ISSN 2237
-
1508
Niterói / RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
ARTIGOS / ARTICLES
Caretagem, uma manifestação identitária na comunidade
quilombola São Domingos
Caretagem, an identity manifestation in quilombola community São
Domingos
LUIZ HENRIQUE GOMES DA SILVA
ROSINEIDE MAGALHÃES DE SOUSA
Festas pretas em Belém. Performances identitárias e políticas
na festa AFROnto
Black parties in Belém. Identity performances and politics at the
Afronto party
TAINÁ OLIVEIRA BARRAL
FÁBIO FONSECA DE CASTRO
MARINA RAMOS NEVES DE CASTRO
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura
no Brasil
Federalism and municipal cultural promotion policy in Brazil
ANTONIO ALBINO CANELAS RUBIM
JULIANA ALMEIDA
SOFIA METTENHEIM
Transformações na gestão das agências de publicidade durante
a pandemia do Covid-19: um estudo nas regiões do Paranhana e
Hortênsias
Transformations in the Management of Advertising Agencies during
the Covid-19 Pandemic: a study in the regions of Paranhana and
Hortensias
EDUARDO ZILLES BORBA
MARLEY RODRIGUES
VALMIR MATEUS PORTAL
MONICA GREGGIANIN
A “arte da malandragem” entre a farsa e a tragédia - uma
narrativa dramática de longa duração
The “art of trickery” between burlesque and tragedy - a long-lasting
dramatic narrative
GILMAR ROCHA
ENSAIO / ESSAY
Geopolítica, identidade cultural e a língua espanhola no
contexto brasileiro
Geopolitics, cultural identity and the Spanish language in the
Brazilian context
MARIA CLÁUDIA DE JESUS MACHADO
ROSA YOKOTA
DOSSIÊ / DOSSIER
TRAMAS ENTRE CULTURA E EDUCAÇÃO
Palavras Inquietas - Apresentação do Dossiê
PÂMELLA PASSOS
NÍVEA ANDRADE
Porto, praça e palco: as ruas da cidade como espaços de educação
Port, square, stage: city streets as educations places
JOÃO LUIZ GUERREIRO MENDES
LUÍSA VALENÇA REIS
“Os saraus são as bibliotecas sonoras das periferias”: uma narrativa sobre
letramentos e o direito à cidade
“The soirées are the sound libraries of the peripheries”: A narrative about literacies and the
right to the city
ADRIANA CARVALHO LOPES
JANAINA TAVARES
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como
uma prática educacional antirracista
Making happy chants and hiccups f pain be heard: a visiting experience to the Little Africa
region with history undergraduate licentiate and technical high-school students
PÂMELLA PASSOS
PEDRO SOUZA
SANDRINE BARROS DA SILVA
Cultura popular e educação, uma experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Popular culture and education, a visitation experience to the Casa do Pontal Museum
LIA CALABRE
ROSELY COUTINHO
"Quem Sabe de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade
"Quem Sabe de Mim Sou Eu": cultural and communicative practices as pedagogical tools
for vulnerable young people
FLORA DAEMON
KLEBER MENDONÇA
MARILDO JOSÉ NERCOLINI
“Meu filho, minhas regras”: o caso do Escola sem Partido em Belo Horizonte
“My son, my rules”: the “Escola sem Partido” case in Belo Horizonte
LEANDRO DE PAULA
JOÃO VICTOR IGLESIAS
O espetáculo da escola em movimento: conversas sensíveis, temas invisibilizados e
corpos pulsantes
The school show in movement: sensitive conversations, invisible themes and pulsing
bodies
PATRICIA GAMA TEMPORIM CANSI
MARIA INÊS ROCHA DE SÁ
O ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no IF Fluminense
campus Campos Centro
Theater teaching and the construction of heterotopic spaces in IF Fluminense campus
Campos Centro
ALINE DOS SANTOS PORTILHO
MARIA SIQUEIRA QUEIROZ DE CARVALHO
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
About youth and periphery dwelling of Duque de Caxias
RAVELLY MACHADO SOARES GÜNTENSPERGER
LIVIA BAPTISTA NICOLINI
Educomunicação e interculturalidade como propostas para acolhida, adaptação e
integração de crianças imigrantes no ambiente escolar
Educomunicação and interculturality as proposals for the reception, adaptation and
integration of immigrant children in the school environment
CAMILA ESCUDERO
Cultura, arte e estética: uma análise da educação da sensibilidade a partir de uma
exposição
Culture, art and aesthetics: an analysis of sensitivity education from an exhibition
ANGELINA ACCETTA ROJAS
ANDRÉ CESARI BATISTA DE LIMA
LÍVIA RIBEIRO BARBOZA DE ARAÚJO BRAGA
RESENHA / REVIEW
SATRAPI, Marjane. Bordados. Tradução de Paulo Werneck. São Paulo: Companhia
das Letras, 2010.
FERNANDA GABRIELLY TERRA MOURA
EVELYN MORGAN MONTEIRO
P r a g M AT I Z E S
Revista Latino
EDITORES EXECUTIVOS
de Arte, Brasil
Brasil
CONSELHO EDITORIAL
Adair Rocha, Universidade do Estado do
Rio de Janeiro / Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil
Adriana Facina, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Ahtziri Molina Roldán, Universidad Veracruizana, México
Alberto Fesser, Socio Director de La Fabrica em Ingenieria Cu
de La Fundación Contemporánea, Espanha
Alexandre Barbalho, Universidade Estadual do Ceará, Brasil
Allan Rocha de Souza, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil
Ana Enne, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Angel Mestres Vila, Universitat de Barcelona, Espanha
Antônio Albino Canela Rubin, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Cristina Amélia Pereira d
e Carvalho, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Brasil
Edwin Juno-
Delgado, Université de Bourgogne / ESC Dijon, campus de
Paris, França
Eloisa Porto C. Allevato Braem, Universidade
do Estado do Rio de
Janeiro, Brasil
Buenos Aires, Argentina
Flávia Lages, Universidade Federal Fluminense, Brasil
George Yúd
ice, Universidae de Miami, Estados Unidos da América
Hugo Achugar, Universidad de la Republica, Uruguai
Idemburgo Pereira Frazão, Unigranrio, Brasil
Isabel Babo, Universidade Lusófona do Porto, Portugal
Brasil
Julio Seoane Pinilla, Universidad de Alcalá, Espanha
Lia Calabre, Fundação Casa de Rui Barbosa, Brasil
Lívia Reis, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Janeiro, Brasil
REALIZAÇÃO:
PARCEIROS e INDEXADORES:
P r a g M AT I Z E S
Revista Latino
-
Americana de Estudos em Cultura
Ano 11 nº 20 - março/2021
Luiz Augusto F. Rodrigues, Universidade Federal Fluminense
, Departamento
Flávia Lages, Universidade Federal Fluminense, Departamento de Arte, Brasil
João Domingues, Universidade Federal Fluminense, Departamento de Arte,
Rio de Janeiro / Pontifícia
Adriana Facina, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Ahtziri Molina Roldán, Universidad Veracruizana, México
Alberto Fesser, Socio Director de La Fabrica em Ingenieria Cu
ltural / Director
Alexandre Barbalho, Universidade Estadual do Ceará, Brasil
Allan Rocha de Souza, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil
Antônio Albino Canela Rubin, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Carlos Henrique Marcondes, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Christina Vital, Universidade Federal Fluminense, Brasil
e Carvalho, Universidade Federal do Rio Grande do
Daniel Mato, Universidade Nacional Tres de Febrero, Argentina
Danielle Brasiliense, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Deborah Rebello Lima, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Durval Muniz de Albuquerque Jr., Universidade Estadual da Paraíba, Brasil
Eduardo Paiva, Universidade Estadual de Campinas, Brasil
Delgado, Université de Bourgogne / ESC Dijon, campus de
do Estado do Rio de
Fábio Fonseca de Castro, Universidade Federal do Pará, Brasil
Fernando Arias, Observatorio de Industrias Creativas de la Ciudad de
ice, Universidae de Miami, Estados Unidos da América
Gizlene Neder, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Guilherme Werlang, Universidade Federal Fluminense, Brasil
João Domingues, Universidade Federal Fluminense, Brasil
José Luís Mariscal Orozco, Universidad de Guadalajara, México
José Márcio Barros, Universidade Estadual de Minas Gerais / PUC Minas,
Lilian Fessler Vaz, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Lívia de Tommasi, Universidade Federal do ABC, Brasil
Luís Edmundo de Souza Moraes, Universidade Federal Rural do Rio de
Luiz Augusto Fernandes Rodrigues, Universidade Federal Fluminense,
Brasil
Luiz Guilherme Vergara, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Manoel
Marcondes Machado Neto, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Brasil
Marcela A. País Andrade, Universidad de Buenos Aires, Argentina
Márcia Ferran, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Maria Adelaida Jaramillo Gonzalez, Universidad de Antioquia, Col
Maria Manoel Baptista, Universidade de Aveiro, Portugal
Marialva Barbosa, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Marildo Nercolini, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Marina Bay Frydberg, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Mário
Pragmácio Telles, Faculdades Integradas Hélio Alonso, Brasil
Marisa Schincariol de Mello, Universidade Cândido Mendes, Brasil
Marta Elena Bravo, Universidad Nacional de Colombia
Colombia
Martín A. Becerra, Universidad Nacional de Quilmes,
Mónica Bernabé, Universidad Nacional de Rosario, Argentina
Muniz Sodré, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Orlando Alves dos Santos Jr., Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Brasil
Pâmella Passos, Instituto Federal do Rio de Janeir
Patricio Rivas, Universidad de Chile, Chile
Paulo Carrano, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Paulo César Silva de Oliveira, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Brasil
Paulo Miguez, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Priscilla
Oliveira Xavier, Centro Universitário Carioca, Brasil
Renata Rocha, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Ricardo Gomes Lima, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Rossi Alves Gonçalves, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Simonne Teixeira,
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro, Brasil
Stefano Cristante, Università del Salento, Italia
Tamara Quírico, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Teresa Muñoz Gutiérrez, Universidad de La Habana, Cuba
Tunico Amâncio,
Universidade Federal Fluminense, Brasil
Valmor Rhoden, Universidade Federal do Pampa, Brasil
Vladimir Sibylla Pires, Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro, Brasil
Victor Miguel Vich Flórez, Pontifícia Universidad Católica del Perú, Peru
Zandra P
edraza Gomez, Universidad de Los Andes, Colômbia
CONSELHO DE ÉTICA
Luiz Augusto F. Rodrigues, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Marina Bay Frydberg, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Rossi Alves Gonçalves, Universidade Federal Fluminense,
EQUIPE DE SUPORTE:
Ubirajara Leal, suporte técnico -
IACS/UFF
Dulce Maria Terra Guimarães, Revisão
-
P r a g M AT I Z E S
Americana de Estudos em Cultura
Luiz Augusto Fernandes Rodrigues, Universidade Federal Fluminense,
Luiz Guilherme Vergara, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Marcondes Machado Neto, Universidade do Estado do Rio de
Marcela A. País Andrade, Universidad de Buenos Aires, Argentina
Márcia Ferran, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Maria Adelaida Jaramillo Gonzalez, Universidad de Antioquia, Col
ômbia
Maria Manoel Baptista, Universidade de Aveiro, Portugal
Marialva Barbosa, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Marildo Nercolini, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Marina Bay Frydberg, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Pragmácio Telles, Faculdades Integradas Hélio Alonso, Brasil
Marisa Schincariol de Mello, Universidade Cândido Mendes, Brasil
Marta Elena Bravo, Universidad Nacional de Colombia
– sede Medellín,
Martín A. Becerra, Universidad Nacional de Quilmes,
Argentina
Mónica Bernabé, Universidad Nacional de Rosario, Argentina
Muniz Sodré, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Orlando Alves dos Santos Jr., Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Pâmella Passos, Instituto Federal do Rio de Janeir
o, Brasil
Patricio Rivas, Universidad de Chile, Chile
Paulo Carrano, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Paulo César Silva de Oliveira, Universidade do Estado do Rio de
Paulo Miguez, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Oliveira Xavier, Centro Universitário Carioca, Brasil
Renata Rocha, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Ricardo Gomes Lima, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Rossi Alves Gonçalves, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Stefano Cristante, Università del Salento, Italia
Tamara Quírico, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Teresa Muñoz Gutiérrez, Universidad de La Habana, Cuba
Universidade Federal Fluminense, Brasil
Valmor Rhoden, Universidade Federal do Pampa, Brasil
Vladimir Sibylla Pires, Universidade Federal do Estado do Rio de
Victor Miguel Vich Flórez, Pontifícia Universidad Católica del Perú, Peru
edraza Gomez, Universidad de Los Andes, Colômbia
Luiz Augusto F. Rodrigues, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Marina Bay Frydberg, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Rossi Alves Gonçalves, Universidade Federal Fluminense,
Brasil
IACS/UFF
-
IACS/UFF
PragMATIZES participa do
compromisso de
São Francisco
(Pacto de DORA)
PragMATIZES – Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura.
Ano XI nº 20, (MAR/2021). – Niterói, RJ: [s. N.], 2021. (Universidade
Federal Fluminense / Laboratório de Ações Culturais - LABAC e
Programa de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades -
PPCULT)
Semestral
ISSN 2237-1508 (versão on line)
1. Estudos culturais. 2. Planejamento e gestão cultural.
3. Teorias da Arte e da Cultura. 4. Linguagens e
expressões artísticas. I. Título.
CDD 306
Universidade Federal Fluminense - UFF
Instituto de Artes e Comunicação Social - IACS | Laboratório de Ações Culturais - LABAC
Programa de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades - PPCULT
Rua Lara Vilela, 126 - São Domingos - Niterói / RJ - Brasil - CEP: 24210-590
+55 21 2629-9755 / 2629-9756 | pragmatizes@gmail.com
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Sumário / Summary
p. 10 - 21
COLABORADORES DA EDIÇÃO / ISSUE'S
p. 22
EDITORIAL / EDITORIAL
TRAMAS ENTRE CULTURA E EDUCAÇÃO
p. 23 - 27
Palavras Inquietas -
Apresentação do Dossiê
PÂMELLA PASSOS
NÍVEA ANDRADE
p. 28 - 50
Porto, praça e palco: as ruas da
Port, square, stage: city streets as educations places
JOÃO LUIZ GUERREIRO
MENDES
LUÍSA VALENÇA REIS
p. 51 - 68
“Os saraus são as bibliotecas sonoras das periferias”:
letramentos e o direito à cidade
“The soirées are the sound libraries of the peripheries”:
right to the city
ADRIANA CARVALHO LOPES
JANAINA TAVARES
p. 69 - 89
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática
educacional antirracista
Making happy chants and hiccups f pain be heard: a visiting experience to the Little Africa
region with history undergraduate licentiate and technical high
PÂMELLA PASSOS
PEDRO SOUZA
SANDRINE BARROS DA SILVA
p. 90 - 108
Cultura popular e educação, uma experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Popular culture and education, a visitation experience to the Casa do Pontal Museum
LIA CALABRE
ROSELY COUTINHO
p. 109 - 135
"Quem Sabe de Mim Sou Eu"
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade
"Quem Sabe de Mim Sou Eu": cultural and communicative practices as pedagogical tools for
vulnerable young people
FLORA DAEMON
KLEBER MENDONÇA
MARILDO JOSÉ NERCOLINI
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Sumário / Summary
COLABORADORES DA EDIÇÃO / ISSUE'S
CONTRIBUTORS
EDITORIAL / EDITORIAL
DOSSIÊ / DOSSIER
TRAMAS ENTRE CULTURA E EDUCAÇÃO
Apresentação do Dossiê
Tramas entre cultura e educação
Porto, praça e palco: as ruas da
cidade como espaços de educação
Port, square, stage: city streets as educations places
MENDES
“Os saraus são as bibliotecas sonoras das periferias”:
uma narrativa sobre
letramentos e o direito à cidade
“The soirées are the sound libraries of the peripheries”:
A narrative about literacies and the
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
educacional antirracista
Making happy chants and hiccups f pain be heard: a visiting experience to the Little Africa
region with history undergraduate licentiate and technical high
-
school students
SANDRINE BARROS DA SILVA
Cultura popular e educação, uma experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Popular culture and education, a visitation experience to the Casa do Pontal Museum
"Quem Sabe de Mim Sou Eu"
: práticas
culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade
"Quem Sabe de Mim Sou Eu": cultural and communicative practices as pedagogical tools for
7
CONTRIBUTORS
Tramas entre cultura e educação
uma narrativa sobre
A narrative about literacies and the
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
Making happy chants and hiccups f pain be heard: a visiting experience to the Little Africa
school students
Cultura popular e educação, uma experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Popular culture and education, a visitation experience to the Casa do Pontal Museum
culturais e comunicacionais como
"Quem Sabe de Mim Sou Eu": cultural and communicative practices as pedagogical tools for
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
p. 136 - 161
“Meu filho, minhas regras”:
“My son, my rules”: the
“Escola
LEANDRO DE PAULA
JOÃO VICTOR IGLESIAS
p. 162 - 177
O espetáculo da escola em movimento: conversas
corpos pulsantes
The school show in movement: sensitive conversations,
PATRICIA GAMA TEMPORIM CANSI
MARIA INÊS ROCHA DE SÁ
p. 178 - 193
O ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no IF Fluminense
campus Campos Centro
Theater teaching and the construction of heterotopic spaces in IF Fluminense campus
Campos Centro
ALINE DOS SANTOS PORTILHO
MARIA SIQUEIRA QUEIROZ DE CARVALHO
p. 194 - 217
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
About youth and periphery dwelling of Duque de Caxias
RAVELLY MACHADO SOARES GÜNTENSPERGER
LIVIA BAPTISTA NICOLINI
p. 218 - 235
Educomunicação e interculturalidade como propostas
integração de crianças imigrantes no ambiente escolar
Educomunicação
and interculturality as proposals for the reception, adaptation and
integration of immigrant children in the school environment
CAMILA ESCUDERO
p. 236 - 254
Cu
ltura, arte e estética: uma análise da educação da sensibilidade a partir de uma
exposição
Culture, art and aesthetics: an analysis of sensitivity education from an exhibition
ANGELINA ACCETTA ROJAS
ANDRÉ CESARI BATISTA DE LIMA
LÍVIA RIBEIRO BARBOZA DE
ARAÚJO BRAGA
RESENHA / REVIEW
p. 255 - 258
SATRAPI, Marjane. Bordados. Tradução de Paulo Werneck. São Paulo: Companhia
das Letras, 2010.
FERNANDA GABRIELLY TERRA MOURA
EVELYN MORGAN MONTEIRO
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
o caso do Escola sem Partido em Belo
Horizonte
“Escola
sem Partido” case in Belo Horizonte
O espetáculo da escola em movimento: conversas
sensíveis, temas invisibilizados e
The school show in movement: sensitive conversations,
invisible themes
and pulsing bodies
PATRICIA GAMA TEMPORIM CANSI
O ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no IF Fluminense
Theater teaching and the construction of heterotopic spaces in IF Fluminense campus
ALINE DOS SANTOS PORTILHO
MARIA SIQUEIRA QUEIROZ DE CARVALHO
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
About youth and periphery dwelling of Duque de Caxias
RAVELLY MACHADO SOARES GÜNTENSPERGER
Educomunicação e interculturalidade como propostas
para acolhida, adaptação e
integração de crianças imigrantes no ambiente escolar
and interculturality as proposals for the reception, adaptation and
integration of immigrant children in the school environment
ltura, arte e estética: uma análise da educação da sensibilidade a partir de uma
Culture, art and aesthetics: an analysis of sensitivity education from an exhibition
ANDRÉ CESARI BATISTA DE LIMA
ARAÚJO BRAGA
SATRAPI, Marjane. Bordados. Tradução de Paulo Werneck. São Paulo: Companhia
FERNANDA GABRIELLY TERRA MOURA
EVELYN MORGAN MONTEIRO
8
Horizonte
sensíveis, temas invisibilizados e
and pulsing bodies
O ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no IF Fluminense
Theater teaching and the construction of heterotopic spaces in IF Fluminense campus
para acolhida, adaptação e
and interculturality as proposals for the reception, adaptation and
ltura, arte e estética: uma análise da educação da sensibilidade a partir de uma
Culture, art and aesthetics: an analysis of sensitivity education from an exhibition
SATRAPI, Marjane. Bordados. Tradução de Paulo Werneck. São Paulo: Companhia
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
p. 259 - 276
Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
Caretagem, an identity manifestation in quilombola community São Domingos
LUIZ HENRIQUE GOMES DA SILVA
ROSINEIDE MAGALHÃES DE SOUSA
p. 277 - 299
Festas pretas em Belém. Performances identitárias e políticas na festa
Black parties in Belém. Identity performances and politics at the
TAINÁ OLIVEIRA BARRAL
FÁBIO FONSECA DE CASTRO
MARINA RAMOS NEVES DE CASTRO
p. 300 - 326
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
Federalism and municipal cultural promotion policy in Brazil
ANTONIO ALBINO CANELAS RUBIM
JULIANA ALMEIDA
SOFIA METTENHEIM
p. 327 - 357
Transformações na gestão das a
19: um estudo nas regiões do Paranhana e Hortênsias
Transformations in the Management of Advertising Agencies during the Covid
a study in the regions of Paranhana and Hortensias
EDUARDO ZILLES BORBA
MARLEY RODRIGUES
VALMIR MATEUS PORTAL
MONICA GREGGIANIN
p. 358 - 385
A “arte da malandragem” entre a farsa e a tragédia
duração
The “art of trickery” between burlesque and tragedy
GILMAR ROCHA
p. 386 - 405
Geopolítica, identidade cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Geopolitics, cultural identity and the Spanish language in the Brazilian context
MARIA CLÁUDIA DE JESUS MACHADO
ROSA YOKOTA
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
ARTIGOS / ARTICLES
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
Caretagem, an identity manifestation in quilombola community São Domingos
LUIZ HENRIQUE GOMES DA SILVA
ROSINEIDE MAGALHÃES DE SOUSA
Festas pretas em Belém. Performances identitárias e políticas na festa
Black parties in Belém. Identity performances and politics at the
Afronto
party
FÁBIO FONSECA DE CASTRO
MARINA RAMOS NEVES DE CASTRO
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
Federalism and municipal cultural promotion policy in Brazil
ANTONIO ALBINO CANELAS RUBIM
Transformações na gestão das a
gências de publicidade durante a p
andemia do Covid
19: um estudo nas regiões do Paranhana e Hortênsias
Transformations in the Management of Advertising Agencies during the Covid
a study in the regions of Paranhana and Hortensias
A “arte da malandragem” entre a farsa e a tragédia
-
uma narrativa dramática de longa
The “art of trickery” between burlesque and tragedy
- a long-
lasting dramatic narrative
ENSAIO / ESSAY
Geopolítica, identidade cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Geopolitics, cultural identity and the Spanish language in the Brazilian context
MARIA CLÁUDIA DE JESUS MACHADO
9
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
Caretagem, an identity manifestation in quilombola community São Domingos
Festas pretas em Belém. Performances identitárias e políticas na festa
AFROnto
party
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
andemia do Covid
-
Transformations in the Management of Advertising Agencies during the Covid
-19 Pandemic:
uma narrativa dramática de longa
lasting dramatic narrative
Geopolítica, identidade cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Geopolitics, cultural identity and the Spanish language in the Brazilian context
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Colaboradores da edição
Issue's contributors
Adriana Carvalho Lopes
Brasília (2000), mestrado em Lingüística pela Universidade de Brasília (2003) e
doutorado em Lingüística pelo Instituto de Estudos da Ling
Estadual de Campinas (2010). Foi pesquisadora visitante no Departamento de
Estudos Afro-
Americanos da Universidade da Califórnia, Berkeley, sob orientação do
Professor Percy Hintzen, como bolsista da CAPES. Publicou em 2012, o livro "
se quem quiser no Batidão Negro da Cidade Carioca" (Rio de Janeiro: Bom
Texto/Faperj). Atualmente, é professora associada do Departamento de Educação
da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (DES/UFRRJ) e professora
colaboradora do Programa
Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PIP
de Pós-G
raduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas
Populares (PPGDUC/UFRRJ). Seus interesses de pesquisa estão
juventudes, os letramentos, as relações étnico
perspectivas indisciplinares que colocam em diálogo a Linguística Aplicada, a
Antropologia Linguística, Pragmática Crítica e a Educação. Tem longa experiência
c
om formação de professores de língua portuguesa, articulando desenvolvimento
linguístico, social e humano. Entre os anos de 2010 e 2012 esteve de licença à
maternidade. E-
mail: adrianaclopes14@gmail.com
6068-8308
Aline dos Sa
ntos Portilho
Universidade Federal Fluminense (2007), mestrado (2010) e doutorado (2016) em
História, Política e Bens Culturais pela Fundação Getúlio Vargas. Atualmente, é
Produtora Cultural (cargo cnico admini
Federal Fluminense campus Campos Centro. Iniciou a atuação como Produtora
Cultural em 2008, na UFRJ, passando pela Casa da Ciência
Ciência e Tecnologia da UFRJ (2008
2014), onde gerenciou projetos culturais e atuou no Laboratório de Produção
Cultural. Inici
ou sua atuação no Instituto Federal Fluminense em 2015, onde
coordenou projetos de extensão na área de Cultura do campus Santo Antônio de
Pádua (2015-
2016), atou na coordenação de Políticas Culturais e Diversidade na
Reitoria (2017 -
2018), momento em que prestou assessoria técnica para elaboração
do Plano de Cultura da instituição. Atualmente, é responsável pela Coordenação de
Cultura no campus Campos
de políticas culturais do campus. Coordena projetos de extensão e de pesquisa que
têm a memória, o patrimônio cultural e as políticas culturais como temas centrais.
Tem experiência na área de Produção C
atuando principalmente nos seguintes temas: política e gestão cultural nos
ambientes de ensino, políticas para a memória, extensão universitária e produção
cultural. E-mail:
aline.portilho@iff.edu.br
André Cesari Batista de Lima
em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Adriana Carvalho Lopes
.
Possui graduação em Letras pela Universidade de
Brasília (2000), mestrado em Lingüística pela Universidade de Brasília (2003) e
doutorado em Lingüística pelo Instituto de Estudos da Ling
uagem da Universidade
Estadual de Campinas (2010). Foi pesquisadora visitante no Departamento de
Americanos da Universidade da Califórnia, Berkeley, sob orientação do
Professor Percy Hintzen, como bolsista da CAPES. Publicou em 2012, o livro "
se quem quiser no Batidão Negro da Cidade Carioca" (Rio de Janeiro: Bom
Texto/Faperj). Atualmente, é professora associada do Departamento de Educação
da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (DES/UFRRJ) e professora
colaboradora do Programa
Interdisciplinar de Pós-G
raduação em Linguística
Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PIP
GLA/UFRJ) e do Programa
raduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas
Populares (PPGDUC/UFRRJ). Seus interesses de pesquisa estão
juventudes, os letramentos, as relações étnico
-
raciais e de gênero a partir de
perspectivas indisciplinares que colocam em diálogo a Linguística Aplicada, a
Antropologia Linguística, Pragmática Crítica e a Educação. Tem longa experiência
om formação de professores de língua portuguesa, articulando desenvolvimento
linguístico, social e humano. Entre os anos de 2010 e 2012 esteve de licença à
mail: adrianaclopes14@gmail.com
-
https://orcid.org/
ntos Portilho
.
Possui graduação em Produção Cultural pela
Universidade Federal Fluminense (2007), mestrado (2010) e doutorado (2016) em
História, Política e Bens Culturais pela Fundação Getúlio Vargas. Atualmente, é
Produtora Cultural (cargo cnico admini
strativo de nível superior) do Instituto
Federal Fluminense campus Campos Centro. Iniciou a atuação como Produtora
Cultural em 2008, na UFRJ, passando pela Casa da Ciência
-
Centro Cultural de
Ciência e Tecnologia da UFRJ (2008
-
2009), pela Escola de Comu
2014), onde gerenciou projetos culturais e atuou no Laboratório de Produção
ou sua atuação no Instituto Federal Fluminense em 2015, onde
coordenou projetos de extensão na área de Cultura do campus Santo Antônio de
2016), atou na coordenação de Políticas Culturais e Diversidade na
2018), momento em que prestou assessoria técnica para elaboração
do Plano de Cultura da instituição. Atualmente, é responsável pela Coordenação de
Cultura no campus Campos
Centro, sendo responsável pela elaboração e execução
de políticas culturais do campus. Coordena projetos de extensão e de pesquisa que
têm a memória, o patrimônio cultural e as políticas culturais como temas centrais.
Tem experiência na área de Produção C
ultural, com ênfase na gestão cultural,
atuando principalmente nos seguintes temas: política e gestão cultural nos
ambientes de ensino, políticas para a memória, extensão universitária e produção
aline.portilho@iff.edu.br
- https://orcid.org/0000-
0003
André Cesari Batista de Lima
.
Mestrando em Cultura e Territorialidades e bacharel
em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense
-
UFF, tendo como
10
Possui graduação em Letras pela Universidade de
Brasília (2000), mestrado em Lingüística pela Universidade de Brasília (2003) e
uagem da Universidade
Estadual de Campinas (2010). Foi pesquisadora visitante no Departamento de
Americanos da Universidade da Califórnia, Berkeley, sob orientação do
Professor Percy Hintzen, como bolsista da CAPES. Publicou em 2012, o livro "
Funk-
se quem quiser no Batidão Negro da Cidade Carioca" (Rio de Janeiro: Bom
Texto/Faperj). Atualmente, é professora associada do Departamento de Educação
da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (DES/UFRRJ) e professora
raduação em Linguística
GLA/UFRJ) e do Programa
raduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas
Populares (PPGDUC/UFRRJ). Seus interesses de pesquisa estão
voltados para as
raciais e de gênero a partir de
perspectivas indisciplinares que colocam em diálogo a Linguística Aplicada, a
Antropologia Linguística, Pragmática Crítica e a Educação. Tem longa experiência
om formação de professores de língua portuguesa, articulando desenvolvimento
linguístico, social e humano. Entre os anos de 2010 e 2012 esteve de licença à
https://orcid.org/
0000-0002-
Possui graduação em Produção Cultural pela
Universidade Federal Fluminense (2007), mestrado (2010) e doutorado (2016) em
História, Política e Bens Culturais pela Fundação Getúlio Vargas. Atualmente, é
strativo de nível superior) do Instituto
Federal Fluminense campus Campos Centro. Iniciou a atuação como Produtora
Centro Cultural de
2009), pela Escola de Comu
nicação (2010 -
2014), onde gerenciou projetos culturais e atuou no Laboratório de Produção
ou sua atuação no Instituto Federal Fluminense em 2015, onde
coordenou projetos de extensão na área de Cultura do campus Santo Antônio de
2016), atou na coordenação de Políticas Culturais e Diversidade na
2018), momento em que prestou assessoria técnica para elaboração
do Plano de Cultura da instituição. Atualmente, é responsável pela Coordenação de
Centro, sendo responsável pela elaboração e execução
de políticas culturais do campus. Coordena projetos de extensão e de pesquisa que
têm a memória, o patrimônio cultural e as políticas culturais como temas centrais.
ultural, com ênfase na gestão cultural,
atuando principalmente nos seguintes temas: política e gestão cultural nos
ambientes de ensino, políticas para a memória, extensão universitária e produção
0003
-0079-2565
Mestrando em Cultura e Territorialidades e bacharel
UFF, tendo como
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
formação complementar cursos de música realizados no Centro de Ópera Popular
de Acari, Centro de Referencia da Música Carioca e
especializando em bandolim. Atuou como professor de bandolim, teoria musical e
prática de conjunto do Centro de Ópera Popular de Acari, realizando os ensaios e
arranjos da Orquestra Jovem do Centro de Ópera Popular de Acari. Co
instrumentista, atua tocando bandolim, onde fez parte dos grupos de música
instrumental Acariocamerata, Camerata Suburbana e Quinteto Brasilidade.
Atualmente, trabalha no Núcleo de Arte e Cultura, na organização e montagem das
exposições e evento
s realizados da Galeria de Arte La Salle, localizada no
Unilassalle-RJ. E-
mail: andrecesari91@yahoo.com.br
9809-1278
Angelina Accetta Rojas.
Doutora em Ciências da Educação pela UDELMAR, Chile,
Doutora em Educação pela Univers
da Arte pela Universidade Federal Fluminense; Arte
em História da Arte, Educação Infantil e Musicalização. Professora Adjunta do
Unilasalle/RJ; Coordenadora do Núcleo de Arte e Cult
da Galeria de Arte La Salle, membro do Conselho Editorial da Revista Conhecimento
& Diversidade, Arte-
Educadora do Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho,
Arte-
Educadora do Colégio São Vicente de Paulo.
angel
ina.rojas@lasalle.org.br
Antonio Albino Canelas Rubim
Federal da Bahia (1975) e em Medicina pela Escola Baiana de Medicina (1977),
mestre em Ciências Sociais pela Universidad
Sociologia pela Universidade de São Paulo (1987) e pós
Culturais pela Universidade de Buenos Aires e Universidade San Martin (2006).
Professor titular da Universidade Federal da Bahia; docente do Pro
Multidisciplinar de Pós-
Graduação em Cultura e Sociedade e do Programa de Artes
Cênicas, ambos da UFBA. Pesquisador I
Multidisciplinares em Cultura da UFBA. Autor de livros e artigos em periódicos
nacionais e intern
acionais. Membro de conselhos editoriais de publicações em
Cultura e Comunicação. Foi Secretário de Cultura do Estado da Bahia; Diretor do
Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos da UFBA;
Presidente do Conselho Estadual de Cultur
Estudos Multidisciplinares em Cultura; Diretor da Faculdade de Comunicação da
UFBA, por três vezes; Presidente da Câmara de Extensão da UFBA; Coordenador
do Programa de Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA; Pres
Câmara de Comunicação, Cultura e Turismo da Fundação de Amparo à Pesquisa da
Bahia; Secretário de cultura da Associação dos Professores Universitários da Bahia,
por duas vezes, e Presidente da Associação Nacional dos Programas de Pós
Graduação em
Comunicação. Principais áreas de interesse: políticas culturais;
cultura e política; comunicação e política; cultura, comunicação e sociedade. E
albino.rubim@gmail.com -
https://orcid.org/0000
Camila Escudero.
Doutora em Comunicação e
do Rio de Janeiro (UFRJ), com período de pesquisa no Latin American and Latin
Studies Program da University of Illinois at Chicago (UIC). Professora do Programa
de Pós-
Graduação em Comunicação da Universidade Metodista de
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
formação complementar cursos de música realizados no Centro de Ópera Popular
de Acari, Centro de Referencia da Música Carioca e
Escola Portátil de Música se
especializando em bandolim. Atuou como professor de bandolim, teoria musical e
prática de conjunto do Centro de Ópera Popular de Acari, realizando os ensaios e
arranjos da Orquestra Jovem do Centro de Ópera Popular de Acari. Co
instrumentista, atua tocando bandolim, onde fez parte dos grupos de música
instrumental Acariocamerata, Camerata Suburbana e Quinteto Brasilidade.
Atualmente, trabalha no Núcleo de Arte e Cultura, na organização e montagem das
s realizados da Galeria de Arte La Salle, localizada no
mail: andrecesari91@yahoo.com.br
-
https://orcid.org/0000
Doutora em Ciências da Educação pela UDELMAR, Chile,
Doutora em Educação pela Univers
idade Federal Fluminense; Mestre em Ciências
da Arte pela Universidade Federal Fluminense; Arte
-
Educadora, com especialização
em História da Arte, Educação Infantil e Musicalização. Professora Adjunta do
Unilasalle/RJ; Coordenadora do Núcleo de Arte e Cult
ura do Unilasalle/RJ, Curadora
da Galeria de Arte La Salle, membro do Conselho Editorial da Revista Conhecimento
Educadora do Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho,
Educadora do Colégio São Vicente de Paulo.
ina.rojas@lasalle.org.br
- https://orcid.org/0000-0002-3091-
7827
Antonio Albino Canelas Rubim
.
Formado em Comunicação pela Universidade
Federal da Bahia (1975) e em Medicina pela Escola Baiana de Medicina (1977),
mestre em Ciências Sociais pela Universidad
e Federal da Bahia (1979), doutor em
Sociologia pela Universidade de São Paulo (1987) e pós
-
doutor em Políticas
Culturais pela Universidade de Buenos Aires e Universidade San Martin (2006).
Professor titular da Universidade Federal da Bahia; docente do Pro
Graduação em Cultura e Sociedade e do Programa de Artes
Cênicas, ambos da UFBA. Pesquisador I
-
A do CNPq e do Centro de Estudos
Multidisciplinares em Cultura da UFBA. Autor de livros e artigos em periódicos
acionais. Membro de conselhos editoriais de publicações em
Cultura e Comunicação. Foi Secretário de Cultura do Estado da Bahia; Diretor do
Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos da UFBA;
Presidente do Conselho Estadual de Cultur
a da Bahia; Coordenador do Centro de
Estudos Multidisciplinares em Cultura; Diretor da Faculdade de Comunicação da
UFBA, por três vezes; Presidente da Câmara de Extensão da UFBA; Coordenador
do Programa de Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA; Pres
Câmara de Comunicação, Cultura e Turismo da Fundação de Amparo à Pesquisa da
Bahia; Secretário de cultura da Associação dos Professores Universitários da Bahia,
por duas vezes, e Presidente da Associação Nacional dos Programas de Pós
Comunicação. Principais áreas de interesse: políticas culturais;
cultura e política; comunicação e política; cultura, comunicação e sociedade. E
https://orcid.org/0000
-0001-6953-7533
Doutora em Comunicação e
Cultura pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), com período de pesquisa no Latin American and Latin
Studies Program da University of Illinois at Chicago (UIC). Professora do Programa
Graduação em Comunicação da Universidade Metodista de
11
formação complementar cursos de música realizados no Centro de Ópera Popular
Escola Portátil de Música se
especializando em bandolim. Atuou como professor de bandolim, teoria musical e
prática de conjunto do Centro de Ópera Popular de Acari, realizando os ensaios e
arranjos da Orquestra Jovem do Centro de Ópera Popular de Acari. Co
mo músico
instrumentista, atua tocando bandolim, onde fez parte dos grupos de música
instrumental Acariocamerata, Camerata Suburbana e Quinteto Brasilidade.
Atualmente, trabalha no Núcleo de Arte e Cultura, na organização e montagem das
s realizados da Galeria de Arte La Salle, localizada no
https://orcid.org/0000
-0001-
Doutora em Ciências da Educação pela UDELMAR, Chile,
idade Federal Fluminense; Mestre em Ciências
Educadora, com especialização
em História da Arte, Educação Infantil e Musicalização. Professora Adjunta do
ura do Unilasalle/RJ, Curadora
da Galeria de Arte La Salle, membro do Conselho Editorial da Revista Conhecimento
Educadora do Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho,
Educadora do Colégio São Vicente de Paulo.
E-mail:
7827
Formado em Comunicação pela Universidade
Federal da Bahia (1975) e em Medicina pela Escola Baiana de Medicina (1977),
e Federal da Bahia (1979), doutor em
doutor em Políticas
Culturais pela Universidade de Buenos Aires e Universidade San Martin (2006).
Professor titular da Universidade Federal da Bahia; docente do Pro
grama
Graduação em Cultura e Sociedade e do Programa de Artes
A do CNPq e do Centro de Estudos
Multidisciplinares em Cultura da UFBA. Autor de livros e artigos em periódicos
acionais. Membro de conselhos editoriais de publicações em
Cultura e Comunicação. Foi Secretário de Cultura do Estado da Bahia; Diretor do
Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos da UFBA;
a da Bahia; Coordenador do Centro de
Estudos Multidisciplinares em Cultura; Diretor da Faculdade de Comunicação da
UFBA, por três vezes; Presidente da Câmara de Extensão da UFBA; Coordenador
do Programa de Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA; Pres
idente da
Câmara de Comunicação, Cultura e Turismo da Fundação de Amparo à Pesquisa da
Bahia; Secretário de cultura da Associação dos Professores Universitários da Bahia,
por duas vezes, e Presidente da Associação Nacional dos Programas de Pós
-
Comunicação. Principais áreas de interesse: políticas culturais;
cultura e política; comunicação e política; cultura, comunicação e sociedade. E
-mail:
Cultura pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), com período de pesquisa no Latin American and Latin
Studies Program da University of Illinois at Chicago (UIC). Professora do Programa
Graduação em Comunicação da Universidade Metodista de
o Paulo, na
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
linha de pesquisa Comunicação Comunitária, Territórios de Cidadania e
Desenvolvimento social. Assistente de pesquisa no Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA) no projeto Mapa das OSCs. E
https://orcid.org/0000-0002
-
Eduardo Zilles Borba.
Pós
(2017), com foco de pesquisa na imersão em Realidade Virtual, pela Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Doutorado em Ciências da
Info
rmação (Comunicação Publicitária) (2013) pela Universidade Fernando Pessoa
(Portugal), sendo bolsista integral da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT)
do Governo de Portugal
Comunicação da Escola de
(ECA-
USP). Mestrado em Ciências da Comunicação (2008) pela mesma
universidade portuguesa, sendo bolsista integral do Programa Alban (Comissão
Européia) -
Título reconhecido no Brasil pelo Mestrado em Comunic
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Fabico
Comunicação com o Mercado (2005) pela Escola Superior de Propaganda e
Marketing (ESPM). Formado em Comunicação Social: Jornalismo (2004) pela
Universidade do Vale do Rio do
programa CNPq -
Atração de Jovens Talentos, atuou como Professor
pesquisador no PPGEE e no Departamento de Engenharia Eletrônica e Sistemas
Digitais da Escola Politécnica da USP. Atualmente, mantém
atuando como pesquisador no Centro Interdisciplinar em Tecnologias Interativas
(CITI-
USP), onde explora temas como realidade virtual, realidade aumentada,
interação humano-
máquina e tecnocultura. Também é Professor
PPGDR das
Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT) e Professor
na Universidade do Vale do Rio do Sinos (UNISINOS), lecionando e orientando
alunos de Graduação e Pós
PPGs da Feevale (Mestrado e Doutorado), La
(Especialização e MBA). No exterior, é pesquisador
Estudos Culturais, da Linguagem e do Comportamento da Universidade Fernando
Pessoa (CECLICO-
UFP) e no Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e
Europeias
da Universidade de Lisboa (CLEPUL
de Estudos Indústria Criativa para o Desenvolvimento Regional (INCria), vinculado
ao PPGDR e as Graduações de Design, Publicidade, Relações Públicas e Jogos
Digitias na Faccat. Participa co
INTERCOM e SOPCOM. Entre 2006 e 2013 cooperou na docência, produção
criativa e técnica junto à Agência Experimental de Comunicação da UFP (Porto).
Possui 20 anos de experiência como profissional da Comunicação
Design, Marketing, Jornalismo, Agências Digitais). Tem como interesse de pesquisa:
a) Tecnocultura e desdobramentos socio
(audiovisualidades, VR/AR, imersão/presença, dispositivos, processos midiáticos e
in
teracionais, algoritmos, midiatização e construção de sentido em plataforma
digital); b) Práticas publicitárias, gestão e inovação da comunicação (marcas, mídia
programática, IA, videogames, consumo e UX); c) Educação e tecnologias digitais
(VR, AR, IoT, IA). E-
mail: ezb@faccat.br
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
linha de pesquisa Comunicação Comunitária, Territórios de Cidadania e
Desenvolvimento social. Assistente de pesquisa no Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA) no projeto Mapa das OSCs. E
-
mail: camilaescudero@uol.com.br
-
9399-1207
Pós
-
Doutor em Engenharia Eletrônica e Sistemas Digitais
(2017), com foco de pesquisa na imersão em Realidade Virtual, pela Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Doutorado em Ciências da
rmação (Comunicação Publicitária) (2013) pela Universidade Fernando Pessoa
(Portugal), sendo bolsista integral da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT)
do Governo de Portugal
-
Título reconhecido no Brasil pelo Doutorado em
Comunicação da Escola de
Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo
USP). Mestrado em Ciências da Comunicação (2008) pela mesma
universidade portuguesa, sendo bolsista integral do Programa Alban (Comissão
Título reconhecido no Brasil pelo Mestrado em Comunic
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Fabico
-
UFRGS). Pós
Comunicação com o Mercado (2005) pela Escola Superior de Propaganda e
Marketing (ESPM). Formado em Comunicação Social: Jornalismo (2004) pela
Universidade do Vale do Rio do
Sinos (UNISINOS
). De 2014 a 2017, através do
Atração de Jovens Talentos, atuou como Professor
pesquisador no PPGEE e no Departamento de Engenharia Eletrônica e Sistemas
Digitais da Escola Politécnica da USP. Atualmente, mantém
vínculo com a USP
atuando como pesquisador no Centro Interdisciplinar em Tecnologias Interativas
USP), onde explora temas como realidade virtual, realidade aumentada,
máquina e tecnocultura. Também é Professor
Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT) e Professor
na Universidade do Vale do Rio do Sinos (UNISINOS), lecionando e orientando
alunos de Graduação e Pós
-
Graduação. Atuou como Professor
PPGs da Feevale (Mestrado e Doutorado), La
Salle (MBA) e ESPM
(Especialização e MBA). No exterior, é pesquisador
-
colaborador no Centro de
Estudos Culturais, da Linguagem e do Comportamento da Universidade Fernando
UFP) e no Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e
da Universidade de Lisboa (CLEPUL
-
UL). Desde 2019 coordena o Grupo
de Estudos Indústria Criativa para o Desenvolvimento Regional (INCria), vinculado
ao PPGDR e as Graduações de Design, Publicidade, Relações Públicas e Jogos
Digitias na Faccat. Participa co
mo sócio-
membro das organizações IAMCR, ECREA,
INTERCOM e SOPCOM. Entre 2006 e 2013 cooperou na docência, produção
criativa e técnica junto à Agência Experimental de Comunicação da UFP (Porto).
Possui 20 anos de experiência como profissional da Comunicação
Design, Marketing, Jornalismo, Agências Digitais). Tem como interesse de pesquisa:
a) Tecnocultura e desdobramentos socio
-semio-
técnicos das mídias digitais
(audiovisualidades, VR/AR, imersão/presença, dispositivos, processos midiáticos e
teracionais, algoritmos, midiatização e construção de sentido em plataforma
digital); b) Práticas publicitárias, gestão e inovação da comunicação (marcas, mídia
programática, IA, videogames, consumo e UX); c) Educação e tecnologias digitais
mail: ezb@faccat.br
- https://orcid.org/0000-
0001
12
linha de pesquisa Comunicação Comunitária, Territórios de Cidadania e
Desenvolvimento social. Assistente de pesquisa no Instituto de Pesquisa Econômica
mail: camilaescudero@uol.com.br
-
Doutor em Engenharia Eletrônica e Sistemas Digitais
(2017), com foco de pesquisa na imersão em Realidade Virtual, pela Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Doutorado em Ciências da
rmação (Comunicação Publicitária) (2013) pela Universidade Fernando Pessoa
(Portugal), sendo bolsista integral da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT)
Título reconhecido no Brasil pelo Doutorado em
Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo
USP). Mestrado em Ciências da Comunicação (2008) pela mesma
universidade portuguesa, sendo bolsista integral do Programa Alban (Comissão
Título reconhecido no Brasil pelo Mestrado em Comunic
ação da
UFRGS). Pós
-Graduado em
Comunicação com o Mercado (2005) pela Escola Superior de Propaganda e
Marketing (ESPM). Formado em Comunicação Social: Jornalismo (2004) pela
). De 2014 a 2017, através do
Atração de Jovens Talentos, atuou como Professor
-assistente e
pesquisador no PPGEE e no Departamento de Engenharia Eletrônica e Sistemas
vínculo com a USP
atuando como pesquisador no Centro Interdisciplinar em Tecnologias Interativas
USP), onde explora temas como realidade virtual, realidade aumentada,
máquina e tecnocultura. Também é Professor
-convidado no
Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT) e Professor
-assistente
na Universidade do Vale do Rio do Sinos (UNISINOS), lecionando e orientando
Graduação. Atuou como Professor
-convidado nos
Salle (MBA) e ESPM
-Sul
colaborador no Centro de
Estudos Culturais, da Linguagem e do Comportamento da Universidade Fernando
UFP) e no Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e
UL). Desde 2019 coordena o Grupo
de Estudos Indústria Criativa para o Desenvolvimento Regional (INCria), vinculado
ao PPGDR e as Graduações de Design, Publicidade, Relações Públicas e Jogos
membro das organizações IAMCR, ECREA,
INTERCOM e SOPCOM. Entre 2006 e 2013 cooperou na docência, produção
criativa e técnica junto à Agência Experimental de Comunicação da UFP (Porto).
Possui 20 anos de experiência como profissional da Comunicação
(Publicidade,
Design, Marketing, Jornalismo, Agências Digitais). Tem como interesse de pesquisa:
técnicos das mídias digitais
(audiovisualidades, VR/AR, imersão/presença, dispositivos, processos midiáticos e
teracionais, algoritmos, midiatização e construção de sentido em plataforma
digital); b) Práticas publicitárias, gestão e inovação da comunicação (marcas, mídia
programática, IA, videogames, consumo e UX); c) Educação e tecnologias digitais
0001
-5755-2509
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Evelyn Morgan Monteiro
Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da
Fundação Getúlio Vargas (CPDOC/FGV). É
brasileiro e Indígena (NEABI) do IFRJ
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Campus Arraial do
Cabo (IFRJ-CAAC). E-
mail: evelyn.morgam@ifrj.edu.br
Fábio Fonsec
a de Castro
Pesquisador no Programa de s
Trópico Úmido (PPGDSTU), do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (
UFPA), no Programa de Pós
(PPGCOM) e na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Pará
(UFPA). Foi professor visitante no Departamento de Sociologia da Universidade de
Cambridge e conferencista da London School of Economics em 2017
em
Etnometodologia pela Universidade de Montreal (2014). Doutor em Sociologia
pela Universidade da Sorbonne (Paris V Descartes) (2004). Mestre em Antropologia
e Estudo das Sociedades Latino
Nouvelle) (2000). Mestre em
Graduado em Comunicação
Pesquisa Socialidades, Intersubjetividades e Sensibilidades Amazônicas (SISA) no
CNPq. Foi Secretário de Estado de Comunicação no Go
outros cargos e funções públicas: Secretário de Estado Especial para o
Desenvolvimento Social (Governo do Pará), Chefe do Departamento de
Comunicação da UFPA, diretor do Museu da Imagem e do Som do Pará,
Coordenador da mara de Polí
Coordenador da Área de Desenvolvimento Cultural da Fundação Cultural do Pará,
Assessor Especial para o Planejamento Político na Casa Civil do Governo do Estado
do Pará, delegado pelo Pará à I Conferência Nacional d
campo de investigação das experiências sociais amazônicas, com interesse nas
dinâmicas de intersubjetivação, socialidade, sensibilidade, identidades/identificações
e autoreflexividade e com apoio de metodologias compreensivas, fenome
hermenêuticas. E-
mail: fabio.fonsecadecastro@gmail.com
0002-8083-1415
Fernanda Gabrielly Terra Moura
ao Ensino pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro
membro do Núcleo de Estudos Afro
Niterói. Professora da rede privada da Região dos Lagos
Vestibular Social Pré
https://orcid.org/0000-0003
-
Flora Daemon.
.
Doutora em Comunicação (UFF, 2014), p
Jornalismo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Atualmente
desenvolve a pesquisa de Pós
genealogia das mar
cas de autor nas imagens de violência" no PPGCINE/UFF.
Contemplada com Menção Honrosa do Prêmio Capes de Teses (Ciências Sociais
Aplicadas/2014). Autora do livro "Sob o signo da infâmia: as estratégias midiatizadas
de jovens homicidas/suicidas em ambientes
especial interesse nos estudos sobre Violência; Imagem; Memória; Corpo; Escritas
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Evelyn Morgan Monteiro
.
Doutora em História, Política e Bens Culturais pelo
Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da
Fundação Getúlio Vargas (CPDOC/FGV). É
membro do Núcleo de Estudos Afro
brasileiro e Indígena (NEABI) do IFRJ
-
campus Niterói. Professora do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Campus Arraial do
mail: evelyn.morgam@ifrj.edu.br
a de Castro
.
Professor associado da Universidade Federal do Pará.
Pesquisador no Programa de s
-
Graduação em Desenvolvimento Sustentável do
Trópico Úmido (PPGDSTU), do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (
UFPA), no Programa de Pós
-Graduação Comunicaç
ão, Cultura e Amazônia
(PPGCOM) e na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Pará
(UFPA). Foi professor visitante no Departamento de Sociologia da Universidade de
Cambridge e conferencista da London School of Economics em 2017
Etnometodologia pela Universidade de Montreal (2014). Doutor em Sociologia
pela Universidade da Sorbonne (Paris V Descartes) (2004). Mestre em Antropologia
e Estudo das Sociedades Latino
-
Americanas pela Universidade de Sorbonne
Nouvelle) (2000). Mestre em
Comunicação pela Universidade de Brasília (1995).
Graduado em Comunicação
-
Jornalismo pela UFPA (1990). Coordena o Grupo de
Pesquisa Socialidades, Intersubjetividades e Sensibilidades Amazônicas (SISA) no
CNPq. Foi Secretário de Estado de Comunicação no Go
verno do Pará e ocupou
outros cargos e funções públicas: Secretário de Estado Especial para o
Desenvolvimento Social (Governo do Pará), Chefe do Departamento de
Comunicação da UFPA, diretor do Museu da Imagem e do Som do Pará,
Coordenador da mara de Polí
ticas Sócio-
Culturais do Governo do Pará,
Coordenador da Área de Desenvolvimento Cultural da Fundação Cultural do Pará,
Assessor Especial para o Planejamento Político na Casa Civil do Governo do Estado
do Pará, delegado pelo Pará à I Conferência Nacional d
e Comunicação. Atua no
campo de investigação das experiências sociais amazônicas, com interesse nas
dinâmicas de intersubjetivação, socialidade, sensibilidade, identidades/identificações
e autoreflexividade e com apoio de metodologias compreensivas, fenome
mail: fabio.fonsecadecastro@gmail.com
-
https://orcid.org/0000
Fernanda Gabrielly Terra Moura
.
Especialista em Tecnologias Digitais Aplicadas
ao Ensino pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro
-
campus Arraial d
membro do Núcleo de Estudos Afro
-
brasileiro e Indígena (NEABI) do IFRJ
Niterói. Professora da rede privada da Região dos Lagos
-
RJ e também do Pré
Vestibular Social Pré
-J. E-
mail: fernandaterramoura@gmail.com
-
2263-2482
Doutora em Comunicação (UFF, 2014), p
rofessora do curso de
Jornalismo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Atualmente
desenvolve a pesquisa de Pós
-
doutorado intitulada "De corpo presente: uma
cas de autor nas imagens de violência" no PPGCINE/UFF.
Contemplada com Menção Honrosa do Prêmio Capes de Teses (Ciências Sociais
Aplicadas/2014). Autora do livro "Sob o signo da infâmia: as estratégias midiatizadas
de jovens homicidas/suicidas em ambientes
educacionais (Garamond/Faperj). Tem
especial interesse nos estudos sobre Violência; Imagem; Memória; Corpo; Escritas
13
Doutora em História, Política e Bens Culturais pelo
Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da
membro do Núcleo de Estudos Afro
-
campus Niterói. Professora do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Campus Arraial do
Professor associado da Universidade Federal do Pará.
Graduação em Desenvolvimento Sustentável do
Trópico Úmido (PPGDSTU), do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (
NAEA,
ão, Cultura e Amazônia
(PPGCOM) e na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Pará
(UFPA). Foi professor visitante no Departamento de Sociologia da Universidade de
Cambridge e conferencista da London School of Economics em 2017
-18. Pós-doutor
Etnometodologia pela Universidade de Montreal (2014). Doutor em Sociologia
pela Universidade da Sorbonne (Paris V Descartes) (2004). Mestre em Antropologia
Americanas pela Universidade de Sorbonne
-
Comunicação pela Universidade de Brasília (1995).
Jornalismo pela UFPA (1990). Coordena o Grupo de
Pesquisa Socialidades, Intersubjetividades e Sensibilidades Amazônicas (SISA) no
verno do Pará e ocupou
outros cargos e funções públicas: Secretário de Estado Especial para o
Desenvolvimento Social (Governo do Pará), Chefe do Departamento de
Comunicação da UFPA, diretor do Museu da Imagem e do Som do Pará,
Culturais do Governo do Pará,
Coordenador da Área de Desenvolvimento Cultural da Fundação Cultural do Pará,
Assessor Especial para o Planejamento Político na Casa Civil do Governo do Estado
e Comunicação. Atua no
campo de investigação das experiências sociais amazônicas, com interesse nas
dinâmicas de intersubjetivação, socialidade, sensibilidade, identidades/identificações
e autoreflexividade e com apoio de metodologias compreensivas, fenome
nológicas e
https://orcid.org/0000
-
Especialista em Tecnologias Digitais Aplicadas
campus Arraial d
o Cabo. É
brasileiro e Indígena (NEABI) do IFRJ
- campus
RJ e também do Pré
-
mail: fernandaterramoura@gmail.com
-
rofessora do curso de
Jornalismo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Atualmente
doutorado intitulada "De corpo presente: uma
cas de autor nas imagens de violência" no PPGCINE/UFF.
Contemplada com Menção Honrosa do Prêmio Capes de Teses (Ciências Sociais
Aplicadas/2014). Autora do livro "Sob o signo da infâmia: as estratégias midiatizadas
educacionais (Garamond/Faperj). Tem
especial interesse nos estudos sobre Violência; Imagem; Memória; Corpo; Escritas
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
de si e Juventude. Email:
floradaemon@yahoo.com.br
9652-1748
Gilmar Rocha.
Graduado em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora
(1986), com mestrado em Sociologia da Cultura pela Universidade Federal de Minas
Gerais (1993) e doutorado e pós
Humanas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2003/2017). Professor do
Departamento de Artes e Estudos Culturais (RAE) e do Programa de Pós
Graduação Cultura e Territorialidades (PPCULT), da Universidade Federal
Fluminense (UFF). Dedica
populares com interface nas áreas da Teoria Antropológica; Folclore e Patrimônio
Cultural; Corpo, Performance, Paisagem, Imaginação e Memória; Educação.
Coordena o Grupo de Estud
de Produtividade em Pesquisa CNPq.
0002-1398-3742
Janaina Tavares.
Mestranda no Programa Interdisciplinar de Pós
Linguística Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Brasil. E-
mail: janaa.tavaresv@gmail.com
João Guerreiro
. Formado em Ciências Econ
Fluminense (UFF -
1992), mestre em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto
de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ
UFRJ (2013). Atualmente realiza estágio de Pós
Graduação em Cultura e Sociedade da UFBA. É professor do Instituto Federal de
Ciência, Educação e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) campus Nilópolis (RJ)
atuando no
curso de graduação em Produção Cultural e no curso de Pós
em Linguagens Artísticas, Cultura e Educação (LACE). Exerce, ainda, coordenação
do Grupo de Pesquisa OiCult (Observatório Indisciplinar de Fazeres Culturais e
Letramentos) vinculado ao CN
Trabalho "Culturas e Juventudes" no Encontro anual de Estudos Multidiciplinares em
Cultura (ENECULT/UFBA). Desenvolve pesquisas sobre culturas, política, periferia e
juventudes. E-mail:
joao.mendes@ifrj.edu.br
João Victor Iglesias.
Graduando
da UFBA. Membro do
grupo
Produtivas. Bolsista de
iniciação
guerras culturais:
controvérsias
jviglesias98@gmail.com -
https://orcid.org/0000
Juliana Almeida. Gesto
ra cultural e aluna de mestrado no Programa Multidisciplinar
de Pós-
graduação em Cultura e Sociedade da UFBA. Integra o Coletivo de Políticas
e Gestão Culturais. E-
mail: julisalmeida@gmail.com
7013-3189
Kleber Mendonça.
.
Professor Associado II do Departamento de Estudos Culturais e
Mídia da Universidade Federal Fluminense. Professor do Programa de Pós
Graduação em Comunicação (PPGCOM) da UFF e do Programa de s
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
floradaemon@yahoo.com.br
-
https://orcid.org/0000
Graduado em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora
(1986), com mestrado em Sociologia da Cultura pela Universidade Federal de Minas
Gerais (1993) e doutorado e pós
-doutorado
em Antropologia Cultural (Ciências
Humanas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2003/2017). Professor do
Departamento de Artes e Estudos Culturais (RAE) e do Programa de Pós
Graduação Cultura e Territorialidades (PPCULT), da Universidade Federal
Fluminense (UFF). Dedica
-
se, principalmente, ao campo de estudos das culturas
populares com interface nas áreas da Teoria Antropológica; Folclore e Patrimônio
Cultural; Corpo, Performance, Paisagem, Imaginação e Memória; Educação.
Coordena o Grupo de Estud
os do CNPq Artesanias, corpos e paisagens. É bolsista
de Produtividade em Pesquisa CNPq.
E-mail: gr@id.uff.br -
https://orcid.org/0000
Mestranda no Programa Interdisciplinar de Pós
Linguística Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro
mail: janaa.tavaresv@gmail.com
- https://orcid.org/0000-
02
. Formado em Ciências Econ
ômicas pela Universidade Federal
1992), mestre em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto
de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ
-
1998) e doutor em Políticas blicas de
UFRJ (2013). Atualmente realiza estágio de Pós
-
Doutorado no Programa de Pós
Graduação em Cultura e Sociedade da UFBA. É professor do Instituto Federal de
Ciência, Educação e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) campus Nilópolis (RJ)
curso de graduação em Produção Cultural e no curso de Pós
em Linguagens Artísticas, Cultura e Educação (LACE). Exerce, ainda, coordenação
do Grupo de Pesquisa OiCult (Observatório Indisciplinar de Fazeres Culturais e
Letramentos) vinculado ao CN
Pq desde novembro de 2013. Coordena o Grupo de
Trabalho "Culturas e Juventudes" no Encontro anual de Estudos Multidiciplinares em
Cultura (ENECULT/UFBA). Desenvolve pesquisas sobre culturas, política, periferia e
joao.mendes@ifrj.edu.br
-
https://orcid.org/0000
Graduando
do Bacharelado Interdisciplinar
em
grupo
de pesquisa Cultura, Política,
Lógicas
iniciação
científica no projeto de pesquisa
controvérsias
de uma luta para (re)definir o
Brasil”
https://orcid.org/0000
-0002-0354-0788
ra cultural e aluna de mestrado no Programa Multidisciplinar
graduação em Cultura e Sociedade da UFBA. Integra o Coletivo de Políticas
mail: julisalmeida@gmail.com
-
https://orcid.org/0000
Professor Associado II do Departamento de Estudos Culturais e
Mídia da Universidade Federal Fluminense. Professor do Programa de Pós
Graduação em Comunicação (PPGCOM) da UFF e do Programa de s
14
https://orcid.org/0000
-0001-
Graduado em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora
(1986), com mestrado em Sociologia da Cultura pela Universidade Federal de Minas
em Antropologia Cultural (Ciências
Humanas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2003/2017). Professor do
Departamento de Artes e Estudos Culturais (RAE) e do Programa de Pós
-
Graduação Cultura e Territorialidades (PPCULT), da Universidade Federal
se, principalmente, ao campo de estudos das culturas
populares com interface nas áreas da Teoria Antropológica; Folclore e Patrimônio
Cultural; Corpo, Performance, Paisagem, Imaginação e Memória; Educação.
os do CNPq Artesanias, corpos e paisagens. É bolsista
https://orcid.org/0000
-
Mestranda no Programa Interdisciplinar de Pós
-Graduação em
Linguística Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro
PIPGLA/UFRJ,
02
-8436-4842
ômicas pela Universidade Federal
1992), mestre em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto
de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da Universidade Federal
1998) e doutor em Políticas blicas de
Cultura pela
Doutorado no Programa de Pós
Graduação em Cultura e Sociedade da UFBA. É professor do Instituto Federal de
Ciência, Educação e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) campus Nilópolis (RJ)
curso de graduação em Produção Cultural e no curso de Pós
-Graduação
em Linguagens Artísticas, Cultura e Educação (LACE). Exerce, ainda, coordenação
do Grupo de Pesquisa OiCult (Observatório Indisciplinar de Fazeres Culturais e
Pq desde novembro de 2013. Coordena o Grupo de
Trabalho "Culturas e Juventudes" no Encontro anual de Estudos Multidiciplinares em
Cultura (ENECULT/UFBA). Desenvolve pesquisas sobre culturas, política, periferia e
https://orcid.org/0000
-0003-1788-4132
em
Humanidades
Lógicas
Identitárias e
“Das políticas às
Brasil”
(2019-2020).
ra cultural e aluna de mestrado no Programa Multidisciplinar
graduação em Cultura e Sociedade da UFBA. Integra o Coletivo de Políticas
https://orcid.org/0000
-0002-
Professor Associado II do Departamento de Estudos Culturais e
Mídia da Universidade Federal Fluminense. Professor do Programa de Pós
-
Graduação em Comunicação (PPGCOM) da UFF e do Programa de s
-Graduação
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
em Cultura e Territorialidades (PPCULT) da UFF e Co
Estudos da Violência e Comunicação (NevCom) da UFF. Doutor em Comunicação
(UFF/2007), é autor dos livros "A "pacificação" dos sentidos: mídia e violência na
cidade em disputa" (Caravanas, 2018) e "A punição pela Audiência: um estudo
Linha Direta"(Quartet/Faperj, 2002). Foi bolsista Jovem Cientista de Nosso Estado
FAPERJ (2015-
2018) e desenvolve pesquisas na área de Comunicação, com ênfase
em filosofia política, geografia da comunicação, imagem e sentido, análise de
discurso e o jor
nalismo em sua interface com a questão da violência urbana
klebermendonca@id.uff.br
Leandro de Paula. Doutor
Comunicação Social pela
PUC
(2006), Pesquisador
Visitante
Universidade da
California
Universidade Federal da
(IHAC), e Professor
Permanente
Sociedade (Pós-Cultura).
Líder
Identitárias e Produtivas',
investigação a relação
privilegiando os temas da
psleandro@gmail.com -
http
Lia Calabre.
Graduada em História pela Universidade Santa Úrsula (1988), mestre
em História pela Universidade Federal Fluminense (1999), Doutora em História pela
Universidade Federal Flum
Casa de Rui Barbosa, coordenadora do setor de políticas culturais da Fundação
Casa de Rui Barbosa (2003
(2015-
2016). Organizadora do Seminário Internaciona
2019). Atual coordenadora de Cátedra UNESCO de Políticas Culturais e Gestão.
Professora do Mestrado Profissional Memória e Acervos da FCRB (PPGMA).
Professora do Programa de Pós
Uni
versidade Federal Fluminense (PPCULT
MBAs de Gestão Cultural e Produção Cultural da FGV
artigos e materiais didáticos, nacionais e internacionais, sobre políticas culturais.
Tem experiência na
área de políticas culturais, história cultural e política, com ênfase
em Políticas Públicas de Cultura, atuando principalmente nos seguintes temas:
políticas públicas de cultura, política cultural, gestão cultural.
liacalabre@gmail.com.br -
Livia Baptista Nicolini.
Atualmente é professora do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. Graduação em Ciências Biológicas
modalidade Licenciatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002).
Mestrado em Tecnologia Educacional nas Ciências d
Federal do Rio de Janeiro (2006)
Cruz (EBS/Fiocruz -
2013).
Ciências e Educação Superior à Distância do Estado do RJ e como professor
ciências e biologia da rede municipal de ensino. Atualmente é professora do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.
livia.nicolini@ifrj.edu.br - ht
t
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
em Cultura e Territorialidades (PPCULT) da UFF e Co
ordenador do Núcleo de
Estudos da Violência e Comunicação (NevCom) da UFF. Doutor em Comunicação
(UFF/2007), é autor dos livros "A "pacificação" dos sentidos: mídia e violência na
cidade em disputa" (Caravanas, 2018) e "A punição pela Audiência: um estudo
Linha Direta"(Quartet/Faperj, 2002). Foi bolsista Jovem Cientista de Nosso Estado
2018) e desenvolve pesquisas na área de Comunicação, com ênfase
em filosofia política, geografia da comunicação, imagem e sentido, análise de
nalismo em sua interface com a questão da violência urbana
- https://orcid.org/0000-0001-8055-7447
em Comunicação e Cultura pela UFRJ
(2016),
PUC
-Rio (2009), Bacharel em Produção
Cultural
Visitante
no departamento de
Religious
California
(Santa Barbara, 2014-2015). É
Professor
Bahia, no Instituto de Humanidades,
Artes
Permanente
do Programa de Pós-
Graduação
Líder
do Grupo de Pesquisa 'Cultura,
certificado pelo CNPq. Tem como
foco
entre práticas discursivas e
imaginários
religião, da política e do pluralismo
democrático.
http
s://orcid.org/0000-0003-1373-8007
Graduada em História pela Universidade Santa Úrsula (1988), mestre
em História pela Universidade Federal Fluminense (1999), Doutora em História pela
Universidade Federal Flum
inense (2002). Foi pesquisadora Titular da Fundação
Casa de Rui Barbosa, coordenadora do setor de políticas culturais da Fundação
Casa de Rui Barbosa (2003
-
2019).Presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa
2016). Organizadora do Seminário Internaciona
l de Políticas Culturais (2010
2019). Atual coordenadora de Cátedra UNESCO de Políticas Culturais e Gestão.
Professora do Mestrado Profissional Memória e Acervos da FCRB (PPGMA).
Professora do Programa de Pós
-
Graduação em Cultura e Territorialidades da
versidade Federal Fluminense (PPCULT
-
UFF). Professora colaboradora nos
MBAs de Gestão Cultural e Produção Cultural da FGV
-
RJ e UCAM. Autora de livros,
artigos e materiais didáticos, nacionais e internacionais, sobre políticas culturais.
área de políticas culturais, história cultural e política, com ênfase
em Políticas Públicas de Cultura, atuando principalmente nos seguintes temas:
políticas públicas de cultura, política cultural, gestão cultural.
https://orcid.org/0000-0002-7586-7210
Atualmente é professora do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. Graduação em Ciências Biológicas
modalidade Licenciatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002).
Mestrado em Tecnologia Educacional nas Ciências d
a Saúde pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (2006)
. Doutorado em Ciências pela Fundação Oswaldo
2013).
Atuou como tutora presencial da Fundação Centro de
Ciências e Educação Superior à Distância do Estado do RJ e como professor
ciências e biologia da rede municipal de ensino. Atualmente é professora do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.
t
ps://orcid.org/0000-0001-7309-2012
15
ordenador do Núcleo de
Estudos da Violência e Comunicação (NevCom) da UFF. Doutor em Comunicação
(UFF/2007), é autor dos livros "A "pacificação" dos sentidos: mídia e violência na
cidade em disputa" (Caravanas, 2018) e "A punição pela Audiência: um estudo
do
Linha Direta"(Quartet/Faperj, 2002). Foi bolsista Jovem Cientista de Nosso Estado
2018) e desenvolve pesquisas na área de Comunicação, com ênfase
em filosofia política, geografia da comunicação, imagem e sentido, análise de
nalismo em sua interface com a questão da violência urbana
Email:
(2016),
Mestre em
Cultural
pela UFF
Religious
Studies da
Professor
Adjunto I da
Artes
e Ciências
Graduação
em Cultura e
Política, Lógicas
foco
prioritário de
imaginários
históricos,
democrático.
E-mail:
Graduada em História pela Universidade Santa Úrsula (1988), mestre
em História pela Universidade Federal Fluminense (1999), Doutora em História pela
inense (2002). Foi pesquisadora Titular da Fundação
Casa de Rui Barbosa, coordenadora do setor de políticas culturais da Fundação
2019).Presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa
l de Políticas Culturais (2010
-
2019). Atual coordenadora de Cátedra UNESCO de Políticas Culturais e Gestão.
Professora do Mestrado Profissional Memória e Acervos da FCRB (PPGMA).
Graduação em Cultura e Territorialidades da
UFF). Professora colaboradora nos
RJ e UCAM. Autora de livros,
artigos e materiais didáticos, nacionais e internacionais, sobre políticas culturais.
área de políticas culturais, história cultural e política, com ênfase
em Políticas Públicas de Cultura, atuando principalmente nos seguintes temas:
políticas públicas de cultura, política cultural, gestão cultural.
E-mail:
Atualmente é professora do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. Graduação em Ciências Biológicas
modalidade Licenciatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002).
a Saúde pela Universidade
. Doutorado em Ciências pela Fundação Oswaldo
Atuou como tutora presencial da Fundação Centro de
Ciências e Educação Superior à Distância do Estado do RJ e como professor
a de
ciências e biologia da rede municipal de ensino. Atualmente é professora do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.
E-mail:
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Lívia Ribeiro Barboza de Araú
Programa de pós graduação em História Social da UERJ/FFP. Pós
Sensu em História e Literatura; Ensino Religioso; e Psico
História pela Faculdade Santa Doroteia (Nova Friburgo)
pesquisa nas áreas de História das Religiões e da Juventude, Ensino Religioso e
Projeto de Vida. Atua como coordenadora do Setor de Ação Comunitária e Pastoral
no Centro Universitário La Salle
consultora em cursos de formação da juventude nas áreas de Formação Humana,
Política social e Cristã-
Católica, Dimensão do vocacional e Projeto de Vida.
Acompanha e assessora Grupos de Jovens, núcleos de formação e projetos sociais.
Possui experiência
como educadora de Ensino Básico nas disciplinas de História e
Ensino Religioso. E-
mail: livia.braga@lasalle.org.br
3416-4882
Luísa Reis
. Mestranda em Educação pela UFF
Graduação em Licenciatura em Letras
Licenciatura em Teatro pela UNIRIO/Estácio de (2018). Professora de teatro e
fundadora do Projeto Teatro
de leitura por meio das artes nicas. Pesquisa o ensino do teatro para a juventude
em praças e espaços públicos da cidade. Produtora de teatro e assistente de
direção. Tem experiência na área de Artes,
principalmente nos seguintes temas: teatro, educação, projetos sociais, trabalho
voluntário, artes, infância e juventude.
https://orcid.org/0000-0001
-
Luiz Henrique Gomes da Silva
de Montes Claros -
MG. Mestre e doutorando pela Universidade de Brasília. E
henriquegomes2@ya
hoo.com.br
Maria Cláudia de Jesus Machado
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de São José do Rio Preto, com
habilitação em língua portuguesa, espanhola e in
literatura espanhola pelo Instituto de Cooperación Iberoamericana de Madrid como
bolsista da A.E.C.I.; especialização em língua inglesa pela UNESP de São José do
Rio Preto e especialização em Ensino de Espanhol como Língua
Universidad de Alcalá de Henares
Ciências Aeroespaciais pela Universidade da Força Aérea. Atualmente é professora
adjunta de língua espanhola no Curso de Formação de Oficiais na Academia da
Fo
rça Aérea e doutoranda em Linguística pela UFSCar.
afamariaclaudia@outlook.com
Maria Inês Rocha de
Federal do Rio de Janeiro (1997), mestrado em Educação pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (2001) e doutorado no Programa de Pós
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, perí
de Pesquisa Educação e Comunicação (2013), coordenado pela Prof. Dra. Raquel
Goulart Barreto. Na página do grupo de pesquisa
(http://www.educacaoecomunicacao.org) podem ser encontradas informações e
produções acadêmicas. Trab
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Lívia Ribeiro Barboza de Araú
jo Braga.
Mestranda em História Social pelo
Programa de pós graduação em História Social da UERJ/FFP. Pós
Sensu em História e Literatura; Ensino Religioso; e Psico
-
pedagogia. Graduada em
História pela Faculdade Santa Doroteia (Nova Friburgo)
. Possui experiência em
pesquisa nas áreas de História das Religiões e da Juventude, Ensino Religioso e
Projeto de Vida. Atua como coordenadora do Setor de Ação Comunitária e Pastoral
no Centro Universitário La Salle
-
Rio de Janeiro. Assessora, coordenado
consultora em cursos de formação da juventude nas áreas de Formação Humana,
Católica, Dimensão do vocacional e Projeto de Vida.
Acompanha e assessora Grupos de Jovens, núcleos de formação e projetos sociais.
como educadora de Ensino Básico nas disciplinas de História e
mail: livia.braga@lasalle.org.br
-
https://orcid.org/0000
. Mestranda em Educação pela UFF
-
Universidade Federal Fluminense.
Graduação em Licenciatura em Letras
-
Português/Literaturas pela UFF (2014) e
Licenciatura em Teatro pela UNIRIO/Estácio de (2018). Professora de teatro e
fundadora do Projeto Teatro
made, projeto sócio-
educativo de incentivo ao hábito
de leitura por meio das artes nicas. Pesquisa o ensino do teatro para a juventude
em praças e espaços públicos da cidade. Produtora de teatro e assistente de
direção. Tem experiência na área de Artes,
com ênfase em Licenciatura, atuando
principalmente nos seguintes temas: teatro, educação, projetos sociais, trabalho
voluntário, artes, infância e juventude.
E-mail:
luisavreis@gmail.com
-
6085-8218
Luiz Henrique Gomes da Silva
. Professor de Linguística da Universidade Estadual
MG. Mestre e doutorando pela Universidade de Brasília. E
hoo.com.br
- https://orcid.org/0000-0003-2248
-
Maria Cláudia de Jesus Machado
.
Possui graduação em Letras pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de São José do Rio Preto, com
habilitação em língua portuguesa, espanhola e in
glesa; especialização em língua e
literatura espanhola pelo Instituto de Cooperación Iberoamericana de Madrid como
bolsista da A.E.C.I.; especialização em língua inglesa pela UNESP de São José do
Rio Preto e especialização em Ensino de Espanhol como Língua
Universidad de Alcalá de Henares
-
Espanha como bolsista da A.E.C.I. Mestre em
Ciências Aeroespaciais pela Universidade da Força Aérea. Atualmente é professora
adjunta de língua espanhola no Curso de Formação de Oficiais na Academia da
rça Aérea e doutoranda em Linguística pela UFSCar.
afamariaclaudia@outlook.com
- https://orcid.org/0000-0002-3220-
4732
Maria Inês Rocha de
.
Possui graduação em Pedagogia pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (1997), mestrado em Educação pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (2001) e doutorado no Programa de Pós
-
Graduação em Educação
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, perí
odo em que participou do Grupo
de Pesquisa Educação e Comunicação (2013), coordenado pela Prof. Dra. Raquel
Goulart Barreto. Na página do grupo de pesquisa
(http://www.educacaoecomunicacao.org) podem ser encontradas informações e
produções acadêmicas. Trab
alhou na rede privada de ensino do Rio de Janeiro
16
Mestranda em História Social pelo
Programa de pós graduação em História Social da UERJ/FFP. Pós
-Graduação Lato
pedagogia. Graduada em
. Possui experiência em
pesquisa nas áreas de História das Religiões e da Juventude, Ensino Religioso e
Projeto de Vida. Atua como coordenadora do Setor de Ação Comunitária e Pastoral
Rio de Janeiro. Assessora, coordenado
ra e
consultora em cursos de formação da juventude nas áreas de Formação Humana,
Católica, Dimensão do vocacional e Projeto de Vida.
Acompanha e assessora Grupos de Jovens, núcleos de formação e projetos sociais.
como educadora de Ensino Básico nas disciplinas de História e
https://orcid.org/0000
-0003-
Universidade Federal Fluminense.
Português/Literaturas pela UFF (2014) e
Licenciatura em Teatro pela UNIRIO/Estácio de (2018). Professora de teatro e
educativo de incentivo ao hábito
de leitura por meio das artes nicas. Pesquisa o ensino do teatro para a juventude
em praças e espaços públicos da cidade. Produtora de teatro e assistente de
com ênfase em Licenciatura, atuando
principalmente nos seguintes temas: teatro, educação, projetos sociais, trabalho
luisavreis@gmail.com
-
. Professor de Linguística da Universidade Estadual
MG. Mestre e doutorando pela Universidade de Brasília. E
-mail:
-
7473
Possui graduação em Letras pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de São José do Rio Preto, com
glesa; especialização em língua e
literatura espanhola pelo Instituto de Cooperación Iberoamericana de Madrid como
bolsista da A.E.C.I.; especialização em língua inglesa pela UNESP de São José do
Rio Preto e especialização em Ensino de Espanhol como Língua
Estrangeira pela
Espanha como bolsista da A.E.C.I. Mestre em
Ciências Aeroespaciais pela Universidade da Força Aérea. Atualmente é professora
adjunta de língua espanhola no Curso de Formação de Oficiais na Academia da
rça Aérea e doutoranda em Linguística pela UFSCar.
E-mail:
4732
Possui graduação em Pedagogia pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (1997), mestrado em Educação pela Universidade Federal
Graduação em Educação
odo em que participou do Grupo
de Pesquisa Educação e Comunicação (2013), coordenado pela Prof. Dra. Raquel
Goulart Barreto. Na página do grupo de pesquisa
(http://www.educacaoecomunicacao.org) podem ser encontradas informações e
alhou na rede privada de ensino do Rio de Janeiro
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(1998 a 2006) e em 2007, atuou como professora contratada no Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense | Campus Campos
disciplinas pedagógicas, principalmente: Prática educat
na escola. Desde 2011 é professora efetiva do Ensino Fundamental I do Colégio
Pedro II, Campus Humaitá I.
0003-4593-9751
Maria Siqueira Queiroz de Carvalho
pela ETET Martins Pena. Em 2015 se graduou em licenciatura em Teatro pela
UNIRIO-
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, onde em 2018
ingressou no programa de mestrado profissional pelo PPGEAC. Em maio d
ingressou na carreira pública como professora EBTT do Instituto Federal
Fluminense, atuando no Ensino médio e superior. Se interessa predominantemente
pela área de encontro entre arte e educação, teatro para crianças e teatro aplicado
(applied theater). E-
mail:
7468-5151
Marildo José Nercolini.
.
Culturais e Mídia e do Programa de Pós
(PPCULT) da Universidade Federal Fluminense. Doutor em Ciência da Literatura, na
área de Literatura Comparada, pela UFRJ, defendendo a tese: "A Construção
Cultural pelas Metáfo
ras: A MPB e o Rock Nacional Argentino repensam as
fronteiras globalizadas". Mestre em Sociologia pela UFRGS, com a dissertação
"Artista-
Intelectual: A Voz Possível em uma Sociedade que foi Calada
sociológico sobre a obra de Chico Buarque e Cae
60". No momento, vem desenvolvendo o projeto de pesquisa "Identidade, memória e
territorialidades mediados pela sica: os usos contemporâneos da música nas
favelas do Rio de Janeiro", em que pretende trabalhar os usos contem
música nas periferias cariocas para o processo de territorialização/reterritorialização
desses espaços, a partir da constatação da importância fundamental da sica
como instrumento de sociabilidade, meio privilegiado para narrar
espaço em que se vive, contribuindo assim para a criação de memória e identidade
sociais. Tem experiência na área de Comunicação, Literatura e Estudos Culturais,
com estudos, pesquisas e orientações em torno da música popular brasileira, crítica
cultural,
pensamento latino
tradução cultural, identidade, territorialidade e memória. Coordena, junto com a Prof
Ana Enne, o Laboratório de dia e Identidade
mjnercolini@gmail.com -
https://orcid.org/0000
Marina Ramos Neves de Castro
UFPA. Doutora em Antropologia pelo Programa de Pós
-
PPGA (Nota 5 Capes) da Universidade Federal do Pará. Mestre em Artes pelo
PPGArtes (Nota 4 Capes) do Instituto de Ciências das Artes e mestre em Estudos
das Sociedades Latino Americanas
Sorbonne
Nouvelle (Paris 3). Realizou estágio doutoral no Departamento de
Antropologia do University College London, com o Prof. Daniel Miller a partir do
Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior
anos do Centre d'Études sur l'A
Maffesoli. Durante três anos seguiu os cursos de história da arte do Museu do
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
(1998 a 2006) e em 2007, atuou como professora contratada no Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense | Campus Campos
disciplinas pedagógicas, principalmente: Prática educat
iva e Organização e gestão
na escola. Desde 2011 é professora efetiva do Ensino Fundamental I do Colégio
Pedro II, Campus Humaitá I.
E-mail: ines.rdsa@gmail.com -
https://orcid.org/0000
Maria Siqueira Queiroz de Carvalho
.
Iniciou sua formação profissional em 2008
pela ETET Martins Pena. Em 2015 se graduou em licenciatura em Teatro pela
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, onde em 2018
ingressou no programa de mestrado profissional pelo PPGEAC. Em maio d
ingressou na carreira pública como professora EBTT do Instituto Federal
Fluminense, atuando no Ensino médio e superior. Se interessa predominantemente
pela área de encontro entre arte e educação, teatro para crianças e teatro aplicado
mail:
maria.carvalho@iff.edu.br -
https://orcid.org/0000
.
Professor Associado do Departamento de Estudos
Culturais e Mídia e do Programa de Pós
-
Graduação em Cultura e Territorialidades
(PPCULT) da Universidade Federal Fluminense. Doutor em Ciência da Literatura, na
área de Literatura Comparada, pela UFRJ, defendendo a tese: "A Construção
ras: A MPB e o Rock Nacional Argentino repensam as
fronteiras globalizadas". Mestre em Sociologia pela UFRGS, com a dissertação
Intelectual: A Voz Possível em uma Sociedade que foi Calada
sociológico sobre a obra de Chico Buarque e Cae
tano Veloso no Brasil dos Anos
60". No momento, vem desenvolvendo o projeto de pesquisa "Identidade, memória e
territorialidades mediados pela sica: os usos contemporâneos da música nas
favelas do Rio de Janeiro", em que pretende trabalhar os usos contem
música nas periferias cariocas para o processo de territorialização/reterritorialização
desses espaços, a partir da constatação da importância fundamental da sica
como instrumento de sociabilidade, meio privilegiado para narrar
espaço em que se vive, contribuindo assim para a criação de memória e identidade
sociais. Tem experiência na área de Comunicação, Literatura e Estudos Culturais,
com estudos, pesquisas e orientações em torno da música popular brasileira, crítica
pensamento latino
-
americano, televisão pública, estudos de cultura,
tradução cultural, identidade, territorialidade e memória. Coordena, junto com a Prof
Ana Enne, o Laboratório de dia e Identidade
-
https://orcid.org/0000
-0003-0465-0011
Marina Ramos Neves de Castro
.
Professora da Faculdade de Comunicação da
UFPA. Doutora em Antropologia pelo Programa de Pós
-
Graduação
PPGA (Nota 5 Capes) da Universidade Federal do Pará. Mestre em Artes pelo
PPGArtes (Nota 4 Capes) do Instituto de Ciências das Artes e mestre em Estudos
das Sociedades Latino Americanas
-
Opção Comunicação, pela Université de la
Nouvelle (Paris 3). Realizou estágio doutoral no Departamento de
Antropologia do University College London, com o Prof. Daniel Miller a partir do
Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior
-
CAPES. Pesquisadora durante três
anos do Centre d'Études sur l'A
ctuel et le Quotidien, sob orientação do Prof. Michel
Maffesoli. Durante três anos seguiu os cursos de história da arte do Museu do
17
(1998 a 2006) e em 2007, atuou como professora contratada no Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense | Campus Campos
-Centro, de
iva e Organização e gestão
na escola. Desde 2011 é professora efetiva do Ensino Fundamental I do Colégio
https://orcid.org/0000
-
Iniciou sua formação profissional em 2008
pela ETET Martins Pena. Em 2015 se graduou em licenciatura em Teatro pela
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, onde em 2018
ingressou no programa de mestrado profissional pelo PPGEAC. Em maio d
e 2017
ingressou na carreira pública como professora EBTT do Instituto Federal
Fluminense, atuando no Ensino médio e superior. Se interessa predominantemente
pela área de encontro entre arte e educação, teatro para crianças e teatro aplicado
https://orcid.org/0000
-0001-
Professor Associado do Departamento de Estudos
Graduação em Cultura e Territorialidades
(PPCULT) da Universidade Federal Fluminense. Doutor em Ciência da Literatura, na
área de Literatura Comparada, pela UFRJ, defendendo a tese: "A Construção
ras: A MPB e o Rock Nacional Argentino repensam as
fronteiras globalizadas". Mestre em Sociologia pela UFRGS, com a dissertação
Intelectual: A Voz Possível em uma Sociedade que foi Calada
- um estudo
tano Veloso no Brasil dos Anos
60". No momento, vem desenvolvendo o projeto de pesquisa "Identidade, memória e
territorialidades mediados pela sica: os usos contemporâneos da música nas
favelas do Rio de Janeiro", em que pretende trabalhar os usos contem
porâneos da
música nas periferias cariocas para o processo de territorialização/reterritorialização
desses espaços, a partir da constatação da importância fundamental da sica
como instrumento de sociabilidade, meio privilegiado para narrar
-se e narrar o
espaço em que se vive, contribuindo assim para a criação de memória e identidade
sociais. Tem experiência na área de Comunicação, Literatura e Estudos Culturais,
com estudos, pesquisas e orientações em torno da música popular brasileira, crítica
americano, televisão pública, estudos de cultura,
tradução cultural, identidade, territorialidade e memória. Coordena, junto com a Prof
ª
LAMI. Email:
Professora da Faculdade de Comunicação da
Graduação
em Antropologia
PPGA (Nota 5 Capes) da Universidade Federal do Pará. Mestre em Artes pelo
PPGArtes (Nota 4 Capes) do Instituto de Ciências das Artes e mestre em Estudos
Opção Comunicação, pela Université de la
Nouvelle (Paris 3). Realizou estágio doutoral no Departamento de
Antropologia do University College London, com o Prof. Daniel Miller a partir do
CAPES. Pesquisadora durante três
ctuel et le Quotidien, sob orientação do Prof. Michel
Maffesoli. Durante três anos seguiu os cursos de história da arte do Museu do
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Louvre, em Paris e, durante um ano, os cursos de história da arte e das civilizações
na Université de Montréal. Iniciou curs
Université de Sorbonne-
Descartes (Paris 5), concluindo os créditos e a pesquisa de
campo, mas não chegou a defender a tese. Coordena, juntamente com o professor
Fábio F. Castro o grupo de pesquisa Socialidades, In
Sensibilidades Amazônicas. Coordena o projeto d
A
mazônia: O movimento fotográfico de Belém. Coordena o Projeto de Extensão
Documentário Biográficos da Amazônia
e P
ropaganda da Faculdade de Tecnologia da Amazônia (FAZ) durante 5 anos e,
também nessa instituição, coordenou os cursos de Especialização em Gestão em
Comunicação e Marketing. Na FAZ ainda desenvolveu o projeto acadêmico
pedagógico "Expor-
FAZ", por meio do
disciplinas desenvolveram ações de criação, produção e exposição de projetos
associando história da arte e publicidade. Também atuou como professora no curso
de Especialização Imagem e Sociedade, na UFPA. Como profes
graduação e pós-
graduação (especialização), ministrou as disciplinas História da
Arte, Estética da Comunicação, Teorias da Comunicação, Cultura Visual, Sociologia
da Imagem e Sociologia da Comunicação. Trabalhou ainda, durante 9 anos, na
F
undação Cultural do Pará Tancredo Neves, desenvolvendo atividades junto ao
Centro de Convenções, à Coordenação de Ação Cultural e Museu da Imagem e do
Som. Em 2012 foi responsável pela curadoria e montagem da exposição Pai d'égua
Brasil em defesa do ECA, d
mrndecastro@gmail.com -
Marley Rodrigues
. Doutora em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul (PUC
Públicas e Publicidade e Propaganda da Faculdades Integradas de Taquara
(FACCAT) e do curso de s
(FACCAT). Sócia-
diretora de Connecta Marketing & Comunicação, com atuação em
projetos de Planejamen
to de Comunicação, Comunicação Interna, Endomarketing,
Pesquisa de Mercado e Capacitação e Desenvolvimento de Gestores e cursos in
company. Áreas de interesse e de pesquisa: Relacionamento com Stakeholders,
Empreendedorismo, Mídias Digitais e Metodologia A
Aprendizagem. E-
mail: marley@faccat.br
Monica Greggianin
. Professora no curso de Design da Faculdades Integradas
Taquara. Professora integrante do Núcleo Docente Estruturante do curso de De
da Faccat. Mestre em Design Estratégico pela Escola de Design da Unisinos com
bolsa pela CAPES (2015). Pós graduada em História da Arte Moderna e
Contemporânea pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (2011) e pós
graduada em Marketing e Design d
Marketing (2011). Designer do Produto pela Universidade Federal do Paraná (2008).
Integra o grupo de pesquisa História da Arte e Cultura de Moda registrado junto ao
CNPq. E-
mail: monicagreggianin@faccat.br
Nívea Andrade. P
rofessora adjunta do Departamento Sociedade Educação e
Con
hecimento e do Programa de s
Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) . Doutora em Educação pelo
Programa de pós-
graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Louvre, em Paris e, durante um ano, os cursos de história da arte e das civilizações
na Université de Montréal. Iniciou curs
o de doutorado em sociologia da cultura na
Descartes (Paris 5), concluindo os créditos e a pesquisa de
campo, mas não chegou a defender a tese. Coordena, juntamente com o professor
Fábio F. Castro o grupo de pesquisa Socialidades, In
tersubjetividades e
Sensibilidades Amazônicas. Coordena o projeto d
e pesquisa Imagem e Cultura na
mazônia: O movimento fotográfico de Belém. Coordena o Projeto de Extensão
Documentário Biográficos da Amazônia
-
DocBio. Coordenou o curso de Publicidade
ropaganda da Faculdade de Tecnologia da Amazônia (FAZ) durante 5 anos e,
também nessa instituição, coordenou os cursos de Especialização em Gestão em
Comunicação e Marketing. Na FAZ ainda desenvolveu o projeto acadêmico
FAZ", por meio do
qual professores e alunos de diferentes
disciplinas desenvolveram ações de criação, produção e exposição de projetos
associando história da arte e publicidade. Também atuou como professora no curso
de Especialização Imagem e Sociedade, na UFPA. Como profes
graduação (especialização), ministrou as disciplinas História da
Arte, Estética da Comunicação, Teorias da Comunicação, Cultura Visual, Sociologia
da Imagem e Sociologia da Comunicação. Trabalhou ainda, durante 9 anos, na
undação Cultural do Pará Tancredo Neves, desenvolvendo atividades junto ao
Centro de Convenções, à Coordenação de Ação Cultural e Museu da Imagem e do
Som. Em 2012 foi responsável pela curadoria e montagem da exposição Pai d'égua
Brasil em defesa do ECA, d
a artista plástica Lúcia Gomes. E
https://orcid.org/0000-0002-3065-270X
. Doutora em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul (PUC
-
RS). Professora dos cursos de Graduação em
Públicas e Publicidade e Propaganda da Faculdades Integradas de Taquara
(FACCAT) e do curso de s
-
Graduação em Marketing e Comunicação Empresarial
diretora de Connecta Marketing & Comunicação, com atuação em
to de Comunicação, Comunicação Interna, Endomarketing,
Pesquisa de Mercado e Capacitação e Desenvolvimento de Gestores e cursos in
company. Áreas de interesse e de pesquisa: Relacionamento com Stakeholders,
Empreendedorismo, Mídias Digitais e Metodologia A
tiva no processo de Ensino
mail: marley@faccat.br
- https://orcid.org/0000-
0001
. Professora no curso de Design da Faculdades Integradas
Taquara. Professora integrante do Núcleo Docente Estruturante do curso de De
da Faccat. Mestre em Design Estratégico pela Escola de Design da Unisinos com
bolsa pela CAPES (2015). Pós graduada em História da Arte Moderna e
Contemporânea pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (2011) e pós
graduada em Marketing e Design d
e Moda pela Escola Superior de Propaganda e
Marketing (2011). Designer do Produto pela Universidade Federal do Paraná (2008).
Integra o grupo de pesquisa História da Arte e Cultura de Moda registrado junto ao
mail: monicagreggianin@faccat.br
- https://orcid.org/0000
-
rofessora adjunta do Departamento Sociedade Educação e
hecimento e do Programa de s
-G
raduação em Educação da Faculdade de
Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) . Doutora em Educação pelo
graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de
18
Louvre, em Paris e, durante um ano, os cursos de história da arte e das civilizações
o de doutorado em sociologia da cultura na
Descartes (Paris 5), concluindo os créditos e a pesquisa de
campo, mas não chegou a defender a tese. Coordena, juntamente com o professor
tersubjetividades e
e pesquisa Imagem e Cultura na
mazônia: O movimento fotográfico de Belém. Coordena o Projeto de Extensão
DocBio. Coordenou o curso de Publicidade
ropaganda da Faculdade de Tecnologia da Amazônia (FAZ) durante 5 anos e,
também nessa instituição, coordenou os cursos de Especialização em Gestão em
Comunicação e Marketing. Na FAZ ainda desenvolveu o projeto acadêmico
-
qual professores e alunos de diferentes
disciplinas desenvolveram ações de criação, produção e exposição de projetos
associando história da arte e publicidade. Também atuou como professora no curso
de Especialização Imagem e Sociedade, na UFPA. Como profes
sora, a nível de
graduação (especialização), ministrou as disciplinas História da
Arte, Estética da Comunicação, Teorias da Comunicação, Cultura Visual, Sociologia
da Imagem e Sociologia da Comunicação. Trabalhou ainda, durante 9 anos, na
undação Cultural do Pará Tancredo Neves, desenvolvendo atividades junto ao
Centro de Convenções, à Coordenação de Ação Cultural e Museu da Imagem e do
Som. Em 2012 foi responsável pela curadoria e montagem da exposição Pai d'égua
a artista plástica Lúcia Gomes. E
-mail:
. Doutora em Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica
RS). Professora dos cursos de Graduação em
Relações
Públicas e Publicidade e Propaganda da Faculdades Integradas de Taquara
Graduação em Marketing e Comunicação Empresarial
diretora de Connecta Marketing & Comunicação, com atuação em
to de Comunicação, Comunicação Interna, Endomarketing,
Pesquisa de Mercado e Capacitação e Desenvolvimento de Gestores e cursos in
company. Áreas de interesse e de pesquisa: Relacionamento com Stakeholders,
tiva no processo de Ensino
-
0001
-6070-5238
. Professora no curso de Design da Faculdades Integradas
Taquara. Professora integrante do Núcleo Docente Estruturante do curso de De
sign
da Faccat. Mestre em Design Estratégico pela Escola de Design da Unisinos com
bolsa pela CAPES (2015). Pós graduada em História da Arte Moderna e
Contemporânea pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (2011) e pós
e Moda pela Escola Superior de Propaganda e
Marketing (2011). Designer do Produto pela Universidade Federal do Paraná (2008).
Integra o grupo de pesquisa História da Arte e Cultura de Moda registrado junto ao
-
0002-4443-6442
rofessora adjunta do Departamento Sociedade Educação e
raduação em Educação da Faculdade de
Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) . Doutora em Educação pelo
graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Janeiro (PROPED-
UERJ). Possui pós
PROPED-
UERJ, mestrado em História Social da Cultura pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro e grad
em História pela UFF. Foi professora de História da Educação básica, na rede
municipal do Rio de Janeiro. É líder do grupo de Pesquisa Juventudes, Infâncias e
Cotidianos. e Vice-
líder do Laboratório Ensino de História. Te
áreas de Educação e História; Estudos com os Cotidianos; História Social da Cultura
e Ensino/Educação através da História.
https://orcid.org/0000-0002
-
Pâmella Passos.
Professora do quadro
Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ). Atualmente realiza estágio de Pós
Doutorado no Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal
Fluminense (UFF) Com estágio de Pós Doutorado pelo Programa
em Antropologia Social/ Museu Nacional/ Universidade Federal do Rio de
Janeiro(2016). Doutora em História Social pela Universidade Federal
Fluminense(2013), mestre em História, área de concentração História Política, pela
Universidade do
Estado do Rio de Janeiro(2008) e graduada em História pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro(2006), Possui experiência na área de
História e Ensino de História, com ênfase em História do Brasil República.
Desenvolveu pesquisas sobre Juventudes, Cult
Anticomunismo no Brasil, Ensino de História em Escolas Técnicas. Atualmente
pesquisa sobre os impactos do Conservadorismo no Ensino de História e coordena
projetos de extensão na área de Educação e Direitos Humanos.
pamella.passos@ifrj.edu.br
Patricia Gama Temporim Cansi
Fluminense UFF (2019) na linha de pesquisa dos Estudos do Cotidiano da Classe
Popular. Especialista em Gestão Esco
Pedagogia pelo Centro Universitário São Camilo
Educação Básica de Cachoeiro de Itapemirim (01 a 04/2017 e 01/2018 até a
presente data), experiência como Professora Universitária (São Camilo
Pedagoga do Município de Cachoeiro de Itapemirim
desempenhando as funções de: Professora/Pedagoga Formadora (2014 até a
presente data), Gestora Escolar (2010
Técnico e Pedagógico da Educação
patriciagamatemporim@hotmail.com
Pedro Souza.
Mestrando em História pela Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro. E-
mail: pedroh_souza@outlook.com.br
7534-1200.
Ravelly Machado Soares Güntensperger
Biológicas, pela Universidade Federal Fluminense. Aluna do Mestrado em
Educação, pela Universidade Federal Fluminense na linha de pesquisa: Es
Cotidianos e da Educação Popular. Professora de Ciências na Secretaria Estadual
de Educação do Rio de Janeiro. E
https://orcid.org/0000-0002
-
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
UERJ). Possui pós
-
doutorado em Educação e Imagem pelo
UERJ, mestrado em História Social da Cultura pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro e grad
uação (bacharelado e licenciatura)
em História pela UFF. Foi professora de História da Educação básica, na rede
municipal do Rio de Janeiro. É líder do grupo de Pesquisa Juventudes, Infâncias e
líder do Laboratório Ensino de História. Te
m experiência nas
áreas de Educação e História; Estudos com os Cotidianos; História Social da Cultura
e Ensino/Educação através da História.
E-mail:
niveandrade1@gmail.com
-
9935-652X
Professora do quadro
efetivo do Instituto Federal de Educação
Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ). Atualmente realiza estágio de Pós
Doutorado no Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal
Fluminense (UFF) Com estágio de Pós Doutorado pelo Programa
de Pós graduação
em Antropologia Social/ Museu Nacional/ Universidade Federal do Rio de
Janeiro(2016). Doutora em História Social pela Universidade Federal
Fluminense(2013), mestre em História, área de concentração História Política, pela
Estado do Rio de Janeiro(2008) e graduada em História pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro(2006), Possui experiência na área de
História e Ensino de História, com ênfase em História do Brasil República.
Desenvolveu pesquisas sobre Juventudes, Cult
ura Popular e Favelas Cariocas,
Anticomunismo no Brasil, Ensino de História em Escolas Técnicas. Atualmente
pesquisa sobre os impactos do Conservadorismo no Ensino de História e coordena
projetos de extensão na área de Educação e Direitos Humanos.
pamella.passos@ifrj.edu.br
- https://orcid.org/0000-0001-9759-
6100
Patricia Gama Temporim Cansi
.
Mestre em Educação pela Universidade Federal
Fluminense UFF (2019) na linha de pesquisa dos Estudos do Cotidiano da Classe
Popular. Especialista em Gestão Esco
lar pela UFES (2013). Graduada em
Pedagogia pelo Centro Universitário São Camilo
-
ES (2001). Subsecretária de
Educação Básica de Cachoeiro de Itapemirim (01 a 04/2017 e 01/2018 até a
presente data), experiência como Professora Universitária (São Camilo
Pedagoga do Município de Cachoeiro de Itapemirim
-
ES (desde 2008),
desempenhando as funções de: Professora/Pedagoga Formadora (2014 até a
presente data), Gestora Escolar (2010
-
2013) Coordenadora de Estudo e Suporte
Técnico e Pedagógico da Educação
Infantil na SEME (2016).
patriciagamatemporim@hotmail.com
– https://orcid.org/0000-0002
-
Mestrando em História pela Universidade Federal do Estado do Rio
mail: pedroh_souza@outlook.com.br
-
https://orcid.org/0000
Ravelly Machado Soares Güntensperger
.
Graduada em licenciatura em Ciências
Biológicas, pela Universidade Federal Fluminense. Aluna do Mestrado em
Educação, pela Universidade Federal Fluminense na linha de pesquisa: Es
Cotidianos e da Educação Popular. Professora de Ciências na Secretaria Estadual
de Educação do Rio de Janeiro. E
-
mail: ravellyms@gmail.com
-
8783-0327
19
doutorado em Educação e Imagem pelo
UERJ, mestrado em História Social da Cultura pela Pontifícia
uação (bacharelado e licenciatura)
em História pela UFF. Foi professora de História da Educação básica, na rede
municipal do Rio de Janeiro. É líder do grupo de Pesquisa Juventudes, Infâncias e
m experiência nas
áreas de Educação e História; Estudos com os Cotidianos; História Social da Cultura
niveandrade1@gmail.com
-
efetivo do Instituto Federal de Educação
Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ). Atualmente realiza estágio de Pós
Doutorado no Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal
de Pós graduação
em Antropologia Social/ Museu Nacional/ Universidade Federal do Rio de
Janeiro(2016). Doutora em História Social pela Universidade Federal
Fluminense(2013), mestre em História, área de concentração História Política, pela
Estado do Rio de Janeiro(2008) e graduada em História pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro(2006), Possui experiência na área de
História e Ensino de História, com ênfase em História do Brasil República.
ura Popular e Favelas Cariocas,
Anticomunismo no Brasil, Ensino de História em Escolas Técnicas. Atualmente
pesquisa sobre os impactos do Conservadorismo no Ensino de História e coordena
projetos de extensão na área de Educação e Direitos Humanos.
E-mail:
6100
Mestre em Educação pela Universidade Federal
Fluminense UFF (2019) na linha de pesquisa dos Estudos do Cotidiano da Classe
lar pela UFES (2013). Graduada em
ES (2001). Subsecretária de
Educação Básica de Cachoeiro de Itapemirim (01 a 04/2017 e 01/2018 até a
presente data), experiência como Professora Universitária (São Camilo
-ES, 2016),
ES (desde 2008),
desempenhando as funções de: Professora/Pedagoga Formadora (2014 até a
2013) Coordenadora de Estudo e Suporte
Infantil na SEME (2016).
E-mail:
-
1795-7453
Mestrando em História pela Universidade Federal do Estado do Rio
https://orcid.org/0000
-0002-
Graduada em licenciatura em Ciências
Biológicas, pela Universidade Federal Fluminense. Aluna do Mestrado em
Educação, pela Universidade Federal Fluminense na linha de pesquisa: Es
tudo dos
Cotidianos e da Educação Popular. Professora de Ciências na Secretaria Estadual
mail: ravellyms@gmail.com
-
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Rosa Yokota
. Possui Bacharelado (1991) e Licenciatura em Letras Port
Espanhol (1993) pela Universidade de São Paulo (USP), onde mais tarde concluiu o
mestrado em Linguística (2001) e doutorado em Letras (Língua Espanhola e Lit.
Espanhola e Hispano-
Americ.) (2007). Atualmente é Professora Associada 3 da
Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar). Tem experiência na área de Letras,
com ênfase em Língua Espanhola, atuando principalmente nos seguintes temas:
língua espanhola, espanhol e português como línguas estrangeiras, formação de
professores e ensino de espanhol. É
do Programa de Pós-
Graduação em Linguística da UFSCar. Foi Pesquisadora
Colaboradora do Departamento de Letras Modernas, Programa de Pós
em Língua Espanhola e Lit. Espanhola e Hispano
E-
mail: rosayokota@yahoo.com
Rosely Coutinho.
Mestra em Memória e Acervos. Área de Concentração em
Práticas Críticas em Acervos: Difusão, Acesso, Uso
Documental Material e Imaterial pela Fundação Casa de Rui Barbosa.
Especialização em Filosofia (2009) e Especialização em Metodologia do Ensino da
Filosofia (2009), ambas pela Universidade Gama Filho, estudando o Programa de
Mat
tew Lipman e a Filosofia para as crianças. Licenciatura em Pedagogia pela
UESA. Extensão: A criança e a Cultura pela PUC
Municipal de Educação. Bacharel em Comunicação Social pela UGF. Interesse por
métodos e novos recursos
(alfabetização). Professora Regente do Ensino Fundamental I
Ensino do Município do Rio de Janeiro especialmente em Turmas de Alfabetização.
Tem interesse nas áreas de Educação, Filo
Comunicação Social. E-
mail:
Rosineide Magalhães de Sousa
Brasília -
UnB, lotada no campus de Planaltina
em Educação do Campo, na área de Linguagem: Linguística. Está credenciada no
Programa de Pós-
Graduação de Linguística
institucional do PIBID Diversidade
do Observatório da Educação do Campo, da CAPES. É lider do grupo de pesquisa
Sociolinguística, Letramentos Múltiplos e Educação (SOLEDUC), certificado pelo
CNPq. É Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Brasília (1997), mestre
(2001), do
utora (2006) em Linguística (Sociolinguística) pela Universidade de
Brasília. s-
doutora em Linguística Aplicada pela Universidade de Campinas
(2019). Foi professora de Inglês e Português da Educação Básica, na Secretaria de
Educação do Distrito Federal e
trabalha com a formação inicial e continuada de professores da Educação Básica,
nas modalidades presencial e a distância, na análise e elaboração de material
didático de Língua Portuguesa, docência e coorden
estudo e pesquisa são: sociolinguística, letramento como prática social, leitura e
escrita, gêneros discursivos, metodologia de ensino de Língua Portuguesa e
formação de professores, na perspectiva do método etnográfico. Ainda
Autoetnografia e Netnografia (etnografia na Internet). Atualmente, coordena a Área
de Educação e Linguagem da Faculdade UnB Planaltina. E
https://orcid.org/0000-0001
-
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
. Possui Bacharelado (1991) e Licenciatura em Letras Port
Espanhol (1993) pela Universidade de São Paulo (USP), onde mais tarde concluiu o
mestrado em Linguística (2001) e doutorado em Letras (Língua Espanhola e Lit.
Americ.) (2007). Atualmente é Professora Associada 3 da
Federal de São Carlos (UFSCar). Tem experiência na área de Letras,
com ênfase em Língua Espanhola, atuando principalmente nos seguintes temas:
língua espanhola, espanhol e português como línguas estrangeiras, formação de
professores e ensino de espanhol. É
docente do Curso de Licenciatura em Letras e
Graduação em Linguística da UFSCar. Foi Pesquisadora
Colaboradora do Departamento de Letras Modernas, Programa de Pós
em Língua Espanhola e Lit. Espanhola e Hispano
-
Americana da USP
mail: rosayokota@yahoo.com
- https://orcid.org/0000-0002-1672-
1430
Mestra em Memória e Acervos. Área de Concentração em
Práticas Críticas em Acervos: Difusão, Acesso, Uso
e Apropriação do Patrimônio
Documental Material e Imaterial pela Fundação Casa de Rui Barbosa.
Especialização em Filosofia (2009) e Especialização em Metodologia do Ensino da
Filosofia (2009), ambas pela Universidade Gama Filho, estudando o Programa de
tew Lipman e a Filosofia para as crianças. Licenciatura em Pedagogia pela
UESA. Extensão: A criança e a Cultura pela PUC
-
RJ em parceria com a Secretaria
Municipal de Educação. Bacharel em Comunicação Social pela UGF. Interesse por
métodos e novos recursos
pedagógicos para a apropriação da leitura e da escrita
(alfabetização). Professora Regente do Ensino Fundamental I
-
Rede Municipal de
Ensino do Município do Rio de Janeiro especialmente em Turmas de Alfabetização.
Tem interesse nas áreas de Educação, Filo
sofia, Memória, Cultura, Museologia e
mail:
liucoutinho@yahoo.com.br
Rosineide Magalhães de Sousa
.
É Professora Associada da Universidade de
UnB, lotada no campus de Planaltina
-
DF, atuando no Curso: Licenciatura
em Educação do Campo, na área de Linguagem: Linguística. Está credenciada no
Graduação de Linguística
-
PPGL/UnB. Foi coordenadora
institucional do PIBID Diversidade
-
UnB/CAPES, de 2014 a 2018. É Pesqui
do Observatório da Educação do Campo, da CAPES. É lider do grupo de pesquisa
Sociolinguística, Letramentos Múltiplos e Educação (SOLEDUC), certificado pelo
CNPq. É Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Brasília (1997), mestre
utora (2006) em Linguística (Sociolinguística) pela Universidade de
doutora em Linguística Aplicada pela Universidade de Campinas
(2019). Foi professora de Inglês e Português da Educação Básica, na Secretaria de
Educação do Distrito Federal e
na rede particular de ensino do DF. Desde 2001,
trabalha com a formação inicial e continuada de professores da Educação Básica,
nas modalidades presencial e a distância, na análise e elaboração de material
didático de Língua Portuguesa, docência e coorden
ação pedagógica. Os temas de
estudo e pesquisa são: sociolinguística, letramento como prática social, leitura e
escrita, gêneros discursivos, metodologia de ensino de Língua Portuguesa e
formação de professores, na perspectiva do método etnográfico. Ainda
Autoetnografia e Netnografia (etnografia na Internet). Atualmente, coordena a Área
de Educação e Linguagem da Faculdade UnB Planaltina. E
-
mail: rosineide@unb.br
-
7588-4224
20
. Possui Bacharelado (1991) e Licenciatura em Letras Port
uguês e
Espanhol (1993) pela Universidade de São Paulo (USP), onde mais tarde concluiu o
mestrado em Linguística (2001) e doutorado em Letras (Língua Espanhola e Lit.
Americ.) (2007). Atualmente é Professora Associada 3 da
Federal de São Carlos (UFSCar). Tem experiência na área de Letras,
com ênfase em Língua Espanhola, atuando principalmente nos seguintes temas:
língua espanhola, espanhol e português como línguas estrangeiras, formação de
docente do Curso de Licenciatura em Letras e
Graduação em Linguística da UFSCar. Foi Pesquisadora
Colaboradora do Departamento de Letras Modernas, Programa de Pós
-Graduação
Americana da USP
(2018-2019).
1430
Mestra em Memória e Acervos. Área de Concentração em
e Apropriação do Patrimônio
Documental Material e Imaterial pela Fundação Casa de Rui Barbosa.
Especialização em Filosofia (2009) e Especialização em Metodologia do Ensino da
Filosofia (2009), ambas pela Universidade Gama Filho, estudando o Programa de
tew Lipman e a Filosofia para as crianças. Licenciatura em Pedagogia pela
RJ em parceria com a Secretaria
Municipal de Educação. Bacharel em Comunicação Social pela UGF. Interesse por
pedagógicos para a apropriação da leitura e da escrita
Rede Municipal de
Ensino do Município do Rio de Janeiro especialmente em Turmas de Alfabetização.
sofia, Memória, Cultura, Museologia e
É Professora Associada da Universidade de
DF, atuando no Curso: Licenciatura
em Educação do Campo, na área de Linguagem: Linguística. Está credenciada no
PPGL/UnB. Foi coordenadora
UnB/CAPES, de 2014 a 2018. É Pesqui
sadora
do Observatório da Educação do Campo, da CAPES. É lider do grupo de pesquisa
Sociolinguística, Letramentos Múltiplos e Educação (SOLEDUC), certificado pelo
CNPq. É Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Brasília (1997), mestre
utora (2006) em Linguística (Sociolinguística) pela Universidade de
doutora em Linguística Aplicada pela Universidade de Campinas
(2019). Foi professora de Inglês e Português da Educação Básica, na Secretaria de
na rede particular de ensino do DF. Desde 2001,
trabalha com a formação inicial e continuada de professores da Educação Básica,
nas modalidades presencial e a distância, na análise e elaboração de material
ação pedagógica. Os temas de
estudo e pesquisa são: sociolinguística, letramento como prática social, leitura e
escrita, gêneros discursivos, metodologia de ensino de Língua Portuguesa e
formação de professores, na perspectiva do método etnográfico. Ainda
trabalha com
Autoetnografia e Netnografia (etnografia na Internet). Atualmente, coordena a Área
mail: rosineide@unb.br
-
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Sandrine Barros da Silva
.
Fluminense (2018), cursa graduação em Arquivologia pela Universidade Federal
Fluminense (2018) e é Técnica em Estradas (2013) pelo CEFET/RJ. Atualmente é
estagiário no Arquivo Geral da Cidade do Rio de
de História, com ênfase em Pesquisa e Arquivo, atuando principalmente nos
seguintes temas: Educação, Brasil Império; Obras de saneamento; Engenheiros e
História da Engenharia.
Foi bolsista de iniciação científica pelo Muse
e Ciências Afins. E-
mail:
3978-1081
Sofia Leonor von Mettenheim
FGV, participou pelo Centro de Estudos em Administração Pública e Governo
(CEAPG) de projetos de pesquisa nas áreas de gestão cultural e de enfrentamento à
violência de gênero. Apresentou como monografia para a conclusão da graduação
uma avaliação do processo de implementação do programa Agente Comunitário de
Cultura, e recebeu prêmio do GVPesquisa de melhor PIBIC com o projeto Violência
de Gênero em Eventos Esportivos Universitários Paulistas. Atuou como Jovem
Monitora Cultural na Se
cretaria Municipal de Cultura de São Paulo na coordenação
do programa Agente Comunitário de Cultura. Trabalhou como Analista de Políticas
Públicas no cleo de Gestão Estratégica da Prefeitura de Niterói (RJ), responsável
pelo monitoramento e aceleração de
programa Cultura e Sociedade, Pós Cultura na UFBA com o projeto de tal? Um
panorama de instrumentos e práticas fomento à cultura nas capitais brasileiras
(2013-2018)". E-
mail: sofiamettenheim@gmail.com
7957-9929
Tainá Oliveira Barral
.
Universidade Federal do Pará (UFPA). Atualmente é integrante da Na Cuia
Produtora Cultural. Atuou na coordenação acadêmica e na comunicação do Centro
Acadêmico de Comunicação Social
e mobilizadora da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social
(ENECOS). Foi membro do coletivo juventude negra do Centro de Estudos e Defesa
do Negro do Pará (CEDENPA). Tem interesse nas áreas da cultura, cultura
paraense, cultura afro-
brasileira, juventude negra, antiproibicionismo, festas pretas,
movimentos sociais, comunicação e gestão de projetos culturais. E
taina.o.barral@gmail.com
-
Valmir Mateus Portal
. Mestre em Desenvolvimen
Integradas de Taquara (Faccat). Professor
Taquara (FACCAT), Rio Grande do Sul. Pós
criação -
SENACRS (2012). Graduação em Comunicação Social
Integradas de Taquara (2010). Tem experiência na área de Comunicação, com
ênfase em Publicidade, atuando principalmente nos seguintes temas: fotografia,
semiótica, estúdio fotográfico, marketing social e laboratório fotográfico. E
mateusportal@faccat.br -
http
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
.
Possui graduação em História pela Universidade Federal
Fluminense (2018), cursa graduação em Arquivologia pela Universidade Federal
Fluminense (2018) e é Técnica em Estradas (2013) pelo CEFET/RJ. Atualmente é
estagiário no Arquivo Geral da Cidade do Rio de
Janeiro. Tem experiência na área
de História, com ênfase em Pesquisa e Arquivo, atuando principalmente nos
seguintes temas: Educação, Brasil Império; Obras de saneamento; Engenheiros e
Foi bolsista de iniciação científica pelo Muse
mail:
sandrinebsilva@gmail.com -
https://orcid.org/0000
Sofia Leonor von Mettenheim
. Graduada em Administra
ção Pública pela EAESP
FGV, participou pelo Centro de Estudos em Administração Pública e Governo
(CEAPG) de projetos de pesquisa nas áreas de gestão cultural e de enfrentamento à
violência de gênero. Apresentou como monografia para a conclusão da graduação
uma avaliação do processo de implementação do programa Agente Comunitário de
Cultura, e recebeu prêmio do GVPesquisa de melhor PIBIC com o projeto Violência
de Gênero em Eventos Esportivos Universitários Paulistas. Atuou como Jovem
cretaria Municipal de Cultura de São Paulo na coordenação
do programa Agente Comunitário de Cultura. Trabalhou como Analista de Políticas
Públicas no cleo de Gestão Estratégica da Prefeitura de Niterói (RJ), responsável
pelo monitoramento e aceleração de
projetos estratégicos. Atualmente mestranda no
programa Cultura e Sociedade, Pós Cultura na UFBA com o projeto de tal? Um
panorama de instrumentos e práticas fomento à cultura nas capitais brasileiras
mail: sofiamettenheim@gmail.com
- h
ttps://orcid.org/0000
.
Jornalista formada em Comunicação Social pela
Universidade Federal do Pará (UFPA). Atualmente é integrante da Na Cuia
Produtora Cultural. Atuou na coordenação acadêmica e na comunicação do Centro
Acadêmico de Comunicação Social
- CACO (maio de 2015/maio
2016). Foi membra
e mobilizadora da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social
(ENECOS). Foi membro do coletivo juventude negra do Centro de Estudos e Defesa
do Negro do Pará (CEDENPA). Tem interesse nas áreas da cultura, cultura
brasileira, juventude negra, antiproibicionismo, festas pretas,
movimentos sociais, comunicação e gestão de projetos culturais. E
-
https://orcid.org/0000-0002-5258-412X
. Mestre em Desenvolvimen
to Regional pelas Faculdades
Integradas de Taquara (Faccat). Professor
-
assistente nas Faculdades Integradas de
Taquara (FACCAT), Rio Grande do Sul. Pós
-G
raduado em Artes Visuais: cultura e
SENACRS (2012). Graduação em Comunicação Social
Integradas de Taquara (2010). Tem experiência na área de Comunicação, com
ênfase em Publicidade, atuando principalmente nos seguintes temas: fotografia,
semiótica, estúdio fotográfico, marketing social e laboratório fotográfico. E
http
s://orcid.org/0000-0002-6612-1038
21
Possui graduação em História pela Universidade Federal
Fluminense (2018), cursa graduação em Arquivologia pela Universidade Federal
Fluminense (2018) e é Técnica em Estradas (2013) pelo CEFET/RJ. Atualmente é
Janeiro. Tem experiência na área
de História, com ênfase em Pesquisa e Arquivo, atuando principalmente nos
seguintes temas: Educação, Brasil Império; Obras de saneamento; Engenheiros e
Foi bolsista de iniciação científica pelo Muse
u de Astronomia
https://orcid.org/0000
-0002-
ção Pública pela EAESP
-
FGV, participou pelo Centro de Estudos em Administração Pública e Governo
(CEAPG) de projetos de pesquisa nas áreas de gestão cultural e de enfrentamento à
violência de gênero. Apresentou como monografia para a conclusão da graduação
uma avaliação do processo de implementação do programa Agente Comunitário de
Cultura, e recebeu prêmio do GVPesquisa de melhor PIBIC com o projeto Violência
de Gênero em Eventos Esportivos Universitários Paulistas. Atuou como Jovem
cretaria Municipal de Cultura de São Paulo na coordenação
do programa Agente Comunitário de Cultura. Trabalhou como Analista de Políticas
Públicas no cleo de Gestão Estratégica da Prefeitura de Niterói (RJ), responsável
projetos estratégicos. Atualmente mestranda no
programa Cultura e Sociedade, Pós Cultura na UFBA com o projeto de tal? Um
panorama de instrumentos e práticas fomento à cultura nas capitais brasileiras
ttps://orcid.org/0000
-0002-
Jornalista formada em Comunicação Social pela
Universidade Federal do Pará (UFPA). Atualmente é integrante da Na Cuia
-
Produtora Cultural. Atuou na coordenação acadêmica e na comunicação do Centro
2016). Foi membra
e mobilizadora da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social
(ENECOS). Foi membro do coletivo juventude negra do Centro de Estudos e Defesa
do Negro do Pará (CEDENPA). Tem interesse nas áreas da cultura, cultura
brasileira, juventude negra, antiproibicionismo, festas pretas,
movimentos sociais, comunicação e gestão de projetos culturais. E
-mail:
to Regional pelas Faculdades
assistente nas Faculdades Integradas de
raduado em Artes Visuais: cultura e
SENACRS (2012). Graduação em Comunicação Social
- Faculdades
Integradas de Taquara (2010). Tem experiência na área de Comunicação, com
ênfase em Publicidade, atuando principalmente nos seguintes temas: fotografia,
semiótica, estúdio fotográfico, marketing social e laboratório fotográfico. E
-mail:
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
EDITORIAL
PragMATIZES -
Revista Latino
trilhando os rumos da interdisciplinaridade e traz junto à presente edição
A
rtigos selecionados para a seção de Fluxo Contínuo,
entre cultura e educação
Nívea Andrade,
a quem reiteramos os agradecimentos pela valiosa contribuição ao
nosso periódico.
O dossiê é composto por 11
comentados na apresentação do mesmo.
Esta edição
abarcou 42
Tivemos pesquisadores d
o Pará,
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Atingimos o total de 338 autores (40 deles mais
de uma vez) que procuraram
sempre reiteramos os agradecimentos e convidamos
nossa revista um bom canal de divulgação científica.
Cumpre reforçar que os artigos de fluxo contínuo, resenhas e ensaios
submetidos são encaminhados para avaliadores
avaliações por texto
), no sistema du
Editorial da revista. Os artigos submetidos para os dossiês temáticos são avaliados
também pelos editores do dossiê.
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Revista Latino
-
Americana de Estudos em Cultura
trilhando os rumos da interdisciplinaridade e traz junto à presente edição
rtigos selecionados para a seção de Fluxo Contínuo,
um Ensaio
e o dossiê
que teve editoria das pesquisadoras
Pâmella Passos e
a quem reiteramos os agradecimentos pela valiosa contribuição ao
O dossiê é composto por 11
A
rtigos e uma Resenha, que serão
comentados na apresentação do mesmo.
abarcou 42
autores, oriundos de
todas as regiões brasileiras.
o Pará,
Bahia,
Espírito Santo, Distrito Federal, São Paulo,
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Atingimos o total de 338 autores (40 deles mais
de uma vez) que procuraram
PragMATIZES
para compartilhar seus estudos, a quem
sempre reiteramos os agradecimentos e convidamos
a continuar considerando
nossa revista um bom canal de divulgação científica.
Cumpre reforçar que os artigos de fluxo contínuo, resenhas e ensaios
submetidos são encaminhados para avaliadores
ad hoc
(num mínimo de duas
), no sistema du
plo-
cego, integrantes sobretudo do Conselho
Editorial da revista. Os artigos submetidos para os dossiês temáticos são avaliados
também pelos editores do dossiê.
Niterói/RJ,
22
Americana de Estudos em Cultura
segue
trilhando os rumos da interdisciplinaridade e traz junto à presente edição
cinco
e o dossiê
Tramas
Pâmella Passos e
a quem reiteramos os agradecimentos pela valiosa contribuição ao
rtigos e uma Resenha, que serão
todas as regiões brasileiras.
Espírito Santo, Distrito Federal, São Paulo,
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Atingimos o total de 338 autores (40 deles mais
para compartilhar seus estudos, a quem
a continuar considerando
Cumpre reforçar que os artigos de fluxo contínuo, resenhas e ensaios
(num mínimo de duas
cego, integrantes sobretudo do Conselho
Editorial da revista. Os artigos submetidos para os dossiês temáticos são avaliados
Niterói/RJ,
Verão de 2021
Os editores
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Cultura e educação são duas palavras inquietas. Quando refletimos sobre
elas, resistem à condição de substantivo. Estão sempre em ação, dinâmicas, com
fronteiras que se derramam umas sobre as outras como uma trama gestada pelas
encruzilhadas.
Se falar de cultura e educação não é tarefa fácil, tecer o dossiê
entre cultura e educação
COVID 19 foi tarefa menos fácil ainda. Quando preparamos a chamada para esta
publicação, tínhamo
s a rua, os encontros, os afetos que a todo instante afirmavam
que a relação entre cultura e educação vai muito além de instituições formais.
Distantes, enclausuradas e enclausurados passamos um ano tentando
explicar que educação não se restringe ao ambie
conteúdo. A Cultura e seus trabalhadores e trabalhadoras foram duramente afetados
pelo fechamento de estabelecimentos e cancelamentos de eventos, bem como os
profissionais da educação, pressionados a jogar conteúdos, expor
aumentar sua carga de trabalho com produção de vídeos em plataformas pouco
conhecidas e confiáveis.
Nesse sentido, Educação e Cultura, que vinham sendo atacadas na
conjuntura brasileira pré-
pandemia, foram setores que sofreram duros gol
logo dos meses de 2020. As discussões sobre aulas
aos fazedores e fazedoras de cultura colocaram no centro do debate o que o dossiê
queria abordar: o que possibilita juntar fios, tecer e criar caminhos entre educação
cultura?
Que visões turvas sobre educação e cultura a realidade pandêmica
aprofundou? Ou ainda, a cruel pedagogia do vírus
Sous
a Santos (2020), foi capaz de nos proporcionar ensinamentos? O que
vivenciamos e aprendemos sobre c
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Palavras Inquietas
Pâmella Passos (IFRJ)
Nívea
Cultura e educação são duas palavras inquietas. Quando refletimos sobre
elas, resistem à condição de substantivo. Estão sempre em ação, dinâmicas, com
fronteiras que se derramam umas sobre as outras como uma trama gestada pelas
Se falar de cultura e educação não é tarefa fácil, tecer o dossiê
entre cultura e educação
no contexto de crise sanitária gerada pela pandemia do
COVID 19 foi tarefa menos fácil ainda. Quando preparamos a chamada para esta
s a rua, os encontros, os afetos que a todo instante afirmavam
que a relação entre cultura e educação vai muito além de instituições formais.
Distantes, enclausuradas e enclausurados passamos um ano tentando
explicar que educação não se restringe ao ambie
nte escolar e que escola não é
conteúdo. A Cultura e seus trabalhadores e trabalhadoras foram duramente afetados
pelo fechamento de estabelecimentos e cancelamentos de eventos, bem como os
profissionais da educação, pressionados a jogar conteúdos, expor
aumentar sua carga de trabalho com produção de vídeos em plataformas pouco
Nesse sentido, Educação e Cultura, que vinham sendo atacadas na
pandemia, foram setores que sofreram duros gol
logo dos meses de 2020. As discussões sobre aulas
online
e programas de incentivo
aos fazedores e fazedoras de cultura colocaram no centro do debate o que o dossiê
queria abordar: o que possibilita juntar fios, tecer e criar caminhos entre educação
Que visões turvas sobre educação e cultura a realidade pandêmica
aprofundou? Ou ainda, a cruel pedagogia do vírus
, como nomeia Boaventura de
a Santos (2020), foi capaz de nos proporcionar ensinamentos? O que
vivenciamos e aprendemos sobre c
ultura e educação neste ano tão inusitado?
23
Pâmella Passos (IFRJ)
Nívea
Andrade (UFF)
Cultura e educação são duas palavras inquietas. Quando refletimos sobre
elas, resistem à condição de substantivo. Estão sempre em ação, dinâmicas, com
fronteiras que se derramam umas sobre as outras como uma trama gestada pelas
Se falar de cultura e educação não é tarefa fácil, tecer o dossiê
Tramas
no contexto de crise sanitária gerada pela pandemia do
COVID 19 foi tarefa menos fácil ainda. Quando preparamos a chamada para esta
s a rua, os encontros, os afetos que a todo instante afirmavam
que a relação entre cultura e educação vai muito além de instituições formais.
Distantes, enclausuradas e enclausurados passamos um ano tentando
nte escolar e que escola não é
conteúdo. A Cultura e seus trabalhadores e trabalhadoras foram duramente afetados
pelo fechamento de estabelecimentos e cancelamentos de eventos, bem como os
profissionais da educação, pressionados a jogar conteúdos, expor
suas imagens,
aumentar sua carga de trabalho com produção de vídeos em plataformas pouco
Nesse sentido, Educação e Cultura, que vinham sendo atacadas na
pandemia, foram setores que sofreram duros gol
pes ao
e programas de incentivo
aos fazedores e fazedoras de cultura colocaram no centro do debate o que o dossiê
queria abordar: o que possibilita juntar fios, tecer e criar caminhos entre educação
e
Que visões turvas sobre educação e cultura a realidade pandêmica
, como nomeia Boaventura de
a Santos (2020), foi capaz de nos proporcionar ensinamentos? O que
ultura e educação neste ano tão inusitado?
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Em certa medida tramar é juntar pedaços que a princípio são vistos como
independentes. Neste dossiê tramamos, costuramos experiências e reflexões que
afirmam que não um divisor estanque e fixo que separe educa
Estas são práticas que tal como um movimento de dança podem se aproximar ou
afastar, a depender do tempo e do espaço.
Dialogando com Conceição Evaristo, as escrevivências que compõem este
dossiê são afirmações de vida, experiências específ
mais comprometido com a sociedade em seu cotidiano. Uma escrita com e
sobre.
Composto de onze artigos e uma resenha, o dossiê diversifica as abordagens
sobre o tema, dando visibilidade a múltiplas narrativas que abordam
educação. Como um caleidoscópio, que ao movimentar
de combinação de cores e percepção de imagens, os artigos aqui apresentados nos
convidam a outros olhares, tatos, olfatos e audições, são táticas de sobrevivência e
afirmação do esperançar.
Abrindo o dossiê temos texto
espaços de educação”,
trazendo uma importante reflexão sobre a ocupação do
espaço urbano por um projeto de teatro nômade. O artigo faz um rico resgate
histórico sobre a região portuária do Rio de Janeiro, pontuando os interesses
políticos e os impactos das políticas públicas de
efervescências cultural deste território.
Vindo na esteira do debate sobre ocupação dos espaços públicos temos
saraus são as bibliotecas sonoras das periferias’: uma narrativa sobre letramentos e
o direito à cidade” que
letramentos e ocupação cultural, discute a noção de centro e periferia. Lançando
mão de cartas escritas à rua, as autoras possibilitam uma análise sensível e poética
sobre as tramas entre educação e cultura.
O terceiro artigo do dossiê
a visita à Pequena África como uma prática educacional antirracista”
experiência de afeto e reflexão aguçada tanto sobre uma educação experenciada
em espaços não escola
professores contam a história que muitos livros não contam
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Em certa medida tramar é juntar pedaços que a princípio são vistos como
independentes. Neste dossiê tramamos, costuramos experiências e reflexões que
afirmam que não um divisor estanque e fixo que separe educa
Estas são práticas que tal como um movimento de dança podem se aproximar ou
afastar, a depender do tempo e do espaço.
Dialogando com Conceição Evaristo, as escrevivências que compõem este
dossiê são afirmações de vida, experiências específ
icas que proporcionam um olhar
mais comprometido com a sociedade em seu cotidiano. Uma escrita com e
Composto de onze artigos e uma resenha, o dossiê diversifica as abordagens
sobre o tema, dando visibilidade a múltiplas narrativas que abordam
educação. Como um caleidoscópio, que ao movimentar
-
se amplia as possibilidades
de combinação de cores e percepção de imagens, os artigos aqui apresentados nos
convidam a outros olhares, tatos, olfatos e audições, são táticas de sobrevivência e
Abrindo o dossiê temos texto
P
orto, praça e palco: as ruas da cidade como
trazendo uma importante reflexão sobre a ocupação do
espaço urbano por um projeto de teatro nômade. O artigo faz um rico resgate
histórico sobre a região portuária do Rio de Janeiro, pontuando os interesses
políticos e os impactos das políticas públicas de
remoção, bem como a
efervescências cultural deste território.
Vindo na esteira do debate sobre ocupação dos espaços públicos temos
saraus são as bibliotecas sonoras das periferias’: uma narrativa sobre letramentos e
ao apres
entar a praça pública como um espaço de
letramentos e ocupação cultural, discute a noção de centro e periferia. Lançando
mão de cartas escritas à rua, as autoras possibilitam uma análise sensível e poética
sobre as tramas entre educação e cultura.
O terceiro artigo do dossiê
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor:
a visita à Pequena África como uma prática educacional antirracista”
experiência de afeto e reflexão aguçada tanto sobre uma educação experenciada
em espaços não escola
res, quanto uma narrativa de como professoras e
professores contam a história que muitos livros não contam
.
24
Em certa medida tramar é juntar pedaços que a princípio são vistos como
independentes. Neste dossiê tramamos, costuramos experiências e reflexões que
afirmam que não um divisor estanque e fixo que separe educa
ção e cultura.
Estas são práticas que tal como um movimento de dança podem se aproximar ou
Dialogando com Conceição Evaristo, as escrevivências que compõem este
icas que proporcionam um olhar
mais comprometido com a sociedade em seu cotidiano. Uma escrita com e
não
Composto de onze artigos e uma resenha, o dossiê diversifica as abordagens
sobre o tema, dando visibilidade a múltiplas narrativas que abordam
cultura e
se amplia as possibilidades
de combinação de cores e percepção de imagens, os artigos aqui apresentados nos
convidam a outros olhares, tatos, olfatos e audições, são táticas de sobrevivência e
orto, praça e palco: as ruas da cidade como
trazendo uma importante reflexão sobre a ocupação do
espaço urbano por um projeto de teatro nômade. O artigo faz um rico resgate
histórico sobre a região portuária do Rio de Janeiro, pontuando os interesses
remoção, bem como a
Vindo na esteira do debate sobre ocupação dos espaços públicos temos
‘Os
saraus são as bibliotecas sonoras das periferias’: uma narrativa sobre letramentos e
entar a praça pública como um espaço de
letramentos e ocupação cultural, discute a noção de centro e periferia. Lançando
mão de cartas escritas à rua, as autoras possibilitam uma análise sensível e poética
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor:
a visita à Pequena África como uma prática educacional antirracista”
traz uma
experiência de afeto e reflexão aguçada tanto sobre uma educação experenciada
res, quanto uma narrativa de como professoras e
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Outra experiência que vai além dos muros da escola é a relatada em
popular e educação, uma experiência de visitação ao Museu Casa do Ponta
trabalho que teve como objeto de aná
analisar as potencialidades
mesmo tempo que atua na afirmação da diversidade cultural.
Trazendo um projeto de exte
‘Quem Sabe de Mim Sou Eu’: práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade”
perspectivas e políticas pedagógicas destina
Chamando atenção para o que nomeia de “profecias auto
leva à
percepção de preconceitos introjetados e reproduzidos no meio educacional.
Possibilitando uma reflexão da atual conjuntura brasileira a partir de uma
consistente
análise documental e arcabouço teórico
regras’: o caso do Escola sem Partido em Belo Horizonte”
entre a tese de marxismo cultural e Escola Sem Partido, para discutir o que de fato
está em conflito a partir
do embate na Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Porém, ainda que haja tentativas de controle e ataques sistemáticos
práticas de educação democráticas e promotoras de direitos, brechas criativas e
um rico exemplo é trazido em
sensíveis, temas invisibilizados e corpos pulsantes”
uma escola municipal é o mote para abordar a conversa como uma metodologia de
pesquisa, trazendo um importante debate acerca do corpo e sua relação com a
escola.
Outro texto que nos convida a conhecer diferentes maneiras de se h
uma escola é “O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos
Fluminense campus Campos Centro
habitam o espaço escolar e nele se impõe através de performances teatrais que dão
visibilid
ade a pertencimentos, normas, transgressões entre outros. Por ser uma
experiência dentro de uma instituição de formação técnica integrada ao ensino
médio, o artigo instiga a reflexão sobre que tipo de formação profissional
temos/queremos, bem como o papel
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Outra experiência que vai além dos muros da escola é a relatada em
popular e educação, uma experiência de visitação ao Museu Casa do Ponta
trabalho que teve como objeto de aná
lise visitas ao M
useu do Pontal possibilita
analisar as potencialidades
da educação museal integrada à
s práticas de artes, ao
mesmo tempo que atua na afirmação da diversidade cultural.
Trazendo um projeto de exte
nsão com as favelas como temática o artigo
‘Quem Sabe de Mim Sou Eu’: práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade”
perspectivas e políticas pedagógicas destina
das à
s juventudes periféri
Chamando atenção para o que nomeia de “profecias auto
realizáveis”, o texto nos
percepção de preconceitos introjetados e reproduzidos no meio educacional.
Possibilitando uma reflexão da atual conjuntura brasileira a partir de uma
análise documental e arcabouço teórico
, o texto
‘Meu filho, minhas
regras’: o caso do Escola sem Partido em Belo Horizonte”
delineia os caminhos
entre a tese de marxismo cultural e Escola Sem Partido, para discutir o que de fato
do embate na Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Porém, ainda que haja tentativas de controle e ataques sistemáticos
práticas de educação democráticas e promotoras de direitos, brechas criativas e
um rico exemplo é trazido em
“O espetáculo da esco
la em movimento: conversas
sensíveis, temas invisibilizados e corpos pulsantes”
onde um grupo de dança de
uma escola municipal é o mote para abordar a conversa como uma metodologia de
pesquisa, trazendo um importante debate acerca do corpo e sua relação com a
Outro texto que nos convida a conhecer diferentes maneiras de se h
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos
Fluminense campus Campos Centro
possibilitando-
nos a pensar sobre corpos que
habitam o espaço escolar e nele se impõe através de performances teatrais que dão
ade a pertencimentos, normas, transgressões entre outros. Por ser uma
experiência dentro de uma instituição de formação técnica integrada ao ensino
médio, o artigo instiga a reflexão sobre que tipo de formação profissional
temos/queremos, bem como o papel
das linguagens nesse processo.
25
Outra experiência que vai além dos muros da escola é a relatada em
“Cultura
popular e educação, uma experiência de visitação ao Museu Casa do Ponta
l”. O
useu do Pontal possibilita
s práticas de artes, ao
nsão com as favelas como temática o artigo
"
‘Quem Sabe de Mim Sou Eu’: práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade”
questiona as
s juventudes periféri
cas.
realizáveis”, o texto nos
percepção de preconceitos introjetados e reproduzidos no meio educacional.
Possibilitando uma reflexão da atual conjuntura brasileira a partir de uma
‘Meu filho, minhas
delineia os caminhos
entre a tese de marxismo cultural e Escola Sem Partido, para discutir o que de fato
do embate na Câmara Municipal de Belo Horizonte.
Porém, ainda que haja tentativas de controle e ataques sistemáticos
às
práticas de educação democráticas e promotoras de direitos, brechas criativas e
la em movimento: conversas
onde um grupo de dança de
uma escola municipal é o mote para abordar a conversa como uma metodologia de
pesquisa, trazendo um importante debate acerca do corpo e sua relação com a
Outro texto que nos convida a conhecer diferentes maneiras de se h
abitar
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos
no IF
nos a pensar sobre corpos que
habitam o espaço escolar e nele se impõe através de performances teatrais que dão
ade a pertencimentos, normas, transgressões entre outros. Por ser uma
experiência dentro de uma instituição de formação técnica integrada ao ensino
médio, o artigo instiga a reflexão sobre que tipo de formação profissional
das linguagens nesse processo.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Partindo de rodas de conversas com imagens realizados com jovens de
Duque de Caxias, as autoras do texto
Duque de Caxias”
nos levam a refletir sobre o ambiente habitado e os signi
de pertencimento, bem como as diferentes juventudes num contexto periférico.
Explorando as imagens produzidas por e com os alunos somos convidadas e
convidados a ver a escola e seus habitantes por múltiplos pontos de vista.
Em
Educomunicação e in
adaptação e integração de crianças imigrantes no ambiente escolar”
leitores da PragMATIZES
irão se deparar com um espaço escolar acolhedor frente a
uma realidade crescente no Brasil: a presença d
explicitar as demandas e ideias de construção de blogs com receitas dos países de
origem dos imigrantes, realização de festas das diversas nacionalidades e da
importância do idioma, mas não sua essencialidade, o artigo apresent
linguagens que habitam o espaço escolar, mas que nem sempre são visibilizadas
e/ou potencializadas.
Afirmando a importância da relação entre mente/corpo/sensibilidade o artigo
Cultura, arte e estética: uma análise da educação da sensibilid
exposição”
nos instiga a pensar sobre uma educação dos sentidos. Analisando a
exposição de uma galeria de artes de um Centro Universitário, perspectivas sobre
estética e cultura conduzem a abordagem proporcionando uma compreensão de
edu
cação para além dos conteúdos.
Como fechamento do dossiê temos a resenha do livro
Satrapi. O texto de forma sensível aponta as questões de gênero, cultura e
educação presentes no livro e tão urgentes ao nosso tempo. Dialogando diretame
com o tema do dossiê, tanto o livro quanto a resenha, nos possibilitam pensar os
"bordados" necessários neste momento de avanço conservador pelo qual estamos
passando.
Bordar, tecer, tramar...feituras manuais tão urgentes nestes tempos de
tecnologias
. Abordar Cultura e Educação é, sobretudo, afirmar especificidades e
negar hierarquizações. Não há o mais importante, assim como não existe uma única
visão sobre cultura, tão pouco sobre educação. Esperamos nesse dossiê ter dado
visibilidade a muitos camin
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Partindo de rodas de conversas com imagens realizados com jovens de
Duque de Caxias, as autoras do texto
Sobre juventudes e o habitar a periferia de
nos levam a refletir sobre o ambiente habitado e os signi
de pertencimento, bem como as diferentes juventudes num contexto periférico.
Explorando as imagens produzidas por e com os alunos somos convidadas e
convidados a ver a escola e seus habitantes por múltiplos pontos de vista.
Educomunicação e in
terculturalidade como propostas para acolhida,
adaptação e integração de crianças imigrantes no ambiente escolar”
irão se deparar com um espaço escolar acolhedor frente a
uma realidade crescente no Brasil: a presença d
e imigrantes nas escolas. Ao
explicitar as demandas e ideias de construção de blogs com receitas dos países de
origem dos imigrantes, realização de festas das diversas nacionalidades e da
importância do idioma, mas não sua essencialidade, o artigo apresent
linguagens que habitam o espaço escolar, mas que nem sempre são visibilizadas
Afirmando a importância da relação entre mente/corpo/sensibilidade o artigo
Cultura, arte e estética: uma análise da educação da sensibilid
ade a partir de uma
nos instiga a pensar sobre uma educação dos sentidos. Analisando a
exposição de uma galeria de artes de um Centro Universitário, perspectivas sobre
estética e cultura conduzem a abordagem proporcionando uma compreensão de
cação para além dos conteúdos.
Como fechamento do dossiê temos a resenha do livro
Bordados
Satrapi. O texto de forma sensível aponta as questões de gênero, cultura e
educação presentes no livro e tão urgentes ao nosso tempo. Dialogando diretame
com o tema do dossiê, tanto o livro quanto a resenha, nos possibilitam pensar os
"bordados" necessários neste momento de avanço conservador pelo qual estamos
Bordar, tecer, tramar...feituras manuais tão urgentes nestes tempos de
. Abordar Cultura e Educação é, sobretudo, afirmar especificidades e
negar hierarquizações. Não há o mais importante, assim como não existe uma única
visão sobre cultura, tão pouco sobre educação. Esperamos nesse dossiê ter dado
visibilidade a muitos camin
hos possíveis, cientes que tantos outros estão por ser
26
Partindo de rodas de conversas com imagens realizados com jovens de
Sobre juventudes e o habitar a periferia de
nos levam a refletir sobre o ambiente habitado e os signi
ficados
de pertencimento, bem como as diferentes juventudes num contexto periférico.
Explorando as imagens produzidas por e com os alunos somos convidadas e
convidados a ver a escola e seus habitantes por múltiplos pontos de vista.
terculturalidade como propostas para acolhida,
adaptação e integração de crianças imigrantes no ambiente escolar”
as leitoras e
irão se deparar com um espaço escolar acolhedor frente a
e imigrantes nas escolas. Ao
explicitar as demandas e ideias de construção de blogs com receitas dos países de
origem dos imigrantes, realização de festas das diversas nacionalidades e da
importância do idioma, mas não sua essencialidade, o artigo apresent
a as múltiplas
linguagens que habitam o espaço escolar, mas que nem sempre são visibilizadas
Afirmando a importância da relação entre mente/corpo/sensibilidade o artigo
ade a partir de uma
nos instiga a pensar sobre uma educação dos sentidos. Analisando a
exposição de uma galeria de artes de um Centro Universitário, perspectivas sobre
estética e cultura conduzem a abordagem proporcionando uma compreensão de
Bordados
de Marjane
Satrapi. O texto de forma sensível aponta as questões de gênero, cultura e
educação presentes no livro e tão urgentes ao nosso tempo. Dialogando diretame
nte
com o tema do dossiê, tanto o livro quanto a resenha, nos possibilitam pensar os
"bordados" necessários neste momento de avanço conservador pelo qual estamos
Bordar, tecer, tramar...feituras manuais tão urgentes nestes tempos de
. Abordar Cultura e Educação é, sobretudo, afirmar especificidades e
negar hierarquizações. Não há o mais importante, assim como não existe uma única
visão sobre cultura, tão pouco sobre educação. Esperamos nesse dossiê ter dado
hos possíveis, cientes que tantos outros estão por ser
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, mar. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
construídos e,
nesse sentido, fica aqui um convite pela construção do Amanhã, que
como Ailton Krenak (2020) nos ensina, não está à venda e sim a sua espera na luta.
EVARISTO, C.
Escrevivência.
https://www.youtube.com/watch?v=QXopKuvxevY
KRENAK, A.
A vida não é útil
SANTOS, B.
A cruel pedagogia do
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
nesse sentido, fica aqui um convite pela construção do Amanhã, que
como Ailton Krenak (2020) nos ensina, não está à venda e sim a sua espera na luta.
Escrevivência.
Entrevista disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=QXopKuvxevY
.
Acesso em: 2 de dez. 2020.
A vida não é útil
. Rio de Janeiro: Companhia das L
etras, 2020
A cruel pedagogia do
vírus
. São Paulo: Boitempo, 2020
27
nesse sentido, fica aqui um convite pela construção do Amanhã, que
como Ailton Krenak (2020) nos ensina, não está à venda e sim a sua espera na luta.
Acesso em: 2 de dez. 2020.
etras, 2020
.
. São Paulo: Boitempo, 2020
.
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Porto, praça e palco: as ruas da cidade como espaços de educação
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.45784
Resumo:
A partir das narrativas de encontros que se dão nas ruas, em aulas de teatro feitas em uma
praça da zona portuária do Rio de Janeiro, esse artigo busca discutir as potencialidades do fazer
teatral com crianças em espaços públicos. O texto contextualiza e
modificações urbanas na zona portuária, área central do Rio de Janeiro, desde a constituição do
Morro da Favela, hoje Morro da Providência, até a atualidade. Nesse processo de transformações
impostas pelo poder blico, a articulação
sentido de articular com os moradores e habitantes da zona portuária outros usos para o espaço. O
encontro de dois projetos educativos, o Viaduto Literário e o Projeto Teatro Nômade, que trabalha
desde 2018 na fronteira entre os morros do Pinto e da Providência, coloca novas questões sobre a
ocupação desse espaço urbano, que se apresenta então como palco e sala de aula, como um espaço
de ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: Morro da
Providência;
Puerto, plaza, escenario: las calles de la ciudad como espacios de educación
Resumen
: Con base en las narrativas de los encuentros en la calle y en las clases de teatro en una
plaza de la zona portuaria de la
ciudad de Río de Janeiro, el artículo propone abrir un debate sobre el
potencial del ejercicio del arte teatral con niños en espacios públicos. El texto contextualiza y examina
el proceso de transformaciones urbanas en esta región central de la ciudad llev
autoridades públicas en diferentes momentos, desde la constitución del Morro da Favela, hoy Morro
da Providência, hasta la actualidad. En este proceso de transformaciones impuestas por el poder
público, la articulación de los proyectos c
con los residentes y habitantes del área portuaria otros usos del espacio. El
proyectos educativos, el Viaduto Literário (Viaducto Literario) y el Projeto Teatro Nômade (Proy
Teatro Nómada), que funcionan desde 2018 en la frontera entre el Morro da Providência y el Morro do
Pinto, plantea nuevos interrogantes sobre la ocupación de este espacio urbano, que se presenta
entonces como escenario y aula, como espacio de enseñanz
Palabras clave: Morro da
Providência; Porto Maravilha; pedagogía teatral; c
1
João Luiz Guerreiro Mendes.
Doutor em Políticas Públicas de Cultura pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ). Professor do Bacharelado em Produção Cultural do
de Janeiro (IFRJ), Brasil.E-mail:
joao.mendes@ifrj.edu.br
2
Luísa Valença Reis. Mestranda em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Br
E-mail:luisavreis@gmail.com -
https://orcid.org/0000
Texto recebido em 06/09/20
20
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Porto, praça e palco: as ruas da cidade como espaços de educação
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.45784
A partir das narrativas de encontros que se dão nas ruas, em aulas de teatro feitas em uma
praça da zona portuária do Rio de Janeiro, esse artigo busca discutir as potencialidades do fazer
teatral com crianças em espaços públicos. O texto contextualiza e
examina
modificações urbanas na zona portuária, área central do Rio de Janeiro, desde a constituição do
Morro da Favela, hoje Morro da Providência, até a atualidade. Nesse processo de transformações
impostas pelo poder blico, a articulação
dos projetos culturais e sociais do e no território atuam no
sentido de articular com os moradores e habitantes da zona portuária outros usos para o espaço. O
encontro de dois projetos educativos, o Viaduto Literário e o Projeto Teatro Nômade, que trabalha
desde 2018 na fronteira entre os morros do Pinto e da Providência, coloca novas questões sobre a
ocupação desse espaço urbano, que se apresenta então como palco e sala de aula, como um espaço
Providência;
Porto Maravilha; pedagogia do teatro; r
ua.
Puerto, plaza, escenario: las calles de la ciudad como espacios de educación
: Con base en las narrativas de los encuentros en la calle y en las clases de teatro en una
ciudad de Río de Janeiro, el artículo propone abrir un debate sobre el
potencial del ejercicio del arte teatral con niños en espacios públicos. El texto contextualiza y examina
el proceso de transformaciones urbanas en esta región central de la ciudad llev
autoridades públicas en diferentes momentos, desde la constitución del Morro da Favela, hoy Morro
da Providência, hasta la actualidad. En este proceso de transformaciones impuestas por el poder
público, la articulación de los proyectos c
ulturales y sociales de y en el territorio actúan para articular
con los residentes y habitantes del área portuaria otros usos del espacio. El
proyectos educativos, el Viaduto Literário (Viaducto Literario) y el Projeto Teatro Nômade (Proy
Teatro Nómada), que funcionan desde 2018 en la frontera entre el Morro da Providência y el Morro do
Pinto, plantea nuevos interrogantes sobre la ocupación de este espacio urbano, que se presenta
entonces como escenario y aula, como espacio de enseñanz
a y aprendizaje.
Providência; Porto Maravilha; pedagogía teatral; c
alle.
Doutor em Políticas Públicas de Cultura pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ). Professor do Bacharelado em Produção Cultural do
Instituto Federal do Rio
joao.mendes@ifrj.edu.br
- https://orcid.org/0000-
0003
Luísa Valença Reis. Mestranda em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Br
https://orcid.org/0000
-0001-6085-8218
20
, aceito para publicação em 12/10/2020
e disponibilizado online
em 01/03/2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Porto, praça e palco: as ruas da cidade como espaços de educação
João Guerreiro
1
Luísa Reis
2
A partir das narrativas de encontros que se dão nas ruas, em aulas de teatro feitas em uma
praça da zona portuária do Rio de Janeiro, esse artigo busca discutir as potencialidades do fazer
examina
as constantes
modificações urbanas na zona portuária, área central do Rio de Janeiro, desde a constituição do
Morro da Favela, hoje Morro da Providência, até a atualidade. Nesse processo de transformações
dos projetos culturais e sociais do e no território atuam no
sentido de articular com os moradores e habitantes da zona portuária outros usos para o espaço. O
encontro de dois projetos educativos, o Viaduto Literário e o Projeto Teatro Nômade, que trabalha
m
desde 2018 na fronteira entre os morros do Pinto e da Providência, coloca novas questões sobre a
ocupação desse espaço urbano, que se apresenta então como palco e sala de aula, como um espaço
ua.
Puerto, plaza, escenario: las calles de la ciudad como espacios de educación
: Con base en las narrativas de los encuentros en la calle y en las clases de teatro en una
ciudad de Río de Janeiro, el artículo propone abrir un debate sobre el
potencial del ejercicio del arte teatral con niños en espacios públicos. El texto contextualiza y examina
el proceso de transformaciones urbanas en esta región central de la ciudad llev
ada a cabo por las
autoridades públicas en diferentes momentos, desde la constitución del Morro da Favela, hoy Morro
da Providência, hasta la actualidad. En este proceso de transformaciones impuestas por el poder
ulturales y sociales de y en el territorio actúan para articular
con los residentes y habitantes del área portuaria otros usos del espacio. El
encuentro de dos
proyectos educativos, el Viaduto Literário (Viaducto Literario) y el Projeto Teatro Nômade (Proy
ecto
Teatro Nómada), que funcionan desde 2018 en la frontera entre el Morro da Providência y el Morro do
Pinto, plantea nuevos interrogantes sobre la ocupación de este espacio urbano, que se presenta
Doutor em Políticas Públicas de Cultura pela Universidade Federal do
Instituto Federal do Rio
0003
-1788-4132
Luísa Valença Reis. Mestranda em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Br
asil.
e disponibilizado online
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Port, square, stage: city streets as educations places
Abstract:
Based on the narratives of encounters that take place on the streets, in drama classes in a
square in the port area of Rio de Janeiro, this article seeks to discuss the potential of making theatre
with children in public spaces. The text contextualizes th
central area of Rio de Janeiro, from the constitution of Morro da Favela, today called Morro da
Providência, to the present day. In this process of transformations imposed by the public authorities,
the articulati
on of cultural and social projects in the territory act to articulate other uses for space with
residents and inhabitants of the port area. The meeting between two educational projects, the Viaduto
Literário (Literary Viaduct) and the Projeto Teatro Nômade
been working since 2018 on the border between Morro do Pinto and Morro da Providência, raises new
questions about the occupation of this urban space, which then presents itself as a stage and
classroom, as a teaching-
learning space.
Keywords:
Morro da Providência; Porto Maravilha; theater pedagogy; street.
Porto, praça e palco: as ruas da cidade como espaços de educação
Apresentação
Esse é um texto sobre
fronteiras,
encontros e potências.
Iremos narrar o encontro entre dois
projetos realizados na fronteira entre o
Morro da Providência e o Morro do
Pinto, na zona portuária do Rio de
Janeiro. Apresentaremos como o
“Projeto Teatro Nômade”, que ocupa
cenicamente espaços p
cidade, começou sua caminhada sob o
Viaduto São Pedro/São Paulo ao se
encontrar com o projeto “Viaduto
Literário”.
Inicialmente apresentaremos a
constituição da região portuária do Rio
de Janeiro, a sua ocupação e suas
transformações no decorrer
séculos a chegarmos aos projetos
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Port, square, stage: city streets as educations places
Based on the narratives of encounters that take place on the streets, in drama classes in a
square in the port area of Rio de Janeiro, this article seeks to discuss the potential of making theatre
with children in public spaces. The text contextualizes th
e constant urban changes in the port area,
central area of Rio de Janeiro, from the constitution of Morro da Favela, today called Morro da
Providência, to the present day. In this process of transformations imposed by the public authorities,
on of cultural and social projects in the territory act to articulate other uses for space with
residents and inhabitants of the port area. The meeting between two educational projects, the Viaduto
Literário (Literary Viaduct) and the Projeto Teatro Nômade
(Nomadic Theater Project), which have
been working since 2018 on the border between Morro do Pinto and Morro da Providência, raises new
questions about the occupation of this urban space, which then presents itself as a stage and
learning space.
Morro da Providência; Porto Maravilha; theater pedagogy; street.
Porto, praça e palco: as ruas da cidade como espaços de educação
Esse é um texto sobre
encontros e potências.
Iremos narrar o encontro entre dois
projetos realizados na fronteira entre o
Morro da Providência e o Morro do
Pinto, na zona portuária do Rio de
Janeiro. Apresentaremos como o
“Projeto Teatro Nômade”, que ocupa
cenicamente espaços p
úblicos da
cidade, começou sua caminhada sob o
Viaduto São Pedro/São Paulo ao se
encontrar com o projeto “Viaduto
Inicialmente apresentaremos a
constituição da região portuária do Rio
de Janeiro, a sua ocupação e suas
transformações no decorrer
dos
séculos a chegarmos aos projetos
culturais que hoje marcam o território.
A seguir, narraremos a chegada do
“Nômade” e discutiremos as
construções, potencialidades, as
aprendizagens em fazer teatro junto
com crianças e adolescentes de uma
região peri
férica, mesmo que inserida
em uma das áreas com maior
quantidade e qualidade de
infraestrutura da cidade do Rio de
Janeiro.
E a nau retorna ao porto
A Praça da Marquês, situada
embaixo do Viaduto São Pedro/São
Paulo, divisão de concreto que delimita
os espaços dos morros do Pinto e da
Providência, é um ponto de encontro
para os moradores do seu entorno. A
29
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Based on the narratives of encounters that take place on the streets, in drama classes in a
square in the port area of Rio de Janeiro, this article seeks to discuss the potential of making theatre
e constant urban changes in the port area,
central area of Rio de Janeiro, from the constitution of Morro da Favela, today called Morro da
Providência, to the present day. In this process of transformations imposed by the public authorities,
on of cultural and social projects in the territory act to articulate other uses for space with
residents and inhabitants of the port area. The meeting between two educational projects, the Viaduto
(Nomadic Theater Project), which have
been working since 2018 on the border between Morro do Pinto and Morro da Providência, raises new
questions about the occupation of this urban space, which then presents itself as a stage and
Porto, praça e palco: as ruas da cidade como espaços de educação
culturais que hoje marcam o território.
A seguir, narraremos a chegada do
“Nômade” e discutiremos as
construções, potencialidades, as
aprendizagens em fazer teatro junto
com crianças e adolescentes de uma
férica, mesmo que inserida
em uma das áreas com maior
quantidade e qualidade de
infraestrutura da cidade do Rio de
E a nau retorna ao porto
A Praça da Marquês, situada
embaixo do Viaduto São Pedro/São
Paulo, divisão de concreto que delimita
os espaços dos morros do Pinto e da
Providência, é um ponto de encontro
para os moradores do seu entorno. A
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
praça, ou o Viaduto, como chamamos,
tem sido um
espaço de convivência,
festa, troca, criação e educação.
Desde 2018, o Projeto Teatro
Nômade também ocupa a Praça da
Marquês. O Nômade é um projeto
artístico-
educativo que entende que o
teatro é uma prática de todos e em
todos os espaços. Não lugar, c
ou pessoa ideal para “fazer teatro”. Ele
oferece aulas e apresentações teatrais
em condições possíveis: nas ruas,
bibliotecas, pátios de escolas, salas de
casas, plays de condomínios.É
Nômade, pois onde houver alguém
disposto a produzir
conhecimentoss
ignificações
teatro, estará lá, e assim poderá criar
redes artístico-
educativas para além
do momento presente de uma aula ou
de uma apresentação. Esse
entendimento dialoga com
Boal, diretor, pesquisador e
sistematizador do Teatro do Oprimido,
que pode ser considerado
um conjunto
de jogos e exercícios que visam a
3
Neste texto, usamos as expressões
conhecimentossignificações e
aprenderensinar
de forma aglutinada para enfatizar o quanto
compõem a mesma ação, buscando romper
com a dicotomia que separa os processos de
produção
do conhecimento em dimensões
internas e externas da escola e os processos
de aprender e ensinar.
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
praça, ou o Viaduto, como chamamos,
espaço de convivência,
festa, troca, criação e educação.
Desde 2018, o Projeto Teatro
Nômade também ocupa a Praça da
Marquês. O Nômade é um projeto
educativo que entende que o
teatro é uma prática de todos e em
todos os espaços. Não lugar, c
orpo
ou pessoa ideal para “fazer teatro”. Ele
oferece aulas e apresentações teatrais
em condições possíveis: nas ruas,
bibliotecas, pátios de escolas, salas de
casas, plays de condomínios.É
Nômade, pois onde houver alguém
disposto a produzir
ignificações
3
com o
teatro, estará lá, e assim poderá criar
educativas para além
do momento presente de uma aula ou
de uma apresentação. Esse
entendimento dialoga com
Augusto
Boal, diretor, pesquisador e
sistematizador do Teatro do Oprimido,
um conjunto
de jogos e exercícios que visam a
Neste texto, usamos as expressões
aprenderensinar
de forma aglutinada para enfatizar o quanto
compõem a mesma ação, buscando romper
com a dicotomia que separa os processos de
do conhecimento em dimensões
internas e externas da escola e os processos
transformação social por meio do
teatro.
Todos os seres humanos são atores,
porque agem, e espectadores,
porqu
e observam. Somos todos
espect-
atores. (...) A palavra teatro é
tão rica em significados diferentes
(...) que nunca sabemos ao certo
sobre o que estamos falando quando
falamos de teatro. (...) No sentido
mais arcaico do termo, porém, teatro
é a capacidade
(ausente nos animais) de se
observarem a si mesmos em ação.
Os humanos são capazes de se ver
no ato de ver, capazes de pensar
suas emoções e de se emocionar
com seus pensamentos. Podem se
ver aqui e se imaginar adiante,
podem se ver como
imaginar como serão amanhã.
(BOAL, 2011, p. ix, xiii, xiv)
Mas antes de chegarmos sob o
viaduto que separa o Morro da
Providência do Morro do Pinto, e que
faz a ligação entre a zona sul e a zona
portuária do Rio de Janeiro, achamos
importan
te mostrar a constituição
deste espaço periférico que ladeia a
área de negócios central da cidade do
Rio de Janeiro, e como essa formação
histórica perpassa até hoje os
encontros que se dão nesse território.
No decorrer de séculos a região
portuária da cid
ade do Rio de Janeiro
passou por diversas mudanças.
Considerada por muitos pesquisadores
como o primeiro grande marco na
ocupação dessa área, em meados da
década de 1770, ocorreu a
30
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
transformação social por meio do
Todos os seres humanos são atores,
porque agem, e espectadores,
e observam. Somos todos
atores. (...) A palavra teatro é
tão rica em significados diferentes
(...) que nunca sabemos ao certo
sobre o que estamos falando quando
falamos de teatro. (...) No sentido
mais arcaico do termo, porém, teatro
é a capacidade
dos seres humanos
(ausente nos animais) de se
observarem a si mesmos em ação.
Os humanos são capazes de se ver
no ato de ver, capazes de pensar
suas emoções e de se emocionar
com seus pensamentos. Podem se
ver aqui e se imaginar adiante,
podem se ver como
são agora e se
imaginar como serão amanhã.
(BOAL, 2011, p. ix, xiii, xiv)
Mas antes de chegarmos sob o
viaduto que separa o Morro da
Providência do Morro do Pinto, e que
faz a ligação entre a zona sul e a zona
portuária do Rio de Janeiro, achamos
te mostrar a constituição
deste espaço periférico que ladeia a
área de negócios central da cidade do
Rio de Janeiro, e como essa formação
histórica perpassa até hoje os
encontros que se dão nesse território.
No decorrer de séculos a região
ade do Rio de Janeiro
passou por diversas mudanças.
Considerada por muitos pesquisadores
como o primeiro grande marco na
ocupação dessa área, em meados da
década de 1770, ocorreu a
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
transferência do mercado de pessoas
escravizadas da atual Praça Quinze e
ar
redores para a região do Valongo
(hoje bairros da Saúde, Gamboa e
Santo Cristo). Nas palavras do então
Vice-
Rei, Marquês do Lavradio,
responsável pela transferência, e que
hoje é homenageado em uma rua que
reúne ironicamente uma famosa feira
na cidade no p
rimeiro sábado de cada
mês,
as pessoas honestas não se
atreviam a chegar às janelas; as que
eram inocentes ali aprendiam o que
ignoravam e não deviam saber. Logo
que desembarcavam, vinham para
as ruas, cheios de infinitas
moléstias... e ali mesmos faziam
t
odo que a natureza lhes lembrava,
não causando o maior fétido...
mas até sendo o espetáculo mais
horroroso que se podia apresentar
aos olhos. (ATHAYDE, 2001, p. 8)
A capital tinha sido transferida
de Salvador para o Rio de Janeiro uma
década antes e, a
ssim, aos olhos do
governante geral da colônia, o centro
da sua nova capital precisava se
modernizar e tornar
-
embelezada para as elites.
A mudança do local de
recebimento dos negros escravizados
provocou o surgimento de novas
atividades econômicas na região. As
antigas chácaras foram loteadas e as
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
transferência do mercado de pessoas
escravizadas da atual Praça Quinze e
redores para a região do Valongo
(hoje bairros da Saúde, Gamboa e
Santo Cristo). Nas palavras do então
Rei, Marquês do Lavradio,
responsável pela transferência, e que
hoje é homenageado em uma rua que
reúne ironicamente uma famosa feira
rimeiro sábado de cada
as pessoas honestas não se
atreviam a chegar às janelas; as que
eram inocentes ali aprendiam o que
ignoravam e não deviam saber. Logo
que desembarcavam, vinham para
as ruas, cheios de infinitas
moléstias... e ali mesmos faziam
odo que a natureza lhes lembrava,
não causando o maior fétido...
mas até sendo o espetáculo mais
horroroso que se podia apresentar
aos olhos. (ATHAYDE, 2001, p. 8)
A capital tinha sido transferida
de Salvador para o Rio de Janeiro uma
ssim, aos olhos do
governante geral da colônia, o centro
da sua nova capital precisava se
-
se mais
A mudança do local de
recebimento dos negros escravizados
provocou o surgimento de novas
atividades econômicas na região. As
antigas chácaras foram loteadas e as
hortas que abasteciam o núcleo
urbano da cidade foram
paulatinamente dando lugar aos
armazéns,
trapiches e pequenas
manufaturas. Os pântanos foram
aterrados e começaram a dar lugares
às ruas e pequenos ancoradouros.
Surgiria, inclusive, o cemitério dos
Pretos Novos.
O cemitério recebeu esse nome
por ser um local onde foram
depositados os restos mor
milhares de africanos que foram
escravizados e foram trazidos para o
Brasil. Muitos que estão chegaram
ao país mortos. Outros morriam
assim que chegavam e outros,
também enterrados nesse cemitério,
teriam morrido no processo de
trabalho. E
m comum, está o
anonimato desses africanos. Segundo
pesquisas realizadas pelo Instituto
Pretos Novos
4
, o cemitério foi
construído no mesmo ano da
transferência do mercado dos
escravizados, em 1770, e desativado
em 1831.
Se o Oceano Atlântico,
chamado por P
aul Gilroy como o
Atlântico Negro, é para muitos, o lugar
4
Entrevista concedida pela coordenadora do
IPN a um dos autores desse artigo em 2013.
31
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
hortas que abasteciam o núcleo
urbano da cidade foram
paulatinamente dando lugar aos
trapiches e pequenas
manufaturas. Os pântanos foram
aterrados e começaram a dar lugares
às ruas e pequenos ancoradouros.
Surgiria, inclusive, o cemitério dos
O cemitério recebeu esse nome
por ser um local onde foram
depositados os restos mor
tais de
milhares de africanos que foram
escravizados e foram trazidos para o
Brasil. Muitos que estão chegaram
ao país mortos. Outros morriam
assim que chegavam e outros,
também enterrados nesse cemitério,
teriam morrido no processo de
m comum, está o
anonimato desses africanos. Segundo
pesquisas realizadas pelo Instituto
, o cemitério foi
construído no mesmo ano da
transferência do mercado dos
escravizados, em 1770, e desativado
Se o Oceano Atlântico,
aul Gilroy como o
Atlântico Negro, é para muitos, o lugar
Entrevista concedida pela coordenadora do
IPN a um dos autores desse artigo em 2013.
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
das trocas culturais exercidas durante
a diáspora africana no auge da
escravidão negra, o cemitério
acompanha esta trajetória pelo
Atlântico. Sempre próximo aos
mercados de escravos nas praias, os
cemitérios tornaram-
se o fim da
diáspora para muitos.
No decorrer do século XIX,
principalmente a partir da vinda da
família real portuguesa em 1808 para
o Brasil até a proibição do tráfico de
negros escravizados, em 1850, as
chácaras nas áreas de planície
região portuária continuaram sofrendo
um processo de loteamento. Segundo
Mello (2003), esse processo vai gerar
as bases para o surgimento de três
bairros: Saúde, Gamboa e Santo
Cristo. E, mais, pelo tipo de atividade
econômica surgida desde o século
XV
III, a região vai se articular com o
núcleo da cidade através das
atividades portuárias e atividades
relacionadas ao mercado de pessoas
negras escravizadas. Começava a ser
estabelecida uma hierarquia
secundarizada da região, apesar de
ser importante para o
desenvolvimento
da cidade (MELLO, 2003). Em outras
palavras, a região portuária passava a
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
das trocas culturais exercidas durante
a diáspora africana no auge da
escravidão negra, o cemitério
acompanha esta trajetória pelo
Atlântico. Sempre próximo aos
mercados de escravos nas praias, os
se o fim da
No decorrer do século XIX,
principalmente a partir da vinda da
família real portuguesa em 1808 para
o Brasil até a proibição do tráfico de
negros escravizados, em 1850, as
chácaras nas áreas de planície
da
região portuária continuaram sofrendo
um processo de loteamento. Segundo
Mello (2003), esse processo vai gerar
as bases para o surgimento de três
bairros: Saúde, Gamboa e Santo
Cristo. E, mais, pelo tipo de atividade
econômica surgida desde o século
III, a região vai se articular com o
núcleo da cidade através das
atividades portuárias e atividades
relacionadas ao mercado de pessoas
negras escravizadas. Começava a ser
estabelecida uma hierarquia
secundarizada da região, apesar de
desenvolvimento
da cidade (MELLO, 2003). Em outras
palavras, a região portuária passava a
se configurar como uma periferia do
núcleo da região central da cidade.
Para alguns autores, como
Lamarão (1984) e Benchimol (1982), o
processo de loteamento e
fraci
onamento das chácaras e quintais
na região portuária levou seus antigos
moradores a se transferirem para as
novas áreas de expansão urbana com
nível de renda mais elevado, como os
bairros do Flamengo e Botafogo
ambos localizados no que se
convencionou ch
amar de zona sul da
cidade do Rio de Janeiro. Lamarão
chega a afirmar que a região sofreu
um processo de homogeneização dos
estratos sociais “de baixo” e, com isso,
chega ao século XX carregada de
adjetivos que a desqualificam, que a
estigmatizam frente à
Identificada como a parte do centro
urbano que concentrava o grosso
das atividades portuárias, onde os
navios mercantes ancoravam e as
mercadorias ficavam depositadas,
reduzida a um labirinto de becos e
vielas, a uma infinidade de trapiches
e ofici
nas, ela é uma nódoa, algo que
incomoda concretamente uma elite
que incorpora com rapidez os
valores burgueses, substrato
ideológico do processo de transição
para o capitalismo.
Ela incomoda porque sua numerosa
e concentrada população
composta de brancos
brasileiros e estrangeiros, operários,
trabalhadores da estiva, biscateiros,
ambulantes desempregados,
pobre, amontoa
32
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
se configurar como uma periferia do
núcleo da região central da cidade.
Para alguns autores, como
Lamarão (1984) e Benchimol (1982), o
processo de loteamento e
onamento das chácaras e quintais
na região portuária levou seus antigos
moradores a se transferirem para as
novas áreas de expansão urbana com
nível de renda mais elevado, como os
bairros do Flamengo e Botafogo
ambos localizados no que se
amar de zona sul da
cidade do Rio de Janeiro. Lamarão
chega a afirmar que a região sofreu
um processo de homogeneização dos
estratos sociais “de baixo” e, com isso,
chega ao século XX carregada de
adjetivos que a desqualificam, que a
estigmatizam frente à
cidade.
Identificada como a parte do centro
urbano que concentrava o grosso
das atividades portuárias, onde os
navios mercantes ancoravam e as
mercadorias ficavam depositadas,
reduzida a um labirinto de becos e
vielas, a uma infinidade de trapiches
nas, ela é uma nódoa, algo que
incomoda concretamente uma elite
que incorpora com rapidez os
valores burgueses, substrato
ideológico do processo de transição
para o capitalismo.
Ela incomoda porque sua numerosa
e concentrada população
composta de brancos
e negros,
brasileiros e estrangeiros, operários,
trabalhadores da estiva, biscateiros,
ambulantes desempregados,
- é
pobre, amontoa
-se em precários
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
cortiços, e morre aos montes,
vitimada pelas epidemias. Área
densa, populosa, pobre, insalubre...
e
perigosa. Os quarteirões
marítimos, o bairro “rubro” da cidade
e, o “homizio predileto dos valentões”
servem de cenário a crimes que
levam a Saúde, a Gamboa e o saco
de Alferes às primeiras páginas dos
jornais. (LAMARÃO, 1984, p. 115)
E é no final do sécu
a consolidação desse processo
com o surgimento da primeira favela
do país: o Morro da Favella.
Localizada entre o Morro da
Conceição e o Morro do Pinto, o Morro
da Favella, atual Morro da Providência,
tem o início de sua ocupação nesse
períod
o. Mesmo não sendo possível
designar eventos que expliquem a sua
ocupação, temos um somatório de
acontecimentos que ajudaram a gerar
hipóteses sobre o surgimento da
habitação no local.
De Paula (2004) sustenta que a
destruição do maior cortiço da então
cap
ital nacional, o Cabeça de Porco,
iria iniciar uma prática de ocupação
dos morros da capital do país,
iniciando pelo Morro da Providência.
Segundo o autor,
Num ato de magnânima bondade, o
prefeito [Barata Ribeiro] permitiu aos
moradores recolherem madeiras que
sobraram sob os escombros, onde,
sem demora, os moradores que não
conseguiram outros locais de
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
cortiços, e morre aos montes,
vitimada pelas epidemias. Área
densa, populosa, pobre, insalubre...
perigosa. Os quarteirões
marítimos, o bairro “rubro” da cidade
e, o “homizio predileto dos valentões”
servem de cenário a crimes que
levam a Saúde, a Gamboa e o saco
de Alferes às primeiras páginas dos
jornais. (LAMARÃO, 1984, p. 115)
E é no final do sécu
lo XIX que
a consolidação desse processo
com o surgimento da primeira favela
do país: o Morro da Favella.
Localizada entre o Morro da
Conceição e o Morro do Pinto, o Morro
da Favella, atual Morro da Providência,
tem o início de sua ocupação nesse
o. Mesmo não sendo possível
designar eventos que expliquem a sua
ocupação, temos um somatório de
acontecimentos que ajudaram a gerar
hipóteses sobre o surgimento da
De Paula (2004) sustenta que a
destruição do maior cortiço da então
ital nacional, o Cabeça de Porco,
iria iniciar uma prática de ocupação
dos morros da capital do país,
iniciando pelo Morro da Providência.
Num ato de magnânima bondade, o
prefeito [Barata Ribeiro] permitiu aos
moradores recolherem madeiras que
sobraram sob os escombros, onde,
sem demora, os moradores que não
conseguiram outros locais de
moradia construíram barracos na
encosta que ficava no fu
terreno, que ainda pertencia aos
antigos proprietários do cortiço.
Dessa forma, plantou
de habitação no morro que pouco
mais tarde, em 1897, seria ocupado
pelos soldados que retornaram de
Canudos. Com a queda do célebre
cortiço, o Rio d
e Janeiro presenciou
o início da transição de uma era, ‘a
semente de favela’ saiu do cortiço,
deixou a cidade e subiu o morro (DE
PAULA, 2004, p. 53)
Conforme apresentado pelo
autor, outro grupo que iria ocupar o
Morro da Favella, é o formado por
soldados
que retornaram da Guerra de
Canudos (BA
), em 1897. Ao não
receberem o que lhes havia sido
prometido pelo governo, subiram o
morro atrás do então Ministério da
Guerra, e ficaram aguardando a
recompensa. Abreu e Vaz (1991)
sustentam a tese que a falta de
mo
radias suficientes para atender a
população que, por motivos diversos,
chegava à capital do país demonstra a
contradição das transformações que
vão ocorrer na região central do Rio de
Janeiro. E é essa separação entre os
usos e as classes na cidade que a
o
cupação do Morro da Favella
evidencia (ABREU, 1988).
Cabe-
nos fazer um parêntese
para ressaltar que ao se dar o nome
de Morro da Favella
primeira ocupação por moradores de
33
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
moradia construíram barracos na
encosta que ficava no fu
ndo do
terreno, que ainda pertencia aos
antigos proprietários do cortiço.
Dessa forma, plantou
-se um núcleo
de habitação no morro que pouco
mais tarde, em 1897, seria ocupado
pelos soldados que retornaram de
Canudos. Com a queda do célebre
e Janeiro presenciou
o início da transição de uma era, ‘a
semente de favela’ saiu do cortiço,
deixou a cidade e subiu o morro (DE
PAULA, 2004, p. 53)
Conforme apresentado pelo
autor, outro grupo que iria ocupar o
Morro da Favella, é o formado por
que retornaram da Guerra de
), em 1897. Ao não
receberem o que lhes havia sido
prometido pelo governo, subiram o
morro atrás do então Ministério da
Guerra, e ficaram aguardando a
recompensa. Abreu e Vaz (1991)
sustentam a tese que a falta de
radias suficientes para atender a
população que, por motivos diversos,
chegava à capital do país demonstra a
contradição das transformações que
vão ocorrer na região central do Rio de
Janeiro. E é essa separação entre os
usos e as classes na cidade que a
cupação do Morro da Favella
evidencia (ABREU, 1988).
nos fazer um parêntese
para ressaltar que ao se dar o nome
de Morro da Favella
para essa
primeira ocupação por moradores de
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
baixa renda, que originariamente seria
o de uma planta existente em Canudo
ou de um morro existente no então
Arraiá de Canudos, o morro acaba
assumindo uma nova classificação. A
ocupação dos morros por população
de baixa renda, com pouca ou
nenhuma infraestrutura sanitária ou
serviços públicos, sem arruamento e
com habitações p
rovisórias, acaba
sendo sinônimo de um reduto de
pobreza. Assim, o Morro da Favella
acaba representando o que Lamarão
chamou de reduto dos estratos sociais
“de baixo”.
Porém, Zylberberg (1992) vai
salientar que a região onde está
localizado o Morro da
Providência teve
outras denominações antes de ser
“rebatizada” de Morro da Favella:
“Paulo Caieiro”, “Formiga”,
“Livramento”, “Valongo”, “Santana”,
“São Lourenço”. Segundo a autora,
“Morro da Providência” já aparecia, em
1850, para denominar a parte da
reg
ião que fica próxima ao Morro do
Pinto. a parte que faz fronteira com
o Morro da Conceição
era conhecida
como Morro do Livramento. Mas a
denominação “Morro da Providência”
voltará a designar toda a região. E o
termo “favela” passará a designar as
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
baixa renda, que originariamente seria
o de uma planta existente em Canudo
s
ou de um morro existente no então
Arraiá de Canudos, o morro acaba
assumindo uma nova classificação. A
ocupação dos morros por população
de baixa renda, com pouca ou
nenhuma infraestrutura sanitária ou
serviços públicos, sem arruamento e
rovisórias, acaba
sendo sinônimo de um reduto de
pobreza. Assim, o Morro da Favella
acaba representando o que Lamarão
chamou de reduto dos estratos sociais
Porém, Zylberberg (1992) vai
salientar que a região onde está
Providência teve
outras denominações antes de ser
“rebatizada” de Morro da Favella:
“Paulo Caieiro”, “Formiga”,
“Livramento”, “Valongo”, “Santana”,
“São Lourenço”. Segundo a autora,
“Morro da Providência” já aparecia, em
1850, para denominar a parte da
ião que fica próxima ao Morro do
Pinto. a parte que faz fronteira com
era conhecida
como Morro do Livramento. Mas a
denominação “Morro da Providência”
voltará a designar toda a região. E o
termo “favela” passará a designar as
habita
ções provisórias que irão
constituir as moradias da população de
baixa renda, inicialmente, nos diversos
morros da cidade e, posteriormente,
atravessarão as fronteiras da cidade,
estado e até do país.
E é em uma das fronteiras
cidade -
entre o Morro do
atual Morro da Providência
Projeto Teatro Nômade atua. Uma das
autoras desse artigo é professora do
Nômade, dando aulas de teatro nas
ruas para adolescentes desde 2017,
em praças variadas da zona sul da
cidade. Em 2019, o projeto iniciou
turma infantil de teatro de rua na Praça
da Marquês, que fica sob o viaduto
que hoje marca, para os moradores, a
fronteira entre as duas favelas. Essa
turma conta também com a professora
Lorrana Mousinho, e as duas
educadoras, logo nos primeiros dias
de
encontros com as crianças,
puderam perceber que ali as
dificuldades pareciam as mesmas de
ocupar as ruas da zona sul com
adolescentes,mas carregavam muitas
diferenças.
Quando começamos a dar aula
de teatro na rua, nos habituamos a
perder a atenção da turma
cachorros que passavam querendo
34
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
ções provisórias que irão
constituir as moradias da população de
baixa renda, inicialmente, nos diversos
morros da cidade e, posteriormente,
atravessarão as fronteiras da cidade,
E é em uma das fronteiras
da
entre o Morro do
Pinto e o
atual Morro da Providência
- que o
Projeto Teatro Nômade atua. Uma das
autoras desse artigo é professora do
Nômade, dando aulas de teatro nas
ruas para adolescentes desde 2017,
em praças variadas da zona sul da
cidade. Em 2019, o projeto iniciou
a
turma infantil de teatro de rua na Praça
da Marquês, que fica sob o viaduto
que hoje marca, para os moradores, a
fronteira entre as duas favelas. Essa
turma conta também com a professora
Lorrana Mousinho, e as duas
educadoras, logo nos primeiros dias
encontros com as crianças,
puderam perceber que ali as
dificuldades pareciam as mesmas de
ocupar as ruas da zona sul com
adolescentes,mas carregavam muitas
Quando começamos a dar aula
de teatro na rua, nos habituamos a
perder a atenção da turma
para os
cachorros que passavam querendo
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
carinho dos alunos. Na Praça da
Marquês, embora também tivéssemos
uma grande circulação de animais
durante a aula, era na passagem da
patrulhinha da PM que as crianças se
alvoroçavam, com reações que iam do
medo ao
enfrentamento.A ocupação
histórica desse território, narrada até
aqui, se inicia com violência e
abandono do poder instituído e aponta
para uma profunda discriminação dos
moradores que passaram a habitar os
morros da região. A reação das
crianças, com idad
es de quatro a dez
anos, ao verem a polícia chegar, pode
significar que a relação com o Estado
parece não ter se alterado ao longo
dos séculos, apesar das tentativas de
novas modificações urbanas na área,
como veremos a seguir.
O porto, os projetos urbano
cultura local
Se o século XIX é o de delinear
a nova forma de ocupação da região
portuária e com a inauguração do que
é conhecido como Porto do Rio, na
primeira década do século XX, é nas
décadas seguintes que veremos
diferentes planos e projetos
gov
ernamentais de intervenção tendo
a zona portuária do Rio de Janeiro
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
carinho dos alunos. Na Praça da
Marquês, embora também tivéssemos
uma grande circulação de animais
durante a aula, era na passagem da
patrulhinha da PM que as crianças se
alvoroçavam, com reações que iam do
enfrentamento.A ocupação
histórica desse território, narrada até
aqui, se inicia com violência e
abandono do poder instituído e aponta
para uma profunda discriminação dos
moradores que passaram a habitar os
morros da região. A reação das
es de quatro a dez
anos, ao verem a polícia chegar, pode
significar que a relação com o Estado
parece não ter se alterado ao longo
dos séculos, apesar das tentativas de
novas modificações urbanas na área,
O porto, os projetos urbano
s e a
Se o século XIX é o de delinear
a nova forma de ocupação da região
portuária e com a inauguração do que
é conhecido como Porto do Rio, na
primeira década do século XX, é nas
décadas seguintes que veremos
diferentes planos e projetos
ernamentais de intervenção tendo
a zona portuária do Rio de Janeiro
como objeto. Diversas em seus
objetivos, as propostas apresentaram
em comum uma falta de uma política
habitacional para a região e para o
Morro da Providência, em particular.
Com nomenclat
renovação urbana, revitalização ou
mesmo reabilitação urbana
projetos e planos visam gerar novas
dinâmicas, principalmente
econômicas, na área do entorno do
Porto do Rio. Cabe uma pequena
lembrança em relação a estas
denomina
ções. Segundo Ferrara
(1988), os nomes dados às
intervenções urbanas representam
projetos diferentes. Segundo a autora,
renovações urbanas são próprias dos
projetos de
destruição/demolição/desmonte que
buscam dar um ar de modernidade e
racionalidade antes
da emergência do
novo, do construído. o termo
“revitalização urbana” representaria
um projeto que daria uma nova
vitalidade
econômica, cultural, física
e simbólica
às áreas. Entendemos
que pode ser considerado, também,
como um projeto que vise a “da
às áreas degradadas. O termo
“reabilitação urbana” parece
traz, ainda, um conceito da medicina
35
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
como objeto. Diversas em seus
objetivos, as propostas apresentaram
em comum uma falta de uma política
habitacional para a região e para o
Morro da Providência, em particular.
Com nomenclat
uras alternativas
renovação urbana, revitalização ou
mesmo reabilitação urbana
todos os
projetos e planos visam gerar novas
dinâmicas, principalmente
econômicas, na área do entorno do
Porto do Rio. Cabe uma pequena
lembrança em relação a estas
ções. Segundo Ferrara
(1988), os nomes dados às
intervenções urbanas representam
projetos diferentes. Segundo a autora,
renovações urbanas são próprias dos
projetos de
destruição/demolição/desmonte que
buscam dar um ar de modernidade e
da emergência do
novo, do construído. o termo
“revitalização urbana” representaria
um projeto que daria uma nova
econômica, cultural, física
às áreas. Entendemos
que pode ser considerado, também,
como um projeto que vise a “da
r vida”
às áreas degradadas. O termo
“reabilitação urbana” parece
-nos que
traz, ainda, um conceito da medicina
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
para um “paciente enfermo” ou mesmo
um conceito sociológico de tratar o
espaço urbano “marginal” visando
torná-
lo um novo e funcional espaço.
Alg
o como uma segunda chance
urbana. E essa outra chance seria
obtida através da revalorização
econômica, social e funcional da
região.
O desenvolvimento de novas
tecnologias provocou a diminuição da
necessidade de o de obra para
trabalhar nas atividades po
Além disso, o armazenamento dos
produtos exportados/importados
passou a ser realizado em
contêineres. Assim, com o tempo, os
grandes armazéns perdem as suas
funções e diminuem o número de
trabalhadores na região portuária.
Com isso, toda uma gama
atividades de comércio e serviço
ancoradas na carga e descarga de
mercadoria que articulavam, também,
a população e o perfil habitacional dos
bairros da Saúde, Gamboa e Santo
Cristo vai ser afetada.
Os estivadores, arrumadores de
carga, conferentes e p
ortuários junto
com seus familiares se estabeleciam
na Região
notadamente no Morro da
Conceição, Morro da Providência,
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
para um “paciente enfermo” ou mesmo
um conceito sociológico de tratar o
espaço urbano “marginal” visando
lo um novo e funcional espaço.
o como uma segunda chance
urbana. E essa outra chance seria
obtida através da revalorização
econômica, social e funcional da
O desenvolvimento de novas
tecnologias provocou a diminuição da
necessidade de o de obra para
trabalhar nas atividades po
rtuárias.
Além disso, o armazenamento dos
produtos exportados/importados
passou a ser realizado em
contêineres. Assim, com o tempo, os
grandes armazéns perdem as suas
funções e diminuem o número de
trabalhadores na região portuária.
Com isso, toda uma gama
de
atividades de comércio e serviço
ancoradas na carga e descarga de
mercadoria que articulavam, também,
a população e o perfil habitacional dos
bairros da Saúde, Gamboa e Santo
Os estivadores, arrumadores de
ortuários junto
com seus familiares se estabeleciam
notadamente no Morro da
Conceição, Morro da Providência,
Morro do Pinto e Morro da Saúde.
Ainda hoje, ao se percorrer a região
encontramos aposentados e familiares
de trabalhadores do porto em
diversas funções. E, junto com eles, as
práticas, relações sociais e possíveis
identidades que povoam a zona
portuária.
Tratando-
se de uma área com
infraestrutura urbana na planície e nos
Morros da Conceição e do Pinto, a
região passou a ser objeto d
de empresários para reocuparem o
lugar, mudarem seus usos e garantir
lucros imobiliários. Mas, dos diversos
projetos e programas pensados para a
região, o único projeto que acabou
saindo do papel foi o denominado
“Porto Maravilha”.
O projeto Porto
elaborado no bojo da candidatura da
cidade do Rio de Janeiro à sede dos
Jogos Olímpicos no espírito instituído
no Plano Estratégico da cidade. É um
projeto que traz como novidade a
ancoragem cultural como dinamizador
do território. A concepç
construção de instituições que
ancorariam a nova ocupação do
território. A nau volta ao porto, agora
como empreendimento cultural: o
Museu de Arte do Rio (MAR), o Museu
36
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Morro do Pinto e Morro da Saúde.
Ainda hoje, ao se percorrer a região
encontramos aposentados e familiares
de trabalhadores do porto em
suas
diversas funções. E, junto com eles, as
práticas, relações sociais e possíveis
identidades que povoam a zona
se de uma área com
infraestrutura urbana na planície e nos
Morros da Conceição e do Pinto, a
região passou a ser objeto d
e desejo
de empresários para reocuparem o
lugar, mudarem seus usos e garantir
lucros imobiliários. Mas, dos diversos
projetos e programas pensados para a
região, o único projeto que acabou
saindo do papel foi o denominado
O projeto Porto
Maravilha foi
elaborado no bojo da candidatura da
cidade do Rio de Janeiro à sede dos
Jogos Olímpicos no espírito instituído
no Plano Estratégico da cidade. É um
projeto que traz como novidade a
ancoragem cultural como dinamizador
do território. A concepç
ão é a
construção de instituições que
ancorariam a nova ocupação do
território. A nau volta ao porto, agora
como empreendimento cultural: o
Museu de Arte do Rio (MAR), o Museu
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
do Amanhã e o Aquário Marinho do
Rio de Janeiro – AquaRio.
No projeto original t
pensada uma novidade: uma política
habitacional que iria trazer novos
moradores e garantiria uma mistura de
atividades na região: moradias,
instituições culturais, comércio e
serviços.
Porém, do projeto inicial,
apenas a ancoragem cultural se
mante
ve. Sem uma política de
incentivo à moradia, apenas os
moradores anteriores ao projeto se
mantiveram. E, mais, a única política
habitacional foi o projeto de remoção
de parte dos pouco mais de 4 mil
moradores do Morro da Providência.
Neste ponto vale a pen
lembrarmos que o Projeto Porto
Maravilha abrange os bairros da
Saúde, Gamboa e Santo Cristo
deixando do lado de fora apenas o
Morro da Providência. Assim, a política
habitacional de remoção ficou a cargo
da Secretaria Municipal de Habitação.
Quando estiv
esse concluída, sim, o
Morro da Providência passaria a
integrar o projeto “Porto Maravilha”. O
ônus da remoção ficaria com o poder
público e o bônus de um morro
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
do Amanhã e o Aquário Marinho do
No projeto original t
ambém é
pensada uma novidade: uma política
habitacional que iria trazer novos
moradores e garantiria uma mistura de
atividades na região: moradias,
instituições culturais, comércio e
Porém, do projeto inicial,
apenas a ancoragem cultural se
ve. Sem uma política de
incentivo à moradia, apenas os
moradores anteriores ao projeto se
mantiveram. E, mais, a única política
habitacional foi o projeto de remoção
de parte dos pouco mais de 4 mil
moradores do Morro da Providência.
Neste ponto vale a pen
a
lembrarmos que o Projeto Porto
Maravilha abrange os bairros da
Saúde, Gamboa e Santo Cristo
deixando do lado de fora apenas o
Morro da Providência. Assim, a política
habitacional de remoção ficou a cargo
da Secretaria Municipal de Habitação.
esse concluída, sim, o
Morro da Providência passaria a
integrar o projeto “Porto Maravilha”. O
ônus da remoção ficaria com o poder
público e o bônus de um morro
“embelezado” ficaria com a iniciativa
privada.
Mas, outra constatação do
projeto “Porto Mara
vilha” era que o
conceito de revitalização urbana
ancorado nos grandes
empreendimentos culturais negavam
ou “esqueciam” a produção cultural
existente no território.
Conforme apresentado por
Guerreiro (2013), antes do projeto ser
apresentado ao Comitê Ol
(2009), os coletivos culturais, artistas e
instituições culturais existentes
estavam se organizando em rede.
Em 2007, no Centro Cultural
Ação da Cidadania (atual Armazém
Cidadania e Cultura) foi lançado o I
Fórum de Dinamização Cultural da
Zona P
ortuária. Resultado de um
levantamento sociocultural realizado
por integrantes do Instituto Bandeira
Branca de Desenvolvimento Social
(IBB)
responsável pelo projeto
Batucadas Brasileiras
identificadas 30 (trinta) instituições
formalizadas ou não
associações de moradores, sindicatos,
movimentos culturais, sociais e
comunitárias da Zona Portuária. A
área onde ocorreu o levantamento
corresponde ao mesmo território que
37
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
“embelezado” ficaria com a iniciativa
Mas, outra constatação do
vilha” era que o
conceito de revitalização urbana
ancorado nos grandes
empreendimentos culturais negavam
ou “esqueciam” a produção cultural
existente no território.
Conforme apresentado por
Guerreiro (2013), antes do projeto ser
apresentado ao Comitê Ol
ímpico
(2009), os coletivos culturais, artistas e
instituições culturais existentes
estavam se organizando em rede.
Em 2007, no Centro Cultural
Ação da Cidadania (atual Armazém
Cidadania e Cultura) foi lançado o I
Fórum de Dinamização Cultural da
ortuária. Resultado de um
levantamento sociocultural realizado
por integrantes do Instituto Bandeira
Branca de Desenvolvimento Social
responsável pelo projeto
Batucadas Brasileiras
foram
identificadas 30 (trinta) instituições
formalizadas ou não
como
associações de moradores, sindicatos,
movimentos culturais, sociais e
comunitárias da Zona Portuária. A
área onde ocorreu o levantamento
corresponde ao mesmo território que
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
depois será objeto de intervenção do
projeto Porto Maravilha.
De acordo com um
a reportagem
da revista Batucadas Brasileiras
(2007) intitulada “Zona Portuária se
une no Porto Cultural” representantes
do Fórum Porto Cultural informaram,
na ocasião, que “após décadas como
meros joguetes de diatribes políticas e
especulação imobiliária,
os moradores
e trabalhadores da Zona Portuária
pretendem tomar o timão do futuro da
região.” (p. 42).
A construção do Fórum se deu
durante todo ano de 2007 com a
participação mais efetiva das
seguintes instituições que assinam a
carta manifesto de fundaçã
Cultural
: Centro Cultural Ação da
Cidadania -
CCAC, IBB
Bandeira Branca de Desenvolvimento
Social, Associação Cultural Recreativa
Afoxé Filhos de Gandhi, Instituto de
Pesquisa e Memória Pretos Novos,
Centro Cultural dos Rodoviários,
Grande Companhia Brasileira da
Mystérios e Novidades, Sparta
Associação Esportiva do Morro da
Providência, Tonpi-
Nheco 07, Ribeiro
Promoções e Eventos, Instituto
Sociocultural Favelarte, Spectaculu e
Instituto Nacional de Tecnologia.
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
depois será objeto de intervenção do
a reportagem
da revista Batucadas Brasileiras
(2007) intitulada “Zona Portuária se
une no Porto Cultural” representantes
do Fórum Porto Cultural informaram,
na ocasião, que “após décadas como
meros joguetes de diatribes políticas e
os moradores
e trabalhadores da Zona Portuária
pretendem tomar o timão do futuro da
A construção do Fórum se deu
durante todo ano de 2007 com a
participação mais efetiva das
seguintes instituições que assinam a
carta manifesto de fundaçã
o do Porto
: Centro Cultural Ação da
CCAC, IBB
Instituto
Bandeira Branca de Desenvolvimento
Social, Associação Cultural Recreativa
Afoxé Filhos de Gandhi, Instituto de
Pesquisa e Memória Pretos Novos,
Centro Cultural dos Rodoviários,
Grande Companhia Brasileira da
Mystérios e Novidades, Sparta
Associação Esportiva do Morro da
Nheco 07, Ribeiro
Promoções e Eventos, Instituto
Sociocultural Favelarte, Spectaculu e
Instituto Nacional de Tecnologia.
Assim, o objetivo d
Cultural seria o de provocar a sinergia
entre as diversas ações existentes
na região, ajuda mútua para a
consolidação de outras e procurar uma
agenda comum que agregasse todas
as entidades num Plano de Ação onde
pudessem executar atividades e
pr
essionar o poder público para as
melhorias que a região necessita.
A proposta era tomar a frente
das políticas públicas socioculturais de
forma com que os grupos participantes
garantissem sua autonomia e
sustentabilidade.
Resumindo, a articulação
política
dos atores socioculturais da
Região Portuária autodenominada
Porto Cultural tinha como ambição
agregar as ações culturais e sociais da
Zona Portuária e interferir nos projetos
pré-
existentes e que, até então, não
tinham saído do papel. A busca era
para que
a dinamização que estava
prestes a acontecer levasse em conta,
principalmente, a população local,
inserindo-
a e não a expulsando.
O Nômade chegou ao Morro da
Providência a partir do convite de outro
projeto, o Viaduto Literário, criado pela
moradora Marci
a Raquel, mãe de dois
ex-
alunos das nossas aulas de teatro.
38
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Assim, o objetivo d
o Porto
Cultural seria o de provocar a sinergia
entre as diversas ações existentes
na região, ajuda mútua para a
consolidação de outras e procurar uma
agenda comum que agregasse todas
as entidades num Plano de Ação onde
pudessem executar atividades e
essionar o poder público para as
melhorias que a região necessita.
A proposta era tomar a frente
das políticas públicas socioculturais de
forma com que os grupos participantes
garantissem sua autonomia e
Resumindo, a articulação
dos atores socioculturais da
Região Portuária autodenominada
Porto Cultural tinha como ambição
agregar as ações culturais e sociais da
Zona Portuária e interferir nos projetos
existentes e que, até então, não
tinham saído do papel. A busca era
a dinamização que estava
prestes a acontecer levasse em conta,
principalmente, a população local,
a e não a expulsando.
O Nômade chegou ao Morro da
Providência a partir do convite de outro
projeto, o Viaduto Literário, criado pela
a Raquel, mãe de dois
alunos das nossas aulas de teatro.
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
O Viaduto também propõe uma
ocupação coletiva da Praça da
Marquês com as crianças, produzindo
rodas de leituras, contações de
histórias, oficinas e compartilhamento
de afetos. Embora nem o Nômade
nem o Viaduto existissem no momento
do Porto Cultural, nessas ações
questões que se assemelham.
Segundo Deleuze (1997), não é
necessariamente deslocamento que
caracteriza o nomadismo, mas sim a
relação com o território que ocupa. O
nômade, no sentido di
cionarizado, é
aquele errante, o que não tem pouso
fixo, o que vaga. Em Deleuze, o que
faz nomadismo é o percurso
permanente, pois o nômade não toma
território, se apropria daquele espaço
por meio do uso que se faz dele. O
nômade não é aquele que quer a
pr
opriedade do espaço, ele quer
atravessar o espaço, usar o espaço, e
assim, modificá-lo.
Para Certeau, uma distinção
entre lugar e espaço
. Enquanto o
primeiro aponta para uma estabilidade,
o segundo indica variável, movimento.
Um não é a exclusão do outr
se transformam num e noutro por meio
dos relatos, dos efeitos que se
produzem nas operações de usos.
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
O Viaduto também propõe uma
ocupação coletiva da Praça da
Marquês com as crianças, produzindo
rodas de leituras, contações de
histórias, oficinas e compartilhamento
de afetos. Embora nem o Nômade
nem o Viaduto existissem no momento
do Porto Cultural, nessas ações
questões que se assemelham.
Segundo Deleuze (1997), não é
necessariamente deslocamento que
caracteriza o nomadismo, mas sim a
relação com o território que ocupa. O
cionarizado, é
aquele errante, o que não tem pouso
fixo, o que vaga. Em Deleuze, o que
faz nomadismo é o percurso
permanente, pois o nômade não toma
território, se apropria daquele espaço
por meio do uso que se faz dele. O
nômade não é aquele que quer a
opriedade do espaço, ele quer
atravessar o espaço, usar o espaço, e
Para Certeau, uma distinção
. Enquanto o
primeiro aponta para uma estabilidade,
o segundo indica variável, movimento.
Um não é a exclusão do outr
o, ambos
se transformam num e noutro por meio
dos relatos, dos efeitos que se
produzem nas operações de usos.
“Em suma,
o espaço é um lugar
praticado
. Assim a rua
geometricamente definida por um
urbanismo é transformada em espaço
pelos pedestres.(CERTEAU
184) Lugar é aquilo que define, que
ordena, enquanto espaço está em
variação a partir das ações dos
sujeitos históricos. Não se trata aqui
de ser espaço ou
estriado. Ao trabalhar o estriado como
liso, o nômade faz uma operação de
afeto, de transformação pelo hábito,
pelo uso. E aqui, mais uma vez, nos
aproximamos de Certeau (2014), que
vê, nos movimentos de caminhada,
uma falta, uma errância que priva de
lugar, e, portanto, de identidade.
Dessa forma, é o habitar, o hábito, que
desvela um espaço.
Era esse habitar, que fala de
uma relação direta desses moradores
com o espaço, podendo ele ser ao
mesmo tempo praça, porto, palco e
muito mais, que estava sendo
ignorado. Mais uma vez, os moradores
locais não foram ouvidos pelo poder
público e o projeto P
além de não implementar a política
habitacional para a região,
desconsiderou os fazedores culturais
do território. E, esses, se viram no
39
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
o espaço é um lugar
. Assim a rua
geometricamente definida por um
urbanismo é transformada em espaço
pelos pedestres.(CERTEAU
, 2014, p.
184) Lugar é aquilo que define, que
ordena, enquanto espaço está em
variação a partir das ações dos
sujeitos históricos. Não se trata aqui
lugar, liso ou
estriado. Ao trabalhar o estriado como
liso, o nômade faz uma operação de
afeto, de transformação pelo hábito,
pelo uso. E aqui, mais uma vez, nos
aproximamos de Certeau (2014), que
vê, nos movimentos de caminhada,
uma falta, uma errância que priva de
lugar, e, portanto, de identidade.
Dessa forma, é o habitar, o hábito, que
Era esse habitar, que fala de
uma relação direta desses moradores
com o espaço, podendo ele ser ao
mesmo tempo praça, porto, palco e
muito mais, que estava sendo
ignorado. Mais uma vez, os moradores
locais não foram ouvidos pelo poder
público e o projeto P
orto Maravilha,
além de não implementar a política
habitacional para a região,
desconsiderou os fazedores culturais
do território. E, esses, se viram no
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
meio de um processo de criação de
grandes empreendimentos de
entretenimento e atração de novos
artistas
e grupos para a região.
Como consequência, o Porto
Cultural se enfraqueceu e se
desarticulou. Como no projeto “Porto
Maravilha” havia recurso para financiar
atividades culturais pré-
existentes no
território, a relação com o órgão gestor
do projeto se deu
individualmente.
Divididos, ficaram mais fracos nas
negociações.
Assim, quando o Projeto Teatro
Nômade desembarca em um território
da região portuária que não se
caracteriza nem como Morro da
Providência, nem Morro do Pinto e,
muito menos é considerado par
bairro do Santo Cristo, muitas lutas,
resistências e produções artístico
culturais tinham marcado essa
região. Organizados na época do
Porto Cultural ou fazendo parcerias e
ações solidárias como agora, os
grupos culturais da região do
“festejado”
projeto imobiliário Porto
Maravilha continuam seu caminho
apesar e a despeito do poder público
que muitas vezes os invisibilizam.
Mas, tragamos luz à fronteira!
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
meio de um processo de criação de
grandes empreendimentos de
entretenimento e atração de novos
e grupos para a região.
Como consequência, o Porto
Cultural se enfraqueceu e se
desarticulou. Como no projeto “Porto
Maravilha” havia recurso para financiar
existentes no
território, a relação com o órgão gestor
individualmente.
Divididos, ficaram mais fracos nas
Assim, quando o Projeto Teatro
Nômade desembarca em um território
da região portuária que não se
caracteriza nem como Morro da
Providência, nem Morro do Pinto e,
muito menos é considerado par
te do
bairro do Santo Cristo, muitas lutas,
resistências e produções artístico
-
culturais tinham marcado essa
região. Organizados na época do
Porto Cultural ou fazendo parcerias e
ações solidárias como agora, os
grupos culturais da região do
projeto imobiliário Porto
Maravilha continuam seu caminho
apesar e a despeito do poder público
que muitas vezes os invisibilizam.
Mas, tragamos luz à fronteira!
Todo menino é um rei
Em seu livro
oprimido e outras poéticas políticas
Augusto
Boal afirma que “todo teatro é
necessariamente político, porque
políticas são todas as atividades do
homem, e o teatro é uma delas.”
(BOAL, 2010, p. 11). Para Luiz Antônio
Simas (2019)
, as ruas da cidade estão
em permanente disputa política entre
as classe
s dominantes e os
subalternizados. Entendemos que o
trabalho desenvolvido pelo Nômade é
político na encruzilhada dessas duas
dimensões.
No princípio, o teatro era o canto
ditirâmbico: o povo livre cantando ao
ar livre. O carnaval. A festa.
Depois, as class
apropriaram do teatro e construíram
muros divisórios. Primeiro, dividiram
o povo, separando atores de
espectadores: gente que faz e gente
que observa. Terminou
Segundo, entre os atores, separou
os protagonistas das massas:
come
çou o doutrinamento coercitivo!
O povo oprimido se liberta. E outra
vez conquista o teatro. É necessário
derrubar muros!
(BOAL, 2010, p. 177)
O carnaval é perigoso. O controle
dos corpos sempre foi parte do
projeto de desqualificação das
camadas historica
subalternizadas como produtoras de
cultura. Esse projeto de
desqualificação da cultura é base da
repressão aos elementos lúdicos e
sagrados do cotidiano dos pobres,
dos descendentes dos escravizados,
e de todos que resistem ao
confinamento dos corpos
potência de vida. O corpo
carnavalizado (...) dono de si, é
40
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Todo menino é um rei
Em seu livro
O teatro do
oprimido e outras poéticas políticas
,
Boal afirma que “todo teatro é
necessariamente político, porque
políticas são todas as atividades do
homem, e o teatro é uma delas.”
(BOAL, 2010, p. 11). Para Luiz Antônio
, as ruas da cidade estão
em permanente disputa política entre
s dominantes e os
subalternizados. Entendemos que o
trabalho desenvolvido pelo Nômade é
político na encruzilhada dessas duas
No princípio, o teatro era o canto
ditirâmbico: o povo livre cantando ao
ar livre. O carnaval. A festa.
Depois, as class
es dominantes se
apropriaram do teatro e construíram
muros divisórios. Primeiro, dividiram
o povo, separando atores de
espectadores: gente que faz e gente
que observa. Terminou
-se a festa!
Segundo, entre os atores, separou
os protagonistas das massas:
çou o doutrinamento coercitivo!
O povo oprimido se liberta. E outra
vez conquista o teatro. É necessário
(BOAL, 2010, p. 177)
O carnaval é perigoso. O controle
dos corpos sempre foi parte do
projeto de desqualificação das
camadas historica
mente
subalternizadas como produtoras de
cultura. Esse projeto de
desqualificação da cultura é base da
repressão aos elementos lúdicos e
sagrados do cotidiano dos pobres,
dos descendentes dos escravizados,
e de todos que resistem ao
confinamento dos corpos
e criam
potência de vida. O corpo
carnavalizado (...) dono de si, é
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
aquele que escapa (...) ao
confinamento da existência como
projeto de desencanto e mera espera
da morte certa. O carnaval é o duelo
entre o corpo e a morte. (SIMAS,
2019, p. 110)
O corpo
teatral carnavalizado é
um corpo livre e consciente (mas o
que significa um corpo livre e
consciente? Livre do que? Consciente
de quê?), perturbador da ordem que
se pretende impor às ruas. Ao expor
nosso trabalho, nossa presença nas
ruas, reafirmamos um l
ugar político.
Um dos objetivos do ensino do teatro
na formação básica do sujeito é
justamente ir na contramão de
relações pré-
estabelecidas, mostrando
outras possibilidades de uso dos
corpos.
A escola ocidental, fundamentada no
ensino seriado e na fragmen
conteúdo, é geralmente normativa,
padroniza comportamentos e corpos.
E a diferença? A rua poderia resolver
isso. Se a escola normatiza, a rua
deveria ser o lugar capaz de permitir
o convívio entre os diferentes. (...)
Pedagogia infantil, insisto,
criança brincar e desenvolver
aptidões ludicamente. O resto é
formar gente triste para os currais do
mercado de trabalho. A criança
precisa da arrelia das brincadeiras, e
a humanização do mundo passa
como um espaço de folguedo, flozô e
furdunço -
pelo encantamento radical
da rua. (SIMAS, 2019, p. 134
Estendemos as considerações
de Luiz Antonio Simas para além das
crianças,
pois acreditamos que a
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
aquele que escapa (...) ao
confinamento da existência como
projeto de desencanto e mera espera
da morte certa. O carnaval é o duelo
entre o corpo e a morte. (SIMAS,
teatral carnavalizado é
um corpo livre e consciente (mas o
que significa um corpo livre e
consciente? Livre do que? Consciente
de quê?), perturbador da ordem que
se pretende impor às ruas. Ao expor
nosso trabalho, nossa presença nas
ugar político.
Um dos objetivos do ensino do teatro
na formação básica do sujeito é
justamente ir na contramão de
estabelecidas, mostrando
outras possibilidades de uso dos
A escola ocidental, fundamentada no
ensino seriado e na fragmen
tação de
conteúdo, é geralmente normativa,
padroniza comportamentos e corpos.
E a diferença? A rua poderia resolver
isso. Se a escola normatiza, a rua
deveria ser o lugar capaz de permitir
o convívio entre os diferentes. (...)
Pedagogia infantil, insisto,
é deixar a
criança brincar e desenvolver
aptidões ludicamente. O resto é
formar gente triste para os currais do
mercado de trabalho. A criança
precisa da arrelia das brincadeiras, e
a humanização do mundo passa
-
como um espaço de folguedo, flozô e
pelo encantamento radical
da rua. (SIMAS, 2019, p. 134
-136)
Estendemos as considerações
de Luiz Antonio Simas para além das
pois acreditamos que a
educação em todas as idades
necessite de encantamento
teatro é também espaço para o
em todas as idades, tomar conta. É
lugar de liberdade do corpo, do
convívio com o
outro, com o espaço.
Ser professora de teatro não significa
ensinar ninguém a ser ator. Significa
poder mostrar possibilidades outras de
estar no mundo. Não é "poder
outra pessoa", como ouvimos
diversas vezes, é poder ser a gente
mesmo.
Em uma educação para a
disciplinarização, é preciso ficar
sentado em uma mesma posição, sem
se mexer demais, sem deitar, sentar,
levantar, falar. Apenas na hora certa,
quando for solicitado. O ensino do
teatro, por permitir a exploração do
que pode um cor
po, transgride regras
e incomoda ambientes coercitivos
apenas pela sua existência.
Apesar das múltiplas
experiências dando aula na rua em
anos anteriores, o começo do trabalho
com essa turma foi muito difícil, e
quase sempre voltávamos das aulas
em desespe
ro. Muitas vezes,
absolutamente nada do nosso
planejamento era aproveitado, com o
sentimento de “
tudo deu errado” nos
dominando. Além dos narrados
41
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
educação em todas as idades
necessite de encantamento
. Aula de
teatro é também espaço para o
lúdico,
em todas as idades, tomar conta. É
lugar de liberdade do corpo, do
outro, com o espaço.
Ser professora de teatro não significa
ensinar ninguém a ser ator. Significa
poder mostrar possibilidades outras de
estar no mundo. Não é "poder
ser
outra pessoa", como ouvimos
diversas vezes, é poder ser a gente
Em uma educação para a
disciplinarização, é preciso ficar
sentado em uma mesma posição, sem
se mexer demais, sem deitar, sentar,
levantar, falar. Apenas na hora certa,
quando for solicitado. O ensino do
teatro, por permitir a exploração do
po, transgride regras
e incomoda ambientes coercitivos
apenas pela sua existência.
Apesar das múltiplas
experiências dando aula na rua em
anos anteriores, o começo do trabalho
com essa turma foi muito difícil, e
quase sempre voltávamos das aulas
ro. Muitas vezes,
absolutamente nada do nosso
planejamento era aproveitado, com o
tudo deu errado” nos
dominando. Além dos narrados
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
encontros com a PM, lidávamos com a
violência dos alunos entre eles
as dificuldades de constituir um
turma. Passamos então a
buscar parte
dos alunos em casa, desviando o
nosso caminho de chegada para
passar pela rua onde moram. Durante
muito tempo debatemos e nos
questionamos se isso contribuía para o
trabalho ou não, e até hoje não temos
uma resposta ú
nica e clara. Mas, ao
buscá-
los em casa criamos uma
turma, ainda que muito, muito fluida,
pois vários começavam a aula e iam
embora no meio, ou chegavam
atrasados. Havia também, claro, as
faltas por motivos diversos e as
aparições de um dia só, em geral de
crianças que estavam brincando na
praça quando chegávamos e quando
viam a movimentação vinham fazer a
aula. Com o tempo entendemos que o
nosso processo de
aprenderensinar
até mesmo aquilo
que fixamos como
conceito de aula, pode ser repensado
a parti
r do nosso encontro com essa
turma. Os caminhos de ida e volta não
eram
silenciosos e isentos de tensões,
eram também momentos em que
construíamos
conhecimentossignificações
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
encontros com a PM, lidávamos com a
violência dos alunos entre eles
e com
as dificuldades de constituir um
a
buscar parte
dos alunos em casa, desviando o
nosso caminho de chegada para
passar pela rua onde moram. Durante
muito tempo debatemos e nos
questionamos se isso contribuía para o
trabalho ou não, e até hoje não temos
nica e clara. Mas, ao
los em casa criamos uma
turma, ainda que muito, muito fluida,
pois vários começavam a aula e iam
embora no meio, ou chegavam
atrasados. Havia também, claro, as
faltas por motivos diversos e as
aparições de um dia só, em geral de
crianças que estavam brincando na
praça quando chegávamos e quando
viam a movimentação vinham fazer a
aula. Com o tempo entendemos que o
aprenderensinar
, e
que fixamos como
conceito de aula, pode ser repensado
r do nosso encontro com essa
turma. Os caminhos de ida e volta não
silenciosos e isentos de tensões,
eram também momentos em que
conhecimentossignificações
com eles.
Depois de alguns meses de
trabalho decidimos fazer uma aula
aberta que a
presentaríamos com eles,
e próximo à data que estipulamos
chegamos a uma frase que dizia muito
sobre nossas práticas. “Precisamos
estar preparadas para acontecer tudo,
inclusive para nada”. Mas o que é
“nada”? Nada do que planejamos,
nenhuma das expectativ
desejávamos depositar nos alunos.
Logo antes de seu duelo com
Laertes, Hamlet diz a Horácio que está
com um mau pressentimento. Esse
duelo virá a ser o de sua morte, mas
ele ainda não o sabe. Horácio pede
que o amigo respeite sua intuição, mas
Haml
et responde que o que tiver de
acontecer, acontecerá de qualquer
forma, e sentencia: “estar preparado é
tudo” (SHAKESPEARE, 1988, p. 613).
Assim como Hamlet, é preciso estar
preparado quando entramos em sala
de aula, para tudo que acontecerá,
principalment
e para a morte das
nossas expectativas.
Em
Jogos teatrais
Koudela, professora e pesquisadora
da pedagogia do teatro, afirma que:
O teatro, enquanto proposta de
educação, trabalha com o potencial
que todas as pessoas possuem,
transformando esse recu
em um processo consciente de
42
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Depois de alguns meses de
trabalho decidimos fazer uma aula
presentaríamos com eles,
e próximo à data que estipulamos
chegamos a uma frase que dizia muito
sobre nossas práticas. “Precisamos
estar preparadas para acontecer tudo,
inclusive para nada”. Mas o que é
“nada”? Nada do que planejamos,
nenhuma das expectativ
as que
desejávamos depositar nos alunos.
Logo antes de seu duelo com
Laertes, Hamlet diz a Horácio que está
com um mau pressentimento. Esse
duelo virá a ser o de sua morte, mas
ele ainda não o sabe. Horácio pede
que o amigo respeite sua intuição, mas
et responde que o que tiver de
acontecer, acontecerá de qualquer
forma, e sentencia: “estar preparado é
tudo” (SHAKESPEARE, 1988, p. 613).
Assim como Hamlet, é preciso estar
preparado quando entramos em sala
de aula, para tudo que acontecerá,
e para a morte das
Jogos teatrais
, Ingrid
Koudela, professora e pesquisadora
da pedagogia do teatro, afirma que:
O teatro, enquanto proposta de
educação, trabalha com o potencial
que todas as pessoas possuem,
transformando esse recu
rso natural
em um processo consciente de
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
expressão e comunicação. A
representação ativa e integra
processos individuais, possibilitando
a ampliação do conhecimento da
realidade. (KOUDELA, 2009, p. 78)
A ideia de que o teatro é um
recurso natural de todos
humanos e que ao professor cabe o
papel de potencializador do aluno
aparece também em Boal:
O Teatro do Oprimido
, em todas as
suas formas, busca sempre a
transformação da sociedade no
sentido da libertação dos oprimidos.
É ação em si mesmo, e é pr
para ões futuras. “Não basta
interpretar a realidade: é necessário
transformá-la!”
disse Marx, com
admirável simplicidade. (BOAL,
2010, p. 19)
As reflexões de Boal, que
apontam o teatro como forma de
emancipação do ser humano,
encontram as de
Paulo Freire, que traz
a emancipação do sujeito pela
educação:
Por isso mesmo pensar certo coloca
ao professor ou, mais amplamente, à
escola, o dever de não só respeitar
os saberes com que os educandos,
sobretudo os das classes populares,
chegam a ela s
aberes socialmente
construídos na prática comunitária
mas também, como mais de trinta
anos venho sugerindo, discutir com
os alunos a razão de ser de alguns
desses saberes em relação com o
ensino dos conteúdos.(...)Por que
não discutir com os alunos a
realidade concreta a que se deva
associar a disciplina cujo conteúdo
se ensina, a realidade agressiva em
que a violência é a constante e a
convivência das pessoas é muito
maior com a morte do que com a
vida? (FREIRE, 1998, p.33)
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
expressão e comunicação. A
representação ativa e integra
processos individuais, possibilitando
a ampliação do conhecimento da
realidade. (KOUDELA, 2009, p. 78)
A ideia de que o teatro é um
recurso natural de todos
os seres
humanos e que ao professor cabe o
papel de potencializador do aluno
, em todas as
suas formas, busca sempre a
transformação da sociedade no
sentido da libertação dos oprimidos.
É ação em si mesmo, e é pr
eparação
para ões futuras. “Não basta
interpretar a realidade: é necessário
disse Marx, com
admirável simplicidade. (BOAL,
As reflexões de Boal, que
apontam o teatro como forma de
emancipação do ser humano,
Paulo Freire, que traz
a emancipação do sujeito pela
Por isso mesmo pensar certo coloca
ao professor ou, mais amplamente, à
escola, o dever de não só respeitar
os saberes com que os educandos,
sobretudo os das classes populares,
aberes socialmente
construídos na prática comunitária
mas também, como mais de trinta
anos venho sugerindo, discutir com
os alunos a razão de ser de alguns
desses saberes em relação com o
ensino dos conteúdos.(...)Por que
não discutir com os alunos a
realidade concreta a que se deva
associar a disciplina cujo conteúdo
se ensina, a realidade agressiva em
que a violência é a constante e a
convivência das pessoas é muito
maior com a morte do que com a
vida? (FREIRE, 1998, p.33)
Dessa forma, os alunos e s
produção artística, intelectual e cultural
aparecem como sujeitos ativos. Como
aponta Marina Henriques Coutinho em
seu livro
A favela como palco e
personagem
, no qual faz uma análise
das políticas sociais e culturais
implementadas em comunidades ao
long
o das últimas décadas, “(...) a
noção de participação foi adotada
pelas políticas desenvolvimentistas,
mas, em muitos casos, serviu mais
como um discurso conivente; bem
longe da práxis
eficiente, na qual
acreditava Paulo Freire.” (COUTINHO,
2012, p. 135).
beneficiados pelos programas sociais
como manequins em vitrines, tal qual
as alterações urbanas que abordamos
no início desse artigo, essas políticas
contribuem mais para manter a ordem
vigente do que para questioná
A efetiva presença da po
defendida pelos dois brasileiros [Boal
e Freire] depende das intenções do
“projeto”. E elas podem variar:
algumas comprometidas com a
verdadeira interação entre as
pessoas, o questionamento da
realidade e a necessidade de
mudança; outras, fruto de a
mais ocultas, servindo como
instrumento para objetivos ilusórios e
sem qualquer impacto na vida das
pessoas. (COUTINHO, 2012, p.136)
43
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Dessa forma, os alunos e s
ua
produção artística, intelectual e cultural
aparecem como sujeitos ativos. Como
aponta Marina Henriques Coutinho em
A favela como palco e
, no qual faz uma análise
das políticas sociais e culturais
implementadas em comunidades ao
o das últimas décadas, “(...) a
noção de participação foi adotada
pelas políticas desenvolvimentistas,
mas, em muitos casos, serviu mais
como um discurso conivente; bem
eficiente, na qual
acreditava Paulo Freire.” (COUTINHO,
2012, p. 135).
Tomando os
beneficiados pelos programas sociais
como manequins em vitrines, tal qual
as alterações urbanas que abordamos
no início desse artigo, essas políticas
contribuem mais para manter a ordem
vigente do que para questioná
-la:
A efetiva presença da po
lítica
defendida pelos dois brasileiros [Boal
e Freire] depende das intenções do
“projeto”. E elas podem variar:
algumas comprometidas com a
verdadeira interação entre as
pessoas, o questionamento da
realidade e a necessidade de
mudança; outras, fruto de a
gendas
mais ocultas, servindo como
instrumento para objetivos ilusórios e
sem qualquer impacto na vida das
pessoas. (COUTINHO, 2012, p.136)
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Assim, pretendíamos construir
uma relação com a turma na rua que
não se baseasse em pressupostos e
preconceitos, ma
s que estivesse
aberta à possibilidade de mudança e
transformação, entendendo que o
lugar do professor não pode passar
por uma hierarquia pré-
fundamentada
em relação aos alunos. Se para Boal o
papel do teatro é transformador, é
preciso fazer disso uma cons
apenas um objetivo salvador do outro,
mas de nós mesmos.
Mas o foi em Boal que
encontramos um caminho para os
problemas que enfrentávamos. Quem
nos valeu foi Beatriz Ângela Cabral e o
Drama como método de ensino
Chegando próximo à nossa aula
aberta
as duas professoras tinham a
sensação de que nada tinha
acontecido em todos aqueles meses,
quase um ano de trabalho, e que de
professoras de teatro tínhamos
passado a babás das crianças, que
queriam correr no p
arquinho em todas
as aulas e não tinham nenhum
interesse no que estávamos propondo.
Em um dia especialmente confuso, em
que elas não nos ouviam, corriam para
todo lado e se batiam a cada minuto,
gritamos um “chega, acabou a aula,
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Assim, pretendíamos construir
uma relação com a turma na rua que
não se baseasse em pressupostos e
s que estivesse
aberta à possibilidade de mudança e
transformação, entendendo que o
lugar do professor não pode passar
fundamentada
em relação aos alunos. Se para Boal o
papel do teatro é transformador, é
preciso fazer disso uma cons
tante: não
apenas um objetivo salvador do outro,
Mas o foi em Boal que
encontramos um caminho para os
problemas que enfrentávamos. Quem
nos valeu foi Beatriz Ângela Cabral e o
Drama como método de ensino
(2006).
Chegando próximo à nossa aula
as duas professoras tinham a
sensação de que nada tinha
acontecido em todos aqueles meses,
quase um ano de trabalho, e que de
professoras de teatro tínhamos
passado a babás das crianças, que
arquinho em todas
as aulas e não tinham nenhum
interesse no que estávamos propondo.
Em um dia especialmente confuso, em
que elas não nos ouviam, corriam para
todo lado e se batiam a cada minuto,
gritamos um “chega, acabou a aula,
vamos embora”. A resposta
“mas já, tia? A gente nem fez aula”.
Bom, não tinham feito mesmo. Mas ali
descobrimos que eles percebiam isso,
que sabiam diferenciar o que era a
nossa aula com eles e o que era a
brincadeira entre eles.
Foi a partir dos usos do espaço
que fomos
construindo nossas trocas
na Praça da Marquês com as crianças.
E um dia encontramos um aluno que
tinha parado de frequentar as aulas de
teatro. Perguntamos por onde ele
andava, que ele era um dos mais
interessados, sempre. Ele disse que
nos dias da aul
a de teatro ele tinha
passado a ir em um outro projeto
social que atua na Providência, estava
fazendo aulas de futebol. “Mas que
horas é a aula lá?”“18h.”“Ah, então.
Nossa aula é às 17h, é tão pertinho,
você pode ficar aqui com a gente um
pouco e depois ir
para lá.” “Não dá, tia.
não pode atrasar. Se atrasar tem
que correr 10 vezes em volta da
quadra. E se atrasar várias vezes não
pode mais entrar. é para quem
quer.”
“Lá é para quem quer” soou
estranho. O que isso significa? Anos
antes, em outra
s ocasiões,
havíamos feito algo semelhante,
44
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
vamos embora”. A resposta
deles foi:
“mas já, tia? A gente nem fez aula”.
Bom, não tinham feito mesmo. Mas ali
descobrimos que eles percebiam isso,
que sabiam diferenciar o que era a
nossa aula com eles e o que era a
brincadeira entre eles.
Foi a partir dos usos do espaço
construindo nossas trocas
na Praça da Marquês com as crianças.
E um dia encontramos um aluno que
tinha parado de frequentar as aulas de
teatro. Perguntamos por onde ele
andava, que ele era um dos mais
interessados, sempre. Ele disse que
a de teatro ele tinha
passado a ir em um outro projeto
social que atua na Providência, estava
fazendo aulas de futebol. “Mas que
horas é a aula lá?”“18h.”“Ah, então.
Nossa aula é às 17h, é tão pertinho,
você pode ficar aqui com a gente um
para lá.” “Não dá, tia.
não pode atrasar. Se atrasar tem
que correr 10 vezes em volta da
quadra. E se atrasar várias vezes não
pode mais entrar. é para quem
“Lá é para quem quer” soou
estranho. O que isso significa? Anos
s ocasiões,
nós
havíamos feito algo semelhante,
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
limitando o número de faltas dos
alunos. Quando uma porta para
fechar existe um poder, mas quando
se está na rua esse poder é
retirado.Afinal, não somos donas da
rua. Ali, a aula é para quem veio ver a
aula e para quem estiver passando.
Todos que estiverem ali ouvindo estão
tendo aula também. Se houver atraso
fará aula, se não vier um mês e depois
aparecer de novo fará aula. Mas como
nós professoras lidamos em uma
mesma turma com quem vem a todos
os enco
ntros e com quem some dois
meses, aparece um dia, some mais
dois meses? O que se constrói? É
possível ter um trabalho continuado?
O poder não está mais na porta, e
agora? Em Andrade e Caldas (2017),
no artigo
Barulho de escola entre
grades e muros: o que é
escola?
, elas mostram que os muros
da escola são lidos como proteção por
uns e cerceamento da liberdade por
outros, e mostram as táticas dos
estudantes para subverter a lógica dos
muros e das grades. Andrade narra o
momento em que
percebeu “q
bastava abrir cadeados ou desfazer as
grades. Era preciso produzir novas
relações, mais emancipatórias, menos
opressoras, com mais protagonismo e
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
limitando o número de faltas dos
alunos. Quando uma porta para
fechar existe um poder, mas quando
se está na rua esse poder é
retirado.Afinal, não somos donas da
rua. Ali, a aula é para quem veio ver a
aula e para quem estiver passando.
Todos que estiverem ali ouvindo estão
tendo aula também. Se houver atraso
fará aula, se não vier um mês e depois
aparecer de novo fará aula. Mas como
nós professoras lidamos em uma
mesma turma com quem vem a todos
ntros e com quem some dois
meses, aparece um dia, some mais
dois meses? O que se constrói? É
possível ter um trabalho continuado?
O poder não está mais na porta, e
agora? Em Andrade e Caldas (2017),
Barulho de escola entre
ser livre na
, elas mostram que os muros
da escola são lidos como proteção por
uns e cerceamento da liberdade por
outros, e mostram as táticas dos
estudantes para subverter a lógica dos
muros e das grades. Andrade narra o
percebeu “q
ue não
bastava abrir cadeados ou desfazer as
grades. Era preciso produzir novas
relações, mais emancipatórias, menos
opressoras, com mais protagonismo e
menos proteção para que pudéssemos
romper de fato com as grades.”
Chorando no transporte público depois
de um dia de aula especialmente
exaustivo, também começávamos a
perceber que algo na nossa relação
com aqueles alunos precisava mudar.
Para que alguma coisa relevante
ocorra, é preciso criar um espaço
vazio. O espaço vazio permite que
surja um fenômeno no
tudo que diz respeito ao conteúdo,
significado, expressão, linguagem e
música pode existir se a
experiência for nova e original. Mas
nenhuma experiência nova e original
é possível se não houver um espaço
puro, virgem, pronto para recebê
Posso escolher qualquer espaço
vazio e considerá
Um homem atravessa este espaço
vazio enquanto outro o observa, e
isso é suficiente para criar uma ação
cênica. (BROOK, 2011, p. 4)
Embora voltado para atores e
diretores,
A porta aberta
Brook, diretor de teatro, mostrou
algumas reflexões possíveis. O espaço
vazio de Brook traz a lembrança de
que, para o teatro acontecer, o que
menos importa é o edifício teatral. O
nosso teatro acontecia a cada vez que
criávamos na praça um espaço va
Aliando essa perspectiva ao que
trazíamos do
Drama como método
nossas aulas ficaram mais leves,
nossa relação com os alunos se
aprofundou e eles começaram a nos
45
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
menos proteção para que pudéssemos
romper de fato com as grades.”
Chorando no transporte público depois
de um dia de aula especialmente
exaustivo, também começávamos a
perceber que algo na nossa relação
com aqueles alunos precisava mudar.
Para que alguma coisa relevante
ocorra, é preciso criar um espaço
vazio. O espaço vazio permite que
surja um fenômeno no
vo, porque
tudo que diz respeito ao conteúdo,
significado, expressão, linguagem e
música pode existir se a
experiência for nova e original. Mas
nenhuma experiência nova e original
é possível se não houver um espaço
puro, virgem, pronto para recebê
-la.
Posso escolher qualquer espaço
vazio e considerá
-lo um palco nu.
Um homem atravessa este espaço
vazio enquanto outro o observa, e
isso é suficiente para criar uma ação
cênica. (BROOK, 2011, p. 4)
Embora voltado para atores e
A porta aberta
, de Peter
Brook, diretor de teatro, mostrou
algumas reflexões possíveis. O espaço
vazio de Brook traz a lembrança de
que, para o teatro acontecer, o que
menos importa é o edifício teatral. O
nosso teatro acontecia a cada vez que
criávamos na praça um espaço va
zio.
Aliando essa perspectiva ao que
Drama como método
,
nossas aulas ficaram mais leves,
nossa relação com os alunos se
aprofundou e eles começaram a nos
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
esperar na porta de casa para a aula
de terça-feira.
O
Drama como todo de
ensino foi cr
iado na Inglaterra e
chegou ao Brasil por meio do livro
homônimo de Beatriz Ângela Cabral.
Essa metodologia surge como um
contraponto ao “teatro tradicional” feito
nas escolas, em geral muito baseada
no sistema de Stanislavski, e avalia
professores e aluno
s por uma
apresentação final previamente
ensaiada. No drama como método
(entendendo por drama o próprio fazer
teatral, a criação de uma dramaturgia),
o foco está na criação do cotidiano da
sala de aula, em que os próprios
alunos desenvolvem uma história.
A
ssim, jogos teatrais e conteúdos do
ensino do teatro são inseridos dentro
de uma narrativa criada pelos alunos,
coletivamente. Ali na praça com os
nossos pequenos Nômades, o
ia muito além dos alunos, envolvendo
e fazendo rizoma (DELEUZE, 1997)
com os
brinquedos da praça, com
quem estivesse passando, com a
quadra de futebol. Não havia quarta
parede a ser quebrada, porque não
havia mais muros, não havia dentro e
fora.
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
esperar na porta de casa para a aula
Drama como todo de
iado na Inglaterra e
chegou ao Brasil por meio do livro
homônimo de Beatriz Ângela Cabral.
Essa metodologia surge como um
contraponto ao “teatro tradicional” feito
nas escolas, em geral muito baseada
no sistema de Stanislavski, e avalia
s por uma
apresentação final previamente
ensaiada. No drama como método
(entendendo por drama o próprio fazer
teatral, a criação de uma dramaturgia),
o foco está na criação do cotidiano da
sala de aula, em que os próprios
alunos desenvolvem uma história.
