Quando se fala em inteligência
artificial, existe um imaginário
formado pelas produções
ficas e pela literatura de
ficção científica que envolvem o tema,
não representando o que é a IA e
como ela tem se desenvolvido nos
Assim, os avanços, as
consequências e, principalmente, a
gência dessas novas
trouxeram diver
sas
preocupações com o futuro. Inclusive,
se pensado nessas questões
desde a década de 1950
(ZAFFARI;
-
145).
O termo “inteligência artificial”
foi primeiramente utilizado por John
McCarty, em 1956, na Conferência de
Darthmouth, sendo ele o articulador
das forças para agrupar todos os
cientistas que estivessem mais
interessados no tema. Apesar disso,
essa tecnolog
ia foi pensada
originalmente por Alan Turing, em
1950, com o lançamento do seu artigo
Computing
Machinery
Essa pesquisa, muito à frente do seu
tempo, base dos estudos de IA e
utilizada até hoje, buscou prever se um
dia as máquinas pensaria
homens (
ZAFFARI
2015, p. 137-139).
Por isso, com a grande
exploração do tema em diversas
áreas, foram cunhadas muitas
definições para o termo IA. Russel e
Norvig (2013)
explicam que poderiam
existir até oito definições do termo e
que a IA seria
um campo muito amplo
de estudo.
Ainda, de forma mais simples,
conforme Zaffari e Espíndola
119)
, a IA pode ser explicada como
sendo:
uma parte da ciência da computação
que tem como foco o
desenvolvimento de máquinas ou
sistemas que pos
254
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
O termo “inteligência artificial”
foi primeiramente utilizado por John
McCarty, em 1956, na Conferência de
Darthmouth, sendo ele o articulador
das forças para agrupar todos os
cientistas que estivessem mais
interessados no tema. Apesar disso,
ia foi pensada
originalmente por Alan Turing, em
1950, com o lançamento do seu artigo
Machinery
and Inteligency.
Essa pesquisa, muito à frente do seu
tempo, base dos estudos de IA e
utilizada até hoje, buscou prever se um
dia as máquinas pensaria
m como os
ZAFFARI
; ESPÍNDOLA,
Por isso, com a grande
exploração do tema em diversas
áreas, foram cunhadas muitas
definições para o termo IA. Russel e
explicam que poderiam
existir até oito definições do termo e
um campo muito amplo
Ainda, de forma mais simples,
conforme Zaffari e Espíndola
(2015, p.
, a IA pode ser explicada como
uma parte da ciência da computação
que tem como foco o
desenvolvimento de máquinas ou
sistemas que pos
sam resolver
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
problemas que requerem inteligência
humana. Inteligência Artificial
combina os conhecimentos de
ciência da computação, física e
filosofia. A ideia geral que permeia a
inteligência artificial é a de se criar
uma máquina artificialmente
intelige
nte pela incorporação de
programas e equipamentos que
fossem capazes de tomar decisões à
sua própria maneira quando
deparados com problemas de um
domínio particular para o qual o
sistema foi feito [...].
E
m linhas gerais, a IA tenta
emular a capacidade do cérebro
humano, importando destacar que ela
resolve problemas de forma mais
rápida do que um ser humano, e que
nem sempre ela necessita de um
corpo
físico idêntico ao humano para
realizar essas atividades,
podendo ter
apenas um suporte, como, por
exemplo, o computador.
A IA utilizada
hoje em dia quase sempre se
caracteriza por um programa de
computador (um
software
hardware
que tenha a forma de um
corpo
físico similar ao humano que o
acompanhe. A IA
tem inteligência,
como o próprio nome sugere, mas isso
não quer dizer que ela tenha
consciência. Harari
(2018, p. 98)
explica
a diferença entre inteligência e
consciência:
A ficção científica tende a confundir
inteligência com consciência, e
supõe que par
a se equipar ou
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
problemas que requerem inteligência
humana. Inteligência Artificial
combina os conhecimentos de
ciência da computação, física e
filosofia. A ideia geral que permeia a
inteligência artificial é a de se criar
uma máquina artificialmente
nte pela incorporação de
programas e equipamentos que
fossem capazes de tomar decisões à
sua própria maneira quando
deparados com problemas de um
domínio particular para o qual o
m linhas gerais, a IA tenta
emular a capacidade do cérebro
humano, importando destacar que ela
resolve problemas de forma mais
rápida do que um ser humano, e que
nem sempre ela necessita de um
físico idêntico ao humano para
podendo ter
apenas um suporte, como, por
A IA utilizada
hoje em dia quase sempre se
caracteriza por um programa de
software
) sem um
que tenha a forma de um
físico similar ao humano que o
tem inteligência,
como o próprio nome sugere, mas isso
não quer dizer que ela tenha
(2018, p. 98)
a diferença entre inteligência e
A ficção científica tende a confundir
inteligência com consciência, e
a se equipar ou
suplantar a inteligência humana os
computadores terão de desenvolver
consciência. [...]. Porém na realidade
não motivo para supor que a
inteligência artificial desenvolver
consciência, porque inteligência e
consciência são duas coisas
diferentes. Inteligência é a aptidão
para resolver problemas.
Consciência é a aptidão para sentir
coisas como dor, alegria, amor e
raiva. Tendemos a confundir os dois
porque nos humanos e nos outros
mamíferos a inteligência anda de
mãos dadas com a
Para
que se possa estudar a IA,
é necessário ter
presente
enquanto, os cientistas da computação
não conseguiram emular a
consciência, mas sim apenas a
inteligência, de forma a objetivar a
redução do esforço humano, sendo
que as
máquinas com IA conseguem
replicar algumas atividades
tipicamente realizadas pelo homem em
uma velocidade muito maior do que a
humana.
Assim, ganho de
produtividade pelo uso da IA como
uma ferramenta para a otimização de
tarefas que antes eram exercidas
exclusivamente por
humanos, sem que
com isso se afirme que as máquinas
irão substitui-los
, porque, afinal, não
possuem consciência.
inteligente artificialmente poderá
possuir algumas capacidades,
aprendizado, o raciocínio, a solução de
255
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
suplantar a inteligência humana os
computadores terão de desenvolver
consciência. [...]. Porém na realidade
não motivo para supor que a
inteligência artificial desenvolver
consciência, porque inteligência e
consciência são duas coisas
muito
diferentes. Inteligência é a aptidão
para resolver problemas.
Consciência é a aptidão para sentir
coisas como dor, alegria, amor e
raiva. Tendemos a confundir os dois
porque nos humanos e nos outros
mamíferos a inteligência anda de
mãos dadas com a
consciência.
que se possa estudar a IA,
presente
que, por
enquanto, os cientistas da computação
não conseguiram emular a
consciência, mas sim apenas a
inteligência, de forma a objetivar a
redução do esforço humano, sendo
máquinas com IA conseguem
replicar algumas atividades
tipicamente realizadas pelo homem em
uma velocidade muito maior do que a
Assim, ganho de
produtividade pelo uso da IA como
uma ferramenta para a otimização de
tarefas que antes eram exercidas
humanos, sem que
com isso se afirme que as máquinas
, porque, afinal, não
possuem consciência.
A máquina
inteligente artificialmente poderá
possuir algumas capacidades,
como o
aprendizado, o raciocínio, a solução de
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
pr
oblemas, a percepção e a
compreensão de linguagem natural,
dependendo do objetivo para o qual
ela for criada (ZAFFARI
; ESPÍNDOLA
,2015, p. 121-122).
As
máquinas com inteligência
artificial ainda poderiam ser divididas
conforme o seu tipo de inteligência
IA forte e a
IA fraca. De acordo com
Zaffari e Espíndola, a IA forte seria
aquela autoconsciente, ou seja, que
possuísse alguma forma de
consciência e que fosse impossível de
diferenciar dos seres humanos. Já a IA
fraca seria aquela que agisse de forma
inteligente, emulando o raciocínio
humano, mas que não possuísse
verdadeiramente cognição
ESPÍNDOLA, 2015, p. 119
-
Cantali (2018)
também aborda a
diferenciação entre IA fraca e IA forte e
traz exemplos de programas
existentes dos dois tipos. O
Blue
, da IBM, que venceu o melhor
jogador de xadrez do mundo em 1996,
é um exemplo de IA fraca, pois
consegue executar o que foi
pr
ogramado para fazer, no caso, jogar
xadrez.
Por sua vez, o programa da
Google, AlphaGo, que derrotou o
melhor jogador de Go do mundo (jogo
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
oblemas, a percepção e a
compreensão de linguagem natural,
dependendo do objetivo para o qual
; ESPÍNDOLA
máquinas com inteligência
artificial ainda poderiam ser divididas
conforme o seu tipo de inteligência
: a
IA fraca. De acordo com
Zaffari e Espíndola, a IA forte seria
aquela autoconsciente, ou seja, que
possuísse alguma forma de
consciência e que fosse impossível de
diferenciar dos seres humanos. Já a IA
fraca seria aquela que agisse de forma
inteligente, emulando o raciocínio
humano, mas que não possuísse
verdadeiramente cognição
(ZAFFARI;
-
145).
também aborda a
diferenciação entre IA fraca e IA forte e
traz exemplos de programas
existentes dos dois tipos. O
Deep
, da IBM, que venceu o melhor
jogador de xadrez do mundo em 1996,
é um exemplo de IA fraca, pois
consegue executar o que foi
ogramado para fazer, no caso, jogar
Por sua vez, o programa da
Google, AlphaGo, que derrotou o
melhor jogador de Go do mundo (jogo
de tabuleiro chinês) em 2015, e
programa
AlphaZero, criado em 2017,
que ensinou a si mesmo os jogos de
Shogi (jogo
de tabuleiro japonês,
similar ao xadrez), Xadrez e Go, e
ainda derrotou outros programas
campeões mundiais em cada tipo de
jogo, são exemplos de IA forte que têm
aprendido através das técnicas
computacionais de
machine
deep learning
(que em, tr
são o aprendizado de máquina e o
aprendizado profundo de máquina),
sem qualquer interferência humana
nos resultados das decisões tomadas
pelo software
. Dessa forma, esses
programas possuem criatividade,
como o próprio Lee Sedol, campeão
m
undial dezoito vezes de Go que
perdeu para o AlphaGo
pensei que o AlphaGo era baseado em
cálculos de probabilidade e que era
4
Conforme Russel e Norvig
aprendizado de máquina é utilizado para
melhorar o desempenho do programa,
sendo que essa
técnica é baseada,
principalmente nos estudos de
neurociência e de como funciona o
processamento de informações nos
neurônios, para que o programa saiba lidar
com as diversas situações que possam
aparecer. Ainda, de acordo com Guadamuz
(2017), o “machine
learning
“aprendizado das máquinas” é um
subcampo da IA, que estuda sistemas
autônomos que são capazes de aprender
sem terem sido especificamente
programados para isso.
256
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
de tabuleiro chinês) em 2015, e
o
AlphaZero, criado em 2017,
que ensinou a si mesmo os jogos de
de tabuleiro japonês,
similar ao xadrez), Xadrez e Go, e
ainda derrotou outros programas
campeões mundiais em cada tipo de
jogo, são exemplos de IA forte que têm
aprendido através das técnicas
machine
learning e
(que em, tr
adução livre,
são o aprendizado de máquina e o
aprendizado profundo de máquina),
4
sem qualquer interferência humana
nos resultados das decisões tomadas
. Dessa forma, esses
programas possuem criatividade,
como o próprio Lee Sedol, campeão
undial dezoito vezes de Go que
perdeu para o AlphaGo
afirmou “Eu
pensei que o AlphaGo era baseado em
cálculos de probabilidade e que era
Conforme Russel e Norvig
(2013), o
aprendizado de máquina é utilizado para
melhorar o desempenho do programa,
técnica é baseada,
principalmente nos estudos de
neurociência e de como funciona o
processamento de informações nos
neurônios, para que o programa saiba lidar
com as diversas situações que possam
aparecer. Ainda, de acordo com Guadamuz
learning
” ou o
“aprendizado das máquinas” é um
subcampo da IA, que estuda sistemas
autônomos que são capazes de aprender
sem terem sido especificamente
programados para isso.
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
apenas uma máquina. Mas, quando vi
suas jogadas mudei de ideia. Com
certeza o AlphaGo é criativo”.
De acordo com
Russel e Norvig
(2013)
, as redes neurais artificiais são
a forma que os programadores
encontraram para emular o
comportamento do cérebro humano, a
partir de técnicas em que se
constroem modelos matemáticos que
representam as atividades do cérebro
humano. A
ssim, é possível recriar as
redes neurais humanas e o
aprendizado da máquina se tornará
muito mais eficiente.
A partir
pode-
se compreender como a
inteligência artificial tem impactado o
mundo das Artes
e do Direito
Para entender as implicações
da I
A no Direito Autoral hoje
necessário analisar casos
exemplificativos de como tem sido
utilização
na criação de obras
intelectuais.
Alguns exemplos das
primeiras novas
formas de autoria
partir da Revolução Digital,
processos interativos de
autoria colaborativa e a meta
5
Do original eminglês
: “I thought AlphaGo
was based on probability calculation
that it was merely a machine. But when I
saw this move, I changed my mind. Surely,
AlphaGo is creative.” (
ALPHAGO
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
apenas uma máquina. Mas, quando vi
suas jogadas mudei de ideia. Com
certeza o AlphaGo é criativo”.
5
Russel e Norvig
, as redes neurais artificiais são
a forma que os programadores
encontraram para emular o
comportamento do cérebro humano, a
partir de técnicas em que se
constroem modelos matemáticos que
representam as atividades do cérebro
ssim, é possível recriar as
redes neurais humanas e o
aprendizado da máquina se tornará
A partir
disso,
se compreender como a
inteligência artificial tem impactado o
e do Direito
.
Para entender as implicações
A no Direito Autoral hoje
, é
necessário analisar casos
exemplificativos de como tem sido
sua
na criação de obras
Alguns exemplos das
formas de autoria
, a
partir da Revolução Digital,
são os
processos interativos de
criação, a
autoria colaborativa e a meta
-autoria.
: “I thought AlphaGo
was based on probability calculation
and
that it was merely a machine. But when I
saw this move, I changed my mind. Surely,
ALPHAGO
, 2019).
O hipertexto, fruto das novas
tecnologias, trouxe indagações sobre a
autoria tradicional, sendo o melhor
exemplo para compreender como
nasceram as novas formas de autoria
comentadas anteriormente.
que, na atualidade, as novíssimas
possibilidades trazidas pelas
tecnologias disruptivas
inteligência artificial,
padrões, em sintonia com os outros
momentos da história do Direito
Autoral em que isso também ocorreu
(as últimas três
revoluções industriais
e a invenção da imprensa, por
exemplo). Pode-
se dizer que o Direito
Autoral e o formato antiquado e
tradicional de proteção que a
legislação oferece hoje encontram
ameaçados.
No contexto da
industrial, é necessário
utilização da IA no
mundo da
as possibilidades de criação de
programas que estão modificando a
sociedade e os direitos autorais: as
máquinas que estão sendo criadas
para criar.
Obras literárias,
de artes visuais estão sendo criadas
por inteligências artificiais e trazem em
si grandes desafios,
de modo especial
para o Direito Autoral.
257
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
O hipertexto, fruto das novas
tecnologias, trouxe indagações sobre a
autoria tradicional, sendo o melhor
exemplo para compreender como
nasceram as novas formas de autoria
comentadas anteriormente.
Por isso
que, na atualidade, as novíssimas
possibilidades trazidas pelas
tecnologias disruptivas
, incluída a
inteligência artificial,
têm rompido
padrões, em sintonia com os outros
momentos da história do Direito
Autoral em que isso também ocorreu
revoluções industriais
e a invenção da imprensa, por
se dizer que o Direito
Autoral e o formato antiquado e
tradicional de proteção que a
legislação oferece hoje encontram
-se
No contexto da
quarta revolução
industrial, é necessário
avaliar a
mundo da
s artes e
as possibilidades de criação de
programas que estão modificando a
sociedade e os direitos autorais: as
máquinas que estão sendo criadas
Obras literárias,
musicais e
de artes visuais estão sendo criadas
por inteligências artificiais e trazem em
de modo especial
para o Direito Autoral.
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
O primeiro
software
uma obra artística de forma
independente com a inteligência
artificial foi o AARON
2015). Trata-
se de um
desenvolvido pelo artista britânico
Harold Cohen, que, em 1970, pintou
sua primeira obra artística. Cohen
alimentou
AARON com as
características essenciais de imagens
e, a partir dessas informações,
AAR
ON realizou suas próprias
decisões sobre o que iria na tela de
arte e desenhou suas escolhas com
um braço robótico. No início, Cohen
coloria à mão a arte abstrata criada
por AARON, mas, com o tempo e o
desenvolvimento da tecnologia e da
robótica, Cohen mod
ificou AARON
para que pintasse plantas, objetos e
pessoas, inclusive com cor
2016).
Mesmo assim, apesar das
discussões quanto a
esse tipo de
criação e
o Direito Autoral na época,
se considerou que elas ainda
possuíam muita influência artística dos
autores humanos. Assim, não se levou
a questão adi
ante, porquanto
obviamente essa obra, considerada
fruto das ideias de seus autores,
poderiam ser protegidas pelo Direito
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
software
que criou
uma obra artística de forma
independente com a inteligência
(CARBONI,
se de um
software
desenvolvido pelo artista britânico
Harold Cohen, que, em 1970, pintou
sua primeira obra artística. Cohen
AARON com as
características essenciais de imagens
e, a partir dessas informações,
ON realizou suas próprias
decisões sobre o que iria na tela de
arte e desenhou suas escolhas com
um braço robótico. No início, Cohen
coloria à mão a arte abstrata criada
por AARON, mas, com o tempo e o
desenvolvimento da tecnologia e da
ificou AARON
para que pintasse plantas, objetos e
pessoas, inclusive com cor
(COHEN,
Mesmo assim, apesar das
esse tipo de
o Direito Autoral na época,
se considerou que elas ainda
possuíam muita influência artística dos
autores humanos. Assim, não se levou
ante, porquanto
obviamente essa obra, considerada
fruto das ideias de seus autores,
poderiam ser protegidas pelo Direito
Autoral em sua moldura tradicional,
tanto pelos princípios do
quando pelos
princípios do
d’Auteur.
A questão é que, com a
evolução tecnológica, a utilização da
IA, hoje, alcança resultados muito
diferentes do que se verificou no
século passado. Com o advento do
aprendizado de máquina e do
aprendizado de máquina profundo,
mu
itos programas de computador
começaram a efetivamente aprender,
como se fossem crianças.
partir do uso dessa nova tecnologia
que se originaram as máquinas que
criam obras intelectuais
autônoma.
N
a área das obras audiovisuais,
temos o e
xemplo do curta metragem
Sunspring,
6
que teve seu roteiro,
criado pela IA Benjamin, que inclusive
indicou aos atores qual a entonação e
o comportamento que deveriam ter.
Essa IA foi desenvolvida por Oscar
Sharp e Ross Goodwin, que
alimentaram sua base de d
diversos roteiros de filmes de ficção
6
Para ver o curta-
metragem, acessar:
SUNSPRING | A Sci-
Fi Short Film Starring
Thomas Middleditch. [
S. l.: s. n.
2016. 1
vídeo (9 min 02 s). Publicado pelo
canal ArsTechnica. Disponível em:
https://www.youtube.co
qjmc. Acesso
: 06 nov. 2019.
258
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Autoral em sua moldura tradicional,
tanto pelos princípios do
copyright
princípios do
Droit
A questão é que, com a
evolução tecnológica, a utilização da
IA, hoje, alcança resultados muito
diferentes do que se verificou no
século passado. Com o advento do
aprendizado de máquina e do
aprendizado de máquina profundo,
itos programas de computador
começaram a efetivamente aprender,
como se fossem crianças.
Assim, é a
partir do uso dessa nova tecnologia
,
que se originaram as máquinas que
criam obras intelectuais
de forma
a área das obras audiovisuais,
xemplo do curta metragem
que teve seu roteiro,
criado pela IA Benjamin, que inclusive
indicou aos atores qual a entonação e
o comportamento que deveriam ter.
Essa IA foi desenvolvida por Oscar
Sharp e Ross Goodwin, que
alimentaram sua base de d
ados com
diversos roteiros de filmes de ficção
metragem, acessar:
Fi Short Film Starring
S. l.: s. n.
], 09 jun.
vídeo (9 min 02 s). Publicado pelo
canal ArsTechnica. Disponível em:
https://www.youtube.co
m/watch?v=LY7x2Ih
: 06 nov. 2019.
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
científica e aprimoraram a tecnologia
para aprender com estes dados e criar
sozinha um roteiro para um curta
metragem, que foi apresentado no
festival de filmes de ficção científica,
Sci-Fi London
, no qual foi
desafio de criar um curta
em até 48 horas. O curta criado por
Benjamin ficou entre os dez melhores
do festival, apesar das críticas quanto
a falta de gica no roteiro
2016).
Mas, o principal exemplo da
mudança de paradigmas, que
influenciou uma nova onda de
discussões quanto ao tema, e que
constitui um dos casos mais recentes,
foi The Next Rembrandt
. Trata
um programa produto de pesquisa
realizada pela Microsoft e pela I
que não é diferente dos outros
exemplos citados, eis que também se
trata de um software
que se utiliza do
machinelearning
. Entretanto, chocou o
mundo em 2016, pois a obra criada
pela máquina se assemelha muito a
pinturas originais do artista
Rembrandt,
tendo sido considerada,
por alguns dos estudiosos do tema,
como uma nova pintura do artista,
falecido.
Os pesquisadores desse
projeto se utilizaram de um algoritmo
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
científica e aprimoraram a tecnologia
para aprender com estes dados e criar
sozinha um roteiro para um curta
-
metragem, que foi apresentado no
festival de filmes de ficção científica,
, no qual foi
proposto o
desafio de criar um curta
-metragem
em até 48 horas. O curta criado por
Benjamin ficou entre os dez melhores
do festival, apesar das críticas quanto
a falta de gica no roteiro
(MANS,
Mas, o principal exemplo da
mudança de paradigmas, que
influenciou uma nova onda de
discussões quanto ao tema, e que
constitui um dos casos mais recentes,
. Trata
-se de
um programa produto de pesquisa
realizada pela Microsoft e pela I
NG,
que não é diferente dos outros
exemplos citados, eis que também se
que se utiliza do
. Entretanto, chocou o
mundo em 2016, pois a obra criada
pela máquina se assemelha muito a
pinturas originais do artista
tendo sido considerada,
por alguns dos estudiosos do tema,
como uma nova pintura do artista,
Os pesquisadores desse
projeto se utilizaram de um algoritmo
de reconhecimento facial que
escaneou
todas as 346 obras
conhecidas do artista holandês,
seus mínimos detalhes, pixel por pixel,
incluindo dados do relevo da tinta na
tela, colocando todas essas
informações em uma base de dados.
F
oi a partir desses dados que o
software
criou, por meio de uma
impressora 3D, o
Novo Rembrandt
uma obra
original e criativa que é
inspirada nas obras de Rembrandt
(GUADAMUZ, 2017).
Outra impactante obra fruto de
IA, dessa vez no cenário musical, é a
música Daddy’s Car,
7
da plataforma Flow
Machines
um programa que aprendeu, a partir
de
uma base de dados chamada
Sheet Data Base
(LSDB), a escrever e
ler partituras, estilos e composições,
com as mais de treze mil formas
diferentes de criar músicas
compiladas. Primeiramente, o
compositor humano selecionou um
estilo (do
The Beatles
partitura. Após, o compositor, usando
7
Para ouvir a música Daddy’s Car, acessar:
DADDY'S Car: a song composed by
Artificial Intelligence -
in the style of t
Beatles. [S. l.: s. n.
], 19 set. 2016. 1 vídeo
(3 min). Publicado pelo canal Sony CSL.
Disponível em:
https://www.youtube.co
05W7o. Acesso
: 06 nov. 2019.
259
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
de reconhecimento facial que
todas as 346 obras
conhecidas do artista holandês,
em
seus mínimos detalhes, pixel por pixel,
incluindo dados do relevo da tinta na
tela, colocando todas essas
informações em uma base de dados.
oi a partir desses dados que o
criou, por meio de uma
Novo Rembrandt
,
original e criativa que é
inspirada nas obras de Rembrandt
Outra impactante obra fruto de
IA, dessa vez no cenário musical, é a
7
criada por meio
Machines
, que é
um programa que aprendeu, a partir
uma base de dados chamada
Lead
(LSDB), a escrever e
ler partituras, estilos e composições,
com as mais de treze mil formas
diferentes de criar músicas
compiladas. Primeiramente, o
compositor humano selecionou um
The Beatles
) e gerou uma
partitura. Após, o compositor, usando
Para ouvir a música Daddy’s Car, acessar:
DADDY'S Car: a song composed by
in the style of t
he
], 19 set. 2016. 1 vídeo
(3 min). Publicado pelo canal Sony CSL.
https://www.youtube.co
m/watch?v=LSHZ_b
: 06 nov. 2019.
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
outro sistema chamado
compilou sons de outras gravações e
gerou uma nova partitura, finalizando a
produção da música. O resultado foi,
como no caso
The Next Rembrandt
uma obra original no estilo de
Beatles
, com alguns estudiosos
afirmando que poderia se considerar a
música como uma composição nova
da banda famosa (
DÍAZ
2016).
Nesse ponto é que se começou
a dar importância para
o fato de que
essas criações não seriam apenas
fruto das ferrament
as utilizadas
autor no processo criativo, mas que
essa tecnologia estaria, sim,
aprendendo e decidindo de forma
autônoma, sem interferência humana,
por meio do aprendizado de máquina
3. O autor e a obra: a estrutura
tradicional do direito autoral
A
partir da inteligência artificial e
da sua aplicação na criação de obras
intelectuais, os três pilares do Direito
Autoral (seu conteúdo, seu objeto e
seu sujeito) foram abalados, dando
lugar a uma discussão necessária
imprescindível analisar
a estrutura
legislativa do direito autoral, em uma
perspectiva nacional e
internacional,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
outro sistema chamado
Record,
compilou sons de outras gravações e
gerou uma nova partitura, finalizando a
produção da música. O resultado foi,
The Next Rembrandt
,
uma obra original no estilo de
The
, com alguns estudiosos
afirmando que poderia se considerar a
música como uma composição nova
DÍAZ
-LIMÓN,
Nesse ponto é que se começou
o fato de que
essas criações não seriam apenas
as utilizadas
pelo
autor no processo criativo, mas que
essa tecnologia estaria, sim,
aprendendo e decidindo de forma
autônoma, sem interferência humana,
por meio do aprendizado de máquina
.
3. O autor e a obra: a estrutura
tradicional do direito autoral
partir da inteligência artificial e
da sua aplicação na criação de obras
intelectuais, os três pilares do Direito
Autoral (seu conteúdo, seu objeto e
seu sujeito) foram abalados, dando
lugar a uma discussão necessária
. É
a estrutura
legislativa do direito autoral, em uma
internacional,
para que, então, se possa buscar uma
possível teoria que solucione os
desafiosprovocados pelas novas
tecnologias sobre esta área do
A
definição das obras pass
de proteç
ão pela
Internacional para a Proteção das
Obras Literárias e Artísticas de 1886
Convenção de Berna, ratificada pelo
Brasil por meio do
Decreto 75.699
em 1975
, é ponto chave, até porque
influenciou fortemente o tratamento
dispen
sado pela legislação brasileira
ao objeto do direito autoral. Analisando
a alínea 1 do artigo da Convenção
depreende-
se que, além de trazer um
rol exemplificativo de obras passíveis
de proteção, explicita os
essenciais para a obra
tutela legal, quais sejam:
produção do domínio literário,
científico e artístico; b) e
forma de expressão
necessidade de a obra ser palpável,
independentemente do seu suporte ou
formato.
O artigo traz, ainda, um rol
exe
mplificativo de obras a serem
protegidas.
A legislação brasileira traz
disposição m
uito parecida e a doutrina
explí
cita que para uma obra ter
proteção autoral, além de estar no
260
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
para que, então, se possa buscar uma
possível teoria que solucione os
desafiosprovocados pelas novas
tecnologias sobre esta área do
Direito.
definição das obras pass
íveis
ão pela
Convenção
Internacional para a Proteção das
Obras Literárias e Artísticas de 1886
,
Convenção de Berna, ratificada pelo
Decreto 75.699
, é ponto chave, até porque
influenciou fortemente o tratamento
sado pela legislação brasileira
ao objeto do direito autoral. Analisando
a alínea 1 do artigo da Convenção
,
se que, além de trazer um
rol exemplificativo de obras passíveis
de proteção, explicita os
requisitos
essenciais para a obra
esteja sob
tutela legal, quais sejam:
a) ser uma
produção do domínio literário,
científico e artístico; b) e
possuir uma
forma de expressão
, ou seja,
necessidade de a obra ser palpável,
independentemente do seu suporte ou
O artigo traz, ainda, um rol
mplificativo de obras a serem
A legislação brasileira traz
uito parecida e a doutrina
cita que para uma obra ter
proteção autoral, além de estar no
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
prazo de proteção, precisa ser
exteriorizada por qualquer meio ou
suporte, mas,
acima de tudo precisa
ser original, ou seja não pode ser uma
réplica ou reprodução de obra pré
existente (ABRÃO, 2014, p. 203).
Importante entender que esta
originalidade não significa uma
novidade temática, que ideias não
são protegidas por lei. A pro
sobre a composição da obra; sobre
seu modo de expressão. É isso que a
torna original (FRAGOSO, 2009, p.
116). A obra é o resultado de uma
inspiração (ideia), retirada do estado
da arte ou do conjunto do
conhecimento humano, e concretizá
la, através de
um processo de
transpiração. É n
esse processo de
transpiração que se encontra a
expressão da criatividade, a qual gera
a originalidade necessária à tutela
legal (ABRÃO, 2014, p. 203).
A pergunta que emerge é: se
obras criadas por
inteligência
artificia
is são exteriorizadas de alguma
forma e não podem ser consideradas
réplicas de outras pré
podem elas ser consideradas
originais?
Como dito, a
originalidade não
provém de uma novidade, de uma
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
prazo de proteção, precisa ser
exteriorizada por qualquer meio ou
acima de tudo precisa
ser original, ou seja não pode ser uma
réplica ou reprodução de obra pré
-
existente (ABRÃO, 2014, p. 203).
Importante entender que esta
originalidade não significa uma
novidade temática, que ideias não
são protegidas por lei. A pro
teção recai
sobre a composição da obra; sobre
seu modo de expressão. É isso que a
torna original (FRAGOSO, 2009, p.
116). A obra é o resultado de uma
inspiração (ideia), retirada do estado
da arte ou do conjunto do
conhecimento humano, e concretizá
-
um processo de
esse processo de
transpiração que se encontra a
expressão da criatividade, a qual gera
a originalidade necessária à tutela
legal (ABRÃO, 2014, p. 203).
A pergunta que emerge é: se
inteligência
s
is são exteriorizadas de alguma
forma e não podem ser consideradas
réplicas de outras pré
-existentes,
podem elas ser consideradas
originalidade não
provém de uma novidade, de uma
ideia totalmente inédita
forma criativa
pela qual
concretiza em uma obra. E essa
criatividade depende da experiência,
dos dados coletados, da história de
vida, de um contexto. Essa é a razão
pela qual a originalidade, derivada da
criatividade,
é o maior obstáculo para
a aceitaç
ão de que deverá existir
alguma proteção das obras criadas por
inteligência artificial.
Tal é a ligação do processo
criativo com a experiência humana que
a Lei de Direitos Autorais brasileira, no
seu artigo 7º, de forma romântica,
estabelece que as obras
serão as “criações do espírito”. Em
outras palavras, conforme a lei, as
obras protegidas dependem da
capacidade criadora do homem.
Obviamente que a legislação
brasileira, assim como a convenção
internacional nada tratam sobre
inteligências arti
ficiais, afinal essa
discussão é bastante recente. Assim,
partindo das premissas normativas
existentes, as
obras intelectuais
criadas por IA não estariam
protegidas. Mais,
no Brasil
Lei dos Programas de Computador
trata das
possíveis criações
provenientes dos
softwares
261
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
ideia totalmente inédita
, provém da
pela qual
esta ideia se
concretiza em uma obra. E essa
criatividade depende da experiência,
dos dados coletados, da história de
vida, de um contexto. Essa é a razão
pela qual a originalidade, derivada da
é o maior obstáculo para
ão de que deverá existir
alguma proteção das obras criadas por
Tal é a ligação do processo
criativo com a experiência humana que
a Lei de Direitos Autorais brasileira, no
seu artigo 7º, de forma romântica,
estabelece que as obras
protegidas
serão as “criações do espírito”. Em
outras palavras, conforme a lei, as
obras protegidas dependem da
capacidade criadora do homem.
Obviamente que a legislação
brasileira, assim como a convenção
internacional nada tratam sobre
ficiais, afinal essa
discussão é bastante recente. Assim,
partindo das premissas normativas
obras intelectuais
criadas por IA não estariam
no Brasil
, sequer a
Lei dos Programas de Computador
possíveis criações
softwares
, apenas
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
tutela o código fonte do programa.
Entende o código fonte como uma
expressão literária passível de
proteção autoral
. Não obstante, o
do artigo 2º, não
confere
direitos morais
ao autor do
de computado
r, apenas o de
paternidade.
Isso demonstra que se
buscou dar ênfase ao direito
patrimonial das empresas que criam
os softwares
, seguindo a influência do
tratamento dado a esses programas
pelo sistema anglo-
saxônico do
copyright.
O direito autoral tem uma
n
atureza jurídica híbrida, ou dúplice.
Garante ao autor o desfrute de diretos
morais de autor, tais como a garantia
de autoria e de integridade a obra, e o
direito de explorar economicamente a
obra, o que se traduz em um rol de
direitos patrimoniais. O dire
explorar a obra é extenso e oponível
erga omnes
; o sentido de utilização da
obra engloba toda e qualquer forma,
meio ou processo de exploração, além
do direito de autorizar ou proibir
terceiros de fazê-
lo (FRAGOSO,
p. 224-225).
É
a partir da ênfase dada aos
direitos patrimoniais de autor no
cenário mundial - o que
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
tutela o código fonte do programa.
Entende o código fonte como uma
expressão literária passível de
. Não obstante, o
§1º
confere
todos os
ao autor do
programa
r, apenas o de
Isso demonstra que se
buscou dar ênfase ao direito
patrimonial das empresas que criam
, seguindo a influência do
tratamento dado a esses programas
saxônico do
O direito autoral tem uma
atureza jurídica híbrida, ou dúplice.
Garante ao autor o desfrute de diretos
morais de autor, tais como a garantia
de autoria e de integridade a obra, e o
direito de explorar economicamente a
obra, o que se traduz em um rol de
direitos patrimoniais. O dire
ito de
explorar a obra é extenso e oponível
; o sentido de utilização da
obra engloba toda e qualquer forma,
meio ou processo de exploração, além
do direito de autorizar ou proibir
lo (FRAGOSO,
2009,
a partir da ênfase dada aos
direitos patrimoniais de autor no
ocorre, por
exemplo, com o
Acordo TRIPS
Related Aspects
Property Rights -
que a propriedade
intelectual e seu objeto se tornaram
bens imateriais
imprescindíveis
as empresas. Afinal, os direitos morais
não podem ser transferidos à terceiros,
mas os patrimoniais podem, da
lugar ao titular de direitos autorais. O
autor é quem cria a obra, mas quem
de
sfruta da sua exploração econômica
não necessariamente é o próprio
autor, mas também um terceiro titular
de direitos. Essa distinção entre
autoria e titularidade abre espaço para
a discussão sobre quem pode ser
autor e quem pode exercer esses
direitos.
A L
ei de Direitos Autorais
brasileira, no artigo 11, determina
expressamente que o autor é a pessoa
física criadora da obra, mas a
titularidade dos direitos patrimoniais
poderá ser exercida também por
pessoa jurídica (ABRÃO, 2014, p.
114). O autor é o titular
a titularidade pode ser derivada, por
convenção ou por sucessão.
Portanto,
para ser autor no
contexto legal dos direitos autorais no
Brasil, é necessário ser pessoa física,
realizar o ato de criar, que seria
262
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Acordo TRIPS
- Trade
of Intellectual
que a propriedade
intelectual e seu objeto se tornaram
imprescindíveis
para
as empresas. Afinal, os direitos morais
não podem ser transferidos à terceiros,
mas os patrimoniais podem, da
ndo
lugar ao titular de direitos autorais. O
autor é quem cria a obra, mas quem
sfruta da sua exploração econômica
não necessariamente é o próprio
autor, mas também um terceiro titular
de direitos. Essa distinção entre
autoria e titularidade abre espaço para
a discussão sobre quem pode ser
autor e quem pode exercer esses
ei de Direitos Autorais
brasileira, no artigo 11, determina
expressamente que o autor é a pessoa
física criadora da obra, mas a
titularidade dos direitos patrimoniais
poderá ser exercida também por
pessoa jurídica (ABRÃO, 2014, p.
114). O autor é o titular
originário, mas
a titularidade pode ser derivada, por
convenção ou por sucessão.
para ser autor no
contexto legal dos direitos autorais no
Brasil, é necessário ser pessoa física,
realizar o ato de criar, que seria
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
apenas proveniente do espírito
que o resultado deverá ser uma obra
da literatura, da arte ou da ciência.
Portanto, neste contexto,
poderia cogitar a autoria de um
programa de computador, de uma
máquina;
um sujeito de direitos
autorais que não fosse humano
(SHIRRU, 2019).
Os agentes não-
humanos,
como as inteligências artificiais, não
poderiam, então, ser consideradas
autoras, que desprovidas do
criador
. A partir dessa premissa se
poderia dizer que os desenvolvedores
de inteligências artificiais
,
contam como proteção legal, poderiam
ser desestimulados a investir, por
exemplo, em p
rojetos como o
Next Rembrandt
, da Microsoft
Contudo, apesar de a legislação atual
não permitir que um sistema de
inteligência artificial possa ser
considerado autor d
a obra, nada obsta
que seus desenvolvedores e ou
empresas investidoras sejam titulares
de direitos patrimoniais de autor. Ou
seja, é possível alguma tutela através
do instituto da titularidade dos direitos
autorais patrimoniais.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
apenas proveniente do espírito
, sendo
que o resultado deverá ser uma obra
da literatura, da arte ou da ciência.
Portanto, neste contexto,
não se
poderia cogitar a autoria de um
programa de computador, de uma
um sujeito de direitos
autorais que não fosse humano
humanos,
tais
como as inteligências artificiais, não
poderiam, então, ser consideradas
autoras, que desprovidas do
espírito
. A partir dessa premissa se
poderia dizer que os desenvolvedores
,
que não
contam como proteção legal, poderiam
ser desestimulados a investir, por
rojetos como o
The
, da Microsoft
.
Contudo, apesar de a legislação atual
não permitir que um sistema de
inteligência artificial possa ser
a obra, nada obsta
que seus desenvolvedores e ou
empresas investidoras sejam titulares
de direitos patrimoniais de autor. Ou
seja, é possível alguma tutela através
do instituto da titularidade dos direitos
4. Novas formas de autoria e
inteligência artificial: diferentes
correntes teóricas que buscam
enfrentar os desafios impostos
O
fenômeno da criação de
obras intelectuais por
artificial
desafia profundamente os
fundamentos tradicionais dos dir
autorais como se conhece,
questionando
principalmente o seu
sujeito e o seu objeto
.
Apesar disso, existem
algumas teorias que
apresentar
solução para os problemas
propostos anteriormente, que incluem
as perguntas: quem é o autor das
obras i
ntelectuais produzidas por
inteligência artificial
programa de comp
utador
programador? É possível uma autoria
colaborativa entre ser humano e
máquina?
Na busca por respostas,
pensando através do objeto do direito
autoral, qual seja: a
central é se
a criação de uma
inteligência artificial
efetivamente original.
originalidade, do ponto de vista da lei
brasileira, surge a afirmação de que a
obra é uma
expressão do espírito
uma expressão decorrente d
263
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
4. Novas formas de autoria e
inteligência artificial: diferentes
correntes teóricas que buscam
enfrentar os desafios impostos
fenômeno da criação de
obras intelectuais por
inteligência
desafia profundamente os
fundamentos tradicionais dos dir
eitos
autorais como se conhece,
principalmente o seu
.
Apesar disso, existem
algumas teorias que
buscam
solução para os problemas
propostos anteriormente, que incluem
as perguntas: quem é o autor das
ntelectuais produzidas por
inteligência artificial
, o próprio
utador
ou o seu
programador? É possível uma autoria
colaborativa entre ser humano e
Na busca por respostas,
pensando através do objeto do direito
autoral, qual seja: a
obra, a questão
a criação de uma
inteligência artificial
pode ser
efetivamente original.
No âmbito da
originalidade, do ponto de vista da lei
brasileira, surge a afirmação de que a
expressão do espírito
”;
uma expressão decorrente d
a
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
criatividade, que é
exclusiva do ser
humano.
Para muitos estudiosos do
assunto, esse não é o caso.
As criações de obras
intelectuais a partir de novas
tecnologias levantaram a dúvida
quanto à possibilidade de proteção de
processos mecânicos, automatizado
e, consequentemente, aleatórios.
tipo de criação não é nov
o
Nikolaus
Simrock produziu música por
meio de um jogo de dados capaz de
produzir mais de quarenta e cinco
trilhões de valsas de forma aleatória,
modo de produção musical que se
tornou popular na época.
possível a criação
intelectuais a partir de escolhas
aleatórias, sendo que o exato
resultado de um jogo de dados não
pode ser previsto pelo seu jogador,
mas, mesmo assim, a música gerada
não deixa de ser uma obra i
passível de proteção (
apud
KOMUVES; ZATARAIN; DIVER;
2015).
Assim, mesmo a criação de
uma obra por meio de escolhas
aleatórias é passível de direitos
autorais. Esse entendimento pode
servir à proteção das obras produzidas
por inteligências artificiais
.
ponto central hoje é que a tecnologia
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
exclusiva do ser
Para muitos estudiosos do
assunto, esse não é o caso.
As criações de obras
intelectuais a partir de novas
tecnologias levantaram a dúvida
quanto à possibilidade de proteção de
processos mecânicos, automatizado
s
e, consequentemente, aleatórios.
Esse
o
. Em 1792,
Simrock produziu música por
meio de um jogo de dados capaz de
produzir mais de quarenta e cinco
trilhões de valsas de forma aleatória,
modo de produção musical que se
Ou seja, é
de obras
intelectuais a partir de escolhas
aleatórias, sendo que o exato
resultado de um jogo de dados não
pode ser previsto pelo seu jogador,
mas, mesmo assim, a música gerada
não deixa de ser uma obra i
ntelectual
apud
SCHAFER;
KOMUVES; ZATARAIN; DIVER;
Assim, mesmo a criação de
uma obra por meio de escolhas
aleatórias é passível de direitos
autorais. Esse entendimento pode
servir à proteção das obras produzidas
.
E mais, o
ponto central hoje é que a tecnologia
não mais apenas produz resultados
aleatórios, as inteligências artificiais
estruturadas através do
de máquina e das redes neurais
tomam
suas próprias decisões de
forma i
ndependente, como
destacado anteriormente.
Apesar dessa constatação,
também surge a questão de que a
inteligência artificial
seria apenas uma
ferramenta na mão de um
programador, um meio pelo qual ele
atinge um objetivo.
Portanto
quanto às su
as produções deveria ser
da pessoa que criou o
é
a solução mais imediata
desafios impostos pelas obras criadas
por
inteligência artificial.
diante das obras resultantes de
tomadas de decisão autônomas das
máquinas,
essa h
facilmente refutada.
Nos Estados Unidos da
América, o Direito Autoral é silente
quanto às obras produzidas por
inteligência artificial
. Porém, existem
dois casos que
delineiam
atualmente dispensado
autorais levando em c
da
aleatoriedade e da utilização de
meios tecnológicos como ferramenta
de trabalho de um autor.
264
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
não mais apenas produz resultados
aleatórios, as inteligências artificiais
estruturadas através do
aprendizado
de máquina e das redes neurais
suas próprias decisões de
ndependente, como
destacado anteriormente.
Apesar dessa constatação,
também surge a questão de que a
seria apenas uma
ferramenta na mão de um
programador, um meio pelo qual ele
Portanto
, o direito
as produções deveria ser
da pessoa que criou o
software. Essa
a solução mais imediata
para os
desafios impostos pelas obras criadas
inteligência artificial.
No entanto,
diante das obras resultantes de
tomadas de decisão autônomas das
essa h
ipótese seria
Nos Estados Unidos da
América, o Direito Autoral é silente
quanto às obras produzidas por
. Porém, existem
delineiam
o tratamento
atualmente dispensado
às obras
autorais levando em c
onta as questões
aleatoriedade e da utilização de
meios tecnológicos como ferramenta
de trabalho de um autor.
Da análise
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
dos casos Burrow-Giles
Lithographic
Co. v. Sarony
de 1884 e
Publications, Inc. v. Rural Telephone
Service Co. de 1991,
verifica
possível que
obras criadas por
inteligências artificiais
consideradas criativas e originais,
porquanto o produto do processo
criativo do ser humano, hoje, pode
ser replicado por uma rede neural
artificial (GRUBOW
, 2019).
sentido Grubow (2019)
apresenta a
sua teoria para solucionar a questão
proposta, trabalhando especificamente
com as
inteligências artificiais
da área das criações musicais, com o
exemplo da IA AMPER. Ele demonstra
que, a partir dos casos
Burrow
Feist, pode-
se entender que a
originalidade necessita de dois
requisitos: uma “faísca de criatividade
e um autor. De acordo com o autor, os
psicólogos explicam que a “faísca de
criatividade” seria fruto da flexão,
mistura e quebra de informações,
ideias
e temas existentes no mundo
(GRUBOW, 2019).
Na mesma linha, Gonçalves
(2019)
em uma das hipóteses que
lança para solucionar a questão
embate
da perspectiva tradicional de
sujeito de direito autoral
, explica que
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
Lithographic
de 1884 e
Feist
Publications, Inc. v. Rural Telephone
verifica
-se que é
obras criadas por
inteligências artificiais
sejam
consideradas criativas e originais,
porquanto o produto do processo
criativo do ser humano, hoje, pode
ser replicado por uma rede neural
, 2019).
Nesse
apresenta a
sua teoria para solucionar a questão
proposta, trabalhando especificamente
inteligências artificiais
dentro
da área das criações musicais, com o
exemplo da IA AMPER. Ele demonstra
Burrow
-Giles e
se entender que a
originalidade necessita de dois
requisitos: uma “faísca de criatividade
e um autor. De acordo com o autor, os
psicólogos explicam que a “faísca de
criatividade” seria fruto da flexão,
mistura e quebra de informações,
e temas existentes no mundo
Na mesma linha, Gonçalves
em uma das hipóteses que
lança para solucionar a questão
do
da perspectiva tradicional de
, explica que
seria possível a concessão de direitos
autorais às obras intelectuais criadas
por
inteligência artificial
possuiriam criatividade e originalidade,
conferindo aos programas de
computador a qualidade de titulares
originários. Como sujeitos não
humanos, os
softwares
disp
or desses direitos, sendo que
pessoas jurídicas ou físicas
representariam esses autores, como
acontece com a obra anônima.
A partir
das perspectivas
apresentadas, pode-
se entender que a
obra intelectual criada pelos seres
humanos é baseada em obras alheia
ou seja, a inspiração de um autor
humano em seu processo criativo
provém de informações, estudos e
experiências
apreendidas
sua vida. Se é esse o caso, não seria
possível dizer que a
artificial
, quando faz uso do
learning, ou do
deep
também coletando informações de
bancos de dados e aprendendo, tendo
suas próprias experiências ao longo do
seu desenvolvimento? Não seria
exatamente o mesmo processo de
aprendizado que os seres humanos
efetuam para a criação de espírito tão
necessária
à caracterização de um
265
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
seria possível a concessão de direitos
autorais às obras intelectuais criadas
inteligência artificial
, que elas
possuiriam criatividade e originalidade,
conferindo aos programas de
computador a qualidade de titulares
originários. Como sujeitos não
-
softwares
não poderiam
or desses direitos, sendo que
pessoas jurídicas ou físicas
representariam esses autores, como
acontece com a obra anônima.
das perspectivas
se entender que a
obra intelectual criada pelos seres
humanos é baseada em obras alheia
s,
ou seja, a inspiração de um autor
humano em seu processo criativo
provém de informações, estudos e
apreendidas
ao longo da
sua vida. Se é esse o caso, não seria
possível dizer que a
inteligência
, quando faz uso do
manchine
deep
learning, está
também coletando informações de
bancos de dados e aprendendo, tendo
suas próprias experiências ao longo do
seu desenvolvimento? Não seria
exatamente o mesmo processo de
aprendizado que os seres humanos
efetuam para a criação de espírito tão
à caracterização de um
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
autor e que geram consequentemente
a criatividade e a originalidade?
Deste modo,
tratando
uma
inteligência artificial forte o
suficiente para realizar esse processo
criativo, a obra
terá originalidade e
assim, será ela passív
el de ser
de direito autoral.
Importante também referir que,
quando se estende autoria à uma
inteligência artificial, não se pode
deixar de mencionar a possibilidade de
criação de uma pessoa eletrônica, a
qual se atribuiria uma personalidade
jurídica eletrônica.
A pedido do Comitê
em Questões Legais do Parlamento
Europeu (2016), realizou-
se um estudo
sobre a legislação europeia e robótica
através do qual discutiram
-
temas envolvendo robôs e
artificial, visando avaliar princ
questões éticas
, mas também
fomentar o estudo e a criação de
tecnologia relativa a essas
áreas.Buscou-
se compreender o que
seriam robôs inteligentes e autônomos
e como poderia ser efetivada a
proteção da propriedade intelectual de
suas criações artísticas.
A partir d
levantou-
se a possibilidade de criação
de uma pessoa
eletrônica
direitos, a qual poderia ser
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
autor e que geram consequentemente
a criatividade e a originalidade?
tratando
-se de
inteligência artificial forte o
suficiente para realizar esse processo
terá originalidade e
,
el de ser
sujeito
Importante também referir que,
quando se estende autoria à uma
inteligência artificial, não se pode
deixar de mencionar a possibilidade de
criação de uma pessoa eletrônica, a
qual se atribuiria uma personalidade
A pedido do Comitê
em Questões Legais do Parlamento
se um estudo
sobre a legislação europeia e robótica
,
-
se variados
temas envolvendo robôs e
inteligência
artificial, visando avaliar princ
ipalmente
, mas também
fomentar o estudo e a criação de
tecnologia relativa a essas
se compreender o que
seriam robôs inteligentes e autônomos
e como poderia ser efetivada a
proteção da propriedade intelectual de
A partir d
se a possibilidade de criação
eletrônica
titular de
direitos, a qual poderia ser
considerada autora.
tratar-se-ia de
uma ficção jurídica,
assim como a aplicada às próprias
pessoas jurídicas
EUROPEU, 2016, p. 15)
obstante a importância da discussão,
ao final do estudo, percebeu
essa não seria a solução
principalmente porque as
artificiais atuais
ainda não possuem
consciência, mas mera inteligência
(HARARI, 2018).
O
utra teoria que buscou
solucionar o problema foi a lançada
por Andres Guadamuz
defende que
o melhor parâmetro legal
a ser utilizado para proteção das obras
criadas por
inteligência artificial
legislação britânica
, a qual
incorporada a proteção exclusiva das
obras intelectuais criadas por
inteligência artificial
. De acordo com a
Section 9 (3) do
Copyright, Designs
and Patent
Act (CDPA)
8
Do original em inglês:
"While we commend
the motion for a resolution for seeking
put in place a liability regime tailored to
autonomous robots (paragraph 24
onwards), assigning robots a legal
personality is not the answer."
(
PARLAMENTO EUROPEU.
law rules in robotics:
study for the JURI
comittee.
Bruxelas, 2016. Dispon
http://www.europarl.europa.eu/RegData/etu
des/STUD/2016/571379/IPOL_S
71379_EN.pdf. Acesso
2019.(tradução nossa)
266
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
considerada autora.
Obviamente,
uma ficção jurídica,
assim como a aplicada às próprias
(PARLAMENTO
EUROPEU, 2016, p. 15)
. Contudo, não
obstante a importância da discussão,
ao final do estudo, percebeu
-se que
essa não seria a solução
8
,
principalmente porque as
inteligências
ainda não possuem
consciência, mas mera inteligência
utra teoria que buscou
solucionar o problema foi a lançada
por Andres Guadamuz
(2017), o qual
o melhor parâmetro legal
a ser utilizado para proteção das obras
inteligência artificial
é a
, a qual
tem
incorporada a proteção exclusiva das
obras intelectuais criadas por
. De acordo com a
Copyright, Designs
Act (CDPA)
, define-se que
"While we commend
the motion for a resolution for seeking
to
put in place a liability regime tailored to
autonomous robots (paragraph 24
onwards), assigning robots a legal
personality is not the answer."
PARLAMENTO EUROPEU.
European civil
study for the JURI
Bruxelas, 2016. Dispon
ível em:
http://www.europarl.europa.eu/RegData/etu
des/STUD/2016/571379/IPOL_S
TU(2016)5
71379_EN.pdf. Acesso
: 10 de jun.
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
a autoria da obra literária, artística,
dramática e musical gerada
computador, em circunstâncias nas
quais não qualquer autoria ou parte
de autoria humana, será da pessoa
por meio da qual foi gerado o conjunto
de arranjos necessários para a criação
dessa obra. Ademais, a
Section 178
do CDPA
do Reino Unido especific
que “em relação ao conceito ‘obras
geradas por computador’, este refere
se à obra que é gerada por
computador em circunstâncias nas
quais não há nenhum autor humano”
É nítido que a
britânica muito mais ênfase à
intenção criativa do programador no
momento que criou o
software
de produzir obras intelectuais. Ao
mesmo tempo que protege essa
produção totalmente independente,
como original e criativa, confere os
direit
os autorais ao(s)
programador(es), ou à empresa que
encomendou a obra, dando
9
Do original em inglês: “
178 computer
generated’, in relation to a work, means that
the work is generated by compu
circumstances such that there is no human
author of the work”. (
REINO UNIDO.
Copyright, Designs andPatentAct 1988
Londres: Parlamento do Reino Unido,
1988. Disponível em:
http://www.legislation.gov.uk/u
8/contents. Acesso
: 06 nov. 2019.
nossa)
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
a autoria da obra literária, artística,
dramática e musical gerada
por
computador, em circunstâncias nas
quais não qualquer autoria ou parte
de autoria humana, será da pessoa
por meio da qual foi gerado o conjunto
de arranjos necessários para a criação
Section 178
do Reino Unido especific
a
que “em relação ao conceito ‘obras
geradas por computador’, este refere
-
se à obra que é gerada por
computador em circunstâncias nas
quais não há nenhum autor humano”
9
.
É nítido que a
legislação
britânica muito mais ênfase à
intenção criativa do programador no
software
capaz
de produzir obras intelectuais. Ao
mesmo tempo que protege essa
produção totalmente independente,
como original e criativa, confere os
os autorais ao(s)
programador(es), ou à empresa que
encomendou a obra, dando
178 computer
-
generated’, in relation to a work, means that
the work is generated by compu
ter in
circumstances such that there is no human
REINO UNIDO.
Copyright, Designs andPatentAct 1988
.
Londres: Parlamento do Reino Unido,
http://www.legislation.gov.uk/u
kpga/1988/4
: 06 nov. 2019.
(tradução
importância àqueles que tiveram a
intenção criativa de
programa de computador.
A partir dessas considerações,
chega-se à
uma terceira corrente
teórica, que diz que
solução
para a questão proposta é de
que
as obras criadas por
artificial
não são passíveis de proteção
pelos direitos autorais. Dessa forma,
elas comporiam o que se denomina
domínio público.
O domínio público
pela propri
edade intelectual, bem
imaterial, que se torna ou nasce
pública, ou seja,
envolve o
uso comum do público”. Branco
refere que a
Lei Autoral brasileira
o domínio público em perspectivas
diferentes, definindo quando uma obra
intelectual
cairá no uso comum: com o
decurso do prazo de proteção; com o
falecimento do autor sem herdeiros
se as obras
forem
desconhecidos.
Disciplina também os
direitos de uso da obra que está em
domínio público, à forma que o Estado
deverá protegê-la
s, veda o
obras em
domínio público
privado
e, finalmente, trata d
sem proteção
legal, onde se incluiriam
267
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
importância àqueles que tiveram a
intenção criativa de
desenvolver o
programa de computador.
A partir dessas considerações,
uma terceira corrente
teórica, que diz que
uma possível
para a questão proposta é de
as obras criadas por
inteligência
não são passíveis de proteção
pelos direitos autorais. Dessa forma,
elas comporiam o que se denomina
O domínio público
é composto
edade intelectual, bem
imaterial, que se torna ou nasce
envolve o
“bem de
uso comum do público”. Branco
(2011)
Lei Autoral brasileira
traz
o domínio público em perspectivas
diferentes, definindo quando uma obra
cairá no uso comum: com o
decurso do prazo de proteção; com o
falecimento do autor sem herdeiros
e
forem
de autores
Disciplina também os
direitos de uso da obra que está em
domínio público, à forma que o Estado
s, veda o
ingresso de
domínio público
ao domínio
e, finalmente, trata d
as obras
legal, onde se incluiriam
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
as obras produzidas
porinteligências
artificiais (BRANCO, 2011)
.
Fato é que se a
obra não tem
alguém que a controle cria
ela não terá autoria.
Por outro lado, se
os programadores tiverem qualquer
tipo de controle criativo sobre a obra
gerada pelo seu programa, podendo
prever seus resultados, existiria
autoria. Desse modo, a discussão
giraria em torno da aferição d
nível da inteligência artificial que criou
a obra e suas escolhas em relação ao
resultado final. Se essa IA não for
suficientemente inteligente ou não tiver
contribuído para o resultado final da
obra, ela poderia ingressar no domínio
público
(CANTALI, 2018 e SCHIRU,
2019).
Ademais, Branco
(2011, p. 278)
refere que o domínio público nem
sempre caracteriza o impedimento da
criatividade ou da criação de obras
autorais em geral, porquanto o homem
sempre criou, independentemente de
ter ou não a pro
teção dos direitos
autorais no domínio privado
que
do ponto de vista jurídico, a garantia
do uso de obra em domínio público
acaba por compor a efetivação de
diversos princípios garantidos
constitucionalmente. Os direitos à
educação, à liberdade d
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
porinteligências
.
obra não tem
alguém que a controle cria
tivamente,
Por outro lado, se
os programadores tiverem qualquer
tipo de controle criativo sobre a obra
gerada pelo seu programa, podendo
prever seus resultados, existiria
autoria. Desse modo, a discussão
giraria em torno da aferição d
e qual o
nível da inteligência artificial que criou
a obra e suas escolhas em relação ao
resultado final. Se essa IA não for
suficientemente inteligente ou não tiver
contribuído para o resultado final da
obra, ela poderia ingressar no domínio
(CANTALI, 2018 e SCHIRU,
(2011, p. 278)
refere que o domínio público nem
sempre caracteriza o impedimento da
criatividade ou da criação de obras
autorais em geral, porquanto o homem
sempre criou, independentemente de
teção dos direitos
autorais no domínio privado
. Explica
do ponto de vista jurídico, a garantia
do uso de obra em domínio público
acaba por compor a efetivação de
diversos princípios garantidos
constitucionalmente. Os direitos à
educação, à liberdade d
e expressão,
ao acesso ao conhecimento, à
cultura, que conduzem todos à
dignidade da pessoa humana, são
mais facilmente realizados na
medida em que a sociedade se
alimenta de um domínio público
robusto e facilmente acessível. A
importância do domínio públi
cresce, inclusive, na medida em que
a LDA é bastante restritiva em seu
capítulo de limitações e exceções.
Uma vez que a própria lei é tão
econômica nas hipóteses de uso de
obras alheias sem autorização do
autor, o domínio público se torna
ainda mais uma
para a construção das bases da
cultura. (BRANCO, 2011, p. 278)
Portanto, fica claro que nem
sempre o domínio blico será
negativo para as criações intelectuais,
pois é a partir das obras existentes
nesse domínio que muitos autores
cria
m as suas próprias obras.
Desse modo, uma
reconfiguração da lógica dos direitos
autorais é necessária para a resolução
de todas estas questões propostas e
para o próprio desenvolvimento
cultural em relação às novas
tecnologias
(CANTALI, 2018). O
caminho e
stá posto, deve
a discussão em busca de soluções
que sejam adequadas do ponto de
vista legal, sem ignorar os fatos e que
jamais desestimule a criatividade e a
produção cultural.
268
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
ao acesso ao conhecimento, à
cultura, que conduzem todos à
dignidade da pessoa humana, são
mais facilmente realizados na
medida em que a sociedade se
alimenta de um domínio público
robusto e facilmente acessível. A
importância do domínio públi
co
cresce, inclusive, na medida em que
a LDA é bastante restritiva em seu
capítulo de limitações e exceções.
Uma vez que a própria lei é tão
econômica nas hipóteses de uso de
obras alheias sem autorização do
autor, o domínio público se torna
ainda mais uma
pedra fundamental
para a construção das bases da
cultura. (BRANCO, 2011, p. 278)
Portanto, fica claro que nem
sempre o domínio blico será
negativo para as criações intelectuais,
pois é a partir das obras existentes
nesse domínio que muitos autores
m as suas próprias obras.
Desse modo, uma
reconfiguração da lógica dos direitos
autorais é necessária para a resolução
de todas estas questões propostas e
para o próprio desenvolvimento
cultural em relação às novas
(CANTALI, 2018). O
stá posto, deve
-se continuar
a discussão em busca de soluções
que sejam adequadas do ponto de
vista legal, sem ignorar os fatos e que
jamais desestimule a criatividade e a
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
5. Considerações finais
O sistema social, assim como o
jurídico, passa por grande
transformaçãobem retratada no
contexto da quarta revolução
industrial, a qual é
marcada por novas
tecnologias extremamente disruptivas,
tal
como a inteligência artificial.
produção de obras intelectuais por
inteligências artificiais impõe desafios
ao direito autoral na sua perspectiva
tradicional, impulsionando sua
adaptação e/ou alteração.
Para tratar
dos impactos da
inteligência artificial
especificamente
sobre o direit
o autoral foi necessário
compreender
como ela funciona,
desmistificando-
a, separando
ficção científica que é palco para
diversas confusões quanto ao tema
nos dias de hoje.
Os mais recentes
casos de criações de obras
intelectuais p
or inteligência artif
iniciam a discussão sobre quais são os
desafios impostos por essas obras ao
Direito Autoral. Certas
inteligências
artificiais,
como exemplo, a do projeto
The Next Rembrandt, a
Flow
que criou a música
Daddy’s
programa Benjamin que cri
do curta-metragem
Sunspring
instigadoras do começo de uma
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
O sistema social, assim como o
jurídico, passa por grande
transformaçãobem retratada no
contexto da quarta revolução
marcada por novas
tecnologias extremamente disruptivas,
como a inteligência artificial.
A
produção de obras intelectuais por
inteligências artificiais impõe desafios
ao direito autoral na sua perspectiva
tradicional, impulsionando sua
dos impactos da
especificamente
o autoral foi necessário
como ela funciona,
a, separando
-a da
ficção científica que é palco para
diversas confusões quanto ao tema
Os mais recentes
casos de criações de obras
or inteligência artif
icial
iniciam a discussão sobre quais são os
desafios impostos por essas obras ao
inteligências
como exemplo, a do projeto
Flow
Machines
Daddy’s
Car e o
programa Benjamin que cri
ou o roteiro
Sunspring
, o as
instigadoras do começo de uma
mudança profunda no Direito Autoral,
especificamente quanto ao seu
e objeto tradicionais.
Para que fosse
compreender quais são esses desafios
fez-se uma breve a
nálise dos institutos
tradicionais do
Direito Autoral
perspectiva da legislação brasileira e
das convenções internacionais de
base.
A partir desse estudo, entende
se que o espaço, especialmente
no que diz respeito ao direito nacional,
para a proteç
ão das obras intelectuais
produzidas por
inteligência artificial
porquanto
as regras existentes limitam
essa proteção às criações de autores
humanos e que “expressam seu
espírito” por meio de um processo
criativo.
Compreende-
se que o Direito
Autoral brasi
leiro tem como pilar
principal a ideia romântica de autor,
herança do Direito Autoral francês,
dando ênfase para os direitos morais
do autor e sua
conexão espiritual
a obra, muito diferente dos países de
Common Law
que seguem o sistema
do copyright, qu
e busca, acima de
tudo, o progresso, a proteção dos
direitos patrimoniais de seus autores e,
principalmente, dos titulares de direitos
autorais:
as pessoas jurídicas.
269
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
mudança profunda no Direito Autoral,
especificamente quanto ao seu
sujeito
Para que fosse
possível
compreender quais são esses desafios
nálise dos institutos
Direito Autoral
na
perspectiva da legislação brasileira e
das convenções internacionais de
A partir desse estudo, entende
-
se que o espaço, especialmente
no que diz respeito ao direito nacional,
ão das obras intelectuais
inteligência artificial
,
as regras existentes limitam
essa proteção às criações de autores
humanos e que “expressam seu
espírito” por meio de um processo
se que o Direito
leiro tem como pilar
principal a ideia romântica de autor,
herança do Direito Autoral francês,
dando ênfase para os direitos morais
conexão espiritual
com
a obra, muito diferente dos países de
que seguem o sistema
e busca, acima de
tudo, o progresso, a proteção dos
direitos patrimoniais de seus autores e,
principalmente, dos titulares de direitos
as pessoas jurídicas.
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
Verifica-
se, assim, que o Direito
Autoral brasileiro, quando dispõe sobre
a “expressão do
espírito” de um autor,
diz respeito à sua originalidade e por
consequência sua criatividade, sendo
que esses conceitos possuem grande
complexidade e podem ser abordados
nas mais diferentes perspectivas.
Contudo, a rigidez do direito
autoral o impediu qu
teorias fossem sendo desenvolvidas
com o objetivo de
desvendar os
desafios impostos pelas criações de
obras intelectuais pelas
inteligências
artificiais.
As teorias em discussão
demonstram diversos caminhos
possíveis para a solução das questões
propostas, desde a criação de uma
personalidade eletrônica para o
programa criador, até a possibilidade
de não oferecer qualquer proteção a
essas obras.
Dividem-se
em três correntes
principais: a primeira
que se refere
possibilidade de atribuir direitos
autorais diretamente à inteligência
artificial, criando uma personalidade
eletrônica, ou desenvolvendo uma
coautoria com a inteligência artificial,
porquanto o software
seria capaz de
originalidade e criatividade e
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
se, assim, que o Direito
Autoral brasileiro, quando dispõe sobre
espírito” de um autor,
diz respeito à sua originalidade e por
consequência sua criatividade, sendo
que esses conceitos possuem grande
complexidade e podem ser abordados
nas mais diferentes perspectivas.
Contudo, a rigidez do direito
autoral o impediu qu
e diversas
teorias fossem sendo desenvolvidas
desvendar os
desafios impostos pelas criações de
inteligências
As teorias em discussão
demonstram diversos caminhos
possíveis para a solução das questões
propostas, desde a criação de uma
personalidade eletrônica para o
programa criador, até a possibilidade
de não oferecer qualquer proteção a
em três correntes
que se refere
à
possibilidade de atribuir direitos
autorais diretamente à inteligência
artificial, criando uma personalidade
eletrônica, ou desenvolvendo uma
coautoria com a inteligência artificial,
seria capaz de
originalidade e criatividade e
cons
equentemente autoria. O
problema encontrado nesta teoria seria
a questão da regulamentação jurídica
dessa personalidade eletrônica, com o
surgimento de diversas novas
questões de ordem ética.
A segunda corrente diz respeito
à possibilidade de atribuir dire
autorais àqueles que tornaram
possível o desenvolvimento da
inteligência artificial e como resultado
a obra intelectual originada deste
software
, sendo o programador ou a
empresa por trás do investimento. A
questão levantada por essa teoria
refere-se
às inteligências artificiais que
possuem uma programação
avançada e que fazem uso do
aprendizado de máquina e
aprendizado de máquina profundo.
Essas
inteligências artificiais
conseguem, inclusive, interagir com
outras máquinas e sistemas e que,
como exp
lorado no trabalho, são
capazes sim de originalidade e
criatividade. Por isso, o programador
ou equipe responsável pelo programa
não poderiam afirmar sua autoria
quanto à
s obras criadas pelo
programa, que em nenhum
momento contribuíram para as
decisões
e para o resultado final das
270
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
equentemente autoria. O
problema encontrado nesta teoria seria
a questão da regulamentação jurídica
dessa personalidade eletrônica, com o
surgimento de diversas novas
questões de ordem ética.
A segunda corrente diz respeito
à possibilidade de atribuir dire
itos
autorais àqueles que tornaram
possível o desenvolvimento da
inteligência artificial e como resultado
a obra intelectual originada deste
, sendo o programador ou a
empresa por trás do investimento. A
questão levantada por essa teoria
às inteligências artificiais que
possuem uma programação
avançada e que fazem uso do
aprendizado de máquina e
aprendizado de máquina profundo.
inteligências artificiais
conseguem, inclusive, interagir com
outras máquinas e sistemas e que,
lorado no trabalho, são
capazes sim de originalidade e
criatividade. Por isso, o programador
ou equipe responsável pelo programa
não poderiam afirmar sua autoria
s obras criadas pelo
programa, que em nenhum
momento contribuíram para as
e para o resultado final das
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
escolhas feitas pela máquina. Sendo
que uma empresa envolvida nesta
criação, seja como empregadora do
programador ou como investidora,
conseguiria ter atribuída a si a
titularidade de direito autoral, mas não
a autoria da obra em si.
A
terceira corrente implica na
não atribuição de qualquer direito
autoral à obra intelectual criada por
uma inteligência artificial, ingressando
essa no domínio público. Para essa
corrente, não há que se falar em
originalidade ou criatividade,
el
ementos essenciais para a proteção
dispensada pelo Direito Autoral,
quando a obra foi criada por um
programa de computador.
Ao final, é possível concluir que
o cerne da questão que todas as
teorias pesquisadas buscam resolver é
o grande tabu da efetiva exi
uma inteligência artificial que pode ser
comparada a do homem, e talvez, até
ultrapassá-
la. Nesse sentido, percebe
se que a discussão quanto ao tema
enfrenta o problema da quebra de
paradigmas muito enraizados na
forma de compreensão do mundo
ser humano, tratando-
se de um
problema de muito mais complexidade,
relacionado a questões de ordem
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
escolhas feitas pela máquina. Sendo
que uma empresa envolvida nesta
criação, seja como empregadora do
programador ou como investidora,
conseguiria ter atribuída a si a
titularidade de direito autoral, mas não
terceira corrente implica na
não atribuição de qualquer direito
autoral à obra intelectual criada por
uma inteligência artificial, ingressando
essa no domínio público. Para essa
corrente, não há que se falar em
originalidade ou criatividade,
ementos essenciais para a proteção
dispensada pelo Direito Autoral,
quando a obra foi criada por um
Ao final, é possível concluir que
o cerne da questão que todas as
teorias pesquisadas buscam resolver é
o grande tabu da efetiva exi
stência de
uma inteligência artificial que pode ser
comparada a do homem, e talvez, até
la. Nesse sentido, percebe
-
se que a discussão quanto ao tema
enfrenta o problema da quebra de
paradigmas muito enraizados na
forma de compreensão do mundo
pelo
se de um
problema de muito mais complexidade,
relacionado a questões de ordem
filosófica, psicológica
além das questões
jurídica
Pode-
se afirmar, por fim, que as
teorias apresentadas denotam a
profundidade do tem
conseguem solucionar de forma plena
todas as questões postas e que
possam vir a ser propostas no futuro,
que a necessidade é de
compreender a própria inteligência
humana.
Referências
bibliográficas:
ABRÃO, Eliane Y.
Direitos de autor e
direitos conexos
. 2. ed. rev. e ampl.
São Paulo: Migalhas, 2014.
ALPHAGO. In
: Deep Mind
l.,2019?].
Disponível em:
https://deepmind.com/research/case
studies/alphago-the-
story
Acesso: 11 out. 2019.
BRANCO, Sergio.
O domínio público
no direito
autoral brasileiro
Janeiro: Lumen Juris, 2011.
BRASIL. [Constituição (1988)].
Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988.
Brasília, DF:
Presidência da República, 1988.
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/co
nstituicao/con
stituicao.htm. Acesso: 06
nov. 2019.
BRASIL.
Lei nº 9.610, de 19 de
fevereiro de 1998
. Altera, atualiza e
consolida a legislação sobre direitos
autorais e dá outras providências.
Brasília, DF: Presidência da República,
2019.
Disponível em:
271
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
filosófica, psicológica
e social, para
jurídica
s.
se afirmar, por fim, que as
teorias apresentadas denotam a
profundidade do tem
a, mas não
conseguem solucionar de forma plena
todas as questões postas e que
possam vir a ser propostas no futuro,
que a necessidade é de
compreender a própria inteligência
bibliográficas:
Direitos de autor e
. 2. ed. rev. e ampl.
São Paulo: Migalhas, 2014.
: Deep Mind
. [S.
Disponível em:
https://deepmind.com/research/case
-
story
-so-far.
Acesso: 11 out. 2019.
O domínio público
autoral brasileiro
. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2011.
BRASIL. [Constituição (1988)].
Constituição da República Federativa
Brasília, DF:
Presidência da República, 1988.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/co
stituicao.htm. Acesso: 06
Lei nº 9.610, de 19 de
. Altera, atualiza e
consolida a legislação sobre direitos
autorais e dá outras providências.
Brasília, DF: Presidência da República,
Disponível em:
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
http://www.plana
lto.gov.br/ccivil_03/leis
/l9610.htm. Acesso: 10 jun. 2019.
CANTALI, Fernanda Borghetti.
Inteligência artificial e direito de autor:
tecnologia disruptiva exigindo
reconfiguração de categorias jurídicas.
Revista de Direito, Inovação,
Propriedade Intelectual e
Concorrência
, Porto Alegre, v. 4, n. 2,
p. 9, jul./dez. 2018. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publicati
on/330972277_INTELIGENCIA_ARTIF
ICIAL_E_DIREITO_DE_AUTOR_TEC
NOLOGIA_DISRUPTIVA_EXIGINDO_
RECONFIGURACAO_DE_CATEGORI
AS_JURIDICAS. Acesso: 20
CARBONI, Guilherme. Direitos
autorais e novas formas de autoria:
processos interativos, meta
criação colaborativa.
Revista de Mídia
e Entretenimento do IASP
, São Paulo,
ano I, v. 1, jan./jun. 2015. Disponível
em:
https://www.academia.edu/20018505/
Direitos_Autorais_e_Novas_Formas_d
e_Autoria_Processos_Interativos_Met
a-
Autoria_e_Cria%C3%A7%C3%A3o_C
olaborativa.
Acesso: 23 out. 2018.
COHEN, Paul. Harold Cohen and
AARON. AI Magazine, [
s. l.
2016. Disponível em:
https://pdfs.semanticscholar.org/0835/f
128bfd720dcb1b2ab507781ff9ab4855c
ba.pdf. Acesso: 01 maio 2019.
DADDY'S Car: a song composed by
Artificial Intelligence -
in the style of the
Beatles. [S. l.: s. n.
], 19 set. 2016. 1
vídeo (3 min). Publicado pelo canal
Sony CSL. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=LS
HZ_b05W7o. Acesso: 06 nov. 2019.
DÍAZ-
LIMÓN, Jaime Alberto.
Daddy’scar: lainteligencia artificial
como herramienta facilitadora de
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
lto.gov.br/ccivil_03/leis
/l9610.htm. Acesso: 10 jun. 2019.
CANTALI, Fernanda Borghetti.
Inteligência artificial e direito de autor:
tecnologia disruptiva exigindo
reconfiguração de categorias jurídicas.
Revista de Direito, Inovação,
, Porto Alegre, v. 4, n. 2,
p. 9, jul./dez. 2018. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publicati
on/330972277_INTELIGENCIA_ARTIF
ICIAL_E_DIREITO_DE_AUTOR_TEC
NOLOGIA_DISRUPTIVA_EXIGINDO_
RECONFIGURACAO_DE_CATEGORI
AS_JURIDICAS. Acesso: 20
jun. 2019.
CARBONI, Guilherme. Direitos
autorais e novas formas de autoria:
processos interativos, meta
-autoria e
Revista de Mídia
, São Paulo,
ano I, v. 1, jan./jun. 2015. Disponível
https://www.academia.edu/20018505/
Direitos_Autorais_e_Novas_Formas_d
e_Autoria_Processos_Interativos_Met
Autoria_e_Cria%C3%A7%C3%A3o_C
Acesso: 23 out. 2018.
COHEN, Paul. Harold Cohen and
s. l.
], p. 63-66,
https://pdfs.semanticscholar.org/0835/f
128bfd720dcb1b2ab507781ff9ab4855c
ba.pdf. Acesso: 01 maio 2019.
DADDY'S Car: a song composed by
in the style of the
], 19 set. 2016. 1
vídeo (3 min). Publicado pelo canal
https://www.youtube.com/watch?v=LS
HZ_b05W7o. Acesso: 06 nov. 2019.
LIMÓN, Jaime Alberto.
Daddy’scar: lainteligencia artificial
como herramienta facilitadora de
derechosde autor.
Revista La
PropriedadInmaterial
, Colombia, n. 22,
p. 83-
100, jul./dez. 2016. Disponível
em:
https://revistas.uexternado.edu.co/inde
x.php/propin/article/view/4779/5569.
Acesso: 20 jun. 2019.
FRAGOSO, João Henrique da Rocha.
Direito autoral: da
antiguidade à
internet. S
ão Paulo: QuartierLatin,
2009.
GONÇALVES, LukasRuthes.
jurídica de trabalhos criativos feitos por
aplicações de inteligência artificial no
Brasil
. (Mestrado em Direito).
Universidade Federal do Paraná.
Curitiba, 2019. Disp
onível em:
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/h
andle/1884/60345/R%20
%20LUKAS%20RUTHES%20GONCA
LVES.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
Acesso: 06 nov. 2019.
GRUBOW, Jared Vasconcellos. O.K.
Computer: the devolution of human
creativity and granting mus
copyrights to artificially intelligent joint
authors.
Cardozo Law Review,
Iorque, v. 40, 2019. Disponível em:
http://cardozolawreview.com/the
devolution-of-human-
creativity
granting-musical-
copyrights
authors/.
Acesso: 20 jun. 201
GUADAMUZ, Andres. Do androids
dream of electric copyright?
Comparative analysis of originality in
artificial intelligence generated works.
Intellectual Property
Quarterly
Londres, n. 2, jun. 2017. Disponível
em:
https://poseidon01.ssrn.com/delivery.p
hp?ID=8721190911241120170191020
0712709508704907307006402502111
1113077102071093101116120000120
0320620060060270021121051061110
6902500500002902604901912507908
272
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Revista La
, Colombia, n. 22,
100, jul./dez. 2016. Disponível
https://revistas.uexternado.edu.co/inde
x.php/propin/article/view/4779/5569.
Acesso: 20 jun. 2019.
FRAGOSO, João Henrique da Rocha.
antiguidade à
ão Paulo: QuartierLatin,
GONÇALVES, LukasRuthes.
A tutela
jurídica de trabalhos criativos feitos por
aplicações de inteligência artificial no
. (Mestrado em Direito).
Universidade Federal do Paraná.
onível em:
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/h
andle/1884/60345/R%20
-%20D%20-
%20LUKAS%20RUTHES%20GONCA
LVES.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
Acesso: 06 nov. 2019.
GRUBOW, Jared Vasconcellos. O.K.
Computer: the devolution of human
creativity and granting mus
ical
copyrights to artificially intelligent joint
Cardozo Law Review,
Nova
Iorque, v. 40, 2019. Disponível em:
http://cardozolawreview.com/the
-
creativity
-and-
copyrights
-to-ai-joint-
Acesso: 20 jun. 201
9.
GUADAMUZ, Andres. Do androids
dream of electric copyright?
Comparative analysis of originality in
artificial intelligence generated works.
Quarterly
,
Londres, n. 2, jun. 2017. Disponível
https://poseidon01.ssrn.com/delivery.p
hp?ID=8721190911241120170191020
0712709508704907307006402502111
1113077102071093101116120000120
0320620060060270021121051061110
6902500500002902604901912507908
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
Fernanda Felitti da S. Inteligência artificial e
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9
, p.
249
-
273
, set. 2020.
2024090083011034006054125065096
0040650961210660760260021180740
9
109609711107411109808212612206
4117083&EXT=pdf. Acesso: 23 out.
2018.
HARARI, Yuval Noah.
21 lições para o
século 21
. São Paulo: Companhia das
Letras, 2018.
KURSWEIL apud PISTONO, Federico
Os robôs vão roubar seu trabalho, mas
tudo bem:
como sobreviver ao
econômico e ser feliz. São Paulo:
Portfolio-Penguin, 2017.
MANS, Matheus. Curta-
metragem
“Sunspring” é o primeiro do mundo a
ser escrito por sistema de algoritmos.
O Estado de São Paulo
, São Paulo, 23
jun. 2016. Disponível em:
https://cultura.estad
ao.com.br/noticias/
cinema,curta-metragem-
sunspring
primeiro-do-mundo-a-ser-
escrito
sistema-de-
algoritmos,10000058729.
Acesso: 27 out. 2019.
PARLAMENTO EUROPEU.
civil law rules in robotics:
study for the
JURI comittee.
Bruxelas, 2016.
Disponível em:
http://www.europarl.europa.eu/RegDat
a/etudes/STUD/2016/571379/IPOL_ST
U(2016)571379_EN.pdf. Acesso: 10
jun. 2019.
REINO UNIDO.
Copyright, Designs
and Patent Act 1988.
Londres:
Parlamento do Reino Unido, 1988.
Disponível em:
http://www.legisla
tion.gov.uk/ukpga/19
88/48/contents. Acesso em: 06 nov.
2019.
RUSSEL, Stuart J.; NORVIG, Peter.
Inteligência artificial
. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2013. E-book
(não paginado)
SCHAFER, Burkhard; KOMUVES,
David; ZATARAIN, Jesus Manuel
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
HOHENDORFF, Raquel Von; CANTALI, Ferananda Borghetti; D'ÁVILA,
direitos autorais: desafios e
possibilidades no cenário jurídico brasileiro e internacional
.
Americana de Estudos em Cultura,
, set. 2020.
2024090083011034006054125065096
0040650961210660760260021180740
109609711107411109808212612206
4117083&EXT=pdf. Acesso: 23 out.
21 lições para o
. São Paulo: Companhia das
KURSWEIL apud PISTONO, Federico
.
Os robôs vão roubar seu trabalho, mas
como sobreviver ao
colapso
econômico e ser feliz. São Paulo:
metragem
“Sunspring” é o primeiro do mundo a
ser escrito por sistema de algoritmos.
, São Paulo, 23
ao.com.br/noticias/
sunspring
-e-o-
escrito
-por-
algoritmos,10000058729.
PARLAMENTO EUROPEU.
European
study for the
Bruxelas, 2016.
http://www.europarl.europa.eu/RegDat
a/etudes/STUD/2016/571379/IPOL_ST
U(2016)571379_EN.pdf. Acesso: 10
Copyright, Designs
Londres:
Parlamento do Reino Unido, 1988.
tion.gov.uk/ukpga/19
88/48/contents. Acesso em: 06 nov.
RUSSEL, Stuart J.; NORVIG, Peter.
. Rio de Janeiro:
(não paginado)
.
SCHAFER, Burkhard; KOMUVES,
David; ZATARAIN, Jesus Manuel
Niebla; DIVER, Laurence
of robotics? Copyright and the law and
ethics of machine co-
production.
Artificial Intelligence and Law
23, n. 3, p. 217-
240, set. 2015.
Disponível em:
https://link.springer.com/article/10.1007
/s10506-015-9169-
7. Acesso: 20 jun.
2019.
SCHWAB, Klaus.
A quarta revolução
industrial
. São Paulo: Edipro, 2016.
SHIRRU, Lucas.
Inteligência artificial e
o direito autoral
: o domínio público em
perspectiva. Disponível em:
https://itsrio.org/wp-
content/uploads/2019/04/Luca
rev2-1.pdf
. Acesso: 16 set. 2019.
SUNSPRING | A Sci-
Fi Short Film
Starring Thomas Middleditch.
n.
], 09 jun. 2016. 1 vídeo (9 min 02 s).
Publicado pelo canal ArsTechnica.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=LY
7x2Ihqjmc. Acesso: 06 nov. 2019.
TECNOLOGIA. In: HOUAISS, Antônio.
Minidicionário da língua portuguesa
4. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2010.
TRIDENTE, Alessandra.
autoral
: paradoxos e contribuições
para a revisão da tecnologia jurídica
no século XXI. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2009.
ZAFFARI, Felipe Pozueco;
ESPÍNDOLA, Jean Carlo de Borba.
Conceitos o que é inteligência
artificial? In:
BARONE, Dante Augusto
Couto; BOESING, Ivan Jorge (org.).
Inteligência artificial
: diálogos entre
mentes e máquinas. Porto Alegre:
AGE/Evangraf, 2015.
273
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê Cultura, Tecnologia e Sociedade
)
Niebla; DIVER, Laurence
. A fourth law
of robotics? Copyright and the law and
production.
Artificial Intelligence and Law
, [s. l.], v.
240, set. 2015.
https://link.springer.com/article/10.1007
7. Acesso: 20 jun.
A quarta revolução
. São Paulo: Edipro, 2016.
Inteligência artificial e
: o domínio público em
perspectiva. Disponível em:
content/uploads/2019/04/Luca
-Schirru-
. Acesso: 16 set. 2019.
Fi Short Film
Starring Thomas Middleditch.
[S. l.: s.
], 09 jun. 2016. 1 vídeo (9 min 02 s).
Publicado pelo canal ArsTechnica.
https://www.youtube.com/watch?v=LY
7x2Ihqjmc. Acesso: 06 nov. 2019.
TECNOLOGIA. In: HOUAISS, Antônio.
Minidicionário da língua portuguesa
.
4. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro:
TRIDENTE, Alessandra.
Direito
: paradoxos e contribuições
para a revisão da tecnologia jurídica
no século XXI. Rio de Janeiro:
ZAFFARI, Felipe Pozueco;
ESPÍNDOLA, Jean Carlo de Borba.
Conceitos o que é inteligência
BARONE, Dante Augusto
Couto; BOESING, Ivan Jorge (org.).
: diálogos entre
mentes e máquinas. Porto Alegre:
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
Hibridación, intermedialidad y performance en el cortometraje latinoamericano
DOI: https://doi.org/
10.22409/pragmatizes.v10i19.40660
Resumen: Entre mediados de
la década del cincuenta y mediados de los años setenta el film breve
latinoamericano producido prácticamente al margen de la industria fílmica tuvo un rol fundamental en
la renovación del cine dentro de un contexto general de dinamismo y modernización del
cultural regional. El presente artículo analiza comparativamente un corpus representativo de
cortometrajes provenientes de Argentina, Brasil, México, Cuba y Chile durante el período señalado,
con el propósito de asentar el carácter moderno de dicha p
abordamos los films en función de tres rangos de contraste estrechamente vinculados: la hibridación
de los modelos cinematográficos, la intermedialidad entre el cine y diversas disciplinas artísticas, el
desvío en la const
rucción del personaje canónico y la incorporación de lo performático. A partir del
estudio de estas tres variables es posible desentrañar las especificidades y los puntos en común en
torno a este fenómeno desarrollado en cinematografías con tradiciones het
Palabras clave:
Cortometraje; Cine Latinoamericano moderno; Intermedialidad; Estrategias
performáticas
Hybridization, intermediality and performance in the modern Latin American short film
Abstract: Between the mid-
1950s and the mid
practically outside the film industry played a fundamental role in film renewal within a general context
of dynamism and modernization of the regional cultural field. This article comparatively analyzes a
representati
ve corpus of short films from Argentina, Brazil, Mexico, Cuba and Chile during the
indicated period, with the purpose of establishing the modern sense of this audiovisual production. To
do this, we approach the films based on three closely linked contrast
cinematographic models, the intermediality between cinema and various artistic disciplines, the
deviation in the construction of the canonical character and the incorporation of the performance.
From the study of these three va
around this phenomenon developed in cinematographies with heterogeneous traditions.
Keywords:
Short film; Modern Latin American Cinema; Intermediality; Performative strategies
Hibridação, intermedialidade e performance no curta
Resumo:
Entre meados da década do cin
latino-
americano produzido praticamente fora da indústria cinematográfica desempe
1
Javier Cossa
lter. Doctor en Historia y Teoría de las Artes por la Universidad de Buenos Aires,
profesor de la Facultad de Filosofía y Letras, Universidad de Buenos Aires
mail: javiercossalter@gmail.com
Recebido em 10/02/2020,
aceit
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
Hibridación, intermedialidad y performance en el cortometraje latinoamericano
moderno
10.22409/pragmatizes.v10i19.40660
Javier Cossalter
la década del cincuenta y mediados de los años setenta el film breve
latinoamericano producido prácticamente al margen de la industria fílmica tuvo un rol fundamental en
la renovación del cine dentro de un contexto general de dinamismo y modernización del
cultural regional. El presente artículo analiza comparativamente un corpus representativo de
cortometrajes provenientes de Argentina, Brasil, México, Cuba y Chile durante el período señalado,
con el propósito de asentar el carácter moderno de dicha p
roducción audiovisual. Para ello,
abordamos los films en función de tres rangos de contraste estrechamente vinculados: la hibridación
de los modelos cinematográficos, la intermedialidad entre el cine y diversas disciplinas artísticas, el
rucción del personaje canónico y la incorporación de lo performático. A partir del
estudio de estas tres variables es posible desentrañar las especificidades y los puntos en común en
torno a este fenómeno desarrollado en cinematografías con tradiciones het
erogéneas.
Cortometraje; Cine Latinoamericano moderno; Intermedialidad; Estrategias
Hybridization, intermediality and performance in the modern Latin American short film
1950s and the mid
-1970s,
the Latin American short film produced
practically outside the film industry played a fundamental role in film renewal within a general context
of dynamism and modernization of the regional cultural field. This article comparatively analyzes a
ve corpus of short films from Argentina, Brazil, Mexico, Cuba and Chile during the
indicated period, with the purpose of establishing the modern sense of this audiovisual production. To
do this, we approach the films based on three closely linked contrast
ranges: the hybridization of
cinematographic models, the intermediality between cinema and various artistic disciplines, the
deviation in the construction of the canonical character and the incorporation of the performance.
From the study of these three va
riables it is possible to unravel the specificities and common points
around this phenomenon developed in cinematographies with heterogeneous traditions.
Short film; Modern Latin American Cinema; Intermediality; Performative strategies
Hibridação, intermedialidade e performance no curta
-metragem latino-
americano moderno
Entre meados da década do cin
qu
enta e meados dos anos setenta, o curta
americano produzido praticamente fora da indústria cinematográfica desempe
lter. Doctor en Historia y Teoría de las Artes por la Universidad de Buenos Aires,
profesor de la Facultad de Filosofía y Letras, Universidad de Buenos Aires
-
CONICET, Argentina. E
mail: javiercossalter@gmail.com
- https://orcid.org/0000-0001-5660-6704
aceit
o para publicação em 11/04/2020, disponibilizado online em
01/09/2020
274
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
Hibridación, intermedialidad y performance en el cortometraje latinoamericano
Javier Cossalter
1
la década del cincuenta y mediados de los años setenta el film breve
latinoamericano producido prácticamente al margen de la industria fílmica tuvo un rol fundamental en
la renovación del cine dentro de un contexto general de dinamismo y modernización del
campo
cultural regional. El presente artículo analiza comparativamente un corpus representativo de
cortometrajes provenientes de Argentina, Brasil, México, Cuba y Chile durante el período señalado,
roducción audiovisual. Para ello,
abordamos los films en función de tres rangos de contraste estrechamente vinculados: la hibridación
de los modelos cinematográficos, la intermedialidad entre el cine y diversas disciplinas artísticas, el
rucción del personaje canónico y la incorporación de lo performático. A partir del
estudio de estas tres variables es posible desentrañar las especificidades y los puntos en común en
erogéneas.
Cortometraje; Cine Latinoamericano moderno; Intermedialidad; Estrategias
Hybridization, intermediality and performance in the modern Latin American short film
the Latin American short film produced
practically outside the film industry played a fundamental role in film renewal within a general context
of dynamism and modernization of the regional cultural field. This article comparatively analyzes a
ve corpus of short films from Argentina, Brazil, Mexico, Cuba and Chile during the
indicated period, with the purpose of establishing the modern sense of this audiovisual production. To
ranges: the hybridization of
cinematographic models, the intermediality between cinema and various artistic disciplines, the
deviation in the construction of the canonical character and the incorporation of the performance.
riables it is possible to unravel the specificities and common points
around this phenomenon developed in cinematographies with heterogeneous traditions.
Short film; Modern Latin American Cinema; Intermediality; Performative strategies
americano moderno
enta e meados dos anos setenta, o curta
-metragem
americano produzido praticamente fora da indústria cinematográfica desempe
nhou um papel
lter. Doctor en Historia y Teoría de las Artes por la Universidad de Buenos Aires,
CONICET, Argentina. E
-
o para publicação em 11/04/2020, disponibilizado online em
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
fundamental na renovação do cinema em um contexto geral de dinamismo e modernização do campo
cultural regional. Este artigo analisa comparativamente um
metragens da Argentina, Brasil, México, Cuba e Chile duran
estabelecer o sentido moderno dessa produção audiovisual. Para isso, abordamos os filmes com
base em três faixas de contraste estreitamente ligadas: a hibridação de modelos cinematográficos, a
intermedialidade entre
cinema e várias disciplinas artísticas, o desvio na construção do caráter
canônico e a incorporação da performance. A partir do estudo dessas três variáveis, é possível
desvendar as especificidades e pontos comuns em torno desse fenômeno, desenvolvidos em
cinematografias com tradições heterogêneas.
Palavras chave: Curta-
metragem; Cinema latino
performativas
Hibridación, intermedialidad y performance en el cortometraje latinoamericano
Introducción
A partir de la segunda mitad de
la década del cincuenta se vislumbró
en América Latina un proceso de
transformación y modernización del
campo cultural y artístico que se
acopló hacia fines de los años sesenta
con una creciente efervescencia social
y poster
ior radicalización política.
Hacia mediados de los años setenta
los sucesivos golpes de Estado y la
inestabilidad social que afectaron a los
países del territorio determinaron la
clausura de una etapa a nivel cultural.
En términos de Claudia Gilman es
posi
ble analizar este macro
la región desde la noción de
que apunta a desentrañar la
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
fundamental na renovação do cinema em um contexto geral de dinamismo e modernização do campo
cultural regional. Este artigo analisa comparativamente um
corpus
representativo de curtas
metragens da Argentina, Brasil, México, Cuba e Chile duran
te o período indicado, com o objetivo de
estabelecer o sentido moderno dessa produção audiovisual. Para isso, abordamos os filmes com
base em três faixas de contraste estreitamente ligadas: a hibridação de modelos cinematográficos, a
cinema e várias disciplinas artísticas, o desvio na construção do caráter
canônico e a incorporação da performance. A partir do estudo dessas três variáveis, é possível
desvendar as especificidades e pontos comuns em torno desse fenômeno, desenvolvidos em
cinematografias com tradições heterogêneas.
metragem; Cinema latino
-
americano moderno; Intermedialidade; Estratégias
Hibridación, intermedialidad y performance en el cortometraje latinoamericano
moderno
A partir de la segunda mitad de
la década del cincuenta se vislumbró
en América Latina un proceso de
transformación y modernización del
campo cultural y artístico que se
acopló hacia fines de los años sesenta
con una creciente efervescencia social
ior radicalización política.
Hacia mediados de los años setenta
los sucesivos golpes de Estado y la
inestabilidad social que afectaron a los
países del territorio determinaron la
clausura de una etapa a nivel cultural.
En términos de Claudia Gilman es
ble analizar este macro
-período en
la región desde la noción de
época,
que apunta a desentrañar la
“convergencia de coyunturas políticas,
mandatos intelectuales, programas
estéticos y expectativas sociales”
(GILMAN,
2003, p. 36). En este
sentido, Latinoamé
rica experimentó un
espíritu compartido de renovación de
las diferentes disciplinas artísticas que
incluyó el intercambio dinámico entre
dichas esferas así como la apropiación
de elementos de corrientes foráneas.
En el ámbito del cine este
impulso dio pas
o a la denominada
modernidad cinematográfica,
2
Vinculada a los nuevos cines surgidos en
Europa a lo largo de la década del sesenta, la
modernidad cinematográfica se sustenta en la
conciencia lingüística
y la explicitación de las
huellas del discurso, operaciones que colocan
el centro de atención en los medios expresivos
del lenguaje fílmico (
MONTERDE
cines latinoamericanos tomaron las bases
275
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
fundamental na renovação do cinema em um contexto geral de dinamismo e modernização do campo
representativo de curtas
-
te o período indicado, com o objetivo de
estabelecer o sentido moderno dessa produção audiovisual. Para isso, abordamos os filmes com
base em três faixas de contraste estreitamente ligadas: a hibridação de modelos cinematográficos, a
cinema e várias disciplinas artísticas, o desvio na construção do caráter
canônico e a incorporação da performance. A partir do estudo dessas três variáveis, é possível
desvendar as especificidades e pontos comuns em torno desse fenômeno, desenvolvidos em
americano moderno; Intermedialidade; Estratégias
Hibridación, intermedialidad y performance en el cortometraje latinoamericano
“convergencia de coyunturas políticas,
mandatos intelectuales, programas
estéticos y expectativas sociales”
2003, p. 36). En este
rica experimentó un
espíritu compartido de renovación de
las diferentes disciplinas artísticas que
incluyó el intercambio dinámico entre
dichas esferas así como la apropiación
de elementos de corrientes foráneas.
En el ámbito del cine este
o a la denominada
modernidad cinematográfica,
2
la cual
Vinculada a los nuevos cines surgidos en
Europa a lo largo de la década del sesenta, la
modernidad cinematográfica se sustenta en la
y la explicitación de las
huellas del discurso, operaciones que colocan
el centro de atención en los medios expresivos
MONTERDE
, 1996). Los
cines latinoamericanos tomaron las bases
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
se alejaba del modelo industrial
hollywoodense
en términos
productivos, expresivos y semánticos.
