ISSN 2237
-
1508
Niterói / RJ, Ano 11, n. 21, set. 2021
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
ARTIGOS / ARTICLES
Cooperação virtual e ODS nas universidades
do espaço ibero-americano - ferramentas de
inovação no ensino do ciberjornalismo.
Virtual cooperation and SDG in the universities
of the Ibero-American space - innovation tools in
the teaching of online journalism.
AINARA LARRONDO-URETA
FERNANDO ZAMITH
KOLDOBIKA MESO-AYERDI
SIMÓN PEÑA-FERNÁNDEZ
Identidad Marron e o Labirinto do Minotauro.
Luta e resistência do coletivo dos povos
originários de Buenos Aires
Identidad Marron and the Minotaur Labyrinth.
Struggle and resistance of the collective of
peoples from Buenos Aires
ROBERTA FILGUEIRAS MATHIAS
MICHELE PUCARELLI
A crescente precariedade do trabalho na cultura
na cidade do Rio de Janeiro
The growing precariety of work in culture in Rio
de Janeiro city
ANA LÚCIA PARDO
A dimensão econômica na política nacional
de cultura: uma aproximação com a
economia solidária
Economic dimension in national culture policy:
an approach to the solidary economy
CAROLINA GONÇALVES DE FREITAS
VALMOR SCHIOCHET
DOSSIÊ / DOSSIER
Trabalho cultural e precarização
Editores:
Lívia de Tommasi e João Domingues
“Glória a quem trabalha o ano inteiro?”: notas sobre os
“barracões”do carnaval carioca
“Glory to those who work all year long?”:notes about the
"barracões" of the carioca carnival
LEONARDO AUGUSTO BORA
O transbordamento da atividade musical para as ruas e
atualização do trabalho cultural precário: uma análise
sobre os instrumentistas nômades cariocas
The displacement of musical activity to the streets and updating
of precarious cultural work: an analysis of nomadic
instrumentalists in Rio de Janeiro
KYOMA SILVA OLIVEIRA
Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?
Exhibitions’ educator: a worker without a profession?
CÍNTIA MARIA DA SILVA
ADRIANA SANTIAGO ROSA DANTAS
Cultura e Pandemia: precarização do trabalho cultural na
Baixada Fluminense
Culture and Pandemic: precarization of cultural labor in the
Baixada Fluminense
JOÃO GUERREIRO
BRUNO BORJA
LUISE VILLARES
UTANAAN REIS BARBOSA FILHO
BRUNO DUARTE
A enunciação de um sujeito competitivo-pacificado: uma
análise das competências profissionais sugeridas a
produtoras/es culturais na Classificação Brasileira de
Ocupações
The enunciation of a competitive-pacified subject: an analysis
of the professional skills suggested to cultural producers in the
Brazilian Classification of Occupations
JOÃO DOMINGUES
GUSTAVO PORTELLA MACHADO
RESENHA / REVIEW
Resenha: COUTINHO, Amanda. Trabalhadores da Cultura.
Curitiba: Brazil Publishing, 2020.
RENAN DO NASCIMENTO SANTOS
P r a g M AT I Z E S
EDITORES EXECUTIVOS
Luiz Augusto F. Rodrigues, Universidade Federal Fluminense
de Arte, Brasil
Flávia Lages, Universidade Federal Fluminense, Departamento de Arte, Brasil
João Domingues, Universidade Federal Fluminense, Departamento de Arte,
Brasil
CONSELHO EDITORIAL
Adair Rocha, Universidade do Estado do
Rio de Janeiro / Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil
Adriana Facina, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Ahtziri Molina Roldán, Universidad Veracruizana, México
Alberto Fesser, Socio Director de La Fabrica em Ingenieria Cu
de La Fundación Contemporánea, Espanha
Alexandre Barbalho, Universidade Estadual do Ceará, Brasil
Allan Rocha de Souza, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil
Ana Enne, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Angel Mestres Vila, Universitat de Barcelona, Espanha
Antônio Albino Canela Rubin, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Carlos Henrique Marcondes, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Christina Vital, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Cristina Amélia Pereira d
e Carvalho, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Brasil
Daniel Mato, Universidade Nacional Tres de Febrero, Argentina
Danielle Brasiliense, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Deborah Rebello Lima, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Durval Muniz de Albuquerque Jr., Universidade Estadual da Paraíba, Brasil
Eduardo Paiva, Universidade Estadual de Campinas, Brasil
Edwin Juno-
Delgado, Université de Bourgogne / ESC Dijon, campus de
Paris, França
Eloisa Porto C. Allevato Braem, Universidade
do Estado do Rio de
Janeiro, Brasil
Fábio Fonseca de Castro, Universidade Federal do Pará, Brasil
Fernando Arias, Observatorio de Industrias Creativas de la Ciudad de
Buenos Aires, Argentina
Flávia Lages, Universidade Federal Fluminense, Brasil
George Yúd
ice, Universidae de Miami, Estados Unidos da América
Gizlene Neder, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Guilherme Werlang, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Hugo Achugar, Universidad de la Republica, Uruguai
Idemburgo Pereira Frazão, Unigranrio, Brasil
Isabel Babo, Universidade Lusófona do Porto, Portugal
João Domingues, Universidade Federal Fluminense, Brasil
José Luís Mariscal Orozco, Universidad de Guadalajara, México
José Márcio Barros, Universidade Estadual de Minas Gerais / PUC Minas,
Brasil
Julio Seoane Pinilla, Universidad de Alcalá, Espanha
Lia Calabre, Fundação Casa de Rui Barbosa, Brasil
Lilian Fessler Vaz, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Lívia de Tommasi, Universidade Federal do ABC, Brasil
Lívia Reis, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Luís Edmundo de Souza Moraes, Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, Brasil
REALIZAÇÃO:
PARCEIROS e INDEXADORES:
P r a g M AT I Z E S
Revista Latino
-
Americana de Estudos em Cultura
Ano 11 nº 21 - setembro/2021
Luiz Augusto F. Rodrigues, Universidade Federal Fluminense
, Departamento
Flávia Lages, Universidade Federal Fluminense, Departamento de Arte, Brasil
João Domingues, Universidade Federal Fluminense, Departamento de Arte,
Rio de Janeiro / Pontifícia
Adriana Facina, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Ahtziri Molina Roldán, Universidad Veracruizana, México
Alberto Fesser, Socio Director de La Fabrica em Ingenieria Cu
ltural / Director
Alexandre Barbalho, Universidade Estadual do Ceará, Brasil
Allan Rocha de Souza, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil
Antônio Albino Canela Rubin, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Carlos Henrique Marcondes, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Christina Vital, Universidade Federal Fluminense, Brasil
e Carvalho, Universidade Federal do Rio Grande do
Daniel Mato, Universidade Nacional Tres de Febrero, Argentina
Danielle Brasiliense, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Deborah Rebello Lima, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Durval Muniz de Albuquerque Jr., Universidade Estadual da Paraíba, Brasil
Eduardo Paiva, Universidade Estadual de Campinas, Brasil
Delgado, Université de Bourgogne / ESC Dijon, campus de
do Estado do Rio de
Fábio Fonseca de Castro, Universidade Federal do Pará, Brasil
Fernando Arias, Observatorio de Industrias Creativas de la Ciudad de
ice, Universidae de Miami, Estados Unidos da América
Gizlene Neder, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Guilherme Werlang, Universidade Federal Fluminense, Brasil
João Domingues, Universidade Federal Fluminense, Brasil
José Luís Mariscal Orozco, Universidad de Guadalajara, México
José Márcio Barros, Universidade Estadual de Minas Gerais / PUC Minas,
Lilian Fessler Vaz, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Lívia de Tommasi, Universidade Federal do ABC, Brasil
Luís Edmundo de Souza Moraes, Universidade Federal Rural do Rio de
Luiz Augusto Fernandes Rodrigues, Universidade Federal Fluminense,
Brasil
Luiz Guilherme Vergara, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Manoel
Marcondes Machado Neto, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Brasil
Marcela A. País Andrade, Universidad de Buenos Aires, Argentina
Márcia Ferran, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Maria Adelaida Jaramillo Gonzalez, Universidad de Antioquia, Col
Maria Manoel Baptista, Universidade de Aveiro, Portugal
Marialva Barbosa, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Marildo Nercolini, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Marina Bay Frydberg, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Mário
Pragmácio Telles, Faculdades Integradas Hélio Alonso, Brasil
Marisa Schincariol de Mello, Universidade Cândido Mendes, Brasil
Marta Elena Bravo, Universidad Nacional de Colombia
Colombia
Martín A. Becerra, Universidad Nacional de Quilmes,
Mónica Bernabé, Universidad Nacional de Rosario, Argentina
Muniz Sodré, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Orlando Alves dos Santos Jr., Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Brasil
Pâmella Passos, Instituto Federal do Rio de Janeir
Patricio Rivas, Universidad de Chile, Chile
Paulo Carrano, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Paulo César Silva de Oliveira, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Brasil
Paulo Miguez, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Priscilla
Oliveira Xavier, Centro Universitário Carioca, Brasil
Renata Rocha, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Ricardo Gomes Lima, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Rossi Alves Gonçalves, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Simonne Teixeira,
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro, Brasil
Stefano Cristante, Università del Salento, Italia
Tamara Quírico, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Teresa Muñoz Gutiérrez, Universidad de La Habana, Cuba
Tunico Amâncio,
Universidade Federal Fluminense, Brasil
Valmor Rhoden, Universidade Federal do Pampa, Brasil
Vladimir Sibylla Pires, Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro, Brasil
Victor Miguel Vich Flórez, Pontifícia Universidad Católica del Perú, Peru
Zandra P
edraza Gomez, Universidad de Los Andes, Colômbia
CONSELHO DE ÉTICA
Luiz Augusto F. Rodrigues, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Marina Bay Frydberg, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Rossi Alves Gonçalves, Universidade Federal Fluminense,
EQUIPE DE SUPORTE:
Ubirajara Leal, suporte técnico -
IACS/UFF
Dulce Maria Terra Guimarães, Revisão
-
P r a g M AT I Z E S
Americana de Estudos em Cultura
Luiz Augusto Fernandes Rodrigues, Universidade Federal Fluminense,
Luiz Guilherme Vergara, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Marcondes Machado Neto, Universidade do Estado do Rio de
Marcela A. País Andrade, Universidad de Buenos Aires, Argentina
Márcia Ferran, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Maria Adelaida Jaramillo Gonzalez, Universidad de Antioquia, Col
ômbia
Maria Manoel Baptista, Universidade de Aveiro, Portugal
Marialva Barbosa, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Marildo Nercolini, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Marina Bay Frydberg, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Pragmácio Telles, Faculdades Integradas Hélio Alonso, Brasil
Marisa Schincariol de Mello, Universidade Cândido Mendes, Brasil
Marta Elena Bravo, Universidad Nacional de Colombia
– sede Medellín,
Martín A. Becerra, Universidad Nacional de Quilmes,
Argentina
Mónica Bernabé, Universidad Nacional de Rosario, Argentina
Muniz Sodré, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Orlando Alves dos Santos Jr., Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Pâmella Passos, Instituto Federal do Rio de Janeir
o, Brasil
Patricio Rivas, Universidad de Chile, Chile
Paulo Carrano, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Paulo César Silva de Oliveira, Universidade do Estado do Rio de
Paulo Miguez, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Oliveira Xavier, Centro Universitário Carioca, Brasil
Renata Rocha, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Ricardo Gomes Lima, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Rossi Alves Gonçalves, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Stefano Cristante, Università del Salento, Italia
Tamara Quírico, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Teresa Muñoz Gutiérrez, Universidad de La Habana, Cuba
Universidade Federal Fluminense, Brasil
Valmor Rhoden, Universidade Federal do Pampa, Brasil
Vladimir Sibylla Pires, Universidade Federal do Estado do Rio de
Victor Miguel Vich Flórez, Pontifícia Universidad Católica del Perú, Peru
edraza Gomez, Universidad de Los Andes, Colômbia
Luiz Augusto F. Rodrigues, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Marina Bay Frydberg, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Rossi Alves Gonçalves, Universidade Federal Fluminense,
Brasil
IACS/UFF
-
IACS/UFF
PragMATIZES participa do
compromisso de
São Francisco
(Pacto de DORA)
PragMATIZES – Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura.
Ano XI nº 21, (SET/2021). – Niterói, RJ: [s. N.], 2021. (Universidade
Federal Fluminense / Laboratório de Ações Culturais - LABAC e
Programa de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades -
PPCULT)
Semestral
ISSN 2237-1508 (versão online)
1. Estudos culturais. 2. Planejamento e gestão cultural.
3. Teorias da Arte e da Cultura. 4. Linguagens e
expressões artísticas. I. Título.
CDD 306
Universidade Federal Fluminense - UFF
Instituto de Artes e Comunicação Social - IACS | Laboratório de Ações Culturais - LABAC
Programa de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades - PPCULT
Rua Lara Vilela, 126 - São Domingos - Niterói / RJ - Brasil - CEP: 24210-590
+55 21 2629-9755 / 2629-9756 | pragmatizes@gmail.com
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Sumário / Summary
p. 9 – 16
COLABORADORES DA EDIÇÃO / ISSUE
p. 17 - 20
EDITORIAL / EDITORIAL
TRA
BALHO CULTURAL E PRECARIZAÇÃO
p. 21 – 23
Apresentação do dossiê, por seus
p. 24 - 47
“Glória a quem trabalha o ano inteiro?”: notas sobre os “barracões”do carnaval
carioca
“Glory to those who work all year long?”:notes about the
LEONARDO AUGUSTO BORA
p. 48 - 66
O transbordamento da atividade musical
cultural precário: uma análise sobre os instrumentistas nômades cariocas
The displacement of musical activity to the streets and updating of precarious cultural work:
an analysis of nomadic instrumentalists in Rio de
KYOMA SILVA OLIVEIRA
p. 67 - 94
Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?
Exhibitions’ educator: a worker without a profession?
CÍNTIA MARIA DA SILVA
ADRIANA SANTIAGO ROSA DANTAS
p. 95 - 124
Cultura e Pandemia: precarização do
Culture and Pandemic: precarization of cultural labor in the Baixada Fluminense
JOÃO GUERREIRO
BRUNO BORJA
LUISE VILLARES
UTANAAN REIS BARBOSA FILHO
BRUNO DUARTE
p. 125 - 145
A enunciação de um sujeito
profissionais sugeridas a produtoras/
Ocupações
The enunciation of a competitive
suggested to cultural
producers in the Brazilian Classification of Occupations
JOÃO DOMINGUES
GUSTAVO PORTELLA MACHADO
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Sumário / Summary
COLABORADORES DA EDIÇÃO / ISSUE
S
CONTRIBUTORS
EDITORIAL / EDITORIAL
DOSSIÊ / DOSSIER
BALHO CULTURAL E PRECARIZAÇÃO
Apresentação do dossiê, por seus
e
ditores Lívia de Tommasi e João Domingues
“Glória a quem trabalha o ano inteiro?”: notas sobre os “barracões”do carnaval
“Glory to those who work all year long?”:notes about the
“barracões”
of the carioca carnival
O transbordamento da atividade musical
para as ruas e atualização do trabalho
cultural precário: uma análise sobre os instrumentistas nômades cariocas
The displacement of musical activity to the streets and updating of precarious cultural work:
an analysis of nomadic instrumentalists in Rio de
Janeiro
Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?
Exhibitions’ educator: a worker without a profession?
ADRIANA SANTIAGO ROSA DANTAS
Cultura e Pandemia: precarização do
trabalho cultural na Baixada Fluminense
Culture and Pandemic: precarization of cultural labor in the Baixada Fluminense
UTANAAN REIS BARBOSA FILHO
A enunciação de um sujeito
competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/
HT
culturais na Classificação Brasileira de
The enunciation of a competitive
-
pacified subject: an analysis of the professional skills
producers in the Brazilian Classification of Occupations
GUSTAVO PORTELLA MACHADO
7
CONTRIBUTORS
BALHO CULTURAL E PRECARIZAÇÃO
ditores Lívia de Tommasi e João Domingues
“Glória a quem trabalha o ano inteiro?”: notas sobre os “barracões”do carnaval
of the carioca carnival
para as ruas e atualização do trabalho
cultural precário: uma análise sobre os instrumentistas nômades cariocas
The displacement of musical activity to the streets and updating of precarious cultural work:
trabalho cultural na Baixada Fluminense
Culture and Pandemic: precarization of cultural labor in the Baixada Fluminense
pacificado: uma análise das competências
culturais na Classificação Brasileira de
pacified subject: an analysis of the professional skills
producers in the Brazilian Classification of Occupations
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
p. 146 - 149
Resenha: COUTINHO, Amanda.
2020.
RENAN DO NASCIMENTO SANTOS
p. 150 - 164
Cooperação virtual e ODS nas universidades do espaço ibero
ferramentas de inovação no ensino do ciberjornalismo.
Virtual cooperation and SDG in the universities of the Ibero
tools in the teaching of online journalism.
AINARA LARRONDO-URETA
FERNANDO ZAMITH
KOLDOBIKA MESO-AYERDI
SIMÓN PEÑA-FERNÁNDEZ
p. 165 - 187
Identidad Marron
e o Labirinto do Minotauro. Luta e resistência do coletivo dos povos
originários de Buenos Aires
Identidad Marron
and the Minotaur Labyrinth.
peoples from Buenos Aires
ROBERTA FILGUEIRAS MATHIAS
MICHELE PUCARELLI
p. 188 - 228
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
The growing precariety of work in culture in Rio de Janeiro city
ANA LÚCIA PARDO
p. 229 - 255
A dimensão econômica na política nacional de cultura: uma
economia solidária
Economic dimension in national culture policy: an approach to the solidary economy
CAROLINA GONÇALVES DE FREITAS
VALMOR SCHIOCHET
p. 256 – 270
Índice geral das edições de 2011 a 2021
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
RESENHA / REVIEW
Resenha: COUTINHO, Amanda.
Trabalhadores da Cultura.
Curitiba: Brazil Publishing,
RENAN DO NASCIMENTO SANTOS
ARTIGOS / ARTICLES
Cooperação virtual e ODS nas universidades do espaço ibero
-
americano
ferramentas de inovação no ensino do ciberjornalismo.
Virtual cooperation and SDG in the universities of the Ibero
-
American space
tools in the teaching of online journalism.
e o Labirinto do Minotauro. Luta e resistência do coletivo dos povos
originários de Buenos Aires
and the Minotaur Labyrinth.
Struggle and resistance of the collective of
ROBERTA FILGUEIRAS MATHIAS
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
The growing precariety of work in culture in Rio de Janeiro city
A dimensão econômica na política nacional de cultura: uma
aproximação com a
Economic dimension in national culture policy: an approach to the solidary economy
CAROLINA GONÇALVES DE FREITAS
Índice geral das edições de 2011 a 2021
8
Curitiba: Brazil Publishing,
americano
American space
– innovation
e o Labirinto do Minotauro. Luta e resistência do coletivo dos povos
Struggle and resistance of the collective of
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
aproximação com a
Economic dimension in national culture policy: an approach to the solidary economy
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Colaboradores da edição
Issue’s contributors
Adriana Santiago Rosa Dantas
Estadual de Campinas, UNICAMP
Universidade de São Paulo, USP.
de Estudos da Linguagem d
É Doutora em Educação, área Sociologia da Educação, pela Universidade de São
Paulo (FEUSP). Fez estágio sanduíche no doutorado na Université Paris 1 Panthéon
Sorbonne. Fez mestrado em Filosofia, área Est
Educação na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São
Paulo (EACH –
USP). Pesquisadora da área de Sociologia da Educação, com
interface na Sociologia Urbana, na Geografia e História, investigou a expa
escolas privadas na periferia, interessando
formação da periferia de São Paulo. No doutorado, buscou compreender a educação
privada na estrutura social brasileira priorizando o recorte racial, tendo como
referen
cial teórico a colonialidade do poder. No pós
em estudar o processo de racialização no Brasil. Atualmente, participa do grupo de
pesquisa FOCUS –
Grupo de Pesquisa sobre Educação, Instituições e
Desigualdade, da
Universidade E
de Extensão “
Centro de Estudos Periféricos
Universidade Federal de São Paulo (IC
E-
mail: novadrica@gmail.com
Ainara Larrondo-Ureta.
Virtual cooperation and SDG in the universities of the Ibero
American space –
innovation tools in the teaching of online journalism
Journalism, Master in Contemporary History. Senior Lecturer at the University of the
Basque Country. Teaching and Research subjects: Newswriting and Reporting,
Online Journalism, Innovation in Communication, Organisational Communication,
Political
Communication, Genre, Media and Communication.
HTTPS
://www.ehu.eus/es/web/bcplaura
https://www.researchgate.net/profile/Ainara_Ureta/2
E-
mail: ainara.larrondo@ehu.eus
Ana Lúcia Ribeiro Pardo
.
Programa de Pós-
Graduação em Cultura e Territorialidades
Fluminense – PPCULT-
UFF (2019)
Formação Humana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2018), Mestre
em Políticas Públicas e Formação Humana
Comunicação Social pela Universidade Federal do Amazonas (
Escola de Teatro Martins Pena
complementar e experiência comprovada nas áreas de Teatro, Artes, Comunicação,
Cultura, Gestão e Políticas Públicas. É integrante da coordenação da Associação
Brasileira
de Gestão Cultural
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Adriana Santiago Rosa Dantas
. Pós-
doutora em Educação pela Universidade
Estadual de Campinas, UNICAMP
-
FAPESP. Doutora em Educação pela
Universidade de São Paulo, USP.
Possui Bacharelado em Linguística pelo Instituto
de Estudos da Linguagem d
a Universidade Estadual de Campinas (IEL
É Doutora em Educação, área Sociologia da Educação, pela Universidade de São
Paulo (FEUSP). Fez estágio sanduíche no doutorado na Université Paris 1 Panthéon
Sorbonne. Fez mestrado em Filosofia, área Est
udos Culturais, na linha Cultura e
Educação na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São
USP). Pesquisadora da área de Sociologia da Educação, com
interface na Sociologia Urbana, na Geografia e História, investigou a expa
escolas privadas na periferia, interessando
-
se por temas como migração interna e
formação da periferia de São Paulo. No doutorado, buscou compreender a educação
privada na estrutura social brasileira priorizando o recorte racial, tendo como
cial teórico a colonialidade do poder. No pós
-
doutorado, tem se interessado
em estudar o processo de racialização no Brasil. Atualmente, participa do grupo de
Grupo de Pesquisa sobre Educação, Instituições e
Universidade E
stadual de Campinas. É colaboradora no Projeto
Centro de Estudos Periféricos
no Instituto das Cidades da
Universidade Federal de São Paulo (IC
-Unifesp).
mail: novadrica@gmail.com
– http://orcid.org/0000-0003-1066-
7063
Virtual cooperation and SDG in the universities of the Ibero
innovation tools in the teaching of online journalism
Journalism, Master in Contemporary History. Senior Lecturer at the University of the
Basque Country. Teaching and Research subjects: Newswriting and Reporting,
Online Journalism, Innovation in Communication, Organisational Communication,
Communication, Genre, Media and Communication.
://www.ehu.eus/es/web/bcplaura
https://www.researchgate.net/profile/Ainara_Ureta/2
mail: ainara.larrondo@ehu.eus
https://orcid.org/0000-0003-
3303
.
Pós-
doutoranda, professora e bolsista da CAPES no
Graduação em Cultura e Territorialidades
da Universidade Federal
UFF (2019)
.
Doutora no Programa de Políticas Públicas e
Formação Humana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2018), Mestre
em Políticas Públicas e Formação Humana
UERJ (2010). Possui graduação em
Comunicação Social pela Universidade Federal do Amazonas (
1990). Formada na
Escola de Teatro Martins Pena
Rio de Janeiro (1993). Tem formação
complementar e experiência comprovada nas áreas de Teatro, Artes, Comunicação,
Cultura, Gestão e Políticas Públicas. É integrante da coordenação da Associação
de Gestão Cultural
ABGC. Professora de Artes Cênicas no Programa de
9
doutora em Educação pela Universidade
FAPESP. Doutora em Educação pela
Possui Bacharelado em Linguística pelo Instituto
a Universidade Estadual de Campinas (IEL
– Unicamp).
É Doutora em Educação, área Sociologia da Educação, pela Universidade de São
Paulo (FEUSP). Fez estágio sanduíche no doutorado na Université Paris 1 Panthéon
udos Culturais, na linha Cultura e
Educação na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São
USP). Pesquisadora da área de Sociologia da Educação, com
interface na Sociologia Urbana, na Geografia e História, investigou a expa
nsão de
se por temas como migração interna e
formação da periferia de São Paulo. No doutorado, buscou compreender a educação
privada na estrutura social brasileira priorizando o recorte racial, tendo como
doutorado, tem se interessado
em estudar o processo de racialização no Brasil. Atualmente, participa do grupo de
Grupo de Pesquisa sobre Educação, Instituições e
stadual de Campinas. É colaboradora no Projeto
no Instituto das Cidades da
7063
Virtual cooperation and SDG in the universities of the Ibero
-
innovation tools in the teaching of online journalism
. PhD. In
Journalism, Master in Contemporary History. Senior Lecturer at the University of the
Basque Country. Teaching and Research subjects: Newswriting and Reporting,
Online Journalism, Innovation in Communication, Organisational Communication,
3303
-4330
doutoranda, professora e bolsista da CAPES no
da Universidade Federal
Doutora no Programa de Políticas Públicas e
Formação Humana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2018), Mestre
UERJ (2010). Possui graduação em
1990). Formada na
Rio de Janeiro (1993). Tem formação
complementar e experiência comprovada nas áreas de Teatro, Artes, Comunicação,
Cultura, Gestão e Políticas Públicas. É integrante da coordenação da Associação
ABGC. Professora de Artes Cênicas no Programa de
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Estudos Sociais e Culturais na Pós
Universidade Cândido Mendes (2012/2017). Foi professora substituta do
Departamento de Artes e Estudos Culturais no Cu
Campus de Rio das Ostras (2013/2014). Assumiu as funções de Ouvidora e de
Chefe da Divisão de Políticas Culturais do Ministério da Cultura na Representação
Regional RJ/ES; Assessora da Divisão de Estudos e Pesquisas da Funar
Coordenadora de Feiras Nacionais de Livros da Fundação Biblioteca Nacional;
Assessora da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa do Estado do Rio;
Assessora Especial da Fundação Nacional do Índio; Assessora da Secretaria
Municipal do Meio Ambient
e
FAPEX e Universidade Federal da Bahia na elaboração do Plano Municipal de
Cultura do Rio de Janeiro. Curadora e coordenadora de painéis internacionais:
Teatralidade do Humano”
(2006/2007)
Subjetividades e Poticas da Cena e do Mundo (2010);
Rede, Na Cena Contemporânea
Utopias de um novo Mundo
Outros Possíveis”
(2016). Curadora e produtora dos Ciclos Temáticos
as famílias contemporâneas
Virtudes” (2015), “
Brasilidades
realizados com o Desenvolvimento e Acompanhamento Artístico da Rede Globo.
Organizadora das publicações:
2011) e “
Ato Criador (Editora Azougue, 2015). Formação e experiência comprovada
em Teatro (cursos,
oficinas, seminários, encenações de peças e leituras dramáticas);
em Comunicação Social (âncora, produtora e apresentadora de jornal e programas
de HT
; repórter de jornal impresso e rádio, locutora, revisora, articulista e editora de
revista); em Política
s Públicas (formulação, articulação, coordenação e experiência
na área de Cultura, Artes, Produção e Gestão Cultural.
E-
mail: anapardo.teatralidade@gmail.com
Bruno Borja.
Professor do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Instituto Multidisciplinar (campus Nova
Iguaçu). Pesquisador do Coletivo Marxista da Rural (MAR/UFRRJ), com pesquisa
nas áreas de Economia
Política da Cultura e Pensamento Econômico e Social
Latino-
Americano. Doutor em Economia Potica Internacional pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Poeta.
E-mail:
borja.bruno@gmail.com
Bruno Duarte
(Bruno Souza Duarte Lima).
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC
Observatório Baixada Cultural(ObaC).
Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFFRJ/IM). Pesquisador do Coletivo Marxista da Rural (MAR/UFRRJ) e do
Observatório de Carnaval (OBCAR/UFRJ). Possui experiência na área de economia
brasileira, atuando como monitor no Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal
Rural do Rio de Jane
iro (UFFRJ/IM). Possui interesse nas áreas relacionadas a
economia brasileira, economia política da cultura e história econômica.
E-mail:
lima.bsd@gmail.com
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Estudos Sociais e Culturais na Pós
-
Graduação em Produção Cultural na
Universidade Cândido Mendes (2012/2017). Foi professora substituta do
Departamento de Artes e Estudos Culturais no Cu
rso de Produção Cultural da UFF
Campus de Rio das Ostras (2013/2014). Assumiu as funções de Ouvidora e de
Chefe da Divisão de Políticas Culturais do Ministério da Cultura na Representação
Regional RJ/ES; Assessora da Divisão de Estudos e Pesquisas da Funar
Coordenadora de Feiras Nacionais de Livros da Fundação Biblioteca Nacional;
Assessora da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa do Estado do Rio;
Assessora Especial da Fundação Nacional do Índio; Assessora da Secretaria
e – Manaus-
AM; Consultora do Ministério da Cultura,
FAPEX e Universidade Federal da Bahia na elaboração do Plano Municipal de
Cultura do Rio de Janeiro. Curadora e coordenadora de painéis internacionais:
(2006/2007)
; “A Teatralid
ade do Humano II
Subjetividades e Poticas da Cena e do Mundo (2010);
“Inter-Agir
Rede, Na Cena Contemporânea
” (2012); “
Espaços de Reencantamento, Afetos e
Utopias de um novo Mundo
” (2013/2014); Ato Criador” (2015) e “
Ato Criador
(2016). Curadora e produtora dos Ciclos Temáticos
as famílias contemporâneas
” (2013), “Metamorfoses do Amor”
(2014),
Brasilidades
” (2016), “
In Fluência Papéis Sociais Fluídos
realizados com o Desenvolvimento e Acompanhamento Artístico da Rede Globo.
Organizadora das publicações:
“A Teatralidade do Humano”
(Edições Sesc SP
Ato Criador (Editora Azougue, 2015). Formação e experiência comprovada
oficinas, seminários, encenações de peças e leituras dramáticas);
em Comunicação Social (âncora, produtora e apresentadora de jornal e programas
; repórter de jornal impresso e rádio, locutora, revisora, articulista e editora de
s Públicas (formulação, articulação, coordenação e experiência
na área de Cultura, Artes, Produção e Gestão Cultural.
mail: anapardo.teatralidade@gmail.com
– https://orcid.org/0000-
0002
Professor do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Instituto Multidisciplinar (campus Nova
Iguaçu). Pesquisador do Coletivo Marxista da Rural (MAR/UFRRJ), com pesquisa
Política da Cultura e Pensamento Econômico e Social
Americano. Doutor em Economia Potica Internacional pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Poeta.
borja.bruno@gmail.com
– http://orcid.org/0000-0002-4813-
7001
(Bruno Souza Duarte Lima).
Mestrando em Economia Política pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC
-
SP). Pesquisador do
Observatório Baixada Cultural(ObaC).
Graduado em Ciências Econômicas pelo
Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFFRJ/IM). Pesquisador do Coletivo Marxista da Rural (MAR/UFRRJ) e do
Observatório de Carnaval (OBCAR/UFRJ). Possui experiência na área de economia
brasileira, atuando como monitor no Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal
iro (UFFRJ/IM). Possui interesse nas áreas relacionadas a
economia brasileira, economia política da cultura e história econômica.
lima.bsd@gmail.com
. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-
2753
10
Graduação em Produção Cultural na
Universidade Cândido Mendes (2012/2017). Foi professora substituta do
rso de Produção Cultural da UFF
Campus de Rio das Ostras (2013/2014). Assumiu as funções de Ouvidora e de
Chefe da Divisão de Políticas Culturais do Ministério da Cultura na Representação
Regional RJ/ES; Assessora da Divisão de Estudos e Pesquisas da Funar
te;
Coordenadora de Feiras Nacionais de Livros da Fundação Biblioteca Nacional;
Assessora da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa do Estado do Rio;
Assessora Especial da Fundação Nacional do Índio; Assessora da Secretaria
AM; Consultora do Ministério da Cultura,
FAPEX e Universidade Federal da Bahia na elaboração do Plano Municipal de
Cultura do Rio de Janeiro. Curadora e coordenadora de painéis internacionais:
“A
ade do Humano II
Na Rua, Na
Espaços de Reencantamento, Afetos e
Ato Criador
(2016). Curadora e produtora dos Ciclos Temáticos
“Olhares sobre
(2014),
“Pecados e
In Fluência Papéis Sociais Fluídos
” (2017)
realizados com o Desenvolvimento e Acompanhamento Artístico da Rede Globo.
(Edições Sesc SP
,
Ato Criador (Editora Azougue, 2015). Formação e experiência comprovada
oficinas, seminários, encenações de peças e leituras dramáticas);
em Comunicação Social (âncora, produtora e apresentadora de jornal e programas
; repórter de jornal impresso e rádio, locutora, revisora, articulista e editora de
s Públicas (formulação, articulação, coordenação e experiência
0002
-7671-438X
Professor do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Instituto Multidisciplinar (campus Nova
Iguaçu). Pesquisador do Coletivo Marxista da Rural (MAR/UFRRJ), com pesquisa
Política da Cultura e Pensamento Econômico e Social
Americano. Doutor em Economia Potica Internacional pela Universidade
7001
Mestrando em Economia Política pela
SP). Pesquisador do
Graduado em Ciências Econômicas pelo
Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFFRJ/IM). Pesquisador do Coletivo Marxista da Rural (MAR/UFRRJ) e do
Observatório de Carnaval (OBCAR/UFRJ). Possui experiência na área de economia
brasileira, atuando como monitor no Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal
iro (UFFRJ/IM). Possui interesse nas áreas relacionadas a
economia brasileira, economia política da cultura e história econômica.
2753
-434X
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Carolina Gonçalves de Freitas
Universidade Regional de Blumenau
em Economia Solidária/FURB. Graduação em Pedagogia pela Universidade do Vale
do Itajaí –
UNIVALI (2002). Servidora pública do Governo do Estado de Santa
Catarina, atua como técnica pedagógica na Fundação Catarinens
Cultura/Diretoria de Arte e Cultura. Tem interesse nos temas: Economia Solidária,
Economia da Cultura e Gestão Cultural.
E-
mail: carolfreitas@fcc.sc.gov.br,
Cíntia Maria da Silva.
Mestra em Artes, na linha de pesquisa
experiências educacionais e mediação cultural
Universidade Estadual de São Paulo Julio de Mesquita Filho (2017). Possui
graduação em Artes Visuai
s, Pintura, Gravura e Escultura, com ênfase em
Linguagem Performática, pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (2010).
Atua como educadora social desde 1999, possui ampla experiência na área de
Educação não-
formal. Dedica
arte em diversos equipamentos culturais desde 2008, desenvolvendo ações e
atendimentos com diversos públicos, concebendo e planejando programas
educativos e cursos de formação de educadores, elaborando materiais educativos.
Fund
adora e integrante do coletivo mov.er (Movimento Educadores em Resistência)
que pesquisa e divulga reflexões sobre profissionalização, relações e condições de
trabalho de educadores em exposições coletivamente com outros profissionais da
área.
E-mail: cint
iamasil@gmail.com
Fernando Zamith
. Universidad del País Vasco (UPV/EHU). Universidade do Porto.
L
icenciado em Comunicação Social e mestre em Ciências da Comunicação
Universidade do Minho, e doutorado em Informação e Comunicação em Plataformas
Digitais pela Universidade do Porto. Professor do Departamento de Ciências da
Comunicação e da Informação da Universidade do Porto.
E-mail:
fzamith@letras.up.pt
Gustavo Portella Machado
de Pós-
Graduação em Cultura e Territorialidades
Federal Fluminense (UFF). Bacharel em Produção Cultural também pela UFF. Tem
investigado as relações entre trabalho, economia e cultura, pensando temas como:
informalidade, precarização, microempreendedor individual e financiamento
cultura. No mestrado, foi bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES) e na iniciação científica pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e pelo Observatório de Economia
Criativa do Rio d
e Janeiro (OBEC
executiva e em gestão cultural pública e privada.
Email: m.gustavoportella@gmail.com
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Carolina Gonçalves de Freitas
.
Mestre em Desenvolvimento Regional pela
Universidade Regional de Blumenau
FURB (2020). Integra o Grupo de Pesquisa
em Economia Solidária/FURB. Graduação em Pedagogia pela Universidade do Vale
UNIVALI (2002). Servidora pública do Governo do Estado de Santa
Catarina, atua como técnica pedagógica na Fundação Catarinens
e de
Cultura/Diretoria de Arte e Cultura. Tem interesse nos temas: Economia Solidária,
Economia da Cultura e Gestão Cultural.
mail: carolfreitas@fcc.sc.gov.br,
https://orcid.org/0000-0001-
7888
Mestra em Artes, na linha de pesquisa
Processos artísticos,
experiências educacionais e mediação cultural
, no Instituto de Artes da
Universidade Estadual de São Paulo Julio de Mesquita Filho (2017). Possui
s, Pintura, Gravura e Escultura, com ênfase em
Linguagem Performática, pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (2010).
Atua como educadora social desde 1999, possui ampla experiência na área de
formal. Dedica
-se à mediação cultural
e educação em exposições de
arte em diversos equipamentos culturais desde 2008, desenvolvendo ações e
atendimentos com diversos públicos, concebendo e planejando programas
educativos e cursos de formação de educadores, elaborando materiais educativos.
adora e integrante do coletivo mov.er (Movimento Educadores em Resistência)
que pesquisa e divulga reflexões sobre profissionalização, relações e condições de
trabalho de educadores em exposições coletivamente com outros profissionais da
iamasil@gmail.com
– https://orcid.org/0000-0001-9049-
6051
. Universidad del País Vasco (UPV/EHU). Universidade do Porto.
icenciado em Comunicação Social e mestre em Ciências da Comunicação
Universidade do Minho, e doutorado em Informação e Comunicação em Plataformas
Digitais pela Universidade do Porto. Professor do Departamento de Ciências da
Comunicação e da Informação da Universidade do Porto.
fzamith@letras.up.pt
– https://orcid.org/0000-0002-9118-
2289
Gustavo Portella Machado
.
Mestre em Cultura e Territorialidades pelo Programa
Graduação em Cultura e Territorialidades
(PPCULT) da Universidade
Federal Fluminense (UFF). Bacharel em Produção Cultural também pela UFF. Tem
investigado as relações entre trabalho, economia e cultura, pensando temas como:
informalidade, precarização, microempreendedor individual e financiamento
cultura. No mestrado, foi bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES) e na iniciação científica pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e pelo Observatório de Economia
e Janeiro (OBEC
-
RJ). Também possui experiência em produção
executiva e em gestão cultural pública e privada.
Email: m.gustavoportella@gmail.com
– https://orcid.org/0000-0002-
6495
11
Mestre em Desenvolvimento Regional pela
FURB (2020). Integra o Grupo de Pesquisa
em Economia Solidária/FURB. Graduação em Pedagogia pela Universidade do Vale
UNIVALI (2002). Servidora pública do Governo do Estado de Santa
e de
Cultura/Diretoria de Arte e Cultura. Tem interesse nos temas: Economia Solidária,
7888
-3518
Processos artísticos,
, no Instituto de Artes da
Universidade Estadual de São Paulo Julio de Mesquita Filho (2017). Possui
s, Pintura, Gravura e Escultura, com ênfase em
Linguagem Performática, pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (2010).
Atua como educadora social desde 1999, possui ampla experiência na área de
e educação em exposições de
arte em diversos equipamentos culturais desde 2008, desenvolvendo ações e
atendimentos com diversos públicos, concebendo e planejando programas
educativos e cursos de formação de educadores, elaborando materiais educativos.
adora e integrante do coletivo mov.er (Movimento Educadores em Resistência)
que pesquisa e divulga reflexões sobre profissionalização, relações e condições de
trabalho de educadores em exposições coletivamente com outros profissionais da
6051
. Universidad del País Vasco (UPV/EHU). Universidade do Porto.
icenciado em Comunicação Social e mestre em Ciências da Comunicação
pela
Universidade do Minho, e doutorado em Informação e Comunicação em Plataformas
Digitais pela Universidade do Porto. Professor do Departamento de Ciências da
2289
Mestre em Cultura e Territorialidades pelo Programa
(PPCULT) da Universidade
Federal Fluminense (UFF). Bacharel em Produção Cultural também pela UFF. Tem
investigado as relações entre trabalho, economia e cultura, pensando temas como:
informalidade, precarização, microempreendedor individual e financiamento
à
cultura. No mestrado, foi bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES) e na iniciação científica pela Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e pelo Observatório de Economia
RJ). Também possui experiência em produção
6495
-4490
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
João Domingues
(João Luiz Pereira Domingues).
pela Universidade Federal Fluminense (2004), Mestre em Políticas Públicas e
Formação Humana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2008), Doutor
em Planejamento Urbano e Regional pela Un
(2013). Atualmente é Professor Adjunto IV do Instituto de Arte e Comunicação Social
(IACS) da Universidade Federal Fluminense, atuando no Curso de Graduação em
Produção Cultural. Coordenador do Curso de Pós
Territorialidades, da mesma universidade. Bolsista Extensão no País CNPQ (2014)
Bolsista FAPERJ Edital Jovem Cientista do Nosso Estado (JCNE) (2017
Membro da Rede Brasileira de Economia da Cultura. Membro de corpo editorial da
Revista PragMATIZES-
Revista Latino
Editora Letra Capital. Franklin Membership do London Journals Press (Membership
ID#QE91609). Membro da Red Latinoamericana de posgrados en
la cultura. Líder do grupo de pesquisa
do grupo de pesquisa “
Cultura, política, lógicas identitárias e produtivas
com o Professor Doutor Leandro de Paula, ambos cadastrados no Diretório de
Grupos de Pesquisa do CNPq.
Email: joaodomingues@id.uff.br
João Guerreiro
(João Luiz Guerreiro Mendes).
Baixada Cultural (ObaC). Doutor em Políticas Socioculturais
Ciências Econômicas pela Universidade Federal Fluminense (UFF
em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ –
1998), doutor em Serviço Social pela UFRJ (2013) e pós
Políticas Culturais pelo Programa Multidisciplinar de Pós
Sociedade da Universidade Federal da Bahia (UFBA
Instituto Federal do Rio de Janeiro
de graduação em Produção Cultural e no curso de Pós
Artísticas, Cultura e Educação (LACE). É líder do Grupo de Pesquisa OiCult
(Observatório Indisciplinar de Fazeres Culturais e Letram
de Pesquisa JICs (Juventudes, Infâncias e Cotidianos) ambos vinculado ao CNPq.
Coordena o Grupo de Trabalho
(Encontro de Estudos Multidiciplinares em Cultura). Também é Conselheiro Estadu
de Políticas Culturais do Rio de Janeiro (biênio 2021/2022) representando o IFRJ.
Desenvolve pesquisas sobre culturas, políticas culturais, periferias e juventudes.
E-mail:
joao.mendes@ifrj.edu.br
Koldobika Meso-Ayerdi
. Universidad del País Vasco (UPV/EHU). Doutor Professor
titular da Faculdade de Ciências Sociais e da Comunicação da Universidade do País
Basco, on
de leciona as disciplinas Escrita Ciberjornalística e Bases teóricas e
HTTPS12ional
de pesquisa em ciberjornalismo, no Mestrado em Pesquisa Social da
UPV.
E-mail:
koldo.meso@ehu.eus
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
(João Luiz Pereira Domingues).
Bacharel em Produção Cultural
pela Universidade Federal Fluminense (2004), Mestre em Políticas Públicas e
Formação Humana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2008), Doutor
em Planejamento Urbano e Regional pela Un
iversidade Federal do Rio de Janeiro
(2013). Atualmente é Professor Adjunto IV do Instituto de Arte e Comunicação Social
(IACS) da Universidade Federal Fluminense, atuando no Curso de Graduação em
Produção Cultural. Coordenador do Curso de Pós
-Graduação em
Cultura e
Territorialidades, da mesma universidade. Bolsista Extensão no País CNPQ (2014)
Bolsista FAPERJ Edital Jovem Cientista do Nosso Estado (JCNE) (2017
Membro da Rede Brasileira de Economia da Cultura. Membro de corpo editorial da
Revista Latino
-Americana de Estudos e
m Cultura e da
Editora Letra Capital. Franklin Membership do London Journals Press (Membership
ID#QE91609). Membro da Red Latinoamericana de posgrados en
HTTPS
la cultura. Líder do grupo de pesquisa
“Cultura, política e território”
, e coordenador
Cultura, política, lógicas identitárias e produtivas
com o Professor Doutor Leandro de Paula, ambos cadastrados no Diretório de
Grupos de Pesquisa do CNPq.
Email: joaodomingues@id.uff.br
– https://orcid.org/0000-0001-8971
-
(João Luiz Guerreiro Mendes).
Pesquisador do Observatório
Baixada Cultural (ObaC). Doutor em Políticas Socioculturais
(UFRJ).
Ciências Econômicas pela Universidade Federal Fluminense (UFF
em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
1998), doutor em Serviço Social pela UFRJ (2013) e pós
-
doutor em
Políticas Culturais pelo Programa Multidisciplinar de Pós
-
Graduação em Cultura e
Sociedade da Universidade Federal da Bahia (UFBA
2021). É professor do
Instituto Federal do Rio de Janeiro
(IFRJ), campus Nilópolis (RJ), atuando no curso
de graduação em Produção Cultural e no curso de Pós
-
Graduação em Linguagens
Artísticas, Cultura e Educação (LACE). É líder do Grupo de Pesquisa OiCult
(Observatório Indisciplinar de Fazeres Culturais e Letram
entos) e vice
de Pesquisa JICs (Juventudes, Infâncias e Cotidianos) ambos vinculado ao CNPq.
Coordena o Grupo de Trabalho
“Culturas e Juventudes”
no ENECULT/UFBA
(Encontro de Estudos Multidiciplinares em Cultura). Também é Conselheiro Estadu
de Políticas Culturais do Rio de Janeiro (biênio 2021/2022) representando o IFRJ.
Desenvolve pesquisas sobre culturas, políticas culturais, periferias e juventudes.
joao.mendes@ifrj.edu.br
.ORCID: https://orcid.org/0000-
0003
. Universidad del País Vasco (UPV/EHU). Doutor Professor
titular da Faculdade de Ciências Sociais e da Comunicação da Universidade do País
de leciona as disciplinas Escrita Ciberjornalística e Bases teóricas e
de pesquisa em ciberjornalismo, no Mestrado em Pesquisa Social da
koldo.meso@ehu.eus
– https://orcid.org/0000-0002-0400-
133X
12
Bacharel em Produção Cultural
pela Universidade Federal Fluminense (2004), Mestre em Políticas Públicas e
Formação Humana pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2008), Doutor
iversidade Federal do Rio de Janeiro
(2013). Atualmente é Professor Adjunto IV do Instituto de Arte e Comunicação Social
(IACS) da Universidade Federal Fluminense, atuando no Curso de Graduação em
Cultura e
Territorialidades, da mesma universidade. Bolsista Extensão no País CNPQ (2014)
.
Bolsista FAPERJ Edital Jovem Cientista do Nosso Estado (JCNE) (2017
-2019).
Membro da Rede Brasileira de Economia da Cultura. Membro de corpo editorial da
m Cultura e da
Editora Letra Capital. Franklin Membership do London Journals Press (Membership
HTTPS
12io sobre
, e coordenador
Cultura, política, lógicas identitárias e produtivas
” em parceria
com o Professor Doutor Leandro de Paula, ambos cadastrados no Diretório de
-
6213
Pesquisador do Observatório
(UFRJ).
Formado em
1992), mestre
em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
doutor em
Graduação em Cultura e
2021). É professor do
(IFRJ), campus Nilópolis (RJ), atuando no curso
Graduação em Linguagens
Artísticas, Cultura e Educação (LACE). É líder do Grupo de Pesquisa OiCult
entos) e vice
-líder do Grupo
de Pesquisa JICs (Juventudes, Infâncias e Cotidianos) ambos vinculado ao CNPq.
no ENECULT/UFBA
(Encontro de Estudos Multidiciplinares em Cultura). Também é Conselheiro Estadu
al
de Políticas Culturais do Rio de Janeiro (biênio 2021/2022) representando o IFRJ.
Desenvolve pesquisas sobre culturas, políticas culturais, periferias e juventudes.
0003
-1788-4132
. Universidad del País Vasco (UPV/EHU). Doutor Professor
titular da Faculdade de Ciências Sociais e da Comunicação da Universidade do País
de leciona as disciplinas Escrita Ciberjornalística e Bases teóricas e
de pesquisa em ciberjornalismo, no Mestrado em Pesquisa Social da
133X
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Kyoma Silva Oliveira.
Possui graduação em Produção Cultural pela Universidade
Federal Fluminense (2012) e mestrado em Cultura e Territorialidades pela mesma
Universida
de (2015). É doutor em Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ) e
é produtor cultural do Museu Nacional/UFRJ. É membro do Laboratório de
Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento (LACED) e do grupo de
pesquisa Cultura, Política e Território. Te
Culturais, da Sociologia da Cultura e da Teoria Urbana Crítica trabalhando
principalmente nos seguintes temas: música, produção cultural, espaço e direito à
cidade.
E-
mail: kyomaoliveira@gmail.com
Leonardo Augusto Bora.
Doutor em Teoria Literária pelo Programa de Pós
Graduação em Ciência da Literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(Bolsista CNPq), co
m período de mobilidade acadêmica (Doutorado Sanduíche) na
Université Nice Sophia Antipolis (Bolsista Erasmus +), em Nice, França. Defendeu,
em maio de 2018, a tese “
Brasil, Brasil, Breazail: utopias antropofágicas de Rosa
Magalhães”
. Atualmente, é pesquis
Estudos Culturais do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC) da
Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com projeto
intitulado “
Travessias e diásporas na poética contemporânea
Desenvolve pesquisas sobre narrativas de desfiles de escolas de samba (com
ênfase na obra de Rosa Magalhães); representações de indígenas nas
manifestações carnavalescas e nas literaturas brasileiras; e conceitos desdobráveis
de utopia
(eutopia, distopia, heterotopia), diáspora e antropofagia cultural. Mestre em
Teoria Literária (2014) pelo Programa de Pós
da UFRJ (Bolsista CNPq), tendo defendido, em fevereiro de 2014, a dissertação
Antropofagia de R
osa Magalhães
pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (com bolsa de estudos integral
concedida pela própria instituição) e Bacharel em Direito (2011) pela Universidade
Federal do Paraná, onde foi bol
e CNPq) na linha de pesquisa
defendeu monografia intitulada
Professor Substituto (2015
-
Federal Fluminense (UFF), ministrando aulas para o curso de Produção Cultural
(Procult –
IACS); e Professor Substituto (2019
Teatrais –
BAT da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(EBA-
UFRJ), ministrando aulas para o curso de Artes Cênicas (habilitações em
Cenografia e Indumentária). É membro da Society for Utopian Studies desde 2014.
Participa dos grupos de pes
Núcleo Interdisciplinar de Estudos Carnavalescos (NIEC
Carnaval (LABEDIS –
Museu Nacional/UFRJ). Desenhista e escritor, elabora
narrativas, ilustrações e projetos visuais para p
carnavalescas.
Email:
leonardobora@gmail.com
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Possui graduação em Produção Cultural pela Universidade
Federal Fluminense (2012) e mestrado em Cultura e Territorialidades pela mesma
de (2015). É doutor em Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ) e
é produtor cultural do Museu Nacional/UFRJ. É membro do Laboratório de
Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento (LACED) e do grupo de
pesquisa Cultura, Política e Território. Te
m experiência nas áreas dos Estudos
Culturais, da Sociologia da Cultura e da Teoria Urbana Crítica trabalhando
principalmente nos seguintes temas: música, produção cultural, espaço e direito à
mail: kyomaoliveira@gmail.com
– https://orcid.org/0000-0001-
6313
Doutor em Teoria Literária pelo Programa de Pós
Graduação em Ciência da Literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro
m período de mobilidade acadêmica (Doutorado Sanduíche) na
Université Nice Sophia Antipolis (Bolsista Erasmus +), em Nice, França. Defendeu,
Brasil, Brasil, Breazail: utopias antropofágicas de Rosa
. Atualmente, é pesquis
ador visitante do Programa de Pós
Estudos Culturais do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC) da
Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com projeto
Travessias e diásporas na poética contemporânea
de Rosa Magalhães
Desenvolve pesquisas sobre narrativas de desfiles de escolas de samba (com
ênfase na obra de Rosa Magalhães); representações de indígenas nas
manifestações carnavalescas e nas literaturas brasileiras; e conceitos desdobráveis
(eutopia, distopia, heterotopia), diáspora e antropofagia cultural. Mestre em
Teoria Literária (2014) pelo Programa de Pós
-
Graduação em Ciência da Literatura
da UFRJ (Bolsista CNPq), tendo defendido, em fevereiro de 2014, a dissertação
osa Magalhães
. Licenciado em Letras Português
pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (com bolsa de estudos integral
concedida pela própria instituição) e Bacharel em Direito (2011) pela Universidade
Federal do Paraná, onde foi bol
sista de Iniciação Científica (bolsas Tesouro Nacional
e CNPq) na linha de pesquisa
Direito e Literatura: narrativas emancipatórias
defendeu monografia intitulada
O Direito Pego Pelo Rabo: Aliceando Themis
-
2016) do Departamento de Arte
GAT da Universidade
Federal Fluminense (UFF), ministrando aulas para o curso de Produção Cultural
IACS); e Professor Substituto (2019
-
2021) do Departamento de Artes
BAT da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRJ), ministrando aulas para o curso de Artes Cênicas (habilitações em
Cenografia e Indumentária). É membro da Society for Utopian Studies desde 2014.
Participa dos grupos de pes
quisa Laboratório da Arte Carnavalesca (LAC
Núcleo Interdisciplinar de Estudos Carnavalescos (NIEC
UFRJ) e Observatório de
Museu Nacional/UFRJ). Desenhista e escritor, elabora
narrativas, ilustrações e projetos visuais para p
ublicações variadas e agremiações
leonardobora@gmail.com
– https://orcid.org/0000-0002-
9397
13
Possui graduação em Produção Cultural pela Universidade
Federal Fluminense (2012) e mestrado em Cultura e Territorialidades pela mesma
de (2015). É doutor em Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ) e
é produtor cultural do Museu Nacional/UFRJ. É membro do Laboratório de
Pesquisas em Etnicidade, Cultura e Desenvolvimento (LACED) e do grupo de
m experiência nas áreas dos Estudos
Culturais, da Sociologia da Cultura e da Teoria Urbana Crítica trabalhando
principalmente nos seguintes temas: música, produção cultural, espaço e direito à
6313
-2260
Doutor em Teoria Literária pelo Programa de Pós
-
Graduação em Ciência da Literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro
m período de mobilidade acadêmica (Doutorado Sanduíche) na
Université Nice Sophia Antipolis (Bolsista Erasmus +), em Nice, França. Defendeu,
Brasil, Brasil, Breazail: utopias antropofágicas de Rosa
ador visitante do Programa de Pós
-Doutorado em
Estudos Culturais do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC) da
Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com projeto
de Rosa Magalhães
”.
Desenvolve pesquisas sobre narrativas de desfiles de escolas de samba (com
ênfase na obra de Rosa Magalhães); representações de indígenas nas
manifestações carnavalescas e nas literaturas brasileiras; e conceitos desdobráveis
(eutopia, distopia, heterotopia), diáspora e antropofagia cultural. Mestre em
Graduação em Ciência da Literatura
da UFRJ (Bolsista CNPq), tendo defendido, em fevereiro de 2014, a dissertação
“A
. Licenciado em Letras Português
– Inglês (2009)
pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (com bolsa de estudos integral
concedida pela própria instituição) e Bacharel em Direito (2011) pela Universidade
sista de Iniciação Científica (bolsas Tesouro Nacional
Direito e Literatura: narrativas emancipatórias
” e
O Direito Pego Pelo Rabo: Aliceando Themis
”. Foi
GAT da Universidade
Federal Fluminense (UFF), ministrando aulas para o curso de Produção Cultural
2021) do Departamento de Artes
BAT da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRJ), ministrando aulas para o curso de Artes Cênicas (habilitações em
Cenografia e Indumentária). É membro da Society for Utopian Studies desde 2014.
quisa Laboratório da Arte Carnavalesca (LAC
– UERJ),
UFRJ) e Observatório de
Museu Nacional/UFRJ). Desenhista e escritor, elabora
ublicações variadas e agremiações
9397
-1417
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
Lívia de Tommasi
(Maria Lívia de Tommasi).
graduação em Políticas Públicas da Universidade Federa
Pós Graduação em C
ncias Humanas e Sociais da mesma Universidade. Possui
graduação em Pedagogia
Sociétés Latinoamericaines
Sociologia
Université de Paris I (1997). Atua na área de sociologia, com ênfase em
sociologia urbana e sociologia da juventude. Realiza pesquisas sobre os seguintes
temas: periferias, juventudes, culturas
governo, empreendedorismo e trabalho
E-mail: HTTPS
.detommasi@gmail.com
Luise Gonçalves Villares
.
Pesquisadora do Observatório Baixada Cultural
Cultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2019).
Licenciada em História pela Universidade Federal Rural do R
Bacharela em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(2016). Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Católica de Brasília.
Integra o Observatório Baixada Cultural (ObaC), o Laboratório de Estudos Ma
(LEMA) e o Coletivo Marxistas da Rural (MAR). Atualmente é coordenadora da
Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED) no Distrito Federal.
E-mail:
villares.luise@gmail.com
Michele Pucarelli
. Doutorado em Artes Visuais
Artes Visuais da Universidade Federal do Rio de Janeiro PPGAV
em Comunicação e Cultura
Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Departamento de Comunicação, Instituto de Arte e Comunicação Social da
Universidade Federal Fluminense
Programa de Pós-
Graduação em Mídia e Cotidiano PPGMC/UFF. Coordenador do
Projeto de Ex
tensão Universitário LIEX
fotografia, artes, redes e tecnologia (linktr.ee/liex.uff). Participa do Grupo de
Pesquisa Tempos: Temporalidade dos Meios Comunicacionais, Linguagem e
Cotidiano, do PPGMC-
UFF. Organizador do I
Fotografia do Rio de Janeiro, 2020, GCO/UFF
HTTPS
://linktr.ee/simposiolatinodefotografia. Áreas de interesse
contemporânea,
linguagens e temporalidades das imagens na construção de
identidade e memó
ria social no discurso midiático
das mídias, da fotografia e fotojornalismo em diálogos com as artes, comunicação,
literatura, sociologia e antropologia urbana
visual fotográfica brasileir
a e latino
Arte –
questão da técnica e da tecnologia na produção de sentidos das imagens nas
redes digitais.
Trabalhou como coordenador acadêmico do Curso de Especialização
em Fotografia e Imagem da Pós
Candido Mendes (2014 a 2019) e professor substituto na área de Linguagens em
Fotografia e Cinema, na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) (2014, 2007
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
(Maria Lívia de Tommasi).
Professora associada do curso de
graduação em Políticas Públicas da Universidade Federa
l do ABC, e do Programa de
ncias Humanas e Sociais da mesma Universidade. Possui
Universidi Roma (1987), mestrado em
” –
Universide Paris III (1988) e doutorado em
Université de Paris I (1997). Atua na área de sociologia, com ênfase em
sociologia urbana e sociologia da juventude. Realiza pesquisas sobre os seguintes
temas: periferias, juventudes, culturas
urbanas,ão coletiva, práticas poticas e de
governo, empreendedorismo e trabalho
HTTPS14io.
.detommasi@gmail.com
HTTPS://orcid.org/0000-
0003
.
Professora do Governo do Distrito Federal.
Pesquisadora do Observatório Baixada Cultural
(ObaC).
Mestra em Patrimônio,
Cultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2019).
Licenciada em História pela Universidade Federal Rural do R
io de Janeiro (2018).
Bacharela em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(2016). Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Católica de Brasília.
Integra o Observatório Baixada Cultural (ObaC), o Laboratório de Estudos Ma
(LEMA) e o Coletivo Marxistas da Rural (MAR). Atualmente é coordenadora da
Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED) no Distrito Federal.
villares.luise@gmail.com
HTTPS://orcid.org/0000-0002-
8130
. Doutorado em Artes Visuais
Programa de Pós
Artes Visuais da Universidade Federal do Rio de Janeiro PPGAV
-
UFRJ; Mestrado
em Comunicação e Cultura
– Programa de Pós-
Graduação em Comunicação e
Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro
– PPGCOM-
UFRJ. Professor
Departamento de Comunicação, Instituto de Arte e Comunicação Social da
Universidade Federal Fluminense
– GCO-IACS-UFF.
Professor Colaborador do
Graduação em Mídia e Cotidiano PPGMC/UFF. Coordenador do
tensão Universitário LIEX
Laboratório de Imagens Expandidas:
fotografia, artes, redes e tecnologia (linktr.ee/liex.uff). Participa do Grupo de
Pesquisa Tempos: Temporalidade dos Meios Comunicacionais, Linguagem e
UFF. Organizador do I
Simpósio Latino-
Americano de
Fotografia do Rio de Janeiro, 2020, GCO/UFF
-IART/UERJ.
://linktr.ee/simposiolatinodefotografia. Áreas de interesse
:
Cultura visual
linguagens e temporalidades das imagens na construção de
ria social no discurso midiático
-
visual contemporâneo
das mídias, da fotografia e fotojornalismo em diálogos com as artes, comunicação,
literatura, sociologia e antropologia urbana
;
Práticas e processos da comunicação
a e latino
-americana contemporânea;
História e Filosofia da
questão da técnica e da tecnologia na produção de sentidos das imagens nas
Trabalhou como coordenador acadêmico do Curso de Especialização
em Fotografia e Imagem da Pós
-Grad
uação Lato Sensu IUPERJ, Universidade
Candido Mendes (2014 a 2019) e professor substituto na área de Linguagens em
Fotografia e Cinema, na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) (2014, 2007
-2008). Trabalhou e colaborou como
repórter
14
Professora associada do curso de
l do ABC, e do Programa de
ncias Humanas e Sociais da mesma Universidade. Possui
Universidi Roma (1987), mestrado em
“Etude HTT
Universide Paris III (1988) e doutorado em
Université de Paris I (1997). Atua na área de sociologia, com ênfase em
sociologia urbana e sociologia da juventude. Realiza pesquisas sobre os seguintes
urbanas,ão coletiva, práticas poticas e de
0003
-1263-8354
Professora do Governo do Distrito Federal.
Mestra em Patrimônio,
Cultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (2019).
io de Janeiro (2018).
Bacharela em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(2016). Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Católica de Brasília.
Integra o Observatório Baixada Cultural (ObaC), o Laboratório de Estudos Ma
rxistas
(LEMA) e o Coletivo Marxistas da Rural (MAR). Atualmente é coordenadora da
Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED) no Distrito Federal.
8130
-5134
Programa de Pós
-Graduação em
UFRJ; Mestrado
Graduação em Comunicação e
UFRJ. Professor
Departamento de Comunicação, Instituto de Arte e Comunicação Social da
Professor Colaborador do
Graduação em Mídia e Cotidiano PPGMC/UFF. Coordenador do
Laboratório de Imagens Expandidas:
fotografia, artes, redes e tecnologia (linktr.ee/liex.uff). Participa do Grupo de
Pesquisa Tempos: Temporalidade dos Meios Comunicacionais, Linguagem e
Americano de
Cultura visual
linguagens e temporalidades das imagens na construção de
visual contemporâneo
; História
das mídias, da fotografia e fotojornalismo em diálogos com as artes, comunicação,
Práticas e processos da comunicação
História e Filosofia da
questão da técnica e da tecnologia na produção de sentidos das imagens nas
Trabalhou como coordenador acadêmico do Curso de Especialização
uação Lato Sensu IUPERJ, Universidade
Candido Mendes (2014 a 2019) e professor substituto na área de Linguagens em
Fotografia e Cinema, na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de
repórter
-fotográfico
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
para os veículos de comunicação: O Globo, O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde
e Vejinha-Rio.
E-mail:
michelepucarelli@id.uff.br
Renan do Nascimento Santos
Pós-
Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, PUC-Rio.
Mestre em Cultura e Territorialidades pela Un
Fluminense (PPCULT/UFF) com a pesquisa
no Rio de Janeiro: a cidade, o trabalho e a independência a partir dos músicos de
rua e transporte”
. Graduação em Produção Cultural pela mesma instituição,
concluída em 2016. Foi tutor no Programa de Tutoria da Universidade Federal
Fluminense em 2018 ministrando as oficinas: Leitura e Escrita Acadêmicas,
Preenchimento do Currículo Lattes, Normas da ABNT
Bibliográficas e Rodas de Conversa sobre Formação e Profissão, todas oferecidas
para alunos da graduação em Produção Cultural. Estagiário Docente na graduação
em Produção Cultural, ministrando a disciplina Economia da Cultura, sob a
sup
ervisão da Professora Doutora Marina Bay Frydberg. Foi bolsista de pesquisa do
Observatório de Economia Criativa do Rio de Janeiro (OBEC
Foi pesquisador HTTPS15
Brasil) entre 2016 e 2
017. Tem experiência na área de Estudos Culturais, com
estudos em torno da música independente, produção cultural, ocupação do espaço
público, direito à cidade, economia da cultura e economia criativa.