ssim, jogos teatrais e conteúdos do
ensino do teatro são inseridos dentro
de uma narrativa criada pelos alunos,
coletivamente. Ali na praça com os
nossos pequenos Nômades, o
Drama
ia muito além dos alunos, envolvendo
e fazendo rizoma (DELEUZE, 1997)
brinquedos da praça, com
quem estivesse passando, com a
quadra de futebol. Não havia quarta
parede a ser quebrada, porque não
havia mais muros, não havia dentro e
Quando começamos a trabalhar
para a nossa aula aberta, ou seja,
costurar os fragmentos
vínhamos criando, dois irmãos nos
chamaram a atenção. Ambos estavam
sempre pela praça, muitas vezes
vinham lanchar com a gente no início
das aulas, mas poucas vezes
participavam do que estávamos
propondo como jogo. Um deles, no
início no n
osso processo com a turma,
tinha passado a aula rondando o
grupo, caçoando
do trabalho que
fazíamos e batendo nos mais novos.
Ao final, quando propusemos uma
atividade de desenho coletivo em uma
cartolina, ele pediu um lápis.
Desenhou um pênis enorme no me
da folha e foi embora, deixando as
crianças chorando porque o desenho
delas estava arruinado. Um dia,
estávamos construindo uma parte da
nossa dramaturgia em que nós, como
marinheiros, desembarcávamos em
uma ilha, a praça. Um dos irmãos
estava no alto d
e um escorrega,
observando de longe. Apontamos para
ele: “marinheiros, ali está o castelo do
rei que estamos procurando! Vamos
falar com o rei.” Fomos até ele e
desenvolvemos uma cena de
improvisação dos marinheiros com o
46
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Quando começamos a trabalhar
para a nossa aula aberta, ou seja,
costurar os fragmentos
de história que
vínhamos criando, dois irmãos nos
chamaram a atenção. Ambos estavam
sempre pela praça, muitas vezes
vinham lanchar com a gente no início
das aulas, mas poucas vezes
participavam do que estávamos
propondo como jogo. Um deles, no
osso processo com a turma,
tinha passado a aula rondando o
do trabalho que
fazíamos e batendo nos mais novos.
Ao final, quando propusemos uma
atividade de desenho coletivo em uma
cartolina, ele pediu um lápis.
Desenhou um pênis enorme no me
io
da folha e foi embora, deixando as
crianças chorando porque o desenho
delas estava arruinado. Um dia,
estávamos construindo uma parte da
nossa dramaturgia em que nós, como
marinheiros, desembarcávamos em
uma ilha, a praça. Um dos irmãos
e um escorrega,
observando de longe. Apontamos para
ele: “marinheiros, ali está o castelo do
rei que estamos procurando! Vamos
falar com o rei.” Fomos até ele e
desenvolvemos uma cena de
improvisação dos marinheiros com o
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
rei. Nesse dia, ele veio pergun
poderia ter uma coroa. E nunca mais
deixou de fazer uma aula, assim como
seu irmão, que no dia em que
trouxemos a coroa (explicamos que
seria uma coroa para todos e todos
poderiam usar em algum momento, ao
que ele respondeu: “tudo bem, tia,
todo mun
do pode usar a coroa, eu sei
que o rei sou eu”), colocou na cabeça,
no alto do escorrega, e abriu o
primeiro sorriso que o havíamos visto
dar durante todo o ano. Quando
explicamos que depois da aula aberta
entraríamos de férias, os dois irmãos
se revoltara
m, dizendo que não tinha
motivo para entrar de férias e que
além disso a “apresentação” estava
muito curta.
A narrativa do rei no alto do
escorrega fala das táticas que nós
usávamos no momento oportuno
(CERTEAU, 1994
) para ampliar as
redes educativas que ali se davam.
Era no fazer e refazer constante do
nosso planejamento que íamos
formando os currículos do nosso
ensino ali, no qual como professoras
tínhamos mais liberdade do que
nunca. Nossa liberdade era tanta, que
não tínhamos nem mesmo um tempo
de aula definido, ela durava o tempo
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
rei. Nesse dia, ele veio pergun
tar se
poderia ter uma coroa. E nunca mais
deixou de fazer uma aula, assim como
seu irmão, que no dia em que
trouxemos a coroa (explicamos que
seria uma coroa para todos e todos
poderiam usar em algum momento, ao
que ele respondeu: “tudo bem, tia,
do pode usar a coroa, eu sei
que o rei sou eu”), colocou na cabeça,
no alto do escorrega, e abriu o
primeiro sorriso que o havíamos visto
dar durante todo o ano. Quando
explicamos que depois da aula aberta
entraríamos de férias, os dois irmãos
m, dizendo que não tinha
motivo para entrar de férias e que
além disso a “apresentação” estava
A narrativa do rei no alto do
escorrega fala das táticas que nós
usávamos no momento oportuno
) para ampliar as
redes educativas que ali se davam.
Era no fazer e refazer constante do
nosso planejamento que íamos
formando os currículos do nosso
ensino ali, no qual como professoras
tínhamos mais liberdade do que
nunca. Nossa liberdade era tanta, que
não tínhamos nem mesmo um tempo
de aula definido, ela durava o tempo
que conseguíssemos sustentar uma
relação de prazer e
aprendizagemensino.
No dia da aula aberta, apesar
de termos preparado tudo, comprado
material, criado figurinos e adereços,
chegamos n
a praça sem saber o que
ia acontecer. Os nossos alunos iriam?
Outras crianças estariam lá? Elas iriam
querer se apresentar ou estariam
naqueles dias em que queriam
correr, gritar e bater uns nos outros? A
aula aberta foi muito melhor do que
jamais poder
íamos imaginar. Havia
uma tranquilidade nunca antes
vista.Saímos de lá achando que, agora
sim, tínhamos uma turma unida,
presente, com desejo no teatro. Na
aula seguinte, nossa última antes das
férias, a praça parecia um filme de
apocalipse. s gritávamos
corriam, o planejamento estava no
chão. O jogo nunca está ganho.
Começamos a arrumar as coisas
arrasadas, quando algumas meninas
mais velhas, que tinham passado a
aula aberta caçoando dos menores,
vieram falar com a gente que no ano
seguinte seriam
queriam fazer teatro. O jogo também
nunca está perdido.
47
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
que conseguíssemos sustentar uma
relação de prazer e
No dia da aula aberta, apesar
de termos preparado tudo, comprado
material, criado figurinos e adereços,
a praça sem saber o que
ia acontecer. Os nossos alunos iriam?
Outras crianças estariam lá? Elas iriam
querer se apresentar ou estariam
naqueles dias em que queriam
correr, gritar e bater uns nos outros? A
aula aberta foi muito melhor do que
íamos imaginar. Havia
uma tranquilidade nunca antes
vista.Saímos de lá achando que, agora
sim, tínhamos uma turma unida,
presente, com desejo no teatro. Na
aula seguinte, nossa última antes das
férias, a praça parecia um filme de
apocalipse. s gritávamos
, eles
corriam, o planejamento estava no
chão. O jogo nunca está ganho.
Começamos a arrumar as coisas
arrasadas, quando algumas meninas
mais velhas, que tinham passado a
aula aberta caçoando dos menores,
vieram falar com a gente que no ano
seguinte seriam
nossas alunas,
queriam fazer teatro. O jogo também
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Quando, depois das férias de
fim de ano, o Nômade retornou às
aulas em janeiro, fomos surpreendidos
pela ansiedade deles em voltar para
as aulas de teatro. Quando foi pedido
que eles su
bissem em um dos
brinquedos da praça para começarmos
a aula, um aluno de quatro anos disse
“vamos subir no barco!”. Na nossa
aula aberta, meses antes, quando
criamos a história dos marinheiros que
encontravam o rei, os jogos que
criamos nos levaram a estab
dos brinquedos como o barco dos
marinheiros. Esse reconhecimento
lembra o de uma outra aluna, que no
dia da aula aberta olhou o mural que
montamos com a exposição de
trabalhos feitos por eles ao longo
ano
e disse: “tia, aqui tem desenhos
meus”
. Ela apontou, no mar de
desenhos, colagens e pinturas, os que
ela havia feito e ainda disse em que
aula, como: “Esse aqui é o Minotauro.”
“Esse foi na aula do mar.”
Esses dois momentos mostram
que há uma memória sendo produzida
nos nossos encontros. A pra
naquele momento, palco, ilha
encantada, sala de aula, mar aberto,
galeria de arte. A relação estabelecida
com o espaço urbano, habitado pelos
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Quando, depois das férias de
fim de ano, o Nômade retornou às
aulas em janeiro, fomos surpreendidos
pela ansiedade deles em voltar para
as aulas de teatro. Quando foi pedido
bissem em um dos
brinquedos da praça para começarmos
a aula, um aluno de quatro anos disse
“vamos subir no barco!”. Na nossa
aula aberta, meses antes, quando
criamos a história dos marinheiros que
encontravam o rei, os jogos que
criamos nos levaram a estab
elecer um
dos brinquedos como o barco dos
marinheiros. Esse reconhecimento
lembra o de uma outra aluna, que no
dia da aula aberta olhou o mural que
montamos com a exposição de
trabalhos feitos por eles ao longo
do
e disse: “tia, aqui tem desenhos
. Ela apontou, no mar de
desenhos, colagens e pinturas, os que
ela havia feito e ainda disse em que
aula, como: “Esse aqui é o Minotauro.”
Esses dois momentos mostram
que há uma memória sendo produzida
nos nossos encontros. A pra
ça é,
naquele momento, palco, ilha
encantada, sala de aula, mar aberto,
galeria de arte. A relação estabelecida
com o espaço urbano, habitado pelos
moradores a partir de diversos usos
criados nos cotidianos, transforma
território em terreiro (SIMAS, 2019),
espaço encantado de
conhecimentossignificações
portuária vem sendo parte de uma
cidade em constante disputa, desde
suas primeiras ocupações, passando
pelo Porto Cultural e chegando aos
dias de hoje com ações como o
Viaduto Literário e Projeto Teat
Nômade.
Historicamente, as estratégias
usadas pelo poder público para uma
apropriação do porto e das praças do
Rio de Janeiro têm contribuído para
um violento apartamento entre
moradores e seu território, apagando
direitos e pertencimentos. Por isso, se
faz importante pensar as ruas da
cidade como possíveis espaços
educativos a partir dos usos que os
próprios moradores fazem.
Referências bibliográficas
ABREU, Maurício de Almeida.
Evolução Urbana do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro: IPP, 1988.
ABREU, Mau
cio de; VAZ, Lilian
Fessler. Sobre a origem das favelas.
Anais do IV Encontro Nacional da
ANPUR
, Salvador, 1991, p. 481
ANDRADE, Nívea; CALDAS,
Alessandra Nunes. Barulho de escola
48
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
moradores a partir de diversos usos
criados nos cotidianos, transforma
território em terreiro (SIMAS, 2019),
espaço encantado de
conhecimentossignificações
. A zona
portuária vem sendo parte de uma
cidade em constante disputa, desde
suas primeiras ocupações, passando
pelo Porto Cultural e chegando aos
dias de hoje com ações como o
Viaduto Literário e Projeto Teat
ro
Historicamente, as estratégias
usadas pelo poder público para uma
apropriação do porto e das praças do
Rio de Janeiro têm contribuído para
um violento apartamento entre
moradores e seu território, apagando
direitos e pertencimentos. Por isso, se
faz importante pensar as ruas da
cidade como possíveis espaços
educativos a partir dos usos que os
próprios moradores fazem.
Referências bibliográficas
ABREU, Maurício de Almeida.
Evolução Urbana do Rio de Janeiro
.
Rio de Janeiro: IPP, 1988.
cio de; VAZ, Lilian
Fessler. Sobre a origem das favelas.
Anais do IV Encontro Nacional da
, Salvador, 1991, p. 481
-492.
ANDRADE, Nívea; CALDAS,
Alessandra Nunes. Barulho de escola
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
entre grades e muros: o que é ser livre
na escola?
Revista Educação e
Realidade
, v.42, 2, 2017. Disponível
em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=
sci_arttext&pid=S2175-
62362017000200495&lng=pt&nrm=iso
&tlng=pt
. Acesso em: 02 jan. 2020
ANJOS, Ana Maria de la Merced
Gonzalez Grana Guimarães dos.
Entrevista concedida a João Guerreiro
Rio de Janeiro, 07 de janeiro de 2013.
ATHAYDE, Antonio Carlos.
da Exposição Africanos novos na
Gamboa: um portal
arqueológico
de Janeiro, Arquivo Geral da Cidade
do Rio de Janeiro, 2001, 32 p.
Disponível em:
http://www0.rio.rj.gov.br/arquivo/pdf/cat
alogo_exp_pdf/africanos_gamboa.pdf.
Acesso em: 25 mar. 2013.
BENCHIMOL, Jaime.
Pereira Passos,
um Haussmann tropical
transformações urbanas na cidade do
Rio de Janeiro no início do século XX
2 v. Dissertação (Mestrado em
Planejamento Urbano e Regional).
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, 1982.
BOAL, Augusto.
Jogos para atores e
não-atores
. Rio de Janeiro: Civi
Brasileira, 2011.
BOAL, Augusto.
Teatro do oprimido e
outras poéticas políticas
Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
BROOK, Peter.
A porta aberta
Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
CABRAL, Beatriz Ângela Vieira.
Drama como mét
odo de ensino
Paulo: Hucitec, 2006.
CERTEAU, Michel de.
A invenção do
cotidiano
: 1. Artes de fazer. Rio de
Janeiro: Vozes, 2014.
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
entre grades e muros: o que é ser livre
Revista Educação e
, v.42, 2, 2017. Disponível
http://www.scielo.br/scielo.php?script=
62362017000200495&lng=pt&nrm=iso
. Acesso em: 02 jan. 2020
ANJOS, Ana Maria de la Merced
Gonzalez Grana Guimarães dos.
Entrevista concedida a João Guerreiro
.
Rio de Janeiro, 07 de janeiro de 2013.
ATHAYDE, Antonio Carlos.
Catálogo
da Exposição Africanos novos na
arqueológico
.Rio
de Janeiro, Arquivo Geral da Cidade
do Rio de Janeiro, 2001, 32 p.
Disponível em:
http://www0.rio.rj.gov.br/arquivo/pdf/cat
alogo_exp_pdf/africanos_gamboa.pdf.
Pereira Passos,
um Haussmann tropical
: as
transformações urbanas na cidade do
Rio de Janeiro no início do século XX
.
2 v. Dissertação (Mestrado em
Planejamento Urbano e Regional).
Universidade Federal do Rio de
Jogos para atores e
. Rio de Janeiro: Civi
lização
Teatro do oprimido e
outras poéticas políticas
. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
A porta aberta
. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
CABRAL, Beatriz Ângela Vieira.
odo de ensino
. São
A invenção do
: 1. Artes de fazer. Rio de
COUTINHO, Marina Henriques.
favela como palco e personagem
Petrópolis: DP et Alii/FAPERJ, 2012.
DE PAULA, Richard N. Semente de
favela: jornalistas e o espaço urbano
da capital federal nos primeiros anos
da República: o caso do Cabeça de
Porco.
Revista Eletrônica de História
do Brasil, 6(1), p. 36-
53, 2004.
DELEUZE, Gilles; GUATARI, Félix.
platôs
. São Paulo: Editora 34, 1997.
FERRARA, Lucrecia D'Alessio.
Cidade
. São Paulo: Nobel, 1988.
FREIRE, Paulo.
autonomia
. São Paulo: Paz e Terra,
1998.
GILROY, Paul.
O Atlântico Negro:
modernidade e dupla consciência
de Janeiro: Ed. 34, 200
GUERREIRO, João.
é a periferia: dinâmica cultural na
região portuária do Rio de Janeiro
Tese (Doutorado em Serviço Social).
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, 2013.
KOUDELA, Ingrid Dormien.
teatrais
. São Paulo: Perspectiva, 2
LAMARÃO, Sérgio.
Dos trapiches ao
porto: uma contribuição ao estudo da
produção da área portuária do Rio de
Janeiro.
Dissertação (Mestrado em
Planejamento Urbano e Regional).
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, 1984.
MELLO, Fernando Fernandes de.
zona portuária do Rio de Janeiro:
antecedentes e perspectivas
Dissertação. (Mestrado em
Planejamento Urbano e Regional).
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, 2003.
SHAKESPARE, William.
completa
. Volume 1. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1988.
49
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
COUTINHO, Marina Henriques.
A
favela como palco e personagem
.
Petrópolis: DP et Alii/FAPERJ, 2012.
DE PAULA, Richard N. Semente de
favela: jornalistas e o espaço urbano
da capital federal nos primeiros anos
da República: o caso do Cabeça de
Revista Eletrônica de História
53, 2004.
DELEUZE, Gilles; GUATARI, Félix.
Mil
. São Paulo: Editora 34, 1997.
FERRARA, Lucrecia D'Alessio.
A
. São Paulo: Nobel, 1988.
FREIRE, Paulo.
Pedagogia da
. São Paulo: Paz e Terra,
O Atlântico Negro:
modernidade e dupla consciência
. Rio
de Janeiro: Ed. 34, 200
2.
GUERREIRO, João.
Quando o centro
é a periferia: dinâmica cultural na
região portuária do Rio de Janeiro
.
Tese (Doutorado em Serviço Social).
Universidade Federal do Rio de
KOUDELA, Ingrid Dormien.
Jogos
. São Paulo: Perspectiva, 2
009.
Dos trapiches ao
porto: uma contribuição ao estudo da
produção da área portuária do Rio de
Dissertação (Mestrado em
Planejamento Urbano e Regional).
Universidade Federal do Rio de
MELLO, Fernando Fernandes de.
A
zona portuária do Rio de Janeiro:
antecedentes e perspectivas
.
Dissertação. (Mestrado em
Planejamento Urbano e Regional).
Universidade Federal do Rio de
SHAKESPARE, William.
Obra
. Volume 1. Rio de Janeiro:
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
como espaços de educação. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
SIMAS
, Luiz Antônio.
encantado das ruas
. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2019.
ZYLBERBERG, Sonia (coord.).
da Providência:
memórias da "favella"
Rio de Janeiro, Secretaria Municipal
de Cultura, Turismo e Esportes,
Departamento Geral de
Do
cumentação e Informação Cultural
(Coleção Memória das Favelas, vol.1).
1992.
GUERREIRO, João; REIS, Luísa. Porto, praça e palco: as ruas da cidade
Revista Latino
-Americana de
, p.
28-50, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
, Luiz Antônio.
O corpo
. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2019.
ZYLBERBERG, Sonia (coord.).
Morro
memórias da "favella"
.
Rio de Janeiro, Secretaria Municipal
de Cultura, Turismo e Esportes,
Departamento Geral de
cumentação e Informação Cultural
(Coleção Memória das Favelas, vol.1).
50
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
“Os saraus são as bibliotecas sonoras das periferias”:
letramentos e o direito à cidade
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.45797
Resumo
: As produções culturais
trabalho e de participação político
uma poderosa agência de letramento (KLEIMAN, 1995). Fundamentadas pela nossa experiência e
um sarau periférico, chamado Sarau V (de Viral), realizado na cidade de Nova Iguaçu, região
metropolitana do estado do Rio de Janeiro, idealizado e organizado pela coautora Janaina Tavares;
tecemos uma narrativa constituída por uma ‘dupla autoria’ em doi
(BAKHTIN, 1997), que chamamos de escrita
Fundamentadas pelo campo de estudos dos letramentos (STREET, 2001), argumentamos que as
práticas do sarau evidenciam uma escrita multissemiótic
desnaturaliza as projeções escalares hegemônicas (
urbanos (GUATTARI; ROLNIK, 2010) e reivindica o direito à cidade (HARVEY, 2016).
Palavras-chave: L
etramentos; juventudes
“Los saraos son las bibliotecas sonoras de las periferias”
el derecho a la ciudad
Resumen:
Las producciones culturales periféricas, además de ser una opción de recreo, producción,
trabajo y participación político-
cultural para los jóvenes periféricos, pueden entenderse como una
poderosa agencia de letramiento (KLEIMAN, 1995). A partir de nuestra
periférica, denominada Sarau V (Viral), realizada en la ciudad de Nova Iguaçu, región metropolitana
del estado de Río de Janeiro, idealizada y organizada por Janaina Tavares, una de las autoras de
este texto, tejemos una narrativ
(BAKTHIN, 1997), que llamamos escritura de escena y escritura de fondo (GOFFMAN, 1985).
Partiendo del campo de los estudios de letramiento (STREET, 2001), argumentamos que las
prácticas do Sarau
V muestran una escritura multisemiótica y multisensorial (MILLS, 2016) que
1
Adriana Carvalho Lopes. Doutora em Linguística
Departamento de Educação e Sociedade do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro (IM/UFRRJ). Professora do Programa de Pós
Demandas Populares –
PPGDUC/UFRRJ e do Programa Interdiscipl
Linguística Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PIPGLA/UFRJ), Brasil.
adrianaclopes14@gmail.com -
https://orcid.org/
2
Janaina Tavares. Mestranda no Programa Interdisciplinar de Pós
Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro
janaa.tavaresv@gmail.com -
https://orcid.org/0000
Texto recebido em 06/09/20
20
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
“Os saraus são as bibliotecas sonoras das periferias”:
uma narrativa sobre
letramentos e o direito à cidade
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.45797
Adriana Carvalho Lopes
Janaina Tavares
: As produções culturais
periféricas, além de serem uma
opção de lazer, de produção, de
trabalho e de participação político
-
cultural para as juventudes periféricas, podem ser entendidas como
uma poderosa agência de letramento (KLEIMAN, 1995). Fundamentadas pela nossa experiência e
um sarau periférico, chamado Sarau V (de Viral), realizado na cidade de Nova Iguaçu, região
metropolitana do estado do Rio de Janeiro, idealizado e organizado pela coautora Janaina Tavares;
tecemos uma narrativa constituída por uma ‘dupla autoria’ em doi
s gêneros textuais distintos
(BAKHTIN, 1997), que chamamos de escrita
-cena e de escrita-
bastidor (GOFFMAN,1985).
Fundamentadas pelo campo de estudos dos letramentos (STREET, 2001), argumentamos que as
práticas do sarau evidenciam uma escrita multissemiótic
a e multissensória (MILLS, 2016) que
desnaturaliza as projeções escalares hegemônicas (
CARR; LEMPERT, 2016),
reterritorializa espaços
urbanos (GUATTARI; ROLNIK, 2010) e reivindica o direito à cidade (HARVEY, 2016).
etramentos; juventudes
periféricas; direito à cidade.
“Los saraos son las bibliotecas sonoras de las periferias”
: una narrativa sobre letramientos y
Las producciones culturales periféricas, además de ser una opción de recreo, producción,
cultural para los jóvenes periféricos, pueden entenderse como una
poderosa agencia de letramiento (KLEIMAN, 1995). A partir de nuestra
experiencia en una velada
periférica, denominada Sarau V (Viral), realizada en la ciudad de Nova Iguaçu, región metropolitana
del estado de Río de Janeiro, idealizada y organizada por Janaina Tavares, una de las autoras de
este texto, tejemos una narrativ
a por una "doble autoría" en dos géneros textuales distintos
(BAKTHIN, 1997), que llamamos escritura de escena y escritura de fondo (GOFFMAN, 1985).
Partiendo del campo de los estudios de letramiento (STREET, 2001), argumentamos que las
V muestran una escritura multisemiótica y multisensorial (MILLS, 2016) que
Adriana Carvalho Lopes. Doutora em Linguística
pela Universidade de Campinas.
Departamento de Educação e Sociedade do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro (IM/UFRRJ). Professora do Programa de Pós
-
Graduação em Educação e
PPGDUC/UFRRJ e do Programa Interdiscipl
inar de Pós-
Graduação em
Linguística Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PIPGLA/UFRJ), Brasil.
https://orcid.org/
0000-0002-6068-8308
Janaina Tavares. Mestranda no Programa Interdisciplinar de Pós
-Gradu
ação em Linguística
Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro
– PIPGLA/UFRJ, Brasil. E-
mail:
https://orcid.org/0000
-02-8436-4842
20
, aceito para publicação em 12/10/2020
e disponibilizado onlin
em 01/03/2021.
51
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
uma narrativa sobre
Adriana Carvalho Lopes
1
Janaina Tavares
2
opção de lazer, de produção, de
cultural para as juventudes periféricas, podem ser entendidas como
uma poderosa agência de letramento (KLEIMAN, 1995). Fundamentadas pela nossa experiência e
m
um sarau periférico, chamado Sarau V (de Viral), realizado na cidade de Nova Iguaçu, região
metropolitana do estado do Rio de Janeiro, idealizado e organizado pela coautora Janaina Tavares;
s gêneros textuais distintos
bastidor (GOFFMAN,1985).
Fundamentadas pelo campo de estudos dos letramentos (STREET, 2001), argumentamos que as
a e multissensória (MILLS, 2016) que
reterritorializa espaços
urbanos (GUATTARI; ROLNIK, 2010) e reivindica o direito à cidade (HARVEY, 2016).
: una narrativa sobre letramientos y
Las producciones culturales periféricas, además de ser una opción de recreo, producción,
cultural para los jóvenes periféricos, pueden entenderse como una
experiencia en una velada
periférica, denominada Sarau V (Viral), realizada en la ciudad de Nova Iguaçu, región metropolitana
del estado de Río de Janeiro, idealizada y organizada por Janaina Tavares, una de las autoras de
a por una "doble autoría" en dos géneros textuales distintos
(BAKTHIN, 1997), que llamamos escritura de escena y escritura de fondo (GOFFMAN, 1985).
Partiendo del campo de los estudios de letramiento (STREET, 2001), argumentamos que las
V muestran una escritura multisemiótica y multisensorial (MILLS, 2016) que
pela Universidade de Campinas.
Professora de
Departamento de Educação e Sociedade do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural
Graduação em Educação e
Graduação em
Linguística Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PIPGLA/UFRJ), Brasil.
E-mail:
ação em Linguística
mail:
e disponibilizado onlin
e
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
desnaturaliza las proyecciones escalares hegemónicas (CARR; LEMPERT, 2016), reterritorializa los
espacios urbanos (GUATTARI; ROLNIK, 2010) y reivindica el derecho a la ciudad (HARVE
Palabras clave
: Letramientos; juventud periférica; derecho a la ciudad
“The soirées are the sound
libraries
right to the city
Abstract
: Peripheral cultural productions, in addition
and political-
cultural participation for peripheral youths, can be understood as a powerful literacy
agency (KLEIMAN, 1995). Based on our experience in a peripheral soirée, Sarau V (Viral), held in the
city
of Nova Iguaçu, metropolitan region of the state of Rio de Janeiro, idealized and organized by
coauthor Janaina Tavares, we weave a narrative by a 'double authorship' in two distinct textual genres
(BAKTHIN, 1997), which we call scene
of literacy studies (STREET, 2001), we argue that the practices of the Sarau V show a multisemiotic
and multisensory writing (MILLS, 2016) that denaturalizes hegemonic scalar projections (CARR;
LEMPERT, 2016), re-te
rritorializes urban spaces (GUATTARI; ROLNIK, 2010) and claims the right to
the city (HARVEY, 2016).
Keywords: Literacies; p
eripheral youth;
“Os saraus são as bibliotecas sonoras das periferias”:
le
Eu amo a rua. Esse
sentimento de natureza toda
íntima não vos seria revelado
por mim se não julgasse, e
razões não tivesse para julgar,
que este amor assim absoluto
e assim exagerado é
pa
rtilhado por todos vós. Nós
somos irmãos, nós nos
sentimos parecidos e iguais,
nas cidades, nas aldeias, nos
povoados, não porque
soframos, com a dor e os
desprazeres, a lei e a polícia,
mas porque nos une, nos
nivela e agremia o amor da
rua.
A Rua. João d
As
produções culturais
periféricas, além de serem uma
de lazer, de produção, de trabalho e
de participação político-
cultural para as
juventudes que habitam territórios que
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
desnaturaliza las proyecciones escalares hegemónicas (CARR; LEMPERT, 2016), reterritorializa los
espacios urbanos (GUATTARI; ROLNIK, 2010) y reivindica el derecho a la ciudad (HARVE
: Letramientos; juventud periférica; derecho a la ciudad
.
libraries
of the peripheries”: A narrative
about
: Peripheral cultural productions, in addition
to being an option for leisure, production, labor
cultural participation for peripheral youths, can be understood as a powerful literacy
agency (KLEIMAN, 1995). Based on our experience in a peripheral soirée, Sarau V (Viral), held in the
of Nova Iguaçu, metropolitan region of the state of Rio de Janeiro, idealized and organized by
coauthor Janaina Tavares, we weave a narrative by a 'double authorship' in two distinct textual genres
(BAKTHIN, 1997), which we call scene
-writing and back-wri
ting (GOFFMAN, 1985). Based on the field
of literacy studies (STREET, 2001), we argue that the practices of the Sarau V show a multisemiotic
and multisensory writing (MILLS, 2016) that denaturalizes hegemonic scalar projections (CARR;
rritorializes urban spaces (GUATTARI; ROLNIK, 2010) and claims the right to
eripheral youth;
right to the city.
“Os saraus são as bibliotecas sonoras das periferias”:
uma narrativa sobre
le
tramentos e o direito à cidade
Eu amo a rua. Esse
sentimento de natureza toda
íntima não vos seria revelado
por mim se não julgasse, e
razões não tivesse para julgar,
que este amor assim absoluto
e assim exagerado é
rtilhado por todos vós. Nós
somos irmãos, nós nos
sentimos parecidos e iguais,
nas cidades, nas aldeias, nos
povoados, não porque
soframos, com a dor e os
desprazeres, a lei e a polícia,
mas porque nos une, nos
nivela e agremia o amor da
A Rua. João d
o Rio.
produções culturais
periféricas, além de serem uma
opção
de lazer, de produção, de trabalho e
cultural para as
juventudes que habitam territórios que
margeiam centros geográficos,
econômicos e urbanos, podem ser
entendidas também como uma
poderosa agência de letramento
(KLEIMAN, 1995). Nos saraus, nos
slams
ou batalhas de poesia, nos
bailes funk e nas diversas
manifestações do hip hop (break,
grafite,rap) circulam
es
critas que desafiam um
racionalista, economicista e
individualista (SCOLLON; SCOLLON,
1995) sobre os letramentos.
Considerando as nossas vivências, em
um sarau periférico, chamado Sarau V
(de Viral), realizado na cidade de Nova
52
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
desnaturaliza las proyecciones escalares hegemónicas (CARR; LEMPERT, 2016), reterritorializa los
espacios urbanos (GUATTARI; ROLNIK, 2010) y reivindica el derecho a la ciudad (HARVE
Y, 2016).
about
literacies and the
to being an option for leisure, production, labor
cultural participation for peripheral youths, can be understood as a powerful literacy
agency (KLEIMAN, 1995). Based on our experience in a peripheral soirée, Sarau V (Viral), held in the
of Nova Iguaçu, metropolitan region of the state of Rio de Janeiro, idealized and organized by
coauthor Janaina Tavares, we weave a narrative by a 'double authorship' in two distinct textual genres
ting (GOFFMAN, 1985). Based on the field
of literacy studies (STREET, 2001), we argue that the practices of the Sarau V show a multisemiotic
and multisensory writing (MILLS, 2016) that denaturalizes hegemonic scalar projections (CARR;
rritorializes urban spaces (GUATTARI; ROLNIK, 2010) and claims the right to
uma narrativa sobre
margeiam centros geográficos,
econômicos e urbanos, podem ser
entendidas também como uma
poderosa agência de letramento
(KLEIMAN, 1995). Nos saraus, nos
ou batalhas de poesia, nos
bailes funk e nas diversas
manifestações do hip hop (break,
vários tipos de
critas que desafiam um
a visão
racionalista, economicista e
individualista (SCOLLON; SCOLLON,
1995) sobre os letramentos.
Considerando as nossas vivências, em
um sarau periférico, chamado Sarau V
(de Viral), realizado na cidade de Nova
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
Iguaçu, região metrop
olitana do estado
do Rio de Janeiro, idealizado e
organizado por Janaina
Tavares,tecemos uma narrativa
multissemiótica
constituída por uma
‘dupla autoria’
resultante de um
diálogo entre orientadora/orientanda,
mas também da interação entre
vozes
3
que ocupa
m distintos espaços
de observação e atuação
produção cultural
4
.
Tomamos de empréstimo as
metáforas ‘bastidor’ e ‘cena’ de Erving
Goffman (1985) como uma forma de
organizar a nossa construção textual,
pois assim como Goffman argumenta
que a definiçã
o das situações
cotidianas não são uma prerrogativa
individual, mas um “trabalho de
equipe”, entendemos que este artigo é
também um tipo de ação escalar
coletiva, ou melhor, uma perspectiva
de equipe que se constrói permeada
por duas
formas de linguagem
si
tuadas em locais e gêneros
discursivos diferentes
: uma escrita
3
Utilizamos vozes sociais como distintas
posições sócio-
históricas que comparecem em
textos (cf. BLOMMAERT, 2008)
4
Enquanto Janaína Tavares pode ser
compreendida como um ator do evento social
em análise, uma vez que é a produtora do
Sarau, Adriana Lopes, ainda que tenha
participado de uma das edições do Sarau,
ocupa um espaço de analista.
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
olitana do estado
do Rio de Janeiro, idealizado e
organizado por Janaina
Tavares,tecemos uma narrativa
constituída por uma
resultante de um
diálogo entre orientadora/orientanda,
mas também da interação entre
m distintos espaços
de observação e atuação
nessa
Tomamos de empréstimo as
metáforas ‘bastidor’ e ‘cena’ de Erving
Goffman (1985) como uma forma de
organizar a nossa construção textual,
pois assim como Goffman argumenta
o das situações
cotidianas não são uma prerrogativa
individual, mas um “trabalho de
equipe”, entendemos que este artigo é
também um tipo de ação escalar
coletiva, ou melhor, uma perspectiva
de equipe que se constrói permeada
formas de linguagem
tuadas em locais e gêneros
: uma escrita
-
Utilizamos vozes sociais como distintas
históricas que comparecem em
textos (cf. BLOMMAERT, 2008)
Enquanto Janaína Tavares pode ser
compreendida como um ator do evento social
em análise, uma vez que é a produtora do
Sarau, Adriana Lopes, ainda que tenha
participado de uma das edições do Sarau,
bastidor, que segue um gênero
discursivo acadêmico teorizando as
práticas; e uma
escrita
por fotografias e por pequenos
fragmentos
que chamaremos de
cartas, que foram escritas em
poética na primeira pessoa e
endereçadas à rua,
memórias das cenas vividas. Isso não
quer dizer que essas escritas possam
ser compreendidas de forma
separada, tampouco que a
escrita/cena seja objeto de análise da
escrita/bastidor. Organiz
gêneros discursivos distintos, ambas
têm como objeto de reflexão as
práticas de letramentos do Sarau V
trata-
se, portanto, de escritas que
dialogam, se complementam e se
contaminam, construindo uma
perspectiva narrativa para a nossa
dupla observação.
De saída, vale destacar que
integramos grupos de interlocução e
de pesquisa
5
que investigam
sobretudo práticas de letramentos que
5
As reflexões aqui apresenta
fruto do diálogo em grupos de pesquisa
interdisciplinares, Oicult e CELeC, que reúnem
pesquisadoras/es das áreas da cultura, da
educação e da linguística que investigam as
produções culturais periféricas e suas práticas
de letramentos (cf.
MAIA, 2017; LOPES
Adriana et al.,
2017; SILVA, 2019; LOPES;
FACINA; SILVA, 2019)
53
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
bastidor, que segue um gênero
discursivo acadêmico teorizando as
escrita
-cena composta
por fotografias e por pequenos
que chamaremos de
cartas, que foram escritas em
prosa-
poética na primeira pessoa e
endereçadas à rua,
trazendo as
memórias das cenas vividas. Isso não
quer dizer que essas escritas possam
ser compreendidas de forma
separada, tampouco que a
escrita/cena seja objeto de análise da
escrita/bastidor. Organiz
adas como
gêneros discursivos distintos, ambas
têm como objeto de reflexão as
práticas de letramentos do Sarau V
se, portanto, de escritas que
dialogam, se complementam e se
contaminam, construindo uma
perspectiva narrativa para a nossa
De saída, vale destacar que
integramos grupos de interlocução e
que investigam
sobretudo práticas de letramentos que
As reflexões aqui apresenta
das também são
fruto do diálogo em grupos de pesquisa
interdisciplinares, Oicult e CELeC, que reúnem
pesquisadoras/es das áreas da cultura, da
educação e da linguística que investigam as
produções culturais periféricas e suas práticas
MAIA, 2017; LOPES
,
2017; SILVA, 2019; LOPES;
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
tem lugar em contextos não
escolarizados, pois um
entendimento de que essas práticas
possibilitam certa desconstr
alargamento das fronteiras daquilo
que, tradicionalmente, foi entendido
como leitura e escrita não nas
práticas pedagógicas escolarizadas,
mas nos discursos hegemônicos que
circulam em espaços de poder. Como
enfatiza Roy Harrys (2000), repensa
escrita escolarizada e alfabética é, de
alguma maneira, refletir sobre algo que
está para além das práticas
comunicacionais, que, nas
narrativas coloniais, o mundo moderno
foi dividido, ranqueado e hierarquizado
territorialmente, de acordo com
crité
rios civilizacionais, medidos em
função das
práticas de letramentos
dos grupos sociais.
A história recente de
ocidentalização do mundo foi
acompanhada pela difusão da escrita
alfabética. Para Walter Mignolo
(2000), a colonização foi um momento
em que im
portava fornecer a escrita e
a história para aqueles povos que, em
uma perspectiva grafocêntrica e
eurocêntrica, seriam considerados
povos ‘sem escrita’ e ‘sem história.’
Em diálogo com os Novos Estudos dos
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
tem lugar em contextos não
-
escolarizados, pois um
entendimento de que essas práticas
possibilitam certa desconstr
ução e um
alargamento das fronteiras daquilo
que, tradicionalmente, foi entendido
como leitura e escrita não nas
práticas pedagógicas escolarizadas,
mas nos discursos hegemônicos que
circulam em espaços de poder. Como
enfatiza Roy Harrys (2000), repensa
r a
escrita escolarizada e alfabética é, de
alguma maneira, refletir sobre algo que
está para além das práticas
comunicacionais, que, nas
narrativas coloniais, o mundo moderno
foi dividido, ranqueado e hierarquizado
territorialmente, de acordo com
rios civilizacionais, medidos em
práticas de letramentos
A história recente de
ocidentalização do mundo foi
acompanhada pela difusão da escrita
alfabética. Para Walter Mignolo
(2000), a colonização foi um momento
portava fornecer a escrita e
a história para aqueles povos que, em
uma perspectiva grafocêntrica e
eurocêntrica, seriam considerados
povos ‘sem escrita’ e ‘sem história.’
Em diálogo com os Novos Estudos dos
Letramentos (STREET, 2001), que
compreendem a esc
prática social atravessada por relações
de poder, trazemos essa reflexão pós
colonial por dois motivos. Primeiro,
para mostrar como a disseminação da
escrita não é a difusão de uma técnica
neutra, mas está, intrinsecamente,
relacionada às ide
processos de dominação dos povos.
Segundo, porque entendemos que os
sujeitos não são passivos diante desse
movimento. Pelo contrário, nesse
processo não a escrita alfabética é
modificada, como também a maneira
pela qual essa passa a ser
co
mpreendida e utilizada.
Considerando a escrita
alfabética como uma tecnologia de
poder, algumas perguntas sobre
escritas produzidas por sujeitos
periféricos são norteadoras de nossas
pesquisas e moldam as reflexões
construídas neste texto. Uma questão
cara para s
é compreender o que as
pessoas produzem em termos de
cultura e de letramentos em contextos
não-
escolarizados. Desse modo, com
um olhar etnográfico
6
6
A postura etnográfica diante das práticas de
escrita é colocada pelos Novos Estudos dos
Letramentos (STREET, 2014). Já que a escrita
não é uma técnica de valor universal,ob
54
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Letramentos (STREET, 2001), que
compreendem a esc
rita como uma
prática social atravessada por relações
de poder, trazemos essa reflexão pós
-
colonial por dois motivos. Primeiro,
para mostrar como a disseminação da
escrita não é a difusão de uma técnica
neutra, mas está, intrinsecamente,
relacionada às ide
ologias e aos
processos de dominação dos povos.
Segundo, porque entendemos que os
sujeitos não são passivos diante desse
movimento. Pelo contrário, nesse
processo não a escrita alfabética é
modificada, como também a maneira
pela qual essa passa a ser
mpreendida e utilizada.
Considerando a escrita
alfabética como uma tecnologia de
poder, algumas perguntas sobre
escritas produzidas por sujeitos
periféricos são norteadoras de nossas
pesquisas e moldam as reflexões
construídas neste texto. Uma questão
é compreender o que as
pessoas produzem em termos de
cultura e de letramentos em contextos
escolarizados. Desse modo, com
observamos qual
A postura etnográfica diante das práticas de
escrita é colocada pelos Novos Estudos dos
Letramentos (STREET, 2014). Já que a escrita
não é uma técnica de valor universal,ob
servá-
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
o movimento da escrita quando esta
passa a ser uma tecnologia central na
organização das práticas de pessoas
que habitam as periferias brasileiras
locais que, hegemonicamente, são
imaginados como territórios marcados
pela “carência”, pela “faltade cultu
pela “ausência” de educação e pelo
iletramento. Tendo, então, essa
reflexão em mente é que
nossa dupla experiência no Sarau V.
No ano de 2013, Janaína
Tavares deu início ao
primeiro sarau
de artes integradas (audiovisual,
teatro, dança, mús
ica etc.) que
debateu política, direito à cidade,
cultura e direitos humanos, em uma
praça pública de Nova Iguaçu.
dois anos, o Sarau, que ocorria
mensalmente, fomentou e movimentou
uma nova geração de leitoras, de
escritoras, de poetas, de atrizes
fazedoras culturais, promovendo um
contrafluxo da juventude na cidade. O
V, como era carinhosamente chamado
por suas frequentadoras, buscava
chamar a atenção de certos grupos de
jovens de que não era necessário
deslocar-
se da periferia para o centro
la envolve uma reflexividade crítica da
pesquisadora para um fenômeno global que
sempre adquire valores, sentidos e usos
locais.
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
o movimento da escrita quando esta
passa a ser uma tecnologia central na
organização das práticas de pessoas
que habitam as periferias brasileiras
locais que, hegemonicamente, são
imaginados como territórios marcados
pela “carência”, pela “faltade cultu
ra,
pela “ausência” de educação e pelo
iletramento. Tendo, então, essa
reflexão em mente é que
trazemos a
nossa dupla experiência no Sarau V.
No ano de 2013, Janaína
primeiro sarau
de artes integradas (audiovisual,
ica etc.) que
debateu política, direito à cidade,
cultura e direitos humanos, em uma
praça pública de Nova Iguaçu.
Durante
dois anos, o Sarau, que ocorria
mensalmente, fomentou e movimentou
uma nova geração de leitoras, de
escritoras, de poetas, de atrizes
e de
fazedoras culturais, promovendo um
contrafluxo da juventude na cidade. O
V, como era carinhosamente chamado
por suas frequentadoras, buscava
chamar a atenção de certos grupos de
jovens de que não era necessário
se da periferia para o centro
la envolve uma reflexividade crítica da
pesquisadora para um fenômeno global que
sempre adquire valores, sentidos e usos
em busca de diversão e de cultura
(nesse caso, sair da região da Baixada
Fluminense em direção à cidade do
Rio de Janeiro). Aliás, podemos
observar um movimento contrário:
várias vezes
o V contou com a
presença de jovens habitantes de
áreas centrais da cid
Janeiro, não apenas como convidados
especiais para debater sobre alguma
temática, mas também como
expectadoras que ali estavam para
ouvirem o que a Baixada produz e tem
a dizer. O Sarau V,durante seus dois
anos de existência, estimulou a idei
de produção e de consumo de cultura
dentro do próprio território, conectando
pessoas de diversos locais com
a
quelas que escrevem e são escritas
na/pela periferia.
Vale lembrar que “centro” e
“periferia” não são conceitos
essenciais, termos que apenas
r
efletem ou descrevem, de forma
neutra, os espaços físicos e urbanos
das cidades. Em diálogo com os
estudos da linguagem, Silva (2019), ao
teorizar sobre os letramentos em
periferias brasileiras, destaca como
periferia é um conceito escalar, ou
seja, são p
rojeções simbólicas
construídas por processos formais de
55
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
em busca de diversão e de cultura
(nesse caso, sair da região da Baixada
Fluminense em direção à cidade do
Rio de Janeiro). Aliás, podemos
observar um movimento contrário:
o V contou com a
presença de jovens habitantes de
áreas centrais da cid
ade do Rio de
Janeiro, não apenas como convidados
especiais para debater sobre alguma
temática, mas também como
expectadoras que ali estavam para
ouvirem o que a Baixada produz e tem
a dizer. O Sarau V,durante seus dois
anos de existência, estimulou a idei
a
de produção e de consumo de cultura
dentro do próprio território, conectando
pessoas de diversos locais com
quelas que escrevem e são escritas
Vale lembrar que “centro” e
“periferia” não são conceitos
essenciais, termos que apenas
efletem ou descrevem, de forma
neutra, os espaços físicos e urbanos
das cidades. Em diálogo com os
estudos da linguagem, Silva (2019), ao
teorizar sobre os letramentos em
periferias brasileiras, destaca como
periferia é um conceito escalar, ou
rojeções simbólicas
construídas por processos formais de
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
significação e de distinção social. Vale
lembrar que o conceito de escala,
oriundo da geografia, relaciona
as formas de organização espaço
temporal da experiência humana e
que, nos últimos ano
s, foi apropriado
por diversos campos do saber. Desse
modo, em consonância com debates
da sociolinguística da globalização e
da antropologia linguística (
2019),
entendemos que definir
e a “periferia” como escala
que as circunscriç
ões desses espaços
sociais são
perspectivas (
LEMPERT, 2016)
interessadas e investidas por relações
de poder e por disputas institucionais
que definem as formas de segmentar,
de separar, de territorializar e de dizer,
logo de circular e de
viver na cidade.
Nas palavras de Silva, (2019, p.17)
A organização de uma escala sobre
esse espaço confere a ele
relevância, em condições e lutas
institucionais específicas. Escalas
são úteis para nos lembrar que
diferenças são acompanhadas de
hierarquias e disputas pelo poder
encaixadas na ação de
contextualizar.
Nesse sentido, vale lembrar o
trabalho etnográfico de É
rica Peçanha
do Nascimento sobre um dos primeiros
saraus na periferia da cidade de São
Paulo, o Sarau da Cooperifa,
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
significação e de distinção social. Vale
lembrar que o conceito de escala,
oriundo da geografia, relaciona
-se com
as formas de organização espaço
-
temporal da experiência humana e
s, foi apropriado
por diversos campos do saber. Desse
modo, em consonância com debates
da sociolinguística da globalização e
da antropologia linguística (
SILVA,
entendemos que definir
“centro”
e a “periferia” como escala
é assumir
ões desses espaços
perspectivas (
CARR;
socialmente
interessadas e investidas por relações
de poder e por disputas institucionais
que definem as formas de segmentar,
de separar, de territorializar e de dizer,
viver na cidade.
Nas palavras de Silva, (2019, p.17)
A organização de uma escala sobre
esse espaço confere a ele
relevância, em condições e lutas
institucionais específicas. Escalas
são úteis para nos lembrar que
diferenças são acompanhadas de
hierarquias e disputas pelo poder
encaixadas na ação de
Nesse sentido, vale lembrar o
rica Peçanha
do Nascimento sobre um dos primeiros
saraus na periferia da cidade de São
Paulo, o Sarau da Cooperifa,
idealizado e organizado pelo artista e
poeta Sergio Vaz. A autora argumenta
que a cultura de periferia não é algo
dado, mas é
produzida por ativistas e
artistas por meio da
junção de modos
de vida, de comportamentos coletivos,
de valores, de práticas, de linguagens
e de vestimentas dos membros das
classes populares situados nos b
ditos periféricos.Desse modo, essa
cultura fez emergir “novos sujeitos
políticos” que publicizam discursos,
demandas e práticas coletivas que
estão relacionadas às esferas de
produção e de consumo cultural.
Nesse movimento, novos sujeitos
aparecem n
a cena, tomam a palavra e
a periferia é (res)significada. Segundo
Nascimento (2011, p.11),
Favelados, periféricos, suburbanos,
marginais e marginalizados, que
sempre foram tema ou inspiração de
criações artísticas, passam de
objetos a sujeitos e esforçam
transformar suas próprias
experiências em linguagem
específica. E tudo aquilo que um dia
faltou
acesso, infraestrutura, bens,
técnica, dentre outros
matéria-
prima para a estética que
está sendo edificada.
Podemos compreender,
portant
o, que nessa cultura periférica,
a projeção escalar centro
questionada.
De acordo com
Lempert (2016), modelos escalares
56
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
idealizado e organizado pelo artista e
poeta Sergio Vaz. A autora argumenta
que a cultura de periferia não é algo
produzida por ativistas e
junção de modos
de vida, de comportamentos coletivos,
de valores, de práticas, de linguagens
e de vestimentas dos membros das
classes populares situados nos b
airros
ditos periféricos.Desse modo, essa
cultura fez emergir “novos sujeitos
políticos” que publicizam discursos,
demandas e práticas coletivas que
estão relacionadas às esferas de
produção e de consumo cultural.
Nesse movimento, novos sujeitos
a cena, tomam a palavra e
a periferia é (res)significada. Segundo
Nascimento (2011, p.11),
Favelados, periféricos, suburbanos,
marginais e marginalizados, que
sempre foram tema ou inspiração de
criações artísticas, passam de
objetos a sujeitos e esforçam
-se para
transformar suas próprias
experiências em linguagem
específica. E tudo aquilo que um dia
acesso, infraestrutura, bens,
técnica, dentre outros
torna-se
prima para a estética que
está sendo edificada.
Podemos compreender,
o, que nessa cultura periférica,
a projeção escalar centro
-periferia é
De acordo com
Carr e
Lempert (2016), modelos escalares
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
que são altamente naturalizados, ou
seja, um apagamento de sua
perspectiva sócio-
histórica, como se
fossem vind
os de “lugar nenhum”, um
modelo objetivo de descrição dos
espaços. Nesse sentido, uma região
densamente povoada e diversa
a Baixada Fluminense
(onde vivem
mais de dezesseis milhões de
pessoas, distribuídas em nove
municípios)
é, como diria a escritora
Chimamanda
Adichie (2010), vítima de
uma “história única”, pois essa é
naturalizada nos discursos somente
como um lugar homogêneo e carente
de tudo (de saneamento, de esgoto,
de cultura, de educação etc.) e,
extremante, “temida pelo seu excesso
de violência
, simbolizada nas imagens
de grupos de extermínio e seus
assassinos sanguinários” (HERALDO
HB, 2013, p.13).No entanto, como
veremos nas escritas/bastidores de
Janaina Tavares, tal projeção escalar
é questionada, uma vez que a Baixada
Fluminense transforma-
se em periferia
recontextualizada, ou melhor, periferia
reterritorializada (GUATARRI;
ROLNIK, 2010)
como local de
habitação, de afirmação de
identidades e de abundância de
culturas e de letramentos, afetando,
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
que são altamente naturalizados, ou
seja, um apagamento de sua
histórica, como se
os de “lugar nenhum”, um
modelo objetivo de descrição dos
espaços. Nesse sentido, uma região
densamente povoada e diversa
como
(onde vivem
mais de dezesseis milhões de
pessoas, distribuídas em nove
é, como diria a escritora
Adichie (2010), vítima de
uma “história única”, pois essa é
naturalizada nos discursos somente
como um lugar homogêneo e carente
de tudo (de saneamento, de esgoto,
de cultura, de educação etc.) e,
extremante, “temida pelo seu excesso
, simbolizada nas imagens
de grupos de extermínio e seus
assassinos sanguinários” (HERALDO
HB, 2013, p.13).No entanto, como
veremos nas escritas/bastidores de
Janaina Tavares, tal projeção escalar
é questionada, uma vez que a Baixada
se em periferia
recontextualizada, ou melhor, periferia
reterritorializada (GUATARRI;
como local de
habitação, de afirmação de
identidades e de abundância de
culturas e de letramentos, afetando,
assim, a maneira como as juventudes
experienc
iam o território e circulam
nas cidades. Passemos, então, para
as cartas, escritas/cenas do Sarau V.
Escritas-
cena: cartas de memória
Foram dois anos e mais de vinte
edições na rua.“Primeiro Beijo”,
“Projetando o nosso amor”,“Rua,
substantivo feminino”,
território”, “Pixo, logo existo”, “Alma
versada”, “Quadrilha de ideias” e
“Brincadeira é coisa séria” são os
títulos de sete cartas endereçadas à
rua que narram algumas edições. O
escritor e ativista Eduardo Galeano
(2001) disse, “a memória guard
que valer a pena. A memória sabe de
mim mais do que eu; e ela não perde o
que merece ser salvo”. As edições
narradas
guardam o que mais valeu a
pena e foram, afetuosamente,
recontextualizada
sem fotos e cartas
escritas por uma das autoras deste
texto e MC
7
do Sarau,
Tavares.
7
Abreviação para Mestre de Cerimônia; uma
abreviação que tem origem na cultura hip
para designar o rapper que canta
é utilizada também para nomear aqueles que
apresentam o Sarau.
57
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
assim, a maneira como as juventudes
iam o território e circulam
nas cidades. Passemos, então, para
as cartas, escritas/cenas do Sarau V.
cena: cartas de memória
Foram dois anos e mais de vinte
edições na rua.“Primeiro Beijo”,
“Projetando o nosso amor”,“Rua,
substantivo feminino”,
“Ação no
território”, “Pixo, logo existo”, “Alma
versada”, “Quadrilha de ideias” e
“Brincadeira é coisa séria” são os
títulos de sete cartas endereçadas à
rua que narram algumas edições. O
escritor e ativista Eduardo Galeano
(2001) disse, “a memória guard
ará o
que valer a pena. A memória sabe de
mim mais do que eu; e ela não perde o
que merece ser salvo”. As edições
guardam o que mais valeu a
pena e foram, afetuosamente,
sem fotos e cartas
escritas por uma das autoras deste
do Sarau,
Janaina
Abreviação para Mestre de Cerimônia; uma
abreviação que tem origem na cultura hip
-hop
para designar o rapper que canta
as músicas;
é utilizada também para nomear aqueles que
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
Carta 1
O primeiro Beijo
No dia 2 de Agosto de 2013, dei meu
primeiro beijo na Praça dos Direitos
Humanos, na Via Light, em Nova
Iguaçu. Senti gosto de concreto, senti
frio, senti eco. As palavras invadiam
meus ouvidos como língua molhada e
saíam da minha boca cortando as vias,
at
ravessando o sinal, observando nas
esquinas. Alguns foram brindar o
nosso primeiro encontro. Com seus
papéis, tablets
, celulares, falavam para
nós os poemas guardados nas
gavetas da alma. Uns tiravam do
bolso, outros do improviso. A gente
mal conhecia aque
las pessoas, mas
sabíamos que as
veríamos outras
tantas vezes. Estavam ali reunidos, um
grande número de poetas que
marcaram a história literária de Nova
Iguaçu nos anos de 1980 e 1990. Eles
andavam nos bares e nas esquinas,
no tempo em que eu ainda chorav
cólica, babava com o crescer dos
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
No dia 2 de Agosto de 2013, dei meu
primeiro beijo na Praça dos Direitos
Humanos, na Via Light, em Nova
Iguaçu. Senti gosto de concreto, senti
frio, senti eco. As palavras invadiam
meus ouvidos como língua molhada e
saíam da minha boca cortando as vias,
ravessando o sinal, observando nas
esquinas. Alguns foram brindar o
nosso primeiro encontro. Com seus
, celulares, falavam para
nós os poemas guardados nas
gavetas da alma. Uns tiravam do
bolso, outros do improviso. A gente
las pessoas, mas
veríamos outras
tantas vezes. Estavam ali reunidos, um
grande número de poetas que
marcaram a história literária de Nova
Iguaçu nos anos de 1980 e 1990. Eles
andavam nos bares e nas esquinas,
no tempo em que eu ainda chorav
a de
cólica, babava com o crescer dos
dentes e engatinhava pelo azulejo
vermelho de casa. Eles escreviam a
cidade e eram escritos por ela.
Carta 2
Projetando nosso amor
Naquela noite amarelada recebemos a
primeira projeção na praça. O tema
era carn
aval de rua. Máscaras
gigantes enfeitavam as entradas do
palco urbano. Lembra das
performances do poeta ciclista?
Escrevi na entrada “Resistir para
existir” ao invés de bem
projeção de um curta metragem em
preto e branco te desenha uma nova
estam
pa. Te olho e suspiro ainda mais
apaixonada, mais uma noite em que
solidificamos o nosso amor. O jazz
local embala nossa dança no final da
noite. Te beijo de um jeito diferente.
Você me abraça e me conforta. A lua
58
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
dentes e engatinhava pelo azulejo
vermelho de casa. Eles escreviam a
cidade e eram escritos por ela.
Projetando nosso amor
Naquela noite amarelada recebemos a
primeira projeção na praça. O tema
aval de rua. Máscaras
gigantes enfeitavam as entradas do
palco urbano. Lembra das
performances do poeta ciclista?
Escrevi na entrada “Resistir para
existir” ao invés de bem
-vindos. A
projeção de um curta metragem em
preto e branco te desenha uma nova
pa. Te olho e suspiro ainda mais
apaixonada, mais uma noite em que
solidificamos o nosso amor. O jazz
local embala nossa dança no final da
noite. Te beijo de um jeito diferente.
Você me abraça e me conforta. A lua
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
celebra mais um encontro nas tuas
veias e vias abertas.
Carta 3
Rua, substantivo feminino
Nossa voz amplificada. noites que
trazemos megafone e temos sempre o
microfone aberto. Qualquer pessoa
que queira,
pode se expressar, se
expandir e tomar a palavra no espaço
público. A praça é um espaço
predominantemente ocupado por
homens: jovens, skatistas, roqueiros e
a galera “legalize”. O senhor palhaço
conseguiu chamar a atenção de uns
duzentos jovens com seus t
Passado o chapéu, uma música
regional foi fundo musical de uma
ciranda ao redor de uma das antigas
árvores do lugar. Girávamos no círculo
do amor por você. Por tudo que você
dança em nós.
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
celebra mais um encontro nas tuas
Rua, substantivo feminino
Nossa voz amplificada. noites que
trazemos megafone e temos sempre o
microfone aberto. Qualquer pessoa
pode se expressar, se
expandir e tomar a palavra no espaço
público. A praça é um espaço
predominantemente ocupado por
homens: jovens, skatistas, roqueiros e
a galera “legalize”. O senhor palhaço
conseguiu chamar a atenção de uns
duzentos jovens com seus t
ruques.
Passado o chapéu, uma música
regional foi fundo musical de uma
ciranda ao redor de uma das antigas
árvores do lugar. Girávamos no círculo
do amor por você. Por tudo que você
Carta 4
Ação no território
O brechó ambulante era o fun
palco aberto. Um colorido, cheiro de
guardado e estilos diferentes presos
na arara de rodinha. O WG de Rua
equilibra a bola de basquete na ponta
do lápis, Zona Oeste presente! DJ, um
jovem de Magé, fala da opressão
policial que os secundaristas sofre
na Praça em que realizam o Sarau
Corra que a Polícia Vem
obrigados a atravessar a rua em busca
de um ponto de luz para ligar o
equipamento de som. As cidades se
encontram do outro lado, se
comunicam, convergem e agem. É a
partir do agir dentro
do nosso território
que o modificamos. É o pensar global
e agir local. O V se preocupa com a
cultura local, aquela que fala de nós e
para nós, aquela cultura que é
59
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
O brechó ambulante era o fun
do do
palco aberto. Um colorido, cheiro de
guardado e estilos diferentes presos
na arara de rodinha. O WG de Rua
equilibra a bola de basquete na ponta
do lápis, Zona Oeste presente! DJ, um
jovem de Magé, fala da opressão
policial que os secundaristas sofre
m
na Praça em que realizam o Sarau
Corra que a Polícia Vem
. Fomos
obrigados a atravessar a rua em busca
de um ponto de luz para ligar o
equipamento de som. As cidades se
encontram do outro lado, se
comunicam, convergem e agem. É a
do nosso território
que o modificamos. É o pensar global
e agir local. O V se preocupa com a
cultura local, aquela que fala de nós e
para nós, aquela cultura que é
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
produzida e vivida por s periféricos.
As luzes das grandes torres de energia
na Via Light
recebem meninas com
poesias escritas em seu corpo. O
corpo é o nosso primeiro território, os
saraus são nossas bibliotecas. Tantos
caminhos percorremos em nós.
Carta 5
Alma versada
Exibimos um pedaço do documentário
Luz, Câmera, PiXação,
do Gustavo
Coelho. De todas nossas memórias,
não sei se eu te confessei, mas essa
noite foi uma das minhas preferidas.
Você que me ensinava tanto sobre
representatividade, me conduziu a
convidar pichadores e ex
pra contarem suas experiências.
A
lguns falaram da adrenalina, outros
do vício em sentir o perigo, o frio da
madrugada e o cheiro do Jet. Os que
não mais pichavam, disseram que
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
produzida e vivida por s periféricos.
As luzes das grandes torres de energia
recebem meninas com
poesias escritas em seu corpo. O
corpo é o nosso primeiro território, os
saraus são nossas bibliotecas. Tantos
caminhos percorremos em nós.
Exibimos um pedaço do documentário
do Gustavo
Coelho. De todas nossas memórias,
não sei se eu te confessei, mas essa
noite foi uma das minhas preferidas.
Você que me ensinava tanto sobre
representatividade, me conduziu a
convidar pichadores e ex
-pichadores
pra contarem suas experiências.
lguns falaram da adrenalina, outros
do vício em sentir o perigo, o frio da
madrugada e o cheiro do Jet. Os que
não mais pichavam, disseram que
queriam ser vistos e chamar a atenção
quando saía pra “pixar”, pois é com “x”
que se escreve a pichação ou o Xarp
do Rio de Janeiro. Era como se
quisessem superar os seus limites. Se
a cidade é projetada para os sufocar,
eles iriam empurrar goela abaixo seus
códigos secretos em seus rabiscos. O
rap rolava nos intervalos nas batalhas
de rima. Essa edição foi gica,
lembra quando vejo uma pichação em
um lugar o improvável que penso:
não tem como ir até sendo um
humano, rs! Intelectuais,
universitários, artistas, sentados numa
praça ouvindo os marginalizados, os
invisíveis, os expulsos. Fechamos o
encontro com
um violão acústico
tocado por um ex-
morador de rua. Te
cheirei de um jeito diferente naquela
noite. Te “pixei” em mim.
Carta 6
Quadrilha de Ideias
60
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
queriam ser vistos e chamar a atenção
quando saía pra “pixar”, pois é com “x”
que se escreve a pichação ou o Xarp
i
do Rio de Janeiro. Era como se
quisessem superar os seus limites. Se
a cidade é projetada para os sufocar,
eles iriam empurrar goela abaixo seus
códigos secretos em seus rabiscos. O
rap rolava nos intervalos nas batalhas
de rima. Essa edição foi gica,
me
lembra quando vejo uma pichação em
um lugar o improvável que penso:
não tem como ir até sendo um
humano, rs! Intelectuais,
universitários, artistas, sentados numa
praça ouvindo os marginalizados, os
invisíveis, os expulsos. Fechamos o
um violão acústico
morador de rua. Te
cheirei de um jeito diferente naquela
noite. Te “pixei” em mim.
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
Enchemos a praça com lambe
de poetas locais. Um grande varal com
um acervo de cordéis coloria o lu
junto de fitilho, papel crepom e sorrisos
das crianças que rabiscavam no chão
com giz cor de rosa, amarelo, verde e
azul. Severino declamava sua terra,
seu sotaque e suas origens. O cristão
e a candomblecista falam sobre
respeito e intolerância religio
produtores locais falam da importância
do V pra cidade e anunciamos a
despedid
a da Praça dos Direitos
Humanos. Levaram uma cachaça
paraibana pra integrar na nossa mesa
de doces típicos de São João. A
panela com caldo de ervilha ainda
estava quen
te. Era como se
tivéssemos casadas. Eu e você,
prontas para lua de mel: o Sarau V
itinerante. Os convidados dançaram a
dança da laranja e levaram livros do
Moduan
Matus de brinde. Fomos
embora com a sensação de dever
cumprido. Mas tinha um vazio do lado
de dentro.
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Enchemos a praça com lambe
-lambe
de poetas locais. Um grande varal com
um acervo de cordéis coloria o lu
gar
junto de fitilho, papel crepom e sorrisos
das crianças que rabiscavam no chão
com giz cor de rosa, amarelo, verde e
azul. Severino declamava sua terra,
seu sotaque e suas origens. O cristão
e a candomblecista falam sobre
respeito e intolerância religio
sa. Alguns
produtores locais falam da importância
do V pra cidade e anunciamos a
a da Praça dos Direitos
Humanos. Levaram uma cachaça
paraibana pra integrar na nossa mesa
de doces típicos de São João. A
panela com caldo de ervilha ainda
te. Era como se
tivéssemos casadas. Eu e você,
prontas para lua de mel: o Sarau V
itinerante. Os convidados dançaram a
dança da laranja e levaram livros do
Matus de brinde. Fomos
embora com a sensação de dever
cumprido. Mas tinha um vazio do lado
Carta 7
Brincadeira é coisa séria
Depois de quase dois anos ocupando
a Praça dos Direitos Humanos,
entendemos que mesmo estando
numa cidade periférica, existe uma
periferia dentro da periferia, que
produz e precisa ser alcançada e
ganhar visibilidade. Com isso, fomos
para o Bairro Valve
acontecia a Batalha do Federa,
produzida e mobilizada por
adolescentes e jovens do bairro.
Realizamos em conjunto a primeira
edição itinerante do Sarau V. Era um
novo ambiente, com outros ares, cores
e sons. Quando cheguei, te olhei com
um b
rilho nos olhos, depois de tanto
tempo de namoro, as coisas entre nós
esfriaram e precisávamos inovar. O sol
estava se pondo lentamente, parecia
pedir pra ser fotografado. Vi o
movimento ao redor pelo retrovisor do
carro. Os meninos fazendo a barba
61
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Brincadeira é coisa séria
Depois de quase dois anos ocupando
a Praça dos Direitos Humanos,
entendemos que mesmo estando
numa cidade periférica, existe uma
periferia dentro da periferia, que
produz e precisa ser alcançada e
ganhar visibilidade. Com isso, fomos
para o Bairro Valve
rde, em que
acontecia a Batalha do Federa,
produzida e mobilizada por
adolescentes e jovens do bairro.
Realizamos em conjunto a primeira
edição itinerante do Sarau V. Era um
novo ambiente, com outros ares, cores
e sons. Quando cheguei, te olhei com
rilho nos olhos, depois de tanto
tempo de namoro, as coisas entre nós
esfriaram e precisávamos inovar. O sol
estava se pondo lentamente, parecia
pedir pra ser fotografado. Vi o
movimento ao redor pelo retrovisor do
carro. Os meninos fazendo a barba
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
num sal
ão improvisado na calçada da
casa. O churrasquinho já estava sendo
preparado e bem em frente, o açaí
cremoso sendo batido. As meninas
enfeitavam a grade da quadra de
futebol. Tivemos que negociar o
término da pelada antes da hora.
Chegou um grupo que ia en
dance
e pediu um espaço na tomada
pra ligar o som. Ao fundo da quadra,
os skatistas faziam manobras. Os
meninos subiam no poste de luz pra
prender a tela em que projetaríamos o
filme Tarja Branca. O tema era
Brincadeira é coisa séria. E não
po
diam faltar as crianças. Fizemos um
“Vezinho”, um espaço para crianças
pintarem com tinta guache, pularem
corda, escrever com giz. O rio é escrito
com caneta d’água no ventre da
mulher. E sorrio por dentro. A gente se
reconcilia. Daiana, a palhaça, tira, s
muito esforço, altas gargalhadas das
crianças. Eu não sei exatamente o
porquê, mas o pessoal estava com riso
frouxo, solto e gostoso. Todos
sentaram no chão da quadra para
assistir ao filme, crianças sentaram ao
meu lado e pediam pirulito. Inventário
de
bikes. Nelson Mandela é grafitado
no muro da vizinha. Reggae e rap
fazem ‘as novinhas’ cantarem até
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
ão improvisado na calçada da
casa. O churrasquinho já estava sendo
preparado e bem em frente, o açaí
cremoso sendo batido. As meninas
enfeitavam a grade da quadra de
futebol. Tivemos que negociar o
término da pelada antes da hora.
Chegou um grupo que ia en
saiar street
e pediu um espaço na tomada
pra ligar o som. Ao fundo da quadra,
os skatistas faziam manobras. Os
meninos subiam no poste de luz pra
prender a tela em que projetaríamos o
filme Tarja Branca. O tema era
Brincadeira é coisa séria. E não
diam faltar as crianças. Fizemos um
“Vezinho”, um espaço para crianças
pintarem com tinta guache, pularem
corda, escrever com giz. O rio é escrito
com caneta d’água no ventre da
mulher. E sorrio por dentro. A gente se
reconcilia. Daiana, a palhaça, tira, s
em
muito esforço, altas gargalhadas das
crianças. Eu não sei exatamente o
porquê, mas o pessoal estava com riso
frouxo, solto e gostoso. Todos
sentaram no chão da quadra para
assistir ao filme, crianças sentaram ao
meu lado e pediam pirulito. Inventário
bikes. Nelson Mandela é grafitado
no muro da vizinha. Reggae e rap
fazem ‘as novinhas’ cantarem até
ficarem roucas. A Anistia Internacional
recruta uma meninada pra campanha
Jovem Negro Vivo. é quase meia
noite. É hora de voltar pra casa. Des
produzir.
Guardar os fios, as tomadas,
as caixas de som, as telas, o projetor e
os livros. Começa a esfriar. Sinto uma
batida na barriga. Na boca. Do
estômago.
Escrita-b
astidor: letramentos
multissensórios e o direito à cidade
Com as cartas endereçadas à
rua e
as fotos, encenamos fragmentos
de
uma pequena história sobre o
Sarau V. Como destacamos neste
texto, o Sarau V muda a projeção
escalar centro-
periferia, pois traz a
perspectiva daquelas/es que habitam
os espaços considerados à margem.
Antes da realizaçã
o do Sarau, a praça
era
chamada por seus frequentadores
de Praça do Coliseu, uma refer
ao formato de sua construção.
Localizada às margens de uma
importante via da cidade, Via Light, a
praça era o lugar de passagem,
frequentada quase que,
exclusivamen
te, por skatistas. No
entanto, a praça foi batizada pela
Prefeitura como “Praça dos Direitos
Humanos”, em memória às 29 vítimas
62
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
ficarem roucas. A Anistia Internacional
recruta uma meninada pra campanha
Jovem Negro Vivo. é quase meia
-
noite. É hora de voltar pra casa. Des
-
Guardar os fios, as tomadas,
as caixas de som, as telas, o projetor e
os livros. Começa a esfriar. Sinto uma
batida na barriga. Na boca. Do
astidor: letramentos
multissensórios e o direito à cidade
Com as cartas endereçadas à
as fotos, encenamos fragmentos
uma pequena história sobre o
Sarau V. Como destacamos neste
texto, o Sarau V muda a projeção
periferia, pois traz a
perspectiva daquelas/es que habitam
os espaços considerados à margem.
o do Sarau, a praça
chamada por seus frequentadores
de Praça do Coliseu, uma refer
ência
ao formato de sua construção.
Localizada às margens de uma
importante via da cidade, Via Light, a
praça era o lugar de passagem,
frequentada quase que,
te, por skatistas. No
entanto, a praça foi batizada pela
Prefeitura como “Praça dos Direitos
Humanos”, em memória às 29 vítimas
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
assassinadas em uma chacina
ocorrida na cidade de Nova Iguaçu e
de Queimados, ambas na região da
Baixada Fluminense, no ano de 2
Porém, a a realização do Sarau V
esse nome não era utilizado para a
designar tal espaço.
Vale lembrar que foi apenas
quando Janaina Tavares foi à
prefeitura pedir autorização para a
realização da primeira edição do
Sarau, que ela descobriu o
registro da praça.
Porém, o nome
direitos humanos era apenas um
“simulacro teórico” que olha de cima e
não se entrelaça aos fazeres espaciais
do dia-a-dia (CERTE
AU, 1994, p.
Aquele lugar era delimitado e
enunciado como a Praça do Coliseu.
Os
letramentos do Sarau
uma intervenção espacial ali,
reescrevendo e colocando em prática
o nome oficial.“Se é a ação que
qualifica o espaço” (CERTEAU, 1994,
p. 171) foram
as práticas de
letramentos do Sarau que
reterritorializaram a praça, colocan
em prática o seu nome oficial. Guattari
e Rolnik (2010) argumentam que a
8
https://www.brasildefatorj.com.br/2019/03/30/
maior-chacina-da-historia-do-rio
-
anos
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
assassinadas em uma chacina
ocorrida na cidade de Nova Iguaçu e
de Queimados, ambas na região da
Baixada Fluminense, no ano de 2
005
8
.
Porém, a a realização do Sarau V
,
esse nome não era utilizado para a
Vale lembrar que foi apenas
quando Janaina Tavares foi à
prefeitura pedir autorização para a
realização da primeira edição do
Sarau, que ela descobriu o
nome de
Porém, o nome
direitos humanos era apenas um
“simulacro teórico” que olha de cima e
não se entrelaça aos fazeres espaciais
AU, 1994, p.
171).
Aquele lugar era delimitado e
enunciado como a Praça do Coliseu.
letramentos do Sarau
realizaram
uma intervenção espacial ali,
reescrevendo e colocando em prática
o nome oficial.“Se é a ação que
qualifica o espaço” (CERTEAU, 1994,
as práticas de
letramentos do Sarau que
reterritorializaram a praça, colocan
do
em prática o seu nome oficial. Guattari
e Rolnik (2010) argumentam que a
https://www.brasildefatorj.com.br/2019/03/30/
-
completa-14-
reterritorialização é indissociável da
desterritorialização. Trata
agenciamentos de humanos e de não
humanos em que
"a reterritorialização
consistirá numa tentativa de
recomp
osição de um território
engajado num processo
desterritorializante" (
ROLNIK, 2010, p.
Sarau V desterritorializa a Praça do
Coliseu, apenas como um lugar de
passagem ou dos skatistas, projetando
outra escala que reterritorializa o
e
spaço como Praça dos Direitos
Humanos.
Entendemos que esse
movimento de reterritorialização
realizado pelo Sarau V estabelece
uma relação intrínseca entre os
letramentos ali encenados e os direitos
humanos. Para compreendermos essa
relação, vale fazermos
aproximação entre as práticas
letramentos
do Sarau daquilo que o
crí
tico literário, Antônio Cândido
(1995), conceitua como sendo
literatura. Para o escritor, a literatura
(assim como toda e qualquer forma de
fabulação
todas as criações de
toque poético, ficcional ou dramático
em todos os níveis de uma sociedade”
(CÂNDIDO, 1995,
p.
63
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
reterritorialização é indissociável da
desterritorialização. Trata
-se de
agenciamentos de humanos e de não
-
"a reterritorialização
consistirá numa tentativa de
osição de um território
engajado num processo
desterritorializante" (
GUATTARI;
388). Assim, o
Sarau V desterritorializa a Praça do
Coliseu, apenas como um lugar de
passagem ou dos skatistas, projetando
outra escala que reterritorializa o
spaço como Praça dos Direitos
Entendemos que esse
movimento de reterritorialização
realizado pelo Sarau V estabelece
uma relação intrínseca entre os
letramentos ali encenados e os direitos
humanos. Para compreendermos essa
relação, vale fazermos
uma breve
aproximação entre as práticas
de
do Sarau daquilo que o
tico literário, Antônio Cândido
(1995), conceitua como sendo
literatura. Para o escritor, a literatura
(assim como toda e qualquer forma de
todas as criações de
toque poético, ficcional ou dramático
em todos os níveis de uma sociedade”
p.
188) é um
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
direito humano, pois permitiria
pessoas (re)inventarem
o cotidiano,
seja como um maneira de dar
aos sentimentos para libertação do
caos”, s
eja como “um instrumento
consciente de desmascaramento, pelo
fato de focalizar as situações de
restrição dos direitos, ou de negação
deles, como a miséria, a servidão”
(p.189).
Atentas às tensões entre
universais e as especificidades
culturais, Silva e Palma
(2018, p.
pensam os direitos humanos como
“um corpo discursivo de disputas, de
reivindicações e de aspirações” de
populações vulneráveis ao redor do
mundo. Alinhadas com essas autoras,
entendemos que os letramento
Sarau V são um corpo
discursivo que
reivindica a (res)significação
territórios e o direito à
cidade,reinventando
a escrita
alfabética universal de acordo com os
fazeres e demandas locais. Como é
narrada na escrita/cena,
(re)territorializar a praça é ficcionalizar
por meio
de uma profusão de escritas
multissemióticas (STREET, 2001) e
9
Como nos ensina Geertz (1978),
consideramos ficção “no sentido original de
fictio
como algo construído, algo modelado” e
não como um falseamento.
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
direito humano, pois permitiria
às
o cotidiano,
seja como um maneira de dar
“forma
aos sentimentos para libertação do
eja como “um instrumento
consciente de desmascaramento, pelo
fato de focalizar as situações de
restrição dos direitos, ou de negação
deles, como a miséria, a servidão”
Atentas às tensões entre
ideais
universais e as especificidades
(2018, p.
604)
pensam os direitos humanos como
“um corpo discursivo de disputas, de
reivindicações e de aspirações” de
populações vulneráveis ao redor do
mundo. Alinhadas com essas autoras,
entendemos que os letramento
s do
discursivo que
reivindica a (res)significação
dos
territórios e o direito à
a escrita
alfabética universal de acordo com os
fazeres e demandas locais. Como é
narrada na escrita/cena,
(re)territorializar a praça é ficcionalizar
9
de uma profusão de escritas
multissemióticas (STREET, 2001) e
Como nos ensina Geertz (1978),
consideramos ficção “no sentido original de
como algo construído, algo modelado” e
multissensórias (MILLS, 2016)
de fanzines, a biblioteca sonora com
seus amplificadores (do microfone ao
megafone), as projeções audiovisuais,
o giz no chão, o “pixo” (com X),
grafite
e o corpo que dança.
Para refletir sobre essa
diversidade de
escritas como práticas
de letramentos, lembraremos de
debates recentes deste campo. Nos
últimos quinze anos, os estudos dos
letramentos foram afetados pelo que
Mills (2016) chama
de “virada
pois as práticas de escritas foram
profundamente alteradas pelas
transformação das mídias e das
tecnologias, bem como pelas novas
formas de comunicação e de
interação. Ainda segundo Mills (2016),
as tecnologias digitais
pesquisas a co
dimensões sócio material e sensorial
não como algo periférico ou
complementar às escritas
contemporâneas, mas como algo
intrínseco
às práticas. Se o
Estudos dos Letramentos
a heterogeneidade de escritas e a
multimodalidade d
os textos (STREET,
2001; GEE, 1990; BARON
HAMILTON;
IVANIC, 2000; KLEIMAN,
2006;
ROJO, 2009)
64
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
multissensórias (MILLS, 2016)
– o varal
de fanzines, a biblioteca sonora com
seus amplificadores (do microfone ao
megafone), as projeções audiovisuais,
o giz no chão, o “pixo” (com X),
o
e o corpo que dança.
Para refletir sobre essa
escritas como práticas
de letramentos, lembraremos de
debates recentes deste campo. Nos
últimos quinze anos, os estudos dos
letramentos foram afetados pelo que
de “virada
digital”,
pois as práticas de escritas foram
profundamente alteradas pelas
transformação das mídias e das
tecnologias, bem como pelas novas
formas de comunicação e de
interação. Ainda segundo Mills (2016),
as tecnologias digitais
forçaram as
pesquisas a co
nsideraram as
dimensões sócio material e sensorial
não como algo periférico ou
complementar às escritas
contemporâneas, mas como algo
às práticas. Se o
s Novos
Estudos dos Letramentos
destacaram
a heterogeneidade de escritas e a
os textos (STREET,
2001; GEE, 1990; BARON
;
IVANIC, 2000; KLEIMAN,
ROJO, 2009)
ou seja, todo
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
texto é constituído por semioses
verbais e não-verbais –
, a virada digital
ênfase à materialidade e a
multissensorialidade
situada e
corporifi
cada dos letramentos, ou seja,
toda prática de escrita é uma prática
corporal sinestésica composta e
atravessada
por uma profusão de
matérias tangíveis. Em uma
perspectiva semiótica semelhante,
Kress (apud
MENEZES, 2001, p.170)
critica o “visualismo” e enf
sinestesia na construção de
significados:
Maneiras diferentes de construir o
significado envolvem formas
diferentes de engajamento corporal
com o mundo
isto é, não apenas
através da visão (...) mas também
através do tato, do olfato, do gosto,
da
sensação. (...) Essa habilidade e
esse fato da sinestesia é essencial
para que os seres humanos
compreendam o mundo.
Desse modo, a ênfase
sinestésica amplia as fronteiras do
conceito ocidental sobre ‘o que é’ e
‘como se’ produz a escrita. Nas cartas
à
rua, são encenadas muitas
sensações -
do frio da madrugada com
cheiro do Jet -
, lembrando
não é, apenas, a ‘visão’ o sentido
engajado
nos letramentos, o olfato
também participa das práticas de
escrita da praça. A foto que
acompanha a
carta “Ação no
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
texto é constituído por semioses
, a virada digital
ênfase à materialidade e a
situada e
cada dos letramentos, ou seja,
toda prática de escrita é uma prática
corporal sinestésica composta e
por uma profusão de
matérias tangíveis. Em uma
perspectiva semiótica semelhante,
MENEZES, 2001, p.170)
critica o “visualismo” e enf
atiza a
sinestesia na construção de
Maneiras diferentes de construir o
significado envolvem formas
diferentes de engajamento corporal
isto é, não apenas
através da visão (...) mas também
através do tato, do olfato, do gosto,
sensação. (...) Essa habilidade e
esse fato da sinestesia é essencial
para que os seres humanos
compreendam o mundo.
Desse modo, a ênfase
sinestésica amplia as fronteiras do
conceito ocidental sobre ‘o que é’ e
‘como se’ produz a escrita. Nas cartas
rua, são encenadas muitas
do frio da madrugada com
, lembrando
-nos que
não é, apenas, a ‘visão’ o sentido
nos letramentos, o olfato
também participa das práticas de
escrita da praça. A foto que
carta “Ação no
território”
traz a foto de uma camiseta utilizada
por uma jovem com a estampa em que
se lê: o Sarau
é a biblioteca sonora da
periferia.
Poderíamos dizer, então, que
a biblioteca do V
acentua a presença
dos corpos e da audição
espaço onde a leitura e
nada se aproximam das práticas que,
tradicionalmente, imaginamos como
aquelas pertencentes a uma biblioteca
espaço silencioso, onde se organiza
e se esquadrinha tradição. Com
Foucault (2009), poderíamos imaginar
a biblioteca sonora como um
em movimento, que está além dos
livros da civilização selecionados como
saberes sacralizados; uma biblioteca
onde há um alarido de sons e uma
pluralidade de vozes poéticas
daquelas que, na perspectiva colonial,
foram consideradas “sem
(FOUCAULT, 2009).
Além da multissensorialidade, o
Sarau nos permite refletir sobre a
dimensão sócio material e o
agenciamento dos objetos nas práticas
de leitura e de escrita. Não estamos
querendo dizer que objetos agem por
si só, mas que eles são determi
e
m um papel formativo na educação
e nos letramentos (MILLS, 2016;
DUSSEL, 2017). Na biblioteca sonora
65
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
traz a foto de uma camiseta utilizada
por uma jovem com a estampa em que
é a biblioteca sonora da
Poderíamos dizer, então, que
acentua a presença
dos corpos e da audição
em um
espaço onde a leitura e
a escrita em
nada se aproximam das práticas que,
tradicionalmente, imaginamos como
aquelas pertencentes a uma biblioteca
espaço silencioso, onde se organiza
e se esquadrinha tradição. Com
Foucault (2009), poderíamos imaginar
a biblioteca sonora como um
“arquivo”
em movimento, que está além dos
livros da civilização selecionados como
saberes sacralizados; uma biblioteca
onde há um alarido de sons e uma
pluralidade de vozes poéticas
daquelas que, na perspectiva colonial,
foram consideradas “sem
-história”
Além da multissensorialidade, o
Sarau nos permite refletir sobre a
dimensão sócio material e o
agenciamento dos objetos nas práticas
de leitura e de escrita. Não estamos
querendo dizer que objetos agem por
si só, mas que eles são determi
nantes
m um papel formativo na educação
e nos letramentos (MILLS, 2016;
DUSSEL, 2017). Na biblioteca sonora
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
do V, uma profusão de coisas
megafone, o microfone, os alto
o projetor, o giz, a caneta, o jet
compõem a cena, a identidade das
autoras e as formas de interação e de
ação coletiva,pois como encenamos
na carta “Rua, substantivo feminino”, o
microfone é aberto
, qualquer pessoa
que queira pode se expressar, se
expandir e tomar a palavra no espaço
público.
Palavras Finais
Fundamentada por uma prática
pedagógica dialógica que durou quase
todo o período de graduação em
Letras da, então, estudante Janaína
Tavares, construímos esta pequena
narrativa do Sarau V. Compreendemos
que essas práticas são
experiências
de extrema importância não só para os
campo de investigação e de estudos
dos letramentos, como também para a
própria escola. Compreender e
valorizar as práticas das juventudes
periféricas que têm lugar fora da
escola, principalmente, em territ
imaginados hegemonicamente como
desertos culturais e de letramentos, é
fundamental para que possamos
construir pedagogias mais sensíveis
às formas pelas quais as estudantes
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
do V, uma profusão de coisas
o
megafone, o microfone, os alto
-falante,
o projetor, o giz, a caneta, o jet
–que
compõem a cena, a identidade das
autoras e as formas de interação e de
ação coletiva,pois como encenamos
na carta “Rua, substantivo feminino”, o
, qualquer pessoa
que queira pode se expressar, se
expandir e tomar a palavra no espaço
Fundamentada por uma prática
pedagógica dialógica que durou quase
todo o período de graduação em
Letras da, então, estudante Janaína
Tavares, construímos esta pequena
narrativa do Sarau V. Compreendemos
experiências
de extrema importância não só para os
campo de investigação e de estudos
dos letramentos, como também para a
própria escola. Compreender e
valorizar as práticas das juventudes
periféricas que têm lugar fora da
escola, principalmente, em territ
órios
imaginados hegemonicamente como
desertos culturais e de letramentos, é
fundamental para que possamos
construir pedagogias mais sensíveis
às formas pelas quais as estudantes
mobilizam recursos simbólicos e
materiais específicos no interior de
suas com
unidades, estabelecendo
pontes (e não muros) entre saberes e
letramentos.
Em nossa polifonia textual,
endereçamos cartas à
terminamos este texto, lembrando da
etimologia de tal palavra, pois
entendemos que ela aponta não
para a relevância desses
para as sementes de esperança
presentes nos letramentos das
juventudes dos subúrbios, das favelas
e das periferias. N
o dicionário Oxford
encontramos a seguinte referência
etimologia da palavra rua: do
'ruga' (uma ‘dobra’ na pele em fo
de ‘sulco’). Isso porque as ruas na
Roma Antiga
tinham a função primária
de servir como canais de escoamento
das águas das chuvas.
Subsidiariamente, as ruas
funcionavam também como via de
circulação.
Nas cidades modernas,
porém, a prioridade da rua inv
Aproveitamos aqui a ideia de ‘dobra’ e
de ‘sulco’ como um traço que persiste
na rua das cidades modernas; um
traço que nos lembra que a rua não é
o local, apenas, de circulação, ela é
também um certo percurso de fuga
66
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
mobilizam recursos simbólicos e
materiais específicos no interior de
unidades, estabelecendo
pontes (e não muros) entre saberes e
Em nossa polifonia textual,
endereçamos cartas à
rua e
terminamos este texto, lembrando da
etimologia de tal palavra, pois
entendemos que ela aponta não
para a relevância desses
saberes, mas
para as sementes de esperança
presentes nos letramentos das
juventudes dos subúrbios, das favelas
o dicionário Oxford
encontramos a seguinte referência
à
etimologia da palavra rua: do
latim
'ruga' (uma ‘dobra’ na pele em fo
rma
de ‘sulco’). Isso porque as ruas na
tinham a função primária
de servir como canais de escoamento
das águas das chuvas.
Subsidiariamente, as ruas
funcionavam também como via de
Nas cidades modernas,
porém, a prioridade da rua inv
erteu-se.
Aproveitamos aqui a ideia de ‘dobra’ e
de ‘sulco’ como um traço que persiste
na rua das cidades modernas; um
traço que nos lembra que a rua não é
o local, apenas, de circulação, ela é
também um certo percurso de fuga
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
dos mapas hegemônicos; um per
onde a juventude ficcionaliza e “sonha
acordada” (BLOCH, 2006) com um
futuro melhor; uma dobra de
esperança onde nascem e florescem
letramentos periféricos que, em
alguma medida,
transformam
coletivamente as vidas precárias das
cidades, reterritorial
izam as projeções
escalares desiguais e reivindicam o
direito à cidade que, como coloca o
geógrafo e ativista David Harvey
(2012), é
mais do que a liberdade
individual para acessar os recursos
urbanos: é o direito de mudar a s
mesmos, mudando a cidade. T
da liberdade de recriar nossas
cidades e a nós mesmos
mais preciosos e dos mais
negligenciados
dos nossos direitos
humanos” (p.74)
Referências bibliográ
ficas
BAKHTIN, M.
Estética da criação
verbal
. São Paulo: Martins Fontes,
1997.
BARTON, D.; HAMILTON, M.; IVANIC,
R. (orgs.) S
ituated Literacies:
and wrintng in context.
Routledge, 2000.
BLOCK, E.
O Princípio da Esperança
Vol.III. Rio de Janeiro: Contraponto,
2006.
BLOMMAERT, J.
Grassroots literacies:
Writing, identity and voice in Central
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
dos mapas hegemônicos; um per
curso
onde a juventude ficcionaliza e “sonha
acordada” (BLOCH, 2006) com um
futuro melhor; uma dobra de
esperança onde nascem e florescem
letramentos periféricos que, em
transformam
coletivamente as vidas precárias das
izam as projeções
escalares desiguais e reivindicam o
direito à cidade que, como coloca o
geógrafo e ativista David Harvey
mais do que a liberdade
individual para acessar os recursos
urbanos: é o direito de mudar a s
mesmos, mudando a cidade. T
rata-se
da liberdade de recriar nossas
cidades e a nós mesmos
– um dos
mais preciosos e dos mais
dos nossos direitos
ficas
Estética da criação
. São Paulo: Martins Fontes,
BARTON, D.; HAMILTON, M.; IVANIC,
ituated Literacies:
Reading
and wrintng in context.
Londres:
O Princípio da Esperança
.
Vol.III. Rio de Janeiro: Contraponto,
Grassroots literacies:
Writing, identity and voice in Central
Africa.
London: Routledge, 2008.
CANDIDO, A. O direito à literatura. In:
____.
Vários Escritos
ampl. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
p. 235 – 263.
CARR, E.; LEMPERT, M., (orgs.).
Scale:
Discourse and
Social Life.
Berkeley: University of
California Press, 2016.
CERTEAU, M. de.
cotidiano.
Vol. 1: Artes de fazer
Petrópolis: Vozes, 1994.
CHIMAMANDA, A.
O perigo de uma
história única
. 2010. Disponível em:
https://www.geledes.o
a-adichie-o-perigo-de
-
historia/. Acesso em: 04 set. 2020.
DUSSEL, I. Sobre a precariedade da
escola. In: LARROSA, J.
escolar
(org.) Belo Horizonte:Autêntica
Editora, 2017. p. 87-
112.
FOUCAULT, M. Outros Espaços. In:
Foucault, M.
Estética. Literatura,
pintura, música e cinema
Janeiro: Forense Universitária, 2009.
GALEANO, E.
Dias e Noites de Amor
e Guerra.
São Paulo: L&PM, 2001.
GEE, J.
Social Linguistics and
literacies.
Ideologies in Discourses
Hampshire: The Flamer Press, 1990.
GEERTZ, Cl. Interpretação das
Culturas. Rio de Janeiro, Zahar, 1978.
GOFFMAN, E.
A representação do eu
na vida cotidiana
. Petrópolis: Vozes,
1985.
GUATTARI, F.; RONILK,
. Micropolítica:
cartografias do desejo.
Rio de
Janeiro: Vozes, 2010
HARRYS, R.
Rethinking Writing
London: Continuum, 2000.
HARVEY, David. O Direito à cidade.
Lutas Sociais
, São Paulo, n.29, p.73
67
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
London: Routledge, 2008.
CANDIDO, A. O direito à literatura. In:
Vários Escritos
. 3. ed. rev, e
ampl. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
CARR, E.; LEMPERT, M., (orgs.).
Discourse and
Dimensions of
Berkeley: University of
California Press, 2016.
CERTEAU, M. de.
A invenção do
Vol. 1: Artes de fazer
.
Petrópolis: Vozes, 1994.
O perigo de uma
. 2010. Disponível em:
https://www.geledes.o
rg.br/chimamand
-
uma-unica-
historia/. Acesso em: 04 set. 2020.
DUSSEL, I. Sobre a precariedade da
escola. In: LARROSA, J.
Elogio da
(org.) Belo Horizonte:Autêntica
112.
FOUCAULT, M. Outros Espaços. In:
Estética. Literatura,
pintura, música e cinema
. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2009.
Dias e Noites de Amor
São Paulo: L&PM, 2001.
Social Linguistics and
Ideologies in Discourses
.
Hampshire: The Flamer Press, 1990.
GEERTZ, Cl. Interpretação das
Culturas. Rio de Janeiro, Zahar, 1978.
A representação do eu
. Petrópolis: Vozes,
GUATTARI, F.; RONILK,
cartografias do desejo.
Janeiro: Vozes, 2010
.
Rethinking Writing
.
London: Continuum, 2000.
HARVEY, David. O Direito à cidade.
, São Paulo, n.29, p.73
-
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
cidade. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 51-68
, março 2021.
89, jul./dez. 2012. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php
/272071/mod_resource/content/1/david
-
harvey%20direito%20a%20cidade%20
.pdf. Acesso em: 4 set. 2020.
HB, HERALDO.
O Cerol fininho da
Baixada.
Histórias do cineclube Mate
com Angu.
Rio de Janeiro: Aeroplano,
2013.
KLEIMAN, A.; ASSIS, Juliana. (orgs.).
Significados e ressignificações do
letramento:
desdobramentos de uma
perspectiva sociocultural sobre a
escrita.
Campinas: Mercado de Letras,
2016.
KLEIMAN, Angela B. Introdução:
Model
os de letramento e as práticas
de alfabetização na
escola. In:
KLEIMAN, Angela B. (org.).
significados do letramento:
perspectiva sobre a prática social da
escrita.
Campinas: Mercado de Letras,
1995. p. 15-61.
KRESS, G.; VAN LEEUWEN, T.
Reading images:
the grammar of visual
design. Nova York: Routledge, 1996.
LOPES, Adriana; FACINA, Adriana ;
SILVA, Daniel.
em Pingo d’água.
Sobrevivência, Cultura e Linguagem.
Rio de Janeiro: Mórula; Florianópolis:
Insular, 2019.
LOPES, Adriana
Desregulamentando dicotomias:
transletamentos, sobrevivências,
nascimentos.
Trabalhos em Linguística
Aplicada
, Campinas, v. 56, n. 3, p.
753-780, 2017.
MAIA, Junot.
Fogos digitais:
Letramentos de sobrevivência no
Complexo do Alemão/RJ
(Doutorado em
Linguística Aplicada).
Universidade Estadual de Campinas,
Campinas, 2017.
LOPES, Adriana C.; TAVARES, Janaina. "Os saraus são as bibliotecas
sonoras as periferias": uma narrativa sobre letramentos e o direito à
Americana de Estudos em Cultura,
, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
89, jul./dez. 2012. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php
/272071/mod_resource/content/1/david
harvey%20direito%20a%20cidade%20
.pdf. Acesso em: 4 set. 2020.
O Cerol fininho da
Histórias do cineclube Mate
Rio de Janeiro: Aeroplano,
KLEIMAN, A.; ASSIS, Juliana. (orgs.).
Significados e ressignificações do
desdobramentos de uma
perspectiva sociocultural sobre a
Campinas: Mercado de Letras,
KLEIMAN, Angela B. Introdução:
os de letramento e as práticas
escola. In:
KLEIMAN, Angela B. (org.).
Os
significados do letramento:
uma nova
perspectiva sobre a prática social da
Campinas: Mercado de Letras,
KRESS, G.; VAN LEEUWEN, T.
the grammar of visual
design. Nova York: Routledge, 1996.
LOPES, Adriana; FACINA, Adriana ;
em Pingo d’água.
Sobrevivência, Cultura e Linguagem.
Rio de Janeiro: Mórula; Florianópolis:
et al.
Desregulamentando dicotomias:
transletamentos, sobrevivências,
Trabalhos em Linguística
, Campinas, v. 56, n. 3, p.
Fogos digitais:
Letramentos de sobrevivência no
Complexo do Alemão/RJ
. Tese
Linguística Aplicada).
Universidade Estadual de Campinas,
MENEZES DE SOUZA, Lynn Mario.
Para uma ecologia da escrita indígena:
A escrita multimodal kaxinawá. In:
SIGNORINI, Inês (org.).
relação oral/escrito e as teorias do
letramento.
Campinas: Mercado de
Letras, 2001. p. 167-
192.
MIGNOLO, W. D.
global designs: Coloniality, subaltern
knowledges and border thinking
Princeton: Princeton University Press,
2000.
NASCIMENTO, E. P. do.
nosso! Produção Cultural na periferia
paulistana.
Tese (Doutorado em
Antropologia).
Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2011.
RIO, João do. A rua. In:
encantadora das ruas
Companhia das Letras, 2008.
SCOLLON, R.; SCOLLON S.W.
I
ntercultural communication
Blacweel, 1995.
68
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
MENEZES DE SOUZA, Lynn Mario.
Para uma ecologia da escrita indígena:
A escrita multimodal kaxinawá. In:
SIGNORINI, Inês (org.).
Investigando a
relação oral/escrito e as teorias do
Campinas: Mercado de
192.
MIGNOLO, W. D.
Local histories/
global designs: Coloniality, subaltern
knowledges and border thinking
.
Princeton: Princeton University Press,
NASCIMENTO, E. P. do.
É tudo
nosso! Produção Cultural na periferia
Tese (Doutorado em
Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2011.
RIO, João do. A rua. In:
A alma
encantadora das ruas
. São Paulo:
Companhia das Letras, 2008.
SCOLLON, R.; SCOLLON S.W.
ntercultural communication
. Oxford:
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África
como uma prática educacional antirracista
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
Resumo:
O artigo analisará a realização de uma visita técnica com alunos de ensino médio à Região
da Pequena África no município do Rio de Janeiro. Tal ação foi elaborada como atividade de estágio
curricular
obrigatório de dois estudantes de licenciatura em História na Universidade Federal
Fluminense em conjunto com a docente do Instituto Federal do Rio de Janeiro, ambos autores do
artigo. Abordando o passado escravocrata brasileiro e o contexto de permanente
propomos uma reflexão acerca de práticas educacionais comprometidas com a promoção dos
Direitos Humanos. Compreendendo o contexto de ataques à educação democrática e também ao
Ensino de História, optamos por compartilhar a experiência dest
a educação como possibilidade de práticas antirracistas.
Palavras-chave:
Pequena África; educação a
Hacer escuchar canciones de alegría y solucionar el dolor:
práctica educativa antiracista
Resumen:
El artículo analizará una visita técnica con estudiantes de secundaria a la región de Little
Africa en el municipio de Río de Janeiro. Esta acción fue diseñada como una actividad d
curricular obligatoria para dos estudiantes de la licenciatura en Historia de la Universidade Federal
Fluminense junto con la profesora del Instituto Federal de Río de Janeiro, ambos autores del artículo.
Abordando el pasado de la esclavitud bra
proponemos una reflexión sobre las prácticas educativas comprometidas con la promoción de los
1
Pâmella Santos dos Passos. D
outora em História pela U
(UFF).
Professora de História do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio de
Janeiro (IFRJ), com estágio de pós
Social/ Museu Nacional/ UFRJ (2014), atualmente pós
em Educação da UFF, Brasil. E-
mail:
6100
2
Pedro Souza. Mestrando em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
E-
mail: pedroh_souza@outlook.com.br
3
Sandrine Alves Barros da Silva. Graduada em História pela Universidade Federal Fluminense. Foi
bolsista de iniciação científica pelo Museu de Astronomia e Ciências Afin
mail: sandrinebsilva@gmail.com
Texto recebido em 15/09/20
20
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África
como uma prática educacional antirracista
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
46209
Pâmella
Sandrine Barros da Silva
O artigo analisará a realização de uma visita técnica com alunos de ensino médio à Região
da Pequena África no município do Rio de Janeiro. Tal ação foi elaborada como atividade de estágio
obrigatório de dois estudantes de licenciatura em História na Universidade Federal
Fluminense em conjunto com a docente do Instituto Federal do Rio de Janeiro, ambos autores do
artigo. Abordando o passado escravocrata brasileiro e o contexto de permanente
propomos uma reflexão acerca de práticas educacionais comprometidas com a promoção dos
Direitos Humanos. Compreendendo o contexto de ataques à educação democrática e também ao
Ensino de História, optamos por compartilhar a experiência dest
a visita para assim afirmar a escola e
a educação como possibilidade de práticas antirracistas.
Pequena África; educação a
ntirracista; direitos
humanos; experiência; i
Hacer escuchar canciones de alegría y solucionar el dolor:
la visita a la Pequeña África como
El artículo analizará una visita técnica con estudiantes de secundaria a la región de Little
Africa en el municipio de Río de Janeiro. Esta acción fue diseñada como una actividad d
curricular obligatoria para dos estudiantes de la licenciatura en Historia de la Universidade Federal
Fluminense junto con la profesora del Instituto Federal de Río de Janeiro, ambos autores del artículo.
Abordando el pasado de la esclavitud bra
sileña y el contexto de racismo permanente en el país,
proponemos una reflexión sobre las prácticas educativas comprometidas con la promoción de los
outora em História pela U
niversidade Federal F
luminense
Professora de História do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio de
Janeiro (IFRJ), com estágio de pós
-doutorado pelo Programa de Pós-
Graduação em Antropologia
Social/ Museu Nacional/ UFRJ (2014), atualmente pós
-
doutoranda do Programa d
mail:
pamella.passos@ifrj.edu.br -
https://orcid.org/0000
Pedro Souza. Mestrando em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
mail: pedroh_souza@outlook.com.br
- https://orcid.org/0000-0002-7534-1200.
Sandrine Alves Barros da Silva. Graduada em História pela Universidade Federal Fluminense. Foi
bolsista de iniciação científica pelo Museu de Astronomia e Ciências Afin
s, Rio de Janeiro, Brasil. E
- https://orcid.org/0000-0002-3978-1081
20
, aceito para publicação em 12/10/2020
e disponibilizado online
em 01/03/2021.
69
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África
Pâmella
Passos
1
Pedro Souza
2
Sandrine Barros da Silva
3
O artigo analisará a realização de uma visita técnica com alunos de ensino médio à Região
da Pequena África no município do Rio de Janeiro. Tal ação foi elaborada como atividade de estágio
obrigatório de dois estudantes de licenciatura em História na Universidade Federal
Fluminense em conjunto com a docente do Instituto Federal do Rio de Janeiro, ambos autores do
artigo. Abordando o passado escravocrata brasileiro e o contexto de permanente
racismo no país,
propomos uma reflexão acerca de práticas educacionais comprometidas com a promoção dos
Direitos Humanos. Compreendendo o contexto de ataques à educação democrática e também ao
a visita para assim afirmar a escola e
humanos; experiência; i
dentidade.
la visita a la Pequeña África como
El artículo analizará una visita técnica con estudiantes de secundaria a la región de Little
Africa en el municipio de Río de Janeiro. Esta acción fue diseñada como una actividad d
e pasantía
curricular obligatoria para dos estudiantes de la licenciatura en Historia de la Universidade Federal
Fluminense junto con la profesora del Instituto Federal de Río de Janeiro, ambos autores del artículo.
sileña y el contexto de racismo permanente en el país,
proponemos una reflexión sobre las prácticas educativas comprometidas con la promoción de los
luminense
Professora de História do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio de
Graduação em Antropologia
doutoranda do Programa d
e Pós-Graduação
https://orcid.org/0000
-0001-9759-
Pedro Souza. Mestrando em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
, Brasil.
Sandrine Alves Barros da Silva. Graduada em História pela Universidade Federal Fluminense. Foi
s, Rio de Janeiro, Brasil. E
-
e disponibilizado online
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
Derechos Humanos. Entendiendo el contexto de los ataques a la educación democrática y también a
la Enseñanz
a de la Historia, optamos por compartir la experiencia de esta visita para afirmar la
escuela y la educación como posibilidad de prácticas antirracistas.
Palabras clave
: Pequeña África; e
M
aking happy chants and hiccupsf pain be heard: a visiting experience to the Little Africa
region with history undergraduate licentiate and technical high
Abstract:
The present article aims to analyze a technical visit to the Little Africa
high-
school students in Rio de Janeiro municipality. This action featured part of the curricular
internship supervised practice by two History undergraduate licentiate students from the Federal
Fluminense University. They co
-
Federal Institute of Rio de Janeiro. Owing to the past Brazilian slavery system and the remaining
racism in the country, we intend to put forward a reflection over the History teaching practice an
relationship with the promotion of Human Rights. Amidst the context of attacks against democratic
education and History teaching, we are going to share this visiting experience in order to make a case
for school and education as a possibility for ant
Keywords: Little Africa; anti-
racist
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor: a visita
como uma prática educacional antirracista
1. Contextualizando
a visita
Iniciamos este trabalho
afirmando nosso
compromisso com
uma educação antirracista, nos termos
apresentados por Djamila Ribeiro em
seu Pequeno Manual antirracista
(2019). Como autora aponta, são
necessários alguns passos que podem
parecer simples, mas que a
implementados abalam as estruturas
racistas deste país.
Nesse sentido, privilegiamos
uma prática pedagógica que dialoga
com
a agenda dos movimen
e sociais, bem como se compromete a
cumprir as demandas referendadas
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Derechos Humanos. Entendiendo el contexto de los ataques a la educación democrática y también a
a de la Historia, optamos por compartir la experiencia de esta visita para afirmar la
escuela y la educación como posibilidad de prácticas antirracistas.
: Pequeña África; e
ducación antirracista;
derechos humanos; experiencia; i
aking happy chants and hiccupsf pain be heard: a visiting experience to the Little Africa
region with history undergraduate licentiate and technical high
-
school students
The present article aims to analyze a technical visit to the Little Africa
school students in Rio de Janeiro municipality. This action featured part of the curricular
internship supervised practice by two History undergraduate licentiate students from the Federal
-
author th
is manuscript together with the supervisor teacher from the
Federal Institute of Rio de Janeiro. Owing to the past Brazilian slavery system and the remaining
racism in the country, we intend to put forward a reflection over the History teaching practice an
relationship with the promotion of Human Rights. Amidst the context of attacks against democratic
education and History teaching, we are going to share this visiting experience in order to make a case
for school and education as a possibility for ant
i-racist practices.
racist
education; human rights; experience; identity.
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor: a visita
à Pequena África
como uma prática educacional antirracista
a visita
Iniciamos este trabalho
compromisso com
uma educação antirracista, nos termos
apresentados por Djamila Ribeiro em
seu Pequeno Manual antirracista
(2019). Como autora aponta, são
necessários alguns passos que podem
parecer simples, mas que a
o serem
implementados abalam as estruturas
Nesse sentido, privilegiamos
uma prática pedagógica que dialoga
a agenda dos movimen
tos negros
e sociais, bem como se compromete a
cumprir as demandas referendadas
pelas leis
10.639 e 11.
sancionadas, respectivamente, em
1996 e 2008, que tornam obrigatório o
ensino de história e cultura
africana/afro-
brasileira e indígena nos
segmentos da educação básica.
Explicitamos assim os vieses de
compromisso e legalidade que
marcam nossa ação, a
importante num contexto de ataques
aos
professores, em especial ao das
áreas das ciências humanas, e suas
práticas de educação democrática em
prol dos direitos humanos (PENNA,
2016).
70
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Derechos Humanos. Entendiendo el contexto de los ataques a la educación democrática y también a
a de la Historia, optamos por compartir la experiencia de esta visita para afirmar la
derechos humanos; experiencia; i
dentidad.
aking happy chants and hiccupsf pain be heard: a visiting experience to the Little Africa
school students
The present article aims to analyze a technical visit to the Little Africa
region with technical
school students in Rio de Janeiro municipality. This action featured part of the curricular
internship supervised practice by two History undergraduate licentiate students from the Federal
is manuscript together with the supervisor teacher from the
Federal Institute of Rio de Janeiro. Owing to the past Brazilian slavery system and the remaining
racism in the country, we intend to put forward a reflection over the History teaching practice an
d its
relationship with the promotion of Human Rights. Amidst the context of attacks against democratic
education and History teaching, we are going to share this visiting experience in order to make a case
à Pequena África
10.639 e 11.
645,
sancionadas, respectivamente, em
1996 e 2008, que tornam obrigatório o
ensino de história e cultura
brasileira e indígena nos
segmentos da educação básica.
Explicitamos assim os vieses de
compromisso e legalidade que
marcam nossa ação, a
specto
importante num contexto de ataques
professores, em especial ao das
áreas das ciências humanas, e suas
práticas de educação democrática em
prol dos direitos humanos (PENNA,
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
Dito isto, analisaremos uma
visita técnica à região da Pequena
Áf
rica, localizada na Zona Portuária do
Rio de Janeiro, elaborada pelos
autores deste artigo, dois estudantes
de licenciatura em História sob a
supervisão de uma docente regente da
turma de Ensino Médio Técnico que
realizou tal visita. Os estudantes,
jovens
entre 17 e 20 anos, são alunos
e alunas do Instituto Federal de
Educação, Tecnologia e Ciência do
Rio de Janeiro (IFRJ)
Campus Rio
de Janeiro, situado no bairro
Maracanã. Tal visitação tomou por
base a organização proposta pelo
aplicativo “Passados Pres
idealizado pelas pesquisadoras Hebe
Mattos, Martha Abreu e Keila Grinberg,
adaptada ao tempo disponível e
possibilidades de deslocamento
Cabe destacar que nomeamos
de “visita técnica” o que diversas
instituições chamam de “aula
porém,
para o contexto de uma
instituição de formação técnica
profissional, como o IFRJ, optamos por
fazer uso do termo utilizado na
instituição para registrar as saídas dos
4
Disponível em:
https://play.google.com/store/apps/details?id=c
om.passadospresentes.peqafrica. Acesso em:
18 jul. 2020.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Dito isto, analisaremos uma
visita técnica à região da Pequena
rica, localizada na Zona Portuária do
Rio de Janeiro, elaborada pelos
autores deste artigo, dois estudantes
de licenciatura em História sob a
supervisão de uma docente regente da
turma de Ensino Médio Técnico que
realizou tal visita. Os estudantes,
entre 17 e 20 anos, são alunos
e alunas do Instituto Federal de
Educação, Tecnologia e Ciência do
Campus Rio
de Janeiro, situado no bairro
Maracanã. Tal visitação tomou por
base a organização proposta pelo
aplicativo “Passados Pres
entes”,
idealizado pelas pesquisadoras Hebe
Mattos, Martha Abreu e Keila Grinberg,
adaptada ao tempo disponível e
possibilidades de deslocamento
4
.
Cabe destacar que nomeamos
de “visita técnica” o que diversas
instituições chamam de “aula
-passeio”,
para o contexto de uma
instituição de formação técnica
profissional, como o IFRJ, optamos por
fazer uso do termo utilizado na
instituição para registrar as saídas dos
https://play.google.com/store/apps/details?id=c
om.passadospresentes.peqafrica. Acesso em:
estudantes a fim de proporcionar
conhecimentos práticos de campo e no
campo, nas diversas
roteiro elaborado uniu Cais do
Valongo/da Imperatriz, Pedra do Sal, o
Jardim Suspenso do Valongo, e o
Instituto dos Pretos Novos, nesta
ordem de visitação. Tornando possível
ouvir tanto os cantos de alegria,
reverberado ainda hoje na Pedra
Sal, como os soluçares de dor,
cravados nas pedras do Valongo e nas
terras do antigo cemitério de negros e
negras, aludindo à famosa canção de
Clara Nunes
5
.
De forma resumida
escravizados e não escravos,
abordando práticas culturais, festa
alegrias, mas também açoites e
perversidades pretendemos dar
visibilidade à
opressão e resistência
vivida pelos negros e negras que aqui
chegaram após seu sequestro em
suas terras natais.
As salas
céu aberto que visitamos
complementavam e mate
temáticas abordadas na sala
formal.
5
DUARTE, Mauro; PINHEIRO, Paulo César.
Canto das Três Raças. In: NUNES, Clara.
Canto das Três Raças.
Rio de Janeiro: EMI
Odeon, 1976. LP. Faixa 1.
71
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
estudantes a fim de proporcionar
conhecimentos práticos de campo e no
campo, nas diversas
disciplinas. O
roteiro elaborado uniu Cais do
Valongo/da Imperatriz, Pedra do Sal, o
Jardim Suspenso do Valongo, e o
Instituto dos Pretos Novos, nesta
ordem de visitação. Tornando possível
ouvir tanto os cantos de alegria,
reverberado ainda hoje na Pedra
do
Sal, como os soluçares de dor,
cravados nas pedras do Valongo e nas
terras do antigo cemitério de negros e
negras, aludindo à famosa canção de
De forma resumida
ao falar em
escravizados e não escravos,
abordando práticas culturais, festa
s,
alegrias, mas também açoites e
perversidades pretendemos dar
opressão e resistência
vivida pelos negros e negras que aqui
chegaram após seu sequestro em
As salas
de aula a
céu aberto que visitamos
complementavam e mate
rializavam as
temáticas abordadas na sala
de aula
DUARTE, Mauro; PINHEIRO, Paulo César.
Canto das Três Raças. In: NUNES, Clara.
Rio de Janeiro: EMI
-
Odeon, 1976. LP. Faixa 1.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
Cabe destacar que a atividade
foi f
ruto de um estágio de Pesquisa e
Prática de Ensino celebrado entre a
Universidade Federal Fluminense
(UFF) e o Instituto Federal do Rio de
Janeiro (IFRJ), e demonstra, também,
a importância deste espaço para a
formação de professores capazes de
ampliar vis
ões de mundo e estimular
sensibilidade frente à
s dificuldades
que surgem durante o magistério.
Trata-
se de um trabalho que gera
trocas e aprendizados, entre alunos
secundaristas, professores e
licenciandos.
2.
A Escola como fábula,
perversidade e possibilida
pensamentos sobre educação
É recorrente em nossa
sociedade uma visão na qual a escola
aparece como a grande salvadora dos
problemas sociais. Seria este o
caminho? Para analisar uma ação
produzida dentro de um contexto
escolar, uma visita técnica à reg
Pequena África, propomos um breve
diálogo com Milton Santos para situar
a concepção educacional de onde
partimos.
Em sua reconhecida obra “Por
uma outra globalização: do
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Cabe destacar que a atividade
ruto de um estágio de Pesquisa e
Prática de Ensino celebrado entre a
Universidade Federal Fluminense
(UFF) e o Instituto Federal do Rio de
Janeiro (IFRJ), e demonstra, também,
a importância deste espaço para a
formação de professores capazes de
ões de mundo e estimular
s dificuldades
que surgem durante o magistério.
se de um trabalho que gera
trocas e aprendizados, entre alunos
secundaristas, professores e
A Escola como fábula,
perversidade e possibilida
de:
pensamentos sobre educação
É recorrente em nossa
sociedade uma visão na qual a escola
aparece como a grande salvadora dos
problemas sociais. Seria este o
caminho? Para analisar uma ação
produzida dentro de um contexto
escolar, uma visita técnica à reg
ião da
Pequena África, propomos um breve
diálogo com Milton Santos para situar
a concepção educacional de onde
Em sua reconhecida obra “Por
uma outra globalização: do
pensamento único à consciência
universal”, Santos (2006) analisa o
processo de
globalização a partir de
três prismas: 1) a globalização como
fábula: como nos fazem ver, 2) a
globalização como perversidade:
assim como ela é, e 3) a globalização
como possibilidade: os usos possíveis
dos avanços gerados por este
processo.
Pensar a edu
especial a escola dialogando com esta
imagem trazida por Milton Santos nos
permite refletir sobre a instituição
escolar a partir de suas práticas e não
de forma estática. Nesse sentido,
cientes das dificuldades das escolas
básicas brasileiras e
profissionais, sobretudo da rede
pública, temos o cuidado de
compreender que a possibilidade de
realização de visitas-
técnicas ou aulas
passeio é algo bastante restrito, quase
uma fábula para diversas realidades.
Identificamos que, em especial
no qu
e tange a área de História, a
prevalência ainda é de uma escola
dividida em disciplinas,com ênfase nos
conteúdos históricos e não em práticas
que possibilitassem a compreensão
histórica no espaço
estudantes. Nesse sentido, a escola
72
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
pensamento único à consciência
universal”, Santos (2006) analisa o
globalização a partir de
três prismas: 1) a globalização como
fábula: como nos fazem ver, 2) a
globalização como perversidade:
assim como ela é, e 3) a globalização
como possibilidade: os usos possíveis
dos avanços gerados por este
Pensar a edu
cação e em
especial a escola dialogando com esta
imagem trazida por Milton Santos nos
permite refletir sobre a instituição
escolar a partir de suas práticas e não
de forma estática. Nesse sentido,
cientes das dificuldades das escolas
básicas brasileiras e
seus
profissionais, sobretudo da rede
pública, temos o cuidado de
compreender que a possibilidade de
técnicas ou aulas
-
passeio é algo bastante restrito, quase
uma fábula para diversas realidades.
Identificamos que, em especial
e tange a área de História, a
prevalência ainda é de uma escola
dividida em disciplinas,com ênfase nos
conteúdos históricos e não em práticas
que possibilitassem a compreensão
histórica no espaço
-tempo com os
estudantes. Nesse sentido, a escola
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
apresenta-s
e como perversidade,
reduzindo, e por vezes anulando, as
experiências históricas dos sujeitos de
aprendizagem.
No entanto, compreendemos
que a experiência que trazemos neste
artigo é um exemplo da escola como
possibilidade. Uma escola que
caminha pela cid
ade, que se faz entre
a educação básica e o ensino superior,
no encontro de estudantes de
licenciatura em história com
estudantes do Ensino Médio Técnico
na área de química mediados por uma
professora
que, não apenas ensina,
mas que constantemente aprende.
Nesse contexto de encontro, é
importante destacar a compreensão
compartilhada pelos autores deste
artigo, e que também foram fazedores
da experiência da visita técnica aqui
analisada, acerca do papel da
educação na promoção dos Direitos
Humanos, em espe
cial no contexto
brasileiro. Na Declaração Universal
dos Direitos Humanos, documento
produzido pela Organização das
Nações Unidas e aceito
universalmente, encontramos que tais
direitos devem se apresentar “como o
ideal comum a ser atingido por todos
os pov
os e todas as nações, com o
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
e como perversidade,
reduzindo, e por vezes anulando, as
experiências históricas dos sujeitos de
No entanto, compreendemos
que a experiência que trazemos neste
artigo é um exemplo da escola como
possibilidade. Uma escola que
ade, que se faz entre
a educação básica e o ensino superior,
no encontro de estudantes de
licenciatura em história com
estudantes do Ensino Médio Técnico
na área de química mediados por uma
que, não apenas ensina,
mas que constantemente aprende.
Nesse contexto de encontro, é
importante destacar a compreensão
compartilhada pelos autores deste
artigo, e que também foram fazedores
da experiência da visita técnica aqui
analisada, acerca do papel da
educação na promoção dos Direitos
cial no contexto
brasileiro. Na Declaração Universal
dos Direitos Humanos, documento
produzido pela Organização das
Nações Unidas e aceito
universalmente, encontramos que tais
direitos devem se apresentar “como o
ideal comum a ser atingido por todos
os e todas as nações, com o
objetivo de que cada indivíduo e cada
órgão da sociedade, tendo sempre em
mente esta Declaração, se esforce,
através do ensino e da educação
por promover o respeito a esses
direitos e liberdades” (ONU, p.
dos autores).
Dialogando com a Declaração
das Nações Unidas de 1948 e com o
contexto político brasileiro de ataques
aos direitos humanos, trazemos um
material elaborado também pelo IFRJ,
e que foi um desdobramento da visita
técnica feita com os estudantes à
região da
Pequena África. Trata
uma História em Quadrinhos (HQ),
produzida no âmbito do projeto de
extensão “Educação e Direitos
Humanos: o IFRJ em tempos de
conservadorismo”, ação que foi
agraciada com o Prêmio Paulo Freire
da Assembleia Legislativa do Estad
do Rio de Janeiro em 2019 e que foi
traduzida para inglês e espanhol.
(PASSOS; MULICO; MORGAN,
73
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
objetivo de que cada indivíduo e cada
órgão da sociedade, tendo sempre em
mente esta Declaração, se esforce,
através do ensino e da educação
,
por promover o respeito a esses
direitos e liberdades” (ONU, p.
4, grifo
Dialogando com a Declaração
das Nações Unidas de 1948 e com o
contexto político brasileiro de ataques
aos direitos humanos, trazemos um
material elaborado também pelo IFRJ,
e que foi um desdobramento da visita
técnica feita com os estudantes à
Pequena África. Trata
-se de
uma História em Quadrinhos (HQ),
produzida no âmbito do projeto de
extensão “Educação e Direitos
Humanos: o IFRJ em tempos de
conservadorismo”, ação que foi
agraciada com o Prêmio Paulo Freire
da Assembleia Legislativa do Estad
o
do Rio de Janeiro em 2019 e que foi
traduzida para inglês e espanhol.
(PASSOS; MULICO; MORGAN,
2019).
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
Imagem 1
Disponível em
https://www.facebook.com/ensino.dh/photos/a.249895322041700/816170482080845.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Imagem 1
- História em Quadrinhos produzida pelo IFRJ
https://www.facebook.com/ensino.dh/photos/a.249895322041700/816170482080845.
Acesso em: 15/07/2020.
74
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
https://www.facebook.com/ensino.dh/photos/a.249895322041700/816170482080845.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
Como informado no primeiro
quadrinho da HQ, o Cais do Valongo,
local pertencente à região da Pequena
África, foi reconhecido como
Patrimônio Cultural pela
reforçando a importância de sua
preservação e divulgação. A ilustração
reproduz cenas de uma
visita técnica
como a que analisaremos aqui, onde
foi possível tecer importantes
discussões sobre passados e
presente.
Retomando a ideia da escola
como possibilidade, ressaltamos a
importância da abertura para o
encontro, para a produção em diálogo
com o
s saberes e experiências
produzidos fora e para além da
instituição escolar. Nesse movimento,
os muros da escola vão ruindo e
durante este processo ela torna
“mais permeável ao contexto social e
suas influências” (DAYRELL, 2007, p.
1115). Com o progress
fortalecimento dos movimentos sociais
das minorias, as problemáticas
levantadas por estes passam a
permear as pautas das salas de aula,
em diversas ocasiões, inclusive, sendo
temáticas levantadas pelos e pelas
estudantes.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Como informado no primeiro
quadrinho da HQ, o Cais do Valongo,
local pertencente à região da Pequena
África, foi reconhecido como
Patrimônio Cultural pela
UNESCO,
reforçando a importância de sua
preservação e divulgação. A ilustração
visita técnica
como a que analisaremos aqui, onde
foi possível tecer importantes
discussões sobre passados e
Retomando a ideia da escola
como possibilidade, ressaltamos a
importância da abertura para o
encontro, para a produção em diálogo
s saberes e experiências
produzidos fora e para além da
instituição escolar. Nesse movimento,
os muros da escola vão ruindo e
durante este processo ela torna
-se
“mais permeável ao contexto social e
suas influências” (DAYRELL, 2007, p.
1115). Com o progress
ivo
fortalecimento dos movimentos sociais
das minorias, as problemáticas
levantadas por estes passam a
permear as pautas das salas de aula,
em diversas ocasiões, inclusive, sendo
temáticas levantadas pelos e pelas
É neste contexto, no qual os
muros das escolas vão ruindo, que a
lei 10.639/96 pode ser analisada. Após
intensas lutas, uma vitória dos
movimentos negros. A lei estabelece a
obrigatoriedade do ensino sobre
História e Cultura Afro
como a lei 11.645/08, que altera a
10.639/96 e inclui também o ensino da
História e Culturas indígenas no
currículo escolar. A partir destas leis, o
que era observado como prática de
alguns professores tornou
obrigatório. Novos desafios são
impostos, como ampliar a formação
destes
educadores no nível superior,
bem como revisar detalhadamente o
material escolar utilizado nas salas
aula.
3.
“Infeliz do povo que não sabe de
onde vem”
6
“É verdade que o africano, o
afrodescendente e o povo da floresta,
que se encontravam aqui pelo
menos dez mil anos foram os maiores
sofredores da globalização moderna.
(...),m
as não é toda verdade”
(SANTOS, 2013, p.
6
Trecho do rap "Milionário do Sonho", de
autoria de Leandro Roque de Oliveira, mais
conhecido como Emicida.
75
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
É neste contexto, no qual os
muros das escolas vão ruindo, que a
lei 10.639/96 pode ser analisada. Após
intensas lutas, uma vitória dos
movimentos negros. A lei estabelece a
obrigatoriedade do ensino sobre
História e Cultura Afro
-Brasileira. Bem
como a lei 11.645/08, que altera a
lei
10.639/96 e inclui também o ensino da
História e Culturas indígenas no
currículo escolar. A partir destas leis, o
que era observado como prática de
alguns professores tornou
-se
obrigatório. Novos desafios são
impostos, como ampliar a formação
educadores no nível superior,
bem como revisar detalhadamente o
material escolar utilizado nas salas
de
“Infeliz do povo que não sabe de
“É verdade que o africano, o
afrodescendente e o povo da floresta,
que se encontravam aqui pelo
menos dez mil anos foram os maiores
sofredores da globalização moderna.
as não é toda verdade”
(SANTOS, 2013, p.
123-124). As
Trecho do rap "Milionário do Sonho", de
autoria de Leandro Roque de Oliveira, mais
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
negras e negros que foram
sequestrados de sua terra natal e
trazidos como cativos para o Brasil,
atravessaram o Atlântico
com
sabedorias de outras terras que
vieram imantadas nos corpos,
suportes de memórias e de
experiências múltiplas que lançadas
na via do não retorno, da
desterritorialização e do
despedaçamento cognitivo e
identitário, reconstruíram
próprio curso, n
reinventando a si e ao mundo.
(SIMAS; RUFINO, 2018, p.
Ou seja, são elas e eles parte
fundante da nossa nação. Entretanto,
como modo de
produção, portanto,
como parte importante na organização
das relações sociais, o sistema
escravista-
colonial (GORENDER,
2010) deixou sua marca: a sociedade
organizou-
se, produtiva e socialmente,
hierarquizando e relegando tanto os
negros e as negras, assim como os
indígenas que aqui habitavam,
papel de marginalidade, que gerou e
desenvo
lveu o racismo, além de
permitir sua perpetuação até os dias
atuais. Uma sociedade que, para
afirmar uma pretensa superioridade
branca proporcionou a
destruição dos
valores culturais, das modalidades de
existência. A linguagem, o vestuário,
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
negras e negros que foram
sequestrados de sua terra natal e
trazidos como cativos para o Brasil,
com
sabedorias de outras terras que
vieram imantadas nos corpos,
suportes de memórias e de
experiências múltiplas que lançadas
na via do não retorno, da
desterritorialização e do
despedaçamento cognitivo e
identitário, reconstruíram
-se no
próprio curso, n
o transe,
reinventando a si e ao mundo.
(SIMAS; RUFINO, 2018, p.
11)
Ou seja, são elas e eles parte
fundante da nossa nação. Entretanto,
produção, portanto,
como parte importante na organização
das relações sociais, o sistema
colonial (GORENDER,
2010) deixou sua marca: a sociedade
se, produtiva e socialmente,
hierarquizando e relegando tanto os
negros e as negras, assim como os
indígenas que aqui habitavam,
a um
papel de marginalidade, que gerou e
lveu o racismo, além de
permitir sua perpetuação até os dias
atuais. Uma sociedade que, para
afirmar uma pretensa superioridade
destruição dos
valores culturais, das modalidades de
existência. A linguagem, o vestuário,
as técnicas
o desvalorizadas”
(FANON, 2011, p.
274).
Diante disto, tornou
fundamental construir identidades
negras que dialoguem e combatam o
racismo presente na sociedade atual.
A escola é um instrumento para que,
através de análises críticas da
sociedade, possam
visões dos alunos
professores, sobre a temática, pois “é
pelo menos na escola que se deveria
ter uma visão mais crítica e objetiva
das raízes do preconceito e
discriminações raciais”
(NASCIMENTO, 2005, p.
A visita técnica
neste artigo teve como objetivo
justamente apresentar o africano
traficado e escravizado a partir
visão
que vai além da “coisificadora”,
pois
tal teoria (...) defende a ideia de
que as condições extremamente duras
da vida na escravid
ão teriam destituído
os escravos da capacidade de pensar
o mundo a partir de categorias e
significados sociais que não aqueles
instituídos pelos próprios senhores”
(CHALHOUB, 2011, p.
Apresentá-
lo como um agente
histórico, portador de vontades, de
de
sejos, de leituras sobre a realidade,
76
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
o desvalorizadas”
274).
Diante disto, tornou
-se
fundamental construir identidades
negras que dialoguem e combatam o
racismo presente na sociedade atual.
A escola é um instrumento para que,
através de análises críticas da
os ampliar as
e também dos
professores, sobre a temática, pois “é
pelo menos na escola que se deveria
ter uma visão mais crítica e objetiva
das raízes do preconceito e
discriminações raciais”
(NASCIMENTO, 2005, p.
23).
A visita técnica
que analisamos
neste artigo teve como objetivo
justamente apresentar o africano
traficado e escravizado a partir
de uma
que vai além da “coisificadora”,
tal teoria (...) defende a ideia de
que as condições extremamente duras
ão teriam destituído
os escravos da capacidade de pensar
o mundo a partir de categorias e
significados sociais que não aqueles
instituídos pelos próprios senhores”
(CHALHOUB, 2011, p.
314).
lo como um agente
histórico, portador de vontades, de
sejos, de leituras sobre a realidade,
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
de construção de redes de
relacionamento foi um objetivo central
que perpassou toda nossa visita
técnica. Não uma “coisa”, mas um
humano, que foi posto, à força, num
lugar social de
escravizado
nós educadores a
presentarmos uma
visão atualizada, em termos
historiográficos, e que possui produção
bastante extensa, sobretudo a partir de
uma virada teórica e historiográfica
nos anos de 1980, que lançou “luz
sobre a face interna da escravidão em
suas várias abrangênci
as regionais” e
passou a encarar “os escravos como
sujeitos ativos na construção de seu
devir” (MARCHESE, 2013, p.
dando visibilidade ao escravizado
como ator social. Dialogar com tais
perspectivas historiográficas, a nosso
ver, é uma afirmação de
educação em direitos humanos e
antirracista.
Pensar na região da Pequena
África, localizada na Zona Portuária do
Rio de Janeiro, local de história viva e
latente, é pensar muito além das
questões que envolvem a escravidão
propriamente dita. Transitar
caminhos é notar, a todo instante, que
esta é uma prova material que nega,
enfaticamente, o escravizado como
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
de construção de redes de
relacionamento foi um objetivo central
que perpassou toda nossa visita
técnica. Não uma “coisa”, mas um
humano, que foi posto, à força, num
escravizado
. Cabe a
presentarmos uma
visão atualizada, em termos
historiográficos, e que possui produção
bastante extensa, sobretudo a partir de
uma virada teórica e historiográfica
nos anos de 1980, que lançou “luz
sobre a face interna da escravidão em
as regionais” e
passou a encarar “os escravos como
sujeitos ativos na construção de seu
devir” (MARCHESE, 2013, p.
229),
dando visibilidade ao escravizado
como ator social. Dialogar com tais
perspectivas historiográficas, a nosso
ver, é uma afirmação de
uma
educação em direitos humanos e
Pensar na região da Pequena
África, localizada na Zona Portuária do
Rio de Janeiro, local de história viva e
latente, é pensar muito além das
questões que envolvem a escravidão
propriamente dita. Transitar
por estes
caminhos é notar, a todo instante, que
esta é uma prova material que nega,
enfaticamente, o escravizado como
desprovido de ações sociais, e mesmo
políticas. Como explicar os terreiros
das religiões de matriz africana, ou
mesmo o surgimento do Sam
Choro, na região da Pedra do Sal,
partindo da crença de que o
escravizado era um mero refletor dos
ideais senhoriais? Esses locais
emanam resistência.
Trazer reflexões como estas ao
cotidiano escolar é complexificar a
escravidão, é pensá
sistema de produção escravista,
disseminado pela historiografia
tradicional, que tende a uma análise
do quadro político-
social que leva
como parâmetro as classes
dominantes. Tal análise é muito
importante para compreensão e
superação das desigualdades q
vivemos, mas não é o único caminho.
Partimos do pressuposto que é
importante buscar resgatar as
complexas relações sociais presentes
nos tempos escravistas, dando
visibilidade à resistência negra. Ou,
como chamou Clóvis Moura, ações de
“quilombagem”, en
tendida como um
movimento de rebeldia permanente
organizado ou dirigido pelos próprios
escravos que se verificou durante o
escravismo em todo o território
77
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
desprovido de ações sociais, e mesmo
políticas. Como explicar os terreiros
das religiões de matriz africana, ou
mesmo o surgimento do Sam
ba e do
Choro, na região da Pedra do Sal,
partindo da crença de que o
escravizado era um mero refletor dos
ideais senhoriais? Esses locais
Trazer reflexões como estas ao
cotidiano escolar é complexificar a
escravidão, é pensá
-la além do
sistema de produção escravista,
disseminado pela historiografia
tradicional, que tende a uma análise
social que leva
como parâmetro as classes
dominantes. Tal análise é muito
importante para compreensão e
superação das desigualdades q
ue
vivemos, mas não é o único caminho.
Partimos do pressuposto que é
importante buscar resgatar as
complexas relações sociais presentes
nos tempos escravistas, dando
visibilidade à resistência negra. Ou,
como chamou Clóvis Moura, ações de
tendida como um
movimento de rebeldia permanente
organizado ou dirigido pelos próprios
escravos que se verificou durante o
escravismo em todo o território
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
nacional
”, onde constavam “uma
constelação de movimentos de
protesto do escravo” (MOURA, 1992,
p. 22-
23). Não à toa, a região da Pedra
do Sal foi reconhecida como um
quilombo (CORRÊA, 2016, p.
Foi neste sentido que
organizamos a visita à região da
Pequena África, sabendo que seria
repleta de contrastes que vão desde
afirmações de verdades tidas c
incontestáveis, a a apresentação de
novos prismas de interpretação. Assim
sendo, apresentar os grilhões ainda
presentes no Cais do Valongo, ou
mesmo observarmos uma ossada
remetida a um escravizado que sequer
foi comercializado em terras
brasileiras,
no Instituto dos Pretos
Novos, é materializar a questão
escravista. Entretanto, visitar a Pedra
do Sal é poder dialogar com uma rica
cultura, construída com a genialidade
de negros e negras. É demonstrar que
se havia poder, também havia
resistência. Coloc
ando a lupa na
importância dos enfrentamentos,
mesmo que no campo das ideias. É
contribuir na construção de uma ou
mais identidades, ligadas ao
sentimento de pertencimento de uma
comunidade negra.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
”, onde constavam “uma
constelação de movimentos de
protesto do escravo” (MOURA, 1992,
23). Não à toa, a região da Pedra
do Sal foi reconhecida como um
quilombo (CORRÊA, 2016, p.
12)
Foi neste sentido que
organizamos a visita à região da
Pequena África, sabendo que seria
repleta de contrastes que vão desde
afirmações de verdades tidas c
omo
incontestáveis, a a apresentação de
novos prismas de interpretação. Assim
sendo, apresentar os grilhões ainda
presentes no Cais do Valongo, ou
mesmo observarmos uma ossada
remetida a um escravizado que sequer
foi comercializado em terras
no Instituto dos Pretos
Novos, é materializar a questão
escravista. Entretanto, visitar a Pedra
do Sal é poder dialogar com uma rica
cultura, construída com a genialidade
de negros e negras. É demonstrar que
se havia poder, também havia
ando a lupa na
importância dos enfrentamentos,
mesmo que no campo das ideias. É
contribuir na construção de uma ou
mais identidades, ligadas ao
sentimento de pertencimento de uma
4.
O processo de construção de
identidades é algo complexo.
S
em construir a sua identidade
“racial” ou étnica, alienada no
universo racista brasileiro, o negro
não poderá participar do processo de
construção da democracia e da
identidade nacional em de
igualdade com seus compatriotas de
outras ascendências.
É a p
artir daqui que colocamos a
questão da importância de ensinar a
história da África e do negro na
sociedade e na escola brasileira. É
possível ensinar a história do Brasil
sem incluir a história de todos os
grupos étnico-
raciais que aqui se
encontram em con
diferentes e desiguais? (MUNANGA,
2015, p. 25)
Tendo em vista a citação de
Kabengele
Munanga posta acima, a
vida escolar é fator decisivo na
formação de um arcabouço intelectual
e também de uma rede de
sociabilidade que são cruciais na
construção de uma, ou mais
identidades, ao longo da infância,
adolescência e da juventude. Essas
identidades tendem a se entrecruzar
no espaço escolar, onde
e compartilhamos não conteúdos e
saberes escolares,
valores, crenças e h
como preconceitos raciais, de gênero,
de classe e de idade” (GOMES, 2002,
p. 39)
. Sendo assim é fundamental
que os educadores busquem dialogar
com essas temáticas em sala de aula,
78
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
O processo de construção de
identidades é algo complexo.
em construir a sua identidade
“racial” ou étnica, alienada no
universo racista brasileiro, o negro
não poderá participar do processo de
construção da democracia e da
identidade nacional em de
igualdade com seus compatriotas de
outras ascendências.
artir daqui que colocamos a
questão da importância de ensinar a
história da África e do negro na
sociedade e na escola brasileira. É
possível ensinar a história do Brasil
sem incluir a história de todos os
raciais que aqui se
encontram em con
dições históricas
diferentes e desiguais? (MUNANGA,
Tendo em vista a citação de
Munanga posta acima, a
vida escolar é fator decisivo na
formação de um arcabouço intelectual
e também de uma rede de
sociabilidade que são cruciais na
construção de uma, ou mais
identidades, ao longo da infância,
adolescência e da juventude. Essas
identidades tendem a se entrecruzar
no espaço escolar, onde
“aprendemos
e compartilhamos não conteúdos e
mas também,
valores, crenças e h
ábitos, assim
como preconceitos raciais, de gênero,
de classe e de idade” (GOMES, 2002,
. Sendo assim é fundamental
que os educadores busquem dialogar
com essas temáticas em sala de aula,
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
lidar com os preconceitos que
permeiam o cotidiano escolar.
Em pesquisa realizada por Stela
Guedes Caputo, recolhendo
depoimentos de alunos da rede
pública de ensino, é cenário comum
essa discriminação realizada no
ambiente escolar para com aqueles
que se identificam, por exemplo, com
religiões de matrizes africana
Partindo da fala de uma aluna
chamada Joyce, a autora pode
concluir que ela
omite sua religião, disfarça sua fé
para não ser ainda mais perseguida.
Esse mecanismo, chamado de
sincretismo, esconde uma violação e
fez com que Joyce tenha preferido
dizer q
ue apanhara de sua mãe em
vez de se assumir como praticante
do candomblé. A dolorosa prática é
utilizada por quase todas as crianças
e adolescentes que entrevistei ao
longo desse tempo. (...) Joyce
associa o preconceito religioso ao
preconceito racial. “As
apontavam na rua e também na
escola e diziam: Isso é coisa de
negro!” (CAPUTO, 2012, p.
Essa fala demonstra bem o
enraizamento de percepções racistas
que estigmatizam a figura do negro
desde a mais tenra idade. Um
processo que Frantz
Fanon chama de
“psicopatologização do negro”: desde
criança os sujeitos são bombardeados
com uma “
uma série de proposições
que, lenta e sutilmente, graças às
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
lidar com os preconceitos que
permeiam o cotidiano escolar.
Em pesquisa realizada por Stela
Guedes Caputo, recolhendo
depoimentos de alunos da rede
pública de ensino, é cenário comum
essa discriminação realizada no
ambiente escolar para com aqueles
que se identificam, por exemplo, com
religiões de matrizes africana
s.
Partindo da fala de uma aluna
chamada Joyce, a autora pode
omite sua religião, disfarça sua fé
para não ser ainda mais perseguida.
Esse mecanismo, chamado de
sincretismo, esconde uma violação e
fez com que Joyce tenha preferido
ue apanhara de sua mãe em
vez de se assumir como praticante
do candomblé. A dolorosa prática é
utilizada por quase todas as crianças
e adolescentes que entrevistei ao
longo desse tempo. (...) Joyce
associa o preconceito religioso ao
preconceito racial. “As
pessoas me
apontavam na rua e também na
escola e diziam: Isso é coisa de
negro!” (CAPUTO, 2012, p.
200)
Essa fala demonstra bem o
enraizamento de percepções racistas
que estigmatizam a figura do negro
desde a mais tenra idade. Um
Fanon chama de
“psicopatologização do negro”: desde
criança os sujeitos são bombardeados
uma série de proposições
que, lenta e sutilmente, graças às
obras literárias, aos jornais, à
educação, aos livros escolares, aos
cartazes, ao cinema, à rádio,
no indivíduo
constituindo a visão do
mundo da coletividade à qual ele
pertence” (FANON, 2008, p.
infelizmente, estes valores aos quais a
criança negra é submetida, são
valores brancos
, em suma maioria.
Fruto do colonialismo, “o arquéti
valores inferiores é representado pelo
negro” (Ibidem
, p.160). Ou seja, desde
criança é ensinado que tudo aquilo
que envolve à
pretitude
tipos de cabelo, os tons de pele, os
traços fenotípicos, os processos
culturais. Em contraposição, tu
aquilo relacionado à
responde ao polo oposto, infelizmente,
o positivo. É uma chaga do
colonialismo que podemos perceber
na fala da aluna trazida por Caputo
logo acima.
Partindo deste cenário é preciso
lidar com esses preconceitos através
d
o fortalecimento de identidades
combativas que perpassem
diretamente pela construção de uma
memória coletiva que permita a
criação de
imaginadas”
no sentindo trabalhado por
Benedict Anderson (2008). Além disso,
79
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
obras literárias, aos jornais, à
educação, aos livros escolares, aos
cartazes, ao cinema, à rádio,
penetram
constituindo a visão do
mundo da coletividade à qual ele
pertence” (FANON, 2008, p.
135), e,
infelizmente, estes valores aos quais a
criança negra é submetida, são
, em suma maioria.
Fruto do colonialismo, “o arquéti
po dos
valores inferiores é representado pelo
, p.160). Ou seja, desde
criança é ensinado que tudo aquilo
pretitude
é ruim, os
tipos de cabelo, os tons de pele, os
traços fenotípicos, os processos
culturais. Em contraposição, tu
do
aquilo relacionado à
branquitude
responde ao polo oposto, infelizmente,
o positivo. É uma chaga do
colonialismo que podemos perceber
na fala da aluna trazida por Caputo
Partindo deste cenário é preciso
lidar com esses preconceitos através
o fortalecimento de identidades
combativas que perpassem
diretamente pela construção de uma
memória coletiva que permita a
criação de
“comunidades
no sentindo trabalhado por
Benedict Anderson (2008). Além disso,
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
cabe destacar que, memória, em um
sentido prático e aplicado junto à obra
de Pierre Nora,
é a vida, sempre carregada por
grupos vivos e, nesse sentido, ela
está em permanente evolução,
aberta à dialética da lembrança e do
esquecimento, inconsciente de suas
deformações sucessivas, vulneráv
a todos os usos e manipulações,
susceptível de longas latências e de
repentinas revitalizações. (...) A
memória é um fenômeno sempre
atual, um elo vivido no eterno
presente. (NORA, 1993, p.
Visitar esses lugares de
memória (Ibidem, p. 12
-
ouvidos e acolhimento a sentimentos e
pertencimentos que muitas vezes são
obliterados aos olhos da sociedade e
por consequência do nosso cotidiano
escolar. É
“reconhecer que a África
tem história” e que este fato “é o ponto
de partida para discutir a
diáspora negra que na historiografia
dos países pelo tráfico negreiro foi
também ora negada, ora distorcida,
ora falsificada” (MUNANGA, 2015, p.
28),
daí a importância da queda dos
muros que cercam a escola e a
entrada de pautas de algumas
mino
rias, como tem sido observado,
através dos próprios alunos, ou com a
força de lei, como as leis 10.639/96 ou
a lei 11.645/08.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
cabe destacar que, memória, em um
sentido prático e aplicado junto à obra
é a vida, sempre carregada por
grupos vivos e, nesse sentido, ela
está em permanente evolução,
aberta à dialética da lembrança e do
esquecimento, inconsciente de suas
deformações sucessivas, vulneráv
el
a todos os usos e manipulações,
susceptível de longas latências e de
repentinas revitalizações. (...) A
memória é um fenômeno sempre
atual, um elo vivido no eterno
presente. (NORA, 1993, p.
9)
Visitar esses lugares de
-
13) é dar
ouvidos e acolhimento a sentimentos e
pertencimentos que muitas vezes são
obliterados aos olhos da sociedade e
por consequência do nosso cotidiano
“reconhecer que a África
tem história” e que este fato “é o ponto
de partida para discutir a
história da
diáspora negra que na historiografia
dos países pelo tráfico negreiro foi
também ora negada, ora distorcida,
ora falsificada” (MUNANGA, 2015, p.
daí a importância da queda dos
muros que cercam a escola e a
entrada de pautas de algumas
rias, como tem sido observado,
através dos próprios alunos, ou com a
força de lei, como as leis 10.639/96 ou
5.
A valorização das culturas
populares
É importante ilustrar que o
esforço desta visita também se
encaixa na constante tentativa d
valorização da cultura popular,
seguindo como base primária, e
teórica, a interpretação dada por
Thompson, onde a cultura popular
tradicional consegue significativa
independência em relação à cultura
entendida como erudita, além de ser
um campo de mudanç
visão deste autor, uma cultura
representa “um conjunto de diferentes
recursos, em que sempre uma
troca entre o escrito e o oral, o
dominante e o subordinado, a aldeia e
a metrópole; é uma arena de
elementos conflitivos” (THOMPSON,
2005, p.
17). Muito embora exista uma
tentativa de controle sobre essa
cultura por parte das elites dirigentes,
é possível perceber que uma cultura
costumeira
“que não está sujeita, em
seu funcionamento cotidiano, ao
domínio ideológico dos governantes”
(Ibidem, p.
17). É a esta cultura
costumeira que chamamos de
“cultura(s) populares”.
Essas culturas populares o
resultado da encruzilhada de vários
80
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
A valorização das culturas
É importante ilustrar que o
esforço desta visita também se
encaixa na constante tentativa d
e
valorização da cultura popular,
seguindo como base primária, e
teórica, a interpretação dada por
Thompson, onde a cultura popular
tradicional consegue significativa
independência em relação à cultura
entendida como erudita, além de ser
um campo de mudanç
a e disputa. Na
visão deste autor, uma cultura
representa “um conjunto de diferentes
recursos, em que sempre uma
troca entre o escrito e o oral, o
dominante e o subordinado, a aldeia e
a metrópole; é uma arena de
elementos conflitivos” (THOMPSON,
17). Muito embora exista uma
tentativa de controle sobre essa
cultura por parte das elites dirigentes,
é possível perceber que uma cultura
“que não está sujeita, em
seu funcionamento cotidiano, ao
domínio ideológico dos governantes”
17). É a esta cultura
costumeira que chamamos de
“cultura(s) populares”.
Essas culturas populares o
o
resultado da encruzilhada de vários
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
conhecimentos, aqueles trazidos como
fruto do desterro do povo africano e
aqueles que aqui foram ressignifcados,
“crioulizados” (PRICE, 2003). Assim,
conseguimos complexificar o conceito
de cultura, que é alargado e deixa de
atender somente à processos das
elites,
“tão culturais quanto uma ópera
de Verdi ou uma sinfonia de
Beethoven são a capoeira, o
candomblé, o jo
ngo, o acarajé”
(PASSOS; FACINA, 2014, p.
Estes últimos, marcos culturais negros,
que perpassam diretamente a história
da região visitada.
Nesse sentido, cabe destacar
também
que de forma mais específica
a visita técnica promoveu o conceito
de cultura popular negra, apoiado nos
ideais de Stuart Hall (2006), que
considera necessário levar em
consideração as condições sociais e
materiais das classes específicas
durante a análise
cultural. Hall defende
determinado distanciamento da visão
clássica de cultura popular em
detrimento da superação de barreiras
limitantes que o conceito engessado
impõe. O que aqui se pretende é um
distanciamento da cultura popular
enquanto “consumida” e u
aproximação da definição de cultura
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
conhecimentos, aqueles trazidos como
fruto do desterro do povo africano e
aqueles que aqui foram ressignifcados,
“crioulizados” (PRICE, 2003). Assim,
conseguimos complexificar o conceito
de cultura, que é alargado e deixa de
atender somente à processos das
“tão culturais quanto uma ópera
de Verdi ou uma sinfonia de
Beethoven são a capoeira, o
ngo, o acarajé”
(PASSOS; FACINA, 2014, p.
15).
Estes últimos, marcos culturais negros,
que perpassam diretamente a história
Nesse sentido, cabe destacar
que de forma mais específica
a visita técnica promoveu o conceito
de cultura popular negra, apoiado nos
ideais de Stuart Hall (2006), que
considera necessário levar em
consideração as condições sociais e
materiais das classes específicas
cultural. Hall defende
determinado distanciamento da visão
clássica de cultura popular em
detrimento da superação de barreiras
limitantes que o conceito engessado
impõe. O que aqui se pretende é um
distanciamento da cultura popular
enquanto “consumida” e u
ma
aproximação da definição de cultura
produzida pelo o povo, como é a
questão da produção encontrada na
região da Pequena África. A cultura
popular que se coloca em constantes
tensionamentos em relação à cultura
dominante, um campo em constante
disputa, e
também engajamento na
luta e enfrentamento, onde “o corpo
objetificado, desencantando, como
pretendido pelo colonialismo, dribla e
golpeia a lógica dominante” (SIMAS;
RUFINO, 2018, p.
48)
Além disso, é nosso trabalho
produzir junto com os estudantes a
no
ção de que a cultura negra não é
única, ou seja, imutável ao redor do
mundo, e sim uma construção plural,
pois une
a herança africana, trazida no
â
mago da diáspora, e as tradições
desenvolvidas em território
brasileiro. As bases para compreender
essa fo
rmação se dão justamente nas
continuidades e rupturas, pois se trata
de
“um espaço ambivalente,
paradoxal, local de interseções,
consentimentos, insurgências e
contestações táticas”
FACINA, 2014, p. 15)
.
6.
Experiências da visita
Apesar dos percalç
enfrentados para a realização desta
81
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
produzida pelo o povo, como é a
questão da produção encontrada na
região da Pequena África. A cultura
popular que se coloca em constantes
tensionamentos em relação à cultura
dominante, um campo em constante
também engajamento na
luta e enfrentamento, onde “o corpo
objetificado, desencantando, como
pretendido pelo colonialismo, dribla e
golpeia a lógica dominante” (SIMAS;
48)
Além disso, é nosso trabalho
produzir junto com os estudantes a
ção de que a cultura negra não é
única, ou seja, imutável ao redor do
mundo, e sim uma construção plural,
a herança africana, trazida no
mago da diáspora, e as tradições
desenvolvidas em território
brasileiro. As bases para compreender
rmação se dão justamente nas
continuidades e rupturas, pois se trata
“um espaço ambivalente,
paradoxal, local de interseções,
consentimentos, insurgências e
contestações táticas”
(PASSOS;
.
Experiências da visita
Apesar dos percalç
os
enfrentados para a realização desta
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
visita, como a falta de apoio financeiro
e logístico devido à falta de verbas,
conseguimos levar nossos alunos e
alunas para região da Pequena África,
utilizando transporte público, através
do cartão Riocard (gratuida
transporte rodoviário concedida, por
lei, pela Prefeitura do Rio de Janeiro à
estudantes devidamente matriculados
na rede pública de ensino), e uma boa
quantidade de conversa com
condutores do transporte para
permitirem a entrada de tantos alunos,
o
que não deveria ser um problema,
que é direito concedido e autorizado
pela legislação vigente.
A falta de incentivo é algo
razoavelmente comum no ensino
público, seja ele das esferas municipal,
estadual ou mesmo federal. Portanto
os educadores se veem
em situações
em que devem abrir o de táticas,
que
não são revolucionárias na medida
em que não transformam o estatuto
do poder, não destituem
determinados grupos do poder, mas
obrigam àqueles que estão no poder
a reformularem permanentemente
suas estrat
égias. As táticas,
portanto, são transformadoras das
relações sociais (ANDRADE, 2011,
p. 33).
Fazer uso de táticas em nossa
prática docente é ultrapassar os
obstáculos burocráticos impostos pelo
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
visita, como a falta de apoio financeiro
e logístico devido à falta de verbas,
conseguimos levar nossos alunos e
alunas para região da Pequena África,
utilizando transporte público, através
do cartão Riocard (gratuida
de no
transporte rodoviário concedida, por
lei, pela Prefeitura do Rio de Janeiro à
estudantes devidamente matriculados
na rede pública de ensino), e uma boa
quantidade de conversa com
condutores do transporte para
permitirem a entrada de tantos alunos,
que não deveria ser um problema,
que é direito concedido e autorizado
A falta de incentivo é algo
razoavelmente comum no ensino
público, seja ele das esferas municipal,
estadual ou mesmo federal. Portanto
em situações
em que devem abrir o de táticas,
não são revolucionárias na medida
em que não transformam o estatuto
do poder, não destituem
determinados grupos do poder, mas
obrigam àqueles que estão no poder
a reformularem permanentemente
égias. As táticas,
portanto, são transformadoras das
relações sociais (ANDRADE, 2011,
Fazer uso de táticas em nossa
prática docente é ultrapassar os
obstáculos burocráticos impostos pelo
sistema, que dificultam o cotidiano
escolar, e no caso da
contribuir através da possibilidade de
criação de conhecimentos que
permitam a construção ou o
fortalecimento de identidade(s)
negra(s).
Sobre a região da Pequena
África é necessário apresentar duas
considerações coletivas dos alunos
que fiz
eram a atividade: 1) a grande
maioria nunca havia feito uma visita
aquela região; 2) as dificuldades de
acesso. Quanto à
consideração nos demonstra a urgente
necessidade de ampliarmos o escopo
de conhecimento sobre a cidade do
Rio de Janeiro
. Como um colégio
federal de excelência, o IFRJ atrai
alunos das mais diversas zonas da
cidade do Rio, bem como da Região
Metropolitana do Estado, o que mostra
que, perante as dificuldades e o custo
razoável de locomoção para muitas
famílias, fica patente
das instituições de educação
propiciarem, sobretudo com apoio
logístico e financeiro, o alargamento
dos conhecimentos sobre a história,
cultura e geografia da cidade.
Sobre a segunda consideração
coletiva: a região da Pequena África,
82
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
sistema, que dificultam o cotidiano
escolar, e no caso da
nossa visita,
contribuir através da possibilidade de
criação de conhecimentos que
permitam a construção ou o
fortalecimento de identidade(s)
Sobre a região da Pequena
África é necessário apresentar duas
considerações coletivas dos alunos
eram a atividade: 1) a grande
maioria nunca havia feito uma visita
aquela região; 2) as dificuldades de
primeira, essa
consideração nos demonstra a urgente
necessidade de ampliarmos o escopo
de conhecimento sobre a cidade do
. Como um colégio
federal de excelência, o IFRJ atrai
alunos das mais diversas zonas da
cidade do Rio, bem como da Região
Metropolitana do Estado, o que mostra
que, perante as dificuldades e o custo
razoável de locomoção para muitas
famílias, fica patente
a necessidade
das instituições de educação
propiciarem, sobretudo com apoio
logístico e financeiro, o alargamento
dos conhecimentos sobre a história,
cultura e geografia da cidade.
Sobre a segunda consideração
coletiva: a região da Pequena África,
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
por te
r sido uma região tanto de
chegada de africanos trazidos sob
sequestro de suas respectivas regiões
natais, como da venda destes acabou
ficando estigmatizada e isolada do
resto da sociedade carioca.
Analisando o projeto de reforma
urbanística “Plano Porto d
data 2001, patrocinado pela própria
Prefeitura do Rio, Roberta Sampaio
Guimarães encontra a visão
autoridades sobre a região: no corpo
do projeto, seguido de uma imagem
panorâmica da região vista da Baia de
Guanabara (talvez a mesma
os tumbeiros também tivessem ao
atracar no Valongo),
foi operado um regime de
historicidade calcado na valorização
do futuro, utilizando noções como
‘antigo’, ‘ocioso’, ‘obsoleto’,
‘abandonadoe ‘velho’ para qualificar
o tempo presente da Zona
e ‘criativo’, ‘reestruturado’,
‘reciclado’, ‘renovado e ‘moderno’
para designar os projetos de
transformação (GUIMARÃES, 2014,
p. 34)
Infelizmente, o é apenas
datada deste século a insistente
tentativa de reformas na região
visando, usualm
ente, apagar seu
passado relacionado, majorita
riamente, à questão negra. Ainda no
início do século passado o então
prefeito Pereira Passos praticou o
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
r sido uma região tanto de
chegada de africanos trazidos sob
sequestro de suas respectivas regiões
natais, como da venda destes acabou
ficando estigmatizada e isolada do
resto da sociedade carioca.
Analisando o projeto de reforma
urbanística “Plano Porto d
o Rio”, que
data 2001, patrocinado pela própria
Prefeitura do Rio, Roberta Sampaio
Guimarães encontra a visão
oficial das
autoridades sobre a região: no corpo
do projeto, seguido de uma imagem
panorâmica da região vista da Baia de
Guanabara (talvez a mesma
visão que
os tumbeiros também tivessem ao
foi operado um regime de
historicidade calcado na valorização
do futuro, utilizando noções como
‘antigo’, ‘ocioso’, ‘obsoleto’,
‘abandonadoe ‘velho’ para qualificar
o tempo presente da Zona
Portuária;
e ‘criativo’, ‘reestruturado’,
‘reciclado’, ‘renovado e ‘moderno’
para designar os projetos de
transformação (GUIMARÃES, 2014,
Infelizmente, o é apenas
datada deste século a insistente
tentativa de reformas na região
ente, apagar seu
passado relacionado, majorita
-
riamente, à questão negra. Ainda no
início do século passado o então
prefeito Pereira Passos praticou o
“bota-
abaixo”, na expectativa de
expurgar a chaga escravista da região,
revitalizando-
a. Num sentido mais
concreto, embranquecendo
da leitura racial feita à época, e que
parece ter deixado profundas
consequências na visão coletiva e
oficial da sociedade carioca
(CHALHOUB, 1995).
Destacados alguns pontos
fundamentais para entender não as
dificul
dades da nossa visita, como
também os objetivos desta,
continuemos o relato da experiência
vivida.
Como a visita não foi uma
atividade proposta como avaliação
para o bimestre,
desistências, cerca de 50% da turma
compareceu. O que talvez
d
emonstre algumas das dificuldades
do sistema educacional brasileiro.
Apesar disso, os estudantes que se
propuseram a ir, participaram e
interagiram bastante com a visita,
levantando questões ou mesmo
contribuindo com os seus
conhecimentos prévios.
Pudemo
s problematizar com os
alunos sobre o esquecimento da
região da Pequena África, frente as
autoridades competentes, como
83
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
abaixo”, na expectativa de
expurgar a chaga escravista da região,
a. Num sentido mais
concreto, embranquecendo
-a, no bojo
da leitura racial feita à época, e que
parece ter deixado profundas
consequências na visão coletiva e
oficial da sociedade carioca
Destacados alguns pontos
fundamentais para entender não as
dades da nossa visita, como
também os objetivos desta,
continuemos o relato da experiência
Como a visita não foi uma
atividade proposta como avaliação
houve algumas
desistências, cerca de 50% da turma
compareceu. O que talvez
emonstre algumas das dificuldades
do sistema educacional brasileiro.
Apesar disso, os estudantes que se
propuseram a ir, participaram e
interagiram bastante com a visita,
levantando questões ou mesmo
contribuindo com os seus
conhecimentos prévios.
s problematizar com os
alunos sobre o esquecimento da
região da Pequena África, frente as
autoridades competentes, como
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
descrito acima, e como a recente
revitalização da área foi possível
pelos investimentos dos grandes
eventos realizados no Rio de Jane
a Copa do Mundo, em 2014 e as
Olimpíadas, em 2016. Inclusive, a
redescoberta do Cais do Valongo/da
Imperatriz ocorreu neste cenário.
Apesar do conhecimento teórico sobre
tal localidade, não se sabia sua
localização geográfica. Tal fato foi
possível
com as obras na região. Hoje,
o Cais é aberto à visitação 24 horas
por dia, e foi eleito pela UNESCO, em
2017, como Patrimônio Mundial, fato
que o coloca, segundo o órgão
mundial, no mesmo patamar histórico
e memorialístico que o campo de
concentração de
Auschwitz, na
Polônia
7
. Ou seja, o Cais é um local
onde pudemos ouvir o ecoar de
soluços de dor de negros e negras
sequestrados de suas raízes e
escravizados deste lado do
Atlântico.
Durante a visita foi possível
mostrar aos estudantes o local onde
mil
hares de negros, que seriam
escravizados, desembarcaram no
7
Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/09/politi
ca/1499625756_209
845.html. Acesso em: 18
jul. 2020.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
descrito acima, e como a recente
revitalização da área foi possível
pelos investimentos dos grandes
eventos realizados no Rio de Jane
iro:
a Copa do Mundo, em 2014 e as
Olimpíadas, em 2016. Inclusive, a
redescoberta do Cais do Valongo/da
Imperatriz ocorreu neste cenário.
Apesar do conhecimento teórico sobre
tal localidade, não se sabia sua
localização geográfica. Tal fato foi
com as obras na região. Hoje,
o Cais é aberto à visitação 24 horas
por dia, e foi eleito pela UNESCO, em
2017, como Patrimônio Mundial, fato
que o coloca, segundo o órgão
mundial, no mesmo patamar histórico
e memorialístico que o campo de
Auschwitz, na
. Ou seja, o Cais é um local
onde pudemos ouvir o ecoar de
soluços de dor de negros e negras
sequestrados de suas raízes e
escravizados deste lado do
Durante a visita foi possível
mostrar aos estudantes o local onde
hares de negros, que seriam
escravizados, desembarcaram no
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/07/09/politi
845.html. Acesso em: 18
Brasil. E como, com a vinda da
Imperatriz Teresa Cristina em 1843, o
Cais foi reformado, e ressignificado,
para recebê-
la. Encontram
hoje na localidade, dentre as três
camadas de construçã
o espaço, os grilhões onde os
escravizados eram presos no processo
de desembarque.
Após este ponto levamos os
estudantes para a Pedra do Sal, local
onde podemos ouvir os cantos de
alegria do povo negro. Importante
lugar de memória que ainda
marca a vida cultural do Rio de
Janeiro, berço do Samba e do Choro.
A Pedra do Sal foi um momento de
reflexão sobre a vida cultural das
negras e negros, um debate sobre a
religiosidade e sua ligação com a
cultura, onde expusemos sobre as
famosas tias
quituteiras e a mais
famosa delas, a Tia Ciata
relação com a Cultura Negra.
8
Hilária Batista de Almeida, mais conhecida
como Tia Ciata, nasceu na Bahia, em 1854,
mas foi no Rio de Janeiro que ganhou fama.
Mãe-de-
Santo em um terreiro na Praça Onze,
onde vários composições e compositores
foram cria
dos. Seu terreiro pode ser
considerado, também, como berço do Samba.
Faleceu no Rio de Janeiro em 1924. Mais
sobre Tia Ciata: MOURA, Roberto.
a Pequena África no Rio de Janeiro
de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura,
1995.
84
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Brasil. E como, com a vinda da
Imperatriz Teresa Cristina em 1843, o
Cais foi reformado, e ressignificado,
la. Encontram
-se ainda
hoje na localidade, dentre as três
camadas de construçã
o que compõem
o espaço, os grilhões onde os
escravizados eram presos no processo
Após este ponto levamos os
estudantes para a Pedra do Sal, local
onde podemos ouvir os cantos de
alegria do povo negro. Importante
lugar de memória que ainda
hoje
marca a vida cultural do Rio de
Janeiro, berço do Samba e do Choro.
A Pedra do Sal foi um momento de
reflexão sobre a vida cultural das
negras e negros, um debate sobre a
religiosidade e sua ligação com a
cultura, onde expusemos sobre as
quituteiras e a mais
famosa delas, a Tia Ciata
8
e sua
relação com a Cultura Negra.
Hilária Batista de Almeida, mais conhecida
como Tia Ciata, nasceu na Bahia, em 1854,
mas foi no Rio de Janeiro que ganhou fama.
Santo em um terreiro na Praça Onze,
onde vários composições e compositores
dos. Seu terreiro pode ser
considerado, também, como berço do Samba.
Faleceu no Rio de Janeiro em 1924. Mais
sobre Tia Ciata: MOURA, Roberto.
Tia Ciata e
a Pequena África no Rio de Janeiro
. 2ª ed. Rio
de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura,
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
Continuamos o nosso itinerário
e seguimos para o Jardim Suspenso
do Valongo. Cabe ressaltar que,
apesar de estar em nosso itinerário a
construção não pertence ao período
inicialmente proposto, pois foi erguida
durante a Reforma urbanística
proposta por Francisco Pereira
Passos, em 1906, ou seja, 18 anos
após a Abolição. Entretanto o encontro
com este lugar é importante para
compreender os momentos históricos
do Rio de Jane
iro, sobretudo, por
representar a junção de períodos
históricos, que muitos dos
ornamentos utilizados neste foram
retirados do Cais da Imperatriz antes
de seu aterramento.
Finalizamos nossa visita no
Instituto dos Pretos Novos, o IPN, sua
sede fica no
bairro da Zona Portuária,
da Gamboa, também na Pequena
África. O Instituto visa preservar a
memória sobre o Cemitério dos Pretos
Novos, localidade onde eram
enterrados os cativos recém
ao Rio, que porventura faleciam antes
mesmo de serem comercial
Cabe destacar que a falta de prest
e respeito destinados à
área fica nítid
ao serem descobertos
juntamente aos
corpos resíduos produzidos pela
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Continuamos o nosso itinerário
e seguimos para o Jardim Suspenso
do Valongo. Cabe ressaltar que,
apesar de estar em nosso itinerário a
construção não pertence ao período
inicialmente proposto, pois foi erguida
durante a Reforma urbanística
proposta por Francisco Pereira
Passos, em 1906, ou seja, 18 anos
após a Abolição. Entretanto o encontro
com este lugar é importante para
compreender os momentos históricos
iro, sobretudo, por
representar a junção de períodos
históricos, que muitos dos
ornamentos utilizados neste foram
retirados do Cais da Imperatriz antes
Finalizamos nossa visita no
Instituto dos Pretos Novos, o IPN, sua
bairro da Zona Portuária,
da Gamboa, também na Pequena
África. O Instituto visa preservar a
memória sobre o Cemitério dos Pretos
Novos, localidade onde eram
enterrados os cativos recém
-chegados
ao Rio, que porventura faleciam antes
mesmo de serem comercial
izados.
Cabe destacar que a falta de prest
ígio
área fica nítid
a
juntamente aos
corpos resíduos produzidos pela
cidade, que eram descartados na área
pelo entendimento da população geral
que este era um local de
escória social. Além disso, é preciso
informar que a área do cemitério era
administrada pela Igreja Católica,
responsável pelo livro de identificações
de corpos, todos descartados em valas
comuns.
Na localidade é possível visitar
ossadas semi
completas, além de ossos avulsos.
Bem como alguns objetos, resquícios
do lixo cotidiano da época.Pudemos
problematizar esta questão com os
estudantes e materializar a real
condição, por muitas vezes suavizada
nos livros didáticos, daqueles su
que desembarcavam no Brasil como
fruto do tráfico atlântico de pessoas.
Ao final da visitação
propusemos um formulário a ser
respondido pelos estudantes via
internet. Constavam três
questionamentos: “Você gostou da
visita técnica à região da ‘Pequ
África’? Justifique.”; Você
recomendaria esta visita a outr@
alun@? Justifique.”; “Pensando em
melhorar sempre, o que você mudaria
na visita técnica?”. A metade dos
presentes respondeu. Todos
85
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
cidade, que eram descartados na área
pelo entendimento da população geral
que este era um local de
descarte de
escória social. Além disso, é preciso
informar que a área do cemitério era
administrada pela Igreja Católica,
responsável pelo livro de identificações
de corpos, todos descartados em valas
Na localidade é possível visitar
ossadas semi
ou totalmente
completas, além de ossos avulsos.
Bem como alguns objetos, resquícios
do lixo cotidiano da época.Pudemos
problematizar esta questão com os
estudantes e materializar a real
condição, por muitas vezes suavizada
nos livros didáticos, daqueles su
jeitos
que desembarcavam no Brasil como
fruto do tráfico atlântico de pessoas.
Ao final da visitação
propusemos um formulário a ser
respondido pelos estudantes via
internet. Constavam três
questionamentos: “Você gostou da
visita técnica à região da ‘Pequ
ena
África’? Justifique.”; Você
recomendaria esta visita a outr@
alun@? Justifique.”; “Pensando em
melhorar sempre, o que você mudaria
na visita técnica?”. A metade dos
presentes respondeu. Todos
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
afirmaram gostar da visita técnica e
justificaram, usualmen
te, relacionando
a questão do conhecimento ou a
materialização do conteúdo muitas
vezes idealizado em sala
Lembrando ser esse um dos objetivos
centrais da visita técnica. Assim como
todas as respostas apontaram que
recomendariam a visita a outros
estudantes, justificando a necessidade
de conhecer mais sobre a nossa
história.
Sobre a possibilidade de
melhorar a visita, foram apontados
alguns ajustes, como adicionar mais
lugares ao roteiro, ou, principalmente,
melhorar a logística da visita, como a
utilização de um veículo oferecido pela
instituição.
7.
É preciso afirmar que “Vid
negras importam! Algumas
considerações finais
Sair dos muros da escola torna
se fundamental para o processo de
construção do aprendizado,
(re)conhecimento e fortalecimento de
identidades. Pudemos, através da
visita, materializar um conhecimento
que mui
tas vezes fica pouco palpável
quando abordado em sala
envolto nas quatro frias paredes que
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
afirmaram gostar da visita técnica e
te, relacionando
a questão do conhecimento ou a
materialização do conteúdo muitas
vezes idealizado em sala
de aula.
Lembrando ser esse um dos objetivos
centrais da visita técnica. Assim como
todas as respostas apontaram que
recomendariam a visita a outros
estudantes, justificando a necessidade
de conhecer mais sobre a nossa
Sobre a possibilidade de
melhorar a visita, foram apontados
alguns ajustes, como adicionar mais
lugares ao roteiro, ou, principalmente,
melhorar a logística da visita, como a
utilização de um veículo oferecido pela
É preciso afirmar que “Vid
as
negras importam! Algumas
Sair dos muros da escola torna
-
se fundamental para o processo de
construção do aprendizado,
(re)conhecimento e fortalecimento de
identidades. Pudemos, através da
visita, materializar um conhecimento
tas vezes fica pouco palpável
quando abordado em sala
de aula,
envolto nas quatro frias paredes que
delimitam este espaço. Visualizar os
grilhões, ver os muros pintados da
Pedra do Sal, entender a real condição
dos escravizados torna
fundamental para o
situações polític
as
econômicas
contemporâneas.
Resgatando Djamila Ribeiro
(2019), compreendemos o processo
desta visita como uma ação que
questionou a cultura que consumimos,
na medida em que apresentou um
roteiro histórico aind
valorizado, bem como enxergou a
negritude presente nas e nos
estudantes que participaram da visita e
se viram na cultura presente na região
visitada.
Uma saída como esta
também contextualizar os mais
recentes ataques
umband
a e candomblé que vêm sendo
observados na rotina fluminense
como a violência praticada diariamente
contra as populações mais pobres e
seus representantes.
Em nossa hipótese, visitas
como esta permitem aos estudantes
9
Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas
noticias/2019/06/15/traficantes
policia-e-mpf-miram-
intolerancia
rio.htm?aff_source=56d95533a8284936a374e
3a6da3d7996
. Acesso em: 18 jul. 2020.
86
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
delimitam este espaço. Visualizar os
grilhões, ver os muros pintados da
Pedra do Sal, entender a real condição
dos escravizados torna
-se
fundamental para o
entendimento de
as
, sociais e
contemporâneas.
Resgatando Djamila Ribeiro
(2019), compreendemos o processo
desta visita como uma ação que
questionou a cultura que consumimos,
na medida em que apresentou um
roteiro histórico aind
a pouco
valorizado, bem como enxergou a
negritude presente nas e nos
estudantes que participaram da visita e
se viram na cultura presente na região
Uma saída como esta
permite
também contextualizar os mais
recentes ataques
a terreiros de
a e candomblé que vêm sendo
observados na rotina fluminense
9
, bem
como a violência praticada diariamente
contra as populações mais pobres e
Em nossa hipótese, visitas
como esta permitem aos estudantes
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas
-
noticias/2019/06/15/traficantes
-de-jesus-
intolerancia
-religiosa-no-
rio.htm?aff_source=56d95533a8284936a374e
. Acesso em: 18 jul. 2020.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
experiências que contribuem no
co
mbate às práticas racistas e
preconceituosas como as relatadas
anteriormente. O conhecimento
histórico, cultural e social do nosso
passado transbordou a sala de aula e
se (re)fez nas ruas, becos e vielas da
Pequena África. Com essa ação
pretendemos ser um
contraponto aos
discursos de ódio, tanto no que tange
à
própria prática docente (PENNA,
2016), como também às minorias, do
ponto de vista sociológico, tendo em
vista à negação enfática do passado
escravista brasileiro, sobretudo em
conteúdos vistos na inte
redes sociais. Bem como também
dialogamos com a ideia de que o
racismo é sempre
estrutural”,
suas expressões
no cotidiano, seja
nas relações interpessoais, seja na
dinâmica das instituições, são
manifestações de algo mais profundo,
que se desenvolve nas entranhas
políticas e econômicas da sociedade”.
Portanto, “em uma sociedade em que
o racismo está presente na v
cotidiana, as instituições que não
tratarem de maneira ativa e como um
problema a desigualdade racial irão
facilmente reproduzir as práticas
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
experiências que contribuem no
mbate às práticas racistas e
preconceituosas como as relatadas
anteriormente. O conhecimento
histórico, cultural e social do nosso
passado transbordou a sala de aula e
se (re)fez nas ruas, becos e vielas da
Pequena África. Com essa ação
contraponto aos
discursos de ódio, tanto no que tange
própria prática docente (PENNA,
2016), como também às minorias, do
ponto de vista sociológico, tendo em
vista à negação enfática do passado
escravista brasileiro, sobretudo em
conteúdos vistos na inte
rnet e nas
redes sociais. Bem como também
dialogamos com a ideia de que o
estrutural”,
e que
no cotidiano, seja
nas relações interpessoais, seja na
dinâmica das instituições, são
manifestações de algo mais profundo,
que se desenvolve nas entranhas
políticas e econômicas da sociedade”.
Portanto, “em uma sociedade em que
o racismo está presente na v
ida
cotidiana, as instituições que não
tratarem de maneira ativa e como um
problema a desigualdade racial irão
facilmente reproduzir as práticas
racistas tidas como ‘normais’ em
toda a sociedade (ALMEIDA, 2019).
Nesse sentido, como apontado
na HQ que a
presentamos no início do
artigo, precisamos falar sobre este
passado de dor para que ele não se
repita. Silenciar implica naturalizar.
Não podemos naturalizar que o Brasil
ainda continue sendo racista,
praticando um genocídio da população
negra como aponta
m os dados da
Anistia Internacional na Campanha
“Jovem Negro Vivo”
10
antirracista
comprometid
promoção dos Direitos Humanos é
urgente, afinal as ruas gritam “Vidas
negras importam!”. E
experiência compartilhada neste
arti
go, possa contribuir para uma
educação de fato igualitária.
8. Referências
bibliográficas
ALMEIDA, S. L.
Racismo Estrutural
São Paulo: Editora Pólen, 2019.
ANDERSON, B.
Imaginadas:
reflexões sobre a origem
e a difusão do nacionalismo
Paulo: Companhia das Letras, 2008.
ANDRADE, N. M. S.
escolares como táticas criadoras: os
praticantes nas tessituras de
10
Disponível em:
https://anistia.org.br/campanhas/jovemnegrovi
vo/.
Acesso em: 15 jul. 2020.
87
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
racistas tidas como ‘normais’ em
toda a sociedade (ALMEIDA, 2019).
Nesse sentido, como apontado
presentamos no início do
artigo, precisamos falar sobre este
passado de dor para que ele não se
repita. Silenciar implica naturalizar.
Não podemos naturalizar que o Brasil
ainda continue sendo racista,
praticando um genocídio da população
m os dados da
Anistia Internacional na Campanha
10
. Uma Educação
comprometid
a com a
promoção dos Direitos Humanos é
urgente, afinal as ruas gritam “Vidas
negras importam!”. E
speramos que, a
experiência compartilhada neste
go, possa contribuir para uma
educação de fato igualitária.
bibliográficas
Racismo Estrutural
.
São Paulo: Editora Pólen, 2019.
Comunidades
reflexões sobre a origem
e a difusão do nacionalismo
. São
Paulo: Companhia das Letras, 2008.
ANDRADE, N. M. S.
Práticas
escolares como táticas criadoras: os
praticantes nas tessituras de
https://anistia.org.br/campanhas/jovemnegrovi
Acesso em: 15 jul. 2020.
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
currículos. Tese (
Doutorado
Educação).
Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, 2011.
CAPUTO, S. G.
Educação nos
terreiros:
e como a escola se relaciona
com crianças de candomblé
Janeiro: Pallas, 2012.
CHALHOUB, S.
Cidade Febril:
e epidemias na Corte Imperial. São
Paulo: Companhia das Letras, 1995.
CHALHOUB, S.
Visões da Liberdade:
uma história das última
s décadas da
escravidão na Corte.
São Paulo:
Companhia das Letras, 2011.
CORRÊA, M. L.
Quilombo Pedra do
Sal
. Belo Horizonte: FAFICH, 2016.
DAYRELL, J. T. A Escola faz as
juventudes? Reflexões em torno da
socialização juvenil.
Educação e
Sociedade, C
ampinas, v. 28, n. 100, p.
1105–
1128, 2007. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a
2228100.
Acesso em: 16 jun. 2020.
FANON, F.
Pele negra máscaras
brancas
. Salvador: EDUFBA, 2008.
FANON, F. Racismo e cultura. In:
SANCHES, Manuela Ribeiro (org
Malhas que que os impérios tecem:
textos anticoloniais, contextos pós
coloniais. Lisboa: Edições 70, 2011.
p.273-286.
GOMES, N. L. Educação e Identidade
Negra.
Aletria: Revista de Estudos de
Literatura
, Minas Gerais, v.9, p.38
47, 2002. Disponível
http://www.periodicos.letras.ufmg.br/in
dex.php/aletria/article/view/1296/1392
Acesso em: 16 jun. 2020.
GORENDER, J.
O Escravismo
Colonial
. São Paulo: Editora Perseu
Abramo, 2010.
GUIMARÃES, R. S.
A utopia da
Pequena África
: projetos urbanísticos,
patr
imônios e conflitos na Zona
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Doutorado
em
Universidade do Estado do
Educação nos
e como a escola se relaciona
com crianças de candomblé
. Rio de
Cidade Febril:
cortiços
e epidemias na Corte Imperial. São
Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Visões da Liberdade:
s décadas da
São Paulo:
Companhia das Letras, 2011.
Quilombo Pedra do
. Belo Horizonte: FAFICH, 2016.
DAYRELL, J. T. A Escola faz as
juventudes? Reflexões em torno da
Educação e
ampinas, v. 28, n. 100, p.
1128, 2007. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a
Acesso em: 16 jun. 2020.
Pele negra máscaras
. Salvador: EDUFBA, 2008.
FANON, F. Racismo e cultura. In:
SANCHES, Manuela Ribeiro (org
.).
Malhas que que os impérios tecem:
textos anticoloniais, contextos pós
-
coloniais. Lisboa: Edições 70, 2011.
GOMES, N. L. Educação e Identidade
Aletria: Revista de Estudos de
, Minas Gerais, v.9, p.38
47, 2002. Disponível
em:
http://www.periodicos.letras.ufmg.br/in
dex.php/aletria/article/view/1296/1392
.
O Escravismo
. São Paulo: Editora Perseu
A utopia da
: projetos urbanísticos,
imônios e conflitos na Zona
Portuária carioca. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2014.
HALL, S.
Da Diáspora:
mediações culturais
. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2006
MARCHESE, R. As desventuras de
um conceito: capitalismo histórico e a
historiograf
ia sobre a escravidão
brasileira.
Revista de História
Paulo, n. 169, p.223
2013. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/rh/n169/0034
8309-rh-169-
00223.pdf. Acesso em: 19
jul. 2020.
MOURA, C.
História do Negro
Brasileiro
. o Paulo: Edi
1992.
MUNANGA, K. Por que ensinar a
história da África e do negro no Brasil
de hoje?
Revista do Instituto de
Estudos Brasileiros,
São Paulo, n. 62,
p. 20–
31, dez. 2015. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/rieb/n62/2316
-901X-rieb-62-
00020.pdf. Acesso em:
16 jun. 2020.
NASCIMENTO, A.
P.
social dos negros no Brasil depois do
fim da escravidão? -
O pós
ensino de História
. In: SALGUEIRO,
Maria Aparecida Andra
República e a Questão do Negro no
Brasil
. Rio de Janeiro: Editora Museu
da República, 2005.
p. 11
NORA, P. Entre Memória e História: a
problemática dos Lugares.
Projeto História
, São Paulo, v.10, p. 7
28, 1993. Disponível em:
http:
//revistas.pucsp.br/revph/article/vie
w/12101/8763.
Acesso em: 16 jun.
2020.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS. Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Assembleia Geral
das Nações Unidas em Paris. 10 dez.
1948. Disponível em:
88
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
Portuária carioca. Rio de Janeiro:
Da Diáspora:
Identidades e
. Belo Horizonte:
MARCHESE, R. As desventuras de
um conceito: capitalismo histórico e a
ia sobre a escravidão
Revista de História
, São
Paulo, n. 169, p.223
-253, jul/dez.
2013. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/rh/n169/0034
-
00223.pdf. Acesso em: 19
História do Negro
. o Paulo: Edi
tora Ática,
MUNANGA, K. Por que ensinar a
história da África e do negro no Brasil
Revista do Instituto de
São Paulo, n. 62,
31, dez. 2015. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/rieb/n62/2316
00020.pdf. Acesso em:
P.
Qual a condição
social dos negros no Brasil depois do
O pós
-abolição no
. In: SALGUEIRO,
Maria Aparecida Andra
de (org.). A
República e a Questão do Negro no
. Rio de Janeiro: Editora Museu
p. 11
-26.
NORA, P. Entre Memória e História: a
problemática dos Lugares.
Revista
, São Paulo, v.10, p. 7
28, 1993. Disponível em:
//revistas.pucsp.br/revph/article/vie
Acesso em: 16 jun.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS. Declaração Universal dos
Direitos Humanos. Assembleia Geral
das Nações Unidas em Paris. 10 dez.
1948. Disponível em:
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
prática educacional antirracista.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
https://nacoesunidas.org/wp
cont
ent/uploads/2018/10/DUDH.pdf.
Acesso em: 19 jun. 2020.
PASSOS, P.; FACINA, A.
Popular e Direitos Humanos
Janeiro: Instituto de Defensores de
Direitos Humanos, 2014.
PASSOS, P.; MULICO, L.; MORGAN,
E. Educação e Direitos Humanos em
tempos d
e conservadorismo:
Transdisciplinaridade, Transgressão e
Pensamento Crítico em um Projeto de
Extensão. In: PASSOS, Pâmel
MULICO, Lêslie (org.)
Educação e
Direitos Humanos na Rede Federal de
Educação Profissional e Tecnológica
João Pessoa: Editora IFPB,
111-152.
PENNA, F. O ódio aos professores. In:
AÇÃO EDUCATIVA Assessoria,
Pesquisa e Informação (
Ideologia do Movimento Escola Sem
Partido. São Paulo: Ação Educativa,
2016.
PRICE, R. O milagre da crioulização:
retrospectiva.
Estudos Afro
Rio de Janeiro, v. 25, n.
3, p.
Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/eaa/v25n3/a0
2v25n3.pdf.
Acesso em: 16 jun. 2020.
RIBEIRO, Djamila.
Pequeno manual
antirracista
. São Paulo: Cia das Letras,
2019.
SANTOS, J. R.
A escravidão no
São Paulo: Melhoramentos, 2013.
SANTOS. M.
Por uma outra
globalização: do pensamento único à
consciência universal
. Rio de Janeiro:
Record, 2006.
SIMAS, L. A.; RUFINO, L.
encantada das macumbas
Janeiro: Mórula, 2018.
THOMPSON, E. P.
Costumes em
comum:
estudos sobre a cultura
PASSOS, Pâmella; SOUZA, Pedro; SILVA, Sandrine B. da. Fazendo ouvir
cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena África como uma
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 69-89,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
https://nacoesunidas.org/wp
-
ent/uploads/2018/10/DUDH.pdf.
PASSOS, P.; FACINA, A.
Cultura
Popular e Direitos Humanos
. Rio de
Janeiro: Instituto de Defensores de
PASSOS, P.; MULICO, L.; MORGAN,
E. Educação e Direitos Humanos em
e conservadorismo:
Transdisciplinaridade, Transgressão e
Pensamento Crítico em um Projeto de
Extensão. In: PASSOS, Pâmel
la;
Educação e
Direitos Humanos na Rede Federal de
Educação Profissional e Tecnológica
.
João Pessoa: Editora IFPB,
2019. p.
PENNA, F. O ódio aos professores. In:
AÇÃO EDUCATIVA Assessoria,
Pesquisa e Informação (
org.). A
Ideologia do Movimento Escola Sem
Partido. São Paulo: Ação Educativa,
PRICE, R. O milagre da crioulização:
Estudos Afro
-Asiáticos,
3, p.
383-419.
Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/eaa/v25n3/a0
Acesso em: 16 jun. 2020.
Pequeno manual
. São Paulo: Cia das Letras,
A escravidão no
Brasil.
São Paulo: Melhoramentos, 2013.
Por uma outra
globalização: do pensamento único à
. Rio de Janeiro:
SIMAS, L. A.; RUFINO, L.
A ciência
encantada das macumbas
. Rio de
Costumes em
estudos sobre a cultura
popular tradicional
. São Paulo:
Companhia as Letras, 2005.
89
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Tramas entre cultura e educação")
. São Paulo:
Companhia as Letras, 2005.
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
Cultura popular e educação, uma experiência de visitação ao Museu Casa do
Pontal
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
Resumo:
A cultura atua como um componente ativo e aliado ao processo de ensino aprendizagem, o
que justifica a formação do indivíduo crítico e participativo de uma sociedade. Muito além de gerar
condições para a apropriação de conhecimentos em sala de aula, a educ
alinhamento para o debate em torno da atuação do aprendiz em novas experiências culturais. O
Museu Casa do Pontal, classificado como um museu de arte popular é um lugar de educação e
cultura que colabora positivamente com o processo co
busca contribuir com as reflexões sobre a relação cultura e educação, com a apresentação das
experiências de vivências extramuros, especificamente concretizadas a partir da visitação por turmas
do ensino fundamen
tal I, de escolas regulares da rede pública do município do Rio de Janeiro ao
referido museu. O artigo faz uma rápida abordagem sobre a educação não formal, mostra o espaço
do museu, reflete sobre a educação museal com o apoio da arte educação e procede a
situações nas quais os alunos interagem, trocam e experimentam momentos de aprendizagem,
prazer e deleite.
Palavras-chave: C
ultura popular; educação; Museu Casa do Pontal; educação museal
Cultura y educación popular, una experiencia de v
Resumen:
La cultura actúa como un componente activo aliado al proceso de enseñanza
lo que justifica la formación del individuo crítico y participativo en la sociedade. Mucho más que
generar condiciones para la apropriación del conocimiento en el aula,
alinearse con el debate en torno al desempeño de la participacion del alumno en nuevas experiencias
culturales. El museo Casa do Pontal, classificado como museo de arte popular, es un lugar de
educación y cultura que colabora positiv
Este artículo busca contribuir a las reflexiones sobre la relación entre cultura y educación, a partir de
la presentación de experiências extramuros. La investigación se realizo a partir de la visita
de grupos de escuelas blicas de la cuidad de Río de Janeiro. El artículo analisa brevemente la
educación no formal, muestra el espacio del museo, reflexiona sobre la educación museística com el
1
Lia Calabre. Doutora em História (UFF), Professora do PPG Memória e Acervos da FCRB e do PPG
Cultura e Territorialidades
UFF, Brasil.E
0002-7586-7210
2
Rosely Gonçalves Coutinho. Mestra em Memória e Acervos (FCRB), Professora regente do Ensino
Fundamental I –
Município do Rio de Janeiro, Brasil E
Texto recebido em 27/08/20
20
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Cultura popular e educação, uma experiência de visitação ao Museu Casa do
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
45577
Rosely Coutinho
A cultura atua como um componente ativo e aliado ao processo de ensino aprendizagem, o
que justifica a formação do indivíduo crítico e participativo de uma sociedade. Muito além de gerar
condições para a apropriação de conhecimentos em sala de aula, a educ
ação precisa fazer o
alinhamento para o debate em torno da atuação do aprendiz em novas experiências culturais. O
Museu Casa do Pontal, classificado como um museu de arte popular é um lugar de educação e
cultura que colabora positivamente com o processo co
nstrutivo dos estudantes. O presente artigo
busca contribuir com as reflexões sobre a relação cultura e educação, com a apresentação das
experiências de vivências extramuros, especificamente concretizadas a partir da visitação por turmas
tal I, de escolas regulares da rede pública do município do Rio de Janeiro ao
referido museu. O artigo faz uma rápida abordagem sobre a educação não formal, mostra o espaço
do museu, reflete sobre a educação museal com o apoio da arte educação e procede a
situações nas quais os alunos interagem, trocam e experimentam momentos de aprendizagem,
ultura popular; educação; Museu Casa do Pontal; educação museal
Cultura y educación popular, una experiencia de v
isita al Museo Casa do Pontal
La cultura actúa como un componente activo aliado al proceso de enseñanza
lo que justifica la formación del individuo crítico y participativo en la sociedade. Mucho más que
generar condiciones para la apropriación del conocimiento en el aula,
la educación necessita
alinearse con el debate en torno al desempeño de la participacion del alumno en nuevas experiencias
culturales. El museo Casa do Pontal, classificado como museo de arte popular, es un lugar de
educación y cultura que colabora positiv
amente con el proceso de aprendizaje de los estudiantes.
Este artículo busca contribuir a las reflexiones sobre la relación entre cultura y educación, a partir de
la presentación de experiências extramuros. La investigación se realizo a partir de la visita
de grupos de escuelas blicas de la cuidad de Río de Janeiro. El artículo analisa brevemente la
educación no formal, muestra el espacio del museo, reflexiona sobre la educación museística com el
Lia Calabre. Doutora em História (UFF), Professora do PPG Memória e Acervos da FCRB e do PPG
UFF, Brasil.E
-mail: liacalabre@gmail.com.br -
https://orcid.org/0000
Rosely Gonçalves Coutinho. Mestra em Memória e Acervos (FCRB), Professora regente do Ensino
Município do Rio de Janeiro, Brasil E
-mail:
liucoutinho@yahoo.com.br
20
, aceito para publicação em 24/11/2020
e disponibilizado online
em 01/03/2021.
90
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Cultura popular e educação, uma experiência de visitação ao Museu Casa do
Lia Calabre
1
Rosely Coutinho
2
A cultura atua como um componente ativo e aliado ao processo de ensino aprendizagem, o
que justifica a formação do indivíduo crítico e participativo de uma sociedade. Muito além de gerar
ação precisa fazer o
alinhamento para o debate em torno da atuação do aprendiz em novas experiências culturais. O
Museu Casa do Pontal, classificado como um museu de arte popular é um lugar de educação e
nstrutivo dos estudantes. O presente artigo
busca contribuir com as reflexões sobre a relação cultura e educação, com a apresentação das
experiências de vivências extramuros, especificamente concretizadas a partir da visitação por turmas
tal I, de escolas regulares da rede pública do município do Rio de Janeiro ao
referido museu. O artigo faz uma rápida abordagem sobre a educação não formal, mostra o espaço
do museu, reflete sobre a educação museal com o apoio da arte educação e procede a
descrição das
situações nas quais os alunos interagem, trocam e experimentam momentos de aprendizagem,
ultura popular; educação; Museu Casa do Pontal; educação museal
.
isita al Museo Casa do Pontal
La cultura actúa como un componente activo aliado al proceso de enseñanza
-aprendizaje,
lo que justifica la formación del individuo crítico y participativo en la sociedade. Mucho más que
la educación necessita
alinearse con el debate en torno al desempeño de la participacion del alumno en nuevas experiencias
culturales. El museo Casa do Pontal, classificado como museo de arte popular, es un lugar de
amente con el proceso de aprendizaje de los estudiantes.
Este artículo busca contribuir a las reflexiones sobre la relación entre cultura y educación, a partir de
la presentación de experiências extramuros. La investigación se realizo a partir de la visita
al Museo
de grupos de escuelas blicas de la cuidad de Río de Janeiro. El artículo analisa brevemente la
educación no formal, muestra el espacio del museo, reflexiona sobre la educación museística com el
Lia Calabre. Doutora em História (UFF), Professora do PPG Memória e Acervos da FCRB e do PPG
https://orcid.org/0000
-
Rosely Gonçalves Coutinho. Mestra em Memória e Acervos (FCRB), Professora regente do Ensino
liucoutinho@yahoo.com.br
e disponibilizado online
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
apoyo de la educación artística y describe las sit
intercambian y experimentam momentos de aprendizaje y placer.
Palabras clave: C
ultura popular; ed
Popular culture and education, a visitation experience to
Abstract:
Culture acts as an active component allied with the teaching
justifies the formation of the critical and participative individual in society. Much more than creating
conditions for classroom
learning, education needs to establish the debate about learner participation
in new cultural experiences. The Casa do Pontal Museum is classified as a popular art museum, being
a place of education and culture that positively collaborates with the student
article aims to contribute to the reflections on the relationship between culture and education, based
on the presentation of experiences from outside the walls. The research was carried out from the visit
to the Casa do Pontal Mu
seum by elementary school groups from regular public schools in the city of
Rio de Janeiro. The article briefly discusses non
reflects on museum education with the support of art education and describes the situa
students interact, exchange and experience moments of learning, pleasure and treat.
Keywords: Popular culture; edu
cation; Casa do Pontal Museum; m
Cultura popular e educação, uma experiência de visitação ao Museu Casa do
O presente artigo é construído a
partir da perspectiva de que as
experiências
de vivências extramuros,
em especial quando essas se dão no
campo da cultura, têm um papel
fundamental e diferenciado dentro dos
tradicionais processos formais de
aprendizagem.
Nessa direção, abordaremos
aspectos da categoria de educação
não formal, a qu
al possibilita que os
conteúdos a serem explorados na
produção de vários conhecimentos,
venham ao indivíduo como uma leitura
de mundo, a partir das situações que o
cercam. Crítico
aos métodos
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
apoyo de la educación artística y describe las sit
uaciones en las que los etudiantes interactúan,
intercambian y experimentam momentos de aprendizaje y placer.
ultura popular; ed
ucación, Museo Casa do Pontal, educación
m
Popular culture and education, a visitation experience to
the Casa do Pontal Museum
Culture acts as an active component allied with the teaching
-
learning process, which
justifies the formation of the critical and participative individual in society. Much more than creating
learning, education needs to establish the debate about learner participation
in new cultural experiences. The Casa do Pontal Museum is classified as a popular art museum, being
a place of education and culture that positively collaborates with the student
s' learning process. This
article aims to contribute to the reflections on the relationship between culture and education, based
on the presentation of experiences from outside the walls. The research was carried out from the visit
seum by elementary school groups from regular public schools in the city of
Rio de Janeiro. The article briefly discusses non
-
formal education, shows the museum's space,
reflects on museum education with the support of art education and describes the situa
students interact, exchange and experience moments of learning, pleasure and treat.
cation; Casa do Pontal Museum; m
useal e
ducation
Cultura popular e educação, uma experiência de visitação ao Museu Casa do
Pontal
O presente artigo é construído a
partir da perspectiva de que as
de vivências extramuros,
em especial quando essas se dão no
campo da cultura, têm um papel
fundamental e diferenciado dentro dos
tradicionais processos formais de
Nessa direção, abordaremos
aspectos da categoria de educação
al possibilita que os
conteúdos a serem explorados na
produção de vários conhecimentos,
venham ao indivíduo como uma leitura
de mundo, a partir das situações que o
aos métodos
tradicionais de ensino o pedagogo e
educador francês Célestin
(1896-1966),
importante
início do culo XX, para os que lutam
por uma escola democrática, aponta
para a importância de modernizar os
métodos escolares de ensino,
3
Freinet desenvolveu uma técnica pedagógica
baseada na experimentação e na
documentação, almejando uma prática
educacional centrada na criança, com o intuito
de formar crianças ativas e dinâmicas. Sua
pedagogia busca promover os direitos das
crianças, dos a
lunos e dos professores.
(FREINET, Celestin.
diferentes perspectivas
. 2015) Disponível em:
https://educimat.cefor.ifes.edu.br/images/storie
s/Publica%C3%A7%C3%B5es/Livros/Livro
Aprendizado-em-
diferentes
perspectivas_2015.pdf#page=116 Acess
10 jan. 2020.
91
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
uaciones en las que los etudiantes interactúan,
m
useal.
the Casa do Pontal Museum
learning process, which
justifies the formation of the critical and participative individual in society. Much more than creating
learning, education needs to establish the debate about learner participation
in new cultural experiences. The Casa do Pontal Museum is classified as a popular art museum, being
s' learning process. This
article aims to contribute to the reflections on the relationship between culture and education, based
on the presentation of experiences from outside the walls. The research was carried out from the visit
seum by elementary school groups from regular public schools in the city of
formal education, shows the museum's space,
reflects on museum education with the support of art education and describes the situa
tions in which
students interact, exchange and experience moments of learning, pleasure and treat.
ducation
.
Cultura popular e educação, uma experiência de visitação ao Museu Casa do
tradicionais de ensino o pedagogo e
educador francês Célestin
Freinet
importante
referência
3
no
início do culo XX, para os que lutam
por uma escola democrática, aponta
para a importância de modernizar os
métodos escolares de ensino,
Freinet desenvolveu uma técnica pedagógica
baseada na experimentação e na
documentação, almejando uma prática
educacional centrada na criança, com o intuito
de formar crianças ativas e dinâmicas. Sua
pedagogia busca promover os direitos das
lunos e dos professores.
(FREINET, Celestin.
Aprendizagem em
. 2015) Disponível em:
https://educimat.cefor.ifes.edu.br/images/storie
s/Publica%C3%A7%C3%B5es/Livros/Livro
-1-
diferentes
-
perspectivas_2015.pdf#page=116 Acess
o em:
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
buscando fazer com que as atividades
educativas propostas aos estudantes
sejam ligadas às situações da vida. No
seu fazer pedagógico, defendia e
desenvolvia uma rotina escolar
pautada em
aulas passeio.
caso,
Freinet indicava que era
negativa a permanência constante do
discente em ambiente fechado, ou
seja, apenas em sala
s de aula. Na
construção do conhecimento
observava
o valor da descoberta e de
novas sensações. Tais contribuições
motivam a reflexão de muitos dos
profissionais da educação atentos aos
desdobramentos possíveis de tais
atividades nos processos de
aprendizagem.
O sentido da educação não
formal para a construção da formação
integral da pessoa ganha relevância
nas ações educativas quando estas
são realizadas em espaços capazes
de produzir relações de identidade e
pertencimento.Aqui necessitamos abrir
um parêntesis para explicitarmos que,
especificamente nesse artigo, estamos
buscando um diálogo com
experiências vivenciadas com alunos
da rede pública de educação do
município do Rio de Janeiro, mais
especi
ficamente da zona oeste da
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
buscando fazer com que as atividades
educativas propostas aos estudantes
sejam ligadas às situações da vida. No
seu fazer pedagógico, defendia e
desenvolvia uma rotina escolar
aulas passeio.
Nesse
Freinet indicava que era
negativa a permanência constante do
discente em ambiente fechado, ou
s de aula. Na
construção do conhecimento
o valor da descoberta e de
novas sensações. Tais contribuições
motivam a reflexão de muitos dos
profissionais da educação atentos aos
desdobramentos possíveis de tais
atividades nos processos de
O sentido da educação não
formal para a construção da formação
integral da pessoa ganha relevância
nas ações educativas quando estas
são realizadas em espaços capazes
de produzir relações de identidade e
pertencimento.Aqui necessitamos abrir
um parêntesis para explicitarmos que,
especificamente nesse artigo, estamos
buscando um diálogo com
experiências vivenciadas com alunos
da rede pública de educação do
município do Rio de Janeiro, mais
ficamente da zona oeste da
cidade com um museu d
popular também localizado na mesma
região: o Museu Casa do Pontal. Um
pouco inspiradas por Freinet, os
alunos aqui são pensados não como
indivíduos isolados, mas como
integrantes de uma comunidade maior,
marcada por processos cotidianos que
acent
uam e reforçam as múltiplas e
graves desigualdades presentes na
sociedade brasileira.
Dentro dessa perspectiva o
acesso, talvez mais que isso
explicitação, a publicização
riqueza, da dinâmica e da diversidade
da cultura popular cumprem um
importante
papel na construção de
uma sociedade mais democrática,
mais inclusiva, mais próxima da
própria realidade.
Os museus, são nossos
espaços
de guarda da memória social.
Segundo a definição da Lei 11.904,
de 14/01/2009, que institui o Estatuto
de Museus, e
ssas são instituições que
“conservam, investigam, comunicam,
interpretam e expõem, para fins de
preservação, estudo, pesquisa,
educação, contemplação e turismo,
conjuntos e coleções...” .
O movimento de comunicação e
percepção da cultura popular em
92
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
cidade com um museu d
e cultura
popular também localizado na mesma
região: o Museu Casa do Pontal. Um
pouco inspiradas por Freinet, os
alunos aqui são pensados não como
indivíduos isolados, mas como
integrantes de uma comunidade maior,
marcada por processos cotidianos que
uam e reforçam as múltiplas e
graves desigualdades presentes na
Dentro dessa perspectiva o
acesso, talvez mais que isso
, a
explicitação, a publicização
, da
riqueza, da dinâmica e da diversidade
da cultura popular cumprem um
papel na construção de
uma sociedade mais democrática,
mais inclusiva, mais próxima da
Os museus, são nossos
de guarda da memória social.
Segundo a definição da Lei 11.904,
de 14/01/2009, que institui o Estatuto
ssas são instituições que
“conservam, investigam, comunicam,
interpretam e expõem, para fins de
preservação, estudo, pesquisa,
educação, contemplação e turismo,
conjuntos e coleções...” .
O movimento de comunicação e
percepção da cultura popular em
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
museus
, tanto pelo acervo, como pela
condução da visitação que é
proporcionada por alguns desses
ambientes culturais, tem uma
potencialidade especial de gerar
processos de identidades, em especial
em alguns segmentos da sociedade.
Em alguns desses espaços, os
acervos
m o potencial de promover
trocas
e diálogos, entre os visitantes, a
respeito da compreensão de
determinado patrimônio ou da
apropriação de uma significação
diversa.
Educação e Museu
O Museu Casa do Pontal como
lugar de educação e cultura, segundo
Angela Mascelani, atual diretora da
instituição, é considerado o mais
significativo museu de arte popular do
Brasil (MASCELANI, 2009). Seu
espaço de visitação colabora
positivamente com o processo
educativo de estudantes das redes
públicas e particulares
recebendo ainda a visita de grupos
provenientes de Organizações Não
Governamentais (ONGs), de grupos
religiosos e de turistas, além do
público em geral, formado por
visitantes independentes.
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
, tanto pelo acervo, como pela
condução da visitação que é
proporcionada por alguns desses
ambientes culturais, tem uma
potencialidade especial de gerar
processos de identidades, em especial
em alguns segmentos da sociedade.
Em alguns desses espaços, os
m o potencial de promover
e diálogos, entre os visitantes, a
respeito da compreensão de
determinado patrimônio ou da
apropriação de uma significação
O Museu Casa do Pontal como
lugar de educação e cultura, segundo
Angela Mascelani, atual diretora da
instituição, é considerado o mais
significativo museu de arte popular do
Brasil (MASCELANI, 2009). Seu
espaço de visitação colabora
positivamente com o processo
educativo de estudantes das redes
públicas e particulares
de ensino,
recebendo ainda a visita de grupos
provenientes de Organizações Não
Governamentais (ONGs), de grupos
religiosos e de turistas, além do
público em geral, formado por
O acervo do referido museu foi
formado em quarenta
pesquisa pelo designer francês
Jacques Van de Beuque (1922
que conheceu vários
presentes, durante inúmeras viagens
pelo Brasil. Tal estruturação teve início
na década de 1950 e, a partir de
então, estendeu-
se com forma de
coleção.
Hoje o acervo é composto por
cerca de 9.000 peças, de 300 artistas,
oriundos de vários estados brasileiros.
Seu espaço para exposições
temporárias e permanentes abriga
obras que representam cenas e
atividades do cotidiano sejam festivas,
imaginárias e
religiosas ou ainda de
trabalho, de diversas partes do país.
O número de obras em exibição
também reforça a compreensão de
que a arte popular é feita em todo o
país e não diz respeito a um único
estilo de arte. Trata
propriamente, de um campo
que demarca a origem social
daquele indivíduo que é artista.
(MASCELANI, 2014, p. 7).
Encontrada nas mais diversas
regiões do país, a arte popular de
acordo com Poel (2012, p. 209
testemunha que “a prática artística do
mestre popular faz par
cotidiano e tem laços essenciais com a
cultura e a história de sua comunidade
e sua religião”. Entendendo ainda que
93
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
O acervo do referido museu foi
formado em quarenta
anos de
pesquisa pelo designer francês
Jacques Van de Beuque (1922
-2000),
que conheceu vários
dos artistas ali
presentes, durante inúmeras viagens
pelo Brasil. Tal estruturação teve início
na década de 1950 e, a partir de
se com forma de
Hoje o acervo é composto por
cerca de 9.000 peças, de 300 artistas,
oriundos de vários estados brasileiros.
Seu espaço para exposições
temporárias e permanentes abriga
obras que representam cenas e
atividades do cotidiano sejam festivas,
religiosas ou ainda de
trabalho, de diversas partes do país.
O número de obras em exibição
também reforça a compreensão de
que a arte popular é feita em todo o
país e não diz respeito a um único
estilo de arte. Trata
-se, mais
propriamente, de um campo
de arte,
que demarca a origem social
daquele indivíduo que é artista.
(MASCELANI, 2014, p. 7).
Encontrada nas mais diversas
regiões do país, a arte popular de
acordo com Poel (2012, p. 209
–211)
testemunha que “a prática artística do
mestre popular faz par
te de seu
cotidiano e tem laços essenciais com a
cultura e a história de sua comunidade
e sua religião”. Entendendo ainda que
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
“na arte do povo, o social, o
econômico, o geográfico, o religioso, o
estético e o funcional se
complementam de modo natural e
din
âmico. Na hora de criar, o artista
popular, na sua condição marginal,
nos surpreende pela inventividade
pessoal e espontânea”. (
Idem
Nesse contexto, notadamente
sobre a arte que compõem o acervo
do Museu Casa do Pontal, Frota
discorre que:
Importa inicial
mente esclarecer que
os objetos aqui representados nada
têm de ‘rústico’, ‘pitoresco’, ‘tosco’,
‘primitivo’ ou conceitos de atribuições
similares. Estes são frutos de
culturas com valores próprios,
critérios de gosto e aperfeiçoamento
próprios, que demonst
invenção formal, mestria técnica e
fruição estética [...] Na verdade, o
que nos interessa para além de
qualquer codificação é a pessoa
destes artistas, pela reformulação
que sem saber nos propõem, no
tocante à sacralização das artes que
a Renas
cença nos legou. São eles
indivíduos cuja criatividade espelha
um viver assumido, onde a
imaginação reintegra e reinventa os
objetos do existir, modificando
modificando-
se. Homens e mulheres
em que o distinção entre o ser
e o fazer, que não disso
da vida. (FROTA, 1976,
2012, p. 209).
Ainda na perspectiva de Frota
(2012,
p. 209) no que se refere ao
acervo do Museu Casa do Pontal “o
que interessa para além de qualquer
codificação é a pessoa destes
artistas”, e como tal, Noemisa Batista
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
“na arte do povo, o social, o
econômico, o geográfico, o religioso, o
estético e o funcional se
complementam de modo natural e
âmico. Na hora de criar, o artista
popular, na sua condição marginal,
nos surpreende pela inventividade
Idem
)
Nesse contexto, notadamente
sobre a arte que compõem o acervo
do Museu Casa do Pontal, Frota
mente esclarecer que
os objetos aqui representados nada
têm de ‘rústico’, ‘pitoresco’, ‘tosco’,
‘primitivo’ ou conceitos de atribuições
similares. Estes são frutos de
culturas com valores próprios,
critérios de gosto e aperfeiçoamento
próprios, que demonst
ram possuir
invenção formal, mestria técnica e
fruição estética [...] Na verdade, o
que nos interessa para além de
qualquer codificação é a pessoa
destes artistas, pela reformulação
que sem saber nos propõem, no
tocante à sacralização das artes que
cença nos legou. São eles
indivíduos cuja criatividade espelha
um viver assumido, onde a
imaginação reintegra e reinventa os
objetos do existir, modificando
-os e
se. Homens e mulheres
em que o distinção entre o ser
e o fazer, que não disso
ciam a arte
da vida. (FROTA, 1976,
apud POEL,
Ainda na perspectiva de Frota
p. 209) no que se refere ao
acervo do Museu Casa do Pontal “o
que interessa para além de qualquer
codificação é a pessoa destes
artistas”, e como tal, Noemisa Batista
dos Santos, ceramista mais de
cinquenta anos no Vale do
Jequitinhonha
MG desenvolve
técnica de maneira singular. Expõe
obras específicas da grande
representatividade da vida simples e
do cotidiano. Utiliza barro da região e
técnicas apuradas de modelagem,
tratamento, secagem, que particulariza
suas peças com flores, bolinhas
(sucesso
na percepção das crianças) e
outros detalhes que transborda de
poesia e delicadeza. Com a arte
figurativa, dificilmente reproduz cenas
que não sejam do seu mundo, do
próprio universo. Recorrente nas
temáticas consideradas universais,
que permeiam o cotidi
comuns, observa-
se em suas peças as
fases costumeiramente identificadas
no desenvolvimento humano,
inclusive, é comum que construa seu
autorretrato nas situações do dia a dia.
As estratégias das práticas estéticas
contemporâneas variam: cada
escolhe o meio em que a obra se
fará, mobilizado pelos signos que lhe
pedem passagem na experiência
que ele vive do meio em questão. O
trabalho se completará com a
criação de uma fórmula singular para
decifrá-
los, ou seja, trazê
invisível p
ara o visível. (ROLNIK,
2002, p. 46).
94
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
dos Santos, ceramista mais de
cinquenta anos no Vale do
MG desenvolve
uma
técnica de maneira singular. Expõe
obras específicas da grande
representatividade da vida simples e
do cotidiano. Utiliza barro da região e
técnicas apuradas de modelagem,
tratamento, secagem, que particulariza
suas peças com flores, bolinhas
na percepção das crianças) e
outros detalhes que transborda de
poesia e delicadeza. Com a arte
figurativa, dificilmente reproduz cenas
que não sejam do seu mundo, do
próprio universo. Recorrente nas
temáticas consideradas universais,
que permeiam o cotidi
ano de pessoas
se em suas peças as
fases costumeiramente identificadas
no desenvolvimento humano,
inclusive, é comum que construa seu
autorretrato nas situações do dia a dia.
As estratégias das práticas estéticas
contemporâneas variam: cada
artista
escolhe o meio em que a obra se
fará, mobilizado pelos signos que lhe
pedem passagem na experiência
que ele vive do meio em questão. O
trabalho se completará com a
criação de uma fórmula singular para
los, ou seja, trazê
-los do
ara o visível. (ROLNIK,
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
Dispostas num ambiente interno
de 1.500m²
4
, as obras do acervo do
Museu Casa do Pontal ficavam
organizadas em galerias com setores
divididos em 12 temáticas, quais
sejam: Profissões; Mestre Vitalino;
Vida Rural; Cic
lo da Vida; Brasil
Festa Popular; Jogos e Diversão;
Circo; Arte incomum; Arte Erótica;
Cangaço e História do Brasil; Religião
e Ex-
voto e Escolas de Samba. Estes
setores buscam oferecer uma visão
abrangente do universo cultural
brasileiro, compondo as va
culturas rurais e urbanas do país. O
Museu conta com um potente projeto
educativo.
As motivações para que
atividades educativas pudessem ser
realizadas em museus e a implantação
dessa ação teve início no Brasil em
1927, com a criação do Serviço de
Assistência ao Ensino do Museu
Nacional
5
, pretendendo difundir as
4
Área ocupada pelas exposições no período
das visitações que deram ensejo ao presente
artigo.
5
Setor educativo institucionalizado no Brasil
em 1927, o Serviço de Assistência ao Ensino
do Museu Nacional, foi criado por Roquete
Pinto.
O Serviço tinha como missão auxiliar o
desenvolvimento de práticas educativas que
colaborassem com o aprendizado e com o
currículo escolar. Instituto Brasileiro de
Museus. Caderno da Política Nacional de
Educação Museal. 2018, p. 14.
Disponível em:
https://www.museus.gov.br/wp-
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Dispostas num ambiente interno
, as obras do acervo do
Museu Casa do Pontal ficavam
organizadas em galerias com setores
divididos em 12 temáticas, quais
sejam: Profissões; Mestre Vitalino;
lo da Vida; Brasil
Festa Popular; Jogos e Diversão;
Circo; Arte incomum; Arte Erótica;
Cangaço e História do Brasil; Religião
voto e Escolas de Samba. Estes
setores buscam oferecer uma visão
abrangente do universo cultural
brasileiro, compondo as va
riadas
culturas rurais e urbanas do país. O
Museu conta com um potente projeto
As motivações para que
atividades educativas pudessem ser
realizadas em museus e a implantação
dessa ação teve início no Brasil em
1927, com a criação do Serviço de
Assistência ao Ensino do Museu
, pretendendo difundir as
Área ocupada pelas exposições no período
das visitações que deram ensejo ao presente
Setor educativo institucionalizado no Brasil
em 1927, o Serviço de Assistência ao Ensino
do Museu Nacional, foi criado por Roquete
O Serviço tinha como missão auxiliar o
desenvolvimento de práticas educativas que
colaborassem com o aprendizado e com o
currículo escolar. Instituto Brasileiro de
Museus. Caderno da Política Nacional de
Disponível em:
ciências nas escolas, e, dessa
maneira, desenvolver novas práticas
que enriquecessem o aprendizado e o
programa escolar, ainda que fosse
reforçando a visão histórica construída
pelas elites
do país. Devido
importância e considerado um dos
marcos da Museologia, o Seminário
Regional Latino-
Americano da
UNESCO em 1958, no Museu de Arte
Moderna no Rio de Janeiro, contribuiu
para uma nova perspectiva
pedagógica na esfera museal, e
podemos observar:
O Seminário Regional da UNESCO,
realizado na cidade do Rio de
Janeiro em 1958, viabilizou a
construção de um novo referencial
teórico-
prático no que se trata do
fazer museológico e das próprias
instituições ao discutir o papel
educativo dos museus.
daí, o conceito de museu vai se
ampliando, passando então a ser
também compreendido como um
espaço de educação para auxiliar
nas atividades do ensino formal e
como ferramenta didática, ou seja,
uma espécie de extensão do espaço
da escola. O do
cumento elaborado a
partir deste Seminário, a Declaração
do Rio de Janeiro, apresentou uma
preocupação dos profissionais de
museus com as questões
educativas, no âmbito da Museologia
e dos museus. A questão educativa
passa a ser mais enfatizada e
assumida
em um plano paralelo em
relação às outras funções
museológicas tradicionais. (SOTO,
2010, p. 31).
content/uploads/2018/06/Caderno
PNEM.pdf. Acesso em: 5 jan. 2020.
95
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
ciências nas escolas, e, dessa
maneira, desenvolver novas práticas
que enriquecessem o aprendizado e o
programa escolar, ainda que fosse
reforçando a visão histórica construída
do país. Devido
a sua
importância e considerado um dos
marcos da Museologia, o Seminário
Americano da
UNESCO em 1958, no Museu de Arte
Moderna no Rio de Janeiro, contribuiu
para uma nova perspectiva
pedagógica na esfera museal, e
O Seminário Regional da UNESCO,
realizado na cidade do Rio de
Janeiro em 1958, viabilizou a
construção de um novo referencial
prático no que se trata do
fazer museológico e das próprias
instituições ao discutir o papel
educativo dos museus.
E, a partir
daí, o conceito de museu vai se
ampliando, passando então a ser
também compreendido como um
espaço de educação para auxiliar
nas atividades do ensino formal e
como ferramenta didática, ou seja,
uma espécie de extensão do espaço
cumento elaborado a
partir deste Seminário, a Declaração
do Rio de Janeiro, apresentou uma
preocupação dos profissionais de
museus com as questões
educativas, no âmbito da Museologia
e dos museus. A questão educativa
passa a ser mais enfatizada e
em um plano paralelo em
relação às outras funções
museológicas tradicionais. (SOTO,
content/uploads/2018/06/Caderno
-da-
PNEM.pdf. Acesso em: 5 jan. 2020.
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
Entretanto, trabalhando com a
história das contribuições na área da
ciência, estudando e investigando
processos educacionais em museus,
Margaret Lopes, dou
tora em História
Social, alerta sobre os cuidados na
utilização de modelos de trabalho
melhor adaptados para o público
escolar nas instituições. Nesse caso,
a prática pode trazer resultados mais
eficazes para a comunicação dos
objetos pertencentes ao muse
esta ação não deve ser incorporada
como proposta permanente, pois
resultaria em “museus escolarizados”
(LOPES, 1991, p. 5).
A pesquisadora discorre ainda,
utilizando a crítica sobre a “animação
cultural em museus”, feita por Varine
Bohan (1987) n
a ação educativa
desenvolvida nesses espaços. O autor
divide o tipo de abordagem em três
categorias, quais sejam: terapêutica,
promocional e conscientizante. Com
características distintas a terapêutica e
a promocional corresponderiam ao que
o educador e fi
lósofo Paulo Freire
(1921–
1997) chama de
bancária
6
, que a comunicação é
6
“Em lugar de comunicar-
se, o educador faz
“comunicados” e depósitos que os educandos,
meras incidências, recebem pacientemente,
memorizam e
repetem” (FREIRE, 2005, p. 66).
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Entretanto, trabalhando com a
história das contribuições na área da
ciência, estudando e investigando
processos educacionais em museus,
tora em História
Social, alerta sobre os cuidados na
utilização de modelos de trabalho
melhor adaptados para o público
escolar nas instituições. Nesse caso,
a prática pode trazer resultados mais
eficazes para a comunicação dos
objetos pertencentes ao muse
u, porém
esta ação não deve ser incorporada
como proposta permanente, pois
resultaria em “museus escolarizados”
A pesquisadora discorre ainda,
utilizando a crítica sobre a “animação
cultural em museus”, feita por Varine
-
a ação educativa
desenvolvida nesses espaços. O autor
divide o tipo de abordagem em três
categorias, quais sejam: terapêutica,
promocional e conscientizante. Com
características distintas a terapêutica e
a promocional corresponderiam ao que
lósofo Paulo Freire
1997) chama de
educação
, que a comunicação é
se, o educador faz
“comunicados” e depósitos que os educandos,
meras incidências, recebem pacientemente,
repetem” (FREIRE, 2005, p. 66).
feita em um único sentido. Dessa
maneira, ainda de acordo com Lopes:
A animação dos museus, em direção
ao público escolar, não tem por
objetivo, salvo muito raras exceções
as necessidades deste público
(sejamos francos e honestos) ou
mesmo responder à demanda
pedagógica expressa pelos
professores. Se considerarmos a
literatura sobre o assunto, se
participarmos, como eu faço
muito tempo, de reuniões de
educadores de museus
constataremos imediatamente que
para este tipo de animação
somente duas motivações principais:
justificar a existência da instituição
museu e valorizar o patrimônio.
(LOPES, 1991, p. 1).
Para completar a ideia de
categorias em relação à abordagem no
espaço museal, a conscientizante mais
uma vez está relacionada a uma
posição de Paulo Freire, sendo que
nesse caso refere
-
libertadora.
Somamos à
nossa reflexão, as
experiências e inovações que vieram
ocorrendo na educação,na busca de
novas i
deias relativas
de conhecimentos, e examinamos a
noção de alfabetização cultural, que
ganha significado quando contribui
para a produção e reprodução de
experiências culturais, ademais em
relação aos grupos sociais. Dessa
maneira, devemos
proposta de Paulo Freire, na qual o
educando pode reconhecer e
96
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
feita em um único sentido. Dessa
maneira, ainda de acordo com Lopes:
A animação dos museus, em direção
ao público escolar, não tem por
objetivo, salvo muito raras exceções
as necessidades deste público
(sejamos francos e honestos) ou
mesmo responder à demanda
pedagógica expressa pelos
professores. Se considerarmos a
literatura sobre o assunto, se
participarmos, como eu faço
muito tempo, de reuniões de
educadores de museus
,
constataremos imediatamente que
para este tipo de animação
somente duas motivações principais:
justificar a existência da instituição
-
museu e valorizar o patrimônio.
(LOPES, 1991, p. 1).
Para completar a ideia de
categorias em relação à abordagem no
espaço museal, a conscientizante mais
uma vez está relacionada a uma
posição de Paulo Freire, sendo que
-
se à educação
nossa reflexão, as
experiências e inovações que vieram
ocorrendo na educação,na busca de
deias relativas
à mesma e troca
de conhecimentos, e examinamos a
noção de alfabetização cultural, que
ganha significado quando contribui
para a produção e reprodução de
experiências culturais, ademais em
relação aos grupos sociais. Dessa
maneira, devemos
dialogar com a
proposta de Paulo Freire, na qual o
educando pode reconhecer e
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
compreender sua identidade cultural, a
consciência de seus valores próprios,
seja na memória pessoal ou coletiva,
ou seja, pode-
se enxergar uma ão
cultural para a liberdade (co
intitula uma de suas obras). O autor
nos mostra que:
"[...] a criticidade e as
finalidades que se acham nas relações
entre os seres humanos e o mundo
implicam em que estas relações se
dão com um espaço que não é apenas
físico, mas histórico e cultura
(FREIRE, 2003
apud
WAZENKESKI, 2015, p. 6).
O trabalho para promover a
relação entre museus e educação
ganha ainda destaque nos estudos e
reflexões do professor Mário Chagas,
ele nos alerta para a necessidade de
se buscar, localizar, e conhecer
foram idealizados métodos para a
educação em museus. O estudioso
chama a atenção
para o fato de que,
além de considerar as diferenças
culturais e até educacionais existentes
no Brasil, vale observar que, de
maneira mais ampla:
Para além da educação p
interessa pensar a educação como
7
A Educação Patrimonial constitui
os processos educativos formais e não formais
que têm como foco o patrimônio cultural,
apropriado socialmente como recurso para a
compreensão sócio-
histórica das referências
cu
lturais em todas as suas manifestações, a
fim de colaborar para seu reconhecimento, sua
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
compreender sua identidade cultural, a
consciência de seus valores próprios,
seja na memória pessoal ou coletiva,
se enxergar uma ão
cultural para a liberdade (co
mo se
intitula uma de suas obras). O autor
"[...] a criticidade e as
finalidades que se acham nas relações
entre os seres humanos e o mundo
implicam em que estas relações se
dão com um espaço que não é apenas
físico, mas histórico e cultura
l".
apud
COSTA;
WAZENKESKI, 2015, p. 6).
O trabalho para promover a
relação entre museus e educação
ganha ainda destaque nos estudos e
reflexões do professor Mário Chagas,
ele nos alerta para a necessidade de
se buscar, localizar, e conhecer
como
foram idealizados métodos para a
educação em museus. O estudioso
para o fato de que,
além de considerar as diferenças
culturais e até educacionais existentes
no Brasil, vale observar que, de
Para além da educação p
atrimonial
7
,
interessa pensar a educação como
A Educação Patrimonial constitui
-se de todos
os processos educativos formais e não formais
que têm como foco o patrimônio cultural,
apropriado socialmente como recurso para a
histórica das referências
lturais em todas as suas manifestações, a
fim de colaborar para seu reconhecimento, sua
alguma coisa que não se faz sem se
ter em conta um determinado
patrimônio cultural e determinados
aspectos da memória social; para
além da educação patrimonial,
interessa compreender a educação
como prática soc
e ao novo, à eclosão de valores que
podem nos habilitar para a alegria e
a emoção de lidar com o diferente.
(CHAGAS, 2004, p. 145).
É exatamente nesse sentido de
prática social aberta à criação e ao
novo, somado aos aspectos da
memória social de um amplo
segmento da sociedade que
reconhecemos no trabalho
desenvolvido pelo setor educativo da
Casa do Pontal a habilidade de a partir
da ludicidade trazer a alegria e a
emoção de lidar com o diferente para
alguns e descobrir o igual e
identidade para outros.
Para a compreensão do modo
como se desenvolvem as atividades
elaboradas para a visitação na referida
instituição museal, trabalharemos com
o Programa Social e Educacional do
Museu Casa do Pontal. O documento
tem como ponto central
valorização e preservação. Considera
ainda, que os processos educativos devem
primar pela construção coletiva e democrática
do conhecimento, por meio da participaçã
efetiva das comunidades detentoras e
produtoras das referências culturais, onde
convivem diversas noções de patrimônio
cultural. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/343
Acesso em: 21 mar.2020.
97
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
alguma coisa que não se faz sem se
ter em conta um determinado
patrimônio cultural e determinados
aspectos da memória social; para
além da educação patrimonial,
interessa compreender a educação
como prática soc
ial aberta à criação
e ao novo, à eclosão de valores que
podem nos habilitar para a alegria e
a emoção de lidar com o diferente.
(CHAGAS, 2004, p. 145).
É exatamente nesse sentido de
prática social aberta à criação e ao
novo, somado aos aspectos da
memória social de um amplo
segmento da sociedade que
reconhecemos no trabalho
desenvolvido pelo setor educativo da
Casa do Pontal a habilidade de a partir
da ludicidade trazer a alegria e a
emoção de lidar com o diferente para
alguns e descobrir o igual e
a
identidade para outros.
Para a compreensão do modo
como se desenvolvem as atividades
elaboradas para a visitação na referida
instituição museal, trabalharemos com
o Programa Social e Educacional do
Museu Casa do Pontal. O documento
tem como ponto central
a integração
valorização e preservação. Considera
-se,
ainda, que os processos educativos devem
primar pela construção coletiva e democrática
do conhecimento, por meio da participaçã
o
efetiva das comunidades detentoras e
produtoras das referências culturais, onde
convivem diversas noções de patrimônio
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/343
.
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
da ação dos profissionais na facilitação
de leituras das obras expostas
a contribuir para a construção, por
parte dos visitantes, de um
conhecimento de maneira interativa e
coletiva.O planejamento estratégico do
referido programa, com
o ferramentas
de gestão cultural,foi desenvolvido a
partir do ano de 1996.Contou com a
direção de Guy Van de Beuque (1951
2004), filósofo, matemático e filho do
colecionador e fundador do museu,
Jacques Van de Beuque, além da
coordenação de Angela
antropóloga, atual diretora do museu,
escritora e curadora de arte.
Tal gestão reconhecia no
acervo de arte popular uma propensão
para a colaboração em processos de
produção de conhecimento não
tradicionais junto às escolas e para a
mediação diferenci
ada junto aos
grupos de visitantes.Nesse espaço de
mediação entre o acervo e os
visitantes atuariam os profissionais de
arte educação. Ao examinar o
movimento que se realizou na direção
de expandir a relação dos alunos em
visitação com esse espaço museal,
podemos dizer que está apoiado na
ideia de que:
A arte na educação como expressão
pessoal e como cultura é um
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
da ação dos profissionais na facilitação
de leituras das obras expostas
visando
a contribuir para a construção, por
parte dos visitantes, de um
conhecimento de maneira interativa e
coletiva.O planejamento estratégico do
o ferramentas
de gestão cultural,foi desenvolvido a
partir do ano de 1996.Contou com a
direção de Guy Van de Beuque (1951
-
2004), filósofo, matemático e filho do
colecionador e fundador do museu,
Jacques Van de Beuque, além da
Mascelani,
antropóloga, atual diretora do museu,
escritora e curadora de arte.
Tal gestão reconhecia no
acervo de arte popular uma propensão
para a colaboração em processos de
produção de conhecimento não
tradicionais junto às escolas e para a
ada junto aos
grupos de visitantes.Nesse espaço de
mediação entre o acervo e os
visitantes atuariam os profissionais de
arte educação. Ao examinar o
movimento que se realizou na direção
de expandir a relação dos alunos em
visitação com esse espaço museal,
podemos dizer que está apoiado na
A arte na educação como expressão
pessoal e como cultura é um
importante instrumento para a
identificação cultural e o
desenvolvimento. Através das artes
é possível desenvolver a percepção
e a imaginação, ap
realidade do meio ambiente,
desenvolver a capacidade crítica,
permitindo analisar a realidade
percebida e desenvolver a
criatividade de maneira a mudar a
realidade que foi analisada. (MAE
BARBOSA, 2012).
A instituição prevê um papel
estratégico
para a área de arte
educação. Os responsáveis pelo
programa consideraram que a
formação dos profissionais envolvidos,
deveria desenvolver e aperfeiçoar uma
abordagem criativa, para que
pudessem ampliar as possibilidades
de leitura e comunicação dos
vis
itantes em relação ao acervo da
instituição. Observa-
se uma ação bem
alinhada n
a definição do trabalho que
deve ser realizado pelos educadores
de museus segundo o Comitê
Educativo do Sistema Estadual de
Museus de São Paulo com o conceito:
Os educadores de
responsáveis por ampliar a relação
entre o museu e seus públicos,
sendo mediadores do objeto do
museu e do público visitante, no
momento do fato museal. Ao agir
neste encontro (fato museal) o
educador atua no processo de
manter contemporâneo o ca
comunicacional do patrimônio,
manifestando a latência significativa
dos objetos. (SISEM
98
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
importante instrumento para a
identificação cultural e o
desenvolvimento. Através das artes
é possível desenvolver a percepção
e a imaginação, ap
reender a
realidade do meio ambiente,
desenvolver a capacidade crítica,
permitindo analisar a realidade
percebida e desenvolver a
criatividade de maneira a mudar a
realidade que foi analisada. (MAE
BARBOSA, 2012).
A instituição prevê um papel
para a área de arte
-
educação. Os responsáveis pelo
programa consideraram que a
formação dos profissionais envolvidos,
deveria desenvolver e aperfeiçoar uma
abordagem criativa, para que
se
pudessem ampliar as possibilidades
de leitura e comunicação dos
itantes em relação ao acervo da
se uma ação bem
a definição do trabalho que
deve ser realizado pelos educadores
de museus segundo o Comitê
Educativo do Sistema Estadual de
Museus de São Paulo com o conceito:
Os educadores de
museu são
responsáveis por ampliar a relação
entre o museu e seus públicos,
sendo mediadores do objeto do
museu e do público visitante, no
momento do fato museal. Ao agir
neste encontro (fato museal) o
educador atua no processo de
manter contemporâneo o ca
ráter
comunicacional do patrimônio,
manifestando a latência significativa
dos objetos. (SISEM
-SP, 2016, p. 6).
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
A aprovação da Política
Nacional de Educação Museal
(PNEM), definida no Fórum
Nacional de Museus
Alegre/2017, reúne os princípios e
diretrizes que têm como objetivos
nortear a realização das práticas
educativas, fortalecer a dimensão
educativa e subsidiar a atuação dos
educadores em museus. Orienta as
ações educacionais, no eixo II em
relação aos profissionais, formação e
pesquisa, com
as seguintes diretrizes:
1. Promover o profissional de
educação museal, incentivando o
investimento na formação específica
e continuada de profissionais que
atuam no campo.
2. Reconhecer entre as atribuições
do educador museal: a atuação na
elaboração par
ticipativa do Programa
Educativo Cultural; a realização de
pesquisas e diagnósticos de sua
competência; a implementação dos
programas, projetos e ões
educativas; a realização do registro,
da sistematização e da avaliação dos
mesmos; e promover a formação
integral dos indivíduos.
3. Fortalecer o papel do profissional
de educação museal, estabelecendo
suas atribuições no Programa
Educativo e Cultural e em
conformidade com a Política
Nacional de Educação Museal.
4. Valorizar o profissional da
educação museal
, incentivando a
formalização da profissão, o
estabelecimento de planos de
carreira, a realização de concursos
públicos e a criação de parâmetros
nacionais para a equiparação da
remuneração nas várias regiões do
país.
5. Potencializar o conhecimento
especí
fico da educação museal de
forma a consolidar esse campo, por
meio da difusão e promoção dos
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
A aprovação da Política
Nacional de Educação Museal
(PNEM), definida no Fórum
Nacional de Museus
Porto
Alegre/2017, reúne os princípios e
diretrizes que têm como objetivos
nortear a realização das práticas
educativas, fortalecer a dimensão
educativa e subsidiar a atuação dos
educadores em museus. Orienta as
ações educacionais, no eixo II em
relação aos profissionais, formação e
as seguintes diretrizes:
1. Promover o profissional de
educação museal, incentivando o
investimento na formação específica
e continuada de profissionais que
2. Reconhecer entre as atribuições
do educador museal: a atuação na
ticipativa do Programa
Educativo Cultural; a realização de
pesquisas e diagnósticos de sua
competência; a implementação dos
programas, projetos e ões
educativas; a realização do registro,
da sistematização e da avaliação dos
mesmos; e promover a formação
integral dos indivíduos.
3. Fortalecer o papel do profissional
de educação museal, estabelecendo
suas atribuições no Programa
Educativo e Cultural e em
conformidade com a Política
Nacional de Educação Museal.
4. Valorizar o profissional da
, incentivando a
formalização da profissão, o
estabelecimento de planos de
carreira, a realização de concursos
públicos e a criação de parâmetros
nacionais para a equiparação da
remuneração nas várias regiões do
5. Potencializar o conhecimento
fico da educação museal de
forma a consolidar esse campo, por
meio da difusão e promoção dos
trabalhos realizados, do intercâmbio
de experiência e do estímulo à
viabilização de cursos de vel
superior em educação museal.
6. Valorizar a troca de experiênci
por meio de parcerias nacionais e
internacionais para a realização de
estágios profissionais em educação
museal.
7. Fortalecer a pesquisa em
educação em museus e em
contextos nos quais ocorrem
processos museais, reconhecendo
esses espaços como produtore
conhecimento em educação.
8. Promover o desenvolvimento e a
difusão de pesquisas específicas do
campo por meio da articulação entre
os setores educativos e agências de
fomento científico, universidades e
demais instituições da área.
9. Promover, em co
outros setores dos museus,
diagnósticos, estudos de público e
avaliação, visando à verificação do
cumprimento de sua função social e
educacional.
8
(IBRAM, 2018).
A utilização da arte
educação,nas visitas guiadas, como
meio de apresentação d
faz do Museu Casa do Pontal uma
referência, seja em proporcionar ao
visitante, nesse caso o aluno, o
reconhecimento, apreciação e
valorização da arte popular brasileira,
seja em possibilitar a construção de
laços de identidade.
A experiência
da visitação
A seguir serão apresentadas
experiências vivenciadas por quatro
8
Diretrizes para a realização das prá
educativas EIXO II
PNEM. Disponível em:
https://pnem.museus.gov.br/sobre
pnem/diretrizes/. Acesso em
99
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
trabalhos realizados, do intercâmbio
de experiência e do estímulo à
viabilização de cursos de vel
superior em educação museal.
6. Valorizar a troca de experiênci
as
por meio de parcerias nacionais e
internacionais para a realização de
estágios profissionais em educação
7. Fortalecer a pesquisa em
educação em museus e em
contextos nos quais ocorrem
processos museais, reconhecendo
esses espaços como produtore
s de
conhecimento em educação.
8. Promover o desenvolvimento e a
difusão de pesquisas específicas do
campo por meio da articulação entre
os setores educativos e agências de
fomento científico, universidades e
demais instituições da área.
9. Promover, em co
laboração com
outros setores dos museus,
diagnósticos, estudos de público e
avaliação, visando à verificação do
cumprimento de sua função social e
(IBRAM, 2018).
A utilização da arte
educação,nas visitas guiadas, como
meio de apresentação d
o seu acervo,
faz do Museu Casa do Pontal uma
referência, seja em proporcionar ao
visitante, nesse caso o aluno, o
reconhecimento, apreciação e
valorização da arte popular brasileira,
seja em possibilitar a construção de
da visitação
A seguir serão apresentadas
experiências vivenciadas por quatro
Diretrizes para a realização das prá
ticas
PNEM. Disponível em:
https://pnem.museus.gov.br/sobre
-o-
pnem/diretrizes/. Acesso em