Espacios alternativos de realización
como los talleres, seminarios, escuelas
de cine y otras entidades
privadas–
posibilitaron una intensa y
efectiva exploración estética del
lenguaje y del propio dispositivo, en
correlato con la puesta reflexiva en
imágenes de temáticas marginales,
entre ellas, el mundo complejo y
heterogéneo de las artes. No o
y a pesar de que no todas las
cinematografías de la región habían
construido una fuerte tradición fílmica
industrial, tanto las que habían
desarrollado una producción estable
Argentina, Brasil y México
aquellas de producción intermitente
Cuba y Chile, por ejemplo
sus cines a partir de un factor en
común: la presencia activa y
productiva del cortometraje entendido
como un medio de expresión subjetiva.
De este modo, el presente
trabajo plantea un análisis comparado
de un corpus de films breves
latinoamericanos, en tanto
representantes de este fenómeno
centrales de este fenómeno para configurar
experiencias singulares.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
se alejaba del modelo industrial
en términos
productivos, expresivos y semánticos.
Espacios alternativos de realización
como los talleres, seminarios, escuelas
de cine y otras entidades
estatales y
posibilitaron una intensa y
efectiva exploración estética del
lenguaje y del propio dispositivo, en
correlato con la puesta reflexiva en
imágenes de temáticas marginales,
entre ellas, el mundo complejo y
heterogéneo de las artes. No o
bstante,
y a pesar de que no todas las
cinematografías de la región habían
construido una fuerte tradición fílmica
industrial, tanto las que habían
desarrollado una producción estable
Argentina, Brasil y México
como
aquellas de producción intermitente
renovaron
sus cines a partir de un factor en
común: la presencia activa y
productiva del cortometraje entendido
como un medio de expresión subjetiva.
De este modo, el presente
trabajo plantea un análisis comparado
de un corpus de films breves
latinoamericanos, en tanto
representantes de este fenómeno
centrales de este fenómeno para configurar
plural y heterogéneo durante la etapa
abordada, con la intención de
examinar tres premisas desplegadas
p
or el cortometraje moderno que en su
conjunción evidencian plenamente la
renovación del campo cultural en un
sentido global e interrelacional:
hibridación de modelos
cinematográficos: el desvanecimiento
de los lindes entre la ficción, el
documental y
el cine experimental; 2)
la vinculación del cine con otras
disciplinas artísticas
literatura, la danza, las artes visuales
práctica intermedial definida según
Irina Rajewsky (2005) como un
fenómeno que configura un cruce de
fronteras entr
e medios de distinta
naturaleza; 3) un cierto desvío en la
concepción psicológica del personaje y
la introducción de lo performático
como una marca propia de la
neovanguardia.
3
Por tal motivo,
organizaremos el artículo en función
3
La cantidad de cortos modernos realizados
en los países abordados es extensa y las
formas expresivas adoptadas son variadas. No
obstante, e
l corpus de films breves
seleccionados articula de forma orgánica las
tres variables renovadoras señaladas:
(Glauber Rocha, 1959) –
Brasil
(Pastor Vega, 1964) –
Cuba
Soto, 1965) –Chile–,
La creación artística:
José Luis Cuevas
(Juan José Gurrola, 1965)
México– y Grabas
(Arnaldo Valsecchi, 1974)
Argentina–.
276
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
plural y heterogéneo durante la etapa
abordada, con la intención de
examinar tres premisas desplegadas
or el cortometraje moderno que en su
conjunción evidencian plenamente la
renovación del campo cultural en un
sentido global e interrelacional:
1) la
hibridación de modelos
cinematográficos: el desvanecimiento
de los lindes entre la ficción, el
el cine experimental; 2)
la vinculación del cine con otras
disciplinas artísticas
–el teatro, la
literatura, la danza, las artes visuales
–:
práctica intermedial definida según
Irina Rajewsky (2005) como un
fenómeno que configura un cruce de
e medios de distinta
naturaleza; 3) un cierto desvío en la
concepción psicológica del personaje y
la introducción de lo performático
como una marca propia de la
Por tal motivo,
organizaremos el artículo en función
La cantidad de cortos modernos realizados
en los países abordados es extensa y las
formas expresivas adoptadas son variadas. No
l corpus de films breves
seleccionados articula de forma orgánica las
tres variables renovadoras señaladas:
Pátio
Brasil
–, En la noche
Cuba
–, Ana (Helvio
La creación artística:
(Juan José Gurrola, 1965)
(Arnaldo Valsecchi, 1974)
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
de dichos patrones de cont
tanto tres posibles ejes nodales de la
modernidad en el cine.
Experimentación en la estructura
del relato: enlaces difusos entre las
tipologías fílmicas
La exploración del medio fílmico
y sus recursos es una práctica que
nació con el cine mismo
. En algunos
períodos s que en otros el acento
puesto en la renovación del lenguaje
fue tomado como bandera. Ahora bien,
una de las particularidades de la
modernidad cinematográfica y las
rupturas estético-
narrativas que
promovió
tanto en Europa como en
Latinoamérica–
reside en la
productividad del cortometraje para
desarrollar tales innovaciones. Gracias
a sus potencialidades económicas,
estéticas y estructurales, el film breve
se convirtió en un dispositivo eficaz de
experimentación y expresión.
región, las condiciones de producción
del corto moderno vislumbraron un
camino alternativo a la industria
cinematográfica de impronta
4
Para profundizar en las particularidades del
cortometraje y su eficacia en un contexto de
renovación dentro del séptimo arte, véase:
Cossalter (2017a, 2017b, 2018a,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
de dichos patrones de cont
raste, en
tanto tres posibles ejes nodales de la
Experimentación en la estructura
del relato: enlaces difusos entre las
La exploración del medio fílmico
y sus recursos es una práctica que
. En algunos
períodos s que en otros el acento
puesto en la renovación del lenguaje
fue tomado como bandera. Ahora bien,
una de las particularidades de la
modernidad cinematográfica y las
narrativas que
tanto en Europa como en
reside en la
productividad del cortometraje para
desarrollar tales innovaciones. Gracias
a sus potencialidades económicas,
estéticas y estructurales, el film breve
se convirtió en un dispositivo eficaz de
experimentación y expresión.
4
En la
región, las condiciones de producción
del corto moderno vislumbraron un
camino alternativo a la industria
cinematográfica de impronta
Para profundizar en las particularidades del
cortometraje y su eficacia en un contexto de
renovación dentro del séptimo arte, véase:
Cossalter (2017a, 2017b, 2018a,
2018b).
hollywoodense, acogiendo de este
modo un rotundo desvío al canon
institucionalizado.
En este sentido, los films de
cort
a duración escogidos como parte
del corpus de análisis evidencian dicha
impronta. El caso más emblemático es
el ejemplo cubano,
(Pastor Vega
, 1964), puesto que junto
con la Revolución de 1959 se puso en
marcha desde el Estado un proyecto
para i
nstalar una industria del cine
moderna que combinara el arte con las
prerrogativas políticas de la
Revolución, alejada del modelo
estético y productivo estadounidense:
el Instituto Cubano del Arte e Industria
Cinematográficos. Tanto en Chile
como en México
la universidad tuvo un
rol fundamental en la promoción y el
sustento del cine moderno.
(Helvio Soto, 1965) fue concebido al
interior del Centro de Cine
Experimental
luego denominado Cine
Experimental–
de la Universidad de
Chile, fundado en 1957; mientras que
La creación artística: José Luis Cuevas
(Juan José Gurrola, 1965) fue
realizado den
tro de la Universidad
Nacional Autónoma de México, entidad
que fomentó las prácticas artísticas
renovadores desde la Coordinación de
277
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
hollywoodense, acogiendo de este
modo un rotundo desvío al canon
En este sentido, los films de
a duración escogidos como parte
del corpus de análisis evidencian dicha
impronta. El caso más emblemático es
el ejemplo cubano,
En la noche
, 1964), puesto que junto
con la Revolución de 1959 se puso en
marcha desde el Estado un proyecto
nstalar una industria del cine
moderna que combinara el arte con las
prerrogativas políticas de la
Revolución, alejada del modelo
estético y productivo estadounidense:
el Instituto Cubano del Arte e Industria
Cinematográficos. Tanto en Chile
la universidad tuvo un
rol fundamental en la promoción y el
sustento del cine moderno.
Ana
(Helvio Soto, 1965) fue concebido al
interior del Centro de Cine
luego denominado Cine
de la Universidad de
Chile, fundado en 1957; mientras que
La creación artística: José Luis Cuevas
(Juan José Gurrola, 1965) fue
tro de la Universidad
Nacional Autónoma de México, entidad
que fomentó las prácticas artísticas
renovadores desde la Coordinación de
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
Difusión Cultural de la UNAM. En
Argentina, una de las instituciones que
más respaldo le brindó al cortometraje
moderno –in
cluso, en torno al tópico
del arte–
fue el Fondo Nacional de las
Artes, un organismo estatal creado en
1958 que dispuso, cuatro años más
tarde, un Régimen de Fomento al Cine
de Cortometraje.
Grabas
Valsecchi, 1974) forma parte de la
producción sub
sidiada por el Fondo en
este período. Finalmente, en Brasil,
proliferaron para esta época las
pequeñas productoras independientes
que apostaron a conformar un cine
renovador. Este es el caso de Iglu
Filmes, constituida en 1958 por los
cineastas Braga Neto,
Petrus Pires y
Paulo Hermida, la cual posibilitó el
desarrollo del primer cortometraje de
Glauber Rocha, Pátio
, en 1959.
De este modo es posible
sostener, en términos generales, que
las condiciones de producción
determinan las formas expresivas
abrazadas
. En este caso, los canales
alternativos permitieron vehiculizar una
marcada exploración del lenguaje y de
la estructura narrativa que derivó, de
manera extrema, en el borramiento de
los límites entre las tipologías fílmicas.
Es cierto que la ficción, el d
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
Difusión Cultural de la UNAM. En
Argentina, una de las instituciones que
más respaldo le brindó al cortometraje
cluso, en torno al tópico
fue el Fondo Nacional de las
Artes, un organismo estatal creado en
1958 que dispuso, cuatro años más
tarde, un Régimen de Fomento al Cine
Grabas
(Arnaldo
Valsecchi, 1974) forma parte de la
sidiada por el Fondo en
este período. Finalmente, en Brasil,
proliferaron para esta época las
pequeñas productoras independientes
que apostaron a conformar un cine
renovador. Este es el caso de Iglu
Filmes, constituida en 1958 por los
Petrus Pires y
Paulo Hermida, la cual posibilitó el
desarrollo del primer cortometraje de
, en 1959.
De este modo es posible
sostener, en términos generales, que
las condiciones de producción
determinan las formas expresivas
. En este caso, los canales
alternativos permitieron vehiculizar una
marcada exploración del lenguaje y de
la estructura narrativa que derivó, de
manera extrema, en el borramiento de
los límites entre las tipologías fílmicas.
Es cierto que la ficción, el d
ocumental
y el cine experimental conllevan
consigo ciertos rasgos esenciales a
como también es posible hallar
préstamos entre estos modelos, los
cuales no ponen en duda el estatuto
de los mismos.
5
A los fines de este
trabajo, lo interesante surge cuando
advertimos un planteo deliberado por
disolver y confundir las fronteras entre
los modelos, ya sea tomando
elementos de uno para poner en
escena temas, expresiones y objetivos
característicos de otro, o a través de la
efectiva hibridación de estos,
m
anifiesta una rotunda autorreflexión
del medio y puede derivar en formas
cercanas al ensayo.
Pátio
presenta, por medio de
una causalidad narrativa débil, a un
joven y a una muchacha sin siquiera
nombres que se entrelazan y
relacionan a través de distinto
movimientos corporales en un patio
cuyo piso comporta la forma de un
tablero de ajedrez. La síntesis
argumental resulta escueta porque la
narración no es el aspecto central que
guía el relato, sino que prima su
5
Vicente Benet (1999) explora con detalle las
cualidades de cada modelo cinematográfico en
su vinculación y distancia con respecto a los
demás teniendo como parámetro de referencia
a la ficción en tanto tipología hegemónica.
278
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
y el cine experimental conllevan
consigo ciertos rasgos esenciales a
como también es posible hallar
préstamos entre estos modelos, los
cuales no ponen en duda el estatuto
A los fines de este
trabajo, lo interesante surge cuando
advertimos un planteo deliberado por
disolver y confundir las fronteras entre
los modelos, ya sea tomando
elementos de uno para poner en
escena temas, expresiones y objetivos
característicos de otro, o a través de la
efectiva hibridación de estos,
lo que
anifiesta una rotunda autorreflexión
del medio y puede derivar en formas
presenta, por medio de
una causalidad narrativa débil, a un
joven y a una muchacha sin siquiera
nombres que se entrelazan y
relacionan a través de distinto
s
movimientos corporales en un patio
cuyo piso comporta la forma de un
tablero de ajedrez. La síntesis
argumental resulta escueta porque la
narración no es el aspecto central que
guía el relato, sino que prima su
Vicente Benet (1999) explora con detalle las
cualidades de cada modelo cinematográfico en
su vinculación y distancia con respecto a los
demás teniendo como parámetro de referencia
a la ficción en tanto tipología hegemónica.
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
carácter plástico, sensorial y
conceptual.
En este sentido, la obra
combina componentes de la ficción
junto a una concepción
eminentemente experimental
manifiesto en los créditos del film
un lado, y en sintonía con los
postulados modernos, podríamos
distinguir algunos elementos
proven
ientes del cine de arte y ensayo
que David Bordwell (1996) teorizó en
estrecha ligazón con los nuevos cines
europeos de comienzos de la década
del sesenta: el relajamiento de la
acción, la ausencia de clímax, la
explicitación de la interioridad y
subjetivi
dad de los personajes, y el
movimiento autónomo de la cámara en
tanto comentario narrativo abierto. No
obstante, la radicalización articulada
de las formas expresivas como la
ausencia completa de diálogos, la
abundancia de p
rimeros planos a
fragmentos del
cuerpo, tomas
cenitales, repetición de encuadres,
cámara baja al ras del piso, cambios
en el eje y la presencia fundamental
del sonido en cuanto elemento
expresivo independiente se orienta
hacia una propuesta de experiencia
sensorial y conceptual que aprox
corto al ensayo audiovisual y que lo
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
carácter plástico, sensorial y
En este sentido, la obra
combina componentes de la ficción
junto a una concepción
eminentemente experimental
–rótulo
manifiesto en los créditos del film
–. Por
un lado, y en sintonía con los
postulados modernos, podríamos
distinguir algunos elementos
ientes del cine de arte y ensayo
que David Bordwell (1996) teorizó en
estrecha ligazón con los nuevos cines
europeos de comienzos de la década
del sesenta: el relajamiento de la
acción, la ausencia de clímax, la
explicitación de la interioridad y
dad de los personajes, y el
movimiento autónomo de la cámara en
tanto comentario narrativo abierto. No
obstante, la radicalización articulada
de las formas expresivas como la
ausencia completa de diálogos, la
rimeros planos a
cuerpo, tomas
cenitales, repetición de encuadres,
cámara baja al ras del piso, cambios
en el eje y la presencia fundamental
del sonido en cuanto elemento
expresivo independiente se orienta
hacia una propuesta de experiencia
sensorial y conceptual que aprox
ima al
corto al ensayo audiovisual y que lo
conecta directamente con otras
disciplinas artísticas.
Mediante un enfoque diferente,
aunque manteniendo algunas
similitudes con el ejemplo brasileño,
En la noche
también fusiona la ficción
dentro de una estruct
experimental.
6
Este corto se centra en
una pareja que, en busca de diversión,
recorre la noche en La Habana, lo cual
dispara una serie de situaciones no
concatenadas unas con otras que
terminan por vislumbrar el espíritu
cultural nocturno de la ciudad.
diferencia de la mayoría de las
producciones del ICAIC durante este
período, que combinaban la
experimentación estética con la
difusión en torno al accionar de la
Revolución, el film de Pastor Vega se
aleja de las prerrogativas políticas para
adoptar un
estilo abiertamente
vanguardista. La pareja se conforma
como espectadora de diversos
momentos artístico
desfile militar, un museo de cuadros
pictóricos, el abordaje de una joven en
la calle, una obra teatral y un
espectáculo de canto. A par
6
El propio director
catalogó a esta obra como
“un corto dramático experimental” (
BORRERO
, 2007, p. 220).
279
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
conecta directamente con otras
Mediante un enfoque diferente,
aunque manteniendo algunas
similitudes con el ejemplo brasileño,
también fusiona la ficción
dentro de una estruct
ura
Este corto se centra en
una pareja que, en busca de diversión,
recorre la noche en La Habana, lo cual
dispara una serie de situaciones no
concatenadas unas con otras que
terminan por vislumbrar el espíritu
cultural nocturno de la ciudad.
A
diferencia de la mayoría de las
producciones del ICAIC durante este
período, que combinaban la
experimentación estética con la
difusión en torno al accionar de la
Revolución, el film de Pastor Vega se
aleja de las prerrogativas políticas para
estilo abiertamente
vanguardista. La pareja se conforma
como espectadora de diversos
momentos artístico
-culturales: un
desfile militar, un museo de cuadros
pictóricos, el abordaje de una joven en
la calle, una obra teatral y un
espectáculo de canto. A par
tir de un
catalogó a esta obra como
“un corto dramático experimental” (
GARCÍA
, 2007, p. 220).
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
tono irónico y ambiguo, los personajes
comentan las situaciones por medio de
gestos, miradas y palabras sueltas
sin diálogos–
. Asimismo, estos se
encuentran inmersos dentro de un
entramado narrativo laxo que se erige
como una sucesión de cuadros
autónomos, sin clímax y donde la
presencia de voces en
poemáticas desvía al relato del canon
ficcional clásico. En definitiva, la
composición espacio-
temporal y
narrativa así como la configuración del
estatuto del personaje acercan al corto
a una estructura de corte experimental.
Al igual que en el film cuba
en Ana
el modelo cinematográfico de
base parecería ser la ficción, aunque
se trata más precisamente de una
ficción experimental, con el agregado
de insertos documentales. A lo largo
del relato advertimos distintos
momentos escenificados por parte del
p
ersonaje de Ana, alegóricos y
metafóricos, a la par del contexto
político y social que vivía la región. Por
medio de una puesta en escena
singular
tópico que trabajaremos a
continuación a propósito de la
intermedialidad–
, con escaso
movimiento escénico y
sin diálogos,
son las voces en over
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
tono irónico y ambiguo, los personajes
comentan las situaciones por medio de
gestos, miradas y palabras sueltas
. Asimismo, estos se
encuentran inmersos dentro de un
entramado narrativo laxo que se erige
como una sucesión de cuadros
autónomos, sin clímax y donde la
presencia de voces en
over
poemáticas desvía al relato del canon
ficcional clásico. En definitiva, la
temporal y
narrativa así como la configuración del
estatuto del personaje acercan al corto
a una estructura de corte experimental.
Al igual que en el film cuba
no,
el modelo cinematográfico de
base parecería ser la ficción, aunque
se trata más precisamente de una
ficción experimental, con el agregado
de insertos documentales. A lo largo
del relato advertimos distintos
momentos escenificados por parte del
ersonaje de Ana, alegóricos y
metafóricos, a la par del contexto
político y social que vivía la región. Por
medio de una puesta en escena
tópico que trabajaremos a
continuación a propósito de la
, con escaso
sin diálogos,
poéticas y
testimoniales que hablan del pueblo,
de la miseria, de la libertad, de las
torturas y de la solidaridad las que
disparan las intervenciones de Ana y
de una serie de sujetos que asumirán
diversos roles determin
ausencia de diálogos, la incorporación
de otras voces y la (re)presentación de
cuadros autosuficientes son algunos
de los elementos que emparentan a
estos tres primeros ejemplos donde se
rompe con la ficción tradicional;
mientras que la concepción
sujetos-
personajes acogerá
particularidades distintivas que
abordaremos en el último apartado. En
este cortometraje, por momentos el
relato propone la escenificación de
ciertas situaciones relacionadas con la
violencia y la efervescencia social. Po
otros, este se refiere directamente a la
pobreza y a la miseria a través de un
montaje dinámico de imágenes fijas
documentales de los rostros de los
desposeídos mirando a cámara, a la
manera de los films políticos más
panfletarios que intentan provocar u
shock
en el espectador apelando a su
sensibilidad.
Los representantes mexicano y
argentino del corpus parten del
documental para acoplar desde allí a
280
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
testimoniales que hablan del pueblo,
de la miseria, de la libertad, de las
torturas y de la solidaridad las que
disparan las intervenciones de Ana y
de una serie de sujetos que asumirán
diversos roles determin
ados. La
ausencia de diálogos, la incorporación
de otras voces y la (re)presentación de
cuadros autosuficientes son algunos
de los elementos que emparentan a
estos tres primeros ejemplos donde se
rompe con la ficción tradicional;
mientras que la concepción
de los
personajes acogerá
particularidades distintivas que
abordaremos en el último apartado. En
este cortometraje, por momentos el
relato propone la escenificación de
ciertas situaciones relacionadas con la
violencia y la efervescencia social. Po
r
otros, este se refiere directamente a la
pobreza y a la miseria a través de un
montaje dinámico de imágenes fijas
documentales de los rostros de los
desposeídos mirando a cámara, a la
manera de los films políticos más
panfletarios que intentan provocar u
n
en el espectador apelando a su
Los representantes mexicano y
argentino del corpus parten del
documental para acoplar desde allí a
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
los otros modelos cinematográficos.
creación artística: José Luis Cuevas
está centrado en el artista
homónimo, y si bien es catalogado
como un documental dentro de la
corriente del film sobre arte, su
organización interna es más compleja.
El registro documental del proceso
creativo del pintor y la presencia de
sus cuadros se articulan con escena
de índole ficcional y otras semi
documentales; estructura atravesada
por procedimientos experimentales. La
escena inicial del prólogo resume y
anticipa la perspectiva empleada: la
imagen es intervenida mediante el
viraje a negativo de la misma, en
donde un hombre
el propio Cuevas
corre dentro de un supermercado
hasta que es presuntamente
asesinado por una cajera, hecho no
corroborado por el congelamiento del
fotograma. En este sentido, el corto
reúne diferentes situaciones
ficcionales en las que el arti
participa de acciones solitarias y
relaciones interpersonales que
dramatizan temas puntuales, los
cuales se convierten en esbozos e
inspiraciones para sus obras plásticas.
De este modo, algunas de ellas se
construyen a partir de recursos que
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
los otros modelos cinematográficos.
La
creación artística: José Luis Cuevas
está centrado en el artista
plástico
homónimo, y si bien es catalogado
como un documental dentro de la
corriente del film sobre arte, su
organización interna es más compleja.
El registro documental del proceso
creativo del pintor y la presencia de
sus cuadros se articulan con escena
s
de índole ficcional y otras semi
-
documentales; estructura atravesada
por procedimientos experimentales. La
escena inicial del prólogo resume y
anticipa la perspectiva empleada: la
imagen es intervenida mediante el
viraje a negativo de la misma, en
el propio Cuevas
corre dentro de un supermercado
hasta que es presuntamente
asesinado por una cajera, hecho no
corroborado por el congelamiento del
fotograma. En este sentido, el corto
reúne diferentes situaciones
ficcionales en las que el arti
sta
participa de acciones solitarias y
relaciones interpersonales que
dramatizan temas puntuales, los
cuales se convierten en esbozos e
inspiraciones para sus obras plásticas.
De este modo, algunas de ellas se
construyen a partir de recursos que
ponen en e
videncia las huellas
enunciativas: la aceleración de la
imagen y el cambio de eje de la
cámara al poner en escena las
obsesiones del artista y sus manías.
Pero por otro lado, también contamos
con registros semi-
documentales de la
realidad social que se uti
símbolos para sus pinturas. Todas
estas imágenes se amalgaman
entonces con el acto creativo en
mismo y el montaje de las obras
plásticas gracias a la presencia de una
voz en over
narradora.
Grabas
tampoco se erige como
un documental clásico
de forma lineal la vida y obra de los
artistas reunidos bajo el Grupo Grabas
Delia Cugat, Sergio Camporeale,
Pablo Obelar y Daniel Zelaya
bien, del mismo modo que en el film
anterior, los componentes ficcionales
tampoco responden al
tradicional: no hay una acción
dramática en progreso, el relato carece
de clímax, los protagonistas asumen
un rol particular así como los nexos
causales entre las escenas se diluyen,
en esta oportunidad mediante una
estructura episódica sin lazos en
común. Luego de un prólogo que
presenta a los artistas prosiguen
281
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
videncia las huellas
enunciativas: la aceleración de la
imagen y el cambio de eje de la
cámara al poner en escena las
obsesiones del artista y sus manías.
Pero por otro lado, también contamos
documentales de la
realidad social que se uti
lizan como
símbolos para sus pinturas. Todas
estas imágenes se amalgaman
entonces con el acto creativo en
mismo y el montaje de las obras
plásticas gracias a la presencia de una
narradora.
tampoco se erige como
un documental clásico
que desarrolla
de forma lineal la vida y obra de los
artistas reunidos bajo el Grupo Grabas
Delia Cugat, Sergio Camporeale,
Pablo Obelar y Daniel Zelaya
–. Ahora
bien, del mismo modo que en el film
anterior, los componentes ficcionales
tampoco responden al
canon
tradicional: no hay una acción
dramática en progreso, el relato carece
de clímax, los protagonistas asumen
un rol particular así como los nexos
causales entre las escenas se diluyen,
en esta oportunidad mediante una
estructura episódica sin lazos en
común. Luego de un prólogo que
presenta a los artistas prosiguen
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
cuatro bloques temáticos
sobre edificios antiguos y modernos;
un ciego y dos predicadores; la
recolección de basura en la ciudad; el
recorrido de una ambulancia de
noche– para des
embocar en la quinta
y última parte, la cual se exhibe como
una sumatoria sin lógica alguna de las
anteriores. Allí observamos a los
artistas en pleno proceso creativo, y
una cámara que registra las obras
plásticas
como en el corto mexicano
para luego ar
ribar a la última
secuencia que mantiene el mismo
tenor y que da cuenta del carácter
experimental del film: una exposición
de cuadros en una galería donde un
público ciego se comporta de manera
exuberante
trascendiendo el registro
de corte documental– y d
os personas
desnudas que contemplan las obras;
acto performático que se halla en
sintonía con las manifestaciones de la
neovanguardia acaecidas por aquel
entonces.
Dinamismo en el campo cultural
regional: diálogos fértiles entre las
disciplinas artísticas
Los tres patrones de
comparación elegidos están
íntimamente conectados entre sí, y es
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
cuatro bloques temáticos
–una vista
sobre edificios antiguos y modernos;
un ciego y dos predicadores; la
recolección de basura en la ciudad; el
recorrido de una ambulancia de
embocar en la quinta
y última parte, la cual se exhibe como
una sumatoria sin lógica alguna de las
anteriores. Allí observamos a los
artistas en pleno proceso creativo, y
una cámara que registra las obras
como en el corto mexicano
ribar a la última
secuencia que mantiene el mismo
tenor y que da cuenta del carácter
experimental del film: una exposición
de cuadros en una galería donde un
público ciego se comporta de manera
trascendiendo el registro
os personas
desnudas que contemplan las obras;
acto performático que se halla en
sintonía con las manifestaciones de la
neovanguardia acaecidas por aquel
Dinamismo en el campo cultural
regional: diálogos fértiles entre las
Los tres patrones de
comparación elegidos están
íntimamente conectados entre sí, y es
justamente la renovación del campo
cultural y el dinamismo de las esferas
artísticas aquel pilar rector. La
hibridación de modelos
cinematográficos en tanto innovación
estética de la modernidad en el cine da
cuenta de ello, como también la
apropiación de a
lgunos rasgos de
corrientes fílmicas extranjeras
marcaría el mismo rumbo. Ahora bien,
una de las claves del terreno cultural
en este período fue el intercambio
fluido entre las diversas prácticas
artísticas, en las cuales convergía la
intención de moderniz
ello que resulta pertinente pensar la
región desde el concepto de
(GILMAN
, 2003), en tanto conciencia
de una sociedad que comparte un
horizonte esperado de
transformaciones en el campo de la
cultura y que determina el discurso de
lo des
eable. Este proceso de
renovación cultural se vio reflejado en
el desarrollo de nuevos agentes, la
creación de nuevas instituciones, el
fortalecimiento de impulsos artísticos
novedosos y un nuevo público para
estas propuestas (Longoni y Mestman,
2008). De
acuerdo a lo expresado,
dentro de este contexto primó el
contacto directo y productivo entre las
282
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
justamente la renovación del campo
cultural y el dinamismo de las esferas
artísticas aquel pilar rector. La
hibridación de modelos
cinematográficos en tanto innovación
estética de la modernidad en el cine da
cuenta de ello, como también la
lgunos rasgos de
corrientes fílmicas extranjeras
marcaría el mismo rumbo. Ahora bien,
una de las claves del terreno cultural
en este período fue el intercambio
fluido entre las diversas prácticas
artísticas, en las cuales convergía la
intención de moderniz
ación. Es por
ello que resulta pertinente pensar la
región desde el concepto de
época
, 2003), en tanto conciencia
de una sociedad que comparte un
horizonte esperado de
transformaciones en el campo de la
cultura y que determina el discurso de
eable. Este proceso de
renovación cultural se vio reflejado en
el desarrollo de nuevos agentes, la
creación de nuevas instituciones, el
fortalecimiento de impulsos artísticos
novedosos y un nuevo público para
estas propuestas (Longoni y Mestman,
acuerdo a lo expresado,
dentro de este contexto primó el
contacto directo y productivo entre las
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
diferentes tipologías artísticas. En este
sentido, la noción de intermedialidad
describe con claridad dicho fenómeno;
perspectiva teórica que para Óscar
Cornag
o Bernal debe intentar colocar
el foco en “los espacios de contacto,
diálogo e intercambio entre estas [las
tipologías artísticas]” (2004, p. 598).
Según Irina Rajewsky, la
intermedialidad, en un sentido amplio,
puede servir como: “a generic term for
all t
hose phenomena that (as indicated
by the prefix inter) in some way take
place between media” (2005, p. 46).
No obstante, desde un enfoque
particularizado, la autora distingue tres
tipos de relaciones intermediales. En
primer lugar incluye la
transposición
medial
. Allí el texto original es la fuente
para la conformación de un nuevo
producto medial. Se trata de una
concepción genética
intermedialidad. En segunda instancia
señala la
combinación de medios
esta, el nuevo producto medial es el
resultado
de un proceso combinatorio
de dos o más medios convencionales.
Dichos medios se presentan en su
propia materialidad y colaboran en la
producción de significado a su modo.
Puede establecerse una mera
conjunción de medios o una verdadera
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
diferentes tipologías artísticas. En este
sentido, la noción de intermedialidad
describe con claridad dicho fenómeno;
perspectiva teórica que para Óscar
o Bernal debe intentar colocar
el foco en “los espacios de contacto,
diálogo e intercambio entre estas [las
tipologías artísticas]” (2004, p. 598).
Según Irina Rajewsky, la
intermedialidad, en un sentido amplio,
puede servir como: “a generic term for
hose phenomena that (as indicated
by the prefix inter) in some way take
place between media” (2005, p. 46).
No obstante, desde un enfoque
particularizado, la autora distingue tres
tipos de relaciones intermediales. En
transposición
. Allí el texto original es la fuente
para la conformación de un nuevo
producto medial. Se trata de una
de la
intermedialidad. En segunda instancia
combinación de medios
. En
esta, el nuevo producto medial es el
de un proceso combinatorio
de dos o más medios convencionales.
Dichos medios se presentan en su
propia materialidad y colaboran en la
producción de significado a su modo.
Puede establecerse una mera
conjunción de medios o una verdadera
integración. Finalm
ente, la tercera
variante consiste en la
intermedial
. Se trata de la
tematización, la evocación o la
imitación de otro medio y/o sus
técnicas, en donde el medio de
soporte utiliza sus propios
producir sentido. Tanto en la segunda
como en la tercera categoría la
intermedialidad se configura como un
concepto
semiótico
Son estas dos variantes las que
aparecen con mayor fuerza en el
entramado de modernización del
campo cultura
l regional y en el corpus
de obras seleccionado para este
trabajo, donde tomaremos solamente
en cuenta las relaciones intermediales
entre el cine y otras artes.
En Pátio
conceptual y poético que sustenta el
relato mantiene una relación de
ref
erencia intermedial con el
movimiento literario concretista, que
tuvo sus orígenes en Brasil a
mediados de los años cincuenta. Este
movimiento de vanguardia en el
campo de la poesía fue oficializado por
el grupo Noigandres
1952–
de San Pablo en
poesía concreta buscaba,
básicamente, la ruptura con el verso
283
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
ente, la tercera
variante consiste en la
referencia
. Se trata de la
tematización, la evocación o la
imitación de otro medio y/o sus
técnicas, en donde el medio de
soporte utiliza sus propios
medios para
producir sentido. Tanto en la segunda
como en la tercera categoría la
intermedialidad se configura como un
semiótico
-comunicacional.
Son estas dos variantes las que
aparecen con mayor fuerza en el
entramado de modernización del
l regional y en el corpus
de obras seleccionado para este
trabajo, donde tomaremos solamente
en cuenta las relaciones intermediales
entre el cine y otras artes.
el entramado
conceptual y poético que sustenta el
relato mantiene una relación de
erencia intermedial con el
movimiento literario concretista, que
tuvo sus orígenes en Brasil a
mediados de los años cincuenta. Este
movimiento de vanguardia en el
campo de la poesía fue oficializado por
el grupo Noigandres
–formado en
de San Pablo en
1956. La
poesía concreta buscaba,
básicamente, la ruptura con el verso
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
como unidad formal a partir de un
enfoque racionalista que prestara
atención no sólo a la producción de
sentido del lenguaje sino que también
se ocupara del aspecto material
gráfico –g
esto de autorreflexión del
medio eminentemente moderno
este modo, el carácter visual
verbal–
de la poesía se colocaba en
primer plano a través de una particular
disposición de las palabras en el
soporte
que incluso podía trascender
el medio impres
o hacia el video y el
multimedia–
, la utilización de
diferentes colores y tipografías, y la
extensión por fuera del papel. En este
sentido, recursos como el ideograma
signo no lingüístico que representa un
concepto–
, la estructura
verbibocovisual
conjunc
lenguajes que disuelve las fronteras
entre la imagen, el sonido y el sentido
y la metacomunicación son los
recursos principales que empleaba la
poesía concreta,
7
y que el cortometraje
de Rocha se apropió adaptando estas
premisas constructivas al le
cinematográfico. El quiebre de la
7
Para profundizar en los postulados de la
poesía concreta brasileña revisar las tesis
doctorales de Aguilar (2000) y de Souza
(2013).
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
como unidad formal a partir de un
enfoque racionalista que prestara
atención no sólo a la producción de
sentido del lenguaje sino que también
se ocupara del aspecto material
-
esto de autorreflexión del
medio eminentemente moderno
–. De
este modo, el carácter visual
–y
de la poesía se colocaba en
primer plano a través de una particular
disposición de las palabras en el
que incluso podía trascender
o hacia el video y el
, la utilización de
diferentes colores y tipografías, y la
extensión por fuera del papel. En este
sentido, recursos como el ideograma
signo no lingüístico que representa un
, la estructura
conjunc
ión de
lenguajes que disuelve las fronteras
entre la imagen, el sonido y el sentido
y la metacomunicación son los
recursos principales que empleaba la
y que el cortometraje
de Rocha se apropió adaptando estas
premisas constructivas al le
nguaje
cinematográfico. El quiebre de la
Para profundizar en los postulados de la
poesía concreta brasileña revisar las tesis
doctorales de Aguilar (2000) y de Souza
narración canónica a través de una
causalidad débil y la ausencia de
clímax, la falta de diálogos, la
intervención marcada del montaje, la
puesta en relieve del encuadre y el
movimiento autónomo de la cámara
junto a
la presencia de sonidos
disonantes terminan por constituir un
entramado verbibocovisual que resalta
los componentes materiales de la
gramática fílmica: el tiempo, el
espacio, el movimiento, el sonido.
Asimismo, la fragmentación de los
cuerpos de la pareja
centralidad de la mímica y los gestos
sumado a los intermitentes balbuceos
podrían erigirse como ideogramas
cuya producción de sentido se
vislumbra de forma conceptual y
polisémica. Finalmente, bajo la
combinación de medios, el arte de la
danza también estaría presente de
manera intermedial, ya que el
movimiento de expresión corporal de
los personajes sobre el espacio
escénico es el motor significante
medular del cortometraje.
Con la Revolución en 1959
Cuba vivió un despertar cultural en
t
érminos globales. A la creación
temprana del ICAIC le siguieron otras
entidades que marcaron un origen. En
284
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
narración canónica a través de una
causalidad débil y la ausencia de
clímax, la falta de diálogos, la
intervención marcada del montaje, la
puesta en relieve del encuadre y el
movimiento autónomo de la cámara
la presencia de sonidos
disonantes terminan por constituir un
entramado verbibocovisual que resalta
los componentes materiales de la
gramática fílmica: el tiempo, el
espacio, el movimiento, el sonido.
Asimismo, la fragmentación de los
cuerpos de la pareja
protagónica, la
centralidad de la mímica y los gestos
sumado a los intermitentes balbuceos
podrían erigirse como ideogramas
cuya producción de sentido se
vislumbra de forma conceptual y
polisémica. Finalmente, bajo la
combinación de medios, el arte de la
danza también estaría presente de
manera intermedial, ya que el
movimiento de expresión corporal de
los personajes sobre el espacio
escénico es el motor significante
medular del cortometraje.
Con la Revolución en 1959
Cuba vivió un despertar cultural en
érminos globales. A la creación
temprana del ICAIC le siguieron otras
entidades que marcaron un origen. En
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
1961 se fundó
el Consejo Nacional de
Cultura, organismo fundamental del
programa cultural de la Revolución, y
la Unión de Escritores y Artistas de
Cu
ba (UNEAC), comandada por el
poeta Nicolás Guillén, la cual se
conformó como un espacio clave para
la intelectualidad. Un año más tarde se
creó la Escuela Nacional de Arte
(ENA), tendiente a la enseñanza en las
ramas del ballet, la música, el arte
dramátic
o y las artes plásticas. En
cuanto a las relaciones intermediales
dentro del campo cinematográfico, fue
desde “el ICAIC que se promovió una
corriente de arte y cultura en un
sentido amplio y heterogéneo,
siguiendo los lineamientos generales
de la Revolució
n y poniendo el acento
en la valorización de lo nacional”
(COSSALTER
, 2018b, p. 26). Dentro
de este contexto sobresalen aquellos
cortometrajes donde el foco de
atención se coloca en el arte
dramático, tal como sucede en el
ejemplo del corpus,
En la noche
Algunos de estos casos son:
traduce al mar
(Oscar Valdés y
Humberto Solás, 1962), articulación
experimental entre poemas de José
Lezama Lima y una danza proferida
por dos bailarines frente al mar;
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
el Consejo Nacional de
Cultura, organismo fundamental del
programa cultural de la Revolución, y
la Unión de Escritores y Artistas de
ba (UNEAC), comandada por el
poeta Nicolás Guillén, la cual se
conformó como un espacio clave para
la intelectualidad. Un año más tarde se
creó la Escuela Nacional de Arte
(ENA), tendiente a la enseñanza en las
ramas del ballet, la música, el arte
o y las artes plásticas. En
cuanto a las relaciones intermediales
dentro del campo cinematográfico, fue
desde “el ICAIC que se promovió una
corriente de arte y cultura en un
sentido amplio y heterogéneo,
siguiendo los lineamientos generales
n y poniendo el acento
en la valorización de lo nacional”
, 2018b, p. 26). Dentro
de este contexto sobresalen aquellos
cortometrajes donde el foco de
atención se coloca en el arte
dramático, tal como sucede en el
En la noche
.
Algunos de estos casos son:
Minerva
(Oscar Valdés y
Humberto Solás, 1962), articulación
experimental entre poemas de José
Lezama Lima y una danza proferida
por dos bailarines frente al mar;
Historia de un ballet (suite yoruba)
(José Massip,
1962), registro
audiovisual de los ensayos y una
puesta en escena llevada a cabo por el
Teatro Nacional;
Escuela de arte
(Bernabé Hernández, 1965),
documental en torno a la Escuela de
Ballet de las Escuelas Nacionales de
Arte de Cubanacán. El film breve de
Pastor Vega aquí contemplado
mantiene una relación intermedial
directa con el teatro, no sólo por medio
de la combinación de medios con la
inclusión en el relato de una pieza
teatral, sino también a través de la
apropiación cinematográfica de ciertos
recu
rsos de la puesta en escena
teatral.
8
En cuanto a esta última línea
podemos apreciar que el uso del
blanco y negro, la presencia de una
iluminación exigua que conforma un
espacio cerrado y autosuficiente,
encuadres frontales y el empleo
mínimo de movimient
únicamente para reencuadrar a los
personajes–
determinan en las
8
Cabe destacar que Pastor Ve
participado hasta el año 1961 del grupo Teatro
Estudio creado en 1958, que con el
advenimiento de la Revolución asumió un rol
destacado para llevar a la escena los
problemas sociales imperantes. De allí
proviene entonces esta imbricación entre el
teatro y el cine en el corto
285
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
Historia de un ballet (suite yoruba)
1962), registro
audiovisual de los ensayos y una
puesta en escena llevada a cabo por el
Escuela de arte
(Bernabé Hernández, 1965),
documental en torno a la Escuela de
Ballet de las Escuelas Nacionales de
Arte de Cubanacán. El film breve de
Pastor Vega aquí contemplado
mantiene una relación intermedial
directa con el teatro, no sólo por medio
de la combinación de medios con la
inclusión en el relato de una pieza
teatral, sino también a través de la
apropiación cinematográfica de ciertos
rsos de la puesta en escena
En cuanto a esta última línea
podemos apreciar que el uso del
blanco y negro, la presencia de una
iluminación exigua que conforma un
espacio cerrado y autosuficiente,
encuadres frontales y el empleo
mínimo de movimient
os de cámara
únicamente para reencuadrar a los
determinan en las
Cabe destacar que Pastor Ve
ga había
participado hasta el año 1961 del grupo Teatro
Estudio creado en 1958, que con el
advenimiento de la Revolución asumió un rol
destacado para llevar a la escena los
problemas sociales imperantes. De allí
proviene entonces esta imbricación entre el
teatro y el cine en el corto
En la noche.
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
distintas situaciones una composición
del cuadro netamente teatral; en
compañía con la construcción
particular del estatuto de personaje
que analizaremos en la última sección
de
este trabajo. En derredor a los
personajes protagónicos, estos se
erigen como espectadores de los
diferentes momentos culturales
teatrales, y en la obra propiamente
dicha se convierten al mismo tiempo
en espectadores y actores de esa
pieza.
Al igual que e
l corto cubano, el
film chileno evidencia una vinculación
estrecha con el teatro y guarda
algunas similitudes composicionales
con aquel. En relación al contexto de
renovación, el cine y el teatro
compartieron algunos espacios en
común en el país andino: el
universitario. Tal como hemos
expresado, el Centro de Cine
Experimental fue puesto en marcha en
1957. Este se convirtió, junto al
Instituto Fílmico de la Universidad
Católica, en un faro de la
modernización cinematográfica hasta
su cierre con el go
lpe de Estado de
1973. La transformación teatral chilena
comenzó varios años antes de la mano
del Teatro Experimental de la
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
distintas situaciones una composición
del cuadro netamente teatral; en
compañía con la construcción
particular del estatuto de personaje
que analizaremos en la última sección
este trabajo. En derredor a los
personajes protagónicos, estos se
erigen como espectadores de los
diferentes momentos culturales
-
teatrales, y en la obra propiamente
dicha se convierten al mismo tiempo
en espectadores y actores de esa
l corto cubano, el
film chileno evidencia una vinculación
estrecha con el teatro y guarda
algunas similitudes composicionales
con aquel. En relación al contexto de
renovación, el cine y el teatro
compartieron algunos espacios en
común en el país andino: el
ámbito
universitario. Tal como hemos
expresado, el Centro de Cine
Experimental fue puesto en marcha en
1957. Este se convirtió, junto al
Instituto Fílmico de la Universidad
Católica, en un faro de la
modernización cinematográfica hasta
lpe de Estado de
1973. La transformación teatral chilena
comenzó varios años antes de la mano
del Teatro Experimental de la
Universidad de Chile en 1941. Un
grupo de estudiantes proponía esta
renovación a partir de un teatro
profesional no comercial, a tra
creación de una escuela de formación,
la gestación de un nuevo actor que
representara la época y la estimulación
de la producción dramática chilena.
Asimismo se basó en la difusión del
teatro clásico y moderno, y la
postulación de nuevos valores.
Teatro Ensayo de la Universidad
Católica también reflejó ciertas
mutaciones, como por ejemplo la
opción por una estética pobre
de montajes espectaculares
cuerpo y la actuación se posicionaban
en un primer plano. A su vez, debemos
sum
ar a la escena los grupos de teatro
independiente, fundamentalmente el
ICTUS, fundado a mediados de los
años cincuenta, caracterizado como
verdadero grupo experimental que
indaga en el humor, la sátira, el
absurdo, y que hacia mediados de la
década del ses
enta incorporó el
método de la creación colectiva y
colocó un mayor peso en la crítica
política tomando procedimientos del
teatro épico brechtiano. Aquí se
destacan las obras de Jorge Díaz.
Helvio Soto, director de
286
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
Universidad de Chile en 1941. Un
grupo de estudiantes proponía esta
renovación a partir de un teatro
profesional no comercial, a tra
vés de la
creación de una escuela de formación,
la gestación de un nuevo actor que
representara la época y la estimulación
de la producción dramática chilena.
Asimismo se basó en la difusión del
teatro clásico y moderno, y la
postulación de nuevos valores.
El
Teatro Ensayo de la Universidad
Católica también reflejó ciertas
mutaciones, como por ejemplo la
opción por una estética pobre
–carente
de montajes espectaculares
donde el
cuerpo y la actuación se posicionaban
en un primer plano. A su vez, debemos
ar a la escena los grupos de teatro
independiente, fundamentalmente el
ICTUS, fundado a mediados de los
años cincuenta, caracterizado como
verdadero grupo experimental que
indaga en el humor, la sátira, el
absurdo, y que hacia mediados de la
enta incorporó el
método de la creación colectiva y
colocó un mayor peso en la crítica
política tomando procedimientos del
teatro épico brechtiano. Aquí se
destacan las obras de Jorge Díaz.
Helvio Soto, director de
Ana, tenía una
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
afición particular por el teatro y en este
film aparecen entrelazados algunos de
estos elementos de la renovación. En
el corto la puesta en escena funde lo
teatral con lo cinematográfico a partir
de, principalmente, una combinación
de medios, aunque tambié
produce una referencia intermedial,
como en el caso anterior. En este
sentido, contamos con un fondo negro
que conforma un espacio abstracto e
indeterminado en el cual, frente a
cámara, se posicionan los personajes,
y en donde justamente el cuerpo y l
actuación sobresalen. En esta senda,
asistimos a distintos tipos y cambios
de iluminación, como la penumbra y la
oscuridad completa. Asimismo, la
utilización de máscaras es un
elemento profundamente teatral. Por
otro lado, determinados recursos
cinematog
ráficos colaboran en la
creación de un ambiente teatral y en la
focalización exacerbada del gesto
corporal del actor: movimientos de
cámara poco habituales
para pasar de una situación a otra;
encuadres pronunciados
primerísimos planos–
; la au
parlamentos pero un cierto diálogo
entre las voces narrativas y la tenue
mímica de Ana; y el empleo reiterado y
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
afición particular por el teatro y en este
film aparecen entrelazados algunos de
estos elementos de la renovación. En
el corto la puesta en escena funde lo
teatral con lo cinematográfico a partir
de, principalmente, una combinación
de medios, aunque tambié
n se
produce una referencia intermedial,
como en el caso anterior. En este
sentido, contamos con un fondo negro
que conforma un espacio abstracto e
indeterminado en el cual, frente a
cámara, se posicionan los personajes,
y en donde justamente el cuerpo y l
a
actuación sobresalen. En esta senda,
asistimos a distintos tipos y cambios
de iluminación, como la penumbra y la
oscuridad completa. Asimismo, la
utilización de máscaras es un
elemento profundamente teatral. Por
otro lado, determinados recursos
ráficos colaboran en la
creación de un ambiente teatral y en la
focalización exacerbada del gesto
corporal del actor: movimientos de
cámara poco habituales
–circulares–
para pasar de una situación a otra;
encuadres pronunciados
; la au
sencia de
parlamentos pero un cierto diálogo
entre las voces narrativas y la tenue
mímica de Ana; y el empleo reiterado y
repetitivo del
zoom
acercamiento hacia el rostro de la
protagonista.
Finalmente, los ejemplos
mexicano y argentino no sólo
co
mparten la imbricación del
documental y una estructura
experimental sino también la disciplina
a la cual se abocan: las artes visuales.
Lo que sucede en el corto mexicano es
interesante, puesto que José Luis
Cuevas, el protagonista y figura central
del fil
m, era uno de los máximos
exponentes de la Generación de la
Ruptura en México, movimiento de
artistas plásticos que en las décadas
del cincuenta y sesenta habían
quebrado sus lazos con la Escuela
Mexicana de Pintura
por el muralismo, su nacio
exacerbado y un brío revolucionario
por medio de una ruptura formal
sustentada en la abstracción y el
neofigurativismo expresivo. Artistas
como Alberto Gironella, Vicente Rojo,
Lilia Carillo, entre otros, fueron algunos
de los referentes de este p
internacionalista gestado por fuera de
los canales oficiales. Es decir, la
modernización cultural de las artes
plásticas fue contemporánea a la
renovación cinematográfica. El cine no
287
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
zoom
en ese
acercamiento hacia el rostro de la
Finalmente, los ejemplos
mexicano y argentino no sólo
mparten la imbricación del
documental y una estructura
experimental sino también la disciplina
a la cual se abocan: las artes visuales.
Lo que sucede en el corto mexicano es
interesante, puesto que José Luis
Cuevas, el protagonista y figura central
m, era uno de los máximos
exponentes de la Generación de la
Ruptura en México, movimiento de
artistas plásticos que en las décadas
del cincuenta y sesenta habían
quebrado sus lazos con la Escuela
Mexicana de Pintura
–representada
por el muralismo, su nacio
nalismo
exacerbado y un brío revolucionario
por medio de una ruptura formal
sustentada en la abstracción y el
neofigurativismo expresivo. Artistas
como Alberto Gironella, Vicente Rojo,
Lilia Carillo, entre otros, fueron algunos
de los referentes de este p
roceso
internacionalista gestado por fuera de
los canales oficiales. Es decir, la
modernización cultural de las artes
plásticas fue contemporánea a la
renovación cinematográfica. El cine no
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
sólo tematizó estas innovaciones
artísticas sino que en este caso
presentó a partir de una propuesta
también innovadora. Por un lado, la
intermedialidad entre el cine y la
plástica se asienta en la observación
del proceso creativo del artista.
creación artística: José Luis Cuevas
pone en escena al propio Cuevas en
acto mismo de confección de la obra
artística. Lo fílmico y lo plástico se
vislumbran como dos fenómenos que
se desarrollan de forma paralela y
simultánea. Por otro lado, las pinturas
y dibujos realizados por el artista
conquistan un lugar determinante
dentro del relato. A través de un
montaje rítmico se suceden las
pinturas de manera tal que estas
ocupan la totalidad del cuadro fílmico.
En este punto, una serie de conceptos
pueden ser útiles para aproximarse a
la relación intermedial entre estas dos
di
sciplinas. En primer lugar, la noción
de cineplástica
acuñada por Elie Faure
(1956), término que alude tanto a la
plasticidad del cine como a la
posibilidad de reinventar la plástica
gracias a las potencialidades de la
cámara. Las técnicas de un medio
pote
ncian el sentido producido por el
otro. En segunda instancia, y
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
sólo tematizó estas innovaciones
artísticas sino que en este caso
las
presentó a partir de una propuesta
también innovadora. Por un lado, la
intermedialidad entre el cine y la
plástica se asienta en la observación
del proceso creativo del artista.
La
creación artística: José Luis Cuevas
pone en escena al propio Cuevas en
el
acto mismo de confección de la obra
artística. Lo fílmico y lo plástico se
vislumbran como dos fenómenos que
se desarrollan de forma paralela y
simultánea. Por otro lado, las pinturas
y dibujos realizados por el artista
conquistan un lugar determinante
dentro del relato. A través de un
montaje rítmico se suceden las
pinturas de manera tal que estas
ocupan la totalidad del cuadro fílmico.
En este punto, una serie de conceptos
pueden ser útiles para aproximarse a
la relación intermedial entre estas dos
sciplinas. En primer lugar, la noción
acuñada por Elie Faure
(1956), término que alude tanto a la
plasticidad del cine como a la
posibilidad de reinventar la plástica
gracias a las potencialidades de la
cámara. Las técnicas de un medio
ncian el sentido producido por el
otro. En segunda instancia, y
estrechamente conectado con lo
anterior, algunos postulados
planteados por Pascal Bonitzer (2007)
en la correlación entre el cine y la
pintura son igualmente pertinentes
para analizar estas se
corto: el cuadro, el plano
desencuadre. De este modo, la
autosuficiencia del cuadro
sentido doble–
borra los límites entre
el cine y la plástica. Asimismo, la
fragmentación de las obras generada
por los movimientos de cámara
recorrerlas y los respectivos
reencuadres señalan una vez más, y
de forma experimental, el fuerte
vínculo de asociación que adoptan
estos dos medios artísticos en dicho
film.
Grabas
mantiene algunos
puntos en común con el corto
mexicano en cuanto a la
del proceso creativo y el producto
artístico concluido. En esta
oportunidad la esfera artística referida
es el grabado. El Grupo Grabas,
colectivo sobre el cual versa el film, se
inserta dentro de la renovación que
esta disciplina visual había
a desarrollar desde mediados de los
años cincuenta. Otro colectivo visual
que tuvo un despliegue análogo en
288
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
estrechamente conectado con lo
anterior, algunos postulados
planteados por Pascal Bonitzer (2007)
en la correlación entre el cine y la
pintura son igualmente pertinentes
para analizar estas se
cuencias del
corto: el cuadro, el plano
-cuadro y el
desencuadre. De este modo, la
autosuficiencia del cuadro
–en un
borra los límites entre
el cine y la plástica. Asimismo, la
fragmentación de las obras generada
por los movimientos de cámara
al
recorrerlas y los respectivos
reencuadres señalan una vez más, y
de forma experimental, el fuerte
vínculo de asociación que adoptan
estos dos medios artísticos en dicho
mantiene algunos
puntos en común con el corto
mexicano en cuanto a la
mostración
del proceso creativo y el producto
artístico concluido. En esta
oportunidad la esfera artística referida
es el grabado. El Grupo Grabas,
colectivo sobre el cual versa el film, se
inserta dentro de la renovación que
esta disciplina visual había
comenzado
a desarrollar desde mediados de los
años cincuenta. Otro colectivo visual
que tuvo un despliegue análogo en
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
este período fue Arte Gráfico
Buenos Aires, el cual articuló la
tradición gráfica con la
experimentación. A propósito de este
contex
to de modernización Silvia
Dolinko expresa que: “el grabado
argentino de los sesenta sostuvo una
ruptura o discusión con su propio
canon, transitando por un inédito nivel
de experimentación en relación con
sus convenciones y parámetros
históricos, renovand
o y cuestionando
los estatutos de la imagen gráfica, sus
posibilidades cnicas, sus poéticas,
sus vías de difusión” (2012, p. 13). El
recurso del collage
, la abstracción y la
intención de trascender los lindes del
marco tradicional constituyen las
cualida
des medulares de este nuevo
grabado. Ahora bien, estos mismos
rasgos se trasladan a la relación
intermedial entre el cine y el grabado
en el corto de Valsecchi. En este
sentido, se establece en primer lugar
una referencia intermedial, ya que se
imitan técn
icas de un medio
grabado–
a través de procedimientos
de otro medio –el cine–
. De acuerdo a
lo señalado con anterioridad, la
estructura del film es episódica y se
conforma como un
collage
elementos bien heterogéneos. En
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
este período fue Arte Gráfico
-Grupo
Buenos Aires, el cual articuló la
tradición gráfica con la
experimentación. A propósito de este
to de modernización Silvia
Dolinko expresa que: “el grabado
argentino de los sesenta sostuvo una
ruptura o discusión con su propio
canon, transitando por un inédito nivel
de experimentación en relación con
sus convenciones y parámetros
o y cuestionando
los estatutos de la imagen gráfica, sus
posibilidades cnicas, sus poéticas,
sus vías de difusión” (2012, p. 13). El
, la abstracción y la
intención de trascender los lindes del
marco tradicional constituyen las
des medulares de este nuevo
grabado. Ahora bien, estos mismos
rasgos se trasladan a la relación
intermedial entre el cine y el grabado
en el corto de Valsecchi. En este
sentido, se establece en primer lugar
una referencia intermedial, ya que se
icas de un medio
–el
a través de procedimientos
. De acuerdo a
lo señalado con anterioridad, la
estructura del film es episódica y se
collage
de
elementos bien heterogéneos. En
cuanto al contenido semántico
estos bloques, si bien no se
constituyen explícitamente desde la
abstracción, las relaciones asociativas
ilógicas generan un entramado de
difícil comprensión. A su vez, la
exposición final de corte performática
puede analizarse bajo esta línea de
creaci
ón estética por fuera de los
límites del marco. Por otra parte, la
intermedialidad a través de la
combinación de medios caracteriza a
las escenas que apuntan a visibilizar
tanto el proceso creativo como la obra
plástica. En el quinto episodio los
cuatro ar
tistas se encuentran en el
taller, y el acto creativo se exhibe de
forma experimental. “Al comienzo,
cada uno se halla en una situación
autónoma. Después, todos combinan
sus tareas en una actividad conjunta la
cual se repite con pequeñas
variaciones: cambi
a el motivo del
grabado, el sujeto que maneja la
máquina, la persona que cuelga los
grabados, quien descansa fumando un
cigarrillo” (
COSSALTER
16). Luego, al igual que en el film
mexicano, el encuadre y el montaje
son los procedimientos
cinemato
gráficos centrales para poner
en escena a las obras artísticas. En
289
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
cuanto al contenido semántico
de
estos bloques, si bien no se
constituyen explícitamente desde la
abstracción, las relaciones asociativas
ilógicas generan un entramado de
difícil comprensión. A su vez, la
exposición final de corte performática
puede analizarse bajo esta línea de
ón estética por fuera de los
límites del marco. Por otra parte, la
intermedialidad a través de la
combinación de medios caracteriza a
las escenas que apuntan a visibilizar
tanto el proceso creativo como la obra
plástica. En el quinto episodio los
tistas se encuentran en el
taller, y el acto creativo se exhibe de
forma experimental. “Al comienzo,
cada uno se halla en una situación
autónoma. Después, todos combinan
sus tareas en una actividad conjunta la
cual se repite con pequeñas
a el motivo del
grabado, el sujeto que maneja la
máquina, la persona que cuelga los
grabados, quien descansa fumando un
COSSALTER
, 2017a, p.
16). Luego, al igual que en el film
mexicano, el encuadre y el montaje
son los procedimientos
gráficos centrales para poner
en escena a las obras artísticas. En
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
principio, la cámara efectúa un paneo
sobre los grabados de contenido
abstracto que surgieron como
resultado del proceso creativo
mostrado. Finalmente, presenciamos
un montaje de diversas o
cuales conquistan el cuadro fílmico en
su completitud.
Desintegración del estatuto del
personaje canónico: de la opacidad
a lo performático
El tercer y último rango de
contraste está directamente vinculado
a los otros dos. La ruptura con
respec
to a la concepción tradicional
del personaje responde, por un lado, a
la hibridación de los modelos
cinematográficos, puesto que
mismo el personaje en la ficción que
en el documental y mucho menos en
estos productos mixtos; y por el otro, al
conte
xto intermedial, a través de la
incorporación de una actitud
performática
práctica artística propia
de la neovanguardia en desarrollo
durante los años sesenta y
característica nodal del teatro
posdramático (LEHMANN
, 2002)
este sentido, aquello que se
desprende de dicha praxis es la
centralidad del cuerpo del actor. Como
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
principio, la cámara efectúa un paneo
sobre los grabados de contenido
abstracto que surgieron como
resultado del proceso creativo
mostrado. Finalmente, presenciamos
un montaje de diversas o
bras, las
cuales conquistan el cuadro fílmico en
Desintegración del estatuto del
personaje canónico: de la opacidad
El tercer y último rango de
contraste está directamente vinculado
a los otros dos. La ruptura con
to a la concepción tradicional
del personaje responde, por un lado, a
la hibridación de los modelos
cinematográficos, puesto que
no es lo
mismo el personaje en la ficción que
en el documental y mucho menos en
estos productos mixtos; y por el otro, al
xto intermedial, a través de la
incorporación de una actitud
práctica artística propia
de la neovanguardia en desarrollo
durante los años sesenta y
característica nodal del teatro
, 2002)
–. En
este sentido, aquello que se
desprende de dicha praxis es la
centralidad del cuerpo del actor. Como
bien señala Alicia Aisemberg: “ya no
se concibe al actor como
representante sino como un productor
de presentaciones, por lo cual el
acento se coloca en la presencia
material y en la d
imensión corporal”
(2016, p. 27). No obstante, surge un
interrogante a partir del análisis del
corpus audiovisual contemplado. Las
transformaciones en el estatuto de
personaje que podemos vislumbrar,
¿derivan de una ruptura con las
formas de actuación de c
simplemente se trata de una
construcción que se enmarca dentro
de un entorno narrativo
experimental y no convencional al que
se suma el gesto paradójico del
registro audiovisual de lo performático
en tanto carácter irrepetible? Qu
ambas variables estén presentes en
distintos matices.
Con el objeto de enriquecer el
análisis de este parámetro en los
cortometrajes modernos
latinoamericanos tomamos algunas de
las reflexiones que propone Karina
Mauro acerca del realismo, la
actuac
ión teatral y sus particularidades
en el campo del cine.
9
En torno a este tópico se recomienda la
lectura de:
Mauro (2014, 2015, 2016 y 2017).
290
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
bien señala Alicia Aisemberg: “ya no
se concibe al actor como
representante sino como un productor
de presentaciones, por lo cual el
acento se coloca en la presencia
imensión corporal”
(2016, p. 27). No obstante, surge un
interrogante a partir del análisis del
corpus audiovisual contemplado. Las
transformaciones en el estatuto de
personaje que podemos vislumbrar,
¿derivan de una ruptura con las
formas de actuación de c
orte realista o
simplemente se trata de una
construcción que se enmarca dentro
de un entorno narrativo
-expresivo
experimental y no convencional al que
se suma el gesto paradójico del
registro audiovisual de lo performático
en tanto carácter irrepetible? Qu
izás
ambas variables estén presentes en
Con el objeto de enriquecer el
análisis de este parámetro en los
cortometrajes modernos
latinoamericanos tomamos algunas de
las reflexiones que propone Karina
Mauro acerca del realismo, la
ión teatral y sus particularidades
en el campo del cine.
9
En el teatro
En torno a este tópico se recomienda la
Mauro (2014, 2015, 2016 y 2017).
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
realista, “el personaje pasaa ocupar
el lugar central como fundamento de la
verosimilitud (y por ende, de la
transparencia de la representación). El
personaje adquiere entonces
carac
terísticas como entidad biográfica
ficticia, provista de vida pasada y
presente, de rasgos físicos y
psicológicos precisos” (
MAURO
p. 530). Estas premisas se trasladan
de modo análogo a la ficción
cinematográfica tradicional de
características simil
ares. No obstante,
en los films breves del corpus la ficción
no se presenta de forma pura, esta se
desvía del canon tradicional y la
puesta en escena abandona la
transparencia enunciativa. En esta
senda, el personaje no configura una
composición psicologis
ta que reduzca
al mínimo su carácter
autorrepresentativo, pero no por ello
deja de ser necesariamente una
actuación de corte realista. Es cierto
que, de algún modo, en todos estos
ejemplos el enunciador externo se
manifiesta como un partícipe explícito
en
la construcción de los personajes y
que no siempre hay una indiferencia o
atenuación del actor ante el dispositivo
técnico –
postulados que rompen con el
naturalismo– (MAURO
, 2014). El punto
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
realista, “el personaje pasaa ocupar
el lugar central como fundamento de la
verosimilitud (y por ende, de la
transparencia de la representación). El
personaje adquiere entonces
terísticas como entidad biográfica
ficticia, provista de vida pasada y
presente, de rasgos físicos y
MAURO
, 2017,
p. 530). Estas premisas se trasladan
de modo análogo a la ficción
cinematográfica tradicional de
ares. No obstante,
en los films breves del corpus la ficción
no se presenta de forma pura, esta se
desvía del canon tradicional y la
puesta en escena abandona la
transparencia enunciativa. En esta
senda, el personaje no configura una
ta que reduzca
al mínimo su carácter
autorrepresentativo, pero no por ello
deja de ser necesariamente una
actuación de corte realista. Es cierto
que, de algún modo, en todos estos
ejemplos el enunciador externo se
manifiesta como un partícipe explícito
la construcción de los personajes y
que no siempre hay una indiferencia o
atenuación del actor ante el dispositivo
postulados que rompen con el
, 2014). El punto
clave reside en la capacidad de
disociar una actuación de índole
r
ealista de un efecto de carácter
realista. Como bien señala la autora:
“un enunciado puede percibirse como
realista
(es decir, poseer un efecto de
sentido tal) aun cuando sus elementos
constructivos o el tipo de actuación
empleado no se correspondan
estric
tamente con los postulados del
realismo como género o de la
metodología stanislavskiana. Lo cual
también admite la aseveración inversa”
(MAURO
, 2017, p. 528). Es decir que,
bien podemos hallar una actuación
realista de la mano de la conformación
de un pers
onaje opaco dentro de una
propuesta experimental que se aleja
de la norma. O asistir, como en
algunos de los cortos abordados, a
una alternancia de diversas posiciones
actorales dentro de una misma
estructura enunciativa. Por último, una
característica dis
tintiva de la actuación
cinematográfica con respecto a la
teatral le aporta un grado más de
complejidad a la relación que se
establece entre la actuación, el
personaje y la puesta en escena.
Nuevamente en palabras de Mauro:
“en el cine es el director quien
terminará de construir la actuación a
291
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
clave reside en la capacidad de
disociar una actuación de índole
ealista de un efecto de carácter
realista. Como bien señala la autora:
“un enunciado puede percibirse como
(es decir, poseer un efecto de
sentido tal) aun cuando sus elementos
constructivos o el tipo de actuación
empleado no se correspondan
tamente con los postulados del
realismo como género o de la
metodología stanislavskiana. Lo cual
también admite la aseveración inversa”
, 2017, p. 528). Es decir que,
bien podemos hallar una actuación
realista de la mano de la conformación
onaje opaco dentro de una
propuesta experimental que se aleja
de la norma. O asistir, como en
algunos de los cortos abordados, a
una alternancia de diversas posiciones
actorales dentro de una misma
estructura enunciativa. Por último, una
tintiva de la actuación
cinematográfica con respecto a la
teatral le aporta un grado más de
complejidad a la relación que se
establece entre la actuación, el
personaje y la puesta en escena.
Nuevamente en palabras de Mauro:
“en el cine es el director quien
terminará de construir la actuación a
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
partir de la manipulación del material
obtenido en la situación de actuación,
esgrimiéndose por consiguiente como
el mediador entre la acción actoral y la
actuación” (2016, p. 14). En el terreno
cinematográfico la med
ejercen el director y la cámara, así
como la injerencia ineludible del
montaje, ofrecen un abanico singular
de posibilidades para organizar los
vínculos entre el actor, el personaje y
el entorno en el que se insertan. En
este sentido, encontramo
corpus distintos niveles a propósito del
estatuto de personaje que rompen con
la concepción psicológica tradicional y
que responden a esta reflexión y
experimentación moderna en términos
generales.
En Ana
, la puesta en escena es
discontinua, tiene
interrupciones
trata de una sucesión de situaciones
y en este marco no se atenúa por
completo la presencia del actor. Sin
embargo, no alcanza a ser
performático. Por un lado, contamos
con el personaje de Ana que se
mantiene casi estática en ese espac
abstracto, con poca gestualidad, cierta
inexpresividad y sin diálogos; pero que
a pesar de erigirse como una entidad
opaca cuyos rasgos psicológicos no se
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
partir de la manipulación del material
obtenido en la situación de actuación,
esgrimiéndose por consiguiente como
el mediador entre la acción actoral y la
actuación” (2016, p. 14). En el terreno
cinematográfico la med
iación que
ejercen el director y la cámara, así
como la injerencia ineludible del
montaje, ofrecen un abanico singular
de posibilidades para organizar los
vínculos entre el actor, el personaje y
el entorno en el que se insertan. En
este sentido, encontramo
s en el
corpus distintos niveles a propósito del
estatuto de personaje que rompen con
la concepción psicológica tradicional y
que responden a esta reflexión y
experimentación moderna en términos
, la puesta en escena es
interrupciones
–se
trata de una sucesión de situaciones
y en este marco no se atenúa por
completo la presencia del actor. Sin
embargo, no alcanza a ser
performático. Por un lado, contamos
con el personaje de Ana que se
mantiene casi estática en ese espac
io
abstracto, con poca gestualidad, cierta
inexpresividad y sin diálogos; pero que
a pesar de erigirse como una entidad
opaca cuyos rasgos psicológicos no se
exhiben con claridad, se ofrece en
tanto un personaje con una dimensión
representacional, que esce
forma alegórica diversas problemáticas
políticas de la región. Por el otro,
emergen diferentes sujetos que se
manifiestan bajo la condición de roles
sacerdotes, monjas, un fusilado
cuyas acciones, al igual que las
desplegadas por Ana, cobran se
partir del discurso de las voces
narradoras. Son entonces actuaciones
realistas que componen personajes
desviados del modelo tradicional en un
relato híbrido y autorreflexivo donde el
cine dialoga estrechamente con el arte
teatral. De un modo simil
los personajes centrales de
noche
. Al igual que en el corto chileno,
aquí la pareja protagónica transita por
diversas situaciones
culturales–
en espacios propiamente
teatrales y en otros donde la puesta en
escena evidencia
teatral
. Sin diálogos convencionales
con la sola presencia de voces en
que materializan sus pensamientos
ellos se configuran en tanto
personajes-
espectadores hasta que,
en un gesto autorreflexivo y
metatextual, se convierten en
personajes-
actores de la obra a la cual
292
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
exhiben con claridad, se ofrece en
tanto un personaje con una dimensión
representacional, que esce
nifica de
forma alegórica diversas problemáticas
políticas de la región. Por el otro,
emergen diferentes sujetos que se
manifiestan bajo la condición de roles
sacerdotes, monjas, un fusilado
cuyas acciones, al igual que las
desplegadas por Ana, cobran se
ntido a
partir del discurso de las voces
narradoras. Son entonces actuaciones
realistas que componen personajes
desviados del modelo tradicional en un
relato híbrido y autorreflexivo donde el
cine dialoga estrechamente con el arte
teatral. De un modo simil
ar se revelan
los personajes centrales de
En la
. Al igual que en el corto chileno,
aquí la pareja protagónica transita por
diversas situaciones
–en este caso
en espacios propiamente
teatrales y en otros donde la puesta en
una atmosfera
. Sin diálogos convencionales
con la sola presencia de voces en
over
que materializan sus pensamientos
ellos se configuran en tanto
espectadores hasta que,
en un gesto autorreflexivo y
metatextual, se convierten en
actores de la obra a la cual
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
asisten. No obstante estas
particularidades, la actuación
empleada es netamente realista.
En los ejemplos mexicano y
argentino, que combinan el
documental con el cine experimental,
podemos observar otras modalidades
tanto
de actuación como del estatuto
de personaje.
La creación artística:
José Luis Cuevas
deja entrever dos
tipos de construcción alternas. En
primer lugar, sobresale el carácter
performático del propio Cuevas en el
acontecimiento mismo de la creación
artística y su registro documental
pintando–
. Es entonces el artista en
tanto artista el
que pone el cuerpo y se
presenta
en lugar de
aunque como hemos expresado
anteriormente la mediación que
supone el dispositivo cinematográfico y
su capacidad de modular y fijar el acto
en imágenes despoja al evento
performático de su carácter e
irrepetible. En segunda instancia,
Cuevas lleva adelante, durante otros
pasajes del relato, distintas
dramatizaciones de manera
inexpresiva. Si bien sigue siendo el
artista el que ejecuta dichas acciones y
no emula ser un personaje otro, estas
esc
enas aluden a cuestiones
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
asisten. No obstante estas
particularidades, la actuación
empleada es netamente realista.
En los ejemplos mexicano y
argentino, que combinan el
documental con el cine experimental,
podemos observar otras modalidades
de actuación como del estatuto
La creación artística:
deja entrever dos
tipos de construcción alternas. En
primer lugar, sobresale el carácter
performático del propio Cuevas en el
acontecimiento mismo de la creación
artística y su registro documental
–él
. Es entonces el artista en
que pone el cuerpo y se
en lugar de
representar,
aunque como hemos expresado
anteriormente la mediación que
supone el dispositivo cinematográfico y
su capacidad de modular y fijar el acto
en imágenes despoja al evento
performático de su carácter e
fímero e
irrepetible. En segunda instancia,
Cuevas lleva adelante, durante otros
pasajes del relato, distintas
dramatizaciones de manera
inexpresiva. Si bien sigue siendo el
artista el que ejecuta dichas acciones y
no emula ser un personaje otro, estas
enas aluden a cuestiones
metafóricas que se erigen como
inspiraciones para su obra plástica
decir, un signo que está en lugar de
otra cosa–
, por lo que se encuentran
más cerca del polo representacional
que de la presentación pura. En
Grabas
también se
articulan distintas concepciones. En
una estructura completamente
fragmentaria y experimental
apuntamos tres tipologías que
vislumbran un entramado complejo y
ambiguo. En principio, los
predicadores y el ciego que forman
parte del núcleo central
bloque del film podrían entenderse
como actos performáticos que tienen
lugar en las calles de la ciudad
puesto que la propuesta del corto se
encuentra en sintonía con el clima
neovanguardista–
. Sin embargo,
resulta igualmente pertinente una
l
ectura contrapuesta: que estos sujetos
no sean más que personajes
construidos específicamente para el
relato audiovisual bajo una apariencia
presentacional
. Luego, los recolectores
de residuos que aparecen en el tercer
episodio pueden configurarse como
per
sonajes documentales, aunque
cabe la posibilidad de, como en el
caso anterior, cuestionar dicho
293
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
metafóricas que se erigen como
inspiraciones para su obra plástica
–es
decir, un signo que está en lugar de
, por lo que se encuentran
más cerca del polo representacional
que de la presentación pura. En
también se
disponen y
articulan distintas concepciones. En
una estructura completamente
fragmentaria y experimental
apuntamos tres tipologías que
vislumbran un entramado complejo y
ambiguo. En principio, los
predicadores y el ciego que forman
parte del núcleo central
del segundo
bloque del film podrían entenderse
como actos performáticos que tienen
lugar en las calles de la ciudad
puesto que la propuesta del corto se
encuentra en sintonía con el clima
. Sin embargo,
resulta igualmente pertinente una
ectura contrapuesta: que estos sujetos
no sean más que personajes
construidos específicamente para el
relato audiovisual bajo una apariencia
. Luego, los recolectores
de residuos que aparecen en el tercer
episodio pueden configurarse como
sonajes documentales, aunque
cabe la posibilidad de, como en el
caso anterior, cuestionar dicho
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
estatuto. En tercera posición ubicamos
a los artistas protagonistas de este film
breve. Del mismo modo que en el
corto mexicano, aquí los grabadores
son mostrad
os en el acto performático
de la creación, aunque en este caso el
proceder repetitivo y mecánico con el
que despliegan su arte, junto con la ya
mencionada función mediadora del
artificio cinematográfico, podrían
sembrar dudas al respecto. Por último,
el ev
ento performático final en el
museo presenta similitudes con la
primera posición, puesto que si bien se
trata de una exposición de grabados
de los artistas-
protagonistas del corto
la apariencia y el comportamiento de
los supuestos performers permite
coloca
r a la escena tanto en el polo de
la representación como en el de la
presentación.
Finalmente, en
personajes se construyen desde una
actuación realista y si bien les
adjudicábamos a ellos y a la estructura
narrativa algunas de las cualidades del
cine de arte y ensayo, lo cierto es que
el despojamiento general resulta tal
que el estatuto de personaje pareciera
alejarse del polo representacional. La
muchacha y el joven no poseen
nombres, no exhiben una psicología
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
estatuto. En tercera posición ubicamos
a los artistas protagonistas de este film
breve. Del mismo modo que en el
corto mexicano, aquí los grabadores
os en el acto performático
de la creación, aunque en este caso el
proceder repetitivo y mecánico con el
que despliegan su arte, junto con la ya
mencionada función mediadora del
artificio cinematográfico, podrían
sembrar dudas al respecto. Por último,
ento performático final en el
museo presenta similitudes con la
primera posición, puesto que si bien se
trata de una exposición de grabados
protagonistas del corto
la apariencia y el comportamiento de
los supuestos performers permite
r a la escena tanto en el polo de
la representación como en el de la
Pátio los
personajes se construyen desde una
actuación realista y si bien les
adjudicábamos a ellos y a la estructura
narrativa algunas de las cualidades del
cine de arte y ensayo, lo cierto es que
el despojamiento general resulta tal
que el estatuto de personaje pareciera
alejarse del polo representacional. La
muchacha y el joven no poseen
nombres, no exhiben una psicología
definida, y a diferencia de
en este corto de Rocha los personajes
no ostentan acciones concretas dentro
de una progreso ficcional que precise
un verosímil particular, sino que
simplemente son dos cuerpos cuyos
movimientos expresivos entran en
contacto. La propuesta conceptual y
poética del relato se imbrica con el
gesto performático de estos cuerpos
en constante mutación, determinando
un modo singular de constituir el
estatus del personaje, el cual se aparta
de las fórmulas tradicionales de la
ficción.
A modo de conclusión
En
el presente trabajo hemos
llevado a cabo un análisis comparado
de un corpus representativo de
cortometrajes latinoamericanos
producidos entre mediados de la
década del cincuenta y mediados de
los años setenta, en el contexto de
renovación del campo cultur
con el propósito de asentar el carácter
moderno de dicha producción
audiovisual. Para ello, hemos escogido
tres rangos de contraste que se erigen
en tanto tres parámetros de innovación
estética, los cuales en su articulación
evidencian un tale
nte profundamente
294
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
definida, y a diferencia de
En la noche,
en este corto de Rocha los personajes
no ostentan acciones concretas dentro
de una progreso ficcional que precise
un verosímil particular, sino que
simplemente son dos cuerpos cuyos
movimientos expresivos entran en
contacto. La propuesta conceptual y
poética del relato se imbrica con el
gesto performático de estos cuerpos
en constante mutación, determinando
un modo singular de constituir el
estatus del personaje, el cual se aparta
de las fórmulas tradicionales de la
A modo de conclusión
el presente trabajo hemos
llevado a cabo un análisis comparado
de un corpus representativo de
cortometrajes latinoamericanos
producidos entre mediados de la
década del cincuenta y mediados de
los años setenta, en el contexto de
renovación del campo cultur
al regional,
con el propósito de asentar el carácter
moderno de dicha producción
audiovisual. Para ello, hemos escogido
tres rangos de contraste que se erigen
en tanto tres parámetros de innovación
estética, los cuales en su articulación
nte profundamente
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
rupturista y modernizador que da
cuenta de un fenómeno de época que
vincula de forma estrecha al terreno
cinematográfico con las diversas
esferas artísticas dentro de un
universo cultural dinámico y
transformador. Tanto la hibridación de
los modelos cinematográficos
imbricación entre la ficción, el
documental y el cine experimental
como la práctica intermedial
de fronteras entre el cine y otros
medios artísticos como el teatro, la
literatura, las artes visuales y la
danza–
y la ruptura del estatuto de
personaje tradicional
minimizando y opacando la
concepción psicológica o introduciendo
el aspecto performático–
comportan un
componente netamente reflexivo,
rasgo primordial de la modernidad.
Estos tres elementos ponen
discusión los cánones convencionales,
llevando al límite las normas
narrativas, estéticas y de puesta en
escena tradicionales. Asimismo, estas
variables están profundamente
conectadas entre sí. La mezcla de
tipologías fílmicas pretende romper
con la pro
ductividad de los géneros y
la asociación de un determinado
modelo con una función artística o
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
rupturista y modernizador que da
cuenta de un fenómeno de época que
vincula de forma estrecha al terreno
cinematográfico con las diversas
esferas artísticas dentro de un
universo cultural dinámico y
transformador. Tanto la hibridación de
los modelos cinematográficos
–la
imbricación entre la ficción, el
documental y el cine experimental
–,
como la práctica intermedial
–el cruce
de fronteras entre el cine y otros
medios artísticos como el teatro, la
literatura, las artes visuales y la
y la ruptura del estatuto de
–ya sea
minimizando y opacando la
concepción psicológica o introduciendo
comportan un
componente netamente reflexivo,
rasgo primordial de la modernidad.
Estos tres elementos ponen
en
discusión los cánones convencionales,
llevando al límite las normas
narrativas, estéticas y de puesta en
escena tradicionales. Asimismo, estas
variables están profundamente
conectadas entre sí. La mezcla de
tipologías fílmicas pretende romper
ductividad de los géneros y
la asociación de un determinado
modelo con una función artística o
comunicacional específica, y responde
al contexto de un campo cultural
interrelacional y móvil. Justamente la
intermedialidad es una de las
cualidades distintiva
cultural en este período, en donde se
quiebra la especificidad de las esferas
artísticas para pensar un trazado
reticular en el cual conviven disciplinas
heterogéneas cuyos intercambios
visibilizan innumerables puntos en
común. Finalmente, el
concepción psicológica del personaje y
el acercamiento hacia una actitud
performática devienen tanto de la
hibridación de los modelos
personaje que debe hallar su lugar en
la intersección de tipologías con
lógicas diversas–
como del pan
de intermedialidad en el que se inserta
con claridad lo performático, que surge
en el entramado neovanguardista de la
época.
Las cinco cinematografías
abordadas, que vislumbran
trayectorias heterogéneas, acogieron
al cortometraje en tanto medio
exp
resivo renovador al interior de,
mayoritariamente, espacios de
realización al margen de la industria
fílmica y su modelo estético canónico.
Es precisamente este contexto de
295
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
comunicacional específica, y responde
al contexto de un campo cultural
interrelacional y móvil. Justamente la
intermedialidad es una de las
cualidades distintiva
s del ámbito
cultural en este período, en donde se
quiebra la especificidad de las esferas
artísticas para pensar un trazado
reticular en el cual conviven disciplinas
heterogéneas cuyos intercambios
visibilizan innumerables puntos en
común. Finalmente, el
desvío de la
concepción psicológica del personaje y
el acercamiento hacia una actitud
performática devienen tanto de la
hibridación de los modelos
–es un
personaje que debe hallar su lugar en
la intersección de tipologías con
como del pan
orama
de intermedialidad en el que se inserta
con claridad lo performático, que surge
en el entramado neovanguardista de la
Las cinco cinematografías
abordadas, que vislumbran
trayectorias heterogéneas, acogieron
al cortometraje en tanto medio
resivo renovador al interior de,
mayoritariamente, espacios de
realización al margen de la industria
fílmica y su modelo estético canónico.
Es precisamente este contexto de
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
producción, junto con las
potencialidades económicas y
estructurales del film breve
posibilitaron articular de forma
innovadora en el cortometraje las tres
aristas modernizadoras analizadas. La
experimentación pura y la reflexión
radical dentro del audiovisual
encuentran en el film de corta duración
alternativo un dispositivo eficaz
su desarrollo. El estudio de un corpus
más amplio de cortos latinoamericanos
modernos permitiría incorporar a la
perspectiva adoptada otras variables
renovadoras, a como reparar en
nuevas relaciones vinculares dentro
del campo artístico y cultural
período.
Referencias bibliográficas:
AGUILAR, Gonzalo.
Poesía concreta
brasileña.
Las vanguardias en la
encrucijada modernista. (Doctorado en
Letras). Universidad de Buenos Aires,
2000.
AISEMBERG, Alicia.
El problema de la
representación en las obras
Federico León: cine, teatralidad y
performance.
Imagofagia
Aires, n. 14, p. 1-28, 2016.
BENET, Vicente José.
Un siglo en
sombras.
Introducción a la historia y la
estética del cine
. Valencia: Ediciones
de la Mirada, 1999.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
producción, junto con las
potencialidades económicas y
estructurales del film breve
, que
posibilitaron articular de forma
innovadora en el cortometraje las tres
aristas modernizadoras analizadas. La
experimentación pura y la reflexión
radical dentro del audiovisual
encuentran en el film de corta duración
alternativo un dispositivo eficaz
para
su desarrollo. El estudio de un corpus
más amplio de cortos latinoamericanos
modernos permitiría incorporar a la
perspectiva adoptada otras variables
renovadoras, a como reparar en
nuevas relaciones vinculares dentro
del campo artístico y cultural
del
Referencias bibliográficas:
Poesía concreta
Las vanguardias en la
encrucijada modernista. (Doctorado en
Letras). Universidad de Buenos Aires,
El problema de la
representación en las obras
de
Federico León: cine, teatralidad y
Imagofagia
, Buenos
Un siglo en
Introducción a la historia y la
. Valencia: Ediciones
BONITZER, Pascal.
Cine y pintura.
Buenos Aires: Santiago
Arcos Editor, 2007.
BORDWELL, David.
La narración en el
cine de ficción
. Madrid: Paidós, 1996.
p. 205-233.
CORNAGO BERNAL, Óscar. El
cuerpo invisible: teatro y tecnologías
de la imagen. Arbor
, Castilla,
n. 699-700, p. 595 -
610
COSSALTER, Javier. El cortometraje
latinoamericano moderno.
Experimentación estética y nculos
con el campo cultural en Argentina,
Cuba y México.
Anales del Instituto de
Investigaciones Estéticas
México,
vol. 40, n. 113, p. 9
2018a.
COSSALTER, Javier. El Fondo
Nacional de las Artes y el cortometraje
argentino. Modernización cultural y
estética.
Sociohistórica
40, 2017a.
COSSALTER, Javier. Experimentación
e innovación en el cortometraje
documental latinoamericano moderno:
las experiencias de Brasil, Cuba y
México.
Kamchatka. Revista de
análisis cultural
, Valencia, n. 10, p.
489-511, 2017b.
COSSALTER, Javier. La productivid
del cortometraje en la modernidad
cinematográfica. El caso argentino.
Iberoamericana. América Latina
España - Portugal
, Berlín, vol. 18, n.
68, p. 141-166, 2018
b
DOLINKO, Silvia.
grabado entre la tradición y la
experimentación 1955
Aires: Edhasa, 2012.
FAURE, Elie.
La función social del
cine.
Buenos Aires: Ediciones
Leviatan, 1956.
296
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
BONITZER, Pascal.
Desencuadres.
Buenos Aires: Santiago
La narración en el
. Madrid: Paidós, 1996.
CORNAGO BERNAL, Óscar. El
cuerpo invisible: teatro y tecnologías
, Castilla,
CLXXVII,
610
, 2004.
COSSALTER, Javier. El cortometraje
latinoamericano moderno.
Experimentación estética y nculos
con el campo cultural en Argentina,
Anales del Instituto de
Investigaciones Estéticas
, Ciudad de
vol. 40, n. 113, p. 9
39,
COSSALTER, Javier. El Fondo
Nacional de las Artes y el cortometraje
argentino. Modernización cultural y
Sociohistórica
, La Plata, n.
COSSALTER, Javier. Experimentación
e innovación en el cortometraje
documental latinoamericano moderno:
las experiencias de Brasil, Cuba y
Kamchatka. Revista de
, Valencia, n. 10, p.
COSSALTER, Javier. La productivid
ad
del cortometraje en la modernidad
cinematográfica. El caso argentino.
Iberoamericana. América Latina
-
, Berlín, vol. 18, n.
b
.
DOLINKO, Silvia.
Arte plural. El
grabado entre la tradición y la
experimentación 1955
-1973. Buenos
La función social del
Buenos Aires: Ediciones
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
cortometraje latinoamericano moderno.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
GARCÍA BORRERO, Juan Antonio.
Cine cubano de los sesenta:
realidad
. Madrid: Libros de ultramar,
2007.
GILMAN, Claudia.
Entre la pluma y el
fusil.
Debates y dilemas del escr
revolucionario en América L
Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores
Argentina, 2003.
LEHMANN, Hans-
Thies.
postdramatique.
París: L’Arche, 2002.
LONGONI, Ana; MESTMAN, Mariano.
Del Di
Tella a "Tucumán Arde".
Vanguardia artística y política en el 68
argentino
. Buenos Aires: Eudeba,
2008.
MAURO, Karina. Actuación
cinematográfica y análisis teórico.
European Review of Artistic Studies
Vila Real, vol. 5, n. 2, p. 43
-
MAURO, Karina. Apuntes sobre una
cuestión pendiente: la actuación
cinematográfica.
Imagofagia
Aires, n. 13, p. 1-25, 2016.
MAURO, Karina. Consideraciones
teóricas sobre la actuación
cinematográfica. El arte del actor entre
el dispositivo cinematogr
áfico y las
condiciones de producción. In:
Jornadas Nacionales de Investigación
en Arte en Argentina y América Latina
La Plata: Universidad Nacional de La
Plata, 2015.
MAURO, Karina. La Metodología de
Actuación Realista como Dispositivo
de Atenuac
ión de la Presencia del
Actor en Teatro y Cine.
Brasileira de Estudos da Presença
Grande do Sul, vol. 7, n. 3
,
2017.
MONTERDE, José Enrique. La
modernidad cinematográfica. In:
Historia General del Cine
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
COSSALTER, Javier Hibridación, intermedialidad y performance en el
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 274-297,
GARCÍA BORRERO, Juan Antonio.
Cine cubano de los sesenta:
mito y
. Madrid: Libros de ultramar,
Entre la pluma y el
Debates y dilemas del escr
itor
revolucionario en América L
atina.
Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores
Thies.
Le Théatre
París: L’Arche, 2002.
LONGONI, Ana; MESTMAN, Mariano.
Tella a "Tucumán Arde".
Vanguardia artística y política en el 68
. Buenos Aires: Eudeba,
MAURO, Karina. Actuación
cinematográfica y análisis teórico.
European Review of Artistic Studies
,
-
59, 2014.
MAURO, Karina. Apuntes sobre una
cuestión pendiente: la actuación
Imagofagia
, Buenos
MAURO, Karina. Consideraciones
teóricas sobre la actuación
cinematográfica. El arte del actor entre
áfico y las
condiciones de producción. In:
Actas X
Jornadas Nacionales de Investigación
en Arte en Argentina y América Latina
.
La Plata: Universidad Nacional de La
MAURO, Karina. La Metodología de
Actuación Realista como Dispositivo
ión de la Presencia del
Actor en Teatro y Cine.
Revista
Brasileira de Estudos da Presença
, Rio
,
p. 523-550,
MONTERDE, José Enrique. La
modernidad cinematográfica. In:
Historia General del Cine
. Madrid:
Ediciones Cátedra S.
Europa y Asia, 1996. p. 15
PARANAGUÁ, Paulo Antonio.
Tradición y modernidad en el cine de
América Latina.
Madrid: FCE, 2003.
RAJEWSKY, Irina O. Intermediality,
Intertextuality, and Remediation: A
Literary Perspective on Intermediality.
Intermédialités
, Montréal, n. 6, p. 43
64, 2005.
SOUZA, Leandro Cândido de..
Estética Noigandres:
antimimese no projeto concretista
(1952-
1964). (Doutorado em História).
Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, 2013.
297
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
Ediciones Cátedra S.
A., Vol. IX,
Europa y Asia, 1996. p. 15
-45.
PARANAGUÁ, Paulo Antonio.
Tradición y modernidad en el cine de
Madrid: FCE, 2003.
RAJEWSKY, Irina O. Intermediality,
Intertextuality, and Remediation: A
Literary Perspective on Intermediality.
, Montréal, n. 6, p. 43
-
SOUZA, Leandro Cândido de..
Estética Noigandres:
vanguardismo e
antimimese no projeto concretista
1964). (Doutorado em História).
Pontifícia Universidade Católica de
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
Uma viagem aos meandros do
publicitária do Hotel Amazonas na revista “O Cruzeiro” 1950
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.40673
Resumo:
O artigo tem como objetivo desenvolver uma reflexão crítica sobre a temática ambiental
reproduzida na esfera do discurso da arquitetura e construção, a partir da
uma designação da floresta da Amazónia proveniente do discurso literário. A análise incide sobre a
campanha publicitária de um hotel construído e inaugurado em Manaus na década de 1950,
examinada segundo o dispositivo teórico
entre os diversos planos discursivos objeto de integração nesta análise, as noções de
intertextualidade, interdiscurso e ethos.
campanha, publicados numa r
circunstâncias e instâncias de enunciação com os efeitos de sentido pretendidos e produzidos. Os
resultados salientam as tensões existentes entre discursos contrários bem como no uso da
expressã
o“Inferno Verde”. Simultaneamente que é engendrada a ilusão de imersão do
objetoarquitetónico num universo natural inóspito, é também recriada uma distorção desse próprio
espaço, junto do qual o hotel ganha atratividade por contraste e distanciamento, e a
perpetuada no discurso da modernidade atua como potencial condicionantedo entendimento do(s)
ecossistema(s)apenas como paraíso(s)terrestre(s) enquanto murado(s), urbanizado(s)e em
suma,domesticado(s).
Palavras-chave:
análise do discurso; infe
Un viaje a los meandros del
infierno verde
Hotel Amazonas en la revista "O Cruzeiro" 1950
Resumen:
El trabajo tiene como objetivo desarrollar una reflexión crítica sobre el tema ambiental en
el ámbito del discurso de la arquitectura y construcción, utilizando la expresión "Infierno Verde", una
designación del bosque amazónico procedente delo discurso li
campaña publicitaria de un hotel construido en Manaos en la década de 1950, examinado según el
dispositivo teórico-
metodológico del análisis del discurso. Entre los diferentes planos discursivos,
objeto de integración e
n este análisis, se resaltan las nociones de intertextualidad, interdiscurso y
ethos discursivo. La investigación se enfoca en dos anuncios de esta campaña, publicada en una
revista ilustrada de gran circulación, confrontando las circunstanciase agentes de
efectos de sentido, intencionados y producidos. Los resultados destacan las tensiones existentes
entre discursos opuestos, así como el uso de la expresión"Infierno Verde". Simultáneamente,
engendrando la ilusión de inmersión del objeto
también se recrea unadistorsión de ese mismo espacio, al lado del cual el hotel gana atractivo por
contraste, y que, cuando se perpetúa como contaminante en el discurso de la modernidad, actúa
1
Catarina Isabel Vitorino dos Santos. Doutora pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de
Tóquio Japão. Professora do PPG de Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, Brasil. E
https://orcid.org/0000-0002-
0060
Recebido em 16/03/2020,
aceito para publicação em
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
Uma viagem aos meandros do
inferno verde
: planos discursivos da campanha
publicitária do Hotel Amazonas na revista “O Cruzeiro” 1950
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.40673
Catarina Vitorino
O artigo tem como objetivo desenvolver uma reflexão crítica sobre a temática ambiental
reproduzida na esfera do discurso da arquitetura e construção, a partir da
expressão“Inferno Verde”,
uma designação da floresta da Amazónia proveniente do discurso literário. A análise incide sobre a
campanha publicitária de um hotel construído e inaugurado em Manaus na década de 1950,
examinada segundo o dispositivo teórico
-meto
dológico da análise de discurso, destacando
entre os diversos planos discursivos objeto de integração nesta análise, as noções de
intertextualidade, interdiscurso e ethos.
A investigação incide sobre dois iconotextos dessa
campanha, publicados numa r
evista ilustrada de grande tiragem, colocando em confronto as
circunstâncias e instâncias de enunciação com os efeitos de sentido pretendidos e produzidos. Os
resultados salientam as tensões existentes entre discursos contrários bem como no uso da
o“Inferno Verde”. Simultaneamente que é engendrada a ilusão de imersão do
objetoarquitetónico num universo natural inóspito, é também recriada uma distorção desse próprio
espaço, junto do qual o hotel ganha atratividade por contraste e distanciamento, e a
perpetuada no discurso da modernidade atua como potencial condicionantedo entendimento do(s)
ecossistema(s)apenas como paraíso(s)terrestre(s) enquanto murado(s), urbanizado(s)e em
análise do discurso; infe
rno verde; Amazó
nia; modernismo; ecologia
infierno verde
: planes discursivos de la campaña publicitaria del
Hotel Amazonas en la revista "O Cruzeiro" 1950
-1951
El trabajo tiene como objetivo desarrollar una reflexión crítica sobre el tema ambiental en
el ámbito del discurso de la arquitectura y construcción, utilizando la expresión "Infierno Verde", una
designación del bosque amazónico procedente delo discurso li
terario. El análisis se centra en la
campaña publicitaria de un hotel construido en Manaos en la década de 1950, examinado según el
metodológico del análisis del discurso. Entre los diferentes planos discursivos,
n este análisis, se resaltan las nociones de intertextualidad, interdiscurso y
ethos discursivo. La investigación se enfoca en dos anuncios de esta campaña, publicada en una
revista ilustrada de gran circulación, confrontando las circunstanciase agentes de
efectos de sentido, intencionados y producidos. Los resultados destacan las tensiones existentes
entre discursos opuestos, así como el uso de la expresión"Infierno Verde". Simultáneamente,
engendrando la ilusión de inmersión del objeto
arquitectónico en un universo natural inhóspito,
también se recrea unadistorsión de ese mismo espacio, al lado del cual el hotel gana atractivo por
contraste, y que, cuando se perpetúa como contaminante en el discurso de la modernidad, actúa
Catarina Isabel Vitorino dos Santos. Doutora pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de
Tóquio Japão. Professora do PPG de Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, Brasil. E
-mail: catarinavitorino.
s@gmail.com
0060
-5232
aceito para publicação em
15/05/20
20, disponibilizado online em
01/09/2020.