E-
mail: rnazzos@gmail.com
Roberta Filgueiras Mathias
Graduação em Cinema e Audiovisual
Fluminense –
UFF e Doutoranda em Ciências Sociais pelo PPCIS
Graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
Cientista Social graduada pela PUC
PUC-
Rio e Mestre em Filosofia pela PUC
Cinema. Desde 2014, é pesquisadora na área de Antropologia Urbana estudando
periferias latino-
americanas. Iniciou o Doutorado em Antropologia Social pela
Universidad Nacional d
e San Martín (Buenos Aires) e continua os estudos no
Departamento de Ciências Sociais da UERJ(PPCIS) onde faz parte do grupo de
pesquisa Cidades-
. Núcleo de Pesquisa Urbana
Especialização em Fotografia e Imagem
Universidade Cândido Mendes RJ de 2016 a 2019. Associada ABA e SOCINE.
Áreas de interesse: Pesquisa, Antropologia Urbana, Cinema, Antropologia da
Imagem, Análise Fílmica.
E
mail: robertamathias@id.uff.br
Simón Peña-Fernández
. Universidad del País Vasco (UPV/EHU).
/ EHU since 1999, he has taught mainly subjects related to journalistic writing and
design. He developed his
HTTPS
Berria. Since 2004 he has published fifty articles in academic journals, and has
presented seventy papers and communications in national and international
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
para os veículos de comunicação: O Globo, O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde
michelepucarelli@id.uff.br
– https://orcid.org/0000-0001-
9345
Renan do Nascimento Santos
.
Doutorando em Ciências Sociais no Programa de
Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Mestre em Cultura e Territorialidades pela Un
iversidade Federal
Fluminense (PPCULT/UFF) com a pesquisa
Ocupação musical do espaço público
no Rio de Janeiro: a cidade, o trabalho e a independência a partir dos músicos de
. Graduação em Produção Cultural pela mesma instituição,
concluída em 2016. Foi tutor no Programa de Tutoria da Universidade Federal
Fluminense em 2018 ministrando as oficinas: Leitura e Escrita Acadêmicas,
Preenchimento do Currículo Lattes, Normas da ABNT
, Pesquisa em Bases
Bibliográficas e Rodas de Conversa sobre Formação e Profissão, todas oferecidas
para alunos da graduação em Produção Cultural. Estagiário Docente na graduação
em Produção Cultural, ministrando a disciplina Economia da Cultura, sob a
ervisão da Professora Doutora Marina Bay Frydberg. Foi bolsista de pesquisa do
Observatório de Economia Criativa do Rio de Janeiro (OBEC
-
RJ) entre 2015 e 2016.
no Mercado Rio Criativo (SEBRAE/Instituto Alvorada
017. Tem experiência na área de Estudos Culturais, com
estudos em torno da música independente, produção cultural, ocupação do espaço
público, direito à cidade, economia da cultura e economia criativa.
mail: rnazzos@gmail.com
HTTPS://orcid.org/0000-0001-8949-
9917
Roberta Filgueiras Mathias
. Doutoranda de Cinema –
Programa de Pós
Graduação em Cinema e Audiovisual
– PPGCine da
Universidade Federal
UFF e Doutoranda em Ciências Sociais pelo PPCIS
-
Programa de Pós
Graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
Cientista Social graduada pela PUC
-Rio,
Especializada em Arte e Filosofia pe
Rio e Mestre em Filosofia pela PUC
-SP na área de Estética –
Cinema. Desde 2014, é pesquisadora na área de Antropologia Urbana estudando
americanas. Iniciou o Doutorado em Antropologia Social pela
e San Martín (Buenos Aires) e continua os estudos no
Departamento de Ciências Sociais da UERJ(PPCIS) onde faz parte do grupo de
. Núcleo de Pesquisa Urbana
.
Professora convidada no Curso de
Especialização em Fotografia e Imagem
– Pós-gradu
ação do IUPERJ
Universidade Cândido Mendes RJ de 2016 a 2019. Associada ABA e SOCINE.
Áreas de interesse: Pesquisa, Antropologia Urbana, Cinema, Antropologia da
mail: robertamathias@id.uff.br
– https://orcid.org/0000-0002-8715
-
. Universidad del País Vasco (UPV/EHU).
Professor at UPV
/ EHU since 1999, he has taught mainly subjects related to journalistic writing and
HTTPS
15ional
activity in Euskaldunon Egunkaria and
Berria. Since 2004 he has published fifty articles in academic journals, and has
presented seventy papers and communications in national and international
15
para os veículos de comunicação: O Globo, O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde
9345
-4463
Doutorando em Ciências Sociais no Programa de
Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de
iversidade Federal
Ocupação musical do espaço público
no Rio de Janeiro: a cidade, o trabalho e a independência a partir dos músicos de
. Graduação em Produção Cultural pela mesma instituição,
concluída em 2016. Foi tutor no Programa de Tutoria da Universidade Federal
Fluminense em 2018 ministrando as oficinas: Leitura e Escrita Acadêmicas,
, Pesquisa em Bases
Bibliográficas e Rodas de Conversa sobre Formação e Profissão, todas oferecidas
para alunos da graduação em Produção Cultural. Estagiário Docente na graduação
em Produção Cultural, ministrando a disciplina Economia da Cultura, sob a
ervisão da Professora Doutora Marina Bay Frydberg. Foi bolsista de pesquisa do
RJ) entre 2015 e 2016.
no Mercado Rio Criativo (SEBRAE/Instituto Alvorada
017. Tem experiência na área de Estudos Culturais, com
estudos em torno da música independente, produção cultural, ocupação do espaço
9917
Programa de Pós
-
Universidade Federal
Programa de Pós
Graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
- UERJ.
Especializada em Arte e Filosofia pe
la
Filosofia do
Cinema. Desde 2014, é pesquisadora na área de Antropologia Urbana estudando
americanas. Iniciou o Doutorado em Antropologia Social pela
e San Martín (Buenos Aires) e continua os estudos no
Departamento de Ciências Sociais da UERJ(PPCIS) onde faz parte do grupo de
Professora convidada no Curso de
ação do IUPERJ
Universidade Cândido Mendes RJ de 2016 a 2019. Associada ABA e SOCINE.
Áreas de interesse: Pesquisa, Antropologia Urbana, Cinema, Antropologia da
-
4998
Professor at UPV
/ EHU since 1999, he has taught mainly subjects related to journalistic writing and
activity in Euskaldunon Egunkaria and
Berria. Since 2004 he has published fifty articles in academic journals, and has
presented seventy papers and communications in national and international
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
conferences. All these publicati
participation in a score of research projects funded in competitive public calls,
including seven European projects (Horizon 2020 and Erasmus +), three projects of
the National Plan, in addition to those made
Basque Studies
Eusko Ikaskuntza, among others. He has also led six relevant
research contracts with public entities (Basque Parliament and Basque Women
Institute –
Emakunde) and has participated in four educational innovation projects.
He is currently the Main Researcher, together with Dr. Ainara Larrondo, of the
research group of the Basque university system Gureiker (www.gureiker.info) and
belongs to the education
al innovation group Kzberri. In the field of university
management, since 2013 he is the dean of the Faculty of Social and Communication
Sciences of the UPV / EHU.
E-mail:
simon.pena@ehu.eus
Utanaan Reis Barbosa Filho
Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Pesquisador do Observatório Baixada Cultural
(ObaC).
Mestrando em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto de Pesquisa
e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(IPPUR/UFRJ). Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro (UFRRJ); pesqu
UFRRJ); e do Observatório Baixada Cultural (ObaC). Tem interesse em Economia
Política, Economia Política da Cultura, Crise Estrutural do Capital e Violência Urbana
e Milícias.
E-mail:
utanaan.reis@gmail.com
Valmor Schiochet.
Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília (1998).
Possui graduação em Estudos Sociais pela Fundação
(1984), mestrado em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa
Catarina (1988).
Professor da Fundação Universidade Regional de Blumenau desde
1987 no Departamento de Ciências Sociais e Filosofia e no Programa de Pós
Grad
uação em Desenvolvimento Regional. Foi Secretário Municipal (Blumenau/SC)
de Trabalho, Renda e Desenvolvimento Econômico (1997
Divulgação da Secretaria Nacional de Economia Solidária, Ministério do Trabalho e
Emprego (2003-2007 e
2011
Economia Solidária, Trabalho e Desenvolvimento Regional. Tem experiência na área
de Sociologia, com ênfase em Sociologia Política, atuando principalmente nos
seguintes temas: políticas públicas, economia s
democracia e crise capitalista.
E-mail: valmor@furb.br,
HTTPS://orcid.org/0000
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
conferences. All these publicati
ons have always been associated with continued
participation in a score of research projects funded in competitive public calls,
including seven European projects (Horizon 2020 and Erasmus +), three projects of
the National Plan, in addition to those made
for the UPV / EHU and the Society of
Eusko Ikaskuntza, among others. He has also led six relevant
research contracts with public entities (Basque Parliament and Basque Women
Emakunde) and has participated in four educational innovation projects.
He is currently the Main Researcher, together with Dr. Ainara Larrondo, of the
research group of the Basque university system Gureiker (www.gureiker.info) and
al innovation group Kzberri. In the field of university
management, since 2013 he is the dean of the Faculty of Social and Communication
Sciences of the UPV / EHU.
simon.pena@ehu.eus
https://orcid.org/0000-0003-2080-
3241
Utanaan Reis Barbosa Filho
.
Mestrando em Geografia pela Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Pesquisador do Observatório Baixada Cultural
Mestrando em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto de Pesquisa
e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(IPPUR/UFRJ). Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro (UFRRJ); pesqu
isador do Coletivo Marxista da Rural (MAR
UFRRJ); e do Observatório Baixada Cultural (ObaC). Tem interesse em Economia
Política, Economia Política da Cultura, Crise Estrutural do Capital e Violência Urbana
utanaan.reis@gmail.com
– https://orcid.org/0000-0002-
9690
Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília (1998).
Possui graduação em Estudos Sociais pela Fundação
Educacional de Brusque
(1984), mestrado em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa
Professor da Fundação Universidade Regional de Blumenau desde
1987 no Departamento de Ciências Sociais e Filosofia e no Programa de Pós
uação em Desenvolvimento Regional. Foi Secretário Municipal (Blumenau/SC)
de Trabalho, Renda e Desenvolvimento Econômico (1997
-
98) e Diretor de Estudos e
Divulgação da Secretaria Nacional de Economia Solidária, Ministério do Trabalho e
2011
2015). Coordenador do Grupo de Pesquisa em
Economia Solidária, Trabalho e Desenvolvimento Regional. Tem experiência na área
de Sociologia, com ênfase em Sociologia Política, atuando principalmente nos
seguintes temas: políticas públicas, economia s
olidaria, movimentos sociais,
democracia e crise capitalista.
HTTPS://orcid.org/0000
-0002-1749-2617
16
ons have always been associated with continued
participation in a score of research projects funded in competitive public calls,
including seven European projects (Horizon 2020 and Erasmus +), three projects of
for the UPV / EHU and the Society of
Eusko Ikaskuntza, among others. He has also led six relevant
research contracts with public entities (Basque Parliament and Basque Women
’s
Emakunde) and has participated in four educational innovation projects.
He is currently the Main Researcher, together with Dr. Ainara Larrondo, of the
research group of the Basque university system Gureiker (www.gureiker.info) and
al innovation group Kzberri. In the field of university
management, since 2013 he is the dean of the Faculty of Social and Communication
3241
Mestrando em Geografia pela Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Pesquisador do Observatório Baixada Cultural
Mestrando em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto de Pesquisa
e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(IPPUR/UFRJ). Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Rural
isador do Coletivo Marxista da Rural (MAR
-
UFRRJ); e do Observatório Baixada Cultural (ObaC). Tem interesse em Economia
Política, Economia Política da Cultura, Crise Estrutural do Capital e Violência Urbana
9690
-8296
Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília (1998).
Educacional de Brusque
(1984), mestrado em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa
Professor da Fundação Universidade Regional de Blumenau desde
1987 no Departamento de Ciências Sociais e Filosofia e no Programa de Pós
-
uação em Desenvolvimento Regional. Foi Secretário Municipal (Blumenau/SC)
98) e Diretor de Estudos e
Divulgação da Secretaria Nacional de Economia Solidária, Ministério do Trabalho e
2015). Coordenador do Grupo de Pesquisa em
Economia Solidária, Trabalho e Desenvolvimento Regional. Tem experiência na área
de Sociologia, com ênfase em Sociologia Política, atuando principalmente nos
olidaria, movimentos sociais,
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
A presente edição
é composta por cinco artigos e uma resenha que compõem
o dossiê
Trabalho cultural e precarização
Editorial).
Na seção de artigos em Fluxo contínuo
trabalhos. São eles:
.
Cooperação virtual e OD
ferramentas de inovação no ensino do ciberjornalismo
espanhóis ligados à
Universidad
Zamith, Koldobika Meso-
Ayerdi,
objetivo descrever três projetos de inovação educativa no campo do ciberjornalismo,
úteis para avaliar o valor da inovação pedagógica para além da introduç
exploração didática das tecnologias de informação e
.
Identidad Marron e o mito do labirinto.
povos originários de Buenos Aires
Pucarelli apresentam
um estudo de caso e uma reflexão sobre a atuação do
Colect
ivo Identidad Marron
Formado em 2018 na cidade de Buenos Aires, o
principalmente por indígenas, periféricxs, mulheres e gays em luta por uma inserção
dos povos originários em melhores postos de trabalhos e espaços de destaque
artístico, e
m um momento no qual tanto a pauta identitária quanto a
intersseccionali
dade são debatidos por vários espaços
.
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de
Janeiro, artigo no qual
Ana Lúcia Pardo
trabalhadoras e os trabalhadores da Cultura
entrevistas em profundidade
culturais na cidade do Rio de Janeiro.
.
A dimensão econômica na política nacional de cultura: uma aproximação
com a economia solidária
Schiochet apresentam
uma análise da política nacional de cultura, com ênfase na
articulação com a temática da Economia da Cultura e do desenvolvimento.
procura demonstrar que a agenda da cultura nas políticas governamentais obteve
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
EDITORIAL
é composta por cinco artigos e uma resenha que compõem
Trabalho cultural e precarização
(como será detalhado ao final deste
Na seção de artigos em Fluxo contínuo
apresentamos
Cooperação virtual e OD
S nas universidades do espaço ibero
ferramentas de inovação no ensino do ciberjornalismo
, de autoria dos
Universidad
del País Vasco
Ainara Larrondo
Ayerdi,
e Simón Peña-Fernández.
Este artigo tem como
objetivo descrever três projetos de inovação educativa no campo do ciberjornalismo,
úteis para avaliar o valor da inovação pedagógica para além da introduç
exploração didática das tecnologias de informação e
comunicação (TICs).
Identidad Marron e o mito do labirinto.
Luta e resistência do coletivo dos
povos originários de Buenos Aires
, no qual
Roberta Filgueiras Mathias
um estudo de caso e uma reflexão sobre a atuação do
ivo Identidad Marron
em meio ao contexto da precarização na Argentina.
Formado em 2018 na cidade de Buenos Aires, o
Colectivo
principalmente por indígenas, periféricxs, mulheres e gays em luta por uma inserção
dos povos originários em melhores postos de trabalhos e espaços de destaque
m um momento no qual tanto a pauta identitária quanto a
dade são debatidos por vários espaços
.
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de
Ana Lúcia Pardo
discute e
m que condições sobrevivem as
trabalhadoras e os trabalhadores da Cultura
. A autora realiz
ou
entrevistas em profundidade
com representantes de
diversos segmentos artístico
culturais na cidade do Rio de Janeiro.
A dimensão econômica na política nacional de cultura: uma aproximação
com a economia solidária
, no qual
Carolina Gonçalves de F
uma análise da política nacional de cultura, com ênfase na
articulação com a temática da Economia da Cultura e do desenvolvimento.
procura demonstrar que a agenda da cultura nas políticas governamentais obteve
17
é composta por cinco artigos e uma resenha que compõem
(como será detalhado ao final deste
apresentamos
outros quatro
S nas universidades do espaço ibero
-americano -
, de autoria dos
pesquisadores
Ainara Larrondo
-Ureta, Fernando
Este artigo tem como
objetivo descrever três projetos de inovação educativa no campo do ciberjornalismo,
úteis para avaliar o valor da inovação pedagógica para além da introduç
ão e
comunicação (TICs).
Luta e resistência do coletivo dos
Roberta Filgueiras Mathias
e Michele
um estudo de caso e uma reflexão sobre a atuação do
em meio ao contexto da precarização na Argentina.
Colectivo
é composto
principalmente por indígenas, periféricxs, mulheres e gays em luta por uma inserção
dos povos originários em melhores postos de trabalhos e espaços de destaque
m um momento no qual tanto a pauta identitária quanto a
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de
m que condições sobrevivem as
ou
uma série de
diversos segmentos artístico
-
A dimensão econômica na política nacional de cultura: uma aproximação
Carolina Gonçalves de F
reitas e Valmor
uma análise da política nacional de cultura, com ênfase na
articulação com a temática da Economia da Cultura e do desenvolvimento.
O texto
procura demonstrar que a agenda da cultura nas políticas governamentais obteve
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
centralidade quando passou a ser reconhecida como
relação com o mercado, como um produto a ser comercializado. Nessa condição, a
política de cultura se legitima como um importante instrumento
industrial para o desenvol
vimento nacional.
Tivemos ao todo 21 autores publicando nesta edição da PragMATIZES,
sendo quatro oriundos da Espanha, 15 do Sudeste brasileiro e mais dois que são da
região Sul do país.
Em seguida, apresentamos o mapeamento dos autores que vêm,
desde 20
11, procurando e publicando junto à nossa revista, segundo suas inserções
internacionais e nacionais.
Ao todo já foram 219 artigos, que envolveram 359 autores, come podemos
observar na tabela a seguir:
Alguns percentuais em relação à origem dos autores
Internacionalização
América Latina
Europa
Demais
continentes
Regiões brasileiras
Norte
Nordeste
Centro
Sul
Sudeste
Total
geral
Considerando que 43 autores publicaram mais de uma vez junto à
PragMATIZES
, atingimos com a presente edição 316 diferentes autores,
entendemos que bem distribuídos nacional e regionalmente.
Em seguida aos mapeamentos, este Editorial
TRABALHO CULTURAL E PRECARIZAÇÃO, que teve editoria de Lívia de Tommasi,
da Universidade Federal do ABC, e de João Domingues, da UFF, a quem muito
agradecemos.
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
centralidade quando passou a ser reconhecida como
commodity,
relação com o mercado, como um produto a ser comercializado. Nessa condição, a
política de cultura se legitima como um importante instrumento
vimento nacional.
Tivemos ao todo 21 autores publicando nesta edição da PragMATIZES,
sendo quatro oriundos da Espanha, 15 do Sudeste brasileiro e mais dois que são da
Em seguida, apresentamos o mapeamento dos autores que vêm,
11, procurando e publicando junto à nossa revista, segundo suas inserções
Ao todo já foram 219 artigos, que envolveram 359 autores, come podemos
observar na tabela a seguir:
Alguns percentuais em relação à origem dos autores
(até edição 2021/2)
Quantidad
e
Percentual
América Latina
18 51,5 %
Europa
13 37,0 %
Demais
continentes
4 11,5 %
7
33,7 %
Nordeste
55
Centro
-Oeste 12
35
Sudeste
215 66,3 %
Considerando que 43 autores publicaram mais de uma vez junto à
, atingimos com a presente edição 316 diferentes autores,
entendemos que bem distribuídos nacional e regionalmente.
Em seguida aos mapeamentos, este Editorial
nos apresenta o dossiê
TRABALHO CULTURAL E PRECARIZAÇÃO, que teve editoria de Lívia de Tommasi,
da Universidade Federal do ABC, e de João Domingues, da UFF, a quem muito
Primavera de 2021
18
commodity,
isto é, na sua
relação com o mercado, como um produto a ser comercializado. Nessa condição, a
política de cultura se legitima como um importante instrumento
econômico e
Tivemos ao todo 21 autores publicando nesta edição da PragMATIZES,
sendo quatro oriundos da Espanha, 15 do Sudeste brasileiro e mais dois que são da
Em seguida, apresentamos o mapeamento dos autores que vêm,
11, procurando e publicando junto à nossa revista, segundo suas inserções
Ao todo já foram 219 artigos, que envolveram 359 autores, come podemos
(até edição 2021/2)
:
Subtotais
35 = 100 %
323 = 100 %
359
Considerando que 43 autores publicaram mais de uma vez junto à
, atingimos com a presente edição 316 diferentes autores,
nos apresenta o dossiê
TRABALHO CULTURAL E PRECARIZAÇÃO, que teve editoria de Lívia de Tommasi,
da Universidade Federal do ABC, e de João Domingues, da UFF, a quem muito
Primavera de 2021
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
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Agradecemos aos autores que até 202
representantes dos seguintes países:
México: 6
EUA: 2
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Agradecemos aos autores que até 202
1
publicaram conosco,
representantes dos seguintes países:
Brasil:
324
Peru: 1
França: 2
Espanha: 6
Portugal: 4
Reino Unido: 1
Argentina: 7
Chile: 2
Colômbia: 2
Cabo Verde: 1
México: 6
EUA: 2
Canadá: 1
19
publicaram conosco,
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Agradecemos aos autores que até 202
representantes dos seguintes
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Agradecemos aos autores que até 202
1
publicaram conosco,
representantes dos seguintes
estados brasileiros
2
20
publicaram conosco,
estados brasileiros
:
3
5
48
8
148
1
1
9
3
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2
24
2
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28
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Apresentação do dossiê
Trabalho cultural e precarização
Na contemporaneidade, a produção cultural, as novas tecnologias, o trabalho
imaterial, os bens culturais se tornaram economicamente
Neste esteio o setor cultural assumiu papel ainda mais preponderante, sendo
considerado como um protagonista na propulsão do desenvolvimento econômico.
Esta nova conformação da economia dos bens simbólicos deve também ser
persp
ectivada em relação às alterações das relações entre capital e trabalho,
notadamente no contexto da “crise” do Estado de Bem
vista do trabalho, a crise estrutural deste ciclo do capital articulou dialeticamente
novas exigências e
profundas mudanças no cotidiano
trabalhadoras e trabalhadores.
O “novo espírito do capitalismo” requer um trabalhador que coloque em jogo
suas capacidades criativas, suas competências sempre renovadas e atualizadas,
que invista
permanentemente no crescimento de seu “capital humano”, no seu
“saber-
ser”, que seja autônomo e capaz de colher as oportunidades que o mercado
e sua “rede” de contatos lhe oferecem, que assuma os riscos de suas empreitadas
sem esperar que o Estado garanta
Entre o risco, a incerteza, a produção de si e o futuro desejoso, um número
cada vez maior de trabalhadoras e trabalhadores tem enfrentado
vez mais densa
relações laborais inseguras e desprovidas de garantias. Estas
situaç
ões limites no/do trabalho podem ser enxergadas das mais diversas maneiras:
seja na intermitência dos postos de trabalho, na insegurança da renda
desproteção em casos de risco à saúde, na diluição dos vínculos políticos das
classes profissionai
s e em muitas outras condições.
Por óbvio, o trabalho cultural não escaparia a estas condições. De fato, as
condições de trabalho no campo cultural, desde sempre “flexiveis”, intermitentes,
precárias, parecem ser paradigmáticas para compreender as caracter
contradições, impasses e desafios gerados pelas novas configurações do trabalho
no mundo contemporâneo.
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
Livia de Tommasi e João Domingues
Na contemporaneidade, a produção cultural, as novas tecnologias, o trabalho
imaterial, os bens culturais se tornaram economicamente
e politicamente relevantes.
Neste esteio o setor cultural assumiu papel ainda mais preponderante, sendo
considerado como um protagonista na propulsão do desenvolvimento econômico.
Esta nova conformação da economia dos bens simbólicos deve também ser
ectivada em relação às alterações das relações entre capital e trabalho,
notadamente no contexto da “crise” do Estado de Bem
-
Estar Social. Do ponto de
vista do trabalho, a crise estrutural deste ciclo do capital articulou dialeticamente
profundas mudanças no cotidiano
produtivo e subjetivo
trabalhadoras e trabalhadores.
O “novo espírito do capitalismo” requer um trabalhador que coloque em jogo
suas capacidades criativas, suas competências sempre renovadas e atualizadas,
permanentemente no crescimento de seu “capital humano”, no seu
ser”, que seja autônomo e capaz de colher as oportunidades que o mercado
e sua “rede” de contatos lhe oferecem, que assuma os riscos de suas empreitadas
sem esperar que o Estado garanta
seus direitos.
Entre o risco, a incerteza, a produção de si e o futuro desejoso, um número
cada vez maior de trabalhadoras e trabalhadores tem enfrentado
relações laborais inseguras e desprovidas de garantias. Estas
ões limites no/do trabalho podem ser enxergadas das mais diversas maneiras:
seja na intermitência dos postos de trabalho, na insegurança da renda
desproteção em casos de risco à saúde, na diluição dos vínculos políticos das
s e em muitas outras condições.
Por óbvio, o trabalho cultural não escaparia a estas condições. De fato, as
condições de trabalho no campo cultural, desde sempre “flexiveis”, intermitentes,
precárias, parecem ser paradigmáticas para compreender as caracter
contradições, impasses e desafios gerados pelas novas configurações do trabalho
no mundo contemporâneo.
21
Livia de Tommasi e João Domingues
Na contemporaneidade, a produção cultural, as novas tecnologias, o trabalho
e politicamente relevantes.
Neste esteio o setor cultural assumiu papel ainda mais preponderante, sendo
considerado como um protagonista na propulsão do desenvolvimento econômico.
Esta nova conformação da economia dos bens simbólicos deve também ser
ectivada em relação às alterações das relações entre capital e trabalho,
Estar Social. Do ponto de
vista do trabalho, a crise estrutural deste ciclo do capital articulou dialeticamente
produtivo e subjetivo
de
O “novo espírito do capitalismo” requer um trabalhador que coloque em jogo
suas capacidades criativas, suas competências sempre renovadas e atualizadas,
permanentemente no crescimento de seu “capital humano”, no seu
ser”, que seja autônomo e capaz de colher as oportunidades que o mercado
e sua “rede” de contatos lhe oferecem, que assuma os riscos de suas empreitadas
Entre o risco, a incerteza, a produção de si e o futuro desejoso, um número
cada vez maior de trabalhadoras e trabalhadores tem enfrentado
de forma cada
relações laborais inseguras e desprovidas de garantias. Estas
ões limites no/do trabalho podem ser enxergadas das mais diversas maneiras:
seja na intermitência dos postos de trabalho, na insegurança da renda
-salário, na
desproteção em casos de risco à saúde, na diluição dos vínculos políticos das
Por óbvio, o trabalho cultural não escaparia a estas condições. De fato, as
condições de trabalho no campo cultural, desde sempre “flexiveis”, intermitentes,
precárias, parecem ser paradigmáticas para compreender as caracter
ísticas,
contradições, impasses e desafios gerados pelas novas configurações do trabalho
PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em Cultura
Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, set. 2021.
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Este dossiê intenta contribuir para a ampliação do debate sobre o trabalho
cultural
curiosamente subsumido
artigos que se propõem refletir criticamente sobre a condição de trabalho no âmbito
da cultura, utilizando a chave interpretativa da precarização para revelar práticas e
táticas, interpretações e desejos, novas formas de militância e organização
outras políticas de subjetivação e alternativas de futuros.
Estas condições laborais precárias parecem ter se acentuado durante os anos
de 2020 e 2021. A pandemia da COVID
implicando no cancelamento ou s
ampliação brutal do desemprego no setor cultural, no impacto direto sobre as rendas
nominais e na pauperização dos trabalhadores e trabalhadoras.
Refletir sobre as relações entre o trabalho cultural e a precarização
neste momento parece-
nos ainda mais relevante. Cientes que os que labutam na
área já enfrentam uma crise aguda no setor, procuramos contribuir para que o
debate possa apresentar opções para a diminuição, e não ampliação, de condições
empregatícias
adversas. Assim, apresentamos aqui os cinco artigos que compõem o
dossiê.
No primeiro deles, “Glória a quem trabalha o ano inteiro?: notas sobre os
“barracões”do carnaval carioca”, Leonardo Bora descreve as condições de trabalho
dos fazedores do Carnaval,
precariedade, insalubridade, risco. As luzes e a aura deslumbrante dos desfiles,
emblema da “cidade maravilhosa”, contrastam com as circunstâncias sombrias das
atividades de produção de figurinos e cenografia
riscos de vida que implica trabalhar nesses contextos, os depoimentos recolhidos
pelo autor mostram que os trabalhadores do setor fazem de sua habilidade de
produção no improviso um motivo de orgulho, driblando inclusive
judiciárias, consequências de acidentes mortais. Mesmo com algumas tentativas de
reformas nos espaços, as condições de trabalho não mudam. Ao final, a cadeia
produtiva do “maior espetáculo do mundo” não pode parar.
O segundo artigo, “O transbo
atualização do trabalho cultural precário: uma análise sobre os instrumentistas
nômades cariocas”, de Kyoma Oliveira, procura consolidar uma perspectiva analítica
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
Este dossiê intenta contribuir para a ampliação do debate sobre o trabalho
curiosamente subsumido
na economia dos bens simbólicos
artigos que se propõem refletir criticamente sobre a condição de trabalho no âmbito
da cultura, utilizando a chave interpretativa da precarização para revelar práticas e
táticas, interpretações e desejos, novas formas de militância e organização
outras políticas de subjetivação e alternativas de futuros.
Estas condições laborais precárias parecem ter se acentuado durante os anos
de 2020 e 2021. A pandemia da COVID
-
19 afetou severamente o mundo da cultura,
implicando no cancelamento ou s
uspensão de apresentações e projetos, na
ampliação brutal do desemprego no setor cultural, no impacto direto sobre as rendas
nominais e na pauperização dos trabalhadores e trabalhadoras.
Refletir sobre as relações entre o trabalho cultural e a precarização
nos ainda mais relevante. Cientes que os que labutam na
área já enfrentam uma crise aguda no setor, procuramos contribuir para que o
debate possa apresentar opções para a diminuição, e não ampliação, de condições
adversas. Assim, apresentamos aqui os cinco artigos que compõem o
No primeiro deles, “Glória a quem trabalha o ano inteiro?: notas sobre os
“barracões”do carnaval carioca”, Leonardo Bora descreve as condições de trabalho
dos fazedores do Carnaval,
desde sempre submetidos a situações de extrema
precariedade, insalubridade, risco. As luzes e a aura deslumbrante dos desfiles,
emblema da “cidade maravilhosa”, contrastam com as circunstâncias sombrias das
atividades de produção de figurinos e cenografia
s. Apesar das incertezas e até dos
riscos de vida que implica trabalhar nesses contextos, os depoimentos recolhidos
pelo autor mostram que os trabalhadores do setor fazem de sua habilidade de
produção no improviso um motivo de orgulho, driblando inclusive
judiciárias, consequências de acidentes mortais. Mesmo com algumas tentativas de
reformas nos espaços, as condições de trabalho não mudam. Ao final, a cadeia
produtiva do “maior espetáculo do mundo” não pode parar.
O segundo artigo, “O transbo
rdamento da atividade musical para as ruas e
atualização do trabalho cultural precário: uma análise sobre os instrumentistas
nômades cariocas”, de Kyoma Oliveira, procura consolidar uma perspectiva analítica
22
Este dossiê intenta contribuir para a ampliação do debate sobre o trabalho
na economia dos bens simbólicos
, reunindo
artigos que se propõem refletir criticamente sobre a condição de trabalho no âmbito
da cultura, utilizando a chave interpretativa da precarização para revelar práticas e
táticas, interpretações e desejos, novas formas de militância e organização
coletiva,
Estas condições laborais precárias parecem ter se acentuado durante os anos
19 afetou severamente o mundo da cultura,
uspensão de apresentações e projetos, na
ampliação brutal do desemprego no setor cultural, no impacto direto sobre as rendas
Refletir sobre as relações entre o trabalho cultural e a precarização
laboral
nos ainda mais relevante. Cientes que os que labutam na
área já enfrentam uma crise aguda no setor, procuramos contribuir para que o
debate possa apresentar opções para a diminuição, e não ampliação, de condições
adversas. Assim, apresentamos aqui os cinco artigos que compõem o
No primeiro deles, “Glória a quem trabalha o ano inteiro?: notas sobre os
“barracões”do carnaval carioca”, Leonardo Bora descreve as condições de trabalho
desde sempre submetidos a situações de extrema
precariedade, insalubridade, risco. As luzes e a aura deslumbrante dos desfiles,
emblema da “cidade maravilhosa”, contrastam com as circunstâncias sombrias das
s. Apesar das incertezas e até dos
riscos de vida que implica trabalhar nesses contextos, os depoimentos recolhidos
pelo autor mostram que os trabalhadores do setor fazem de sua habilidade de
produção no improviso um motivo de orgulho, driblando inclusive
interdições
judiciárias, consequências de acidentes mortais. Mesmo com algumas tentativas de
reformas nos espaços, as condições de trabalho não mudam. Ao final, a cadeia
rdamento da atividade musical para as ruas e
atualização do trabalho cultural precário: uma análise sobre os instrumentistas
nômades cariocas”, de Kyoma Oliveira, procura consolidar uma perspectiva analítica
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construindo um diálogo entre a urbanização neoli
músicos de rua da cidade do Rio de Janeiro. A partir dos conceitos de trabalho,
espaço e valor, o artigo realça as condições instáveis de trabalho e vida e as
particularidades desta instabilidade inscritas na reprodução urba
O terceiro texto, “Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?”,
de Cíntia Maria da Silva e Adriana Santiago Rosa Dantas, aborda um tema pouco
explorado na literatura: as relações de trabalho dos educadores de exposição no
contexto das grande
s mostras de arte na cidade de São Paulo. As autoras reforçam
como a ausência de reconhecimento profissional e de legislações reguladoras
provocam a extrema
precarização das condições laborais nessa tipologia de
trabalho.
O quarto trabalho, “Cultura e Pan
Baixada Fluminense”, de João Guerreiro, Bruno Borja, Luise Villares, Utanaan Reis
Barbosa Filho e Bruno Duarte, busca analisar as consequências da pandemia da
COVID-
19 no mercado de trabalho cultural da Baixada F
Metropolitana do Rio de Janeiro. As informações trazidas
brutal da precarização laboral na vida dos trabalhadores da cultura da região.
O quinto artigo, de Gustavo Portella Machado e João Domingues, intitula
“A enu
nciação de um sujeito competitivo
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação Brasileira de
Ocupações”. Apontando a lente da análise sobre a Classificação Brasileira de
Ocupações (CBO), os aut
categorização de ocupações descreve a expectativa de competências para algumas
profissões ligadas ao circuito artístico e cultural. Sob esta dimensão normativa, os
autores percebem como está em voga, no própri
profissional, a naturalização de condições precárias de trabalho enquanto
qualidades idealizadas a
os trabalhadores.
Compõe ainda o dossiê a resenha do livro “Trabalhadores da Cultura”, de
Amanda Coutinho, produzida por Renan
Americana de Estudos em Cultura
- ISSN 2237-1508
construindo um diálogo entre a urbanização neoli
beral e o trabalho precário dos
músicos de rua da cidade do Rio de Janeiro. A partir dos conceitos de trabalho,
espaço e valor, o artigo realça as condições instáveis de trabalho e vida e as
particularidades desta instabilidade inscritas na reprodução urba
na.
O terceiro texto, “Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?”,
de Cíntia Maria da Silva e Adriana Santiago Rosa Dantas, aborda um tema pouco
explorado na literatura: as relações de trabalho dos educadores de exposição no
s mostras de arte na cidade de São Paulo. As autoras reforçam
como a ausência de reconhecimento profissional e de legislações reguladoras
precarização das condições laborais nessa tipologia de
O quarto trabalho, “Cultura e Pan
demia: precarização do trabalho cultural na
Baixada Fluminense”, de João Guerreiro, Bruno Borja, Luise Villares, Utanaan Reis
Barbosa Filho e Bruno Duarte, busca analisar as consequências da pandemia da
19 no mercado de trabalho cultural da Baixada F
luminense, Região
Metropolitana do Rio de Janeiro. As informações trazidas
mostram
brutal da precarização laboral na vida dos trabalhadores da cultura da região.
O quinto artigo, de Gustavo Portella Machado e João Domingues, intitula
nciação de um sujeito competitivo
-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação Brasileira de
Ocupações”. Apontando a lente da análise sobre a Classificação Brasileira de
Ocupações (CBO), os aut
ores procuram compreender como esse sistema de
categorização de ocupações descreve a expectativa de competências para algumas
profissões ligadas ao circuito artístico e cultural. Sob esta dimensão normativa, os
autores percebem como está em voga, no própri
o circuito de reconhecimento
profissional, a naturalização de condições precárias de trabalho enquanto
os trabalhadores.
Compõe ainda o dossiê a resenha do livro “Trabalhadores da Cultura”, de
Amanda Coutinho, produzida por Renan
dos Santos.
23
beral e o trabalho precário dos
músicos de rua da cidade do Rio de Janeiro. A partir dos conceitos de trabalho,
espaço e valor, o artigo realça as condições instáveis de trabalho e vida e as
na.
O terceiro texto, “Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?”,
de Cíntia Maria da Silva e Adriana Santiago Rosa Dantas, aborda um tema pouco
explorado na literatura: as relações de trabalho dos educadores de exposição no
s mostras de arte na cidade de São Paulo. As autoras reforçam
como a ausência de reconhecimento profissional e de legislações reguladoras
precarização das condições laborais nessa tipologia de
demia: precarização do trabalho cultural na
Baixada Fluminense”, de João Guerreiro, Bruno Borja, Luise Villares, Utanaan Reis
Barbosa Filho e Bruno Duarte, busca analisar as consequências da pandemia da
luminense, Região
mostram
a ampliação
brutal da precarização laboral na vida dos trabalhadores da cultura da região.
O quinto artigo, de Gustavo Portella Machado e João Domingues, intitula
-se
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação Brasileira de
Ocupações”. Apontando a lente da análise sobre a Classificação Brasileira de
ores procuram compreender como esse sistema de
categorização de ocupações descreve a expectativa de competências para algumas
profissões ligadas ao circuito artístico e cultural. Sob esta dimensão normativa, os
o circuito de reconhecimento
profissional, a naturalização de condições precárias de trabalho enquanto
Compõe ainda o dossiê a resenha do livro “Trabalhadores da Cultura”, de
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
“Glória a quem trabalha o ano inteiro?”: notas sobre os “barracões” do
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21.49499
Resumo:
Sem a pretensão de encerrar conclusões,
cadeia produtiva dos desfiles das escolas de samba da cidade do Rio de Janeiro, tomando a
precariedade como chave interpretativa, a fim de questionar os limites da ideia d
atrelada ao complexo fabril da Cidade do Samba (CdS), inaugurado em 2006. Pretende
modo geral, observar até que ponto o discurso da “romantização do precário” serve para validar uma
série de riscos e abusos atrelados às rel
Terra”. De início, em diálogo com os cadernos de campo do antropólogo Ricardo José Barbieri e de
outros autores que transitam pelo “mundo do samba”, são apresentadas reflexões sobre a categoria
“barracão”, desvelando-
se um histórico quadro de precarização espacial
que tem gerado sucessivas interdições) que costura diferentes espaços da geografia carioca e que
desnuda relações de poder ligadas a múltiplos atores sociais, d
Depois, são enfocadas as relações trabalhistas que se entrechocam no interior desses espaços, com
base em relatos de trabalhadores das “fábricas do samba” (Marina Vergara, escultora, e Rafael
Vieira, pintor de arte) cotejado
s com os estudos etnográficos de Maria Laura Cavalcanti, anteriores à
inauguração da CdS. Nesse ponto, são brevemente debatidos aspectos como a existência ou não de
contratos formais, a avalanche de dívidas trabalhistas,o machismo e a insalubridade reinant
fim, diante do contexto pandêmico de Covid
em quase 100 anos de evento festivo, o artigo observa ações idealizadas para dar assistência aos
trabalhadores da folia, milhares de profissionais que
Palavras-Chave:
escolas de samba; Cidade do Samba; barracão; precariedade; Rio de Janeiro.
"¿Gloria a los que trabajan todo el año?": apuntes sobre los “barracões” del carnaval carioca
Resumen: Sin
intención de conclusiones
cadena
productiva de los desfiles de las
la
precariedad como clave interpretativa, con
“profesionalización” vinculada al complejo industrial de la “Cidade do Samba” (CdS), inaugurado en
2006. Se pretende, en general, observar hasta qué
precario” sirve para validar una serie de rie
apuntalan la realización
del “mayor
cuadernos de campo del antropólogo Ricardo José Barbieri y otros autores que caminam por el
“mundo do samba
”, se presentan reflexiones sobre la
1
Leonardo Augusto Bora. Doutor em Ciência da Literatura
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
Culturais do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC)
UFRJ, Brasil. Email:
leonardobora@gmail.com
Recebido em 31/03/2021,
aceito para publicação em
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
“Glória a quem trabalha o ano inteiro?”: notas sobre os “barracões” do
carnaval carioca
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21.49499
Leonardo Augusto Bora
Sem a pretensão de encerrar conclusões,
o trabalho lança um olhar panorâmico para a
cadeia produtiva dos desfiles das escolas de samba da cidade do Rio de Janeiro, tomando a
precariedade como chave interpretativa, a fim de questionar os limites da ideia d
e “profissionalização”
atrelada ao complexo fabril da Cidade do Samba (CdS), inaugurado em 2006. Pretende
modo geral, observar até que ponto o discurso da “romantização do precário” serve para validar uma
série de riscos e abusos atrelados às rel
ações trabalhistas que alicerçam a feitura do “maior show da
Terra”. De início, em diálogo com os cadernos de campo do antropólogo Ricardo José Barbieri e de
outros autores que transitam pelo “mundo do samba”, são apresentadas reflexões sobre a categoria
se um histórico quadro de precarização espacial
(e de graves acidentes, o
que tem gerado sucessivas interdições) que costura diferentes espaços da geografia carioca e que
desnuda relações de poder ligadas a múltiplos atores sociais, d
o poder público à contravenção.
Depois, são enfocadas as relações trabalhistas que se entrechocam no interior desses espaços, com
base em relatos de trabalhadores das “fábricas do samba” (Marina Vergara, escultora, e Rafael
s com os estudos etnográficos de Maria Laura Cavalcanti, anteriores à
inauguração da CdS. Nesse ponto, são brevemente debatidos aspectos como a existência ou não de
contratos formais, a avalanche de dívidas trabalhistas,o machismo e a insalubridade reinant
fim, diante do contexto pandêmico de Covid
-
19 e do cancelamento do carnaval de 2021, algo inédito
em quase 100 anos de evento festivo, o artigo observa ações idealizadas para dar assistência aos
trabalhadores da folia, milhares de profissionais que
se viram à deriva, mergulhados na instabilidade.
escolas de samba; Cidade do Samba; barracão; precariedade; Rio de Janeiro.
"¿Gloria a los que trabajan todo el año?": apuntes sobre los “barracões” del carnaval carioca
intención de conclusiones
encerradas, el trabajo
hace una mirada panorámica a
productiva de los desfiles de las
escuelas de samba de la
ciudad de Río de Janeiro, tomando
precariedad como clave interpretativa, con
el fin de cuestionar los
límit
“profesionalización” vinculada al complejo industrial de la “Cidade do Samba” (CdS), inaugurado en
2006. Se pretende, en general, observar hasta qué
punto
el discurso de la “romantización de lo
precario” sirve para validar una serie de rie
sgos y abusos vinculados a las relaciones laborales que
del “mayor
espectáculo
del mundo”. Inicialmente, en diálogo
cuadernos de campo del antropólogo Ricardo José Barbieri y otros autores que caminam por el
”, se presentan reflexiones sobre la
categoría “barracão”, desvelando un marco
Leonardo Augusto Bora. Doutor em Ciência da Literatura
Teoria Literária pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
Pesquisador visitante do Programa de Pós-
Doutorado em Estudos
Culturais do Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC)
da Faculdade de Letras da
leonardobora@gmail.com
- https://orcid.org/0000-0002-
9397
aceito para publicação em
03/06/2021 e
disponibilizado online em
01/09/2021.
24
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
“Glória a quem trabalha o ano inteiro?”: notas sobre os “barracões” do
Leonardo Augusto Bora
1
o trabalho lança um olhar panorâmico para a
cadeia produtiva dos desfiles das escolas de samba da cidade do Rio de Janeiro, tomando a
e “profissionalização”
atrelada ao complexo fabril da Cidade do Samba (CdS), inaugurado em 2006. Pretende
-se, de um
modo geral, observar até que ponto o discurso da “romantização do precário” serve para validar uma
ações trabalhistas que alicerçam a feitura do “maior show da
Terra”. De início, em diálogo com os cadernos de campo do antropólogo Ricardo José Barbieri e de
outros autores que transitam pelo “mundo do samba”, são apresentadas reflexões sobre a categoria
(e de graves acidentes, o
que tem gerado sucessivas interdições) que costura diferentes espaços da geografia carioca e que
o poder público à contravenção.
Depois, são enfocadas as relações trabalhistas que se entrechocam no interior desses espaços, com
base em relatos de trabalhadores das “fábricas do samba” (Marina Vergara, escultora, e Rafael
s com os estudos etnográficos de Maria Laura Cavalcanti, anteriores à
inauguração da CdS. Nesse ponto, são brevemente debatidos aspectos como a existência ou não de
contratos formais, a avalanche de dívidas trabalhistas,o machismo e a insalubridade reinant
es. Por
19 e do cancelamento do carnaval de 2021, algo inédito
em quase 100 anos de evento festivo, o artigo observa ações idealizadas para dar assistência aos
se viram à deriva, mergulhados na instabilidade.
escolas de samba; Cidade do Samba; barracão; precariedade; Rio de Janeiro.
"¿Gloria a los que trabajan todo el año?": apuntes sobre los “barracões” del carnaval carioca
hace una mirada panorámica a
la
ciudad de Río de Janeiro, tomando
límit
es de la idea de
“profesionalización” vinculada al complejo industrial de la “Cidade do Samba” (CdS), inaugurado en
el discurso de la “romantización de lo
sgos y abusos vinculados a las relaciones laborales que
del mundo”. Inicialmente, en diálogo
con los
cuadernos de campo del antropólogo Ricardo José Barbieri y otros autores que caminam por el
categoría “barracão”, desvelando un marco
Teoria Literária pela Universidade
Doutorado em Estudos
da Faculdade de Letras da
9397
-1417
disponibilizado online em
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
histórico de precariedad espacial (y de accidentes graves, que han dado lugar a sucesivas
interdicciones) que cosen diferentes espacios
relaciones de poder vinculadas a múltiples
poderes paralelos. Luego, se enfocan
a partir de relatos de trabajadores de las
Vieira, pintor de arte) comparados
la inauguración de la
CdS. En este punto, se debaten brevemente aspectos como la
d
e contratos formales, la avalancha de deudas
Finalmente, ante el contexto pandémico del Covid
inédito en
casi 100 años de evento festivo, el
trabajadores de las
escuelas, miles de profesionales que han encontrado ellos
sumidos em la inestabilidad.
Palabras clave: e
scuelas de samba; “Cidade do Samba”; “barracão”; precariedad; Rio de J
“Glory to those who work all year long?”: notes about the "barracões" of the carioca carnival
Abstract: Without the
intention
productive chain of the
parades
precariousness as an
interpretive
linked to
the industrial complex
general, to observe the extent
to
to validate a series of risks
and abuses linked
“greatest show on Earth”. Initially, in dialogue with
Barbieri and other authors
who
category are presented, unveiling a historic framework of
accidents, which have r
esulted in successive
Janeiro's geography and that
expose
authorities to
misdemeanors. Then, the labor relations
based on reports by workers
from
art painter) compared with
the
inauguration of the
CdS. At this point, aspects
avalanche of labor debts, gender
of the pandemic context
of Covid
unprecedented in almost 100 years
workers of the
revelry, thousands
instability.
Keywords: s
amba schools; “Cidade do
“Glória a quem trabalha o ano inteiro?”: notas sobre os “barracões” do
Introdução
São Sebastião do Rio de
Janeiro, verão. No início da manhã de
7 de fevereiro de 2011, segunda
feira,muitos sambistas brigavam com
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
histórico de precariedad espacial (y de accidentes graves, que han dado lugar a sucesivas
interdicciones) que cosen diferentes espacios
de la
geografía de Río de Janeiro y que e
relaciones de poder vinculadas a múltiples
actores
sociales, desde las autoridades públicas hasta los
poderes paralelos. Luego, se enfocan
las relaciones laborales que chocan dentro de estos
a partir de relatos de trabajadores de las
fábricas do samba” (Marina Vergara, escultora, y Rafael
Vieira, pintor de arte) comparados
con los
estudios etnográficos de María Laura Cavalcanti, previos a
CdS. En este punto, se debaten brevemente aspectos como la
e contratos formales, la avalancha de deudas
laborales, el machismo y las condiciones insalubres.
Finalmente, ante el contexto pandémico del Covid
-19 y la cancelación
del carnaval de 2021, algo
casi 100 años de evento festivo, el
trabajo observa
acciones idealizadas para asistir a los
escuelas, miles de profesionales que han encontrado ellos
scuelas de samba; “Cidade do Samba”; “barracão”; precariedad; Rio de J
“Glory to those who work all year long?”: notes about the "barracões" of the carioca carnival
intention
of concluding questions, the
work takes a panoramic look at
parades
of the samba schools in the city
of Rio de Janeiro, taking
interpretive
key, in order to question the limits of the idea
of
the industrial complex
of
“Cidade do Samba” (CdS), opened in 2006. It is
to
which the discourse of the romanticization of
the
and abuses linked
to labor relations that
underpin
“greatest show on Earth”. Initially, in dialogue with
the field notebooks of
anthropologist Ricardo José
who
walk through
the “world of samba”, reflections
category are presented, unveiling a historic framework of
spatial
precariousness (and
esulted in successive
interdictions) that sew
different
expose
power relations linked to
multiple social actors, from
misdemeanors. Then, the labor relations
that clash within these
from
the “samba factories” (Marina Vergara, sculptor, and Rafael Vieira,
the
ethnographic studies
of Maria Laura Cavalcanti, prior to
CdS. At this point, aspects
such as the existence or not
of formal contracts, the
avalanche of labor debts, gender
issues and unhealthy conditions are briefly
debated. Finally, in view
of Covid
-19 and the cancellation of the carnival
unprecedented in almost 100 years
of festive event, the paper observes actions
idealized
revelry, thousands
of professionals who have found
themselves
amba schools; “Cidade do
Samba”; “barracão”; precariousness; Rio de Janeiro.
“Glória a quem trabalha o ano inteiro?”: notas sobre os “barracões” do
carnaval carioca
São Sebastião do Rio de
Janeiro, verão. No início da manhã de
7 de fevereiro de 2011, segunda
-
feira,muitos sambistas brigavam com
os despertadores, cansados
estavam da sequência de “ensaios
técnicos” ocorridos na noite anterior,
no Sambódromo da Avenida Marquês
de Sapucaí. Império Serrano, Império
25
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
histórico de precariedad espacial (y de accidentes graves, que han dado lugar a sucesivas
geografía de Río de Janeiro y que e
xponen las
sociales, desde las autoridades públicas hasta los
las relaciones laborales que chocan dentro de estos
espacios,
fábricas do samba” (Marina Vergara, escultora, y Rafael
estudios etnográficos de María Laura Cavalcanti, previos a
CdS. En este punto, se debaten brevemente aspectos como la
existencia o no
laborales, el machismo y las condiciones insalubres.
del carnaval de 2021, algo
acciones idealizadas para asistir a los
escuelas, miles de profesionales que han encontrado ellos
mismos a la deriva,
scuelas de samba; “Cidade do Samba”; “barracão”; precariedad; Rio de J
aneiro.
“Glory to those who work all year long?”: notes about the "barracões" of the carioca carnival
work takes a panoramic look at
the
of Rio de Janeiro, taking
of
“professionalization”
“Cidade do Samba” (CdS), opened in 2006. It is
intended, in
the
precarious” serves
underpin
the making of the
anthropologist Ricardo José
the “world of samba”, reflections
on the “barracão”
precariousness (and
of serious
different
spaces in Rio de
multiple social actors, from
public
spaces are focused,
the “samba factories” (Marina Vergara, sculptor, and Rafael Vieira,
of Maria Laura Cavalcanti, prior to
the
of formal contracts, the
debated. Finally, in view
of 2021, something
idealized
to assist the
themselves
adrift, plunged into
Samba”; “barracão”; precariousness; Rio de Janeiro.
“Glória a quem trabalha o ano inteiro?”: notas sobre os “barracões” do
os despertadores, cansados
que
estavam da sequência de “ensaios
técnicos” ocorridos na noite anterior,
no Sambódromo da Avenida Marquês
de Sapucaí. Império Serrano, Império
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
da Tijuca e Acadêmicos do Salgueiro
haviam ensaiado perante
arquibancadas lotadas de foliões
dispostos a canta
r os sambas que
embalariam os desfiles oficiais, na
primeira semana de março, durante o
carnaval. Mas o sol forte daquela
manhã se viu encoberto por uma
nuvem: por volta das seis horas, os
telejornais e os programas de rádio
começaram a noticiar um incêndi
grandes proporções em algum edifício
da região portuária. Em poucos
minutos, a nuvem
passou a ser vista
de bairros distantes, causando
espanto e temor. Foi quando a notícia
ganhou um nome e um endereço
concreto: Cidade do Samba (CdS), na
rua Arlindo Rodrigues
2
. Faltando
menos de um mês para os desfiles, o
fogaréu descontrolado consumia um
2
Arlindo Rodrigues foi um
carnavalesco
(artista responsável pelos quesitos plásticos
de um desfile e, geralmente, pelo
desenvolvimento do enredo), campeão em
escolas como Salgueiro, Mocidade
Independente de Padre Miguel e Imperatriz
Leopoldinense. Ele participou da comissão de
arti
stas que deu início à “Revolução
Salgueirense”, em 1960 –
movimento de
transformações e reconfigurações estéticas e
narrativas conectado à chegada vultuosa de
profissionais ligados ao Theatro Municipal e à
Escola de Belas Artes (representantes da
intelectu
alidade acadêmica e das classes
média e alta), nos barracões das agremiações
sambistas. Sobre o assunto, ver
2013.
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
da Tijuca e Acadêmicos do Salgueiro
haviam ensaiado perante
arquibancadas lotadas de foliões
r os sambas que
embalariam os desfiles oficiais, na
primeira semana de março, durante o
carnaval. Mas o sol forte daquela
manhã se viu encoberto por uma
nuvem: por volta das seis horas, os
telejornais e os programas de rádio
começaram a noticiar um incêndi
o de
grandes proporções em algum edifício
da região portuária. Em poucos
passou a ser vista
de bairros distantes, causando
espanto e temor. Foi quando a notícia
ganhou um nome e um endereço
concreto: Cidade do Samba (CdS), na
. Faltando
menos de um mês para os desfiles, o
fogaréu descontrolado consumia um
carnavalesco
(artista responsável pelos quesitos plásticos
de um desfile e, geralmente, pelo
desenvolvimento do enredo), campeão em
escolas como Salgueiro, Mocidade
Independente de Padre Miguel e Imperatriz
Leopoldinense. Ele participou da comissão de
stas que deu início à “Revolução
movimento de
transformações e reconfigurações estéticas e
narrativas conectado à chegada vultuosa de
profissionais ligados ao Theatro Municipal e à
Escola de Belas Artes (representantes da
alidade acadêmica e das classes
média e alta), nos barracões das agremiações
sambistas. Sobre o assunto, ver
BRUNO,
setor inteiro do complexo fabril
inaugurado em 4 de fevereiro de 2006
para albergar a produção de fantasias
e carros alegóricos das escolas do
Grupo Especial.
As cha
mas foram impiedosas
com a arte ali produzida e devoraram
milhares de peças que ocupavam os
quatro andares dos “barracões” (forma
como os galpões são chamados, no
meio carnavalesco) das escolas União
da Ilha do Governador, Portela e
Acadêmicos do Grande Ri
barracão da última foi o mais afetado:
houve o desabamento de paredes e do
teto, o que fez com que a agremiação
de Duque de Caxias perdesse todas
as fantasias e todos os carros
alegóricos, que estavam
finalização. Além desses três galpões,
o fogo destruiu os andares superiores
do galpão de número 1, então
reservado pela Liga Independente das
Escolas de Samba (Liesa) para a
feitura de eventos turísticos e
programas educacionais. Felizmente,
não houve vítimas
tamanho da dest
ruição material, ganha
ares miraculosos. Tanto mais por um
dado naturalizado no meio, mas que
deve ter causado estranheza nos
telespectadores que se depararam
26
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
setor inteiro do complexo fabril
inaugurado em 4 de fevereiro de 2006
para albergar a produção de fantasias
e carros alegóricos das escolas do
mas foram impiedosas
com a arte ali produzida e devoraram
milhares de peças que ocupavam os
quatro andares dos “barracões” (forma
como os galpões são chamados, no
meio carnavalesco) das escolas União
da Ilha do Governador, Portela e
Acadêmicos do Grande Ri
o. O
barracão da última foi o mais afetado:
houve o desabamento de paredes e do
teto, o que fez com que a agremiação
de Duque de Caxias perdesse todas
as fantasias e todos os carros
alegóricos, que estavam
em fase de
finalização. Além desses três galpões,
o fogo destruiu os andares superiores
do galpão de número 1, então
reservado pela Liga Independente das
Escolas de Samba (Liesa) para a
feitura de eventos turísticos e
programas educacionais. Felizmente,
o que, diante do
ruição material, ganha
ares miraculosos. Tanto mais por um
dado naturalizado no meio, mas que
deve ter causado estranheza nos
telespectadores que se depararam
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
com algumas entrevistas gravadas
enquanto as labaredas ainda
desafiavam os jatos d’água: dezenas,
quiçá centenas de trabalhadores
estavam dormindo nos barracões
quando o incêndio (definido no laudo
do Instituto de Criminalística como
“acidental”
3
, produto de “ação humana
involuntária”
4
) aconteceu.
O cenário descrito acima fez
com que as câmeras e os m
buscassem os rostos e as vozes de
pessoas invisibilizadas, à sombra dos
dirigentes, inseridas em teias
trabalhistas bastante específicas
complexas. Cada “fábrica de sonhos”
de uma escola de samba do Grupo
Especial reúne, nos meses que
anteced
em os desfiles, mais de
300trabalhadores e incontáveis
problemas e tensões sociais (de
gênero, religiosas, étnico
-
que são potencializadas em um
contexto de gambiarras e
3
A causa inicial do fogo ainda é alvo de
especulações, nos bastidores do carnaval.
Uma das histórias mais ouvidas é aquela
segundo a q
ual uma cafeteira elétrica foi
esquecida ligada, em uma das salas do
barracão de número 1, o que gerou um curto
circuito.
4
Informações presentes em:
http://g1.globo.com/rio-de-
janeiro/noticia/2011/03/laudo-diz
-
na-cidade-do-samba-foi-
acidental
em: 02 mar. 2021.
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
com algumas entrevistas gravadas
enquanto as labaredas ainda
desafiavam os jatos d’água: dezenas,
quiçá centenas de trabalhadores
estavam dormindo nos barracões
quando o incêndio (definido no laudo
do Instituto de Criminalística como
, produto de “ação humana
O cenário descrito acima fez
com que as câmeras e os m
icrofones
buscassem os rostos e as vozes de
pessoas invisibilizadas, à sombra dos
dirigentes, inseridas em teias
trabalhistas bastante específicas
e
complexas. Cada “fábrica de sonhos”
de uma escola de samba do Grupo
Especial reúne, nos meses que
em os desfiles, mais de
300trabalhadores e incontáveis
problemas e tensões sociais (de
-
raciais etc.)
que são potencializadas em um
contexto de gambiarras e
A causa inicial do fogo ainda é alvo de
especulações, nos bastidores do carnaval.
Uma das histórias mais ouvidas é aquela
ual uma cafeteira elétrica foi
esquecida ligada, em uma das salas do
barracão de número 1, o que gerou um curto
-
-
que-incendio-
acidental
.html. Acesso
precarizações. O objetivo deste
trabalho é lançar provocações sobre
tal c
onjuntura, a fim de sedimentar
algumas percepções anotadas graças
ao meu trânsito como carnavalesco
que assinou trabalhos em todos os
grupos do carnaval carioca (da série D
ao Especial), numa permanente fricção
com a pesquisa acadêmica
etnográ
ficos e o desejo de ler a
contrapelo a bibliografia que trata do
assunto.
Para isso, num primeiro
momento, serão enfocados os
“barracões”, lugares que concentram a
cadeia produtiva da visualidade (os
“quesitos visuais”: fantasias e carros
alegóricos) das e
scolas de samba.
Depois, serão tecidos apontamentos
acerca da precariedade, da
instabilidade financeira e de alguns
conflitos recorrentes no que diz
respeito à rotina de trabalho nesses
espaços. Tais centelhas críticas serão
extraídas de relatos de dois
tr
abalhadores do carnaval: o pintor
Rafael Vieira e a escultora Marina
Vergara. Por fim, serão observadas
ações realizadas
ao longo de 2020,
durante a pandemia de Covid
quando o ciclo de produção dos
desfiles se viu interrompido.
27
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
precarizações. O objetivo deste
trabalho é lançar provocações sobre
onjuntura, a fim de sedimentar
algumas percepções anotadas graças
ao meu trânsito como carnavalesco
que assinou trabalhos em todos os
grupos do carnaval carioca (da série D
ao Especial), numa permanente fricção
com a pesquisa acadêmica
os ecos
ficos e o desejo de ler a
contrapelo a bibliografia que trata do
Para isso, num primeiro
momento, serão enfocados os
“barracões”, lugares que concentram a
cadeia produtiva da visualidade (os
“quesitos visuais”: fantasias e carros
scolas de samba.
Depois, serão tecidos apontamentos
acerca da precariedade, da
instabilidade financeira e de alguns
conflitos recorrentes no que diz
respeito à rotina de trabalho nesses
espaços. Tais centelhas críticas serão
extraídas de relatos de dois
abalhadores do carnaval: o pintor
Rafael Vieira e a escultora Marina
Vergara. Por fim, serão observadas
ao longo de 2020,
durante a pandemia de Covid
-19,
quando o ciclo de produção dos
desfiles se viu interrompido.
O
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
cancelamento do carnav
al de 2021,
algo inédito em quase 100 anos de
evento, tirou de vez o véu de
“profissionalismo” do “maior show da
Terra” -
fato que deu alguma
visibilidade aos dramas de milhares de
trabalhadores que se viram
desempregados e desassistidos, em
busca de novas
atuações, militâncias e
organizações coletivas.
1.
Um lugar chamado
“barracão”
O incêndio de 2011
lona a ideia de “segurança” apregoada
quando da inauguração do complexo
fabril da CdS, depois de obras que
custaram mais de 80 milhões de reais
aos co
fres da Prefeitura (BARBIERI,
2009, p. 129). Não que os destroços
fossem uma novidade: desde o
começo do século XX, são incontáveis
as notícias de incêndios, inundações e
desabamentos
que afetaram ou
destruíram a produção carnavalesca
de ranchos, grandes s
ociedades e
escolas de samba. Antes de 2011, um
dos casos mais comentados era o do
incêndio que atingiu, em 2001, os
barracões de Imperatriz Leopoldinense
e Unidos do Viradouro, escolas do
Grupo Especial que, na época,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
al de 2021,
algo inédito em quase 100 anos de
evento, tirou de vez o véu de
“profissionalismo” do “maior show da
fato que deu alguma
visibilidade aos dramas de milhares de
trabalhadores que se viram
desempregados e desassistidos, em
atuações, militâncias e
Um lugar chamado
O incêndio de 2011
jogou na
lona a ideia de “segurança” apregoada
quando da inauguração do complexo
fabril da CdS, depois de obras que
custaram mais de 80 milhões de reais
fres da Prefeitura (BARBIERI,
2009, p. 129). Não que os destroços
fossem uma novidade: desde o
começo do século XX, são incontáveis
as notícias de incêndios, inundações e
que afetaram ou
destruíram a produção carnavalesca
ociedades e
escolas de samba. Antes de 2011, um
dos casos mais comentados era o do
incêndio que atingiu, em 2001, os
barracões de Imperatriz Leopoldinense
e Unidos do Viradouro, escolas do
Grupo Especial que, na época,
produziam fantasias e alegorias em
ar
mazéns do Cais do Porto, espaços
marcados pela “parca infraestrutura” e
por “histórias de ocupações
irregulares” (BARBIERI, 2009, p. 126).
Num destes cenários insalubres,
carnavalesco Chico Spinosa preparava
o desfile de 2002 da Viradouro. O
artista desc
reveu o ocorrido:
Luizinho Drumond, patrono da
Imperatriz, e eu assistimos do
meio-
fio à destruição dos dois
barracões, obra de um cigarro
aceso lançado do viaduto da
Perimetral no meio dos isopores e
tambores de resina. O fogo se
alastrou a o barracão da Beija
Flor, mas
conseguiram salvar a escola de
Nilópolis (SPINOSA, 2014, p. 209).