: 10 jan. 2020.
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
turmas diferentes de alunos do Ensino
Fundamental I, com crianças na faixa
etária entre 7 e 11 anos, da rede
pública de ensino do município do Rio
de Janeiro, em visitação ao Mu
Casa do Pontal, e acompanhadas no
período intermitente de agosto de
2018 a setembro de 2019. A ideia é a
de fortalecer a tese de que os
processos não tradicionais de
aprendizagem, associando elementos
de cultura, arte e educação podem
cumprir um papel
fundamental na
formação escolar democrática e plural
desses jovens cidadãos.
Vamos proceder à descrição do
processo de visitação. Ao estabelecer
um agendamento para os grupos, o
setor receptivo do museu organiza a
visita teatralizada, com horários
determ
inados e número exato de
pessoas. Tal procedimento permite
uma interação maior entre o grupo de
visitantes com o museu. Dando início
ao evento
9
da visitação, o acolhimento
acontece no espaço externo da
instituição, pela equipe do local,
quando os visitant
es realizam um
lanche e posteriormente são
orientados a se posicionarem no pátio,
9
O processo de visitação é composto por
etapas e diferentes performances, o que nos
permite falar em evento.
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
turmas diferentes de alunos do Ensino
Fundamental I, com crianças na faixa
-
etária entre 7 e 11 anos, da rede
pública de ensino do município do Rio
de Janeiro, em visitação ao Mu
seu
Casa do Pontal, e acompanhadas no
período intermitente de agosto de
2018 a setembro de 2019. A ideia é a
de fortalecer a tese de que os
processos não tradicionais de
aprendizagem, associando elementos
de cultura, arte e educação podem
fundamental na
formação escolar democrática e plural
Vamos proceder à descrição do
processo de visitação. Ao estabelecer
um agendamento para os grupos, o
setor receptivo do museu organiza a
visita teatralizada, com horários
inados e número exato de
pessoas. Tal procedimento permite
uma interação maior entre o grupo de
visitantes com o museu. Dando início
da visitação, o acolhimento
acontece no espaço externo da
instituição, pela equipe do local,
es realizam um
lanche e posteriormente são
orientados a se posicionarem no pátio,
O processo de visitação é composto por
etapas e diferentes performances, o que nos
formando um grande círculo de
pessoas. Sendo assim, dispostos em
roda, tem início a cantoria!
Ao som de violão, os arte
educadores -
Chico e Pedro
cumprimentam a todo
dia/ eu cheguei agora/ viemos de
longe/ do mar fora...” Entre uma
cantoria e outra, as letras das músicas
e a viola apresentam conteúdos e
elementos da cultura popular. Nesse
momento o convite para o jogo
teatral, envolvendo os e
infantis
que se voluntariam, tornando
se personagens ao sabor da
brincadeira.
O convite é para participar da
encenação do Auto do Bumba
Boi
10
, para
que as crianças assumam
papéis de criaturas com características
folclóricas, de experimentaç
de acontecimentos misteriosos e
so
brenaturais que o enredo do
folguedo apresenta:
O bumba-meu-
boi é um auto, onde o
tema principal é a morte e a
ressurreição de um boi. O enredo
básico do bumba
história de um boi de estimação de
u
m fazendeiro rico que é morto pelo
10
O Bumba-Meu-Boi
é um dos folguedos mais
tradicionais do país e existe em quase todas
as regiões. É encenado durante muitas épocas
do ano, com ênfase nos meses de junho, julho
e dezembro. É um auto, onde o tema principal
é a morte e ressurreição de um boi
(MASCELANI, 2009,
p. 92.)
100
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
formando um grande círculo de
pessoas. Sendo assim, dispostos em
roda, tem início a cantoria!
Ao som de violão, os arte
Chico e Pedro
-,
cumprimentam a todo
s: “Bom dia/ bom
dia/ eu cheguei agora/ viemos de
longe/ do mar fora...” Entre uma
cantoria e outra, as letras das músicas
e a viola apresentam conteúdos e
elementos da cultura popular. Nesse
momento o convite para o jogo
teatral, envolvendo os e
spectadores
que se voluntariam, tornando
-
se personagens ao sabor da
O convite é para participar da
encenação do Auto do Bumba
-Meu-
que as crianças assumam
papéis de criaturas com características
folclóricas, de experimentaç
ão diante
de acontecimentos misteriosos e
brenaturais que o enredo do
boi é um auto, onde o
tema principal é a morte e a
ressurreição de um boi. O enredo
básico do bumba
-meu-boi conta a
história de um boi de estimação de
m fazendeiro rico que é morto pelo
é um dos folguedos mais
tradicionais do país e existe em quase todas
as regiões. É encenado durante muitas épocas
do ano, com ênfase nos meses de junho, julho
e dezembro. É um auto, onde o tema principal
é a morte e ressurreição de um boi
p. 92.)
.
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
empregado negro, Pai Francisco. Pai
Francisco mata o boi para atender ao
pedido de sua esposa, Catarina, que
está grávida e sente desejo de
comer a língua do animal.
Descoberto como autor do crime, Pai
Francisco confessa
e é levado preso.
Mas, por intermédio da magia
praticada por um curandeiro
indígena, o boi ressuscita, Pai
Francisco é perdoado e tudo termina
bem, dando motivo para os cantos,
as danças e a alegria.
11
Nesse contexto, é evidente o
aporte que o teatro ofere
ce para que
haja o desenvolvimento de habilidades
como a criatividade, memorização e o
improviso, em um processo de
aprendizagem com ludicidade. A peça
ocorre de maneira espontânea e
divertida na narrativa do “boi”, e
diferente do trabalho realizado nas
es
colas com a temática do folclore, por
vezes reduzido a um conteúdo
curricular, nesse momento a
compreensão e a vivência do que é
cultura popular, e que esta vem da arte
e do trabalho de todos.
O diálogo, como prática
presente durante todo o evento, ganh
destaque quando se pretende
apreender a atenção das crianças,
bem como obter a compreensão das
mesmas, a respeito daqueles fazeres.
Indagados sobre que tipo de obras
elas encontrariam no interior do
11
Site
institucional do Museu Casa do Pontal
(2012).
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
empregado negro, Pai Francisco. Pai
Francisco mata o boi para atender ao
pedido de sua esposa, Catarina, que
está grávida e sente desejo de
comer a língua do animal.
Descoberto como autor do crime, Pai
e é levado preso.
Mas, por intermédio da magia
praticada por um curandeiro
indígena, o boi ressuscita, Pai
Francisco é perdoado e tudo termina
bem, dando motivo para os cantos,
11
Nesse contexto, é evidente o
ce para que
haja o desenvolvimento de habilidades
como a criatividade, memorização e o
improviso, em um processo de
aprendizagem com ludicidade. A peça
ocorre de maneira espontânea e
divertida na narrativa do “boi”, e
diferente do trabalho realizado nas
colas com a temática do folclore, por
vezes reduzido a um conteúdo
curricular, nesse momento a
compreensão e a vivência do que é
cultura popular, e que esta vem da arte
O diálogo, como prática
presente durante todo o evento, ganh
a
destaque quando se pretende
apreender a atenção das crianças,
bem como obter a compreensão das
mesmas, a respeito daqueles fazeres.
Indagados sobre que tipo de obras
elas encontrariam no interior do
institucional do Museu Casa do Pontal
museu, e após emitir variadas
opiniões, as crianças con
aprazível definição:
bonequinhos”. E, seguindo a
abordagem, surge uma questão, sobre
“Quem entre as crianças mantinha o
hábito de colecionar e quais seriam os
objetos colecionados?” Diante de
grande interesse e participação,
inúmeras re
spostas revelaram
colecionadores de tampinhas, cartas,
canetinhas, figurinhas, entre outros.
Posto por meio do diálogo, um
importante requisito de preparação
para o início da visita, constata
muitos gostam e preservam suas
coleções.Percebe-
se que:
O
hábito de colecionar presente na
infância mostra que nessa fase
um grande interesse e valorização
da cultura material. Contudo, é
necessário que as mensagens
contidas nas exposições sejam
atrativas e de fácil compreensão
para qualquer público não
espec
ialista no tema. Logo, os
museus têm o desafio crucial de criar
narrativas que valorizem a cultura
material de forma a construir
conhecimentos e valores de forma
atrativa, que instigue o visitante a
desejar e buscar informações sobre
o tema. (CARVALHO; LOP
2016).
Prosseguindo na descrição da
dinâmica de visitação,quando um
convite para ingressar então na área
interna do museu é feito para a turma,
a linguagem é musical,com ritmos e
101
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
museu, e após emitir variadas
opiniões, as crianças con
hecem a
aprazível definição:
“coleção de
bonequinhos”. E, seguindo a
abordagem, surge uma questão, sobre
“Quem entre as crianças mantinha o
hábito de colecionar e quais seriam os
objetos colecionados?” Diante de
grande interesse e participação,
spostas revelaram
colecionadores de tampinhas, cartas,
canetinhas, figurinhas, entre outros.
Posto por meio do diálogo, um
importante requisito de preparação
para o início da visita, constata
-se que
muitos gostam e preservam suas
se que:
hábito de colecionar presente na
infância mostra que nessa fase
um grande interesse e valorização
da cultura material. Contudo, é
necessário que as mensagens
contidas nas exposições sejam
atrativas e de fácil compreensão
para qualquer público não
ialista no tema. Logo, os
museus têm o desafio crucial de criar
narrativas que valorizem a cultura
material de forma a construir
conhecimentos e valores de forma
atrativa, que instigue o visitante a
desejar e buscar informações sobre
o tema. (CARVALHO; LOP
ES,
Prosseguindo na descrição da
dinâmica de visitação,quando um
convite para ingressar então na área
interna do museu é feito para a turma,
a linguagem é musical,com ritmos e
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
rimas. Nesse espaço onde se encontra
a exposição permanente, as obras
e
stão dispostas em galerias,
organizadas em setores por temáticas.
Com roteiros que apresentam o artista
e sua obra, os alunos descobrem o
escultor Antônio de Oliveira
1996), que com sua obra conta
histórias de seu “mundo encantado”. O
artesão ganha
destaque, pois
trabalha com madeira, o que gera a
rima, rapidamente assimilada pelo
grupo: “Antônio de Oliveira/
trabalha com madeira/ E quem
trabalha com madeira? / É o Antônio
de Oliveira”. Tais obras despertam
atenção especial, tendo em vista a
r
eação provocada nas crianças ao
contemplá-
las.Nesse caso
presente a relação de potencialidades
presentes no uso da arte educação,
proporcionando uma facilitação da
compreensão dos processos técnicos
empregados pelos artistas, seja na
apropriação da
cerâmica ou no entalhe
da madeira. A ideia é estimular a
12
Antônio de Oliveira (1912-
1996), nasceu em
Minas Gerais. O artista dedicou-
se
prioritariamente a esculpir em madeira.
Entregou-
se com paixão à recriação de cenas
reais ou imaginárias, que compunham o que
chamava de "meu mundo encantado".
institucional do Museu Casa do Pontal.
Disponível em:
http://www.museucasadopontal.com.br/ant%C
3%B4nio-de-
oliveira. Acesso em: 10 j
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
rimas. Nesse espaço onde se encontra
a exposição permanente, as obras
stão dispostas em galerias,
organizadas em setores por temáticas.
Com roteiros que apresentam o artista
e sua obra, os alunos descobrem o
escultor Antônio de Oliveira
12
(1912 -
1996), que com sua obra conta
histórias de seu “mundo encantado”. O
destaque, pois
trabalha com madeira, o que gera a
rima, rapidamente assimilada pelo
grupo: “Antônio de Oliveira/
trabalha com madeira/ E quem
trabalha com madeira? / É o Antônio
de Oliveira”. Tais obras despertam
atenção especial, tendo em vista a
eação provocada nas crianças ao
las.Nesse caso
, se faz
presente a relação de potencialidades
presentes no uso da arte educação,
proporcionando uma facilitação da
compreensão dos processos técnicos
empregados pelos artistas, seja na
cerâmica ou no entalhe
da madeira. A ideia é estimular a
1996), nasceu em
se
prioritariamente a esculpir em madeira.
se com paixão à recriação de cenas
reais ou imaginárias, que compunham o que
chamava de "meu mundo encantado".
Site
institucional do Museu Casa do Pontal.
http://www.museucasadopontal.com.br/ant%C
oliveira. Acesso em: 10 j
an. 2020.
percepção das situações cotidianas
retratadas através das obras, além da
identificação no que diz respeito às
manifestações culturais e
consequentemente aos próprios
costumes ali representados.
Um o
utro ponto alto no
processo interativo da visitação é o da
chegada ao
Tocador de realejo
artista Adalton
Fernandes Lopes
(1938-
2005), que deu som e
movimento ao “boneco”. Os temas
abordados pelos arte educadores
nessa interação entre visitante e obra
são “sorte” ou “azar”,representada pelo
fazer dessa figura muito popular.
O “Tocador de realejo” é uma
mistura de músico de rua e tirador de
sorte, muito comum até poucas
décadas atrás. Anunciando sua
presença através da música do
realejo
uma espécie de
instrumento musical portátil, cuja
sonoridade lembra a do órgão
oferecia-
se para decifrar o futuro de
quem interessava
ajudado por um papagaio. A pessoa
fazia uma pergunta e o papagaio
escolhia a resposta numa caixa de
cartõezinhos colori
13
Adalton Fernandes Lopes (1938
dotado de rica imaginação.
evidenciam a observação perspicaz do
cotidiano e das alegrias da vida mundana.
Obcecado pelo desejo de "dar vida" a seus
personagens, criou engenhocas imensas,
onde cen
tenas de figuras articuladas
movimentam-
se animadamente. Seus
"bonecos" são inconfundíveis e apresentam
uma visão especial da vida urbana.
institucional do Museu Casa do Pontal.
Disponível em:
http://www.museucasadopontal.com.br/pt
br/node/13. Acesso
em: 10 jan. 2020.
102
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
percepção das situações cotidianas
retratadas através das obras, além da
identificação no que diz respeito às
manifestações culturais e
consequentemente aos próprios
costumes ali representados.
utro ponto alto no
processo interativo da visitação é o da
Tocador de realejo
, do
Fernandes Lopes
13
2005), que deu som e
movimento ao “boneco”. Os temas
abordados pelos arte educadores
nessa interação entre visitante e obra
são “sorte” ou “azar”,representada pelo
fazer dessa figura muito popular.
O “Tocador de realejo” é uma
mistura de músico de rua e tirador de
sorte, muito comum até poucas
décadas atrás. Anunciando sua
presença através da música do
uma espécie de
instrumento musical portátil, cuja
sonoridade lembra a do órgão
-,
se para decifrar o futuro de
quem interessava
-se, no que era
ajudado por um papagaio. A pessoa
fazia uma pergunta e o papagaio
escolhia a resposta numa caixa de
cartõezinhos colori
dos em que
Adalton Fernandes Lopes (1938
-2005) é
dotado de rica imaginação.
Suas obras
evidenciam a observação perspicaz do
cotidiano e das alegrias da vida mundana.
Obcecado pelo desejo de "dar vida" a seus
personagens, criou engenhocas imensas,
tenas de figuras articuladas
se animadamente. Seus
"bonecos" são inconfundíveis e apresentam
uma visão especial da vida urbana.
Site
institucional do Museu Casa do Pontal.
http://www.museucasadopontal.com.br/pt
-
em: 10 jan. 2020.
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
estavam escritas as palavras
portadoras da sorte. A melodia do
realejo era produzida pelo
movimento mecânico de um cilindro
dentado, acionado à mão. Ao girar a
manivela, o som animava as ruas e
atraía as pessoas. (MASCELANI,
2009, p. 63).
A pa
rticipação na experiência
de interação com essa obra está
relacionada à questão da
superstição
“sorte” ou “azar”, que são conceitos de
cultura popular. Ainda que não seja um
conteúdo escolar propriamente dito,
essa abordagem favorece o exercício
reflexivo
, pois está ligada ao que “está
por vir”, é alusiva ao futuro. Nesse
caso, todos querem participar, “girar a
manivela” e prever o futuro.
No interessante setor onde
expressam a temática denominada
Ciclo da Vida
15
estão em exposição
obras que mostram uma vis
fases da vida social, do nascimento,
infância, meninice, juventude,
maturidade e velhice. Durante a
14
Atribuição do poder de atrair a sorte ou o
azar a determinados objetos ou atos
(Dicionário Aulete).
15
Este setor oferece uma visão desta dinâmica
social no Brasil, em determinadas regiões e
épocas particulares. Olhando a vida humana
como um ciclo, pensa-
se no que é comum a
todos, sobretudo da vida que transcorre em
sociedade: nascimentos, infância, meninice,
juventude, maturidade e velhice
.
institucional
do Museu Casa do Pontal.
Disponível em:
http://www.museucasadopontal.com.br/pt
br/taxonomy/term/469. Acesso em: 10 jan.
2020.
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
estavam escritas as palavras
portadoras da sorte. A melodia do
realejo era produzida pelo
movimento mecânico de um cilindro
dentado, acionado à mão. Ao girar a
manivela, o som animava as ruas e
atraía as pessoas. (MASCELANI,
rticipação na experiência
de interação com essa obra está
superstição
14
“sorte” ou “azar”, que são conceitos de
cultura popular. Ainda que não seja um
conteúdo escolar propriamente dito,
essa abordagem favorece o exercício
, pois está ligada ao que “está
por vir”, é alusiva ao futuro. Nesse
caso, todos querem participar, “girar a
manivela” e prever o futuro.
No interessante setor onde
expressam a temática denominada
estão em exposição
obras que mostram uma vis
ão das
fases da vida social, do nascimento,
infância, meninice, juventude,
maturidade e velhice. Durante a
Atribuição do poder de atrair a sorte ou o
azar a determinados objetos ou atos
Este setor oferece uma visão desta dinâmica
social no Brasil, em determinadas regiões e
épocas particulares. Olhando a vida humana
se no que é comum a
todos, sobretudo da vida que transcorre em
sociedade: nascimentos, infância, meninice,
.
Site
do Museu Casa do Pontal.
http://www.museucasadopontal.com.br/pt
-
br/taxonomy/term/469. Acesso em: 10 jan.
movimentação percebe
envolvimento e curiosidade por parte
dos alunos, pois as obras estão
dispostas em ordem cronológica, e a
ideia de con
tinuidade conta a história
desde o nascimento até a hora da
derradeira morte. O artista Antônio de
Oliveira, mais uma vez ascende com
seus bonecos na obra denominada
Escada da Vida
, provoca o interesse
das crianças, incita a imaginação. E se
o assunto é br
incadeira tem para quem
quiser, e pode “brincar de roda” e pode
“pular carniça” -
meninos e
Brincadeiras de meninas.
No passeio pelo acervo, a
diversão é garantida assim como vai
se dando uma aproximação aos
elementos da cultura popular. C
hora do Circo.
Com a pergunta feita
“Hoje tem marmelada?” / Tem sim
senhor! /a atração surge na grande
obra que retrata o tema, uma
geringonça, ou seja, uma engenhoca
onde as figuras são articuladas e
movimentam-
se, do artista Adalton, de
onde é dif
ícil desviar a atenção da
garotada. A interação é quase que
instantânea, pois todos querem
comentar com os colegas suas
experiências reais no passeio ao circo,
sobre os tombos do palhaço e os
103
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
movimentação percebe
-se intenso
envolvimento e curiosidade por parte
dos alunos, pois as obras estão
dispostas em ordem cronológica, e a
tinuidade conta a história
desde o nascimento até a hora da
derradeira morte. O artista Antônio de
Oliveira, mais uma vez ascende com
seus bonecos na obra denominada
, provoca o interesse
das crianças, incita a imaginação. E se
incadeira tem para quem
quiser, e pode “brincar de roda” e pode
Brincadeiras de
Brincadeiras de meninas.
No passeio pelo acervo, a
diversão é garantida assim como vai
se dando uma aproximação aos
elementos da cultura popular. C
hega a
Com a pergunta feita
“Hoje tem marmelada?” / Tem sim
senhor! /a atração surge na grande
obra que retrata o tema, uma
geringonça, ou seja, uma engenhoca
onde as figuras são articuladas e
se, do artista Adalton, de
ícil desviar a atenção da
garotada. A interação é quase que
instantânea, pois todos querem
comentar com os colegas suas
experiências reais no passeio ao circo,
sobre os tombos do palhaço e os
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
riscos dos trapezistas. E há também
quem diga “nunca fui ao circ
O conjunto de obras de Vitalino
Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino
(1909-
1963) compõe um setor de
destaque na exposição permanente do
Museu Casa do Pontal.O artista criou
e interpretou ao longo de sua vida 118
diferentes temas como: o imaginário
nordestino, a representação de ritos de
passagem (nascimento, casamento e
morte), assuntos relativos ao crime e à
lei, a religião, a seca, a migração, o
trabalho, as profissões, entre outros. A
partir de uma narrativa sobre a vida e
obra do artista, que in
quando era um menino pobre que
acompanhava sua mãe para o trabalho
na feira de Caruaru e, aos seis anos,
modelava boizinhos em barro para
brincar. Diante disso, a identificação
dos alunos com o Mestre é imediata.
A movimentação é constante
durante toda visitação das turmas, não
há monotonia, e o teatro popular de
bonecos com música e bandinha
16
Mestre Vitalino (1909-
1963) criou
narrativa visual expressiva sobre a vida no
campo e nas vilas do nordeste pernambucano.
Realizou esculturas antológicas, como
en
terro na rede; Cavalo marinho; Casal no boi
e muitas outras, de poética irretocável.
institucional do Museu Casa do Pontal.
Disponível em:
http://www.museucasadopontal.com.br/pt
br/node/79. Acesso em: 10 jan. 2020.
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
riscos dos trapezistas. E há também
quem diga “nunca fui ao circ
o!”.
O conjunto de obras de Vitalino
Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino
16
1963) compõe um setor de
destaque na exposição permanente do
Museu Casa do Pontal.O artista criou
e interpretou ao longo de sua vida 118
diferentes temas como: o imaginário
nordestino, a representação de ritos de
passagem (nascimento, casamento e
morte), assuntos relativos ao crime e à
lei, a religião, a seca, a migração, o
trabalho, as profissões, entre outros. A
partir de uma narrativa sobre a vida e
obra do artista, que in
icia ainda
quando era um menino pobre que
acompanhava sua mãe para o trabalho
na feira de Caruaru e, aos seis anos,
modelava boizinhos em barro para
brincar. Diante disso, a identificação
dos alunos com o Mestre é imediata.
A movimentação é constante
durante toda visitação das turmas, não
há monotonia, e o teatro popular de
bonecos com música e bandinha
1963) criou
uma
narrativa visual expressiva sobre a vida no
campo e nas vilas do nordeste pernambucano.
Realizou esculturas antológicas, como
O
terro na rede; Cavalo marinho; Casal no boi
e muitas outras, de poética irretocável.
Site
institucional do Museu Casa do Pontal.
http://www.museucasadopontal.com.br/pt
-
br/node/79. Acesso em: 10 jan. 2020.
propõe mais participação. Baseado na
cantiga popular
O Cravo brigou com a
Rosa”
esse momento arranca muitas
risadas. De improviso, o teatro de
mamulen
gos estimula a oralidade e a
criatividade dos meninos e meninas,
além de proporcionar um processo de
organização lógica de ideias para
determinar o rumo da história, que
tudo é feito na base do improviso.
E quando a visita está prestes a
terminar? Ness
a cultura, “tudo acaba
em samba!” Diante da obra
escolas de samba,
do artista Adalton,
o grupo interage, participa, se
expressa. O escritor Rubem Alves
(1933-
2014) traduz bem esses
momentos de ativamento dessa
memória auditiva:
O mundo está chei
os sons que não existem mais, que
estão perdidos na memória. A
música do realejo, o canto do carro
de bois, o apito das fábricas, das
locomotivas, o din
canto dos galos, o repicar fúnebre
dos sinos, a gaita do sorveteiro,
buzina das charretes... Parece que a
poesia fica guardada nos sons que
não mais se ouvem. [...] também
os sons da cidade [...] E há os sons
da natureza [...] A primeira poesia
que se ouve é uma canção de ninar.
Depois, é a música do mundo...
(ALVES, 2018).
Contribuição das experiências
interface entre cultura e educação
Mas afinal, o que levar em
consideração, como fatores positivos,
104
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
propõe mais participação. Baseado na
O Cravo brigou com a
esse momento arranca muitas
risadas. De improviso, o teatro de
gos estimula a oralidade e a
criatividade dos meninos e meninas,
além de proporcionar um processo de
organização lógica de ideias para
determinar o rumo da história, que
tudo é feito na base do improviso.
E quando a visita está prestes a
a cultura, “tudo acaba
em samba!” Diante da obra
Desfile de
do artista Adalton,
o grupo interage, participa, se
expressa. O escritor Rubem Alves
2014) traduz bem esses
momentos de ativamento dessa
O mundo está chei
o de música.
os sons que não existem mais, que
estão perdidos na memória. A
música do realejo, o canto do carro
de bois, o apito das fábricas, das
locomotivas, o din
-din dos bondes, o
canto dos galos, o repicar fúnebre
dos sinos, a gaita do sorveteiro,
a
buzina das charretes... Parece que a
poesia fica guardada nos sons que
não mais se ouvem. [...] também
os sons da cidade [...] E há os sons
da natureza [...] A primeira poesia
que se ouve é uma canção de ninar.
Depois, é a música do mundo...
Contribuição das experiências
– a
interface entre cultura e educação
Mas afinal, o que levar em
consideração, como fatores positivos,
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
do encontro entre a cultura popular e
grupos de alunos de escolas do ensino
regular? O
espaço oferecido para tal
experiência?A possibilidade de sair da
escola e passear? Vamos tecer
algumas considerações a respeito
desse relato.
O acompanhamento e
observação de todo o processo de
visitação das turmas regulares de
ensino nos revela que este
evento dinâmico com alto potencial
participativo. Durante todo o evento
ocorrem inúmeros questionamentos e
colocações orais dos alunos que nos
permitem perceber, claramente, o
interesse e o grau de interação dos
mesmos em relação às obras
apreciadas
no museu. Tal
comunicação entre as crianças e os
profissionais de arte educação da
instituição, permite que essa
experiência de educação não formal
se transforme em momentos
intensa aprendizagem, prazer e
deleite. A ludicidade das atividades,
aliada à v
isualização de atividades que
muitas vezes ainda integram a rotina
ou trazem um dado de realidade às
narrativas memorialistas do ambiente
familiar tecem elos de identidade e
pertencimento. É importante retomar
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
do encontro entre a cultura popular e
grupos de alunos de escolas do ensino
espaço oferecido para tal
experiência?A possibilidade de sair da
escola e passear? Vamos tecer
algumas considerações a respeito
O acompanhamento e
observação de todo o processo de
visitação das turmas regulares de
ensino nos revela que este
é um
evento dinâmico com alto potencial
participativo. Durante todo o evento
ocorrem inúmeros questionamentos e
colocações orais dos alunos que nos
permitem perceber, claramente, o
interesse e o grau de interação dos
mesmos em relação às obras
no museu. Tal
comunicação entre as crianças e os
profissionais de arte educação da
instituição, permite que essa
experiência de educação não formal
se transforme em momentos
de
intensa aprendizagem, prazer e
deleite. A ludicidade das atividades,
isualização de atividades que
muitas vezes ainda integram a rotina
ou trazem um dado de realidade às
narrativas memorialistas do ambiente
familiar tecem elos de identidade e
pertencimento. É importante retomar
aqui o fato de que as experiências
vivenciadas
e aqui rapidamente
apresentadas foram de
turmas de alunos regulares e com a
presença da professora regente e de
algumas responsáveis de alunos.
Devemos ainda acrescentar que
muitas dessas crianças são de famílias
com origem nordestina e, muita
vezes, rural. Através do Museu e dos
artistas ali presentes os alunos têm
uma pequena amostra da importância
e da diversidade da cultura brasileira,
com uma ênfase na valorização dos
fazeres e saberes das culturas
populares.
Tendo em vista que, ao
contr
ário de supor que o ambiente
museal pudesse determinar um
comportamento formal por parte das
crianças, o que se observou foi um
protagonismo infantil, espontâneo,
durante as explicações e
brincadeiras.O ambiente, apesar de
desconhecido, a partir das ativid
da arte educação em uma perspectiva
de facilitação da apropriação do
conteúdo torna-
se estimulador da
participação. Vale lembrar, que o
movimento de incentivo para que as
atividades e experiências educacionais
ultrapassem os muros da escola,
105
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
aqui o fato de que as experiências
e aqui rapidamente
apresentadas foram de
visitas com
turmas de alunos regulares e com a
presença da professora regente e de
algumas responsáveis de alunos.
Devemos ainda acrescentar que
muitas dessas crianças são de famílias
com origem nordestina e, muita
s
vezes, rural. Através do Museu e dos
artistas ali presentes os alunos têm
uma pequena amostra da importância
e da diversidade da cultura brasileira,
com uma ênfase na valorização dos
fazeres e saberes das culturas
Tendo em vista que, ao
ário de supor que o ambiente
museal pudesse determinar um
comportamento formal por parte das
crianças, o que se observou foi um
protagonismo infantil, espontâneo,
durante as explicações e
brincadeiras.O ambiente, apesar de
desconhecido, a partir das ativid
ades
da arte educação em uma perspectiva
de facilitação da apropriação do
se estimulador da
participação. Vale lembrar, que o
movimento de incentivo para que as
atividades e experiências educacionais
ultrapassem os muros da escola,
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
ocupando
novos lugares e ambientes,
tem o potencial de gerar
processos de
enriquecimento cultural que transpõe
práticas tradicionais escolarizadas.
As visitas ao Museu, em todas
as turmas acompanhadas, puderam
ser desdobradas em inúmeras
atividades realizadas post
em sala de aula. Processo de
memorização de cantigas, atividades
com desenhos e técnicas de
moldagem de barro, reedição das
brincadeiras, são algumas das
atividades que puderam ser
trabalhadas em sala de aula após a
visitação. Em algumas das vis
responsáveis que acompanhavam a
visita não se contiveram e deram seus
testemunhos sobre formas dos fazeres
ali representados nos “bonequinhos de
Vitalino”, ou sobre as variações das
brincadeiras nas suas localidades de
origem, contribuindo, de algu
maneira, para a valorização e o
reconhecimento das crianças naquelas
memórias dos migrantes
desterritorializados e subalternizados.
Certamente, a identificação
autêntica dos meninos e meninas com
a cultura popular brasileira, a própria
cultura, exposta
no Museu Casa do
Pontal, serve como comprovação dos
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
novos lugares e ambientes,
processos de
enriquecimento cultural que transpõe
m
práticas tradicionais escolarizadas.
As visitas ao Museu, em todas
as turmas acompanhadas, puderam
ser desdobradas em inúmeras
atividades realizadas post
eriormente
em sala de aula. Processo de
memorização de cantigas, atividades
com desenhos e técnicas de
moldagem de barro, reedição das
brincadeiras, são algumas das
atividades que puderam ser
trabalhadas em sala de aula após a
visitação. Em algumas das vis
itas os
responsáveis que acompanhavam a
visita não se contiveram e deram seus
testemunhos sobre formas dos fazeres
ali representados nos “bonequinhos de
Vitalino”, ou sobre as variações das
brincadeiras nas suas localidades de
origem, contribuindo, de algu
ma
maneira, para a valorização e o
reconhecimento das crianças naquelas
memórias dos migrantes
desterritorializados e subalternizados.
Certamente, a identificação
autêntica dos meninos e meninas com
a cultura popular brasileira, a própria
no Museu Casa do
Pontal, serve como comprovação dos
resultados positivos em relação aos
conceitos de educação museal
adotados pela instituição. O teatro, as
músicas, brincadeiras e o diálogo
nesse ambiente são recursos de um
processo inovador, para além d
educação formal, na direção da
transformação da sociedade e suas
relações.
Referências bibliográficas
ALVES, Rubem.
A educação dos
sentidos
: conversas sobre a
aprendizagem e a vida. São Paulo:
Planeta do Brasil, 2018.
BRASIL. Lei 11.904 de 14 de janeiro
de 2009. Institui o Estatuto de Museus,
e outras providências.
da União
, Brasília, 15 jan. 2009.
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_At
o2007-
2010/2009/Lei/L11904.htm.
Acesso em: 21 ago.
2020.
CARVALHO
, Cristina; LOPES,
Thamiris. O público infantil nos
museus.
Educ. Real
v.41, n. 3, jul./set. 2016; EpubJune 07,
2016. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=
sci_arttext&pid=S2175
62362016000300911#B7. Acesso em
5 jan. 2020.
CHAGAS, Mario. Diabruras do Saci:
museu, memória, educação e
patrimônio.
Revista Musas
134-
146, 2004. Disponível em:
https://www.museus.gov.br/wp
content
/uploads/2011/04/Musas1.pdf
Acesso em: 4 jun. 2019.
CHAGAS, Mario.
O seminário regional
da Unesco sobre a função educativa
106
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
resultados positivos em relação aos
conceitos de educação museal
adotados pela instituição. O teatro, as
músicas, brincadeiras e o diálogo
nesse ambiente são recursos de um
processo inovador, para além d
a
educação formal, na direção da
transformação da sociedade e suas
Referências bibliográficas
A educação dos
: conversas sobre a
aprendizagem e a vida. São Paulo:
Planeta do Brasil, 2018.
E-book.
BRASIL. Lei 11.904 de 14 de janeiro
de 2009. Institui o Estatuto de Museus,
e outras providências.
Diário Oficial
, Brasília, 15 jan. 2009.
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_At
2010/2009/Lei/L11904.htm.
2020.
, Cristina; LOPES,
Thamiris. O público infantil nos
Educ. Real
., Porto Alegre,
v.41, n. 3, jul./set. 2016; EpubJune 07,
2016. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=
sci_arttext&pid=S2175
-
62362016000300911#B7. Acesso em
:
CHAGAS, Mario. Diabruras do Saci:
museu, memória, educação e
Revista Musas
, n. 1, p.
146, 2004. Disponível em:
https://www.museus.gov.br/wp
-
/uploads/2011/04/Musas1.pdf
.
Acesso em: 4 jun. 2019.
O seminário regional
da Unesco sobre a função educativa
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
dos museus (1958): sessenta anos
depois. In:
CHAGAS, Mario;
RODRIGUES, Marcus Vinicius Macri
(org.).
A função educacional dos
museus
: 60 anos do Seminário
Regional da Unesco. Rio de Janeiro:
Museu da República, 2019, p. 13.
COSTA,
Heloisa Helena Fernandes
Gonçalves da; WAZENKESKI,
Verlaine tima. A importância das
ações educativas nos museus.
de História e Geografia Ágora
2, p. 64-
73, 2015. Disponível em:
https://online.unisc.br/seer/index.php/a
gora/article/view/6336/4837
em: 4 jun. 2019.
FREINET, Célestin.
Um olhar sobre a
práxis Freinetiana
: aprendizagem em
diferentes perspectivas:
introdução. 2015.
Disponível em:
https://educimat.cefor.ifes.edu.br/imag
es/stories/Publica%C3%A7%C3%B5e
s/Livros/Livro-1-
Aprendizado
diferentes-
perspectivas_2015.pdf#page=116.
Acesso em: 10 jan. 2020.
FREIRE, Paulo.
Pedagogia do
oprimido
. São Paulo: Editora Paz e
Terra, 2005.
IBRAM. Instituto Brasileiro de Museus.
Caderno da Política Nacional de
Educação Museal
. Brasília: IBRAM,
2018. Disponível em:
https://www.museus.gov.br/wp
content/uploads/2018/06/Cadern
PNEM.pdf. Acesso em: 05 jan. 2020
IBRAM. Instituto Brasileiro de Museus.
Diretrizes para a realização das
práticas educativas
EIXO II
Disponível em:
https://pnem.museus.gov.br/sobre
pnem/diretrizes/. Acesso em: 10 jan.
2020.
IPHAN. Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico
Educação Patrimonial
. Disponível em:
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
dos museus (1958): sessenta anos
CHAGAS, Mario;
RODRIGUES, Marcus Vinicius Macri
A função educacional dos
: 60 anos do Seminário
Regional da Unesco. Rio de Janeiro:
Museu da República, 2019, p. 13.
Heloisa Helena Fernandes
Gonçalves da; WAZENKESKI,
Verlaine tima. A importância das
ações educativas nos museus.
Revista
de História e Geografia Ágora
, v. 17, n.
73, 2015. Disponível em:
https://online.unisc.br/seer/index.php/a
gora/article/view/6336/4837
. Acesso
Um olhar sobre a
: aprendizagem em
diferentes perspectivas:
uma
Disponível em:
https://educimat.cefor.ifes.edu.br/imag
es/stories/Publica%C3%A7%C3%B5e
Aprendizado
-em-
perspectivas_2015.pdf#page=116.
Pedagogia do
. São Paulo: Editora Paz e
IBRAM. Instituto Brasileiro de Museus.
Caderno da Política Nacional de
. Brasília: IBRAM,
2018. Disponível em:
https://www.museus.gov.br/wp
-
content/uploads/2018/06/Cadern
o-da-
PNEM.pdf. Acesso em: 05 jan. 2020
.
IBRAM. Instituto Brasileiro de Museus.
Diretrizes para a realização das
EIXO II
PNEM.
Disponível em:
https://pnem.museus.gov.br/sobre
-o-
pnem/diretrizes/. Acesso em: 10 jan.
IPHAN. Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico
Nacional.
. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/pa
es/343. Acesso em: 21
LOPES, Margaret Maria. A favor da
desescolarização dos museus.
Educação & Sociedade
1991. Disponível em:
https://www.sisems
p.org.br/blog/wp
content/uploads/2016/04/A
desescolariza%C3%A7%C3%A3o
dos-
museus.pdf. Acesso em: 21 set.
2019.
MAE BARBOSA, Ana.
e cultura. 2012. E-
book.
em:
http://www.dominiopublico.gov.br/down
load/texto/mre000079.pdf. Acesso em:
15 nov. 2018.
MASCELANI, Angela.
cedida a] Ivan Vieira.
2014. Disponível em:
http://www.acasa.org.br/biblioteca/text
o/514. Acesso em: 15 s
MASCELANI, Angela.
arte popular brasileira
Pontal. Rio de Janeiro: Mauad. 2009.
MUSEU CASA DO PONTAL. Site
institucional Disponível em:
http://www.museucasadopontal.com.br
. Acesso em: 9 nov. 2019.
POEL, Francisco Van Der
artista popular.
Textos Escolhidos de
Cultura e Arte Populares
2012.
ROLNIK, Suely.
Subjetividade em
obra:
Lygia Clark artista
contemporânea. 2002. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/revph/article/vi
ewFile/10571/7862. Acesso em: 05
jan. 2020.
107
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
http://portal.iphan.gov.br/pa
gina/detalh
es/343. Acesso em: 21
mar. 2020.
LOPES, Margaret Maria. A favor da
desescolarização dos museus.
Educação & Sociedade
, n. 40, dez.
1991. Disponível em:
p.org.br/blog/wp
-
content/uploads/2016/04/A
-favor-da-
desescolariza%C3%A7%C3%A3o
-
museus.pdf. Acesso em: 21 set.
MAE BARBOSA, Ana.
Arte, educação
book.
Disponível
http://www.dominiopublico.gov.br/down
load/texto/mre000079.pdf. Acesso em:
MASCELANI, Angela.
[Entrevista
cedida a] Ivan Vieira.
A Casa, 10 jul.
2014. Disponível em:
http://www.acasa.org.br/biblioteca/text
o/514. Acesso em: 15 s
et. 2019.
MASCELANI, Angela.
O mundo da
arte popular brasileira
: Museu Casa do
Pontal. Rio de Janeiro: Mauad. 2009.
MUSEU CASA DO PONTAL. Site
institucional Disponível em:
http://www.museucasadopontal.com.br
. Acesso em: 9 nov. 2019.
POEL, Francisco Van Der
. Arte e
Textos Escolhidos de
Cultura e Arte Populares
, v. 9, n. 2,
Subjetividade em
Lygia Clark artista
contemporânea. 2002. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/revph/article/vi
ewFile/10571/7862. Acesso em: 05
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 90-108, março 2021.
SISEM-SP. Conceitos-
chave da
educação em museus
Disponível em:
https://www.sisemsp.org.br/blog/wp
content/
uploads/2016/04/Bases
a-Pol%c3%adtica-
Nacional
Museus.pdf. Acesso em: 5 out. 2019.
SOTO, M.
Quem educa no Templo das
Musas?
Reflexões e caminhos ao
pensar a formação dos educadores em
museus.
2010. Dissertação (Mestrado)
Universidade Lusófona de
Humanidades e Tecnologias;
Departamento de Arquitectura,
Urbanismo, Geografia e Artes, Lisboa,
2010.
CALABRE, Lia; COUTINHO, Rosely. Cultura popular e educação, uma
experiência de visitação ao Museu Casa do Pontal
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
chave da
educação em museus
. 2016.
Disponível em:
https://www.sisemsp.org.br/blog/wp
-
uploads/2016/04/Bases
-para-
Nacional
-de-
Museus.pdf. Acesso em: 5 out. 2019.
Quem educa no Templo das
Reflexões e caminhos ao
pensar a formação dos educadores em
2010. Dissertação (Mestrado)
Universidade Lusófona de
Humanidades e Tecnologias;
Departamento de Arquitectura,
Urbanismo, Geografia e Artes, Lisboa,
108
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
"Quem Sabe de Mim Sou Eu"
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.45794
Resumo:
O presente artigo propõe uma reflexão teórico
acumulada no âmbito de um projeto universitário de caráter extensionista que, ao longo dos últimos
oito
anos, promove atividades voltadas para jovens em situação de vulnerabilidade social. Ao
apresentar as ferramentas usadas e refletir sobre as questões e desafios enfrentados, buscamos
desenvolver uma metodologia que seja capaz de acessar esses jovens. Nossa
é possível articular práticas culturais e ferramentas comunicacionais, capazes de contribuir para um
processo de subjetivação emancipador, com a finalidade de desarmar “profecias auto
comuns às trajetórias desses joven
trazer para o plano do visível a experiência, a memória, a corporalidade e a fala como possibilidades
de expressão das subjetividades singulares desses jovens, ainda assim constantemente
atravessad
as por relações de poder estruturais, violentas e hierárquicas.
Palavras-Chave: Cultura e e
ducação;
1
Flora Côrtes Daemon de Souza Pinto.
Fluminense, p
rofessora Adjunta do curso de Jornalismo da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ), Brasil. Email:
floradaemon@yahoo.com.br
2
Kleber Santos de Mendonça.
Doutor em Comunicação
p
rofessor Associado do Departamento de Estudos Culturais e Mídia e dos Programas de Pós
Graduação em Co
municação (PPGCOM) e em Cultura e Territorialidades (PPCULT) da
Universidade Federal Fluminense (UFF)
https://orcid.org/0000-0001-
8055
3
Marildo José Nercolini.
Doutor em Ciência da Literatura (UFRJ 2005), Professor Associado do
Departamento e Estudos Culturais e Mídia (GEC/IACS) e do Programa de Pós
e Territorialidades (PPCU
LT) da Universidade Federal Fluminense (UFF)
mjnercolini@gmail.com -
https://orcid.org/0000
Texto recebido em 06/09/20
20
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
"Quem Sabe de Mim Sou Eu"
: práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.45794
Kleber Mendonça
Marildo José Nercolini
O presente artigo propõe uma reflexão teórico
-
metodológica a partir da experiência
acumulada no âmbito de um projeto universitário de caráter extensionista que, ao longo dos últimos
anos, promove atividades voltadas para jovens em situação de vulnerabilidade social. Ao
apresentar as ferramentas usadas e refletir sobre as questões e desafios enfrentados, buscamos
desenvolver uma metodologia que seja capaz de acessar esses jovens. Nossa
meta é explicitar como
é possível articular práticas culturais e ferramentas comunicacionais, capazes de contribuir para um
processo de subjetivação emancipador, com a finalidade de desarmar “profecias auto
comuns às trajetórias desses joven
s. Acionamos, ao longo de nossa atuação, modos potentes de
trazer para o plano do visível a experiência, a memória, a corporalidade e a fala como possibilidades
de expressão das subjetividades singulares desses jovens, ainda assim constantemente
as por relações de poder estruturais, violentas e hierárquicas.
ducação;
favela; juventude; universidade; e
xtensionismo
Flora Côrtes Daemon de Souza Pinto.
Doutora em Comunicação
pela Universidade Federal
rofessora Adjunta do curso de Jornalismo da Universidade Federal Rural do Rio de
floradaemon@yahoo.com.br
-
https://orcid.org/0000
Doutor em Comunicação
pela Universidade Federal Fluminense
rofessor Associado do Departamento de Estudos Culturais e Mídia e dos Programas de Pós
municação (PPGCOM) e em Cultura e Territorialidades (PPCULT) da
Universidade Federal Fluminense (UFF)
, Niterói/RJ, Brasil. Email:
klebermendonca@id.uff.br
8055
-7447
Doutor em Ciência da Literatura (UFRJ 2005), Professor Associado do
Departamento e Estudos Culturais e Mídia (GEC/IACS) e do Programa de Pós
-
Graduação em Cultura
LT) da Universidade Federal Fluminense (UFF)
, Niterói/RJ, Brasil
https://orcid.org/0000
-0003-0465-0011
20
, aceito para publicação em 24/11/2020
e disponibilizado online
em 01/03/2021.
109
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
: práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade
Flora Daemon
1
Kleber Mendonça
2
Marildo José Nercolini
3
metodológica a partir da experiência
acumulada no âmbito de um projeto universitário de caráter extensionista que, ao longo dos últimos
anos, promove atividades voltadas para jovens em situação de vulnerabilidade social. Ao
apresentar as ferramentas usadas e refletir sobre as questões e desafios enfrentados, buscamos
meta é explicitar como
é possível articular práticas culturais e ferramentas comunicacionais, capazes de contribuir para um
processo de subjetivação emancipador, com a finalidade de desarmar “profecias auto
rrealizáveis”,
s. Acionamos, ao longo de nossa atuação, modos potentes de
trazer para o plano do visível a experiência, a memória, a corporalidade e a fala como possibilidades
de expressão das subjetividades singulares desses jovens, ainda assim constantemente
xtensionismo
.
pela Universidade Federal
rofessora Adjunta do curso de Jornalismo da Universidade Federal Rural do Rio de
https://orcid.org/0000
-0001-9652-1748
pela Universidade Federal Fluminense
,
rofessor Associado do Departamento de Estudos Culturais e Mídia e dos Programas de Pós
-
municação (PPGCOM) e em Cultura e Territorialidades (PPCULT) da
klebermendonca@id.uff.br
-
Doutor em Ciência da Literatura (UFRJ 2005), Professor Associado do
Graduação em Cultura
, Niterói/RJ, Brasil
. Email:
e disponibilizado online
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
"Quem Sabe de Mim Sou Eu": prácticas culturales y comunicativas como herramientas
pedagógicas para
jóvenes vulnerables
Resumen:
Este artículo propone una reflexión teórico
acumulada en el ámbito de un proyecto universitario de extensión que, durante los últimos ocho años,
promueve actividades dirigidas a jóvenes
herramientas utilizadas y reflexionar sobre los problemas y desafíos enfrentados, buscamos
desarrollar una metodología que sea capaz de acceder a estos jóvenes. Nuestro objetivo es explicar
cómo es po
sible articular prácticas culturales y herramientas de comunicación, capaces de contribuir
a un proceso de subjetivación emancipatorio, con el propósito de desarmar “profecías
autocumplidas”, comunes a las trayectorias de estos jóvenes. A lo largo de nuest
activado formas de acercar la experiencia, la memoria, la corporeidad y el discurso como
posibilidades de expresión de las subjetividades singulares de estos jóvenes, que todavía son
atravesados
constantemente por estructuras, violencia
Palabras clave: Cultura y e
ducación;
"Quem Sabe de Mim Sou Eu": cultural and communicative practices as pedagogical tools for
vulnerable young people
Abstract:
This article proposes a
experience in the field of a university extension project that, during the last eight years, promotes
activities aimed at young people in social vulnerability situations. By presenting the tool
reflecting on the problems and challenges faced, we seek to develop a methodology that could be
able to access these young people. Our goal is to explain how it is possible to use cultural practices
and communication tools as a support for an em
of dismantling "self-
fulfilling prophecies" common to the trajectories of these young people.
Throughout our work, we have activated ways of bringing experience, memory, corporeity and speech
as possib
ilities of expression of the unique subjectivities of these young people, who are still
constantly traversed by structures, violence and hierarchy.
Keywords: Culture and e
ducation;
"Quem Sabe de Mim Sou Eu"
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade
1. Introdução
Propomos uma reflexão a partir
da experiência acumulada no âmbito
de um projeto universitário de caráter
extensionista que, ao longo dos
últimos oito anos, promove atividades
voltadas para jovens em situação de
vulnerabilidade social. Objetivamos
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
"Quem Sabe de Mim Sou Eu": prácticas culturales y comunicativas como herramientas
jóvenes vulnerables
Este artículo propone una reflexión teórico
-
metodológica a partir de la experiencia
acumulada en el ámbito de un proyecto universitario de extensión que, durante los últimos ocho años,
promueve actividades dirigidas a jóvenes
en situación de vulnerabilidad social. Al presentar las
herramientas utilizadas y reflexionar sobre los problemas y desafíos enfrentados, buscamos
desarrollar una metodología que sea capaz de acceder a estos jóvenes. Nuestro objetivo es explicar
sible articular prácticas culturales y herramientas de comunicación, capaces de contribuir
a un proceso de subjetivación emancipatorio, con el propósito de desarmar “profecías
autocumplidas”, comunes a las trayectorias de estos jóvenes. A lo largo de nuest
activado formas de acercar la experiencia, la memoria, la corporeidad y el discurso como
posibilidades de expresión de las subjetividades singulares de estos jóvenes, que todavía son
constantemente por estructuras, violencia
y jerárquico.
ducación;
favela; juventud; universidad; e
xtensionismo
"Quem Sabe de Mim Sou Eu": cultural and communicative practices as pedagogical tools for
This article proposes a
theoretical-
methodological reflection based on the accumulated
experience in the field of a university extension project that, during the last eight years, promotes
activities aimed at young people in social vulnerability situations. By presenting the tool
reflecting on the problems and challenges faced, we seek to develop a methodology that could be
able to access these young people. Our goal is to explain how it is possible to use cultural practices
and communication tools as a support for an em
ancipatory process of subjectivation, with the purpose
fulfilling prophecies" common to the trajectories of these young people.
Throughout our work, we have activated ways of bringing experience, memory, corporeity and speech
ilities of expression of the unique subjectivities of these young people, who are still
constantly traversed by structures, violence and hierarchy.
ducation;
favela; youth; university; extensionism.
"Quem Sabe de Mim Sou Eu"
: prát
icas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade
Propomos uma reflexão a partir
da experiência acumulada no âmbito
de um projeto universitário de caráter
extensionista que, ao longo dos
últimos oito anos, promove atividades
voltadas para jovens em situação de
vulnerabilidade social. Objetivamos
apresenta
r as ferramentas usadas,
questões e desafios enfrentados, bem
como desenvolver um referencial
teórico metodológico norteador das
ações. Nossa meta é pensar como
articular práticas culturais e
ferramentas comunicacionais capazes
de contribuir para um proces
110
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
"Quem Sabe de Mim Sou Eu": prácticas culturales y comunicativas como herramientas
metodológica a partir de la experiencia
acumulada en el ámbito de un proyecto universitario de extensión que, durante los últimos ocho años,
en situación de vulnerabilidad social. Al presentar las
herramientas utilizadas y reflexionar sobre los problemas y desafíos enfrentados, buscamos
desarrollar una metodología que sea capaz de acceder a estos jóvenes. Nuestro objetivo es explicar
sible articular prácticas culturales y herramientas de comunicación, capaces de contribuir
a un proceso de subjetivación emancipatorio, con el propósito de desarmar “profecías
autocumplidas”, comunes a las trayectorias de estos jóvenes. A lo largo de nuest
ro trabajo, hemos
activado formas de acercar la experiencia, la memoria, la corporeidad y el discurso como
posibilidades de expresión de las subjetividades singulares de estos jóvenes, que todavía son
xtensionismo
.
"Quem Sabe de Mim Sou Eu": cultural and communicative practices as pedagogical tools for
methodological reflection based on the accumulated
experience in the field of a university extension project that, during the last eight years, promotes
activities aimed at young people in social vulnerability situations. By presenting the tool
s used and
reflecting on the problems and challenges faced, we seek to develop a methodology that could be
able to access these young people. Our goal is to explain how it is possible to use cultural practices
ancipatory process of subjectivation, with the purpose
fulfilling prophecies" common to the trajectories of these young people.
Throughout our work, we have activated ways of bringing experience, memory, corporeity and speech
ilities of expression of the unique subjectivities of these young people, who are still
icas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade
r as ferramentas usadas,
questões e desafios enfrentados, bem
como desenvolver um referencial
teórico metodológico norteador das
ações. Nossa meta é pensar como
articular práticas culturais e
ferramentas comunicacionais capazes
de contribuir para um proces
so de
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
subjetivação emancipador que
desarme as chamadas “profecias auto
realizáveis”, comuns às trajetórias
desses jovens.
Ao longo de nossa atuação com
jovens em favelas cariocas, pudemos
constatar na vivência pedagógica as
dificuldades de elaborar e
implementar
ferramentas educacionais capazes de
mobilizar e engajar tal público
Fomos nos deparando, gradualmente,
com o que chamamos de armadilhas
estruturais que, ao mesmo tempo,
ordenam a complexa e desigual
sociedade brasileira, e se atualizam no
plano dos indivíduos perpetuando os
processos de marginalização social e
de sujeição criminal de determinados
grupos.
As experiências profissional e
educacional dos integrantes do
projeto, bem como sua capacidades
de atuação junto aos jovens, se situam
na
interface entre o uso de
ferramentas comunicacionais e as
práticas culturais locais. Dessa forma,
nos dedicamos a construir uma linha
de atuação que pudesse usar
ferramentas diversas (a fotografia, o
audiovisual, a música e os relatos
pessoais memoráveis
locais, por
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
subjetivação emancipador que
desarme as chamadas “profecias auto
realizáveis”, comuns às trajetórias
Ao longo de nossa atuação com
jovens em favelas cariocas, pudemos
constatar na vivência pedagógica as
implementar
ferramentas educacionais capazes de
mobilizar e engajar tal público
-alvo.
Fomos nos deparando, gradualmente,
com o que chamamos de armadilhas
estruturais que, ao mesmo tempo,
ordenam a complexa e desigual
sociedade brasileira, e se atualizam no
plano dos indivíduos perpetuando os
processos de marginalização social e
de sujeição criminal de determinados
As experiências profissional e
educacional dos integrantes do
projeto, bem como sua capacidades
de atuação junto aos jovens, se situam
interface entre o uso de
ferramentas comunicacionais e as
práticas culturais locais. Dessa forma,
nos dedicamos a construir uma linha
de atuação que pudesse usar
ferramentas diversas (a fotografia, o
audiovisual, a música e os relatos
locais, por
exemplo) como argumentos
pedagógicos de transformação.
Assim, elaboramos uma
metodologia que une reflexão teórica,
observação participante e prática
horizontalizada de reconhecimento e
troca de saberes múltiplos. Com isso,
passamos a implement
capacitação destinadas à
transformação, tanto dos jovens
moradores de favelas cariocas, como
dos estudantes universitários que
participaram do projeto ao longo dos
últimos oito anos. Partimos do
entendimento de que para que a
universidade "se p
inte de negro, se
pinte de mulato, não somente entre os
alunos, mas também entre os
professores; que se pinte de
trabalhador e de campesino, que se
pinte de pueblo"
4
, conforme defendeu
Ernesto Guevara, é necessário que
esta instituição se volte para esses
indivíduos, não somente na condição
de objetos ou interlocutores de
pesquisas científicas, mas
fundamentalmente como potenciais
ocupantes de posições relevantes em
sua estrutura.
4
Trata-
se de discurso proferido em
28/12/1959, no recebimento do título de doutor
honoris causa
na Faculdade de Pedagogia da
Universidad Central de Las Villas, Cuba.
111
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
exemplo) como argumentos
pedagógicos de transformação.
Assim, elaboramos uma
metodologia que une reflexão teórica,
observação participante e prática
horizontalizada de reconhecimento e
troca de saberes múltiplos. Com isso,
passamos a implement
ar ações de
capacitação destinadas à
transformação, tanto dos jovens
moradores de favelas cariocas, como
dos estudantes universitários que
participaram do projeto ao longo dos
últimos oito anos. Partimos do
entendimento de que para que a
inte de negro, se
pinte de mulato, não somente entre os
alunos, mas também entre os
professores; que se pinte de
trabalhador e de campesino, que se
, conforme defendeu
Ernesto Guevara, é necessário que
esta instituição se volte para esses
indivíduos, não somente na condição
de objetos ou interlocutores de
pesquisas científicas, mas
fundamentalmente como potenciais
ocupantes de posições relevantes em
se de discurso proferido em
28/12/1959, no recebimento do título de doutor
na Faculdade de Pedagogia da
Universidad Central de Las Villas, Cuba.
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
Durante o desenvolvimento do
trabalho nos deparamos com a
dificuldade dos j
ovens de vislumbrar
se como parte do ensino superior
público. Para além da questão
concreta das barreiras de seleção
baseadas em controversos critérios de
acúmulo e competência, como o
rendimento no ENEM, identificamos
um sentimento recorrente de não
pertencimento a priori
àquele lugar
que, embora mais próximo em função
do contato com o projeto de extensão,
ainda conservava distância no que se
refere à ideia de fazer parte.
A vivência sistemática do
projeto apontou, no entanto, para dois
movimentos elementa
res na mudança
de entendimento do papel e lugar
político e simbólico -
da universidade
por parte dos jovens: o primeiro se
refere à ideia de revelação. Para
quase a totalidade dos participantes do
projeto, a universidade pública se
apresentava como uma a
Neste sentido, tomar contato com uma
instituição de ensino de reconhecida
relevância por meio de um projeto que
sustenta práticas horizontais pode ter
contribuído de maneira significativa
para o desejo de desvelar um espaço
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Durante o desenvolvimento do
trabalho nos deparamos com a
ovens de vislumbrar
-
se como parte do ensino superior
público. Para além da questão
concreta das barreiras de seleção
baseadas em controversos critérios de
acúmulo e competência, como o
rendimento no ENEM, identificamos
um sentimento recorrente de não
àquele lugar
que, embora mais próximo em função
do contato com o projeto de extensão,
ainda conservava distância no que se
refere à ideia de fazer parte.
A vivência sistemática do
projeto apontou, no entanto, para dois
res na mudança
de entendimento do papel e lugar
-
da universidade
por parte dos jovens: o primeiro se
refere à ideia de revelação. Para
quase a totalidade dos participantes do
projeto, a universidade pública se
apresentava como uma a
bstração.
Neste sentido, tomar contato com uma
instituição de ensino de reconhecida
relevância por meio de um projeto que
sustenta práticas horizontais pode ter
contribuído de maneira significativa
para o desejo de desvelar um espaço
que, até então, não pa
direito e por princípio.
O segundo movimento,
decorrente do anterior, refere
introjeção do olhar do outro sobre si.
Sabemos que cotidianamente esses
jovens são interpelados como
criminosos -
concretos ou em potencial
- a partir de confo
rmação da sujeição
criminal (
MISSE, 2008)
entendimento deste mecanismo
perverso, por parte de meninos e
meninas pretos, pardos e pobres,
efetiva no próprio corpo uma interdição
que impossibilita postulações de
ocupação de lugares com os quais não
são id
entificados em função do caráter
racista e classista da sociedade.
Acreditamos que ao tomarem contato
com um novo olhar sobre si, partindo
de indivíduos associados ao Estado e
à coisa pública -
aqui materializados
pela ideia de universidade, seus
estudante
s e professores
sentirem interpelados pelo que
supostamente falta ou pela referência
ao risco, esses jovens começam a se
enxergar possíveis.
Uma das evidências de tal
embaralhamento de lugares político
sociais é a perceptível motivação de
vários
jovens que faziam parte do
112
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
que, até então, não pa
recia seu, por
direito e por princípio.
O segundo movimento,
decorrente do anterior, refere
-se à
introjeção do olhar do outro sobre si.
Sabemos que cotidianamente esses
jovens são interpelados como
concretos ou em potencial
rmação da sujeição
MISSE, 2008)
. O
entendimento deste mecanismo
perverso, por parte de meninos e
meninas pretos, pardos e pobres,
efetiva no próprio corpo uma interdição
que impossibilita postulações de
ocupação de lugares com os quais não
entificados em função do caráter
racista e classista da sociedade.
Acreditamos que ao tomarem contato
com um novo olhar sobre si, partindo
de indivíduos associados ao Estado e
aqui materializados
pela ideia de universidade, seus
s e professores
-, sem se
sentirem interpelados pelo que
supostamente falta ou pela referência
ao risco, esses jovens começam a se
Uma das evidências de tal
embaralhamento de lugares político
-
sociais é a perceptível motivação de
jovens que faziam parte do
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
projeto de extensão a se tornarem,
eles também, estudantes na
universidade pública. Foi dessa
maneira que alguns ingressaram no
ensino superior e, também, passaram
a desafiar a ideia de presença do
Estado nas favelas e periferia
como instrumento repressor das
populações.
A partir de tais postulados e
posturas ético-
políticas o projeto
Sabe de Mim Sou Eu
atuou, desde
2012, em favelas como Chapéu
Mangueira, Babilônia, Cantagalo e
Pavão-
Pavãozinho, bem como em
escolas p
úblicas próximas às
comunidades da zona norte do Rio de
Janeiro. Decidimos, atualmente,
ampliar o escopo e passar a trabalhar
também junto aos jovens que
cumprem medidas socioeducativas, na
cidade de Niterói. Essa ação passa a
ser desenvolvida no Centro de
Recursos Integrados de Atendimento
ao Adolescente de Niterói (CRIAAD),
envolvendo parceria entre a UFF e a
Prefeitura.
Quanto à equipe, o projeto
contou, ao longo desses anos, com 25
bolsistas de extensão, seis bolsistas
Pibic/CNPq e duas bolsistas PIBIC
Ensino Médio/CNPq. Alguns, inclusive,
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
projeto de extensão a se tornarem,
eles também, estudantes na
universidade pública. Foi dessa
maneira que alguns ingressaram no
ensino superior e, também, passaram
a desafiar a ideia de presença do
Estado nas favelas e periferia
s apenas
como instrumento repressor das
A partir de tais postulados e
políticas o projeto
Quem
atuou, desde
2012, em favelas como Chapéu
Mangueira, Babilônia, Cantagalo e
Pavãozinho, bem como em
úblicas próximas às
comunidades da zona norte do Rio de
Janeiro. Decidimos, atualmente,
ampliar o escopo e passar a trabalhar
também junto aos jovens que
cumprem medidas socioeducativas, na
cidade de Niterói. Essa ação passa a
ser desenvolvida no Centro de
Recursos Integrados de Atendimento
ao Adolescente de Niterói (CRIAAD),
envolvendo parceria entre a UFF e a
Quanto à equipe, o projeto
contou, ao longo desses anos, com 25
bolsistas de extensão, seis bolsistas
Pibic/CNPq e duas bolsistas PIBIC
-
Ensino Médio/CNPq. Alguns, inclusive,
moradores de favelas. Além disso, é
coordenado por três professores que
são docentes de duas universidades
federais e que possuem experiência
nos campos da Violência, da
Juventude, da Comunicação, da
Música e dos Estud
Quem Sabe de Mim Sou Eu
financiado por diferentes agências,
tendo sido contemplado, entre outros,
pelos editais PROEXT 2015
(CAPES/MEC) e Humanidades 2013,
da FAPERJ. Ressalta
fundamentais parcerias com iniciativas
de base c
omunitária tais como o
projeto
Teu Papo
Percussão Mirim do Mestre
projeto de passinho desenvolvido por
Key Tetra, o
Núcleo de Comunicação
Popular
(Nucopo), além de instituições
parceiras, como o
Agostinho Fincias
equipamentos culturais do Rio de
Janeiro.
2. Aspectos estruturais da
sociedade brasileira e as profecias
auto realizáveis
"Favela tem história. Uma longa
batalhadora história. E eu ainda
espero escrever relatando o dia
em que esses dois mundos forem
um só, com os mesmos direitos,
oportunidades e respeito. Eu não
113
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
moradores de favelas. Além disso, é
coordenado por três professores que
são docentes de duas universidades
federais e que possuem experiência
nos campos da Violência, da
Juventude, da Comunicação, da
Música e dos Estud
os de Gênero.
Quem Sabe de Mim Sou Eu
foi
financiado por diferentes agências,
tendo sido contemplado, entre outros,
pelos editais PROEXT 2015
(CAPES/MEC) e Humanidades 2013,
da FAPERJ. Ressalta
-se, ainda, as
fundamentais parcerias com iniciativas
omunitária tais como o
Teu Papo
, a Orquestra de
Percussão Mirim do Mestre
, o
projeto de passinho desenvolvido por
Núcleo de Comunicação
(Nucopo), além de instituições
parceiras, como o
CIEP 205 Frei
Agostinho Fincias
e alguns
equipamentos culturais do Rio de
2. Aspectos estruturais da
sociedade brasileira e as profecias
"Favela tem história. Uma longa
batalhadora história. E eu ainda
espero escrever relatando o dia
em que esses dois mundos forem
um só, com os mesmos direitos,
oportunidades e respeito. Eu não
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
terei palavras para descrever o
sentimento. Mas espero um dia
que pessoas como vocês
enxerguem a gente."
(Thayná Rodrigues, Bolsista Pibic
Ensino Médio -
Quem Sabe de
Uma vez que
propomos uma
metodologia educacional de
atravessamento e de (re)construção
de subjetividades no momento mesmo
em que os jovens se apoderam de
ferramentas da comunicação e das
práticas culturais, é fundamental levar
em conta dois pontos de partida que
se inter-
relacionam: as características
específicas das localidades desses
jovens e a forma desigual e violenta
com a qual a sociedade brasileira
historicamente se organiza.
Notamos, assim, como as
potências criativas desses jovens,
ainda pouco percebidas por
mesmos e não reconhecidas
socialmente, acabam sendo
silenciadas por uma complexa trama
de agenciamentos e de controles
sociais. Tal modo de funcionamento
dos aparatos estatais de administração
de conflitos e de vigilância articula
aspectos ligados ao
(GOFFMAN, 2008) atribuído a esses
jovens, por meio de marcadores
raciais e de classe de modo a torná
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
terei palavras para descrever o
sentimento. Mas espero um dia
que pessoas como vocês
enxerguem a gente."
(Thayná Rodrigues, Bolsista Pibic
Quem Sabe de
Mim Sou Eu)
propomos uma
metodologia educacional de
atravessamento e de (re)construção
de subjetividades no momento mesmo
em que os jovens se apoderam de
ferramentas da comunicação e das
práticas culturais, é fundamental levar
em conta dois pontos de partida que
relacionam: as características
específicas das localidades desses
jovens e a forma desigual e violenta
com a qual a sociedade brasileira
historicamente se organiza.
Notamos, assim, como as
potências criativas desses jovens,
ainda pouco percebidas por
eles
mesmos e não reconhecidas
socialmente, acabam sendo
silenciadas por uma complexa trama
de agenciamentos e de controles
sociais. Tal modo de funcionamento
dos aparatos estatais de administração
de conflitos e de vigilância articula
aspectos ligados ao
estigma
(GOFFMAN, 2008) atribuído a esses
jovens, por meio de marcadores
raciais e de classe de modo a torná
-los
alvos preferenciais de um complexo
mecanismo de sujeição criminal
(MISSE, 2008). Este processo se
apresenta de maneira dissimulada a
partir do
estabelecimento de
determinados tipos ideais que se
tornam, desde sempre, “suspeitos” de
condutas criminais antes mesmo da
prática de qualquer ação,
característica que não justificaria
como demandaria a vigilância
constante por parte dos agentes do
Esta
do. Uma combinação de
invisibilidade (dos sujeitos, de seus
direitos fundamentais e de suas
capacidades) com uma visibilidade
acionada apenas para inserir esses
jovens no aparato repressor e punitivo
das instituições de vigilância, punição
e encarceramento
(quando não das
ações de extermínio).
Em cada favela onde o projeto
aconteceu buscou-
se sempre inserir a
discussão a respeito dos saberes
locais conjuntamente com o seu
processo histórico de formação. Tal
estratégia se apresenta como um
antídoto ao risco
de homogeneizar
realidades a respeito da complexidade
inerente aos diferentes sítios que
compõem grandes cidades. Esta
preocupação é uma forma eficiente de
114
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
alvos preferenciais de um complexo
mecanismo de sujeição criminal
(MISSE, 2008). Este processo se
apresenta de maneira dissimulada a
estabelecimento de
determinados tipos ideais que se
tornam, desde sempre, “suspeitos” de
condutas criminais antes mesmo da
prática de qualquer ação,
característica que não justificaria
como demandaria a vigilância
constante por parte dos agentes do
do. Uma combinação de
invisibilidade (dos sujeitos, de seus
direitos fundamentais e de suas
capacidades) com uma visibilidade
acionada apenas para inserir esses
jovens no aparato repressor e punitivo
das instituições de vigilância, punição
(quando não das
ações de extermínio).
Em cada favela onde o projeto
se sempre inserir a
discussão a respeito dos saberes
locais conjuntamente com o seu
processo histórico de formação. Tal
estratégia se apresenta como um
de homogeneizar
realidades a respeito da complexidade
inerente aos diferentes sítios que
compõem grandes cidades. Esta
preocupação é uma forma eficiente de
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
problematizar o debate acerca da
implicação juvenil, bem como de seus
modos de instrumentalizar apar
comunicacionais a favor de suas
táticas e práticas culturais.
Do contrário incorreríamos no
erro, bastante habitual conforme
ressalta Valladares, de acreditar que
ter contato com uma favela é conhecer
a realidade de todas:
A favela é obrigatoriamente
morro, uma zona ocupada
ilegalmente, fora da lei, um espaço
subequipado, lugar de concentração
dos pobres na cidade. Numa mesma
denominação genérica, a palavra
favela unifica situações com
características muito diferentes nos
planos geográfico, demográf
urbanístico e social (VALLADARES,
2005, p. 152).
Percebe-
se, assim, como
instrumento fundamental de
mobilização e diálogo a preocupação
de levar em conta as especificidades
históricas, geográficas e culturais dos
diferentes lugares bem como as
caract
erísticas singulares de seus
jovens moradores. É tarefa prioritária
do educador atentar para o que é
diverso e múltiplo. Sem perder de
vista, igualmente, o caráter agenciador
de alguns padrões que acabam por se
replicar, uma vez que a estrutura
perversa da
sociedade brasileira, por
razões políticas e históricas, direciona
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
problematizar o debate acerca da
implicação juvenil, bem como de seus
modos de instrumentalizar apar
atos
comunicacionais a favor de suas
Do contrário incorreríamos no
erro, bastante habitual conforme
ressalta Valladares, de acreditar que
ter contato com uma favela é conhecer
A favela é obrigatoriamente
um
morro, uma zona ocupada
ilegalmente, fora da lei, um espaço
subequipado, lugar de concentração
dos pobres na cidade. Numa mesma
denominação genérica, a palavra
favela unifica situações com
características muito diferentes nos
planos geográfico, demográf
ico,
urbanístico e social (VALLADARES,
se, assim, como
instrumento fundamental de
mobilização e diálogo a preocupação
de levar em conta as especificidades
históricas, geográficas e culturais dos
diferentes lugares bem como as
erísticas singulares de seus
jovens moradores. É tarefa prioritária
do educador atentar para o que é
diverso e múltiplo. Sem perder de
vista, igualmente, o caráter agenciador
de alguns padrões que acabam por se
replicar, uma vez que a estrutura
sociedade brasileira, por
razões políticas e históricas, direciona
sua
máquina de moer gente
(RIBEIRO, 1995) prioritariamente
àqueles mesmos cidadãos postos,
violentamente, à margem do processo
produtivo e, portanto, em situação de
vulnerabilidade socioec
expostos cotidianamente à
sociabilidade violenta (MACHADO
SILVA, 2008).
Por conta da natureza da
atuação do poder público que falhou
sistematicamente em garantir o acesso
a condições fundamentais de
subsistência, uma das facetas da
inclusão precá
ria capitalista apenas
pelo acesso a bens de consumo não
essenciais, as favelas foram
associadas historicamente à ideia de
berço de um certo tipo de violência.
Partilhamos da premissa de Misse
(2008) de que a emergência de grupos
de extermínio, nos anos 19
buscavam eliminar criminosos de
baixa periculosidade, efetivou a
impossibilidade de monopólio da
violência pelo Estado e fez insurgir, a
partir de suas ações, reações violentas
que culminaram no crescimento da
criminalidade, gerando o efeito
denomi
nado pelo sociólogo como
acumulação social da violência
115
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
máquina de moer gente
(RIBEIRO, 1995) prioritariamente
àqueles mesmos cidadãos postos,
violentamente, à margem do processo
produtivo e, portanto, em situação de
vulnerabilidade socioec
onômica e
expostos cotidianamente à
sociabilidade violenta (MACHADO
Por conta da natureza da
atuação do poder público que falhou
sistematicamente em garantir o acesso
a condições fundamentais de
subsistência, uma das facetas da
ria capitalista apenas
pelo acesso a bens de consumo não
essenciais, as favelas foram
associadas historicamente à ideia de
berço de um certo tipo de violência.
Partilhamos da premissa de Misse
(2008) de que a emergência de grupos
de extermínio, nos anos 19
50, que
buscavam eliminar criminosos de
baixa periculosidade, efetivou a
impossibilidade de monopólio da
violência pelo Estado e fez insurgir, a
partir de suas ações, reações violentas
que culminaram no crescimento da
criminalidade, gerando o efeito
nado pelo sociólogo como
acumulação social da violência
.
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
Ao analisar a forma peculiar
como se , historicamente, a
administração dos conflitos no Brasil,
Kant de Lima mostra como os
princípios igualitários do ideal
republicano esbarram em múltiplas
práticas hierárquicas que no Brasil se
mantém e se perpetuam em virtude de
nossa herança colonial ainda presente
e atuante. Neste arranjo paradoxal, a
ordem pública, que
seria o resultado do conflito oriundo
da oposição de interesses entre
iguais, de uma s
ociedade igualitária,
se transforma, no modelo brasileiro,
numa reunião de diferentes práticas
jurídicas cujo objetivo principal é
manter implícitos o conflito e a
estrutura desigual da sociedade
(KANT DE LIMA, 1996, p. 167).
Nossa experiência no campo
ta
mbém identificou a recorrência do
entendimento, por parte de alguns
moradores, de que o sentimento de
orgulho da história de resistência da
favela muitas vezes se situava ao lado
do discurso velado de
(auto)culpabilização pelo abandono do
poder público. Si
nteticamente, estas
falas pareciam apontar para uma
assunção de certa responsabilidade
pela concentração espacial da
violência no chão da favela que teve
início no momento de ocupação
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Ao analisar a forma peculiar
como se , historicamente, a
administração dos conflitos no Brasil,
Kant de Lima mostra como os
princípios igualitários do ideal
republicano esbarram em múltiplas
práticas hierárquicas que no Brasil se
mantém e se perpetuam em virtude de
nossa herança colonial ainda presente
e atuante. Neste arranjo paradoxal, a
seria o resultado do conflito oriundo
da oposição de interesses entre
ociedade igualitária,
se transforma, no modelo brasileiro,
numa reunião de diferentes práticas
jurídicas cujo objetivo principal é
manter implícitos o conflito e a
estrutura desigual da sociedade
(KANT DE LIMA, 1996, p. 167).
Nossa experiência no campo
mbém identificou a recorrência do
entendimento, por parte de alguns
moradores, de que o sentimento de
orgulho da história de resistência da
favela muitas vezes se situava ao lado
do discurso velado de
(auto)culpabilização pelo abandono do
nteticamente, estas
falas pareciam apontar para uma
assunção de certa responsabilidade
pela concentração espacial da
violência no chão da favela que teve
início no momento de ocupação
territorial dos espaços outros da
cidade:
A favela ficou também registra
oficialmente como a área de
habitações irregularmente
construídas, sem arruamentos, sem
plano urbano, sem esgotos, sem
água e sem luz. Dessa precariedade
urbana, resultado da pobreza de
seus habitantes e do descaso do
poder público, surgiram as imagens
que fizeram da favela o lugar da
carência, da falta, do vazio a ser
preenchido pelos sentimentos
humanitários, do perigo a ser
erradicado pelas estratégias políticas
(ZALUAR;
ALVITO, 2006, p. 6)
Parece-
nos central a percepção
das artimanhas capitalistas
h
istoricamente forjadas no processo
de gestão territorial das favelas.
Incapaz de garantir à totalidade de
seus cidadãos condições dignas, o
Estado brasileiro inverteu esta
interpretação por meio de discursos de
ascensão pelo esforço individual. A
consequên
cia visível deste projeto
político de cidade se materializou nas
diversas gerações de jovens que
encontraram nos mercados ilegais,
sobretudo aquele voltado para o
narcotráfico, a condição "ideal" (às
vezes única) de subsistência.
Concordamos com a
perspect
iva da Criminologia Crítica de
que se o crime é parte constitutiva das
sociedades, inevitavelmente este faz
116
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
territorial dos espaços outros da
A favela ficou também registra
da
oficialmente como a área de
habitações irregularmente
construídas, sem arruamentos, sem
plano urbano, sem esgotos, sem
água e sem luz. Dessa precariedade
urbana, resultado da pobreza de
seus habitantes e do descaso do
poder público, surgiram as imagens
que fizeram da favela o lugar da
carência, da falta, do vazio a ser
preenchido pelos sentimentos
humanitários, do perigo a ser
erradicado pelas estratégias políticas
ALVITO, 2006, p. 6)
nos central a percepção
das artimanhas capitalistas
istoricamente forjadas no processo
de gestão territorial das favelas.
Incapaz de garantir à totalidade de
seus cidadãos condições dignas, o
Estado brasileiro inverteu esta
interpretação por meio de discursos de
ascensão pelo esforço individual. A
cia visível deste projeto
político de cidade se materializou nas
diversas gerações de jovens que
encontraram nos mercados ilegais,
sobretudo aquele voltado para o
narcotráfico, a condição "ideal" (às
vezes única) de subsistência.
Concordamos com a
iva da Criminologia Crítica de
que se o crime é parte constitutiva das
sociedades, inevitavelmente este faz
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
parte de sua sociabilidade. Ainda
assim, jogar luz sobre isso não
significa fazer apologia ao crime, mas
compreender que não sociedade
livre do d
elito e que definir quais ações
serão tipificadas ou criminalizadas é
também um gesto político. A questão
que se coloca é que muitos que
enveredaram pelas atividades ilegais
não o fizeram num cardápio justo de
oportunidades.
A história se repete pelo país:
sem escola, primeiramente, e sem
trabalho, num segundo momento,
seguem rumo às opções mais
perigosas e, por isso,
proporcionalmente, mais rentáveis. O
desenvolvimento desta narrativa
parece evidente: ao longo de décadas,
moradores das favelas assistiram a
emergência, ascensão e declínio fatal
de diversos jovens
seus filhos,
companheiros e vizinhos
se tornado parte da cadeia do
comércio ilegal de entorpecentes.
Torna-
seainda mais urgente
desenvolvermos metodologias
pedagógicas que consigam
es
tabelecer diálogo com essa parcela
da população de modo a
conseguirmos desarmar tal poderosa
armadilha histórica. Nesse sentido,
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
parte de sua sociabilidade. Ainda
assim, jogar luz sobre isso não
significa fazer apologia ao crime, mas
compreender que não sociedade
elito e que definir quais ações
serão tipificadas ou criminalizadas é
também um gesto político. A questão
que se coloca é que muitos que
enveredaram pelas atividades ilegais
não o fizeram num cardápio justo de
A história se repete pelo país:
sem escola, primeiramente, e sem
trabalho, num segundo momento,
seguem rumo às opções mais
perigosas e, por isso,
proporcionalmente, mais rentáveis. O
desenvolvimento desta narrativa
parece evidente: ao longo de décadas,
moradores das favelas assistiram a
emergência, ascensão e declínio fatal
seus filhos,
, por terem
se tornado parte da cadeia do
comércio ilegal de entorpecentes.
seainda mais urgente
desenvolvermos metodologias
pedagógicas que consigam
tabelecer diálogo com essa parcela
da população de modo a
conseguirmos desarmar tal poderosa
armadilha histórica. Nesse sentido,
concordamos com Faustini de que a
potência do trabalho junto à juventude
é, definitivamente, transformadora,
especialmente quan
alteridade: “Imagine a cabeça de um
jovem que sabe da sua potência, mas
só encontra enquadramentos na sua
frente. É um crime histórico, com
raízes nas estruturas elitizadas e
escravocratas da nossa cidade, mas
que não pode ser naturalizado”
(FAUSTINI, 2012, p.
169).
O caminho seria, então,
fortalecer uma nova chave conceitual
que permita "a invenção de um
espaço/tempo que potencialize
sobretudo a novidade
desse jovem, considerado por muitos
como inorgânico, de promover
invenções
de formas de se estar na
vida e expressões estéticas” (
Nesse cenário, focar parte das ações
utilizando ferramentas comunica
cionais contemporâneas e de fácil
manuseio (como o celular e os
aparatos de audiovisual) cumpre,
como veremos adiante, a f
articular, ao mesmo tempo, as
singularidades com as quais nos
deparamos e as possibilidades de
práticas culturais específicas que
117
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
concordamos com Faustini de que a
potência do trabalho junto à juventude
é, definitivamente, transformadora,
especialmente quan
do exercita a
alteridade: “Imagine a cabeça de um
jovem que sabe da sua potência, mas
só encontra enquadramentos na sua
frente. É um crime histórico, com
raízes nas estruturas elitizadas e
escravocratas da nossa cidade, mas
que não pode ser naturalizado”
169).
O caminho seria, então,
fortalecer uma nova chave conceitual
que permita "a invenção de um
espaço/tempo que potencialize
sobretudo a novidade
a capacidade
desse jovem, considerado por muitos
como inorgânico, de promover
de formas de se estar na
vida e expressões estéticas” (
ibidem).
Nesse cenário, focar parte das ações
utilizando ferramentas comunica
-
cionais contemporâneas e de fácil
manuseio (como o celular e os
aparatos de audiovisual) cumpre,
como veremos adiante, a f
unção de
articular, ao mesmo tempo, as
singularidades com as quais nos
deparamos e as possibilidades de
práticas culturais específicas que
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
serão tematizadas pelos jovens em
suas produções.
É evidente o peso dos
processos históricos que fazem a
manutenção d
a exclusão de pobres
neste país e que limitam as
possibilidades de agência dos sujeitos
focalizados em nossas ações. Ainda
assim, nos alinhamos com a
perspectiva de Enne e Passos que
defendem ser importante
considerarmos que
as estruturas são estruturantes
também estruturadas, não perdendo
de vista o papel de sujeitos ativos,
agentes sociais, dessas múltiplas
juventudes. Entendemos que mesmo
diante de campos de possibilidades
diferenciados, sujeitos projetam e
constroem realidades, disputando
sentidos,
se reapropriando e
ressignificando o mundo. Mas, para
além das idiossincrasias das
subjetividades, compreendemos que
estruturas sociais diferenciadas vão
requerer estratégias e táticas
também múltiplas para que essas
várias juventudes agenciem e se
coloqu
em como sujeitos de suas
realidades (ENNE; PASSOS, 2018,
p. 130).
É justamente por entendermos
os jovens como sujeitos das próprias
narrativas e trajetórias, passíveis de
autorreflexão e dotados de capacidade
de agência e mobilidade, que
desenvolvemos as
ações do projeto.
Foi possível perceber vários
momentos nos quais rompeu
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
serão tematizadas pelos jovens em
É evidente o peso dos
processos históricos que fazem a
a exclusão de pobres
neste país e que limitam as
possibilidades de agência dos sujeitos
focalizados em nossas ações. Ainda
assim, nos alinhamos com a
perspectiva de Enne e Passos que
defendem ser importante
as estruturas são estruturantes
, mas
também estruturadas, não perdendo
de vista o papel de sujeitos ativos,
agentes sociais, dessas múltiplas
juventudes. Entendemos que mesmo
diante de campos de possibilidades
diferenciados, sujeitos projetam e
constroem realidades, disputando
se reapropriando e
ressignificando o mundo. Mas, para
além das idiossincrasias das
subjetividades, compreendemos que
estruturas sociais diferenciadas vão
requerer estratégias e táticas
também múltiplas para que essas
várias juventudes agenciem e se
em como sujeitos de suas
realidades (ENNE; PASSOS, 2018,
É justamente por entendermos
os jovens como sujeitos das próprias
narrativas e trajetórias, passíveis de
autorreflexão e dotados de capacidade
de agência e mobilidade, que
ações do projeto.
Foi possível perceber vários
momentos nos quais rompeu
-se o ciclo
perverso que acomete jovens em
posição de vulnerabilidade que, por
sua vez, poderiam se tornar vetores da
sociabilidade violenta como uma
profecia autorrealizável (SOARES
BILL;
ATHAYDE, 2005).
Uma das condições prioritárias
para o sucesso dessa empreitada, que
mereceu um olhar teórico mais detido
de nossa parte, foi justamente
problematizar lugares de poder que
atravessam, institucional e
subjetivamente, a forma como os
sab
eres agenciam professores e
hierarquizam sujeitos e possibilidades
de existência.
3. Embaralhando hierarquias: a
importância de descentrar o olhar
Foucault, ao mapear o
funcionamento das instituições
disciplinares e os modos como os
discursos se organizam, aponta como
as formas de saber, historicamente
produzidas, engendram estruturas
hierárquicas de poder (FOUCAULT,
1987). Assim, os grupos que ocupa
lugar daqueles que detém saber sobre
outrem autorizam-
se a exercer sobre
seus
objetos do conhecimento
relações de dominação e controle.
118
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
perverso que acomete jovens em
posição de vulnerabilidade que, por
sua vez, poderiam se tornar vetores da
sociabilidade violenta como uma
profecia autorrealizável (SOARES
;
ATHAYDE, 2005).
Uma das condições prioritárias
para o sucesso dessa empreitada, que
mereceu um olhar teórico mais detido
de nossa parte, foi justamente
problematizar lugares de poder que
atravessam, institucional e
subjetivamente, a forma como os
eres agenciam professores e
hierarquizam sujeitos e possibilidades
3. Embaralhando hierarquias: a
importância de descentrar o olhar
Foucault, ao mapear o
funcionamento das instituições
disciplinares e os modos como os
discursos se organizam, aponta como
as formas de saber, historicamente
produzidas, engendram estruturas
hierárquicas de poder (FOUCAULT,
1987). Assim, os grupos que ocupa
m o
lugar daqueles que detém saber sobre
se a exercer sobre
objetos do conhecimento
relações de dominação e controle.
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
Aspectos dos agenciamentos
presentes na articulação entre saber e
poder se reproduzem, muitas vezes,
no funcionament
o cotidiano das
instituições de ensino, em seus
diferentes níveis. Não raro, de modo
mais ou menos inconsciente, tais
relações hierárquicas acabam
norteando e se atualizando
em práticas pedagógicas que buscam,
de forma bem intencionada,
intervenções
empoderadoras junto aos
jovens atendidos.
Uma reflexão que pode ajudar a
explicitar essas matrizes hierárquicas
do pensamento e das práticas de
ensino e aprendizado é desenvolvida
por Doreen Massey (2008). A autora
propõe uma relação entre geografia,
polí
tica e estratégias de legitimação
dos saberes para pensar criticamente
a proliferação mundial de tecnopolos
universitários (
Science Parks)
moldes do Vale do Silício. A geógrafa
defende que tais espaços de
conhecimento atualizam historicidades
porque a
rticulam, de forma física,
tanto a espacialidade social da
produção do conhecimento quanto
uma espacialidade imaginada da
relação do conhecimento” (MASSEY,
2008, p.
209). Nos tecnopólos uma
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Aspectos dos agenciamentos
presentes na articulação entre saber e
poder se reproduzem, muitas vezes,
o cotidiano das
instituições de ensino, em seus
diferentes níveis. Não raro, de modo
mais ou menos inconsciente, tais
relações hierárquicas acabam
norteando e se atualizando
, mesmo
em práticas pedagógicas que buscam,
de forma bem intencionada,
empoderadoras junto aos
Uma reflexão que pode ajudar a
explicitar essas matrizes hierárquicas
do pensamento e das práticas de
ensino e aprendizado é desenvolvida
por Doreen Massey (2008). A autora
propõe uma relação entre geografia,
tica e estratégias de legitimação
dos saberes para pensar criticamente
a proliferação mundial de tecnopolos
Science Parks)
nos
moldes do Vale do Silício. A geógrafa
defende que tais espaços de
conhecimento atualizam historicidades
rticulam, de forma física,
tanto a espacialidade social da
produção do conhecimento quanto
uma espacialidade imaginada da
relação do conhecimento” (MASSEY,
209). Nos tecnopólos uma
atualização de três trajetórias do
pensamento hegemônico
que dizem respeito aos modos como a
ciência e a educação são pensadas
hoje, quem pode praticá
saberes “legítimos” em nossa
sociedade.
A primeira trajetória materializa
uma ciência que se instaura pela
divisão e pela distância geogr
medida em que as universidade se
organizam em amplos espaços
confinados à margem das cidades (ou,
quando próximas, geograficamente,
ainda assim alijadas da vida cotidiana
local). Uma atualização
contemporânea da fuga monástica
medieval para o des
condição de buscar e manter o
conhecimento.
É a recapitulação de uma velha
estória da história ocidental: a
reclusão espacial do deserto para os
primeiros pensadores cristãos, o
surgimento de mosteiros como
lugares de elite e produção de
conheci
mento, as universidades
medievais. Todos eles lugares que
cristalizaram, através da
espacialização, uma separação entre
mente e corpo. (MASSEY, 2008, p.
207)
Esse
saber como produto do
afastamento do mundo se desdobra na
cesura entre
sujeito
objeto
do conhecimento, não por
119
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
atualização de três trajetórias do
pensamento hegemônico
ocidental
que dizem respeito aos modos como a
ciência e a educação são pensadas
hoje, quem pode praticá
-la e quais os
saberes “legítimos” em nossa
A primeira trajetória materializa
uma ciência que se instaura pela
divisão e pela distância geogr
áfica, na
medida em que as universidade se
organizam em amplos espaços
confinados à margem das cidades (ou,
quando próximas, geograficamente,
ainda assim alijadas da vida cotidiana
local). Uma atualização
contemporânea da fuga monástica
medieval para o des
erto como
condição de buscar e manter o
É a recapitulação de uma velha
estória da história ocidental: a
reclusão espacial do deserto para os
primeiros pensadores cristãos, o
surgimento de mosteiros como
lugares de elite e produção de
mento, as universidades
medievais. Todos eles lugares que
cristalizaram, através da
espacialização, uma separação entre
mente e corpo. (MASSEY, 2008, p.
saber como produto do
afastamento do mundo se desdobra na
sujeito
conhecedor e
do conhecimento, não por
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
acaso o mesmo solo onde Foucault viu
florescer relações hierárquicas de
saber/poder. Além da objetividade
como paradigma, tal fuga estabelece
ainda outra paisagem na geografia do
saber: a distância dos homens em
relação às
mulheres. A hegemonia
masculina nos lugares de saber é
“resultado de uma história mais longa
e mais profunda da construção do
gênero que, ela própria foi/é incluída
espacialmente na construção de
“lugares de conhecimento” defensivos,
especializados” (ibid.,
Consolida-
se uma gestão da produção
de conhecimento calcada não nas
oposições sujeito/objeto e vida
cotidiana/isolamento reflexivo, mas
também na naturalização da hierarquia
entre “legítimos” pensadores fundada
em uma distinção (discriminação
histórica de gênero: pensar não seria,
evidentemente,
“coisa de mulher”.
uma última trajetória nas
instituições de saber contemporâneas:
a questão de classe: “esses lugares de
produção de conhecimento são,
também, lugares de elite, da produção
de con
hecimento legítimo,
reconhecido, autorizado” (
i
costura de objetividade distanciada,
masculinidade do pensamento e
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
acaso o mesmo solo onde Foucault viu
florescer relações hierárquicas de
saber/poder. Além da objetividade
como paradigma, tal fuga estabelece
ainda outra paisagem na geografia do
saber: a distância dos homens em
mulheres. A hegemonia
masculina nos lugares de saber é
“resultado de uma história mais longa
e mais profunda da construção do
gênero que, ela própria foi/é incluída
espacialmente na construção de
“lugares de conhecimento” defensivos,
p. 208).
se uma gestão da produção
de conhecimento calcada não nas
oposições sujeito/objeto e vida
cotidiana/isolamento reflexivo, mas
também na naturalização da hierarquia
entre “legítimos” pensadores fundada
em uma distinção (discriminação
)
histórica de gênero: pensar não seria,
“coisa de mulher”.
uma última trajetória nas
instituições de saber contemporâneas:
a questão de classe: “esses lugares de
produção de conhecimento são,
também, lugares de elite, da produção
hecimento legítimo,
i
bidem). Tal
costura de objetividade distanciada,
masculinidade do pensamento e
legitimação dos saberes sedimenta um
amplo silenciamento de outras
possibilidades de conhecimento e
práticas. Tais formas outras,
situadas “para além dos muros”, são
constantemente aprimoradas,
repartidas e multiplicadas por parcelas
importantes e heterogêneas da
população.
Defendemos ser impossível
estabelecer atuações de fato efetivas
junto a jovens moradores de favelas
que
não sejam capazes de colocar em
diálogo os saberes universitários
quase sempre impregnados dessa
tripla relação de poder e distinção
com a sabedoria local, polifônica,
sedimentada e constantemente
atualizada por práticas culturais e
trocas cotidianas
silenciada como as formas de
conhecimento que são.
Reside igualmente na proposta
de desarmar as armadilhas de classe,
raça e gênero dessa geografia do
conhecimento o esforço pedagógico
proposto por bell hooks
diálogo com Paulo Fr
de uma educação para a liberdade.
Um dos desafios pedagógicos
5
Nota do editor: a grafia em letras minúsculas
é escolha da própria autora.
120
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
legitimação dos saberes sedimenta um
amplo silenciamento de outras
possibilidades de conhecimento e
práticas. Tais formas outras,
mesmo
situadas “para além dos muros”, são
constantemente aprimoradas,
repartidas e multiplicadas por parcelas
importantes e heterogêneas da
Defendemos ser impossível
estabelecer atuações de fato efetivas
junto a jovens moradores de favelas
não sejam capazes de colocar em
diálogo os saberes universitários
-
quase sempre impregnados dessa
tripla relação de poder e distinção
- ,
com a sabedoria local, polifônica,
sedimentada e constantemente
atualizada por práticas culturais e
muitas vezes
silenciada como as formas de
conhecimento que são.
Reside igualmente na proposta
de desarmar as armadilhas de classe,
raça e gênero dessa geografia do
conhecimento o esforço pedagógico
proposto por bell hooks
5
(2013), em
diálogo com Paulo Fr
eire, na defesa
de uma educação para a liberdade.
Um dos desafios pedagógicos
Nota do editor: a grafia em letras minúsculas
é escolha da própria autora.
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
enfrentados em nossa atuação foi
justamente criar condições de colocar
em diálogo saberes diversos (locais e
universitários) ao mesmo tempo em
que desconstruíamos, pela prática
c
rítica coletiva, o que hooks define
como “voz privilegiada da autoridade”.
Ela defende que uma das
possibilidades mais potentes de
atuação é abrir espaços para que a
experiência se converta em elemento
facilitador dos processos ativos de
ensino e aprendizagem:
o ato de ouvir coletivamente uns aos
outros afirma o valor e a unicidade
de cada voz. Esse exercício ressalta
a experiência sem privilegiar as
vozes dos alunos de um grupo
qualquer. Ajuda a criar uma
consciência comunitária da
diversidade de nossas ex
e proporciona uma certa noção
daquelas experiências que podem
informar o modo como pensamos e
que dizemos. (...) Esse exercício
transforma a sala de aula num
espaço onde a experiência é
valorizada, não negada nem
considerada sem significado
(HOOKS, 2013, p. 114
-
A eficácia da incorporação da
experiência como ferramenta de
atuação pedagógica, capaz de
horizontalizar as relações nas ações
extensionistas, ficou evidenciada em
diversos momentos ao longo desses
oito anos do projeto. Podemos
dest
acar dois aspectos fundamentais:
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
enfrentados em nossa atuação foi
justamente criar condições de colocar
em diálogo saberes diversos (locais e
universitários) ao mesmo tempo em
que desconstruíamos, pela prática
rítica coletiva, o que hooks define
como “voz privilegiada da autoridade”.
Ela defende que uma das
possibilidades mais potentes de
atuação é abrir espaços para que a
experiência se converta em elemento
facilitador dos processos ativos de
o ato de ouvir coletivamente uns aos
outros afirma o valor e a unicidade
de cada voz. Esse exercício ressalta
a experiência sem privilegiar as
vozes dos alunos de um grupo
qualquer. Ajuda a criar uma
consciência comunitária da
diversidade de nossas ex
periências
e proporciona uma certa noção
daquelas experiências que podem
informar o modo como pensamos e
que dizemos. (...) Esse exercício
transforma a sala de aula num
espaço onde a experiência é
valorizada, não negada nem
considerada sem significado
-
115).
A eficácia da incorporação da
experiência como ferramenta de
atuação pedagógica, capaz de
horizontalizar as relações nas ações
extensionistas, ficou evidenciada em
diversos momentos ao longo desses
oito anos do projeto. Podemos
acar dois aspectos fundamentais:
os espaços de troca e de conversa e
os acionamentos memoráveis por
parte dos integrantes. O
estabelecimento de rodas de debate,
mais do que momentos de catarse ou
relaxamento, permitem a todas as
pessoas em contato naquela
(estudantes universitários, professores
e jovens moradores de favelas) a
explicitação de singularidades no
mesmo gesto em que pressupõe o
contato com diferentes formas de
conhecimento, possibilidades
de trajetórias pessoais e modos
singulares d
e compartilhamento e
reconhecimento de saberes.
as atividades que
demandavam o acionamento da
memória (individual e coletiva) faziam
emergir a interface entre as vivências
pessoais de cada um dos jovens e os
acontecimentos históricos importantes
para a
localidade. Em uma das ações,
por exemplo, uma capacitação em
audiovisual propunha que os jovens se
dividissem em grupos que teriam a
função de caminhar pela favela e
buscar ouvir pessoas mais velhas
consideradas importantes nas suas
localidades. O objetiv
algumas seus saberes específicos que
desejassem compartilhar e, em outra
121
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
os espaços de troca e de conversa e
os acionamentos memoráveis por
parte dos integrantes. O
estabelecimento de rodas de debate,
mais do que momentos de catarse ou
relaxamento, permitem a todas as
pessoas em contato naquela
ação
(estudantes universitários, professores
e jovens moradores de favelas) a
explicitação de singularidades no
mesmo gesto em que pressupõe o
contato com diferentes formas de
conhecimento, possibilidades
-outras
de trajetórias pessoais e modos
e compartilhamento e
reconhecimento de saberes.
as atividades que
demandavam o acionamento da
memória (individual e coletiva) faziam
emergir a interface entre as vivências
pessoais de cada um dos jovens e os
acontecimentos históricos importantes
localidade. Em uma das ações,
por exemplo, uma capacitação em
audiovisual propunha que os jovens se
dividissem em grupos que teriam a
função de caminhar pela favela e
buscar ouvir pessoas mais velhas
consideradas importantes nas suas
localidades. O objetiv
o era ouvir de
algumas seus saberes específicos que
desejassem compartilhar e, em outra
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
frente, recolher relatos sobre
acontecimentos memoráveis da favela
que atribuíssem sentidos coletivos aos
diferentes sítios que constituem sua
região. Assim, mais do qu
e meramente
ensinar os jovens a filmar e a gravar
registros para um documentário, o
objetivo era percebermos, todos, como
cada comunidade se constitui de uma
riqueza e pluralidade de vivências,
lugares, gestos, pessoas, conflitos,
contradições, memórias e
bem como promover o exercício de
uma escuta qualificada.
Esse exemplo de atividade
evidencia como articulamos os pilares
teórico-
pedagógico acionados de
modo prático ao longo da atuação
extensionista. É por essa razão que o
objetivo principal
da metodologia,
centrada na interface entre ações
culturais locais e uso de ferramentas
comunicacionais, não é o resultado
artístico final dos conteúdos.
Queremos, isso sim, acionar modos
potentes de trazer para o plano do
visível a experiência, a memória,
corporalidade e a fala como
possibilidades de expressão das
subjetividades singulares desses
jovens, ainda assim constantemente
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
frente, recolher relatos sobre
acontecimentos memoráveis da favela
que atribuíssem sentidos coletivos aos
diferentes sítios que constituem sua
e meramente
ensinar os jovens a filmar e a gravar
registros para um documentário, o
objetivo era percebermos, todos, como
cada comunidade se constitui de uma
riqueza e pluralidade de vivências,
lugares, gestos, pessoas, conflitos,
contradições, memórias e
trajetórias,
bem como promover o exercício de
Esse exemplo de atividade
evidencia como articulamos os pilares
pedagógico acionados de
modo prático ao longo da atuação
extensionista. É por essa razão que o
da metodologia,
centrada na interface entre ações
culturais locais e uso de ferramentas
comunicacionais, não é o resultado
artístico final dos conteúdos.
Queremos, isso sim, acionar modos
potentes de trazer para o plano do
visível a experiência, a memória,
a
corporalidade e a fala como
possibilidades de expressão das
subjetividades singulares desses
jovens, ainda assim constantemente
atravessadas por relações de poder
estruturais, violentas e hierárquicas.
Após esse primeiro movimento
de expressão, o contat
com os saberes universitários pode ser
melhor convertido em ferramenta de
transformação. Especialmente porque
a troca horizontalizada materializa
condições que reduzem o seu
potencial repressor
(usualmente materializado no corpo
invisibilizado no gesto constante e
paradoxal de vigilância e na voz
silenciada de possibilidades de
expressão da experiência e da
memória singulares).
entendermos melhor esse
acionamento, cabe explicitar alguns
outros aspectos teóricos bem como
relacioná-
los aos relatos críticos da
nossa experiência no campo.
4. Pilares teóricos e análise do
funcionamento da metodologia de
atuação
Um caso emblemático da
complexidade envolvida na atuação
junto a jovens moradores de favelas foi
vivenciado pelos integrantes do projeto
em uma ação ocorrida no ano de
2014. Estávamos, então, realizando
uma série de registros em vídeo com
122
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
atravessadas por relações de poder
estruturais, violentas e hierárquicas.
Após esse primeiro movimento
de expressão, o contat
o dos jovens
com os saberes universitários pode ser
melhor convertido em ferramenta de
transformação. Especialmente porque
a troca horizontalizada materializa
condições que reduzem o seu
potencial repressor
-disciplinador
(usualmente materializado no corpo
invisibilizado no gesto constante e
paradoxal de vigilância e na voz
silenciada de possibilidades de
expressão da experiência e da
memória singulares).
Para
entendermos melhor esse
acionamento, cabe explicitar alguns
outros aspectos teóricos bem como
los aos relatos críticos da
nossa experiência no campo.
4. Pilares teóricos e análise do
funcionamento da metodologia de
Um caso emblemático da
complexidade envolvida na atuação
junto a jovens moradores de favelas foi
vivenciado pelos integrantes do projeto
em uma ação ocorrida no ano de
2014. Estávamos, então, realizando
uma série de registros em vídeo com
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
alguns adolescent
es dos Morros do
Cantagalo e Pavão Pavãozinho que
fariam relatos sobre as visitas guiadas
que aconteceram em diferentes
centros culturais do município do Rio
de Janeiro. A ideia era construir uma
memória sobre tais ações, bem como
refletir sobre os modos d
e apropriação
de tais equipamentos de cultura por
sujeitos que, a então, não haviam
tido experiência similar.
Neste sentido, nos
direcionamos ao Instituto de Arte e
Comunicação da UFF juntamente com
quatro jovens da referida favela.
Coincidentemente, aco
ntecia naquele
momento um evento organizado por
alunos. Ao ingressarmos no ambiente
nos deparamos com um show de uma
banda de rock estudantil, o que
mobilizou a atenção dos participantes
do projeto e postergou nossa entrada
no estúdio. Percebendo um vislum
de encantamento diante da cena
festiva, um dos coordenadores do
projeto perguntou sobre o que
estavam achando da experiência
inédita de estar nas dependências de
uma universidade. A resposta de uma
das integrantes surpreendeu: “Tô
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
es dos Morros do
Cantagalo e Pavão Pavãozinho que
fariam relatos sobre as visitas guiadas
que aconteceram em diferentes
centros culturais do município do Rio
de Janeiro. A ideia era construir uma
memória sobre tais ações, bem como
e apropriação
de tais equipamentos de cultura por
sujeitos que, a então, não haviam
Neste sentido, nos
direcionamos ao Instituto de Arte e
Comunicação da UFF juntamente com
quatro jovens da referida favela.
ntecia naquele
momento um evento organizado por
alunos. Ao ingressarmos no ambiente
nos deparamos com um show de uma
banda de rock estudantil, o que
mobilizou a atenção dos participantes
do projeto e postergou nossa entrada
no estúdio. Percebendo um vislum
bre
de encantamento diante da cena
festiva, um dos coordenadores do
projeto perguntou sobre o que
estavam achando da experiência
inédita de estar nas dependências de
uma universidade. A resposta de uma
das integrantes surpreendeu: “Tô
amando. Parece que e
de um episódio de
Glee
Após o susto inicial diante da
associação da experiência
universitária com uma série
estadunidense, considerada inusitada
pelo professor que havia feito a
pergunta (em parte por seu
desconhecimento a respeito do que
tratava a referida produção
audiovisual), fomos apresentados a
uma rica complexidade que,
evidentemente, compunha a
subjetividade daquela jovem. A
resposta explicitava, de certa forma,
aquilo que Martin
-
define como "competência
comunicacion
al". Percebemos uma
geração de jovens moradores das
favelas das grandes cidades
plenamente capazes de reconhecer,
assimilar e negociar os códigos
compartilhados e veiculados por uma
cultura de massa global.
Estávamos diante de uma
jovem que, em sua locali
residência, exercia a função de mediar
6
Trata-
se de uma série musical americana na
qual estudantes de ensino médio vivem suas
peripécias e dão os primeiros passos
artísticos, especialmente ligados à dança e à
música, o
que explica a associação feita pela
adolescente. No momento da pergunta, a
banda tocava uma música de
123
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
amando. Parece que e
u estou dentro
Glee
6
”.
Após o susto inicial diante da
associação da experiência
universitária com uma série
estadunidense, considerada inusitada
pelo professor que havia feito a
pergunta (em parte por seu
desconhecimento a respeito do que
tratava a referida produção
audiovisual), fomos apresentados a
uma rica complexidade que,
evidentemente, compunha a
subjetividade daquela jovem. A
resposta explicitava, de certa forma,
-
Barbero (1997)
define como "competência
al". Percebemos uma
geração de jovens moradores das
favelas das grandes cidades
plenamente capazes de reconhecer,
assimilar e negociar os códigos
compartilhados e veiculados por uma
cultura de massa global.
Estávamos diante de uma
jovem que, em sua locali
dade de
residência, exercia a função de mediar
se de uma série musical americana na
qual estudantes de ensino médio vivem suas
peripécias e dão os primeiros passos
artísticos, especialmente ligados à dança e à
que explica a associação feita pela
adolescente. No momento da pergunta, a
banda tocava uma música de
Lady Gaga.
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
as instruções do professor de uma
orquestra de percussão mirim e que,
simultaneamente, consumia, entre
outros conteúdos, a série que
descrevia as agruras e peripécias de
jovens estudantes americanos de sua
ida
de. Em resumo, o momento de
surpresa ofereceu uma oportunidade
de aprendizado, também para os
integrantes do projeto: derrubar por
terra eventuais resquícios que ainda
existissem do equívoco iluminista de
considerar o fato de trazer os jovens
"excluídos" p
ara a Universidade como
um gesto que apresenta o
esclarecimento e o lugar do saber a
alguém desprovido de recursos
simbólicos.
Ficava evidente de que forma
tal visão simplista não dava conta da
complexidade desses sujeitos. É um
fato que esses jovens são
a
travessados pela falta, fruto da
inclusão precária num processo de
consumo que regala a muitos o papel
do extermínio, da sujeição criminal ou
de permanecer à margem das
possibilidades de formação
educacional de qualidade. A breve
resposta, no entanto, tamb
luz a subjetividades que praticam a
cidade em seus mais diversos
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
as instruções do professor de uma
orquestra de percussão mirim e que,
simultaneamente, consumia, entre
outros conteúdos, a série que
descrevia as agruras e peripécias de
jovens estudantes americanos de sua
de. Em resumo, o momento de
surpresa ofereceu uma oportunidade
de aprendizado, também para os
integrantes do projeto: derrubar por
terra eventuais resquícios que ainda
existissem do equívoco iluminista de
considerar o fato de trazer os jovens
ara a Universidade como
um gesto que apresenta o
esclarecimento e o lugar do saber a
alguém desprovido de recursos
Ficava evidente de que forma
tal visão simplista não dava conta da
complexidade desses sujeitos. É um
fato que esses jovens são
travessados pela falta, fruto da
inclusão precária num processo de
consumo que regala a muitos o papel
do extermínio, da sujeição criminal ou
de permanecer à margem das
possibilidades de formação
educacional de qualidade. A breve
resposta, no entanto, tamb
ém jogava
luz a subjetividades que praticam a
cidade em seus mais diversos
espaços, que consomem e se
identificam com conteúdos globais de
comunicação de massa e que
negociam esses sentidos veiculados
com suas práticas cotidianas,
igualmente em diálogo com
miríades de informações e estímulos.
O episódio ensinava para os
integrantes do projeto como as
negociações entre tais jovens e os
saberes acadêmicos poderia assumir
aspectos mais ricos e contraditórios do
que simples modos de esclarecimento
e apresen
tação a eles dos lugares de
erudição. Assim, competência
comunicacional associada aos gestos
identitários estabelecidos a partir de
práticas culturais locais se articulam e
se entrelaçam naqueles jovens. Cabia,
então, ao projeto, estimular essas
potências
em funcionamento e
acrescentar, nessa mistura, elementos
dos saberes universitários que
estavam, por sua vez, sendo também
afetados pelos curtos circuitos que
esses (des)encontros passaram a
acionar.
Após essa conversa, fomos
para o estúdio de gravação
as cnicas de registro e de edição
utilizadas por profissionais de
comunicação. Após a entrada no
124
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
espaços, que consomem e se
identificam com conteúdos globais de
comunicação de massa e que
negociam esses sentidos veiculados
com suas práticas cotidianas,
igualmente em diálogo com
uma
miríades de informações e estímulos.
O episódio ensinava para os
integrantes do projeto como as
negociações entre tais jovens e os
saberes acadêmicos poderia assumir
aspectos mais ricos e contraditórios do
que simples modos de esclarecimento
tação a eles dos lugares de
erudição. Assim, competência
comunicacional associada aos gestos
identitários estabelecidos a partir de
práticas culturais locais se articulam e
se entrelaçam naqueles jovens. Cabia,
então, ao projeto, estimular essas
em funcionamento e
acrescentar, nessa mistura, elementos
dos saberes universitários que
estavam, por sua vez, sendo também
afetados pelos curtos circuitos que
esses (des)encontros passaram a
Após essa conversa, fomos
para o estúdio de gravação
apresentar
as cnicas de registro e de edição
utilizadas por profissionais de
comunicação. Após a entrada no
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
espaço de saber ter sido “suavizada”
por práticas culturais negociáveis
simbolicamente pelos jovens, o
contato com o conhecimento formal se
realiz
ou de forma mais potente.
Sabemos, todos, como estar diante do
saber institucionalizado pode ser
violento e excludente.
O episódio ilustra bem,
portanto, os três eixos que dão
sustentação à metodologia aqui
proposta e que se entrelaçam: a)
articulação, nos
jovens, da noção de
projeto e de construção de futuro; b)
de modo a deslocar o entendimento de
suas localidades do lugar prioritário da
violência na cidade para um lugar
legítimo de saber; c) no qual se
desenvolvem práticas culturais que
podem se tornar i
nstrumentos
potentes, especialmente quando
postos em diálogo com práticas
comunicacionais resultando na
produção de conteúdos informativos e
artísticos.
Estimulamos, em síntese, um
processo de capacitação técnica e
transformação de suas subjetividades
ao m
esmo tempo em que nos
alimentamos da convergência entre os
conteúdos consumidos pelos jovens
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
espaço de saber ter sido “suavizada”
por práticas culturais negociáveis
simbolicamente pelos jovens, o
contato com o conhecimento formal se
ou de forma mais potente.
Sabemos, todos, como estar diante do
saber institucionalizado pode ser
O episódio ilustra bem,
portanto, os três eixos que dão
sustentação à metodologia aqui
proposta e que se entrelaçam: a)
jovens, da noção de
projeto e de construção de futuro; b)
de modo a deslocar o entendimento de
suas localidades do lugar prioritário da
violência na cidade para um lugar
legítimo de saber; c) no qual se
desenvolvem práticas culturais que
nstrumentos
potentes, especialmente quando
postos em diálogo com práticas
comunicacionais resultando na
produção de conteúdos informativos e
Estimulamos, em síntese, um
processo de capacitação técnica e
transformação de suas subjetividades
esmo tempo em que nos
alimentamos da convergência entre os
conteúdos consumidos pelos jovens
e as práticas culturais às quais têm
acesso prévio.
4.1 Das profecias que se
autocumprem aos projetos de
futuros-outros
A constatação da importância
de um dos principais pilares
norteadores de nossas ações se deu
ao longo dos primeiros anos de
atuação junto aos jovens. Era comum,
ao propormos exercícios de reflexão
sobre si e de questionamentos a
respeito do futuro, a ausên
falas e nas práticas desses jovens da
noção de projeto
. A temporalidade dos
discursos sustentados nas rodas de
conversa, bem como nos exercícios
propostos, tendia a congelar
agora e, quando muito, em eventuais
rememorações pontuais de momento
marcantes das trajetórias individuais.
O futuro era uma ausência tão
incômoda, para nós, como constante
nos relatos.
Sabe-
se que a construção da
identidade pressupõe a articulação
entre presente, passado e futuro, em
um jogo interconectado de resgate e
a
rticulação de vivências e
aprendizados vividos ou adquiridos,
feitos no presente, tendo em vista a
125
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
e as práticas culturais às quais têm
4.1 Das profecias que se
autocumprem aos projetos de
A constatação da importância
de um dos principais pilares
norteadores de nossas ações se deu
ao longo dos primeiros anos de
atuação junto aos jovens. Era comum,
ao propormos exercícios de reflexão
sobre si e de questionamentos a
respeito do futuro, a ausên
cia nas
falas e nas práticas desses jovens da
. A temporalidade dos
discursos sustentados nas rodas de
conversa, bem como nos exercícios
propostos, tendia a congelar
-se no
agora e, quando muito, em eventuais
rememorações pontuais de momento
s
marcantes das trajetórias individuais.
O futuro era uma ausência tão
incômoda, para nós, como constante
se que a construção da
identidade pressupõe a articulação
entre presente, passado e futuro, em
um jogo interconectado de resgate e
rticulação de vivências e
aprendizados vividos ou adquiridos,
feitos no presente, tendo em vista a
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
elaboração de projetos de vida para o
futuro. As temporalidades, portanto,
enredam-
se de forma a darem uma
certa conformação identitária, sempre
sujeita a novos rearranjos.
Resgatando Gilberto Velho
(1994), e dialogando também com
Pollak (1992) e Halbwachs (1990),
passamos a ressaltar e aprofundar
junto a esses jovens esse processo de
construção do eu, da própria
identidade. Se, por um lado, o resgate
da m
emória permite uma visão
retrospectiva, criando uma narrativa de
si que seleciona, ordena e
coerência à trajetória pessoal, ela, em
continuação, precisa vir articulada com
a ideia de PROJETO
, isto é, o
exercício de antecipar o futuro,
organizar os meios
necessários para
atingir os fins. Se essa dimensão
projetual não existe, a construção
identitária se fragiliza, pois o sujeito
não consegue estabelecer uma linha
de continuidade que sentido ao seu
agir no presente.
Defendemos, então, o uso
constante de
elementos pedagógicos
que estimulem os processos de
autorreflexão de modo a fomentar a
análise da própria trajetória de vida por
meio da atenção às dimensões de
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
elaboração de projetos de vida para o
futuro. As temporalidades, portanto,
se de forma a darem uma
certa conformação identitária, sempre
Resgatando Gilberto Velho
(1994), e dialogando também com
Pollak (1992) e Halbwachs (1990),
passamos a ressaltar e aprofundar
junto a esses jovens esse processo de
construção do eu, da própria
identidade. Se, por um lado, o resgate
emória permite uma visão
retrospectiva, criando uma narrativa de
si que seleciona, ordena e
coerência à trajetória pessoal, ela, em
continuação, precisa vir articulada com
, isto é, o
exercício de antecipar o futuro,
necessários para
atingir os fins. Se essa dimensão
projetual não existe, a construção
identitária se fragiliza, pois o sujeito
não consegue estabelecer uma linha
de continuidade que sentido ao seu
Defendemos, então, o uso
elementos pedagógicos
que estimulem os processos de
autorreflexão de modo a fomentar a
análise da própria trajetória de vida por
meio da atenção às dimensões de
presente, passado e futuro, sempre
em relação causal. Aos poucos, a
combinação entre a auto
atividades culturais e comunicacionais
vão permitindo, nos jovens, o
surgimento cada vez mais evidente de
planos e desejos de transformação de
si, além da construção de futuros
outros que não apenas a mera
reprodução dos lugares sociais
apresen
tados, até então, como únicos
para aqueles jovens.
Antes, porém, de apresentar
concretamente a universidade como
um desses sítios de futuros
possíveis, trabalhamos ações que
promovem a releitura das suas
próprias localidades como igualmente
potentes
e não apenas sítio onde
residiria a carência e a falta (material,
de horizontes e de perspectivas).
4.2 Da dor da perda à potência dos
saberes locais
Vimos de que forma uma
centralidade colonialista e ocidental
organizou, historicamente, um duplo
proces
so que permitia a legitimação de
determinadas formas de conhe
cimento, no mesmo movimento em
que silenciava outras possibilidades de
saber, especialmente aqueles
126
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
presente, passado e futuro, sempre
em relação causal. Aos poucos, a
combinação entre a auto
-reflexão e as
atividades culturais e comunicacionais
vão permitindo, nos jovens, o
surgimento cada vez mais evidente de
planos e desejos de transformação de
si, além da construção de futuros
-
outros que não apenas a mera
reprodução dos lugares sociais
tados, até então, como únicos
Antes, porém, de apresentar
concretamente a universidade como
um desses sítios de futuros
-outros
possíveis, trabalhamos ações que
promovem a releitura das suas
próprias localidades como igualmente
e não apenas sítio onde
residiria a carência e a falta (material,
de horizontes e de perspectivas).
4.2 Da dor da perda à potência dos
Vimos de que forma uma
centralidade colonialista e ocidental
organizou, historicamente, um duplo
so que permitia a legitimação de
determinadas formas de conhe
-
cimento, no mesmo movimento em
que silenciava outras possibilidades de
saber, especialmente aqueles
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
cotidianos e locais. Um
desdobramento, às vezes involuntário,
de tal gesto de enquadramento po
ser percebido na eventual dificuldade
de algumas rotinas pedagógicas de
incorporar, como elementos centrais,
aspectos da vida cotidiana dos jovens
moradores de favela. Percebemos que
dialogar de modo mais aberto com as
ferramentas habituais dos jovens,
como o uso ativo do celular e das
redes sociais, suas danças e
manifestações musicais e poéticas
(como o rap, o funk e o hip hop),
facilita o acesso às diferentes
propostas de aprendizagem sugeridas
nas nossas atividades.
Ao relacionar os processos de
letr
amento no Brasil com a luta dos
sujeitos pelo direito de construir
espaços de significação (e de vida),
Orlandi lança um olhar sobre as
estratégias desenvolvidas por
pichadores e grafiteiros nos muros das
cidades. Para além do debate sobre
criminalização d
a prática e levando em
conta a dificuldade de acesso aos
bancos das escolas, esses jovens
"têm, no muro recém pintado, a página
em branco onde inscrever
simbolicamente, onde escrever"
(ORLANDI, 2004, p. 107).
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
cotidianos e locais. Um
desdobramento, às vezes involuntário,
de tal gesto de enquadramento po
de
ser percebido na eventual dificuldade
de algumas rotinas pedagógicas de
incorporar, como elementos centrais,
aspectos da vida cotidiana dos jovens
moradores de favela. Percebemos que
dialogar de modo mais aberto com as
ferramentas habituais dos jovens,
como o uso ativo do celular e das
redes sociais, suas danças e
manifestações musicais e poéticas
(como o rap, o funk e o hip hop),
facilita o acesso às diferentes
propostas de aprendizagem sugeridas
Ao relacionar os processos de
amento no Brasil com a luta dos
sujeitos pelo direito de construir
espaços de significação (e de vida),
Orlandi lança um olhar sobre as
estratégias desenvolvidas por
pichadores e grafiteiros nos muros das
cidades. Para além do debate sobre
a prática e levando em
conta a dificuldade de acesso aos
bancos das escolas, esses jovens
"têm, no muro recém pintado, a página
em branco onde inscrever
-se
simbolicamente, onde escrever"
Trata-
se de uma grafia urbana
que muitas ve
zes se converte em rara
possibilidade para determinados
sujeitos, ao elaborarem conteúdos
próprios, estabelecerem processos de
comunicação, protagonismo e
reconhecimento com seus pares.
Diante da emergência desses traços
compartilhados, produz
(re)significação dos espaços locais a
partir do olhar dos próprios moradores.
Nesse sentido, nossa proposta de
metodologia busca estimular, nos
jovens, o mesmo gesto autoral de
potencializar as capacidades de
inscrição de si na vida da cidade.
Um exemp
lo dessa potência
pôde ser visto durante uma caminhada
no Cantagalo e Pavão
Poucos dias antes, o dançarino
Douglas Rafael da Silva Pereira, o
morador e cuja carreira havia
transcendido os limites da favela,
havia sido assassinado durante
ação policial. Ao passarem por um
grafite recém pintado por Acme, um
artista local consagrado no Brasil,
participantes do projeto silenciaram
para contemplar. Em seguida
começaram a entoar, quase em
uníssono, os versos de um funk
composto por outro ar
127
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
se de uma grafia urbana
zes se converte em rara
possibilidade para determinados
sujeitos, ao elaborarem conteúdos
próprios, estabelecerem processos de
comunicação, protagonismo e
reconhecimento com seus pares.
Diante da emergência desses traços
compartilhados, produz
-se, ainda, uma
(re)significação dos espaços locais a
partir do olhar dos próprios moradores.
Nesse sentido, nossa proposta de
metodologia busca estimular, nos
jovens, o mesmo gesto autoral de
potencializar as capacidades de
inscrição de si na vida da cidade.
lo dessa potência
pôde ser visto durante uma caminhada
no Cantagalo e Pavão
-Pavãozinho.
Poucos dias antes, o dançarino
Douglas Rafael da Silva Pereira, o
DG,
morador e cuja carreira havia
transcendido os limites da favela,
havia sido assassinado durante
uma
ação policial. Ao passarem por um
grafite recém pintado por Acme, um
artista local consagrado no Brasil,
participantes do projeto silenciaram
para contemplar. Em seguida
começaram a entoar, quase em
uníssono, os versos de um funk
composto por outro ar
tista local, MC
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
Cabelinho, em homenagem ao DG.
Ficou claro para os bolsistas do projeto
que aquela ferida, ainda aberta, estava
sendo elaborada por meio da arte nos
muros e das palavras incorporadas
aos demais sons da favela.
4.3 Comunicação e Cultura c
elementos da prática pedagógica
Vimos como estamos diante de
jovens que convivem, cotidianamente,
com ferramentas de comunicação e
delas fazem uso para se conectar e se
expressar, inclusive artisticamente.
Nesse sentido, o gesto de utilizar
recursos a
udiovisuais e comunica
cionais nas ações têm um caráter
e não fim
. O ensino das técnicas de
registro e compartilhamento de
conteúdos artísticos e comuni
cacionais, bem como as visitas aos
laboratórios e demais espaços da
Universidade, buscam mais a
tr
ansformação das subjetividades do
que a excelência artística.
Tal opção se justifica ao
acionarmos os usos contemporâneos
da artes, incluindo as de origem
periférica, como instrumentos de
sociabilidade. Entendemos a cultura
como campo de embate a partir do
qual práticas, valores e significados
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Cabelinho, em homenagem ao DG.
Ficou claro para os bolsistas do projeto
que aquela ferida, ainda aberta, estava
sendo elaborada por meio da arte nos
muros e das palavras incorporadas
aos demais sons da favela.
4.3 Comunicação e Cultura c
omo
elementos da prática pedagógica
Vimos como estamos diante de
jovens que convivem, cotidianamente,
com ferramentas de comunicação e
delas fazem uso para se conectar e se
expressar, inclusive artisticamente.
Nesse sentido, o gesto de utilizar
udiovisuais e comunica
-
cionais nas ações têm um caráter
meio
. O ensino das técnicas de
registro e compartilhamento de
conteúdos artísticos e comuni
-
cacionais, bem como as visitas aos
laboratórios e demais espaços da
Universidade, buscam mais a
ansformação das subjetividades do
Tal opção se justifica ao
acionarmos os usos contemporâneos
da artes, incluindo as de origem
periférica, como instrumentos de
sociabilidade. Entendemos a cultura
como campo de embate a partir do
qual práticas, valores e significados
(do mundo e de si mesmo) se
(re)constroem de modo dinâmico a
partir de relações de forças, sempre
desiguais (WILLIAMS, 2011). Trata
do terreno privilegiado no qual os
sujeitos buscam narrar
espaço em
que vivem, contribuindo
assim para a criação de memória e
identidade sociais, cujas teias de
significados estão constantemente em
disputa (GEERTZ, 1989).
Ao entendermos o território
como espaço construído histórico
socialmente, o que implica tanto uma
apropriação simbólica/cultural (em seu
sentido mais imaterial), quanto um
“domínio” político/econômico (com
traços mais propriamente materiais),
trabalhamos a dimensão das práticas
culturais de modo a contribuir para
transformação individual a partir de
es
tímulos diversos. Norteamos, assim,
tanto a oferta de oficinas como a
busca da ampliação de referências dos
jovens, sem perder de vista o estímulo
à expressão.
Tal junção entre saberes e
práticas culturais locais e modos de
produção de territorialidades
es
pecíficas, bem como os demais
pilares que fundamentam nossa
metodologia de atuação foram
128
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
(do mundo e de si mesmo) se
(re)constroem de modo dinâmico a
partir de relações de forças, sempre
desiguais (WILLIAMS, 2011). Trata
-se
do terreno privilegiado no qual os
sujeitos buscam narrar
-se e narrar o
que vivem, contribuindo
assim para a criação de memória e
identidade sociais, cujas teias de
significados estão constantemente em
disputa (GEERTZ, 1989).
Ao entendermos o território
como espaço construído histórico
-
socialmente, o que implica tanto uma
apropriação simbólica/cultural (em seu
sentido mais imaterial), quanto um
“domínio” político/econômico (com
traços mais propriamente materiais),
trabalhamos a dimensão das práticas
culturais de modo a contribuir para
transformação individual a partir de
tímulos diversos. Norteamos, assim,
tanto a oferta de oficinas como a
busca da ampliação de referências dos
jovens, sem perder de vista o estímulo
Tal junção entre saberes e
práticas culturais locais e modos de
produção de territorialidades
pecíficas, bem como os demais
pilares que fundamentam nossa
metodologia de atuação foram
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
observados de modo bastante
evidente em uma atividade realizada
junto com os jovens nas dependências
da universidade.
5. "Hoje o Cantagalo é aqui": corpos
e práticas
que deslocam sentidos e
mobilizam saberes
Nas etapas anteriores
apresentamos um percurso teórico
metodológico a partir do qual foram
idealizadas as ações do projeto de
extensão. Cabe, agora, refletir sobre
uma série de atividades desenvolvidas
no âmbito d
a ação intitulada como
"Hoje o Cantagalo é Aqui", em
referência ao nome da favela de onde
partiram os jovens sicos da
Orquestra Mirim de Percussão do
Mestre e os dançarinos de
passinho, e ao movimento de
ocupação das dependências da UFF,
em setembro de 2014.
Durante dois dias, o Instituto de
Arte e Comunicação se tornou,
conforme as palavras do Mestre Dá,
"um pedacinho da favela". Essa fala,
embora poética, poderia apresentar
contradições reveladoras justamente
do que o projeto de extensão não
gosta
ria de ser. O pressuposto de
nosso trabalho parte da ideia de que
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
observados de modo bastante
evidente em uma atividade realizada
junto com os jovens nas dependências
5. "Hoje o Cantagalo é aqui": corpos
que deslocam sentidos e
Nas etapas anteriores
apresentamos um percurso teórico
-
metodológico a partir do qual foram
idealizadas as ações do projeto de
extensão. Cabe, agora, refletir sobre
uma série de atividades desenvolvidas
a ação intitulada como
"Hoje o Cantagalo é Aqui", em
referência ao nome da favela de onde
partiram os jovens sicos da
Orquestra Mirim de Percussão do
Mestre e os dançarinos de
passinho, e ao movimento de
ocupação das dependências da UFF,
Durante dois dias, o Instituto de
Arte e Comunicação se tornou,
conforme as palavras do Mestre Dá,
"um pedacinho da favela". Essa fala,
embora poética, poderia apresentar
contradições reveladoras justamente
do que o projeto de extensão não
ria de ser. O pressuposto de
nosso trabalho parte da ideia de que
tanto os polos distintivos, quanto os
muros invisíveis, precisam ser
evidenciados para que seja possível
promover uma intervenção efetiva nas
perversas inclusões precárias de
pretos, pobres
e periféricos. Para
tanto, não bastava ser um "pedaço" da
favela ou um dia em sua referência.
Era necessário que nossa atuação
incluísse a consciência de seus limites,
tanto quanto o desejo de gerar
afetações profundas em todos os
presentes, de modo a impl
projeto de transformação da própria
ideia de universidade.
Dessa forma, para pensar a
presença de jovens oriundos da favela
na qualidade de corpos da exceção
num campus universitário, a equipe do
projeto debateu intensamente sobre o
lugar que
essas pessoas teriam
durante a ação. O cuidado era,
justamente, o resvalar numa
exotização de tais figuras ou em
contatos objetificados. Assim,
chegamos à conclusão de que o
princípio norteador das ações deveria
ser a reafirmação do caráter
pedagógico da
universidade. Desta
vez, com a contribuição de sujeitos
que, não raro, são observados a partir
do viés da desconfiança. Dito de outra
129
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
tanto os polos distintivos, quanto os
muros invisíveis, precisam ser
evidenciados para que seja possível
promover uma intervenção efetiva nas
perversas inclusões precárias de
e periféricos. Para
tanto, não bastava ser um "pedaço" da
favela ou um dia em sua referência.
Era necessário que nossa atuação
incluísse a consciência de seus limites,
tanto quanto o desejo de gerar
afetações profundas em todos os
presentes, de modo a impl
icá-los num
projeto de transformação da própria
ideia de universidade.
Dessa forma, para pensar a
presença de jovens oriundos da favela
na qualidade de corpos da exceção
num campus universitário, a equipe do
projeto debateu intensamente sobre o
essas pessoas teriam
durante a ação. O cuidado era,
justamente, o resvalar numa
exotização de tais figuras ou em
contatos objetificados. Assim,
chegamos à conclusão de que o
princípio norteador das ações deveria
ser a reafirmação do caráter
universidade. Desta
vez, com a contribuição de sujeitos
que, não raro, são observados a partir
do viés da desconfiança. Dito de outra
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
forma, determinamos que a presença
dos jovens deveria reafirmar,
precisamente, seu lugar e capacidade
de promover saberes.
Foi dessa maneira que foram
desenhadas três atividades
complementares em que moradores
das favelas figuravam na posição de
educadores junto ao corpo discente,
docente e administrativo da UFF. A
primeira era uma oficina de percussão
com cerca 25 jovens
que ensinaram o
manuseio dos instrumentos, as
diferenças entre ritmos e sonoridades
e, principalmente, demonstraram ao
público presente formas diversas de
ocupar o espaço "canônico" do saber,
entremeando o som seco do surdo, a
estridência do tamborim, com
das favelas e movimentos de quadril.
Na segunda atividade, uma
oficina de passinho, percebemos que
os limites espaciais originalmente
estabelecidos para concentrar o olhar
do público e, assim, forjar um palco,
eram, na verdade, restritivos da
po
tência daquela ação. Em poucos
minutos, jovens de idades diversas,
oriundos de favelas, tomando posse
de seus lugares de professores,
quebraram o protocolo idealizado, e
passaram a orientar os participantes a
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
forma, determinamos que a presença
dos jovens deveria reafirmar,
precisamente, seu lugar e capacidade
Foi dessa maneira que foram
desenhadas três atividades
complementares em que moradores
das favelas figuravam na posição de
educadores junto ao corpo discente,
docente e administrativo da UFF. A
primeira era uma oficina de percussão
que ensinaram o
manuseio dos instrumentos, as
diferenças entre ritmos e sonoridades
e, principalmente, demonstraram ao
público presente formas diversas de
ocupar o espaço "canônico" do saber,
entremeando o som seco do surdo, a
estridência do tamborim, com
histórias
das favelas e movimentos de quadril.
Na segunda atividade, uma
oficina de passinho, percebemos que
os limites espaciais originalmente
estabelecidos para concentrar o olhar
do público e, assim, forjar um palco,
eram, na verdade, restritivos da
tência daquela ação. Em poucos
minutos, jovens de idades diversas,
oriundos de favelas, tomando posse
de seus lugares de professores,
quebraram o protocolo idealizado, e
passaram a orientar os participantes a
transitar por todo campus fazendo o
uso de seus
corpos a partir de
movimentos atípicos ao local. A cena,
emblemática, revelava mais do que
eventuais dificuldades de mover os
pés com destreza e graça ao som do
funk. Ela demonstrava aos presentes
que todos os corpos que habitam
cotidiana ou excepcional
universidade são inevitavelmente
políticos e por isso, passíveis de
reflexão a seu respeito e,
fundamentalmente, inclusão efetiva.
Ainda no esteio das revelações
proporcionadas pela oficina de
passinho, a equipe se deparou com
um acontecimento d
Num dado momento, olhar para o
IACS-
UFF era visualizar a
possibilidade de quebra de rígidas
estruturas que historicamente
instituíram valorações e exclusões
diversas. Os corpos dedicados
seriedade no ensaio dos movimentos e
a batida do f
unk instigaram, também, o
olhar de dois meninos negros que
passavam pela rua. Possíveis
moradores da favela vizinha, as
crianças permaneceram interessadas
por tudo o que era aquela universidade
que elas até então não enxergavam.
Embora próxima e corriqueir
130
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
transitar por todo campus fazendo o
corpos a partir de
movimentos atípicos ao local. A cena,
emblemática, revelava mais do que
eventuais dificuldades de mover os
pés com destreza e graça ao som do
funk. Ela demonstrava aos presentes
que todos os corpos que habitam
-
cotidiana ou excepcional
mente - a
universidade são inevitavelmente
políticos e por isso, passíveis de
reflexão a seu respeito e,
fundamentalmente, inclusão efetiva.
Ainda no esteio das revelações
proporcionadas pela oficina de
passinho, a equipe se deparou com
um acontecimento d
esestabilizador.
Num dado momento, olhar para o
UFF era visualizar a
possibilidade de quebra de rígidas
estruturas que historicamente
instituíram valorações e exclusões
diversas. Os corpos dedicados
à
seriedade no ensaio dos movimentos e
unk instigaram, também, o
olhar de dois meninos negros que
passavam pela rua. Possíveis
moradores da favela vizinha, as
crianças permaneceram interessadas
por tudo o que era aquela universidade
que elas até então não enxergavam.
Embora próxima e corriqueir
a, a UFF
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
dos muros invisíveis e eficientes, se
tornara um espaço possível para
aqueles corpos. Ainda assim, diante
do convite de um dos coordenadores
do projeto, os meninos titubeantes,
declinaram do gesto político de
permanecer. Talvez por saberem, com
al
gum grau de consciência possível a
crianças, que aquilo se tratava de uma
exceção.
A última atividade era uma
mesa intitulada como "O fazer cultural
na favela, saber midiático e
protagonismo social". Sua composição
contou com Anderson José Ribeiro, do
pro
jeto Dá Teu Papo, Beatriz Pimentel,
produtora cultural, Eduardo Baptista,
da Maneh Produções, Key Tetra,
coreógrafo de passinho e produtor
cultural, além dos coordenadores do
projeto.
O debate girou em torno da
politização daquelas presenças
externas à UF
F. Num dado momento,
uma aluna que estava na plateia
apresentou sua história, na qualidade
de mulher negra e moradora de favela,
e falou da importância da constituição
de reflexões e práticas que partam da
favela para pensar a universidade e
não o contrári
o. Tal provocação se
alinha com o que norteia o projeto
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
dos muros invisíveis e eficientes, se
tornara um espaço possível para
aqueles corpos. Ainda assim, diante
do convite de um dos coordenadores
do projeto, os meninos titubeantes,
declinaram do gesto político de
permanecer. Talvez por saberem, com
gum grau de consciência possível a
crianças, que aquilo se tratava de uma
A última atividade era uma
mesa intitulada como "O fazer cultural
na favela, saber midiático e
protagonismo social". Sua composição
contou com Anderson José Ribeiro, do
jeto Dá Teu Papo, Beatriz Pimentel,
produtora cultural, Eduardo Baptista,
da Maneh Produções, Key Tetra,
coreógrafo de passinho e produtor
cultural, além dos coordenadores do
O debate girou em torno da
politização daquelas presenças
F. Num dado momento,
uma aluna que estava na plateia
apresentou sua história, na qualidade
de mulher negra e moradora de favela,
e falou da importância da constituição
de reflexões e práticas que partam da
favela para pensar a universidade e
o. Tal provocação se
alinha com o que norteia o projeto
Quem Sabe de Mim Sou Eu
toa, esse nome permanece como uma
diretriz no estabelecimento dos
princípios de nossa atuação, assim
como lembrete das armadilhas de
tutela e exotização das quais
buscamos desviar.
6. Conclusões (provisórias)
"Do alto da favela a gente
enxerga o mundo lá embaixo e
sonha que um dia aquele mundo
enxergue a gente como gente que
é humano. A gente sonha em um
dia tudo ser uma coisa só, sem
desvalorizar e diminuir ninguém.
A
gente sonha em ser valorizado
e respeitado. A gente sonha em
ter voz. Mas a gente não quer só
sonhar, a gente quer ter, fazer,
(Thayná Rodrigues, Bolsista Pibic
Ensino Médio
O projeto
Quem Sabe de Mim
Sou
completou oito anos. Ao longo
dessa trajetória ainda em curso,
acumulamos histórias felizes,
equívocos e, principalmente, o desejo
de colocarmo-
nos disponíveis para
rever o que fosse necessário.
Trabalhar com gente demanda um
esforço contínuo de não acomo
capacidade inventiva e, sobretudo, de
se perceber como sujeito relacional.
Foi dessa forma, inclusive, que
nos deparamos com um dos episódios
131
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Quem Sabe de Mim Sou Eu
. Não à
toa, esse nome permanece como uma
diretriz no estabelecimento dos
princípios de nossa atuação, assim
como lembrete das armadilhas de
tutela e exotização das quais
6. Conclusões (provisórias)
"Do alto da favela a gente
enxerga o mundo lá embaixo e
sonha que um dia aquele mundo
enxergue a gente como gente que
é humano. A gente sonha em um
dia tudo ser uma coisa só, sem
desvalorizar e diminuir ninguém.
gente sonha em ser valorizado
e respeitado. A gente sonha em
ter voz. Mas a gente não quer só
sonhar, a gente quer ter, fazer,
realizar["
(Thayná Rodrigues, Bolsista Pibic
Ensino Médio
- Quem Sabe de
Mim Sou Eu)
Quem Sabe de Mim
completou oito anos. Ao longo
dessa trajetória ainda em curso,
acumulamos histórias felizes,
equívocos e, principalmente, o desejo
nos disponíveis para
rever o que fosse necessário.
Trabalhar com gente demanda um
esforço contínuo de não acomo
dação,
capacidade inventiva e, sobretudo, de
se perceber como sujeito relacional.
Foi dessa forma, inclusive, que
nos deparamos com um dos episódios
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
mais marcantes de nossa caminhada.
Durante anos tivemos como parceiro
um rapaz morador da Babilônia.
Sempr
e implicado com questões de
cunho social, mobilizador de atividades
comunitárias, ele se apresentava como
uma liderança, especialmente para os
mais jovens. O início dessa relação,
porém, não foi simples justamente
porque ele nos enxergava como o
Estado, co
m o qual estava
acostumado a lidar, que ora rompia as
portas das casas da favela sem
licença ou respeito, ora se aproximava
para usá-
los enquanto objetos e não
tratá-
los como interlocutores.
Acreditamos que a forma que
escolhemos para entrar, permanecer e
nos relacionar nas favelas foi
determinante para que esse olhar de
desconfiança se desvanecesse a partir
das interações implicadas. Com
respeito às temporalidades de todos,
os vínculos se fortaleciam, as relações
se embaralhavam e geravam impactos
até ent
ão inéditos. Foi dessa maneira
que recebemos as palavras do tal
rapaz, liderança da Babilônia, com um
misto de surpresa e alegria. Ele nos
procurou para dizer que sua visão
sobre o que era a universidade havia
mudado em função do que nós
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
mais marcantes de nossa caminhada.
Durante anos tivemos como parceiro
um rapaz morador da Babilônia.
e implicado com questões de
cunho social, mobilizador de atividades
comunitárias, ele se apresentava como
uma liderança, especialmente para os
mais jovens. O início dessa relação,
porém, não foi simples justamente
porque ele nos enxergava como o
m o qual estava
acostumado a lidar, que ora rompia as
portas das casas da favela sem
licença ou respeito, ora se aproximava
los enquanto objetos e não
los como interlocutores.
Acreditamos que a forma que
escolhemos para entrar, permanecer e
nos relacionar nas favelas foi
determinante para que esse olhar de
desconfiança se desvanecesse a partir
das interações implicadas. Com
respeito às temporalidades de todos,
os vínculos se fortaleciam, as relações
se embaralhavam e geravam impactos
ão inéditos. Foi dessa maneira
que recebemos as palavras do tal
rapaz, liderança da Babilônia, com um
misto de surpresa e alegria. Ele nos
procurou para dizer que sua visão
sobre o que era a universidade havia
mudado em função do que nós
apresentamos para
soubesse que, de alguma maneira,
não éramos a regra da instituição,
mostrávamos o que ela poderia ser,
sobretudo se mais pessoas como ele
tivessem condições de transformá
Disse-
nos, ainda, que passou a
se pensar possível no ensino superior
porque viu, em nossos olhos, que o
enxergávamos dessa maneira. E foi
assim que resolveu voltar a estudar,
finalizou os estudos referentes ao
ensino médio num supletivo e se
inscreveu no E
NEM. Conseguiu, na
segunda tentativa, uma vaga no curso
de Pedagogia na UFF. O contato com
Paulo Freire, sobretudo com o livro
Pedagogia da Autonomia
profundamente nessa decisão.
Valladares desenvolveu uma
pesquisa sobre mobilidade social de
mor
adores de favelas por meio do
ingresso ao ensino superior. A
socióloga, identificou a ênfase
recorrente no “ser alguém e “ser
diferente dos outros” como agente
motivador. “Lembremo
Brasil, obter um diploma universitário é
indicador de ascen
são social. (...). Ser
detentor de um título universitário
permitiria, assim, a alguns moradores
de favelas, sobressair em meio a uma
132
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
apresentamos para
ele. Ainda que
soubesse que, de alguma maneira,
não éramos a regra da instituição,
mostrávamos o que ela poderia ser,
sobretudo se mais pessoas como ele
tivessem condições de transformá
-la.
nos, ainda, que passou a
se pensar possível no ensino superior
porque viu, em nossos olhos, que o
enxergávamos dessa maneira. E foi
assim que resolveu voltar a estudar,
finalizou os estudos referentes ao
ensino médio num supletivo e se
NEM. Conseguiu, na
segunda tentativa, uma vaga no curso
de Pedagogia na UFF. O contato com
Paulo Freire, sobretudo com o livro
Pedagogia da Autonomia
, impactou
profundamente nessa decisão.
Valladares desenvolveu uma
pesquisa sobre mobilidade social de
adores de favelas por meio do
ingresso ao ensino superior. A
socióloga, identificou a ênfase
recorrente no “ser alguém e “ser
diferente dos outros” como agente
motivador. “Lembremo
-nos de que, no
Brasil, obter um diploma universitário é
são social. (...). Ser
detentor de um título universitário
permitiria, assim, a alguns moradores
de favelas, sobressair em meio a uma
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
multidão de ‘iguais’” (VALLADARES,
2010, p. 168).
Essa tendência distintiva se
choca, justamente, com o olhar desse
jovem
universitário, morador da
Babilônia, para si. Comumente
celebrado na favela como alguém que
"chegou lá" por ter ingressado no
ensino superior público ele repete,
como uma espécie de mantra
politizado, que ele não é a exceção da
favela, mas a regra. Tal po
embora quantitativamente contraditória
no que diz respeito à ainda minoritária
presença de pretos e pobres nos
bancos universitários, reitera
justamente o que mobiliza e justifica
nossa atuação no sentido de fomentar
o desejo de transformação
.
O
rapaz, antes parceiro por ser
um morador mobilizado da favela é,
atualmente, integrante do projeto de
extensão na qualidade de aluno da
UFF. Ele continua sendo uma
liderança comunitária, pai e
mototaxista. Não raro é possível
encontrá-
lo, no intervalo de
trabalho de translado, lendo um livro
ou equilibrando páginas xerocadas dos
conteúdos das aulas. A vida dele é,
atualmente, mais complexa do que era
antes. Mas ele se tornou alguém que
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
multidão de ‘iguais’” (VALLADARES,
Essa tendência distintiva se
choca, justamente, com o olhar desse
universitário, morador da
Babilônia, para si. Comumente
celebrado na favela como alguém que
"chegou lá" por ter ingressado no
ensino superior público ele repete,
como uma espécie de mantra
politizado, que ele não é a exceção da
favela, mas a regra. Tal po
sição,
embora quantitativamente contraditória
no que diz respeito à ainda minoritária
presença de pretos e pobres nos
bancos universitários, reitera
justamente o que mobiliza e justifica
nossa atuação no sentido de fomentar
.
rapaz, antes parceiro por ser
um morador mobilizado da favela é,
atualmente, integrante do projeto de
extensão na qualidade de aluno da
UFF. Ele continua sendo uma
liderança comunitária, pai e
mototaxista. Não raro é possível
lo, no intervalo de
seu
trabalho de translado, lendo um livro
ou equilibrando páginas xerocadas dos
conteúdos das aulas. A vida dele é,
atualmente, mais complexa do que era
antes. Mas ele se tornou alguém que
pensa a universidade a partir da favela
e não o contrário. E busca
disputar, inclusive, os sentidos do que
é ser um intelectual.
Jailson de Souza e Silva,
professor da UFF nascido na periferia
do Rio de Janeiro, reflete sobre o
desafio posto para jovens das favelas
diante do sonho de acessar e
permanecer no ensi
apresenta uma fábula popular para
refletir sobre as dificuldades de
mobilidade social num país desigual,
racista e classista como o Brasil:
O corvo, insatisfeito com sua
condição, admirava à distância a
comunidade dos pombos
pela
elegância, pela cultura e pela
beleza. Até que, certo dia, toma uma
posição radical: pega uma lata de
tinta branca e pinta
Com essa nova roupagem, dirige
ao pombal; chegando, é
rapidamente identificado pelos
pombos originais, que
seu ingresso na sociedade.
Decepcionado, decide voltar ao
convívio dos seus pares
Lá chegando, todavia, a decepção se
faz mais profunda: seus antigos
irmãos não o reconhecem e
repudiam. Assim, sem ter o que tinha
e não alcançando o
ficou o pobre corvo só, lamentando
sua singular condição
SILVA, 2011, p. 137)
Partimos da ciência de tais
muros invisíveis e eficientes que ainda
restringem o acesso e permanência de
jovens periféricos nas universidades,
133
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
pensa a universidade a partir da favela
e não o contrário. E busca
, assim,
disputar, inclusive, os sentidos do que
Jailson de Souza e Silva,
professor da UFF nascido na periferia
do Rio de Janeiro, reflete sobre o
desafio posto para jovens das favelas
diante do sonho de acessar e
permanecer no ensi
no superior. Ele
apresenta uma fábula popular para
refletir sobre as dificuldades de
mobilidade social num país desigual,
racista e classista como o Brasil:
O corvo, insatisfeito com sua
condição, admirava à distância a
comunidade dos pombos
- marcada
elegância, pela cultura e pela
beleza. Até que, certo dia, toma uma
posição radical: pega uma lata de
tinta branca e pinta
-se inteiramente.
Com essa nova roupagem, dirige
-se
ao pombal; chegando, é
rapidamente identificado pelos
pombos originais, que
o permitem
seu ingresso na sociedade.
Decepcionado, decide voltar ao
convívio dos seus pares
- os corvos.
Lá chegando, todavia, a decepção se
faz mais profunda: seus antigos
irmãos não o reconhecem e
repudiam. Assim, sem ter o que tinha
e não alcançando o
que desejava,
ficou o pobre corvo só, lamentando
sua singular condição
. (SOUZA E
SILVA, 2011, p. 137)
Partimos da ciência de tais
muros invisíveis e eficientes que ainda
restringem o acesso e permanência de
jovens periféricos nas universidades,
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
bem como
do impacto das políticas de
ação afirmativa, como as cotas, para
pleitear uma defesa: acreditamos que
a renovação da universidade não deva
passar pela adaptação dos indivíduos
que a compõe e justificam. Ao
contrário, se a universidade quer ser,
de fato, um
lugar de potencialização
do conhecimento e de formação de
quadros necessários para a
sociedade, será ela quem precisará se
adequar. A questão que permanece é:
afinal, quem é a universidade? As
ainda minoritárias, porém insurgentes
presenças periféricas, a
linhadas com
aqueles que, mesmo não partindo das
mesmas condições de vulnerabilidade,
têm um papel histórico nesta luta.
Quem Sabe de Mim Sou Eu
permanece alinhado a esse desafio.
Referências
bibliográficas
ENNE, Ana Lucia;
. PASSOS, Pâmel
Juve
ntudes e apropriações urbanas
em uma leitura polissêmica.
Culturais em Revista
, Salvador, v. 11,
n. 2, p. 123-
145, jul./dez. 2018.
FAUSTINI, Marcus Vinícius.
Considerações iniciais sobre
juventude, cultura e território
SOUZA E SILVA, Jailson;
Jorge;
FAUSTINI, Marcus (orgs
novo carioca. Rio de J
aneiro
2012.
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
do impacto das políticas de
ação afirmativa, como as cotas, para
pleitear uma defesa: acreditamos que
a renovação da universidade não deva
passar pela adaptação dos indivíduos
que a compõe e justificam. Ao
contrário, se a universidade quer ser,
lugar de potencialização
do conhecimento e de formação de
quadros necessários para a
sociedade, será ela quem precisará se
adequar. A questão que permanece é:
afinal, quem é a universidade? As
ainda minoritárias, porém insurgentes
linhadas com
aqueles que, mesmo não partindo das
mesmas condições de vulnerabilidade,
têm um papel histórico nesta luta.
Quem Sabe de Mim Sou Eu
parte e
permanece alinhado a esse desafio.
bibliográficas
. PASSOS, Pâmel
la.
ntudes e apropriações urbanas
em uma leitura polissêmica.
Políticas
, Salvador, v. 11,
145, jul./dez. 2018.
FAUSTINI, Marcus Vinícius.
Considerações iniciais sobre
juventude, cultura e território
. In:
BARBOSA,
FAUSTINI, Marcus (orgs
.). O
aneiro
: Mórula,
FOUCAULT, Michel.
nascimento da prisão. Petrópolis:
Vozes, 1987.
GEERTZ, Clifford.
A interpretação das
culturas. Rio de J
aneiro
GOFFMAN,
Erving.
sobre a manipulação da identidade
deteriorada. R
io de
2008.
HALBWACHS, Maurice.
coletiva. São Paulo
: Vértice, 1990.
HOOKS, bell.
Ensinando a transgredir
a Educação como prática de liberdade.
São Paulo: Mart
ins Fontes, 2013.
KANT DE LIMA, Roberto. A
administração dos conflitos no Brasil: a
lógica da punição. In: Velho, Gilberto
ALVITO, Marcos (orgs
Violência. Rio de J
aneiro
1996.
MACHADO SILVA, Luiz Antônio.
sob cerco: violênci
a e rotina nas
favelas do Rio de Janeiro. R
Janeiro
: Nova Fronteira, 2008.
MASSEY, D.
Pelo Espaço:
política da espacialidade. R
Janeiro
: Bertrand Brasil, 2008.
MISSE, Michel. Sobre a acumulação
social da violência no Rio de Janeiro.
Civitas,
Porto Alegre, No 8, Vol. 3;
dez. 2008.
POLLAK, Michael. Memória e
identidade social.
Revista Estudos
Históricos
, 10, 1992/1. Disponível em:
http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/104
.pdf.
RIBEIRO, Darcy.
O Povo Brasileiro
São Paulo
: Cia das Letras,
SOARES, Luiz Eduardo; BILL, MV;
ATHAYDE, Celso.
Cabeça de porco
Rio de Janeiro
: Objetiva, 2005.
134
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
FOUCAULT, Michel.
Vigiar e Punir:
nascimento da prisão. Petrópolis:
A interpretação das
aneiro
: LTC, 1989.
Erving.
Estigma: notas
sobre a manipulação da identidade
io de
Janeiro: LTC,
HALBWACHS, Maurice.
A memória
: Vértice, 1990.
Ensinando a transgredir
:
a Educação como prática de liberdade.
ins Fontes, 2013.
KANT DE LIMA, Roberto. A
administração dos conflitos no Brasil: a
lógica da punição. In: Velho, Gilberto
;
ALVITO, Marcos (orgs
.). Cidadania e
aneiro
: UFRJ/FGV,
MACHADO SILVA, Luiz Antônio.
Vida
a e rotina nas
favelas do Rio de Janeiro. R
io de
: Nova Fronteira, 2008.
Pelo Espaço:
uma nova
política da espacialidade. R
io de
: Bertrand Brasil, 2008.
MISSE, Michel. Sobre a acumulação
social da violência no Rio de Janeiro.
Porto Alegre, No 8, Vol. 3;
set-
POLLAK, Michael. Memória e
Revista Estudos
, 10, 1992/1. Disponível em:
http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/104
O Povo Brasileiro
.
: Cia das Letras,
1995.
SOARES, Luiz Eduardo; BILL, MV;
Cabeça de porco
.
: Objetiva, 2005.
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20
, p.
109
-
13
5
, março 202
SOUZA E SILVA, Jailson.
uns e não outros?"
Caminhada de
jovens pobres para a universidade. R
de Janeiro: 7Letras, 2011.
VALLADARES, Lícia.
A invenção da
favela:
do mito de origem a
favela.com. Rio de Janeiro
VALLADARES, Lícia. Educação e
mobilidade social nas favelas do Rio
de Janeiro: o caso dos universitários
(graduandos e graduados) das favelas.
Dilemas: Revista de Estudos de
Conflito e Controle Social
. Vol. 2
5-6 - jul-dez 2010.
VELHO, Gilberto.
Individualismo e
Cultura:
Notas para uma Antropologia
da Sociedade Contemporânea. R
Janeiro: Zahar, 1987.
VELHO, Gilberto.
Projeto e
Metamorfose:
Antropologia das
sociedades complexas. R
io de
Zahar, 1994.
WILLIAMS, Raymond.
materialismo. São P
aulo
2011.
ZALUAR, Alba;
ALVITO, Marcos
(orgs.).
Um século de favela
Janeiro: FGV, 2006.
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber; NERCOLINI, Marildo
. "Quem Sabe
de Mim Sou Eu": práticas culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
SOUZA E SILVA, Jailson.
"Por que
Caminhada de
jovens pobres para a universidade. R
io
A invenção da
do mito de origem a
FGV, 2005.
VALLADARES, Lícia. Educação e
mobilidade social nas favelas do Rio
de Janeiro: o caso dos universitários
(graduandos e graduados) das favelas.
Dilemas: Revista de Estudos de
. Vol. 2
no
Individualismo e
Notas para uma Antropologia
da Sociedade Contemporânea. R
io de
Projeto e
Antropologia das
io de
Janeiro:
WILLIAMS, Raymond.
Cultura e
aulo
: UNESP,
ALVITO, Marcos
Um século de favela
. Rio de
135
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
“Meu filho, minhas
regras”:
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
Resumo: No ano de 2019, o
município
aprovar um projeto de lei
baseado
detalhe o processo desde a
apresentação
turno, destacando os
antagonismos
ESP com a tese do
“marxismo
analisando como grupos
conservadores
fundamentais.
Metodologicamente,
públicas.
Palavras-chave: Escola sem
Partido;
“Mi hijo, mis reglas”: el caso
“Escola
Resumen: En 2019, Belo
Horizonte
proyecto de ley basado en el
movimiento
empezado con la presentación
del
destacando los antagonismos
presentes
de ESP con la tesis del
marxismo
reciente, analizando cómo los
grupos
derechos fundamentales. El art
í
análisis de las controversias pú
blicas.
Palabras clave: Escola sem
Partido;
“My son, my rules”: the
“Escola
Abstract: In 2019, Belo
Horizonte
sem Partido movement
(ESP).
1
Leandro de Paula Santos.
Doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ (2016). Professor Adjunto
da UFBA, no Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC), e Professor Permanente do
Programa de Pós-
Graduação em Cultura e Sociedade (Pós
psleandro@gmail.com - https
://orcid.org/0000
2
João Victor Iglesias.
Graduando do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades da
Federal da Bahia/UFBA, Brasil.
jviglesias98@gmail.com
Texto recebido em 06/09/20
20,
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
regras”:
o caso do Escola sem Partido em
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
45789
Leandro
João
município
de Belo Horizonte tornou-se a
primeira
baseado
no movimento Escola sem Partido (ESP).
Este
apresentação
do projeto de lei, em 2017, até sua
aprovação
antagonismos
performados na cena parlamentar.
Sondamos
“marxismo
cultural” e sua transformação em ativo
político
conservadores
têm acionado novas concepções
de
Metodologicamente,
o trabalho se apoia nas ferramentas da
análise
Partido;
marxismo cultural; guerras culturais
“Escola
sem Partido”en Belo Horizonte
Horizonte
se convirtió en la primera gran ciudad
brasileña
movimiento
Escola sem Partido (ESP). Este
artículo
del
proyecto de ley en 2017, hasta su
aprobación
presentes
en el ambiente parlamentario.
Examinamos
marxismo
cultural” y su transformación en un
activo
grupos
conservadores han planteado nuevas
ideas
í
culo se basa en las herramientas
metodológicas
blicas.
Partido;
marxismo; guerras culturales
“Escola
sem Partido” case in Belo Horizonte
Horizonte
became the first big Brazilian city to pass a
bill
(ESP).
This paper deals with the process that
took
Doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ (2016). Professor Adjunto
da UFBA, no Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC), e Professor Permanente do
Graduação em Cultura e Sociedade (Pós
-Cultura)
, UFBA, Bahia, Brasil
://orcid.org/0000
-0003-1373-8007
Graduando do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades da
jviglesias98@gmail.com
- https://orcid.org/0000-
0002
20,
aceit
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
em 01/03/2021.
136
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Belo Horizonte
Leandro
de Paula
1
João
Victor Iglesias
2
primeira
capital brasileira a
Este
artigo analisa em
aprovação
em primeiro
Sondamos
os vínculos do
político
no Brasil recente,
de
sujeitos de direitos
análise
de controvérsias
brasileña
en aprobar un
artículo
analiza el proceso
aprobación
en la primera ronda,
Examinamos
las conexiones
activo
político en el Brasil
ideas
sobre temas de
metodológicas
propuestas por el
bill
based on the Escola
took
place since the
Doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ (2016). Professor Adjunto
da UFBA, no Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC), e Professor Permanente do
, UFBA, Bahia, Brasil
. E-mail:
Graduando do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades da
Universidade
0002
-0354-0788
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
presentation of the bill in
2017,
performed in the parliamentary
thesis and its transformation
into
groups have set new ideas of
fundamental
tools proposed by controversy
analysis.
Keywords: Escola sem Partido;
“Meu filho, minhas
regras”:
I. Introdução
No início da
década
Universidade Stanford,
uma
prestigiadas dos
EUA,
reelaborar os moldes de
um
oferecia a todos os
seus
desde os anos 1930,
sobre
da civilização no Ocidente
3
que o Conselho
Acadêmico
criação de uma
nova
obrigatória, baseada em
um
de leitura de 15 clássicos
da
da literatura. O objetivo
chamado “Cultura
Ocidental”,
situar os ingressantes em
solo epistemológico,
apresentando
uma introdução à
tradição
que seria comum a
todos.
sete anos de sua
implementação,
contudo, uma marcha
contra
mobilizou cerca de 500
estudantes
3
Ver:
https://web.stanford.edu/dept/news/stanfordtod
ay
/ed/9705/9705ncf1.html. Acesso
2020.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
2017,
until its approval in the first round,
highlighting
scene. We examine ESP's connections with
the
into
a political asset in recent Brazil, by
analyzing
fundamental
rights subjects. The article is based
on
analysis.
cultural marxism; cultural wars.
regras”:
o caso do Escola sem Partido em
década
de 1980, a
uma
das mais
EUA,
decidiu
um
curso que
seus
calouros,
sobre
a história
3
. Foi assim
Acadêmico
aprovou a
nova
disciplina
um
programa
da
filosofia e
do curso,
Ocidental”,
era
um mesmo
apresentando
tradição
intelectual
todos.
Decorridos
implementação,
contra
o curso
estudantes
e
https://web.stanford.edu/dept/news/stanfordtod
/ed/9705/9705ncf1.html. Acesso
em: 22 ago.
chegou a contar
com
reverendo Jesse
Jackson,
luta antirracista nos
protestava contra
a
“Cultura Ocidental”,
que
de pensadores com
o
Lutero, Voltaire,
Marx
não contemplava
textos
autores não-
europeus
contemporâneos.
(PRATT,
Nas
décadas
Stanford havia se
tornado
instituições de
ensino
políticas de ação
afirmativa
tendo adotado
pluralizaram o perfil
racial de seu
alunado
corpo docente
4
.
comunidade
acadêmica
4
Já nos anos 1970,
jovens doutores e doutoras
negros/as e latinos/
as ingressaram no quadro
docente da instituição
, novidade que seria
percebida com o surgimento de programas e
centros de pesquisa dedicados
feministas, africanos/afro-
americanos e latino
americanos. Ver: PRATT, 1999.
137
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
highlighting
the antagonisms
the
cultural Marxism”
analyzing
how conservative
on
the methodological
Belo Horizonte
com
a presença do
Jackson,
ícone da
EUA. O grupo
a
bibliografia da
que
previa obras
o
Platão, Homero,
Marx
e Freud, mas
textos
de mulheres,
europeus
ou
(PRATT,
1999)
décadas
anteriores,
tornado
uma das
ensino
pioneiras em
afirmativa
nos EUA,
medidas que
social, étnico e
alunado
e de seu próprio
Essa nova
acadêmica
engajou-se na
jovens doutores e doutoras
as ingressaram no quadro
, novidade que seria
percebida com o surgimento de programas e
centros de pesquisa dedicados
a estudos
americanos e latino
-
americanos. Ver: PRATT, 1999.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
crítica ao curso “Cultura
Ocidental”
promoveu um extenso
debate
importância de serem
diversificadas
referências intelectuais
oferecidas
calouros. O
resultado
tensionamento foi o
desenho
nova disciplina,
chamada
Ideias e Valores”,
baseada
bibliografia que
preservava
canônicas, mas incluía
livros
“Me chamo Rigoberta
Menchú
me nasceu a consciência”,
da ativista indígena
guatemalteca
Rigoberta Menchú.
O que poderia ser
interno à Universidade
foi
precipitar uma
polêmica
Grupos conservadores
representados por
autoridades
Secretário de Educação
do
Ronald Reagan,
William
abraçaram uma
campanha
proposta de Stanford, sob
de que a mudança
do
correspondia a uma
ameaça
marcos civilizatórios do
Ocidente.
incorporação de leituras
heterodoxas
em um curso obrigatório,
de uma universidade de
ponta,
acadêmicos e políticos
conservadores
do país a sentirem “a
monopólio como a
perda
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Ocidental”
e
debate
sobre a
diversificadas
as
oferecidas
aos
resultado
do
desenho
de uma
chamada
“Cultura,
baseada
em uma
preservava
obras
livros
como
Menchú
e assim
testemunho
guatemalteca
um debate
foi
capaz de
polêmica
nacional.
do país,
autoridades
como o
do
governo de
William
Bennett,
campanha
contrária à
a acusação
do
currículo
ameaça
aos
Ocidente.
A
heterodoxas
no contexto
ponta,
levou
conservadores
perda do
perda
do todo
(PRATT, 1999, p.
183).
a iniciativa tenha
se
Stanford e
influenciado
nos anos
seguintes,
estratégias
pedagógicas
pelas instituições de
se tornar um
candente
agenda política dos
EUA
últimas décadas.
***
Recuperamos
ocorrido no fim
dos
buscando realçar as
campos da cultura e
se refletem no
currículo
das instituições de
ensino.
exemplo da
Universidade
queremos introduzir
um fenômeno que
cena norte-
americana
atrás, mas, pelo
contrário
sinuosas
repercussões
de nosso país.
A polêmica
em
“Cultura Ocidental”
é
dos pontos-chave
culturais nos EUA.
cunhado pelo
sociólogo
(1991) com o
intuito
cena de conflito
138
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
183).
Assim, embora
se
consolidado em
influenciado
outros campi
seguintes,
as escolhas e
pedagógicas
adotadas
ensino vieram a
candente
tópico da
EUA
ao longo das
este caso,
dos
anos 1980,
tramas entre os
da educação que
currículo
e nas práticas
ensino.
Utilizando o
Universidade
Stanford,
a discussão de
o se restringe à
americana
de décadas
contrário
, parece ter
repercussões
na atualidade
em
torno do curso
é
considerada um
das guerras
Esse termo foi
sociólogo
James Hunter
intuito
de descrever a
instaurada na
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
sociedade norte-
americana
da década de 1980, em
virtude
inflexão nos modos de
percepção
antagonismo político. A
tese
Hunter poderia ser assim
resumida:
as cisões políticas
haviam
historicamente
sobredeterminadas
diferentes concepções
econômica, a oposição
entre
esquerda estaria se
crescentemente
subordinada
disputas no campo da
cultura.
Esse fenômeno
decorria
consolidação das
emancipatórias trazidas à
movimentos civis dos
anos
também pela reação
conservadora
expressa por grupos
como
Moral
5
, que impulsionou a
formação
uma bancada cristã no
norte-americano. Tais
acontecimentos
acabaram por dar
visibilidade
dissensos sociais nos
compreensão da
autoridade
bem como do papel do
Estado
da diversidade das
formas
de sua inscrição nos
quadros
5
Fundada em 1979
pelo pastor batista Jerry
Falwell e encampada por poderosas correntes
do Partido Republicano,
a “Moral Majority” se
organizava em comitês estaduais nos
lideranças e leigos conservadores de
diferentes denominações militavam em prol da
“moralidade cristã”,
tida como representante
da maioria dos cidadãos estadunidenses
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
americana
ao longo
virtude
de uma
percepção
do
tese
central de
resumida:
se
haviam
sido
sobredeterminadas
por
da ordem
entre
direita e
tornando
subordinada
a
cultura.
decorria
da
pautas
tona pelos
anos
1970, mas
conservadora
como
a Maioria
formação
de
Congresso
acontecimentos
visibilidade
aos
modos de
autoridade
moral,
Estado
diante
formas
de vida e
quadros
sociais
pelo pastor batista Jerry
Falwell e encampada por poderosas correntes
a “Moral Majority” se
organizava em comitês estaduais nos
quais
lideranças e leigos conservadores de
diferentes denominações militavam em prol da
tida como representante
da maioria dos cidadãos estadunidenses
.
de reconhecimento.
de natureza
religiosa,
sexual e de
gênero,
passaram a
protagonizar
que mobilizavam
a
consequência,
condicionavam
disputas eleitorais.
Se esse
filtro
sentido para a cena
diversos autores
vêm
pertinência da chave
também para a
leitura
brasileira recente
GALLEGO;
ORTELLATO
2014). Isso porque,
meia década, o
esgarçamento
nossa vida política
vem
no fenômeno que
genericamente de
imagem de um país
polos se difundiu
como
certa experiência de
antagonismos
político
processo histórico
impeachment de
Dilma
momento
catalisador
de Jair
Bolsonaro
desdobramento.
Dado o
perfil
Presidente da Rep
ública
comportamentais
que
vitória nas urnas
parece
139
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Assim, questões
religiosa,
étnica, racial,
gênero,
dentre outras,
protagonizar
os debates
a
nação e, por
condicionavam
as
filtro
analítico fez
norte-americana,
vêm
apontando a
da guerra cultural
leitura
da paisagem
(NUNES, 2020;
ORTELLATO
; MORETTO,
já há ao menos
esgarçamento
de
vem
se traduzindo
temos chamado
“polarização”. A
cindido em dois
como
sugestão de
acirramento dos
político
-ideológicos,
que teve no
Dilma
Rousseff seu
catalisador
e na ascensão
Bolsonaro
um explícito
perfil
do atual
ública
e das pautas
que
defende, sua
parece
exemplificar
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
como o foco das lutas
políticas
sido modificado também
no
meio das guerras
culturais.
considerar que as
questões
dividem o país hoje
dizem
especialmente à forma
sociedade imagina a si
terreno dos valores
morais
crenças que lhe seriam
inegociáveis.
assim que, apelando a
nacionalistas e religiosas,
projeto Bolsonaro -
“Brasil
tudo, Deus acima de
todos”
um ideal de uniformidade
sociopolítica
que, para ser cumprido,
permanente controle das
diferenças
dos entendimentos do
que
sua história e sua
sociedade.
Neste texto,
queremos
atenção para os
condicionantes
culturais que atravessam
política complexa, e para
seus
sobre o debate em torno
da
e do papel da escola.
Propomos
o texto dois objetivos
centrais.
primeiro consiste em
apresentar
breve genealogia do
Escola sem Partido (ESP),
seu vínculo com a tese
do
cultural”,
sintomaticamente
meio àquela atmosfera
de
instalada nos EUA
das
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
políticas
tem
no
Brasil por
culturais.
Podemos
questões
que
dizem
respeito
como a
própria no
morais
e das
inegociáveis.
É
premissas
o mote do
“Brasil
acima de
todos”
- traduz
sociopolítica
demanda o
diferenças
e
que
são o país,
sociedade.
queremos
chamar
condicionantes
essa cena
seus
efeitos
da
educação
Propomos
para
centrais.
O
apresentar
uma
movimento
destacando
do
“marxismo
sintomaticamente
surgida em
de
dissenso
das
últimas
décadas. O segundo
a transformação do
ESP
político no
panorama
ressaltando sua
diferentes
instâncias
descrevendo o caso
específico
aprovação, como
projeto
município de Belo
Horizonte.
Nosso esforço
trajeto cumprido
por
político-ideológica
institucionalização:
problema das
guerras
observandocomo
um
traços
conspiratórios
originado na cena
veio a se afirmar
como
política públicaem
uma
brasileira. No
percurso
abordagem,
discutiremos
que cooperam para
a
do campo da
educação
guinadas de
atuação
direita até o ambient
e
do ESP em Belo
Horizonte.
Para
perseguir
dividimos o texto
em
principais.
Na
apresentaremos
o
metodológico que
investigação e
algumas
ocorridas no modelo
140
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
intuito é observar
ESP
em um ativo
panorama
brasileiro atual,
presença em
instâncias
legislativas e
específico
de sua
projeto
de lei, no
Horizonte.
mira, portanto, o
por
uma convicção
até sua
acessamos o
guerras
culturais
um
discurso de
conspiratórios
e difusos
norte-americana
como
projeto de
uma
grande capital
percurso
dessa
discutiremos
elementos
a
disputa em torno
educação
hoje, desde as
atuação
do espectro da
e
político em torno
Horizonte.
perseguir
esses objetivos,
em
duas seções
Na
primeira,
o
ferramental
sustenta nossa
algumas
transições
de engajamento
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
político do campo
conservador
últimas décadas,
comentando
surgimento da tese
do
cultural nos EUA e sua
divulgação
Brasil por ideólogos e
formadores
opinião. Na
segunda
descrevemos o
fortalecimento
pauta legislativa do ESP e
os embates
parlamentares
rondaram sua apreciação
fim, comentamos como os
em torno do projeto
mobilizam
mesma linguagem
jurídica,
benefício de diferentes
concepções
sujeitos de direitos
fundamentais.
II. Marxismo cultural:
desdobramentos de uma
Com o objetivo
de
vocação beligerante
presente
atualidade política
brasileira,
metodologia aplicada na
deste artigo esteve
pautada
de controvérsias públicas,
derivado da Teoria
Ator
Bruno Latour e
sistematizado
Tommaso Venturini
(2009).
pressuposto metodológico
frente aos fenômenos
examinados, o
protagonismo
exercido pelas premissas
pesquisador deve ser
transferido
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
conservador
nas
comentando
o
do
marxismo
divulgação
no
formadores
de
segunda
seção,
fortalecimento
da
analisamos
parlamentares
que
em BH. No
argumentos
mobilizam
uma
jurídica,
em
concepções
de
fundamentais.
história e
tese
de
sondar a
presente
na
brasileira,
a
construção
pautada
na análise
instrumento
Ator
-Rede de
sistematizado
por
(2009).
Tal
aponta que,
a serem
protagonismo
em geral
teóricas do
transferido
para
as racionalidades
dos
envolvidos no
processo
Noutros termos,
mais
juízos como
analistas,
enquanto
procedimento
investigação das
vozes
embate e dos meios
sua performance
pública.
Um dos
compromissos
esse aporte nos
constrange
que o limitemos a
um fenômeno
social
apenas um
referencial
qual seríamos
capazes
lógicas inacessíveis
disputa. Ao
contrário,
controvérsias
estipula
levar a sério o que
mais contrastantes
que
ideias pareçam a
repertório político,
cognitivo
Na construção do
objeto
essa metodologia
nos
como legítimos
todos
vista trazidos pelos
atores
que não
desempenhamos
de juízes da
disputa,
observadores das
parcialidades
formam a contr
ovérsia
embates jurídicos,
políticos,
etc.
141
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
dos
próprios atores
processo
de disputa.
mais
do que nossos
analistas,
o que importa
procedimento
heurístico é a
vozes
implicadas no
empenhados em
pública.
compromissos
a que
constrange
então é
interpretação de
social
complexo a
referencial
teórico, pelo
capazes
de descortinar
aos atores em
contrário,
a análise de
estipula
que devemos
eles dizem, por
que
seus valores e
nosso próprio
cognitivo
e moral.
objeto
de estudo,
nos
exige admitir
todos
os pontos de
atores
do conflito,
desempenhamos
o papel
disputa,
mas de
parcialidades
que
ovérsia
e de seus
políticos,
midiáticos
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
Quando
perguntado
regras para bem se
cartografar
situações de confronto,
Bruno
resumiu: “apenas
olhe
controvérsia e diga o
(VENTURINI, 2009, p.
sugestão nada tem de
orienta que devemos
evita
análise assuma
tons
prescritivos, a fim
de
racionalidades das
diferentes
de um litígio possam de
fato
Essa predisposição
não
contudo, que ad
voguemos
neutralidade diante dos
Antes, que suspendamos
em classificar os pleitos
pelos parâmetros que
optando, a contrapelo,
por
ação situada em
sua
amplitude, à procura
ambiguidades.
Esse conjunto de
princípios
guiou na realização
do
estudo, levando-nos a
um
batalha em torno do
Escola
Partido na Câmara dos
Vereadores
Belo Horizonte, que
chegou
campo dos debates
ideológicos
termos da agressão f
í
6
No original: Just look at the controversies and
tell what you see.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
perguntado
sobre as
cartografar
tais
Bruno
Latour
olhe
para a
que vê’’
799)
6
. A
trivial: ela
evita
r que a
tons
crítico-
de
que as
diferentes
partes
fato
vir à tona.
não
significa,
voguemos
posição de
fenômenos.
a urgência
em disputa
portamos,
por
narrar a
sua
máxima
de suas
princípios
nos
do
presente
um
exame da
Escola
sem
Vereadores
de
chegou
a saltar do
ideológicos
aos
í
sica entre
No original: Just look at the controversies and
parlamentares, em
repleto de
reviravoltas
legislativas. Para
descrever
significativo por se
tratar
capital brasileira a
aprovar
de lei nos
moldes
perscrutamos um
conju
fontes, como
atas
legislativas,
pareceres
parlamentares,
materiais
declarações de
documentos de
órgãos
governo.
No processo
notamos que as
disputa
ESP eram
fortemente
por aquilo que
atores
direita vêm
chamando
cultural, o que nos
revisão da literatura
tese. Para
exemplificar
no campo
conservador
lembramos que o
plano
da candidatura de
Jair
Planalto,
submetido
Superior Eleitoral
em
que “nos últimos 30
anos
cultural e suas
derivações
7
Disponível em:
http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidatura
s/oficial/2018/BR/BR/2022802018/2800006145
17/proposta_1534284632231.pdf. Acesso e
20 ago. 2020.
142
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
um processo
reviravoltas
e manobras
descrever
esse caso,
tratar
da primeira
aprovar
um projeto
moldes
do ESP,
conju
nto variado de
atas
de sessões
pareceres
de comissões
materiais
de imprensa,
autoridades e
órgãos
oficiais de
de investigação,
disputa
s em torno do
fortemente
influenciadas
atores
do espectro da
chamando
de marxismo
demandou uma
a respeito dessa
exemplificar
sua pregnância
conservador
hoje,
plano
de governo
7
Jair
Bolsonaro ao
submetido
ao Tribunal
em
2018, afirmava
anos
o marxismo
derivações
como o
http://divulgacandcontas.tse.jus.br/candidatura
s/oficial/2018/BR/BR/2022802018/2800006145
17/proposta_1534284632231.pdf. Acesso e
m:
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
gramscismo, se uniu às
corruptas para minar os
Nação e da família
brasileira
diagnóstico era
seguido
compromisso do então
grafado em caixa alta:
PRECISAMOS
NOS
LIBERTAR!VAMOS
LIBERTAR!”.
Segundo Žižek
(2018),
do marxismo cultural
consistiria
ponto nevrálgico da
coaliz
envolve as “novas
direitas
após a década de 1990
nos
que, hoje, ganham
considerá
espaço na cena política
países ao redor do
mundo,
o Brasil. Assim,
reconhecemos
importância de recuperar
a
dessa ideia, reconstituir
sua
ao Brasil e descrever sua
tradução
um projeto de política
expressivo impacto para
o
educação.
Para fins
terminológicos,
definir, primeiramente,
chamamos de “novas
direitas”
analisar aemergência
de
políticos que culminaram
na
Donald Trump nos EUA,
Angela
(2017) detecta que a
crença
do marxismo cultural é
um
chave para a consolidação
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
oligarquias
valores da
brasileira
”. O
seguido
do
candidato,
PRECISAMOS
LIBERTAR!VAMOS
NOS
(2018),
a tese
consistiria
no
coaliz
ão que
direitas
surgidas
nos
EUA, e
considerá
vel
de muitos
mundo,
dentre eles
reconhecemos
a
a
genealogia
sua
chegada
tradução
em
pública de
o
campo da
terminológicos,
vale
o que
direitas”
. Ao
de
grupos
na
eleição de
Angela
Nagle
crença
na tese
um
elemento-
dessa nova
militância.
Camila
aponta que, no
Brasil
corrente de
pensamento
termos econômicos
nos costumes
articulou
quase silenciosa
desde
anos 2000. Esse
contudo, traria
heranças
nacional, que,
em
militar, liberais
conservadores
morais
uma aliança sólida
com
combater o que
entendiam
ameaça comunista
a
Esse pacto aos
poucos
sentido frente aos
originaram a
Constituiçã
decorrendo uma
separa
entre as duas
pensamento.
Segundo
Rocha,
social que modelou
a
foi responsável por
tornar
debate público os
identificavam com
a
ultraliberal-
conservadora.
Imediatamente
conectados
memórias
repressivas
militar, esses grupos
tornar uma
espécie
envergonhada”,
sem
frente ao pêndulo
que
143
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Camila
Rocha (2018)
Brasil
recente, uma
pensamento
ultraliberal em
e conservadora
articulou
-se de forma
desde
meados dos
perfil político,
heranças
da história
em
meio à ditadura
ortodoxos e
morais
compuseram
com
o intuito de
entendiam
ser uma
a
rondar o Brasil.
poucos
foi perdendo
consensos que
Constituiçã
o de 1988, daí
separa
ção provisória
vertentes de
Rocha,
o arranjo
a
Nova República
tornar
invisíveis no
grupos que se
a
antiga aliança
conservadora.
conectados
às
repressivas
do regime
acabaram por se
espécie
de “direita
sem
expressividade
que
condicionou a
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
política brasileira a
partir
1990 com a oposição
entre
da Social Democracia
(PSDB) e o Partido dos
Trabalhadores
(PT). Contudo, o caso do
durante o primeiro
mandato
suscitou uma
reativação
aliança, agora
mobilizada
práticas e ideologias
encampadas
Governo Federal da
época.
se a esse contexto a
disseminação
Brasil de plataformas de
comunicação
como fóruns e
comunidades
que permitiram uma
horizontal desses
anseios
sua gradativa
consolidação
forma de um movimento.
Tanto no Brasil
quanto
EUA, as novas direitas
sinalizam
realinhamento do
espectro
conservador, cuja
batalha
deixado de ser travada
andares das corporações
políticos, para se dirigir
ao
que entendem ser
dominado
esquerda: o Estado
Ampliado
cunhada por Gramsci,
essa
indica que as lutas
políticas
disputadas apenas no
interior
aparelhos burocráticos do
Estado,
também no terreno da
sociedade
e no campo das
mentalidades
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
partir
dos anos
entre
o Partido
Brasileira
Trabalhadores
“mensalão”
mandato
de Lula
reativação
dessa
mobilizada
contra as
encampadas
pelo
época.
Somava-
disseminação
no
comunicação
comunidades
virtuais,
articulação
anseios
políticos e
consolidação
sob a
quanto
nos
sinalizam
um
espectro
político
batalha
teria
nos altos
e gabinetes
ao
território
dominado
pela
Ampliado
. Ideia
essa
expressão
políticas
não são
interior
dos
Estado,
mas
sociedade
civil
mentalidades
. Logo,
instituições como
igrejas,
universidades,
teatros
organizações que
difundem ideias
fundamental de
todo
transformação
sociopolític
FISCHER-
LESCANO,
desse
entendimento,
ser uma estratégia
esquerda na luta
por
novas direitas
passam
campo de
militância,
influenciar as
políticas
os conteúdos
movimentos
religiosos,
arenas de atuação.
A tese do
m
corresponde a um
teórico feito por thi
nk
a lobistas e
políticos
dos EUA da d
écada
sido a
Convenção
Republicano de
1992
significativo para a
(NAGLE, 2017).
Na
Buchannan,
influente
8
A expressão em inglês “think
perfil de instituições que atuam na produção
de pesquisas e
no levantamento de dados
com o intuito de influenciar o debate público e
subsidiar governos e outras organizações na
tarefa de elaboração e implementação de suas
políticas.
144
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
igrejas,
escolas,
teatros
e outras
produzem e
seriam parte
todo
processo de
sociopolític
a (BUCKEL;
LESCANO,
2009). A partir
entendimento,
que entendem
orquestrada pela
por
hegemonia, as
passam
a alargar seu
militância,
buscando
políticas
educacionais,
midiáticos, os
religiosos,
dentre outras
m
arxismo cultural
empreendimento
nk
tanks
8
atrelados
políticos
conservadores
écada
de 1990, tendo
Convenção
do Partido
1992
um evento
difusão da tese
Na
ocasião, Pat
influente
político
A expressão em inglês “think
tank” define o
perfil de instituições que atuam na produção
no levantamento de dados
com o intuito de influenciar o debate público e
subsidiar governos e outras organizações na
tarefa de elaboração e implementação de suas
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
conservador, proferiu um
discurso
qual afirmava que
um
governo Bill Clinton,
Democrata, representaria
um ciclo caracterizado por
demanda”, “direitos
homossexuais”,
“discriminação de escolas
religiosas”
“mulheres em guerra”. A
partir
época, ganhou maior
circulação,
debate público norte-
americano,
ideia de uma campanha
oculta
da instauração de
um
comunista por meio do
ataque
seriam os pilares da
ocidental, incluindo a
religi
cristã e a família
tradicional.
No Brasil, o
vocalizador da tese
do
cultural foi Olavo de
Carvalho
grande influência no
processo
ideologização das
novas
locais. O debate sobre o
ser encontrado em
alguns
livros que se tornaram
sucesso
venda, como “O
nimo
precisa saber para não
ser
obra presente na
mesa
Bolsonaro em seu
primeiro
9
Discurso disponível em:
https://buchanan.org/blog/1992-
republican
national-convention-speech-
148. Acesso em
23 ago. 2020.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
discurso
9
no
um
possível
candidato
para o país
“aborto sob
homossexuais”,
religiosas”
e
partir
dessa
circulação,
no
americano,
a
oculta
em prol
um
regime
ataque
ao que
civilização
religi
ão judaico-
tradicional.
principal
do
marxismo
Carvalho
, autor de
processo
de
novas
direitas
tema pode
alguns
de seus
sucesso
de
nimo
que você
ser
um idiota’’,
mesa
de Jair
primeiro
discurso à
republican
-
148. Acesso em
:
nação após
eleito
abordasse a ideia
em
desde o fim dos
anos
um artigo publicado
no
em 2002 que o autor
para a audiência
brasileira
Segundo
Carvalho
teóricos marxistas
teriam
suas convicções
necessidade de
armada após
constatarem
durante a
Primeira
proletariado lutara
Estado burguês,
mesmo
de suas opressões.
Esses
teriam então
avançado
batalha silenciosa,
conquista das
mentes
por meio do controle
das
sociais difusoras
do
Para o autor, a
Escola
10
Disponível em:
https://f5.folha.uol.com.br/colunistas/biblioteca
da-vivi/2018/11/conheca-
o
mostrado-por-bolsonaro-
no
eleito-presidente.shtml
. Acesso em: 15 jul.
2020.
11
Ver:
https://olavodecarvalho.org/a
e-a-revolucao-cultural-
capitulo
22 ago. 2020.
12
Sediada na Universidade de Frankfurt e
impulsionada a partir dos anos 1920, essa
“Escola” consistiu na reunião de diversos
intelectuais com o objetivo de
do marxismo e propor novos parâmetros de
análise social, dentre os quais se destacam
Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert
Marcuse e Jürgen Habermas.
145
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
eleito
10
. Embora
em
seus cursos
anos
1980
11
, foi em
no
jornal O Globo
introduziu a tese
brasileira
mais ampla.
Carvalho
(2002), os
teriam
abandonado
acerca da
uma revolução
constatarem
que,
Primeira
Guerra, o
em defesa do
mesmo
sendo ciente
Esses
intelectuais
avançado
um conceito de
direcionada à
mentes
dos cidadãos,
das
organizações
do
conhecimento.
Escola
de Frankfurt
12
https://f5.folha.uol.com.br/colunistas/biblioteca
-
o
-livro-que-foi-
no
-discurso-apos-ser-
. Acesso em: 15 jul.
https://olavodecarvalho.org/a
-nova-era-
capitulo
-ii/. Acesso em:
Sediada na Universidade de Frankfurt e
impulsionada a partir dos anos 1920, essa
“Escola” consistiu na reunião de diversos
intelectuais com o objetivo de
reler a tradição
do marxismo e propor novos parâmetros de
análise social, dentre os quais se destacam
Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert
Marcuse e Jürgen Habermas.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
teria sido um think
abandonando a ilusão de
universal dos proletários,
dedicar-se ao único
empreendimento
viável que restaria,
destruir
ocidental’’.
Os homens
de
especialmente
Horkheimer,
Marcuse, tiveram a
idéia
Freud e Marx,
concluindo
cultura ocidental era
que todo mundo
educado
de “personalidade
autoritá
população ocidental
reduzida à condição
de
hospício e
submetida
“psicoterapia
coletiva”.
portanto inaugurada,
marxismo clássico,
soviético e do
marxismo
de Eduard
Bernstein
tucano), a quarta
modalidade
marxismo: o
marxismo
(CARVALHO, 2002)
Nos anos
subsequentes
artigo de Carvalho,
houve,
durante o segundo
mandato
um crescimento orgânico
direitas brasileiras.
Como
Rocha (2018), esses
grupos
ascensão,
articulados
comunidades digitais,
difundiam
que, naquele momento,
encontravam tanto
espaço
público
brasileiro.Movimentos
“Endireita Brasil”,
compostos
jovens estudantes,
advogados
empresários - como o
atual
Meio Ambiente Ricardo
Salles
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
tank que,
um levante
passara a
empreendimento
destruir
a cultura
de
Frankfurt,
Horkheimer,
Adorno e
idéia
de misturar
concluindo
que a
uma doença,
educado
nela sofria
autoritá
ria”, que a
deveria ser
de
paciente de
submetida
a uma
coletiva”.
Estava
depois do
do marxismo
marxismo
revisionista
Bernstein
(o primeiro
modalidade
de
marxismo
cultural.
subsequentes
ao
houve,
sobretudo
mandato
de Lula,
das novas
Como
mostra
grupos
em
articulados
em
difundiam
ideias
ainda não
espaço
no debate
brasileiro.Movimentos
como o
compostos
por
advogados
e
atual
Ministro do
Salles
-, foram
se tornando cada
vez
cooperando para a
tese do marxismo c
ultural
exemplo desse
processo
divulgado na página
Facebook
13
, no
qual
Ricardo, líder
religioso
suas posições
reacionárias,
as escolas
brasileiras
empenhadas na
tarefa
gradual imbeciliza
ção”
para que se
tornassem
das ideias marxistas
.
a crise política
desdobrada
de Dilma
Rousseff
disseminação de
ideias
forma do
antipetismo
corresponsável pela
difusão
marxismo cultural e
ESP no país,
conforme
na seção seguinte.
III. Escola Sem
Partido
discussão em Belo
Horizonte
Esboçadas a
tese
cultural e sua trajet
ó
anos 1990 à cena
brasileira
13
Em sua página do Facebook, o movimento
Endireita Brasil compartilhou, por exemplo,
uma
palestra do padre Paulo Ricardo,
sustentando que em:
https://www.facebook.com/endireitabrasil/video
s/10154247999097344
. Acesso em: 15 jul.
2020.
146
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
vez
mais comuns e
assimilação da
ultural
no país. Um
processo
é um vídeo
desse grupo no
qual
o padre Paulo
religioso
conhecido por
reacionárias,
afirma que
brasileiras
estariam
tarefa
da “lenta e
ção”
dos alunos,
tornassem
presas ceis
.
Como sabemos,
desdobrada
no governo
Rousseff
impulsionou a
ideias
afins sob a
antipetismo
, pulsão social
difusão
da tese do
da proposta do
conforme
abordaremos
Partido
: contexto e
Horizonte
tese
do marxismo
ó
ria dos EUA dos
brasileira
da última
Em sua página do Facebook, o movimento
Endireita Brasil compartilhou, por exemplo,
palestra do padre Paulo Ricardo,
https://www.facebook.com/endireitabrasil/video
. Acesso em: 15 jul.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
década, buscamos agora
compreender
um de seus efeitos
atualidade histórica
analisando
do ESP. O movimento
surgiu
de 2003, na cidade de
quando o advogado e
procurador
Estado Miguel Nagib se
saber que um professor
da
sua filha havia
comparado
Francisco de Assis
revolucionário Che
(BEDINELLI, 2016). A
partir
fato, Nagib decidiu
realizar
campanha, dentro da
própria
em defesa de uma
desideologiza
das salas de aula. I
nconformado
baixa repercussão da
iniciativa,
advogado resolveu criar
um
visava a receber
denúncias,
de alunos e pais,
acerca
possível monopólio do
discurso
esquerda nas escolas.
Seguindo a trilha
(2016), podemos
identificar
existência de três grandes
águas para que o
ESP
tornado pauta no
panorama
Brasil. O primeiro
acontece
com um artigo assinado
por
um dos principais nomes
do
das Organizações Globo,
publicado
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
compreender
em nossa
analisando
o caso
surgiu
no ano
São Paulo,
procurador
do
revoltou ao
da
escola de
comparado
São
ao líder
Guevara
partir
desse
realizar
uma
própria
escola,
desideologiza
ção”
nconformado
coma
iniciativa,
o
um
site que
denúncias,
por parte
acerca
de um
discurso
de
de Moura
identificar
a
divisores de
ESP
tenha se
panorama
político do
acontece
u em 2007,
por
Ali Kamel,
do
jornalismo
publicado
no
jornal impresso do
criticava o conteúdo
da
História Crítica -
gratuitamente pelo
MEC
alunos da rede p
ú
2007), afirmando
que
passariam de “uma
tentativa
nossas crianças
acreditarem
capitalismo é mau e
que
todos os problemas
que fracassou até
burocratas
autoritários’’
O movimento
dirigia a questões
ganhando
repercussão
época, como
demonstra,
um texto do
jornalista
Azevedode 2008,
intitulado
Escola sem
Partido’’
2008). O artigo fazia
texto de Kamel
e
importância de uma
manipulação de
informações
do Partido dos
chamando a
atenção
tema, “como fazem
aquel
colaboram com o
site
Partido”. Esses
textos
importantes
agentes
14
Disponível em:
http://www.alikamel.com.br/artigos/que
ensinam-nossas-
criancas.php
jul. 2020.
147
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
grupo
14
. Kamel
da
coleção “Nova
série, distribuída
MEC
a 750 mil
ú
blica” (KAMEL,
que
os livros o
tentativa
de fazer
acreditarem
que o
que
a solução de
é o socialismo,
aqui por culpa de
autoritários’’
.
deNagib, que se
afins, acabou
repercussão
nas mídias à
demonstra,
por exemplo,
jornalista
Reinaldo
intitulado
“Por uma
Partido’’
(AZEVEDO,
menção direta ao
e
ressaltava a
escola livre da
informações
em prol
Trabalhadores,
atenção
dos pais para o
aquel
es que hoje
site
Escola Sem
textos
de dois
agentes
da imprensa
http://www.alikamel.com.br/artigos/que
-
criancas.php
. Acesso em: 15
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
levaram a públicos
mais
narrativa de
ideologização/doutrinação
esquerda nas salas de
aula
O segundo
momento
para o ESP aconteceu
em
o Ministério da Educação
Programa Brasil sem
conjunto de materiais
didáticos
combater a
discriminação
pessoas LGBTs, que
foi
pelo então deputado Jair
Bolsonaro
“kit gay” (LEITE, 2019). O
ESP
notoriedade ao criticar o
conteúdo
materiais, por sua suposta
influenciar um campo da
formação
caberia apenas à famí
lia.
presença ali, pela
primeira
discurso contrário à
“ideologia
gênero”, o que
correspondia
importante guinada do
movimento
antes, sua pauta estava
uma perspectiva po
tico
agora a agenda se
tornara
assumindo maior
apelo
diferentes camadas da
(MIGUEL, 2016)
O terceiro
momento
para o movimento teria
sido
de radicalização política
ocorrido
eleições de 2014,
quando
apoiadores do candidato
Aécio
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
mais
amplos a
uma
da
aula
brasileiras.
momento
crucial
em
2011, após
anunciar o
Homofobia,
didáticos
para
discriminação
contra
foi
apelidado
Bolsonaro
de
ESP
ganhou
conteúdo
dos
tentativa de
formação
que
lia.
Marcava
primeira
vez, o
“ideologia
de
correspondia
a uma
movimento
: se,
vinculada a
tico
-ideológica,
tornara
moral,
apelo
junto a
população.
momento
importante
sido
o período
ocorrido
nas
quando
os
Aécio
Neves
acusaram o
governo
estimular uma
doutrinaçã
homossexual” nas
escolas
reproduzindo
forma
denuncistas que
caracterizaram
eleições
presidenciais
1992
15
. Nesse
contexto
histórico, o então
Deputado
(RJ) Flavio
Bolsonaro
Nagib a redigir
um
batizado pelo
próprio
Presidente da
República
Escola sem Partido
”,
positivar a proteção
à
dos estudantes
frente
doutrinação
(MOURA,
proposta ser
encaminhada
Assembleia
Estadual
Janeiro, Carlos
Bolsonaro,
cidade do Rio de
Janeiro,
submeteu a pauta
para
Câmara Municipal,
ocorreu em o
utros
municípios, além do
Senado
Essas
repercussões
movimento iniciado
assumido
entusiasta
15
Conforme comentamos anteriormente, essa
foi a campanha na qual a tese do marxismo
cultural despontou com mais evidência, por
meio da atuação de Pat Buchannan e outros
agentes do Partido Republicano.
148
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
governo
Dilma de
doutrinaçã
o “comunista-
escolas
do Brasil,
forma
e conteúdo
caracterizaram
as
presidenciais
nos EUA de
contexto
político-
Deputado
Estadual
Bolsonaro
convidou Miguel
um
projeto de lei,
próprio
filho do
República
de “Lei do
”,
que visava a
à
s crenças morais
frente
ao perigo da
(MOURA,
2016). Após a
encaminhada
à
Estadual
do Rio de
Bolsonaro,
vereador da
Janeiro,
também
para
votação na
assim como
utros
estados e
Senado
Federal.
repercussões
fizeram o
por Nagib, um
entusiasta
das ideias de
Conforme comentamos anteriormente, essa
foi a campanha na qual a tese do marxismo
cultural despontou com mais evidência, por
meio da atuação de Pat Buchannan e outros
agentes do Partido Republicano.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
Olavo de Carvalho
16
,
instrumento central
da
declarada pelas
novas
brasileiras ao “marxismo
cultural”.
se transformar em
projeto
pública e ganhar li
nguagem
prescrevendo ações e
deveres
exemplifica como aquela
tese,
por think tanks dos EUA
e
para o Brasil nas
produções
Carvalho, têm
produzido
concretos na realidade
recente.
Antes de iniciarmos
a
caso de Belo Horizonte,
os desdobramentos
das
submetidas ao Senado
Federal
Assembleia Legislativa
de
ambas em 2016. Na
Câmara
projeto
17
de autoria do
Senador
Malta foi
apresentado,
Presidente da Comissão
de
Cultura e Esporte do
Senado
Cristovam Buarque,
emitiu
contrário,
alegando
16
Ver:
https://www.metropoles.com/brasil/politica
brasil/nao-quero-pregacao-
anticomunista
nagib-do-escola-sem-
partido. Acesso em
ago. 2020.
17
Disponível em:
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/ma
terias/-/materia/125666
. Acesso em: 15 jul.
2020.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
tornar-se
da
guerra
novas
direitas
cultural”.
Ao
projeto
de política
nguagem
jurídica,
deveres
, o ESP
tese,
gerada
e
importada
produções
de
produzido
efeitos
recente.
a
análise do
ressaltamos
das
propostas
Federal
e à
de
Alagoas,
Câmara
Alta, o
Senador
Magno
apresentado,
mas o
de
Educação,
Senado
à época,
emitiu
parecer
alegando
sua
https://www.metropoles.com/brasil/politica
-
anticomunista
-diz-
partido. Acesso em
: 25
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/ma
. Acesso em: 15 jul.
inconstitucionalidade
18
de Alagoas, o projeto
Livre” chegou a ser
jamais entrou em
vigor,
pelo governador
Renan
Filho. A Câmara,
ent
derrubar o
impedimento,
exigiu voto favor
ável
absoluta dos
parlamentares
demonstrou a
importância
para os deputados
e
da pauta
19
. Logo
depois,
Educação
Aloizio
protocolou uma
Ação
Inconstitucionalidade
analisada no
Supremo
Federal pelo
Ministro
Barroso, que
entendeu
preceitos do projeto
j
pela Constituição, e
que
estimular o
pluralismo
proposta vedaria
certas
correntes de
pensamento,
18
Disponível em:
https://legis.senado.leg.br/sdleg
getter
/documento?dm=7268020&ts=15939301
78001&disposition=inline
. Acesso em: 15 jul.
2020.
19
Disponível em:
http://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2016/04/
deputados-de-alagoas-
decidem
ao-projeto-escola-
livre.html
2020.
149
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
18
. no Estado
intitulado “Escola
aprovado, porém
vigor,
foi vetado
Renan
Calheiros
ent
ão, optou por
impedimento,
medida que
ável
da maioria
parlamentares
e
importância
do projeto
e
a força eleitoral
depois,
o Ministro da
Aloizio
Mercadante
Ação
Direta de
(ADIN),
Supremo
Tribunal
Ministro
Luiz Roberto
entendeu
que os
j
á eram previstos
que
, mais do que
pluralismo
ideológico, a
certas
opiniões e
pensamento,
não se
https://legis.senado.leg.br/sdleg
-
/documento?dm=7268020&ts=15939301
. Acesso em: 15 jul.
http://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2016/04/
decidem
-derrubar-veto-
livre.html
. Acesso em: 15 jul.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
coadunando com os
democracia
20
.
Na esteira d
essas
anteriores, o projeto da
“Lei
Sem Partido” foi
submetido
Municipal de Belo
Horizonte
de 2017. Cabe assinalar
que,
das inclinações político-
eleitorais,
rejeição à agenda do PT
começou
notabilizar na capital
mineira
2010, quando Dilma
Rousseff
menos votos do que José
Serra
pleitos seguintes, o
percentual
votos recebidos pelo
partido
diminuir
22
, e em 2018
recebeu em BH 65%
válidos, contra 34%
para
Haddad
23
. Se podemos
desses breves dados,
diríamos
20
Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2017-
mar
22/liminar-suspende-lei-alagoas
-
programa-escola-livre
. Acesso em: 15 jul.
2020.
21
Disponível em:
http://g1.globo.com/especiais/eleicoes
2010/noticia/2010/11/veja-
votacao
serra-nas-cidades-com-mais-de
-
eleitores.html. Acesso em
: 30 ago. 2020.
22
Ver:
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/201
4/10/27/interna_politica,584070/aecio
em-bh-e-na-maioria-dos-
municipios
metropolitana.shtml. Acesso em
: 30 ago. 2020.
23
Ver:
https://www.em
.com.br/app/noticia/politica/201
8/10/28/interna_politica,1000942/em
horizonte-bolsonaro-teve-65-6-
dos
validos-e-haddad-
34.shtml. Acesso
ago. 2020.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
pilares da
essas
iniciativas
“Lei
da Escola
submetido
à Câmara
Horizonte
em junho
que,
no plano
eleitorais,
a
começou
a se
mineira
em
Rousseff
recebeu
Serra
21
. Nos
percentual
de
partido
fez
Bolsonaro
dos votos
para
Fernando
inferir algo
diríamos
que os
mar
-
-
criou-
. Acesso em: 15 jul.
http://g1.globo.com/especiais/eleicoes
-
votacao
-de-dilma-e-
-
200-mil-
: 30 ago. 2020.
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/201
4/10/27/interna_politica,584070/aecio
-venceu-
municipios
-da-regiao-
: 30 ago. 2020.
.com.br/app/noticia/politica/201
8/10/28/interna_politica,1000942/em
-belo-
dos
-votos-
34.shtml. Acesso
em: 30
humores políticos
acompanharam a
deriva
antipetismo e da
negação
tradicional, ideia
que
reforçada quando
vitória, em 2016, do
prefeito
Kalil (PHS). Em
candidatura a um
cargo
dirigente do
Atlético
conhecido pelo
falastrão e
polêmico,
Leite, que contava
com
PSDB e o apoio de
Aécio
Em meio a
político, a
apreciação
capital mineira
envolveu
civil e a classe
pol
controvérsia em
torno
“ideologia de
“doutrinação em
sala
texto do projeto
concepções de
direitos
se colocavam como
rivais:
de ensinar do
docente,
liberdade de consciê
ncia
do estudante, ou
seja,
o seu conhecimento
seja manipulado,
para
ideológicos, pela
24
Ver:http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/
silinternet/servico/download/documentoVincula
do?
idDocumento=2c907f765c8e8a2d015cc59
a860d1711 .Acesso em
: 30 ago. 2020.
150
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
na cidade
deriva
nacional do
negação
da política
que
pode ser
lembramos da
prefeito
Alexandre
sua primeira
cargo
público, o ex-
Atlético
Mineiro,
temperamento
polêmico,
derrotou João
com
a máquina do
Aécio
Neves.
esse contexto
apreciação
do ESP na
envolveu
a sociedade
pol
ítica em uma
torno
das noções de
nero” e de
sala
de aula”. No
de lei
24
, duas
direitos
fundamentais
rivais:
a liberdade
docente,
contraposta à
ncia
e de crença
seja,
o direito de “que
da realidade não
para
fins políticos e
ação dos
Ver:http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/
silinternet/servico/download/documentoVincula
idDocumento=2c907f765c8e8a2d015cc59
: 30 ago. 2020.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
professores”. Isso porque
notório que professores e
livros didáticos” vinham
utilizando
aulas e obras para fazer
com
alunos “adotem padrões
de
e de conduta moral -
especialmente
moral sexual - incompatí
veis
que lhes o ensinados
por
ou responsáveis”.
A autoria do
projeto
dividida por 21
vereadores
diferentes partidos, fato
que
singularidade do caso
mineiro,
tradicionalmente,
projetos
possuem apenas um
proponente
imediato, fica nítida a
força
a sua capacidade de
políticos de diversos
perfis
se uma espécie de
suprapartidário em Belo
Horizonte.
Câmara Municipal
possui
assentos, e apenas os
21
do programa
garantiriam
para aprová-lo.
No entanto, o que
trâmites relacionados à
sua
ou seja, a passagem
pelas
Parlamentares
pertinentes
mérito
25
, foi uma
sequência
25
Nesse sentido, vale observar o Título X do
regimento interno da Câmara Municipal de
Belo Horizonte, que versa acerca do
funcionamento das comissões e de como
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
seria “fato
autores de
utilizando
suas
com
que os
de
julgamento
especialmente
veis
com os
por
seus pais
projeto
de lei foi
vereadores
de 9
que
denota a
mineiro,
que,
projetos
de lei
proponente
. De
força
da pauta e
congregar
perfis
, tornando-
consenso
Horizonte.
A
possui
ali 41
21
signatários
garantiriam
quórum
se viu nos
sua
votação,
pelas
Comissões
pertinentes
a seu
sequência
de
Nesse sentido, vale observar o Título X do
regimento interno da Câmara Municipal de
Belo Horizonte, que versa acerca do
funcionamento das comissões e de como
reviravoltas em
razão
de obstrução
realizados
Isso contribuiu para
votação e o
aquecimento
controvérsia, coma
novos atores ao
redor
Analisaremos a
seguir
projeto de lei pelas
Comissõ
Legalidade e Justiç
a;
Ciência,
Tecnologia,
Desporto, Lazer e
Turismo;
Humanos e Defesa
do
por fim, 4.
Administração
que fosse
encaminhad
em primeiro turno.
durante o processo
que
de junho de 2017 a
os ânimos em torno
se acirrando e
configurando
inflamada disputa.
Após a
apresentação
sua primeira
análise
responsabilidade
da
Legalidade e Justiç
a,
designado para a
tarefa
advogado Irlan
Melo
vereador pela
primeira
Em seu parecer,
Melo
funcionam os critérios par
a a escolha das
comissões de acordo com a natureza do
projeto de lei. Disponível em:
https://leismunicipais.com.br/regimento
interno-belo-horizonte-mg
. Acesso em: 15 jul.
2020.
151
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
razão
de mecanismos
realizados
pela oposição.
o adiamento da
aquecimento
da
mobilização de
redor
do debate.
seguir
o percurso do
Comissõ
es de: 1.
a;
2. Educação,
Tecnologia,
Cultura,
Turismo;
3. Direitos
do
Consumidor; e,
Administração
Pública, até
encaminhad
o para votação
Veremos que,
que
se estendeu
outubro de 2019,
da matéria foram
configurando
uma
apresentação
do projeto,
análise
foi de
da
Comissão de
a,
sendo o relator
tarefa
o teólogo e
Melo
(PSD), eleito
primeira
vez em 2016.
Melo
enfatizou que o
a a escolha das
comissões de acordo com a natureza do
projeto de lei. Disponível em:
https://leismunicipais.com.br/regimento
-
. Acesso em: 15 jul.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
projeto teria amparo
constitucional
estaria respaldado por
forte
popular, sob a
justificativa
“descontaminação e
polização política e
ideoló
escolas”
26
. Para que se
fizesse
preceito constitucional
do
na questão da educaçã
o,
recomendava a
transformação
projeto em lei.
A próxima
apreciaçã
por parte da Comissão
de
Ciência, Tecnologia,
Desporto, Lazer e
Turismo,
tradicionalmente na
Câmara
Vereadores de Belo
Horizonte
o comando de partidos à
esquerda.
a partir desse
momento
ambiente em torno da
proposta
a ganhar nuances tensas,
de esquerda da
Câmara
diversos recursos
previsto
regulamento para
postergar
apreciação, fazendo
também
queprofessores
vinculados
sindicatos e movimentos
passassem a
acompanhar
de forma mais próxima.
26
Ver:
http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinter
net/servico/download/documentoVinculado?id
Documento=2c907f765d425300015d570a18a
d095b. Acesso em
: 30 ago. 2020.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
constitucional
e
forte
demanda
justificativa
da
desmono-
ideoló
gica das
fizesse
valer o
do
pluralismo
o,
o relator
transformação
do
apreciaçã
o se deu
de
Educação,
Cultura,
Turismo,
que,
Câmara
dos
Horizonte
, fica sob
esquerda.
Foi
momento
que o
proposta
passou
que a ala
Câmara
manejou
previsto
s pelo
postergar
a sua
também
com
vinculados
a
coletivistas
acompanhar
a questão
http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinter
net/servico/download/documentoVinculado?id
Documento=2c907f765d425300015d570a18a
: 30 ago. 2020.
O nome
indicado
para realizar a
relatoria
Professor Wendel
Mesquita,
Solidariedade.
Conforme
lamento da
Câmara
designado não
apresente
prazo de 30 dias,
Comissão pode
solicitar
parlamentar que o
ocorreu: após
decorrido
apresentação do
parecer,
vereador pelo PC
doB,
como o novo
responsável
em agosto de
2017.
forma outra
manobra
oposição: ao
solicitar
diligência
27
para
a
Educação do
Municí
conseguiu adiar em
para a apreciação
da
outubro de
2017,
professor de
biologia
do Sindicato de
Professores
Gerais,
apresentou
expressamente
contr
que chamou de “lei
da
27
Ver:
http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinter
net/servico/download/documentoVinculado?id
Docum
ento=2c907f765dd2bd0a015df5296222
1022. Acesso em 2 set.
2020.
28
Ver:
http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinter
net/servico/download/documentoVinculado?id
152
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
indicado
pela Comissão
relatoria
foi do vereador
Mesquita,
do partido
Conforme
o regu-
Câmara
, caso o relator
apresente
o parecer no
o presidente da
solicitar
a outro
faça. E assim
decorrido
o prazo sem
parecer,
Gilson Reis,
doB,
foi nomeado
responsável
pela tarefa
2017.
Eis que tomou
manobra
por parte da
solicitar
um pedido de
a
Secretaria de
Municí
pio, o relator
60 dias o prazo
da
proposta. Em
2017,
Gilson Reis,
biologia
e ex-presidente
Professores
de Minas
apresentou
relatoria
contr
ária ao projeto,
da
mordaça”
28
.
http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinter
net/servico/download/documentoVinculado?id
ento=2c907f765dd2bd0a015df5296222
2020.
http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinter
net/servico/download/documentoVinculado?id
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
Nesse ínterim, o
Público Federal (MPF)
encaminhou
ofícios à Câmara
Municipal
Horizonte e aos
presidentes
comissões
responsáveis
apreciação do projeto,
inconstitucionalidade da
nos moldes do ESP,
posicionamento prévio
do
Tribunal Federal
29
.
Contudo,
sob o alerta e a rejeição
de
Comissões, o projeto
rumou
análise, dessa vez na
Comissão
Direitos Humanos e
Defesa
Consumidor, sendo
encarregado
relatoria o vereador
Mateus
do Partido Novo. O
parlamentar
parecer
30
favorável ao
massugeriu emendas
em
artigos, que acarretaram
de sua relatoria pela
Comissão.
seu lugar, foi designada
a
Áurea Carolina, do PSOL,
cujo
vetou a proposta, sob o
argumento
que os estudantes
deveriam
Documento=2c907f765ecd6939015ef2f558d61
bd0. Acesso em: 2 set. 2020.
29
Ver: https://veja.abril.com.br/
politica/mpf
a-camara-de-bh-que-escola-
sem
inconstitucional/. Acesso em
: 2 set. 2020.
30
Ver:
http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinter
net/servico/download/documentoVinculado?id
Documento=2c907f765f0848d8015f5474deaa
2f1b. Acesso em: 2 set. 2020.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Ministério
encaminhou
Municipal
de Belo
presidentes
das
responsáveis
pela
reforçandoa
legislações
conforme
do
Supremo
Contudo,
mesmo
de
uma das
rumou
para nova
Comissão
de
Defesa
do
encarregado
da
Mateus
Simões,
parlamentar
deu
projeto,
em
alguns
na rejeição
Comissão.
Em
a
vereadora
cujo
parecer
argumento
de
deveriam
receber
Documento=2c907f765ecd6939015ef2f558d61
politica/mpf
-diz-
sem
-partido-e-
: 2 set. 2020.
http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinter
net/servico/download/documentoVinculado?id
Documento=2c907f765f0848d8015f5474deaa
“uma educação
plena
democrática, não
restrita às
convicç
familiares”
31
.
Por fim, na
Administração
Pública,
sob encargo de
Pedro
membro do
Podemos
artifício da
apresentação
para adiar o prazo
de
relatoria. O
projeto
Comissão em
fevereiro
ter seu parecer
apreciado,
à Presidência da
votação em
primeiro
inicial da controv
é
mineira
representou
embateinterno à
mara,
representantes
políticos
institucionais.
O projeto de
lei
pauta para votação
2019, após o
período
majoritárias no
país.
progressista na
casa
parlamentares
Bella
(suplente da
Deputada
Áurea Carolina) e
Cida
31
Ver:
http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinter
net/servico/download/documentoVinculado?id
Documento=2c907f765f786e7f015f9cb0eb181
062. Acesso em
: 2 set. 2020.
153
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
plena
, plural e
podendo estar
convicç
ões de seus
Comissão de
Pública,
a relatoria ficou
Pedro
Bueno, então
Podemos
, que recorreu ao
apresentação
de diligências
de
apresentação da
projeto
deixou essa
fevereiro
de 2018 sem
apreciado,
retornando
Câmara, para
primeiro
turno. A fase
é
rsia na capital
representou
assim um
mara,
envolvendo
políticos
e manobras
lei
retornaria à
em setembro de
período
das eleições
país.
Uma bancada
casa
congregou os
Bella
Gonçalves
Deputada
Federal eleita
Cida
Falabella, do
http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinter
net/servico/download/documentoVinculado?id
Documento=2c907f765f786e7f015f9cb0eb181
: 2 set. 2020.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
PSOL; Pedro Patrus e
Arnaldo
do PT; Gilson Reis, do
Pedro Bueno, eleito pelo
PTN,
da votação no
Podemos
vereadores compuseram
de oposição,
empenhada
definiram como
processo
obstrução democrática
Escola Sem Partido”
32
,
ensejado
requerimentose outros
recursos
adiaram a votação por 13
dias.
Nas sessões
ocorridas
período, foram
registrados
xingamentos e
tumultos
assentos destinados a
membros
sociedade civil totalmente
preenchidos
por professores, estudant
es,
de sindicatos e
relacionadas à educaçã
o,
apoiadores do ESP
34
. O
conflito deu-se em 9
de
daquele ano, quando, nas
opositores do
projeto
32
Ver:
https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/deba
te-sobre-o-projeto-escola-sem-
partido
confusão-na-câmara-de-bh-veja
-
v%C3%ADdeo-
1.748418. Acesso
2020.
33
Ver:
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/201
9/10/14/interna_politica,1092707/escola
partido-bh-e-a-primeira-capital-a
-
projeto-na-camar.shtml. Acesso
em
2020.
34
Idem à nota anterior.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Arnaldo
Godoy,
PCdoB; e
PTN,
à época
Podemos
. Tais
uma frente
empenhada
no que
processo
de
ao projeto
ensejado
por
recursos
que
dias.
33
ocorridas
nesse
registrados
gritos,
tumultos
, com os
membros
da
preenchidos
es,
membros
instituições
o,
além de
estopim do
de
outubro
galerias, os
projeto
se
https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/deba
partido
-gera-
-
o-
1.748418. Acesso
em: 2 set.
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/201
9/10/14/interna_politica,1092707/escola
-sem-
-
aprovar-
em
: 2 set.
desentenderam com
os
Câmara, logo após
o
Reis ser ofendido
por
apoiadores da
proposta
Municipal foi
convocada
os seguranças, e um
do Sindicato dos P
rofessores
Municipal de
Belo
(SindRede) foi
acometido
golpe, ficando
Comentando o caso
na
seguinte, a
vereadora
reverberou o
sentido
controvérsia: “o
Escola
um projeto que nos
por isso estamos
dando
ele”
37
.
Por
recomendação
departamento de
Câmara, a
vereadora
presidente da
Casa
todos os civis da
retirados para que se
35
Disponível em:
https://g1.globo.com/mg/minas
gerais/noticia/2019/10/09/votacao
sem-partido-tem-
confusao
bh.ghtml. Acesso em
: 15 jul. 2020
36
Disponível em:
https://www.facebook.com/gilsonreis65/phot
a.528915523807421/2662577833774502/?typ
e=3&theater. Acesso em
: 15 jul. 2020
37
Disponível em:
https://www.brasildefatomg.com.br/2019/10/10/
votacao-do-escola-sem-
partido
agressoes-na-camara-de
-
Acesso em: 15 jul. 2020.
154
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
os
seguranças da
o
vereador Gilson
por
manifestantes
proposta
35
. A Guarda
convocada
para auxiliar
docente membro
rofessores
da Rede
Belo
Horizonte
acometido
por um
desacordado
36
.
na
sessão do dia
vereadora
Cida Falabella
sentido
apaixonado da
Escola
com Mordaça é
fere de morte, e
dando
a vida por
recomendação
do
segurança da
vereadora
Nelly Aquino,
Casa
, ordenou que
galeria fossem
desse sequência
https://g1.globo.com/mg/minas
-
gerais/noticia/2019/10/09/votacao
-do-escola-
confusao
-na-camara-de-
: 15 jul. 2020
.
https://www.facebook.com/gilsonreis65/phot
os/
a.528915523807421/2662577833774502/?typ
: 15 jul. 2020
.
https://www.brasildefatomg.com.br/2019/10/10/
partido
-provoca-
-
vereadores-de-bh.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
à votação
38
. Em seu site,
definiu a atitude nos
seguintes
“presidente da Câmara
manda
em professores para
aprovar
com Mordaça’’
39
. A
sess
retomada com portões
fechados
acirramento do clima de
antagonismo:
vereadores contrários
a
ressaltavam o gesto
antidemocr
da presidente da
Câmara
simbolicamente excluíra a
presença
povo do processo decis
ório.
isso, os parlamentares
favoráveis
projeto bradavam contra
os
utilizados pelos oponentes
o prazo para início da
votaçã
as manobras impediam
projetos entrassem na
pauta
todos os órgãos se
posicionassem
quanto à matéria.
40
Na fila para subir
arguir um dos
requerimentos
38
Disponível em:
https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/deba
te-sobre-o-projeto-escola-sem-
partido
confus%C3%A3o-na-
c%C3%A2mara
veja-o-v%C3%ADdeo-1.748418
. Acesso
15 jul. 2020.
39
Disponível em:
http://redebh.com.br/nely
manda-bater-em-professor/
. Acesso
2020.
40
Disponível em:
https://www.hojeemdia.com.br/primeiro
plano/pauta-congelada-escola-
sem
impede-
tramita%C3%A7%C3%A3o
propostas-no-legislativo-de-bh-
1.748713
Acesso em: 6 set. 2020.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
o SindRede
seguintes
termos:
manda
bater
aprovar
Escola
sess
ão foi
fechados
e o
antagonismo:
a
o projeto
antidemocr
ático
Câmara
, que
presença
do
ório.
Enquanto
favoráveis
ao
os
recursos
para dilatar
votaçã
o, que
que outros
pauta
a que
posicionassem
à tribuna e
requerimentos
https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/deba
partido
-gera-
c%C3%A2mara
-de-bh-
. Acesso
em:
http://redebh.com.br/nely
-
. Acesso
em: 15 jul.
https://www.hojeemdia.com.br/primeiro
-
sem
-partido-
tramita%C3%A7%C3%A3o
-de-
1.748713
.
apresentados, os
vereadores
Gonçalves, do
PSOL,
Simões, do Partido
Novo,
pela posse do
microfone
Gilson Reis
interveio
travou com Mateus
Simões
de empurrões
41
.
Ap
adiamentos,
finalmente
ocorreu no dia 11 de
com 33
parlamentares
placar foi de 25
votos
projeto e 8 contr
ários
organizou, para
paralisação de
professores
municipal de
ensino
80% das escolas
de
haviam suspendido
as
lado, a S
ecretaria
Educação afirmou
escolas estavam
normalmente
43
.
Foram
protestos de
importantes
41
Disponível em:
https://www.em.com.br/app/notic
/10/10/interna_gerais,1091825/mateus
simoes-pede-desculpas-
mas
pretende-acionar-
justica.shtml
set. 2020.
42
Ver:
http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinter
net/servico/download/documentoVinculado?id
Documento=2c907f7
66d980c0c016dcc86eb11
232a. Acesso em
: 15 jul. 2020
43
Disponível em:
https://www.otempo.com.br/politica/professore
s-protestam-contra-
escola
fechamento-de-galeria-
1.2248020. Acesso em:
15 jul. 2020.
155
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
vereadores
Bella
PSOL,
e Mateus
Novo,
digladiaram
microfone
do plenário;
interveio
na confusão e
Simões
uma troca
Ap
ós mais dois
finalmente
a votação
outubro de 2019:
parlamentares
presentes, o
votos
a favor do
ários
42
. O SindRede
a data, uma
professores
da rede
ensino
, alegando que
de
Belo Horizonte
as
aulas. Por outro
ecretaria
Municipal de
que 94% das
funcionando
Foram
registrados
importantes
instituições
https://www.em.com.br/app/notic
ia/gerais/2019
/10/10/interna_gerais,1091825/mateus
-
mas
-gilson-reis-
justica.shtml
. Acesso em: 6
http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinter
net/servico/download/documentoVinculado?id
66d980c0c016dcc86eb11
: 15 jul. 2020
.
https://www.otempo.com.br/politica/professore
escola
-sem-partido-e-
1.2248020. Acesso em:
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
de ensino da capital
mineira,
porta da Câmara
manifestações da União
Nacional
Estudantes, da Central
Popular, do Movimento
Universidade Popular e
do
Para Todos
44
.
Tendo sido
aprovado
em primeiro turno, o
projeto
Escola Sem Partido”
permanece
pauta da Câmara,
onde
passar por comissões
temáticas
apreciarão emendas à
proposta,
que volte a plenário para
votação
Se aprovado, o projeto
encaminhado à sanção
do
cidade. Alexandre Kalil,
cujo
mandato à frente de
Belo
termina em 2020, se
mostrou
dos vereadores que
proposta, classificando o
projeto
como “estúpido e idiota”.
45
No momento
elaboramos este artigo, a
controvérsia
em torno do Escola Sem
44
Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/90anos/201
8/10/18/interna_90_anos,998196/conheca
escolas-publicas-que-contam-a-
historia
belo-
horizonte.shtml. Acesso em: 15 jul. 2020.
45
Ver:
https://educacao.uol.com.br/noticias/2019/10/1
4/vereadores-aprovam-em-1-tur
no
sem-partido-em-bh.htm. Acesso
2020.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
mineira,
e, na
Municipal,
Nacional
dos
Sindical e
por uma
do
Coletivo
aprovado
apenas
projeto
“Lei do
permanece
na
onde
voltará a
temáticas
que
proposta,
antes
votação
final.
deverá ser
do
prefeito da
cujo
primeiro
Belo
Horizonte
mostrou
crítico
apoiam a
projeto
de lei
em que
controvérsia
Partido em
https://www.em.com.br/app/noticia/90anos/201
8/10/18/interna_90_anos,998196/conheca
-as-
historia
-de-
horizonte.shtml. Acesso em: 15 jul. 2020.
https://educacao.uol.com.br/noticias/2019/10/1
no
-escola-
em: 5 set.
Belo Horizonte
parece
um desfecho, sendo
capaz
novos atores em
torno
visões
contrastantes.
descrever uma
parte
não é,
obviamente,
sentido histórico
final,
como o conflito
tem
diferentes partes
e
fazendo com que
os
pauta mobilizem
afetos,
medidas jurídicas e
capitais
Em abril de
2020,
forma colegiada um
a
um projeto de
aprovado no
município
(GO) em 2015, o
determinar que
apenas
competência para
editar
ao currículo
escolar
medida foi um
golpe
Escola Sem
Partido,
oficiais se
pronunciaram
sobre o risco que a
representava à
classe
país:
Ao declarar a
de leis q
pro
gênero no
ensino
pode acabar
levando
justiça c/as pr
óprias
46
Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticia
Stf/anexo/ADPF457.pdf. Acesso
2020.
156
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
parece
ainda longe de
capaz
de engajar
torno
de si, com
contrastantes.
O objetivo em
parte
dessa disputa
obviamente,
delimitar seu
final,
mas observar
tem
configurado
e
antagonismos,
os
argumentos em
afetos,
protestos,
capitais
políticos.
2020,
ao julgar de
a
ADIN acerca de
lei semelhante,
município
de Nova Gama
STF voltou a
apenas
a União teria
editar
leis atinentes
escolar
no Brasil
46
. A
golpe
ao movimento
Partido,
cujos perfis
pronunciaram
com um alerta
decisão do STF
classe
docente do
inconstitucionalidade
pro
íbem ideologia de
ensino
fundamental, STF
levando
pais a fazer
óprias
mãos p/defender
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticia
Stf/anexo/ADPF457.pdf. Acesso
em: 15 jul.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
a integridade
psíquica
seus filhos e o
direito
educá-los.
Professores
cuidem.
47
IV. Considerações Finais
Entendemos que,
dentemente do
encaminhamento
formal que o projeto do
ESP
tomar em Belo
Horizonte,
aprovação da proposta
em
turno é significativa
pelos
interesses que
revela.
buscamos demonstrar, a
tese do marxismo
cultural
conveniência enquanto
política podem ser
verificadas
repercussão legislativa
do
Brasil, pauta que,
mesmo
encerramento do ciclo
Governo Federal,
parece
produzindo diferentes
rendimentos
políticos.
A despeito dessa
popularidade,
interessa destacar que a
proposta
ESP não é consensual
sequer
novas direitas. O própr
io
Carvalho se
manifestou
urgência que caracteriza
o
na atualidade brasileira,
uma
lhe faltariam subsídios
concretos
47
Disponível em:
https://twitter.com/escolasempartid/status/1254
168786699255812. Acesso em
: 15 jul. 2020
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
psíquica
e moral dos
direito
sagrado de
Professores
que se
indepen-
encaminhamento
ESP
venha a
Horizonte,
a mera
em
primeiro
pelos
ânimos e
revela.
Como
eficácia da
cultural
e sua
plataforma
verificadas
pela
do
ESP no
mesmo
após o
do PT no
parece
seguir
rendimentos
popularidade,
proposta
do
sequer
entre as
io
Olavo de
manifestou
contrário à
o
movimento
uma
vez que
concretos
para
https://twitter.com/escolasempartid/status/1254
: 15 jul. 2020
.
positivar em lei
as
proteção à suposta
esquerda nas
escolas.
de 2018, o escritor
afirmou
à medida que o
direção de um
projeto
se complica,
porque
prematuro,
pelo
existe
documentaçã
respeito do
esquerdismo
universidades).
começar um
debate
ter o debate
científico
que colocaram
dos bois. Nós
n
quantitativa da
hegemonia
no ensino, e
esfera do
argumento
A declaração
tese do marxismo
audiência brasileira
demonstra
“argumento
retórico”
difundir no país
assumiu
chamando atenção
acontece no interior
Assim como a
bibliografia
curso da
Universidade
capaz de desavir
os
1980, sob a
alegação
uma indígena
guatemalteca
ameaça à civilização
circulação de ideias
no
parece representar
hoje
risco para
segmentos
48
Ver:
https://catracalivre.com.br/cidadania/olavo
carvalho-critica-escola-
sem
em: 20 fev. 2020.
157
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
as
medidas de
doutrinação da
escolas.
Em entrevista
afirmou
que
movimento evolui na
projeto
de lei, a coisa
porque
o projeto de lei é
pelo
fato de que não
documentaçã
o científica a
problema (do
nas escolas e
Você não pode
debate
legislativo sem
científico
primeiro. Acho
a carroça na frente
n
ão temos uma visão
hegemonia
comunista
ainda estamos na
argumento
retórico.
48
do tradutor da
cultural para a
demonstra
que o
retórico”
que ajudou a
assumiu
vida própria,
para o que
da sala de aula.
bibliografia
daquele
Universidade
Stanford foi
os
EUA nos anos
alegação
de que o livro de
guatemalteca
seria uma
ocidental, a livre
no
espaço escolar
hoje
também um
segmentos
da população
https://catracalivre.com.br/cidadania/olavo
-de-
sem
-partido/. Acesso
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
brasileira e uma
oportunidade
diferentes projetos
políticos.
Como vimos, o
criado por Miguel Nagib
nasceu
momento no qual a alian
ça
conservadora, hoje
aparentemente
hegemônica na cena
política
ainda ensaiava sua
reativação.
sucessão de
acontecimentos
deram a partir do segundo
Lula que a pauta pôde
se
sendo decisivamente
impulsionada
pela roupagem
moralizante
ESP uma plataforma de
suposta presença da
“ideologia
gênero” nas escolas
(MIGUEL,
Esse elemento-chave
para
movimento, em suas
implicações
o fortalecimento das
conservadoras no país,
aponta
oscilantes concepções
de
que estruturam as
educacionais brasileiras.
Vale lembrar que,
pelo
7.107/2010, o próprio
governo
concedeu benefícios
jurídicos
Católica no país e
predispôs
perigosa abertura ao
modelo
religioso confessional
nas
públicas. Esse acordo
firmado
Santa foi um dos
mais
eventos de uma longa
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
oportunidade
para
políticos.
movimento
nasceu
em um
ça
ultraliberal-
aparentemente
política
brasileira,
reativação.
Foi na
acontecimentos
que se
mandato de
se
consolidar,
impulsionada
moralizante
que fez do
denúncia à
“ideologia
de
(MIGUEL,
2016).
para
o êxito do
implicações
com
posições
aponta
para as
de
laicidade
políticas
pelo
Decreto
governo
Lula
jurídicos
à Igreja
predispôs
uma
modelo
de ensino
nas
escolas
firmado
com a
mais
recentes
história de
transações que
fizeram
e mais espe
cialmente
romano, ser
naturalizado
referência de
religiosidade
moralidade no
cotidiano
brasileiras. No
período
exemplo, a
oferta
obrigatória
“Instrução
sancionava a
difusão
simbolismos e
valores
detrimento de
outros
perspectivas morais.
Tal presença
foi
contexto de
elaboração
primeira
Constituição,
1891, no qual a
determinação
laicidade do ensino
resultou de uma
ampla
“liberais e maçons,
que
ser católicos, se
protestantes e aos
formação de
uma
(CUNHA, 2017, p.
213).
que Cunha
qualificou
primeira onda laica,
de diversos
retrocessos
século XX. Segundo
com a
Assembleia
Constituinte, na
década
Brasil assistiria a
uma
laica,
fundamentada
158
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
fizeram
o cristianismo,
cialmente
o catolicismo
naturalizado
como
religiosidade
e
cotidiano
das escolas
período
imperial, por
oferta
da disciplina
“Instrução
Religiosa”
difusão
didática dos
valores
católicos, em
outros
credos e
foi
combatida no
elaboração
de nossa
Constituição,
promulgada em
determinação
da
público no Brasil
ampla
oposição:
que
bem podiam
juntaram aos
positivistas na
uma
frente laica
213).
Esse feito,
qualificou
como nossa
tornou-se objeto
retrocessos
ao longo do
o autor, apenas
Assembleia
Nacional
década
de 1980, o
uma
segunda onda
fundamentada
nos anseios
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
inclusivos e pluralistas que
elaboração da Carta
Cidadã.
O contexto em que
esses
parecem se colocar sub
judice
pano de fundo da
apresentação
ESP em uma capital
Horizonte. Cabe notar, a
partir
vimos, como as
diferentes
conflito se colocam como
da Constituição de 1988,
a linguagem dos direitos
fundamentais
para defender causas
distintas.
É assim que o
projeto
evocando a Convenção
sobre Direitos Humanos,
postula
“o direito dos pais dos
alu
seus filhos recebam
a
religiosa e moral que
esteja
com as suas próprias
convicç
sendo vetado ao professor
dizer aos filhos dos
outros
verdade em matéria de
moral”. em sua
apre
projeto
50
, a então
vereadora
Carolina enfatizaria o
49
Ver:
http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinter
net/servico/download/documentoVinculado?id
Documento=2c907f765c8e8a2d0
1711. Acesso em: 4 set. 2020.
50
Ver:
http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinter
net/servico/download/documentoVinculado?id
Documento=2c907f765f786e7f015f9cb0eb181
062. Acesso em: 4 set. 2020.
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
pautaram a
Cidadã.
esses
ideais
judice
forma o
apresentação
do
como Belo
partir
do que
diferentes
partes do
defensoras
mobilizando
fundamentais
distintas.
projeto
de lei
49
,
Americana
postula
sobre
alu
nos a que
a
educação
esteja
de acordo
convicç
ões”,
“o direito de
outros
o que é a
religião ou
apre
ciação do
vereadora
Áurea
direito do
http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinter
net/servico/download/documentoVinculado?id
Documento=2c907f765c8e8a2d0
15cc59a860d
http://cmbhsildownload.cmbh.mg.gov.br/silinter
net/servico/download/documentoVinculado?id
Documento=2c907f765f786e7f015f9cb0eb181
estudante aprender
ensinar, havendo “lim
pais no que concerne
de educação
que
ministrada aos seus
vê, o que parece
estar
disputa a respeito
direitos fundamentais
:
prevalecem as
liberdades
aos indivíduos,
sejam
ou alunos, ou se,
personagem da
família
prerrogativa de
definir
horizonte da
formação
idade.
Não deve
assim
gesto casual o
surgimento
de atuação
dedicado
“Família” dentre
as
Ministério dos
Direitos
quadro do governo
Bolsonaro.
comando da
advogada
Damares Alves, a
pasta
àquele imperativo
entendimentos do
que
sua sociedade,
organizado
da uniformidade
política,
religiosa. Em 2019,
lançamento da
Frente
Defesa do
Homeschooling
domiciliar), a
Ministra
adoção da prática,
159
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
e do professor
ites do direito dos
à escolha do tipo
que
deverá ser
filhos”. Como se
estar
em jogo é uma
do sujeito dos
:
se, por um lado,
liberdades
garantidas
sejam
eles docentes
por outro, é o
família
que detém a
definir
sozinho o
formação
dos menores de
assim
parecer um
surgimento
de um ramo
dedicado
à noção de
as
funções do
Direitos
Humanos, no
Bolsonaro.
Sob o
advogada
e pastora
pasta
parece acenar
de produzir
que
são o país e
organizado
pelo ideal
política,
cultural e
na cerimônia de
Frente
Parlamentar em
Homeschooling
(ensino
Ministra
defendeu a
que seria “direito
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
dos pais decidir sobre a
educação
seus filhos, é uma
questão
humanos”
51
. Aos esforços
de
cabe então o
acompanhamento
como as concepções
das
fundamentais - dentre
elas
ensinar e aprender -
continuar a ser
desafiadas
controvérsias públicas,
nas
figura da família desponta
sujeito privilegiado de
direitos.
Referências
bibliográficas
AZEVEDO, Reinaldo. Por
uma
sem Partido. Veja, São
Paulo,
2008. Disponível em:
https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/p
or-uma-escola-sem-
partido/.
em: 15 jul. 2020.
BEDINELLI, Talita. A
educaç
brasileira no centro de
uma
ideológica. El País Brasil,
Polí
de junho de 2016. Disponí
vel
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/2
2/politica/1466631380_123983.html?id
_extern
o_rsoc=FB_CM?rel=mas.
Acesso em: 15 jul. 2020.
BRIDI, Carla; BERALDO,
Paulo.
é ‘marxismo cultural‘ e por
que
debatido? Estadão, São
Paulo,
11 abr. 2019. Disponível
em:
https://politica.estadao.com.br/noticias/
geral,o-que-e-marxismo-
cultural
que-ele-e-
debatido,70002786682
Acesso em: 21 fev. 2020.
51
Ver: https://www.gov.br/mdh/pt
-
br/assuntos/noticias/
2019/abril/ministra
damares-defende-educacao-
domiciliar
um-direito-humano. Acesso em
: 6 set
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
educação
dos
questão
de direitos
de
pesquisa
acompanhamento
de
das
liberdades
elas
as de
tendem a
desafiadas
em
nas
quais a
como novo
direitos.
bibliográficas
uma
Escola
Paulo,
19 nov.
https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/p
partido/.
Acesso
educaç
ão
uma
guerra
Polí
tica. 26
vel
em:
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/2
2/politica/1466631380_123983.html?id
o_rsoc=FB_CM?rel=mas.
Paulo.
O que
que
ele é
Paulo,
p. 1-2,
em:
https://politica.estadao.com.br/noticias/
cultural
-e-por-
debatido,70002786682
.
-
2019/abril/ministra
-
domiciliar
-como-
: 6 set
. 2020.
BUCKEL, Sonja;
FISCHER
LESCANO, Andreas.
Gramsci: hegemonia
no
global. Rev. direito
GV
5, n. 2, p. 471-490,
dez.
CARVALHO, Olavo.
Do
cultural. O Globo,
Brasil,
Disponível em:
http://olavodecarvalho.org/do
marxismo-cultural/.
Acesso
mar. 2020.
GALLEGO, Ester;
ORTELLADO,
Pablo; MORETTO,
Márcio
culturais e populismo
manifestações por
apoio
Lava-Jato e contra a
Reforma
daPrevidência. Em
Debate
p. 35-45, ago. 2017.
HUNTER, James
Davison.
Wars: the Struggle to
New York: Basic
Books,
KAMEL, Ali. O que
ensinam
crianças. O Globo,
18
2007. Disponível em:
http://www.ali
kamel.com.br/artigos/que
-ensinam-nossas-
criancas.php
Acesso em: 20 ago.
2020.
LEITE, Vanessa.
“Em
crianças e da família
”:
discursos acionados
por
religiosos
“conservadores”
controvérsias p
úblicas
gênero e
sexualidade.
Soc. (Rio J.), Rio de
Janeiro,
119-14, ago 2019.
MIGUEL, Luis Felipe.
marxista‘‘ à
‘‘ideologia
Escola Sem Partido
e
mordaça no
parlamento
brasileiro. Revista
Direito
de Janeiro, v. 7, ed.
15,
2016.
160
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
FISCHER
-
Reconsiderando
no
direito
GV
, São Paulo, v.
dez.
2009.
Do
marxismo
Brasil,
8 jun. 2002.
http://olavodecarvalho.org/do
-
Acesso
em: 20
ORTELLADO,
Márcio
. Guerras
antipetista nas
apoio
à Operação
Reforma
Debate
, v. 9, n. 2,
Davison.
Culture
define America.
Books,
1991.
ensinam
às nossas
18
de setembro de
kamel.com.br/artigos/que
criancas.php
.
2020.
“Em
defesa das
”:
Refletindo sobre
por
atores
“conservadores”
em
úblicas
envolvendo
sexualidade.
Sex., Salud
Janeiro,
n. 32, p.
Da ‘‘doutrinação
‘‘ideologia
de gênero‘‘-
e
as leis da
parlamento
Direito
e Práxis, Rio
15,
p. 590-621,
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
136-161, março 2021.
MOURA, Fernanda.
''Escola
Partido’’: Relações entre
Estado,
Educação e Religião e os
impactos
ensino de história.
Dissertação(Mestrado
Profissional
História). Universidade
Federal
de Janeiro, Rio de Janeiro,
NAGLE, Angela. Kill All
Normies:
Online Cultural Wars From
Tumblr to Trump and the
Alt
Zero Books, 2017.
NUNES, Rodrigo. Todo
lado
lados. Revista Serrote,
junho
Disponível em:
https://www.revistaserrote.com.br/2020
/06/todo-lado-tem-dois-
lados
rodrigo-nunes/. Acesso em
:
2020.
PRATT, Mary Louise. Me
Ilamo
Rigoberta Menchú y sus
crí
contexto norteamericano.
Debate
Feminista, v. 20, p. 177-
197,
1999.
ROCHA, Camila. ''Menos
Marx
Mises'': Uma gênese da
nova
brasileira(2006-2018).Tese
em Ciência Política). Uni
versidade
São Paulo, São Paulo,
2018.
VENTURINI, Tommaso.
Building
faults: how to represent
controversies
with digital methods.
Public
Understanding of Science,
21
796-812, 2012.
ŽIŽEK, Slavoj.
Aula ministrada em 10
de novembro de 2018 na Cambri
Union. Vídeo d
isponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Yn
Vf1-1hrU
. Acesso em: 16jul
PAULA, Leandro de; IGLESIAS, João Victor. "Meu filho, minhas regras": o
caso do Escola sem partido em Belo Horizonte
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
''Escola
Sem
Estado,
impactos
no
Profissional
em
Federal
do Rio
2016.
Normies:
4chan and
Alt
-Right.UK:
lado
tem dois
junho
de 2020.
https://www.revistaserrote.com.br/2020
lados
-por-
:
20 ago.
Ilamo
crí
ticos en el
Debate
197,
outubro
Marx
mais
nova
direita
(Doutorado
versidade
de
2018.
Building
on
controversies
Public
21
(7), p.
Aula ministrada em 10
de novembro de 2018 na Cambri
dge
isponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Yn
-
. Acesso em: 16jul
. 2020.
161
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
corpos pulsantes. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 162-
17
O espetáculo da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e corpos pulsantes
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
Resumo: Este artigo trata-
se de um recorte na pesquisa de Mestrado em Educação (CANSI, 2019),
centrada na perspectiva dos Estudos com os Cotidianos e referenciada, principalmente, nos trabalhos
acadêmicos de Nilda Alves (2015; 20
pesquisa foi realizada com um grupo de dança de uma Escola Municipal, no estado do Espírito Santo,
no Brasil, adotando como metodologia
analisa
r os movimentos plurais de artes e/ou inventividades presentes na escola. As conversas
permitem perceber as potencialidades existentes nos processos de
incertos e potentes produzidos nesses encontros. Portanto, este arti
redes que ocorrem nas práticas de
para o campo da educação, em busca de uma reflexão sobre a possibilidade do currículo em rede
como um “caminho possível” (AN
Palavras-chave: C
urrículos em redes
El espectáculo de la escuela en movimiento: conversaciones sensibles, temas
cuerpos palpitantes
Resumen:
Este artículo es un extracto de la investigación del Máster en Educación (CANSI, 2019),
centrado en la perspectiva de los Estudios con la Vida Cotidiana y referenciado principalmente en los
trabajos académicos de Nilda Alves (2015; 2017), vea Andrade (20
La investigación se realizó con un grupo de danza de una Escuela Municipal, en el estado de Espírito
Santo, en Brasil,
adoptando como metodología
análisis
de los movimientos plurales de las artes y de las creaciones presentes en la escuela.