298
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
: planos discursivos da campanha
publicitária do Hotel Amazonas na revista “O Cruzeiro” 1950
-1951
Catarina Vitorino
1
O artigo tem como objetivo desenvolver uma reflexão crítica sobre a temática ambiental
expressão“Inferno Verde”,
uma designação da floresta da Amazónia proveniente do discurso literário. A análise incide sobre a
campanha publicitária de um hotel construído e inaugurado em Manaus na década de 1950,
dológico da análise de discurso, destacando
-se de
entre os diversos planos discursivos objeto de integração nesta análise, as noções de
A investigação incide sobre dois iconotextos dessa
evista ilustrada de grande tiragem, colocando em confronto as
circunstâncias e instâncias de enunciação com os efeitos de sentido pretendidos e produzidos. Os
resultados salientam as tensões existentes entre discursos contrários bem como no uso da
o“Inferno Verde”. Simultaneamente que é engendrada a ilusão de imersão do
objetoarquitetónico num universo natural inóspito, é também recriada uma distorção desse próprio
espaço, junto do qual o hotel ganha atratividade por contraste e distanciamento, e a
qual, quando
perpetuada no discurso da modernidade atua como potencial condicionantedo entendimento do(s)
ecossistema(s)apenas como paraíso(s)terrestre(s) enquanto murado(s), urbanizado(s)e em
nia; modernismo; ecologia
: planes discursivos de la campaña publicitaria del
El trabajo tiene como objetivo desarrollar una reflexión crítica sobre el tema ambiental en
el ámbito del discurso de la arquitectura y construcción, utilizando la expresión "Infierno Verde", una
terario. El análisis se centra en la
campaña publicitaria de un hotel construido en Manaos en la década de 1950, examinado según el
metodológico del análisis del discurso. Entre los diferentes planos discursivos,
n este análisis, se resaltan las nociones de intertextualidad, interdiscurso y
ethos discursivo. La investigación se enfoca en dos anuncios de esta campaña, publicada en una
revista ilustrada de gran circulación, confrontando las circunstanciase agentes de
enunciación con los
efectos de sentido, intencionados y producidos. Los resultados destacan las tensiones existentes
entre discursos opuestos, así como el uso de la expresión"Infierno Verde". Simultáneamente,
arquitectónico en un universo natural inhóspito,
también se recrea unadistorsión de ese mismo espacio, al lado del cual el hotel gana atractivo por
contraste, y que, cuando se perpetúa como contaminante en el discurso de la modernidad, actúa
Catarina Isabel Vitorino dos Santos. Doutora pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de
Tóquio Japão. Professora do PPG de Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem da Pontifícia
s@gmail.com
-
20, disponibilizado online em
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
como potencial
factor de condicionamiento para la comprensión de los ecossistemas, solo como
paraíso(s) terrestre(s) mientras amurallado(s), urbanizado(s) y, en resumen, domesticado(s).
Palavras clave:
análisis del discurso; infierno verde; Amazonia; modernismo; ecolog
A travel to the meanderings of
campaign in the magazine “O Cruzeiro” 1950
Abstract:
The paper aims to develop a critical reflection on the transmission of environmental
subjects in the
sphere of architecture and construction, centred on the expression Green Hell”, a
designation of the Amazonian forest originating from the literary discourse. The analysis focuses on
the advertising campaign of a hotel established in Manaus in the 1950s,
theoretical-
methodological device of discourse analysis, emphasizing among its discursive plans, the
notions of intertextuality, interdiscourse and discursive ethos. The investigation focuses on two
advertisements of that campaign
enunciating conditions and agents with the intended and produced effects of meaning. The results
highlight the existing tensions between opposing discourses as well as in the use of the exp
“Green Hell”. At the same time that an illusion of immersion of the architectural object in an
inhospitable natural universe is engendered, a distortion of that space is also recreated, along which
the hotel gains attractiveness by contrast and dis
modernity, acts as a potential conditioning factor of the understanding of ecosystem(s) only as earthly
paradise(s) while walled, urbanized and, in sum, tame.
Keywords:
discourse analysis; green hell; Amazon
Uma viagem aos meandros do
publicitária do Hotel Amazonas na revista “O Cruzeiro” 1950
I.
O registo do declínio
serviços de
ecossistemas terrestres
essenciais ao bem-
estar humano,
decorrente de
pressões antrópicas
(MEA, 2005),vem
originando desde o
século XX intensas manifestações
culturais de carácter ambiental, bem
como
esforços estratégicos interna
cionais como os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável das
Nações Unidas.
Não obstante,
floresta equatorial da Amazónia, um
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
factor de condicionamiento para la comprensión de los ecossistemas, solo como
paraíso(s) terrestre(s) mientras amurallado(s), urbanizado(s) y, en resumen, domesticado(s).
análisis del discurso; infierno verde; Amazonia; modernismo; ecolog
A travel to the meanderings of
green hell
: discursive plans of Hotel Amazonas advertising
campaign in the magazine “O Cruzeiro” 1950
-1951
The paper aims to develop a critical reflection on the transmission of environmental
sphere of architecture and construction, centred on the expression Green Hell”, a
designation of the Amazonian forest originating from the literary discourse. The analysis focuses on
the advertising campaign of a hotel established in Manaus in the 1950s,
examined according to the
methodological device of discourse analysis, emphasizing among its discursive plans, the
notions of intertextuality, interdiscourse and discursive ethos. The investigation focuses on two
advertisements of that campaign
, published in a widely read illustrated magazine, confronting the
enunciating conditions and agents with the intended and produced effects of meaning. The results
highlight the existing tensions between opposing discourses as well as in the use of the exp
“Green Hell”. At the same time that an illusion of immersion of the architectural object in an
inhospitable natural universe is engendered, a distortion of that space is also recreated, along which
the hotel gains attractiveness by contrast and dis
tance, and when perpetuated in the discourse of
modernity, acts as a potential conditioning factor of the understanding of ecosystem(s) only as earthly
paradise(s) while walled, urbanized and, in sum, tame.
discourse analysis; green hell; Amazon
ia; modernism; ecology
Uma viagem aos meandros do
inferno verde:
planos discursivos da campanha
publicitária do Hotel Amazonas na revista “O Cruzeiro” 1950
O registo do declínio
dos
ecossistemas terrestres
estar humano,
pressões antrópicas
originando desde o
século XX intensas manifestações
culturais de carácter ambiental, bem
esforços estratégicos interna
-
cionais como os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável das
Não obstante,
a
floresta equatorial da Amazónia, um
dos
biomas críticos do planeta, tem
sido recentemente
aumento exponencial de incêndios de
ação humana e
desmatamento ilegal,
incluindo a
perseguição a
comunidades indígenas
impacto global a nível da
biodiversidade, captura de carbono,
r
egulação do sistema hídrico e
reservas genéticas e terapêuticas.
Neste contexto, procura
refletir, segundo o dispositivo
metodológico da análise do discurso,
299
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
factor de condicionamiento para la comprensión de los ecossistemas, solo como
paraíso(s) terrestre(s) mientras amurallado(s), urbanizado(s) y, en resumen, domesticado(s).
análisis del discurso; infierno verde; Amazonia; modernismo; ecolog
ía
: discursive plans of Hotel Amazonas advertising
The paper aims to develop a critical reflection on the transmission of environmental
sphere of architecture and construction, centred on the expression Green Hell”, a
designation of the Amazonian forest originating from the literary discourse. The analysis focuses on
examined according to the
methodological device of discourse analysis, emphasizing among its discursive plans, the
notions of intertextuality, interdiscourse and discursive ethos. The investigation focuses on two
, published in a widely read illustrated magazine, confronting the
enunciating conditions and agents with the intended and produced effects of meaning. The results
highlight the existing tensions between opposing discourses as well as in the use of the exp
ression
“Green Hell”. At the same time that an illusion of immersion of the architectural object in an
inhospitable natural universe is engendered, a distortion of that space is also recreated, along which
tance, and when perpetuated in the discourse of
modernity, acts as a potential conditioning factor of the understanding of ecosystem(s) only as earthly
planos discursivos da campanha
publicitária do Hotel Amazonas na revista “O Cruzeiro” 1950
-1951
biomas críticos do planeta, tem
objeto de um
aumento exponencial de incêndios de
desmatamento ilegal,
-
perseguição a
comunidades indígenas
- com um
impacto global a nível da
biodiversidade, captura de carbono,
egulação do sistema hídrico e
reservas genéticas e terapêuticas.
Neste contexto, procura
-se
refletir, segundo o dispositivo
metodológico da análise do discurso,
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
sobre alguns dos possíveis conceitos
fundamentos deste
paradoxo.
pesquisa propõe-se assi
m a analisar
os discursos veiculados dentro da
esfera publicitária da mídia impressa
elemento omnipresente dos meios de
comunicação de massas e lugar
privilegiado de produção, circulação e
receção de padrões de consumo e de
vida -
, relativos ao patrimóni
ambiental da Amazónia, a partir do uso
da expressão “Inferno Verde”, uma
designação da floresta amazónica,
reproduzida no universo da arquitetura
e construção.
Focando na observação da
publicidade de um hotel inaugurado
nesta região durante a
1950, esta seleção
apoia
interesse do estudo da publicidade
como poderoso
veículo de
comunicação
multissemiótica,
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
sobre alguns dos possíveis conceitos
e
paradoxo.
Esta
m a analisar
os discursos veiculados dentro da
esfera publicitária da mídia impressa
-
elemento omnipresente dos meios de
comunicação de massas e lugar
privilegiado de produção, circulação e
receção de padrões de consumo e de
, relativos ao patrimóni
o cultural e
ambiental da Amazónia, a partir do uso
da expressão “Inferno Verde”, uma
designação da floresta amazónica,
reproduzida no universo da arquitetura
Focando na observação da
publicidade de um hotel inaugurado
nesta região durante a
década de
apoia
-se no
interesse do estudo da publicidade
veículo de
multissemiótica,
com
exponencial multiplicação de efeitos de
sentido e na relevância historiográfica
da
época como anterior à emergência
das qu
estões ambientais
dominante, na segunda metade do
século passado.
Da campanha de
publicidade do Hotel Amazonas,
publicada na revista “O Cruzeiro”,
foram em particular selecionados
como foco desta pesquisa dois
anúncios
publicados em Outubro de
1
950 e Maio de 1951
dos quais é o primeiro da série,
definindo o tom, a iconografia e
que se prolongam mais ou menos
regularmente ao
longo de toda a
campanha; e o outro, um enunciado
que conjuga o seu conteúdo visual
fantástico
comum dos conteúdos
textuais mais polê
micos da série, à luz
da contemporaneidade.
300
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
exponencial multiplicação de efeitos de
sentido e na relevância historiográfica
época como anterior à emergência
estões ambientais
na cultura
dominante, na segunda metade do
Da campanha de
publicidade do Hotel Amazonas,
publicada na revista “O Cruzeiro”,
foram em particular selecionados
como foco desta pesquisa dois
publicados em Outubro de
950 e Maio de 1951
(Figura 1), um
dos quais é o primeiro da série,
definindo o tom, a iconografia e
slogan
que se prolongam mais ou menos
longo de toda a
campanha; e o outro, um enunciado
que conjuga o seu conteúdo visual
comum dos conteúdos
micos da série, à luz
da contemporaneidade.
1950 1951
Figura 1. Primeiro anúncio publicitário (esquerda) e anúncio após a inauguração (direita) do Hotel
Amazonas, na revista O Cruzeiro.(O CRUZEIRO, 1950, p.62; ibid, 1951, p.48)
Neste artigo é realizada a
apresentação destes enunciados,
delineando o contexto cio-histórico,
e esclarecendo a origem, trajetória e
características das suas instâncias
enunciativas. Utilizando os
procedimentos metodológicas da
análise do discurso, neste é proposta
uma leitura dos seus planos
discursivos, com foco nos conceitos de
intertextualidade e interdiscurso,
estatuto do enunciador e dos co-
enunciadores, e construção do ethos,
entre outros aspetos semânticos,
dando origem a uma discussão
centrada sobre os efeitos de sentido
intencionados, produzidos e
subentendidos por estes anúncios.
II.
A campanha de publicidade do
Hotel Amazonas foi publicada na
revista “O Cruzeiro” na década de
1950, entre outros meios de
comunicação, como o jornal “Estadão”.
De acordo com o material
disponibilizado pelo Acervo Digital do
Instituto Durango Duarte (IDD, 2019),
esta campanha estendeu-se de 1950 a
1953 na revista “O Cruzeiro”. Com
forte componente visual
proporcionada pela qualidade gráfica
do formato revista - e iconografia e
texto diversificados ao longo do tempo,
com alguns elementos comuns
recorrentes, esta campanha
acompanha o pré-lançamento, a
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
inauguração e a receção pelo mercado
deste hotel ao longo dos seus
primeiros anos de atividade.
Segundo a análise do discurso
de
linha francesa, em particular dos
conceitos para análise de textos de
comunicação (
MAINGUENEAU
os enunciados em análise inscrevem
se num quadro
nico no qual o tipo
de discurso é o publicitário (cena
englobante) e o
nero de discurso é
um anúncio
publicado numa revista
semanal ilustrada (cena genérica), de
um hotel prestes a inaugurar (
imagem à esquerda) e recém
inaugurado (Figura 1
. imagem à
direita).
A cena de enunciação destes
iconotextos é ainda completa por um
modo de apresentação (a cenografia)
que é selecionado e construído, de
entre um grande leque de variações
possíveis, no âmbito da publicidade.
No caso dos anúncios ao Hotel
Amazonas esta cenog
rafia é híbrida,
remetendo a diversos elementos
decorrentes de outros
gênero
discurso e cenas validadas, como o
cartão-
postal, o folheto imobiliário, o
cartaz cinematográfico ou turístico, e
ainda a notícia ilustrada.
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
inauguração e a receção pelo mercado
deste hotel ao longo dos seus
primeiros anos de atividade.
Segundo a análise do discurso
linha francesa, em particular dos
conceitos para análise de textos de
MAINGUENEAU
, 2001),
os enunciados em análise inscrevem
-
nico no qual o tipo
de discurso é o publicitário (cena
nero de discurso é
publicado numa revista
semanal ilustrada (cena genérica), de
um hotel prestes a inaugurar (
Figura 1.
imagem à esquerda) e recém
-
. imagem à
A cena de enunciação destes
iconotextos é ainda completa por um
modo de apresentação (a cenografia)
que é selecionado e construído, de
entre um grande leque de variações
possíveis, no âmbito da publicidade.
No caso dos anúncios ao Hotel
rafia é híbrida,
remetendo a diversos elementos
gênero
s de
discurso e cenas validadas, como o
postal, o folheto imobiliário, o
cartaz cinematográfico ou turístico, e
Dos elementos recorrentes que
marc
am esta campanha nos primeiros
dois anos, destacam
“Conheça o Inferno Verde gozando
das delícias de um Paraíso” e o
binómio “inferno verde” versus
“paraíso de conforto e civilização”.
Esses são acompanhados ainda pela
iconografia, baseada em im
plantas e animais associados à
floresta amazónica, símbolos
imobiliários como a tabuleta à porta de
estabelecimento comercial e a chave
do quarto de hotel, ou turísticos, como
o cartão-
postal; pela representação do
edifício do hotel, sempre na mes
perspec
tiva aérea exterior; e
finalmente, pelos recursos tipográficos
com utilização de fontes manuscritas.
II.i Manaus -
Amazonas
1950
As circunstâncias sócio
históricas fundamentais da campanha
publicitária em análise, com lugar na
década
de 50 do século XX,
desenvolvimento da indústria do
turismo, e o arranque do turismo de
massas,
com base na democratização
e modernização dos meios de
transporte aéreo e rodoviário; um
continuado movimento de êxodo do
302
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
Dos elementos recorrentes que
am esta campanha nos primeiros
dois anos, destacam
-se o slogan
“Conheça o Inferno Verde gozando
das delícias de um Paraíso” e o
binómio “inferno verde” versus
“paraíso de conforto e civilização”.
Esses são acompanhados ainda pela
iconografia, baseada em im
agens de
plantas e animais associados à
floresta amazónica, símbolos
imobiliários como a tabuleta à porta de
estabelecimento comercial e a chave
do quarto de hotel, ou turísticos, como
postal; pela representação do
edifício do hotel, sempre na mes
ma
tiva aérea exterior; e
finalmente, pelos recursos tipográficos
com utilização de fontes manuscritas.
Amazonas
- Brasil -
As circunstâncias sócio
-
históricas fundamentais da campanha
publicitária em análise, com lugar na
de 50 do século XX,
incluem o
desenvolvimento da indústria do
turismo, e o arranque do turismo de
com base na democratização
e modernização dos meios de
transporte aéreo e rodoviário; um
continuado movimento de êxodo do
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
campo para a cidade, com au
urbanização e população urbana, e o
desenvolvimento da indústria da
construção; o cenário de
reorganização geopolítica e
recuperação econômica
internacional,
após o final da II Guerra Mundial, no
qual um papel de relevo como modelo
político-
cultural do capitalismo é
desempenhado pelos Estados Unidos
da América (EUA); e a aderência
progressiva, no decurso do século XX,
a um estilo de vida moderno
busca de uma nova e própria
modernidade brasileira
nova música,
nova arquitetura -
, em rutura com
estilos do passado, salientando
modernismo na arquitetura brasileira,
com a disseminação da escola carioca
ou brazilian style
, dentro e fora do
contexto nacional.
A década de 19
50 é ainda
associada a relevantes avanços
científicos, tecnológicos e culturais,
sendo também conhecida como a
época dos anos de ouro do cinema.
Em particular no Brasil, assiste
também à expansão dos meios de
comunicaçã
o de massas (rádio,
televisão e imprensa), com maior
liberdade e independência editorial
depois do final da ditadura do Estado
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
campo para a cidade, com au
mento da
urbanização e população urbana, e o
desenvolvimento da indústria da
construção; o cenário de
reorganização geopolítica e
internacional,
após o final da II Guerra Mundial, no
qual um papel de relevo como modelo
cultural do capitalismo é
desempenhado pelos Estados Unidos
da América (EUA); e a aderência
progressiva, no decurso do século XX,
a um estilo de vida moderno
, com a
busca de uma nova e própria
nova música,
, em rutura com
estilos do passado, salientando
-se o
modernismo na arquitetura brasileira,
com a disseminação da escola carioca
, dentro e fora do
50 é ainda
associada a relevantes avanços
científicos, tecnológicos e culturais,
sendo também conhecida como a
época dos anos de ouro do cinema.
Em particular no Brasil, assiste
-se
também à expansão dos meios de
o de massas (rádio,
televisão e imprensa), com maior
liberdade e independência editorial
depois do final da ditadura do Estado
Novo em 1946, e do seu crescente
papel na influência da opinião blica
e nos padrões de consumo.
Nomeadamente, em 1950,
inaugu
rado o canal de televisão sul
americano, a TV Tupi, por Assis
Chateaubriand
(1892
tário da revista O Cruzeiro” entre
outros meios de comunicação
brasileiros até à década de 60, e
ocorrem as eleições diretas de Getúlio
Vargas (1882-
1954)
constitucional do Brasil, num contexto
ainda marcado por elevados índices
de analfabetismo e em que a
população iletrada não possuía direito
de voto.
Por outro lado, a conjuntura
sócio-histórica
na região da Amaz
brasileira é também car
definhamento da extração seringalista
-
cujos picos de atividade e impulso
econô
mico haviam decorrido de 1879
a 1912 (1º ciclo da borracha) e de
1942 a 1945 (2º ciclo). Em particular,
com ocorrência durante a II Guerra
Mundial, o 2º ciclo d
Brasil, também designado por Batalha
da Borracha, fora
em grande parte
impulsionado e financiado pelos EUA,
quando os seringais do sudeste
asiático estão sob controle dos países
303
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
Novo em 1946, e do seu crescente
papel na influência da opinião blica
e nos padrões de consumo.
Nomeadamente, em 1950,
é
rado o canal de televisão sul
-
americano, a TV Tupi, por Assis
(1892
-1968), proprie-
tário da revista O Cruzeiro” entre
outros meios de comunicação
brasileiros até à década de 60, e
ocorrem as eleições diretas de Getúlio
1954)
como presidente
constitucional do Brasil, num contexto
ainda marcado por elevados índices
de analfabetismo e em que a
população iletrada não possuía direito
Por outro lado, a conjuntura
na região da Amaz
ónia
brasileira é também car
acterizada pelo
definhamento da extração seringalista
cujos picos de atividade e impulso
mico haviam decorrido de 1879
a 1912 (1º ciclo da borracha) e de
1942 a 1945 (2º ciclo). Em particular,
com ocorrência durante a II Guerra
Mundial, o 2º ciclo d
a borracha no
Brasil, também designado por Batalha
em grande parte
impulsionado e financiado pelos EUA,
quando os seringais do sudeste
asiático estão sob controle dos países
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
do Eixo, vindo a
terminar com o fim da
guerra e a substituição do látex natural
por borracha sintética
industrial.
II.ii
Da Prudência Capitalização à
Revista O Cruzeiro
Os enunciadores da campanha
publicitária do Hotel Amazonas são a
empresa Prudência Capitalização,
prop
rietária do hotel, e o próprio Hotel
Amazonas, como entidade econ
autô
noma. A instância enunciativa é
ainda completa pela revista semanal
ilustrada “O Cruzeiro”, na qual esta é
publicada, e pela agência de
publicidade “Panam -
Amigos”, que a p
roduz.
enunciadores a quem a publicidade é
dirigida são constituídos pelos leitores
e consumidores da revista “O
Cruzeiro”, potenciais utilizadores do
Hotel Amazonas, e caracterizados
como indivíduos com poder de compra
ou estatuto para viajar a trab
negócios ou lazer,
para Manaus e a
região Amazó
nica, letrados,
pertencentes a um estrato econ
médio a alto, e aderentes de um estilo
de vida moderno e urbano.
A Empresa de Seguros
Prudência e Capitalização, fundada
em 1930
com sede em São Paulo,
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
terminar com o fim da
guerra e a substituição do látex natural
industrial.
Da Prudência Capitalização à
Os enunciadores da campanha
publicitária do Hotel Amazonas são a
empresa Prudência Capitalização,
rietária do hotel, e o próprio Hotel
Amazonas, como entidade econ
ômica
noma. A instância enunciativa é
ainda completa pela revista semanal
ilustrada “O Cruzeiro”, na qual esta é
publicada, e pela agência de
Casa de
roduz.
Os co-
enunciadores a quem a publicidade é
dirigida são constituídos pelos leitores
e consumidores da revista “O
Cruzeiro”, potenciais utilizadores do
Hotel Amazonas, e caracterizados
como indivíduos com poder de compra
ou estatuto para viajar a trab
alho,
para Manaus e a
nica, letrados,
pertencentes a um estrato econ
ômico
médio a alto, e aderentes de um estilo
A Empresa de Seguros
Prudência e Capitalização, fundada
com sede em São Paulo,
foi
uma das poucas empresas
autorizadas a oferecer títulos de
capitalização
durante a ditadura do
Estado Novo, tendo falido em 1959.
Durante a sua atividade, a empresa foi
promotora do Edifício Prudência, em
Higienópolis,
ícone da arquitetura
moderna da cidade
construído entre 1944 e 1948, com
projetos do arquiteto Rino Levi (1901
1965) e do paisagista
Marx (1909-1994).
dimento fez grande sucesso entre a
classe alta da cidade, devido às suas
características de
inovação e conforto
à época, incluindo torneiras aquecidas,
ar condicionado, gerador próprio,
desenho bioclimático e divisórias
móveis internas sobre planta livre,
permitindo a cada habitante adaptar a
organização da sua casa conforme o
seu gosto e necessi
dades.
Por sua vez, o Hotel Amazonas,
iniciado em 1947 e inaugurado em
Abril de 1951, foi o primeiro hotel
moderno a ser construído em Manaus
após o final do Ciclo da Borracha.
Também designado por Edifício
Ajuricaba
2
, este teve projeto a cargo
2
Ajuricaba era um líder da tribo dos índios
Manaós, no Amazonas,que se tornou símbolo
da insubmissão
indígena à ocupação colonial
304
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
uma das poucas empresas
autorizadas a oferecer títulos de
durante a ditadura do
Estado Novo, tendo falido em 1959.
Durante a sua atividade, a empresa foi
promotora do Edifício Prudência, em
ícone da arquitetura
de São Paulo,
construído entre 1944 e 1948, com
projetos do arquiteto Rino Levi (1901
-
1965) e do paisagista
Roberto Burle
Este empreen-
dimento fez grande sucesso entre a
classe alta da cidade, devido às suas
inovação e conforto
à época, incluindo torneiras aquecidas,
ar condicionado, gerador próprio,
desenho bioclimático e divisórias
móveis internas sobre planta livre,
permitindo a cada habitante adaptar a
organização da sua casa conforme o
dades.
Por sua vez, o Hotel Amazonas,
iniciado em 1947 e inaugurado em
Abril de 1951, foi o primeiro hotel
moderno a ser construído em Manaus
após o final do Ciclo da Borracha.
Também designado por Edifício
, este teve projeto a cargo
Ajuricaba era um líder da tribo dos índios
Manaós, no Amazonas,que se tornou símbolo
indígena à ocupação colonial
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
de dois
engenheiros (Luís da Costa
Leite e Helmut Quacken), e ainda a
intervenção de Burle Marx nos jardins
e gravuras interiores.
A idealização do Hotel
Amazonas foi proposta por Adalberto
Ferreira do Valle
(1909
diplomado em ciências jurídicas e
sociais, e diretor-
presidente da
Prudência e Capitalização. Natural de
Belém, Ferreira do Vale era também
descendente de uma das maiores
famílias seringalistas na região da
Amazónia durante o ciclo da
borracha.
Sendo amigo de Getúlio
Vargas, Ferreira do Valle in
nos quadros da Prudência e
Capitalização em 1933, e
e/ou dirigente de várias outras
empresas durante as cadas de 30,
40 e 50, incluindo a Refinaria de
Petróleo de Manaus, a Companhia
Brasileira de Fiação e Tecelagem de
Juta, a Cobres
a Companhia de
Importação e Exportação, a Boa Vista
Seguros de Vida, a Companhia
Imobiliária Itaoca de São Paulo, e a
Amazontur Turismo.
portuguesa, durante o século XVIII, opondo
à
comercialização de escravos ameríndios na
região e liderando uma revolta contra os
ocupantes europeus.
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
engenheiros (Luís da Costa
Leite e Helmut Quacken), e ainda a
intervenção de Burle Marx nos jardins
A idealização do Hotel
Amazonas foi proposta por Adalberto
(1909
-1963),
diplomado em ciências jurídicas e
presidente da
Prudência e Capitalização. Natural de
Belém, Ferreira do Vale era também
descendente de uma das maiores
famílias seringalistas na região da
Amazónia durante o ciclo da
Sendo amigo de Getúlio
Vargas, Ferreira do Valle in
gressou
nos quadros da Prudência e
foi fundador
e/ou dirigente de várias outras
empresas durante as cadas de 30,
40 e 50, incluindo a Refinaria de
Petróleo de Manaus, a Companhia
Brasileira de Fiação e Tecelagem de
a Companhia de
Importação e Exportação, a Boa Vista
Seguros de Vida, a Companhia
Imobiliária Itaoca de São Paulo, e a
portuguesa, durante o século XVIII, opondo
-se
comercialização de escravos ameríndios na
região e liderando uma revolta contra os
Os conteúdos da campanha de
publicidade ao Hotel Amazonas foram
realizados pela agência “Panam
Casa de Amigos”, com s
Alegre, e filiada da Panam
Propaganda e Promoção de Vendas
Casa de Amigos, vice
Ferreira do Valle.
Um dos nomes de
maior relevo da Panam
Amigos
foi José Salimen Júnior (1934
2011), familiar do proprietário da
matriz paul
ista, com formação e
experiência profissional em jornalismo,
locução e representação em rádio
novelas.
O meio de circulação dos
anúncios publicitários em análise,
revista semanal ilustrada
(1928-1975),
era a principal revista
ilustrada no B
rasil na primeira metade
do século XX. Inicialmente projeto de
Carlos Malheiro Dias (1875
revista, com sede no Rio de Janeiro,
foi lançada com o
amanhã o Cruzeiro, a revista
contemporânea dos arranha
conjugando o esboço de um
mundo moderno e tecnológico com o
patriotismo e a colonialidade,tal como
se pode ler na sua primeira edição:
Cruzeiro encontra já, ao nascer, o
arranha-
céu, a radiotelephonia e o
correio aéreo: o esboço de um
305
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
Os conteúdos da campanha de
publicidade ao Hotel Amazonas foram
realizados pela agência “Panam
-
Casa de Amigos”, com s
ede em Porto
Alegre, e filiada da Panam
Propaganda e Promoção de Vendas
-
Casa de Amigos, vice
-presidida por
Um dos nomes de
maior relevo da Panam
-Casa de
foi José Salimen Júnior (1934
-
2011), familiar do proprietário da
ista, com formação e
experiência profissional em jornalismo,
locução e representação em rádio
-
O meio de circulação dos
anúncios publicitários em análise,
a
revista semanal ilustrada
“O Cruzeiro”
era a principal revista
rasil na primeira metade
do século XX. Inicialmente projeto de
Carlos Malheiro Dias (1875
-1941), a
revista, com sede no Rio de Janeiro,
foi lançada com o
slogan "Compre
amanhã o Cruzeiro, a revista
contemporânea dos arranha
-céus“,
conjugando o esboço de um
novo
mundo moderno e tecnológico com o
patriotismo e a colonialidade,tal como
se pode ler na sua primeira edição:
Cruzeiro encontra já, ao nascer, o
céu, a radiotelephonia e o
correio aéreo: o esboço de um
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
mundo novo no Novo Mundo. Seu
nome é o da
constelação (…). Vera
Cruz, Santa Cruz, foram
sacros que impuzeram à
os nautas-
cavalleiros na semana
mystica do descobrimento. (…) Na
terra paradisíaca, por onde Eva
andava na verde floresta mais nua
do que anda hoje nas praias fulvas
de Copacabana, arvorou
signal de posse uma cruz (…)
Cruzeiro é um título
que inclue nas
suas tres syllabas um programma de
patriotismo. (O CRUZEIRO, 1928)
De linha editorial moderna, a
revista apoiava-
se no fotojornalismo e
na relevância da imagem, fotografia e
ilustrações, à semelhança da revista
LIFE americana, apresentando
temática diversa: notícias de
celebridades nacionais e
internacionais, com foco nos atores de
Hollywood, cinema, desporto, saúde,
humor, reportagens sobre temas de
fundo, política, culinária, moda e
literatura. Também publicava fotos de
viajantes e promov
ia concursos de
fotografia, constituindo
a publicidade
grande parte da publicação (que
chegava a ocupar 1/3 das suas
páginas).
A revista possuía também
uma secção de arquitetura (Casa
Nossa) e jardinagem (Nosso Jardim,
Nossa Chácara), e a partir de 1949 a
sua sede é
um edifício projetado por
Oscar Niemeyer (1907-
2012).
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
mundo novo no Novo Mundo. Seu
constelação (…). Vera
Cruz, Santa Cruz, foram
os nomes
sacros que impuzeram à
terra nova
cavalleiros na semana
mystica do descobrimento. (…) Na
terra paradisíaca, por onde Eva
andava na verde floresta mais nua
do que anda hoje nas praias fulvas
de Copacabana, arvorou
-se em
signal de posse uma cruz (…)
que inclue nas
suas tres syllabas um programma de
patriotismo. (O CRUZEIRO, 1928)
De linha editorial moderna, a
se no fotojornalismo e
na relevância da imagem, fotografia e
ilustrações, à semelhança da revista
LIFE americana, apresentando
temática diversa: notícias de
celebridades nacionais e
internacionais, com foco nos atores de
Hollywood, cinema, desporto, saúde,
humor, reportagens sobre temas de
fundo, política, culinária, moda e
literatura. Também publicava fotos de
ia concursos de
a publicidade
grande parte da publicação (que
chegava a ocupar 1/3 das suas
A revista possuía também
uma secção de arquitetura (Casa
Nossa) e jardinagem (Nosso Jardim,
Nossa Chácara), e a partir de 1949 a
um edifício projetado por
2012).
III.
Na revista “O Cruzeiro”, os
anúncios ao Hotel Amazonas ocupam
uma página inteira e o impressos
com qualidade fotográfica, sendo
compostos simultaneamente por texto
e imagens.
Figura 2
. Publicidade do Hotel Amazonas
publicada na revista O Cruzeiro, em
1950.10.07, edição 51, página 62. Enunciado
1.(O CRUZEIRO, 1950, p.62)
Ocupando integralmente uma
página da revista, a primeira
publicidade do Hotel Amazo
(Figura 2) mostra um cartão
entre folhagem abundante criando a
ilusão de transbordar do papel. O
306
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
Na revista “O Cruzeiro”, os
anúncios ao Hotel Amazonas ocupam
uma página inteira e o impressos
com qualidade fotográfica, sendo
compostos simultaneamente por texto
. Publicidade do Hotel Amazonas
publicada na revista O Cruzeiro, em
1950.10.07, edição 51, página 62. Enunciado
1.(O CRUZEIRO, 1950, p.62)
Ocupando integralmente uma
página da revista, a primeira
publicidade do Hotel Amazo
nas
(Figura 2) mostra um cartão
-postal
entre folhagem abundante criando a
ilusão de transbordar do papel. O
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
postal, ou fotografia, com uma borda
branca, apresenta uma perspetiva
exterior de um edifício, em vista rea,
onde se em letras pequenas:
“Propr
iedade de PRUDÊNCIA
CAPITALIZAÇÃO”.
Acima, no lado superior
esquerdo da página,
escrito:
“A ser brevemente inaugurado
HOTEL AMAZONAS
MANAUS • AMAZONAS •
BRASIL”
em que Hotel Amazonas surge em
letra maiúscula, e numa fonte que
remete para
cinema e livros de
aventura.
Em baixo, no lado inferior
direito, dentro
de um círculo, pode ler
se em destaque:
“Conheça o Inferno Verde gozando as
delícias de um Paraíso…
HOSPEDANDO-
SE NO
AMAZONAS
em que o slogan
do Hotel surge a
negrito e itálico e “Hotel Amazonas”
em negrito e letras maiúsculas. Por
baixo, numa fonte mais reduzida,
texto corrido, informativo, é
apresentado em itálico:
“Luxo e conforto nos seus 49
apartamentos.
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
postal, ou fotografia, com uma borda
branca, apresenta uma perspetiva
exterior de um edifício, em vista rea,
onde se em letras pequenas:
iedade de PRUDÊNCIA
Acima, no lado superior
encontra-se
“A ser brevemente inaugurado
HOTEL AMAZONAS
MANAUS • AMAZONAS •
em que Hotel Amazonas surge em
letra maiúscula, e numa fonte que
cinema e livros de
Em baixo, no lado inferior
de um círculo, pode ler
-
“Conheça o Inferno Verde gozando as
delícias de um Paraíso…
SE NO
HOTEL
do Hotel surge a
negrito e itálico e “Hotel Amazonas”
em negrito e letras maiúsculas. Por
baixo, numa fonte mais reduzida,
um
texto corrido, informativo, é
“Luxo e conforto nos seus 49
Ar condicionado, restaurante,
etc.”
No segundo enunciado (Figura
3), pode ler-
se logo no topo da página:
“UM PARAÍSO EM PLENA
AMAZÓ
NIA…
em que as letras configurando a
palavra AMAZÓNIA
surgem num tamanho de fonte maior,
em negrito e com um estilo de fonte
ondulante e quase manuscrito, em que
a sílaba ZO
aparece destacada e
desalinhada em relação ao resto da
palavra.
A parte superior da página é
ainda ocupada por uma ilustração
estilizada
de uma arara pousada numa
tabuleta de beira-de-
estrada onde está
escrito “HOTEL AMAZONAS” e por
baixo da qual se “AMAZONAS
MANAUS – BRASIL”.
307
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
Ar condicionado, restaurante,
boite,
etc.”
No segundo enunciado (Figura
se logo no topo da página:
“UM PARAÍSO EM PLENA
NIA…
”.
em que as letras configurando a
e as reticências
surgem num tamanho de fonte maior,
em negrito e com um estilo de fonte
ondulante e quase manuscrito, em que
aparece destacada e
desalinhada em relação ao resto da
A parte superior da página é
ainda ocupada por uma ilustração
de uma arara pousada numa
estrada onde está
escrito “HOTEL AMAZONAS” e por
baixo da qual se “AMAZONAS
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
Figura 3
. Publicidade do Hotel Amazonas
publicada na revista O Cruzeiro
em1951.05.12, edição 30, página 48.
Enunciado 2.(O CRUZEIRO, 1951, p.48)
À sua direita, e imediatamente
por baixo da palavra AMAZÓNIA,
encontra-
se também um bloco de texto
justificado, de 9 linhas, com um
tamanho de fonte reduzido e fonte
serifada:
Houve
um tempo em que a natureza
dominava a Amazónia… Floresta
bruta. Rio-
mar. Feras, répteis, índios
inferno verde! Mas chegou a vez
do homem… Em plena selva edificou
uma metrópole; ao lado do
construiu um
paraíso
HOTEL AMAZONAS! Hospede
Hotel Amazonas e goze as delícias
de um paraíso tropical.
Apartamentos comuns de luxo e
super luxo com ar condicionado,
bares, barbeiro, salão para senhoras,
restaurante, boite e jardim tropical.
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
. Publicidade do Hotel Amazonas
publicada na revista O Cruzeiro
em1951.05.12, edição 30, página 48.
Enunciado 2.(O CRUZEIRO, 1951, p.48)
À sua direita, e imediatamente
por baixo da palavra AMAZÓNIA,
se também um bloco de texto
justificado, de 9 linhas, com um
tamanho de fonte reduzido e fonte
um tempo em que a natureza
dominava a Amazónia… Floresta
mar. Feras, répteis, índios
inferno verde! Mas chegou a vez
do homem… Em plena selva edificou
uma metrópole; ao lado do
inferno
paraíso
de conforto:
HOTEL AMAZONAS! Hospede
-se no
Hotel Amazonas e goze as delícias
de um paraíso tropical.
Apartamentos comuns de luxo e
super luxo com ar condicionado,
bares, barbeiro, salão para senhoras,
restaurante, boite e jardim tropical.
A parte inferior do anúncio é
inteiramente ocupada
ilustração em estilo realista que ocupa
mais de metade da página. Nela
podem ver-
se três vitórias
maior das quais es representado o
edifício do Hotel Amazonas, flutuando
sobre uma superfície de água calma
de onde emergem folhas de outr
plantas e que se estende até aos
limites laterais e inferior da página.
Em gênero
de legenda, do lado
direito, lê-
se por cima desta ilustração
o slogan
da campanha: “Conheça o
Inferno Verde gosando (sic) as delícias
de um Paraíso”.
Em fonte ainda mais r
de tipo sem-
serifa, do lado esquerdo,
está escrito por baixo da imagem com
a tabuleta e a arara:
“Informações:
Em todas as agências de turismo ou
Depto. de Turismo do Hotel Amazonas
Caixa Postal, 1843
Numa pequena caixa, na base
do
anúncio, sobre a água,
“Propriedade de PRUDÊNCIA
CAPITALIZAÇÃO”.
textos, a assinatura da agência de
publicidade PANAM-
Casa de Amigos
surge em fonte muito reduzida e quase
impercetível, por baixo das ilustrações.
308
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
A parte inferior do anúncio é
inteiramente ocupada
por uma
ilustração em estilo realista que ocupa
mais de metade da página. Nela
se três vitórias
-régias, na
maior das quais es representado o
edifício do Hotel Amazonas, flutuando
sobre uma superfície de água calma
de onde emergem folhas de outr
as
plantas e que se estende até aos
limites laterais e inferior da página.
de legenda, do lado
se por cima desta ilustração
da campanha: “Conheça o
Inferno Verde gosando (sic) as delícias
Em fonte ainda mais r
eduzida e
serifa, do lado esquerdo,
está escrito por baixo da imagem com
“Informações:
Em todas as agências de turismo ou
Depto. de Turismo do Hotel Amazonas
Caixa Postal, 1843
– São Paulo”
Numa pequena caixa, na base
anúncio, sobre a água,
-se:
“Propriedade de PRUDÊNCIA
Em ambos os
textos, a assinatura da agência de
Casa de Amigos
surge em fonte muito reduzida e quase
impercetível, por baixo das ilustrações.
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
A cenografia utilizada é, em
ambos os casos, híbrida, remetendo
no exemplo para alguns elementos
como o cartão-
postal, o folheto de
viagens e o cartaz de cinema (cenas
validadas, associadas a viagem, lazer
e aventura). O exemplo de anúncio
recorre ig
ualmente a múltiplos
elementos que remetem para as
fórmulas e os imaginários dos cartazes
de cinema de aventura (a ilustração
fantasiosa do edifício flutuando num
nenúfar gigante) e do fotojornalismo (a
composição entre texto informativo
ou história - e
imagem). São ainda
utilizados nos dois exemplos aspe
da própria publicidade do universo
imobiliário (a representação
arquitetô
nica bem como rmulas de
vocabulário).
III.i
Intertexto, Intertextualidade e
Interdiscurso
Conforme Maingueneau
(2008b), a
análise do discurso, como
um procedimento que se funda sobre
uma semântica global, apreende o
discurso integrando o conjunto dos
seus planos discursivos
simultaneamente, sem privilegiar um
deles como o plano fundamental, e
não sendo a lista desses planos u
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
A cenografia utilizada é, em
ambos os casos, híbrida, remetendo
no exemplo para alguns elementos
postal, o folheto de
viagens e o cartaz de cinema (cenas
validadas, associadas a viagem, lazer
e aventura). O exemplo de anúncio
ualmente a múltiplos
elementos que remetem para as
fórmulas e os imaginários dos cartazes
de cinema de aventura (a ilustração
fantasiosa do edifício flutuando num
nenúfar gigante) e do fotojornalismo (a
composição entre texto informativo
-
imagem). São ainda
utilizados nos dois exemplos aspe
ctos
da própria publicidade do universo
imobiliário (a representação
nica bem como rmulas de
Intertexto, Intertextualidade e
Conforme Maingueneau
análise do discurso, como
um procedimento que se funda sobre
uma semântica global, apreende o
discurso integrando o conjunto dos
seus planos discursivos
simultaneamente, sem privilegiar um
deles como o plano fundamental, e
não sendo a lista desses planos u
m
modelo definitivo ou impassível de
alterações ou destaque. Assim, os
planos discursivos considerados
servem à
finalidade de ilustrar a
variedade das dimensões de
linguagem (
MAINGUENEAU
permitir uma abordagem holística dos
enunciados conforme os
propostos.
A leitura destes anúncios revela
citações específicas a discursos
extrapublicitários (intertexto) bem
como ltiplas relações intertextuais
definidas como legítimas pelo campo
discursivo a que pertencem
(intertextualidade). O levantam
discursos presentes nos dois
exemplos desta campanha publicitária
revela também polifonia (múltiplas
vozes num mesmo texto) e
interdiscurso (a presença de um
discurso no outro mas também a
existência de um sistema de restrições
semânticas globais q
prática discursiva intersemiótica
(POSSENTI, 2002).
Nomeadamente, convergem no
espaço discursivo da publicidade do
Hotel Amazonas diversos tipos de
discursos e formações discursivas,
que incluem o discurso literário,
cinematográfico, religi
309
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
modelo definitivo ou impassível de
alterações ou destaque. Assim, os
planos discursivos considerados
finalidade de ilustrar a
variedade das dimensões de
MAINGUENEAU
, 2008b) e
permitir uma abordagem holística dos
enunciados conforme os
objetivos
A leitura destes anúncios revela
citações específicas a discursos
extrapublicitários (intertexto) bem
como ltiplas relações intertextuais
definidas como legítimas pelo campo
discursivo a que pertencem
(intertextualidade). O levantam
ento de
discursos presentes nos dois
exemplos desta campanha publicitária
revela também polifonia (múltiplas
vozes num mesmo texto) e
interdiscurso (a presença de um
discurso no outro mas também a
existência de um sistema de restrições
semânticas globais q
ue definem uma
prática discursiva intersemiótica
Nomeadamente, convergem no
espaço discursivo da publicidade do
Hotel Amazonas diversos tipos de
discursos e formações discursivas,
que incluem o discurso literário,
cinematográfico, religi
oso, arquite-
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
nico, pictórico, jornalístico,
radiofô
nico, imobiliário e histórico
narrativo.
A marca mais evidente do
discurso literário é a citação direta a
Inferno Verde
, sob a forma de negrito,
maiúsculas e entre aspas, cuja
expressão remete ao título
Alberto Rangel (1871-
1945) “Inferno
Verde” publicado em 1908.
da composição visual e tipográfica, o
discurso cinematográfico é invocado
por via indireta, numa linha de
interdiscurso remetente também ao
conceito de
Inferno Verde
re
ferência a inferno nesta expressão, e
a dicotomia entre inferno e paraíso,
utilizada no slogan
da campanha
publicitária, invocam, por sua vez o
discurso religioso, presente em vários
textos e tradições
mono e politeístas.
Por outro lado, o discurso
arquitetô
nico, e em particular o
movimento moderno na arquitetura,
são citados
através da imagem
reproduzida do edifício do Hotel
Amazonas, e da invocação de
empreendimentos anteriores da
3
Por exemplo, em ambos os filmes
“Kautschuk” (1938) e “Green Hell” (1940), c
ação decorre na floresta úmida sul
os títulos foram traduzidos para a língua
portuguesa como Inferno Verde.
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
nico, pictórico, jornalístico,
nico, imobiliário e histórico
-
A marca mais evidente do
discurso literário é a citação direta a
, sob a forma de negrito,
maiúsculas e entre aspas, cuja
expressão remete ao título
do livro de
1945) “Inferno
Verde” publicado em 1908.
Para além
da composição visual e tipográfica, o
discurso cinematográfico é invocado
por via indireta, numa linha de
interdiscurso remetente também ao
Inferno Verde
3
. A
ferência a inferno nesta expressão, e
a dicotomia entre inferno e paraíso,
da campanha
publicitária, invocam, por sua vez o
discurso religioso, presente em vários
mono e politeístas.
Por outro lado, o discurso
nico, e em particular o
movimento moderno na arquitetura,
através da imagem
reproduzida do edifício do Hotel
Amazonas, e da invocação de
empreendimentos anteriores da
Por exemplo, em ambos os filmes
“Kautschuk” (1938) e “Green Hell” (1940), c
uja
ação decorre na floresta úmida sul
-americana,
os títulos foram traduzidos para a língua
Prudência Capitalização, como o
Edifício Prudência.
elementos vi
suais não arquitet
dos enunciados vão buscar referências
à ilustração naturalista de flora e
fauna, proveniente do discurso
pictórico.
Quer a estrutura e composição
de gina, quer a pontuação e ritmo
do texto, particularmente no anúncio
de 1951 (
Figura
elementos cenográficos dos
jornalístico e radiofô
os anúncios, são empregues rmulas
e léxico do discurso
associados à esfera da construção e à
propriedade e comercialização de
bens imóveis.
Em associação com o discurso
literário e cinematográfico, em citação
direta, existe também o recurso a uma
estrutura própria do discurso
narrativo q
ue se inicia com a
expressão “Houve um tempo…”,
denunciando o seu atravessamento
pelo racismo e a colonialidade em
“Floresta bruta. Rio
répteis, índios
inferno verde! Mas
chegou a vez do homem…”.
Seguidamente, detalhamos com
maior pormenor os
efetivamente citados, quer em texto,
310
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
Prudência Capitalização, como o
Edifício Prudência.
Muitos dos
suais não arquitet
ônicos
dos enunciados vão buscar referências
à ilustração naturalista de flora e
fauna, proveniente do discurso
Quer a estrutura e composição
de gina, quer a pontuação e ritmo
do texto, particularmente no anúncio
Figura
3), recorrem a
elementos cenográficos dos
discursos
jornalístico e radiofô
nico. Em ambos
os anúncios, são empregues rmulas
e léxico do discurso
imobiliário,
associados à esfera da construção e à
propriedade e comercialização de
Em associação com o discurso
literário e cinematográfico, em citação
direta, existe também o recurso a uma
estrutura própria do discurso
histórico-
ue se inicia com a
expressão “Houve um tempo…”,
denunciando o seu atravessamento
pelo racismo e a colonialidade em
“Floresta bruta. Rio
-mar. Feras,
inferno verde! Mas
chegou a vez do homem…”.
Seguidamente, detalhamos com
maior pormenor os
fragmentos
efetivamente citados, quer em texto,
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
quer em imagem, que constituem o
intertexto desta publicidade,
centrando-
se nos meandros e
imaginário
que associam a floresta da
Amazónia a um
Inferno Verde
ramificações presentes no
“Conheça o I
nferno Verde gozando as
delícias de um Paraíso”,
particularmente derivadas dos
discursos literário, cinematográfico,
religioso, arquitetô
nico e pictórico.
1) Inferno Verde
“Inferno Verde”
(1908), de
Alberto Rangel, é um livro que remete
à época do ciclo da borracha,
narrando
na história com o mesmo
nome a aventura trágica de um
engenheiro em busca de fortuna nos
seringais da Amazó
nia, entre outros
contos detalhando diversos aspe
da
região explorada pela indústria
seringalista. Segundo Queiroz (2017),
esta obra torna-
se referência, em
conjunto com “À Margem da História”
(1909) de Euclides da Cunha (1866
1909), para um grande número de
narrativas
posteriores que utilizam o
espaço amazó
nico como tema,
inscrevendo-
se na “tradição de um
discurso da selva “infernal”.
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
quer em imagem, que constituem o
intertexto desta publicidade,
se nos meandros e
que associam a floresta da
Inferno Verde
e às
ramificações presentes no
slogan
nferno Verde gozando as
delícias de um Paraíso”,
particularmente derivadas dos
discursos literário, cinematográfico,
nico e pictórico.
(1908), de
Alberto Rangel, é um livro que remete
à época do ciclo da borracha,
na história com o mesmo
nome a aventura trágica de um
engenheiro em busca de fortuna nos
nia, entre outros
contos detalhando diversos aspe
ctos
região explorada pela indústria
seringalista. Segundo Queiroz (2017),
se referência, em
conjunto com “À Margem da História”
(1909) de Euclides da Cunha (1866
-
1909), para um grande número de
posteriores que utilizam o
nico como tema,
se na “tradição de um
discurso da selva “infernal”.
Não se limitando a uma
descrição do confronto com elementos
autóctones da floresta amaz
clima extremo à transmissão de
doenças como a malária e aos
possíveis ataques d
livro também aborda conflitos de
origem social, existentes nesse
mesmo espaço, incluindo a dureza das
condições de trabalho, o sistema de
escravidão por dívida,
psicológica e
isolamento impostos aos
seringueiros nas regiõ
mais remotas, pelos proprietários dos
seringais desfrutando dos lucros nas
áreas urbanas adjacentes,
também narrado em “A Selva” (1930),
de Ferreira de Castro (1898
No universo cinematográfico,
“Kautschuk” (1938), de Eduard vo
Bosordy (1898-
1970), com o título
traduzido em português para Inferno
Verde, é um
filme alemão que conta
com a exploração da borracha também
como tema principal. Produzido
durante a fase de expansão da
Ale
manha nazi, e realizado na
Amazó
nia, com elenco d
brasileiros,
este filme de tom
militarista, elogia a gica de sacrifício
pela pátria (
ROCHA FILHO
que viria a ser recuperada durante o
311
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
Não se limitando a uma
descrição do confronto com elementos
autóctones da floresta amaz
ónica, do
clima extremo à transmissão de
doenças como a malária e aos
possíveis ataques d
e animais, este
livro também aborda conflitos de
origem social, existentes nesse
mesmo espaço, incluindo a dureza das
condições de trabalho, o sistema de
escravidão por dívida,
violência física e
isolamento impostos aos
seringueiros nas regiõ
es florestais
mais remotas, pelos proprietários dos
seringais desfrutando dos lucros nas
áreas urbanas adjacentes,
conforme
também narrado em “A Selva” (1930),
de Ferreira de Castro (1898
-1974).
No universo cinematográfico,
“Kautschuk” (1938), de Eduard vo
n
1970), com o título
traduzido em português para Inferno
filme alemão que conta
com a exploração da borracha também
como tema principal. Produzido
durante a fase de expansão da
manha nazi, e realizado na
nia, com elenco d
e alemães e
este filme de tom
militarista, elogia a gica de sacrifício
ROCHA FILHO
, 2019),
que viria a ser recuperada durante o
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
ciclo da borracha no Brasil
implicando o alistamento compulsório
de dezenas de milhares de homens,
sujeitos a condições idênticas e
elevada taxa de mortalidade, cujos
sobreviventes nunca viriam a ser
recompensados formalmente.
Segundo Rocha Filho, este filme
apoia-se ainda nos gênero
s de cinema
de aventura clássico e cinema
etnográfico, para narrar o início do fim
do monopólio brasileiro de borracha
natural
precipitado pela introdução
de plantas contrabandeadas
Ingleses
na Malásia no final do século
XIX.
Diversos outros livros e filmes
posteriores
4
até à década de 1950
utilizam também a expressão
verde
nos seus títulos, como é o caso
de “Green Hell”
(1940), de James
Whale (1889-
1957), filme norte
americano que con
ta a história de um
grupo de aventureiros à procura de um
tesouro inca na floresta do sul da
Amazó
nia. Filmado na Califórnia, este
filme segue também o formato de
cinema de aventura, sendo
4
Bem como outras expressões culturais,
incluindo discos, e mais recentemente
estendendo-
se também a outros objetos
multimédia, como j
ogos de vídeo e de
computador.
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
ciclo da borracha no Brasil
-
implicando o alistamento compulsório
de dezenas de milhares de homens,
sujeitos a condições idênticas e
elevada taxa de mortalidade, cujos
sobreviventes nunca viriam a ser
recompensados formalmente.
Segundo Rocha Filho, este filme
s de cinema
de aventura clássico e cinema
etnográfico, para narrar o início do fim
do monopólio brasileiro de borracha
precipitado pela introdução
de plantas contrabandeadas
pelos
na Malásia no final do século
Diversos outros livros e filmes
até à década de 1950
utilizam também a expressão
inferno
nos seus títulos, como é o caso
(1940), de James
1957), filme norte
-
ta a história de um
grupo de aventureiros à procura de um
tesouro inca na floresta do sul da
nia. Filmado na Califórnia, este
filme segue também o formato de
cinema de aventura, sendo
Bem como outras expressões culturais,
incluindo discos, e mais recentemente
se também a outros objetos
ogos de vídeo e de
protagonizado por norte
contando
na sua sinopse narrat
com confrontos com comunidades
indígenas.
2)
Paraíso e Inferno
A dicotomia entre paraíso e
inferno é retomada em referência a
diversas tradições religiosas, orais e
escritas, entre as quais em particular
as religiões monoteístas
e islâmica.
O termo paraíso deriva da
expressão utilizada na antiga Pérsia
para designar um jardim, uma reserva
de caça murada, ou uma reserva de
vida selvagem. No cristianismo, no
judaísmo e no islamismo é utilizado
para designar um lugar aprazível, onde
o
clima é ameno e abundância de
alimentos e recursos, definindo um
lugar ideal frequentemente fora do
plano terrestre. Coincidindo com a
noção de Éden, o
paraíso é também
um lugar utópico, sem mal, pecado,
desconforto,
guerras, doenças ou
morte.
Por outro
lado, o termo inferno
designa de forma geral a morada ou
submundo dos mortos, dentro de um
grande grupo de religiões e mitologias.
É também utilizado para designar um
312
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
protagonizado por norte
-americanos e
na sua sinopse narrat
iva
com confrontos com comunidades
Paraíso e Inferno
A dicotomia entre paraíso e
inferno é retomada em referência a
diversas tradições religiosas, orais e
escritas, entre as quais em particular
as religiões monoteístas
judaica, cristã
O termo paraíso deriva da
expressão utilizada na antiga Pérsia
para designar um jardim, uma reserva
de caça murada, ou uma reserva de
vida selvagem. No cristianismo, no
judaísmo e no islamismo é utilizado
para designar um lugar aprazível, onde
clima é ameno e abundância de
alimentos e recursos, definindo um
lugar ideal frequentemente fora do
plano terrestre. Coincidindo com a
paraíso é também
um lugar utópico, sem mal, pecado,
guerras, doenças ou
lado, o termo inferno
designa de forma geral a morada ou
submundo dos mortos, dentro de um
grande grupo de religiões e mitologias.
É também utilizado para designar um
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
lugar de tormenta, castigo,
condenação e grande sofrimento pós
morte, sendo por vezes as
um lugar ou lago de fogo.
3)
Arquitetura Moderna
“Cinco Pontos da Nova
Arquitetura” (1926), da autoria de Le
Corbusier (1887-
1965) é o texto
fundador que introduz e sintetiza as
características da arquitetura moderna,
em rup
tura com estilos precede
vindo mais tarde a ser também
designada por estilo internacional.
Os cinco atributos descritos
neste texto
são observados quer pelo
edifício Prudência, quer pelo edifício
do Hotel Amazonas, caracterizando
por: construção elevada sobre pilotis;
co
bertura plana com terraço
planta livre da estrutura (com o uso de
pilar-
viga em grelhas ortogonais,
gerando flexibilidade para otimização
espacial interna);
fachada livre de
elementos estruturais (pilares com
recuos nas lajes para tornar a abertura
de vãos mais flexível); e janela em fita
(rasgada de um ponto ao outro da
fachada, a determinada altura, de
acordo com a melhor orientação solar)
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
lugar de tormenta, castigo,
condenação e grande sofrimento pós
-
morte, sendo por vezes as
sociado a
Arquitetura Moderna
“Cinco Pontos da Nova
Arquitetura” (1926), da autoria de Le
1965) é o texto
fundador que introduz e sintetiza as
características da arquitetura moderna,
tura com estilos precede
ntes,
vindo mais tarde a ser também
designada por estilo internacional.
Os cinco atributos descritos
são observados quer pelo
edifício Prudência, quer pelo edifício
do Hotel Amazonas, caracterizando
-se
por: construção elevada sobre pilotis;
bertura plana com terraço
-jardim;
planta livre da estrutura (com o uso de
viga em grelhas ortogonais,
gerando flexibilidade para otimização
fachada livre de
elementos estruturais (pilares com
recuos nas lajes para tornar a abertura
de vãos mais flexível); e janela em fita
(rasgada de um ponto ao outro da
fachada, a determinada altura, de
acordo com a melhor orientação solar)
.
4)
Ilustração Naturalista e
de Viagem
As ilustrações dos dois
anúncios
do Hotel Amazonas remetem
para uma
série interdiscursiva de
pintura e ilustração técnica de temática
naturalista.
Com particular ê
enunciados em análise, encontram
referências quer às representações
estilizadas de elementos naturais em
cartazes e pô
steres promocionais de
destino
s “exóticos” divulgados na área
do turismo
durante o século XX, quer
as representações que acompanham o
registo dos territórios colonizados das
Américas a partir do século XVI.
III.ii
Estatuto do Enunciador e
Coenunciadores e Ethos Discursivo
O enunciador Prudência
Capitalização-
Hotel Amazonas
apresenta-
se essencialmente como
um representante do modernismo na
arquitetura, padrões de conforto
elevados, tecnologia avançada e
construção de qualidade, dirigindo
a um coenunciador capaz não de
reconhecer mas de desejar adquirir
essas propriedades. Estes
coenunciadores, como leitores da
revista “O Cruzeiro”, são por outro lado
assumidos como indivíduos com poder
313
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
Ilustração Naturalista e
As ilustrações dos dois
do Hotel Amazonas remetem
série interdiscursiva de
pintura e ilustração técnica de temática
Com particular ê
nfase nos
enunciados em análise, encontram
-se
referências quer às representações
estilizadas de elementos naturais em
steres promocionais de
s “exóticos” divulgados na área
durante o século XX, quer
as representações que acompanham o
registo dos territórios colonizados das
Américas a partir do século XVI.
Estatuto do Enunciador e
Coenunciadores e Ethos Discursivo
O enunciador Prudência
Hotel Amazonas
se essencialmente como
um representante do modernismo na
arquitetura, padrões de conforto
elevados, tecnologia avançada e
construção de qualidade, dirigindo
-se
a um coenunciador capaz não de
reconhecer mas de desejar adquirir
essas propriedades. Estes
coenunciadores, como leitores da
revista “O Cruzeiro”, são por outro lado
assumidos como indivíduos com poder
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
de compra ou estatuto para viajar a
trabalho, negócios ou lazer (incluindo
passeios d
e turismo e férias em
família) para a região da Amaz
Como público desta revista,
onde era frequente tanto o foto
jornalismo de viagem como o
jornalismo de celebridades, estes
coenunciadores podem ser entendidos
como um público misto quanto ao
gênero (
masculino e feminino), de
classe social média a alta, aderentes
ou aspirantes a um estilo de vida
moderno e urbano, e sensíveis aos
atributos de “luxo e super luxo”,
“conforto” e demais propriedades
metropolitanas atribuídas ao Hotel.
O enunciado é igualme
produzido tendo em conta alguma
familiarização prévia do coenunciador
com as principais marcas de
intertextualidade (a fórmula literária e
cinematográfica da expressão “Inferno
Verde”, a dicotomia de origem religiosa
entre paraíso e inferno, os cinco
p
ontos da arquitetura moderna
reproduzidos à época na arquitetura
moderna brasileira, e a linguagem
visual da ilustração naturalista e de
viagem).
Entre enunciador e
coenunciador é também estabelecido
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
de compra ou estatuto para viajar a
trabalho, negócios ou lazer (incluindo
e turismo e férias em
família) para a região da Amaz
ónia.
Como público desta revista,
onde era frequente tanto o foto
-
jornalismo de viagem como o
jornalismo de celebridades, estes
coenunciadores podem ser entendidos
como um público misto quanto ao
masculino e feminino), de
classe social média a alta, aderentes
ou aspirantes a um estilo de vida
moderno e urbano, e sensíveis aos
atributos de “luxo e super luxo”,
“conforto” e demais propriedades
metropolitanas atribuídas ao Hotel.
O enunciado é igualme
nte
produzido tendo em conta alguma
familiarização prévia do coenunciador
com as principais marcas de
intertextualidade (a fórmula literária e
cinematográfica da expressão “Inferno
Verde”, a dicotomia de origem religiosa
entre paraíso e inferno, os cinco
ontos da arquitetura moderna
reproduzidos à época na arquitetura
moderna brasileira, e a linguagem
visual da ilustração naturalista e de
Entre enunciador e
coenunciador é também estabelecido
um acordo tácito quanto à partilha de
valores ideológico
s, expresso em
particular no enunciado de 1951, que
permite fundamentar esta prática
discursiva sobre um viés
antropocêntrico (“Houve um tempo em
que a natureza dominava a
Amazó
nia… (…) Mas chegou a vez do
homem…”) e urbano
domínio da const
rução sobre a
natureza (“edificou uma metrópole”,
“construiu um paraíso de conforto”)
que é valorizado. Por outro lado,
subentende-
se também no espaço
discursivo a normalização de uma
narrativa de índole racista e colonial:
“Feras, répteis, índios
Mas chegou a vez do homem…”,
comum entre a audiência
maioritariamente branca e privilegiada
da revista.
Dentro dos planos discursivos, o
modo de dizer contribui para formular
uma projeção do enunciador, nos seus
interlocutores, de forma a melhor
exercer persuasão
sobre estes. Esse
ethos
discursivo, como afirma
Maingueneau (2008a, 2008b, 2018) é
a garantia da presença de um corpo, e
o modo de ser e habitar desse corpo
expressam um carácter e uma
corporalidade de um fiador,
314
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
um acordo tácito quanto à partilha de
s, expresso em
particular no enunciado de 1951, que
permite fundamentar esta prática
discursiva sobre um viés
antropocêntrico (“Houve um tempo em
que a natureza dominava a
nia… (…) Mas chegou a vez do
homem…”) e urbano
-progressista de
rução sobre a
natureza (“edificou uma metrópole”,
“construiu um paraíso de conforto”)
que é valorizado. Por outro lado,
se também no espaço
discursivo a normalização de uma
narrativa de índole racista e colonial:
“Feras, répteis, índios
inferno verde!
Mas chegou a vez do homem…”,
comum entre a audiência
maioritariamente branca e privilegiada
Dentro dos planos discursivos, o
modo de dizer contribui para formular
uma projeção do enunciador, nos seus
interlocutores, de forma a melhor
sobre estes. Esse
discursivo, como afirma
Maingueneau (2008a, 2008b, 2018) é
a garantia da presença de um corpo, e
o modo de ser e habitar desse corpo
expressam um carácter e uma
corporalidade de um fiador,
projetado
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
e imaginado pel
os seus destinatários,
da instância enunciativa. Assim, o
ethos permite simultaneamente que o
coenunciador confira um corpo ao
interlocutor e incorpore o seu mundo
ético, aderindo a uma comunidade
discursiva partilhada. Este movimento
de incorporação é rea
lizado pelo
convite que o fiador faz ao(s)
coenunciador(es) -
apoiando
quadro ideológico e de valores
partilhado e numa empatia com a sua
forma de ser e estar, para adesão ao
seu mundo.
Embora a corporalidade,
carácter e posicionamento ideológico
desse fiador (
MAINGUENAU
não sejam sempre explícitos n
enunciados
, estes podem ser
assumidos pelos coenunciadores. Nos
anúncios do Hotel Amazonas,
nomeadamente em relação à
corporalidade, é possível identificar o
enunciador como um homem branco,
co
m uma voz própria da locução do
rádio e cinema
5
, tal como demonstrado
pelas marcas de oralidade no texto
(
pausas e interrupções nas frases,
5
Em conformidade com o contexto discursivo
da revista “O Cruzeiro” e as formações
profissionais dentro da instância enunciativa,
em particular da agência publicitária.
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
os seus destinatários,
da instância enunciativa. Assim, o
ethos permite simultaneamente que o
coenunciador confira um corpo ao
interlocutor e incorpore o seu mundo
ético, aderindo a uma comunidade
discursiva partilhada. Este movimento
lizado pelo
convite que o fiador faz ao(s)
apoiando
-se num
quadro ideológico e de valores
partilhado e numa empatia com a sua
forma de ser e estar, para adesão ao
Embora a corporalidade,
carácter e posicionamento ideológico
MAINGUENAU
, 2008b)
não sejam sempre explícitos n
os
, estes podem ser
assumidos pelos coenunciadores. Nos
anúncios do Hotel Amazonas,
nomeadamente em relação à
corporalidade, é possível identificar o
enunciador como um homem branco,
m uma voz própria da locução do
, tal como demonstrado
pelas marcas de oralidade no texto
pausas e interrupções nas frases,
Em conformidade com o contexto discursivo
da revista “O Cruzeiro” e as formações
profissionais dentro da instância enunciativa,
em particular da agência publicitária.
reticências (…), pontos de exclamação
(!), e MAIÚSCULAS)
, e na linguagem
visual cinematográfica adotada, em
associação com um ethos pré
discursivo das instâncias de
enunciação
(isto é, da sua imagem
anterior aos enunciados). De estilo
moderno e cuidado na sua aparência,
urbano, carismático, sociável,
aventureiro e apreciador dos prazeres
da vida cosmopolita
viagens, a representação do
enunciador surge associada ao
universo dos meios de comunicação, e
a um mundo novo e glamoroso,
luxo, conforto, modernidade
tecnológica, bem-
estar e lazer,
veiculado por estes e
apenas a uma parte da popul
Em relação ao posicionamento
ideológico, são identificados e
assumidos nesse ethos
antropocentrismo (predominância do
homem sobre a natureza), a
colonialidade (hierarquização da
cultura de raiz europeia
todas as outras) e o racismo ext
(desumanização dos povos indígenas),
6
Conforme a importância conferida às
amenidades do hotel,
como barbeiro, salão de
beleza para senhoras, e espaços de
socialização como jardim,
boite
315
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
reticências (…), pontos de exclamação
, e na linguagem
visual cinematográfica adotada, em
associação com um ethos pré
-
discursivo das instâncias de
(isto é, da sua imagem
anterior aos enunciados). De estilo
moderno e cuidado na sua aparência,
urbano, carismático, sociável,
aventureiro e apreciador dos prazeres
da vida cosmopolita
6
incluindo as
viagens, a representação do
enunciador surge associada ao
universo dos meios de comunicação, e
a um mundo novo e glamoroso,
de
luxo, conforto, modernidade
estar e lazer,
veiculado por estes e
acessível
apenas a uma parte da popul
ação.
Em relação ao posicionamento
ideológico, são identificados e
assumidos nesse ethos
o
antropocentrismo (predominância do
homem sobre a natureza), a
colonialidade (hierarquização da
cultura de raiz europeia
cristã sobre
todas as outras) e o racismo ext
remo
(desumanização dos povos indígenas),
Conforme a importância conferida às
como barbeiro, salão de
beleza para senhoras, e espaços de
boite
, e restaurante.
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
associados a uma valorização da
modernidade.
Entre enunciador e
coenunciadores é ainda estabelecida a
pressuposição de simultânea repulsa e
atração pelo que representa a
expressão “Inferno Verde”, o
patrimônio natu
ral e cultural da floresta
amazó
nica como registo distante e
oposto às comodidades urbanas.
No ethos discursivo da
publicidade ao Hotel Amazonas e em
particular no slogan
“Conheça o
Inferno Verde gozando as delícias de
um Paraíso”, está assim implícito o
convite para os coenunciadores
participarem do seu mundo de conforto
construído -
dotado de todas as
comodidades proporcionadas pela
tecnologia, como a climatização
mecânica, permitindo controlar os
desconfortos do mundo natural,
estes se podem movime
ntar de forma
elegante e moderna e aventurar
nos meandros da selva amaz
sem no entanto prescindir do bem
estar e do luxo.
Através do Hotel Amazonas, os
coenunciadores conseguem
ingressar no cenário de
cinematográfico e conforto
metropolitano que o fiador parece
habitar, com direito a espaços de lazer
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
associados a uma valorização da
Entre enunciador e
coenunciadores é ainda estabelecida a
pressuposição de simultânea repulsa e
atração pelo que representa a
expressão “Inferno Verde”, o
ral e cultural da floresta
nica como registo distante e
oposto às comodidades urbanas.
No ethos discursivo da
publicidade ao Hotel Amazonas e em
“Conheça o
Inferno Verde gozando as delícias de
um Paraíso”, está assim implícito o
convite para os coenunciadores
participarem do seu mundo de conforto
dotado de todas as
comodidades proporcionadas pela
tecnologia, como a climatização
mecânica, permitindo controlar os
desconfortos do mundo natural,
onde
ntar de forma
elegante e moderna e aventurar
-se
nos meandros da selva amaz
ónica,
sem no entanto prescindir do bem
-
Através do Hotel Amazonas, os
coenunciadores conseguem
então
ingressar no cenário de
glamour
cinematográfico e conforto
metropolitano que o fiador parece
habitar, com direito a espaços de lazer
e socialização exclusivos
um exotismo tropical e mundo de
aventuras, controlados.
III.iii
Semântica doutros Planos
Discursivos
Nos anúncios
indicativos da identidade do
enunciador (apenas “Propriedade
Prudência Capitalização”, nenhum
pronome pessoal ou verbo na
pessoa), e a relação entre enunciador
e coenunciador é expressa por frases
no modo imperativo: “Conheça o
Inferno Ve
rde gozando as delícias de
um Paraíso…”.
“Hospede
Amazonas e goze as delícias de um
paraíso tropical.”
Pelo contrário, a localização
espácio-
temporal é preenchida por
diversos indicativos de tempo, entre
um passado quase longínquo
um te
mpo…”) e um presente
ser brevemente inaugurado”, “chegou
a vez do homem.”); e de indicativos de
lugar, também entre polos distintos e
opostos, bastante específicos, como
“MANAUS AMAZONAS BRASIL”,
“EM PLENA
AMAZ
plena selva edificou uma metrópole; ao
lado do inferno construiu um paraíso
316
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
e socialização exclusivos
e acesso a
um exotismo tropical e mundo de
aventuras, controlados.
Semântica doutros Planos
Nos anúncios
existem poucos
indicativos da identidade do
enunciador (apenas “Propriedade
Prudência Capitalização”, nenhum
pronome pessoal ou verbo na
pessoa), e a relação entre enunciador
e coenunciador é expressa por frases
no modo imperativo: “Conheça o
rde gozando as delícias de
“Hospede
-se no Hotel
Amazonas e goze as delícias de um
Pelo contrário, a localização
temporal é preenchida por
diversos indicativos de tempo, entre
um passado quase longínquo
(“Houve
mpo…”) e um presente
-futuro (“A
ser brevemente inaugurado”, “chegou
a vez do homem.”); e de indicativos de
lugar, também entre polos distintos e
opostos, bastante específicos, como
“MANAUS AMAZONAS BRASIL”,
AMAZ
ÓNIA…”, “Em
plena selva edificou uma metrópole; ao
lado do inferno construiu um paraíso
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
de conforto.”, e “(…)no Hotel
Amazonas”.
Da mesma forma, os temas
reconhecidos nestes anúncios são
constituídos em particular por
binô
mios: inferno/paraíso;
passado/present
e; floresta
Quadro 1
. Valorização semântica na publicidade do Hotel Amazonas
SEMAS NEGATIVOS
PASSADO
“tempo em que a natureza dominava
a Amazónia…”
MUNDO NATURAL
AMAZÓNIA
“Floresta bruta. Rio-
mar. Feras,
répteis, índios –inferno verde! “
INFERNO (VERDE)
“plena selva”
“inferno”
A utilização de
outros elementos
linguísticos reforça também
valorização, nomeadamente através
da enumeração longa e o uso de etc.”
sobre as amenidades do hotel para
significar que são muitas e extensas, e
da enfatização e superlativação (“de
luxo e super luxo”) enaltecendo as
condições de conforto dos
apartam
entos; bem como da
abundante adjetivação (floresta
inferno verde, plena
selva,
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
de conforto.”, e “(…)no Hotel
Da mesma forma, os temas
reconhecidos nestes anúncios são
constituídos em particular por
mios: inferno/paraíso;
e; floresta
selvagem
/modernidade e construção.
A valorização percebida nestes
enunciados permite assim formar um
esquema no qual se posicionam
ideologicamente as instâncias
enunciativas (Quadro 1).
. Valorização semântica na publicidade do Hotel Amazonas
SEMAS POSITIVOS
PRESENTE
“tempo em que a natureza dominava
“a vez do homem”
MUNDO NATURAL
-
MUNDO CONSTRUÍDO
AMAZONAS
mar. Feras,
“metrópole”
“paraíso de conforto”
“paraíso tropical”
INFERNO (VERDE)
PARAÍSO (TROPICAL)
“Apartamentos comuns de luxo e super
luxo com ar condicionado, bares, barbeiro, salão
para senhoras, restaurante,
boite
outros elementos
linguísticos reforça também
esta
valorização, nomeadamente através
da enumeração longa e o uso de etc.”
sobre as amenidades do hotel para
significar que são muitas e extensas, e
da enfatização e superlativação (“de
luxo e super luxo”) enaltecendo as
condições de conforto dos
entos; bem como da
abundante adjetivação (floresta
bruta,
selva,
plena
Amazónia, paraíso
tropical
) e utilização de estrangeirismo
(boite
) para reforçar o apelo moderno
e internacional do hotel.
Por outro lado, o uso da
conjunção adversativa “mas” reforça
essa oposição, definindo a tese do
anúncio: “chegou a vez do homem
Em plena selva edificou uma
metrópole; ao lado do
construiu um
paraíso
HOTEL AMAZONAS!”; em contraponto
317
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
/modernidade e construção.
A valorização percebida nestes
enunciados permite assim formar um
esquema no qual se posicionam
ideologicamente as instâncias
enunciativas (Quadro 1).
. Valorização semântica na publicidade do Hotel Amazonas
MUNDO CONSTRUÍDO
- HOTEL
“paraíso de conforto”
“paraíso tropical”
PARAÍSO (TROPICAL)
“Apartamentos comuns de luxo e super
luxo com ar condicionado, bares, barbeiro, salão
boite
e jardim tropical.”
tropical, jardim
) e utilização de estrangeirismo
) para reforçar o apelo moderno
e internacional do hotel.
Por outro lado, o uso da
conjunção adversativa “mas” reforça
essa oposição, definindo a tese do
anúncio: “chegou a vez do homem
Em plena selva edificou uma
metrópole; ao lado do
inferno
paraíso
de conforto:
HOTEL AMAZONAS!”; em contraponto
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
com a sua antítese: “Houve
em que a natureza dominava a
Amazó
nia… Floresta bruta. Rio
Feras, répteis, índios
inferno verde!”.
Assim como a escolha de tempos
verbais
define por associação inversa
uma valorização do domínio do
homem sobre a natureza (e por
extensão, da Amazó
nia) como ato
definitivo, a partir do momento que
constrói e edifica:
“a natureza
dominava a Amazó
nia” /”[o homem]
edificou uma metrópole”;
construiu
paraíso”.
A comunicação nestes anúncios
publicitários, enquanto objetos
multissemióticos, é
também efetuada
através de diversos signos não
verbais.
Embora, como refere Possenti
(2002) o signo não seja transparente,
sendo impossível fixar quais os seus
significados absolutos, é importante
mencionar as possíveis associações
entre elementos visuais
e as seguintes
ideias-
chave: evocação de
férias
(postal ilustrado),
tropical
(ilustrações de flora e fauna da
Amazó
nia, como a arara, vitórias
régias, palmeiras) e a referência a
cinema e livros de
aventura
da utilização pontual d
e tipografia com
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
com a sua antítese: “Houve
um tempo
em que a natureza dominava a
nia… Floresta bruta. Rio
-mar.
inferno verde!”.
Assim como a escolha de tempos
define por associação inversa
uma valorização do domínio do
homem sobre a natureza (e por
nia) como ato
definitivo, a partir do momento que
“a natureza
nia” /”[o homem]
construiu
um
A comunicação nestes anúncios
publicitários, enquanto objetos
também efetuada
através de diversos signos não
-
Embora, como refere Possenti
(2002) o signo não seja transparente,
sendo impossível fixar quais os seus
significados absolutos, é importante
mencionar as possíveis associações
e as seguintes
chave: evocação de
viagem e
(postal ilustrado),
paraíso
(ilustrações de flora e fauna da
nia, como a arara, vitórias
-
régias, palmeiras) e a referência a
aventura
(através
e tipografia com
fonte
manuscrita, selvagem ou
rústica).
Entretanto, a imagem quase
inequívoca de
modernidade
luxo
, no contexto s
considerado, é conferida através do
paradigma da arquitetura moderna,
expresso pela representação do
Amazonas sempre na mesma
perspetiva, evidenciando a utilização
de volumes paralelepipédicos simples,
assente sobre pilotis, com varandas de
abordagem bioclimática, cobertura
plana acessível com terraço
volume curvo dos acessos verticais.
Por outro lado, a representação do
edifício do hotel levitando no ar e na
água, em ambos os anúncios, sugere
uma ideia de
construção leve
relação com o contexto,
referência a um
universo fantástico
O conceito de que o hotel se
encontra no meio d
a selva amaz
num lugar distante e remoto, em
imersão na natureza
reforçado e construído através de
diversos mecanismos verbais (“
selva”, plena
Amaz
tropical”)
e visuais (tal como a
folhagem abundante que rodeia e
parcia
lmente cobre o cartão
dimensão sobrenatural do nenúfar
318
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
manuscrita, selvagem ou
Entretanto, a imagem quase
modernidade
, conforto e
, no contexto s
ócio-histórico
considerado, é conferida através do
paradigma da arquitetura moderna,
expresso pela representação do
Hotel
Amazonas sempre na mesma
perspetiva, evidenciando a utilização
de volumes paralelepipédicos simples,
assente sobre pilotis, com varandas de
abordagem bioclimática, cobertura
plana acessível com terraço
-jardim e
volume curvo dos acessos verticais.
Por outro lado, a representação do
edifício do hotel levitando no ar e na
água, em ambos os anúncios, sugere
construção leve
, sem
relação com o contexto,
e em
universo fantástico
.
O conceito de que o hotel se
a selva amaz
ónica,
num lugar distante e remoto, em
imersão na natureza
, é ainda
reforçado e construído através de
diversos mecanismos verbais (“
plena
Amaz
ónia”, “paraíso
e visuais (tal como a
folhagem abundante que rodeia e
lmente cobre o cartão
-postal, a
dimensão sobrenatural do nenúfar
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
onde o hotel flutua e os limites
inexistentes da água nessa mesma
imagem, e também a arara pousada
na tabuleta de beira da
estrada, como
símbolo de localização remota e
rusticidade).
Além
disso, é também
significativa a omissão de outros
signos, de forma a não contrariar as
ideias-
chave mencionadas, como a
omissão de árvores de borracha entre
a flora representada (que constituem o
contexto do próprio “Inferno Verde”
associado à indústria do
omissão do contexto urbano
representação do Hotel Amazonas, na
realidade composto por edifícios de
estilo pré-
moderno e carris de bonde,
construídos à época da expansão da
cidade de Manaus durante os
anteriores ciclos da borracha.
IV.
Conf
orme detalhado nesta
análise, na campanha publicitária do
Hotel Amazonas foram encontradas
diversas ramificações interdiscursivas,
algumas das quais remontam a um
passado concreto
e persistem até à
atualidade. Da mesma forma, são
também identificadas ten
contradições no seu âmago,
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
onde o hotel flutua e os limites
inexistentes da água nessa mesma
imagem, e também a arara pousada
estrada, como
símbolo de localização remota e
disso, é também
significativa a omissão de outros
signos, de forma a não contrariar as
chave mencionadas, como a
omissão de árvores de borracha entre
a flora representada (que constituem o
contexto do próprio “Inferno Verde”
látex), e a
omissão do contexto urbano
na
representação do Hotel Amazonas, na
realidade composto por edifícios de
moderno e carris de bonde,
construídos à época da expansão da
cidade de Manaus durante os
anteriores ciclos da borracha.
orme detalhado nesta
análise, na campanha publicitária do
Hotel Amazonas foram encontradas
diversas ramificações interdiscursivas,
algumas das quais remontam a um
e persistem até à
atualidade. Da mesma forma, são
também identificadas ten
es e
contradições no seu âmago,
particularmente informativas em
relação às instâncias enunciativas e
circunstâncias sócio
-
objetos publicitários.
Nomeadamente, são convoca
dos no espaço discursivo da
publicidade do Hotel Amazonas
diversos
tipos de discursos, que
incluem o literário, o cinematográfico, o
religioso, o arquitetô
nico, o pictórico e
o histórico-
narrativo. Em particular, as
referências literárias, históricas e
cinematográficas invocam uma mesma
expressão:
“Inferno Verde”,
designa
ção para a região da floresta
Amazó
nica radicada no período da
extração seringalista, associando o
espaço natural ao perigo, ao
sofrimento e à morte, e que se
prolonga sob diversas variações ao
longo de décadas.
Em conjunto com a sugestão de
contraste pro
veniente da esfera
religiosa entre paraíso e inferno e as
referências multissemióticas e
cenográficas associadas tanto à
arquitetura moderna como à ilustração
naturalista de um ambiente
tropical e fantasioso, com esta
expressão é criada a ilusão d
Hotel Amazonas seria uma “ilha” de
conforto, civilização e modernidade
319
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
particularmente informativas em
relação às instâncias enunciativas e
-
históricas destes
Nomeadamente, são convoca
-
dos no espaço discursivo da
publicidade do Hotel Amazonas
tipos de discursos, que
incluem o literário, o cinematográfico, o
nico, o pictórico e
narrativo. Em particular, as
referências literárias, históricas e
cinematográficas invocam uma mesma
“Inferno Verde”,
ção para a região da floresta
nica radicada no período da
extração seringalista, associando o
espaço natural ao perigo, ao
sofrimento e à morte, e que se
prolonga sob diversas variações ao
Em conjunto com a sugestão de
veniente da esfera
religiosa entre paraíso e inferno e as
referências multissemióticas e
cenográficas associadas tanto à
arquitetura moderna como à ilustração
naturalista de um ambiente
exótico,
tropical e fantasioso, com esta
expressão é criada a ilusão d
e que o
Hotel Amazonas seria uma “ilha” de
conforto, civilização e modernidade
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
num universo remoto, selvagem,
inóspito, e representativo de um
passado a ultrapassar.
No seio da relação construída
entre estes discursos também uma
simultaneidade de tensõe
valorização do espaço amaz
relação estabelecida entre construção
e natureza. Assim, no enunciado estão
simultaneamente presentes as ideias
contrárias de que a Amaz
extensão, o espaço natural,
potencialmente evocam tanto um
ce
nário de inferno quanto o de paraíso
tropical
que é acionado pela
invocação das representações
pictóricas de paraíso como floresta
tropical a partir do século XVI, e pela
descrição do Brasil pré
como “terra paradisíaca” na visão
veiculada pelo
1º editorial da revista “O
Cruzeiro”.
No mesmo sentido, para além
do convite ético feito ao interlocutor
para participar do mundo construído
do Hotel Amazonas, há também um
convite explícito no seu
slogan
conhecer o
Inferno Verde
Amazónia (o
património natural da
floresta tropical úmida) -
que, apesar
da sua conotação semântica de
desconforto e perigo, implica também
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
num universo remoto, selvagem,
inóspito, e representativo de um
No seio da relação construída
entre estes discursos também uma
simultaneidade de tensõe
s quanto à
valorização do espaço amaz
ónico e à
relação estabelecida entre construção
e natureza. Assim, no enunciado estão
simultaneamente presentes as ideias
contrárias de que a Amaz
ónia, e por
extensão, o espaço natural,
potencialmente evocam tanto um
nário de inferno quanto o de paraíso
que é acionado pela
invocação das representações
pictóricas de paraíso como floresta
tropical a partir do século XVI, e pela
descrição do Brasil pré
-colonizado
como “terra paradisíaca” na visão
1º editorial da revista “O
No mesmo sentido, para além
do convite ético feito ao interlocutor
para participar do mundo construído
do Hotel Amazonas, há também um
slogan
para
Inferno Verde
- a
património natural da
que, apesar
da sua conotação semântica de
desconforto e perigo, implica também
o reconhecimento de valores de
interesse nesse exotismo como
espaço de aventura, lazer, turismo e
contemplação -
valores da esfe
cultural dos serviços desse
ecossistema.
Concomitantemente, a
expressão “Inferno Verde” é invocada
como um elemento de atração pela
invocação do risco e de proximidade
ao perigo.
A alusão nostálgica ao
período de exploração lucrativa dos
seringais, cont
ida nessa mesma
expressão, embora de forma
propositadamente velada, é uma
possibilidade uma vez que não sendo
valorizada de alguma forma, não seria
mencionada.
A referência à designação
“Inferno Verde” segue assim os
objetivos de construção de um
simulacr
o, tal como definido por
Possenti (2002),
distorções a diversos níveis do espaço
amazó
nico, junto do qual o Hotel
Amazonas ganha atratividade. A
descrição “Floresta bruta. Rio
Feras, répteis, índios
por exemplo, simplifi
literária original, omitindo a
responsabilidade social do capitalismo
extrativista contida nos horrores da
320
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
o reconhecimento de valores de
interesse nesse exotismo como
espaço de aventura, lazer, turismo e
valores da esfe
ra
cultural dos serviços desse
Concomitantemente, a
expressão “Inferno Verde” é invocada
como um elemento de atração pela
invocação do risco e de proximidade
A alusão nostálgica ao
período de exploração lucrativa dos
ida nessa mesma
expressão, embora de forma
propositadamente velada, é uma
possibilidade uma vez que não sendo
valorizada de alguma forma, não seria
A referência à designação
“Inferno Verde” segue assim os
objetivos de construção de um
o, tal como definido por
pressupondo
distorções a diversos níveis do espaço
nico, junto do qual o Hotel
Amazonas ganha atratividade. A
descrição “Floresta bruta. Rio
-mar.
Feras, répteis, índios
inferno verde!”,
por exemplo, simplifi
ca a referência
literária original, omitindo a
responsabilidade social do capitalismo
extrativista contida nos horrores da
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
indústria da borracha. Elementos
impostos pelos proprietários dos
seringais como o sistema de
escravidão por dívida, desigualdade
soc
ial e condições miseráveis de
trabalho nas regiões mais remotas da
Amazó
nia, são assim silenciados.
Inclusivamente, a menção
explícita à indústria do látex é
eliminada da formulação de
verde”, que fica deste modo reduzida
aos seus elementos autóct
ones, sendo
de salientar a omissão, em termos
semióticos, de qualquer planta
assemelhada a árvores
-
nas ilustrações.
Da mesma forma que o
contexto urbano do Hotel Amazonas,
com referência a arquitetura pré
moderna, é eliminado das imagens,
també
m o passado seringalista é
objeto de um apagamento,
enquadrado num processo de
reformulação econômica
amazó
nica, com a aposta na
dinamização da indústria do turismo
onde a extração do látex não era
lucrativa.
Ressaltando da análise destes
enun
ciados (tendo em conta o
confronto entre condições e instâncias
de enunciação, ethos e interdiscurso),
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
indústria da borracha. Elementos
impostos pelos proprietários dos
seringais como o sistema de
escravidão por dívida, desigualdade
ial e condições miseráveis de
trabalho nas regiões mais remotas da
nia, são assim silenciados.
Inclusivamente, a menção
explícita à indústria do látex é
eliminada da formulação de
“inferno
verde”, que fica deste modo reduzida
ones, sendo
de salientar a omissão, em termos
semióticos, de qualquer planta
-
da-borracha
Da mesma forma que o
contexto urbano do Hotel Amazonas,
com referência a arquitetura pré
-
moderna, é eliminado das imagens,
m o passado seringalista é
objeto de um apagamento,
enquadrado num processo de
da região
nica, com a aposta na
dinamização da indústria do turismo
onde a extração do látex não era
Ressaltando da análise destes
ciados (tendo em conta o
confronto entre condições e instâncias
de enunciação, ethos e interdiscurso),
verifica-
se assim no espaço discursivo
destes anúncios, uma articulação de
posicionamentos ideológicos que se
diriam atualmente desatualizados
associados
a um desejo de
modernidade, assumido em ru
esquecimento e apagamento do
passado recente.
Neste, o recurso
visual a uma linguagem arquitetô
moderna, em conjunto com a
valorização de um mundo construído
de conforto e luxo em contraposição a
uma na
tureza infernal e inc
constituem veículos de transmissão e
argumentação essenciais.
Os planos discursivos nestes
registos publicitários concorrem deste
modo eficazmente para engendrar a
ilusão de imersão do Hotel Amazonas
num universo remoto, selvagem
inóspito, ao mesmo tempo que recriam
um simulacro desse próprio espaço
eco-
cultural, invocado através de uma
formulação distorcida do sintagma de
origem histórico-
literária “Inferno
Verde”. Ao lado desse simulacro, o
Hotel Amazonas ganha deste modo
atrat
ividade por contraste e
distanciamento, atuando como
garantia de acesso a um
tropical
, em que o exotismo da
321
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
se assim no espaço discursivo
destes anúncios, uma articulação de
posicionamentos ideológicos que se
diriam atualmente desatualizados
a um desejo de
modernidade, assumido em ru
ptura,
esquecimento e apagamento do
Neste, o recurso
visual a uma linguagem arquitetô
nica
moderna, em conjunto com a
valorização de um mundo construído
de conforto e luxo em contraposição a
tureza infernal e inc
ômoda
constituem veículos de transmissão e
argumentação essenciais.
Os planos discursivos nestes
registos publicitários concorrem deste
modo eficazmente para engendrar a
ilusão de imersão do Hotel Amazonas
num universo remoto, selvagem
,
inóspito, ao mesmo tempo que recriam
um simulacro desse próprio espaço
cultural, invocado através de uma
formulação distorcida do sintagma de
literária “Inferno
Verde”. Ao lado desse simulacro, o
Hotel Amazonas ganha deste modo
ividade por contraste e
distanciamento, atuando como
garantia de acesso a um
paraíso
, em que o exotismo da
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
natureza local é controlado e mediado
pela ação humana de construção.
Verifica-
se assim que o projeto
de modernidade de futuro tecnológico
pós-
II Guerra Mundial surge ainda
ancorado, atravessado ou utilizado por
conceitos profundamente enraizados
de colonialidade e antiambientalismo,
favorecendo uma sobreposição clara
de domínio do homem sobre a
natureza.
Subjacente à utilização da
designação inferno verde
na esfera da
modernidade e da construção, e como
seu contraponto discursivo,
se portanto o potencial entendimento
do espaço florestal amaz
ó
extensão, dos
diversos ecossistemas,
apenas como paraísos
enquanto espa
ços murados,
urbanizados, ou em suma,
domesticados.
Referências bibliográficas:
CUNHA, Euclides.
À margem da
história
. São Paulo: Martins Fontes,
1999. (1ª edição 1909).
FERREIRA DE CASTRO, José Maria.
A Selva
. Amadora: Cavalo de Ferro,
2014. (1ª edição 1930).
GABRIEL, Edgar Godoi; MENDES,
Silma Ramos Coimbra.
Ethos
discursivo na publicidade: uma
imagem, uma polêmica.
Letras de
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
natureza local é controlado e mediado
pela ação humana de construção.
se assim que o projeto
de modernidade de futuro tecnológico
II Guerra Mundial surge ainda
ancorado, atravessado ou utilizado por
conceitos profundamente enraizados
de colonialidade e antiambientalismo,
favorecendo uma sobreposição clara
de domínio do homem sobre a
Subjacente à utilização da
na esfera da
modernidade e da construção, e como
seu contraponto discursivo,
encontra-
se portanto o potencial entendimento
ó
nico, e por
diversos ecossistemas,
terrestres
ços murados,
urbanizados, ou em suma,
Referências bibliográficas:
À margem da
. São Paulo: Martins Fontes,
FERREIRA DE CASTRO, José Maria.
. Amadora: Cavalo de Ferro,
GABRIEL, Edgar Godoi; MENDES,
Ethos
discursivo na publicidade: uma
Letras de
Hoje
, Porto Alegre, volume 53, n. 3, p.
440-448, julho-
setembro
IDD -
INSTITUTO DURANGO
DUARTE.
Publicidade Antiga (1950 a
1970
). Acervo Digital Online.
Disponível em:
https://idd.org.br/topicos/iconografia/pu
blicidade-antiga/de-
1950
1970/page/8/?post_type=acervo .
Acesso: 26 set. 2019.
LE CORBUSIER.
Cinco Pontos da
Nova Arquitectura.
In:
Architecture.
Paris: G. Cré
MAINGUENEAU, Dominique. A
propósito do ethos
. In: MOTTA, A. R.,
SALGADO, L. (orgs.).
discursivo
. São Paulo: Contexto,
2008a.
MAINGUENEAU, Dominique.
de textos de comunicação
Cortez, 2001.
MAINGUENEAU, Dominique.
dos discursos
. Curitiba: Parábola,
2008b.
MAINGUENEAU, Dominique.
crítico à noção de ethos
Hoje
, Porto Alegre, volume 53, n. 3, p.
321-330, julho-
setembro 2018.
MEA -
Millennium Ecosystem
Assessment.
Ecosystems and Human
Well-being: Synt
hesis
DC: Island Press, 2005.
O CRUZEIRO. Rio de Janeiro: Diários
Associados, 1928, Editorial n.º 1, 6 de
dezembro de 1928.
O CRUZEIRO. Rio de Janeiro: Diários
Associados, 1928, Editorial n.º 1, 6 de
dezembro de 1928.
O CRUZEIRO. Rio de Janeir
Associados, 1950, edição 51, 7 de
outubro de 1950, p. 62.
322
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
, Porto Alegre, volume 53, n. 3, p.
setembro
2018.
INSTITUTO DURANGO
Publicidade Antiga (1950 a
). Acervo Digital Online.
https://idd.org.br/topicos/iconografia/pu
1950
-a-
1970/page/8/?post_type=acervo .
Acesso: 26 set. 2019.
Cinco Pontos da
In:
Vers une
Paris: G. Cré
s, 1926.
MAINGUENEAU, Dominique. A
. In: MOTTA, A. R.,
SALGADO, L. (orgs.).
Ethos
. São Paulo: Contexto,
MAINGUENEAU, Dominique.
Análise
de textos de comunicação
. São Paulo:
MAINGUENEAU, Dominique.
Gênese
. Curitiba: Parábola,
MAINGUENEAU, Dominique.
Retorno
crítico à noção de ethos
. Letras de
, Porto Alegre, volume 53, n. 3, p.
setembro 2018.
Millennium Ecosystem
Ecosystems and Human
hesis
. Washington,
DC: Island Press, 2005.
O CRUZEIRO. Rio de Janeiro: Diários
Associados, 1928, Editorial n.º 1, 6 de
O CRUZEIRO. Rio de Janeiro: Diários
Associados, 1928, Editorial n.º 1, 6 de
O CRUZEIRO. Rio de Janeir
o: Diários
Associados, 1950, edição 51, 7 de
outubro de 1950, p. 62.
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
revista "O Cruzeiro" 1950-1951.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
set. 2020.
O CRUZEIRO. Rio de Janeiro: Diários
Associados, 1950, edição 51, 7 de
outubro de 1950, p. 62.
O CRUZEIRO. Rio de Janeiro: Diários
Associados, 1951, edição 30, 12 de
maio de 1951, p. 48.
O
CRUZEIRO. Rio de Janeiro: Diários
Associados, 1951, edição 30, 12 de
maio de 1951, p. 48.
POSSENTI, Sírio.
Questões para
analistas do discurso
. São Paulo:
Parábola, 2009.
POSSENTI, Sírio.
Simulacro e
interdiscurso em slogans
. In:
do discurso. Cu
ritiba: Criar
2002.
QUEIROZ, José Francisco da Silva
Amazônia: Inferno Verde Ou Paraíso
Perdido? Cenário e território na
literatura escrita por Alberto Rangel e
Euclides da Cunha.
Nova Revista
Amazônica, Bragança–
PA, ano 5, n. 3,
p. 11-32, 2017.
QUEIROZ, José Francisco da Silva.
Amazônia: um inferno inventado
XIV Encontro da Associação Brasileira
de Literatura Comparada
, XIV
ABRALIC ANAIS ELETRÔNICOS.
Belém: Universidade Federa
2015. p. 631-642.
RANGEL, Alberto.
Inferno Verde:
cenas e cenários do
Amazonas
.Manaus: Editora Valer,
2008. (1ª edição 1908).
ROCHA FILHO, José.
“O inferno
verde”: um filme nazista feito no Brasil
D
ossiê Cinema e Guerra. Disponível
em:
http://p.php.uol.com.br/tropico/html/text
os/2737,1.shl
. Acesso: 13 dez. 2019.
VITORINO, Catarina. Uma viagem aos meandros do Inferno verde:
planos discursivos da campanha publicitária do Hotel Amazonas na
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p. 298-323,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo em Fluxo Contínuo)
O CRUZEIRO. Rio de Janeiro: Diários
Associados, 1950, edição 51, 7 de
O CRUZEIRO. Rio de Janeiro: Diários
Associados, 1951, edição 30, 12 de
CRUZEIRO. Rio de Janeiro: Diários
Associados, 1951, edição 30, 12 de
Questões para
. São Paulo:
Simulacro e
. In:
Os limites
ritiba: Criar
Edições,
QUEIROZ, José Francisco da Silva
.