A construção da CdS foi
anunciada enquanto importante
iniciativa para a profissionalização da
cadeia produtiva do carnaval,
representando um primeiro grande
passo em direção
ocupações ilegais. Segundo o
antropólogo Ricardo Barbieri, “em
2005, nenhuma escola do Grupo
Especial tinha a efetiva posse desses
galpões” (BARBIERI, 2009, p. 126).Os
barracões novos em folha eram o
futuro que começava. Mas o
pesquisador des
taca que o é
28
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
produziam fantasias e alegorias em
mazéns do Cais do Porto, espaços
marcados pela “parca infraestrutura” e
por “histórias de ocupações
irregulares” (BARBIERI, 2009, p. 126).
Num destes cenários insalubres,
o
carnavalesco Chico Spinosa preparava
o desfile de 2002 da Viradouro. O
reveu o ocorrido:
Luizinho Drumond, patrono da
Imperatriz, e eu assistimos do
fio à destruição dos dois
barracões, obra de um cigarro
aceso lançado do viaduto da
Perimetral no meio dos isopores e
tambores de resina. O fogo se
alastrou a o barracão da Beija
-
Flor, mas
os bombeiros
conseguiram salvar a escola de
Nilópolis (SPINOSA, 2014, p. 209).
A construção da CdS foi
anunciada enquanto importante
iniciativa para a profissionalização da
cadeia produtiva do carnaval,
representando um primeiro grande
passo em direção
ao fim das
ocupações ilegais. Segundo o
antropólogo Ricardo Barbieri, “em
2005, nenhuma escola do Grupo
Especial tinha a efetiva posse desses
galpões” (BARBIERI, 2009, p. 126).Os
barracões novos em folha eram o
futuro que começava. Mas o
taca que o é
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
possível compreender as dimensões
simbólicas da CdS, no contexto da
cena cultural carioca, sem observar
minimamente o histórico da categoria
“barracão”. Segundo ele, “um dos
primeiros espaços ocupados com a
preparação das alegorias para a fe
foi o antigo Pavilhão de São Cristóvão”
(BARBIERI, 2009, p. 127). A
carnavalesca Rosa Magalhães
trabalhou no Pavilhão
5
, nas décadas
de 1970 e 1980. É da artista um
interessante relato sobre o processo
de transição para os armazéns
portuários:
Como o antigo Pavilhão de São
Cristóvão desabou e não foi
reconstruído, as escolas ficaram
sem ter um local onde trabalhar. A
saída foi invadir espaços ociosos,
numa postura contemporânea.
Assim, pouco a pouco um galpão
foi adquirindo ares de local de
trab
alho, ou seja, se humanizando.
Reformas foram feitas, como por
exemplo a instalação de luz
elétrica, o que tornou o local mais
habitável e acolhedor.
Houve um tempo em que se
trabalhava em condições
5
Uma configuração análoga à do antigo
Pavilhão de São Cristóvão pode ser
encontrada, hoje, no “Barracão do Samba”, o
galpão onde mais de 30 escolas de samba
que desfilam na Estrada Intendente
Magalhães produzem, sem divisór
alegorias. Localizado no bairro de Madureira,
tal espaço ainda é chamado de “Barracão do
Falcon”, uma vez que era administrado pelo
ex-
policial e dirigente da Portela Marcos
Falcon, assassinado em 2016. Sobre o lugar,
ver MOTTA, 2016.
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
possível compreender as dimensões
simbólicas da CdS, no contexto da
cena cultural carioca, sem observar
minimamente o histórico da categoria
“barracão”. Segundo ele, “um dos
primeiros espaços ocupados com a
preparação das alegorias para a fe
sta
foi o antigo Pavilhão de São Cristóvão”
(BARBIERI, 2009, p. 127). A
carnavalesca Rosa Magalhães
, nas décadas
de 1970 e 1980. É da artista um
interessante relato sobre o processo
de transição para os armazéns
Como o antigo Pavilhão de São
Cristóvão desabou e não foi
reconstruído, as escolas ficaram
sem ter um local onde trabalhar. A
saída foi invadir espaços ociosos,
numa postura contemporânea.
Assim, pouco a pouco um galpão
foi adquirindo ares de local de
alho, ou seja, se humanizando.
Reformas foram feitas, como por
exemplo a instalação de luz
elétrica, o que tornou o local mais
habitável e acolhedor.
[...]
Houve um tempo em que se
trabalhava em condições
Uma configuração análoga à do antigo
Pavilhão de São Cristóvão pode ser
encontrada, hoje, no “Barracão do Samba”, o
galpão onde mais de 30 escolas de samba
que desfilam na Estrada Intendente
Magalhães produzem, sem divisór
ias, as suas
alegorias. Localizado no bairro de Madureira,
tal espaço ainda é chamado de “Barracão do
Falcon”, uma vez que era administrado pelo
policial e dirigente da Portela Marcos
Falcon, assassinado em 2016. Sobre o lugar,
precaríssimas, sobretudo no que
diz respeito às in
vez, trabalhei com Lícia Lacerda,
carnavalesca também, em dois
galpões que não tinham banheiro.
O jeito era almoçar em botequins e
ficar amiga do dono, para poder ir
ao toalete, em geral muito sujo.
Em meados dos anos 80,
algumas es
colas conseguiram
voltar a abrigar-
se no velho galpão
de exposições e feiras, o ant
Pavilhão de São Cristóvão. [
lugar não tinha a menor
manutenção; o telhado de zinco
tinha furos e nós então
marcávamos com tinta, no chão, o
local das goteiras; a
excesso de consumo e nunca era
suficiente para as necessidades;
além do mais, não havia nenhuma
segurança para o caso de
incêndio, o que de fato acabou
acontecendo, depois de um
carnaval, destruindo tudo o que
estava dentro; das máquinas d
solda e de costura e estruturas dos
carros a serras, mesas, bancadas,
tudo foi perdido (MAGALHÃES,
1997, p. 19-20).
O depoimento de Magalhães
reforça o entendimento de que, em
termos históricos, a ideia de “barracão”
está ligada a um flagrante quadro de
precarização estrutural
conforme será visto adiante, serve de
moldura para precárias relações
trabalhistas. Salta aos olhos a crença
de que os galpões, aos poucos, foram
“se humanizando”. É sabido que paira
sobre o fazer carnavalesco certa
“roman
tização do precário” (RUFINO
29
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
precaríssimas, sobretudo no que
diz respeito às in
stalações. Certa
vez, trabalhei com Lícia Lacerda,
carnavalesca também, em dois
galpões que não tinham banheiro.
O jeito era almoçar em botequins e
ficar amiga do dono, para poder ir
ao toalete, em geral muito sujo.
[...]
Em meados dos anos 80,
colas conseguiram
se no velho galpão
de exposições e feiras, o ant
igo
Pavilhão de São Cristóvão. [
...] O
lugar não tinha a menor
manutenção; o telhado de zinco
tinha furos e nós então
marcávamos com tinta, no chão, o
local das goteiras; a
luz caía pelo
excesso de consumo e nunca era
suficiente para as necessidades;
além do mais, não havia nenhuma
segurança para o caso de
incêndio, o que de fato acabou
acontecendo, depois de um
carnaval, destruindo tudo o que
estava dentro; das máquinas d
e
solda e de costura e estruturas dos
carros a serras, mesas, bancadas,
tudo foi perdido (MAGALHÃES,
O depoimento de Magalhães
reforça o entendimento de que, em
termos históricos, a ideia de “barracão”
está ligada a um flagrante quadro de
precarização estrutural
o que,
conforme será visto adiante, serve de
moldura para precárias relações
trabalhistas. Salta aos olhos a crença
de que os galpões, aos poucos, foram
“se humanizando”. É sabido que paira
sobre o fazer carnavalesco certa
tização do precário” (RUFINO
;
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
SIMAS, 2019, p. 77) igualmente
observável em outras esferas da
produção cultural brasileira. Não é
incomum, nos dias que antecedem os
desfiles, a veiculação de reportagens
que destacam o suor dos rostos, os
machucados nas mãos
, as olheiras
provenientes das “noites viradas”.
Alguns enredos metalinguísticos
geraram belos sambas que exaltam a
“superação” e a “força de vontade”
encontradas nos barracões, caso de
Barracão, pregos, panos e paetês,
composto por Capelo, Marcus do
Cavac
o e Edimar para o desfile de
1991 do GRES Arranco. Os versos
celebram o trabalho em “mutirão”
outrora poetizado por Martinho da Vila,
na composição que embalou o desfile
da Unidos de Vila Isabel de 1984,
tudo se acabar na quarta-
feira
se extrai
o título deste trabalho
samba do Arranco, na mesma linha
“gloriosa” do poema de Martinho,
enxerga costureiras e bordadeiras
como “verdadeiras operárias da folia”.
O problema, daí o teor provocativo
observado na releitura do título (o uso
da interrogaçã
o), é que nem sempre
tais operárias levam um salário para
casa –
sem falar na insalubridade.
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
SIMAS, 2019, p. 77) igualmente
observável em outras esferas da
produção cultural brasileira. Não é
incomum, nos dias que antecedem os
desfiles, a veiculação de reportagens
que destacam o suor dos rostos, os
, as olheiras
provenientes das “noites viradas”.
Alguns enredos metalinguísticos
geraram belos sambas que exaltam a
“superação” e a “força de vontade”
encontradas nos barracões, caso de
Barracão, pregos, panos e paetês,
composto por Capelo, Marcus do
o e Edimar para o desfile de
1991 do GRES Arranco. Os versos
celebram o trabalho em “mutirão”
outrora poetizado por Martinho da Vila,
na composição que embalou o desfile
da Unidos de Vila Isabel de 1984,
Pra
feira
donde
o título deste trabalho
. O
samba do Arranco, na mesma linha
“gloriosa” do poema de Martinho,
enxerga costureiras e bordadeiras
como “verdadeiras operárias da folia”.
O problema, daí o teor provocativo
observado na releitura do título (o uso
o), é que nem sempre
tais operárias levam um salário para
sem falar na insalubridade.
Se o aspecto “mambembe” de
um desfile na avenida, segundo o
entendimento de alguns artistas, é
digno de
valorização, também
quem valorize (algo perceptível em
q
ualquer conversa informal, nas salas
diretivas) a visão de que no trabalho
voltado para o carnaval devem reinar
as máximas do “aqui se jeito pra
tudo” / “é preciso ter muito amor” /
“carnaval é assim mesmo e não
adianta tentar mudar”. Variações
podem se
r sublinhadas nos cadernos
de campo do pesquisador Nilton
Santos, que desenhou a visão de um
assistente do carnavalesco Alexandre
Louzada, de nome André, para com os
trabalhos no barracão da Portela, às
vésperas do carnaval de 2003, na
“bastante deteriorad
a e decadente”
(SANTOS, 2009, p. 23) zona portuária:
A admiração de André pelo
trabalho do “pessoal de Parintins”,
que aprendeu “na prática” a
realizar carros alegóricos com
efeitos de impacto, se coaduna
com sua impressão de que “só se
aprende a fazer carnaval aqui (no
barracão).” (...)“Aqui no trabalho de
carnaval você não tem horário fixo,
deu cinco horas você vira as
costas, bate o cartão e vai embora.
Se tiver que virar a noite
trabalhando, não voltar para casa e
dormir no barracão, você acaba
fazendo.” (SANTOS, 2009, p. 27
28).
30
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Se o aspecto “mambembe” de
um desfile na avenida, segundo o
entendimento de alguns artistas, é
valorização, também
quem valorize (algo perceptível em
ualquer conversa informal, nas salas
diretivas) a visão de que no trabalho
voltado para o carnaval devem reinar
as máximas do “aqui se jeito pra
tudo” / “é preciso ter muito amor” /
“carnaval é assim mesmo e não
adianta tentar mudar”. Variações
r sublinhadas nos cadernos
de campo do pesquisador Nilton
Santos, que desenhou a visão de um
assistente do carnavalesco Alexandre
Louzada, de nome André, para com os
trabalhos no barracão da Portela, às
vésperas do carnaval de 2003, na
a e decadente”
(SANTOS, 2009, p. 23) zona portuária:
A admiração de André pelo
trabalho do “pessoal de Parintins”,
que aprendeu “na prática” a
realizar carros alegóricos com
efeitos de impacto, se coaduna
com sua impressão de que “só se
aprende a fazer carnaval aqui (no
barracão).” (...)“Aqui no trabalho de
carnaval você não tem horário fixo,
deu cinco horas você vira as
costas, bate o cartão e vai embora.
Se tiver que virar a noite
trabalhando, não voltar para casa e
dormir no barracão, você acaba
fazendo.” (SANTOS, 2009, p. 27
-
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
Tal ideário agregador e
falsamente inclusivo exerce, sem
dúvidas, um grande fascínio. É fácil se
sentir seduzido pelas intensas trocas
de saberes observáveis no interior de
um barracão. Conforme o narrado pelo
antropólogo Vinícius Natal, “se
pisa em um barracão
apenas
visitar e oferece ajuda,
quando
conta está com um
amontoado
placas de acetato no
colo
estará reclamando de
fome,
rindo e bebendo café ou
fofocando sobre o que
concorrentes irão
apresentar” (NATAL,
2019,
p. 178). Maria Laura Cavalcanti
observou tais aspectos
durante a sua
etnografia no barracão da Mocidade
Independente de Padre Miguel, em
1992:
No final, já em fevereiro, Renato
(Lage, um dos carnavalescos,
juntamente com Lilian Rabello)
cada vez mais ansioso e vários
quilos mais magro, reclamava do
stress enorme; até então, a escola
segurara o dinheiro, e apenas
naquele momento, a menos de um
mês
do carnaval, o material
chegava. Ao que tudo indica,
tratava-
se de um padrão, pois o
mesmo Renato tinha dito
anteriormente que o carnaval de
1991 “acontecera em 28 dias”: “A
Mocidade ficou um tempão pro
trabalho começar a pegar embalo.
Em cima da hora
é que vai resolver
tudo”. Nessa ocasião, mais
tranquilo, ele resignava
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
Tal ideário agregador e
falsamente inclusivo exerce, sem
dúvidas, um grande fascínio. É fácil se
sentir seduzido pelas intensas trocas
de saberes observáveis no interior de
um barracão. Conforme o narrado pelo
antropólogo Vinícius Natal, “se
alguém
apenas
para
quando
se
amontoado
de
colo
[...].
fome,
cansaço,
cerveja, ou
as escolas
apresentar” (NATAL,
p. 178). Maria Laura Cavalcanti
durante a sua
etnografia no barracão da Mocidade
Independente de Padre Miguel, em
No final, já em fevereiro, Renato
(Lage, um dos carnavalescos,
juntamente com Lilian Rabello)
cada vez mais ansioso e vários
quilos mais magro, reclamava do
stress enorme; até então, a escola
segurara o dinheiro, e apenas
naquele momento, a menos de um
do carnaval, o material
chegava. Ao que tudo indica,
se de um padrão, pois o
mesmo Renato tinha dito
anteriormente que o carnaval de
1991 “acontecera em 28 dias”: “A
Mocidade ficou um tempão pro
trabalho começar a pegar embalo.
é que vai resolver
tudo”. Nessa ocasião, mais
tranquilo, ele resignava
-se: “Acho
que carnaval tem essa coisa de
improviso. Motivação mesmo.
Barracão é motivação.”
pessoas começam a ter amor por
aquilo, se você puder, você mora
dentro.” (CAVALC
134-135).
Tanto Barbieri quanto
Cavalcanti tentam compreender as
teias sociais que enredam (ou é
melhor dizer aprisionam?) os
trabalhadores do carnaval, em
momentos históricos distintos: o olhar
de Barbieri, no final da década de
2000, enfo
ca o verniz de
profissionalismo que transformou a
CdS, logo após a inauguração, em um
potencial polo turístico, artístico e
educacional; o olhar de Cavalcanti,
mais de 15 anos antes, procurava
entender o carnaval do Rio de Janeiro
enquanto “arena de enfren
(CAVALCANTI, 1994, p. 71). Natal
oferece ingredientes adicionais, nas
pesquisas que vem desenvolvendo: ao
mostrar que a categoria “barracão
aparecia em publicações jornalísticas
da virada dos séculos XIX e XX, revela
que se pode estar diante d
prenhe de histórias ocultas
apreço pelos estudos biográficos.
Fato é que mesmo antes do
incêndio de 2011, a
31
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
que carnaval tem essa coisa de
improviso. Motivação mesmo.
Barracão é motivação.”
[...] “As
pessoas começam a ter amor por
aquilo, se você puder, você mora
dentro.” (CAVALC
ANTI, 1994, p.
Tanto Barbieri quanto
Cavalcanti tentam compreender as
teias sociais que enredam (ou é
melhor dizer aprisionam?) os
trabalhadores do carnaval, em
momentos históricos distintos: o olhar
de Barbieri, no final da década de
ca o verniz de
profissionalismo que transformou a
CdS, logo após a inauguração, em um
potencial polo turístico, artístico e
educacional; o olhar de Cavalcanti,
mais de 15 anos antes, procurava
entender o carnaval do Rio de Janeiro
enquanto “arena de enfren
tamento”
(CAVALCANTI, 1994, p. 71). Natal
oferece ingredientes adicionais, nas
pesquisas que vem desenvolvendo: ao
mostrar que a categoria “barracão
aparecia em publicações jornalísticas
da virada dos séculos XIX e XX, revela
que se pode estar diante d
e algo
prenhe de histórias ocultas
- daí o
apreço pelos estudos biográficos.
Fato é que mesmo antes do
incêndio de 2011, a
CdS gerava
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
debates sobre a real dimensão do selo
“profissional”. Sem dúvidas, os
galpões apresentam
“grandioso porte”
e “sofisticada
infraestrutura, que
possibilita uma clara visualização da
divisão do trabalho em seu interior,
como nas fábricas em geral”
(BARBIERI, 2009, p. 129/130).
Tomando por base um “modelo” de
barracão como aquele descrito por
Rosa Magalhães, o simples fato de as
fábricas possuírem banheiros
refeitórios soa surpreendentemente
excelente
mas, e aqui começa a
problematização mais aguda, não se
pode tomar por modelo
desolador
como aquele exposto no
documentário 30 Dias
um carnaval
entre a Alegria e a desilusão,
Valmir Moratelli, lançado em setembro
de 2020. O filme acompanha o
processo de construção do carnaval
de 2019 da Alegria da Zona Sul,
escola que, despejada do barracão
que ocupara até o ano anterior,
obrigada a produzir os carros
alegóricos em um terreno a céu
aberto, na Avenida Brasil, em meio às
ruínas de uma fábrica de sabão.
Barbieri aborda a Alegria da
Zona Sul no estudo de 2009. Sagaz,
notou que a inauguração da CdS
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
debates sobre a real dimensão do selo
“profissional”. Sem dúvidas, os
“grandioso porte”
infraestrutura, que
possibilita uma clara visualização da
divisão do trabalho em seu interior,
como nas fábricas em geral”
(BARBIERI, 2009, p. 129/130).
Tomando por base um “modelo” de
barracão como aquele descrito por
Rosa Magalhães, o simples fato de as
fábricas possuírem banheiros
e
refeitórios soa surpreendentemente
mas, e aqui começa a
problematização mais aguda, não se
um cenário
como aquele exposto no
um carnaval
entre a Alegria e a desilusão,
de
Valmir Moratelli, lançado em setembro
de 2020. O filme acompanha o
processo de construção do carnaval
de 2019 da Alegria da Zona Sul,
escola que, despejada do barracão
que ocupara até o ano anterior,
se viu
obrigada a produzir os carros
alegóricos em um terreno a céu
aberto, na Avenida Brasil, em meio às
ruínas de uma fábrica de sabão.
Barbieri aborda a Alegria da
Zona Sul no estudo de 2009. Sagaz,
notou que a inauguração da CdS
afetou dezenas de outra
não apenas aquelas que então
compunham o Grupo Especial. A
transferência das “grandes escolas”
para o “condomínio de luxo” esvaziou
os antigos armazéns e desnudou
relações de apadrinhamento
conectadas à atuação dos “patronos”
(banqueiros do jog
o do bicho). Em
2006, a escola de samba Acadêmicos
do Salgueiro, do bairro da Tijuca, era
vista como “madrinha” da Alegria da
Zona Sul, do bairro de Copacabana. O
motivo nos leva aos mapas
contravenção: os bicheiros Miro e
Maninho Garcia apadrinhavam
Salgueiro, devido a um rearranjo
ocorrido em 1985 (JUPIARA
2015, p. 169-
170). Num segundo
plano, auxiliavam a Alegria da Zona
Sul, uma vez que eram donos de
“bancas de
bicho” de Copacabana. Por
conta dessas relações nem tão
implícitas, a escola do
acesso ocupou o galpão abandonado
pela “prima rica”
e ficou até ser
desalojada, em 2018. Escolas que não
gozavam de apadrinhamentos, porém,
não puderam ocupar os galpões, em
2006, uma vez que a Companhia
Docas retomou a posse dos espaços.
Es
sas agremiações permaneceram “à
32
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
afetou dezenas de outra
s escolas -
não apenas aquelas que então
compunham o Grupo Especial. A
transferência das “grandes escolas”
para o “condomínio de luxo” esvaziou
os antigos armazéns e desnudou
relações de apadrinhamento
conectadas à atuação dos “patronos”
o do bicho). Em
2006, a escola de samba Acadêmicos
do Salgueiro, do bairro da Tijuca, era
vista como “madrinha” da Alegria da
Zona Sul, do bairro de Copacabana. O
motivo nos leva aos mapas
da
contravenção: os bicheiros Miro e
Maninho Garcia apadrinhavam
o
Salgueiro, devido a um rearranjo
ocorrido em 1985 (JUPIARA
; OTAVIO,
170). Num segundo
plano, auxiliavam a Alegria da Zona
Sul, uma vez que eram donos de
bicho” de Copacabana. Por
conta dessas relações nem tão
implícitas, a escola do
grupo de
acesso ocupou o galpão abandonado
e ficou até ser
desalojada, em 2018. Escolas que não
gozavam de apadrinhamentos, porém,
não puderam ocupar os galpões, em
2006, uma vez que a Companhia
Docas retomou a posse dos espaços.
sas agremiações permaneceram “à
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
deriva”, disputando “baias” no
“Carandiru”, um “terreno da antiga
Rede Ferroviária Federal, no bairro do
Santo Cristo, próximo à Rodoviária
Novo Rio” (BARBIERI, 2009, p. 141).
Barbieri visitou o local e o descreveu
assim: “m
uito lixo, muita sujeira, fios
emaranhados expostos tornam o
trânsito no interior dos barracões do
Carandiru não recomendável em dias
de chuva. O teto é cheio de buracos;
isso nos espaços onde ainda existe
cobertura” (BARBIERI, 2009, p. 141).
Em outro mome
nto de sua análise,
enfatiza a indignação dos
trabalhadores, que se viam obrigados
a “conviver com mau
cheiro, acúmulo
de lixo, condições de trabalho
insalubres, insegurança e constante
risco de incêndio” (BARBIERI, 2009, p.
141).
O olhar crítico de Barbie
ajuda a mapear um cenário conflitivo e
desigual. O autor percebeu que o
“processo de ocupação e
desocupação de barracões”
movimentou
“uma imensa rede de
relações sociais”
(BARBIERI, 2009, p.
140). O caso da Alegria da Zona Sul,
uma história de ascen
são (a ocupação
do antigo barracão do Salgueiro) e
queda (a expulsão, mais de uma
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
deriva”, disputando “baias” no
“Carandiru”, um “terreno da antiga
Rede Ferroviária Federal, no bairro do
Santo Cristo, próximo à Rodoviária
Novo Rio” (BARBIERI, 2009, p. 141).
Barbieri visitou o local e o descreveu
uito lixo, muita sujeira, fios
emaranhados expostos tornam o
trânsito no interior dos barracões do
Carandiru não recomendável em dias
de chuva. O teto é cheio de buracos;
isso nos espaços onde ainda existe
cobertura” (BARBIERI, 2009, p. 141).
nto de sua análise,
enfatiza a indignação dos
trabalhadores, que se viam obrigados
cheiro, acúmulo
de lixo, condições de trabalho
insalubres, insegurança e constante
risco de incêndio” (BARBIERI, 2009, p.
O olhar crítico de Barbie
ri nos
ajuda a mapear um cenário conflitivo e
desigual. O autor percebeu que o
“processo de ocupação e
desocupação de barracões”
“uma imensa rede de
(BARBIERI, 2009, p.
140). O caso da Alegria da Zona Sul,
são (a ocupação
do antigo barracão do Salgueiro) e
queda (a expulsão, mais de uma
década mais tarde),também está
relacionado ao que podemos chamar
de “fim da era de ouro” da CdS. O
incêndio de 2011
6
“fábricas de sonhos” podiam ruir em
cinzas
com uma rapidez absurda,
numa triste fogueira televisionada. Um
combo de
erros estruturais brotou dos
escombros: o sistema de contenção de
incêndios não funcionou, os barracões
não contavam com brigadistas de
plantão, as chamas facilmente se
alastraram de
uma fábrica para a outra
e não consumiram o complexo inteiro
porque o último galpão afetado, o da
Grande Rio, não possuía conexão
direta com o módulo seguinte
(composto pelos barracões 5, 6 e 7).
Mudanças ocorreram, a partir
de então. Além de um controle
rigoroso das medidas de segurança (o
que vem gerando sucessivas
interdições), a utilização do espaço
como “complexo voltado para a
visitação turística” (BARBIERI, 2009,
p. 31) definhou. Trata
descompasso, afinal, a CdS está
6
Em outubro
de 2012, um incêndio
chassis e esculturas n
o antigo barracão do
Salgueiro, ocupado pela Alegria da Zona Sul.
A estrutura do galpão ficou seriamente
danificada, ameaçando desabar
impediu a escola de permanecer ali,
produzindo outr
os desfiles.
33
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
década mais tarde),também está
relacionado ao que podemos chamar
de “fim da era de ouro” da CdS. O
mostrou que as
“fábricas de sonhos” podiam ruir em
com uma rapidez absurda,
numa triste fogueira televisionada. Um
erros estruturais brotou dos
escombros: o sistema de contenção de
incêndios não funcionou, os barracões
não contavam com brigadistas de
plantão, as chamas facilmente se
uma fábrica para a outra
e não consumiram o complexo inteiro
porque o último galpão afetado, o da
Grande Rio, não possuía conexão
direta com o módulo seguinte
(composto pelos barracões 5, 6 e 7).
Mudanças ocorreram, a partir
de então. Além de um controle
mais
rigoroso das medidas de segurança (o
que vem gerando sucessivas
interdições), a utilização do espaço
como “complexo voltado para a
visitação turística” (BARBIERI, 2009,
p. 31) definhou. Trata
-se de um
descompasso, afinal, a CdS está
de 2012, um incêndio
consumiu
o antigo barracão do
Salgueiro, ocupado pela Alegria da Zona Sul.
A estrutura do galpão ficou seriamente
danificada, ameaçando desabar
– o que não
impediu a escola de permanecer ali,
os desfiles.
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
localizada em uma
encruzilhada de
circuitos culturais, região que vem
atraindo a cobiça de muitos
empreendedores
e gerado
acalorados debates ancorados nas
tensões entre arte, cultura,
especulação imobiliária, espaço
público e iniciativa privada, memória. A
gentrificação d
o “Boulevard Olímpico”,
as inaugurações do
AquaRio
2016, e da roda gigante
Rio Star
2019, o Circuito Histórico e
Arqueológico de Herança Africana, do
Instituto de Pesquisa e Memória
Pretos Novos (IPN), o Circuito Interno
da Fábrica Bhering, nada di
ter contribuído para o fomento de
atividades turísticas, artísticas,
culturais e educativas no espaço da
CdS
um instigante caso de
subaproveitamento, isolamento e
desconexão.Os shows com alegorias,
passistas, ritmistas e grupos de
fantasiados,
comuns até 2011,
deixaram de acontecer. As passarelas
panorâmicas, que permitiam que os
turistas vissem o interior dos galpões e
a construção das alegorias, não mais
foram abertas. Os programas de
visitação restam descentralizados:
algumas escolas oferece
m opções e
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
encruzilhada de
circuitos culturais, região que vem
atraindo a cobiça de muitos
e gerado
acalorados debates ancorados nas
tensões entre arte, cultura,
especulação imobiliária, espaço
público e iniciativa privada, memória. A
o “Boulevard Olímpico”,
AquaRio
, em
Rio Star
, em
2019, o Circuito Histórico e
Arqueológico de Herança Africana, do
Instituto de Pesquisa e Memória
Pretos Novos (IPN), o Circuito Interno
da Fábrica Bhering, nada di
sso parece
ter contribuído para o fomento de
atividades turísticas, artísticas,
culturais e educativas no espaço da
um instigante caso de
subaproveitamento, isolamento e
desconexão.Os shows com alegorias,
passistas, ritmistas e grupos de
comuns até 2011,
deixaram de acontecer. As passarelas
panorâmicas, que permitiam que os
turistas vissem o interior dos galpões e
a construção das alegorias, não mais
foram abertas. Os programas de
visitação restam descentralizados:
m opções e
se “abrem” aos visitantes; a imensa
maioria não gosta da ideia.
2.
A visão do quarto andar
São Sebastião do Rio de
Janeiro, inverno. Na tarde do dia 30 de
agosto de 2017, quarta
Igor Sérgio da Silva de Farias, de 21
anos, faleceu de
ntro do barracão de
número 9 da CdS, ocupado pela São
Clemente. O rapaz integrava uma das
equipes de escultura da escola de
Botafogo e não resistiu a um choque
elétrico. A tragédia não teve o mesmo
alcance midiático do incêndio, que,
apesar de não ter feit
foi noticiado em todo o mundo, dada a
projeção global do evento. Mas causou
revolta entre os trabalhadores da CdS,
que logo tomaram conhecimento da
notícia e interromperam os trabalhos
é sabido que uma mesma equipe pode
prestar serviços
escolas, de modo que as informações
circulam com
velocidade. Aderecistas,
escultores, ferreiros e pintores se
posicionaram em defesa de maior
segurança. Assim como as origens do
fogo de 2011 permanecem obscuras,
os detalhes do acidente que
escultor
são desencontrados. Conta
que ele utilizava um cortador de isopor
34
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
se “abrem” aos visitantes; a imensa
maioria não gosta da ideia.
A visão do quarto andar
São Sebastião do Rio de
Janeiro, inverno. Na tarde do dia 30 de
agosto de 2017, quarta
-feira, o jovem
Igor Sérgio da Silva de Farias, de 21
ntro do barracão de
número 9 da CdS, ocupado pela São
Clemente. O rapaz integrava uma das
equipes de escultura da escola de
Botafogo e não resistiu a um choque
elétrico. A tragédia não teve o mesmo
alcance midiático do incêndio, que,
apesar de não ter feit
o vítimas fatais,
foi noticiado em todo o mundo, dada a
projeção global do evento. Mas causou
revolta entre os trabalhadores da CdS,
que logo tomaram conhecimento da
notícia e interromperam os trabalhos
é sabido que uma mesma equipe pode
para diferentes
escolas, de modo que as informações
velocidade. Aderecistas,
escultores, ferreiros e pintores se
posicionaram em defesa de maior
segurança. Assim como as origens do
fogo de 2011 permanecem obscuras,
os detalhes do acidente que
vitimou o
são desencontrados. Conta
-se
que ele utilizava um cortador de isopor
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
caseiro, feito com resistência de
chuveiro e arame, em um local
parcialmente alagado, no quarto andar
do barracão.
As investigações da morte de
Igor
levaram fiscais do Ministério do
Trabalho aos 14 galpões do complexo
fabril. No dia 20 de outubro de 2017,
pouco menos de dois meses depois da
tragédia, o jornal
O Globo
interdição:
RIO -
Faltando cerca de quatro
meses para os desfiles do
Especial do carnaval do Rio, os
barracões da Cidade do Samba
estão interditados por problemas
com instalações elétricas e falta de
condições de trabalho. A
informação foi confirmada pelo
presidente da Liesa, Jorge
Castanheira, que afirmou que a
ação
partiu de fiscais do Ministério
do Trabalho. (...)
Um técnico de Segurança
do Trabalho que presta serviços
para uma das agremiações da
Cidade do Samba, e preferiu não
se identificar, disse que os fiscais
fizeram duas visitas às instalações
nesta semana. (...)
- Nesta sexta-
feira, algumas
escolas começaram a correr
contra o tempo para providenciar
os ajustes determinados pelo
Ministério do Trabalho. Não tem
jeito, normas são normas e
estamos lidando com centenas de
trabalhadores -
comentou o
funcionário (
RIGEL, 2017).
Ainda que de forma não
unificada, os barracões, aos poucos,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
caseiro, feito com resistência de
chuveiro e arame, em um local
parcialmente alagado, no quarto andar
As investigações da morte de
levaram fiscais do Ministério do
Trabalho aos 14 galpões do complexo
fabril. No dia 20 de outubro de 2017,
pouco menos de dois meses depois da
O Globo
noticiou a
Faltando cerca de quatro
meses para os desfiles do
Grupo
Especial do carnaval do Rio, os
barracões da Cidade do Samba
estão interditados por problemas
com instalações elétricas e falta de
condições de trabalho. A
informação foi confirmada pelo
presidente da Liesa, Jorge
Castanheira, que afirmou que a
partiu de fiscais do Ministério
Um técnico de Segurança
do Trabalho que presta serviços
para uma das agremiações da
Cidade do Samba, e preferiu não
se identificar, disse que os fiscais
fizeram duas visitas às instalações
feira, algumas
escolas começaram a correr
contra o tempo para providenciar
os ajustes determinados pelo
Ministério do Trabalho. Não tem
jeito, normas são normas e
estamos lidando com centenas de
comentou o
RIGEL, 2017).
Ainda que de forma não
unificada, os barracões, aos poucos,
voltaram a funcionar. Não era a
primeira vez que a CdS aparecia, nos
jornais de 2017, associada a
demandas judiciais. Os desfiles do
Grupo Especial daquele ano, ocorridos
nos dias
26 e 27 de fevereiro, foram
marcados por
acidentes. O último
carro alegórico da Paraíso do Tuiuti,
escola que abriu as apresentações de
domingo, atropelou e prensou pessoas
nas grades da arquibancada do Setor
1, deixando mais de 20 feridos. A
jornalista El
izabeth Ferreira Jofre,
depois de cirurgias e internações, não
sobreviveu. Muito se especulou sobre
as causas do acidente. Um inquérito
foi aberto e 4 pessoas foram indiciadas
por imperícia, imprudência e
negligência: o motorista do carro, o
engenheiro res
ponsável por assinar o
projeto, o diretor de carnaval e o
diretor de alegorias da agremiação. O
motorista ainda foi indiciado por
“praticar lesão corporal culposa na
direção de veículo automotor”
outro acidente ocorreu no início do
desfile da Unidos da
madrugada de terça
7
Informações presentes em:
https://g1.globo.com/rio-
de
janeiro/carnaval/2017/noticia/policia
inquerito-que-indicia-4-
pessoas
com-carro-da-tuiuti.ghtml
.
mar.2021.
35
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
voltaram a funcionar. Não era a
primeira vez que a CdS aparecia, nos
jornais de 2017, associada a
demandas judiciais. Os desfiles do
Grupo Especial daquele ano, ocorridos
26 e 27 de fevereiro, foram
acidentes. O último
carro alegórico da Paraíso do Tuiuti,
escola que abriu as apresentações de
domingo, atropelou e prensou pessoas
nas grades da arquibancada do Setor
1, deixando mais de 20 feridos. A
izabeth Ferreira Jofre,
depois de cirurgias e internações, não
sobreviveu. Muito se especulou sobre
as causas do acidente. Um inquérito
foi aberto e 4 pessoas foram indiciadas
por imperícia, imprudência e
negligência: o motorista do carro, o
ponsável por assinar o
projeto, o diretor de carnaval e o
diretor de alegorias da agremiação. O
motorista ainda foi indiciado por
“praticar lesão corporal culposa na
direção de veículo automotor”
7
. O
outro acidente ocorreu no início do
desfile da Unidos da
Tijuca, na
madrugada de terça
-feira: a parte
Informações presentes em:
de
-
janeiro/carnaval/2017/noticia/policia
-conclui-
pessoas
-por-acidente-
.
Acesso em: 03
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
superior do segundo carro desabou,
ferindo dezenas de
foliões. O laudo
pericial apontou a empresa de
equipamentos hidráulicos utilizados
para a elevação de um platô retangular
como a culpada pelo ocorrido
(BALT
AR, 2018), o que não livrou a
escola de processos movidos por
vítimas que precisaram do auxílio de
médicos e fisioterapeutas.
O jornalista Anderson Baltar
levantou uma série de mudanças
acarretadas pelos acidentes. Algumas,
ligadas ao desfile na pista, com
realização do teste de bafômetro em
todos os motoristas das escolas, além
da exigência de habilitação para dirigir
veículos deste porte” (BALTAR, 2018);
outras, dentro dos barracões: “o Crea
RJ (Conselho Regional de Engenharia
e Agronomia do Rio de Ja
realizou, ao longo dos preparativos
para os desfiles, um intenso trabalho
de fiscalização nos barracões das 13
escolas do Grupo Especial” (BALTAR,
2018). A matéria assinada para o
portal UOL Rio explica:
De acordo com o conselheiro do
Crea Marco An
tonio Barbosa, a
entidade visitou os barracões das
escolas para entender como os
carros alegóricos eram
confeccionados. E encontraram um
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
superior do segundo carro desabou,
foliões. O laudo
pericial apontou a empresa de
equipamentos hidráulicos utilizados
para a elevação de um platô retangular
como a culpada pelo ocorrido
AR, 2018), o que não livrou a
escola de processos movidos por
vítimas que precisaram do auxílio de
O jornalista Anderson Baltar
levantou uma série de mudanças
acarretadas pelos acidentes. Algumas,
ligadas ao desfile na pista, com
o “a
realização do teste de bafômetro em
todos os motoristas das escolas, além
da exigência de habilitação para dirigir
veículos deste porte” (BALTAR, 2018);
outras, dentro dos barracões: “o Crea
-
RJ (Conselho Regional de Engenharia
e Agronomia do Rio de Ja
neiro)
realizou, ao longo dos preparativos
para os desfiles, um intenso trabalho
de fiscalização nos barracões das 13
escolas do Grupo Especial” (BALTAR,
2018). A matéria assinada para o
De acordo com o conselheiro do
tonio Barbosa, a
entidade visitou os barracões das
escolas para entender como os
carros alegóricos eram
confeccionados. E encontraram um
quadro que não era o desejado,
com poucos engenheiros sendo
responsáveis por mais de 60
carros alegóricos. "Precisamos
entender que as escolas de samba
têm uma forma artesanal de
construção nas alegorias. Fomos
levar um pouco mais de
técnica.”(...) Segundo Barbosa, o
número de engenheiros
responsáveis pelas alegorias subiu
de 6 para 18, o que é considerado
aceitável pelo C
onselho. (...)
Também avançam as
discussões para a criação de
normas técnicas para carros
alegóricos. A ABNT (Associação
Brasileira de Normas Técnicas)
criou uma comissão para debater o
assunto. O grupo, que contará com
integrantes das ligas das escolas
de
samba do Rio de Janeiro e de
São Paulo, além de membros do
Crea e outros órgãos, deverá
iniciar seus trabalhos logo após o
Carnaval (BALTAR, 2018).
Algumas regras foram
implementadas, após 2017: a
obrigatoriedade do uso de EPIs
(equipamentos de proteçã
como capacetes, óculos, luvas e
máscaras), o estabelecimento de
pontos de apoio nas alegorias (para
que se tenha maior equilíbrio
cintos de segurança para escalada
possuem fechos do tipo mosquetão,
daí a necessidade de que os carros
tenh
am argolas de ferro soldadas em
diferentes pontos, a cada 2 metros,
para que os aderecistas possam ficar
dependurados, em caso de queda), a
36
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
quadro que não era o desejado,
com poucos engenheiros sendo
responsáveis por mais de 60
carros alegóricos. "Precisamos
entender que as escolas de samba
têm uma forma artesanal de
construção nas alegorias. Fomos
levar um pouco mais de
técnica.”(...) Segundo Barbosa, o
número de engenheiros
responsáveis pelas alegorias subiu
de 6 para 18, o que é considerado
onselho. (...)
Também avançam as
discussões para a criação de
normas técnicas para carros
alegóricos. A ABNT (Associação
Brasileira de Normas Técnicas)
criou uma comissão para debater o
assunto. O grupo, que contará com
integrantes das ligas das escolas
samba do Rio de Janeiro e de
São Paulo, além de membros do
Crea e outros órgãos, deverá
iniciar seus trabalhos logo após o
Carnaval (BALTAR, 2018).
Algumas regras foram
implementadas, após 2017: a
obrigatoriedade do uso de EPIs
(equipamentos de proteçã
o individual,
como capacetes, óculos, luvas e
máscaras), o estabelecimento de
pontos de apoio nas alegorias (para
que se tenha maior equilíbrio
- os
cintos de segurança para escalada
possuem fechos do tipo mosquetão,
daí a necessidade de que os carros
am argolas de ferro soldadas em
diferentes pontos, a cada 2 metros,
para que os aderecistas possam ficar
dependurados, em caso de queda), a
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
separação rigorosa de setores de
trabalho (escultura, pintura, fibra, vime
etc.) por meio de divisórias de madeira
ou plástico
8
, a transferência do
trabalho em fibra de vidro para algum
lugar ventilado (em vários barracões, a
“sala da fibra” era fechada, sem
janelas ou ventilação, o que poderia
gerar sérios danos ao aparelho
respiratório dos trabalhadores).
Para além d
as questões
estruturais gravíssimas, é fato que a
cadeia produtiva dos desfiles também
se atada a crônicos problemas
contratuais, o que se desdobra na
“cultura do calote”. É impressionante o
número de interlocutores que
compartilham de uma mesma históri
o não pagamento integral dos valores
negociados, o que faz com que um
trabalhador se sinta impelido a
continuar prestando serviços para uma
8
Fala-
se em “separação rigorosa” porque
divisões de espaços de trabalho sempre
existiram, mesmo em barracões improvisados.
Maria Laura Cavalcanti observou, em 1992,
que o barracão da Mocidade era
“desdobrável”: “A organização do espaço de
um barracão se transforma o tempo todo,
adequando-se às
necessidades do desenrolar
do seu ciclo anual. No barracão da Mocidade,
construíam-se, destruíam-
se ou modificavam
se salas, improvisava-
se um segundo andar,
mudava-
se a cozinha de lugar, erguiam
tapumes, e assim por diante” (CAVALCANTI,
1994, p. 129).
As regras impostas, a partir de
2017, serviram para que tal “lógica do
improviso” fosse revista, com limites mais
sólidos.
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
separação rigorosa de setores de
trabalho (escultura, pintura, fibra, vime
etc.) por meio de divisórias de madeira
, a transferência do
trabalho em fibra de vidro para algum
lugar ventilado (em vários barracões, a
“sala da fibra” era fechada, sem
janelas ou ventilação, o que poderia
gerar sérios danos ao aparelho
respiratório dos trabalhadores).
as questões
estruturais gravíssimas, é fato que a
cadeia produtiva dos desfiles também
se atada a crônicos problemas
contratuais, o que se desdobra na
“cultura do calote”. É impressionante o
número de interlocutores que
compartilham de uma mesma históri
a:
o não pagamento integral dos valores
negociados, o que faz com que um
trabalhador se sinta impelido a
continuar prestando serviços para uma
se em “separação rigorosa” porque
divisões de espaços de trabalho sempre
existiram, mesmo em barracões improvisados.
Maria Laura Cavalcanti observou, em 1992,
que o barracão da Mocidade era
“desdobrável”: “A organização do espaço de
um barracão se transforma o tempo todo,
necessidades do desenrolar
do seu ciclo anual. No barracão da Mocidade,
se ou modificavam
-
se um segundo andar,
se a cozinha de lugar, erguiam
-se
tapumes, e assim por diante” (CAVALCANTI,
As regras impostas, a partir de
2017, serviram para que tal “lógica do
improviso” fosse revista, com limites mais
determinada escola, no próximo ciclo
carnavalesco, sob a promessa de
receber a quantia devida do ciclo
anterior (
daí o porquê da utilização da
palavra “aprisionamento”, momentos
atrás –
o valor devido é incluído no
montante negociado para o ano
seguinte, o que vira uma bola de
neve). Na prática, os endividamentos
tendem a aumentar, donde se
desdobra a dificuldade, al
pavor, de pleitear as cifras mediante
processos judiciais. É compreensível o
medo que muitos sentem, uma vez
que, a depender da escola,
simbolicamente não se estaria
processando uma empresa, mas
dirigentes com vasta ficha criminal. A
pesquisa de Ca
valcanti havia
atentado para tal aspecto, em 1992.
Segundo a autora, a negociação dos
contratos era incômoda mesmo entre
os profissionais que gozavam de maior
status. Depreende-
se do caderno de
campo que
os carnavalescos Renato
Lage e Lilian Rabello exp
desconforto quando a pauta eram os
contratos, que, por vezes, se limitavam
aos acordos “de boca”: palavra falada
e aperto de mão. O seguinte trecho
lança luzes sobre a problemática,
destacando a irritação da carnavalesca
37
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
determinada escola, no próximo ciclo
carnavalesco, sob a promessa de
receber a quantia devida do ciclo
daí o porquê da utilização da
palavra “aprisionamento”, momentos
o valor devido é incluído no
montante negociado para o ano
seguinte, o que vira uma bola de
neve). Na prática, os endividamentos
tendem a aumentar, donde se
desdobra a dificuldade, al
iada ao
pavor, de pleitear as cifras mediante
processos judiciais. É compreensível o
medo que muitos sentem, uma vez
que, a depender da escola,
simbolicamente não se estaria
processando uma empresa, mas
dirigentes com vasta ficha criminal. A
valcanti havia
atentado para tal aspecto, em 1992.
Segundo a autora, a negociação dos
contratos era incômoda mesmo entre
os profissionais que gozavam de maior
se do caderno de
os carnavalescos Renato
Lage e Lilian Rabello exp
ressavam
desconforto quando a pauta eram os
contratos, que, por vezes, se limitavam
aos acordos “de boca”: palavra falada
e aperto de mão. O seguinte trecho
lança luzes sobre a problemática,
destacando a irritação da carnavalesca
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
para com a estrutura
“supe
rpaternalista” (CAVALCANTI,
1994, p. 65) observada na escola para
a qual ela e o companheiro prestavam
serviço, a Mocidade de Castor de
Andrade:
A veemência das opiniões de Lilian
deve ser entendida também no
contexto de sua militância à frente
da
Associação dos Carnavalescos.
Na visão da Associação, as
escolas recusavam
reconhecer a existência de um
mercado profissional que
permitisse estabelecer critérios
para fixar preços para os contr
[...]
Renato, por sua vez,
concordava com a necessi
carnavalesco se profissionalizar,
mas assinalava também a
dificuldade de unir as pessoas: “o
carnaval é um show, então é uma
competição muito grande, um quer
engolir o outro.
[
brigamos por um bom contrato.
não consegue melhor porque
outros não fazem. Aí eles falam em
mercado, ora, o mercado não
existe.”
A situação era, em suma, a
seguinte: o contrato se fechava
abaixo de suas expectativas,
entretanto, no decorrer do ano,
ganhavam no
final mais do que o
negociado. [...]
A negociação
subjacente é a da realidade acerca
da qual patronos e carnavalescos
tinham, no caso, definições
conflitantes. Negociar o contrato
por baixo, mesmo que pagando, ou
recebendo, depois mais do que o
inicialmente estabelecido, é manter
a relação no domínio da
patronagem, da pessoalidade e do
favor (CAVALCANTI, 1994, p.
64/65).
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
para com a estrutura
rpaternalista” (CAVALCANTI,
1994, p. 65) observada na escola para
a qual ela e o companheiro prestavam
serviço, a Mocidade de Castor de
A veemência das opiniões de Lilian
deve ser entendida também no
contexto de sua militância à frente
Associação dos Carnavalescos.
Na visão da Associação, as
escolas recusavam
-se a
reconhecer a existência de um
mercado profissional que
permitisse estabelecer critérios
para fixar preços para os contr
atos.
Renato, por sua vez,
concordava com a necessi
dade do
carnavalesco se profissionalizar,
mas assinalava também a
dificuldade de unir as pessoas: “o
carnaval é um show, então é uma
competição muito grande, um quer
[
...] Sempre
brigamos por um bom contrato.
não consegue melhor porque
os
outros não fazem. Aí eles falam em
mercado, ora, o mercado não
A situação era, em suma, a
seguinte: o contrato se fechava
abaixo de suas expectativas,
entretanto, no decorrer do ano,
final mais do que o
A negociação
subjacente é a da realidade acerca
da qual patronos e carnavalescos
tinham, no caso, definições
conflitantes. Negociar o contrato
por baixo, mesmo que pagando, ou
recebendo, depois mais do que o
inicialmente estabelecido, é manter
a relação no domínio da
patronagem, da pessoalidade e do
favor (CAVALCANTI, 1994, p.
Cavalcanti acessava
estrutura de relações trabalhistas
fincada no instável terreno do
compadrio, da ausência de garantias
legais, de uma lógica de
redigida nas entrelin
has. Menos CLT e
mais fio do bigode.
ainda, que havia uma hierarquia
simbólica entre os profissionais, muito
em face da perpetuação de ideias
rasas de “arte” e “cultura”: alguns
trabalhadores, como os carnavalescos
e os escultores, eram vistos
“artistas” e, por conta disso, gozavam
de privilégios; outros, a exemplo de
ferreiros, marceneiros, modelistas e
vidraceiros, não passavam de
“trabalhadores comuns”. A costura,
setor trabalhista majoritariamente
feminino, ainda costuma ser vista
como
algo “menor”, em relação à
adereçaria
ecos do secular
machismo. A pintura é um caso
híbrido:no interior de uma mesma
equipe de pintores, são feitas
diferenciações entre “pintores de arte”
e “pintores de base”, algo explicado
pelo profissional Rafael Vie
Segundo Vieira, em conversa
(por mensagens escritas)
feitura deste trabalho
38
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Trabalho cultural e precarização
")
Cavalcanti acessava
uma
estrutura de relações trabalhistas
fincada no instável terreno do
compadrio, da ausência de garantias
legais, de uma lógica de
“confiança”
has. Menos CLT e
mais fio do bigode.
E observava,
ainda, que havia uma hierarquia
simbólica entre os profissionais, muito
em face da perpetuação de ideias
rasas de “arte” e “cultura”: alguns
trabalhadores, como os carnavalescos
e os escultores, eram vistos
como
“artistas” e, por conta disso, gozavam
de privilégios; outros, a exemplo de
ferreiros, marceneiros, modelistas e
vidraceiros, não passavam de
“trabalhadores comuns”. A costura,
setor trabalhista majoritariamente
feminino, ainda costuma ser vista
algo “menor”, em relação à
ecos do secular
machismo. A pintura é um caso
híbrido:no interior de uma mesma
equipe de pintores, são feitas
diferenciações entre “pintores de arte”
e “pintores de base”, algo explicado
pelo profissional Rafael Vie
ira.
Segundo Vieira, em conversa
(por mensagens escritas)
para a
feitura deste trabalho
, os “pintores de
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
base (liso)” são aqueles
“que pintam
as peças geralmente de uma cor só.
o pintor de arte tem uma
responsabilidade maior, por isso
valores da mão-de-
obra são
diferentes.” Depreende-
se que um
“pintor de arte é o responsável pelo
“acabamento” artístico da obra,
utilizando variadas técnicas sobre a
base lisa. Vieira conta que chegou aos
barracões no final da década de 2000,
graças à indicação de um a
chamado Cássio, que o conhecia de
trabalhos realizados fora do universo
das escolas de samba: “na época,
estavam precisando de pintores de
aerografia, no barracão da Vila Isabel.
Então aprendi a fazer as pinturas de
alegorias e fantasias.” Ainda de ac
com ele, que foi entrevistado pela
revista O Prelo,
em fevereiro de 2021,
o carnaval, com o passar do tempo, se
tornou a principal fonte de renda,
ocupando ao menos 6 meses do ano
(GRANADO et al., 2021).
Sobre os acordos financeiros,
Vieira explicou que as equipes
“fecham o trabalho” por empreitada,
calculando o valor a partir de uma
ideia aproximada do que será feito e
tentando antecipar as possíveis
mudanças. Cavalcanti observara isso,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
“que pintam
as peças geralmente de uma cor só.
o pintor de arte tem uma
responsabilidade maior, por isso
os
obra são
se que um
“pintor de arte é o responsável pelo
“acabamento” artístico da obra,
utilizando variadas técnicas sobre a
base lisa. Vieira conta que chegou aos
barracões no final da década de 2000,
graças à indicação de um a
migo
chamado Cássio, que o conhecia de
trabalhos realizados fora do universo
das escolas de samba: “na época,
estavam precisando de pintores de
aerografia, no barracão da Vila Isabel.
Então aprendi a fazer as pinturas de
alegorias e fantasias.” Ainda de ac
ordo
com ele, que foi entrevistado pela
em fevereiro de 2021,
o carnaval, com o passar do tempo, se
tornou a principal fonte de renda,
ocupando ao menos 6 meses do ano
Sobre os acordos financeiros,
Vieira explicou que as equipes
“fecham o trabalho” por empreitada,
calculando o valor a partir de uma
ideia aproximada do que será feito e
tentando antecipar as possíveis
mudanças. Cavalcanti observara isso,
em 1992, ao acompa
do pintor Itamar, no barracão da
Mocidade: “trabalhava por empreitada,
via o conjunto do trabalho e propunha
um orçamento por escrito. O
encarregado geral do barracão
intermediava a negociação com a
direção da escola” (CAVALCANTI,
1994, p.
145). O discurso de Itamar
era marcado pela cautela: na visão
dele, um barracão era um espaço de
“mistura”, sendo necessário “tomar
cuidado” com pessoas e situações de
risco (CAVALCANTI, 1994, p. 145).
Também é observável um teor de
preocupação na fala de
quem “sem dúvidas, a parte da
segurança está mais visível nos
últimos anos. Presenciei um acidente e
não pretendo ver outro. Um dos
maiores problemas é ter que se virar
com cortes de verbas.
em todo mundo da equipe.
O acident
e a que Vieira se
refere foi aquele que vitimou o escultor
Igor Sérgio de Farias, fato que o
abalou profundamente. Cavalcanti
percebia, no interior de um barracão
“pré-
CdS”, que o risco de acidentes
fatais era uma constante, o que nem
sempre era encarado c
seriedade:
39
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
em 1992, ao acompa
nhar o trabalho
do pintor Itamar, no barracão da
Mocidade: “trabalhava por empreitada,
via o conjunto do trabalho e propunha
um orçamento por escrito. O
encarregado geral do barracão
intermediava a negociação com a
direção da escola” (CAVALCANTI,
145). O discurso de Itamar
era marcado pela cautela: na visão
dele, um barracão era um espaço de
“mistura”, sendo necessário “tomar
cuidado” com pessoas e situações de
risco (CAVALCANTI, 1994, p. 145).
Também é observável um teor de
preocupação na fala de
Vieira, para
quem “sem dúvidas, a parte da
segurança está mais visível nos
últimos anos. Presenciei um acidente e
não pretendo ver outro. Um dos
maiores problemas é ter que se virar
com cortes de verbas.
Isso se reflete
em todo mundo da equipe.
e a que Vieira se
refere foi aquele que vitimou o escultor
Igor Sérgio de Farias, fato que o
abalou profundamente. Cavalcanti
percebia, no interior de um barracão
CdS”, que o risco de acidentes
fatais era uma constante, o que nem
sempre era encarado c
om a devida
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
como acontecia com frequência
sobretudo entre os mais jovens,
eles falavam do perigo e da
ameaça à saúde em tom de
brincadeira. Comentavam o caso,
ocorrido no ano anterior (1991), de
um ajudante que entrara dentro de
um leão de fibr
a de vidro, para
fazer o acabamento da peça, e
saíra desmaiado: se demorasse
morria” (CAVALCANTI, 1994, p.
144).
O caso narrado pela
pesquisadora foi coletado durante
conversas com a equipe de fibra de
vidro, formada por “operários” (termo
que, segundo ela, era o utilizado por
Seu Reginaldo, trabalhador do setor)
que chamavam a atenção para a
insalubridade do “proces
moldagem”, marcado pela utilização
de um combinado de produtos
químicos (CAVALCANTI, 1994, p.
143). A autora percebeu que havia
uma inflamada rivalidade entre as
equipes da fibra e os profissionais da
escultura, a começar pelo fato de que
os escultor
es eram vistos como
“artistas”:
As funções de concepção e
coordenação da execução
conferem ao carnavalesco o lugar
de artista-
mor do barracão.
porém uma outra unanimidade no
que diz respeito à qualificação de
uma atividade como arte: a
escultura. No b
arracão, e no
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
como acontecia com frequência
sobretudo entre os mais jovens,
eles falavam do perigo e da
ameaça à saúde em tom de
brincadeira. Comentavam o caso,
ocorrido no ano anterior (1991), de
um ajudante que entrara dentro de
a de vidro, para
fazer o acabamento da peça, e
saíra desmaiado: se demorasse
morria” (CAVALCANTI, 1994, p.
O caso narrado pela
pesquisadora foi coletado durante
conversas com a equipe de fibra de
vidro, formada por “operários” (termo
que, segundo ela, era o utilizado por
Seu Reginaldo, trabalhador do setor)
que chamavam a atenção para a
insalubridade do “proces
so de
moldagem”, marcado pela utilização
de um combinado de produtos
químicos (CAVALCANTI, 1994, p.
143). A autora percebeu que havia
uma inflamada rivalidade entre as
equipes da fibra e os profissionais da
escultura, a começar pelo fato de que
es eram vistos como
As funções de concepção e
coordenação da execução
conferem ao carnavalesco o lugar
mor do barracão.
porém uma outra unanimidade no
que diz respeito à qualificação de
uma atividade como arte: a
arracão, e no
carnaval de modo geral, todos
consideram o escultor
(CAVALCANTI, 1994, p
A rivalidade se dava porque o
mesmo status não era conferido aos
profissionais da fibra
de uma certa ironia, no discurso de
Seu R
eginaldo, ao se autodeclarar um
“operário”. De acordo com Cavalcanti,
o escultor Elson se recusava a conferir
o caráter artístico à moldagem: “a
moldagem não era arte porque não
criava nada de novo” (CAVALCANTI,
1994, p. 139). Entre os “operários”, no
enta
nto, o entendimento era outro:
“artistas eram eles que faziam dez
peças, enquanto o escultor fazia
apenas uma” (CAVALCANTI, 1994, p.
143). É interessante perceber o quanto
essa disputa permanece viva, na CdS
-
o que nos leva ao caso de Marina
Vergara.
Ver
gara é uma das poucas
“escultoras-
chefe” do carnaval carioca,
caso raro em um mercado dominado
por homens e por relações
descentralizadas de trabalho. Segundo
os relatos dela própria, contribuiu para
isso o diploma de Graduação em Artes
Visuais Escultura
Belas Artes da UFRJ: “a EBA ajudou,
sim, nesse processo de entrar e ser
40
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
carnaval de modo geral, todos
consideram o escultor
um artista”
(CAVALCANTI, 1994, p
. 139).
A rivalidade se dava porque o
mesmo status não era conferido aos
profissionais da fibra
daí a presença
de uma certa ironia, no discurso de
eginaldo, ao se autodeclarar um
“operário”. De acordo com Cavalcanti,
o escultor Elson se recusava a conferir
o caráter artístico à moldagem: “a
moldagem não era arte porque não
criava nada de novo” (CAVALCANTI,
1994, p. 139). Entre os “operários”, no
nto, o entendimento era outro:
“artistas eram eles que faziam dez
peças, enquanto o escultor fazia
apenas uma” (CAVALCANTI, 1994, p.
143). É interessante perceber o quanto
essa disputa permanece viva, na CdS
o que nos leva ao caso de Marina
gara é uma das poucas
chefe” do carnaval carioca,
caso raro em um mercado dominado
por homens e por relações
descentralizadas de trabalho. Segundo
os relatos dela própria, contribuiu para
isso o diploma de Graduação em Artes
pela Escola de
Belas Artes da UFRJ: “a EBA ajudou,
sim, nesse processo de entrar e ser
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
aceita no carnaval.
Comecei batendo
na porta do Pavilhão de São Cristóvão.
Eu queria fazer, mas era
embarreirada. Sofri muitos tipos de
preconceitos. Falavam que você n
tinha força, que era muito delicada,
que estava ali por outra coisa, então
foi preciso me vestir de Joana d’Arc e
ir pra guerra. Na época não parecia
tão difícil, mas hoje percebo o quanto
foi difícil.”
Escrever sobre os processos
criativos, as relaçõe
s de trabalho e as
técnicas desenvolvidas nos barracões
fez com que Vergara refletisse acerca
(nos termos dela, “se desse conta”) da
gravidade dos preconceitos de que
fora tima
um quadro de assédio
moral. Hoje, ela é vista como
profissional que possui
uma “sólida
carreira artística” (FEIJÓ;
NAZARETH,
2011) para além dos círculos
carnavalescos: em 2019, por exemplo,
expôs 9 peças na mostra
na Alma,
no Centro Cultural Correios.
O prestígio conquistado enquanto
artista que possui uma “produção
a
utoral” e o trânsito pela vida
acadêmica (no mesmo ano de 2019,
ingressou no Mestrado em História das
Ciências e das Técnicas e
Epistemologia, na UFRJ) permitiram
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
Comecei batendo
na porta do Pavilhão de São Cristóvão.
Eu queria fazer, mas era
embarreirada. Sofri muitos tipos de
preconceitos. Falavam que você n
ão
tinha força, que era muito delicada,
que estava ali por outra coisa, então
foi preciso me vestir de Joana d’Arc e
ir pra guerra. Na época não parecia
tão difícil, mas hoje percebo o quanto
Escrever sobre os processos
s de trabalho e as
técnicas desenvolvidas nos barracões
fez com que Vergara refletisse acerca
(nos termos dela, “se desse conta”) da
gravidade dos preconceitos de que
um quadro de assédio
moral. Hoje, ela é vista como
uma “sólida
NAZARETH,
2011) para além dos círculos
carnavalescos: em 2019, por exemplo,
expôs 9 peças na mostra
Corrupções
no Centro Cultural Correios.
O prestígio conquistado enquanto
artista que possui uma “produção
utoral” e o trânsito pela vida
acadêmica (no mesmo ano de 2019,
ingressou no Mestrado em História das
Ciências e das Técnicas e
Epistemologia, na UFRJ) permitiram
que ela optasse por se dedicar apenas
ao trabalho no GRES Acadêmicos do
Grande Rio, ou seja,
mais raro de exclusividade contratual
entre “empreiteiros”.
Em live
do dia 18 de fevereiro
de 2021, ocorrida na plataforma
Carnaval
para divulgar a exposição
SEMBA/SAMBA
-
atravessamentos,
aberta no Museu do
Samba, em dezembro
Vergara relatou que a criação da
CdS como um divisor de águas: “as
coisas melhoraram pra gente
(mulheres), por causa das condições
de barracão. É mais limpo, você
consegue ter um ambiente iluminado,
um tempo de trabalho diferente.
Porque eu v
im de uma época em que
você não tinha nem banheiro. Então é
muito difícil pra uma mulher ficar. Eu
tive uma certa proteção dos
carnavalescos. Por ser mulher nesse
mundo masculino, de diretores e
outros escultores, sempre precisei
entrar nos espaços ouvindo
coisas. Eu chegava em casa e
9
A conversa integral pode
seguinte sítio:
https://www.youtube.com/watch?v=5
5MF1cpfcQ&t=1s&ab_channel=MaisCarnaval
Acesso em: 07 mar.
2021.
41
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
que ela optasse por se dedicar apenas
ao trabalho no GRES Acadêmicos do
Grande Rio, ou seja,
um caso ainda
mais raro de exclusividade contratual
do dia 18 de fevereiro
de 2021, ocorrida na plataforma
Mais
para divulgar a exposição
-
corpos e
aberta no Museu do
Samba, em dezembro
de 2020
9
,
Vergara relatou que a criação da
CdS como um divisor de águas: “as
coisas melhoraram pra gente
(mulheres), por causa das condições
de barracão. É mais limpo, você
consegue ter um ambiente iluminado,
um tempo de trabalho diferente.
im de uma época em que
você não tinha nem banheiro. Então é
muito difícil pra uma mulher ficar. Eu
tive uma certa proteção dos
carnavalescos. Por ser mulher nesse
mundo masculino, de diretores e
outros escultores, sempre precisei
entrar nos espaços ouvindo
muitas
coisas. Eu chegava em casa e
ser conferida no
https://www.youtube.com/watch?v=5
-
5MF1cpfcQ&t=1s&ab_channel=MaisCarnaval
.
2021.
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
chorava. Aos poucos, conquistei
espaço.”