nos permiten percibir las potencialidades existentes en los procesos de

y los caminos inciertos y potentes que se producen en es
tanto, este artículo analiza el conocimiento en redes que se pasa en las prácticas de
"
" tejidas en la escuela, con la propuesta de contribuir al campo de la educación, en
1
Patricia Gama TemporimCansi. Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense em
2019. Pedagoga efetiva da Prefeitura Municipal de Cachoeiro de Itapemirim
patriciagamatemporim@hotmail.com
2
Maria Inês Rocha de Sá. Doutora em
2013 e professora do Colégio Pedro II,
https://orcid.org/0000-0003-
4593
Texto recebido em 06/09/20
20,
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Revista Latino
-Americana de Estudos
17
7, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
O espetáculo da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e corpos pulsantes
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
45787
Patricia Gama Temporim
Maria Inês Rocha de Sá
se de um recorte na pesquisa de Mestrado em Educação (CANSI, 2019),
centrada na perspectiva dos Estudos com os Cotidianos e referenciada, principalmente, nos trabalhos
acadêmicos de Nilda Alves (2015; 20
17), vea Andrade (2011) e Michel de Certeau (2014). A
pesquisa foi realizada com um grupo de dança de uma Escola Municipal, no estado do Espírito Santo,
no Brasil, adotando como metodologia

com os praticantes do grupo, com a intenção de
r os movimentos plurais de artes e/ou inventividades presentes na escola. As conversas
permitem perceber as potencialidades existentes nos processos de

incertos e potentes produzidos nesses encontros. Portanto, este arti
go discute os conhecimentos em
redes que ocorrem nas práticas de

tecidas na escola, como a proposta de contribuir
para o campo da educação, em busca de uma reflexão sobre a possibilidade do currículo em rede
como um “caminho possível” (AN
DRADE, 2014) dentro da escola.
urrículos em redes
; corpos em movimento; conversas.
El espectáculo de la escuela en movimiento: conversaciones sensibles, temas
Este artículo es un extracto de la investigación del Máster en Educación (CANSI, 2019),
centrado en la perspectiva de los Estudios con la Vida Cotidiana y referenciado principalmente en los
trabajos académicos de Nilda Alves (2015; 2017), vea Andrade (20
11) y Michel de Certeau (2014).
La investigación se realizó con un grupo de danza de una Escuela Municipal, en el estado de Espírito
adoptando como metodología

con los practicantes del grupo para un
de los movimientos plurales de las artes y de las creaciones presentes en la escuela.
nos permiten percibir las potencialidades existentes en los procesos de
y los caminos inciertos y potentes que se producen en es
tos encuentros.
tanto, este artículo analiza el conocimiento en redes que se pasa en las prácticas de
" tejidas en la escuela, con la propuesta de contribuir al campo de la educación, en
Patricia Gama TemporimCansi. Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense em
2019. Pedagoga efetiva da Prefeitura Municipal de Cachoeiro de Itapemirim
-
ES, Brasil. E
patriciagamatemporim@hotmail.com
– https://orcid.org/0000-0002-1795-7453
Maria Inês Rocha de Sá. Doutora em
Educação pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro em
2013 e professora do Colégio Pedro II,
 Humaitá I/RJ, Brasil. E-mail:
ines.rdsa@gmail.com
4593
-9751
20,
aceit
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
em 01/03/2021.
162
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
O espetáculo da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
Patricia Gama Temporim
Cansi
1
Maria Inês Rocha de Sá
2
se de um recorte na pesquisa de Mestrado em Educação (CANSI, 2019),
centrada na perspectiva dos Estudos com os Cotidianos e referenciada, principalmente, nos trabalhos
17), vea Andrade (2011) e Michel de Certeau (2014). A
pesquisa foi realizada com um grupo de dança de uma Escola Municipal, no estado do Espírito Santo,
com os praticantes do grupo, com a intenção de
r os movimentos plurais de artes e/ou inventividades presentes na escola. As conversas

e os caminhos
go discute os conhecimentos em
tecidas na escola, como a proposta de contribuir
para o campo da educação, em busca de uma reflexão sobre a possibilidade do currículo em rede
El espectáculo de la escuela en movimiento: conversaciones sensibles, temas
invisibles y
Este artículo es un extracto de la investigación del Máster en Educación (CANSI, 2019),
centrado en la perspectiva de los Estudios con la Vida Cotidiana y referenciado principalmente en los
11) y Michel de Certeau (2014).
La investigación se realizó con un grupo de danza de una Escuela Municipal, en el estado de Espírito
con los practicantes del grupo para un
de los movimientos plurales de las artes y de las creaciones presentes en la escuela.
Las
nos permiten percibir las potencialidades existentes en los procesos de
tos encuentros.
Por lo
tanto, este artículo analiza el conocimiento en redes que se pasa en las prácticas de
" tejidas en la escuela, con la propuesta de contribuir al campo de la educación, en
Patricia Gama TemporimCansi. Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense em
ES, Brasil. E
-mail:
Educação pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro em
ines.rdsa@gmail.com
-
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
corpos pulsantes. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 162-
17
busca de una reflexión sobre la posibilidad d
(ANDRADE, 2014) en la escuela.
Palabras clave: P
lan de estudios en red
The school show in movement: sensitive conversations,
Abstract:
This article is a clipping of the research done during the masters research (CANSI, 2019)
focused on the perspective of studies of everyday life and mainly referred in the work
(2015; 2017)
vea Andrade (2011) and Michel de Cer
dance group from a public county school from the State of Espírito Santo, Brazil, adopting as
methodology
with the participants from this group. It raised attention to the plurality in
the art movements and/or in the inventiveness present in the school. These
notice potentialities found in the process of
paths built in these meetings. Thus, this article discusses about the knowledge in net that occurs in the
practice of 
weaved in the school,
education, in search
of a reflection on
(ANDRADE, 2014) in the school.
Keywords: N
etworks curriculums
O espetáculo da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Introdução
Este texto é
um recorte da
pesquisa de Mestrado em Educação
defendida na Faculdade de Educação
da UFF
3
/RJ (CANSI, 2019) e realizada
com o grupo de dança de uma escola
pública no estado do Espírito Santo,
no Brasil. Pretendemos tratar as
narrativas produzidas a partir d
encontros com esse grupo de dança e
marcara importância do
reconhecimento dos fluxos das redes
de conhecimento dentro da escola,
3
Universidade Federal Fluminense
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Revista Latino
-Americana de Estudos
17
7, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
busca de una reflexión sobre la posibilidad d
el plan de estudios en red como un “camino posible”
(ANDRADE, 2014) en la escuela.
lan de estudios en red
; cuerpos en movimiento;
conversaciones.
The school show in movement: sensitive conversations,
invisible themes
and pulsing bodies
This article is a clipping of the research done during the masters research (CANSI, 2019)
focused on the perspective of studies of everyday life and mainly referred in the work
vea Andrade (2011) and Michel de Cer
teau (2014). The research was done with a
dance group from a public county school from the State of Espírito Santo, Brazil, adopting as
with the participants from this group. It raised attention to the plurality in
the art movements and/or in the inventiveness present in the school. These

notice potentialities found in the process of
 and in
the uncertainty and potent
paths built in these meetings. Thus, this article discusses about the knowledge in net that occurs in the
weaved in the school,
with the proposal to contribute to the field of
of a reflection on
possibility of networks curriculums as a “possible way”
(ANDRADE, 2014) in the school.
etworks curriculums
; body in movement; conversations.
O espetáculo da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
corpos pulsantes
um recorte da
pesquisa de Mestrado em Educação
defendida na Faculdade de Educação
/RJ (CANSI, 2019) e realizada
com o grupo de dança de uma escola
pública no estado do Espírito Santo,
no Brasil. Pretendemos tratar as
narrativas produzidas a partir d
os
encontros com esse grupo de dança e
marcara importância do
reconhecimento dos fluxos das redes
de conhecimento dentro da escola,
Universidade Federal Fluminense
– UFF.
ressaltando-
os como “caminhos
possíveis” (ANDRADE, 2014) para as
vivências na escola.As narrativas dos
encontros com o grupo
trouxeram a potência de temas
geralmente invisibilizados no contexto
escolar como: preconceito,
gordofobia, xenofobia, racismo e poder
e é esse poder que nós evidenciamos
neste texto.
O desenho metodológico da
pesquisa se consolidou em
na perspectiva de Nilda Alves (2015;
2017) e do cineasta Eduardo Coutinho
(2008). Essas redes de conversa,
163
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
el plan de estudios en red como un “camino posible”
conversaciones.
and pulsing bodies
This article is a clipping of the research done during the masters research (CANSI, 2019)
focused on the perspective of studies of everyday life and mainly referred in the work
s of Nilda Alves
teau (2014). The research was done with a
dance group from a public county school from the State of Espírito Santo, Brazil, adopting as
with the participants from this group. It raised attention to the plurality in

allow us to
the uncertainty and potent
paths built in these meetings. Thus, this article discusses about the knowledge in net that occurs in the
with the proposal to contribute to the field of
possibility of networks curriculums as a “possible way”
O espetáculo da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
os como “caminhos
possíveis” (ANDRADE, 2014) para as
vivências na escola.As narrativas dos
encontros com o grupo
de dança
trouxeram a potência de temas
geralmente invisibilizados no contexto
escolar como: preconceito,
,
gordofobia, xenofobia, racismo e poder
e é esse poder que nós evidenciamos
O desenho metodológico da
pesquisa se consolidou em
,
na perspectiva de Nilda Alves (2015;
2017) e do cineasta Eduardo Coutinho
(2008). Essas redes de conversa,
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
corpos pulsantes. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 162-
17

se produziram
também com os estudos e pesquisas
das autoras, como Regina Leite Garcia
(2003) e Nívea Andrade (2011; 2014).
Seguia,especialmente,nos
pensamentos de
Michel de Certeau
(2014), e no diálogo com
(2017),
Azoilda Trindade (2008; 2010)
Espinosa (2015), entre outros.
Com este texto, nos propomos a
contribuir para o campo da
educação,refletindo sobre as
possibilidades de propostas de
trabalho através dos currículos em
redes, observando as riquezas que
acontecem nas escolas.
Assinalamos,
tal como Ailton Krenak (2019),
“paraquedas colorido” para despertar
atenção aos movimentos plurais de
artes e/ou inventividades, referente ao
que acontece nas escolas.
Encontro com o grupo e com as
pesquisas com os cotidianos

 

4
Nota do Editor: alguns termos aparecem
propositalmente grafados juntos, denotando
seu sentido articulado e interdependente.
5
Nota do Editor: o pseudônimo da autora bell
hooks aparece grafado em minúscula tal como
argumentado pela própria autora, de modo
dar destaque ao conteúdo de suas escritas e
não à sua pessoa.
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Revista Latino
-Americana de Estudos
17
7, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
se produziram
também com os estudos e pesquisas
das autoras, como Regina Leite Garcia
(2003) e Nívea Andrade (2011; 2014).
Michel de Certeau
(2014), e no diálogo com
 !
"
Azoilda Trindade (2008; 2010)
,
Espinosa (2015), entre outros.
Com este texto, nos propomos a
contribuir para o campo da
educação,refletindo sobre as
possibilidades de propostas de
trabalho através dos currículos em
redes, observando as riquezas que
Assinalamos,
tal como Ailton Krenak (2019),
um
“paraquedas colorido” para despertar
atenção aos movimentos plurais de
artes e/ou inventividades, referente ao
Encontro com o grupo e com as
pesquisas com os cotidianos

#
 

Nota do Editor: alguns termos aparecem
propositalmente grafados juntos, denotando
seu sentido articulado e interdependente.
Nota do Editor: o pseudônimo da autora bell
hooks aparece grafado em minúscula tal como
argumentado pela própria autora, de modo
a
dar destaque ao conteúdo de suas escritas e
$%
& '
()*
 +,
-). 
/ 
)01
2
com Marcelo
Ao narrar sua experiência, o ex
componente do grupo de dança e
também ex-
estudante da escola foi
pontual: “aquela foi a melhor época da
minha vida!”. Essa narrativa
significados sobre a potência dos
encontros no espaço da escola.
Um grupo
de dança que iniciou
sua trajetória no início dos anos 2000,
dentro de uma Escola Municipal
estado do Espírito Santo e que
conserva estudantes que fizeram parte
da formação inicial do grupo até hoje,
quase vinte anos depois, como
6
Texto do
espetáculo de dança, uma
adaptação do livro “O flautista misterioso e os
ratos de Hamelin”, recontada em cordel,por
Bráulio Tavares, publicado em 2009. Este livro
foi baseado na história “
O Flautista de
Hamelin”,recolhida pelos irmãos Grimm e pelo
poeta R
obert Browning no século XIX
7
Todos os nomes dos estudantes e
integrantes do grupo de dança citados neste
texto são ficcionais.
8
Relato de Marcelo, ex-
componente o grupo
de dança, em uma conversa com
pesquisadora em 15/01/2018.
9
Optamos por não fazer
referência à escola e
ao nome do grupo, como forma de preservar
os nomes de estudantes e professores
envolvidos.
164
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
$%
3
& '
()*
 +,
-). 
/ 
)01
2
(Conversa
com Marcelo
7
, ex-componente do
grupo de dança).
8
Ao narrar sua experiência, o ex
-
componente do grupo de dança e
estudante da escola foi
pontual: “aquela foi a melhor época da
minha vida!”. Essa narrativa
imprime
significados sobre a potência dos
encontros no espaço da escola.
de dança que iniciou
sua trajetória no início dos anos 2000,
dentro de uma Escola Municipal
9
, no
estado do Espírito Santo e que
conserva estudantes que fizeram parte
da formação inicial do grupo até hoje,
quase vinte anos depois, como
espetáculo de dança, uma
adaptação do livro “O flautista misterioso e os
ratos de Hamelin”, recontada em cordel,por
Bráulio Tavares, publicado em 2009. Este livro
O Flautista de
Hamelin”,recolhida pelos irmãos Grimm e pelo
obert Browning no século XIX
.
Todos os nomes dos estudantes e
integrantes do grupo de dança citados neste
componente o grupo
de dança, em uma conversa com
pesquisadora em 15/01/2018.
referência à escola e
ao nome do grupo, como forma de preservar
os nomes de estudantes e professores
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
corpos pulsantes. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 162-
17
componentes e
atuantes na produção
técnica de novos espetáculos. Essa
permanência, nos diz dos vínculos
formados nesse grupo e dos encontros
que nele aconteceram e ainda
acontecem. Um grupo que produz
peças teatrais, musicais, que produz
Arte com o corpo, produz movimen
A pesquisa aqui em recorte se
propôs a dialogar na perspectiva dos
cotidianos escolares. Pesquisar com
os cotidianos é uma proposta de
potencializar as riquezas que existem
na escola, é ter sensibilidade para
enxergar ações simples ou quase
invisíveis
que ocorrem com estudantes
e professores no contexto escolar.
Esse movimento de entender os
sentidos que circulam na escola nos
provoca a pensar sobre as formas das
redes de conhecimento produzidas
nesse espaço.
Assim, pensar com os
cotidianos é um ato p
desafiador, inseparável de sentidos e
apontamentos no campo educacional.
Cotidianos pesquisados formam
movimentos plurais, feitos com e por
pessoas, com vidas que produzem
conhecimentos e sentidos na escola.
Acreditar na conversa como
campo metod
ológico para caminhar
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Revista Latino
-Americana de Estudos
17
7, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
atuantes na produção
técnica de novos espetáculos. Essa
permanência, nos diz dos vínculos
formados nesse grupo e dos encontros
que nele aconteceram e ainda
acontecem. Um grupo que produz
peças teatrais, musicais, que produz
Arte com o corpo, produz movimen
to.
A pesquisa aqui em recorte se
propôs a dialogar na perspectiva dos
cotidianos escolares. Pesquisar com
os cotidianos é uma proposta de
potencializar as riquezas que existem
na escola, é ter sensibilidade para
enxergar ações simples ou quase
que ocorrem com estudantes
e professores no contexto escolar.
Esse movimento de entender os
sentidos que circulam na escola nos
provoca a pensar sobre as formas das
redes de conhecimento produzidas
Assim, pensar com os
cotidianos é um ato p
olítico,
desafiador, inseparável de sentidos e
apontamentos no campo educacional.
Cotidianos pesquisados formam
movimentos plurais, feitos com e por
pessoas, com vidas que produzem
conhecimentos e sentidos na escola.
Acreditar na conversa como
ológico para caminhar
com os cotidianos escolares é assumir
uma metodologia que se constitui no
encontro
com as potencialidades, os
desafios e as dobras invisíveis das
pessoas e na educação. Por que as
conversas são flexíveis, podem mudar
a qualquer moment
o, levam a novos
caminhos e possibilitam uma
aproximação com o outro.
Assim como nos ensina
Eduardo Coutinho (2008), todas as
vezes que assistimos a seus filmes
documentários e lemos seus registros
sobre os sentidos produzidos em uma
conversa, neste texto
atravessamento, uma produção de
redes conectadas a pensamentos em
que forma e sou formada por redes em
que vivemos, trazendo a dimensão de
um compartilhamento de sentidos e
possibilidades socializantes, para
Certeau (2014) a arte de conver
produz na seguinte maneira:
as retóricas da conversa ordinária
são práticas transformadoras “de
situações de palavra”, de produções
verbais onde o entrelaçamento das
posições locutoras instaura um
tecido oral sem proprietários
individuais, as criaç
comunicação que não pertence a
ninguém. (CERTEAU, 2014, p. 34)
Deste modo,as conversas com
o grupo de dança provocaram
situações inesperadas, enrique
165
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
com os cotidianos escolares é assumir
uma metodologia que se constitui no
com as potencialidades, os
desafios e as dobras invisíveis das
pessoas e na educação. Por que as
conversas são flexíveis, podem mudar
o, levam a novos
caminhos e possibilitam uma
aproximação com o outro.
Assim como nos ensina
Eduardo Coutinho (2008), todas as
vezes que assistimos a seus filmes
-
documentários e lemos seus registros
sobre os sentidos produzidos em uma
conversa, neste texto
a conversa é um
atravessamento, uma produção de
redes conectadas a pensamentos em
que forma e sou formada por redes em
que vivemos, trazendo a dimensão de
um compartilhamento de sentidos e
possibilidades socializantes, para
Certeau (2014) a arte de conver
sar se
produz na seguinte maneira:
as retóricas da conversa ordinária
são práticas transformadoras “de
situações de palavra”, de produções
verbais onde o entrelaçamento das
posições locutoras instaura um
tecido oral sem proprietários
individuais, as criaç
ões de uma
comunicação que não pertence a
ninguém. (CERTEAU, 2014, p. 34)
Deste modo,as conversas com
o grupo de dança provocaram
situações inesperadas, enrique
-
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
corpos pulsantes. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 162-
17
cedoras, surpreendentes
. As dúvidas
tornaram-
se companheiras e outras
diversas possibilidades
encontradas, como a compreensão de
que o grupo de dança é um complexo
artístico que envolve dança, música,
teatro e muitas discussões temáticas
que se desdobram às salas de aula da
escola.
Ao longo dos anos o grupo de
estudantes consolidou-
se em uma
rede de amizade e companheirismo,
produzindo a partir dos textos dos
espetáculos, um movimento
extremamente mergulhado nos
conhecimentos em redes. Não fixando
as intenções no currículo escolar e
nos interesses e desejos dos jovens
que participam do grupo. Como
definido pela professora Nívea
Andrade, ao estudar os currículos em
redes:
Os currículos não como documentos
que ditam os conteúdos e os
parâmetros do processo de
1
,
composição de redes de
conhecimentos e de significações
necessárias para o desenvolvimento
das diversas subjetividades que nos
compõem. Rede porque não é linear
e não parte de um ponto específico
basilar. (ANDRADE, 2011, p. 16).
O movimento de co
nhecimentos
em redes se distancia de
classificações ou hierarquizações
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Revista Latino
-Americana de Estudos
17
7, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
. As dúvidas
se companheiras e outras
diversas possibilidades
foram
encontradas, como a compreensão de
que o grupo de dança é um complexo
artístico que envolve dança, música,
teatro e muitas discussões temáticas
que se desdobram às salas de aula da
Ao longo dos anos o grupo de
se em uma
rede de amizade e companheirismo,
produzindo a partir dos textos dos
espetáculos, um movimento
extremamente mergulhado nos
conhecimentos em redes. Não fixando
as intenções no currículo escolar e
sim
nos interesses e desejos dos jovens
que participam do grupo. Como
definido pela professora Nívea
Andrade, ao estudar os currículos em
Os currículos não como documentos
que ditam os conteúdos e os
parâmetros do processo de
,
mas uma
composição de redes de
conhecimentos e de significações
necessárias para o desenvolvimento
das diversas subjetividades que nos
compõem. Rede porque não é linear
e não parte de um ponto específico
basilar. (ANDRADE, 2011, p. 16).
nhecimentos
em redes se distancia de
classificações ou hierarquizações
entre os conteúdos do currículo. A
partir dos textos, músicas, danças e
encenações dos espetáculos,
assuntos normalmente invisibilizados
são narrados pelos componentes do
grupo e tomam
protagonismo pela emergência dessas
discussões. Alves (2002
faz refletir:
[..]
ao contrário do que as falas
oficiais vêm fazendo
escola, seus profissionais, seus
alunos
deveríamos buscar
entender por que camin
de força) as novas tecnologias e os
novos conhecimentos estão entrando
na escola, o que a escola faz com
isso e o que cria a partir daí.
Nesse sentido, assuntos como
racismo, xenofobia, discriminação e
gordofobia se constituem em
abordagens p
ara as
musicais do grupo
isolam, mas conduzem a novas
problematizações e tecem outros
conhecimentos entre os componentes
do grupo de dança. Isto é, os textos
dos espetáculos com essas temáticas
são estudados, analisados e
apresentado
s, tecendo, assim,
discussões necessárias entre os
jovens do grupo, produzindo
conhecimentos
e significações,
sempre
reconhecidos como essenciais
na constituição da vida humana e
166
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
entre os conteúdos do currículo. A
partir dos textos, músicas, danças e
encenações dos espetáculos,
assuntos normalmente invisibilizados
são narrados pelos componentes do
grupo e tomam
proporção de
protagonismo pela emergência dessas
discussões. Alves (2002
, p. 119) nos
ao contrário do que as falas
oficiais vêm fazendo
– desqualificar a
escola, seus profissionais, seus
deveríamos buscar
entender por que camin
hos (linhas
de força) as novas tecnologias e os
novos conhecimentos estão entrando
na escola, o que a escola faz com
isso e o que cria a partir daí.
Nesse sentido, assuntos como
racismo, xenofobia, discriminação e
gordofobia se constituem em
ara as
produções
e que não se
isolam, mas conduzem a novas
problematizações e tecem outros
conhecimentos entre os componentes
do grupo de dança. Isto é, os textos
dos espetáculos com essas temáticas
são estudados, analisados e
s, tecendo, assim,
discussões necessárias entre os
jovens do grupo, produzindo
novos
e significações,
nem
reconhecidos como essenciais
na constituição da vida humana e
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
corpos pulsantes. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 162-
17
estudantil. Temas tão silenciados e
que foram abordados nos espetác
do grupo trazendo à tona conversas
sensíveis e reveladoras, constitutivas
da subjetividade do grupo. Nesse
contexto, lembramos do texto
“Atravessando fronteiras e
descobrindo (mais uma vez) a
complexidade do mundo” das
professoras Regina Leite Garcia
Nilda Alves (2002, p. 86):
Se o mundo é cheio de
conhecimentos, de toda ordem e
origem e que nos aparecem sob
múltiplas formas, nem todos eles
estão na escola, quer dizer, alguém
(aqueles que têm poder) faz a
escolha dos conhecimentos que vão
estar na es
cola e que nela devem
ser ensinados. Ou seja, a seleção
daqueles conhecimentos que na
escola serão chamados conteúdos
pedagógicos e que todos deverão
aprender. Isto nos leva a reconhecer
que outros conhecimentos tiveram a
sua entrada proibida na escola
menos oficialmente.
Essa forma do grupo viver na
escola se apresenta astuciosa,
articulada, politizada, inesperada, não
autorizada e traz à tona a riqueza de
pensar sobre as redes de
conhecimentos e como ela se
reinventa e se desdobra
cotidianamente.
E não deixa de se
configurar como Andrade (2011),
inspirada em Certeau, propõe acerca
dos usos dos espaços escolares “
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Revista Latino
-Americana de Estudos
17
7, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
estudantil. Temas tão silenciados e
que foram abordados nos espetác
ulos
do grupo trazendo à tona conversas
sensíveis e reveladoras, constitutivas
da subjetividade do grupo. Nesse
contexto, lembramos do texto
“Atravessando fronteiras e
descobrindo (mais uma vez) a
complexidade do mundo” das
professoras Regina Leite Garcia
e
Se o mundo é cheio de
conhecimentos, de toda ordem e
origem e que nos aparecem sob
múltiplas formas, nem todos eles
estão na escola, quer dizer, alguém
(aqueles que têm poder) faz a
escolha dos conhecimentos que vão
cola e que nela devem
ser ensinados. Ou seja, a seleção
daqueles conhecimentos que na
escola serão chamados conteúdos
pedagógicos e que todos deverão
aprender. Isto nos leva a reconhecer
que outros conhecimentos tiveram a
sua entrada proibida na escola
pelo
Essa forma do grupo viver na
escola se apresenta astuciosa,
articulada, politizada, inesperada, não
autorizada e traz à tona a riqueza de
pensar sobre as redes de
conhecimentos e como ela se
reinventa e se desdobra
E não deixa de se
configurar como Andrade (2011),
inspirada em Certeau, propõe acerca
dos usos dos espaços escolares “
sempre uma manobra, uma astúcia
que permite sobreviver nos cotidianos,
e neles criar outras formas de usos, de
consumos e ideias, dif
são impostas” (
ANDRADE, 2011,
32). Dito de outra maneira, é
nos “procedimentos, as bases, os
efeitos, as possibilidades” (CERTEAU,
2014, p. 40) em uma discussão
provocativa e desconcertante que
desconstrói a clássica hierarquizaçã
de conhecimentos trabalhados pela
escola.
Redes de conhecimento na escola
Nos encontros com os
praticantes, que estão dentro da
escola, temas como alteridade,
diferença, cuidado, afeto, ou seja, uma
cultura de respeito à coletividade, em
um projeto democrático que está na
prática de vida dos estudantes na
escola, constituem os c
redes. Currículos vividos pelo grupo,
tratados nas conversas, assuntos
sobre a escola, sobre os cotidianos e a
vida no grupo dos estudantes.
A pesquisa teve como proposta
algumas conversas iniciais com os
estudantes da escola que também
fazia
m parte do grupo de dança, como
por exemplo: Quais motivos levam
167
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
sempre uma manobra, uma astúcia
que permite sobreviver nos cotidianos,
e neles criar outras formas de usos, de
consumos e ideias, dif
erentes das que
ANDRADE, 2011,
p.
32). Dito de outra maneira, é
pensar
nos “procedimentos, as bases, os
efeitos, as possibilidades” (CERTEAU,
2014, p. 40) em uma discussão
provocativa e desconcertante que
desconstrói a clássica hierarquizaçã
o
de conhecimentos trabalhados pela
Redes de conhecimento na escola
Nos encontros com os
praticantes, que estão dentro da
escola, temas como alteridade,
diferença, cuidado, afeto, ou seja, uma
cultura de respeito à coletividade, em
um projeto democrático que está na
prática de vida dos estudantes na
escola, constituem os c
urrículos em
redes. Currículos vividos pelo grupo,
tratados nas conversas, assuntos
sobre a escola, sobre os cotidianos e a
vida no grupo dos estudantes.
A pesquisa teve como proposta
algumas conversas iniciais com os
estudantes da escola que também
m parte do grupo de dança, como
por exemplo: Quais motivos levam
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
corpos pulsantes. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 162-
17
esse grupo a demonstrar tanto
envolvimento nos ensaios e
apresentações? O motivo pelo qual ex
estudantes não conseguem deixar o
grupo de dança? O que atrai
estudantes de outras instituições
para solicitarem acesso a esse corpo
de dança?
Conversas que buscaram
perceber os movimentos presentes no
cotidiano, como nos estimula Garcia
(2003, p. 204):"
Mergulhar na prática
com @s prátic@s, descobrir a riqueza
da teoria em movimento que se
atualiza
nos cotidianos, enriquecida
pelo que a cada dia se revela como
novo. O cotidiano, portanto, é um rico
espaço de construção de
conhecimentos."
Pensar as relações produzidas
em um espaço onde os conhecimentos
vão além do preestabelecido pela
força da lei: Qu
ais sentidos são
produzidos nas relações entre os
estudantes que tornam a sociabilidade
seu currículo escolar? Haveria melhor
maneira para trabalhar com os
estudantes a alteridade e a
emancipação do que nesse campo de
relações?
Nessa perspectiva de
10
De outras escolas públicas, de escolas
particulares e de faculdades.
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Revista Latino
-Americana de Estudos
17
7, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
esse grupo a demonstrar tanto
envolvimento nos ensaios e
apresentações? O motivo pelo qual ex
-
estudantes não conseguem deixar o
grupo de dança? O que atrai
estudantes de outras instituições
10
para solicitarem acesso a esse corpo
Conversas que buscaram
perceber os movimentos presentes no
cotidiano, como nos estimula Garcia
Mergulhar na prática
com @s prátic@s, descobrir a riqueza
da teoria em movimento que se
nos cotidianos, enriquecida
pelo que a cada dia se revela como
novo. O cotidiano, portanto, é um rico
espaço de construção de
Pensar as relações produzidas
em um espaço onde os conhecimentos
vão além do preestabelecido pela
ais sentidos são
produzidos nas relações entre os
estudantes que tornam a sociabilidade
seu currículo escolar? Haveria melhor
maneira para trabalhar com os
estudantes a alteridade e a
emancipação do que nesse campo de
Nessa perspectiva de
De outras escolas públicas, de escolas
visibil
izar uma narrativa das potências
desse espaço
escola
lugar para enunciação do
conhecimento e seus sentidos, é
necessário afinar o olhar, amplificar a
escuta para essa complexidade.
Krenak (2019) nos provoca a
pensar nas quedas da humanidade ao
longo da história como inevitáveis,
abismos postos. Como as guerras,
as cisões entre países, a própria
destruição do planeta pelo ser
humano, porém ele nos convoca a
criarmos “paraquedas coloridos” para
que possamos viver com prazer aqui
na Terra.
Os
paraquedas o possibilidades
de saída, podem ser como sonhos que
nos abrem “para outras visões da vida
não limitada” (KRENAK, 2019, p. 66).
Aqui, também estamos fazendo uma
provocação às nossas leitoras e
leitores: Por que a escola tem medo
daquilo que es
fora da grade
curricular? Por que não evidenciamos
os fluxos das redes de conhecimento
constituídas dentro da escola?
Na perspectiva deste texto, o
grupo de dança subverte o movimento,
quase “esquizofrênico” da escola e cria
' -
espetáculos, com as suas discussões,
168
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
izar uma narrativa das potências
escola
como um
lugar para enunciação do
conhecimento e seus sentidos, é
necessário afinar o olhar, amplificar a
escuta para essa complexidade.
Krenak (2019) nos provoca a
pensar nas quedas da humanidade ao
longo da história como inevitáveis,
abismos postos. Como as guerras,
as cisões entre países, a própria
destruição do planeta pelo ser
humano, porém ele nos convoca a
criarmos “paraquedas coloridos” para
que possamos viver com prazer aqui
paraquedas o possibilidades
de saída, podem ser como sonhos que
nos abrem “para outras visões da vida
não limitada” (KRENAK, 2019, p. 66).
Aqui, também estamos fazendo uma
provocação às nossas leitoras e
leitores: Por que a escola tem medo
fora da grade
curricular? Por que não evidenciamos
os fluxos das redes de conhecimento
constituídas dentro da escola?
Na perspectiva deste texto, o
grupo de dança subverte o movimento,
quase “esquizofrênico” da escola e cria
' -
com os seus
espetáculos, com as suas discussões,
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
corpos pulsantes. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 162-
17
significam os currículos e marcam
profundamente suas subjetividades,
como dito pelo ex-
estudante, que
encenou o
, 
melhor época da minha vida!
O intenso movimento vivido no
currículo em
redes transcende as
prescrições curriculares, como
Andrade (2011) que “os currículos
existentes nas escolas se configuram
como um conjunto infinito de
conhecimentos e significações que se
localizam em

fronteiras de saberes e
exper
imentações culturais” (p. 143).
Nesse sentido, Andrade
(2014) nos ajuda a compreender
melhor sobre redes de
conhecimentos:
Dialogando com o pensamento de
Michel de Certeau, a noção de
conhecimentos em redes nos
mostra que os processos de
aprender e ensinar
fazem parte de
um mesmo movimento e só existem
na relação entre as pessoas,
sempre em mão dupla, sempre na
relação entre os processos
culturais. Os conhecimentos são,
portanto, tecidos em várias mãos.
Por isso, falamos que

em diferentes

, portanto, em redes
com fluxos permanentes e sem
lugares de origem e de destino de
um conhecimento seja ele
materializado em um livro, ou
pintura, seja ele configurado como
uma prática ou um modo de pensar.
(ANDRADE, 2014, p. 28).
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Revista Latino
-Americana de Estudos
17
7, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
significam os currículos e marcam
profundamente suas subjetividades,
estudante, que
, 
: a
melhor época da minha vida!
O intenso movimento vivido no
redes transcende as
prescrições curriculares, como
afirma
Andrade (2011) que “os currículos
existentes nas escolas se configuram
como um conjunto infinito de
conhecimentos e significações que se

de
fronteiras de saberes e
imentações culturais” (p. 143).
Nesse sentido, Andrade
(2014) nos ajuda a compreender
melhor sobre redes de
Dialogando com o pensamento de
Michel de Certeau, a noção de
conhecimentos em redes nos
mostra que os processos de
fazem parte de
um mesmo movimento e só existem
na relação entre as pessoas,
sempre em mão dupla, sempre na
relação entre os processos
culturais. Os conhecimentos são,
portanto, tecidos em várias mãos.
Por isso, falamos que
em diferentes
, portanto, em redes
com fluxos permanentes e sem
lugares de origem e de destino de
um conhecimento seja ele
materializado em um livro, ou
pintura, seja ele configurado como
uma prática ou um modo de pensar.
(ANDRADE, 2014, p. 28).
A sociabilidade que compõe as
relações no grupo é evidenciada em
caminhos que buscam composição de
aprendizados com a vida. Com os
musicais, os participantes são
convocados a vivenciar experiências
com o corpo, por meio da música, com
os pares, na medida e
relacionam em grupo, além de
discutirem assuntos tratados nos
textos e assim tecerem
posicionamentos e produzirem novas
aprendizagens.
vea Andrade nos provoca
a inventar um
'
com uma perspectiva de levar à
escola vários percursos, caminhando
e tecendo redes de conhecimento,
Uma escola perambulante não tem
percursos pré-
estabelecidos, pois
ela acompanha as demandas e
curiosidades do viajante. Por outro
lado,esta escola peramb
se movimenta apenas pelas redes
do viajante, que ela é
permanentemente móvel e lhe
apresenta novos caminhos a todo
instante. sempre novas curvas e
outras pinceladas que indicam
outros percursos. Quando se
encontra um caminho, esta escola
p
erambulante busca evidenciar que
outros caminhos possíveis, que
sempre outros percursos, outros
conhecimentos e sentidos
possíveis. (ANDRADE, 2014, p.
28).
Na busca de outros caminhos
possíveis, a força das produções
autorais protagonizadas pela
169
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
A sociabilidade que compõe as
relações no grupo é evidenciada em
caminhos que buscam composição de
aprendizados com a vida. Com os
musicais, os participantes são
convocados a vivenciar experiências
com o corpo, por meio da música, com
os pares, na medida e
m que se
relacionam em grupo, além de
discutirem assuntos tratados nos
textos e assim tecerem
posicionamentos e produzirem novas
vea Andrade nos provoca
'
com uma perspectiva de levar à
escola vários percursos, caminhando
e tecendo redes de conhecimento,
Uma escola perambulante não tem
estabelecidos, pois
ela acompanha as demandas e
curiosidades do viajante. Por outro
lado,esta escola peramb
ulante o
se movimenta apenas pelas redes
do viajante, que ela é
permanentemente móvel e lhe
apresenta novos caminhos a todo
instante. sempre novas curvas e
outras pinceladas que indicam
outros percursos. Quando se
encontra um caminho, esta escola
erambulante busca evidenciar que
outros caminhos possíveis, que
sempre outros percursos, outros
conhecimentos e sentidos
possíveis. (ANDRADE, 2014, p.
Na busca de outros caminhos
possíveis, a força das produções
autorais protagonizadas pela
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
corpos pulsantes. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 162-
17
juv
entude, fortalece estudantes
criativos e autônomos. O grupo de
dança se expandiu. Passou a se
apresentar em teatros, festas,
academias e a receber jovens que o
eram estudantes da escola municipal e
em 2018, o grupo se desvinculou da
rede municipal de ens
ino e constituiu
organização independente.
Corpos pulsantes, movimento na
escola
4%.2/
%.
'
/56
/78973:22
;<8"
'/''
1),/

;
:
(Texto da personagem,
esposa do diretor, no espetáculo
Nessa advertência da
personagem da esposa do diretor, no
musical “Brasil”, apontando para os
personagens-
estudantes em cena,
demonstra uma visão distanciada do
respeito, dos direitos, da democracia,
das redes de conhecimentos, das
inventividades, da coleti
vidade e da
cooperação, esse fragmento de um
musical mostrou que a escola de
11
Recorte do diálogo entre a personagem da
esposa do diretor e os pers
onagens
estudantes, em uma cena do musical “Brasil”.
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Revista Latino
-Americana de Estudos
17
7, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
entude, fortalece estudantes
criativos e autônomos. O grupo de
dança se expandiu. Passou a se
apresentar em teatros, festas,
academias e a receber jovens que o
eram estudantes da escola municipal e
em 2018, o grupo se desvinculou da
ino e constituiu
organização independente.
Corpos pulsantes, movimento na
4%.2/
%.
'
=
/56
/78973:22
;<8"
'/''
1),/
;
(Texto da personagem,
esposa do diretor, no espetáculo
“Brasil”).
>>
Nessa advertência da
personagem da esposa do diretor, no
musical “Brasil”, apontando para os
estudantes em cena,
demonstra uma visão distanciada do
respeito, dos direitos, da democracia,
das redes de conhecimentos, das
vidade e da
cooperação, esse fragmento de um
musical mostrou que a escola de
Recorte do diálogo entre a personagem da
onagens
-
estudantes, em uma cena do musical “Brasil”.
dança (onde as cenas se passavam)
virou um palco de batalhas entre o
bem coletivo e o jogo de interesses
pessoais.
Na tensão da disputa pelo
poder, os estudantes, ao longo do
mus
ical, apresentam coreografias e
textos que remetem a lutas, burlam a
“detenção” e combatem o racismo.
Fazem também uma crônica da
política nacional, refletida em sua vida
cotidiana. Fazem redes que rompem a
dicotomia entre uma macro e
micropolítica.
Nas c
onversas com o grupo,
sobre a atitude da personagem da
esposa do diretor, os estudantes
incansáveis, rememorando a
apresentação, disseram:
     
'  /   

   ) .
'  
 ;) ? 
    
%
(Conversa com três
comp
onentes do grupo de dança).
Na conversa com a
pesquisadora uma estudante
completou:
+4   '
12
Recorte de uma das conservas
componentes do grupo de dança e a
pesquisadora, em 18/06/2018.
170
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
dança (onde as cenas se passavam)
virou um palco de batalhas entre o
bem coletivo e o jogo de interesses
Na tensão da disputa pelo
poder, os estudantes, ao longo do
ical, apresentam coreografias e
textos que remetem a lutas, burlam a
“detenção” e combatem o racismo.
Fazem também uma crônica da
política nacional, refletida em sua vida
cotidiana. Fazem redes que rompem a
dicotomia entre uma macro e
onversas com o grupo,
sobre a atitude da personagem da
esposa do diretor, os estudantes
incansáveis, rememorando a
apresentação, disseram:
     
'  /   

   ) .
'  
 ;) ? 
    
(Conversa com três
onentes do grupo de dança).
12
Na conversa com a
pesquisadora uma estudante
+4   '
Recorte de uma das conservas
entre
componentes do grupo de dança e a
pesquisadora, em 18/06/2018.
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
corpos pulsantes. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 162-
17
 %
13
Provocada pela conversa do
grupo, uma outra estudante, quebrou o
seu silenciamento. Suspirou e disse:
, :
>
A
estudante iniciou seu
relato, mas não suportou, parou de
falar e chorou, chorou muito. Trindade
(2010), alerta-
nos, preocupantemente,
quanto à postura dos educadores:
Infelizmente, ainda muita
insensibilidade para com as crianças
negras. Estas, ao serem
discriminadas, ficam acuadas,
envergonhadas, inibidas em
denunciar. Professores e
professoras, acreditem, a criança
pode não saber expressar oralmente
a discriminação, mas ela sente,
sofre, seu corpo fica marcado, com a
discriminação e com a omissão, com
o silêncio conivente, com a falta de
acolhida do adulto que ela tem como
referência no momento (TRINDADE,
2010, p. 32).
O engasgo da estudante
apresentou toda sensibilidade de uma
menina que sofre com preconceitos.
Aquela imagem não era cena, não era
fic
ção, era real. É preciso ter atenção
ao que nos passa, ao que nos
acontece. As pesquisas com os
cotidianos não apresentam roteiros ou
manuais para lidar com situações que
ardem na pele todos os dias das
13
Conversa entre pesquisadora e a
componente Aline, em 18/06/2018.
14
Conversa entre pesquisadora e a
com
ponente Luana, em18/06/2018.
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Revista Latino
-Americana de Estudos
17
7, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Provocada pela conversa do
grupo, uma outra estudante, quebrou o
seu silenciamento. Suspirou e disse:
estudante iniciou seu
relato, mas não suportou, parou de
falar e chorou, chorou muito. Trindade
nos, preocupantemente,
quanto à postura dos educadores:
Infelizmente, ainda muita
insensibilidade para com as crianças
negras. Estas, ao serem
discriminadas, ficam acuadas,
envergonhadas, inibidas em
denunciar. Professores e
professoras, acreditem, a criança
pode não saber expressar oralmente
a discriminação, mas ela sente,
sofre, seu corpo fica marcado, com a
discriminação e com a omissão, com
o silêncio conivente, com a falta de
acolhida do adulto que ela tem como
referência no momento (TRINDADE,
O engasgo da estudante
apresentou toda sensibilidade de uma
menina que sofre com preconceitos.
Aquela imagem não era cena, não era
ção, era real. É preciso ter atenção
ao que nos passa, ao que nos
acontece. As pesquisas com os
cotidianos não apresentam roteiros ou
manuais para lidar com situações que
ardem na pele todos os dias das
Conversa entre pesquisadora e a
componente Aline, em 18/06/2018.
Conversa entre pesquisadora e a
ponente Luana, em18/06/2018.
pessoas. Para Garcia (2003
cotidiano assu
sta, dá
fascina.
Em outro momento,
Felipe,componente do grupo, também
diante da cena da esposa do diretor,
colocou:
+ '    
  ( @)))A .

>"
. E nesse momento ele
rememorou o musical do fi
$
Em busca da Fama”
Adam Shankman, encenado pelo
grupo no ano de 2017. No filme, Tracy
Turnblad
, a personagem principal,
consegue destaque no musical da
televisão que se passa na década de
1960rompendo com padrões de beleza
da época. A
luta de Tracy se encontra
com a luta do povo negro nos Estados
Unidos da América. Os negros
buscavam equidade aos brancos nas
apresentações do programa televisivo.
Nessa conversa sobre a
proposta do musical com a questão
racial e da estética corporal, as
respostas do grupo se dividiram:
  <  
B    
9     1
: <  %
15
Afirmação de Felipe, em conversa com a
pesquisadora, dia 18/06/2018.
16
A montagem do musical
baseada no filme “
$
fama”
de Adam Shankman
171
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
pessoas. Para Garcia (2003
, p. 193), o
sta, dá
medo, intriga e
Em outro momento,
Felipe,componente do grupo, também
diante da cena da esposa do diretor,
+ '    
  ( @)))A .
. E nesse momento ele
rememorou o musical do fi
lme
Em busca da Fama”
16
, de
Adam Shankman, encenado pelo
grupo no ano de 2017. No filme, Tracy
, a personagem principal,
consegue destaque no musical da
televisão que se passa na década de
1960rompendo com padrões de beleza
luta de Tracy se encontra
com a luta do povo negro nos Estados
Unidos da América. Os negros
buscavam equidade aos brancos nas
apresentações do programa televisivo.
Nessa conversa sobre a
proposta do musical com a questão
racial e da estética corporal, as
respostas do grupo se dividiram:
  <  
B    
9     1
: <  %
Afirmação de Felipe, em conversa com a
pesquisadora, dia 18/06/2018.
A montagem do musical
$foi
$
– Em busca da
de Adam Shankman
.
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
corpos pulsantes. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 162-
17
0  1C B  '/
/B/

(Conversa com Aline).
A personagem principal, Tracy,
que não era considerada apta a ser
bailarina devido à sua forma física,
superou essa discriminação e ainda
apoiou e lutou junto a um grupo de
jovens bailarinos negros para que
estes se apresentassem na televisão.
A temática d
e romper duplamente as
discriminações, na sociedade norte
americana, provoca nos estudantes
aprendizagens e conhecimentos que
se fazem necessários ainda nos dias
atuais.
Ainda conversando sobre as
formas de discriminação, Luana
manifestou sua opinião sobr
temática do espetáculo:
D    / 
'   
 % E  /  
/ #'< 
  /  9  <
 ;  / 
 +- 
' % E
    %
F <  % E 
      
 ))) .  B  
    <%
com Luana)
18
No final das apresentações,
17
Conversa entre Aline, bailarina do grupo e a
pesquisadora, em 18/06/2018.
18
Conversa entre Luana, bailarina do grupo e
a pesquisadora, em 18/06/2018.
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Revista Latino
-Americana de Estudos
17
7, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
0  1C B  '/
/B/
(Conversa com Aline).
17
A personagem principal, Tracy,
que não era considerada apta a ser
bailarina devido à sua forma física,
superou essa discriminação e ainda
apoiou e lutou junto a um grupo de
jovens bailarinos negros para que
estes se apresentassem na televisão.
e romper duplamente as
discriminações, na sociedade norte
-
americana, provoca nos estudantes
aprendizagens e conhecimentos que
se fazem necessários ainda nos dias
Ainda conversando sobre as
formas de discriminação, Luana
manifestou sua opinião sobr
e a
D    / 
'   
 % E  /  
/ #'< 
  /  9  <
 ;  / 
' % E
    %
F <  % E 
      
 ))) .  B  
    <%
(Conversa
No final das apresentações,
Conversa entre Aline, bailarina do grupo e a
Conversa entre Luana, bailarina do grupo e
uma estudante, que viveu a
protago
nista do espetáculo, revelou
que não tinha intenção de emagrecer,
por ser essa uma imposição estética.
Estabelecer conversas sobre a
imposição de padrões de beleza e a
discriminação racial, situações que
ocorrem todos os dias nas escolas,
manifesta o empe
nho e envolvimento
nas causas que não pertencem
apenas a uma pessoa, mas sim ao
coletivo. Em busca de práticas
democráticas, esses textos e
espetáculos consolidam a importância
do trabalho com as redes
estabelecidas.
O movimento de amizade,
companheirismo
e cuidado de uns
para com os outros se estende para
fora da escola. Dessa maneira, a
concepção

representada somente nas palavras
escritas juntas em itálico como uma
proposição diferenciada no campo das
pesquisas com os cotidian
um movimento que acontece
diariamente na escola e que não é
dado como “importante” no campo do
conhecimento. Incluímos aqui a forma
com que Alves (2015) destaca esse
pensamento:
estamos lutando permanentemente
contra o esquecimento, já que ela
172
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
uma estudante, que viveu a
nista do espetáculo, revelou
que não tinha intenção de emagrecer,
por ser essa uma imposição estética.
Estabelecer conversas sobre a
imposição de padrões de beleza e a
discriminação racial, situações que
ocorrem todos os dias nas escolas,
nho e envolvimento
nas causas que não pertencem
apenas a uma pessoa, mas sim ao
coletivo. Em busca de práticas
democráticas, esses textos e
espetáculos consolidam a importância
do trabalho com as redes
O movimento de amizade,
e cuidado de uns
para com os outros se estende para
fora da escola. Dessa maneira, a

não é
representada somente nas palavras
escritas juntas em itálico como uma
proposição diferenciada no campo das
pesquisas com os cotidian
os, mas sim
um movimento que acontece
diariamente na escola e que não é
dado como “importante” no campo do
conhecimento. Incluímos aqui a forma
com que Alves (2015) destaca esse
estamos lutando permanentemente
contra o esquecimento, já que ela
s
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
corpos pulsantes. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 162-
17
(as pesquisas complexas com os
cotidianos) e seus praticantes são
tão pouco importantes que não se
percebem e não são percebidas
como informantes indispensáveis
porque criadores de conhecimentos
necessários à vida. (ALVES, 2015, p.
139).
O grupo traz para a
conversa, os praticantes, os
conhecimentos vividos em seus
corpos, na sua pele, na sua dor. E
quem os assiste, seu público, é capaz
de comentar, de forma casual e
despretensiosa, durante o espetáculo
“Deixa isso pra lá”, performance
artística ao som de !
remixado com
a música de Jair Rodrigues, a
professora Laura
19
expõe sua
percepção sobre os corpos:
   ' )
?;),
 / ;    
%G;1%0
' '%
(Comentário de
Laura).
Figura 11
: menos cenário, mais corpo
espetáculo “
Deixa isso pra lá”
Fonte: Acervo pessoal de Patrícia Cansi.
19
Nome ficcional da professora.
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Revista Latino
-Americana de Estudos
17
7, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
(as pesquisas complexas com os
cotidianos) e seus praticantes são
tão pouco importantes que não se
percebem e não são percebidas
como informantes indispensáveis
porque criadores de conhecimentos
necessários à vida. (ALVES, 2015, p.
O grupo traz para a
conversa, os praticantes, os
conhecimentos vividos em seus
corpos, na sua pele, na sua dor. E
quem os assiste, seu público, é capaz
de comentar, de forma casual e
despretensiosa, durante o espetáculo
“Deixa isso pra lá”, performance
remixado com
a música de Jair Rodrigues, a
expõe sua
percepção sobre os corpos:
   ' )
?;),
 / ;    
%G;1%0
(Comentário de
: menos cenário, mais corpo
-
Deixa isso pra lá”
Fonte: Acervo pessoal de Patrícia Cansi.
A questão da dissociabilidade
da aprendizagem entre corpo e mente,
historicamente produzida no modelo
hegemônico é visivelmente colocada
pela professora Laura na fala
anteriormente destacada. Como se
corpos quietos e dóceis fossem o
único jeito para uma ap
forma ordenada, planejada e desejada,
acreditando-
se que com essa quietude
a capacidade de aprendizagem fosse
alcançada de maneira plena. Nesse
caminho, o corpo fica impedido de
experimentar as possibilidades de
aprendizagem.
Em uma outra si
exemplo, quando uma bailarina do
grupo afirma para sua mãe que
mesmo sentindo
dor da cãibra, após
seis horas de ensaio, precisava
ensaiar no dia seguinte, a estudante
indica que existe um desejo maior em
estar com o grupo, mesmo sentindo
dores
em seu corpo. Ou como o vivido
por outra componente, que levou os
movimentos que aprendeu com o
grupo de dança para seus estudos do
Direito: a marcação de palco, a
desenvoltura com o corpo nos gestos,
voz, respiração, olhares.
O apontamento ríspido e
173
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
A questão da dissociabilidade
da aprendizagem entre corpo e mente,
historicamente produzida no modelo
hegemônico é visivelmente colocada
pela professora Laura na fala
anteriormente destacada. Como se
corpos quietos e dóceis fossem o
único jeito para uma ap
rendizagem de
forma ordenada, planejada e desejada,
se que com essa quietude
a capacidade de aprendizagem fosse
alcançada de maneira plena. Nesse
caminho, o corpo fica impedido de
experimentar as possibilidades de
Em uma outra si
tuação, por
exemplo, quando uma bailarina do
grupo afirma para sua mãe que
dor da cãibra, após
seis horas de ensaio, precisava
ensaiar no dia seguinte, a estudante
indica que existe um desejo maior em
estar com o grupo, mesmo sentindo
em seu corpo. Ou como o vivido
por outra componente, que levou os
movimentos que aprendeu com o
grupo de dança para seus estudos do
Direito: a marcação de palco, a
desenvoltura com o corpo nos gestos,
voz, respiração, olhares.
O apontamento ríspido e
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
corpos pulsantes. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 162-
17
dese
sperado da professora Laura se
apresenta como um grito contra a
subversividade de jovens que ousam
em aprender de outras maneiras. Isso
é, aprender com o corpo e a mente de
maneira associada.
Nesse sentido,
H
Espinosa, filósofo holandês do século
XVII, aponta-
nos a seguinte
proposição: “Nem o corpo pode
determinar a mente a pensar, nem a
mente pode determinar o corpo ao
movimento. A mente e o corpo são
uma e a mesma coisa que é
concebida ora sob o atributo do
pensamento, ora sob o da extensão
(
2015, EIII, P. II, p. 241
expressa por um dos líderes do grupo:
 / <  '  1 <
' /
I7
)
Dito de outra forma,
c
orpos que estudam, são os mesmos
corpos que dançam.
Inspirada nos estudos de
Espinosa, a professora Paola Zord
(2013) aborda os corpos e os afetos
em uma proposta relacional:
Como aglomeração infinda de partes
que pertencem ao mundo extenso,
um corpo reúne incontáveis
partículas que se movimentam de
modos diversos, estabelecendo
formas e funções, ordens de
comp
osição e decomposição que
20
Conversa entre um dos lí
deres do grupo
com a pesquisadora, em 24/11/201
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Revista Latino
-Americana de Estudos
17
7, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
sperado da professora Laura se
apresenta como um grito contra a
subversividade de jovens que ousam
em aprender de outras maneiras. Isso
é, aprender com o corpo e a mente de
H
de
Espinosa, filósofo holandês do século
nos a seguinte
proposição: “Nem o corpo pode
determinar a mente a pensar, nem a
mente pode determinar o corpo ao
movimento. A mente e o corpo são
uma e a mesma coisa que é
concebida ora sob o atributo do
pensamento, ora sob o da extensão
2015, EIII, P. II, p. 241
). Reflexão
expressa por um dos líderes do grupo:
 / <  '  1 <
Dito de outra forma,
orpos que estudam, são os mesmos
Inspirada nos estudos de
Espinosa, a professora Paola Zord
an
(2013) aborda os corpos e os afetos
em uma proposta relacional:
Como aglomeração infinda de partes
que pertencem ao mundo extenso,
um corpo reúne incontáveis
partículas que se movimentam de
modos diversos, estabelecendo
formas e funções, ordens de
osição e decomposição que
deres do grupo
com a pesquisadora, em 24/11/201
8.
afetam toda a natureza e que o
instauram enquanto relação.
Composto de partes individuadas,
que constituem desde grandes
superfícies, reuniões de corpos
distintos que apresentam dimensões
que variam do imensurável tamanho
do unive
rso até partes corpóreas
invisíveis e infinitesimais, não existe
corpo que não esteja afetando e
sendo afetado, ou seja, corpos
existem em relação. (ZORDAN,
2013, p. 182).
A busca pelo controle dos
corpos na escola, nos

é como se fosse uma
garantia da ordem. “Muitos de nós
aceitamos a noção de que existe uma
cisão entre o corpo e a mente. Crendo
nisso, as pessoas entram na sala para
ensinar como se apenas a mente
estivesse presente, e não o corpo”
(!
, 2017, p. 253).
Assim, Trindade (2008) nos
alerta:
O cotidiano escolar é complexo,
sobretudo ao pensá
perspectiva da diferença; afinal,
fomos formados como docentes
tendo como raízes uma visão
universalista e convergente do
pensamento humano. Nós nos
iludimos com unanimidade, com
respostas únicas, pr
tempos únicos, imagens
padronizadas que representam os
alunos ideais, provas objetivas, o
discurso da normalidade, da ordem,
da evolução, do progresso, do
desenvolvimento evolutivo, da família
estruturada num padrão que não
corresponde à di
organizações familiares existentes.
Muitos de nós fomos formados na
perspectiva de que educação, escola
era para moldar os alunos, controlar,
174
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
afetam toda a natureza e que o
instauram enquanto relação.
Composto de partes individuadas,
que constituem desde grandes
superfícies, reuniões de corpos
distintos que apresentam dimensões
que variam do imensurável tamanho
rso até partes corpóreas
invisíveis e infinitesimais, não existe
corpo que não esteja afetando e
sendo afetado, ou seja, corpos
existem em relação. (ZORDAN,
A busca pelo controle dos
corpos na escola, nos
é como se fosse uma
garantia da ordem. “Muitos de nós
aceitamos a noção de que existe uma
cisão entre o corpo e a mente. Crendo
nisso, as pessoas entram na sala para
ensinar como se apenas a mente
estivesse presente, e não o corpo”
, 2017, p. 253).
Assim, Trindade (2008) nos
O cotidiano escolar é complexo,
sobretudo ao pensá
-lo na
perspectiva da diferença; afinal,
fomos formados como docentes
tendo como raízes uma visão
universalista e convergente do
pensamento humano. Nós nos
iludimos com unanimidade, com
respostas únicas, pr
esentes únicos,
tempos únicos, imagens
padronizadas que representam os
alunos ideais, provas objetivas, o
discurso da normalidade, da ordem,
da evolução, do progresso, do
desenvolvimento evolutivo, da família
estruturada num padrão que não
corresponde à di
versidade de
organizações familiares existentes.
Muitos de nós fomos formados na
perspectiva de que educação, escola
era para moldar os alunos, controlar,
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
corpos pulsantes. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 162-
17
preparar para a vida (Estranho, o?
O que acontece no aqui
cotidiano não é vida?), dar au
preencher o ser vazio com o
conhecimento acumulado pela
humanidade e socialmente
valorizado, ou permitir que este
conhecimento preexistente neste
aluno possa se desenvolver, se
expandir com a intervenção do
professor. Uma formação na qual o
controle
parece ser uma das
palavras–
chave. (TRINDADE, 2008,
p. 13).
Os próprios meninos e meninas
grupo de dança saberiam responder
àquela professora. Certa vez, em uma
roda de conversa, uma estudante que
compõe o grupo de dança narrou que
foi parar na coordenaç
ão da escola
porque sambou em sala de aula,
quando acertou uma atividade
proposta pela professora.
professora não quis ouvir a justificativa
da estudante, foi enfática
 /
I>
, disse. De outro
modo, a professora revelou que a sala
de
aula é um espaço de ordem
institucional onde a alegria é
irresponsável e se aproxima de
desrespeito ou deboche.
Dentro de padrões de muitas
escolas, o corpo não pode falar, é
necessário conter e distanciar a
alegria. Com a dança, o grupo exercita
21
Fala de Carol, componente do grupo em
conversa com a pesquisadora, em 18/06/2018.
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Revista Latino
-Americana de Estudos
17
7, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
preparar para a vida (Estranho, o?
O que acontece no aqui
- agora do
cotidiano não é vida?), dar au
la, ou
preencher o ser vazio com o
conhecimento acumulado pela
humanidade e socialmente
valorizado, ou permitir que este
conhecimento preexistente neste
aluno possa se desenvolver, se
expandir com a intervenção do
professor. Uma formação na qual o
parece ser uma das
chave. (TRINDADE, 2008,
Os próprios meninos e meninas
grupo de dança saberiam responder
àquela professora. Certa vez, em uma
roda de conversa, uma estudante que
compõe o grupo de dança narrou que
ão da escola
porque sambou em sala de aula,
quando acertou uma atividade
proposta pela professora.
A
professora não quis ouvir a justificativa
da estudante, foi enfática
 
, disse. De outro
modo, a professora revelou que a sala
aula é um espaço de ordem
institucional onde a alegria é
irresponsável e se aproxima de
Dentro de padrões de muitas
escolas, o corpo não pode falar, é
necessário conter e distanciar a
alegria. Com a dança, o grupo exercita
Fala de Carol, componente do grupo em
conversa com a pesquisadora, em 18/06/2018.
uma subve
rsão, tornando
espaço de produção de vida alegre,
onde é possível se movimentar, sorrir,
gargalhar, compartilhar ideias e
coreografias, entendendo que,
coletivamente, a vida fica mais leve.
Assim, Espinosa explica: “O corpo
humano pode ser afetado de
maneiras pelas quais sua potência de
agir é aumentada ou diminuída, e
também de outras que não tornam sua
potência de agir nem maior nem
menor” (
2015, EIII, 1 post. p. 237). No
grupo, quanto mais os componentes
se sentem alegres na companhia uns
do
s outros, mais adquirem potência na
criatividade e na imaginação ante as
produções dos musicais.
Nessa conversa, Bruno
que as pessoas se incomodam com o
envolvimento dele com o grupo de
dança:
:      
9  < 2 / 
      
  < 2 / 
 ) E  /
 '   / < # 
 /  1  
J1
<
  '  

(Conversa com Bruno)
Em tempos ríspidos e cruéis, a
22
Nome ficcional de um dos bailarinos.
23
Relato de Bruno e a pesquisadora em
conversa no dia 18/06/2020.
175
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
rsão, tornando
-se um
espaço de produção de vida alegre,
onde é possível se movimentar, sorrir,
gargalhar, compartilhar ideias e
coreografias, entendendo que,
coletivamente, a vida fica mais leve.
Assim, Espinosa explica: “O corpo
humano pode ser afetado de
muitas
maneiras pelas quais sua potência de
agir é aumentada ou diminuída, e
também de outras que não tornam sua
potência de agir nem maior nem
2015, EIII, 1 post. p. 237). No
grupo, quanto mais os componentes
se sentem alegres na companhia uns
s outros, mais adquirem potência na
criatividade e na imaginação ante as
produções dos musicais.
Nessa conversa, Bruno
22
disse
que as pessoas se incomodam com o
envolvimento dele com o grupo de
:      
9  < 2 / 
      
  < 2 / 
 ) E  /
 '   / < # 
 /  1  
J1
  '  
(Conversa com Bruno)
23
.
Em tempos ríspidos e cruéis, a
Nome ficcional de um dos bailarinos.
Relato de Bruno e a pesquisadora em
conversa no dia 18/06/2020.
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
corpos pulsantes. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 162-
17
escola pode ser um espaço acolhedor
e propositor de relações mais
humanas e solidárias.
Último ato
Por mais que ao final de um
texto esperam-
se arremates,
fechamentos e conclusões,
anunciamos aqui “caminhos
possíveis”. Trazemos, novamente, a
provocação posta neste artigo
preciso valorizar os fluxos das redes
de conhecimento constituídas dentro
da escola e convocamos todos nós,
educadores, a pensar que um
movimento imbricado nas ações
cotidianas deve superar a lógica da
separação dos conhecimentos entre
vida e escola.
Neste artigo, as redes
existentes no grupo de dança, estão
tecidas como no musical
em busca da fama” ou como no
espetáculo “Bra
sil” e no
pra
24
. Gordofobia e racismo são os
temas principais de discussão do
musical, tal como xenofobia e
diferenças culturais foram temas do
outro espetáculo. Diante da imensidão
de proposições, diálogos, inquietações
24
Espetáculos produzidos e encenados pelo
grupo de dança.
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Revista Latino
-Americana de Estudos
17
7, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
escola pode ser um espaço acolhedor
e propositor de relações mais
Por mais que ao final de um
se arremates,
fechamentos e conclusões,
anunciamos aqui “caminhos
possíveis”. Trazemos, novamente, a
provocação posta neste artigo
é
preciso valorizar os fluxos das redes
de conhecimento constituídas dentro
da escola e convocamos todos nós,
educadores, a pensar que um
movimento imbricado nas ações
cotidianas deve superar a lógica da
separação dos conhecimentos entre
Neste artigo, as redes
existentes no grupo de dança, estão
tecidas como no musical
$ -
em busca da fama” ou como no
sil” e no
“Deixa isso
. Gordofobia e racismo são os
temas principais de discussão do
musical, tal como xenofobia e
diferenças culturais foram temas do
outro espetáculo. Diante da imensidão
de proposições, diálogos, inquietações
Espetáculos produzidos e encenados pelo
sobre o texto do mus
ical, não como
controlar o que foi ensinado ou
aprendido pelas/pelos estudantes e
sim entender que foram inúmeros
1
experiências.
Compreender que o discurso de
uma “cultura de paz”, impresso no
Projeto Político Pedagógico
escola, por exemplo, também está nas
ações que despertam conhecimentos
contra as formas de preconceito
sociais, racistas, sexistas,
homofóbicos, gordobóficos, entre
muitos outros. Sem problematizar
esses temas, transforma
expressão cultura de p
significante vazio. Uma pesquisa com
os cotidianos leva-
nos a perceber que
as ações dos estudantes e da
professora superam o discurso e
tornam-
se prática na escola.
A possibilidade de encontro
com: a conversa; a risada; a surpresa;
o susto; o inc
ômodo; a alegria; os
conhecimentos em redes; a aceitação
e o acolhimento do estrangeiro; a
sociabilidade que se transforma como
elemento fundamental nas relações; a
palavra que se faz pela confiança; do
poder e das discriminações e o corpo
como forma de co
176
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
ical, não como
controlar o que foi ensinado ou
aprendido pelas/pelos estudantes e
sim entender que foram inúmeros
1
com essas
Compreender que o discurso de
uma “cultura de paz”, impresso no
Projeto Político Pedagógico
de uma
escola, por exemplo, também está nas
ações que despertam conhecimentos
contra as formas de preconceito
sociais, racistas, sexistas,
homofóbicos, gordobóficos, entre
muitos outros. Sem problematizar
esses temas, transforma
-se a
expressão cultura de p
az em um
significante vazio. Uma pesquisa com
nos a perceber que
as ações dos estudantes e da
professora superam o discurso e
se prática na escola.
A possibilidade de encontro
com: a conversa; a risada; a surpresa;
ômodo; a alegria; os
conhecimentos em redes; a aceitação
e o acolhimento do estrangeiro; a
sociabilidade que se transforma como
elemento fundamental nas relações; a
palavra que se faz pela confiança; do
poder e das discriminações e o corpo
como forma de co
nhecimento.
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
corpos pulsantes. PragMATIZES -
Revista Latino
em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 162-
17
Assuntos que nunca se esgotam, mas
sim permanecem e precisam ser
evidenciadas e discutidas na escola.
Terminamos o texto dizendo: o
grupo de dança é um espaço onde os
conhecimentos em redes se tecem
coletivamente através da
solidariedade, do c
ompanheirismo e
da colaboração. É um grupo que faz
da sociabilidade o seu currículo
escolar.
Referências bibliográficas
ALVES, Nilda.
Decifrando o
pergaminho: os cotidianos das escolas
nas lógicas das redes cotidianas.
OLIVEIRA, Inês B.
; GARCIA,
Alexandra (orgs.).
K E9
L
Horizonte: Autêntica, 2015.
ALVES, Nilda; GARCIA, Regina Leite
(orgs.).
0   
Janeiro: DP&A, 2002.
ANDRADE, Nívea.
Por escolas
perambulantes
. In: ANDRADE
ALVES, Nilda. (orgs.).
& 
.
: conversas com Kurosawa.
Petrópolis: D P et Alii, 2014, v. 1, p.
298-313.
ANDRADE, Nívea.
L 
90
   )
(Doutorado em Educação).
Universidade Estadual do Rio de
Janeiro, 2011.
CANSI, Patrícia G. T.
É escola ou
espetáculo? Um grupo de dança que
faz da sociabilidade o seu currículo
escolar. Dissertação (
Mestrado
CANSI, Patricia Gama Temporim; SÁ, Maria Inês Rocha de. O espetáculo
da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e
Revista Latino
-Americana de Estudos
17
7, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Assuntos que nunca se esgotam, mas
sim permanecem e precisam ser
evidenciadas e discutidas na escola.
Terminamos o texto dizendo: o
grupo de dança é um espaço onde os
conhecimentos em redes se tecem
coletivamente através da
ompanheirismo e
da colaboração. É um grupo que faz
da sociabilidade o seu currículo
Referências bibliográficas
Decifrando o
pergaminho: os cotidianos das escolas
nas lógicas das redes cotidianas.
In:
; GARCIA,
K E9
L
. Belo
Horizonte: Autêntica, 2015.
ALVES, Nilda; GARCIA, Regina Leite
0   
. Rio de
Por escolas
. In: ANDRADE
, Nívea;
& 
: conversas com Kurosawa.
Petrópolis: D P et Alii, 2014, v. 1, p.
L 
90
   )
Tese
(Doutorado em Educação).
Universidade Estadual do Rio de
É escola ou
espetáculo? Um grupo de dança que
faz da sociabilidade o seu currículo
Mestrado
em
Educação)
. Universidade Federal
Fluminense, Niterói,
2019.
CERTEAU, Michel de.
, vol. 1)
Petrópolis: Vozes,
2014.
COUTINHO, Eduardo. Entrevista. In:
BRAGANÇA, Felipe (org
)
Rio Janeiro: Azougue, 2008.
ESPINOSA, Baruch.
M
EdUSP, 2015.
GARCIA, Regina Leite.
arte/ciência de pesquisar com os
cotidianos
. In: GARCIA, R
?<C <C 
São Paulo: Cortez, 2003.
HOOKS, Bell.
.
A educação como prática da liberdade.
o Paulo: WMF
2017.
KRENAK, Ailton.
F   
)
São Paulo: Companhia
das Letras, 2019.
TAVARES, Bráulio.
$
Paulo: Editora 34, 2006.
TRINDADE, Azoilda
Educação-
Diversidade
tempo de encanto pelas diferenças.
D,#F
v. 3, n. 1, p. 13, 2008.
TRINDADE, Azoilda
civilizatórios afro
-
educação infantil: uma contribuição
afro-brasileira.
In: BRANDÃO, A
TRINDADE, A. L.
(org.).
   1
Janeiro: Fundação Roberto Marinho,
2010.
ZARDON, Paola.
Conceituações e exemplificações com
Spinoza.
In: PEREIRA, Marcelo de
Andrade.
L   ./
(des) territorializaçõe
Santa Maria: Ed. da UFMS, 2013.
177
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
. Universidade Federal
2019.
CERTEAU, Michel de.
E F/ 
Petrópolis: Vozes,
COUTINHO, Eduardo. Entrevista. In:
BRAGANÇA, Felipe (org
.). .
Rio Janeiro: Azougue, 2008.
M
. São Paulo:
GARCIA, Regina Leite.
A difícil
arte/ciência de pesquisar com os
. In: GARCIA, R
. L. (org.).
?<C <C 
<.
São Paulo: Cortez, 2003.
.
.
A educação como prática da liberdade.
o Paulo: WMF
Martins Fontes,
F   
São Paulo: Companhia
TAVARES, Bráulio.
0 
$
. São
Paulo: Editora 34, 2006.
TRINDADE, Azoilda
Loretto.
Diversidade
-Igualdade: num
tempo de encanto pelas diferenças.
D,#F
, São Paulo,
v. 3, n. 1, p. 13, 2008.
Loretto. Valores
-
brasileiros e
educação infantil: uma contribuição
In: BRANDÃO, A
. P.;
(org.).
 