Amazônia: Inferno Verde Ou Paraíso
Perdido? Cenário e território na
literatura escrita por Alberto Rangel e
Nova Revista
PA, ano 5, n. 3,
QUEIROZ, José Francisco da Silva.
Amazônia: um inferno inventado
. In:
XIV Encontro da Associação Brasileira
, XIV
ABRALIC ANAIS ELETRÔNICOS.
Belém: Universidade Federa
l do Pará,
Inferno Verde:
.Manaus: Editora Valer,
“O inferno
verde”: um filme nazista feito no Brasil
.
ossiê Cinema e Guerra. Disponível
http://p.php.uol.com.br/tropico/html/text
. Acesso: 13 dez. 2019.
323
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo em Fluxo Contínuo)
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
Economia e cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.40798
Resumo:
Este artigo aborda as rel
desenvolvimento local e regional aplicado no município de Goiás, considerado de médio porte no
estado.
Em 2016, a Economia Criativa representou aproximadamente 2,6% do PIB
apresentar um crescimento de cerca de 70% nos últimos dez anos. Quanto mais investimento público
ou privado neste novo segmento econômico, menor é o fluxo migratório de pessoas em busca de
serviços públicos em grandes aglomerações urbanas. Em suas
cultura se tornou um bem simbólico tangível e capaz de gerar renda e empregos, contribuindo para o
desenvolvimento social, humano e sustentável. O objetivo des
as dinâmicas da economia e do
trabalho local com a cultura advinda do município de Goiás.
Palavras-Chave: economia da
c
Economía y cultura: un estudio aplicado en el municipio de Goiás
Resumen:
Este artículo abordalas relaciones
desarrollo local y regional aplicada en el municipio de Goiás, considerado medio en el estado. En
2016, la economía creativa representó aproximadamente el 2.6% del PIB brasileño, además de
presentar un crecimi
ento de alrededor del 70% en los últimos diez años. A mayor inversión blica o
privada en este nuevo segmento económico, menor será el flujo migratorio de personas que buscan
servicios blicos en grandes aglomeraciones urbanas. En sus diversos idiomas y
cultura se ha convertido en un activo simbólico tangible capaz de generar ingresos y empleos,
contribuyendo al desarrollo social, humano y sostenible. El propósito de este artículo es discutir cómo
la dinámica de la economía y el trabajo lo
municipio de Goiás.
1
Aline Tereza Borghi Leite.
Doutora em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos,
professora da PUC-
GO / Pontifícia Universidade Católica
alineborghi1@gmail.com -
https://orcid.org/0000
2
Juliano Castro Silvestre. Professor do Instituto Tecnológico do Estado de Goiás (ITEGO). Mestre em
Desenvolvimento e Planejamento Territorial pela PUC
https://orcid.org/0000-0003-
3059
Recebido em 26/02/2020, aceito para publicação em 07/05/2020, disponibilizado online em
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
Economia e cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.40798
Aline Tereza Borghi Leite
Juliano de Castro Silvestre
Este artigo aborda as rel
ões econômicas e culturais numa perspectiva de
desenvolvimento local e regional aplicado no município de Goiás, considerado de médio porte no
Em 2016, a Economia Criativa representou aproximadamente 2,6% do PIB
apresentar um crescimento de cerca de 70% nos últimos dez anos. Quanto mais investimento público
ou privado neste novo segmento econômico, menor é o fluxo migratório de pessoas em busca de
serviços públicos em grandes aglomerações urbanas. Em suas
várias linguagens e modalidades, a
cultura se tornou um bem simbólico tangível e capaz de gerar renda e empregos, contribuindo para o
desenvolvimento social, humano e sustentável. O objetivo des
s
e artigo é discutir como se relacionam
trabalho local com a cultura advinda do município de Goiás.
c
ultura; desenvolvimento regional; municípios
Economía y cultura: un estudio aplicado en el municipio de Goiás
Este artículo abordalas relaciones
económicas y culturales en una perspectiva de
desarrollo local y regional aplicada en el municipio de Goiás, considerado medio en el estado. En
2016, la economía creativa representó aproximadamente el 2.6% del PIB brasileño, además de
ento de alrededor del 70% en los últimos diez años. A mayor inversión blica o
privada en este nuevo segmento económico, menor será el flujo migratorio de personas que buscan
servicios blicos en grandes aglomeraciones urbanas. En sus diversos idiomas y
cultura se ha convertido en un activo simbólico tangible capaz de generar ingresos y empleos,
contribuyendo al desarrollo social, humano y sostenible. El propósito de este artículo es discutir cómo
la dinámica de la economía y el trabajo lo
cal están relacionados con la cultura proveniente del
Doutora em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos,
GO / Pontifícia Universidade Católica
de Goiás, Brasil. E
https://orcid.org/0000
-0002-5702-747X
Juliano Castro Silvestre. Professor do Instituto Tecnológico do Estado de Goiás (ITEGO). Mestre em
Desenvolvimento e Planejamento Territorial pela PUC
-GO. E-mail:
ju.castrosilvestre@gmail.com
3059
-1852
Recebido em 26/02/2020, aceito para publicação em 07/05/2020, disponibilizado online em
01/09/2020
324
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
Economia e cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Aline Tereza Borghi Leite
1
Juliano de Castro Silvestre
2
ões econômicas e culturais numa perspectiva de
desenvolvimento local e regional aplicado no município de Goiás, considerado de médio porte no
Em 2016, a Economia Criativa representou aproximadamente 2,6% do PIB
brasileiro além de
apresentar um crescimento de cerca de 70% nos últimos dez anos. Quanto mais investimento público
ou privado neste novo segmento econômico, menor é o fluxo migratório de pessoas em busca de
várias linguagens e modalidades, a
cultura se tornou um bem simbólico tangível e capaz de gerar renda e empregos, contribuindo para o
e artigo é discutir como se relacionam
trabalho local com a cultura advinda do município de Goiás.
económicas y culturales en una perspectiva de
desarrollo local y regional aplicada en el municipio de Goiás, considerado medio en el estado. En
2016, la economía creativa representó aproximadamente el 2.6% del PIB brasileño, además de
ento de alrededor del 70% en los últimos diez años. A mayor inversión blica o
privada en este nuevo segmento económico, menor será el flujo migratorio de personas que buscan
servicios blicos en grandes aglomeraciones urbanas. En sus diversos idiomas y
modalidades, la
cultura se ha convertido en un activo simbólico tangible capaz de generar ingresos y empleos,
contribuyendo al desarrollo social, humano y sostenible. El propósito de este artículo es discutir cómo
cal están relacionados con la cultura proveniente del
Doutora em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos,
de Goiás, Brasil. E
-mail:
Juliano Castro Silvestre. Professor do Instituto Tecnológico do Estado de Goiás (ITEGO). Mestre em
ju.castrosilvestre@gmail.com
-
Recebido em 26/02/2020, aceito para publicação em 07/05/2020, disponibilizado online em
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
Palabras clave
: economía de la cultura; desarrollo regional; municipios
Economy and culture: a study applied in Goiás
Abstract:
This article approaches the economic and cultural
regional development app
lied in the municipality of Goiá
2016, the Creative Economy accounted for approximately 2.6% of Brazil's GDP and grew by around
70% in the last ten
years. The more public or private investment in this new economic segment, the
smaller the migratory flow of people seeking public services in large urban agglomerations. In its
various languages and modalities, culture has become a tangible symbolic asse
generating income and jobs, contributing to social, human and sustainable development. The purpose
of this article is to discuss how the dynamics of the local economy and work are related to the culture
coming from the city of Goiás.
Keywords: e
conomy of culture; regional development; town
Economia e cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
1. Introdução
Este artigo
trata da dinâmica de
um território com a sua cultura e as
vocações regionais. As relações desse
território com os valores morais de
uma sociedade, suas crenças, religião
e formação social e acadêmica que
estruturam os mercados consumidores
locais e regiona
is com seus bens e
produtos de arte e cultura. A partir da
década de 1990 a economia e a
cultura começaram a ser estudadas
em conjunto como um campo na
grande área das ciências econômicas.
E por meio desses estudos que esse
artigo irá abordar a relação da
economia local com seus bens
simbólicos e patrimoniais, a fim de
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
: economía de la cultura; desarrollo regional; municipios
Economy and culture: a study applied in Goiás
This article approaches the economic and cultural
relations in a perspective of local and
lied in the municipality of Goiá
s, considered of medium size in the state. In
2016, the Creative Economy accounted for approximately 2.6% of Brazil's GDP and grew by around
years. The more public or private investment in this new economic segment, the
smaller the migratory flow of people seeking public services in large urban agglomerations. In its
various languages and modalities, culture has become a tangible symbolic asse
generating income and jobs, contributing to social, human and sustainable development. The purpose
of this article is to discuss how the dynamics of the local economy and work are related to the culture
conomy of culture; regional development; town
Economia e cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
trata da dinâmica de
um território com a sua cultura e as
vocações regionais. As relações desse
território com os valores morais de
uma sociedade, suas crenças, religião
e formação social e acadêmica que
estruturam os mercados consumidores
is com seus bens e
produtos de arte e cultura. A partir da
década de 1990 a economia e a
cultura começaram a ser estudadas
em conjunto como um campo na
grande área das ciências econômicas.
E por meio desses estudos que esse
artigo irá abordar a relação da
economia local com seus bens
simbólicos e patrimoniais, a fim de
tentar justificar o desenvolvimento
regional utilizando-
se esses bens
como uma força motriz da nova
economia do século XXI.
O crescimento econômico
nunca foi suficiente para gerar
desenvolvim
ento. O simples aumento
do PIB per capita
e da renda não
contempla a população como um todo
e nem promove um desenvolvimento
homogêneo. Em muitos casos alarga
os graves problemas de desigualdades
regionais, não produzindo um igual
desenvolvimento humano e
prol da melhoria de vida da população.
Segundo Brant (2009) a cultura como
estratégia de desenvolvimento precisa
estar inserida no debate político,
325
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
relations in a perspective of local and
s, considered of medium size in the state. In
2016, the Creative Economy accounted for approximately 2.6% of Brazil's GDP and grew by around
years. The more public or private investment in this new economic segment, the
smaller the migratory flow of people seeking public services in large urban agglomerations. In its
various languages and modalities, culture has become a tangible symbolic asse
t capable of
generating income and jobs, contributing to social, human and sustainable development. The purpose
of this article is to discuss how the dynamics of the local economy and work are related to the culture
Economia e cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
tentar justificar o desenvolvimento
se esses bens
como uma força motriz da nova
economia do século XXI.
O crescimento econômico
nunca foi suficiente para gerar
ento. O simples aumento
e da renda não
contempla a população como um todo
e nem promove um desenvolvimento
homogêneo. Em muitos casos alarga
os graves problemas de desigualdades
regionais, não produzindo um igual
desenvolvimento humano e
social em
prol da melhoria de vida da população.
Segundo Brant (2009) a cultura como
estratégia de desenvolvimento precisa
estar inserida no debate político,
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
fortalecendo a
democracia,
economia e o trabalho no combate às
desigualdades.
Benhamou (2007) ap
fatores que contribuíram para o
reconhecimento da Economia da
Cultura por meio de pesquisas
publicadas no
Journal of Economic
Literature
3
: i) a geração de fluxos de
renda ou de empregos; ii) a
necessidade de avaliação das
decisões culturais; iii)
a evolução da
economia política para campos novos.
Esses fatores expuseram a cultura
num campo econômico n
o
valores gerados constituíam uma
experimentação dos conceitos
econômicos fundamentais.
tendência de contrapor o modelo
fordista
de regime de acumulação,
cujo dinamismo era oriundo da
produção em massa com trabalho
pouco qualificado e cujo declínio
começou a se desenhar em meados
da década de 1970, Harvey (1989)
apontava em direção a um novo
regime de acumulação sustentável,
conhec
ida por um regime de
3
É uma importante revista científica publicada
pela Associação Americana de Economia
desde 1969.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
democracia,
a
economia e o trabalho no combate às
Benhamou (2007) ap
onta três
fatores que contribuíram para o
reconhecimento da Economia da
Cultura por meio de pesquisas
Journal of Economic
: i) a geração de fluxos de
renda ou de empregos; ii) a
necessidade de avaliação das
a evolução da
economia política para campos novos.
Esses fatores expuseram a cultura
o
qual seus
valores gerados constituíam uma
experimentação dos conceitos
Seguindo a
tendência de contrapor o modelo
de regime de acumulação,
cujo dinamismo era oriundo da
produção em massa com trabalho
pouco qualificado e cujo declínio
começou a se desenhar em meados
da década de 1970, Harvey (1989)
apontava em direção a um novo
regime de acumulação sustentável,
ida por um regime de
É uma importante revista científica publicada
pela Associação Americana de Economia
acumulação flexível que tem a
intenção de flexibilizar as relações de
regulação do trabalho e principalmente
garantir a
inovação e diferenciação do
produto.
Ao se buscar o tema da
economia e da cultura para análise
desse artigo o objet
relevância do setor cultural no
incremento do setor de serviços local
como gerador de emprego e renda
num município de dio porte dentro
do estado de Goiás, localizado na
região Centro-
Oeste do Brasil.
O município estudado por esse
artig
o é Goiás (homônimo do estado),
localizado na mesorregião geográfica
Noroeste, patrimônio histórico e
cultural da humanidade e durante 200
anos capital do estado.O estado de
Goiás segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE, 2015
) é a nona maior economia
do país e conta
com uma população
estimada em 2019 de
aproximadamente 7 milhões de
habitantes. De acordo com o Instituto
Mauro Borges de Estatísticas e
Estudos Socioeconômicos (IMB, 2017)
em 1995, o estado de Goiás possuía
326
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
acumulação flexível que tem a
intenção de flexibilizar as relações de
regulação do trabalho e principalmente
inovação e diferenciação do
Ao se buscar o tema da
economia e da cultura para análise
desse artigo o objet
ivo é discutir a
relevância do setor cultural no
incremento do setor de serviços local
como gerador de emprego e renda
num município de dio porte dentro
do estado de Goiás, localizado na
Oeste do Brasil.
O município estudado por esse
o é Goiás (homônimo do estado),
localizado na mesorregião geográfica
Noroeste, patrimônio histórico e
cultural da humanidade e durante 200
anos capital do estado.O estado de
Goiás segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística
) é a nona maior economia
com uma população
estimada em 2019 de
aproximadamente 7 milhões de
habitantes. De acordo com o Instituto
Mauro Borges de Estatísticas e
Estudos Socioeconômicos (IMB, 2017)
em 1995, o estado de Goiás possuía
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
um valo
r nominal do PIB (Produto
Interno Bruto) na ordem de R$ 14
bilhões e participação no PIB nacional
de 2,05%. Após 20 anos, o Estado tem
um PIB aproximado de R$ 170 bilhões
e participação nacional de 2,9%.
Entretanto, levantamento realizada
pela Federação da
s Indústrias do
Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN,
2018) aponta que
pouco mais de 25%
dentre os 246 municípios goianos não
têm arrecadações próprias que
consigam cobrir suas despesas com
custeio da máquina pública,
precisando recorrer às transferências
intragovernamentais.
Assim, em termos de estrutura
textual desse artigo fazemos no
primeiro tópico uma apresentação do
município de Goiás, objeto de estudo
da pesquisa. Em segundo lugar
discutimos a problematização que nos
levou a discutir o tema e esse
mun
icípio. Em terceiro lugar, relatamos
a importância da Economia da Cultura
para o estado de Goiás. No quarto
tópico são demonstradas
dimensões da economia
e do
por meio de políticas públicas culturais
do Governo Federal.
Por último as
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
r nominal do PIB (Produto
Interno Bruto) na ordem de R$ 14
bilhões e participação no PIB nacional
de 2,05%. Após 20 anos, o Estado tem
um PIB aproximado de R$ 170 bilhões
e participação nacional de 2,9%.
Entretanto, levantamento realizada
s Indústrias do
Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN,
pouco mais de 25%
dentre os 246 municípios goianos não
têm arrecadações próprias que
consigam cobrir suas despesas com
o
custeio da máquina pública,
precisando recorrer às transferências
Assim, em termos de estrutura
textual desse artigo fazemos no
primeiro tópico uma apresentação do
município de Goiás, objeto de estudo
da pesquisa. Em segundo lugar
discutimos a problematização que nos
levou a discutir o tema e esse
icípio. Em terceiro lugar, relatamos
a importância da Economia da Cultura
para o estado de Goiás. No quarto
tópico são demonstradas
as
e do
trabalho,
por meio de políticas públicas culturais
Por último as
considerações finais desse artigo e as
principais impressões e propostas de
desenvolvimento regional e local
utilizando
as vocações culturais e
regionais como estratégia para
aumentar a renda e emprego.
2.
Apresentação do município de
Goiás
O municí
pio de G
capital do estado de Goiás por quase
dois séculos, é considerado Patrimônio
Histórico e Cultural da Humanidade
pela UNESCO desde 2001. A
população estimada pelo IBGE (2019)
aproxima dos 22.645 habitantes, a 49ª
dentre os 246 municípios do esta
sua arrecadação de ICMS (Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços) em 2017 representou a
importância de R$ 7,1 milhões
correspondendo a posição 69ª no
ranking
do estado. Goiás surgiu
através da Carta gia de 11 de
fevereiro de 1736 desmembr
do município de São Paulo por ordem
da coroa portuguesa. No seu espaço
urbano segundo o IBGE (2009)
existem dois aglomerados: Areias e
Ferreiro e cinco distritos: Calcilândia,
Buenolândia, Davidópolis, São João e
327
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
considerações finais desse artigo e as
principais impressões e propostas de
desenvolvimento regional e local
as vocações culturais e
regionais como estratégia para
aumentar a renda e emprego.
Apresentação do município de
pio de G
oiás, antiga
capital do estado de Goiás por quase
dois séculos, é considerado Patrimônio
Histórico e Cultural da Humanidade
pela UNESCO desde 2001. A
população estimada pelo IBGE (2019)
aproxima dos 22.645 habitantes, a 49ª
dentre os 246 municípios do esta
do e
sua arrecadação de ICMS (Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços) em 2017 representou a
importância de R$ 7,1 milhões
correspondendo a posição 69ª no
do estado. Goiás surgiu
através da Carta gia de 11 de
fevereiro de 1736 desmembr
ando-se
do município de São Paulo por ordem
da coroa portuguesa. No seu espaço
urbano segundo o IBGE (2009)
existem dois aglomerados: Areias e
Ferreiro e cinco distritos: Calcilândia,
Buenolândia, Davidópolis, São João e
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
Uvá; e um povoado: São João da
Lajinha. O IDH-
M de Goiás em 2000
apresentou um índice de 0,563
considerado de baixo
desenvolvimento. Em 2010 o índice do
município de Goiás subiu para 0,709
um aumento de quase 26% na
melhoria das condições de vida da
população local, considerando
segundo o P
NUD (Programa das
Nações Unidas para o
Desenvolvimento) um alto
desenvolvimento.
As ruas de pedras, os palácios,
museus e construções que remetem
aos séculos XVII e XVIII
transformaram Goiás –
ou Goiás Velho
para seus moradores
reconhecido internacionalmente pelas
suas riquezas históricas, culturais e
naturais. Um símbolo d
vilaboense é a poetisa Cora Coralina
(1889-1985) que
viveu a maior parte
da sua vida às margens do rio
vermelho declamando e escrevendo
poesias e crônicas, o que a fez adquirir
o respeito e admiração de críticos e
amantes da literatura brasileira
casa hoje é o Museu Cora
Coralina,que conserva mobiliários,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
Uvá; e um povoado: São João da
M de Goiás em 2000
apresentou um índice de 0,563
considerado de baixo
desenvolvimento. Em 2010 o índice do
município de Goiás subiu para 0,709
um aumento de quase 26% na
melhoria das condições de vida da
população local, considerando
NUD (Programa das
Nações Unidas para o
Desenvolvimento) um alto
As ruas de pedras, os palácios,
museus e construções que remetem
aos séculos XVII e XVIII
ou Goiás Velho
num lugar
reconhecido internacionalmente pelas
suas riquezas históricas, culturais e
naturais. Um símbolo d
a cultura
vilaboense é a poetisa Cora Coralina
viveu a maior parte
da sua vida às margens do rio
vermelho declamando e escrevendo
poesias e crônicas, o que a fez adquirir
o respeito e admiração de críticos e
amantes da literatura brasileira
. Sua
casa hoje é o Museu Cora
Coralina,que conserva mobiliários,
relíquias, receitas de comida e suas
poesias para exposição. Goiás é um
município com várias atividades
culturais e artísticas produzidas
durante o ano. O destaque é o Festival
Internacional
de Cinema e Vídeo
Ambiental (FICA) que acontece 20
anos, promovendo à cultura do
audiovisual e a relação com a
natureza. A Serra dourada tem um
parque ambiental, no qual o turista
pode apreciar as riquezas rochosas e
as espécies típicas do cerrado.
Um
a peculiaridade deste
município é a concentração de três
campi
das Universidades Federal de
Goiás (UFG), Estadual de Goiás
(UEG) e Instituto Federal de Ciência e
Tecnologia de Goiás (IFG).
Considerado um município de médio
porte dentro do estado de Goiás,
especificidade o torna uma referência
de estudos e conhecimento
muitos jovens estudantes que saem de
outros locais para ingressarem em
cursos técnicos, licenciatura,
bacharelado e pós-
graduações
stricto sensu
, sendo que alguns são
voltados
à preservação do patrimônio
328
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
relíquias, receitas de comida e suas
poesias para exposição. Goiás é um
município com várias atividades
culturais e artísticas produzidas
durante o ano. O destaque é o Festival
de Cinema e Vídeo
Ambiental (FICA) que acontece 20
anos, promovendo à cultura do
audiovisual e a relação com a
natureza. A Serra dourada tem um
parque ambiental, no qual o turista
pode apreciar as riquezas rochosas e
as espécies típicas do cerrado.
a peculiaridade deste
município é a concentração de três
das Universidades Federal de
Goiás (UFG), Estadual de Goiás
(UEG) e Instituto Federal de Ciência e
Tecnologia de Goiás (IFG).
Considerado um município de médio
porte dentro do estado de Goiás,
essa
especificidade o torna uma referência
de estudos e conhecimento
para
muitos jovens estudantes que saem de
outros locais para ingressarem em
cursos técnicos, licenciatura,
graduações
lato e
, sendo que alguns são
à preservação do patrimônio
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
material e imaterial, gestão cultural e
de cinema e audiovisual.
3. Problematização
A geração de renda e emprego
em pequenos e médios municípios é
ínfima ao se comparar com os grandes
centros urbanos ou nas regiões
metropolitanas.
Segundo Sassen
(1998) os cidadãos dessas localidades
se tornam vítimas e sujeitos passivos
da globalização. A expressão “lógica
da expulsão” retrata o atual estágio em
que vivem os moradores,
principalmente, os mais jovens que se
veem sem o
portunidade de
crescimento e emprego. Com baixo
investimento público nessas
localidades, muitos cidadãos acabam
se transferindo para municípios
maiores, na tentativa de conseguir
uma oferta mais ampla em serviços
públicos. Porém este fluxo migratório
gera
uma pressão sobre as regiões
mais desenvolvidas na questão da
mobilidade, moradia, saúde, educação
e segurança pública.
Como estimular o crescimento
econômico da cultura local sem perder
a conexão com o mundo global?
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
material e imaterial, gestão cultural e
A geração de renda e emprego
em pequenos e médios municípios é
ínfima ao se comparar com os grandes
centros urbanos ou nas regiões
Segundo Sassen
(1998) os cidadãos dessas localidades
se tornam vítimas e sujeitos passivos
da globalização. A expressão “lógica
da expulsão” retrata o atual estágio em
que vivem os moradores,
principalmente, os mais jovens que se
portunidade de
crescimento e emprego. Com baixo
investimento público nessas
localidades, muitos cidadãos acabam
se transferindo para municípios
maiores, na tentativa de conseguir
uma oferta mais ampla em serviços
públicos. Porém este fluxo migratório
uma pressão sobre as regiões
mais desenvolvidas na questão da
mobilidade, moradia, saúde, educação
Como estimular o crescimento
econômico da cultura local sem perder
a conexão com o mundo global?
Talvez seja esse um dos grandes
desafio
s para os gestores públicos
neste século. Não deixar que as
cidades fiquem marginalizadas dentro
do eixo de crescimento e
desenvolvimento, e cujo eixo não seja
econômico, mas o regional, o
humano e o sustentável. Investir em
outras dimensões de desenvol
é permitir que os cidadãos se
aproximem dos governos e que
possam ter voz ativa. Estimu
proporem soluções e melhorias para o
seu território por meio da criatividade
advinda das tradições e costumes
locais. Entretanto a infraestrutura
urbana
ainda é um grande entrave
para o desenvolvimento local e
regional. E a criatividade acaba sendo
relegada por não fazer parte da
agenda prioritária dos gestores
públicos na construção de alternativas
para o desenvolvimento local.
O município de Goiás não
c
onsegue converter toda sua riqueza
história e cultural em bens e produtos
culturais. Poucas são as iniciativas
para fomentar a
cultura e a
instrumento de desenvolvimento local
e regional. As universidades públicas
329
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
Talvez seja esse um dos grandes
s para os gestores públicos
neste século. Não deixar que as
cidades fiquem marginalizadas dentro
do eixo de crescimento e
desenvolvimento, e cujo eixo não seja
econômico, mas o regional, o
humano e o sustentável. Investir em
outras dimensões de desenvol
vimento
é permitir que os cidadãos se
aproximem dos governos e que
possam ter voz ativa. Estimu
-los a
proporem soluções e melhorias para o
seu território por meio da criatividade
advinda das tradições e costumes
locais. Entretanto a infraestrutura
ainda é um grande entrave
para o desenvolvimento local e
regional. E a criatividade acaba sendo
relegada por não fazer parte da
agenda prioritária dos gestores
públicos na construção de alternativas
para o desenvolvimento local.
O município de Goiás não
onsegue converter toda sua riqueza
história e cultural em bens e produtos
culturais. Poucas são as iniciativas
cultura e a
arte como
instrumento de desenvolvimento local
e regional. As universidades públicas
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
pouco dialogam com a comunidade,
agentes culturais e os
atores políticos.
Esse cenário aponta para um grave
problema: o município de Goiás ao
contrário da taxa de crescimento
geométrico populacional do estado de
Goiás, que ao longo do período entre
2012 a 2018 teve um aumento de
aprox
imadamente 9%, teve um
acumulado negativo de 2,38% no
mesmo período analisado.
Ao contrário de municípios de
médio porte no Brasil que estimula
crescimento e o desenvolvimento
utilizando a atração de empresas, o
incentivo ao esporte, ao turismo e à
cul
tura, ou mesmo tornando
lugar que concentra universidades e
faculdades fomentando a
inovação e o
empreendedorismo, em Goiás o
uma política pública que incentive
economia. Esse decréscimo
populacional é uma resposta a qual as
políticas blicas
precisamente em educação, cultura e
turismo não estão conseguindo inibir o
fluxo migratório da população local
para os grandes centros urbanos.
A cidade e o espaço urbano têm
de ser criativos, ao proporcionar uma
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
pouco dialogam com a comunidade,
os
atores políticos.
Esse cenário aponta para um grave
problema: o município de Goiás ao
contrário da taxa de crescimento
geométrico populacional do estado de
Goiás, que ao longo do período entre
2012 a 2018 teve um aumento de
imadamente 9%, teve um
acumulado negativo de 2,38% no
mesmo período analisado.
Ao contrário de municípios de
médio porte no Brasil que estimula
m o
crescimento e o desenvolvimento
utilizando a atração de empresas, o
incentivo ao esporte, ao turismo e à
tura, ou mesmo tornando
-se um
lugar que concentra universidades e
inovação e o
empreendedorismo, em Goiás o
uma política pública que incentive
a
economia. Esse decréscimo
populacional é uma resposta a qual as
sociais,
precisamente em educação, cultura e
turismo não estão conseguindo inibir o
fluxo migratório da população local
para os grandes centros urbanos.
A cidade e o espaço urbano têm
de ser criativos, ao proporcionar uma
inteligência territorial
gama de conhecimentos tecnológicos
e inovadores (
DALLABRIDA
COVAS,
2017). Nesse panorama, a
cultura constitui-
se como um elemento
de considerável importância para o
desenvolvimento econômico e social
das cidades. O Brasil das “belas
ar
tes”, da música erudita e das
expressões culturais, que estava
restrito a pequenos grupos, tem se
descoberto, à medida que mais grupos
sociais produzem e consomem cultura
resgatando as origens históricas e
culturais de cada região e
transformando este patr
histórico e cultural em bens e valores
simbólicos.
Na visão de Dallabrida e Ferrão
(2016) a vertente cultural é o local de
apropriação do território pelo cidadão,
a valorização da regionalidade cultural
ao espaço ocupado. O desafio a ser
enfrentado
pelos gestores públicos e
moradores destas pequenas e médias
cidades goianas é buscar soluções
criativas e empreendedoras que
possibilitem diminuir o fluxo migratório
destes cidadãos para grandes centros
urbanos.
330
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
inteligência territorial
compondo uma
gama de conhecimentos tecnológicos
DALLABRIDA
; COVAS;
2017). Nesse panorama, a
se como um elemento
de considerável importância para o
desenvolvimento econômico e social
das cidades. O Brasil das “belas
-
tes”, da música erudita e das
expressões culturais, que estava
restrito a pequenos grupos, tem se
descoberto, à medida que mais grupos
sociais produzem e consomem cultura
resgatando as origens históricas e
culturais de cada região e
transformando este patr
imônio
histórico e cultural em bens e valores
Na visão de Dallabrida e Ferrão
(2016) a vertente cultural é o local de
apropriação do território pelo cidadão,
a valorização da regionalidade cultural
ao espaço ocupado. O desafio a ser
pelos gestores públicos e
moradores destas pequenas e médias
cidades goianas é buscar soluções
criativas e empreendedoras que
possibilitem diminuir o fluxo migratório
destes cidadãos para grandes centros
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
A terceira Conferência das
Nações Unidas
sobre Moradia e
Desenvolvimento Urbano e
Sustentável (Habitat III), realizado na
cidade de Quito no Equador em 2016,
reconheceu que em 2050, cerca de
70% da população mundial viverá em
centros urbanos ocasionando um
aumento por demandas nas áreas da
habita
ção, emprego, saúde, segurança
e educação. Esses dados corroboram
a problemática dessa pesquisa ao
considerar os pequenos territórios
como espaço apropriado para
desenvolverem novos modelos de
negócios e empreendimentos, os quais
podem permitir uma maior i
conexão dos atores locais com a sua
região.
A metodologia dessa pesquisa
teve como fundamento uma revisão
bibliográfica dos principais autores que
discutem a cultura, a economia e o
desenvolvimento regional. Buscou
uma análise de dados primár
institutos de pesquisa, como o IBGE e
o IMB cujos resultados serviram para
embasar este estudo que tenta
mostrar a economia da cultura como
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
A terceira Conferência das
sobre Moradia e
Desenvolvimento Urbano e
Sustentável (Habitat III), realizado na
cidade de Quito no Equador em 2016,
reconheceu que em 2050, cerca de
70% da população mundial viverá em
centros urbanos ocasionando um
aumento por demandas nas áreas da
ção, emprego, saúde, segurança
e educação. Esses dados corroboram
a problemática dessa pesquisa ao
considerar os pequenos territórios
como espaço apropriado para
desenvolverem novos modelos de
negócios e empreendimentos, os quais
podem permitir uma maior i
nteração e
conexão dos atores locais com a sua
A metodologia dessa pesquisa
teve como fundamento uma revisão
bibliográfica dos principais autores que
discutem a cultura, a economia e o
desenvolvimento regional. Buscou
-se
uma análise de dados primár
ios de
institutos de pesquisa, como o IBGE e
o IMB cujos resultados serviram para
embasar este estudo que tenta
mostrar a economia da cultura como
uma nova e possível alternativa de
desenvolvimento local e regional.
4.
Importância da economia
cultural no est
ado de
Trabalhar as cidades
contemporâneas é entendê
da nova realidade pós
analisar o contexto sociocultural nas
quais estão inseridas. Identificar novas
opções de desenvolvimento partindo
de uma ideologia de “indivíduo
singular”. Mas, dentro desta
singularidade onde as pessoas se
comunicam quase que
instantaneamente,
percebe
cultura de massa estimula à prática do
igual, conforme Jameson (2006). Essa
“imitação” ou padronização de ideias e
serviços leva
as cidades
discursos criativos como se estes
fossem a solução para os problemas
urbanísticos, sociais e econômicos do
território. Tony Blair no início da
década de 1990 do século XX
estimulou o desenvolvimento de uma
nova ordem econômica na Inglaterra,
ap
oiando empresas e negócios cujo
trabalho fosse desenvolvido sob a
ótica da criatividade e inovação. O
331
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
uma nova e possível alternativa de
desenvolvimento local e regional.
Importância da economia
ado de
Goiás
Trabalhar as cidades
contemporâneas é entendê
-las dentro
da nova realidade pós
-moderna. É
analisar o contexto sociocultural nas
quais estão inseridas. Identificar novas
opções de desenvolvimento partindo
de uma ideologia de “indivíduo
singular”. Mas, dentro desta
singularidade onde as pessoas se
comunicam quase que
percebe
-se que a
cultura de massa estimula à prática do
igual, conforme Jameson (2006). Essa
“imitação” ou padronização de ideias e
as cidades
a adotarem
discursos criativos como se estes
fossem a solução para os problemas
urbanísticos, sociais e econômicos do
território. Tony Blair no início da
década de 1990 do século XX
estimulou o desenvolvimento de uma
nova ordem econômica na Inglaterra,
oiando empresas e negócios cujo
trabalho fosse desenvolvido sob a
ótica da criatividade e inovação. O
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
surgimento de clusters criativos
permitiu que algumas cidades se
tornassem “polos criativos mundiais”.
Em Goiás, de acordo com o
censo 2010 do Instituto B
Geografia e Estatística (IBGE) cerca
de 40% da população do estado reside
na região metropolitana de Goiânia
(capital do Estado). Essa concentração
populacional afugenta munícipes de
pequenas cidades, pois não se v
perspectivas profissionai
s para o seu
desenvolvimento.
Numa recente entrevista
divulgada no site
do Ministério da
Cultura, John Newbigin, fundador da
Creative London,
expôs seu raciocínio
sobre o desenvolvimento de novos
mercados e serviços baseados na
capacidade intelectual do i
ndivíduo, no
qual podemos destacar: i) “talento está
em toda parte, mas a oportunidade
não”; ii)
cada cidade, cada região,
cada país é diferente e tem de ser
construído em suas próprias tradições
criativas, suas habilidades, sua
herança, sua cultura”.Some
duas afirmações extraídas desta
entrevista, permite-
nos dizer que a
Cultura pode ser tratada como um
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
surgimento de clusters criativos
permitiu que algumas cidades se
tornassem “polos criativos mundiais”.
Em Goiás, de acordo com o
censo 2010 do Instituto B
rasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) cerca
de 40% da população do estado reside
na região metropolitana de Goiânia
(capital do Estado). Essa concentração
populacional afugenta munícipes de
pequenas cidades, pois não se v
eem
s para o seu
Numa recente entrevista
do Ministério da
Cultura, John Newbigin, fundador da
expôs seu raciocínio
sobre o desenvolvimento de novos
mercados e serviços baseados na
ndivíduo, no
qual podemos destacar: i) “talento está
em toda parte, mas a oportunidade
cada cidade, cada região,
cada país é diferente e tem de ser
construído em suas próprias tradições
criativas, suas habilidades, sua
herança, sua cultura”.Some
nte essas
duas afirmações extraídas desta
nos dizer que a
Cultura pode ser tratada como um
novo eixo de desenvolvimento
regional. Mas, para que aconteça esse
fomento à criatividade e inovação, os
municípios precisam criar condições
para seu cidadão,
estimular
cultura junto com outras pessoas,
formando uma conexão em comum de
serviços e produtos advindos da
intelectualidade.
Para uma melhor compreensão
e análise deste trabalho é importante
pontuar a diferença entre
desenvolvimen
to e crescimento. Bugs
e Bassan (2013) propõem o
desenvolvimento como resultado de
melhorias no bem
população. O crescimento está
relacionado ao índice quantitativo
referendado pelo seu PIB. Amartya
Sen
4
, Prêmio Nobel de Economia fez
4
Sen é um economista indiano que além de
atuar em importantes universidades da Índia,
Inglaterra e EUA, ocupou papel importante no
Banco Mundial e ganhou grande projeção ao
ser laureado com o Prêmio Nobel de
Economia no ano de 1998. Também é de
autoria o IDH
Índice de Desenvolvimento
Humano –
, que foi adotado pela ONU e se
consolidou como a principal referência para
medir o nível de desenvolvimento de
determinado território.
Fonte: Oliveira, V.L. Liberdade e Poder em
Amartya Sen: uma leit
ura crítica. Disponível
em:
https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/de
senvolvimentoemquestao/article/view/135/91
Acesso: 15 set. 2018.
332
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
novo eixo de desenvolvimento
regional. Mas, para que aconteça esse
fomento à criatividade e inovação, os
municípios precisam criar condições
estimular
a arte e
cultura junto com outras pessoas,
formando uma conexão em comum de
serviços e produtos advindos da
Para uma melhor compreensão
e análise deste trabalho é importante
pontuar a diferença entre
to e crescimento. Bugs
e Bassan (2013) propõem o
desenvolvimento como resultado de
melhorias no bem
-estar de uma
população. O crescimento está
relacionado ao índice quantitativo
referendado pelo seu PIB. Amartya
, Prêmio Nobel de Economia fez
Sen é um economista indiano que além de
atuar em importantes universidades da Índia,
Inglaterra e EUA, ocupou papel importante no
Banco Mundial e ganhou grande projeção ao
ser laureado com o Prêmio Nobel de
Economia no ano de 1998. Também é de
sua
Índice de Desenvolvimento
, que foi adotado pela ONU e se
consolidou como a principal referência para
medir o nível de desenvolvimento de
Fonte: Oliveira, V.L. Liberdade e Poder em
ura crítica. Disponível
https://www.revistas.unijui.edu.br/index.php/de
senvolvimentoemquestao/article/view/135/91
.
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
uma relaç
ão entre liberdade e
desenvolvimento apontando que
somente indicadores econômicos não
suprem a
dignidade humana. Na visão
de Sen (1999), a liberdade humana é
conseguida também pelo
fortalecimento de indicadores socia
(educação e saúde) além da liberdade
de escolha.
Contudo governos e sociedade
não conseguem se libertar da falta de
criatividade em áreas sociais, a qual
gera uma estagnação no
desenvolvimento social do país. Sobre
essa afirmação, Furtado (1984, p.51)
cita “as forças que alimentam a
capacida
de criativa da sociedade em
todos os planos, forças que entre nós
têm profundas raízes regionais”. E a
criatividade é considerada a principal
matéria-
prima da Economia da
Cultura.
Essa regionalidade terá
protagonismo neste novo século caso
haja políticas p
úblicas que
efetivamente procurem estimular o
desenvolvimento local com foco no
cidadão e naquilo que é produzido
nestes locais. Informe Técnico
10/2018 do Instituto Mauro Borges de
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
ão entre liberdade e
desenvolvimento apontando que
somente indicadores econômicos não
dignidade humana. Na visão
de Sen (1999), a liberdade humana é
conseguida também pelo
fortalecimento de indicadores socia
is
(educação e saúde) além da liberdade
Contudo governos e sociedade
não conseguem se libertar da falta de
criatividade em áreas sociais, a qual
gera uma estagnação no
desenvolvimento social do país. Sobre
essa afirmação, Furtado (1984, p.51)
cita “as forças que alimentam a
de criativa da sociedade em
todos os planos, forças que entre nós
têm profundas raízes regionais”. E a
criatividade é considerada a principal
prima da Economia da
Essa regionalidade terá
protagonismo neste novo século caso
úblicas que
efetivamente procurem estimular o
desenvolvimento local com foco no
cidadão e naquilo que é produzido
nestes locais. Informe Técnico
10/2018 do Instituto Mauro Borges de
Estatísticas e Estudos
Socioeconômicos
(IMB) descreve a
“criatividade como uma poderosa
ferramenta para os momentos de crise
além de servir para a diminuição das
desigualdades sociais (p.1). Partindo
dessa análise Dallabrida, Covas e
Covas (2017) no seu artigo aponta
conceito de “região in
àquelas que propiciam um ambiente
de conhecimento e ideias estimulando
a
aprendizagem. Nesta mesma linha
de raciocínio Reis (2007) afirma que a
criatividade como é posta aqui no
Brasil sem nenhum modelo
educacional e isoladamente, não
nenhum
proveito para a economia.
Ao se discutir a importância da
aplicação dos recursos públicos na
cultura e consequentemente no
desenvolvimento do estado, Brant
(2009, p. 32-33
) afirma:
As dinâmicas socioculturais surgem
como possibilidades concretas de
ampliar
o espaço público e oferecer
novas dinâmicas de sociabilização e
participação nas decisões da
comunidade e da sociedade como
um todo. Uma democracia direta,
porém, resultante de uma teia de
diálogos e conversações. Esta visão
se contrapõe ao atual modelo o
os espaços de construção e de
participação da vida política estão
cada vez mais restritos e
contaminados por lógicas
corporativas. O incentivo ao debate
333
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
Estatísticas e Estudos
(IMB) descreve a
“criatividade como uma poderosa
ferramenta para os momentos de crise
além de servir para a diminuição das
desigualdades sociais (p.1). Partindo
dessa análise Dallabrida, Covas e
Covas (2017) no seu artigo aponta
m o
conceito de “região in
teligente”
àquelas que propiciam um ambiente
de conhecimento e ideias estimulando
aprendizagem. Nesta mesma linha
de raciocínio Reis (2007) afirma que a
criatividade como é posta aqui no
Brasil sem nenhum modelo
educacional e isoladamente, não
proveito para a economia.
Ao se discutir a importância da
aplicação dos recursos públicos na
cultura e consequentemente no
desenvolvimento do estado, Brant
) afirma:
As dinâmicas socioculturais surgem
como possibilidades concretas de
o espaço público e oferecer
novas dinâmicas de sociabilização e
participação nas decisões da
comunidade e da sociedade como
um todo. Uma democracia direta,
porém, resultante de uma teia de
diálogos e conversações. Esta visão
se contrapõe ao atual modelo o
nde
os espaços de construção e de
participação da vida política estão
cada vez mais restritos e
contaminados por lógicas
corporativas. O incentivo ao debate
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
público, a necessidade de
compartilhar decisões com o Estado,
a criação de uma esfera pública não
e
statal e a participação estimulada
em todos os espaços, formais,
informais, institucionais, autônomos,
governamentais, são pontos
fundamentais para o
estabelecimento de políticas
baseadas na cidadania cu
De acordo com Hermet (2002),
a cultura possi
bilita a geração de
riquezas e empregos locais em
contrapartida às padronizações da
Indústria Cultural advinda dos Estados
Unidos, Japão e Europa. O mesmo
autor cita “o capital social” como
elemento eficaz na capacidade de
desenvolver repertórios” em cada
localidade respeitando as suas origens
e valores étnicos.
Dados da FIRJAN
das Indústrias do Estado do Rio de
Janeiro (2014) apontam dados
expressivos da Economia da Cultura
ou Colaborativa. Em 2013 as
atividades econômicas que fazem
parte deste segmento representaram
2,6% do PIB do Brasil ou 126 bilhõ
de reais gerados pelos
empreendedores da área,
apresentando um expressivo
crescimento de 70% nos últimos dez
anos.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
público, a necessidade de
compartilhar decisões com o Estado,
a criação de uma esfera pública não
statal e a participação estimulada
em todos os espaços, formais,
informais, institucionais, autônomos,
governamentais, são pontos
fundamentais para o
estabelecimento de políticas
baseadas na cidadania cu
ltural.
De acordo com Hermet (2002),
bilita a geração de
riquezas e empregos locais em
contrapartida às padronizações da
Indústria Cultural advinda dos Estados
Unidos, Japão e Europa. O mesmo
autor cita “o capital social” como
elemento eficaz na capacidade de
desenvolver repertórios” em cada
localidade respeitando as suas origens
Federação
das Indústrias do Estado do Rio de
Janeiro (2014) apontam dados
expressivos da Economia da Cultura
ou Colaborativa. Em 2013 as
atividades econômicas que fazem
parte deste segmento representaram
2,6% do PIB do Brasil ou 126 bilhõ
es
de reais gerados pelos
empreendedores da área,
apresentando um expressivo
crescimento de 70% nos últimos dez
A nova economia do século XXI
passa pelas transformações nas
profissões. Algumas poderão ser
dizimadas e outras surgirão. Os
produtores c
ulturais o aqueles
profissionais que têm a missão de
fazer acontecer o espetáculo, o evento
e os serviços inovadores ligados à
indústria criativa. A região e o território
são espaços urbanos que terão
impacto maior nesta nova economia,
pois a matéria-pri
ma para a geração
destas riquezas culturais passa pelos
estudos destes territórios e toda a sua
raiz cultural, artística e histórica. É a
transnacionalização do território.
Mas, a percepção que se tem
da realidade econômica destes
municípios e cuja tese d
de Reis (2011) corrobora,
para que os
perfis destas cidades ditas
criativas o mais excludentes e
segregadora
s em vista de outras “não
criativas”. De acordo com a autora,
“bolsões de criatividade” são gerados
em confronto ao pensamento
desenvolver uma política pública, cujo
objetivo interligasse toda a cadeia de
produção dos municípios, levando à
criatividade não para pequenos
334
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
A nova economia do século XXI
passa pelas transformações nas
profissões. Algumas poderão ser
dizimadas e outras surgirão. Os
ulturais o aqueles
profissionais que têm a missão de
fazer acontecer o espetáculo, o evento
e os serviços inovadores ligados à
indústria criativa. A região e o território
são espaços urbanos que terão
impacto maior nesta nova economia,
ma para a geração
destas riquezas culturais passa pelos
estudos destes territórios e toda a sua
raiz cultural, artística e histórica. É a
transnacionalização do território.
Mas, a percepção que se tem
da realidade econômica destes
municípios e cuja tese d
e doutorado
de Reis (2011) corrobora,
apontam
perfis destas cidades ditas
criativas o mais excludentes e
s em vista de outras “não
criativas”. De acordo com a autora,
“bolsões de criatividade” são gerados
em confronto ao pensamento
de
desenvolver uma política pública, cujo
objetivo interligasse toda a cadeia de
produção dos municípios, levando à
criatividade não para pequenos
nichos,
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
mas também para dentro das escolas,
dos segmentos organizados e da
classe política.
De acordo com He
rmet (2002),
a cultura possibilita a geração de
riquezas e empregos locais em
contrapartida a padronizações da
Indústria Cultural
advinda dos Estados
Unidos, Japão e Europa. O mesmo
autor cita “o capital social” como
elemento eficaz na capacidade de
desenv
olver repertórios” em cada
localidade respeitando as suas origens
e valor étnicos. A Economia da Cultura
movimenta uma gama de serviços,
emprega milhares de pessoas e gera
emprego e renda nas cidades.
Zukin (2000) reverbera a
importância do desenvolviment
carreiras criativas como fator de
expansão da valorização criativa:
Carreiras novas e em processo de
expansão no setor de serviços
tornam a
infraestrutura
especialmente visível nesse
processo de valorização cultural.
Não se trata de líderes das
sociedades históricas locais;
também profissionais de museus,
assessores de coleções de arte de
empresas, funcionários de galeria de
arte e curadores inde
pendentes. [...].
Sua atividade, todavia, constitui uma
categoria cultural que, por sua vez,
ajuda a constituir o sistema de
produção de uma cidade pós
moderna (cf.
SAHLINS
apud ZUKIN
, 2000, p.90).
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
mas também para dentro das escolas,
dos segmentos organizados e da
rmet (2002),
a cultura possibilita a geração de
riquezas e empregos locais em
contrapartida a padronizações da
advinda dos Estados
Unidos, Japão e Europa. O mesmo
autor cita “o capital social” como
elemento eficaz na capacidade de
olver repertórios” em cada
localidade respeitando as suas origens
e valor étnicos. A Economia da Cultura
movimenta uma gama de serviços,
emprega milhares de pessoas e gera
emprego e renda nas cidades.
Zukin (2000) reverbera a
importância do desenvolviment
o das
carreiras criativas como fator de
expansão da valorização criativa:
Carreiras novas e em processo de
expansão no setor de serviços
infraestrutura
crítica
especialmente visível nesse
processo de valorização cultural.
Não se trata de líderes das
sociedades históricas locais;
também profissionais de museus,
assessores de coleções de arte de
empresas, funcionários de galeria de
pendentes. [...].
Sua atividade, todavia, constitui uma
categoria cultural que, por sua vez,
ajuda a constituir o sistema de
produção de uma cidade pós
-
SAHLINS
,1976, p.185
, 2000, p.90).
Este novo cenário social e
econômico do mundo
qual o segmento de serviços atinge
uma maior fatia do PIB (Produto
Interno Bruto) em detrimento à
indústria, permite que os gestores e os
munícipes invistam em aprimoramento
e qualificação profissional dentro da
área da Economia Criativa.
que mais pessoas trabalham na
economia de serviços, podemos
esperar que elas separem suas
identidades “reais” das formas de
produção nas quais trabalham”
(ZUKIN, 2000, p.99).
Em Goiás, segundo IMB (2018),
a economia goiana é representada em
quase
7% dentro do segmento cultural
e criativo. Na perspectiva de novos
desafios a Economia da Cultura se
configura como uma nova
oportunidade de desenvolvimento
econômico e social para a população
que vive, principalmente, em pequenos
municípios, nos quais a
artes e o turismo podem ser
alternativas de empreendedorismo
cultural.
335
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
Este novo cenário social e
econômico do mundo
globalizado, no
qual o segmento de serviços atinge
uma maior fatia do PIB (Produto
Interno Bruto) em detrimento à
indústria, permite que os gestores e os
munícipes invistam em aprimoramento
e qualificação profissional dentro da
área da Economia Criativa.
À medida
que mais pessoas trabalham na
economia de serviços, podemos
esperar que elas separem suas
identidades “reais” das formas de
produção nas quais trabalham”
Em Goiás, segundo IMB (2018),
a economia goiana é representada em
7% dentro do segmento cultural
e criativo. Na perspectiva de novos
desafios a Economia da Cultura se
configura como uma nova
oportunidade de desenvolvimento
econômico e social para a população
que vive, principalmente, em pequenos
municípios, nos quais a
cultura, as
artes e o turismo podem ser
alternativas de empreendedorismo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
5. Resultados apurados
O IBGE (2010) classifica,
segundo o seu atlas geográfico, o
porte dos seus municípios por
habitantes. Então, localidades com até
20 mil habitantes são
classificados
como municípios de pequeno porte e
entre 20 a 50 mil habitantes, de médio
porte. Entretanto Sposito (2006) define
que além do número de habitantes, os
municípios são providos de várias
escalas locais e regionais, como o
tamanho territorial, a
exercida, a divisão do trabalho e a
estrutura da rede urbana como
variáveis plausíveis de serem
consideradas na classificação de um
município. Santos (1979) exprime a
sua opinião sobre as pequenas
localidades:
A maioria dos estudos urbanos, em
países subdesenvolvidos, se
interessa de preferência pelas
cidades grandes, principalmente pelo
fenômeno da macrocefalia. Todavia,
se considerarmos com atenção tanto
as estatísticas como a realidade,
vemos perfilar-
se outro fenômeno
urbano, o das cidades l
nosso ver, merece tanto interesse
quanto o precedente [...] Poderíamos
definir a cidade local como a
aglomeração capaz de responder às
necessidades vitais mínimas, reais
ou criadas, de toda uma população,
função esta que implica uma vida de
r
elações. (SANTOS, 1979, p.69
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
O IBGE (2010) classifica,
segundo o seu atlas geográfico, o
porte dos seus municípios por
habitantes. Então, localidades com até
classificados
como municípios de pequeno porte e
entre 20 a 50 mil habitantes, de médio
porte. Entretanto Sposito (2006) define
que além do número de habitantes, os
municípios são providos de várias
escalas locais e regionais, como o
influência
exercida, a divisão do trabalho e a
estrutura da rede urbana como
variáveis plausíveis de serem
consideradas na classificação de um
município. Santos (1979) exprime a
sua opinião sobre as pequenas
A maioria dos estudos urbanos, em
países subdesenvolvidos, se
interessa de preferência pelas
cidades grandes, principalmente pelo
fenômeno da macrocefalia. Todavia,
se considerarmos com atenção tanto
as estatísticas como a realidade,
se outro fenômeno
urbano, o das cidades l
ocais que, ao
nosso ver, merece tanto interesse
quanto o precedente [...] Poderíamos
definir a cidade local como a
aglomeração capaz de responder às
necessidades vitais mínimas, reais
ou criadas, de toda uma população,
função esta que implica uma vida de
elações. (SANTOS, 1979, p.69
-71).
No Brasil, em especial, os
municípios de pequeno porte não
conseguem competir em dinamicidade,
oferta de serviços e empregos se
comparado a um grande município ou
metrópole. Iniciativas empreendedoras
na agricultura, na e
conomia da cultura
e na realização de eventos esportivos
são consideradas atitudes
econômicas, que fazem movimentar o
município de pequeno porte atraindo
uma grande quantidade de pessoas
vindas de fora do município.
Para entender a dinamicidade
do município de Goiás, objeto dessa
pesquisa, nas dimensões
e do
trabalho, buscou
fundamentação estatística baseado no
Índice de Desempenho do Município
(IDM). Esse índice segundo o IMB
(2017)
é uma medida si
do contexto socioeconômico dos
municípios em seis áreas de atuação:
Economia, Educação, Infraestrutura,
Saúde, Segurança e Trabalho. São ao
todo 37 variáveis selecionadas para
conferir o desempenho dos municípios
goianos. O objetivo do índ
o diagnóstico e a comparação do
desempenho dos municípios, bem
336
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
No Brasil, em especial, os
municípios de pequeno porte não
conseguem competir em dinamicidade,
oferta de serviços e empregos se
comparado a um grande município ou
metrópole. Iniciativas empreendedoras
conomia da cultura
e na realização de eventos esportivos
são consideradas atitudes
econômicas, que fazem movimentar o
município de pequeno porte atraindo
uma grande quantidade de pessoas
vindas de fora do município.
Para entender a dinamicidade
do município de Goiás, objeto dessa
pesquisa, nas dimensões
da economia
trabalho, buscou
-se uma
fundamentação estatística baseado no
Índice de Desempenho do Município
(IDM). Esse índice segundo o IMB
é uma medida si
ntética de parte
do contexto socioeconômico dos
municípios em seis áreas de atuação:
Economia, Educação, Infraestrutura,
Saúde, Segurança e Trabalho. São ao
todo 37 variáveis selecionadas para
conferir o desempenho dos municípios
goianos. O objetivo do índ
ice é facilitar
o diagnóstico e a comparação do
desempenho dos municípios, bem
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
como avaliar os resultados e subsidiar
o planejamento das ações dos
governos ao longo do tempo.
A dimensão Economia do Índice
de Desempenho dos Municípios (IDM
Economia) é calculada por meio de
média aritmética simples dos
padronizados de 0 a 10 das seguintes
variáveis: v
alor adicionado (renda
gerada) do setor agropecuário;
adicionado do setor
industrial;
a
dicionado do setor de serviços; PIB
per capita -
soma dos bens e serviços
finais produzidos no município dividida
pelo número de habitantes;
do PIB nos dois anos anteriores
medida de avaliação do crescimento
da economia; p
ercentual dos recursos
próprios do município na composição
da receita total -
medida de
independência financeira/tributária do
município. Na dimensão trabalho são
as
seguintes variáveis analisadas:
e
mpregos formais entre a população
de 18 a 64 anos -
formalização do mercado de trabalho
da população em idade ativa;
r
emuneração média dos trabalhadores
-
nível de remuneração média do
mercado formal de trabalho;
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
como avaliar os resultados e subsidiar
o planejamento das ações dos
governos ao longo do tempo.
A dimensão Economia do Índice
de Desempenho dos Municípios (IDM
-
Economia) é calculada por meio de
média aritmética simples dos
scores
padronizados de 0 a 10 das seguintes
alor adicionado (renda
gerada) do setor agropecuário;
valor
industrial;
valor
dicionado do setor de serviços; PIB
soma dos bens e serviços
finais produzidos no município dividida
pelo número de habitantes;
evolução
do PIB nos dois anos anteriores
-
medida de avaliação do crescimento
ercentual dos recursos
próprios do município na composição
medida de
independência financeira/tributária do
município. Na dimensão trabalho são
seguintes variáveis analisadas:
mpregos formais entre a população
nível de
formalização do mercado de trabalho
da população em idade ativa;
emuneração média dos trabalhadores
nível de remuneração média do
mercado formal de trabalho;
nível de
escolaridade dos trabalhadores do
mercado formal -
trabalhadores com
formação d
e nível médio ou superior;
v
ariação do mero de empregos
formais - e
volução dos postos de
trabalho formais nos dois últimos anos.
Os dados levantados por essa
pesquisa podem
observar, conforme o
gráfico 1 abaixo que o município de
Goiás apresentou um aume
aproximado de 35% na dimensão
trabalho entre os anos de 2016 a
2018. Esse aumento tem relação
direta com o nível de escolaridade dos
trabalhadores locais e o aumento na
geração de postos de trabalho. Porém
esses trabalhadores pouco estão
ligados direta
mente ao segmento
criativo e cultural. O número de
empregos formais subiu de 3152 para
3610 entre 2016 a 2018, um aumento
de 14,5%.
Na dimensão economia
conforme o gráfico 1, o IDM dessa
dimensão caiu de 1,78 para 1,11 um
decréscimo de 37,6%. Esse dado
de
monstra que a economia local do
município de Goiás não conseguiu
acompanhar o aumento no IDM
Trabalho. A economia não gerou
337
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
escolaridade dos trabalhadores do
trabalhadores com
e nível médio ou superior;
ariação do mero de empregos
volução dos postos de
trabalho formais nos dois últimos anos.
Os dados levantados por essa
observar, conforme o
gráfico 1 abaixo que o município de
Goiás apresentou um aume
nto
aproximado de 35% na dimensão
trabalho entre os anos de 2016 a
2018. Esse aumento tem relação
direta com o nível de escolaridade dos
trabalhadores locais e o aumento na
geração de postos de trabalho. Porém
esses trabalhadores pouco estão
mente ao segmento
criativo e cultural. O número de
empregos formais subiu de 3152 para
3610 entre 2016 a 2018, um aumento
Na dimensão economia
conforme o gráfico 1, o IDM dessa
dimensão caiu de 1,78 para 1,11 um
decréscimo de 37,6%. Esse dado
monstra que a economia local do
município de Goiás não conseguiu
acompanhar o aumento no IDM
Trabalho. A economia não gerou
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
riquezas suficientes para alavancar a
distribuição de renda e nem o PIB
municipal. Outra observação sobre
esses dados pode levar em
as poucas opções de comércio,
serviços e infraestrutura no município
Gráfico 1 -
Índice de Desempenho do Município de Goiás
Fonte: IMB/Segplan. Elaboração do
Na evolução dos empregos
formais,
o gráfico 2 demonstrou um
crescimento entre 2012 a 2014 na
ordem 37% e após dois anos uma
retração de 8%. Ao se fazer uma
comparação com o gráfico 1, a oferta
de vagas de empregos na atividade
econômica de serviços oscila para
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
riquezas suficientes para alavancar a
distribuição de renda e nem o PIB
municipal. Outra observação sobre
esses dados pode levar em
conta que
as poucas opções de comércio,
serviços e infraestrutura no município
,
vêm
estimulando os moradores a
gastarem seus rendimentos em outras
regiões com mais infraestrutura na
área do comércio e serviços.
Índice de Desempenho do Município de Goiás
dimensão: Economia e Trabalho
Fonte: IMB/Segplan. Elaboração do
s autores
Na evolução dos empregos
o gráfico 2 demonstrou um
crescimento entre 2012 a 2014 na
ordem 37% e após dois anos uma
retração de 8%. Ao se fazer uma
comparação com o gráfico 1, a oferta
de vagas de empregos na atividade
econômica de serviços oscila para
cima e para baixo, a partir
2016. momentos de aceleração
nas contratações e outras de recuo.
Esse fato demonstra que a economia
mesmo local sente os efeitos globais
da desaceleração econômica do
Brasil. Mesmo assim, o setor de
serviços em 2016 representou 72%
338
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
estimulando os moradores a
gastarem seus rendimentos em outras
regiões com mais infraestrutura na
área do comércio e serviços.
dimensão: Economia e Trabalho
cima e para baixo, a partir
de 2009 até
2016. momentos de aceleração
nas contratações e outras de recuo.
Esse fato demonstra que a economia
mesmo local sente os efeitos globais
da desaceleração econômica do
Brasil. Mesmo assim, o setor de
serviços em 2016 representou 72%
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
dos empre
gos formais no município. O
setor agropecuário com 11%, a
indústria com 9% e administração
pública com 8% retratam o
desempenho da oferta de empregos
em Goiás. No período analisado de
Gráfico 2 -
Evolução dos empregos formais em cada atividade econômica
Fonte: IMB/
Apesar de ter uma ótima
variável no nível de escolaridade dos
seus trabalhadores, entre 2014 a
2016, a variável remuneração caiu de
2,3 para 1,57 o que pode explicar em
parte o IDM na dimensão tr
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
gos formais no município. O
setor agropecuário com 11%, a
indústria com 9% e administração
pública com 8% retratam o
desempenho da oferta de empregos
em Goiás. No período analisado de
2003 a 2016, o setor de serviços em
Goiás cresceu 108% no número de
empr
egos gerados, pelo fato de ter
uma economia cultural e turística que
abarca o segmento de serviços.
Evolução dos empregos formais em cada atividade econômica
Goiás (2003
Fonte: IMB/
RAIS Elaboração dos autores
Apesar de ter uma ótima
variável no nível de escolaridade dos
seus trabalhadores, entre 2014 a
2016, a variável remuneração caiu de
2,3 para 1,57 o que pode explicar em
parte o IDM na dimensão tr
abalho. E a
variação de empregos formais também
caiu, talvez sentindo os efeitos da crise
econômica brasileira.
O município de Goiás oferece
todas as condições territoriais culturais
e históricas para melhorar o seu
339
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
2003 a 2016, o setor de serviços em
Goiás cresceu 108% no número de
egos gerados, pelo fato de ter
uma economia cultural e turística que
abarca o segmento de serviços.
Goiás (2003
-2016)
variação de empregos formais também
caiu, talvez sentindo os efeitos da crise
O município de Goiás oferece
todas as condições territoriais culturais
e históricas para melhorar o seu
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
desenvolvimento por meio da
economia da
cultura. A existência de
sítios arqueológicos, museus, palácios
e igrejas favorecem a
economia local.
Tanto a prefeitura quanto
precisam fomentar políticas públicas
que visem à formação de agentes
culturais capacitados a pensar Goiás
como patrimônio histórico e cultural da
humanidade. Os shows
e festivais são
importantes para o município, porém o
efeito multiplicador para
cidadãos se torna quase pequeno, em
razão de não contemplarem a mão de
obra local no planejamento e
organizações destes eventos e de não
investirem na capacitação dos
trabalhadores culturais neste
município.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
desenvolvimento por meio da
cultura. A existência de
sítios arqueológicos, museus, palácios
economia local.
Tanto a prefeitura quanto
o Estado
precisam fomentar políticas públicas
que visem à formação de agentes
culturais capacitados a pensar Goiás
como patrimônio histórico e cultural da
e festivais são
importantes para o município, porém o
efeito multiplicador para
os seus
cidadãos se torna quase pequeno, em
razão de não contemplarem a mão de
obra local no planejamento e
organizações destes eventos e de não
investirem na capacitação dos
trabalhadores culturais neste
Dados do Sistema Nacional de
Cultura (
SNC) apresenta o município
de Goiás cadastrado nesse sistema
cultural do MinC. A data de
homologação aconteceu no dia 17 de
setembro de 2013 no diário oficial da
União. Com a inserção de Goiás no
SNC, o próximo passo seria a criação
de uma lei específica d
criação do Sistema Municipal de
Cultura (SMC). No mesmo ano, em
dezembro, a prefeitura sancionou a lei
032, aprovada pela Câmara Municipal,
a qual cria o SMC instituindo
programas, projetos e ações para a
promoção das políticas públicas
cultu
rais no âmbito municipal. Nesta lei
criou-
se o Conselho Municipal de
Política Cultural e o Fundo Municipal
340
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
Dados do Sistema Nacional de
SNC) apresenta o município
de Goiás cadastrado nesse sistema
cultural do MinC. A data de
homologação aconteceu no dia 17 de
setembro de 2013 no diário oficial da
União. Com a inserção de Goiás no
SNC, o próximo passo seria a criação
de uma lei específica d
eterminando a
criação do Sistema Municipal de
Cultura (SMC). No mesmo ano, em
dezembro, a prefeitura sancionou a lei
032, aprovada pela Câmara Municipal,
a qual cria o SMC instituindo
programas, projetos e ações para a
promoção das políticas públicas
rais no âmbito municipal. Nesta lei
se o Conselho Municipal de
Política Cultural e o Fundo Municipal
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
de Cultura. Em abril de 2014, a
prefeitura nomeou os componentes
deste conselho para um mandato de
dois anos através do decreto nº 17.
Todos estes m
ecanismos são
estímulos importantes para promover o
desenvolvimento local.
O Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) foi criado pelo
governo federal em 2007 para
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
de Cultura. Em abril de 2014, a
prefeitura nomeou os componentes
deste conselho para um mandato de
dois anos através do decreto nº 17.
ecanismos são
estímulos importantes para promover o
O Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) foi criado pelo
governo federal em 2007 para
promover a
retomada do planejamento
e execução de grandes obras. Em
2013, o Ministério do
cria uma linha exclusiva de crédito
para os sítios históricos urbanos
protegidos pelo IPHAN
tradição cultural e histórica permitiu ao
município de Goiás ter acesso às
verbas federais do PAC cidades
históricas conforme mostra o grá
5
Fonte disponível em:
http://portal.i
phan.gov.br/pagina/detalhes/235.
Acesso: 14 jan. 2019.
341
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
retomada do planejamento
e execução de grandes obras. Em
2013, o Ministério do
Planejamento
cria uma linha exclusiva de crédito
para os sítios históricos urbanos
protegidos pelo IPHAN
5
. Sua forte
tradição cultural e histórica permitiu ao
município de Goiás ter acesso às
verbas federais do PAC cidades
históricas conforme mostra o grá
fico 3.
phan.gov.br/pagina/detalhes/235.
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
Gráfico 1 -
Convênios Federais do Ministério e Fundo Nacional de Cultura
Fonte: Portal da Transparência Brasil/SIAFI
No período de 2003 a 2016
foram registrados no portal da
transparência da União,
aproximadamente, R$ 52,5 milhões
em verbas federais para o município
de Goiás. Desse valor 50 milhões de
reais foram destinados à reforma
mercado municipal, do cine teatro São
Joaquim e a sede da prefeitura. Esses
três bens tombados pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN) foram reconstruídos
respeitando a
s origens arquitetônicas
dos séculos XVIII e XIX. O mus
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
Convênios Federais do Ministério e Fundo Nacional de Cultura
-
Goiás (2003
Fonte: Portal da Transparência Brasil/SIAFI
e SICONV. Elaboração do
No período de 2003 a 2016
foram registrados no portal da
transparência da União,
aproximadamente, R$ 52,5 milhões
em verbas federais para o município
de Goiás. Desse valor 50 milhões de
reais foram destinados à reforma
do
mercado municipal, do cine teatro São
Joaquim e a sede da prefeitura. Esses
três bens tombados pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN) foram reconstruídos
s origens arquitetônicas
dos séculos XVIII e XIX. O mus
eu de
Cora Coralina recebeu verbas para
sua conservação, curso de formação e
criação de um DVD com obras da
poetisa, segundo o portal da
transparência. O ponto de cultura
Botina Mateira recebeu verbas para
implantar sua sede e desenvolver
ações culturais d
entro do programa
Cultura Viva do MinC. A restauração e
preservação destes bens é um
estímulo para seus moradores e
turistas que visitam Goiás e trazem
recursos que fazem movimentar a
342
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
Goiás (2003
-2016)
e SICONV. Elaboração do
s autores
Cora Coralina recebeu verbas para
sua conservação, curso de formação e
criação de um DVD com obras da
poetisa, segundo o portal da
transparência. O ponto de cultura
Botina Mateira recebeu verbas para
implantar sua sede e desenvolver
entro do programa
Cultura Viva do MinC. A restauração e
preservação destes bens é um
estímulo para seus moradores e
turistas que visitam Goiás e trazem
recursos que fazem movimentar a
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
economia local com empregos e maior
Gráfico 2 -
Despesas Municipais na função orçamentária cultura
Fonte: IMB/Segplan. Elaboração do
No gráfico 4 as despesas
municipais de Goiás entre os períodos
de 2003 a 2014 retratou uma
excepcionalidade nos anos de 2004 e
2014 com gastos de quase R$ 1,8
milhão e R$ 1 milhão,
respectivamente. Nas despesas de
2004 esse valor representou 10%, e
em 2014
1,7% das receitas municipais.
Neste mesmo período as receitas
municipais aumentaram em quase
200%, porém as despesas com a
cultura não acompanharam esse
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
economia local com empregos e maior
arrecadação tributária.
Despesas Municipais na função orçamentária cultura
Goiás (2003
Fonte: IMB/Segplan. Elaboração do
s autores
No gráfico 4 as despesas
municipais de Goiás entre os períodos
de 2003 a 2014 retratou uma
excepcionalidade nos anos de 2004 e
2014 com gastos de quase R$ 1,8
milhão e R$ 1 milhão,
respectivamente. Nas despesas de
2004 esse valor representou 10%, e
1,7% das receitas municipais.
Neste mesmo período as receitas
municipais aumentaram em quase
200%, porém as despesas com a
cultura não acompanharam esse
crescimento. Nos demais anos da
pesquisa, a média de gastos com a
cultura representou aproximadamente
0,60% das receitas municipais.
6.
Considerações finais
Numa economia globalizada as
dinâmicas culturais, econômicas e
territoriais numa escala local e regional
disputam espaço e relevância com os
mercados globais. A massificação do
uso das tecnologias de informação e
comunicação proporcionaram à
343
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
arrecadação tributária.
Goiás (2003
-2014)
crescimento. Nos demais anos da
pesquisa, a média de gastos com a
cultura representou aproximadamente
0,60% das receitas municipais.
Considerações finais
Numa economia globalizada as
dinâmicas culturais, econômicas e
territoriais numa escala local e regional
disputam espaço e relevância com os
mercados globais. A massificação do
uso das tecnologias de informação e
comunicação proporcionaram à
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
sociedade esse
contato com culturas
de diversos países. Esse
acadêmico tentou contribuir para uma
reflexão dos atores sociais e políticos
locais, a fim de valorizar os seus
recursos materiais e imateriais
oriundos das tradições territoriais e
culturais, a favor d
desenvolvimento regional que possa
estimular à melhoria da qualidade de
vida e do crescimento econômico no
estado de Goiás.
Essa valorização dos costumes
e hábitos culturais locais como
instrumento de promoção ao
desenvolvimento tem sido gradual e
le
nto. A ausência da profissionalização
desses atores sociais locais envolvidos
com a economia da cultura é um fator
que contribui para esse lento
desenvolvimento econômico e social.
Atuar nessa atividade como explica
Brant (2009) é exigir desse profissional
conhecimentos que vão além dos
específicos da cultura. É entender o
mercado que está inserido, numa
visão holística e crítica, que o faça
dialogar com todas as partes
envolvidas nessa cadeia de produção.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
contato com culturas
de diversos países. Esse
artigo
acadêmico tentou contribuir para uma
reflexão dos atores sociais e políticos
locais, a fim de valorizar os seus
recursos materiais e imateriais
oriundos das tradições territoriais e
culturais, a favor d
e um
desenvolvimento regional que possa
estimular à melhoria da qualidade de
vida e do crescimento econômico no
Essa valorização dos costumes
e hábitos culturais locais como
instrumento de promoção ao
desenvolvimento tem sido gradual e
nto. A ausência da profissionalização
desses atores sociais locais envolvidos
com a economia da cultura é um fator
que contribui para esse lento
desenvolvimento econômico e social.
Atuar nessa atividade como explica
Brant (2009) é exigir desse profissional
conhecimentos que vão além dos
específicos da cultura. É entender o
mercado que está inserido, numa
visão holística e crítica, que o faça
dialogar com todas as partes
envolvidas nessa cadeia de produção.
As políticas públicas culturais
estabelecidas na C
posteriormente em estados e
municípios é um desses instrumentos
capazes de promover o
desenvolvimento local de maneira
integrada entre as regiões. Seja por
meio da promoção da diversidade
cultural e da formação de uma
identidade local e regiona
públicas implementadas por estados e
municípios precisam “ultrapassar os
limites da pasta da cultura e envolver o
setor privado e a sociedade civil”
(REIS, 2007, p. 140) na intenção de
aperfeiçoar esse instrumento político
num contexto de c
oletividade e união
entre os atores locais.
Esse novo papel da cultura
como estratégia de desenvolvimento
regional permite aos municípios e por
conseguinte ao Estado de Goiás,
propor projetos e empreendimentos
culturais para alavancarem
economia local.
Porém observa
uma ausência de infraestrutura
institucional e de governança que os
inibem a
propor projetos culturais que
contemplem a
diversidade cultural e
identidade local. Poucos são os
344
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
As políticas públicas culturais
estabelecidas na C
F de 1988 e
posteriormente em estados e
municípios é um desses instrumentos
capazes de promover o
desenvolvimento local de maneira
integrada entre as regiões. Seja por
meio da promoção da diversidade
cultural e da formação de uma
identidade local e regiona
l, as políticas
públicas implementadas por estados e
municípios precisam “ultrapassar os
limites da pasta da cultura e envolver o
setor privado e a sociedade civil”
(REIS, 2007, p. 140) na intenção de
aperfeiçoar esse instrumento político
oletividade e união
entre os atores locais.
Esse novo papel da cultura
como estratégia de desenvolvimento
regional permite aos municípios e por
conseguinte ao Estado de Goiás,
propor projetos e empreendimentos
culturais para alavancarem
a
Porém observa
-se
uma ausência de infraestrutura
institucional e de governança que os
propor projetos culturais que
diversidade cultural e
a
identidade local. Poucos são os
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
empreendimentos culturais que
valorizam a
identidade e
cara
cterísticas locais. Segundo Reis
(2007) esse processo de exclusão das
minorias e das suas manifestações
culturais é resultado dos privilégios
obtidos pelas elites nacionais vindas
dos culos passados. Além disso, a
falta de pessoas qualificadas nesses
mun
icípios para pensarem e
trabalharem alternativas para a
promoção do
desenvolvimento
regional ficou bem evidente, ao
constatar que os esforços do poder
público e da sociedade ainda
continuam na questão industrialização
para alcançar uma qualidade de vida e
bem-estar social.
Os desafios da economia da
cultura para a promoção do
desenvolvimento regional ultrapassam
a negação da cultura como alternativa
para o desenvolvimento. A certeza
agora é provocar o debate de como e
em que forma essas novas atividades
e
conômicas serão exploradas e
utilizadas com o objetivo de gerar
renda e emprego no município de
maneira sustentável. O papel de
estrategista na formulação de planos
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
empreendimentos culturais que
identidade e
as
cterísticas locais. Segundo Reis
(2007) esse processo de exclusão das
minorias e das suas manifestações
culturais é resultado dos privilégios
obtidos pelas elites nacionais vindas
dos culos passados. Além disso, a
falta de pessoas qualificadas nesses
icípios para pensarem e
trabalharem alternativas para a
desenvolvimento
regional ficou bem evidente, ao
constatar que os esforços do poder
público e da sociedade ainda
continuam na questão industrialização
,
para alcançar uma qualidade de vida e
Os desafios da economia da
cultura para a promoção do
desenvolvimento regional ultrapassam
a negação da cultura como alternativa
para o desenvolvimento. A certeza
agora é provocar o debate de como e
em que forma essas novas atividades
conômicas serão exploradas e
utilizadas com o objetivo de gerar
renda e emprego no município de
maneira sustentável. O papel de
estrategista na formulação de planos
de desenvolvimento e crescimento
local é
dos municípios e do Estado. A
importância da integ
ração e da união
dos seus
stakeholders
peça fundamental para a elaboração
de um planejamento discutido com
base nas vocações e nas habilidades
dos seus moradores e do seu território.
Afinal, ao propor esse tema
buscou-
se uma apropriação da
além do entretenimento e da diversão.
Discutir cultura é aprofundar o debate
acerca da profissionalização da classe
cultural e das inúmeras possib
de se trabalhar a cultura numa
perspectiva de desenvolvimento. A
preocupação com os pequenos
médios municípios e os seus desafios
para o novo século baseou
registro de que aproximadamente 80%
dos 246 municípios goianos têm
população abaixo dos 30 mil
habitantes.
Além disso
Goiás apesar de todos os esforços de
industrialização
carrega uma forte
vocação para a economia primária
baseada em grãos e carne bovina.
São economias pouco
dinâmicas e geradoras de empregos
com baixo valor agregado e de
345
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
de desenvolvimento e crescimento
dos municípios e do Estado. A
ração e da união
stakeholders
constituem
peça fundamental para a elaboração
de um planejamento discutido com
base nas vocações e nas habilidades
dos seus moradores e do seu território.
Afinal, ao propor esse tema
se uma apropriação da
cultura
além do entretenimento e da diversão.
Discutir cultura é aprofundar o debate
acerca da profissionalização da classe
cultural e das inúmeras possib
ilidades
de se trabalhar a cultura numa
perspectiva de desenvolvimento. A
preocupação com os pequenos
e
médios municípios e os seus desafios
para o novo século baseou
-se no
registro de que aproximadamente 80%
dos 246 municípios goianos têm
população abaixo dos 30 mil
Além disso
, o estado de
Goiás apesar de todos os esforços de
carrega uma forte
vocação para a economia primária
baseada em grãos e carne bovina.
São economias pouco
dinâmicas e geradoras de empregos
com baixo valor agregado e de
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
qualificação, reduzindo a renda
capita
da população.A administração
pública constitu
i uma outra fonte de
renda quando se propõe a empregar
as pessoas de pequenas localidades
prejudicando as despesas da
prefeitura, ao invés de criar condições
de se empreender utilizando políticas
públicas sociais. Sem perspectivas de
empregos nos pequenos
municípios
natural o fluxo migratório para os
grandes centros urbanos, aumentando
a demanda por atendimentos nos
serviços públicos.
Essa foi a razão deste estudo e
esperamos que possa contribuir como
fonte de informações e estratégias
para os gestores
públicos, sociedade,
estudantes e profissionais da cultura.
Num país multicultural como o Brasil, é
importante que estes atores sociais e
políticos comecem a perceber que a
economia da cultura pode ser uma
alternativa para promoverem o
desenvolvimento loca
l e também
intermunicipal, ao valorizar os
municípios vizinhos construindo uma
rede de conexões com o objetivo
comum de movimentar a economia e o
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
qualificação, reduzindo a renda
per
da população.A administração
i uma outra fonte de
renda quando se propõe a empregar
as pessoas de pequenas localidades
prejudicando as despesas da
prefeitura, ao invés de criar condições
de se empreender utilizando políticas
públicas sociais. Sem perspectivas de
municípios
, é
natural o fluxo migratório para os
grandes centros urbanos, aumentando
a demanda por atendimentos nos
Essa foi a razão deste estudo e
esperamos que possa contribuir como
fonte de informações e estratégias
públicos, sociedade,
estudantes e profissionais da cultura.
Num país multicultural como o Brasil, é
importante que estes atores sociais e
políticos comecem a perceber que a
economia da cultura pode ser uma
alternativa para promoverem o
l e também
intermunicipal, ao valorizar os
municípios vizinhos construindo uma
rede de conexões com o objetivo
comum de movimentar a economia e o
trabalho com geração de renda e
emprego para os seus munícipes.
Referências bibliográficas:
AVELAR, Rômulo. O
notas sobre produção e gestão
cultural. Belo Horizonte: Ed. do Autor,
2013.
BENHAMOU, F.
A economia da
cultura
. Cotia, SP: Ed. Ateliê, 2007.
BRANT, L.
O poder da cultura
Paulo: Peirópolis, 2009.
BRASIL.
Constituição
ção
da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Senado Federal: Centro
Gráfico, 1988.
BUGS, J; BASSAN, D. A busca do
desenvolvimento através da cultura.
Colóquio
Desenvolvimento Regional
10, n.1, p. 147-
162, jan./jun. 2013.
CALABRE, L. Políticas públicas
culturais de 1924 a 1945: o rádio em
destaque.
Estudos Históricos
Janeiro, n. 31, p.161-
181, 2003
CUNHA FILHO, F. H.
da gestão cultural
. Fortaleza: UNIFOR,
2002.
CUNHA, M. H. M. da.
profissão em formação. Belo
Horizonte: Duo Ed., 2007.
DALLABRIDA, V. R.;
Governança territorial em arranjos
cooperativos institucionais e
organizacionais: aportes teórico
metodológicos e avaliação de
experiências brasileiras e portuguesas.
In:
BADALOTTI, R. M.;
COMERLATTO, D. (org
346
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
trabalho com geração de renda e
emprego para os seus munícipes.
Referências bibliográficas:
avesso da cena:
notas sobre produção e gestão
cultural. Belo Horizonte: Ed. do Autor,
A economia da
. Cotia, SP: Ed. Ateliê, 2007.
O poder da cultura
. São
Paulo: Peirópolis, 2009.
Constituição
(1988). Constitui
da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Senado Federal: Centro
BUGS, J; BASSAN, D. A busca do
desenvolvimento através da cultura.
Revista do
Desenvolvimento Regional
Faccat, v.
162, jan./jun. 2013.
CALABRE, L. Políticas públicas
culturais de 1924 a 1945: o rádio em
Estudos Históricos
. Rio de
181, 2003
CUNHA FILHO, F. H.
Teoria e prática
. Fortaleza: UNIFOR,
CUNHA, M. H. M. da.
Gestão cultural:
profissão em formação. Belo
Horizonte: Duo Ed., 2007.
DALLABRIDA, V. R.;
FERRÃO, J.
Governança territorial em arranjos
cooperativos institucionais e
organizacionais: aportes teórico
-
metodológicos e avaliação de
experiências brasileiras e portuguesas.
BADALOTTI, R. M.;
COMERLATTO, D. (org
s.). Território,
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
territorialidades e estratégias de
desenvolvimento regional
Fundo, RS: IMED, 2016.
p.28
DALLABRIDA, V.
R.; COVAS, M.
M.; COVAS, A. M.
A. Inovação,
Desenvolvimento e Espaço Urbano:
um
a relação necessária mas não
suficiente.
Revista Brasileira de
Estudos Urbanos e Regionais
v. 19, n. 2, p.360-
378, 2017.
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO
RIO DE JANEIRO
FIRJAN.
de Municípios
: mais impostos e menos
serviços à população (2018)
Disponível em:
http://www.firjan.com.br/publicacoes/pu
blicacoes-de-
economia/criacao
municipios-mais-impostos-
e
servicos-a-populacao-
1.htm Acesso: 1
set. 2018.
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO
RIO DE JANEIRO
Mapeamento da Indústria Criativa n
Brasil
(2014) Disponível em:
http://www.firjan.com.br/economiacriati
va/download/mapeamento
-
criativa-sistema-firjan-
2016.pdf
Acesso: 10 abr.2018
FREIDSON, E. Para uma análise
comparada das profissões: a
institucionalização do discurso e do
conhe
cimento formais.
Brasileira de Ciências Sociais
31, p. 141-154, 1996.
FREIDSON, E. R
enascimento do
Profissionalismo
: teoria, profecia e
política. São Paulo: Ed. USP, 1998.
FURTADO, C.
Cultura e
desenvolvimento em época de crise
São Paulo
: Paz e Terra, 1984.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
territorialidades e estratégias de
desenvolvimento regional
. Passo
p.28
-46.
R.; COVAS, M.
M. C.
A. Inovação,
Desenvolvimento e Espaço Urbano:
a relação necessária mas não
Revista Brasileira de
Estudos Urbanos e Regionais
. Recife,
378, 2017.
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO
FIRJAN.
Criação
: mais impostos e menos
serviços à população (2018)
Disponível em:
http://www.firjan.com.br/publicacoes/pu
economia/criacao
-de-
e
-menos-
1.htm Acesso: 1
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO
FIRJAN.
Mapeamento da Indústria Criativa n
o
(2014) Disponível em:
http://www.firjan.com.br/economiacriati
-
industria-
2016.pdf
FREIDSON, E. Para uma análise
comparada das profissões: a
institucionalização do discurso e do
cimento formais.
Revista
Brasileira de Ciências Sociais
, v. 11, n.
enascimento do
: teoria, profecia e
política. São Paulo: Ed. USP, 1998.
Cultura e
desenvolvimento em época de crise
.
: Paz e Terra, 1984.
GIL, A. C. Redes cooperativa regionais
e governanças.
Redes,
84, set./dez. 2002.
HERMET, G.
desenvolvimento
. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2002.
INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
Conheça Cidades e Estados do Brasil.
Disponível em:
http://cidades.ibge.gov.br/xtras/home.p
hp?lang=_EN. Acesso: 14 nov. 2017.
INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
IBGE.
Sistema IBGE de recuperação
automática: SIDRA.
Banco de dados
agregados. Di
sponível em: http://www.
sidra. ibge. gov. br/bda/tabela/protabl.
asp
, 2015. Acesso: 20 out. 2017.
INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
IBGE..
Estimativas de População
2018.
Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas
novoportal/sociai
s/populacao/9103
estimativas-de-
populacao.html?=&t=o
que-
e. Acesso: 14 out. 2018.
INSTITUTO MAURO BORGES DE
ESTATÍSTICAS E ESTUDOS
SOCIOECONÔMICOS
em Dados 2014
. Disponível em:
http://www.imb.go.gov.br/viewnot.asp?i
d_cad=1209&id_not=3&gt.
Acesso: 5 jan. 2018.
INSTITUTO MAURO BORGES DE
ESTATÍSTICAS E ESTUDOS
SOCIOECONÔMICOS
de desempenho dos municípios
Disponível em:
http://www.imb.go.gov.br&gt. Acesso:
22 jun. 2017.
347
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
GIL, A. C. Redes cooperativa regionais
Redes,
v. 7, n.3, p. 61-
Cultura e
. Petrópolis, RJ:
INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
– IBGE.
Conheça Cidades e Estados do Brasil.
Disponível em:
http://cidades.ibge.gov.br/xtras/home.p
hp?lang=_EN. Acesso: 14 nov. 2017.
INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
Sistema IBGE de recuperação
Banco de dados
sponível em: http://www.
sidra. ibge. gov. br/bda/tabela/protabl.
, 2015. Acesso: 20 out. 2017.
INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
Estimativas de População
Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas
-
s/populacao/9103
-
populacao.html?=&t=o
-
e. Acesso: 14 out. 2018.
INSTITUTO MAURO BORGES DE
ESTATÍSTICAS E ESTUDOS
SOCIOECONÔMICOS
IMB. Goiás
. Disponível em:
http://www.imb.go.gov.br/viewnot.asp?i
d_cad=1209&id_not=3&gt.
INSTITUTO MAURO BORGES DE
ESTATÍSTICAS E ESTUDOS
SOCIOECONÔMICOS
IMB. Índice
de desempenho dos municípios
.
Disponível em:
http://www.imb.go.gov.br&gt. Acesso:
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
INSTITUTO MAURO BORGES DE
ESTATÍSTICAS E ESTUDOS
SOCIOECONÔMICOS
IMB.
das Profissões 2018.
Disponível em:
http://profissoes.imb.go.gov.br/profisso
es/view/mercado.php. Acesso: 15 jun.
2017.
INSTITUTO MAURO BORGES DE
ESTATÍSTICAS E ESTUDOS
SOCIOECONÔMICOS
Caracterização da Economia Criativa
em Goiás.
Informe Técnico
Disponível em:
http://www.imb.go.gov.br/files/docs/pub
licacoes/informes-
tecnicos/2018/10
caracterizacao-da-
economia
em-goias-
201806.pdf. Acesso: 30 set.
2018.
JAMESON, F.
A virada cultural
reflexões sobre o pós-
modernismo.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2006.
MARINHO, T. A.. Família e Extensão:
para além dos muros da Universidade.
Revista Fragmentos de Cultura
Revista Interdisciplinar de Ciências
Humanas, v. 25, n. 1, p. 15
-
MINISTÉRIO DA
CULTURA
Gestor público britânico defende
criatividade na economia
. Disponível
em: http://www.cultura.gov.br/o
dia-da-cultura/-
/asset_publisher/waaE236Oves2/conte
nt/gestor-publico-britanico-
defende
criatividade-na-
economia/10883?redirect=http%
F%2Fwww.cultura.gov.br%2Fo
dia-da-
cultura%3Fp_p_id%3D101_INSTANC
E_waaE236Oves2%26p_p_lifecycle%
3D0%26p_p_state%3Dnormal%26p_p
_mode%3Dview%26p_p_col_id%3Dco
lumn-
1%26p_p_col_count%3D1
Acesso: 30 out. 2018.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
INSTITUTO MAURO BORGES DE
ESTATÍSTICAS E ESTUDOS
IMB.
Painel
Disponível em:
http://profissoes.imb.go.gov.br/profisso
es/view/mercado.php. Acesso: 15 jun.
INSTITUTO MAURO BORGES DE
ESTATÍSTICAS E ESTUDOS
IMB.
Caracterização da Economia Criativa
Informe Técnico
n.10/2018.
Disponível em:
http://www.imb.go.gov.br/files/docs/pub
tecnicos/2018/10
-
economia
-criativa-
201806.pdf. Acesso: 30 set.
A virada cultural
:
modernismo.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
MARINHO, T. A.. Família e Extensão:
para além dos muros da Universidade.
Revista Fragmentos de Cultura
-
Revista Interdisciplinar de Ciências
-
26, 2015.
CULTURA
MINC.
Gestor público britânico defende
. Disponível
em: http://www.cultura.gov.br/o
-dia-a-
/asset_publisher/waaE236Oves2/conte
defende
-
economia/10883?redirect=http%
3A%2
F%2Fwww.cultura.gov.br%2Fo
-dia-a-
cultura%3Fp_p_id%3D101_INSTANC
E_waaE236Oves2%26p_p_lifecycle%
3D0%26p_p_state%3Dnormal%26p_p
_mode%3Dview%26p_p_col_id%3Dco
1%26p_p_col_count%3D1
MINISTÉRIO DA CULTURA
Relatório de
economia criativa 2010
economia criativa uma, opção de
desenvolvimento. Brasília: Secretaria
da Economia Criativa/Min
Paulo: Itaú Cultural, 2012.
MONTEIRO NETO, A.; BRANDÃO, C.
A. ; CASTRO, C. N. de (orgs.).
Desenvolvimento Regional brasileiro
di
lemas e perspectivas neste início de
século XXI. Brasília: IPEA, 2017.
REIS, A. C. F.
Economia da Cultura e
desenvolvimento sustentável
caleidoscópio da cultura. Barueri, SP:
Manole, 2007.
SASSEN, S. As cidades na economia
mundial. São Paulo: Studio Nob
1998.
SEN, A. K.
Desenvolvimento como
Liberdade
. São Paulo: Companhia das
Letras, 1999.
SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO
ÀS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS. Sebrae
Participação das Micro e Pequenas
Empresas na Economia Brasileira
Disponível em:
https://m.sebrae.com.br/Sebrae/Portal
%20Sebrae/Estudos%20e%20Pesquis
as/Participacao%20das%20micro%20
e%20pequenas%20empresas.pdf.
Acesso: 20 out. 2018.
SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO
ÀS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS. Sebrae.DataSebrae
Disponível em:
http://datasebrae.com.br/pib/#maiores.
Acesso: 30 set. 2018.
VIEIRA, J. C. Planejamento em Goiás:
uma reflexão do Plano Mauro Borges.
Revista de Ciências Ambientais e
348
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
MINISTÉRIO DA CULTURA
MINC.
economia criativa 2010
:
economia criativa uma, opção de
desenvolvimento. Brasília: Secretaria
da Economia Criativa/Min
C ; o
Paulo: Itaú Cultural, 2012.
MONTEIRO NETO, A.; BRANDÃO, C.
A. ; CASTRO, C. N. de (orgs.).
Desenvolvimento Regional brasileiro
:
lemas e perspectivas neste início de
século XXI. Brasília: IPEA, 2017.
Economia da Cultura e
desenvolvimento sustentável
: o
caleidoscópio da cultura. Barueri, SP:
SASSEN, S. As cidades na economia
mundial. São Paulo: Studio Nob
el,
Desenvolvimento como
. São Paulo: Companhia das
SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO
ÀS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS. Sebrae
(2014).
Participação das Micro e Pequenas
Empresas na Economia Brasileira
.
Disponível em:
https://m.sebrae.com.br/Sebrae/Portal
%20Sebrae/Estudos%20e%20Pesquis
as/Participacao%20das%20micro%20
e%20pequenas%20empresas.pdf.
Acesso: 20 out. 2018.
SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO
ÀS MICRO E PEQUENAS
EMPRESAS. Sebrae.DataSebrae
.
Disponível em:
http://datasebrae.com.br/pib/#maiores.
Acesso: 30 set. 2018.
VIEIRA, J. C. Planejamento em Goiás:
uma reflexão do Plano Mauro Borges.
Revista de Ciências Ambientais e
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 324-349, set. 2020.
Saúde, v.39, n. 1, p. 3-
14, jan/mar,
2012.
ZUKIN, S. Paisagem urbana pós
moderna: mapean
do cultura e poder.
In: O ARANTES, Antônio A (org.).
espaço da diferença
. Campinas, SP:
Papirus, 2000.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
LEITE, Aline Tereza Borghi; SILVESTRE, Juliano de
Castro. Economia e
cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
14, jan/mar,
ZUKIN, S. Paisagem urbana pós
-
do cultura e poder.
In: O ARANTES, Antônio A (org.).
O
. Campinas, SP:
349
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
350
-
379
,
set. 2020.
Sistema Nacional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica com
foco nos estudos de caso de municípios
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.42274
Resumo:
O objetivo deste art
realizadas em cursos de
pós
Sistema Nacional de Cultura (SNC)
proposta é obter
um panorama geral sobre a produção
de conhecimento, distribuição territorial; bem como observar as características
marcantes da política pública que estes
possível perceber
que, embora estes estudos tenham sido produzidos em contextos
diferentes, com
objetivos e hipóteses distintos, além de
suas próprias áreas de conhecimento,
grau de conformidade n
os efeitos
Palavras-chave
: Estado da arte
Sistema Nacional de Cultura: un estado del arte de la producción académica
con un
enfoque en estudios de casos de municipios
Resumen:
El objetivo de este artículo es tejer un estado del arte de las monografías
realizadas en cursos de posgrado estricto sensu que tienen como temas el Sistema
Nacional de Cultura (SNC) y los Sistemas de Mu
propuesta es obtener una visión general de la producción teórica involucrada, sus
1
Clarissa Alexandra Guajardo Semensato. Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Políticas
Públicas da Universidade Estadual do Ceará
Estadual do Norte
Fluminense. E
0757
2
Alexandre Almeida Barbalho.
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade
Federal da Bahia. Professor dos Programas de Pós
Públicas da Universidade Estadual do Ceará e em Comunicação da Universidade
Brasil. E-
mail:alexandrealmeidabarbalho@gmail.com
R
ecebido em 20/04/2020, aceito para publicação em
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
Sistema Nacional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica com
foco nos estudos de caso de municípios
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.42274
Clarissa
Alexandra Guajardo Semensato
Alexandre Almeida Barbalho
O objetivo deste art
igo é tecer um estado da arte das monografias
pós
-graduação stricto sensu
que tenham como temática
Sistema Nacional de Cultura (SNC)
e os
Sistemas Municipais de Cultura (SMCs)
um panorama geral sobre a produção
teórica envolvida
de conhecimento, distribuição territorial; bem como observar as características
marcantes da política pública que estes
estudos apon
tam no âmbito municipal
que, embora estes estudos tenham sido produzidos em contextos
objetivos e hipóteses distintos, além de
métodos
suas próprias áreas de conhecimento,
seus resultados di
alogam
os efeitos
de implementação da política
nos municípios.
: Estado da arte
; Sistema Nacional de Cultura;
municípios
Sistema Nacional de Cultura: un estado del arte de la producción académica
enfoque en estudios de casos de municipios
El objetivo de este artículo es tejer un estado del arte de las monografías
realizadas en cursos de posgrado estricto sensu que tienen como temas el Sistema
Nacional de Cultura (SNC) y los Sistemas de Mu
nicipales de Cultura (SMC). La
propuesta es obtener una visión general de la producción teórica involucrada, sus
Clarissa Alexandra Guajardo Semensato. Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Políticas
Públicas da Universidade Estadual do Ceará
, Brasil
. Mestre em Políticas Sociais pela Universidade
Fluminense. E
-mail: clarissaalexandra@gmail.com -
https://orcid.org/0000
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade
Federal da Bahia. Professor dos Programas de Pós
-Graduação em Sociologia e
em Políticas
Públicas da Universidade Estadual do Ceará e em Comunicação da Universidade
mail:alexandrealmeidabarbalho@gmail.com
- https://orcid.org/0000-
0003
ecebido em 20/04/2020, aceito para publicação em
08/05/2020, dispon
ibilizado
01/09/2020.
350
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
Sistema Nacional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica com
Alexandra Guajardo Semensato
1
Alexandre Almeida Barbalho
2
igo é tecer um estado da arte das monografias
que tenham como temática
s o
Sistemas Municipais de Cultura (SMCs)
. A
teórica envolvida
, suas áreas
de conhecimento, distribuição territorial; bem como observar as características
tam no âmbito municipal
. Foi
que, embora estes estudos tenham sido produzidos em contextos
métodos
particulares de
alogam
, mostrando um
nos municípios.
municípios
Sistema Nacional de Cultura: un estado del arte de la producción académica
El objetivo de este artículo es tejer un estado del arte de las monografías
realizadas en cursos de posgrado estricto sensu que tienen como temas el Sistema
nicipales de Cultura (SMC). La
propuesta es obtener una visión general de la producción teórica involucrada, sus
Clarissa Alexandra Guajardo Semensato. Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Políticas
. Mestre em Políticas Sociais pela Universidade
https://orcid.org/0000
-0003-4278-
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Universidade
em Políticas
Públicas da Universidade Estadual do Ceará e em Comunicação da Universidade
Federal do Ceará,
0003
-4612-6162
ibilizado
online em
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
350
-
379
,
set. 2020.