A referência aos banheiros
leva ao depoimento de Rosa
Magalhães, em
Fazendo Carnaval
necessidade de ir a
estabelecimentos
comerciais dos arredores, objetivando
o acesso a
um vaso sanitário)
inexistência de banheiros, observável
até hoje em alguns barracões mais
precarizados, desvela o fato de que
tais espaços são majoritariamente
masculinos. “O homem se vira por ali
mesmo”
constatação que traz no
bojo, ainda, a certeza
de sujeira e mau
cheiro (o narrado por Barbieri, ao
visitar o “Carandiru”). Outro ponto de
contato com Magalhães é a relação de
Vergara
com a EBA: “quando eu fazia
a Belas Artes, na época do Fernando
Pamplona, o lance pra ganhar dinheiro
era o carnaval. E
u tinha 19 anos e
vislumbrava fazer coisas grandes no
carnaval. O carnaval era o lugar onde
um escultor ganhava potencial pra
continuar como artista acadêmico. Eu
era uma artista que gostava do
barroco: olhos profundos, bocas
abertas, quanto mais pro
mais aparece na avenida. Porque uma
peça passa por várias etapas: vai ter a
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
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(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
chorava. Aos poucos, conquistei
A referência aos banheiros
nos
leva ao depoimento de Rosa
Fazendo Carnaval
(a
estabelecimentos
comerciais dos arredores, objetivando
um vaso sanitário)
. A
inexistência de banheiros, observável
até hoje em alguns barracões mais
precarizados, desvela o fato de que
tais espaços são majoritariamente
masculinos. “O homem se vira por ali
constatação que traz no
de sujeira e mau
cheiro (o narrado por Barbieri, ao
visitar o “Carandiru”). Outro ponto de
contato com Magalhães é a relação de
com a EBA: “quando eu fazia
a Belas Artes, na época do Fernando
Pamplona, o lance pra ganhar dinheiro
u tinha 19 anos e
vislumbrava fazer coisas grandes no
carnaval. O carnaval era o lugar onde
um escultor ganhava potencial pra
continuar como artista acadêmico. Eu
era uma artista que gostava do
barroco: olhos profundos, bocas
abertas, quanto mais pro
fundidade,
mais aparece na avenida. Porque uma
peça passa por várias etapas: vai ter a
empastelação, a fibra, os adereços, e
aí o talhe se perde.”
O que Vergara explicita é que o
trabalho executado em um barracão
possui logísticas próprias, etapas a
serem
seguidas, o que exige uma
coordenação (que, ao menos no plano
teórico, fica a cargo do “diretor de
barracão” ou “diretor de alegorias”,
profissional responsável pela gerência
da fábrica). Uma escultura em isopor,
depois de talhada, passa por
diferentes et
apas: empastelação com
cola e papel, feitura de formas em
gesso, fibra ou resina (nos casos de
peças em série), pintura, adereçaria,
às vezes vidraçaria, movimentos e
iluminação. Não bastasse, o
“detalhe” mais importante: a colocação
das peças nos carro
equipes de ferragem
adquirir cores dramáticas, uma vez
que qualquer erro estrutural gera
problemas irreversíveis. A “logística”
interna às vezes falha por motivos
simples, como a competição por
espaços físicos e a ausência de
diálogo
ruídos da “rivalidade”
abordada por Cavalcanti. Vergara
narrou que a produção do desfile de
2018 da Grande Rio, que homenageou
o comunicador Chacrinha, foi difícil: “a
42
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
empastelação, a fibra, os adereços, e
O que Vergara explicita é que o
trabalho executado em um barracão
possui logísticas próprias, etapas a
seguidas, o que exige uma
coordenação (que, ao menos no plano
teórico, fica a cargo do “diretor de
barracão” ou “diretor de alegorias”,
profissional responsável pela gerência
da fábrica). Uma escultura em isopor,
depois de talhada, passa por
apas: empastelação com
cola e papel, feitura de formas em
gesso, fibra ou resina (nos casos de
peças em série), pintura, adereçaria,
às vezes vidraçaria, movimentos e
iluminação. Não bastasse, o
“detalhe” mais importante: a colocação
das peças nos carro
s, por meio das
equipes de ferragem
o que pode
adquirir cores dramáticas, uma vez
que qualquer erro estrutural gera
problemas irreversíveis. A “logística”
interna às vezes falha por motivos
simples, como a competição por
espaços físicos e a ausência de
ruídos da “rivalidade”
abordada por Cavalcanti. Vergara
narrou que a produção do desfile de
2018 da Grande Rio, que homenageou
o comunicador Chacrinha, foi difícil: “a
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
técnica usada pra fazer uma escultura
é criada junto com o carnavalesco. O
carn
avalesco é um mediador e você é
uma ferramenta que cria junto. Pode
existir uma dificuldade de
entrosamento de equipes, na hora de
encaixar as esculturas no carro. No
ano do Chacrinha, ninguém
conversava: o ferreiro, o empastelador,
a fibra. Quando o
integração, dificulta muito o trabalho.
Que o trabalho em um barracão,
mesmo depois da construção da CdS,
é marcado por dificuldades de toda
sorte, isso não se discute. E é curioso
notar como mesmo no discurso de
uma profissional oriunda da EBA a
id
eia de “saber do barracão” se impõe:
“o saber é totalmente do barracão,
uma cnica que só existe no barracão
e que é resgatada através da
memória, uma tradição oral. Você
um escultor mais antigo fazendo e
aprimora a cnica. A gente vai se
copiando e c
riando ferramentas: tem
uma faca específica pra uma coisa,
uma máquina de corte pra outra. É
uma técnica oral, o existe na
Academia, somente nos ateliês de
quem trabalha com o carnaval. Eu
costumo dizer que a escola de samba
é o doutorado da escultura: f
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
técnica usada pra fazer uma escultura
é criada junto com o carnavalesco. O
avalesco é um mediador e você é
uma ferramenta que cria junto. Pode
existir uma dificuldade de
entrosamento de equipes, na hora de
encaixar as esculturas no carro. No
ano do Chacrinha, ninguém
conversava: o ferreiro, o empastelador,
a fibra. Quando o
essa
integração, dificulta muito o trabalho.
Que o trabalho em um barracão,
mesmo depois da construção da CdS,
é marcado por dificuldades de toda
sorte, isso não se discute. E é curioso
notar como mesmo no discurso de
uma profissional oriunda da EBA a
eia de “saber do barracão” se impõe:
“o saber é totalmente do barracão,
uma cnica que só existe no barracão
e que é resgatada através da
memória, uma tradição oral. Você
um escultor mais antigo fazendo e
aprimora a cnica. A gente vai se
riando ferramentas: tem
uma faca específica pra uma coisa,
uma máquina de corte pra outra. É
uma técnica oral, o existe na
Academia, somente nos ateliês de
quem trabalha com o carnaval. Eu
costumo dizer que a escola de samba
é o doutorado da escultura: f
azer
rápido, aprendendo técnicas novas em
questão de minutos.” O relógio, afinal,
pode ser implacável.Para além da
“técnica” no singular apregoada pelo
conselheiro do Crea Marco Antonio
Barbosa, conforme o narrado na
reportagem de Baltar, o chão de um
barr
acão é um convite às pluralidades.
Conclusão
Eu me lembro com clareza de
uma afirmação compartilhada por
torcedores, nas arquibancadas da
Sapucaí ou nos fóruns de discussão
da Internet, no período de 2006 a
2010: “depois da CdS, a qualidade
artística do e
spetáculo caiu.” Tal
afirmação nunca me pareceu sensata:
por que melhores estruturas de
trabalho prejudicariam o visual dos
desfiles? Qual correlação haveria entre
uma coisa e outra? Hoje, depois de
anos trabalhando como carnavalesco,
ouso afirmar que tal
ideia pode ter sido
um dos últimos suspiros da visão (tão
romântica quanto perigosa)
qual “quanto mais dificuldade, melhor.”
No caso, quanto mais precariedade.
Os tantos acidentes ocorridos de 2010
para dissolveram alguns pré
conceitos, de mod
o que a defesa do
“mambembe” parece restrita a jogos
43
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
rápido, aprendendo técnicas novas em
questão de minutos.” O relógio, afinal,
pode ser implacável.Para além da
“técnica” no singular apregoada pelo
conselheiro do Crea Marco Antonio
Barbosa, conforme o narrado na
reportagem de Baltar, o chão de um
acão é um convite às pluralidades.
Eu me lembro com clareza de
uma afirmação compartilhada por
torcedores, nas arquibancadas da
Sapucaí ou nos fóruns de discussão
da Internet, no período de 2006 a
2010: “depois da CdS, a qualidade
spetáculo caiu.” Tal
afirmação nunca me pareceu sensata:
por que melhores estruturas de
trabalho prejudicariam o visual dos
desfiles? Qual correlação haveria entre
uma coisa e outra? Hoje, depois de
anos trabalhando como carnavalesco,
ideia pode ter sido
um dos últimos suspiros da visão (tão
romântica quanto perigosa)
segundo a
qual “quanto mais dificuldade, melhor.”
No caso, quanto mais precariedade.
Os tantos acidentes ocorridos de 2010
para dissolveram alguns pré
-
o que a defesa do
“mambembe” parece restrita a jogos
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
discursivos cujo objetivo é evocar certa
poeticidade, no plano do visual. No dia
a dia dos barracões, não mais
espaço para o improviso: vidas foram
perdidas e todo mundo sente fome.
Ainda nos seus pri
meses, a pandemia de Covid
afetou a cadeia produtiva do carnaval,
uma vez que pairava sobre a CdS uma
outra nuvem: de incertezas. A nuvem
desabou em tempestade no segundo
semestre de 2020: a desastrosa
condução da crise sanitária jogou para
longe
a esperança de ziriguidum em
fevereiro. No dia 24 de setembro de
2020, a Liesa e a Riotur
anunciaram o
adiamento dos desfiles das escolas de
samba para julho do ano seguinte. A
decisão, tomada em um momento em
que os números da pandemia
indicavam uma tími
da queda, permitiu
que algumas escolas estudassem
possibilidades seguras de trabalho.
Em 21 de janeiro de 2021, diante da
iminência de um agravamento da crise
(o que se confirmou pouco tempo
depois), o prefeito Eduardo Paes
anunciou o cancelamento do “carn
de meio de ano.” A forma como a
decisão foi publicizada causou
desconforto: via redes sociais do
prefeito, não foi acompanhada de um
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
discursivos cujo objetivo é evocar certa
poeticidade, no plano do visual. No dia
a dia dos barracões, não mais
espaço para o improviso: vidas foram
perdidas e todo mundo sente fome.
Ainda nos seus pri
meiros
meses, a pandemia de Covid
-19
afetou a cadeia produtiva do carnaval,
uma vez que pairava sobre a CdS uma
outra nuvem: de incertezas. A nuvem
desabou em tempestade no segundo
semestre de 2020: a desastrosa
condução da crise sanitária jogou para
a esperança de ziriguidum em
fevereiro. No dia 24 de setembro de
anunciaram o
adiamento dos desfiles das escolas de
samba para julho do ano seguinte. A
decisão, tomada em um momento em
que os números da pandemia
da queda, permitiu
que algumas escolas estudassem
possibilidades seguras de trabalho.
Em 21 de janeiro de 2021, diante da
iminência de um agravamento da crise
(o que se confirmou pouco tempo
depois), o prefeito Eduardo Paes
anunciou o cancelamento do “carn
aval
de meio de ano.” A forma como a
decisão foi publicizada causou
desconforto: via redes sociais do
prefeito, não foi acompanhada de um
plano de contingência que
contemplasse os trabalhadores.
Tão logo a pandemia mostrou o
seu potencial destrutivo, red
solidariedade foram tecidas ao redor
das agremiações carnavalescas, o que
foi observado pelos pesquisadores
Lucas Bártolo e João Gustavo Melo de
Sousa. Os autores acompanharam as
ações de mapeamento social e
posterior arrecadação e distribuição de
ce
stas básicas pelo GRES
Acadêmicos do Grande Rio,
enxergando no Mestre de Bateria,
Fabrício Machado
de mediação. Nos termos dos autores,
“o agravamento da desigualdade
social se faz sensível e provoca
sofrimento,
tanto pela doença, quanto
pela insegurança alimentar”
(BÁRTOLO;
SOUSA, 2020, p. 199). A
opção por encarar a crise a partir da
ótica da bateria expande as
discussões acerca da ideia de
“trabalho” no universo das escolas de
samba, uma vez que músicos,
passistas, ritmistas, mestres
porta-
bandeiras nem sempre o
vistos como “trabalhadores do
carnaval”
o que evidencia outros
quadros de precarização, com a
recorrência de cachês baixíssimos,
44
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
plano de contingência que
contemplasse os trabalhadores.
Tão logo a pandemia mostrou o
seu potencial destrutivo, red
es de
solidariedade foram tecidas ao redor
das agremiações carnavalescas, o que
foi observado pelos pesquisadores
Lucas Bártolo e João Gustavo Melo de
Sousa. Os autores acompanharam as
ações de mapeamento social e
posterior arrecadação e distribuição de
stas básicas pelo GRES
Acadêmicos do Grande Rio,
enxergando no Mestre de Bateria,
Fafá, uma figura
de mediação. Nos termos dos autores,
“o agravamento da desigualdade
social se faz sensível e provoca
tanto pela doença, quanto
pela insegurança alimentar”
SOUSA, 2020, p. 199). A
opção por encarar a crise a partir da
ótica da bateria expande as
discussões acerca da ideia de
“trabalho” no universo das escolas de
samba, uma vez que músicos,
passistas, ritmistas, mestres
-salas e
bandeiras nem sempre o
vistos como “trabalhadores do
o que evidencia outros
quadros de precarização, com a
recorrência de cachês baixíssimos,
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
quando muito. Os autores também
observaram a atuação do Museu do
Samba, cuja publicação
Revista
convocou
pesquisadores e gestores culturais
para debater ‘aspectos políticos,
econômicos, sociais e religiosos do
Carnaval em tempos de crise’,
abrangendo os desafios institucionais
e financeiros enfrentados pelas
escolas nos últimos anos
(BÁRTOLO;
SOUSA, 2020, p. 200).
Sem dúvidas, uma das ações
que mais mobilizou agentes ao redor
do drama vivenciado pelos
trabalhadores da folia foi o “Barracão
Solidário”, idealizado pelo
carnavalesco Wagner Gonçalves. A
campanha de arrecadação virtual
conseguiu
oferecer assistência
alimentar a mais de 350 famílias cuja
fonte de renda primária é o trabalho
nos barracões. Um cadastramento foi
realizado às pressas, esbarrando em
problemas como o fato de que
inúmeros trabalhadores não possuem
acesso à Internet. O ba
Estácio de Sá, na CdS, serviu como
centro de distribuição. o portal
Carnavalize,
em fevereiro de 2021,
ocupou os dias do não-
carnaval com
ações virtuais cujo objetivo era dar voz
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
quando muito. Os autores também
observaram a atuação do Museu do
Samba em
convocou
“sambistas,
pesquisadores e gestores culturais
para debater ‘aspectos políticos,
econômicos, sociais e religiosos do
Carnaval em tempos de crise’,
abrangendo os desafios institucionais
e financeiros enfrentados pelas
escolas nos últimos anos
[...]”
SOUSA, 2020, p. 200).
Sem dúvidas, uma das ações
que mais mobilizou agentes ao redor
do drama vivenciado pelos
trabalhadores da folia foi o “Barracão
Solidário”, idealizado pelo
carnavalesco Wagner Gonçalves. A
campanha de arrecadação virtual
oferecer assistência
alimentar a mais de 350 famílias cuja
fonte de renda primária é o trabalho
nos barracões. Um cadastramento foi
realizado às pressas, esbarrando em
problemas como o fato de que
inúmeros trabalhadores não possuem
acesso à Internet. O ba
rracão da
Estácio de Sá, na CdS, serviu como
centro de distribuição. o portal
em fevereiro de 2021,
carnaval com
ações virtuais cujo objetivo era dar voz
a dezenas de trabalhadores em
situação de vulnerabilidade, caso
Nete Cândido e Alessandra Reis,
chefes de ateliês de costura que
narraram as dificuldades enfrentadas
ao longo da pandemia. A ação,
intitulada
#VaziodeCarnaval
o entendimento de que os desfiles são
produzidos ao longo de um ano inteiro,
movime
ntando uma grande cadeia
produtiva. Afinal, alegorias e fantasias
não “brotam” espontaneamente do
asfalto da Presidente Vargas.
Se em tempos não
a estabilidade financeira, o
cumprimento de acordos e o respeito
às leis trabalhistas são itens ra
universo investigado, é óbvio que um
quadro de crises tão agudas
(financeira, política, sanitária, sem falar
no avanço das pautas morais do “novo
conservadorismo brasileiro”
(LACERDA, 2019), que tendem a
demonizar e a comb
escancaro
u um e
problemas que muito dizem de nossas
desigualdades históricas. O cenário,
hoje, é imprevisível. A CdS voltou a
ser interditada: primeiro, em fevereiro
de 2019, numa ação que, aos olhos
dos dirigentes das escolas, parecia
“sensacionalista”
, posto que às portas
45
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
a dezenas de trabalhadores em
situação de vulnerabilidade, caso
de
Nete Cândido e Alessandra Reis,
chefes de ateliês de costura que
narraram as dificuldades enfrentadas
ao longo da pandemia. A ação,
#VaziodeCarnaval
, reforçou
o entendimento de que os desfiles são
produzidos ao longo de um ano inteiro,
ntando uma grande cadeia
produtiva. Afinal, alegorias e fantasias
não “brotam” espontaneamente do
asfalto da Presidente Vargas.
Se em tempos não
-pandêmicos
a estabilidade financeira, o
cumprimento de acordos e o respeito
às leis trabalhistas são itens ra
ros, no
universo investigado, é óbvio que um
quadro de crises tão agudas
(financeira, política, sanitária, sem falar
no avanço das pautas morais do “novo
conservadorismo brasileiro”
(LACERDA, 2019), que tendem a
demonizar e a comb
ater o carnaval)
u um e
maranhado de
problemas que muito dizem de nossas
desigualdades históricas. O cenário,
hoje, é imprevisível. A CdS voltou a
ser interditada: primeiro, em fevereiro
de 2019, numa ação que, aos olhos
dos dirigentes das escolas, parecia
, posto que às portas
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
24-47, set. 2021.
de Momo. O Promotor de Justiça
Salvador Bemerguy
alegou, em Ação
Civil Pública de 11/02/2019, que “até a
presente data a CdS não possui plano
de prevenção e controle de incêndios
aprovado.”
10
Um imbricado jogo de
poder se avolumou nos
espaço foi liberado para a finalização
do carnaval de 2019 e viveu um
conturbado pré-
carnaval de 2020, com
sucessivos fechamentos derivados de
inspeções da Vigilância Sanitária.
Certa vez, ouvi de um aderecista: “a
gente nunca sabe se isso aqu
não interditado. Eu acho que sempre
esteve interditado.”
No dia 11 de janeiro de 2021, os
portais de notícia informavam que o
Ministério Público do Estado do Rio de
Janeiro (MPRJ) havia obtido, através
da Promotoria de Justiça de Tutela
Colet
iva de Cidadania da Capital, uma
decisão que determinava a interdição
em definitivo da CdS. Em março de
10
O texto afirma: “
O inquérito que deu origem à
ação foi iniciado em 2011, após a ocorrência
de um incêndio de grande proporção no
espaço. O MPRJ destaca que a insegurança
do local é uma velha conhecida dos réus e que
a ocorrência
de sinistro ali é costumeira em
virtude dos materiais manuseados na
confecção de alegorias e do maquinário
utilizado para tal serviço, como maçaricos,
isopores e resinas inflamáveis.”
Disponível em:
http://www.mprj.mp.br/home/-
/detalhe
noticia/visualizar/
69813?p_p_state=maximized
. Acesso em: 08/03/2021.
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
. PragMATIZES - Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
de Momo. O Promotor de Justiça
alegou, em Ação
Civil Pública de 11/02/2019, que “até a
presente data a CdS não possui plano
de prevenção e controle de incêndios
Um imbricado jogo de
poder se avolumou nos
tribunais: o
espaço foi liberado para a finalização
do carnaval de 2019 e viveu um
carnaval de 2020, com
sucessivos fechamentos derivados de
inspeções da Vigilância Sanitária.
Certa vez, ouvi de um aderecista: “a
gente nunca sabe se isso aqu
i está ou
não interditado. Eu acho que sempre
No dia 11 de janeiro de 2021, os
portais de notícia informavam que o
Ministério Público do Estado do Rio de
Janeiro (MPRJ) havia obtido, através
da Promotoria de Justiça de Tutela
iva de Cidadania da Capital, uma
decisão que determinava a interdição
em definitivo da CdS. Em março de
O inquérito que deu origem à
ação foi iniciado em 2011, após a ocorrência
de um incêndio de grande proporção no
espaço. O MPRJ destaca que a insegurança
do local é uma velha conhecida dos réus e que
de sinistro ali é costumeira em
virtude dos materiais manuseados na
confecção de alegorias e do maquinário
utilizado para tal serviço, como maçaricos,
Disponível em:
/detalhe
-
69813?p_p_state=maximized
2021, o espaço ainda se encontrava
fechado, sem perspectiva de
reabertura.
Se muito discutimos sobre
a precarização das relações
trabalhistas em face da
chocante perceber que no cenário das
escolas de samba ainda nos
deparamos com uma estrutura colonial
e arcaica, repleta de incongruências,
violências e fragilidades. O verniz de
profissionalismo está mais do que
arranhado. Restam a fuligem
pergunta de um outro samba: “Como
será o amanhã? Responda quem
puder.”
Referências bibliográficas:
BALTAR, Anderson. Por uma festa
mais segura.
UOL Rio
2018. Disponível em:
https://www.uol/carnaval/especiais/acid
ente-na-
sapucai.htm#por
mais-segura
. Acesso em: 05
2021.
BARBIERI, Ricardo José de Oliveira.
Cidade do Samba: do barracão de
escolas às fábricas de carnaval. In:
CAVALCANTI, Maria Laura;
GONÇALVES, Rena
Carnaval em múltiplos planos.
Janeiro: Aeroplano, 2008.
BÁRTOLO, Lucas; SOUSA, João
Gustavo Melo de. Notas sobre as
escolas de samba e a pandemia do
novo coronavírus.
Campo, São Paulo,
29 (supl), 2020, p.
194-
203. Disponível
https://www.revistas.usp.br/cadernosd
46
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
2021, o espaço ainda se encontrava
fechado, sem perspectiva de
Se muito discutimos sobre
a precarização das relações
trabalhistas em face da
globalização, é
chocante perceber que no cenário das
escolas de samba ainda nos
deparamos com uma estrutura colonial
e arcaica, repleta de incongruências,
violências e fragilidades. O verniz de
profissionalismo está mais do que
arranhado. Restam a fuligem
e a
pergunta de um outro samba: “Como
será o amanhã? Responda quem
Referências bibliográficas:
BALTAR, Anderson. Por uma festa
UOL Rio
, Rio de Janeiro,
2018. Disponível em:
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Cidade do Samba: do barracão de
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CAVALCANTI, Maria Laura;
GONÇALVES, Rena
ta (orgs.).
Carnaval em múltiplos planos.
Rio de
Janeiro: Aeroplano, 2008.
BÁRTOLO, Lucas; SOUSA, João
Gustavo Melo de. Notas sobre as
escolas de samba e a pandemia do
novo coronavírus.
Cadernos de
29 (supl), 2020, p.
203. Disponível
em:
https://www.revistas.usp.br/cadernosd
BORA,
Leonardo Augusto. “Glória a quem trabalha o ano inteiro?”:
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
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24-47, set. 2021.
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.2304708957672119140625
em: 09 mar. 2021.
http://g1.globo.com/rio-de-
janeiro/noticia/2011/03/laudo
incendio-na-cidade-do-s
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noticia/visualizar/69813?p_p_state=ma
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-
janeiro/carnaval/2017/noticia/policia
conclui-inquerito-que-
indicia
pessoas-por-acidente-com
-
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https://www.youtube.com/watch?v=5
5MF1cpfcQ&t=1s&ab_channel=MaisC
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aliança que profissionalizou o crime
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notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
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folia, também é trabalho.
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noticia/visualizar/69813?p_p_state=ma
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2021.
-
janeiro/carnaval/2017/noticia/policia
-
indicia
-4-
-
carro-da-
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mar. 2021.
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5MF1cpfcQ&t=1s&ab_channel=MaisC
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2021.
JUPIARA, Aloy; OTAVIO, Chico.
Os
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Jogo do
bicho e ditadura militar: a história da
aliança que profissionalizou o crime
organizado. Rio de Janeiro/São Paulo:
LACERDA, Marina.
conservadorismo brasileiro.
Alegre: Zouk, 2019.
MOTTA, Aydano André. Olha a
desigualdade aí, gente!A um Brasil de
distância da rica Sapucaí, o carnaval
das escolas que desfilam na
Intendente Magalhães.
de Janeiro, 5 de fevereiro de 2016.
Disponível
https://projetocolabora.com.br/ods1/olh
a-a-desigualdade-ai-
gente/
em: 03 mar. 2021.
NATAL, Vinícius Ferreira. Enredo,
rede”: trajetórias e
narrativas na
escrita
carnavalesco.
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Brasília, v. 8, n. 2, ag
2019. Disponível em:
https://periodicos.unb.br/index.php/CM
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RIGEL, Ricardo. Barracões da Cidade
do Samba são interditados pelo
Ministério do Trabalho.
de Janeiro, 20/10/2017. Di
https://oglobo.globo.com/rio/barracoes
da-cidade-do-samba-
sao
pelo-ministerio-do-
trabalho
RUFINO, Luiz; SIMAS, Luiz Antonio.
Flecha no Tempo.
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SANTOS, Nilton.
A arte do efêmero.
Carnavalescos
e mediação cultural no
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2009.
SPINOSA, Chico. Posfácio. In:
CAMÕES, Marcelo; FABATO, Fábio;
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O brilho maduro de escolas de
samba de alta
idade. Rio de Janeiro:
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47
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
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Porto
MOTTA, Aydano André. Olha a
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distância da rica Sapucaí, o carnaval
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#Colabora, Rio
de Janeiro, 5 de fevereiro de 2016.
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“Em
cruzamentos de
escrita
de um texto
Arquivos do CMD,
Brasília, v. 8, n. 2, ag
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2019. Disponível em:
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RIGEL, Ricardo. Barracões da Cidade
do Samba são interditados pelo
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O Globo, Rio
de Janeiro, 20/10/2017. Di
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-
sao
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trabalho
-21973534.
RUFINO, Luiz; SIMAS, Luiz Antonio.
Flecha no Tempo.
Rio de Janeiro:
A arte do efêmero.
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Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Apicuri,
SPINOSA, Chico. Posfácio. In:
CAMÕES, Marcelo; FABATO, Fábio;
FARIAS, Júlio César; SIMAS, Luiz
Antonio; NATAL, Vinícius.
As Titias da
O brilho maduro de escolas de
idade. Rio de Janeiro:
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
202
1
.
O transbordamento da atividade musical para as ruas e a precarização do trabalho:
uma análise sobre os instrumentistas nômades cariocas
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21.49503
Resumo:
Este artigo enseja investigar as condições de trabalho dos músicos instrumentistas que
passam a se apresentar nas ruas da cidade do Rio de Janeiro ao longo da última década
2020). Para isso, a partir da retórica sobre a concepção do artista como trabalhador, são analisadas
as condições instáveis de trabalho que levam os músicos a tocarem na rua, bem como as
particularidades desta instabilidade quando estes passam a dese
cidade. A partir da tríade de conceitos trabalho, espaço e valor, identificamos que a prática musical
nômade analisada é estruturada pela lógica da pluriatividade e da instabilidade da força de trabalho,
ambas desdobramentos
do processo de urbanização neoliberal, que assola a capital carioca nas
últimas três décadas.
Palavras-
chave: músicos, trabalho cultural, precarização, neoliberalização
El desbordamiento de la actividad musical en las calles y la precariedad del trabajo
análisis de instrumentistas nómadas de Río de Janeiro
Resumen
Este artículo tiene como objetivo investigar las condiciones laborales de los músicos instrumentistas
que vienen a actuar en las calles de la ciudad de Río de Janeiro durante la última
2020). Para ello, a partir de la retórica sobre la concepción del artista como trabajador, se analizan las
inestables condiciones laborales que llevan a los músicos a tocar en la calle, así como las
particularidades de esta inestabilidad cuand
ciudad. A partir de la tríada de conceptos de trabajo, espacio y valor, identificamos que la práctica
musical nómada analizada está estructurada por la lógica de la pluriactividad e inestabilidad de la
fu
erza laboral, ambos desarrollos del proceso de urbanización neoliberal, que ha plagado a la capital
carioca
durante las últimas tres décadas.
Palabras clave
: músicos, trabajo cultural, precariedad, neoliberalización
The displacement of musical activity
analysis of nomadic instrumentalists from Rio de Janeiro
Abstract:
This article aims to investigate the working conditions of instrumentalist musicians who
come to perform in the streets of the city of Rio de Janeiro over the last decade (2011
1
Kyoma Silva Oliveira. Doutor em Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil. E
0001-6313-2260
Recebido em 31/03/2021,
aceito para publicação em
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
O transbordamento da atividade musical para as ruas e a precarização do trabalho:
uma análise sobre os instrumentistas nômades cariocas
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21.49503
Kyoma Silva Oliveira
Este artigo enseja investigar as condições de trabalho dos músicos instrumentistas que
passam a se apresentar nas ruas da cidade do Rio de Janeiro ao longo da última década
2020). Para isso, a partir da retórica sobre a concepção do artista como trabalhador, são analisadas
as condições instáveis de trabalho que levam os músicos a tocarem na rua, bem como as
particularidades desta instabilidade quando estes passam a dese
nvolver a atividade musical na
cidade. A partir da tríade de conceitos trabalho, espaço e valor, identificamos que a prática musical
nômade analisada é estruturada pela lógica da pluriatividade e da instabilidade da força de trabalho,
do processo de urbanização neoliberal, que assola a capital carioca nas
chave: músicos, trabalho cultural, precarização, neoliberalização
El desbordamiento de la actividad musical en las calles y la precariedad del trabajo
análisis de instrumentistas nómadas de Río de Janeiro
Este artículo tiene como objetivo investigar las condiciones laborales de los músicos instrumentistas
que vienen a actuar en las calles de la ciudad de Río de Janeiro durante la última
2020). Para ello, a partir de la retórica sobre la concepción del artista como trabajador, se analizan las
inestables condiciones laborales que llevan a los músicos a tocar en la calle, así como las
particularidades de esta inestabilidad cuand
o empiezan a desarrollar la actividad
ciudad. A partir de la tríada de conceptos de trabajo, espacio y valor, identificamos que la práctica
musical nómada analizada está estructurada por la lógica de la pluriactividad e inestabilidad de la
erza laboral, ambos desarrollos del proceso de urbanización neoliberal, que ha plagado a la capital
durante las últimas tres décadas.
: músicos, trabajo cultural, precariedad, neoliberalización
.
The displacement of musical activity
on the streets and the precariousness of work: an
analysis of nomadic instrumentalists from Rio de Janeiro
This article aims to investigate the working conditions of instrumentalist musicians who
come to perform in the streets of the city of Rio de Janeiro over the last decade (2011
Kyoma Silva Oliveira. Doutor em Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil. E
-mail: kyomaoliveira@gmail.com -
https://orcid.org/0000
aceito para publicação em
03/06/2021 e
disponibilizado online em
01/09/2021.
48
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
O transbordamento da atividade musical para as ruas e a precarização do trabalho:
uma análise sobre os instrumentistas nômades cariocas
Kyoma Silva Oliveira
1
Este artigo enseja investigar as condições de trabalho dos músicos instrumentistas que
passam a se apresentar nas ruas da cidade do Rio de Janeiro ao longo da última década
(2011-
2020). Para isso, a partir da retórica sobre a concepção do artista como trabalhador, são analisadas
as condições instáveis de trabalho que levam os músicos a tocarem na rua, bem como as
nvolver a atividade musical na
cidade. A partir da tríade de conceitos trabalho, espaço e valor, identificamos que a prática musical
nômade analisada é estruturada pela lógica da pluriatividade e da instabilidade da força de trabalho,
do processo de urbanização neoliberal, que assola a capital carioca nas
El desbordamiento de la actividad musical en las calles y la precariedad del trabajo
: un
Este artículo tiene como objetivo investigar las condiciones laborales de los músicos instrumentistas
que vienen a actuar en las calles de la ciudad de Río de Janeiro durante la última
década (2011-
2020). Para ello, a partir de la retórica sobre la concepción del artista como trabajador, se analizan las
inestables condiciones laborales que llevan a los músicos a tocar en la calle, así como las
o empiezan a desarrollar la actividad
musical en la
ciudad. A partir de la tríada de conceptos de trabajo, espacio y valor, identificamos que la práctica
musical nómada analizada está estructurada por la lógica de la pluriactividad e inestabilidad de la
erza laboral, ambos desarrollos del proceso de urbanización neoliberal, que ha plagado a la capital
on the streets and the precariousness of work: an
This article aims to investigate the working conditions of instrumentalist musicians who
come to perform in the streets of the city of Rio de Janeiro over the last decade (2011
-2020). For this,
Kyoma Silva Oliveira. Doutor em Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) pela Universidade
https://orcid.org/0000
-
disponibilizado online em
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
202
1
.
from the rhetoric about the artist's conception as a worker, t
musicians to play on the street are analyzed, as well as the particularities of this instability when they
start to develop musical activity in the city.
ident
ified that the nomadic musical practice analyzed is structured by the logic of pluriactivity and
instability of the workforce, both developments of the neoliberal urbanization process, which has
plagued the capital of Rio de Janeiro
Keywords
: musicians, cultural work, precariousness, neoliberalization
O transbordamento da atividade musical para as ruas e a precarização do
trabalho: uma análise sobre os instrumentistas nômades cariocas
Introdução
Grita
-
“Queria te ver numa fábrica!
O quê? versos? Pura bobagem!
Para trabalhar não tens coragem”.
Talvez
ninguém como nós
ponha tanto coração
Eu sou numa fábrica.
E se chaminés
talvez
sem chaminés
seja preciso
ainda mais coragem [...]
A partir de pesqui
sa realizada
entre os anos de 2017 e 2021 sobre os
músicos instrumentistas que passam a se
apresentar nas ruas da cidade do Rio de
Janeiro desde 2012
2
, identificamos que as
reivindicações por direitos e
reconhecimento ganham contornos
particulares em função de uma forma de
2
Como resultado desta pesquisa foi gerada a
tese intitulada “Sons, contratempos e
síncopes: instrumentistas na rua e a formação
de circuitos musicais não
consagrados na
cidade do Rio de Janeiro”, defendida em 2021,
no Instituto de Pesquisa e Planejamento
Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ).
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
from the rhetoric about the artist's conception as a worker, t
he unstable working conditions that lead
musicians to play on the street are analyzed, as well as the particularities of this instability when they
start to develop musical activity in the city.
From the triad of concepts of work, space and value, we
ified that the nomadic musical practice analyzed is structured by the logic of pluriactivity and
instability of the workforce, both developments of the neoliberal urbanization process, which has
plagued the capital of Rio de Janeiro
over the past three decades.
: musicians, cultural work, precariousness, neoliberalization
.
O transbordamento da atividade musical para as ruas e a precarização do
trabalho: uma análise sobre os instrumentistas nômades cariocas
-
se ao poeta:
“Queria te ver numa fábrica!
O quê? versos? Pura bobagem!
Para trabalhar não tens coragem”.
ninguém como nós
ponha tanto coração
no trabalho.
Eu sou numa fábrica.
E se chaminés
me faltam
sem chaminés
ainda mais coragem [...]
(Maiakóvski)
sa realizada
entre os anos de 2017 e 2021 sobre os
músicos instrumentistas que passam a se
apresentar nas ruas da cidade do Rio de
, identificamos que as
reivindicações por direitos e
reconhecimento ganham contornos
particulares em função de uma forma de
Como resultado desta pesquisa foi gerada a
tese intitulada “Sons, contratempos e
síncopes: instrumentistas na rua e a formação
consagrados na
cidade do Rio de Janeiro”, defendida em 2021,
no Instituto de Pesquisa e Planejamento
Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ).
socialização própria do capitalismo, onde
o trabalho assalariado subsumido ao
capital, é a forma social mediadora das
demais relações.
Isto posto, o objetivo deste artigo é
investigar a atuação das bandas cariocas
Astro Venga e Rocha, nas ruas da cidade
do Rio de Janeiro e compreender de
maneira mais detida as condições de
trabalho encontradas por esses sujeitos e
seus pares no que ch
amamos de espaços
consagrados (espaços dedicados
realização de apresentações musicais) e
não consagrados (entendido aqui como o
espaço público utilizados pelos
instrumentistas para se apresentarem ao
longo da última década).
De maneira sintética, este estu
define o trabalho precário como a relação
salarial instável e insegura, onde todo
ônus proveniente das incertezas é
despejado sobre trabalhadores e
trabalhadoras, a partir do momento de
reestruturação do padrão de acumulação
49
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
he unstable working conditions that lead
musicians to play on the street are analyzed, as well as the particularities of this instability when they
From the triad of concepts of work, space and value, we
ified that the nomadic musical practice analyzed is structured by the logic of pluriactivity and
instability of the workforce, both developments of the neoliberal urbanization process, which has
O transbordamento da atividade musical para as ruas e a precarização do
trabalho: uma análise sobre os instrumentistas nômades cariocas
socialização própria do capitalismo, onde
o trabalho assalariado subsumido ao
capital, é a forma social mediadora das
Isto posto, o objetivo deste artigo é
investigar a atuação das bandas cariocas
Astro Venga e Rocha, nas ruas da cidade
do Rio de Janeiro e compreender de
maneira mais detida as condições de
trabalho encontradas por esses sujeitos e
amamos de espaços
consagrados (espaços dedicados
realização de apresentações musicais) e
não consagrados (entendido aqui como o
espaço público utilizados pelos
instrumentistas para se apresentarem ao
longo da última década).
De maneira sintética, este estu
do
define o trabalho precário como a relação
salarial instável e insegura, onde todo
ônus proveniente das incertezas é
despejado sobre trabalhadores e
trabalhadoras, a partir do momento de
reestruturação do padrão de acumulação
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
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.
do capital e das políticas n
eoliberalizantes
conjugadas como resposta a sua crise
estrutural. Isto posto, expositivamente
optamos por apresentar primeiramente as
falas dos instrumentistas que possuem
algum tipo de experiência com as
apresentações nas ruas da cidade do Rio
de Janeiro,
para posteriormente, a partir
de suas contribuições, analisar as pistas
deixadas por eles sobre suas condições
laborais.
Para este fim, o presente artigo
encontra-
se dividido em três partes, além
da introdução e da conclusão. A primeira
diz respeito ao q
ue estamos chamando de
transbordamento da atividade musical
para as ruas da capital carioca. Nesse
sentido, destacamos que a ida destes
instrumentistas para as ruas da capital
carioca se configura como tentativa limite
de dar sequência ao trabalho artístic
alcança situações insustentáveis no
interior dos circuitos consagrados.
Na segunda parte investigamos
algumas das características identificadas
nas condições do trabalho exercido nas
ruas à luz dos circuitos consagrados. O
espaço público como última
atuação torna-
se uma possibilidade em
função das relações precárias de trabalho
com as quais esses agentes lidam mesmo
no circuito musical consagrado (pequenas
e médias casas de shows, festivais etc.).
De todo modo, identificamos não haver
um
rompimento entre os instrumentistas
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
eoliberalizantes
conjugadas como resposta a sua crise
estrutural. Isto posto, expositivamente
optamos por apresentar primeiramente as
falas dos instrumentistas que possuem
algum tipo de experiência com as
apresentações nas ruas da cidade do Rio
para posteriormente, a partir
de suas contribuições, analisar as pistas
deixadas por eles sobre suas condições
Para este fim, o presente artigo
se dividido em três partes, além
da introdução e da conclusão. A primeira
ue estamos chamando de
transbordamento da atividade musical
para as ruas da capital carioca. Nesse
sentido, destacamos que a ida destes
instrumentistas para as ruas da capital
carioca se configura como tentativa limite
de dar sequência ao trabalho artístic
o que
alcança situações insustentáveis no
interior dos circuitos consagrados.
Na segunda parte investigamos
algumas das características identificadas
nas condições do trabalho exercido nas
ruas à luz dos circuitos consagrados. O
espaço público como última
fronteira de
se uma possibilidade em
função das relações precárias de trabalho
com as quais esses agentes lidam mesmo
no circuito musical consagrado (pequenas
e médias casas de shows, festivais etc.).
De todo modo, identificamos não haver
rompimento entre os instrumentistas
que se apresentam nas ruas e aqueles
que se apresentam em casas de shows
de pequeno e médio porte, bem como em
festivais especializados. A compreensão
relacional destes dois circuitos estrutura
as reflexões sobre as div
laborais desempenhadas por esses
instrumentistas.
Por fim, na terceira seção
identificamos pistas que nos permitem
afirmar a atualização da situação precária
da atividade, que por um breve momento
foi rentável, mas que com a crise
econômic
a que assola os países da
periferia do capitalismo, atualiza a
situação de instabilidade e pluriatividade
vivenciadas de outra maneira por estes
músicos.
Sendo assim, neste artigo, a partir
da retórica sobre o “músico trabalhador”
percebida na fala de u
instrumentistas entrevistados, passamos a
analisar as condições instáveis de
trabalho que levam os músicos a tocarem
na rua, bem como as particularidades
desta instabilidade quando estes passam
a desenvolver a atividade musical nos
espaços públicos d
a cidade.
O transbordamento da atividade
musical para as ruas da cidade do Rio
de Janeiro
Ao longo do processo de
ocupação das ruas por parte das
50
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
que se apresentam nas ruas e aqueles
que se apresentam em casas de shows
de pequeno e médio porte, bem como em
festivais especializados. A compreensão
relacional destes dois circuitos estrutura
as reflexões sobre as div
ersas atividades
laborais desempenhadas por esses
Por fim, na terceira seção
identificamos pistas que nos permitem
afirmar a atualização da situação precária
da atividade, que por um breve momento
foi rentável, mas que com a crise
a que assola os países da
periferia do capitalismo, atualiza a
situação de instabilidade e pluriatividade
vivenciadas de outra maneira por estes
Sendo assim, neste artigo, a partir
da retórica sobre o “músico trabalhador”
percebida na fala de u
m dos
instrumentistas entrevistados, passamos a
analisar as condições instáveis de
trabalho que levam os músicos a tocarem
na rua, bem como as particularidades
desta instabilidade quando estes passam
a desenvolver a atividade musical nos
a cidade.
O transbordamento da atividade
musical para as ruas da cidade do Rio
Ao longo do processo de
ocupação das ruas por parte das
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
202
1
.
bandas nômades eletrificadas iniciado
em 2012, é possível identificar um
novo entendimento do papel deste
esp
aço no desempenho da atividade.
Em uma série de entrevistas
realizadas por Christian Dias (2016, p.
74)
bacharel em música pela UniRio
e guitarrista da banda Astro Venga
entre outubro de 2014 e outubro de
2016, a ideia de subsistência a partir
destas
apresentações nas ruas da
cidade do Rio de Janeiro foi algo
recorrente.
Glauber Airola: [...] fiquei
trabalhando um tempo com
estúdio, como técnico de som,
em cima das bandas, passando
som, fazendo agendamento e saí
do trampo. Fabiola que é
camarada que t
oca comigo [n'Os
Camelos"] também tava
trabalhando no mesmo lugar e a
gente resolveu ir pra rua mesmo.
Ver no que que ia dar.
Christian Dias: Abandonaram o
lugar?
G. A. -
Sim, abandonamos,
[risos]. “Vamos pra rua!” [...] E
hoje em dia eu acho que a
música é grata; é lógico que você
tem que ter uma porrada de
formas de fazer isso dar certo,
mas é um lugar que eu vou e pô,
eu consigo pagar meu aluguel,
consigo fazer compras, consigo
viajar, consigo guardar uma
graninha, sabe? E consigo estar
mostrando
o trabalho ao mesmo
tempo! E é encarar como um
trabalho mesmo.
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
bandas nômades eletrificadas iniciado
em 2012, é possível identificar um
novo entendimento do papel deste
aço no desempenho da atividade.
Em uma série de entrevistas
realizadas por Christian Dias (2016, p.
bacharel em música pela UniRio
e guitarrista da banda Astro Venga
–,
entre outubro de 2014 e outubro de
2016, a ideia de subsistência a partir
apresentações nas ruas da
cidade do Rio de Janeiro foi algo
Glauber Airola: [...] fiquei
trabalhando um tempo com
estúdio, como técnico de som,
em cima das bandas, passando
som, fazendo agendamento e saí
do trampo. Fabiola que é
oca comigo [n'Os
Camelos"] também tava
trabalhando no mesmo lugar e a
gente resolveu ir pra rua mesmo.
Ver no que que ia dar.
Christian Dias: Abandonaram o
Sim, abandonamos,
[risos]. “Vamos pra rua!” [...] E
hoje em dia eu acho que a
música é grata; é lógico que você
tem que ter uma porrada de
formas de fazer isso dar certo,
mas é um lugar que eu vou e pô,
eu consigo pagar meu aluguel,
consigo fazer compras, consigo
viajar, consigo guardar uma
graninha, sabe? E consigo estar
o trabalho ao mesmo
tempo! E é encarar como um
A sobrevivência através da
música está colocada na afirmação de
quem encara a mesma como um
trabalho, onde a remuneração é
suficiente para pagar custos básicos
de vida e ainda economizar uma p
da quantia para outras finalidades. O
processo relatado por Fábio Hirsh,
saxofonista do trio Os Camelos e da
banda Tree, no momento da entrevista
concedida a Dias (2016, p. 83
também envolve o abandono do
emprego anterior, especificamente
neste ca
so, a atividade desempenhada
não tinha relação direta com a música:
E em algum momento eu decidi
que eu não queria mais ficar
trabalhando, chegar 8:00 e sair
20:00, 12 horas de trabalho, e
depois ir pra faculdade. Além
disso os trajetos que eu fazia
eram
sempre longos, que eu
morava em São Gonçalo, fazia
faculdade e trabalhava aqui [no
centro do Rio de Janeiro].
Chegou um momento que eu
meio que [...] cansou, e eu
parei de trabalhar, larguei meu
emprego e comecei a enxergar a
rua como um emprego também,
como um trabalho. Se eu me
dedicasse a fazer um trabalho
sério, eu achava que aquilo ali
podia render frutos.
Neste trecho de Hirsh, destacam
se as condições de superexploração do
emprego anterior, ilustrada pela carga
51
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
A sobrevivência através da
música está colocada na afirmação de
quem encara a mesma como um
trabalho, onde a remuneração é
suficiente para pagar custos básicos
de vida e ainda economizar uma p
arte
da quantia para outras finalidades. O
processo relatado por Fábio Hirsh,
saxofonista do trio Os Camelos e da
banda Tree, no momento da entrevista
concedida a Dias (2016, p. 83
-4),
também envolve o abandono do
emprego anterior, especificamente
so, a atividade desempenhada
não tinha relação direta com a música:
E em algum momento eu decidi
que eu não queria mais ficar
trabalhando, chegar 8:00 e sair
20:00, 12 horas de trabalho, e
depois ir pra faculdade. Além
disso os trajetos que eu fazia
sempre longos, que eu
morava em São Gonçalo, fazia
faculdade e trabalhava aqui [no
centro do Rio de Janeiro].
Chegou um momento que eu
meio que [...] cansou, e eu
parei de trabalhar, larguei meu
emprego e comecei a enxergar a
rua como um emprego também,
como um trabalho. Se eu me
dedicasse a fazer um trabalho
sério, eu achava que aquilo ali
podia render frutos.
Neste trecho de Hirsh, destacam
-
se as condições de superexploração do
emprego anterior, ilustrada pela carga
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
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.
horária excessiva que impacta, in
no que deveria ser seu período de tempo
livre, utilizado naquele momento em
longos deslocamentos para conseguir
estudar e trabalhar.
Observa-
se em ambos os casos
que o ingresso dos instrumentistas na rua,
em momento algum, fez com que
atividades
paralelas fossem extintas do
cotidiano. Nesse sentido, a rua se
apresenta, inicialmente, como uma
possibilidade de trabalhar com música de
maneira relativamente autônoma. Nela, os
instrumentistas enxergaram a
possibilidade de tocar sem dependerem
da interm
ediação de proprietários de
casas de show. Esta superação permitiu
que, na rua, as bandas tocassem com
maior frequência e maior autonomia com
relação a escolha de repertório, uma vez
que não dependiam de negociação com
os bares e casas de show da cidade.
Na tentativa de compreender
historicamente esse movimento de ida
para as ruas realizado por instrumentistas,
lançamos mão aqui dos conceitos
relacionais de espaços consagrados e não
consagrados (OLIVEIRA, 2021).
Ressaltamos que as casas de médio e
pequeno
porte, bem como os bares,
quando relacionados às casas de grande
porte e festivais promovidos pela indústria
cultural, são espaços que compõem o
circuito não consagrado. Ao mesmo
tempo que, se comparados às ruas,
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
horária excessiva que impacta, in
clusive,
no que deveria ser seu período de tempo
livre, utilizado naquele momento em
longos deslocamentos para conseguir
se em ambos os casos
que o ingresso dos instrumentistas na rua,
em momento algum, fez com que
paralelas fossem extintas do
cotidiano. Nesse sentido, a rua se
apresenta, inicialmente, como uma
possibilidade de trabalhar com música de
maneira relativamente autônoma. Nela, os
instrumentistas enxergaram a
possibilidade de tocar sem dependerem
ediação de proprietários de
casas de show. Esta superação permitiu
que, na rua, as bandas tocassem com
maior frequência e maior autonomia com
relação a escolha de repertório, uma vez
que não dependiam de negociação com
os bares e casas de show da cidade.
Na tentativa de compreender
historicamente esse movimento de ida
para as ruas realizado por instrumentistas,
lançamos mão aqui dos conceitos
relacionais de espaços consagrados e não
consagrados (OLIVEIRA, 2021).
Ressaltamos que as casas de médio e
porte, bem como os bares,
quando relacionados às casas de grande
porte e festivais promovidos pela indústria
cultural, são espaços que compõem o
circuito não consagrado. Ao mesmo
tempo que, se comparados às ruas,
espaço onde os músicos analisados se
apres
entam, estes pequenos
estabelecimentos passam a ser
compreendidos como espaços de
consagração. Isto posto, percebe
as bandas que vão para as ruas do centro
da cidade do Rio de Janeiro buscam
reconhecimento para um possível retorno
aos circuitos cons
agrados em melhores
condições. Por fim, deixamos clar
existência de bandas que surgem
inicialmente com a finalidade de tocar nas
ruas, mas, a depender das condições,
também ingressam nestas casas de
pequeno e médio porte.
Luciana Requião (2008),
invest
igando as relações de trabalhos de
músicos que se apresentam em casas de
show no bairro da Lapa, região central da
cidade do Rio de Janeiro, analisou o
processo de exploração dos músicos por
parte dos empresários donos dessas
casas. A autora identifica o p
extração de mais-
valor da força de
trabalho dos músicos condensado no
preço cobrado pelos ingressos em casas
como o Rio Scenarium
3
3 Na fan page
da casa de show encontrada no
Facebook
está disponível a seguinte definição
a respeito do espaço: “
Ícone do p
revitalização cultural da Rua do Lavradio, o
Rio Scenarium, no Centro Histórico do Rio
Antigo, funciona como casa de shows com
música ao vi
vo, bar e restaurante. A casa
reúne um grande acervo de móveis e objetos
antigos, colecionados ao longo
mais de dez mil peças.Com uma programação
musical autenticamente brasileira, com samba,
52
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
espaço onde os músicos analisados se
entam, estes pequenos
estabelecimentos passam a ser
compreendidos como espaços de
consagração. Isto posto, percebe
-se que
as bandas que vão para as ruas do centro
da cidade do Rio de Janeiro buscam
reconhecimento para um possível retorno
agrados em melhores
condições. Por fim, deixamos clar
a a
existência de bandas que surgem
inicialmente com a finalidade de tocar nas
ruas, mas, a depender das condições,
também ingressam nestas casas de
pequeno e médio porte.
Luciana Requião (2008),
igando as relações de trabalhos de
músicos que se apresentam em casas de
show no bairro da Lapa, região central da
cidade do Rio de Janeiro, analisou o
processo de exploração dos músicos por
parte dos empresários donos dessas
casas. A autora identifica o p
rocesso de
valor da força de
trabalho dos músicos condensado no
preço cobrado pelos ingressos em casas
3
. O proprietário do
da casa de show encontrada no
está disponível a seguinte definição
Ícone do p
rocesso de
revitalização cultural da Rua do Lavradio, o
Rio Scenarium, no Centro Histórico do Rio
Antigo, funciona como casa de shows com
vo, bar e restaurante. A casa
reúne um grande acervo de móveis e objetos
antigos, colecionados ao longo
dos anos, com
mais de dez mil peças.Com uma programação
musical autenticamente brasileira, com samba,
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
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set.
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1
.
espaço posiciona-
se como intermediário
entre o público e os músicos, de forma
que o trabalho do
s últimos passa a ser
tratado como produtivo frente ao capital
uma vez que sua remuneração é fixa e o
excedente é apropriado pelo capitalista.
Destacamos os avanços da autora na
compreensão do que se refere às
relações de trabalho estabelecidas entre
as ca
sas de shows e os músicos
contratados.
Através da aplicação de
questionários junto aos músicos que se
apresentavam em casas de shows na
Lapa, naquela ocasião, Requião
identificou o trabalho informal como
relação comum entre contratantes e
contratados. Em
tempos de desregulação
das leis trabalhistas
4
, a justificativa de que
“os tempos mudaram” são recorrentes
ainda hoje, não só por parte das casas de
shows, mas também pelos patrões e
contratantes de maneira geral. Em
entrevista sobre este fato realizada pel
choro, MPB e forró, o Rio Scenarium
apresenta, no palco principal, dois shows ao
vivo em dias de semana e três shows às
sextas e sábados. Outra opção é o
Anexo que oferece ambiente reservado com
DJ's. Ali também há grupos de chorinho, roda
de samba e até mesmo rock, em uma
programação variada.
Disponível em:
https://www.facebook.com/pg/scenariumrio/ab
out/?ref=page_internal.
Acesso em
2020.
4
Para mais informações sobre a Lei nº
13.467, de 13 de julho de 2017 ver
https://www.normaslegais.com.br/legislacao/Le
i-13467-2017.htm. Acesso em:
27 fev
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
se como intermediário
entre o público e os músicos, de forma
s últimos passa a ser
tratado como produtivo frente ao capital
uma vez que sua remuneração é fixa e o
excedente é apropriado pelo capitalista.
Destacamos os avanços da autora na
compreensão do que se refere às
relações de trabalho estabelecidas entre
sas de shows e os músicos
Através da aplicação de
questionários junto aos músicos que se
apresentavam em casas de shows na
Lapa, naquela ocasião, Requião
identificou o trabalho informal como
relação comum entre contratantes e
tempos de desregulação
, a justificativa de que
“os tempos mudaram” são recorrentes
ainda hoje, não só por parte das casas de
shows, mas também pelos patrões e
contratantes de maneira geral. Em
entrevista sobre este fato realizada pel
a
choro, MPB e forró, o Rio Scenarium
apresenta, no palco principal, dois shows ao
vivo em dias de semana e três shows às
sextas e sábados. Outra opção é o
Salão
Anexo que oferece ambiente reservado com
DJ's. Ali também há grupos de chorinho, roda
de samba e até mesmo rock, em uma
Disponível em:
https://www.facebook.com/pg/scenariumrio/ab
Acesso em
: 27 fev.
Para mais informações sobre a Lei nº
13.467, de 13 de julho de 2017 ver
https://www.normaslegais.com.br/legislacao/Le
27 fev
. 2020.
autora com Henrique Cazes, um ex
da casa de show Rio Scenarium, ele é
taxativo com relação à posição dos
músicos, ao afirmar que: “Ou ele aceita
um cachet mais baixo ou vai perder o
trabalho” (REQUIÃO, 2008, p. 204). A
autora destaca ainda o argu
existência de uma “parceria” entre
contratantes e músicos como justificativa
para a informalidade. Tal argumento,
aliás, torna-
se cada vez mais comum,
uma vez que ultrapassa a fronteira do
trabalho improdutivo e, sob o imperativo
da flexibilização
do trabalho, atinge
atividades diversas
5
.
A necessidade de flexibilidade do
trabalho no dia a dia dos músicos também
é identificada no questionário aplicado por
Requião. Jornadas duplas ou triplas são
comuns devido às apresentações
sazonais nas casas de
aqui um ponto de contato entre as
atividades dos músicos analisadas pela
autora e o relato dos músicos que
encontraram na rua a possibilidade de
exibição de trabalho e sustento a partir
5
Como exemplo, na seção “Políticas e
Regras” existente no site da Uber, a empresa
intitula o
motorista precarizado de Motorista
Parceiro. A alcunha serve sobretudo para
encobrir a informalidade do trabalho exercido
pelos motoristas, uma vez que esses não
teriam vínculo empregatício com a empresa
que gere o aplicativo por não serem
empregados dela, m
as sim parceiros. Ver mais
em:
https://www.uber.com/pt
BR/drive/resources/regras/
2020.
53
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
autora com Henrique Cazes, um ex
-diretor
da casa de show Rio Scenarium, ele é
taxativo com relação à posição dos
músicos, ao afirmar que: “Ou ele aceita
um cachet mais baixo ou vai perder o
trabalho” (REQUIÃO, 2008, p. 204). A
autora destaca ainda o argu
mento da
existência de uma “parceria” entre
contratantes e músicos como justificativa
para a informalidade. Tal argumento,
se cada vez mais comum,
uma vez que ultrapassa a fronteira do
trabalho improdutivo e, sob o imperativo
do trabalho, atinge
A necessidade de flexibilidade do
trabalho no dia a dia dos músicos também
é identificada no questionário aplicado por
Requião. Jornadas duplas ou triplas são
comuns devido às apresentações
sazonais nas casas de
shows. Percebe-se
aqui um ponto de contato entre as
atividades dos músicos analisadas pela
autora e o relato dos músicos que
encontraram na rua a possibilidade de
exibição de trabalho e sustento a partir
Como exemplo, na seção “Políticas e
Regras” existente no site da Uber, a empresa
motorista precarizado de Motorista
Parceiro. A alcunha serve sobretudo para
encobrir a informalidade do trabalho exercido
pelos motoristas, uma vez que esses não
teriam vínculo empregatício com a empresa
que gere o aplicativo por não serem
as sim parceiros. Ver mais
https://www.uber.com/pt
-
BR/drive/resources/regras/
. Acesso em: 20 fev.
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
202
1
.
dele. Os instrumentistas entrevistados por
Requião a
pontaram a docência musical
como atividade complementar às
apresentações ao vivo. Tal alternativa
também aparece para alguns músicos que
se apresentam nas ruas do Rio de
Janeiro, mesmo que com menor
frequência. Conforme colocado, a lógica
de desempenhar
ltiplas atividades é
recorrente na trajetória de músicos e
instrumentistas que não acessaram por
algum motivo o circuito consagrado pela
indústria cultural. Desta maneira, a
pluriatividade é compreendida como um
desdobramento da informalidade que
assola o
cotidiano de trabalho destes
instrumentistas, seja apresentando
casas de shows ou na rua.
Ainda que o trabalho empírico de
Luciana Requião dê conta de músicos que
se apresentam especificamente em uma
casa “com uma programação musical
autenticamente
brasileira, com samba,
choro, MPB e forró [...]”
6
, percebemos
alguma aproximação com o relato de
Thiago Scarlata, contrabaixista da banda
de rock “O Velho Se Foi”, entrevistado por
Christian Dias (2016, p. 68): “Geralmente
as casas do cenário
underground
mais pra banda que começando e tal, é
6 Sobre Rio Scenarium
Pavilhão da Cultura no
Facebook:
https://www.facebook.com/pg/scenariumrio/ab
out/?ref=page_internal.
Acesso em
2020.
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
dele. Os instrumentistas entrevistados por
pontaram a docência musical
como atividade complementar às
apresentações ao vivo. Tal alternativa
também aparece para alguns músicos que
se apresentam nas ruas do Rio de
Janeiro, mesmo que com menor
frequência. Conforme colocado, a lógica
ltiplas atividades é
recorrente na trajetória de músicos e
instrumentistas que não acessaram por
algum motivo o circuito consagrado pela
indústria cultural. Desta maneira, a
pluriatividade é compreendida como um
desdobramento da informalidade que
cotidiano de trabalho destes
instrumentistas, seja apresentando
-se em
Ainda que o trabalho empírico de
Luciana Requião dê conta de músicos que
se apresentam especificamente em uma
casa “com uma programação musical
brasileira, com samba,
, percebemos
alguma aproximação com o relato de
Thiago Scarlata, contrabaixista da banda
de rock “O Velho Se Foi”, entrevistado por
Christian Dias (2016, p. 68): “Geralmente
underground
, ainda
mais pra banda que começando e tal, é
Pavilhão da Cultura no
https://www.facebook.com/pg/scenariumrio/ab
Acesso em
: 20 fev.
uma coisa assim, muito desleal; você tem
que levar tudo, bateria, amplificação e o
cara não te nem uma água”. As
condições relatadas pelo músico, neste
nicho específico, evidenciam
primeiramente a superexpl
relações de trabalho entre os músicos do
circuito e os proprietários das casas de
shows, uma vez que além da ausência de
estabilidade das relações de trabalho
estabelecidas, não existe nem um cachê
fixo como o que é pago pela casa
analisada por
Requião. Episódios em que
os músicos precisam vender ingressos
para o evento que irão se apresentar, bem
como produtos conexos à sua atividade
principal (camisetas, bonés, cds, botons,
pins, pôsteres) custeados por eles
próprios, a fim de que tenham acesso
algum tipo de renda, não são incomuns. A
superexploração identificada coloca em
evidência a radicalização de uma das
características do trabalho informal
identificada por Requião na casa
localizada na Lapa. No contexto analisado
pela autora, foi iden
tificada uma parcela
de trabalho realizado e não pago aos
artistas-
trabalhadores. Esta parcela se
integraliza especificamente no cenário
underground
, uma vez que o capital
variável em sua integralidade passa a não
ser arcado pelos proprietários.
Isto posto, compreende
fenômeno da ida para a rua e a
subsequente formação de um circuito não
54
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
uma coisa assim, muito desleal; você tem
que levar tudo, bateria, amplificação e o
cara não te nem uma água”. As
condições relatadas pelo músico, neste
nicho específico, evidenciam
primeiramente a superexpl
oração das
relações de trabalho entre os músicos do
circuito e os proprietários das casas de
shows, uma vez que além da ausência de
estabilidade das relações de trabalho
estabelecidas, não existe nem um cachê
fixo como o que é pago pela casa
Requião. Episódios em que
os músicos precisam vender ingressos
para o evento que irão se apresentar, bem
como produtos conexos à sua atividade
principal (camisetas, bonés, cds, botons,
pins, pôsteres) custeados por eles
próprios, a fim de que tenham acesso
a
algum tipo de renda, não são incomuns. A
superexploração identificada coloca em
evidência a radicalização de uma das
características do trabalho informal
identificada por Requião na casa
localizada na Lapa. No contexto analisado
tificada uma parcela
de trabalho realizado e não pago aos
trabalhadores. Esta parcela se
integraliza especificamente no cenário
, uma vez que o capital
variável em sua integralidade passa a não
ser arcado pelos proprietários.
Isto posto, compreende
-se que o
fenômeno da ida para a rua e a
subsequente formação de um circuito não
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
202
1
.
consagrado encontra-
se diretamente
ligado ao questionamento, mesmo
indireto, das precárias relações de
trabalho estabelecidas entre os
instrumentistas e
as casas especializadas.
Através da reivindicação por autonomia da
prática musical, identifica
transbordamento desta última para o
espaço público. Tal fenômeno, no entanto,
ao mesmo tempo que traz consigo novos
elementos para a prática
estéticos, po
exemplo
, atualiza também antigas
relações identificadas no circuito
tradicional. Mediante isso, neste momento
centramos a análise nas condições
precárias de trabalho que levaram estes
músicos para a rua à procura de maior
autonomia e liberdade para
a prática, bem
como em busca de encontrar um meio de
subsistir a partir da música.
O c
otidiano, a rua e a pluriatividade
Em entrevistas realizadas ao longo
da pesquisa, as múltiplas atividades
desempenhadas pelos músicos emergem
como uma pista para o en
tendimento do
que estamos chamando de trabalho
precário. Neste artigo analisamos tal fato
como uma das dimensões das relações
incertas de trabalho das quais estes
instrumentistas fazem parte. Identificamos
que a pluriatividade percebida nos relatos
dos mús
icos pode ser compreendida em
duas dimensões
uma relacionada à
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
se diretamente
ligado ao questionamento, mesmo
indireto, das precárias relações de
trabalho estabelecidas entre os
as casas especializadas.
Através da reivindicação por autonomia da
prática musical, identifica
-se o
transbordamento desta última para o
espaço público. Tal fenômeno, no entanto,
ao mesmo tempo que traz consigo novos
estéticos, po
r
, atualiza também antigas
relações identificadas no circuito
tradicional. Mediante isso, neste momento
centramos a análise nas condições
precárias de trabalho que levaram estes
músicos para a rua à procura de maior
a prática, bem
como em busca de encontrar um meio de
otidiano, a rua e a pluriatividade
Em entrevistas realizadas ao longo
da pesquisa, as múltiplas atividades
desempenhadas pelos músicos emergem
tendimento do
que estamos chamando de trabalho
precário. Neste artigo analisamos tal fato
como uma das dimensões das relações
incertas de trabalho das quais estes
instrumentistas fazem parte. Identificamos
que a pluriatividade percebida nos relatos
icos pode ser compreendida em
uma relacionada à
atividade musical e outra descolada desta
, sendo a primeira a mais comum.