   1
. Rio de
Janeiro: Fundação Roberto Marinho,
ZARDON, Paola.
Corpo:
Conceituações e exemplificações com
In: PEREIRA, Marcelo de
L   ./
.
(des) territorializaçõe
s pedagógicas.
Santa Maria: Ed. da UFMS, 2013.
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
IFFluminense campus Campos Centro.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 202
1
.
O ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no IFFluminense
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
Resumo:
O artigo propõe uma reflexão acerca da ocupação do espaço escolar não convencional em
atividades teatrais realizadas no âmbito da disciplina de Artes no campus Campos Centro do IF
Fluminense no ano letivo de 2018 e su
escolar.
Palavras-chave
: Pedagogia do teatro; heterotopia; ensino de
La enseñanza del teatro y la construcción de espacios heterotópicos en IF Fluminense
Campos Centro
Resumen:
El artículo propone una reflexión sobre la ocupación del espacio escolar no convencional
en las actividades teatrales realizadas en el ámbito de la disciplina de las Artes en el campus Campos
Centro de la IF Fluminense en el curso académico de 20
heterotopias en el ámbito escolar.
Palabras clave:
Pedagogía teatral; heterotopía; enseñanza de las artes; actuación.
Theater teaching and the construction of heterotopic spaces in IF Fluminense campus Campos
Centro
Abstract:
The article proposes a reflection about the occupation of the unconventional school space
in theater activities carried out within the scope of the Arts subject at the IF Fluminense campus
Campos Centro in the academic year of 2018 and its power
environment .
Keywords
: Theater pedagogy; heterotopia; arts teaching; performance.
1
Aline dos Santos Portilho. Doutora em História, Política e Bens Culturais (CPDOC/FGV). Produtora
Cultural no IF Fluminense
campus
https://orcid.org/0000-0003-
0079
2
Maria Siqueira Queiroz de Carvalho. Mestra em ensino de Artes cênicas (PPGEAC/UNIRIO).
Professora de Artes-
Teatro no IF Fluminense
maria.carvalho@iff.edu.br -
https://orcid.org/0000
Texto recebido em 18/08/20
20,
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 178-193,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
O ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no IFFluminense
campus Campos Centro
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
44609
Aline dos Santos Portilho
Maria
Siqueira Queiroz de Carvalho
O artigo propõe uma reflexão acerca da ocupação do espaço escolar não convencional em
atividades teatrais realizadas no âmbito da disciplina de Artes no campus Campos Centro do IF
Fluminense no ano letivo de 2018 e su
a potência enquanto criadoras de heterotopias no ambiente
: Pedagogia do teatro; heterotopia; ensino de
a
rtes; performance.
La enseñanza del teatro y la construcción de espacios heterotópicos en IF Fluminense
El artículo propone una reflexión sobre la ocupación del espacio escolar no convencional
en las actividades teatrales realizadas en el ámbito de la disciplina de las Artes en el campus Campos
Centro de la IF Fluminense en el curso académico de 20
18 y su poder como creadores de
heterotopias en el ámbito escolar.
Pedagogía teatral; heterotopía; enseñanza de las artes; actuación.
Theater teaching and the construction of heterotopic spaces in IF Fluminense campus Campos
The article proposes a reflection about the occupation of the unconventional school space
in theater activities carried out within the scope of the Arts subject at the IF Fluminense campus
Campos Centro in the academic year of 2018 and its power
as creators of heterotopias in the school
: Theater pedagogy; heterotopia; arts teaching; performance.
Aline dos Santos Portilho. Doutora em História, Política e Bens Culturais (CPDOC/FGV). Produtora
campus
Campos Centro. E-mail:
aline.portilho@iff.edu.br
0079
-2565
Maria Siqueira Queiroz de Carvalho. Mestra em ensino de Artes cênicas (PPGEAC/UNIRIO).
Teatro no IF Fluminense
campus Campos Centro. E-mail:
https://orcid.org/0000
-0001-7468-5151
20,
aceit
o para publicação em 24/11/2020 e disponibilizado online
em 01/03/2021.
178
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
O ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no IFFluminense
Aline dos Santos Portilho
1
Siqueira Queiroz de Carvalho
2
O artigo propõe uma reflexão acerca da ocupação do espaço escolar não convencional em
atividades teatrais realizadas no âmbito da disciplina de Artes no campus Campos Centro do IF
a potência enquanto criadoras de heterotopias no ambiente
rtes; performance.
La enseñanza del teatro y la construcción de espacios heterotópicos en IF Fluminense
campus
El artículo propone una reflexión sobre la ocupación del espacio escolar no convencional
en las actividades teatrales realizadas en el ámbito de la disciplina de las Artes en el campus Campos
18 y su poder como creadores de
Pedagogía teatral; heterotopía; enseñanza de las artes; actuación.
Theater teaching and the construction of heterotopic spaces in IF Fluminense campus Campos
The article proposes a reflection about the occupation of the unconventional school space
in theater activities carried out within the scope of the Arts subject at the IF Fluminense campus
as creators of heterotopias in the school
Aline dos Santos Portilho. Doutora em História, Política e Bens Culturais (CPDOC/FGV). Produtora
aline.portilho@iff.edu.br
-
Maria Siqueira Queiroz de Carvalho. Mestra em ensino de Artes cênicas (PPGEAC/UNIRIO).
o para publicação em 24/11/2020 e disponibilizado online
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
IFFluminense campus Campos Centro.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 202
1
.
O ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no IFFluminense
Introdução
Aulas de Teatro fazem parte do
Ensino
Médio Integrado aos Cursos
Técnicos de Eletrotécnica, Automação,
Edificações, Mecânica e Informática no
Instituto Federal Fluminense Campus
Campos Centro em Campos dos
Goytacazes, norte do estado do Rio de
Janeiro. Um contexto interessante que
rende reflexões potentes.
Apesar de se assemelhar a
qualquer escola, o contexto do ensino
médio integrado ao técnico é peculiar
por diversas razões. Primeiro pelo
acúmulo de disciplinas que os alunos
cursam por ano -
número que chega a
20 -
e as muitas horas que passa
instituição em decorrência deste
volume. Além do que, estamos falando
de uma escola que atende
aproximadamente a 7 mil alunos e
conta com cerca de 500 servidores
distribuídos em 32 cursos que incluem
formação básica, técnica, superior e
pós-graduação lato e
stricto sensu
completa em 2019 110 anos de ensino
técnico, carregando consigo uma
longa história que em certos pontos
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 178-193,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
O ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no IFFluminense
campus Campos Centro
Aulas de Teatro fazem parte do
Médio Integrado aos Cursos
Técnicos de Eletrotécnica, Automação,
Edificações, Mecânica e Informática no
Instituto Federal Fluminense Campus
Campos Centro em Campos dos
Goytacazes, norte do estado do Rio de
Janeiro. Um contexto interessante que
Apesar de se assemelhar a
qualquer escola, o contexto do ensino
médio integrado ao técnico é peculiar
por diversas razões. Primeiro pelo
acúmulo de disciplinas que os alunos
número que chega a
e as muitas horas que passa
m na
instituição em decorrência deste
volume. Além do que, estamos falando
de uma escola que atende
aproximadamente a 7 mil alunos e
conta com cerca de 500 servidores
distribuídos em 32 cursos que incluem
formação básica, técnica, superior e
stricto sensu
e
completa em 2019 110 anos de ensino
técnico, carregando consigo uma
longa história que em certos pontos
dialoga frontalmente com a
contemporaneidade e em outros
resiste aos tempos.
As aulas de Arte acontecem em
grupos de interesse o
primeiro ano do ensino médio e
contam com dois tempos semanais.
Os alunos escolhem entre aulas de
Artes Visuais, Dança, Teatro ou
Música. Para todas as linguagens,
contamos com laboratórios adaptados,
potencializando a experiência de
aprendizag
em e criação artística.
Com o desenrolar das aulas de
Artes-Teatro -
que se baseiam em
jogos teatrais, improvisações e
montagem de espetáculos
também questões individuais e
coletivas que sensibilizam,
incomodam, em suma, afetam os
estudantes. Est
as questões são não
somente absorvidas pelo trabalho da
disciplina, como se tornam também
matéria-
prima para a criação artística
que sentido ao aprendizado da
linguagem teatral. Tal diálogo entre os
conhecimentos específicos da
linguagem teatral e o uni
179
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
O ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no IFFluminense
dialoga frontalmente com a
contemporaneidade e em outros
As aulas de Arte acontecem em
grupos de interesse o
fertados ao
primeiro ano do ensino médio e
contam com dois tempos semanais.
Os alunos escolhem entre aulas de
Artes Visuais, Dança, Teatro ou
Música. Para todas as linguagens,
contamos com laboratórios adaptados,
potencializando a experiência de
em e criação artística.
Com o desenrolar das aulas de
que se baseiam em
jogos teatrais, improvisações e
montagem de espetáculos
- emergem
também questões individuais e
coletivas que sensibilizam,
incomodam, em suma, afetam os
as questões são não
somente absorvidas pelo trabalho da
disciplina, como se tornam também
prima para a criação artística
que sentido ao aprendizado da
linguagem teatral. Tal diálogo entre os
conhecimentos específicos da
linguagem teatral e o uni
verso dos
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
IFFluminense campus Campos Centro.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 202
1
.
alunos é embasado na obra do autor
Paulo Freire (1974). O autor defende
que toda atividade pedagógica que se
proponha dialógica e emancipadora
pressupõe a absorção dos temas e
questões propostos pelo grupo com
que se trabalha.
A partir do momento
consideramos a escola enquanto um
microcosmos deste fractal que é a
sociedade e o aluno enquanto uma
das classes mais subalternas na
hierarquia escolar -
especialmente
quando na coisa pública, onde, em
contraposição ao ensino privado, o
aluno não é vi
sto como cliente
necessário viabilizar estas vozes e
reconhecer sua legitimidade. Nas
palavras de Paulo Freire, dando
possibilidade de “nomear o mundo”
para que alguém não faça isto por
eles.
Sendo a presença total,
comprometimento corpo e me
condição si-ne-qua-
non
teatral, cria-
se uma dimensão de
inserção no mundo experimentada em
poucas situações do cotidiano do
adolescente no contexto escolar.
Sobre isso,em entrevista a Viviane
Mosé, Rubem Alves discorre sobre a
criança e e
stendemos ao adolescente:
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 178-193,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
alunos é embasado na obra do autor
Paulo Freire (1974). O autor defende
que toda atividade pedagógica que se
proponha dialógica e emancipadora
pressupõe a absorção dos temas e
questões propostos pelo grupo com
A partir do momento
que
consideramos a escola enquanto um
microcosmos deste fractal que é a
sociedade e o aluno enquanto uma
das classes mais subalternas na
especialmente
quando na coisa pública, onde, em
contraposição ao ensino privado, o
sto como cliente
- faz-se
necessário viabilizar estas vozes e
reconhecer sua legitimidade. Nas
palavras de Paulo Freire, dando
-lhes
possibilidade de “nomear o mundo”
para que alguém não faça isto por
Sendo a presença total,
comprometimento corpo e me
nte, uma
non
do fazer
se uma dimensão de
inserção no mundo experimentada em
poucas situações do cotidiano do
adolescente no contexto escolar.
Sobre isso,em entrevista a Viviane
Mosé, Rubem Alves discorre sobre a
stendemos ao adolescente:
“Uma frase que eu vejo
constantemente repetida é a de que a
criança é o futuro, detesto essa frase.
Detesto porque acho que a criança é o
presente, a criança não existe para ser
o futuro, ela existe para ser criança,
ela não está
aqui para ser preparada
para ser um adulto produtivo.” (ALVES
apud
MOSÉ, 2013, p.103)
Analisaremos algumas
experiências pedagógicas realizadas
em espaços não convencionais na
disciplina Artes-
Teatro com turmas de
ensino médio integrado do campus
Campos Cen
tro do Instituto Federal
Fluminense entre 2017 e 2019, no
intuito de encontrar na atividade de
ensino-
aprendizagem de Arte uma
oportunidade para a concretização de
espaços heterotópicos (cf.
FOUCAULT, 2009).
A noção de heterotopia nos
permite refletir sobr
e o espaço que os
estudantes produzem ao realizarem
exercícios, jogos teatrais e as
intervenções performáticas analisadas
neste artigo. Sendo a escola uma
instituição de controle (cf. FOUCAULT,
1999), os usos de seus espaços estão
estabelecidos em convençõ
parte das vezes tacitamente
estabelecidas. Os estudantes, porém,
180
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
“Uma frase que eu vejo
constantemente repetida é a de que a
criança é o futuro, detesto essa frase.
Detesto porque acho que a criança é o
presente, a criança não existe para ser
o futuro, ela existe para ser criança,
aqui para ser preparada
para ser um adulto produtivo.” (ALVES
MOSÉ, 2013, p.103)
Analisaremos algumas
experiências pedagógicas realizadas
em espaços não convencionais na
Teatro com turmas de
ensino médio integrado do campus
tro do Instituto Federal
Fluminense entre 2017 e 2019, no
intuito de encontrar na atividade de
aprendizagem de Arte uma
oportunidade para a concretização de
espaços heterotópicos (cf.
A noção de heterotopia nos
e o espaço que os
estudantes produzem ao realizarem
exercícios, jogos teatrais e as
intervenções performáticas analisadas
neste artigo. Sendo a escola uma
instituição de controle (cf. FOUCAULT,
1999), os usos de seus espaços estão
estabelecidos em convençõ
es, a maior
parte das vezes tacitamente
estabelecidas. Os estudantes, porém,
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
IFFluminense campus Campos Centro.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 202
1
.
ao serem estimulados a ocupar os
espaços para a prática teatral, o fazem
de forma o convencional,
produzindo o real invertido das
heterotopias. Dedicamo-
nos a seguir a
analisar
como ocorrem essas
apropriações em diálogo com tais
conceitos.
Ensino do teatro e a relação com o
espaço
Em diversos momentos das
aulas de Teatro, transbordamos o
espaço da sala de aula, aquele
designado formalmente para a
atividade de ensino-
aprendizagem.
Mesmo exercícios pensados com
outros fins, quando levados para o
espaço externo, produzem apropriação
do espaço escolar que muitas vezes é
apontada pelos alunos como a
dimensão mais importante do trabalho.
Dentre as atividades que
cost
umamos realizar no ambiente
externo estão as que analisaremos a
seguir. A partir delas, proble
matizaremos as relações de
pertencimento e ressignificação que os
estudantes da disciplina Artes
constroem com o espaço escolar.
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 178-193,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
ao serem estimulados a ocupar os
espaços para a prática teatral, o fazem
de forma o convencional,
produzindo o real invertido das
nos a seguir a
como ocorrem essas
apropriações em diálogo com tais
Ensino do teatro e a relação com o
Em diversos momentos das
aulas de Teatro, transbordamos o
espaço da sala de aula, aquele
designado formalmente para a
aprendizagem.
Mesmo exercícios pensados com
outros fins, quando levados para o
espaço externo, produzem apropriação
do espaço escolar que muitas vezes é
apontada pelos alunos como a
dimensão mais importante do trabalho.
Dentre as atividades que
umamos realizar no ambiente
externo estão as que analisaremos a
seguir. A partir delas, proble
-
matizaremos as relações de
pertencimento e ressignificação que os
estudantes da disciplina Artes
-Teatro
constroem com o espaço escolar.
·Pular corda
O exercíci
o de pular corda
trabalha diversas habilidades inerentes
ao fazer teatral, como ritmo,
contracenação, prontidão e presença.
O exercício costuma ser realizado uma
ou duas vezes no ano e consiste em
levar a turma para o ambiente externo
e propor variações da
pular corda: passar pela corda sem
pular, pular um número pré
estabelecido de vezes e sair da corda,
organizar o grupo para pular um
número de vezes e deixar a corda
bater vazia outro número, pular em
duplas, em trios, organizar entradas e
saídas alternando duplas e até mesmo
fazer algumas brincadeiras de corda
com música. Em geral é uma aula
desafiante para uma parcela da turma,
mas muito animada, onde alguns têm
a oportunidade de aprender a pular
corda, outros têm a oportunidade de
auxilia
r um colega, além de ser muito
divertido. Neste caso, o objetivo inicial
em levar o exercício para fora de sala
era apenas a falta de espaço interno,
mas os fatores exposição e subversão
por ocupar o pilotis ou o
estacionamento para uma atividade
aparentem
ente lúdica e o fato de
muitas vezes estarmos descalços
181
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
o de pular corda
trabalha diversas habilidades inerentes
ao fazer teatral, como ritmo,
contracenação, prontidão e presença.
O exercício costuma ser realizado uma
ou duas vezes no ano e consiste em
levar a turma para o ambiente externo
e propor variações da
brincadeira de
pular corda: passar pela corda sem
pular, pular um número pré
-
estabelecido de vezes e sair da corda,
organizar o grupo para pular um
número de vezes e deixar a corda
bater vazia outro número, pular em
duplas, em trios, organizar entradas e
saídas alternando duplas e até mesmo
fazer algumas brincadeiras de corda
com música. Em geral é uma aula
desafiante para uma parcela da turma,
mas muito animada, onde alguns têm
a oportunidade de aprender a pular
corda, outros têm a oportunidade de
r um colega, além de ser muito
divertido. Neste caso, o objetivo inicial
em levar o exercício para fora de sala
era apenas a falta de espaço interno,
mas os fatores exposição e subversão
por ocupar o pilotis ou o
estacionamento para uma atividade
ente lúdica e o fato de
muitas vezes estarmos descalços
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
IFFluminense campus Campos Centro.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 202
1
.
acabaram se mostrando muito
relevantes e tais experiências são
sempre abordadas nas discussões
realizadas ao final de cada aula.
·Cego-guia
Um exercício onde um fecha os
olhos e outro guia é geralmen
pensado no intuito de promover
confiança entre os colegas de grupo e
ampliar os demais sentidos que
costumam ser menos utilizados que a
visão. Porém, como geralmente as
turmas são grandes, fazemos este
exercício fora da sala, até mesmo para
multiplicar
as possibilidades de
percursos e obstáculos. É um
exercício difícil, muitos abrem os olhos
tanto por insegurança quanto por
vergonha e mais uma vez a dimensão
da ocupação não convencional do
espaço e mesmo da redescoberta do
espaço a partir de sons, relevo
texturas e odores é sempre um dos
tópicos abordados no debate ao fim da
aula.
·Observação de tipos
Outro exercício que é
necessariamente realizado no
ambiente externo é o de observação.
Com um tempo determinado, os
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 178-193,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
acabaram se mostrando muito
relevantes e tais experiências são
sempre abordadas nas discussões
realizadas ao final de cada aula.
Um exercício onde um fecha os
olhos e outro guia é geralmen
te
pensado no intuito de promover
confiança entre os colegas de grupo e
ampliar os demais sentidos que
costumam ser menos utilizados que a
visão. Porém, como geralmente as
turmas são grandes, fazemos este
exercício fora da sala, até mesmo para
as possibilidades de
percursos e obstáculos. É um
exercício difícil, muitos abrem os olhos
tanto por insegurança quanto por
vergonha e mais uma vez a dimensão
da ocupação não convencional do
espaço e mesmo da redescoberta do
espaço a partir de sons, relevo
s,
texturas e odores é sempre um dos
tópicos abordados no debate ao fim da
Outro exercício que é
necessariamente realizado no
ambiente externo é o de observação.
Com um tempo determinado, os
alunos saem de sala com a intenção
d
e escolher uma pessoa que julguem
um “tipo interessante” para observar e
imitar. A partir do material colhido,
fazemos improvisações e trabalhamos
a construção de personagem, mas
mais uma vez nos debates a questão
do espaço vem à tona. Tanto pela
oportunid
ade de observação que no
dia a dia acaba suprimida pela
atribulação de tarefas, quanto pela
busca de ocupar o espaço sem ser
notado, o que leva à assunção de
qualidades variadas do corpo e do
comportamento. Uns demonstram
desenvoltura e dialogam com o
obse
rvado, outros mantém distância,
outros se escondem em tentativas de
disfarçar a atitude observativa.
·Jogo de ressignificação
Esse talvez seja o jogo mais
potente de diálogo com a reflexão que
queremos estabelecer. Divididos em
grupos, os alunos saem pel
em busca de espaços potentes de
ressignificação. O espaço escolhido
deve conservar apenas sua forma
original, tendo sua utilidade
transformada pela cena, ou seja, pela
ação dos atores. Este exercício é
apontado como o mais marcante do
182
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
alunos saem de sala com a intenção
e escolher uma pessoa que julguem
um “tipo interessante” para observar e
imitar. A partir do material colhido,
fazemos improvisações e trabalhamos
a construção de personagem, mas
mais uma vez nos debates a questão
do espaço vem à tona. Tanto pela
ade de observação que no
dia a dia acaba suprimida pela
atribulação de tarefas, quanto pela
busca de ocupar o espaço sem ser
notado, o que leva à assunção de
qualidades variadas do corpo e do
comportamento. Uns demonstram
desenvoltura e dialogam com o
rvado, outros mantém distância,
outros se escondem em tentativas de
disfarçar a atitude observativa.
·Jogo de ressignificação
Esse talvez seja o jogo mais
potente de diálogo com a reflexão que
queremos estabelecer. Divididos em
grupos, os alunos saem pel
a escola
em busca de espaços potentes de
ressignificação. O espaço escolhido
deve conservar apenas sua forma
original, tendo sua utilidade
transformada pela cena, ou seja, pela
ação dos atores. Este exercício é
apontado como o mais marcante do
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
IFFluminense campus Campos Centro.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 202
1
.
ano na análi
se de muitos alunos.
Enquanto professora é possível
perceber que a concretude de
diferentes espaços pode ser um
potente indutor da cena e promotor da
presença, enquanto a ocupação do
espaço e a exposição são os fatores
que eles apontam como mais
desafiadores.
·Da pergunta à ação
Dentre as experiências que
relacionaram a criação cênica com o
espaço externo à sala de aula, uma
unidade de 5 aulas no último bimestre
de 2018 mostrou-
se bastante potente
de reflexão. Cabe destacar que a
aproximação dos grupos com
linguagem teatral vinha sendo
maturada desde o início do ano,
passando inclusive -
além de diversos
jogos teatrais e exercícios de criação
cênica -
por uma apresentação no
auditório da escola que foi muito
importante no processo de
experimentação da
atividade de ator
por parte dos alunos.
Começamos nosso processo
criativo investigando questões a partir
da seguinte metodologia: cada aluno
munido de um papel e um hidrocor
devia escrever uma pergunta; os
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 178-193,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
se de muitos alunos.
Enquanto professora é possível
perceber que a concretude de
diferentes espaços pode ser um
potente indutor da cena e promotor da
presença, enquanto a ocupação do
espaço e a exposição são os fatores
que eles apontam como mais
Dentre as experiências que
relacionaram a criação cênica com o
espaço externo à sala de aula, uma
unidade de 5 aulas no último bimestre
se bastante potente
de reflexão. Cabe destacar que a
aproximação dos grupos com
a
linguagem teatral vinha sendo
maturada desde o início do ano,
além de diversos
jogos teatrais e exercícios de criação
por uma apresentação no
auditório da escola que foi muito
importante no processo de
atividade de ator
Começamos nosso processo
criativo investigando questões a partir
da seguinte metodologia: cada aluno
munido de um papel e um hidrocor
devia escrever uma pergunta; os
papéis foram embaralhados e cada um
pegou um novo
papel cuja pergunta
deveria ser respondida com outra
pergunta, este procedimento foi
repetido 3 vezes, totalizando um
diálogo de 4 perguntas em cada papel;
no sorteio seguinte, eles deviam
adicionar uma cor, depois um som,
depois um lugar e depois um
perso
nagem. Cada papel passou a
conter então um universo com lugar,
som, personagem, cor e um debate de
4 perguntas. Uns apresentavam
indicações mais realistas, outros
menos lógicas.
Na aula seguinte, retomamos os
papéis e depois de reler e debater as
questões
levantadas, cada grupo de 4
ou 5 alunos escolheu um papel e saiu
pela escola em busca de um lugar no
qual suas ações pudessem dialogar
com o debate contido no papel
escolhido. Eles retornaram e
debatemos juntos as possibilidades de
intervenção.
A terceira aula da unidade foi
ministrada pelos estagiários Guilherme
Florentino Lisboa, Pâmella de Almeida
Figueiredo e Alice Mendonça de
Souza. Eles são alunos do curso
superior de Licenciatura em Teatro
que compartilha conosco o campus do
183
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
papéis foram embaralhados e cada um
papel cuja pergunta
deveria ser respondida com outra
pergunta, este procedimento foi
repetido 3 vezes, totalizando um
diálogo de 4 perguntas em cada papel;
no sorteio seguinte, eles deviam
adicionar uma cor, depois um som,
depois um lugar e depois um
nagem. Cada papel passou a
conter então um universo com lugar,
som, personagem, cor e um debate de
4 perguntas. Uns apresentavam
indicações mais realistas, outros
Na aula seguinte, retomamos os
papéis e depois de reler e debater as
levantadas, cada grupo de 4
ou 5 alunos escolheu um papel e saiu
pela escola em busca de um lugar no
qual suas ações pudessem dialogar
com o debate contido no papel
escolhido. Eles retornaram e
debatemos juntos as possibilidades de
A terceira aula da unidade foi
ministrada pelos estagiários Guilherme
Florentino Lisboa, Pâmella de Almeida
Figueiredo e Alice Mendonça de
Souza. Eles são alunos do curso
superior de Licenciatura em Teatro
que compartilha conosco o campus do
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
IFFluminense campus Campos Centro.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 202
1
.
IFF, salas, pr
ofessores e mantém um
estreito diálogo que tem se mostrado
muito profícuo tanto para a formação
básica quanto para os licenciandos.
Foi deles a iniciativa de trazer o vídeo
Bodies in Urban Space
do coreógrafo
Willi Dorner
3
(2014) ao qual tiveram
acesso na disciplina Dança na Escola,
ministrada pela professora Tatiana de
Oliveira Almeida. Foi uma contribuição
muito valiosa para o processo, uma
vez que se configurou referência
essencial para a proposta final.
O deo relativ
izou a noção
funcionalista que os alunos costumam
ter de suas cenas e ações e os fez
questionar e até mesmo duvidar da
pertinência do trabalho desenvolvido
pelo grupo dirigido por Dorner.
Pudemos ampliar o debate sobre a
relevância de propor ocupações não
convencionais dos espaços e a
necessidade ou não de uma narrativa
neste tipo de proposta, além de
vislumbrar formas de fruição que não
se restrinjam a “entender” a obra
buscando uma narrativa linear, como
em geral é objetivado pelo espectador
menos sociali
zado nestas linguagens
3
Willi Dorner é um renomado coreógrafo
austríaco e o vídeo encontra-
se disponível na
web:
https://www.youtube.com/watch?v=DaMk
8q0aJyE (acesso em: 09 jul.
2019)
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 178-193,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
ofessores e mantém um
estreito diálogo que tem se mostrado
muito profícuo tanto para a formação
básica quanto para os licenciandos.
Foi deles a iniciativa de trazer o vídeo
do coreógrafo
(2014) ao qual tiveram
acesso na disciplina Dança na Escola,
ministrada pela professora Tatiana de
Oliveira Almeida. Foi uma contribuição
muito valiosa para o processo, uma
vez que se configurou referência
essencial para a proposta final.
izou a noção
funcionalista que os alunos costumam
ter de suas cenas e ações e os fez
questionar e até mesmo duvidar da
pertinência do trabalho desenvolvido
pelo grupo dirigido por Dorner.
Pudemos ampliar o debate sobre a
relevância de propor ocupações não
convencionais dos espaços e a
necessidade ou não de uma narrativa
neste tipo de proposta, além de
vislumbrar formas de fruição que não
se restrinjam a “entender” a obra
buscando uma narrativa linear, como
em geral é objetivado pelo espectador
zado nestas linguagens
Willi Dorner é um renomado coreógrafo
se disponível na
https://www.youtube.com/watch?v=DaMk
2019)
artísticas. O impacto do deo ficou
evidente na realização do jogo de
ressignificação do espaço, também
conduzida pelos estagiários. Os alunos
foram menos narrativos e refletiram
através da própria experiência cênica
concreta sobre
a eficácia da presença
pura e simples do artista no espaço
para configurar uma obra de arte.
Na aula seguinte, finalizamos a
proposta de realização da
performance. Decidimos que todos
participariam de todas as intervenções,
não estando mais separados em
gr
upos. O roteiro desenhado foi: na
recepção dos servidores e visitantes
fazer estátuas de felicidade muito
exagerada e falsa, em seguida, subir a
rampa do bloco A (a mais
movimentada da escola) e descer
rolando duas vezes, depois seguir em
direção ao ginási
o enquanto um grupo
de cinco alunos se dispersa e sobe
num vão em cima do placar onde faz
poses de coisas proibidas no interior
do ginásio -
namorar, comer, dormir e
ficar deitado ouvindo música. Ao fim o
grupo todo se dispersa e volta para
sala.
Isto post
o, com bastante euforia
encerramos a aula com minha
promessa de que me arriscaria com
184
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
artísticas. O impacto do deo ficou
evidente na realização do jogo de
ressignificação do espaço, também
conduzida pelos estagiários. Os alunos
foram menos narrativos e refletiram
através da própria experiência cênica
a eficácia da presença
pura e simples do artista no espaço
para configurar uma obra de arte.
Na aula seguinte, finalizamos a
proposta de realização da
performance. Decidimos que todos
participariam de todas as intervenções,
não estando mais separados em
upos. O roteiro desenhado foi: na
recepção dos servidores e visitantes
fazer estátuas de felicidade muito
exagerada e falsa, em seguida, subir a
rampa do bloco A (a mais
movimentada da escola) e descer
rolando duas vezes, depois seguir em
o enquanto um grupo
de cinco alunos se dispersa e sobe
num vão em cima do placar onde faz
poses de coisas proibidas no interior
namorar, comer, dormir e
ficar deitado ouvindo música. Ao fim o
grupo todo se dispersa e volta para
o, com bastante euforia
encerramos a aula com minha
promessa de que me arriscaria com
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
IFFluminense campus Campos Centro.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 202
1
.
eles e o os deixaria “passar
vergonha” sozinhos. Esta segurança
foi essencial para que eles se
dispusessem a embarcar na proposta.
A este respeito,
Costuma-
se dizer que
coordenador do processo entra no
jogo perde o olhar exterior, mas, se
todos os membros do grupo jogam,
por que ele não? A sua participação,
entrando vez ou outra no jogo
intensifica a relação com os demais
integrantes do grupo, possibilitando
que
estes percebam e se contagiem
com o seu prazer em participar das
atividades. Além disso, surge sempre
a curiosidade do participante, que
quer que o professor também se
exponha. Será que ele sabe jogar
como nos pede para fazer? Uma
relação diferente se est
desmistifica a figura do coordenador
no grupo, aproximando
integrantes, que se sentem mais à
vontade para jogar. (DESGRANGES,
2017, p. 98)
Este aspecto foi o que levou à
parceria que culminou neste artigo,
unindo as duas autoras
professora estaria envolvida na
realização das performances, seria
necessário um servidor que pudesse
garantir a segurança dos
performers
esclarecer possíveis mal entendidos. A
segunda autora então, foi convidada a
fazer este papel que os
chamam de “anjo”, ou seja, a pessoa
que garante a segurança dos artistas e
auxilia na realização da performance.
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 178-193,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
eles e o os deixaria “passar
vergonha” sozinhos. Esta segurança
foi essencial para que eles se
dispusessem a embarcar na proposta.
se dizer que
quando o
coordenador do processo entra no
jogo perde o olhar exterior, mas, se
todos os membros do grupo jogam,
por que ele não? A sua participação,
entrando vez ou outra no jogo
intensifica a relação com os demais
integrantes do grupo, possibilitando
estes percebam e se contagiem
com o seu prazer em participar das
atividades. Além disso, surge sempre
a curiosidade do participante, que
quer que o professor também se
exponha. Será que ele sabe jogar
como nos pede para fazer? Uma
relação diferente se est
abelece, pois
desmistifica a figura do coordenador
no grupo, aproximando
-o dos demais
integrantes, que se sentem mais à
vontade para jogar. (DESGRANGES,
Este aspecto foi o que levou à
parceria que culminou neste artigo,
que a
professora estaria envolvida na
realização das performances, seria
necessário um servidor que pudesse
performers
e
esclarecer possíveis mal entendidos. A
segunda autora então, foi convidada a
fazer este papel que os
performers
chamam de “anjo”, ou seja, a pessoa
que garante a segurança dos artistas e
auxilia na realização da performance.
Na quinta aula, realizamos as
intervenções performáticas. Primeiro
nos encontramos na sala, repassamos
o roteiro e decidimos como faríamo
as transições entre os espaços. A
turma decidiu ir em fila,
concentradamente sem interagir com
os colegas e conhecidos que
porventura estivessem notio, pois
estavam nervosos e tinham medo de
se desestabilizar.
Fizemos um exercício de
aquecimento do
autor Augusto Boal
chamado Mosquito Africano
de unir a turma em um ritmo, gerar
concentração e conexão. Depois
repassamos o roteiro em sala, nos
organizamos e fomos realizá
A única ação que não seguiu
estritamente o combinado foi que ne
todos conseguiram ou tiveram
coragem de rolar duas vezes e
desconfiamos que alguns (bem
poucos) não tenham rolado nenhuma.
Depois de retornar à sala, a
professora encaminhou
momento introspectivo para que fosse
4
Em roda, imagina-
se um mosquito
sobrevoando a cabeça de alguém. Este deve
abaixar-
se enquanto os dois que estão a seus
lados batem palma sobre sua cabeça. O
“mosquito” então passa a sobrevoar a cabeça
da pessoa ao lado (uma das qu
e o mecanismo se repete no sentido da roda,
criando um ritmo com as palmas.
185
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Na quinta aula, realizamos as
intervenções performáticas. Primeiro
nos encontramos na sala, repassamos
o roteiro e decidimos como faríamo
s
as transições entre os espaços. A
turma decidiu ir em fila,
concentradamente sem interagir com
os colegas e conhecidos que
porventura estivessem notio, pois
estavam nervosos e tinham medo de
Fizemos um exercício de
autor Augusto Boal
chamado Mosquito Africano
4
no intuito
de unir a turma em um ritmo, gerar
concentração e conexão. Depois
repassamos o roteiro em sala, nos
organizamos e fomos realizá
-lo.
A única ação que não seguiu
estritamente o combinado foi que ne
m
todos conseguiram ou tiveram
coragem de rolar duas vezes e
desconfiamos que alguns (bem
poucos) não tenham rolado nenhuma.
Depois de retornar à sala, a
professora encaminhou
-os para um
momento introspectivo para que fosse
se um mosquito
sobrevoando a cabeça de alguém. Este deve
se enquanto os dois que estão a seus
lados batem palma sobre sua cabeça. O
“mosquito” então passa a sobrevoar a cabeça
da pessoa ao lado (uma das qu
e bateu palma)
e o mecanismo se repete no sentido da roda,
criando um ritmo com as palmas.
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
IFFluminense campus Campos Centro.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 202
1
.
mais fácil assimilar a experiên
física, intelectual e emocionalmente.
Deitados no chão, guiou uma
respiração profunda com checagem do
relaxamento do corpo. Depois
sentamos em roda para falar sobre a
experiência.
Foi bem curioso ver que a turma
criou muitas relações que
evidenciavam o
caminho do processo.
Os alunos performers
consideraram
que sua presença ressignificou a
relação das pessoas com o espaço.
Muitos alunos disseram que se
sentiram livres. É pouco objetiva, mas
muito compreensível esta sensação,
posto que, especialmente no a
escolar, a liberdade é bastante rara e
subverter as regras se torna quase um
fetiche que os alunos perseguem nas
brechas. Muitos afirmaram que foram
“loucos”, o que nos levou de volta às
perguntas, pois elas questionavam os
conceitos de normalidade
esforços que se faz em direção ao
enquadramento nas expectativas que
o sistema -
concretizado nas
instituições família e escola
especialmente -
impõem sobre nós.
Desta sensação de ser “louco”,
ou seja, não se enquadrar, muitas
discussões emergem.
sensação
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 178-193,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
mais fácil assimilar a experiên
cia
física, intelectual e emocionalmente.
Deitados no chão, guiou uma
respiração profunda com checagem do
relaxamento do corpo. Depois
sentamos em roda para falar sobre a
Foi bem curioso ver que a turma
criou muitas relações que
caminho do processo.
consideraram
que sua presença ressignificou a
relação das pessoas com o espaço.
Muitos alunos disseram que se
sentiram livres. É pouco objetiva, mas
muito compreensível esta sensação,
posto que, especialmente no a
mbiente
escolar, a liberdade é bastante rara e
subverter as regras se torna quase um
fetiche que os alunos perseguem nas
brechas. Muitos afirmaram que foram
“loucos”, o que nos levou de volta às
perguntas, pois elas questionavam os
conceitos de normalidade
e os
esforços que se faz em direção ao
enquadramento nas expectativas que
concretizado nas
instituições família e escola
impõem sobre nós.
Desta sensação de ser “louco”,
ou seja, não se enquadrar, muitas
sensação
de subversão porque previamente
uma sensação de controle.
Retornamos então à categoria
anteriormente apresentada de
heterotopias no ambiente escolar.
Podemos analisar este ambiente de
“controle social” (Foucault, 1999) em
quase todas as inst
ituições escolares,
mas como estamos numa escola
centenária de formação técnica
alguns aspectos ficam potencializados.
Esses métodos que permitem o
controle minucioso das operações do
corpo, que realizam a sujeição
constante de suas forças e lhes
impõem
uma relação de docilidade
utilidade, são o que podemos
chamar as “disciplinas”. Muitos
processos disciplinares existiam
muito tempo: nos conventos, nos
exércitos, nas oficinas também. Mas
as disciplinas se tornaram no
decorrer dos séculos XVII e XVIII
f
órmulas gerais de dominação. [...] o
torna tanto mais obediente quanto é
mais útil, e inversamente. [...] O
corpo humano entra numa
maquinaria de poder que o
esquadrinha, o desarticula e o
recompõe. Uma “anatomia política”,
que é também igualmente uma
“mec
ânica do poder”, está nascendo;
ela define como se pode ter domínio
sobre o corpo dos outros, não
simplesmente para que façam o que
se quer, mas para que operem como
se quer, com as técnicas, segundo a
rapidez e a eficácia que se
determina. A disciplina fa
corpos submissos e exercitados,
5
O Instituto Federal Fluminense completou
110 anos em 2019, tendo iniciado sua história
como Escola de Aprendizes e Artífices
fundada no governo de Nilo Peçanha. A
passou pelas nomenclaturas Escola Técnica
Federal de Campos, CEFET e em 2008
ganhou a nomenclatura atual.
186
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
de subversão porque previamente
uma sensação de controle.
Retornamos então à categoria
anteriormente apresentada de
heterotopias no ambiente escolar.
Podemos analisar este ambiente de
“controle social” (Foucault, 1999) em
ituições escolares,
mas como estamos numa escola
centenária de formação técnica
5
,
alguns aspectos ficam potencializados.
Esses métodos que permitem o
controle minucioso das operações do
corpo, que realizam a sujeição
constante de suas forças e lhes
uma relação de docilidade
-
utilidade, são o que podemos
chamar as “disciplinas”. Muitos
processos disciplinares existiam
muito tempo: nos conventos, nos
exércitos, nas oficinas também. Mas
as disciplinas se tornaram no
decorrer dos séculos XVII e XVIII
órmulas gerais de dominação. [...] o
torna tanto mais obediente quanto é
mais útil, e inversamente. [...] O
corpo humano entra numa
maquinaria de poder que o
esquadrinha, o desarticula e o
recompõe. Uma “anatomia política”,
que é também igualmente uma
ânica do poder”, está nascendo;
ela define como se pode ter domínio
sobre o corpo dos outros, não
simplesmente para que façam o que
se quer, mas para que operem como
se quer, com as técnicas, segundo a
rapidez e a eficácia que se
determina. A disciplina fa
brica assim
corpos submissos e exercitados,
O Instituto Federal Fluminense completou
110 anos em 2019, tendo iniciado sua história
como Escola de Aprendizes e Artífices
fundada no governo de Nilo Peçanha. A
escola
passou pelas nomenclaturas Escola Técnica
Federal de Campos, CEFET e em 2008
ganhou a nomenclatura atual.
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
IFFluminense campus Campos Centro.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 202
1
.
corpos “dóceis”. A disciplina aumenta
as forças do corpo (em termos
econômicos de utilidade) e diminui
essas mesmas forças (em termos
políticos de obediência). [...] Se a
exploração econômica separa a
força e o p
roduto do trabalho,
digamos que a coerção disciplinar
estabelece no corpo o elo coercitivo
entre uma aptidão aumentada e uma
dominação acentuada. (FOUCAULT,
1999, p. 164)
Tal trecho escancara os
interesses que pautam a construção
de uma educação baseada n
disciplina e operada através do
esquadrinhamento. É exatamente a
partir do máximo de recortes possível
que o sistema constrói a dissociação
entre os saberes, as pessoas, os
espaços, os tempos e em última
instância, entre a mente e o corpo de
uma mesma pe
ssoa. A proposta
pedagógica aqui analisada trabalha
justamente na reconexão destas
partes que a disciplina produz,
reconfigurando-
as no todo. A
desestabilização do esquadrinhamento
se configura então na própria
desestabilização do sistema, a
começar pelos
corpos que são nas
aulas de Artes-
Teatro trabalhados em
função da mobilização de afetos.
Trazemos nas atividades narradas a
ocupação do espaço por estes corpos
afetados, “desencaixotando” as aulas
e permitindo os encontros entre os
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 178-193,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
corpos “dóceis”. A disciplina aumenta
as forças do corpo (em termos
econômicos de utilidade) e diminui
essas mesmas forças (em termos
políticos de obediência). [...] Se a
exploração econômica separa a
roduto do trabalho,
digamos que a coerção disciplinar
estabelece no corpo o elo coercitivo
entre uma aptidão aumentada e uma
dominação acentuada. (FOUCAULT,
Tal trecho escancara os
interesses que pautam a construção
de uma educação baseada n
a
disciplina e operada através do
esquadrinhamento. É exatamente a
partir do máximo de recortes possível
que o sistema constrói a dissociação
entre os saberes, as pessoas, os
espaços, os tempos e em última
instância, entre a mente e o corpo de
ssoa. A proposta
pedagógica aqui analisada trabalha
justamente na reconexão destas
partes que a disciplina produz,
as no todo. A
desestabilização do esquadrinhamento
se configura então na própria
desestabilização do sistema, a
corpos que são nas
Teatro trabalhados em
função da mobilização de afetos.
Trazemos nas atividades narradas a
ocupação do espaço por estes corpos
afetados, “desencaixotando” as aulas
e permitindo os encontros entre os
corpos afetados no espaç
desconstruindo as designações
primeiras para qual foram destinados
tais espaços, ou seja, produzindo
heterotopias.
A partir dos exemplos narrados,
podemos pensar a relação dos
estudantes, bem como da disciplina
Artes-
Teatro com os espaços e as
organiza
ções do sistema escolar.
Dentro do contexto do ensino básico
formal, a disciplina de Artes tem via de
regra o mesmo estatuto das demais,
porém esta área de conhecimento
envolve e mobiliza, além de saberes
técnicos como as demais, afetos e
subjetividades, d
emanda dispo
nibilidade de corpo e mente
conjugadas e dialoga com a cultura e a
história de cada indivíduo e da
comunidade. Por tudo isto que a aula
de Artes muitas vezes excede os
limites obedecidos pelas demais
disciplinas, escorre através das grades
cur
riculares e não se contém na sala
de aula. Ao trabalhar os elementos da
linguagem teatral, abrem
possibilidades de subverter a ordem e
questionar hierarquias.
Entretanto, é importante
assinalar que esta subversão ocorre
no centro de uma estrutur
187
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
corpos afetados no espaç
o,
desconstruindo as designações
primeiras para qual foram destinados
tais espaços, ou seja, produzindo
A partir dos exemplos narrados,
podemos pensar a relação dos
estudantes, bem como da disciplina
Teatro com os espaços e as
ções do sistema escolar.
Dentro do contexto do ensino básico
formal, a disciplina de Artes tem via de
regra o mesmo estatuto das demais,
porém esta área de conhecimento
envolve e mobiliza, além de saberes
técnicos como as demais, afetos e
emanda dispo
-
nibilidade de corpo e mente
conjugadas e dialoga com a cultura e a
história de cada indivíduo e da
comunidade. Por tudo isto que a aula
de Artes muitas vezes excede os
limites obedecidos pelas demais
disciplinas, escorre através das grades
riculares e não se contém na sala
de aula. Ao trabalhar os elementos da
linguagem teatral, abrem
-se algumas
possibilidades de subverter a ordem e
questionar hierarquias.
Entretanto, é importante
assinalar que esta subversão ocorre
no centro de uma estrutur
a
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
IFFluminense campus Campos Centro.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 202
1
.
consolidada pela inclusão de Artes
como disciplina nos currículos
escolares, desde a instituição da
obrigatoriedade do ensino de
Educação Artística pela lei 5692/71,
que se modificou ao longo dos anos
até o que atualmente é praticado como
ensino de Arte.
O respaldo da
obrigatoriedade, nos permite justificar
as atividades realizadas como
atividades de ensino, ou seja,
atividades fim da instituição, além de
dar ao professor um espaço mais largo
de atuação, posto que tudo que faz
parte das atividades pedagóg
justifica no ambiente escolar. Ainda
assim, estranhamento por parte de
profissionais de outras áreas e a
mesmo tentativas de repressão.
Porém, uma vez que a legislação da
educação reconhece tais saberes,
resta a nós construir este
reconhecimen
to na prática do
cotidiano escolar, especialmente no
trato com colegas que ignoram ou
temem tal atividade. Assim se constrói
o jogo de negociação entre os sujeitos
e as estruturas, neste caso, dando ao
professor um lugar privilegiado na
promoção de tais ac
ordos tácitos.
A subversão de algumas
estruturas coercitivas impostas
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 178-193,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
consolidada pela inclusão de Artes
como disciplina nos currículos
escolares, desde a instituição da
obrigatoriedade do ensino de
Educação Artística pela lei 5692/71,
que se modificou ao longo dos anos
até o que atualmente é praticado como
O respaldo da
obrigatoriedade, nos permite justificar
as atividades realizadas como
atividades de ensino, ou seja,
atividades fim da instituição, além de
dar ao professor um espaço mais largo
de atuação, posto que tudo que faz
parte das atividades pedagóg
icas se
justifica no ambiente escolar. Ainda
assim, estranhamento por parte de
profissionais de outras áreas e a
mesmo tentativas de repressão.
Porém, uma vez que a legislação da
educação reconhece tais saberes,
resta a nós construir este
to na prática do
cotidiano escolar, especialmente no
trato com colegas que ignoram ou
temem tal atividade. Assim se constrói
o jogo de negociação entre os sujeitos
e as estruturas, neste caso, dando ao
professor um lugar privilegiado na
ordos tácitos.
A subversão de algumas
estruturas coercitivas impostas
tacitamente nos usos do espaço
escolar ocorre, nos experimentos
analisados neste artigo, a partir da
construção de heterotopias. Essa
categoria é construída por Michel
Foucault em sua di
scussão sobre a
maneira pela qual, no século XX, os
espaços foram apreendidos. Para o
autor, aquela foi a época de ocupar
dos espaços e das redes que neles se
entrecruzam mais do que, por
exemplo, com o tempo. Realizando
uma leitura do assunto tratado p
Bachelard e outros fenomenólogos,
afirma Foucault que
não vivemos em um espaço
homogêneo e vazio, mas, pelo
contrário, em um espaço
inteiramente carregado de
qualidades, um espaço que talvez
seja também povoado de fantasmas;
o espaço de nossa percepção
primeira, o de nossos devaneios, o
de nossas paixões possuem neles
mesmos qualidades que são como
intrínsecas; é um espaço leve,
etéreo, transparente, ou então é um
espaço obscuro, pedregoso,
embaraçado: é um espaço do alto.
Une espaço dos cumes, ou pelo
contrário, um espaço de baixo, um
espaço do limo, um espaço que pode
ser corrente como a água viva, um
espaço que pode ser fixo, imóvel
como a pedra ou como o cristal.
(FOUCAULT, 2009, p. 413
As reflexões fenomenológicas,
porém, se atém ao “espaço de
e é sobre o “espaço de fora” que
Foucault deseja tratar:
188
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
tacitamente nos usos do espaço
escolar ocorre, nos experimentos
analisados neste artigo, a partir da
construção de heterotopias. Essa
categoria é construída por Michel
scussão sobre a
maneira pela qual, no século XX, os
espaços foram apreendidos. Para o
autor, aquela foi a época de ocupar
-se
dos espaços e das redes que neles se
entrecruzam mais do que, por
exemplo, com o tempo. Realizando
uma leitura do assunto tratado p
or
Bachelard e outros fenomenólogos,
não vivemos em um espaço
homogêneo e vazio, mas, pelo
contrário, em um espaço
inteiramente carregado de
qualidades, um espaço que talvez
seja também povoado de fantasmas;
o espaço de nossa percepção
primeira, o de nossos devaneios, o
de nossas paixões possuem neles
mesmos qualidades que são como
intrínsecas; é um espaço leve,
etéreo, transparente, ou então é um
espaço obscuro, pedregoso,
embaraçado: é um espaço do alto.
Une espaço dos cumes, ou pelo
contrário, um espaço de baixo, um
espaço do limo, um espaço que pode
ser corrente como a água viva, um
espaço que pode ser fixo, imóvel
como a pedra ou como o cristal.
(FOUCAULT, 2009, p. 413
-414)
As reflexões fenomenológicas,
porém, se atém ao “espaço de
dentro”,
e é sobre o “espaço de fora” que
Foucault deseja tratar:
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
IFFluminense campus Campos Centro.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 202
1
.
o espaço no qual vivemos, pelo qual
somos atraídos para fora de nós
mesmos, no qual decorre
precisamente a erosão de nossa vida
de nosso tempo, de nossa história,
esse espaço que nos corrói
sulca é também em si mesmo um
espaço heterogêneo (FOUCAULT,
2009, p. 414).
Uma maneira eficiente de
apreender estes espaços, mirando
uma descrição dos posicionamentos
que o definem, seria a partir da
descrição do “conjunto de relações
pelo qual se
pode definir esse
posicionamento”. O autor exemplifica:
Seria possível descrever, pelo
conjunto das relações que permitem
defini-
los, esses posicionamentos de
parada provisória que são os cafés,
os cinemas, as praias. Seria
igualmente possível definir, po
rede de relações, o posicionamento
de repouso, fechado ou
semifechado, que constituem a casa,
o quarto, o leito
etc. (FOUCAULT,
2009, p. 414)
Entretanto, Foucault está, assim
como nós, preocupado em trazer à tela
os posicionamentos que carregam a
“c
uriosa propriedade de estar em
relação com todos os outros
posicionamentos, mas de um tal modo
que eles suspendem, neutralizam ou
invertem o conjunto de relações que
se encontram por eles designadas,
refletidas ou pensadas” (
Desse conjunto, interessam
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 178-193,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
o espaço no qual vivemos, pelo qual
somos atraídos para fora de nós
mesmos, no qual decorre
precisamente a erosão de nossa vida
de nosso tempo, de nossa história,
esse espaço que nos corrói
e nos
sulca é também em si mesmo um
espaço heterogêneo (FOUCAULT,
Uma maneira eficiente de
apreender estes espaços, mirando
uma descrição dos posicionamentos
que o definem, seria a partir da
descrição do “conjunto de relações
pode definir esse
posicionamento”. O autor exemplifica:
Seria possível descrever, pelo
conjunto das relações que permitem
los, esses posicionamentos de
parada provisória que são os cafés,
os cinemas, as praias. Seria
igualmente possível definir, po
r sua
rede de relações, o posicionamento
de repouso, fechado ou
semifechado, que constituem a casa,
etc. (FOUCAULT,
Entretanto, Foucault está, assim
como nós, preocupado em trazer à tela
os posicionamentos que carregam a
uriosa propriedade de estar em
relação com todos os outros
posicionamentos, mas de um tal modo
que eles suspendem, neutralizam ou
invertem o conjunto de relações que
se encontram por eles designadas,
refletidas ou pensadas” (
ibidem).
Desse conjunto, interessam
-nos
particularmente as heterotopias, que
são:
lugares reais, lugares efetivos,
lugares que são delineados na
própria instituição da sociedade, e
que são espécies de contra
posicionamentos, espécies de
utopias efetivamente real
quais os posicionamentos reais,
todos os outros posicionamentos
reais que se podem encontrar no
interior da cultura estão ao mesmo
tempo representados, contestados e
invertidos, espécies de lugares que
estão fora de todos os lugares,
embora eles
localizáveis.
(FOUCAULT, 2009, p.
414)
Nos casos analisados, são as
práticas realizadas pelos estudantes
que determinam a construção destas
heterotopias, que se efetivam como
espaço no ambiente escolar.
Construímos esta reflexão ancora
na obra de Michel de Certeau sobre a
produção dos espaços em relação à
noção de lugar. Para o autor “lugar é
ordem (seja qual for) segundo a qual
se distribuem elementos nas relações
de coexistência”. (CERTEAU, 2011, p.
184). Para o lugar, “impera a le
próprio”, ou seja, “os elementos
considerados se acham uns
dos outros, cada um situado num lugar
‘próprio’ e distinto que define”.
(ibidem
). De maneira diferente, espaço
é “o cruzamento de móveis (...) efeito
produzido pelas operações que o
189
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
particularmente as heterotopias, que
lugares reais, lugares efetivos,
lugares que são delineados na
própria instituição da sociedade, e
que são espécies de contra
-
posicionamentos, espécies de
utopias efetivamente real
izadas nas
quais os posicionamentos reais,
todos os outros posicionamentos
reais que se podem encontrar no
interior da cultura estão ao mesmo
tempo representados, contestados e
invertidos, espécies de lugares que
estão fora de todos os lugares,
sejam efetivamente
(FOUCAULT, 2009, p.
Nos casos analisados, são as
práticas realizadas pelos estudantes
que determinam a construção destas
heterotopias, que se efetivam como
espaço no ambiente escolar.
Construímos esta reflexão ancora
das
na obra de Michel de Certeau sobre a
produção dos espaços em relação à
noção de lugar. Para o autor “lugar é
ordem (seja qual for) segundo a qual
se distribuem elementos nas relações
de coexistência”. (CERTEAU, 2011, p.
184). Para o lugar, “impera a le
i do
próprio”, ou seja, “os elementos
considerados se acham uns
ao lado
dos outros, cada um situado num lugar
‘próprio’ e distinto que define”.
). De maneira diferente, espaço
é “o cruzamento de móveis (...) efeito
produzido pelas operações que o
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
IFFluminense campus Campos Centro.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 202
1
.
o
rientam, o circustanciam, o
temporalizam, e o levam a funcionar
em unidade polivalente de programas
conflituais ou de proximidades
contratuais.” (CERTEAU, 2011, p.
184). O espaço é, portanto, definido
pelas relações que nele se
estabelecem, ou seja:
o esp
aço é lugar praticado. Assim, a
rua geometricamente definida por um
urbanismo é transformada em
espaço pelos pedestres. Do mesmo
modo, a leitura é o espaço produzido
pela prática do lugar constituído por
um sistema de signos
(ibidem)
Partind
o das proposições
teóricas dos autores, refletimos sobre
o espaço que se constitui na escola a
partir das práticas em tela neste artigo.
A prática estabelecerá e subverterá a
construção deste espaço,
possibilitando a efetivação de
heterotopias.
Cabe destac
ar que são diversas
as práticas de ensino realizadas fora
dos ambientes convencionados para
tal, não apenas as de Artes
Assim, é possível por exemplo
encontrar, com frequência, alunos do
curso de Edificações sob orientação
de professores utilizando
o teodolito
6
Instrumento de precisão para medir ângulos
horizontais e ângulos verticais, muito
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 178-193,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
rientam, o circustanciam, o
temporalizam, e o levam a funcionar
em unidade polivalente de programas
conflituais ou de proximidades
contratuais.” (CERTEAU, 2011, p.
184). O espaço é, portanto, definido
pelas relações que nele se
aço é lugar praticado. Assim, a
rua geometricamente definida por um
urbanismo é transformada em
espaço pelos pedestres. Do mesmo
modo, a leitura é o espaço produzido
pela prática do lugar constituído por
um sistema de signos
- um escrito.
o das proposições
teóricas dos autores, refletimos sobre
o espaço que se constitui na escola a
partir das práticas em tela neste artigo.
A prática estabelecerá e subverterá a
construção deste espaço,
possibilitando a efetivação de
ar que são diversas
as práticas de ensino realizadas fora
dos ambientes convencionados para
tal, não apenas as de Artes
-Teatro.
Assim, é possível por exemplo
encontrar, com frequência, alunos do
curso de Edificações sob orientação
o teodolito
6
e
Instrumento de precisão para medir ângulos
horizontais e ângulos verticais, muito
realizando medições. Entretanto, o ato
de pular corda, deixar
pátio ou mesmo colocar
observador provocam um
deslocamento tanto dos sujeitos em
ação quanto daqueles que, não
estando envolvidos, não
compreendem as motiva
estarem sendo realizadas, ou mesmo
que julgam incompatível este uso com
o que se propõe um espaço escolar.
Muitos se permitem afetar por essas
ações, estranhando, rindo ou
hostilizando, ainda que não
explicitamente, as práticas realizadas
pelos
alunos, ou seja, poucos passam
impunes a elas. Assim, a realização
destas ações necessariamente
provoca relações de outra ordem no
espaço escolar, que possibilitam o
deslocamento dos sujeitos, impactam
na construção simbólica do espaço,
subvertem suas regr
as tácitas de uso
e produzem assim heterotopias.
Esse real invertido das
heterotopias se apresenta no espaço
escolar especialmente nas práticas
dos estudantes. Ao habitar o lugar da
escola com seus jogos ou corpos que
buscam fugir à disciplina, executam n
empregado em trabalhos geodésicos e
topográficos.
190
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
realizando medições. Entretanto, o ato
de pular corda, deixar
-se guiar pelo
pátio ou mesmo colocar
-se como
observador provocam um
deslocamento tanto dos sujeitos em
ação quanto daqueles que, não
estando envolvidos, não
compreendem as motiva
ções delas
estarem sendo realizadas, ou mesmo
que julgam incompatível este uso com
o que se propõe um espaço escolar.
Muitos se permitem afetar por essas
ações, estranhando, rindo ou
hostilizando, ainda que não
explicitamente, as práticas realizadas
alunos, ou seja, poucos passam
impunes a elas. Assim, a realização
destas ações necessariamente
provoca relações de outra ordem no
espaço escolar, que possibilitam o
deslocamento dos sujeitos, impactam
na construção simbólica do espaço,
as tácitas de uso
e produzem assim heterotopias.
Esse real invertido das
heterotopias se apresenta no espaço
escolar especialmente nas práticas
dos estudantes. Ao habitar o lugar da
escola com seus jogos ou corpos que
buscam fugir à disciplina, executam n
o
empregado em trabalhos geodésicos e
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
IFFluminense campus Campos Centro.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 202
1
.
real a inversão e crítica do controle
sintetizado na instituição escolar. As
práticas teatrais analisadas neste
artigo produziram, portanto, estas
heterotopias.
Conclusão
O espaço escolar é construído
simbolicamente a partir das práticas
dos sujeitos qu
e o habitam. Estas
práticas concorrem com outras pela
definição do que deve ser este espaço,
quais usos o apropriados e quais
devem ser constrangidos a não
acontecer. A construção simbólica do
espaço ocorre na tensão entre
estruturas físicas e sociais, a
projetadas para determinada
concepção do que deve ser a
experiência escolar e desta tensão
surgem as heterotopias que invertem o
real. E é posicionando
concorrência que se colocam as
práticas analisadas neste artigo.
Jogar com estas estrutura
limite do que é possível ao sujeito que
pretende subvertê-
las, provoca o que
classificamos como resistência na
formalidade. Ou seja, a partir do lugar
posicionado na estrutura que nos
permite propor novos usos para o
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 178-193,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
real a inversão e crítica do controle
sintetizado na instituição escolar. As
práticas teatrais analisadas neste
artigo produziram, portanto, estas
O espaço escolar é construído
simbolicamente a partir das práticas
e o habitam. Estas
práticas concorrem com outras pela
definição do que deve ser este espaço,
quais usos o apropriados e quais
devem ser constrangidos a não
acontecer. A construção simbólica do
espaço ocorre na tensão entre
estruturas físicas e sociais, a
mbas
projetadas para determinada
concepção do que deve ser a
experiência escolar e desta tensão
surgem as heterotopias que invertem o
real. E é posicionando
-se nesta
concorrência que se colocam as
práticas analisadas neste artigo.
Jogar com estas estrutura
s, no
limite do que é possível ao sujeito que
las, provoca o que
classificamos como resistência na
formalidade. Ou seja, a partir do lugar
posicionado na estrutura que nos
permite propor novos usos para o
espaço escolar, possibilitamos a
construção de resistências.
Tais processos aqui analisados
sob a perspectiva da construção de
heterotopias o podem ser
dissociados da sua potência
pedagógica, ou seja, a própria
potência no sentido de transformação
de mundo.
Toda a configuração debatida
dentro da perspectiva da escola
enquanto instituição de controle social
explicita a função de formação de mão
de obra eficiente não reflexiva para
que num segundo momento, quando
os jovens hoje em idade escolar
estejam no mercado de trabalho,
possam desem
penhar sua função com
maior aproveitamento econômico
possível. Ocorre que o jovem não
suspende sua existência esperando a
idade adulta e esta vivência integral de
um simulacro do porvir é
extremamente danosa para sua
personalidade. É justamente na
potência
de intervenção e construção
do espaço-
tempo presente que as
atividades analisadas se constituem
como significativas experiências de
construção não do saber como de
si próprios.
191
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
espaço escolar, possibilitamos a
construção de resistências.
Tais processos aqui analisados
sob a perspectiva da construção de
heterotopias o podem ser
dissociados da sua potência
pedagógica, ou seja, a própria
potência no sentido de transformação
Toda a configuração debatida
dentro da perspectiva da escola
enquanto instituição de controle social
explicita a função de formação de mão
de obra eficiente não reflexiva para
que num segundo momento, quando
os jovens hoje em idade escolar
estejam no mercado de trabalho,
penhar sua função com
maior aproveitamento econômico
possível. Ocorre que o jovem não
suspende sua existência esperando a
idade adulta e esta vivência integral de
um simulacro do porvir é
extremamente danosa para sua
personalidade. É justamente na
de intervenção e construção
tempo presente que as
atividades analisadas se constituem
como significativas experiências de
construção não do saber como de
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
IFFluminense campus Campos Centro.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 202
1
.
Nas práticas analisadas, além
dos espaços, os alunos se
apropriaram de elem
linguagem teatral, no caso também da
linguagem performática, de forma que
aquele saber nasce pleno de
significados por configurar em si uma
forma de ação no mundo. Não uma
forma de ação, mas de transformação.
Trabalhar Teatro com
adolescent
es significa trabalhar com
toda relação que esta faixa etária
estabelece com a sociedade, inclusa a
sociedade escolar. A relação pautada
numa estereotipação deste grupo
social é assim definida por Rubem
Alves em entrevista a Viviane Mosé:
“Eu sinto intensa
mente a necessidade
de que os adolescentes estejam
fazendo algum trabalho, fazendo
alguma coisa, contribuindo para a
sociedade, para que eles sintam que
são necessários, e que o são seres
marginais.” (ALVES
apud
2013, p. 120).
Pensamos que a concre
fazer teatral, a mobilização do corpo e
da mente em suas dimensões estética
e racional em prol de um produto
desenhado pelos alunos de forma
autônoma, que não seja imposto ou
inócuo como o produto numérico de
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 178-193,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Nas práticas analisadas, além
dos espaços, os alunos se
apropriaram de elem
entos da
linguagem teatral, no caso também da
linguagem performática, de forma que
aquele saber nasce pleno de
significados por configurar em si uma
forma de ação no mundo. Não uma
forma de ação, mas de transformação.
Trabalhar Teatro com
es significa trabalhar com
toda relação que esta faixa etária
estabelece com a sociedade, inclusa a
sociedade escolar. A relação pautada
numa estereotipação deste grupo
social é assim definida por Rubem
Alves em entrevista a Viviane Mosé:
mente a necessidade
de que os adolescentes estejam
fazendo algum trabalho, fazendo
alguma coisa, contribuindo para a
sociedade, para que eles sintam que
são necessários, e que o são seres
apud
MOSÉ,
Pensamos que a concre
tude do
fazer teatral, a mobilização do corpo e
da mente em suas dimensões estética
e racional em prol de um produto
desenhado pelos alunos de forma
autônoma, que não seja imposto ou
inócuo como o produto numérico de
uma nota, ao adolescente este
lugar
de estar no mundo. Não de
estar, mas de transformar, inverter o
real através da construção de
heterotopias. O teatro seria assim uma
forma de ação no mundo para além de
uma tarefa escolar que se configura
muitas vezes como um ensaio para
vida.
Referências bibliográficas
BOAL, Augusto.
A Estética do
Oprimido
. Rio de Janeiro: Garamond,
2009.
CASTRO, Lúcia Rabello.
Infância
. Rio de Janeiro: Viveiros de
Castro, 2013.
CERTEAU, Michel de.
cotidiano
as artes de fazer
Petróp
olis: Vozes, 2011.
DESGRANGES, Flávio.
Teatro: provocação e dialogismo
Paulo: Hucitec ; Edições Mandacaru,
2006.
DORNER, Willi. Bodies in
UrbanSpaces. Suíca, 2014. Disponível
em: https://youtu.be/DaMk8q0aJyE.
Acesso em: 27 fev. 2019.
FOUC
AULT, Michel.
III
Estética: Literatura e Pintura,
Música e Cinema.
Editora Forense Universitária, 2009.
FOUCAULT, Michel.
Petrópolis: Vozes, 1999.
FREIRE, Paulo.
Oprimido
. Rio de Janeiro: Paz
1974.
192
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
uma nota, ao adolescente este
de estar no mundo. Não de
estar, mas de transformar, inverter o
real através da construção de
heterotopias. O teatro seria assim uma
forma de ação no mundo para além de
uma tarefa escolar que se configura
muitas vezes como um ensaio para
Referências bibliográficas
A Estética do
. Rio de Janeiro: Garamond,
CASTRO, Lúcia Rabello.
O Futuro da
. Rio de Janeiro: Viveiros de
CERTEAU, Michel de.
A invenção do
as artes de fazer
.
olis: Vozes, 2011.
DESGRANGES, Flávio.
Pedagogia do
Teatro: provocação e dialogismo
. São
Paulo: Hucitec ; Edições Mandacaru,
DORNER, Willi. Bodies in
UrbanSpaces. Suíca, 2014. Disponível
em: https://youtu.be/DaMk8q0aJyE.
Acesso em: 27 fev. 2019.
AULT, Michel.
Ditos e Escritos
Estética: Literatura e Pintura,
Rio de Janeiro:
Editora Forense Universitária, 2009.
FOUCAULT, Michel.
Vigiar e Punir.
Petrópolis: Vozes, 1999.
FREIRE, Paulo.
Pedagogia do
. Rio de Janeiro: Paz
e Terra,
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
IFFluminense campus Campos Centro.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 202
1
.
MOSÉ, Viviane.
A Escola e os
desafios contemporâneos
Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.
SANTOS, Vera Lúcia Bertoni dos.
Atividade simbólica na infância e
abordagens do teatro no meio escolar:
convergências e incompatibilidades.
Percevejo
, Rio de Janeiro (UNIRIO),
vol. 1, nº 9, 2009.
TERRA, Clarice Cruz.
Em Busca de
Uma Escola Viva: Uma experiência
com o ensino de teatro no campus
Macaé do Instituto Federal
Fluminense
. Rio de Janeiro: UNIRIO,
2016.
PORTILHO, Aline dos Santos; CARVALHO, Maria Siqueira Queiroz de. O
ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos no
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 178-193,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
A Escola e os
desafios contemporâneos
. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.
SANTOS, Vera Lúcia Bertoni dos.
Atividade simbólica na infância e
abordagens do teatro no meio escolar:
convergências e incompatibilidades.
, Rio de Janeiro (UNIRIO),
Em Busca de
Uma Escola Viva: Uma experiência
com o ensino de teatro no campus
Macaé do Instituto Federal
. Rio de Janeiro: UNIRIO,
193
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.45785
Resumo
: Esse texto é tecido a partir da pesquisa realizada por uma das autoras que,com o auxílio
dos estudos nos/dos/com os cotidianos, através das narrativas dos estudantes, buscou conhecer as
formas com as quais jovens estudantes de uma escola estadual do bair
Duque de Caxias, habitam a cidade, o bairro e os ambientes em que vivem. Essa ideia surgiu nos
afetamentos das conversas cotidianas de sala de aula entre tal professora, que trabalha com ensino
de Ciências, e as e os estudantes, os
sobre suas relações e deslocamentos pelo espaço em que habitam e o quanto são impactados por
ele. Através de rodas de imagens e conversas, com a ideia de potencializar o encontro e de pensar
colet
ivamente, buscamos pensar quais usos esses jovens fazem dos espaços e ambientes em que
vivem. Apresentaremos, ao final, as fotografias produzidas pelos jovens e as reflexões tecidas nas
conversas com tais fotografias.
Palavras-chave
: Estudos com os
Sobre juventudes y lo vivir la periferia de Duque de Caxias
Resumen:
Este texto es tejido a partir de una investigación realizada por una de las autoras que, con
el auxilio de los estudios en los/ de los/ con los cotidianos, a través de las narrativas de los
estudiantes, buscó conocer las formas con las cuales jóvenes estud
del barrio Jardim Primavera, en Duque de Caxias, habitan la ciudad, el barrio y los ambientes en que
viven. Esa idea surgió de las conversaciones en aula entre tal profesora, que trabaja con enseñanza
de ciencias, y los est
udiantes, los
narraban sobre sus relaciones y desplazamientos por el espacio donde habitan y lo cuanto son
impactados por él. A través de ruedas de imágenes y conversaciones, con la idea de potencializar el
encuentro y de pensar col
ectivamente, buscamos pensar cuales usos esos jóvenes hacen de los
espacios y ambientes en que viven. Presentaremos, al final, las fotografías producidas por los
jóvenes y las reflexiones tejidas en las conversaciones con tales fotografías.
1
Ravelly Machado Soares Güntensperger
Educação do Rio de Janeiro.
Mestra
E-mail: ravellyms@gmail.com -
https://
2
Livia Baptista Nicolini.
Doutora em Ciências pela Fundação Oswaldo Cruz (EBS/Fiocruz
do IFRJ -
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro
livia.nicolini@ifrj.edu.br - https://
orcid.org/0000
Texto recebido em 06/09/20
20,
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.45785
Ravelly Machado Soares Güntensperger
Livia Baptista Nicolini
: Esse texto é tecido a partir da pesquisa realizada por uma das autoras que,com o auxílio
dos estudos nos/dos/com os cotidianos, através das narrativas dos estudantes, buscou conhecer as
formas com as quais jovens estudantes de uma escola estadual do bair
ro Jardim Primavera, em
Duque de Caxias, habitam a cidade, o bairro e os ambientes em que vivem. Essa ideia surgiu nos
afetamentos das conversas cotidianas de sala de aula entre tal professora, que trabalha com ensino
de Ciências, e as e os estudantes, os
praticantespensantes
da cidade e da escola, quando narravam
sobre suas relações e deslocamentos pelo espaço em que habitam e o quanto são impactados por
ele. Através de rodas de imagens e conversas, com a ideia de potencializar o encontro e de pensar
ivamente, buscamos pensar quais usos esses jovens fazem dos espaços e ambientes em que
vivem. Apresentaremos, ao final, as fotografias produzidas pelos jovens e as reflexões tecidas nas
: Estudos com os
cotidianos; juventudes; habitar; cidades;
ensino de ciências.
Sobre juventudes y lo vivir la periferia de Duque de Caxias
Este texto es tejido a partir de una investigación realizada por una de las autoras que, con
el auxilio de los estudios en los/ de los/ con los cotidianos, a través de las narrativas de los
estudiantes, buscó conocer las formas con las cuales jóvenes estud
iantes de una escuela provincial
del barrio Jardim Primavera, en Duque de Caxias, habitan la ciudad, el barrio y los ambientes en que
viven. Esa idea surgió de las conversaciones en aula entre tal profesora, que trabaja con enseñanza
udiantes, los
practicantespensantes
de la ciudad y de la escuela, cuando
narraban sobre sus relaciones y desplazamientos por el espacio donde habitan y lo cuanto son
impactados por él. A través de ruedas de imágenes y conversaciones, con la idea de potencializar el
ectivamente, buscamos pensar cuales usos esos jóvenes hacen de los
espacios y ambientes en que viven. Presentaremos, al final, las fotografías producidas por los
jóvenes y las reflexiones tejidas en las conversaciones con tales fotografías.
Ravelly Machado Soares Güntensperger
.
Professora de Ciências na Secretaria Estadual de
Mestra
nda
em Educação, pela Universidade Federal Fluminense
https://
orcid.org/0000-0002-8783-0327
Doutora em Ciências pela Fundação Oswaldo Cruz (EBS/Fiocruz
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro
, Brasil.
orcid.org/0000
-0001-7309-2012
20,
aceit
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
em 01/03/2021.
194
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
Ravelly Machado Soares Güntensperger
1
Livia Baptista Nicolini
2
: Esse texto é tecido a partir da pesquisa realizada por uma das autoras que,com o auxílio
dos estudos nos/dos/com os cotidianos, através das narrativas dos estudantes, buscou conhecer as
ro Jardim Primavera, em
Duque de Caxias, habitam a cidade, o bairro e os ambientes em que vivem. Essa ideia surgiu nos
afetamentos das conversas cotidianas de sala de aula entre tal professora, que trabalha com ensino
da cidade e da escola, quando narravam
sobre suas relações e deslocamentos pelo espaço em que habitam e o quanto são impactados por
ele. Através de rodas de imagens e conversas, com a ideia de potencializar o encontro e de pensar
ivamente, buscamos pensar quais usos esses jovens fazem dos espaços e ambientes em que
vivem. Apresentaremos, ao final, as fotografias produzidas pelos jovens e as reflexões tecidas nas
ensino de ciências.
Este texto es tejido a partir de una investigación realizada por una de las autoras que, con
el auxilio de los estudios en los/ de los/ con los cotidianos, a través de las narrativas de los
iantes de una escuela provincial
del barrio Jardim Primavera, en Duque de Caxias, habitan la ciudad, el barrio y los ambientes en que
viven. Esa idea surgió de las conversaciones en aula entre tal profesora, que trabaja con enseñanza
de la ciudad y de la escuela, cuando
narraban sobre sus relaciones y desplazamientos por el espacio donde habitan y lo cuanto son
impactados por él. A través de ruedas de imágenes y conversaciones, con la idea de potencializar el
ectivamente, buscamos pensar cuales usos esos jóvenes hacen de los
espacios y ambientes en que viven. Presentaremos, al final, las fotografías producidas por los
Professora de Ciências na Secretaria Estadual de
em Educação, pela Universidade Federal Fluminense
, Brasil.
Doutora em Ciências pela Fundação Oswaldo Cruz (EBS/Fiocruz
).Professora
, Brasil.
E-mail:
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
Palabras clave
: Estudios con los cotidianos
About youth and periphery dwelling of Duque de Caxias
Abstract
: This text is woven from the research realized by one of the authors who, with the help of
studies in / of / with daily life, through the students' narratives, sought to know the ways in which young
students from a state school in the Jardim Primavera nei
city, the neighborhood and the environments in which they live. This idea arises in the impacts of daily
classroom conversations between such a teacher who works with science teaching and the students,
the thinkerspractitioners
of the city and the school, when they narrate about their relationships and
displacements through the space they live in and how much are impacted by it. Through images and
conversations circles, with the idea of enhancing the encounter and
think about what uses these youth make of the spaces and environments in which they live. At the
end, we will present the photographs produced by the youth and the reflections made in the
conversations with such photograph
Keywords
: Studies with daily life
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
Introdução
Os estudos nos/dos/com
cotidianos nos ajudam a estudar
movimentos que brotam no dia a dia
do cotidiano escolar, como, por
exemplo, nas conversas entre
estudantes e sua professora de
C
iências. Nessas conversas, ao nos
permitirmos pensar com nossos
interlocutores, podemos entrar em um
movimento e ampliar nossas redes de
conhecimentos e significações. A
3
Nos estudos com os cotidianos buscamos
aglutinar palavras consideradas antagônicas,
tais como dentrofora,
espaçotempo
aprenderensinar
, como uma provocação
contra os binarismos e dicotomias que as
entendem como opostas. Esta sobreposição
também
acontece por entender o
en
trelaçamento de tais palavras.
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
: Estudios con los cotidianos
; juventudes; habitar; ciudades;
enseñanza de ciencias
About youth and periphery dwelling of Duque de Caxias
: This text is woven from the research realized by one of the authors who, with the help of
studies in / of / with daily life, through the students' narratives, sought to know the ways in which young
students from a state school in the Jardim Primavera nei
ghborhood, in Duque de Caxias, inhabit the
city, the neighborhood and the environments in which they live. This idea arises in the impacts of daily
classroom conversations between such a teacher who works with science teaching and the students,
of the city and the school, when they narrate about their relationships and
displacements through the space they live in and how much are impacted by it. Through images and
conversations circles, with the idea of enhancing the encounter and
thinking collectively, we seek to
think about what uses these youth make of the spaces and environments in which they live. At the
end, we will present the photographs produced by the youth and the reflections made in the
conversations with such photograph
s.
: Studies with daily life
; youth; inhabit; cities; science teaching.
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
Os estudos nos/dos/com
3
os
cotidianos nos ajudam a estudar
movimentos que brotam no dia a dia
do cotidiano escolar, como, por
exemplo, nas conversas entre
estudantes e sua professora de
iências. Nessas conversas, ao nos
permitirmos pensar com nossos
interlocutores, podemos entrar em um
movimento e ampliar nossas redes de
conhecimentos e significações. A
Nos estudos com os cotidianos buscamos
aglutinar palavras consideradas antagônicas,
espaçotempo
,
, como uma provocação
contra os binarismos e dicotomias que as
entendem como opostas. Esta sobreposição
acontece por entender o
trelaçamento de tais palavras.
pesquisa que deu origem a esse artigo
foi tecida nas conversas cotidianas
que foram, t
ambém, afetadas por
questões relacionadas aos espaços
habitados pela professora e alunas/os.
A pesquisa buscou pensar com
as narrativas das juventudes que nos
contam como são tecidas suas
relações cotidianas com o espaço em
que vivem, pois entendemos com
O
liveira e Sgarbi (2008) que o
cotidiano não é um espaço de mera
repetição do senso-
comum, mas sim é
espaçotempo
de produção de
conhecimento que reflete no
dentrofora
da escola. Desta forma:
O cotidiano é o
complexidade da vida social na qual
se inscreve toda produção de
195
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
enseñanza de ciencias
.
: This text is woven from the research realized by one of the authors who, with the help of
studies in / of / with daily life, through the students' narratives, sought to know the ways in which young
ghborhood, in Duque de Caxias, inhabit the
city, the neighborhood and the environments in which they live. This idea arises in the impacts of daily
classroom conversations between such a teacher who works with science teaching and the students,
of the city and the school, when they narrate about their relationships and
displacements through the space they live in and how much are impacted by it. Through images and
thinking collectively, we seek to
think about what uses these youth make of the spaces and environments in which they live. At the
end, we will present the photographs produced by the youth and the reflections made in the
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
pesquisa que deu origem a esse artigo
foi tecida nas conversas cotidianas
ambém, afetadas por
questões relacionadas aos espaços
habitados pela professora e alunas/os.
A pesquisa buscou pensar com
as narrativas das juventudes que nos
contam como são tecidas suas
relações cotidianas com o espaço em
que vivem, pois entendemos com
liveira e Sgarbi (2008) que o
cotidiano não é um espaço de mera
comum, mas sim é
de produção de
conhecimento que reflete no
da escola. Desta forma:
O cotidiano é o
espaçotempo da
complexidade da vida social na qual
se inscreve toda produção de
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
conhecimento e práticas científicas,
sociais, grupais, individuais. Daí a
extrema importância de aprofundar
seu estudo e desenvolver a
compreensão de sua complexidade
intrínseca para pensa
realidade social e as possibilidades
emancipatórias que nela se
inscrevem. (OLIVEIRA
2008, p. 72).
Como metodologia, inspiradas
por Andrade e Guerreiro (2019),
através de uma roda de imagens e
conversas, conversamos com as
juventudes de um
a escola na periferia
do bairro Jardim Primavera, em Duque
de Caxias e com as fotografias
produzidas por elas, como forma de,
com Certeau (2014), pensarmos
formas de habitar tal bairro a partir
usos que fazem do espaço e dos
ambientes em que vivem.
Sobre o habitar
Os estudos nos/dos/com
cotidianos nos ajudam a entender
esses como
espaçotempo
complexo
de produção de
conhecimentos e subjetividades em
rede, e dessa forma, ajudam a pensar
os usos e táticas
que
praticantespensantes
, os usu
cidade, fazem dos espaços em que
vivem.
A tessitura de conhecimentos e
significações em rede desestabiliza
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
conhecimento e práticas científicas,
sociais, grupais, individuais. Daí a
extrema importância de aprofundar
seu estudo e desenvolver a
compreensão de sua complexidade
intrínseca para pensa
rmos a
realidade social e as possibilidades
emancipatórias que nela se
inscrevem. (OLIVEIRA
; SGARBI,
Como metodologia, inspiradas
por Andrade e Guerreiro (2019),
através de uma roda de imagens e
conversas, conversamos com as
a escola na periferia
do bairro Jardim Primavera, em Duque
de Caxias e com as fotografias
produzidas por elas, como forma de,
com Certeau (2014), pensarmos
formas de habitar tal bairro a partir
dos
usos que fazem do espaço e dos
Os estudos nos/dos/com
cotidianos nos ajudam a entender
espaçotempo
diverso e
de produção de
conhecimentos e subjetividades em
rede, e dessa forma, ajudam a pensar
que
jovens
, os usu
ários da
cidade, fazem dos espaços em que
A tessitura de conhecimentos e
significações em rede desestabiliza
uma ideia de produção de
conhecimento hierarquizada,
fragmentada e hegemônica. Valoriza
os diferentes saberes que acontecem
nas relações so
ciais dessas redes,
uma vez que compreende os
diferentes
praticantespensantes
inseridos no mundo e o entendem de
forma diversa, inclusive os seus
cotidianos. Segundo Oliveira (2008
54):
A tessitura das redes e práticas
sociais reais se dá através de
táticas dos praticantes’ que inserem
na estrutura social criatividade e
pluralidade, modificadores das
regras e das relações entre o poder
da dominação e a vida dos que a ele
estão, su
postamente, submetidos.
Para pensar o habitar nos
aproximamos d
e Certeau (2014) para
elaborar as estratégias e táticas
envolvidas nos usos que fazemos dos
espaços em que vivemos. Assim, os
usos se relacionam com as maneiras
de fazer, as formas com as quais
manipulam-
se produtos e regras
impostas por um poder hegemônic
disciplinador. A essas regras podemos
entender como as estratégias. Já as
táticas acontecem quando os
praticantespensant
es de um espaço
alteram as ordens impostas por um
poder hegemônico, utilizando
manipulando-
as de novas maneiras e,
196
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
uma ideia de produção de
conhecimento hierarquizada,
fragmentada e hegemônica. Valoriza
os diferentes saberes que acontecem
ciais dessas redes,
uma vez que compreende os
praticantespensantes
inseridos no mundo e o entendem de
forma diversa, inclusive os seus
cotidianos. Segundo Oliveira (2008
, p.
A tessitura das redes e práticas
sociais reais se dá através de
‘usos e
táticas dos praticantes’ que inserem
na estrutura social criatividade e
pluralidade, modificadores das
regras e das relações entre o poder
da dominação e a vida dos que a ele
postamente, submetidos.
Para pensar o habitar nos
e Certeau (2014) para
elaborar as estratégias e táticas
envolvidas nos usos que fazemos dos
espaços em que vivemos. Assim, os
usos se relacionam com as maneiras
de fazer, as formas com as quais
se produtos e regras
impostas por um poder hegemônic
o
disciplinador. A essas regras podemos
entender como as estratégias. Já as
táticas acontecem quando os
es de um espaço
alteram as ordens impostas por um
poder hegemônico, utilizando
-as e
as de novas maneiras e,
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
com isso, “ins
erem, na estrutura social,
criatividade e pluralidade,
modificadores das regras e das
relações entre o poder da dominação e
a vida dos que a ela estão,
supostamente, submetidos” (BASTOS
BARONI, 2019, p. 5).
Para compreender as maneiras
de os praticantes u
tilizarem a ordem
imposta pelo sistema urbano de uma
cidade, d
a qual não participam
diretamente de sua produção, é
importante compreender as maneiras
de fazer o cotidiano, ou seja, as táticas
daqueles que vivem na cidade, nos
usos que jovens fazem da cidad
Assim, táticas são as formas de
apropriação do espaço vivido. As
táticas acontecem nas práticas
cotidianas como forma de resistência a
estruturas de poder de um lugar.
As maneiras de fazer ou as
artes de fazer são o que os estudos
nos/dos/com os cotidia
nos pretendem
captar, na busca por compreender
como acontecem suas produções,
como são negociadas e seus sistemas
de funcionamento e desenvolvimento
(OLIVEIRA, 2008).
As juventudes estudantes de
uma escola da periferia de Duque de
Caxias, localizada no bai
rro de Jardim
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
erem, na estrutura social,
criatividade e pluralidade,
modificadores das regras e das
relações entre o poder da dominação e
a vida dos que a ela estão,
supostamente, submetidos” (BASTOS
;
Para compreender as maneiras
tilizarem a ordem
imposta pelo sistema urbano de uma
a qual não participam
diretamente de sua produção, é
importante compreender as maneiras
de fazer o cotidiano, ou seja, as táticas
daqueles que vivem na cidade, nos
usos que jovens fazem da cidad
e.
Assim, táticas são as formas de
apropriação do espaço vivido. As
táticas acontecem nas práticas
cotidianas como forma de resistência a
estruturas de poder de um lugar.
As maneiras de fazer ou as
artes de fazer são o que os estudos
nos pretendem
captar, na busca por compreender
como acontecem suas produções,
como são negociadas e seus sistemas
de funcionamento e desenvolvimento
As juventudes estudantes de
uma escola da periferia de Duque de
rro de Jardim
Primavera, são os
praticantespensantes
cotidianos dentro e fora da escola.
Gostaríamos de pensar com elas e
eles sobre as possibilidades de habitar
um bairro, entendendo que os
“habitares” estão relacionados com os
usos que faze
m desse bairro.
Aqui entendemos que a
juventude não é homog
reduzimos a uma fase de transição da
vida. Mas a compreendemos, também,
como uma categoria sociocultural
mente produzida e que com isso não
uma única forma de ser jovem. Por
isso, e
scolhemos aqui, falar sobre as
juventudes de um bairro. Nesse
sentido, Enne e Passos (2018)
afirmam que “em uma mesma
espacialidade físico e social, muitos
sentidos de juventudes podem
conviver, se atravessar, entrar em
conflito, se complementar, revelar
p
ossibilidades diferentes de ser e estar
no mundo” (ENNE;
p.125).
Apesar de haver a tentativa de
homogeneizar a juventude com o
objetivo de produzir estatísticas e
pensar políticas públicas, segundo
Dayrell (2003) as juventudes são
produzidas
de formas particulares por
197
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Primavera, são os
que vivenciam
cotidianos dentro e fora da escola.
Gostaríamos de pensar com elas e
eles sobre as possibilidades de habitar
um bairro, entendendo que os
“habitares” estão relacionados com os
m desse bairro.
Aqui entendemos que a
juventude não é homog
ênea. Não a
reduzimos a uma fase de transição da
vida. Mas a compreendemos, também,
como uma categoria sociocultural
-
mente produzida e que com isso não
uma única forma de ser jovem. Por
scolhemos aqui, falar sobre as
juventudes de um bairro. Nesse
sentido, Enne e Passos (2018)
afirmam que “em uma mesma
espacialidade físico e social, muitos
sentidos de juventudes podem
conviver, se atravessar, entrar em
conflito, se complementar, revelar
ossibilidades diferentes de ser e estar
PASSOS, 2018,
Apesar de haver a tentativa de
homogeneizar a juventude com o
objetivo de produzir estatísticas e
pensar políticas públicas, segundo
Dayrell (2003) as juventudes são
de formas particulares por
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
diferentes sociedades e grupos
sociais. Suas produções envolvem
“classes sociais, etnias, valores,
posições religiosas, espaços
geográficos, gêneros e muitos outros”
(MELO et al.
, 2012, p. 164). Assim, as
juventudes são também re
construções sociais.
Reduzir juventudes a uma fase
da vida que possui determinada
duração, como uma fase de
preparação e de transição para a vida
adulta (com um fim determinado), ou
então a uma fase romantizada
permeada por ações irresponsávei
que busca por prazer e liberdade e
possui práticas consideradas exóticas,
pode proporcionar uma compreensão
limitada das vivências dos jovens.
Como se a juventude fosse única,
homogênea, bem como produz uma
perspectiva rotulada de tal
grupo.Como Dayrell
(2003
destaca:
Entendemos a juventude como parte
de um processo mais amplo de
constituição de sujeitos, mas que
tem especificidades que marcam a
vida de cada um. A juventude
constitui um momento determinado,
mas não se reduz a uma passagem;
ela assum
e uma importância em si
mesma.
A idealização de uma juventude
como uma fase de dedicação aos
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
diferentes sociedades e grupos
sociais. Suas produções envolvem
“classes sociais, etnias, valores,
posições religiosas, espaços
geográficos, gêneros e muitos outros”
, 2012, p. 164). Assim, as
juventudes são também re
sultados de
Reduzir juventudes a uma fase
da vida que possui determinada
duração, como uma fase de
preparação e de transição para a vida
adulta (com um fim determinado), ou
então a uma fase romantizada
permeada por ações irresponsávei
s,
que busca por prazer e liberdade e
possui práticas consideradas exóticas,
pode proporcionar uma compreensão
limitada das vivências dos jovens.
Como se a juventude fosse única,
homogênea, bem como produz uma
perspectiva rotulada de tal
(2003
, p. 42)
Entendemos a juventude como parte
de um processo mais amplo de
constituição de sujeitos, mas que
tem especificidades que marcam a
vida de cada um. A juventude
constitui um momento determinado,
mas não se reduz a uma passagem;
e uma importância em si
A idealização de uma juventude
como uma fase de dedicação aos
estudos e ao lazer, livre das pressões
impostas pelo mundo do trabalho não
é vivenciada pela maioria dos jovens
brasileiros. As juventudes se
constituem a part
ir das vivências dos
sujeitos com as suas realidades sócio
históricas. Sua heterogeneidade é
também influenciada pelas
desigualdades sociais que impactam
nas produções das identidades dos
jovens (MELO et al.
, 2012; CARRANO,
2009). Enne e Passos (2018)
dest
acam que para pensar a juventude
e suas relações, por exemplo, com os
espaços urbanos em que vivem, é
necessário complexificar essa
categoria e, para isso, historicizar os
sujeitos e práticas “levando em
consideração variáveis sociais e
culturais” (ENNE; P
ASSOS, 2018, p.
126).
Ao retratar os jovens pobres é
importante salientar que a condição da
pobreza impacta em suas trajetórias
de vida, nas produções e vivências de
suas juventudes. Por exemplo, é
comum que esses jovens precisem
entrar no mercado de traba
mesmo de concluírem a Educação
Básica ou de ingressarem na
Universidade. Essa realidade acaba
interrompendo a linearidade de uma
198
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
estudos e ao lazer, livre das pressões
impostas pelo mundo do trabalho não
é vivenciada pela maioria dos jovens
brasileiros. As juventudes se
ir das vivências dos
sujeitos com as suas realidades sócio
-
históricas. Sua heterogeneidade é
também influenciada pelas
desigualdades sociais que impactam
nas produções das identidades dos
, 2012; CARRANO,
2009). Enne e Passos (2018)
acam que para pensar a juventude
e suas relações, por exemplo, com os
espaços urbanos em que vivem, é
necessário complexificar essa
categoria e, para isso, historicizar os
sujeitos e práticas “levando em
consideração variáveis sociais e
ASSOS, 2018, p.
Ao retratar os jovens pobres é
importante salientar que a condição da
pobreza impacta em suas trajetórias
de vida, nas produções e vivências de
suas juventudes. Por exemplo, é
comum que esses jovens precisem
entrar no mercado de traba
lho antes
mesmo de concluírem a Educação
Básica ou de ingressarem na
Universidade. Essa realidade acaba
interrompendo a linearidade de uma
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
juventude única e romantizada
(DAYRELL, 2007). No caso de jovens
pobres e negros essa condição não é
incomum. Parte d
eles abandona a
escola para trabalhar como forma de
sobrevivência e mais tarde, não
necessariamente, retornam aos
estudos (CARRANO et al.
, 2015).
Segundo Carrano (2009),
jovens periferizados possuem uma
limitação em seus deslocamentos
estabelecida por
fatores econômicos
e/ou pela imposição da cidade de
“muros invisíveis” aos que a ocupam
(CARRANO, 2009). De modo geral, o
direito à cidade é diferente para os
diferentes grupos sociais que a
habitam,
o que implica em sua
experiê
ncias pela cidade e pelo ba
Ao pensar na periferia, não é
incomum nos depararmos com
narrativas midiáticas que reduzem a
periferia ao lugar da violência, dos
perigos e da pobreza; que marginaliza
determinadas culturas nelas
produzidas, e entende periferia
enquanto longe da pro
dução cultural
de um suposto centro produtor
hegemônico. Esse trabalho pensa a
periferia em diálogo com Kilomba
(2019), a respeito da periferização ou
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
juventude única e romantizada
(DAYRELL, 2007). No caso de jovens
pobres e negros essa condição não é
eles abandona a
escola para trabalhar como forma de
sobrevivência e mais tarde, não
necessariamente, retornam aos
, 2015).
Segundo Carrano (2009),
jovens periferizados possuem uma
limitação em seus deslocamentos
fatores econômicos
e/ou pela imposição da cidade de
“muros invisíveis” aos que a ocupam
(CARRANO, 2009). De modo geral, o
direito à cidade é diferente para os
diferentes grupos sociais que a
o que implica em sua
s
ncias pela cidade e pelo ba
irro.
Ao pensar na periferia, não é
incomum nos depararmos com
narrativas midiáticas que reduzem a
periferia ao lugar da violência, dos
perigos e da pobreza; que marginaliza
determinadas culturas nelas
produzidas, e entende periferia
dução cultural
de um suposto centro produtor
hegemônico. Esse trabalho pensa a
periferia em diálogo com Kilomba
(2019), a respeito da periferização ou
marginalização de determinados
grupos.
Essa autora, em diálogo com
bell hooks
4
reflete que estar à margem
“é ser parte do todo, mas fora do corpo
principal” (KILOMBA, 2019, p. 67). A
ideia baseia-
se na vivência de
enquanto mulher preta moradora da
periferia de uma cidade. A ela era
permitido frequentar o centro da
cidade com
o trabalhadora, para depois
retornar à margem. Entretanto, a
autora chama atenção para que a
margem não seja reduzida a um
espaço periférico em que há apenas
perdas e privações, mas como um
espaço de resistência às opressões,
de possibilidades e criativida
produzem novos discursos que
desestabilizam discursos
hegemônicos
, onde são produzidos
mundos. Kilomba (2019) alerta para a
importância de entender as margens
como um local complexo e diverso, e
por isso, é preciso estar atento para o
perigo da ro
mantização da opressão
quando falamos sobre as margens,
4
O nome da autora bell h
ooks
pseudônimo em homenagem a sua avó e é
grafado em letra minúscula pois desta forma a
autora busca romper com a ideia de
superioridade do autor. Para ela, o
títulos do autor não possuem mai
que as suas ideias.
199
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
marginalização de determinados
Essa autora, em diálogo com
reflete que estar à margem
“é ser parte do todo, mas fora do corpo
principal” (KILOMBA, 2019, p. 67). A
se na vivência de
hooks
enquanto mulher preta moradora da
periferia de uma cidade. A ela era
permitido frequentar o centro da
o trabalhadora, para depois
retornar à margem. Entretanto, a
autora chama atenção para que a
margem não seja reduzida a um
espaço periférico em que há apenas
perdas e privações, mas como um
espaço de resistência às opressões,
de possibilidades e criativida
des onde
produzem novos discursos que
desestabilizam discursos
, onde são produzidos
mundos. Kilomba (2019) alerta para a
importância de entender as margens
como um local complexo e diverso, e
por isso, é preciso estar atento para o
mantização da opressão
quando falamos sobre as margens,
ooks
se trata de um
pseudônimo em homenagem a sua avó e é
grafado em letra minúscula pois desta forma a
autora busca romper com a ideia de
superioridade do autor. Para ela, o
nome e os
títulos do autor não possuem mai
s valor do
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
pois não se pode perder de vista que
ela é local de repressão e de
resistência.
As formações das diferentes
juventudes são também tecidas nas
relações com os espaços em que
vivem. Suas limitações impa
vivências e nos usos que fazem do
espaço, por isso, compreender
também como são tecidas essas
relações e seus impactos, nos ajuda a
refletir sobre as formas de habitar
essas cidades. Nessas relações, não é
incomum que as juventudes
periferizadas t
enham que lidar com as
desigualdades ambientais nas regiões
em que vivem.
Para começo de conversa
Figura1:
Imagem da estação
Fonte: acervo da autora
Como dito anteriormente, es
trabalho narra parte da pesquisa feita
por uma das autoras que é profes
de Ciências na rede Estadual no
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
pois não se pode perder de vista que
ela é local de repressão e de
As formações das diferentes
juventudes são também tecidas nas
relações com os espaços em que
vivem. Suas limitações impa
ctam nas
vivências e nos usos que fazem do
espaço, por isso, compreender
também como são tecidas essas
relações e seus impactos, nos ajuda a
refletir sobre as formas de habitar
essas cidades. Nessas relações, não é
incomum que as juventudes
enham que lidar com as
desigualdades ambientais nas regiões
Para começo de conversa
Imagem da estação
Fonte: acervo da autora
Como dito anteriormente, es
te
trabalho narra parte da pesquisa feita
por uma das autoras que é profes
sora
de Ciências na rede Estadual no
município de Duque de Caxias. Narrar
parte dessa pesquisa passa por contar
sobre suas relações com esse
município que não era conhecido por
ela antes de se tornar
acontecem suas práticas docentes.
Sua ch
egada à Duque de
Caxias se deu pelo bairro de Campos
Elísios, que junto ao bairro de Jardim
Primavera (dentre outros), pertence ao
2º distrito do município e é onde se
localiza a REDUC, refinaria de
petróleo que pertence
Impactada pela imagem acima,
registro feito por ela na plataforma da
estação de trem, a professora passou
a pensar em como seria estudar e
morar em um bairro que possui tal
empresa. No seu deslocamento, bem
como na chegada em sua primeira
escola
, ela também pôde perceber
além dos lixos nas ruas, que as
empresas ao redor da escola também
a afetavam com, por exemplo, uma
poeira que ocupava toda a escola. A
partir dessas percepções, uma
pergunta não podia deixar de ser feita:
Qual seria o impacto d
realidades na vida dos estudantes de
tal escola?
Alves (2008), ao tratar dos
movimentos importantes para a
200
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
município de Duque de Caxias. Narrar
parte dessa pesquisa passa por contar
sobre suas relações com esse
município que não era conhecido por
ela antes de se tornar
o local em que
acontecem suas práticas docentes.
egada à Duque de
Caxias se deu pelo bairro de Campos
Elísios, que junto ao bairro de Jardim
Primavera (dentre outros), pertence ao
2º distrito do município e é onde se
localiza a REDUC, refinaria de
petróleo que pertence
à Petrobrás.
Impactada pela imagem acima,
registro feito por ela na plataforma da
estação de trem, a professora passou
a pensar em como seria estudar e
morar em um bairro que possui tal
empresa. No seu deslocamento, bem
como na chegada em sua primeira
, ela também pôde perceber
além dos lixos nas ruas, que as
empresas ao redor da escola também
a afetavam com, por exemplo, uma
poeira que ocupava toda a escola. A
partir dessas percepções, uma
pergunta não podia deixar de ser feita:
Qual seria o impacto d
essas
realidades na vida dos estudantes de
Alves (2008), ao tratar dos
movimentos importantes para a
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
pesquisa nos/dos/com os cotidianos,
cita o “sentimento do mundo”, onde a
(o) pesquisadora (o
), para além de
olhar o mundo, se coloque a senti
na busca por tentar entender as
lógicas e atividades dos cotidianos e
que, a partir disso, consiga pensar nas
condições de
aprenderensinar
quais estudantes e professores estão
imersos.
Entretanto, para isso, é
importante que, enquanto
pesquisado
ras,percebamos que
também estamos imersas no cotidiano
e nele também produzimos
conhecimentos. É, então, mergulhando
na realidade do cotidiano escolar, não
se colocando distante e nem
supostamente com neutralidade, é na
aproximação e no envolvimento com
os
“sujeitos dos cotidianos” que se
consegue entender o que os “usuários”
desses espaçostempos
“fabricam” com
os objetos de consumo a que t
acesso e que redes vão
seu viver cotidiano, que inclui pessoas
e artefatos culturais” (ALVES, 2008, p.
22).
Foi a partir desse movimento
que buscou-
se entender sobre como
são tecidas as relações das/os
alunas/os com os espaços em que
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
pesquisa nos/dos/com os cotidianos,
cita o “sentimento do mundo”, onde a
), para além de
olhar o mundo, se coloque a senti
-lo,
na busca por tentar entender as
lógicas e atividades dos cotidianos e
que, a partir disso, consiga pensar nas
aprenderensinar
nas
quais estudantes e professores estão
Entretanto, para isso, é
importante que, enquanto
ras,percebamos que
também estamos imersas no cotidiano
e nele também produzimos
conhecimentos. É, então, mergulhando
na realidade do cotidiano escolar, não
se colocando distante e nem
supostamente com neutralidade, é na
aproximação e no envolvimento com
“sujeitos dos cotidianos” que se
consegue entender o que os “usuários”
“fabricam” com
os objetos de consumo a que t
êm
tecendo no
seu viver cotidiano, que inclui pessoas
e artefatos culturais” (ALVES, 2008, p.
Foi a partir desse movimento
se entender sobre como
são tecidas as relações das/os
alunas/os com os espaços em que
vivem. Para isso, inspiradas em
Andrade e Guerreiro (2018), em um
primeiro momento, um grupo de jovens
estudantes foram convida
produzirem fotografias para
participarem de uma roda de
conversas estabelecida coletivamente
com tais imagens.
Uma conversa com imagens
As conversas estão presentes
em muitos momentos do cotidiano
escolar. Tanto entre as e os
estudantes, quanto
professores. Em uma conversa entre a
professora/pesquisadora desse
trabalho e os jovens estudantes,
perguntaram-
na sobre onde morava.
Para a surpresa da turma, ela morava
no Rio de Janeiro, no bairro da Penha.
A turma reagiu animada com tal
resposta. Em seguida, os alunos
perguntaram se ela
conhecia o famoso
“baile da gaiolaque acontecia na Vila
Cruzeiro, comunidade que pertence ao
conjunto de favelas da Penha. A
professora explicou que não conhecia.
As alunas/os pareciam não acreditar.
Com
o assim ela morava na Penha e
não conhecia o baile da gaiola?
Percebendo as reações de surpresa
dos estudantes, a professora
201
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
vivem. Para isso, inspiradas em
Andrade e Guerreiro (2018), em um
primeiro momento, um grupo de jovens
estudantes foram convida
das/os a
produzirem fotografias para
participarem de uma roda de
conversas estabelecida coletivamente
Uma conversa com imagens
As conversas estão presentes
em muitos momentos do cotidiano
escolar. Tanto entre as e os
entre esses e
professores. Em uma conversa entre a
professora/pesquisadora desse
trabalho e os jovens estudantes,
na sobre onde morava.
Para a surpresa da turma, ela morava
no Rio de Janeiro, no bairro da Penha.
A turma reagiu animada com tal
resposta. Em seguida, os alunos
conhecia o famoso
“baile da gaiolaque acontecia na Vila
Cruzeiro, comunidade que pertence ao
conjunto de favelas da Penha. A
professora explicou que não conhecia.
As alunas/os pareciam não acreditar.
o assim ela morava na Penha e
não conhecia o baile da gaiola?
Percebendo as reações de surpresa
dos estudantes, a professora
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
perguntou como faziam para ir de
Campos Elísios para Penha. Com as
quantidades de detalhes contadas,
para a professora parecia uma
aventura esse deslocamento. Naquela
conversa, contaram e apresentaram o
bairro em que moram e os espaços
que frequentavam. Ao contarem sobre
o deslocar, também apresentaram
Campos Elísios e Penha à professora.
É, então, acreditando na
potência dos
encontros provocados
pelas conversas, entendendo que para
acontecer, necessita da
disponibilidade, abertura, escuta do
outro e “à sua palavra, não para acatá
la ou para deixá-
la passivamente, mas
para deixá-
la ressoar, afetar, dar,
pensar indagar” (RIBEIRO
p. 165), que nela a possibilidade de
compartilhar e considerar as
experiências individuais e coletivas de
quem participa da conversa e, com
isso, verdades e ideias podem ser
ressignificadas e ampliadas
de significações dos interl
Serpa (2018) defende a conversa
enquanto um “lugar fundamental e
privilegiado onde os sujeitos se
encontram, se desafiam, se
complementam, se antagonizam, se
movem e se transformam” (SERPA,
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
perguntou como faziam para ir de
Campos Elísios para Penha. Com as
quantidades de detalhes contadas,
para a professora parecia uma
grande
aventura esse deslocamento. Naquela
conversa, contaram e apresentaram o
bairro em que moram e os espaços
que frequentavam. Ao contarem sobre
o deslocar, também apresentaram
Campos Elísios e Penha à professora.
É, então, acreditando na
encontros provocados
pelas conversas, entendendo que para
acontecer, necessita da
disponibilidade, abertura, escuta do
outro e “à sua palavra, não para acatá
-
la passivamente, mas
la ressoar, afetar, dar,
et al., 2018,
p. 165), que nela a possibilidade de
compartilhar e considerar as
experiências individuais e coletivas de
quem participa da conversa e, com
isso, verdades e ideias podem ser
ressignificadas e ampliadas
às redes
de significações dos interl
ocutores.
Serpa (2018) defende a conversa
enquanto um “lugar fundamental e
privilegiado onde os sujeitos se
encontram, se desafiam, se
complementam, se antagonizam, se
movem e se transformam” (SERPA,
2018, p. 104).
Escolho pensar com as
conversas, pois n
ão
fechados, e sim interesses:
Conversar
sem o apagamento dos
conflitos e tensões sempre presentes
entre diferentes modos de
pensar(se), de dizer(se), de
escutar(se), de conhecer(se)...um
desafio instigantes e provocativo que
no encontro
com
nos a viver a experiência da
alteridade: pensar(se)
(SAMPAIO et al
.
Entendemos com Sampaio
(2018) a conversa como uma
metodologia menor quando pensamos
nas entrevistas. Não em uma ideia de
oposição à
s en
entendendo est
as como metodologia
maior, sendo mais usada nas
pesquisas em educação. Assim como
Ribeiro et al.
(2018), escolhemos o uso
da palavra metodologia em letra
minúscula, por entendermos ser o
oposto do que é defendida, enquanto
“Met
odologia é a política que zela
pelos procedimentos, técnicas,
instrumentos de pesquisa
reproduzíveis, em prol de um
conhecimento neutro, objetivo e
inconstante, tal qual planteou a
modernidade positivista” (RIBEIRO
al.
, 2018, p. 167). Com as conversas
n
ão buscamos categorizar as falas dos
sujeitos que participam da conversa,
mas sobretudo pensar com tais falas,
202
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Escolho pensar com as
ão
há objetivos
fechados, e sim interesses:
sem o apagamento dos
conflitos e tensões sempre presentes
entre diferentes modos de
pensar(se), de dizer(se), de
escutar(se), de conhecer(se)...um
desafio instigantes e provocativo que
com
o outro, provoca-
nos a viver a experiência da
alteridade: pensar(se)
com o outro.
.
, 2018, p. 35)
Entendemos com Sampaio
et al.
(2018) a conversa como uma
metodologia menor quando pensamos
nas entrevistas. Não em uma ideia de
s en
trevistas, mas
as como metodologia
maior, sendo mais usada nas
pesquisas em educação. Assim como
(2018), escolhemos o uso
da palavra metodologia em letra
minúscula, por entendermos ser o
oposto do que é defendida, enquanto
odologia é a política que zela
pelos procedimentos, técnicas,
instrumentos de pesquisa
reproduzíveis, em prol de um
conhecimento neutro, objetivo e
inconstante, tal qual planteou a
modernidade positivista” (RIBEIRO
et
, 2018, p. 167). Com as conversas
ão buscamos categorizar as falas dos
sujeitos que participam da conversa,
mas sobretudo pensar com tais falas,
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
a partir delas, com as perguntas que
dela surgem e as imprevisibilidades
que podem acontecer no seu
desenrolar.
No ato da conversa a
circulaçã
o da palavra,
desestabiliza as relações de poder,
proporciona encontros e
distanciamentos, as trocas entre
diferentes pontos de vistas, o pensar
junto do outro. uma
imprevisibilidade, pois não se sabe
ao certo as questões que possam
surgir e quais
discussões serão
tecidas. Nas conversas sobre o bairro,
a professora recordou-
se da fotografia
que havia feito da REDUC e do quanto
aquelas fumaças saindo dos cilindros
a afetaram.
Dessa forma, a pesquisa em
questão, propôs rodas de conversas
com as fotog
rafias dos jovens, pois
pensamos com Samain (2012) que as
imagens sempre oferecem algo que
nos faça pensar, “são poços de
memória e focos de emoções e
sensações, isto é, lugares carregados
de humanidade” (SAMAIN, 2012,
22). Barthes (2018) em sua análise
filosófica da fotografia, propõe alguns
elementos para pensarmos a imagem.
Barthes (2018) chama de
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
a partir delas, com as perguntas que
dela surgem e as imprevisibilidades
que podem acontecer no seu
No ato da conversa a
o da palavra,
que
desestabiliza as relações de poder,
proporciona encontros e
distanciamentos, as trocas entre
diferentes pontos de vistas, o pensar
junto do outro. uma
imprevisibilidade, pois não se sabe
m
ao certo as questões que possam
discussões serão
tecidas. Nas conversas sobre o bairro,
se da fotografia
que havia feito da REDUC e do quanto
aquelas fumaças saindo dos cilindros
Dessa forma, a pesquisa em
questão, propôs rodas de conversas
rafias dos jovens, pois
pensamos com Samain (2012) que as
imagens sempre oferecem algo que
nos faça pensar, “são poços de
memória e focos de emoções e
sensações, isto é, lugares carregados
de humanidade” (SAMAIN, 2012,
p.
22). Barthes (2018) em sua análise
filosófica da fotografia, propõe alguns
elementos para pensarmos a imagem.
Barthes (2018) chama de
Studium
aquilo que chama a atenção e tem a
ver com um saber específico. Nele
um interesse afetado pela cultura, pela
política. Para Barthes (2018) é a partir
do Studium
que um interesse pela
fotografia e é partir de algo nosso,
próprio, da cultura que partic
fotografia e do que a compõe.
O autor chama de
aquilo que atravessa o
uma imagem, que é lançado como
uma flecha, é aquele detalhe da
fotografia que não é intencional, que
atrai e muda a leitura do
provoca uma nova
fotografia a partir
de um novo olhar. É, então, aquilo que
punge a partir do detalhe de uma
observação, “um detalhe conquista
toda minha leitura, trata
mutação viva de meu interesse, de
uma fulguração. Pela marca de
alguma coisa
, a foto não é ma
qualquer. Essa
alguma coisa
estalo, provocou em mim um pequeno
abalo” (BARTHES, 2018,
Assim, para pensar sobre os
habitares foi convidada uma turma de
série do Ensino Médio para
fotografarem espaços em Jardim
Primavera, como forma de di
narrativas que nos ajudassem a refletir
em uma roda de conversa. Como
203
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
aquilo que chama a atenção e tem a
ver com um saber específico. Nele
um interesse afetado pela cultura, pela
política. Para Barthes (2018) é a partir
que um interesse pela
fotografia e é partir de algo nosso,
próprio, da cultura que partic
ipamos da
fotografia e do que a compõe.
O autor chama de
Punctum
aquilo que atravessa o
Spectator em
uma imagem, que é lançado como
uma flecha, é aquele detalhe da
fotografia que não é intencional, que
atrai e muda a leitura do
Spectator e
fotografia a partir
de um novo olhar. É, então, aquilo que
punge a partir do detalhe de uma
observação, “um detalhe conquista
toda minha leitura, trata
-se de uma
mutação viva de meu interesse, de
uma fulguração. Pela marca de
, a foto não é ma
is
alguma coisa
de um
estalo, provocou em mim um pequeno
abalo” (BARTHES, 2018,
p. 46).
Assim, para pensar sobre os
habitares foi convidada uma turma de
série do Ensino Médio para
fotografarem espaços em Jardim
Primavera, como forma de di
sparar
narrativas que nos ajudassem a refletir
em uma roda de conversa. Como
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
forma de provocar as fotografias,
foram feitas três perguntas a esses
jovens: Qual espaço mais gostavam
em Jardim Primavera? Que espaço
gostariam de apresentar em Jardim
Primavera
? Qual era o espaço que
mais frequentavam em Jardim
Primavera?
Entretanto, o convite feito à
turma foi recusado em um primeiro
momento. As e os alunos expressaram
suas preocupações em fotografarem
espaços em que viviam ou se
deslocavam. Segundo eles, mora
em áreas de risco e não poderiam
fotografar por ser muito
perigoso.Devido à violência na região,
mostraram preocupação com a
atividade para a qual foram
convidados. O medo era de serem
roubados ou sofrerem algum tipo de
repressão devido à produção das
fotografias. Percebendo o desconforto,
a professora suspendeu a atividade
para que ninguém estivesse em
situação de risco. Entretanto, o fato de
não registrarem, não significava que
não se deslocavam ou frequentavam
lugares específicos em Jardim
Primavera
e Duque de Caxias.
Pensando em outros modos de
narrar o espaço, a professora de
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
forma de provocar as fotografias,
foram feitas três perguntas a esses
jovens: Qual espaço mais gostavam
em Jardim Primavera? Que espaço
gostariam de apresentar em Jardim
? Qual era o espaço que
mais frequentavam em Jardim
Entretanto, o convite feito à
turma foi recusado em um primeiro
momento. As e os alunos expressaram
suas preocupações em fotografarem
espaços em que viviam ou se
deslocavam. Segundo eles, mora
vam
em áreas de risco e não poderiam
fotografar por ser muito
perigoso.Devido à violência na região,
mostraram preocupação com a
atividade para a qual foram
convidados. O medo era de serem
roubados ou sofrerem algum tipo de
repressão devido à produção das
fotografias. Percebendo o desconforto,
a professora suspendeu a atividade
para que ninguém estivesse em
situação de risco. Entretanto, o fato de
não registrarem, não significava que
não se deslocavam ou frequentavam
lugares específicos em Jardim
e Duque de Caxias.
Pensando em outros modos de
narrar o espaço, a professora de
Português da turma foi procurada para
saber como era a relação dessa turma
com a produção textual. A professora
explicou que o grupo em questão tinha
o costume de reagir
desmotivadamente
propostas e isso também podia ser
percebido durante as aulas de
produção textual. Explicamos a
atividade proposta à turma e,
interessada, a docente pediu uma
chance para insistir com a turma.
Segundo ela, não era possível que
aquel
es jovens frequentassem
lugares que o pudessem ser
fotografados. Como antiga moradora
do bairro e
por acompanhar algum
tempo aquele grupo de alunos, a
professora afirmou que eles
frequentavam diferentes espaços, não
apenas aqueles limitados por um
poder que impedia as imagens. Dessa
forma, ela conversou com a turma e
refez o convite.
Então, preocupada com as falas
dos estudantes, a
professora/pesquisadora foi até a sala
de aula da turma para confirmar a
suspensão da atividade, quando para
a surpresa
, a turma pediu para manter
a atividade, pois gostariam de produzir
as fotografias. O que havia
204
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Português da turma foi procurada para
saber como era a relação dessa turma
com a produção textual. A professora
explicou que o grupo em questão tinha
o costume de reagir
às atividades
propostas e isso também podia ser
percebido durante as aulas de
produção textual. Explicamos a
atividade proposta à turma e,
interessada, a docente pediu uma
chance para insistir com a turma.
Segundo ela, não era possível que
es jovens frequentassem
lugares que o pudessem ser
fotografados. Como antiga moradora
por acompanhar algum
tempo aquele grupo de alunos, a
professora afirmou que eles
frequentavam diferentes espaços, não
apenas aqueles limitados por um
poder que impedia as imagens. Dessa
forma, ela conversou com a turma e
Então, preocupada com as falas
dos estudantes, a
professora/pesquisadora foi até a sala
de aula da turma para confirmar a
suspensão da atividade, quando para
, a turma pediu para manter
a atividade, pois gostariam de produzir
as fotografias. O que havia
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
acontecido? O que teria feito com que
aqueles jovens se sentissem
encorajados ou autorizados a
produzirem suas fotografias? Será o
fato de a professora de portu
assim como eles, pertencer a Jardim
Primavera? Esse fato autorizava
aquela atividade? Sem respostas,
porém provocada por tais perguntas e
considerando que insistiam em dizer
que não havia nada de interessante
para mostrar no bairro em que moram,
afin
al, o que cada um daqueles jovens,
gostaria de contar com suas
fotografias?
Inspirada por Andrade e
Guerreiro (2018), as conversas com a
imagens produzidas por jovens
estudantes para acontecerem foram
afetadas, provocadas e movimentadas
por
studiuns e punc
especialmente por esse último. Nessas
conversas percebemos que suas
fotografias também dispararam
studiuns e punctus
. Esses movimentos
ajudaram a contar sobre a tessitura de
conhecimento e significações dos
cotidianos do dentrofora
da escola e
da cidade.
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
acontecido? O que teria feito com que
aqueles jovens se sentissem
encorajados ou autorizados a
produzirem suas fotografias? Será o
fato de a professora de portu
guês,
assim como eles, pertencer a Jardim
Primavera? Esse fato autorizava
aquela atividade? Sem respostas,
porém provocada por tais perguntas e
considerando que insistiam em dizer
que não havia nada de interessante
para mostrar no bairro em que moram,
al, o que cada um daqueles jovens,
gostaria de contar com suas
Inspirada por Andrade e
Guerreiro (2018), as conversas com a
imagens produzidas por jovens
estudantes para acontecerem foram
afetadas, provocadas e movimentadas
studiuns e punc
tuns e
especialmente por esse último. Nessas
conversas percebemos que suas
fotografias também dispararam
. Esses movimentos
ajudaram a contar sobre a tessitura de
conhecimento e significações dos
da escola e
Narrando o habitar
Na semana anterior à roda de
imagens e conversas, as/os
estudantes enviaram as fotografias
que produziram via
celular da professora que as organizou
em slides por ordem de envio. No dia
da conversa, a sala foi organizada com
as cadeiras em roda, as imagens
projetadas através de um Datashow e
coletivamente conversamos sobre
cada uma delas. Aqui apresentarem
algumas dessas fotografias.
A imagem a seguir foi a
primeira fotografia a aparecer e a
chamamos de “o mistério do castelo
sem endereço”:
Figura 2: Castelo
Fonte: acervo da autora.
205
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Na semana anterior à roda de
imagens e conversas, as/os
estudantes enviaram as fotografias
que produziram via
bluetooth para o
celular da professora que as organizou
em slides por ordem de envio. No dia
da conversa, a sala foi organizada com
as cadeiras em roda, as imagens
projetadas através de um Datashow e
coletivamente conversamos sobre
cada uma delas. Aqui apresentarem
os
algumas dessas fotografias.
A imagem a seguir foi a
primeira fotografia a aparecer e a
chamamos de “o mistério do castelo
Figura 2: Castelo
Fonte: acervo da autora.
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
Quando perguntados sobre o
endereço desse castelo, ninguém
conseguiu responder. Mas, ao mesmo,
tempo não disseram que ele não
existia em Jardim Primavera. Por um
tempo ficaram tentando achar
possibilidades de endereços para essa
construção. Uma aluna comen
ele certamente ficaria em um lugar
longe, mas que não sabia dizer ao
certo onde ficava.
Um estudante afirmou que havia
estado lá. Mas não disse onde era.
Outro aluno arriscou a dizer que
aquela era a casa do Barack Obama.
Uma aluna afirmou que ali
existiriam morcegos. Perguntamos
turma se aquele castelo ficava em
Jardim Primavera. Após se olharem na
esperança de alguém responder,
perguntamos o porquê do envio
daquela foto e alguém respondeu que
provavelmente a pessoa que a havia
enviado, não e
stava na aula naquele
dia.
Por que será que esta foto foi
enviada? Quem será que a enviou?
Seria uma fotografia anônima? A
pessoa que a enviou já visitou esse
castelo? O que essa pessoa gostaria
de contar sobre essa fotografia? Como
esse castelo se relaci
ona com Jardim
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Quando perguntados sobre o
endereço desse castelo, ninguém
conseguiu responder. Mas, ao mesmo,
tempo não disseram que ele não
existia em Jardim Primavera. Por um
tempo ficaram tentando achar
possibilidades de endereços para essa
construção. Uma aluna comen
tou que
ele certamente ficaria em um lugar
longe, mas que não sabia dizer ao
Um estudante afirmou que havia
estado lá. Mas não disse onde era.
Outro aluno arriscou a dizer que
aquela era a casa do Barack Obama.
Uma aluna afirmou que ali
existiriam morcegos. Perguntamos
à
turma se aquele castelo ficava em
Jardim Primavera. Após se olharem na
esperança de alguém responder,
perguntamos o porquê do envio
daquela foto e alguém respondeu que
provavelmente a pessoa que a havia
stava na aula naquele
Por que será que esta foto foi
enviada? Quem será que a enviou?
Seria uma fotografia anônima? A
pessoa que a enviou já visitou esse
castelo? O que essa pessoa gostaria
de contar sobre essa fotografia? Como
ona com Jardim
Primavera? Será que essa fotografia
se tratava de uma brincadeira feita
pelos estudantes? Mas, mesmo
considerando uma brincadeira, o que
ela poderia movimentar em nós, o que
ela poderia provocar nas alunas e
alunos que participavam dessa
con
versa? Aqueles “silêncios”, as
perguntas sem respostas, nos
contavam sobre ausências. Não havia
naquele bairro um castelo como esse,
mas a fotografia estava lá. Não havia a
autoria daquela fotografia, e ainda
assim insistiam em tentar descobrir o
endereço.
Um grupo de alunos sugeriu
que aquele castelo ficaria do outro
lado. Pelo bairro passa a estação de
trem e, com isso, os estudantes
reconhecem dois lados do bairro.
Segundo eles, o lado em que moram é
o lado “pobre” e o outro seria o lado
“rico”. Por iss
o, segundo eles, esse
castelo só poderia estar do lado em
que não moram. Após um tempo em
busca de um endereço, um aluno
finalmente desvenda o mistério. Se
trata do castelo da Cinderela que fica
na Disney, em Orlando.
Nas rodas de imagens e
conversas noss
a atenção não está
voltada para as intenções do autor, e
206
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Primavera? Será que essa fotografia
se tratava de uma brincadeira feita
pelos estudantes? Mas, mesmo
considerando uma brincadeira, o que
ela poderia movimentar em nós, o que
ela poderia provocar nas alunas e
alunos que participavam dessa
versa? Aqueles “silêncios”, as
perguntas sem respostas, nos
contavam sobre ausências. Não havia
naquele bairro um castelo como esse,
mas a fotografia estava lá. Não havia a
autoria daquela fotografia, e ainda
assim insistiam em tentar descobrir o
Um grupo de alunos sugeriu
que aquele castelo ficaria do outro
lado. Pelo bairro passa a estação de
trem e, com isso, os estudantes
reconhecem dois lados do bairro.
Segundo eles, o lado em que moram é
o lado “pobre” e o outro seria o lado
o, segundo eles, esse
castelo só poderia estar do lado em
que não moram. Após um tempo em
busca de um endereço, um aluno
finalmente desvenda o mistério. Se
trata do castelo da Cinderela que fica
na Disney, em Orlando.
Nas rodas de imagens e
a atenção não está
voltada para as intenções do autor, e
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
sim para o que nos provoca aquela
imagem, a própria ausência de uma
autoria que explicasse o motivo
daquela imagem nos permitiu pensar
em narrativas possíveis para aquele
castelo, e consequentemente,
narrativas possíveis para Jardim
Primavera.
Ao insistirem nas narrativas que
criavam possibilidades de endereços
para o Castelo em Jardim Primavera,
os estudantes falaram sobre outras
significações e outras formas de
habitar esse bairro. Pensamos com
Certeau (2014) a diferenciação entre o
ato de descrever e o ato de narrar. O
autor afirma que, diferentemente do
ato de descrever, no narrar há,
também, uma criação de ficção. E, ao
narrarem sobre essa imagem, criaram
possibilidades de existências em suas
realidades para essa construção
(CERTEAU, 2014). O castelo marca
algumas ausências no bairro, ao
menos no lado em que vivem aquelas
alunas/os.
Essa imagem nos convidou a
pensar nas narrativas infanto
exploradas pelos filmes de animação
onde os cast
elos marcam um poder
econômico, fartura de alimentos e
objetos. São lugares das riquezas e do
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
sim para o que nos provoca aquela
imagem, a própria ausência de uma
autoria que explicasse o motivo
daquela imagem nos permitiu pensar
em narrativas possíveis para aquele
castelo, e consequentemente,
em
narrativas possíveis para Jardim
Ao insistirem nas narrativas que
criavam possibilidades de endereços
para o Castelo em Jardim Primavera,
os estudantes falaram sobre outras
significações e outras formas de
habitar esse bairro. Pensamos com
Certeau (2014) a diferenciação entre o
ato de descrever e o ato de narrar. O
autor afirma que, diferentemente do
ato de descrever, no narrar há,
também, uma criação de ficção. E, ao
narrarem sobre essa imagem, criaram
possibilidades de existências em suas
realidades para essa construção
(CERTEAU, 2014). O castelo marca
algumas ausências no bairro, ao
menos no lado em que vivem aquelas
Essa imagem nos convidou a
pensar nas narrativas infanto
-juvenis
exploradas pelos filmes de animação
elos marcam um poder
econômico, fartura de alimentos e
objetos. São lugares das riquezas e do
luxo, lugar em que se é servido, onde
proteção e confraternização.
Conversando com essa fotografia e
com os estudantes e suas narrativas,
percebo que esse cast
ausências de narrativas marcadas pela
fartura, pela proteção, pela riqueza em
relação a parte do bairro em que
moram. No sentido oposto, são
frequentes as narrativas de ausências
nas regiões de periferia e da Baixada
Fluminense. Pensamos nas
da segurança pública, da manutenção
dos espaços públicos de convivência,
de saneamento básico, do direito de ir
e vir que tem maior impacto na
dos jovens negros. Não naquela
região um castelo como o da imagem,
e ainda assim os estudantes
possíveis histórias para essa
construção.
As ausências da periferia estão
presentes nas narrativas juvenis. São
também exploradas, inclusive, pelas
mídias. Entretanto, não de
ausências esse bairro é formado.
Mesmo nessas relações opressoras,
outras produções e relações que
significam o espaço de diversas
formas. A partir de Certeau (2014),
não buscamos, negar tais ausências,
mas buscamos outras significações
207
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
luxo, lugar em que se é servido, onde
proteção e confraternização.
Conversando com essa fotografia e
com os estudantes e suas narrativas,
percebo que esse cast
elo remete às
ausências de narrativas marcadas pela
fartura, pela proteção, pela riqueza em
relação a parte do bairro em que
moram. No sentido oposto, são
frequentes as narrativas de ausências
nas regiões de periferia e da Baixada
Fluminense. Pensamos nas
ausências
da segurança pública, da manutenção
dos espaços públicos de convivência,
de saneamento básico, do direito de ir
e vir que tem maior impacto na
vida
dos jovens negros. Não naquela
região um castelo como o da imagem,
e ainda assim os estudantes
criaram
possíveis histórias para essa
As ausências da periferia estão
presentes nas narrativas juvenis. São
também exploradas, inclusive, pelas
mídias. Entretanto, não de
ausências esse bairro é formado.
Mesmo nessas relações opressoras,
outras produções e relações que
significam o espaço de diversas
formas. A partir de Certeau (2014),
não buscamos, negar tais ausências,
mas buscamos outras significações
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
tecidas a partir das vivências dos
jovens com o bairro e o município em
que moram.
Fi
gura 3: A escola
Fonte: Acervo da autora
Quando chegamos nessa
fotografia, um aluno achou que teria
sido feita pela gestão da escola que,
segundo ele, gosta de fazer muitas
fotografias da faxada da escola.
Perguntamos à
turma o que achavam
dessa escola e, em uníssono,
destacaram questões negativas
envolvendo a instituição.
Quando perguntados se
achavam que haviam marcado de
alguma forma essa escola,
responderam que sim. Quase todos os
alunos estudam juntos desde o Ensi
Fundamental. Anos e anos
vivenciando e construindo o cotidiano
escolar nos faz perceber que o habitar
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
tecidas a partir das vivências dos
jovens com o bairro e o município em
gura 3: A escola
Fonte: Acervo da autora
Quando chegamos nessa
fotografia, um aluno achou que teria
sido feita pela gestão da escola que,
segundo ele, gosta de fazer muitas
fotografias da faxada da escola.
turma o que achavam
dessa escola e, em uníssono,
destacaram questões negativas
Quando perguntados se
achavam que haviam marcado de
alguma forma essa escola,
responderam que sim. Quase todos os
alunos estudam juntos desde o Ensi
no
Fundamental. Anos e anos
vivenciando e construindo o cotidiano
escolar nos faz perceber que o habitar
a cidade também passa por habitar a
escola. Dessa forma, como resposta
disseram que suas marcas estavam na
escola através das pixações. E o que
essas m
arcas representavam? Eram a
pixações feitas por dois alunos que
deixaram registros em diferentes
partes da escola.
Uma aluna nos contou que
como forma de marcar uma amizade,
havia registros de seu nome e de um
amigo, nas paredes da quadra, como
forma de e
ternizar aquela relação.
Entretanto, contaram que esses
registos e marcas foram apagados
com o tempo pela escola, e proibidas
de serem feitas novamente por terem
sido consideradas vandalismo.
Entretanto, essas escritas e desenhos
surgem como uma marca, um
desses alunos que modificam o
espaço físico da escola, quando
muitas vezes o sistema burocrático os
trata como números, estatísticas e
notas.
Em um momento dessa
conversa, nos lembramos de alguns
episódios em que as pixações
também são usadas p
comunicarem pensamentos e
emoções quando jovens estudantes a
usam para anunciarem, por exemplo,
208
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
a cidade também passa por habitar a
escola. Dessa forma, como resposta
disseram que suas marcas estavam na
escola através das pixações. E o que
arcas representavam? Eram a
pixações feitas por dois alunos que
deixaram registros em diferentes
Uma aluna nos contou que
como forma de marcar uma amizade,
havia registros de seu nome e de um
amigo, nas paredes da quadra, como
ternizar aquela relação.
Entretanto, contaram que esses
registos e marcas foram apagados
com o tempo pela escola, e proibidas
de serem feitas novamente por terem
sido consideradas vandalismo.
Entretanto, essas escritas e desenhos
surgem como uma marca, um
registro
desses alunos que modificam o
espaço físico da escola, quando
muitas vezes o sistema burocrático os
trata como números, estatísticas e
Em um momento dessa
conversa, nos lembramos de alguns
episódios em que as pixações
também são usadas p
ara
comunicarem pensamentos e
emoções quando jovens estudantes a
usam para anunciarem, por exemplo,
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
em um momento de fragilidade
emocional, a necessidade de naquele
momento precisarem de ajuda
psicológica. Foi possível encontrar nas
portas dos banheiros al
gumas dessas
mensagens, o que possibilitou, por
exemplo, ações de intervenção da
escola que buscou trabalhar as
temáticas da depressão, ansiedade e
suícido com alunos e alunas. Alguns
desses estudantes puderam ser
encaminhados para auxílio psicológico
fora da escola.
Nas conversa com essas
fotografias, os estudantes contaram
que ao longo do ano suas pixações
são apagadas para darem lugar a uma
nova cor. Barchi (2007) nos lembra
que elas são tratadas como crime
ambiental pela lei brasileira 9605/98
e tem
como pena dentenção de 3
meses até 1 ano e multa:
No caso da lei, não a pichação,
mas também o grafite e qualquer
outra conspurcação (como, por
exemplo, colar qualquer tipo de
documento, papel ou adesivo) contra
monumentos e edifícios urbanos é
também
um crime ambiental. Deve
ser combatido como forma de
estabelecer a qualidade de vida
urbana. Assim como devem ser
combatidas a poluição dos rios, a
devastação da Amazônia e da Mata
Atlântica, a emissão de poluentes,
tóxicos na atmosfera, como o dióxido
de
carbono e o monóxido de
carbono, o uso indiscriminado de
produtos tóxicos na agricultura, os
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
em um momento de fragilidade
emocional, a necessidade de naquele
momento precisarem de ajuda
psicológica. Foi possível encontrar nas
gumas dessas
mensagens, o que possibilitou, por
exemplo, ações de intervenção da
escola que buscou trabalhar as
temáticas da depressão, ansiedade e
suícido com alunos e alunas. Alguns
desses estudantes puderam ser
encaminhados para auxílio psicológico
Nas conversa com essas
fotografias, os estudantes contaram
que ao longo do ano suas pixações
são apagadas para darem lugar a uma
nova cor. Barchi (2007) nos lembra
que elas são tratadas como crime
ambiental pela lei brasileira 9605/98
como pena dentenção de 3
No caso da lei, não a pichação,
mas também o grafite e qualquer
outra conspurcação (como, por
exemplo, colar qualquer tipo de
documento, papel ou adesivo) contra
monumentos e edifícios urbanos é
um crime ambiental. Deve
ser combatido como forma de
estabelecer a qualidade de vida
urbana. Assim como devem ser
combatidas a poluição dos rios, a
devastação da Amazônia e da Mata
Atlântica, a emissão de poluentes,
tóxicos na atmosfera, como o dióxido
carbono e o monóxido de
carbono, o uso indiscriminado de
produtos tóxicos na agricultura, os
maus trat
os aos animais, etc.
(BARCHI, 2007, p. 3).
É comum, na escola, narrativas
que identificam as pixações como
“falta de educação” que tende a sujar e
alteramum padrão de estética, de
limpeza. Aparentemente não
expressariam nada além de sujeira e
crime ambiental (BARCHI, 2007). Mas
o que elas têm a nos
alguns, as pixações são consideradas
arte. Para outros, arte que denuncia a
miséria, a pobreza, a desigualdade, as
opressões.
Na conversa com os jovens,
esses nos mostram que as pixações
são também uma forma de intervir na
escola, deixar seus
registros, protestar
e marcar as estruturas físicas. São
também registros afetivos que fazem
rememorar importantes vivências
coletivas tendo a escola como pano de
fundo. E o que mais essas pixações
podem nos dizer?
No documentário Pixo, dirigido
por João
Wainer (2009), pixadores de
São Paulo nos contam sobre a pixação
ser uma forma de denúncia e
afronta.Segundo o documentário, além
de forma de protesto e denúncia
contra, por exemplo, os abusos dos
governos, as pixações são, também,
209
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
os aos animais, etc.
(BARCHI, 2007, p. 3).
É comum, na escola, narrativas
que identificam as pixações como
“falta de educação” que tende a sujar e
alteramum padrão de estética, de
limpeza. Aparentemente não
expressariam nada além de sujeira e
crime ambiental (BARCHI, 2007). Mas
o que elas têm a nos
dizer? Para
alguns, as pixações são consideradas
arte. Para outros, arte que denuncia a
miséria, a pobreza, a desigualdade, as
Na conversa com os jovens,
esses nos mostram que as pixações
são também uma forma de intervir na
registros, protestar
e marcar as estruturas físicas. São
também registros afetivos que fazem
rememorar importantes vivências
coletivas tendo a escola como pano de
fundo. E o que mais essas pixações
No documentário Pixo, dirigido
Wainer (2009), pixadores de
São Paulo nos contam sobre a pixação
ser uma forma de denúncia e
afronta.Segundo o documentário, além
de forma de protesto e denúncia
contra, por exemplo, os abusos dos
governos, as pixações são, também,
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
uma busca por reconhecim
social.O documentário também nos
mostra que, apesar de a pixação ser
conhecida como um lazer, um esporte
da periferia, não jovens pobres,
mas também os de classe média
praticando-o.
Barchi (2007) destaca que,
apesar de serem entendidas como
crim
e ambiental, sujeira, falta de
educação que afeta uma determinada
estética que preza por uma “ecologia
de limpeza” (p.
3), elas também podem
ser vistas por seus potenciais políticos
de “contestação, intervenção e arte”
(p.
3), o que também vimos no
documen
tário “Pixo”. Assim,
compreendemos aqui que as ações
dos pixadores possibilitam outras
formas de pensar “ações e
reivindicações, pelo seu próprio modo
de existência, de não se adequar aos
corpos monolíticos estruturais”
(BARCHI, 2007, p. 4).
Durante nossa
surgiram as imagens a seguir. A
primeira fotografia trata da praça que
fica distante da escola e de onde
moram, pois fica do outro lado da
estação. O aluno que fez essa imagem
disse que a frequenta para fazer
corridas.
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
uma busca por reconhecim
ento
social.O documentário também nos
mostra que, apesar de a pixação ser
conhecida como um lazer, um esporte
da periferia, não jovens pobres,
mas também os de classe média
Barchi (2007) destaca que,
apesar de serem entendidas como
e ambiental, sujeira, falta de
educação que afeta uma determinada
estética que preza por uma “ecologia
3), elas também podem
ser vistas por seus potenciais políticos
de “contestação, intervenção e arte”
3), o que também vimos no
tário “Pixo”. Assim,
compreendemos aqui que as ações
dos pixadores possibilitam outras
formas de pensar “ações e
reivindicações, pelo seu próprio modo
de existência, de não se adequar aos
corpos monolíticos estruturais”
Durante nossa
conversa,
surgiram as imagens a seguir. A
primeira fotografia trata da praça que
fica distante da escola e de onde
moram, pois fica do outro lado da
estação. O aluno que fez essa imagem
disse que a frequenta para fazer
Figura 4: Praça
Fonte: A
cervo da autora
Nela, destacaram a
conservação e a sua procura para
fazer atividades físicas. Nessa praça
existe uma escadaria com mais de
cento e poucos
degraus e tem como
o destino o “céu
”. Segundo eles, as
pessoas usam a escada para se
exercitarem: “-
Quem não tem dinhero
(pra malhar na academia) vai pra lá,
professora
”, disse a aluna, ou usa os “
brinquedos de ginástica da praça, que
são todos novinhos
”, continuou.
Com essa fotografia
sobre os usos que fazemos dos
espaços em que vivemos, pois como
comentamos anteriormente, as táticas
propostas por Certeau (2014), nos
210
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Figura 4: Praça
cervo da autora
Nela, destacaram a
conservação e a sua procura para
fazer atividades físicas. Nessa praça
existe uma escadaria com mais de
degraus e tem como
”. Segundo eles, as
pessoas usam a escada para se
Quem não tem dinhero
(pra malhar na academia) vai pra lá,
”, disse a aluna, ou usa os “
-
brinquedos de ginástica da praça, que
”, continuou.
Com essa fotografia
refletimos
sobre os usos que fazemos dos
espaços em que vivemos, pois como
comentamos anteriormente, as táticas
propostas por Certeau (2014), nos
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
possibilitam outros usos. Nos
permitem subverter o poder
hegemônico, nesse caso, expresso na
dificuldade finan
ceira para a atividade
física dentro de uma academia e a
opção por fazer atividades ao ar livre.
Para tentar entender a
relação entre o poder e os usos da
cidade, buscaremos o auxílio de
dois autores com pressupostos
diferentes, mas que nos ajudaram a
refl
etir. São eles, a geógrafa Doreen
Massey (2015) e o historiador
Michel de Certeau (2014).
Com Massey (2000),
entendemos que o espaço é parte
integrante e produto de inter
relações e, enquanto um conjunto
de inter-
relações, considera que as
identidades não
estão postas, não
há uma única identidade para um
determinado local e nem para os
que nele vivem. Nele acontecem os
encontros, é onde nos afetamos uns
com os outro. Os espaços estão
“cheios de conflitos internos”
(MASSEY, 2000, p. 185) entre o
que foi o s
eu passado, o que
deveria ser o presente e o seu
futuro. A praça frequentada pelas
alunas e pelos alunos bem como os
espaços cujas imagens
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
possibilitam outros usos. Nos
permitem subverter o poder
hegemônico, nesse caso, expresso na
ceira para a atividade
física dentro de uma academia e a
opção por fazer atividades ao ar livre.
Para tentar entender a
relação entre o poder e os usos da
cidade, buscaremos o auxílio de
dois autores com pressupostos
diferentes, mas que nos ajudaram a
etir. São eles, a geógrafa Doreen
Massey (2015) e o historiador
Michel de Certeau (2014).
Com Massey (2000),
entendemos que o espaço é parte
integrante e produto de inter
-
relações e, enquanto um conjunto
relações, considera que as
estão postas, não
há uma única identidade para um
determinado local e nem para os
que nele vivem. Nele acontecem os
encontros, é onde nos afetamos uns
com os outro. Os espaços estão
“cheios de conflitos internos”
(MASSEY, 2000, p. 185) entre o
eu passado, o que
deveria ser o presente e o seu
futuro. A praça frequentada pelas
alunas e pelos alunos bem como os
espaços cujas imagens
apresentaremos mais à frente é um
desses espaços “cheios de
conflitos” entre o passado, presente
e o futuro de Jardim
Nesse emaranhado, buscamos
compreender algumas formas de
usá-la, habitá-la.
O conceito de espaço tem em
si a ideia de um conjunto de
movimentos que nele acontecem,
“que o orientam, o circunstanciam, o
temporalizam e o levam a funcionar
em unida
de polivalente de programas
conflituais ou de proximidades
contratuais” (CERTEAU, 2014, p.
184). É produzido pelos efeitos das
operações que nele acontecem.
Dessa forma, “o espaço estaria para
o lugar como a palavra quando
falada” (...) “assim, a rua
geome
tricamente definida por um
urbanismo é transformada em espaço
pelo pede
stre” (CERTEAU, 2014, p.
184).
Ao pensar os usos cotidianos
do espaço urbano, é importante
pensar nas maneiras com as quais os
praticantepensantes
do espaço lidam,
manipulam e subvertem
imposta por tal sistema. É importante
pensar as táticas como forma de
apropriação do espaço e que
211
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
apresentaremos mais à frente é um
desses espaços “cheios de
conflitos” entre o passado, presente
e o futuro de Jardim
Primavera.
Nesse emaranhado, buscamos
compreender algumas formas de
O conceito de espaço tem em
si a ideia de um conjunto de
movimentos que nele acontecem,
“que o orientam, o circunstanciam, o
temporalizam e o levam a funcionar
de polivalente de programas
conflituais ou de proximidades
contratuais” (CERTEAU, 2014, p.
184). É produzido pelos efeitos das
operações que nele acontecem.
Dessa forma, “o espaço estaria para
o lugar como a palavra quando
falada” (...) “assim, a rua
tricamente definida por um
urbanismo é transformada em espaço
stre” (CERTEAU, 2014, p.
Ao pensar os usos cotidianos
do espaço urbano, é importante
pensar nas maneiras com as quais os
do espaço lidam,
manipulam e subvertem
uma ordem
imposta por tal sistema. É importante
pensar as táticas como forma de
apropriação do espaço e que
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
acontecem nas práticas cotidianas
como forma de resistência a tal
ordem que não ajudaram a produzir.
Os jovens nas rodas de
imagens e conversas
narraram os
seus percursos, sendo esses um ato
de enunciação. Contaram
como usar a escadaria para fazer
exercícios físicos, usar os aparelhos
de ginástica como bancos para
sentarem-
se para uma conversa
outras tantas táticas para habitar a
cidade.
Além da praça acima as/os
estudantes fotografaram outra praça
localizada na rua da escola em que
estudavam. Ao verem as imagens
abaixo o primeiro movimento foi o de
compararem as duas.
Figura 5: Praça da escola
Fonte: acervo da autora
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
acontecem nas práticas cotidianas
como forma de resistência a tal
ordem que não ajudaram a produzir.
Os jovens nas rodas de
narraram os
seus percursos, sendo esses um ato
de enunciação. Contaram
-nos sobre
como usar a escadaria para fazer
exercícios físicos, usar os aparelhos
de ginástica como bancos para
se para uma conversa
, entre
outras tantas táticas para habitar a
Além da praça acima as/os
estudantes fotografaram outra praça
localizada na rua da escola em que
estudavam. Ao verem as imagens
abaixo o primeiro movimento foi o de
Figura 5: Praça da escola
Fonte: acervo da autora
Figura 6:
Praça com briquedos
Fonte: acervo da autora
Alguns comentaram que
preferem não frequentar essa praça,
pois nela acontecem muitas festas,
inclusive o baile da região. Os
estudantes destacaram as diferenças
entre as praças e focaram em suas
cons
ervações, já que, segundo eles,
não cuidavam da segunda praça da
mesma forma que cuidavam da
primeira praça apresentada aqui. O
que percebemos com suas falas é que
os usos que fazem das praças são
diferentes.
Quando perguntados se não
utilizavam a quadra de futebol,
responderam que sim, mas que
quando chove “
dá o maior caô
aos alagamentos na região, resultado
frequente quando chuva forte.
Ressaltaram que maior
movimentação de pessoas por essa
pra
ça, uma vez que ela fica em uma
rua com comércio local, mas seu maior
movimento ainda é nos dias em que
212
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Praça com briquedos
Fonte: acervo da autora
Alguns comentaram que
preferem não frequentar essa praça,
pois nela acontecem muitas festas,
inclusive o baile da região. Os
estudantes destacaram as diferenças
entre as praças e focaram em suas
ervações, já que, segundo eles,
não cuidavam da segunda praça da
mesma forma que cuidavam da
primeira praça apresentada aqui. O
que percebemos com suas falas é que
os usos que fazem das praças são
Quando perguntados se não
utilizavam a quadra de futebol,
responderam que sim, mas que
dá o maior caô
”, devido
aos alagamentos na região, resultado
frequente quando chuva forte.
Ressaltaram que maior
movimentação de pessoas por essa
ça, uma vez que ela fica em uma
rua com comércio local, mas seu maior
movimento ainda é nos dias em que
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
nela acontece o baile. Uma aluna nos
contou que, segundo sua mãe, onde
está essa quadra houve em seu
lugar um valão que foi aterrado.
Devido a esse f
ato e o dificultado
escoamento de água, essa região
inunda com as chuvas. Isso faz com
que as pessoas fiquem
impossibilitadas de transitar por essa
praça, bem como as coloca em
situação de exposição a doenças
transmitidas em tais condições.
Segundo Rios e
(2011), o município de Duque de
Caxias era uma região com a
presença de manguezais que com a
falta de planejamento e a
desorganizada ocupação, passou por
intenso assoreamento de rios e canais
e pelas ocupações por indústrias e
moradias para dar lu
gar a habitações.
Como consequência, sua população
sofre mais com os desmatamentos,
com ineficência na drenagem, com a
impermeabilização do solo, com a falta
de saneamen
to básico e de coleta e
destinos adequados para os resíduos
produzidos. Assim, parte de
população está exposta aos problemas
socioambientais produzidos nesses
processos.
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
nela acontece o baile. Uma aluna nos
contou que, segundo sua mãe, onde
está essa quadra houve em seu
lugar um valão que foi aterrado.
ato e o dificultado
escoamento de água, essa região
inunda com as chuvas. Isso faz com
que as pessoas fiquem
impossibilitadas de transitar por essa
praça, bem como as coloca em
situação de exposição a doenças
transmitidas em tais condições.
Segundo Rios e
Loureiro
(2011), o município de Duque de
Caxias era uma região com a
presença de manguezais que com a
falta de planejamento e a
desorganizada ocupação, passou por
intenso assoreamento de rios e canais
e pelas ocupações por indústrias e
gar a habitações.
Como consequência, sua população
sofre mais com os desmatamentos,
com ineficência na drenagem, com a
impermeabilização do solo, com a falta
to básico e de coleta e
destinos adequados para os resíduos
produzidos. Assim, parte de
sua
população está exposta aos problemas
socioambientais produzidos nesses
As/Os alunas/os chamaram a
atenção para a conservação da
praça e dos aparelhos devido aos usos
dos moradores. A pergunta que
pudemos tecer através dessas
narrativas d
o habitar a praça diz
respeito ao uso do patrimônio público.
Quais as percepções e significações
do que é público para os
frequentadores dessa praça, que são
os mesmos jovens que reclamam da
sua sujeira?
É preciso cuidar do que é
público-
dizem as campanha
que aquilo que é público traz como
benefícios? Os projetos neoliberais
produzem o discurso de que se é
público, é ruim. Poderes executivos,
historicamente comprometidos com o
capitalprivado, deturpam o papel do
que é público. E os usuários da praç
entre táticas e opressões, ora cuidam,
ora destroem esse bem público que
por vezes não os representa.
O estado em que as quadras se
encontram, a que está mais
conservada e a que nãotem
conservação, podem ser reduzidas
apenas aos usos que os
frequentadores fazem dela? Com
essas imagens pensamos na ausência
do Estado, na o manutenção do
cuidado com os apar
elhos, na falta de
213
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
As/Os alunas/os chamaram a
atenção para a conservação da
praça e dos aparelhos devido aos usos
dos moradores. A pergunta que
pudemos tecer através dessas
o habitar a praça diz
respeito ao uso do patrimônio público.
Quais as percepções e significações
do que é público para os
frequentadores dessa praça, que são
os mesmos jovens que reclamam da
É preciso cuidar do que é
dizem as campanha
s- mas o
que aquilo que é público traz como
benefícios? Os projetos neoliberais
produzem o discurso de que se é
público, é ruim. Poderes executivos,
historicamente comprometidos com o
capitalprivado, deturpam o papel do
que é público. E os usuários da praç
a,
entre táticas e opressões, ora cuidam,
ora destroem esse bem público que
por vezes não os representa.
O estado em que as quadras se
encontram, a que está mais
conservada e a que nãotem
conservação, podem ser reduzidas
apenas aos usos que os
frequentadores fazem dela? Com
essas imagens pensamos na ausência
do Estado, na o manutenção do
elhos, na falta de
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
planejamento na construção da praça,
da quadra e do campo de futebol que
estão em condições precárias de uso.
E pensamos, também, nos outros usos
que os frequentadores dão a esse
espaço, seja nos outros usos que dão
aos aparelhos, ou na
insistência no
uso da quadra para j
ogar ou para
promover o baile.
Ainda conversando com essas
imagens, elas nos convidaram a
pensar sobre a apropriação dos
espaços públicos e privados. uma
ideia de que os espaços privados são
melhores por que um dono
responsável por sua manutenção e
conservação. os espaços públicos
não possuem um “responsável” e, com
isso, não sofrem apenas com as
ausências da manutenção, como
também com a depredação por
aqueles que não se reconhecem
nesses espaços e/ou reagem
violências produzidas pelo Estado em
suas ausências.
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
planejamento na construção da praça,
da quadra e do campo de futebol que
estão em condições precárias de uso.
E pensamos, também, nos outros usos
que os frequentadores dão a esse
espaço, seja nos outros usos que dão
insistência no
ogar ou para
Ainda conversando com essas
imagens, elas nos convidaram a
pensar sobre a apropriação dos
espaços públicos e privados. uma
ideia de que os espaços privados são
melhores por que um dono
, um
responsável por sua manutenção e
conservação. os espaços públicos
não possuem um “responsável” e, com
isso, não sofrem apenas com as
ausências da manutenção, como
também com a depredação por
aqueles que não se reconhecem
nesses espaços e/ou reagem
as
violências produzidas pelo Estado em
Figura 7 e 8: quadra da escola
Fonte: acervo da autora
As
fotografias acima são da
quadra da escola que logo foi
reconhecida pela turma. Perguntamos
à
turma se conseguiam ler o que
estava escrito na parede e logo
responderam
favela é lugar de paz
Comentaram que tinha sido feita por
214
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Figura 7 e 8: quadra da escola
Fonte: acervo da autora
fotografias acima são da
quadra da escola que logo foi
reconhecida pela turma. Perguntamos
turma se conseguiam ler o que
estava escrito na parede e logo
favela é lugar de paz
”.
Comentaram que tinha sido feita por
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
algum morador da região. Então
retornamos essa frase em forma de
pergunta: favela é lugar de paz? Como
resposta disseram
que dependia. Para
algumas/uns alunas/os ela era lugar
de paz, para outras/os, não.
Essa fotografia os movimentou.
Por um momento todas/os falavam
juntas/os, inclusive aquelas/os que se
mantiveram caladas durante a roda.
Por um momento estavam discutindo
sobre as regiões em que cada um
morava em Jardim Primavera e se
cada uma delas seria ou não favela.
Um aluno nos contou sobre como a
opressão policial interfere de forma
negativa no cotidiano dos moradores
da região em que mora que sua
presença signifi
ca violência. Nos
contou sobre as leis próprias de
atuação do poder do comércio ilegal
de drogas. Enquanto ele falava, seus
colegas discordavam. Não achavam
“tranquilo” as outras formas de
violência impostas por outros poderes,
que também consideravam v
e limitavam suas vivências na região.
Essa fotografia nos levou a uma
conversa intensa.Todas/os
verbalizaram suas opiniões. Alguns de
forma mais tímida para a/o colega
sentado ao lado, outros para o grupo
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
algum morador da região. Então
retornamos essa frase em forma de
pergunta: favela é lugar de paz? Como
que dependia. Para
algumas/uns alunas/os ela era lugar
de paz, para outras/os, não.
Essa fotografia os movimentou.
Por um momento todas/os falavam
juntas/os, inclusive aquelas/os que se
mantiveram caladas durante a roda.
Por um momento estavam discutindo
sobre as regiões em que cada um
morava em Jardim Primavera e se
cada uma delas seria ou não favela.
Um aluno nos contou sobre como a
opressão policial interfere de forma
negativa no cotidiano dos moradores
da região em que mora que sua
ca violência. Nos
contou sobre as leis próprias de
atuação do poder do comércio ilegal
de drogas. Enquanto ele falava, seus
colegas discordavam. Não achavam
“tranquilo” as outras formas de
violência impostas por outros poderes,
que também consideravam v
iolência
e limitavam suas vivências na região.
Essa fotografia nos levou a uma
conversa intensa.Todas/os
estudantes
verbalizaram suas opiniões. Alguns de
forma mais tímida para a/o colega
sentado ao lado, outros para o grupo
como um todo. O que percebemos
que o contato mais direto com as
várias formas de opressão, interferem
diretamente no deslocar desses jovens
pela cidade e nos usos que fazem da
mesma. Os jovens negros são os
mais afetados pelas violências físicas
e simbólicas cotidianas provocadas
pel
o Estado e por outros poderes no
dentrofora
da escola, em suas
experiências pela cidade e em um
bairro periférico. Essa limitação faz
com que tenham que se expor quando
precisam ir trabalhar, estudar ou
transitar em outras localidades
(CARRANO, 2003).
Entretanto, apesar de termos
conversado sobre as muitas formas de
violências e ausências do Estado,
gostaríamos de destacar que favela é
lugar, também, da arte e da alegria
de outras vivências que também
acontecem como táticas às ausências
conversadas aqui.
Caminhando com a conversa
Com os estudos nos/dos/com
os cotidianos entendemos que
sempre algo a tecer sobre um tema
quando nos propomos a pensar junto a
alguém ou a um grupo. Nesse sentido,
compreendemos que o movimento de
215
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
como um todo. O que percebemos
é
que o contato mais direto com as
várias formas de opressão, interferem
diretamente no deslocar desses jovens
pela cidade e nos usos que fazem da
mesma. Os jovens negros são os
mais afetados pelas violências físicas
e simbólicas cotidianas provocadas
o Estado e por outros poderes no
da escola, em suas
experiências pela cidade e em um
bairro periférico. Essa limitação faz
com que tenham que se expor quando
precisam ir trabalhar, estudar ou
transitar em outras localidades
Entretanto, apesar de termos
conversado sobre as muitas formas de
violências e ausências do Estado,
gostaríamos de destacar que favela é
lugar, também, da arte e da alegria
, e
de outras vivências que também
acontecem como táticas às ausências
Caminhando com a conversa
Com os estudos nos/dos/com
os cotidianos entendemos que
sempre algo a tecer sobre um tema
quando nos propomos a pensar junto a
alguém ou a um grupo. Nesse sentido,
compreendemos que o movimento de
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
pensar o habitar junto à
juventudes que habitam uma escola no
bairro de Jardim Primavera não esgota
as muitas possibilidades de habitar e
de ser jovem nesse espaço. O que
tecemos coletivamente nesse trabalho
é que o habitar esse bairro, passa pelo
habitar a escola, pelos
espaços de
convivências do bairro, pelos afetos,
pelas relações com os ambientes
desse espaço, pelas memórias, pelas
sobrevivências e resistências.
As conversas com as imagens
nos movimentaram a pensar com
diferentes realidades vividas por
jovens estudante
s de uma escola
localizada em bairro periférico, bem
como possibilitou o deslocamento de
outras formas de entender o espaço
em que vivemos e nos fez refletir
sobre as táticas diárias de dentro e
fora da escola usadas como forma de
subverter e resistir as o
rdens impostas
pelos espaços em que vivemos,
estudamos e nos deslocamos.
Referências
bibliográficas
ALVES, Nilda. Sobre os movimentos
das pesqui
sas nos/dos/com/os
cotidianos. I
n: OLIVEIRA, Inês
Barbosa; ALVES, Nilda (
Pesquisa nos/dos/com os cotidia
das escolas
sobre redes de
saberes.Petrópolis: DP
et Alii
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
pensar o habitar junto à
algumas
juventudes que habitam uma escola no
bairro de Jardim Primavera não esgota
as muitas possibilidades de habitar e
de ser jovem nesse espaço. O que
tecemos coletivamente nesse trabalho
é que o habitar esse bairro, passa pelo
espaços de
convivências do bairro, pelos afetos,
pelas relações com os ambientes
desse espaço, pelas memórias, pelas
sobrevivências e resistências.
As conversas com as imagens
nos movimentaram a pensar com
diferentes realidades vividas por
s de uma escola
localizada em bairro periférico, bem
como possibilitou o deslocamento de
outras formas de entender o espaço
em que vivemos e nos fez refletir
sobre as táticas diárias de dentro e
fora da escola usadas como forma de
rdens impostas
pelos espaços em que vivemos,
estudamos e nos deslocamos.
bibliográficas
ALVES, Nilda. Sobre os movimentos
sas nos/dos/com/os
n: OLIVEIRA, Inês
Barbosa; ALVES, Nilda (
org.).
Pesquisa nos/dos/com os cotidia
nos
sobre redes de
et Alii
, 2008.
ANDRADE,
vea, GUERREIRO,
João. Pensando a democracia com
jovens da baixada fluminense:
algumas rodas de imagens e outras
rodas de conversa.
Políticas Culturais
em Revista
, v. 11, n.
2018.
ANDRADE,
vea, GUERREIRO,
João
. Táticas das juventudes.
Periferia
, v. 11, n. 4, p. 134
set./dez. 2019.
BARCHI, Rodrigo. Pichar, Pixar,
Grafitar, Colar: Os discursos e
Representações sobre as pichações
nas escolas analisado
ambiental e libertária.
Janeiro, ano 8, 15
2007.
BARTHES, Roland.
A câmara clara:
notas sobre a fotografia
Janeiro: Nova Fronteira,
BASTOS, Glaucia Soares
Patrícia Raquel. Sobrevivência das
escolas-
pirilampo como modo de
(Re)Exitência.
Revista Educação &
Realidade
, Porto Alegre, v. 44, n. 3,
2019.
CARRANO, Paulo Cesar Rodrigues.
Jovens escolas e cidades: entre
diversidades, desigualdades e
desafios
à convivência. In:
Maria Manuel
et al.
escola e as suas margens:
plurais em confronto
Instituto Politécnico de Portalegre,
2013. p.99-108.
CARRANO, Paulo Cesar Rodrigues.
Jovens, escolas e cidades: entre
diversidades, desigualdades e
desafios à convivência I
Luso-
Brasileiro de Sociologia da
Educação,
realizado na cidade Porto
Alegre, 2009.
CERTEAU, Michel de.
cotidiano. Petrópolis:
Vozes, 2014.
216
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
vea, GUERREIRO,
João. Pensando a democracia com
jovens da baixada fluminense:
algumas rodas de imagens e outras
Políticas Culturais
, v. 11, n.
2, p. 79–100,
vea, GUERREIRO,
. Táticas das juventudes.
Revista
, v. 11, n. 4, p. 134
-154,
BARCHI, Rodrigo. Pichar, Pixar,
Grafitar, Colar: Os discursos e
Representações sobre as pichações
nas escolas analisado
s na perspectiva
ambiental e libertária.
Teias, Rio de
Janeiro, ano 8, 15
–16, jan/dez,
A câmara clara:
notas sobre a fotografia
. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira,
2018.
BASTOS, Glaucia Soares
; BARONI,
Patrícia Raquel. Sobrevivência das
pirilampo como modo de
Revista Educação &
, Porto Alegre, v. 44, n. 3,
CARRANO, Paulo Cesar Rodrigues.
Jovens escolas e cidades: entre
diversidades, desigualdades e
à convivência. In:
VIEIRA,
et al.
(orgs.) Habitar a
escola e as suas margens:
geografias
plurais em confronto
. Portalegre:
Instituto Politécnico de Portalegre,
CARRANO, Paulo Cesar Rodrigues.
Jovens, escolas e cidades: entre
diversidades, desigualdades e
desafios à convivência I
n: II Colóquio
Brasileiro de Sociologia da
realizado na cidade Porto
CERTEAU, Michel de.
A invenção do
Vozes, 2014.
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 194-217, março 2021.
DAYRELL, Juarez. O jovem como
sujeito social.
Revista Brasileira de
Educação
, Rio de Janeiro, n. 24, p.
40-52, dez. 2003.
ENNE, Ana Lucia, PASSOS, Pâmel
Juventudes e apropriações urbanas
em uma leitura polissêmica: reflexões
acerca da categoria “juventu
partir de um estudo de caso sobre
lanhouses em favelas cariocas.
Políticas Culturais em Revista
Salvador, v. 11, n. 2, p. 123
jul./dez, 2018.
KILOMBA, Grada.
Memórias da
Plantação:
episódios de racismo
cotidiano.
Rio de Janeiro: Cobogó,
2019.
MASSEY, Doreen.
Pelo espaço:
nova política da espacialidade
J
aneiro: Bertrand Brasil, 2015.
MASSEY, Doreen. Um sentido global
de lugar. In:
ARANTES
Augusto, (org.).
O espaço da
diferença. Campinas:
Papirus, 2000.
MELO, Luciana Cezário
SOUZA, Gilmara Silva;
Juarez. Escola e juventude: uma
relação possível
? Paidéia revista do
curso de pedagogia da Faculdade de
Ciências Humanas Sociedade e da
Saúde da Universidade Fumec.
Horizonte. Ano 9. n.12. p. 161
jan. /jun. 2012.
OLIVEIRA, Inês Barbosa, SGARBI,
Paulo.
Estudos do cotidiano e
educação
. Belo Horizonte. Autêntica
editora, 2008.
OLIVEIRA, Inês Barbosa.
as artes de fazer: as noções de uso,
tática e trajetória na pesquisa em
educação. I
n: OLIVEIRA, Inês
Barbosa; ALVES, Nilda (
Pesquisa nos/dos/com os cotidianos
das escolas
sobre redes de
GÜNTENSPERGER, Tavelly M. S.; NICOLINI, Livia Baptista. Sobre
juventudes e o habitar a periferia de Duque e Caxias
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
DAYRELL, Juarez. O jovem como
Revista Brasileira de
, Rio de Janeiro, n. 24, p.
ENNE, Ana Lucia, PASSOS, Pâmel
la.
Juventudes e apropriações urbanas
em uma leitura polissêmica: reflexões
acerca da categoria “juventu
de” a
partir de um estudo de caso sobre
lanhouses em favelas cariocas.
Políticas Culturais em Revista
,
Salvador, v. 11, n. 2, p. 123
-145,
Memórias da
episódios de racismo
Rio de Janeiro: Cobogó,
Pelo espaço:
Uma
nova política da espacialidade
. Rio de
aneiro: Bertrand Brasil, 2015.
MASSEY, Doreen. Um sentido global
ARANTES
, Antônio
O espaço da
Papirus, 2000.
MELO, Luciana Cezário
Milagres;
DAYRELL,
Juarez. Escola e juventude: uma
? Paidéia revista do
curso de pedagogia da Faculdade de
Ciências Humanas Sociedade e da
Saúde da Universidade Fumec.
Belo
Horizonte. Ano 9. n.12. p. 161
-186,
OLIVEIRA, Inês Barbosa, SGARBI,
Estudos do cotidiano e
. Belo Horizonte. Autêntica
Certeau e
as artes de fazer: as noções de uso,
tática e trajetória na pesquisa em
n: OLIVEIRA, Inês
Barbosa; ALVES, Nilda (
orgs.).
Pesquisa nos/dos/com os cotidianos
sobre redes de
saberes
. Rio de Janeiro: DP & A,
2001.
PIXO. Direção: João Wainer e
Roberto T. Oliveira. São Paulo:
Sindicato Paralelo Filmes, 2009. (61
min.), widescreen, colo
RIBEIRO, Tiago;
SOUZA Rafael de
SAMPAIO Carmen Sanches. É
possível a conversa como metodologia
de pesquisa? I
n: RIBEIRO, Tiago;
SOUZA, Rafael de; SAMPAIO,
Carmen Sanches (
o
como metodologia de pesquisa por
que não?
Rio de Jan
163-180 p.
SAMAIN, Etienne. As imagens não são
bolas de sinuca. In: SAMAIN,
Etienne.
Como pensam as imagens.
Campinas: Unicamp, 2018. p. 21
SAMPAIO, Carmen S; RIBEIRO,
Tiago; SOUZA, Rafael de. Conversa
como metodologia de pe
metodologia menor? I
Tiago; SOUZA, Rafael de; SAMPAIO,
Carmen Sanches (
o
como metodologia de pesquisa por
que não?
. Rio de Janeiro: Ayvu, 2018
21-40 p.
SERPA, Andréa. Conversas:
possibilidades de pesquisa com o
cotidiano. In:
RIBEIRO, Tiago; SOUZA,
Rafael de; SAMPAIO, Carmen
Sanches (orgs.).
Conversa como
metodologia de pesquisa por que
não?
. Rio de Janeiro: Ayvu, 2018
217
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
. Rio de Janeiro: DP & A,
PIXO. Direção: João Wainer e
Roberto T. Oliveira. São Paulo:
Sindicato Paralelo Filmes, 2009. (61
min.), widescreen, colo
r., legendado.
SOUZA Rafael de
;
SAMPAIO Carmen Sanches. É
possível a conversa como metodologia
n: RIBEIRO, Tiago;
SOUZA, Rafael de; SAMPAIO,
o
rgs.). Conversa
como metodologia de pesquisa por
Rio de Jan
eiro: Ayvu, 2018.
SAMAIN, Etienne. As imagens não são
bolas de sinuca. In: SAMAIN,
Como pensam as imagens.
Campinas: Unicamp, 2018. p. 21
-40.
SAMPAIO, Carmen S; RIBEIRO,
Tiago; SOUZA, Rafael de. Conversa
como metodologia de pe
squisa uma
metodologia menor? I
n: RIBEIRO,
Tiago; SOUZA, Rafael de; SAMPAIO,
o
rgs.). Conversa
como metodologia de pesquisa por
. Rio de Janeiro: Ayvu, 2018
.
SERPA, Andréa. Conversas:
possibilidades de pesquisa com o
RIBEIRO, Tiago; SOUZA,
Rafael de; SAMPAIO, Carmen
Conversa como
metodologia de pesquisa por que
. Rio de Janeiro: Ayvu, 2018
.
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Educomunicação e interculturalidade como propostas para acolhida,
adaptação e integração de crianças imigrantes no ambiente escolar
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.44505
Resumo:
O presente artigo tem o objetivo de relatar os resultados de uma pesquisa
professores da rede municipal de ensino da cidade de São Paulo sobre a temática da acolhida,
adaptação e integração do aluno imigrante, a
Educomunicação, em uma perspectiva intercultural. Como recurso teórico
os conceitos de mediações culturais (MARTÍN
1996) como possibilidades de
valorização da escola como um espaço privilegiado para a acolhida, a adaptação, a inserção do
imigrante a partir de uma dinâmica de organização na produção de conteúdo comunicacional que
visibilidade e voz ao grupo envolvido, em um processo democrático e educativo, fortalecendo
vínculos sociais, reciprocidade de interesses e pluripertencimento identitário.
Palavras-chave:
Educomunicação; interculturalismo; imigração;
Educomunicación y interculturalidad como propuestas para acoger, adaptar e integrar a los
niños inmigrantes en el entorno escolar
Resumen:
Este artículo tiene como objetivo reportar los resultados de una investigación
docentes del sistema escol
ar municipal de la ciudad de São Paulo (Brasil) sobre el tema de acogida,
adecuación e integración de estudiantes inmigrantes, a partir del desarrollo de proyectos de
Educomunicación, en una perspectiva intercultural. Como recurso teórico
conceptos de mediaciones culturales (MARTÍN
(APPADURAI, 1996) como posibilidades de interacción cultural. Entre los principales resultados,
destacamos la valoración de la escuela como un espacio privilegi
al inmigrante desde una dinámica organizativa en la producción de contenidos comunicacionales que
den visibilidad y voz al colectivo implicado, en uno proceso democrático y educativo, de
fortalecimiento de lazos sociales,
Palabras clave:
Educomunicación; interculturalismo; inmigración; escuela.
1
Camila Escudero.
Doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Professora do Programa de Pós
São Paulo, Brasil. E-
mail: camilaescudero@uol.com.br
Texto recebido em 08/08/20
20,
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Educomunicação e interculturalidade como propostas para acolhida,
adaptação e integração de crianças imigrantes no ambiente escolar
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.44505
Camila Escudero
O presente artigo tem o objetivo de relatar os resultados de uma pesquisa
professores da rede municipal de ensino da cidade de São Paulo sobre a temática da acolhida,
adaptação e integração do aluno imigrante, a
partir do desenvolvimento de projetos de
Educomunicação, em uma perspectiva intercultural. Como recurso teórico
-
metodológico, utilizamos
os conceitos de mediações culturais (MARTÍN
-
BARBERO, 1991) e trocas simbólicas (APPADURAI,
interação cultural. Entre os principais resultados, destaca
valorização da escola como um espaço privilegiado para a acolhida, a adaptação, a inserção do
imigrante a partir de uma dinâmica de organização na produção de conteúdo comunicacional que
visibilidade e voz ao grupo envolvido, em um processo democrático e educativo, fortalecendo
vínculos sociais, reciprocidade de interesses e pluripertencimento identitário.
Educomunicação; interculturalismo; imigração;
escola.
Educomunicación y interculturalidad como propuestas para acoger, adaptar e integrar a los
niños inmigrantes en el entorno escolar
Este artículo tiene como objetivo reportar los resultados de una investigación
ar municipal de la ciudad de São Paulo (Brasil) sobre el tema de acogida,
adecuación e integración de estudiantes inmigrantes, a partir del desarrollo de proyectos de
Educomunicación, en una perspectiva intercultural. Como recurso teórico
-
metodológico util
conceptos de mediaciones culturales (MARTÍN
-
BARBERO, 1991) e intercambios simbólicos
(APPADURAI, 1996) como posibilidades de interacción cultural. Entre los principales resultados,
destacamos la valoración de la escuela como un espacio privilegi
ado para acoger, adecuar, insertar
al inmigrante desde una dinámica organizativa en la producción de contenidos comunicacionales que
den visibilidad y voz al colectivo implicado, en uno proceso democrático y educativo, de
fortalecimiento de lazos sociales,
reciprocidad de intereses e identidad de múltiple pertenencia.
Educomunicación; interculturalismo; inmigración; escuela.
Doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ). Professora do Programa de Pós
-
Graduação em Comunicação da Universidade Metodista de
mail: camilaescudero@uol.com.br
- https://orcid.org/0000-
0002
20,
aceit
o para publicação em 24/11/2020 e disponibilizado online
em 01/03/2021.
218
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Educomunicação e interculturalidade como propostas para acolhida,
adaptação e integração de crianças imigrantes no ambiente escolar
Camila Escudero
1
O presente artigo tem o objetivo de relatar os resultados de uma pesquisa
-ação com
professores da rede municipal de ensino da cidade de São Paulo sobre a temática da acolhida,
partir do desenvolvimento de projetos de
metodológico, utilizamos
BARBERO, 1991) e trocas simbólicas (APPADURAI,
interação cultural. Entre os principais resultados, destaca
-se a
valorização da escola como um espaço privilegiado para a acolhida, a adaptação, a inserção do
imigrante a partir de uma dinâmica de organização na produção de conteúdo comunicacional que
visibilidade e voz ao grupo envolvido, em um processo democrático e educativo, fortalecendo
Educomunicación y interculturalidad como propuestas para acoger, adaptar e integrar a los
Este artículo tiene como objetivo reportar los resultados de una investigación
-acción con
ar municipal de la ciudad de São Paulo (Brasil) sobre el tema de acogida,
adecuación e integración de estudiantes inmigrantes, a partir del desarrollo de proyectos de
metodológico util
izamos los
BARBERO, 1991) e intercambios simbólicos
(APPADURAI, 1996) como posibilidades de interacción cultural. Entre los principales resultados,
ado para acoger, adecuar, insertar
al inmigrante desde una dinámica organizativa en la producción de contenidos comunicacionales que
den visibilidad y voz al colectivo implicado, en uno proceso democrático y educativo, de
reciprocidad de intereses e identidad de múltiple pertenencia.
Doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
Graduação em Comunicação da Universidade Metodista de
0002
-9399-1207
o para publicação em 24/11/2020 e disponibilizado online
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Educomunicação
and interculturality as proposals for the reception, adaptation and integration
of immigrant children in the school environment
Abstract:
This article aims to report the results of an action
school system of the
o Paulo city about the theme of reception, adaptation and integration of the
immigrant student, from the development of Educommunication projects in an intercultural
perspective. As a theoretical-
methodological resource, we used cultural mediations (MARTÍN
BARBERO, 1991) and symbolic exchanges (APPADURAI, 1996) concepts as possibilities of cultural
interaction. Among the main results, we highlight the valorization of the school as a privileged space
for the reception, the adaptation, the insertion of the im
production of communicational content that gives visibility and voice to the group involved, in a
democratic and educational process, strengthening social bonds, reciprocity of interests and multi
identity belonging.
Keywords: Educomunicação;
intercuturalism; immigration; school
Educomunicação e interculturalidade como propostas para acolhida,
adaptação e integração de crianças imigrantes no ambiente escolar
1. Introdução
O presente artigo tem o objetivo
de relatar os resultados de uma
pesquisa-
ação sobre a temática da
acolhida, adaptação e integração do
aluno imigrante nas escolas da rede
municipal de ensino da cidade de São
Paulo a partir do desenvolvimento de
projetos de
Educomunicação, em uma
perspectiva intercultural.
O contexto de realização do
estudo foram cursos de
Educomunicação com ênfase em
blogs
e redes sociais, realizados em
2018, com professores da Rede
Municipal de Ensino de São Paulo
2
Os cursos são promovidos pelo Núcleo de
Educomunicação da Secretaria Municipal de
Educação de São Paulo (SME), dos quais o(a)
autor(a) do presente texto participou como
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
and interculturality as proposals for the reception, adaptation and integration
of immigrant children in the school environment
This article aims to report the results of an action
-
research with teachers of the municipal
o Paulo city about the theme of reception, adaptation and integration of the
immigrant student, from the development of Educommunication projects in an intercultural
methodological resource, we used cultural mediations (MARTÍN
BARBERO, 1991) and symbolic exchanges (APPADURAI, 1996) concepts as possibilities of cultural
interaction. Among the main results, we highlight the valorization of the school as a privileged space
for the reception, the adaptation, the insertion of the im
migrant with an organization dynamic in the
production of communicational content that gives visibility and voice to the group involved, in a
democratic and educational process, strengthening social bonds, reciprocity of interests and multi
intercuturalism; immigration; school
.
Educomunicação e interculturalidade como propostas para acolhida,
adaptação e integração de crianças imigrantes no ambiente escolar
O presente artigo tem o objetivo
de relatar os resultados de uma
ação sobre a temática da
acolhida, adaptação e integração do
aluno imigrante nas escolas da rede
municipal de ensino da cidade de São
Paulo a partir do desenvolvimento de
Educomunicação, em uma
O contexto de realização do
estudo foram cursos de
Educomunicação com ênfase em
e redes sociais, realizados em
2018, com professores da Rede
Municipal de Ensino de São Paulo
2
. As
Os cursos são promovidos pelo Núcleo de
Educomunicação da Secretaria Municipal de
Educação de São Paulo (SME), dos quais o(a)
autor(a) do presente texto participou como
aulas tiveram a participação de 52
professores da rede, de vários níveis:
Educação infantil, Ensino fundamental
e dio. Todos, em comum, tinham,
em suas salas de aulas, alunos
estrangeiros de várias nacionalidades
a maioria delas inclui as origens
boliv
iana, haitiana e venezuelana.
Além disso, contou ainda com a
participação de alguns membros da
equipe técnica da Secretaria Municipal
de Educação (SME) que, em algum
momento de seu trabalho (seja em
sala de aula ou na equipe de gestão,
formador(a) no ano de 2018, em duas turmas
diferentes. De duração de 20 horas cada, em
média, as aulas são costumeiramente
realizadas na própria sede da SME, em
Diretorias Regionais de Ensino (DREs), ou nas
próprias escolas.
219
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
and interculturality as proposals for the reception, adaptation and integration
research with teachers of the municipal
o Paulo city about the theme of reception, adaptation and integration of the
immigrant student, from the development of Educommunication projects in an intercultural
methodological resource, we used cultural mediations (MARTÍN
-
BARBERO, 1991) and symbolic exchanges (APPADURAI, 1996) concepts as possibilities of cultural
interaction. Among the main results, we highlight the valorization of the school as a privileged space
migrant with an organization dynamic in the
production of communicational content that gives visibility and voice to the group involved, in a
democratic and educational process, strengthening social bonds, reciprocity of interests and multi
-
Educomunicação e interculturalidade como propostas para acolhida,
adaptação e integração de crianças imigrantes no ambiente escolar
aulas tiveram a participação de 52
professores da rede, de vários níveis:
Educação infantil, Ensino fundamental
e dio. Todos, em comum, tinham,
em suas salas de aulas, alunos
estrangeiros de várias nacionalidades
a maioria delas inclui as origens
iana, haitiana e venezuelana.
Além disso, contou ainda com a
participação de alguns membros da
equipe técnica da Secretaria Municipal
de Educação (SME) que, em algum
momento de seu trabalho (seja em
sala de aula ou na equipe de gestão,
formador(a) no ano de 2018, em duas turmas
diferentes. De duração de 20 horas cada, em
média, as aulas são costumeiramente
realizadas na própria sede da SME, em
Diretorias Regionais de Ensino (DREs), ou nas
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
atualmente ou no pas
sado), precisou
lidar com a questão migratória.
A pesquisa-
ação foi proposta
pelo(a) autor(a) deste texto,
responsável por ministrar os cursos, o
que implicou, como recomenda a
literatura consultada (TRIPP 2005
THIOLLENT, 2003;
ELLIOT, 1991) etc.
o engaj
amento do pesquisador no
ambiente pesquisado, bem como o
envolvimento do grupo com a proposta
de contribuir para solucionar alguma
questão ou dificuldade colocada
caso, a acolhida, adaptação e
integração das crianças estrangeiras
no ambiente escolar.
Nas palavras de
Tripp (2005, p. 447): a “pesquisa
é uma forma de investigação
utiliza técnicas de pesquisa
consagradas para informar a ação que
se decide tomar para melhorar a
prática”. Além disso, destaca
papel dessa cnica quando apl
área da Comunicação Social,
“procurando contribuir para subsidiar a
melhoria dos modos de comunicação
dos grupos populares” (PERUZZO,
2011, p. 139).
Assim, durante o processo,
foram verificados, primeiramente, por
meio de questionários, quais os
pr
incipais obstáculos e entraves
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
sado), precisou
lidar com a questão migratória.
ação foi proposta
pelo(a) autor(a) deste texto,
responsável por ministrar os cursos, o
que implicou, como recomenda a
literatura consultada (TRIPP 2005
;
ELLIOT, 1991) etc.
amento do pesquisador no
ambiente pesquisado, bem como o
envolvimento do grupo com a proposta
de contribuir para solucionar alguma
questão ou dificuldade colocada
no
caso, a acolhida, adaptação e
integração das crianças estrangeiras
Nas palavras de
Tripp (2005, p. 447): a “pesquisa
-ação
é uma forma de investigação
-ação que
utiliza técnicas de pesquisa
consagradas para informar a ação que
se decide tomar para melhorar a
prática”. Além disso, destaca
-se o
papel dessa cnica quando apl
icada à
área da Comunicação Social,
“procurando contribuir para subsidiar a
melhoria dos modos de comunicação
dos grupos populares” (PERUZZO,
Assim, durante o processo,
foram verificados, primeiramente, por
meio de questionários, quais os
incipais obstáculos e entraves
surgidos a partir da presença da
criança imigrante na escola, e, por
meio de discussões, visitas técnicas às
escolas e revisão bibliográfica, de que
maneira a Educomunicação
possibilitaria subsídios para o
encaminhamento de s
demandadas.
Como recurso teórico
metodológico, fizemos uso de dois
autores específicos
(1991) e Appadurai (1996), que
consideram a Comunicação uma
questão de mediações culturais e
trocas simbólicas (e, portanto, de
reconhecimentos
) e de possibilidades
de interação por uma teoria dos fluxos
paisagens, respectivamente. Ambas
as visões são importantes para a
compreensão do conceito de
Educomunicação, proposto por Soares
(2000; 2001; 2002; 2014), foco de toda
a discussão.
Em seguida,
relacionar a prática da
Educomunicação aos preceitos do
conceito de interculturalidade /
interculturalismo, uma vez que a
discussão das ações foi focada para a
acolhida, adaptação e integração do
aluno estrangeiro no ambiente escolar.
220
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
surgidos a partir da presença da
criança imigrante na escola, e, por
meio de discussões, visitas técnicas às
escolas e revisão bibliográfica, de que
maneira a Educomunicação
possibilitaria subsídios para o
encaminhamento de s
oluções
Como recurso teórico
-
metodológico, fizemos uso de dois
Martín-Barbero
(1991) e Appadurai (1996), que
consideram a Comunicação uma
questão de mediações culturais e
trocas simbólicas (e, portanto, de
) e de possibilidades
de interação por uma teoria dos fluxos
-
paisagens, respectivamente. Ambas
as visões são importantes para a
compreensão do conceito de
Educomunicação, proposto por Soares
(2000; 2001; 2002; 2014), foco de toda
Em seguida,
procuramos
relacionar a prática da
Educomunicação aos preceitos do
conceito de interculturalidade /
interculturalismo, uma vez que a
discussão das ações foi focada para a
acolhida, adaptação e integração do
aluno estrangeiro no ambiente escolar.
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
2. A Com
unicação como prática
educativa aliada à
interculturalidade: breves reflexões
teóricas
Analisando o desenvolvimento
científico da Comunicação, podemos
dizer que uma importante contribuição
para conceitos como o de
Educomunicação e interculturalidade
(pontos-
chave deste trabalho), a partir
dos anos 1990, foram as ideias de
Jesus Martín-
Barbero, sobre a noção
de mídia muito além do estudo de
discursos midiáticos ou de estruturas
de produção, mas como
prática social
como propõe, aliás, a tradição dos
Estudos Culturais latino-
americanos,
principalmente na linha do clássico
los medios a las
mediaciones
Martín-
Barbero trabalha o
campo dos
mass media
dispositivos de produção, seus rituais
de consumo, seus aparatos
tecnológicos, seus códigos de
mo
ntagem, de percepção e
reconhecimento. Segundo o autor, a
Comunicação tornou-
se uma questão
de mediação e não de meios, uma
questão de cultura e, portanto, não
de conhecimentos, mas de
reconhecimentos, o que exige
investigações a partir da articulação
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
unicação como prática
educativa aliada à
interculturalidade: breves reflexões
Analisando o desenvolvimento
científico da Comunicação, podemos
dizer que uma importante contribuição
para conceitos como o de
Educomunicação e interculturalidade
chave deste trabalho), a partir
dos anos 1990, foram as ideias de
Barbero, sobre a noção
de mídia muito além do estudo de
discursos midiáticos ou de estruturas
prática social
,
como propõe, aliás, a tradição dos
americanos,
principalmente na linha do clássico
De
mediaciones
(1991).
Barbero trabalha o
mass media
, seus
dispositivos de produção, seus rituais
de consumo, seus aparatos
tecnológicos, seus códigos de
ntagem, de percepção e
reconhecimento. Segundo o autor, a
se uma questão
de mediação e não de meios, uma
questão de cultura e, portanto, não
de conhecimentos, mas de
reconhecimentos, o que exige
investigações a partir da articulação
e
ntre práticas comunicacionais e
movimentos sociais (mediações e
sujeitos).
Os processos políticos e sociais
desses anos –
em quase toda América do Sul,
cercados de lutas de libertação na
América Central, emigrações
imensas de homens, a
e a investigação social
velhas seguranças e abriram novas
brechas para o enfrentamento da
verdade cultural
mestiçagem que não é aquele
feito racial do qual viemos, mas uma
trama hoje de modernidade e
descontinuidade cultural, de
formações sociais e estruturas de
sentimento, de memórias imaginárias
que relacionam o indígena com o
rural, o ru
ral com o urbano, o
folclórico com o popular e o popular
com o massivo (MARTÍN
1991, p.10 –
Tradução nossa).
Semelhante contribuição para
os estudos da Educomunicação e
Interculturalidade na América Latina
vem do antropólogo Arjun
O au
tor (1996) desenvolve o conceito
de ethnoscape
(ao lado de outros,
como
financescape, technoscape,
mediascape e
ideoscape
a mundialização a partir de uma teoria
dos fluxos-
paisagens como uma
resposta aos modelos que estavam
em curso a entã
o para se pensar a
globalização
muitos deles baseados
na ideia de oposição entre centro e
periferia e nas concepções
neomarxistas do desenvolvimento.
221
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
ntre práticas comunicacionais e
movimentos sociais (mediações e
Os processos políticos e sociais
regimes autoritários
em quase toda América do Sul,
cercados de lutas de libertação na
América Central, emigrações
imensas de homens, a
política, a arte
e a investigação social
destruíram
velhas seguranças e abriram novas
brechas para o enfrentamento da
verdade cultural
desses países: à
mestiçagem que não é aquele
feito racial do qual viemos, mas uma
trama hoje de modernidade e
descontinuidade cultural, de
formações sociais e estruturas de
sentimento, de memórias imaginárias
que relacionam o indígena com o
ral com o urbano, o
folclórico com o popular e o popular
com o massivo (MARTÍN
-BARBERO,
Tradução nossa).
Semelhante contribuição para
os estudos da Educomunicação e
Interculturalidade na América Latina
vem do antropólogo Arjun
Appadurai.
tor (1996) desenvolve o conceito
(ao lado de outros,
financescape, technoscape,
ideoscape
) para explicar
a mundialização a partir de uma teoria
paisagens como uma
resposta aos modelos que estavam
o para se pensar a
muitos deles baseados
na ideia de oposição entre centro e
periferia e nas concepções
neomarxistas do desenvolvimento.
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
De acordo com Abélès (2005, p.
9
Tradução de Marcos Mesquita
Damasceno), o conceito de
ethnoscape int
roduzido por Appadurai
é bastante difícil de traduzir.
remete à ideia de paisagem. “Os
ethnoscapes são, em alguma medida,
as paisagens que os grupos
constituem com respeito às suas
próprias origens e às vicissitudes que
enfrentam”. No entanto, lembra
autor, a noção de paisagem é, por si
só, ambígua: designa
simultaneamente o exterior, o mundo
tal qual ele nos aparece, mas nos
remete igualmente à interioridade, à
representação que trazemos conosco.
Para o autor, os fluxos
midiáticos mostram que a dim
cultural está no centro do processo de
mundialização, e é responsável por
fazer emergir o papel primordial da
imaginação nos dias atuais.
O que interessa Appadurai é a
maneira pela qual esta situação não
modifica somente as condições
materiais das p
opulações, mas tende
a dar um papel inédito à imaginação.
Não que as sociedades anteriores
não tenham, abundantemente, nas
suas produções mitológicas,
literárias ou artísticas, feito apelo a
esta faculdade. Mas de agora em
diante a imaginação não é mais
re
strita a certos domínios de
expressão específicos. Ela investe
nas práticas cotidianas (...) onde os
sujeitos são obrigados a inventar o
seu próprio mundo, utilizando
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
De acordo com Abélès (2005, p.
Tradução de Marcos Mesquita
Damasceno), o conceito de
roduzido por Appadurai
é bastante difícil de traduzir.
Scape
remete à ideia de paisagem. “Os
ethnoscapes são, em alguma medida,
as paisagens que os grupos
constituem com respeito às suas
próprias origens e às vicissitudes que
enfrentam”. No entanto, lembra
o
autor, a noção de paisagem é, por si
só, ambígua: designa
simultaneamente o exterior, o mundo
tal qual ele nos aparece, mas nos
remete igualmente à interioridade, à
representação que trazemos conosco.
Para o autor, os fluxos
midiáticos mostram que a dim
ensão
cultural está no centro do processo de
mundialização, e é responsável por
fazer emergir o papel primordial da
imaginação nos dias atuais.
O que interessa Appadurai é a
maneira pela qual esta situação não
modifica somente as condições
opulações, mas tende
a dar um papel inédito à imaginação.
Não que as sociedades anteriores
não tenham, abundantemente, nas
suas produções mitológicas,
literárias ou artísticas, feito apelo a
esta faculdade. Mas de agora em
diante a imaginação não é mais
strita a certos domínios de
expressão específicos. Ela investe
nas práticas cotidianas (...) onde os
sujeitos são obrigados a inventar o
seu próprio mundo, utilizando
-se de
todas as imagens que as mídias
colocam à sua disposição (ABÉLÈS,
2005, p. 3
Tradu
Mesquita Damasceno).
Tanto as ideias de Martín
Barbero como as de Appadurai,
brevemente descritas aqui, se
relacionam diretamente com os
aspectos da prática da
Educomunicação e seu
desenvolvimento. Isso porque eleva a
Comunicação a um patama
ao simples processo de emissão e
recepção de mensagem, ao
contextualizar a prática comunicativa
em ambientes formais e informais de
educação, destacando quando
somada à interculturalidade, a
dimensão sociocultural.
Soares (2000; 2001; 2002;
2014)
define Educomunicação como o
conjunto das ações inerentes ao
planejamento, implementação e
avaliação de processos, programas e
produtos destinados a criar e a
fortalecer ecossistemas comunicativos
em espaços educativos presenciais ou
virtuais, assim como
coeficiente comunicativo das ações
educativas, incluindo as relacionadas
ao uso dos recursos da informação no
processo de aprendizagem
2002, p. 24)
. “A educação para a
222
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
todas as imagens que as mídias
colocam à sua disposição (ABÉLÈS,
Tradu
ção de Marcos
Mesquita Damasceno).
Tanto as ideias de Martín
-
Barbero como as de Appadurai,
brevemente descritas aqui, se
relacionam diretamente com os
aspectos da prática da
Educomunicação e seu
desenvolvimento. Isso porque eleva a
Comunicação a um patama
r superior
ao simples processo de emissão e
recepção de mensagem, ao
contextualizar a prática comunicativa
em ambientes formais e informais de
educação, destacando quando
somada à interculturalidade, a
dimensão sociocultural.
Soares (2000; 2001; 2002;
define Educomunicação como o
conjunto das ações inerentes ao
planejamento, implementação e
avaliação de processos, programas e
produtos destinados a criar e a
fortalecer ecossistemas comunicativos
em espaços educativos presenciais ou
virtuais, assim como
a melhorar o
coeficiente comunicativo das ações
educativas, incluindo as relacionadas
ao uso dos recursos da informação no
processo de aprendizagem
(SOARES,
. “A educação para a
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
comunicação, o uso das tecnologias
na educação e a gestão
comunicativa
transformam-
se em objeto de políticas
educacionais, sob a denominação de
Educomunicação” (SOARES, 2001, p.
37).
Em outras palavras, a
Educomunicação é um conjunto de
ações que pressupõem a utilização de
práticas comunicativas em estruturas
edu
cadoras formais ou informais. Visa
à participação, articulação de
gerações, setores e saberes,
integração comunitária, reconhe
cimento de direitos e democratização
dos meios de comunicação. No geral,
quando implantadas de maneira
eficiente, essas ações
res
participação cidadã dos envolvidos na
sociedade organizada, bem como
contribuem para compreensão do
papel da mídia na construção das
transformações sociais.
No contexto do plano
pedagógico das escolas, ações
práticas de Educomunicação
por
exemplo, a ênfase em
redes sociais como proposta nos
cursos objeto desta pesquisa
envolvem a participação dos agentes
escolares (professores, alunos,
funcionários, familiares e demais
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
comunicação, o uso das tecnologias
comunicativa
se em objeto de políticas
educacionais, sob a denominação de
Educomunicação” (SOARES, 2001, p.
Em outras palavras, a
Educomunicação é um conjunto de
ações que pressupõem a utilização de
práticas comunicativas em estruturas
cadoras formais ou informais. Visa
à participação, articulação de
gerações, setores e saberes,
integração comunitária, reconhe
-
cimento de direitos e democratização
dos meios de comunicação. No geral,
quando implantadas de maneira
res
ultam na
participação cidadã dos envolvidos na
sociedade organizada, bem como
contribuem para compreensão do
papel da mídia na construção das
No contexto do plano
pedagógico das escolas, ações
práticas de Educomunicação
como,
exemplo, a ênfase em
blogs e
redes sociais como proposta nos
cursos objeto desta pesquisa
-ação –
envolvem a participação dos agentes
escolares (professores, alunos,
funcionários, familiares e demais
membros da comunidade), que se
tornam, ao mesmo tempo, p
e beneficiários das ações. Por meio do
desenvolvimento de planejamentos
conjuntos e vivência de novas
experiências, os envolvidos (SOARES,
2001; 2002; 2014):
socializam e criam
consensos por meio da
descentralização das
decisões;
reforçam o aprendizado
do conteúdo escolar: o
conteúdo desses projetos
pode estar ligado ao
aprendizado em sala de
aula ou ao
da realidade próxima;
reveem conceitos
tradicionais de comu
nicação
além da transmissão e
recepção da in
persuasão ou promoção
de “celebridades”; e
fortalecem o crescimento
da autoestima e da
capacidade de expres
são, como indivíduos e
como grupo.
223
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
membros da comunidade), que se
tornam, ao mesmo tempo, p
rodutores
e beneficiários das ações. Por meio do
desenvolvimento de planejamentos
conjuntos e vivência de novas
experiências, os envolvidos (SOARES,
socializam e criam
consensos por meio da
descentralização das
decisões;
reforçam o aprendizado
do conteúdo escolar: o
conteúdo desses projetos
pode estar ligado ao
aprendizado em sala de
aula ou ao
entendimento
da realidade próxima;
reveem conceitos
tradicionais de comu
-
nicação
para muito
além da transmissão e
recepção da in
formação,
persuasão ou promoção
de “celebridades”; e
fortalecem o crescimento
da autoestima e da
capacidade de expres
-
são, como indivíduos e
como grupo.
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Como o presente trabalho tem
como foco a acolhida, adaptação e
integração da criança imigrante no
ambi
ente escolar, direcionamos essa
breve discussão teórica realizada até o
momento ao conceito de
interculturalidade, meio pelo qual,
defendemos, é possível dar sentido a
práticas e relações sociais dentro do
campo dos estudos migratórios
contemporâneos.
De
abordagem interacionista,
podemos dizer que a perspectiva
interculturalista evidencia os modos de
organização social, porém,
privilegiando aspectos culturais dos
sujeitos envolvidos em um quadro
histórico e geopolítico amplo, marcado,
nos nossos dias, pela
aceleração dos
fluxos informacionais e
comunicacionais. “As pesquisas
[interculturais] concentraram
delinear a gênese e reprodução das
formações sociais transnacionais, bem
como os contextos macrossociais
específicos em que essas formações
sociais t
ransfronteiriças têm operado”
(FAIST, 2010, p. 09
nossa).
Adotamos neste trabalho a ideia
de interculturalidade de Canclini
(2005). Segundo o autor, o conceito
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Como o presente trabalho tem
como foco a acolhida, adaptação e
integração da criança imigrante no
ente escolar, direcionamos essa
breve discussão teórica realizada até o
momento ao conceito de
interculturalidade, meio pelo qual,
defendemos, é possível dar sentido a
práticas e relações sociais dentro do
campo dos estudos migratórios
abordagem interacionista,
podemos dizer que a perspectiva
interculturalista evidencia os modos de
organização social, porém,
privilegiando aspectos culturais dos
sujeitos envolvidos em um quadro
histórico e geopolítico amplo, marcado,
aceleração dos
fluxos informacionais e
comunicacionais. “As pesquisas
[interculturais] concentraram
-se em
delinear a gênese e reprodução das
formações sociais transnacionais, bem
como os contextos macrossociais
específicos em que essas formações
ransfronteiriças têm operado”
Tradução
Adotamos neste trabalho a ideia
de interculturalidade de Canclini
(2005). Segundo o autor, o conceito
remete à mistura de sujeitos e
sociedades, ou seja, ao que acontece
quando as diferen
ças se encontram,
convivendo em situações de
negociações e trocas recíprocas. Tal
situação ganha relevância não
dentro de uma etnia ou nação, mas em
“circuitos globais, superando
fronteiras, tornando porosas as
barreiras nacionais ou étnicas e
fazendo c
om que cada grupo possa
abastecer-
se de repertórios culturais
diferentes"
(CANCLINI, 2005, p.
em uma reelaboração intercultural do
sentido de práticas subjetivas e
culturais.
Tal conceito se destaca mais
ainda quando direcionado a projetos
educaciona
is, uma vez que a própria
origem do termo, conforme Cogo
(2015), é no campo da Educação,
como uma crítica aos conceitos de
multiculturalismo (ou multicul
turalidade) e pluralismo, insuficientes,
na opinião da autora, para a reflexão
da dinâmica de novos ar
socioculturais. Pensa
momento inicial, nas interações
educativas em ambientes escolares,
especialmente no contexto europeu
dos anos 1960 e 1970, que não
poderiam ser reduzidas somente à
224
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
remete à mistura de sujeitos e
sociedades, ou seja, ao que acontece
ças se encontram,
convivendo em situações de
negociações e trocas recíprocas. Tal
situação ganha relevância não
dentro de uma etnia ou nação, mas em
“circuitos globais, superando
fronteiras, tornando porosas as
barreiras nacionais ou étnicas e
om que cada grupo possa
se de repertórios culturais
(CANCLINI, 2005, p.
43),
em uma reelaboração intercultural do
sentido de práticas subjetivas e
Tal conceito se destaca mais
ainda quando direcionado a projetos
is, uma vez que a própria
origem do termo, conforme Cogo
(2015), é no campo da Educação,
como uma crítica aos conceitos de
multiculturalismo (ou multicul
-
turalidade) e pluralismo, insuficientes,
na opinião da autora, para a reflexão
da dinâmica de novos ar
ranjos
socioculturais. Pensa
-se, nesse
momento inicial, nas interações
educativas em ambientes escolares,
especialmente no contexto europeu
dos anos 1960 e 1970, que não
poderiam ser reduzidas somente à
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
soma ou coexistência de culturas
diferentes.
A inter
culturalidade envolve, assim, a
ideia de ‘nova síntese cultural’ em
que o projeto de sociedade
intercultural supõe a geração
intencionada, planificada ou induzida
de algo novo, de expressões
culturais novas. O que chama
atenção aqui não é tanto a defesa do
direito à diferença e a crítica de
modelos de assimilação, fusão etc.
que implicariam a perda de uma
cultura própria, mas sua menção a
que esses modelos originais
elaborados no projeto intercultural a
partir das culturas em presença
incorporariam à
cultura nacional de
base reforçada e renovada (COGO,
2015, p. 109).
3
. Reflexos práticos da imigração no
ambiente escolar
Segundo dados do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (
o número de matrículas de alunos de
outras nacionalidades em escolas
brasileiras mais do que dobrou no
período de oito anos.
Em 2017, foram
34 mil matrículas registradas de
imigrantes ou refugiados
pública de ensino
é a que mais acolhe
esses estu
dantes: 64% do total. Os
dados do censo também mostram que
os latinos representam mais de 40%
3
Fonte:
http://portal.inep.gov.br/artigo/
/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/indic
adores-educacionais-do-censo-
escolar
estao-disponiveis-para-
consulta/21206
Acesso em: 27 dez. 2018.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
soma ou coexistência de culturas
culturalidade envolve, assim, a
ideia de ‘nova síntese cultural’ em
que o projeto de sociedade
intercultural supõe a geração
intencionada, planificada ou induzida
de algo novo, de expressões
culturais novas. O que chama
atenção aqui não é tanto a defesa do
direito à diferença e a crítica de
modelos de assimilação, fusão etc.
que implicariam a perda de uma
cultura própria, mas sua menção a
que esses modelos originais
elaborados no projeto intercultural a
partir das culturas em presença
se
cultura nacional de
base reforçada e renovada (COGO,
. Reflexos práticos da imigração no
Segundo dados do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (
INEP)
3
,
o número de matrículas de alunos de
outras nacionalidades em escolas
brasileiras mais do que dobrou no
Em 2017, foram
34 mil matrículas registradas de
imigrantes ou refugiados
. A rede
é a que mais acolhe
dantes: 64% do total. Os
dados do censo também mostram que
os latinos representam mais de 40%
http://portal.inep.gov.br/artigo/
-
/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/indic
escolar
-2017-
consulta/21206
.
dos alunos estrangeiros no Brasil
seguidos pelos africanos e asiáticos.
São Paulo
é o estado que mais
recebe matrículas de alunos de outras
nacionalidades: 34,5
país, seguido do Paraná, com 10,7%,
e Minas Gerais, com 10,6%. De
acordo com o Cadastro do Aluno da
Secretaria Estadual da Educação de
São Paulo
4
, os estudantes se dividem
em mais de 80 nacionalidades.
novembro de 2017, a rede
contabilizav
a 10.298 estrangeiros
matriculados
. Dentre eles, estão mais
de 4 mil bolivianos, 1,2 mil japoneses,
cerca de 550 angolanos e 540
haitianos.
Apesar de São Paulo ser a cidade que
conta com mais políticas públicas
voltadas para o imigrante
por con
ta de seu histórico como maior
território receptor de imigrantes
estrangeiros desde o tempo da
chamada “grande corrente migratória”,
na virada do século XIX para o XX
Brasil, como um todo, não dispõe de
ações sistematizadas
estrangeiro
s, como
4
Fonte:
http://www.educacao.sp.gov.br/noticia/pais
alunos/educacao-teve-
mais
estrangeiros-matriculados
rede-em-2017/. Acesso
em: 27 dez. 2018.
225
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
dos alunos estrangeiros no Brasil
,
seguidos pelos africanos e asiáticos.
é o estado que mais
recebe matrículas de alunos de outras
nacionalidades: 34,5
% do total do
país, seguido do Paraná, com 10,7%,
e Minas Gerais, com 10,6%. De
acordo com o Cadastro do Aluno da
Secretaria Estadual da Educação de
, os estudantes se dividem
em mais de 80 nacionalidades.
Em
novembro de 2017, a rede
a 10.298 estrangeiros
. Dentre eles, estão mais
de 4 mil bolivianos, 1,2 mil japoneses,
cerca de 550 angolanos e 540
Apesar de São Paulo ser a cidade que
conta com mais políticas públicas
voltadas para o imigrante
– até mesmo
ta de seu histórico como maior
território receptor de imigrantes
estrangeiros desde o tempo da
chamada “grande corrente migratória”,
na virada do século XIX para o XX
o
Brasil, como um todo, não dispõe de
ações sistematizadas
para o ensino de
s, como
programas de
http://www.educacao.sp.gov.br/noticia/pais
-e-
mais
-de-10-mil-
-nas-escolas-da-
em: 27 dez. 2018.
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
adaptação, aulas extras de línguas ou
currículos bilíngues, como ocorre na
Finlândia, na Noruega e no Canadá,
por exemplo. A
formação docente
também não aborda a presença do
estudante de fora nas classes
regulares.
A legislação brasil
eira determina
que estrangeiros têm direito ao acesso
à educação da mesma forma que as
crianças e os adolescentes brasileiros,
conforme: Constituição Federal
(artigos 5° e 6°); Estatuto da Criança e
do Adolescente (artigos 53° ao 55°);
Lei de Diretrizes e
Bases da Educação
Nacional (artigos 2° e 3°); Lei da
Migração (artigos e 4º). Além disso,
a Lei dos Refugiados (artigos 43º e
44º) garante que a falta de
documentos não pode impedir o
acesso ao ensino. Verifica
problema não está exclusivamente
matricula, concordando com Waldman
(2012, p.182):
A declaração do direito à educação
escolar de todos os imigrantes na
legislação migratória do país não
garantirá, por si só, o exercício pleno
deste direito. A matrícula em
instituições de ensino dos Est
de destino é tão somente uma dentre
as muitas barreiras enfrentadas
pelos imigrantes no campo da
educação escolar. Um grande
desafio a ser trabalhado é a
igualdade de condições para o
acesso e permanência nas
instituições de ensino do Estado de
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
adaptação, aulas extras de línguas ou
currículos bilíngues, como ocorre na
Finlândia, na Noruega e no Canadá,
formação docente
também não aborda a presença do
estudante de fora nas classes
eira determina
que estrangeiros têm direito ao acesso
à educação da mesma forma que as
crianças e os adolescentes brasileiros,
conforme: Constituição Federal
(artigos 5° e 6°); Estatuto da Criança e
do Adolescente (artigos 53° ao 55°);
Bases da Educação
Nacional (artigos 2° e 3°); Lei da
Migração (artigos e 4º). Além disso,
a Lei dos Refugiados (artigos 43º e
44º) garante que a falta de
documentos não pode impedir o
acesso ao ensino. Verifica
-se que o
problema não está exclusivamente
na
matricula, concordando com Waldman
A declaração do direito à educação
escolar de todos os imigrantes na
legislação migratória do país não
garantirá, por si só, o exercício pleno
deste direito. A matrícula em
instituições de ensino dos Est
ados
de destino é tão somente uma dentre
as muitas barreiras enfrentadas
pelos imigrantes no campo da
educação escolar. Um grande
desafio a ser trabalhado é a
igualdade de condições para o
acesso e permanência nas
instituições de ensino do Estado de
São Pa
ulo e do Brasil, garantida
constitucionalmente.
A questão envolve também o
acesso do imigrante à escola e ao seu
processo de acolhida, adaptação e
integração a todo ecossistema escolar.
Assim, implantar e desenvolver
práticas que favoreçam tal processo é
fundamental. Por ser o principal ponto
de contato da criança estrangeira com
o novo país,
a escola tem um papel
privilegiado na sua inserção na cultura
local
. Para além da questão de
compreender e debater tais fluxos
contemporâneos de deslocamento,
ins
tituições de ensino lidam com o
desafio de acolher e integrar esses
alunos
que chegam ao país
valorizando ao mesmo tempo suas
culturas de origem.
As escolas têm várias dificuldades.
A fundamental delas é ter a
sensibilidade de compreender essa
'tradução',
das criaas viverem em
rios mundos: o local de origem; a
comunidade onde se está instalado
e mais a escola. Isto impacta
significativamente sobre a
escolarização, a aprendizagem e a
vincia. Esse é o principal eixo
(SERRÃO, 2016, s/p).
Nesse contexto, a
língua
costuma ser apontada como a
dificuldade mais visível, mas não
impede o acolhimento, a adaptação e
interação do aluno estrangeiro na
226
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
ulo e do Brasil, garantida
constitucionalmente.
A questão envolve também o
acesso do imigrante à escola e ao seu
processo de acolhida, adaptação e
integração a todo ecossistema escolar.
Assim, implantar e desenvolver
práticas que favoreçam tal processo é
fundamental. Por ser o principal ponto
de contato da criança estrangeira com
a escola tem um papel
privilegiado na sua inserção na cultura
. Para além da questão de
compreender e debater tais fluxos
contemporâneos de deslocamento,
as
tituições de ensino lidam com o
desafio de acolher e integrar esses
que chegam ao país
,
valorizando ao mesmo tempo suas
As escolas têm várias dificuldades.
A fundamental delas é ter a
sensibilidade de compreender essa
das criaas viverem em
rios mundos: o local de origem; a
comunidade onde se está instalado
e mais a escola. Isto impacta
significativamente sobre a
escolarização, a aprendizagem e a
vincia. Esse é o principal eixo
(SERRÃO, 2016, s/p).
Nesse contexto, a
barreira da
costuma ser apontada como a
dificuldade mais visível, mas não
impede o acolhimento, a adaptação e
interação do aluno estrangeiro na
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
escola. Aliás, se esse processo for
feito com naturalidade, a questão do
idioma passa a
ser secundária.
Aprender a língua do território
receptivo é importante, é uma
dificuldade inicial, mas o se torna
um obstáculo que inviabiliza a
aprendizagem dos alunos, podendo
ser superado em alguns meses.
(...) não podemos afirmar com toda a
certeza
que as diferenças
idiomáticas impedem o
desenvolvimento do processo de
inclusão educacional. Na verdade,
acreditamos que não; as diferenças
idiomáticas prejudicam este
processo, porém, não chegam a ser
incisivas uma vez que são
temporárias. Trata-
se de mai
problema dentre tantos outros no
precário ensino público e que,
portanto, precisa ser observado pelo
Estado no sentido de criarem
mecanismos e ferramentas que
busquem reduzir o sofrimento dos
alunos estrangeiros ao iniciarem
seus estudos no Brasil
2011, s/p).
Frente a todas as dificuldades, é
recomendado que a escola projete a
sua atividade no território onde está
localizada (bairro) e não entenda sua
ação educativa como um
compartimento fechado, limitado a
seus muros. Assim, a articulação da
escola com a comun
corresponde: 1.
Do ponto de vista
pedagógico, a uma valorização da
diversidade de experiências e saberes
dos alunos, construídos em contextos
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
escola. Aliás, se esse processo for
feito com naturalidade, a questão do
ser secundária.
Aprender a língua do território
receptivo é importante, é uma
dificuldade inicial, mas o se torna
um obstáculo que inviabiliza a
aprendizagem dos alunos, podendo
ser superado em alguns meses.
(...) não podemos afirmar com toda a
que as diferenças
idiomáticas impedem o
desenvolvimento do processo de
inclusão educacional. Na verdade,
acreditamos que não; as diferenças
idiomáticas prejudicam este
processo, porém, não chegam a ser
incisivas uma vez que são
se de mai
s um
problema dentre tantos outros no
precário ensino público e que,
portanto, precisa ser observado pelo
Estado no sentido de criarem
mecanismos e ferramentas que
busquem reduzir o sofrimento dos
alunos estrangeiros ao iniciarem
seus estudos no Brasil
(BARRETO,
Frente a todas as dificuldades, é
recomendado que a escola projete a
sua atividade no território onde está
localizada (bairro) e não entenda sua
ação educativa como um
compartimento fechado, limitado a
seus muros. Assim, a articulação da
escola com a comun
idade
Do ponto de vista
pedagógico, a uma valorização da
diversidade de experiências e saberes
dos alunos, construídos em contextos
formais, não formais e informais de
educação; 2.
Do ponto de vista
organizacional, a uma abordagem
articulad
a e interativa, territorialmente
integrada, que mobiliza de forma
concertada diferentes parceiros
(HORTA; MARTINS;
DIAS, 2014).
No que diz respeito à questão
migratória, parcelas expressivas de
imigrantes que chegam ao Brasil
muitas vezes em busca do “
enriquecimento”
não tiveram acesso
à Educação nos seus países e espera
que os filhos possam ter no novo
destino. A busca por emprego e
melhores condições de vida inclui uma
boa escola para suas crianças. Por
outro lado, é comum alunos do
territór
io de recepção trazerem
preconceitos de casa, em alguns
casos resultando em
predominando a visão
na qual o estrangeiro é recebido como
alguém que tem de absorver nossa
cultura e esquecer a sua. Porém, se
compreendem que os outros
estudantes tiveram de abrir mão de
muitas coisas em um processo de
deslocamento, as relações mudam.
227
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
formais, não formais e informais de
Do ponto de vista
organizacional, a uma abordagem
a e interativa, territorialmente
integrada, que mobiliza de forma
concertada diferentes parceiros
DIAS, 2014).
No que diz respeito à questão
migratória, parcelas expressivas de
imigrantes que chegam ao Brasil
muitas vezes em busca do “
mito do
não tiveram acesso
à Educação nos seus países e espera
que os filhos possam ter no novo
destino. A busca por emprego e
melhores condições de vida inclui uma
boa escola para suas crianças. Por
outro lado, é comum alunos do
io de recepção trazerem
preconceitos de casa, em alguns
casos resultando em
bullyings,
predominando a visão
etnocentrista,
na qual o estrangeiro é recebido como
alguém que tem de absorver nossa
cultura e esquecer a sua. Porém, se
compreendem que os outros
estudantes tiveram de abrir mão de
muitas coisas em um processo de
deslocamento, as relações mudam.
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
4
. Descrição dos processos de
pesquisa-
ação e principais
resultados
Após uma conversa inicial com
a apresentação da proposta dos
cursos
5
, os professores re
a um questionário (com perguntas
fechadas), indicando alguns pontos
principais no que diz respeito à
acolhida, adaptação e integração do
alunos imigrantes na escola, a partir
de suas próprias vivências. As
respostas revelaram que:
A principal d
ificuldade está na
comunicação com os alunos
estrangeiros, seguida da
interação com os colegas, de
acordo com as respostas.
Todos eles disseram que, para
se fazer entender, utilizam
linguagem gestual e visual,
procuram se expressar devagar
5
Como os cursos tiveram duração média de
20 horas, foram realizados cinco encontros, de
4 horas cada, em média, para a realização
desta pesquisa-
ação. O cronograma foi o
seguinte: Encontro 1 – Apresen
tação da
proposta dos cursos e aplicação do
questionário. Encontro 2 –
Explicação e
discussão do conceito de Educomunicação.
Encontro 3 –
Explicação e discussão do
conceito de interculturalidade. Encontro 4
TICs, usabilidade e características, com foco
n
os formatos blogs e redes sociais. Encontro 5
Discussão sobre a implantação do projeto de
blogs nas escolas, com foco na acolhida,
adaptação e integração de crianças
imigrantes.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
. Descrição dos processos de
ação e principais
Após uma conversa inicial com
a apresentação da proposta dos
, os professores re
sponderam
a um questionário (com perguntas
fechadas), indicando alguns pontos
principais no que diz respeito à
acolhida, adaptação e integração do
s
alunos imigrantes na escola, a partir
de suas próprias vivências. As
ificuldade está na
comunicação com os alunos
estrangeiros, seguida da
interação com os colegas, de
acordo com as respostas.
Todos eles disseram que, para
se fazer entender, utilizam
linguagem gestual e visual,
procuram se expressar devagar
Como os cursos tiveram duração média de
20 horas, foram realizados cinco encontros, de
4 horas cada, em média, para a realização
ação. O cronograma foi o
tação da
proposta dos cursos e aplicação do
Explicação e
discussão do conceito de Educomunicação.
Explicação e discussão do
conceito de interculturalidade. Encontro 4
TICs, usabilidade e características, com foco
os formatos blogs e redes sociais. Encontro 5
Discussão sobre a implantação do projeto de
blogs nas escolas, com foco na acolhida,
adaptação e integração de crianças
e utilizam ainda
Google”; nenhum professor
indicou que tem pleno domínio
do idioma do estudante.
Os alunos estrangeiros não
costumam apresentar
dificuldade de aprendizagem; os
casos em que isso ocorre estão
muito mais relacionados ao fato
de não conhecerem
do Brasil, o contexto político e
social do país, o entorno da
escola, os hábitos e costumes,
que, necessariamente, algum
déficit psicológico, por exemplo.
Todos indicaram que os pais
dos alunos imigrantes
costumam comparecer sempre
aos eventos
formais da escola
(reuniões, festas etc.) e que não
maiores problemas com
relação ao comportamento e
disciplina desses alunos.
Por fim, todos eles indicaram
que o relacionamento com
estudantes estrangeiros é ao
mesmo tempo um desafio
pedagógico e uma
enriquecedora.
Após discussão presencial dos
resultados do questionário com os
228
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
e utilizam ainda
o “tradutor do
Google”; nenhum professor
indicou que tem pleno domínio
do idioma do estudante.
Os alunos estrangeiros não
costumam apresentar
dificuldade de aprendizagem; os
casos em que isso ocorre estão
muito mais relacionados ao fato
de não conhecerem
a história
do Brasil, o contexto político e
social do país, o entorno da
escola, os hábitos e costumes,
que, necessariamente, algum
déficit psicológico, por exemplo.
Todos indicaram que os pais
dos alunos imigrantes
costumam comparecer sempre
formais da escola
(reuniões, festas etc.) e que não
maiores problemas com
relação ao comportamento e
disciplina desses alunos.
Por fim, todos eles indicaram
que o relacionamento com
estudantes estrangeiros é ao
mesmo tempo um desafio
pedagógico e uma
experiência
enriquecedora.
Após discussão presencial dos
resultados do questionário com os
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
participantes, mostrou-
se consenso
que a acolhida, adaptação e interação
do aluno estrangeiro na escola não
passa pela oferta de auxílio na
aprendizagem do idio
ma, mas inclui o
acompanhamento do processo, da
família na escola, oferecendo
diversidade metodológica para além
das opções tradicionais de ensino.
Nesse sentido, deu
segunda fase da pesquisa ação: a
apresentação do tema
Educomunicação, com o
de acordo com as ideias de Soares
(2014), de conscientizar o educador a
converter-
se em um gestor de
processos comunicativos, levando
em conta que a principal lição a ser
aprendida por todos
alunos
é justamente a necessidade
de se construir um novo mundo em
conjunto, tendo o diálogo aberto e
criativo como o grande instrumento
de persuasão (SOARES, 2014, p.
29-30).
Assim, a partir do uso das
Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs) e da realidade da
questão migratória
nas escolas
que a ênfase dos cursos era a
modalidade blogs
e redes sociais
passou-
se a discutir, em conjunto,
possibilidades de atividades práticas
de processos de ensino
aprendizagem, unindo as questões da
Educomunicação com a
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
se consenso
que a acolhida, adaptação e interação
do aluno estrangeiro na escola não
passa pela oferta de auxílio na
ma, mas inclui o
acompanhamento do processo, da
família na escola, oferecendo
diversidade metodológica para além
das opções tradicionais de ensino.
Nesse sentido, deu
-se início à
segunda fase da pesquisa ação: a
apresentação do tema
Educomunicação, com o
foco, ainda
de acordo com as ideias de Soares
(2014), de conscientizar o educador a
se em um gestor de
processos comunicativos, levando
em conta que a principal lição a ser
professores e
é justamente a necessidade
de se construir um novo mundo em
conjunto, tendo o diálogo aberto e
criativo como o grande instrumento
de persuasão (SOARES, 2014, p.
Assim, a partir do uso das
Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs) e da realidade da
nas escolas
que a ênfase dos cursos era a
e redes sociais
–,
se a discutir, em conjunto,
possibilidades de atividades práticas
de processos de ensino
-
aprendizagem, unindo as questões da
Educomunicação com a
Interculturalidade,
que: 1) integrassem
às práticas educativas o estudo
sistemático dos sistemas de
comunicação; 2) criassem e
fortalecessem aspectos comunicativos
em espaços educativo; 3)
melhorassem o coeficiente expressivo
e comunicativo das ações educativas
nas escolas da
contribuíssem para a formação
continuada de professores, alunos e
demais envolvidos; 5) revelassem
estruturas não-
fixas de indivíduos e
grupos em situação de deslocamento
em territórios receptores, originários de
diferentes tipos de sociedades,
distintas tradições (hábitos, costumes),
religiões etc. responsáveis pela
geração de conflitos capazes de serem
negociados, bem como pela
reconfiguração do conjunto de
paisagens socioculturais da cidade,
atualmente.
Diante do exposto, surgiram as
idei
as práticas de implantação, neste
caso estudado, de um
escolas, seja como um projeto da
disciplina, seja como uma ação
articulada com outras áreas, como
direção, secretaria, bem como outros
professores, em um projeto
interdisciplinar. Utilizando p
229
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
que: 1) integrassem
às práticas educativas o estudo
sistemático dos sistemas de
comunicação; 2) criassem e
fortalecessem aspectos comunicativos
em espaços educativo; 3)
melhorassem o coeficiente expressivo
e comunicativo das ações educativas
nas escolas da
cidade; 4)
contribuíssem para a formação
continuada de professores, alunos e
demais envolvidos; 5) revelassem
fixas de indivíduos e
grupos em situação de deslocamento
em territórios receptores, originários de
diferentes tipos de sociedades,
com
distintas tradições (hábitos, costumes),
religiões etc. responsáveis pela
geração de conflitos capazes de serem
negociados, bem como pela
reconfiguração do conjunto de
paisagens socioculturais da cidade,
Diante do exposto, surgiram as
as práticas de implantação, neste
caso estudado, de um
blog nas
escolas, seja como um projeto da
disciplina, seja como uma ação
articulada com outras áreas, como
direção, secretaria, bem como outros
professores, em um projeto
interdisciplinar. Utilizando p
lataformas
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
gratuitas (Wordpress ou Blogger), o
ponto de partida, seria que a gina
virtual fosse produzida por alunos,
incentivando o engajamento, a
participação, a troca de conhecimento
e experiências, em ações horizontais.
Algumas experiências propostas
chamaremos de pauta) foram:
Para facilitar a acolhida do
aluno imigrante (em casos de
estudantes maiores) foi
proposto fazer entrevistas em
formato ping-
pong (perguntas e
respostas) com os alunos
recém-
chegados à escola.
Imigrantes ou não, o objetivo
apresentar o novo integrante do
ecossistema escolar, num relato
que envolve experiências de
vida e expectativas com a nova
escola, facilitando ainda a
interação e, ao mesmo tempo,
tomando cuidado para que o
mesmo não fosse apontado
como “o estrangeiro”,
diferente” ou “o exótico”, que
a ideia era incluir todos alunos
recém-
matriculados na escola
(os nacionais também).
Outra proposta é que fosse
publicada no
periodicamente, lista de
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
gratuitas (Wordpress ou Blogger), o
ponto de partida, seria que a gina
virtual fosse produzida por alunos,
incentivando o engajamento, a
participação, a troca de conhecimento
e experiências, em ações horizontais.
Algumas experiências propostas
(que
chamaremos de pauta) foram:
Para facilitar a acolhida do
aluno imigrante (em casos de
estudantes maiores) foi
proposto fazer entrevistas em
pong (perguntas e
respostas) com os alunos
chegados à escola.
Imigrantes ou não, o objetivo
é
apresentar o novo integrante do
ecossistema escolar, num relato
que envolve experiências de
vida e expectativas com a nova
escola, facilitando ainda a
interação e, ao mesmo tempo,
tomando cuidado para que o
mesmo não fosse apontado
como “o estrangeiro”,
“o
diferente” ou “o exótico”, que
a ideia era incluir todos alunos
matriculados na escola
(os nacionais também).
Outra proposta é que fosse
publicada no
blog,
periodicamente, lista de
brincadeiras típicas dos países,
travalínguas, cantigas
folcló
ricas (em áudio e/ou
texto). Para as crianças
menores (nível ensino infantil),
a ideia foi de publicar fotos de
brinquedos que os próprios
alunos poderiam trazer para
escola em dias específicos da
semana e/ou mês, conhecido
como “O dia do brinquedo”.
Houve
ainda a sugestão de
fazer do blog
um instrumento de
veiculação dos eventos
promovidos pela escola:
anúncio de festa junina, festa do
Dia das Mães, Dia das Crianças
etc. E, ainda, nessas festas
abertas à comunidade, incluir
elementos da cultura africana,
i
ndígena, boliviana, japonesa
etc. Não convidar os
familiares para a festa, mas
também para organizá
colaborar com dança e comida.
Na página virtual, além de se
anunciar o evento, os alunos
fariam a cobertura, com fotos e
relatos de como foi. Cogitou
ainda a possibilidade de
promover festas tradicionais
para os imigrantes. Ex.: “Dia
230
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
brincadeiras típicas dos países,
travalínguas, cantigas
ricas (em áudio e/ou
texto). Para as crianças
menores (nível ensino infantil),
a ideia foi de publicar fotos de
brinquedos que os próprios
alunos poderiam trazer para
escola em dias específicos da
semana e/ou mês, conhecido
como “O dia do brinquedo”.
ainda a sugestão de
um instrumento de
veiculação dos eventos
promovidos pela escola:
anúncio de festa junina, festa do
Dia das Mães, Dia das Crianças
etc. E, ainda, nessas festas
abertas à comunidade, incluir
elementos da cultura africana,
ndígena, boliviana, japonesa
etc. Não convidar os
familiares para a festa, mas
também para organizá
-la,
colaborar com dança e comida.
Na página virtual, além de se
anunciar o evento, os alunos
fariam a cobertura, com fotos e
relatos de como foi. Cogitou
-se
ainda a possibilidade de
promover festas tradicionais
para os imigrantes. Ex.: “Dia
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
das mães boliviano”,
comemorado em 27 de maio, as
festas pátrias dos países
originários desses estudantes
etc.
Mais uma ideia foi veicular,
periodicamente no
rece
itas de comidas típicas dos
diferentes países, em alguns
casos, com o auxílio dos pais
desses estrangeiros. Para o
caso de alunos menores,
publicar desenhos dessas
comidas feitos pelas crianças,
bem como arquivos de áudio
contando o que elas mais
gostam de
comer etc.
Promover, noticiar e fazer a
cobertura em textos ou fotos de
passeios dos alunos a
diferentes espaços da cidade
com o intuito de apresentar
o território de acolhida
mesmo tempo, promover
situações de intercâmbio
cultural
e comunicaçã
for possível ir a lugares
distantes (principais museus,
parques, centros culturais etc.),
uma volta pelo bairro, foi
considerada um bom exercício.
Chamar os pais dos alunos
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
das mães boliviano”,
comemorado em 27 de maio, as
festas pátrias dos países
originários desses estudantes
Mais uma ideia foi veicular,
periodicamente no
blog,
itas de comidas típicas dos
diferentes países, em alguns
casos, com o auxílio dos pais
desses estrangeiros. Para o
caso de alunos menores,
publicar desenhos dessas
comidas feitos pelas crianças,
bem como arquivos de áudio
contando o que elas mais
comer etc.
Promover, noticiar e fazer a
cobertura em textos ou fotos de
passeios dos alunos a
diferentes espaços da cidade
com o intuito de apresentar
-lhes
o território de acolhida
e, ao
mesmo tempo, promover
situações de intercâmbio
e comunicaçã
o. Se não
for possível ir a lugares
distantes (principais museus,
parques, centros culturais etc.),
uma volta pelo bairro, foi
considerada um bom exercício.
Chamar os pais dos alunos
imigrantes para ajudar na tarefa
de “cuidar” das crianças durante
o pa
sseio também foi cogitado.
Promover rodas de música, com
os alunos apresentando, por
exemplo, a lista das 10 canções
mais tocadas na rádio do país,
fazendo a indicação de clipes
do Youtube diretamente no
também foi um recurso
apresentado. Ou ainda: a
em conjunto a desenhos
animados e filmes (dependendo
da faixa etária) produzidos em
diferentes países
ou trailler
desse produto poderia
estar na página virtual, também
via Youtube, com comentários
dos alunos. O mesmo pode
acontecer com
pinturas etc.
Efemérides, como o Dia da
Bandeira, poderiam ser
comemoradas com o desenho
da bandeira de diversos países,
posteriormente fotografados e
postados no
grandes eventos que reúnem os
países
como Copa do Mundo
e Oli
mpíadas
possibilidade de produzir
diferentes conteúdos para as
231
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
imigrantes para ajudar na tarefa
de “cuidar” das crianças durante
sseio também foi cogitado.
Promover rodas de música, com
os alunos apresentando, por
exemplo, a lista das 10 canções
mais tocadas na rádio do país,
fazendo a indicação de clipes
do Youtube diretamente no
blog
também foi um recurso
apresentado. Ou ainda: a
ssistir
em conjunto a desenhos
animados e filmes (dependendo
da faixa etária) produzidos em
diferentes países
um trecho
desse produto poderia
estar na página virtual, também
via Youtube, com comentários
dos alunos. O mesmo pode
acontecer com
livros, poemas,
Efemérides, como o Dia da
Bandeira, poderiam ser
comemoradas com o desenho
da bandeira de diversos países,
posteriormente fotografados e
postados no
blog. Durante
grandes eventos que reúnem os
como Copa do Mundo
mpíadas
haveria a
possibilidade de produzir
diferentes conteúdos para as
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
postagens: hinos, hábitos e
costumes, localização
geográfica, história de vida dos
atletas etc.
Campanhas para promover a
comunicação interna da escola
como, por exemplo, as
sinali
zações dos ambientes
(banheiros, secretaria, refeitório,
laboratórios etc.) escritas em
placas bilíngues, também foram
sugestões que poderiam ser
lideradas pelos estudantes via
blog
. Outra opção foi interagir
com escolas localizadas nos
países de origem vi
conferências via Skype etc.
5. Considerações finais
Pelo presente artigo, tentamos
relatar os principais processos e
resultados de uma pesquisa
sobre a temática da acolhida,
adaptação e integração do aluno
imigrante nas escolas da rede
mun
icipal de ensino da cidade de São
Paulo a partir do desenvolvimento de
projetos de Educomunicação, com
ênfase na questão intercultural. Nesse
sentido, procuramos documentar os
procedimentos
surgidos a partir de
uma prática rotineira, que une
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
postagens: hinos, hábitos e
costumes, localização
geográfica, história de vida dos
Campanhas para promover a
comunicação interna da escola
como, por exemplo, as
zações dos ambientes
(banheiros, secretaria, refeitório,
laboratórios etc.) escritas em
placas bilíngues, também foram
sugestões que poderiam ser
lideradas pelos estudantes via
. Outra opção foi interagir
com escolas localizadas nos
países de origem vi
a e-mails,
conferências via Skype etc.
Pelo presente artigo, tentamos
relatar os principais processos e
resultados de uma pesquisa
-ação
sobre a temática da acolhida,
adaptação e integração do aluno
imigrante nas escolas da rede
icipal de ensino da cidade de São
Paulo a partir do desenvolvimento de
projetos de Educomunicação, com
ênfase na questão intercultural. Nesse
sentido, procuramos documentar os
surgidos a partir de
uma prática rotineira, que une
pesquisador
e participantes
a identificação e compreensão do
problema a fim de projetar mudanças
que melhorem a situação. No entanto,
reconhecemos as limitações.
A principal delas é que a
estruturação de um projeto de
Educomunicação
ainda que voltado
para
uma questão específica, como no
caso deste trabalho para processos de
acolhida, adaptação e integração de
crianças imigrantes na escola
segue uma receita fixa. É a realidade
particular de cada ambiente
educacional que vai moldar as ações.
No caso pr
oposto, como a ênfase dos
cursos era na utilização de
redes sociais, essa questão depende
desde o acesso às TICs no ambiente
escolar e disponibilização de
ferramentas aos envolvidos
(computadores, wi
câmeras fotográficas etc.), bem c
o manuseio desses instrumentos, até à
estrutura organizativa da escola. Por
exemplo: se abertura para a
integração de disciplinas e
departamentos, se a gestão se
aproxima do modelo horizontal, com
ênfase no diálogo e participação de
todos os membros
, até mesmo a
232
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
e participantes
visando
a identificação e compreensão do
problema a fim de projetar mudanças
que melhorem a situação. No entanto,
reconhecemos as limitações.
A principal delas é que a
estruturação de um projeto de
ainda que voltado
uma questão específica, como no
caso deste trabalho para processos de
acolhida, adaptação e integração de
crianças imigrantes na escola
– não
segue uma receita fixa. É a realidade
particular de cada ambiente
educacional que vai moldar as ações.
oposto, como a ênfase dos
cursos era na utilização de
blogs e
redes sociais, essa questão depende
desde o acesso às TICs no ambiente
escolar e disponibilização de
ferramentas aos envolvidos
(computadores, wi
-fi, celulares,
câmeras fotográficas etc.), bem c
omo
o manuseio desses instrumentos, até à
estrutura organizativa da escola. Por
exemplo: se abertura para a
integração de disciplinas e
departamentos, se a gestão se
aproxima do modelo horizontal, com
ênfase no diálogo e participação de
, até mesmo a
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
realidade socioeconômica dos
estudantes envolvidos.
Outra limitação é a transmissão
e troca de conhecimentos e
referências sobre quem é o imigrante
hoje. O senso comum costuma
associar o estrangeiro a certos tipos
de fenótipos e estereótipos
acabam por gerar preconceitos e, em
casos mais graves, situações de
xenofobia. Concentra-
se a imagem
desse sujeito no outro, no intruso, no
diferente, como se ele não fosse parte
da diversidade e identidade cultural do
planeta. É exatamente o contrári
que nos mostrou a perspectiva
intercultural, e as ideias de
comunicações propostas por Martín
Barbero (1991) e Appadurai (1996): o
reconhecimento do “outro”
(alteridade)
6
possibilita que relações
de contato e troca cultural se efetivem
em grupos difer
entes para que,
justamente, esses possam se
6
Por alteridade, utilizamos o conceito de
Jodolet (2002), para quem, a
alteridade é um
duplo processo de construção e de exclusão
social, de indentidade e pluralidade que,
indissoluvelmente ligados, mantêm a unidade
por meio de um sistema de representações. “A
noção de alteridade permanece demasiado
genérica – até mesmo polis
sêmica (...). Acha
se situada no plano do vínculo social (...) pois
não aparece como um atributo que pertenceria
à essência do objeto visado, mas sim como
uma qualificação que lhe é atribuída do
exterior” (JODOLET, 2002, p. 50).
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
realidade socioeconômica dos
Outra limitação é a transmissão
e troca de conhecimentos e
referências sobre quem é o imigrante
hoje. O senso comum costuma
associar o estrangeiro a certos tipos
de fenótipos e estereótipos
que
acabam por gerar preconceitos e, em
casos mais graves, situações de
se a imagem
desse sujeito no outro, no intruso, no
diferente, como se ele não fosse parte
da diversidade e identidade cultural do
planeta. É exatamente o contrári
o do
que nos mostrou a perspectiva
intercultural, e as ideias de
comunicações propostas por Martín
-
Barbero (1991) e Appadurai (1996): o
reconhecimento do “outro”
possibilita que relações
de contato e troca cultural se efetivem
entes para que,
justamente, esses possam se
Por alteridade, utilizamos o conceito de
alteridade é um
duplo processo de construção e de exclusão
social, de indentidade e pluralidade que,
indissoluvelmente ligados, mantêm a unidade
por meio de um sistema de representações. “A
noção de alteridade permanece demasiado
sêmica (...). Acha
-
se situada no plano do vínculo social (...) pois
não aparece como um atributo que pertenceria
à essência do objeto visado, mas sim como
uma qualificação que lhe é atribuída do
exterior” (JODOLET, 2002, p. 50).
reelaborar, garantindo assim sua
inserção em um mundo acelerado pela
lógica da globalização.
De qualquer maneira,
reconhecemos que a discussão aqui
proposta pode colaborar para o
reconhecimento da importância da
educação para as práticas
comunicacionais no ambiente escolar
e de todo o ecossistema envolvido no
sentido de favorecer o entendimento
de que processos migratórios não são
anomalias sociais ou algo externo à
sociedade, pelo contrário, são
constantes na his
tória e uma realidade
presente e natural, especialmente, em
uma grande cidade, como é o caso de
São Paulo. Que ações desse tipo
podem colocar o grupo envolvido na
posição de protagonista e de contra
hegemonia perante não aos
veículos tradicionais de com
mas à sociedade como um todo.
Envolvem uma dinâmica de
organização na produção de conteúdo
que visibilidade e voz ao grupo
envolvido
ao contemplar diversos
tipos de informação
processo democrático e educativo,
fortalecendo v
ínculos sociais,
reciprocidade de interesses,
cooperação e sentimento de pertença.
233
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
reelaborar, garantindo assim sua
inserção em um mundo acelerado pela
lógica da globalização.
De qualquer maneira,
reconhecemos que a discussão aqui
proposta pode colaborar para o
reconhecimento da importância da
educação para as práticas
comunicacionais no ambiente escolar
e de todo o ecossistema envolvido no
sentido de favorecer o entendimento
de que processos migratórios não são
anomalias sociais ou algo externo à
sociedade, pelo contrário, são
tória e uma realidade
presente e natural, especialmente, em
uma grande cidade, como é o caso de
São Paulo. Que ações desse tipo
podem colocar o grupo envolvido na
posição de protagonista e de contra
hegemonia perante não aos
veículos tradicionais de com
unicação,
mas à sociedade como um todo.
Envolvem uma dinâmica de
organização na produção de conteúdo
que visibilidade e voz ao grupo
ao contemplar diversos
tornando-as um
processo democrático e educativo,
ínculos sociais,
reciprocidade de interesses,
cooperação e sentimento de pertença.
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
A escola pode se revelar um
ambiente propício para a acolhida,
adaptação e integração do imigrante,
numa perspectiva intercultural que
favorece o pluripertencimento
identitá
rio. Isso não significa a
superação ou a negação dos deveres
cívicos locais do território de
acolhimento, mas sim a conciliação
sincera, honesta, generosa e
igualitária entre os diferentes quadros
simbólicos de identificação. “Não se
trata de colocar uma e
imaginária
discursiva
organizacional contra ou acima da
outra, mas sim optar por uma visão
complementar que, em vez de separar,
junta e, em vez de empobrecer,
enriquece"
(ELHAJJI, 2006, p.
Referências
bibliográficas
ABÉLÈS, Marc. Avant-
propos.
APPADURAI, Arjun.
colonialisme
: Les conséquences
culturelles de la globalisation.
Payot, 2005.
APPADURAI, Arjun.
Modernity at
Large
Cultural Dimensins of
Globalization
. Minneapolis: University
Minnesota Press, 1996.
BARRETO, Marcelo Reis.
sobre a Inclusão Educacional de
Imigrantes Bolivianos na Rede Pública
de Ensino na Cidade de São Paulo à
luz das Diferenças Idiomáticas
Trabalho de Conclusão de Curso.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
A escola pode se revelar um
ambiente propício para a acolhida,
adaptação e integração do imigrante,
numa perspectiva intercultural que
favorece o pluripertencimento
rio. Isso não significa a
superação ou a negação dos deveres
cívicos locais do território de
acolhimento, mas sim a conciliação
sincera, honesta, generosa e
igualitária entre os diferentes quadros
simbólicos de identificação. “Não se
trata de colocar uma e
strutura
discursiva
organizacional contra ou acima da
outra, mas sim optar por uma visão
complementar que, em vez de separar,
junta e, em vez de empobrecer,
(ELHAJJI, 2006, p.
10).
bibliográficas
propos.
In:
APPADURAI, Arjun.
Après le
: Les conséquences
culturelles de la globalisation.
Paris:
Modernity at
Cultural Dimensins of
. Minneapolis: University
BARRETO, Marcelo Reis.
Um Estudo
sobre a Inclusão Educacional de
Imigrantes Bolivianos na Rede Pública
de Ensino na Cidade de São Paulo à
luz das Diferenças Idiomáticas
.
Trabalho de Conclusão de Curso.
(Graduação em Letras
Português/Espanhol)
Univ
ersitário UNISEB, 2011.
Disponível em:
http://www.arcos.org.br/artigos/um
estudo-sobre-a-
inclusao
de-imigrantes-
bolivianos
publica-de-ensino-na
-
paulo/
. Acesso em: 10 jan. 2019.
CANCLINI, Néstor Garcia.
Desiguai
s e Desconectados
Janeiro: Editora UFRJ, 2005.
COGO, D. Comunicação e
diversidade: Cenários e possibilidades
da comunicação intercultural em
contextos organizacionais. In:
MOURA, C. P.; FERRARI, M. A.
(o
rgs.).
interculturalidade e orga
Faces e dimensões da
contemporaneidade
. Porto Alegre:
EDIPUCRS; 2015. p. 96
ELHAJJI, M. Comunicação
Intercultural: Prática social, significado
político e abordagem científica.
Revista da Associação Nacional dos
Programas de Pós
Comunicação (E-
COMPÓS)
vol.6, 2006. Disponível em:
http://www.compos.org.br/seer/index.p
hp/e-
compos/article/viewFile/86/86
Acesso
em: 10 jan. 2019.
ELLIOT, J.
Action research for
educational change
. Filadélfia: Open
University Press, 1991.
FAIST, T. Transnationalization and
Development. Toward an Alternative
Agenda. I
n: SCHILLER, N. G.; FAIST,
T. (eds.).
Migration, Development and
Transnationalization.
A Critical Stance
Nova York: Berhahn Books, vol.12;
2010. p. 63-99.
HORTA, M. J. B.; MART
A. Escola, comunidade e território:
dinâmicas educativas locais na
234
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
(Graduação em Letras
Português/Espanhol)
Centro
ersitário UNISEB, 2011.
Disponível em:
http://www.arcos.org.br/artigos/um
-
inclusao
-educacional-
bolivianos
-na-rede-
-
cidade-de-sao-
. Acesso em: 10 jan. 2019.
CANCLINI, Néstor Garcia.
Diferentes,
s e Desconectados
. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 2005.
COGO, D. Comunicação e
diversidade: Cenários e possibilidades
da comunicação intercultural em
contextos organizacionais. In:
MOURA, C. P.; FERRARI, M. A.
Comunicação,
interculturalidade e orga
nizações
Faces e dimensões da
. Porto Alegre:
EDIPUCRS; 2015. p. 96
-116.
ELHAJJI, M. Comunicação
Intercultural: Prática social, significado
político e abordagem científica.
Revista da Associação Nacional dos
Programas de Pós
-Graduação em
COMPÓS)
, Brasília,
vol.6, 2006. Disponível em:
http://www.compos.org.br/seer/index.p
compos/article/viewFile/86/86
.
em: 10 jan. 2019.
Action research for
. Filadélfia: Open
University Press, 1991.
FAIST, T. Transnationalization and
Development. Toward an Alternative
n: SCHILLER, N. G.; FAIST,
Migration, Development and
A Critical Stance
.
Nova York: Berhahn Books, vol.12;
HORTA, M. J. B.; MART
INS, C.; DIAS,
A. Escola, comunidade e território:
dinâmicas educativas locais na
ESCUDERO, Camila.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
no ambiente escolar. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
integração de populações imigrantes
na área metropolitana de Lisboa.
Revista Interações
, 29, p. 8
Disponível em:
http://revistas.rcaap.pt/interaccoes/artic
le/viewFile/3920/2950
. Acesso em: 10
jan. 2018.
JODELET, D. A alteridade como
produto e processo
psicossocial. In:
ARRUDA, A. (org.).
Representando a
alteridade
. Petrópolis: Vozes; 2002. p.
47-68.
MARTÍN-
BARBERO, Jesus.
medios a las
mediaciones
Comunicación, cultura e hegemonía.
México: Editorial Gustavo Gilli, 1991.
PERUZZO, C. M. K. Observação
participante e pesquisa
DUARTE, J.; BARROS, A.
técnicas de pesquisa em
Comunicação
. São Paulo: Atlas, 2011
p. 125-144.
SERRÃO, Pa
trícia. Professores
revelam dificuldades de escolas em
absorver imigrantes.
Portal EBC
Disponível em:
http://www.ebc.com.br/educacao/2016/
09/dificuldade-do-brasil-
em
filhos-de-migrantes
. Acesso em: 10
jan. 2019.
SOARES, Ismar de Oliveira.
da educomunicação na Améric
e nos Estados Unidos.In:
Caminhos da
educomunicação.
São Paulo:
Salesianas: Núcleo de Comunicação e
Educação/ECA/USP, 2001
.
SOARES, Ismar de
Oliveira.Educomunicação e a
formação de professores no século
XXI. Revista FGV Online
. São Paulo,
4(1), 2014. p. 19-
34. Disponível em:
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.p
hp/revfgvonline/article/view/41468/402
12. Acesso em: 25 mar.
2018.
Educomunicação e interculturalidade como
propostas para acolhida, adaptação e integração de crianças imigrantes
Revista Latino
-Americana de
, p.
218-235, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
integração de populações imigrantes
na área metropolitana de Lisboa.
, 29, p. 8
-36, 2014.
Disponível em:
http://revistas.rcaap.pt/interaccoes/artic
. Acesso em: 10
JODELET, D. A alteridade como
psicossocial. In:
Representando a
. Petrópolis: Vozes; 2002. p.
BARBERO, Jesus.
De los
mediaciones
Comunicación, cultura e hegemonía.
México: Editorial Gustavo Gilli, 1991.
PERUZZO, C. M. K. Observação
participante e pesquisa
-ação. In:
DUARTE, J.; BARROS, A.
Métodos e
técnicas de pesquisa em
. São Paulo: Atlas, 2011
.
trícia. Professores
revelam dificuldades de escolas em
Portal EBC
, 2016.
Disponível em:
http://www.ebc.com.br/educacao/2016/
em
-receber-
. Acesso em: 10
SOARES, Ismar de Oliveira.
Caminhos
da educomunicação na Améric
a Latina
Caminhos da
São Paulo:
Salesianas: Núcleo de Comunicação e
.
p.35-46.
SOARES, Ismar de
Oliveira.Educomunicação e a
formação de professores no século
. São Paulo,
34. Disponível em:
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.p
hp/revfgvonline/article/view/41468/402
2018.
SOARES, Ismar de Oliveira.
Educomunicação: Um campo de
mediações.
Comunicação &
Educação
, São Paulo, 19, p.12
set./dez. 2000. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/comueduc/a
rticle/view/36934
. Acesso em: 18 jul
2018.
SOARES, Ismar de Oliveir
comunicativa e educação: caminhos
da educomunicação.
Educação
, São Paulo, ECA/USP
Editora, Ano VIII,
jan./abr. de 2002.
THIOLLENT, M.
Metodologia da
pesquisa-ação
. São Paulo: Cortez,
2003.
TRIPP, D. Pesquisa
introdução metodológica.
Pesquisa
, São Paulo, v. 31, n. 3, p.
443-
466, set./dez. 2005. Disponível
em:
http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n3/a09v
31n3.pdf
. Acesso em: 07 jan. 2019.
WALDMAN, T. C..
educação escolar de imigrantes em
São P
aulo: A trajetória de um direito.
Dissertação (Mestrado), Programa de
Pós-
Graduação em Direito.
Universidade de São Paulo, 2012.
Disponível em:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiv
eis/2/2140/tde-
15082013
br.php
. Acesso em: 27 dez. 2018.
235
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
SOARES, Ismar de Oliveira.
Educomunicação: Um campo de
Comunicação &
, São Paulo, 19, p.12
-24,
set./dez. 2000. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/comueduc/a
. Acesso em: 18 jul
SOARES, Ismar de Oliveir
a. Gestão
comunicativa e educação: caminhos
da educomunicação.
Comunicação &
, São Paulo, ECA/USP
Editora, Ano VIII,
n. 23, p.16-25,
Metodologia da
. São Paulo: Cortez,
TRIPP, D. Pesquisa
-ação: uma
introdução metodológica.
Educação e
, São Paulo, v. 31, n. 3, p.
466, set./dez. 2005. Disponível
http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n3/a09v
. Acesso em: 07 jan. 2019.
WALDMAN, T. C..
O acesso à
educação escolar de imigrantes em
aulo: A trajetória de um direito.
Dissertação (Mestrado), Programa de
Graduação em Direito.
Universidade de São Paulo, 2012.
Disponível em:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiv
15082013
-101420/pt-
. Acesso em: 27 dez. 2018.
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Cultura, arte e estética: uma análise da educação da sensibilidade a partir de
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
Resumo:
O presente artigo busca abordar a relação entre arte, cultura e educação, através da
experiência de alunos participantes da exposição Almas do bem”, realizada na Galeria de Arte La
Salle, q
ue fica localizada no Centro Universitário La Salle, Rio de Janeiro. Compreendendo que os
processos de aprendizagem passam, pelos sentidos e pela capacidade de ver, sentir, ouvir, cheirar,
provar e proporcionar os meios pelos quais se realiza uma interação
Pensamos a Arte como área do conhecimento humano que abarca um amplo espectro de expressões
e manifestações, podemos então relacionar a arte como possibilidade da promoção do elo entre o
homem e o seu mundo, ou seja, um encontro p
sentido. Sendo assim, articular e promover a interface de diálogo entre educação, arte e cultura
significa estabelecer objetivos, ações e metas, considerando a sua relação com as manifestações,
expressões, pro
duções artísticas e culturais.
Palavras-chaves: Arte; cultura;
educação; e
Cultura, arte y estética: un análisis de la educación en sensibilidad desde una exposición
Resumen:
Este artículo busca abordar la relación entre arte, cultura y educación, a través de la
experiencia de los estudiantes que participan en la exposición “Almas do bem”, realizada en la
Galería de Arte La Salle, ubicada en el Centro Universitário La Salle,
los procesos de aprendizaje pasan por los sentidos y la capacidad de ver, sentir, oír, oler, gustar y
1
Angelina Accetta Rojas. Doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense. Professora
Adjunta do Centro Universitário La Salle do Rio de Janeiro (Unilasalle
angelina.rojas@lasalle.org.br -
https://orcid.org/0000
2
André Cesari Batista de Lima.
Mestrando pelo Programa de Pós
Territorialidade da Universidade Federal Fluminense. E
https://orcid.org/0000-0001-
9809
3
Lívia Ribeiro Barboza de Araújo Braga. M
G
raduação em História Social da UERJ/FFP. Coordenadora do Setor de Ação Comunitário e Pastoral
do Centro Universitário La Salle do Rio de Janeiro (Unilasalle
https://orcid.org/0000-0003-
3416
Texto recebido em 06/09/20
20,
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Cultura, arte e estética: uma análise da educação da sensibilidade a partir de
uma exposição
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
45792
Angelina Accetta Rojas
André Cesari
Lívia Ribeiro Barboza de Araújo Braga
O presente artigo busca abordar a relação entre arte, cultura e educação, através da
experiência de alunos participantes da exposição Almas do bem”, realizada na Galeria de Arte La
ue fica localizada no Centro Universitário La Salle, Rio de Janeiro. Compreendendo que os
processos de aprendizagem passam, pelos sentidos e pela capacidade de ver, sentir, ouvir, cheirar,
provar e proporcionar os meios pelos quais se realiza uma interação
do homem com o seu meio.
Pensamos a Arte como área do conhecimento humano que abarca um amplo espectro de expressões
e manifestações, podemos então relacionar a arte como possibilidade da promoção do elo entre o
homem e o seu mundo, ou seja, um encontro p
essoal, de expressão de linguagem e criação de
sentido. Sendo assim, articular e promover a interface de diálogo entre educação, arte e cultura
significa estabelecer objetivos, ações e metas, considerando a sua relação com as manifestações,
duções artísticas e culturais.
educação; e
xposição.
Cultura, arte y estética: un análisis de la educación en sensibilidad desde una exposición
Este artículo busca abordar la relación entre arte, cultura y educación, a través de la
experiencia de los estudiantes que participan en la exposición “Almas do bem”, realizada en la
Galería de Arte La Salle, ubicada en el Centro Universitário La Salle,
o de Janeiro. Entender que
los procesos de aprendizaje pasan por los sentidos y la capacidad de ver, sentir, oír, oler, gustar y
Angelina Accetta Rojas. Doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense. Professora
Adjunta do Centro Universitário La Salle do Rio de Janeiro (Unilasalle
-RJ). E-
mail:
https://orcid.org/0000
-0002-3091-7827
Mestrando pelo Programa de Pós
-G
raduação em Cultura e
Territorialidade da Universidade Federal Fluminense. E
-
mail: andrecesari91@yahoo.com.br
9809
-1278
Lívia Ribeiro Barboza de Araújo Braga. M
estranda em Histór
ia Social pelo Programa de Pós
raduação em História Social da UERJ/FFP. Coordenadora do Setor de Ação Comunitário e Pastoral
do Centro Universitário La Salle do Rio de Janeiro (Unilasalle
-RJ). E-
mail: livia.braga@lasalle.org.br
3416
-4882
20,
aceito para publicação em 12/10
/2020 e disponibilizado online
em 01/03/2021.
236
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Cultura, arte e estética: uma análise da educação da sensibilidade a partir de
Angelina Accetta Rojas
1
André Cesari
Batista de Lima
2
Lívia Ribeiro Barboza de Araújo Braga
3
O presente artigo busca abordar a relação entre arte, cultura e educação, através da
experiência de alunos participantes da exposição Almas do bem”, realizada na Galeria de Arte La
ue fica localizada no Centro Universitário La Salle, Rio de Janeiro. Compreendendo que os
processos de aprendizagem passam, pelos sentidos e pela capacidade de ver, sentir, ouvir, cheirar,
do homem com o seu meio.
Pensamos a Arte como área do conhecimento humano que abarca um amplo espectro de expressões
e manifestações, podemos então relacionar a arte como possibilidade da promoção do elo entre o
essoal, de expressão de linguagem e criação de
sentido. Sendo assim, articular e promover a interface de diálogo entre educação, arte e cultura
significa estabelecer objetivos, ações e metas, considerando a sua relação com as manifestações,
Cultura, arte y estética: un análisis de la educación en sensibilidad desde una exposición
Este artículo busca abordar la relación entre arte, cultura y educación, a través de la
experiencia de los estudiantes que participan en la exposición “Almas do bem”, realizada en la
o de Janeiro. Entender que
los procesos de aprendizaje pasan por los sentidos y la capacidad de ver, sentir, oír, oler, gustar y
Angelina Accetta Rojas. Doutora em Educação pela Universidade Federal Fluminense. Professora
mail:
raduação em Cultura e
mail: andrecesari91@yahoo.com.br
-
ia Social pelo Programa de Pós
-
raduação em História Social da UERJ/FFP. Coordenadora do Setor de Ação Comunitário e Pastoral
mail: livia.braga@lasalle.org.br
-
/2020 e disponibilizado online
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
proporcionar los medios por los que se produce la interacción del hombre con su entorno. Pensamos
en el Arte como un área de co
nocimiento humano que abarca un amplio espectro de expresiones y
manifestaciones, por lo que podemos relacionar el arte como una posibilidad de promover el vínculo
entre el hombre y su mundo, es decir, un encuentro personal, de expresión del lenguaje y cre
significado. Por tanto, articular y promover la interfaz de diálogo entre educación, arte y cultura
significa establecer objetivos, acciones y metas, considerando su relación con las manifestaciones,
expresiones, producciones artísticas y cultural
Palabras clave: Arte; e
ducación;
Culture, art and aesthetics: an analysis of sensitivity education from an exhibition
Abstract:
This article seeks to address the relationship between art, culture and education, through
the
experience of students participating in the exhibition “Almas do bem”, held at the Galeria de Arte
La Salle, which is located at Centro Universitário La Salle, Rio de Janeiro. Understanding that the
learning processes pass, through the senses and the abili
the means by which a man's interaction with his environment takes place. We think of Art as an area
of
human knowledge that encompasses a wide spectrum of expressions and manifestations, so we
can relate ar
t as a possibility of promoting the link between man and his world, that is, a personal
encounter, of expression of language and creation of meaning. Therefore, articulating and promoting
the dialogue interface between education, art and culture means esta
goals, considering their relationship with manifestations, expressions, artistic and cultural productions.
Keywords: Art; culture; e
ducation;
Cultura, arte e estética: uma análise da educação da sensibilidade
Arte, educação e estética
Vivemos em um mundo sujeito
a várias emergências e como
humanidade, não estamos preparados.
O despreparo é grande diante das
situações imprevistas, desde o mais
simples do cotidiano, até o mais
complexo, relacionado às mudanças
climátic
as e à pandemia que ameaçam
a vida no planeta. Não podemos mais
ignorar que o nosso mundo funciona
em rede e de que essa dinâmica está
presente em todas as dimensões da
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
proporcionar los medios por los que se produce la interacción del hombre con su entorno. Pensamos
nocimiento humano que abarca un amplio espectro de expresiones y
manifestaciones, por lo que podemos relacionar el arte como una posibilidad de promover el vínculo
entre el hombre y su mundo, es decir, un encuentro personal, de expresión del lenguaje y cre
significado. Por tanto, articular y promover la interfaz de diálogo entre educación, arte y cultura
significa establecer objetivos, acciones y metas, considerando su relación con las manifestaciones,
expresiones, producciones artísticas y cultural
es.
ducación;
cultura; exposición.
Culture, art and aesthetics: an analysis of sensitivity education from an exhibition
This article seeks to address the relationship between art, culture and education, through
experience of students participating in the exhibition “Almas do bem”, held at the Galeria de Arte
La Salle, which is located at Centro Universitário La Salle, Rio de Janeiro. Understanding that the
learning processes pass, through the senses and the abili
ty to see, feel, hear, smell, taste and provide
the means by which a man's interaction with his environment takes place. We think of Art as an area
human knowledge that encompasses a wide spectrum of expressions and manifestations, so we
t as a possibility of promoting the link between man and his world, that is, a personal
encounter, of expression of language and creation of meaning. Therefore, articulating and promoting
the dialogue interface between education, art and culture means esta
blishing objectives, actions and
goals, considering their relationship with manifestations, expressions, artistic and cultural productions.
ducation;
exhibition.
Cultura, arte e estética: uma análise da educação da sensibilidade
uma exposição
Vivemos em um mundo sujeito
a várias emergências e como
humanidade, não estamos preparados.
O despreparo é grande diante das
situações imprevistas, desde o mais
simples do cotidiano, até o mais
complexo, relacionado às mudanças
as e à pandemia que ameaçam
a vida no planeta. Não podemos mais
ignorar que o nosso mundo funciona
em rede e de que essa dinâmica está
presente em todas as dimensões da
vida. Se por um lado tal questão está
relacionada com a própria saúde
planetária e com
instrumental de progresso que
adotamos, por outro lado tal dimensão
está diretamente ligada à nossa
sensibilidade, ou seja, à forma como o
ambiente nos chega e nos penetra os
sentidos.
Refletir sobre a Educação dos
Sentidos significa perceber a re
entre corpo/mente/sensibilidade.
Somos seres de linguagem e
237
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
proporcionar los medios por los que se produce la interacción del hombre con su entorno. Pensamos
nocimiento humano que abarca un amplio espectro de expresiones y
manifestaciones, por lo que podemos relacionar el arte como una posibilidad de promover el vínculo
entre el hombre y su mundo, es decir, un encuentro personal, de expresión del lenguaje y cre
ación de
significado. Por tanto, articular y promover la interfaz de diálogo entre educación, arte y cultura
significa establecer objetivos, acciones y metas, considerando su relación con las manifestaciones,
Culture, art and aesthetics: an analysis of sensitivity education from an exhibition
This article seeks to address the relationship between art, culture and education, through
experience of students participating in the exhibition “Almas do bem”, held at the Galeria de Arte
La Salle, which is located at Centro Universitário La Salle, Rio de Janeiro. Understanding that the
ty to see, feel, hear, smell, taste and provide
the means by which a man's interaction with his environment takes place. We think of Art as an area
human knowledge that encompasses a wide spectrum of expressions and manifestations, so we
t as a possibility of promoting the link between man and his world, that is, a personal
encounter, of expression of language and creation of meaning. Therefore, articulating and promoting
blishing objectives, actions and
goals, considering their relationship with manifestations, expressions, artistic and cultural productions.
Cultura, arte e estética: uma análise da educação da sensibilidade
a partir de
vida. Se por um lado tal questão está
relacionada com a própria saúde
planetária e com
o modelo
instrumental de progresso que
adotamos, por outro lado tal dimensão
está diretamente ligada à nossa
sensibilidade, ou seja, à forma como o
ambiente nos chega e nos penetra os
Refletir sobre a Educação dos
Sentidos significa perceber a re
lação
entre corpo/mente/sensibilidade.
Somos seres de linguagem e
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
expressar significa existir. Dessa
forma, podemos desvelar a educação
como o desenvolvimento de
possibilidades humanas, na pedagogia
viva que eduque vivificando a
percepção, os afetos, a int
eligência e a
imaginação. A criação é vital para a
condição humana, para que cada um
reconheça a sua voz, a sua
capacidade de linguagem tanto no
sentido de entender as emaranhadas
redes de mensagens em que
existimos, como no sentido de
expressar-se mais li
vre e lucidamente.
A aprendizagem passa pelos
sentidos, pela capacidade de ver,
sentir, ouvir, cheirar, provar, e
proporciona os meios pelos quais se
realiza uma interação do homem com
o seu meio. Freire nos diz que a
educação, como prática estritamente
h
umana, deve ser contrária à
repressão de sonhos, desejos e
experiências sem sentido (FREIRE,
1996).
Se pensarmos na Arte, como
área do conhecimento humano que
abarca um amplo espectro de
expressões e manifestações, podemos
então relacionar a arte como
poss
ibilidade da promoção do elo
entre o homem e o seu mundo, ou
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
expressar significa existir. Dessa
forma, podemos desvelar a educação
como o desenvolvimento de
possibilidades humanas, na pedagogia
viva que eduque vivificando a
eligência e a
imaginação. A criação é vital para a
condição humana, para que cada um
reconheça a sua voz, a sua
capacidade de linguagem tanto no
sentido de entender as emaranhadas
redes de mensagens em que
existimos, como no sentido de
vre e lucidamente.
A aprendizagem passa pelos
sentidos, pela capacidade de ver,
sentir, ouvir, cheirar, provar, e
proporciona os meios pelos quais se
realiza uma interação do homem com
o seu meio. Freire nos diz que a
educação, como prática estritamente
umana, deve ser contrária à
repressão de sonhos, desejos e
experiências sem sentido (FREIRE,
Se pensarmos na Arte, como
área do conhecimento humano que
abarca um amplo espectro de
expressões e manifestações, podemos
então relacionar a arte como
ibilidade da promoção do elo
entre o homem e o seu mundo, ou
seja, um encontro pessoal, de
expressão de linguagem e criação de
sentido.
A esse respeito Fischer (1987)
afirma que a arte é o elemento
necessário para a união do indivíduo
com o seu universo,
identificar-
se com a vida dos outros e a
incorporar em si aquilo que ele não é,
mas tem a possibilidade de ser. Será
preciso
anunciar novos caminhos,
novas propostas.
Assim, cabe à Arte a
estimulação dos sentidos no processo
educativo, para
que o indivíduo seja
transformador no desenvolvimento de
suas habilidades perceptivas, tais
como a sensorial, emocional e
intelectiva.
A educação do sensível
configura um vasto território do qual,
sem dúvida, a Arte é um dos
componentes. Nos domínios da
e
ducação estética (ou educação do
sensível) acha-
se compreendida a
educação da sensibilidade como um
esforço educacional em métodos e
parâmetros. Tal mediação requer
perceber os apelos que partem
daqueles a ela submetidos,
precisamente de seu corpo, com sua
expressões de alegria e desejo, de dor
e tristeza, de prazer e desconforto.
238
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
seja, um encontro pessoal, de
expressão de linguagem e criação de
A esse respeito Fischer (1987)
afirma que a arte é o elemento
necessário para a união do indivíduo
com o seu universo,
capacitando-o a
se com a vida dos outros e a
incorporar em si aquilo que ele não é,
mas tem a possibilidade de ser. Será
anunciar novos caminhos,
Assim, cabe à Arte a
estimulação dos sentidos no processo
que o indivíduo seja
transformador no desenvolvimento de
suas habilidades perceptivas, tais
como a sensorial, emocional e
A educação do sensível
configura um vasto território do qual,
sem dúvida, a Arte é um dos
componentes. Nos domínios da
ducação estética (ou educação do
se compreendida a
educação da sensibilidade como um
esforço educacional em métodos e
parâmetros. Tal mediação requer
perceber os apelos que partem
daqueles a ela submetidos,
precisamente de seu corpo, com sua
s
expressões de alegria e desejo, de dor
e tristeza, de prazer e desconforto.
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
É necessário utilizar uma base
mais ampla que estude como o ser
humano se apropria do mundo por
meio do sensível em toda sua
atividade.
O sensível é a condição de
possibilidade
da vida e do
conhecimento.
Daí a tônica que é
colocada [...] sobre a experiência
estética: experiência artística,
sensu
, experiência de religiosidade,
tribalismo, preocupação com si,
hedonismo multiforme, culto dos
objetos, narcisismo coletivo
(MAFFESOLI, 1996, p. 76).
Assim, estética e educação
confluem na chamada educação
estética, processo no qual intervém
todo o conjunto de influências
mencionadas. Cabe lembrar, como
antecedente histórico, que Schiller
(1759-
1805) definiu as bases de
educação estética como o sentimento
educado pela beleza, pelo gosto e pelo
impulso lúdico. É nesse estado que o
homem experiencia “formas vivas”.
Para isso seria necessário que sua
forma fosse viva e sua vida, forma.
Enquanto apenas meditamos sobre
s
ua forma, ela é inerte, mera
abstração; enquanto apenas
sentimos sua vida, esta é informe,
mera impressão. Somente quando
sua forma vive em nossa
sensibilidade e sua vida se forma em
nosso entendimento o homem é
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
É necessário utilizar uma base
mais ampla que estude como o ser
humano se apropria do mundo por
meio do sensível em toda sua
O sensível é a condição de
da vida e do
Daí a tônica que é
colocada [...] sobre a experiência
estética: experiência artística,
stricto
, experiência de religiosidade,
tribalismo, preocupação com si,
hedonismo multiforme, culto dos
objetos, narcisismo coletivo
etc.”.
(MAFFESOLI, 1996, p. 76).
Assim, estética e educação
confluem na chamada educação
estética, processo no qual intervém
todo o conjunto de influências
mencionadas. Cabe lembrar, como
antecedente histórico, que Schiller
1805) definiu as bases de
uma
educação estética como o sentimento
educado pela beleza, pelo gosto e pelo
impulso lúdico. É nesse estado que o
homem experiencia “formas vivas”.
Para isso seria necessário que sua
forma fosse viva e sua vida, forma.
Enquanto apenas meditamos sobre
ua forma, ela é inerte, mera
abstração; enquanto apenas
sentimos sua vida, esta é informe,
mera impressão. Somente quando
sua forma vive em nossa
sensibilidade e sua vida se forma em
nosso entendimento o homem é
forma viva (SCHILLER, 2002, p.
78).
Schi
ller (2002), considera o Belo
como algo objetivo e sua percepção
como subjetiva. Dessa forma, a
estética se encontra nos objetos e na
natureza. O Belo o é limitação, mas
infinitude, não é exclusão de certas
realidades, mas é a inclusão absoluta
de todas.
No estado físico, o homem
apreende o mundo de maneira
passiva, apenas o sente. No estado
estético, ele o coloca fora de si ou o
contempla, sua personalidade se
desloca, e o mundo surge diante de si.
A contemplação, numa espécie de
reflexão é a primeira re
homem com o mundo que o circunda,
abrindo caminho de uma realidade
comum a uma realidade estética e
passagem dos meros sentimentos
vitais a sentimentos de beleza.
Tampouco se pode, assim,
negar a razão àqueles que declaram o
estado estéti
co o mais fértil em relação
ao conhecimento e à moralidade. Eles
estão perfeitamente certos; pois uma
disposição da mente que compreende
em si o todo da humanidade tem que,
necessariamente, encerrar em si
também cada uma de suas
manifestações singulares s
239
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
forma viva (SCHILLER, 2002, p.
77-
ller (2002), considera o Belo
como algo objetivo e sua percepção
como subjetiva. Dessa forma, a
estética se encontra nos objetos e na
natureza. O Belo o é limitação, mas
infinitude, não é exclusão de certas
realidades, mas é a inclusão absoluta
No estado físico, o homem
apreende o mundo de maneira
passiva, apenas o sente. No estado
estético, ele o coloca fora de si ou o
contempla, sua personalidade se
desloca, e o mundo surge diante de si.
A contemplação, numa espécie de
reflexão é a primeira re
lação liberal do
homem com o mundo que o circunda,
abrindo caminho de uma realidade
comum a uma realidade estética e
passagem dos meros sentimentos
vitais a sentimentos de beleza.
Tampouco se pode, assim,
negar a razão àqueles que declaram o
co o mais fértil em relação
ao conhecimento e à moralidade. Eles
estão perfeitamente certos; pois uma
disposição da mente que compreende
em si o todo da humanidade tem que,
necessariamente, encerrar em si
também cada uma de suas
manifestações singulares s
egundo a
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
faculdade; uma disposição da mente,
que afasta do todo da natureza
humana toda limitação, tem também
que afastá-
la de cada manifestação
singular. (SCHILLER, 2002, p. 123)
Os métodos adotados para
atingir os objetivos da educação
estética devem con
siderar, segundo
Read (1982), além da educação da
sensibilidade, fundamentada no
ajustamento dos sentidos ao seu
ambiente, o fato de que tal ambiente
não é inteiramente objetivo e sua
experiência tampouco é apenas
empírica. Dentro do indivíduo, existem
“pá
tios interiores ou estados
existenciais que podem ser
exteriorizados pelo auxílio das
faculdades estéticas” e esses níveis
subconscientes “são um dos
elementos fundamentais em todas as
formas de atividade artística” (READ,
1982, p. 21).
Nesse sentido, a ed
ultrapassa a mera ação de instruir e
ensinar, para se constituir em um
conjunto de práticas simbólicas, capaz
de realizar a coesão e a integração do
ser humano em um universo cultural
polarizado. Se um homem é um ser
antinômico que existe em duas
di
mensões essenciais, a individual e a
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
faculdade; uma disposição da mente,
que afasta do todo da natureza
humana toda limitação, tem também
la de cada manifestação
singular. (SCHILLER, 2002, p. 123)
Os métodos adotados para
atingir os objetivos da educação
siderar, segundo
Read (1982), além da educação da
sensibilidade, fundamentada no
ajustamento dos sentidos ao seu
ambiente, o fato de que tal ambiente
não é inteiramente objetivo e sua
experiência tampouco é apenas
empírica. Dentro do indivíduo, existem
tios interiores ou estados
existenciais que podem ser
exteriorizados pelo auxílio das
faculdades estéticas” e esses níveis
subconscientes “são um dos
elementos fundamentais em todas as
formas de atividade artística” (READ,
Nesse sentido, a ed
ucação
ultrapassa a mera ação de instruir e
ensinar, para se constituir em um
conjunto de práticas simbólicas, capaz
de realizar a coesão e a integração do
ser humano em um universo cultural
polarizado. Se um homem é um ser
antinômico que existe em duas
mensões essenciais, a individual e a
social, uma educação que discrimine
ou atrofie uma delas estará amputando
o educando em sua humanidade.
Assim, uma educação que
recupera a dimensão imaginária,
simbólica, pode contribuir, conforme
Duborgel (1995), para
harmonizar na economia do ser
humano o ser imaginante, o ser físico
e o sujeito do pensamento direto,
deixando de ter caráter meramente
reprodutório na medida em que
permite, isto é, exige a criatividade e a
inventividade.
Ostrower (1998, p.
que grande parte da sensibilidade,
incluindo as sensações internas,
permanece vinculada ao inconsciente.
Todas as formas de autorregulagem e
as reações involuntárias do nosso
organismo pertencem à sensibilidade.
Todavia, outra parte que partici
sensório chega ao nosso consciente
de forma articulada e organizada.
Dessa forma, chamamos de
percepção a elaboração mental das
sensações. Na ordenação dos dados
sensíveis, estruturam
consciente, pois, ao apreender o
mundo, o homem co
princípio configurador seletivo.
Ostrower (1998) discorre, ainda, sobre
240
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
social, uma educação que discrimine
ou atrofie uma delas estará amputando
o educando em sua humanidade.
Assim, uma educação que
recupera a dimensão imaginária,
simbólica, pode contribuir, conforme
Duborgel (1995), para
reequilibrar,
harmonizar na economia do ser
humano o ser imaginante, o ser físico
e o sujeito do pensamento direto,
deixando de ter caráter meramente
reprodutório na medida em que
permite, isto é, exige a criatividade e a
Ostrower (1998, p.
12) afirma
que grande parte da sensibilidade,
incluindo as sensações internas,
permanece vinculada ao inconsciente.
Todas as formas de autorregulagem e
as reações involuntárias do nosso
organismo pertencem à sensibilidade.
Todavia, outra parte que partici
pa do
sensório chega ao nosso consciente
de forma articulada e organizada.
Dessa forma, chamamos de
percepção a elaboração mental das
sensações. Na ordenação dos dados
sensíveis, estruturam
-se os níveis do
consciente, pois, ao apreender o
mundo, o homem co
mpreende um
princípio configurador seletivo.
Ostrower (1998) discorre, ainda, sobre
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
a concepção de sensibilidade como
uma “disposição elementar, num
permanente estado de excitabilidade
sensorial, como porta de entrada das
sensações” (OSTROWER, 1998, p.
13)
. A mediação do conhecimento
como experiência é influenciada por
diferentes linguagens, bem como pelo
repertório cultural e emocional do
indivíduo.
Para Dewey (2004), experiência
é conhecimento, para Freire (1984) é a
consciência da experiência que
podemos
chamar conhecimento.
Eisner (2002) destaca da experiência
do mundo empírico sua dependência
de nosso sistema sensorial biológico,
que é a extensão de nosso sistema
nervoso, o qual Susane Langer (1980)
chama de “órgão da mente”.
duas fontes de
conhec
imentos historicamente
construídas pelo homem: a
sensibilidade (intuições representadas
no espaço e no tempo, através das
percepções e sentidos) e o
entendimento (produtor de conceitos).
Em outras palavras, o conhecimento
se verifica quando existe uma
í
ntima relação entre o sentir e o
pensar.
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
a concepção de sensibilidade como
uma “disposição elementar, num
permanente estado de excitabilidade
sensorial, como porta de entrada das
sensações” (OSTROWER, 1998, p.
. A mediação do conhecimento
como experiência é influenciada por
diferentes linguagens, bem como pelo
repertório cultural e emocional do
Para Dewey (2004), experiência
é conhecimento, para Freire (1984) é a
consciência da experiência que
chamar conhecimento.
Eisner (2002) destaca da experiência
do mundo empírico sua dependência
de nosso sistema sensorial biológico,
que é a extensão de nosso sistema
nervoso, o qual Susane Langer (1980)
chama de “órgão da mente”.
duas fontes de
imentos historicamente
construídas pelo homem: a
sensibilidade (intuições representadas
no espaço e no tempo, através das
percepções e sentidos) e o
entendimento (produtor de conceitos).
Em outras palavras, o conhecimento
se verifica quando existe uma
ntima relação entre o sentir e o
A respeito da estética e criação
de sentido, Marcos Villela Pereira
(1996, p. 85) desenvolve o que chama
de uma “tentativa de ressignificação
para o estudo sobre a estética do
cotidiano”. O autor busca resgatar uma
“diferença dentro da estética”, que ele
estabelece pelas designações de
“macroestética” e microestética”.
Esclarece, ainda, que não se trata de
designações de quantidade ou
extensão, mas “se referem à natureza
e à ordem de existencialização”.
Assim, para o
autor, a macroestética
refere-
se a “uma estética com E
maiúsculo que nasce no século XVIII,
como campo epistemológico
independente, como disciplina”. a
microestética “se refere ao modo como
cada indivíduo se organiza enquanto
subjetividade. É a ordem
processualidade dos “campos
interativos de forças vivas da
exterioridade ao perpassar o sujeito
em prática”. Refletindo sobre a
especificidade entre a macro e a
microestética, diz o autor: “assim, a
primeira é produto de uma
subjetividade que quer se i
como modelo hom
ogeneizante [por
exemplo, nos conceitos de belo, de
criatividade], enquanto a segunda é
241
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
A respeito da estética e criação
de sentido, Marcos Villela Pereira
(1996, p. 85) desenvolve o que chama
de uma “tentativa de ressignificação
para o estudo sobre a estética do
cotidiano”. O autor busca resgatar uma
“diferença dentro da estética”, que ele
estabelece pelas designações de
“macroestética” e microestética”.
Esclarece, ainda, que não se trata de
designações de quantidade ou
extensão, mas “se referem à natureza
e à ordem de existencialização”.
autor, a macroestética
se a “uma estética com E
maiúsculo que nasce no século XVIII,
como campo epistemológico
independente, como disciplina”. a
microestética “se refere ao modo como
cada indivíduo se organiza enquanto
subjetividade. É a ordem
da
processualidade dos “campos
interativos de forças vivas da
exterioridade ao perpassar o sujeito
em prática”. Refletindo sobre a
especificidade entre a macro e a
microestética, diz o autor: “assim, a
primeira é produto de uma
subjetividade que quer se i
nstituir
ogeneizante [por
exemplo, nos conceitos de belo, de
criatividade], enquanto a segunda é
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
processo de produção de
subjetividades”. Trata-
se, então, da
forma pela qual apreendemos o
mundo, ou seja, “o mundo toma
sentido para nós, de ac
ordo com a
maneira pela qual nos afeta e pela
qual nós o afetamos” (
PEREIRA,
p. 127)
Partindo-
se da ideia de
Alexander Baumgarten (1714
fundador da Estética (ciência do
conhecimento sensível), não outro
conhecimento a não ser “formações
m
apeando formações”. Do ponto de
vista dessa definição, não apenas
diferença entre arte e ciência como
também se faz Arte na física, na
química, da mesma forma que na
poesia. Dessa forma, pensar uma
estética equivale a pensar toda e
qualquer prática do h
omem. Há, no
entanto, polos de atração artísticos e
científicos. Em seu trabalho Estética, a
lógica da arte e do poema, o criador da
estética filosófica adverte que “as
representações sensíveis [...] devem
ser conhecidas a partir do discurso
sensitivo” (BA
UMGARTEN, 1973, p.
65).
As aparências das coisas do
mundo, isto é, suas formas, surgem
como expressivas e portadoras
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
processo de produção de
se, então, da
forma pela qual apreendemos o
mundo, ou seja, “o mundo toma
ordo com a
maneira pela qual nos afeta e pela
PEREIRA,
1996,
se da ideia de
Alexander Baumgarten (1714
-1762), o
fundador da Estética (ciência do
conhecimento sensível), não outro
conhecimento a não ser “formações
apeando formações”. Do ponto de
vista dessa definição, não apenas
diferença entre arte e ciência como
também se faz Arte na física, na
química, da mesma forma que na
poesia. Dessa forma, pensar uma
estética equivale a pensar toda e
omem. Há, no
entanto, polos de atração artísticos e
científicos. Em seu trabalho Estética, a
lógica da arte e do poema, o criador da
estética filosófica adverte que “as
representações sensíveis [...] devem
ser conhecidas a partir do discurso
UMGARTEN, 1973, p.
As aparências das coisas do
mundo, isto é, suas formas, surgem
como expressivas e portadoras
simbólicas de sentimentos humanos,
como capazes de espelhar e revelar
emoções, intensidades de vibração
diante da vastidão do real. Dessa
f
orma, podemos dizer que cada objeto,
cada percepção estética, é único, não
importando sua similitude com o
conjunto de seus congêneres. Sua
forma é particular, o que nos remete à
percepção pessoal.
Além da percepção do estímulo
visual, é importante conside
experiência estética proporciona, ao
defini-
la como aquela que permite ao
observador perceber, sentir e
experienciar uma obra de arte,
gerando uma ativação dos sistemas
sensório motor, emocional e cognitivo.
Assim, uma experiência estética pode
ser avaliada levando em consideração
a resposta emocional ao objeto
estético, com o prazer estético que a
imagem proporciona, ou somente
considerando-
se o julgamento estético
feito, mas relacionado com aspectos
cognitivos.
De qualquer forma, a beleza
perm
anece como ponto central das
discussões sobre experiências
estéticas. O entendimento das bases
neurais da percepção e da resposta à
beleza pode nos fornecer um insight
242
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
simbólicas de sentimentos humanos,
como capazes de espelhar e revelar
emoções, intensidades de vibração
diante da vastidão do real. Dessa
orma, podemos dizer que cada objeto,
cada percepção estética, é único, não
importando sua similitude com o
conjunto de seus congêneres. Sua
forma é particular, o que nos remete à
Além da percepção do estímulo
visual, é importante conside
rar o que a
experiência estética proporciona, ao
la como aquela que permite ao
observador perceber, sentir e
experienciar uma obra de arte,
gerando uma ativação dos sistemas
sensório motor, emocional e cognitivo.
Assim, uma experiência estética pode
ser avaliada levando em consideração
a resposta emocional ao objeto
estético, com o prazer estético que a
imagem proporciona, ou somente
se o julgamento estético
feito, mas relacionado com aspectos
De qualquer forma, a beleza
anece como ponto central das
discussões sobre experiências
estéticas. O entendimento das bases
neurais da percepção e da resposta à
beleza pode nos fornecer um insight
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
sobre a percepção e resposta à arte
visual em si.
Os estudos que emergem nessa
área ates
tam que prestar mais atenção
às propriedades visuais de expressões
plásticas aumenta a atividade em
áreas do córtex cerebral visual.
Julgamentos estéticos ativam partes
do córtex pré-
frontal relacionadas com
tomada de decisão e respostas com
relação ao pra
zer estético que a arte
proporciona, pois ativam áreas
cerebrais relacionadas com emoções
básicas e mecanismos relacionados
com resposta a estímulos ambientais
recompensadores. É importante notar
que essas áreas neurais relacionadas
com emoção e recompensa
ativadas automaticamente, mesmo
quando não se solicita às pessoas que
falem explicitamente se avaliam o que
estão vendo como bonito ou feio.
Segundo Eco (1988), a
estruturação da obra aberta indica a
maneira de expressar um problema
estético, é uma te
interpretativa que podemos seguir. A
função da arte aberta (imagem), como
metáfora epistemológica, oferece
como mediadora entre “a abstrata
categoria da metodologia científica e a
matéria viva de nossa sensibilidade;
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
sobre a percepção e resposta à arte
Os estudos que emergem nessa
tam que prestar mais atenção
às propriedades visuais de expressões
plásticas aumenta a atividade em
áreas do córtex cerebral visual.
Julgamentos estéticos ativam partes
frontal relacionadas com
tomada de decisão e respostas com
zer estético que a arte
proporciona, pois ativam áreas
cerebrais relacionadas com emoções
básicas e mecanismos relacionados
com resposta a estímulos ambientais
recompensadores. É importante notar
que essas áreas neurais relacionadas
com emoção e recompensa
são
ativadas automaticamente, mesmo
quando não se solicita às pessoas que
falem explicitamente se avaliam o que
estão vendo como bonito ou feio.
Segundo Eco (1988), a
estruturação da obra aberta indica a
maneira de expressar um problema
estético, é uma te
ndência
interpretativa que podemos seguir. A
função da arte aberta (imagem), como
metáfora epistemológica, oferece
-se
como mediadora entre “a abstrata
categoria da metodologia científica e a
matéria viva de nossa sensibilidade;
quase como uma espécie de es
transcendental que nos permite
compreender novos aspectos do
mundo” (ECO, 1988, p. 158).
Arte, estética e cultura estão
intrinsecamente relacionadas. A todo
momento, o ser humano relaciona
com a arte produzindo, criando,
apreciando ou
interpretando, o que
comprova que a arte faz parte da
subjetividade humana. A arte traz em
si uma codificação específica, pois é
construção não-
verbal e inter
entre sujeito e objeto, entre
conhecimento e sensações, entre
pensar, sentir, fazer e ref
A obra de arte nos obriga a
repensar o que temos por realidade,
fazendo-
nos perceber a possibilidade
concreta da inauguração de outras
realidades. A arte nos convence de
que o mundo em que vivemos não é
único mundo possível.
Assim, somamos e
multipl
icamos muitas sabedorias, pois
arte, homem e mundo são fios que
constroem a grande teia do porvir. Os
sentidos de conhecimento espelham e
movimentam a evolução e conjecturam
as forças do entendimento sensível
dos elementos bem como suas
variadas formas de
243
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
quase como uma espécie de es
quema
transcendental que nos permite
compreender novos aspectos do
mundo” (ECO, 1988, p. 158).
Arte, estética e cultura estão
intrinsecamente relacionadas. A todo
momento, o ser humano relaciona
-se
com a arte produzindo, criando,
interpretando, o que
comprova que a arte faz parte da
subjetividade humana. A arte traz em
si uma codificação específica, pois é
verbal e inter
-relação
entre sujeito e objeto, entre
conhecimento e sensações, entre
pensar, sentir, fazer e ref
letir.
A obra de arte nos obriga a
repensar o que temos por realidade,
nos perceber a possibilidade
concreta da inauguração de outras
realidades. A arte nos convence de
que o mundo em que vivemos não é
único mundo possível.
Assim, somamos e
icamos muitas sabedorias, pois
arte, homem e mundo são fios que
constroem a grande teia do porvir. Os
sentidos de conhecimento espelham e
movimentam a evolução e conjecturam
as forças do entendimento sensível
dos elementos bem como suas
variadas formas de
apresentação
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
descortinando-
se, assim, em novas
visões, do homem e do mundo.
A produção sensível e sua
relação com a existência e
experiências humanas geram um
conhecimento de natureza diverso
daquele que a ciência propõe. Assim,
na valorização e no desenvo
da sensibilidade haverá a possibilidade
de contribuir de forma inegável, na
criação de projetos que vislumbrem
estratégias expressivas com indivíduos
autores, sujeitos de criação e sentido.
Os paradigmas da pós
modernidade apontam para o diálogo
dos saberes, na interatividade
cotidiana de um mundo globalizado,
que mistura linguagens e culturas. Nas
palavras de Irina Bokova, Diretora
geral da UNESCO (2010, p. 12), “a
diversidade cultural e o diálogo entre
as culturas contribuem para o
surgimento de
um novo humanismo,
no qual se reconciliam o universal e o
local, e mediante o qual reaprendemos
a construir o mundo”.
A integração do saber global
com o saber local é uma meta a ser
alcançada dia a dia. A força de cada
espaço que se propõe à prática das
manifestações artísticas atinge o
propósito da UNESCO (2010) no
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
se, assim, em novas
visões, do homem e do mundo.
A produção sensível e sua
relação com a existência e
experiências humanas geram um
conhecimento de natureza diverso
daquele que a ciência propõe. Assim,
na valorização e no desenvo
lvimento
da sensibilidade haverá a possibilidade
de contribuir de forma inegável, na
criação de projetos que vislumbrem
estratégias expressivas com indivíduos
autores, sujeitos de criação e sentido.
Os paradigmas da pós
-
modernidade apontam para o diálogo
dos saberes, na interatividade
cotidiana de um mundo globalizado,
que mistura linguagens e culturas. Nas
palavras de Irina Bokova, Diretora
-
geral da UNESCO (2010, p. 12), “a
diversidade cultural e o diálogo entre
as culturas contribuem para o
um novo humanismo,
no qual se reconciliam o universal e o
local, e mediante o qual reaprendemos
A integração do saber global
com o saber local é uma meta a ser
alcançada dia a dia. A força de cada
espaço que se propõe à prática das
manifestações artísticas atinge o
propósito da UNESCO (2010) no
intuito de criar identidade e sentidos
praticando a universalização e o
reforço das identidades locais de cada
espaço e sua comunidade envolvente.
Incluir a Arte no currículo de
forma transve
rsal, interdisciplinar e
abrangente é uma proposta da
UNESCO (2005) para que atribua o
devido valor a uma ciência de grande
utilidade na formação integral e
sensível dos estudantes. Logo, a pós
modernidade pode acrescentar todas
as formas de estilo, gênero
movimentos e a arte contemporânea
torna-
se cada vez mais livre de seus
suportes, pois ao expandir
as mídias e as redes sociais,
inaugurando novas leituras e
experimentações no universo do
webespaço.
Dentre as oito competências
necessárias pa
ra a aprendizagem ao
longo da vida, referida também por
mecanismos de certificação e
validação como
Education & Training
2010 e
European Qualifications
Framework
(EQF) for Lifelong
Learning, lista-
se a expressão artística
e cultural. Sem arte e sem educaçã
pela arte, a expressão cultural dos
povos seria extremamente reduzida.
244
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
intuito de criar identidade e sentidos
praticando a universalização e o
reforço das identidades locais de cada
espaço e sua comunidade envolvente.
Incluir a Arte no currículo de
rsal, interdisciplinar e
abrangente é uma proposta da
UNESCO (2005) para que atribua o
devido valor a uma ciência de grande
utilidade na formação integral e
sensível dos estudantes. Logo, a pós
-
modernidade pode acrescentar todas
as formas de estilo, gênero
e
movimentos e a arte contemporânea
se cada vez mais livre de seus
suportes, pois ao expandir
-se, ocupa
as mídias e as redes sociais,
inaugurando novas leituras e
experimentações no universo do
Dentre as oito competências
ra a aprendizagem ao
longo da vida, referida também por
mecanismos de certificação e
Education & Training
European Qualifications
(EQF) for Lifelong
se a expressão artística
e cultural. Sem arte e sem educaçã
o
pela arte, a expressão cultural dos
povos seria extremamente reduzida.
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Segundo Fossatti, Hengemule e
Casagrande (2011, p. 79), a dimensão
estética, como a dimensão ética,
constitui o humano e, como tal, precisa
ser considerada nos processos
educacionai
s. Sua relevância está em
consonância à importância da
sensibilidade, do gosto e da diferença
como elementos centrais para a vida
das pessoas e das comunidades
humanas.
Paulo Freire (1984) afirma ser
essencial ao processo educativo o seu
caráter formador,
que vai além de
oferecer um treinamento puramente
técnico e se volta para a
democratização da cultura, a tomada
de consciência do ser humano como
agente autônomo, crítico e político.
O reconhecimento da dimensão
da arte no cotidiano universitário e na
fo
rmação do futuro profissional é
refletir sobre o problema do estético
como algo intrínseco ao ato de educar.
A sensibilidade e as emoções
concentram grande efetividade para a
orientação do agir e do transformar,
além da formação técnica, e, ao
mesmo tempo,
apontam outro
caminho, diverso daquele do
racionalismo clássico e dos
fundamentos puramente abstratos. A
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
Segundo Fossatti, Hengemule e
Casagrande (2011, p. 79), a dimensão
estética, como a dimensão ética,
constitui o humano e, como tal, precisa
ser considerada nos processos
s. Sua relevância está em
consonância à importância da
sensibilidade, do gosto e da diferença
como elementos centrais para a vida
das pessoas e das comunidades
Paulo Freire (1984) afirma ser
essencial ao processo educativo o seu
que vai além de
oferecer um treinamento puramente
técnico e se volta para a
democratização da cultura, a tomada
de consciência do ser humano como
agente autônomo, crítico e político.
O reconhecimento da dimensão
da arte no cotidiano universitário e na
rmação do futuro profissional é
refletir sobre o problema do estético
como algo intrínseco ao ato de educar.
A sensibilidade e as emoções
concentram grande efetividade para a
orientação do agir e do transformar,
além da formação técnica, e, ao
apontam outro
caminho, diverso daquele do
racionalismo clássico e dos
fundamentos puramente abstratos. A
estética demonstra que a educação
não é possível sem um ethos da
diferença e da pluralidade.
A efetividade da dimensão
estética para a formação human
ser verificada na possibilidade de
entendermos os processos de
subjetivação
de formação do
humano
como processos, também
estéticos. Ou seja, conceitos como
‘cuidado de si’, ‘estilística da
existência’ e ‘vida como obra de arte’
começam a fazer s
entido a partir da
assunção da singularidade, da
diferença e do particular como noções
inegociáveis do processo de
subjetivação do humano (FOSSATTI;
HENGEMULE; CASAGRANDE, 2011,
p. 80).
A Galeria de Arte La Salle como
espaço de ensino e aprendizagem
O
cleo de Arte e Cultura,
setor responsável pela Galeria, traz
como objetivos proporcionar subsídios
para ações vinculadas ao ensino,
pesquisa e extensão, promovendo e
apoiando ações de caráter
multidisciplinar de arte, lazer, cultura,
cidadania e ética. Alé
m do mais, com o
propósito de promover exposições e
245
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
estética demonstra que a educação
não é possível sem um ethos da
diferença e da pluralidade.
A efetividade da dimensão
estética para a formação human
a pode
ser verificada na possibilidade de
entendermos os processos de
de formação do
como processos, também
estéticos. Ou seja, conceitos como
‘cuidado de si’, ‘estilística da
existência’ e ‘vida como obra de arte’
entido a partir da
assunção da singularidade, da
diferença e do particular como noções
inegociáveis do processo de
subjetivação do humano (FOSSATTI;
HENGEMULE; CASAGRANDE, 2011,
A Galeria de Arte La Salle como
espaço de ensino e aprendizagem
cleo de Arte e Cultura,
setor responsável pela Galeria, traz
como objetivos proporcionar subsídios
para ações vinculadas ao ensino,
pesquisa e extensão, promovendo e
apoiando ações de caráter
multidisciplinar de arte, lazer, cultura,
m do mais, com o
propósito de promover exposições e
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
eventos culturais e artísticos
educam o olhar e os sentidos
visa consolidar o diálogo intercultural,
com a parceria de instituições sociais,
culturais e diplomáticas, buscando a
diversidade
na descoberta de novos
olhares.
Na Galeria, sua abordagem,
está construída a partir das ações e
inter-
relações sociais no ambiente
universitário, tendo o intuito de
promover a interação e a construção
de histórias de vida, onde os hábitos e
costumes, manifestações, expressões
e sentiment
os estão inseridos,
identificando cada indivíduo,
determinando o seu modo de viver, de
ser e de se expressar. Considerando a
Lei de Diretrizes sicas da Educação
Superior (1996), esta prioriza o
estímulo à criação cultural, do espírito
científico e do pen
samento reflexivo
(Capítulo IV, artigo 43, I), com o
objetivo de desenvolver o
entendimento do homem e do meio em
que vive. a Declaração Universal
sobre a Diversidade Cultural
(UNESCO, 2002), constata que a
cultura se encontra no centro dos
saberes cont
emporâneos sobre a
identidade, a coesão social e o
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
eventos culturais e artísticos
que
educam o olhar e os sentidos
- o NAC
visa consolidar o diálogo intercultural,
com a parceria de instituições sociais,
culturais e diplomáticas, buscando a
na descoberta de novos
Na Galeria, sua abordagem,
está construída a partir das ações e
relações sociais no ambiente
universitário, tendo o intuito de
promover a interação e a construção
de histórias de vida, onde os hábitos e
costumes, manifestações, expressões
os estão inseridos,
identificando cada indivíduo,
determinando o seu modo de viver, de
ser e de se expressar. Considerando a
Lei de Diretrizes sicas da Educação
Superior (1996), esta prioriza o
estímulo à criação cultural, do espírito
samento reflexivo
(Capítulo IV, artigo 43, I), com o
objetivo de desenvolver o
entendimento do homem e do meio em
que vive. a Declaração Universal
sobre a Diversidade Cultural
(UNESCO, 2002), constata que a
cultura se encontra no centro dos
emporâneos sobre a
identidade, a coesão social e o
desenvolvimento de uma economia
fundada no saber.
Dessa forma, podemos afirmar
que os direitos culturais são parte
integrante dos direitos humanos, que
são universais, indissociáveis e
independentes e que
Universidade promover o intercâmbio
cultural e o desenvolvimento da
capacidade criadora que alimentam a
vida em sociedade. O reconhecimento
da dimensão da arte no cotidiano
universitário e na formação do futuro
profissional é refletir sobre o p
do estético como algo intrínseco ao ato
de educar. A sensibilidade e as
emoções concentram grande
afetividade para a orientação do agir e
do transformar, além da formação
técnica e, ao mesmo tempo, apontam
outro caminho, diverso daquele do
racional
ismo clássico e dos
fundamentos puramente abstratos. A
estética demonstra que a Educação
não é possível sem um
diferença e da pluralidade.
Os elementos do ambiente da
Galeria de Arte, incorporada ao Núcleo
de Arte e Cultura do Centro
Universitário
La Salle constituem
objetos de aprendizagem e pesquisa
que se descortinam mais ampla e
246
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
desenvolvimento de uma economia
Dessa forma, podemos afirmar
que os direitos culturais são parte
integrante dos direitos humanos, que
são universais, indissociáveis e
independentes e que
é missão da
Universidade promover o intercâmbio
cultural e o desenvolvimento da
capacidade criadora que alimentam a
vida em sociedade. O reconhecimento
da dimensão da arte no cotidiano
universitário e na formação do futuro
profissional é refletir sobre o p
roblema
do estético como algo intrínseco ao ato
de educar. A sensibilidade e as
emoções concentram grande
afetividade para a orientação do agir e
do transformar, além da formação
técnica e, ao mesmo tempo, apontam
outro caminho, diverso daquele do
ismo clássico e dos
fundamentos puramente abstratos. A
estética demonstra que a Educação
não é possível sem um
ethos da
diferença e da pluralidade.
Os elementos do ambiente da
Galeria de Arte, incorporada ao Núcleo
de Arte e Cultura do Centro
La Salle constituem
objetos de aprendizagem e pesquisa
que se descortinam mais ampla e
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
profundamente à luz da visão artística
e das inspirações imagéticas. Por
intermédio da arte, da imaginação e da
criatividade, pode-
se reconstruir o real
e, consequentem
ente, crenças, ideias,
expectativas, o que auxilia na
construção do conhecimento. Assim, a
relação entre arte, cultura, imaginação,
sensibilidade e conhecimento implica
os conceitos de arte e expressões
imaginárias como vetores significativos
de descoberta
s que aproximam sujeito
e objeto do conhecimento com
experiências estéticas e sensíveis do
“ir e vir” no caminho do corredor
cultural, Galeria de Arte.
A emergência do ser poético e
da consciência sensível não é, a priori,
anterior à experiência estética;
ser e consciência
fazem parte
dessa experiência, que associa
estranhamento e indagações,
percepções sensíveis e imaginação
criadora, realidade e transcendência.
Freire nos diz que:
a partir das relações do homem com
a realidade, resultantes de e
ela e de estar nela, pelos atos de
criação, recriação e decisão, ele vai
dinamizando seu mundo. Vai
dominando a realidade. Vai
humanizando-
a. Vai acrescentando a
ela algo que ele mesmo é fazedor
(FREIRE, 2006, p.
51).
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
profundamente à luz da visão artística
e das inspirações imagéticas. Por
intermédio da arte, da imaginação e da
se reconstruir o real
ente, crenças, ideias,
expectativas, o que auxilia na
construção do conhecimento. Assim, a
relação entre arte, cultura, imaginação,
sensibilidade e conhecimento implica
os conceitos de arte e expressões
imaginárias como vetores significativos
s que aproximam sujeito
e objeto do conhecimento com
experiências estéticas e sensíveis do
“ir e vir” no caminho do corredor
A emergência do ser poético e
da consciência sensível não é, a priori,
anterior à experiência estética;
ambos
fazem parte
dessa experiência, que associa
estranhamento e indagações,
percepções sensíveis e imaginação
criadora, realidade e transcendência.
a partir das relações do homem com
a realidade, resultantes de e
star com
ela e de estar nela, pelos atos de
criação, recriação e decisão, ele vai
dinamizando seu mundo. Vai
dominando a realidade. Vai
a. Vai acrescentando a
ela algo que ele mesmo é fazedor
51).
No ano de 2019, a Galeria La
Salle realizou a exposição Almas do
Bem, que contou com a participação
da artista plástica Raquel dua e de
seis alunos do projeto social Moleques
do Bem, desenvolvido pela autora.
Esse projeto, acontecia aos sábados
no Projeto Desabrochar
pa
rceria entre o Setor de Ação
Comunitária e Pastoral (SEAC) do
Unilasalle-
RJ e o Centro Social
Vicenta Maria
no bairro Santa Rosa,
em Niterói.
O Projeto social Moleques do
Bem foi apresentado primeiramente na
Obra Social Salesiana em novembro
de 2018, te
ndo como foco de
atendimento crianças e adolescentes
entre 8 e 13 anos. Gerou como
resultados um livro didático do
Moleque de e seus amigos de 22
páginas, uma empresa fictícia e a
exposição na Galeria La Salle. A
mostra trouxe três séries: duas da
artis
ta Raquel Pádua (Explosão de
Sentimentos e Liberdade da Alma) e a
série Almas do Bem, que apresentou o
quadro feito pelos alunos, além de
outras artes visuais, do livro com os
personagens e a turma de 14 amigos
que viraram bonecos que as crianças
desenvolv
eram na Oficina.
247
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
No ano de 2019, a Galeria La
Salle realizou a exposição Almas do
Bem, que contou com a participação
da artista plástica Raquel dua e de
seis alunos do projeto social Moleques
do Bem, desenvolvido pela autora.
Esse projeto, acontecia aos sábados
no Projeto Desabrochar
- que é uma
rceria entre o Setor de Ação
Comunitária e Pastoral (SEAC) do
RJ e o Centro Social
no bairro Santa Rosa,
O Projeto social Moleques do
Bem foi apresentado primeiramente na
Obra Social Salesiana em novembro
ndo como foco de
atendimento crianças e adolescentes
entre 8 e 13 anos. Gerou como
resultados um livro didático do
Moleque de e seus amigos de 22
páginas, uma empresa fictícia e a
exposição na Galeria La Salle. A
mostra trouxe três séries: duas da
ta Raquel Pádua (Explosão de
Sentimentos e Liberdade da Alma) e a
série Almas do Bem, que apresentou o
quadro feito pelos alunos, além de
outras artes visuais, do livro com os
personagens e a turma de 14 amigos
que viraram bonecos que as crianças
eram na Oficina.
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
A exposição aconteceu como
encerramento de um longo projeto de
formação cultural e artística,
desenvolvida com esses jovens. Após
aulas de arte abstrata e técnicas de
pintura, os jovens foram apresentados
a um desafio, produzirem arte
f
orma intencional para participarem de
uma exposição na Galeria La Salle. O
entusiasmo e a auto estima foram
notórios. E todos d
o meio social
desses meninos foram atingidos. Os
familiares vieram a exposição, assim
como professores e colegas.
Percebeu-se ass
im como a produção
artística, a exposição e o projeto em si
m potencial para transformar a
autoestima e a vida dos envolvidos.
Com o objetivo de oferecer um
espaço/tempo repleto de intenções,
ainda que inconsciente, como o
Núcleo de Arte e Cultura/Galer
Arte, é incitar as faculdades simbólicas
para a busca do profissional integral,
cujo pensamento não será comandado
pela opinião alheia, muito menos por
editoriais de jornais. Seria o início de
pensarmos uma educação na qual
obter o diploma e alcançar
emprego não seria o principal, mas,
sim, compreender o que se passa à
nossa volta e desenvolver um sentido
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
A exposição aconteceu como
encerramento de um longo projeto de
formação cultural e artística,
desenvolvida com esses jovens. Após
aulas de arte abstrata e técnicas de
pintura, os jovens foram apresentados
a um desafio, produzirem arte
de
orma intencional para participarem de
uma exposição na Galeria La Salle. O
entusiasmo e a auto estima foram
o meio social
desses meninos foram atingidos. Os
familiares vieram a exposição, assim
como professores e colegas.
im como a produção
artística, a exposição e o projeto em si
m potencial para transformar a
autoestima e a vida dos envolvidos.
Com o objetivo de oferecer um
espaço/tempo repleto de intenções,
ainda que inconsciente, como o
Núcleo de Arte e Cultura/Galer
ia de
Arte, é incitar as faculdades simbólicas
para a busca do profissional integral,
cujo pensamento não será comandado
pela opinião alheia, muito menos por
editoriais de jornais. Seria o início de
pensarmos uma educação na qual
obter o diploma e alcançar
um
emprego não seria o principal, mas,
sim, compreender o que se passa à
nossa volta e desenvolver um sentido
pessoal do que é a experiência: de
olhar para sentir, sentir para perceber
e perceber para transformar.
As mediações, no processo de
fruição, aux
iliam a ultrapassar as
fronteiras das percepções superficiais.
Convocam, não somente as pessoas,
mas os corpos em suas inteirezas,
complexidades e sociabilidades. O
sujeito ao vivenciar as técnicas,
estratégias e exercícios propostos
pelos mecanismos de me
caminho da Galeria, que vão muito
além da informação, envolve
dedica-
se à apreciação da obra
desenvolvendo as suas
potencialidades cognitivas, sensíveis,
críticas e estéticas.
Rose Hikiji (2005), analisou a
performance de jovens músicos,
atr
avés do projeto Guri, que conta com
aulas de música para jovens
considerados de baixa renda e alta
vulnerabilidade social. Ao
compreender o processo da
performance com os alunos a autora
diz que:
A performance é central em projetos
que, como o Guri, têm c
objetivos principais a intervenção
social por meio da música. Ela torna
visíveis atores e instituição. É palco
de um amplo
jogo de espelhos,
de exibição de identidade e
construção de autoimagens. É
espaço de
248
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
pessoal do que é a experiência: de
olhar para sentir, sentir para perceber
e perceber para transformar.
As mediações, no processo de
iliam a ultrapassar as
fronteiras das percepções superficiais.
Convocam, não somente as pessoas,
mas os corpos em suas inteirezas,
complexidades e sociabilidades. O
sujeito ao vivenciar as técnicas,
estratégias e exercícios propostos
pelos mecanismos de me
diação no
caminho da Galeria, que vão muito
além da informação, envolve
-se e
se à apreciação da obra
desenvolvendo as suas
potencialidades cognitivas, sensíveis,
Rose Hikiji (2005), analisou a
performance de jovens músicos,
avés do projeto Guri, que conta com
aulas de música para jovens
considerados de baixa renda e alta
vulnerabilidade social. Ao
compreender o processo da
performance com os alunos a autora
A performance é central em projetos
que, como o Guri, têm c
omo um dos
objetivos principais a intervenção
social por meio da música. Ela torna
visíveis atores e instituição. É palco
jogo de espelhos,
lugar
de exibição de identidade e
construção de autoimagens. É
espaço de
transformação. É
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
concebida como
auge do processo
pedagógico, locus
de exibição do
que foi aprendido, ensaiado,
incorporado. É oportunidade de
conhecer novos lugares, pessoas, é
“saída para o mundo”. (HIKIJI, 2005,
p. 158)
Compreendo que a performance
envolvida em projetos sociais, está
vinculada a diversos fatores e que a
formação dos beneficiários em áreas
consideradas mais carentes, criam
uma noção de pertencimento e
reconhecimento através da cultura. A
partir da criação desses projetos em
áreas consideradas de risco na cidade,
percebe-
se uma relação entre a
ocupação do tempo ocioso de jovens,
com a ideia de afastamento da
criminalidade e seu ambiente.
Tais pensamentos têm como
princípio a noção de que o tempo
“ocioso” é um
tempo perigoso.
preciso, afirma-
se, ocupar o tempo.
Fato cur
ioso é que tal necessidade
seja colocada em contextos muito
diversos: na Febem, na periferia de
São Paulo ou de outras capitais, nos
centros urbanos em geral, inclusive
entre famílias de classe média ou
alta. O “perigo” do tempo livre une
crianças e jovens
separados pela
desigualdade social e cultural ímpar
em nosso país. (HIKIJI, 2006, p. 155)
Sovik (2014), pontua que o
surgimento de projetos sociais no Rio
de Janeiro, aparecem com força nos
anos 1990, devido ao processo de
democratização governamental
in
stalado, o qual faz a violência policial
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
auge do processo
de exibição do
que foi aprendido, ensaiado,
incorporado. É oportunidade de
conhecer novos lugares, pessoas, é
“saída para o mundo”. (HIKIJI, 2005,
Compreendo que a performance
envolvida em projetos sociais, está
vinculada a diversos fatores e que a
formação dos beneficiários em áreas
consideradas mais carentes, criam
uma noção de pertencimento e
reconhecimento através da cultura. A
partir da criação desses projetos em
áreas consideradas de risco na cidade,
se uma relação entre a
ocupação do tempo ocioso de jovens,
com a ideia de afastamento da
criminalidade e seu ambiente.
Tais pensamentos têm como
princípio a noção de que o tempo
tempo perigoso.
É
se, ocupar o tempo.
ioso é que tal necessidade
seja colocada em contextos muito
diversos: na Febem, na periferia de
São Paulo ou de outras capitais, nos
centros urbanos em geral, inclusive
entre famílias de classe média ou
alta. O “perigo” do tempo livre une
separados pela
desigualdade social e cultural ímpar
em nosso país. (HIKIJI, 2006, p. 155)
Sovik (2014), pontua que o
surgimento de projetos sociais no Rio
de Janeiro, aparecem com força nos
anos 1990, devido ao processo de
democratização governamental
stalado, o qual faz a violência policial
contra a população pobre e negra
entrar em pauta. Além disso, a autora
apresenta que a partir de marcos
violentos como a chacinas da
Candelária e de Vigário Geral, levaram
à fundação da Casa da Paz, do Viva
Rio, e d
o AfroReggae.
O impacto dos projetos sobre a cena
pública nacional vem, em parte, da
reconhecida relação entre
autorrepresentação e capacidade de
ação. Os depoimentos
entusiasmados são muitos, de
participantes, quadros e lideranças
desses projetos, e fazem
autoestima pode não ser suficiente,
mas é condição necessária para “os
de baixo” reconhecerem a própria
capacidade e sentirem a liberdade
de agir para mudar as relações
sociais. A experimentação com
novas narrativas sobre si é
fundamental para
mundo, para “entrar em cena”, como
disse certa vez o teatrólogo e diretor
Paul Heritage, experiente
protagonista da cena de projetos
socioculturais no Brasil e no Reino
Unido. (SOVIK, 2014, p. 174)
Palavras como
autorrepresentação e aut
cruciais na abordagem de projetos
sociais. Ou seja, o objetivo principal de
um projeto social, não é apenas formar
esse indivíduo em uma habilidade
técnica ou artística, mas sim trabalhar
e abordar também essas noções
perante seus alunos e fre
Observando a relevância de
oferecer espaços lúdicos e formativos
no tempo livre, o Projeto Desabrochar
249
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
contra a população pobre e negra
entrar em pauta. Além disso, a autora
apresenta que a partir de marcos
violentos como a chacinas da
Candelária e de Vigário Geral, levaram
à fundação da Casa da Paz, do Viva
o AfroReggae.
O impacto dos projetos sobre a cena
pública nacional vem, em parte, da
reconhecida relação entre
autorrepresentação e capacidade de
ação. Os depoimentos
entusiasmados são muitos, de
participantes, quadros e lideranças
desses projetos, e fazem
sentido. A
autoestima pode não ser suficiente,
mas é condição necessária para “os
de baixo” reconhecerem a própria
capacidade e sentirem a liberdade
de agir para mudar as relações
sociais. A experimentação com
novas narrativas sobre si é
fundamental para
abrir um espaço no
mundo, para “entrar em cena”, como
disse certa vez o teatrólogo e diretor
Paul Heritage, experiente
protagonista da cena de projetos
socioculturais no Brasil e no Reino
Unido. (SOVIK, 2014, p. 174)
Palavras como
autorrepresentação e aut
oestima, são
cruciais na abordagem de projetos
sociais. Ou seja, o objetivo principal de
um projeto social, não é apenas formar
esse indivíduo em uma habilidade
técnica ou artística, mas sim trabalhar
e abordar também essas noções
perante seus alunos e fre
quentadores.
Observando a relevância de
oferecer espaços lúdicos e formativos
no tempo livre, o Projeto Desabrochar
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
ocupa o final de semana, quando
menos projetos estão disponíveis para
atender a
essas crianças e
adolescentes. Nesse sentido, o
trabalho voluntário é a última peça a
ser encaixada nesse cenário. Com o
apoio de iniciativas voluntárias como o
‘Moleques de Bem”, o projeto oferece
diferentes oportunidades de
aprendizado.
No caso do “Mole
ques de Bem”,
os talentos da voluntária foram
colocados à
disposição para estimular
novos talentos e possibilidades no
campo das artes plásticas. O estímulo
a ampliação do repertório cultural
desses beneficiários é objetivo
específico em diversas atividade
vão se construindo no projeto.
Em relação ao tema cultura,
este tem adquirido um espaço
importante nos debates da sociedade
contemporânea
, sendo este um
conceito com múltiplos sentidos e
disputas. No meio acadêmico deixou
de ser apenas assunto das ci
sociais, ganhando atenção também
em outras áreas de conhecimento. A
cultura, construída a partir das ações
e inter-
relações sociais no ambiente
universitário tem o intuito de promover
a interação e a construção de
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
ocupa o final de semana, quando
menos projetos estão disponíveis para
essas crianças e
adolescentes. Nesse sentido, o
trabalho voluntário é a última peça a
ser encaixada nesse cenário. Com o
apoio de iniciativas voluntárias como o
‘Moleques de Bem”, o projeto oferece
diferentes oportunidades de
ques de Bem”,
os talentos da voluntária foram
disposição para estimular
novos talentos e possibilidades no
campo das artes plásticas. O estímulo
a ampliação do repertório cultural
desses beneficiários é objetivo
específico em diversas atividade
s que
vão se construindo no projeto.
Em relação ao tema cultura,
este tem adquirido um espaço
importante nos debates da sociedade
, sendo este um
conceito com múltiplos sentidos e
disputas. No meio acadêmico deixou
de ser apenas assunto das ci
ências
sociais, ganhando atenção também
em outras áreas de conhecimento. A
cultura, construída a partir das ações
relações sociais no ambiente
universitário tem o intuito de promover
a interação e a construção de
histórias de vida, onde os háb
costumes, manifestações, expressões
e sentimentos estão inseridos,
identificando cada indivíduo,
determinando o seu modo de viver, de
ser e de se expressar. Este ao longo
dos anos ganhou múltiplos sentidos,
podendo ser apontado como
característico
deste conceito, o
interesse multidisciplinar de diversas
áreas de estudo.
Clifford Geertz (2008),
considera a cultura como redes de
significação em que a humanidade
está envolta. Raymond Williams
(2000), entende a cultura como o
processo significante atra
uma ordem social é comunicada,
reproduzida, experimentada e
explorada, além disso, para o autor, o
termo contém em si mesmo uma
tensão entre produzir e ser produzido.
Diante disto, podemos compreender a
cultura como processos sociais, nos
quai
s acontecem embates e
negociação, em que sentidos e valores
são construídos, atribuídos,
vivenciados socialmente, sendo que os
sentidos e significados não estão
dados, são constantemente disputados
(EAGLETON, 2003).
250
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
histórias de vida, onde os háb
itos e
costumes, manifestações, expressões
e sentimentos estão inseridos,
identificando cada indivíduo,
determinando o seu modo de viver, de
ser e de se expressar. Este ao longo
dos anos ganhou múltiplos sentidos,
podendo ser apontado como
deste conceito, o
interesse multidisciplinar de diversas
Clifford Geertz (2008),
considera a cultura como redes de
significação em que a humanidade
está envolta. Raymond Williams
(2000), entende a cultura como o
processo significante atra
vés do qual,
uma ordem social é comunicada,
reproduzida, experimentada e
explorada, além disso, para o autor, o
termo contém em si mesmo uma
tensão entre produzir e ser produzido.
Diante disto, podemos compreender a
cultura como processos sociais, nos
s acontecem embates e
negociação, em que sentidos e valores
são construídos, atribuídos,
vivenciados socialmente, sendo que os
sentidos e significados não estão
dados, são constantemente disputados
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Para Tylor (2009, p.
ou Ci
vilização, tomada em seu mais
amplo sentido etnográfico, é aquele
todo complexo que inclui
conhecimento, crença, arte, moral, lei,
costume e quaisquer outras
capacidades e hábitos adquiridos pelo
homem na condição de membro da
sociedade”. Já o conceito de
Iluminismo, fundamentava
hegemonia de grupos dominantes a
partir da ideia de racionalidade. O
sentido antropológico
que assume
que todas as sociedades e grupos
produtores de Cultura
sentido Iluminista
que afirma que
existem
sociedades ou grupos mais
cultos que outros
se equiparam ao
pensar a Cultura como uma unidade
que se constitui por meio de confronto,
na negociação e na imposição de uns
e outros.
Além do mais, a concepção de
cultura está sempre em disputa, sem
perder se
u lugar característico, e
principalmente por ocupar um lugar
central no mundo contemporâneo.
Para Hall (1997), a cultura assume
uma função de centralidade, pois,
apesar de nem tudo se reduzir a
cultura, tudo é atravessado por ela,
que cultura é produção
de sentido.
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
69) “Cultura
vilização, tomada em seu mais
amplo sentido etnográfico, é aquele
todo complexo que inclui
conhecimento, crença, arte, moral, lei,
costume e quaisquer outras
capacidades e hábitos adquiridos pelo
homem na condição de membro da
sociedade”. Já o conceito de
cultura no
Iluminismo, fundamentava
-se na
hegemonia de grupos dominantes a
partir da ideia de racionalidade. O
que assume
que todas as sociedades e grupos
quanto o
que afirma que
sociedades ou grupos mais
se equiparam ao
pensar a Cultura como uma unidade
que se constitui por meio de confronto,
na negociação e na imposição de uns
Além do mais, a concepção de
cultura está sempre em disputa, sem
u lugar característico, e
principalmente por ocupar um lugar
central no mundo contemporâneo.
Para Hall (1997), a cultura assume
uma função de centralidade, pois,
apesar de nem tudo se reduzir a
cultura, tudo é atravessado por ela,
de sentido.
Segundo Hall (2016), a
“representação é uma parte essencial
do processo pelo qual os significados
são produzidos e compartilhados entre
os membros de uma cultura.
Representar envolve o uso da
linguagem, de signos e imagens que
significam ou re
presentam objetos”
(HALL, 2016, p. 31). Além disso, para
o autor, é através da representação
que trazemos sentido às coisas, o que
faz com que se tenha a possibilidade
de ter uma noção da nossa própria
identidade, e também, esta ideia é
constantemente reel
aborada conforme
o período em que vivemos, as nossas
experiências e também pela interação
social, sendo através da concepção
desses sentidos que vão ser reguladas
as nossas práticas e condutas no
grupo em que vivemos. Através da
linguagem, esses sentidos s
e passados, podendo ser dos mais
variados tipos, como a escrita, a fala,
imagens ou objetos, linguagem
corporal e também a música.
A forma ou a interpretação de
uma obra é embasada numa teia de
conceitos que foram criados na história
individual.
Por sensibilidade,
entendemos o filtro da percepção. Pela
251
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
Segundo Hall (2016), a
“representação é uma parte essencial
do processo pelo qual os significados
são produzidos e compartilhados entre
os membros de uma cultura.
Representar envolve o uso da
linguagem, de signos e imagens que
presentam objetos”
(HALL, 2016, p. 31). Além disso, para
o autor, é através da representação
que trazemos sentido às coisas, o que
faz com que se tenha a possibilidade
de ter uma noção da nossa própria
identidade, e também, esta ideia é
aborada conforme
o período em que vivemos, as nossas
experiências e também pela interação
social, sendo através da concepção
desses sentidos que vão ser reguladas
as nossas práticas e condutas no
grupo em que vivemos. Através da
linguagem, esses sentidos s
ão criados
e passados, podendo ser dos mais
variados tipos, como a escrita, a fala,
imagens ou objetos, linguagem
corporal e também a música.
A forma ou a interpretação de
uma obra é embasada numa teia de
conceitos que foram criados na história
Por sensibilidade,
entendemos o filtro da percepção. Pela
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
teia, entendemos a construção do
conhecimento.
Nas palavras de Prigogine
(1996, p. 26):
Atualmente, o mundo que vemos
fora de nós e o mundo que vemos
dentro de nós estão se convergindo.
Essa conver
gência é, talvez, um dos
eventos culturais mais importantes
da nossa era. Onde o mundo interior
e o mundo exterior se tocam, se
encontra o centro da alma.
A partir do pensamento de
Prigogine (1996), podemos considerar
que a arte em um ambiente acadêmic
seja algo de significativa importância,
considerando a participação da
comunidade acadêmica, como
fruidores (sujeitos que sentem,
percebem e experienciam as
diferentes formas de expressão
artística), que estimulam a emoção e a
construção do conhecimento.
Considerações finais
Articular e promover a interface
de diálogo entre educação, arte e
cultura significa estabelecer objetivos,
ações e metas, considerando a sua
relação com as manifestações,
expressões, produções artísticas e
culturais. Se a educação f
orma pelo e
para o diálogo, ela pode e deve ser
continuamente enriquecida por outros
campos de saberes, por diferentes
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
teia, entendemos a construção do
Nas palavras de Prigogine
Atualmente, o mundo que vemos
fora de nós e o mundo que vemos
dentro de nós estão se convergindo.
gência é, talvez, um dos
eventos culturais mais importantes
da nossa era. Onde o mundo interior
e o mundo exterior se tocam, se
encontra o centro da alma.
A partir do pensamento de
Prigogine (1996), podemos considerar
que a arte em um ambiente acadêmic
o
seja algo de significativa importância,
considerando a participação da
comunidade acadêmica, como
fruidores (sujeitos que sentem,
percebem e experienciam as
diferentes formas de expressão
artística), que estimulam a emoção e a
construção do conhecimento.
Articular e promover a interface
de diálogo entre educação, arte e
cultura significa estabelecer objetivos,
ações e metas, considerando a sua
relação com as manifestações,
expressões, produções artísticas e
orma pelo e
para o diálogo, ela pode e deve ser
continuamente enriquecida por outros
campos de saberes, por diferentes
tradições culturais, interculturais, artes
e inovações.
Neste trabalho, apresentamos
uma experiência que aliou a arte e a
educação. Os re
sultados ressaltam a
importância do espaço da Galeria La
Salle, em uma Universidade, ao
estimular de forma sensorial e reflexiva
a vivência da diversidade cultural,
promovendo educação voltada para os
direitos humanos.
A partir do presente artigo
compreen
demos que é central a
inclusão de experiências estéticas
diversificadas como elementos de
plasticidade e visibilidade no cotidiano
acadêmico. Tais experiências
requerem a educação do olhar e do
sentir, do perceber, do criar e do
transformar e podem ser efe
mediante o contato com diferentes
formas de expressão, bem como no
desenvolvimento do gosto musical e
na apreciação da cultura popular e
erudita. Possibilitar que a cultura faça
parte do cotidiano da universidade,
utilizando concepções do imaginári
habitual, propicia a criação de relações
representativas, pois a visibilidade
permite uma apreensão significativa
dos sentidos. Ao ressignificarmos o
conhecimento, envolvemos,
252
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
tradições culturais, interculturais, artes
Neste trabalho, apresentamos
uma experiência que aliou a arte e a
sultados ressaltam a
importância do espaço da Galeria La
Salle, em uma Universidade, ao
estimular de forma sensorial e reflexiva
a vivência da diversidade cultural,
promovendo educação voltada para os
A partir do presente artigo
demos que é central a
inclusão de experiências estéticas
diversificadas como elementos de
plasticidade e visibilidade no cotidiano
acadêmico. Tais experiências
requerem a educação do olhar e do
sentir, do perceber, do criar e do
transformar e podem ser efe
tivadas
mediante o contato com diferentes
formas de expressão, bem como no
desenvolvimento do gosto musical e
na apreciação da cultura popular e
erudita. Possibilitar que a cultura faça
parte do cotidiano da universidade,
utilizando concepções do imaginári
o
habitual, propicia a criação de relações
representativas, pois a visibilidade
permite uma apreensão significativa
dos sentidos. Ao ressignificarmos o
conhecimento, envolvemos,
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
necessariamente, a criatividade e a
sensibilidade, e, assim, aproximamos
a art
e da educação e,
consequentemente, da vida.
Referências bibliográficas
BAUMGARTEN, Alexander.
lógica da arte e do poema. Coletânea
de textos extraídos de Johann Cristian
Kleyb de 1750. Petrópolis: Vozes,
1993.
BRASIL. Lei 9.394, de 20 de
dezembro de 1996
. Lei de diretrizes e
bases da educação nacional.
1996.
DEWEY, John.
Experiencia y
educación.
Madrid: Biblioteca Nueva,
2004.
DUBORGEL, Bruno.
Imaginário e
pedagogia.
Lisboa: Instituto Piaget,
1995.
EAGLETON, Terry.
A ideia de cul
Lisboa: Temas e Debates, 2003.
ECO, Umberto.
Obra aberta.
Paulo: Perspectiva, 1988.
EISNER, Elliot W.
The arts the creation
of mind.
New Haven: Yale University
Press, 2002.
FISCHER, Ernst.
A necessidade da
Arte.
Rio de Janeiro: Guanabara,
1987.
FOSSATTI, Paulo; HENGEMULE,
Edgard; CASAGRANDE, Cledes.
(Orgs.).
Ensinar a bem viver.
Editora Unilasalle, 2011.
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a
liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
7ª ed. 1984.
FREIRE, Paulo.
Educação como
prática da liberdade.
São Paulo: Paz e
Terra, 2006.
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
necessariamente, a criatividade e a
sensibilidade, e, assim, aproximamos
e da educação e,
consequentemente, da vida.
Referências bibliográficas
BAUMGARTEN, Alexander.
Estética:a
lógica da arte e do poema. Coletânea
de textos extraídos de Johann Cristian
Kleyb de 1750. Petrópolis: Vozes,
BRASIL. Lei 9.394, de 20 de
. Lei de diretrizes e
bases da educação nacional.
Brasília:
Experiencia y
Madrid: Biblioteca Nueva,
Imaginário e
Lisboa: Instituto Piaget,
A ideia de cul
tura.
Lisboa: Temas e Debates, 2003.
Obra aberta.
São
The arts the creation
New Haven: Yale University
A necessidade da
Rio de Janeiro: Guanabara,
FOSSATTI, Paulo; HENGEMULE,
Edgard; CASAGRANDE, Cledes.
Ensinar a bem viver.
Canoas:
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a
liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
Educação como
São Paulo: Paz e
FREIRE. Paulo.
autonomia
: saberes necessários à
prática educativa. São Paulo: Paz e
Terra, 1996.
GEERTZ, Clifford.
A interpretação das
culturas.
Rio de Janeiro, LCT, 2008.
HALL, Stuart.
A centralidade da
cultura:
notas sobre as revoluções
culturais do nosso tempo.
Realidade
, Porto Alegre, v. 22, n. 2,
jul./dez. 1997.
HALL, Stuart.
representação. PUC-
Rio: Apicuri,
2016.
HIKIJI, Rose Satiko Gitirana.
Etnografia da performance musica
identidade, alteridade e tra
Horiz. antropol.,
Porto Alegre, v. 11,
24, p. 155-
184, dez. 2005
em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=
sci_arttext&pid=S0104
71832005000200008&lng=pt&nrm=iso.
HIKIJI, Rose Satiko Gitirana. sica
para matar o tempo intervalo,
suspensão e imersão
Janeiro, v. 12, n. 1, p. 151
2006. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=
sci_arttext&pid=S0104
93132006000100006&lng=pt&nrm=iso.
LANGER, Susane.
forma.
São Paulo: Perspectiva, 1980.
MAFFESOLI, Michel.
aparências.
Rio de Janeiro: Vozes,
1996.
OSTROWER, Fayga.
processos de criação.
Vozes, 1998.
PARLAMENTO EUROPEU.
da União Europeia.
2006/962
. Competências essenciais
para a aprendizagem ao longo da vida.
2006.
Disponível em:
253
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
FREIRE. Paulo.
Pedagogia da
: saberes necessários à
prática educativa. São Paulo: Paz e
A interpretação das
Rio de Janeiro, LCT, 2008.
A centralidade da
notas sobre as revoluções
culturais do nosso tempo.
Educação e
, Porto Alegre, v. 22, n. 2,
HALL, Stuart.
Cultura e
Rio: Apicuri,
HIKIJI, Rose Satiko Gitirana.
Etnografia da performance musica
l:
identidade, alteridade e tra
nsformação.
Porto Alegre, v. 11,
n.
184, dez. 2005
. Disponível
http://www.scielo.br/scielo.php?script=
sci_arttext&pid=S0104
-
71832005000200008&lng=pt&nrm=iso.
HIKIJI, Rose Satiko Gitirana. sica
para matar o tempo intervalo,
suspensão e imersão
. Mana, Rio de
Janeiro, v. 12, n. 1, p. 151
-178, abr.
2006. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=
sci_arttext&pid=S0104
-
93132006000100006&lng=pt&nrm=iso.
LANGER, Susane.
Sentimento e
São Paulo: Perspectiva, 1980.
MAFFESOLI, Michel.
No fundo das
Rio de Janeiro: Vozes,
OSTROWER, Fayga.
Criatividade e
processos de criação.
Rio de Janeiro:
PARLAMENTO EUROPEU.
Conselho
da União Europeia.
Recomendação
. Competências essenciais
para a aprendizagem ao longo da vida.
Disponível em:
http://eur-
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
A. Cultura, arte e estética: uma análise da
educação da sensibilidade a
partir de uma exposição. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
lex.europa.eu/JOHtml.do?uri=OJ:C:20
07:287:SOM:pt:HTML. Acesso em: 12
jul. 2013.
PEREIRA, Marcos Villela.
professoralidade:
um estudo
interdisciplinar sobre a subjetividade
do professor. São Paulo: PUCSP,
1996. Tese (Doutorado em Educação),
PPG Educação
Supervisão e
Currículo, 1996.
PRIGOGINE, Ilya.
O fim das certezas.
São Paulo: Editora Unesp, 1996.
READ, Herbert. A educaç
ão pela arte.
São Paulo: Martins Pontes, 1982.
SCHILLER. Friedrich.
A educação
estética do homem.
São Paulo:
Iluminuras, 2002.
SOVIK, Liv. Os projetos culturais e seu
significado social.
Galaxia
Online), n. 27, p. 172-
182, jun. 2014.
TYLOR, Edw
ard Barnett. A ciência da
cultura. In: CASTRO, Celso (org.).
Evolucionismo cultural.
Rio de Janeiro
Zahar, 2009.
UNESCO. Cultura de paz
: da reflexão
à ação; balanço da Década
Internacional da Promoção da Cultura
de Paz e o Violência em Benefício
das
Crianças do Mundo.
UNESCO; São Paulo: Associação
Pala
s Athena, 2010. Disponível em:
http://unesdoc.unesco.org/images/001
8/001899/189919por.pdf. Acesso em:
15 jul. 2013.
UNESCO.
Década da Educação das
Nações Unidas para um
Desenvolvimento Susten
tável, 2005
2014
: documento final do esquema
internacional de implementação.
Brasília: UNESCO, 2005. Disponível
em:
http://unesdoc.unesco.org/images/001
3/001399/139937por.pdf. Acesso em:
15 jul. 2013.
ROJAS, Angelina A.; LIMA, André Cesari B. de; BRAGA, Lívia Ribeiro B. de
educação da sensibilidade a
Revista Latino
-Americana de
, p.
236-254, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação")
lex.europa.eu/JOHtml.do?uri=OJ:C:20
07:287:SOM:pt:HTML. Acesso em: 12
PEREIRA, Marcos Villela.
Estética da
um estudo
interdisciplinar sobre a subjetividade
do professor. São Paulo: PUCSP,
1996. Tese (Doutorado em Educação),
Supervisão e
O fim das certezas.
São Paulo: Editora Unesp, 1996.
ão pela arte.
São Paulo: Martins Pontes, 1982.
A educação
São Paulo:
SOVIK, Liv. Os projetos culturais e seu
Galaxia
(São Paulo,
182, jun. 2014.
ard Barnett. A ciência da
cultura. In: CASTRO, Celso (org.).
Rio de Janeiro
:
: da reflexão
à ação; balanço da Década
Internacional da Promoção da Cultura
de Paz e o Violência em Benefício
Crianças do Mundo.
Brasília:
UNESCO; São Paulo: Associação
s Athena, 2010. Disponível em:
http://unesdoc.unesco.org/images/001
8/001899/189919por.pdf. Acesso em:
Década da Educação das
Nações Unidas para um
tável, 2005
-
: documento final do esquema
internacional de implementação.
Brasília: UNESCO, 2005. Disponível
http://unesdoc.unesco.org/images/001
3/001399/139937por.pdf. Acesso em:
WILLIAMS, Raymond.
Paulo: Paz e Terra, 200
254
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação")
WILLIAMS, Raymond.
Cultura. São
Paulo: Paz e Terra, 200
0.
MOURA, Fernanda Gabrielly T.; MONTEIRO, Evelyn Morgan. Resenha de
"Bordados", de Marjane Satrapi..
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
ii
Resenha: SATRAPI, Marjane. Bordados. Tradução de Paulo Werneck. São
Paulo: Companhia das Letras, 2010.
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
1
Fernanda Gabrielly Terra Moura.
Instituto Federal do Rio de Janeiro
brasileiro e Indígena (NEABI) do IFRJ
Lagos-RJ e também do Pré-
Vestibular Social
https://orcid.org/0000-0003-
2263
2
Evelyn Morgan Monteiro.
Doutora em História, Política e Bens Culturais pelo Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getú
membro do Núcleo de Estudos Afro
P
rofessora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Campus Arraial
do Cabo (IFRJ-CAAC), Brasil. E
-
Texto recebido em 06/09/20
20,
MOURA, Fernanda Gabrielly T.; MONTEIRO, Evelyn Morgan. Resenha de
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 255-258,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação"
Resenha: SATRAPI, Marjane. Bordados. Tradução de Paulo Werneck. São
Paulo: Companhia das Letras, 2010.
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
45788
Fernanda Gabrielly Terra
Evelyn Morgan Monteiro
Fernanda Gabrielly Terra Moura.
Especialista em Tecnologias Digitais Aplicadas
Instituto Federal do Rio de Janeiro
- campus Arraial do Cabo.
É membro do Núcleo de Estudos Afro
brasileiro e Indígena (NEABI) do IFRJ
- campus Niterói. P
rofessora da rede privada da Região dos
Vestibular Social
Pré-J, Brasil. E-
mail: fernandaterramoura@gmail.com
2263
-2482
Doutora em História, Política e Bens Culturais pelo Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getú
lio Vargas (CPDOC/FGV). É
membro do Núcleo de Estudos Afro
-brasileiro e Indígena (NEABI) do IFRJ -
campus Niterói.
rofessora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Campus Arraial
-
mail: evelyn.morgam@ifrj.edu.br
20,
aceit
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
em 01/03/2021.
255
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação"
- RESENHA)
Resenha: SATRAPI, Marjane. Bordados. Tradução de Paulo Werneck. São
Fernanda Gabrielly Terra
Moura
1
Evelyn Morgan Monteiro
2
Especialista em Tecnologias Digitais Aplicadas
ao Ensino pelo
É membro do Núcleo de Estudos Afro
-
rofessora da rede privada da Região dos
mail: fernandaterramoura@gmail.com
-
Doutora em História, Política e Bens Culturais pelo Centro de Pesquisa e
lio Vargas (CPDOC/FGV). É
campus Niterói.
rofessora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Campus Arraial
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
MOURA, Fernanda Gabrielly T.; MONTEIRO, Evelyn Morgan. Resenha de
"Bordados", de Marjane Satrapi..
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
A escrita em forma de
quadrinhos
não é um fenômeno
recente, data de fins do século XIX nos
Estados Unidos. Muitos gibis se
tornaram mundialmente famosos por
contarem histórias fantásticas de
super-
heróis combatendo vilões,
outros por atraírem o público infantil e
as aventuras próprias de
Existe dentro do universo das HQs
(histórias em quadrinhos) um gênero
narrativo chamado
graphic novel
(romance gráfico), cuja estrutura é
mais densa e complexa do que as
tradicionais publicações no gênero. É
nesse estilo de escrever em prosa,
mas
lançando mão também da
narrativa imagética que se insere o
trabalho de Marjane Satrapi, autora de
“Bordados”.
Não é possível, porém, falar
sobre “Bordados”
sem explorarmos a
biografia de sua criadora e algumas de
suas obras anteriores. Marjane Satrapi
na
sceu no Irã em 1969, atualmente
erradicada na Europa, teve sua
juventude marcada pelos
acontecimentos da Revolução
Iraniana. De família liberal e
politicamente de esquerda, passou
parte da adolescência na Áustria e,
aos 24 anos exilou-
se na França após
MOURA, Fernanda Gabrielly T.; MONTEIRO, Evelyn Morgan. Resenha de
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 255-258,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação"
A escrita em forma de
não é um fenômeno
recente, data de fins do século XIX nos
Estados Unidos. Muitos gibis se
tornaram mundialmente famosos por
contarem histórias fantásticas de
heróis combatendo vilões,
outros por atraírem o público infantil e
as aventuras próprias de
ssa fase.
Existe dentro do universo das HQs
(histórias em quadrinhos) um gênero
graphic novel
(romance gráfico), cuja estrutura é
mais densa e complexa do que as
tradicionais publicações no gênero. É
nesse estilo de escrever em prosa,
lançando mão também da
narrativa imagética que se insere o
trabalho de Marjane Satrapi, autora de
Não é possível, porém, falar
sem explorarmos a
biografia de sua criadora e algumas de
suas obras anteriores. Marjane Satrapi
sceu no Irã em 1969, atualmente
erradicada na Europa, teve sua
juventude marcada pelos
acontecimentos da Revolução
Iraniana. De família liberal e
politicamente de esquerda, passou
parte da adolescência na Áustria e,
se na França após
um
período de retorno ao seu país de
origem para estudar belas
obra mais famosa
Persépolis
é uma autobiografia que narra suas
experiências pessoais em constante
diálogo, ou conflito, com o cenário
político iraniano da revolução islâmica
e
mudanças advindas desse novo
modelo político, sobretudo no que se
refere à vida das mulheres.
Diferente da abordagem política
mais aberta que é proposta em
“Persépolis”,
Bordados”
discurso mais intimista, mas nem por
isso menos relevante para os
atuais sobre as narrativas femininas.
Lançado incialmente em 2003, o livro
também é feito de memórias
autobiográficas, não tão dramáticas
como em “Persépolis”, mas que
discute temas significativos com uma
prosa muito divertida. Uma
novel c
om cenários mais abertos sobre
sexualidade feminina no mundo
islâmico do que as mentes ocidentais
costumam imaginar.
O livro é composto por duas
partes, o prólogo e posteriormente um
conjunto de anedotas narradas por
3
“Persepólis
foi adaptado para o cinema e foi
indicado ao Oscar de melhor animação
estrangeira em 2007.
255
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação"
- RESENHA)
período de retorno ao seu país de
origem para estudar belas
-artes. Sua
Persépolis
3
(2000)
é uma autobiografia que narra suas
experiências pessoais em constante
diálogo, ou conflito, com o cenário
político iraniano da revolução islâmica
mudanças advindas desse novo
modelo político, sobretudo no que se
refere à vida das mulheres.
Diferente da abordagem política
mais aberta que é proposta em
Bordados”
traz um
discurso mais intimista, mas nem por
isso menos relevante para os
debates
atuais sobre as narrativas femininas.
Lançado incialmente em 2003, o livro
também é feito de memórias
autobiográficas, não tão dramáticas
como em “Persépolis”, mas que
discute temas significativos com uma
prosa muito divertida. Uma
graphic
om cenários mais abertos sobre
sexualidade feminina no mundo
islâmico do que as mentes ocidentais
O livro é composto por duas
partes, o prólogo e posteriormente um
conjunto de anedotas narradas por
foi adaptado para o cinema e foi
indicado ao Oscar de melhor animação
MOURA, Fernanda Gabrielly T.; MONTEIRO, Evelyn Morgan. Resenha de
"Bordados", de Marjane Satrapi..
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
mulheres da família, próximas ao
círc
ulo familiar da autora ou sobre
outras personagens femininas de
conhecimento desse grupo. O prólogo
explica o que esse momento de
encontro significa: após as refeições
os homens se deitavam para a sesta
e, em volta do samovar
bule iraniano –a
s mulheres se reuniam
para tomar chá.
A parte seguinte, e mais densa
da obra, traz um compilado de
histórias oriundas da “conversa” como
um momento de “ventilar o coração”
falar dos outros pelas costas, nas
palavras da a de Satrapi. É
interessante des
tacar a centralidade
do papel da avó de Marjane, ela é a
que organiza o momento feminino, não
porque está em sua casa, mas
porque delega as funções, inicia a
conversa, é, portanto, uma figura de
referência para as demais mulheres.
A figura da avó da a
central em sua obra. Ela é a matriarca
com a experiência de três casamentos,
também conselheira e acolhedora, é
representação da trança entre tradição
e modernidade. Na narrativa, Marjane
é a neta que tem a tarefa de sempre
preparar o samovar
para
também é a mulher mais jovem do
MOURA, Fernanda Gabrielly T.; MONTEIRO, Evelyn Morgan. Resenha de
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 255-258,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação"
mulheres da família, próximas ao
ulo familiar da autora ou sobre
outras personagens femininas de
conhecimento desse grupo. O prólogo
explica o que esse momento de
encontro significa: após as refeições
os homens se deitavam para a sesta
tradicional
s mulheres se reuniam
A parte seguinte, e mais densa
da obra, traz um compilado de
histórias oriundas da “conversa” como
um momento de “ventilar o coração”
falar dos outros pelas costas, nas
palavras da a de Satrapi. É
tacar a centralidade
do papel da avó de Marjane, ela é a
que organiza o momento feminino, não
porque está em sua casa, mas
porque delega as funções, inicia a
conversa, é, portanto, uma figura de
referência para as demais mulheres.
A figura da avó da a
utora é
central em sua obra. Ela é a matriarca
com a experiência de três casamentos,
também conselheira e acolhedora, é
representação da trança entre tradição
e modernidade. Na narrativa, Marjane
é a neta que tem a tarefa de sempre
para
a avó, ela
também é a mulher mais jovem do
grupo, a que escuta atenta aos casos
relatados como um aprendizado.
Durante as conversas para
“ventilar o coração”, as personagens
vão além, elas se abrem umas às
outras sobre relações amorosas e
sexualidade, nar
rando histórias
próprias e ou de amigas. Personagens
que, apesar da proximidade, carregam
consigo relatos o plurais. Trata
um mundo no qual costumes de uma
sociedade tradicional se imbricam com
atitudes progressistas e de rebeldia
(no qual tradição
e modernidade se
imbricam), passando pelo uso do ópio
por personagens mais velhas, dramas
sobre o casamento pelas mais jovens,
divórcios, amores e amantes fora do
casamento e formas de resistência
sobre o papel das mulheres nos
relacionamentos afetivos.
Pela narrativa que o livro nos
oferece, cremos que o
constitui não apenas em um momento
de trocas, senão em um espaço de
ensinamento cultural e também de
incentivo à transgressão de práticas
impostas por aquela sociedade
liderada por homens e d
machista, mesmo que, na maioria dos
casos a transgressão não esteja à luz
dos olhos.
256
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação"
- RESENHA)
grupo, a que escuta atenta aos casos
relatados como um aprendizado.
Durante as conversas para
“ventilar o coração”, as personagens
vão além, elas se abrem umas às
outras sobre relações amorosas e
rando histórias
próprias e ou de amigas. Personagens
que, apesar da proximidade, carregam
consigo relatos o plurais. Trata
-se de
um mundo no qual costumes de uma
sociedade tradicional se imbricam com
atitudes progressistas e de rebeldia
e modernidade se
imbricam), passando pelo uso do ópio
por personagens mais velhas, dramas
sobre o casamento pelas mais jovens,
divórcios, amores e amantes fora do
casamento e formas de resistência
sobre o papel das mulheres nos
relacionamentos afetivos.
Pela narrativa que o livro nos
oferece, cremos que o
samovar se
constitui não apenas em um momento
de trocas, senão em um espaço de
ensinamento cultural e também de
incentivo à transgressão de práticas
impostas por aquela sociedade
liderada por homens e d
e caráter
machista, mesmo que, na maioria dos
casos a transgressão não esteja à luz
MOURA, Fernanda Gabrielly T.; MONTEIRO, Evelyn Morgan. Resenha de
"Bordados", de Marjane Satrapi..
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
Através de traços simples em
preto e branco, mas muito
expressivos, Satrapi descreve o
momento cultural iraniano do chá de
forma que um encontro para fofocar se
converte em um espaço de
possibilidades pedagógicas onde é
possível aprender com os erros e
acertos das outras mulheres para sair
de situações difíceis imposta pela
cultura conservadora. Ela narra as
aventuras da trisavó moderna e artista,
que fugiu de um
casamento infantil,
teve inúmeros romances no
estrangeiro e tornou-
se amante de
membro da alta sociedade ao mesmo
tempo em que conta a história de uma
parente, casada e mãe de quatro
filhas, mas que nunca viu um pênis em
toda sua vida.
I
nteressante obser
apesar de pertencerem a famílias
ricas, a posição socioeconômica não
as deixa escapar das amarras sociais
impostas aos atores femininos daquela
sociedade.“Bordados”
nos apresenta,
em contrapartida, um universo
educacional não formal no qual essas
m
ulheres encontram brechas para a
educação cultural tradicional que lhes
é imposta. Elas criam suas próprias
táticas de sobrevivência e novas
MOURA, Fernanda Gabrielly T.; MONTEIRO, Evelyn Morgan. Resenha de
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 255-258,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação"
Através de traços simples em
preto e branco, mas muito
expressivos, Satrapi descreve o
momento cultural iraniano do chá de
forma que um encontro para fofocar se
converte em um espaço de
possibilidades pedagógicas onde é
possível aprender com os erros e
acertos das outras mulheres para sair
de situações difíceis imposta pela
cultura conservadora. Ela narra as
aventuras da trisavó moderna e artista,
casamento infantil,
teve inúmeros romances no
se amante de
membro da alta sociedade ao mesmo
tempo em que conta a história de uma
parente, casada e mãe de quatro
filhas, mas que nunca viu um pênis em
nteressante obser
var que
apesar de pertencerem a famílias
ricas, a posição socioeconômica não
as deixa escapar das amarras sociais
impostas aos atores femininos daquela
nos apresenta,
em contrapartida, um universo
educacional não formal no qual essas
ulheres encontram brechas para a
educação cultural tradicional que lhes
é imposta. Elas criam suas próprias
táticas de sobrevivência e novas
possibilidades de existências através
dos ensinamentos que ali circulam.O
ato de bordar, tão simbolicamente
ligado
ao universo feminino,
tramas de resistência.
referência a uma dessas
transgressões, pois “fazer um
bordado” é uma metáfora para a
prática de reconstituição do hímen,
numa sociedade onde a garantia da
virgindade feminina é essencial para a
manutenção da honra das mulheres e
das famílias.
O livro se encerra com uma
cena na qual o avô de Marjane acorda
da sesta, ouve algumas palavras
soltas da conversa, tenta interagir com
e naquele universo feminino, mas é
interpelado por sua esposa que o retira
da sala. É a fronteira de demarcação
que indica o
samovar
de trocas e educação de mulheres,
onde as figuras masculinas não podem
intervir.
“Bordados”
é leitura prazerosa
que nos deixa ávidos por mais
histórias. É obra recomendada pois
apresenta situações de quebra de
paradigmas cultur
ais conservadores,
episódios de resistência à cultura
machista dominante e um caráter
duplamente decolonial à medida em
257
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação"
- RESENHA)
possibilidades de existências através
dos ensinamentos que ali circulam.O
ato de bordar, tão simbolicamente
ao universo feminino,
tece
tramas de resistência.
O “bordado” faz
referência a uma dessas
transgressões, pois “fazer um
bordado” é uma metáfora para a
prática de reconstituição do hímen,
numa sociedade onde a garantia da
virgindade feminina é essencial para a
manutenção da honra das mulheres e
O livro se encerra com uma
cena na qual o avô de Marjane acorda
da sesta, ouve algumas palavras
soltas da conversa, tenta interagir com
e naquele universo feminino, mas é
interpelado por sua esposa que o retira
da sala. É a fronteira de demarcação
samovar
como um espaço
de trocas e educação de mulheres,
onde as figuras masculinas não podem
é leitura prazerosa
que nos deixa ávidos por mais
histórias. É obra recomendada pois
apresenta situações de quebra de
ais conservadores,
episódios de resistência à cultura
machista dominante e um caráter
duplamente decolonial à medida em
MOURA, Fernanda Gabrielly T.; MONTEIRO, Evelyn Morgan. Resenha de
"Bordados", de Marjane Satrapi..
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
março 2021.
que se trata de uma mulher
narrando experiências de outras
mulheres iranianas. E, finalmente, traz
à tona a importância da dema
espaços informais de educação para a
construção de indivíduos como
alternativa ao modo tradicional de
educação e compartilha
mento/imposição de práticas culturais.
MOURA, Fernanda Gabrielly T.; MONTEIRO, Evelyn Morgan. Resenha de
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p. 255-258,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Tramas entre cultura e educação"
que se trata de uma mulher
iraniana
narrando experiências de outras
mulheres iranianas. E, finalmente, traz
à tona a importância da dema
nda por
espaços informais de educação para a
construção de indivíduos como
alternativa ao modo tradicional de
educação e compartilha
-
mento/imposição de práticas culturais.
258
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Tramas entre cultura e educação"
- RESENHA)
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
Caretagem
, uma manifestação identitária na comunidade quilombola São
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.44445
Resumo:
Neste trabalho, buscamos
identidade quilombola da Comunidade São Domingos
relacionados à identidade (GIDDENS, 1991; HALL, 1992 entre outros)
etnografia (FLICK, 2009; MAGNANI 2002
etnográfico, é investigar a relação da identidade dos integrantes da comunidade quilombola São
Domingos, que se manifesta pela dança da
realizadas com integrantes da comunidade, buscamos investigar a cultura e a identidade. Os
principais resultados encontrados indicam que muitos se identificam e sentem orgulho de serem
quilombolas, in
clusive manifestam esse orgulho perpetuando suas culturas, como a
referendando sinais de pertencimento. Todavia, também traços de deslocamento e novas
construções de autoidentidades que apontam para o desejo de mudança de alguns integrantes,
principalmente os mais jovens, o que não impede que s
sejam perpetuadas na comunidade.
Palavras-chave
: Identidade quilombola; etnografia;
Caretagem
, una manifestación de identidad en comunidad
Resumen:
En este trabajo, buscamos comprender cuál es la relación de la custodia como una marca
de identidad quilombola de la Comunidad de o Domingos
relacionados con la identidad (GIDDENS, 1991; HALL, 1992 entre otros) y metodo
la etnografía (FLICK, 2009; MAGNANI 2002). El objetivo central de la investigación, de carácter
cualitativo y etnográfico, es investigar la relación de la identidad de los miembros de la comunidad
quilombola de São Domingos, que se manif
1
Luiz Henrique Gomes da Silva. Professor de Linguística da Universidade Estadual de Montes Claros
-
MG. Mestre e doutorando pela Universidade de Brasília. E
https://orcid.org/0000-0003-
2248
2
Rosineide Magalhães de Sousa.
da Universidade
de Brasília/UnB, Brasil. Lí
Letramentos Múltiplos e Educação
0001-7588-4224
Texto recebido em 06/09/20
20,
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
, uma manifestação identitária na comunidade quilombola São
Domingos
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.44445
Luiz Henrique Gomes Silva
Rosineide Magalhães de
Neste trabalho, buscamos
compreender qual a relação da
Caretagem
identidade quilombola da Comunidade São Domingos
-
MG, tendo como base pressupostos teóricos
relacionados à identidade (GIDDENS, 1991; HALL, 1992 entre outros)
e metodológicos através da
etnografia (FLICK, 2009; MAGNANI 2002
)
. O objetivo central da pesquisa, de cunho qualitativo,
etnográfico, é investigar a relação da identidade dos integrantes da comunidade quilombola São
Domingos, que se manifesta pela dança da
Caretagem
. Para tanto, em entrevistas semiestruturadas
realizadas com integrantes da comunidade, buscamos investigar a cultura e a identidade. Os
principais resultados encontrados indicam que muitos se identificam e sentem orgulho de serem
clusive manifestam esse orgulho perpetuando suas culturas, como a
referendando sinais de pertencimento. Todavia, também traços de deslocamento e novas
construções de autoidentidades que apontam para o desejo de mudança de alguns integrantes,
principalmente os mais jovens, o que não impede que s
uas culturas, principalmente a Caretagem
sejam perpetuadas na comunidade.
: Identidade quilombola; etnografia;
Caretagem; cultura.
, una manifestación de identidad en comunidad
quilombola São Domingos
En este trabajo, buscamos comprender cuál es la relación de la custodia como una marca
de identidad quilombola de la Comunidad de o Domingos
-
MG, basada en supuestos teóricos
relacionados con la identidad (GIDDENS, 1991; HALL, 1992 entre otros) y metodo
la etnografía (FLICK, 2009; MAGNANI 2002). El objetivo central de la investigación, de carácter
cualitativo y etnográfico, es investigar la relación de la identidad de los miembros de la comunidad
quilombola de São Domingos, que se manif
iesta por la danza de
Caretagem
Luiz Henrique Gomes da Silva. Professor de Linguística da Universidade Estadual de Montes Claros
MG. Mestre e doutorando pela Universidade de Brasília. E
-
mail: henriquegomes2@yahoo.com.br
2248
-7473
Rosineide Magalhães de Sousa.
Professora da Pós-
Graduação e Graduação da Área de Linguística
de Brasília/UnB, Brasil. Lí
der do Grupo de Pesquisa CNPq
(Socio)Linguística,
Letramentos Múltiplos e Educação
- SOLEDUC. E-mail: rosineide@unb.br -
https://orcid.org/0000
20,
aceit
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
em 01/03/2021.
259
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
, uma manifestação identitária na comunidade quilombola São
Luiz Henrique Gomes Silva
1
Rosineide Magalhães de
Sousa
2
Caretagem
como marca de
MG, tendo como base pressupostos teóricos
e metodológicos através da
. O objetivo central da pesquisa, de cunho qualitativo,
etnográfico, é investigar a relação da identidade dos integrantes da comunidade quilombola São
. Para tanto, em entrevistas semiestruturadas
realizadas com integrantes da comunidade, buscamos investigar a cultura e a identidade. Os
principais resultados encontrados indicam que muitos se identificam e sentem orgulho de serem
clusive manifestam esse orgulho perpetuando suas culturas, como a
Caretagem,
referendando sinais de pertencimento. Todavia, também traços de deslocamento e novas
construções de autoidentidades que apontam para o desejo de mudança de alguns integrantes,
uas culturas, principalmente a Caretagem
,
quilombola São Domingos
En este trabajo, buscamos comprender cuál es la relación de la custodia como una marca
MG, basada en supuestos teóricos
relacionados con la identidad (GIDDENS, 1991; HALL, 1992 entre otros) y metodo
lógica a través de
la etnografía (FLICK, 2009; MAGNANI 2002). El objetivo central de la investigación, de carácter
cualitativo y etnográfico, es investigar la relación de la identidad de los miembros de la comunidad
Caretagem
. Por lo tanto, en
Luiz Henrique Gomes da Silva. Professor de Linguística da Universidade Estadual de Montes Claros
mail: henriquegomes2@yahoo.com.br
-
Graduação e Graduação da Área de Linguística
(Socio)Linguística,
https://orcid.org/0000
-
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
entrevistas semiestructuradas con miembros de la comunidad, buscamos investigar la cultura y la
identidad. Los principales resultados encontrados indican que muchos se identifican y se sienten
orgullosos de
ser quilombolas, incluso expresan este orgullo al perpetuar sus culturas, como
Caretagem
, respaldando signos de pertenencia. Sin embargo, también hay rastros de desplazamiento
y nuevas construcciones de autoidentidades que apuntan al deseo de cambio de al
especialmente los más jóvenes, lo que no impide que sus culturas, especialmente el cuidado, se
perpetúen en la comunidad.
Palabras clave
: Identidad quilombola; etnografía; Caretage; cultura.
Caretagem
, an identity manifestation in
Abstract:
In this work, we seek to understand what is the relationship of
identity mark of the São Domingos Community
identity (GIDDENS, 1991; HA
LL, 1992 among others) and methodological through ethnography
(FLICK, 2009; MAGNANI 2002). The central objective of the research, of a qualitative, ethnographic
nature, is to investigate the relation of the identity of the members of the São Domingos
community, which is manifested by the dance of
with members of the community , we seek to investigate culture and identity. The main results found
indicate that many identify themselves and feel pro
by perpetuating their cultures, such as
also traces of displacement and new constructions of self
of some members, especially the younger ones, which does not prevent their cultures, especially the
face, from being perpetuated in the community.
Keywords
: Quilombola identity; ethnography;
Caretagem
, uma manifestação identitária n
1. Introdução
A comunidade quilombola São
Domingos encontra-
se na cidade de
Paracatu, na região Noroeste de Minas
Gerais, a cerca de 3 km do centro do
município. A comunidade possui este
nome devido a uma homenagem ao
Santo “São Domingos”, pois, em
oração, foi pedido ao
santo a benção
de maneira que curasse as pessoas e
a solicitação foi atendida. Em honra à
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
entrevistas semiestructuradas con miembros de la comunidad, buscamos investigar la cultura y la
identidad. Los principales resultados encontrados indican que muchos se identifican y se sienten
ser quilombolas, incluso expresan este orgullo al perpetuar sus culturas, como
, respaldando signos de pertenencia. Sin embargo, también hay rastros de desplazamiento
y nuevas construcciones de autoidentidades que apuntan al deseo de cambio de al
especialmente los más jóvenes, lo que no impide que sus culturas, especialmente el cuidado, se
: Identidad quilombola; etnografía; Caretage; cultura.
, an identity manifestation in
quilombola community São Domingos
In this work, we seek to understand what is the relationship of
Caretagem
identity mark of the São Domingos Community
-
MG, based on theoretical assumptions related to
LL, 1992 among others) and methodological through ethnography
(FLICK, 2009; MAGNANI 2002). The central objective of the research, of a qualitative, ethnographic
nature, is to investigate the relation of the identity of the members of the São Domingos
community, which is manifested by the dance of
Caretagem. Therefore, in semi
-
with members of the community , we seek to investigate culture and identity. The main results found
indicate that many identify themselves and feel pro
ud of being quilombolas
, even expressing this pride
by perpetuating their cultures, such as
Caretagem
, endorsing signs of belonging. However, there are
also traces of displacement and new constructions of self
-
identities that point to the desire for change
of some members, especially the younger ones, which does not prevent their cultures, especially the
face, from being perpetuated in the community.
: Quilombola identity; ethnography;
Caretagem; culture.
, uma manifestação identitária n
a comunidade quilombola São
Domingos
A comunidade quilombola São
se na cidade de
Paracatu, na região Noroeste de Minas
Gerais, a cerca de 3 km do centro do
município. A comunidade possui este
nome devido a uma homenagem ao
Santo “São Domingos”, pois, em
santo a benção
de maneira que curasse as pessoas e
a solicitação foi atendida. Em honra à
promessa, batizou-
se a comunidade
com o nome do Santo.
O reconhecimento da
comunidade São Domingos como
remanescente, encontra
publicação no Diário Oficial
43, de 4 de março de 2004, a
Portaria Interna 06 da Fundação
Cultural Palmares.
Os primeiros moradores da
comunidade, segundo relato dos
260
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
entrevistas semiestructuradas con miembros de la comunidad, buscamos investigar la cultura y la
identidad. Los principales resultados encontrados indican que muchos se identifican y se sienten
ser quilombolas, incluso expresan este orgullo al perpetuar sus culturas, como
, respaldando signos de pertenencia. Sin embargo, también hay rastros de desplazamiento
y nuevas construcciones de autoidentidades que apuntan al deseo de cambio de al
gunos miembros,
especialmente los más jóvenes, lo que no impide que sus culturas, especialmente el cuidado, se
quilombola community São Domingos
Caretagem
as a quilombola
MG, based on theoretical assumptions related to
LL, 1992 among others) and methodological through ethnography
(FLICK, 2009; MAGNANI 2002). The central objective of the research, of a qualitative, ethnographic
nature, is to investigate the relation of the identity of the members of the São Domingos
quilombola
-
structured interviews
with members of the community , we seek to investigate culture and identity. The main results found
, even expressing this pride
, endorsing signs of belonging. However, there are
identities that point to the desire for change
of some members, especially the younger ones, which does not prevent their cultures, especially the
a comunidade quilombola São
se a comunidade
com o nome do Santo.
O reconhecimento da
comunidade São Domingos como
remanescente, encontra
-se em uma
publicação no Diário Oficial
da União
43, de 4 de março de 2004, a
Portaria Interna 06 da Fundação
Os primeiros moradores da
comunidade, segundo relato dos
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
remanescentes do quilombo, foram
Manoel Lopes e Josefá Caldeira. A
história da comunidade São Domingos
data de meados de 1731, mas,
posteriormente, outras famílias
também ali fizeram parte de sua
constituição. São as famílias Ferreira e
Mendanha.
Hodiernamente, a comunidade
conta com aproximadamente 450
moradores, distribuídos em cerca de
70 famílias. De a
cordo com
informações dos moradores, a água
que vem dos rios próximos está
contaminada pela mineradora Kinross,
o que diminuiu a proliferação dos
peixes e a utilização da água para
afazeres domésticos.
Como tradição, várias famílias
oriundas da comunidade,
casamento, fixam moradia perto da
casa dos pais, isto acontece também
por motivos financeiros, uma vez que
se tratam
de famílias com baixa renda,
dessa maneira os lotes se
transformam em propriedade coletiva.
Esta tradição perpetua os costumes
também ajuda a preservar
a identidade
das pessoas que constituem a
comunidade quilombola São
Domingos.
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
remanescentes do quilombo, foram
Manoel Lopes e Josefá Caldeira. A
história da comunidade São Domingos
data de meados de 1731, mas,
posteriormente, outras famílias
também ali fizeram parte de sua
constituição. São as famílias Ferreira e
Hodiernamente, a comunidade
conta com aproximadamente 450
moradores, distribuídos em cerca de
cordo com
informações dos moradores, a água
que vem dos rios próximos está
contaminada pela mineradora Kinross,
o que diminuiu a proliferação dos
peixes e a utilização da água para
Como tradição, várias famílias
oriundas da comunidade,
após o
casamento, fixam moradia perto da
casa dos pais, isto acontece também
por motivos financeiros, uma vez que
de famílias com baixa renda,
dessa maneira os lotes se
transformam em propriedade coletiva.
Esta tradição perpetua os costumes
e
a identidade
das pessoas que constituem a
comunidade quilombola São
Em se tratando
regional, a história remonta ao período
colonial. Sobre a descoberta do ouro
em Paracatu, o historiador Olympio
Gonzaga (1910)
afirma que desde
1722 havia registro de ocorrência de
ouro “nas cabeceiras do rio Paracatu”,
conforme carta patente datada de 26
de janeiro de 1722.
De acordo
com o historiador
Oliveira Mello (2002), em 1733 chega
a essa região Felisberto Caldeira
Brant
, que se instalou entre os
Córregos Pobre e Rico, dando início
formação do Arraial de São Luiz e
Sant’Anna das Minas do Paracatu.
Nessa mesma época também ocorre a
chegada da família Rodrigues Fróes,
juntamente com outras famílias, que
rapidamente povoar
am a região.
Com a descoberta oficial do
ouro, em 20 de outubro de 1798, por
alvará de Dona
Maria I, o Distrito é
elevado à categoria de vila e passa a
denominar-
se Vila de Paracatu do
Príncipe, em homenagem ao P
Dom Pedro, que seria o proclamador
d
a independência do Brasil, mas por
lei provincial 163, no dia 09 de
março de 1840, Paracatu conquistou o
título de cidade.
261
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
Em se tratando
da mineração
regional, a história remonta ao período
colonial. Sobre a descoberta do ouro
em Paracatu, o historiador Olympio
afirma que desde
1722 havia registro de ocorrência de
ouro “nas cabeceiras do rio Paracatu”,
conforme carta patente datada de 26
com o historiador
Oliveira Mello (2002), em 1733 chega
a essa região Felisberto Caldeira
, que se instalou entre os
Córregos Pobre e Rico, dando início
à
formação do Arraial de São Luiz e
Sant’Anna das Minas do Paracatu.
Nessa mesma época também ocorre a
chegada da família Rodrigues Fróes,
juntamente com outras famílias, que
am a região.
Com a descoberta oficial do
ouro, em 20 de outubro de 1798, por
Maria I, o Distrito é
elevado à categoria de vila e passa a
se Vila de Paracatu do
Príncipe, em homenagem ao P
ríncipe
Dom Pedro, que seria o proclamador
a independência do Brasil, mas por
lei provincial 163, no dia 09 de
março de 1840, Paracatu conquistou o
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
Após alguns séculos da
descoberta e de exploração aurífera,
em 1987, no município de Paracatu,
instalou-
se a empresa Rio Paracatu
Mineração, hoje denominada Kinross,
pertencente ao grupo Canadense
Kinross Gold Corporation, que está
presente na América do Norte
(Canadá e Estados Unidos), na
América do Sul (Brasil e Chile), na
Eurásia (Rússia) e na África (Gana e
Mauritânia). Hoje, sen
do uma das
maiores produtoras no Brasil, apenas
esta empresa é responsável por cerca
de 25% de toda a extração de ouro no
país.
Em 2005, a Kinross Gold
Corporation assumiu o controle das
operações de exploração da
antes feito pela empresa Rio Paracat
Mineração, e tem convivido com o
município, fazendeiros e comunidades,
muitas delas quilombolas, mas
também promovendo grande
discussão que envolve conflitos e/ou
reconhecimento de moradores dessas
regiões em relação à empresa.
Explorando o local conhec
como Morro do Ouro, desde 1980, no
município de Paracatu-
MG, em 2006 a
Kinross
iniciou um projeto de
expansão, fazendo com que a
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Após alguns séculos da
descoberta e de exploração aurífera,
em 1987, no município de Paracatu,
se a empresa Rio Paracatu
Mineração, hoje denominada Kinross,
pertencente ao grupo Canadense
Kinross Gold Corporation, que está
presente na América do Norte
(Canadá e Estados Unidos), na
América do Sul (Brasil e Chile), na
Eurásia (Rússia) e na África (Gana e
do uma das
maiores produtoras no Brasil, apenas
esta empresa é responsável por cerca
de 25% de toda a extração de ouro no
Em 2005, a Kinross Gold
Corporation assumiu o controle das
operações de exploração da
mina,
antes feito pela empresa Rio Paracat
u
Mineração, e tem convivido com o
município, fazendeiros e comunidades,
muitas delas quilombolas, mas
também promovendo grande
discussão que envolve conflitos e/ou
reconhecimento de moradores dessas
regiões em relação à empresa.
Explorando o local conhec
ido
como Morro do Ouro, desde 1980, no
MG, em 2006 a
iniciou um projeto de
expansão, fazendo com que a
produção do minério triplicasse,
passando a extrair anualmente da
mina cerca de 17 toneladas de ouro.
Ela também renovou a
exploração do ouro e ampliou em
cerca de 30 anos a vida útil da mina,
sendo
a exploração prevista até 2042.
Pelo fato de a mineradora estar
tão em foco na cidade, e também por
discursos que ela prejudicava, em
alguns fatores,
os
tomamos conhecimento de
comunidades quilombolas que sofriam
alguns prejuízos, mas também
incentivos, por parte da empresa.
Assim, tomamos conhecimento da
Comunidade Quilombola São
Domingos que, apesar de ser a mais
próxima da cidade, ainda é a que mais
pr
eserva sua cultura ancestral.
Por conseguinte,
apresentaremos uma manifestação
cultural, que é própria de algumas
Comunidades Quilombolas de
Paracatu, mas que foi criada e ainda
se
perpetua na Comunidade
Quilombola São Domingos, a
Caretagem
, como forma de
manifestação identitária. Assim,
procuramos compreender qual a
relação da
Caretagem
identidade quilombola da Comunidade
262
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
produção do minério triplicasse,
passando a extrair anualmente da
mina cerca de 17 toneladas de ouro.
Ela também renovou a
concessão de
exploração do ouro e ampliou em
cerca de 30 anos a vida útil da mina,
a exploração prevista até 2042.
Pelo fato de a mineradora estar
tão em foco na cidade, e também por
discursos que ela prejudicava, em
os
seus vizinhos,
tomamos conhecimento de
comunidades quilombolas que sofriam
alguns prejuízos, mas também
incentivos, por parte da empresa.
Assim, tomamos conhecimento da
Comunidade Quilombola São
Domingos que, apesar de ser a mais
próxima da cidade, ainda é a que mais
eserva sua cultura ancestral.
Por conseguinte,
apresentaremos uma manifestação
cultural, que é própria de algumas
Comunidades Quilombolas de
Paracatu, mas que foi criada e ainda
perpetua na Comunidade
Quilombola São Domingos, a
, como forma de
manifestação identitária. Assim,
procuramos compreender qual a
Caretagem
como marca de
identidade quilombola da Comunidade
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
São Domingos, tendo como objetivo
investigar a conexão identificacional
dos integrantes dessa comunidade,
que se manifesta
pela dança da
Caretagem.
2. Cultura e identidade quilombola
De acordo com Leite (2008), as
comunidades quilombolas podem ser
entendidas como instâncias sociais
pelo fato de suas histórias, culturas
apresentadas, experiência dos sujeitos
e seus posicionam
entos serem
geradores de sentido. Dessa forma,
mudam com o passar do tempo, o que
proporciona uma complexidade de
acordo com o contexto histórico, social
e cultural pelo qual passam em suas
comunidades.
Apesar dos sujeitos que formam
a comunidade partilhar
em de vários
momentos e experiências, quando se
fala em identidade coletiva, ela não
deve ser compreendida como uma
supressão do indivíduo, pois a
identidade é marcada por um
acontecimento indicado pela
flexibilidade e pela fluidez. Assim, é
fundamental qu
e o povo quilombola
possua espaço simbólico de maneira
que possam transitar por uma
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
São Domingos, tendo como objetivo
investigar a conexão identificacional
dos integrantes dessa comunidade,
pela dança da
2. Cultura e identidade quilombola
De acordo com Leite (2008), as
comunidades quilombolas podem ser
entendidas como instâncias sociais
pelo fato de suas histórias, culturas
apresentadas, experiência dos sujeitos
entos serem
geradores de sentido. Dessa forma,
mudam com o passar do tempo, o que
proporciona uma complexidade de
acordo com o contexto histórico, social
e cultural pelo qual passam em suas
Apesar dos sujeitos que formam
em de vários
momentos e experiências, quando se
fala em identidade coletiva, ela não
deve ser compreendida como uma
supressão do indivíduo, pois a
identidade é marcada por um
acontecimento indicado pela
flexibilidade e pela fluidez. Assim, é
e o povo quilombola
possua espaço simbólico de maneira
que possam transitar por uma
identidade que remonte ao passado,
mas também que aspire
Ainda seguindo essa linha de
pensamento, existe uma dinamicidade
nas dimensões pessoal e social da
ide
ntidade pelo fato de a constituição
do sujeito ocorrer em um determinado
contexto cultural, político e social,
modificando o sujeito e sendo
modificada concomitantemente.
Segundo Ciampa (2001), o
compartilhamento e a identificação de
um determinado grupo c
conjunto simbólico engloba
percepção dos participantes enquanto
sujeitos no mundo. Dessa forma, o
sujeito pode atuar sobre esse mundo e
o influenciá-
lo subjetivamente.
A identidade é
como o posicionamento adquirido,
relacionado a uma
social quanto histórica.
sensação de pertencimento do
indivíduo, ao poder compartilhar
conteúdos simbólico-
afetivos com seus
pares, formando, assim, um grupo.
Essa maneira de posicionar
um caráter ativo do sujeito
comunidade a que pertence,
constituindo sua identidade baseada
em fatores históricos, situacionais,
sociais.
263
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
identidade que remonte ao passado,
mas também que aspire
a um futuro.
Ainda seguindo essa linha de
pensamento, existe uma dinamicidade
nas dimensões pessoal e social da
ntidade pelo fato de a constituição
do sujeito ocorrer em um determinado
contexto cultural, político e social,
modificando o sujeito e sendo
modificada concomitantemente.
Segundo Ciampa (2001), o
compartilhamento e a identificação de
um determinado grupo c
om um
conjunto simbólico engloba
m a
percepção dos participantes enquanto
sujeitos no mundo. Dessa forma, o
sujeito pode atuar sobre esse mundo e
lo subjetivamente.
A identidade é
compreendida
como o posicionamento adquirido,
relacionado a uma
realidade tanto
social quanto histórica.
Ela ocorre pela
sensação de pertencimento do
indivíduo, ao poder compartilhar
afetivos com seus
pares, formando, assim, um grupo.
Essa maneira de posicionar
-se define
um caráter ativo do sujeito
junto à
comunidade a que pertence,
constituindo sua identidade baseada
em fatores históricos, situacionais,
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
Isso posto, deve-
se destacar
que fazer parte de um determinado
grupo depende do compartilhamento
de singulares práticas, uma vez que a
perc
epção depende do entendimento,
das semelhanças e das afinidades de
cada indivíduo. Assim, incluindo a
cultura quilombola, os conteúdos
simbólico-
afetivos surgem de maneira
subjetiva para cada pessoa, a partir de
experiências pessoais e sociais
mais lhe marcarem.
Dessa forma, os
significados, por serem simbólicos, são
construídos socialmente e são
constituídos como elementos culturais,
trazendo em seu bojo questões como
crenças, valores, memórias,
representações, festas públicas,
histórias etc.
Não obsta
nte, em várias
expressões culturais, várias práticas
de resistência podem ser observadas.
Semelhante ao passado colonial, a
identidade quilombola se constrói,
atualmente, como uma identidade de
luta, mas não mais contra a
escravização como antigamente, mas
contra a negação de sua existência
e/ou invisibilidade de sua existência
enquanto quilombolas.
De acordo com Calheiros
Stadtler (2010), reconhecer
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
se destacar
que fazer parte de um determinado
grupo depende do compartilhamento
de singulares práticas, uma vez que a
epção depende do entendimento,
das semelhanças e das afinidades de
cada indivíduo. Assim, incluindo a
cultura quilombola, os conteúdos
afetivos surgem de maneira
subjetiva para cada pessoa, a partir de
experiências pessoais e sociais
que
Dessa forma, os
significados, por serem simbólicos, são
construídos socialmente e são
constituídos como elementos culturais,
trazendo em seu bojo questões como
crenças, valores, memórias,
representações, festas públicas,
nte, em várias
expressões culturais, várias práticas
de resistência podem ser observadas.
Semelhante ao passado colonial, a
identidade quilombola se constrói,
atualmente, como uma identidade de
luta, mas não mais contra a
escravização como antigamente, mas
contra a negação de sua existência
e/ou invisibilidade de sua existência
De acordo com Calheiros
e
Stadtler (2010), reconhecer
-se
quilombola é resultado de uma
identidade que é concebida
socialmente, marcada de estigmas
devido à escr
avização passada, mas
também em um contexto marcado por
relações de poder. Referendando o
que já foi mencionado anteriormente, a
identidade é resultado da
convergência de forças sociais que
agem sobre o sujeito, podendo ser
compreendida como resultado de s
ação, mas também da sociedade.
À vista disso, a nomenclatura
remanescentes quilombolas
trazer
certa inconsistência referente à
identidade desses povos, pois
ao passado, em um presente que
insistentemente os to
esses povos
ficam entre uma
identidade histórica e uma ameaça à
própria existência enquanto
quilombolas. Uma das consequências,
conforme Arruti (2006), é correrem o
risco de não possuírem uma
identidade social, pelo fato de serem
constituídos no universo hegemônico
co
mo “remanescentes”
Nas palavras de Arruti (1997, p.
23), “apesar das exigências do termo,
os ‘remanescentes’ não são sobras de
antigos quilombos prontos para serem
identificados como tais, presos aos
264
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
quilombola é resultado de uma
identidade que é concebida
socialmente, marcada de estigmas
avização passada, mas
também em um contexto marcado por
relações de poder. Referendando o
que já foi mencionado anteriormente, a
identidade é resultado da
convergência de forças sociais que
agem sobre o sujeito, podendo ser
compreendida como resultado de s
ua
ação, mas também da sociedade.
À vista disso, a nomenclatura
remanescentes quilombolas
pode
certa inconsistência referente à
identidade desses povos, pois
ligados
ao passado, em um presente que
insistentemente os to
rna “invisíveis”,
ficam entre uma
identidade histórica e uma ameaça à
própria existência enquanto
quilombolas. Uma das consequências,
conforme Arruti (2006), é correrem o
risco de não possuírem uma
identidade social, pelo fato de serem
constituídos no universo hegemônico
mo “remanescentes”
.
Nas palavras de Arruti (1997, p.
23), “apesar das exigências do termo,
os ‘remanescentes’ não são sobras de
antigos quilombos prontos para serem
identificados como tais, presos aos
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
fatos do passado por uma
continuidade evidente e pronta
resgatada na ‘memória coletiva’ do
grupo”, pois, tendo esse pensamento,
pode ocorrer o engessamento
identidade social do grupo.
Apesar de ocorrer todo um
trabalho político e jurídico
a essa
questão quilombola, uma série
de implicações i
dentitárias envolve o
grupo, pois
ao serem intitulados como
“remanescente de quilombos”
uma dialética que tanto pode limitá
simbolicamente
(BOURDIEU, 2006)
como também possibilitar o surgimento
de novas perspectivas.
3. Cultura e subjetividade na
formação da identidade
Com o intuito de orientar
determinadas relações sociais, a
cultura é tida como um sistema de
códigos que serve para comunicar
algo, sendo muitas delas regras.
campo simbólico na cultura é outro
fator que proporciona aos indivíduos
uma possibilidade de
criar redes de
relações sociais, carregada de
práticas, signos, crenças e valores.
Dessa maneira, as comunidades
podem ser compreendidas a partir de
suas estruturas específicas e
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
fatos do passado por uma
continuidade evidente e pronta
mente
resgatada na ‘memória coletiva’ do
grupo”, pois, tendo esse pensamento,
pode ocorrer o engessamento
da
Apesar de ocorrer todo um
em relação
questão quilombola, uma série
dentitárias envolve o
ao serem intitulados como
“remanescente de quilombos”
vem
uma dialética que tanto pode limitá
-los
(BOURDIEU, 2006)
como também possibilitar o surgimento
3. Cultura e subjetividade na
Com o intuito de orientar
determinadas relações sociais, a
cultura é tida como um sistema de
códigos que serve para comunicar
algo, sendo muitas delas regras.
O
campo simbólico na cultura é outro
fator que proporciona aos indivíduos
criar redes de
relações sociais, carregada de
práticas, signos, crenças e valores.
Dessa maneira, as comunidades
podem ser compreendidas a partir de
suas estruturas específicas e
subjetividades, caracterizando
condutas dos sujei
tos de um grupo
relação ao ambiente a que pertence
ou a outros grupos.
A cultura é uma das grandes
responsáveis na formação do
indivíduo, a partir do momento em que
ele cresce e partilha um determinado
ambiente com seus pares, trabalhando
a
homogeneidade das diferenças em
cada povo. De acordo com Mathews
(2002), uma ideia semelhante a muitos
estudos
sobre esse tema é a de que
cada cultura representa um
determinado universo simbólico,
organizado socialmente, com
características limitadas e coe
em povos ou comunidades distintos.
Assim, é comum ocorrer certos
padrões de
comportamentos e valores
compartilhados
entre membros
pertencentes de cada grupo em
contraste a outros membros
pertencentes a outros grupos.
Diante do que foi apresentado,
p
odemos entender que a cultura atua
no processo de formação subjetiva do
sujeito. Por conseguinte, a
subjetividade é um conceito que
procura explanar a maneira como o
indivíduo organiza e produz sentidos e
significados pessoais, operados no
265
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
subjetividades, caracterizando
certas
tos de um grupo
em
relação ao ambiente a que pertence
m,
A cultura é uma das grandes
responsáveis na formação do
indivíduo, a partir do momento em que
ele cresce e partilha um determinado
ambiente com seus pares, trabalhando
homogeneidade das diferenças em
cada povo. De acordo com Mathews
(2002), uma ideia semelhante a muitos
sobre esse tema é a de que
cada cultura representa um
determinado universo simbólico,
organizado socialmente, com
características limitadas e coe
rentes
em povos ou comunidades distintos.
Assim, é comum ocorrer certos
comportamentos e valores
entre membros
pertencentes de cada grupo em
contraste a outros membros
pertencentes a outros grupos.
Diante do que foi apresentado,
odemos entender que a cultura atua
no processo de formação subjetiva do
sujeito. Por conseguinte, a
subjetividade é um conceito que
procura explanar a maneira como o
indivíduo organiza e produz sentidos e
significados pessoais, operados no
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
âmbito social. C
onforme Deschamps
Moliner (2009), ocorre um diálogo
permanente diante da realidade que
permeia os indivíduos, de maneira que
ao fazerem parte de um grupo e se
reconhecerem nele,
mesmo diante de
suas singularidades e diferenças,
uma identificação com o
indivíduos, apesar de suas
subjetividades, auxiliando na
construção de suas identidades.
Em relação à identidade,
Gonzalez Rey (2003) defende que ela
pode ser compreendida como
resultado da ação tanto da sociedade
quanto do próprio indivíduo, havendo
uma convergência de forças sociais de
maneira que ele possa agir como
protagonista, ou não, mas auxiliando
na construção de sua identidade. a
subjetividade, ainda segundo o autor,
é produzida
simultaneamente
nível individual
quanto social,
ind
ependente do reconhecimento de
sua origem histórico-
social. Nesse
ínterim, a subjetividade deve estar
relacionada não
apenas às
experiências sociais e individuais
vivenciadas, mas à maneira em que
uma dada experiência adquira
significado dentro em uma conj
subjetiva da história do sujeito.
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
onforme Deschamps
e
Moliner (2009), ocorre um diálogo
permanente diante da realidade que
permeia os indivíduos, de maneira que
ao fazerem parte de um grupo e se
mesmo diante de
suas singularidades e diferenças,
uma identificação com o
utros
indivíduos, apesar de suas
subjetividades, auxiliando na
construção de suas identidades.
Em relação à identidade,
Gonzalez Rey (2003) defende que ela
pode ser compreendida como
resultado da ação tanto da sociedade
quanto do próprio indivíduo, havendo
uma convergência de forças sociais de
maneira que ele possa agir como
protagonista, ou não, mas auxiliando
na construção de sua identidade. a
subjetividade, ainda segundo o autor,
simultaneamente
tanto no
quanto social,
ependente do reconhecimento de
social. Nesse
ínterim, a subjetividade deve estar
apenas às
experiências sociais e individuais
vivenciadas, mas à maneira em que
uma dada experiência adquira
significado dentro em uma conj
untura
subjetiva da história do sujeito.
Ainda de acordo com Gonzalez
Rey (2003), é uma rede de
informações e zonas de sentido que
transitam entre metamorfoses e
identificações que constitui o sujeito.
Essa constituição ocorre a partir da
história do indiv
íduo e de seu sistema
de relações, levando em consideração
a instância social geradora de sentidos
que o produzidos a partir da
experiência do sujeito, e atuando como
produtora de sentidos.
Dessa maneira, a identidade
envolve o sujeito ao contexto
está inserido, alinhando sentimentos
subjetivos a lugares objetivos,
ocupados
nas relações
culturais ao qual pertencem. Assim,
segundo Hall (2003), uma projeção
de
nossas identidades culturais, de
maneira que ocorre uma absorção de
seus valor
es e significados, tornando
os
parte de nós mesmos.
a identidade seria
interpelados pelos sistemas culturais,
move-
se em direção às diferentes
representações que nos tornamos.
A dimensão social da identidade
pode ser compreendida
posicionamento
em que a coletividade
envolve as faces
pessoais de cada
sujeito em determinados grupos.
266
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
Ainda de acordo com Gonzalez
Rey (2003), é uma rede de
informações e zonas de sentido que
transitam entre metamorfoses e
identificações que constitui o sujeito.
Essa constituição ocorre a partir da
íduo e de seu sistema
de relações, levando em consideração
a instância social geradora de sentidos
que o produzidos a partir da
experiência do sujeito, e atuando como
produtora de sentidos.
Dessa maneira, a identidade
envolve o sujeito ao contexto
em que
está inserido, alinhando sentimentos
subjetivos a lugares objetivos,
nas relações
sociais e
culturais ao qual pertencem. Assim,
segundo Hall (2003), uma projeção
nossas identidades culturais, de
maneira que ocorre uma absorção de
es e significados, tornando
-
parte de nós mesmos.
À vista disso,
a identidade seria
algo que,
interpelados pelos sistemas culturais,
se em direção às diferentes
representações que nos tornamos.
A dimensão social da identidade
pode ser compreendida
como um
em que a coletividade
pessoais de cada
sujeito em determinados grupos.
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
Todavia, se levarmos em consideração
a concepção identitária de grupo
étnico
como as comunidades
quilombolas
, numa visão
antropológica, notar
emos que uma
identidade que os diferencia dos
demais, uma vez que:
A identidade étnica pode estar
baseada em diversos fatores, como
a autoclassificação, uma
ancestralidade comum, uma
estrutura de organização política
própria, um sistema de produção
particular (incluem-
se as formas
específicas de exploração e
relacionamento com a terra), em
características raciais, em elementos
linguísticos e religiosos, ou em
símbolos específicos. (ANDRADE
TRECCANI, 1999, p.
4)
Destarte, o conceito de
identidade quilombola
ocorre a partir
das representações que os sujeitos em
questão estão inseridos, e a partir
suas identificações com significados e
valores que são socialmente
construídos. O reconhecimento dos
sujeitos enquanto grupo ocorre diante
de um contexto histórico-
cultural e do
posicionamento coletivo
compartilharem costumes, valores e
histórias, comungando de um mesmo
passado. a subjetividade
quilombola, remete-nos a
discursos sobre a história do grupo,
sendo
constituída por relações soc
e representações.
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Todavia, se levarmos em consideração
a concepção identitária de grupo
como as comunidades
, numa visão
emos que uma
identidade que os diferencia dos
A identidade étnica pode estar
baseada em diversos fatores, como
a autoclassificação, uma
ancestralidade comum, uma
estrutura de organização política
própria, um sistema de produção
se as formas
específicas de exploração e
relacionamento com a terra), em
características raciais, em elementos
linguísticos e religiosos, ou em
símbolos específicos. (ANDRADE
;
4)
Destarte, o conceito de
ocorre a partir
das representações que os sujeitos em
questão estão inseridos, e a partir
de
suas identificações com significados e
valores que são socialmente
construídos. O reconhecimento dos
sujeitos enquanto grupo ocorre diante
cultural e do
posicionamento coletivo
ao
compartilharem costumes, valores e
histórias, comungando de um mesmo
passado. a subjetividade
narrativas e
discursos sobre a história do grupo,
constituída por relações soc
iais
A análise histórico
sugerida
está baseada
interpretação da cultura quilombola,
levando em consideração suas
singularidades e particularidades
intrínsecas ao contexto. A cultura
assimilada
pelos sujeitos, revela uma
construção de significados imprimindo
autenticidade ao universo simbólico
analisado, permitindo
compreender a gica social
Dessa maneira, na tentativa de se
compreender a cultura quilombola aqui
apresentada, é interessante levar em
consider
ação o imaginário social
construído por seus sujeitos, que
remete a um passado de lutas,
discriminação, escravidão e
resistência.
4. Identidade na modernidade tardia
Com base nos estudos de
Stuart Hall (2003), a nomenclatura
“modernidade tardia” faz alusão às
transformações ocorridas com o
avançar da modernidade, não
indicando uma ruptura, mas sim uma
continuidade de projeto.
Anthony Giddens (1991)
defende que nas soc
tradicionais, o passado é venerado,
sendo os símbolos valorizados pelo
267
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
A análise histórico
-cultural
está baseada
em
interpretação da cultura quilombola,
levando em consideração suas
singularidades e particularidades
intrínsecas ao contexto. A cultura
pelos sujeitos, revela uma
construção de significados imprimindo
autenticidade ao universo simbólico
analisado, permitindo
-nos
compreender a gica social
envolvida.
Dessa maneira, na tentativa de se
compreender a cultura quilombola aqui
apresentada, é interessante levar em
ação o imaginário social
construído por seus sujeitos, que
nos
remete a um passado de lutas,
discriminação, escravidão e
4. Identidade na modernidade tardia
Com base nos estudos de
Stuart Hall (2003), a nomenclatura
“modernidade tardia” faz alusão às
transformações ocorridas com o
avançar da modernidade, não
indicando uma ruptura, mas sim uma
continuidade de projeto.
Anthony Giddens (1991)
defende que nas soc
iedades
tradicionais, o passado é venerado,
sendo os símbolos valorizados pelo
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
fato de perpetuar a experiência dos
antepassados e possui na tradição um
meio menos instável de lidar com o
tempo e o espaço, uma vez que
uma continuidade ao passado, sendo
e
struturados por práticas sociais
recorrentes, como a dança da
Caretagem
, que acontece na
comunidade pesquisada e que será
apresentada nas próximas seções.
O autor ainda
discute
modernidade é uma forma altamente
reflexiva da vida e não é apenas
const
ituída como a experiência de
convivência com a mudança pida
nas palavras de Giddens (1991, p. 37),
“as práticas sociais são
constantemente examinadas e
reformadas à luz das informações
recebidas sobre aquelas próprias
práticas, alterando, assim,
constit
utivamente, seu caráter.”
Segundo Laclau (1990), as
sociedades modernas não possuem
nenhum centro e não se desenvolvem
de acordo com o desdobramento de
uma única causa ou lei, mas de uma
“pluralidade de centros de poder”.
Dessa maneira, ilustramos a teoria
dando enfoque às identidades
“formadas” na comunidade quilombola
São Domingos, onde muitos
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
fato de perpetuar a experiência dos
antepassados e possui na tradição um
meio menos instável de lidar com o
tempo e o espaço, uma vez que
uma continuidade ao passado, sendo
struturados por práticas sociais
recorrentes, como a dança da
, que acontece na
comunidade pesquisada e que será
apresentada nas próximas seções.
discute
que a
modernidade é uma forma altamente
reflexiva da vida e não é apenas
ituída como a experiência de
convivência com a mudança pida
;
nas palavras de Giddens (1991, p. 37),
“as práticas sociais são
constantemente examinadas e
reformadas à luz das informações
recebidas sobre aquelas próprias
práticas, alterando, assim,
utivamente, seu caráter.”
Segundo Laclau (1990), as
sociedades modernas não possuem
nenhum centro e não se desenvolvem
de acordo com o desdobramento de
uma única causa ou lei, mas de uma
“pluralidade de centros de poder”.
Dessa maneira, ilustramos a teoria
dando enfoque às identidades
“formadas” na comunidade quilombola
São Domingos, onde muitos
integrantes possuem orgulho de ser
quilombola e manifestam esse orgulho
através de suas culturas e crenças
todavia essa afirmação não atinge
toda a comunidade, uma
muitos jovens pensam em trabalhar
fora da comunidade desejando,
principalmente, a mineradora Kinross.
Laclau chamou este fenômeno de
“deslocamento”. Para ele, as
sociedades da modernidade tardia o
caracterizadas pela “diferença”, pois
elas são a
travessadas por
antagonismos que produzem uma
gama de diferentes posições de sujeito
ou seja, identidades
indivíduos, que proporcionam às
sociedades não desaparecerem
totalmente, contudo serem articuladas
conjuntamente.
Embora
essa concepção de
identidade seja
desconfortante por ser
diferente do conceito de identidade
que trazíamos da nossa estrutura
social e dos nossos antepassados,
Laclau (1990) reitera que esse
deslocamento também possui
características positivas, uma vez que
abre novas possi
articulações, isto é, a possibilidade do
surgimento de criação de novos
sujeitos.
268
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
integrantes possuem orgulho de ser
quilombola e manifestam esse orgulho
através de suas culturas e crenças
;
todavia essa afirmação não atinge
toda a comunidade, uma
vez que
muitos jovens pensam em trabalhar
fora da comunidade desejando,
principalmente, a mineradora Kinross.
Laclau chamou este fenômeno de
“deslocamento”. Para ele, as
sociedades da modernidade tardia o
caracterizadas pela “diferença”, pois
travessadas por
antagonismos que produzem uma
gama de diferentes posições de sujeito
ou seja, identidades
para os
indivíduos, que proporcionam às
sociedades não desaparecerem
totalmente, contudo serem articuladas
essa concepção de
desconfortante por ser
diferente do conceito de identidade
que trazíamos da nossa estrutura
social e dos nossos antepassados,
Laclau (1990) reitera que esse
deslocamento também possui
características positivas, uma vez que
abre novas possi
bilidades de
articulações, isto é, a possibilidade do
surgimento de criação de novos
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
Outra teoria que reitera a ideia
de deslocamento de Laclau é a
reflexividade, proposta por Chouliaraki
e Fairclough (1999). Essa reflexividade
refere-se à revisã
o dos aspectos da
atividade social, por parte dos
indivíduos -
atores sociais
novos conhecimentos, que são
gerados por sistemas especialistas. Os
autores sugerem que a reflexividade,
inerente à ação humana,
‘externalizada’ na modernidade tard
isto é, as informações de que os
atores sociais se valem de
informações que reflexivamente vêm
“de fora” do meio que vivem.
De acordo com Giddens (2002),
a experiência mediada tornou o dia a
dia da vida mais influenciado pela
informação e pelo conheci
Nessa condição,
o surgimento das
autoidentidades passou a se sujeitar,
proporcionalmente, às revisões da
reflexividade institucional. Assim,
Giddens (1991, p. 88) defende que “os
indivíduos em cenários pré
em princípio e na prática, poderi
ignorar os pronunciamentos de
sacerdotes, sábios e feiticeiros,
prosseguindo com as rotinas da
atividade cotidiana.”
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Outra teoria que reitera a ideia
de deslocamento de Laclau é a
reflexividade, proposta por Chouliaraki
e Fairclough (1999). Essa reflexividade
o dos aspectos da
atividade social, por parte dos
atores sociais
-, à luz de
novos conhecimentos, que são
gerados por sistemas especialistas. Os
autores sugerem que a reflexividade,
inerente à ação humana,
é
‘externalizada’ na modernidade tard
ia,
isto é, as informações de que os
atores sociais se valem de
informações que reflexivamente vêm
“de fora” do meio que vivem.
De acordo com Giddens (2002),
a experiência mediada tornou o dia a
dia da vida mais influenciado pela
informação e pelo conheci
mento.
o surgimento das
autoidentidades passou a se sujeitar,
proporcionalmente, às revisões da
reflexividade institucional. Assim,
Giddens (1991, p. 88) defende que “os
indivíduos em cenários pré
-modernos,
em princípio e na prática, poderi
am
ignorar os pronunciamentos de
sacerdotes, sábios e feiticeiros,
prosseguindo com as rotinas da
Destarte, determinadas práticas
podem estar sujeitas
autoconstruções reflexivas cada vez
mais influenciadas pela informação
exterior,
para referendar relações de
dominação. Mas, apesar de muitos
sentidos estarem a serviço da
dominação, também estão presentes
nas formas simbólicas próprias da
atividade social, sendo que uma busca
pela autoidentidade pode sinalizar
possibilidade de mudança
favor dos menos privilegiados, pois
deve ser criada e sustentada nas
atividades reflexivas de cada sujeito.
Para Woodward (2000), a
representação é o papel
cultura na produção dos significados
que envolvem as relações sociais e
que lev
am a uma preocupação com a
identificação.
Segundo esse mesmo
autor, a maioria das práticas de
significação envolvem relações de
poder, incluindo o poder para definir
quem é incluído e quem é excluído nos
grupos sociais. Dito isso, podemos
concluir que a cu
identidade ao dar sentido à
experiência e ao tornar possível fazer
a opção entre diversas identidades,
através da subjetividade.
269
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
Destarte, determinadas práticas
podem estar sujeitas
a
autoconstruções reflexivas cada vez
mais influenciadas pela informação
para referendar relações de
dominação. Mas, apesar de muitos
sentidos estarem a serviço da
dominação, também estão presentes
nas formas simbólicas próprias da
atividade social, sendo que uma busca
pela autoidentidade pode sinalizar
possibilidade de mudança
social em
favor dos menos privilegiados, pois
deve ser criada e sustentada nas
atividades reflexivas de cada sujeito.
Para Woodward (2000), a
representação é o papel
-chave da
cultura na produção dos significados
que envolvem as relações sociais e
am a uma preocupação com a
Segundo esse mesmo
autor, a maioria das práticas de
significação envolvem relações de
poder, incluindo o poder para definir
quem é incluído e quem é excluído nos
grupos sociais. Dito isso, podemos
concluir que a cu
ltura molda a
identidade ao dar sentido à
experiência e ao tornar possível fazer
a opção entre diversas identidades,
através da subjetividade.
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
As transformações nas
estruturas econômicas e políticas na
contemporaneidade colocam em
destaque as questões ide
ntitárias e as
lutas pela afirmação e manutenção
das identidades nacionais e étnicas.
Dessa maneira, é possível observar a
falta de estabilidade que permeia a
temática das identidades e, por isso, o
apego ao passado em que,
anteriormente, tinham
apoiar, algo que era referência, mas
que quase não ocorre atualmente
devido à imensa quantidade de
informações que são veiculadas e
que os sujeitos, agentes de suas
práticas, possuem amplo acesso.
Hall (2003) defende o
reconhecimento da identidade, porém
não de uma identidade que esteja
fixada na rigidez da oposição binária
“nós, eles”, ou no caso deste trabalho,
“comunidade quilombola e mundo
exterior”. O autor enfatiza a fluidez da
identidade ao vê-
la como uma questão
de “tornar-
se”, aqueles que reivind
a identidade não ficariam limitados a
ser posicionados pela identidade: eles
seriam capazes de se e de transformar
e reconstruir identidades herdadas de
um possível passado semelhante. Ao
afirmar uma identidade, a legitimação
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
As transformações nas
estruturas econômicas e políticas na
contemporaneidade colocam em
ntitárias e as
lutas pela afirmação e manutenção
das identidades nacionais e étnicas.
Dessa maneira, é possível observar a
falta de estabilidade que permeia a
temática das identidades e, por isso, o
apego ao passado em que,
algo para
apoiar, algo que era referência, mas
que quase não ocorre atualmente
devido à imensa quantidade de
informações que são veiculadas e
a
que os sujeitos, agentes de suas
práticas, possuem amplo acesso.
Hall (2003) defende o
reconhecimento da identidade, porém
não de uma identidade que esteja
fixada na rigidez da oposição binária
“nós, eles”, ou no caso deste trabalho,
“comunidade quilombola e mundo
exterior”. O autor enfatiza a fluidez da
la como uma questão
se”, aqueles que reivind
icam
a identidade não ficariam limitados a
ser posicionados pela identidade: eles
seriam capazes de se e de transformar
e reconstruir identidades herdadas de
um possível passado semelhante. Ao
afirmar uma identidade, a legitimação
é buscada pela referência
passado autêntico, sendo
possivelmente um passado glorioso.
Esse passado faz parte de uma
“comunidade imaginada”, uma
comunidade de pessoas que o
apresentadas como sendo “nós”.
Trazendo essa teoria à
comunidade quilombola São
Domingos, que está se
pesquisada,
apesar da origem de
remanescentes mineradores
escravizados, necessariamente,
integrantes não precisam continuar
seu legado de ‘mineradores’, mas
podem buscar novas perspectivas de
trabalho neste mundo globalizado.
5. Etnografia
Muitos consideram a etnografia
apenas como uma técnica, contudo,
de acordo com Magnani (2002), ela
pode servir-
se de várias técnicas,
conforme as circunstâncias de cada
pesquisa desenvolvida.
A etnografia revela e estuda as
crenças, os costumes e as tradiç
de uma sociedade e ou comunidade,
que são transmitidas de geração em
geração e que permitem a
continuidade de um sistema social ou
de determinada cultura.
270
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
é buscada pela referência
a um
passado autêntico, sendo
possivelmente um passado glorioso.
Esse passado faz parte de uma
“comunidade imaginada”, uma
comunidade de pessoas que o
apresentadas como sendo “nós”.
Trazendo essa teoria à
comunidade quilombola São
Domingos, que está se
ndo
apesar da origem de
remanescentes mineradores
escravizados, necessariamente,
seus
integrantes não precisam continuar
seu legado de ‘mineradores’, mas
podem buscar novas perspectivas de
trabalho neste mundo globalizado.
Muitos consideram a etnografia
apenas como uma técnica, contudo,
de acordo com Magnani (2002), ela
se de várias técnicas,
conforme as circunstâncias de cada
pesquisa desenvolvida.
A etnografia revela e estuda as
crenças, os costumes e as tradiç
ões
de uma sociedade e ou comunidade,
que são transmitidas de geração em
geração e que permitem a
continuidade de um sistema social ou
de determinada cultura.
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
O conceito de comunidade está
ligado a um agrupamento de pessoas
que vivem dentro de uma mesma ár
geográfica, urbana ou rural, vinculadas
por interesses comuns e que
participam das condições gerais de
vida. Esse termo ainda é usado para
denominar uma forma de associação
muito íntima, um grupo altamente
integrado em que os membros se
encontram ligado
s uns aos outros por
laços de simpatia. Assim, podemos
concluir que qualquer grupo pode
constituir uma comunidade, por
exemplo, comunidades que vivem
submetidas à mesma crença
ideológica.
A importância de se levar a
etnografia em consideração é que o
profissional não fica à margem da
realidade que estuda ou trabalha, ele
realmente se envolve na vida da
comunidade, observando suas
características tanto essenciais quanto
acidentais. Com esse
propósito, o
pesquisador / profissional participa da
vida cotidiana das pessoas por certo
período de tempo, “[...] observando o
que acontece, escutando o que é dito,
fazendo perguntas
na verdade,
coletando qualquer dado que esteja
disponível para esclare
cer as questões
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
O conceito de comunidade está
ligado a um agrupamento de pessoas
que vivem dentro de uma mesma ár
ea
geográfica, urbana ou rural, vinculadas
por interesses comuns e que
participam das condições gerais de
vida. Esse termo ainda é usado para
denominar uma forma de associação
muito íntima, um grupo altamente
integrado em que os membros se
s uns aos outros por
laços de simpatia. Assim, podemos
concluir que qualquer grupo pode
constituir uma comunidade, por
exemplo, comunidades que vivem
submetidas à mesma crença
A importância de se levar a
etnografia em consideração é que o
profissional não fica à margem da
realidade que estuda ou trabalha, ele
realmente se envolve na vida da
comunidade, observando suas
características tanto essenciais quanto
propósito, o
pesquisador / profissional participa da
vida cotidiana das pessoas por certo
período de tempo, “[...] observando o
que acontece, escutando o que é dito,
na verdade,
coletando qualquer dado que esteja
cer as questões
com as quais ele se ocupa” (FLICK,
2009, p.
214). Essa conduta é o que
permite ao etnógrafo compreender as
práticas desenvolvidas na comunidade
e poder explorá-
las em sala de aula,
fortalecendo toda a bagagem cultural
que os alunos possuem.
6. Culturas na comunidade
Dentre os patrimônios culturais
materiais e imateriais que existem n
Comunidade
São Domingos, como o
artesanato, a culinária, as festas
religiosas, histórias e folclores locais,
uma merece destaque, que é a festa
da Caretagem,
pois é a expressão de
maior relevância na comunidade e que
os tornam
mais conhecidos no
município de Paracatu.
A
Caretagem, também
denominada de Caretada
manifestação típica do noroeste
mineiro e surgiu em Paracatu no final
do século XVIII. É uma ex
cultural em que,
somente os homens participavam,
vestidos com suas roupas coloridas e
máscaras, dançam e cantam pelas
ruas da comunidade. A festa é
dedicada a São João Batista e começa
no dia 23 de junho e termina dia 24 do
mesmo mês
. Todavia, a preparação à
271
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
com as quais ele se ocupa” (FLICK,
214). Essa conduta é o que
permite ao etnógrafo compreender as
práticas desenvolvidas na comunidade
las em sala de aula,
fortalecendo toda a bagagem cultural
que os alunos possuem.
6. Culturas na comunidade
Dentre os patrimônios culturais
materiais e imateriais que existem n
a
São Domingos, como o
artesanato, a culinária, as festas
religiosas, histórias e folclores locais,
uma merece destaque, que é a festa
pois é a expressão de
maior relevância na comunidade e que
mais conhecidos no
município de Paracatu.
Caretagem, também
denominada de Caretada
, é uma
manifestação típica do noroeste
mineiro e surgiu em Paracatu no final
do século XVIII. É uma ex
pressão
anteriormente,
somente os homens participavam,
vestidos com suas roupas coloridas e
máscaras, dançam e cantam pelas
ruas da comunidade. A festa é
dedicada a São João Batista e começa
no dia 23 de junho e termina dia 24 do
. Todavia, a preparação à
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
festa começa no primeiro domingo do
mês de junho e termina na tarde do dia
24 de junho.
A comunidade e pessoas do
município se reúnem em algumas
casas para assistir às apresentações
do grupo. Os homens, mulheres e as
crianças fic
am atentos às instruções
dadas pelo comandante da
que utiliza, como auxílio para organizar
o ensaio, uma cornetinha de sopro em
bronze, que possui uma “idade”
desconhecida pelo grupo. O
levantamento do mastro em
homenagem a São João Batista é que
proporciona o início da festa. Após o
levantamento, o grupo sai em dança
pela comunidade, visitando as casas e
recebendo comida e bebida (não
alcoólica) dada pelos anfitriões das
casas.
Uma ex-
líder da comunidade,
mas ainda atuante, Dona Maria (nome
fictício), conta as possíveis versões da
origem do surgimento da festa da
Caretagem:
Entrevistador:
Tem alguma his
em relação a São João, à Caretada
Dona Maria:
Olha, tem várias
histórias, assim...
Entrevistador:
Por que a
homenagem a São João?
Dona Maria:
a homenagem a São
João tem dois fatos que o pessoal
fala. Primeiro dos escravos, que eles
era devoto de São João e não podia
festejar, né? Então eles fantasiavam
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
festa começa no primeiro domingo do
mês de junho e termina na tarde do dia
A comunidade e pessoas do
município se reúnem em algumas
casas para assistir às apresentações
do grupo. Os homens, mulheres e as
am atentos às instruções
dadas pelo comandante da
Caretagem
que utiliza, como auxílio para organizar
o ensaio, uma cornetinha de sopro em
bronze, que possui uma “idade”
desconhecida pelo grupo. O
levantamento do mastro em
homenagem a São João Batista é que
proporciona o início da festa. Após o
levantamento, o grupo sai em dança
pela comunidade, visitando as casas e
recebendo comida e bebida (não
alcoólica) dada pelos anfitriões das
líder da comunidade,
mas ainda atuante, Dona Maria (nome
fictício), conta as possíveis versões da
origem do surgimento da festa da
Tem alguma his
tória
em relação a São João, à Caretada
?
Olha, tem várias
Por que a
homenagem a São João?
a homenagem a São
João tem dois fatos que o pessoal
fala. Primeiro dos escravos, que eles
era devoto de São João e não podia
festejar, né? Então eles fantasiavam
para que os senhores
conhecesse quem era quem, eles
fantasiava, mascarava pra dançar...
Entrevistador
:
João...
Dona Maria:
É... mas tem outra
história que eu acho que é mais
verdadeira, né? É que quando o
João nasceu, né? São Zacarias fez
uma fogueira, isso
uma fogueira de sete metros de
altura e colocou uma bandeira com a
foto (imagem) dele né, e acendeu a
fogueira e clareou muito longe e
muita gente viu aquele clarão e
então sabia que o João tinha
nascido.
Entrevistador
:
Evangelista?
Dona Maria:
Batista. É tanto que na
Caretada
tem o cântico: São João
batizou Cristo, Cristo batizou João,
eles foram batizados no rio de
Jordão!
Entrevistador
:
bom! Pensei que fosse São João
Apóstolo, é São João
Dona Maria:
Então, e disse que tava
um grupo guerriano, realmente agora
é que eles desusaram, mas eles
tinham uma espada, todos
dançantes tinha uma espada na
cintura, e quando eles viram o
clarão, que São João tinha nascido,
eles ficaram todo aleg
de alegria e invés de guerriar, lutar,
eles começaram a dançar! Tem essa
história também.
Entrevistador
:
em homenagem... representa o
nascimento de São João Batista.
Dona Maria:
agente levanta o mastro,faz a
fogueira, levanta a bandeira dele.
O grupo é composto de
aproximadamente 30 membros, sendo
que a metade deles se veste de dama
e a outra de cavalheiro. Um careta,
segundo informações, nunca começa
a dançar
de cavalheiro, devendo
exercer primeiro o papel de dama.
272
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
para que os senhores
o
conhecesse quem era quem, eles
fantasiava, mascarava pra dançar...
:
Na festa de São
É... mas tem outra
história que eu acho que é mais
verdadeira, né? É que quando o
João nasceu, né? São Zacarias fez
uma fogueira, isso
eu li, né? Fez
uma fogueira de sete metros de
altura e colocou uma bandeira com a
foto (imagem) dele né, e acendeu a
fogueira e clareou muito longe e
muita gente viu aquele clarão e
então sabia que o João tinha
:
Ah, tá. É São João
Batista. É tanto que na
tem o cântico: São João
batizou Cristo, Cristo batizou João,
eles foram batizados no rio de
:
Rsrsrsrsrsrsr...Ah,
bom! Pensei que fosse São João
Apóstolo, é São João
Batista.
Então, e disse que tava
um grupo guerriano, realmente agora
é que eles desusaram, mas eles
tinham uma espada, todos
dançantes tinha uma espada na
cintura, e quando eles viram o
clarão, que São João tinha nascido,
eles ficaram todo aleg
re, encheram
de alegria e invés de guerriar, lutar,
eles começaram a dançar! Tem essa
história também.
:
Então a Caretada é
em homenagem... representa o
nascimento de São João Batista.
Eles que festeja,
agente levanta o mastro,faz a
fogueira, levanta a bandeira dele.
O grupo é composto de
aproximadamente 30 membros, sendo
que a metade deles se veste de dama
e a outra de cavalheiro. Um careta,
segundo informações, nunca começa
de cavalheiro, devendo
exercer primeiro o papel de dama.
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
Como citado anteriormente, na
festa da Caretagem
, somente os
homens podiam dançar. Contudo,
referendando a teoria do
deslocamento de Laclau (1990),
atualmente, para que fosse possível o
desenvolvimento da festa e da dança,
mulheres e até mesmo crianças
fazem parte do grupo, pois não se
tinha mais hom
ens suficientes que
pudessem constituir todos os
integrantes para o desenvolvimento
cultural, seguindo os moldes dos seus
antepassados. Todavia, esses
Figura 1.
A comunidade é constituída de
duas associações: a dos moradores,
responsável pela questão de todos os
moradores, inclusive aqueles que
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Como citado anteriormente, na
, somente os
homens podiam dançar. Contudo,
referendando a teoria do
deslocamento de Laclau (1990),
atualmente, para que fosse possível o
desenvolvimento da festa e da dança,
mulheres e até mesmo crianças
fazem parte do grupo, pois não se
ens suficientes que
pudessem constituir todos os
integrantes para o desenvolvimento
cultural, seguindo os moldes dos seus
antepassados. Todavia, esses
integrantes ainda entram como dama e
não como cavalheiro.
Outro morador, conhecido como
Pedro (nome fictí
cio), também
sobre a festa:
Entrevistador
: [...] A gente sabe que
tem uma festa tradicional que chama
Caretada/
Caretagem
preparava estes rituais da Caretada
esta festa, antigamente? É sempre o
líder da Comunidade ou não?
Pedro:
Sempre tem essa
mesmo.Assim... talvez não seja líder
da comunidade, mas seja líder
dentro do evento. Por exemplo, na
época tinha o finado Antônio [...
era o guerreiro naquela Caretada
mas infelizmente veio a falecer.Aí
veio o filho dele, que é o Geraldo,
que tá dando sequência até hoje.
Apresentação da Caretada e público ao fundo
A comunidade é constituída de
duas associações: a dos moradores,
responsável pela questão de todos os
moradores, inclusive aqueles que
moram, mas não são quilombolas; e a
associação de Quilombolas São
Domingos, que
fica por conta das
Fonte: Acervo dos autores (2020)
273
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
integrantes ainda entram como dama e
Outro morador, conhecido como
cio), também
fala
: [...] A gente sabe que
tem uma festa tradicional que chama
Caretagem
. Quem
preparava estes rituais da Caretada
,
esta festa, antigamente? É sempre o
líder da Comunidade ou não?
Sempre tem essa
liderança
mesmo.Assim... talvez não seja líder
da comunidade, mas seja líder
dentro do evento. Por exemplo, na
época tinha o finado Antônio [...
], que
era o guerreiro naquela Caretada
,
mas infelizmente veio a falecer.Aí
veio o filho dele, que é o Geraldo,
é
que tá dando sequência até hoje.
moram, mas não são quilombolas; e a
associação de Quilombolas São
fica por conta das
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
questões legais referentes à
Comunidade.
A atividade econômica do São
Domingos é a agricultura de
subsistência, como pequenas roças,
onde o trabalho é familiar. O açafrão é
outro produto tradicionalmente
comercializado e muito conhecido
estado de Minas Gerais como um
produto de alta qualidade. Também
existe na comunidade olaria, a casa da
farinha, o moinho de cana que
proporciona a moagem para se fazer a
rapadura que também é muito famosa.
Além disso tudo, diversas moradoras
realizam a
tividades artesanais de
cestas e grande variedade de doces.
7. Considerações finais
Por ser um espaço de
compartilhamento e trocas simbólicas,
a cultura quilombola dá ênfase às
particularidades das pessoas que a
constituem, justamente por possuir
relação a um contexto político, cultural
e social.Ela proporciona um
posicionamento subjetivo
que se reconhece nas tradições
passadas e é uma
instância que
procura preservar
os elementos
culturais vinculados a um passado
social e histórico.
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
questões legais referentes à
A atividade econômica do São
Domingos é a agricultura de
subsistência, como pequenas roças,
onde o trabalho é familiar. O açafrão é
outro produto tradicionalmente
comercializado e muito conhecido
no
estado de Minas Gerais como um
produto de alta qualidade. Também
existe na comunidade olaria, a casa da
farinha, o moinho de cana que
proporciona a moagem para se fazer a
rapadura que também é muito famosa.
Além disso tudo, diversas moradoras
tividades artesanais de
cestas e grande variedade de doces.
Por ser um espaço de
compartilhamento e trocas simbólicas,
a cultura quilombola dá ênfase às
particularidades das pessoas que a
constituem, justamente por possuir
relação a um contexto político, cultural
e social.Ela proporciona um
à pessoa
que se reconhece nas tradições
instância que
os elementos
culturais vinculados a um passado
A ideia de pertencimento do
sujeito, mediante valores e crenças
inseridos a uma realidade
cultural própria desse contexto,reflete
em sua
identidade e proporciona seu
reconhecimento enquanto
fazendo parte de um todo maior.
contrapartida, políticas voltadas a essa
área devem ter cuidado para que não
engessem as
iden
titárias quilombolas, de maneira
que não corra o risco de as fixarem a
um passado ou lhes direcionar um
futuro em que não possam seguir as
mudanças naturais da comunidade.
É essencial que áreas das
Ciências Sociais e
Humanas como
Antropologia, a P
sicolog
Linguística etc. tão empenhad
estudar questões referentes à
identidade e à subjetividade, voltem
seus olhares também para o estudo de
processos não-
hegemônicos, como é
o caso das comunidades quilombolas,
uma vez que
essa relação que tr
do seu passado, as
negociações com
a sociedade e o vínculo ao território,
são questões
que envolvem a
construção identitária
muitas vezes são restringidos por
espaços hegemônicos.
274
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
A ideia de pertencimento do
sujeito, mediante valores e crenças
inseridos a uma realidade
histórico-
cultural própria desse contexto,reflete
identidade e proporciona seu
reconhecimento enquanto
quilombola,
fazendo parte de um todo maior.
Em
contrapartida, políticas voltadas a essa
área devem ter cuidado para que não
possibilidades
titárias quilombolas, de maneira
que não corra o risco de as fixarem a
um passado ou lhes direcionar um
futuro em que não possam seguir as
mudanças naturais da comunidade.
É essencial que áreas das
Humanas como
a
sicolog
ia, Sociologia,
Linguística etc. tão empenhad
as em
estudar questões referentes à
identidade e à subjetividade, voltem
seus olhares também para o estudo de
hegemônicos, como é
o caso das comunidades quilombolas,
essa relação que tr
azem
negociações com
a sociedade e o vínculo ao território,
que envolvem a
construção identitária
quilombola e
muitas vezes são restringidos por
espaços hegemônicos.
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
Em relação à comunidade
quilombola São Domingos, notamos
q
ue ainda representações
identitárias materiais e imateriais
desenvolvidas no âmbito da
comunidade, todavia, devido à grande
influência externa de mercado de
trabalho, que é escasso e devido à
falta de amparo e de recursos, muito
do que existia começa a
semelhante ao que aconteceu com
outras comunidades quilombolas da
região. Contudo, São Domingos ainda
persiste em perpetuar suas origens e
suas tradições, através da
identificação e da ideia de
pertencimento dos seus integrantes,
adequando-se da
maneira que pode,
na tentativa de não deixar “morrer” as
características e conhecimentos que
herdaram de seus antepassados.
Referências
bibliográficas
ANDRADE, cia; TRECCANI,
Girolamo
. Terras de Quilombo.
CEDEFES. Disponível em:
www.cedefes.org.br
. Acesso em: 02
jul. 2020.
ARRUTI, J. M.
A emergência dos
“remanescentes
”: notas para o diálogo
entre indígenas e quilombolas.
3(2), p. 7-38, 1997.
ARRUTI, J. M. Mocambo
: Antropologia
e História
do processo de formação
quilombola. Bauru: Ed. Edusc, 2006.
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Em relação à comunidade
quilombola São Domingos, notamos
ue ainda representações
identitárias materiais e imateriais
desenvolvidas no âmbito da
comunidade, todavia, devido à grande
influência externa de mercado de
trabalho, que é escasso e devido à
falta de amparo e de recursos, muito
do que existia começa a
se perder,
semelhante ao que aconteceu com
outras comunidades quilombolas da
região. Contudo, São Domingos ainda
persiste em perpetuar suas origens e
suas tradições, através da
identificação e da ideia de
pertencimento dos seus integrantes,
maneira que pode,
na tentativa de não deixar “morrer” as
características e conhecimentos que
herdaram de seus antepassados.
bibliográficas
ANDRADE, cia; TRECCANI,
. Terras de Quilombo.
CEDEFES. Disponível em:
. Acesso em: 02
A emergência dos
”: notas para o diálogo
entre indígenas e quilombolas.
Mana,
: Antropologia
do processo de formação
quilombola. Bauru: Ed. Edusc, 2006.
BOURDIEU, Pierre.
O poder simbólico
São Paulo: Bertrand Brasil, 2006.
CALHEIROS, F. P.;
STADTLER, H. H.
C.
Identidade étnica e poder
quilombos nas políticas públicas
brasileiras.
Rev. K
vol.13, n.1, p.133-
139
CIAMPA, A. C. (2001).
Severino e a história da Severina.
Paulo: Brasiliense
, 2001
Decreto n. 4.887
, de 20 de novembro
de 2003. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/de
creto/2003/d4887.htm
jul. 2020.
Decreto n. 6.040,
de 7 de fevereiro de
2007. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at
o2007-
2010/2007/decreto/d6040.htm
Acesso em: 29 jul.
2020.
DESCHAMPS, J.-C.
;
identidade em Psicologia Social.
Petrópolis
: Vozes, 2009.
FLICK, Uwe.
Uma introdução à
pesquisa qualitativa
. Porto Alegre
Artmed, 2009.
GIDDENS, Anthony.
consequências da modernidade
Paulo: Unesp, 1991.
GIDDENS, Anthony.
identidade.
Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2002.
GONZAGA, Olimpio
Histórica de Paracatu.
Jardim e Cia., 1910.
GONZÁLEZ-
REY, F.
subjetividade:
uma aproximação
histórico-cultural
. São Paulo:
Thomson, 2003.
HALL, Stuart.
A identidade cultural na
pós-modernidade.
Rio de Janei
DP&A, 2003.
275
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
O poder simbólico
.
São Paulo: Bertrand Brasil, 2006.
STADTLER, H. H.
Identidade étnica e poder
: os
quilombos nas políticas públicas
Rev. K
atálysis [online],
139
, 2010.
CIAMPA, A. C. (2001).
A estória do
Severino e a história da Severina.
São
, 2001
.
, de 20 de novembro
de 2003. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/de
creto/2003/d4887.htm
. Acesso em: 29
de 7 de fevereiro de
2007. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at
2010/2007/decreto/d6040.htm
.
2020.
;
MOLINER, P. A
identidade em Psicologia Social.
: Vozes, 2009.
Uma introdução à
. Porto Alegre
:
GIDDENS, Anthony.
As
consequências da modernidade
. São
GIDDENS, Anthony.
Modernidade e
Rio de Janeiro: Jorge
GONZAGA, Olimpio
. Memória
Histórica de Paracatu.
Uberaba: Typ.
REY, F.
Sujeito e
uma aproximação
. São Paulo:
A identidade cultural na
Rio de Janei
ro:
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 259-276
, março 202
LACLAU, E.
New Reflections on the
Resolution of our Time.
Verso, 1990.
LEITE, I. B.
O projeto político
quilombola
: desafios, conquistas e
impasses atuais.
Revista Estudos
Feministas,16(3), p. 965
-
Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ref/v16n3/15.p
df
. Acesso em: 30 jun. 2020.
MAGNANI, José Guilherme Cantor.
perto e de dentro: notas para uma
etnografia urbana.
Revista Brasileira
de Ciências Sociais,
São Paulo
n. 49, p. 11-29, 2002.
MATHEWS, G.
Cultura global e
identidade individual:
à procura de um
lar no supermercado
. Bauru: EDUSC,
2002.
MELLO, Antônio de Oliveira.
reveladas (Paracatu no tempo).
Paracatu: Ed. da Prefeitura Municipal
de Paracatu, 2002.
WOODWARD, Kathryn. Identidade e
diferença: uma introdução teórica e
conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu.
Identidade e diferença.
A perspectiva
dos estudos culturais.
Vozes, 2000. p. 7-39.
SILVA, Luiz Henrique G.; SOUSA, Rosineide M. de. Caretagem, uma
manifestação identitária na comunidade quilombola São Domingos
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
New Reflections on the
Resolution of our Time.
Londres:
O projeto político
: desafios, conquistas e
Revista Estudos
-
977, 2008.
Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ref/v16n3/15.p
. Acesso em: 30 jun. 2020.
MAGNANI, José Guilherme Cantor.
De
perto e de dentro: notas para uma
Revista Brasileira
São Paulo
, v.17,
Cultura global e
à procura de um
. Bauru: EDUSC,
MELLO, Antônio de Oliveira.
As minas
reveladas (Paracatu no tempo).
Paracatu: Ed. da Prefeitura Municipal
WOODWARD, Kathryn. Identidade e
diferença: uma introdução teórica e
conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu.
A perspectiva
dos estudos culturais.
Petrópolis:
276
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
Festas pretas em Belém
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
Resumo:
 