áreas de conocimiento, distribución territorial; además de observar las
características principales de la política pública que estos estudios s
municipal. Fue posible notar que, aunque estos estudios se produjeron en diferentes
contextos, con diferentes objetivos e hipótesis, además de todos particulares de
sus propias áreas de conocimiento, sus resultados son similares, presentan
conformidad en los efectos de la implementación de políticas en los municipios.
Palabras clave
: Estado del arte; Sistema Nacional de Cultura; municipios
National System of Culture: a state of art in academic production with focus on
municipalities study of cases
Abstract:
The objective of this article is to weave the state of the art of the
monographs carried out in stricto
the National System of Culture (NSC) and the Municipal System of
The proposal is to obtain a general overview of the theoretical production involved, its
areas of knowledge, territorial distribution; as well as to observe the main
characteristics that these studies point out in the public policy at the
It was possible to notice that, although these studies were produced in different
contexts, with different objectives and hypotheses, and using particular methods from
their own areas of knowledge, their results are similar, showing analog
policy implementation in the
Keywords: State of art;
National System of Culture
Sistema Nacional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica com
foco nos estudos de caso de municípios
Introdução
Este artigo
tem por objetivo
traçar um panorama
comparativo
sobre a produção acadêmica
relacionada ao Sistema Nacional de
Cultura (SNC) e
aos
Municipais de Cultura (SMCs),
tendo como base de dados o
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 10, n. 1
9, p.
áreas de conocimiento, distribución territorial; además de observar las
características principales de la política pública que estos estudios s
municipal. Fue posible notar que, aunque estos estudios se produjeron en diferentes
contextos, con diferentes objetivos e hipótesis, además de todos particulares de
sus propias áreas de conocimiento, sus resultados son similares, presentan
conformidad en los efectos de la implementación de políticas en los municipios.
: Estado del arte; Sistema Nacional de Cultura; municipios
National System of Culture: a state of art in academic production with focus on
municipalities study of cases
The objective of this article is to weave the state of the art of the
monographs carried out in stricto
sensu postgraduate courses that have as themes
the National System of Culture (NSC) and the Municipal System of
The proposal is to obtain a general overview of the theoretical production involved, its
areas of knowledge, territorial distribution; as well as to observe the main
characteristics that these studies point out in the public policy at the
It was possible to notice that, although these studies were produced in different
contexts, with different objectives and hypotheses, and using particular methods from
their own areas of knowledge, their results are similar, showing analog
policy implementation in the
municipalities.
National System of Culture
; municipalities
Sistema Nacional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica com
foco nos estudos de caso de municípios
tem por objetivo
comparativo
sobre a produção acadêmica
relacionada ao Sistema Nacional de
aos
Sistemas
Municipais de Cultura (SMCs),
tendo como base de dados o
Catálogo de Teses e Dissertações
da CAPES
3
.
A análise comparada
dos estudos foi norteada pela
3
Este levantamento faz parte de uma
pesquisa de doutoramento realizad
âmbito do Programa de Pós
Políticas Públicas da
Universidade
Estadual do Ceará
, com apoio d
Fundação Cearense de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
no fornecimento de bolsa de pesquisa.
351
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
áreas de conocimiento, distribución territorial; además de observar las
características principales de la política pública que estos estudios s
eñalan a nivel
municipal. Fue posible notar que, aunque estos estudios se produjeron en diferentes
contextos, con diferentes objetivos e hipótesis, además de todos particulares de
sus propias áreas de conocimiento, sus resultados son similares, presentan
do una
conformidad en los efectos de la implementación de políticas en los municipios.
: Estado del arte; Sistema Nacional de Cultura; municipios
National System of Culture: a state of art in academic production with focus on
The objective of this article is to weave the state of the art of the
sensu postgraduate courses that have as themes
the National System of Culture (NSC) and the Municipal System of
Culture (MSCs).
The proposal is to obtain a general overview of the theoretical production involved, its
areas of knowledge, territorial distribution; as well as to observe the main
characteristics that these studies point out in the public policy at the
municipal level.
It was possible to notice that, although these studies were produced in different
contexts, with different objectives and hypotheses, and using particular methods from
their own areas of knowledge, their results are similar, showing analog
ous effects of
Sistema Nacional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica com
Catálogo de Teses e Dissertações
A análise comparada
dos estudos foi norteada pela
s
Este levantamento faz parte de uma
pesquisa de doutoramento realizad
a no
âmbito do Programa de Pós
-Graduação em
Universidade
, com apoio d
a
Fundação Cearense de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
no fornecimento de bolsa de pesquisa.
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
seguintes questões
de pesquisa:
sendo os estudos em políticas
culturais tradicionalmente
multidisciplinares
4
,
aqueles que têm
como objeto a política blica de
Sistemas de Cultura, trazem
resultados análogos, mesmo com
métodos e perspectivas particulares
de cada área? E
, os resultados
dialogam entre si, mesmo que
produzidos em contextos (tempo e
espaço) diferentes?
As questões
geraram
como resultado duas linhas
de comparação: uma entre os
estudos que tinham o âmbito
nacional em seu objeto; e out
entre os estudos de âmbito
municipal. Neste presente artigo,
por limitações de espaço, vamos
expor apenas as análises de âmbito
municipal, deixando as análises
sobre o SNC em sua esfera
nacional para outra oportunidade.
Estudos do tipo estado da
arte
o motivados pelo desejo de
conhecimento do crescimento e da
totalidade das pesquisas
qualitativas e quantitativas sobre
4
Santos
(2017) demonstra que
Cultural é um tema crescente no Brasil,
congregando
pesquisadores de diversos
campos do saber.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
de pesquisa:
sendo os estudos em políticas
culturais tradicionalmente
aqueles que têm
como objeto a política blica de
Sistemas de Cultura, trazem
resultados análogos, mesmo com
métodos e perspectivas particulares
, os resultados
dialogam entre si, mesmo que
produzidos em contextos (tempo e
norteadoras
como resultado duas linhas
de comparação: uma entre os
estudos que tinham o âmbito
nacional em seu objeto; e out
ra
entre os estudos de âmbito
municipal. Neste presente artigo,
por limitações de espaço, vamos
expor apenas as análises de âmbito
municipal, deixando as análises
sobre o SNC em sua esfera
nacional para outra oportunidade.
Estudos do tipo estado da
o motivados pelo desejo de
conhecimento do crescimento e da
totalidade das pesquisas
qualitativas e quantitativas sobre
(2017) demonstra que
Política
Cultural é um tema crescente no Brasil,
pesquisadores de diversos
determinado assunto,
principalmente das reflexões
desenvolvidas em nível de pós
graduação, produção distribuída por
inúmeros programas,
divulgada (FERREIRA, 2002). A
impo
rtância de análises desse tipo
situa-
se na compreensão de que os
estudos multidisciplinares, com
pluralidade de enfoques sobre um
tema, trarão contribuição
realmente efetiva quando
articulados de forma a integ
estruturalmente seus resultados, ou
evidenciar e explicar incoerências e
resultados incompatíveis. É um
m
omento de evolução da ciência,
através da
ordenação do conjunto
de informações e
resultados até
então obtidos,
que permit
integração de perspect
aparentemente autônomas, a
identificação de duplicação, lacunas
e vieses (FERREIRA, 2002;
SOARES;
MACIEL, 2000).
âmbito
que se encontram
intenções
deste artigo,
os estudos de caso de
de modo integrado, articulando seus
resultados, na tentativa de ofertar
um olhar holístico da produção
acadêmica sobre os efeitos de uma
352
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
determinado assunto,
principalmente das reflexões
desenvolvidas em nível de pós
-
graduação, produção distribuída por
inúmeros programas,
mas pouco
divulgada (FERREIRA, 2002). A
rtância de análises desse tipo
se na compreensão de que os
estudos multidisciplinares, com
pluralidade de enfoques sobre um
tema, trarão contribuição
realmente efetiva quando
articulados de forma a integ
rar
estruturalmente seus resultados, ou
evidenciar e explicar incoerências e
resultados incompatíveis. É um
omento de evolução da ciência,
ordenação do conjunto
resultados até
que permit
e a
integração de perspect
ivas
aparentemente autônomas, a
identificação de duplicação, lacunas
e vieses (FERREIRA, 2002;
MACIEL, 2000).
É nesse
que se encontram
as
deste artigo,
ao observar
os estudos de caso de
municípios
de modo integrado, articulando seus
resultados, na tentativa de ofertar
um olhar holístico da produção
acadêmica sobre os efeitos de uma
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
política nacional nas localidades.
Além disso, tem também a intenção
de despertar olhares de
pesquisadores
da temática sobre os
estudos existentes disponíveis
para consulta, sobre as discussões
recorrentes entre eles, e sobre
possíveis lacunas teóricas, para que
estas venham ser preenchidas.
O texto estrutura
-
partes
para além desta introdução e
da conclusão
. A primeira tem o
objetivo de apresentar
o
com um breve histórico de sua
implantação. A seg
unda parte
tecer um panorama dos T
de Conclusão de Curso
e doutores
sobre o tema
observando
quantitativamente
objetos de estudo, os
programas
formação e
áreas do conhecimento
ao qual estão vinculados.
aspectos abordados são o número
de defesas
ao longo dos anos, sua
distribuição regional
e o grau de
aproximação com a temática de
Sistemas de Cultura como
pública.
A partir das an
quantitativas produzidas n
segunda parte do texto, inicia
terceira parte,
na qual
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
política nacional nas localidades.
Além disso, tem também a intenção
de despertar olhares de
da temática sobre os
estudos existentes disponíveis
para consulta, sobre as discussões
recorrentes entre eles, e sobre
possíveis lacunas teóricas, para que
estas venham ser preenchidas.
-
se em três
para além desta introdução e
. A primeira tem o
o
SNC, junto
com um breve histórico de sua
unda parte
visa
tecer um panorama dos T
rabalhos
de mestres
sobre o tema
,
quantitativamente
os
programas
de
áreas do conhecimento
ao qual estão vinculados.
Outros
aspectos abordados são o número
ao longo dos anos, sua
e o grau de
aproximação com a temática de
Sistemas de Cultura como
política
A partir das an
álises
quantitativas produzidas n
a
segunda parte do texto, inicia
-se a
na qual
são
realizadas
apreciações
profundas
que abarcam
dos TCCs. F
oram utilizados
de quantificação d
o estado da arte
fim de estabelecer um recorte
apenas d
os estudos com alto grau
de relação à temática e que
tivessem como objeto estudos de
caso de âmbito municipal. Foram
selecionados 16
5
trabalhos
quais foram lidos
palavras-
chaves,
objetivos/hipóteses e questões de
pesquisa; e, conclusão ou
consideração final;
com a
de analisar comparativamente
achados dos
pesquisadores
respeito d
as políticas culturais locais
sob a influência do SNC
dificuldades de implemen
manutenção e os efeitos
municipal.
1.
O Sistema Nacional de
Cultura
O SNC é um sistema de
gestão de políticas blicas de
cultura, incluído na Constituição
Federal de 1988, com a Emenda
5
O recorte quantitativo ap
estudos, porém 2
estavam
para acesso, e por isso foram excluídos da
análise.
353
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
apreciações
mais
que abarcam
o conteúdo
oram utilizados
critérios
o estado da arte
a
fim de estabelecer um recorte
os estudos com alto grau
de relação à temática e que
tivessem como objeto estudos de
caso de âmbito municipal. Foram
trabalhos
, dos
quais foram lidos
: resumos,
introdução,
objetivos/hipóteses e questões de
pesquisa; e, conclusão ou
com a
intenção
de analisar comparativamente
os
pesquisadores
a
as políticas culturais locais
sob a influência do SNC
,
dificuldades de implemen
tação,
manutenção e os efeitos
em âmbito
O Sistema Nacional de
O SNC é um sistema de
gestão de políticas blicas de
cultura, incluído na Constituição
Federal de 1988, com a Emenda
O recorte quantitativo ap
ontou para 18
estavam
indisponíveis
para acesso, e por isso foram excluídos da
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
Constitucional 71/2012
(EC 71)
artigo 216-
A, descrito da seguinte
forma:
O Sistema Nacional de Cultura,
organizado em regime de
colaboração, de forma
descentralizada e participativa,
institui um processo de gestão e
promoção conjunta de políticas
públicas de cultura, democráticas
e permanentes, pactuadas entre
os entes da Federação e a
sociedade, tendo por objetivo
promover o desenvolvimento
humano, social e econômico com
pleno exercício dos direitos
culturais (BRASIL
, 2012
A
concepção inicial
projeto
estava disposta n
p
rograma de governo do P
dos Trabalhadores
, em 2002,
qual se prevê a implantação de um
“‘
Sistema Nacional de Política
Cultural’
, através do qual o poder
público garantirá a efetivação de
políticas públicas de cultura de
forma integrada e democrá
todo o país” (PT, 2002
, p. 20
implantação começa a ocorrer a
partir de 2003,
tendo Gilberto Gil
como ministro da cultura
petista, qua
ndo o programa de
campanha entrou
na agenda do
governo
. Alguns dos marcos desse
processo são: a
realização da I
Conferência Nacional de Cultura
(CNC) em 2005, o P
rojeto de Lei
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
(EC 71)
, no
A, descrito da seguinte
O Sistema Nacional de Cultura,
organizado em regime de
colaboração, de forma
descentralizada e participativa,
institui um processo de gestão e
promoção conjunta de políticas
públicas de cultura, democráticas
e permanentes, pactuadas entre
os entes da Federação e a
sociedade, tendo por objetivo
promover o desenvolvimento
humano, social e econômico com
pleno exercício dos direitos
, 2012
).
concepção inicial
desse
estava disposta n
o
rograma de governo do P
artido
, em 2002,
no
qual se prevê a implantação de um
Sistema Nacional de Política
, através do qual o poder
público garantirá a efetivação de
políticas públicas de cultura de
forma integrada e democrá
tica, em
, p. 20
). Sua
implantação começa a ocorrer a
tendo Gilberto Gil
como ministro da cultura
no governo
ndo o programa de
na agenda do
. Alguns dos marcos desse
realização da I
Conferência Nacional de Cultura
rojeto de Lei
416/2005 (transformado na EC
71/2012), os Fóruns e Seminários
Estaduais do Plano Nacional de
Cultura (PNC)
em 2008, a II CNC
em 2010 e a III C
NC
Todos estes
eventos e processos
além de compor a estrutura do
SNC, tiveram a função de articular e
angariar o apoio de gestores
públicos e
agentes culturais
sociedade civil em municípios e
estados.
O
elemento normativo
garantidor do SNC
existente é o
mencionado artigo
216-A
, inserido na
Federal de 1988 (
CF
E
ntretanto, o artigo demanda uma
regulamentação em lei federal
que
ainda não foi realizado
tentativas de regulamentação foram
o PL338/2013 proposto pelo
deputado Rubem Santiago (PDT
PE), arquivado em janeiro de 2015
e o PL
4271/2016, apresentado pelo
deputado João Derly (Rede
também arquivado em janeiro de
2019, com a mudança da
legislatura.
Mesmo
sem regulamentação
o dispositivo
constitucional
estabelece a estrutura do SNC,
354
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
416/2005 (transformado na EC
71/2012), os Fóruns e Seminários
Estaduais do Plano Nacional de
em 2008, a II CNC
NC
, em 2013.
eventos e processos
,
além de compor a estrutura do
SNC, tiveram a função de articular e
angariar o apoio de gestores
agentes culturais
da
sociedade civil em municípios e
elemento normativo
garantidor do SNC
atualmente
mencionado artigo
, inserido na
Constituição
CF
/88) em 2012.
ntretanto, o artigo demanda uma
regulamentação em lei federal
, o
ainda não foi realizado
. As
tentativas de regulamentação foram
o PL338/2013 proposto pelo
deputado Rubem Santiago (PDT
-
PE), arquivado em janeiro de 2015
4271/2016, apresentado pelo
deputado João Derly (Rede
-RS)
também arquivado em janeiro de
2019, com a mudança da
sem regulamentação
,
constitucional
estabelece a estrutura do SNC,
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
mencionando
inclusive que
elementos que
o compõem
também ser instituídos
esferas federativas,
sendo eles:
a.
órgãos gestores da cultura;
b. c
onselhos de política cultural;
c.
conferências de cultura;
d. comissões
intergestores;
e. planos de cultura;
f.
sistemas de financiamento à
cultura;
g.
sistemas de informações e
indicadores culturais;
h.
programas de formação na área
da cultura; e
i.
sistemas setoriais de cul
Embora ainda não haja
regulamentação que estabeleça
formalmente as normativas para
adesão dos entes federa
detalhe as atribuições e
competências específicas de cada
ente federado, o
Ministério da
Cultura
(MinC) e, agora, a
Secretaria Especial de Cultura
6
Atualmente o órgão gestor nacional de
política de cultura é a Secretaria Especial
da Cultura. O Min
istério da Cultura foi
extinto n
o início da gestão do presidente
Bolsonaro, que o transformou em
Secretaria Especial da Cultura,
primeiramente vinculada ao Ministério da
Cidadania, e a partir de novembro de 2019,
vinculada ao Ministério do Turismo. A
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
inclusive que
os
o compõem
devem
nas demais
sendo eles:
órgãos gestores da cultura;
onselhos de política cultural;
conferências de cultura;
intergestores;
sistemas de financiamento à
sistemas de informações e
programas de formação na área
sistemas setoriais de cul
tura.
Embora ainda não haja
regulamentação que estabeleça
formalmente as normativas para
adesão dos entes federa
dos, ou que
detalhe as atribuições e
competências específicas de cada
Ministério da
(MinC) e, agora, a
Secretaria Especial de Cultura
6
Atualmente o órgão gestor nacional de
política de cultura é a Secretaria Especial
istério da Cultura foi
o início da gestão do presidente
Bolsonaro, que o transformou em
Secretaria Especial da Cultura,
primeiramente vinculada ao Ministério da
Cidadania, e a partir de novembro de 2019,
vinculada ao Ministério do Turismo. A
orienta os
entes federados
2003, através de
cursos e oficinas; e desde então,
fazen
do pactos através d
instrumentos
Protocolo de
Intenções
, inicialmente, e depois,
Acordo de
Cooperação Federativa
Os estados e municípios
desejam
aderir ao SNC devem
implantar em sua esfera
administrativa um Sist
Cultura com as
semelhantes
, a fim de viabilizar
relações intergovernamentais e com
a sociedade civil.
Assim
apresenta como
: “um modelo de
gestão e promoção conjunta de
políticas públicas de cultura,
pactuadas entre os entes da
federação e sociedade civil”, com a
intenção de ser “um novo
paradigma de gestão pública da
cultura no Brasil, que tem como
essên
cia a coordenação e
c
ooperação intergovernamental”
(MinC, 2011, p. 43).
Como informa Roberto Peixe,
então
Secretário de Articulação
Institucional, setor responsável pelo
extinção do órgão, criticada pela classe
cultural e artística, para mu
enfraquecimento da política do SNC.
355
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
entes federados
desde
publicações,
cursos e oficinas; e desde então,
do pactos através d
os
Protocolo de
, inicialmente, e depois,
Cooperação Federativa
.
Os estados e municípios
que
aderir ao SNC devem
implantar em sua esfera
administrativa um Sist
ema de
Cultura com as
estruturas
, a fim de viabilizar
as
relações intergovernamentais e com
Assim
, o SNC se
: “um modelo de
gestão e promoção conjunta de
políticas públicas de cultura,
pactuadas entre os entes da
federação e sociedade civil”, com a
intenção de ser “um novo
paradigma de gestão pública da
cultura no Brasil, que tem como
cia a coordenação e
ooperação intergovernamental”
Como informa Roberto Peixe,
Secretário de Articulação
Institucional, setor responsável pelo
extinção do órgão, criticada pela classe
cultural e artística, para mu
itos, significa o
enfraquecimento da política do SNC.
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
SNC no então
Ministério da Cultura,
o
modelo de gestão é constituído
por uma
estrutura dinâmica
através da institucionalização
políticas culturais,
instituições
e entes federados
visando de um lado
assegurar a continuidade das
políticas públicas da cultura como
políticas de Estado, com um nível
cada vez mais ele
participação e controle social. E,
de outro, viabilizar estruturas
organizacionais e recursos
financeiros e humanos, em todos
os níveis de governo, compatíveis
com a importância da cultura
o desenvolvimento do país
(PEIXE, 2011, p
. 14)
Desde
que foi criado, o SNC
recebe um considerável número de
adesões por parte dos entes
federados, mesmo sem a lei de
regulamentação
e sem mecanismos
de indução mais concre
repasse de fundos. Ao início de
2020,todos os
estados mais o
Distrito Federal
são adeptos d
SNC; e 2667
municípios,
dos municípios
brasileiros, têm o
acordo de cooperação publicado em
Diário Oficial
7
.
Esse quantitativo se deu a
despeito das dificuldades de avanço
7
Dados extraídos de
http://snc.cultura.gov.br/,
acesso em
10/01/2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
Ministério da Cultura,
modelo de gestão é constituído
estrutura dinâmica
, que
através da institucionalização
das
políticas culturais,
articula
e entes federados
,
assegurar a continuidade das
políticas públicas da cultura como
políticas de Estado, com um nível
cada vez mais ele
vado de
participação e controle social. E,
de outro, viabilizar estruturas
organizacionais e recursos
financeiros e humanos, em todos
os níveis de governo, compatíveis
com a importância da cultura
para
o desenvolvimento do país
.
. 14)
que foi criado, o SNC
recebe um considerável número de
adesões por parte dos entes
federados, mesmo sem a lei de
e sem mecanismos
de indução mais concre
tos, como o
repasse de fundos. Ao início de
estados mais o
são adeptos d
o
municípios,
ou 47,9%
brasileiros, têm o
acordo de cooperação publicado em
Esse quantitativo se deu a
despeito das dificuldades de avanço
acesso em
do SNC desde sua criação. Apesar
de alguns descompassos re
por Rubim (2015)
(2019),
dentre outros,
geral, ao longo dos governos
política do SNC nunca foi
Porém, é i
nsustentável defender
que ela foi i
nstaurada de modo
completo e com
pleno êxito. Basta
constatar que
, como
ainda não há lei de
regulamentação,
e que alguns dos elementos que
deveriam ser criados em sua
composição,
como a Comissão
Intergestores Tripartite (CIT) e
mecanismos
permanentes de
repasse de fundos,
não existem
hoje.
Na terceira parte dess
vamos observar os principais
aspectos e dificuldades abordados
pelos pesquisadores no processo
de implantação da política nos
municípios.
2.
Análise de Teses e
Dissertações
A denominação
A
rte” tem sido utilizada para
pesquisas de caráter bibliográfico
que visam mapear e discutir a
produção acadêmica sobre
determinado assunto. Costumam
356
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
do SNC desde sua criação. Apesar
de alguns descompassos re
latados
e Barbalho
dentre outros,
de modo
geral, ao longo dos governos
PT, a
política do SNC nunca foi
rompida.
nsustentável defender
nstaurada de modo
pleno êxito. Basta
, como
foi dito,
regulamentação,
e que alguns dos elementos que
deveriam ser criados em sua
como a Comissão
Intergestores Tripartite (CIT) e
permanentes de
não existem
até
Na terceira parte dess
e artigo,
vamos observar os principais
aspectos e dificuldades abordados
pelos pesquisadores no processo
de implantação da política nos
Análise de Teses e
A denominação
“Estado da
rte” tem sido utilizada para
pesquisas de caráter bibliográfico
que visam mapear e discutir a
produção acadêmica sobre
determinado assunto. Costumam
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
apresentar uma metodologia de
caráter inventariante e descritivo da
bibliografia produzida
academicamente s
obre o tema que
se busca investigar (FERREIRA,
2002). Em nosso caso
,
aqui
um panorama dos estudos que
trazem o SNC e/
ou Sistemas
estaduais e municipais de cultura,
como
objeto de estudo principal, ou
tangencial
a outro tema principal.
Como fonte
, optamos por
utilizar o
Catálogo de
Dissertações da
CAPES
corte temporal
até a data de
31/10/2019
. A opção por este banco
foi em razão de
capturar a produção
acadêmica
de mestrado e
doutorado,
tendo em vista o
considerável
período dedicado
pesquisa
nestes estudos
anos em média;
em um texto que
expõe de forma
detalhada
metodologias, abordagens e
resultados da investigação.
disso, este banco dispõe de
i
nformações adicionais
instituições
e programas
se vinculam os trabalhos, o que
possibilita
complementa
panorama deste
Estado da Arte.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
apresentar uma metodologia de
caráter inventariante e descritivo da
bibliografia produzida
obre o tema que
se busca investigar (FERREIRA,
,
realizamos
um panorama dos estudos que
ou Sistemas
estaduais e municipais de cultura,
objeto de estudo principal, ou
a outro tema principal.
, optamos por
Catálogo de
Teses &
CAPES
, com o
até a data de
. A opção por este banco
capturar a produção
de mestrado e
tendo em vista o
período dedicado
à
nestes estudos
, de 2 a 4
em um texto que
detalhada
ao leitor,
metodologias, abordagens e
resultados da investigação.
Além
disso, este banco dispõe de
nformações adicionais
das
e programas
aos quais
se vinculam os trabalhos, o que
complementa
r o
Estado da Arte.
Na
busca pelos trabalhos
utilizamos como
descrito
“Sistema Nacional de Cultura
“Sistema Municipal de Cultura
“Sistema Estadual de Cultura
a aplic
ação de filtros, ou seja, foram
abarcados
trabalhos de tod
áreas do conhecimento, dos cursos
de
Mestrado Acadêmico,
Profissional e Doutorado.
recorte amplo justifica
cultura, ainda que
públi
ca, é um campo interdisciplinar
que envolve variadas áreas
conhecimento (
RUBIM, 2007;
SANTOS, 2017
; VICENTE, 2019
Os dados
dos programas de
graduação, as
palavras
resumos
também foram
considerados
para elaboração deste
Estado da Arte.
Nos parâmetros acima
mencionados
, a busca
trabalhos, sendo 8
de doutorado e
39 de mestrado.
Todos os resumos
e palavras-
chaves foram lidos,
acerca de averiguar se os trabalhos
realmente contemplam a
do SNC, S
istema Estadual de
Cultura (SEC)
ou SMC. Um deles
apresentava-
se muito distante do
357
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
busca pelos trabalhos
,
descrito
o termo
“Sistema Nacional de Cultura
e/ou
“Sistema Municipal de Cultura
”e/ou
“Sistema Estadual de Cultura
sem
ação de filtros, ou seja, foram
trabalhos de tod
as as
áreas do conhecimento, dos cursos
Mestrado Acadêmico,
Mestrado
Profissional e Doutorado.
Esse
recorte amplo justifica
-se quando
como política
ca, é um campo interdisciplinar
que envolve variadas áreas
do
RUBIM, 2007;
; VICENTE, 2019
).
dos programas de
pós-
palavras
-chaves e
também foram
para elaboração deste
Nos parâmetros acima
, a busca
retornou 47
de doutorado e
Todos os resumos
chaves foram lidos,
acerca de averiguar se os trabalhos
realmente contemplam a
temática
istema Estadual de
ou SMC. Um deles
se muito distante do
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
tema
8
, portanto
não foi quantificado
nas análises que se seguirão.
embora alocado no
Catálogo
se constitui em uma
dissertação ou
tese, e sim em
um memorial, com
relatos do
curso, junto a um artigo
acadêmico; e po
r isso também não
foi incluído.
Portanto, contabilizam
45 trabalhos a
análise do
estado da arte.
C
omo era de se esperar de
uma política iniciada em 2003
longo
prazo para implementação
constatou-se
o aumento
de estudos
com o passar dos anos,
sendo o primeiro deles
de 2007:
8
A dissertação em questão trata de
Conselhos Estaduais de Comunicação
Social, sem adentrar, mesmo que
minimamente, na questão do S
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
não foi quantificado
nas análises que se seguirão.
Outro,
Catálogo
, não
dissertação ou
um memorial, com
curso, junto a um artigo
r isso também não
Portanto, contabilizam
análise do
presente
omo era de se esperar de
uma política iniciada em 2003
e de
prazo para implementação
,
o aumento
quantitativo
com o passar dos anos,
de 2007:
A dissertação em questão trata de
Conselhos Estaduais de Comunicação
Social, sem adentrar, mesmo que
minimamente, na questão do S
NC.
358
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
Gráfico
Também sem surpresa,
constatamos
a multidisciplinaridade
desses estudos, observado a
áreas de avaliação d
os programas
ao qual estão vinculados
encontrados
estudos em
diferentes áreas de
Gráfico 2: p
rogramas vinculados aos TCCs por área de avaliação da
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
Gráfico
1: q
uantidade de estudos publicados por ano
Fonte: Elaboração própria
Também sem surpresa,
a multidisciplinaridade
desses estudos, observado a
s
os programas
ao qual estão vinculados
. Foram
estudos em
nove
diferentes áreas de
avaliação,
sendo que a
maior parte dos
trabalhos enquadram
Interdisciplinar, S
ociologia
A
dministração pública e de
empresas,
Ciências
Turismo.
rogramas vinculados aos TCCs por área de avaliação da
Fonte: Elaboração própria
359
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
uantidade de estudos publicados por ano
maior parte dos
trabalhos enquadram
-se nas
ociologia
e
dministração pública e de
Ciências
contábeis e
rogramas vinculados aos TCCs por área de avaliação da
CAPES
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
Também foi válido observar
os aspectos
institucionais
trabalhos. Ao todo,
29 instituições
acolheram
a temática, s
UFBA e a
UECE aquelas que
se destacam,
responsáveis por
4 deles
, respectivamente.
concentração se justifica
principalmente pelo
Programa de
Pós Graduação Cultura e
Sociedade da UFBA,
cujo foco é
estudos culturais. Somente ele foi
responsável por 6dos
estudos
Obviamente, a existência de
programas cujo foco propiciam o
acolhimento da temática influenciam
o aspecto da distribuição regional
destes estudos. Porém, é
interessante destacar que
as
sim, a temática esteve presente
em instituições de toda
s as regiões
do país, sendo que o
N
For
am lidos todos os
resumos dos 45
estudos, e em
MG CE
10 7
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
Também foi válido observar
institucionais
destes
29 instituições
a temática, s
endo a
UECE aquelas que
mais
responsáveis por
9 e
, respectivamente.
Essa
concentração se justifica
Programa de
Pós Graduação Cultura e
cujo foco é
estudos culturais. Somente ele foi
estudos
.
Obviamente, a existência de
programas cujo foco propiciam o
acolhimento da temática influenciam
o aspecto da distribuição regional
destes estudos. Porém, é
interessante destacar que
, ainda
sim, a temática esteve presente
s as regiões
N
ordeste e o
Sudeste
se destaca
quantitativo de estudos produzidos.
Quadro1: q
uantidade de estudos por
Região
Fonte: Elaboração própria
De todo modo,
as discrepâncias na distribuição
regional, os estudos
presentes em
instituições de 11 dos
26
estados da federação
Distrito Federal.
Destacamos
Gerais
como o estado com a maior
quantidade de estudos produzidos.
Quadro2: quantidade de estudos por estado
Fonte: Elaboração própria
am lidos todos os
estudos, e em
conjunto com as palavras
julgamos
o quanto cad
Sudeste
Nordeste
Sul
Norte
Centro Oeste
total
Quantidade de estudos por Região
BA SC RJ PE RS SP RN ES
AM
9 2 6 1 2 3 2 1
Quantidade de estudos por estado
360
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
se destaca
m no
quantitativo de estudos produzidos.
uantidade de estudos por
Fonte: Elaboração própria
De todo modo,
mesmo com
as discrepâncias na distribuição
apresentam-se
instituições de 11 dos
estados da federação
, além do
Destacamos
Minas
como o estado com a maior
quantidade de estudos produzidos.
conjunto com as palavras
-chaves,
o quanto cad
a um deles
20
19
4
1
1
45
Quantidade de estudos por Região
AM
DF
1 1
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
se aproximava da
temática do
SEC,
SMC ou algum de seus
elementos
relacionados
conferências ou conselhos
estabelecidos três
vinculação da temática:
médio, 3- alto. No
nível baixo
situam-se
os trabalhos que
possuem relação
muito tangencial
com a temática de Sistemas de
Cultura, trazendo-a
como pano de
fundo, mas fracamente relacionada
com o objeto de estudo tratado
autor. O segundo
nível
diferencia do anterior por trazer a
temática com algum relevo de
importância, mesmo que ela não
seja o objeto de
estudo ou
temática principal
9
.
Por último, os
9
Por exemplo, um trabalho considerado
com baixo nível de relação com a temática
tem como objeto de estudo as Bibliotecas
Públicas, e embora mencione em algum
momento o SNC, não dá relevo à questão.
Já aqueles classificad
os com nível médio
de relação tê
m como objetos de estudo
uma política setorial (como dança o
economia criativa) e, embora abordem
política
do SNC como contexto
influência na política setorial
, ela não é o
foco principal do trabalho.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
temática do
SNC,
SMC ou algum de seus
relacionados
, como
conferências ou conselhos
.Foram
graus de
1- baixo, 2-
nível baixo
os trabalhos que
muito tangencial
com a temática de Sistemas de
como pano de
fundo, mas fracamente relacionada
com o objeto de estudo tratado
pelo
nível
, médio, se
diferencia do anterior por trazer a
temática com algum relevo de
importância, mesmo que ela não
estudo ou
a
Por último, os
Por exemplo, um trabalho considerado
com baixo nível de relação com a temática
tem como objeto de estudo as Bibliotecas
Públicas, e embora mencione em algum
momento o SNC, não dá relevo à questão.
os com nível médio
m como objetos de estudo
uma política setorial (como dança o
u
economia criativa) e, embora abordem
a
do SNC como contexto
de
, ela não é o
trabalhos classificados com nível
alto de relação,
são aquele
objeto de estudo envolve
diretamen
te a temática de Sistemas
de Cultura, ou algum dos elementos
que os compõem
, como conselhos
e conferências.
Ao final da
classificação obtivemos
trabalhos considerados com nível
de relação alto, 6
com nível médio e
10 trabalhos com nível
relação.
Ao observar ess
também
pelo seu âmbito de análise
em relação ao ente federado objeto
do estudo, chegou-
se aos seguintes
quantitativos:
361
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
trabalhos classificados com nível
são aquele
s cujo
objeto de estudo envolve
te a temática de Sistemas
de Cultura, ou algum dos elementos
, como conselhos
Ao final da
classificação obtivemos
29
trabalhos considerados com nível
com nível médio e
10 trabalhos com nível
baixo de
Ao observar ess
es trabalhos
pelo seu âmbito de análise
em relação ao ente federado objeto
se aos seguintes
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
Quadro3
: Estudos por nível de relação com a temática e por âmbito de análise
Em relação aos
estudo
dos trabalhos
consideramos com nível alto de
Quadro
Elemento do SNC/SMC em destaque no trabalho
(somente os de nível de relação
União
Sistema Nacional de Cultura
Sistema Nacional de Cultura e Plano Nacional de
Cultura
Conselho Nacional de Política Cultural
estado
Sistema Estadual de Cultura
Sistema Estadual e Municipal de
município
Sistema Municipal de Cultura
Plano Municipal de Cultura
Conselho Municipal de Política Cultural
Conferência Municipal de Cultura
União
Estadual
Estadual e municipal
Municipal/municipais
quantidade porvel de
relação com a tetica
âmbito de análise
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
: Estudos por nível de relação com a temática e por âmbito de análise
Fonte: Elaboração própria
objetos de
dos trabalhos
que
consideramos com nível alto de
relação
com a temática
as seguintes concentrações:
Quadro
4: Elemento principal do objeto de estudo
Elemento do SNC/SMC em destaque no trabalho
(somente os de nível de relação
alto)
quantidade
Sistema Nacional de Cultura
4
Sistema Nacional de Cultura e Plano Nacional de
2
Conselho Nacional de Política Cultural
2
Sistema Estadual de Cultura
3
Sistema Estadual e Municipal de
Cultura 1
Sistema Municipal de Cultura
(SMC) 11
Plano Municipal de Cultura
(PMC) 2
Conselho Municipal de Política Cultural
(CMPC) 3
Conferência Municipal de Cultura
(CMC) 1
total
29
Fonte: Elaboração própria
alto médio baixo
8 3 3
3 0 1
1 0 0
17 3 6
29 6 10
quantidade por âmbito
de análise
vel de relação com a tetica
362
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
: Estudos por nível de relação com a temática e por âmbito de análise
com a temática
, obtivemos
as seguintes concentrações:
quantidade
quantidade
total
8
4
17
29
14
4
1
26
45
quantidade por âmbito
de análise
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
A partir dos procedimentos
de quantificação
acima
nosso interesse se voltou para o
conteúdo desses estudos.
Realizamos duas análises:
entre aqueles estudos que tratam
do âmbito da União
e estados;
outra voltada para
os estudos que
tratam dos municípios
separação foi feita com a intenção
de
estabelecer comparações entre
os estudos, e averiguar se
grandes discrepâncias entre seus
resultados.
Neste artigo optamos
por nos concentrar
municipal e
naqueles estudos que
foram por nós considerados com
alto nível de relação com a
temática.A
s análises do âmbito da
União e estados
serão por nós
expostas
em oportunidade futura.
3.
Análise dos trabalhos de
âmbito municipal
Para
uma análise mais
aprofundada, f
oram considerados
aqueles 18 trabalhos
municipal com alto grau de relação
com a temática,
a fim de analisar a
consideração dos
autores sobre as
políticas culturais locais sob a
influência do SNC. Ressalvamos
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
A partir dos procedimentos
acima
descritos,
nosso interesse se voltou para o
conteúdo desses estudos.
Realizamos duas análises:
uma
entre aqueles estudos que tratam
e estados;
e
os estudos que
tratam dos municípios
. Essa
separação foi feita com a intenção
estabelecer comparações entre
os estudos, e averiguar se
grandes discrepâncias entre seus
Neste artigo optamos
por nos concentrar
no âmbito
naqueles estudos que
foram por nós considerados com
alto nível de relação com a
s análises do âmbito da
serão por nós
em oportunidade futura.
Análise dos trabalhos de
uma análise mais
oram considerados
de âmbito
municipal com alto grau de relação
a fim de analisar a
autores sobre as
políticas culturais locais sob a
influência do SNC. Ressalvamos
que,
desse número
excluir
dois estudos
encontraram disponíveis na
para download
, nem nos sites
institucionais de seus Pr
Pós Graduação, nem no
da CAPES
. Portanto,
trabalhos foram lidos
palavras-chaves
, introdução,
objetivos/hipóteses e questões de
pesquisa; e,
conclusão
consideração final.
Todos os
apontaram para
algum tipo de
avanço nas políticas culturais
municipais, seja por maior
engajamento da participação, seja
por um passo a mais na efetiva
org
anização e valorização das
políticas culturais locais. Entretanto,
a maioria desses
estudos não se
esquivou de
apontar
contundentes às limitações do
processo e ao afastamento
prática e
aquilo que
nas diretrizes da política
Destacaremos,
alguns dos
trabalhos
maior relevo às positividades
acarretadas pelo processo.
autores ressaltam os
positivos, sem enumerar
363
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
desse número
tivemos que
dois estudos
que não se
encontraram disponíveis na
íntegra
, nem nos sites
institucionais de seus Pr
ogramas de
Pós Graduação, nem no
Catálogo
. Portanto,
de 16
trabalhos foram lidos
: resumos,
, introdução,
objetivos/hipóteses e questões de
conclusão
ou
16 estudos
algum tipo de
avanço nas políticas culturais
municipais, seja por maior
engajamento da participação, seja
por um passo a mais na efetiva
anização e valorização das
políticas culturais locais. Entretanto,
estudos não se
apontar
críticas
contundentes às limitações do
processo e ao afastamento
entre a
aquilo que
era proposto
nas diretrizes da política
do MinC.
primeiramente,
trabalhos
que deram
maior relevo às positividades
acarretadas pelo processo.
Dois
autores ressaltam os
impactos
positivos, sem enumerar
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
praticamente nenhum ponto
negativo. Ferreira
(2017), em seu
estudo sobre a p
articipação nas
políticas culturais de Oliveira (MG),
ressaltou os aspectos da gestão
compartilhada, descentralizada e
participativa, principalmente com a
presença de um conselho
deliberativo, consultivo, normativo e
paritár
io. Ao mesmo tempo
(2011), sobre as políticas culturais
de Li
moeiro do Norte (CE), ressalta
visões otimistas do contexto
nacional, e seus impactos no
mun
icípio, onde ocorreu a
ampliação do co
nceito de cultura
(ainda que de forma tímida e
insuficiente), a
valorização da
cultura local, a
maior promoção de
projetos culturais, de
captação de
recursos,
e oferta de cursos. O
autor destacou a
ampliação do
horizonte cultural na atuação do
órgão gestor.
Já, de modo um pouco mais
crítico, Morais (2017), defend
houve inegáveis ganhos, e que o
estudo de caso do SMC de Três
Corações (MG) pode ser um alento
em meio ao cenário adverso. Atento
às limitações e riscos de seu estudo
de caso, o autor menciona
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
praticamente nenhum ponto
(2017), em seu
articipação nas
políticas culturais de Oliveira (MG),
ressaltou os aspectos da gestão
compartilhada, descentralizada e
participativa, principalmente com a
presença de um conselho
deliberativo, consultivo, normativo e
io. Ao mesmo tempo
, Moura
(2011), sobre as políticas culturais
moeiro do Norte (CE), ressalta
visões otimistas do contexto
nacional, e seus impactos no
icípio, onde ocorreu a
nceito de cultura
(ainda que de forma tímida e
valorização da
maior promoção de
captação de
e oferta de cursos. O
ampliação do
horizonte cultural na atuação do
Já, de modo um pouco mais
crítico, Morais (2017), defend
e que
houve inegáveis ganhos, e que o
estudo de caso do SMC de Três
Corações (MG) pode ser um alento
em meio ao cenário adverso. Atento
às limitações e riscos de seu estudo
de caso, o autor menciona
descontinuidade da implantação
governo
Dilma, e o recu
governo Temer.
Defende
caberia ao ministério um papel mais
presente e que a política nacional
não deveria ser apenas delegação
de poder do centro para periferia.
Outros quatro pesquisadores
exaltaram os aspectos positivos nas
políticas culturais
em
bora estes mesmos fo
com maior detalhamento
processo
, que na prática se
afastaram um pouco das
idealizações.
Kupski (2012), afirma
que o processo no SMC
Grande (RS) foi um período de
impulso das políticas culturais
municipais, mas
os benefícios
atingiram
a maioria da população.
autora
diz estar ciente
planejadas,
na prática
mediadas pelo campo (no sentido
de Bourdieu), e que o
se traduziriam tal e qual planejado.
Mas, pelos resultados apresentados
em seu estudo de caso, a autora
põe em questão a validade do
discurso promovido. Em Rio
Grande, embora tenha havido um
impulso nas políticas culturais, a
364
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
descontinuidade da implantação
no
Dilma, e o recu
o no
Defende
que
caberia ao ministério um papel mais
presente e que a política nacional
não deveria ser apenas delegação
de poder do centro para periferia.
Outros quatro pesquisadores
exaltaram os aspectos positivos nas
políticas culturais
municipais,
bora estes mesmos fo
rneçam
com maior detalhamento
, críticas ao
, que na prática se
afastaram um pouco das
Kupski (2012), afirma
que o processo no SMC
de Rio
Grande (RS) foi um período de
impulso das políticas culturais
os benefícios
não
a maioria da população.
A
diz estar ciente
que políticas
na prática
, são
mediadas pelo campo (no sentido
de Bourdieu), e que o
bviamente não
se traduziriam tal e qual planejado.
Mas, pelos resultados apresentados
em seu estudo de caso, a autora
põe em questão a validade do
discurso promovido. Em Rio
Grande, embora tenha havido um
impulso nas políticas culturais, a
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
autora defende q
ue não é "aquilo
tudo" que se esperava.
Davis (2013)
identific
PMC e CMPC de Belo Horizonte
foram capazes de abrir uma janela
para processos políticos em que
diferentes atores, conceitos e
tecnologias interagem, criando e
consolidando novas raciona
através de rotinas práticas. O
sistema foi capaz de replicar e
reinventar a
área da cultura. Para
além das estruturas criadas
autor enfatiza a rotina entre elas,
observand
o as novas racionalidades
que surgiram
a partir destas
relações. Porém, o
autor faz várias
pontuações críticas, ressaltando
que nem sempre os ideais
estabelecidos o realizados, que
equipe técnica canaliza para si
algumas decisões, afastando
um processo participativo mais
amplo.
Curiosamente, identificou
que, p
or mais que os atores
envolvidos identifi
quem
desafios, têm a percepção de que
estão rumo a um E
compartilhado, planejado,
democrático e contraditoriamente
"técnico" e "apolítico". Os fracassos
são por eles
relacionados
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
ue não é "aquilo
identific
ou que o
PMC e CMPC de Belo Horizonte
foram capazes de abrir uma janela
para processos políticos em que
diferentes atores, conceitos e
tecnologias interagem, criando e
consolidando novas raciona
lidades,
através de rotinas práticas. O
sistema foi capaz de replicar e
área da cultura. Para
além das estruturas criadas
em si, o
autor enfatiza a rotina entre elas,
o as novas racionalidades
a partir destas
autor faz várias
pontuações críticas, ressaltando
que nem sempre os ideais
estabelecidos o realizados, que
equipe técnica canaliza para si
algumas decisões, afastando
-se de
um processo participativo mais
Curiosamente, identificou
or mais que os atores
quem
falhas e
desafios, têm a percepção de que
estão rumo a um E
stado
compartilhado, planejado,
democrático e contraditoriamente
"técnico" e "apolítico". Os fracassos
relacionados
a desvios
pontuais, co
mo falta de tempo ou
frustrações participativas, sem
nunca desacreditarem no processo
como um todo.
A
implantação do SMC e
Abaetetuba (PA) representa
Silva (2015)
um avanço para o
município por proporcionar um
debate entre os diversos setores
que sim
patizam ou militam nessa
área
, embora ainda não tenha
surtido em políticas concretas
o autor, m
odificar a mentalidade de
pessoas que cresceram cercadas
por um modelo tradicional de
gestão, com práticas clientelistas e
assistencialistas, onde
obser
vada como política
secundária,
é um processo difícil.
Mesmo
assim, ainda
perceptíveis, alguns avanços
ocorreram e o mais importante foi
despertar nas pessoas o interesse
pelo direito à
cidadania cultural.
frisou a necessidade de
entraves políticos,
administrativos e
ideológicos; um esforço
além da gestão municipal, e deveria
envolver
a participação federal e
estadual que ainda resiste
atuar de forma sistêmica.
365
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
mo falta de tempo ou
frustrações participativas, sem
nunca desacreditarem no processo
implantação do SMC e
m
Abaetetuba (PA) representa
para
um avanço para o
município por proporcionar um
debate entre os diversos setores
patizam ou militam nessa
, embora ainda não tenha
surtido em políticas concretas
. Para
odificar a mentalidade de
pessoas que cresceram cercadas
por um modelo tradicional de
gestão, com práticas clientelistas e
assistencialistas, onde
a cultura é
vada como política
é um processo difícil.
assim, ainda
que pouco
perceptíveis, alguns avanços
ocorreram e o mais importante foi
despertar nas pessoas o interesse
cidadania cultural.
E
frisou a necessidade de
superar os
administrativos e
ideológicos; um esforço
que vai
além da gestão municipal, e deveria
a participação federal e
estadual que ainda resiste
m em
atuar de forma sistêmica.
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
Vitória (2015) ressalta
SMC de Viçosa (MG),
mesmo com
fragilidades,
provocou maior
envolvimento, principalmente dos
trabalhadores do meio cultural,
fazendo com que eles se
m
obilizassem e se organizassem.
Os agentes culturais de Viçosa, seja
acatando normas legais ou
copiando o que tem sido feito p
outras localidades, vêm buscando
se adaptar ao novo cenário do
campo da cultura no Brasil. E,
mesmo que ainda esteja em fase
transitória, observou
que a nova
cena vem trazendo esperança de
mudança aos envolvidos. Por outro
lado, o autor identifica que a
Quadro 5
: Síntese dos avanços e críticas nos estudos investigados
Autores
Objeto de
estudo
Principal avanço alcançado
com a política
Semensat
o (2010)
CMC de
Campos (RJ)
Avanços na
articulação de políticas culturais
Moura
(2011)
Impactos do
SNC e PNC
em Limoeiro
do Norte CE
Ampliação das políticas culturais
e do conceito de cultura,
valorização da cultural local.
Kupski
(2012)
Impactos do
SNC em Rio
Grande (RS)
Impulso das políticas culturais
municipais
Bastos
(2013)
SMCs do
Vale do
Jiquiriçá,
Bahia.
Gestão participativa atingiu
patamar significativo
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
Vitória (2015) ressalta
que o
mesmo com
provocou maior
envolvimento, principalmente dos
trabalhadores do meio cultural,
fazendo com que eles se
obilizassem e se organizassem.
Os agentes culturais de Viçosa, seja
acatando normas legais ou
copiando o que tem sido feito p
or
outras localidades, vêm buscando
se adaptar ao novo cenário do
campo da cultura no Brasil. E,
mesmo que ainda esteja em fase
que a nova
cena vem trazendo esperança de
mudança aos envolvidos. Por outro
lado, o autor identifica que a
s
entidades do SMC ainda estão
muito dependentes do “órgão
gestor”
, sendo afetados ou
paralisados quando este apresenta
qualquer tipo de problema
sua crítica se volta ao caráter de
Estado provedor, do tipo
paternalista e centralizador, o
div
erge do objetivo do SNC.
As críticas mencionadas até
o momento apresentaram
contrapontos aos principais avanços
acarretados pela política
identificados pelos
pesquisadores.
O quadro a seguir
balanço
em cada uma das 16
pesquisas.
: Síntese dos avanços e críticas nos estudos investigados
Principal avanço alcançado
com a política
Principais críticas ao processo
Avanços na
descentralização e
articulação de políticas culturais
Tradições políticas resistem aos
princípios democráticos e
processo é descontinuado.
Descentralização só acarretaria
políticas efetivas com empenho
municipal.
Ampliação das políticas culturais
e do conceito de cultura,
valorização da cultural local.
Críticas brandas
: ampliação das
ações e d
o conceito de cultura
ainda é tí
mido e insuficiente
Impulso das políticas culturais
municipais
Política aquém da expectativa e
não alcança maioria da
população.
Gestão participativa atingiu
patamar significativo
Dificuldade e/ou resistência da
parte de alguns municípios na
criação das estruturas do SMC
366
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
entidades do SMC ainda estão
muito dependentes do “órgão
, sendo afetados ou
paralisados quando este apresenta
qualquer tipo de problema
. Por isso,
sua crítica se volta ao caráter de
Estado provedor, do tipo
paternalista e centralizador, o
que
erge do objetivo do SNC.
As críticas mencionadas até
o momento apresentaram
-se como
contrapontos aos principais avanços
acarretados pela política
pesquisadores.
sintetiza esse
em cada uma das 16
: Síntese dos avanços e críticas nos estudos investigados
Principais críticas ao processo
Tradições políticas resistem aos
princípios democráticos e
processo é descontinuado.
Descentralização só acarretaria
políticas efetivas com empenho
: ampliação das
o conceito de cultura
mido e insuficiente
.
Política aquém da expectativa e
não alcança maioria da
Dificuldade e/ou resistência da
parte de alguns municípios na
criação das estruturas do SMC
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
Davis
(2013)
PMC e
CMPC de
Belo
Horizonte
(MG)
Elaboração do PMC viabilizou
abertura para novos atores,
conceitos e tecnologias, criando
e consolidando novas
racionalidades.
Melo
(2013)
CMPC de
Fortaleza
(CE)
Conselho confere maior
transparência às decisões
poder público,caminhando para
a efetiva formulação
políticas públicas de cultura
Boel
(2014)
SMCs de 14
municípios
de Santa
Catarina
SNC é caminho
para
iva
das desigualdades
Silva
(2015)
SMC de
Abaetetuba
(PA)
Viabilização do debate entre
div
simpatizam e
estímulo pelo direito à cidadania
cultural.
Vitória
(2015)
SMC de
Viçosa (MG)
Estímulo à participação social,
com mobilização e organização
dos trabalhadoresculturais
Gonçalve
s (2016)
CMPCs da
Baixada
Fluminense
Conselhos são marco na
democratização das políticas
culturais
Ferreira
(2017)
CMPC e
Conferência
no SMC de
Oliveira
(MG)
Políticas culturais mais
descentralizadas e
participativas; gestão
compartilhada.
Souza
(2016)
SMC e
CMPC de
Petrópolis
(RJ)
Aumento (limitado) da
democracia participativa
Aquino
(2017)
SMCs de
Betim,
Contagem e
Sabará (MG)
Experiências de participação
desenvolvimento de políticas
culturais compatíveis com o
contexto local
Morais
(2017)
SMC de Três
Corações
(MG)
Ganhos inegáveis nas políticas
culturais municipais, mesmo
com limitações e riscos.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
Elaboração do PMC viabilizou
abertura para novos atores,
conceitos e tecnologias, criando
e consolidando novas
racionalidades.
Tempo da
administração é
diferente do da participação.
Canalização de decisões na
esfera técnica, e não na ampla
participação
Conselho confere maior
transparência às decisões
do
poder público,caminhando para
a efetiva formulação
das
políticas públicas de cultura
Espaços democráticos não
significam
democratização da
gestão municipal, pois outras
áreas não se democratizam.
CMPC tem baixo grau de
institucionalidade.
SNC é caminho
que aponta
para
descentralizaçãoadministrat
iva
, participação social, redução
das desigualdades
Dificuldade dos municípios para
implantar o SMC. Ausência de
estruturas de políticas culturais e
de cultura da participação,
conflitos partidários.
Viabilização do debate entre
div
ersos setores que
simpatizam e
militam na cultura;
estímulo pelo direito à cidadania
cultural.
Resistência do governo ao
modelo democrático e ao conceito
amplo de cultura; interesse em se
enquadrar ape
nas pelos repasses
de fundo
Estímulo à participação social,
com mobilização e organização
dos trabalhadoresculturais
Centralização do SMC no órgão
gestor: demais estruturas
dependentes, sem autonomia e
paralisadas
quando a gestão
enfrenta algum problema
Conselhos são marco na
democratização das políticas
culturais
Falta articulação entre CMPC e
poder público; pouca influência da
sociedade nas decisões.
Participação
limitada pelas
relações de poder entre órgão
gestor e CMPC.
Políticas culturais mais
descentralizadas e
participativas; gestão
compartilhada.
não há críticas contundentes
Aumento (limitado) da
democracia participativa
CMPC não promove
demodiversidade, restringindo
à intervenção branda da
sociedade na tomada de decisão,
ainda dominada pelo poder
público
Experiências de participação
e
desenvolvimento de políticas
culturais compatíveis com o
contexto local
Efetividade dos SMCs
comprometidas por
descontinuidades (do gestor e
prefeito). Governos
conselhos como ameaça ou
requisito de forma
Ganhos inegáveis nas políticas
culturais municipais, mesmo
com limitações e riscos.
Descontinuidades do SNC e fraca
coordenação do MinC.
Autopromoção de atores locais
367
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
administração é
diferente do da participação.
Canalização de decisões na
esfera técnica, e não na ampla
Espaços democráticos não
democratização da
gestão municipal, pois outras
áreas não se democratizam.
CMPC tem baixo grau de
institucionalidade.
Dificuldade dos municípios para
implantar o SMC. Ausência de
estruturas de políticas culturais e
de cultura da participação,
conflitos partidários.
Resistência do governo ao
modelo democrático e ao conceito
amplo de cultura; interesse em se
nas pelos repasses
Centralização do SMC no órgão
gestor: demais estruturas
dependentes, sem autonomia e
quando a gestão
enfrenta algum problema
Falta articulação entre CMPC e
poder público; pouca influência da
sociedade nas decisões.
limitada pelas
relações de poder entre órgão
não há críticas contundentes
CMPC não promove
demodiversidade, restringindo
-se
à intervenção branda da
sociedade na tomada de decisão,
ainda dominada pelo poder
Efetividade dos SMCs
comprometidas por
descontinuidades (do gestor e
prefeito). Governos
consideram
conselhos como ameaça ou
mero
requisito de forma
lidades.
Descontinuidades do SNC e fraca
coordenação do MinC.
Autopromoção de atores locais
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
Paschoali
k (2017)
Impactos do
SNC em
Ribeirão
Preto (SP)
A
desão ao SNC estimulou
movimento cultural
dando sustentação à
de participação.
Melo
(2018)
CMPC de
Fortaleza
(CE) e Belo
Horizonte
(MG)
Conselhos auxiliam na
construção democrática e
transparente das políticas
culturais
Além do
sald
acima,
mencionaremos
outras críticas que se apresentam
de forma recorrente
nos trabalhos.
A intenção é pontuar como
esses
comportamentos políticos são
frequentes,
mesmo em contextos e
enfoques diferentes.
Silva (2015)
, sobre
Abaetetuba (PA)
, identificou que
simples formalidade da adesão não
garante o desenvolvimento de uma
política participativa, coletiva, com
gestão social. Críticas similares, a
respeito de como
a adesão
ou a própria criação
(mesmo que
em lei) de estruturas
SMC
não garante seu pleno
funcionamento
aparecem
dos trabalhos.
Boel (2014)
exemplo, sobre
SMCs do e
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
desão ao SNC estimulou
o
movimento cultural
na cidade,
dando sustentação à
estrutura
de participação.
Conflitos da participação
acirraram-
se, produzindo recuo da
sociedade nos espaços
institucionalizados. A aprovação
da lei não garanti
efetivas, pois os processos
políticos ainda estão submetidos a
hierarquia do poder
Conselhos auxiliam na
construção democrática e
transparente das políticas
culturais
Efetividade
comprometida por
fatores internos e externos aos
CMPCs: descontinuidades,
problemas na gestão, disputas
pessoais (internas e partidárias);
falta de representatividade.
Resistência do Estado em
partilhar o poder
Fonte: Elaboração própria
sald
o exposto
mencionaremos
a seguir
outras críticas que se apresentam
nos trabalhos.
A intenção é pontuar como
e quanto
comportamentos políticos são
mesmo em contextos e
, sobre
, identificou que
a
simples formalidade da adesão não
garante o desenvolvimento de uma
política participativa, coletiva, com
gestão social. Críticas similares, a
a adesão
formal
(mesmo que
ligadas ao
não garante seu pleno
aparecem
na maioria
Boel (2014)
, por
SMCs do e
stado de
Santa Catarina, identificou que
apesar da m
aioria dos
compreendere
m conceitos
propostos e a
relação da cultura
com política e desenvolvimento, os
processos ainda estão distantes do
modelo proposto pelo SNC.
Igualmente, afirma que s
construção dos organismos
propostos não garante êxito das
políticas culturais.
Melo (2013) a
respeito do CMPC
(CE), averiguou
em sua pesquisa
esforço do
poder executivo para
ampliar canais de participação, mas
para a autora,
somente a abertura
desses espaços não significa efetiva
democratização,
vist
áreas de gestão não se
democratizam. Paschoalik (2017)
em sua pesquisa sobre Ribeirão
368
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
Conflitos da participação
se, produzindo recuo da
sociedade nos espaços
institucionalizados. A aprovação
da lei não garanti
u políticas mais
efetivas, pois os processos
políticos ainda estão submetidos a
hierarquia do poder
comprometida por
fatores internos e externos aos
CMPCs: descontinuidades,
problemas na gestão, disputas
pessoais (internas e partidárias);
falta de representatividade.
Resistência do Estado em
Santa Catarina, identificou que
aioria dos
gestores
m conceitos
relação da cultura
com política e desenvolvimento, os
processos ainda estão distantes do
modelo proposto pelo SNC.
Igualmente, afirma que s
omente a
construção dos organismos
propostos não garante êxito das
Melo (2013) a
de Fortaleza
em sua pesquisa
o
poder executivo para
ampliar canais de participação, mas
,
somente a abertura
desses espaços não significa efetiva
vist
o que outras
áreas de gestão não se
democratizam. Paschoalik (2017)
,
em sua pesquisa sobre Ribeirão
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
Preto (SP), narrou a
constituição de
todos os elementos de um
SMC,
após um longo processo.
Paradoxalmente, o município nunca
teve um
orçamento tão baixo,
programas culturais
quase que
inexistentes
e a predominância de
políticas de eventos
. Apesar do
processo participativo e do SMC em
funcionamento, as
instân
participação estão esvaziadas
desacreditadas.
Semensato (2010),
sobre a CMC de C
ampos
descreve
u que o evento
realizado conforme
as orientações
do MinC. Porém, após sua
realização o houve zelo com as
resoluções; ou sequer
resquícios de
que ela foi realizada, nem mesmo
através da documentação, que é
inacessível através de consulta
pública
, o que é um d
poder público para com o processo
participativo.
Vitória (2015)
do estudo do SMC de Viçosa (MG)
diz que um despreparo por parte
dos municípios em atender todas as
exigências do SNC, e que as
imposições para fa
zer par
sistema nacional
m levado
criação de estruturas ainda frágeis
no nível municipal. Acredita
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
constituição de
todos os elementos de um
após um longo processo.
Paradoxalmente, o município nunca
orçamento tão baixo,
quase que
e a predominância de
. Apesar do
processo participativo e do SMC em
instân
cias de
participação estão esvaziadas
e
Semensato (2010),
ampos
(RJ),
u que o evento
foi
as orientações
do MinC. Porém, após sua
realização o houve zelo com as
resquícios de
que ela foi realizada, nem mesmo
através da documentação, que é
inacessível através de consulta
, o que é um d
escaso do
poder público para com o processo
Vitória (2015)
, a partir
do estudo do SMC de Viçosa (MG)
,
diz que um despreparo por parte
dos municípios em atender todas as
exigências do SNC, e que as
zer par
te do
m levado
à
criação de estruturas ainda frágeis
no nível municipal. Acredita
que
uma das grandes dificuldades na
implantação do SMC decorre do
fato das pessoas terem dificuldade
de pensar e trabalhar de forma
sistêmica
, ou seja, as
interagindo s
ob uma orientação
comum. O que o autor
prática,
são sistemas implantados,
ou em fase de implementação,
operando de forma não
sistematizada.
Bastos (2013) relata
que alguns gestores municipais de
Santa Catarina, embora tenham
compreendido a proposta da gestão
compartilhada, têm dificuldade na
sua implementação.
As disfunções das est
planejadas para
os SMC também
estão
nas esferas da
Os c
onselhos, ainda que
formulados, impla
ntados e em
funcionamento, se afa
maior ou menor medida daquilo que
era previsto,
em três trabalhos.
(2013), sobre o
CMPC
afirma que o órgão possui r
capacidade propositiva, discreto
poder de influência sob
processo de definição das políticas
culturais,
e em sua visão, possui
b
aixo grau de institucionalidade. Em
2018 a mesma pesquisadora, sobre
369
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
uma das grandes dificuldades na
implantação do SMC decorre do
fato das pessoas terem dificuldade
de pensar e trabalhar de forma
, ou seja, as
estruturas
ob uma orientação
comum. O que o autor
vê, na
são sistemas implantados,
ou em fase de implementação,
operando de forma não
Bastos (2013) relata
que alguns gestores municipais de
Santa Catarina, embora tenham
compreendido a proposta da gestão
compartilhada, têm dificuldade na
As disfunções das est
ruturas
os SMC também
nas esferas da
participação.
onselhos, ainda que
ntados e em
funcionamento, se afa
stam em
maior ou menor medida daquilo que
em três trabalhos.
Melo
CMPC
de Fortaleza,
afirma que o órgão possui r
egular
capacidade propositiva, discreto
poder de influência sob
re o
processo de definição das políticas
e em sua visão, possui
aixo grau de institucionalidade. Em
2018 a mesma pesquisadora, sobre
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
os CMPCs de Belo Horizonte e
Fortaleza diz que
as decisões
destes órgãos
afetam
parcialmente
as decisões, pois
muitas das
deliberações não
ocorrem. Classif
ica que sua
capacidade propositiva é regular, e
seu poder de influência nas
decisões políticas é relativo
2018). Nesse mesmo sentido,
Souza (2016) identifica que no
Conselho de Petrópolis
(
de a
lei garantir poder de decisão, o
órgão
tem uma capacidade restrita
de interferência deliberativa no rumo
da gestão pública.
Para ela
não
gera turbulência na dinâmica
política-
institucional hegemônica
que continua
assegura
domínio do poder de decisão nas
mãos do poder público.
É
interessante re
três pesquisadores associam
falhas da implantação
afastamento das diretrizes
políticas conservadoras e
tradicionalistas
enraizadas
cultura política daqueles municípios.
É o que se apresenta nas opiniões
de Pasc
hoalik (2017) sobre Ri
Preto (SP), quando diz que
dos recentes esforços para
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
os CMPCs de Belo Horizonte e
as decisões
afetam
apenas
as decisões, pois
deliberações não
ica que sua
capacidade propositiva é regular, e
seu poder de influência nas
decisões políticas é relativo
(MELO,
2018). Nesse mesmo sentido,
Souza (2016) identifica que no
(
RJ), apesar
lei garantir poder de decisão, o
tem uma capacidade restrita
de interferência deliberativa no rumo
Para ela
, o órgão
gera turbulência na dinâmica
institucional hegemônica
,
assegura
ndo o
domínio do poder de decisão nas
interessante re
ssaltar que
três pesquisadores associam
as
falhas da implantação
e o
afastamento das diretrizes
alógicas
políticas conservadoras e
enraizadas
na
cultura política daqueles municípios.
É o que se apresenta nas opiniões
hoalik (2017) sobre Ri
beirão
Preto (SP), quando diz que
apesar
dos recentes esforços para
democratização, os processos
políticos ainda estão fortemente
submetidos a uma cultura
hierárquica do po
der institucional;
Silva (2015), quando afirma que
conceito
tridimensional de cultura
ainda não foi assimilado pelo
governo de Abaetetuba, onde
vigoram
tradições políticas
conservadoras
, e por isso o poder
público resiste ao modelo, ao
mesmo tempo em que tenta se
enquadrar nele, gerando um dilema
da administração m
interessada nos repasses;
Semensato (2010), sobre a
conferência de Campos
que
m as instituições locais e
comportamentos arraigados na
cultura política da sociedade
limitaram os princípios
democráticos.
O sintoma das tradiçõ
políticas elitistas também é relatado
no interior
das estruturas dos
conselhos, em quatro das
pesquisas. É o caso de Aquino
(2017), sobre SMCs de Minas
Gerais, ao relatar que grupos de
interesse que já eram dominantes
se aproveitam das estruturas para
manter seu
status quo
370
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
democratização, os processos
políticos ainda estão fortemente
submetidos a uma cultura
der institucional;
Silva (2015), quando afirma que
o
tridimensional de cultura
ainda não foi assimilado pelo
governo de Abaetetuba, onde
tradições políticas
, e por isso o poder
público resiste ao modelo, ao
mesmo tempo em que tenta se
enquadrar nele, gerando um dilema
da administração m
unicipal,
interessada nos repasses;
e
Semensato (2010), sobre a
conferência de Campos
(RJ), para
m as instituições locais e
os
comportamentos arraigados na
cultura política da sociedade
limitaram os princípios
O sintoma das tradiçõ
es
políticas elitistas também é relatado
das estruturas dos
conselhos, em quatro das
pesquisas. É o caso de Aquino
(2017), sobre SMCs de Minas
Gerais, ao relatar que grupos de
interesse que já eram dominantes
se aproveitam das estruturas para
status quo
. E Gonçalves
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
(2016),
sobre os CMPCs da
Baixada Fluminense,
defende que a
institucionalização de
espaços de
participação social é importante
para a
democratização, mas chama
atenção que eles pode
práticas autoritárias do Estado.
Kupski (2012)
identificou,
Grande (RS), m
anutenção das
posições no campo,
onde
que se destacavam foram os que
mais se impulsionaram
, e
adotaram estratégias de
aproximação com dominantes.
Seme
nsato (2010) identificou que o
conselho
do município de Campos
(RJ) não demonstrava
interesse nas
disposições elencadas pela
conferência. A autora
defendeu
cabe aos governos municipais
empreender esforços para
conseguir que
o caráter democrático
se estabeleça; d
o contrário, uma
velha estrutura, autoritária e
oligárquica, perdurará, mesmo que
numa aparência nova legitimada por
argumentos democráticos.
É válido ressaltar
estudos enfatizaram os conflitos
gerados na relaçã
o entre
e órgão
gestor, sendo 4 os
que focam um grau bastante alto de
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
sobre os CMPCs da
defende que a
espaços de
participação social é importante
democratização, mas chama
atenção que eles pode
m reforçar
práticas autoritárias do Estado.
identificou,
em Rio
anutenção das
onde
atores
que se destacavam foram os que
, e
os demais
adotaram estratégias de
aproximação com dominantes.
nsato (2010) identificou que o
do município de Campos
interesse nas
disposições elencadas pela
defendeu
que
cabe aos governos municipais
empreender esforços para
o caráter democrático
o contrário, uma
velha estrutura, autoritária e
oligárquica, perdurará, mesmo que
numa aparência nova legitimada por
argumentos democráticos.
É válido ressaltar
que 8
estudos enfatizaram os conflitos
o entre
Conselho
gestor, sendo 4 os
autores
que focam um grau bastante alto de
embates
, e outros
limitações da participação.
estruturas de participação são vistas
como ameaça
pelo órgão gestor
parte da administração pública não
o entendia, nem entendia o
Sistema, como relatou Aquino
(2017). Por isso, ocorre a
resistência e até a
recu
em partilhar poder, relata Melo
(2018), que defende que o ó
gestor precisa exercer escuta mais
atenta ao órgão
participativo
usufruir de
ssa relação para se
desconstruir.
Os conflitos
foram bastante pontuados por
Paschoalik (2017)
em Ribeirão
Preto, onde
o aumento da
participação dos atores sociais no
planejamento e ges
diálogos entre soc
iedade civil e
poder público,
ao ponto de
ao
longo do tempo um
significativo da participação nos
espaços institucionalizados.
Gonçalves (2016), sobre os
conselhos da Baixada Fluminense,
relatou a falta de articulação entre
essas instâncias e
o poder público,
que muitas
vezes não entende a
funç
ão democrática do órgão e o
utiliza em benefício próprio. Com
371
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
, e outros
4 apontam
limitações da participação.
Essas
estruturas de participação são vistas
pelo órgão gestor
, e
parte da administração pública não
o entendia, nem entendia o
Sistema, como relatou Aquino
(2017). Por isso, ocorre a
recu
sa do Estado
em partilhar poder, relata Melo
(2018), que defende que o ó
rgão
gestor precisa exercer escuta mais
participativo
e
ssa relação para se
Os conflitos
também
foram bastante pontuados por
em Ribeirão
o aumento da
participação dos atores sociais no
planejamento e ges
tão dificultou
iedade civil e
ao ponto de
produzir
longo do tempo um
recuo
significativo da participação nos
espaços institucionalizados.
Gonçalves (2016), sobre os
conselhos da Baixada Fluminense,
relatou a falta de articulação entre
o poder público,
vezes não entende a
ão democrática do órgão e o
utiliza em benefício próprio. Com
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
isso, a instituição
participativa
sendo pouco influente nas
públicas, além de que,
seu poder é
concentrado em poucos
conselheiros ligados ao poder
público.
Nos outros
4
v
erificamos a participação no órgão
mas de modo limitado pelo poder
público. Davis (2013)
ambiente em Belo Horizonte (MG)
com
efeitos de agência e auto
parcial. Semensato (2010) relatou
que o CMPC
de Campos (RJ)
resultante do processo
conferência, tem
suas ações
limitadas que o município não
disponibiliza um orçamento para
ele. Souza (2016)
diz que o
conselho em Petrópolis (RJ) não é
capaz de gerar demodiversidade,
isto é, a
complementaridade entre a
democracia representativa e a
demo
cracia participativa
máximo há “diálogo” e
fazendo com que a possibilidade de
intervenção da sociedade civil nos
processos de tomada de decisão
fosse considerada de maneira
branda.
Para a autora, embora a
experiência seja
um exercício de
de
mocracia participativa,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
participativa
acaba
sendo pouco influente nas
decisões
seu poder é
concentrado em poucos
conselheiros ligados ao poder
4
autores,
erificamos a participação no órgão
,
mas de modo limitado pelo poder
descreve o
ambiente em Belo Horizonte (MG)
efeitos de agência e auto
nomia
parcial. Semensato (2010) relatou
de Campos (RJ)
,
resultante do processo
da
suas ações
limitadas que o município não
disponibiliza um orçamento para
diz que o
conselho em Petrópolis (RJ) não é
capaz de gerar demodiversidade,
complementaridade entre a
democracia representativa e a
cracia participativa
. No
a “escuta”,
fazendo com que a possibilidade de
intervenção da sociedade civil nos
processos de tomada de decisão
fosse considerada de maneira
Para a autora, embora a
um exercício de
mocracia participativa,
ela vem se
comportando como um
penduricalho da democracia
representativa
”, que
sendo assegurado o domínio do
poder de decisão nas mãos do
poder público.
Melo (2013) também
ressaltou o discreto poder de
influência do Con
selho de Fortaleza
nas definições das políticas culturais
do município.
O
utros pontos interessantes
merecem ser aqui ressaltados a
respeito das instituições de
participação. Melo (2018) identificou
que a presidência
do conselho
essencial para a
legitimidade,
andamento dos processos e
efetividade das deliberações
Entretanto, duas
cr
relatada
s a esse respeito:
(2016) defende
a e
função do presidente, que
opinião,
concentra muito poder,
sobretudo quando o
presidente é do
poder executivo; e, o
s entrevist
de Gonçalves (2016) apontaram
que a figura
em geral é o secretário
de cultura
, pontuando isso como um
problema.
Ainda sob
re o funcionamento
dos CMPCs, d
uas autoras,
Gonçalves
(2016) e Melo (2018),
372
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
comportando como um
penduricalho da democracia
”, que
continua
sendo assegurado o domínio do
poder de decisão nas mãos do
Melo (2013) também
ressaltou o discreto poder de
selho de Fortaleza
nas definições das políticas culturais
utros pontos interessantes
merecem ser aqui ressaltados a
respeito das instituições de
participação. Melo (2018) identificou
do conselho
é
legitimidade,
o bom
andamento dos processos e
a
efetividade das deliberações
.
cr
íticas foram
s a esse respeito:
Souza
a e
xtinção da
função do presidente, que
, em sua
concentra muito poder,
presidente é do
s entrevist
ados
de Gonçalves (2016) apontaram
em geral é o secretário
, pontuando isso como um
re o funcionamento
uas autoras,
(2016) e Melo (2018),
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
crit
icaram o fato de que o
se volta demasiadamente
questões internas,
burocratização de seu
funcionamento, regimentos, grupos
temáticos etc.
Essa organização
interna do conselho demanda muito
dos conselheiros, tomando o
espaço que deveria
ser de debate
sobre as políticas culturais.
outro lado, Melo (2018)
pondera, frisando
a importância da
institucionalidade, ao identificar que
a inexistência ou indefinição do
modus operandi
prejudic
efetividade das discussões.
mesma autora ainda a
ponta rumos
para melhor efetividade dessas
instâncias participativas:
SNC,
valorizar a diversidade
garantir representatividade dentro
do órgão
cultural; fortalecer
estrutura técnico administrativa dos
conselhos
, estabelecer metas e
o
bjetivos, capacitação de
conselheiros e a
extensão do
mandato do conselheiro na nova
gestão.
Tal como Melo (2018), Souza
(2016) faz recomend
ações para
melhor efetividade dessas
instâncias
de participação
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
icaram o fato de que o
conselho
se volta demasiadamente
para
como a
burocratização de seu
funcionamento, regimentos, grupos
Essa organização
interna do conselho demanda muito
dos conselheiros, tomando o
ser de debate
sobre as políticas culturais.
Por
outro lado, Melo (2018)
também
a importância da
institucionalidade, ao identificar que
a inexistência ou indefinição do
prejudic
a a
efetividade das discussões.
A
ponta rumos
para melhor efetividade dessas
instâncias participativas:
valorizar o
valorizar a diversidade
e
garantir representatividade dentro
cultural; fortalecer
a
estrutura técnico administrativa dos
, estabelecer metas e
bjetivos, capacitação de
extensão do
mandato do conselheiro na nova
Tal como Melo (2018), Souza
ações para
melhor efetividade dessas
de participação
, que em
muito se aproximam
estudo, a
exemplo de
de r
egras eleitorais condizentes
com
a representativi
v
alorização das diferenças
do órgão,
cautela para não se
reproduza a lógica
da democracia
representativa,
existência de
programas de formação e
capacita
ção para
Além desses,
a autora prega
também a a
mpliação das
competências
do órgão
compartilhamento equiparado de
poder de decisão
entre conselho e
órgão gestor, a pro
articulaçã
o e alteridade entre os
membros, a existência do Sistema
de
Informações e Indicadores
Culturais p
ara subsidiar decisões, a
utilização do PMC como orientador
das ações e decisões e a
operacionalização
publicizada
um fundo de cultura.
É interessante
três pesquisadores mencionaram a
falta de tempo da
política para que
ela se torne mais efetiva
(2013) sobre
os municípios do Vale
de Jiquiriçá (BA)
mencionou que
alguns até estão
em estágios mais
avançados, mas m
uitos ainda não
373
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
deste primeiro
exemplo de
: proposição
egras eleitorais condizentes
a representativi
dade,
alorização das diferenças
dentro
cautela para não se
da democracia
existência de
programas de formação e
ção para
conselheiros.
a autora prega
mpliação das
do órgão
rumo a
compartilhamento equiparado de
entre conselho e
órgão gestor, a pro
moção de
o e alteridade entre os
membros, a existência do Sistema
Informações e Indicadores
ara subsidiar decisões, a
utilização do PMC como orientador
das ações e decisões e a
publicizada
de
É interessante
verificar que
três pesquisadores mencionaram a
política para que
ela se torne mais efetiva
. Bastos
os municípios do Vale
mencionou que
em estágios mais
uitos ainda não
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
tiveram tempo
hábil para
implementação. Aquino (2017) foi
outro a mencionar
que o prazo de
dois anos para execução do plano
de trabalho
sugerido pelo MinC não
é exequível. Por último, o
entrevistados
de Davis (2013) sobre
o PMC
de Belo Horizonte a
à falta de tempo a
defic
êxito da política.
Mais três pesquisadores,
Aquino (2017), Bastos (2013) e
Gonçalves (2016), mencionam
ainda que de forma breve,
recursos, ressaltando a
Quadro
A formalização da adesãoo garante políticas culturais
participativas e efetivas
Há compreeno da proposta, mas a implementação se
distancia dela
Tradições políticas elitistas e conservadoras dificultam o
processo
Grupos tradicionalmente dominantes se apropriam da
política e dos conselhos
Limitações da participação e conflito entre Conselhos e
Gestão Pública
Aspectos a respeito da presidência dos conselhos
Queses internas dos conselhos
Recomendações para melhor efetividade do conselho
Período curto para implementação do Sistema Municipal de
Cultura
Falta de financiamento
Problemas e desafios a serem enfrentados
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
hábil para
a
implementação. Aquino (2017) foi
que o prazo de
dois anos para execução do plano
sugerido pelo MinC não
é exequível. Por último, o
s
de Davis (2013) sobre
de Belo Horizonte a
tribuem
defic
iência do
Mais três pesquisadores,
Aquino (2017), Bastos (2013) e
Gonçalves (2016), mencionam
,
ainda que de forma breve,
a falta de
recursos, ressaltando a
necessidade da viabilização do
repasse de fundo
federal para efetivaçã
em âmbito local.
O
s sintomas
análogos identificados
diferentes trabalhos,
abordados, foram
sintetizados
quadro6, destacando
-
pintadas
os temas que mais se
repetem. Ressalta
-
categorias
não foram
previamente, e sim,
leitura
e identificação das
semelhanças entre os trabalhos.
Quadro
6: Críticas recorrentes nos trabalhos
Fonte: Elaboração própria
Semensato (2010)
Moura (2011)
Kupski (2012)
Bastos (2013)
Davis (2013)
Melo (2013)
Boel (2014)
Silva (2015)
Vitória (2015)
Gonçalves (2016)
Ferreira (2017)
A formalização da adesãoo garante políticas culturais
Há compreeno da proposta, mas a implementação se
Tradições políticas elitistas e conservadoras dificultam o
Grupos tradicionalmente dominantes se apropriam da
Limitações da participação e conflito entre Conselhos e
Aspectos a respeito da presidência dos conselhos
Recomendações para melhor efetividade do conselho
Período curto para implementação do Sistema Municipal de
374
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
necessidade da viabilização do
do governo
federal para efetivaçã
o da política
s sintomas
políticos
análogos identificados
nos
diferentes trabalhos,
e acima
sintetizados
no
-
se nas células
os temas que mais se
-
se que as
não foram
criadas
previamente, e sim,
a partir da
e identificação das
semelhanças entre os trabalhos.
Souza (2016)
Aquino (2017)
Morais (2017)
Paschoalik (2017)
Melo (2018)
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
Apesar de t
odos os
mencionarem o modelo de gestão
do SMC
como algo positivo, aqueles
assinalados na última linha apontam
desafios enfrentados
no momento
da implementação da política, e que
não foram superados. Alguns deles
são bastante
semelhantes aos
problemas que a
literatura s
políticas c
ulturais identifica
tradicionalmente no país, os
quais,inclusive,
o SNC
se como política pública
superá-los. Boel (2
014) enumera
falta de vontade política,
individualismo, falta de cultura da
participação, desi
disputas político-
partidárias.
(2017) frisa a
baixa capacidade
institucional dos município
orçamentária, rotatividade de
partidos, instabilidades
d
escontinuidades e falta
de fundo
. Gonçalves (2016) também
cita a faltade
recursos,
dificuldades técnicas
e ausência
qualificação
para implementação
Melo (2018
) também menciona as
descontinuidades
das gestões
participativas nos conselhos
problemas de gestão,
internas pessoais e partidárias, fa
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
odos os
trabalhos
mencionarem o modelo de gestão
como algo positivo, aqueles
assinalados na última linha apontam
no momento
da implementação da política, e que
não foram superados. Alguns deles
semelhantes aos
literatura s
obre
ulturais identifica
tradicionalmente no país, os
o SNC
apresentou-
se como política pública
para
014) enumera
falta de vontade política,
individualismo, falta de cultura da
participação, desi
nformação,
partidárias.
Aquino
baixa capacidade
institucional dos município
s, rigidez
orçamentária, rotatividade de
políticas e
escontinuidades e falta
de repasse
. Gonçalves (2016) também
recursos,
a
e ausência
para implementação
.
) também menciona as
das gestões
participativas nos conselhos
, seus
as disputas
internas pessoais e partidárias, fa
lta
de representatividade
bastante parecido, Semensato
(2010) critica a ausência de políticas
culturais planejadas e continuadas,
frisa o despreparo dos gestores, a
existência de práticas personalistas
e assistencialistas,
descontinuidades, e a in
de registr
os oficiais sobre a
execução da política
processos participativos.
(2017)
critica a desa
cultura com outros setores de
pol
íticas públicas dos municípios.
Diante de todos esses
aspectos dos estudos, constatamos
que a grande
maioria dos autores
estão antenados para as críticas
limitações dos processos
destaquem também os avanços
políticos ligados à implementação
dos sistemas de cultura e/ou su
ins
tâncias de participação.
sentido, outros três
pontos merecem
destaque, apesar de terem sido
mencionados de forma isola
alguns autores: as
consultorias da
UFBA
10
ofertada aos municípios foi
10
Trata-
se do Projeto de Apoio e
Assistência Téc
nica à Elaboração de
Planos Municipais de Cultura firmado por
um convênio entre Ministério da Cultura e
Universidade Federal da Bahia, a partir da
375
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
de representatividade
. De modo
bastante parecido, Semensato
(2010) critica a ausência de políticas
culturais planejadas e continuadas,
frisa o despreparo dos gestores, a
existência de práticas personalistas
e assistencialistas,
descontinuidades, e a in
existência
os oficiais sobre a
execução da política
e dos
processos participativos.
Morais
critica a desa
rticulação da
cultura com outros setores de
íticas públicas dos municípios.
Diante de todos esses
aspectos dos estudos, constatamos
maioria dos autores
estão antenados para as críticas
e
limitações dos processos
, embora
destaquem também os avanços
políticos ligados à implementação
dos sistemas de cultura e/ou su
as
tâncias de participação.
Nesse
pontos merecem
destaque, apesar de terem sido
mencionados de forma isola
da por
consultorias da
ofertada aos municípios foi
se do Projeto de Apoio e
nica à Elaboração de
Planos Municipais de Cultura firmado por
um convênio entre Ministério da Cultura e
Universidade Federal da Bahia, a partir da
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
destacada por Davis (2012)
serem consideradas u
técnico",
carregado de
conhecimento racional, e científico,
isent
o das lógicas políticas locais.
Bastos (2013) observou que a
implementação dos Sistemas
Municipais e os processos
participativos, provocaram a
inclusão das demandas cultura
nas plataformas políticas dos
candidatos
às novas eleições
Aquino (2017), por sua vez, deu
destaque à
pressão popul
processo de implementação
Reconhece que
as experiências de
participação
foram limitadas, mas
de todo modo, foi um avanço, e que
de f
ato as políticas culturais nos
municípios que estudou
desenvolveram-se
. O autor defende
a necessidade de reformular a
política, mas
dando continuidade
aos
modelos de valorização
participação.
demanda do Fórum Nacional de Dirigentes
de Cultura
de Capitais e de Cidades de
Regiões Metropolitanas. O proj
fornecer apoio técnico para estruturação de
Sistemas Municipais de Cultura. Foram três
edições, ocorridas entre 2012 e 2018
(
https://planosmunicipaisdecultura.ufba.br/
Davis (2012) refere-
se à edição de 2012,
que
atendeu os municípios que fize
parte de sua pesquisa.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
destacada por Davis (2012)
por
serem consideradas u
m "braço
carregado de
conhecimento racional, e científico,
o das lógicas políticas locais.
Bastos (2013) observou que a
implementação dos Sistemas
Municipais e os processos
participativos, provocaram a
inclusão das demandas cultura
is
nas plataformas políticas dos
às novas eleições
.
Aquino (2017), por sua vez, deu
pressão popul
ar no
processo de implementação
.
as experiências de
foram limitadas, mas
de todo modo, foi um avanço, e que
ato as políticas culturais nos
municípios que estudou
. O autor defende
a necessidade de reformular a
dando continuidade
modelos de valorização
da
demanda do Fórum Nacional de Dirigentes
de Capitais e de Cidades de
Regiões Metropolitanas. O proj
eto visava
fornecer apoio técnico para estruturação de
Sistemas Municipais de Cultura. Foram três
edições, ocorridas entre 2012 e 2018
https://planosmunicipaisdecultura.ufba.br/
).
se à edição de 2012,
atendeu os municípios que fize
ram
Conclusão
No esforço deste estudo foi
identificado, como
previsível, um
aumento da quantidade de estudos
relacionados ao SNC ao longo dos
anos, e,
como é
Políticas Culturais
multidisciplinaridade. Observamos
também
a distribuição regional,
que,e
mbora tenhamos ciência de
que essa distribuição se re
instituições
de pós
vinculadas
, consideramos ser
indicativo de que a política foi
disseminada ampla
mente pelo país,
e reconhecida como objeto de
estudo acadêmico.
Em geral
os estudos dão
ênfase à valorização da cultura,
entendida em se
u sentido ampliado,
da diversidade cultural
processos participativos.
participação
social e o federalismo
são as linhas teóricas recorrentes
p
ara se falar do SNC e S
Ressaltamos a grande quantidade
de estudos que focam o âmbito
municipal, e
nes
defendera
m o modelo de gestão
apontando impactos positivos
relacionados
à valorização d
cultura como política pública. Por
376
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
No esforço deste estudo foi
previsível, um
aumento da quantidade de estudos
relacionados ao SNC ao longo dos
como é
próprio das
Políticas Culturais
, a
multidisciplinaridade. Observamos
a distribuição regional,
mbora tenhamos ciência de
que essa distribuição se re
fere às
de pós
-graduação
, consideramos ser
um
indicativo de que a política foi
mente pelo país,
e reconhecida como objeto de
os estudos dão
ênfase à valorização da cultura,
u sentido ampliado,
da diversidade cultural
e nos
processos participativos.
A
social e o federalismo
são as linhas teóricas recorrentes
ara se falar do SNC e S
MCs.
Ressaltamos a grande quantidade
de estudos que focam o âmbito
nes
tes, todos
m o modelo de gestão
apontando impactos positivos
à valorização d
a
cultura como política pública. Por
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
outro lado
, praticamente todos
reconhecem as falhas
e dificuldades
de implantação e das
limitações
política; como
os
técnico
s e de financiamento, os
entraves à participação e a
preponderância de uma lógica
política conservadora.
São olhares
bastante similares em todos os 16
estudos
que foram alvo de leitura
mais aprofundada para este
presente artigo.
Portanto, no
ssa questão
inicial foi respondida. O
ainda que sob áreas de
conhecimento diversas, com
objetivos e métodos particulares
produzidos
em contextos
dialogam
. Os pesquisador
apresentam resultados
ponderações parecida
s s
política. Alguns aspectos são
relatados com
algumas diferenças
ainda sim
compatíveis e
contraditórios.
Os achados
recorrentes, seja
em relação
impactos considerados positivos
mas principalmente
dificuldades de implementação e
frustração da política,
observados a fim de aguçar os
olhares de pesquisadores que vão
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
, praticamente todos
e dificuldades
limitações
da
os
problemas
s e de financiamento, os
entraves à participação e a
preponderância de uma lógica
São olhares
bastante similares em todos os 16
que foram alvo de leitura
mais aprofundada para este
ssa questão
inicial foi respondida. O
s trabalhos
ainda que sob áreas de
conhecimento diversas, com
objetivos e métodos particulares
, e
em contextos
diferentes,
. Os pesquisador
es
análogos e
s s
obre a
política. Alguns aspectos são
algumas diferenças
,
compatíveis e
raramente
Os achados
em relação
aos
impactos considerados positivos
,
sobre as
dificuldades de implementação e
devem ser
observados a fim de aguçar os
olhares de pesquisadores que vão
empreender na temática; ou ainda
para
repensar de modo crítico a
própria política.
Referências
bibliográficas:
AQUINO, Rafael
Luiz de.
políticas de cultura nos municípios
da região metropolitana de Belo
Horizonte
: Entre os governos
Estadual e Federal
. (Mestrado em
Ciências Sociais). Pontifícia
Universidade Católica de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2017.
BARBALHO, Alexandre.
Nacional de Cultura
: campo, saber e
poder. Fortaleza: edUECE, 2019.
BASTOS, Ana Rita de Jesus.
organização dos Sistemas
Municipais de Cultura no Território
do Vale do Jiquiriçá
-
(Mestrado em Cultura e Sociedade).
Universidade Federa
Salvador, 2013.
BOELL, Adilson.
Relações Teóricas
e Práticas entre o Sistema Nacional
De Cultura e o Programa Territórios
da Cidadania do Planalto Norte
Catarinense
. (Mestrado em
Desenvolvimento Regional).
Universidade do Contestado,
Canoinhas, 2014.
BRASIL. Constituição Federal de
1988.
Emenda Constitucional nº71
de 29 de Novembro de 2012.
Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm
Acesso: 10 mar.
2020.
DAVIS, Pedro Gondim.
cultura
conselho, plano e fundo
como instrumentos de governo no
processo de institucionalização da
377
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
empreender na temática; ou ainda
repensar de modo crítico a
bibliográficas:
Luiz de.
As
políticas de cultura nos municípios
da região metropolitana de Belo
: Entre os governos
. (Mestrado em
Ciências Sociais). Pontifícia
Universidade Católica de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2017.
BARBALHO, Alexandre.
Sistema
: campo, saber e
poder. Fortaleza: edUECE, 2019.
BASTOS, Ana Rita de Jesus.
A
organização dos Sistemas
Municipais de Cultura no Território
-
2007 a 2010.
(Mestrado em Cultura e Sociedade).
Universidade Federa
l da Bahia,
Relações Teóricas
e Práticas entre o Sistema Nacional
De Cultura e o Programa Territórios
da Cidadania do Planalto Norte
. (Mestrado em
Desenvolvimento Regional).
Universidade do Contestado,
BRASIL. Constituição Federal de
Emenda Constitucional nº71
de 29 de Novembro de 2012.
Disponível em
:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm
2020.
DAVIS, Pedro Gondim.
O CPF da
conselho, plano e fundo
como instrumentos de governo no
processo de institucionalização da
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
“cultura”
. Reflexões a partir do caso
de Belo Horizonte
. (Mestrado em
Antropologia Social). Universidade
Federal do Rio de
Janeiro, Rio de
Janeiro, 2013.
FERREIRA, Norma Sandra de
Almeida.
s pesquisas denominadas
"estado da arte".
Educ
Sociedade,
vol.23, n.79, p.257
2002.
FERREIRA, Thais Caroline.
Participação Social na estruturação
da Política Cultural em Oliveira
(MG)
: Uma análise à
Sociologia Pragmática
. (Mestrado
Profissional em Administração
Pública). Universidade Federal de
Lavras, Lavras, 2017.
GONCALVES, Marina Teixeira.
participação social nos Conselhos
Municipais de Cultura da Baixada
Fluminense
. (Mestrado em
Administ
ração). Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro,
Seropédica, 2016.
KUPSKI, Larisse.
A Dinâmica do
Campo das Políticas Culturais no
Município do Rio Grande
em Administração). Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2012.
MEL
O, Renata Nunes Pereira.
cultura da participação e a
participação na Cultura
: análise da
efetividade da participação social
nos Conselhos Municipais de
Política Cultural de Fortaleza e Belo
Horizonte. (Doutorado em Cultura e
Sociedade). Universidade Fede
da Bahia, Salvador, 2018.
MELO, Renata Nunes Pereira.
Conselho Municipal de Política
Cultural CMPC
do município de
Fortaleza
: trajetórias
participativas?
(Mestrado em
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
. Reflexões a partir do caso
. (Mestrado em
Antropologia Social). Universidade
Janeiro, Rio de
FERREIRA, Norma Sandra de
s pesquisas denominadas
Educ
ação &
vol.23, n.79, p.257
-272,
FERREIRA, Thais Caroline.
A
Participação Social na estruturação
da Política Cultural em Oliveira
: Uma análise à
luz da
. (Mestrado
Profissional em Administração
Pública). Universidade Federal de
GONCALVES, Marina Teixeira.
A
participação social nos Conselhos
Municipais de Cultura da Baixada
. (Mestrado em
ração). Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro,
A Dinâmica do
Campo das Políticas Culturais no
Município do Rio Grande
. (Mestrado
em Administração). Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto
O, Renata Nunes Pereira.
A
cultura da participação e a
: análise da
efetividade da participação social
nos Conselhos Municipais de
Política Cultural de Fortaleza e Belo
Horizonte. (Doutorado em Cultura e
Sociedade). Universidade Fede
ral
da Bahia, Salvador, 2018.
MELO, Renata Nunes Pereira.
Conselho Municipal de Política
do município de
: trajetórias
(Mestrado em
Soci
ologia). Universidade Estadual
d
o Ceará, Fortaleza, 2013.
MINC (Ministério da
Estruturação, Institucionalização e
Implementação do SNC
MINC:CNPC:SAI. Dezembro, 2011
MORAIS, Paulo de.
reconhece como grande cidadão
desafios da participação em Três
Corações
. (Mestrado em Gestão
Pública e Sociedade). Universidade
Federal de Alfenas, Varginha, 2017.
MOURA, José Gledson Nogueira.
Políticas culturais e gestão cultural
a Secretaria Municipal da Cultura e
do Turismo
SEMUC (2005
de Limoeiro do Norte
-
em Ciências Sociais). Universidade
Federal do Rio
Grande do Norte,
Natal, 2011.
PASCHOALICK, Jonas Pereira.
Sistema Nacional De Cultura
aspectos contraditórios entre
institucionalização e participação no
setor cultural de Ribeirão Preto
(Mestrado em Ciências Sociais).
Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho, Araraquara,
2017.
PEIXE, João Roberto.
estratégica do Sistema Nacional de
Cultura
. In: MINC (Ministério da
Cultura).
Institucionalização e
Implementação
do SNC
. MINC:CNPC:SAI.
Dezembro, 2011.
PT
PARTIDO DOS
TRABALHADORES.
a Serviço do Brasil
Campanha. São Paulo: Fundação
Perseu Abramo, 2002.
RUBIM, Antônio Albino Canelas.
Políticas Culturais entre o possível e
o impossível.
O público e o privado
378
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
ologia). Universidade Estadual
o Ceará, Fortaleza, 2013.
MINC (Ministério da
Cultura).
Estruturação, Institucionalização e
Implementação do SNC
.
MINC:CNPC:SAI. Dezembro, 2011
Ninguém me
reconhece como grande cidadão
:
desafios da participação em Três
. (Mestrado em Gestão
Pública e Sociedade). Universidade
Federal de Alfenas, Varginha, 2017.
MOURA, José Gledson Nogueira.
Políticas culturais e gestão cultural
:
a Secretaria Municipal da Cultura e
SEMUC (2005
-2010)
-
CE. (Mestrado
em Ciências Sociais). Universidade
Grande do Norte,
PASCHOALICK, Jonas Pereira.
O
Sistema Nacional De Cultura
:
aspectos contraditórios entre
institucionalização e participação no
setor cultural de Ribeirão Preto
.
(Mestrado em Ciências Sociais).
Universidade Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho, Araraquara,
PEIXE, João Roberto.
A importância
estratégica do Sistema Nacional de
. In: MINC (Ministério da
Estruturação,
Implementação
. MINC:CNPC:SAI.
PARTIDO DOS
TRABALHADORES.
A Imaginação
a Serviço do Brasil
. Caderno de
Campanha. São Paulo: Fundação
Perseu Abramo, 2002.
RUBIM, Antônio Albino Canelas.
Políticas Culturais entre o possível e
O público e o privado
.
SEMENSATO, Clarissa Alexandra G.;
BARBALHO, Alexandre Almeida.
Sistema N
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
350
-
379
,
set. 2020.
Revista do PPG em Sociologia da
Universidade Estadual do Ceará
9, Janeiro/Junho, 2007.
RUBIM, Antônio Albino Canelas;
BARBALHO, Alexandre; CALABR
Lia. (orgs).