Tal fenômeno é investigado
majoritariamente através de entrevistas e
observações de campo com dois trios
instrumen
tais que se apresentam ou se
apresentaram em algum momento nas
ruas da região central da cidade do Rio de
Janeiro: as bandas Rocha e Astro Venga.
A primeira iniciou suas apresentações em
2019, mesmo ano em que teve também
suas atividades encerradas. A band
composta por Luis Henrique Queiroz, o
saxofonista, Mindu, o contrabaixista e
Emanuel de Souza, o baterista. Na época
da pesquisa, os três tinham entre 30 e 40
anos, eram moradores de Duque de
Caxias, cidade localizada na baixada
fluminense e possuíam
anteriores com apresentações nas ruas.
A Astro Venga, que surgiu em
2013 e segue existindo até o
encerramento desta investigação, é
composta por
Antônio Paoli, o
contrabaixista, Christian Dias, o guitarrista
e Jonas ffaro, o baterista. Os
integrantes tinham idades próximas aos
membros da banda anterior e eram
moradores da cidade do Rio de Janeiro.
Destacamos ainda que as falas de outros
instrumentistas utilizadas na seção
anterior seguem sendo analisadas aqui a
partir do trabalho de conclu
realizado por Christian Dias (2016).
55
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
atividade musical e outra descolada desta
, sendo a primeira a mais comum.
Tal fenômeno é investigado
majoritariamente através de entrevistas e
observações de campo com dois trios
tais que se apresentam ou se
apresentaram em algum momento nas
ruas da região central da cidade do Rio de
Janeiro: as bandas Rocha e Astro Venga.
A primeira iniciou suas apresentações em
2019, mesmo ano em que teve também
suas atividades encerradas. A band
a era
composta por Luis Henrique Queiroz, o
saxofonista, Mindu, o contrabaixista e
Emanuel de Souza, o baterista. Na época
da pesquisa, os três tinham entre 30 e 40
anos, eram moradores de Duque de
Caxias, cidade localizada na baixada
fluminense e possuíam
experiências
anteriores com apresentações nas ruas.
A Astro Venga, que surgiu em
2013 e segue existindo até o
encerramento desta investigação, é
Antônio Paoli, o
contrabaixista, Christian Dias, o guitarrista
e Jonas ffaro, o baterista. Os
integrantes tinham idades próximas aos
membros da banda anterior e eram
moradores da cidade do Rio de Janeiro.
Destacamos ainda que as falas de outros
instrumentistas utilizadas na seção
anterior seguem sendo analisadas aqui a
partir do trabalho de conclu
são de curso
realizado por Christian Dias (2016).
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
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1
.
Luis Queiroz, o saxofonista da
banda Rocha, assim como Antônio Paoli,
contrabaixista da Astro Venga
trabalhavam como técnicos de som de
diferentes estúdios de gravação
respectivamente em Duque de Caxias e
no Rio de Janeiro. Queiroz trabalhava
também com operação de áudio em
espetáculos ao vivo, enquanto Paoli
produzia trilhas sonoras para produtos
audiovisuais
7
.
Destaca-
se também a necessidade
destes músicos realizarem trabalhos de
produção e divulgação d
e suas próprias
bandas. Glauber Airola, percussionista do
trio Os Camelos, afirma que para além de
tocar, os músicos da banda dividem as
atividades de produção executiva (DIAS,
2016, p. 78):
Cada um da gente está aberto,
por exemplo, pra fechar um show.
A gente acaba sendo meio que
produtor de nós mesmos… E
essas coisas assim. Mas acaba
que a gente faz, cara, ter uma
banda ocupa um tempo sabe, a
gente acaba fazendo muita coisa
mesmo; é ensaio, aí reúne não
sei aonde pra tentar fechar
alguma coisa, a gente
que aprender a correr atrás de
edital de não sei quê, coisas que
a gente nunca fez, sabe? Mas é
isso.
7
Em entrevistas concedidas ao autor por Luis
Queiroz e Antônio Paoli respectivamente nos
dias 22 e 27 de fevereiro de 2019.
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
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(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
Luis Queiroz, o saxofonista da
banda Rocha, assim como Antônio Paoli,
contrabaixista da Astro Venga
trabalhavam como técnicos de som de
diferentes estúdios de gravação
respectivamente em Duque de Caxias e
no Rio de Janeiro. Queiroz trabalhava
também com operação de áudio em
espetáculos ao vivo, enquanto Paoli
produzia trilhas sonoras para produtos
se também a necessidade
destes músicos realizarem trabalhos de
e suas próprias
bandas. Glauber Airola, percussionista do
trio Os Camelos, afirma que para além de
tocar, os músicos da banda dividem as
atividades de produção executiva (DIAS,
Cada um da gente está aberto,
por exemplo, pra fechar um show.
A gente acaba sendo meio que
produtor de nós mesmos… E
essas coisas assim. Mas acaba
que a gente faz, cara, ter uma
banda ocupa um tempo sabe, a
gente acaba fazendo muita coisa
mesmo; é ensaio, aí reúne não
sei aonde pra tentar fechar
alguma coisa, a gente
que tem
que aprender a correr atrás de
edital de não sei quê, coisas que
a gente nunca fez, sabe? Mas é
Em entrevistas concedidas ao autor por Luis
Queiroz e Antônio Paoli respectivamente nos
dias 22 e 27 de fevereiro de 2019.
Neste trecho, a pluriatividade é
potencializada a partir do momento
que o instrumentista e sua banda
passam a tocar nas ruas. A marcação
da ag
enda de shows e ensaios, além
da busca por editais de patrocínio,
gera uma demanda grande de
atividades, que extrapola a realização
dos shows propriamente ditos. Tal fato
reitera aquilo que o contrabaixista da
Astro Venga classificou como o dia a
dia do
sico trabalhador
entanto, conclui-
se também que ao
trabalho braçal destacado por Paoli
como uma dimensão fundamental do
cotidiano destes instrumentistas que
estão nas ruas, são adicionadas
atividades de produção e comunicação
que incrementam a lógica
pluriatividade.
a segunda dimensão da
pluriatividade, conforme citada, diz
respeito aos trabalhos não
relacionados à prática musical. Estes
podem tanto complementar a renda,
uma vez que o trabalho com a música
não seja suficiente, como podem
tratar-s
e do rendimento central,
fazendo da música atividade
secundária. Sendo assim, as
8 Cf. (OLIVEIRA, 2021).
56
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Neste trecho, a pluriatividade é
potencializada a partir do momento
que o instrumentista e sua banda
passam a tocar nas ruas. A marcação
enda de shows e ensaios, além
da busca por editais de patrocínio,
gera uma demanda grande de
atividades, que extrapola a realização
dos shows propriamente ditos. Tal fato
reitera aquilo que o contrabaixista da
Astro Venga classificou como o dia a
sico trabalhador
8
. No
se também que ao
trabalho braçal destacado por Paoli
como uma dimensão fundamental do
cotidiano destes instrumentistas que
estão nas ruas, são adicionadas
atividades de produção e comunicação
que incrementam a lógica
da
a segunda dimensão da
pluriatividade, conforme citada, diz
respeito aos trabalhos não
relacionados à prática musical. Estes
podem tanto complementar a renda,
uma vez que o trabalho com a música
não seja suficiente, como podem
e do rendimento central,
fazendo da música atividade
secundária. Sendo assim, as
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
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.
apresentações na rua podem ser
identificadas como uma das
possibilidades que os instrumentistas
têm para tentar viver a partir do
trabalho artístico.
No Brasil, de maneira
es
quemática, os instrumentistas
podem assalariar-
se de duas
maneiras: no serviço público em suas
diferentes esferas e funções ou na
iniciativa privada. Todavia, entendendo
que a primeira opção esaberta mais
diretamente aos instrumentistas com
formação clá
ssica, nos ateremos à
segunda possibilidade. Neste contexto,
os instrumentistas podem também
estabelecer relações estáveis como no
caso de orquestras privadas, mas a
depender de suas formações, estes se
deparam mais comumente com o
trabalho autônomo formal
e informal.
Nestas condições a docência
emerge como possibilidade através de
contratos de longa duração,
intermitentes ou mesmo em sua
ausência. A formalidade e
informalidade estão presentes também
em trabalhos de gravação em estúdios
e de apresentações
ao vivo. Vale
lembrar que tais possibilidades dão
forma à instabilidade da vida
profissional dos instrumentistas, por
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
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(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
apresentações na rua podem ser
identificadas como uma das
possibilidades que os instrumentistas
têm para tentar viver a partir do
No Brasil, de maneira
quemática, os instrumentistas
se de duas
maneiras: no serviço público em suas
diferentes esferas e funções ou na
iniciativa privada. Todavia, entendendo
que a primeira opção esaberta mais
diretamente aos instrumentistas com
ssica, nos ateremos à
segunda possibilidade. Neste contexto,
os instrumentistas podem também
estabelecer relações estáveis como no
caso de orquestras privadas, mas a
depender de suas formações, estes se
deparam mais comumente com o
e informal.
Nestas condições a docência
emerge como possibilidade através de
contratos de longa duração,
intermitentes ou mesmo em sua
ausência. A formalidade e
informalidade estão presentes também
em trabalhos de gravação em estúdios
ao vivo. Vale
lembrar que tais possibilidades dão
forma à instabilidade da vida
profissional dos instrumentistas, por
isso, levamos em consideração que,
para além desses diferentes tipos de
vínculo passíveis de serem
estabelecidos, existe também a
possibil
idade de nenhum destes
sustentar o instrumentista.
Uma vez que a pluriatividade
pode se expandir para atividades
paralelas à música, a ruptura total com
o campo esta prática é sempre uma
possibilidade no horizonte destes
agentes. Nesse sentido destacamos
que os instrumentistas aqui analisados
entenderam a rua como possibilidade
limite para dar continuidade à atividade
artística. As relações precárias de
trabalho constitutivas da organização
do campo musical encontradas pelos
músicos entrevistados obtêm com
resposta o deslocamento das
apresentações musicais para
determinados espaços blicos da
capital carioca. Esta aposta traz
consigo algumas particularidades que
investigaremos na sequência.
A precarização do trabalho musical e
as crises sobrepostas
Três autores nos ajudam a
definir o que entendemos por
condições precárias de trabalho.
Ricardo Antunes, Robert Castel e Guy
57
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
isso, levamos em consideração que,
para além desses diferentes tipos de
vínculo passíveis de serem
estabelecidos, existe também a
idade de nenhum destes
sustentar o instrumentista.
Uma vez que a pluriatividade
pode se expandir para atividades
paralelas à música, a ruptura total com
o campo esta prática é sempre uma
possibilidade no horizonte destes
agentes. Nesse sentido destacamos
que os instrumentistas aqui analisados
entenderam a rua como possibilidade
limite para dar continuidade à atividade
artística. As relações precárias de
trabalho constitutivas da organização
do campo musical encontradas pelos
músicos entrevistados obtêm com
o
resposta o deslocamento das
apresentações musicais para
determinados espaços blicos da
capital carioca. Esta aposta traz
consigo algumas particularidades que
investigaremos na sequência.
A precarização do trabalho musical e
as crises sobrepostas
Três autores nos ajudam a
definir o que entendemos por
condições precárias de trabalho.
Ricardo Antunes, Robert Castel e Guy
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
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1
.
Standing, em diferentes momentos e a
partir de distintas abordagens,
tentaram compreender o fenômeno da
precarização bem como suas
sobredeterminações. Tais relações
são dinâmicas e relacionais, de forma
que as condições precárias de
trabalho, em diferentes momentos da
modernidade, se deslocam entre
zonas de estabilidade empregatícia, de
um lado, e de desintegração social por
outro. Aq
uilo que na França, Castel
(2008) identificou ser a crise da
sociedade salarial e, no Brasil,
Antunes (2011) entendeu como a
vigência da sociedade do desemprego
estrutural, em função das
determinações conjunturais
conformadoras das realidades
europeia e latino-
americana, está
ligada à ampliação da zona de
instabilidade social proveniente do
padrão flexível de acumulação do
capital. Tais abordagens confluem
tanto a respeito do processo de
desestabilização e promoção de
incertezas na vida dos trabalhadores,
c
omo com o imperativo destrutivo do
capital frente ao trabalho.
Para Guy Standing (2017),
aquilo que ele intitula de “nova classe
perigosa” ou de “precariado” também é
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
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www.periodicos.uff.br/pragmatizes
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Trabalho cultural e precarização
Standing, em diferentes momentos e a
partir de distintas abordagens,
tentaram compreender o fenômeno da
precarização bem como suas
sobredeterminações. Tais relações
são dinâmicas e relacionais, de forma
que as condições precárias de
trabalho, em diferentes momentos da
modernidade, se deslocam entre
zonas de estabilidade empregatícia, de
um lado, e de desintegração social por
uilo que na França, Castel
(2008) identificou ser a crise da
sociedade salarial e, no Brasil,
Antunes (2011) entendeu como a
vigência da sociedade do desemprego
estrutural, em função das
determinações conjunturais
conformadoras das realidades
americana, está
ligada à ampliação da zona de
instabilidade social proveniente do
padrão flexível de acumulação do
capital. Tais abordagens confluem
tanto a respeito do processo de
desestabilização e promoção de
incertezas na vida dos trabalhadores,
omo com o imperativo destrutivo do
Para Guy Standing (2017),
aquilo que ele intitula de “nova classe
perigosa” ou de “precariado” também é
caracterizado pelo autor por suas
relações de trabalho estabelecidas de
maneira flexível
, sazonal e incerta
Não nos interessa aqui afirmar o
artista-
trabalhador como membro ou
não do precariado, mas perceber a
riqueza daquilo que Standing define
como “sete formas de garantia e
segurança de trabalho nos termos da
cidadania industrial” (STAND
2017, p. 28), de modo que a partir de
alguma mediação, possamos
compreender as condições de trabalho
vivenciadas pelos músicos em
diferentes circuitos. Senão vejamos:
Garantia de mercado de trabalho
oportunidades adequadas de
renda salário; no níve
é realçado por um compromisso
governamental de “pleno
emprego”.
Garantia de vínculo empregatício
Proteção contra a dispensa
arbitrária, regulamentação sobre
contratação e demissão,
imposição de custos aos
empregadores por não aderirem
às regras e assim por diante.
Segurança no emprego
Capacidade e oportunidade para
manter um nicho no emprego,
alé
m de barreiras para a diluição
9
Em contraposição ao autor britânico,
entende-
se o precariado como um estrato da
classe trabalhadora que entra e sai do
mercado de trabalho de modo frequente e em
um curto espaço de tempo, portanto, pelo
menos em termos marxianos, não se trata de
uma nova c
lasse social. Para mais
informações ver BRAGA, 2012 e 2017.
58
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
caracterizado pelo autor por suas
relações de trabalho estabelecidas de
, sazonal e incerta
9
.
Não nos interessa aqui afirmar o
trabalhador como membro ou
não do precariado, mas perceber a
riqueza daquilo que Standing define
como “sete formas de garantia e
segurança de trabalho nos termos da
cidadania industrial” (STAND
ING,
2017, p. 28), de modo que a partir de
alguma mediação, possamos
compreender as condições de trabalho
vivenciadas pelos músicos em
diferentes circuitos. Senão vejamos:
Garantia de mercado de trabalho
oportunidades adequadas de
renda salário; no níve
l macro, isto
é realçado por um compromisso
governamental de “pleno
Garantia de vínculo empregatício
Proteção contra a dispensa
arbitrária, regulamentação sobre
contratação e demissão,
imposição de custos aos
empregadores por não aderirem
às regras e assim por diante.
Segurança no emprego
Capacidade e oportunidade para
manter um nicho no emprego,
m de barreiras para a diluição
Em contraposição ao autor britânico,
se o precariado como um estrato da
classe trabalhadora que entra e sai do
mercado de trabalho de modo frequente e em
um curto espaço de tempo, portanto, pelo
menos em termos marxianos, não se trata de
lasse social. Para mais
informações ver BRAGA, 2012 e 2017.
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
202
1
.
de habilidade, e oportunidades de
mobilidade “ascendente” em
termos de status e renda.
Segurança do trabalho
Proteção contra acidentes e
doenças no trabalho através, por
exemplo, de normas de
segurança e saúde, limites de
t
empo de trabalho, horas
insociáveis, trabalho noturno para
as mulheres, bem como
compensação de contratempos.
Garantia de reprodução de
habilidade
Oportunidade de
adquirir habilidades, através de
estágios, treinamento de trabalho,
e assim por diante, bem
oportunidade de fazer uso dos
conhecimentos.
Segurança de renda
de renda adequada e estável,
protegida, por exemplo, por meio
de mecanismos de salário
mínimo, indexação dos salários,
previdência social abrangente,
tributação progressiva pa
reduzir a desigualdade e para
complementar as baixas rendas.
Garantia de representação
Possuir uma voz coletiva no
mercado de trabalho por meio,
por exemplo, de sindicatos
independentes, com o direito de
greve. (
grifo do autor)
Buscadas no período p
Guerra Mundial, sobretudo na Europa e
nos Estados Unidos, interpretamos tais
garantias em termos polanyianos, isto é,
como uma dimensão da dinâmica de
“duplo movimento” que regeu a sociedade
moderna e teve seu ápice no início do
século XX (POLAN
YI, 2000, p. 161).
Neste caso, em resposta à devastação do
tecido social promovida pelo livre
mercado, o Estado buscou
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
de habilidade, e oportunidades de
mobilidade “ascendente” em
termos de status e renda.
Segurança do trabalho
Proteção contra acidentes e
doenças no trabalho através, por
exemplo, de normas de
segurança e saúde, limites de
empo de trabalho, horas
insociáveis, trabalho noturno para
as mulheres, bem como
compensação de contratempos.
Garantia de reprodução de
Oportunidade de
adquirir habilidades, através de
estágios, treinamento de trabalho,
e assim por diante, bem
como
oportunidade de fazer uso dos
Segurança de renda
– Garantia
de renda adequada e estável,
protegida, por exemplo, por meio
de mecanismos de salário
mínimo, indexação dos salários,
previdência social abrangente,
tributação progressiva pa
ra
reduzir a desigualdade e para
complementar as baixas rendas.
Garantia de representação
Possuir uma voz coletiva no
mercado de trabalho por meio,
por exemplo, de sindicatos
independentes, com o direito de
grifo do autor)
Buscadas no período p
ós-Segunda
Guerra Mundial, sobretudo na Europa e
nos Estados Unidos, interpretamos tais
garantias em termos polanyianos, isto é,
como uma dimensão da dinâmica de
“duplo movimento” que regeu a sociedade
moderna e teve seu ápice no início do
YI, 2000, p. 161).
Neste caso, em resposta à devastação do
tecido social promovida pelo livre
mercado, o Estado buscou
desmercantilizar o trabalho como medida
de proteção social, conclusão aliás à qual
Castel se aproxima tempos depois em sua
análise sobre
o declínio da sociedade
salarial na França, iniciada na década de
1970. Tratando-
se de uma agenda política
determinada historicamente, Standing
destaca que nem todos os trabalhadores
pertencentes ao precariado
necessariamente dão valor a todas estas
garant
ias, mas que objetivamente
possuem, em alguma medida, problemas
em acessar cada uma delas. Entende
portanto, que a informalidade que assola
as relações de trabalho dos músicos
mesmo antes do início das apresentações
realizadas nas ruas, traz consigo a
dificuldade de acesso, ou mesmo a
impossibilidade de alcance de todas as
garantias elencadas.
São raras as exceções de sicos
e instrumentistas que possuem, por
exemplo, garantia de vínculo
empregatício, segurança no emprego e
garantia de reprodução de ha
Como já colocado, tais características são
identificadas no caso de músicos de
determinadas orquestras
muitas vezes servidores públicos. Em se
tratando de instrumentistas autônomos,
como no caso desta pesquisa,
determinadas reiv
indicações parecem, por
vezes, nem mesmo fazer sentido para os
músicos entrevistados. A carência de
“identidade baseada no trabalho”, por
59
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
desmercantilizar o trabalho como medida
de proteção social, conclusão aliás à qual
Castel se aproxima tempos depois em sua
o declínio da sociedade
salarial na França, iniciada na década de
se de uma agenda política
determinada historicamente, Standing
destaca que nem todos os trabalhadores
pertencentes ao precariado
necessariamente dão valor a todas estas
ias, mas que objetivamente
possuem, em alguma medida, problemas
em acessar cada uma delas. Entende
-se,
portanto, que a informalidade que assola
as relações de trabalho dos músicos
mesmo antes do início das apresentações
realizadas nas ruas, traz consigo a
dificuldade de acesso, ou mesmo a
impossibilidade de alcance de todas as
São raras as exceções de sicos
e instrumentistas que possuem, por
exemplo, garantia de vínculo
empregatício, segurança no emprego e
garantia de reprodução de ha
bilidade.
Como já colocado, tais características são
identificadas no caso de músicos de
determinadas orquestras
assalariados –,
muitas vezes servidores públicos. Em se
tratando de instrumentistas autônomos,
como no caso desta pesquisa,
indicações parecem, por
vezes, nem mesmo fazer sentido para os
músicos entrevistados. A carência de
“identidade baseada no trabalho”, por
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
202
1
.
exemplo, é outra característica atribuída
por Standing (2017, p. 31) ao precariado,
diretamente ligada à garantia de
r
epresentação. Esta é identificada por
Requião (2008, p. 211), no circuito
formal das casas de shows:
Apesar de todos os sicos que
responderam ao questionário
estarem filiados à Ordem dos
Músicos do Brasil e a algum
Sindicato, não se sentem como
perte
ncentes a nenhum grupo ou
classe específica. Sua identidade
profissional fica diluída frente à
instabilidade da profissão e às
inúmeras atividades profissionais
que exercem.
Com o novo fenômeno das
apresentações nos espaços públicos, os
músicos filiados à Ordem dos sicos do
Brasil (OMB) são poucos e o
pertencimento a sindicatos, ao menos
dentre os instrumentistas entrevistados,
não foi identificado. Reitera
-
que
o fato de alguns instrumentistas irem
para as ruas está diretamente ligado à
descrença da possibilidade de “mobilidade
ascendente no campo”, através do circuito
tradicional. Ao mesmo tempo, a rua surge
no horizonte desses instrumentistas como
um novo espa
ço de trabalho, sobretudo
para aqueles que não tinham nada a
perder no campo da música. A
instabilidade presente nas relações de
trabalho e seu desdobramento para as
demais dimensões da vida são
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
exemplo, é outra característica atribuída
por Standing (2017, p. 31) ao precariado,
diretamente ligada à garantia de
epresentação. Esta é identificada por
Requião (2008, p. 211), no circuito
Apesar de todos os sicos que
responderam ao questionário
estarem filiados à Ordem dos
Músicos do Brasil e a algum
Sindicato, não se sentem como
ncentes a nenhum grupo ou
classe específica. Sua identidade
profissional fica diluída frente à
instabilidade da profissão e às
inúmeras atividades profissionais
Com o novo fenômeno das
apresentações nos espaços públicos, os
músicos filiados à Ordem dos sicos do
Brasil (OMB) são poucos e o
pertencimento a sindicatos, ao menos
dentre os instrumentistas entrevistados,
-
se, portanto,
o fato de alguns instrumentistas irem
para as ruas está diretamente ligado à
descrença da possibilidade de “mobilidade
ascendente no campo”, através do circuito
tradicional. Ao mesmo tempo, a rua surge
no horizonte desses instrumentistas como
ço de trabalho, sobretudo
para aqueles que não tinham nada a
perder no campo da música. A
instabilidade presente nas relações de
trabalho e seu desdobramento para as
demais dimensões da vida são
escancaradas quando os instrumentistas
se lançam na cidade. A
aleatório” identificada por Castel (2008, p.
529) se materializa de maneira bem
específica na nova forma que a atividade
musical toma nas ruas do Rio de Janeiro,
e devido a isso os sicos passam de
uma vez por todas a viver o presente,
garantindo a sobrevivência um dia de
cada vez. Quanto ao futuro deste sujeitos,
este se configura, na maioria das vezes,
como um projeto incontrolável baseado no
virtual reconhecimento e incorporação ao
circuito consagrado da música. Neste
meio tempo, a i
ncerteza da rua traz
consigo, pelo menos idealmente, a
iminência de relações de trabalho
intermitentes em casas de shows e
festivais menores.
Vejamos uma das maneiras pelas
quais a cultura do aleatório se realiza nas
ruas, através da própria mudança na
percepção dos instrumentistas que
vivenciam o processo de formação dos
circuitos não consagrados, da cidade do
Rio de Janeiro. Em 2016, também em
entrevista concedida ao guitarrista da
Astro Venga, Paoli afirmou que a rua era a
sua principal fonte de rend
cerca de dois anos depois, em fevereiro
de 2019, o instrumentista reavaliou as
condições da atividade:
Atualmente a rua não maneira
pra isso [para a prática musical].
60
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
escancaradas quando os instrumentistas
se lançam na cidade. A
ssim, a “cultura do
aleatório” identificada por Castel (2008, p.
529) se materializa de maneira bem
específica na nova forma que a atividade
musical toma nas ruas do Rio de Janeiro,
e devido a isso os sicos passam de
uma vez por todas a viver o presente,
garantindo a sobrevivência um dia de
cada vez. Quanto ao futuro deste sujeitos,
este se configura, na maioria das vezes,
como um projeto incontrolável baseado no
virtual reconhecimento e incorporação ao
circuito consagrado da música. Neste
ncerteza da rua traz
consigo, pelo menos idealmente, a
iminência de relações de trabalho
intermitentes em casas de shows e
Vejamos uma das maneiras pelas
quais a cultura do aleatório se realiza nas
ruas, através da própria mudança na
percepção dos instrumentistas que
vivenciam o processo de formação dos
circuitos não consagrados, da cidade do
Rio de Janeiro. Em 2016, também em
entrevista concedida ao guitarrista da
Astro Venga, Paoli afirmou que a rua era a
sua principal fonte de rend
a. No entanto,
cerca de dois anos depois, em fevereiro
de 2019, o instrumentista reavaliou as
condições da atividade:
Atualmente a rua não maneira
pra isso [para a prática musical].
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
202
1
.
A gente quando começou na rua,
pensamos que viveríamos disso,
mas fic
ou claro que depende do
país estar bem, das pessoas
terem dinheiro no bolso para
poderem perder com cultura. [...]
No começo o país tava maneiro.
Era isso, 150 conto no bolso de
cada um de tarde, isso o nimo,
três vezes na semana.
Esta relação entre a
s doações e a
crise também foi relatada por Luiz
Queiroz, saxofonista das bandas Rocha e
Kosmo Coletivo Urbano. De acordo com o
músico, cada membro da Kosmo chegara
a embolsar algo em torno de 100 reais por
dia, algo que não acontecia com a então
recém-cri
ada Rocha, uma vez que as
pessoas andavam sem dinheiro em
função da crise, fato esse que refletia nas
ruas
11
. Levando em consideração que o
“começo” relatado por Paoli trata
2013, ano em que a Astro Venga
começou a tocar nas ruas, e os tempos
áureos r
elatados por Queiroz diz respeito
ao ano de 2014, torna-
se fundamental
uma breve análise conjuntural do
processo de rebatimento das atuais crises
política e econômica nas ruas da cidade
do Rio de Janeiro. Para isso retomemos o
contexto político anterior à
10
Entrevista de Antônio Paoli da banda Astro
Venga concedida ao autor em 27 de fevereiro
de 2019.
11
Informações acessadas através de uma
conversa realizada no dia primeiro de fevereiro
de 2019 a
pós apresentação da banda Rocha
na Avenida Rio Branco, no
centro da cidade do
Rio de Janeiro.
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
A gente quando começou na rua,
pensamos que viveríamos disso,
ou claro que depende do
país estar bem, das pessoas
terem dinheiro no bolso para
poderem perder com cultura. [...]
No começo o país tava maneiro.
Era isso, 150 conto no bolso de
cada um de tarde, isso o nimo,
três vezes na semana.
10
s doações e a
crise também foi relatada por Luiz
Queiroz, saxofonista das bandas Rocha e
Kosmo Coletivo Urbano. De acordo com o
músico, cada membro da Kosmo chegara
a embolsar algo em torno de 100 reais por
dia, algo que não acontecia com a então
ada Rocha, uma vez que as
pessoas andavam sem dinheiro em
função da crise, fato esse que refletia nas
. Levando em consideração que o
“começo” relatado por Paoli trata
-se de
2013, ano em que a Astro Venga
começou a tocar nas ruas, e os tempos
elatados por Queiroz diz respeito
se fundamental
uma breve análise conjuntural do
processo de rebatimento das atuais crises
política e econômica nas ruas da cidade
do Rio de Janeiro. Para isso retomemos o
contexto político anterior à
crise
Entrevista de Antônio Paoli da banda Astro
Venga concedida ao autor em 27 de fevereiro
Informações acessadas através de uma
conversa realizada no dia primeiro de fevereiro
pós apresentação da banda Rocha
centro da cidade do
econômica que atingiu o Brasil
diretamente na virada de 2014 para 2015,
na tentativa de compreender o início
daquilo que chamamos de primeira virada
“aleatória” no cotidiano dos artistas que
vinham tocando nas ruas da cidade
carioca até então.
O he
terogêneo movimento que
toma as ruas de diferentes cidades
brasileiras no primeiro semestre de 2013,
ainda hoje está longe de ser interpretado
de maneira consensual, quer seja entre os
movimentos sociais participantes à época,
quer seja entre os cientistas
se debruçam sobre o fenômeno quase
uma década. Destaca
primeiro momento, a articulação de
diferentes agendas de diversos
movimentos sociais em capitais como
Porto Alegre, Recife, São Paulo, Belo
Horizonte, Rio de Janeiro, que
comum as reivindicações por direitos
sociais, que muito vêm sendo tratados
pelo Estado sob a ótica de serviços
mercantilizados.
Hoje, porém, entendemos estas
manifestações como início do processo
que desembocaria na retirada de apoio ao
gove
rno federal por parte de diferentes
frações do capital, tendo em vista o
cenário de recessão avistado no horizonte
em função da transferência da crise
econômica global para a periferia do
sistema (ANTUNES, 2018). A partir disto,
buscamos compreender esse p
61
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
econômica que atingiu o Brasil
diretamente na virada de 2014 para 2015,
na tentativa de compreender o início
daquilo que chamamos de primeira virada
“aleatória” no cotidiano dos artistas que
vinham tocando nas ruas da cidade
terogêneo movimento que
toma as ruas de diferentes cidades
brasileiras no primeiro semestre de 2013,
ainda hoje está longe de ser interpretado
de maneira consensual, quer seja entre os
movimentos sociais participantes à época,
quer seja entre os cientistas
sociais que
se debruçam sobre o fenômeno quase
uma década. Destaca
-se aqui, em um
primeiro momento, a articulação de
diferentes agendas de diversos
movimentos sociais em capitais como
Porto Alegre, Recife, São Paulo, Belo
Horizonte, Rio de Janeiro, que
tinham em
comum as reivindicações por direitos
sociais, que muito vêm sendo tratados
pelo Estado sob a ótica de serviços
Hoje, porém, entendemos estas
manifestações como início do processo
que desembocaria na retirada de apoio ao
rno federal por parte de diferentes
frações do capital, tendo em vista o
cenário de recessão avistado no horizonte
em função da transferência da crise
econômica global para a periferia do
sistema (ANTUNES, 2018). A partir disto,
buscamos compreender esse p
eríodo de
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
202
1
.
crises política e econômica combinadas a
partir de seus desdobramentos para a
cidade do Rio de Janeiro e para fruição
desta por parte dos artistas-
trabalhadores.
Em diálogo com Braga (2017),
entendemos a articulação entre a
precarização do traba
lho e a
mercantilização do espaço urbano como
pistas da atualização da reprodução do
capitalismo contemporâneo. Uma vez que
o processo de valorização do valor não é
mais sustentável por meio da expansão
geográfica pelo globo (LUXEMBURGO,
1970; HARVEY, 2005
), a expansão
através da mercadorização de outras
dimensões da vida coaduna
extração de mais-
valor no momento de
reavivamento da crise estrutural do
capital. Tal fenômeno trata de uma das
dimensões estruturantes do processo de
neoliberalização, um
a vez que, nestes
termos, o processo de precarização do
trabalho identificado algum tempo no
cotidiano dos músicos é incrementado
quando parte destes sujeitos vão para as
ruas se apresentar e passam a lidar com a
cidade por meio de novas mediações
(OLIVEIRA, 2021).
Uma vez que a economia brasileira
ainda não havia sido impactada
diretamente pela a crise internacional de
2008, quando os instrumentistas se
arriscam em trabalhar na rua, estes
contam com a disponibilidade dos
cidadãos em contribuir economic
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
crises política e econômica combinadas a
partir de seus desdobramentos para a
cidade do Rio de Janeiro e para fruição
trabalhadores.
Em diálogo com Braga (2017),
entendemos a articulação entre a
lho e a
mercantilização do espaço urbano como
pistas da atualização da reprodução do
capitalismo contemporâneo. Uma vez que
o processo de valorização do valor não é
mais sustentável por meio da expansão
geográfica pelo globo (LUXEMBURGO,
), a expansão
através da mercadorização de outras
dimensões da vida coaduna
-se com a
valor no momento de
reavivamento da crise estrutural do
capital. Tal fenômeno trata de uma das
dimensões estruturantes do processo de
a vez que, nestes
termos, o processo de precarização do
trabalho identificado algum tempo no
cotidiano dos músicos é incrementado
quando parte destes sujeitos vão para as
ruas se apresentar e passam a lidar com a
cidade por meio de novas mediações
Uma vez que a economia brasileira
ainda não havia sido impactada
diretamente pela a crise internacional de
2008, quando os instrumentistas se
arriscam em trabalhar na rua, estes
contam com a disponibilidade dos
cidadãos em contribuir economic
amente
com a sua atividade artística. Os trabalhos
dos artistas nas ruas no Rio de Janeiro
naquele momento se mostraram viáveis
mesmo a partir da lógica de contribuição
voluntária. Percebe-
se em contraposição,
que quando a crise econômica avança, a
reprodu
ção a partir desta mesma lógica
torna-
se mais limitada, o que deixa a rua
“não tão maneira” para a prática musical,
nos termos de Paoli que confluem com a
percepção de Queiroz. Nesse sentido, o
período de retração econômica afeta
diretamente a renda dos tr
trabalhadoras, o que obviamente impacta
na prática artística, conforme foi
identificado pelos próprios músicos a partir
da prática.
Por mais que a lógica mercantil e
as políticas de caráter neoliberal queiram
atribuir caráter empreendedor aos
trabalhadores informais, ganhar a vida por
meio do autoempresariamento ressoa no
campo artístico de maneira bastante
específica. Os artistas
submetem a prática artística à lógica
produtiva e quando passam a sobreviver
na rua, encontram-
se se
de proteção social.
A fim de analisar as
particularidades do trabalho dos
instrumentistas nômades
cariocas,resgatemos o último relato do
contrabaixista da Astro Venga aqui
exposto e
nos atentemos para a questão
levantada sobre a “perda de
62
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
com a sua atividade artística. Os trabalhos
dos artistas nas ruas no Rio de Janeiro
naquele momento se mostraram viáveis
mesmo a partir da lógica de contribuição
se em contraposição,
que quando a crise econômica avança, a
ção a partir desta mesma lógica
se mais limitada, o que deixa a rua
“não tão maneira” para a prática musical,
nos termos de Paoli que confluem com a
percepção de Queiroz. Nesse sentido, o
período de retração econômica afeta
diretamente a renda dos tr
abalhadores e
trabalhadoras, o que obviamente impacta
na prática artística, conforme foi
identificado pelos próprios músicos a partir
Por mais que a lógica mercantil e
as políticas de caráter neoliberal queiram
atribuir caráter empreendedor aos
trabalhadores informais, ganhar a vida por
meio do autoempresariamento ressoa no
campo artístico de maneira bastante
específica. Os artistas
-trabalhadores
submetem a prática artística à lógica
produtiva e quando passam a sobreviver
se se
m qualquer tipo
A fim de analisar as
particularidades do trabalho dos
instrumentistas nômades
cariocas,resgatemos o último relato do
contrabaixista da Astro Venga aqui
nos atentemos para a questão
levantada sobre a “perda de
dinheiro” com
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
202
1
.
cultura. Coli (2008, p. 96) em sua análise
sobre as condições precárias de trabalho
das cantoras e cantores ricos no Brasil e
na Itália, constata uma particularidade do
trabalho musical que gera dificuldade para
a sociologia das profissões
social da atividade musical é interpelada
na contemporaneidade a partir do critério
da produtividade em detrimento do critério
da criatividade, este último estruturante da
prática historicamente. A autora afirma a
partir desta reflexão que “por
diversamente de outros ambientes de
trabalho, as artes criam suas próprias
estruturas de sustento em complexo social
restrito e detentor dos critérios de
avaliação do valor artístico”.
A partir de Bourdieu (2001)
compreendemos que estes critérios se
imbricam e trazem ainda mais dificuldade
para a compreensão da prática artística e
a produção de valor. Por ora, no entanto,
o argumento de Coli nos ajuda
compreender a armadilha que aguarda os
instrumentistas que se apresentam nas
ruas a partir do discurs
o em defesa da
concepção do artista-
trabalhador. Caso
esta reivindicação seja norteada pela
subsunção do trabalho criativo ao trabalho
norteado pela produtividade, a sensação
de “perda de dinheiro” com cultura será
uma constante enquanto vivermos em
uma so
ciedade voltada para produtividade
e valorização do capital.
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
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Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
cultura. Coli (2008, p. 96) em sua análise
sobre as condições precárias de trabalho
das cantoras e cantores ricos no Brasil e
na Itália, constata uma particularidade do
trabalho musical que gera dificuldade para
a sociologia das profissões
: a função
social da atividade musical é interpelada
na contemporaneidade a partir do critério
da produtividade em detrimento do critério
da criatividade, este último estruturante da
prática historicamente. A autora afirma a
partir desta reflexão que “por
isso,
diversamente de outros ambientes de
trabalho, as artes criam suas próprias
estruturas de sustento em complexo social
restrito e detentor dos critérios de
A partir de Bourdieu (2001)
compreendemos que estes critérios se
imbricam e trazem ainda mais dificuldade
para a compreensão da prática artística e
a produção de valor. Por ora, no entanto,
o argumento de Coli nos ajuda
compreender a armadilha que aguarda os
instrumentistas que se apresentam nas
o em defesa da
trabalhador. Caso
esta reivindicação seja norteada pela
subsunção do trabalho criativo ao trabalho
norteado pela produtividade, a sensação
de “perda de dinheiro” com cultura será
uma constante enquanto vivermos em
ciedade voltada para produtividade
Longe de ter suas bases
ancoradas na produtividade, “a ocupação
musical pertence ao universo de valores
artesanais que perderam a sua validade
na sociedade atual” (COLI, 2008, p. 96).
Tal proces
so de artesania remete, por
exemplo, ao processo de formação
musical, onde a incorporação de certas
habilidades permeia toda a vida do
músico, tem grande dimensão empírica,
gastos fixos perenes, além de levar algum
tempo até que o desempenho da atividade
t
raga algum retorno financeiro ao
instrumentista. Neste sentido,
desdobramentos como a instabilidade e a
pluriatividade aparecem também como
característica deste choque de distintas
formas de produção, uma vez que para
Coli (2008, p. 97), a atividade musica
revela ainda artesanal em plena
sociedade capitalista pós
Ainda que na modernidade tenha
se tornado possível a produção de
mercadorias descoladas da produção
direta dos músicos, a realização da prática
ainda hoje é dependente destes sujeitos.
Deste modo, a subsunção do trabalho
musical ao capital se de maneira
formal, isto é, a partir da separação entre
os meios de produção e os músicos
(SCHNEIDER, 2006). Tal separação, no
entanto, mostra-
se complexa. Isto significa
dizer que tal mecanismo aparece
coadunado com o monopólio de
distribuição, como responsável mate
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www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Longe de ter suas bases
ancoradas na produtividade, “a ocupação
musical pertence ao universo de valores
artesanais que perderam a sua validade
na sociedade atual” (COLI, 2008, p. 96).
so de artesania remete, por
exemplo, ao processo de formação
musical, onde a incorporação de certas
habilidades permeia toda a vida do
músico, tem grande dimensão empírica,
gastos fixos perenes, além de levar algum
tempo até que o desempenho da atividade
raga algum retorno financeiro ao
instrumentista. Neste sentido,
desdobramentos como a instabilidade e a
pluriatividade aparecem também como
característica deste choque de distintas
formas de produção, uma vez que para
Coli (2008, p. 97), a atividade musica
l “se
revela ainda artesanal em plena
sociedade capitalista pós
-industrial”.
Ainda que na modernidade tenha
se tornado possível a produção de
mercadorias descoladas da produção
direta dos músicos, a realização da prática
ainda hoje é dependente destes sujeitos.
Deste modo, a subsunção do trabalho
musical ao capital se de maneira
formal, isto é, a partir da separação entre
os meios de produção e os músicos
(SCHNEIDER, 2006). Tal separação, no
se complexa. Isto significa
dizer que tal mecanismo aparece
coadunado com o monopólio de
distribuição, como responsável mate
rial
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
202
1
.
pelo surgimento dos circuitos consagrados
que, ao mesmo tempo que fazem dos
músicos que acessam tais circuitos parte
do circuito produtivo, produzem, a
exclusão dos demais. Por outro lado, esta
mesma exclusão conjugada com o
processo de relativa sim
plificação da
produção musical permite com que os
instrumentistas componham, gravem e
passem a constituir nas ruas, um circuito
não consagrado ou passível de outro tipo
de consagração. Conclui-
se, com isto, que
sempre que incorporado ao ciclo de
valorizaçã
o do capital e sua
temporalidade, ainda que de modo formal,
o trabalho musical será sobredeterminado
pela forma mercadoria e a lógica de
superexploração será majoritária.
Em contrapartida, pensado em
outras possibilidade de consagração do
circuito musical,
ao desempenharem sua
atividade, os músicos disponibilizam seu
trabalho aos transeuntes. Produzido
diretamente pelos músicos, os produtos
ficam à disposição para troca, mas
também para simples usufruto. Uma vez
que as apresentações nestes circuitos não
são
precificadas, as trocas podem ser
realizadas à luz de outros parâmetros,
como por exemplo, o das relações de
solidariedade entre músicos e
transeuntes. Tal lógica pode configurar a
luta política a ser travada pelos
instrumentistas contra a lógica produtiv
mesmo ajudar a reconfigurar a
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
pelo surgimento dos circuitos consagrados
que, ao mesmo tempo que fazem dos
músicos que acessam tais circuitos parte
do circuito produtivo, produzem, a
exclusão dos demais. Por outro lado, esta
mesma exclusão conjugada com o
plificação da
produção musical permite com que os
instrumentistas componham, gravem e
passem a constituir nas ruas, um circuito
não consagrado ou passível de outro tipo
se, com isto, que
sempre que incorporado ao ciclo de
o do capital e sua
temporalidade, ainda que de modo formal,
o trabalho musical será sobredeterminado
pela forma mercadoria e a lógica de
superexploração será majoritária.
Em contrapartida, pensado em
outras possibilidade de consagração do
ao desempenharem sua
atividade, os músicos disponibilizam seu
trabalho aos transeuntes. Produzido
diretamente pelos músicos, os produtos
ficam à disposição para troca, mas
também para simples usufruto. Uma vez
que as apresentações nestes circuitos não
precificadas, as trocas podem ser
realizadas à luz de outros parâmetros,
como por exemplo, o das relações de
solidariedade entre músicos e
transeuntes. Tal lógica pode configurar a
luta política a ser travada pelos
instrumentistas contra a lógica produtiv
a e
mesmo ajudar a reconfigurar a
composição do que viemos chamando de
produção cultural do urbano.
Tal luta, direta ou indiretamente
passará pela relação dos instrumentistas
com o Estado (OLIVEIRA, 2021). Por ora
destacamos apenas o fato de que, mesmo
qu
e em alguns relatos os músicos
reivindiquem o reconhecimento do Estado
frente às atividades desenvolvidas no
circuito informal, suas demandas estão
direcionadas menos para as garantias
sociais diversas, e mais para o fomento
direto da atividade estrita.
a discussão sobre o trabalho cultural
realizado por estes sujeitos atravessa não
somente o debate sobre o direito ao
trabalho, mas, em um horizonte mais
amplo, ela compõe o debate sobre uma
nova concepção de cidade sob a
perspectiva da produçã
o cultural urbana.
Entende-
se aqui que a primeira
luta, embora fundamental, tem um limite
quando o projeto objetivado é a
emancipação humana, uma vez que, por
si só, a reivindicação por trabalho não
questiona necessariamente a centralidade
deste na sociedade contemporânea. C
isso, o avanço da incorporação da
atividade musical à lógica produtiva
contribui não necessariamente com
garantias empregatícias e direitos sociais,
mas o contrário, contribui com a
radicalização da exploração, característica
central na era da acumulaçã
países periféricos.
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
composição do que viemos chamando de
produção cultural do urbano.
Tal luta, direta ou indiretamente
passará pela relação dos instrumentistas
com o Estado (OLIVEIRA, 2021). Por ora
destacamos apenas o fato de que, mesmo
e em alguns relatos os músicos
reivindiquem o reconhecimento do Estado
frente às atividades desenvolvidas no
circuito informal, suas demandas estão
direcionadas menos para as garantias
sociais diversas, e mais para o fomento
direto da atividade estrita.
Desta maneira,
a discussão sobre o trabalho cultural
realizado por estes sujeitos atravessa não
somente o debate sobre o direito ao
trabalho, mas, em um horizonte mais
amplo, ela compõe o debate sobre uma
nova concepção de cidade sob a
o cultural urbana.
se aqui que a primeira
luta, embora fundamental, tem um limite
quando o projeto objetivado é a
emancipação humana, uma vez que, por
si só, a reivindicação por trabalho não
questiona necessariamente a centralidade
deste na sociedade contemporânea. C
om
isso, o avanço da incorporação da
atividade musical à lógica produtiva
contribui não necessariamente com
garantias empregatícias e direitos sociais,
mas o contrário, contribui com a
radicalização da exploração, característica
central na era da acumulaçã
o flexível em
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
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1
.
Deste modo, compreende
necessidade da luta por garantias sociais
através do emprego como uma etapa e
uma dimensão da luta emancipatória. Do
ponto de vista dos instrumentistas
nômades, tal luta pode vir a conjugar
com a luta pelo direito à cidade na
tentativa de romper com a lógica
capitalista de produção do espaço. No
âmago de uma sociedade mediada pelo
valor, a superação do estranhamento do
trabalho permitida pelo trabalho musical é
um dos caminhos em busca da pr
revolucionária, isto é, de uma razão não
mais determinada pelo produção de valor.
Considerações finais
Frente à análise das relações de
trabalho que estruturam as práticas dos
músicos realizadas até o momento, pode
se perceber que esses instrumenti
ingressam na rua regidos pela lógica da
aleatoriedade (CASTEL, 2008). A
instabilidade dos vínculos empregatícios,
bem como a inexistência de cachês, são
naturalizadas pelos proprietários das
casas de shows e justificadas pela
insustentabilidade do
trabalho artístico
frente aos efeitos da crise econômica no
país. Nestes termos, percebe
própria maneira de organização dos
agentes no interior do campo artístico,
devido a forma como este é estruturado
na modernidade, gera a instabilidade para
gr
ande parte dos instrumentistas.
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
Deste modo, compreende
-se a
necessidade da luta por garantias sociais
através do emprego como uma etapa e
uma dimensão da luta emancipatória. Do
ponto de vista dos instrumentistas
nômades, tal luta pode vir a conjugar
-se
com a luta pelo direito à cidade na
tentativa de romper com a lógica
capitalista de produção do espaço. No
âmago de uma sociedade mediada pelo
valor, a superação do estranhamento do
trabalho permitida pelo trabalho musical é
um dos caminhos em busca da pr
ática
revolucionária, isto é, de uma razão não
mais determinada pelo produção de valor.
Frente à análise das relações de
trabalho que estruturam as práticas dos
músicos realizadas até o momento, pode
-
se perceber que esses instrumenti
stas
ingressam na rua regidos pela lógica da
aleatoriedade (CASTEL, 2008). A
instabilidade dos vínculos empregatícios,
bem como a inexistência de cachês, são
naturalizadas pelos proprietários das
casas de shows e justificadas pela
trabalho artístico
frente aos efeitos da crise econômica no
país. Nestes termos, percebe
-se que a
própria maneira de organização dos
agentes no interior do campo artístico,
devido a forma como este é estruturado
na modernidade, gera a instabilidade para
ande parte dos instrumentistas.
Deste modo, vimos de maneira
breve, o modo com que o rearranjo do
padrão de acumulação capitalista
conjugado com as políticas de caráter
neoliberal impactam sobre o trabalho
assalariado de modo geral. O desemprego
e o trabal
ho precário proveniente desta
resposta do capital à sua crise estrutural
impactam de maneira particular na
atividade musical, fazendo com que uma
fração deste grupo enxergue a ida às ruas
como um modo de dar continuidade às
atividades. Tal tática, em nome
tentativa de sobrevivência por meio da
atividade musical, traz consigo a
instabilidade como característica estrutural
da prática.
Assim sendo, na tentativa de
avançar na discussão acerca do papel
desses instrumentistas nas novas
configurações do cam
necessário a conjugação da análise do
trabalho sem garantias realizado por
esses sujeitos conforme visto até aqui,
com o processo de produção do espaço.
Tal articulação é proposta por
entendermos que o processo de rearranjo
produtivo util
izado como resposta à crise
estrutural do capitalismo possui como uma
de suas dimensões as políticas
neoliberalizantes e tal processo impacta
não somente nas relações de trabalho
conforme analisado, mas também na
lógica de produção espacial da cidade. É
na
intersecção entre trabalho e espaço
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Deste modo, vimos de maneira
breve, o modo com que o rearranjo do
padrão de acumulação capitalista
conjugado com as políticas de caráter
neoliberal impactam sobre o trabalho
assalariado de modo geral. O desemprego
ho precário proveniente desta
resposta do capital à sua crise estrutural
impactam de maneira particular na
atividade musical, fazendo com que uma
fração deste grupo enxergue a ida às ruas
como um modo de dar continuidade às
atividades. Tal tática, em nome
de uma
tentativa de sobrevivência por meio da
atividade musical, traz consigo a
instabilidade como característica estrutural
Assim sendo, na tentativa de
avançar na discussão acerca do papel
desses instrumentistas nas novas
configurações do cam
po social, faz-se
necessário a conjugação da análise do
trabalho sem garantias realizado por
esses sujeitos conforme visto até aqui,
com o processo de produção do espaço.
Tal articulação é proposta por
entendermos que o processo de rearranjo
izado como resposta à crise
estrutural do capitalismo possui como uma
de suas dimensões as políticas
neoliberalizantes e tal processo impacta
não somente nas relações de trabalho
conforme analisado, mas também na
lógica de produção espacial da cidade. É
intersecção entre trabalho e espaço
OLIVEIRA, Kyoma S. O transbordamento da atividade musical para as
ruas e a precarização do trabalho: uma análise sobre os
instrumentalistas nômades cariocas.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set.
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1
.
que entendemos estar o caminho para
análise mais aprofundada não do
fenômeno dos instrumentistas nômades
urbanos na cidade do Rio de Janeiro, mas
das mais diversas produções culturais que
possuem o fenômeno urbano co
seus eixos estruturantes.
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Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 48-66,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
que entendemos estar o caminho para
análise mais aprofundada não do
fenômeno dos instrumentistas nômades
urbanos na cidade do Rio de Janeiro, mas
das mais diversas produções culturais que
possuem o fenômeno urbano co
mo um de
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formação de circuitos musicais não
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Educação
, Ano XI,
número 2, maio/ago, 2006.
O Precariado:
a nova
Belo Horizonte:
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21.49481
Resumo:
Com o aumento das grandes exposições na segunda metade do século XX, o trabalho feito
por educadores em equipamentos culturais cresceu como atividade que realiza a mediação entre os
bens culturais e seus públicos. Estudos recentes m se debruçado sobre e
contudo poucos têm discutido as relações de trabalho do educador de exposições. Esse artigo
apresenta resultados de uma pesquisa que analisou as relações de trabalho oferecidas pelos
equipamentos culturais da cidade de São Paulo. Como
coordenadores de três tipos de contratantes: Instituições Privadas (IPs), Instituições Estatais geridas
por Organizações Sociais (OSs) e Empresas de Terceirização (ETs) para examinar as formas de
contratação oferecidas. Co
mo resultado, verificou
educador de exposições se caracteriza como um trabalhador sem profissão, devido à ausência de
reconhecimento profissional e às relações de trabalho disfarçadas.
Palavras-chave: educ
ador de exposições; mediação cultural; relações de trabalho; p
profissionalização.
Educador de museos: ¿un trabajador sin profesión?
Resumen
: Con el incremento de las grandes exposiciones en la segunda mitad del siglo XX, ha
crecido la labo
r que desarrollan los educadores en los centros de arte como la actividad que realiza la
mediación cultural entre los bienes culturales y sus públicos. Estudios recientes han analizado esta
práctica educativa, sin embargo, pocos han discutido las relacione
museos. Este artículo presenta los resultados de una investigación que ha analizado las relaciones
laborales que ofrecen los centros de arte de la ciudad de São Paulo. La metodologia consistió en
entrevistas a coordinadores de t
del Estado gestionadas por Organizaciones Sociales (OS) y Empresas de Outsourcing (ET) con el fin
de examinar los modelos de contratación ofrecidos. Como resultado, se ha constatado que,
de la precariedad laboral, el educador de museo se caracteriza por ser un trabajador sin profesión,
por la ausencia de reconocimiento profesional y por las relaciones laborales disfrazadas.
Palabras clave
: educador de museo; mediación cultural; r
profesionalización.
1
Cíntia Maria da Silva. Mestre em Artes
Filho, UNESP, Brasil. E-mail:
cintiamasil@gmail.com
2
Adriana Santiago Rosa Dantas. Pós
Campinas, UNICAMP-
FAPESP. Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo, USP
E-mail: novadrica@gmail.com -
http://orcid.org/0000
Recebido em 30/03/2021,
aceito para publicação em
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21.49481
Cíntia Maria da Silva
Adriana Santiago Rosa Dantas
Com o aumento das grandes exposições na segunda metade do século XX, o trabalho feito
por educadores em equipamentos culturais cresceu como atividade que realiza a mediação entre os
bens culturais e seus públicos. Estudos recentes m se debruçado sobre e
ssa práxis educativa,
contudo poucos têm discutido as relações de trabalho do educador de exposições. Esse artigo
apresenta resultados de uma pesquisa que analisou as relações de trabalho oferecidas pelos
equipamentos culturais da cidade de São Paulo. Como
metodologia, foram entrevistados
coordenadores de três tipos de contratantes: Instituições Privadas (IPs), Instituições Estatais geridas
por Organizações Sociais (OSs) e Empresas de Terceirização (ETs) para examinar as formas de
mo resultado, verificou
-
se que, para além da precarização do trabalho, o
educador de exposições se caracteriza como um trabalhador sem profissão, devido à ausência de
reconhecimento profissional e às relações de trabalho disfarçadas.
ador de exposições; mediação cultural; relações de trabalho; p
Educador de museos: ¿un trabajador sin profesión?
: Con el incremento de las grandes exposiciones en la segunda mitad del siglo XX, ha
r que desarrollan los educadores en los centros de arte como la actividad que realiza la
mediación cultural entre los bienes culturales y sus públicos. Estudios recientes han analizado esta
práctica educativa, sin embargo, pocos han discutido las relacione
s laborales del educador de
museos. Este artículo presenta los resultados de una investigación que ha analizado las relaciones
laborales que ofrecen los centros de arte de la ciudad de São Paulo. La metodologia consistió en
entrevistas a coordinadores de t
res tipos de empleadores: Instituciones Privadas (PI), Instituciones
del Estado gestionadas por Organizaciones Sociales (OS) y Empresas de Outsourcing (ET) con el fin
de examinar los modelos de contratación ofrecidos. Como resultado, se ha constatado que,
de la precariedad laboral, el educador de museo se caracteriza por ser un trabajador sin profesión,
por la ausencia de reconocimiento profesional y por las relaciones laborales disfrazadas.
: educador de museo; mediación cultural; r
elaciones laborales; precariedad;
Cíntia Maria da Silva. Mestre em Artes
pela
Universidade Estadual de São Paulo Julio de Mesquita
cintiamasil@gmail.com
– https://orcid.org/0000-
0001
Adriana Santiago Rosa Dantas. Pós
-
doutora em Educação pela Universidade Estadual de
FAPESP. Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo, USP
http://orcid.org/0000
-0003-1066-7063
aceito para publicação em
03/06/2021 e
disponibilizado online em
01/09/2021.
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?
Cíntia Maria da Silva
1
Adriana Santiago Rosa Dantas
2
Com o aumento das grandes exposições na segunda metade do século XX, o trabalho feito
por educadores em equipamentos culturais cresceu como atividade que realiza a mediação entre os
ssa práxis educativa,
contudo poucos têm discutido as relações de trabalho do educador de exposições. Esse artigo
apresenta resultados de uma pesquisa que analisou as relações de trabalho oferecidas pelos
metodologia, foram entrevistados
coordenadores de três tipos de contratantes: Instituições Privadas (IPs), Instituições Estatais geridas
por Organizações Sociais (OSs) e Empresas de Terceirização (ETs) para examinar as formas de
se que, para além da precarização do trabalho, o
educador de exposições se caracteriza como um trabalhador sem profissão, devido à ausência de
ador de exposições; mediação cultural; relações de trabalho; p
recarização;
: Con el incremento de las grandes exposiciones en la segunda mitad del siglo XX, ha
r que desarrollan los educadores en los centros de arte como la actividad que realiza la
mediación cultural entre los bienes culturales y sus públicos. Estudios recientes han analizado esta
s laborales del educador de
museos. Este artículo presenta los resultados de una investigación que ha analizado las relaciones
laborales que ofrecen los centros de arte de la ciudad de São Paulo. La metodologia consistió en
res tipos de empleadores: Instituciones Privadas (PI), Instituciones
del Estado gestionadas por Organizaciones Sociales (OS) y Empresas de Outsourcing (ET) con el fin
de examinar los modelos de contratación ofrecidos. Como resultado, se ha constatado que,
más allá
de la precariedad laboral, el educador de museo se caracteriza por ser un trabajador sin profesión,
por la ausencia de reconocimiento profesional y por las relaciones laborales disfrazadas.
elaciones laborales; precariedad;
Universidade Estadual de São Paulo Julio de Mesquita
0001
-9049-6051
doutora em Educação pela Universidade Estadual de
FAPESP. Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo, USP
, Brasil.
disponibilizado online em
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
Exhibitions’ educator: a worker without a profession?
Abstract:
With the increase of exhibitions in the second half of the 20
by educators in cultural centers has grown as the activity that performs cultural mediation between
cultural goods and their audiences. Recent studies have elaborated on this educational practice;
however, few have discussed
the work relations of the exhibitions’ educator. This article presents the
results of a research which has analyzed the work relations offered by cultural centers of the city of
São Paulo. The methodology consisted of interviews with coordinators of three
Private Institutions (IPs), State Institutions managed by Social Organizations (OSs) and Outsourcing
Companies (ETs), in order to examine the offered contracting models. As a result of this process, it
has been verified that, beyond lab
worker without a profession, due to the absence of professional recognition and to disguised work
relations.
Keywords:
exhibitions’ educator; cultural mediation; w
profissionalization.
Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?
Introdução
A maioria dos equipamentos
culturais da cidade de São Paulo, que
tem como objetivo a circulação
simbólica de objetos artísticos em
exposições de arte, oferece aos seus
públicos o atendimento educativo por
meio do/a profissional de educação
não-formal -
denominado/a pelas
nomenclaturas mediador/a cultural,
educador/a, monitor/a. Grosso modo, o
trabalho deste profissional é
potencializar o estabelecimento das
relações entre contextos e
interpretações referentes aos bens
culturais mediados (sejam as
legitimadas por curadores e críticos de
arte, sejam as propostas pelos
participantes), intervindo, assim,
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
Exhibitions’ educator: a worker without a profession?
With the increase of exhibitions in the second half of the 20
th
century, the work carried out
by educators in cultural centers has grown as the activity that performs cultural mediation between
cultural goods and their audiences. Recent studies have elaborated on this educational practice;
the work relations of the exhibitions’ educator. This article presents the
results of a research which has analyzed the work relations offered by cultural centers of the city of
São Paulo. The methodology consisted of interviews with coordinators of three
Private Institutions (IPs), State Institutions managed by Social Organizations (OSs) and Outsourcing
Companies (ETs), in order to examine the offered contracting models. As a result of this process, it
has been verified that, beyond lab
or precariousness, the exhibitionseducator is characterized as a
worker without a profession, due to the absence of professional recognition and to disguised work
exhibitions’ educator; cultural mediation; w
ork relations;
Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?
A maioria dos equipamentos
culturais da cidade de São Paulo, que
tem como objetivo a circulação
simbólica de objetos artísticos em
exposições de arte, oferece aos seus
públicos o atendimento educativo por
meio do/a profissional de educação
denominado/a pelas
nomenclaturas mediador/a cultural,
educador/a, monitor/a. Grosso modo, o
trabalho deste profissional é
potencializar o estabelecimento das
relações entre contextos e
interpretações referentes aos bens
culturais mediados (sejam as
legitimadas por curadores e críticos de
arte, sejam as propostas pelos
participantes), intervindo, assim,
cognitiva e criticamente na fruição dos
mais diversos visitantes. Sua atuação
pode se dar diretamente com os
públicos (nas visitas educativas); por
m
eio de proposições de automediação
(com material educativo, textos, jogos,
etc.); ou mediante o oferecimento de
oficinas e cursos de formação.
No Brasil, o trabalho de
mediação entre o público e a obra de
arte está inserido no que comumente é
conhecido com
o “setor educativo” de
museus ou espaços expositivos
(SETTON
; OLIVEIRA, 2017).
Podemos destacar dois peodos
marcantes desta atuação.
Primeiramente, sua criação no início
da redemocratização no Brasil, pós
Estado Novo com a inauguração do
68
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
century, the work carried out
by educators in cultural centers has grown as the activity that performs cultural mediation between
cultural goods and their audiences. Recent studies have elaborated on this educational practice;
the work relations of the exhibitions’ educator. This article presents the
results of a research which has analyzed the work relations offered by cultural centers of the city of
São Paulo. The methodology consisted of interviews with coordinators of three
types of employers:
Private Institutions (IPs), State Institutions managed by Social Organizations (OSs) and Outsourcing
Companies (ETs), in order to examine the offered contracting models. As a result of this process, it
or precariousness, the exhibitionseducator is characterized as a
worker without a profession, due to the absence of professional recognition and to disguised work
ork relations;
precariousness;
Educador de exposições: um trabalhador sem profissão?
cognitiva e criticamente na fruição dos
mais diversos visitantes. Sua atuação
pode se dar diretamente com os
públicos (nas visitas educativas); por
eio de proposições de automediação
(com material educativo, textos, jogos,
etc.); ou mediante o oferecimento de
oficinas e cursos de formação.
No Brasil, o trabalho de
mediação entre o público e a obra de
arte está inserido no que comumente é
o “setor educativo” de
museus ou espaços expositivos
; OLIVEIRA, 2017).
Podemos destacar dois peodos
marcantes desta atuação.
Primeiramente, sua criação no início
da redemocratização no Brasil, pós
-
Estado Novo com a inauguração do
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
Museu de Arte de
São Paulo (MASP)
em 1947, o Museu de Arte Moderna
(MAM) em 1948 e a Bienal de Arte de
São Paulo em 1951. Aquele contexto
fez surgir o desejo e a necessidade de
educar a população para as questões
formais da arte (MINERINI NETO,
2014). O segundo momento po
considerado o início da
“profissionalização” com propostas de
formação dos futuros arte/educadores
de museus
3
, com aulas de
museologia, museografia, curadoria,
história da arte e estética (BARBOSA,
1989, p.125) no período pós
militar.
A dis
cussão proposta neste
artigo se a partir do segundo
período, momento da
redemocratização no Brasil após a
ditadura militar. Na esfera mundial, é
possível destacar, pelo menos, dois
processos que influenciaram a
organização dessa atuação educativa
nos espaços culturais.
3
Destacam-
se os nomes de Ana Mae Barbosa
e Elza Ajzenberg que organizaram o primeiro
curso de especialização em 1986. Como
diretora do Museu de Arte Contemporânea da
Universidade de São Paulo (1987
Mae Barbosa fomentou pesquisas acadêmicas
sobre o
ensino da arte, as quais foram
colocadas em prática no museu.