             

 
         !   
!"
           
# $
#
 % !      &'  ( )*+,-.
*+,-/0123
Palavras-chave:.
.
Fiestas negras en Belém -
identidad y actuaciones políticas en la fiesta
Resumen
45!6778
            7
 787&
8     9          8  
 8    7  87  
 ! 8  
   !  8  7   
1
,
:*+;
);35<4
=
/
*
"+;+)>
"
3;5
=
?
@-A*
B;
*;5
=<$
4BBB0000
Texto recebido em 01/09/20
20,
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Festas pretas em Belém
-
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
45696
Tainá
Fábio Fonseca de Castro
Marina Ramos Neves de Castro
 
             

&(C 
 
         !   
!"
           
# $
 
#
DE)F99/00G3D

 % !      &'  ( )*+,-.
.
..

identidad y actuaciones políticas en la fiesta
AFROnto
45!6778
            7
 787&
(C
8     9          8  
 8    7  87  
   !  8  7   
:*+;
=
<$4BBB0000<000/<
H/HI
"+;+)>
3;5
<
4
=
<$4BBB0000<000/<I0I?<1J1H
@-A*
";
*;5
<4
4BBB0000
<000/<?0GH</20K
20,
aceit
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
em 01/03/2021.
277
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
performances identitárias e políticas na festa
Tainá
Oliveira Barral
1
Fábio Fonseca de Castro
2
Marina Ramos Neves de Castro
3
 
             
&(C 
 
         !   

!"
<
           
 

 % !      &'  ( )*+,-.

AFROnto
45!6778
            7
(C
8     9          8  
 8    7  87  
   !  8  7   
:*+;
H/HI
<J1/K
"+;+)>
4
";
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
  5           7
       8   5 !
    7        
 )F99 /00G3 <
8  6    !    7
&()*+,-.*+,-/0123
Palabras clave:
.7..7.
Black parties in Belém -
identity performances and politics at the
Abstract:
,$$$L$L
 M 8$  $    NM 8N      M 8   8
 8M8$M8$M88
 $   $        $ $
  $   O  L8 $       8
  L
$    $    ,$ 
$$
<
 M    $  8   $  
6()*+,-.*+,-/0123
Keywords:
M8.$.M8$..
Festas pretas em Belém
1. Introdução
    
    

     
  & (
 
     
   
  

    
   
!   
  !    
   
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
  5           7
       8   5 !
    7        
8  6    !    7
&()*+,-.*+,-/0123

.7..7.

identity performances and politics at the
AFROnto
party
,$$$L$L
 M 8$  $    NM 8N      M 8   8
 8M8$M8$M88
 8$
 $   $        $ $
  $   O  L8 $       8
$    $    ,$ 
$$
<
88)F99/00G3
 M    $  8   $  
6()*+,-.*+,-/0123
M8.$.M8$..
M
Festas pretas em Belém
-
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto
    
    

     
  & (
 
     
  

    
   
!   
  !    
   
 "   

    
   
   #
)*+,-/01?3
$ P  
E
      
 6
     
    C 
6    


CNN
278
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
  5           7
       8   5 !

    7        
<  E 8
8  6    !    7

party
,$$$L$L
 M 8$  $    NM 8N      M 8   8
 8$
 $   $        $ $
  $   O  L8 $       8
$    $    ,$ 
88)F99/00G3
 M    $  8   $  
  &
performances identitárias e políticas na festa
 "   
<
    
   
   #
)*+,-/01?3
$ P  
E
      
 6

     
    C 
6    


CNN
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
      ! C

  
  C   

A
    C 
 
   %
!    
O    
$
     
 &
(     

 Q  &
( 
  %
    
   
 '<
 
 A   
     6 
 &    ( 
C 6  % 

;   

   $ N-N
 
*5"A
  )*3   
!!
   1RI0
#

     
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
      ! C
  
  C   

A
    C 
   %
!    

O    
 C
$

     
(     

( 
  %
 
    
   
 
 A   
     6 
 &    ( 
C 6  % 
;   
   $ N-N
 
*5"A
  )*3   
!!
<
   1RI0
 C
#
     
     
!
  C   C
     
*     
S     
 
!  
!
  C  
 
N-N
C
     
)+O@@59
 1RRR3  
    
 %
*+,- /0123 
    
   
  
7     
%@)/00/3
   C  
   
"@
 )T3 S  #
     
   7 
$   
( )@UAAO /00/  /03
  &-(  
C6
#$
  C 
279
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
     
!
  C   C
     
*     
S     
!  
  C  
N-N
 
C
     
 1RRR3  
    
 %
 )*+,-.
*+,- /0123 
    
   
  
7     
%@)/00/3
   C  
   
&(
"@
&
 )T3 S  #
     
   7 
$   
( )@UAAO /00/  /03
A
  &-(  
#$
  C 
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
6#   C 
   
    
C   @ 
   ! C
    C   
&(
)@UAAO/00//03
A   
    
   
    
  C 
   

#
)*+,-/01?3A$ 

    
 7   
     
ethos
 6  
  "  
 4    
   $ 
),;-A5- 1RII3    C 
  C  
J
*#
*)/01?3&%
7
*6
5


!7

<6(
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
6#   C 
   
    
C   @ 
   ! C
    C   
 
)@UAAO/00//03
A   
    
   
    
  C 
   
#
J
)*+,-/01?3A$ 

    
 7   
     
 6  
  "  
 4    
   $ 
),;-A5- 1RII3    C 
  C  
*#
*)/01?3&%
7
*6
5

!7

  $  
<

 6 
6    
     
-
    C
  !  6
    
   5 
%
    
<
 
  !   #
 7  !  
!    !

2. O contexto da observação
   
  
   
S $  
*C
E6
/01/
    
    
 F F  
     
    
    U
280
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
  $  
 6 
6    
     
-
    C
  !  6
    
   5 

%
    
 
  !   #
 7  !  
!    !


2. O contexto da observação
   
  
   
S $  
*C
E6
/01/

    
blacks
    
 F F  
     
    
    U
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
,
H
C  + 
+ )/01I3
   
C 

!    
7    # 
'  U ,
     
C#
    
E  6 
 V *M  C
      
    S.
-+#
   N-N 
 
 /01G + 
#      C
 $   
C     /01J
+ $  C $ 
+
 -  :  
F  <


H
*76
&U,(
!
C6


;
6#

$ 
CS
#6
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
C  + 
   
C 

!    
7    # 
'  U ,
     
C#

    
E  6 
 V *M  C
      
    S.
-+#
   N-N 
 /01G + 
#      C
 $   
M
C     /01J

+ $  C $ 
+
 -  :  



*76
<
&U,(
!
C6

;
6#

$ 
#6
 9U,O  -   
     
  C   7 
     
     
!   C  

6
   C  
    
   
$  
   ! 
 !   
E     
   C  
     C 
S   
    #
     

    
#
     C  
 
   
     E
   6  
*C /0S
 /012 O
-
 
  
   G S  
 
281
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
 9U,O  -   
     
  C   7 
     
     
!   C  
6
   C  
    
$  
   ! 
 !   
E     
   C  
 
     C 
S   
    #
     
    
#
     C  
   
     E
   6  
*C /0S
 /012 O
< 
-
 
  
* 5
   G S  
 
D  
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
     
  6   C
    
  -M - U   
*   /01I   C
$    
-5
 6 
     
 S /01I  C  
 -  *  
     
 
  
  5 $ 

   
E 
-@5$
 C   
$  E   
  !
 -W H00  
$  -W 1000    
 C     
        C
      -W
/000 D
   C 

    
N C N  

5   
    
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
     
  6   C
    
  -M - U   
*   /01I   C
$    
-5
 6 
     
 S /01I  C  
 -  *  
     
  
  5 $ 

   
E 
-@5$
 C   
$  E   

  !
 -W H00  
$  -W 1000    
 C     
        C
      -W
   C 
    
N C N  
5   
    
6
   
   " 
  E  
  U  5!
)OU53GRHX
<
2/X
  C A 
  "! *!
)A"3    OU5 
C/01G/012
&<
(1H/R
 C    
$    
C
$   /1IX 
/?X     
GJ/X     

     
)OU5/0123
 Y  >
: Q >#  /012 
C        
M    
C  
Q#
5!
CC 
 Q   

Q
282
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
6
   
   " 
  E  
O
  U  5!
)OU53GRHX
2/X
<
  C A 
  "! *!
)A"3    OU5 
C/01G/012
(1H/R
 C    
$    
C
$   /1IX 
/?X     
GJ/X     
     
 Y  >
: Q >#  /012 
C        
M    
C  
Q#

5!
CC 
 Q   

Q
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
   
    

6
<
!
C

   C  
6#   
    
 @  ; )1RRJ3
  
    
     
 Q 
  
E &  $7
     
     
   !
( )@-U;9O+. ;--5+,O 1RRJ
 /H3   S 
    S
  4  7 
7
6   
    

  
     
      7 
    
     
    
  
%  
Q
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
   
    
6
!

   C  
6#   
    
 @  ; )1RRJ3
  
 
    
     
  
E &  $7
<
     
     
   !

( )@-U;9O+. ;--5+,O 1RRJ
 /H3   S 
    S
  4  7 
7
6   
    
  
     
      7 
    
     
    
%  
5
   
    
     $
S$
S   )@-U;9O+.
;--5+,O 1RRJ3 A  
 &#(    

D
C@
 ;   
&(
6 )/00G3   
    
     
  &(  &#( 
 
   
7*
   C

!&S(
   C $ 
     
      
! E   

 C  :
  4 
  ! E
)O+5BZ9O+ /00H3  
   
C

283
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
   
    
     $
S$
S   )@-U;9O+.
;--5+,O 1RRJ3 A  
 &#(    


C@
 ;   
<  
6 )/00G3   
    
     
  &(  &#( 
 
 C
   
7*
   C

!&S(
<
   C $ 
     
 
      
! E   
 C  :
  4 
  ! E
)O+5BZ9O+ /00H3  
   

BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
       
7    
$   
    
    
C  6   Q C
   

  C#
   

 C

1JRX/01/
 /01G   C
A    "!
*! )
A"3   
OU5 5 '  
  S 
C  76  

   
9&

S
    
   6# 
!E
  
( )AO 9;: /01G
3
5 $ 
    
    
S  # 
7
 6
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
       
7    
$   
    
    
C  6   Q C
   

  C#
   
 C

1JRX/01/
 /01G   C
A    "!
A"3   
OU5 5 '  
  S 
C  76  
   

S
    
 
   6# 
!E
( )AO 9;: /01G
5 $ 
    
    
S  # 
 6
 C  
  S 
6#    
   9 C
 C
: A  C

 
! C  
 C 
%   
+C#
   E
!    
     

   :
A  6  U
,   76
6+CS
   
 
   
!)AO
5
    A
$
   E 
     
 )+O@@59 /00G3 C
    

7!
    
  A 6 
  
  
    
     
 
284
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
 C  
  S 
6#    
   9 C
: A  C

 
 +
! C  
 C 
%   
+C#
   E
!    
     


   :
A  6  U
,   76
6+CS
   
 
   
!)AO
9;:/01G3
5
    A
$
   E 
     
 )+O@@59 /00G3 C
    
7!
    
  A 6 
  
  
    
     
 

BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
3. Identificações e performances
identitárias na festa preta AFROnto
* 6 
   
    
   
    
)+*F5*FA5-
1RIH.1RII3 
    Q
6#
 ! 
    

#7<
!
  
 Q 
  #
7!
   
   # 
   
  * )/01?3
  6
 ' *  
    
   
)@5+9O
1RRG. 1RRI. /002
F99 /00G
3    
S   )+O@@59
1RI?. 1RRR. /00G
3   

   F )/00G3
    
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
3. Identificações e performances
identitárias na festa preta AFROnto
* 6 
   
    
   
<
    
1RIH.1RII3 
    Q
6#
 ! 
    

!
 Q 
  #
7!
   
   # 
   
  * )/01?3
  6
 ' *  
    
   
1RRG. 1RRI. /002
3    
S   )+O@@59
3   
   F )/00G3
    
   
%   
   
)    
# 3    !  
% 
 ! 
#  6
  
% "   F
    
D

&(4   $ 
 D
 ! 

   &(
 C   
   !   
S   S 
$7   !
 F )/00G3 $ 
$
6#4
P     
$  6#
 C  
   
     
E6#
  !  C 
    
   
   
6 !  
!   
 !  
)F99/00G?/23
5  @ )/01J3
   
!     
285
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
   
%   
   
)    

# 3    !  
 ! 
#  6
<
  
% "   F
    

&(4   $ 
 ! 
   &(
 C   
   !   
S   S 
$7   !
 A
 F )/00G3 $ 
$
P     
$  6#
 C  
   
     
E6#
  !  C 
    

   
   
6 !  
!   
 !  
)F99/00G?/23
5  @ )/01J3
   
  6
!     
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
  #  
S <
   '
 %    
SC
     
$
!  C
   C
  
'    
C   
64     
6
-S
C
C
     -
   
<
!   
 #<
 C
 C 
  
   # C 
S 
   
 7   
 )*+,- /01?3 A
7
D  <7 D
!
     
  C  C
*  * )/01R3
&  ( 
#    
)+O@@59 1RRR. /00G
3 ! 
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
  #  
   '
 %    
SC
     
!  C

   C
  
'    
C   
64     
-S
C
     -
   
!   
 C
 C 
  
ethos C
   # C 
   
 7   
 )*+,- /01?3 A
7
!

     
  C  C

&  ( 
#    
3 ! 
     
7 *  
*
  &  (

C 

    
!   
   
7 *  
7  
   
   # 
 
Erlebnisse
*+,-/01R3
"<
 
  #   
6  S 
6    
    
! 4 
   
S   

    C
CC
   +$$ )1RII3  
 C , )1R2J. 1RII3  

     
 C   
 
   
C    
C
     
 C   
 C  
286
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
     
7 *  
* 
  &  (
C 
    
!   
   
7 *  
7  
   
   # 
Erlebnisse
)*+,-.
*+,-/01R3
 
Erlebnisse
  #   
6  S 
6    
    
! 4 
   
S   
    C
CC
   +$$ )1RII3  
 C , )1R2J. 1RII3  

     
 C   
   
C    
C
     
 C   
 C  
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
    )*+,-.
*+,- /01R3  

  
6#   C
 7 C
7  ! 6
    C 
6#    
   6 )"[+5\
/00H3
*  * )/01R
 C  6 
    
6#  
6<
   
     $
)*+,-.*+,-/01R3
"  
  

    
-    
! C 6  
 S  ! 
   #<
  
 C  C
S
C 

  
    E 
    
  /01I A 
   
C
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
    )*+,-.
*+,- /01R3  
  
6#   C
 7 C
 
7  ! 6
<
    C 
6#    
   6 )"[+5\
*  * )/01R
3
 C  6 
    
6#  
<
   
     $
)*+,-.*+,-/01R3

"  
  
    
-    
! C 6  
 S  ! 
  
 C  C
S

S
  
    E 
    
  /01I A 
   
C
    

  6 
  6# $
C
E    *
      
 C  $

*  
 , )1RII3 C 
B 
    
C    &$
( ),;-A5- 1RII  //3 
6
  S 
%
  
  
   C 
  "  
,&$(
    
      
C
5
 $    
%   
  #   
  #  
   
 ! 
  C  

),;-A5-
1RII//3
"C
     
 C   
287
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
    
  6 
  6# $
D
C
E    *
      
 C  $
*  
 , )1RII3 C 
B 
    
C    &$
( ),;-A5- 1RII  //3 
6
  S 
%
  
C 
  
   C 
  "  
,&$(
    
      
C
 $    
%   
  #   
  #  
   
 ! 
  C  

1RII//3
"C
     
 C   
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
     
!#
  C   
!   
  
5   
7    
   D
  
  "  
)*+,-.*+,-/01R3
+$$+
 4

!7
  )+*F5*FA5-
1RR? /00/3  
S   
   %   
S  )+O@@59 1RRR3
    C
$  
)*+,-.*+,-/01R
   
   
 <
 
#4
    7
     
  
G
A
Q
4
+*F5*FA5--$
,$4
[94
-1RR?
+*F5*FA5--$
+
94-/00/
+O@@59U
+P

;1RRR
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
     
!#
  C   
!   
  
5   
7    
  
  "  
D
)*+,-.*+,-/01R3
+$$+
 4
!7
  )+*F5*FA5-
1RR? /00/3  
S   
   %   
S  )+O@@59 1RRR3
    C
$  
)*+,-.*+,-/01R
3
G
   
   
 
#4
    7
     
  
ethos 
Q
,$4
[94
+
94-/00/

+P
;1RRR

6 
 
 <
C 
$
  " 
   C 
     
$  ),;-A5- 1RII3 


* )/01R3    +
)/00G3 $   C
   !

C"
   
C     
$
S  7 +
F )/00G3
2
  # 
#   
C
  
    
4
  C  
7
C  !   
    
    
   
E  !
2
-<
Q"
'
$7!
 

!C

288
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
 
C 
$
  " 
   C 
     
$  ),;-A5- 1RII3 

*
* )/01R3    +
)/00G3 $   C
   !

<
C"
   
C     
$
S  7 +
  # 
#   
C
  
    
  C  
7
<
C  !   
    
    
   
E  !
<  
Q"
'
$7!
 
!C

BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202

+
    
#<
!
   
!!
 !   )!
#3    
 <
     
    
    
    
E,
#
      
 EC
!$)F99
/00G?/J3
5 # 
E   D
  

 7 
  + #

  C   P
   C
   
      
     
    
    
 6#  C &]^ 
 
 C 
   
C   )*+,-.
*+,- /01R3 
C

   C
C
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
+
    
!
   
!!
 !   )!
#3    
     
    
    
    
E,
#
      
 EC
/00G?/J3
5 # 
D 
  

 7 
  + #

  C   P

   C
   
      
     
    
    
 6#  C &]^ 
 C 
   
C   )*+,-.
*+,- /01R3 
C
   C
C
    
  
    U
,   C
 
    #
   
F )/00G3  C C 
    
C
      
<
A C    &(

   
 
     
S   
  
   
#
O    6 
  
C
.
     .
 7 
C   
 F   C
 S  #  
  $ 8
 7   &$
289
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
    
  

    U
,   C
 
    #
   
F )/00G3  C C 
    
C

      
A C    &(
D

   
 
D < 
     
S   
  
   
 
#
O    6 
  
blackpower 
C
.
     .
 7 
 
C   
 F   C
 S  #  
  $ 8
D  
 7   &$
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
( D
   
C7
&( 
 ; 
C
  looks
   
    C

 $7 S   C
     
 
 
 C    
$
@  
    )+O@@59
/00G3 C    
C
  C 

 !
)+*F5*FA5- /00G3 ] C^
$   
   
<
 C  
 C 
 C  
    

  C +$$
)/00/ /00G3 C 
   
makebelief
  C  
      
CC
   S 
#
 
C  !
 C 
)*+,-.*+,-/01R3
I
AQ
4
+*F5*FA5--$
+
94-/00/
+*F5*FA5--$C_
O4````Performance studies
4
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
   
C7
 ; 
C
   
    C

 $7 S   C
     
 
 C    
$
@  
    )+O@@59
/00G3 C    
C
  C 
 !
)+*F5*FA5- /00G3 ] C^
$   
   
 C  
 C 
 C  
    
  C +$$
)/00/ /00G3 C 
   
  C  
      
CC
   S 
#
C  !
 C 
)*+,-.*+,-/01R3
I
AQ
+
94-/00/
+*F5*FA5--$C_
4
 U , 
  #  
$ -   a 
+)9*5-"/01I3C 
     
    
    
  C  $7 
&
old school clothes
;   


   C C 
CQ
    $  
  !  $$
 
 * 
   
   
6  
   

 #  
  E     
Afropunk
   C 
E
M
    
  5 ;  
5 A C   Q

94-/00G/I
290
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
 U , 
  #  
$ -   a 
+)9*5-"/01I3C 
     
    
    
  C  $7 
old school clothes
(
;   


   C C 
CQ
    $  
  !  $$
 * 
   
   
6  
   
 #  
  E     
   C 
M
    
  5 ;  
5 A C   Q

AL\Mb
94-/00G/I
<H1
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
6#   
     
    
 M
10
 F   
  # 
  afrobeat
 

,  # $ 
    
&  C   #
 ]^   7(
)*+,-. *+,-
/01R3 
  O  
#   
 Q   
 #   S
R
- FF
C1RG0
:)rhythm and
poetry


#


EC
 C

1R20
EC
$

10
M>)1RI23
1R?0B1RJ0
 +
5;C
E
 rhythm and blues
5
E
M
E

BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
6#   
     
    
R

 F   

  # 
 
kuduro

,  # $ 
    
&  C   #
 ]^   7(
/01R3 
  O  
#   
 Q   
 #   S
- FF
C1RG0
poetry
3

#


EC
 C


1R20
EC
$
<
M>)1RI23
1R?0B1RJ0
 +
5;C
E
5

E
M
E
 $7    
   
 C 


! C   
C    
)*+,-. *+,- /01R3  C

,  
C    
      
 
  
7
 8C  
 Q  
C    
     
 '    
  A  6
  
   @* ": 
  C  
S
  


F )/00J3  C 
   
 <
  
!
#   
logos
)3
  CC 6  
5
     
291
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
 $7    
   
 C 

! C   
<
C    
)*+,-. *+,- /01R3  C
,  
C    
      
  
 8C  
 Q  
C    
     
 '    
  A  6
  

   @* ": 
  C  
  

F )/00J3  C 
   
  
!

#   
)3
  CC 6  
5
     
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202

  E 
   
   <
   
     
    
 #  E   
   6 
6!
  *  
6
   E 
  ":   O
  S  
   
6C
   >  9
*M
  
 
9U,  &!( 
    
 $  C
  
69U,
-"UU9
c
   -  
        
  ": 
set list
   
   C   
CC C  
   +
  
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
  E 
   
 
   
     
    
 #  E   
   6 
6!
  *  
   E 
  ":   O
  S  
   
6C
   >  9
*M
 
9U,  &!( 
    
 $  C
  
69U,
-"UU9
   -  
        
set list
 +
   
   C   
CC C  
   +
  

    

A  C 
    
   
  C   
 &E  (
    6! 


    6 
$  !  A 
  &E 
(    
     
76
 E 
 
   
S   
 7  
 S  6 
  C   &E 
(  C   

   

@ E  
$
  
    
    
   
  
292
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
    

A  C 
    
   
  C   
 &E  (
    6! 

    6 
$  !  A 
  &E 
(    
     
76
 E 
  
 
   
S   
 7  
 S  6 
  C   &E 
(  C   
   
@ E  
$
  
    
    
   
  
  
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
   
   5
6#  
6
     
$
    
      

 C  6
   U A
   C   
C     
 C  C
  C  !
   
   
 C 
<Q4
Meu corpo, a minha alma é muito de
música black e todas as vertentes da
música black. Eu não me vejo numa
música eletrônica por exemplo, acho
que a música eletrônica não é uma
vertente nossa, mas frequento outras
c
omo samba e pagode
/01I3
<
  
 C 
   
! 5 
C   C 
6     

11

11
; 6S
+$ )1RG2.1RI23

 
!,
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
   
   5
6#  
6
     
    
      
 C  6
   U A

   C   
C     
 C  C
  C  !
   
 C 
Meu corpo, a minha alma é muito de
música black e todas as vertentes da
música black. Eu não me vejo numa
música eletrônica por exemplo, acho
que a música eletrônica não é uma
vertente nossa, mas frequento outras
omo samba e pagode
)UA
  
 C 
   
! 5 
C   C 
6     
; 6S
+$ )1RG2.1RI23
 
!,
<
ACQ
  6
    
C 
    
!!
     
C C    

 E   
      
 D
   C
# $ $ C
 & ( 
C     
&  C( 5
 $

C 
     
!    

    )*>9*A,O
/011R<103
  
#   
  

1/
C   
   
    
   
A
     C
 CC     

!

1/
&(
 

+$ )1RG2.1RI23


$

293
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
ACQ

  6
    
C 
    
!!
     
C C    
 E   
      
   C
# $ $ C
 & ( 
C     
&  C( 5
 $
C 
     
!    

    )*>9*A,O
  
#   
  

C   
   
    
   
A
     C
 CC     

!
&(
 
+$ )1RG2.1RI23


$

BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202


     
C     

     
  )F99 /00J3 
    



#  6 
   
      
  
 D
   #
!  7 

$7
    
   
$6 $7

   
 6 
 <
   
     C 
   
!
  6 
  C   
  C  S
 
 
Q !
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo

     
C     

     
  )F99 /00J3 
    


#  6 
   
      
  
D 
   #
!  7 
 

$7
    
   
$6 $7
   
 6 

   
     C 
   
!
  6 
  C   
  C  S
 
<
Q !
  C     
    
     

5  
      
   
 C $ 
 !  $ 
!    
     
    
    
#    
, 6C
  #   

  
     
    &
(C#
     
 
S   
 #
 > @   

  C  
     
    
 C  

 C     
6$C
     
294
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
  C     
    
     

5  
      
 C $ 
 !  $ 
!    
     
    
<
    
#    
, 6C
  #   

  
     
    &
(C#
     
 
S   
 #
 > @   
  C  
     
    
 C  
 C     
6$C
     
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
    C 
   
-   $   
 C    
  C
 
4
Por ser um baile black a gente se
liberta de um padrão. O padrão no
baile black não existe. Você não tem
que ir com uma roupa, com um
cabelo, com um único jeito, você vai
do jeito que você quer e está lindo
assim. (...
) eu não via beleza em
mim, eu tinha o meu jeito de me
vestir, tinha o jeito afeminado de ser,
mas ainda não enxergava beleza em
mim, não me sentia bonita, eu me
sentia muito à vontade naquelas
roupas mas não enxergava beleza
no meu corpo, nos meus traç
quando eu comecei a frequentar os
bailes blacks as pessoas que
estavam ao redor na festa acabavam
reforçando isso, na questão de eu
olhar pra mim, enxergar beleza nos
meus traços, na minha estética e
hoje em dia não há quem me faça
deixar minha auto
estima baixa
@/01I3
>
@    
  drag
queen
 ! 
 !
 C   # 
$6 drag queen
#
    
    
    ! 5
     
&(
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
    C 
   
-   $   
 C    
 
Por ser um baile black a gente se
liberta de um padrão. O padrão no
baile black não existe. Você não tem
que ir com uma roupa, com um
cabelo, com um único jeito, você vai
do jeito que você quer e está lindo
) eu não via beleza em
mim, eu tinha o meu jeito de me
vestir, tinha o jeito afeminado de ser,
mas ainda não enxergava beleza em
mim, não me sentia bonita, eu me
sentia muito à vontade naquelas
roupas mas não enxergava beleza
no meu corpo, nos meus traç
os , e
quando eu comecei a frequentar os
bailes blacks as pessoas que
estavam ao redor na festa acabavam
reforçando isso, na questão de eu
olhar pra mim, enxergar beleza nos
meus traços, na minha estética e
hoje em dia não há quem me faça
estima baixa
)>
@/01I3
@    
queen
 +
 ! 
 !
 C   # 
  P
#
    
    
    ! 5
     
4. Conclusão
 #  
  F D
 D
     
-     
C
%
  !  
 C
   
  B  Q

5  
 <
 #
C   
 7  
 C  !  
7 
 , 
     
   
 5    
 $7  Q 
    F
     
E
 6  

A 
   
C 
    
 6#    
  !
295
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
 #  
 E 
     
-     
C
%
  !  
   
  B  Q
5  
 #
<
C   
 7  
<
 C  !  
7 
 
 , 
     
   
 5    
 $7  Q 
    F
     
 6  
A 
   
C 
    
 6#    
  !
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
  
  6#
  ! ! 

C     
   !  
  
S.   ' 
S    * 
* )
/0123   
   '
   ! C  
7    *
  *  * )/0123 
   ' 
   ! 
< )*+,-
. *+,-
/0123
C
     
 *  *)/01R3 
S C  
 !    
<
),;-A5-1RII3A
6    

   

  
    
      
   $  
S  C  

BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
  6#
  ! ! 

C     
   !  
  
S.   ' 
S    * 
/0123   
   '
   ! C  
7    *
  *  * )/0123 
   ' 
   ! 
. *+,-
C
     
 *  *)/01R3 
S C  
 !    
),;-A5-1RII3A
6    
   

  
$ 
    
      
   $  
S  C  


>
@     7
C4
A gente atravessa aquela porta com
o intuito de se divertir
conscientemente, a gente sabe que
vai para um baile black para se
divertir, dançar e beber, mas todo
mundo é muito conscient
estamos ali pela mesma causa, todo
mundo se reconhece enquanto preto
e todo mundo ali para lutar contra
o racismo, seja branco ou preto,
espero que ela [pessoa branca] se
conscientize e ponha no lugar
enquanto pessoa branca na
sociedade e esteja a
causa. (...) as pessoas ali, por mais
que sejam diferentes umas das
outras, mas temos algo em comum,
todo mundo ali por uma causa,
todo mundo conheceu o AFROnto ou
o Coisa Preta por ser preto e é isso
que essa vibe boa e contagia
@/01I3
<
  
  S C  
  4    
 6   
 S  C   C

 

S    #
 C 
  
ED
 C
    
'    )*+,-.
*+,-/0123
,<
   
! 
    S
296
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
@     7
C4
A gente atravessa aquela porta com
o intuito de se divertir
conscientemente, a gente sabe que
vai para um baile black para se
divertir, dançar e beber, mas todo
mundo é muito conscient
e que
estamos ali pela mesma causa, todo
mundo se reconhece enquanto preto
e todo mundo ali para lutar contra
o racismo, seja branco ou preto,
espero que ela [pessoa branca] se
conscientize e ponha no lugar
enquanto pessoa branca na
sociedade e esteja a
li para apoiar a
causa. (...) as pessoas ali, por mais
que sejam diferentes umas das
outras, mas temos algo em comum,
todo mundo ali por uma causa,
todo mundo conheceu o AFROnto ou
o Coisa Preta por ser preto e é isso
que essa vibe boa e contagia
)>
  
  S C  
  4    
 6   
 S  C   C

 
S    #
 C 
  
D 
 C
    
'    )*+,-.
   
! 
  Q
    S
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
F)/00G3$
 C     
6
 C   7
   *  
&

   
   
  ( )F99 /00G 
10G3      
'     
    
 !  S
    5
  
C
    C  
   
!
Referências bibliográficas
*+,-   
 
" 
S  
   
 '
Revista de Antropologia
)/3 J?1<J2H /01?
 "!
4
$4BBB1011G0GB/12R
0IR//01?I/H?I
 4 1H
/0/0
*+,- @ - A .
*+,-   
*   C 
  
Anais do XXVII
Encontro da
Associação Nacional dos
Programas de s-
graduação em
Comunicação
*@Z+ +
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
F)/00G3$
 C     
6
 C   7
   *  

   
   
  ( )F99 /00G 
10G3      
'     
    
 !  S

    5
  
C
    C  
   
!
Referências bibliográficas
*+,-   

" 
S  
   
Revista de Antropologia
HG
 "!
$4BBB1011G0GB/12R
<
 4 1H
*+,- @ - A .
*+,-   
*   C 
Anais do XXVII
Associação Nacional dos
graduação em
*@Z+ +
/012
>O1
4
$4BBLLLBBC
`/012B$`C`+;"
-,\A?[>UG2VI`/G`HJ20`1H`0
/`/012`0I`0R`?2
/0/0
*+,- @ - A .
*+,-    -
 7
  "
 
Sociedade e Cultura
//)13 /J0</G0
/01R
4
$4BBLLLBB
BLBJR1JJB??1JRB
41//0/0
*>9*A,O
@9>
*
Ritual, drama e performance
na cultura popular:

    
:4 ;-: )7  *# 
*3/011
"[+5\ :$ * > , 

6#
de Campo
1?)1?31G?
5AA5+ @ . @-*A
M
"  
4  6S
  
Sociologias
);-U+O3
1G/2J<
?0H/01J
5OK *
De jovens, bandas y
tribus
4/00G
F99 +
A identidade cultural na
pós-modernidade
 -  :4
"b/00J
F99+
Da diáspora:
S
5;@U/00G
O+5 O 
+  5'. Z9O+
Pesquisa Juventude Brasileira e
Democracia
4   
! E -  :4
O+5/00H
297
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
>O1
</?"!
$4BBLLLBBC
`/012B$`C`+;"
-,\A?[>UG2VI`/G`HJ20`1H`0
/`/012`0I`0R`?2
4/0
*+,- @ - A .
*+,-    -
  "
Sociedade e Cultura

/01R
 "!
$4BBLLLBB
BLBJR1JJB??1JRB
 
@9>
Ritual, drama e performance

    
 - 
:4 ;-: )7  *# 
"[+5\ :$ * > , 
6#
Cadernos
1?)1?31G?
<12G/00H
5AA5+ @ . @-*A
"  
4  6S
  
);-U+O3
?0H/01J
De jovens, bandas y
4/00G
A identidade cultural na
 -  :4
Da diáspora:

S
F 4
O+5 O 
+  5'. Z9O+
Pesquisa Juventude Brasileira e
4   
! E -  :4
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
OU5OU
 5!
Pesquisa Nacion
Amostra de Domicílios Contínua
A"/012
"! 4
$4BBLLLBB
B$B12/20<<

$_dbdL
4/0/0/0
9*5-" 9
Fashion rebels
a+
 U /01G "! 4
$4BBLLLB$
<<

<B4/R

@5+9O @$ , 7
4 "  Q
S
Ciências Sociais
UnisinosJ??
1I1
"!
4
$4BBB6$
B`BBLBH/I/
40//01I
@5+9O @$
No fundo das
aparências
 -  :4 > 
1RRG
@5+9O @$
O tempo das
tribos
!
-:4
1RRI
@UAAO :
U$
"4
 
Revista Brasileira
de Ciências Sociais
 +  
12JR11</R/00/
@-U;9O+ @. ;--5+,O
@
La juventud es más que una
palabra
41RRJ
AO 9;: )5-5O- :
U3
: 4 ;
  O4
Congresso Nacional de Educação
* *% 
5   @ -
U  A - U
A45- /01G
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
OU5OU
Pesquisa Nacion
al por
Amostra de Domicílios Contínua
<
"! 4
$4BBLLLBB
$_dbdL
 
Fashion rebels
 
a+
 U /01G "! 4
$4BBLLLB$
<

<<<

/0/0
@5+9O @$ , 7
<
4 "  Q
Ciências Sociais
1I1
<1IH/002
$4BBB6$
B`BBLBH/I/

No fundo das
 -  :4 > 
O tempo das
!
-:4
U$
*
"4
Revista Brasileira
 +  
@-U;9O+ @. ;--5+,O
La juventud es más que una
41RRJ
AO 9;: )5-5O- :
: 4 ;
Anais do III
Congresso Nacional de Educação
4
* *% 
5   @ -
U  A - U
A45- /01G
? "! 4
$4BBLLL B
BB$B,-9F`5>0
HG`@"1`+R`O"GR/1`120I/01G1?HI
/2
41R/01I
+A,+   @
,6 . +A,+ @#
-  U ,
4
#Q##
    