Políticas culturais no
governo Dilma
. Salvador: EDUFBA,
2015.
SANTOS, Marcelo Augusto de
Paiva dos.
Políticas culturais, um
campo em formação
: explorações a
partir de metodologias
informacionais e cientométricas.
(Mestrado em Sociologia e
A
ntropologia). Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2017.
SEMENSATO, Clarissa Alexandra
Guarjardo.
As Conferências
Municipais de Cultura como
estratégia de descentralização e
participação para as Políticas
Culturais no Brasil
: o caso de
Campos dos Goytacazes/RJ, 2006
(Mestrado em Políticas Sociais).
Universidade Estadual do Norte
Fl
uminense Darcy Ribeiro, Campos
dos Goytacazes, 2010.
SILVA, Edilson Moura da.
Sistema Nacional de Cultura e a
gestão da política cultural em nível
municipal
: o caso de Abaetetuba
(Mestrado em Administração).
Universidade da Amazônia, Belém,
2015.
SOARES, Magda Becker; MACIEL,
Francisca. A construção do
conhecimento. In.: SOARES, Magda
Becker; MACIEL, Francisca
Alfabetização
. Brasília:
MEC/Inep/Comped, 2000.
SOUZA, Ana Clarissa Fernandes
de.
Democracia e compartilhamento
da gestão pública de cultura:
problematizando a participação
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo Contínuo
BARBALHO, Alexandre Almeida.
acional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios.
PragMATIZES - Revista
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p.
Revista do PPG em Sociologia da
Universidade Estadual do Ceará
, n.
RUBIM, Antônio Albino Canelas;
BARBALHO, Alexandre; CALABR
E,
Políticas culturais no
. Salvador: EDUFBA,
SANTOS, Marcelo Augusto de
Políticas culturais, um
: explorações a
partir de metodologias
informacionais e cientométricas.
(Mestrado em Sociologia e
ntropologia). Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
SEMENSATO, Clarissa Alexandra
As Conferências
Municipais de Cultura como
estratégia de descentralização e
participação para as Políticas
: o caso de
Campos dos Goytacazes/RJ, 2006
.
(Mestrado em Políticas Sociais).
Universidade Estadual do Norte
uminense Darcy Ribeiro, Campos
SILVA, Edilson Moura da.
O
Sistema Nacional de Cultura e a
gestão da política cultural em nível
: o caso de Abaetetuba
.
(Mestrado em Administração).
Universidade da Amazônia, Belém,
SOARES, Magda Becker; MACIEL,
Francisca. A construção do
conhecimento. In.: SOARES, Magda
Becker; MACIEL, Francisca
(orgs).
. Brasília:
MEC/Inep/Comped, 2000.
SOUZA, Ana Clarissa Fernandes
Democracia e compartilhamento
da gestão pública de cultura:
problematizando a participação
social institucionalizada no Sistema
Municipal de Cultura de Petrópolis
RJ.
(Mestrado em Cultura e
Territor
ialidades). Universidade
Federal Fluminense, Niterói, 2016.
VICENTE, Tânia Aparecida de
Souza. O Centro de Referência em
Políticas Culturais e Gestão. In:
CALABRE, Lia; DOMINGUES,
Alexandre (orgs).
Estudos sobre
política
s culturais e gestão da
cultura:
análises do campo da
produção acadêmica e de prá
de gestão. Rio de Janeiro
Fundação Casa de Rui Barbosa,
2019.
VITORIA, Jose Ricardo.
institucional do Sistema Municipal
de Cultura no contexto brasileiro
(Mestrado em Administração).
Universid
ade Federal de Viçosa,
Viçosa, 2015.
379
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Artigo de Fluxo Contínuo
)
social institucionalizada no Sistema
Municipal de Cultura de Petrópolis
-
(Mestrado em Cultura e
ialidades). Universidade
Federal Fluminense, Niterói, 2016.
VICENTE, Tânia Aparecida de
Souza. O Centro de Referência em
Políticas Culturais e Gestão. In:
CALABRE, Lia; DOMINGUES,
Estudos sobre
s culturais e gestão da
análises do campo da
produção acadêmica e de prá
ticas
de gestão. Rio de Janeiro
:
Fundação Casa de Rui Barbosa,
VITORIA, Jose Ricardo.
Análise
institucional do Sistema Municipal
de Cultura no contexto brasileiro
.
(Mestrado em Administração).
ade Federal de Viçosa,
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
P
ublicações sobre políticas culturais na Universidade Federal da Bahia
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes
Resumo
: Este trabalho consiste na apresentação da primeira etapa de levantamento e análise de
parte da produção científica
centrada no tema das políticas
culturais, realizada na Universidade Federal da Bahia (UFBA), entre
os anos de 2005 e 2018. Para tanto, utilizamos a bibliometria como ferramenta para mensurar a
produção e disseminação do conhecimento científico a partir das publicações especificadas. A
análise se apoia, ademais, em uma discussão contextual e crítica dos dados obtidos. Para a
realização da coleta, consideramos como elemento de localização a autoindexação pelo(a) autor(a)
nas palavras-
chave e a busca do termo
resumos ou títulos dos diferentes trabalhos. Embora analisados como um conjunto que pode ilustrar o
campo dos estudos em políticas culturais na Bahia, os dados são apresentados separados por
tipologia da publicação e, devido às su
Palavras-chave:
Bibliometria; Produção científica; Bahia.
Publicaciones sobre políticas culturales en la Universidad Federal de Bahía
bibliométricas
Resumen: E
ste artículo presenta una recopilación y un análisis preliminar de parte de la producción
científica
artículos en revistas, capítulos de libros, disertaciones de maestría y tesis doctorales
centrados en el tema de políticas culturales, realizado en la
entre los años 2005 y 2018. Para este fin, utilizamos la bibliometría como herramienta para medir la
producción y difusión del conocimiento científico de las publicaciones específicas. El análisis está
1
Renata Rocha
(Renata de Paula Trindade Rocha de Souza).
UFBA
, professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia/UFBA, Brasil. E
mail: renatatrocha@ufba.br -
https://orcid.org/0000
2
Leonardo Figu
eiredo Costa. Doutor em Cultura e Sociedade pela UFBA, professor da Faculdade de
Comunicação da Universidade Federal da Bahia/UFBA, Brasil. E
https://orcid.org/0000-0001-
6095
3
Nayanna de Mattos Kuchenbecker, graduanda em
Universidade Federal da Bahia, Brasil. Email: mattos.nayanna@gmail.com
4
Gustavo de Oliveira Brandão, graduando em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia. Email:gustavodeoliveirabrandao@g
Recebido em 14/05/2020, aceito para publicação em 16
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
ublicações sobre políticas culturais na Universidade Federal da Bahia
explorações bibliométricas
https://doi.org/10.22409/pragmatizes
.v10i19.42693
Leonardo Costa
Nayanna Mattos
Gustavo Brandão
: Este trabalho consiste na apresentação da primeira etapa de levantamento e análise de
artigos em periódicos, capítulos de livros, dissertações e teses
culturais, realizada na Universidade Federal da Bahia (UFBA), entre
os anos de 2005 e 2018. Para tanto, utilizamos a bibliometria como ferramenta para mensurar a
produção e disseminação do conhecimento científico a partir das publicações especificadas. A
análise se apoia, ademais, em uma discussão contextual e crítica dos dados obtidos. Para a
realização da coleta, consideramos como elemento de localização a autoindexação pelo(a) autor(a)
chave e a busca do termo
políticas culturais”— e suas
múltiplas variantes
resumos ou títulos dos diferentes trabalhos. Embora analisados como um conjunto que pode ilustrar o
campo dos estudos em políticas culturais na Bahia, os dados são apresentados separados por
tipologia da publicação e, devido às su
as especificidades, eles não podem ser comparados entre si.
Bibliometria; Produção científica; Bahia.
Publicaciones sobre políticas culturales en la Universidad Federal de Bahía
: exploaciones
ste artículo presenta una recopilación y un análisis preliminar de parte de la producción
artículos en revistas, capítulos de libros, disertaciones de maestría y tesis doctorales
centrados en el tema de políticas culturales, realizado en la
Universidad Federal de Bahía (UFBA),
entre los años 2005 y 2018. Para este fin, utilizamos la bibliometría como herramienta para medir la
producción y difusión del conocimiento científico de las publicaciones específicas. El análisis está
(Renata de Paula Trindade Rocha de Souza).
Doutora em Cultura e Sociedade pela
, professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia/UFBA, Brasil. E
https://orcid.org/0000
-0001-9968-012X
eiredo Costa. Doutor em Cultura e Sociedade pela UFBA, professor da Faculdade de
Comunicação da Universidade Federal da Bahia/UFBA, Brasil. E
-
mail: leocosta@ufba.br
6095
-2642
Nayanna de Mattos Kuchenbecker, graduanda em
Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia, Brasil. Email: mattos.nayanna@gmail.com
Gustavo de Oliveira Brandão, graduando em Produção em Comunicação e Cultura pela
Universidade Federal da Bahia. Email:gustavodeoliveirabrandao@g
mail.com
Recebido em 14/05/2020, aceito para publicação em 16
/06/20
20, disponibilizado online em
01/09/2020.
380
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
ublicações sobre políticas culturais na Universidade Federal da Bahia
:
Renata Rocha
1
Leonardo Costa
2
Nayanna Mattos
3
Gustavo Brandão
4
: Este trabalho consiste na apresentação da primeira etapa de levantamento e análise de
artigos em periódicos, capítulos de livros, dissertações e teses
culturais, realizada na Universidade Federal da Bahia (UFBA), entre
os anos de 2005 e 2018. Para tanto, utilizamos a bibliometria como ferramenta para mensurar a
produção e disseminação do conhecimento científico a partir das publicações especificadas. A
análise se apoia, ademais, em uma discussão contextual e crítica dos dados obtidos. Para a
realização da coleta, consideramos como elemento de localização a autoindexação pelo(a) autor(a)
múltiplas variantes
nos
resumos ou títulos dos diferentes trabalhos. Embora analisados como um conjunto que pode ilustrar o
campo dos estudos em políticas culturais na Bahia, os dados são apresentados separados por
as especificidades, eles não podem ser comparados entre si.
: exploaciones
ste artículo presenta una recopilación y un análisis preliminar de parte de la producción
artículos en revistas, capítulos de libros, disertaciones de maestría y tesis doctorales
Universidad Federal de Bahía (UFBA),
entre los años 2005 y 2018. Para este fin, utilizamos la bibliometría como herramienta para medir la
producción y difusión del conocimiento científico de las publicaciones específicas. El análisis está
Doutora em Cultura e Sociedade pela
, professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia/UFBA, Brasil. E
-
eiredo Costa. Doutor em Cultura e Sociedade pela UFBA, professor da Faculdade de
mail: leocosta@ufba.br
-
Produção em Comunicação e Cultura pela
Gustavo de Oliveira Brandão, graduando em Produção em Comunicação e Cultura pela
20, disponibilizado online em
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
respaldado por un
a discusión contextual y crítica de los datos obtenidos. Para la
recopilación,consideramos la auto indexación en palabras clave y la búsqueda del término políticas
culturales
y sus múltiples variantes
analizan como un conjunto que puede ilustrar el campo de estudios en políticas culturales en Bahía,
los datos se presentan separados por tipo de publicación y, debido a sus especificidades, no pueden
compararse entre sí.
Palabras clave: Bibliometría;
Producción científica
Cultural policies publications at Federal University of Bahia
Abstract: T
his paper consists in the presentation of a preliminary data collection and analysis of part
of the scientific production
articles in journals, book chapters, dissertations and theses
on the theme of cultural policies, carried out at Federal University of Bahia (UFBA), between the years
of 2005 and 2018. Therefore, we use bibliometrics as a tool to meas
dissemination of scientific knowledge from the specified publications. The analysis is supported by a
contextual and critical analysis of the obtained data. For the data collection, we considered the
author's self-indexing in the key
words and the search for the term cultural policies
variants
in the abstract or title of the different works. Although analyzed as a set that can illustrate
the field of studies in cultural policies in Bahia, the data are presented sep
publication, due to their specificities they cannot be compared with each other.
Keywords: Bibliometrics;
Scientific production
Publicações sobre políticas culturais na Universidade Federal da Bahia
Publicações sobre políticas
culturais
5
1 Pressupostos teóricos e
demarcações
contextuais
Estudos centrados nas políticas
culturais têm se tornando mais
presentes ao longo dos últimos anos,
5
Esta é uma versão revista e ampliada do
texto “
Levantamento de publicações sobre
políticas culturais na Universidade Federal
da Bahia entre os
anos de 2005 e 2018
apresentado e publicado nos anais do XV
Encontro de Estudos Multidisciplinares em
Cultura (Enecult), realizado em Salvador,
Bahia, em agosto de 2019.
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
a discusión contextual y crítica de los datos obtenidos. Para la
recopilación,consideramos la auto indexación en palabras clave y la búsqueda del término políticas
y sus múltiples variantes
en el resumen o título de las diferentes obras. Aun
analizan como un conjunto que puede ilustrar el campo de estudios en políticas culturales en Bahía,
los datos se presentan separados por tipo de publicación y, debido a sus especificidades, no pueden
Producción científica
; Bahía.
Cultural policies publications at Federal University of Bahia
: a bibliometric exploration
his paper consists in the presentation of a preliminary data collection and analysis of part
articles in journals, book chapters, dissertations and theses
on the theme of cultural policies, carried out at Federal University of Bahia (UFBA), between the years
of 2005 and 2018. Therefore, we use bibliometrics as a tool to meas
ure the production and
dissemination of scientific knowledge from the specified publications. The analysis is supported by a
contextual and critical analysis of the obtained data. For the data collection, we considered the
words and the search for the term cultural policies
in the abstract or title of the different works. Although analyzed as a set that can illustrate
the field of studies in cultural policies in Bahia, the data are presented sep
publication, due to their specificities they cannot be compared with each other.
Scientific production
; Bahia.
Publicações sobre políticas culturais na Universidade Federal da Bahia
explorações bibliométricas
Publicações sobre políticas
1 Pressupostos teóricos e
contextuais
Estudos centrados nas políticas
culturais têm se tornando mais
presentes ao longo dos últimos anos,
Esta é uma versão revista e ampliada do
Levantamento de publicações sobre
políticas culturais na Universidade Federal
anos de 2005 e 2018
”,
apresentado e publicado nos anais do XV
Encontro de Estudos Multidisciplinares em
Cultura (Enecult), realizado em Salvador,
no Brasil, em instituições e organismos
que se dedicam à pesquisa e à
formação acadêmica nos diversos
níveis. Nesse sentido, a análise do
modo c
omo é produzido o
conhecimento sobre o tema, além de
representar uma tarefa de suma
importância para compreender o
desenvolvimento desse campo, é alvo
de um esforço crescente de
pesquisadores (SANTOS, 2017;
CALABRE, 2014; BARBALHO;
HOLANDA, 2014).
381
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
a discusión contextual y crítica de los datos obtenidos. Para la
recopilación,consideramos la auto indexación en palabras clave y la búsqueda del término políticas
en el resumen o título de las diferentes obras. Aun
que se
analizan como un conjunto que puede ilustrar el campo de estudios en políticas culturales en Bahía,
los datos se presentan separados por tipo de publicación y, debido a sus especificidades, no pueden
: a bibliometric exploration
his paper consists in the presentation of a preliminary data collection and analysis of part
articles in journals, book chapters, dissertations and theses
focused
on the theme of cultural policies, carried out at Federal University of Bahia (UFBA), between the years
ure the production and
dissemination of scientific knowledge from the specified publications. The analysis is supported by a
contextual and critical analysis of the obtained data. For the data collection, we considered the
words and the search for the term cultural policies
and its multiple
in the abstract or title of the different works. Although analyzed as a set that can illustrate
the field of studies in cultural policies in Bahia, the data are presented sep
arated by type of
Publicações sobre políticas culturais na Universidade Federal da Bahia
:
no Brasil, em instituições e organismos
que se dedicam à pesquisa e à
formação acadêmica nos diversos
níveis. Nesse sentido, a análise do
omo é produzido o
conhecimento sobre o tema, além de
representar uma tarefa de suma
importância para compreender o
desenvolvimento desse campo, é alvo
de um esforço crescente de
pesquisadores (SANTOS, 2017;
CALABRE, 2014; BARBALHO;
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
Ainda qu
e de modo breve, faz
se necessário explicitar alguns
pressupostos teórico conceituais
acerca do nosso objeto de pesquisa,
uma vez que a conformação dessa
área de estudos é marcada por
dissensos e dificuldades de
conceituação. Inicialmente, optamos
por um c
onceito ampliado de cultura
que ultrapasse as artes e o patrimônio
tornando possível a inclusão, no
âmbito das políticas culturais, de
temas como a diversidade, as culturas
populares, a comunicação etc.
(ROCHA, 2016). Também partimos do
pressuposto de qu
e a noção de
políticas culturais extrapola a relação
Estado e cultura, visto que outros
agentes podem promover políticas
para a cultura, a exemplo de
instituições privadas, movimentos
sociais, grupos e organizações
(GARCÍA CANCLINI, 2019).
A conformação d
esse campo de
estudos é resultado de um olhar
singular acerca de intervenções
práticas, muitas vezes a partir de uma
formação teórica oriunda de campos
diversificados do conhecimento.
Sobretudo a partir do século XXI, a
política cultural é investigada nas
áreas de sociologia, antropologia,
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
e de modo breve, faz
-
se necessário explicitar alguns
pressupostos teórico conceituais
acerca do nosso objeto de pesquisa,
uma vez que a conformação dessa
área de estudos é marcada por
dissensos e dificuldades de
conceituação. Inicialmente, optamos
onceito ampliado de cultura
que ultrapasse as artes e o patrimônio
tornando possível a inclusão, no
âmbito das políticas culturais, de
temas como a diversidade, as culturas
populares, a comunicação etc.
(ROCHA, 2016). Também partimos do
e a noção de
políticas culturais extrapola a relação
Estado e cultura, visto que outros
agentes podem promover políticas
para a cultura, a exemplo de
instituições privadas, movimentos
sociais, grupos e organizações
(GARCÍA CANCLINI, 2019).
esse campo de
estudos é resultado de um olhar
singular acerca de intervenções
práticas, muitas vezes a partir de uma
formação teórica oriunda de campos
diversificados do conhecimento.
Sobretudo a partir do século XXI, a
política cultural é investigada nas
áreas de sociologia, antropologia,
história, arquitetura e nos diversos
campos de formação das artes, como
no teatro, nas artes visuais e na dança
(CALABRE, 2014, p. 111).
Para Alexandre Barbalho (2005,
p. 35),
os significados e as lógicas sociais
que guia
m, ou pretendem guiar, uma
determinada política cultural podem
sim e devem ser objeto de pesquisas
e reflexões científicas segundo o
local de onde se observa (um olhar
histórico, ou antropológico, ou
sociológico...). Ou na confluência de
áreas que, diga
-
olhar privilegiado, para não dizer
mais adequado, para esse tipo de
estudo, já que o objeto transcende
as delimitações acadêmicas
tradicionais. Mas, acima de tudo, tal
objeto não está inserido em um
saber específico, uma ciência
exclusiva
denominada ‘política
cultural’.
Desse modo, a pulverização
disciplinar, ainda que benéfica quanto
a diversos aspectos, representa um
obstáculo na adoção de sentidos,
conceitos e terminologias comuns, tão
caros ao desenvolvimento teórico e
reconhecimento
de um domínio
científico. Quanto às políticas culturais,
como afirma Ana Maria Ochoa Gautier
(2003, p. 65-
66) a dispersão de
sentidos é característica intrínseca ao
próprio campo na atualidade.
Ao longo da trajetória dessa
área de estudos, é possível ident
o expressivo aumento do número de
382
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
história, arquitetura e nos diversos
campos de formação das artes, como
no teatro, nas artes visuais e na dança
(CALABRE, 2014, p. 111).
Para Alexandre Barbalho (2005,
os significados e as lógicas sociais
m, ou pretendem guiar, uma
determinada política cultural podem
sim e devem ser objeto de pesquisas
e reflexões científicas segundo o
local de onde se observa (um olhar
histórico, ou antropológico, ou
sociológico...). Ou na confluência de
-
se de passagem, é o
olhar privilegiado, para não dizer
mais adequado, para esse tipo de
estudo, já que o objeto transcende
as delimitações acadêmicas
tradicionais. Mas, acima de tudo, tal
objeto não está inserido em um
saber específico, uma ciência
denominada ‘política
Desse modo, a pulverização
disciplinar, ainda que benéfica quanto
a diversos aspectos, representa um
obstáculo na adoção de sentidos,
conceitos e terminologias comuns, tão
caros ao desenvolvimento teórico e
de um domínio
científico. Quanto às políticas culturais,
como afirma Ana Maria Ochoa Gautier
66) a dispersão de
sentidos é característica intrínseca ao
próprio campo na atualidade.
Ao longo da trajetória dessa
área de estudos, é possível ident
ificar
o expressivo aumento do número de
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
publicações a partir dos anos 2000,
em consonância com o que acontecia
também no campo das políticas
públicas para a cultura no Brasil
(CALABRE, 2014). Os primeiros anos
do segundo milênio possuem como
marca as gest
ões de Gilberto Gil
(2003-
2008) e Juca Ferreira (2008
2011) no Ministério da Cultura, que
reestruturaram e ampliaram de forma
considerável a atuação do órgão.
Foram criados diversos programas e
projetos inauguradores, a exemplo do
Cultura Viva, DocTV, Reve
Brasis, entre outros; o conceito de
cultura foi ampliado e,
consequentemente, o blico alvo do
órgão; a participação da sociedade
civil em suas políticas foi ampliada,
entre outras iniciativas.
Para além do aumento das
pesquisas e das políticas p
cultura, esse momento se caracteriza
também pela criação e ampliação de
espaços dedicados aos estudos e
pesquisas desenvolvidos na área.
Instituições, grupos e linhas de
pesquisa vinculadas ao tema são
criados. Em 2000 surge, no Rio de
Janeiro,
o setor de pesquisas em
Políticas Culturais da Fundação Casa
de Rui Barbosa, então chefiado por Lia
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
publicações a partir dos anos 2000,
em consonância com o que acontecia
também no campo das políticas
públicas para a cultura no Brasil
(CALABRE, 2014). Os primeiros anos
do segundo milênio possuem como
ões de Gilberto Gil
2008) e Juca Ferreira (2008
-
2011) no Ministério da Cultura, que
reestruturaram e ampliaram de forma
considerável a atuação do órgão.
Foram criados diversos programas e
projetos inauguradores, a exemplo do
Cultura Viva, DocTV, Reve
lando os
Brasis, entre outros; o conceito de
cultura foi ampliado e,
consequentemente, o blico alvo do
órgão; a participação da sociedade
civil em suas políticas foi ampliada,
Para além do aumento das
pesquisas e das políticas p
úblicas de
cultura, esse momento se caracteriza
também pela criação e ampliação de
espaços dedicados aos estudos e
pesquisas desenvolvidos na área.
Instituições, grupos e linhas de
pesquisa vinculadas ao tema são
criados. Em 2000 surge, no Rio de
o setor de pesquisas em
Políticas Culturais da Fundação Casa
de Rui Barbosa, então chefiado por Lia
Calabre. Em Minas Gerais, no ano de
2005, inicia-
se a atuação do
Observatório da Diversidade Cultural,
coordenado por José Márcio Barros e
José Oliveira Jún
ior, então ligado à
Pontifícia Universidade Católica de
Minas (PUC-
MG). Dois anos depois,
nasce na Bahia a Rede de
Pesquisadores em Políticas culturais
(Redepcult), que, embora não seja
constituída formalmente, reúne
renomados pesquisadores de diversos
est
ados da Federação, com o
desenvolvimento de iniciativas
conjuntas.
Esse contexto pujante também
influencia a Bahia. Cabe observar,
porém, que o poder público estadual,
desde a cada de 1990, vinha
sendo alvo de uma série de reflexões,
motivadas por sua
forte relação com a
cultura e identidade baianas, enquanto
estratégia para a promoção do turismo
e legitimação política, em sucessivas
gestões de políticos vinculados a
Antonio Carlos Magalhães. As
relações entre cultura e Estado se
modificam e adquirem n
contornos apenas no ano de 2007,
com a eleição de Jaques Wagner para
governador, resultando na
desvinculação entre a cultura e o
383
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
Calabre. Em Minas Gerais, no ano de
se a atuação do
Observatório da Diversidade Cultural,
coordenado por José Márcio Barros e
ior, então ligado à
Pontifícia Universidade Católica de
MG). Dois anos depois,
nasce na Bahia a Rede de
Pesquisadores em Políticas culturais
(Redepcult), que, embora não seja
constituída formalmente, reúne
renomados pesquisadores de diversos
ados da Federação, com o
desenvolvimento de iniciativas
Esse contexto pujante também
influencia a Bahia. Cabe observar,
porém, que o poder público estadual,
desde a cada de 1990, vinha
sendo alvo de uma série de reflexões,
forte relação com a
cultura e identidade baianas, enquanto
estratégia para a promoção do turismo
e legitimação política, em sucessivas
gestões de políticos vinculados a
Antonio Carlos Magalhães. As
relações entre cultura e Estado se
modificam e adquirem n
ovos
contornos apenas no ano de 2007,
com a eleição de Jaques Wagner para
governador, resultando na
desvinculação entre a cultura e o
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
turismo; e na escolha de Márcio
Meirelles para gerir a recém
Secretaria de Cultura.
O
estado adquire singular
relev
ância para o estudo das políticas
culturais, demonstrada em pesquisas
como a de Marcelo Augusto de Paiva
Santos (2017) e Lia Calabre (2014),
por meio da profícua atuação de dois
órgãos que se dedicaram
especialmente a esse campo de
reflexão, ambos vinculad
Universidade Federal da Bahia
(UFBA): o Centro de Estudos
Multidisciplinares em Cultura (CULT) e
o Programa Multidisciplinar de Pós
Graduação em Cultura e Sociedade
(Pós-Cultura).
O CULT, criado em 2003, é um
órgão complementar da UFBA que
possui, des
de o início de suas
atividades, uma linha de pesquisa em
políticas culturais. Dentre outras
relevantes iniciativas para a
consolidação dessa temática,
envolvendo pesquisa,
extensão, o CULT é
responsável
publicação de uma
coleção de
intitulada Coleção CULT
, em parceria
com a Editora da Universidade Federal
da Bahia (Edufba), e pela organização
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
turismo; e na escolha de Márcio
Meirelles para gerir a recém
-criada
estado adquire singular
ância para o estudo das políticas
culturais, demonstrada em pesquisas
como a de Marcelo Augusto de Paiva
Santos (2017) e Lia Calabre (2014),
por meio da profícua atuação de dois
órgãos que se dedicaram
especialmente a esse campo de
reflexão, ambos vinculad
os à
Universidade Federal da Bahia
(UFBA): o Centro de Estudos
Multidisciplinares em Cultura (CULT) e
o Programa Multidisciplinar de Pós
-
Graduação em Cultura e Sociedade
O CULT, criado em 2003, é um
órgão complementar da UFBA que
de o início de suas
atividades, uma linha de pesquisa em
políticas culturais. Dentre outras
relevantes iniciativas para a
consolidação dessa temática,
envolvendo pesquisa,
ensino e
responsável
pela
coleção de
livros
, em parceria
com a Editora da Universidade Federal
da Bahia (Edufba), e pela organização
dos Encontros Multidisciplinares em
Cultura (Enecult).
O primeiro livro da Coleção
CULT data de 2007. Cabe ressaltar
que a Coleção
que possui ho
obras em seu catálogo
cultura em uma perspectiva
multidisciplinar e não apenas a área
das políticas culturais, embora este
seja um tema bastante recorrente. Já o
Enecult, que realizou sua 15ª edição
em 2019, surge no ano de 2005 e
constitui-
se como o maior evento de
discussão acadêmica sobre a cultura
no Brasil. Embora possua uma
temática mais abrangente, assim como
a Coleção CULT, o evento se
caracteriza como importante espaço
de discussão acadêmica sobre
políticas culturais.
O Pós-Cultu
ra, também criado
em 2005, possui cursos de mestrado e
doutorado e institui-
se, ao longo dos
seus quase 15 anos de existência,
como o mais relevante espaço de
formação de profissionais e
pesquisadores em políticas culturais
na Bahia. Atualmente, o Programa
CULT também são responsáveis pelo
periódico eletrônico
Políticas Culturais
em Revista
que, por sua vez,começa a
publicar trabalhos na área de políticas
384
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
dos Encontros Multidisciplinares em
O primeiro livro da Coleção
CULT data de 2007. Cabe ressaltar
que possui ho
je 32
obras em seu catálogo
aborda a
cultura em uma perspectiva
multidisciplinar e não apenas a área
das políticas culturais, embora este
seja um tema bastante recorrente. Já o
Enecult, que realizou sua 15ª edição
em 2019, surge no ano de 2005 e
se como o maior evento de
discussão acadêmica sobre a cultura
no Brasil. Embora possua uma
temática mais abrangente, assim como
a Coleção CULT, o evento se
caracteriza como importante espaço
de discussão acadêmica sobre
ra, também criado
em 2005, possui cursos de mestrado e
se, ao longo dos
seus quase 15 anos de existência,
como o mais relevante espaço de
formação de profissionais e
pesquisadores em políticas culturais
na Bahia. Atualmente, o Programa
e o
CULT também são responsáveis pelo
Políticas Culturais
que, por sua vez,começa a
publicar trabalhos na área de políticas
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
culturais a partir de 2008, num primeiro
momento como parte das atividades
da Redepcult.
Diante do contexto ora
explicitado, o projeto de pesquisa
Mapeamento dos Estudos em
Políticas Culturais na Bahia
como objetivo direcionar o olhar para
esse campo no estado, por meio de
produções acadêmicas publicadas
por entidades e órgãos pertencente
à UFBA, entre os anos de 2005 e
2018, a saber: artigos publicados em
periódicos, livros e capítulos de livros,
bem como dissertações e teses
defendidas nessa instituição.
Adotamos a bibliometria como
ferramenta de pesquisa, partindo do
pressuposto de que
a mensuração
quantitativa das publicações
identificadas
artigos, capítulos de
livros, teses, e dissertações de
autores vinculados à UFBA
se um indicador pertinente para
analisar a produção intelectual e
científica em uma área de estudos
específica.
6
O projeto, coordenado pelos professores
Renata Rocha e Leonardo Costa é
desenvolvido no âmbito do OBS
CULT-
UFBA, em parceria com a Cátedra
UNESCO
de Políticas e Gestão Cultural, sob
a responsabilidade da Fundação Casa de
Rui Barbosa (FCRB).
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
culturais a partir de 2008, num primeiro
momento como parte das atividades
Diante do contexto ora
explicitado, o projeto de pesquisa
Mapeamento dos Estudos em
Políticas Culturais na Bahia
6
tem
como objetivo direcionar o olhar para
esse campo no estado, por meio de
produções acadêmicas publicadas
por entidades e órgãos pertencente
s
à UFBA, entre os anos de 2005 e
2018, a saber: artigos publicados em
periódicos, livros e capítulos de livros,
bem como dissertações e teses
defendidas nessa instituição.
Adotamos a bibliometria como
ferramenta de pesquisa, partindo do
a mensuração
quantitativa das publicações
artigos, capítulos de
livros, teses, e dissertações de
autores vinculados à UFBA
revela-
se um indicador pertinente para
analisar a produção intelectual e
científica em uma área de estudos
O projeto, coordenado pelos professores
Renata Rocha e Leonardo Costa é
desenvolvido no âmbito do OBS
-CULT e do
UFBA, em parceria com a Cátedra
de Políticas e Gestão Cultural, sob
a responsabilidade da Fundação Casa de
A bibliometria pode auxiliar na
identificação de tendências de
crescimento do conhecimento em
determinada disciplina, dispersão e
obsolescências de campos
científicos, autores e instituições
mais produtivos, e periódicos mais
utilizados na divulgação
pesquisas em determinada área do
conhecimento (SOARES
2016, p. 177).
Desse modo, os indicadores de
produção científica vêm ganhando
uma importância crescente nas últimas
décadas como instrumento para
análise da atividade científica. A opção
por
adotar a Bahia como recorte
espacial para compreender o
desenvolvimento do campo das
políticas culturais se justifica pela
grande profusão de estudos neste
estado, tornando-
o uma referência no
país, destacando-
se em especial a
produção intelectual oriunda
(BARBALHO; HOLANDA, 2014;
SANTOS, 2017). Ademais, a
proximidade institucional, acadêmica e
territorial do material a ser levantado,
assim como de seus autores,
contribuem sobremaneira para a
validação e análise contextual das
informações ora leva
ntadas.
2 Um breve estado da arte
Antes de nos concentrarmos
nos estudos das políticas culturais na
385
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
A bibliometria pode auxiliar na
identificação de tendências de
crescimento do conhecimento em
determinada disciplina, dispersão e
obsolescências de campos
científicos, autores e instituições
mais produtivos, e periódicos mais
utilizados na divulgação
de
pesquisas em determinada área do
conhecimento (SOARES
et al.,
Desse modo, os indicadores de
produção científica vêm ganhando
uma importância crescente nas últimas
décadas como instrumento para
análise da atividade científica. A opção
adotar a Bahia como recorte
espacial para compreender o
desenvolvimento do campo das
políticas culturais se justifica pela
grande profusão de estudos neste
o uma referência no
se em especial a
produção intelectual oriunda
da UFBA
(BARBALHO; HOLANDA, 2014;
SANTOS, 2017). Ademais, a
proximidade institucional, acadêmica e
territorial do material a ser levantado,
assim como de seus autores,
contribuem sobremaneira para a
validação e análise contextual das
ntadas.
2 Um breve estado da arte
Antes de nos concentrarmos
nos estudos das políticas culturais na
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
Bahia, propomos revisar, ainda que
de maneira breve, os principais
trabalhos que propõem uma análise da
conformação científica do campo e
seus desdobramentos. Cabe ressaltar
que tais estudos têm como
privilegiado as práticas nos diversos
setores de
sse campo desenvolvendo
uma “análise empírica de
experimentos efetivos de políticas
culturais, desenvolvidas em espaços e
tempos determinados” (RUBIM, 2007),
com poucos estudos abordando
aspectos teóricos e conceituais. Como
salienta Albino Rubim (2007, p.
Pouca atenção tem sido destinada
às questões mais teóricas e
conceituais. Raros são os textos
preocupados, por exemplo, com a
teorização e a definição de políticas
culturais. Na bibliografia nacional
podem ser lembrados os textos de
Teixeira Coelho e
Barbalho, que se voltam
especialmente para a definição do
conceito de políticas culturais.
Alguns trabalhos apontam para
um esforço de articulação de
pesquisadores, indicando a formação
de consensos em torno de um campo
de estudos comum. Dentre eles,
destacamos:
Estudos de política
cultural no Brasil: um olhar desde o
Enecult
, publicado em 2014
Alexandre Barbalho e Jocastra
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
Bahia, propomos revisar, ainda que
de maneira breve, os principais
trabalhos que propõem uma análise da
conformação científica do campo e
seus desdobramentos. Cabe ressaltar
que tais estudos têm como
corpus
privilegiado as práticas nos diversos
sse campo desenvolvendo
uma “análise empírica de
experimentos efetivos de políticas
culturais, desenvolvidas em espaços e
tempos determinados” (RUBIM, 2007),
com poucos estudos abordando
aspectos teóricos e conceituais. Como
salienta Albino Rubim (2007, p.
1),
Pouca atenção tem sido destinada
às questões mais teóricas e
conceituais. Raros são os textos
preocupados, por exemplo, com a
teorização e a definição de políticas
culturais. Na bibliografia nacional
podem ser lembrados os textos de
Teixeira Coelho e
Alexandre
Barbalho, que se voltam
especialmente para a definição do
conceito de políticas culturais.
Alguns trabalhos apontam para
um esforço de articulação de
pesquisadores, indicando a formação
de consensos em torno de um campo
de estudos comum. Dentre eles,
Estudos de política
cultural no Brasil: um olhar desde o
, publicado em 2014
por
Alexandre Barbalho e Jocastra
Holanda;
Estudos acadêmicos
contemporâneos sobre políticas
culturais no Brasil: análises e
tendências
, publicado também em
2014 por Lia Calabre;
estudos sobre políticas culturais a
partir do Enecult
, de Mariel
Vieira, Leonardo Nascimento, Linda
Rubim e Delmira Souza, em 2016; e,
mais recentemente, a dissertação de
mestrado de Marcelo Paiva Santos,
intitulada
Políticas culturais, um campo
em formação: explorações a partir de
metodologias informacionais
cientométricas.
Em
Estudos de política cultural
no Brasil: um olhar desde o Enecult
Barbalho e Holanda analisam nove
edições do Encontro, entre os anos de
2005 e 2013.Um resultado a partir do
número de publicações aponta para
402 artigos publicados que
política cultural, ainda que esse não
seja necessariamente o tema central.
O trabalho faz um levantamento
sistemático da procedência dos
autores(as) dos textos publicados; o
nível federativo das políticas culturais
federal, estadual e/ou muni
agentes das políticas culturais
governo, movimentos sociais,
Organizações Não Governamentais
386
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
Estudos acadêmicos
contemporâneos sobre políticas
culturais no Brasil: análises e
, publicado também em
2014 por Lia Calabre;
O perfil dos
estudos sobre políticas culturais a
, de Mariel
la Pitombo
Vieira, Leonardo Nascimento, Linda
Rubim e Delmira Souza, em 2016; e,
mais recentemente, a dissertação de
mestrado de Marcelo Paiva Santos,
Políticas culturais, um campo
em formação: explorações a partir de
metodologias informacionais
e
Estudos de política cultural
no Brasil: um olhar desde o Enecult
,
Barbalho e Holanda analisam nove
edições do Encontro, entre os anos de
2005 e 2013.Um resultado a partir do
número de publicações aponta para
402 artigos publicados que
tratam de
política cultural, ainda que esse não
seja necessariamente o tema central.
O trabalho faz um levantamento
sistemático da procedência dos
autores(as) dos textos publicados; o
nível federativo das políticas culturais
federal, estadual e/ou muni
cipal; os
agentes das políticas culturais
governo, movimentos sociais,
Organizações Não Governamentais
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
(ONG), empresas etc.; as perspectivas
sob as quais a política cultural é
discutida
patrimônio, diversidade
cultural, desenvolvimento; a natureza
da abordagem
pesquisa conceitual
ou pesquisas empíricas; e a
identificação das disciplinas,
autores(as) e livros predominantes nos
trabalhos apresentados. Nos artigos
apresentados, percebe
predominância do exame de
instituições governamentais como
agent
es formuladores das políticas
culturais. Os autores também
observam que “83% dos textos têm
uma abordagem que privilegia a
análise de dados empíricos”
(BARBALHO; HOLANDA, 2014),
corroborando com a afirmação de
Rubim (2007), mencionada no
presente trabalho.
Na pesquisa de Lia Calabre,
Estudos acadêmicos contemporâneos
sobre políticas culturais no Brasil:
análises e tendências
, as análises são
focadas nas teses e dissertações da
base de dados da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), entre os anos de
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
(ONG), empresas etc.; as perspectivas
sob as quais a política cultural é
patrimônio, diversidade
cultural, desenvolvimento; a natureza
pesquisa conceitual
ou pesquisas empíricas; e a
identificação das disciplinas,
autores(as) e livros predominantes nos
trabalhos apresentados. Nos artigos
apresentados, percebe
-se a
predominância do exame de
instituições governamentais como
es formuladores das políticas
culturais. Os autores também
observam que “83% dos textos têm
uma abordagem que privilegia a
análise de dados empíricos”
(BARBALHO; HOLANDA, 2014),
corroborando com a afirmação de
Rubim (2007), mencionada no
Na pesquisa de Lia Calabre,
Estudos acadêmicos contemporâneos
sobre políticas culturais no Brasil:
, as análises são
focadas nas teses e dissertações da
base de dados da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), entre os anos de
1988 e 2012
7
, no grupo de trabalho de
políticas culturais do Enecult e no
Seminário Internacional d
Culturais da Fundação Casa de Rui
Barbosa (FCRB), ambos de 2010 e
2012.
Merece destaque, no que diz
respeito às teses e dissertações, que
entre os anos de 1988 e 2000, são
realizados apenas 21 trabalhos
indexados com as expressões eleitas
para
o tema de políticas culturais, de
2001 a 2012, foram encontrados 217
registros. A autora indica, ainda, um
segundo movimento de aceleração de
produção que tem início em 2007, ano
a partir do qual o aumento do número
de trabalhos seguiu uma escala
crescent
e: 54 trabalhos de 2001 a
2006 (23%), contra 167 trabalhos
defendidos entre 2007 e 2012,
alcançando um total de 77% do
período (CALABRE, 2014, p. 116).
justamente em 2007que ocorre a
primeira defesa do Pós
os anos de 2007 e 2012, período
7
Fora
m trabalhados os resumos disponíveis,
através de uma pesquisa a partir dos
indexadores nas palavras
resumos —
política cultural; políticas
públicas de cultura; leis de incentivo à
cultura; financiamento à cultura; e Ministério
da Cultura —
, ao longo de todo o período em
que estiveram acessíveis na base de dados
(1987 a 2012) (CALABRE, 2014, p. 114).
387
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
, no grupo de trabalho de
políticas culturais do Enecult e no
Seminário Internacional d
e Políticas
Culturais da Fundação Casa de Rui
Barbosa (FCRB), ambos de 2010 e
Merece destaque, no que diz
respeito às teses e dissertações, que
entre os anos de 1988 e 2000, são
realizados apenas 21 trabalhos
indexados com as expressões eleitas
o tema de políticas culturais, de
2001 a 2012, foram encontrados 217
registros. A autora indica, ainda, um
segundo movimento de aceleração de
produção que tem início em 2007, ano
a partir do qual o aumento do número
de trabalhos seguiu uma escala
e: 54 trabalhos de 2001 a
2006 (23%), contra 167 trabalhos
defendidos entre 2007 e 2012,
alcançando um total de 77% do
período (CALABRE, 2014, p. 116).
È
justamente em 2007que ocorre a
primeira defesa do Pós
-Cultura. Entre
os anos de 2007 e 2012, período
m trabalhados os resumos disponíveis,
através de uma pesquisa a partir dos
indexadores nas palavras
-chave, títulos ou
política cultural; políticas
públicas de cultura; leis de incentivo à
cultura; financiamento à cultura; e Ministério
, ao longo de todo o período em
que estiveram acessíveis na base de dados
(1987 a 2012) (CALABRE, 2014, p. 114).
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
a
barcado pelo estudo de Lia Calabre,
o Programa, sozinho, foi responsável
por 24 teses e dissertações, ou seja,
14,5% desse total. No trabalho
dos estudos sobre políticas culturais a
partir do Enecult
, Mariella Pitombo
Vieira, Leonardo Nascimento,
Rubim e Delmira Souza retomam os
anais do Encontro, analisando dez
edições do evento, de 2005 a 2014.
Através da utilização da ferramenta
Atlas.ti
8
, são mapeados nesse escopo
2.230 trabalhos publicados. Desses,
451 trabalhos mencionam ao menos
uma vez
políticas culturais”
cultural
”, e, após refinamento com
critérios estabelecidos, chegou
número de 268 trabalhos com essa
temática principal ou secundária. A
pesquisa buscou também resultados
como a titulação dos(as) autores(as) e
filia
ção institucional, bem como temas
eleitos e aporte teórico
nacionais e internacionais citados.
Na direção em que
apontavam os outros estudos e em
posse dos resultados da pesquisa, é
defendido que
a emergência de uma agenda de
pesquisa rev
ela múltiplas camadas
8
O ATLAS.ti é uma ferramenta utilizada
análise qualitativa de grandes corpos de
dados textuais, gráficos, de áudio e vídeo.
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
barcado pelo estudo de Lia Calabre,
o Programa, sozinho, foi responsável
por 24 teses e dissertações, ou seja,
14,5% desse total. No trabalho
O perfil
dos estudos sobre políticas culturais a
, Mariella Pitombo
Vieira, Leonardo Nascimento,
Linda
Rubim e Delmira Souza retomam os
anais do Encontro, analisando dez
edições do evento, de 2005 a 2014.
Através da utilização da ferramenta
, são mapeados nesse escopo
2.230 trabalhos publicados. Desses,
451 trabalhos mencionam ao menos
políticas culturais”
ou “política
”, e, após refinamento com
critérios estabelecidos, chegou
-se ao
número de 268 trabalhos com essa
temática principal ou secundária. A
pesquisa buscou também resultados
como a titulação dos(as) autores(as) e
ção institucional, bem como temas
autores(as)
nacionais e internacionais citados.
Na direção em que
apontavam os outros estudos e em
posse dos resultados da pesquisa, é
a emergência de uma agenda de
ela múltiplas camadas
O ATLAS.ti é uma ferramenta utilizada
para a
análise qualitativa de grandes corpos de
dados textuais, gráficos, de áudio e vídeo.
de processos sociais mais amplos
que lhe conformam. Nesse sentido, a
relevância de um tema pode sim
comparecer como um termômetro
das mudanças sociais que estão a
se processar na sociedade (VIEIRA
et al
., 2016, p. 1).
Por fim, a dissertação
culturais, um campo em formação:
explorações a partir de metodologias
informacionais e cientométricas
Marcelo Augusto de Paiva dos Santos,
utiliza a bibliometria como ferramenta
para a análise das referências
bibliográf
icas do periódico
Culturais em Revista
para identificar dados quantitativos de
pesquisadores da área, adotando a
Plataforma Lattes como eixo de
investigação, capaz de indicar
possíveis aspectos constitutivos da
área de pesquisa,
teóricos que são aventados para
construir sua narrativa enquanto
objeto de estudo, bem como os tipos
de trajetórias acadêmicas que os
pesquisadores perfomam,
permeadas pelos tópicos que
compõe a área de pesquisa em
apreço (SANTOS, 2017, p. 1
O trabalho, pioneiro no campo
das políticas culturais, busca identificar
e relacionar elementos relevantes para
a produção de conhecimento, a
exemplo dos autores citados nos
artigos da revista e as principais
características das redes de
388
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
de processos sociais mais amplos
que lhe conformam. Nesse sentido, a
relevância de um tema pode sim
comparecer como um termômetro
das mudanças sociais que estão a
se processar na sociedade (VIEIRA
., 2016, p. 1).
Por fim, a dissertação
Políticas
culturais, um campo em formação:
explorações a partir de metodologias
informacionais e cientométricas
, de
Marcelo Augusto de Paiva dos Santos,
utiliza a bibliometria como ferramenta
para a análise das referências
icas do periódico
Políticas
e a cientometria
para identificar dados quantitativos de
pesquisadores da área, adotando a
Plataforma Lattes como eixo de
investigação, capaz de indicar
possíveis aspectos constitutivos da
área de pesquisa,
como os marcos
teóricos que são aventados para
construir sua narrativa enquanto
objeto de estudo, bem como os tipos
de trajetórias acadêmicas que os
pesquisadores perfomam,
permeadas pelos tópicos que
compõe a área de pesquisa em
apreço (SANTOS, 2017, p. 1
7).
O trabalho, pioneiro no campo
das políticas culturais, busca identificar
e relacionar elementos relevantes para
a produção de conhecimento, a
exemplo dos autores citados nos
artigos da revista e as principais
características das redes de
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
pesquisadores que indexam a área na
Plataforma Lattes.
Se, por um lado, as reflexões
anotadas neste breve “estado da arte”
dos trabalhos que se dedicam à
produção de conhecimento em
políticas culturais trazem aportes
relevantes para o desenvolvimento do
es
tudo ora proposto, por outro, o
pioneirismo destes aponta para a
necessidade de realização de novas
pesquisas, a fim de aprimorar
metodologias e perspectivas e
corroborar os seus resultados.
3 Explorações bibliométricas
Conforme mencionado, para a
realiz
ação deste trabalho, optamos
pela bibliometria, método de análise
quantitativa para a pesquisa científica,
no qual os dados levantados
mensuram a contribuição do
conhecimento científico derivado das
publicações em determinadas áreas.
Além disso, tais infor
mações podem
ser utilizadas na representação das
atuais tendências de pesquisa e na
identificação de temas para novas
pesquisas.
A pesquisa previa, inicialmente,
a realização de um levantamento de
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
pesquisadores que indexam a área na
Se, por um lado, as reflexões
anotadas neste breve “estado da arte”
dos trabalhos que se dedicam à
produção de conhecimento em
políticas culturais trazem aportes
relevantes para o desenvolvimento do
tudo ora proposto, por outro, o
pioneirismo destes aponta para a
necessidade de realização de novas
pesquisas, a fim de aprimorar
metodologias e perspectivas e
corroborar os seus resultados.
3 Explorações bibliométricas
Conforme mencionado, para a
ação deste trabalho, optamos
pela bibliometria, método de análise
quantitativa para a pesquisa científica,
no qual os dados levantados
mensuram a contribuição do
conhecimento científico derivado das
publicações em determinadas áreas.
mações podem
ser utilizadas na representação das
atuais tendências de pesquisa e na
identificação de temas para novas
A pesquisa previa, inicialmente,
a realização de um levantamento de
trabalhos monográficos para obtenção
de graus
monografias
dissertações sobre políticas culturais
, defendidos em instituições de
ensino baianas, entre os anos de 2005
e 2018, além de livros, capítulos e
artigos publicados em periódicos,
cujos autores e/ou co
possuem vinculação institucional com
órgãos sediados na Bahia (2005
2018)
9
. No entanto, diante da pouca
expressividade numérica da produção
bibliográfica externa à UFBA, optamos
pela delimitação a essa instituição de
ensino.
Embora tenham sido levantadas
as monografias de graduação, ou
trabalhos de conclusão de curso,
apresentadas na UFBA, os dados não
foram apresentados neste artigo,
devido à baixa expressividade de
trabalhos localizados. Mais do que
discutir a representativi
número, supomos que a pesquisa
sobre as políticas culturais, pelo
menos na Bahia, tem um destaque
maior na pós-
graduação, inclusive na
lato sensu
, do que na graduação. Das
9
Optamos po
r realizar o levantamento dos
artigos publicados em anais de eventos
acadêmicos em etapa posterior, ora em
curso.
389
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
trabalhos monográficos para obtenção
monografias
, teses e
dissertações sobre políticas culturais
, defendidos em instituições de
ensino baianas, entre os anos de 2005
e 2018, além de livros, capítulos e
artigos publicados em periódicos,
cujos autores e/ou co
-autores
possuem vinculação institucional com
órgãos sediados na Bahia (2005
-
. No entanto, diante da pouca
expressividade numérica da produção
bibliográfica externa à UFBA, optamos
pela delimitação a essa instituição de
Embora tenham sido levantadas
as monografias de graduação, ou
trabalhos de conclusão de curso,
apresentadas na UFBA, os dados não
foram apresentados neste artigo,
devido à baixa expressividade de
trabalhos localizados. Mais do que
discutir a representativi
dade desse
número, supomos que a pesquisa
sobre as políticas culturais, pelo
menos na Bahia, tem um destaque
graduação, inclusive na
, do que na graduação. Das
r realizar o levantamento dos
artigos publicados em anais de eventos
acadêmicos em etapa posterior, ora em
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
32 monografias pesquisadas no
Repositório Institucional (RI) da UFBA,
ape
nas 13 foram apresentadas na
universidade, provenientes do curso
de Comunicação com habilitação em
Produção em Comunicação e Cultura.
As 19 restantes foram apresentadas
como requisito para conclusão do
curso lato sensu
de formação de
Gestores Culturais dos
Estados do
Nordeste, um programa pontual
realizado em parceria entre o Instituto
de Humanidades, Artes e Ciências
Professor Milton Santos (Ihac), o então
Ministério da Cultura (MinC) e a
Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).
Em todos os objetos do
levantament
o, foi adotada como
elemento de localização a existência
do termo
políticas culturais
múltiplas variantes
10
por meio da
autoindexação pelo autor,
considerando: (1) palavras
-
títulos e/ou (3) resumos. Quanto a
esse aspecto, tomamos como
re
ferência a metodologia proposta
por Marcelo de Paiva Santos (2017).
10
Os termos utilizados foram:
política cultural,
políticas culturais, política pública de cultura,
políticas públicas de cultura, política públ
cultural, políticas públicas culturais, política
para a cultura, políticas para a cultura,
política de cultura, políticas de cultura,
política para cultura e políticas para cultura.
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
32 monografias pesquisadas no
Repositório Institucional (RI) da UFBA,
nas 13 foram apresentadas na
universidade, provenientes do curso
de Comunicação com habilitação em
Produção em Comunicação e Cultura.
As 19 restantes foram apresentadas
como requisito para conclusão do
de formação de
Estados do
Nordeste, um programa pontual
realizado em parceria entre o Instituto
de Humanidades, Artes e Ciências
Professor Milton Santos (Ihac), o então
Ministério da Cultura (MinC) e a
Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).
Em todos os objetos do
o, foi adotada como
elemento de localização a existência
políticas culturais
e suas
por meio da
autoindexação pelo autor,
-
chave, (2)
títulos e/ou (3) resumos. Quanto a
esse aspecto, tomamos como
ferência a metodologia proposta
por Marcelo de Paiva Santos (2017).
política cultural,
políticas culturais, política pública de cultura,
políticas públicas de cultura, política públ
ica
cultural, políticas públicas culturais, política
para a cultura, políticas para a cultura,
política de cultura, políticas de cultura,
política para cultura e políticas para cultura.
Seguindo as pegadas desse autor,
escolhemos tão somente variações
da expressão
políticas culturais”
mas, em contraponto, optamos por
uma maior abrangência nos locais de
busca para além da
s palavras
Por fim, a escolha do ano de 2005
como ponto de partida toma como
parâmetro a criação do Pós
tendo em vista o impacto do
programa para a produção
sistemática de conhecimento sobre
políticas culturais na UFBA.
Cabe explicitar que
das publicações levantadas possuem
especificidades que os influenciam
sobremaneira. Como exemplos,
podemos citar: a exigência de que pelo
menos um autor seja doutorando ou
tenha o título de doutor para
publicação no periódico
Culturais em Revista
; as diferenças em
termos de investimento acadêmico
para o desenvolvimento de uma tese
ou dissertação, em contraposição a
um capítulo de livro; ou ainda as
disparidades das bases informacionais
e métodos de busca, dentre outras
explicitadas
a seguir. Ou seja, embora
representem um conjunto que contribui
para ilustrar o campo dos estudos em
390
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
Seguindo as pegadas desse autor,
escolhemos tão somente variações
políticas culturais”
mas, em contraponto, optamos por
uma maior abrangência nos locais de
s palavras
-chave.
Por fim, a escolha do ano de 2005
como ponto de partida toma como
parâmetro a criação do Pós
-Cultura,
tendo em vista o impacto do
programa para a produção
sistemática de conhecimento sobre
políticas culturais na UFBA.
Cabe explicitar que
as tipologias
das publicações levantadas possuem
especificidades que os influenciam
sobremaneira. Como exemplos,
podemos citar: a exigência de que pelo
menos um autor seja doutorando ou
tenha o título de doutor para
publicação no periódico
Políticas
; as diferenças em
termos de investimento acadêmico
para o desenvolvimento de uma tese
ou dissertação, em contraposição a
um capítulo de livro; ou ainda as
disparidades das bases informacionais
e métodos de busca, dentre outras
a seguir. Ou seja, embora
representem um conjunto que contribui
para ilustrar o campo dos estudos em
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
políticas culturais na Bahia, os dados
não podem ser comparados entre si.
4 Capítulos de livros
O levantamento de capítulos de
livros adotou como base o
UFBA
11
, com foco nas publicações
produzidas pelo CULT ou em parceria
com o Centro, a saber: Coleção CULT,
Cultura e Pensamento e Sala de Aula.
A fim de abarcar outras
publicações ,
foi feita uma pesquisa na seção de
“coleções” do Repositório com o
“políticas culturais”
e termos afins, no
intuito de saber quais os livros que
traziam capítulos sobre a temática.
Para traçar um panorama da
natureza das publicações e de sua
autoria, elencaram-
se os seguintes
itens: título, ano da publicação, nome
do(a) autor(a) e co-
autor(a), bem como
dados sobre sua formação
da última formação, instituição e
estado. No caso dos capítulos, as
palavras-
chave não foram
catalogadas, pois elas fazem parte
dos dados presentes na contracapa
dos livros.
11
Disponível em:
https://repositorio.ufba.br/ri/
Acesso: 9 abr. 2019.
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
políticas culturais na Bahia, os dados
não podem ser comparados entre si.
O levantamento de capítulos de
livros adotou como base o
RI da
, com foco nas publicações
produzidas pelo CULT ou em parceria
com o Centro, a saber: Coleção CULT,
Cultura e Pensamento e Sala de Aula.
publicações ,
foi feita uma pesquisa na seção de
“coleções” do Repositório com o
termo
e termos afins, no
intuito de saber quais os livros que
traziam capítulos sobre a temática.
Para traçar um panorama da
natureza das publicações e de sua
se os seguintes
itens: título, ano da publicação, nome
autor(a), bem como
dados sobre sua formação
titulação
da última formação, instituição e
estado. No caso dos capítulos, as
chave não foram
catalogadas, pois elas fazem parte
dos dados presentes na contracapa
https://repositorio.ufba.br/ri/
.
Foram
identificados 154
capítulos de livros
12
edições do CULT entre os anos de
2005 e 2018, somando o total de 224
autores e autoras
co-
autoria. São computados(as) de
forma múltipla autores (as) que
possuem publicações distintas.
uma predominância de autoria
individual, em 104 capítulos (67,5%).
Em relação ao gênero, não se verif
grande disparidade , sendo 105
homens (46,9%) e 119 mulheres
(53,1%).
Ao considerar a distribuição
temporal, 2010 se destaca, ao contar
com 34 capítulos publicados, conforme
o Gráfico 1. Vale ressaltar que, no ano
em questão, três livros se dedicaram
às políticas culturais. São eles:
Políticas culturais no governo Lula
orga
nizado por Antonio Albino Canelas
Rubim;
Políticas culturais para as
cidades
, organizado por Antonio Albino
Canelas Rubim e Renata Rocha; e
Políticas culturais, democracia e
12
O livro
Políticas culturais na Bahia
contemporânea
, de Antonio Albino Canelas
Rubim, diferente de todos os livros
catalogados, não se trata de uma coletânea
de capítulos, mas um relato
experiência do autor frente à Secretaria de
Cultura do Estado da Bahia. Para fins
metodológicos, contudo, o livro foi
catalogado como os outros capítulos.
391
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
identificados 154
12
publicados nas
edições do CULT entre os anos de
2005 e 2018, somando o total de 224
entre autoria e
autoria. São computados(as) de
forma múltipla autores (as) que
possuem publicações distintas.
uma predominância de autoria
individual, em 104 capítulos (67,5%).
Em relação ao gênero, não se verif
ica
grande disparidade , sendo 105
homens (46,9%) e 119 mulheres
Ao considerar a distribuição
temporal, 2010 se destaca, ao contar
com 34 capítulos publicados, conforme
o Gráfico 1. Vale ressaltar que, no ano
em questão, três livros se dedicaram
às políticas culturais. São eles:
Políticas culturais no governo Lula
,
nizado por Antonio Albino Canelas
Políticas culturais para as
, organizado por Antonio Albino
Canelas Rubim e Renata Rocha; e
Políticas culturais, democracia e
Políticas culturais na Bahia
, de Antonio Albino Canelas
Rubim, diferente de todos os livros
catalogados, não se trata de uma coletânea
de capítulos, mas um relato
sobre a
experiência do autor frente à Secretaria de
Cultura do Estado da Bahia. Para fins
metodológicos, contudo, o livro foi
catalogado como os outros capítulos.
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
conselhos de cultura
, organizado por
Antonio Albino Canelas Rubim, Iuri
Gráfico 1: Número de capítulos sobre políticas culturais publicados em livros por ano
Em relação à titulação,
se a alta qualificação: 76,8% dos
autores e autoras que assinam os
textos possuem nível de pós
graduação (lato e
stricto sensu
Destes, 49,1% são doutores(as),
conforme Gráfico 2. Verifica
presença de graduandos ou
graduados no levantamento
demonstrando a importância da
iniciação científica no processo
13
Para informações sobre lato
(programas de
especialização) e stricto sensu
de mestrado e doutorado):
http://portal.mec.gov.br/component/content/ar
ticle?id=13072:qual-a-
diferenca
graduacao-lato-sensu-e-stricto
-
Acesso: 9 jun. 2020.
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
, organizado por
Antonio Albino Canelas Rubim, Iuri
Rubim e Ta
iane Fernandes.
Gráfico 1: Número de capítulos sobre políticas culturais publicados em livros por ano
Fonte: elaborado pelos autores.
Em relação à titulação,
destaca-
se a alta qualificação: 76,8% dos
autores e autoras que assinam os
textos possuem nível de pós
-
stricto sensu
13
).
Destes, 49,1% são doutores(as),
conforme Gráfico 2. Verifica
-se a
presença de graduandos ou
graduados no levantamento
,
demonstrando a importância da
iniciação científica no processo
(programas de
(programas
http://portal.mec.gov.br/component/content/ar
diferenca
-entre-pos-
-
sensu.
inaugural de formação do futuro
pesquisador. Cabe ressaltar, ainda,
que a ordem das categorias de
titulação do Gráfico 2 seguem a
grandeza dos dados, e não a
hierarquia das titulações.
392
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
iane Fernandes.
Gráfico 1: Número de capítulos sobre políticas culturais publicados em livros por ano
inaugural de formação do futuro
pesquisador. Cabe ressaltar, ainda,
que a ordem das categorias de
titulação do Gráfico 2 seguem a
grandeza dos dados, e não a
hierarquia das titulações.
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
Gráfico 2: Distribuição da autoria por titulação
A Bahia se destaca em relação
à autoria por estado, com 95 autores e
autoras (42,4%), seguido do Rio de
Janeiro com 23 (10,3%) e São Paulo
com 19 (8,5%). Dado consoante ao
encontrado por Alexandre Barbalho e
Jocastra Holanda (2014, p. 164) ao
ressaltarem a
procedência dos 402
artigos que tratam sobre políticas
Gráfico 3: Distribuição territorial da autoria, considerando a instituição de vínculo da formação mais
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
Gráfico 2: Distribuição da autoria por titulação
Fonte: elaborado pelos autores.
A Bahia se destaca em relação
à autoria por estado, com 95 autores e
autoras (42,4%), seguido do Rio de
Janeiro com 23 (10,3%) e São Paulo
com 19 (8,5%). Dado consoante ao
encontrado por Alexandre Barbalho e
Jocastra Holanda (2014, p. 164) ao
procedência dos 402
artigos que tratam sobre políticas
culturais no Enecult: elevada
concentração nos estados da Bahia,
Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo.
Chama a atenção, ainda, a grande
quantidade de autores(as)
estrangeiros(as), relativa a 10,7% do
tot
al, oriundos, em sua maioria de
países da América Latina e Europa.
Gráfico 3: Distribuição territorial da autoria, considerando a instituição de vínculo da formação mais
recente ou em curso
393
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
culturais no Enecult: elevada
concentração nos estados da Bahia,
Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo.
Chama a atenção, ainda, a grande
quantidade de autores(as)
estrangeiros(as), relativa a 10,7% do
al, oriundos, em sua maioria de
países da América Latina e Europa.
Gráfico 3: Distribuição territorial da autoria, considerando a instituição de vínculo da formação mais
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
Em relação às instituições de
vínculo , a UFBA representa uma fatia
significativa dentre os responsáveis
pela produção dos textos: são 76
Gráfico 4: Distribuição da autoria por instituição de vínculo da formação mais recente ou em curso
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
Fonte: elaborado pelos autores.
Em relação às instituições de
vínculo , a UFBA representa uma fatia
significativa dentre os responsáveis
pela produção dos textos: são 76
(33,9%) formados(as) ou em formação
pela UFBA,
dos quais 30 são
oriundos(as) do s-
Cultura, conforme
explicita o Gráfico 4.
Gráfico 4: Distribuição da autoria por instituição de vínculo da formação mais recente ou em curso
394
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
(33,9%) formados(as) ou em formação
dos quais 30 são
Cultura, conforme
Gráfico 4: Distribuição da autoria por instituição de vínculo da formação mais recente ou em curso
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
A superioridade numérica da
autoria baiana e de professores e
estudantes vinculados à UFBA não
surpreende e pode ser explicada por
um conjunto de fatores. Num primeiro
momento, o fato de os livros serem
publicados e lançados pela Edufba,
editora da univers
idade, em conjunto
com o CULT, impulsionam a maior
participação de pessoas próximas a
essas instituições. Outro aspecto, não
menos relevante, é o papel de
referência do CULT e do Pós
conforme mencionado, nos estudos
contemporâneos das política
culturais. Da mesma forma, ao analisar
os artigos sobre políticas culturais do
Enecult, Barbalho e Holanda (2014, p.
164)verificam que a UFBA é a
instituição de vínculo de 83% dos
autores(as), com significativa presença
de estudantes do Pós-
Cultura. Por
outro lado, conforme asseveram Vieira
e colaboradores (2016, p. 5), a
expressiva participação de autores(as)
da UFBA pode indicar o grau de
endogenia, perspectiva que parece
adequada para interpretar os dados
ora apresentados. Por fim, cabe
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
Fonte: elaborado pelos autores.
A superioridade numérica da
autoria baiana e de professores e
estudantes vinculados à UFBA não
surpreende e pode ser explicada por
um conjunto de fatores. Num primeiro
momento, o fato de os livros serem
publicados e lançados pela Edufba,
idade, em conjunto
com o CULT, impulsionam a maior
participação de pessoas próximas a
essas instituições. Outro aspecto, não
menos relevante, é o papel de
referência do CULT e do Pós
-Cultura,
conforme mencionado, nos estudos
contemporâneos das política
s
culturais. Da mesma forma, ao analisar
os artigos sobre políticas culturais do
Enecult, Barbalho e Holanda (2014, p.
164)verificam que a UFBA é a
instituição de vínculo de 83% dos
autores(as), com significativa presença
Cultura. Por
outro lado, conforme asseveram Vieira
e colaboradores (2016, p. 5), a
expressiva participação de autores(as)
da UFBA pode indicar o grau de
endogenia, perspectiva que parece
adequada para interpretar os dados
ora apresentados. Por fim, cabe
ressaltar que,
para além de estudiosos
reconhecidos no campo, muitos
capítulos são assinados
coletivamente ou não
pesquisadores em formação, conforme
sugere o Gráfico 2.
5 Levantamento dos artigos em
periódicos
O levantamento de artigos
sobre políticas
culturais em periódicos
tomou como base o Portal de
Periódicos da UFBA
14
utilizada, semelhante à seleção dos
capítulos no RI
instituição, localizou textos dedicados
à temática em periódicos como:
Cadernos CRH (Centro de Recursos
Humanos),
Revista Interdisciplinar de
Gestão Social e
DANÇA: Revista de
Pós-
Graduação em Dança.
especial atenção, porém, à
Culturais em Revista
robustez do material disponibilizado,
consequência do foco em políticas
culturais e d
a relevância da publicação
para essa área de estudos, conforme
atestado por Santos (2017).
14
Disponível em:
https://portalseer.ufba.br/
Acesso: 10 abr. 2019.
395
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
para além de estudiosos
reconhecidos no campo, muitos
capítulos são assinados
coletivamente ou não
por
pesquisadores em formação, conforme
5 Levantamento dos artigos em
O levantamento de artigos
culturais em periódicos
tomou como base o Portal de
14
. A metodologia
utilizada, semelhante à seleção dos
dessa mesma
instituição, localizou textos dedicados
à temática em periódicos como:
Cadernos CRH (Centro de Recursos
Revista Interdisciplinar de
DANÇA: Revista de
Graduação em Dança.
Foi dada
especial atenção, porém, à
Políticas
Culturais em Revista
, devido à
robustez do material disponibilizado,
consequência do foco em políticas
a relevância da publicação
para essa área de estudos, conforme
atestado por Santos (2017).
https://portalseer.ufba.br/
.
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
Após o levantamento prévio, foi
feito um tratamento dos textos em
busca dos termos afins ao de
culturais”
(ver nota de rodapé n° 8),
localizados nos títul
os, nos resumos e
nas palavras-
chave. Foram
encontrados 157 artigos, escritos por
243 autores(as) e co-
autores(as)
mais uma vez computando de forma
múltipla a reincidência de
participações —
, entre 2008, ano da
primeira publicação da
Culturais em Revista
15
, e 2018. Ao
longo do período, destaca
-
2015, com 28 artigos publicados,
conforme o Gráfico 5.
15
Nenhum outro periódico baiano apresentou
publicações no anos anteriores com os
termos buscados e com base nos critérios
escolhidos para o mapeamento.
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
Após o levantamento prévio, foi
feito um tratamento dos textos em
busca dos termos afins ao de
políticas
(ver nota de rodapé n° 8),
os, nos resumos e
chave. Foram
encontrados 157 artigos, escritos por
autores(as)
mais uma vez computando de forma
múltipla a reincidência de
, entre 2008, ano da
primeira publicação da
Políticas
, e 2018. Ao
-
se o ano de
2015, com 28 artigos publicados,
Nenhum outro periódico baiano apresentou
publicações no anos anteriores com os
termos buscados e com base nos critérios
escolhidos para o mapeamento.
396
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
Gráfico 5: Número de artigos sobre políticas culturais publicados em periódicos por ano
A maioria teve autoria individual,
num total de 92 artigos (58,6%).
Quanto ao gênero, as mulheres estão
em maior número, correspondendo a
154 participações (63,4%).
Doutores(as)
são maioria,
correspondendo a 139 ocorrências
(57,2%), mais que a metade. Destaca
se também a presença de mestres(as)
Gráfico 6: Autores e autoras que publicaram artigos
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
Gráfico 5: Número de artigos sobre políticas culturais publicados em periódicos por ano
Fonte: elaborado pelos autores.
A maioria teve autoria individual,
num total de 92 artigos (58,6%).
Quanto ao gênero, as mulheres estão
em maior número, correspondendo a
154 participações (63,4%).
são maioria,
correspondendo a 139 ocorrências
(57,2%), mais que a metade. Destaca
-
se também a presença de mestres(as)
e doutorandos(as) nos artigos, sendo
38 cada, que juntos somam 31,3%,
como demonstra o Gráfico 6.
O alto nível de titulação pode
ser expli
cado pelo fato de que os
periódicos, via de regra, exigem em
suas normas de submissão que pelo
menos um dos autores(as) seja
doutor(a) ou doutorando(a).
Gráfico 6: Autores e autoras que publicaram artigos
sobre políticas culturais em periódicos na Bahia,
de 2005 a 2018, por titulação
Fonte: elaborado pelos autores.
397
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
Gráfico 5: Número de artigos sobre políticas culturais publicados em periódicos por ano
e doutorandos(as) nos artigos, sendo
38 cada, que juntos somam 31,3%,
como demonstra o Gráfico 6.
O alto nível de titulação pode
cado pelo fato de que os
periódicos, via de regra, exigem em
suas normas de submissão que pelo
menos um dos autores(as) seja
doutor(a) ou doutorando(a).
sobre políticas culturais em periódicos na Bahia,
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
No que se refere à unidade
federativa onde se encontram
vinculados(as) os(as) autores(as), o
estado com o maior número é o Rio de
Janeiro, com 46 (18,9%), seguido por
São Paulo, com 32 (13,2%) e pela
Bahia, com 31 (12,8%). Em relação às
universidades em que realizaram sua
última titulação, a UFBA formou 31
autores(as) (12,8%), seguida pelas
Univer
sidade Federal Fluminense
(UFF), com 17 (7%), Universidade de
São Paulo (USP) com 16 (6,6%) e
Gráfico 7: Distribuição do número de autores que publicaram artigos sobre políticas culturais em
periódicos da UFBA, de 2005 a 2018, por instituição vinculada (formados ou em formação)
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
No que se refere à unidade
federativa onde se encontram
vinculados(as) os(as) autores(as), o
estado com o maior número é o Rio de
Janeiro, com 46 (18,9%), seguido por
São Paulo, com 32 (13,2%) e pela
Bahia, com 31 (12,8%). Em relação às
universidades em que realizaram sua
última titulação, a UFBA formou 31
autores(as) (12,8%), seguida pelas
sidade Federal Fluminense
(UFF), com 17 (7%), Universidade de
São Paulo (USP) com 16 (6,6%) e
Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) com 13 (5,3%), como
apresentado no Gráfico 7. Cabe
destacar aqui o segundo lugar da UFF
na lista, muito possivelment
de a universidade sediar um dos
cursos pioneiros de graduação na área
de produção cultural no país. Além
disso, uma grande diversidade:
31,7% dos dados se referem a
instituições com uma ou duas
ocorrências.
Gráfico 7: Distribuição do número de autores que publicaram artigos sobre políticas culturais em
periódicos da UFBA, de 2005 a 2018, por instituição vinculada (formados ou em formação)
Fonte: elaborado pelos autores.
398
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) com 13 (5,3%), como
apresentado no Gráfico 7. Cabe
destacar aqui o segundo lugar da UFF
na lista, muito possivelment
e pelo fato
de a universidade sediar um dos
cursos pioneiros de graduação na área
de produção cultural no país. Além
disso, uma grande diversidade:
31,7% dos dados se referem a
instituições com uma ou duas
Gráfico 7: Distribuição do número de autores que publicaram artigos sobre políticas culturais em
periódicos da UFBA, de 2005 a 2018, por instituição vinculada (formados ou em formação)
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
Verifica-
se a pertinência entre
os estados e as universidades da
última titulação Os três estados com
maior número de autores(as) devem
sua colocação a instituições que
também figuram nas
posições.
6 Levantamento de teses e
dissertações
Para o levantamento
bibliométrico das teses e dissertações,
foram utilizados os bancos de dados
do RI da UFBA
16
e o Catálogo de
Teses e Dissertações da Capes
Buscamos novamente pelo termo
“políticas culturais”
e suas múltiplas
variantes em três diferentes campos
dos trabalhos encontrados, a saber:
título, resumo e palavras
Inicialmente, o escopo do trabalho
previa um levantamento apenas no
Pós-
Cultura, mas, ao longo das
pesquisas, identificou-
se a importâ
de ampliar o escopo para outros
programas de pós-
graduação da
UFBA, no intuito de avaliar a
16
Disponível em:
https://repositorio.ufba.br/ri/
Acesso:9 abr. 2019.
17
Disponível em:
https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalog
o-teses/#!/. Acesso:
9 abr. 2019.
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
se a pertinência entre
os estados e as universidades da
última titulação Os três estados com
maior número de autores(as) devem
sua colocação a instituições que
também figuram nas
primeiras
6 Levantamento de teses e
Para o levantamento
bibliométrico das teses e dissertações,
foram utilizados os bancos de dados
e o Catálogo de
Teses e Dissertações da Capes
17
.
Buscamos novamente pelo termo
e suas múltiplas
variantes em três diferentes campos
dos trabalhos encontrados, a saber:
título, resumo e palavras
-chave.
Inicialmente, o escopo do trabalho
previa um levantamento apenas no
Cultura, mas, ao longo das
se a importâ
ncia
de ampliar o escopo para outros
graduação da
UFBA, no intuito de avaliar a
https://repositorio.ufba.br/ri/
.
https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalog
9 abr. 2019.
multidisciplinaridade da área, além de
buscar uma maior abrangência e
representatividade.
No que diz respeito às teses e
dissertações, em que pese a
proximida
de temática e metodológica
quanto ao corpus
ora analisado com o
da pesquisa de Lia Calabre (2014),
não é possível adotar uma perspectiva
comparativa entre ambos, tendo em
vista as diferenças quanto à eleição
dos termos de busca, dos recortes
territoriais e
temporais, bem como pela
junção, ou não, dessas duas tipologias
de trabalhos. Entretanto, consideramo
lo, conforme explicitado, uma relevante
referência. Aqui, conforme se
depreende, optou-
se por dissociar as
teses das dissertações. Focaremos,
por ora, na
s primeiras. De 2005 a
2018, foram publicadas 34 teses de
doutorado sobre o tema na UFBA,
conforme explicitado pelo Gráfico 8.
399
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
multidisciplinaridade da área, além de
buscar uma maior abrangência e
No que diz respeito às teses e
dissertações, em que pese a
de temática e metodológica
ora analisado com o
da pesquisa de Lia Calabre (2014),
não é possível adotar uma perspectiva
comparativa entre ambos, tendo em
vista as diferenças quanto à eleição
dos termos de busca, dos recortes
temporais, bem como pela
junção, ou não, dessas duas tipologias
de trabalhos. Entretanto, consideramo
-
lo, conforme explicitado, uma relevante
referência. Aqui, conforme se
se por dissociar as
teses das dissertações. Focaremos,
s primeiras. De 2005 a
2018, foram publicadas 34 teses de
doutorado sobre o tema na UFBA,
conforme explicitado pelo Gráfico 8.
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
Gráfico 8: Distribuição do número de teses defendidas sobre políticas culturais, d
programas de pós
O Pós-
Cultura passa a
figurar em nossa análise a partir de
2010, visto que sua criação se dá em
2005, mas ainda assim apresenta 19
Gráfico 9: Número de teses defendidas sobre políticas culturais, de 2005 a 2018, no Pós
ano, em relação a outros programas de pós
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
Gráfico 8: Distribuição do número de teses defendidas sobre políticas culturais, d
programas de pós
-graduação da UFBA
Fonte: elaborado pelos autores.
Cultura passa a
figurar em nossa análise a partir de
2010, visto que sua criação se dá em
2005, mas ainda assim apresenta 19
teses (56%) até 2018, com destaque
nos anos de 2013 e 2017, com 4 e 5
teses publicadas, respectivamente.
Gráfico 9: Número de teses defendidas sobre políticas culturais, de 2005 a 2018, no Pós
ano, em relação a outros programas de pós
-
graduação da UFBA
Fonte: elaborado pelos autores.
400
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
Gráfico 8: Distribuição do número de teses defendidas sobre políticas culturais, d
e 2005 a 2018, por
teses (56%) até 2018, com destaque
nos anos de 2013 e 2017, com 4 e 5
teses publicadas, respectivamente.
Gráfico 9: Número de teses defendidas sobre políticas culturais, de 2005 a 2018, no Pós
-Cultura por
graduação da UFBA
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
As outras 15 teses defendidas
na UFBA, de 2005 a 2018, distribuem
se nos programas de Educação, Artes
Cênicas, Música, Filosofia, Arquitetura
e Urbanismo, Literatura e Cultura e
Letras e Linguísticas. Isso, de algum
modo, atesta a multidisciplinaridade
ass
inalada por Lia Calabre (2014) e
reiterada por Marcelo de Paiva Santos
(2017). Este último, ao se debruçar
sobre os currículos Lattes de
pesquisadores identificados como
pertencentes ao campo das políticas
culturais, encontra indícios de
multidisciplinarid
ade o apenas no
que diz respeito à formação
acadêmica
multidisciplinaridade
vertical
, como também no que diz
Gráfico 10: Número de teses sobre políticas culturais por te
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
As outras 15 teses defendidas
na UFBA, de 2005 a 2018, distribuem
-
se nos programas de Educação, Artes
Cênicas, Música, Filosofia, Arquitetura
e Urbanismo, Literatura e Cultura e
Letras e Linguísticas. Isso, de algum
modo, atesta a multidisciplinaridade
inalada por Lia Calabre (2014) e
reiterada por Marcelo de Paiva Santos
(2017). Este último, ao se debruçar
sobre os currículos Lattes de
pesquisadores identificados como
pertencentes ao campo das políticas
culturais, encontra indícios de
ade o apenas no
que diz respeito à formação
multidisciplinaridade
, como também no que diz
respeito à conectividade por
similaridade semântica entre eles,
visto que não se verifica uma
semantização curricular homogênea e
uma maior i
nteração entre esses
estudiosos.
Com relação aos termos eleitos,
24 trabalhos fizeram menção a
“políticas culturais”
em seus títulos,
resumos e/ou palavras
“política cultural”
foi utilizado em 18
trabalhos,
políticas de cultura”
“políti
cas públicas de cultura”
políticas públicas culturais”
publicação. As outras expressões não
foram identificadas em quaisquer
trabalhos.
Gráfico 10: Número de teses sobre políticas culturais por te
rmo eleito pelo autor(a)
Fonte: elaborado pelos autores.
401
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
respeito à conectividade por
similaridade semântica entre eles,
visto que não se verifica uma
semantização curricular homogênea e
nteração entre esses
Com relação aos termos eleitos,
24 trabalhos fizeram menção a
em seus títulos,
resumos e/ou palavras
-chave. O termo
foi utilizado em 18
políticas de cultura”
em 3,
cas públicas de cultura”
em 2 e
políticas públicas culturais”
em 1
publicação. As outras expressões não
foram identificadas em quaisquer
rmo eleito pelo autor(a)
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
Podemos atribuir a
preponderância do termo
culturais”
ao fato de ser o modo mais
comumente denominado nos estudos
e pesquisas realizados na Bahia,
conforme dados catalogados nas
publicações da Coleção CULT, por
exemplo.
Gráfico 11: Distribuição do número de dissertações sobre políticas culturais defendidas de 2005 a
2018, por programas de pós
Desde sua primeira defesa, em
2007, o programa conta com
trabalhos na área, com destaque para
os anos de 2013, com oito
dissertações, 2017 e 2018 com cinco
cada um. Temporalmente, é possível
que a concentraçã
o de trabalhos sobre
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
Podemos atribuir a
preponderância do termo
políticas
ao fato de ser o modo mais
comumente denominado nos estudos
e pesquisas realizados na Bahia,
conforme dados catalogados nas
publicações da Coleção CULT, por
Quanto às dissertações de
mestrado, estas representam quase o
dobro de trabalhos em
teses de doutorado. No total, as
dissertações que versam sobre o tema
das políticas culturais entre 2005 e
2018 somam 59 publicações. Dessas,
40 (68%) são oriundas do Pós
conforme o Gráfico 11.
Gráfico 11: Distribuição do número de dissertações sobre políticas culturais defendidas de 2005 a
2018, por programas de pós
-graduação da UFBA
Fonte: elaborado pelos autores.
Desde sua primeira defesa, em
2007, o programa conta com
trabalhos na área, com destaque para
os anos de 2013, com oito
dissertações, 2017 e 2018 com cinco
cada um. Temporalmente, é possível
o de trabalhos sobre
o tema no ano de 2013 seja uma
decorrência da ampliação das políticas
públicas para a cultura implementadas
nos governos Lula (2003
descrito anteriormente neste trabalho.
As demais 19 dissertações distribuem
se em outros de
z programas.
402
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
Quanto às dissertações de
mestrado, estas representam quase o
dobro de trabalhos em
relação às
teses de doutorado. No total, as
dissertações que versam sobre o tema
das políticas culturais entre 2005 e
2018 somam 59 publicações. Dessas,
40 (68%) são oriundas do Pós
-Cultura,
conforme o Gráfico 11.
Gráfico 11: Distribuição do número de dissertações sobre políticas culturais defendidas de 2005 a
o tema no ano de 2013 seja uma
decorrência da ampliação das políticas
públicas para a cultura implementadas
nos governos Lula (2003
-2010), como
descrito anteriormente neste trabalho.
As demais 19 dissertações distribuem
-
z programas.
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
Gráfico 12
: Distribuição do número de dissertações sobre políticas culturais defendidas de 2005 a
2018, no Pós-
Cultura, em relação a outros programas de pós
Quanto à nomenclatura
utilizada, verifica-
se novamente a
predominância no uso de “políticas
culturais”em 43 trabalhos, seguido por
“política cultural” em
27, “políticas
públicas de cultura” em
7, “políticas
Gráfico 13: Distribuição do número de dissertações por termo presente em seus títulos, resumos
A respeito dos termos eleitos,
assinalamos, por fim, a relevância do
uso de um largo espectro de
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
: Distribuição do número de dissertações sobre políticas culturais defendidas de 2005 a
Cultura, em relação a outros programas de pós
-
graduação da UFBA por ano
Fonte: elaborado pelos autores.
Quanto à nomenclatura
se novamente a
predominância no uso de “políticas
culturais”em 43 trabalhos, seguido por
27, “políticas
7, “políticas
públicas culturais”
pública de cultura”
em
para a cultura”
e “políticas de cultura”
em 1
trabalho cada. As outras
expressões utilizadas para delimitação
não foram identificadas.
Gráfico 13: Distribuição do número de dissertações por termo presente em seus títulos, resumos
e/ou palavras-chave
Fonte: elaborado pelos autores.
A respeito dos termos eleitos,
assinalamos, por fim, a relevância do
uso de um largo espectro de
expressões variantes das políticas
culturais. Apenas a título de exemplo,
Calabre (2014, p. 116) encontra, entre
403
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
: Distribuição do número de dissertações sobre políticas culturais defendidas de 2005 a
graduação da UFBA por ano
em 6, “política
em
dois, e “políticas
e “políticas de cultura”
trabalho cada. As outras
expressões utilizadas para delimitação
não foram identificadas.
Gráfico 13: Distribuição do número de dissertações por termo presente em seus títulos, resumos
expressões variantes das políticas
culturais. Apenas a título de exemplo,
Calabre (2014, p. 116) encontra, entre
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
os anos de 2007 e 2012, 63 teses e
dissertaçõe
s com a expressão
pública de cultura”,
em títulos,
resumos ou palavras-
chave, sendo
este o termo com maior recorrência,
seguido por
Ministério da Cultura”
(57), “leis de incentivo”
(30), “política
cultural”
(12) e “financiamento à
cultura” (5).
em nossa
sistematização, porém, o termo mais
referenciado nas teses e dissertações
foi
“políticas culturais”. Tal dado pode
indicar uma maior expressividade da
produção científica em nível de pós
graduação no campo do que a
identificada pela autora. Por
também é possível que a
sistematização ora apresentada tenha
o seu alcance reduzido por não utilizar
termos que possam indicar uma
afinidade com as políticas culturais.
Tal opção considerou que a adoção
explícita de qualquer uma das
expressões va
riantes indicaria o
sentimento de pertença à área por
parte dos pesquisadores e
pesquisadoras.
7 Considerações
Como primeiro resultado do
projeto
Mapeamento dos Estudos em
Políticas Culturais na Bahia
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
os anos de 2007 e 2012, 63 teses e
s com a expressão
política
em títulos,
chave, sendo
este o termo com maior recorrência,
Ministério da Cultura”
(30), “política
(12) e “financiamento à
em nossa
sistematização, porém, o termo mais
referenciado nas teses e dissertações
“políticas culturais”. Tal dado pode
indicar uma maior expressividade da
produção científica em nível de pós
-
graduação no campo do que a
identificada pela autora. Por
sua vez,
também é possível que a
sistematização ora apresentada tenha
o seu alcance reduzido por não utilizar
termos que possam indicar uma
afinidade com as políticas culturais.
Tal opção considerou que a adoção
explícita de qualquer uma das
riantes indicaria o
sentimento de pertença à área por
parte dos pesquisadores e
Como primeiro resultado do
Mapeamento dos Estudos em
Políticas Culturais na Bahia
, optou-se
pelo levantamento de modalidades
distintas d
e atuação e inserção no
campo. É interessante notar que,
dadas as características singulares de
cada tipo de produto, são identificadas
diferenças bastante significativas entre
eles. Tais distinções dizem respeito ao
tempo de produção, extensão,
aprofundam
ento e exigências para
submissão e/ou publicação. Por esse
motivo, não se pretende aqui compará
los, mas apresentar um panorama
bastante abrangente e diversificado da
produção científica desenvolvida no
estado.
As diferenças nos dados trazem
aspectos que m
comentados. Enquanto, nos capítulos
de livros, um destaque massivo de
autores(as) baianos(as) e
formados(as) pela UFBA em relação
aos demais estados e universidades,
nos artigos do periódico, a origem
territorial da autoria é dividida com Rio
de Janeiro e São Paulo, e suas
respectivas universidades. Ou seja,
ainda que ambas as publicações
sejam vinculadas ao CULT
diferenças no modo como o
divulgadas as chamadas, nos critérios
de seleção de textos e na organização
e edição dos materi
404
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
pelo levantamento de modalidades
e atuação e inserção no
campo. É interessante notar que,
dadas as características singulares de
cada tipo de produto, são identificadas
diferenças bastante significativas entre
eles. Tais distinções dizem respeito ao
tempo de produção, extensão,
ento e exigências para
submissão e/ou publicação. Por esse
motivo, não se pretende aqui compará
-
los, mas apresentar um panorama
bastante abrangente e diversificado da
produção científica desenvolvida no
As diferenças nos dados trazem
aspectos que m
erecem ser
comentados. Enquanto, nos capítulos
de livros, um destaque massivo de
autores(as) baianos(as) e
formados(as) pela UFBA em relação
aos demais estados e universidades,
nos artigos do periódico, a origem
territorial da autoria é dividida com Rio
de Janeiro e São Paulo, e suas
respectivas universidades. Ou seja,
ainda que ambas as publicações
sejam vinculadas ao CULT
-UFBA, as
diferenças no modo como o
divulgadas as chamadas, nos critérios
de seleção de textos e na organização
e edição dos materi
ais explicam a
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
diferença entre os dados obtidos.
Cabe ressaltar que, na publicação de
artigos em periódicos, uma
chamada pública para submissão em
fluxo contínuo e a avaliação é feita por
pares, fato normalmente não
observado na organização dos livros.
A publicação em periódicos também
possui um maior impacto se forem
considerados os sistemas vigentes de
avaliação para professores vinculados
a programas de pós-
graduação.
Por sua vez, merece destaque o
fato de que, dos 93 autores(as)
mapeados(as) nas diss
ertações e
teses, 40 (43%) concluíram a sua
graduação na própria UFBA. Isso
demonstra que uma certa
continuidade na instituição de
formação acadêmica, embora se
verifique a existência de trajetórias de
cunho multidisciplinar, com distinções
entre as áre
as dos cursos de
graduação e pós-
graduação. Os(as)
outros(as) autores(as) concluíram a
sua graduação em instituição como
Universidade Salvador (Unifacs),
Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), Universidade de Fortaleza
(Unifor), dentre outras.
Conforme j
á explicitado, o
principal objetivo da pesquisa em
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
diferença entre os dados obtidos.
Cabe ressaltar que, na publicação de
artigos em periódicos, uma
chamada pública para submissão em
fluxo contínuo e a avaliação é feita por
pares, fato normalmente não
observado na organização dos livros.
A publicação em periódicos também
possui um maior impacto se forem
considerados os sistemas vigentes de
avaliação para professores vinculados
graduação.
Por sua vez, merece destaque o
fato de que, dos 93 autores(as)
ertações e
teses, 40 (43%) concluíram a sua
graduação na própria UFBA. Isso
demonstra que uma certa
continuidade na instituição de
formação acadêmica, embora se
verifique a existência de trajetórias de
cunho multidisciplinar, com distinções
as dos cursos de
graduação. Os(as)
outros(as) autores(as) concluíram a
sua graduação em instituição como
Universidade Salvador (Unifacs),
Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), Universidade de Fortaleza
á explicitado, o
principal objetivo da pesquisa em
curso é verificar de que modo os
estudos sobre as políticas culturais se
desenvolvem na Bahia, e, por sua
relevância para o campo no estado,
optamos por enfatizar a produção
oriunda da UFBA. Nesse sentido,
encerrada a parte quantitativa, o
projeto vem se dedicando à
sistematização dos dados obtidos,
com o propósito de ampliar o conjunto
a ser analisado e ao mesmo tempo
aprofundar a reflexão sobre a área,
atendo-
se a aspectos como os temas
eleitos, as aborda
gens metodológicas
envolvidas, os conceitos de políticas
culturais acionados, as experiências
de políticas examinadas, a bibliografia
e conjunto documental específicos e
outras questões que certamente
emergirem
desse profícuo
Referências
bibliográficas
BARBALHO, Alexandre. Política
cultural: um debate contemporâneo. In:
RUBIM, Linda.
Organização e
produção da cultura
. Salvador:
2005. p. 33-52.
BARBALHO, Alexandre; HOLANDA,
Jocastra. Estudos de política cultural
no Brasil: um olhar
desde o ENECULT.
In: RUBIM, Linda Silva Oliveira;
VIEIRA, Mariella Pitombo; SOUZA,
Delmira Nunes de
(o
anos. Salvador:
Edufba
196.
405
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
curso é verificar de que modo os
estudos sobre as políticas culturais se
desenvolvem na Bahia, e, por sua
relevância para o campo no estado,
optamos por enfatizar a produção
oriunda da UFBA. Nesse sentido,
encerrada a parte quantitativa, o
projeto vem se dedicando à
sistematização dos dados obtidos,
com o propósito de ampliar o conjunto
a ser analisado e ao mesmo tempo
aprofundar a reflexão sobre a área,
se a aspectos como os temas
gens metodológicas
envolvidas, os conceitos de políticas
culturais acionados, as experiências
de políticas examinadas, a bibliografia
e conjunto documental específicos e
outras questões que certamente
desse profícuo
corpus.
bibliográficas
BARBALHO, Alexandre. Política
cultural: um debate contemporâneo. In:
Organização e
. Salvador:
Edufba,
BARBALHO, Alexandre; HOLANDA,
Jocastra. Estudos de política cultural
desde o ENECULT.
In: RUBIM, Linda Silva Oliveira;
VIEIRA, Mariella Pitombo; SOUZA,
(o
rgs.). Enecult 10
Edufba
, 2014. p. 183-
ROCHA, Renata et al.
Publicações sobre políticas culturais na
Universidade
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n. 19, p. 380-406, set.
2020.
CALABRE, Lia. Estudos acadêmicos
contemporâneos sobre políticas
culturais no Brasil: análises
tendências.
Pragmatizes: Revista
Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói,
n. 7, p. 109
2014.
GARCÍA CANCLINI, Néstor. Políticas
culturais e crise de desenvolvimento:
um balanço latino-
americano. In:
ROCHA, R
enata; BRIZUELA, Juan
Ignacio (orgs.).
Política cultural
conceito, trajetória e reflexões
García Canclini. Salvador:
2019. p. 45-86.
OCHOA GAUTIER, Ana María.
los deseos y los derechos
: un ensayo
crítico sobre políticas culturales.
Bogotá: INCAH, 2003.
ROCHA, Renata. Políticas culturais na
América Latina: uma abordagem
teórico- conceitual.
Políticas Culturais
em Revista
, v. 9, n. 2, p. 674
2016.
RUBIM, Albino. Políticas culturais
entre o possível e o impos
NUSSBAUMER, Gisele (o
rg.).
& políticas de cultura
. Salvador:
Edufba, 2007. p. 139-158.
RUBIM, Linda Silva Oliveira; VIEIRA,
Mariella Pitombo; SOUZA, Delmira
Nunes de (orgs.).
Enecult 10 anos
Salvador: Edufba, 2014.
SANTOS, Marcelo Augusto de Paiva
dos.
Políticas culturais, um cam
formação: explorações a partir de
metodologias informacionais e
cientométricas.
(Mestrado em
Antropologia e Sociologia)
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.
SANTOS, Marcelo Augusto de Paiva.
Políticas culturais, um campo em
formação: explorações sociológicas a
Publicações sobre políticas culturais na
Federal da Bahia entre os anos de 2005 e 2018
.
Americana de Estudos em Cultura,
2020.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Artigo de Fluxo C
ontínuo
CALABRE, Lia. Estudos acadêmicos
contemporâneos sobre políticas
culturais no Brasil: análises
e
Pragmatizes: Revista
Americana de Estudos em
n. 7, p. 109
-129, set.
GARCÍA CANCLINI, Néstor. Políticas
culturais e crise de desenvolvimento:
americano. In:
enata; BRIZUELA, Juan
Política cultural
:
conceito, trajetória e reflexões
- Néstor
García Canclini. Salvador:
Edufba,
OCHOA GAUTIER, Ana María.
Entre
: un ensayo
crítico sobre políticas culturales.
ROCHA, Renata. Políticas culturais na
América Latina: uma abordagem
Políticas Culturais
, v. 9, n. 2, p. 674
-703,
RUBIM, Albino. Políticas culturais
entre o possível e o impos
sível. In:
rg.).
Teorias
. Salvador:
RUBIM, Linda Silva Oliveira; VIEIRA,
Mariella Pitombo; SOUZA, Delmira
Enecult 10 anos
.
SANTOS, Marcelo Augusto de Paiva
Políticas culturais, um cam
po em
formação: explorações a partir de
metodologias informacionais e
(Mestrado em
Antropologia e Sociologia)
.
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.
SANTOS, Marcelo Augusto de Paiva.
Políticas culturais, um campo em
formação: explorações sociológicas a
partir de metodologias informacionais
e cientométricas. In: CALABRE, Lia;
DOMINGUES, Alexandre
Estudos sobre políticas culturais e
gestão da cultura
. Rio de Janeiro:
Fundação Casa de Rui Barbosa, 2019.
p. 51-74.
SOARES, Patrícia Bourguignon
Análise bibliométrica da produção
científica brasileira sobre Tecnologia
de Construção e Edificações na base
de dados Web of Science.
Construído
, Porto Alegre, v. 16, n. 1, p.
175-
185, jan./mar. 2016.
VIEIRA,
Mariella Pitombo
dos estudos sobre políticas culturais a
partir do ENECULT. In: ENCONTRO
DE ESTUDOS MULTIDISCIPLINARES
EM CULTURA, 16., 2016, Salvador.
Anais...
Salvador: UFBA, 2016.
406
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ontínuo
)
partir de metodologias informacionais
e cientométricas. In: CALABRE, Lia;
DOMINGUES, Alexandre
(orgs.).
Estudos sobre políticas culturais e
. Rio de Janeiro:
Fundação Casa de Rui Barbosa, 2019.
SOARES, Patrícia Bourguignon
et al.
Análise bibliométrica da produção
científica brasileira sobre Tecnologia
de Construção e Edificações na base
de dados Web of Science.
Ambiente
, Porto Alegre, v. 16, n. 1, p.
185, jan./mar. 2016.
Mariella Pitombo
et al. O perfil
dos estudos sobre políticas culturais a
partir do ENECULT. In: ENCONTRO
DE ESTUDOS MULTIDISCIPLINARES
EM CULTURA, 16., 2016, Salvador.
Salvador: UFBA, 2016.
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.42980
Resumo: Trata-
se de um ensaio em primeira pessoa relatando a experiência de
realizada em Havana, sobre a obra do escritor cubano Alejo Carpentier. O ensaio articula a reflexão
autobiográfica com algumas hipóteses desenvolvidas ao longo da pesquisa. Com uma narrativa fácil
e envolvente, pretende-
se trazer uma ima
humanidades, despertando o interesse pela aventura da imaginação sociológica.
Palavras-chaves
: Alejo Carpentier; América Latina; Literatura; Metodologia; Ensaio.