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
São Paulo (MASP)
em 1947, o Museu de Arte Moderna
(MAM) em 1948 e a Bienal de Arte de
São Paulo em 1951. Aquele contexto
fez surgir o desejo e a necessidade de
educar a população para as questões
formais da arte (MINERINI NETO,
2014). O segundo momento po
de ser
considerado o início da
“profissionalização” com propostas de
formação dos futuros arte/educadores
, com aulas de
museologia, museografia, curadoria,
história da arte e estética (BARBOSA,
1989, p.125) no período pós
-ditadura
cussão proposta neste
artigo se a partir do segundo
período, momento da
redemocratização no Brasil após a
ditadura militar. Na esfera mundial, é
possível destacar, pelo menos, dois
processos que influenciaram a
organização dessa atuação educativa
se os nomes de Ana Mae Barbosa
e Elza Ajzenberg que organizaram o primeiro
curso de especialização em 1986. Como
diretora do Museu de Arte Contemporânea da
Universidade de São Paulo (1987
-93), Ana
Mae Barbosa fomentou pesquisas acadêmicas
ensino da arte, as quais foram
O primeiro processo é a
mudança paradigmática sobre a
concepção de alta cultura, incluindo os
acervos museais e as pessoas
legitimadas para acessá
franceses da segunda metade do
século XX contribuíram para a
modificação desse
obra A distinção
de Pierre Bourdieu
(2007), por exemplo, publicada em
1979, desvelou que a hierarquização
entre bens simbólicos legítimos e não
legítimos se valia de capitais culturais
e sociais que permitiam a classificação
do “gosto” com
o privilégio dos mais
abastados. Dito de outro modo, os
bens culturais legitimados tinham
mecanismos ocultos de hierarquização
parecidos com os mecanismos dos
capitais econômicos, dificultando os
grupos populares de acessá
(BOURDIEU, 2004).
Não por a
caso, o ideário de
democratização da cultura,
especialmente liderado pela
concepção francesa, instituiu modelos
de políticas públicas que tinham como
objetivo divulgar os bens culturais
legitimados para toda a população
francesa, independente da classe
soc
ial (RUBIM, 2009; ZASK, 2016).
Os modelos de políticas culturais
69
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
O primeiro processo é a
mudança paradigmática sobre a
concepção de alta cultura, incluindo os
acervos museais e as pessoas
legitimadas para acessá
-los. Estudos
franceses da segunda metade do
século XX contribuíram para a
entendimento. A
de Pierre Bourdieu
(2007), por exemplo, publicada em
1979, desvelou que a hierarquização
entre bens simbólicos legítimos e não
legítimos se valia de capitais culturais
e sociais que permitiam a classificação
o privilégio dos mais
abastados. Dito de outro modo, os
bens culturais legitimados tinham
mecanismos ocultos de hierarquização
parecidos com os mecanismos dos
capitais econômicos, dificultando os
grupos populares de acessá
-los
caso, o ideário de
democratização da cultura,
especialmente liderado pela
concepção francesa, instituiu modelos
de políticas públicas que tinham como
objetivo divulgar os bens culturais
legitimados para toda a população
francesa, independente da classe
ial (RUBIM, 2009; ZASK, 2016).
Os modelos de políticas culturais
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
instituídas por André Malraux na
década de 1970 tinham como intuito
aumentar o número de pessoas que
frequentavam os espaços culturais
legitimados, como os museus
(DONNAT, 2002).
O segundo p
rocesso, em escala
global, do período de formalização dos
educadores de exposição no Brasil,
consiste na expansão do
neoliberalismo. Compreendendo o
processo de neoliberalização como
resposta à crise da acumulação ativa
do capital no final dos anos de 1960
podemos considerá-
lo com um
político
(HARVEY, 2014). Depois de
muitos anos de política de bem
social, com sindicatos fortes e
conquistas fortalecidas de direitos
trabalhistas, a burguesia se mobilizou
em prol de uma mudança na
modalidade do
pensamento
hegemônico. Em outras palavras, a
elite econômica exerceu grande
influência sobre o campo da educação,
dos meios de comunicação, dos
conselhos de administração de
corporações e de instituições
financeiras, determinando e
perpetuando as diretriz
es dos modos
de vida, dos pensamentos e das
práticas sociais.
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
instituídas por André Malraux na
década de 1970 tinham como intuito
aumentar o número de pessoas que
frequentavam os espaços culturais
legitimados, como os museus
rocesso, em escala
global, do período de formalização dos
educadores de exposição no Brasil,
consiste na expansão do
neoliberalismo. Compreendendo o
processo de neoliberalização como
resposta à crise da acumulação ativa
do capital no final dos anos de 1960
,
lo com um
projeto
(HARVEY, 2014). Depois de
muitos anos de política de bem
-estar
social, com sindicatos fortes e
conquistas fortalecidas de direitos
trabalhistas, a burguesia se mobilizou
em prol de uma mudança na
pensamento
hegemônico. Em outras palavras, a
elite econômica exerceu grande
influência sobre o campo da educação,
dos meios de comunicação, dos
conselhos de administração de
corporações e de instituições
financeiras, determinando e
es dos modos
de vida, dos pensamentos e das
Uma vez criadas as condições
para os novos mercados culturais, em
pouco tempo podemos notar a
expansão das
megaexposições
final dos anos de 1990 e início de 2000
no Brasil. O mundo da arte e
cultura brasileira passou por
momentos de grande euforia e
destaque, demandando a ampliação
do setor educativo dessas exposições.
A atuação do educador de
exposição, no domínio das Artes e da
Educação, tem sido estudada pelo viés
da prática educativa
(ALENCAR, 2008;
BARBOSA, 1989, 1998, 2010;
BARBOSA; COUTINHO, 2009;
BARBOSA; CUNHA, 2010;
MARANDINO, 2008; MARANDINO et
al, 2016; MARTINS, 2003, 2018;
RIZZI, 2000; TEIXEIRA, 2019).
Contudo, estudos que questionam a
profissionalização desse trabalhador
são
raros. Este artigo busca
apresentar resultados de uma
pesquisa de mestrado (SILVA, 2017)
que investigou as relações e
condições de trabalho desse
educador, problematizando se essa
4
Dissertação defendida pelo Programa de
Pós-
Graduação do Instituto de Artes da
Unesp, sob orientação da Profª Dra. Rejano
Coutinho em 2017.
70
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Uma vez criadas as condições
para os novos mercados culturais, em
pouco tempo podemos notar a
megaexposições
no
final dos anos de 1990 e início de 2000
no Brasil. O mundo da arte e
da
cultura brasileira passou por
momentos de grande euforia e
destaque, demandando a ampliação
do setor educativo dessas exposições.
A atuação do educador de
exposição, no domínio das Artes e da
Educação, tem sido estudada pelo viés
(ALENCAR, 2008;
BARBOSA, 1989, 1998, 2010;
BARBOSA; COUTINHO, 2009;
BARBOSA; CUNHA, 2010;
MARANDINO, 2008; MARANDINO et
al, 2016; MARTINS, 2003, 2018;
RIZZI, 2000; TEIXEIRA, 2019).
Contudo, estudos que questionam a
profissionalização desse trabalhador
raros. Este artigo busca
apresentar resultados de uma
pesquisa de mestrado (SILVA, 2017)
4
que investigou as relações e
condições de trabalho desse
educador, problematizando se essa
Dissertação defendida pelo Programa de
Graduação do Instituto de Artes da
Unesp, sob orientação da Profª Dra. Rejano
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
prática laboral consiste em uma
profissão. Para tanto, buscou
compreender s
ua consolidação no
contexto do neoliberalismo e das
mudanças na prática educativa no bojo
da democratização do acesso.
A pergunta de pesquisa que
norteou o trabalho foi: quais as
relações e condições de trabalho do
educador de exposições oferecidas
pelos equipamentos culturais da
cidade de São Paulo? Como
procedimento metodológico foram
elaborados roteiros temáticos e
espe
cíficos para o perfil dos
contratantes e, posteriormente,
realizadas entrevistas na tentativa de
construir aproximações e
distanciamentos entre os diferentes
gestores, o que possibilitou melhores
condições de análise e equiparação
entre discursos e prática
s educativas.
Os dados colhidos foram analisados
qualitativamente como estudo de caso
coletivo (ANDRÉ, 2008), dando conta
da dimensão única e específica de
cada instituição pesquisada. Foram
realizadas nove (9) entrevistas
semiestruturadas (SZYMANSKI
2011)
5
com três tipos de contratantes,
5
As entrevistas respeitaram as normas éticas
de pe
squisa e o sigilo foi preservado.
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
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Trabalho cultural e precarização
prática laboral consiste em uma
profissão. Para tanto, buscou
ua consolidação no
contexto do neoliberalismo e das
mudanças na prática educativa no bojo
da democratização do acesso.
A pergunta de pesquisa que
norteou o trabalho foi: quais as
relações e condições de trabalho do
educador de exposições oferecidas
pelos equipamentos culturais da
cidade de São Paulo? Como
procedimento metodológico foram
elaborados roteiros temáticos e
cíficos para o perfil dos
contratantes e, posteriormente,
realizadas entrevistas na tentativa de
construir aproximações e
distanciamentos entre os diferentes
gestores, o que possibilitou melhores
condições de análise e equiparação
s educativas.
Os dados colhidos foram analisados
qualitativamente como estudo de caso
coletivo (ANDRÉ, 2008), dando conta
da dimensão única e específica de
cada instituição pesquisada. Foram
realizadas nove (9) entrevistas
semiestruturadas (SZYMANSKI
et al.,
com três tipos de contratantes,
As entrevistas respeitaram as normas éticas
squisa e o sigilo foi preservado.
a saber, Instituições Privadas (IPs);
Instituições Estatais geridas por
Organizações Sociais (OSs);
Empresas de Terceirização (ETs)
Como resultado, identificamos que,
para além da precariedade do trabalho
do educ
ador de exposição, a
ocupação exercida por esse
trabalhador não pode ser considerada
como uma profissão visto que as
relações trabalhistas, desde sua
gênese, a coloca como uma categoria
que nunca esteve inserida no processo
histórico de conquistas e perdas
trabalhistas, portanto, não passou pelo
processo de precarização pela própria
condição de trabalho desta atuação.
Este artigo está dividido em três
partes, além desta introdução e das
considerações finais. A primeira seção
apresenta o contexto de crescime
do campo de trabalho do educador de
exposições na segunda metade do
século XX. Em seguida, discute
6
É importante considerar que as análises aqui
realizadas foram privilegiadas pela experiência
profissional das autoras. Cintia da Silva atua
no campo da mediação cultural desde 2008,
prestando serviços para diversos
equi
pamentos culturais e celebrando contratos
em todas as modalidades de contratação aqui
mencionadas, com exceção da CLT por prazo
indeterminado. Adriana Dantas teve uma
experiência em mediação cultural em
Instituição Privada, com contrato temporário
em CLT p
or prazo determinado.
71
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
a saber, Instituições Privadas (IPs);
Instituições Estatais geridas por
Organizações Sociais (OSs);
Empresas de Terceirização (ETs)
6
.
Como resultado, identificamos que,
para além da precariedade do trabalho
ador de exposição, a
ocupação exercida por esse
trabalhador não pode ser considerada
como uma profissão visto que as
relações trabalhistas, desde sua
gênese, a coloca como uma categoria
que nunca esteve inserida no processo
histórico de conquistas e perdas
trabalhistas, portanto, não passou pelo
processo de precarização pela própria
condição de trabalho desta atuação.
Este artigo está dividido em três
partes, além desta introdução e das
considerações finais. A primeira seção
apresenta o contexto de crescime
nto
do campo de trabalho do educador de
exposições na segunda metade do
século XX. Em seguida, discute
-se a
É importante considerar que as análises aqui
realizadas foram privilegiadas pela experiência
profissional das autoras. Cintia da Silva atua
no campo da mediação cultural desde 2008,
prestando serviços para diversos
pamentos culturais e celebrando contratos
em todas as modalidades de contratação aqui
mencionadas, com exceção da CLT por prazo
indeterminado. Adriana Dantas teve uma
experiência em mediação cultural em
Instituição Privada, com contrato temporário
or prazo determinado.
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
prática laboral desse trabalhador e a
ausência de reconhecimento como
profissão. A terceira seção demonstra
as relações de trabalho às quais está
su
bmetido o educador de exposição,
conforme o tipo de empresa
contratante.
1.
O trabalhador das
megaexposições
Ainda que o debate sobre a
função educativa dos museus seja
anterior ao caráter educacional do
atendimento ao público, é possível
dizer que o trabal
ho educativo em
exposições surgiu com a demanda
de“educar” o grande público não
iniciado nas artes. De acordo com
Minerini Neto (2014, p.92), na cidade
de São Paulo, tivemos as primeiras
experiências educativas com as
chamadas “exposições didáticas”, em
mu
seus como MAM e MASP, que
organizaram exposições com uma
extensa variedade de obras e
documentação sobre um movimento
ou escola artística para instruir o
grande público sobre arte moderna. O
primeiro curso de formação para
monitores aconteceu em 1952, teve
um total de 449 inscritos (estudantes e
artistas jovens) e selecionou 15
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
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(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
prática laboral desse trabalhador e a
ausência de reconhecimento como
profissão. A terceira seção demonstra
as relações de trabalho às quais está
bmetido o educador de exposição,
conforme o tipo de empresa
O trabalhador das
Ainda que o debate sobre a
função educativa dos museus seja
anterior ao caráter educacional do
atendimento ao público, é possível
ho educativo em
exposições surgiu com a demanda
de“educar” o grande público não
-
iniciado nas artes. De acordo com
Minerini Neto (2014, p.92), na cidade
de São Paulo, tivemos as primeiras
experiências educativas com as
chamadas “exposições didáticas”, em
seus como MAM e MASP, que
organizaram exposições com uma
extensa variedade de obras e
documentação sobre um movimento
ou escola artística para instruir o
grande público sobre arte moderna. O
primeiro curso de formação para
monitores aconteceu em 1952, teve
um total de 449 inscritos (estudantes e
artistas jovens) e selecionou 15
monitores, “explicadores da arte
moderna”, para realizarem os
“passeios educativos” na II Bienal de
1953 (MINERINI NETO, 2014). Nos
anos seguintes, a ação educativa em
exposições de
arte manteve essa
perspectiva: esclarecer, ensinar a
alfabetização visual, educar o olhar do
grande público a ver e reconhecer
corretamente o que é arte (MÖRSCH;
SEEFRANZ, 2018).
A partir da segunda metade da
década de 1980 -
redemocratizaçã
o no Brasil
mudanças ocorridas nos contextos
político e econômico causaram
grandes impactos na área da cultura
(CASTELLO, 2002; RUBIM, 2007).
Entre o final das décadas de 1980 e de
1990, destacamos: as leis de incentivo
fiscal (Lei Sarney, 7.5
Lei Rouanet, 8.313, de 1991); o
Plano Diretor da Reforma do Aparelho
do Estado (BRASIL, 1997) e os
processos de privatização
privatização da cultura (WU, 2006) por
meio da criação das Organizações
Sociais (Lei Federal 9.63
1998).
O projeto político do
neoliberalismo que se aprofunda na
segunda metade do século XX no
72
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
monitores, “explicadores da arte
moderna”, para realizarem os
“passeios educativos” na II Bienal de
1953 (MINERINI NETO, 2014). Nos
anos seguintes, a ação educativa em
arte manteve essa
perspectiva: esclarecer, ensinar a
alfabetização visual, educar o olhar do
grande público a ver e reconhecer
corretamente o que é arte (MÖRSCH;
A partir da segunda metade da
no processo de
o no Brasil
- algumas
mudanças ocorridas nos contextos
político e econômico causaram
grandes impactos na área da cultura
(CASTELLO, 2002; RUBIM, 2007).
Entre o final das décadas de 1980 e de
1990, destacamos: as leis de incentivo
fiscal (Lei Sarney, 7.5
05, de 1986 e
Lei Rouanet, 8.313, de 1991); o
Plano Diretor da Reforma do Aparelho
do Estado (BRASIL, 1997) e os
processos de privatização
- incluindo a
privatização da cultura (WU, 2006) por
meio da criação das Organizações
Sociais (Lei Federal 9.63
7, de
O projeto político do
neoliberalismo que se aprofunda na
segunda metade do século XX no
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
mundo (HARVEY, 2014) e,
especialmente, após a abertura
política no Brasil, abriu caminho para a
mercantilização da cultura nos anos de
1990
7
(PILÃO, 2017;
RUBIM, 2007;
SEGNINI, 2008). Naquele contexto, foi
inaugurado o período das exposições
blockbuster
ou megaexposições, as
quais apresentavam mostras de
artistas e/ou curadores de museus
internacionais famosos e consagrados
e que foram patrocinadas por gran
empresas como recurso de
cultural
(SANTOS, 2002). As
megaexposições movimentaram cifras
exorbitantes que impressionaram tanto
nos valores de investimento quanto
nos números de visitação
8
, criando um
círculo vicioso: quanto maior fosse o
apelo de uma exposição, maior seria o
interesse no
marketing cultural
investimento e maior possibilidade de
bater recordes de visitação.
7
Em 1995, o Ministério da Cultura lançou uma
cartilha intitulada “Cultura é um bom negócio”.
Disponível em
http://www.consultaesic.cgu.gov.br/busca/dado
s/Lists/Pedido/Attachments/1049484/RESPOS
TA_PEDIDO_cultura%20um%20bom%20negc
io.pdf. Acesso em: 16 mar. 2021
.
8
Segundo Carmen Mörsch e Catrin Seefranz
(2018, p. 52), o caso da Bienal é um bom
exemplo: em 1975 alcançaram a marca de 20
mil estudantes, enquanto em 1998, esse
número subiu para 130 mil estudantes (110 mil
de escolas pública
s, 20 mil de escolas
privadas).
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
mundo (HARVEY, 2014) e,
especialmente, após a abertura
política no Brasil, abriu caminho para a
mercantilização da cultura nos anos de
RUBIM, 2007;
SEGNINI, 2008). Naquele contexto, foi
inaugurado o período das exposições
ou megaexposições, as
quais apresentavam mostras de
artistas e/ou curadores de museus
internacionais famosos e consagrados
e que foram patrocinadas por gran
des
empresas como recurso de
marketing
(SANTOS, 2002). As
megaexposições movimentaram cifras
exorbitantes que impressionaram tanto
nos valores de investimento quanto
, criando um
círculo vicioso: quanto maior fosse o
apelo de uma exposição, maior seria o
marketing cultural
, mais
investimento e maior possibilidade de
bater recordes de visitação.
Em 1995, o Ministério da Cultura lançou uma
cartilha intitulada “Cultura é um bom negócio”.
http://www.consultaesic.cgu.gov.br/busca/dado
s/Lists/Pedido/Attachments/1049484/RESPOS
TA_PEDIDO_cultura%20um%20bom%20negc
.
Segundo Carmen Mörsch e Catrin Seefranz
(2018, p. 52), o caso da Bienal é um bom
exemplo: em 1975 alcançaram a marca de 20
mil estudantes, enquanto em 1998, esse
número subiu para 130 mil estudantes (110 mil
s, 20 mil de escolas
Com o incremento financeiro
nestas exposições monumentais, um
número cada vez maior de pessoas
passou a visitar as exposições
que tivesse de esperar horas em uma
extensa fila para entrar
assim, a difusão e a circulação
simbólica dos bens culturais. Com um
público cada vez maior, os
patrocinado
res se interessavam em
investir não apenas nas exposições,
mas, sobretudo, nos serviços
educacionais, fomentando o
crescimento das ações educativas
dentro dos projetos expositivos e, com
o tempo, dentro das instituições,
consolidando a criação de
departame
ntos e setores educativos.
Assim, além das filas
inacreditáveis, da assustadora
quantidade de visitantes e das novas
propostas de abordagem artística, o
boom
das megaexposições provocou
uma mudança significativa na oferta de
vagas para o
educador de expos
Era necessário formar um grande
número de trabalhadores que desse
conta da demanda, que o se
limitava mais a ensinar “a ver” ou
explicar sobre arte, mas a criar coletiva
e colaborativamente estas explicações
(GONÇALVES, 2014, p.93). Na esteira
73
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Com o incremento financeiro
nestas exposições monumentais, um
número cada vez maior de pessoas
passou a visitar as exposições
- ainda
que tivesse de esperar horas em uma
extensa fila para entrar
-, aumentando,
assim, a difusão e a circulação
simbólica dos bens culturais. Com um
público cada vez maior, os
res se interessavam em
investir não apenas nas exposições,
mas, sobretudo, nos serviços
educacionais, fomentando o
crescimento das ações educativas
dentro dos projetos expositivos e, com
o tempo, dentro das instituições,
consolidando a criação de
ntos e setores educativos.
Assim, além das filas
inacreditáveis, da assustadora
quantidade de visitantes e das novas
propostas de abordagem artística, o
das megaexposições provocou
uma mudança significativa na oferta de
educador de expos
ições.
Era necessário formar um grande
número de trabalhadores que desse
conta da demanda, que o se
limitava mais a ensinar “a ver” ou
explicar sobre arte, mas a criar coletiva
e colaborativamente estas explicações
(GONÇALVES, 2014, p.93). Na esteira
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
da
democratização cultural (ZASK,
2016), surge um fenômeno europeu
conhecido como
educational turn
virada educacional
(GONÇALVES,
2014; O’NEILL; WILSON, 2010
evidenciado pela apropriação das
práxis pedagógicas pelo universo da
arte, apresentando novas a
artísticas que passaram a propor
práticas mais coletivas e colaborativas.
É nesse cenário que os setores
educativos e o trabalho do educador
de exposições começam a se
modificar gradativamente: os
monitores passaram a ser chamados
de educadores;
os “passeios
explicativos” se tornaram visitas
guiadas/monitoradas e,
posteriormente, visitas educativas; as
explicações e palestras sobre uma
obra, artista ou movimento artístico foi
se transformando em encontros
dialógicos que provoquem uma
experiência e
stética (BARBOSA, 1989,
1998, 2010; CERVETTO; LÓPEZ,
2018; DEWEY, 2010; MARTINS, 2003,
2018).
Nas origens dessa ocupação,
os monitores eram jovens artistas ou
estudantes de Artes interessados em
aprofundar os conhecimentos teóricos
que pudessem contribuir
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
democratização cultural (ZASK,
2016), surge um fenômeno europeu
educational turn
, ou
(GONÇALVES,
2014; O’NEILL; WILSON, 2010
),
evidenciado pela apropriação das
práxis pedagógicas pelo universo da
arte, apresentando novas a
bordagens
artísticas que passaram a propor
práticas mais coletivas e colaborativas.
É nesse cenário que os setores
educativos e o trabalho do educador
de exposições começam a se
modificar gradativamente: os
monitores passaram a ser chamados
os “passeios
explicativos” se tornaram visitas
guiadas/monitoradas e,
posteriormente, visitas educativas; as
explicações e palestras sobre uma
obra, artista ou movimento artístico foi
se transformando em encontros
dialógicos que provoquem uma
stética (BARBOSA, 1989,
1998, 2010; CERVETTO; LÓPEZ,
2018; DEWEY, 2010; MARTINS, 2003,
Nas origens dessa ocupação,
os monitores eram jovens artistas ou
estudantes de Artes interessados em
aprofundar os conhecimentos teóricos
com suas
práticas artísticas e/ou curatoriais.
Depois, a mudança acompanhou as
transformações que ocorreram no
mundo do trabalho para os
universitários no final do século XX.
Conforme Ruth Cardoso e Helena
Sampaio (1994), a nova clientela de
estudantes do
ensino superior,
principalmente dos cursos de humanas
e sociais, precisava estar no mercado
de trabalho para ter condições de
arcar com seu próprio sustento
além dos estudantes de Artes, o leque
de contratação dos educadores de
exposições se abre p
carreiras como História, Pedagogia,
Letras, Geografia, Ciências Sociais
entre outras. Esse trabalho oferecido,
muitas vezes como estágio em tempo
parcial, possibilitava aos estudantes
conciliar os estudos com uma
ocupação que rendia remuneração.
A virada nos processos
educativos nos museus deve, como
alerta Honorato (2007), ser
acompanhada de criticidade e
politização. Essas pequenas e lentas
9
Muitas vezes, esses estudantes são
provenientes de grupos médios e populares,
cujas famílias têm um poder aquisitivo menor
dos estudantes de curso prestigiados como
Medicina, que podem ser mantidos pelos
progenitores duran
te o curso integral.
74
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
práticas artísticas e/ou curatoriais.
Depois, a mudança acompanhou as
transformações que ocorreram no
mundo do trabalho para os
universitários no final do século XX.
Conforme Ruth Cardoso e Helena
Sampaio (1994), a nova clientela de
ensino superior,
principalmente dos cursos de humanas
e sociais, precisava estar no mercado
de trabalho para ter condições de
arcar com seu próprio sustento
9
. Para
além dos estudantes de Artes, o leque
de contratação dos educadores de
exposições se abre p
ara outras
carreiras como História, Pedagogia,
Letras, Geografia, Ciências Sociais
entre outras. Esse trabalho oferecido,
muitas vezes como estágio em tempo
parcial, possibilitava aos estudantes
conciliar os estudos com uma
ocupação que rendia remuneração.
A virada nos processos
educativos nos museus deve, como
alerta Honorato (2007), ser
acompanhada de criticidade e
politização. Essas pequenas e lentas
Muitas vezes, esses estudantes são
provenientes de grupos médios e populares,
cujas famílias têm um poder aquisitivo menor
dos estudantes de curso prestigiados como
Medicina, que podem ser mantidos pelos
te o curso integral.
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
modificações no perfil do educador de
exposições e no conteúdo de seu
trabalho estão inseridas em uma
am
pla reflexão sobre o mundo do
trabalho contemporâneo. Desde a
década de 1970, acompanhamos um
intenso debate sobre a crise estrutural
do capital e a construção de uma nova
configuração econômica (HARVEY,
2014). Nos anos dourados da era
fordista-keynesiana,
o “estado de bem
estar social” garantia aos seus
trabalhadores estabilidade profissional
e vínculos empregatícios permanentes
ou prolongados, bons salários,
proteção dos direitos trabalhistas e
previdenciários (SENNETT, 2019).
Como resposta à crise, vimos
processo de transnacionalização da
economia (ANTUNES, ALVES, 2004)
modificar e ampliar as fronteiras e os
territórios do mundo do trabalho,
acentuando a fragmentação,
heterogeneização e complexificação
da classe trabalhadora.
O mundo do trabalho
contem
porâneo está baseado na
flexibilidade da produção (
just in time)
e das relações de trabalho
(subcontratações temporárias,
parciais, terceirizadas e/ou
intermitentes). Essas mudanças
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
modificações no perfil do educador de
exposições e no conteúdo de seu
trabalho estão inseridas em uma
pla reflexão sobre o mundo do
trabalho contemporâneo. Desde a
década de 1970, acompanhamos um
intenso debate sobre a crise estrutural
do capital e a construção de uma nova
configuração econômica (HARVEY,
2014). Nos anos dourados da era
o “estado de bem
-
estar social” garantia aos seus
trabalhadores estabilidade profissional
e vínculos empregatícios permanentes
ou prolongados, bons salários,
proteção dos direitos trabalhistas e
previdenciários (SENNETT, 2019).
Como resposta à crise, vimos
o
processo de transnacionalização da
economia (ANTUNES, ALVES, 2004)
modificar e ampliar as fronteiras e os
territórios do mundo do trabalho,
acentuando a fragmentação,
heterogeneização e complexificação
O mundo do trabalho
porâneo está baseado na
flexibilidade da produção (
just in time)
e das relações de trabalho
(subcontratações temporárias,
parciais, terceirizadas e/ou
intermitentes). Essas mudanças
apresentam algumas tendências
(ANTUNES, ALVES, 2004): diminuição
do prolet
ariado industrial e aumento
dos contratados no setor de serviços;
expansão da feminização do trabalho;
exclusão dos jovens e “idosos acima
dos 40 anos do mercado de trabalho;
expansão do “terceiro setor” e do
trabalho voluntário; ampliação do
trabalho pro
dutivo doméstico
(recentemente aprofundado devido à
pandemia da Covid-
19); mundialização
produtiva, confundindo as dimensões
locais com a esfera internacional. Com
esse novo contorno da morfologia do
trabalho contemporâneo (ANTUNES,
2005, 2009), os estudos
precarização do trabalho se
intensificaram na década de 1990,
principalmente como resposta às
teorias que decretavam o fim da classe
trabalhadora.
Um importante destaque se faz
necessário: a diferença entre
precarização e precariedade do
trabalho
. A precarização do trabalho é
compreendida como um processo de
supressão dos direitos trabalhistas
acumulados e garantidos pelo trabalho
assalariado (ALVES, 2007). a
precariedade do trabalho designa a
sensação de risco, de vulnerabilidade
75
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
apresentam algumas tendências
(ANTUNES, ALVES, 2004): diminuição
ariado industrial e aumento
dos contratados no setor de serviços;
expansão da feminização do trabalho;
exclusão dos jovens e “idosos acima
dos 40 anos do mercado de trabalho;
expansão do “terceiro setor” e do
trabalho voluntário; ampliação do
dutivo doméstico
(recentemente aprofundado devido à
19); mundialização
produtiva, confundindo as dimensões
locais com a esfera internacional. Com
esse novo contorno da morfologia do
trabalho contemporâneo (ANTUNES,
2005, 2009), os estudos
sobre a
precarização do trabalho se
intensificaram na década de 1990,
principalmente como resposta às
teorias que decretavam o fim da classe
Um importante destaque se faz
necessário: a diferença entre
precarização e precariedade do
. A precarização do trabalho é
compreendida como um processo de
supressão dos direitos trabalhistas
acumulados e garantidos pelo trabalho
assalariado (ALVES, 2007). a
precariedade do trabalho designa a
sensação de risco, de vulnerabilidade
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
ou de desagra
do que acomete o
trabalhador por conta da atividade que
exerce (VARGAS, 2016). Essa
precariedade pode ser avaliada a partir
de duas dimensões: do
emprego/ocupação econômica
objetiva (proteções e garantias
trabalhistas e previdenciárias) e
subjetivamente
(insatisfação,
sofrimento, desânimo, medo)
profissão reconhecida, pois além do
emprego, avalia a precariedade do
reconhecimento social, da valorização
laboral e da formação de identidades
individuais e coletivas.
No Brasil, o debate sobre
precariza
ção do trabalho ganha
complexidade, uma vez que as formas
e relações de trabalho brasileiras
apresentam profunda heterogeneidade
estrutural e nunca se consolidou, aqui,
uma sociedade salarial (CASTEL,
2001; VARGAS, 2016) na qual a
classe trabalhadora manti
relação estável e protegida com seu
salário. A ambiguidade é tanta que o
mesmo Estado brasileiro que
assegurou o trabalho como um direito
de todos os cidadãos na Constituição
Federal de 1988, também promoveu
políticas neoliberais de
desregulament
ação do mercado de
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
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(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
do que acomete o
trabalhador por conta da atividade que
exerce (VARGAS, 2016). Essa
precariedade pode ser avaliada a partir
de duas dimensões: do
emprego/ocupação econômica
-
objetiva (proteções e garantias
trabalhistas e previdenciárias) e
(insatisfação,
sofrimento, desânimo, medo)
-; e da
profissão reconhecida, pois além do
emprego, avalia a precariedade do
reconhecimento social, da valorização
laboral e da formação de identidades
No Brasil, o debate sobre
ção do trabalho ganha
complexidade, uma vez que as formas
e relações de trabalho brasileiras
apresentam profunda heterogeneidade
estrutural e nunca se consolidou, aqui,
uma sociedade salarial (CASTEL,
2001; VARGAS, 2016) na qual a
classe trabalhadora manti
vesse uma
relação estável e protegida com seu
salário. A ambiguidade é tanta que o
mesmo Estado brasileiro que
assegurou o trabalho como um direito
de todos os cidadãos na Constituição
Federal de 1988, também promoveu
políticas neoliberais de
ação do mercado de
trabalho no início dos anos 1990
(VARGAS, 2016).
É nesse cenário que as
metamorfoses ocorridas no trabalho do
educador de exposições começam a
se desenrolar e serem debatidas entre
seus trabalhadores. Entre os
educadores um consenso:
precariedade do trabalho é uma
realidade verificável, como veremos
adiante. Contudo, estariam estes
trabalhadores sujeitos ao processo de
precarização do trabalho, entendido
como perda das proteções e das
garantias do trabalho assalariado? Ou
estariam em
uma condição anterior, a
saber, sem possibilidade de perder
direitos trabalhistas visto que seu
trabalho não é reconhecido como uma
profissão?
2.
O trabalhador sem profissão
Muitas confusões são
produzidas quando se pensa no
trabalho do educador de exposiç
maioria das pessoas avalia que a
função deste trabalhador é transmitir
conhecimentos consolidados por
autoridades legitimadas no campo das
artes e apresentar respostas prontas
às indagações dos públicos (“o que o
artista quis dizer?”, por exemplo).
76
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
trabalho no início dos anos 1990
É nesse cenário que as
metamorfoses ocorridas no trabalho do
educador de exposições começam a
se desenrolar e serem debatidas entre
seus trabalhadores. Entre os
educadores um consenso:
a
precariedade do trabalho é uma
realidade verificável, como veremos
adiante. Contudo, estariam estes
trabalhadores sujeitos ao processo de
precarização do trabalho, entendido
como perda das proteções e das
garantias do trabalho assalariado? Ou
uma condição anterior, a
saber, sem possibilidade de perder
direitos trabalhistas visto que seu
trabalho não é reconhecido como uma
O trabalhador sem profissão
Muitas confusões são
produzidas quando se pensa no
trabalho do educador de exposiç
ões. A
maioria das pessoas avalia que a
função deste trabalhador é transmitir
conhecimentos consolidados por
autoridades legitimadas no campo das
artes e apresentar respostas prontas
às indagações dos públicos (“o que o
artista quis dizer?”, por exemplo).
Essa
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
compreensão se dá, principalmente,
porque ainda se pensa nas origens
dessa atividade laboral realizada pelos
primeiros monitores de museus.
Embora essa seja uma das muitas
formas de exercer a atividade,
propomos a atualização do que se
sabe sobre o co
nteúdo deste trabalho
e a defesa de um modo de execução
das práticas educativas do educador
de exposições.
De início, esse trabalho consiste
em mediação cultural
10
na perspectiva
de produção coletiva de significados.
Desse modo, as interpretações são
produ
zidas pelo cruzamento de quatro
dimensões do saber: as obras
expostas; o universo cultural de
referência; as pesquisas e
do educador; e o repertório e saberes
dos públicos (DARRAS, 2009). A
mediação cultural se alinha à
educação não-
formal por n
de conteúdos obrigatórios,
institucionalizados ou ordenados por
níveis de complexidade.
10
É importante destacar que o uso do termo
não é usado exclusivamente pelo setor
educativo mas também por outros setores dos
equipamentos de culturais como a
Comunicação e Curadoria que também
promovem mediação por meio de textos de
par
ede, catálogos, diálogo entre obras
expostas, expografia, iluminação, etc.
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
compreensão se dá, principalmente,
porque ainda se pensa nas origens
dessa atividade laboral realizada pelos
primeiros monitores de museus.
Embora essa seja uma das muitas
formas de exercer a atividade,
propomos a atualização do que se
nteúdo deste trabalho
e a defesa de um modo de execução
das práticas educativas do educador
De início, esse trabalho consiste
na perspectiva
de produção coletiva de significados.
Desse modo, as interpretações são
zidas pelo cruzamento de quatro
dimensões do saber: as obras
expostas; o universo cultural de
referência; as pesquisas e
expertises
do educador; e o repertório e saberes
dos públicos (DARRAS, 2009). A
mediação cultural se alinha à
formal por n
ão dispor
de conteúdos obrigatórios,
institucionalizados ou ordenados por
É importante destacar que o uso do termo
não é usado exclusivamente pelo setor
educativo mas também por outros setores dos
equipamentos de culturais como a
Comunicação e Curadoria que também
promovem mediação por meio de textos de
ede, catálogos, diálogo entre obras
expostas, expografia, iluminação, etc.
Ao qualificar o conteúdo do
trabalho do educador de exposições,
podemos nos referir como a atividade
laboral desenvolvida pelo setor
educativo nas exposições
apresentadas em museus e
equipamentos culturais, sejam eles
artísticos, históricos ou científicos.
Especificamente no caso das
exposições de artes, esse trabalhador
mobiliza seus conhecimentos cultural
cognitivos (Arte; História da Arte;
linguagens e procedimentos artísticos;
biografia e trajetória dos artistas;
contextos culturais, sociais, políticos
econômicos) e pedagógico
(Educação; perspectivas
epistemológicas; metodologias e
estratégias de ensino
-
A tarefa central desta ocupação
consiste em desenvolver diversos
métodos e estratégias para ler e
interpretar as representaçõ
simbólicas dos objetos artísticos
expostos
que possibilitem a
participação equitativa de todos os
envolvidos na visita, incentivando o
compartilhamento dos saberes de
modo a desenvolver, enriquecer,
ampliar, dar voz e questionar os
processos interpretat
2009; LARROSA, 2002; RANCIÈRE,
77
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Ao qualificar o conteúdo do
trabalho do educador de exposições,
podemos nos referir como a atividade
laboral desenvolvida pelo setor
educativo nas exposições
apresentadas em museus e
equipamentos culturais, sejam eles
artísticos, históricos ou científicos.
Especificamente no caso das
exposições de artes, esse trabalhador
mobiliza seus conhecimentos cultural
-
cognitivos (Arte; História da Arte;
linguagens e procedimentos artísticos;
biografia e trajetória dos artistas;
contextos culturais, sociais, políticos
e
econômicos) e pedagógico
-didáticos
(Educação; perspectivas
epistemológicas; metodologias e
-
aprendizagem).
A tarefa central desta ocupação
consiste em desenvolver diversos
métodos e estratégias para ler e
interpretar as representaçõ
es
simbólicas dos objetos artísticos
que possibilitem a
participação equitativa de todos os
envolvidos na visita, incentivando o
compartilhamento dos saberes de
modo a desenvolver, enriquecer,
ampliar, dar voz e questionar os
processos interpretat
ivos (DARRAS,
2009; LARROSA, 2002; RANCIÈRE,
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
2002). O educador de exposições
reconhece, valoriza e inclui os
repertórios e saberes específicos dos
públicos que, somados aos
conhecimentos clássicos e científicos
(expertise
do educador), serão os
elementos c
onstituintes deste
processo educativo (SAVIANI, 1997).
Dito de outro modo, o trabalho
do educador de exposições consiste
em criar as condições necessárias
para a produção de sentidos coletiva e
colaborativamente com o público enão,
necessariamente, de apen
as transmitir
as interpretações legitimadas de
artistas, curadores e historiadores da
arte.Assim, seu objetivo principal é
estimular a colaboração dos públicos
atendidos, por meio da fala e da
escuta atenta, incentivando a reflexão,
argumentação e criticid
ade, para que
os visitantes elaborem sentidos
coletivos durante a visita. Esse
compromisso se baseia no
pressuposto de que o conhecimento
humano é dado por um processo
histórico, inacabado e em constante
transformação, que sofre sucessivas
interferências d
o meio cultural no qual
está inserido, baseados na concepção
de educação e mediação de Freire
(1996, 2013) e Vygotsky (1930, 1998).
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
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1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
2002). O educador de exposições
reconhece, valoriza e inclui os
repertórios e saberes específicos dos
públicos que, somados aos
conhecimentos clássicos e científicos
do educador), serão os
onstituintes deste
processo educativo (SAVIANI, 1997).
Dito de outro modo, o trabalho
do educador de exposições consiste
em criar as condições necessárias
para a produção de sentidos coletiva e
colaborativamente com o público enão,
as transmitir
as interpretações legitimadas de
artistas, curadores e historiadores da
arte.Assim, seu objetivo principal é
estimular a colaboração dos públicos
atendidos, por meio da fala e da
escuta atenta, incentivando a reflexão,
ade, para que
os visitantes elaborem sentidos
coletivos durante a visita. Esse
compromisso se baseia no
pressuposto de que o conhecimento
humano é dado por um processo
histórico, inacabado e em constante
transformação, que sofre sucessivas
o meio cultural no qual
está inserido, baseados na concepção
de educação e mediação de Freire
(1996, 2013) e Vygotsky (1930, 1998).
A atividade mais conhecida do
educador de exposições é, sem
dúvidas, o atendimento realizado
diretamente junto aos blicos.
visitas educativas podem ser
agendadas ou espontâneas;
realizadas com grupos de crianças, de
adolescentes, de especialistas ou de
idosos; e ter entre
pessoas participantes. O resultado da
elaboração desses significados
construídos coletiva
mente se no
acolhimento de impressões,
argumentos, posicionamentos de
modo crítico e reflexivo. Para Miriam
Celeste Martins (2003), essas visitas
devem ser compreendidas como
encontros dialógicos, de saberes não
hierarquizados e de caráter
rizomático
11
,
no qual os participantes
(educador, público, obras e mundo
cultural de referência) compartilham
visões e atribuem colaborativamente
os sentidos para determinados objetos
artísticos.
Todavia, o conteúdo do trabalho
do educador de exposições não se
limita a
o atendimento direto aos
públicos, incluindo uma gama de
atividades complementares e
11
Conceito da botânica utilizado por Deleuze e
Guattari (1995).
78
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
A atividade mais conhecida do
educador de exposições é, sem
dúvidas, o atendimento realizado
diretamente junto aos blicos.
As
visitas educativas podem ser
agendadas ou espontâneas;
realizadas com grupos de crianças, de
adolescentes, de especialistas ou de
idosos; e ter entre
duas e vinte
pessoas participantes. O resultado da
elaboração desses significados
mente se no
acolhimento de impressões,
argumentos, posicionamentos de
modo crítico e reflexivo. Para Miriam
Celeste Martins (2003), essas visitas
devem ser compreendidas como
encontros dialógicos, de saberes não
-
hierarquizados e de caráter
no qual os participantes
(educador, público, obras e mundo
cultural de referência) compartilham
visões e atribuem colaborativamente
os sentidos para determinados objetos
Todavia, o conteúdo do trabalho
do educador de exposições não se
o atendimento direto aos
públicos, incluindo uma gama de
atividades complementares e
Conceito da botânica utilizado por Deleuze e
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
integradas que apresentam o mesmo
nível de complexidade. Esse
trabalhador desenvolve atividades
educativas com abordagens e
metodologias variadas, tendo como
objetivo prin
cipal estabelecer um
diálogo com os mais diversos públicos,
a fim de provocar reflexões, criticidade,
incentivando o aprofundamento das
argumentações e interpretações por
meio de bens culturais.
A partir da experiência da
cidade de São Paulo, podemos suge
a seguinte descrição sumária das
atividades exercidas pelo educador de
exposições, compreendendo que não
se trata de uma proposta que
generalize essa atividade em todo o
território nacional: educam públicos
heterogêneos de faixas etárias e
desenvolvime
nto cognitivo variados.
Promovem debates e reflexões por
meio de bens culturais; compartilham
saberes com visitantes; orientam os
públicos. Realizam pesquisas de
conteúdos didático-
pedagógicos e
cultural-
cognitivos (gerais e
específicos); elaboram e prepar
propostas de roteiros e materiais
educativos; planejam, organizam e/ou
realizam ações educativas, artísticas
e/ou culturais como oficinas, palestras
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
integradas que apresentam o mesmo
nível de complexidade. Esse
trabalhador desenvolve atividades
educativas com abordagens e
metodologias variadas, tendo como
cipal estabelecer um
diálogo com os mais diversos públicos,
a fim de provocar reflexões, criticidade,
incentivando o aprofundamento das
argumentações e interpretações por
A partir da experiência da
cidade de São Paulo, podemos suge
rir
a seguinte descrição sumária das
atividades exercidas pelo educador de
exposições, compreendendo que não
se trata de uma proposta que
generalize essa atividade em todo o
território nacional: educam públicos
heterogêneos de faixas etárias e
nto cognitivo variados.
Promovem debates e reflexões por
meio de bens culturais; compartilham
saberes com visitantes; orientam os
públicos. Realizam pesquisas de
pedagógicos e
cognitivos (gerais e
específicos); elaboram e prepar
am
propostas de roteiros e materiais
educativos; planejam, organizam e/ou
realizam ações educativas, artísticas
e/ou culturais como oficinas, palestras
e formação de professores. Organizam
o trabalho cotidiano; garantem o bom
funcionamento do espaço exposi
avaliam estratégias e metodologias
educativas; salvaguardam o acervo
exposto; elaboram materiais de
documentação.
Para pensar a ocupação do
educador de exposições no mundo do
trabalho contemporâneo, é importante
esclarecer as diferenças entre
trabal
ho, ocupação, emprego e
profissão. Entendemos o trabalho
como toda atividade metabólica entre
os seres humanos e a natureza que,
por meio de instrumentos e
ferramentas, modifica a matéria
(externa e interna) e constrói objetos a
partir de um projeto mental
que antecede sua execução (MARX,
2017, p. 211/212). A ocupação deve
ser compreendida como uma atividade
que agrupa membros do mesmo ofício,
que comungam de habilidades,
competências e saberes específicos,
que mobilizam um conjunto de
afazeres t
écnicos, sistemáticos,
ordenados e autônomos (FREIDSON,
1996). o emprego é a ocupação
remunerada ou assalariada, deve ser
avaliada a partir do vínculo trabalhista
estabelecido entre o empregador que
79
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
e formação de professores. Organizam
o trabalho cotidiano; garantem o bom
funcionamento do espaço exposi
tivo;
avaliam estratégias e metodologias
educativas; salvaguardam o acervo
exposto; elaboram materiais de
Para pensar a ocupação do
educador de exposições no mundo do
trabalho contemporâneo, é importante
esclarecer as diferenças entre
ho, ocupação, emprego e
profissão. Entendemos o trabalho
como toda atividade metabólica entre
os seres humanos e a natureza que,
por meio de instrumentos e
ferramentas, modifica a matéria
(externa e interna) e constrói objetos a
partir de um projeto mental
e criativo
que antecede sua execução (MARX,
2017, p. 211/212). A ocupação deve
ser compreendida como uma atividade
que agrupa membros do mesmo ofício,
que comungam de habilidades,
competências e saberes específicos,
que mobilizam um conjunto de
écnicos, sistemáticos,
ordenados e autônomos (FREIDSON,
1996). o emprego é a ocupação
remunerada ou assalariada, deve ser
avaliada a partir do vínculo trabalhista
estabelecido entre o empregador que
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
contrata e o empregado que recebe
remuneração.
Entreta
nto, a definição que mais
nos interessa para qualificar o trabalho
do educador de exposições será a de
profissionalização. De modo geral, a
sociologia das profissões atribui ao
trabalhador alçado à categoria
profissional um lugar de destaque, de
reconhecim
ento e de prestígio social.
De acordo com o levantamento
realizado por Maria da Gloria Bonelli e
Silvana Donatoni (1996), em países
anglo-
saxões, por exemplo, para ser
chamado de profissional, o trabalhador
precisa possuir um diploma do ensino
superior e,
assim, entrar no mercado
de trabalho. Ao pensar a
profissionalização pela perspectiva da
formação escolarizada, Marli Diniz
(1998, p.172) destaca que a noção de
profissão é recente no Brasil, visto que
as primeiras universidades brasileiras
foram criadas n
a década de 1930 e a
maioria das profissões foi
regulamentada após os anos de 1960,
o que torna o debate ainda mais
complexo no território brasileiro.
Segundo Maria Helena
Machado (1995), é possível dizer que
profissão é o que faz as ocupações
reconheci
das, e profissionalização é o
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
contrata e o empregado que recebe
nto, a definição que mais
nos interessa para qualificar o trabalho
do educador de exposições será a de
profissionalização. De modo geral, a
sociologia das profissões atribui ao
trabalhador alçado à categoria
profissional um lugar de destaque, de
ento e de prestígio social.
De acordo com o levantamento
realizado por Maria da Gloria Bonelli e
Silvana Donatoni (1996), em países
saxões, por exemplo, para ser
chamado de profissional, o trabalhador
precisa possuir um diploma do ensino
assim, entrar no mercado
de trabalho. Ao pensar a
profissionalização pela perspectiva da
formação escolarizada, Marli Diniz
(1998, p.172) destaca que a noção de
profissão é recente no Brasil, visto que
as primeiras universidades brasileiras
a década de 1930 e a
maioria das profissões foi
regulamentada após os anos de 1960,
o que torna o debate ainda mais
complexo no território brasileiro.
Segundo Maria Helena
Machado (1995), é possível dizer que
profissão é o que faz as ocupações
das, e profissionalização é o
modo pelo qual estas ocupações se
organizam em busca do
reconhecimento profissional. Para que
uma ocupação seja reconhecida como
profissão é preciso considerar alguns
aspectos: identidade profissional
formada por uma sólida ba
(conjunto de conhecimento esotéricos
e abstratos); autonomia e autoridade
sobre o processo do trabalho;
formação escolarizada, inicial e
continuada, realizada por pares e por
meio de códigos e linguagem própria
da ocupação; especialização do
t
rabalho; associações profissionais de
apoio mútuo, autorregulação e
fiscalização (DINIZ, 1998; DUBAR,
2012; FREIDSON, 1996, 1998;
MACHADO, 1995).
O ponto a destacar é que o
educador de exposições não é
reconhecido legalmente como uma
profissão no mundo do
apesar da alta qualificação requerida.
A descrição deste trabalho não consta
na Classificação Brasileira de
Ocupações (BRASIL, 2010),
documento oficial que organiza e
atualiza a realidade do mercado de
trabalho brasileiro
12
. Embora a CBO
12
A Classificação Brasileira de Ocupações
CBO, instituída por portaria ministerial nº. 397
80
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
modo pelo qual estas ocupações se
organizam em busca do
reconhecimento profissional. Para que
uma ocupação seja reconhecida como
profissão é preciso considerar alguns
aspectos: identidade profissional
formada por uma sólida ba
se cognitiva
(conjunto de conhecimento esotéricos
e abstratos); autonomia e autoridade
sobre o processo do trabalho;
formação escolarizada, inicial e
continuada, realizada por pares e por
meio de códigos e linguagem própria
da ocupação; especialização do
rabalho; associações profissionais de
apoio mútuo, autorregulação e
fiscalização (DINIZ, 1998; DUBAR,
2012; FREIDSON, 1996, 1998;
O ponto a destacar é que o
educador de exposições não é
reconhecido legalmente como uma
profissão no mundo do
trabalho,
apesar da alta qualificação requerida.
A descrição deste trabalho não consta
na Classificação Brasileira de
Ocupações (BRASIL, 2010),
documento oficial que organiza e
atualiza a realidade do mercado de
. Embora a CBO
A Classificação Brasileira de Ocupações
-
CBO, instituída por portaria ministerial nº. 397
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
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não tenha
caráter regulatório das
profissões, a ausência de um código
que descreve e classifica o trabalho do
educador de exposições aumenta a
precariedade do trabalho, pois não
parâmetros para compreender do que
trata essa atividade, abrindo espaço
para interpr
etações individuais de cada
gestor ou instituição cultural.
3.
As relações de trabalho
disfarçadas
Apesar de toda a complexidade
da atuação do educador de
exposições explicitada na seção
anterior, suas relações de trabalho são
problemáticas e a precariedade
facilmente constatada, objetiva e
subjetivamente. Como esse trabalho é
frequentemente provisório e
descontinuado pelas instituições
culturais, é comum verificar relações
de emprego disfarçadas e flexíveis,
configuradas “pela tentativa de burlar a
relaçã
o típica de emprego como forma
de 9 de outubro de 2002
, tem por finalidade a
identificação das ocupações no mercado de
trabalho para fins classificatórios junto aos
registros administrativos e domiciliares. Os
efeitos de uniformização pretendida pela
Classificação Brasileira de Ocupações são de
ordem administ
rativa e não se estendem as
relações de trabalho.”. Disponível em:
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/home.
jsf
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
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(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
caráter regulatório das
profissões, a ausência de um código
que descreve e classifica o trabalho do
educador de exposições aumenta a
precariedade do trabalho, pois não
parâmetros para compreender do que
trata essa atividade, abrindo espaço
etações individuais de cada
gestor ou instituição cultural.
As relações de trabalho
Apesar de toda a complexidade
da atuação do educador de
exposições explicitada na seção
anterior, suas relações de trabalho são
problemáticas e a precariedade
é
facilmente constatada, objetiva e
subjetivamente. Como esse trabalho é
frequentemente provisório e
descontinuado pelas instituições
culturais, é comum verificar relações
de emprego disfarçadas e flexíveis,
configuradas “pela tentativa de burlar a
o típica de emprego como forma
, tem por finalidade a
identificação das ocupações no mercado de
trabalho para fins classificatórios junto aos
registros administrativos e domiciliares. Os
efeitos de uniformização pretendida pela
Classificação Brasileira de Ocupações são de
rativa e não se estendem as
relações de trabalho.”. Disponível em:
http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/home.
de baratear os custos da formalização
e possibilitar maior liberdade ao
empregador na gestão da relação de
emprego” (KREIN, 2007, p.159).
Como o educador de
exposições se caracteriza como um
trabalhador sem profissão, difere
formas de contratação são realizadas.
Nos casos de contratação via CLT, o
departamento de pessoal utiliza
diversas categorias da CBO, segundo
o interesse de cada instituição.
Destacamos, assim, três tendências
de contratação dos educadores de
exposiçõ
es: terceirização, estágio e
contrato de pessoa jurídica (PJ).
No Brasil dos anos de 1990, em
meio aos processos de abertura
econômica e privatização, proliferaram
o aparecimento das empresas de
terceirização, prometendo eficiência e
diminuição dos custos
trabalho (DIEESE, 2007). Essa
tendência não foi diferente no campo
da cultura,muitas empresas de
terceirização passaram a intermediar
as relações de trabalho entre
equipamentos culturais e educadores
de exposições, além de se
responsabilizar
pelas formações
iniciais e continuadas e da gestão das
equipes. Interessante destacar que os
81
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
de baratear os custos da formalização
e possibilitar maior liberdade ao
empregador na gestão da relação de
emprego” (KREIN, 2007, p.159).
Como o educador de
exposições se caracteriza como um
trabalhador sem profissão, difere
ntes
formas de contratação são realizadas.
Nos casos de contratação via CLT, o
departamento de pessoal utiliza
diversas categorias da CBO, segundo
o interesse de cada instituição.
Destacamos, assim, três tendências
de contratação dos educadores de
es: terceirização, estágio e
contrato de pessoa jurídica (PJ).
No Brasil dos anos de 1990, em
meio aos processos de abertura
econômica e privatização, proliferaram
o aparecimento das empresas de
terceirização, prometendo eficiência e
diminuição dos custos
com a força de
trabalho (DIEESE, 2007). Essa
tendência não foi diferente no campo
da cultura,muitas empresas de
terceirização passaram a intermediar
as relações de trabalho entre
equipamentos culturais e educadores
de exposições, além de se
pelas formações
iniciais e continuadas e da gestão das
equipes. Interessante destacar que os
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
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67-94, set. 2021.
proprietários destas empresas de
terceirização, de modo geral,
possuíam vasto conhecimento sobre o
trabalho, pois haviam atuado
também como educadores.
Em seg
uida, a tendência é a
contratação de estudantes por meio de
estágios e sob a alegação de que este
trabalho visa contribuir com a
formação profissional. Atualmente
essa modalidade de contrato é a mais
realizada nos espaços de cultura.
Dentre os muitos prob
salientamos que além de o ser
considerado emprego -
e, portanto, o
estagiário não gozar dos direitos
trabalhistas e previdenciários
tipo de relação de trabalho coloca
sobre os ombros de jovens estudantes
uma enorme carga de
responsabilidad
e que pode ser
adquirida com anos de experiência.
A terceira tendência em
destaque é a admissão como pessoa
jurídica (PJ), a “pejotização”. Essa
nova modalidade encobre a relação de
trabalho ao contratar uma empresa em
vez de um trabalhador e, desse mod
migrar a natureza do contrato para o
Direito Civil, em vez do Direito do
Trabalho (ORBEM, 2016). Se, como
apontado acima, museus e
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
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(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
proprietários destas empresas de
terceirização, de modo geral,
possuíam vasto conhecimento sobre o
trabalho, pois haviam atuado
também como educadores.
uida, a tendência é a
contratação de estudantes por meio de
estágios e sob a alegação de que este
trabalho visa contribuir com a
formação profissional. Atualmente
essa modalidade de contrato é a mais
realizada nos espaços de cultura.
Dentre os muitos prob
lemas,
salientamos que além de o ser
e, portanto, o
estagiário não gozar dos direitos
trabalhistas e previdenciários
-, esse
tipo de relação de trabalho coloca
sobre os ombros de jovens estudantes
uma enorme carga de
e que pode ser
adquirida com anos de experiência.
A terceira tendência em
destaque é a admissão como pessoa
jurídica (PJ), a “pejotização”. Essa
nova modalidade encobre a relação de
trabalho ao contratar uma empresa em
vez de um trabalhador e, desse mod
o,
migrar a natureza do contrato para o
Direito Civil, em vez do Direito do
Trabalho (ORBEM, 2016). Se, como
apontado acima, museus e
equipamentos culturais contratavam
Micro e Pequenas Empresas como
forma de triangulação da força de
trabalho, foi a par
tir de 2008 que se
criou a figura do Microempreendedor
Individual
13
(MEI), restringindo o
campo de atuação das empresas de
terceirização. A falsa ideia de
empreendedorismo passa a ser
incluída no trabalho dos educadores
Esse tipo de admissão costuma ser
direcionado a profissionais que
exercem trabalhos de maior
qualificação e complexidade, como
prestação de serviços educacionais,
culturais e artísticos (KREIN, 2007,
p.163).
Na maior parte das formas de
contratação apresentadas acima, a
precariedade do tra
balho do educador
de exposições é patente como será
discutida a seguir. A este trabalhador
são oferecidas relações e condições
de trabalho inadequadas que
dificultam ou impedem o planejamento
pedagógico, o aprimoramento das
possibilidades de atuação, a pro
13
Lei Complementar nº 128/2008
14
Em semelhança ao processo crescente do
empreendedorismo no campo cultural em
Tommasi e Silva (2020).
82
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
equipamentos culturais contratavam
Micro e Pequenas Empresas como
forma de triangulação da força de
tir de 2008 que se
criou a figura do Microempreendedor
(MEI), restringindo o
campo de atuação das empresas de
terceirização. A falsa ideia de
empreendedorismo passa a ser
incluída no trabalho dos educadores
14
.
Esse tipo de admissão costuma ser
direcionado a profissionais que
exercem trabalhos de maior
qualificação e complexidade, como
prestação de serviços educacionais,
culturais e artísticos (KREIN, 2007,
Na maior parte das formas de
contratação apresentadas acima, a
balho do educador
de exposições é patente como será
discutida a seguir. A este trabalhador
são oferecidas relações e condições
de trabalho inadequadas que
dificultam ou impedem o planejamento
pedagógico, o aprimoramento das
possibilidades de atuação, a pro
jeção
Lei Complementar nº 128/2008
Em semelhança ao processo crescente do
empreendedorismo no campo cultural em
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
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de carreira e o reconhecimento
profissional (SILVA, 2017).
Os dados, a seguir,
correspondem a três tipos de
empregadores: Instituições Privadas
(IPs), Instituições Estatais geridas por
Organizações Sociais (OSs) e
Empresas de Terceirização (ETs). T
escolha foi feita com o intuito de
verificar as formas de contratação
oferecidas pelos equipamentos de
cultura da cidade de São Paulo no
período da pesquisa (2015
Três representantes de cada tipo de
empregadores foram selecionados
Assim, entre
vistamos nove
coordenadores/as pedagógicos/as
responsáveis pela seleção,
contratação e formação dos
educadores de exposições
17
15
As en
trevistas foram realizadas e gravadas
entre dezembro de 2015 e maio de 2016. O
nome dos entrevistados e os respectivos
equipamentos culturais e empresas de
terceirização estão em sigilo.
16
Critérios de seleção: (1) ter equipes
educativas notoriamente conso
lidadas e
reconhecidas; (2) ter práticas educativas e
reflexão pedagógica relevantes (de certo, a
escolha foi subjetiva e não mensurável).
17
Apenas oito entrevistas foram utilizadas
nesse levantamento, pois uma das IPs, depois
de conceder entrevista se rec
usou a assinar a
carta de cessão que autorizava o uso dos
dados informados para a pesquisa de
mestrado, alegando que 70% do conteúdo era
sigiloso. Por e-
mail informou que, caso
houvesse interesse, forneceria nova entrevista
com os 30% restantes (e autoriza
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
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1, n. 21, p.
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(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
de carreira e o reconhecimento
profissional (SILVA, 2017).
Os dados, a seguir,
correspondem a três tipos de
empregadores: Instituições Privadas
(IPs), Instituições Estatais geridas por
Organizações Sociais (OSs) e
Empresas de Terceirização (ETs). T
al
escolha foi feita com o intuito de
verificar as formas de contratação
oferecidas pelos equipamentos de
cultura da cidade de São Paulo no
período da pesquisa (2015
-2016)
15
.
Três representantes de cada tipo de
empregadores foram selecionados
16
.
vistamos nove
coordenadores/as pedagógicos/as
responsáveis pela seleção,
contratação e formação dos
17
.
trevistas foram realizadas e gravadas
entre dezembro de 2015 e maio de 2016. O
nome dos entrevistados e os respectivos
equipamentos culturais e empresas de
Critérios de seleção: (1) ter equipes
lidadas e
reconhecidas; (2) ter práticas educativas e
reflexão pedagógica relevantes (de certo, a
escolha foi subjetiva e não mensurável).
Apenas oito entrevistas foram utilizadas
nesse levantamento, pois uma das IPs, depois
usou a assinar a
carta de cessão que autorizava o uso dos
dados informados para a pesquisa de
mestrado, alegando que 70% do conteúdo era
mail informou que, caso
houvesse interesse, forneceria nova entrevista
com os 30% restantes (e autoriza
do) do
Antes de apresentar alguns
resultados, é necessário salientar duas
importantes ressalvas. Primeira, esta
pesquisa não pretendeu
dados estatísticos, o que significa dizer
que diante da complexidade,
quantidade e diversidade dos
equipamentos culturais da cidade de
São Paulo, não é possível garantir que
esse seja o cenário médio das
contratações. Segunda ressalva, os
dados
obtidos foram colhidos dos
relatos dos coordenadores
entrevistados e não de registros de
contratos ou documentação
equivalente, devendo ser consideradas
as aproximações e generalizações por
eles realizadas.
A partir do
s dados levantados,
foi possível verificar que o tipo de
contratação mais realizada era por
meio do registro na Carteira de
Trabalho e Previdência Social (CTPS),
via Consolidação das Leis Trabalhistas
(CLT), seja esta por tempo
indeterminado ou determinado
roteiro. Decidimos que a recusa seria um dado
de análise tão importante quanto as
informações da morfologia do trabalho. Por
que dados relacionados à relação de trabalho
são considerados sigilosos? Em que medida
divulgar estas informações pode
“comp
rometer” a imagem da instituição privada
em questão? O que pode sugerir o velamento
destes dados?
83
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Antes de apresentar alguns
resultados, é necessário salientar duas
importantes ressalvas. Primeira, esta
pesquisa não pretendeu
apresentar
dados estatísticos, o que significa dizer
que diante da complexidade,
quantidade e diversidade dos
equipamentos culturais da cidade de
São Paulo, não é possível garantir que
esse seja o cenário médio das
contratações. Segunda ressalva, os
obtidos foram colhidos dos
relatos dos coordenadores
entrevistados e não de registros de
contratos ou documentação
equivalente, devendo ser consideradas
as aproximações e generalizações por
s dados levantados,
foi possível verificar que o tipo de
contratação mais realizada era por
meio do registro na Carteira de
Trabalho e Previdência Social (CTPS),
via Consolidação das Leis Trabalhistas
(CLT), seja esta por tempo
indeterminado ou determinado
.
roteiro. Decidimos que a recusa seria um dado
de análise tão importante quanto as
informações da morfologia do trabalho. Por
que dados relacionados à relação de trabalho
são considerados sigilosos? Em que medida
divulgar estas informações pode
rometer” a imagem da instituição privada
em questão? O que pode sugerir o velamento
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
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67-94, set. 2021.
Tabela 1
Fonte: Entrevistas. Elaboração própria.
A relação de trabalho oferecida
ao educador de exposições em 2016
era a seguinte: o salário variava entre
R$1.610,00 e R$ 2.750,00; a jornada
de trabalho de 20 a 40 horas
semanais; os direitos trabalhistas
(férias, 13º salário, vale-
transporte) e
previdenciários (INSS, FGTS) eram
garantidos em contratos CLT conforme
legislação, eventualmente acrescidos
de alguns benefícios pactuados na
Convençã
o Coletiva do Trabalho (vale
refeição/alimentação; assistência
médica/odontológica; seguro de vida).
O valor médio da hora-
aula era de R$
15,78/h
18
, correspondendo ao valor
pago aos professores do Estado de
São Paulo, cujo piso salarial era de R$
18
Somou-
se a remuneração paga por hora
dos oito ECs participantes, dividindo também
por oito.
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(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
Tabela 1
- Regime de Contratação
Fonte: Entrevistas. Elaboração própria.
A relação de trabalho oferecida
ao educador de exposições em 2016
era a seguinte: o salário variava entre
R$1.610,00 e R$ 2.750,00; a jornada
de trabalho de 20 a 40 horas
semanais; os direitos trabalhistas
transporte) e
previdenciários (INSS, FGTS) eram
garantidos em contratos CLT conforme
legislação, eventualmente acrescidos
de alguns benefícios pactuados na
o Coletiva do Trabalho (vale
-
refeição/alimentação; assistência
médica/odontológica; seguro de vida).
aula era de R$
, correspondendo ao valor
pago aos professores do Estado de
São Paulo, cujo piso salarial era de R$
se a remuneração paga por hora
dos oito ECs participantes, dividindo também
15,00/h pa
ra professores do Ensino
Fundamental II, segundo o Sindicato
dos Professores de São Paulo.