1H2<
1I1 /01I "!
4$4BB
B
BBLB21GBJR0
411
/01I
+*F5*FA5- -$   
$  M4 $ 8
  O4
````
Performance Theory
-1RII10G
+*F5*FA5- -$
theater and anthropology
;8  8 
1RIH
+*F;,e 
Le chercheur et le
quotidien
4@
1RI2
+*F;,e 
Phenomenology of
the social world
A$L1RG2
+O@@5
9 U
fundamentais da sociologia
:4e$/00G
+O@@59 U
Sociabilidade
6
O U +4   ]
%^ 5  @
$
+4a1RI?
+O@@59 U
Sociologie

;1RRR
,;-A5- >[
O processo ritual
 <

> 1R2J
298
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
? "! 4
$4BBLLL B
BB$B,-9F`5>0
HG`@"1`+R`O"GR/1`120I/01G1?HI
41R/01I
+A,+   @
,6 . +A,+ @#
-  U ,
 
4
#Q##
    
Dobras  11 
1I1 /01I "!
B
BBLB21GBJR0

/01I
+*F5*FA5- -$   
$  M4 $ 8
  O4
Performance Theory
 94
-1RII10G
<1H/
+*F5*FA5- -$
Between
theater and anthropology
$$4
;8  8 
Le chercheur et le
4@
VMM
Phenomenology of
the social world
 54
9 U
Questões
fundamentais da sociologia
- 
Sociabilidade
4 
6
O U +4   ]
%^ 5  @
+4a1RI?
Sociologie
 P


O processo ritual
4

74
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
pretas em belém -
performances identitárias e políticas na festa
AFROnto. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 277-299
, março 202
,;-A5- >[
The Anthropology
of Performance
 AL \M4 :
1RII
>OAA :;AO- F 
baile funk carioca: Festas e estilos de
vida metropolitanos
 , )"
 3 -  :4
  7<
U 
@A1RI2
BARRAL, Tainá O.; CASTRO, Fábio F. de; CASTRO, Marina R. N. de. Festas
performances identitárias e políticas na festa
Americana de Estudos em
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
The Anthropology
 AL \M4 :
>OAA :;AO- F 
O
baile funk carioca: Festas e estilos de
 , )"
 3 -  :4
U 
@A1RI2

299
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.44454
Resumo:
A estrutura federativa brasileira historicamente fortaleceu os entes locais, que possuem
autonomia e competências relevantes
encontrada em grande parte dos municípios brasileiros. Com o cres
públicas de cultura no âmbito federal, e com os ataques em curso pelo governo ao campo cultural, os
municípios se apresentam como pilar importante de execução de políticas culturais. Como tem sido
desenvolvida a política de fom
ento à cultura nesse contexto? A partir dos dados disponíveis sobre a
gestão municipal da cultura nas Pesquisas de Informações Básicas Municipais (MUNIC/IBGE), o
artigo se debruça sobre 1) a institucionalidade das gestões municipais de cultura, buscando id
quais estruturas e em quais condições a gestão local da cultura tem se realizado; e 2) as políticas de
fomento à cultura que as gestões têm executado, com especial atenção aos segmentos apoiados e
aos instrumentos utilizados. A partir dos dados,
as políticas de fomento à cultura municipais, entendendo a relevância de melhor compreendê
um momento que se colocam como importante possibilidade de democratização.
Palavras-chave:
Federalismo; p
Federalismo y Políticas culturales municipales en Brasil
Resumen:
La estructura federativa brasileña ha fortalecido históricamente a las entidades locales,
que tienen autonomía y competencias en varios sectores
capacidad institucional que se encuentra en la mayoría de los municipios
desmantelamiento de las políticas culturales públicas a nivel federal, y con los continuos ataques del
gobierno al sector de la cultura, los municipios se presentan como un pilar importante para la
1
Antonio Albino Canelas Rubim. Doutor em Sociologia pela USP.
de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT). Professor do Programa
Graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia, Brasil. E
albino.rubim@gmail.com -
https://orcid.org/0000
2
Juliana Almeida. Gestora cultural e mestranda no Programa Multidisciplinar de Pós
Cultura e Sociedade da UFBA, Salvador, Brasil. E
https://orcid.org/0000-0002-
7013
3
Sofia Mettenheim.
Administradora Pública e mestranda no Programa Multidisciplinar de Pós
Graduação em Cultura e Sociedade da
https://orcid.org/0000-0002-
7957
Texto recebido em 17/08/20
20,
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.44454
Antonio Albino Canelas Rubim
Juliana Almeida
Sofia
A estrutura federativa brasileira historicamente fortaleceu os entes locais, que possuem
autonomia e competências relevantes
desafios frente à falta de recursos e capacidade institucional
encontrada em grande parte dos municípios brasileiros. Com o cres
cente desmonte das políticas
públicas de cultura no âmbito federal, e com os ataques em curso pelo governo ao campo cultural, os
municípios se apresentam como pilar importante de execução de políticas culturais. Como tem sido
ento à cultura nesse contexto? A partir dos dados disponíveis sobre a
gestão municipal da cultura nas Pesquisas de Informações Básicas Municipais (MUNIC/IBGE), o
artigo se debruça sobre 1) a institucionalidade das gestões municipais de cultura, buscando id
quais estruturas e em quais condições a gestão local da cultura tem se realizado; e 2) as políticas de
fomento à cultura que as gestões têm executado, com especial atenção aos segmentos apoiados e
aos instrumentos utilizados. A partir dos dados,
apontam-
se modelos, tendências e hipóteses sobre
as políticas de fomento à cultura municipais, entendendo a relevância de melhor compreendê
um momento que se colocam como importante possibilidade de democratização.
Federalismo; p
olíticas culturais municipais;
financiamento à cultura.
Federalismo y Políticas culturales municipales en Brasil
La estructura federativa brasileña ha fortalecido históricamente a las entidades locales,
que tienen autonomía y competencias en varios sectores
-
desafíos ante la falta de recursos y
capacidad institucional que se encuentra en la mayoría de los municipios
brasileños. Con el creciente
desmantelamiento de las políticas culturales públicas a nivel federal, y con los continuos ataques del
gobierno al sector de la cultura, los municipios se presentan como un pilar importante para la
Antonio Albino Canelas Rubim. Doutor em Sociologia pela USP.
Pesquisador do CNPq e do Centro
de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT). Professor do Programa
Multidisciplinar de Pós
Graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia, Brasil. E
-
https://orcid.org/0000
-0001-6953-7533
Juliana Almeida. Gestora cultural e mestranda no Programa Multidisciplinar de Pós
Cultura e Sociedade da UFBA, Salvador, Brasil. E
-
mail: julisalmeida@gmail.com
7013
-3189
Administradora Pública e mestranda no Programa Multidisciplinar de Pós
Graduação em Cultura e Sociedade da
UFBA, Salvador, Brasil. E-
mail: sofiamettenheim@gmail.com
7957
-9929
20,
aceit
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
em 01/03/2021.
300
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
Antonio Albino Canelas Rubim
1
Juliana Almeida
2
Sofia
Mettenheim
3
A estrutura federativa brasileira historicamente fortaleceu os entes locais, que possuem
desafios frente à falta de recursos e capacidade institucional
cente desmonte das políticas
públicas de cultura no âmbito federal, e com os ataques em curso pelo governo ao campo cultural, os
municípios se apresentam como pilar importante de execução de políticas culturais. Como tem sido
ento à cultura nesse contexto? A partir dos dados disponíveis sobre a
gestão municipal da cultura nas Pesquisas de Informações Básicas Municipais (MUNIC/IBGE), o
artigo se debruça sobre 1) a institucionalidade das gestões municipais de cultura, buscando id
entificar
quais estruturas e em quais condições a gestão local da cultura tem se realizado; e 2) as políticas de
fomento à cultura que as gestões têm executado, com especial atenção aos segmentos apoiados e
se modelos, tendências e hipóteses sobre
as políticas de fomento à cultura municipais, entendendo a relevância de melhor compreendê
-las em
financiamento à cultura.
La estructura federativa brasileña ha fortalecido históricamente a las entidades locales,
desafíos ante la falta de recursos y
brasileños. Con el creciente
desmantelamiento de las políticas culturales públicas a nivel federal, y con los continuos ataques del
gobierno al sector de la cultura, los municipios se presentan como un pilar importante para la
Pesquisador do CNPq e do Centro
Multidisciplinar de Pós
-
-
mail:
Juliana Almeida. Gestora cultural e mestranda no Programa Multidisciplinar de Pós
-Graduação em
mail: julisalmeida@gmail.com
-
Administradora Pública e mestranda no Programa Multidisciplinar de Pós
-
mail: sofiamettenheim@gmail.com
-
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
implementación de políticas
culturales. ¿Cómo se ha desarrollado la política de promoción de la
cultura en este contexto? Usando los datos disponibles sobre la gestión de la cultura municipal en la
Investigación de Información Básica Municipal (MUNIC/IBGE), este artículo se centra en
institucionalidad de la gestión municipal de la cultura, buscando identificar qué estructuras y bajo qué
condiciones se ha realizado la gestión local de la cultura; y las políticas para fomentar la cultura que
las administraciones han implementado, con
instrumentos utilizados. En base a los datos, se generan modelos, tendencias e hipótesis sobre las
políticas culturales. La comprensión del impacto de estas medidas es especialmente relevante en
este moment
o en el que se presenta una posibilidad importante para la democratización de la cultura.
Palabras clave:
Federalismo; políticas culturales municipales; financiación de la cultura.
Federalism and municipal cultural promotion policy in Brazil
Abstract:
Historically, the Brazilian federal structure has granted municipalities with significant
autonomy and responsibilities. This provides challenges given the lack of resources and institutional
capacities that characterize local governments. However, given t
the federal level and successive attacks on cultural production itself, local governments have none the
less emerged as important pillars to guarantee the implementation of cultural policy. How have public
policies of
cultural promotion evolved in this context? This article uses data on the municipal
management of culture available in the "Pesquisas de Informações Básicas Municipais” (Basic
Municipal Information Research, MUNIC/IBGE) to analyze 1) the institutional con
management at the municipal level to identify the factors behind the implementation of cultural policy
and 2) the types of cultural promotion policies implemented, with special attention to the cultural area
and methods of public ad
ministration utilized. The identification of tendencies, models, and
hypotheses about cultural promotion at the municipal level provide better understanding of these
policies at a moment when local governments represent important opportunities for democrat
Keywords:
Federalism; cultural policy; local government; cultural promotion.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
O conflituoso enfrentamento do
coronavírus no Brasil colocou em
evidência que o país tem uma
estrutura organizacional federativa. O
embate envolvendo a gestão da União,
que considerava a COVID apenas uma
gripe sem necessidade de maiores
cuidados sanitários
, e muitos estados
e diversos municípios, preocupados
com a pandemia e que adotaram as
medidas preconizadas pela
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
culturales. ¿Cómo se ha desarrollado la política de promoción de la
cultura en este contexto? Usando los datos disponibles sobre la gestión de la cultura municipal en la
Investigación de Información Básica Municipal (MUNIC/IBGE), este artículo se centra en
institucionalidad de la gestión municipal de la cultura, buscando identificar qué estructuras y bajo qué
condiciones se ha realizado la gestión local de la cultura; y las políticas para fomentar la cultura que
las administraciones han implementado, con
especial atención a los segmentos apoyados y los
instrumentos utilizados. En base a los datos, se generan modelos, tendencias e hipótesis sobre las
políticas culturales. La comprensión del impacto de estas medidas es especialmente relevante en
o en el que se presenta una posibilidad importante para la democratización de la cultura.
Federalismo; políticas culturales municipales; financiación de la cultura.
Federalism and municipal cultural promotion policy in Brazil
Historically, the Brazilian federal structure has granted municipalities with significant
autonomy and responsibilities. This provides challenges given the lack of resources and institutional
capacities that characterize local governments. However, given t
he dismantlement of cultural policy at
the federal level and successive attacks on cultural production itself, local governments have none the
less emerged as important pillars to guarantee the implementation of cultural policy. How have public
cultural promotion evolved in this context? This article uses data on the municipal
management of culture available in the "Pesquisas de Informações Básicas Municipais” (Basic
Municipal Information Research, MUNIC/IBGE) to analyze 1) the institutional con
management at the municipal level to identify the factors behind the implementation of cultural policy
and 2) the types of cultural promotion policies implemented, with special attention to the cultural area
ministration utilized. The identification of tendencies, models, and
hypotheses about cultural promotion at the municipal level provide better understanding of these
policies at a moment when local governments represent important opportunities for democrat
Federalism; cultural policy; local government; cultural promotion.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
O conflituoso enfrentamento do
coronavírus no Brasil colocou em
evidência que o país tem uma
estrutura organizacional federativa. O
embate envolvendo a gestão da União,
que considerava a COVID apenas uma
gripe sem necessidade de maiores
, e muitos estados
e diversos municípios, preocupados
com a pandemia e que adotaram as
medidas preconizadas pela
Organização Mundial de Saúde
(OMS), demonstrou que na federação
brasileira existem poderes
descentralizados atribuídos aos entes
federativos pe
la Constituição Federal
de 1988. O exercício da estrutura
federativa impediu que a tragédia
sanitária no Brasil alcançasse números
ainda terríveis, devido à completa
irresponsabilidade do governo federal
de Messias Bolsonaro.
301
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
culturales. ¿Cómo se ha desarrollado la política de promoción de la
cultura en este contexto? Usando los datos disponibles sobre la gestión de la cultura municipal en la
Investigación de Información Básica Municipal (MUNIC/IBGE), este artículo se centra en
la
institucionalidad de la gestión municipal de la cultura, buscando identificar qué estructuras y bajo qué
condiciones se ha realizado la gestión local de la cultura; y las políticas para fomentar la cultura que
especial atención a los segmentos apoyados y los
instrumentos utilizados. En base a los datos, se generan modelos, tendencias e hipótesis sobre las
políticas culturales. La comprensión del impacto de estas medidas es especialmente relevante en
o en el que se presenta una posibilidad importante para la democratización de la cultura.
Federalismo; políticas culturales municipales; financiación de la cultura.
Historically, the Brazilian federal structure has granted municipalities with significant
autonomy and responsibilities. This provides challenges given the lack of resources and institutional
he dismantlement of cultural policy at
the federal level and successive attacks on cultural production itself, local governments have none the
less emerged as important pillars to guarantee the implementation of cultural policy. How have public
cultural promotion evolved in this context? This article uses data on the municipal
management of culture available in the "Pesquisas de Informações Básicas Municipais” (Basic
Municipal Information Research, MUNIC/IBGE) to analyze 1) the institutional con
text of public cultural
management at the municipal level to identify the factors behind the implementation of cultural policy
and 2) the types of cultural promotion policies implemented, with special attention to the cultural area
ministration utilized. The identification of tendencies, models, and
hypotheses about cultural promotion at the municipal level provide better understanding of these
policies at a moment when local governments represent important opportunities for democrat
ization.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
Organização Mundial de Saúde
(OMS), demonstrou que na federação
brasileira existem poderes
descentralizados atribuídos aos entes
la Constituição Federal
de 1988. O exercício da estrutura
federativa impediu que a tragédia
sanitária no Brasil alcançasse números
ainda terríveis, devido à completa
irresponsabilidade do governo federal
de Messias Bolsonaro.
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
Diferente da Colômbia, um país
de organização unitária, o Brasil desde
a proclamação da República (1889) e
da primeira constituição republicana
(1891) possui uma estrutura federativa
(CUNHA FILHO;
RIBEIRO
26). A longa história da federação não
tem assegurado a sua efetivação
maneira satisfatória. Poucos exemplos
existem ainda hoje de exercício
qualificado da organização federativa.
O Sistema Único de Saúde (SUS),
hoje profundamente ameaçado pela
drástica redução orçamentária e pela
militarização do Ministério da Saúde,
apar
ece como um dos melhores
exemplos de trabalho harmônico e
colaborativo entre todos os entes
federativos. A distinção de
responsabilidades no âmbito da
Educação configura outro bom
exemplo de funcionamento da
federação brasileira, com nítida
distribuição co
mplementar de
competências entre os entes
federativos: ensino superior, sob
incumbência da União; ensino médio,
atribuído aos Estados e ensino
primário, subordinado aos Municípios.
A federação vem tendo seu
desenvolvimento interditado pela
concentração de
poderes na União,
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Diferente da Colômbia, um país
de organização unitária, o Brasil desde
a proclamação da República (1889) e
da primeira constituição republicana
(1891) possui uma estrutura federativa
RIBEIRO
, 2013, p.
26). A longa história da federação não
tem assegurado a sua efetivação
de
maneira satisfatória. Poucos exemplos
existem ainda hoje de exercício
qualificado da organização federativa.
O Sistema Único de Saúde (SUS),
hoje profundamente ameaçado pela
drástica redução orçamentária e pela
militarização do Ministério da Saúde,
ece como um dos melhores
exemplos de trabalho harmônico e
colaborativo entre todos os entes
federativos. A distinção de
responsabilidades no âmbito da
Educação configura outro bom
exemplo de funcionamento da
federação brasileira, com nítida
mplementar de
competências entre os entes
federativos: ensino superior, sob
incumbência da União; ensino médio,
atribuído aos Estados e ensino
primário, subordinado aos Municípios.
A federação vem tendo seu
desenvolvimento interditado pela
poderes na União,
própria dos largos períodos
autoritários, ditadura do Estado Novo
(1937-
1945) e ditadura civil
(1964-
1985), e pela tendência de
centralização do estado nacional, que
ocorre mesmo em períodos ditos
democráticos. Tal tendência funci
sempre na contramão do
desenvolvimento da federação, que
requer o exercício mais equilibrado de
responsabilidades entre os entes
federativos. Em visível contraste com
esta tendência de fortalecimento da
União, em alguns instantes históricos
foram ampli
adas as competências dos
outros entes federativos. Até 1988, a
federação era apenas constituída de
União e Estados. A partir da
Constituição daquele ano a federação
passou a ser composta por União,
Estados, Distrito Federal e Municípios
(
CUNHA FILHO; RIBEI
34). Na atualidade, a República
Federativa do Brasil abrange: União,
Distrito Federal, 26 Estados e 5.570
municípios, adquirindo singular
complexidade, posto que a grande
maioria dos países federados
existentes no mundo abrange apenas
União e Estados.
Os entes federativos previstos
pela Constituição Federal de 1988
302
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
própria dos largos períodos
autoritários, ditadura do Estado Novo
1945) e ditadura civil
-militar
1985), e pela tendência de
centralização do estado nacional, que
ocorre mesmo em períodos ditos
democráticos. Tal tendência funci
ona
sempre na contramão do
desenvolvimento da federação, que
requer o exercício mais equilibrado de
responsabilidades entre os entes
federativos. Em visível contraste com
esta tendência de fortalecimento da
União, em alguns instantes históricos
adas as competências dos
outros entes federativos. Até 1988, a
federação era apenas constituída de
União e Estados. A partir da
Constituição daquele ano a federação
passou a ser composta por União,
Estados, Distrito Federal e Municípios
CUNHA FILHO; RIBEI
RO, 2013, p.
34). Na atualidade, a República
Federativa do Brasil abrange: União,
Distrito Federal, 26 Estados e 5.570
municípios, adquirindo singular
complexidade, posto que a grande
maioria dos países federados
existentes no mundo abrange apenas
Os entes federativos previstos
pela Constituição Federal de 1988
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
possuem um conjunto amplo de
direitos e deveres. Eles têm
legislações específicas para definir sua
estrutura institucional, submetidas à
carta constitucional nacional. Nesta
perspect
iva, os estados possuem
constituições estaduais e os
municípios leis orgânicas. Estados e
municípios podem cobrar
determinados impostos e taxas, além
de receberem repasses financeiros
obrigatórios da União para Estados e
Municípios e do Estado para os
Muni
cípios. Eles podem elaborar leis e
assumir tarefas executivas no âmbito
estadual ou municipal. Ou seja, são
assegurados pela Constituição Federal
aos entes federativos, pelo menos
formalmente, direitos que viabilizam
certa autonomia de gestão e de
implemen
tação de políticas, ainda que
subordinadas aos parâmetros
existentes na carta constitucional
federal. Como as delimitações nem
sempre são cristalinas, elas terminam
gerando algumas zonas de tensão
entre os entes federativos.
As novas competências
atribuída
s aos entes municipais pela
Constituição Federal de 1988
trouxeram mais autonomia, mas
responsabilizaram os governos locais
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
possuem um conjunto amplo de
direitos e deveres. Eles têm
legislações específicas para definir sua
estrutura institucional, submetidas à
carta constitucional nacional. Nesta
iva, os estados possuem
constituições estaduais e os
municípios leis orgânicas. Estados e
municípios podem cobrar
determinados impostos e taxas, além
de receberem repasses financeiros
obrigatórios da União para Estados e
Municípios e do Estado para os
cípios. Eles podem elaborar leis e
assumir tarefas executivas no âmbito
estadual ou municipal. Ou seja, são
assegurados pela Constituição Federal
aos entes federativos, pelo menos
formalmente, direitos que viabilizam
certa autonomia de gestão e de
tação de políticas, ainda que
subordinadas aos parâmetros
existentes na carta constitucional
federal. Como as delimitações nem
sempre são cristalinas, elas terminam
gerando algumas zonas de tensão
As novas competências
s aos entes municipais pela
Constituição Federal de 1988
trouxeram mais autonomia, mas
responsabilizaram os governos locais
pela resolução de problemas sociais
complexos. Frente a esses desafios,
os municípios foram responsáveis por
um ciclo de inovação na
públicas brasileiras, constituindo uma
“inflexão marcada pela emergência de
inovações no nível local nas últimas
décadas” (FARAH, 2006, p. 71).
são poucas as políticas públicas
federais hoje
em vigor cuja origem
remonta a experiências munic
Para ficar com alguns exemplos, o
pilar das políticas sociais federais, o
“Programa Bolsa-
Família”, teve seu
desenho elaborado a partir de
diferentes políticas de âmbito
municipal
4
. Do mesmo modo, a
principal estratégia federal de atenção
básica à s
aúde, o “Programa Saúde da
Família”, estruturante na construção
do SUS, se efetivou a partir de
experiências de programas
comunitários e de atenção sica de
uma série de municípios brasileiros
4
Desde os anos 1990 iniciaram
experiê
ncias municipais de programas de
transferência de renda, como
Garantia de Renda Familiar Mínima
Campinas;
o Programa Bolsa Familiar para a
Educação (Bolsa Escola); o Programa de
Garantia de Renda Familiar Mínima,
Ribeirão Preto e o Programa ‘Nossa Família‘‘
em Santos (Silva;
Giovanni
5
Da mesma forma, o Programa Saúde da
Família, que nasce em âmbito federal, s
como uma proposta ousada para a
reestruturação do sistema de saúde,
303
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
pela resolução de problemas sociais
complexos. Frente a esses desafios,
os municípios foram responsáveis por
um ciclo de inovação na
s políticas
públicas brasileiras, constituindo uma
“inflexão marcada pela emergência de
inovações no nível local nas últimas
décadas” (FARAH, 2006, p. 71).
Não
são poucas as políticas públicas
em vigor cuja origem
remonta a experiências munic
ipais.
Para ficar com alguns exemplos, o
pilar das políticas sociais federais, o
Família”, teve seu
desenho elaborado a partir de
diferentes políticas de âmbito
. Do mesmo modo, a
principal estratégia federal de atenção
aúde, o “Programa Saúde da
Família”, estruturante na construção
do SUS, se efetivou a partir de
experiências de programas
comunitários e de atenção sica de
uma série de municípios brasileiros
5
.
Desde os anos 1990 iniciaram
-se no Brasil
ncias municipais de programas de
transferência de renda, como
o Programa de
Garantia de Renda Familiar Mínima
, em
o Programa Bolsa Familiar para a
Educação (Bolsa Escola); o Programa de
Garantia de Renda Familiar Mínima,
em
Ribeirão Preto e o Programa ‘Nossa Família‘‘
Giovanni
; Yasbeck, 2008).
Da mesma forma, o Programa Saúde da
Família, que nasce em âmbito federal, s
urge
como uma proposta ousada para a
reestruturação do sistema de saúde,
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
Junto ao processo de desmonte
institucional das
políticas so
ocorre no âmbito federal desde o golpe
de 2016, ambas as políticas federais
têm
tido sua importância escancarada
na crise decorrente da COVID
ressaltado o papel dos governos locais
no fortalecimento das redes de
cuidado nos territórios.
Par
a além do caráter inovador e
da relação com o território, peculiar a
essa instância de governo,
características imanentes ao atual
mundo globalizado
permitem ampliar a
autonomia relativa de Estados e
Municípios. Hoje, ambos podem
exercer atividades até hoj
formalmente restritas ao governo da
União, como relações externas
internacionais. Muitos Estados e
diversos Municípios dispõem, a
depender da dimensão, de
assessorias ou de secretarias de
relações internacionais. Os Estados e
os municípios/cidades mantêm
intercâmbio e trocas, inclusive
culturais, no mundo contemporâneo.
Caso similar ocorre em relação aos
organizando a ate
nção primária e substituindo
os modelos tradicionais existentes. Porto
Alegre, São Paulo, Niterói, Recife, Cotia/SP,
Planaltina/GO e Mambaí/GO inspiraram a
construir os princípios do PSF (
Pinto e
Giovanella, 2018).
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Junto ao processo de desmonte
políticas so
ciais que
ocorre no âmbito federal desde o golpe
de 2016, ambas as políticas federais
tido sua importância escancarada
na crise decorrente da COVID
-19 e
ressaltado o papel dos governos locais
no fortalecimento das redes de
a além do caráter inovador e
da relação com o território, peculiar a
essa instância de governo,
características imanentes ao atual
permitem ampliar a
autonomia relativa de Estados e
Municípios. Hoje, ambos podem
exercer atividades até hoj
e
formalmente restritas ao governo da
União, como relações externas
internacionais. Muitos Estados e
diversos Municípios dispõem, a
depender da dimensão, de
assessorias ou de secretarias de
relações internacionais. Os Estados e
os municípios/cidades mantêm
intercâmbio e trocas, inclusive
culturais, no mundo contemporâneo.
Caso similar ocorre em relação aos
nção primária e substituindo
os modelos tradicionais existentes. Porto
Alegre, São Paulo, Niterói, Recife, Cotia/SP,
Planaltina/GO e Mambaí/GO inspiraram a
Pinto e
modelos de desenvolvimento. Antes
adstritos ao governo da União, eles
agora podem ser implantados, em
horizonte complementar, por Estados,
por Municípios
e mesmo por
consórcios interestaduais e
intermunicipais, sob o formato de
planos de desenvolvimento regionais,
estaduais e municipais ou locais. Estas
novas circunstâncias societárias
(RUBIM
, 2001) abrem possibilidades
de ampliação da autonomia relativa
d
os Estados e Municípios, que se
exercem ou não a depender de
diferentes fatores.
Na gestão municipal da cultura
não é diferente: os governos locais
ocupam relevante papel na geração de
políticas culturais inovadoras e
desfrutam de
boas possibilidades de
au
tonomia. A gestão pioneira do
escritor Mário de Andrade no
Departamento de Cultura da Prefeitura
de São Paulo (1935
-
exemplo. O intelectual modernista
inovou em intervir de forma sistemática
no campo, propor uma dimensão
ampla da noção de cul
belas-
artes), reconhecer o patrimônio
material e imaterial produzidos pelos
diversos segmentos da sociedade
Outro marco de sua gestão foi o
304
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
modelos de desenvolvimento. Antes
adstritos ao governo da União, eles
agora podem ser implantados, em
horizonte complementar, por Estados,
e mesmo por
consórcios interestaduais e
intermunicipais, sob o formato de
planos de desenvolvimento regionais,
estaduais e municipais ou locais. Estas
novas circunstâncias societárias
, 2001) abrem possibilidades
de ampliação da autonomia relativa
os Estados e Municípios, que se
exercem ou não a depender de
Na gestão municipal da cultura
não é diferente: os governos locais
ocupam relevante papel na geração de
políticas culturais inovadoras e
boas possibilidades de
tonomia. A gestão pioneira do
escritor Mário de Andrade no
Departamento de Cultura da Prefeitura
-
1938) é um bom
exemplo. O intelectual modernista
inovou em intervir de forma sistemática
no campo, propor uma dimensão
ampla da noção de cul
tura (além das
artes), reconhecer o patrimônio
material e imaterial produzidos pelos
diversos segmentos da sociedade
.
Outro marco de sua gestão foi o
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
patrocínio de
missões etnográficas às
regiões amazônica e nordestina,
valorizando os acervos cultura
produzidos fora do eixo
dinâmico do
país (RUBIM, 2007).
Além desse exemplo icônico,
Márcio Meira (2016) chama a atenção
para a importância das gestões locais
na construção do ciclo de políticas
culturais federais democráticas, entre
os anos de 2003 e 20
15. O autor
destaca que, desde os anos 1980, as
experiências locais trazem novos
conceitos e práticas que se
constituíram como referências no
campo das políticas culturais. É o caso
da “Política de Cidadania Cultural”
proposta pela filósofa Marilena Chauí,
na Secretaria Municipal de Cultura de
São Paulo, na administração de Luiza
Erundina (1989-
1993). Outros
exemplos são as experiências
participativas vividas por gestões
municipais de Porto Alegre, Belo
Horizonte, Belém, Recife, Rio Branco,
Campinas, Londri
na, entre outras
(MEIRA, 2016, p. 18-
22). Reconhecer
o papel dessas políticas aponta para a
relevância histórica das gestões locais,
mas também para sua relevância na
construção das políticas culturais
democráticas, em especial em
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
missões etnográficas às
regiões amazônica e nordestina,
valorizando os acervos cultura
is
dinâmico do
Além desse exemplo icônico,
Márcio Meira (2016) chama a atenção
para a importância das gestões locais
na construção do ciclo de políticas
culturais federais democráticas, entre
15. O autor
destaca que, desde os anos 1980, as
experiências locais trazem novos
conceitos e práticas que se
constituíram como referências no
campo das políticas culturais. É o caso
da “Política de Cidadania Cultural”
proposta pela filósofa Marilena Chauí,
na Secretaria Municipal de Cultura de
São Paulo, na administração de Luiza
1993). Outros
exemplos são as experiências
participativas vividas por gestões
municipais de Porto Alegre, Belo
Horizonte, Belém, Recife, Rio Branco,
na, entre outras
22). Reconhecer
o papel dessas políticas aponta para a
relevância histórica das gestões locais,
mas também para sua relevância na
construção das políticas culturais
democráticas, em especial em
momentos de autoritarismo
desmonte das políticas culturais
federais, como ocorre na atualidade
brasileira.
Todo este quadro de
possibilidades encontra inúmeras
dificuldades de ser implementado. A
maior delas é a concentração do
orçamento em mãos da União e de
modo subsidiário no
panorama dificulta, quando não
inviabiliza, que a autonomia relativa
dos municípios, amparada na Carta
Federal e nas características da
contemporaneidade, seja exercitada
de modo efetivamente federativo. O
contexto se agrava ainda mais quand
se observa que a imensa maioria
(68,3%) dos municípios brasileiros é
formada por pequenas localidades de
até 20 mil habitantes, em geral com
reduzida dinâmica socioeconômica e
parcos recursos próprios. Assim,
majoritariamente os municípios
brasileiros de
pendem financeiramente
de verbas da União, principalmente, e
dos Estados,em segundo plano.
Diante da insistente carência de
recursos muitas das potencialidades
de autonomia relativa dos municípios
em definir suas políticas
de existir. Os dilem
as de República
305
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
momentos de autoritarismo
e
desmonte das políticas culturais
federais, como ocorre na atualidade
Todo este quadro de
possibilidades encontra inúmeras
dificuldades de ser implementado. A
maior delas é a concentração do
orçamento em mãos da União e de
modo subsidiário no
s Estados. Tal
panorama dificulta, quando não
inviabiliza, que a autonomia relativa
dos municípios, amparada na Carta
Federal e nas características da
contemporaneidade, seja exercitada
de modo efetivamente federativo. O
contexto se agrava ainda mais quand
o
se observa que a imensa maioria
(68,3%) dos municípios brasileiros é
formada por pequenas localidades de
até 20 mil habitantes, em geral com
reduzida dinâmica socioeconômica e
parcos recursos próprios. Assim,
majoritariamente os municípios
pendem financeiramente
de verbas da União, principalmente, e
dos Estados,em segundo plano.
Diante da insistente carência de
recursos muitas das potencialidades
de autonomia relativa dos municípios
em definir suas políticas
quase deixam
as de República
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
Federativa do Brasil tornam
gigantescos para sua realização
enquanto verdadeira federação.
bem recentemente a
perspectiva federativa tem sido
discutida no campo das políticas
culturais. A gestão de Gilberto Gil no
Ministério da
Cultura (2003
entre muitas das suas inovações,
atualizou a gestão pública da cultura
ao introduzir esta dimensão. Essas
inovações, entretanto, não
conseguiram ser assumidas
plenamente, perpassando todo
trabalho do Ministério. Alexandre
Barbalho, Jos
é Márcio Barros e Lia
Calabre observam que as
Conferências Nacionais de Cultura
(CNC), o Plano Nacional de Cultura
(PNC) e, principalmente, o Sistema
Nacional de Cultura (SNC) “tinham
claramente o objetivo de estabelecer o
federalismo cultural”. outras
iniciativas “acabaram por estabelecer
uma forte relação entre as esferas:
federal, estadual e municipal, como os
Pontos de Cultura” (BARBALHO;
BARROS; CALABRE, 2013, p. 9).
Talvez os autores não tenham querido
dizer que o Programa Cultura Viva
6
Cultura Viva é um programa do governo
fe
deral brasileiro, criado em 2004, que tem
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Federativa do Brasil tornam
-se
gigantescos para sua realização
enquanto verdadeira federação.
bem recentemente a
perspectiva federativa tem sido
discutida no campo das políticas
culturais. A gestão de Gilberto Gil no
Cultura (2003
-2008),
entre muitas das suas inovações,
atualizou a gestão pública da cultura
ao introduzir esta dimensão. Essas
inovações, entretanto, não
conseguiram ser assumidas
plenamente, perpassando todo
trabalho do Ministério. Alexandre
é Márcio Barros e Lia
Calabre observam que as
Conferências Nacionais de Cultura
(CNC), o Plano Nacional de Cultura
(PNC) e, principalmente, o Sistema
Nacional de Cultura (SNC) “tinham
claramente o objetivo de estabelecer o
federalismo cultural”. outras
iniciativas “acabaram por estabelecer
uma forte relação entre as esferas:
federal, estadual e municipal, como os
Pontos de Cultura” (BARBALHO;
BARROS; CALABRE, 2013, p. 9).
Talvez os autores não tenham querido
dizer que o Programa Cultura Viva
6
,
Cultura Viva é um programa do governo
deral brasileiro, criado em 2004, que tem
um dos mai
s emblemáticos do
Ministério, apesar das relevantes
conexões viabilizadas, não se pautou
por uma lógica federativa. O recurso à
atuação de estados e municípios no
programa decorreu muito mais das
dificuldades de gerenciamento do
Ministério, que da busca co
de gestão federativa compartilhada do
Cultura Viva.
Como bem assinalam os três
autores, as conferências e os planos
nacionais de cultura eram
atravessados por um olhar federativo
no desenvolvimento das políticas
culturais. Mas a perspectiva f
se aprimorou e consolidou no
processo de elaboração do SNC.
Apesar de existirem percepções
diferenciadas sobre a presença
federalismo nas primeiras formulações
do SNC, a visão prevalecente aponta
para uma relativa ausência nos
primórdios da co
ncepção do SNC.
Roberto Peixe diz que: “o sistema não
como carro chefe a criação dos Pontos de
Cultura. Em 2014, passou a ser uma Política
de Estado, com a sanção da Lei 13.018 que
institui a Política Nacional de Cultura Viva.
Trata-
se de uma política eminentemente de
base comunitária que visa o amplo exercício
dos direitos culturais pelo conjunto da
população brasileira, explorando as
potencialidades da cultura como eixo
transversal do desenvolvimento social e
econômico sustentável.
306
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
s emblemáticos do
Ministério, apesar das relevantes
conexões viabilizadas, não se pautou
por uma lógica federativa. O recurso à
atuação de estados e municípios no
programa decorreu muito mais das
dificuldades de gerenciamento do
Ministério, que da busca co
nsistente
de gestão federativa compartilhada do
Como bem assinalam os três
autores, as conferências e os planos
nacionais de cultura eram
atravessados por um olhar federativo
no desenvolvimento das políticas
culturais. Mas a perspectiva f
ederativa
se aprimorou e consolidou no
processo de elaboração do SNC.
Apesar de existirem percepções
diferenciadas sobre a presença
do
federalismo nas primeiras formulações
do SNC, a visão prevalecente aponta
para uma relativa ausência nos
ncepção do SNC.
Roberto Peixe diz que: “o sistema não
como carro chefe a criação dos Pontos de
Cultura. Em 2014, passou a ser uma Política
de Estado, com a sanção da Lei 13.018 que
institui a Política Nacional de Cultura Viva.
se de uma política eminentemente de
base comunitária que visa o amplo exercício
dos direitos culturais pelo conjunto da
população brasileira, explorando as
potencialidades da cultura como eixo
transversal do desenvolvimento social e
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
nasceu com essa visão clara
federativa” (PEIXE
apud
2018, p. 78). Bernardo Mata Machado
concorda com tal entendimento. Para
ele a perspectiva federalista não
estava em foco no início do SNC, pois
a preocupação era a retomada do
papel do poder público nas políticas
culturais. Ele afirma: “A gente não
tinha muito na cabeça a questão
federativa”. (MACHADO
apud
2018, p. 78). Desta maneira, o
processo de constituição do SNC
aprofundou continuada
mente seu
federalismo cultural, que passou a
marcar o SNC. Sophia Rocha, na sua
tese de doutorado, acompanha
cuidadosamente passos e percalços
dessa complexa tessitura, mesmo
dentro do próprio ministério (ROCHA,
2018).
O SNC implicava na existência
de com
ponentes articulados em níveis
federal, estaduais e municipais, tais
como: órgãos gestores de cultura,
conselhos, conferências, comissões
intergestoras, conselhos, planos,
sistemas de financiamento à cultura,
sistemas de informações e indicadores
culturais
, programas de formação na
área da cultura e sistemas setoriais de
cultura articulados (MINISTÉRIO DA
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
nasceu com essa visão clara
apud
ROCHA,
2018, p. 78). Bernardo Mata Machado
concorda com tal entendimento. Para
ele a perspectiva federalista não
estava em foco no início do SNC, pois
a preocupação era a retomada do
papel do poder público nas políticas
culturais. Ele afirma: “A gente não
tinha muito na cabeça a questão
apud
ROCHA,
2018, p. 78). Desta maneira, o
processo de constituição do SNC
mente seu
federalismo cultural, que passou a
marcar o SNC. Sophia Rocha, na sua
tese de doutorado, acompanha
cuidadosamente passos e percalços
dessa complexa tessitura, mesmo
dentro do próprio ministério (ROCHA,
O SNC implicava na existência
ponentes articulados em níveis
federal, estaduais e municipais, tais
como: órgãos gestores de cultura,
conselhos, conferências, comissões
intergestoras, conselhos, planos,
sistemas de financiamento à cultura,
sistemas de informações e indicadores
, programas de formação na
área da cultura e sistemas setoriais de
cultura articulados (MINISTÉRIO DA
CULTURA, 2011). O SNC acolheu,
como nenhuma outra iniciativa do
Ministério, um horizonte militante
nitidamente federalista. Ele estimulou
inovadora reflex
ão sobre os enlaces
entre cultura e federalismo. Muitas
análises sobre a temática floresceram
em diálogo com o SNC.
Os interessantes avanços
federalistas propiciados pelo SNC não
resolveram, no entanto, alguns
aspectos vitais para o
desenvolvimento do fede
cultural. o se conseguiu acordar
uma delimitação de competências dos
entes federativos na esfera da cultura.
Rodrigo Costa, por exemplo, na
análise que realiza sobre o tema do
patrimônio cultural, afirma que todos
os entes federativos podem ter
p
olíticas patrimoniais, apenas limitadas
no referente aos direitos autorais e à
propriedade de sítios arqueológicos e
pré-
históricos, áreas exclusivas de
atuação da União (COSTA, 2011, p.
48,
49). Deste modo, todos os entes
federativos podem atuar, de modo
complementar ou mesmo concorrente,
em quase todos os ambientes
culturais, inclusive no financiamento à
cultura, tema de reflexão deste texto.
Cabe ressaltar que os Estados e, em
307
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
CULTURA, 2011). O SNC acolheu,
como nenhuma outra iniciativa do
Ministério, um horizonte militante
nitidamente federalista. Ele estimulou
ão sobre os enlaces
entre cultura e federalismo. Muitas
análises sobre a temática floresceram
em diálogo com o SNC.
Os interessantes avanços
federalistas propiciados pelo SNC não
resolveram, no entanto, alguns
aspectos vitais para o
desenvolvimento do fede
ralismo
cultural. o se conseguiu acordar
uma delimitação de competências dos
entes federativos na esfera da cultura.
Rodrigo Costa, por exemplo, na
análise que realiza sobre o tema do
patrimônio cultural, afirma que todos
os entes federativos podem ter
olíticas patrimoniais, apenas limitadas
no referente aos direitos autorais e à
propriedade de sítios arqueológicos e
históricos, áreas exclusivas de
atuação da União (COSTA, 2011, p.
49). Deste modo, todos os entes
federativos podem atuar, de modo
complementar ou mesmo concorrente,
em quase todos os ambientes
culturais, inclusive no financiamento à
cultura, tema de reflexão deste texto.
Cabe ressaltar que os Estados e, em
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
especial, os Municípios, em muitos
casos, parecem não ter plena
consciência da
s potencialidades de
sua autonomia federativa.
A situação vivida hoje no Brasil
impõe enormes retrocessos ao
desenvolvimento do país em uma
perspectiva federalista. A tentação
autoritária do atual governo busca
concentrar poder na União, em
detrimento de Estados e Municípios,
ferindo o pacto federativo
, previsto na
Constituição Federal. A circunstância
se agrava quando se observam as
atitudes da gestão federal em relação
à cultura: destruiu o Ministério da
Cultura e em seu lugar tornou a cultura
uma mera secretaria, vinculada
primeiro ao Ministério da C
depois ao Ministério do Turismo.
Desde janeiro de 2019, quando
começou o mandato de Messias
Bolsonaro, cinco dirigentes
passaram pela Secretaria de Cultura.
As políticas e os programas
construídos nos governos dos
presidentes Luiz Inácio Lula
Dilma Rousseff estão sendo
desmontados. Além de implantar a
censura e atacar as liberdades de
criação e expressão, a gestão Messias
Bolsonaro asfixia financeiramente o
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
especial, os Municípios, em muitos
casos, parecem não ter plena
s potencialidades de
A situação vivida hoje no Brasil
impõe enormes retrocessos ao
desenvolvimento do país em uma
perspectiva federalista. A tentação
autoritária do atual governo busca
concentrar poder na União, em
detrimento de Estados e Municípios,
, previsto na
Constituição Federal. A circunstância
se agrava quando se observam as
atitudes da gestão federal em relação
à cultura: destruiu o Ministério da
Cultura e em seu lugar tornou a cultura
uma mera secretaria, vinculada
primeiro ao Ministério da C
idadania e
depois ao Ministério do Turismo.
Desde janeiro de 2019, quando
começou o mandato de Messias
Bolsonaro, cinco dirigentes
passaram pela Secretaria de Cultura.
As políticas e os programas
construídos nos governos dos
presidentes Luiz Inácio Lula
da Silva e
Dilma Rousseff estão sendo
desmontados. Além de implantar a
censura e atacar as liberdades de
criação e expressão, a gestão Messias
Bolsonaro asfixia financeiramente o
campo cultural. Em resumo, o governo
federal se mostra inimigo da cultura e
do federalismo cultural no Brasil atual
(RUBIM, 2020).
Fomento à cultura no Brasil
O campo do fomento à cultura
no Brasil foi definido pelo
protagonismo da Lei Federal de
Incentivo à Cultura, Lei 8.313 de 23
de dezembro de 1991, que instituiu o
Progra
ma Nacional de Apoio à Cultura
(Pronac). Fomento é um “[...] programa
organizado, com normas e rotinas, de
apoio e incentivo à cultura, que pode
tornar diferentes formatos: créditos,
fundos, incentivo fiscal etc.” (ROCHA;
FERNANDES, 2017, p. 20).Na origem
a Lei foi formulada como um sistema
com três frentes de atuação:
concessão de incentivos fiscais a
empresas e indivíduos, que apoiassem
projetos culturais; financiamento direto
de iniciativas com menor visibilidade e
capacidade de se auto sustentar, com
o Fundo Nacional de Cultura (FNC); e
por créditos provenientes de fundo de
investimento a projetos rentáveis de
empresas e produtoras (Ficart). Com
as modificações feitas ao longo dos
anos 1990, a referida Lei passou a ser
dominada por lógicas neoliberais,
308
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
campo cultural. Em resumo, o governo
federal se mostra inimigo da cultura e
do federalismo cultural no Brasil atual
Fomento à cultura no Brasil
O campo do fomento à cultura
no Brasil foi definido pelo
protagonismo da Lei Federal de
Incentivo à Cultura, Lei 8.313 de 23
de dezembro de 1991, que instituiu o
ma Nacional de Apoio à Cultura
(Pronac). Fomento é um “[...] programa
organizado, com normas e rotinas, de
apoio e incentivo à cultura, que pode
tornar diferentes formatos: créditos,
fundos, incentivo fiscal etc.” (ROCHA;
FERNANDES, 2017, p. 20).Na origem
,
a Lei foi formulada como um sistema
com três frentes de atuação:
concessão de incentivos fiscais a
empresas e indivíduos, que apoiassem
projetos culturais; financiamento direto
de iniciativas com menor visibilidade e
capacidade de se auto sustentar, com
o Fundo Nacional de Cultura (FNC); e
por créditos provenientes de fundo de
investimento a projetos rentáveis de
empresas e produtoras (Ficart). Com
as modificações feitas ao longo dos
anos 1990, a referida Lei passou a ser
dominada por lógicas neoliberais,
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
privilegiando produções de caráter
mais comercial e a concessão de
benefícios fiscais cada vez maiores às
empresas, ditas patrocinadoras.
Assim, a Lei, que prometia um
sistema diversificado de fomento ao
setor, se distorceu e o incentivo fiscal
se tornou
a forma predominante e
quase única de fomento à cultura no
Brasil. A empresa “patrocinadora”
ganha em visibilidade, relacionamento
com seus públicos e reputação de sua
marca por meio do uso dos recursos
quase completamente públicos. Em
1993, cerca de 70%
dos recursos
mobilizados pelo incentivo fiscal eram
privados. em 2016, esse percentual
foi reduzido para apenas 2,95%
(PAIVA NETO, 2017, p. 40
todas essas escandalosas vantagens
concedidas ao setor privado, a Lei
Federal de Incentivo à Cultura
responsável pelo aporte anual de mais
de um bilhão de reais (algo em torno
de 200 milhões de dólares). Muitos
estudos (RUBIM, 2007; OLIVIERI,
2004; SARKOVAS, 2005),
revelaram os desvios provocados
pelas alterações da lei.
Cabe registrar, outro
aspectos que tem interesse para esse
texto: a concentração regional. Em
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
privilegiando produções de caráter
mais comercial e a concessão de
benefícios fiscais cada vez maiores às
empresas, ditas patrocinadoras.
Assim, a Lei, que prometia um
sistema diversificado de fomento ao
setor, se distorceu e o incentivo fiscal
a forma predominante e
quase única de fomento à cultura no
Brasil. A empresa “patrocinadora”
ganha em visibilidade, relacionamento
com seus públicos e reputação de sua
marca por meio do uso dos recursos
quase completamente públicos. Em
dos recursos
mobilizados pelo incentivo fiscal eram
privados. em 2016, esse percentual
foi reduzido para apenas 2,95%
(PAIVA NETO, 2017, p. 40
-41). Com
todas essas escandalosas vantagens
concedidas ao setor privado, a Lei
Federal de Incentivo à Cultura
é, hoje,
responsável pelo aporte anual de mais
de um bilhão de reais (algo em torno
de 200 milhões de dólares). Muitos
estudos (RUBIM, 2007; OLIVIERI,
2004; SARKOVAS, 2005),
revelaram os desvios provocados
Cabe registrar, outro
de seus
aspectos que tem interesse para esse
texto: a concentração regional. Em
2015, por exemplo, 79% dos recursos
captados por meio da lei foram
destinados a organizações e/ou
indivíduos situados na região Sudeste,
notadamente nos estados e nas
cidades
do São Paulo e Rio de Janeiro
(PAIVA NETO, 2017). O sistema,
pensado para atender a diferentes
dinâmicas do setor cultural, com o
passar dos anos, resumiu
viabilizar produções de grande porte,
quase sempre de apelo mercantil,
oriundas do eixo econômic
desprezando a diversidade do campo
cultural e do próprio território brasileiro.
Apesar das discussões
empreendidas sobre o tema, nenhuma
das tentativas de revisão mais
profunda avançou. Uma evidência
disso é que tramita no Congresso
Nacional,
desde 2010, projeto de
reformulação da referida lei. Nem
mesmo o FNC, um dos mecanismos
previstos no seu texto, voltado às
iniciativas culturais de caráter não
comercial, teve um uso mais potente e
longevo. Carlos Paiva Neto (2017)
mostrou que os recursos
cresceram em patamares muito
inferiores aos do incentivo fiscal. Além
dos sucessivos contingenciamentos
que o FNC vem sofrendo nos últimos
309
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
2015, por exemplo, 79% dos recursos
captados por meio da lei foram
destinados a organizações e/ou
indivíduos situados na região Sudeste,
notadamente nos estados e nas
do São Paulo e Rio de Janeiro
(PAIVA NETO, 2017). O sistema,
pensado para atender a diferentes
dinâmicas do setor cultural, com o
passar dos anos, resumiu
-se a
viabilizar produções de grande porte,
quase sempre de apelo mercantil,
oriundas do eixo econômic
o do país,
desprezando a diversidade do campo
cultural e do próprio território brasileiro.
Apesar das discussões
empreendidas sobre o tema, nenhuma
das tentativas de revisão mais
profunda avançou. Uma evidência
disso é que tramita no Congresso
desde 2010, projeto de
reformulação da referida lei. Nem
mesmo o FNC, um dos mecanismos
previstos no seu texto, voltado às
iniciativas culturais de caráter não
comercial, teve um uso mais potente e
longevo. Carlos Paiva Neto (2017)
mostrou que os recursos
do Fundo
cresceram em patamares muito
inferiores aos do incentivo fiscal. Além
dos sucessivos contingenciamentos
que o FNC vem sofrendo nos últimos
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
anos, seu regramento não garante a
destinação das verbas públicas para a
comunidade cultural, pois possibil
que o próprio Ministério utilize esses
recursos em seus programas
institucionais. Deste modo, os parcos
investimentos voltados ao dispositivo,
tanto em termos de recursos
financeiros, quanto de aprimoramento
da gestão, resultaram em uma
progressiva inc
apacidade do governo
federal em lidar com as crescentes
demandas setoriais e regionais da
cultura.
Apesar das distorções, é
preciso reconhecer que o incentivo
fiscal foi responsável pela
sustentabilidade de grandes
instituições culturais do país, como os
museus, orquestras e teatros.
Desconsiderando o trabalho de revisão
crítica da lei empreendido no período
anterior, com mobilização importante
do setor cultural buscando
democratizar o acesso aos recursos,
em 2019 foi realizada uma série de
alterações na s
ua estrutura por meio
de Instrução Normativa. Dentre elas,
previu-
se uma drástica redução dos
limites orçamentários dos projetos
apoiados através do incentivo fiscal,
impactando a dinâmica de
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
anos, seu regramento não garante a
destinação das verbas públicas para a
comunidade cultural, pois possibil
ita
que o próprio Ministério utilize esses
recursos em seus programas
institucionais. Deste modo, os parcos
investimentos voltados ao dispositivo,
tanto em termos de recursos
financeiros, quanto de aprimoramento
da gestão, resultaram em uma
apacidade do governo
federal em lidar com as crescentes
demandas setoriais e regionais da
Apesar das distorções, é
preciso reconhecer que o incentivo
fiscal foi responsável pela
sustentabilidade de grandes
instituições culturais do país, como os
museus, orquestras e teatros.
Desconsiderando o trabalho de revisão
crítica da lei empreendido no período
anterior, com mobilização importante
do setor cultural buscando
democratizar o acesso aos recursos,
em 2019 foi realizada uma série de
ua estrutura por meio
de Instrução Normativa. Dentre elas,
se uma drástica redução dos
limites orçamentários dos projetos
apoiados através do incentivo fiscal,
impactando a dinâmica de
funcionamento das grandes
instituições culturais do país. Em
par
alelo, foi definido como diretriz que
empresas públicas, importantes
financiadoras do setor cultural no país,
deixassem de utilizar a legislação.
Ainda mais grave, são os casos
explícitos de censura a conteúdos que
valorizem a diversidade cultural e de
gên
ero. Os casos de maior
repercussão nacional foram a
proibição por Messias Bolsonaro da
campanha publicitária do Banco do
Brasil que exaltava a diversidade racial
e de gênero, assim como o sistema de
censura prévia adotado pela Caixa
Econômica no financiame
projetos culturais.
compõem parte do cenário de
desmonte das políticas culturais pelo
governo federal.
Frente à falência da política
cultural federal, as iniciativas
municipais de fomento ganham
importância. Mesmo antes do
agravam
ento da crise, o investimento
do âmbito municipal já se destacava
em relação aos demais entes
federativos. A pesquisa
“Financiamento e Fomento à Cultura
no Brasil: Estados e Distrito Federal”,
realizada com base nas execuções
310
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
funcionamento das grandes
instituições culturais do país. Em
alelo, foi definido como diretriz que
empresas públicas, importantes
financiadoras do setor cultural no país,
deixassem de utilizar a legislação.
Ainda mais grave, são os casos
explícitos de censura a conteúdos que
valorizem a diversidade cultural e de
ero. Os casos de maior
repercussão nacional foram a
proibição por Messias Bolsonaro da
campanha publicitária do Banco do
Brasil que exaltava a diversidade racial
e de gênero, assim como o sistema de
censura prévia adotado pela Caixa
Econômica no financiame
nto dos
Tais estratégias
compõem parte do cenário de
desmonte das políticas culturais pelo
Frente à falência da política
cultural federal, as iniciativas
municipais de fomento ganham
importância. Mesmo antes do
ento da crise, o investimento
do âmbito municipal já se destacava
em relação aos demais entes
federativos. A pesquisa
“Financiamento e Fomento à Cultura
no Brasil: Estados e Distrito Federal”,
realizada com base nas execuções
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
orçamentárias dos anos de 2014
2015, mostrou que a União, apesar de
ter gastos nominalmente maiores,
empregou apenas 0,08% de seus
recursos em cultura. Os estados e
Distrito Federal aplicaram 0,41% em
2014 e 0,33% em 2015. os
municípios foram o ente federativo que
mais investiu em
cultura: no primeiro
ano, 1,02% dos seus orçamentos, e,
no ano seguinte, 0,91%. Os gastos de
todos os municípios alcançam 51% de
todo investimento público direto em
cultura no Brasil (
RUBIM; PAIVA
NETO
, 2017). Os autores ainda
confirmam que, “além de dest
maiores fatias percentuais de recursos
para a cultura, os municípios realizam
o maior investimento per capita em
cultura no âmbito de todos os entes
federativos (RUBIM; PAIVA NETO,
2017, p. 101).
A importância das políticas
municipais, que se d
estacava em
termos orçamentários, tende a crescer
em meio à conjuntura política e
econômica tão nefasta ao campo
cultural. Essa tendência foi
evidenciada na articulação das
gestões locais e estaduais na
mobilização em torno da Lei 14.017,
de 29 de junho
de 2020, intitulada Aldir
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
orçamentárias dos anos de 2014
e
2015, mostrou que a União, apesar de
ter gastos nominalmente maiores,
empregou apenas 0,08% de seus
recursos em cultura. Os estados e
Distrito Federal aplicaram 0,41% em
2014 e 0,33% em 2015. os
municípios foram o ente federativo que
cultura: no primeiro
ano, 1,02% dos seus orçamentos, e,
no ano seguinte, 0,91%. Os gastos de
todos os municípios alcançam 51% de
todo investimento público direto em
RUBIM; PAIVA
, 2017). Os autores ainda
confirmam que, “além de dest
inar as
maiores fatias percentuais de recursos
para a cultura, os municípios realizam
o maior investimento per capita em
cultura no âmbito de todos os entes
federativos (RUBIM; PAIVA NETO,
A importância das políticas
estacava em
termos orçamentários, tende a crescer
em meio à conjuntura política e
econômica tão nefasta ao campo
cultural. Essa tendência foi
evidenciada na articulação das
gestões locais e estaduais na
mobilização em torno da Lei 14.017,
de 2020, intitulada Aldir
Blanc, que busca garantir recursos
para ações emergenciais de apoio ao
setor cultural. A mobilização aposta
nas demais instâncias federativas,
frente à absoluta inação do governo
federal em relação ao enfrentamento
da COVID-19. A
Lei, de iniciativa de
representantes do poder legislativo
federal, contou com ampla mobilização
do setor cultural, que se valeu de
todas as possibilidades de militância
nos ambientes digitais. O marco legal
foi aprovado prevendo: o pagamento
de um pequeno
auxílio por três meses
para artistas informais; subsídio para
manutenção de micro e pequenas
empresas e demais organizações
comunitárias culturais e também de
espaços artísticos; além da realização
de ações de incentivo à produção
cultural, como a realiza
editais, prêmios. Os recursos,
provenientes do FNC, devem ser
transferidos da União para serem
executados por estados, Distrito
Federal e municípios. Com a conquista
dos recursos, os entes federativos
podem
realizar uma política cultural
eme
rgencial para a sobrevivência do
setor cultural, desamparado pelas
políticas federais.
311
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
Blanc, que busca garantir recursos
para ações emergenciais de apoio ao
setor cultural. A mobilização aposta
nas demais instâncias federativas,
frente à absoluta inação do governo
federal em relação ao enfrentamento
Lei, de iniciativa de
representantes do poder legislativo
federal, contou com ampla mobilização
do setor cultural, que se valeu de
todas as possibilidades de militância
nos ambientes digitais. O marco legal
foi aprovado prevendo: o pagamento
auxílio por três meses
para artistas informais; subsídio para
manutenção de micro e pequenas
empresas e demais organizações
comunitárias culturais e também de
espaços artísticos; além da realização
de ações de incentivo à produção
cultural, como a realiza
ção de cursos,
editais, prêmios. Os recursos,
provenientes do FNC, devem ser
transferidos da União para serem
executados por estados, Distrito
Federal e municípios. Com a conquista
dos recursos, os entes federativos
realizar uma política cultural
rgencial para a sobrevivência do
setor cultural, desamparado pelas
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
Apesar dessa crescente
atuação, conhece-
se pouco o cenário
das iniciativas municipais. Na pesquisa
“Financiamento e Fomento à Cultura
no Brasil: Estados e Distrito Feder
citada anteriormente, foi realizado um
mapeamento dos estudos de fomento
no Brasil e foi revelado que apenas
12% deles são voltados para
programas municipais (GUIMARÃES;
SILVA, 2017, p. 74). No que se refere
à produção de estatísticas, a lacuna
parece
se aprofundar, pois o desafio é
duplo: no país um déficit de
produção de dados e indicadores tanto
no campo das políticas culturais,
quanto no âmbito da gestão pública
local. Importante exceção a essa regra
é a “Pesquisa de Informações Básicas
Municipa
is (MUNIC)”, que passou a
incluir, desde 2004, em uma parceria
com o então Ministério da Cultura, um
levantamento robusto de dados sobre
a gestão cultural municipal. Apesar de
relevância, a MUNIC apresenta uma
dificuldade que pode afetar suas
informações:
as fontes são os próprios
gestores municipais, o que possibilita
que dados específicos sofram alguma
distorção. Tal limitação não afeta, no
entanto, o uso de seus dados para
análises mais amplas sobre
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Apesar dessa crescente
se pouco o cenário
das iniciativas municipais. Na pesquisa
“Financiamento e Fomento à Cultura
no Brasil: Estados e Distrito Feder
al”,
citada anteriormente, foi realizado um
mapeamento dos estudos de fomento
no Brasil e foi revelado que apenas
12% deles são voltados para
programas municipais (GUIMARÃES;
SILVA, 2017, p. 74). No que se refere
à produção de estatísticas, a lacuna
se aprofundar, pois o desafio é
duplo: no país um déficit de
produção de dados e indicadores tanto
no campo das políticas culturais,
quanto no âmbito da gestão pública
local. Importante exceção a essa regra
é a “Pesquisa de Informações Básicas
is (MUNIC)”, que passou a
incluir, desde 2004, em uma parceria
com o então Ministério da Cultura, um
levantamento robusto de dados sobre
a gestão cultural municipal. Apesar de
relevância, a MUNIC apresenta uma
dificuldade que pode afetar suas
as fontes são os próprios
gestores municipais, o que possibilita
que dados específicos sofram alguma
distorção. Tal limitação não afeta, no
entanto, o uso de seus dados para
análises mais amplas sobre
tendências
das intervenções na
cultura.
Para Paiva Neto
essa lacuna se dá, dentre muitos
motivos, pela visibilidade das políticas
federais, uma vez que a União “possui
a maior estrutura administrativa;
gerencia o maior orçamento; é titular
de algumas responsabilidades
exclusivas; suas políticas t
em todo território”. No entanto, como
vimos, a instância municipal é a que
mais investe no setor. Nesse contexto,
as experiências das cidades médias e
grandes cidades são as que se
destacam, com políticas culturais mais
complexas e de maior alca
Considerando as diferenças e
disparidades destacadas do âmbito
municipal no contexto brasileiro, um
desafio que se coloca é compreender
como os municípios têm se engajado
para cumprir seus papéis e
responsabilidades como entes da
federação brasileira
. Como as gestões
públicas municipais podem
salvaguardar e promover a diversidade
cultural que se revela em seus
territórios? Que instrumentos, práticas
e métodos da gestão pública da
cultura podem ser referências na
gestão local da cultura em municípios
312
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
das intervenções na
Para Paiva Neto
(2017, p. 15)
essa lacuna se dá, dentre muitos
motivos, pela visibilidade das políticas
federais, uma vez que a União “possui
a maior estrutura administrativa;
gerencia o maior orçamento; é titular
de algumas responsabilidades
exclusivas; suas políticas t
êm alcance
em todo território”. No entanto, como
vimos, a instância municipal é a que
mais investe no setor. Nesse contexto,
as experiências das cidades médias e
grandes cidades são as que se
destacam, com políticas culturais mais
complexas e de maior alca
nce.
Considerando as diferenças e
disparidades destacadas do âmbito
municipal no contexto brasileiro, um
desafio que se coloca é compreender
como os municípios têm se engajado
para cumprir seus papéis e
responsabilidades como entes da
. Como as gestões
públicas municipais podem
salvaguardar e promover a diversidade
cultural que se revela em seus
territórios? Que instrumentos, práticas
e métodos da gestão pública da
cultura podem ser referências na
gestão local da cultura em municípios
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
d
e tão diferentes portes e
complexidades sociais, econômicas e
territoriais? Para alcançar o desejo que
o fomento à cultura seja pensado de
maneira tão complexa quanto o fazer
cultural (RUBIM, 2016), é
imprescindível mergulhar mais fundo
nas alternativas e
soluções criadas
pelos diferentes atores da gestão
pública da cultura.
Fomento à cultura nos municípios:
modelos possíveis
Para apontar alguns modelos,
tendências e hipóteses sobre as
políticas municipais de fomento à
cultura, utilizam-
se dados extraídos
das MUNIC’s dos anos de 2014 e
2018 (IBGE, 2015 e 2019)
7
diversas possibilidades de análise da
pesquisa, dois aspectos interessam: 1.
A institucionalidade das gestões
municipais de cultura, buscando
identificar quais estruturas e em quais
condiç
ões a gestão local da cultura
tem se realizado; e 2. As políticas de
fomento à cultura que as gestões têm
executado, com especial atenção aos
7
Na MUNIC de 2014 foi publicado um
suplemento específico para a cultura. Já na
pesquisa de 2018 foi apresentado um estudo
mais resumido, inserindo apenas alguns eixos
de análise do questionário completo.
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
e tão diferentes portes e
complexidades sociais, econômicas e
territoriais? Para alcançar o desejo que
o fomento à cultura seja pensado de
maneira tão complexa quanto o fazer
cultural (RUBIM, 2016), é
imprescindível mergulhar mais fundo
soluções criadas
pelos diferentes atores da gestão
Fomento à cultura nos municípios:
Para apontar alguns modelos,
tendências e hipóteses sobre as
políticas municipais de fomento à
se dados extraídos
das MUNIC’s dos anos de 2014 e
7
. Dentre as
diversas possibilidades de análise da
pesquisa, dois aspectos interessam: 1.
A institucionalidade das gestões
municipais de cultura, buscando
identificar quais estruturas e em quais
ões a gestão local da cultura
tem se realizado; e 2. As políticas de
fomento à cultura que as gestões têm
executado, com especial atenção aos
Na MUNIC de 2014 foi publicado um
suplemento específico para a cultura. Já na
pesquisa de 2018 foi apresentado um estudo
mais resumido, inserindo apenas alguns eixos
de análise do questionário completo.
segmentos apoiados e aos
instrumentos utilizados.
Uma primeira pergunta parece
anteceder a análise: que município
Brasil consideram possuir uma
“política cultural”? A primeira resposta
é nem todos, pois 45,33% deles
responderam não possuir uma política
cultural. Esse percentual, que chega a
56,72% nos pequenos municípios (de
até 5 mil habitantes), decresce
gradat
ivamente até chegar a menos de
3% no caso dos municípios com mais
de 500 mil (IBGE,2019). Apesar da
resposta também variar entre as
regiões
8
e entre os estados
disparidade em relação ao porte dos
municípios é aquela que mais chama
atenção, anunciando u
desigualdade que se fará presente ao
longo dos demais resultados da
pesquisa.
8
Variando entre 55,25% (no Centro
37,53% (no Sudeste) o percentual dos
municí
pios que afirmam não possuir política
municipal de cultura (IBGE, 2019).
9
No caso das unidades federativas, o Estado
com maior número de municípios, que afirmou
não possuir política municipal de cultura, foi
Tocantins (com 64,75%), enquanto o menor foi
o
Rio de Janeiro, com 16,30% dos municípios
(IBGE, 2019).
313
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
segmentos apoiados e aos
instrumentos utilizados.
Uma primeira pergunta parece
anteceder a análise: que município
s no
Brasil consideram possuir uma
“política cultural”? A primeira resposta
é nem todos, pois 45,33% deles
responderam não possuir uma política
cultural. Esse percentual, que chega a
56,72% nos pequenos municípios (de
até 5 mil habitantes), decresce
ivamente até chegar a menos de
3% no caso dos municípios com mais
de 500 mil (IBGE,2019). Apesar da
resposta também variar entre as
e entre os estados
9
, a
disparidade em relação ao porte dos
municípios é aquela que mais chama
atenção, anunciando u
ma
desigualdade que se fará presente ao
longo dos demais resultados da
Variando entre 55,25% (no Centro
-Oeste) e
37,53% (no Sudeste) o percentual dos
pios que afirmam não possuir política
municipal de cultura (IBGE, 2019).
No caso das unidades federativas, o Estado
com maior número de municípios, que afirmou
não possuir política municipal de cultura, foi
Tocantins (com 64,75%), enquanto o menor foi
Rio de Janeiro, com 16,30% dos municípios
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
1. Institucionalidade
gestões municipais
A caracterização do órgão
gestor da cultura é importante, pois
pode significar prestígio político e a
autonomia deles nos govern
Ocorre um crescimento marcante de
4,3% (em 2006) para 20,4% (em 2014)
dos municípios que possuem
secretaria exclusiva de cultura, com
respectivo decréscimo de secretarias
que reúnem a cultura com outras
áreas. Elas passam de 73,8% (em
2006) para
57,3% (em 2014),
conforme dados do IBGE (2007 e
2015). Ainda que se reconheça o
papel transversal da gestão da cultura,
a existência de estruturas institucionais
conjuntas significa, muitas vezes, a
subalternização da política cultural
perante outras polí
ticas setoriais, como
educação ou turismo. O crescimento
de secretarias exclusivas nos
municípios pode sinalizar uma maior
valorização da cultura nas gestões
locais.
Embora sem retornar aos
patamares iniciais de 2006, o
panorama se altera nos resultados d
2018: diminui o percentual de
municípios com secretaria exclusiva
(de 20,4%, em 2014, para 15,2%, em
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
das
A caracterização do órgão
gestor da cultura é importante, pois
pode significar prestígio político e a
autonomia deles nos govern
os locais.
Ocorre um crescimento marcante de
4,3% (em 2006) para 20,4% (em 2014)
dos municípios que possuem
secretaria exclusiva de cultura, com
respectivo decréscimo de secretarias
que reúnem a cultura com outras
áreas. Elas passam de 73,8% (em
57,3% (em 2014),
conforme dados do IBGE (2007 e
2015). Ainda que se reconheça o
papel transversal da gestão da cultura,
a existência de estruturas institucionais
conjuntas significa, muitas vezes, a
subalternização da política cultural
ticas setoriais, como
educação ou turismo. O crescimento
de secretarias exclusivas nos
municípios pode sinalizar uma maior
valorização da cultura nas gestões
Embora sem retornar aos
patamares iniciais de 2006, o
panorama se altera nos resultados d
e
2018: diminui o percentual de
municípios com secretaria exclusiva
(de 20,4%, em 2014, para 15,2%, em
2018), e aumenta o percentual de
secretarias municipais em conjunto
com outras políticas (de 57,3%, em
2014, para 68,6%, em 2018), em uma
variação de mai
s de 10 pontos
percentuais (IBGE, 2015 e 2019). O
movimento pode ser reflexo da
combinação entre crise econômica,
que se agravou no país no período, e
crise política, com o golpe midiático
jurídico-
parlamentar, que depôs a
presidenta Dilma Rousseff, e prod
graves retrocessos nas políticas
culturais de âmbito nacional e teve
brutal repercussão sobre Estados e
Municípios.
A disparidade institucional da
gestão cultural local também decorre
do porte populacional dos municípios.
Enquanto nos municípios com m
500 mil habitantes o percentual com
presença de secretarias exclusivas
chega a 48,72%, nos municípios
menores, com até 5 mil habitantes, o
número é de 20,38%. Outras
fragilidades institucionais da gestão da
cultura igualmente se fazem presentes
nos peq
uenos municípios: o percentual
deles que não possui estrutura de
gestão da cultura chega a 9,81% e o
percentual que possui o setor
subordinado diretamente à chefia do
314
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
2018), e aumenta o percentual de
secretarias municipais em conjunto
com outras políticas (de 57,3%, em
2014, para 68,6%, em 2018), em uma
s de 10 pontos
percentuais (IBGE, 2015 e 2019). O
movimento pode ser reflexo da
combinação entre crise econômica,
que se agravou no país no período, e
crise política, com o golpe midiático
-
parlamentar, que depôs a
presidenta Dilma Rousseff, e prod
uziu
graves retrocessos nas políticas
culturais de âmbito nacional e teve
brutal repercussão sobre Estados e
A disparidade institucional da
gestão cultural local também decorre
do porte populacional dos municípios.
Enquanto nos municípios com m
ais
500 mil habitantes o percentual com
presença de secretarias exclusivas
chega a 48,72%, nos municípios
menores, com até 5 mil habitantes, o
número é de 20,38%. Outras
fragilidades institucionais da gestão da
cultura igualmente se fazem presentes
uenos municípios: o percentual
deles que não possui estrutura de
gestão da cultura chega a 9,81% e o
percentual que possui o setor
subordinado diretamente à chefia do
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
executivo é de 5,65% (IBGE, 2019).
Essa última modalidade, apesar de
reservar à gestão da
cultura uma
posição que poderia ser considerada
estratégica politicamente, na prática se
transforma em “área produtora de
eventos que beneficiem a imagem da
gestão em pauta” (IBGE, 2015), sem
espaço para efetivação de políticas
culturais mais estruturadas
democráticas.
Os dados sobre o órgão gestor
local da cultura informam também a
precariedade existente em termos de
estrutura administrativa e de pessoal.
Ainda que não caiba neste texto a
análise de tais pormenores, o registro
de algumas situações pode
revelações para o estudo. Nos
municípios com menos de 100 mil
habitantes (94,61% dos municípios
brasileiros) 22,81% dos órgãos
gestores de cultura não possuem linha
telefônica, nem ramal, e 11,3% não
possuem nenhum computador em
funcionamento (IBGE,
2019). Como
pensar políticas culturais que
considerem a inclusão tecnológica, por
exemplo, sem a informatização dos
próprios órgãos gestores da cultura?
Como pensar a transparência e
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
executivo é de 5,65% (IBGE, 2019).
Essa última modalidade, apesar de
cultura uma
posição que poderia ser considerada
estratégica politicamente, na prática se
transforma em “área produtora de
eventos que beneficiem a imagem da
gestão em pauta” (IBGE, 2015), sem
espaço para efetivação de políticas
culturais mais estruturadas
e
Os dados sobre o órgão gestor
local da cultura informam também a
precariedade existente em termos de
estrutura administrativa e de pessoal.
Ainda que não caiba neste texto a
análise de tais pormenores, o registro
de algumas situações pode
trazer
revelações para o estudo. Nos
municípios com menos de 100 mil
habitantes (94,61% dos municípios
brasileiros) 22,81% dos órgãos
gestores de cultura não possuem linha
telefônica, nem ramal, e 11,3% não
possuem nenhum computador em
2019). Como
pensar políticas culturais que
considerem a inclusão tecnológica, por
exemplo, sem a informatização dos
próprios órgãos gestores da cultura?
Como pensar a transparência e
participação sem canais de
comunicação?
Outros dados relevantes se
refe
rem às instâncias de gestão e
participação municipais, que ajudam a
compreender como as gestões locais
se organizam e a partir de que
modelos executam suas políticas. Um
importante instrumento norteador da
política cultural, por exemplo, é o
Plano Municipa
l de Cultura, existente
em 11,75% dos municípios e em
elaboração em outros 17,47%. (IBGE,
2019). No que se refere às instâncias
participativas, o grande
criação de conselhos se em 2005,
auge das mobilizações em torno do
SNC, chegando a 17% no an
(IBGE, 2007). Ao longo dos anos, os
conselhos parecem se consolidar
como importante instância na gestão
cultural local do país, chegando a
existir em 42,23% dos municípios em
2018 (IBGE, 2019). Cabe lembrar,
entretanto, que a existência de planos
e conselhos municipais de cultura não
significa que eles funcionem de modo
pleno ou mesmo sejam democráticos.
Considerando que os
conselhos, planos e a existência do
órgão gestor a nível municipal são
contrapartidas para a adesão ao SNC,
315
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
participação sem canais de
Outros dados relevantes se
rem às instâncias de gestão e
participação municipais, que ajudam a
compreender como as gestões locais
se organizam e a partir de que
modelos executam suas políticas. Um
importante instrumento norteador da
política cultural, por exemplo, é o
l de Cultura, existente
em 11,75% dos municípios e em
elaboração em outros 17,47%. (IBGE,
2019). No que se refere às instâncias
participativas, o grande
boom de
criação de conselhos se em 2005,
auge das mobilizações em torno do
SNC, chegando a 17% no an
o de 2006
(IBGE, 2007). Ao longo dos anos, os
conselhos parecem se consolidar
como importante instância na gestão
cultural local do país, chegando a
existir em 42,23% dos municípios em
2018 (IBGE, 2019). Cabe lembrar,
entretanto, que a existência de planos
e conselhos municipais de cultura não
significa que eles funcionem de modo
pleno ou mesmo sejam democráticos.
Considerando que os
conselhos, planos e a existência do
órgão gestor a nível municipal são
contrapartidas para a adesão ao SNC,
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
o processo de ma
institucionalização verificado pode ser
atribuído, pelo menos em parte, aos
esforços do governo federal de
impulsionar a valorização da gestão
cultural no âmbito local. Assim, como
se apontou, ainda que o SNC não
tenha consolidado uma estrutura
federat
iva na área cultural, ele serviu
como um forte estímulo para o
fortalecimento da gestão pública
cultural municipal, impactando
positivamente na sua
institucionalização, seja pela
energização dos debates sobre gestão
cultural em todo o território nacional,
pela valorização política que o tema
desfrutou ou ainda pelas
contrapartidas exigidas para a
integração dos municípios ao SNC. As
gestões nacionais posteriores ao golpe
de 2016 fragilizaram imensamente o
campo da cultura provocando vários
rebatimentos na s
ua institucionalidade,
inclusive nos demais entes federativos.
O PNC, que deveria ser renovado em
2020, foi engavetado e o SNC
paralisado, dentre outros retrocessos.
O desmonte das políticas culturais
efetuado de modo sistemático pela
gestão Messias Bolson
aro, desde o
início do mandato em 2019, impacta
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
o processo de ma
ior
institucionalização verificado pode ser
atribuído, pelo menos em parte, aos
esforços do governo federal de
impulsionar a valorização da gestão
cultural no âmbito local. Assim, como
se apontou, ainda que o SNC não
tenha consolidado uma estrutura
iva na área cultural, ele serviu
como um forte estímulo para o
fortalecimento da gestão pública
cultural municipal, impactando
positivamente na sua
institucionalização, seja pela
energização dos debates sobre gestão
cultural em todo o território nacional,
pela valorização política que o tema
desfrutou ou ainda pelas
contrapartidas exigidas para a
integração dos municípios ao SNC. As
gestões nacionais posteriores ao golpe
de 2016 fragilizaram imensamente o
campo da cultura provocando vários
ua institucionalidade,
inclusive nos demais entes federativos.
O PNC, que deveria ser renovado em
2020, foi engavetado e o SNC
paralisado, dentre outros retrocessos.
O desmonte das políticas culturais
efetuado de modo sistemático pela
aro, desde o
início do mandato em 2019, impacta
de modo profundamente negativo a
gestão municipal de cultura no país.
2.
Fomento nas gestões locais:
modelos, mecanismos e atividades
apoiadas
Um primeiro aspecto a ser
estudado se refere aos diferentes
modelos de execução de recursos.
Como no âmbito federal, a política de
fomento pode ocorrer por meio de
isenção fiscal; dos fundos de cultura
ou pela execução direta pelo órgão
gestor local. No ca
incentivo fiscal municipal, o último
dado disponível é de 2006. Ele aponta
que apenas 3,9% dos municípios
possuíam leis de incentivo fiscal e
delas somente 2,9% foram utilizadas
nos últimos dois anos (IBGE, 2007).
Historicamente, a predominân
quase completa do incentivo fiscal no
plano nacional estimulou a criação nas
demais instâncias federativas de
marcos legais com muitas
semelhanças ao modelo federal. A
replicação do incentivo fiscal foi
impulsionada nos anos 90. Mesmo
reconhecendo essa
alinhamento dos modelos de fomento,
o descompasso da utilização do
incentivo fiscal entre a gestão
316
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
de modo profundamente negativo a
gestão municipal de cultura no país.
Fomento nas gestões locais:
modelos, mecanismos e atividades
Um primeiro aspecto a ser
estudado se refere aos diferentes
modelos de execução de recursos.
Como no âmbito federal, a política de
fomento pode ocorrer por meio de
isenção fiscal; dos fundos de cultura
ou pela execução direta pelo órgão
gestor local. No ca
so de leis de
incentivo fiscal municipal, o último
dado disponível é de 2006. Ele aponta
que apenas 3,9% dos municípios
possuíam leis de incentivo fiscal e
delas somente 2,9% foram utilizadas
nos últimos dois anos (IBGE, 2007).
Historicamente, a predominân
cia
quase completa do incentivo fiscal no
plano nacional estimulou a criação nas
demais instâncias federativas de
marcos legais com muitas
semelhanças ao modelo federal. A
replicação do incentivo fiscal foi
impulsionada nos anos 90. Mesmo
reconhecendo essa
tendência de
alinhamento dos modelos de fomento,
o descompasso da utilização do
incentivo fiscal entre a gestão
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
municipal e as gestões estaduais e,
principalmente, a federal apresenta
como notável.
A disparidade do percentual de
municípios que afirma p
dessa modalidade varia de modo
muito acentuado a depender da
dimensão do município: passa de
meros 1,3% nos municípios com até
cinco mil habitantes a 75% nos
municípios com populações acima de
500 mil habitantes (IBGE, 2007). A
enorme discrepân
cia torna visível que
o modelo do incentivo fiscal depende
de inúmeros fatores, em especial da
existência de arrecadação própria por
parte do município. O incentivo fiscal
mostra-
se inviável em municípios
menores, que dependem de repasses
federativos para
sobreviver. Mesmo
em municípios de porte médio, torna
se um desafio a adesão dos
empresários locais ao mecanismo. As
grandes empresas, muitas delas
multinacionais, com departamentos
especializados de marketing em
investimentos culturais, se localizam e
ten
dem a concentrar suas ações nas
grandes cidades e nas principais
capitais estaduais. Em consequência,
o
incentivo fiscal tem vigência restrita
no âmbito municipal.
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
municipal e as gestões estaduais e,
principalmente, a federal apresenta
-se
A disparidade do percentual de
municípios que afirma p
ossuir leis
dessa modalidade varia de modo
muito acentuado a depender da
dimensão do município: passa de
meros 1,3% nos municípios com até
cinco mil habitantes a 75% nos
municípios com populações acima de
500 mil habitantes (IBGE, 2007). A
cia torna visível que
o modelo do incentivo fiscal depende
de inúmeros fatores, em especial da
existência de arrecadação própria por
parte do município. O incentivo fiscal
se inviável em municípios
menores, que dependem de repasses
sobreviver. Mesmo
em municípios de porte médio, torna
-
se um desafio a adesão dos
empresários locais ao mecanismo. As
grandes empresas, muitas delas
multinacionais, com departamentos
especializados de marketing em
investimentos culturais, se localizam e
dem a concentrar suas ações nas
grandes cidades e nas principais
capitais estaduais. Em consequência,
incentivo fiscal tem vigência restrita
No caso dos fundos de cultura,
os dados apontam um crescimento
relevante da presença nos mun
de 5,1% em 2006 (IBGE, 2007) para
32,24% em 2018 (IBGE, 2019). A
distribuição de acordo com porte
populacional segue tendência similar à
do incentivo fiscal. Mas dados
recentes indicam uma presença
significativa de fundos de cultura
mesmo em munic
ípios menores, com
menos de cinco mil habitantes: 22,35%
informaram que possuíam tal
mecanismo de fomento. Ou seja, o
fundo está presente mesmo em
municípios com baixa
institucionalidade cultural (IBGE,
2019).
Um aspecto relevante para
entender a atuação p
dos municípios é o tipo de atividade
cultural fomentada pelas gestões
locais. Vale observar as respostas
dadas pelas gestões municipais
acerca das ações culturais
incentivadas no último ano. A atividade
cultural mais apoiada pelas gestões
municipais são as “festas, celebrações
e manifestações tradicionais e
populares” (85,5%), seguida pelos
“eventos” (75,7%), e, em terceiro lugar,
pela “apresentação musical” (62,8%).
317
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
No caso dos fundos de cultura,
os dados apontam um crescimento
relevante da presença nos mun
icípios:
de 5,1% em 2006 (IBGE, 2007) para
32,24% em 2018 (IBGE, 2019). A
distribuição de acordo com porte
populacional segue tendência similar à
do incentivo fiscal. Mas dados
recentes indicam uma presença
significativa de fundos de cultura
ípios menores, com
menos de cinco mil habitantes: 22,35%
informaram que possuíam tal
mecanismo de fomento. Ou seja, o
fundo está presente mesmo em
municípios com baixa
institucionalidade cultural (IBGE,
Um aspecto relevante para
entender a atuação p
olítico-cultural
dos municípios é o tipo de atividade
cultural fomentada pelas gestões
locais. Vale observar as respostas
dadas pelas gestões municipais
acerca das ações culturais
incentivadas no último ano. A atividade
cultural mais apoiada pelas gestões
municipais são as “festas, celebrações
e manifestações tradicionais e
populares” (85,5%), seguida pelos
“eventos” (75,7%), e, em terceiro lugar,
pela “apresentação musical” (62,8%).
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
Com percentuais menores, de
aproximadamente 30%, aparecem:
“montagem de pe
ças teatrais”,
“seminário, simpósio, encontro,
congresso, palestra” e “desfile de
carnaval”. As demais categorias de
atividades, como “publicações
culturais”, “feira de livros”, “programa
radiofônico” e “programa de televisão”,
possuem percentuais abaixo d
(IBGE, 2015).
A preponderância do apoio a
“festas, celebrações e manifestações
tradicionais e populares” aparece
como marcante e está presente nos
municípios de diferentes portes
populacionais
10
. Pode-
se propor a
hipótese de que os municípios, como
en
tes locais, estabelecem relações de
maior valorização das culturas locais.
Nesse sentido, o apoio financeiro
público pode demonstrar um
reconhecimento pelas gestões do valor
cultural, a ponto de se configurar como
digna de apoio público. Mas a
predominânci
a pode apontar para uma
atuação pontual e sem continuidade
durante os momentos não festivos do
10
Variando de 75,78% nos municípios
menores, de até 5 mil habitantes, a 82,05%
nos municípios de mais de 500 mil habitantes,
e atingindo seu maior percentual, de 87,36%,
na faixa populacional entre 1
00 e 500 mil
habitantes (IBGE, 2015).
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Com percentuais menores, de
aproximadamente 30%, aparecem:
ças teatrais”,
“seminário, simpósio, encontro,
congresso, palestra” e “desfile de
carnaval”. As demais categorias de
atividades, como “publicações
culturais”, “feira de livros”, “programa
radiofônico” e “programa de televisão”,
possuem percentuais abaixo d
e 30%
A preponderância do apoio a
“festas, celebrações e manifestações
tradicionais e populares” aparece
como marcante e está presente nos
municípios de diferentes portes
se propor a
hipótese de que os municípios, como
tes locais, estabelecem relações de
maior valorização das culturas locais.
Nesse sentido, o apoio financeiro
público pode demonstrar um
reconhecimento pelas gestões do valor
cultural, a ponto de se configurar como
digna de apoio público. Mas a
a pode apontar para uma
atuação pontual e sem continuidade
durante os momentos não festivos do
Variando de 75,78% nos municípios
menores, de até 5 mil habitantes, a 82,05%
nos municípios de mais de 500 mil habitantes,
e atingindo seu maior percentual, de 87,36%,
00 e 500 mil
ano. A grande presença dos “Eventos”
também chama atenção. O percentual
de municípios que afirmaram apoiar a
atividade teve um crescimento de
quase 15 pontos per
centuais de 2014
para 2018, sendo ela a única atividade
com crescimento significativo no
período (IBGE, 2015 e 2019).
Sintomático o crescimento em um
momento de ataque às políticas
culturais federais e à cultura.
A forte presença dos três tipos
de manifest
ações culturais
principalmente apoiadas pode sugerir
uma tendência preocupante: a
concentração do fomento cultural em
atividades eventuais em detrimento de
uma maior atenção aos fazeres e aos
processos de produção cultural,
tornando a atuação da gestão cul
ocasional e dispersa, sem horizontes
mais continuados. Outro dado, que
parece reforçar tal interpretação, indica
que 40,81% das gestões municipais
afirmam possuir um calendário de
festividades e/ou eventos como parte
de uma ação de promoção do turism
cultural (IBGE, 2015). Ainda que o
calendário de atividades turístico
culturais possa desempenhar papel
importante para a atração, imagem e
economia da cidade, ele pode
318
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
ano. A grande presença dos “Eventos”
também chama atenção. O percentual
de municípios que afirmaram apoiar a
atividade teve um crescimento de
centuais de 2014
para 2018, sendo ela a única atividade
com crescimento significativo no
período (IBGE, 2015 e 2019).
Sintomático o crescimento em um
momento de ataque às políticas
culturais federais e à cultura.
A forte presença dos três tipos
ações culturais
principalmente apoiadas pode sugerir
uma tendência preocupante: a
concentração do fomento cultural em
atividades eventuais em detrimento de
uma maior atenção aos fazeres e aos
processos de produção cultural,
tornando a atuação da gestão cul
tural
ocasional e dispersa, sem horizontes
mais continuados. Outro dado, que
parece reforçar tal interpretação, indica
que 40,81% das gestões municipais
afirmam possuir um calendário de
festividades e/ou eventos como parte
de uma ação de promoção do turism
o
cultural (IBGE, 2015). Ainda que o
calendário de atividades turístico
-
culturais possa desempenhar papel
importante para a atração, imagem e
economia da cidade, ele pode
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
submeter a cultura a uma lógica
estritamente turística, com todos os
problemas daí de
correntes.
A tendência à “eventização” da
atuação cultural municipal, como sua
redução à produção de atividades
meramente ocasionais, corrói a própria
ideia de política cultural, que supõe
articulação, continuidade e
sistematicidade da intervenção
cultural
. Ela transforma e debilita a
intervenção cultural da gestão
municipal em ações dispersas e sem
nenhuma integração (RUBIM, 2014).
Ao considerar a centralidade desses
tipos de fomento à cultura, vale
considerar alguns pontos elencados
por Rafael Andrade (2016
, p. 17
Tendo participado, nos últimos anos,
de debates, seminários e congressos
dedicados às políticas culturais, não
raramente me deparei com uma
questão que sempre pareceu bem
estabelecida entre os debatedores ali
presentes: organização de festa não
é política cultural. Há razão nessa
afirmação (...)Mas sempre uma
peri
gosa tendência à generalização.
Talvez os próprios gestores
culturais municipais estejam de acordo
com a crítica de Andrade (2016), pois
pelo menos 30% dos municípios, que
negam ter
política cultural, afirmam
apoiar financeiramente eventos. Ou
talvez eles tenham uma compreensão
mais precisa do que são políticas
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
submeter a cultura a uma lógica
estritamente turística, com todos os
correntes.
A tendência à “eventização” da
atuação cultural municipal, como sua
redução à produção de atividades
meramente ocasionais, corrói a própria
ideia de política cultural, que supõe
articulação, continuidade e
sistematicidade da intervenção
. Ela transforma e debilita a
intervenção cultural da gestão
municipal em ações dispersas e sem
nenhuma integração (RUBIM, 2014).
Ao considerar a centralidade desses
tipos de fomento à cultura, vale
considerar alguns pontos elencados
, p. 17
):
Tendo participado, nos últimos anos,
de debates, seminários e congressos
dedicados às políticas culturais, não
raramente me deparei com uma
questão que sempre pareceu bem
estabelecida entre os debatedores ali
presentes: organização de festa não
é política cultural. Há razão nessa
afirmação (...)Mas sempre uma
gosa tendência à generalização.
Talvez os próprios gestores
culturais municipais estejam de acordo
com a crítica de Andrade (2016), pois
pelo menos 30% dos municípios, que
política cultural, afirmam
apoiar financeiramente eventos. Ou
talvez eles tenham uma compreensão
mais precisa do que são políticas
culturais. O apoio às festas e eventos
similares ocupam lugar relevante para
a vida e a gestão municipal. Melhor
que negá-lo
s como momento possível
de políticas culturais, é trabalhar para
construir efetivas políticas culturais
que acolham as festas e
manifestações semelhantes (RUBIM,
2014, p. 227-229).
Um último dado importante para
completar este breve panorama do
fomento à c
ultura municipal se refere
aos meios utilizados pela gestão
municipal para fomentar iniciativas da
sociedade na área da cultura. Os
mecanismos mais citados foram o
“Prêmio”, utilizado por 26,16% dos
municípios e o “Convênio”, por 18,56%
(IBGE, 2015). Os de
mais mecanismos,
“Bolsa”, “Incentivo fiscal” e “Fundo de
Investimento” aparecem com
percentuais abaixo de 4%, apesar de
terem presença mais significativa nos
municípios com mais de 500 mil
habitantes. Chama atenção também a
relevância da resposta “Outros”,
percentual de 21,65%, indicando a
utilização de mecanismos diferentes
dos listados pelos municípios ou
mesmo a presença de velhas
maneiras informais e clientelistas de
repasse de recursos (IBGE, 2015).
319
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
culturais. O apoio às festas e eventos
similares ocupam lugar relevante para
a vida e a gestão municipal. Melhor
s como momento possível
de políticas culturais, é trabalhar para
construir efetivas políticas culturais
que acolham as festas e
manifestações semelhantes (RUBIM,
Um último dado importante para
completar este breve panorama do
ultura municipal se refere
aos meios utilizados pela gestão
municipal para fomentar iniciativas da
sociedade na área da cultura. Os
mecanismos mais citados foram o
“Prêmio”, utilizado por 26,16% dos
municípios e o “Convênio”, por 18,56%
mais mecanismos,
“Bolsa”, “Incentivo fiscal” e “Fundo de
Investimento” aparecem com
percentuais abaixo de 4%, apesar de
terem presença mais significativa nos
municípios com mais de 500 mil
habitantes. Chama atenção também a
relevância da resposta “Outros”,
com
percentual de 21,65%, indicando a
utilização de mecanismos diferentes
dos listados pelos municípios ou
mesmo a presença de velhas
maneiras informais e clientelistas de
repasse de recursos (IBGE, 2015).
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
As avaliações de políticas
culturais têm desenvo
perspectivas críticas sobre os
mecanismos de fomento mais utilizado
pelos municípios, apontando os efeitos
que estes têm gerado na rede
produtiva da cultura. O balanço
realizado por Luciana Lima e Pablo
Ortellado (2013) sobre os diferentes
paradigm
as de fomento à cultura no
país, intitulado “Da Compra de
Produtos e Serviços Culturais ao
Direito de Produzir Cultura: Análise de
um Paradigma Emergente”,
sistematiza bem as principais questões
em torno de cada mecanismo.
A modalidade de prêmio tem
sido
aplicada a uma variedade de
situações
diferenciadas de fomento,
seja como um valor a ser repassado
após concurso, seja como
financiamento para execução de ações
e projetos culturais, seja como
pagamento pela realização de
apresentações e manifestações
cult
urais. Sua utilização tende a
contemplar uma lógica de apoio à
produtos culturais acabados, mas
também pode buscar a simplificação
dos procedimentos de prestação de
contas por parte dos agentes culturais
(LIMA; ORTELLADO, 2013, p. 374).
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
As avaliações de políticas
culturais têm desenvo
lvido
perspectivas críticas sobre os
mecanismos de fomento mais utilizado
pelos municípios, apontando os efeitos
que estes têm gerado na rede
produtiva da cultura. O balanço
realizado por Luciana Lima e Pablo
Ortellado (2013) sobre os diferentes
as de fomento à cultura no
país, intitulado “Da Compra de
Produtos e Serviços Culturais ao
Direito de Produzir Cultura: Análise de
um Paradigma Emergente”,
sistematiza bem as principais questões
em torno de cada mecanismo.
A modalidade de prêmio tem
aplicada a uma variedade de
diferenciadas de fomento,
seja como um valor a ser repassado
após concurso, seja como
financiamento para execução de ações
e projetos culturais, seja como
pagamento pela realização de
apresentações e manifestações
urais. Sua utilização tende a
contemplar uma lógica de apoio à
produtos culturais acabados, mas
também pode buscar a simplificação
dos procedimentos de prestação de
contas por parte dos agentes culturais
(LIMA; ORTELLADO, 2013, p. 374).
Essa ampla utili
zação do mecanismo,
por sua vez, pode acarretar cenários
de insegurança jurídica,pois o prêmio
termina por ser aplicado em
circunstâncias com lógicas distintas do
entendimento comum de premiação.
Em relação à utilização de
convênios para repasses de recur
o debate decorreu, em especial,da
avaliação do Programa Cultura Viva.
Instrumento jurídico desenhado para
repasses de recursos entre unidades
federativas, a utilização do mecanismo
para fomentar atividades de agentes
culturais da sociedade civil resul
aplicação de exigências administrativo
burocráticas de alta complexidade,
gerando enormes dificuldades
prestação de contas dos recursos
públicos recebidos (LIMA;
ORTELLADO, 2013, p. 364). Sua
utilização, além de possuir uma
inadequação jurídica,
incompatibilidade para tratar com
esses agentes culturais.
Ao apreciar os problemas dos
principais meios utilizados pelos
municípios para fomentar iniciativas
culturais, têm-
se um retrato da
ausência de bases jurídicas e
administrativas adeq
uadas ao campo
cultural, alargado pela utilização do
320
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
zação do mecanismo,
por sua vez, pode acarretar cenários
de insegurança jurídica,pois o prêmio
termina por ser aplicado em
circunstâncias com lógicas distintas do
entendimento comum de premiação.
Em relação à utilização de
convênios para repasses de recur
sos,
o debate decorreu, em especial,da
avaliação do Programa Cultura Viva.
Instrumento jurídico desenhado para
repasses de recursos entre unidades
federativas, a utilização do mecanismo
para fomentar atividades de agentes
culturais da sociedade civil resul
tou na
aplicação de exigências administrativo
-
burocráticas de alta complexidade,
gerando enormes dificuldades
na
prestação de contas dos recursos
públicos recebidos (LIMA;
ORTELLADO, 2013, p. 364). Sua
utilização, além de possuir uma
inadequação jurídica,
comprovou sua
incompatibilidade para tratar com
esses agentes culturais.
Ao apreciar os problemas dos
principais meios utilizados pelos
municípios para fomentar iniciativas
se um retrato da
ausência de bases jurídicas e
uadas ao campo
cultural, alargado pela utilização do
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
conceito ampliado de cultura, desde a
gestão Gilberto Gil. Importantes
avanços foram as legislações
aprovadas referentes ao Marco
Regulatório de Organizações da
Sociedade Civil (MROSC), Lei
13.019, de
2014 (BRASIL, 2014b) e a
Política Nacional de Cultura Viva,
instituída pela Lei nº 13.018, de 2014
(BRASIL, 2014a), mas seu reflexo na
aplicação municipal depende de
processos de regulamentação locais e
na disposição dos governos federal e
estaduais de b
uscarem sua efetiva
utilização.
Observações finais
Nas décadas finais do culo
XX, com o país submetido a governos
nacionais de perfil conservador e/ou
neoliberal, a resistência protagonizada
por municípios administrados por
forças democráticas e de esquerda se
tornou fundamental para a construção
de nova
s e inovadoras alternativas de
políticas blicas. A formulação da
proposta do orçamento participativo na
cidade de Porto Alegre emerge como
um exemplo emblemático, mas não
único, das novidades inscritas no
cenário político nacional. Algo similar
aconteceu
no campo cultural. Entre o
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
conceito ampliado de cultura, desde a
gestão Gilberto Gil. Importantes
avanços foram as legislações
aprovadas referentes ao Marco
Regulatório de Organizações da
Sociedade Civil (MROSC), Lei
2014 (BRASIL, 2014b) e a
Política Nacional de Cultura Viva,
instituída pela Lei nº 13.018, de 2014
(BRASIL, 2014a), mas seu reflexo na
aplicação municipal depende de
processos de regulamentação locais e
na disposição dos governos federal e
uscarem sua efetiva
Nas décadas finais do culo
XX, com o país submetido a governos
nacionais de perfil conservador e/ou
neoliberal, a resistência protagonizada
por municípios administrados por
forças democráticas e de esquerda se
tornou fundamental para a construção
s e inovadoras alternativas de
políticas blicas. A formulação da
proposta do orçamento participativo na
cidade de Porto Alegre emerge como
um exemplo emblemático, mas não
único, das novidades inscritas no
cenário político nacional. Algo similar
no campo cultural. Entre o
final dos anos 80 do século XX e o
início do século XXI, muitos Estados e
Municípios
criam inventivas políticas
culturais, acumulando experiências
que irão permitir a formulação das
avançadas propostas, que
caracterizam mais adi
Gilberto Gil. Márcio Meira, como
anotado antes, analisa algumas
dessas gestões político
continuidade, certamente não linear,
mas plena de tensões, avanços e
recuos, com seus ricos
desdobramentos posteriores (MEIRA,
2018).
O B
rasil vive hoje
dramática desde o golpe midiático
jurídico-
parlamentar de 2016, que
destituiu a presidenta Dilma Rousseff e
feriu a democracia no país. A situação
se agravou com os processos
antidemocráticos presentes na eleição
presidencial
de 2018, como o
afastamento ilegítimo do candidato,
que estava à frente de todas as
pesquisas eleitorais, e com a “vitória”
da extrema-
direita. Desde a posse de
Messias Bolsonaro o panorama
político, social, econômico, ambiental e
cultural no Brasil tem se
bem como sua presença no cenário
internacional.
321
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
final dos anos 80 do século XX e o
início do século XXI, muitos Estados e
criam inventivas políticas
culturais, acumulando experiências
que irão permitir a formulação das
avançadas propostas, que
caracterizam mais adi
ante a gestão
Gilberto Gil. Márcio Meira, como
anotado antes, analisa algumas
dessas gestões político
-culturais e sua
continuidade, certamente não linear,
mas plena de tensões, avanços e
recuos, com seus ricos
desdobramentos posteriores (MEIRA,
rasil vive hoje
circunstância
dramática desde o golpe midiático
-
parlamentar de 2016, que
destituiu a presidenta Dilma Rousseff e
feriu a democracia no país. A situação
se agravou com os processos
antidemocráticos presentes na eleição
de 2018, como o
afastamento ilegítimo do candidato,
que estava à frente de todas as
pesquisas eleitorais, e com a “vitória”
direita. Desde a posse de
Messias Bolsonaro o panorama
político, social, econômico, ambiental e
cultural no Brasil tem se
deteriorado,
bem como sua presença no cenário
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
A pandemia do coronavírus,
com seu irresponsável enfrentamento
pela gestão federal, aumentou ainda
mais o pandemônio em que sobrevive
o Brasil. O campo da cultura, como
assinalado, tem sido pro
afetado: pela paralisia das políticas
públicas de cultura; pela destruição
das políticas culturais desenvolvidas
nos governos petistas; pela imposição
da censura e agressão às liberdades
de criação e expressão e pela asfixia
financeira da cultur
a. Nesse contexto,
as iniciativas de parlamentares do
poder legislativo nacional
mobilização do campo cultural tem
sido barreiras de contenção ao
desmonte cultural. A Lei Aldir Blanc,
de apoio a ações emergenciais ao
setor cultural, atingido pela pande
é um claro exemplo disso. Sintoma
das inúmeras desconfianças que
orbitam na gestão federal, a lei
privilegia o repasse dos recursos da
cultura para a execução de estados e
municípios.
Nesta complexa e difícil
conjuntura e levando em conta a
imensa div
ersidade cultural e territorial
brasileira
, o estudo das modalidades
de fomento dos governos municipais
ganha sentido.
A partir das estatísticas
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
A pandemia do coronavírus,
com seu irresponsável enfrentamento
pela gestão federal, aumentou ainda
mais o pandemônio em que sobrevive
o Brasil. O campo da cultura, como
assinalado, tem sido pro
fundamente
afetado: pela paralisia das políticas
públicas de cultura; pela destruição
das políticas culturais desenvolvidas
nos governos petistas; pela imposição
da censura e agressão às liberdades
de criação e expressão e pela asfixia
a. Nesse contexto,
as iniciativas de parlamentares do
poder legislativo nacional
e a
mobilização do campo cultural tem
sido barreiras de contenção ao
desmonte cultural. A Lei Aldir Blanc,
de apoio a ações emergenciais ao
setor cultural, atingido pela pande
mia,
é um claro exemplo disso. Sintoma
das inúmeras desconfianças que
orbitam na gestão federal, a lei
privilegia o repasse dos recursos da
cultura para a execução de estados e
Nesta complexa e difícil
conjuntura e levando em conta a
ersidade cultural e territorial
, o estudo das modalidades
de fomento dos governos municipais
A partir das estatísticas
e apontamentos apresentados neste
texto, buscou-
se traçar um breve
panorama de como se organizam as
políticas d
e fomento à cultura nos
municípios. Fica evidente uma
crescente institucionalização das
instâncias gestoras locais da cultura,
embora sujeita aos avanços e
retrocessos. Essa institucionalidade,
maior organização e valorização da
gestão cultural no âmbito l
fundamental para possibilitara atuação
dos municípios nesse momento de
crise. Para o repasse dos recursos
federais derivados da Lei Aldir Blanc,
por exemplo, será exigida
institucional nos municípios para
operacionalizar o recebime
distribuição do apoio emergencial aos
elos de maior vulnerabilidade na teia
cultural. Sem gestões municipais
atuantes, conectadas com o território e
estruturadas, é difícil imaginar uma
política cultural que consiga se fazer
presente nesse contexto
A centralidade das festividades
e dos eventos nos governos locais,
assim como as culturas tradicionais e
populares, aponta a necessidade de
considerar esse dado, histórico e
complexo, para pensar políticas
culturais. As celebrações, que
322
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
e apontamentos apresentados neste
se traçar um breve
panorama de como se organizam as
e fomento à cultura nos
municípios. Fica evidente uma
crescente institucionalização das
instâncias gestoras locais da cultura,
embora sujeita aos avanços e
retrocessos. Essa institucionalidade,
maior organização e valorização da
gestão cultural no âmbito l
ocal se torna
fundamental para possibilitara atuação
dos municípios nesse momento de
crise. Para o repasse dos recursos
federais derivados da Lei Aldir Blanc,
por exemplo, será exigida
capacidade
institucional nos municípios para
operacionalizar o recebime
nto e a
distribuição do apoio emergencial aos
elos de maior vulnerabilidade na teia
cultural. Sem gestões municipais
atuantes, conectadas com o território e
estruturadas, é difícil imaginar uma
política cultural que consiga se fazer
presente nesse contexto
.
A centralidade das festividades
e dos eventos nos governos locais,
assim como as culturas tradicionais e
populares, aponta a necessidade de
considerar esse dado, histórico e
complexo, para pensar políticas
culturais. As celebrações, que
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
possuem relação
íntima com
identidades locais, podem ser
agenciadas para catalisar processos
de transformação, desenvolvimento e
mobilizações municipais. Tal relação
se apresenta quase como uma
competência inalienável dos governos
locais no entendimento de cultura e
polít
icas culturais. Entretanto, o papel
da política cultural deve ir além disso.
A disparidade regional, presente
em todos os dados levantados, aponta
a concentração de capacidades
institucionais, recursos e presença de
políticas culturais nas cidades maiores.
Embora siga tendências da gestão
pública como um todo, ela reforça a
necessidade de uma investigação
mais aprofundada da gestão cultural
nos pequenos e médios municípios
brasileiros. Modelos que consideram
características próprias desses
municípios ganham
proeminência no
debate, tratando de desigualdades
sociais e territoriais profundas e
propondo saídas interessantes para
subvertê-
las. Entretanto, pouco se
sabe sobre políticas culturais de
pequenos e médios municípios.
Olhar para as propostas
municipais d
e fomento à cultura, com
novidades e redundâncias, pode
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
íntima com
identidades locais, podem ser
agenciadas para catalisar processos
de transformação, desenvolvimento e
mobilizações municipais. Tal relação
se apresenta quase como uma
competência inalienável dos governos
locais no entendimento de cultura e
icas culturais. Entretanto, o papel
da política cultural deve ir além disso.
A disparidade regional, presente
em todos os dados levantados, aponta
a concentração de capacidades
institucionais, recursos e presença de
políticas culturais nas cidades maiores.
Embora siga tendências da gestão
pública como um todo, ela reforça a
necessidade de uma investigação
mais aprofundada da gestão cultural
nos pequenos e médios municípios
brasileiros. Modelos que consideram
características próprias desses
proeminência no
debate, tratando de desigualdades
sociais e territoriais profundas e
propondo saídas interessantes para
las. Entretanto, pouco se
sabe sobre políticas culturais de
pequenos e médios municípios.
Olhar para as propostas
e fomento à cultura, com
novidades e redundâncias, pode
apontar nessa cruel conjuntura
brasileira atual para modalidades
novas de resistência e de alternativas
para a construção cidadã de
mecanismos de apoio à cultura,
dimensão essencial para a
reconstruçã
o do país, em uma
perspectiva democrática, soberana,
justa e criativa. O município em uma
estrutura federativa pode ser relevante
âmbito de resistência e de inovação
em todas as dimensões da sociedade
e, muito especialmente, na cultura. O
ano de 2020, que
passará à história e
à vida de todos como ano do
coronavírus e da quarentena,
comporta também eleições municipais
no Brasil. Elas podem ser um passo
para a democratização do Brasil.
Referências bibliográficas
ABRUCIO, Fernando Luiz. A
coordenação
federativa no Brasil: a
experiência do período FHC e os
desafios do governo Lula
Sociologia Política
, C
41-67, jun. 2005.
ALMEIDA, Armando; PAIVA NETO,
Carlos Beyrodt. Fomento à cultura no
Brasil: Desafios e oportunidades.
Políti
cas Culturais em Revista
Salvador,
v. 10, nº. 2, p. 35
ANDRADE, Rafael Moura. A gestão
pública do Carnaval do Recife.
Políticas Culturais em Revista,
323
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
apontar nessa cruel conjuntura
brasileira atual para modalidades
novas de resistência e de alternativas
para a construção cidadã de
mecanismos de apoio à cultura,
dimensão essencial para a
o do país, em uma
perspectiva democrática, soberana,
justa e criativa. O município em uma
estrutura federativa pode ser relevante
âmbito de resistência e de inovação
em todas as dimensões da sociedade
e, muito especialmente, na cultura. O
passará à história e
à vida de todos como ano do
coronavírus e da quarentena,
comporta também eleições municipais
no Brasil. Elas podem ser um passo
para a democratização do Brasil.
Referências bibliográficas
ABRUCIO, Fernando Luiz. A
federativa no Brasil: a
experiência do período FHC e os
desafios do governo Lula
. Revista
, C
uritiba, nº 24, p.
ALMEIDA, Armando; PAIVA NETO,
Carlos Beyrodt. Fomento à cultura no
Brasil: Desafios e oportunidades.
cas Culturais em Revista
,
v. 10, nº. 2, p. 35
–58, 2017.
ANDRADE, Rafael Moura. A gestão
pública do Carnaval do Recife.
Políticas Culturais em Revista,
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
Salvador, v. 9, 1, p. 244
jan./jun. 2016.
BARBALHO, Alexandre; BARROS,
José Márcio; CALABRE, Lia (orgs.).
Federalismo e políticas culturais no
Brasil
. Salvador: Editora da UFBA,
2013.
BARON, Lia. Fomento às expressões
culturais dos territórios periféricos:
algumas experiências brasileiras. In:
CAL
ABRE, Lia; DOMINGUES,
Alexandre.
Estudos sobre políticas
culturais e gestão da cultura:
do campo da produção acadêmica e
de práticas de gestão.
Rio de Janeiro:
Fundação Casa de Rui Barbosa, 2019.
p. 237-251.
BARROS, José Márcio. Diversidade
cultu
ral e gestão: sua extensão e
complexidade. In: BARROS, Jo
Márcio Barros; OLIVEIRA JUNIOR,
José (orgs.)
Pensar e Agir com a
Cultura:
desafios da gestão cultural
Belo Horizonte: Observatório da
Diversidade Cultural, 2011.
BLANCO, Ismael; GOMÀ, Ricard;
SU
BIRATS, Joan. El nuevo
municipalismo: derecho a laciudad y
comunes urbanos.
Gestión y Análisis
de Políticas Públicas,
Nacional de Administración Pública
(INAP), núm. 20, p. 14-
28, 2018.
BRASIL. Instrução Normativa 2, de
23 de Abril de 2019.
procedimentos para apresentação,
recebimento, análise, homologação,
execução, acompanhamento,
prestação de contas e avaliação de
resultados de projetos culturais
financiados por meio do mecanismo de
Incentivo Fiscal do Programa Nacional
de Apoio
à Cultura (Pronac).
Oficial da União
, Brasília, p. 3, 23 abr.
2019.
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Salvador, v. 9, 1, p. 244
-267,
BARBALHO, Alexandre; BARROS,
José Márcio; CALABRE, Lia (orgs.).
Federalismo e políticas culturais no
. Salvador: Editora da UFBA,
BARON, Lia. Fomento às expressões
culturais dos territórios periféricos:
algumas experiências brasileiras. In:
ABRE, Lia; DOMINGUES,
Estudos sobre políticas
culturais e gestão da cultura:
Análises
do campo da produção acadêmica e
Rio de Janeiro:
Fundação Casa de Rui Barbosa, 2019.
BARROS, José Márcio. Diversidade
ral e gestão: sua extensão e
complexidade. In: BARROS, Jo
Márcio Barros; OLIVEIRA JUNIOR,
Pensar e Agir com a
desafios da gestão cultural
.
Belo Horizonte: Observatório da
Diversidade Cultural, 2011.
BLANCO, Ismael; GOMÀ, Ricard;
BIRATS, Joan. El nuevo
municipalismo: derecho a laciudad y
Gestión y Análisis
, Instituto
Nacional de Administración Pública
28, 2018.
BRASIL. Instrução Normativa 2, de
23 de Abril de 2019.
Estabelece
procedimentos para apresentação,
recebimento, análise, homologação,
execução, acompanhamento,
prestação de contas e avaliação de
resultados de projetos culturais
financiados por meio do mecanismo de
Incentivo Fiscal do Programa Nacional
à Cultura (Pronac).
Diário
, Brasília, p. 3, 23 abr.
BRASIL. Lei 13.018, de 22 de Julho
de 2014. Institui a Política Nacional de
Cultura Viva e outras providências.
Diário Oficial da União
2014a.
BRASIL.
Lei 13.01
Julho de 2014. Estabelece o regime
jurídico das parcerias entre a
administração pública e as
organizações da sociedade civil.
Oficial da União,
Brasília, 2014b.
BRITTO, Neusa Hafner.
municipais de cultura. Guia de
elaboração. Salv
ador: Escola de
Administração da UFBA, 2017.
COSTA, Rodrigo Vieira.
constitucional do patrimônio cultural
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
CUNHA FILHO, Francisco Humberto
RIBEIRO, Sabrina Florêncio.
Federalismo cultural: significados para
a
cultura. In: BARBALHO, Alexandre;
BARROS, José Márcio; CALABRE, Lia
(orgs.).
Federalismo e políticas
culturais no Brasil
. Salvador: EDUFBA,
2013. p.13-41.
CUNHA FILHO, Francisco Humberto.
Federalismo Cultural e Sistema
Nacional de Cultura. Contribuição ao
debate
. Fortaleza: Edições UFC, 2010.
FARAH, Marta Ferreira Santos.
Inovação e governo local no Brasil
contemporâneo. In: JACOBI, Pedro;
PINHO, José Antonio (org.).
no campo da gestão pública local:
novos desafios, novos patamares.
de Janeiro:
Editora FGV, 2006. p. 41
77.
GALEGO, Esther Solano;
ORTELLADO, Pablo; MORETO,
Márcio. Guerras culturais e o
populismo antipetista nas ruas de
2017.
Revista Friedrich Ebert Stiftung
Brasil
, São Paulo, n°10, 2017.
324
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
BRASIL. Lei 13.018, de 22 de Julho
de 2014. Institui a Política Nacional de
Cultura Viva e outras providências.
Diário Oficial da União
, Brasília,
Lei 13.01
9, de 31 DE
Julho de 2014. Estabelece o regime
jurídico das parcerias entre a
administração pública e as
organizações da sociedade civil.
Diário
Brasília, 2014b.
BRITTO, Neusa Hafner.
Planos
municipais de cultura. Guia de
ador: Escola de
Administração da UFBA, 2017.
COSTA, Rodrigo Vieira.
A dimensão
constitucional do patrimônio cultural
.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
CUNHA FILHO, Francisco Humberto
;
RIBEIRO, Sabrina Florêncio.
Federalismo cultural: significados para
cultura. In: BARBALHO, Alexandre;
BARROS, José Márcio; CALABRE, Lia
Federalismo e políticas
. Salvador: EDUFBA,
CUNHA FILHO, Francisco Humberto.
Federalismo Cultural e Sistema
Nacional de Cultura. Contribuição ao
. Fortaleza: Edições UFC, 2010.
FARAH, Marta Ferreira Santos.
Inovação e governo local no Brasil
contemporâneo. In: JACOBI, Pedro;
PINHO, José Antonio (org.).
Inovação
no campo da gestão pública local:
novos desafios, novos patamares.
Rio
Editora FGV, 2006. p. 41
-
GALEGO, Esther Solano;
ORTELLADO, Pablo; MORETO,
Márcio. Guerras culturais e o
populismo antipetista nas ruas de
Revista Friedrich Ebert Stiftung
, São Paulo, n°10, 2017.
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
GUIMARÃES, Fabiana; SILVA,
Raiany. Estudos sobre financiamento e
fomento à cultura nos estados e
Distrito Federal.
In: RUBIM, Antonio
Albino Canelas; VASCONCELOS,
Fernanda Pimenta
(org.).
Financiamento e fomento à
cultura no Brasil: estados e distrito
federal.
Salvador: EDUFBA, 2017. p.
63-98.
INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA ESTATÍSTICA. IBGE.
Censo Demográfico 2010: Resultados
gerais da amostra
. Rio de Janeiro:
IBGE, 2012. Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizac
ao/periodicos/99/cd_2010_r
gerais_amostra.pdf. Acesso: jul. 2020.
INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA ESTATÍSTICA. IBGE.
Pesquisa de Informações Básicas
Municipais: Perfil dos Municípios
Brasileiros (Cultura, 2006).
Janeiro: IBGE, 2007. Disponível em:
https://www.ibge
.gov.br/estatisticas/so
ciais/educacao/10586-
pesquisa
informacoes-basicas-
municipais.html?=&t=o-
que
em: jul. 2020.
INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA ESTATÍSTICA
Pesquisa de Informações Básicas
Municipais: Perfil dos Municípios
Brasileiro
s (Cultura, 2014)
Janeiro: IBGE, 2015. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/so
ciais/educacao/10586-
pesquisa
informacoes-basicas-
municipais.html?=&t=o-
que
em: jul. 2020.
INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA ESTATÍSTICA
Pesquisa de Informações Básicas
Municipais: Perfil dos Municípios
Brasileiros
. Rio de Janeiro: IBGE,
2019. Disponível em:
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
GUIMARÃES, Fabiana; SILVA,
Raiany. Estudos sobre financiamento e
fomento à cultura nos estados e
In: RUBIM, Antonio
Albino Canelas; VASCONCELOS,
Fernanda Pimenta
Financiamento e fomento à
cultura no Brasil: estados e distrito
Salvador: EDUFBA, 2017. p.
INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA ESTATÍSTICA. IBGE.
Censo Demográfico 2010: Resultados
. Rio de Janeiro:
IBGE, 2012. Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizac
ao/periodicos/99/cd_2010_r
esultados_
gerais_amostra.pdf. Acesso: jul. 2020.
INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA ESTATÍSTICA. IBGE.
Pesquisa de Informações Básicas
Municipais: Perfil dos Municípios
Brasileiros (Cultura, 2006).
Rio de
Janeiro: IBGE, 2007. Disponível em:
.gov.br/estatisticas/so
pesquisa
-de-
que
-e. Acesso
INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA ESTATÍSTICA
. IBGE.
Pesquisa de Informações Básicas
Municipais: Perfil dos Municípios
s (Cultura, 2014)
. Rio de
Janeiro: IBGE, 2015. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/so
pesquisa
-de-
que
-e. Acesso
INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA ESTATÍSTICA
. IBGE.
Pesquisa de Informações Básicas
Municipais: Perfil dos Municípios
. Rio de Janeiro: IBGE,
2019. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/so
ciais/educacao/10586
informacoes-basicas-
municipais.html?=&t=o
em: jul. 2020.
LIMA, Luciana; ORTELLADO, Pablo.
Da Compra de Produtos e Serviços
Culturais ao Direito de Produzir
Cultura: Análise de um Paradigma
Emergente.
Dados
Ciências Sociais.
Rio de Janeiro, vol.
56, n 2, 2013.
MEIRA, Márcio. Gestão cultural no
Brasil: uma leitura do processo de
construção democrática. In: RUBIM,
Antonio Albino Canelas (org.).
cultural e gestão democrática no
Brasil
. São Paulo: Fundação Perseu
Abramo, 2016. p.17-
36.
MINISTÉRIO DA CULTURA
Estruturação, institucionalização e
implementação do Sistema Nacional
de Cultura (SNC)
. Brasília, Ministério
da Cultura, 2011.
OLIVEIRA, Maria Carolina
Vasconcelos. Políticas para as artes:
reflexões gerais e alguns tópicos do
debate paulistano. In: SIMI
NUSSBAUMER, Gisele; FERREIRA,
Kennedy Piau. (orgs.).
as artes
. Salvador: EDUFBA, 2018. p.
33-64.
PAIVA NETO, Carlos Beyrodt
federal de financiamento e fomento à
cultura.
In: RUBIM, Antonio Albino
Canelas; VASCONCELOS, Ferna
Pimenta (org.).
Financiamento e
fomento à cultura no Brasil:
distrito federal.
Salvador: EDUFBA,
2017. p. 15-62.
PINTO, Luiz Felipe; GIOVANELLA,
Ligia. Do Programa à Estratégia Saúde
da Família: expansão do acesso e
redução das internações por
condições sensíveis à atenção básica
325
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/so
ciais/educacao/10586
-pesquisa-de-
municipais.html?=&t=o
-que-e. Acesso
LIMA, Luciana; ORTELLADO, Pablo.
Da Compra de Produtos e Serviços
Culturais ao Direito de Produzir
Cultura: Análise de um Paradigma
Dados
- Revista de
Rio de Janeiro, vol.
MEIRA, Márcio. Gestão cultural no
Brasil: uma leitura do processo de
construção democrática. In: RUBIM,
Antonio Albino Canelas (org.).
Política
cultural e gestão democrática no
. São Paulo: Fundação Perseu
36.
MINISTÉRIO DA CULTURA
.
Estruturação, institucionalização e
implementação do Sistema Nacional
. Brasília, Ministério
OLIVEIRA, Maria Carolina
Vasconcelos. Políticas para as artes:
reflexões gerais e alguns tópicos do
debate paulistano. In: SIMI
S, Anita;
NUSSBAUMER, Gisele; FERREIRA,
Kennedy Piau. (orgs.).
Políticas para
. Salvador: EDUFBA, 2018. p.
PAIVA NETO, Carlos Beyrodt
. Modelo
federal de financiamento e fomento à
In: RUBIM, Antonio Albino
Canelas; VASCONCELOS, Ferna
nda
Financiamento e
fomento à cultura no Brasil:
estados e
Salvador: EDUFBA,
PINTO, Luiz Felipe; GIOVANELLA,
Ligia. Do Programa à Estratégia Saúde
da Família: expansão do acesso e
redução das internações por
condições sensíveis à atenção básica
RUBIM, Antonio
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n. 20, p. 300-326
, março 202
(ICSAB).
Ciênc. saúde coletiva,
Janeiro, v. 23, n. 6, p. 1903
junho 2018.
R
OCHA, Sophia Cardoso.
imaginação à constituição:
do Sistema Nacional de Cultura de
2002 a 2016
. Tese (Doutorado em
Cultura e Sociedade). Universidade
Federal da Bahia, Salvador, 2018.
RUBIM, Antonio Albino Canelas;
PAIVA NETO,
Carlos Beyrod
Panorama do financiamento e fomento
à cultura: estados e distrito federal. In:
RUBIM, Antonio Albino Canelas;
VASCONCELOS, Fernanda Pimenta
(org.).
Financiamento e fomento à
cultura no Brasil:
estados e distrito
federal.
Salvador: EDUFBA, 2017. p.
99-178.
RUBIM, Antonio Albino Canelas.
Atuação político-
cultural da gestão
Messias Bolsonaro. Salvador, 2020
(texto inédito)
RUBIM, Antonio Albino Canelas. La
contemporaneidad como edad
In: LOPES, Maria Immacolata Vassalo
de; NAVARRO, Raúl Fuentes (
Comunicación. Campo y objeto de
estudio
. México: Instituto Tecnológico
y de Estudios Superiores de Occidente
(ITESO) / Universidad Autónoma de
Aguascalientes /Universidad de Colima
/ Universidad de Guadalajara, 2001.
p.169-181.
RUBIM, Antonio Albin
o Canelas.
Políticas culturais na Bahia
contemporânea
. Salvador: EDUFBA,
2014. [em especial Eventos e políticas
culturais, p. 58-
63 e Políticas culturais
e festas, p. 227-229]
RUBIM,
Antonio Albino Canelas
Políticas culturais no Brasil: Tristes
tradições,
enormes desafios. In:
RUBIM,
Antonio Albino C.
BARBALHO, Alexandre (orgs.).
Albino C.; ALMEIDA, Juliana; METTENHEIM, Sofia.
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
.
Americana de Estudos em Cultura,
, março 202
1.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Ciênc. saúde coletiva,
Rio de
Janeiro, v. 23, n. 6, p. 1903
-1914,
OCHA, Sophia Cardoso.
Da
imaginação à constituição:
a trajetória
do Sistema Nacional de Cultura de
. Tese (Doutorado em
Cultura e Sociedade). Universidade
Federal da Bahia, Salvador, 2018.
RUBIM, Antonio Albino Canelas;
Carlos Beyrod
t.
Panorama do financiamento e fomento
à cultura: estados e distrito federal. In:
RUBIM, Antonio Albino Canelas;
VASCONCELOS, Fernanda Pimenta
Financiamento e fomento à
estados e distrito
Salvador: EDUFBA, 2017. p.
RUBIM, Antonio Albino Canelas.
cultural da gestão
Messias Bolsonaro. Salvador, 2020
RUBIM, Antonio Albino Canelas. La
contemporaneidad como edad
-media.
In: LOPES, Maria Immacolata Vassalo
de; NAVARRO, Raúl Fuentes (
orgs.).
Comunicación. Campo y objeto de
. México: Instituto Tecnológico
y de Estudios Superiores de Occidente
(ITESO) / Universidad Autónoma de
Aguascalientes /Universidad de Colima
/ Universidad de Guadalajara, 2001.
o Canelas.
Políticas culturais na Bahia
. Salvador: EDUFBA,
2014. [em especial Eventos e políticas
63 e Políticas culturais
Antonio Albino Canelas
.
Políticas culturais no Brasil: Tristes
enormes desafios. In:
Antonio Albino C.
;
BARBALHO, Alexandre (orgs.).
Políticas Culturais no Brasil
EDUFBA, 2007. p. 12
RUBIM, Antonio Albino Canelas.
Teses sobre financiamento e fomento
à cultura no Brasil. In: VALIATI,
Leandro; MOL
IER, Gustavo (orgs.).
Economia criativa, cultura e políticas
públicas.
Porto Alegre, Editora da
UFGRS/CEGOV, 2016. p.267
SERPA, A. Fala Periferia! In: SERPA,
Ângelo (org.).
Fala Periferia!
reflexão sobre a produção do espaço
periférico metropolita
UFBA, 2001. p. 11-
14.
SILVA, Maria Ozanira da Silva;
YAZBEK, Maria Carmelita; GIOVANNI,
Geraldo Di.
A política social brasileira
no século XXI:
a prevalência dos
programas de transferência de renda
São Paulo: Cortez, 2008.
SPINK, Peter. Inovação na perspectiva
dos inovadores: a experiência do
Programa Gestão Pública e Cidadania.
Cad. EBAPE.BR
, Rio de Janeiro, v. 1,
n. 2, p. 01-
13, Dec. 2003.
UNGER, Roberto Mangabeira. A
constituição do experimentalismo
democrático.
Revista
Administrativo
. Rio de Janeiro, v. 257,
p. 57-72, mai. 2011.
326
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
Políticas Culturais no Brasil
. Salvador:
EDUFBA, 2007. p. 12
-36.
RUBIM, Antonio Albino Canelas.
Teses sobre financiamento e fomento
à cultura no Brasil. In: VALIATI,
IER, Gustavo (orgs.).
Economia criativa, cultura e políticas
Porto Alegre, Editora da
UFGRS/CEGOV, 2016. p.267
-278.
SERPA, A. Fala Periferia! In: SERPA,
Fala Periferia!
Uma
reflexão sobre a produção do espaço
periférico metropolita
no. Salvador:
14.
SILVA, Maria Ozanira da Silva;
YAZBEK, Maria Carmelita; GIOVANNI,
A política social brasileira
a prevalência dos
programas de transferência de renda
.
São Paulo: Cortez, 2008.
SPINK, Peter. Inovação na perspectiva
dos inovadores: a experiência do
Programa Gestão Pública e Cidadania.
, Rio de Janeiro, v. 1,
13, Dec. 2003.
UNGER, Roberto Mangabeira. A
constituição do experimentalismo
Revista
de Direito
. Rio de Janeiro, v. 257,
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Transformações na g
estão d
Covid-
19: um estudo nas regiões do Paranhana
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
Resumo
: O artigo aborda as transformações nas práticas de gestão das agências de publicidade
localizadas nas regiões do Paranhana e
da Serra Gaúcha. Diante dos impactos que o isolamento social da pandemia do Covid
nestes territórios, é lançado um olhar às percepções e ações adotadas
a crise em localidades que a ind
estruturado por uma revisão teórica sobre gestão do negócio em períodos de crise, práticas
publicitárias na pós-
contemporaneidade e indicadores socioeconômicos de ambas as regiões
interioranas; seguida de uma
ação empírica, através da metodologia exploratória, contemplando um
focus group
com cinco agências. O objetivo principal é realizar um mapeamento e análise das
atividades adotadas para enfrentar a crise. Resultados indicam
sobrevivência de agências regionais com base nas percepções e ações de seus gestores acerca da
gestão mercadológica,gestão do negócio em publicidade e novas demandas nos serviços
publicitários durante a pandemia.
1
Eduardo Zilles Borba.
Doutor em Ciências da Comunicação e Informação pela Universidade
Fernando Pessoa (UFP), Portugal. Professor na FACCAT e na UNISINOS, Rio Grande do Sul, Brasil.
E-mail: ezb@faccat.br -
https://orcid.or
2
Marley de Almeida Tavares Rodrigues. Doutora em Comunicação pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUC
Taquara (FACCAT), Rio Grande do Sul, Brasil. E
0001-6070-5238
3
Valmir
Mateus dos Santos Portal. Mestre em Desenvolvimento Regional pela FACCAT. Professor
assistente nas Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT), Rio Grande do Sul, Brasil. E
mateusportal@faccat.br - https
://orcid.org/0000
4
Monica Greggianin. Mestre em Design pela Universidade do Vale do Rio do Sinos (UNISINOS).
Professora-
assistente nas Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT), Rio Grande do Sul, Brasil.
E-mail: monicagreggi
anin@faccat.br
Texto recebido em 27/08/20
20,
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
estão d
as agências de p
ublicidade durante a
19: um estudo nas regiões do Paranhana
e Hortênsias
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
45781
Eduardo Zilles Borba
Marley Rodrigues
Valmir Mateus Portal
Monica Greggianin
: O artigo aborda as transformações nas práticas de gestão das agências de publicidade
localizadas nas regiões do Paranhana e
das Hortênsias, contemplando
empresas da Serra e Encosta
da Serra Gaúcha. Diante dos impactos que o isolamento social da pandemia do Covid
nestes territórios, é lançado um olhar às percepções e ações adotadas
pelas agências para enfrentar
a crise em localidades que a ind
ústria criativa ainda está em fase de crescimento. O trabalho é
estruturado por uma revisão teórica sobre gestão do negócio em períodos de crise, práticas
contemporaneidade e indicadores socioeconômicos de ambas as regiões
ação empírica, através da metodologia exploratória, contemplando um
com cinco agências. O objetivo principal é realizar um mapeamento e análise das
atividades adotadas para enfrentar a crise. Resultados indicam
aspectos fundame
sobrevivência de agências regionais com base nas percepções e ações de seus gestores acerca da
gestão mercadológica,gestão do negócio em publicidade e novas demandas nos serviços
publicitários durante a pandemia.
Doutor em Ciências da Comunicação e Informação pela Universidade
Fernando Pessoa (UFP), Portugal. Professor na FACCAT e na UNISINOS, Rio Grande do Sul, Brasil.
https://orcid.or
g/0000-0001-5755-2509
Marley de Almeida Tavares Rodrigues. Doutora em Comunicação pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUC
-RS). Professora-
assistente nas Faculdades Integradas de
Taquara (FACCAT), Rio Grande do Sul, Brasil. E
-mail: marley@faccat.br - https
://orcid.org/0000
Mateus dos Santos Portal. Mestre em Desenvolvimento Regional pela FACCAT. Professor
assistente nas Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT), Rio Grande do Sul, Brasil. E
://orcid.org/0000
-0002-6612-1038
Monica Greggianin. Mestre em Design pela Universidade do Vale do Rio do Sinos (UNISINOS).
assistente nas Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT), Rio Grande do Sul, Brasil.
anin@faccat.br
- https://orcid.org/0000-0002-4443-6442
20,
aceit
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
em 01/03/2021.
327
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
ublicidade durante a
pandemia do
e Hortênsias
Eduardo Zilles Borba
1
Marley Rodrigues
2
Valmir Mateus Portal
3
Monica Greggianin
4
: O artigo aborda as transformações nas práticas de gestão das agências de publicidade
empresas da Serra e Encosta
da Serra Gaúcha. Diante dos impactos que o isolamento social da pandemia do Covid
-19 tem gerado
pelas agências para enfrentar
ústria criativa ainda está em fase de crescimento. O trabalho é
estruturado por uma revisão teórica sobre gestão do negócio em períodos de crise, práticas
contemporaneidade e indicadores socioeconômicos de ambas as regiões
ação empírica, através da metodologia exploratória, contemplando um
com cinco agências. O objetivo principal é realizar um mapeamento e análise das
aspectos fundame
ntais para a
sobrevivência de agências regionais com base nas percepções e ações de seus gestores acerca da
gestão mercadológica,gestão do negócio em publicidade e novas demandas nos serviços
Doutor em Ciências da Comunicação e Informação pela Universidade
Fernando Pessoa (UFP), Portugal. Professor na FACCAT e na UNISINOS, Rio Grande do Sul, Brasil.
Marley de Almeida Tavares Rodrigues. Doutora em Comunicação pela Pontifícia Universidade
assistente nas Faculdades Integradas de
://orcid.org/0000
-
Mateus dos Santos Portal. Mestre em Desenvolvimento Regional pela FACCAT. Professor
-
assistente nas Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT), Rio Grande do Sul, Brasil. E
-mail:
Monica Greggianin. Mestre em Design pela Universidade do Vale do Rio do Sinos (UNISINOS).
assistente nas Faculdades Integradas de Taquara (FACCAT), Rio Grande do Sul, Brasil.
o para publicação em 12/10/2020 e disponibilizado online
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Palavras-chave:
gestão de neg
publicitárias; desenvolvimento regional.
Transformaciones
en la gestión de las agencias de p
un estudio en las regiones de Paranhana y Hortensias
Resumen:
El artículo analiza las transformaciones en las prácticas de gestión de las agencias de
publicidad ubicadas en las regiones de Paranhana y Hortensias, abarcando empresas de la Serra y
Encostas da Serra Gaucha. Ante los impactos que ha generado el
Covid-
19 en estos territorios, se da una mirada a las percepciones y acciones adoptadas por las
agencias para enfrentar la crisis en localidades donde la industria creativa n está creciendo. El
trabajo se estructura medi
ante una revisión teórica sobre gestión de empresarial en tiempos de crisis,
prácticas publicitarias en la post contemporaneidad e indicadores socioeconómicos en ambas
regiones; seguida de acción empírica, a través de una metodología exploratoria, incluyen
focal con cinco agencias. El objetivo es realizar un mapeo y análisis de las actividades adoptadas
para enfrentar la crisis. Resultados señalan aspectos fundamentales para la supervivencia de las
agencias regionales a partir de las percepciones
mercado, gestión del negocio en publicidad y nuevas demandas de los servicios publicitarios en la
pandemia.
Palabras-clave:
gestión del negocio en publicidad; Covid
publicitarias; desarrollo regional.
Transformations in the m
anagement of
study in the regions of Paranhana and Hortensias
Abstract
: The article discusses changes in the management practice of advertising
in the regions of Paranhana and Hortensias, covering companies in the Serra and Encosta da Serra
Gaucha. Viewing the impacts that social isolation
territories, a look is given to the actions take
growing. The work is structured by a theoretical review about business management in times of crisis,
post-
contemporary advertising practices and socioeconomic indicators in regional development;
foll
owed by an empirical approach, through exploratory methodology, which contemplates a focus
group with five agencies. The objective is to carry out a mapping and analysis of activities adopted to
face the crisis. Results indicate fundamental aspects for the
perceptions and actions of their managers on marketing management, the management of advertising
business and the new demands on advertising services.
Keywords:
Advertising business; Covid
development.
Transformações na g
estão d
Covid-
19: um estudo nas regiões do Paranhana
1. Introdução
O impacto da pandemia do
Covid-
19 na sociedade brasileira é
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
gestão de neg
ócios em publicidade; Covid-
19; agências de publicidade; práticas
publicitárias; desenvolvimento regional.
en la gestión de las agencias de p
ublicidad durante la
p
un estudio en las regiones de Paranhana y Hortensias
El artículo analiza las transformaciones en las prácticas de gestión de las agencias de
publicidad ubicadas en las regiones de Paranhana y Hortensias, abarcando empresas de la Serra y
Encostas da Serra Gaucha. Ante los impactos que ha generado el
aislamiento social de la pandemia
19 en estos territorios, se da una mirada a las percepciones y acciones adoptadas por las
agencias para enfrentar la crisis en localidades donde la industria creativa n está creciendo. El
ante una revisión teórica sobre gestión de empresarial en tiempos de crisis,
prácticas publicitarias en la post contemporaneidad e indicadores socioeconómicos en ambas
regiones; seguida de acción empírica, a través de una metodología exploratoria, incluyen
focal con cinco agencias. El objetivo es realizar un mapeo y análisis de las actividades adoptadas
para enfrentar la crisis. Resultados señalan aspectos fundamentales para la supervivencia de las
agencias regionales a partir de las percepciones
y acciones de sus gerentes sobre gestión del
mercado, gestión del negocio en publicidad y nuevas demandas de los servicios publicitarios en la
gestión del negocio en publicidad; Covid
-
19; agencias de publicidad; practicas
anagement of
advertising a
gencies during the Covid
study in the regions of Paranhana and Hortensias
: The article discusses changes in the management practice of advertising
in the regions of Paranhana and Hortensias, covering companies in the Serra and Encosta da Serra
Gaucha. Viewing the impacts that social isolation
of Covid-
19 pandemic has generated in these
territories, a look is given to the actions take
n to face the crisis where creative industries is still
growing. The work is structured by a theoretical review about business management in times of crisis,
contemporary advertising practices and socioeconomic indicators in regional development;
owed by an empirical approach, through exploratory methodology, which contemplates a focus
group with five agencies. The objective is to carry out a mapping and analysis of activities adopted to
face the crisis. Results indicate fundamental aspects for the
survival of regional agencies based on the
perceptions and actions of their managers on marketing management, the management of advertising
business and the new demands on advertising services.
Advertising business; Covid
-19; advertising agenci
es; advertising practices; regional
estão d
as agências de p
ublicidade durante a
19: um estudo nas regiões do Paranhana
e Hortênsias
O impacto da pandemia do
19 na sociedade brasileira é
inevitável. Seja no âmbito
sociocultural, na saúde ou nos
negócios, “o ano de 2020 ficará
328
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
19; agências de publicidade; práticas
p
andemia Covid-19:
El artículo analiza las transformaciones en las prácticas de gestión de las agencias de
publicidad ubicadas en las regiones de Paranhana y Hortensias, abarcando empresas de la Serra y
aislamiento social de la pandemia
19 en estos territorios, se da una mirada a las percepciones y acciones adoptadas por las
agencias para enfrentar la crisis en localidades donde la industria creativa n está creciendo. El
ante una revisión teórica sobre gestión de empresarial en tiempos de crisis,
prácticas publicitarias en la post contemporaneidad e indicadores socioeconómicos en ambas
regiones; seguida de acción empírica, a través de una metodología exploratoria, incluyen
do un grupo
focal con cinco agencias. El objetivo es realizar un mapeo y análisis de las actividades adoptadas
para enfrentar la crisis. Resultados señalan aspectos fundamentales para la supervivencia de las
y acciones de sus gerentes sobre gestión del
mercado, gestión del negocio en publicidad y nuevas demandas de los servicios publicitarios en la
19; agencias de publicidad; practicas
gencies during the Covid
-19 pandemic: a
: The article discusses changes in the management practice of advertising
agencies located
in the regions of Paranhana and Hortensias, covering companies in the Serra and Encosta da Serra
19 pandemic has generated in these
n to face the crisis where creative industries is still
growing. The work is structured by a theoretical review about business management in times of crisis,
contemporary advertising practices and socioeconomic indicators in regional development;
owed by an empirical approach, through exploratory methodology, which contemplates a focus
group with five agencies. The objective is to carry out a mapping and analysis of activities adopted to
survival of regional agencies based on the
perceptions and actions of their managers on marketing management, the management of advertising
es; advertising practices; regional
ublicidade durante a
pandemia do
e Hortênsias
inevitável. Seja no âmbito
sociocultural, na saúde ou nos
negócios, “o ano de 2020 ficará
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
marcado pelas profundas
transformações que provocou e que
ainda irá acarretar para a economia,
educação, saúde [...] e para a
sociedade planetária”, (MORAIS,
2020, p. 1).
Diante desta situação, este
artigo lança um olhar às
transformações enfrentadas pelas
agências de Publicidade e Propaganda
(PP) do interior do Rio Grande do Sul
(RS) durante este período de crise.
Como ponto de partida foi lançado
seguinte problema
: quais
transformações nas práticas de gestão
as agências de PP situadas nas
regiões do Paranhana e Hortênsias
estão enfrentando durante o período
inicial da pandemia?Como objetivo da
pesquisa compreendeu
necessário mapear e analisar as
percepções e
ações que os gestores
destas agências adotaram para
enfrentar a crise. Cabe aqui
que a delimitação da investigação às
agências destas duas regiões está
relacionada à atuação dos
pesquisadores num grupo de estudos
sobre a indústria criativa e o
desenvolvimento regional.
Em termos metodológicos, a
pesquisa foi estruturada em duas
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
marcado pelas profundas
transformações que provocou e que
ainda irá acarretar para a economia,
educação, saúde [...] e para a
sociedade planetária”, (MORAIS,
Diante desta situação, este
artigo lança um olhar às
transformações enfrentadas pelas
agências de Publicidade e Propaganda
(PP) do interior do Rio Grande do Sul
(RS) durante este período de crise.
Como ponto de partida foi lançado
o
: quais
transformações nas práticas de gestão
as agências de PP situadas nas
regiões do Paranhana e Hortênsias
estão enfrentando durante o período
inicial da pandemia?Como objetivo da
pesquisa compreendeu
-se ser
necessário mapear e analisar as
ações que os gestores
destas agências adotaram para
enfrentar a crise. Cabe aqui
justificar
que a delimitação da investigação às
agências destas duas regiões está
relacionada à atuação dos
pesquisadores num grupo de estudos
sobre a indústria criativa e o
Em termos metodológicos, a
pesquisa foi estruturada em duas
etapas. Inicialmente é apresentada
uma revisão teórica sobrea gestão do
negócio em momentos de crise, as
práticas publicitárias na pós
contemporaneidade e os aspectos
soc
ioeconômicos e territoriais do
Paranhana e das Hortênsias, que
contemplam cidades da Serra e
Encosta da Serra Gaúcha,
caracterizadas por aspectos
socioculturais da cultura alemã,
italiana, indígena e, claro, gaúcha;
além de terem
grande parte da sua
econom
ia vinculada
calçadista e ao turismo, ambas
fortemente afetadas pela pandemia
mundial. Na segunda etapa é aplicada
uma abordagem empírica, através do
método exploratório que se caracteriza
como um estudo de casos
múltiplos,quando cinco agências
participam de um
focus group
viabiliza a coleta e análise de dados
qualitativos reveladores de
pensamentos sobre o mercado
regional, a gestão do negócio e o fazer
publicidade na pandemia.
2. Aspectos teóricos: da gestão ao
fazer publicidade no
Uma vez que é proposto
estudar as transformações nas
329
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
etapas. Inicialmente é apresentada
uma revisão teórica sobrea gestão do
negócio em momentos de crise, as
práticas publicitárias na pós
-
contemporaneidade e os aspectos
ioeconômicos e territoriais do
Paranhana e das Hortênsias, que
contemplam cidades da Serra e
Encosta da Serra Gaúcha,
caracterizadas por aspectos
socioculturais da cultura alemã,
italiana, indígena e, claro, gaúcha;
grande parte da sua
ia vinculada
à indústria
calçadista e ao turismo, ambas
fortemente afetadas pela pandemia
mundial. Na segunda etapa é aplicada
uma abordagem empírica, através do
método exploratório que se caracteriza
como um estudo de casos
múltiplos,quando cinco agências
focus group
que
viabiliza a coleta e análise de dados
qualitativos reveladores de
pensamentos sobre o mercado
regional, a gestão do negócio e o fazer
publicidade na pandemia.
2. Aspectos teóricos: da gestão ao
fazer publicidade no
interior
Uma vez que é proposto
estudar as transformações nas
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
práticas de gestão das agências de PP
durante a pandemia,em territórios
específicos do interior gaúcho,
considerou-
se percorrer os seguintes
tópicos: gestão do negócio em tempos
de crise, prátic
as publicitárias s
contemporâneas
e fatores
socioeconômicos regionais.
2.1 Gestão de negócios e o Covid
A complexidade em fazer a
gestão do negócio de forma eficiente é
justificada pela exigência imposta às
lideranças de tais processos em terem
amplo
repertório de conhecimento
sobre variáveis internas e externas
que afetam a organização. Kaplan e
Norton (1997) explicam que, para
alcançar objetivos traçados num plano
de negócio, é necessário reavaliar
constantemente os rumos estratégicos
que direcionam
ações e recursos da
empresa (humanos, financeiros,
processuais etc.).
Dito isto, Kotler, Kartajaya e
Setiawan (2017) indicam que,
independentemente do setor de
atuação (indústria, comércio, serviço
etc.), a gestão do negócio deve se
atentar às movimentaçõ
mercado, à situação da empresa, à
flexibilização para a mudança, à visão
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
práticas de gestão das agências de PP
durante a pandemia,em territórios
específicos do interior gaúcho,
se percorrer os seguintes
tópicos: gestão do negócio em tempos
as publicitárias s
-
e fatores
socioeconômicos regionais.
2.1 Gestão de negócios e o Covid
-19
A complexidade em fazer a
gestão do negócio de forma eficiente é
justificada pela exigência imposta às
lideranças de tais processos em terem
repertório de conhecimento
sobre variáveis internas e externas
que afetam a organização. Kaplan e
Norton (1997) explicam que, para
alcançar objetivos traçados num plano
de negócio, é necessário reavaliar
constantemente os rumos estratégicos
ações e recursos da
empresa (humanos, financeiros,
Dito isto, Kotler, Kartajaya e
Setiawan (2017) indicam que,
independentemente do setor de
atuação (indústria, comércio, serviço
etc.), a gestão do negócio deve se
atentar às movimentaçõ
es do
mercado, à situação da empresa, à
flexibilização para a mudança, à visão
sistêmica para tomada de decisões e,
ainda, às negociações em todas
esferas (cliente, colaborador,
fornecedor etc.). Evidencia
além de habilidades técnicas, os
autores d
estacam competências
socioculturais, sublinhando que, além
de administrar processos na produção
de bens ou serviços, gestores lidam
com pessoas. De fato, olhando com
exclusividade para a indústria criativa,
onde se enquadram as agências de
PP, o capital hu
mano é compreendido
como principal ativo da organização
(FLORIDA, 2011).
No período de isolamento
social, iniciado no Brasil em março de
2020, percebeu-
se que as empresas
tiveram que tomar medidas rápidas na
gestão do negócio. A crise despertada
pela nece
ssidade da sociedade se
fechar em casa fez os gestores de
variados ramos reestruturarem sua
forma de
pensar e agir, buscando
adaptações para atuar diante deste
novo contexto. Segundo Morais (2020,
p. 1) esta prospecção de cenários
envolve o “processo siste
participativo que envolve a coleta de
informações e a construção de visões
[...] com o objetivo de subsidiar as
decisões tomadas no presente e pôr
330
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
sistêmica para tomada de decisões e,
ainda, às negociações em todas
esferas (cliente, colaborador,
fornecedor etc.). Evidencia
-se que,
além de habilidades técnicas, os
estacam competências
socioculturais, sublinhando que, além
de administrar processos na produção
de bens ou serviços, gestores lidam
com pessoas. De fato, olhando com
exclusividade para a indústria criativa,
onde se enquadram as agências de
mano é compreendido
como principal ativo da organização
No período de isolamento
social, iniciado no Brasil em março de
se que as empresas
tiveram que tomar medidas rápidas na
gestão do negócio. A crise despertada
ssidade da sociedade se
fechar em casa fez os gestores de
variados ramos reestruturarem sua
pensar e agir, buscando
adaptações para atuar diante deste
novo contexto. Segundo Morais (2020,
p. 1) esta prospecção de cenários
envolve o “processo siste
mático e
participativo que envolve a coleta de
informações e a construção de visões
[...] com o objetivo de subsidiar as
decisões tomadas no presente e pôr
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
em ação planos futuros”(MORAIS,
2020, p. 1).
Diante das incertezas para
estas tomadas de decisões,
p
esquisadores como Emmanuelli et al.
(2020) ou
Sneader e Singhal (2020)
lançaram um olhar inicial às
transformações nas organizações
devido à pandemia. Para
et al. (2020), a mudança inesperada
no comportamento do mercado e,
consequentemente, dos
consumo despertaram a aceleração de
tendências. Mesmo sem saber por
quanto tempo essas novas
configurações mercadológicas e
socioculturais perdurarão, os autores
alertam que elas podem levar os
negócios tanto à ruína quanto a um
novo eldorado. O
que eles parecem
pontuar é que diante das novas rotinas
de consumo, novos processos devem
ser pensados pelos gestores (sejam
internos ou externos). Outra tendência
que emerge está num perceptível
aumento das vendas e compras em
canais online
, especificame
produtos e serviços que podem ser
consumidos na segurança do lar. “O
comércio eletrônico era significativo
e visível e o que o coronavírus fez foi
acelerar uma mudança nos hábitos de
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
em ação planos futuros”(MORAIS,
Diante das incertezas para
estas tomadas de decisões,
esquisadores como Emmanuelli et al.
Sneader e Singhal (2020)
lançaram um olhar inicial às
transformações nas organizações
devido à pandemia. Para
Emmanuelli
et al. (2020), a mudança inesperada
no comportamento do mercado e,
consequentemente, dos
hábitos de
consumo despertaram a aceleração de
tendências. Mesmo sem saber por
quanto tempo essas novas
configurações mercadológicas e
socioculturais perdurarão, os autores
alertam que elas podem levar os
negócios tanto à ruína quanto a um
que eles parecem
pontuar é que diante das novas rotinas
de consumo, novos processos devem
ser pensados pelos gestores (sejam
internos ou externos). Outra tendência
que emerge está num perceptível
aumento das vendas e compras em
, especificame
nte de
produtos e serviços que podem ser
consumidos na segurança do lar. “O
comércio eletrônico era significativo
e visível e o que o coronavírus fez foi
acelerar uma mudança nos hábitos de
compra que era bem estabelecido”,
(SNEADER; SINGHAL, 2020, p
Por sua vez, Sneader e Sternels
(2020) recomendam às empresas
buscarem uma mentalidade
startups,
incentivando a agilidade nos
negócios, pensando em seus
funcionários e sua adaptação a novos
modelos operacionais e acelerando
uma mudança tecnológica
(especialmente a expansão da
comunicação em canais digitais). Eles
explicam que é preciso agir com
velocidade, lembrando a cultura do
fast fail and succeed faster.
crise atual as empresas m
trabalhado mais rápido e melhor do
que sonharam ser
possível apenas
alguns meses. Manter esse senso de
possibilidade será uma fonte
duradoura de vantagem competitiva”
(SNEADER; STERNFELS, 2020b, p.
4).
Ao considerar a crise como uma
situação inerentemente anormal,
instável e complexa, representando
uma a
meaça aos objetivos
estratégicos das organizações, é
viável dizer que, ao mesmo tempo,
oportunidades podem ser identificadas
nestes cenários. Segundo Levitt
(1990), é preciso amplificar a gestão
331
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
compra que era bem estabelecido”,
(SNEADER; SINGHAL, 2020, p
. 3).
Por sua vez, Sneader e Sternels
(2020) recomendam às empresas
buscarem uma mentalidade
de
incentivando a agilidade nos
negócios, pensando em seus
funcionários e sua adaptação a novos
modelos operacionais e acelerando
uma mudança tecnológica
(especialmente a expansão da
comunicação em canais digitais). Eles
explicam que é preciso agir com
velocidade, lembrando a cultura do
fast fail and succeed faster.
“Durante a
crise atual as empresas m
trabalhado mais rápido e melhor do
possível apenas
alguns meses. Manter esse senso de
possibilidade será uma fonte
duradoura de vantagem competitiva”
(SNEADER; STERNFELS, 2020b, p.
Ao considerar a crise como uma
situação inerentemente anormal,
instável e complexa, representando
meaça aos objetivos
estratégicos das organizações, é
viável dizer que, ao mesmo tempo,
oportunidades podem ser identificadas
nestes cenários. Segundo Levitt
(1990), é preciso amplificar a gestão
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
do negócio nestes períodos, a fim de
não cair numa miopia de
pois decisões cruciais devem ser feitas
que, inclusive, poderão ditar o futuro
da organização (DE CICCO, 2020).
2.2 Práticas publicitárias pós
contemporâneas
Independentemente das
mudanças alavancadas pelo período
de isolamento social, é pertin
a composição teórica deste artigo
destacar que a forma de fazer
comunicação das marcas, de um
modo geral, vem se transformando
desde o começo do século 21. De fato,
numa era digital, em que as
tecnologias informáticas penetram na
cultura da socie
dade, percebem
alterações no fazer publicidade, seja
por causa da evolução dos canais de
comunicação ou pelo discurso contido
nas mensagens das empresas para o
consumidor.
Kotler, Kartajaya e Setiawan
(2017) sugerem que o discurso
publicitário está cada
minimalista, pois a grande maioria das
marcas não se preocupa em
apresentar informações técnicas dos
produtos ou serviços. Elas preferem
construir uma imagem de marca
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
do negócio nestes períodos, a fim de
não cair numa miopia de
marketing,
pois decisões cruciais devem ser feitas
que, inclusive, poderão ditar o futuro
da organização (DE CICCO, 2020).
2.2 Práticas publicitárias pós
-
Independentemente das
mudanças alavancadas pelo período
de isolamento social, é pertin
ente para
a composição teórica deste artigo
destacar que a forma de fazer
comunicação das marcas, de um
modo geral, vem se transformando
desde o começo do século 21. De fato,
numa era digital, em que as
tecnologias informáticas penetram na
dade, percebem
-se
alterações no fazer publicidade, seja
por causa da evolução dos canais de
comunicação ou pelo discurso contido
nas mensagens das empresas para o
Kotler, Kartajaya e Setiawan
(2017) sugerem que o discurso
vez mais
minimalista, pois a grande maioria das
marcas não se preocupa em
apresentar informações técnicas dos
produtos ou serviços. Elas preferem
construir uma imagem de marca
relacionada a conceitos que fortaleçam
seu DNA, valores e propósitos perante
a sociedade. Hansen (2016)
argumenta que este direcionamento
discurso na pós-
contemporaneidade
pode ser justificado pela evolução dos
canais de comunicação
incentivam situações de colaboração
entre marca e consumidor. Tal prática,
segundo Macinnis e Folkes (2017),
promove a aproximação de entre
ambos, justamente, porque
compartilham da mesma identidade ou
personalidade diante de assuntos em
voga na opini
ão pública.
Por outro lado, a publicidade
também é afetada pelas
particularidades do meio
digital.Alinhando-
se ao raciocínio da
Escola de Toronto, em que o meio é a
mensagem, as apropriações
tecnológicas que as marcas fazem dos
meios para uma melhor mediaç
experiência de comunicação com o
mercado revelam uma necessidade
cada vez maior das mesmas estarem
presentes em canais
partir de redes sociais, buscadores,
aplicativos, videogames e plataformas
de streaming
, a diversificação da
jorna
da do usuário também ampliou o
332
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
relacionada a conceitos que fortaleçam
seu DNA, valores e propósitos perante
a sociedade. Hansen (2016)
argumenta que este direcionamento
do
contemporaneidade
pode ser justificado pela evolução dos
canais de comunicação
online que
incentivam situações de colaboração
entre marca e consumidor. Tal prática,
segundo Macinnis e Folkes (2017),
promove a aproximação de entre
ambos, justamente, porque
compartilham da mesma identidade ou
personalidade diante de assuntos em
ão pública.
Por outro lado, a publicidade
também é afetada pelas
particularidades do meio
se ao raciocínio da
Escola de Toronto, em que o meio é a
mensagem, as apropriações
tecnológicas que as marcas fazem dos
meios para uma melhor mediaç
ão da
experiência de comunicação com o
mercado revelam uma necessidade
cada vez maior das mesmas estarem
online. Assim, a
partir de redes sociais, buscadores,
aplicativos, videogames e plataformas
, a diversificação da
da do usuário também ampliou o
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
universo comunicacional de ação das
marcas (ZILLES BORBA, 2020).
Para marcas que possuem
atuação madura em multiplataformas
(online e offline
), o uso de algoritmos
originados na própria jornada do
usuário é um exemplo de p
otimiza a personalização do anúncio
publicitário. Ou seja, o direcionamento
de mensagens para
personas
realmente se enquadram na
segmentação da marca é um caminho
para potencializar a criação de
mensagens relevantes, em canais
adequados e no
s momentos certos
(SILVEIRA; MORISSO, 2018). Através
da mídia programática, do
até mesmo, da apropriação de
técnicas analíticas da inteligência
artificial, as práticas publicitárias
apresentam novas perspectivas
técnicas (o meio) e discursivas
mensagem), produzindo experiências
personalizadas aos envolvidos no
processo comunicacional, seja numa
plataforma de streaming
, num óculos
de realidade virtual ou
(ZILLES BORBA, 2020).
2.3 Aspectos socioeconômicos
regionais:Paranhana e Hortê
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
universo comunicacional de ação das
marcas (ZILLES BORBA, 2020).
Para marcas que possuem
atuação madura em multiplataformas
), o uso de algoritmos
originados na própria jornada do
usuário é um exemplo de p
rática que
otimiza a personalização do anúncio
publicitário. Ou seja, o direcionamento
personas
que
realmente se enquadram na
segmentação da marca é um caminho
para potencializar a criação de
mensagens relevantes, em canais
s momentos certos
(SILVEIRA; MORISSO, 2018). Através
da mídia programática, do
big data ou,
até mesmo, da apropriação de
técnicas analíticas da inteligência
artificial, as práticas publicitárias
apresentam novas perspectivas
técnicas (o meio) e discursivas
(a
mensagem), produzindo experiências
personalizadas aos envolvidos no
processo comunicacional, seja numa
, num óculos
app móvel
2.3 Aspectos socioeconômicos
regionais:Paranhana e Hortê
nsias
Pelo fato desta pesquisa
delimitar seu olhar para as agências
de PP localizadas no
Hortênsias, é lançado um olhar aos
dados socioeconômicos de ambas as
regiões. Isto porque, as agências que
compõem a etapa empírica da
pesquisa estão
municípios de Igrejinha e Taquara na
região do Paranhana, e Canela e
Gramado na região das Hortênsias.
Além, é claro, destas agências
atenderem a diversas empresas
situadas nas cidades destas regiões.
Conforme o Conselho Regional
de Desenvolvi
mento (COREDE),
ambas regiões estão localizadas na
Mesorregião Metropolitana de Porto
Alegre, distantes 90 quilômetros da
capital gaúcha. São formadas
etnias alemã, italiana e índios
caingangues, compreendendo os
municípios de Cambará do Sul,
Cane
la, Igrejinha, Gramado,
Jaquirana, Nova Petrópolis, Parobé,
Picada Café, Riozinho, Rolante, São
Francisco de Paula, Taquara e Três
Coroas. Juntas, possuem 365 mil
habitantes e ocupam uma área de 7,9
km
2
(FEE, 2018).
O Índice de Desenvolvimento
Socioeconômi
co (IDESE), indicador
333
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
Pelo fato desta pesquisa
delimitar seu olhar para as agências
Paranhana e nas
Hortênsias, é lançado um olhar aos
dados socioeconômicos de ambas as
regiões. Isto porque, as agências que
compõem a etapa empírica da
pesquisa estão
situadas nos
municípios de Igrejinha e Taquara na
região do Paranhana, e Canela e
Gramado na região das Hortênsias.
Além, é claro, destas agências
atenderem a diversas empresas
situadas nas cidades destas regiões.
Conforme o Conselho Regional
mento (COREDE),
ambas regiões estão localizadas na
Mesorregião Metropolitana de Porto
Alegre, distantes 90 quilômetros da
capital gaúcha. São formadas
pelas
etnias alemã, italiana e índios
caingangues, compreendendo os
municípios de Cambará do Sul,
la, Igrejinha, Gramado,
Jaquirana, Nova Petrópolis, Parobé,
Picada Café, Riozinho, Rolante, São
Francisco de Paula, Taquara e Três
Coroas. Juntas, possuem 365 mil
habitantes e ocupam uma área de 7,9
O Índice de Desenvolvimento
co (IDESE), indicador
-
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
síntese com o objetivo de mensurar o
nível socioeconômico e acompanhar o
desenvolvimento dos municípios
gaúchos, fornece informações que
auxiliam a projetar políticas blicas
de acordo com as necessidades
regionais. Sua composição co
doze indicadores, divididos em três
blocos: educação, renda e saúde. Esta
classificação demarca os níveis alto
(maior ou igual a 0,800), médio (entre
0,500 e 0,799) e baixo (abaixo de
0,499). Em 2016, o IDESE do RS
apresentou o nível médio (0,754);
en
quanto Paranhana e Hortênsias,
respectivamente, registraram 0,799 e
0,700 (ATLAS, 2020). É interessante
olhar para o índice alcançado pela
região do Paranhana, pois a mesma
quase atinge o patamar do nível alto.
O Produto Interno Bruto (PIB) e
o Valor Adici
onado Bruto (VAB) são
dois fatores que também auxiliam a
compreender o mercado das regiões.
Em 2017, por exemplo, o PIB gaúcho
atingiu R$ 423,1 bilhões, sendo que as
regiões do Paranhana e Hortênsias
obtiveram, cada uma, participação de
0,7% e 2,0% deste P
IB, estimando
valores entre R$ 2,9 e R$ 8,5 bilhões.
No mesmo ano, VAB do RS atingiu a
marca de R$ 366,9 bilhões, quando o
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
síntese com o objetivo de mensurar o
nível socioeconômico e acompanhar o
desenvolvimento dos municípios
gaúchos, fornece informações que
auxiliam a projetar políticas blicas
de acordo com as necessidades
regionais. Sua composição co
ntém
doze indicadores, divididos em três
blocos: educação, renda e saúde. Esta
classificação demarca os níveis alto
(maior ou igual a 0,800), médio (entre
0,500 e 0,799) e baixo (abaixo de
0,499). Em 2016, o IDESE do RS
apresentou o nível médio (0,754);
quanto Paranhana e Hortênsias,
respectivamente, registraram 0,799 e
0,700 (ATLAS, 2020). É interessante
olhar para o índice alcançado pela
região do Paranhana, pois a mesma
quase atinge o patamar do nível alto.
O Produto Interno Bruto (PIB) e
onado Bruto (VAB) são
dois fatores que também auxiliam a
compreender o mercado das regiões.
Em 2017, por exemplo, o PIB gaúcho
atingiu R$ 423,1 bilhões, sendo que as
regiões do Paranhana e Hortênsias
obtiveram, cada uma, participação de
IB, estimando
valores entre R$ 2,9 e R$ 8,5 bilhões.
No mesmo ano, VAB do RS atingiu a
marca de R$ 366,9 bilhões, quando o
Paranhana e Hortênsias auxiliaram
com 0,75% e 2%,respectivamente,
variando cada região entre R$ 2,75 e
7,3 bilhões (ATLAS, 2020).
Destaca-
se que cada as duas
regiões possuem uma tradição e
vínculo de imagem de negócios
distintos. No Paranhana, por exemplo,
a grande quantidade de indústrias
calçadistas torna-a
um polo
calçadista. Por sua vez, na região das
Hortênsias se destacam
produzem bens ou prestam serviços
no setor turístico, especialmente em
Gramado e Canela, localidades em
que a hotelaria, restaurantes, bares,
entretenimento e comércio (roupas,
calçados, chocolates etc.) atendem a
turistas o ano inteiro.
Por
fim, vale refletir sobre
informações publicadas no Portal da
Transparência
5
acerca da liberação do
pagamento da primeira parcela do
Auxílio Emergencial (AE) pelo Governo
Brasileiro no início da pandemia. Isto
porque, tal recurso serviu como apoio
para a sus
tentação básica das
famílias, mas também como incentivo
5
Disponível em:
http://www.portaldatransparencia.gov.br/downl
oad-de-dados/auxilio-
emergencial. Aceso em:
12 ago. 2020.
334
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
Paranhana e Hortênsias auxiliaram
com 0,75% e 2%,respectivamente,
variando cada região entre R$ 2,75 e
7,3 bilhões (ATLAS, 2020).
se que cada as duas
regiões possuem uma tradição e
vínculo de imagem de negócios
distintos. No Paranhana, por exemplo,
a grande quantidade de indústrias
um polo
coureiro-
calçadista. Por sua vez, na região das
Hortênsias se destacam
empresas que
produzem bens ou prestam serviços
no setor turístico, especialmente em
Gramado e Canela, localidades em
que a hotelaria, restaurantes, bares,
entretenimento e comércio (roupas,
calçados, chocolates etc.) atendem a
fim, vale refletir sobre
informações publicadas no Portal da
acerca da liberação do
pagamento da primeira parcela do
Auxílio Emergencial (AE) pelo Governo
Brasileiro no início da pandemia. Isto
porque, tal recurso serviu como apoio
tentação básica das
famílias, mas também como incentivo
http://www.portaldatransparencia.gov.br/downl
emergencial. Aceso em:
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
à movimentação das economias locais
(PAIVA; NASCIMENTO, 2020).
Olhando especificamente para a
região do Paranhana, que foi alvo da
pesquisa de Paiva e Moreira (2020),
verifica-
se que os índices de pre
do AE em relação ao Brasil e ao RS
ficam a desejar e, de fato, o mesmo
não surge como algo que traga
impacto para a circulação da economia
local, especialmente nas micro e
pequenas empresas do comércio e
serviço. As médias nacionais de
cobertura do A
E indicam que 25,66%
da população teve acesso à primeira
parcela (1 em cada 4brasileiros). Por
outro lado, este índice cai no RS, com
média de 17,8% (1 em cada 5,5
gaúchos). Por sua vez, Paiva e
Nascimento (2020, p.1)apontam que
na região do Paranhana “a d
acesso ao AE ficou abaixo da média
do Estado do RS e apenas 15,37%
dos domiciliados receberam o
Agência
Região
Participante 1
Paranhana/RS
Participante 2
Hortênsias/RS
Participante 3
Paranhana/RS
Participante 4
Paranhana/RS
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
à movimentação das economias locais
(PAIVA; NASCIMENTO, 2020).
Olhando especificamente para a
região do Paranhana, que foi alvo da
pesquisa de Paiva e Moreira (2020),
se que os índices de pre
sença
do AE em relação ao Brasil e ao RS
ficam a desejar e, de fato, o mesmo
não surge como algo que traga
impacto para a circulação da economia
local, especialmente nas micro e
pequenas empresas do comércio e
serviço. As médias nacionais de
E indicam que 25,66%
da população teve acesso à primeira
parcela (1 em cada 4brasileiros). Por
outro lado, este índice cai no RS, com
média de 17,8% (1 em cada 5,5
gaúchos). Por sua vez, Paiva e
Nascimento (2020, p.1)apontam que
na região do Paranhana “a d
emanda e
acesso ao AE ficou abaixo da média
do Estado do RS e apenas 15,37%
dos domiciliados receberam o
benefício”, o que é entendido como
uma a cada 6,5 pessoas. Isto tudo
indica uma situação delicada no
mercado na região e, claramente,
impacta as agênci
justamente, por ser um serviço
essencial.
3. Metodologia
Por ser uma investigação que
aborda transformações nas práticas de
gestão das agências de PP das
regiões do Paranhana e Hortênsias, no
período inicial do isolamento social do
Covid-19
(março a maio), foi
conduzida uma pesquisa exploratória
baseada em estudo de casos
múltiplos. Numa amostra de cinco
agências, representadas por seus
gestores,foram mapeadas e
analisadas percepções e ações
relacionadas às possíveis mudanças
em sua gestão du
rante a pandemia
(Tabela 1).
Tabela 1 – Perfil das agências
Região
N° de
funcionários
Tipo de Empresa
Paranhana/RS
21
Sociedade empresária limitada (Ltda)
Hortênsias/RS
7
Eireli
Paranhana/RS
10
Sociedade simples (SS)
Paranhana/RS
7
Sociedade empresária limitada (Ltda)
335
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
benefício”, o que é entendido como
uma a cada 6,5 pessoas. Isto tudo
indica uma situação delicada no
mercado na região e, claramente,
impacta as agênci
as de PP,
justamente, por ser um serviço
o-
Por ser uma investigação que
aborda transformações nas práticas de
gestão das agências de PP das
regiões do Paranhana e Hortênsias, no
período inicial do isolamento social do
(março a maio), foi
conduzida uma pesquisa exploratória
baseada em estudo de casos
múltiplos. Numa amostra de cinco
agências, representadas por seus
gestores,foram mapeadas e
analisadas percepções e ações
relacionadas às possíveis mudanças
rante a pandemia
Tipo de Empresa
Sociedade empresária limitada (Ltda)
Eireli
Sociedade simples (SS)
Sociedade empresária limitada (Ltda)
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Participante 5
Hortênsias/RS
Como cnica de coleta de
dados foi realizado um
focus group
com estas agências,
através de uma
videoconferência online
, no final de
maio de 2020. Na oportunidade foram
coletados dados qualitativos sobre
suas perspectivas de mercado, as
transformações na g
estão e as
possíveis novas demandas no fazer
publicidade. Durante a coleta os
pesquisadores realizaram
descritivas, no sentido de apontar
temas, tópicos e opiniões que
posteriori
foram fundamentais para o
exercício de
aproximação,
tensionamento
e, até mesmo,
atravessamento de assuntos para o
mapeamento de potenciais categorias
de análise.
Como técnica de análise foi
utilizada uma análise de conteúdo
deste recorte de percepções e ações
dos gestores. Tal exercício permitiu a
criação de categorias, subcategorias e
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
Hortênsias/RS
5
Empresa Individual
Fonte: desenvolvida pelos autores.
Como cnica de coleta de
focus group
através de uma
, no final de
maio de 2020. Na oportunidade foram
coletados dados qualitativos sobre
suas perspectivas de mercado, as
estão e as
possíveis novas demandas no fazer
publicidade. Durante a coleta os
anotações
descritivas, no sentido de apontar
temas, tópicos e opiniões que
a
foram fundamentais para o
aproximação,
e, até mesmo,
atravessamento de assuntos para o
mapeamento de potenciais categorias
Como técnica de análise foi
utilizada uma análise de conteúdo
deste recorte de percepções e ações
dos gestores. Tal exercício permitiu a
criação de categorias, subcategorias e
itens de análise (aproximados por
semelhança), consolidados numa
sugestão de map
eamento das práticas
de gestão das agências de PP das
regiões do Paranhana e Hortênsias no
início da pandemia (Apêndice 1).
4. Análise dos dados
Ao reunir os dados coletados
com as agências de PP foi possível
organizá-
los em três categorias
de alguma
forma, demonstram
atravessamento, no sentido de se
influenciarem num movimento entre
dimensões internas e externas (Figura
1). As categorias não estão isoladas,
justamente, porque algumas ações ou
percepções indicadas pelos
participantes do
di
recionam a outras e, por vezes, a
própria dualidade da sua essência
permite que estejam presentes em
mais categorias.
336
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
Empresa Individual
itens de análise (aproximados por
semelhança), consolidados numa
eamento das práticas
de gestão das agências de PP das
regiões do Paranhana e Hortênsias no
início da pandemia (Apêndice 1).
4. Análise dos dados
Ao reunir os dados coletados
com as agências de PP foi possível
los em três categorias
que,
forma, demonstram
atravessamento, no sentido de se
influenciarem num movimento entre
dimensões internas e externas (Figura
1). As categorias não estão isoladas,
justamente, porque algumas ações ou
percepções indicadas pelos
participantes do
focus group
recionam a outras e, por vezes, a
própria dualidade da sua essência
permite que estejam presentes em
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Figura 1
Organização das categorias e dimensões de análise
Dentro de cada categoria foram
mapeadas 14 subcategorias que,
efetivamente, representam os
assuntos abordados pelas agências de
PP e, com isso, indicam suas
transformações durante o período
inicial da pandemia.
Dentro destas
subcategorias existem itens de análise
que estão diretamente conectados aos
dados levantados durante a pesquisa
(insights
das falas dos participantes).
Assim, uma série de ações e
percepções da gestão mercadológica
(a rel
ação com clientes e mercado da
região), da gestão do negócio (postura
e ações dentro da agência) e das
novas demandas nas práticas
publicitárias (o fazer publicidade)
foram mapeadas e analisadas.
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
Organização das categorias e dimensões de análise
Fonte: desenvolvido pelos autores.
Dentro de cada categoria foram
mapeadas 14 subcategorias que,
efetivamente, representam os
assuntos abordados pelas agências de
PP e, com isso, indicam suas
transformações durante o período
Dentro destas
subcategorias existem itens de análise
que estão diretamente conectados aos
dados levantados durante a pesquisa
das falas dos participantes).
Assim, uma série de ações e
percepções da gestão mercadológica
ação com clientes e mercado da
região), da gestão do negócio (postura
e ações dentro da agência) e das
novas demandas nas práticas
publicitárias (o fazer publicidade)
foram mapeadas e analisadas.
4.1. Gestão Mercadológica
A primeira categoria foi
formata
da pelas indicações dos
gestores das agências
comportamentos do consumidor na
região, tendo em vista aspectos macro
e micro ambientais que atingiram os
negócios em todo Paranhana e
Hortênsias.
Dos relatos foi possível
configurar quatro subcateg
unidas deram origem a categoria
Gestão Mercadológica
subcategorias assemelham
tratarem de assuntos externos à
agência, mas que influenciam sua
gestão, uma vez que auxiliam o
entendimento de como o mercado em
que seus clientes atuam
337
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
Organização das categorias e dimensões de análise
4.1. Gestão Mercadológica
A primeira categoria foi
da pelas indicações dos
gestores das agências
sobre novos
comportamentos do consumidor na
região, tendo em vista aspectos macro
e micro ambientais que atingiram os
negócios em todo Paranhana e
Dos relatos foi possível
configurar quatro subcateg
orias que
unidas deram origem a categoria
Gestão Mercadológica
. Estas
subcategorias assemelham
-se por
tratarem de assuntos externos à
agência, mas que influenciam sua
gestão, uma vez que auxiliam o
entendimento de como o mercado em
que seus clientes atuam
foi afetado
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
pela pandemia. Ressalta-
se que nesta
categoria foram obtidos dados mais
ligados à percepção dos gestores, e
não tanto às ações perante a crise.
Contudo, diagnosticou-
se que esta
leitura de mercado é uma etapa
imperativa para as agências
compree
nderem o cenário atual antes
de tomar qualquer decisão estratégica.
As subcategorias mapeadas foram:
Entrada e saída de clientes; 1.2
Oportunidades e ameaças na crise;
1.3 Questões socioculturais e político
legais e
1.4 Clientes com capacidade
de reação à crise
(detalhes deste
exercício no Apêndice 2).
Ao aprofundar a análise
compreendeu-
se que, na primeira
subcategoria,houve um equilíbrio na
relação perda e ganho de clientes (
Entrada e saída de clientes
da região ser conhecida por abrigar
indústrias calçadistas, o aumento de
novos clientes não veio deste
segmento. O Participante 2, por
exemplo, comentou que os setores de
serviço e comércio representaram o
maior aumento de clientes, sugerindo
que muitos buscam orientações para
se posicionar
em ambientes digitais
(falaremos mais sobre essa demanda
na categoria 3). Os participantes 2, 3 e
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
se que nesta
categoria foram obtidos dados mais
ligados à percepção dos gestores, e
não tanto às ações perante a crise.
se que esta
leitura de mercado é uma etapa
imperativa para as agências
nderem o cenário atual antes
de tomar qualquer decisão estratégica.
As subcategorias mapeadas foram:
1.1
Entrada e saída de clientes; 1.2
Oportunidades e ameaças na crise;
1.3 Questões socioculturais e político
-
1.4 Clientes com capacidade
(detalhes deste
Ao aprofundar a análise
se que, na primeira
subcategoria,houve um equilíbrio na
relação perda e ganho de clientes (
1.1.
Entrada e saída de clientes
). Apesar
da região ser conhecida por abrigar
indústrias calçadistas, o aumento de
novos clientes não veio deste
segmento. O Participante 2, por
exemplo, comentou que os setores de
serviço e comércio representaram o
maior aumento de clientes, sugerindo
que muitos buscam orientações para
em ambientes digitais
(falaremos mais sobre essa demanda
na categoria 3). Os participantes 2, 3 e
5declararam que meses não
atendem o setor calçadista, pois este
tipo de cliente normalmente opta por
contratar agências com maior estrutura
de pessoas e a
tuação em nível
nacional, normalmente de Porto Alegre
ou São Paulo. A exceção foi apontada
pelo Participante 1,
pela primeira vez atende a uma marca
de calçados femininos, antes atendida
por uma agência da capital gaúcha.
proximidade, cu
stos e até mesmo
necessidade de repensar ações de
comunicação desta calçadista, talvez
tenham sido fatores decisivos para
optar por uma agência de publicidade
local
”, declarou. Contudo, também foi
unânime a opinião de que a evasão de
clientes foi significa
tiva entre pequenas
e médias empresas
(independentemente do setor). Isto vai
ao encontro dos dados
socioeconômico das regiões do
Paranhana e Hortênsias e, até mesmo,
remontam a um efeito da tímida
distribuição do AE para
locais (PAIVA; NASCIMENTO,
A segunda subcategoria foi
relacionada
às oportunidades e
ameaças identificadas pelas agências
(
1.2. Oportunidades e ameaças na
crise
). Nos meses iniciais da
338
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
5declararam que meses não
atendem o setor calçadista, pois este
tipo de cliente normalmente opta por
contratar agências com maior estrutura
tuação em nível
nacional, normalmente de Porto Alegre
ou São Paulo. A exceção foi apontada
ao informar que
pela primeira vez atende a uma marca
de calçados femininos, antes atendida
por uma agência da capital gaúcha.
A
stos e até mesmo
necessidade de repensar ações de
comunicação desta calçadista, talvez
tenham sido fatores decisivos para
optar por uma agência de publicidade
”, declarou. Contudo, também foi
unânime a opinião de que a evasão de
tiva entre pequenas
e médias empresas
(independentemente do setor). Isto vai
ao encontro dos dados
socioeconômico das regiões do
Paranhana e Hortênsias e, até mesmo,
remontam a um efeito da tímida
distribuição do AE para
empresas
locais (PAIVA; NASCIMENTO,
2020).
A segunda subcategoria foi
às oportunidades e
ameaças identificadas pelas agências
1.2. Oportunidades e ameaças na
). Nos meses iniciais da
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
pandemia, a oportunidade de
transformação digital dos negócios foi
alvo de discussão com a
dos clientes. O Participante 3 indicou
que empresassem presença digital
pediram para acelerar o processo,
devido a necessidade de
sobrevivência
das mesmas. O
Participante 5 afirmou que a crise da
pandemia abriu novos nichos que,
provavelmente,
sequer tinham em
mente a contratação de serviços
publicitários (KOTLER; KARTAJAYA;
SETIAWAN, 2017). Neste sentido,
novos clientes
procuraram sua agência
com o objetivo de se adaptar às novas
necessidades da região no que se
refere à atuação em plataformas
online.
É curioso que, ao mesmo tempo
que as empresas de pequeno e médio
porte representaram a maior evasão
de clientes, a consultoria e o pedido de
orçamentos por estas empresas
aumentaram.
Neste ponto ressalta
todos entrevistados comentaram ter
ide
ntificado oportunidades
fortalecimento de ações de
comunicação das marcas. Isto é, em
conversas com seus clientes,
verificaram a necessidade de utilizar
canais de comunicação
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
pandemia, a oportunidade de
transformação digital dos negócios foi
alvo de discussão com a
totalidade
dos clientes. O Participante 3 indicou
que empresassem presença digital
pediram para acelerar o processo,
devido a necessidade de
das mesmas. O
Participante 5 afirmou que a crise da
pandemia abriu novos nichos que,
sequer tinham em
mente a contratação de serviços
publicitários (KOTLER; KARTAJAYA;
SETIAWAN, 2017). Neste sentido,
procuraram sua agência
com o objetivo de se adaptar às novas
necessidades da região no que se
refere à atuação em plataformas
É curioso que, ao mesmo tempo
que as empresas de pequeno e médio
porte representaram a maior evasão
de clientes, a consultoria e o pedido de
orçamentos por estas empresas
Neste ponto ressalta
-se que
todos entrevistados comentaram ter
ntificado oportunidades
quanto ao
fortalecimento de ações de
comunicação das marcas. Isto é, em
conversas com seus clientes,
verificaram a necessidade de utilizar
canais de comunicação
online com
maior intensidade, mas não
exclusivamente para ações de vend
e sim para estreitar laços e fomentar a
ideia de que a empresa está tomando
medidas de prevenção à pandemia.
Mesmo concordando com os demais
players
do mercado publicitário
regional, o Participante 1 indicou uma
prática de cliente que se configura
como
uma das tendências sugeridas
por Sneader e Singhal (2020),
este procurou a agência para
pontualmente
vender artigos
esportivos para uso doméstico através
de canais de e-
commerce.
Sobre ameaças no mercado
regional, todos demonstraram
receosos com c
ortes em comunicação,
por ser tradicionalmente uma das
primeiras áreas a sentirem a redução
de verbas das organizações.
Participantes 1 e 3
preocupações com a falta de dinheiro
circulando na região no curto prazo
(até o final de 2020). Contudo, a
pareceram dúbias
acerca de ameaças, talvez por ser o
início da pandemia. A única evidência
que deve ser registrada foi a angústia
com as incertezas do mercado e da
economia local. Em Gramado e
Canela, por exemplo, a queda no
339
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
maior intensidade, mas não
exclusivamente para ações de vend
as,
e sim para estreitar laços e fomentar a
ideia de que a empresa está tomando
medidas de prevenção à pandemia.
Mesmo concordando com os demais
do mercado publicitário
regional, o Participante 1 indicou uma
prática de cliente que se configura
uma das tendências sugeridas
por Sneader e Singhal (2020),
pois
este procurou a agência para
vender artigos
esportivos para uso doméstico através
commerce.
Sobre ameaças no mercado
regional, todos demonstraram
-se
ortes em comunicação,
por ser tradicionalmente uma das
primeiras áreas a sentirem a redução
de verbas das organizações.
Participantes 1 e 3
indicaram
preocupações com a falta de dinheiro
circulando na região no curto prazo
(até o final de 2020). Contudo, a
inda
suas reflexões
acerca de ameaças, talvez por ser o
início da pandemia. A única evidência
que deve ser registrada foi a angústia
com as incertezas do mercado e da
economia local. Em Gramado e
Canela, por exemplo, a queda no
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
turismo foi
ressaltada, especialmente
pelos Participantes 2 e 5, sediados
neste território. Isto faz recordar
declarações de Morais (2020) ou De
Cicco (2020), sobre a anormalidade do
momento não permitir a aplicação de
uma visão estável, mas que ao mesmo
tempo, parad
oxalmente, não pode ser
encarada como entrave, pois as
agências precisam tomar decisões
rápidas com base nos aspectos
socioculturais e político-
legais durante
a pandemia.
Na terceira subcategoria
perceberam-
se indicações de aspectos
sociais, culturais e po
lítico
foram alterados na pandemia e, com
isso, afetaram o comportamento do
mercado, a mobilidade dos
funcionários e a condução de reuniões
(
1.3 Questões socioculturais e político
legais
). Pelo fato de atenderem a
empresas de diversas cidades no
Paranhana e Hortênsias, as agências
pontuaram que a obrigação do
distanciamento social fez com que
clientes que o aceitavam realizar
reuniões por telefone ou
videoconferência passassem a
experimentar tal prática. Essa
alteração é vista com bons olhos pe
agências, pois permitem uma
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
ressaltada, especialmente
pelos Participantes 2 e 5, sediados
neste território. Isto faz recordar
declarações de Morais (2020) ou De
Cicco (2020), sobre a anormalidade do
momento não permitir a aplicação de
uma visão estável, mas que ao mesmo
oxalmente, não pode ser
encarada como entrave, pois as
agências precisam tomar decisões
rápidas com base nos aspectos
legais durante
Na terceira subcategoria
se indicações de aspectos
lítico
-legais que
foram alterados na pandemia e, com
isso, afetaram o comportamento do
mercado, a mobilidade dos
funcionários e a condução de reuniões
1.3 Questões socioculturais e político
-
). Pelo fato de atenderem a
empresas de diversas cidades no
Paranhana e Hortênsias, as agências
pontuaram que a obrigação do
distanciamento social fez com que
clientes que o aceitavam realizar
reuniões por telefone ou
videoconferência passassem a
experimentar tal prática. Essa
alteração é vista com bons olhos pe
las
agências, pois permitem uma
otimização do tempo. Os Participante
1 e 4 argumentam que esta otimização
de tempo, inclusive, está sendo
direcionada para questões de gestão
estratégica da própria agência.Dito
isto, entende-
se que o conceito de
aceleração
de processos da
organização, à semelhança do que
acontece com
startups
fazer parte das rotinas de gestão
mercadológica destas agências
(SNEADER; STERNELS, 2020).
Ainda, sobre a mobilidade local, o
Participante 3 afirmou que seus
colaboradores
evitam
pelos seguintes fatores: medo de
pegar o vírus, restrições nos
transportes públicos ou
acessos às ruas centrais do município.
Por fim, a quarta subcategoria
indica um comportamento
empreendedor e, até mesmo de
esclarecimen
to estratégico dos
clientes (
1.4 Clientes com capacidade
de reação à crise
). O Participante 2
indicou que “clientes que têm em
mente de forma clara o seu
posicionamento no mercado estão
reagindo melhor e mais rápido à crise”.
Relembrando o pensamento de
co
nstante e infindável prática de
acompanhamento das tendências
340
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
otimização do tempo. Os Participante
1 e 4 argumentam que esta otimização
de tempo, inclusive, está sendo
direcionada para questões de gestão
estratégica da própria agência.Dito
se que o conceito de
de processos da
organização, à semelhança do que
startups
, começou a
fazer parte das rotinas de gestão
mercadológica destas agências
(SNEADER; STERNELS, 2020).
Ainda, sobre a mobilidade local, o
Participante 3 afirmou que seus
evitam
ir à agência
pelos seguintes fatores: medo de
pegar o vírus, restrições nos
transportes públicos ou
bloqueios de
acessos às ruas centrais do município.
Por fim, a quarta subcategoria
indica um comportamento
empreendedor e, até mesmo de
to estratégico dos
1.4 Clientes com capacidade
). O Participante 2
indicou que “clientes que têm em
mente de forma clara o seu
posicionamento no mercado estão
reagindo melhor e mais rápido à crise”.
Relembrando o pensamento de
nstante e infindável prática de
acompanhamento das tendências
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
externas destacadas por Kaplan e
Norton (1997), esta afirmação foi
corroborada pelos demais gestores ao
concordarem que empresas que
fizeram uma análise rápida do cenário
(macroambiente) e, a
mesmo,uma
revisão do planejamento de forma
dinâmica (microambiente e visão
interna), chegaram na agência com
ideias lidas e claras de como fazer
comunicação durante a pandemia
(EMMANUELLI et al
., 2020).
4.2 Gestão do Negócio em
Publicidade e Propaganda
A segunda categoria destacou
se por resultar do agrupamento de
sete subcategorias sobre as ações das
agências de PP que indicaram
aspectos de sua postura e prática na
gestão do negócio. As
subcategorias
mapeadas foram:
2.1 Entrada e saída
de clientes; 2.2
Gestão de Recursos
Humanos; 2.3 Negociação de
contratos e pagamentos; 2.4
Inteligência e recursos financeiros; 2.5
Oferta de novos serviços e
prospecção; 2.6 Relacionamento com
cliente; e
2.7 Gestão dos processos
Alguns atravessamentos de assuntos
inic
iados na categoria anterior foram
novamente levantados nesta
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
externas destacadas por Kaplan e
Norton (1997), esta afirmação foi
corroborada pelos demais gestores ao
concordarem que empresas que
fizeram uma análise rápida do cenário
mesmo,uma
revisão do planejamento de forma
dinâmica (microambiente e visão
interna), chegaram na agência com
ideias lidas e claras de como fazer
comunicação durante a pandemia
., 2020).
4.2 Gestão do Negócio em
Publicidade e Propaganda
A segunda categoria destacou
-
se por resultar do agrupamento de
sete subcategorias sobre as ações das
agências de PP que indicaram
aspectos de sua postura e prática na
subcategorias
2.1 Entrada e saída
Gestão de Recursos
Humanos; 2.3 Negociação de
contratos e pagamentos; 2.4
Inteligência e recursos financeiros; 2.5
Oferta de novos serviços e
prospecção; 2.6 Relacionamento com
2.7 Gestão dos processos
.
Alguns atravessamentos de assuntos
iados na categoria anterior foram
novamente levantados nesta
categoria, simplesmente, porque o seu
entendimento mercadológico influencia
a tomada de decisões internas
(Apêndice 2).
Verificou-
se que a entrada e
saída de clientes voltou a
aparecer.Agora com
gestão do negócio,pois os gestores
indicaram ser algo que afeta os
processos internos da agência
(organizações de equipes,demissões,
renegociação de contratos etc.).
Assim, esta subcategoria também
atravessa as subcategorias
2.7, jus
tamente, porque muitas
alterações na pasta de clientes
exigiram das agências uma acelerada
reorganização estrutural e processual.
A entrada e saída de clientes
também forçou uma reorganização
financeira e de processos dentro das
agências.Todos os participa
pesquisa indicaram que, diferente de
outros momentos, especialmente a
entrada de novos clientes está
exigindo um maior pensamento de
gestão estratégica, devido aos
internos de realocação de
funcionários, formas de atendimento
ao cliente e v
erificação de custos na
produção versus cobrança do serviço
publicitário, uma vez que muitas
341
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
categoria, simplesmente, porque o seu
entendimento mercadológico influencia
a tomada de decisões internas
se que a entrada e
saída de clientes voltou a
aparecer.Agora com
um viés para
gestão do negócio,pois os gestores
indicaram ser algo que afeta os
processos internos da agência
(organizações de equipes,demissões,
renegociação de contratos etc.).
Assim, esta subcategoria também
atravessa as subcategorias
2.3, 2.6 e
tamente, porque muitas
alterações na pasta de clientes
exigiram das agências uma acelerada
reorganização estrutural e processual.
A entrada e saída de clientes
também forçou uma reorganização
financeira e de processos dentro das
agências.Todos os participa
ntes da
pesquisa indicaram que, diferente de
outros momentos, especialmente a
entrada de novos clientes está
exigindo um maior pensamento de
gestão estratégica, devido aos
fatores
internos de realocação de
funcionários, formas de atendimento
erificação de custos na
produção versus cobrança do serviço
publicitário, uma vez que muitas
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
empresas de ambas as regiões
diminuíram significativamente seu
faturamento nos meses de abril e
maio. O Participante 3 comentou que
nos primeiros meses da pandemia
foi obrigado a entrar numa negociação
de contratos e pagamentos com os
clientes, pois quase totalidade solicitou
algum tipo de desconto. Por sua vez, o
Participante 5 indicou que ao invés de
dar descontos, optou pela estratégia
de entregar mais serviço
clientes (sem haver acréscimo no valor
do contrato). “
Fizemos uma série de
negociações para manter os valores
dos contratos, mas aumentamos as
entregas de serviços, especialmente
conteúdo para redes sociais online
comenta. Com opiniões dividida
relação ao aumento na entrega de
serviços de publicidade sem haver um
real retorno financeiro, os Participantes
3 e 4 concordaram que provavelmente
tomariam medidas semelhantes no
próximos meses, enquanto que os
Participantes 1 e 2 indicaram um
sentid
o contrário ao argumentar que
preferem estabelecer
acordos de
descontos temporários nos meses
iniciais da pandemia, mas não
definitivamente, além de flexibilizar a
forma de pagamento com parcelas
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
empresas de ambas as regiões
diminuíram significativamente seu
faturamento nos meses de abril e
maio. O Participante 3 comentou que
nos primeiros meses da pandemia
foi obrigado a entrar numa negociação
de contratos e pagamentos com os
clientes, pois quase totalidade solicitou
algum tipo de desconto. Por sua vez, o
Participante 5 indicou que ao invés de
dar descontos, optou pela estratégia
de entregar mais serviço
s para os
clientes (sem haver acréscimo no valor
Fizemos uma série de
negociações para manter os valores
dos contratos, mas aumentamos as
entregas de serviços, especialmente
conteúdo para redes sociais online
”,
comenta. Com opiniões dividida
s em
relação ao aumento na entrega de
serviços de publicidade sem haver um
real retorno financeiro, os Participantes
3 e 4 concordaram que provavelmente
tomariam medidas semelhantes no
próximos meses, enquanto que os
Participantes 1 e 2 indicaram um
o contrário ao argumentar que
acordos de
descontos temporários nos meses
iniciais da pandemia, mas não
definitivamente, além de flexibilizar a
forma de pagamento com parcelas
no
cartão de crédito
e, em alguns casos,
estender prazos de
120 a 150 dias.
delicado e exige um exercício de
empatia entre agência e clientes. É
importante estabelecer compromissos,
especialmente financeiros, pois é
fundamental que isto seja recíproco
explicou o Participante 2.
Ainda s
obre o impacto da
entrada e saída de cliente na gestão
financeira (subcategoria 2.3), no
relacionamento (subcategoria 2.6) e
nos processos internos (subcategoria
2.7) foram identificadas mudanças no
foco dos processos de gestão. Todos
os participantes diss
tinham dado tanta atenção para a
inteligência financeira(subcategoria
2.4) e que, a partir deste olhar,
passaram a tomar decisões rápidas
para enfrentar a crise (SNEADER;
STERNELS, 2020). Por exemplo, o
Participante 3 indicou que a maior
mud
ança nos processos internos foi a
criação de protocolos de comunicação
online
entre times (administrativo,
criação etc.), a fim de acelerar
processos através de equipes enxutas,
com menos envolvidos e poucas
intervenções do gestor da agência.
Isto é, a agê
ncia passou a delegar
342
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
e, em alguns casos,
estender prazos de
pagamento para
120 a 150 dias.
O momento é
delicado e exige um exercício de
empatia entre agência e clientes. É
importante estabelecer compromissos,
especialmente financeiros, pois é
fundamental que isto seja recíproco
”,
explicou o Participante 2.
obre o impacto da
entrada e saída de cliente na gestão
financeira (subcategoria 2.3), no
relacionamento (subcategoria 2.6) e
nos processos internos (subcategoria
2.7) foram identificadas mudanças no
foco dos processos de gestão. Todos
os participantes diss
eram que nunca
tinham dado tanta atenção para a
inteligência financeira(subcategoria
2.4) e que, a partir deste olhar,
passaram a tomar decisões rápidas
para enfrentar a crise (SNEADER;
STERNELS, 2020). Por exemplo, o
Participante 3 indicou que a maior
ança nos processos internos foi a
criação de protocolos de comunicação
entre times (administrativo,
criação etc.), a fim de acelerar
processos através de equipes enxutas,
com menos envolvidos e poucas
intervenções do gestor da agência.
ncia passou a delegar
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
mais funções aos funcionários,
descentralizando algumas tomadas de
decisões estratégicas da sua diretora,
no sentido de acelerar entregas para
clientes ou o andamento na criação de
conteúdo. O Participante 2 alegou que
a agência passo
u a cobrar mais o
pensamento estratégico dos
funcionários, o que faz recordar
recomendações de Emmanuelli et al.
(2020) e Sneader e Sternels (2020), no
sentido tornar ágeis e fluidos
processos da organização em tempos
de crise.
A necessidade de al
aspectos da cultura organizacional foi
levantada pelo Participante 1.
Segundo ele, para potencializar
processos dentro deste modelo de
gestão do negócio à distância foi
preciso flexibilizar horários, locais de
trabalho e até mesmo de abertura de
diál
ogo entre todos de uma forma
horizontal, incentivando as pessoas a
encontrarem melhores soluções para a
gestão dos processos internos. De
acordo com Florida (2011),
potencializar e valorizar o capital
humano dentro das organizações que
se enquadram na indú
stria criativa é
fundamental para que a empresa flua
e produza serviços ou produtos de
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
mais funções aos funcionários,
descentralizando algumas tomadas de
decisões estratégicas da sua diretora,
no sentido de acelerar entregas para
clientes ou o andamento na criação de
conteúdo. O Participante 2 alegou que
u a cobrar mais o
pensamento estratégico dos
funcionários, o que faz recordar
recomendações de Emmanuelli et al.
(2020) e Sneader e Sternels (2020), no
sentido tornar ágeis e fluidos
todos os
processos da organização em tempos
A necessidade de al
terar
aspectos da cultura organizacional foi
levantada pelo Participante 1.
Segundo ele, para potencializar
processos dentro deste modelo de
gestão do negócio à distância foi
preciso flexibilizar horários, locais de
trabalho e até mesmo de abertura de
ogo entre todos de uma forma
horizontal, incentivando as pessoas a
encontrarem melhores soluções para a
gestão dos processos internos. De
acordo com Florida (2011),
potencializar e valorizar o capital
humano dentro das organizações que
stria criativa é
fundamental para que a empresa flua
e produza serviços ou produtos de
qualidade. Em contraponto, os
Participantes 3 e 4 indicaram
dificuldades na gestão de pessoas à
distância, explicando que
mais do que quatro pessoas
difíceis de gerenciar. A partir deste
apontamento, os Participantes 1, 3 e 4
indicaram que, assim que possível,
querem retornar ao modelo presencial
sem abrir a opção do
outro lado, quando questionados sobre
a gestão do relacionamento
clientes, todos indicaram estar se
adaptando ao modelo remoto e
afirmaram que as reuniões
duas a três pessoas estão funcionando
bem, além de trazer alguns benefícios
que foram apontados na categoria
anterior (subcategoria 1.3)
ge
stão de informação do negócio, os
Participantes 1 e 2 explicaram que,
nestes meses iniciais da pandemia,
estão produzindo mais relatórios
(quinzenais ou mensais) para
evidenciar entregas e resultados
alcançados com campanhas, ações e
postagens em mídias so
tentativa de mensurar dados que
incentivem os clientes a manter
investimentos em comunicação.
Estas reflexões levam à
subcategoria
2.5 Oferta de novos
343
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
qualidade. Em contraponto, os
Participantes 3 e 4 indicaram
enfrentar
dificuldades na gestão de pessoas à
distância, explicando que
lives com
mais do que quatro pessoas
são
difíceis de gerenciar. A partir deste
apontamento, os Participantes 1, 3 e 4
indicaram que, assim que possível,
querem retornar ao modelo presencial
sem abrir a opção do
home office. Por
outro lado, quando questionados sobre
a gestão do relacionamento
com
clientes, todos indicaram estar se
adaptando ao modelo remoto e
afirmaram que as reuniões
online com
duas a três pessoas estão funcionando
bem, além de trazer alguns benefícios
que foram apontados na categoria
anterior (subcategoria 1.3)
. Sobre a
stão de informação do negócio, os
Participantes 1 e 2 explicaram que,
nestes meses iniciais da pandemia,
estão produzindo mais relatórios
(quinzenais ou mensais) para
evidenciar entregas e resultados
alcançados com campanhas, ações e
postagens em mídias so
ciais, numa
tentativa de mensurar dados que
incentivem os clientes a manter
investimentos em comunicação.
Estas reflexões levam à
2.5 Oferta de novos
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
serviços e prospecção de clientes
qual levantaram-
se dados sobre a
forma como a agência
administrando a possibilidade de
conquistar novas contas ou,
simplesmente, a partir do
relacionamento com clientes atuais
oferecer novos serviços. O
Participante 1 foi o primeiro a explicar
que, apesar de apresentar
mensuração quinzenal dos resultados
de comunicação aos clientes, preferiu
evitar a oferta de novos serviços,
deixando que este tipo de iniciativa
venha dos próprios clientes, pois
considera que num momento
fragilidade econômica é mais
importante fortalecer relacionamentos
do que buscar novo
s. Com uma visão
contrária, o Participante 5 afirmou que
o momento é propício para aumentar a
cartela de serviços, alegando que
devido a diminuição na demanda de
produtos criativos dentro da sua
agência, optou por alargar o campo de
atuação dos funcionário
s, assumindo
uma postura mais agressiva no
relacionamento com clientes. Ou seja,
esta agência acredita que estão
surgindo novas oportunidades e
demandas (especialmente na
consultoria de estratégia de
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
serviços e prospecção de clientes
, na
se dados sobre a
forma como a agência
está
administrando a possibilidade de
conquistar novas contas ou,
simplesmente, a partir do
relacionamento com clientes atuais
oferecer novos serviços. O
Participante 1 foi o primeiro a explicar
que, apesar de apresentar
mensuração quinzenal dos resultados
de comunicação aos clientes, preferiu
evitar a oferta de novos serviços,
deixando que este tipo de iniciativa
venha dos próprios clientes, pois
considera que num momento
fragilidade econômica é mais
importante fortalecer relacionamentos
s. Com uma visão
contrária, o Participante 5 afirmou que
o momento é propício para aumentar a
cartela de serviços, alegando que
devido a diminuição na demanda de
produtos criativos dentro da sua
agência, optou por alargar o campo de
s, assumindo
uma postura mais agressiva no
relacionamento com clientes. Ou seja,
esta agência acredita que estão
surgindo novas oportunidades e
demandas (especialmente na
consultoria de estratégia de
comunicação online
), que se não
forem abraçadas por ela,
concorrente abraçará. Sem deixar uma
clara
visão sobre este tópico, os
Participantes 2, 3 e 4 pareceram estar
mais inclinados para o pensamento do
Participante 5. Aqui ficou evidente uma
diferença de postura do Participante 1
em relação aos demais.
ambiguidade na gestão do
relacionamento com cliente
(subcategoria 2.6) e na oferta de
novos serviços ou prospecção de
clientes (subcategoria 2.5) esteja
relacionada à própria dimensão e lugar
que estas agências ocupam no
mercado, em que o Parti
surge como uma agência robusta, no
sentido de ter maior estrutura e
colaboradores que as demais (mais
que o dobro da segunda agência com
maior número de funcionários neste
estudo) e, também, ter uma ampla
conta de clientes que se estendem em
todo
Estado do RS e demais regiões
do Brasil.
Tais apontamentos influen
ciaram a elaboração da subcategoria
2.2 Gestão dos Recursos Humanos.
Ela foi composta por dois picos
a)
salário e carga horária do
funcionário; b) treinamento para
344
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
), que se não
forem abraçadas por ela,
outro
concorrente abraçará. Sem deixar uma
visão sobre este tópico, os
Participantes 2, 3 e 4 pareceram estar
mais inclinados para o pensamento do
Participante 5. Aqui ficou evidente uma
diferença de postura do Participante 1
em relação aos demais.
Talvez esta
ambiguidade na gestão do
relacionamento com cliente
(subcategoria 2.6) e na oferta de
novos serviços ou prospecção de
clientes (subcategoria 2.5) esteja
relacionada à própria dimensão e lugar
que estas agências ocupam no
mercado, em que o Parti
cipante 1
surge como uma agência robusta, no
sentido de ter maior estrutura e
colaboradores que as demais (mais
que o dobro da segunda agência com
maior número de funcionários neste
estudo) e, também, ter uma ampla
conta de clientes que se estendem em
Estado do RS e demais regiões
Tais apontamentos influen
-
ciaram a elaboração da subcategoria
2.2 Gestão dos Recursos Humanos.
Ela foi composta por dois picos
:
salário e carga horária do
funcionário; b) treinamento para
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
desenvolver
habilidades e
competências da equipe. Os
participantes 2, 3, 4 e 5 deixaram claro
que neste primeiro momento da crise
não tinham intenções de demitir
funcionários. Mesmo trabalhando a
partir de casa, alegaram que toda
equipe estava alinhada com projetos a
serem entregues para os clientes, e
que optaram por diminuir o
encaminhamento de serviços para
terceiros, a fim de direcionar esta
demanda aos funcionários. Com visão
diferente, o Participante 1 comentou
que está gerenciando o negócio de
forma a não sobrec
arregar os
funcionários. Devido à diminuição de
serviços nos meses de abril e maio, a
agência optou por negociar férias
antecipadas, redução de carga horária
e salários conforme regras estipuladas
pelos Governo Estadual e Federal e,
em último caso, demissõ
es.
Por fim, a subcategoria
Inteligência e recursos financeiros
revelou que todas as agências estão
passando por uma adequação
financeira, a fim de cortar gastos
internos. Este exercício mostrou
necessário após a análise de caixa,
em que a relação t
empo de crise
(mesmo que indefinida) versus a
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
habilidades e
competências da equipe. Os
participantes 2, 3, 4 e 5 deixaram claro
que neste primeiro momento da crise
não tinham intenções de demitir
funcionários. Mesmo trabalhando a
partir de casa, alegaram que toda
equipe estava alinhada com projetos a
serem entregues para os clientes, e
que optaram por diminuir o
encaminhamento de serviços para
terceiros, a fim de direcionar esta
demanda aos funcionários. Com visão
diferente, o Participante 1 comentou
que está gerenciando o negócio de
arregar os
funcionários. Devido à diminuição de
serviços nos meses de abril e maio, a
agência optou por negociar férias
antecipadas, redução de carga horária
e salários conforme regras estipuladas
pelos Governo Estadual e Federal e,
es.
Por fim, a subcategoria
2.4
Inteligência e recursos financeiros
revelou que todas as agências estão
passando por uma adequação
financeira, a fim de cortar gastos
internos. Este exercício mostrou
-se
necessário após a análise de caixa,
empo de crise
(mesmo que indefinida) versus a
saúde financeira da agência só teria
continuidade garantida até o final de
2020. Entretanto, mesmo após esta
constatação entre todos os
apenas o Participante 1 indicou ter
ido em busca de recursos
através de financiamentos e linhas de
crédito do Governo.
4.3 Novas demandas das práticas
de publicidade e propaganda
A terceira categoria diz respeito
às novas demandas nas práticas de
PP, pois além das transformações na
gestão do negócio, no período da
pandemia também foram verificadas
mudanças no fazer publicidade nos
territórios observados. Destacaram
relatos sobre
o aumento de trabalhos
para plataformas
online
comunicação estratégica. A análise do
conteúdo permitiu a configuração de
três subcategorias:
3.1 Demanda de
serviços online/digital para novos e
antigos clientes, 3.2 Demanda de
serviços para clie
ntes (antigos)
Mudanças nos serviços publicitários
(Apêndice 2).
A primeira subcategoria aborda
a demanda de serviços para
ambientes online
, englobando serviços
para novos e antigos clientes (
345
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
saúde financeira da agência só teria
continuidade garantida até o final de
2020. Entretanto, mesmo após esta
constatação entre todos os
gestores,
apenas o Participante 1 indicou ter
ido em busca de recursos
financeiros
através de financiamentos e linhas de
4.3 Novas demandas das práticas
de publicidade e propaganda
A terceira categoria diz respeito
às novas demandas nas práticas de
PP, pois além das transformações na
gestão do negócio, no período da
pandemia também foram verificadas
mudanças no fazer publicidade nos
territórios observados. Destacaram
-se
o aumento de trabalhos
online
e ações de
comunicação estratégica. A análise do
conteúdo permitiu a configuração de
3.1 Demanda de
serviços online/digital para novos e
antigos clientes, 3.2 Demanda de
ntes (antigos)
e 3.3
Mudanças nos serviços publicitários
A primeira subcategoria aborda
a demanda de serviços para
, englobando serviços
para novos e antigos clientes (
3.1
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Demanda de serviços online/digital
para novos e antigo
s clientes)
ponto de partida foi a necessidade das
empresas locais buscarem uma
presença digital mais robusta e ativa
junto à população local (EMMANUELLI
et al.,
2020). As agências confirmaram
um aumento no volume de serviços
digitais para clientes qu
e já atuavam
em mídias sociais ou tinham seus
próprios sites, destacando o foco do
discurso destas mensagens para a
informação e o relacionamento.
entre os clientes que não tinham
qualquer presença digital foi percebida
uma urgência de construção de
pos
icionamento da marca, o que
envolveu serviços
voltados à
elaboração de estratégias de
comunicação(planejamento, alocação
de verbas em mídia programática etc.).
O Participante 2 indicou que sequer
tomou iniciativa de ir aos clientes para
indicar uma necessi
dade de migração
digital, pois
muitos deles abriram
diálogo sobre caminhos de atuação
nestes canais, incluindo aqueles que
eram resistentes à construção de uma
presença digital. Relembrando
conceitos explanados por Emmanuelli
et al.
(2020), a mudança do
co
mportamento de empresários locais
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
Demanda de serviços online/digital
s clientes)
. Seu
ponto de partida foi a necessidade das
empresas locais buscarem uma
presença digital mais robusta e ativa
junto à população local (EMMANUELLI
2020). As agências confirmaram
um aumento no volume de serviços
e já atuavam
em mídias sociais ou tinham seus
próprios sites, destacando o foco do
discurso destas mensagens para a
informação e o relacionamento.
entre os clientes que não tinham
qualquer presença digital foi percebida
uma urgência de construção de
icionamento da marca, o que
voltados à
elaboração de estratégias de
comunicação(planejamento, alocação
de verbas em mídia programática etc.).
O Participante 2 indicou que sequer
tomou iniciativa de ir aos clientes para
dade de migração
muitos deles abriram
diálogo sobre caminhos de atuação
nestes canais, incluindo aqueles que
eram resistentes à construção de uma
presença digital. Relembrando
conceitos explanados por Emmanuelli
(2020), a mudança do
mportamento de empresários locais
foi viável devido à aceleração de
uma tendência: o uso das plataformas
digitais. Outra coisa que veio à tona foi
que as empresas de ambas as
sempre tiveram um olhar local e, por
causa disto, a inexistência de
presença digital não fora problema até
então. Porém, diante das
reconfigurações sociais e
mercadológicas com o isolamento
social, a busca por
consumidor via plataformas digitais se
tornou relevante até mesmo para a
ação local ou regional
Vale ressaltar que as agências
relataram que, mesmo com a
demanda de novos trabalhos digitais,
os pedidos para desenvolvimento de
conteúdo publicitário em redes sociais
online mantiveram-
se. Ou seja, apesar
do diálogo com clientes sobre as
possibilidades
de aumentar
ações online
ter crescido, na prática
isto não sofreu significativa alteração
(nem para mais e nem para menos).
Para o Participante 2, o que ficou
evidente na demanda de serviços para
mídias sociais, é que os clientes estão,
num primeiro
momento, solicitando
consultoria de comunicação
estratégica
para compreender e definir
346
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
foi viável devido à aceleração de
uma tendência: o uso das plataformas
digitais. Outra coisa que veio à tona foi
que as empresas de ambas as
regiões
sempre tiveram um olhar local e, por
causa disto, a inexistência de
uma
presença digital não fora problema até
então. Porém, diante das
reconfigurações sociais e
mercadológicas com o isolamento
conexões com o
consumidor via plataformas digitais se
tornou relevante até mesmo para a
ação local ou regional
.
Vale ressaltar que as agências
relataram que, mesmo com a
demanda de novos trabalhos digitais,
os pedidos para desenvolvimento de
conteúdo publicitário em redes sociais
se. Ou seja, apesar
do diálogo com clientes sobre as
de aumentar
suas
ter crescido, na prática
isto não sofreu significativa alteração
(nem para mais e nem para menos).
Para o Participante 2, o que ficou
evidente na demanda de serviços para
mídias sociais, é que os clientes estão,
momento, solicitando
consultoria de comunicação
para compreender e definir
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
os discursos da marca adequados
para o momento.
Ainda sobre a subcategoria 3.1,
todos participantes afirmaram
surpresos pelo fato dos clientes não
terem demandado serviç
os de criação
de lojas virtuais. O Participante 5
sublinhou a importância em criar um
commerce
próprio ou usar redes de
terceiros (marketplace
), mesmo que
fosse para atender somente à sua
região. Porém, mesmo que a ideia
tenha sido colocada na mesa como
recurso para enfrentar a crise, o
Participante 3 comentou que muitas
empresas não estão convencidas ou
sequer podem investir nesta
alternativa, pois tanto elas quanto seus
concorrentes estão preocupados com
os gastos alavancados pela crise.
A subcategoria
3.2 Demanda de
serviços para clientes (antigos)
sobre relatos das empresas que
eram clientes das agências. Conforme
indicado
por três participantes, no
período de março a maio, houve uma
perda no volume de serviços
publicitários entre clientes
especialmente no que tange à criação
de peças offline
. O Participante 3
comentou que os clientes justificaram
uma necessidade de redução de
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
os discursos da marca adequados
Ainda sobre a subcategoria 3.1,
todos participantes afirmaram
surpresos pelo fato dos clientes não
os de criação
de lojas virtuais. O Participante 5
sublinhou a importância em criar um
e-
próprio ou usar redes de
), mesmo que
fosse para atender somente à sua
região. Porém, mesmo que a ideia
tenha sido colocada na mesa como
um
recurso para enfrentar a crise, o
Participante 3 comentou que muitas
empresas não estão convencidas ou
sequer podem investir nesta
alternativa, pois tanto elas quanto seus
concorrentes estão preocupados com
os gastos alavancados pela crise.
3.2 Demanda de
serviços para clientes (antigos)
versa
sobre relatos das empresas que
eram clientes das agências. Conforme
por três participantes, no
período de março a maio, houve uma
perda no volume de serviços
publicitários entre clientes
antigos,
especialmente no que tange à criação
. O Participante 3
comentou que os clientes justificaram
uma necessidade de redução de
despesas com a pandemia,
justamente, porque suas vendas
caíram ou estabelecimentos fecharam
temporariamente
. Segundo Levitt
(1990) essa tomada de decisão pode
ser vista como uma miopia de
marketing, pois ignora
premissa de que momentos de crise
podem se tornar oportunos para se
diferenciar da concorrência. Mas, por
outro lado, também demonstra a
fr
agilidade econômica vivenciada pelas
regiões interioranas
este período da pandemia (MORAIS,
2020). Outra percepção identificada
durante a análise foi levantada pelo
Participante 1, quando revelou que
micro e pequenas empresas que
continuaram
trabalhando com a
agência demandaram mais serviços
com foco na análise e reflexão da
situação mercadológica gerada pela
pandemia. Isto é, o objetivo destes
clientes estava totalmente centrado em
fortalecer o relacionamento com as
pessoas da região por meio
divulgação de medidas preventivas à
Covid-
19. Este tipo de prática
publicitária
que se distanciada
emissão de apelos comerciais
recordar o pensamento de Kotler,
Kartajaya e Setiawan (2017) ou
347
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
despesas com a pandemia,
justamente, porque suas vendas
caíram ou estabelecimentos fecharam
. Segundo Levitt
(1990) essa tomada de decisão pode
ser vista como uma miopia de
marketing, pois ignora
totalmente a
premissa de que momentos de crise
podem se tornar oportunos para se
diferenciar da concorrência. Mas, por
outro lado, também demonstra a
agilidade econômica vivenciada pelas
do RS durante
este período da pandemia (MORAIS,
2020). Outra percepção identificada
durante a análise foi levantada pelo
Participante 1, quando revelou que
micro e pequenas empresas que
trabalhando com a
agência demandaram mais serviços
com foco na análise e reflexão da
situação mercadológica gerada pela
pandemia. Isto é, o objetivo destes
clientes estava totalmente centrado em
fortalecer o relacionamento com as
pessoas da região por meio
da
divulgação de medidas preventivas à
19. Este tipo de prática
que se distanciada
emissão de apelos comerciais
faz
recordar o pensamento de Kotler,
Kartajaya e Setiawan (2017) ou
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Macinnis e Folkes (2018), quando
afirmam que no sécu
lo 21 as marcas
querem fortalecer relacionamento com
o
mercado através de diálogos. Aqui, o
comentário do Participante 1 foi
corroborado pelos Participantes 2 e 5,
indicando uma inclinação das práticas
publicitárias das micro e pequenas
empresas dos territ
órios estudados
para a construção ou consolidação da
sua imagem baseada na confiança,
transparência e relacionamento que,
no futuro, podem ser convertidas em
vendas (HANSEN, 2016).
na terceira subcategoria
foram destacadas as transformações
no fazer pub
licidade nos meses iniciais
da pandemia (
3.3 Mudanças nos
serviços publicitários)
. Sobretudo
foram coletados dados que evidenciam
um foco de criação de conteúdo
voltado à comunicação institucional,
pois todos os participantes alegaram
que, apesar da baixa
nos serviços
publicitários, houve um direcionamento
de pedidos de serviços estratégicos,
tanto para mídias sociais quanto para
os sites próprios, o que pode ser
compreendido como uma preocupação
das marcas locais em se conectarem
com os consumidores locais
reforçado pelo Participante 1: “
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
Macinnis e Folkes (2018), quando
lo 21 as marcas
querem fortalecer relacionamento com
mercado através de diálogos. Aqui, o
comentário do Participante 1 foi
corroborado pelos Participantes 2 e 5,
indicando uma inclinação das práticas
publicitárias das micro e pequenas
órios estudados
para a construção ou consolidação da
sua imagem baseada na confiança,
transparência e relacionamento que,
no futuro, podem ser convertidas em
na terceira subcategoria
foram destacadas as transformações
licidade nos meses iniciais
3.3 Mudanças nos
. Sobretudo
foram coletados dados que evidenciam
um foco de criação de conteúdo
voltado à comunicação institucional,
pois todos os participantes alegaram
nos serviços
publicitários, houve um direcionamento
de pedidos de serviços estratégicos,
tanto para mídias sociais quanto para
os sites próprios, o que pode ser
compreendido como uma preocupação
das marcas locais em se conectarem
com os consumidores locais
. Isso foi
reforçado pelo Participante 1: “
nunca
houve um cuidado por parte dos
clientes em ter uma comunicação
orientada ao relacionamento.
Usualmente, solicitavam ações
focadas na promoção de produtos e
serviços com fotos, ilustrações
vetoriais e textos
que chamassem
atenção
”. Os Participantes 3 e 5
compartilharam:
meus clientes nunca
pensaram em comunicação
estratégica como forma de criar e
manter relacionamento
3) e
quando oferecíamos serviços de
comunicação institucional nunca
tínhamos
a devida atenção dos
clientes
(Participante
5).Complementando essa visão, o
Participante 4 refletiu o seguinte:
talvez nossos clientes nunca tenham
sido
estimulados a fazer esse tipo de
comunicação, pois perseguem o
imediatismo nos resultados de vendas
de seus produtos, a partir das
campanhas publicitárias desenvolvidas
pelas agências”.
Corroborando o que foi relatado
pelas agências,
o Participante 2
destacou que poucas delas têm
colaboradores com habilidades
orientadas à Relações Públicas:
Precisamos ter funcionários que não
pensem somente na criação de
348
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
houve um cuidado por parte dos
clientes em ter uma comunicação
orientada ao relacionamento.
Usualmente, solicitavam ações
focadas na promoção de produtos e
serviços com fotos, ilustrações
que chamassem
”. Os Participantes 3 e 5
meus clientes nunca
pensaram em comunicação
estratégica como forma de criar e
manter relacionamento
(Participante
quando oferecíamos serviços de
comunicação institucional nunca
a devida atenção dos
(Participante
5).Complementando essa visão, o
Participante 4 refletiu o seguinte:
talvez nossos clientes nunca tenham
estimulados a fazer esse tipo de
comunicação, pois perseguem o
imediatismo nos resultados de vendas
de seus produtos, a partir das
campanhas publicitárias desenvolvidas
Corroborando o que foi relatado
o Participante 2
destacou que poucas delas têm
colaboradores com habilidades
orientadas à Relações Públicas:
Precisamos ter funcionários que não
pensem somente na criação de
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
campanhas publicitárias. É preciso ir
além, ser mais estratégico e pensar
em oferecer soluções para
desenvolver e manter um
relacionamento que vai além da
venda (Participante 2).
Isto
encontro aos debates de Florida
(2011), Silveira e Morisso (2018) e
Zilles Borba (2020) quando alegam
que o fazer publicidade na atualidade
se estende para além do anúncio
publicitário, envolvendo o pensar na
inovação comunicacional
organizações em mu
ltiplataformas
emergentes.
5. Considerações finais
O trabalho abordou as
transformações nas práticas de gestão
das agências de PP nas regiões do
Paranhana e das Hortênsias durante o
período inicial da pandemia do Covid
19. Através de um
focus group
ci
nco gestores foi realizado um debate
coletivo que gerou dados qualitativos
sobre suas percepções e ações neste
período de crise. As agências estavam
localizadas em Gramado, Canela,
Taquara e Igrejinha.
Inicialmente é destacado que os
efeitos da crise gerad
a pela pandemia
afetaram empresas das
duas regiões,
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
campanhas publicitárias. É preciso ir
além, ser mais estratégico e pensar
em oferecer soluções para
desenvolver e manter um
relacionamento que vai além da
Isto
vai de
encontro aos debates de Florida
(2011), Silveira e Morisso (2018) e
Zilles Borba (2020) quando alegam
que o fazer publicidade na atualidade
se estende para além do anúncio
publicitário, envolvendo o pensar na
inovação comunicacional
das
ltiplataformas
O trabalho abordou as
transformações nas práticas de gestão
das agências de PP nas regiões do
Paranhana e das Hortênsias durante o
período inicial da pandemia do Covid
-
focus group
com
nco gestores foi realizado um debate
coletivo que gerou dados qualitativos
sobre suas percepções e ações neste
período de crise. As agências estavam
localizadas em Gramado, Canela,
Inicialmente é destacado que os
a pela pandemia
duas regiões,
incluindo as agências e seus clientes.
Se de um lado houve um encolhimento
no mercado com a debandada de
clientes; por outro, verificou
movimento de mudança nas agências,
seus clientes e sua prestaç
serviços publicitários. Tais alterações,
segundo nosso entendimento, mesmo
que não sejam idênticas entre as
agências, foram providenciais para sua
manutenção no mercado regional,
sendo possível organizar três
aspectos: gestão mercadológica,
gestão do
negócio em PP e novas
demandas nas práticas publicitárias.
Sobre a gestão mercadológica
conclui-
se que, assim como em todo
território nacional, as regiões
estudadas estão sofrendo com quedas
de receitas das empresas locais.
Porém, por serem regiões do int
gaúcho impactadas diretamente pela
redução do turismo (Gramado e
Canela) e da produção na indústria
calçadista (Igrejinha, Taquara, Três
Coroas e Parobé), percebeu
perda de clientes de pequenas e
médias empresas é motivo de grande
preocupaçã
o das agências. Apesar
dos relatos dos gestores indicarem
visões futuras de oportunidades, as
ameaças do macroambiente
349
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
incluindo as agências e seus clientes.
Se de um lado houve um encolhimento
no mercado com a debandada de
clientes; por outro, verificou
-se um
movimento de mudança nas agências,
seus clientes e sua prestaç
ão de
serviços publicitários. Tais alterações,
segundo nosso entendimento, mesmo
que não sejam idênticas entre as
agências, foram providenciais para sua
manutenção no mercado regional,
sendo possível organizar três
aspectos: gestão mercadológica,
negócio em PP e novas
demandas nas práticas publicitárias.
Sobre a gestão mercadológica
se que, assim como em todo
território nacional, as regiões
estudadas estão sofrendo com quedas
de receitas das empresas locais.
Porém, por serem regiões do int
erior
gaúcho impactadas diretamente pela
redução do turismo (Gramado e
Canela) e da produção na indústria
calçadista (Igrejinha, Taquara, Três
Coroas e Parobé), percebeu
-se que a
perda de clientes de pequenas e
médias empresas é motivo de grande
o das agências. Apesar
dos relatos dos gestores indicarem
visões futuras de oportunidades, as
ameaças do macroambiente
geradas
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
pelas
incertezas da economia nas
regiões, nomeadamente
nas cidades
turísticas de Gramado e Canela, são a
maior preocupação no méd
prazo, e não no curto prazo (que foi a
proposta de olhar crítico deste artigo).
Concluiu-
se que as alterações
na gestão do negócio em PP foram as
principais medidas adotadas,
revelando um posicionamento
estratégico, dinâmico e atento para
supera
r a crise. Entre as diversas
ações adotadas destaca-
se a reflexão
dos gestores acerca da saúde e
inteligência financeira da
Mas,
na verdade, diagnosticou
as maiores transformações estiveram
relacionadas às alterações de
processos internos,
no sentido de
baixar custos, acelerar tomadas de
decisões e adotar uma mentalidade de
rotinas e gestão de uma
(flexibilidade no horário
colaboradores, delegação de tarefas a
serem cumpridas por prazos e
redirecionamento dos serviços de
terceiro
s para manter funcionários da
agência com atividades). Tudo isso,
consequentemente, permite que
agências
do interior tenham
resultados operacionais, reduzindo
custos internos, não demitindo
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
incertezas da economia nas
nas cidades
turísticas de Gramado e Canela, são a
maior preocupação no méd
io e longo
prazo, e não no curto prazo (que foi a
proposta de olhar crítico deste artigo).
se que as alterações
na gestão do negócio em PP foram as
principais medidas adotadas,
revelando um posicionamento
estratégico, dinâmico e atento para
r a crise. Entre as diversas
se a reflexão
dos gestores acerca da saúde e
inteligência financeira da
agência.
na verdade, diagnosticou
-se que
as maiores transformações estiveram
relacionadas às alterações de
no sentido de
baixar custos, acelerar tomadas de
decisões e adotar uma mentalidade de
rotinas e gestão de uma
startup
(flexibilidade no horário
dos
colaboradores, delegação de tarefas a
serem cumpridas por prazos e
redirecionamento dos serviços de
s para manter funcionários da
agência com atividades). Tudo isso,
consequentemente, permite que
do interior tenham
melhores
resultados operacionais, reduzindo
custos internos, não demitindo
funcionários e, até mesmo,
repensando sua relação com clientes
em vias online.
Acerca das novas demandas
nas práticas publicitárias concluiu
que, no momento inicial da pandemia,
o direcionamento dos serviços para a
produção de anúncios e conteúdos em
plataformas online
justamente, por ser uma tendência
global diante do distanciamento social.
Porém, independente de direcionar as
ações de comunicação das marcas
para redes sociais,
commerce
, as empresas atendidas
pelas agências do
Hortênsias estão muito mais
preocupadas em fortalecer seu
relacionamento com a população local
do que aumentar a oferta de
produtos/serviços para ela. Ainda, o
aumento do interesse das empresas
em explorar uma presença digital e
buscar uma con
comunicação estratégica revelou
novas demandas de serviços nestas
regiões.
Por fim, verificou
agências pesquisadas estão passando
por dificuldades semelhantes às
demais empresas de suas regiões.
Contudo, diante das percepções e
350
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
funcionários e, até mesmo,
repensando sua relação com clientes
Acerca das novas demandas
nas práticas publicitárias concluiu
-se
que, no momento inicial da pandemia,
o direcionamento dos serviços para a
produção de anúncios e conteúdos em
é inevitável,
justamente, por ser uma tendência
global diante do distanciamento social.
Porém, independente de direcionar as
ações de comunicação das marcas
para redes sociais,
website ou e-
, as empresas atendidas
pelas agências do
Paranhana e
Hortênsias estão muito mais
preocupadas em fortalecer seu
relacionamento com a população local
do que aumentar a oferta de
produtos/serviços para ela. Ainda, o
aumento do interesse das empresas
em explorar uma presença digital e
buscar uma con
sultoria de
comunicação estratégica revelou
novas demandas de serviços nestas
Por fim, verificou
-se que as
agências pesquisadas estão passando
por dificuldades semelhantes às
demais empresas de suas regiões.
Contudo, diante das percepções e
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
ações
relatadas pelos gestores
mapearam-se
alterações significativas
na forma de administrar o negócio em
PP, seja devido a alterações externas
à organização ou mudanças nos
processos de gestão da mesma. No
futuro, desejamos retornar a esta
pesquisa, com o intui
to de conferir o
impacto da pandemia durante o
segundo semestre de 2020 nas cinco
agências que participaram do estudo,
bem como as possíveis continuidades
de transformações nas práticas de
gestão e no fazer publicidade em
tempos de pandemia.
Referências b
ibliográficas
ATLAS.
Atlas Socioeconômico do Rio
Grande do Sul.
(Online). 2020. Porto
Alegre. Disponível em:
https://atlassocieconomico.rs.gov.br/pa
rticipacao-do-pib-
estadual. Acesso em:
10 ago. 2020.
DE CICCO, Francesco.
Crises:
boas práticas e diretrizes
internacionais Covid-
19.
Risk Tec
nologia Editora, 2020.
EMMANUELLI, Constance et al.
Customer Experience Practice:
elevating customer experience
excellence in the next normal.
McKinsey & Company. (online). 2020.
Dis
ponível em:
https://www.mckinsey.com/business
functions/operations/our-
insights/elevating-
customer
experience-excellence-in-
the
normal.
Acesso em: 10 ago. 2020.
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
relatadas pelos gestores
alterações significativas
na forma de administrar o negócio em
PP, seja devido a alterações externas
à organização ou mudanças nos
processos de gestão da mesma. No
futuro, desejamos retornar a esta
to de conferir o
impacto da pandemia durante o
segundo semestre de 2020 nas cinco
agências que participaram do estudo,
bem como as possíveis continuidades
de transformações nas práticas de
gestão e no fazer publicidade em
ibliográficas
Atlas Socioeconômico do Rio
(Online). 2020. Porto
Alegre. Disponível em:
https://atlassocieconomico.rs.gov.br/pa
estadual. Acesso em:
DE CICCO, Francesco.
Gestão de
boas práticas e diretrizes
19.
São Paulo:
nologia Editora, 2020.
EMMANUELLI, Constance et al.
Customer Experience Practice:
elevating customer experience
excellence in the next normal.
McKinsey & Company. (online). 2020.
ponível em:
https://www.mckinsey.com/business
-
customer
-
the
-next-
Acesso em: 10 ago. 2020.
FEE (Relatório da Fundação de
Economia e Estatística).
de Cálculo IDESE
.
https://arquivofee.rs.gov.br/indicadores
/indice-de-
desenvolvimento
socioeconomico/%20serie
nova-
metodologia/?ano=2013&letra=T&orde
m=municipios
. Acesso em:10 ago.
2020.
FLORIDA, Richard.
Classe Criativa.
Porto Alegre:
2011.
HANSEN, Fábio. Vozes em Alianças e
Cozes em Confronto: a autoria nos
domínios discursivos do processo de
produção da publicidade
contemporânea.
Comunicação, Mídia
Consumo.
ESPM, São Paulo, v.13,
n.37, mai/ago 2016, p.54
KAPLAN, Robert; NORTON, David.
Estratégia em Ação:
scorecard. Rio de Janeiro: Elsevier,
1997.
KOTLER, Philip; KARTAJAYA,
Hermawan; SETIAWAN, Iwan.
Marketing 4.0:
mudança do tradicional
para o digital. Rio de Janeiro: Editora
Sextante, 2017.
LEVITT, Theodore.
Marketing.
São Paulo: Atlas, 1990.
MACINNIS, Deborah; FOLKES,
Valerie.
Humanizing brands: when
brands seem to be like me, part of me,
and in a relationship with me
of Consumer Psychology,
p. 355-374, 2017.
MORAIS, Roberto.
AC/DC
Prospectivos.
(online). 2020.
Disponível em:
https://www.jornalpanorama.com.br/no
vo/ac-dc-cenarios-
prospectivos
prof-dr-roberto-
morais/
jul. 2020.
351
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
FEE (Relatório da Fundação de
Economia e Estatística).
Metodologia
.
Disponível em:
https://arquivofee.rs.gov.br/indicadores
desenvolvimento
-
socioeconomico/%20serie
-historica-
metodologia/?ano=2013&letra=T&orde
. Acesso em:10 ago.
FLORIDA, Richard.
A Ascensão da
Porto Alegre:
LP&M,
HANSEN, Fábio. Vozes em Alianças e
Cozes em Confronto: a autoria nos
domínios discursivos do processo de
produção da publicidade
Comunicação, Mídia
ESPM, São Paulo, v.13,
n.37, mai/ago 2016, p.54
-75.
KAPLAN, Robert; NORTON, David.
A
Estratégia em Ação:
balanced
scorecard. Rio de Janeiro: Elsevier,
KOTLER, Philip; KARTAJAYA,
Hermawan; SETIAWAN, Iwan.
mudança do tradicional
para o digital. Rio de Janeiro: Editora
Imaginação em
São Paulo: Atlas, 1990.
MACINNIS, Deborah; FOLKES,
Humanizing brands: when
brands seem to be like me, part of me,
and in a relationship with me
. Journal
of Consumer Psychology,
v. 27, n. 3,
AC/DC
Cenários
(online). 2020.
Disponível em:
https://www.jornalpanorama.com.br/no
prospectivos
-por-
morais/
. Acesso em: 27
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
PAIVA, Carlos; NASCIMENTO, Victor
Fernandez. O Auxílio
Emergencial na
Economia do Vale do Paranhana
(online). 2020. Disponível em:
https://www.jornalpanorama.com.br/no
vo/o-auxilio-emergencial-
na
do-vale-do-paranhana-por-
carlos
aguedo-paiva-e-victor-
fernandez
nascimento/. Acesso em:11 jul. 2020.
SILVE
IRA, Stefania; MORISSO, João.
O uso de algoritmos na mídia
programática. Parágrafo.
São Paulo, v.
6, n. 1, p. 71-82, 2018.
SNEADER, Kevin; SINGHAL,
Shubham.
The future is not what it
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
PAIVA, Carlos; NASCIMENTO, Victor
Emergencial na
Economia do Vale do Paranhana
.
(online). 2020. Disponível em:
https://www.jornalpanorama.com.br/no
na
-economia-
carlos
-
fernandez
-
nascimento/. Acesso em:11 jul. 2020.
IRA, Stefania; MORISSO, João.
O uso de algoritmos na mídia
São Paulo, v.
SNEADER, Kevin; SINGHAL,
The future is not what it
used to be:
Thoughts on the shape of
the next normal.
Company,
abr., 2020.
SNEADER, Kevin; STERNFELS, Bob.
From surviving to thriving:
the post-Covid-
19 return.
Company. 2020.
ZILLES BORBA, Eduardo. Towards a
full body narrative: a communicational
approach to techno
virtual reality.
Lumina,
37-52, 30 abr. 2020.
352
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
Thoughts on the shape of
McKinsey &
abr., 2020.
SNEADER, Kevin; STERNFELS, Bob.
From surviving to thriving:
reimagining
19 return.
McKinsey &
ZILLES BORBA, Eduardo. Towards a
full body narrative: a communicational
approach to techno
-interactions in
Lumina,
v. 14, n. 1, p.
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Mapeamento das percepções e ações das agências de publicidade e propagandas das regiões
A seguir é apresentada uma síntese do mapeamento de todas as percepções e ações das agências
de PP que participaram do estudo. Ele se configura como um quadro com assuntos que foram
destacados durante a análise do conteúdo, tendo como ponto de partida os d
coletados e preenchidos nas anotações descritivas pelos pesquisadores durante o
cinco gestores das agências (Tabela 2)
Tabela 2 –
Mapeamento das percepções e ações das agências
Dimensão Externa
Categoria 1:
Gestão
mercadológica(clientes,
mercado e região)
1.1. Entrada e saída de
clientes:
- Perda de clientes, mas
entrada de novos
(TODOS).
2.1. Entrada e saída de clientes:
-
Perda de clientes, mas entrada de
novos (TODOS).
1.2. Oportunidades e
ameaças na crise:
- Segmentos de clientes
que não são calçadistas
aumentaram (TODOS).