"Filin" y método en La Havana
Resumen: Es
un ensayo en primera persona sobre la experiencia de la investigación de campo,
realizada en La Habana, sobre la obra del escritor cubano Alejo Carpentier. El ensayo articula la
reflexión autobiográfica con algunas hipótesis desarrolladas durante la inves
narrativa fácil y atractiva, tiene la intención de traer una imagen realista de la investigación científica
en el campo de las humanidades, despertando interés en la aventura de la imaginación sociológica.
Palabras claves: Alejo Carpenti
er; América Latina; Literatura; Metodologia; Ensayo.
"Filin" and method in Havana
Abstract: This article is a first-
person essay that talks about the field research experience, conducted
in Havana, on the work of Cuban writer Alejo Carpentier. The essay
reflection with some hypotheses developed during the research. With an easy and engaging narrative,
it is intended to bring a realistic image of scientific research in the field of humanities, awakening
interest in the adv
enture of the sociological imagination.
Keywords
: Alejo Carpentier; Latin America; Literature; Method; Essay.
1
Professor e pós-
doutorando junto
Universidade Federal Fluminense (PPCULT/UFF), com financiamento da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio
de Janeiro (FAPERJ), Programa de Pós
E-
mail: marcelonedercerqueira@gmail.com
Recebido em 02/06/2020,
aceito para publicação em
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
Afeto e método em Havana
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v10i19.42980
Marcelo Neder Cerqueira
se de um ensaio em primeira pessoa relatando a experiência de
realizada em Havana, sobre a obra do escritor cubano Alejo Carpentier. O ensaio articula a reflexão
autobiográfica com algumas hipóteses desenvolvidas ao longo da pesquisa. Com uma narrativa fácil
se trazer uma ima
gem realista da pesquisa científica no campo das
humanidades, despertando o interesse pela aventura da imaginação sociológica.
: Alejo Carpentier; América Latina; Literatura; Metodologia; Ensaio.
"Filin" y método en La Havana
un ensayo en primera persona sobre la experiencia de la investigación de campo,
realizada en La Habana, sobre la obra del escritor cubano Alejo Carpentier. El ensayo articula la
reflexión autobiográfica con algunas hipótesis desarrolladas durante la inves
narrativa fácil y atractiva, tiene la intención de traer una imagen realista de la investigación científica
en el campo de las humanidades, despertando interés en la aventura de la imaginación sociológica.
er; América Latina; Literatura; Metodologia; Ensayo.
person essay that talks about the field research experience, conducted
in Havana, on the work of Cuban writer Alejo Carpentier. The essay
articulates the autobiographical
reflection with some hypotheses developed during the research. With an easy and engaging narrative,
it is intended to bring a realistic image of scientific research in the field of humanities, awakening
enture of the sociological imagination.
: Alejo Carpentier; Latin America; Literature; Method; Essay.
doutorando junto
ao Programa de Pós-
Graduação Cultura e Territorialidades da
Universidade Federal Fluminense (PPCULT/UFF), com financiamento da Fundação de Amparo à
de Janeiro (FAPERJ), Programa de Pós
-Doutorado
Nota Dez.
mail: marcelonedercerqueira@gmail.com
- https://orcid.org/0000-0002-4502-
1644
aceito para publicação em
17/06/20
20, disponibilizado online em
01/09/2020.
407
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Marcelo Neder Cerqueira
1
se de um ensaio em primeira pessoa relatando a experiência de
pesquisa de campo,
realizada em Havana, sobre a obra do escritor cubano Alejo Carpentier. O ensaio articula a reflexão
autobiográfica com algumas hipóteses desenvolvidas ao longo da pesquisa. Com uma narrativa fácil
gem realista da pesquisa científica no campo das
: Alejo Carpentier; América Latina; Literatura; Metodologia; Ensaio.
un ensayo en primera persona sobre la experiencia de la investigación de campo,
realizada en La Habana, sobre la obra del escritor cubano Alejo Carpentier. El ensayo articula la
reflexión autobiográfica con algunas hipótesis desarrolladas durante la inves
tigación. Con una
narrativa fácil y atractiva, tiene la intención de traer una imagen realista de la investigación científica
en el campo de las humanidades, despertando interés en la aventura de la imaginación sociológica.
er; América Latina; Literatura; Metodologia; Ensayo.
person essay that talks about the field research experience, conducted
articulates the autobiographical
reflection with some hypotheses developed during the research. With an easy and engaging narrative,
it is intended to bring a realistic image of scientific research in the field of humanities, awakening
Graduação Cultura e Territorialidades da
Universidade Federal Fluminense (PPCULT/UFF), com financiamento da Fundação de Amparo à
Nota Dez.
Brasil.
1644
20, disponibilizado online em
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
*******
Afeto e método em Havana
Coloquei
o despertador para
nove horas da manhã, mas acordei
meia hora antes. Ignácio havia
preparado tudo e me esperava na
sala. O rádio estava ligado. O
ventilador, posicionado a meia
distância, soprava
uma brisa fria
sentido do corredor que levava à outra
sala.Tudo bem calculado. Sobre a
mesa de to
alha verde musgo
rodela gorducha de abacaxi, duas tiras
de mamão e cinco fatias de goiaba. Ao
lado, uma jarra de suco, também de
goiaba, da fruta, mais um cesto de
pães e um pires de louça colonial com
três
quadrados de manteiga. “Buenos
dias!” Ignácio rapidamente se levantou
da poltrona e foi na direção da
pequena cozinha. O ca estava
pronto, passado em uma cafeteira
italiana de ferro que pousava à beira
do fogo aceso para manter
aquecida. Enquanto c
onversávamos,
ele me trouxe dois
huevos
um pote com
marmelada
pratinho com uma tira de queijo e uma
fatia de mortadela.
“(...) por la
celebración
del
año (...) diferentes programas
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
Afeto e método em Havana
o despertador para
nove horas da manhã, mas acordei
meia hora antes. Ignácio havia
preparado tudo e me esperava na
sala. O rádio estava ligado. O
ventilador, posicionado a meia
uma brisa fria
no
sentido do corredor que levava à outra
sala.Tudo bem calculado. Sobre a
alha verde musgo
, uma
rodela gorducha de abacaxi, duas tiras
de mamão e cinco fatias de goiaba. Ao
lado, uma jarra de suco, também de
goiaba, da fruta, mais um cesto de
pães e um pires de louça colonial com
quadrados de manteiga. “Buenos
dias!” Ignácio rapidamente se levantou
da poltrona e foi na direção da
pequena cozinha. O ca estava
pronto, passado em uma cafeteira
italiana de ferro que pousava à beira
do fogo aceso para manter
-se
onversávamos,
huevos
revueltos,
marmelada
e um
pratinho com uma tira de queijo e uma
celebración
del fin
año (...) diferentes programas
culturales (...) de los quinhentos años
de La Havan
a (...) Rádio Rebelde (...)
el
año sessenta y uno de
(...)”. O suco estava uma delícia,
denso e sem muito açúcar. Fazem o
suco batido no liquidificador, sem
casca, depois passam no coador para
tirar as sementes. O suco fica denso
como uma vitamina. Agora tocava uma
balada com ares
flashback
discernir o timbre
da voz de Silvio
Rodrigues, embora preferisse Pablo
Milanés. O café estava precioso e eu
sabia que por todos aqueles dias eu
poderia desfrutar de um café bem
passado, a qualquer hora e sem
açúcar. Havia ainda
dois pacotes de
café do Brasil, por
garantia, mas também como um gesto
de agradável intercâmbio
Em Cuba toma-
se cafés e sucos em
geral como no Maranhão; tudo
adoçado com muito açúcar. Lembrei
da tese vulgar de que no Rio a cultura
fitness havia
praticamente afastado
o açúcar previamente inserido nas
bebidas vendidas em lanchonetes e
bares. O mesmo não se via quando se
viajava para
o interior ou norte do
Brasil.
Ignácio estava de saída
quando chegou enfim Carmen com um
sorriso. “Hola, Marcelo,
408
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
culturales (...) de los quinhentos años
a (...) Rádio Rebelde (...)
año sessenta y uno de
la Revolución
(...)”. O suco estava uma delícia,
denso e sem muito açúcar. Fazem o
suco batido no liquidificador, sem
casca, depois passam no coador para
tirar as sementes. O suco fica denso
como uma vitamina. Agora tocava uma
flashback
eu tentava
da voz de Silvio
Rodrigues, embora preferisse Pablo
Milanés. O café estava precioso e eu
sabia que por todos aqueles dias eu
poderia desfrutar de um café bem
passado, a qualquer hora e sem
trazido na mala
café do Brasil, por
garantia, mas também como um gesto
de agradável intercâmbio
com Ignácio.
se cafés e sucos em
geral como no Maranhão; tudo
adoçado com muito açúcar. Lembrei
da tese vulgar de que no Rio a cultura
praticamente afastado
o açúcar previamente inserido nas
bebidas vendidas em lanchonetes e
bares. O mesmo não se via quando se
o interior ou norte do
Ignácio estava de saída
quando chegou enfim Carmen com um
sorriso. “Hola, Marcelo,
buenos dias!
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
Viste que salió la
programación
Festival?”
Estava previsto ficar hospedado
no primeiro andar da casa de Carmen
e Ignácio entre os dias 2 e 21 de
dezembro. Carmen
estava com um
lenço amarrado na cabeça e uma
juventude indestrutível para um
senhora de quase setenta anos. Uma
casa cômoda, no elegante bairro
Vedado, em La Havana, perto da
Necrópole. A indicação foi do amigo
Júlio Costantini
ele costuma omitir o
segundo nome, César, que sucede o
primeiro, assim como o último
sobrenome: Júnio
r. Júlio é fotógrafo de
cinema, um cidadão do mundo. Morou
três anos em Cuba cursando a
Escuela Internacional de Cine
Televisión (EICTV)
, em San Antonio
de los
Baños. A primeira vez que
estive em Cuba, há dez anos atrás, em
2008, foi hospedando-s
e com el
Escuela. Entretanto, dessa vez Júlio
não pode estar a Cuba. Depois de um
ano
trabalhando na Califórnia,
tinha que rodar uma película no Brasil
e estaria livre apenas depois das
festas. Eu havia planejado fazer a
viagem de pesquisa de campo para
Ha
vana justamente no mês de
dezembro, com esperança de “sincar”
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
programación
del
Estava previsto ficar hospedado
no primeiro andar da casa de Carmen
e Ignácio entre os dias 2 e 21 de
estava com um
lenço amarrado na cabeça e uma
juventude indestrutível para um
a
senhora de quase setenta anos. Uma
casa cômoda, no elegante bairro
Vedado, em La Havana, perto da
Necrópole. A indicação foi do amigo
ele costuma omitir o
segundo nome, César, que sucede o
primeiro, assim como o último
r. Júlio é fotógrafo de
cinema, um cidadão do mundo. Morou
três anos em Cuba cursando a
Escuela Internacional de Cine
y
, em San Antonio
Baños. A primeira vez que
estive em Cuba, há dez anos atrás, em
e com el
e na
Escuela. Entretanto, dessa vez Júlio
não pode estar a Cuba. Depois de um
trabalhando na Califórnia,
ele
tinha que rodar uma película no Brasil
e estaria livre apenas depois das
festas. Eu havia planejado fazer a
viagem de pesquisa de campo para
vana justamente no mês de
dezembro, com esperança de “sincar”
com a sua presença. Dezembro é
inverno acima do Equador. Em
Havana o clima é ameno, com dias
ensolarados e noites frescas. É
quando ocorre o Festival Internacional
de Nuevo Cine Latinoamericano.
No Galeão, após fazer o
in
no voo noturno para Panamá,
identifiquei pelo corredor o
inconfundível
Silvio Tendler. Ele
estava em uma cadeira de rodas, bem
arrumado, e exibia uma vasta
cabeleira e barba prateada. Hesitei um
pouco, mas fui na sua direç
Silvio, vim te dar um abraço. Sou
Marcelo, filho do Gisálio”. “Ah... que
maravilha! Crescemos juntos na
mesma rua
, em Vila Isabel”. “Eu sei,
por isso estou te dando um abraço,
Silvio. Saudações!” Não queria
incomodar e preferi me afastar
amistosam
ente. Não precisava de
mais detalhes, sabia que era um bom
sinal. Se que ele também estaria
voando para La Havana para participar
do festival de cinema? Com certeza
estaria no Festival com algum filme.
Esperava encontrá-
lo no avião, mas
não o vi. Uma via
cansativa, pensei...
Silvio deveria ter a
idade de meu pai. Cresceram numa
Vila Isabel de
peladas de rua, torneios
409
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
com a sua presença. Dezembro é
inverno acima do Equador. Em
Havana o clima é ameno, com dias
ensolarados e noites frescas. É
quando ocorre o Festival Internacional
de Nuevo Cine Latinoamericano.
No Galeão, após fazer o
check-
no voo noturno para Panamá,
identifiquei pelo corredor o
Silvio Tendler. Ele
estava em uma cadeira de rodas, bem
arrumado, e exibia uma vasta
cabeleira e barba prateada. Hesitei um
pouco, mas fui na sua direç
ão. “Oi,
Silvio, vim te dar um abraço. Sou
Marcelo, filho do Gisálio”. “Ah... que
maravilha! Crescemos juntos na
, em Vila Isabel”. “Eu sei,
por isso estou te dando um abraço,
Silvio. Saudações!” Não queria
incomodar e preferi me afastar
ente. Não precisava de
mais detalhes, sabia que era um bom
sinal. Se que ele também estaria
voando para La Havana para participar
do festival de cinema? Com certeza
estaria no Festival com algum filme.
lo no avião, mas
não o vi. Uma via
gem longa e
Silvio deveria ter a
idade de meu pai. Cresceram numa
peladas de rua, torneios
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
de futebol de botão e dramas
burgueses rodrigueanos. A mesma
Vila que seria reescrita
por Aldir Blanc
em suas crônicas e
canções febris
arredores da Rua dos Artistas.
Com Carmen e Ignácio
um quarto para mim e, como não
havia ninguém mais hospedado na
casa, poderia desfrutar mais à vontade
da sala, da varanda e da cozinha.
Tinha a possibilidade de tomar café d
manhã por três ou cinco
moeda turística que equivale mais ou
menos ao euro.
Por cinco CUCs
Ignácio prepararia um café completo,
com huevos
revueltos
harburguesa
, dentre outras coisas; por
três
CUCs eu teria um café
sencillo. Amoroso
s e muito
Ignácio e Carmem tinham viajado o
mundo, mas nunca deixaram Havana.
Por cinco anos moraram em alguma
região bem fria da antiga União
Soviética.
Desses lugares onde,
durante inverno, para ir ao trabalho,
tem-
se que usar uma para tirar
gelo das rodas do carro. Tinham uma
filha e “el
más importante agora”,
dizia Ignácio, sorrindo
um neto, que
morava com a mãe e o esposo
Paris. Falavam russo e francês e
preferiam receber em euros
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
de futebol de botão e dramas
pequeno
burgueses rodrigueanos. A mesma
por Aldir Blanc
canções febris
dos
arredores da Rua dos Artistas.
Com Carmen e Ignácio
eu tinha
um quarto para mim e, como não
havia ninguém mais hospedado na
casa, poderia desfrutar mais à vontade
da sala, da varanda e da cozinha.
Tinha a possibilidade de tomar café d
a
CUCs – a
moeda turística que equivale mais ou
Por cinco CUCs
Ignácio prepararia um café completo,
revueltos
, queijo,
, dentre outras coisas; por
CUCs eu teria um café
más
s e muito
educados,
Ignácio e Carmem tinham viajado o
mundo, mas nunca deixaram Havana.
Por cinco anos moraram em alguma
região bem fria da antiga União
Desses lugares onde,
durante inverno, para ir ao trabalho,
se que usar uma para tirar
o
gelo das rodas do carro. Tinham uma
más importante agora”,
um neto, que
morava com a mãe e o esposo
em
Paris. Falavam russo e francês e
preferiam receber em euros
do que em
CUCs, pois planejavam uma visita à
famíl
ia no ano seguinte. Eu preferia
fazer
o meu próprio café da manhã,
mas sabia que a oferta do serviço
incrementaria
os ganhos e os planos
do casal. Fizemos então um acordo de
alternar dia sim, dia não. Carmen disse
a mim que, para eles, receber
casa e
ra como receber um pouco do
Júlio que eles tanto
amavam.
Estava bem preparado para a
viagem, tinha tudo que precisava.
Poucas roupas
documentos em dia, mil euros, uma
sunga, dois isqueiros,
de trabalho com carregador e
adaptador p
ara tomadas, um extrato
de própolis,
um livro de suspense
policial, Máscaras
, de Leonardo
Padura, o hidratante para mãos e
unhas de costume, para prevenir a
crônica psoríase nas mãos,
harpa e a sombra
, última ficção de
Alejo Carpentier,
Poemas
, do Maiakovski, traduzida e
organizada por Boris Schnaiderman e
os irmãos Augusto e Haroldo de
Campos, presente do amigo Thiago
Castanõn, excelente cantor e
violonista, que trabalhava como
professor substituto de teoria literária
na UFRJ.
Levava ainda uma carteira
410
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
CUCs, pois planejavam uma visita à
ia no ano seguinte. Eu preferia
o meu próprio café da manhã,
mas sabia que a oferta do serviço
os ganhos e os planos
do casal. Fizemos então um acordo de
alternar dia sim, dia não. Carmen disse
a mim que, para eles, receber
-me em
ra como receber um pouco do
amavam.
Estava bem preparado para a
viagem, tinha tudo que precisava.
e leves –,
documentos em dia, mil euros, uma
sunga, dois isqueiros,
o computador
de trabalho com carregador e
ara tomadas, um extrato
um livro de suspense
, de Leonardo
Padura, o hidratante para mãos e
unhas de costume, para prevenir a
crônica psoríase nas mãos,
a novela A
, última ficção de
e a coletânea
, do Maiakovski, traduzida e
organizada por Boris Schnaiderman e
os irmãos Augusto e Haroldo de
Campos, presente do amigo Thiago
Castanõn, excelente cantor e
violonista, que trabalhava como
professor substituto de teoria literária
Levava ainda uma carteira
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
de tabaco suave destalado para
enrolar, três rolos de papel higiênico
duas folhas e o inseparável violão seis
cordas.
Seriam
dezenove dias em
Havana, mas não tinha do que
reclamar. Estava cercado de bens
culturais
, numa casa mod
poderia desfrutar do tempo para
produzir.
Ficar bem sozinho
no autocuidado são recursos
necessários para a construção da
autonomia da vida e do pensamento
crítico.
O computador trazia ainda a
possibilidade de
acesso a textos,
músicas e proj
etos em construção que
poderia manejar. Trouxera junto
comigo o violão de trabalho, um
excelente Takamine que me foi
emprestado anos pelo am
Ricardo Bormann quando partira então
para fazer seu doutorado
em Munique,
na Alemanha. “Toma, fica com ele, e
não vou tocar mesmo e é melhor ficar
com alguém que toque”. Creio fazer
mais de sete anos. Um instrumento
bem regulado que se tornou parceiro
nos bailes de forró de serra
trabalhos com música.
havia tempo
em que, por filosofia, deixara de levar
comigo a “águia”
meu velho violão
“de viagem”
um simples Egle, preto.
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
de tabaco suave destalado para
enrolar, três rolos de papel higiênico
duas folhas e o inseparável violão seis
dezenove dias em
Havana, mas não tinha do que
reclamar. Estava cercado de bens
, numa casa mod
a, e
poderia desfrutar do tempo para
Ficar bem sozinho
e investir
no autocuidado são recursos
necessários para a construção da
autonomia da vida e do pensamento
O computador trazia ainda a
acesso a textos,
etos em construção que
poderia manejar. Trouxera junto
comigo o violão de trabalho, um
excelente Takamine que me foi
emprestado anos pelo am
igo
Ricardo Bormann quando partira então
em Munique,
na Alemanha. “Toma, fica com ele, e
u
não vou tocar mesmo e é melhor ficar
com alguém que toque”. Creio fazer
mais de sete anos. Um instrumento
bem regulado que se tornou parceiro
nos bailes de forró de serra
e
havia tempo
em que, por filosofia, deixara de levar
meu velho violão
um simples Egle, preto.
Isso porque não queria perder a forma
e poderia aproveitar o tempo para
compor e estudar também.
sempre ter um bom instrumento à
mão.
Ricardo se mudara de Munique e
agora trab
alhava como professor e
pesquisador em Bremen, uma cidade
universitária, decididamente mais
alegre e acolhedora que Munique.
“Não vim fazer turismo”, pensei,
e
lembrei imediatamente do “turismo
aprendiz”, de Mário de Andrade, ou do
olhar de “turista cubano
Carpentier lançou sobre Havana em
suas Crônicas del
regreso
estadia na França na década de 1930.
Lembrei também
das
Marti sobre cultura e política na
Américas, muitas delas escritas
Nova Iorque;
ou ainda da paixão feb
do jovem Borges pelo arrabalde
e decadente de Buenos Aires, quando
este retornara a sua cidade natal no
começo da década de 1920, após
longa estadia da família na Suíça e
Espanha. Estava então em Havana
para realizar parte da pesquisa de pós
do
utorado financiada pela FAPERJ
que empreendia ju
nto ao PPCULT
(Programa de Pós
Cultura e Territorialidades), do
de Artes e
Comunicação Social da
411
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Isso porque não queria perder a forma
e poderia aproveitar o tempo para
compor e estudar também.
Deve-se
sempre ter um bom instrumento à
Ricardo se mudara de Munique e
alhava como professor e
pesquisador em Bremen, uma cidade
universitária, decididamente mais
alegre e acolhedora que Munique.
“Não vim fazer turismo”, pensei,
lembrei imediatamente do “turismo
aprendiz”, de Mário de Andrade, ou do
olhar de “turista cubano
que
Carpentier lançou sobre Havana em
regreso
, após larga
estadia na França na década de 1930.
das
Cartas de José
Marti sobre cultura e política na
Américas, muitas delas escritas
desde
ou ainda da paixão feb
ril
do jovem Borges pelo arrabalde
criollo
e decadente de Buenos Aires, quando
este retornara a sua cidade natal no
começo da década de 1920, após
longa estadia da família na Suíça e
Espanha. Estava então em Havana
para realizar parte da pesquisa de pós
-
utorado financiada pela FAPERJ
nto ao PPCULT
(Programa de Pós
-Graduação em
Cultura e Territorialidades), do
Instituto
Comunicação Social da
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
Universidade Federal Fluminense
(IACS/UFF). A pesquisa incluía a obra
de Alejo Carpentier
e previa a visitação
das duas
unidades da Fundação que
leva seu nome, além
da Biblioteca
Nacional José Martí.
Não é novidade que a condição
de viajante anima o pensamento crítico
e a imaginação sociológica. Edward
Said fez do exílio
metáfora para a
condição intelectual.
Octávio Paz, da
condição de desterro
, vocábulo latino
americaníssimo. Guimarães Rosa
narrou a travessia pelo
brasileiro em sua dimensão natural,
psicológica e sexual
baldeia a paixão de Riobaldo
margens e chama-
se Urucuia.
consigo deixar de lembrar do clássico
TOKIO-GA
, de Win Wenders, ou
o seu Lisbon History
gosto
de
um banho lusitano no olhar alemão.
Aliás, Guimarães Rosa atuou como
cônsul em Hamburgo, na Alemanha,
entre 1938 e 1942. Viveu os horrores
da guerra e do
irracionalismo
Quando escreveu
Grande
veredas
, não hesitou em
junto ao Fausto
, de Goethe,
com os avatares da crítica romântica
alemã. Como músico,
havia feito par
da companhia de teatro que encenara
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
Universidade Federal Fluminense
(IACS/UFF). A pesquisa incluía a obra
e previa a visitação
unidades da Fundação que
da Biblioteca
Não é novidade que a condição
de viajante anima o pensamento crítico
e a imaginação sociológica. Edward
metáfora para a
Octávio Paz, da
, vocábulo latino
-
americaníssimo. Guimarães Rosa
narrou a travessia pelo
hinterland
brasileiro em sua dimensão natural,
o rio que
baldeia a paixão de Riobaldo
tem três
se Urucuia.
o
consigo deixar de lembrar do clássico
, de Win Wenders, ou
ainda
gosto
da ideia
um banho lusitano no olhar alemão.
Aliás, Guimarães Rosa atuou como
cônsul em Hamburgo, na Alemanha,
entre 1938 e 1942. Viveu os horrores
irracionalismo
político.
Grande
-sertão:
, não hesitou em
posicioná-lo
, de Goethe,
em diálogo
com os avatares da crítica romântica
havia feito par
te
da companhia de teatro que encenara
performances baseadas em trechos do
Grande sertão
no curso da caminhada
cultural e ecológica Caminho do
Sertão
, pelo interior de Minas e Goiás
Atravessei o rio Urucuia
numa pequena balsa,
naq
uele mesmo 2019
a cor dos olhos de Diadorim.
quero ser exaustivo. A operação de
deslocamento
configura
travessia corpórea e subjetiva
psicossomática, por assim dizer. O ser
humano é um mamífero migrante. Este
movimento
crítico me era familiar.
Estranho foi reconhecer
vez
o efeito devastador do capital na
economia de trocas simbólicas que
permeiam a construção de
mercadorias turísticas.
tratar de uma ilha socialista,
bloqueada, isolada.
contrário: o
conceito hegemônico do
turismo é devastador em qualquer
lugar, até numa ilha socialista.
uma relação agressiva e violenta com
o espaço, com a cultura e com as
pessoas. Submete
culturais mais expressivos e originais a
ester
eótipos rasos, sem alma
expressividade
. Lembrei que em
Barcelona o modelo de cidade
mercadoria parecia
412
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
performances baseadas em trechos do
no curso da caminhada
cultural e ecológica Caminho do
, pelo interior de Minas e Goiás
.
Atravessei o rio Urucuia
com a trupe
numa pequena balsa,
meses antes,
uele mesmo 2019
o rio que tinha
a cor dos olhos de Diadorim.
Não
quero ser exaustivo. A operação de
configura
-se como uma
travessia corpórea e subjetiva
psicossomática, por assim dizer. O ser
humano é um mamífero migrante. Este
crítico me era familiar.
Estranho foi reconhecer
– mais uma
o efeito devastador do capital na
economia de trocas simbólicas que
permeiam a construção de
mercadorias turísticas.
o por se
tratar de uma ilha socialista,
Justamente o
conceito hegemônico do
turismo é devastador em qualquer
lugar, até numa ilha socialista.
Cria-se
uma relação agressiva e violenta com
o espaço, com a cultura e com as
pessoas. Submete
-se os bens
culturais mais expressivos e originais a
eótipos rasos, sem alma
e
. Lembrei que em
Barcelona o modelo de cidade
-
ter saturado por
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
completo.
Tourists: go home!
um estêncil das ruas. Em Havana, por
sua vez, vive-
se um abismo entre o
mundo dos gringos e o mun
começar pela moeda
mas também
pelo bloqueio econômico e pelo “muro”
que impede milhares de jovens
cubanos de experimentar a condição
de viajante
em um país estrangeiro.
Certa hostilidade misturada com
idealização e
ressentimento.
Curiosamente,
o verdadeiro “turismo
aprendiz” nessa Havana atual que
ainda se descortinava para mim
pareceu-me em
descobrir como ficar
em casa. Construir uma rotina familiar
como uma pessoa comum. Furar o
modelo e quebrar as expectativas da
encenação programada pela
m
ercadoria turística. Comprar as
coisas nas lojas locais, se virar pra
achar frutas e legumes, frequentar as
praças e as filas, pegar as
comer pizzetas
, conversar com as
pessoas, cozinhar em casa,
com Ignácio e Carmen, ir ao cinema,
fumar os Selectos
, feitos em Holguin, e
se afastar de qualquer coisa que
parecia ter um “abacaxi na cabeça”
tal como fizera a genial portuguesa,
brasileiríssima, Carmen Miranda, há
um século atrás.
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
Tourists: go home!
– dizia
um estêncil das ruas. Em Havana, por
se um abismo entre o
mundo dos gringos e o mun
do local, a
mas também
pelo bloqueio econômico e pelo “muro”
que impede milhares de jovens
cubanos de experimentar a condição
em um país estrangeiro.
Certa hostilidade misturada com
ressentimento.
o verdadeiro “turismo
aprendiz” nessa Havana atual que
ainda se descortinava para mim
descobrir como ficar
em casa. Construir uma rotina familiar
como uma pessoa comum. Furar o
modelo e quebrar as expectativas da
encenação programada pela
ercadoria turística. Comprar as
coisas nas lojas locais, se virar pra
achar frutas e legumes, frequentar as
praças e as filas, pegar as
maquinas,
, conversar com as
pessoas, cozinhar em casa,
prosear
com Ignácio e Carmen, ir ao cinema,
, feitos em Holguin, e
se afastar de qualquer coisa que
parecia ter um “abacaxi na cabeça”
tal como fizera a genial portuguesa,
brasileiríssima, Carmen Miranda, há
Iniciei a leitura de
Leonardo Padura. O detetive
Conde uma aula de método e
investigação na Havana
contemporânea
como sucede, bem
verdade, na melhor tradição da
literatura policial. Carlo Ginzburg
desenvolveu o argumento
aproximação metodológica
narrativa policial e o ofício do
historiador em
Mitos, emblemas e
sinais. Em
O juiz e o historiador
como em
Relações de força
historiador italiano retoma seus
argumentos teórico
enfatizando a importância da prova
para a inte
rpretação histórica e o
enfrentamento do relativismo
neoliberal.
Para Ginzburg, os aportes
epistemológicos da
indiciária o feitos
barro
que resultou no método clínico
da psicanálise.
Embora com diferentes
objetos,
Ginzburg apresen
ramos de uma mesma tradição
afluentes de uma abordagem
epistêmica que contempla a
singularidade e que, a partir da leitura
do contingente, do periférico, do
sintoma ou do deslize,
compreensão
da totalidade de um
fenômeno histórico-
social. Ginzburg
413
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Iniciei a leitura de
Máscaras, do
Leonardo Padura. O detetive
Mario
Conde uma aula de método e
investigação na Havana
como sucede, bem
verdade, na melhor tradição da
literatura policial. Carlo Ginzburg
desenvolveu o argumento
da
aproximação metodológica
entre a
narrativa policial e o ofício do
Mitos, emblemas e
O juiz e o historiador
, assim
Relações de força
, o
historiador italiano retoma seus
argumentos teórico
-metodológicos
enfatizando a importância da prova
rpretação histórica e o
enfrentamento do relativismo
Para Ginzburg, os aportes
epistemológicos da
metodologia
com o mesmo
que resultou no método clínico
Embora com diferentes
Ginzburg apresen
ta-os como
ramos de uma mesma tradição
crítica:
afluentes de uma abordagem
epistêmica que contempla a
singularidade e que, a partir da leitura
do contingente, do periférico, do
sintoma ou do deslize,
ensaia a
da totalidade de um
social. Ginzburg
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
opera o efeito de
deslocamento
estranhamento
na própria construção
metodológica de seus argumentos.
Na coletânea
Um mapa da
ideologia, Slavoj Žiž
ek sustenta em
seu artigo a tese de que “Marx
inventou o sintoma”, como método de
anális
e crítica da ideologia (o fetiche
da mercadoria)
visando a
compreensão crítica
da história em
transformação no processo de
consolidação da dominação burguesa.
O método marxiano visa desarmar os
artifícios ideológicos da economia
política
burguesa (suas cre
dogmas) que sustentam
e naturalizam
a dominação na sociedade moderna,
dita racional e científica. Para tanto,
Marx se apropriou do vocábulo
fetiche, culturalmente
referido ao
processo colonial luso-
brasileiro na
costa ocidental da África,
falar dos ritos religiosos africanos, mas
para falar da superstição
“religiosa”
economia política moderna em sua
unidade mínima: a mercadoria. Isso
em uma época em que
escravizados eram
vendidos e
traficados como... mercadorias.
palavra fetiche
, vinda do português
antigo, de origem latina, foi
cuidadosamente escolhida por Marx
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
deslocamento
e
na própria construção
metodológica de seus argumentos.
Um mapa da
ek sustenta em
seu artigo a tese de que “Marx
inventou o sintoma”, como método de
e crítica da ideologia (o fetiche
visando a
da história em
transformação no processo de
consolidação da dominação burguesa.
O método marxiano visa desarmar os
artifícios ideológicos da economia
burguesa (suas cre
nças e
e naturalizam
a dominação na sociedade moderna,
dita racional e científica. Para tanto,
Marx se apropriou do vocábulo
-chave
referido ao
brasileiro na
costa ocidental da África,
não para
falar dos ritos religiosos africanos, mas
“religiosa”
da
economia política moderna em sua
unidade mínima: a mercadoria. Isso
em uma época em que
africanos
vendidos e
traficados como... mercadorias.
A
, vinda do português
antigo, de origem latina, foi
cuidadosamente escolhida por Marx
para falar dos “elementos mágicos” da
dominação capitalista. Efeito de
deslocamento: como uma palavra
“intrusa”, Marx reverte o
“superstição”,
atribuído na época às
sociedades consideradas “primitivas”,
para falar da violência simbólica
exploração do trabalho no capitalismo
moderno.
Para Žižek,
todavia,
de ideologia não poderia reduzir
apenas a seus efeitos de “inversão”
falseamento
da realidade, como na
fotografia, embora estes efeitos
ilusórios
não estejam de todo ausentes
da ideologia.
Para além de seus
efeitos falseadores, movidos pela
apreensão sempre parcial da
realidade, e para além de certo
elemento mágico
ou “mentiros
incide na dominação
ideologia é estruturante da realidade
da linguagem e d
a organização social
Não acesso à realidade histórica
fora da ideologia. Não “lugar fora”
da disputa político-
ideológica. Daí a
importância do método de an
crítica.
Isso não impede que a
expressão da ideologia assuma
certos casos uma forma negativa
prototípica
digamos,
expressão clichê do efeito de
414
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
para falar dos “elementos mágicos” da
dominação capitalista. Efeito de
deslocamento: como uma palavra
“intrusa”, Marx reverte o
significante da
atribuído na época às
sociedades consideradas “primitivas”,
para falar da violência simbólica
e a
exploração do trabalho no capitalismo
todavia,
o conceito
de ideologia não poderia reduzir
-se
apenas a seus efeitos de “inversão”
ou
da realidade, como na
fotografia, embora estes efeitos
não estejam de todo ausentes
Para além de seus
efeitos falseadores, movidos pela
apreensão sempre parcial da
realidade, e para além de certo
ou “mentiros
o” que
incide na dominação
política, a
ideologia é estruturante da realidade
,
a organização social
.
Não acesso à realidade histórica
fora da ideologia. Não “lugar fora”
ideológica. Daí a
importância do método de an
álise
Isso não impede que a
expressão da ideologia assuma
em
certos casos uma forma negativa
digamos,
como
expressão clichê do efeito de
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
“inversão”. Os Selectos
, de Holguin,
por exemplo, podem ser qualquer
coisa, menos charutos selec
Ao contrário, são os
puros
populares, feitos em massa, e Holguin
nunca teve tradição na produção de
tabaco. Isso nos ensina também, com
ironia, o detetive Mario Conde
também de nobre não tem muita coisa,
fora o ideal vulgar
de honra mas
Trata-
se de um detetive comum,
decadente e machista, no melhor estilo
noir
dos contos policiais de Raymond
Chandler. Não que fosse necessário
viver o personagem Mario Conde, de
Leonardo
Padura, para descobrir que
os Selectos nada tem de selecionado
Compra-se os puros
de Holguin por
um peso de moeda nacional. Um
autêntico Montecristo, número quatro,
por sua vez, compra-
se em
mais de cem vezes o valor de um
Selecto.
Máscaras
apresenta a Havana
do Período Especial como uma
Havana noir. Não
apenas pelo
submundo clandestino que se
descortina, mas pelas máscaras que
caem e
pelo efeito narrativo da
experiência das ruas
a vivência da
cidade (e da história) vista “por baixo”
que tanto fascinou Edward Thompson.
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
, de Holguin,
por exemplo, podem ser qualquer
coisa, menos charutos selec
ionados.
puros
mais
populares, feitos em massa, e Holguin
nunca teve tradição na produção de
tabaco. Isso nos ensina também, com
ironia, o detetive Mario Conde
que
também de nobre não tem muita coisa,
de honra mas
culina.
se de um detetive comum,
decadente e machista, no melhor estilo
dos contos policiais de Raymond
Chandler. Não que fosse necessário
viver o personagem Mario Conde, de
Padura, para descobrir que
os Selectos nada tem de selecionado
s.
de Holguin por
um peso de moeda nacional. Um
autêntico Montecristo, número quatro,
se em
CUCs por
mais de cem vezes o valor de um
apresenta a Havana
do Período Especial como uma
apenas pelo
submundo clandestino que se
descortina, mas pelas máscaras que
pelo efeito narrativo da
a vivência da
cidade (e da história) vista “por baixo”
que tanto fascinou Edward Thompson.
Cidade vista “por baixo”
cidade vista “pela sombra ou “pela
noite”.
Mario Conde sabe que não
como desvendar o caso sem transitar
pelas sombras
da cidade. A metáfora
da luz funciona como crítica
metodológica do próprio conceito de
ideologia. Ele sabe do efeito de
cegueira pro
duzido pelo clarão da
“cidade oficial”.
Chama atenção o
heroico, embora melancólico,
compromisso ético da personagem
Mario Conde com seu ofício, com a
prova, com o desvelar da verdade e
comunicar essa verdade ao poder
mesmo que para isso tenha
pagar um preço.
Ao que parece,
nenhum cubano comum acredita que
os Selectos
, de Holguin, sejam
charutos selecionados. Nesse caso, o
caráter explícito da propaganda
enganosa (a ideologia), configura uma
relação verdadeira com essa mentira.
O mesmo sucede em mui
pequenas experiências cubanas.
sua vez, a sofisticação ideológica da
dominação nas sociedades capitalistas
de hoje está justamente na anulação
de qualquer relação verdadeira que se
estabelece com a mentira em troca de
uma
relação mentirosa c
Todos sabem que são vigiados e
415
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cidade vista “por baixo”
que também é
cidade vista “pela sombra ou “pela
Mario Conde sabe que não
como desvendar o caso sem transitar
da cidade. A metáfora
da luz funciona como crítica
metodológica do próprio conceito de
ideologia. Ele sabe do efeito de
duzido pelo clarão da
Chama atenção o
heroico, embora melancólico,
compromisso ético da personagem
Mario Conde com seu ofício, com a
prova, com o desvelar da verdade e
comunicar essa verdade ao poder
,
mesmo que para isso tenha
-se que
Ao que parece,
nenhum cubano comum acredita que
, de Holguin, sejam
charutos selecionados. Nesse caso, o
caráter explícito da propaganda
enganosa (a ideologia), configura uma
relação verdadeira com essa mentira.
O mesmo sucede em mui
tas outras
pequenas experiências cubanas.
Por
sua vez, a sofisticação ideológica da
dominação nas sociedades capitalistas
de hoje está justamente na anulação
de qualquer relação verdadeira que se
estabelece com a mentira em troca de
relação mentirosa c
om a mentira.
Todos sabem que são vigiados e
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
manipulados pelas redes sociais, por
exemplo, mas fingem que o sabem.
Žižek,
em “Como Marx inventou o
sintoma”
, busca a compreensão dessa
sofisticação da dominação ideológica
no capitalismo pós-
moderno a parti
“razão cínica” de Peter Sloterdijk.
Estava hospedado a meia hora
a de uma das unidades da
Fundación
Alejo Carpentier.
Precisamente a casa onde vivera
escritor com sua esposa
,
funciona a oficina de pesquisa e
guarda-
se a biblioteca pesso
escritor, inclusive com materiais
inéditos. A outra unidade da Fundación
situa-
se em Havana Vieja, em um
quadrilátero turístico, onde realizam
eventos e exposições:
um casarão
colonial destinado a funcionar como
uma unidade promocional e cultural
obra de Carpentier.
Eu havia chegado
por volta das duas da tarde em
Havana Vieja, mas o casarão já estava
fechado. Abriria apenas no dia
seguinte, às oito e meia. Optei por
voltar pra casa caminhando, cortando
a cidade pela avenida Carlos III. Uma
senho
ra caminhada! Na saída do
Barrio Chino divisei o
Gran Templo
Nacional
Masónico de Cuba, um
pouco antes de chegar na Plaza de La
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
manipulados pelas redes sociais, por
exemplo, mas fingem que o sabem.
em “Como Marx inventou o
, busca a compreensão dessa
sofisticação da dominação ideológica
moderno a parti
r da
“razão cínica” de Peter Sloterdijk.
Estava hospedado a meia hora
a de uma das unidades da
Alejo Carpentier.
Precisamente a casa onde vivera
o
,
onde hoje
funciona a oficina de pesquisa e
se a biblioteca pesso
al do
escritor, inclusive com materiais
inéditos. A outra unidade da Fundación
se em Havana Vieja, em um
quadrilátero turístico, onde realizam
-se
um casarão
colonial destinado a funcionar como
uma unidade promocional e cultural
da
Eu havia chegado
por volta das duas da tarde em
Havana Vieja, mas o casarão já estava
fechado. Abriria apenas no dia
seguinte, às oito e meia. Optei por
voltar pra casa caminhando, cortando
a cidade pela avenida Carlos III. Uma
ra caminhada! Na saída do
Gran Templo
Masónico de Cuba, um
pouco antes de chegar na Plaza de La
Revolución.
Tinha ainda algumas
missões a cumprir: trocar dinheiro,
arranjar algumas moedas nacionais,
ver se havia saído a
completa do festival de cine
identificar os comércios
comprar o cartão de internet pré
na lojinha da ETCSA que me daria
acesso ao wi-
fi das praças. Sentia
saudades do Brasil
necessidade
patológica de me
comunicar com pe
ssoas queridas
N
Carmen e Ignácio, em frente ao
portão de sua casa, em Vedado,
onde me hospedei durante a
pesquisa de campo em La
Havana, em dezembro de 2019.
416
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tinha ainda algumas
missões a cumprir: trocar dinheiro,
arranjar algumas moedas nacionais,
ver se havia saído a
programação
completa do festival de cine
ma,
identificar os comércios
de frutas,
comprar o cartão de internet pré
-pago
na lojinha da ETCSA que me daria
fi das praças. Sentia
saudades do Brasil
e uma
patológica de me
ssoas queridas
.
Carmen e Ignácio, em frente ao
portão de sua casa, em Vedado,
onde me hospedei durante a
pesquisa de campo em La
Havana, em dezembro de 2019.
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
o dia seguinte, fui à outra
Fundación
Alejo Carpentier,
Vedado.
Tinha o
previamente impresso nas mãos. Calle
E, entre 11 y 13. Pelo caminho,
suntuosas embaixadas de diferentes
países. Mansões antigas reformadas
com jardins cuidados,
quando se podia
vê-
los através das grades e muros.
Mesmo num bairro elegante, era
prec
iso certo cuidado, olhando onde
pisava pelas calçadas quebradas para
não tropeçar, fugindo de uma eventual
língua de esgoto a correr pelo canto
das ruas. Não tinha medo, nem juízo
de valor contra esgotos
quebradas. Isso também é Brasil ou
qualqu
er “quebrada em um lugar
qualquer.
Claro que ninguém gosta de
esgoto e calçadas difíceis, menos
ainda os idosos, embora seja bela e
encantadora a estética do concreto
rompido pela natureza implacável das
raízes de árvores, ou o barro vermelho
que rompe e sangra
entre o concreto
de Brasília. beleza até nos
pequenos tomates que brotam perto
de um cano ou língua da esquina.
Aquela arquitetura da destruição e
recauchutagem fazia parte da
normalidade cubana, mas de fato
lembrava um sutil estado de guerra. O
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
unidade da
Alejo Carpentier,
em
Tinha o
endereço
previamente impresso nas mãos. Calle
E, entre 11 y 13. Pelo caminho,
suntuosas embaixadas de diferentes
países. Mansões antigas reformadas
quando se podia
los através das grades e muros.
Mesmo num bairro elegante, era
iso certo cuidado, olhando onde
pisava pelas calçadas quebradas para
não tropeçar, fugindo de uma eventual
língua de esgoto a correr pelo canto
das ruas. Não tinha medo, nem juízo
e calçadas
quebradas. Isso também é Brasil ou
er “quebrada em um lugar
Claro que ninguém gosta de
esgoto e calçadas difíceis, menos
ainda os idosos, embora seja bela e
encantadora a estética do concreto
rompido pela natureza implacável das
raízes de árvores, ou o barro vermelho
entre o concreto
de Brasília. beleza até nos
pequenos tomates que brotam perto
de um cano ou língua da esquina.
Aquela arquitetura da destruição e
recauchutagem fazia parte da
normalidade cubana, mas de fato
lembrava um sutil estado de guerra. O
inte
ressante é que estava em um
bairro elegante
de
comparando,
como Higienópolis, em
São Paulo, ou Recoleta, em Buenos
Aires. Em Higienópolis não se
esgotos e calçadas quebradas, mas
deve-
se estar atento ao chão,
driblando o campo minado de cocô
das dondocas. A embaixada chinesa
parecia um palácio. A da Inglaterra era
mássencilla.
Numa daquelas mansões
poderia estar a rica família de Alexis
Arayán, que fora encontrado no
Bosque de Havana, enforcado,
travestido de
Electra
de seda v
ermelha no pescoço e duas
moedas no ânus... e no dia da
Transfiguração de Cristo! Mario Conde
era um policial
com vocação frustrada
de escritor, afeito ao rum, ao tabaco e
certa nostalgia
romântica”
que uns classificariam
como tipicamente cr
iolla
Estranhamente percebi que eu
também tinha meu caso para resolver
por aquelas ruas, enquanto meu
pensamento vagava, como gatos que
pulam das
caçambas de lixo
tantos gatos em Vedado quanto em
Ponta Negra, em Natal, onde o vento
faz
a curva ao nordeste da América do
Sul.
417
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ressante é que estava em um
de
Havana, mal
como Higienópolis, em
São Paulo, ou Recoleta, em Buenos
Aires. Em Higienópolis não se
esgotos e calçadas quebradas, mas
se estar atento ao chão,
driblando o campo minado de cocô
s
das dondocas. A embaixada chinesa
parecia um palácio. A da Inglaterra era
Numa daquelas mansões
poderia estar a rica família de Alexis
Arayán, que fora encontrado no
Bosque de Havana, enforcado,
Electra
, com uma faixa
ermelha no pescoço e duas
moedas no ânus... e no dia da
Transfiguração de Cristo! Mario Conde
com vocação frustrada
de escritor, afeito ao rum, ao tabaco e
romântica s-
que uns classificariam
iolla
e masculina.
Estranhamente percebi que eu
também tinha meu caso para resolver
por aquelas ruas, enquanto meu
pensamento vagava, como gatos que
caçambas de lixo
. Haviam
tantos gatos em Vedado quanto em
Ponta Negra, em Natal, onde o vento
a curva ao nordeste da América do
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
Uma casa grande, antiga, com
as paredes descascadas
e escombros
nas calçadas
. Tinha um guarda
sentado na frente da casa, atrás de
uma mesa, era um senhor. “Hola,
buenas tardes, aqui es la
Alejo Carpentier?”
Ele parecia não
entender o que eu disse. Meu
portunhol estava enferrujado, mas nem
tanto. O senhor parecia não ouvir
muito bem. Tentei explicar que era do
Brasil, pesquisador da universidade
pública,
que estava estudando a obra
de Carpentier, e como ele p
continuar entendendo bem pouco do
que dizia resolveu chamar
atendido pelo simpático Rafael, vice
presidente da Fundación. Muito
solícito, ele conhecia a Universidade
Federal Fluminense. Disse que me
poria em contato com a bibliotecária.
Infelizmente, ela não estava no dia.
Segui seus passos pelo corredor.
Pelos quartos: mesas com pilhas de
livros, leituras em voz alta, papéis,
funcionários para e para cá. Tinha
se a impressão que os trabalhos de
pesquisa e organização funcionavam a
tod
o vapor. Fomos até sua sala, um
dos quartos da
antiga casa de Alejo
Carpentier. Pelo corredor notei de
relance o crucifixo de madeira com um
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
Uma casa grande, antiga, com
e escombros
. Tinha um guarda
sentado na frente da casa, atrás de
uma mesa, era um senhor. “Hola,
buenas tardes, aqui es la
Fundación
Ele parecia não
entender o que eu disse. Meu
portunhol estava enferrujado, mas nem
tanto. O senhor parecia não ouvir
muito bem. Tentei explicar que era do
Brasil, pesquisador da universidade
que estava estudando a obra
de Carpentier, e como ele p
arecia
continuar entendendo bem pouco do
alguém. Fui
atendido pelo simpático Rafael, vice
-
presidente da Fundación. Muito
solícito, ele conhecia a Universidade
Federal Fluminense. Disse que me
poria em contato com a bibliotecária.
Infelizmente, ela não estava no dia.
Segui seus passos pelo corredor.
Pelos quartos: mesas com pilhas de
livros, leituras em voz alta, papéis,
funcionários para e para cá. Tinha
-
se a impressão que os trabalhos de
pesquisa e organização funcionavam a
o vapor. Fomos até sua sala, um
antiga casa de Alejo
Carpentier. Pelo corredor notei de
relance o crucifixo de madeira com um
sino colonial na parede. Rafael anotou
um telefone sobre um papel rascunho
em sua mesa e disse que telefonasse
até
às 10h da manhã no dia seguinte
para falar com a bibliotecária
Margarita, solicitando então as
direções e temas de interesse da
pesquisa para que ela preparasse
algum material de consulta. Não
hesitou em perguntar
roupa qual era o enfoque da pe
“Soy historiador e sociólogo estudioso
da literatura latino-
americana, con foco
en los
ensayos e ficcion
vanguardias modernistas de los
20 y 30 y adelante. Estoy
con diferentes autores. En mi tesis de
doctorado, he
Carpentier, Borges e Sérgio Buarque
de Holanda”. “Y Amado, no?” Referia
se a Jorge Amado. “No...
“Bién...” Respondeu dando a entender
que tal relação seria imprescindível.
“Pero, ahora, estoy
trabajando
com el boliviano Néstor Ta
Terán”, completei.
Ali mesmo em sua
sala estava toda a biblioteca pessoal
de Carpentier. Sobre sua mesa um
laptop
cacareco. Não seria possível
ainda visitar a Fundación. Teria que
ligar no dia seguinte. Na volta pra casa
passei na ETCSA para comprar o
418
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
sino colonial na parede. Rafael anotou
um telefone sobre um papel rascunho
em sua mesa e disse que telefonasse
às 10h da manhã no dia seguinte
para falar com a bibliotecária
Margarita, solicitando então as
direções e temas de interesse da
pesquisa para que ela preparasse
algum material de consulta. Não
hesitou em perguntar
-me à queima
roupa qual era o enfoque da pe
squisa.
“Soy historiador e sociólogo estudioso
americana, con foco
ensayos e ficcion
es de las
vanguardias modernistas de los
años
20 y 30 y adelante. Estoy
trabajando
con diferentes autores. En mi tesis de
trabajado con
Carpentier, Borges e Sérgio Buarque
de Holanda”. “Y Amado, no?” Referia
-
se a Jorge Amado. “No...
todavia no”.
“Bién...” Respondeu dando a entender
que tal relação seria imprescindível.
trabajando
también
com el boliviano Néstor Ta
boada
Ali mesmo em sua
sala estava toda a biblioteca pessoal
de Carpentier. Sobre sua mesa um
cacareco. Não seria possível
ainda visitar a Fundación. Teria que
ligar no dia seguinte. Na volta pra casa
passei na ETCSA para comprar o
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
cartão pré-pago
de internet
uma fila enorme e desisti. Fui ao
Banco Metropolitano
, mas
acabado de fe
char a última pessoa da
fila
que dobrava a esquina
Charles Chaplin, na Avenida 23,
consegui a programação dos filmes do
Festival de Cinema. Não havia,
entretanto, os horários dos filmes
ainda,
apenas as sinopses em letras
miúdas. Os horários e sal
passariam os filmes seriam divulgados
apenas no dia-a-
dia das exibições, em
folhas de jornal coladas na parede dos
cinemas.
La muerte de um burocrata
do Titón, estava com uma cópia
restaurada na sessão de clássicos. Eu
conseguia sentir glamour e b
Selectos
, de Holguin, ou no tomate
que brota em uma língua
mas jamais na burocracia.
O festival de cinema celebrava
o centenário de Santiago Alvarez,
importante figura do cine cubano,
inovador da linguagem documental,
que dirigiu o ICAIC
2
por muitos anos.
Procurei pelos filmes brasileiros.
havia assistido o incrível
Bacurau
Kléber Mendonça.
Divisei que
passariam o Mariguella
, do Wagner
2
Nota do editor. ICAIC, Instituto Cubano del
Arte e
Industria Cinematográficos.
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
de internet
, mas tinha
uma fila enorme e desisti. Fui ao
, mas
tinha
char a última pessoa da
que dobrava a esquina
. No Cine
Charles Chaplin, na Avenida 23,
consegui a programação dos filmes do
Festival de Cinema. Não havia,
entretanto, os horários dos filmes
apenas as sinopses em letras
miúdas. Os horários e sal
as onde
passariam os filmes seriam divulgados
dia das exibições, em
folhas de jornal coladas na parede dos
La muerte de um burocrata
,
do Titón, estava com uma cópia
restaurada na sessão de clássicos. Eu
conseguia sentir glamour e b
eleza nos
, de Holguin, ou no tomate
da esquina,
O festival de cinema celebrava
o centenário de Santiago Alvarez,
importante figura do cine cubano,
inovador da linguagem documental,
por muitos anos.
Procurei pelos filmes brasileiros.
Bacurau
, de
Divisei que
, do Wagner
Nota do editor. ICAIC, Instituto Cubano del
Industria Cinematográficos.
Moura, e o
Três verões
ainda estavam entrando no circuito
comercial no Brasil.
Tinha também
dois papas
, de Meirelles, e o
Democracia em Vertigem
Costa,
sobre o golpe jurídico
parlamentar contra Dilma Rousseff,
que eu havia me recusado a ver, por
imaginar demasiado triste.
de fotografia era assinada
Atala, colega
de longa data de Júlio
Costantini. Recordei brevemente os
momentos que estivemos nós três
juntos no laboratório de fotografia que
sobrevivia no subsolo da UFRJ, no
Instituto de Filosofia e Ciências
Sociais, no centro do Rio.
época, q
uinze anos atrás, o
laboratório abandonado era
pelos próprios alunos.
dois colegas veteranos como usar as
químicas e manipular o
ampliador. Entrava na pequena sala
de luz vermelha
, matava umas três ou
quatro baratas cascudas, varri
chão, ligava a rádio MEC e passava
horas a fio
no laboratório fazendo
experiências com ampliadores e
químicas.
Pouco tempo depois, o
laboratório foi recuperado e o acesso
restrito.
Cacei com os olhos o nome de
Silvio Tendler pel
a folha
419
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Três verões
, da Kogut, que
ainda estavam entrando no circuito
Tinha também
Os
, de Meirelles, e o
Democracia em Vertigem
, de Pietra
sobre o golpe jurídico
-
parlamentar contra Dilma Rousseff,
que eu havia me recusado a ver, por
imaginar demasiado triste.
A direção
de fotografia era assinada
por João
de longa data de Júlio
Costantini. Recordei brevemente os
momentos que estivemos nós três
juntos no laboratório de fotografia que
sobrevivia no subsolo da UFRJ, no
Instituto de Filosofia e Ciências
Sociais, no centro do Rio.
Naquela
uinze anos atrás, o
laboratório abandonado era
tocado
pelos próprios alunos.
Aprendi com
dois colegas veteranos como usar as
químicas e manipular o
velho
ampliador. Entrava na pequena sala
, matava umas três ou
quatro baratas cascudas, varri
a o
chão, ligava a rádio MEC e passava
no laboratório fazendo
experiências com ampliadores e
Pouco tempo depois, o
laboratório foi recuperado e o acesso
Cacei com os olhos o nome de
a folha
do jornal da
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
programação. Estava lá!
Santiago de
las Américas
, 2019. Com uma película
justamente sobre Santiago Alvarez.
“Tenho que assistir”, pensei, embora
ainda não soubesse quando a fita
como dizem os antigos
seria exibida.
A casa de Carmen
e Ignácio
per
to da Cinemateca de Cuba e do
majestoso Cine Charles Chaplin. Teria
então que perseguir no mural diário
colado na parede qual seria o dia da
exibição do documentário.
Lembro
da primeira vez que
assisti Jango
. Foi uma espécie de
sessão especial da aula de g
no auditório do quarto andar da escola.
Foi a primeira vez que vi as imagens
do histórico comício da Central do
Brasil, proferido pelo Jango pouco
antes do Golpe de 64.
desenvolve em seus documentários
uma linguagem de comunicação
dinâmic
a e bem organizada, muito
adequada para uso histórico
de formação política. Pouco tempo
depois, recordo que assistira no
cinema
do Museu da República, no
Palácio do Catete, toda a sequência
histórica de curtas
sobre presidentes
da república do B
rasil. Estava então
prestando vestibular, não gostava do
estudo formal, no “claustro”, e não
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
Santiago de
, 2019. Com uma película
justamente sobre Santiago Alvarez.
“Tenho que assistir”, pensei, embora
ainda não soubesse quando a fita
seria exibida.
e Ignácio
ficava
to da Cinemateca de Cuba e do
majestoso Cine Charles Chaplin. Teria
então que perseguir no mural diário
colado na parede qual seria o dia da
da primeira vez que
. Foi uma espécie de
sessão especial da aula de g
eografia,
no auditório do quarto andar da escola.
Foi a primeira vez que vi as imagens
do histórico comício da Central do
Brasil, proferido pelo Jango pouco
antes do Golpe de 64.
Tendler
desenvolve em seus documentários
uma linguagem de comunicação
a e bem organizada, muito
adequada para uso histórico
-didático e
de formação política. Pouco tempo
depois, recordo que assistira no
do Museu da República, no
Palácio do Catete, toda a sequência
sobre presidentes
rasil. Estava então
prestando vestibular, não gostava do
estudo formal, no “claustro”, e não
cogitava nem sombra da ideia de fazer
curso preparatório. Preferia ir ao
cinema, tocar violão, fazer música,
jogar bola, sair com os amigos
amigas
pra beber, me
perder
na cidade e ler literatura no
transporte público. Os documentários
do Silvio Tendler
eram verdadeiras
aulas de história do Brasil.
Tinha visto ainda no cinema o
seu documentário sobre Glauber
Rocha. Silvio filmara o enterro do
Glauber,
inclusive o corpo morto.
Lembro, como fosse ontem, do
discurso emocionante do Darcy
Ribeiro, à beira do sepulcro, em
como eram revoltas e bárbaras as
sobrancelhas de Darcy Ribeiro!
Ingressava então no bacharelado em
Ciências Sociais na antiga Naci
Filosofia, hoje Federal do Rio de
Janeiro, no Largo do São Francisco,
na Uruguaiana. Estava no térreo,
conversando com uns colegas, em
frente à antiga escadaria de madeira.
Havia adquirido meu primeiro telefone
celular, no final de 2003, com algum
tempo de defasagem em relação a
outros colegas. Ma
aparelho um N
okia tijolinho
Júlio me telefonou.
havia acabado de morrer em
420
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
cogitava nem sombra da ideia de fazer
curso preparatório. Preferia ir ao
cinema, tocar violão, fazer música,
jogar bola, sair com os amigos
e
pra beber, me
apaixonar, me
na cidade e ler literatura no
transporte público. Os documentários
eram verdadeiras
aulas de história do Brasil.
Tinha visto ainda no cinema o
seu documentário sobre Glauber
Rocha. Silvio filmara o enterro do
inclusive o corpo morto.
Lembro, como fosse ontem, do
discurso emocionante do Darcy
Ribeiro, à beira do sepulcro, em
close
como eram revoltas e bárbaras as
sobrancelhas de Darcy Ribeiro!
Ingressava então no bacharelado em
Ciências Sociais na antiga Naci
onal de
Filosofia, hoje Federal do Rio de
Janeiro, no Largo do São Francisco,
na Uruguaiana. Estava no térreo,
conversando com uns colegas, em
frente à antiga escadaria de madeira.
Havia adquirido meu primeiro telefone
celular, no final de 2003, com algum
tempo de defasagem em relação a
usava ainda o
okia tijolinho
cinza.
Júlio me telefonou.
Leonel Brizola
havia acabado de morrer em
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
Copacabana. O corpo seria velado no
Palácio da Guanabara. Júlio estava
então com uma câmera
emprestada em casa
e com umas
fitinhas de vídeo pequenas que
duravam algumas horas
. A paixão de
Júlio pelo cinema e pela fotografia
vinha desde a infância, superada em
tempo somente por semelhante paixão
por aviões e aeroportos. Muito antes
que qua
lquer outro colega da minha
geração, Júlio
lia e estudava sobre
câmera, fotografia, cinema (e aviões) e
produzia curtas de forma
independente
com poucos colegas
“Vamos agora pra filmar. Tem que
ser agora!”
Júlio estava então de muletas
por conta
de uma placa de aço que
tivera que colocar no tornozelo de uma
das pernas e não podia se deslocar.
Eu nunca tinha operado uma câmera.
Naquele mesmo ano
tinha assistido
uma exibição do filme proibido do
Glauber Rocha sobre Di Cavalcanti.
Glauber filmara o c
aixão e o corpo do
Di. Por conta do constrangimento com
a família do pintor o filme foi
embargado na justiça. Foi uma sessão
inesquecível do Cine Odeon, na
Cinelândia, em uma das madrugadas
incríveis do Cachaça Cinema Clube,
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
Copacabana. O corpo seria velado no
Palácio da Guanabara. Júlio estava
então com uma câmera
digital
e com umas
fitinhas de vídeo pequenas que
. A paixão de
Júlio pelo cinema e pela fotografia
vinha desde a infância, superada em
tempo somente por semelhante paixão
por aviões e aeroportos. Muito antes
lquer outro colega da minha
lia e estudava sobre
câmera, fotografia, cinema (e aviões) e
produzia curtas de forma
com poucos colegas
.
“Vamos agora pra filmar. Tem que
Júlio estava então de muletas
de uma placa de aço que
tivera que colocar no tornozelo de uma
das pernas e não podia se deslocar.
Eu nunca tinha operado uma câmera.
tinha assistido
uma exibição do filme proibido do
Glauber Rocha sobre Di Cavalcanti.
aixão e o corpo do
Di. Por conta do constrangimento com
a família do pintor o filme foi
embargado na justiça. Foi uma sessão
inesquecível do Cine Odeon, na
Cinelândia, em uma das madrugadas
incríveis do Cachaça Cinema Clube,
frequentada em peso pelos estud
do IFCS
3
. Não sei como conseguiram
passar aquela fita.
Peguei um ônibus
na Avenida Passos e fui voando para
Laranjeiras.
Tínhamos então a pueril
ambição de filmar o velório do Brizola,
em ousada analogia ao que fizera
Glauber com Di e Silvio com
Não sabia operar uma câmera, não
tínhamos equipamento de som e não
sabíamos o que filmar. Apenas uma
vaga ideia na cabeça
difusa
. Entramos na fila de populares
que se formava. Fazíamos parte da
primeira geração posterior à Ditadura
Militar.
O conhecimento do significado
histórico da liderança política de
Brizola nos era interditado pela mídia
burguesa neoliberal que apoiara
francamente a Ditadura
manipulava a opinião pública com o
terror midiático dos noticiários de
violência
urbana. Tínhamos,
entretanto, algo em comum: a
convicção política debatida no seio
familiar, a
qual discerníamos
sem tanta clareza, pois tal convicção
vai decantando com o tempo e não
3
Nota do editor. IFCS é o Instituto de Filosofia
e Ciências Sociais da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, UFRJ.
Aproveitamos para registrar que as imagens
sem fonte identificada são todas fotografias do
autor do ensaio.
421
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
frequentada em peso pelos estud
antes
. Não sei como conseguiram
Peguei um ônibus
na Avenida Passos e fui voando para
Tínhamos então a pueril
ambição de filmar o velório do Brizola,
em ousada analogia ao que fizera
Glauber com Di e Silvio com
Glauber.
Não sabia operar uma câmera, não
tínhamos equipamento de som e não
sabíamos o que filmar. Apenas uma
vaga ideia na cabeça
e uma emoção
. Entramos na fila de populares
que se formava. Fazíamos parte da
primeira geração posterior à Ditadura
O conhecimento do significado
histórico da liderança política de
Brizola nos era interditado pela mídia
burguesa neoliberal que apoiara
francamente a Ditadura
Militar e
manipulava a opinião pública com o
terror midiático dos noticiários de
urbana. Tínhamos,
entretanto, algo em comum: a
convicção política debatida no seio
qual discerníamos
ainda
sem tanta clareza, pois tal convicção
vai decantando com o tempo e não
Nota do editor. IFCS é o Instituto de Filosofia
e Ciências Sociais da Universidade Federal do
Aproveitamos para registrar que as imagens
sem fonte identificada são todas fotografias do
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
aparece de forma exatamente
transparente aos jovens. Estávamos
em
franca construção de nossa
consciência política. Foi um dia crucial
e inesquecível onde consolidamos
nossa amizade e paixão pelo cinema.
Filmamos horas do velório,
inclusive o corpo morto. Eu estava
com medo, mas joguei a câmera sobre
o caixão buscando a
através do vidro emoldurado, entre os
guardas palacianos
com penachos.
Não havia muito tempo. Filmamos de
todo, personalidades políticas,
familiares.
Passaram as horas e fomo
enfim compreendendo quem era
verdadeiro sujeito daquela história.
Uma fila imensa dobrava o quarteirão.
Leva-
se quase três horas na fila
entrar no Palácio da Guanabara e ficar
alguns poucos segundos diante do
corpo do velho. Essas pessoas eram
os verdadeiros personagens.
Começamos então a filmar a enorme
fila, de c
abo a rabo. Ainda não estava
popularizado
o uso de celulares, nem
difundida a naturalidade
no lidar com
câmeras, fotos ou selfies
. Não era fácil
sustentar uma mera próxima das
pessoas, muitos se sentiam inibidos,
mas com o tempo foi-
se construindo
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
aparece de forma exatamente
transparente aos jovens. Estávamos
franca construção de nossa
consciência política. Foi um dia crucial
e inesquecível onde consolidamos
nossa amizade e paixão pelo cinema.
Filmamos horas do velório,
inclusive o corpo morto. Eu estava
com medo, mas joguei a câmera sobre
o caixão buscando a
face difícil
através do vidro emoldurado, entre os
com penachos.
Não havia muito tempo. Filmamos de
todo, personalidades políticas,
Passaram as horas e fomo
s
enfim compreendendo quem era
o
verdadeiro sujeito daquela história.
Uma fila imensa dobrava o quarteirão.
se quase três horas na fila
para
entrar no Palácio da Guanabara e ficar
alguns poucos segundos diante do
corpo do velho. Essas pessoas eram
os verdadeiros personagens.
Começamos então a filmar a enorme
abo a rabo. Ainda não estava
o uso de celulares, nem
no lidar com
. Não era fácil
sustentar uma mera próxima das
pessoas, muitos se sentiam inibidos,
se construindo
uma cu
mplicidade, como
soubessem
o que estávamos fazendo.
Decidimos editar o material
logo, sem esperar o tempo transformar
o valor
daquelas imagens. Excluímos
todas as imagens de personalidades
políticas ou familiares e investimos em
um conceito de edição e
que se concentrasse apenas na nossa
experiência de descoberta dos
verdadeiros sujeitos daquela história.
Fizemos então o curta
independente
Ou ficar a pátria livre
(2005), com um emocionante plano
sequência de quase quinze minutos da
fila
. Colocamos algumas músicas que
faziam sentido pra nós em cima das
imagens. O filme ficou, digamos, ruim.
Óbvio. Eram imagens de quem não
sabia segurar uma câmera. Imagens
de quem estava em pleno processo de
descoberta. O fato de ser um filme
ruim e amador
nunca tirou nossa
convicção de que estávamos certos
em fazer
logo e fizemos,
recurso ou apoio
. Durante os créditos,
colocamos a voz da Beth Carvalho
cantando à capela o Hino da
Independência que havíamos captado
na Candelária, na missa de sét
Dedicamos o documentário aos
nossos pais. Júlio assinou como “Júlio
422
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
mplicidade, como
se
o que estávamos fazendo.
Decidimos editar o material
logo, sem esperar o tempo transformar
daquelas imagens. Excluímos
todas as imagens de personalidades
políticas ou familiares e investimos em
um conceito de edição e
montagem
que se concentrasse apenas na nossa
experiência de descoberta dos
verdadeiros sujeitos daquela história.
Fizemos então o curta
-metragem
Ou ficar a pátria livre
(2005), com um emocionante plano
sequência de quase quinze minutos da
. Colocamos algumas músicas que
faziam sentido pra nós em cima das
imagens. O filme ficou, digamos, ruim.
Óbvio. Eram imagens de quem não
sabia segurar uma câmera. Imagens
de quem estava em pleno processo de
descoberta. O fato de ser um filme
nunca tirou nossa
convicção de que estávamos certos
logo e fizemos,
sem qualquer
. Durante os créditos,
colocamos a voz da Beth Carvalho
cantando à capela o Hino da
Independência que havíamos captado
na Candelária, na missa de sét
imo dia.
Dedicamos o documentário aos
nossos pais. Júlio assinou como “Júlio
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
Costantini Jr.”
continuou omitindo o
segundo nome, “César”, mas resolveu
deixar o “Júnior”, com razão.
anos depois ele se mudaria para San
Antonio de los
Baños para cursa
EICTV e eu iria fazer minha primeira
viagem a Cuba com a intenção de
visitá-lo e conhecer a ilha
. Foi quando
participei pela primeira vez do Festival
Internacional de Nuevo Cine
Latinoamericano, em dezembro de
2008.
“Hola, es de la
Fundación
Carpentier? Buenos dias, aqui es
Marcelo. Si, si, el
brasileño
Rafael, como estás?” Fui encaminhado
por telefone à bibliotecária Margarita.
Deveri
a sugerir então as entradas de
pesquisa que ela prepararia para
minha consulta. A Fundación
Carpentier é uma ONG sem fins
Cine Charles Chaplin, na Av.
durante o 41 Festival Internacional
de Nuevo Cine Latinoamericano.
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
continuou omitindo o
segundo nome, “César”, mas resolveu
deixar o “Júnior”, com razão.
Poucos
anos depois ele se mudaria para San
Baños para cursa
r a
EICTV e eu iria fazer minha primeira
viagem a Cuba com a intenção de
. Foi quando
participei pela primeira vez do Festival
Internacional de Nuevo Cine
Latinoamericano, em dezembro de
Fundación
Alejo
Carpentier? Buenos dias, aqui es
brasileño
. Hola,
Rafael, como estás?” Fui encaminhado
por telefone à bibliotecária Margarita.
a sugerir então as entradas de
pesquisa que ela prepararia para
minha consulta. A Fundación
Alejo
Carpentier é uma ONG sem fins
lucrativos. Uma instituição privada que
preserva a memória deste que talvez
seja o mais importante escritor cubano
do século XX.
“Si, vamos: primero, me
gustaria saber se yo poderia consultar
alguna espécie de catálogo de la
biblioteca personal de Carpentier”. O
portunhol saía com algum esforço.“Me
interessaria también
materiales acerca la
con el antropólo
go cubano Fernando
Ortiz. Si, si, algunos
trabajos acerca de
esta relación, se hay
su biblioteca
personal”. A bibliotecária
parecia estar anotando as entradas
que sugeria. “Me gustaria
saber se poderia acessar las
publicaciones
recientes de la
Fundación. Yo que ustedes
publicaran
muchas cosas en
últimos diez
años...”.
saber como eu poderia adquirir essas
publicações. A bibliotecária me
explicou que estavam todas esgotadas
e que eles, por serem uma instituiçã
sem fins lucrativos, não
comercializavam as edições. Margarita
parecia conduzir a conversa para o
fim, ao que a interrompi, solicitando
mais uma última entrada. “Me gostaria
saber se ustedes
material bibliográfico acerca de la
Cine Charles Chaplin, na Av.
23,
durante o 41 Festival Internacional
de Nuevo Cine Latinoamericano.
423
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
lucrativos. Uma instituição privada que
preserva a memória deste que talvez
seja o mais importante escritor cubano
“Si, vamos: primero, me
gustaria saber se yo poderia consultar
alguna espécie de catálogo de la
biblioteca personal de Carpentier”. O
portunhol saía com algum esforço.“Me
interessaria también
algunos
relación de Alejo
go cubano Fernando
trabajos acerca de
esta relación, se hay
alguna cosa en
personal”. A bibliotecária
parecia estar anotando as entradas
que sugeria. “Me gustaria
también
saber se poderia acessar las
recientes de la
Fundación. Yo que ustedes
muchas cosas en
los
años...”.
Queria de fato
saber como eu poderia adquirir essas
publicações. A bibliotecária me
explicou que estavam todas esgotadas
e que eles, por serem uma instituiçã
o
sem fins lucrativos, não
comercializavam as edições. Margarita
parecia conduzir a conversa para o
fim, ao que a interrompi, solicitando
mais uma última entrada. “Me gostaria
tienem algun
material bibliográfico acerca de la
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
relación de Ca
rpentier con
pensamiento católico, especialmente
con el
pensamiento católico francês;
alguna cosa acerca de la
Carpentier con la Action
Française, o
con Jacques Maritain, por exemplo,
su estadia en Francia”. Diante do
relativo espanto e h
esitação eu resolvi
justificar que tal relação, embora
muitas vezes desconfortável para
alguns autores, estava aparecendo na
obra de outros intelectuais latino
americanos que iniciaram sua
produção nos anos 1920 e 1930. Muy
bién”. Muito simpática, a bibli
se despediu então explicando que eu
poderia consultar os materiais
possíveis logo
na semana seguinte,
“jueves”. Era quinta-
feira, então
levaria ainda...
lunes, martes,
miercoles, jueves...
exatamente uma
semana para
conseguir acessar os
materiais separados pela
Fundación.
Voltei pra casa pensando que
fizera bem em planejar quase vinte
dias em Havana para fazer a pesquisa.
O tempo é outro em Cuba. havia
concluído em três dias a novela do
Padura, mesmo enrolando pra durar
mais, e lembrei que tinha ainda comigo
os Poemas
, do Maiakovski, e a
e a sombra, de Alejo
Carpentier. O
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
rpentier con
el
pensamiento católico, especialmente
pensamiento católico francês;
relación de
Française, o
con Jacques Maritain, por exemplo,
en
su estadia en Francia”. Diante do
esitação eu resolvi
justificar que tal relação, embora
muitas vezes desconfortável para
alguns autores, estava aparecendo na
obra de outros intelectuais latino
-
americanos que iniciaram sua
produção nos anos 1920 e 1930. Muy
bién”. Muito simpática, a bibli
otecária
se despediu então explicando que eu
poderia consultar os materiais
na semana seguinte,
feira, então
,
lunes, martes,
exatamente uma
conseguir acessar os
Fundación.
Voltei pra casa pensando que
fizera bem em planejar quase vinte
dias em Havana para fazer a pesquisa.
O tempo é outro em Cuba. havia
concluído em três dias a novela do
Padura, mesmo enrolando pra durar
mais, e lembrei que tinha ainda comigo
, do Maiakovski, e a
Harpa
Carpentier. O
interessante da construção da
personagem Mario Conde, de
é que ele se envolve demais no caso.
Manolo, seu parceiro, chega a criticá
lo por isso. A dinâmica investigativa
evolui no plano exterior e interior da
personagem. As descobertas
mobilizadas pelo “método Mario
Conde” articulam as provas colhidas
em
diferentes situações com
intersubjetivos colhidos na experiência,
na memória e no ressentimento da
própria personagem. A solução do
“caso exterior”
implica uma solução do
seu “caso interior”
. O perigo de se
“envolver demais” no caso,
paradoxalmen
te, é o que leva o
detetive de Padura
ao êxito, tal qual o
veneno leva ao remédio. Em
Máscaras
, o incrível do caso
assassinato com motivação
homofóbica
é que essa personagem
criolla, machista e
meio
impelida a
questionar seus próprio
preconceitos e, em alguma medida,
seu própri
o ideal de honra
para chegar ao autor do crime. Claro,
hasta cierto punto
, como diria Titón.
Mário não sairia do armário, pelo
menos ainda, mas a lógica
investigativa
proposta por Padura
compreende o
afeto como método
424
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
interessante da construção da
personagem Mario Conde, de
Padura,
é que ele se envolve demais no caso.
Manolo, seu parceiro, chega a criticá
-
lo por isso. A dinâmica investigativa
evolui no plano exterior e interior da
personagem. As descobertas
mobilizadas pelo “método Mario
Conde” articulam as provas colhidas
diferentes situações com
insights
intersubjetivos colhidos na experiência,
na memória e no ressentimento da
própria personagem. A solução do
implica uma solução do
. O perigo de se
“envolver demais” no caso,
te, é o que leva o
ao êxito, tal qual o
veneno leva ao remédio. Em
, o incrível do caso
um
assassinato com motivação
é que essa personagem
meio
decadente se
questionar seus próprio
s
preconceitos e, em alguma medida,
o ideal de honra
masculina,
para chegar ao autor do crime. Claro,
, como diria Titón.
Mário não sairia do armário, pelo
menos ainda, mas a lógica
proposta por Padura
afeto como método
.
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
Para tanto, seria necessário ao
investigador desenvolver certa cnica
subjetiva uma clínica
relacionar diferentes experiências e
provas colhidas no
plano exterior
ideias que circulam e se associam,
nunca casualmente, a partir do afeto,
no plano interior. Mario Conde
sistematiza sua experiência e intuição
muitas vezes à revelia do próprio
controle racional
sobre o processo
investigativo. A homologia entre o caso
exterior e o caso interior pode ser
levada no limite do “erro”, mas sem
nunca abrir mão da prova.
vez,
os níveis de análise
como interior e exterior não devem ser
compreendidos de forma isolada ou
dicotômica. São níveis de análise,
separados abstratamente.
se estrutura desde o princípio como
uma totalidade dentro-
fora, ao mesmo
tempo, una e múltipla, geral e
particular, operando classificações
subjetivas mediadas pelo afeto. Carlo
Ginzburg, em
Relações de força
observa com r
azão que os avatares
qualitativos e políticos da pesquisa
científica o entram em cena apenas
ao final, transcorrida a pesquisa e a
coleta de material, para enfim imprimir
sua marca ou singularidade. Ao
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
Para tanto, seria necessário ao
investigador desenvolver certa cnica
capaz de
relacionar diferentes experiências e
plano exterior
com
ideias que circulam e se associam,
nunca casualmente, a partir do afeto,
no plano interior. Mario Conde
sistematiza sua experiência e intuição
muitas vezes à revelia do próprio
sobre o processo
investigativo. A homologia entre o caso
exterior e o caso interior pode ser
levada no limite do “erro”, mas sem
nunca abrir mão da prova.
Por sua
os níveis de análise
tipificados
como interior e exterior não devem ser
compreendidos de forma isolada ou
dicotômica. São níveis de análise,
A realidade
se estrutura desde o princípio como
fora, ao mesmo
tempo, una e múltipla, geral e
particular, operando classificações
subjetivas mediadas pelo afeto. Carlo
Relações de força
,
azão que os avatares
qualitativos e políticos da pesquisa
científica o entram em cena apenas
ao final, transcorrida a pesquisa e a
coleta de material, para enfim imprimir
sua marca ou singularidade. Ao
contrário, todo o processo
metodológico de recorte d
levantamento da dimensão empírica,
tratamento e escolha de documentos e
provas configura-se
a partir do afeto
e o afeto é, antes de mais nada,
político. Tal consideração não descarta
ou anula a prova, senão o contrário.A
prova é parte necessári
“risco de se envolver demais”, tal como
sugestionado pelo “método Mario
Conde”, configura um risco necessário
a ser vivenciado por todo aquele ou
aquela que se enreda na incessante
busca por conhecimento e pretende ir
“além-mar”.
Boris Sch
naiderman observa o
incrível tratamento metodológico dado
pelos irmãos Augusto e Haroldo
Campos na tradução dos poemas de
Maiakovski. O princípio filosófico da
“tradução literal” é um equívoco que
separa forma e conteúdo. O mesmo
dizia Jorge Luis
Borges
poemas de Maiakov
parece ainda mais gritante. O jovem
poeta russo revolucionou a técnica dos
versos livres. A partir da
experimentação modernista dos
recursos gráficos do poema
Maiakovski
explorou a palavra falada e
grafada
de formas que mal
425
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
contrário, todo o processo
metodológico de recorte d
o objeto,
levantamento da dimensão empírica,
tratamento e escolha de documentos e
a partir do afeto
e o afeto é, antes de mais nada,
político. Tal consideração não descarta
ou anula a prova, senão o contrário.A
prova é parte necessári
a da retórica. O
“risco de se envolver demais”, tal como
sugestionado pelo “método Mario
Conde”, configura um risco necessário
a ser vivenciado por todo aquele ou
aquela que se enreda na incessante
busca por conhecimento e pretende ir
naiderman observa o
incrível tratamento metodológico dado
pelos irmãos Augusto e Haroldo
Campos na tradução dos poemas de
Maiakovski. O princípio filosófico da
“tradução literal” é um equívoco que
separa forma e conteúdo. O mesmo
Borges
. No caso dos
poemas de Maiakov
ski, o paradoxo
parece ainda mais gritante. O jovem
poeta russo revolucionou a técnica dos
versos livres. A partir da
experimentação modernista dos
recursos gráficos do poema
-panfleto,
explorou a palavra falada e
de formas que mal
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
poderíamos supor. Superado o
realismo rasteiro do paradigma
mecanicista da
“tradução literal”, o
método proposto pelos irmãos
Campos enfatiza radicalmente o ato de
traduzir como recriação poética.
interesse filosófico da vanguarda
p
aulista com Maiakovski pareceu
evidente. Pode-
se apreender um
verdadeiro manifesto construtivista
não-
escrito no corpo do próprio
método de tradução empreendido
Augusto e Haroldo. Maiakov
poeta completamente antenado com
as inovações técni
cas do cinema e da
propaganda política na Rússia
revolucionária do primeiro pós
Nada parece-
me casual. Tudo é
imprescindível. A “história de amor”
entre Cuba e Rússia revelava uma
significativa
gama de relações
contrastes
se a arqueologia cultura
dessa combinação heterodoxa for
empreendida com o devido rigor
metodológico. Entra-
se numa sala de
cinema como numa nota de de
página.
Anotei em meu caderno: Boris
Schnaiderman cita um artigo de Paulo
Emílio sobre a relação entre
Maiakovski e o cinema
. “Vou perguntar
ao Ricardo”, pensei.
Paulo Emílio
Salles Gomes, figura
-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
poderíamos supor. Superado o
realismo rasteiro do paradigma
“tradução literal”, o
método proposto pelos irmãos
Campos enfatiza radicalmente o ato de
traduzir como recriação poética.
O
interesse filosófico da vanguarda
aulista com Maiakovski pareceu
-me
se apreender um
verdadeiro manifesto construtivista
escrito no corpo do próprio
método de tradução empreendido
por
Augusto e Haroldo. Maiakov
ski foi um
poeta completamente antenado com
cas do cinema e da
propaganda política na Rússia
revolucionária do primeiro pós
-guerra.
me casual. Tudo é
imprescindível. A “história de amor”
entre Cuba e Rússia revelava uma
gama de relações
e
se a arqueologia cultura
l
dessa combinação heterodoxa for
empreendida com o devido rigor
se numa sala de
cinema como numa nota de de
Anotei em meu caderno: Boris
Schnaiderman cita um artigo de Paulo
Emílio sobre a relação entre
. “Vou perguntar
Paulo Emílio
-
chave da
vanguarda crítica paulista, foi diretor
da Cinemateca de Paris no começo
dos anos 1960. Depois de finalizado
seu doutorado na Alemanha, Ricardo
seguia os passos e temas trabal
pelo Laboratório Cidade e Poder, da
UFF, e conduzia em Bremen uma
pesquisa de pós-
doutorado
Paulo Emílio e o cinema.
No dia seguinte, fui na
Cinemateca de Cuba assistir o
documentário de Silvio Tendler sobre
Santiago Alvarez. Compreendi então
q
ue a linguagem narrativa documental
trabalhada por Silvio tinha tudo a ver
com Santiago Alvarez.
isso: Santiago foi uma espécie de
Maiakovski do cinema documental.
Reinventando o cinema
Santiago desenvolveu diversas
inovações gráficas
montagem dos seus documentários.
Considerado precursor dos videoclipes
a partir de seu aclamado
documentarista cubano empreendeu a
“câmera ligeira” em suas produções,
inclusive no
Noticieiro Cubano
produzia semanalmente desde
oficina no ICAIC. Na linha de
enfrentamento ideológico contra a
propaganda política norte
Santiago foi diversas vezes ao
426
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
vanguarda crítica paulista, foi diretor
da Cinemateca de Paris no começo
dos anos 1960. Depois de finalizado
seu doutorado na Alemanha, Ricardo
seguia os passos e temas trabal
hados
pelo Laboratório Cidade e Poder, da
UFF, e conduzia em Bremen uma
doutorado
sobre
Paulo Emílio e o cinema.
No dia seguinte, fui na
Cinemateca de Cuba assistir o
documentário de Silvio Tendler sobre
Santiago Alvarez. Compreendi então
ue a linguagem narrativa documental
trabalhada por Silvio tinha tudo a ver
com Santiago Alvarez.
Mais do que
isso: Santiago foi uma espécie de
Maiakovski do cinema documental.
Reinventando o cinema
-panfleto,
Santiago desenvolveu diversas
e narrativas na
montagem dos seus documentários.
Considerado precursor dos videoclipes
a partir de seu aclamado
Now!, o
documentarista cubano empreendeu a
“câmera ligeira” em suas produções,
Noticieiro Cubano
, que
produzia semanalmente desde
sua
oficina no ICAIC. Na linha de
front do
enfrentamento ideológico contra a
propaganda política norte
-americana,
Santiago foi diversas vezes ao
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
Vietnam, com sua equipe diminuta,
denunciando a invasão norte
americana, o estarrecedor desprezo
pelos direitos
humanos no uso das
armas químicas, mas também
apresentando ao mundo a resistência
vietnamita. Foi o responsável pela
maior quantidade de imagens
documentais de Ho-
chi
velocidade técnica imposta pela
própria dinâmica do campo de batalha
transformou
a linguagem e a
montagem do cinema documental.
Tendler observa que os filmes de
Santiago Alvarez funciona
porta-
vozes do “terceiro mundo” nos
anos 1960 e 1970, furando o controle
e a censura imposta pelo cinturão de
ditaduras militares patrocinadas
EUA na América Latina.
Voltei para casa pensando em
todas essas relações que fervilhavam
em minha cabeça. Eu sabia que, em
harpa e a sombra,
Alejo Carpentier
encenava o leito da morte de Cristóvão
Colombo.Trata-
se da última ficção do
autor, produz
ida ao fim de sua vida.
Carpentier recria em sua última novela
os debates em torno da tentativa de
beatificação de Colombo,
contracenando personagens históricos
de tempos distintos. Leon Bloy,
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
Vietnam, com sua equipe diminuta,
denunciando a invasão norte
-
americana, o estarrecedor desprezo
humanos no uso das
armas químicas, mas também
apresentando ao mundo a resistência
vietnamita. Foi o responsável pela
maior quantidade de imagens
chi
-min. A
velocidade técnica imposta pela
própria dinâmica do campo de batalha
a linguagem e a
montagem do cinema documental.
Tendler observa que os filmes de
Santiago Alvarez funciona
vam como
vozes do “terceiro mundo” nos
anos 1960 e 1970, furando o controle
e a censura imposta pelo cinturão de
ditaduras militares patrocinadas
pelos
Voltei para casa pensando em
todas essas relações que fervilhavam
em minha cabeça. Eu sabia que, em
A
Alejo Carpentier
encenava o leito da morte de Cristóvão
se da última ficção do
ida ao fim de sua vida.
Carpentier recria em sua última novela
os debates em torno da tentativa de
beatificação de Colombo,
contracenando personagens históricos
de tempos distintos. Leon Bloy,
influente poeta católico francês do final
do século XIX, foi de
da tese de beatificação do
“Descobridor” junto ao papa Pio IX, o
“papa chileno”, como chamado por
uns, e depois junto ao papa Leão XIII.
Era impensável então a possibilidade
de um papa jesuíta, muito menos um
papa argentino! Leon
uma biografia apologética sobre
Colombo. Na narrativa de Carpentier,
Bloy contracena
fantástica com
Bartolomé de las Casas
durante o auto-
sacramental
Colombo, dentro do Vaticano. Amb
as personagens
transcorreram suas
vidas em diferentes
tempo
mas representava
m uma disputa
político-
ideológica que seguia viva
atual
na virada para o século XX.
intuía que a disputa encenada na
última novela
representava alegoricamente algumas
disputas
fundamentais no interior
pensamento católico
modernidade
que faltava ser
esclarecida e interpretada.
O papa Leão XIII
renovação do pensamento tomista na
virada para o século XX. O jesuitismo
foi consolidando sua retomada no final
do século XIX, apoiando
427
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
influente poeta católico francês do final
do século XIX, foi de
fensor ardoroso
da tese de beatificação do
“Descobridor” junto ao papa Pio IX, o
“papa chileno”, como chamado por
uns, e depois junto ao papa Leão XIII.
Era impensável então a possibilidade
de um papa jesuíta, muito menos um
papa argentino! Leon
Bloy escreveu
uma biografia apologética sobre
Colombo. Na narrativa de Carpentier,
uma disputa
Bartolomé de las Casas
sacramental
de
Colombo, dentro do Vaticano. Amb
as
transcorreram suas
tempo
s históricos,
m uma disputa
ideológica que seguia viva
e
na virada para o século XX.
Eu
intuía que a disputa encenada na
de Carpentier
representava alegoricamente algumas
fundamentais no interior
do
na passagem à
que faltava ser
esclarecida e interpretada.
O papa Leão XIII
ensejou a
renovação do pensamento tomista na
virada para o século XX. O jesuitismo
foi consolidando sua retomada no final
do século XIX, apoiando
-se na
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
encíclica papal da Rerum
Novarum
1891. Cabe recordar que os jesuítas
foram expulsos do espaço político e
cultural ibero-
americano em 1756.
Trata-
se de um contexto histórico
político marcado pela disputa da
soberania no curso do complexo
processo
de secularização e de
submissão da igreja romana ao Estado
tanto em Portugal, quanto na Espanha,
mas também nas Américas, no curso
das guerras de Independência. Leon
Bloy foi uma figura pública carismática
e sedutora. Foi por influência de Bloy
que Jacque
s Maritain e sua esposa
Raissa Oumansoff,
iniciaram as
leituras de São Tomás de Aquino e se
converteram ao catolicismo, no
contexto da Terceira Escolástica.
A Action Française
, por sua vez,
fundada em 1898, foi um movimento
político e filosófico conserva
corte nacionalista que defendeu a
restauração monárquica na França (do
ramo orleanista) e exerceu influência
política
na virada para o século XX. O
movimento foi criado no auge do
acirramento político propiciado pelo
Caso Dreyfus, que dividiu a soci
francesa na época. A condenação
injusta de Alfred Dreyfus foi
denunciada pelo escritor libertário
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
Novarum
, de
1891. Cabe recordar que os jesuítas
foram expulsos do espaço político e
americano em 1756.
se de um contexto histórico
-
político marcado pela disputa da
soberania no curso do complexo
de secularização e de
submissão da igreja romana ao Estado
tanto em Portugal, quanto na Espanha,
mas também nas Américas, no curso
das guerras de Independência. Leon
Bloy foi uma figura pública carismática
e sedutora. Foi por influência de Bloy
s Maritain e sua esposa
,
iniciaram as
leituras de São Tomás de Aquino e se
converteram ao catolicismo, no
contexto da Terceira Escolástica.
, por sua vez,
fundada em 1898, foi um movimento
político e filosófico conserva
dor de
corte nacionalista que defendeu a
restauração monárquica na França (do
ramo orleanista) e exerceu influência
na virada para o século XX. O
movimento foi criado no auge do
acirramento político propiciado pelo
Caso Dreyfus, que dividiu a soci
edade
francesa na época. A condenação
injusta de Alfred Dreyfus foi
denunciada pelo escritor libertário
Émilie Zola em sua famosa carta
pública J’accuse!
, dirigida ao então
presidente Félix Faure. Publicada no
jornal LAurore
, no dia 13 de janeiro de
1898, a carta de Zola desvelou ao
mundo a presença do antissemitismo
na sociedade francesa. O
Dreyfus
polarizou a luta de classes na
França da Terceira República (1870
1940) e repercutiu
América. A Action
Fraçaise
para o desenvolvimento de uma
perspectiva cristã conservadora que
anos mais tarde
paradoxalmente no colaboracionismo
francês
com a ocupação nazista na
chamada França de Vichy.
Carpentier relata em seus textos
autobiográficos Re
cuentos de Moradas
que o desencanto político propiciado
pelo Caso Dreyfus
foi um dos motivos
que levaram seus pais a deixarem a
França no começo do século XX e se
estabelecerem em Cuba.
O pai de Alejo Carpentier,
Georges Julien Carpentier, foi um
arquiteto
francês, nascido em 1884,
em Marselha. Sua mãe, Ekaterina
Blagoobrazova, conhecida
posteriormente com o pseudônimo
Lina Valmont, foi professora de
idiomas e nasceu em 1884, em Nizhni
428
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Émilie Zola em sua famosa carta
, dirigida ao então
presidente Félix Faure. Publicada no
, no dia 13 de janeiro de
1898, a carta de Zola desvelou ao
mundo a presença do antissemitismo
na sociedade francesa. O
Caso
polarizou a luta de classes na
França da Terceira República (1870
-
1940) e repercutiu
na Europa e
Fraçaise
contribuiu
para o desenvolvimento de uma
perspectiva cristã conservadora que
anos mais tarde
desaguaria
paradoxalmente no colaboracionismo
com a ocupação nazista na
chamada França de Vichy.
Alejo
Carpentier relata em seus textos
cuentos de Moradas
que o desencanto político propiciado
foi um dos motivos
que levaram seus pais a deixarem a
França no começo do século XX e se
estabelecerem em Cuba.
O pai de Alejo Carpentier,
Georges Julien Carpentier, foi um
francês, nascido em 1884,
em Marselha. Sua mãe, Ekaterina
Blagoobrazova, conhecida
posteriormente com o pseudônimo
Lina Valmont, foi professora de
idiomas e nasceu em 1884, em Nizhni
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
Novgorod, na Rússia. Alexis
Carpentier nasceu em 26 de dezembro
de 1904,
em Lausanna, na Suíça. O
autor começou a assinar com o nome
Alejo (dentre outros pseudônimos
experimentados, inclusive Lina
Valmont) em alguns artigos de jornais
e revistas, em meados da década de
1920.
Não se sabe precisamente
quando a família se mudou p
Havana, mas foi entre os anos
1908 e 1909. Durante muito tempo a
questão da origem nacional de Alejo
Carpentier foi uma história mal
contada; isso porque o escritor
afirmava ter nascido em Cuba. O
escritor fora alfabetizado em francês e
espanhol.
A língua familiar de Alejo
troca epistolar com sua mãe se dava
tanto em espanhol quanto em francês
sua mãe era chamada pelo escritor
carinhosamente de
Toutuche
toca”, em francês. Tão zeloso que era
pela sua “cubanidade”, o escritor mal
conse
guia disfarçar o sotaque
afrancesado. Alejo puxava o rrr” típico
da fala francesa. O sotaque
estrangeirado
criava certo desconforto
Em uma das cartas à sua mãe, Alejo
afirma que se sentia
mais à vontade
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
Novgorod, na Rússia. Alexis
Carpentier nasceu em 26 de dezembro
em Lausanna, na Suíça. O
autor começou a assinar com o nome
Alejo (dentre outros pseudônimos
experimentados, inclusive Lina
Valmont) em alguns artigos de jornais
e revistas, em meados da década de
Não se sabe precisamente
quando a família se mudou p
ara La
Havana, mas foi entre os anos
de
1908 e 1909. Durante muito tempo a
questão da origem nacional de Alejo
Carpentier foi uma história mal
contada; isso porque o escritor
afirmava ter nascido em Cuba. O
escritor fora alfabetizado em francês e
A língua familiar de Alejo
e a
troca epistolar com sua mãe se dava
tanto em espanhol quanto em francês
sua mãe era chamada pelo escritor
Toutuche
– “tudo
toca”, em francês. Tão zeloso que era
pela sua “cubanidade”, o escritor mal
guia disfarçar o sotaque
afrancesado. Alejo puxava o rrr” típico
da fala francesa. O sotaque
criava certo desconforto
.
Em uma das cartas à sua mãe, Alejo
mais à vontade
em Paris, onde não vivia a “obsesión
de mi acento”.
4
José Miguel Wisnik, no artigo
que se pode saber de um homem?
publicado na revista Piauí, em outubro
de 2015, refere-
se ao impacto
produzido pela escuta da voz de Mário
de Andrade
“como levar um soco”. O
registro único e inédito da voz de
Mário resid
ia incógnito na
Universidade de Indiana, nos EUA, a
ser descoberto pelo musicólogo Xavier
Vatin, da Universidade do Recôncavo
da Bahia. A voz de rio de Andrade
cantando junto com Raquel de Queiroz
e Mary Pedrosa algumas cantilenas
populares colhidas em
humboltianas
de “turista aprendiz”
pelos sertões do Brasil, foi registrada
pelo linguista norte-
americano Lorenzo
Turner e pode ser hoje apreciada com
alguns cliques no sítio eletrônico da
USP.
5
Wisnik observa que
“diferentemente dos textos e
fotografias, a voz vem de dentro da
pessoa, secreta sinais físicos, não
verbais, de uma aura, de uma dicção,
4
CARPENTIER, Alejo.
Cartas a Toutuche
Havana: Editorial Letras Cubanas, 2010, p. 46.
5
Para ouvir a voz de Mário de Andrade basta
acessar o endereço eletrônico a seguir:
http://www.ieb.usp.br/noticia/mrio
raquel-de-queiroz-emary-
pedrosa
para-lorenzo-turner.
429
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
em Paris, onde não vivia a “obsesión
José Miguel Wisnik, no artigo
O
que se pode saber de um homem?