Alguns destaques interessantes:
a IP que pagava o menor salário (r$
1.610,00) oferecia, ao mesmo tempo,
a melhor remuneração (R$20,15/hora)
-
mas não garantia nenhu
benefício, pois o contrato era via MEI;
embora todas as OSs oferecessem
contratos por prazo indeterminado,
remuneravam seus educadores abaixo
da média (R$14,00/hora);
consideramos possível declarar a
inexistência do plano de carreira em
todos
os equipamentos culturais,
levando em consideração dois
aspectos gerais: 1. as contratações
são temporárias, rotativas e
intermitentes, não oferecendo
84
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
ra professores do Ensino
Fundamental II, segundo o Sindicato
dos Professores de São Paulo.
Alguns destaques interessantes:
a IP que pagava o menor salário (r$
1.610,00) oferecia, ao mesmo tempo,
a melhor remuneração (R$20,15/hora)
mas não garantia nenhu
m direito ou
benefício, pois o contrato era via MEI;
embora todas as OSs oferecessem
contratos por prazo indeterminado,
remuneravam seus educadores abaixo
da média (R$14,00/hora);
consideramos possível declarar a
inexistência do plano de carreira em
os equipamentos culturais,
levando em consideração dois
aspectos gerais: 1. as contratações
são temporárias, rotativas e
intermitentes, não oferecendo
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
garantias de consolidação e
crescimento profissional; 2. mesmo
quando contratados por prazo
indeterminado
, as atividades,
responsabilidades e salários dos
educadores de exposição
permanecem com baixa mobilidade
(no caso dos salários, as alterações se
devem ao dissídio coletivo).
Os resultados podem sugerir
uma contradição, uma vez que se
tenta apresentar como
precários os
vínculos trabalhistas estabelecidos
entre contratante e contratado nos
espaços de cultura. Cabe, portanto,
uma observação mais cuidadosa por
tipos de contratantes.
As
Instituições Privadas (IP)
são as que apresentam resultados
mais objetivos
quando levamos em
conta as relações de trabalho
precárias e disfarçadas. Aqui parece
fácil compreender esse tipo de
contratação, pois, embora essas
instituições se apresentem como
entidades sem fins lucrativos,
funcionam sob a ótica de gestão de
uma empres
a privada. Isso significa
dizer que faz parte de sua lógica
administrativa promover ações que
possibilitem o maior retorno possível
de seus investimentos (CARRION,
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
garantias de consolidação e
crescimento profissional; 2. mesmo
quando contratados por prazo
, as atividades,
responsabilidades e salários dos
educadores de exposição
permanecem com baixa mobilidade
(no caso dos salários, as alterações se
devem ao dissídio coletivo).
Os resultados podem sugerir
uma contradição, uma vez que se
precários os
vínculos trabalhistas estabelecidos
entre contratante e contratado nos
espaços de cultura. Cabe, portanto,
uma observação mais cuidadosa por
Instituições Privadas (IP)
são as que apresentam resultados
quando levamos em
conta as relações de trabalho
precárias e disfarçadas. Aqui parece
fácil compreender esse tipo de
contratação, pois, embora essas
instituições se apresentem como
entidades sem fins lucrativos,
funcionam sob a ótica de gestão de
a privada. Isso significa
dizer que faz parte de sua lógica
administrativa promover ações que
possibilitem o maior retorno possível
de seus investimentos (CARRION,
2000). Essa lucratividade, mesmo sem
um destinatário específico, amplia a
visibilidade e o c
ampo de atuação
destas instituições. Desse modo, é
esperado que haja um esforço
administrativo para economizar os
gastos em todos os setores, incluindo
a força de trabalho. Cabe lembrar que
apenas duas instituições permitiram a
divulgação dos dados e esse
não significa a ausência de
contratações formalizadas por parte
das IPs.
As
Organizações Sociais
(OSs),
“instituições não
governamentais, associações ou
fundações de direito privado e sem fins
lucrativos que atuam na área
cultural”
19
, são entidade
para gerenciar museus e
equipamentos culturais do Estado de
São Paulo. A Secretaria de Cultura e
Economia Criativa, por meio de
Convocações Públicas, contrata essas
empresas para gerenciar seus
equipamentos estatais. Quando
examinamos os resu
19
Portal Transparência Cultura, da Secretaria
de Cultura e Econo
mia Criativa. Disponível
em:
http://www.transparenciacultura.sp.gov.br/orga
nizacoes-sociais-de-
cultura/o
Acesso em: 24 mar. 2021.
85
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
2000). Essa lucratividade, mesmo sem
um destinatário específico, amplia a
ampo de atuação
destas instituições. Desse modo, é
esperado que haja um esforço
administrativo para economizar os
gastos em todos os setores, incluindo
a força de trabalho. Cabe lembrar que
apenas duas instituições permitiram a
divulgação dos dados e esse
resultado
não significa a ausência de
contratações formalizadas por parte
Organizações Sociais
“instituições não
-
governamentais, associações ou
fundações de direito privado e sem fins
lucrativos que atuam na área
, são entidade
s contratadas
para gerenciar museus e
equipamentos culturais do Estado de
São Paulo. A Secretaria de Cultura e
Economia Criativa, por meio de
Convocações Públicas, contrata essas
empresas para gerenciar seus
equipamentos estatais. Quando
examinamos os resu
ltados obtidos
Portal Transparência Cultura, da Secretaria
mia Criativa. Disponível
http://www.transparenciacultura.sp.gov.br/orga
cultura/o
-que-sao/.
Acesso em: 24 mar. 2021.
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
sobre as relações de trabalho dos
educadores das OSs, vemos que as
contratações são realizadas via CLT
por prazo indeterminado. Esse tipo de
relação contratual garante aos
trabalhadores mais estabilidade
financeira, maior permanência no
camp
o do trabalho e o acesso a todos
os direitos trabalhistas e
previdenciários garantidos por lei.
Contudo dois aspectos
dignos de nota. A primeira, mais
aparente, é que podemos entender
essa contratação como uma relação
trilateral de trabalho (KREIN, 200
seja, uma forma de contratação
terceirizada. Ter um contrato
terceirizado significa que o trabalhador
(1) é contratado por seu empregador
(2) para desempenhar sua ocupação
em uma empresa (3) que contratou
seu empregador (2), o que configura
uma tria
ngulação. A segunda nota,
mais submersa, diz respeito à
estabilidade do vínculo trabalhista
como resultado padrão desta tipologia.
Embora não haja nenhuma cláusula
regulamentar que determine um
quadro permanente de funcionários,
um dos critérios avaliados
20
Na última Convocação Pública que recebeu
propostas para gerenciar o Museu da Língua
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
sobre as relações de trabalho dos
educadores das OSs, vemos que as
contratações são realizadas via CLT
por prazo indeterminado. Esse tipo de
relação contratual garante aos
trabalhadores mais estabilidade
financeira, maior permanência no
o do trabalho e o acesso a todos
os direitos trabalhistas e
previdenciários garantidos por lei.
Contudo dois aspectos
dignos de nota. A primeira, mais
aparente, é que podemos entender
essa contratação como uma relação
trilateral de trabalho (KREIN, 200
7), ou
seja, uma forma de contratação
terceirizada. Ter um contrato
terceirizado significa que o trabalhador
(1) é contratado por seu empregador
(2) para desempenhar sua ocupação
em uma empresa (3) que contratou
seu empregador (2), o que configura
ngulação. A segunda nota,
mais submersa, diz respeito à
estabilidade do vínculo trabalhista
como resultado padrão desta tipologia.
Embora não haja nenhuma cláusula
regulamentar que determine um
quadro permanente de funcionários,
um dos critérios avaliados
20
nas
Na última Convocação Pública que recebeu
propostas para gerenciar o Museu da Língua
propostas de gestão é se a OS prevê
um número suficiente de trabalhadores
para a realização das metas
projetadas. Esse critério nos ajuda a
entender melhor o motivo pelo qual as
OSs realizam vínculos mais
permanentes com seus funcionários
ao menos o
s compreendidos como
executores de atividade
As
Empresas de Terceirização
(ET)
costumam ser contratadas pelos
equipamentos culturais para prestarem
seus serviços educativos, culturais e
artísticos para projetos específicos.
Esse é um dos motivos pelo
contratam via CLT por prazo
determinado: seus contratos também
são temporários. Nesse caso, não
Portuguesa (RESOLUÇÃO SC N.° 26/2019,
DE 13 DE DEZEMBRO DE 2019), temos como
resultado de avliação: “dimensionamento das
equipes para alcance das metas, por
programa ou ei
xo de trabalho, com indicação
das iniciativas previstas de capacitação
continuada dos funcionários em suas áreas de
atuação, bem como indicação da rotina de
treinamentos periódicos que será estabelecida
referente à segurança e salvaguarda de locais
de atua
ção, públicos e acervos, e da rotina de
treinamento periódico associado a códigos de
ética, integridade e conduta.” (Art. 13º, Inciso
II, Alínea “e”). Disponível em:
http://www.transparenciacultura.sp.gov.br/eess
eers/2015/09/Resolu%C3%A7%C3%A3o_SC_
26_2019_MLP.pdf.
Acesso em
21
Ver Contrato de Gestão nº 01/2020, Anexo II
e III (Museu da Língua Portuguesa).
Disponível em:
<http://ww
w.transparenciacultura.sp.gov.br/mu
seu-da-lingua-portuguesa
-
Acesso em: 24 mar. 2021.
86
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
propostas de gestão é se a OS prevê
um número suficiente de trabalhadores
para a realização das metas
projetadas. Esse critério nos ajuda a
entender melhor o motivo pelo qual as
OSs realizam vínculos mais
permanentes com seus funcionários
-
s compreendidos como
executores de atividade
-fim
21
.
Empresas de Terceirização
costumam ser contratadas pelos
equipamentos culturais para prestarem
seus serviços educativos, culturais e
artísticos para projetos específicos.
Esse é um dos motivos pelo
s quais
contratam via CLT por prazo
determinado: seus contratos também
são temporários. Nesse caso, não
Portuguesa (RESOLUÇÃO SC N.° 26/2019,
DE 13 DE DEZEMBRO DE 2019), temos como
resultado de avliação: “dimensionamento das
equipes para alcance das metas, por
xo de trabalho, com indicação
das iniciativas previstas de capacitação
continuada dos funcionários em suas áreas de
atuação, bem como indicação da rotina de
treinamentos periódicos que será estabelecida
referente à segurança e salvaguarda de locais
ção, públicos e acervos, e da rotina de
treinamento periódico associado a códigos de
ética, integridade e conduta.” (Art. 13º, Inciso
II, Alínea “e”). Disponível em:
http://www.transparenciacultura.sp.gov.br/eess
eers/2015/09/Resolu%C3%A7%C3%A3o_SC_
Acesso em
: 24 mar. 2021.
Ver Contrato de Gestão nº 01/2020, Anexo II
e III (Museu da Língua Portuguesa).
w.transparenciacultura.sp.gov.br/mu
-
2020-2025/>.
Acesso em: 24 mar. 2021.
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
necessidade de “revelar” o caráter
triangular da relação do trabalho,
entretanto compreender a escolha
gerencial pela terceirização para que
possa au
xiliar na análise dos
resultados. Segundo Krein (2007) a
terceirização da mão de obra beneficia
as grandes empresas tanto no
ajustamento às oscilações de
demanda descontinuadas quanto na
redução das despesas contratuais.
Assim, equipamentos culturais de
gr
ande porte, mesmo com ampla
oferta de exposições, podem
economizar custos com educadores
nas semanas de desmontagem e
montagem de exposições. Além disso,
não precisam garantir direitos
trabalhistas, uma vez que temporários
não são incluídos nas “normas
col
etivas de trabalho e dos benefícios
da categoria principal” (KREIN, 2007,
p.128).
Mesmo considerando que a
contratação temporária carrega em si
a expressão da precariedade, essa
relação formalizada via CLT amortece,
minimamente, os impactos da
supressão d
as garantias. Ela poderia
ser pior. Mas por que essas ETs
admitiam via CLT e não por outras
formas atípicas de contratação?
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
necessidade de “revelar” o caráter
triangular da relação do trabalho,
entretanto compreender a escolha
gerencial pela terceirização para que
xiliar na análise dos
resultados. Segundo Krein (2007) a
terceirização da mão de obra beneficia
as grandes empresas tanto no
ajustamento às oscilações de
demanda descontinuadas quanto na
redução das despesas contratuais.
Assim, equipamentos culturais de
ande porte, mesmo com ampla
oferta de exposições, podem
economizar custos com educadores
nas semanas de desmontagem e
montagem de exposições. Além disso,
não precisam garantir direitos
trabalhistas, uma vez que temporários
não são incluídos nas “normas
etivas de trabalho e dos benefícios
da categoria principal” (KREIN, 2007,
Mesmo considerando que a
contratação temporária carrega em si
a expressão da precariedade, essa
relação formalizada via CLT amortece,
minimamente, os impactos da
as garantias. Ela poderia
ser pior. Mas por que essas ETs
admitiam via CLT e não por outras
formas atípicas de contratação?
Considerando os dados verdadeiros, a
hipótese é que, tendo atuado como
educadores no passado e
compreendendo a vulnerabilidade à
qual estes trabalhadores estão
expostos, os proprietários destas
empresas tentam minimizar essa difícil
situação. Outra hipótese possível é a
de que os entrevistados não
partilharam todas as formas de
contratação.
Considerações finais
No final do século
acompanhamos transformações
econômicas e sociais que
possibilitaram um novo cenário
educativo nos equipamentos culturais.
Os exemplos expressos neste artigo
apresentam como o Estado brasileiro
produziu as condições legais
necessárias para justificar a
a expansão de novos mercados para a
cultura. Sobre isso, assinalamos a
ampliação das
leis de incentivo fiscal
que permitiu a apropriação da arte e
da cultura enquanto mercadoria; a
publicização
que possibilitou a criação
das OSs, repassando à sociedade
civil
22
a responsabilidade de promover
22
É importante nos perguntarmos quem são
esses representantes da sociedade civil e
87
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Considerando os dados verdadeiros, a
hipótese é que, tendo atuado como
educadores no passado e
compreendendo a vulnerabilidade à
qual estes trabalhadores estão
expostos, os proprietários destas
empresas tentam minimizar essa difícil
situação. Outra hipótese possível é a
de que os entrevistados não
partilharam todas as formas de
Considerações finais
No final do século
XX,
acompanhamos transformações
econômicas e sociais que
possibilitaram um novo cenário
educativo nos equipamentos culturais.
Os exemplos expressos neste artigo
apresentam como o Estado brasileiro
produziu as condições legais
necessárias para justificar a
criação e
a expansão de novos mercados para a
cultura. Sobre isso, assinalamos a
leis de incentivo fiscal
que permitiu a apropriação da arte e
da cultura enquanto mercadoria; a
que possibilitou a criação
das OSs, repassando à sociedade
a responsabilidade de promover
É importante nos perguntarmos quem são
esses representantes da sociedade civil e
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
e fomentar condições de acesso e de
democratização de conteúdos
artísticos e culturais; o
cultural
que fomentou as
megaexposições que, patrocinadas
por grandes empresas e instituições
bancárias, modificaram a rota de
circulação simbólica das artes,
aumentando expressivamente a
visitação aos equipamentos culturais
para justificar um maior aporte
financeiro (mas não necessariamente
por meio das práticas
críticas e continuadas). O crescimento
dos setores educativos nas exposições
serviu para os fins que aquela
conjuntura política se pretendia: a
“democratização” do acesso a diversos
públicos.
Quando verificamos os
conteúdos do trabalho do educ
exposições nos deparamos com uma
atividade laboral bastante complexa,
especializada e qualificada. Essa
ocupação requer deste trabalhador
conhecimentos muito amplos sobre
arte e educação, visto que precisam
oferecer suas ações educativas para
um pe
rfil de público muito variável e
diverso, em exposições igualmente
como definem quais conteúdos devem ser
acessados e democratizados?
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
e fomentar condições de acesso e de
democratização de conteúdos
artísticos e culturais; o
marketing
que fomentou as
megaexposições que, patrocinadas
por grandes empresas e instituições
bancárias, modificaram a rota de
circulação simbólica das artes,
aumentando expressivamente a
visitação aos equipamentos culturais
para justificar um maior aporte
financeiro (mas não necessariamente
educativas
críticas e continuadas). O crescimento
dos setores educativos nas exposições
serviu para os fins que aquela
conjuntura política se pretendia: a
“democratização” do acesso a diversos
Quando verificamos os
conteúdos do trabalho do educ
ador de
exposições nos deparamos com uma
atividade laboral bastante complexa,
especializada e qualificada. Essa
ocupação requer deste trabalhador
conhecimentos muito amplos sobre
arte e educação, visto que precisam
oferecer suas ações educativas para
rfil de público muito variável e
diverso, em exposições igualmente
como definem quais conteúdos devem ser
complexas. Os processos seletivos
são exigentes e pedem como pré
requisito formação de nível superior,
ainda que esteja em andamento, no
caso dos estagiários. Contudo, ainda
que executem at
conteúdo muito semelhante, muitos
são os entendimentos e as avaliações
que os equipamentos culturais fazem a
respeito deste trabalho, variando em
tipos de contrato, remuneração e
tempo de contratação.
Como vimos, poucos
empregadores celebram
CLT por tempo indeterminado. Ao
contrário, oferecem trabalhos
temporários e por projetos que duram
alguns meses, com relações de
emprego disfarçadas (estágio,
terceirização e pejotização) que
acabam resultando em ausência de
estabilidade finan
impossibilidade de projeção de carreira
profissional. Desse modo, poucos
trabalhadores conseguem se manter
atuantes nesse campo e acabam
migrando para outras áreas, como o
da educação formal.
Essa ocupação não está
incluída na CBO e sua ausência é
anterior à regulamentação profissional.
Assim, podemos afirmar que o
88
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
complexas. Os processos seletivos
são exigentes e pedem como pré
-
requisito formação de nível superior,
ainda que esteja em andamento, no
caso dos estagiários. Contudo, ainda
que executem at
ividades com
conteúdo muito semelhante, muitos
são os entendimentos e as avaliações
que os equipamentos culturais fazem a
respeito deste trabalho, variando em
tipos de contrato, remuneração e
tempo de contratação.
Como vimos, poucos
empregadores celebram
contrato via
CLT por tempo indeterminado. Ao
contrário, oferecem trabalhos
temporários e por projetos que duram
alguns meses, com relações de
emprego disfarçadas (estágio,
terceirização e pejotização) que
acabam resultando em ausência de
estabilidade finan
ceira e
impossibilidade de projeção de carreira
profissional. Desse modo, poucos
trabalhadores conseguem se manter
atuantes nesse campo e acabam
migrando para outras áreas, como o
Essa ocupação não está
incluída na CBO e sua ausência é
anterior à regulamentação profissional.
Assim, podemos afirmar que o
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
educador de exposições não passou
pelo processo de precarização, afinal,
não tendo uma profissão formalizada e
reconhecida, nem mesmo acessou
direitos trabalhistas e previdenciários
como
categoria profissional. O não
reconhecimento dessa ocupação
dificulta ainda a obtenção de dados
estatísticos sobre este trabalhador.
Pesquisas domésticas e censitárias
como a Relação Anual de Informações
Sociais (Rais), a Pesquisa Nacional
por Amostra de
Domicílio (Pnad) e o
Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), que
mapeiam emprego, desemprego e
renda baseiam suas análises nas
informações obtidas via CBO.
O sucateamento da Cultura, em
seus recorrentes e progressivos
contingenciamentos de verba, tem
provocado demissões nos quadros de
funcionários. Em 2020, com o
fechamento dos equipamentos
culturais devido ao contexto de
pandemia da Covid-
19, vimos irromper
o número de educadores demitidos ou
desempregados, os quais viviam as
incertezas do mundo do trabalho nos
tempos de “pleno emprego flexível".
Poucos estudos se debruçaram
sobre essa problemática pelo viés
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
Educador de
PragMATIZES
- Revista
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
educador de exposições não passou
pelo processo de precarização, afinal,
não tendo uma profissão formalizada e
reconhecida, nem mesmo acessou
direitos trabalhistas e previdenciários
categoria profissional. O não
-
reconhecimento dessa ocupação
dificulta ainda a obtenção de dados
estatísticos sobre este trabalhador.
Pesquisas domésticas e censitárias
como a Relação Anual de Informações
Sociais (Rais), a Pesquisa Nacional
Domicílio (Pnad) e o
Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), que
mapeiam emprego, desemprego e
renda baseiam suas análises nas
informações obtidas via CBO.
O sucateamento da Cultura, em
seus recorrentes e progressivos
contingenciamentos de verba, tem
provocado demissões nos quadros de
funcionários. Em 2020, com o
fechamento dos equipamentos
culturais devido ao contexto de
19, vimos irromper
o número de educadores demitidos ou
desempregados, os quais viviam as
incertezas do mundo do trabalho nos
tempos de “pleno emprego flexível".
Poucos estudos se debruçaram
sobre essa problemática pelo viés
apresentado neste artigo, sendo esse
um campo d
e exploração bastante
fecundo para futuras investigações
qualitativas e quantitativas. Por isso,
muitas perguntas para serem
respondidas: Quantas pessoas atuam
como educadores de exposição em
território nacional? Qual o tipo de
contratação mais comum of
pelos equipamentos culturais
brasileiros? É possível verificar a
importância deste trabalho para a
democratização cultural? Nesse artigo,
pretendemos apresentar algumas
considerações acerca do trabalhador
de espaços expositivos e propor uma
reflexã
o sobre sua importância frente
ao projeto de acesso à cultura.
Referências bibliográficas
ALENCAR, Valéria Peixoto de.
mediador cultural:
sobre a formação e profissionalização
de educadores de museus e
exposições de arte. 2008. 97 f.
Diss
ertação (Mestrado em Artes).
Universidade Estadual Paulista, 2008.
Disponível em:
http://hdl.handle.net/11449/86980.
Acesso em: 24 mar. 2021.
ALVES, Giovanni.
Reestruturação Produtiva:
sociologia do trabalho. Londrina:
Praxis ; Baur
u: Canal 6, 2007.
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso
d
e. Estudo de caso em pesquisa e
89
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
apresentado neste artigo, sendo esse
e exploração bastante
fecundo para futuras investigações
qualitativas e quantitativas. Por isso,
muitas perguntas para serem
respondidas: Quantas pessoas atuam
como educadores de exposição em
território nacional? Qual o tipo de
contratação mais comum of
erecida
pelos equipamentos culturais
brasileiros? É possível verificar a
importância deste trabalho para a
democratização cultural? Nesse artigo,
pretendemos apresentar algumas
considerações acerca do trabalhador
de espaços expositivos e propor uma
o sobre sua importância frente
ao projeto de acesso à cultura.
Referências bibliográficas
:
ALENCAR, Valéria Peixoto de.
O
considerações
sobre a formação e profissionalização
de educadores de museus e
exposições de arte. 2008. 97 f.
ertação (Mestrado em Artes).
Universidade Estadual Paulista, 2008.
Disponível em:
http://hdl.handle.net/11449/86980.
Acesso em: 24 mar. 2021.
ALVES, Giovanni.
Dimensões da
Reestruturação Produtiva:
ensaios de
sociologia do trabalho. Londrina:
u: Canal 6, 2007.
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso
e. Estudo de caso em pesquisa e
SILVA, Cíntia Maria da; DANTAS, Adriana Santiago Rosa.
exposições: um trabalhador sem profissão?.
PragMATIZES
Latino-Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
67-94, set. 2021.
avaliação educacional.
Brasília: Liber
Livro Editora, 2008.
ANTUNES, Ricardo (org.).
miséria do trabalho no Brasil II.
Paulo: Boitempo, 2013.
ANTUNES, Ricard
o (org.).
miséria do trabalho no Brasil III
Paulo: Boitempo, 2014.
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dimensões conceituais em d
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desenvolvimento dos processos
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, União das Repúblicas
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- Revista
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(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
TOMMASI, Lívia de; MORENO DA
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Revista de Ciências Sociais
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& Trabalho, v. 1, n. 52, p. 196
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A
formação social da mente:
o
desenvolvimento dos processos
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Paulo: Martins Fontes, 1998.
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transformação socialista do homem.
, União das Repúblicas
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Disponível em:
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Privatização da Cultura:
a intervenção corporativa na arte
desde os anos 80. São Paulo:
ASK, Joëlle. De la démocratisation à
Nectart
, vol. 3,
94
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
Cultura e Pandemia: precarização do trabalho cultural na Baixada Fluminense
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21.48804
Resumo:
A pandemia trouxe profundas alterações no campo da cultura. O setor cultural
enorme desafio com a necessidade de isolamento social, passando por um processo forçado de
transição digital. O presente ar
tigo busca compreender as consequências do neoliberalismo sobre as
políticas culturais e o mercado de trabalho cultural, analisando a especificidade do impacto da
pandemia na cultura da Baixada Fluminense,território periférico na Região Metropolitana do Ri
Janeiro, onde se evidencia o caráter informal e precário das condições de trabalho. Para interpretar o
impacto da pandemia sobre a precarização do trabalho cultural, utilizamos dados primários extraídos
da pesquisa Impactos da Covid
-
OBaC –
Observatório Baixada Cultural.
Palavras-chave: trabalho c
ultural
1
João Luiz Guerreiro Mendes. Professor Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ). Pesquisad
Observatório Baixada Cultural (OBaC). Doutor em Políticas Socioculturais (UFRJ)
joao.mendes@ifrj.edu.br -
https://orcid.org/0000
2
Bruno Nogueira Ferreira Borja. Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Pesquisador do Observatório Baixada Cultural (OBaC). Doutor em Economia (UFRJ)
borja.bruno@gmail.com -
http://orcid.org/0000
3
Luise Gonçalves Villares. Professora do Governo do Distrito Federal. Pesquisadora do Observatório
Baixada Cultural
(OBaC). Mestra em Patrimônio, Cultura e
villares.luise@gmail.com -
https://orcid.org/0000
4
Utanaan Reis Barbosa Filho. Mestrando em Geografia pela
Janeiro (UFRRJ). Pesquisador do Observatório Baixada Cultural
utanaan.reis@gmail.com -
https://orci
5
Bruno Souza Duarte Lima. Mestrando em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-
SP). Pesquisador do Observatório Baixada Cultural
lima.bsd@gmail.com -
https://orcid.org/0000
Recebido em 19/02/2021,
aceito para publicação em
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
Cultura e Pandemia: precarização do trabalho cultural na Baixada Fluminense
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21.48804
Utanaan
Reis Barbosa Filho
A pandemia trouxe profundas alterações no campo da cultura. O setor cultural
enorme desafio com a necessidade de isolamento social, passando por um processo forçado de
tigo busca compreender as consequências do neoliberalismo sobre as
políticas culturais e o mercado de trabalho cultural, analisando a especificidade do impacto da
pandemia na cultura da Baixada Fluminense,território periférico na Região Metropolitana do Ri
Janeiro, onde se evidencia o caráter informal e precário das condições de trabalho. Para interpretar o
impacto da pandemia sobre a precarização do trabalho cultural, utilizamos dados primários extraídos
-
19 na Economia Criativa d
a Baixada Fluminense
Observatório Baixada Cultural.
ultural
; precarização; pandemia; Baixada Fluminense
; n
João Luiz Guerreiro Mendes. Professor Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ). Pesquisad
Observatório Baixada Cultural (OBaC). Doutor em Políticas Socioculturais (UFRJ)
https://orcid.org/0000
-0003-1788-4132
Bruno Nogueira Ferreira Borja. Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Pesquisador do Observatório Baixada Cultural (OBaC). Doutor em Economia (UFRJ)
http://orcid.org/0000
-0002-4813-7001
Luise Gonçalves Villares. Professora do Governo do Distrito Federal. Pesquisadora do Observatório
(OBaC). Mestra em Patrimônio, Cultura e
Sociedade (UFRRJ)
https://orcid.org/0000
-0002-8130-5134
Utanaan Reis Barbosa Filho. Mestrando em Geografia pela
Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ). Pesquisador do Observatório Baixada Cultural
(OBaC)
https://orci
d.org/0000-0002-9690-8296
Bruno Souza Duarte Lima. Mestrando em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de
SP). Pesquisador do Observatório Baixada Cultural
(OBaC)
https://orcid.org/0000
-0002-2753-434X
aceito para publicação em
03/06/20
21 e disponibilizado online em
01/09/2021.
95
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
Cultura e Pandemia: precarização do trabalho cultural na Baixada Fluminense
João Guerreiro
1
Bruno Borja
2
Luise Villares
3
Reis Barbosa Filho
4
Bruno Duarte
5
A pandemia trouxe profundas alterações no campo da cultura. O setor cultural
enfrenta um
enorme desafio com a necessidade de isolamento social, passando por um processo forçado de
tigo busca compreender as consequências do neoliberalismo sobre as
políticas culturais e o mercado de trabalho cultural, analisando a especificidade do impacto da
pandemia na cultura da Baixada Fluminense,território periférico na Região Metropolitana do Ri
o de
Janeiro, onde se evidencia o caráter informal e precário das condições de trabalho. Para interpretar o
impacto da pandemia sobre a precarização do trabalho cultural, utilizamos dados primários extraídos
a Baixada Fluminense
, desenvolvida pelo
; n
eoliberalismo.
João Luiz Guerreiro Mendes. Professor Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ). Pesquisad
or do
Observatório Baixada Cultural (OBaC). Doutor em Políticas Socioculturais (UFRJ)
, Brasil. E-mail:
Bruno Nogueira Ferreira Borja. Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Pesquisador do Observatório Baixada Cultural (OBaC). Doutor em Economia (UFRJ)
, Brasil. E-mail:
Luise Gonçalves Villares. Professora do Governo do Distrito Federal. Pesquisadora do Observatório
Sociedade (UFRRJ)
, Brasil. E-mail:
Universidade Federal Rural do Rio de
(OBaC)
, Brasil. E-mail:
Bruno Souza Duarte Lima. Mestrando em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de
(OBaC)
, Brasil. E-mail:
21 e disponibilizado online em
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
Cultura y pandemia:
precarización del trabajo cultural en la Baixada
Resumen:
La pandemia provocó cambios profundos en el campo de la cultura. El sector cultural se
enfrenta a un gran desafío con la necesidad de aislamiento social, pasando por un proceso forzado
de transición digital. Este artículo busca comprender las consecuencias
políticas culturales y el mercado laboral cultural, analizando la especificidad del impacto de la
pandemia en la cultura de la Baixada Fluminense, territorio periférico de la Región Metropolitana de
Río de Janeiro, donde se ev
idencia el carácter informal y precario de las condiciones laborales. Para
interpretar el impacto de la pandemia en la precarización del trabajo cultural, utilizamos datos
primarios de la investigación
Impactos del Covid
Fluminense
, desarrollada por OBaC
Palabras clave: trabajo cultural
; p
Culture and Pandemic:
precarization of cultural labor in the Baixada Fluminense
Abstract:
The pandemic brought out profound changes in the field of culture. The cultural sector faces
a huge challenge with the need for social isolation, going through a forced process of digital transition.
This article seeks to understand the consequen
cultural labor market, analyzing the specificity of the impact of the pandemic on the culture of the
Baixada Fluminense, peripheral territory in the Metropolitan Region of Rio de Janeiro, where the
informal
and precarious nature of working conditions is evidenced. To interpret the impact of the
pandemic on the precarization of cultural labor, we used primary data from the research
Covid-
19 on the Creative Economy of Baixada Fluminense
Baixada Cultural.
Keywords: cultural labor; p
recarization
Cultura e Pandemia:
precarização do trabalho cultural na Baixada Fluminense
Introdução
O
ano de 2020 foi marcado pela
pandemia do coronavírus
. A
efeitos sobre a saúde pública, a
doença impactou, também, a
economia mundial. A crise atual é
particularmente crítica para o setor
cultural devido à súbita e substancial
perda de fontes de renda
, decorrente
do fechamento de teatros, museus,
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
precarización del trabajo cultural en la Baixada
Fluminense
La pandemia provocó cambios profundos en el campo de la cultura. El sector cultural se
enfrenta a un gran desafío con la necesidad de aislamiento social, pasando por un proceso forzado
de transición digital. Este artículo busca comprender las consecuencias
del neoliberalismo sobre las
políticas culturales y el mercado laboral cultural, analizando la especificidad del impacto de la
pandemia en la cultura de la Baixada Fluminense, territorio periférico de la Región Metropolitana de
idencia el carácter informal y precario de las condiciones laborales. Para
interpretar el impacto de la pandemia en la precarización del trabajo cultural, utilizamos datos
Impactos del Covid-
19 en la Economía Creativa de la Ba
, desarrollada por OBaC
– Observatório Baixada Cultural.
; p
recarización; pandemia; Baixada Fluminense;
n
precarization of cultural labor in the Baixada Fluminense
The pandemic brought out profound changes in the field of culture. The cultural sector faces
a huge challenge with the need for social isolation, going through a forced process of digital transition.
This article seeks to understand the consequen
ces of neoliberalism on cultural policies and the
cultural labor market, analyzing the specificity of the impact of the pandemic on the culture of the
Baixada Fluminense, peripheral territory in the Metropolitan Region of Rio de Janeiro, where the
and precarious nature of working conditions is evidenced. To interpret the impact of the
pandemic on the precarization of cultural labor, we used primary data from the research
19 on the Creative Economy of Baixada Fluminense
, developed b
y OBaC
recarization
; pandemic; Baixada Fluminense; n
eoliberalism.
precarização do trabalho cultural na Baixada Fluminense
ano de 2020 foi marcado pela
. A
lém dos
efeitos sobre a saúde pública, a
doença impactou, também, a
economia mundial. A crise atual é
particularmente crítica para o setor
cultural devido à súbita e substancial
, decorrente
do fechamento de teatros, museus,
cinemas
, centros culturais e
cancelamento/adiamento de vários
eventos públicos, apresentações e
produções
artísticas e culturais
em
abril de 2020, estudos do
Centro de Desenvolvimento e
Planejamento Regional da
Universidade Federal de Minas Gerais
(Cedeplar/U
FMG) estimavam um
impacto de R$ 11 bilhões na economia
96
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
Fluminense
La pandemia provocó cambios profundos en el campo de la cultura. El sector cultural se
enfrenta a un gran desafío con la necesidad de aislamiento social, pasando por un proceso forzado
del neoliberalismo sobre las
políticas culturales y el mercado laboral cultural, analizando la especificidad del impacto de la
pandemia en la cultura de la Baixada Fluminense, territorio periférico de la Región Metropolitana de
idencia el carácter informal y precario de las condiciones laborales. Para
interpretar el impacto de la pandemia en la precarización del trabajo cultural, utilizamos datos
19 en la Economía Creativa de la Ba
ixada
n
eoliberalismo.
precarization of cultural labor in the Baixada Fluminense
The pandemic brought out profound changes in the field of culture. The cultural sector faces
a huge challenge with the need for social isolation, going through a forced process of digital transition.
ces of neoliberalism on cultural policies and the
cultural labor market, analyzing the specificity of the impact of the pandemic on the culture of the
Baixada Fluminense, peripheral territory in the Metropolitan Region of Rio de Janeiro, where the
and precarious nature of working conditions is evidenced. To interpret the impact of the
pandemic on the precarization of cultural labor, we used primary data from the research
Impacts of
y OBaC
Observatório
eoliberalism.
precarização do trabalho cultural na Baixada Fluminense
, centros culturais e
cancelamento/adiamento de vários
eventos públicos, apresentações e
artísticas e culturais
.
abril de 2020, estudos do
Centro de Desenvolvimento e
Planejamento Regional da
Universidade Federal de Minas Gerais
FMG) estimavam um
impacto de R$ 11 bilhões na economia
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
da cultura do país se houvesse três
meses de paralização das atividades
produtivas do setor (MACHADO et al.,
2020). Nesse mesmo mês de abril,
Fundação Getúlio Vargas
estimou que a cadeia produt
cultura teria uma perda de receita de
cerca de R$ 46,5 bilhões, projetando
uma crise que perduraria, pelo menos,
até o final de 2020 (CALDEIRA, 2020).
Ambas as previsões demonstravam
a perspectiva de o impacto da crise
sanitária ser de longo praz
economia da cultura nacional.
De fato, a pandemia trouxe
profundas alterações no campo da
cultura, com o setor cultural
enfrentando um enorme desafio pela
necessidade de
isolamento social
cancelamento das atividades coletivas
impôs
um processo forç
transição digital
, com impacto desigual
ao longo da cadeia produtiva da
cultura. Isso significou uma alteração
radical das condições de trabalho no
setor, implicando uma tendência à
precarização do trabalho cultural,
agravada ainda mais pelas reform
neoliberais levadas a cabo nos últimos
anos.
Neste artigo, b
compreender as especificidades do
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
da cultura do país se houvesse três
meses de paralização das atividades
produtivas do setor (MACHADO et al.,
2020). Nesse mesmo mês de abril,
a
Fundação Getúlio Vargas
(FGV)
estimou que a cadeia produt
iva da
cultura teria uma perda de receita de
cerca de R$ 46,5 bilhões, projetando
uma crise que perduraria, pelo menos,
até o final de 2020 (CALDEIRA, 2020).
Ambas as previsões demonstravam
a perspectiva de o impacto da crise
sanitária ser de longo praz
o na
economia da cultura nacional.
De fato, a pandemia trouxe
profundas alterações no campo da
cultura, com o setor cultural
enfrentando um enorme desafio pela
isolamento social
. O
cancelamento das atividades coletivas
um processo forç
ado de
, com impacto desigual
ao longo da cadeia produtiva da
cultura. Isso significou uma alteração
radical das condições de trabalho no
setor, implicando uma tendência à
precarização do trabalho cultural,
agravada ainda mais pelas reform
as
neoliberais levadas a cabo nos últimos
Neste artigo, b
uscamos
compreender as especificidades do
impacto da pandemia na cultura da
Baixada Fluminense, território
periférico dentro da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, onde
se evidencia o cará
precário das condições de trabalho
cultura
. Para tanto, serão utilizados
dados da pesquisa
Impactos da Covid
19 na Economia Criativa
nacionalmente pelo
Economia Criativa da Bahia
BA)
6
.
Enquanto colaboradores/as da
pesquisa, atuando especificamente no
território da Baixada Fluminense,
apresentaremos alguns resultados que
corroboram a
hipótese da maior
precarização do trabalho cultural na
região durante a pandemia. Os dados
apresentados co
mpõem o relatório da
pesquisa
Impactos da Covid
Economia Criativa da Baixada
Fluminense
, recém
OBaC
Observatório Baixada
Cultural
7
.
6
Participamos da pesquisa na condição de
colaboração acadêmica, formando uma equipe
com pesquisadores/as do Instituto Federal do
Rio de Janeiro e da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, para acompanhar os
impactos da COVID-
19 na economia criativa
da Baixada Fluminense.
7
O relatório de p
esquisa está disponível em:
https://portal.ifrj.edu.br/sites/default/files/IFRJ/
ASCOM/obac_relatorio_final.pdf
97
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
impacto da pandemia na cultura da
Baixada Fluminense, território
periférico dentro da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, onde
se evidencia o cará
ter informal e
precário das condições de trabalho
na
. Para tanto, serão utilizados
Impactos da Covid
-
19 na Economia Criativa
, coordenada
nacionalmente pelo
Observatório da
Economia Criativa da Bahia
(OBEC-
Enquanto colaboradores/as da
pesquisa, atuando especificamente no
território da Baixada Fluminense,
apresentaremos alguns resultados que
hipótese da maior
precarização do trabalho cultural na
região durante a pandemia. Os dados
mpõem o relatório da
Impactos da Covid
-19 na
Economia Criativa da Baixada
, recém
-publicado pelo
Observatório Baixada
Participamos da pesquisa na condição de
colaboração acadêmica, formando uma equipe
com pesquisadores/as do Instituto Federal do
Rio de Janeiro e da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, para acompanhar os
19 na economia criativa
esquisa está disponível em:
https://portal.ifrj.edu.br/sites/default/files/IFRJ/
ASCOM/obac_relatorio_final.pdf
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
Dentre os elementos
analisados, destaca-se:
o alto grau de
informalidade do trabalho cultural,
regist
rado antes da pandemia; o
baixo
rendimento médio das/os
trabalhadoras/es da cultura, mesmo
com
excessivas horas trabalhadas;
baixo grau de proteção social,
especialmente quanto à contribuição
para a previdência social; e a baixa
capacidade
para se man
tempos de suspensão/cancelamento
das atividades culturais presenciais.
Também se registra o alto impacto da
pandemia nos salários, com as
receitas diminuindo abruptamente.
Dentre as estratégias adotadas para
enfrentar a pandemia, destaca
mod
alidades que apontam para a
necessidade de transição digital,
embora isso não garanta rendimentos
imediatos para a produção artística e
cultural nos meios digitais, sinal de
precarização do trabalho.
1. Neoliberalismo,
cultura
pandemia
Desde 2014 vivemos um longo
período de imobilismo econômico e
impasse político por conta do projeto
neoliberal em curso no Brasil. A
hostilidade frente ao papel do Estado e
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
Dentre os elementos
o alto grau de
informalidade do trabalho cultural,
rado antes da pandemia; o
rendimento médio das/os
trabalhadoras/es da cultura, mesmo
excessivas horas trabalhadas;
o
baixo grau de proteção social,
especialmente quanto à contribuição
para a previdência social; e a baixa
para se man
terem em
tempos de suspensão/cancelamento
das atividades culturais presenciais.
Também se registra o alto impacto da
pandemia nos salários, com as
receitas diminuindo abruptamente.
Dentre as estratégias adotadas para
enfrentar a pandemia, destaca
-se as
alidades que apontam para a
necessidade de transição digital,
embora isso não garanta rendimentos
imediatos para a produção artística e
cultural nos meios digitais, sinal de
cultura
e
Desde 2014 vivemos um longo
período de imobilismo econômico e
impasse político por conta do projeto
neoliberal em curso no Brasil. A
hostilidade frente ao papel do Estado e
em relação aos trabalhadores e
trabalhadoras, mostrou o seu lado
mais cruel a parti
r do golpe de 2016. A
Constituição foi emendada com o
objetivo de
reformar
desmobilizar a classe trabalhadora,
com mudanças que reforçaram a
“vontade dos detentores da riqueza de
liquidar com a cidadania social
formalmente conquistada em 1988”
(
FAGNANI, 2017, p. 2) e ampliar a
desvinculação dos recursos das
políticas públicas.
Uma sequência de reformas
neoliberais foi
aprovada pelo
legislativo: (i) a Emenda Constitucional
95, conhecida como Teto dos Gastos,
aprovada em dezembro de 2016, que
congelou os gas
tos primários por vinte
anos; (ii) a Lei 13.
467, aprovada em
julho de 2017, que consolidou a
reforma dos direitos trabalhistas e
liberalizou amplamente o mercado de
trabalho; e (iii) a Emenda
Constitucional 103, aprovada em
novembro de 2019, que
reforma da previdência.
O projeto neoliberal é
extremamente agressivo e espoliativo
com
a classe trabalhadora. Apresenta
se como a mercantilização de todas as
esferas da vida e o sucateamento do
98
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
em relação aos trabalhadores e
trabalhadoras, mostrou o seu lado
r do golpe de 2016. A
Constituição foi emendada com o
reformar
o Estado e
desmobilizar a classe trabalhadora,
com mudanças que reforçaram a
“vontade dos detentores da riqueza de
liquidar com a cidadania social
formalmente conquistada em 1988”
FAGNANI, 2017, p. 2) e ampliar a
desvinculação dos recursos das
Uma sequência de reformas
aprovada pelo
legislativo: (i) a Emenda Constitucional
95, conhecida como Teto dos Gastos,
aprovada em dezembro de 2016, que
tos primários por vinte
467, aprovada em
julho de 2017, que consolidou a
reforma dos direitos trabalhistas e
liberalizou amplamente o mercado de
trabalho; e (iii) a Emenda
Constitucional 103, aprovada em
novembro de 2019, que
promoveu a
reforma da previdência.
O projeto neoliberal é
extremamente agressivo e espoliativo
a classe trabalhadora. Apresenta
-
se como a mercantilização de todas as
esferas da vida e o sucateamento do
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
que é público,
elementos centrais das
políticas d
e austeridade que levaram
ao aumento do desemprego e
diminuição da renda das famílias.
Como afirmam Saad Filho e Morais
(2020), o neoliberalismo tornou a
classe trabalhadora brasileira cada vez
mais heterogênea, com redução das
oportunidades de emprego,
desestabilização das garantias
fundamentais, desvalorização dos
salários e
mudança na atua
Estado. Assim, as relações de trabalho
e as condições de vida
da população
estão sendo cada vez mais
deterioradas.
No Brasil, a taxa de
desocupação chegou a 14
terceiro trimestre de 2020 (IBGE,
2020a), sendo o maior percentual
registrado na série histórica da PNAD
Contínua desde 2012, e corresponde a
14,1 milhões de pessoas
desempregadas. Temos 5,8 milhões
de desalentados (IBGE, 2020c), que
são as pessoas
que desistiram de
procurar trabalho por falta de
oportunidades e, portanto, não
aparecem nas estatísticas de
desemprego. Além disso, a taxa de
subutilização foi de 29,5% no último
trimestre do ano e inclui uma grande
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
elementos centrais das
e austeridade que levaram
ao aumento do desemprego e
à
diminuição da renda das famílias.
Como afirmam Saad Filho e Morais
(2020), o neoliberalismo tornou a
classe trabalhadora brasileira cada vez
mais heterogênea, com redução das
oportunidades de emprego,
desestabilização das garantias
fundamentais, desvalorização dos
mudança na atua
ção do
Estado. Assim, as relações de trabalho
da população
estão sendo cada vez mais
No Brasil, a taxa de
desocupação chegou a 14
,6% no
terceiro trimestre de 2020 (IBGE,
2020a), sendo o maior percentual
registrado na série histórica da PNAD
Contínua desde 2012, e corresponde a
14,1 milhões de pessoas
desempregadas. Temos 5,8 milhões
de desalentados (IBGE, 2020c), que
que desistiram de
procurar trabalho por falta de
oportunidades e, portanto, não
aparecem nas estatísticas de
desemprego. Além disso, a taxa de
subutilização foi de 29,5% no último
trimestre do ano e inclui uma grande
parcela de jovens subcontratados e
mal
pagos. a taxa de informalidade
foi de 38,8%,
o que equivale a 32,7
milhões de pessoas sem carteira
assinada ou sem remuneração fixa
(IBGE, 2020b).
A classe trabalhadora ampliada
(formal e informal), com
de
desempregados e subutilizados
tornou peça de descarte no mercado
de trabalho neoliberal. Entre as
consequências sociais do
neoliberalismo, temos a decomposição
da classe trabalhadora, a diluição d
sua cultura e de suas formas de vida,
o que dificulta a organização social
contra as
medidas neoliberais.
No campo da cultura, o
desmonte progressivo das políticas
culturais virou um
problema estrutural
que perdura alguns anos. Desde a
redução do orçamento federal da
cultura a partir de 2014, passando pela
tentativa do governo Temer d
extinguir o Ministério da Cultura
em 2016 (
barrada por um amplo
movimento social)
, até o atual governo
de tendências autoritárias
a
o MinC, reduzido a Secretaria
Especial de Cultura, dentro do
Ministério do Turismo. A política
federal de
cultura passou a refletir o
99
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
parcela de jovens subcontratados e
pagos. a taxa de informalidade
o que equivale a 32,7
milhões de pessoas sem carteira
assinada ou sem remuneração fixa
A classe trabalhadora ampliada
(formal e informal), com
uma maioria
desempregados e subutilizados
, se
tornou peça de descarte no mercado
de trabalho neoliberal. Entre as
consequências sociais do
neoliberalismo, temos a decomposição
da classe trabalhadora, a diluição d
e
sua cultura e de suas formas de vida,
o que dificulta a organização social
medidas neoliberais.
No campo da cultura, o
desmonte progressivo das políticas
problema estrutural
,
que perdura alguns anos. Desde a
redução do orçamento federal da
cultura a partir de 2014, passando pela
tentativa do governo Temer d
e
extinguir o Ministério da Cultura
(MinC)
barrada por um amplo
, até o atual governo
de tendências autoritárias
que pôs fim
o MinC, reduzido a Secretaria
Especial de Cultura, dentro do
Ministério do Turismo. A política
cultura passou a refletir o
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
caráter autoritário
do atual governo,
com intervenção direta no setor e
direcionamento das políticas públicas
a interesses particulares.
Apolítica
neoliberal d
fiscal e de
teto dos gastos
políticas culturais
uma restrição
enorme, inviabilizando sua atuação
consistente de fomento. No entanto,
participação da despesa com cultura
no total da despesa do governo federal
foi de 0,07% em 2018, segundo o
IBGE (2019). Ou seja, o impacto da
redução orçamentária da cul
ínfimo em termos de ajuste fiscal. Sua
função é outra, marcadamente política
e ideológica: desmantelar o setor e
desarticular a luta dos
trabalhadores e
trabalhadoras
da cultura, que resistem
ao
neoliberalismo e à precarização do
trabalho cultural.
Vivemos hoje
um enorme
retrocesso, o
u melhor, vivemos um
momento de avanço do
neoliberalismo, que, ao retirar recursos
públicos da política cultural, relega seu
devir aos desígnios da iniciativa
privada. Assim, a própria redução do
orçamento da cultura
virou, em si, uma
política cultural voltada para o
mercado. Deixar as empresas
decidirem
os rumos da política cultural
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
do atual governo,
com intervenção direta no setor e
direcionamento das políticas públicas
neoliberal d
e ajuste
teto dos gastos
impôs às
uma restrição
enorme, inviabilizando sua atuação
consistente de fomento. No entanto,
a
participação da despesa com cultura
no total da despesa do governo federal
foi de 0,07% em 2018, segundo o
IBGE (2019). Ou seja, o impacto da
redução orçamentária da cul
tura é
ínfimo em termos de ajuste fiscal. Sua
função é outra, marcadamente política
e ideológica: desmantelar o setor e
trabalhadores e
da cultura, que resistem
neoliberalismo e à precarização do
um enorme
u melhor, vivemos um
momento de avanço do
neoliberalismo, que, ao retirar recursos
públicos da política cultural, relega seu
devir aos desígnios da iniciativa
privada. Assim, a própria redução do
virou, em si, uma
política cultural voltada para o
mercado. Deixar as empresas
os rumos da política cultural
significa forçar uma concentração do
financiamento e da produção nas
mãos de artistas e
alinhados à política
quebr
ando a resistência d
cultural.
A situação se agrava ainda mais
ao constatarmos que o setor cultural
foi um dos mais afetados pelas
recentes alterações no mercado de
trabalho, com aumentos significativos
no grau de
informalidade
práti
cas neoliberais, trabalhadores
da cultura foram empurrados no
precipício do empreendedorismo.
Transformados em
M
icroempreendedores
(MEI), tiveram sua condição de pessoa
física transmutada em pessoa jurídica,
num fenômeno conhecido como
pejotização
do mercado de trabalho:
não são mais trabalhadores
empregados/as
, mas sim
prestadores/as
de serviço por conta
própria.
Segundo dados da última
publicação do
Sistema de Informações
e Indicadores Culturais
(
2019), existiam no Brasil mais de
milhões de
trabalhador
em 2018. Isso representa
total de trabalhador
es/as
100
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
significa forçar uma concentração do
financiamento e da produção nas
mãos de artistas e
produtores
alinhados à política
neoliberal,
ando a resistência d
o movimento
A situação se agrava ainda mais
ao constatarmos que o setor cultural
foi um dos mais afetados pelas
recentes alterações no mercado de
trabalho, com aumentos significativos
informalidade
. Reféns das
cas neoliberais, trabalhadores
/as
da cultura foram empurrados no
precipício do empreendedorismo.
Transformados em
icroempreendedores
Individuais
(MEI), tiveram sua condição de pessoa
física transmutada em pessoa jurídica,
num fenômeno conhecido como
do mercado de trabalho:
não são mais trabalhadores
/as
, mas sim
de serviço por conta
Segundo dados da última
Sistema de Informações
e Indicadores Culturais
do IBGE
2019), existiam no Brasil mais de
5,2
trabalhador
es/as da cultura
em 2018. Isso representa
va 5,7% do
es/as
ocupados no
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
país. E
ntre 2014 e 2018, houve uma
redução do percentual de
trabalhadores/as
com carteira
assinada no setor cultural, passando
de 45% para 34,6%. N
este
também houve aumento d
trabalhadores/as
por conta própria no
setor, passando de 32,5% para 44%,
com o grau de informalidade subindo
de 38,3% para 45,2%. Com isso,
2018, eram
2,4 milhões de
trabalhadores e trabalhadoras
cultura
na informalidade e sem
proteção social (IBGE,
2019).
A pandemia veio reforçar estas
tendências, aprofundando
contradições. Amplamente afetado, o
setor cultural sofre com a
impossibilidade de realizar sua
potencialidade máxima: reunir e
aglutinar pesso
as, produzindo contatos
culturais e gerando uma identidade
comum.
O alto contágio do vírus exigiu
medidas de isolamento social e
contenção das aglomerações.
foi um dos primeiros a parar e,
provavelmente, será um dos últimos
segmentos a retornar reg
suas atividades presenciais.
Assim, a experiência estética
presencial e coletiva de fruição da
cultura foi
comprometida e observ
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
ntre 2014 e 2018, houve uma
redução do percentual de
com carteira
assinada no setor cultural, passando
este
período
também houve aumento d
e
por conta própria no
setor, passando de 32,5% para 44%,
com o grau de informalidade subindo
de 38,3% para 45,2%. Com isso,
em
2,4 milhões de
trabalhadores e trabalhadoras
da
na informalidade e sem
2019).
A pandemia veio reforçar estas
tendências, aprofundando
suas
contradições. Amplamente afetado, o
setor cultural sofre com a
impossibilidade de realizar sua
potencialidade máxima: reunir e
as, produzindo contatos
culturais e gerando uma identidade
O alto contágio do vírus exigiu
medidas de isolamento social e
contenção das aglomerações.
O setor
foi um dos primeiros a parar e,
provavelmente, será um dos últimos
segmentos a retornar reg
ularmente
suas atividades presenciais.
Assim, a experiência estética
presencial e coletiva de fruição da
comprometida e observ
ou-
se uma mudança significativa no
campo, migrando rapidamente para os
meios digitais, com o consumo
individualizado d
os produtos e serviços
culturais. Neste contexto,
tendências de
individualização
digitalização do trabalho são
rapidamente impulsionadas na
pandemia, quebrando o cerne da
perspectiva democrática e popular da
cultura, restrita agora aos espaços
privados.
A
tendência à digitalização do
trabalho, observada largamente na
sociedade como um todo, tem um
peso específico no setor
Trabalhadoras/
es da cultura estão
sendo forçadas/os
a migrar para os
meios digitais, oferecendo produtos e
serviços cu
lturais na internet. A
questão é complexa e envolve
condições muito desiguais para a
transição digital, especialmente se
entendermos a dificuldade de
transformar esse trabalho cultural
digital em rendimentos concretos.
Está o segredo do fenômeno
das lives
durante a pandemia.
Todos/as
que tiveram seu trabalho
cultural presencial inviabilizado pelo
isolamento social se viram na
necessidade de produzir conteúdo
101
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
se uma mudança significativa no
campo, migrando rapidamente para os
meios digitais, com o consumo
os produtos e serviços
culturais. Neste contexto,
as
individualização
e de
digitalização do trabalho são
rapidamente impulsionadas na
pandemia, quebrando o cerne da
perspectiva democrática e popular da
cultura, restrita agora aos espaços
tendência à digitalização do
trabalho, observada largamente na
sociedade como um todo, tem um
peso específico no setor
cultural.
es da cultura estão
a migrar para os
meios digitais, oferecendo produtos e
lturais na internet. A
questão é complexa e envolve
condições muito desiguais para a
transição digital, especialmente se
entendermos a dificuldade de
transformar esse trabalho cultural
digital em rendimentos concretos.
Está o segredo do fenômeno
durante a pandemia.
que tiveram seu trabalho
cultural presencial inviabilizado pelo
isolamento social se viram na
necessidade de produzir conteúdo
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
digital. Evidentemente, as condições
de produção deste conteúdo são muito
desiguais, atravessando
desde cortes
mais gerais entre indústria cultural e
cultura popular, até cortes mais
específicos de gênero, raça e classe.
No entanto, a produção do conteúdo
digital é a primeira etapa da cadeia
produtiva, depois é preciso distribuir
este conteúdo e, p
or fim, realizar este
produto ou serviço em dinheiro,
obtendo uma renda.
O caso
do segmento
é emblemático, especialmente por se
tratar de um dos segmentos mais
estruturados do setor cultural
brasileiro. Pesquisa
d
Brasileira dos Compositores
da Escola Superior de P
ropaganda e
Marketing (ESPM) mostr
ou
da pandemia nas condições de
trabalho de
artistas da música.
pesquisa indicou
que 86%
respondentes tiveram
sua renda com a
música diminuí
da durante a pandemia,
sendo que 30% afirmou ter perdido
toda a renda proveniente da música. O
perfil de
respondentes expressa a
característica de baixa renda dos
trabalhadores e trabalhadoras da
música, com 66% ganhando até 3
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
digital. Evidentemente, as condições
de produção deste conteúdo são muito
desde cortes
mais gerais entre indústria cultural e
cultura popular, até cortes mais
específicos de gênero, raça e classe.
No entanto, a produção do conteúdo
digital é a primeira etapa da cadeia
produtiva, depois é preciso distribuir
or fim, realizar este
produto ou serviço em dinheiro,
do segmento
da música
é emblemático, especialmente por se
tratar de um dos segmentos mais
estruturados do setor cultural
d
a União
Brasileira dos Compositores
(UBC) e
ropaganda e
ou
o impacto
da pandemia nas condições de
artistas da música.
A
que 86%
de
sua renda com a
da durante a pandemia,
sendo que 30% afirmou ter perdido
toda a renda proveniente da música. O
respondentes expressa a
característica de baixa renda dos
trabalhadores e trabalhadoras da
música, com 66% ganhando até 3
salários mínimos de renda ind
mensal
(UBC; ESPM, 2020)
A
transição digital se apresenta
de forma desigual dentre
trabalhadoras/
es
apontando uma clara precarização do
trabalho cultural neste segmento.
Atualmente, o consumo de música via
internet é uma tendência con
aprofundada ainda mais na pandemia.
No entanto, 59% d
afirmaram não ter recebido nada em
direitos autorais pagos por gravadoras,
editoras ou agregadoras digitais
durante a pandemia
2020).
As lives
também expressa
ca
ráter desigual. Somente 13% d
respondentes fazia
pandemia, porém 43% afirm
começado a fazer durante a pandemia.
Assim, temos um total de 66% d
respondentes executando
entanto, 56% afirm
aram
qualquer renda proveniente das
apresentações ao vivo desde
começo d
a pandemia
2020)
. A partir dos dados
apresentados, podemos inferir que
houve uma grande precarização do
trabalho cultural no segmento da
música durante a pandemia
102
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
salários mínimos de renda ind
ividual
(UBC; ESPM, 2020)
.
transição digital se apresenta
de forma desigual dentre
as
es
da música,
apontando uma clara precarização do
trabalho cultural neste segmento.
Atualmente, o consumo de música via
internet é uma tendência con
solidada,
aprofundada ainda mais na pandemia.
No entanto, 59% d
e respondentes
afirmaram não ter recebido nada em
direitos autorais pagos por gravadoras,
editoras ou agregadoras digitais
durante a pandemia
(UBC; ESPM,
também expressa
m seu
ráter desigual. Somente 13% d
e
respondentes fazia
m lives antes da
pandemia, porém 43% afirm
aram ter
começado a fazer durante a pandemia.
Assim, temos um total de 66% d
e
respondentes executando
lives, no
aram
não receber
qualquer renda proveniente das
apresentações ao vivo desde
o
a pandemia
(UBC; ESPM,
. A partir dos dados
apresentados, podemos inferir que
houve uma grande precarização do
trabalho cultural no segmento da
música durante a pandemia
, com
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
redução significativa dos ganhos d
trabalhadoras/es
da música no Brasil.
P
ara além disso,
modificação profunda da cultura, não
em sua perspectiva mais específica
da produção cultural, mas em
perspectiva antropológica mais ampla,
da
cultura enquanto modo de vida. O
isolamento social trouxe alterações
radicais no modo de vida das pessoas,
impactando seus afazeres cotidianos e
suas necessidades vitais, como
moradia, transporte, comunicação,
lazer e, também,
os processos de
trabalho em
todos os setores
econômicos. Quem pode exercer o
direito ao isolamento, sofre a
imposição do trabalho remoto, tendo
que transformar,
repentinamente
em espaço de trabalho e produção.
Refugiadas em casa, as
pessoas descobriram o caráter
essencial da produção cultural em
suas vidas. Como manter a sanidade
sem ouvir música? Como aproveitar
um momento em família sem um
filme? Como enfrentar a barbárie de
centenas de mortes diárias sem um
l
ivro? Como viver sem dança, sem
teatro, sem poesia? No entanto, esta
centralidade da produção cultural na
pandemia não foi valorizada pelo
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
redução significativa dos ganhos d
e
da música no Brasil.
ara além disso,
temos uma
modificação profunda da cultura, não
em sua perspectiva mais específica
da produção cultural, mas em
uma
perspectiva antropológica mais ampla,
cultura enquanto modo de vida. O
isolamento social trouxe alterações
radicais no modo de vida das pessoas,
impactando seus afazeres cotidianos e
suas necessidades vitais, como
moradia, transporte, comunicação,
os processos de
todos os setores
econômicos. Quem pode exercer o
direito ao isolamento, sofre a
imposição do trabalho remoto, tendo
repentinamente
, o lar
em espaço de trabalho e produção.
Refugiadas em casa, as
pessoas descobriram o caráter
essencial da produção cultural em
suas vidas. Como manter a sanidade
sem ouvir música? Como aproveitar
um momento em família sem um
filme? Como enfrentar a barbárie de
centenas de mortes diárias sem um
ivro? Como viver sem dança, sem
teatro, sem poesia? No entanto, esta
centralidade da produção cultural na
pandemia não foi valorizada pelo
poder público. T
trabalhadoras da cultura
como podem
a maior crise da história
no setor cultural.
2. Pandemia
e trabalho
Baixada Fluminense
A chegada da Covid
Brasil desnudou algo que muitos
brasileiros/as
vivenciam diariamente:
as disparidades socioespaciais e
econômicas.
Todavia
claro logo de início. Com a
promulgação do isolamento social no
Rio de Janeiro, as primeiras
informações que circulavam nos
grandes meios de comunicação
anunciavam que o vírus chegou ao
Brasil através dos ricos; e, também,
que tinha um caráter democrático. Ou
seja, que ele não fazia
suas vítimas, sendo visto como um
fenômeno que atinge a todos
mesma forma,
permitindo prevenção e
tratamento igualitários. Deve
que esta análise não leva em
consideração a realidade das
periferias, das favelas e,
particularmente,
Fluminense.
P
ensar a Baixada Fluminense
requer empreender um esforço de
103
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
rabalhadores e
trabalhadoras da cultura
enfrentam
a maior crise da história
e trabalho
cultural na
Baixada Fluminense
A chegada da Covid
-19 no
Brasil desnudou algo que muitos
/as
vivenciam diariamente:
as disparidades socioespaciais e
Todavia
, isso não ficou
claro logo de início. Com a
promulgação do isolamento social no
Rio de Janeiro, as primeiras
informações que circulavam nos
grandes meios de comunicação
anunciavam que o vírus chegou ao
Brasil através dos ricos; e, também,
que tinha um caráter democrático. Ou
seja, que ele não fazia
escolha de
suas vítimas, sendo visto como um
fenômeno que atinge a todos
/as da
permitindo prevenção e
tratamento igualitários. Deve
-se dizer
que esta análise não leva em
consideração a realidade das
periferias, das favelas e,
particularmente,
da Baixada
ensar a Baixada Fluminense
requer empreender um esforço de
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
analisar algumas características que a
difere das áreas centrais e nobres do
estado. Destarte, o primeiro passo
fundamental é avaliar
sociabilidade, isto é, pensar o
co
tidiano, os fluxos, encontros, festas,
resistência dos corpos, resolução de
problemas, no tempo e no espaço; é
entender a rua e o convívio como
abrigo para além dos metros
quadrados da casa (RAMOS, 2003).
A sociabilidade que se conserva
nessa área difere
bastante da
sociabilidade dentro dos “enclaves
fortificados”
(CALDEIRA, 1997)
presentes nas áreas nobres
cariocas.E
nquanto um grupo
pode se isolar dentro de casa e
desfrutar d
os equipamentos
disponíveis
no interior de condomínios
fechados, os morado
res da Baixada
não possuem essa possibilidade,
que sua relação com a rua está ligada
à condição de
trabalhador
periférico/a.