- Pela primeira vez tem um
cliente calçadista
(Participante 1).
- Novos nichos de mercado
abertos (Participante 5).
- Oportunidades online
(TODOS)
- Preocupações com falta
de dinheiro circulando no
mercado da região a curto
prazo (ainda neste ano)
(Participantes 1 e 3)
2.2. Gestão de RH:
-
Demissões, reduções salariais ou
férias para funcionários (Participante
1).
-
Sobrecarga maior nos
colaboradores, devido a necessidade
de diminuir times ou terceiros
(Participante 2).
-
Treinamento para desenvolver
habilidades comportamentais e
competências de pessoal
(Participante 2).
1.3. Questões
socioculturais e político-
legais:
2.3.Negociação
pagamentos (clientes):
-
Negociação de prazos d
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
Apêndice 1
Mapeamento das percepções e ações das agências de publicidade e propagandas das regiões
do Paranhana e das Hortênsias
A seguir é apresentada uma síntese do mapeamento de todas as percepções e ações das agências
de PP que participaram do estudo. Ele se configura como um quadro com assuntos que foram
destacados durante a análise do conteúdo, tendo como ponto de partida os d
coletados e preenchidos nas anotações descritivas pelos pesquisadores durante o
cinco gestores das agências (Tabela 2)
Mapeamento das percepções e ações das agências
Dimensão interna
Categoria 2:
Gestão do negócio
em PP (postura e ações da
agência)
Categoria 3:
Novas demandas na
prática de PP (o fazer
publicidade)
2.1. Entrada e saída de clientes:
Perda de clientes, mas entrada de
novos (TODOS).
3.1. Demanda de serviços
online/digital para novos e
antigos clientes:
-
Aumento do volume de
serviços para clientes antigos
que estão no
entrar no digital (presença e
comunicação digital) (TODOS).
-
Crescimento na demanda
para conteúdo em rede social
(TODOS).
-
Criação de e
baixa (TODOS).
2.2. Gestão de RH:
Demissões, reduções salariais ou
férias para funcionários (Participante
1).
Sobrecarga maior nos
colaboradores, devido a necessidade
de diminuir times ou terceiros
(Participante 2).
Treinamento para desenvolver
habilidades comportamentais e
competências de pessoal
(Participante 2).
3.2. Demanda de serviços
para clientes (antigos):
-
Perda de volume de serviços
com clientes antigos que não
estavam no digital (Participante
1 e 3 ).
- C
lientes pequenos
aumentaram demanda
(Participante 4).
-
Clientes grandes diminuíram
demanda ou suspenderam
contratos (Participante 4).
2.3.Negociação
de contratos e
pagamentos (clientes):
Negociação de prazos d
e
3.3. Mudanças nos serviços
publicitários:
-
A criação de conteúdo para
353
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
Mapeamento das percepções e ações das agências de publicidade e propagandas das regiões
A seguir é apresentada uma síntese do mapeamento de todas as percepções e ações das agências
de PP que participaram do estudo. Ele se configura como um quadro com assuntos que foram
destacados durante a análise do conteúdo, tendo como ponto de partida os d
ados qualitativos
coletados e preenchidos nas anotações descritivas pelos pesquisadores durante o
focusgroup com os
Mapeamento das percepções e ações das agências
Categoria 3:
Novas demandas na
prática de PP (o fazer
publicidade)
3.1. Demanda de serviços
online/digital para novos e
antigos clientes:
Aumento do volume de
serviços para clientes antigos
que estão no
digital ou querem
entrar no digital (presença e
comunicação digital) (TODOS).
Crescimento na demanda
para conteúdo em rede social
Criação de e
-commerce é
baixa (TODOS).
3.2. Demanda de serviços
para clientes (antigos):
Perda de volume de serviços
com clientes antigos que não
estavam no digital (Participante
lientes pequenos
aumentaram demanda
(Participante 4).
Clientes grandes diminuíram
demanda ou suspenderam
contratos (Participante 4).
3.3. Mudanças nos serviços
publicitários:
A criação de conteúdo para
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
- Reuniões online ao invés
de presenciais, tanto com
clientes quanto funcionários
(TODOS).
- Dificuldade dos
funcionários em se
deslocar até a agência
(restrições, medo, medidas
da prefeitura, corte de
transportes públicos, etc.).
(Participante 3)
pagamentos (parcelamentos)
(TODOS).
-
Negociação de descontos
(Participantes 1, 3 e 5).
-
Negociação para manter valores do
contrato, mas aumentar as entregas
(Participante 5).
-
Flexibilidade na forma de
pagamento (cartão crédito, prazos)
(TODOS).
-
Est
cliente (especialmente financeiro)
(Participante 2).
1.4. Clientes com
capacidade de reação à
crise:
- Processo de
planejamento dinâmico
(TODOS)
- Análise dinâmica de
cenários (TODOS)
- Cliente que tem em mente
(de forma clara) o seu
posicionamento está
reagindo melhor e mais
rápido à crise (Participante
2)
2.4.Inteligência
financeiros:
-
Análise de caixa (tempo versus
grana para se manter na
crise)(TODOS).
-
Preocupação para curto e médio
prazo com o caixa (Par
-
Busca por consultoria de
inteligência financeira (Participante
1).
-
Não visa buscar financiamentos no
primeiro momento (Participante 2, 3,
4 e 5).
-
Adequação financeiras (cortar
gastos internos) (TODOS)
-
Financiamento em bancos
(Particip
-
Linhas de crédito
(Participante 1).
2.5. Oferta de novos serviços ou
prospecção:
-
Cautela para oferecer novos
serviços (vendas) aos clientes ou
prospecção de clientes novos,pois o
momento é de colaboração acima do
lucro
-
Oferta de novos serviços para
clientes, extensão da cartela de
serviços (Participante 5).
2.6. Relacionamento com cliente
-
Adaptação ao digital (reuniões com
clientes, briefing. brainstorm com
time) (TODOS).
-
Produção de relatórios
para apresentar entregas e
resultados para o cliente durante
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
pagamentos (parcelamentos)
(TODOS).
Negociação de descontos
(Participantes 1, 3 e 5).
Negociação para manter valores do
contrato, mas aumentar as entregas
(Participante 5).
Flexibilidade na forma de
pagamento (cartão crédito, prazos)
(TODOS).
Est
abelecer compromissos com
cliente (especialmente financeiro)
(Participante 2).
redes sociais e sites mantém
se em crescimento forte.
(TODOS)
-
Aumento no pedido de
serviços de comunicaç
estratégica. Esse aumento é
maior do que de produção de
conteúdo (Participante 2).
-
Clientes estão preferindo
comunicar mensagens
institucionais ou informativas,
fugindo do apelo comercial
(alteração na mensagem dos
clientes) (TODOS)
-
Entregando servi
além do contratado, a fim de
manter os clientes
(Participantes 3, 4 e 5).
2.4.Inteligência
e Recursos
financeiros:
Análise de caixa (tempo versus
grana para se manter na
crise)(TODOS).
Preocupação para curto e médio
prazo com o caixa (Par
ticipante 1).
Busca por consultoria de
inteligência financeira (Participante
1).
Não visa buscar financiamentos no
primeiro momento (Participante 2, 3,
4 e 5).
Adequação financeiras (cortar
gastos internos) (TODOS)
Financiamento em bancos
(Particip
ante 1).
Linhas de crédito
- Governo
(Participante 1).
2.5. Oferta de novos serviços ou
prospecção:
Cautela para oferecer novos
serviços (vendas) aos clientes ou
prospecção de clientes novos,pois o
momento é de colaboração acima do
lucro
(Participante 1).
Oferta de novos serviços para
clientes, extensão da cartela de
serviços (Participante 5).
2.6. Relacionamento com cliente
Adaptação ao digital (reuniões com
clientes, briefing. brainstorm com
time) (TODOS).
Produção de relatórios
mensais
para apresentar entregas e
resultados para o cliente durante
354
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
redes sociais e sites mantém
-
se em crescimento forte.
Aumento no pedido de
serviços de comunicaç
ão
estratégica. Esse aumento é
maior do que de produção de
conteúdo (Participante 2).
Clientes estão preferindo
comunicar mensagens
institucionais ou informativas,
fugindo do apelo comercial
(alteração na mensagem dos
clientes) (TODOS)
Entregando servi
ços para
além do contratado, a fim de
manter os clientes
(Participantes 3, 4 e 5).
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
este período de pandemia
(Participante 2).
2.7. Gestão dos processos:
-
Mudança no foco dos processos de
gestão da agência (mais atenção ao
financeiro) (TODOS)
-
Equipes enxutas e
de processos para entregar mais
trabalhos com menos pessoas
envolvidas (Participante 4).
-
Maior cobrança de pensamento
estratégico do funcionário
(Participante 2).
-
Estabelecendo novas culturas
organizacionais (Participante 1).
-
Dificulda
distância (Participantes 1, 3 e 4).
Ocorrência das subcategorias com base em unidades de registro (ur) verificadas nos
depoimentos dos participantes do
Antes de
aprofundar a análise qualitativa foram verificadas as ocorrências de assuntos que
originaram cada uma das quatro subcategorias
possibilitou a identificação da frequência com que as mesmas foram lembrada
das agências. Mesmo que este exercício quantitativo não seja o foco da análise, ele ajudou a refletir
sobre a relevância de cada subcategoria, a partir da ótica dos participantes do estudo. Isto é, um
tópico que apresenta maior frequ
práticas de gestão do mercado publicitário; mas, simplesmente, mais lembrado e discutido pelos
gestores das agências durante o
subcategoria
1.2 Oportunidades e ameaças na crise
As subcategorias
1.1. Entrada e saída de clientes, 1.3. Questões socioculturais e político
Clientes com capacidade de reação à crise
registros. Foram marcadas 28 UR nesta primeira categoria (Tabela 3).
Tabela 3
SUBCATEGORIAS
1.1 Entrada e saída de clientes
1.2 Oportunidades e ameaças na crise
1.3
Questões socioculturais e político
1.4 Clientes com capacidade de reação à crise
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
este período de pandemia
(Participante 2).
2.7. Gestão dos processos:
Mudança no foco dos processos de
gestão da agência (mais atenção ao
financeiro) (TODOS)
Equipes enxutas e
foco na gestão
de processos para entregar mais
trabalhos com menos pessoas
envolvidas (Participante 4).
Maior cobrança de pensamento
estratégico do funcionário
(Participante 2).
Estabelecendo novas culturas
organizacionais (Participante 1).
Dificulda
de em gerir as equipes à
distância (Participantes 1, 3 e 4).
Fonte: desenvolvida pelos autores.
Apêndice 2
Ocorrência das subcategorias com base em unidades de registro (ur) verificadas nos
depoimentos dos participantes do
focus group
aprofundar a análise qualitativa foram verificadas as ocorrências de assuntos que
originaram cada uma das quatro subcategorias
.
Isto foi anotado em Unidades de Registro (UR), o que
possibilitou a identificação da frequência com que as mesmas foram lembrada
s pelos representantes
das agências. Mesmo que este exercício quantitativo não seja o foco da análise, ele ajudou a refletir
sobre a relevância de cada subcategoria, a partir da ótica dos participantes do estudo. Isto é, um
tópico que apresenta maior frequ
ência não foi considerado, necessariamente, mais importante nas
práticas de gestão do mercado publicitário; mas, simplesmente, mais lembrado e discutido pelos
gestores das agências durante o
focus group. No caso da Categoria 1
Gestão Mercadológica
1.2 Oportunidades e ameaças na crise
foi a mais citada, com um total de 14 registros.
1.1. Entrada e saída de clientes, 1.3. Questões socioculturais e político
Clientes com capacidade de reação à crise
tiveram menor
frequência, respectivamente, com 5, 6 e 3
registros. Foram marcadas 28 UR nesta primeira categoria (Tabela 3).
Tabela 3
Gestão Mercadológica(Categoria 1)
SUBCATEGORIAS
UR
1.1 Entrada e saída de clientes
5
1.2 Oportunidades e ameaças na crise
14
Questões socioculturais e político
-legais 6
1.4 Clientes com capacidade de reação à crise
3
355
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
Ocorrência das subcategorias com base em unidades de registro (ur) verificadas nos
aprofundar a análise qualitativa foram verificadas as ocorrências de assuntos que
Isto foi anotado em Unidades de Registro (UR), o que
s pelos representantes
das agências. Mesmo que este exercício quantitativo não seja o foco da análise, ele ajudou a refletir
sobre a relevância de cada subcategoria, a partir da ótica dos participantes do estudo. Isto é, um
ência não foi considerado, necessariamente, mais importante nas
práticas de gestão do mercado publicitário; mas, simplesmente, mais lembrado e discutido pelos
Gestão Mercadológica
, a
foi a mais citada, com um total de 14 registros.
1.1. Entrada e saída de clientes, 1.3. Questões socioculturais e político
-legais e 1.4
frequência, respectivamente, com 5, 6 e 3
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
Durante o mapeamento de ações e percepções na
foram verificadas as ocorrências
financeiros
foi aquela que indicou maior incidência no debate durante o
Porém, mesmo sendo a subcategoria com maior frequência na discussão, ao aprofundar a reflexão
qualitativa, percebeu-
se que ela é, sim, um assunto que interessa as agências de PP, mas que
somente uma delas aplicou em suas práticas de gestão. As subcategorias
contratos e pagamentos e
2.7 Gestão de processos
cada. Ao olhar para essas três subcategorias fica evidente a preocupação das agências em olharem
para aspectos financeiros do negócio, tanto no campo de renegociação de contrato com clientes
quanto na própria organização financeira referente
acrescentado, inclusive, aspectos levantados na formação de outras subcategorias (
saída de clientes e
2.2. Gestão de Recursos Humanos
têm significat
iva relevância para o entendimento de outras subcategorias. Isto fortalece a ideia de que
não apenas as categorias, mas suas subcategorias também se atravessam, num movimento
constante de influências que auxilia a compreender as transformações nas práticas
agências de PP do Paranhana e Hortênsias durante a pandemia. Por fim, as subcategorias
de novos serviços e prospecção
tópicos diretamente ligados às atitudes e respost
pandemia.
Tabela 4 –
Gestão do Negócio em Publicidade e Propaganda
SUBCATEGORIAS
2.1 Entrada e saída de clientes
2.2 Gestão de RH
2.3 Negociação de contratos e pagamentos (clientes)
2.4
Inteligência e recursos financeiros
2.5 Oferta de novos serviços e prospecção
2.6 Relacionamento com cliente
2.7 Gestão de processos
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
TOTAL
28
Fonte: desenvolvida pelos autores
Durante o mapeamento de ações e percepções na
Categoria 2
Gestão do Negócio em PP
foram verificadas as ocorrências
de 41 UR (Tabela 4). A subcategoria
2.4 Inteligência e recursos
foi aquela que indicou maior incidência no debate durante o
focus
Porém, mesmo sendo a subcategoria com maior frequência na discussão, ao aprofundar a reflexão
se que ela é, sim, um assunto que interessa as agências de PP, mas que
somente uma delas aplicou em suas práticas de gestão. As subcategorias
2.7 Gestão de processos
também atingiram marcas elev
cada. Ao olhar para essas três subcategorias fica evidente a preocupação das agências em olharem
para aspectos financeiros do negócio, tanto no campo de renegociação de contrato com clientes
quanto na própria organização financeira referente
a sua estrutura e funcionários. Neste debate é
acrescentado, inclusive, aspectos levantados na formação de outras subcategorias (
2.2. Gestão de Recursos Humanos
) que, apesar da baixa frequência quantitativa,
iva relevância para o entendimento de outras subcategorias. Isto fortalece a ideia de que
não apenas as categorias, mas suas subcategorias também se atravessam, num movimento
constante de influências que auxilia a compreender as transformações nas práticas
agências de PP do Paranhana e Hortênsias durante a pandemia. Por fim, as subcategorias
de novos serviços e prospecção
e 2.6 Relacionamento com o cliente
marcaram apenas 2 UR, sendo
tópicos diretamente ligados às atitudes e respost
as que as agências estão dando diante da
Gestão do Negócio em Publicidade e Propaganda
(Categoria 2)
SUBCATEGORIAS
UR
2.1 Entrada e saída de clientes
5
3
2.3 Negociação de contratos e pagamentos (clientes)
9
Inteligência e recursos financeiros
11
2.5 Oferta de novos serviços e prospecção
2
2.6 Relacionamento com cliente
2
2.7 Gestão de processos
9
TOTAL
41
Fonte: desenvolvida pelos autores
356
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
Gestão do Negócio em PP
2.4 Inteligência e recursos
focus
group com 11 UR.
Porém, mesmo sendo a subcategoria com maior frequência na discussão, ao aprofundar a reflexão
se que ela é, sim, um assunto que interessa as agências de PP, mas que
somente uma delas aplicou em suas práticas de gestão. As subcategorias
2.3 Negociação de
também atingiram marcas elev
adas com 9 UR
cada. Ao olhar para essas três subcategorias fica evidente a preocupação das agências em olharem
para aspectos financeiros do negócio, tanto no campo de renegociação de contrato com clientes
a sua estrutura e funcionários. Neste debate é
acrescentado, inclusive, aspectos levantados na formação de outras subcategorias (
2.1 Entrada e
) que, apesar da baixa frequência quantitativa,
iva relevância para o entendimento de outras subcategorias. Isto fortalece a ideia de que
não apenas as categorias, mas suas subcategorias também se atravessam, num movimento
constante de influências que auxilia a compreender as transformações nas práticas
de gestão das
agências de PP do Paranhana e Hortênsias durante a pandemia. Por fim, as subcategorias
2.5 Oferta
marcaram apenas 2 UR, sendo
as que as agências estão dando diante da
(Categoria 2)
ZILLES BORBA, Eduardo et al
. Transformações na gestão de agências de
publicidade durante a pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do
Paranhana e Hortênsias. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 20
, p.
No mapeamento das subcategorias que formam a
práticas publicitárias
diagnosticou
serviços publicitários. Isto foi evidenciado pelas 17 UR anotadas na subcategoria
serviços publicitários (T
abela 5). Na sequência, evidenciando um direcionamento dos serviços para a
produção e criação digital, surgiu a subcategoria
antigos clientes
, com 6 UR. Por fim, com apenas 3 UR, a
(antigos)
o que pode ser justificado pelo fato das agências indicarem que as demandas
tornaram a maior demanda de serviços, tanto para os novos quanto para os antigos clientes. Neste
ponto houve uma reflexão entre os pesquisadores
3.1. e 3.2. Contudo, alguns tópicos levantados pelos gestores também indicaram práticas publicitárias
para os antigos clientes que não se enquadraram como serviço
Tabela 5 –
Novas Demandas nas Pr
SUBCATEGORIAS
3.1
Demanda de serviços online/digital para novos e
antigos clientes)
3.2 Demanda de serviços para clientes (antigos)
3.3 Mudanças nos serviços publicitários
. Transformações na gestão de agências de
19: um estudo nas regiões do
Revista Latino
-Americana de
, p.
327-357, março 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo
No mapeamento das subcategorias que formam a
Categoria 3
Novas demandas nas
diagnosticou
-
se uma forte discussão acerca das alterações na prestação dos
serviços publicitários. Isto foi evidenciado pelas 17 UR anotadas na subcategoria
abela 5). Na sequência, evidenciando um direcionamento dos serviços para a
produção e criação digital, surgiu a subcategoria
3.1 Demanda de serviços online/digital para novos e
, com 6 UR. Por fim, com apenas 3 UR, a
3.2. Demanda de serviço
o que pode ser justificado pelo fato das agências indicarem que as demandas
tornaram a maior demanda de serviços, tanto para os novos quanto para os antigos clientes. Neste
ponto houve uma reflexão entre os pesquisadores
sobre a possibilidade de unificar as subcategorias
3.1. e 3.2. Contudo, alguns tópicos levantados pelos gestores também indicaram práticas publicitárias
para os antigos clientes que não se enquadraram como serviço
online.
Novas Demandas nas Pr
áticas de Publicidade e Propaganda (Categoria 3)
SUBCATEGORIAS
UR
Demanda de serviços online/digital para novos e
6
3.2 Demanda de serviços para clientes (antigos)
3
3.3 Mudanças nos serviços publicitários
17
TOTAL
26
Fonte: desenvolvida pelos autores.
357
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Fluxo
Contínuo)
Novas demandas nas
se uma forte discussão acerca das alterações na prestação dos
serviços publicitários. Isto foi evidenciado pelas 17 UR anotadas na subcategoria
3.3. Mudanças nos
abela 5). Na sequência, evidenciando um direcionamento dos serviços para a
3.1 Demanda de serviços online/digital para novos e
3.2. Demanda de serviço
s para clientes
o que pode ser justificado pelo fato das agências indicarem que as demandas
online se
tornaram a maior demanda de serviços, tanto para os novos quanto para os antigos clientes. Neste
sobre a possibilidade de unificar as subcategorias
3.1. e 3.2. Contudo, alguns tópicos levantados pelos gestores também indicaram práticas publicitárias
áticas de Publicidade e Propaganda (Categoria 3)
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
A “arte da malandragem” entre a farsa e a tragédia
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i2
Resumo: A obra
literária não é uma fala sobre a realidade, mas um modo de falar a sociedade. Com
base nessa premissa etnográfica, o texto explora a relação simbólica da literatura com alguns
momentos da história cultural e política brasileira desde o Império. O objetivo
de significado da malandragem ao longo do tempo destacando suas aproximações e diferenças com
outras categorias do imaginário cultural e político brasileiro como o favor, o jeitinho, a corrupção, que
embora vistos com desconfiança e de
aspectos significativos da realidade contemporânea. Assim a “arte da malandragem”, entendida como
um conjunto de representações e práticas simbólicas, constitui uma narrativa de longa duração na
q
ual se revela o drama de uma sociedade cuja história oscila entre a farsa e a tragédia.
Palavras-chave:
Favor; malandragem; jeitinho; corrupção; farsa; tragédia.
El "arte de las artimañas" entre la farsa y la tragedia
duración
Resumen
: La obra literaria no es un discurso sobre la realidad, sino una forma de hablar a la
sociedad. Basado en esta premisa etnográfica, el texto explora la relación simbólica de la literatura
con algunos momentos de la historia cultural y
analizar el cambio de significado de malandragem a lo largo del tiempo destacando sus
aproximaciones y diferencias con otras categorías del imaginario cultural y político brasileño, como el
favor, el cami
no, la corrupción, que aunque se ve con recelo y descrédito hoy en día, todavía revela
de una manera densa y crítica aspectos significativos de la realidad contemporánea. Así, el "arte de
malandragem", entendido como un conjunto de representaciones y práct
una narrativa duradera en la que se revela el drama de una sociedad cuya historia oscila
farsa y la tragedia.
Palabras clave
: Favor; engaño; sentido; corrupción; farsa; tragedia.
1
Gilmar Rocha.
Doutor Antropologia Cultural (PPGSA/IFCS/UFRJ). Professor do Departamento de
Artes e Estudos Culturais (RAE) e do Programa de Pós Graduação Cultura e Territorialidades
(PPCULT) da Universidade Federal Fluminense (UFF), Brasil. E
https://orcid.org/0000-0002-
1398
Texto recebido em 27/1
0/2020, aceit
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
A “arte da malandragem” entre a farsa e a tragédia
-
uma narrativa dramática
de longa duração
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i2
0.46951
literária não é uma fala sobre a realidade, mas um modo de falar a sociedade. Com
base nessa premissa etnográfica, o texto explora a relação simbólica da literatura com alguns
momentos da história cultural e política brasileira desde o Império. O objetivo
é analisar a mudança
de significado da malandragem ao longo do tempo destacando suas aproximações e diferenças com
outras categorias do imaginário cultural e político brasileiro como o favor, o jeitinho, a corrupção, que
embora vistos com desconfiança e de
scrédito hoje, ainda assim revelam de forma densa e critica
aspectos significativos da realidade contemporânea. Assim a “arte da malandragem”, entendida como
um conjunto de representações e práticas simbólicas, constitui uma narrativa de longa duração na
ual se revela o drama de uma sociedade cuja história oscila entre a farsa e a tragédia.
Favor; malandragem; jeitinho; corrupção; farsa; tragédia.
El "arte de las artimañas" entre la farsa y la tragedia
-
una narrativa dramática de larga
: La obra literaria no es un discurso sobre la realidad, sino una forma de hablar a la
sociedad. Basado en esta premisa etnográfica, el texto explora la relación simbólica de la literatura
con algunos momentos de la historia cultural y
política brasileña desde el Imperio. El objetivo es
analizar el cambio de significado de malandragem a lo largo del tiempo destacando sus
aproximaciones y diferencias con otras categorías del imaginario cultural y político brasileño, como el
no, la corrupción, que aunque se ve con recelo y descrédito hoy en día, todavía revela
de una manera densa y crítica aspectos significativos de la realidad contemporánea. Así, el "arte de
malandragem", entendido como un conjunto de representaciones y práct
icas simbólicas, constituye
una narrativa duradera en la que se revela el drama de una sociedad cuya historia oscila
: Favor; engaño; sentido; corrupción; farsa; tragedia.
Doutor Antropologia Cultural (PPGSA/IFCS/UFRJ). Professor do Departamento de
Artes e Estudos Culturais (RAE) e do Programa de Pós Graduação Cultura e Territorialidades
(PPCULT) da Universidade Federal Fluminense (UFF), Brasil. E
-mail:
gr@id.uff.br
1398
-3742
0/2020, aceit
o para publicação em 24/11
/2020 e disponibilizado online
em 01/03/2021.
358
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
uma narrativa dramática
Gilmar Rocha
1
literária não é uma fala sobre a realidade, mas um modo de falar a sociedade. Com
base nessa premissa etnográfica, o texto explora a relação simbólica da literatura com alguns
é analisar a mudança
de significado da malandragem ao longo do tempo destacando suas aproximações e diferenças com
outras categorias do imaginário cultural e político brasileiro como o favor, o jeitinho, a corrupção, que
scrédito hoje, ainda assim revelam de forma densa e critica
aspectos significativos da realidade contemporânea. Assim a “arte da malandragem”, entendida como
um conjunto de representações e práticas simbólicas, constitui uma narrativa de longa duração na
ual se revela o drama de uma sociedade cuja história oscila entre a farsa e a tragédia.
una narrativa dramática de larga
: La obra literaria no es un discurso sobre la realidad, sino una forma de hablar a la
sociedad. Basado en esta premisa etnográfica, el texto explora la relación simbólica de la literatura
política brasileña desde el Imperio. El objetivo es
analizar el cambio de significado de malandragem a lo largo del tiempo destacando sus
aproximaciones y diferencias con otras categorías del imaginario cultural y político brasileño, como el
no, la corrupción, que aunque se ve con recelo y descrédito hoy en día, todavía revela
de una manera densa y crítica aspectos significativos de la realidad contemporánea. Así, el "arte de
icas simbólicas, constituye
una narrativa duradera en la que se revela el drama de una sociedad cuya historia oscila
entre la
Doutor Antropologia Cultural (PPGSA/IFCS/UFRJ). Professor do Departamento de
Artes e Estudos Culturais (RAE) e do Programa de Pós Graduação Cultura e Territorialidades
gr@id.uff.br
-
/2020 e disponibilizado online
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
The “art of trickery” between
burlesque and tragedy
Abstract:
This literary work is not a speech about reality, but a way of speaking to society. Based on
this ethnographic premise, the text explores the symbolic relationship between literature and
moments of Brazilian cultural and political history since the Empire. The objective is to analyze the
change in the meaning of trickery over time, highlighting its similarities and differences with other
categories of Brazilian cultural and political
which although viewed with suspicion and discredit today, still reveal in a dense and critical way
significant aspects of contemporary reality. Thus, the “art of trickery”, understood as a set of sy
representations and practices, constitutes a long
whose history oscillates between mock and tragedy is revealed.
Keywords:
Favor; trickery; Brazilian way; corruption; humbug; tragedy.
A “arte da malandragem” entre a farsa e a tragédia
Introdução
Este ensaio nasce
inquietação germinada com os
acontecimentos dos últimos anos no
país. O ponto de partida é
a impressão
de que vivemos hoje, à exemplo de
outros momentos na história, uma
infeliz repetição que traz de volta o
apotegma de Marx n’
Brumário de
Luís Bonaparte
ele diz: “Hegel observa em uma de
suas obras que todos os fatos e
personagens de grande importância na
história do mundo ocorrem, por assim
dizer, duas vezes. E esqueceu
acrescentar: a primeira vez como
tragédia, a segunda como
(MARX,
1978, p. 329). Mas, nossa
história parece ser mais trágica, talvez
porque encompasse a farsa;
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
burlesque and tragedy
- a long-
lasting dramatic narrative
This literary work is not a speech about reality, but a way of speaking to society. Based on
this ethnographic premise, the text explores the symbolic relationship between literature and
moments of Brazilian cultural and political history since the Empire. The objective is to analyze the
change in the meaning of trickery over time, highlighting its similarities and differences with other
categories of Brazilian cultural and political
imagery such as favor, the Brazilian way, the corruption,
which although viewed with suspicion and discredit today, still reveal in a dense and critical way
significant aspects of contemporary reality. Thus, the “art of trickery”, understood as a set of sy
representations and practices, constitutes a long
-
lasting narrative in which the drama of a society
whose history oscillates between mock and tragedy is revealed.
Favor; trickery; Brazilian way; corruption; humbug; tragedy.
A “arte da malandragem” entre a farsa e a tragédia
-
uma narrativa dramática
de longa duração
Este ensaio nasce
de uma
inquietação germinada com os
acontecimentos dos últimos anos no
a impressão
de que vivemos hoje, à exemplo de
outros momentos na história, uma
infeliz repetição que traz de volta o
apotegma de Marx n’
O Dezoito
Luís Bonaparte
quando
ele diz: “Hegel observa em uma de
suas obras que todos os fatos e
personagens de grande importância na
história do mundo ocorrem, por assim
dizer, duas vezes. E esqueceu
-se de
acrescentar: a primeira vez como
tragédia, a segunda como
farsa"
1978, p. 329). Mas, nossa
história parece ser mais trágica, talvez
porque encompasse a farsa;
invertendo, por assim dizer, o
veredicto de Marx.
O interesse pelo tema da
malandragem no momento em que os
escândalos de corrupção, então
espetacu
larizados nos meios de
comunicação tomam conta do país,
denuncia mais do que uma farsa
senão um trágico parentesco de
origem que reverbera estruturalmente
como gênero de drama social que
atravessa nossa história desde ao
menos o “tempo do rei”
acentua no curso da história
republicana.
2
Referência a frase inicial de Manuel Antônio
de Almeida em
Memórias de um sargento de
milícias
, romance que na leitura de Antônio
Cândido (1988) introduz o malandro na
novelística nacional brasileira.
359
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
lasting dramatic narrative
This literary work is not a speech about reality, but a way of speaking to society. Based on
this ethnographic premise, the text explores the symbolic relationship between literature and
some
moments of Brazilian cultural and political history since the Empire. The objective is to analyze the
change in the meaning of trickery over time, highlighting its similarities and differences with other
imagery such as favor, the Brazilian way, the corruption,
which although viewed with suspicion and discredit today, still reveal in a dense and critical way
significant aspects of contemporary reality. Thus, the “art of trickery”, understood as a set of sy
mbolic
lasting narrative in which the drama of a society
uma narrativa dramática
invertendo, por assim dizer, o
O interesse pelo tema da
malandragem no momento em que os
escândalos de corrupção, então
larizados nos meios de
comunicação tomam conta do país,
denuncia mais do que uma farsa
senão um trágico parentesco de
origem que reverbera estruturalmente
como gênero de drama social que
atravessa nossa história desde ao
menos o “tempo do rei”
2
, e que se
acentua no curso da história
Referência a frase inicial de Manuel Antônio
Memórias de um sargento de
, romance que na leitura de Antônio
Cândido (1988) introduz o malandro na
novelística nacional brasileira.
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
Qual o significado da
malandragem no Brasil hoje? A
pergunta tem razão de ser, pois o
significado da malandragem no Brasil
de ontem, parece nos conduzir a uma
visão contrária ao drama vivido
atualmente com relação
escândalos de corrupção e de
violência; muito embora escandalosa
mesmo é a desigualdade social
fenômeno estrutural -
no “país da
malandragem”. Frente às inúmeras
denúncias de corrupção que, para
além dos escândalos trazidos à tona
com a “Lava Jato”
3
,
grassam nos mais
variados setores da vida pública no
país em nível municipal, estadual e
federal, nas mais variadas áreas como
saúde, educação, segurança,
envolvendo empreiteiras, prestadores
de serviços, políticos, milicianos,
servidores públicos, empres
juízes etc., a malandragem ganha
contornos românticos e nostálgicos
como símbolo de uma época distante
3
Um dos mais famosos esquemas de
corrupção já denunc
iado no país, cuja
espetacularização política e moralista
encapsula o verdadeiro problema da
sociedade brasileira: a nossa colonial
desigualdade social.
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Qual o significado da
malandragem no Brasil hoje? A
pergunta tem razão de ser, pois o
significado da malandragem no Brasil
de ontem, parece nos conduzir a uma
visão contrária ao drama vivido
atualmente com relação
aos
escândalos de corrupção e de
violência; muito embora escandalosa
mesmo é a desigualdade social
-
no “país da
malandragem”. Frente às inúmeras
denúncias de corrupção que, para
além dos escândalos trazidos à tona
grassam nos mais
variados setores da vida pública no
país em nível municipal, estadual e
federal, nas mais variadas áreas como
saúde, educação, segurança,
envolvendo empreiteiras, prestadores
de serviços, políticos, milicianos,
servidores públicos, empres
ários,
juízes etc., a malandragem ganha
contornos românticos e nostálgicos
como símbolo de uma época distante
Um dos mais famosos esquemas de
iado no país, cuja
espetacularização política e moralista
encapsula o verdadeiro problema da
sociedade brasileira: a nossa colonial
e, até certo ponto, de um “mundo sem
culpa”
4
.
A verdade é que a
malandragem constitui um sistema
amplo, complexo e desafiador, se se
leva em con
ta a multivocalidade das
categorias que a compõem, tais como:
favor, jeitinho, corrupção, gambiarra
(NASCIMENTO, 2017). Embora
subscrevam práticas sociais diferentes
desenvolvidas ao longo do tempo,
muitas vezes essas categorias são
tomadas como sinônimas,
exemplo, Roberto DaMatta define o
malandro um “profissional do jeitinho”
(1986, p. 102). Podemos então nos
perguntar: qual o grau de parentesco
entre essas categorias? A corrupção
de hoje é filha da malandragem de
ontem? um
continnum
en
tre esses fenômenos? São eles a
dupla face de Jano? Malandros,
bandidos, políticos e milicianos, quiçá,
empresários, são a expressão facial de
um hipodigma?
5
4
De certa forma, a tese do “mundo sem
culpa”, enunciada por Antônio Candido
começa a ser idealizada já
1950, segundo Michel Misse (1999).
5
Conceito utilizado por Cavalcanti Proença
(1978), para caracterizar
Macunaíma o herói
sem nenhum caráter
cujo significado remete a
ideia do personagem ser portador de todos os
caracteres conhecidos de
espécie, no caso, o malandro.
360
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
e, até certo ponto, de um “mundo sem
A verdade é que a
malandragem constitui um sistema
amplo, complexo e desafiador, se se
ta a multivocalidade das
categorias que a compõem, tais como:
favor, jeitinho, corrupção, gambiarra
(NASCIMENTO, 2017). Embora
subscrevam práticas sociais diferentes
desenvolvidas ao longo do tempo,
muitas vezes essas categorias são
tomadas como sinônimas,
por
exemplo, Roberto DaMatta define o
malandro um “profissional do jeitinho”
(1986, p. 102). Podemos então nos
perguntar: qual o grau de parentesco
entre essas categorias? A corrupção
de hoje é filha da malandragem de
continnum
sociológico
tre esses fenômenos? São eles a
dupla face de Jano? Malandros,
bandidos, políticos e milicianos, quiçá,
empresários, são a expressão facial de
Sem pretender
De certa forma, a tese do “mundo sem
culpa”, enunciada por Antônio Candido
começa a ser idealizada já
nos idos dos anos
1950, segundo Michel Misse (1999).
Conceito utilizado por Cavalcanti Proença
Macunaíma o herói
cujo significado remete a
ideia do personagem ser portador de todos os
determinada
espécie, no caso, o malandro.
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
estabelecer a hereditariedade entre
uma e outra, interessa pensar o
significado da m
alandragem ao longo
do tempo tomando a literatura como
caminho da análise simbólica.
A verdade é que o
carnaval, do futebol, do samba e da
malandragem” é também o país das
mazelas sociais, dos assassinatos de
jovens negros pobres da periferia, da
intolerância religiosa, do agronegócio e
do agrotóxico, dos desmatamentos e
das grilagens de terras indígenas,
enfim, um país que parece fiel à sua
história desde a colônia. À pergunta:
Que país é este?; uma reposta, entre
outras: este é o país entre os d
pior índice de desigualdade social do
mundo. “O país que não é sério e onde
tudo acaba em festa”, terra do “homem
cordial”
comumente confundido com
“doçura” ou “bondade natural”
mesmo tempo se revela desigual,
violento, excludente e conservad
Farsa ou tragédia, eis a questão?
Um drama social de longa duração
Sem perder de vista a
diversidade de tipos, práticas e
representações que a “cultura da
malandragem” incorporou na
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
estabelecer a hereditariedade entre
uma e outra, interessa pensar o
alandragem ao longo
do tempo tomando a literatura como
caminho da análise simbólica.
A verdade é que o
"país do
carnaval, do futebol, do samba e da
malandragem” é também o país das
mazelas sociais, dos assassinatos de
jovens negros pobres da periferia, da
intolerância religiosa, do agronegócio e
do agrotóxico, dos desmatamentos e
das grilagens de terras indígenas,
enfim, um país que parece fiel à sua
história desde a colônia. À pergunta:
Que país é este?; uma reposta, entre
outras: este é o país entre os d
ez com
pior índice de desigualdade social do
mundo. “O país que não é sério e onde
tudo acaba em festa”, terra do “homem
comumente confundido com
“doçura” ou “bondade natural”
- ao
mesmo tempo se revela desigual,
violento, excludente e conservad
or.
Farsa ou tragédia, eis a questão?
Um drama social de longa duração
Sem perder de vista a
diversidade de tipos, práticas e
representações que a “cultura da
malandragem” incorporou na
sociedade brasileira
ponto de partida a leitura de Lívia
Barbosa (1992) sobre o “jeitinho
brasileiro” a fim de expor meu
argumento exploratório e, por isso
mesmo, (in)conclusivo. Do ponto de
vista da antropóloga, o “jeitinho” pode
ser assim representado
estruturalmente:
(+) (+) / (-
)
____________________________
Favor Jeito
O esquema ilustra a dificuldade
em se definir o “jeitinho” no universo
social brasileiro, pois “o que é e o que
não é jeito
varia bastante”, adverte
Barbosa
(1992, p. 33)
elemento que pudéssemos assinalar
cuja presença configuraria uma
situação que fosse definida por todos
como jeito
”. Assim sendo, o jeitinho se
localiza em meio às categorias afins
“favor” e “corrupção” estabelecendo
um continuum
entre elas à medida que
se aproxima ora positivamente de
uma, ora negativamente de outra,
convivendo muitas vezes
6
Pode-
se destacar desde a figura jurídica do
vadio às figuras simbólicas do sambista, do
valente, do cafajeste, do pilantra, do
contraventor, do bicheiro, do “despachante”,
do "171” ao “bicho solto” e tantos outr
361
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
sociedade brasileira
6
, tomo como
ponto de partida a leitura de Lívia
Barbosa (1992) sobre o “jeitinho
brasileiro” a fim de expor meu
argumento exploratório e, por isso
mesmo, (in)conclusivo. Do ponto de
vista da antropóloga, o “jeitinho” pode
ser assim representado
)
(-)
____________________________
Corrupção
O esquema ilustra a dificuldade
em se definir o “jeitinho” no universo
social brasileiro, pois “o que é e o que
varia bastante”, adverte
-nos
(1992, p. 33)
: “Não existe um
elemento que pudéssemos assinalar
cuja presença configuraria uma
situação que fosse definida por todos
”. Assim sendo, o jeitinho se
localiza em meio às categorias afins
“favor” e “corrupção” estabelecendo
entre elas à medida que
se aproxima ora positivamente de
uma, ora negativamente de outra,
convivendo muitas vezes
se destacar desde a figura jurídica do
vadio às figuras simbólicas do sambista, do
valente, do cafajeste, do pilantra, do
contraventor, do bicheiro, do “despachante”,
do "171” ao “bicho solto” e tantos outr
os.
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
transversalmente. À primeira vista,
trata-
se de um movimento
interativo/conflitivo que varia no
espaço e no tempo, muito embora o
“favor” a
presente maior sintonia com
os sistemas de características
tradicionais e a “corrupção” se
aproxime dos sistemas sociais
contemporâneos individualizados. A
depender da situação, isso não
impede de se ver a combinação
desses expedientes em um mesmo
personag
em ou mesmo ambiente
social simultaneamente.
Num exercício de “imaginação
poética” (em devaneio com Bachelard,
1988) vejo nas obras de Manuel
Antônio de Almeida (1988), Millôr
Fernandes (1981), Chico Buarque de
Holanda (1980) e Fernando Jorge
(2003), a ex
emplo dos ritos de
passagem, uma narrativa dramática
sobre a mudança de
malandro e da malandragem ao longo
do tempo, protagonizada pelos
personagens Leonardo Pataca, Max
Overseas e Piranha da Fonseca
Albuquerque (e seus contrários:
Vidigal, Inspe
tor Chaves e os
“militares”), cujo “parentesco
simbólico” os vinculam à tradição
malandra na cultura popular brasileira
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
transversalmente. À primeira vista,
se de um movimento
interativo/conflitivo que varia no
espaço e no tempo, muito embora o
presente maior sintonia com
os sistemas de características
tradicionais e a “corrupção” se
aproxime dos sistemas sociais
contemporâneos individualizados. A
depender da situação, isso não
impede de se ver a combinação
desses expedientes em um mesmo
em ou mesmo ambiente
Num exercício de “imaginação
poética” (em devaneio com Bachelard,
1988) vejo nas obras de Manuel
Antônio de Almeida (1988), Millôr
Fernandes (1981), Chico Buarque de
Holanda (1980) e Fernando Jorge
emplo dos ritos de
passagem, uma narrativa dramática
sobre a mudança de
status do
malandro e da malandragem ao longo
do tempo, protagonizada pelos
personagens Leonardo Pataca, Max
Overseas e Piranha da Fonseca
Albuquerque (e seus contrários:
tor Chaves e os
“militares”), cujo “parentesco
simbólico” os vinculam à tradição
malandra na cultura popular brasileira
na forma de literatura, teatro, música,
cinema etc. O conjunto dessas obras
forma uma narrativa de longa duração
na qual se revelam algu
sociais mais arraigados no imaginário
cultural brasileiro aqui, definido, como
“arte da malandragem”
Não é demais lembrar que a
literatura constitui uma espécie de
narrativa etnográfica em que as obras
literárias podem ser vistas como
“nar
rativas míticas”, sugere DaMatta
(1993). Assim, combinando a
dramatização ritual e a narrativa mítica
que o conjunto das obras encenam,
proponho uma análise em três tempos
na qual se destaca: 1) a instituição do
favor em meio as
Memórias de um
sargento de
milícias;
memórias do
Vidigal
Fernandes, também seja ambientada
no “tempo do rei” constitui uma
metáfora do Estado militarizado dos
anos 1960, e divide com a
malandro,
ambientada na Lapa dos
anos 1940, o processo de
7
A definição visa circunscrever o campo da
observação e não a substância dos fatos
(Mauss, 1981). O drama social, nos termos de
Turner (2008), é entendido como metáfora ou
modelo por meio do qual se pode apreender
processualmente parte do comportamento
social humano como ação simbólica. Sobre a
relação imaginação e cultura ver Rocha
(2016).
362
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
na forma de literatura, teatro, música,
cinema etc. O conjunto dessas obras
forma uma narrativa de longa duração
na qual se revelam algu
ns dos dramas
sociais mais arraigados no imaginário
cultural brasileiro aqui, definido, como
“arte da malandragem”
7
.
Não é demais lembrar que a
literatura constitui uma espécie de
narrativa etnográfica em que as obras
literárias podem ser vistas como
rativas míticas”, sugere DaMatta
(1993). Assim, combinando a
dramatização ritual e a narrativa mítica
que o conjunto das obras encenam,
proponho uma análise em três tempos
na qual se destaca: 1) a instituição do
Memórias de um
milícias;
2) embora as
Vidigal
, de Millôr
Fernandes, também seja ambientada
no “tempo do rei” constitui uma
metáfora do Estado militarizado dos
anos 1960, e divide com a
Ópera do
ambientada na Lapa dos
anos 1940, o processo de
A definição visa circunscrever o campo da
observação e não a substância dos fatos
(Mauss, 1981). O drama social, nos termos de
Turner (2008), é entendido como metáfora ou
modelo por meio do qual se pode apreender
processualmente parte do comportamento
social humano como ação simbólica. Sobre a
relação imaginação e cultura ver Rocha
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
“profis
sionalização” do malandro em
tempos de modernização e populismo
e de universalização do “jeitinho”; 3) a
saga de “Piranha da Fonseca
Albuquerque”, protagonista de
grande líder
, personagem corrupto
inclinado à todo tipo de vilania que
“para o bem de todos
e a felicidade
geral da nação” se sacrifica, ao
candidatar-
se à presidência da
república visando salvar a tria
amada
8
.
Ao final, todo esse percurso nos
leva a pensar, inconclusivamente: qual
a eficácia simbólica da “arte da
malandragem”para se pensar
hoje?
A favor da malandragem
“Era no tempo do rei”. É assim
que Manuel Antônio de Almeida inicia
Memórias de um sargento de milícias
romance que na caracterização de
Antônio Cândido (1988) imita a
estrutura da sociedade brasileira do
século XIX
e revela a dialética da
ordem e da desordem que a coloca em
movimento. Leonardo filho, nascido de
8
Sabe-
se que momentos de crise nas
sociedades são férteis para a emergência de
líderes carismáticos, salvadores da pátria,
anunciando um novo mundo (LINDHOLM,
1993).
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
sionalização” do malandro em
tempos de modernização e populismo
e de universalização do “jeitinho”; 3) a
saga de “Piranha da Fonseca
Albuquerque”, protagonista de
O
, personagem corrupto
inclinado à todo tipo de vilania que
e a felicidade
geral da nação” se sacrifica, ao
se à presidência da
república visando salvar a tria
Ao final, todo esse percurso nos
leva a pensar, inconclusivamente: qual
a eficácia simbólica da “arte da
malandragem”para se pensar
o Brasil
“Era no tempo do rei”. É assim
que Manuel Antônio de Almeida inicia
Memórias de um sargento de milícias
,
romance que na caracterização de
Antônio Cândido (1988) imita a
estrutura da sociedade brasileira do
e revela a dialética da
ordem e da desordem que a coloca em
movimento. Leonardo filho, nascido de
se que momentos de crise nas
sociedades são férteis para a emergência de
líderes carismáticos, salvadores da pátria,
anunciando um novo mundo (LINDHOLM,
uma “pisadela e um beliscão” tão logo
aprendeu a “andar e falar tornou
um flagelo”: “Era, além de traquinas,
guloso; quando não traquinava, comia.
A Maria
[a mãe] não lhe perdoava;
trazia-
lhe bem maltratada uma região
do corpo; porém ele não se emendava,
que era também teimoso, e as
travessuras recomeçavam mal
acabava a dor das palmadas”
(ALMEIDA, 1988, p. 11). Após ser
abandonado pelo pai, Leonardo será
cr
iado pelo padrinho e dele receberá
toda atenção e perdão pelos malfeitos
na escola ou na sacristia. Em verdade,
o padrinho haveria de protegê
mesmo depois de morto, deixando
algo em testamento.
Como bem observa Antônio
Cândido (1988)
, suprimin
romance as classes dominantes e o
escravo, Manuel Antônio de Almeida
coloca em destaque os setores baixo e
médio da sociedade revelando a
estrutura e a dialética que movimenta
tanto as personagens do romance
quanto a própria sociedade. O
romance imit
a a história. Assim, é em
meio ao jogo bruxuleante entre a
ordem e a desordem que o malandro
navega à exemplo da própria
sociedade que ele representa. Embora
363
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
uma “pisadela e um beliscão” tão logo
aprendeu a “andar e falar tornou
-se
um flagelo”: “Era, além de traquinas,
guloso; quando não traquinava, comia.
[a mãe] não lhe perdoava;
lhe bem maltratada uma região
do corpo; porém ele não se emendava,
que era também teimoso, e as
travessuras recomeçavam mal
acabava a dor das palmadas”
(ALMEIDA, 1988, p. 11). Após ser
abandonado pelo pai, Leonardo será
iado pelo padrinho e dele receberá
toda atenção e perdão pelos malfeitos
na escola ou na sacristia. Em verdade,
o padrinho haveria de protegê
-lo até
mesmo depois de morto, deixando
-lhe
Como bem observa Antônio
, suprimin
do do
romance as classes dominantes e o
escravo, Manuel Antônio de Almeida
coloca em destaque os setores baixo e
médio da sociedade revelando a
estrutura e a dialética que movimenta
tanto as personagens do romance
quanto a própria sociedade. O
a a história. Assim, é em
meio ao jogo bruxuleante entre a
ordem e a desordem que o malandro
navega à exemplo da própria
sociedade que ele representa. Embora
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
longa, a citação a seguir ilustra o que o
sociólogo desvela nas aventuras e
desventuras de Leonard
o Pataca no
Rio de Janeiro do “tempo do rei”:
É burla e é sério, porque a sociedade
que formiga nas Memórias é
sugestiva, não tanto por causa das
descrições de festejos ou indicações
de usos e lugares; mas porque
manifesta num plano mais fundo e
eficiente
o referido jogo dialético da
ordem e da desordem, funcionando
como correlativo ao que se
manifestava na sociedade daquele
tempo. Ordem dificilmente imposta e
mantida, cercada de todos os lados
por uma desordem vivaz, que
antepunha vinte mancebias a cada
ca
samento e mil uniões fortuitas a
cada mancebia. Sociedade na qual
uns poucos livres trabalhavam e os
outros flauteavam ao deus
colhendo as sobras do parasitismo,
dos expedientes, das munificências,
da sorte ou do roubo miúdo.
Suprimindo o escravo, Ma
Antônio suprimiu quase totalmente o
trabalho, suprimindo as classes
dirigentes, suprimiu os controles do
mando. Ficou o ar de jogo dessa
organização bruxuleante fissurada
pela anomia, que se traduz na dança
dos personagens entre lícito e ilícito,
sem
que possamos afinal dizer o que
é um e o que é o outro, porque todos
acabam circulando de um para outro
com uma naturalidade que lembra o
modo de formação das famílias, dos
prestígios, das fortunas, das
reputações, no Brasil urbano da
primeira metade do
Romance profundamente social,
pois, não por ser documentário, mas
por ser construído segundo o ritmo
geral da sociedade, vista através de
um dos seus setores. E sobretudo
porque dissolve o que de
sociologicamente essencial nos
meandros da cons
trução literária”
(CÂNDIDO,
1988, p. 209).
Não é preciso muito esforço
para se perceber que toda essa
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
longa, a citação a seguir ilustra o que o
sociólogo desvela nas aventuras e
o Pataca no
Rio de Janeiro do “tempo do rei”:
É burla e é sério, porque a sociedade
que formiga nas Memórias é
sugestiva, não tanto por causa das
descrições de festejos ou indicações
de usos e lugares; mas porque
manifesta num plano mais fundo e
o referido jogo dialético da
ordem e da desordem, funcionando
como correlativo ao que se
manifestava na sociedade daquele
tempo. Ordem dificilmente imposta e
mantida, cercada de todos os lados
por uma desordem vivaz, que
antepunha vinte mancebias a cada
samento e mil uniões fortuitas a
cada mancebia. Sociedade na qual
uns poucos livres trabalhavam e os
outros flauteavam ao deus
-dará,
colhendo as sobras do parasitismo,
dos expedientes, das munificências,
da sorte ou do roubo miúdo.
Suprimindo o escravo, Ma
nuel
Antônio suprimiu quase totalmente o
trabalho, suprimindo as classes
dirigentes, suprimiu os controles do
mando. Ficou o ar de jogo dessa
organização bruxuleante fissurada
pela anomia, que se traduz na dança
dos personagens entre lícito e ilícito,
que possamos afinal dizer o que
é um e o que é o outro, porque todos
acabam circulando de um para outro
com uma naturalidade que lembra o
modo de formação das famílias, dos
prestígios, das fortunas, das
reputações, no Brasil urbano da
primeira metade do
culo XIX.
Romance profundamente social,
pois, não por ser documentário, mas
por ser construído segundo o ritmo
geral da sociedade, vista através de
um dos seus setores. E sobretudo
porque dissolve o que de
sociologicamente essencial nos
trução literária”
1988, p. 209).
Não é preciso muito esforço
para se perceber que toda essa
“cultura da malandragem” que se
desenvolve desde então, apresenta
grande afinidade com a instituição do
“favor” como nos sugere Roberto
Schwarz em suas “Ideias fora do
lugar”. A categoria
favor
mundo de representações e práticas
que no dizer de
Schwarz
“atravessou e afetou no conjunto a
existência nacional” desde a nossa
formação colonial. O
no mecanismo básico de estruturação
das relações sociais, sobretudo, entre
o senhor e os homens livres, que o
escravo pe
rmaneceu à margem por
quase toda a colonização fora dessa
“economia simbólica”.
nossa mediação quase universal
destaca o crítico literário, pois “sendo
mais simpático do que o nexo
escravista, a outra relação que a
colônia nos legara, é comp
que os escritores tenham baseado
nele a sua interpretação do Brasil,
involuntariamente disfarçando a
violência, que sempre reinou na esfera
da produção”, dirá o autor
(SCHWARZ, 1981, p. 16). E, a se
julgar o desfecho das
sargento d
e milícias
dialética da malandragem que
estrutura e movimenta o romance e a
364
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
“cultura da malandragem” que se
desenvolve desde então, apresenta
grande afinidade com a instituição do
“favor” como nos sugere Roberto
Schwarz em suas “Ideias fora do
favor
remete a um
mundo de representações e práticas
Schwarz
(1981, p. 16)
“atravessou e afetou no conjunto a
existência nacional” desde a nossa
formação colonial. O
favor se constitui
no mecanismo básico de estruturação
das relações sociais, sobretudo, entre
o senhor e os homens livres, que o
rmaneceu à margem por
quase toda a colonização fora dessa
“economia simbólica”.
O favor é a
nossa mediação quase universal
”,
destaca o crítico literário, pois “sendo
mais simpático do que o nexo
escravista, a outra relação que a
colônia nos legara, é comp
reensível
que os escritores tenham baseado
nele a sua interpretação do Brasil,
involuntariamente disfarçando a
violência, que sempre reinou na esfera
da produção”, dirá o autor
(SCHWARZ, 1981, p. 16). E, a se
julgar o desfecho das
Memórias de um
e milícias
, de fato, na
dialética da malandragem que
estrutura e movimenta o romance e a
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
sociedade da época, o favor e o
jeitinho são vividos dramaticamente
pelas personagens Leonardo e seu
algoz, Major Vidigal. Cada um à sua
maneira irá contrariar o contr
outras palavras, ao final do romance a
personagem Leonardo filho
perseguido duramente pelo Major
Vidigal -
, acaba se transformando em
sargento da milícia e se casa com
Luisinha
sua paixão desde a
infância. Na verdade, sua promoção é
o resultad
o de um sistema de trocas
de favores, que envolve Leonardo e
sua madrinha Dona Maria que para
livrar o afilhado da prisão recorre a
Maria Regalada, objeto de desejo de
Vidigal que, no último momento, cede
à promessa de uma vida em conjunto,
ao que tudo indica
9
.
André Bueno
(2008)
dialética da malandragem à luz da
análise de Roberto Schwarz em
“Pressupostos, salvo engano, de
Dialética da malandragem” para
destacar, salvo engano, o efeito da
“redução estrutural” produzida pela
9
Vale lembrar, a relação entre a polícia e a
malandragem sempre foi tensa e ambígua,
como se pode ver desde “Pelo telefone”,
gravada por Donga em 1910, a violenta
relação do famoso marginal Lucio Flavio Lírio
com o Esquadrão da morte nos idos de 1970,
e
os milicianos hoje (CANO; DUARTE, 2012).
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
sociedade da época, o favor e o
jeitinho são vividos dramaticamente
pelas personagens Leonardo e seu
algoz, Major Vidigal. Cada um à sua
maneira irá contrariar o contr
ário. Em
outras palavras, ao final do romance a
personagem Leonardo filho
-
perseguido duramente pelo Major
, acaba se transformando em
sargento da milícia e se casa com
sua paixão desde a
infância. Na verdade, sua promoção é
o de um sistema de trocas
de favores, que envolve Leonardo e
sua madrinha Dona Maria que para
livrar o afilhado da prisão recorre a
Maria Regalada, objeto de desejo de
Vidigal que, no último momento, cede
à promessa de uma vida em conjunto,
(2008)
retoma a
dialética da malandragem à luz da
análise de Roberto Schwarz em
“Pressupostos, salvo engano, de
Dialética da malandragem” para
destacar, salvo engano, o efeito da
“redução estrutural” produzida pela
Vale lembrar, a relação entre a polícia e a
malandragem sempre foi tensa e ambígua,
como se pode ver desde “Pelo telefone”,
gravada por Donga em 1910, a violenta
relação do famoso marginal Lucio Flavio Lírio
com o Esquadrão da morte nos idos de 1970,
os milicianos hoje (CANO; DUARTE, 2012).
análise de Antônio
Candido sobre o
texto de Manuel Antônio de Almeida.
Ao enfatizar a supressão do senhor e
do escravo e tomar como referência os
setores intermediários da sociedade,
Antônio Candido suprimiu a
possibilidade do conflito, a “luta de
classes”, promovendo uma
in
terpretação em sintonia com outros
intérpretes do Brasil desde os anos
1930. Ratificando então a análise de
Schwarz, Bueno se pergunta: “por que
interpretar o Brasília partir desse
específico setor da totalidade, dos que
não trabalham regularmente, nem
man
dam e nem acumulam, localizando
uma longa tradição, a própria
dialética da malandragem?” (
2008, p. 60). O efeito então da
supressão do mundo do trabalho e do
mando, e a fixação nos homens livres,
porém, presos à cultura do favor, fez
com que a an
álise de Antônio Cândido
transformasse o que era próprio de um
setor de classe em traço do ser
nacional
10
.
10
Essa proposição se estende há outras
interpretações,
por exemplo, Schwarcz (1995).
Os historiadores
João Reis e Eduardo Silva
(1989), lembram que a escravidão não era de
todo incompatível com o liberalismo, posto
todo um amplo e complexo sistema relacional
de negociações, trocas e favores se infiltraria
nas instituições sociais, econômicas etc.,
ocupando os espaços deixados em aberto
pelo capital e a desigualdade social.
365
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
Candido sobre o
texto de Manuel Antônio de Almeida.
Ao enfatizar a supressão do senhor e
do escravo e tomar como referência os
setores intermediários da sociedade,
Antônio Candido suprimiu a
possibilidade do conflito, a “luta de
classes”, promovendo uma
terpretação em sintonia com outros
intérpretes do Brasil desde os anos
1930. Ratificando então a análise de
Schwarz, Bueno se pergunta: “por que
interpretar o Brasília partir desse
específico setor da totalidade, dos que
não trabalham regularmente, nem
dam e nem acumulam, localizando
uma longa tradição, a própria
dialética da malandragem?” (
BUENO,
2008, p. 60). O efeito então da
supressão do mundo do trabalho e do
mando, e a fixação nos homens livres,
porém, presos à cultura do favor, fez
álise de Antônio Cândido
transformasse o que era próprio de um
setor de classe em traço do ser
Essa proposição se estende há outras
por exemplo, Schwarcz (1995).
João Reis e Eduardo Silva
(1989), lembram que a escravidão não era de
todo incompatível com o liberalismo, posto
que
todo um amplo e complexo sistema relacional
de negociações, trocas e favores se infiltraria
nas instituições sociais, econômicas etc.,
ocupando os espaços deixados em aberto
pelo capital e a desigualdade social.
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
Aos poucos a
persona
malandro Leonardo filho
entendido como símbolo de setores
populares-
irá dividir com outros
malandros e não-
malandros
menos não oficialmente trajando terno
de linho branco e sapato de duas
cores-
, um modo mais universal e
impessoal de malandragem que
atravessa as práticas diárias de todo
(sub)cidadão, até hoje. Não por acaso,
na abertura da segunda parte do
romance,
Manuel vaticinava: “Já veem
os leitores que a raça dos Leonardos
não de extinguir com facilidade
(CÂNDIDO, 1988, p. 93).
Um século após a publicação da
obra de Manuel Antônio de Almeida,
Millôr Fernandes trazia à público a sua
versão das Memórias...
,
ponto de vista do Major Vidigal. Versão
que apr
esenta maior sintonia com o
tempo presente de sua encenação do
que com o “tempo do rei”. Um tempo
que, de certa forma, guarda muitas
afinidades com a Lapa dos anos 1940,
da Ópera do malandro.
A (des)ordem é a regra
O cenário da
malandro
é a Lapa dos anos 1940; o
país vivia sob o Estado Novo. Obra
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
persona
do
malandro Leonardo filho
-aqui
entendido como símbolo de setores
irá dividir com outros
malandros
- ao
menos não oficialmente trajando terno
de linho branco e sapato de duas
, um modo mais universal e
impessoal de malandragem que
atravessa as práticas diárias de todo
(sub)cidadão, até hoje. Não por acaso,
na abertura da segunda parte do
Manuel vaticinava: “Já veem
os leitores que a raça dos Leonardos
não de extinguir com facilidade
Um século após a publicação da
obra de Manuel Antônio de Almeida,
Millôr Fernandes trazia à público a sua
,
agora, do
ponto de vista do Major Vidigal. Versão
esenta maior sintonia com o
tempo presente de sua encenação do
que com o “tempo do rei”. Um tempo
que, de certa forma, guarda muitas
afinidades com a Lapa dos anos 1940,
O cenário da
Ópera do
é a Lapa dos anos 1940; o
país vivia sob o Estado Novo. Obra
inspirada na
Ópera dos mendigos
Ópera dos três vinténs
Bertold Brecht & Kurt Weill,
respectivamente; a peça dramatiza o
processo
de modernização da
malandragem. No filme homônimo, de
Ruy Guerra (1986), a cena do “Desafio
do malandro” é exemplar, pois ilustra o
drama da disputa por certa imagem do
malandro. O ambiente é o salão de
bilhar, cronótopo da contenda entre
malandros escolad
os cuja disputa
ultrapassa a partida de sinuca para
revelar-
se um “jogo absorvente”. O
dueto é um duelo:
-
Você tá pensando que é da alta
sociedade
Ou vai montar exposição de souvenir
de gringo
Ou foi fazer a fé no bingo em chá de
caridade
Eu não sei não,
eu não sei não
Só sei que você vem com five
very well, my
friend
A curriola leva um choque, nego não
entende
E deita e rola e sai comentando
Que grande malandro é você
-
Você tá fazendo piada ou vai querer
que eu chore
A sua estampa eu já conheço
museu do império
Ou mausoléu de cemitério, ou feira de
folclore
Eu não sei não, eu não sei não
Só sei que você vem com reco
berimbau, farofa
A curriola tem um treco, nego faz
galhofa
E deita e rola e sai comentando
Que grande malandro é você
- Voc
ê que era um sujeito tipo jovial
Agora até mudou de nome
-
Você infelizmente continua igual
Fala bonito e passa fome
-
Vai ver que ainda vai virar
366
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
Ópera dos mendigos
e
Ópera dos três vinténs
, de John Gay e
Bertold Brecht & Kurt Weill,
respectivamente; a peça dramatiza o
de modernização da
malandragem. No filme homônimo, de
Ruy Guerra (1986), a cena do “Desafio
do malandro” é exemplar, pois ilustra o
drama da disputa por certa imagem do
malandro. O ambiente é o salão de
bilhar, cronótopo da contenda entre
os cuja disputa
ultrapassa a partida de sinuca para
se um “jogo absorvente”. O
Você tá pensando que é da alta
Ou vai montar exposição de souvenir
Ou foi fazer a fé no bingo em chá de
eu não sei não
Só sei que você vem com five
o'clock,
friend
A curriola leva um choque, nego não
E deita e rola e sai comentando
Que grande malandro é você
Você tá fazendo piada ou vai querer
A sua estampa eu já conheço
do
museu do império
Ou mausoléu de cemitério, ou feira de
Eu não sei não, eu não sei não
Só sei que você vem com reco
-reco,
A curriola tem um treco, nego faz
E deita e rola e sai comentando
Que grande malandro é você
ê que era um sujeito tipo jovial
Agora até mudou de nome
Você infelizmente continua igual
Fala bonito e passa fome
Vai ver que ainda vai virar
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
trabalhador
Que horror
-
Trabalho a minha nega e morro de
calor
-
Falta malandro se casar e ser avô
- Você nã
o sabe nem o que é o amor
Malandro infeliz
-
Amor igual ao seu, malandro tem
quarenta e não diz
-
Respeite uma mulher que é boa e
me sustenta
- Ela já foi aposentada
-
Ela me alisa e me alimenta
- A bolsa dela tá furada
- E a sua mãe tá na rua
- Se você nu
nca teve mãe, eu não
posso falar da sua
-
Eu não vou sujar a navalha nem sair
no tapa
-
É mais sutil sumir da Lapa
- Eu não jogo a toalha
-
Onde é que acaba essa batalha?
- Em fundo de caçapa
-
Eu não sei não, eu não sei não
-
Só sei que você perde a compo
quando eu pego o taco
A curriola não segura, nego coça o
saco
E deita e rola e sai comentando
que grande malandro é você
(Ruy Guerra,
Ópera do malandro
1986).
Não fazia muito tempo, Noel
Rosa e Wilson Batista também
protagonizaram uma disputa em
da imagem do malandro e que parece
prolongar-
se no jogo de bilhar entre
Max Overseas e Sátiro Bilhar
nome parece antecipar o resultado
da partida. Trajando seus indefectíveis
ternos de linho branco S-
120, Max é a
versão moderna, progressista
malandro que se recusa “usar a
navalha e a sair no tapa”; Sátiro
lembra o lado tradicional, o malandro
de antigamente, a encarnação
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Trabalho a minha nega e morro de
Falta malandro se casar e ser avô
o sabe nem o que é o amor
Amor igual ao seu, malandro tem
Respeite uma mulher que é boa e
Ela me alisa e me alimenta
nca teve mãe, eu não
Eu não vou sujar a navalha nem sair
É mais sutil sumir da Lapa
Onde é que acaba essa batalha?
Eu não sei não, eu não sei não
Só sei que você perde a compo
stura
A curriola não segura, nego coça o
E deita e rola e sai comentando
que grande malandro é você
Ópera do malandro
,
Não fazia muito tempo, Noel
Rosa e Wilson Batista também
protagonizaram uma disputa em
torno
da imagem do malandro e que parece
se no jogo de bilhar entre
Max Overseas e Sátiro Bilhar
-cujo
nome parece antecipar o resultado
da partida. Trajando seus indefectíveis
120, Max é a
versão moderna, progressista
do
malandro que se recusa “usar a
navalha e a sair no tapa”; Sátiro
lembra o lado tradicional, o malandro
de antigamente, a encarnação
folclórica de um personagem do
“tempo do império”. Tendo vencido a
partida, Sátiro recusa a forma de
pagamento proposta
isqueiro no valor de cem mil reis
alegando não servir para percussão.
Desmentindo a imagem consagrada
no imaginário popular na qual o
malandro usa a caixa de fósforo em
substituição ao pandeiro, Max combina
técnica corporal com criatividade e
realiza uma pequena performance com
o isqueiro de contrabando. À despeito
das diferenças, em comum ambos se
perguntam, afinal, que grande
malandro é você?
A verdade é que mais do que a
modernização é o fantasma da
tradição que parece assombrar o
malandro
dos tempos de Getúlio
Vargas e da Segunda Guerra. O
american way of life
americanismo se abrasileira via a
modernização conservadora e
excludente. O cientista político Luís
Werneck Vianna, em “O americanismo
da pirataria à modernização
a
utoritária (e o que se pode seguir)”,
texto de apresentação à
malandro
, lembra que no Brasil,
Ao contrário do padrão clássico de
americanismo, a hegemonia
burguesa não ‘nascerá das fábricas’.
Seu ponto de partida virá das
367
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
folclórica de um personagem do
“tempo do império”. Tendo vencido a
partida, Sátiro recusa a forma de
pagamento proposta
por Max -um
isqueiro no valor de cem mil reis
-,
alegando não servir para percussão.
Desmentindo a imagem consagrada
no imaginário popular na qual o
malandro usa a caixa de fósforo em
substituição ao pandeiro, Max combina
técnica corporal com criatividade e
realiza uma pequena performance com
o isqueiro de contrabando. À despeito
das diferenças, em comum ambos se
perguntam, afinal, que grande
A verdade é que mais do que a
modernização é o fantasma da
tradição que parece assombrar o
dos tempos de Getúlio
Vargas e da Segunda Guerra. O
invade o Rio; o
americanismo se abrasileira via a
modernização conservadora e
excludente. O cientista político Luís
Werneck Vianna, em “O americanismo
da pirataria à modernização
utoritária (e o que se pode seguir)”,
texto de apresentação à
Ópera do
, lembra que no Brasil,
Ao contrário do padrão clássico de
americanismo, a hegemonia
burguesa não ‘nascerá das fábricas’.
Seu ponto de partida virá das
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
chamadas regiões supraes
do Estado, da política, do Direito,
que irão traçar ‘de fora’ pelas mãos
dos nossos ‘junkers’ caboclos as
linhas mestras do processo de
modernização. E tempo há de rolar
até que parte das novas frações
burguesas se sinta em condições
suprema audácia-
de reivindicar para
si o controle do arsenal político do
Estado (VIANNA
apud
1980, p. 8).
E continua o autor, no Brasil “o
novo se mantinha [e se mantém] preso
ao passado. Nosso capitalismo
continuava [e continua] preso com um
na Lapa,
em escusos galpões de
fundo de praia, enlevado pelas
mamatas, e nostálgico da capatazia de
fazenda” (VIANNA
apud
1980, p. 12). Impressiona a atualidade
do texto de Vianna cuja ressonância
nos lembra uma vez mais o apotegma
de Marx com a diferença
fatos e os personagens de grande
importância em nossa história
ocorrem, por assim dizer, a primeira
vez como farsa, a segunda como
tragédia.
Em especial, a
malandro
dramatiza esse processo de
modernização dando destaque à visão
de Terezinha -
filha do cafetão Duran e
de Vitória-
, futura esposa do malandro
Max Overseas. A moça tem tino
empreendedor e incorpora a
racionalidade empresarial no negócio
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
chamadas regiões supraes
truturais,
do Estado, da política, do Direito,
que irão traçar ‘de fora’ pelas mãos
dos nossos ‘junkers’ caboclos as
linhas mestras do processo de
modernização. E tempo há de rolar
até que parte das novas frações
burguesas se sinta em condições
de reivindicar para
si o controle do arsenal político do
apud
HOLANDA,
E continua o autor, no Brasil “o
novo se mantinha [e se mantém] preso
ao passado. Nosso capitalismo
continuava [e continua] preso com um
em escusos galpões de
fundo de praia, enlevado pelas
mamatas, e nostálgico da capatazia de
apud
HOLANDA,
1980, p. 12). Impressiona a atualidade
do texto de Vianna cuja ressonância
nos lembra uma vez mais o apotegma
de que os
fatos e os personagens de grande
importância em nossa história
ocorrem, por assim dizer, a primeira
vez como farsa, a segunda como
Em especial, a
Ópera do
dramatiza esse processo de
modernização dando destaque à visão
filha do cafetão Duran e
, futura esposa do malandro
Max Overseas. A moça tem tino
empreendedor e incorpora a
racionalidade empresarial no negócio
de contrabando. Sua locução é
eloquente:
Mas é claro, querido, é claro.
Ninguém pedindo
de atividade. o que precisa é dar
um nome legal à tua organização.
Põe um “esse-
a” ou um “ele
atrás do nome e pronto, constituiu a
firma. Firma de importações, por
exemplo. É tão digno quanto
contrabando e o oferece perigo.
Voc
ê passa a ser pessoa jurídica,
igualzinho ao papai. Pessoa jurídica
não vai presa. Pessoa jurídica não
apanha da polícia... Acho até que é
imortal, pessoa jurídica (
1980, p. 109).
A malandragem deixa de ser
coisa de “malandrinhos” para se tornar
ação racional, coisa de profissional. E,
uma vez mais, é Teresinha quem
vislumbra o futuro:
Sangue novo! A nova civilização! É
claro que os malandrinhos, os
bandidinhos e os que acham que
sempre um jeitinho, esses vão
apodrecer debaixo da ponte. Mas
ne
sse povo fora o
vagabundo e marginal, não. E vai ter
um lugar ao sol pra quem quiser lutar
e souber vencer na vida. É daí que
vem o progresso, Max, do trabalho
dessa gente e da nossa imaginação.
Daqui a uns anos, você vai ver só.
Em cada sinal d
farol de carro, em cada nova sirene
de fábrica vai ter um dedo da nossa
firma. Você devia se orgulhar, Max
(HOLANDA,
1980, p. 170).
A percepção progressista de
Terezinha deve-
se, talvez, ao fato de
ser ela alguém que olha de fora e
estando envolta nas brumas da
malandragem tradicional introduz
sangue e espírito novo à tradição.
368
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
de contrabando. Sua locução é
Mas é claro, querido, é claro.
Ninguém pedindo
pra você mudar
de atividade. o que precisa é dar
um nome legal à tua organização.
a” ou um “ele
-tê-dê-a”
atrás do nome e pronto, constituiu a
firma. Firma de importações, por
exemplo. É tão digno quanto
contrabando e o oferece perigo.
ê passa a ser pessoa jurídica,
igualzinho ao papai. Pessoa jurídica
não vai presa. Pessoa jurídica não
apanha da polícia... Acho até que é
imortal, pessoa jurídica (
HOLANDA,
A malandragem deixa de ser
coisa de “malandrinhos” para se tornar
ação racional, coisa de profissional. E,
uma vez mais, é Teresinha quem
Sangue novo! A nova civilização! É
claro que os malandrinhos, os
bandidinhos e os que acham que
sempre um jeitinho, esses vão
apodrecer debaixo da ponte. Mas
sse povo fora o
vagabundo e marginal, não. E vai ter
um lugar ao sol pra quem quiser lutar
e souber vencer na vida. É daí que
vem o progresso, Max, do trabalho
dessa gente e da nossa imaginação.
Daqui a uns anos, você vai ver só.
Em cada sinal d
e trânsito, em cada
farol de carro, em cada nova sirene
de fábrica vai ter um dedo da nossa
firma. Você devia se orgulhar, Max
1980, p. 170).
A percepção progressista de
se, talvez, ao fato de
ser ela alguém que olha de fora e
o
estando envolta nas brumas da
malandragem tradicional introduz
sangue e espírito novo à tradição.
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
Terezinha, sem exagero, é uma
mediadora, penso em Velho e
Kuschinir (2001). O resultado será a
criação da Mastertex Ltda,
empreendimento voltado para o ramo
do “comércio exterior”.
Como também adverte André
Bueno a
Ópera do malandro
características empresariais modernas
a se julgar “a metamorfose profunda
na figura do malandro, que passava de
simpático, boêmio, esperto mas boa
gente, a arrivista s
em escrúpulos, se
aproveitando justamente da oscilação
entre ordem e desordem trazida pela
ditadura militar e da modernização
autoritária do capitalismo” (
2008, p. 66). E pode-
se dizer, acentua
se também a metamorfose da polícia a
se julgar a figura
do Inspetor Chaves
(o “Vidigal” de Max Overseas), como
ilustra a passagem a seguir:
É, eu sei que o momento é
impróprio. Mas é que justamente
hoje o meu outro sócio telefonou e
me deu um aperto. Se tu não me
paga, eu não posso pagar a ele.
Também não poss
o chegar pra ele e
dizer que duro porque o meu sócio
contrabandista joga tudo no cassino
e não paga o combinado. Não fica
bem prum chefe de polícia, entende?
Esse meu outro sócio é um homem
muito sério. Cobra juros de vinte por
cento ao mês (
HOLANDA,
65).
Com o tempo, a aproximação
do malandro com a polícia trouxe de
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Terezinha, sem exagero, é uma
mediadora, penso em Velho e
Kuschinir (2001). O resultado será a
criação da Mastertex Ltda,
empreendimento voltado para o ramo
Como também adverte André
Ópera do malandro
apresenta
características empresariais modernas
a se julgar “a metamorfose profunda
na figura do malandro, que passava de
simpático, boêmio, esperto mas boa
em escrúpulos, se
aproveitando justamente da oscilação
entre ordem e desordem trazida pela
ditadura militar e da modernização
autoritária do capitalismo” (
BUENO,
se dizer, acentua
-
se também a metamorfose da polícia a
do Inspetor Chaves
(o “Vidigal” de Max Overseas), como
ilustra a passagem a seguir:
É, eu sei que o momento é
impróprio. Mas é que justamente
hoje o meu outro sócio telefonou e
me deu um aperto. Se tu não me
paga, eu não posso pagar a ele.
o chegar pra ele e
dizer que duro porque o meu sócio
contrabandista joga tudo no cassino
e não paga o combinado. Não fica
bem prum chefe de polícia, entende?
Esse meu outro sócio é um homem
muito sério. Cobra juros de vinte por
HOLANDA,
1980, p.
Com o tempo, a aproximação
do malandro com a polícia trouxe de
volta a figura do miliciano, porém,
travestido de nova significação como
será visto à frente; personagem que
irá, em alguns casos, também se
aproximar e até fundir
do político.
Michel Misse observa o “inicio
da violência urbana” no Brasil a partir
dos anos 1950, denunciando a
passagem de uma ordem de crimes
ainda marcados pelos roubos miúdos,
pelos acertos de contas, pelos crimes
de honra, a um cenário hoje marcado
pelo narcotráfico, pelas ações de
milicianos, pela política de “abate” do
Estado, processo por ele definido
como “acumulação social da
violência”, diz ele:
Se fizermos, e eu mesmo fiz essa
pesquisa dos crimes comuns
daquela época, nós vamos encontrar
a p
redominância de crimes contra a
propriedade, mas que não envolviam
o uso da força física ou a sua
ameaça. Encontramos também
crimes contra a pessoa, mas,
principalmente, lesões provocadas
em brigas, em conflitos, algumas
com ferimentos graves produzidos
po
r armas de fogo, mas armas de
fogo de baixo calibre, ou armas
brancas, principalmente facas e
navalhas. E havia, como disse,
muitos crimes passionais, muitos
crimes ligados à honra, que se
tratava de uma sociedade tradicional
que começava a se modern
Encontramos na literatura do período
uma expressiva narrativa dessas
questões, atualizada na literatura
contemporânea pela irrupção da
violência nos personagens. Entre as
angústias passionais dos
369
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
volta a figura do miliciano, porém,
travestido de nova significação como
será visto à frente; personagem que
irá, em alguns casos, também se
aproximar e até fundir
-se com a figura
Michel Misse observa o “inicio
da violência urbana” no Brasil a partir
dos anos 1950, denunciando a
passagem de uma ordem de crimes
ainda marcados pelos roubos miúdos,
pelos acertos de contas, pelos crimes
de honra, a um cenário hoje marcado
pelo narcotráfico, pelas ações de
milicianos, pela política de “abate” do
Estado, processo por ele definido
como “acumulação social da
Se fizermos, e eu mesmo fiz essa
pesquisa dos crimes comuns
daquela época, nós vamos encontrar
redominância de crimes contra a
propriedade, mas que não envolviam
o uso da força física ou a sua
ameaça. Encontramos também
crimes contra a pessoa, mas,
principalmente, lesões provocadas
em brigas, em conflitos, algumas
com ferimentos graves produzidos
r armas de fogo, mas armas de
fogo de baixo calibre, ou armas
brancas, principalmente facas e
navalhas. E havia, como disse,
muitos crimes passionais, muitos
crimes ligados à honra, que se
tratava de uma sociedade tradicional
que começava a se modern
izar.
Encontramos na literatura do período
uma expressiva narrativa dessas
questões, atualizada na literatura
contemporânea pela irrupção da
violência nos personagens. Entre as
angústias passionais dos
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
personagens de Nelson Rodrigues,
que podiam matar e se
ciúme e outras obsessões, e os
personagens quase etnográficos de
Paulo Lins, uma vertiginosa
ruptura, um abismo (
MISSE,
375-376).
O sociólogo aponta ainda para o
processo simultâneo de
reconhecimento do “jeitinho” como
prática ligad
a à corrupção, pois “assim
como essa violência ganhava
legitimidade em razoáveis setores das
polícias e da sociedade, também a
corrupção deixava de ser representada
como um desvio para ganhar a
reputação de uma troca legítima, sob a
égide do “jeitinho” bra
Neutralizada a culpa, a troca passou a
se desenvolver abertamente em
diferentes contextos, sempre com a
mesma justificação que levava
empresários e profissionais liberais a
sonegarem impostos: “não dar dinheiro
a políticos e governos corruptos”
(2
008, p. 382). Não por acaso, Chico
Buarque de Holanda
irá capturar essa
metamorfose da malandragem ao
destacar em “Homenagem ao
malandro” que;
Agora já não é normal
O que dá de malandro
Regular, profissional
Malandro com aparato
De malandro oficial
Malandro candidato
A malandro federal
Malandro com retrato
Na coluna social
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
personagens de Nelson Rodrigues,
que podiam matar e se
matar por
ciúme e outras obsessões, e os
personagens quase etnográficos de
Paulo Lins, uma vertiginosa
MISSE,
2008, p.
O sociólogo aponta ainda para o
processo simultâneo de
reconhecimento do “jeitinho” como
a à corrupção, pois “assim
como essa violência ganhava
legitimidade em razoáveis setores das
polícias e da sociedade, também a
corrupção deixava de ser representada
como um desvio para ganhar a
reputação de uma troca legítima, sob a
égide do “jeitinho” bra
sileiro.
Neutralizada a culpa, a troca passou a
se desenvolver abertamente em
diferentes contextos, sempre com a
mesma justificação que levava
empresários e profissionais liberais a
sonegarem impostos: “não dar dinheiro
a políticos e governos corruptos”
008, p. 382). Não por acaso, Chico
irá capturar essa
metamorfose da malandragem ao
destacar em “Homenagem ao
O que dá de malandro
Malandro com contrato
Com gravata e capital
Que nunca se dá mal
(HOLANDA, 1980, p. 103).
Em paralelo à profissionalização
do malandro e à universalização do
jeitinho, o processo
de modernização
econômica da sociedade brasileira
iniciada nos idos de 1940 e retomados
nos anos 1970, exigiram uma estrutura
de poder autoritária voltada para o
controle das relações de produção e
do trabalho internamente e favorável à
penetração do capi
Nesse sentido não é de se estranhar
que a releitura de Millôr Fernandes das
Memórias...
acentue o ponto de vista
da ordem. Ordem personificada por
Vidigal, ordem capturada por Manuel
Antônio de Almeida mais de um
século atrás, com res
hoje
11
.
Não será diferente com Millôr
Fernandes, pois prenunciando o tempo
atual e antecipando
O grande líder
multifacetado autor nos brinda com
sua paródia Vidigal
sargento de milícias
11
A máxima positivista “Ordem e progres
parece ainda hoje mais viva do que nunca a
dançar aos quatros ventos sob a égide e a
narrativa dos moralistas, liberais e
progressistas (numa curiosa combinação de
religiosos, conservadores, setores liberais da
classe média e mídia).
370
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
Malandro com contrato
Com gravata e capital
Que nunca se dá mal
(HOLANDA, 1980, p. 103).
Em paralelo à profissionalização
do malandro e à universalização do
de modernização
econômica da sociedade brasileira
iniciada nos idos de 1940 e retomados
nos anos 1970, exigiram uma estrutura
de poder autoritária voltada para o
controle das relações de produção e
do trabalho internamente e favorável à
penetração do capi
tal internacional.
Nesse sentido não é de se estranhar
que a releitura de Millôr Fernandes das
acentue o ponto de vista
da ordem. Ordem personificada por
Vidigal, ordem capturada por Manuel
Antônio de Almeida mais de um
século atrás, com res
sonância ainda
Não será diferente com Millôr
Fernandes, pois prenunciando o tempo
O grande líder
, o
multifacetado autor nos brinda com
memórias de um
sargento de milícias
, encenada em
A máxima positivista “Ordem e progres
so”
parece ainda hoje mais viva do que nunca a
dançar aos quatros ventos sob a égide e a
narrativa dos moralistas, liberais e
progressistas (numa curiosa combinação de
religiosos, conservadores, setores liberais da
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
1966, portanto, dois an
os após o golpe
militar de 1964. Logo na abertura, o
“Padrinho”, então o preceptor do
malandro Leonardo, canta “A lei e a
Ordem”; canção que parece feita para
os dias de hoje:
Vivemos nos tempos do Rei
Tempo de Ordem e de Lei
Que Ordem, indagam, e que Lei?
(dá de ombros)
Ora, que Ordem?
Ora, que Lei?
Não sei.
Ah,
A Ordem é dos portugueses
-Os brasileiros também-
E a Lei é uma dureza
Pra quem não diz Amém. (Bis)
Com a força dominando
Um chefe policial
Dando, prendendo, tomando,
Uma figura bestial –
bestial.
Todos que moram aqui
Neste Rio Imperial
Tremem de horror quando enfrentam
O Coronel (Bis) Vidigal (Bis).
(FERNANDES, 1981, p. 7
Promovido a coronel, Vidigal é a
incorporação do terror. E para ratificar
o zeigesit
(“espírito do tempo”)
conservador vivido naquele e nesses
novos tempos, entra em cena o
Exército da Salvação para cantar o
“Auto-de-fé”:
Nós somos todos
Homens de fé
A oração
É o nosso café
O pão do espirito
Nosso filé
Não consentimos
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
os após o golpe
militar de 1964. Logo na abertura, o
“Padrinho”, então o preceptor do
malandro Leonardo, canta “A lei e a
Ordem”; canção que parece feita para
Vivemos nos tempos do Rei
Tempo de Ordem e de Lei
Que Ordem, indagam, e que Lei?
A Ordem é dos portugueses
Pra quem não diz Amém. (Bis)
Dando, prendendo, tomando,
bestial.
Tremem de horror quando enfrentam
O Coronel (Bis) Vidigal (Bis).
(FERNANDES, 1981, p. 7
-8).
Promovido a coronel, Vidigal é a
incorporação do terror. E para ratificar
(“espírito do tempo”)
conservador vivido naquele e nesses
novos tempos, entra em cena o
Exército da Salvação para cantar o
Álcool nem cama
Boca beijada
É mulher na lama
Tomem cuidado
Homens de fé
Cuja oração
É pão com café
E a comunhão
Um contrafilé
Comemos pouco
Nós não fumamos
Não temos filhos...
Nós nos poupamos
Nós nunca vimos
Homens de fé
Coisa na coisa
Como é que é
(...)
Tome cuidado,
Mocinha aflita
Cê goza a vida
Mas depois grita
Segura a saia
Com a tua fé
Não deixa entrar
Nenhum buscapé
(...)
Nenhum jacaré
Nenhum chimpanzé
E nenhum... José
(...)
Saia da frente
Vil pecador
Tua espada ofende
Nosso Senhor
(...)
Nós somos todos
Homens de fé
Nós só pecamos
Com a Santa Sé
(FERNANDES,
1981
Embora nascido no passado,
Vidigal
parece mesmo um agente do
“tempo dos generais”. Ainda hoje sua
voz pode ser ouvida. Para o Vidigal
371
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
Álcool nem cama
É mulher na lama
Comemos pouco
Nós não fumamos
Não temos filhos...
Nós nos poupamos
Nós nunca vimos
Nenhum buscapé
Nenhum chimpanzé
E nenhum... José
Tua espada ofende
Nós somos todos
Nós só pecamos
Com a Santa Sé
1981
, p. 49-50).
Embora nascido no passado,
parece mesmo um agente do
“tempo dos generais”. Ainda hoje sua
voz pode ser ouvida. Para o Vidigal
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
nada é proibido,
“É proibido não
proibir” o que
por ele for considerado
permitido como mostra a peça:
Fica proibido o amor e o amar
Fica proibido toda exibição (fecha o
decote da moça)
Fica proibido olhar para o alto (rapaz
que baixa a cabeça)
Fica proibido olhar pro chão (gesto
indicando local. Soldado
“É proibido falar”)
O cão ladra
Tem que ser punido (Entra cão com
dono
deve ser um garoto vestido de
cão-
que lhe coloca uma focinheira)
Rosto pintado não permito não
(limpa boca de moça com lenço,
mostra o lenço com nojo)
E conversinha de
rapaz com moça
(empurra uma velha horrenda pra
junto de dois jovens que namoram)
Só com severa fiscalização
Fica proibido
Tudo que não for permitido (gesto.
Soldado prega placa: É proibido
calar”)
E, por fim,
Fica proibido qualquer proibição
Não proibida
por mim (sai com seus
soldados)
(FERNANDES, 1981, p. 8
Não demoraria, evidentemente,
para que a resposta viesse com “Festa
imodesta”, uma homenagem ao
compositor popular que pronuncia,
malandramente, com arte e sabedoria
“tudo aquilo que o otário s
canta Caetano Veloso. O jogo entre a
ordem e a desordem não se restringe
ao malandro, também o Poder é parte
do jogo. Ambivalente, também a
ordem se (des)faz em (des)ordem. É o
que nos sugere André
aprofundar o questionamento de
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
“É proibido não
por ele for considerado
permitido como mostra a peça:
Fica proibido o amor e o amar
Fica proibido toda exibição (fecha o
Fica proibido olhar para o alto (rapaz
Fica proibido olhar pro chão (gesto
indicando local. Soldado
prega placa:
Tem que ser punido (Entra cão com
deve ser um garoto vestido de
que lhe coloca uma focinheira)
Rosto pintado não permito não
(limpa boca de moça com lenço,
mostra o lenço com nojo)
rapaz com moça
(empurra uma velha horrenda pra
junto de dois jovens que namoram)
Só com severa fiscalização
Tudo que não for permitido (gesto.
Soldado prega placa: É proibido
Fica proibido qualquer proibição
por mim (sai com seus
(FERNANDES, 1981, p. 8
-9).
Não demoraria, evidentemente,
para que a resposta viesse com “Festa
imodesta”, uma homenagem ao
compositor popular que pronuncia,
malandramente, com arte e sabedoria
“tudo aquilo que o otário s
ilencia”,
canta Caetano Veloso. O jogo entre a
ordem e a desordem não se restringe
ao malandro, também o Poder é parte
do jogo. Ambivalente, também a
ordem se (des)faz em (des)ordem. É o
que nos sugere André
Bueno ao
aprofundar o questionamento de
Schwarz
sobre o contexto da produção
do ensaio de Antônio Candido que
leva a pensar se “não seria a própria
ditadura militar um modo de oscilação
entre ordem e desordem”?:
A ditadura militar rompeu as normas
legais do país, desrespeitou o
processo democrático, ins
seguida um regime cujo vértice
bárbaro foi a tortura. Abrindo
caminho, graças aos grupos
paramilitares do regime de exceção,
ao que viria em seguida no Brasil,
vale dizer, os Esquadrões da morte,
parte fora da lei das polícias, e as
diversas fac
ções do crime
organizado, misturadas que
estavam, e continuam estando, com
graus diversos de corrupção nas
esferas da polícia, do judiciário, da
política e, não menos importante,
dos empresários que lucram com o
tráfico de drogas e de armas, mas
também de
mercadorias roubadas.
Sem esquecer que, no mesmo
período, o assalto aos cofres
públicos, a apropriação privada de
verbas públicas, tornou
que uma constante, num sistema
político que, embora formalmente
democrático, se acomoda a essas
infrações da
norma, equilibrando de
modo perverso um sistema de
interesses, de favores e de
associações ilícitas, quase que a céu
aberto
(CÂNDIDO,
Fazendo um jogo de palavras,
com a ditadura militar se instaura a
(des)ordem (des)legitimada. O
resultado de todo esse processo é a
metamorfose do malandro. A mudança
de significado do malandro e da
malandragem acaba por produzir uma
visão até certo ponto
372
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
sobre o contexto da produção
do ensaio de Antônio Candido que
leva a pensar se “não seria a própria
ditadura militar um modo de oscilação
entre ordem e desordem”?:
A ditadura militar rompeu as normas
legais do país, desrespeitou o
processo democrático, ins
talando em
seguida um regime cujo vértice
bárbaro foi a tortura. Abrindo
caminho, graças aos grupos
paramilitares do regime de exceção,
ao que viria em seguida no Brasil,
vale dizer, os Esquadrões da morte,
parte fora da lei das polícias, e as
ções do crime
organizado, misturadas que
estavam, e continuam estando, com
graus diversos de corrupção nas
esferas da polícia, do judiciário, da
política e, não menos importante,
dos empresários que lucram com o
tráfico de drogas e de armas, mas
mercadorias roubadas.
Sem esquecer que, no mesmo
período, o assalto aos cofres
públicos, a apropriação privada de
verbas públicas, tornou
-se quase
que uma constante, num sistema
político que, embora formalmente
democrático, se acomoda a essas
norma, equilibrando de
modo perverso um sistema de
interesses, de favores e de
associações ilícitas, quase que a céu
(CÂNDIDO,
2008, p. 62).
Fazendo um jogo de palavras,
com a ditadura militar se instaura a
(des)ordem (des)legitimada. O
resultado de todo esse processo é a
metamorfose do malandro. A mudança
de significado do malandro e da
malandragem acaba por produzir uma
visão até certo ponto
nostálgica do
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
malandro, de antigamente, como
observa Bueno
(2008, p. 68)
Metamorfose a meu ver fundamental,
que tirou de cena a figura do
malandro como aquele que apenas
quer escapar da disciplina do
trabalho, um boêmio boa praça que
não aceita a
exploração e se vira nas
beiradas do sistema. Daí não segue
que o humor e a malícia tenham
desaparecido do cotidiano e da
cultura em nosso país. Mas, trazido à
tona o ângulo negativo da
malandragem, o humor e a malícia
agora precisam ser pensados de
modo c
rítico, cabendo sempre olhar
com atenção, para distinguir as
formas perversas da sociedade
brasileira incorporadas à malícia e ao
humor, portanto como riso que
reconcilia, riso a favor do existente,
riso que concorda com os
dominadores e expõe ao ridículo
dominados, para lembrar aqui, de
modo livre
, uma posição de Theodor
Adorno.
Acentuando essa linha de
interpretação, João Cézar Rocha
(2006) realiza análise crítica da
“cultura da malandragem” tal qual
canonizada desde a interpretação de
Antônio Cândid
o, colocando em
destaque um conjunto de
representações contemporâneas sobre
a violência e a desigualdade social que
cada vez mais ganham visibilidade na
sociedade brasileira. Assistimos na
atualidade a superação parcial da
dialética da malandragem pela
dia
lética da marginalidade, ou nos
termos do autor: “Reitero, então, a
minha hipótese: a “dialética da
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
malandro, de antigamente, como
(2008, p. 68)
:
Metamorfose a meu ver fundamental,
que tirou de cena a figura do
malandro como aquele que apenas
quer escapar da disciplina do
trabalho, um boêmio boa praça que
exploração e se vira nas
beiradas do sistema. Daí não segue
que o humor e a malícia tenham
desaparecido do cotidiano e da
cultura em nosso país. Mas, trazido à
tona o ângulo negativo da
malandragem, o humor e a malícia
agora precisam ser pensados de
rítico, cabendo sempre olhar
com atenção, para distinguir as
formas perversas da sociedade
brasileira incorporadas à malícia e ao
humor, portanto como riso que
reconcilia, riso a favor do existente,
riso que concorda com os
dominadores e expõe ao ridículo
os
dominados, para lembrar aqui, de
, uma posição de Theodor
Acentuando essa linha de
interpretação, João Cézar Rocha
(2006) realiza análise crítica da
“cultura da malandragem” tal qual
canonizada desde a interpretação de
o, colocando em
destaque um conjunto de
representações contemporâneas sobre
a violência e a desigualdade social que
cada vez mais ganham visibilidade na
sociedade brasileira. Assistimos na
atualidade a superação parcial da
dialética da malandragem pela
lética da marginalidade, ou nos
termos do autor: “Reitero, então, a
minha hipótese: a “dialética da
malandragem” está sendo
parcialmente substituída ou, para dizer
o mínimo, diretamente desafiada pela
“dialética da marginalidade”, a qual
está principalment
e fundada, no
princípio da superação das
desigualdades sociais, através do
confronto direto em vez da conciliação,
através da exposição da violência em
vez de sua ocultação” (
p. 36). O jeitinho não desapareceu,
mas tem sido desafiado a todo
mo
mento. A exacerbação da violência,
a denúncia da exploração econômica,
a crítica à negligência da diferença,
muitas vezes expressas na produção
cultural de filmes e na literatura como
A cidade de Deus
Despejo
, ratificam o sentido da
dialética
da marginalidade. Nas
palavras do autor, a melhor definição
“prática do que tenho chamado de
“dialética da marginalidade” (...) é
assumir controle da própria imagem,
expressar-
se com a própria voz”
(2006, p. 50); o que a coloca em
sintonia com a perspectiv
estudos pós e decoloniais. E o
malandro então se descobre um
marginal brasileiro, como atestou
Keti em 1964, com
Nega Dina
373
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
malandragem” está sendo
parcialmente substituída ou, para dizer
o mínimo, diretamente desafiada pela
“dialética da marginalidade”, a qual
e fundada, no
princípio da superação das
desigualdades sociais, através do
confronto direto em vez da conciliação,
através da exposição da violência em
vez de sua ocultação” (
ROCHA, 2006,
p. 36). O jeitinho não desapareceu,
mas tem sido desafiado a todo
mento. A exacerbação da violência,
a denúncia da exploração econômica,
a crítica à negligência da diferença,
muitas vezes expressas na produção
cultural de filmes e na literatura como
A cidade de Deus
ou Quarto de
, ratificam o sentido da
da marginalidade. Nas
palavras do autor, a melhor definição
“prática do que tenho chamado de
“dialética da marginalidade” (...) é
assumir controle da própria imagem,
se com a própria voz”
(2006, p. 50); o que a coloca em
sintonia com a perspectiv
a dos
estudos pós e decoloniais. E o
malandro então se descobre um
marginal brasileiro, como atestou
Nega Dina
:
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
(...)
Eu dou duro no baralho pra poder
viver
A minha vida não é mole não
Entro em cana a toda hora
Sem apelação
Eu
ando assustado e sem
paradeiro
Sou um marginal
Brasileiro
(KETI; MONSUETO,
1982).
Embora a idealização da
malandragem na música, na literatura,
no teatro, nas artes em geral,
contribuísse para a formação de um
tipo ideal caracterizado pela
negociação, m
ediação, diálogo, ou
seja, formas conciliatórias de
resolução de normas em conflito, a
violência nunca esteve ausente da
vida cotidiana do malandro e de
setores subalternos da sociedade
como se pode ver desde as lutas
corporais aos assassinatos por causa
d
e jogos, disputas territoriais, lenocínio
etc., (ROCHA, 2004). Portanto, a
contraposição violência
versus
deve-
se possivelmente à mudança de
percepção em torno da malandragem.
A verdade é que o “jeitinho”, suposto
modo harmonioso e conciliatório d
resolução de conflitos sociais, também
constitui uma forma de violência
simbólica.
Como nos lembra João
Rocha: “Celebrar a malandragem,
portanto, é esquecer que todo Vadinho
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Eu dou duro no baralho pra poder
A minha vida não é mole não
Entro em cana a toda hora
ando assustado e sem
1982).
Embora a idealização da
malandragem na música, na literatura,
no teatro, nas artes em geral,
contribuísse para a formação de um
tipo ideal caracterizado pela
ediação, diálogo, ou
seja, formas conciliatórias de
resolução de normas em conflito, a
violência nunca esteve ausente da
vida cotidiana do malandro e de
setores subalternos da sociedade
como se pode ver desde as lutas
corporais aos assassinatos por causa
e jogos, disputas territoriais, lenocínio
etc., (ROCHA, 2004). Portanto, a
versus
jeitinho
se possivelmente à mudança de
percepção em torno da malandragem.
A verdade é que o “jeitinho”, suposto
modo harmonioso e conciliatório d
e
resolução de conflitos sociais, também
constitui uma forma de violência
Como nos lembra João
Rocha: “Celebrar a malandragem,
portanto, é esquecer que todo Vadinho
necessita de uma Dona Flor para
explorar, roubar-
lhe o dinheiro, agredi
la quand
o seu desejo não é
prontamente atendido e, como
ninguém é de ferro, dar
amor” (ROCHA,
2006, p. 43).
malandro sobrevive à custa do
“otário”. Mas, o otário, antes de ser um
tipo, se parece com um ponto de vista,
afinal, “o malandro pra valer
espalha / aposentou a navalha...”
(HOLANDA, 1980, p. 103), ou seja, o
malandro pra valer tornou
para o “malandro profissional”. A
verdade é que aos poucos, o malandro
vai sendo dramaticamente
encompassado por outras
significantes
, ora protagonizado pelo
marginal narcotraficante que domina a
comunidade, ora pelo miliciano
violento e o político corrupto,muitas
vezes, habitando um mesmo corpo.
Moral da história
Nesse momento, como que
fechando o ciclo aberto com as
Memórias..., o
personagem Piranha da
Fonseca Albuquerque d’
líder, texto de
Fernando
publicado em 1970, cobre um longo
período histórico que se inicia em 1910
e vai até o golpe militar de 1964. A
374
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
necessita de uma Dona Flor para
lhe o dinheiro, agredi
-
o seu desejo não é
prontamente atendido e, como
ninguém é de ferro, dar
-lhe também
2006, p. 43).
O
malandro sobrevive à custa do
“otário”. Mas, o otário, antes de ser um
tipo, se parece com um ponto de vista,
afinal, “o malandro pra valer
–não
espalha / aposentou a navalha...”
(HOLANDA, 1980, p. 103), ou seja, o
malandro pra valer tornou
-se escada
para o “malandro profissional”. A
verdade é que aos poucos, o malandro
vai sendo dramaticamente
encompassado por outras
personas ou
, ora protagonizado pelo
marginal narcotraficante que domina a
comunidade, ora pelo miliciano
violento e o político corrupto,muitas
vezes, habitando um mesmo corpo.
Nesse momento, como que
fechando o ciclo aberto com as
personagem Piranha da
Fonseca Albuquerque d’
O grande
Fernando
Jorge
publicado em 1970, cobre um longo
período histórico que se inicia em 1910
e vai até o golpe militar de 1964. A
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
estória de Piranha é, na verdade, a
saga da corrupção no Bras
Ana Carolina Mesquita na orelha do
livro
12
.
Filho de um “coronel” violento e
corrupto, Piranha, ao contrário de
Leonardo Pataca, não é fruto de uma
“pisadela e um beliscão”, mas sim de
um estupro. O nome que lembra a
voracidade do peixe, lhe
foi dado em
razão da fome insaciável; o que o
torna “sósiade Leonardo filho. Desde
criança apresenta acentuada
inclinação para o roubo; vício que o
acompanha por toda vida. Em
verdade, o pai lhe transmitira como
“filosofia de vida” uma mensagem bem
ao es
tilo do “parasitismo social”,
quando dizia: “-
As saúva são ladrona
explicava Antônio a Piranha
num condená elas. A vida tudinha é
um roubo! O fio rouba leiti da ie, o
têmpu nus rouba uscabêlu, u Guvêrnu
rouba u povo cum impostu, u noivo
rou
ba as fia do pai, a mórti nus rouba a
respiração. Tudo é côpiangage!”
(JORGE,
2003, p. 98). O estudo nunca
foi o seu forte, mas chegou a ser
12
Não faz muito t
empo, o escritor e jornalista
Fernando Jorge me surpreendeu com uma
carinhosa e provocativa dedicatória ao me
presentear com seu “O grande líder”
escatológico a se julgar a sua atualidade
ele minha modesta gratidão.
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
estória de Piranha é, na verdade, a
saga da corrupção no Bras
il, observa
Ana Carolina Mesquita na orelha do
Filho de um “coronel” violento e
corrupto, Piranha, ao contrário de
Leonardo Pataca, não é fruto de uma
“pisadela e um beliscão”, mas sim de
um estupro. O nome que lembra a
foi dado em
razão da fome insaciável; o que o
torna “sósiade Leonardo filho. Desde
criança apresenta acentuada
inclinação para o roubo; vício que o
acompanha por toda vida. Em
verdade, o pai lhe transmitira como
“filosofia de vida” uma mensagem bem
tilo do “parasitismo social”,
As saúva são ladrona
explicava Antônio a Piranha
- mai eu
num condená elas. A vida tudinha é
um roubo! O fio rouba leiti da ie, o
têmpu nus rouba uscabêlu, u Guvêrnu
rouba u povo cum impostu, u noivo
ba as fia do pai, a mórti nus rouba a
respiração. Tudo é côpiangage!”
2003, p. 98). O estudo nunca
foi o seu forte, mas chegou a ser
empo, o escritor e jornalista
Fernando Jorge me surpreendeu com uma
carinhosa e provocativa dedicatória ao me
presentear com seu “O grande líder”
- livro
escatológico a se julgar a sua atualidade
-, a
coroinha e a se formar em medicina;
passava por meio de muita “cola”,
assédio e golpes. Como médico
lançava mão de
simpáticos (relativo a práticas de
magia simpática) para curar alguns de
seus pacientes. Torna
participa da Revolução de 1932,
porém, mesmo com toda covardia que
lhe é atávica, acaba virando herói, o
que favorece sua candidatura p
a deputado federal. Embora
discursasse em nome da liberdade e
da democracia “no íntimo gostaria que
um golpe abolisse o Senado e a
Câmara Federal. Então, ó sonho
maravilhoso!, ele assumiria o governo,
convertendo-
se em ditador absoluto,
cuja prime
ira medida seria a imposição
de um regime fascista, o aniquilamento
da igualdade perante a lei, a
supressão dos direitos e das
liberdades constitucionais” (
2003, p. 204), nos informa o escritor
sobre seu personagem que parece ter
vida própria. Não d
emoraria para que
Piranha se lançasse ao Governo do
Paraná pelo
Partido Social
Tropicalista
, sendo eleito
esmagadoramente. Em seus discursos
proclamava:
Meu povo, meu querido povo, eu sou
igualzinho a vocês, porque desde
375
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
coroinha e a se formar em medicina;
passava por meio de muita “cola”,
assédio e golpes. Como médico
lançava mão de
métodos bem
simpáticos (relativo a práticas de
magia simpática) para curar alguns de
seus pacientes. Torna
-se vereador e
participa da Revolução de 1932,
porém, mesmo com toda covardia que
lhe é atávica, acaba virando herói, o
que favorece sua candidatura p
osterior
a deputado federal. Embora
discursasse em nome da liberdade e
da democracia “no íntimo gostaria que
um golpe abolisse o Senado e a
Câmara Federal. Então, ó sonho
maravilhoso!, ele assumiria o governo,
se em ditador absoluto,
ira medida seria a imposição
de um regime fascista, o aniquilamento
da igualdade perante a lei, a
supressão dos direitos e das
liberdades constitucionais” (
JORGE,
2003, p. 204), nos informa o escritor
sobre seu personagem que parece ter
emoraria para que
Piranha se lançasse ao Governo do
Partido Social
, sendo eleito
esmagadoramente. Em seus discursos
Meu povo, meu querido povo, eu sou
igualzinho a vocês, porque desde
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
cedo peguei no batente! aos
quatorze anos calcei o meu primeiro
par de sapatos! Sou filho de uma
humilde datilógrafa, que logo ficou
viúva e trabalhou em excesso para
que eu pudesse estudar! É por isto
que a mim não interessa a atividade
político-
partidária e embora eu seja
liberal-d
emocrata, sou um irredutível
adversário dos privilégios da
burguesia! Todavia, sempre
defenderei as sagradas tradições da
família paranaense e lutarei de peito
descoberto contra os sistemas
exóticos e anticristãos, pois o
Evangelho de Nosso Senhor Jesus
Cr
isto é o meu único código de
moral!” (JORGE,
2003, p. 219).
Déjà-
vu. Um discurso que
lembra muitos políticos profissionais
de hoje em dia: mentiras, populismo,
conservadorismo etc.; nada que cause
surpresa. Em sua gestão, na definição
dos adversários pol
íticos, a sede do
Governo de Estado, o Palácio do
Iguaçu, era conhecido como “Caverna
do Ali Babá”.
Em uma noite de insônia, o
Secretário de Governo toma de um
livro de Rui Barbosa a seguinte
passagem na esperança de que o
deus Morfeu dele se apiedasse, e
para o Governador:
A natureza o fez escorregadio como
a enguia, para as fugidas.
como o camaleão, cambiante e
multicor, para as adaptações mais
variadas. Fê-
lo com duas
disposições do morcego para a
dentada e o assopro, o afago e a
sangria. Fê-l
o rasteiro e virulento
como a víbora, para as covardias e
os crimes. Dotou-
lhe o olhar do rato,
as lágrimas do crocodilo, o riso da
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
cedo peguei no batente! aos
quatorze anos calcei o meu primeiro
par de sapatos! Sou filho de uma
humilde datilógrafa, que logo ficou
viúva e trabalhou em excesso para
que eu pudesse estudar! É por isto
que a mim não interessa a atividade
partidária e embora eu seja
emocrata, sou um irredutível
adversário dos privilégios da
burguesia! Todavia, sempre
defenderei as sagradas tradições da
família paranaense e lutarei de peito
descoberto contra os sistemas
exóticos e anticristãos, pois o
Evangelho de Nosso Senhor Jesus
isto é o meu único código de
2003, p. 219).
vu. Um discurso que
lembra muitos políticos profissionais
de hoje em dia: mentiras, populismo,
conservadorismo etc.; nada que cause
surpresa. Em sua gestão, na definição
íticos, a sede do
Governo de Estado, o Palácio do
Iguaçu, era conhecido como “Caverna
Em uma noite de insônia, o
Secretário de Governo toma de um
livro de Rui Barbosa a seguinte
passagem na esperança de que o
deus Morfeu dele se apiedasse, e
leu
A natureza o fez escorregadio como
a enguia, para as fugidas.
-lo
como o camaleão, cambiante e
multicor, para as adaptações mais
lo com duas
disposições do morcego para a
dentada e o assopro, o afago e a
o rasteiro e virulento
como a víbora, para as covardias e
lhe o olhar do rato,
as lágrimas do crocodilo, o riso da
hiena, a gravidade do mocho, a
imoralidade do bugio, a pele da anta,
o bucho da ema” (
241).
Para completa
Piranha, faltou a inteligência do asno;
que seria atestada com o comentário a
seguir: “-
Puxa! O Rui Barbosa
descreve um monstro! Será que existe
alguém assim?” (
JORGE,
241).
Ao fim e ao cabo, Piranha se
lança a presidência do Bras
logo a notícia, espalhou
maior regozijo entre os falsários,
proxenetas, maconheiros,
estupradores, arrombadores,
peculatários, macumbeiros e
contrabandistas” (
JORGE,
284). Para finalizar, embora longa,
vale a pena conhecer o
Brasil novo e melhor, pois:
O seu programa de governo era bem
simples: permitiria a entrada ilegal de
estrangeiros no país; deixaria que
vastas extensões do nosso território
fossem leiloadas no Exterior,
confinaria os adversários na ilha
Fernando de Noronha; colocaria o
Ministério da
Fazenda a serviço de
favoritismos inconfessáveis;
ordenaria que nas escolas os alunos
decorassem os versos da “Geração
de 45”, a fim de que a juventude se
imbecilizasse; fundaria a Caixa da
Poupança, no intuito de se apoderar
dos níqueis do
habeas-corpus
, todo mundo poderia
sofrer violência ou coação; chefiaria
uma quadrilha de contrabandistas,
os quais lhe trariam toneladas de
ouro dos garimpos do Alto Tapajós;
376
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
hiena, a gravidade do mocho, a
imoralidade do bugio, a pele da anta,
o bucho da ema” (
JORGE, 2003, p.
Para completa
r o perfil de
Piranha, faltou a inteligência do asno;
que seria atestada com o comentário a
Puxa! O Rui Barbosa
descreve um monstro! Será que existe
JORGE,
2003, p.
Ao fim e ao cabo, Piranha se
lança a presidência do Bras
il “e, tão
logo a notícia, espalhou
-se, causou
maior regozijo entre os falsários,
proxenetas, maconheiros,
estupradores, arrombadores,
peculatários, macumbeiros e
JORGE,
2003, p.
284). Para finalizar, embora longa,
vale a pena conhecer o
seu desejo de
Brasil novo e melhor, pois:
O seu programa de governo era bem
simples: permitiria a entrada ilegal de
estrangeiros no país; deixaria que
vastas extensões do nosso território
fossem leiloadas no Exterior,
confinaria os adversários na ilha
Fernando de Noronha; colocaria o
Fazenda a serviço de
favoritismos inconfessáveis;
ordenaria que nas escolas os alunos
decorassem os versos da “Geração
de 45”, a fim de que a juventude se
imbecilizasse; fundaria a Caixa da
Poupança, no intuito de se apoderar
dos níqueis do
-povinho; aboliria o
, todo mundo poderia
sofrer violência ou coação; chefiaria
uma quadrilha de contrabandistas,
os quais lhe trariam toneladas de
ouro dos garimpos do Alto Tapajós;
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
instalaria em cada esquina um
prostíbulo e em cada quarteirão uma
casa de tavolagem; escolheria, como
seus auxiliares, indivíduos
analfabetos, inescrupulosos e
subservientes; dilapidaria o
patrimônio das autarquias, das
empresas de economia mista e das
con
cessionárias de serviços
públicos; lindas meretrizes seriam
rifadas pela Loteria Federal, a cinco
mil cruzeiros o bilhete da dezena;
sabendo que na China os mandarins
se reciclavam no “divã do ópio”,
criaria para todos os brasileiros o
“divã da maconha”, p
forma os nossos patrícios ficariam
cretinizados, com a inteligência
embotada; limitaria ao mínimo a
nossa produção agrícola, e de tal
maneira que teríamos de importar
cebolas do Egito, alhos do Chile,
batatas da Holanda e rabanetes do
Paraguai;
incrementaria a indústria
das matérias graxas do Estado,
destinada à fabricação de sabonetes
extraídas da gordura dos cadáveres;
obrigaria os ginasianos a
aprenderem
História do Brasil
livrescos inçados de erros do
escrevinhador R. Magalhães Junior;
o
rganizaria o roubo e o crime, e
neste sentido tomaria por modelo a
célebre
Murder Incorporated
Company
, que dominou Chicago na
época de 1930; haveria de contratar
eficientes assassinos da Máfia e da
Camorra napolitana, assassinos tão
frios e implacáveis co
terríveis gangsters
Unidos; entregaria à Bélgica, ou à
Noruega, ou à Alemanha, as nossas
jazidas de calcário e de areias
monazíticas, as lavras de petróleo do
Recôncavo baiano, os itabiritos da
serra do Espinhaço, o manganês do
Riach
o de Santana, a bauxita de
Paramirim, o cobre da mina
Camacuâ, do Rio Grande do Sul, as
riquezas do subsolo da região
amazônica, os enormes depósitos de
óxidos metaloides, as centenas de
milhões de toneladas de ferro, de
sulfatos de chumbo, de sal
volframita, de tantalita, de cassiterita
e de dezenas de outras coisas
terminadas em ita”! (
JORGE,
p. 323-324).
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
instalaria em cada esquina um
prostíbulo e em cada quarteirão uma
casa de tavolagem; escolheria, como
seus auxiliares, indivíduos
analfabetos, inescrupulosos e
subservientes; dilapidaria o
patrimônio das autarquias, das
empresas de economia mista e das
cessionárias de serviços
públicos; lindas meretrizes seriam
rifadas pela Loteria Federal, a cinco
mil cruzeiros o bilhete da dezena;
sabendo que na China os mandarins
se reciclavam no “divã do ópio”,
criaria para todos os brasileiros o
“divã da maconha”, p
orque desta
forma os nossos patrícios ficariam
cretinizados, com a inteligência
embotada; limitaria ao mínimo a
nossa produção agrícola, e de tal
maneira que teríamos de importar
cebolas do Egito, alhos do Chile,
batatas da Holanda e rabanetes do
incrementaria a indústria
das matérias graxas do Estado,
destinada à fabricação de sabonetes
extraídas da gordura dos cadáveres;
obrigaria os ginasianos a
História do Brasil
nos
livrescos inçados de erros do
escrevinhador R. Magalhães Junior;
rganizaria o roubo e o crime, e
neste sentido tomaria por modelo a
Murder Incorporated
, que dominou Chicago na
época de 1930; haveria de contratar
eficientes assassinos da Máfia e da
Camorra napolitana, assassinos tão
frios e implacáveis co
mo os mais
dos Estados
Unidos; entregaria à Bélgica, ou à
Noruega, ou à Alemanha, as nossas
jazidas de calcário e de areias
monazíticas, as lavras de petróleo do
Recôncavo baiano, os itabiritos da
serra do Espinhaço, o manganês do
o de Santana, a bauxita de
Paramirim, o cobre da mina
Camacuâ, do Rio Grande do Sul, as
riquezas do subsolo da região
amazônica, os enormes depósitos de
óxidos metaloides, as centenas de
milhões de toneladas de ferro, de
sulfatos de chumbo, de sal
-gema, de
volframita, de tantalita, de cassiterita
e de dezenas de outras coisas
JORGE,
2003,
Com fina ironia, ou para
esconder a farsa dessa tragédia,
Piranha concluía:
“-
Eu sou o próprio retrato humano
do Brasil! -
bradou o c
-
Se esta nação tivesse que virar
gente, viraria Piranha da Fonseca
Albuquerque! (
325).
O que a saga de Piranha da
Fonseca Albuquerque nos revela,
seguindo a linha aberta por Leonardo
Filho, é a metamorfose do significado
do ma
landro que, sem abandonar a
dialética da ordem e da desordem, se
torna símbolo de um fenômeno
negativo. No entanto, não representa
isso a superação da esperteza, da
astúcia, da malícia
malandragem como “poder dos
fracos”, para uma forma negativa de
expressão cultural: a corrupção. “O
malandro pra valer”, diz o samba,
permaneceu marginalizado, agora, não
mais por Vidigal ou o Inspetor Chaves,
mas pelos moralistas conservadores
de ocasião. De certa forma, Piranha da
Fonseca Albuquerque encarna, nele
mesmo, um misto de político com
miliciano; literariamente, é a
13
A malicia, na leitura de Zonzon (2014),
constitui um dos fundamentos do jogo da
capoeira, inclusive, na constituição da
capoeira como “arte da malandragem”.
377
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
Com fina ironia, ou para
esconder a farsa dessa tragédia,
Eu sou o próprio retrato humano
bradou o c
andidato.
Se esta nação tivesse que virar
gente, viraria Piranha da Fonseca
Albuquerque! (
JORGE, 2003, p.
O que a saga de Piranha da
Fonseca Albuquerque nos revela,
seguindo a linha aberta por Leonardo
Filho, é a metamorfose do significado
landro que, sem abandonar a
dialética da ordem e da desordem, se
torna símbolo de um fenômeno
negativo. No entanto, não representa
isso a superação da esperteza, da
astúcia, da malícia
13
, enfim, da
malandragem como “poder dos
fracos”, para uma forma negativa de
expressão cultural: a corrupção. “O
malandro pra valer”, diz o samba,
permaneceu marginalizado, agora, não
mais por Vidigal ou o Inspetor Chaves,
mas pelos moralistas conservadores
de ocasião. De certa forma, Piranha da
Fonseca Albuquerque encarna, nele
mesmo, um misto de político com
miliciano; literariamente, é a
A malicia, na leitura de Zonzon (2014),
constitui um dos fundamentos do jogo da
capoeira, inclusive, na constituição da
capoeira como “arte da malandragem”.
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
combinação tipo ideal da corrupção e
da violência, da ignorância e da
covardia.
A corrupção é, hoje, sem dúvida
alguma
o fantasma que ronda o Brasil.
É o mal a ser combatido, o ente a ser
expiado publicamente, o vilão a ser
eliminado, o Estado a ser
desestatizado; assim pensam certos
juízes supremacistas, promotores
lavajatistas, políticos olavistas,
jornalistas globais,
economistas
neoliberais, pastores evangélicos,
oportunistas de plantão, enfim, os
“macarthistas” à la “tramp”. O que
mostra quão difícil e complexa é a
tarefa de se tentar entender o nosso
“Leviatã”.
Em geral, os estudos sobre a
corrupção no Brasil são un
associá-
la ao problema da formação
do Estado. A interpretação clássica de
Sérgio Buarque de Holanda em
do Brasil
, livro de 1936, de inspiração
weberiana, caracteriza como
patrimonial o Estado posto que para
seus funcionários “a própria ges
política apresenta-
se como assunto de
seu interesse particular” (
1984, p. 106)
14
. Consoante a esta
14
A interpretação de Sergio Buarque de
Holanda, como de outros intérpretes do Brasil,
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
combinação tipo ideal da corrupção e
da violência, da ignorância e da
A corrupção é, hoje, sem dúvida
o fantasma que ronda o Brasil.
É o mal a ser combatido, o ente a ser
expiado publicamente, o vilão a ser
eliminado, o Estado a ser
desestatizado; assim pensam certos
juízes supremacistas, promotores
lavajatistas, políticos olavistas,
economistas
neoliberais, pastores evangélicos,
oportunistas de plantão, enfim, os
“macarthistas” à la “tramp”. O que
mostra quão difícil e complexa é a
tarefa de se tentar entender o nosso
Em geral, os estudos sobre a
corrupção no Brasil são un
ânimes em
la ao problema da formação
do Estado. A interpretação clássica de
Sérgio Buarque de Holanda em
Raízes
, livro de 1936, de inspiração
weberiana, caracteriza como
patrimonial o Estado posto que para
seus funcionários “a própria ges
tão
se como assunto de
seu interesse particular” (
HOLANDA,
. Consoante a esta
A interpretação de Sergio Buarque de
Holanda, como de outros intérpretes do Brasil,
perspectiva, outros veem na ausência
de uma cultura cívica a causa da
corrupção pois, nesse caso, imperam
os interesses familiares, de grupos
rel
igiosos, empresarias etc. quem
veja no descompasso entre a
modernização e a estrutura burocrática
tradicional o solo fértil para a
corrupção, favorecendo muitas vezes
a crença ou a ação egoísta com fins
utilitaristas resultante de uma escolha
racional.
A verdade é que o número de
abordagens sobre a corrupção não
acompanha suas performances.
Seguindo a análise de Fernando
Filgueiras (2009), inspirada na
será objeto
de crítica virulenta da parte de
Jessé Souza (2009; 2019); assunto que, em
razão dos limites do texto, lamentavelmente
não poderá ser aprofundado nesse momento.
No entanto, destaco:
A narrativa da “sociologia
do jeitinho”, da teoria do “homem cordial”,
en
tre outros, tem servido à legitimação do
Estado patrimonial e da corrupção no Brasil
não é falsa, mas não é absoluta. A vasta e
longa legião de intérpretes que veem no favor,
na malandragem, no jeitinho, na cordialidade,
na corrupção, algo estruturante na
social precisa ser vista com profundidade e
seriedade, pois não se reduzem a um discurso
de legitimação ou retórica a favor da
manipulação midiática arquitetada
conspiratoriamente pelos intelectuais liberais
conservadores com o conluio dos sistem
judiciário e legislativo e das elites do atraso. A
realidade é sempre mais densa e complexa do
que a teoria nos diz; não por acaso, Max
Weber irá propor que se pense, com
objetividade –
por todo “aquele que ame a
verdade”-
, as configurações histórico
da realidade social à luz dos “tipos ideais”,
colocando em destaque os elementos
estruturantes da realidade sem, contudo,
confundir-
se empiricamente com a mesma.
378
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
perspectiva, outros veem na ausência
de uma cultura cívica a causa da
corrupção pois, nesse caso, imperam
os interesses familiares, de grupos
igiosos, empresarias etc. quem
veja no descompasso entre a
modernização e a estrutura burocrática
tradicional o solo fértil para a
corrupção, favorecendo muitas vezes
a crença ou a ação egoísta com fins
utilitaristas resultante de uma escolha
A verdade é que o número de
abordagens sobre a corrupção não
acompanha suas performances.
Seguindo a análise de Fernando
Filgueiras (2009), inspirada na
de crítica virulenta da parte de
Jessé Souza (2009; 2019); assunto que, em
razão dos limites do texto, lamentavelmente
não poderá ser aprofundado nesse momento.
A narrativa da “sociologia
do jeitinho”, da teoria do “homem cordial”,
tre outros, tem servido à legitimação do
Estado patrimonial e da corrupção no Brasil
não é falsa, mas não é absoluta. A vasta e
longa legião de intérpretes que veem no favor,
na malandragem, no jeitinho, na cordialidade,
na corrupção, algo estruturante na
realidade
social precisa ser vista com profundidade e
seriedade, pois não se reduzem a um discurso
de legitimação ou retórica a favor da
manipulação midiática arquitetada
conspiratoriamente pelos intelectuais liberais
conservadores com o conluio dos sistem
as
judiciário e legislativo e das elites do atraso. A
realidade é sempre mais densa e complexa do
que a teoria nos diz; não por acaso, Max
Weber irá propor que se pense, com
por todo “aquele que ame a
, as configurações histórico
-culturais
da realidade social à luz dos “tipos ideais”,
colocando em destaque os elementos
estruturantes da realidade sem, contudo,
se empiricamente com a mesma.
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
sociologia de Bourdieu, nossa
tolerância para com a corrupção
decore da antinomia entre juízo de
valor
e juízo de necessidade. A
corrupção se revela um jogo linguístico
à medida que, a depender do juízo
moral, as ações ou práticas
consideradas corruptas são toleradas
ou não; são condenadas ou não pela
opinião pública. À exemplo do “tribunal
da opinião” púb
lica, de que fala
Bourdieu (1988), no qual se avalia a
honra de um homem, a corrupção é,
antes de tudo, um juízo de valor, uma
questão de moral. O que é corrupção
para uns, pode não ser para outros.
Julgada na esfera pública, porém,
tolerada no âmbito da v
ida privada.
Mas não é na esfera da vida
privada que o julgamento sobre a
corrupção se relativiza, pois como nos
mostra Otávio Bezerra (2017) os
limites entre a ação de empreiteiras e
dos políticos é bastante tênue. Nessa
perspectiva, talvez não estejam
ainda, quem sabe, tão longe do
“mundo sem culpa” do qual falava
Antônio Candido décadas atrás.
Junto com a espetacularização
da corrupção, sob a qual se produz um
certo desvio de atenção sobre
realidade da desigualdade social à
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
sociologia de Bourdieu, nossa
tolerância para com a corrupção
decore da antinomia entre juízo de
e juízo de necessidade. A
corrupção se revela um jogo linguístico
à medida que, a depender do juízo
moral, as ações ou práticas
consideradas corruptas são toleradas
ou não; são condenadas ou não pela
opinião pública. À exemplo do “tribunal
lica, de que fala
Bourdieu (1988), no qual se avalia a
honra de um homem, a corrupção é,
antes de tudo, um juízo de valor, uma
questão de moral. O que é corrupção
para uns, pode não ser para outros.
Julgada na esfera pública, porém,
ida privada.
Mas não é na esfera da vida
privada que o julgamento sobre a
corrupção se relativiza, pois como nos
mostra Otávio Bezerra (2017) os
limites entre a ação de empreiteiras e
dos políticos é bastante tênue. Nessa
perspectiva, talvez não estejam
os
ainda, quem sabe, tão longe do
“mundo sem culpa” do qual falava
Antônio Candido décadas atrás.
Junto com a espetacularização
da corrupção, sob a qual se produz um
certo desvio de atenção sobre
realidade da desigualdade social à
medida que se culpabiliz
sua ressonância é reveladora de uma
“tragédia disfar(s)çada”
sentido etimológico da palavra
corrupção (do grego
significado remete à “destruição, ruína
e dano aos valores e à ordem”, nos
lembra Gomes (2010, p.
destruição da ordem social
democrática e do estado mínimo de
direitos, a sonegação de impostos das
grandes empresas, a farra dos bilhões
para o fundo eleitoral, o
“empoderamento” das milícias, a orgia
das fake news
, tudo isso e muito mais,
mostra qu
e a corrupção
iceberg-
é antes a nossa farsa, por
assim dizer, de uma história trágica.
Desnecessário lembrar que a
corrupção perpetrada pelos nossos
“junkers”, penso nesse momento em
Werneck Vianna, alimenta a
desigualdade social. Mas, é preci
um “bode expiatório” para se aplacar
ou satisfazer a violência inerente à
sociedade, sobretudo, quando a
mesma apresenta características
coloniais, quiçá escravocratas, como a
brasileira
15
.
15
Do ponto de vista funcional a retórica da
corrupção não escolhe partidos, classes ou
religião, a se julgar o exemplo de Angola, pois,
muitas vezes, o combate à corrupção se
379
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
medida que se culpabiliz
a o Estado, a
sua ressonância é reveladora de uma
“tragédia disfar(s)çada”
-a se julgar o
sentido etimológico da palavra
corrupção (do grego
diaphthora) cujo
significado remete à “destruição, ruína
e dano aos valores e à ordem”, nos
lembra Gomes (2010, p.
33). A
destruição da ordem social
democrática e do estado mínimo de
direitos, a sonegação de impostos das
grandes empresas, a farra dos bilhões
para o fundo eleitoral, o
“empoderamento” das milícias, a orgia
, tudo isso e muito mais,
e a corrupção
-a ponta do
é antes a nossa farsa, por
assim dizer, de uma história trágica.
Desnecessário lembrar que a
corrupção perpetrada pelos nossos
“junkers”, penso nesse momento em
Werneck Vianna, alimenta a
desigualdade social. Mas, é preci
so
um “bode expiatório” para se aplacar
ou satisfazer a violência inerente à
sociedade, sobretudo, quando a
mesma apresenta características
coloniais, quiçá escravocratas, como a
Do ponto de vista funcional a retórica da
corrupção não escolhe partidos, classes ou
religião, a se julgar o exemplo de Angola, pois,
muitas vezes, o combate à corrupção se
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
Não por acaso, canta Chico
Buarque de Holanda
(1980, p. 21
“O malandro / Na dureza / Senta à
mesa / Do café / Bebe um gole / De
cachaça / Acha graça / E no pé”,
será, rocambolescamente,
considerado o culpado, pois “O
garçom / Um malandro / Sai
gritando / Pega ladrão / E o malandro /
Autuado / É julgado e con
Pela situação”.
E o que também
denuncia Jessé de Souza (2009; 2019)
quando diz que o malandro, o jeitinho
e a corrupção funcionalmente
legitimam essa chamada “pátria
amada Brasil” ao tirar de cena o
problema da desigualdade estrutural
que persiste
no país desde o “tempo
do rei”.
A “arte da malandragem”
Não dúvida que as
categorias favor, jeitinho,
malandragem, corrupção, cordialidade,
concorrem funcionalmente para a
legitimação da retórica moralista,
liberal e conservadora; no entanto,
elas t
ambém apontam para um
aproxima de uma obsessão moral. Segundo
Macamo (2014), em Angola a corrupção,
independentemente de ser provada sua
existência, representava uma ameaça à
criação de um p
aís novo, de um “homem
novo” -
fantasia que ronda o Brasil atualmente.
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
Não por acaso, canta Chico
(1980, p. 21
-23):
“O malandro / Na dureza / Senta à
mesa / Do café / Bebe um gole / De
cachaça / Acha graça / E no pé”,
será, rocambolescamente,
considerado o culpado, pois “O
garçom / Um malandro / Sai
gritando / Pega ladrão / E o malandro /
Autuado / É julgado e con
denado /
E o que também
denuncia Jessé de Souza (2009; 2019)
quando diz que o malandro, o jeitinho
e a corrupção funcionalmente
legitimam essa chamada “pátria
amada Brasil” ao tirar de cena o
problema da desigualdade estrutural
no país desde o “tempo
A “arte da malandragem”
Não dúvida que as
categorias favor, jeitinho,
malandragem, corrupção, cordialidade,
concorrem funcionalmente para a
legitimação da retórica moralista,
liberal e conservadora; no entanto,
ambém apontam para um
aproxima de uma obsessão moral. Segundo
Macamo (2014), em Angola a corrupção,
independentemente de ser provada sua
existência, representava uma ameaça à
aís novo, de um “homem
fantasia que ronda o Brasil atualmente.
conjunto de representações e práticas
sociais daqueles que estão, muitas
vezes, na outra ponta do sistema:
aquela parcela gigantesca do mundo
social brasileiro que a “elite do atraso”
teima em tornar invisível e execrável: a
“ralé bra
sileira”. A verdade é que o
mundo da malandragem não é um
mundo cor de rosa onde tem lugar
somente a negociação, as trocas, os
favores, os golpes, os jeitinhos, enfim,
as táticas harmoniosas de resolução
de conflitos sociais. Antes, trata
mundo da vi
da cotidiana, o mundo da
“realidade suprema” diria Schutz,
marcado pela tensão e violência física
e simbólica, na guerra de todos contra
todos, ordinariamente. A malandragem
talvez expresse simbolicamente a
nossa forma de “lutas de classe”, sem
excluir a v
iolência física ou simbólica,
mas também sem abandonar a astúcia
e a malícia que também hoje andam
pervertidas. Até pouco tempo atrás, e
possivelmente ainda hoje, a
malandragem era parte de um estilo
de vida e visão de mundo, portanto,
uma forma de sociabi
tensões, os conflitos, a violência, são
intestinas ao sistema social (ROCHA,
2004). A música, a literatura, a
indumentária, o cinema, o corpo, a
380
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
conjunto de representações e práticas
sociais daqueles que estão, muitas
vezes, na outra ponta do sistema:
aquela parcela gigantesca do mundo
social brasileiro que a “elite do atraso”
teima em tornar invisível e execrável: a
sileira”. A verdade é que o
mundo da malandragem não é um
mundo cor de rosa onde tem lugar
somente a negociação, as trocas, os
favores, os golpes, os jeitinhos, enfim,
as táticas harmoniosas de resolução
de conflitos sociais. Antes, trata
-se do
da cotidiana, o mundo da
“realidade suprema” diria Schutz,
marcado pela tensão e violência física
e simbólica, na guerra de todos contra
todos, ordinariamente. A malandragem
talvez expresse simbolicamente a
nossa forma de “lutas de classe”, sem
iolência física ou simbólica,
mas também sem abandonar a astúcia
e a malícia que também hoje andam
pervertidas. Até pouco tempo atrás, e
possivelmente ainda hoje, a
malandragem era parte de um estilo
de vida e visão de mundo, portanto,
uma forma de sociabi
lidade na qual as
tensões, os conflitos, a violência, são
intestinas ao sistema social (ROCHA,
2004). A música, a literatura, a
indumentária, o cinema, o corpo, a
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
preguiça e tantas outras formas
simbólicas por meio das quais se
critica, se denuncia, se rel
revela e se disfar(ç)sa a tragédia
nossa de todo dia no “país do
carnaval, do futebol e da
malandragem”, tudo isso nos mostra
quão densa, profunda e complexa é a
vida social no Brasil, mais do que o
pensamento sociológico consegue às
vezes tipi
ficar. De certa forma, a
malandragem expressa a sabedoria
popular de enfrentar, com certo
improviso, o sentido trágico da vida
com “arte”, no sentido nietzscheano.
É sabido que o significado das
palavras, conceitos ou categorias não
se mantem os mesmos de
pois mudam com o tempo.
P
arafraseando com Gilberto
Vasconcellos
(1977, p. 101
vate português: muda-
se o tempo,
muda-
se o vadio. Pisar macio não é
mais fundamental à malandragem”.
Não significa isso, no entanto, o fim ou
a morte da malan
dragem. Em
constante estado de prontidão o
malandro e a malandragem se
metamorfosearam ao longo do tempo
e adquiriram outros nomes, outras
caras, outras vozes. Assim, mesmo
com toda ambiguidade e ambivalência
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
preguiça e tantas outras formas
simbólicas por meio das quais se
critica, se denuncia, se rel
ativiza, se
revela e se disfar(ç)sa a tragédia
nossa de todo dia no “país do
carnaval, do futebol e da
malandragem”, tudo isso nos mostra
quão densa, profunda e complexa é a
vida social no Brasil, mais do que o
pensamento sociológico consegue às
ficar. De certa forma, a
malandragem expressa a sabedoria
popular de enfrentar, com certo
improviso, o sentido trágico da vida
com “arte”, no sentido nietzscheano.
É sabido que o significado das
palavras, conceitos ou categorias não
se mantem os mesmos de
sempre,
pois mudam com o tempo.
arafraseando com Gilberto
(1977, p. 101
-102) “o
se o tempo,
se o vadio. Pisar macio não é
mais fundamental à malandragem”.
Não significa isso, no entanto, o fim ou
dragem. Em
constante estado de prontidão o
malandro e a malandragem se
metamorfosearam ao longo do tempo
e adquiriram outros nomes, outras
caras, outras vozes. Assim, mesmo
com toda ambiguidade e ambivalência
de que é portadora, a “arte da
malandragem”, aq
uela utilizada pelos
setores das classes populares, não
representa, por certo, somente um
modo de “domesticar as contradições”,
mas expressa uma forma simbólica de
resistir, criticar, “empoderar” no sentido
de desestabilizar e relativizar certas
estruturas
de poder, um modo de
tornar o medo, a desigualdade, o
preconceito, sem perder de vista a
realidade suprema, em “letras de
samba” enquanto “arma dos fracos”
Ao longo da formação das artes
e das culturas populares no Brasil
(literatura, teatro, poesia,
muitos tipos de malandros surgiram
ora aqui, ora acolá como o malandro
valente, o malandro regenerado, o
bom malandro e o falso malandro, o
malandro federal, o malandro
sambista, entre outros. A poética
musical de Bezerra da Silva ilustra
esse
processo ao dar voz, por meio
16
Bakhtin (1987), confere às classes populares
um grande poder de carnavalização, o que
não está restrito ao universo da Idade Média e
do Renascimento. Ao meu ver “etnografia
experimental
” de Telles e Hirata (2007) em
torno das “histórias minúsculas” de “homens
infames” -
aqueles que vivem nas margens e à
margem, entre o formal e o informal, o legal e
o ilegal, o lícito e o ilícito-
, ilustra de maneira
exemplar e aproximativamente as tessit
da “arte do contornamento” com a “arte da
malandragem”.
381
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
de que é portadora, a “arte da
uela utilizada pelos
setores das classes populares, não
representa, por certo, somente um
modo de “domesticar as contradições”,
mas expressa uma forma simbólica de
resistir, criticar, “empoderar” no sentido
de desestabilizar e relativizar certas
de poder, um modo de
tornar o medo, a desigualdade, o
preconceito, sem perder de vista a
realidade suprema, em “letras de
samba” enquanto “arma dos fracos”
16
.
Ao longo da formação das artes
e das culturas populares no Brasil
(literatura, teatro, poesia,
música etc.)
muitos tipos de malandros surgiram
ora aqui, ora acolá como o malandro
valente, o malandro regenerado, o
bom malandro e o falso malandro, o
malandro federal, o malandro
sambista, entre outros. A poética
musical de Bezerra da Silva ilustra
processo ao dar voz, por meio
Bakhtin (1987), confere às classes populares
um grande poder de carnavalização, o que
não está restrito ao universo da Idade Média e
do Renascimento. Ao meu ver “etnografia
” de Telles e Hirata (2007) em
torno das “histórias minúsculas” de “homens
aqueles que vivem nas margens e à
margem, entre o formal e o informal, o legal e
, ilustra de maneira
exemplar e aproximativamente as tessit
uras
da “arte do contornamento” com a “arte da
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
das parcerias e dos tipos que canta, às
parcelas menos favorecidas da
sociedade como os habitantes das
comunidades pobres, dos morros e
dos subúrbios. Como nos lembra
Leticia Vian (1998, p. 123-
124)
Os sambas que Bezerra da
canta não fazem apologia do
bandido, do malandro, do colarinho
branco corrupto ou do trabalhador.
Falam, com humor ácido, de um
mundo bárbaro, de certa forma
pouco familiar ao grande público.
Exploram uma linguagem própria
marcada pela ambiguidade, p
duplo sentido e ironia e pela
relatividade ou ausência de
julgamento moral; um discurso que
afirma a identidade de um etos
favelado, excluído dos mecanismos
de justiça social. Seu repertório é
uma crônica da vida cotidiana das
favelas e subúrbios cario
bem-
humorada e densa de crítica
social, onde o malandro é
personagem ambíguo, difuso, que
aparece de diferentes maneiras,
inclusive
como personificação do
artista.
Em “Revisitando a
malandragem”, José Carlos Rodrigues
(2018)
retoma o modelo analítico de
Roberto DaMatta centrado nas figuras
do malandro, do Caxias, do otário e do
renunciador, substituindo este último
pelo bandido com fins a atualizar
nosso imaginário; e observa:
mais possível hoje em dia, para
entender o
nosso cenário social,
continuar fazendo confusão entre
malandro e bandido. Também não se
os pode ver como associados somente
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
das parcerias e dos tipos que canta, às
parcelas menos favorecidas da
sociedade como os habitantes das
comunidades pobres, dos morros e
dos subúrbios. Como nos lembra
124)
:
Os sambas que Bezerra da
Silva
canta não fazem apologia do
bandido, do malandro, do colarinho
-
branco corrupto ou do trabalhador.
Falam, com humor ácido, de um
mundo bárbaro, de certa forma
pouco familiar ao grande público.
Exploram uma linguagem própria
marcada pela ambiguidade, p
elo
duplo sentido e ironia e pela
relatividade ou ausência de
julgamento moral; um discurso que
afirma a identidade de um etos
favelado, excluído dos mecanismos
de justiça social. Seu repertório é
uma crônica da vida cotidiana das
favelas e subúrbios cario
cas, crônica
humorada e densa de crítica
social, onde o malandro é
personagem ambíguo, difuso, que
aparece de diferentes maneiras,
como personificação do
Em “Revisitando a
malandragem”, José Carlos Rodrigues
retoma o modelo analítico de
Roberto DaMatta centrado nas figuras
do malandro, do Caxias, do otário e do
renunciador, substituindo este último
pelo bandido com fins a atualizar
nosso imaginário; e observa:
“não é
mais possível hoje em dia, para
nosso cenário social,
continuar fazendo confusão entre
malandro e bandido. Também não se
os pode ver como associados somente
às classes inferiores e ao gênero
masculino”, afinal, “Na prática social e
no imaginário, o significado da palavra
“malandro” vem s
e transformando,
indicando uma concepção nova”
(RODRIGUES,
2018, p. 8
malandragem, para o antropólogo,
“que está surgindo e se difundindo
significa especialmente um tipo de
intuição, uma espécie de sociologia
nativa, sobre os modos de aplicação
das r
egras no Brasil” (2018, p. 9). Para
ilustrar essa nova significação, ele
recorre à descrição de vários episódios
capturados no cotidiano nos deixando
ver que uma certa malandragem
continua viva e ase universalizou. O
malandro já não é mais substantivo,
mas adjetivo referente a um tipo de
comportamento social ou de ação
simbólica.
Em suma, da
sargento à milícia hoje, investida com
novas patentes, uma distância
enorme entre uma e outra.
malandragem no sentido amplo do
termo, é um gênero de
comum aos setores populares que
lançam mão dessa prática todas as
vezes que o poder visa silenciar sua
voz, disciplinar seus gestos, apagar
suas histórias. Sem apologia, a
382
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
às classes inferiores e ao gênero
masculino”, afinal, “Na prática social e
no imaginário, o significado da palavra
e transformando,
indicando uma concepção nova”
2018, p. 8
-9). A
malandragem, para o antropólogo,
“que está surgindo e se difundindo
significa especialmente um tipo de
intuição, uma espécie de sociologia
nativa, sobre os modos de aplicação
egras no Brasil” (2018, p. 9). Para
ilustrar essa nova significação, ele
recorre à descrição de vários episódios
capturados no cotidiano nos deixando
ver que uma certa malandragem
continua viva e ase universalizou. O
malandro já não é mais substantivo,
mas adjetivo referente a um tipo de
comportamento social ou de ação
Em suma, da
milícia do
sargento à milícia hoje, investida com
novas patentes, uma distância
enorme entre uma e outra.
A
malandragem no sentido amplo do
termo, é um gênero de
razão astuciosa
comum aos setores populares que
lançam mão dessa prática todas as
vezes que o poder visa silenciar sua
voz, disciplinar seus gestos, apagar
suas histórias. Sem apologia, a
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
malandragem é antes de tudo, uma
prática discursiva que pode ser
ut
ilizada positiva ou negativamente. E
pode ser tão crítica e fecunda quanto
as leituras políticas ou sociológicas da
realidade social, nos ensinam desde
os interacionistas simbólicos aos
etnometodólogos; pois não é demais
lembrar o quanto o malandro e a
mal
andragem têm sido perseguidos ao
longo da história desde o tempo do rei
passando pelo tempo de Getúlio
(MATOS
, 1982), chegando ao tempo
da ditadura militar (VASCONCELLOS,
1977); tudo por conta de sua potência
simbólica subversiva. No entanto, isso
não elim
ina o fato de que vivemos a
consciência infeliz em torno de um
projeto político que (dis)far(s)ça a
trágica perversidade de uma
governança miliciana em curso hoje no
país.
Referências bibliográficas
ALMEIDA, Manuel Antônio.
de um sargento de milícias
. São Paulo:
Círculo do Livro, 1988.
BACHELARD, Gaston.
A poética do
devaneio
. São Paulo: Martins Fontes,
1988.
BAKHTIN, Mikhail.
A cultura popular
na idade média e no renascimento:
contexto de François Rabelais. São
Paulo: Hucitec ; Brasília:
UnB, 1987.
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
malandragem é antes de tudo, uma
prática discursiva que pode ser
ilizada positiva ou negativamente. E
pode ser tão crítica e fecunda quanto
as leituras políticas ou sociológicas da
realidade social, nos ensinam desde
os interacionistas simbólicos aos
etnometodólogos; pois não é demais
lembrar o quanto o malandro e a
andragem têm sido perseguidos ao
longo da história desde o tempo do rei
passando pelo tempo de Getúlio
, 1982), chegando ao tempo
da ditadura militar (VASCONCELLOS,
1977); tudo por conta de sua potência
simbólica subversiva. No entanto, isso
ina o fato de que vivemos a
consciência infeliz em torno de um
projeto político que (dis)far(s)ça a
trágica perversidade de uma
governança miliciana em curso hoje no
Referências bibliográficas
ALMEIDA, Manuel Antônio.
Memórias
. São Paulo:
A poética do
. São Paulo: Martins Fontes,
A cultura popular
na idade média e no renascimento:
o
contexto de François Rabelais. São
UnB, 1987.
BARBOSA, Lívia.
O jeitinho brasileiro
a arte de ser mais igual que os outros.
Rio de Janeiro: Campos, 1992.
BEZERRA, Marcos Otavio. Corrupção
e produção do Estado.
Luís, v. 14, n. 27, p. 99
BOURDIEU, Pierre. O sentimento
honra na sociedade cabília. In:
PERISTIANY, J. (org.).
vergonha
valores das sociedades
mediterrânicas. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1988. p. 157
195.
BUENO, André. A dialética e a
malandragem.
Revista Letras
n. 74, p. 47-69, 2008.
CANDIDO, Antônio. Dialética da
malandragem (caracterização das
Memórias de um sargento de milícias
In: ALMEIDA, Manuel Antônio de.
Memórias de um sargento de milícias
São Paulo: Círculo do Livro, 1988. p.
187-217.
CANO, Ignácio; DUARTE, Thaís
(coords.).
No sapatinho
das milícias no Rio de Janeiro (2008
2011). Rio de Janeiro: Fundação
Heinrich Boll, 2012.
CAVALCANTI PROENÇA, Manuel.
Roteiro de Macunaíma
Civilização Brasileira, 1978.
DAMATTA, Roberto. A obra literária
como etnografia
relações entre literatura e antropologia.
In:
Conta de mentiroso
de antropologia brasileira. Rio de
Janeiro: Rocco, 1993, p. 35
DAMATTA, Roberto.
brasil, Brasil?
Rio de Janeiro: Rocco,
1986.
FERN
ANDES, Millôr.
memórias de um sargento de milícias.
Porto Alegre: L&PM, 1981.
383
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
O jeitinho brasileiro
-
a arte de ser mais igual que os outros.
Rio de Janeiro: Campos, 1992.
BEZERRA, Marcos Otavio. Corrupção
e produção do Estado.
REPOCS, São
Luís, v. 14, n. 27, p. 99
-130, 2017.
BOURDIEU, Pierre. O sentimento
da
honra na sociedade cabília. In:
PERISTIANY, J. (org.).
Honra e
valores das sociedades
mediterrânicas. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1988. p. 157
-
BUENO, André. A dialética e a
Revista Letras
, Curitiba,
CANDIDO, Antônio. Dialética da
malandragem (caracterização das
Memórias de um sargento de milícias
).
In: ALMEIDA, Manuel Antônio de.
Memórias de um sargento de milícias
.
São Paulo: Círculo do Livro, 1988. p.
CANO, Ignácio; DUARTE, Thaís
No sapatinho
a evolução
das milícias no Rio de Janeiro (2008
-
2011). Rio de Janeiro: Fundação
CAVALCANTI PROENÇA, Manuel.
Roteiro de Macunaíma
. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1978.
DAMATTA, Roberto. A obra literária
notas sobre as
relações entre literatura e antropologia.
Conta de mentiroso
sete ensaios
de antropologia brasileira. Rio de
Janeiro: Rocco, 1993, p. 35
-58.
DAMATTA, Roberto.
O que faz o
Rio de Janeiro: Rocco,
ANDES, Millôr.
Vidigal
memórias de um sargento de milícias.
Porto Alegre: L&PM, 1981.
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
FILGUEIRAS, Fernando. A tolerância
à corrupção no Brasil
uma antinomia
entre normas morais e prática social.
Opinião pública
, Campinas, v. 15, n. 2,
p. 386-421, 2009.
G
OMES, Jo Vitor. A corrupção em
perspectivas teóricas.
Cultura
, Juiz de Fora, v. 5, n. 1 e 2, p.
21-33, 2010.
HOLANDA, Chico Buarque
do malandro
. São Paulo: Cultura
Editora, 1980.
HOLANDA, Sergio Buarque
do Brasil
. Rio de Jan
Olympio, 1984.
JORGE, Fernando.
O grande líder
romance satírico, bárbaro, picaresco,
baseado em fatos reais, nas cenas
surrealistas da vida social e política de
um país latino-
americano chamado
Brasil. São Paulo: Geração editorial,
2003.
LEITE
, Dante Moreira.
nacional brasileiro
história de uma
ideologia. São Paulo: Pioneira, 1983.
LINDHOLM, Charles.
Carisma
e perda de identidade na veneração ao
líder. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1993.
MACAMO, Elísio. Corrupção. In:
SANSONE, Lívio; FURTADO, Claudio
(orgs.).
Dicionário crítico das ciências
sociais dos países de fala oficial
portuguesa.
Salvador: EDUFBA, 2014.
p. 59-73.
MARX, Karl. O 18 Brumário de Luís
Bonaparte. In: GIANOTTI, José. (org.
Manuscritos econômico-
filosóficos e
outros textos escolhidos
Paulo:Abril Cultural, 1978. p. 323
MATOS, Claudia.
Acertei no milhar
samba e malandragem no tempo de
Getúlio. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1982.
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
FILGUEIRAS, Fernando. A tolerância
uma antinomia
entre normas morais e prática social.
, Campinas, v. 15, n. 2,
OMES, Jo Vitor. A corrupção em
perspectivas teóricas.
Teoria &
, Juiz de Fora, v. 5, n. 1 e 2, p.
HOLANDA, Chico Buarque
de. Ópera
. São Paulo: Cultura
HOLANDA, Sergio Buarque
de. Raízes
. Rio de Jan
eiro: José
O grande líder
-
romance satírico, bárbaro, picaresco,
baseado em fatos reais, nas cenas
surrealistas da vida social e política de
americano chamado
Brasil. São Paulo: Geração editorial,
, Dante Moreira.
O caráter
história de uma
ideologia. São Paulo: Pioneira, 1983.
Carisma
êxtase
e perda de identidade na veneração ao
líder. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
MACAMO, Elísio. Corrupção. In:
SANSONE, Lívio; FURTADO, Claudio
Dicionário crítico das ciências
sociais dos países de fala oficial
Salvador: EDUFBA, 2014.
MARX, Karl. O 18 Brumário de Luís
Bonaparte. In: GIANOTTI, José. (org.
).
filosóficos e
outros textos escolhidos
. São
Paulo:Abril Cultural, 1978. p. 323
-404.
Acertei no milhar
samba e malandragem no tempo de
Getúlio. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
MAUSS, Marcel.
sociologia
. São Paulo: Perspectiva,
1981.
MISSE, Michel.
Malandros, marginais
e vagabundos & a acumulação social
da violência no Rio de Janeiro
(Doutoramento em Sociologia),
Instituto Universitário de Pesquisas do
Rio de Janeiro
(IUPERJ), Rio de
Janeiro, 1999.
MISSE, Michel. Sobre a acumulação
social da violência no Rio de Janeiro.
Civitas
, Porto Alegre, v. 6, n. 3, p. 371
385, 2008.
NASCIMENTO, Marcelle.
positivação do “jeitinho brasileiro” na
mídia
uma reconfiguração do
estereótipo identitário nacional.
Dissertação (Mestrado em Cultura e
Territorialidades), Universidade
Federal Fluminense, Niterói, 2017.
REIS, João José; SILVA, Eduardo.
Negociação e conflito
negra no Brasil escravista. São Paulo,
Companhia das letras, 1989.
ROCHA, Gilmar. A
cultura.
Teoria & Cultura
v. 11, n. 2, p. 167-
187, 2016.
ROCHA, Gilmar.
O rei da Lapa
Madame Satã e a malandragem
carioca
. Rio de Janeiro: 7 Letras,
2004.
ROCHA, João Cezar, A guerra de
relatos no Brasil contemporâneo
a
dialética da marginalidade.
Santa Maria, n. 32, p. 23
RODRIGUES, José Carlos.
Revisitando a malandragem.
Rio de Janeiro, v. 19, n. 37, p. 6
2018.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Para
além do pensamento abissal
linhas globai
s a uma ecologia dos
saberes. In: SANTOS, Boaventura;
384
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
MAUSS, Marcel.
Ensaios de
. São Paulo: Perspectiva,
Malandros, marginais
e vagabundos & a acumulação social
da violência no Rio de Janeiro
. Tese
(Doutoramento em Sociologia),
Instituto Universitário de Pesquisas do
(IUPERJ), Rio de
MISSE, Michel. Sobre a acumulação
social da violência no Rio de Janeiro.
, Porto Alegre, v. 6, n. 3, p. 371
-
NASCIMENTO, Marcelle.
A
positivação do “jeitinho brasileiro” na
uma reconfiguração do
estereótipo identitário nacional.
Dissertação (Mestrado em Cultura e
Territorialidades), Universidade
Federal Fluminense, Niterói, 2017.
REIS, João José; SILVA, Eduardo.
Negociação e conflito
a resistência
negra no Brasil escravista. São Paulo,
Companhia das letras, 1989.
imaginação e a
Teoria & Cultura
, Juiz de Fora,
187, 2016.
O rei da Lapa
-
Madame Satã e a malandragem
. Rio de Janeiro: 7 Letras,
ROCHA, João Cezar, A guerra de
relatos no Brasil contemporâneo
-Ou:
dialética da marginalidade.
Letras,
Santa Maria, n. 32, p. 23
-70, 2006.
RODRIGUES, José Carlos.
Revisitando a malandragem.
Alceu,
Rio de Janeiro, v. 19, n. 37, p. 6
-15,
SANTOS, Boaventura de Sousa. Para
além do pensamento abissal
das
s a uma ecologia dos
saberes. In: SANTOS, Boaventura;
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
uma narrativa dramática de
longa duração
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
358-385, março 2021.
MENESES, Maria Paula (orgs.).
Epistemologias do Sul
. Coimbra:
Almedina, 2009, p. 23-71.
SCHWARZ, Roberto. As ideias fora do
lugar. In:
Ao vencedor as batatas
forma literária e processo social nos
iníci
os do romance brasileiro. São
Paulo: Duas Cidades, 1981. p. 13
SOUZA, Jessé.
A elite do atraso
escravidão a Bolsonaro
(edição revista
e ampliada)
. Rio de Janeiro: Estação
Brasil, 2019.
SOUZA, Jessé.
A ralé brasileira
quem é e como vive. Belo
UFMG, 2009.
TELLES, Vera; HIRATA, Daniel.
Cidade e práticas urbanas
fronteiras incertas entre o ilegal, o
informal e o ilícito.
Avançados
, São Paulo, v. 21, n. 61, p.
173-191, 2007.
TURNER, Victor.
Dramas, campos e
metáforas ação
simbólica na
sociedade humana. Niterói: EDUFF,
2008.
VASCONCELLOS, Gilberto.
popular
de olho na fresta
Janeiro: Graal, 1977.
VELHO; Gilberto; KUSCHINIR, Karina
(orgs.).
Mediação, cultura e política
Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001.
VIANNA, Letícia.
Bezerra da Silva:
produto do morro-
trajetória e obra de
um sambista que não é santo. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
WEBER, Max. A ‘objetividade do
conhecimento nas ciências sociais. In:
COHN, Gabriel (org.).
sociologia. São Paulo: Áti
ca, 1986. p.
79-127.
KETI;
MONSUETO.
música popular brasileira.
Abril Cultural, 1982.
ROCHA, Gilmar. A "arte da malandragem" entre a farsa e a tragédia
-
longa duração
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 20, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(
Fluxo Contínuo
MENESES, Maria Paula (orgs.).
. Coimbra:
SCHWARZ, Roberto. As ideias fora do
Ao vencedor as batatas
forma literária e processo social nos
os do romance brasileiro. São
Paulo: Duas Cidades, 1981. p. 13
-28.
A elite do atraso
da
(edição revista
. Rio de Janeiro: Estação
A ralé brasileira
quem é e como vive. Belo
Horizonte:
TELLES, Vera; HIRATA, Daniel.
Cidade e práticas urbanas
–nas
fronteiras incertas entre o ilegal, o
informal e o ilícito.
Estudos
, São Paulo, v. 21, n. 61, p.
Dramas, campos e
simbólica na
sociedade humana. Niterói: EDUFF,
VASCONCELLOS, Gilberto.
Música
de olho na fresta
. Rio de
VELHO; Gilberto; KUSCHINIR, Karina
Mediação, cultura e política
.
Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001.
Bezerra da Silva:
trajetória e obra de
um sambista que não é santo. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
WEBER, Max. A ‘objetividade do
conhecimento nas ciências sociais. In:
COHN, Gabriel (org.).
Weber:
ca, 1986. p.
MONSUETO.
História da
São Paulo:
ZONZON, Christine. Capoeira
algumas versões da malicia.
de Humanidades e Letras
1, n. 1, p. 45-81.
385
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Fluxo Contínuo
)
ZONZON, Christine. Capoeira
-
algumas versões da malicia.
Revista
de Humanidades e Letras
, Salvador, v.
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
Geopolítica, identidade cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
Resumo: Neste trabalho,busca-
se refletir sobre a relação entre questões geopolíticas e identitárias e
a língua espanhola no contexto brasileiro, bem como mostrar como o entrelaçamento destes
elementos pode ser tratado nasala de aula sob uma perspectiva int
língua, fomentar o conhecimento de história da América Ibérica e promover a aproximação do aluno
brasileiro ao universo dos povos vizinhos.Para tanto, apoiamo
associamos às relações de pod
atribuído às línguas. Defendemos que a abordagem destes componentes na sala de aula sensibiliza
o aluno e o faz entender que o estudo de uma língua estrangeira deve transcender ideologias e
contr
ibuir para aproximar culturas,olhar para o mundo sob diferentes perspectivas e evoluir como ser
humano.
Palavras-chave:
Geopolítica; identidade cultural;
Geopolítica, identidad cultural y la lengua
Resumen:
En este trabajo, buscamos reflexionar sobre la relación entre las cuestiones geopolíticas e
identitarias y la lengua española en el contexto brasileño, además de mostrar como el
entrelazamiento de estos elementos
intercultural con el objetivo de enseñar. el idioma, fomentar el conocimiento de la historia de
Iberoamérica y promover el acercamiento del estudiante brasileño al universo de los pueblos vecinos.
Para
ello, nos apoyamos en el concepto de geopolítica y lo asociamos con las relaciones de poder
para mostrar cómo influyen en el grado de importancia atribuido a las lenguas. Argumentamos que el
abordaje de estos componentes en el aula sensibiliza al alumno y
de una lengua extranjera debe trascender las ideologías y contribuir a acercar las culturas, mirar el
mundo desde diferentes perspectivas y evolucionar como ser humano.
Palabras clave:
Geopolítica; identidad cultural; com
1
Maria Cláudia de Jesus Machado. Doutoranda em Letras pela Universidade Federal de São Carlos,
Brasil. E-
mail: afamariaclaudia@outlook.com
2
Rosa Yokota. Doutora em Letras. Professora da Universidade Federal de São Carlos, Brasil. E
rosayokota@yahoo.com -
https://orcid.org/0000
Texto recebido em 05/10/20
20,
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Geopolítica, identidade cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i20.
46446
Maria Cláudia de Jesus Machado
se refletir sobre a relação entre questões geopolíticas e identitárias e
a língua espanhola no contexto brasileiro, bem como mostrar como o entrelaçamento destes
elementos pode ser tratado nasala de aula sob uma perspectiva int
ercultural objetivando ensinar a
língua, fomentar o conhecimento de história da América Ibérica e promover a aproximação do aluno
brasileiro ao universo dos povos vizinhos.Para tanto, apoiamo
-
nos no conceito de geopolítica e o
associamos às relações de pod
er para mostrar como estas influenciam o grau de importância
atribuído às línguas. Defendemos que a abordagem destes componentes na sala de aula sensibiliza
o aluno e o faz entender que o estudo de uma língua estrangeira deve transcender ideologias e
ibuir para aproximar culturas,olhar para o mundo sob diferentes perspectivas e evoluir como ser
Geopolítica; identidade cultural;
comunicação intercultural; l
íngua espanhola; Brasil.
Geopolítica, identidad cultural y la lengua
española en el contexto brasileño
En este trabajo, buscamos reflexionar sobre la relación entre las cuestiones geopolíticas e
identitarias y la lengua española en el contexto brasileño, además de mostrar como el
entrelazamiento de estos elementos
pueden ser tratados en el aula desde una perspectiva
intercultural con el objetivo de enseñar. el idioma, fomentar el conocimiento de la historia de
Iberoamérica y promover el acercamiento del estudiante brasileño al universo de los pueblos vecinos.
ello, nos apoyamos en el concepto de geopolítica y lo asociamos con las relaciones de poder
para mostrar cómo influyen en el grado de importancia atribuido a las lenguas. Argumentamos que el
abordaje de estos componentes en el aula sensibiliza al alumno y
le hace comprender que el estudio
de una lengua extranjera debe trascender las ideologías y contribuir a acercar las culturas, mirar el
mundo desde diferentes perspectivas y evolucionar como ser humano.
Geopolítica; identidad cultural; com
unicación intercultural; lengua española; Brasil.
Maria Cláudia de Jesus Machado. Doutoranda em Letras pela Universidade Federal de São Carlos,
mail: afamariaclaudia@outlook.com
- https://orcid.org/0000-0002-3220-
4732
Rosa Yokota. Doutora em Letras. Professora da Universidade Federal de São Carlos, Brasil. E
https://orcid.org/0000
-0002-1672-1430
20,
aceito para pu
blicação em 24/11/2020 e disponibilizado online
em 01/03/2021.
386
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
Geopolítica, identidade cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Maria Cláudia de Jesus Machado
1
Rosa Yokota
2
se refletir sobre a relação entre questões geopolíticas e identitárias e
a língua espanhola no contexto brasileiro, bem como mostrar como o entrelaçamento destes
ercultural objetivando ensinar a
língua, fomentar o conhecimento de história da América Ibérica e promover a aproximação do aluno
nos no conceito de geopolítica e o
er para mostrar como estas influenciam o grau de importância
atribuído às línguas. Defendemos que a abordagem destes componentes na sala de aula sensibiliza
o aluno e o faz entender que o estudo de uma língua estrangeira deve transcender ideologias e
ibuir para aproximar culturas,olhar para o mundo sob diferentes perspectivas e evoluir como ser
íngua espanhola; Brasil.
española en el contexto brasileño
En este trabajo, buscamos reflexionar sobre la relación entre las cuestiones geopolíticas e
identitarias y la lengua española en el contexto brasileño, además de mostrar como el
pueden ser tratados en el aula desde una perspectiva
intercultural con el objetivo de enseñar. el idioma, fomentar el conocimiento de la historia de
Iberoamérica y promover el acercamiento del estudiante brasileño al universo de los pueblos vecinos.
ello, nos apoyamos en el concepto de geopolítica y lo asociamos con las relaciones de poder
para mostrar cómo influyen en el grado de importancia atribuido a las lenguas. Argumentamos que el
le hace comprender que el estudio
de una lengua extranjera debe trascender las ideologías y contribuir a acercar las culturas, mirar el
unicación intercultural; lengua española; Brasil.
Maria Cláudia de Jesus Machado. Doutoranda em Letras pela Universidade Federal de São Carlos,
4732
Rosa Yokota. Doutora em Letras. Professora da Universidade Federal de São Carlos, Brasil. E
-mail:
blicação em 24/11/2020 e disponibilizado online
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
Geopolitics, cultural identity and the Spanish language in the Brazilian context
Abstract:
This paper seeks to reflect on the relationship between geopolitical and identity issues and
the Spanish language
in the Brazilian context, as well as to showhow the intertwining of these
elements can be treated in the Spanish language class from an intercultural perspective aiming, at the
same time, to teach the language, foster the knowledge of the history of Iberi
the approximation of the Brazilian student to the universe of neighboring peoples. To this end, we rely
on the concept of geopolitics and associate it with power relations to show how they influence the
degree of importance attribute
d to languages. We argue that the approach of these components in the
classroom sensitizes the student and makes him understand that the study of a foreign language must
transcend ideologies and contribute to bringing cultures together, looking at the worl
perspectives and evolving as a human being.
Keywords:
Geopolitics; cultural identity; intercultural communication; Spanish language; Brazil.
Geopolítica, identidade cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Introdução
No presente trabalho
destacar o entrelaçamento entre
questões geopolíticas, identitárias e a
presença da língua espanhola no
contexto brasileiro, uma vez que tanto
o Brasil quanto os países hispano
falantes foram colonizados por povos
ibéricos e compartilham, em muito
aspectos, características adquiridas ao
longo e após o processo de
colonização. No que tange ao ensino
de língua estrangeira no contexto
brasileiro, as questões geopolíticas e
identitárias acabam interferindo no
grau de importância atribuído às
línguas e
na sua escolha para compor
a grade curricular dos cursos nas
instituições de ensino. Desse modo, a
escolha não gira em torno apenas do
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Geopolitics, cultural identity and the Spanish language in the Brazilian context
This paper seeks to reflect on the relationship between geopolitical and identity issues and
in the Brazilian context, as well as to showhow the intertwining of these
elements can be treated in the Spanish language class from an intercultural perspective aiming, at the
same time, to teach the language, foster the knowledge of the history of Iberi
an America and promote
the approximation of the Brazilian student to the universe of neighboring peoples. To this end, we rely
on the concept of geopolitics and associate it with power relations to show how they influence the
d to languages. We argue that the approach of these components in the
classroom sensitizes the student and makes him understand that the study of a foreign language must
transcend ideologies and contribute to bringing cultures together, looking at the worl
perspectives and evolving as a human being.
Geopolitics; cultural identity; intercultural communication; Spanish language; Brazil.
Geopolítica, identidade cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
No presente trabalho
buscamos
destacar o entrelaçamento entre
questões geopolíticas, identitárias e a
presença da língua espanhola no
contexto brasileiro, uma vez que tanto
o Brasil quanto os países hispano
-
falantes foram colonizados por povos
ibéricos e compartilham, em muito
s
aspectos, características adquiridas ao
longo e após o processo de
colonização. No que tange ao ensino
de língua estrangeira no contexto
brasileiro, as questões geopolíticas e
identitárias acabam interferindo no
grau de importância atribuído às
na sua escolha para compor
a grade curricular dos cursos nas
instituições de ensino. Desse modo, a
escolha não gira em torno apenas do
fator instrumental, ou seja, de sua
finalidade comunicativa.
Iniciamos este trabalho
abordando
alguns fatores
geopolítico, histórico e social
compartilhados que acabaram
incutindo
nos povos ibero
traços culturais comuns ou, até
mesmo, uma tênue confluência de
identidades, visto que, apesar da
proximidade geográfica, social e
histórica, nota-
se que a re
está plenamente integrada, unida,
interdependente, com convergência de
interesses e objetivos, e confiança
recíproca. Posteriormente, vinculado
às questões identitárias, tratamos as
representações socioculturais do outro
e propomos o diálogo inter
como forma de aproximação entre o
387
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
Geopolitics, cultural identity and the Spanish language in the Brazilian context
This paper seeks to reflect on the relationship between geopolitical and identity issues and
in the Brazilian context, as well as to showhow the intertwining of these
elements can be treated in the Spanish language class from an intercultural perspective aiming, at the
an America and promote
the approximation of the Brazilian student to the universe of neighboring peoples. To this end, we rely
on the concept of geopolitics and associate it with power relations to show how they influence the
d to languages. We argue that the approach of these components in the
classroom sensitizes the student and makes him understand that the study of a foreign language must
transcend ideologies and contribute to bringing cultures together, looking at the worl
d from different
Geopolitics; cultural identity; intercultural communication; Spanish language; Brazil.
Geopolítica, identidade cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
fator instrumental, ou seja, de sua
finalidade comunicativa.
Iniciamos este trabalho
alguns fatores
de caráter
geopolítico, histórico e social
compartilhados que acabaram
nos povos ibero
-americanos
traços culturais comuns ou, até
mesmo, uma tênue confluência de
identidades, visto que, apesar da
proximidade geográfica, social e
se que a re
gião não
está plenamente integrada, unida,
interdependente, com convergência de
interesses e objetivos, e confiança
recíproca. Posteriormente, vinculado
às questões identitárias, tratamos as
representações socioculturais do outro
e propomos o diálogo inter
cultural
como forma de aproximação entre o
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
Brasil e os povos hispano-
americanos.
Finalizamos com uma proposta para a
aula de língua espanhola baseada em
conteúdos históricos, geográficos,
políticos e culturais relacionados ao
contexto sul-
americano, e em u
abordagem intercultural.
Entendemos
que não é possível dissociar o espaço
da sala de aula de língua estrangeira
do espaço sociopolítico externo, dado
que ela própria se converte em um
espaço sociopolítico.
Um professor de língua
espanhola que tenha
ciência da função
política do ensino desta língua no
Brasil e de que este tem relação com a
formação para a cidadania, que seja
sensível à abordagem intercultural e
que tenha conhecimento das culturas
que compõem a América Ibérica, de
sua história, de sua
geografia e,
inclusive, de sua literatura,tanto
hispano-
americana quanto brasileira,
visto que muitas de suas obras
a compreender aspectos históricos e
sociais que envolvem essa
região,poderá, ao mesmo tempo,
ensinar a língua, fomentar o
conheciment
o de história e promover a
aproximação do aluno brasileiro
realidade dos povos vizinhos.
fazemos menção à história, referimo
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
americanos.
Finalizamos com uma proposta para a
aula de língua espanhola baseada em
conteúdos históricos, geográficos,
políticos e culturais relacionados ao
americano, e em u
ma
Entendemos
que não é possível dissociar o espaço
da sala de aula de língua estrangeira
do espaço sociopolítico externo, dado
que ela própria se converte em um
Um professor de língua
ciência da função
política do ensino desta língua no
Brasil e de que este tem relação com a
formação para a cidadania, que seja
sensível à abordagem intercultural e
que tenha conhecimento das culturas
que compõem a América Ibérica, de
geografia e,
inclusive, de sua literatura,tanto
americana quanto brasileira,
visto que muitas de suas obras
ajudam
a compreender aspectos históricos e
sociais que envolvem essa
região,poderá, ao mesmo tempo,
ensinar a língua, fomentar o
o de história e promover a
aproximação do aluno brasileiro
à
realidade dos povos vizinhos.
Quando
fazemos menção à história, referimo
-
nos a toda a trajetória desde a
presença das civilizações pré
colombianas no território, passando
pelo encontro dos coloni
os nativos e os choques culturais dele
derivados, pela formação da
sociedade latino-
americana, pelas
guerras de independência e suas
motivações, pela intervenção
estrangeira, e por quaisquer fatos de
ordem política, econômica e social que
marca
ram e marcam essa trajetória e
contribuíram e contribuem para a
formação da nossa identidade ou
identidades latino-
americanas.
Destacamos que o professor
como interculturalista colabora com a
construção de pontes que dão acesso
à cultura do outro. Segundo
(2018, p. 21) “a perspectiva
intercultural pressupõe uma série de
ações em prol do reconhecimento da
diversidade que nos constitui e do
combate a atitudes de discriminação
para com o outro”.
388
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
nos a toda a trajetória desde a
presença das civilizações pré
-
colombianas no território, passando
pelo encontro dos coloni
zadores com
os nativos e os choques culturais dele
derivados, pela formação da
americana, pelas
guerras de independência e suas
motivações, pela intervenção
estrangeira, e por quaisquer fatos de
ordem política, econômica e social que
ram e marcam essa trajetória e
contribuíram e contribuem para a
formação da nossa identidade ou
americanas.
Destacamos que o professor
como interculturalista colabora com a
construção de pontes que dão acesso
à cultura do outro. Segundo
Matos
(2018, p. 21) “a perspectiva
intercultural pressupõe uma série de
ações em prol do reconhecimento da
diversidade que nos constitui e do
combate a atitudes de discriminação
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
Aspectos geopolíticos, sociais e
históricos da América
Ibérica e as
relações de poder
Com o intuito de apresentar o
entrelaçamento entre questões
linguísticas, geopolíticas e de poder,
iniciamos
com o conceito de
Geopolítica, pois a palavra está
associada aos assuntos que envolvem
relações internacionais, aco
diplomáticos e todo tipo de conflito
entre países, culturas ou disputas
territoriais.O conceito formulado por
Mattos (2002, p. 33) resume o
pensamento: “Geopolítica é a Política
aplicada aos espaços geográficos sob
a inspiração da experiência históric
A Geopolítica tem caráter
dinâmico, pois considera
operacionalidade do homem no
espaço geográfico para o seu uso
político, cujo objetivo é a geração de
poder, que, por sua vez, pode dar um
novo direcionamento ao destino das
nações, contribuindo pa
construção ou reconstrução da
história.Portanto,a exploração do
espaço geográfico é a base de
sustentação da geopolítica, uma vez
que esta resulta da interação da
geografia, da história e da política, e
está relacionada ao poder do Estado.
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Aspectos geopolíticos, sociais e
Ibérica e as
Com o intuito de apresentar o
entrelaçamento entre questões
linguísticas, geopolíticas e de poder,
com o conceito de
Geopolítica, pois a palavra está
associada aos assuntos que envolvem
relações internacionais, aco
rdos
diplomáticos e todo tipo de conflito
entre países, culturas ou disputas
territoriais.O conceito formulado por
Mattos (2002, p. 33) resume o
pensamento: “Geopolítica é a Política
aplicada aos espaços geográficos sob
a inspiração da experiência históric
a”.
A Geopolítica tem caráter
dinâmico, pois considera
-se a
operacionalidade do homem no
espaço geográfico para o seu uso
político, cujo objetivo é a geração de
poder, que, por sua vez, pode dar um
novo direcionamento ao destino das
nações, contribuindo pa
ra a
construção ou reconstrução da
história.Portanto,a exploração do
espaço geográfico é a base de
sustentação da geopolítica, uma vez
que esta resulta da interação da
geografia, da história e da política, e
está relacionada ao poder do Estado.
Se fizermos
um percurso pela
história, veremos que ela
inteiramente marcada pela apoderação
de espaços que foram transformados
pela ação de conquistadores. É
preciso notar que o fato de delimitar
parcelas, de marcá
também envolve a questão da
alte
ridade, ou seja, as relações com os
indivíduos ou grupos que se
inserem. Essa interação modifica tanto
as relações com a natureza quanto as
relações sociais, e os atores se
automodificam também.
territorialidade também funciona como
um instrumento par
a comunicar um
ideário: a preservação ou
de uma identidade.
Após a chegada dos povos
ibéricos no continente americano,
iniciou-
se uma reconfiguração
geopolítica, pois os tratados de divisão
da América, como o de Tordesilhas
(Figura 1), demarca
ram as fronteiras
entre terras espanholas e portuguesas.
389
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
um percurso pela
história, veremos que ela
está
inteiramente marcada pela apoderação
de espaços que foram transformados
pela ação de conquistadores. É
preciso notar que o fato de delimitar
parcelas, de marcá
-las, cercá-las
também envolve a questão da
ridade, ou seja, as relações com os
indivíduos ou grupos que se
inserem. Essa interação modifica tanto
as relações com a natureza quanto as
relações sociais, e os atores se
automodificam também.
A
territorialidade também funciona como
a comunicar um
ideário: a preservação ou
a construção
Após a chegada dos povos
ibéricos no continente americano,
se uma reconfiguração
geopolítica, pois os tratados de divisão
da América, como o de Tordesilhas
ram as fronteiras
entre terras espanholas e portuguesas.
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
Figura 1.Mapa do Tratado de Tordesilhas
Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:
Spain_and_Portugal.png
Os
espanhóis criaram um
império que se estendia desde o sul
que é atualmente Estados Unidos até
a Terra do Fogo. Invadiram e
colonizaram territórios extensos,
fundaram cidades, dividiram terras,
construíram vias de comunicação,
pontes e portos; desenvolver
agricultura, a produção de
manufaturas e o comércio e
exploraram os recursos minerais;
mataram e subjugaram
originários sobreviventes e importaram
escravos africanos (QUESADA, 2001).
Houve a divisão tripartida a serviço do
poder: a população,
o território e os
recursos, o que não foi diferente no
Brasil, considerando que o poder é
inerente a toda relação.
Após o processo de
independência, houve mudanças
significativas na reconfiguração
geopolítica do território ibero
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Figura 1.Mapa do Tratado de Tordesilhas
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:
Spain_and_Portugal.png
espanhóis criaram um
império que se estendia desde o sul
do
que é atualmente Estados Unidos até
a Terra do Fogo. Invadiram e
colonizaram territórios extensos,
fundaram cidades, dividiram terras,
construíram vias de comunicação,
pontes e portos; desenvolver
am a
agricultura, a produção de
manufaturas e o comércio e
exploraram os recursos minerais;
os povos
originários sobreviventes e importaram
escravos africanos (QUESADA, 2001).
Houve a divisão tripartida a serviço do
o território e os
recursos, o que não foi diferente no
Brasil, considerando que o poder é
Após o processo de
independência, houve mudanças
significativas na reconfiguração
geopolítica do território ibero
-
americano: os vice
divididos, tornaram
-
adotaram o sistema republicano de
governo, ao contrário do Brasil que,
após sua independência em 1822,
manteve a sua unidade e adotou a
monarquia constitucional (Figura 2 e
Figura 3).
Figura 2.
Mapa da América Ibéri
independência
Fonte:
commons.wikimedia.org/wiki/File:
añol_America_1800.png
390
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
americano: os vice
-reinos foram
-
se Estados e
adotaram o sistema republicano de
governo, ao contrário do Brasil que,
após sua independência em 1822,
manteve a sua unidade e adotou a
monarquia constitucional (Figura 2 e
Mapa da América Ibéri
ca antes da
independência
Fonte:
commons.wikimedia.org/wiki/File:
Imperio_Esp
añol_America_1800.png
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
Figura 3.
Mapa da América Ibérica
após a independência
Fonte:
openei.org/wiki/File:Mapa_de_Centros_
ergías_Renovables_en_Latinoamérica.png
A
independência da América
Hispânica
e da América Portuguesa,
por um lado, favoreceu
financeiramente e politicamente a
aristocracia e não contribuiu para a
diminuição das desigualdades e
injustiças sociais. As aspirações
regionalistas não tardaram em
promove
r a desagregação da grande
nação.
Os países hispano-
americanos,
cuja história se parece muito à
brasileira, compartilham aspectos
como a conquista, a colonização, o
intervencionismo estrangeiro, os
regimes políticos, a luta pelo
desenvolvimento, a proximi
geográfica e a abundância de recursos
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Mapa da América Ibérica
após a independência
openei.org/wiki/File:Mapa_de_Centros_
de_En
ergías_Renovables_en_Latinoamérica.png
independência da América
e da América Portuguesa,
por um lado, favoreceu
financeiramente e politicamente a
aristocracia e não contribuiu para a
diminuição das desigualdades e
injustiças sociais. As aspirações
regionalistas não tardaram em
r a desagregação da grande
americanos,
cuja história se parece muito à
brasileira, compartilham aspectos
como a conquista, a colonização, o
intervencionismo estrangeiro, os
regimes políticos, a luta pelo
desenvolvimento, a proximi
dade
geográfica e a abundância de recursos
naturais. No entanto, muito tempo se
passou desde a independência e o
ideal de uma aproximação de fato
entre ambas as partes
concretizou. O distanciamento que se
produziu entre o Brasil e os demais
pa
íses da América do Sul desde a
época colonial, resultante das
demarcações territoriais, da diferença
entre as línguas maternas, entre
outros fatores, pode ter contribuído
para a crença em identidades
divergentes. A América Ibérica e, em
uma dimensão menor,
vizinhos hispano-
americanos parecem
formar um grande quebra
cujas peças ainda não se encaixaram
efetivamente apesar das tentativas
ocorridas de integração,
principalmente no plano econômico
com a formação de blocos.Aparentam
ser
dois mundos abraçados no plano
geográfico, e histórico, mas um tanto
afastados no plano identitário. Essa
desagregação se reflete no plano
linguístico, pois
desvalorização do ensino da língua
espanhola
no Brasil, principalmente
pela entrada em
vigor da
de 16 de fevereiro de 2017 (BRASIL,
2017)
pela qual a obrigatoriedade do
ensino de Língua Estrangeira Moderna
391
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
naturais. No entanto, muito tempo se
passou desde a independência e o
ideal de uma aproximação de fato
entre ambas as partes
ainda não se
concretizou. O distanciamento que se
produziu entre o Brasil e os demais
íses da América do Sul desde a
época colonial, resultante das
demarcações territoriais, da diferença
entre as línguas maternas, entre
outros fatores, pode ter contribuído
para a crença em identidades
divergentes. A América Ibérica e, em
uma dimensão menor,
o Brasil e seus
americanos parecem
formar um grande quebra
-cabeça
cujas peças ainda não se encaixaram
efetivamente apesar das tentativas
ocorridas de integração,
principalmente no plano econômico
com a formação de blocos.Aparentam
dois mundos abraçados no plano
geográfico, e histórico, mas um tanto
afastados no plano identitário. Essa
desagregação se reflete no plano
assistimos à
desvalorização do ensino da língua
no Brasil, principalmente
vigor da
Lei 13415,
de 16 de fevereiro de 2017 (BRASIL,
pela qual a obrigatoriedade do
ensino de Língua Estrangeira Moderna
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
passou a restringir-
se à Língua
Inglesa. Tal fato deixa claro o
entrelaçamento entre as questões
geopolíticas, identitária
s e linguísticas.
Altera-
se a política de governo no
Brasil, ocorre um afastamento dos
países hispano-
americanos e,
consequentemente, altera-
se a política
linguística também
3
.Uma política que
não defende o plurilinguismo é uma
política que defende o isolam
anula as diferenças culturais e impõe
uma única racionalidade, pois a língua
é vetor da cultura de um povo e um
dos elementos que constituem sua
identidade.
Conforme o Relatório Mundial
da UNESCO -
Investir na Diversidade
Cultural e no Diálogo Interc
(2009, p. 12):
As línguas são os vetores das
nossas experiências, dos nossos
contextos intelectuais e culturais, dos
nossos modos de relacionamento
com os grupos humanos, com os
nossos sistemas de valores, com os
nossos códigos sociais e
sentimentos de pertencimento, tanto
no plano coletivo como individual.[...]
as línguas não são somente um meio
de comunicação, mas representam a
própria estrutura das expressões
culturais e o portadoras de
identidade, valores e concepções de
mundo.
3
Cf. Rodrigues (2010) para informações a
respeito das políticas linguísticas para o
ensino de espanhol no Brasil a partir da
primeira metade do século XX.
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
se à Língua
Inglesa. Tal fato deixa claro o
entrelaçamento entre as questões
s e linguísticas.
se a política de governo no
Brasil, ocorre um afastamento dos
americanos e,
se a política
.Uma política que
não defende o plurilinguismo é uma
política que defende o isolam
ento,
anula as diferenças culturais e impõe
uma única racionalidade, pois a língua
é vetor da cultura de um povo e um
dos elementos que constituem sua
Conforme o Relatório Mundial
Investir na Diversidade
Cultural e no Diálogo Interc
ultural
As línguas são os vetores das
nossas experiências, dos nossos
contextos intelectuais e culturais, dos
nossos modos de relacionamento
com os grupos humanos, com os
nossos sistemas de valores, com os
nossos códigos sociais e
sentimentos de pertencimento, tanto
no plano coletivo como individual.[...]
as línguas não são somente um meio
de comunicação, mas representam a
própria estrutura das expressões
culturais e o portadoras de
identidade, valores e concepções de
Cf. Rodrigues (2010) para informações a
respeito das políticas linguísticas para o
ensino de espanhol no Brasil a partir da
Na n
ova ordem, não
interesse
em que os modelos culturais
e as identidades locais se fortaleçam,
pois estes se opõem à ideia do
homogêneo e constituem uma
ameaça, visto que, segundo Raffestin
(1993), o ganho de poder está
vinculado ao ganho de espaço.
Portan
to, a ngua como vetor de
cultura e componente da identidade de
um povo também é um instrumento de
poder. Conforme Raffestin (1993), o
poder é parte intrínseca de toda
relação. Uma das proposições de
Foucault (1988
apud
1993) é que as relações
estão em posição de exterioridade no
que diz respeito a outros tipos de
relações como as econômicas, de
conhecimento, sociais, sexuais etc.,
mas lhes são imanentes.
Paradoxalmente, ao mesmo
tempo que a nova ordem global
fomenta a homogeneizaçã
modelos culturais, a valorização
dos elementos locais frente à
interposição dos globais. Para Santos
(2006, p. 231), “cada lugar é, ao
mesmo tempo, objeto de uma razão
global e de uma razão local,
convivendo dialeticamente”. As ações
locais consti
tuem, muitas vezes, uma
392
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
ova ordem, não
em que os modelos culturais
e as identidades locais se fortaleçam,
pois estes se opõem à ideia do
homogêneo e constituem uma
ameaça, visto que, segundo Raffestin
(1993), o ganho de poder está
vinculado ao ganho de espaço.
to, a ngua como vetor de
cultura e componente da identidade de
um povo também é um instrumento de
poder. Conforme Raffestin (1993), o
poder é parte intrínseca de toda
relação. Uma das proposições de
apud
RAFFESTIN,
1993) é que as relações
de poder não
estão em posição de exterioridade no
que diz respeito a outros tipos de
relações como as econômicas, de
conhecimento, sociais, sexuais etc.,
mas lhes são imanentes.
Paradoxalmente, ao mesmo
tempo que a nova ordem global
fomenta a homogeneizaçã
o dos
modelos culturais, a valorização
dos elementos locais frente à
interposição dos globais. Para Santos
(2006, p. 231), “cada lugar é, ao
mesmo tempo, objeto de uma razão
global e de uma razão local,
convivendo dialeticamente”. As ações
tuem, muitas vezes, uma
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
forma de resistência. Outro paradoxo é
que com a globalização as
possibilidades de contato intercultural
aumentaram permitindo mais
oportunidades de aproximação entre
os povos, tanto física quanto
virtualmente, dado que as redes de
comunicação encurtaram ou
eliminaram as distâncias, embora nem
todos tenham acesso a esses
benefícios. Aproximar-
se do outro,
conhecê-lo é um pré-
requisito para o
estabelecimento do diálogo
intercultural. Para Guigoü (1995
SANTOS, 2006, p. 216), “a
ap
roximação pode criar a
solidariedade, laços culturais e, desse
modo, a identidade”. É uma
oportunidade de descobrir as
semelhanças, conhecer as diferenças,
compreendê-
las, aprender com elas e
rever antigas crenças. Desse modo, a
alteridade é uma condição q
ser verificada quando interação
entre o “eu” e o “outro”, ao
reconhecermos que a nossa cultura,
assim como a dos países influentes
são culturas possíveis entre tantas
outras e não as únicas.
Não obstante, em muitos casos,
uma aproximação de fato
de uma identidade depende do
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
forma de resistência. Outro paradoxo é
que com a globalização as
possibilidades de contato intercultural
aumentaram permitindo mais
oportunidades de aproximação entre
os povos, tanto física quanto
virtualmente, dado que as redes de
comunicação encurtaram ou
eliminaram as distâncias, embora nem
todos tenham acesso a esses
se do outro,
requisito para o
estabelecimento do diálogo
intercultural. Para Guigoü (1995
apud
SANTOS, 2006, p. 216), “a
roximação pode criar a
solidariedade, laços culturais e, desse
modo, a identidade”. É uma
oportunidade de descobrir as
semelhanças, conhecer as diferenças,
las, aprender com elas e
rever antigas crenças. Desse modo, a
alteridade é uma condição q
ue pode
ser verificada quando interação
entre o “eu” e o “outro”, ao
reconhecermos que a nossa cultura,
assim como a dos países influentes
são culturas possíveis entre tantas
Não obstante, em muitos casos,
e a criação
de uma identidade depende do
rompimento de barreiras. As
representações socioculturais que um
indivíduo tem de uma língua ou cultura
constituem uma destas barreiras que
se apresentam na forma de
estereótipos e preconceitos. Na seção
seguinte,
trataremos das
representações socioculturais do
outro.
As representações
do outro
O status
que um sujeito atribui a
uma língua estrangeira está
condicionado, em grande parte, à
representação que ele tem da cultura
veiculada por ela, uma vez que ele
tende a considerar a língua como
elemento de identificação
como pertencente a uma na
um sistema de valores, costumes e
tradições culturais, ignorando a ideia
de que dentro de um território
identificado como uma nação podem
coexistir várias línguas e culturas.
Uma das formas de
representação são os estereótipos,
definidos por Allpor
DERVIN, 2014)
e Bar Tal (1996
DERVIN, 2014) como um conjunto de
crenças sobre as características de
uma categoria social de pessoas
393
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
rompimento de barreiras. As
representações socioculturais que um
indivíduo tem de uma língua ou cultura
constituem uma destas barreiras que
se apresentam na forma de
estereótipos e preconceitos. Na seção
trataremos das
representações socioculturais do
As representações
socioculturais
que um sujeito atribui a
uma língua estrangeira está
condicionado, em grande parte, à
representação que ele tem da cultura
veiculada por ela, uma vez que ele
tende a considerar a língua como
elemento de identificação
do indivíduo
como pertencente a uma na
ção com
um sistema de valores, costumes e
tradições culturais, ignorando a ideia
de que dentro de um território
identificado como uma nação podem
coexistir várias línguas e culturas.
Uma das formas de
representação são os estereótipos,
definidos por Allpor
t (1954 apud
e Bar Tal (1996
apud
DERVIN, 2014) como um conjunto de
crenças sobre as características de
uma categoria social de pessoas
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
(traços de personalidade, atributos,
intenções, descrições compor
tamentais), formados e aprendidos
dentro
dos próprios grupos sociais e
reforçados, sobretudo, pelos meios de
comunicação. A sua função é
diferenciar grupos, mostrando,
inclusive, a superioridade de uns sobre
outros, providos de aspectos
ideológicos.
Para exemplificar, citamos
Kumaravadivelu (200
3) que aborda a
questão dos estereótipos associados
aos estudantes asiáticos no contexto
acadêmico norte-
americano. Ele critica
a ideia de homogeneização cultural,
pois tanto chineses quanto indianos,
japoneses, coreanos e vietnamitas são
colocados no mesm
o “cesto cultural”
denominado “asiático”, apesar de
diferenças aparentes
entre eles.
Além dos estereótipos, Dervin
(2014) apresenta outra forma de
representação social,
relacionada principalmente à raça, à
etnia e ao sexo feminino.O autor
define-a
como a “objetificação de uma
pessoa ou grupo ou “a criação do
outro”. Ignora-
se a subjetividade e a
complexidade do indivíduo;leva as
pessoas a diferenciarem o seu grupo
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(traços de personalidade, atributos,
intenções, descrições compor
-
tamentais), formados e aprendidos
dos próprios grupos sociais e
reforçados, sobretudo, pelos meios de
comunicação. A sua função é
diferenciar grupos, mostrando,
inclusive, a superioridade de uns sobre
outros, providos de aspectos
Para exemplificar, citamos
3) que aborda a
questão dos estereótipos associados
aos estudantes asiáticos no contexto
americano. Ele critica
a ideia de homogeneização cultural,
pois tanto chineses quanto indianos,
japoneses, coreanos e vietnamitas são
o “cesto cultural”
denominado “asiático”, apesar de
entre eles.
Além dos estereótipos, Dervin
(2014) apresenta outra forma de
othering,
relacionada principalmente à raça, à
etnia e ao sexo feminino.O autor
como a “objetificação de uma
pessoa ou grupo ou “a criação do
se a subjetividade e a
complexidade do indivíduo;leva as
pessoas a diferenciarem o seu grupo
de outro grupo e o eu do outro, de
forma que reforce e proteja o eu.
Observando os
contextos sociais, nota
abundantes as representações sociais
na forma de estereótipos ou
Citamos como exemplo o uso dos
termos “os latinos”, “as mulheres”em
frases que expressam um sentido
pejorativo podendo em certos
contex
tos serem caracterizadas como
preconceito.
Citamos Paraquett (2018) que,
ao fazer referência à criação do termo
América Latina, menciona o
movimento “panlatinismo” surgido no
século XIX,relacionado ao desejo
hegemônico da França sobre a região.
Segundo a a
utora, “essa pretensa
hegemonia estava relacionada à
nascente dominação norte
e à, então, hegemonia da Inglaterra”
(PARAQUETT, 2018, p. 77). A
ideologia norte-
americana acabou se
sobrepondo no território e dela
derivou-
se a imagem negativa dos
hispano-
americanos nos Estados
Unidos. Para ilustrar, transcrevemo
um trecho de Figueiredo (2010
PARAQUETT, 2018, p. 78):
[...] a imagem negativa dos hispano
americanos nos Estados Unidos foi
construída, até meados do século
XIX, em torno dos termos
394
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
de outro grupo e o eu do outro, de
forma que reforce e proteja o eu.
Observando os
diferentes
contextos sociais, nota
-se que são
abundantes as representações sociais
na forma de estereótipos ou
othering.
Citamos como exemplo o uso dos
termos “os latinos”, “as mulheres”em
frases que expressam um sentido
pejorativo podendo em certos
tos serem caracterizadas como
Citamos Paraquett (2018) que,
ao fazer referência à criação do termo
América Latina, menciona o
movimento “panlatinismo” surgido no
século XIX,relacionado ao desejo
hegemônico da França sobre a região.
utora, “essa pretensa
hegemonia estava relacionada à
nascente dominação norte
-americana
e à, então, hegemonia da Inglaterra”
(PARAQUETT, 2018, p. 77). A
americana acabou se
sobrepondo no território e dela
se a imagem negativa dos
americanos nos Estados
Unidos. Para ilustrar, transcrevemo
s
um trecho de Figueiredo (2010
apud
PARAQUETT, 2018, p. 78):
[...] a imagem negativa dos hispano
-
americanos nos Estados Unidos foi
construída, até meados do século
XIX, em torno dos termos
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
catolicismo, indolência, ignorância e
falta de iniciativa, que se oporiam à
imagem que os norte
faziam de si próprios, protestantes,
trabalhadores e empreendedores.
Com relação às questões
raciais e étnicas, observa
grupos mais atingi
dos são indígenas,
mestiços, negros e imigrantes
procedentes de países
subdesenvolvidos ou em guerra.
Nestes casos, a fronteira entre o
estereótipo e o preconceito é quase
inexistente.
Cabe questionar se essas
representações não estariam
vinculadas a uma c
etnocêntrica,
conservadora,hierarquizada e
impositiva de cultura conforme ocorreu
com a colonização da América Ibérica.
A cultura da metrópole tinha a missão
de “salvar o selvagem em estado de
barbárie”, de “cultivar a sua alma”,
usando a terminol
ogia de Bauman
(2013, p.13,15). Segundo o autor, a
teoria cultural evolucionista promovia o
mundo “desenvolvido” ao status de
perfeição inquestionável, a ser imitada
e ambicionada, mais cedo ou mais
tarde, pelo restante do planeta.
Acrescenta que, na busca
objetivo, o resto do mundo deveria ser
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
catolicismo, indolência, ignorância e
falta de iniciativa, que se oporiam à
imagem que os norte
-americanos
faziam de si próprios, protestantes,
trabalhadores e empreendedores.
Com relação às questões
raciais e étnicas, observa
-se que os
dos são indígenas,
mestiços, negros e imigrantes
procedentes de países
subdesenvolvidos ou em guerra.
Nestes casos, a fronteira entre o
estereótipo e o preconceito é quase
Cabe questionar se essas
representações não estariam
vinculadas a uma c
oncepção
conservadora,hierarquizada e
impositiva de cultura conforme ocorreu
com a colonização da América Ibérica.
A cultura da metrópole tinha a missão
de “salvar o selvagem em estado de
barbárie”, de “cultivar a sua alma”,
ogia de Bauman
(2013, p.13,15). Segundo o autor, a
teoria cultural evolucionista promovia o
mundo “desenvolvido” ao status de
perfeição inquestionável, a ser imitada
e ambicionada, mais cedo ou mais
tarde, pelo restante do planeta.
Acrescenta que, na busca
por esse
objetivo, o resto do mundo deveria ser
ativamente ajudado e, em caso de
resistência, coagido. Estabelece
uma relação de dominador e
dominado.
Segundo Salomão (2015), essa
visão etnocêntrica de cultura tem suas
origens no século XVI, quando pas
a designar o desenvolvimento de uma
faculdade, como, por exemplo, ‘cultura
das artes’, ‘culturas das ciências’.
Ainda, segundo a autora, no século
XVIII, este sentido passou a refletir a
ideia iluminista de cultura como “a
soma dos saberes acumulados e
transmitidos pela humanidade”. Assim
sendo, a “cultura” era própria do
Homem, distinguia povos e classes e
estava associada às ideias de
progresso, de evolução, de educação,
de razão, assemelhando
“civilização” (CUCHE, 2002
SALOMÃO, 2015, p.
364).
Julgamos conveniente citar
como exemplo, a obra literária
hispano-
americana
Civilização e Barbárie
pelo escritor argentino Domingo
Faustino Sarmiento. Na obra, a
natureza selvagem condiciona o
caráter e as possibilida
sociedade. Neste caso, a natureza do
pampa argentino opõe
395
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
ativamente ajudado e, em caso de
resistência, coagido. Estabelece
-se
uma relação de dominador e
Segundo Salomão (2015), essa
visão etnocêntrica de cultura tem suas
origens no século XVI, quando pas
sou
a designar o desenvolvimento de uma
faculdade, como, por exemplo, ‘cultura
das artes’, ‘culturas das ciências’.
Ainda, segundo a autora, no século
XVIII, este sentido passou a refletir a
ideia iluminista de cultura como “a
soma dos saberes acumulados e
transmitidos pela humanidade”. Assim
sendo, a “cultura” era própria do
Homem, distinguia povos e classes e
estava associada às ideias de
progresso, de evolução, de educação,
de razão, assemelhando
-se à palavra
“civilização” (CUCHE, 2002
apud
364).
Julgamos conveniente citar
como exemplo, a obra literária
americana
Facundo ou
Civilização e Barbárie
, escrita em 1845
pelo escritor argentino Domingo
Faustino Sarmiento. Na obra, a
natureza selvagem condiciona o
caráter e as possibilida
des da vida em
sociedade. Neste caso, a natureza do
pampa argentino opõe
-se ao ambiente
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
da cidade, da mesma forma que a
barbárie opõe-
se à civilização, e a vida
social argentina antes do processo de
independência era formada pela
classe espanhola, europeia
denominada civilizada e outra
americana, mestiça, quase indígena,
denominada bárbara.
Ante o exposto faz
necessário pesquisar as condições
sociais, políticas, econômicas e
históricas que levaram à criação das
representações e verificar quais s
canais utilizados para a sua
transmissão (sociais, políticos,
culturais, educacionais), bem como a
ideologia oculta a estas transmissões.
No âmbito da Linguística, os
estudos sobre comunicação
intercultural contribuem para lançar luz
sobre a questão.
A comunicação intercultural como
forma de aproximação
Não é possível admitir a ideia
do determinismo geográfico ou
biológico para tratar de questões
culturais, ou seja, crer que o indivíduo
é um ser passivo frente à ação das
forças naturais ou características
biológicas. As forças decisivas estão
na própria c
ultura e na história da
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
da cidade, da mesma forma que a
se à civilização, e a vida
social argentina antes do processo de
independência era formada pela
classe espanhola, europeia
, branca,
denominada civilizada e outra
americana, mestiça, quase indígena,
Ante o exposto faz
-se
necessário pesquisar as condições
sociais, políticas, econômicas e
históricas que levaram à criação das
representações e verificar quais s
ão os
canais utilizados para a sua
transmissão (sociais, políticos,
culturais, educacionais), bem como a
ideologia oculta a estas transmissões.
No âmbito da Linguística, os
estudos sobre comunicação
intercultural contribuem para lançar luz
A comunicação intercultural como
Não é possível admitir a ideia
do determinismo geográfico ou
biológico para tratar de questões
culturais, ou seja, crer que o indivíduo
é um ser passivo frente à ação das
forças naturais ou características
biológicas. As forças decisivas estão
ultura e na história da
cultura, pois esta é um construto
dinâmico. Ela é o resultado de toda
experiência histórica das gerações
anteriores. Somando
preciso considerar que o mundo,
protagonizado por atores sociais, está
em constante evolução;
transformações no ambiente ocorrem
e provocam um processo de
mudanças adaptativas. Os indivíduos
têm a capacidade de questionar os
seus próprios hábitos e modificá
portanto, os sistemas culturais estão
em processo contínuo de modificação
devido às
forças internas e ao contato
com outros sistemas culturais, pois os
povos não estão isolados. Isso nos
leva a considerar que a compreensão
da cultura exige reflexão sobre os
diversos povos, sociedades e grupos
humanos, que hoje, mais do que em
qualquer out
ro momento, lhes são
oferecidas maiores oportunidades de
interação, seja pelo contato físico ou
pelos meios de comunicação social.
Segundo a teoria construtivista,
a convivência social modifica os
agentes e os Estados não podem ser
considerados como verdad
exógenas; as ideias e normas
possuem um papel fundamental tanto
na constituição da realidade e dos
396
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
cultura, pois esta é um construto
dinâmico. Ela é o resultado de toda
experiência histórica das gerações
anteriores. Somando
-se a isso, é
preciso considerar que o mundo,
protagonizado por atores sociais, está
em constante evolução;
as
transformações no ambiente ocorrem
e provocam um processo de
mudanças adaptativas. Os indivíduos
têm a capacidade de questionar os
seus próprios hábitos e modificá
-los;
portanto, os sistemas culturais estão
em processo contínuo de modificação
forças internas e ao contato
com outros sistemas culturais, pois os
povos não estão isolados. Isso nos
leva a considerar que a compreensão
da cultura exige reflexão sobre os
diversos povos, sociedades e grupos
humanos, que hoje, mais do que em
ro momento, lhes são
oferecidas maiores oportunidades de
interação, seja pelo contato físico ou
pelos meios de comunicação social.
Segundo a teoria construtivista,
a convivência social modifica os
agentes e os Estados não podem ser
considerados como verdad
es
exógenas; as ideias e normas
possuem um papel fundamental tanto
na constituição da realidade e dos
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
agentes, quanto na definição de
identidades e interesses, pois exercem
um efeito constitutivo nos atores
(WENDT, 1999).
Com relação ao
conhecimento do out
ro, é por meio das
trocas sociais e
culturais que as
aproximações são fomentadas, o que
pode conduzir à produção de novos
conhecimentos, novas subjetividades,
novas identidades e novos interesses.
O construtivismo é indissociável
da questão da alteridade:
como ser social, existe a partir da
visão e do contato com o outro ou
outros, a coletividade.
Acreditamos que a aproximação
entre os países da região passa pela
construção de uma rede de
comunicação que ajude a diminuir as
distâncias entre nossos
culturas: acesso recíproco aos canais
de rádio e de televisão dos países sul
americanos, mais acesso por parte
dos brasileiros aos filmes e ao
mercado editorial em espanhol e vice
versa, incentivo ao turismo na região,
participação em competições
esportivas.
A criação de espaços
culturais para exposições, exibições de
filmes, apresentações de música e
dança, bem como o estudo do
patrimônio cultural ibero
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
agentes, quanto na definição de
identidades e interesses, pois exercem
um efeito constitutivo nos atores
Com relação ao
ro, é por meio das
culturais que as
aproximações são fomentadas, o que
pode conduzir à produção de novos
conhecimentos, novas subjetividades,
novas identidades e novos interesses.
O construtivismo é indissociável
da questão da alteridade:
o homem,
como ser social, existe a partir da
visão e do contato com o outro ou
Acreditamos que a aproximação
entre os países da região passa pela
construção de uma rede de
comunicação que ajude a diminuir as
distâncias entre nossos
povos e
culturas: acesso recíproco aos canais
de rádio e de televisão dos países sul
-
americanos, mais acesso por parte
dos brasileiros aos filmes e ao
mercado editorial em espanhol e vice
-
versa, incentivo ao turismo na região,
participação em competições
A criação de espaços
culturais para exposições, exibições de
filmes, apresentações de música e
dança, bem como o estudo do
patrimônio cultural ibero
-americano,
criação de itinerários culturais, runs
de diálogo intercultural também são
exemplos de iniciativas que promovem
a comunicação intercultural. No
contexto educacional, palestras,
cursos sobre temas relacionados à
América Ibérica, o intercâmbio de
estudantes universitários, o estudo das
línguas portuguesa, espanhola e,
inclusive, da
s línguas indígenas
promoveriam a descoberta de outras
culturas e a abertura à alteridade, e o
ensino de História, com base em uma
abordagem crítica, contribuiria para
elucidar fatos que foram omitidos ou
contados
com base em uma
perspectiva única.
A aprox
imação e o
estabelecimento de diálogos
interculturais, ou seja, de uma troca de
ideias aberta e respeitadora são fontes
de riquezas, de informações e de
experiências, que poderiam contribuir
para a reflexão sobre
preconceito. Tudo isso resul
maior coesão social e na consequente
criação de uma consciência
integracionista.
De todos os contextos que
facilitam o desenvolvimento da
competência intercultural, acreditamos
que o contexto escolar desempenha
397
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
criação de itinerários culturais, runs
de diálogo intercultural também são
exemplos de iniciativas que promovem
a comunicação intercultural. No
contexto educacional, palestras,
cursos sobre temas relacionados à
América Ibérica, o intercâmbio de
estudantes universitários, o estudo das
línguas portuguesa, espanhola e,
s línguas indígenas
promoveriam a descoberta de outras
culturas e a abertura à alteridade, e o
ensino de História, com base em uma
abordagem crítica, contribuiria para
elucidar fatos que foram omitidos ou
com base em uma
imação e o
estabelecimento de diálogos
interculturais, ou seja, de uma troca de
ideias aberta e respeitadora são fontes
de riquezas, de informações e de
experiências, que poderiam contribuir
para a reflexão sobre
estereótipos e
preconceito. Tudo isso resul
taria em
maior coesão social e na consequente
criação de uma consciência
De todos os contextos que
facilitam o desenvolvimento da
competência intercultural, acreditamos
que o contexto escolar desempenha
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
um papel fundamental para alcançar
esse objetivo, pois
propicia ao aluno
uma educação voltada para uma
aprendizagem mais efetiva e para a
sua própria transformação. Paulo
Freire (1983) faz referência a uma
educação que coloque o indivíduo em
uma postura de reflexão e de
autorreflexão sobre
seu tempo e seu
espaço. Acreditamos que, em se
tratando do ensino de línguas, uma
abordagem intercultural ou inclusive
multicultural pode contribuir à adoção
de tal postura, uma vez que o aluno irá
refletir sobre o tempo e o espaço do
outro.Essa postura po
derá contribuir a
eliminar atitudes negativas para com a
comunidade ou comunidades da
língua estrangeira e, até mesmo, para
com a sua própria, fazendo com que
ambas sejam olhadas com mais
respeito.Desse modo, é necessário
que o professor assuma o perfil de
interculturalista que, segundo Serrani
(2005), corresponde ao de um docente
de língua materna ou estrangeira apto
para realizar práticas de mediação
sociocultural, contemplando os
conflitos identitários e contradições
sociais na linguagem da sala de
aula.
de se desprover de todo e
qualquer estereótipo ou superioridade
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
um papel fundamental para alcançar
propicia ao aluno
uma educação voltada para uma
aprendizagem mais efetiva e para a
sua própria transformação. Paulo
Freire (1983) faz referência a uma
educação que coloque o indivíduo em
uma postura de reflexão e de
seu tempo e seu
espaço. Acreditamos que, em se
tratando do ensino de línguas, uma
abordagem intercultural ou inclusive
multicultural pode contribuir à adoção
de tal postura, uma vez que o aluno irá
refletir sobre o tempo e o espaço do
derá contribuir a
eliminar atitudes negativas para com a
comunidade ou comunidades da
língua estrangeira e, até mesmo, para
com a sua própria, fazendo com que
ambas sejam olhadas com mais
respeito.Desse modo, é necessário
que o professor assuma o perfil de
interculturalista que, segundo Serrani
(2005), corresponde ao de um docente
de língua materna ou estrangeira apto
para realizar práticas de mediação
sociocultural, contemplando os
conflitos identitários e contradições
sociais na linguagem da sala de
de se desprover de todo e
qualquer estereótipo ou superioridade
construídos.
Fiorin (2014) esclarece
que, muitas vezes, a diferença é
convertida em inferioridade, sendo a
língua do outro classificada como
ridícula, feia e grosseira, o mesmo
ocorrendo
com a cultura ou culturas
dos povos que a falam.
Coracini (2003) coloca a
importância de se considerar as
representações que os sujeitos têm da
língua e da cultura estrangeira para a
compreensão da identidade dos
mesmos e das implicações para o
processo d
e ensino
Como os sujeitos veem a língua e a
cultura estrangeira, que imagens têm
da língua, do país ou países onde é
falada, dos povos que a falam, e quais
são as consequências para a
constituição da identidade do
Deriva-
se daí que a
língua estrangeira e interagir nessa
língua envolve uma segunda dimensão
psíquica
a do sujeito com a sua
língua e cultura -
, pois não se pode
ignorar a história do aprendiz com a
sua língua materna, com o seu país,
com os membros de sua comun
e o contato com o mundo do outro
implica, muitas vezes, a necessidade
do rompimento de barreiras, de
398
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
Fiorin (2014) esclarece
que, muitas vezes, a diferença é
convertida em inferioridade, sendo a
língua do outro classificada como
ridícula, feia e grosseira, o mesmo
com a cultura ou culturas
dos povos que a falam.
Coracini (2003) coloca a
importância de se considerar as
representações que os sujeitos têm da
língua e da cultura estrangeira para a
compreensão da identidade dos
mesmos e das implicações para o
e ensino
-aprendizagem.
Como os sujeitos veem a língua e a
cultura estrangeira, que imagens têm
da língua, do país ou países onde é
falada, dos povos que a falam, e quais
são as consequências para a
constituição da identidade do
sujeito.
se daí que a
prender uma
língua estrangeira e interagir nessa
língua envolve uma segunda dimensão
a do sujeito com a sua
, pois não se pode
ignorar a história do aprendiz com a
sua língua materna, com o seu país,
com os membros de sua comun
idade,
e o contato com o mundo do outro
implica, muitas vezes, a necessidade
do rompimento de barreiras, de
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
mudanças de paradigmas, o que gera
desconforto e resistência.
Iglesias Casal (2003) apresenta
três dimensões às quais devemos nos
atentar, que mu
itos professores
ensinam cultura como algo invariável e
estático:
1. Crenças e atitudes: trabalhar
de maneira crítica o conceito de
cultura e acerca de preconceitos,
discriminação, etnocentrismo e
estereótipos.
2. Conhecimentos: capacidade
de conhecer no
ssa própria perspectiva
do mundo, nossa identidade cultural,
mesmo não sendo unitária e estável.
3. Habilidades: capacidades
específicas, técnicas de intervenção e
as estratégias para trabalhar com
grupos de distintas culturas, para
poder estabelecer um
diálogo crítico e
autocrítico.
Com base no exposto, conclui
se que não se desestrangeiriza
língua apenas com a decodificação do
sistema linguístico. O trabalho com o
componente intercultural em sala de
aula poderá contribuir para a quebra
de barreiras
entre culturas, para uma
maior motivação e aceitação do estudo
da língua estrangeira. Considerando o
ensino e a aprendizagem da língua
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
mudanças de paradigmas, o que gera
Iglesias Casal (2003) apresenta
três dimensões às quais devemos nos
itos professores
ensinam cultura como algo invariável e
1. Crenças e atitudes: trabalhar
de maneira crítica o conceito de
cultura e acerca de preconceitos,
discriminação, etnocentrismo e
2. Conhecimentos: capacidade
ssa própria perspectiva
do mundo, nossa identidade cultural,
mesmo não sendo unitária e estável.
3. Habilidades: capacidades
específicas, técnicas de intervenção e
as estratégias para trabalhar com
grupos de distintas culturas, para
diálogo crítico e
Com base no exposto, conclui
-
se que não se desestrangeiriza
uma
língua apenas com a decodificação do
sistema linguístico. O trabalho com o
componente intercultural em sala de
aula poderá contribuir para a quebra
entre culturas, para uma
maior motivação e aceitação do estudo
da língua estrangeira. Considerando o
ensino e a aprendizagem da língua
espanhola no contexto brasileiro, o
professor pode contribuir estimulando
a curiosidade dos alunos para
conhecer melhor o
s países vizinhos,
seu território, sua sociedade, sua
história e ver o que eles têm a nos
dizer. Nosso pensamento vai ao
encontro dos dizeres de Rajagopalan
(2009, p. 17):
os métodos e as técnicas a serem
adotados para o ensino
estrangeiras prec
às especificidades
país em questão, particularmente as
coordenadas
geopolíticas que, em
larga medida, influenciam as atitudes
dos cidadãos
em relação às línguas
em questão, como também as
políticas linguísticas
governos.
Com o intuito de trabalhar
conteúdos históricos, geográficos,
políticos e culturais relacionados ao
contexto sul-
americano com base em
uma abordagem intercultural,
apresentamos, a seguir, uma atividade
para a sala de aula de língua
espanhola
4
.
4
A atividade foi aplicada na aula de
espanhola em um contexto militar e, apesar de
não ter sido feita uma coleta de dados com
fins de pesquisa, subjetivamente, foi possível
avaliar que houve uma reflexão que superou o
que se costuma ter na aula convencional no
contexto em que foi aplic
ada.
399
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
espanhola no contexto brasileiro, o
professor pode contribuir estimulando
a curiosidade dos alunos para
s países vizinhos,
seu território, sua sociedade, sua
história e ver o que eles têm a nos
dizer. Nosso pensamento vai ao
encontro dos dizeres de Rajagopalan
os métodos e as técnicas a serem
adotados para o ensino
de línguas
estrangeiras prec
isam estar atentos
às especificidades
sociopolíticas do
país em questão, particularmente as
geopolíticas que, em
larga medida, influenciam as atitudes
em relação às línguas
em questão, como também as
políticas linguísticas
adotadas pelos
Com o intuito de trabalhar
conteúdos históricos, geográficos,
políticos e culturais relacionados ao
americano com base em
uma abordagem intercultural,
apresentamos, a seguir, uma atividade
para a sala de aula de língua
A atividade foi aplicada na aula de
língua
espanhola em um contexto militar e, apesar de
não ter sido feita uma coleta de dados com
fins de pesquisa, subjetivamente, foi possível
avaliar que houve uma reflexão que superou o
que se costuma ter na aula convencional no
ada.
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
Proposta para desenvolver a
comunicação intercultural na aula
de língua espanhola
No tocante ao ensino da língua
espanhola, acreditamos que uma
abordagem pautada no componente
intercultural, por meio do uso de
conteúdos históricos, geográficos e
cul
turais relacionados ao contexto sul
americano, poderá sensibilizar os
alunos ao estudo da citada língua, com
o intuito de motivá-
los, despertar
a curiosidade e levá-
los a entender as
razões pelas quais a estudam, ou seja,
mobilizá-
los para uma mudança
atitude mais positiva com relação à
língua espanhola e
à
hispânicas. A análise crítica de fatos
históricos, o trabalho com conceitos
como território, Estado
e
as semelhanças culturais, bem como
com as diferenças, oferecem aos
alunos a oportunidade de refletirem e
começarem a desenvolver, durante o
processo de aprendizagem, uma
noção mais precisa do espaço que
ocupam e, inclusive, um sentimento de
identific
ação com a língua e as
culturas dos nossos vizinhos,
sentimento que contribua a promover
uma maior aproximação entre as
partes e, inclusive, entender a posição
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Proposta para desenvolver a
comunicação intercultural na aula
No tocante ao ensino da língua
espanhola, acreditamos que uma
abordagem pautada no componente
intercultural, por meio do uso de
conteúdos históricos, geográficos e
turais relacionados ao contexto sul
-
americano, poderá sensibilizar os
alunos ao estudo da citada língua, com
los, despertar
-lhes
los a entender as
razões pelas quais a estudam, ou seja,
los para uma mudança
de
atitude mais positiva com relação à
à
s culturas
hispânicas. A análise crítica de fatos
históricos, o trabalho com conceitos
e
nação, com
as semelhanças culturais, bem como
com as diferenças, oferecem aos
alunos a oportunidade de refletirem e
começarem a desenvolver, durante o
processo de aprendizagem, uma
noção mais precisa do espaço que
ocupam e, inclusive, um sentimento de
ação com a língua e as
culturas dos nossos vizinhos,
sentimento que contribua a promover
uma maior aproximação entre as
partes e, inclusive, entender a posição
que a região ocupa no mundo e, numa
dimensão menor, a posição que ele,
como cidadão, ocupa no se
Com relação às práticas em
sala de aula, acreditamos que o
cinema, entre outras formas de
arte,constitui um auxílio de grande
importância e eficácia ao
desenvolvimento da competência
intercultural, uma vez que é produto da
cultura humana, ato de c
que revela a identidade cultural de um
povo, instrumento que permite analisar
a realidade, embora os aspectos reais,
muitas vezes, se fundam com a ficção.
Por meio do cinema, o indivíduo pode
fazer uma viagem pelo presente e
passado de um povo,
história, sua sociedade, seus
costumes, o pensamento de uma
época e estabelecer conexões com o
momento atual.
No caso da América Ibérica,
muitas obras enfocam a problemática
político-
social do território denunciando
a marginalização das mino
culturais, principalmente das
populações indígenas, a exclusão
social, o militarismo, a violência
política, os abusos históricos
cometidos pelas potências
colonizadoras e o intervencionismo
400
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
que a região ocupa no mundo e, numa
dimensão menor, a posição que ele,
como cidadão, ocupa no se
u país.
Com relação às práticas em
sala de aula, acreditamos que o
cinema, entre outras formas de
arte,constitui um auxílio de grande
importância e eficácia ao
desenvolvimento da competência
intercultural, uma vez que é produto da
cultura humana, ato de c
omunicação
que revela a identidade cultural de um
povo, instrumento que permite analisar
a realidade, embora os aspectos reais,
muitas vezes, se fundam com a ficção.
Por meio do cinema, o indivíduo pode
fazer uma viagem pelo presente e
passado de um povo,
conhecer a sua
história, sua sociedade, seus
costumes, o pensamento de uma
época e estabelecer conexões com o
No caso da América Ibérica,
muitas obras enfocam a problemática
social do território denunciando
a marginalização das mino
rias étnico-
culturais, principalmente das
populações indígenas, a exclusão
social, o militarismo, a violência
política, os abusos históricos
cometidos pelas potências
colonizadoras e o intervencionismo
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
estrangeiro no território. A mestiçagem
e a fusão de c
ulturas também
constituem matéria-
prima para a
criação. Tais obras, por sua vez,
constituem um material valioso para
trabalhar a competência intercultural
na sala de aula, uma vez que é
possível estabelecer pontes culturais
entre a América Hispânica e o Br
entender a realidade atual, pelo fato de
compartilharem muitos aspectos
históricos. Isso possibilitaria o
despertar da consciência crítica, um
maior entendimento e uma maior
aproximação entre ambos.
Sugerimos o uso do filme
“Diários de Motocicleta”, baseado nos
livros “Notas de Viaje”, de Ernesto
Guevara, e “Con el Che por
Sudamérica”, de Alberto Granado, que
conta a viagem dos dois amigos,
iniciada em 1952, ao longo de grande
parte da América do Sul,
uma viagem
que começou como uma aventura,
mas que acabou resultando em uma
tomada de consciência por parte de
Ernesto a respeito da realidade latino
americana.
O objetivo da atividade é levar o
aluno brasileiro a conhecer um pouco
mais a cultura ou as cu
lturas hispano
americanas, observar de forma crítica
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
estrangeiro no território. A mestiçagem
ulturas também
prima para a
criação. Tais obras, por sua vez,
constituem um material valioso para
trabalhar a competência intercultural
na sala de aula, uma vez que é
possível estabelecer pontes culturais
entre a América Hispânica e o Br
asil e
entender a realidade atual, pelo fato de
compartilharem muitos aspectos
históricos. Isso possibilitaria o
despertar da consciência crítica, um
maior entendimento e uma maior
Sugerimos o uso do filme
“Diários de Motocicleta”, baseado nos
livros “Notas de Viaje”, de Ernesto
Guevara, e “Con el Che por
Sudamérica”, de Alberto Granado, que
conta a viagem dos dois amigos,
iniciada em 1952, ao longo de grande
uma viagem
que começou como uma aventura,
mas que acabou resultando em uma
tomada de consciência por parte de
Ernesto a respeito da realidade latino
-
O objetivo da atividade é levar o
aluno brasileiro a conhecer um pouco
lturas hispano
-
americanas, observar de forma crítica
as semelhanças e diferenças com
relação à cultura ou às culturas
brasileiras, e refletir sobre a sua
própria identidade cultural e dos povos
hispano-
americanos. Todo esse
processo deverá ser mediado pelo
professor.
Previamente, poderá indagar os
alunos a respeito do protagonista, das
características geográficas e históricas
do território hispano
fazendo-
lhes recordar as aulas de
história e de geografia e usar o seu
próprio conhecimento de mundo
como fazer-
lhes refletir sobre o título.
O professor chamará a atenção dos
alunos para o enredo, personagens,
espaço, tempo e as relações de poder
presentes no filme.
Após a exibição, o professor
poderá distribuir aos alunos, divididos
em grupos, uma
lista de tópicos como:
climas, paisagens, primeiros
habitantes, colonização, mestiçagem,
independência, nacionalidades,
classes sociais, ritmos musicais,
alimentos, idioma, política, economia,
entre outros, para que reflitam,
associem com passagens do fil
façam uma relação com o contexto
brasileiro. Com certeza, encontrarão
muitas características comuns, o que
401
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
as semelhanças e diferenças com
relação à cultura ou às culturas
brasileiras, e refletir sobre a sua
própria identidade cultural e dos povos
americanos. Todo esse
processo deverá ser mediado pelo
Previamente, poderá indagar os
alunos a respeito do protagonista, das
características geográficas e históricas
do território hispano
-americano,
lhes recordar as aulas de
história e de geografia e usar o seu
próprio conhecimento de mundo
, bem
lhes refletir sobre o título.
O professor chamará a atenção dos
alunos para o enredo, personagens,
espaço, tempo e as relações de poder
Após a exibição, o professor
poderá distribuir aos alunos, divididos
lista de tópicos como:
climas, paisagens, primeiros
habitantes, colonização, mestiçagem,
independência, nacionalidades,
classes sociais, ritmos musicais,
alimentos, idioma, política, economia,
entre outros, para que reflitam,
associem com passagens do fil
me e
façam uma relação com o contexto
brasileiro. Com certeza, encontrarão
muitas características comuns, o que
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
lhes possibilitará estabelecer uma
ponte entre ambas as culturas.
Espera-
se, também que estabeleçam
um vínculo entre seu passado e seu
presente,
que vejam se as questões
políticas e sociais abordadas no filme
fazem parte apenas do passado ou se
continuam no presente, e que reflitam
sobre a divisão da América Hispânica
em pequenas nações.
Com relação ao idioma
espanhol, o professor deve levá
perceber que não existe apenas a
variedade peninsular, da mesma forma
que não existe apenas uma variedade
do português. Sugere-
se, também, que
os leve a questionar a crença em
superioridade linguística, perguntando
lhes quais motivos fazem um indivíduo
pe
nsar que existam línguas melhores,
piores, mais ou menos importantes,
dado que a língua é um bem cultural.
Nesse ponto, o professor poderá tocar
na questão do poder, dos estereótipos
e preconceitos e relacioná
citada crença; discutir as possíveis
origens e formas de transmissão.
Como atividades finais
se uma pesquisa a respeito de Machu
Picchu, declarada Patrimônio Cultural
da Humanidade, assim como de outros
locais na América Latina declarados
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
lhes possibilitará estabelecer uma
ponte entre ambas as culturas.
se, também que estabeleçam
um vínculo entre seu passado e seu
que vejam se as questões
políticas e sociais abordadas no filme
fazem parte apenas do passado ou se
continuam no presente, e que reflitam
sobre a divisão da América Hispânica
Com relação ao idioma
espanhol, o professor deve levá
-los a
perceber que não existe apenas a
variedade peninsular, da mesma forma
que não existe apenas uma variedade
se, também, que
os leve a questionar a crença em
superioridade linguística, perguntando
-
lhes quais motivos fazem um indivíduo
nsar que existam línguas melhores,
piores, mais ou menos importantes,
dado que a língua é um bem cultural.
Nesse ponto, o professor poderá tocar
na questão do poder, dos estereótipos
e preconceitos e relacioná
-los com a
citada crença; discutir as possíveis
origens e formas de transmissão.
Como atividades finais
sugere-
se uma pesquisa a respeito de Machu
Picchu, declarada Patrimônio Cultural
da Humanidade, assim como de outros
locais na América Latina declarados
Patrimônio Cultural e Natural da
Humanidade. T
ambém, que os alunos
pesquisem sobre temas de atualidades
na América Latina para apresentar na
aula e acrescentem seus próprios
pontos de vista a respeito.
observar se acontecimentos
comuns aos diferentes países e refletir
se as causas podem estar
ao passado, a apenas fatores internos
ou, inclusive, a fatores externos à
região. Sugere-
se, também, discutir
formas de fomentar o diálogo entre
culturas.
A proposta apresentada,
pautada numa abordagem
intercultural, por meio do uso de
conteúdo
s históricos, geográficos,
políticos e culturais relacionados ao
contexto sul-
americano, compôs
uma atividade principal e duas
atividades complementares dela
derivadas. Acreditamos que este tipo
de prática, além de promover uma
maior compreensão das
questão, também aumentará a
motivação dos alunos brasileiros para
o estudo da língua espanhola e
promoverá uma possível mudança de
atitude.
402
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
Patrimônio Cultural e Natural da
ambém, que os alunos
pesquisem sobre temas de atualidades
na América Latina para apresentar na
aula e acrescentem seus próprios
pontos de vista a respeito.
Devem
observar se acontecimentos
comuns aos diferentes países e refletir
se as causas podem estar
conectadas
ao passado, a apenas fatores internos
ou, inclusive, a fatores externos à
se, também, discutir
formas de fomentar o diálogo entre
A proposta apresentada,
pautada numa abordagem
intercultural, por meio do uso de
s históricos, geográficos,
políticos e culturais relacionados ao
americano, compôs
-se de
uma atividade principal e duas
atividades complementares dela
derivadas. Acreditamos que este tipo
de prática, além de promover uma
maior compreensão das
culturas em
questão, também aumentará a
motivação dos alunos brasileiros para
o estudo da língua espanhola e
promoverá uma possível mudança de
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
Conclusão
O desenvolvimento do presente
trabalho mostra
como o ensino e a
aprendizagem de uma língua
e
strangeira estão vinculados às
questões geopolíticas e identitárias.
Portanto, resulta impossível isolar esse
processo do contexto no qual ocorre. A
escolha da língua ou das línguas que
compõem a grade curricular das
instituições de ensino são
determinadas
pela política de governo
que, por sua vez, é influenciada pelas
ideologias assim como pela conjuntura
política e econômica do momento.
Dessa forma, acaba-
se atribuindo
maior poder a uma língua em
detrimento de outra. A língua à qual se
atribui um valor ma
ior será aquela de
um país que exerce influência sobre os
demais, geralmente em nível global.No
caso do ensino de espanhol no
contexto brasileiro, percebe
desvalorização, apesar da proximidade
geográfica entre o Brasil e as nações
hispano-american
as e de uma história
compartilhada.Seria a desvalorização
resultado da crença de que não é
necessário aprender uma língua de
países pouco influentes em nível
global? Ou seria um sentimento de
superioridade por parte dos brasileiros
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
O desenvolvimento do presente
como o ensino e a
aprendizagem de uma língua
strangeira estão vinculados às
questões geopolíticas e identitárias.
Portanto, resulta impossível isolar esse
processo do contexto no qual ocorre. A
escolha da língua ou das línguas que
compõem a grade curricular das
instituições de ensino são
pela política de governo
que, por sua vez, é influenciada pelas
ideologias assim como pela conjuntura
política e econômica do momento.
se atribuindo
maior poder a uma língua em
detrimento de outra. A língua à qual se
ior será aquela de
um país que exerce influência sobre os
demais, geralmente em nível global.No
caso do ensino de espanhol no
contexto brasileiro, percebe
-se a sua
desvalorização, apesar da proximidade
geográfica entre o Brasil e as nações
as e de uma história
compartilhada.Seria a desvalorização
resultado da crença de que não é
necessário aprender uma língua de
países pouco influentes em nível
global? Ou seria um sentimento de
superioridade por parte dos brasileiros
com relação aos seus viz
sentido, cabe indagar qual é a
representação social dos povos
hispânicos para os brasileiros.
Tendo em vista os aspectos
observados, cabe ao professor mostrar
ao aluno que o estudo de uma língua
estrangeira transcende ideologias,
visto que o c
onhecimento de idiomas
contribui para a sua formação
humanística, promove a aproximação
entre culturas, contribui para a
desconstrução das representações
socioculturais negativas, amplia a sua
visão de mundo, faz tomar
consciência do pluralismo cultural e
linguístico e valorizar a diversidade.
Portanto, uma língua o exclui a
outra.
Com base no exposto, conclui
se que ensinar espanhol no contexto
brasileiro é um desafio, pois o aluno de
língua espanhola precisa ser
continuamente sensibilizado e
motivado.
Acreditamos que uma
maneira de fazê-
lo seria colocá
contato com a pluralidade cultural do
mundo hispânico e suas
manifestações, resgatar a história da
América Ibérica na sala de aula, bem
como a sua identidade ou identidades
culturais e abordar o con
403
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
com relação aos seus viz
inhos? Nesse
sentido, cabe indagar qual é a
representação social dos povos
hispânicos para os brasileiros.
Tendo em vista os aspectos
observados, cabe ao professor mostrar
ao aluno que o estudo de uma língua
estrangeira transcende ideologias,
onhecimento de idiomas
contribui para a sua formação
humanística, promove a aproximação
entre culturas, contribui para a
desconstrução das representações
socioculturais negativas, amplia a sua
visão de mundo, faz tomar
consciência do pluralismo cultural e
linguístico e valorizar a diversidade.
Portanto, uma língua o exclui a
Com base no exposto, conclui
-
se que ensinar espanhol no contexto
brasileiro é um desafio, pois o aluno de
língua espanhola precisa ser
continuamente sensibilizado e
Acreditamos que uma
lo seria colocá
-lo em
contato com a pluralidade cultural do
mundo hispânico e suas
manifestações, resgatar a história da
América Ibérica na sala de aula, bem
como a sua identidade ou identidades
culturais e abordar o con
teúdo sob
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
uma perspectiva intercultural, pois a
quebra de barreiras começa a ocorrer
quando conhecemos o outro, nos
familiarizamos com a sua história e
com os valores de sua cultura e
percebemos nossas semelhanças e
diferenças.
Referências
bibliográficas
BAUMAN, Zygmunt.
A cultura no
mundo líquido moderno.
Janeiro: Zahar, 2013.
BRASIL. Lei 13.415. Dispõe sobre a
reforma do ensino médio.
Diário Oficial
da República Federativa do Brasil
Seção 1. Brasília,17
Disponívelem:http://pesquisa
imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal
=1&pagina=1&data=17/02/2017.
Acesso em: 04 jun. 2020.
CORACINI, María José. A celebração
do outro. In:
CORACINI, Maria José
(org.).
Identidade e discurso:
(des)construindo subjetividades
Campinas: Editora
da UNICAMP
Chapecó: Argos, 2003. p. 201
DERVIN, Fred. Cultural identity,
representation and othering.
JACKSON, Jane. The
Handbook of Language and
Intercultural Communication
York: Routledge,
2014. p. 181
DIARIOS DE
MOTOCICLETA.
Direção: Walter Salles. Produção:
South Fork Pictures e Tu Vas
Productions. Estados Unidos,
Argentina, Brasil, Peru, Chile: Buena
Vista International, 2004. 2h06min.
FIORIN, José Luiz. As relações de
poder entre as línguas e a dimensão
política de seu uso.
In:
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
uma perspectiva intercultural, pois a
quebra de barreiras começa a ocorrer
quando conhecemos o outro, nos
familiarizamos com a sua história e
com os valores de sua cultura e
percebemos nossas semelhanças e
bibliográficas
A cultura no
mundo líquido moderno.
Rio de
BRASIL. Lei 13.415. Dispõe sobre a
Diário Oficial
da República Federativa do Brasil
.
fev. 2017.
Disponívelem:http://pesquisa
.in.gov.br/
imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal
=1&pagina=1&data=17/02/2017.
CORACINI, María José. A celebração
CORACINI, Maria José
Identidade e discurso:
(des)construindo subjetividades
.
da UNICAMP
;
Chapecó: Argos, 2003. p. 201
–220.
DERVIN, Fred. Cultural identity,
representation and othering.
In:
Routledge
Handbook of Language and
Intercultural Communication
. New
2014. p. 181
-194.
MOTOCICLETA.
Direção: Walter Salles. Produção:
South Fork Pictures e Tu Vas
Voir
Productions. Estados Unidos,
Argentina, Brasil, Peru, Chile: Buena
Vista International, 2004. 2h06min.
FIORIN, José Luiz. As relações de
poder entre as línguas e a dimensão
In:
BASTOS,
Neusa Barbosa (org.).
portuguesa e lusofonia
EDUC, 2014. p. 51-
66.
FREIRE, Paulo.
Educação como
prática da liberdade
. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1986.
IGLESIAS CASAL, Isabel.
Construyendo la competencia
intercultural: sobre creencias,
conocimientos y destrezas.
n. 54, p. 5–28, 2003.
KUMARAVADIVELU, Bala.
Problematizing Cultural Stereotypes.
Tesol Quarterly
, vol. 37 n. 4, p. 709
719, 2003.
MATOS, Doris. O professor de
espanhol como agente intercultural e
as articulações necessárias na
elaboração de materiais didáticos. In:
MATOS, Doris;
PARAQUETT, Márcia
(orgs.).
Interculturalidade e
identidades:
formação de professor
de espanhol.
Salvador:
2018. p. 17–33.
MATTOS, Carlos de Meira.
e modernidade:
geopolítica brasileira
Rio de Janeiro: Bibliex, 2002.
PARAQUETT, Márcia. Questões
imprescindíveis à formação de
professore
s interculturais latino
americanos: o lugar da
tradição oral e afrodescendente. In:
MATOS, Doris; PARAQUETT, Márcia
(orgs.).
Interculturalidade e
identidades:
formação de professor
de espanhol
. Salvador: EDUFBA,
2018. p. 73–99.
QUESADA, Sebastián.
América Latina
. Madri: Edelsa
RAFFESTIN, Claude.
geografia do poder.
São Paulo:
1993.
RAJAGOPALAN, Kanavillil. O ensino
de línguas estrangeiras como uma
404
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)
Neusa Barbosa (org.).
Língua
portuguesa e lusofonia
. São Paulo:
66.
Educação como
. Rio de Janeiro:
IGLESIAS CASAL, Isabel.
Construyendo la competencia
intercultural: sobre creencias,
conocimientos y destrezas.
Carabela,
KUMARAVADIVELU, Bala.
Problematizing Cultural Stereotypes.
, vol. 37 n. 4, p. 709
-
MATOS, Doris. O professor de
espanhol como agente intercultural e
as articulações necessárias na
elaboração de materiais didáticos. In:
PARAQUETT, Márcia
Interculturalidade e
formação de professor
es
Salvador:
EDUFBA,
MATTOS, Carlos de Meira.
Geopolítica
geopolítica brasileira
.
Rio de Janeiro: Bibliex, 2002.
PARAQUETT, Márcia. Questões
imprescindíveis à formação de
s interculturais latino
-
americanos: o lugar da
cultura de
tradição oral e afrodescendente. In:
MATOS, Doris; PARAQUETT, Márcia
Interculturalidade e
formação de professor
es
. Salvador: EDUFBA,
QUESADA, Sebastián.
Imágenes de
. Madri: Edelsa
, 2001.
RAFFESTIN, Claude.
Por uma
São Paulo:
Ática,
RAJAGOPALAN, Kanavillil. O ensino
de línguas estrangeiras como uma
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura,
20, p. 386-405, março 2021.
questão política. In:
MOTA, Kátia;
SCHEYERL, Denise (orgs.).
linguísticos:
resistências e expansões
Salvador, EDUFBA, 2009. p. 57
RODRIGUES, Fernanda dos Santos
Castelano.
Língua viva, letra morta:
obrigatoriedade e ensino de espanhol
no arquivo jurídico e legislativo
brasileiro. Tese
(Doutorado em
Letras). Universidade de o Paulo,
São Paulo, 2010.
SALOMÃO, Ana Cristina Biondo. O
componente cultural no ensino e
aprendizagem de línguas:
desenvolvimento histórico e
perspectivas na contemporaneidade.
Trabalhos em Linguística Aplicada
54, n. 2, p. 361-
392, 2015. Disponível
em:
http://dx.doi.org/10.1590/0103
18134500150051
. Acesso em: 26 jan.
2020.
SANTOS, M.
A natureza do espaço
São Paulo: Edusp, 2006.
SARMIENTO, Domingo Faustino.
Facundo.
Buenos Aires: Biblioteca
Argentina, 1921.
SERRANI, Silvana.
Discurso e cultura
na aula de língua.
Campinas: Pontes,
2005.
UNESCO.
Investir na diversidade
cultural e no diálogo intercultural
Relatório Mundial da UNESCO
Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/dados/relatorio
s/r_edh/relatorio_unesco_cultura.pdf
Acesso em: 15 jun. 2020.
WENDT, Alexander.
Social theory of
international politics.
Cambridge University Press, 1999.
MACHADO, Maria Cláudia de J.; YOKOTA, Rosa. Geopolítica, identidade
cultural e a língua espanhola no contexto brasileiro
. PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 11, n.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
MOTA, Kátia;
SCHEYERL, Denise (orgs.).
Espaços
resistências e expansões
.
Salvador, EDUFBA, 2009. p. 57
–82.
RODRIGUES, Fernanda dos Santos
Língua viva, letra morta:
obrigatoriedade e ensino de espanhol
no arquivo jurídico e legislativo
(Doutorado em
Letras). Universidade de o Paulo,
SALOMÃO, Ana Cristina Biondo. O
componente cultural no ensino e
aprendizagem de línguas:
desenvolvimento histórico e
perspectivas na contemporaneidade.
Trabalhos em Linguística Aplicada
, vol.
392, 2015. Disponível
http://dx.doi.org/10.1590/0103
-
. Acesso em: 26 jan.
A natureza do espaço
.
SARMIENTO, Domingo Faustino.
Buenos Aires: Biblioteca
Discurso e cultura
Campinas: Pontes,
Investir na diversidade
cultural e no diálogo intercultural
.
Relatório Mundial da UNESCO
.2009.
Disponível em:
http://www.dhnet.org.br/dados/relatorio
s/r_edh/relatorio_unesco_cultura.pdf
.
Social theory of
Cambridge:
Cambridge University Press, 1999.
405
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Ensaio)