,
publicado na revista Piauí, em outubro
se ao impacto
produzido pela escuta da voz de Mário
“como levar um soco”. O
registro único e inédito da voz de
ia incógnito na
Universidade de Indiana, nos EUA, a
ser descoberto pelo musicólogo Xavier
Vatin, da Universidade do Recôncavo
da Bahia. A voz de rio de Andrade
cantando junto com Raquel de Queiroz
e Mary Pedrosa algumas cantilenas
populares colhidas em
suas viagens
de “turista aprendiz”
pelos sertões do Brasil, foi registrada
americano Lorenzo
Turner e pode ser hoje apreciada com
alguns cliques no sítio eletrônico da
Wisnik observa que
“diferentemente dos textos e
das
fotografias, a voz vem de dentro da
pessoa, secreta sinais físicos, não
verbais, de uma aura, de uma dicção,
Cartas a Toutuche
. La
Havana: Editorial Letras Cubanas, 2010, p. 46.
Para ouvir a voz de Mário de Andrade basta
acessar o endereço eletrônico a seguir:
http://www.ieb.usp.br/noticia/mrio
-de-andrade-
pedrosa
-cantam-
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
de uma classe social, de uma época,
como se projetasse corpo e alma em
holograma, direto do inconsciente
pessoal e social.” O assombro de
Wisnik deve-se à dicção
cultivada ao
extremo deste poeta
que se propunha
a trocar o português escrito pelo
brasileiro falado como parte do
conteúdo programático da sua poesia.
Wisnik surpreende-
se com
exageradas
da dicção da elite paulista,
“perolada
e castiça, quase
catedralesca de tão empinada”, deste
que se propunha a escrever poesia
brasileira numa “língua curumim”,
“saboreando as palavras num
‘remeleixo melado melancólico’, na
‘fala impura’ e coloquial de ‘nossa
gente’, com a boca cheia de ‘gosto
quente’ do amendoim”.
6
No caso de
Alejo, o sotaque estrangeirado
provavelmente dificultava a interação
social do escritor com a elite intelectual
criolla. Observa-
se que as famílias que
imigraram no começo do século XX
para as Américas foram, em
maioria, famílias de origem pobre que
buscavam trabalho e prosperidade no
“Novo Mundo”.
6
WISNIK, José Miguel. O que se pode saber
de um homem? Revista Piauí
, n. 109
Janeiro (Editora Alvinegra),
p. 60
de 2015.
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
de uma classe social, de uma época,
como se projetasse corpo e alma em
holograma, direto do inconsciente
pessoal e social.” O assombro de
cultivada ao
que se propunha
a trocar o português escrito pelo
brasileiro falado como parte do
conteúdo programático da sua poesia.
se com
as marcas
da dicção da elite paulista,
e castiça, quase
catedralesca de tão empinada”, deste
que se propunha a escrever poesia
brasileira numa “língua curumim”,
“saboreando as palavras num
‘remeleixo melado melancólico’, na
‘fala impura’ e coloquial de ‘nossa
gente’, com a boca cheia de ‘gosto
sura
No caso de
Alejo, o sotaque estrangeirado
provavelmente dificultava a interação
social do escritor com a elite intelectual
se que as famílias que
imigraram no começo do século XX
para as Américas foram, em
grande
maioria, famílias de origem pobre que
buscavam trabalho e prosperidade no
WISNIK, José Miguel. O que se pode saber
, n. 109
, Rio de
p. 60
-66, outubro
Em julho de 1927, Alejo foi
preso político durante o
recrudescimento do
governo
de Gerardo Machado. Diante do risco
de extradição por conta de sua
estrangeira, o escritor se declarou
cubano e com apoio decisivo de Emilio
Roig de Leuchsenring, então diretor
do periódico
Carteles
documentação necessária afirmando
que nascera em Cuba.
seria mantido até o fim de sua
Alejo continuou afirmando ter nascido
em Cuba, em diversas entrevistas e
depoimentos autobiográficos.
mesmo ano,
o jovem escritor
exílio para Paris, onde seguiria
atuando como colaborador dos
periódicos Carteles e Excelsior, dentre
outros
jornais da época que tinham
considerável circulação em Cuba.
Essa
primeira estadia de Alejo em
430
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Em julho de 1927, Alejo foi
preso político durante o
governo
autoritário
de Gerardo Machado. Diante do risco
de extradição por conta de sua
origem
estrangeira, o escritor se declarou
cubano e com apoio decisivo de Emilio
Roig de Leuchsenring, então diretor
Carteles
, Alejo conseguiu
documentação necessária afirmando
que nascera em Cuba.
O segredo
seria mantido até o fim de sua
vida
Alejo continuou afirmando ter nascido
em Cuba, em diversas entrevistas e
depoimentos autobiográficos.
No
o jovem escritor
partiu em
exílio para Paris, onde seguiria
atuando como colaborador dos
periódicos Carteles e Excelsior, dentre
jornais da época que tinham
considerável circulação em Cuba.
primeira estadia de Alejo em
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
Paris durou pouco mais de uma
década. O escritor se estabeleceu no
Bairro Latino
e participou ativamente
da vida cultural parisiense do primeiro
pós-guerra. Flu
ente no espanhol e no
francês, Alejo
trabalhou como
jornalista,
crítico, tradutor e mediador
cultural das vanguardas intelectuais
que circulavam pela cidade. Tal qual
outros intelectuais latino
-
na conjuntura, nota-
se que a formação
poliglota con
feria certa vantagem
relativa ao escritor na circulação entre
redes intelectuais europeias.
Sustentando a polêmica com a
“literatura gauchesca
na Argentina,
Jorge Luis Borges
observa no célebre
ensaio
O escritor argentino e a
tradição que
a ideia de uma
nacional”
seria uma moda intelectual
europeia importada que deveria ser
repelida pelos latino-
americanos
arguto crítico reverte a etiqueta “ideias
importadas” contra
aqueles que se
julgavam guardiões do verdadeiro
“nacionalismo literário”. B
orges, assim
como Carpentier, atuou como tradutor
e mediador cultural das vanguardas
intelectuais modernistas no período
entre
guerras. O escritor argentino
refletiu sobre a
vantagem relativa da
condição
periférica latino
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
Paris durou pouco mais de uma
década. O escritor se estabeleceu no
e participou ativamente
da vida cultural parisiense do primeiro
ente no espanhol e no
trabalhou como
crítico, tradutor e mediador
cultural das vanguardas intelectuais
que circulavam pela cidade. Tal qual
-
americanos
se que a formação
feria certa vantagem
relativa ao escritor na circulação entre
redes intelectuais europeias.
Sustentando a polêmica com a
na Argentina,
observa no célebre
O escritor argentino e a
a ideia de uma
“literatura
seria uma moda intelectual
europeia importada que deveria ser
americanos
. O
arguto crítico reverte a etiqueta “ideias
aqueles que se
julgavam guardiões do verdadeiro
orges, assim
como Carpentier, atuou como tradutor
e mediador cultural das vanguardas
intelectuais modernistas no período
guerras. O escritor argentino
vantagem relativa da
periférica latino
-americana
em relação ao empobrecim
intelectual guiado pelo
nacionalista que vingava de forma
crescente em
diversos países da
Europa. Sérgio Miceli observa
Vanguardas em retrocesso
ao chegar a Madrid, Borges ficou
surpreso ao
constatar que os poetas
espanhóis de sua
geração liam os
autores franceses em traduções e
jamais no original, pois não
dominavam nenhum outro idioma.
Nota-
se que
posterior da origem estrangeira d
Alejo Carpentier
, embora tenha
mobilizado certo alvoroço da crítica no
que diz respeito
à (des)qualificação d
caráter autêntico de
sua “cubanidade”,
não configurou-se
como
pitoresco desimportante, mas um fato
político constitutivo d
intelectual do autor
. Não deixa de ser
sintomático que Carpentier tenha
escolhido jus
tamente o
“Alejo”. Para além
de
tradução do original “Alexis”
espanhol, o nome
sugere homofonia
com a palavra
lejos”
longe,
em distância, em exílio ou
desterro. A discussão sobre a origem
nacional do escritor foi manipulada no
sentido de desconstruir a legitimidade
431
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
em relação ao empobrecim
ento
intelectual guiado pelo
fervor
nacionalista que vingava de forma
diversos países da
Europa. Sérgio Miceli observa
em
Vanguardas em retrocesso
(2012) que
ao chegar a Madrid, Borges ficou
constatar que os poetas
geração liam os
autores franceses em traduções e
jamais no original, pois não
dominavam nenhum outro idioma.
se que
a revelação
posterior da origem estrangeira d
e
, embora tenha
mobilizado certo alvoroço da crítica no
à (des)qualificação d
o
sua “cubanidade”,
como
um capricho
pitoresco desimportante, mas um fato
político constitutivo d
a trajetória
. Não deixa de ser
sintomático que Carpentier tenha
tamente o
pseudônimo
de
uma forma de
tradução do original “Alexis”
para o
sugere homofonia
lejos”
quem vive
em distância, em exílio ou
desterro. A discussão sobre a origem
nacional do escritor foi manipulada no
sentido de desconstruir a legitimidade
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
de sua condição autoral como
monumento da literatura
nacional. Por
sua vez, observa-
se no chiste da
ficção biográfica do
próprio
escritor uma janela para pensar a
condição cosmopolita da América
Latina e do Caribe,
ou do próprio
sentido da nacionalidade cubana
identidade una e múltipla, construída
no Outro, a partir d
a transação cultural
de múltiplas tradições.
Fazia calor e em Havana não se
banha no mar no centro
da cidade. Eu
estava me preparando para a pesquisa
na Fundación, mas ainda faltava
alguns dias. O que será que eles
teriam separado para mim? Tomando
um ônibus turístico com preços
acessíveis pe
rto do Capitólio podia
conhecer as praias Del Este,
frequentadas pelos
havaneros
de semana. Ficam em torno de 30km
do centro de Havana. Eram praias
lindas e naturais, apesar dos
segmentos
turísticos que ocupavam
faixas da areia. Um grupo de dez
orientais estavam na beira do mar de
calça, tênis, bonés, câmeras e não se
preocupavam com as ondas e as
roupas.
Bastava se afastar um pouco,
junto aos coqueiros, e pronto: era
como estar na Bahia. Queria ler a
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
de sua condição autoral como
nacional. Por
se no chiste da
próprio
nome do
escritor uma janela para pensar a
condição cosmopolita da América
ou do próprio
sentido da nacionalidade cubana
como
identidade una e múltipla, construída
a transação cultural
Fazia calor e em Havana não se
da cidade. Eu
estava me preparando para a pesquisa
na Fundación, mas ainda faltava
m
alguns dias. O que será que eles
teriam separado para mim? Tomando
um ônibus turístico com preços
rto do Capitólio podia
-se
conhecer as praias Del Este,
havaneros
aos fins
de semana. Ficam em torno de 30km
do centro de Havana. Eram praias
lindas e naturais, apesar dos
turísticos que ocupavam
faixas da areia. Um grupo de dez
orientais estavam na beira do mar de
calça, tênis, bonés, câmeras e não se
preocupavam com as ondas e as
Bastava se afastar um pouco,
junto aos coqueiros, e pronto: era
como estar na Bahia. Queria ler a
Harpa e a sombra
no mar caribenho,
embora so
ubesse que muitas de suas
páginas corriam dentro do Vaticano.
Daquele dia em diante eu
compreenderia
o método de viage
que se descortinava: eu construiria
uma rotina de leitura e pesquisa,
aproveitando o acolhimento da casa
de Carmen e Ignácio, alternando
filmes do Festival de Cine
dia, como doses de um rum
Santiago
e caminhadas pela cidade,
pela sua paisagem de escombros. Tive
a intuição que deveria começar a
escrever um ensaio “em tempo real”
sobre a experiência de campo e sobre
to
das as ideias que fervilhavam em
minha cabeça. Se chamaria “afeto e
método em Havana”.
do dia seriam reservadas algumas
horas para a escrita e para a
compilação dos achados da pesquisa,
quase sempre, avançando pela
madrugada. Ao fim do dia, v
para casa, identifiquei um depósito de
bebidas perto do Capitólio e comprei
duas garrafas de Santiago
preferido. Lembrei dos versos que
escrevera em dezembro de 2013:
432
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
no mar caribenho,
ubesse que muitas de suas
páginas corriam dentro do Vaticano.
Daquele dia em diante eu
o método de viage
m
que se descortinava: eu construiria
uma rotina de leitura e pesquisa,
aproveitando o acolhimento da casa
de Carmen e Ignácio, alternando
com
filmes do Festival de Cine
ma um por
dia, como doses de um rum
añejo
e caminhadas pela cidade,
pela sua paisagem de escombros. Tive
a intuição que deveria começar a
escrever um ensaio “em tempo real”
sobre a experiência de campo e sobre
das as ideias que fervilhavam em
minha cabeça. Se chamaria “afeto e
método em Havana”.
Sempre ao fim
do dia seriam reservadas algumas
horas para a escrita e para a
compilação dos achados da pesquisa,
quase sempre, avançando pela
madrugada. Ao fim do dia, v
oltando
para casa, identifiquei um depósito de
bebidas perto do Capitólio e comprei
duas garrafas de Santiago
añejo, meu
preferido. Lembrei dos versos que
escrevera em dezembro de 2013:
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
Añejo amor
um ano passou
como três
e ela ficou
tempo veloz
que da
espera fez
um fruto sem pressa
que bem madurou
no convés da janela
onde guarda teu canto
o tempo deu vez
ao encontro
instante, tanto, estando
o tempo é um rês
que olha mulheres e homens
como na primeira vez
fumo cobre e cheiro
me leva ao efêmero espan
do óbvio
nos envolve agora um rum vermelho
envelhecido encanto
a fazer da amiga instantânea
um amor añejo
que chega moroso
para um novo ano
Quando cheguei na Fundación
me surpreendi com a quantidade de
material selecionado pela bibliotecária
Margarita. Claro que estava tendo
Mar Azul, Praias Del Este, La Havana, Cuba.
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
espera fez
um fruto sem pressa
que bem madurou
no convés da janela
onde guarda teu canto
instante, tanto, estando
que olha mulheres e homens
como na primeira vez
fumo cobre e cheiro
me leva ao efêmero espan
to
nos envolve agora um rum vermelho
envelhecido encanto
a fazer da amiga instantânea
que chega moroso
para um novo ano
Quando cheguei na Fundación
me surpreendi com a quantidade de
material selecionado pela bibliotecária
Margarita. Claro que estava tendo
acesso a um material mediado. Alejo
tinha em sua biblioteca pessoal
diversas obras de Fernando Ortiz.
Como imaginado, as
Los negro brujos e
Contrapunt
tabaco e azúcar
, em primeiras
edições. São obras fundamentais da
antropologia e do pensamento social
cubanos que marcam
câmbio epistemológico de Ortiz em
direção ao culturalismo. Ortiz f
antropólogo versátil antenado com o
que se produzia no mundo, inclusive
no Brasil, dado seu interesse pela
religião e pela cultura afro
Sua obra sintetiza em uma única
trajetória intelectual o que seria uma
formidável metamorfose
R
odrigues em Gilberto Freyre. Eu
havia pesquisado um pouco de suas
principais obras em minha tese de
doutorado para compreender o que e
como outros intelectuais importantes
da geração mais ou menos próxima de
Alejo Carpentier, ou um pouco anterior
à sua, pe
nsavam a cultura cubana. No
caso de Ortiz, um pouco mais velho
que Alejo, o mbio epistemológico é
fascinante, pois a
criminologia lombrosiana para o
paradigma culturalista parece
olhos de hoje, uma mudança tão
Mar Azul, Praias Del Este, La Havana, Cuba.
433
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
acesso a um material mediado. Alejo
tinha em sua biblioteca pessoal
diversas obras de Fernando Ortiz.
mais importantes
Contrapunt
eo del
, em primeiras
edições. São obras fundamentais da
antropologia e do pensamento social
cubanos que marcam
a trajetória de
câmbio epistemológico de Ortiz em
direção ao culturalismo. Ortiz f
oi um
antropólogo versátil antenado com o
que se produzia no mundo, inclusive
no Brasil, dado seu interesse pela
religião e pela cultura afro
-americana.
Sua obra sintetiza em uma única
trajetória intelectual o que seria uma
formidável metamorfose
de Nina
odrigues em Gilberto Freyre. Eu
havia pesquisado um pouco de suas
principais obras em minha tese de
doutorado para compreender o que e
como outros intelectuais importantes
da geração mais ou menos próxima de
Alejo Carpentier, ou um pouco anterior
nsavam a cultura cubana. No
caso de Ortiz, um pouco mais velho
que Alejo, o mbio epistemológico é
fascinante, pois a
mudança da
criminologia lombrosiana para o
paradigma culturalista parece
-me, aos
olhos de hoje, uma mudança tão
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
radical quanto uma
religiosa
. Em um curto espaço de
tempo, Ortiz conseguiu pegar o bonde
da história com as gerações um pouco
mais moças
e transformar os marcos
teórico-
metodológicos de seu
pensamento
embora mantivesse o
mesmo interesse original pelas
manifestações religiosas afro
nomeadas por ele em seus primeiros
estudos como fetichismo
, tal qual Nina,
o famoso médico e sanitarista
maranhense, precursor das pesquisas
sobre terreiros na Bahia.
Viemos observando na
sequência de diversos trabalhos
realizados na UFF
junto ao Laboratório
Cidade e Poder (LCP/UFF) “algo mais”
que se manifesta no curso do câmbio
epistemológico mobilizado pelas
vanguardas latino-
americanas nas
décadas de 1920 e 1930.
de Gilberto Freyre é prototípica porque
sua guinada para o culturalismo vem
acompanhada com
sua (nem sempre
óbvia)
conversão ao catolicismo
depois do radical desencanto com sua
experiência juvenil estudando em
Waco, no Texas
, a chamada “Roma
protestante” do bible belt
norte-americano
, no limite
uma apologia histórica
da empresa
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
conversão
. Em um curto espaço de
tempo, Ortiz conseguiu pegar o bonde
da história com as gerações um pouco
e transformar os marcos
metodológicos de seu
embora mantivesse o
mesmo interesse original pelas
manifestações religiosas afro
-cubanas,
nomeadas por ele em seus primeiros
, tal qual Nina,
o famoso médico e sanitarista
maranhense, precursor das pesquisas
Viemos observando na
sequência de diversos trabalhos
junto ao Laboratório
Cidade e Poder (LCP/UFF) “algo mais”
que se manifesta no curso do câmbio
epistemológico mobilizado pelas
americanas nas
décadas de 1920 e 1930.
A trajetória
de Gilberto Freyre é prototípica porque
sua guinada para o culturalismo vem
sua (nem sempre
conversão ao catolicismo
depois do radical desencanto com sua
experiência juvenil estudando em
, a chamada “Roma
do sudeste
, no limite
mesmo de
da empresa
colonial luso-
brasileira.
formação intelectual no Colégio Batista
de Recife e foi preparado para ser um
intelectual protestante d
fato que torna sua guinada intelectual
ainda mais significativa, tal como
pontua Pallares-
Burke no livro
vitoriano nos trópicos
paradigma culturalista, manejando o
debate sobre identidade nacional, as
vanguardas modernistas
1
920 e 1930 se opuseram ao
positivismo e ao racismo científico,
questionando a visão pejorativa que se
tinha da miscigenação, do sincretismo
religioso e do próprio conceito de
América
Latina como uma América
“atrasada”. Não obstante a palavra
“latina” por s
i revelasse
explicitamente a relação entre
iberismo, cultura
e catolicismo, a
verdade é que muitos pesquisadores
engenhosos das gerações mais moças
dos anos 1960 e 1970, embebidos
pela polarização política na Guerra
Fria, pareciam dar pouca importância
tal relação. Os anos de pesquisa junto
à UFF e a formação em história social
haviam instrumentalizado minha
análise para esse “algo mais”
“questão religiosa
e a força do
pensamento católico
434
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
brasileira.
Freyre teve sua
formação intelectual no Colégio Batista
de Recife e foi preparado para ser um
intelectual protestante d
e destaque,
fato que torna sua guinada intelectual
ainda mais significativa, tal como
Burke no livro
Um
vitoriano nos trópicos
. Com o
paradigma culturalista, manejando o
debate sobre identidade nacional, as
vanguardas modernistas
dos anos
920 e 1930 se opuseram ao
positivismo e ao racismo científico,
questionando a visão pejorativa que se
tinha da miscigenação, do sincretismo
religioso e do próprio conceito de
Latina como uma América
“atrasada”. Não obstante a palavra
i revelasse
explicitamente a relação entre
e catolicismo, a
verdade é que muitos pesquisadores
engenhosos das gerações mais moças
dos anos 1960 e 1970, embebidos
pela polarização política na Guerra
Fria, pareciam dar pouca importância
a
tal relação. Os anos de pesquisa junto
à UFF e a formação em história social
haviam instrumentalizado minha
análise para esse “algo mais”
a
e a força do
pensamento católico
que seguia
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
produzindo efeitos decisivos na vida
política
e cultural no Brasil republicano
e na circulação de ideias na América
Latina do século XX.
Com o câmbio epistemológico,
costumeiramente identificado em
Contrapunteo
del tabaco e azú
Fernando Ortiz passou a operar com o
conceito de
transculturação
p
refácio para a primeira edição do
livro, Bronislaw
Malinowsk
transculturação como:
(...) um processo no qual emerge
uma nova realidade, diversa e
complexa; uma realidade que não é
uma aglomeração mecânica de
caracteres, nem um mosaico
sequer, e sim
uma realidade nova,
original e independente. Para
descrever tal processo, o vocábulo
de raízes latinas transculturação,
proporciona um termo que o
contém a implicação de que uma
determinada cultura tenha de
inclinar-
se a outra, e sim de uma
transição en
tre duas culturas, ambas
ativas, ambas contribuindo com
aportes significativos e cooperando
para o advento de uma nova
realidade de civilização.
Em sutil discordância com o
conceito anglo-saxão de
aculturação
que implica certa submissão ou
representaç
ão passiva de uma
determinada cultura dominada frente à
outra dominante
o conceito de
7
MALINOWSKI, Bronislaw. “Prefácio”. In:
ORTÍZ, Fernando.
Contrapunteo cubano del
tabaco y el azúcar
. Caracas, Venezuela:
Biblioteca Ayacucho, 1987, p. 5.
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
produzindo efeitos decisivos na vida
e cultural no Brasil republicano
e na circulação de ideias na América
Com o câmbio epistemológico,
costumeiramente identificado em
del tabaco e azú
car,
Fernando Ortiz passou a operar com o
transculturação
. No
refácio para a primeira edição do
Malinowsk
i define
(...) um processo no qual emerge
uma nova realidade, diversa e
complexa; uma realidade que não é
uma aglomeração mecânica de
caracteres, nem um mosaico
uma realidade nova,
original e independente. Para
descrever tal processo, o vocábulo
de raízes latinas transculturação,
proporciona um termo que o
contém a implicação de que uma
determinada cultura tenha de
se a outra, e sim de uma
tre duas culturas, ambas
ativas, ambas contribuindo com
aportes significativos e cooperando
para o advento de uma nova
realidade de civilização.
7
Em sutil discordância com o
aculturação
que implica certa submissão ou
ão passiva de uma
determinada cultura dominada frente à
o conceito de
MALINOWSKI, Bronislaw. “Prefácio”. In:
Contrapunteo cubano del
. Caracas, Venezuela:
transculturação, “vocábulo de raízes
latinas”, tal como aponta o lebre
antropólogo polonês no referido
prefácio, visa dar conta de processos
de justaposição cultural
caráter ativo de cada cultura
relacionada. Tal representação ativa
das partes em transação cultural
poderia ser identificada mesmo em
condições assimétricas de poder, tal
como exemplifica, no contexto da
dominação colonial, a resistência das
práticas culturais e ritos religiosos afro
americanos.
O farol que guia a obra de Ortiz
é o mesmo de Alejo Carpentier, que no
começo da década de 1930 publica
sua primeira obra ficcional, a novela
afro-cubana ¡Ecué-
Yamba
1933). Muito foi dito e
sobre aproximação de Alejo com o
surrealismo, e também sobre como, a
partir de certa ruptura com
academicismo programático do
movimento, o escritor desenvolveu os
conceitos de
real maravilhoso
barroco americano
fascinantes pr
ocessos de
transculturação na América
Caribe. O próprio escritor narra em
seus ensaios, como fragmentos de sua
ficção biográfica, tal movimento de
435
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
transculturação, “vocábulo de raízes
latinas”, tal como aponta o lebre
antropólogo polonês no referido
prefácio, visa dar conta de processos
de justaposição cultural
enfatizando o
caráter ativo de cada cultura
relacionada. Tal representação ativa
das partes em transação cultural
poderia ser identificada mesmo em
condições assimétricas de poder, tal
como exemplifica, no contexto da
dominação colonial, a resistência das
práticas culturais e ritos religiosos afro
-
O farol que guia a obra de Ortiz
é o mesmo de Alejo Carpentier, que no
começo da década de 1930 publica
sua primeira obra ficcional, a novela
Yamba
-Ó! (1927-
1933). Muito foi dito e
discutido
sobre aproximação de Alejo com o
surrealismo, e também sobre como, a
partir de certa ruptura com
academicismo programático do
movimento, o escritor desenvolveu os
real maravilhoso
e de
para falar dos
ocessos de
transculturação na América
-Latina e
Caribe. O próprio escritor narra em
seus ensaios, como fragmentos de sua
ficção biográfica, tal movimento de
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
ruptura ou afastamento com o
surrealismo acadêmico”. o seria
necessário então buscar a origem das
suas ideias e ficções em nenhuma
cartilha ou “manifesto estrangeiro”,
pois a própria cultura viva latino
americana, sua história, suas
diásporas e condição ambivalente
entre a dependência cultural e a luta
por autonomia apresentavam uma
riqueza cultural a
utossuficiente para
encaminhar a crítica ao paradigma do
liberalismo tradicional e ao iluminismo
mecanicista da sociedade industrial
uma crítica muito mais eloquente que
qualquer manifesto abstrato; uma
crítica que poderia ser corporificada na
experiência cultural
viva
precisava apoiar-
se em formalidades
importadas”, nem na obsessão pela
influência dos movimentos intelectuais
estrangeiros. Esse debate, em certa
medida, envelhecido, mas muito
importante de ser compreendido em
seus argumentos e conte
sentido quando nos situamos em torno
dos anos 1960, no curso da Guerra
Fria, e no auge do que seria a
continuação de um movimento em prol
da chamada
“literatura nacional”.
fato de Malinowski
ressaltar as “raízes
latinas” do conceito transcultura
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
ruptura ou afastamento com o
surrealismo acadêmico”. o seria
necessário então buscar a origem das
suas ideias e ficções em nenhuma
cartilha ou “manifesto estrangeiro”,
pois a própria cultura viva latino
-
americana, sua história, suas
diásporas e condição ambivalente
entre a dependência cultural e a luta
por autonomia apresentavam uma
utossuficiente para
encaminhar a crítica ao paradigma do
liberalismo tradicional e ao iluminismo
mecanicista da sociedade industrial
uma crítica muito mais eloquente que
qualquer manifesto abstrato; uma
crítica que poderia ser corporificada na
viva
e não
se em formalidades
importadas”, nem na obsessão pela
influência dos movimentos intelectuais
estrangeiros. Esse debate, em certa
medida, envelhecido, mas muito
importante de ser compreendido em
seus argumentos e conte
xto, faz
sentido quando nos situamos em torno
dos anos 1960, no curso da Guerra
Fria, e no auge do que seria a
continuação de um movimento em prol
“literatura nacional”.
O
ressaltar as “raízes
latinas” do conceito transcultura
ção
chama a atenção, uma vez que tal
observação filológica não caiu do céu
e revela certa sensibilidade para a
apreciação crítica da tradição católico
romana que, tanto para intelectuais
poloneses, quanto para intelectuais
latino-
americanos, está na base d
nacionalismo cultural.
“senha” passada por Malinowsk
Cuba,o nacionalismo cultural ganhou
impulso com a Revolução Cubana
(1959), tal como sucedeu em outros
países no Caribe e na África, no curso
da luta anticolonial
evidente que o posterior alinhamento
político de Cuba com a União
Soviética tornou a presença de certos
aspectos referidos à cultura religiosa
um “passado inconveniente”.
Compreende-
se que a Revolução
Cubana de 1959 apresentou
realização de uma eta
luta pela Independência de Cuba,
franqueada pelo protagonismo
intervencionista dos EUA na Guerra
Hispano-
Americana (1898). Tal
sincronia entre o nacionalismo cultural
com a Revolução de 59 com certeza
conferiu maior durabilidade ao caráter
patriótico e nacionalista dos debates
intelectuais travados em Cub
Observa-
se que o alinhamento
436
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
chama a atenção, uma vez que tal
observação filológica não caiu do céu
e revela certa sensibilidade para a
apreciação crítica da tradição católico
-
romana que, tanto para intelectuais
poloneses, quanto para intelectuais
americanos, está na base d
o
nacionalismo cultural.
Trata-se de uma
“senha” passada por Malinowsk
i. Em
Cuba,o nacionalismo cultural ganhou
impulso com a Revolução Cubana
(1959), tal como sucedeu em outros
países no Caribe e na África, no curso
embora pareça
evidente que o posterior alinhamento
político de Cuba com a União
Soviética tornou a presença de certos
aspectos referidos à cultura religiosa
um “passado inconveniente”.
se que a Revolução
Cubana de 1959 apresentou
-se como
realização de uma eta
pa inconclusa da
luta pela Independência de Cuba,
franqueada pelo protagonismo
intervencionista dos EUA na Guerra
Americana (1898). Tal
sincronia entre o nacionalismo cultural
com a Revolução de 59 com certeza
conferiu maior durabilidade ao caráter
patriótico e nacionalista dos debates
intelectuais travados em Cub
a.
se que o alinhamento
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
ideológico de Alejo
Capentier com a
Revolução Cubana apresentou
como mais um ingrediente que
favoreceu a consagração de sua obra
como escritor nacional, m
calorosos debates e disputas políticas
que implicaram, inclusive, um feio
passado de perseguição cultural e
censura a intelectuais que o se
enquadrassem no panteão nacional e
patriótico alçado pela Revolução.
Máscaras
, de Leonardo Padura,
atravé
s do caso absurdo investigado
por Mario Conde
um crime de
motivação homofóbica, que implica a
perseguição política e cultural do
próprio sistema oficial
maestria tal ferida histórica sem receio
de assumir um posicionamento crítico.
Século XX
I, as pesquisas em
torno da obra de Alejo
parecem seguir
as mesmas questões, envoltas de
mistério e estranhas armadilhas
deixadas pelo autor ao longo do
caminho. As pesquisas mais
avançadas recuperam os anos iniciais
de sua formação e produção
intelectual
e puxam a relação com
Ortiz, mas seguem recalcando o fio da
história intelectual que conecta o
conceito de
transculturação
como de
barroco americano
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
Capentier com a
Revolução Cubana apresentou
-se
como mais um ingrediente que
favoreceu a consagração de sua obra
como escritor nacional, m
otivando
calorosos debates e disputas políticas
que implicaram, inclusive, um feio
passado de perseguição cultural e
censura a intelectuais que o se
enquadrassem no panteão nacional e
patriótico alçado pela Revolução.
, de Leonardo Padura,
s do caso absurdo investigado
um crime de
motivação homofóbica, que implica a
perseguição política e cultural do
fuxica com
maestria tal ferida histórica sem receio
de assumir um posicionamento crítico.
I, as pesquisas em
parecem seguir
as mesmas questões, envoltas de
mistério e estranhas armadilhas
deixadas pelo autor ao longo do
caminho. As pesquisas mais
avançadas recuperam os anos iniciais
de sua formação e produção
e puxam a relação com
Ortiz, mas seguem recalcando o fio da
história intelectual que conecta o
transculturação
, assim
barroco americano
, ou de
real maravilhoso
com suas “raízes
latinas”, a entender: a afluência do
misticismo católico, t
omista,
Terceira Escolástica e no jesuitismo
que pulsa como
retorno do reprimido
força latente por trás das vanguardas
modernistas. O curioso desse fio da
história, que deve ser puxado, é que
suas raízes não aparecem aos
intelectuais latino-a
mericanos de então
como “estrangeiras”, mas
profundamente íntimas da própria
cultura dita “nacional ou “popular”.
Não obstante o interesse de Alejo e de
outros intelectuais de sua geração pela
cultura popular afro
especialmente pela religião
também pela música popular que tanto
fascinava a moda
europeia primitivista,
como uma forma, digamos, mais
secularizada de acessar aqueles
estados ritualísticos de transe
espiritual em alguma
boite
me parecia demasiado curioso que tais
int
eresses não despertassem
sentimentos religiosos e análogos
deleites com as práticas ritualísticas da
cultura
católica. Despertavam, claro,
como sucede na admiração e afeto
pela música de Bach, por exemplo. A
questão, de fato,
não
elementos apa
reciam ou não na obra
437
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
com suas “raízes
latinas”, a entender: a afluência do
omista,
inscrito na
Terceira Escolástica e no jesuitismo
retorno do reprimido
e
força latente por trás das vanguardas
modernistas. O curioso desse fio da
história, que deve ser puxado, é que
suas raízes não aparecem aos
mericanos de então
como “estrangeiras”, mas
profundamente íntimas da própria
cultura dita “nacional ou “popular”.
Não obstante o interesse de Alejo e de
outros intelectuais de sua geração pela
cultura popular afro
-americana,
especialmente pela religião
mas
também pela música popular que tanto
europeia primitivista,
como uma forma, digamos, mais
secularizada de acessar aqueles
estados ritualísticos de transe
boite
parisiense –
me parecia demasiado curioso que tais
eresses não despertassem
sentimentos religiosos e análogos
deleites com as práticas ritualísticas da
católica. Despertavam, claro,
como sucede na admiração e afeto
pela música de Bach, por exemplo. A
não
era se estes
reciam ou não na obra
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
do escritor, mas o método
de leitura necessária para fazer as
perguntas certas.
Sobre a mesa, uma grande
quantidade de material bibliográfico.
Ensaios, crônicas, entrevistas, edições
críticas, comentadores, publicações de
r
evistas, uma publicação com a troca
epistolar entre Ortiz e Alejo, muitas
publicações e edições comemorativas
em torno do centenário do escritor,
datado em 2004;
edições promovidas
pela Fundación, outras pela Biblioteca
Nacional José Martí, mas não havia
p
ropriamente nenhuma publicação ou
pesquisa que empreendesse o
cruzamento analítico do mais
importante escritor cubano do século
XX com o pensamento católico.
bibliotecária perguntou-
me se eu
aceitava um café. Disse que sim, para
ser educado – ela já esta
va com o café
nas mãos
embora soubesse
estaria decididamente temperado com
muito
açúcar. Achei que era um bom
momento para insistir se ela não havia
achado nada sobre a relação de Alejo
com o pensamento católico ou se eu
poderia acessar o catálogo da
biblioteca pessoal do escritor.
Margarita disse-
me que não havia
achado nada especificamente sobre
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
ou a chave
de leitura necessária para fazer as
Sobre a mesa, uma grande
quantidade de material bibliográfico.
Ensaios, crônicas, entrevistas, edições
críticas, comentadores, publicações de
evistas, uma publicação com a troca
epistolar entre Ortiz e Alejo, muitas
publicações e edições comemorativas
em torno do centenário do escritor,
edições promovidas
pela Fundación, outras pela Biblioteca
Nacional José Martí, mas não havia
ropriamente nenhuma publicação ou
pesquisa que empreendesse o
cruzamento analítico do mais
importante escritor cubano do século
XX com o pensamento católico.
A
me se eu
aceitava um café. Disse que sim, para
va com o café
embora soubesse
que
estaria decididamente temperado com
açúcar. Achei que era um bom
momento para insistir se ela não havia
achado nada sobre a relação de Alejo
com o pensamento católico ou se eu
poderia acessar o catálogo da
biblioteca pessoal do escritor.
me que não havia
achado nada especificamente sobre
essa relação e
que então seria o caso
de conversar mais demoradamente
com o professor Rafael, na sala ao
lado. “Sin problemas”, respondi.
Continuei a leitur
a e enrolei um tabaco
que
repousava ansioso
aguardando seu esperado contraponto
ao café,
na varanda ao lado.
Vislumbrava ainda
que poderia achar
em algumas crônicas de jornal e
periódicos, escritas por Alejo
décadas de 1920
e 1930
coisa de interesse. Intuía que poderia
encontrar
pelas margens
de seus textos alguma referência
indireta à renovação tomista que,
como um fantasma, incidia no
pensamento modernista latino
americano. Eu poderia fazer perguntas
aos índi
ces onomásticos das coleções,
procurando por referências a São
Tomás de Aquino ou Jacques Maritain,
por exemplo. Começaram a aparecer
os indícios.
Duas crônicas chamaram
atenção:
El encanto cosmopolita del
Bairro Latino e
El bairro de San
Sulpicio amb
as escritas em
correspondência para o periódico
cubano Carteles
, em 1929. Neste ano,
Alejo Carpentier estava no primeiro
ano de sua primeira
estadia
438
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
que então seria o caso
de conversar mais demoradamente
com o professor Rafael, na sala ao
lado. “Sin problemas”, respondi.
a e enrolei um tabaco
repousava ansioso
na mesa,
aguardando seu esperado contraponto
na varanda ao lado.
que poderia achar
em algumas crônicas de jornal e
periódicos, escritas por Alejo
nas
e 1930
, alguma
coisa de interesse. Intuía que poderia
pelas margens
ou periferia
de seus textos alguma referência
indireta à renovação tomista que,
como um fantasma, incidia no
pensamento modernista latino
-
americano. Eu poderia fazer perguntas
ces onomásticos das coleções,
procurando por referências a São
Tomás de Aquino ou Jacques Maritain,
por exemplo. Começaram a aparecer
Duas crônicas chamaram
-me
El encanto cosmopolita del
El bairro de San
as escritas em
correspondência para o periódico
, em 1929. Neste ano,
Alejo Carpentier estava no primeiro
estadia
duradoura
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
na Europa. O escritor radicou
Paris
entre 1928 e 1939
marca o término da Guerra C
Espanhola (1936-1939) e
Segunda Guerra Mundial (1939
A revista Carteles
(1919
editada em La Havana, teve
circulação no público cubano e
caribenho, entre as décadas de 1920 e
1940, especialmente a partir de 1924,
destacando-
se pela qualidade do
material ilustrativo e pelo editorial
modernizante que encontrara
aderência na cultura burguesa dos
principais centros urbanos. Alejo
Carpetier
chegara a ocupar o cargo de
editor chefe da Carteles
entre 1924 e
1928. Nos idos de 19
29, recém
chegado a Paris,
em exílio,
contribuía como correspondente
internacional do periódico, assinando a
coluna Desde Paris que
manteve por
duas décadas, até 1948.
A coletânea
de crônicas
de periódicos
primeira estadia do escritor na Europa
fora publicada em dois volumes pelo
Editorial Letras Cubanas, em 1985
era precisamente a edição que eu
tinha sobre a mesa da Fundación.
Ambas as crônicas destacadas
relatam
aspectos pitorescos da vida
cultura
l, política e urbana da capital
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
na Europa. O escritor radicou
-se em
entre 1928 e 1939
– ano que
marca o término da Guerra C
ivil
o início da
Segunda Guerra Mundial (1939
-1944).
(1919
-1960),
editada em La Havana, teve
grande
circulação no público cubano e
caribenho, entre as décadas de 1920 e
1940, especialmente a partir de 1924,
se pela qualidade do
material ilustrativo e pelo editorial
modernizante que encontrara
aderência na cultura burguesa dos
principais centros urbanos. Alejo
chegara a ocupar o cargo de
entre 1924 e
29, recém
-
em exílio,
o escritor
contribuía como correspondente
internacional do periódico, assinando a
manteve por
A coletânea
de periódicos
dessa
primeira estadia do escritor na Europa
fora publicada em dois volumes pelo
Editorial Letras Cubanas, em 1985
era precisamente a edição que eu
tinha sobre a mesa da Fundación.
Ambas as crônicas destacadas
aspectos pitorescos da vida
l, política e urbana da capital
francesa e expressam curiosamente o
“olhar estrangeiro” do escritor
americano recém-
chegado na cidade.
Em
El encanto cosmopolita del
Bairro Latino
, publicado no referido
periódico Carteles
, em 30 de junho de
1929,
8
Al
ejo Carpentier nar
agitação cosmopolita d
tomado por restaurantes, bares
noturnos,
livrarias e estudantes de
diversas partes do mundo. O
manipula
em sua narrativa
entre o caráter cosmopolita e moderno
do bairro com as ru
ínas eclesiásticas
do passado
medieval.
fantástica de sabores, modas
intelectuais e nacionalidades
desterradas em agitação política se
expressa como vivência erótica do
frenesi ruidoso
das ruas
com a seriedade
silente
muros eclesiásticos por onde andavam
Tomás de Aquino e estudantes de
outrora.
Una aglomeración de hombres
jovenes procedentes de todos los
extremos del planeta, tenía
forzosamente que dar un
peculiaríssimo aspecto a las
del Bairro Latino. Ninguna
im
aginación seria capaz de inventar
contrastes tan singulares como los
establecidos entre las cosas y las
8
CARPENTIER, Alejo. “El encanto
cosmopolita del Bairro Latino”. In:
Havana: E
ditorial Letras Cubanas, 1985,
380-384.
439
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
francesa e expressam curiosamente o
“olhar estrangeiro” do escritor
latino-
chegado na cidade.
El encanto cosmopolita del
, publicado no referido
, em 30 de junho de
ejo Carpentier nar
ra a
agitação cosmopolita d
e um bairro
tomado por restaurantes, bares
livrarias e estudantes de
diversas partes do mundo. O
escritor
em sua narrativa
o contraste
entre o caráter cosmopolita e moderno
ínas eclesiásticas
medieval.
A mistura
fantástica de sabores, modas
intelectuais e nacionalidades
desterradas em agitação política se
expressa como vivência erótica do
das ruas
em contraste
silente
dos velhos
muros eclesiásticos por onde andavam
Tomás de Aquino e estudantes de
Una aglomeración de hombres
jovenes procedentes de todos los
extremos del planeta, tenía
forzosamente que dar un
peculiaríssimo aspecto a las
calles
del Bairro Latino. Ninguna
aginación seria capaz de inventar
contrastes tan singulares como los
establecidos entre las cosas y las
CARPENTIER, Alejo. “El encanto
cosmopolita del Bairro Latino”. In:
Crónicas. La
ditorial Letras Cubanas, 1985,
p.
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
gentes de este famoso sector de
París... Para comenzar, no debe
olvidarse que sureplazamiento
simbólico. La
Calle de las
es dominada por lav
iejísima torre del
Convento de Santa Genoveva,
donde moraron
algunos de los más
insgnes teólogos de la
Santo Tomás de Aquino, el
todos, paseó muchas
un
viejo muro cubierto de yedra, que
se alza todavia en una calleja
angosta cercana del
tarde, los clérigos y escolares
inquietaron
con sus risas y reyertas
los
alrededores de la
conventual, em una de cuyas naves
si situo un dia la tumba del jansenista
Pascal.
Hoy, en estas calles que guardán,
como pocas,
el carácter del
París, hanfijado
establecimientos
más arbitrários,
traídos por los
gustos y costumbres
de estudiantes
extranjeros. En
espacio compreendido entre la
iglesia de Santa Genoveva y el
Sena, hallarías
restaurantes
y tendas que os
permitirían saborear todas las
gulosinas de la tierra.
9
Na imagem sugerida pelo
cronista:um muro coberto de eras, por
onde passeava São Tomás de Aquino
“o maior de todos”
, como se este
seguisse passeando por aquele
mesmo muro que
narrador divisava na
Paris entre
guerras. Por sua vez, em
uma das naves da igreja conventual de
Santa Genoveva,o cronista marca
presença da tumba do “jansenista
Pascal”. A escolha desses
monumentos, erigidos em torno das
9
Idem, p. 381-382.
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
gentes de este famoso sector de
París... Para comenzar, no debe
olvidarse que sureplazamiento
es
Calle de las
Escuelas
iejísima torre del
Convento de Santa Genoveva,
algunos de los más
insgnes teólogos de la
Edad Media.
Santo Tomás de Aquino, el
mayor de
veces junto a
viejo muro cubierto de yedra, que
se alza todavia en una calleja
Panteón. Más
tarde, los clérigos y escolares
con sus risas y reyertas
alrededores de la
iglesia
conventual, em una de cuyas naves
si situo un dia la tumba del jansenista
Hoy, en estas calles que guardán,
el carácter del
Viejo
asiento los
más arbitrários,
gustos y costumbres
extranjeros. En
el
espacio compreendido entre la
iglesia de Santa Genoveva y el
actualmente
y tendas que os
permitirían saborear todas las
Na imagem sugerida pelo
cronista:um muro coberto de eras, por
onde passeava São Tomás de Aquino
, como se este
seguisse passeando por aquele
narrador divisava na
guerras. Por sua vez, em
uma das naves da igreja conventual de
Santa Genoveva,o cronista marca
a
presença da tumba do “jansenista
Pascal”. A escolha desses
monumentos, erigidos em torno das
personas de Tomás de Aquino e
Pas
cal, não é casual. Representa o
conflito entre o tomismo e o
jansenismo no interior do pensamento
católico.
Como se
muros e construções dos templos
medievais
, tal conflito
por Alejo Carpentier com naturalidade
como um debate
atu
mentalidade
da época.
todavia, pretende ressaltar os
aspectos “novidadeiros” da cultura e
da política parisiense.
detalhes e certo humor típicos de uma
narrativa pitoresca
comunicar uma experiência incrí
maravilhosa para
seu público
Carpentier narra muitos sabores
e perfumes,
sejam de comidas
costumes
de diferentes lugares do
mundo, sejam de livrarias
intelectuais ou de bares noturnos.
No trecho destacado a seguir,
nota-se ainda a
curiosidade por
clichê
parisiense de
masculino e acento misógino:
surpreendente d
a liberdade sexual das
mulheres e da vida amorosa
vivenciada
publicamente
aspecto da narrativa, embora pareça
secundário pa
ra o leitor de hoje em
dia, mobilizava o
440
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
personas de Tomás de Aquino e
cal, não é casual. Representa o
conflito entre o tomismo e o
jansenismo no interior do pensamento
Como se
“gravado” nos
muros e construções dos templos
, tal conflito
é mencionado
por Alejo Carpentier com naturalidade
,
atu
al e evidente à
da época.
O narrador,
todavia, pretende ressaltar os
aspectos “novidadeiros” da cultura e
da política parisiense.
Com riqueza de
detalhes e certo humor típicos de uma
narrativa pitoresca
visando
comunicar uma experiência incrí
vel ou
seu público
leitor –,
Carpentier narra muitos sabores
, cores
sejam de comidas
e
de diferentes lugares do
mundo, sejam de livrarias
, modas
intelectuais ou de bares noturnos.
No trecho destacado a seguir,
curiosidade por
certo
parisiense de
sutil fetiche
masculino e acento misógino:
o caráter
a liberdade sexual das
mulheres e da vida amorosa
publicamente
nas ruas. Tal
aspecto da narrativa, embora pareça
ra o leitor de hoje em
interesse e a
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
curiosidade dos leitores
das revistas
mais modernas da época, projetando
anseios
por maior liberdade individual.
Chama atenção ainda
o destaque
dado pelo autor ao “fervor nacional”
que agitava então os
debates
e intelectuais,
influi
sobremaneira nas vanguardas
modernistas dos anos 1920 e 1930.
He aqui un grupo de estudiantes
ultralatinos, con sus pipas
aparatosas y barbitas
enpunta; he aqui a los absurdos
realistas franceses
Duque de Guisa, la
religión y Charles
Maurras
llevando sus boinas de
terciopelo y bastones claros. Hay
embajadores de Oxford, que lucen
knickbockers
y corbatas rojas; hay
russas y nórdicas, de viva mirada y
andar varonil. Se veninditos de
nues
tra América, que se hacen
acompañar por las
rúbias de todo el bairro; se ven
doctores egípcios, futuros
autonomistas, que exhibien
inmutable que podríamos
las pinturas milenárias que llevanla
Sala Champolion
del
Louvre... Se cuentan relativamente
pocos estudiantes
norteamericanos
en
las universidades francesas. En
cambio, la cifra de famílias asiáticas
pudientes que envián sus hijos a
estudiaren
Lutecia es cada vez
mayor. Los estudiantes chinos del
bairro la
tino constituyen, por si solo,
una verdadera
colonia. Los
indochinos son
tan numerosos que
han
comenzado a hacer política
nacionalista y antieuropea
celebrando mettings
tan turbulentos
que la
policía se visto obligada a
llamarlos al orden... E
alrededores de la
Sorbona
ver cien turbantes hindúes, y hasta
las túnicas de seda parda de
bachilleres
afganos. Encuanto a los
turcos, huelga
decir que la
antitradicionalista de Kemal
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
das revistas
mais modernas da época, projetando
por maior liberdade individual.
o destaque
dado pelo autor ao “fervor nacional”
debates
políticos
influi
ndo de
sobremaneira nas vanguardas
modernistas dos anos 1920 e 1930.
He aqui un grupo de estudiantes
ultralatinos, con sus pipas
aparatosas y barbitas
talladas
enpunta; he aqui a los absurdos
adictos al
religión y Charles
llevando sus boinas de
terciopelo y bastones claros. Hay
embajadores de Oxford, que lucen
y corbatas rojas; hay
russas y nórdicas, de viva mirada y
andar varonil. Se veninditos de
tra América, que se hacen
mujeres más
rúbias de todo el bairro; se ven
doctores egípcios, futuros
leaders
autonomistas, que exhibien
el perfil
inmutable que podríamos
hallar en
las pinturas milenárias que llevanla
del
Museo del
Louvre... Se cuentan relativamente
norteamericanos
las universidades francesas. En
cambio, la cifra de famílias asiáticas
pudientes que envián sus hijos a
Lutecia es cada vez
mayor. Los estudiantes chinos del
tino constituyen, por si solo,
colonia. Los
tan numerosos que
comenzado a hacer política
nacionalista y antieuropea
en Paris,
tan turbulentos
policía se visto obligada a
llamarlos al orden... E
n los
Sorbona
podrías
ver cien turbantes hindúes, y hasta
las túnicas de seda parda de
afganos. Encuanto a los
decir que la
politica
antitradicionalista de Kemal
Pachá
propiciado grandemente su
anhelo
de recibir una cultura
occidental.
Entre todos los
extranjeros
del Bairro Latino, son
latino-
americanos quienes
más hondamente
parisiense. Tienen numerosos clubs
e instituciones. Son mirados con
simpatia por el
Suelen destacarse
alguna rama del saber, a punto de
alternar con
Además, todo el mundo sabe que,
contrariamente a lo que acontece
con los
estudiantes de países
pobrísimos
del centro de Europa, no
constituyen un
competencia para el nativo. El
latinoamericano es mantenido por su
país, y acaba casi
regressar a él. Es, de todos los
metecos
, el único aceptado
cordialmente por la xenofobia gala.
Alejo pontua os motivos que
conferiam aceitaç
ão ao latino
americano
de todos os
mais aceitado cordialmente pela
“xenofobia gala”. Estes não
representavam, pois, uma ameaça aos
nativos: na sua quase totalidade eram
estudantes financiados pelos seus
países de origem, de formação
esmerada e
bem qualificados. A
grande maioria acabava regressando
ao país natal.
Em um ambiente cultural
e político cada vez mais aquecido pelo
fanatismo nacionalista,
social favorecia certo trânsito fluente
de intelectuais latino
10
Idem, p. 380-381.
441
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
propiciado grandemente su
nuevo
de recibir una cultura
Entre todos los
estudiantes
del Bairro Latino, son
los
americanos quienes
penetran
más hondamente
en la vida
parisiense. Tienen numerosos clubs
e instituciones. Son mirados con
estudiante francês.
Suelen destacarse
brillantemente en
alguna rama del saber, a punto de
las eminencias.
Además, todo el mundo sabe que,
contrariamente a lo que acontece
estudiantes de países
del centro de Europa, no
constituyen un
a amenazani una
competencia para el nativo. El
latinoamericano es mantenido por su
país, y acaba casi
siempre a
regressar a él. Es, de todos los
, el único aceptado
cordialmente por la xenofobia gala.
10
Alejo pontua os motivos que
ão ao latino
-
de todos os
metecos, o
mais aceitado cordialmente pela
“xenofobia gala”. Estes não
representavam, pois, uma ameaça aos
nativos: na sua quase totalidade eram
estudantes financiados pelos seus
países de origem, de formação
bem qualificados. A
grande maioria acabava regressando
Em um ambiente cultural
e político cada vez mais aquecido pelo
fanatismo nacionalista,
tal aceitação
social favorecia certo trânsito fluente
de intelectuais latino
-americanos nos
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
círculos culturais parisienses. Chama a
atenção do cronista o ambiente de
liberdade sexual, tal como observado
anteriormente.
O narrador observa
com certo estranhamento (e sutil
preconceito) que se veem “inditos de
nuestra América” acompanhados
mulhere
s “mais loiras” de todo o bairro.
Algo que seria mesmo impensável nas
sociedades miscigenadas, porém,
altamente estratificadas, da América
Latina. O que seria impensável, aqui, é
o caráter público ou civil de tal
exercício de liberdade
amorosa e não
propri
amente a relação em si.
risco de cair em anacronismo, tal
aspecto não deveria
ser compreendido
com as etiquetas de
“machismo”
“racismo”. Nota-
se que tal “descalabro”
parisiense motivava na época a
imaginação e a curiosidade do público
leitor em favo
r de mais liberdade e
igualitarismo. Com o avançar do
fanatismo nacionalista, tal ambiente de
liberdade cultural narrado pelo escritor
se esvaneceria
no contexto da Guerra
Mundial. Com ascensão política do
nazismo e o colaboracionismo fascista
em toda Euro
pa, com a “derrota da
inteligência” na Guerra Civil
e a ascensão do franquismo nos meios
culturais hispano-
americanos, Alejo,
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
círculos culturais parisienses. Chama a
atenção do cronista o ambiente de
liberdade sexual, tal como observado
O narrador observa
com certo estranhamento (e sutil
preconceito) que se veem “inditos de
nuestra América” acompanhados
das
s “mais loiras” de todo o bairro.
Algo que seria mesmo impensável nas
sociedades miscigenadas, porém,
altamente estratificadas, da América
Latina. O que seria impensável, aqui, é
o caráter público ou civil de tal
amorosa e não
amente a relação em si.
Sob
risco de cair em anacronismo, tal
ser compreendido
“machismo”
ou
se que tal “descalabro”
parisiense motivava na época a
imaginação e a curiosidade do público
r de mais liberdade e
igualitarismo. Com o avançar do
fanatismo nacionalista, tal ambiente de
liberdade cultural narrado pelo escritor
no contexto da Guerra
Mundial. Com ascensão política do
nazismo e o colaboracionismo fascista
pa, com a “derrota da
inteligência” na Guerra Civil
-Espanhola
e a ascensão do franquismo nos meios
americanos, Alejo,
assim como muitos outros de sua
geração, vivenciaria profundo
desencanto com a Europa. A utopia da
cultura latino-americ
ana ensejada pela
sua literatura,
assim como de outros
intelectuais de sua geração, deve ser
compreendida vis-à-
vis o “ocaso da
Europa” e a ascensão do fascismo.
No artigo
El bairro de San
Sulpicio
, publicado no periódico
Carteles
, em 25 agosto de 1929
jovem Alejo Carpentier continua
variando sobre os contrastes que
desenham a cartografia urbana da
capital francesa.
“Solo Paris es capaz
de presentar
barrios como
Sulpicio, al lado de Montparnasse y del
Barrio Latino. Que prodigiosa ley de
contr
astes habrá regido en
formación de esta ciudad?”
caracteriza o bairro como uma “colônia
romana”; por excelência, um “feudo de
la gente eclesiástica”, cravado entre os
dois bairros “más hereges” da cidade.
La iglesia de San Sulpicio
a la série de templos fríos y
protocolarios que se alzaron
Francia por años
fachada muestra severos
entablamentos clásicos. Sus torres,
ajenas a toda la
ostentam columnas que podrían
11
CARPENTIER, Alejo. “El bairro de San
Sulpicio”. In: Crónicas
. La Havana: E
Letras Cubanas, 1985,
p. 399
12
Idem, p. 403.
442
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
assim como muitos outros de sua
geração, vivenciaria profundo
desencanto com a Europa. A utopia da
ana ensejada pela
assim como de outros
intelectuais de sua geração, deve ser
vis o “ocaso da
Europa” e a ascensão do fascismo.
El bairro de San
, publicado no periódico
, em 25 agosto de 1929
,
11
o
jovem Alejo Carpentier continua
variando sobre os contrastes que
desenham a cartografia urbana da
“Solo Paris es capaz
barrios como
el de San
Sulpicio, al lado de Montparnasse y del
Barrio Latino. Que prodigiosa ley de
astes habrá regido en
la
formación de esta ciudad?”
12
O escritor
caracteriza o bairro como uma “colônia
romana”; por excelência, um “feudo de
la gente eclesiástica”, cravado entre os
dois bairros “más hereges” da cidade.
La iglesia de San Sulpicio
pertenece
a la série de templos fríos y
protocolarios que se alzaron
en
Francia por años
del “gran siglo”. Su
fachada muestra severos
entablamentos clásicos. Sus torres,
ajenas a toda la
tradición gótica,
ostentam columnas que podrían
CARPENTIER, Alejo. “El bairro de San
. La Havana: E
ditorial
p. 399
-403.
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
figurar ventajosamente
gráfico de Vignola. Su interior,
impregnado de grandeza
monumental, no crea
la
recogimiento, de intimidad, de calor
religioso, que se recibe
santuários medioevales.
Compreendemos mejor, al visitar
iglesias como esta, el
espíritu de
época que produjo las
arquiteturas verbales de Racine. Y
disculpamos, más que nunca, la
debilidade del Caballero Des Grieux
pronto en abandonar las naves del
San Sulpicio por seguir el rosado pie
de uma muchacha
casquivana y sin
complicaciones.
Este templo es ejed
el
de atividades religiosas de París.
Notre
Dame, con ser la Catedral, no
posee, ni remotamente, la
de poderio católico que se
desprende del átrio de San Sulpicio.
Todas las
calles que lo
parecen t
ributárias de su
tal punto sus intituciones y comércios
viven para alentar o explotar
En vía
cercana se encuentra
Universidad Católica donde dictan
conferencias los más esclarecidos
doctores
cristianos de nuestra época.
Ahí podría
soír dissertar sutilmente a
Jacques Maritain, sobre santo
Tomás y su
doctrina
uma filosofia que sustenta gran parte
de la juventude francesa
contemporânea. Ahí
senteraros de las novíssimas
interpretaciones dadas a las
parábolas del eva
ngelio por el padre
Jousse, verdadeiro espíritu de
vanguardia de las ciências religiosas.
Alrededor de esta universidad, tienen
asiento numerosas organizaciones
dependientes de ella, tales como
seminários, colegios católicos,
asociaciones, aulas para curso
libres, que mantienen
movimento de sotanas negras y
sayales pardos. En estas calles, el
transeúnte de ve
stimentas laicas
resulta casi un
sujeto
curas y seminaristas, catedráticos y
capuchinhos, han transformado el
bairro en colônia romana. En este
rincón de Lutecia se hace sentir,
como en pocas partes, las enormes
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
figurar ventajosamente
el tratado
gráfico de Vignola. Su interior,
impregnado de grandeza
la
sensación de
recogimiento, de intimidad, de calor
religioso, que se recibe
en los
santuários medioevales.
Compreendemos mejor, al visitar
espíritu de
una
impertubables
arquiteturas verbales de Racine. Y
disculpamos, más que nunca, la
debilidade del Caballero Des Grieux
pronto en abandonar las naves del
San Sulpicio por seguir el rosado pie
casquivana y sin
el
mayor centro
de atividades religiosas de París.
Dame, con ser la Catedral, no
posee, ni remotamente, la
irradiación
de poderio católico que se
desprende del átrio de San Sulpicio.
calles que lo
rodean
ributárias de su
autoridad, a
tal punto sus intituciones y comércios
viven para alentar o explotar
el culto.
cercana se encuentra
la
Universidad Católica donde dictan
conferencias los más esclarecidos
cristianos de nuestra época.
soír dissertar sutilmente a
Jacques Maritain, sobre santo
doctrina
– génesis de
uma filosofia que sustenta gran parte
de la juventude francesa
contemporânea. Ahí
podría
senteraros de las novíssimas
interpretaciones dadas a las
ngelio por el padre
Jousse, verdadeiro espíritu de
vanguardia de las ciências religiosas.
Alrededor de esta universidad, tienen
asiento numerosas organizaciones
dependientes de ella, tales como
seminários, colegios católicos,
asociaciones, aulas para curso
s
libres, que mantienen
un contínuo
movimento de sotanas negras y
sayales pardos. En estas calles, el
stimentas laicas
sujeto
extraño. Los
curas y seminaristas, catedráticos y
capuchinhos, han transformado el
bairro en colônia romana. En este
rincón de Lutecia se hace sentir,
como en pocas partes, las enormes
fuerzas recobradas por la
después
de la guerra.
Os “templos
protocolares” que se alçaram na
França do “grande culo”
refere ao século XVII. A narrativa
desenvolve o contraste cultural do
estilo neoclássico de colunas
monumentais de inspiração greco
romanas –
como um “tratado gráfico
de Vignola”
em contraposição com o
sentimento de recolhimento,
“intimidade” e “calor religioso” dos
antigos santuários medievais. Imbuído
do espírito cartesiano, o “grande
século” Francês foi marcado pelo
racionalismo e pelo desenvolvimento
do pensamento matemático.
Carpentier estudara arquitetura na
Universidad de La Havana. Embora
não tenha concluído o curso, suas
obras e ensaios promovem franco
diálogo filosófico e cultural com a
arquitetura, através da interpretação
de
monumentos, construções e
cidades –com
o falamos anteriormente,
seu pai fora também arquiteto.
A igreja de São Sulpício,
monumento do “grande século”
francês, iniciou sua construção em
13
Idem, p. 339-340.
443
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
fuerzas recobradas por la
religión
de la guerra.
13
Os “templos
frios e
protocolares” que se alçaram na
França do “grande culo”
Alejo se
refere ao século XVII. A narrativa
desenvolve o contraste cultural do
estilo neoclássico de colunas
monumentais de inspiração greco
-
como um “tratado gráfico
em contraposição com o
sentimento de recolhimento,
“intimidade” e “calor religioso” dos
antigos santuários medievais. Imbuído
do espírito cartesiano, o “grande
século” Francês foi marcado pelo
racionalismo e pelo desenvolvimento
do pensamento matemático.
Alejo
Carpentier estudara arquitetura na
Universidad de La Havana. Embora
não tenha concluído o curso, suas
obras e ensaios promovem franco
diálogo filosófico e cultural com a
arquitetura, através da interpretação
monumentos, construções e
o falamos anteriormente,
seu pai fora também arquiteto.
A igreja de São Sulpício,
monumento do “grande século”
francês, iniciou sua construção em
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
1646, sobre as ruínas de um templo
românico do século XIII. Sua
construção durou quase um século. A
Igreja se
destaca por um sistema de
iluminação construído com cálculos
astronômicos
tal como os
sofisticados templos pré-
colombianos
das civilizações
Inca, Maia e Asteca
com um esquadro de meridiana para
calcular com a luz a chegada da
Páscoa. O cronista observ
experiência diante de São Sulpício
permite compreender o espírito de
uma época que produziu as
“imperturbáveis arquiteturas verbais de
Racine”. o seria igualmente casual
a menção do célebre dramaturgo que,
órfão aos três anos de idade,
p
elos cuidados de uma tia e uma avó
teve
formação jansenista em Port
Royal
, que em meados do século XVII
se transformou em um dos principais
centros institucionais promotores do
jansenismo
. Racine continuou seus
estudos no Collège de Beauvais e
estudou fil
osofia no Collège d’Harcourt
ambas instituições
impregnadas
o “espírito da Port-
Royal
14
Maria do Carmo, professora da universidade
Federal de Uberlândia, observa a influência do
jansenismo e das doutrinas agostinianas de
predestinação nas tragédias escritas por
Racine. CARMO, Maria Suzana Moreira do.
“Fedra”, de Jean Racine: moral do sé
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
1646, sobre as ruínas de um templo
românico do século XIII. Sua
construção durou quase um século. A
destaca por um sistema de
iluminação construído com cálculos
tal como os
colombianos
Inca, Maia e Asteca
–,
com um esquadro de meridiana para
calcular com a luz a chegada da
Páscoa. O cronista observ
a que a
experiência diante de São Sulpício
permite compreender o espírito de
uma época que produziu as
“imperturbáveis arquiteturas verbais de
Racine”. o seria igualmente casual
a menção do célebre dramaturgo que,
órfão aos três anos de idade,
dirigido
elos cuidados de uma tia e uma avó
,
formação jansenista em Port
-
, que em meados do século XVII
se transformou em um dos principais
centros institucionais promotores do
. Racine continuou seus
estudos no Collège de Beauvais e
osofia no Collège d’Harcourt
impregnadas
com
Royal
”.
14
O
Maria do Carmo, professora da universidade
Federal de Uberlândia, observa a influência do
jansenismo e das doutrinas agostinianas de
predestinação nas tragédias escritas por
Racine. CARMO, Maria Suzana Moreira do.
“Fedra”, de Jean Racine: moral do sé
culo XVII
dramaturgo, todavia, se afasta da
direção mais rigorosa de sua formação
e investe na carreira de escritor para
conseguir dinheiro. Observa
tumba de Je
an Racine também se
encontra em uma das naves da igreja
conventual de Santa Genoveva,
referida anteriormente, ao lado de
Blaise Pascal.
Para o jovem cronista Alejo
Carpentier, o templo de São Sulpício é
o eixo do maior centro de atividades
religiosas de Pa
ris. Sequer a catedral
de Notre
Dame irradia sombra do
poderio católico que se desprende do
átrio de São Sulpício. Todas as ruas
que rodeiam o templo parecem
“tributárias de sua autoridade”, e todos
os comércios e instituições parecem
de alguma forma viver
culto religioso. Numa rua próxima, se
encontra a Universidade Católica onde
se escutaria conferências dos doutores
cristãos mais esclarecidos da época.
Ali se poderia ouvir dissertar Jacques
Maritain, sobre Santo Tomás de
Aquino e sua dout
rina
uma filosofia que sustenta gran parte
de la juventude francesa
e criação literária
. Letras, Santa Maria, v. 24,
n. 49, p. 153-
174, jul./dez. 2014.
file:///C:/Users/marce/Downloads/16597
74634-1-SM.pdf
444
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
dramaturgo, todavia, se afasta da
direção mais rigorosa de sua formação
e investe na carreira de escritor para
conseguir dinheiro. Observa
-se que a
an Racine também se
encontra em uma das naves da igreja
conventual de Santa Genoveva,
referida anteriormente, ao lado de
Para o jovem cronista Alejo
Carpentier, o templo de São Sulpício é
o eixo do maior centro de atividades
ris. Sequer a catedral
Dame irradia sombra do
poderio católico que se desprende do
átrio de São Sulpício. Todas as ruas
que rodeiam o templo parecem
“tributárias de sua autoridade”, e todos
os comércios e instituições parecem
de alguma forma viver
para explorar o
culto religioso. Numa rua próxima, se
encontra a Universidade Católica onde
se escutaria conferências dos doutores
cristãos mais esclarecidos da época.
Ali se poderia ouvir dissertar Jacques
Maritain, sobre Santo Tomás de
rina
génesis de
uma filosofia que sustenta gran parte
de la juventude francesa
. Letras, Santa Maria, v. 24,
174, jul./dez. 2014.
file:///C:/Users/marce/Downloads/16597
-
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
contemporânea”.
Alejo se refere ao
que chamamos anteriormente de
Terceira Escolástica, o movimento
intelectual tomista realizado do seio do
pensamento católico.
A trajetória
de Jacques Maritan
(1882-
1973), assim como de outros
intelectuais daquela
histórica
, é marcada por reviravoltas,
transitando entre campos políticos
divergentes. Maritain nasceu em Paris
em um ambiente familiar e citadino
predominado pelo
racionalismo liberal.
Não foi batizado pelos seus pais e teve
uma formação simpática ao
protestantismo. Sua trajetória
contempla um movimento de guinada
do campo positivista
e racionalista
para o campo místico católico.
Estudou filosofia na Sorbonne, em
Pa
ris, onde teve aula com Emilie
Durkheim. Posteriormente, fez
seminários de filosofia com Henri
Bergson, já então em companhia de
Raissa Oumansoff, imigrante russa de
origem judia, com quem se casou no
matrimônio civil em 1904. A partir das
leituras e da am
izade com Leon Le
Bloy, o casal converteu
-
catolicismo, promovendo uma ruptura
com sua formação anterior, migrando
para o campo tomista. Leon Le Bloy foi
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
Alejo se refere ao
que chamamos anteriormente de
Terceira Escolástica, o movimento
intelectual tomista realizado do seio do
de Jacques Maritan
1973), assim como de outros
conjuntura
, é marcada por reviravoltas,
transitando entre campos políticos
divergentes. Maritain nasceu em Paris
em um ambiente familiar e citadino
racionalismo liberal.
Não foi batizado pelos seus pais e teve
uma formação simpática ao
protestantismo. Sua trajetória
contempla um movimento de guinada
e racionalista
para o campo místico católico.
Estudou filosofia na Sorbonne, em
ris, onde teve aula com Emilie
Durkheim. Posteriormente, fez
seminários de filosofia com Henri
Bergson, já então em companhia de
Raissa Oumansoff, imigrante russa de
origem judia, com quem se casou no
matrimônio civil em 1904. A partir das
izade com Leon Le
-
se para o
catolicismo, promovendo uma ruptura
com sua formação anterior, migrando
para o campo tomista. Leon Le Bloy foi
padrinho do batismo do casal e
introduziu Jacques Maritain nas
leituras de São Tomás de Aquin
afastamento de Jacques Maritain da
perspectiva conservadora da
Française
pode ser entendido à luz da
presença do antissemitismo e do
“casamento misto com Raissa
freou a possibilidade de comunhão do
jovem casal em torno do ideal
ultranacion
alista francês.
Em setembro de 1926, o
Vaticano condenou a
e seus líderes intelectuais por sua
perspectiva cristã que submetia a
autoridade soberana católica (romana)
ao absolutismo monárquico do Estado
francês. Diversos intelectuais que
f
oram apoiadores do movimento
dentre eles, o próprio Jacques Maritain
haviam se tornado
do movimento. Posteriormente, em
exílio, durante a ocupação nazista,
Jacques Maritain fez oposição ao
Regime de Vichy. Com o fim da
Segunda Guerra M
influente intelectual tomista francês foi
membro participante da composição
da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, realizada pelas Nações
Unidas (ONU). Em suas crônicas de
jornal, embora não dedique um artigo
445
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
padrinho do batismo do casal e
introduziu Jacques Maritain nas
leituras de São Tomás de Aquin
o. O
afastamento de Jacques Maritain da
perspectiva conservadora da
Action
pode ser entendido à luz da
presença do antissemitismo e do
“casamento misto com Raissa
que
freou a possibilidade de comunhão do
jovem casal em torno do ideal
alista francês.
Em setembro de 1926, o
Vaticano condenou a
Action Française
e seus líderes intelectuais por sua
perspectiva cristã que submetia a
autoridade soberana católica (romana)
ao absolutismo monárquico do Estado
francês. Diversos intelectuais que
oram apoiadores do movimento
dentre eles, o próprio Jacques Maritain
haviam se tornado
severos críticos
do movimento. Posteriormente, em
exílio, durante a ocupação nazista,
Jacques Maritain fez oposição ao
Regime de Vichy. Com o fim da
Segunda Guerra M
undial, o mais
influente intelectual tomista francês foi
membro participante da composição
da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, realizada pelas Nações
Unidas (ONU). Em suas crônicas de
jornal, embora não dedique um artigo
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
em especial a Maritain, A
algumas
referências à sua atuação
intelectual como hábil orador e
agitador político católico.
Passei a manhã e o começo da
tarde revirando livros e fotografando os
materiais separados. No fim do dia,
Rafael veio conversar comigo mais
demoradamente
. “Alejo não era
religioso. Sua mulher sim, foi católica,
mas ele não. Ao fim da vida eles se
casaram na Igreja, por um desejo
dela”. “Ah, sim, compreendo, se
casaram na Igreja?”, respondi
espantado. “Sim, sim, mas ele não era
religioso. Inclusive aquele c
corredor era da família de sua esposa.
Veja, meu pai era maçom, mas por um
desejo de minha mãe eles também se
casaram na Igreja. E assim se
sucedeu com muitas famílias
cubanas.”
“E Carpentier, foi maçom?”,
perguntei sem hesitar. “Não”,
responde
u. Eu sabia que os embates
entre a franco-
maçonaria e a Igreja
Católica faziam parte de muitos
romances de Alejo
Carpentier sobre o
processo revolucionário caribenho, tal
como aparece em
O século das Luzes
Contei que Sérgio Buarque de
Holanda também o e
propriamente religioso, mas sua
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
em especial a Maritain, A
lejo faz
referências à sua atuação
intelectual como hábil orador e
Passei a manhã e o começo da
tarde revirando livros e fotografando os
materiais separados. No fim do dia,
Rafael veio conversar comigo mais
. “Alejo não era
religioso. Sua mulher sim, foi católica,
mas ele não. Ao fim da vida eles se
casaram na Igreja, por um desejo
dela”. “Ah, sim, compreendo, se
casaram na Igreja?”, respondi
espantado. “Sim, sim, mas ele não era
religioso. Inclusive aquele c
rucifixo no
corredor era da família de sua esposa.
Veja, meu pai era maçom, mas por um
desejo de minha mãe eles também se
casaram na Igreja. E assim se
sucedeu com muitas famílias
“E Carpentier, foi maçom?”,
perguntei sem hesitar. “Não”,
u. Eu sabia que os embates
maçonaria e a Igreja
Católica faziam parte de muitos
Carpentier sobre o
processo revolucionário caribenho, tal
O século das Luzes
.
Contei que Sérgio Buarque de
Holanda também o e
ra
propriamente religioso, mas sua
esposa, Maria Amélia, sim. uma
passagem curiosa da ficção
autobiográfica
O irmão alemão,
Chico Buarque, em que o narrador
rememora a biblioteca do pai e sua
perplexidade juvenil diante da coleção
completa dos sermõe
Vieira. O narrador não compreendia
como seu pai tinha tanto interesse pela
religião e ao mesmo tempo “detestava
a Igreja”. “Ah, claro, Alejo
muito interesse pela
como praticante. Foi um profundo
conhecedor da Bíblia
possuía diversas edições da mesma
em sua biblioteca. Bom, na novela
Concerto Barroco
, todas as citações
de de gina são da Bíblia... E
todos conhecem a novela
Sombra
que revive debates políticos
no interior do Vaticano. Mas não,
nunca foi religioso”. Preferi não insistir
mais.
446
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
esposa, Maria Amélia, sim. uma
passagem curiosa da ficção
O irmão alemão,
de
Chico Buarque, em que o narrador
rememora a biblioteca do pai e sua
perplexidade juvenil diante da coleção
completa dos sermõe
s de Antônio
Vieira. O narrador não compreendia
como seu pai tinha tanto interesse pela
religião e ao mesmo tempo “detestava
a Igreja”. “Ah, claro, Alejo
tinha sim
religião, mas não
como praticante. Foi um profundo
conhecedor da Bíblia
, inclusive
possuía diversas edições da mesma
em sua biblioteca. Bom, na novela
, todas as citações
de de gina são da Bíblia... E
todos conhecem a novela
A harpa e a
que revive debates políticos
no interior do Vaticano. Mas não,
nunca foi religioso”. Preferi não insistir
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
A unidade da Fundación
Alejo Carpentier
no bairro Vedado, em La Havana, onde o
escritor morou ao fim da vida. Na foto, o
quarto onde situa-
se a biblioteca pessoal
do escritor.
Corredor principal
da Fundación
Carpentier, da unidade em Vedado, onde
morou o escritor cubano. Na foto, à
esquerda, o crucifixo colonial da família de
sua esposa, Lilian Esteban Hierro, que foi
presidenta da Fundación em sua criação,
em 1993. Em seguida,
o crucifixo colonial
em detalhe.
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
Naquela noite eu iria à
Cinemateca de Cuba assistir um
documentário sobre o maestro,
compositor e violonista cubano Leo
Brouwer.
Lembro de uma entrevista de
Egberto Gismonti publicada no jornal
Gramna
, em 2008. Foi na prim
que estive em Cuba. Comprei por
acaso o jornal e me surpreendi com a
entrevista. Egberto falava sobre a
importância de Brouwer para a música
brasileira e para o mundo. O destaque
dado ao artista brasileiro trazia um
reconhecimento e admiração não
muito costumeiro em nossos próprios
jornais. Durante anos guardei aquela
entrevista recortada em papel
rosa. Adquirira então o fascinante
álbum duplo
Homoludens
Sabia que a
pesquisa
Brouwer guardava conexões ainda não
exploradas por mim
com os conceitos
Alejo Carpentier
no bairro Vedado, em La Havana, onde o
escritor morou ao fim da vida. Na foto, o
se a biblioteca pessoal
da Fundación
Alejo
Carpentier, da unidade em Vedado, onde
morou o escritor cubano. Na foto, à
esquerda, o crucifixo colonial da família de
sua esposa, Lilian Esteban Hierro, que foi
presidenta da Fundación em sua criação,
o crucifixo colonial
447
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Naquela noite eu iria à
Cinemateca de Cuba assistir um
documentário sobre o maestro,
compositor e violonista cubano Leo
Lembro de uma entrevista de
Egberto Gismonti publicada no jornal
, em 2008. Foi na prim
eira vez
que estive em Cuba. Comprei por
acaso o jornal e me surpreendi com a
entrevista. Egberto falava sobre a
importância de Brouwer para a música
brasileira e para o mundo. O destaque
dado ao artista brasileiro trazia um
reconhecimento e admiração não
muito costumeiro em nossos próprios
jornais. Durante anos guardei aquela
entrevista recortada em papel
de tinta
rosa. Adquirira então o fascinante
Homoludens
, de Brouwer.
pesquisa
estética de
Brouwer guardava conexões ainda não
com os conceitos
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
manejados por
Carpentier e Ortiz.
Esperava encontrá-
las no
documentário, evidente, mas não
esperava que o próprio compositor
estaria assistindo a sessão.
Antes da exibição do filme,
Brouwer falou algumas poucas
palavras sobr
e sua dificuldade com as
palavras. Não era sua matéria; como
músico, se definia como “artesão dos
sons”. Foi
uma encenação simpática,
com lugares comuns
e certa “falsa
modesta”. De fato, o
maestro cubano
apresentava
clareza e rigor em sua
concepção estética.
O documentário
acompanhava momentos de
intimidade, apresentando
poética
sua visão sobre a cultura e
música em Cuba. Ao mesmo tempo,
não consegui esconder de mim
mesmo certo desencanto.
encenava o desgastado
célebre maestro
exilado em seu
próprio país, sem o devido
reconhecimento nacional, quase
esquecido. O documentário trazia
cenas
de sutil melancolia
como um mergulho sentimental na
estética da decadência
criolla
“estilo tardio”.
Brouwer olha para o
alto, n
a sala de sua casa, nostálgico, e
clama por seus interlocutores
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
Carpentier e Ortiz.
las no
documentário, evidente, mas não
esperava que o próprio compositor
estaria assistindo a sessão.
Antes da exibição do filme,
Brouwer falou algumas poucas
e sua dificuldade com as
palavras. Não era sua matéria; como
músico, se definia como “artesão dos
uma encenação simpática,
e certa “falsa
maestro cubano
clareza e rigor em sua
O documentário
acompanhava momentos de
sua
de forma
sua visão sobre a cultura e
música em Cuba. Ao mesmo tempo,
não consegui esconder de mim
mesmo certo desencanto.
Brouwer
papel do
exilado em seu
próprio país, sem o devido
reconhecimento nacional, quase
esquecido. O documentário trazia
de sutil melancolia
e beleza,
como um mergulho sentimental na
criolla
em seu
Brouwer olha para o
a sala de sua casa, nostálgico, e
clama por seus interlocutores
perdidos: “Alejo, Amadeo Roldán,
donde están
ustedes?” Chamou
atenção sua observação crítica sobre
a festa e a dança. A cultura cubana
vivencia alguns dilemas parecidos com
o Brasil no que
tange à música. O
império da alegria e da festa:
que ser festivo e ligeiro, alegre e
expansivo. Leo Brouwer
imperativo. Sua sica realiza uma
fantástica pesquisa musical sobre um
lugar primordial de transe ritualístico
de escuta in
trospectiva. Desloca o
lugar da festa como sinônimo do baile
moderno, urbano, sexual e comercial
para esse lugar quase atemporal de
meditação religiosa e ritualística da
cultura afro-cubana.
Brouwer forma
àquilo que poderíamos chamar de
“Cuba profunda”,
produzindo
estéticas de seus processos de
transculturação.
O compositor, todavia,
não recorre de forma simplória
“folclore” ou às manifestações da
cultura popular.
O estilo tardio de
Brouwer é radical, selvagem e
agressivo.
O debate parece
fundamental. Em dado momento do
filme,
Brouwer manifesta suas
desilusões com os rumos tomados
pela música popular cubana comercial,
448
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
perdidos: “Alejo, Amadeo Roldán,
ustedes?” Chamou
-me
atenção sua observação crítica sobre
a festa e a dança. A cultura cubana
vivencia alguns dilemas parecidos com
tange à música. O
império da alegria e da festa:
tudo
que ser festivo e ligeiro, alegre e
expansivo. Leo Brouwer
questiona tal
imperativo. Sua sica realiza uma
fantástica pesquisa musical sobre um
lugar primordial de transe ritualístico
e
trospectiva. Desloca o
lugar da festa como sinônimo do baile
moderno, urbano, sexual e comercial
para esse lugar quase atemporal de
meditação religiosa e ritualística da
Brouwer forma
àquilo que poderíamos chamar de
produzindo
sínteses
estéticas de seus processos de
O compositor, todavia,
não recorre de forma simplória
ao
“folclore” ou às manifestações da
O estilo tardio de
Brouwer é radical, selvagem e
O debate parece
-me
fundamental. Em dado momento do
Brouwer manifesta suas
desilusões com os rumos tomados
pela música popular cubana comercial,
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
especialmente com o
reggaeaton
fim do filme, sobrava
ainda
levemente amargo: o
sentimento de
distanciamento ou
incomunicabilidade
da culta e erudita “cultura popular”
ensejada por Brouwer com seu
“próprio povo”. Que fazer? Como fugir
desse labirinto? Voltei para casa
pensando no radical exemplo que a
música de Hermeto Pascoal dava
ainda hoje, do Jabur, para o mundo
Eram dez horas da noite quando
cheguei em casa.
Peguei o violão e
iniciei uma sica nova que me
acompanharia a o fim da viagem.
Uma canção com ares de bolero que
depois passei a chamar de
Bombom, em referência
Titón.
Marcelo Neder e Leo Brouwer, na
antessala da Cinemateca de Cuba, em La
Havana, dezembro de 2019, após a
sessão do documentário
elorigen de la sombra
, de Katherine T.
Gvilán e Li
sandra Lopez Fabé (Cuba,
2019).
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
reggaeaton
. Ao
ainda
um sabor
sentimento de
incomunicabilidade
da culta e erudita “cultura popular”
ensejada por Brouwer com seu
“próprio povo”. Que fazer? Como fugir
desse labirinto? Voltei para casa
pensando no radical exemplo que a
música de Hermeto Pascoal dava
ainda hoje, do Jabur, para o mundo
.
Eram dez horas da noite quando
Peguei o violão e
iniciei uma sica nova que me
acompanharia a o fim da viagem.
Uma canção com ares de bolero que
depois passei a chamar de
Fresa
indireta ao
-
Lista de filmes assistidos
Festival Internacional de
Latinoamericano
(um por dia, conforme o
método
añejo Santiago
durante o período do Festival de Cinema,
dos dias 05 ao 15 de dezembro de 2019):
1. La Llorona
(Guatemala, França 2019)
2.
La Odissea de losGiles
Sebastián Borensztein (Argentina,
Espanha, 2019)
3.
Santiago das Américas ou o olho
do Terceiro Mundo
(Brasil, Cuba, 2019)
4.
Brouwer, elorigen de la sombra
Katherine T. Gvilán e Lisandra
Lop
ez Fabé (Cuba, 2019)
5.
Três Verões
(Brasil, França 2019)
6.
La Cordillera de losSueños
Patricio Guzmán (França, Chile,
2019)
7. Bacurau
Kleber Mendonça Filho
e Juli
ano Dornelles (Brasil, França
2019)
8.
El Cuento de las
Juan Jose Campanella (Argentina,
Espanha, 2019)
9. Agosto
Armando Capó Ramos
(Cuba, Costa Rica, França, 2019)
10. Marighella –
Wagner Moura (Brasil,
2019)
Marcelo Neder e Leo Brouwer, na
antessala da Cinemateca de Cuba, em La
Havana, dezembro de 2019, após a
sessão do documentário
Brouwer,
, de Katherine T.
sandra Lopez Fabé (Cuba,
449
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Lista de filmes assistidos
no 41
Festival Internacional de
Nuevo Cine
(um por dia, conforme o
añejo Santiago
empreendido
durante o período do Festival de Cinema,
dos dias 05 ao 15 de dezembro de 2019):
Jairo Bustamante
(Guatemala, França 2019)
La Odissea de losGiles
Sebastián Borensztein (Argentina,
Santiago das Américas ou o olho
do Terceiro Mundo
Silvio Tendler
(Brasil, Cuba, 2019)
Brouwer, elorigen de la sombra
Katherine T. Gvilán e Lisandra
ez Fabé (Cuba, 2019)
Três Verões
PatriciaKogout
(Brasil, França 2019)
La Cordillera de losSueños
Patricio Guzmán (França, Chile,
Kleber Mendonça Filho
ano Dornelles (Brasil, França
El Cuento de las
Comadrejas
Juan Jose Campanella (Argentina,
Armando Capó Ramos
(Cuba, Costa Rica, França, 2019)
Wagner Moura (Brasil,
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
450
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
“Hola, Buenos dias!” O ritual se
repetia rigorosamente igual. “Todo sob
elcontrol?”, perguntava Ignácio. O
ventilador a meia distância, o dio
ligado, o café
passado pousado ao
lado do fogo para manter-
se aquecido.
A retidão ética e moral de Ignácio era
típica de um revolucionário exemplar.
Nada fugia do programado e do
controle pessoal. Eu havia me
esmerado por todos aqueles dias em
repetir o ritual de organiz
ação que ele
mesmo empreendia. A maneira como
fechar a janela, onde guardar as
louças, o cuidado em nunca deixar
mais de duas guimbas no cinzeiro. De
tardinha, tinha-
se que acender a luz de
fora, na varanda, e colocar as luzinhas
de Natal da pequena árvore
plástico da sala na tomada. Era um
ritual simpático e que trazia um sentido
de familiaridade e acolhimento.
Naquela manhã eu havia
combinado com Ignácio um café da
manhã completo, com dois
revueltos
. Achava fantástica aquela
maneira de referir a
os ovos mexidos.
Era a mesma metáfora trabalhada por
Alejo Carpentier em várias de suas
ficções. Um furacão na frigideira: o
processo revolucionário mexe
estruturas do ovo, misturando a clara e
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
“Hola, Buenos dias!” O ritual se
repetia rigorosamente igual. “Todo sob
elcontrol?”, perguntava Ignácio. O
ventilador a meia distância, o dio
passado pousado ao
se aquecido.
A retidão ética e moral de Ignácio era
típica de um revolucionário exemplar.
Nada fugia do programado e do
controle pessoal. Eu havia me
esmerado por todos aqueles dias em
ação que ele
mesmo empreendia. A maneira como
fechar a janela, onde guardar as
louças, o cuidado em nunca deixar
mais de duas guimbas no cinzeiro. De
se que acender a luz de
fora, na varanda, e colocar as luzinhas
de Natal da pequena árvore
de
plástico da sala na tomada. Era um
ritual simpático e que trazia um sentido
de familiaridade e acolhimento.
Naquela manhã eu havia
combinado com Ignácio um café da
manhã completo, com dois
huevos
. Achava fantástica aquela
os ovos mexidos.
Era a mesma metáfora trabalhada por
Alejo Carpentier em várias de suas
ficções. Um furacão na frigideira: o
processo revolucionário mexe
as
estruturas do ovo, misturando a clara e
a gema. Para
Alejo, havia uma
conexão entre a metáfora do f
para falar do processo revolucionário
cubano e antilhano, e não apenas no
século XX, mas desde a Revolução do
Haiti
com os processos de
transculturação afro
característicos do empreendimento
colonial ibero-
americano. Por um átimo
de s
egundo a expressão
revueltos
trazia a imagem da utopia
latino-
americana ensejada pelo
vanguardismo modernista de
Carpentier e de muitos outros artistas
e ensaístas da América Latina.
Combinei com Ignácio e Carmen de
tomarmos um vinho ao final da tar
Queria tocar para eles a música que
compusera por aqueles dias. Já estava
na última semana de viagem e já havia
feito diversas visitas à Fundación
Carpentier e à Biblioteca Nacional
José Martí. Ao fim da última visita de
pesquisa na Fundación, Ra
presenteou-
me com várias edições
críticas das obras de Alejo publicadas
pela Fundación.
Passara aquelas madrugadas
escrevendo o ensaio “Afeto e método
em Havana”. A ideia era produzir um
texto acessível e comunicativo para
um blico amplo, sem as
451
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Alejo, havia uma
conexão entre a metáfora do f
uracão
para falar do processo revolucionário
cubano e antilhano, e não apenas no
século XX, mas desde a Revolução do
com os processos de
transculturação afro
-americanos
característicos do empreendimento
americano. Por um átimo
egundo a expressão
huevos
trazia a imagem da utopia
americana ensejada pelo
vanguardismo modernista de
Carpentier e de muitos outros artistas
e ensaístas da América Latina.
Combinei com Ignácio e Carmen de
tomarmos um vinho ao final da tar
de.
Queria tocar para eles a música que
compusera por aqueles dias. Já estava
na última semana de viagem e já havia
feito diversas visitas à Fundación
Alejo
Carpentier e à Biblioteca Nacional
José Martí. Ao fim da última visita de
pesquisa na Fundación, Ra
fael
me com várias edições
críticas das obras de Alejo publicadas
Passara aquelas madrugadas
escrevendo o ensaio “Afeto e método
em Havana”. A ideia era produzir um
texto acessível e comunicativo para
um blico amplo, sem as
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
fo
rmalidades acadêmicas da escrita
científica. A ideia era resgatar a
aventura da imaginação sociológica, o
gosto pela descoberta e pela
experiência crítica, mostrando uma
imagem verossímil de como a
pesquisa científica na área das
ciências humanas opera no limiar do
prazer e do autoconhecimento. Eu
adorava a maneira carinhosa como
muitos cineastas cubanos se referiam
aos filmes. A partir de uma contração
da palavra película
simplesmente peli
. Como um princípio
de prazer, u
m materialismo encarnado
no próprio exercício do desejo, da
imaginação e da liberdade criativa
experimentada “na pele”. Em sutil
deslize, pela homofonia das palavras
entre o português e o espanhol,
passou-
me desapercebido que a
palavra pele”, em espanhol,
escreve “piel”. Apenas
um falante de
português poderia ouvir na contração
peli
o sentido dado pela metáfora
“pele”. Ri de mim mesmo pelo ato
falho. Mas o “erro”, aqui, era acerto e
alimento por onde escapa o
imaginário: a
utopia da integração
regional e a pro
messa de liberdade
encenada no deslize
ingênuo de um
simples portunhol.
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
rmalidades acadêmicas da escrita
científica. A ideia era resgatar a
aventura da imaginação sociológica, o
gosto pela descoberta e pela
experiência crítica, mostrando uma
imagem verossímil de como a
pesquisa científica na área das
ciências humanas opera no limiar do
prazer e do autoconhecimento. Eu
adorava a maneira carinhosa como
muitos cineastas cubanos se referiam
aos filmes. A partir de uma contração
falavam
. Como um princípio
m materialismo encarnado
no próprio exercício do desejo, da
imaginação e da liberdade criativa
experimentada “na pele”. Em sutil
deslize, pela homofonia das palavras
entre o português e o espanhol,
me desapercebido que a
palavra pele”, em espanhol,
se diz e
um falante de
português poderia ouvir na contração
o sentido dado pela metáfora
“pele”. Ri de mim mesmo pelo ato
falho. Mas o “erro”, aqui, era acerto e
alimento por onde escapa o
utopia da integração
messa de liberdade
ingênuo de um
O conceito “real maravi
Carpentier, adaptado e
propaganda turística oficial pelos 500 anos
de aniversário da capital cubana na porta
da entrada principal da emblemática
sorveteria Coppelia, em La Havana, entre a
Av. 23 e L.
Pátio interno do casarão colonial que abriga
a unidade de atividades culturais da
Fundación
Alejo Carp
Calle Empedrado, em Havana Vieja, onde o
escritor situou o cenário familiar de sua
novela
El siglo de lasluces
452
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
O conceito “real maravi
lhoso”, de Alejo
Carpentier, adaptado e
popularizado como
propaganda turística oficial pelos 500 anos
de aniversário da capital cubana na porta
da entrada principal da emblemática
sorveteria Coppelia, em La Havana, entre a
Pátio interno do casarão colonial que abriga
a unidade de atividades culturais da
Alejo Carp
entier, situada na
Calle Empedrado, em Havana Vieja, onde o
escritor situou o cenário familiar de sua
El siglo de lasluces
(1962).
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
- Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
19, p. 407-453, set. 2020.
Referências b
ibliográficas
CARMO, Maria Suzana Moreira do.
“Fedra”, de Jean Racine: moral do
século XVII e criação literária
Santa Maria, v. 24, n. 49, p. 153
jul./dez. 2014.
CARPENTIER, Alejo.
¡Ecué
São Paulo: Editora Brasiliense, 1989.
CARPENTIER, Alejo.
El bairro de San
Sulpicio. In: Crónicas
. La Havana:
E
ditorial Letras Cubanas, 1985,
403.
CARPENTIER, Alejo.
El encanto
cosmopolita del Bairro
Crónicas
. La Havana: Editorial Letras
Cubanas, 1985, p. 380-
384.
CARPENTIER, Alejo.
A harpa e a
sombra
. Rio de Janeiro: editora
Bertrand Brasil S. A., 1987.
CARPENTIER, Alejo.
Toutuche
. La Havana: Editorial Letras
Cubanas, 2010.
CARPENTIER, Alejo
.
Barroco
. São Paulo: Companhia da
Letras, 2008.
CARPENTIER, Alejo.
O século das
luzes
(1962). São Paulo: Círculo do
livro, 1989.
GINZBURG, Carlo.
Mitos, Emblemas e
Sinais:
morfologia e história
Paulo: Cia. das Letras, 1986.
GINZBURG, Carlo.
Relações de
Força:
histórica, retórica e prova
Paulo: Cia.
das Letras, 2002.
MALINOWSKI, Bronislaw.
Prefácio. In:
ORTÍZ, Fernando.
Contrapunt
cubano del tabaco y el
Caracas: Biblioteca Ayacucho, 1987
NEDER-
CERQUEIRA,
Explosão na catedral:
Poder, Cultura e
Modernidade na América
Passagens. Revista Internacional de
História Política e Cultura Jurídica
CERQUEIRA, Marcelo. Afeto e método em Havana.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 10, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Ensaio)
ibliográficas
:
CARMO, Maria Suzana Moreira do.
“Fedra”, de Jean Racine: moral do
século XVII e criação literária
. Letras,
Santa Maria, v. 24, n. 49, p. 153
-174,
¡Ecué
-Yamba-Ó!
São Paulo: Editora Brasiliense, 1989.
El bairro de San
. La Havana:
ditorial Letras Cubanas, 1985,
p. 399-
El encanto
cosmopolita del Bairro
Latino. In:
. La Havana: Editorial Letras
384.
A harpa e a
. Rio de Janeiro: editora
Bertrand Brasil S. A., 1987.
Cartas a
. La Havana: Editorial Letras
.
Concerto
. São Paulo: Companhia da
O século das
(1962). São Paulo: Círculo do
Mitos, Emblemas e
morfologia e história
. São
Paulo: Cia. das Letras, 1986.
Relações de
histórica, retórica e prova
. São
das Letras, 2002.
Prefácio. In:
Contrapunt
eo
cubano del tabaco y el
azúcar.
Caracas: Biblioteca Ayacucho, 1987
.
Marcelo.
Poder, Cultura e
Modernidade na América
Latina.
Passagens. Revista Internacional de
História Política e Cultura Jurídica
, Rio
de Janeiro,
vol. 11, n
maio-ago. 2019.
NEDER-
CERQUEIRA, Marcelo.
Relações de força
modernidade na
América Latina:
cultura, poder e subjetividade
(Doutorado em História)
Federal Fluminense,
Niterói,
ORTÍZ, Fernando.
cubano del tabaco y el
Caracas: Biblioteca Ayacucho, 1987.
PADURA, Leonardo.
Paulo: Cia. das L
etras, 2000.
SCHNAIDERMAN, Boris. Maiakovski
evolução e unidade. In:
SCHNAIDERMAN, Boris
Augusto de; CAMPOS, Haroldo de
(tradutores e orgs.).
Poemas.
São Paulo: Perspectiva,
2008.
WISN
IK, José Miguel.
saber de um homem?
Rio de Janeiro [
Editora Alvinegra
2015.
ŽIŽEK, Slavoj.
Como Marx inventou o
sintoma? In: ŽIŽEK
, Slavoj (org
Mapa da Ideologia.
Editora Contraponto, 1996.
453
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
vol. 11, n
. 2, p. 177-202,
CERQUEIRA, Marcelo.
Relações de força
na passagem à
América Latina:
cultura, poder e subjetividade
.
(Doutorado em História)
. Universidade
Niterói,
2016.
ORTÍZ, Fernando.
Contrapunteo
cubano del tabaco y el
azúcar.
Caracas: Biblioteca Ayacucho, 1987.
PADURA, Leonardo.
Máscaras. o
etras, 2000.
SCHNAIDERMAN, Boris. Maiakovski
:
evolução e unidade. In:
SCHNAIDERMAN, Boris
; CAMPOS,
Augusto de; CAMPOS, Haroldo de
(tradutores e orgs.).
Maiakovski.
São Paulo: Perspectiva,
IK, José Miguel.
O que se pode
saber de um homem?
Piauí, n. 109,
Editora Alvinegra
], out.
Como Marx inventou o
, Slavoj (org
.). Um
Rio de Janeiro:
Editora Contraponto, 1996.