A noção de periferia, como
pontuou Kowarick (1987), é
caracterizada pelo espaço geográfico
onde se sobressai um conjunto de
ca
rências ali observado e o
encontrado em outro lugar: carência
de serviços públicos,
de equipamentos
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
analisar algumas características que a
difere das áreas centrais e nobres do
estado. Destarte, o primeiro passo
fundamental é avaliar
sua
sociabilidade, isto é, pensar o
tidiano, os fluxos, encontros, festas,
resistência dos corpos, resolução de
problemas, no tempo e no espaço; é
entender a rua e o convívio como
abrigo para além dos metros
quadrados da casa (RAMOS, 2003).
A sociabilidade que se conserva
bastante da
sociabilidade dentro dos “enclaves
(CALDEIRA, 1997)
presentes nas áreas nobres
nquanto um grupo
social
pode se isolar dentro de casa e
os equipamentos
no interior de condomínios
res da Baixada
não possuem essa possibilidade,
que sua relação com a rua está ligada
trabalhador
/a
A noção de periferia, como
pontuou Kowarick (1987), é
caracterizada pelo espaço geográfico
onde se sobressai um conjunto de
rências ali observado e o
encontrado em outro lugar: carência
de equipamentos
culturais, de urbanização,
carências
econômica
de trabalho. A noção de cidade
dormitório surgiu como síntese dessas
carências e das
grandes distâncias
percorridas diariamente entre o
de moradia e trabalho. Diferente das
áreas nobres, a ocupação do território
da Baixad
a Fluminense
população
pobre ocorreu sem apoio
estatal. Logo, converteu
provedora
de trabalhadores
precarizados/as
para
intensificando
a metropolização no
e
stado (SOUZA, 2014).
Pel
o caráter periférico do
território,
duas situações
para o morador da Baixada
Fluminense. Primeir
trabalhadores que
vão para a capital
são os mais expostos ao risco de
contaminação pela
Covid
circulação entre os
distância espacial entre
trabalho
8
, aumentando o potencial da
transmissão do vírus (RAMOS, 2020).
8
Segundo o censo do IBGE de 2010, dentre
todas as cidades do Brasil, Japeri é a que tem
o maior índice de trabalhadores que levam
mais de duas ho
ras para chegar ao local de
trabalho. Outros dois municípios da Baixada
Fluminense encabeçam a lista de demora para
chegar ao trabalho: Queimados (3ª posição) e
Nova Iguaçu (4ª posição).
104
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
culturais, de urbanização,
além de
econômica
s e de mercado
de trabalho. A noção de cidade
-
dormitório surgiu como síntese dessas
grandes distâncias
percorridas diariamente entre o
s locais
de moradia e trabalho. Diferente das
áreas nobres, a ocupação do território
a Fluminense
pela
pobre ocorreu sem apoio
estatal. Logo, converteu
-se em
de trabalhadores
/as
para
a capital,
a metropolização no
stado (SOUZA, 2014).
o caráter periférico do
duas situações
se colocam
para o morador da Baixada
Fluminense. Primeir
a, os
vão para a capital
são os mais expostos ao risco de
Covid
-19, devido à
municípios e à
distância espacial entre
moradia e
, aumentando o potencial da
transmissão do vírus (RAMOS, 2020).
Segundo o censo do IBGE de 2010, dentre
todas as cidades do Brasil, Japeri é a que tem
o maior índice de trabalhadores que levam
ras para chegar ao local de
trabalho. Outros dois municípios da Baixada
Fluminense encabeçam a lista de demora para
chegar ao trabalho: Queimados (3ª posição) e
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
Segunda,
os moradores da Baixada
Fluminense
que trabalham na
região estão
principalmente
empregados em trabalhos informais,
em condições precariza
das
com suas mercadorias pelas ruas
transportes públicos
, se expondo
também ao vírus.
Desde os anos 1990 uma
tendência de
destruição do modelo
fordista-keynesiano
no mundo do
trabalho,
substituído pelos distintos
modos de terceirização, informalidade
e precarização.
Com isso,
informalidade deixa de ser a exceção
para tendencialmente tornar
e a precarização passa
a ser o centro
da dinâmica do capitalismo flexível”
(ANTUNES; DRUCK, 2015, p. 21).
Com a pandemia, houve
aumento do
desemprego e
da informalidade
impactos mais severos se dão em
territórios periféricos, como
Fluminense.
Assim, a
sociabilid
relação com a rua do povo da Baixada
Fluminense
são marca
condição periférica
do território
moradores, imersos em uma
pandemia de carências, com o
coronavírus se encontram em uma
encruzilhada: escolher entre trabalhar
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
os moradores da Baixada
que trabalham na
própria
principalmente
empregados em trabalhos informais,
das
, circulando
com suas mercadorias pelas ruas
e
, se expondo
Desde os anos 1990 uma
destruição do modelo
no mundo do
substituído pelos distintos
modos de terceirização, informalidade
Com isso,
“a
informalidade deixa de ser a exceção
para tendencialmente tornar
-se regra,
a ser o centro
da dinâmica do capitalismo flexível”
(ANTUNES; DRUCK, 2015, p. 21).
aumento do
da informalidade
, cujos
impactos mais severos se dão em
territórios periféricos, como
a Baixada
sociabilid
ade e a
relação com a rua do povo da Baixada
são marca
das pela
do território
. Os
moradores, imersos em uma
pandemia de carências, com o
coronavírus se encontram em uma
encruzilhada: escolher entre trabalhar
burlando o isol
amento social
correndo o risco de se contaminar; ou
não trabalhar e morrer de fome devido
à falta de assistência do Estado.
Tudo iss
o reunido respalda a
precarização da vida social do ser
periférico. Ess
a "abrange a
precariedade do direito, pois a maiori
dos sujeitos não consegue ter acesso
aos direitos que lhe foram garantidos
constitucionalmente" (JORDÃO;
STAMPA, 2015, p. 319). E isso vai
além dos direitos trabalhistas, inclui
direito aos serviços públicos, ao lazer
e à cultura. Nesse sentido, é
fundam
ental destacar a
trabalhadores/
as da cultura
Fluminense, analisa
ndo
pandemia em suas atividades.
Durante os anos 1980 e 1990, a
Baixada Fluminense vivenciou uma
proliferação de instituições ligadas à
cultura que, em
sua maioria, possuíam
relações com os movimentos sociais
que floresciam na região
época, a
cultura na
entendida como um meio para se
atingir um fim, seja um ato político ou
de resistência. Na década de 2010,
sobressaiu-
se na região o
ent
endimento da cultura como um fim
em si, deixando de ser um meio para
105
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
amento social
e
correndo o risco de se contaminar; ou
não trabalhar e morrer de fome devido
à falta de assistência do Estado.
o reunido respalda a
precarização da vida social do ser
a "abrange a
precariedade do direito, pois a maiori
a
dos sujeitos não consegue ter acesso
aos direitos que lhe foram garantidos
constitucionalmente" (JORDÃO;
STAMPA, 2015, p. 319). E isso vai
além dos direitos trabalhistas, inclui
direito aos serviços públicos, ao lazer
e à cultura. Nesse sentido, é
ental destacar a
categoria de
as da cultura
na Baixada
ndo
os efeitos da
pandemia em suas atividades.
Durante os anos 1980 e 1990, a
Baixada Fluminense vivenciou uma
proliferação de instituições ligadas à
sua maioria, possuíam
relações com os movimentos sociais
que floresciam na região
. Nessa
cultura na
Baixada era
entendida como um meio para se
atingir um fim, seja um ato político ou
de resistência. Na década de 2010,
se na região o
endimento da cultura como um fim
em si, deixando de ser um meio para
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
alcançar outros objetivos
, a cultura
pensada como um
produto
2012).
A lógica produtivista imposta
através dos editais auxiliou nes
mudança de entendimento devido
exigências impostas, tais como metas
e atividades obrigatórias a cumprir.
Outro fator a ser mencionado sobre
tais políticas de incentivo é que estas
beneficiam apenas uma seleta parcela
do setor cultural (
grupos e artistas
estruturados e consagrados
a concentrar a geração de renda, o
potencial econômico e as estratégias
de marketing e captação de recursos.
De acordo com Tommasi (2013), as
regras dos editais constituem um
verdadeiro filtro que pode impedir
artistas que não são regularizados, ou
não dominam as normas, de
conseguirem financiamento.
Assim sendo,
tal gica
para a apropriação capitalista e
mercantilização
da "cultura de
periferia", isto é,
da cultura produzida
em áreas periféricas,
porém
industrializada e exporta
da para além
de seu território
. Por outro lado, com
essa apropriação
pelo mercado
região periférica fica conhecida não
apenas pelas
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
, a cultura
foi
produto
(ENNE,
A lógica produtivista imposta
através dos editais auxiliou nes
sa
mudança de entendimento devido
às
exigências impostas, tais como metas
e atividades obrigatórias a cumprir.
Outro fator a ser mencionado sobre
tais políticas de incentivo é que estas
beneficiam apenas uma seleta parcela
grupos e artistas
estruturados e consagrados
), de forma
a concentrar a geração de renda, o
potencial econômico e as estratégias
de marketing e captação de recursos.
De acordo com Tommasi (2013), as
regras dos editais constituem um
verdadeiro filtro que pode impedir
artistas que não são regularizados, ou
não dominam as normas, de
conseguirem financiamento.
tal gica
contribui
para a apropriação capitalista e
a
da "cultura de
da cultura produzida
porém
moldada,
da para além
. Por outro lado, com
pelo mercado
, a
região periférica fica conhecida não
costumeiras
marginalidade
e violência
associadas
, mas também se agrega
uma visão “positiva”
de cultura.
Desse modo, o que se
evidencia a partir da noção de periferia
é que as tendências e problemas que
atingem o setor em âmbito nacional
chegam na Baixada Fluminense de
forma potencializada, sem, no entanto,
enfrentar formas institucionais de
resistência
. Porém, apesar da
mercantilização e do distanciamento
recente,
o que se observa
reaproximação entre produção cultural
e movimentos sociais na Baixada
Fluminense em tempos de pandemia.
3. Precarização do trabalho cultural
na Baixada Fluminense
Em 14 de março de 2020,
quando começou a proibição de
funcionamento dos espaços culturais,
shows, exposições, saraus, teatros e
todas as demais atividades culturais,
esse importante setor da economia,
conf
orme demonstrado anteriormente,
aponta para o colap
contexto que o Observatório de
Economia Criativa da Bahia (OBEC
BA) articulou, inicialmente, um grupo
de pesquisadores da Universidade
106
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
e violência
a ela
, mas também se agrega
de polo produtor
Desse modo, o que se
evidencia a partir da noção de periferia
é que as tendências e problemas que
atingem o setor em âmbito nacional
chegam na Baixada Fluminense de
forma potencializada, sem, no entanto,
enfrentar formas institucionais de
. Porém, apesar da
mercantilização e do distanciamento
o que se observa
hoje é uma
reaproximação entre produção cultural
e movimentos sociais na Baixada
Fluminense em tempos de pandemia.
3. Precarização do trabalho cultural
na Baixada Fluminense
Em 14 de março de 2020,
quando começou a proibição de
funcionamento dos espaços culturais,
shows, exposições, saraus, teatros e
todas as demais atividades culturais,
esse importante setor da economia,
orme demonstrado anteriormente,
aponta para o colap
so. É nesse
contexto que o Observatório de
Economia Criativa da Bahia (OBEC
-
BA) articulou, inicialmente, um grupo
de pesquisadores da Universidade
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
Federal do Recôncavo da Bahia
(UFRB), Universidade Federal da
Bahia (UFBA) e Universidade Estadual
da Bahia (
UNEB), para realizar a
pesquisa “Impactos da Covid
Economia Criativa” na Bahia.
Segundo Canedo
et al
posteriormente, a equipe do OBEC
percebeu que o instrumento de
pesquisa que estava sendo
desenvolvido poderia ser replicado em
outros
estados da federação. Assim,
buscaram ampliar o escopo e
convidaram para integrar o grupo,
pesquisadores/as da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS),
Escola Superior de
Propaganda e Marketing do Rio de
Janeiro (ESPM/RJ), Instituto Federal
do Ri
o de Janeiro (IFRJ) e
Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ)
9
.
3.1. Notas metodológicas da
pesquisa
A equipe do OBEC
produzir dois instrumentos de coleta
de dados: um direcionado aos
9
Os/as autores/as do artigo participaram da
fase de aplicação da pesq
uisa nacional e,
após essa fase, se articularam em um grupo
de pesquisa denominado OBaC
Observatório Baixada Cultural.
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
Federal do Recôncavo da Bahia
(UFRB), Universidade Federal da
Bahia (UFBA) e Universidade Estadual
UNEB), para realizar a
pesquisa “Impactos da Covid
-19 na
Economia Criativa” na Bahia.
et al
. (2020a),
posteriormente, a equipe do OBEC
-BA
percebeu que o instrumento de
pesquisa que estava sendo
desenvolvido poderia ser replicado em
estados da federação. Assim,
buscaram ampliar o escopo e
convidaram para integrar o grupo,
pesquisadores/as da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul
Escola Superior de
Propaganda e Marketing do Rio de
Janeiro (ESPM/RJ), Instituto Federal
o de Janeiro (IFRJ) e
Universidade Federal Rural do Rio de
3.1. Notas metodológicas da
A equipe do OBEC
-BA decidiu
produzir dois instrumentos de coleta
de dados: um direcionado aos
Os/as autores/as do artigo participaram da
uisa nacional e,
após essa fase, se articularam em um grupo
de pesquisa denominado OBaC
indivíduos (trabalhadores e
trabalhadoras da cultura) e, outro, para
as organizações, entendidas como
coletivos culturais, produtoras
culturais, grupos culturais e demais
instituições formais ou informais que
abarcam a Economia Criativa. O
questionário foi
dividido em três
seções. Na primeira, o objetivo foi
registrar o impacto da Covid
produções culturais, na renda do
trabalho cultural e nas instituições
relacionadas à cultura. Na segunda
seção, buscou-
se entender as
estratégias utilizadas tanto por
trabalhadoras/es da cultura, como
pelas organizações para
sobreviverem. Por fim, o OBEC
buscou entender a relação de
indivíduos e organizações com os
órgãos de financiamento público
municipal, estadual e federal antes da
pandemia (CANEDO
Ainda segundo Canedo
(2020ª, p. 11
), após a sua construção:
o questionário passou por duas
fases de teste. Na primeira, foi
enviado para pesquisadores e
agentes culturais experientes que
fizeram uma série de
recomendações e sugestões.
Posteriorme
nte, entre os dias 27
de março e 17 de abril, foi
disponibilizado para o público e
107
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
indivíduos (trabalhadores e
trabalhadoras da cultura) e, outro, para
as organizações, entendidas como
coletivos culturais, produtoras
culturais, grupos culturais e demais
instituições formais ou informais que
abarcam a Economia Criativa. O
dividido em três
seções. Na primeira, o objetivo foi
registrar o impacto da Covid
-19 nas
produções culturais, na renda do
trabalho cultural e nas instituições
relacionadas à cultura. Na segunda
se entender as
estratégias utilizadas tanto por
trabalhadoras/es da cultura, como
pelas organizações para
sobreviverem. Por fim, o OBEC
-BA
buscou entender a relação de
indivíduos e organizações com os
órgãos de financiamento público
municipal, estadual e federal antes da
et al., 2020a).
Ainda segundo Canedo
et al.
), após a sua construção:
o questionário passou por duas
fases de teste. Na primeira, foi
enviado para pesquisadores e
agentes culturais experientes que
fizeram uma série de
recomendações e sugestões.
nte, entre os dias 27
de março e 17 de abril, foi
disponibilizado para o público e
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
recebeu respostas de 392
indivíduos e 255 organizações. A
análise dos resultados dos
primeiros 22 dias de aplicação
contribuiu para a exclusão e a
reformulação de algumas
qu
estões, de modo a facilitar a
coleta e a leitura dos dados. O
formato final do questionário de
indivíduos possui 45 questões,
sendo 32 questões obrigatórias e
13 opcionais, divididas em 30
fechadas e 15 questões abertas.
o de organizações possui 37
ques
tões, sendo 23 obrigatórias e
14 opcionais, divididas em 27
fechadas e 10 questões abertas.
No total, a pesquisa ficou
disponível entre os dias 27 de
março e 23 de julho e recebeu
2.608 contribuições, sendo 1.639
respostas de indivíduos e 969 de
organizaçõ
es. A etapa seguinte
foi dedicada ao processo de
validação da base de dados. As
respostas com campos
completamente vazios e/ou sem
informações centrais (estado e
setor de a
tuação) foram
excluídas.
Dado o momento pandêmico,
não foi possível uma aplicação
presencial do instrumento de coleta de
dados. Assim, a ativação das redes
institucionais e pessoais foram as
principais formas do questionário
chegar aos respondentes.
Assim, a partir do banco de
dados primários cedido pelo OBEC
BA, nós, pesquisadores/as d
realizamos um recorte selecionando
apenas respondentes que se
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
recebeu respostas de 392
indivíduos e 255 organizações. A
análise dos resultados dos
primeiros 22 dias de aplicação
contribuiu para a exclusão e a
reformulação de algumas
estões, de modo a facilitar a
coleta e a leitura dos dados. O
formato final do questionário de
indivíduos possui 45 questões,
sendo 32 questões obrigatórias e
13 opcionais, divididas em 30
fechadas e 15 questões abertas.
o de organizações possui 37
tões, sendo 23 obrigatórias e
14 opcionais, divididas em 27
fechadas e 10 questões abertas.
No total, a pesquisa ficou
disponível entre os dias 27 de
março e 23 de julho e recebeu
2.608 contribuições, sendo 1.639
respostas de indivíduos e 969 de
es. A etapa seguinte
foi dedicada ao processo de
validação da base de dados. As
respostas com campos
completamente vazios e/ou sem
informações centrais (estado e
tuação) foram
Dado o momento pandêmico,
não foi possível uma aplicação
presencial do instrumento de coleta de
dados. Assim, a ativação das redes
institucionais e pessoais foram as
principais formas do questionário
Assim, a partir do banco de
dados primários cedido pelo OBEC
-
BA, nós, pesquisadores/as d
o OBaC,
realizamos um recorte selecionando
apenas respondentes que se
identificaram como moradoras/
algum dos treze municípios que
compõem a região da Baixada
Fluminense. Nosso objetivo foi
produzir informações sobre a região,
como possibilidade de co
impactos da Covid
cultural em diferentes territórios do
país. Em uma primeira análise,
avaliamos as informações que serão
apresentados a seguir.
Antes, porém, cabe informar
que, na Baixada Fluminense, a
pesquisa validou as respostas d
trabalhadores e trabalhadoras da
cultura de quase todos os municípios
da região, à exceção de Paracambi.
em relação às organizações,
obtivemos a validação de 39
questionários oriundos da Baixada
Fluminense. Entretanto, ficamos sem a
participação d
e organizações de
quatro municípios, a saber:
Guapimirim, Magé, Nilópolis e
Paracambi.
3.2. Perfil das
/ostrabalhadoras/es da
cultura n
a Baixada Fluminense
De acordo
com Anne (2013) e
diversos outros autores
10
Para as concepções simbólicas, culturais,
políticas, econômicas e físicas sobre a
108
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- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
identificaram como moradoras/
ES de
algum dos treze municípios que
compõem a região da Baixada
Fluminense. Nosso objetivo foi
produzir informações sobre a região,
como possibilidade de co
mparar os
impactos da Covid
-19 no campo
cultural em diferentes territórios do
país. Em uma primeira análise,
avaliamos as informações que serão
apresentados a seguir.
Antes, porém, cabe informar
que, na Baixada Fluminense, a
pesquisa validou as respostas d
e 116
trabalhadores e trabalhadoras da
cultura de quase todos os municípios
da região, à exceção de Paracambi.
em relação às organizações,
obtivemos a validação de 39
questionários oriundos da Baixada
Fluminense. Entretanto, ficamos sem a
e organizações de
quatro municípios, a saber:
Guapimirim, Magé, Nilópolis e
/ostrabalhadoras/es da
a Baixada Fluminense
com Anne (2013) e
diversos outros autores
10
, o conceito
Para as concepções simbólicas, culturais,
políticas, econômicas e físicas sobre a
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
“Baixada Fluminense” é uma
expressão polissêmica e depende do
interesse de quem está utilizando.
Como pesquisadoras e pesquisadores
que moram e/ou atuam na região,
utilizaremos a mesma configuração
territorial reconhecida pelo IBGE
facilitando as comparações com outras
fontes de da
dos secundários e
p
ublicações oficiais. Nesse sentido, a
Baixada Fluminense, conforme pode
ser visto na F
igura 1, é composta
pelos municípios de Belford Roxo,
Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí,
Japeri, Magé, Mesquita, Nova Iguaçu,
Nilópolis, Paracambi,
Queimados, São
João de Meriti e Seropédica, todos
inseridos na Região Metropolitana do
Rio de Janeiro.
Baixada Fluminense ver OLIVEIRA (2004),
TORRES (2006), entre outros.
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
“Baixada Fluminense” é uma
expressão polissêmica e depende do
interesse de quem está utilizando.
Como pesquisadoras e pesquisadores
que moram e/ou atuam na região,
utilizaremos a mesma configuração
territorial reconhecida pelo IBGE
,
facilitando as comparações com outras
dos secundários e
ublicações oficiais. Nesse sentido, a
Baixada Fluminense, conforme pode
igura 1, é composta
pelos municípios de Belford Roxo,
Duque de Caxias, Guapimirim, Itaguaí,
Japeri, Magé, Mesquita, Nova Iguaçu,
Queimados, São
João de Meriti e Seropédica, todos
inseridos na Região Metropolitana do
Baixada Fluminense ver OLIVEIRA (2004),
Figura 1: Mapa da Baixada Fluminense
Fonte: e
laboração própria
Na pesquisa nacional tivemos
um total de 2.608 respostas, sendo
1.639 de trabalhado
ras/
organizações (CANEDO
e, dess
as, 1.910 foram validadas e
analisadas. Fazendo um recorte em
direção à Baixada Fluminense, a
pesquisa validou
os questionários
116 trabalhadoras/
es da cultura de
quase todos os municí
exceção de
Paracambi. em relação
às o
rganizações, aqui entendidas
como instituições formais e informais
do setor cultural e grupos culturais,
obtivemos a validação de 39
questionários oriundos da Baixada
Fluminense. Entretanto, ficamos se
participação de
o
quatro municípios, a saber:
11
Agradecemos a Igor Guimarães pela
produção das figuras, gráficos e tabelas
apresentadas nesse artigo, feitos a partir do
banco de dados disponibilizado pela equipe do
OBEC-BA.
109
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
Figura 1: Mapa da Baixada Fluminense
laboração própria
11
.
Na pesquisa nacional tivemos
um total de 2.608 respostas, sendo
ras/
es e 969 de
organizações (CANEDO
et al. 2020b),
as, 1.910 foram validadas e
analisadas. Fazendo um recorte em
direção à Baixada Fluminense, a
os questionários
de
es da cultura de
quase todos os municí
pios região, à
Paracambi. em relação
rganizações, aqui entendidas
como instituições formais e informais
do setor cultural e grupos culturais,
obtivemos a validação de 39
questionários oriundos da Baixada
Fluminense. Entretanto, ficamos se
m a
o
rganizações de
quatro municípios, a saber:
Agradecemos a Igor Guimarães pela
produção das figuras, gráficos e tabelas
apresentadas nesse artigo, feitos a partir do
banco de dados disponibilizado pela equipe do
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
Guapimirim, Magé, Nilópolis e
Paracambi.
Avançando em busca de maior
aproximação ao tema da precarização
do trabalho cultural, analisamos os
itens dos questionários referentes ao
setor de atuação de
respondentes da
Tabela 1:
Principal setor de atuação
Principais Setores
Música
Cinema e Audiovisual
Produção Cultural
Teatro
Artes Visuais
Artesanato
Dança
Circo
Livro, Leitura e Literatura
Arte de Rua
Artes Digitais
Moda
Cultura e Juventude
Cultura LGBTQI+
Culturas Identitárias (outras)
Design
Festas e Celebrações
Fotografia
Patrimônio Imaterial
Total
Fonte:
Nesse ponto,
cabe fazer um
paralelo com o mapeamento dos
grupos criativos da Baixada
Fluminense realizado em 2015.
Segundo o relatório final do
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
Guapimirim, Magé, Nilópolis e
Avançando em busca de maior
aproximação ao tema da precarização
do trabalho cultural, analisamos os
itens dos questionários referentes ao
respondentes da
pesquisa. O setor de atuação mais
frequente entre
trabalhadoras
cultura foi Música com 19
organizações/grupos culturais foi o
setor de Produção Cultural com
20,5%.
Principal setor de atuação
indivíduos e organizações (%)
Ind.
Principais Setores
19,0
Produção Cultural
14,6
Livro, Leitura e Literatura
12,9
Cultura Popular
12,9
Música
8,6
Dança
8,6
Cultura de Matrizes Africanas
4,3
Gestão Cultural
3,4
Teatro
3,4
Artes Visuais
2,5
Cinema e Audiovisual
1,7
Culturas e Infância
1,7
Culturas e Juventude
0,9
Culturas LGBTQI+
0,9
Formação e Mediação
0,9
Moda
0,9
Arte de Rua
0,9
Total
0,9
0,9
100,0
Fonte:
OBaC (2021). Elaboração própria.
cabe fazer um
paralelo com o mapeamento dos
grupos criativos da Baixada
Fluminense realizado em 2015.
Segundo o relatório final do
Programa
Brasil Próximo
(2015),
municípios da Baixada Fluminense a
área musical também foi a primeira
colocada. Uma d
as hipóteses para a
crescente presença de grupos
110
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
pesquisa. O setor de atuação mais
trabalhadoras
/es da
cultura foi Música com 19
,0%. Entre as
organizações/grupos culturais foi o
setor de Produção Cultural com
indivíduos e organizações (%)
Org.
20,5
Livro, Leitura e Literatura
15,4
10,2
10,2
7,7
Cultura de Matrizes Africanas
5,1
5,1
5,1
2,6
2,6
2,6
2,6
2,6
2,6
2,6
2,5
100,0
(2015),
nos 13
municípios da Baixada Fluminense a
área musical também foi a primeira
as hipóteses para a
crescente presença de grupos
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
musicais nas áreas consideradas
periféricas é a maior utilização dos
recursos tecnológicos digitais para
diferentes fins e propósitos. Na área
musical, com softwares
para reprodução, gravação e c
de sons acessíveis ao público, hoje
diversos músicos conseguem gravar
suas canções e disponibilizá
através da internet em suas próprias
casas.
Retornando à análise dos
questionários, temos o setor de
cinema e audiovisual como o segundo
que mais
absorve força de trabalho da
cultura na Baixada Fluminense.
Podemos utilizar a mesma hipótese
sobre a democratização do acesso às
tecnologias digitais para tentar nos
aproximar dessa realidade.
Outro dado que chama atenção
na Tabela 1 é o percentual tanto
trabalhadoras/es
, como de
organizações
que atuam na Produção
Cultural. Temos visto desde os Jogos
Panamericanos de 2007 um aumento
na demanda por força de trabalho
especializada na área da produção
cultural. Ao mesmo tempo,
acompanhamos um aumento na
d
emanda de produtores culturais em
sistematizarem seus saberes junto ao
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
musicais nas áreas consideradas
periféricas é a maior utilização dos
recursos tecnológicos digitais para
diferentes fins e propósitos. Na área
específicos
para reprodução, gravação e c
riação
de sons acessíveis ao público, hoje
,
diversos músicos conseguem gravar
suas canções e disponibilizá
-las
através da internet em suas próprias
Retornando à análise dos
questionários, temos o setor de
cinema e audiovisual como o segundo
absorve força de trabalho da
cultura na Baixada Fluminense.
Podemos utilizar a mesma hipótese
sobre a democratização do acesso às
tecnologias digitais para tentar nos
aproximar dessa realidade.
Outro dado que chama atenção
na Tabela 1 é o percentual tanto
de
, como de
que atuam na Produção
Cultural. Temos visto desde os Jogos
Panamericanos de 2007 um aumento
na demanda por força de trabalho
especializada na área da produção
cultural. Ao mesmo tempo,
acompanhamos um aumento na
emanda de produtores culturais em
sistematizarem seus saberes junto ao
ensino formal, desde a última década
do século passado
necessidade,
imposta pelas leis de
incentivo fiscal,
de apresentação de
projetos culturais com orçamentos,
cronogramas
e prestação de contas,
seja pela oferta no
e
Janeiro de três cursos superiores em
Produção Cultural, percebemos que,
mesmo com a crise econômica, ainda
havia demanda por esse profissional
no mercado de trabalho.
Ao analisarmos a remuneração
média das/os
trabalhadora
cultura respondentes à pesquisa
encontramos informações que
corroboram o que nós,
pesquisadores/as
Fluminense, vivenciamos no cotidiano
de nossas atividades de pesquisa.
Cerca de 95
trabalhadoras/es
afirmaram receber
até três salários
mínimos
Gráfico 1
. Para termos um parâmetro
de comparação, nos dados agregados
para o país, Canedo
et al
12
A Universidade Federal Fluminense e a
Universidade Federal
da Bahia criaram os
primeiros cursos superiores de Produção
Cultural do país na segunda metade da
década de 1990, visando atender à demanda
por profissionais da área, tanto no setor
privado, como no setor público, principalmente
no Ministério da Cultura e
estaduais e municipais de cultura.
111
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
ensino formal, desde a última década
do século passado
12
. Seja pela
imposta pelas leis de
de apresentação de
projetos culturais com orçamentos,
e prestação de contas,
e
stado do Rio de
Janeiro de três cursos superiores em
Produção Cultural, percebemos que,
mesmo com a crise econômica, ainda
havia demanda por esse profissional
no mercado de trabalho.
Ao analisarmos a remuneração
trabalhadora
s/es da
cultura respondentes à pesquisa
encontramos informações que
corroboram o que nós,
da Baixada
Fluminense, vivenciamos no cotidiano
de nossas atividades de pesquisa.
Cerca de 95
,0% das/os
afirmaram receber
mínimos
, conforme o
. Para termos um parâmetro
de comparação, nos dados agregados
et al
. (2020b) nos
A Universidade Federal Fluminense e a
da Bahia criaram os
primeiros cursos superiores de Produção
Cultural do país na segunda metade da
década de 1990, visando atender à demanda
por profissionais da área, tanto no setor
privado, como no setor público, principalmente
nas secretarias
estaduais e municipais de cultura.
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
apresentam que 71,3% de
respondentes estão nessa faixa de
renda. na
faixa de renda até
salário
mínimo encontramos 63,8% d
Gráfico 1:
Rendimento médio mensal
Fonte:
Qualificando a informação sobre
a remuneração média dessa
trabalhadoras/es
da Baixada, cabe
ressaltar que 79,1% de
respondentes
tem o ensino superior completo ou em
andamento. Ou seja,
se trata de uma
força de trabalho qualificada, porém
com baixa remuneração
comparada
com as demais regiões do
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
apresentam que 71,3% de
respondentes estão nessa faixa de
faixa de renda até
1
mínimo encontramos 63,8% d
e
respondentes da Baixada Fluminense
muito acima do
dado nacional para
essa faixa, que
é de 31,2%.
Rendimento médio mensal
Baixada Fluminense (%)
Fonte:
OBaC (2021). Elaboração própria.
Qualificando a informação sobre
a remuneração média dessa
s/es
da Baixada, cabe
respondentes
tem o ensino superior completo ou em
se trata de uma
força de trabalho qualificada, porém
com baixa remuneração
, se
com as demais regiões do
país.
A baixa remuneração
não está relacionada ao tempo
dedicado à atuação no campo da
cultura, pois, segundo os dados
obtidos nos ques
tionários, 52,6% d
respondentes informaram dedicar 40
horas ou mais por semana
cultural de forma profissional.
112
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
respondentes da Baixada Fluminense
,
dado nacional para
é de 31,2%.
Baixada Fluminense (%)
A baixa remuneração
também
não está relacionada ao tempo
dedicado à atuação no campo da
cultura, pois, segundo os dados
tionários, 52,6% d
e
respondentes informaram dedicar 40
horas ou mais por semana
ao trabalho
cultural de forma profissional.
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
Tabela 2:
Quantidade de horas semanais
dedicadas ao trabalho cultural
Fluminense
Quantidade de horas
semanais
Até 14 horas
15 a 39 horas
40 a 44 horas
45 horas ou mais
Total
Fonte: OBaC (2021).
Elaboração
Corroborando a hipótese de
precarização do trabalho
Baixada Fluminense, não caus
surpresa os resultados que obtivemos
em relação à participação da renda
proveniente da atividade cultural na
renda total dessa
trabalhadoras/es
. Para 50
responden
tes da região, a atividade
cultural representa menos ou até, no
máximo, metade de s
ua remuneração,
enquanto o restante provém de outras
fontes. A
pesar de despenderem
muitas horas semanais na atividade
cultural, ess
a acaba não sendo
principal
fonte de renda
significa, por um lado,
um total de
horas trabalhadas semanalmente
supe
rior ao que deveria ser necessário
para sua reprodução social
outro lado, torna evidente o risco de
afastamento permanente des
profissionais de suas atividades
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
Quantidade de horas semanais
dedicadas ao trabalho cultural
– Baixada
%
12,9
34,5
22,4
30,2
100,0
Elaboração
própria.
Corroborando a hipótese de
cultural na
Baixada Fluminense, não caus
aram
surpresa os resultados que obtivemos
em relação à participação da renda
proveniente da atividade cultural na
renda total dessa
s/es
. Para 50
,0% de
tes da região, a atividade
cultural representa menos ou até, no
ua remuneração,
enquanto o restante provém de outras
pesar de despenderem
muitas horas semanais na atividade
a acaba não sendo
sua
fonte de renda
. O que
um total de
horas trabalhadas semanalmente
rior ao que deveria ser necessário
para sua reprodução social
, e, por
outro lado, torna evidente o risco de
afastamento permanente des
ses/as
profissionais de suas atividades
culturais,
caso os efeitos da crise
sanitária se agravem.
Outra variável
relação ao processo de precarização
do trabalho cultural na Baixada
Fluminense é a
chamada
das trabalhadoras e trabalhadores da
cultura. Isto
evidencia como o trabalho
cultural vem
sendo destituído de
direitos nessa
época neoliberal
instituições e
organizações
condicionado a contratação
detrabalhadores/as
MEIs, transferindo,
custo
de produção
trabalhadores/as,
agora
pessoas jurídicas
. A situação se
agravou ainda mais com as reform
trabalhistas
realizadas no Governo
Temer
e com a alta taxa de
desemprego
registrada
2015. As opções
de
trabalhadoras da cultura
diminuindo e crescendo o número de
MEIs, também na Baixada
Fluminense,
conforme podemos ver n
Gráfico 2, a seguir:
113
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(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
caso os efeitos da crise
Outra variável
importante em
relação ao processo de precarização
do trabalho cultural na Baixada
chamada
pejotização
das trabalhadoras e trabalhadores da
evidencia como o trabalho
sendo destituído de
época neoliberal
. As
organizações
têm
condicionado a contratação
culturais como
assim, parte do
de produção
para os/as
agora
enquanto
. A situação se
agravou ainda mais com as reform
as
realizadas no Governo
e com a alta taxa de
registrada
a partir de
de
trabalhadores e
trabalhadoras da cultura
m
diminuindo e crescendo o número de
MEIs, também na Baixada
conforme podemos ver n
o
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
Fonte:
O número expressivo de
organizações que se denominam
Associações sem fins
quando fazemos o
recorte territorial da
Baixada Fluminense, corrobora outras
pesquisas anteriormente realizadas na
região,
onde se observou o elevado
número de coletivos e grupos culturais
(
PROGRAMA BRASIL PRÓXIMO
2015). Porém, chama a
atenção que o
segundo tipo de organização seja MEI
(30,8%). Nos dados
nacionais
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
Gráfico 2: Tipo de Organização
Fonte:
OBaC (2021). Elaboração própria.
O número expressivo de
organizações que se denominam
Associações sem fins
lucrativos,
recorte territorial da
Baixada Fluminense, corrobora outras
pesquisas anteriormente realizadas na
onde se observou o elevado
número de coletivos e grupos culturais
PROGRAMA BRASIL PRÓXIMO
,
atenção que o
segundo tipo de organização seja MEI
nacionais
, o
percentual de organizaç
declarou MEI foi de 16,5%, ou seja, a
metade do
registrado n
Fluminense.
A
formalização dos chamados
empreendedores
pode ser avali
analisarmos su
a cobertura
previdenciária, ou seja,
seu
grau de proteção social. Na
Baixada Fluminense, apenas 37,9%
responderam que contribuem para a
previdência. É um dado preocupante,
114
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(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
percentual de organizaç
ões que se
declarou MEI foi de 16,5%, ou seja, a
registrado n
a Baixada
formalização dos chamados
pode ser avali
ada ao
a cobertura
previdenciária, ou seja,
um índice de
grau de proteção social. Na
Baixada Fluminense, apenas 37,9%
responderam que contribuem para a
previdência. É um dado preocupante,
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
pois demostra a fragilidade da
seguridade social n
a Baixada e
fortalece a percepção de precarização
do trabalho cultural na região.
Reforçando essa análise,
apresentamos os dados da pesquisa
referente à natureza da ocupação
das/os trabalhadoras/es da cultura da
Baixada Fluminense no período
anterior à pan
demia, isto é, até março
de 2020. Pode-
se observar, na Tabela
3, que 64,7% de respondentes
declaram trabalhar por conta própria,
como autônomo ou
freelancer
forma individual, e 8,6% se declararam
na mesma circunstância, porém
empregando outros profissi
disso, 8,6% eram empregados sem
carteira assinada e 5,2% eram
profissionais sem remuneração ou
voluntários.
Tabela 3:
Natureza da ocupação das/os
trabalhadoras/es da cultura em março
Baixada Fluminense
Ocupação / março
Conta
própria/autônomo/freelancer
(individual)
Conta própria/autônomo/freelancer
(empregando outros profissionais)
Empregado
sem carteira assinada
Serviço público (estatutária,
empregado público-
CLT e militar)
Empregado
com carteira assinada
Profissional sem
remuneração/voluntário
Total
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
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(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
pois demostra a fragilidade da
a Baixada e
fortalece a percepção de precarização
do trabalho cultural na região.
Reforçando essa análise,
apresentamos os dados da pesquisa
referente à natureza da ocupação
das/os trabalhadoras/es da cultura da
Baixada Fluminense no período
demia, isto é, até março
se observar, na Tabela
3, que 64,7% de respondentes
declaram trabalhar por conta própria,
freelancer
, de
forma individual, e 8,6% se declararam
na mesma circunstância, porém
empregando outros profissi
onais. Além
disso, 8,6% eram empregados sem
carteira assinada e 5,2% eram
profissionais sem remuneração ou
Natureza da ocupação das/os
trabalhadoras/es da cultura em março
Baixada Fluminense
%
própria/autônomo/freelancer
64,7
Conta própria/autônomo/freelancer
(empregando outros profissionais)
8,6
sem carteira assinada
8,6
CLT e militar)
6,9
com carteira assinada
6,0
5,2
100,0
Fonte: q
uestionários da pesquisa
Covid-
19 na Economia Criativa
p
rópria.
Podemos concluir, portanto, que
87,1% das/os trabalhadoras/es da
cultura que responderam à pesquisa
não possuíam vínculo empregatício
formal antes da pandemia. Resultado
um pouco acima dos dados da
pesquisa nacional, que registra 80,7%
sem vínculo formal (
2020b). Ambos expressam o alto grau
de informalidade do trabalho cultural,
índice importante de sua precarização
Vale destacar que es
muito acima dos 45,2% de
informalidade registrados no setor
cultural
em 2018 (IBGE, 2019),
indicando avanço da precarização do
trabalho cultural, especialmente na
Baixada Fluminense.
Nesse ponto, duas
hipóteses,
que se completam, para o
percentual tão elevado e díspar
apontado pelo IBGE. Conforme
apresentando na seção 1 desse artigo,
um
aumento da taxa de
desemprego em 2020 em todo o país
decorrente da crise econômica em
andamento e amplificada pelo impacto
da Covid-
19 nas atividades
econômicas. O grupo de
115
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(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
uestionários da pesquisa
Impactos da
19 na Economia Criativa
. Elaboração
rópria.
Podemos concluir, portanto, que
87,1% das/os trabalhadoras/es da
cultura que responderam à pesquisa
não possuíam vínculo empregatício
formal antes da pandemia. Resultado
um pouco acima dos dados da
pesquisa nacional, que registra 80,7%
sem vínculo formal (
CANEDO et al.,
2020b). Ambos expressam o alto grau
de informalidade do trabalho cultural,
índice importante de sua precarização
.
Vale destacar que es
ses dados estão
muito acima dos 45,2% de
informalidade registrados no setor
em 2018 (IBGE, 2019),
indicando avanço da precarização do
trabalho cultural, especialmente na
Nesse ponto, duas
que se completam, para o
percentual tão elevado e díspar
do
apontado pelo IBGE. Conforme
apresentando na seção 1 desse artigo,
aumento da taxa de
desemprego em 2020 em todo o país
decorrente da crise econômica em
andamento e amplificada pelo impacto
19 nas atividades
econômicas. O grupo de
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
trabalhadoras/ES
da cultura,
provavelmente, foi o que mais teve
necessidade de
expressar suas
opiniões sobre esse impacto quando a
pesquisa foi divulgada a partir de
março de 2020.
3.3
. Impactos da pandemia no
trabalho cultural d
a Baixada
Fluminense
Com o campo da cultura mais
fragilizado com a pandemia,
procuramos analisar a
percepção do
impacto sobre o trabalho cultural. Ao
longo do período de respostas do
questionário, observa
m
modificação de percepção dos agentes
culturais e criativos em relação as
suas próprias atividades e quais
consequências poderiam trazer.
Assim,
foi solicitado aos respondentes
que informassem a perspectiva de
adiamento ou cancelamento das
atividades. Fazendo um recorte dos
questionários respondidos por
residentes na Baixada Fluminense,
tivemos 96 respostas de
trabalhadoras/es
e 29 de
organizações.
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
da cultura,
provavelmente, foi o que mais teve
expressar suas
opiniões sobre esse impacto quando a
pesquisa foi divulgada a partir de
. Impactos da pandemia no
a Baixada
Com o campo da cultura mais
fragilizado com a pandemia,
percepção do
impacto sobre o trabalho cultural. Ao
longo do período de respostas do
m
os uma
modificação de percepção dos agentes
culturais e criativos em relação as
suas próprias atividades e quais
consequências poderiam trazer.
foi solicitado aos respondentes
que informassem a perspectiva de
adiamento ou cancelamento das
atividades. Fazendo um recorte dos
questionários respondidos por
residentes na Baixada Fluminense,
tivemos 96 respostas de
e 29 de
A seguir, p
odemos observar na
Tabela 4 que, dess
e total, a maioria
informou que teve entre 76% e 100%
das atividades adiadas ou canceladas
nos meses de abril, maio e junho.
Quando perguntados sobre qual a
previsão de adiamento ou
cancelamento de ativida
segundo semestre de 2020, os
percentuais caem abruptamente. Uma
das explicações é que ao se ter maior
informação sobre a pandemia e que a
mesma iria ser vencida com a
produção e aplicação d
contratos deixam de ser firmados. O
impac
to, na realidade, é bem superior
à percepção inicial, conforme pudemos
observar diretamente nas atividades
culturais no decorrer do ano de 2020.
116
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(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
odemos observar na
e total, a maioria
informou que teve entre 76% e 100%
das atividades adiadas ou canceladas
nos meses de abril, maio e junho.
Quando perguntados sobre qual a
previsão de adiamento ou
cancelamento de ativida
des no
segundo semestre de 2020, os
percentuais caem abruptamente. Uma
das explicações é que ao se ter maior
informação sobre a pandemia e que a
mesma iria ser vencida com a
produção e aplicação d
a vacina, novos
contratos deixam de ser firmados. O
to, na realidade, é bem superior
à percepção inicial, conforme pudemos
observar diretamente nas atividades
culturais no decorrer do ano de 2020.
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
Tabela 4:
Percentual de atividades adiadas, canceladas
Percentual de atividades
adiadas, canceladas ou
com previsão de
cancelamento
Tipo de respondente
Até 25% das atividades
Indivíduos
Organizações
Entre 26% e 50% das
atividades
Indivíduos
Organizações
Entre 51% e 75% das
atividades
Indivíduos
Organizações
Entre 76% e 100% das
atividades
Indivíduos
Organizações
Não se aplica
Indivíduos
Organizações
Não tenho como estimar
Indivíduos
Organizações
Nenhuma
Indivíduos
Organizações
Fonte: OBaC (2021). Elaboração própria.
Ao mesmo tempo
pesquisa buscou aferir a expectativa
de retorno às
atividades presenciais,
mediu, também, o tempo que as
trabalhadoras e trabalhadores da
cultura e as organizações avaliaram
que conseguiriam sobreviver sem
renda, dada a interrupção das
atividades presenciais.
Segundo Canedo
et al
analisando os qu
estionários de todas
as regiões do país, as respostas
apontaram que
71,2% das
trabalhadoras/es
e 77,8% das
organizações teriam reservas
financeiras para um período máximo
de três meses sem os
rendimentos
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
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(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
Percentual de atividades adiadas, canceladas
ou com previsão de cancelamento
no 2º semestre de 2020
Tipo de respondente
Março
%
Abril
%
Maio
%
Indivíduos
17,7 5,2 3,1
Organizações
17,2 0,0 0,0
Indivíduos
15,6 5,2 8,3
Organizações
6,9 6,9 3,4
Indivíduos
8,3 11,5 11,5
Organizações
13,8 24,1 24,1
Indivíduos
41,7 63,5 59,4
Organizações
55,2 65,5 69,0
Indivíduos
2,1 1,0 1,1
Organizações
0,0 0,0 0,0
Indivíduos
7,3 11,5 13,5
Organizações
3,4 0,0 0,0
Indivíduos
7,3 2,1 3,1
Organizações
3,5 3,5 3,5
Fonte: OBaC (2021). Elaboração própria.
Ao mesmo tempo
em que a
pesquisa buscou aferir a expectativa
atividades presenciais,
mediu, também, o tempo que as
trabalhadoras e trabalhadores da
cultura e as organizações avaliaram
que conseguiriam sobreviver sem
renda, dada a interrupção das
et al
. (2020b),
estionários de todas
as regiões do país, as respostas
71,2% das
/os
e 77,8% das
organizações teriam reservas
financeiras para um período máximo
rendimentos
provenientes da cultura
vista a precariz
ação detectada nos
itens relacionados ao rendimento
médio das/os
trabalhadora
tempo dedicado à atividade cultural e
a
o grau de proteção social, nos
debruçamos sobre os dados da
Baixada Fluminense e obtivemos
resultados
que apontam um cenário
até
mais agudo para as trabalhadoras
e trabalhadores da economia da
cultura quando o assunto é reserva
financeira para se manter em tempos
de suspensão/cancelamento das
atividades culturais.
Conforme apresentado no
G
ráfico 3, quase a metade (46,9%)
117
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- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
ou com previsão de cancelamento
Junho %
2º Sem.
%
1,0 2,1
0,0 3,4
11,5 10,4
6,9 3,5
10,4 8,3
20,7 17,2
55,2 29,2
69,0 31,0
2,1 4,2
0,0 3,5
14,6 40,6
0,0 37,9
5,2 5,2
3,4 3,5
provenientes da cultura
.Tendo em
ação detectada nos
itens relacionados ao rendimento
trabalhadora
s/es, ao
tempo dedicado à atividade cultural e
o grau de proteção social, nos
debruçamos sobre os dados da
Baixada Fluminense e obtivemos
que apontam um cenário
mais agudo para as trabalhadoras
e trabalhadores da economia da
cultura quando o assunto é reserva
financeira para se manter em tempos
de suspensão/cancelamento das
Conforme apresentado no
ráfico 3, quase a metade (46,9%)
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
das/os trabalhadoras/
es responderam
ter recursos para menos de um mês
de paralisação das atividades
produtivas. Ampliando o cenário
temporal de possibilidade de se
manterem sem atividades produtivas
para até três meses, cerca de 77%
das/os trabalhadoras/
es responderam
ser este o prazo máximo para garantir
sua sobrevivência. No caso das
organizações criativas/culturais ao
nível nacional, segundo Canedo
(2020b), 67,8% informaram ter como
se manterem durante até 3 meses sem
atividades.
Ao analisarmos
as organizações
criativas/culturais na Baixada
Gráfico 3:
Capacidade de trabalhadoras/es e organizações se manterem em caso de
suspensão total de suas fontes de renda com cultura (%)
Fonte:
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
es responderam
ter recursos para menos de um mês
de paralisação das atividades
produtivas. Ampliando o cenário
temporal de possibilidade de se
manterem sem atividades produtivas
para até três meses, cerca de 77%
es responderam
ser este o prazo máximo para garantir
sua sobrevivência. No caso das
organizações criativas/culturais ao
nível nacional, segundo Canedo
et al.
(2020b), 67,8% informaram ter como
se manterem durante até 3 meses sem
as organizações
criativas/culturais na Baixada
Fluminense,
obtivemos um percentual
menor (62,1%) afirma
para esse mesmo horizonte temporal
sem necessidade de outras formas de
aporte financeiro. Apesar de menor em
relação ao agregado nacion
percentual ainda assim é muito
elevado. Podemos supor pelos
resultados obtidos que quem
sobrevivia do trabalho cultural no
primeiro semestre de 2020 apontava
para a necessidade premente de uma
política pública de renda emergencial
para o setor.
Capacidade de trabalhadoras/es e organizações se manterem em caso de
suspensão total de suas fontes de renda com cultura (%)
Fonte:
OBaC (2021). Elaboração própria.
118
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
obtivemos um percentual
menor (62,1%) afirma
ndo ter reservas
para esse mesmo horizonte temporal
sem necessidade de outras formas de
aporte financeiro. Apesar de menor em
relação ao agregado nacion
al, o
percentual ainda assim é muito
elevado. Podemos supor pelos
resultados obtidos que quem
sobrevivia do trabalho cultural no
primeiro semestre de 2020 apontava
para a necessidade premente de uma
política pública de renda emergencial
Capacidade de trabalhadoras/es e organizações se manterem em caso de
suspensão total de suas fontes de renda com cultura (%)
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
Como apresentado, a
remuneração dia da
trabalhadoras/es
da cultura na Baixada
Fluminense estava abaixo da
encontrada nos dados agregados para
o país, segundo a pesquisa. Com a
ampla maioria dos questionários
aplicados na Baixada Fluminense
aponta
ndo para um período máximo
de 3 meses de reserva, avaliamos o
impacto imediato da pandemia nos
salários. Mais da metade (54,5%)
respondeu que o impacto foi alto ou
muito alto. Mais um indicador de que a
crise aprofundada pela pandemia
atingiu de forma aind
a mais aguda a
perife
ria da Região Metropolitana do
Rio de Janeiro.
Frente a esse cenário de
impacto no salário, baixa proteção
social, excessivas horas trabalhadas e,
no contexto da pandemia, tendo essas
horas diminuídas abruptamente,
analisamos as questõ
es referentes às
táticas utilizadas pelas
trabalhadoras/es
da cultura em lidar
com essa adversidade.
É verdade que
parte dos/as
artistas conseguiram rapidamente
transformar suas atividades
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
Como apresentado, a
remuneração dia da
s/os
da cultura na Baixada
Fluminense estava abaixo da
encontrada nos dados agregados para
o país, segundo a pesquisa. Com a
ampla maioria dos questionários
aplicados na Baixada Fluminense
ndo para um período máximo
de 3 meses de reserva, avaliamos o
impacto imediato da pandemia nos
salários. Mais da metade (54,5%)
respondeu que o impacto foi alto ou
muito alto. Mais um indicador de que a
crise aprofundada pela pandemia
a mais aguda a
ria da Região Metropolitana do
Frente a esse cenário de
impacto no salário, baixa proteção
social, excessivas horas trabalhadas e,
no contexto da pandemia, tendo essas
horas diminuídas abruptamente,
es referentes às
táticas utilizadas pelas
/os
da cultura em lidar
parte dos/as
artistas conseguiram rapidamente
transformar suas atividades
presenciais em atividades remotas.
Vários shows virtuais (as fam
lives
) invadiram nossas casas e telas.
Porém, essa é a verdade para um
grupo muito pequeno de artistas
trabalhadoras e trabalhadores da
cultura são mais do que isso. São
iluminadoras, operadoras de som,
camareiras, cozinheiras, produtoras
cultur
ais e uma série de profissionais
que não tem como transformar seus
fazeres em atividades remotas. Assim,
analisando uma das pe
questionário
do
verificamos, na T
abela
responderam estar
novos projetos/produtos, o
uma dificuldade dessa
em reestruturarem sua produção/fazer
cultural no curto prazo.
119
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
presenciais em atividades remotas.
Vários shows virtuais (as fam
osas
) invadiram nossas casas e telas.
Porém, essa é a verdade para um
grupo muito pequeno de artistas
, e as
trabalhadoras e trabalhadores da
cultura são mais do que isso. São
iluminadoras, operadoras de som,
camareiras, cozinheiras, produtoras
ais e uma série de profissionais
que não tem como transformar seus
fazeres em atividades remotas. Assim,
analisando uma das pe
rguntas do
do
OBEC-BA,
abela
5, que 46,6%
responderam estar
desenvolvendo
novos projetos/produtos, o
que indica
uma dificuldade dessa
s profissionais
em reestruturarem sua produção/fazer
cultural no curto prazo.
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
Tabela 5:
Recursos utilizados para lidar com a pandemia
Desenvolvimento de novos
Revisão de despesas
Investimento em divulgação e relacionamento com público
Equipamentos para trabalho remoto
Investimento em prestação de serviços/vendas online
Serviços para trabalho remoto
Negociação
de novos prazos para projetos/serviços
Treinamento/Capacitação
Análise de mudança do modelo de negócio
Criação de novas formas de receita (ex: campanhas de
doação/crowdfunding/antecipação de venda de ingressos)
Linha de crédito
(empréstimos)
Estratégias digitais de relacionamento com público, venda de
produtos e prestação de serviços
Outros
Fonte: OBaC (2021). Elaboração própria.
O segundo item citado pelos
respondentes da Baixada Fluminense
como tática de sobrevivência à crise é
a revisão das despesas
, com
Dado o menor rendimento médio
dos/as
participantes da pesquisa na
Baixada Fluminense em relação ao
agregado nacional, podemos supor
que a redução
de despesa não é uma
opção, mas sim uma imposição para
quem partia de um rendimento menor
desde antes da pandemia.
Chamam
atenção, ainda, as
respostas em relação
equipamentos para
trabalho
(22,4%), i
nvestimento em prestação de
serviços/vendas online
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
Recursos utilizados para lidar com a pandemia
Recursos
Desenvolvimento de novos
projetos/produtos
Revisão de despesas
Investimento em divulgação e relacionamento com público
Equipamentos para trabalho remoto
Investimento em prestação de serviços/vendas online
Serviços para trabalho remoto
de novos prazos para projetos/serviços
Treinamento/Capacitação
Análise de mudança do modelo de negócio
Criação de novas formas de receita (ex: campanhas de
doação/crowdfunding/antecipação de venda de ingressos)
(empréstimos)
Estratégias digitais de relacionamento com público, venda de
produtos e prestação de serviços
Fonte: OBaC (2021). Elaboração própria.
O segundo item citado pelos
/as
respondentes da Baixada Fluminense
como tática de sobrevivência à crise é
, com
24,1%.
Dado o menor rendimento médio
participantes da pesquisa na
Baixada Fluminense em relação ao
agregado nacional, podemos supor
de despesa não é uma
opção, mas sim uma imposição para
quem partia de um rendimento menor
atenção, ainda, as
respostas em relação
aos itens:
trabalho
remoto
nvestimento em prestação de
(20,7%) e
serviços para
trabalho
Ao verificarmos
apresentado
s pelas
trabalhadoras/es
da cultura na
5
, podemos observar que esses
quesitos
são uma necessidade grande
para a prestação de serviços da
economia da cultura na Baixada
Fluminense
, questão central para
viabilizar a digitalização do trabalho
cultural no contexto da pandemia.
13
Cabe avaliar, também, como está o
fornecimento dos serviços digitais frente à
nova demanda provocada pelo isolamento
social. Temos observado muitas críticas
dos/as fazedores/as culturais da região sobre
a qualidade do acesso à internet. Mas, como
esse não foi um item abordado no
questionário, será necessário incluir em um
possível desdobramento da pesquisa.
120
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
Recursos utilizados para lidar com a pandemia
%
46,6
24,1
23,3
22,4
20,7
18,1
11,2
11,2
8,6
7,8
2,6
1,7
11,2
trabalho
remoto (18,1%).
Ao verificarmos
os recursos
s pelas
/os
da cultura na
Tabela
, podemos observar que esses
são uma necessidade grande
para a prestação de serviços da
economia da cultura na Baixada
, questão central para
viabilizar a digitalização do trabalho
cultural no contexto da pandemia.
13
Cabe avaliar, também, como está o
fornecimento dos serviços digitais frente à
nova demanda provocada pelo isolamento
social. Temos observado muitas críticas
dos/as fazedores/as culturais da região sobre
a qualidade do acesso à internet. Mas, como
esse não foi um item abordado no
questionário, será necessário incluir em um
possível desdobramento da pesquisa.
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
Considerações finais
Nesse cenário pandêmico, o
setor cul
tural está passando por um
momento crítico de desestruturação e
reestruturação, com acelerado
processo de transição digital. O
impacto desigual desta transição é
evidente e, mais do que nunca, faz
necessário elaborar políticas culturais
que fomentem a p
independente e a cultural popular, no
sentido de reduzir as desigualdades
econômicas e sociais que atravessam
a sociedade brasileira em geral, e o
setor cultural em particular,
especialmente em regiões periféricas
como a Baixada Fluminense.
Desta forma, o
artigo procurou
evidenciar algumas das problemáticas
do setor cultural durante a pandemia
especialmente a situação d
trabalhadoras/
es da cultura
paralis
ação das atividades presenciais.
Observando a singularidade d
momento histórico, buscamos apontar
as consequências d
o avanço da
agenda neoliberal na vida da classe
trabalhadora e, através dos dados,
analisar o trabalho cultural
da Baixada Fluminense.
Os resultados obtidos pela
pesquisa
Impactos da Co
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
Nesse cenário pandêmico, o
tural está passando por um
momento crítico de desestruturação e
reestruturação, com acelerado
processo de transição digital. O
impacto desigual desta transição é
evidente e, mais do que nunca, faz
-se
necessário elaborar políticas culturais
que fomentem a p
rodução
independente e a cultural popular, no
sentido de reduzir as desigualdades
econômicas e sociais que atravessam
a sociedade brasileira em geral, e o
setor cultural em particular,
especialmente em regiões periféricas
como a Baixada Fluminense.
artigo procurou
evidenciar algumas das problemáticas
do setor cultural durante a pandemia
,
especialmente a situação d
as/os
es da cultura
diante da
ação das atividades presenciais.
Observando a singularidade d
o
momento histórico, buscamos apontar
o avanço da
agenda neoliberal na vida da classe
trabalhadora e, através dos dados,
analisar o trabalho cultural
no território
Os resultados obtidos pela
Impactos da Co
vid-19 na
Economia Criativa
Fluminense
confirmam que houve
aumento da precarização do trabalho
cultural na região. O maior número de
trabalhadoras/es que está sendo
obrigado a tornar-
se pessoa jurídica
para acessar o mercado de trabalho,
com alt
a informalidade e baixo nível de
proteção social, associado a uma
remuneração individual abaixo da
média do mercado nacional, trazem
preocupações adicionais ao trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
Particularmente crítica é a
situação de trabalhadores/as da
cultura para se manterem num
contexto de pandemia e isolamento
social, quando a suspensão de
atividades presenciais significa uma
redução drástica de rendimentos,
apontando para a necessidade urge
de provisão de renda emergencial da
cultura por parte do Estado. Mesmo se
esforçando no sentido de traçar
estratégias para realizar a transição
digital, trabalhadores/as da cultura
enfrentam uma grande dificuldade
para reestabelecer seus rendimentos
no
s meios digitais. Tal fato aponta
para um potencial aumento da
precarização do trabalho cultural, na
medida em que exige maior tempo de
121
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
da Baixada
confirmam que houve
aumento da precarização do trabalho
cultural na região. O maior número de
trabalhadoras/es que está sendo
se pessoa jurídica
para acessar o mercado de trabalho,
a informalidade e baixo nível de
proteção social, associado a uma
remuneração individual abaixo da
média do mercado nacional, trazem
preocupações adicionais ao trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
Particularmente crítica é a
situação de trabalhadores/as da
cultura para se manterem num
contexto de pandemia e isolamento
social, quando a suspensão de
atividades presenciais significa uma
redução drástica de rendimentos,
apontando para a necessidade urge
nte
de provisão de renda emergencial da
cultura por parte do Estado. Mesmo se
esforçando no sentido de traçar
estratégias para realizar a transição
digital, trabalhadores/as da cultura
enfrentam uma grande dificuldade
para reestabelecer seus rendimentos
s meios digitais. Tal fato aponta
para um potencial aumento da
precarização do trabalho cultural, na
medida em que exige maior tempo de
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
PragMATIZES
Americana de Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
set. 2021.
treinamento e trabalho, sem a garantia
imediata de aumento da remuneração.
Os desafios frente a esse
cenário, que vin
ha se deteriorando
com as políticas neoliberais, têm na
pandemia um agravante, que vai exigir
medidas compensatórias por parte do
poder público e muita mobilização do
campo cultural, como foi visto durante
a elaboração e tramitação da Lei de
Emergência Cul
tural, conhecida como
Lei Aldir Blanc (LAB).
Diante de todas
as dificuldades para recebimento do
Auxílio Emergencial da Cultura, a
Baixada Fluminense vivenciou uma
intensa e profícua mobilização para
mapear artistas e coletivos. Criou
uma rede de apoio p
ara compartilhar
dúvidas e saná-
las, artistas e coletivos
articularam-
se para efetuar o
cadastramento
, en
problemas de conexão de internet e
falta de conhecimento das
plataformas,
montaram estratégias de
atuação perante o poder público,
reativaram
fóruns e conselhos
municipais e intensificaram a atuaç
nas redes sociais.
A Lei Aldir Blanc está em fase
de execução, e, mais uma vez, a
mobilização cultural será decisiva
nesse ano de 2021. Com essa
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
PragMATIZES
- Revista Latino-
Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 21, p. 95-124,
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
treinamento e trabalho, sem a garantia
imediata de aumento da remuneração.
Os desafios frente a esse
ha se deteriorando
com as políticas neoliberais, têm na
pandemia um agravante, que vai exigir
medidas compensatórias por parte do
poder público e muita mobilização do
campo cultural, como foi visto durante
a elaboração e tramitação da Lei de
tural, conhecida como
Diante de todas
as dificuldades para recebimento do
Auxílio Emergencial da Cultura, a
Baixada Fluminense vivenciou uma
intensa e profícua mobilização para
mapear artistas e coletivos. Criou
-se
ara compartilhar
las, artistas e coletivos
se para efetuar o
, en
frentando
problemas de conexão de internet e
falta de conhecimento das
montaram estratégias de
atuação perante o poder público,
fóruns e conselhos
municipais e intensificaram a atuaç
ão
A Lei Aldir Blanc está em fase
de execução, e, mais uma vez, a
mobilização cultural será decisiva
nesse ano de 2021. Com essa
pesquisa e seus desdobramentos, o
OBaC espera contrib
organização do movimento cultural na
Baixada Fluminense,produzindo dados
e análises sobre o
setor,
contribuir para
a
políticas culturais no território. A
prorrogação da execução da LAB e
sua futura institucionalização en
política cultural permanente fazem
parte dessa luta coletiva, a qual nos
somamos.
Referências
bibliográficas:
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terceirização sem limites: a
precarização do trabalho como regra.
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-
122
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(Dossiê "Trabalho cultural e precarização"
)
pesquisa e seus desdobramentos, o
OBaC espera contrib
uir para a
organização do movimento cultural na
Baixada Fluminense,produzindo dados
setor,
assim como
a
elaboração de
políticas culturais no território. A
prorrogação da execução da LAB e
sua futura institucionalização en
quanto
política cultural permanente fazem
parte dessa luta coletiva, a qual nos
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, São Paulo, n. 47, 1997.
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parar e a última a voltar? Pesquisando
os impactos da COVID
-19 na
-
Um relato de
GUERREIRO, João
et al. Cultura e Pandemia: precarização do trabalho
cultural na Baixada Fluminense.
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Disponível em:
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desocupação é de 14,3% e taxa de
subutilização é de
29,5% no trimestre
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“mundo do trabalho”: a experiência dos
ambulantes dos
trens da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro
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1235-nota-tecnica-
efeitos
na-economia-da-
cultura
OBaC
Observatório Baixada
Cultural.
Pesquisa impactos da Covid
19 na economia criativa d
Fluminense
. GUERREIRO, João;
123
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
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-trimestre-
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noticias/releases/29781
-
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-desocupacao-
subutilizacao
-e-
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-da-covid-19-
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vivendo a crise da Covid
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exemplo do município de Nilópolis/RJ.
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pesquisa. Rio de Janeiro, 2020.
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
A enunciação de um sujeito competitivo
competências profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na
Classificação Brasileira de Ocupações
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21
Resumo:
O presente artigo tem por interesse contribuir para o debate das muitas tensões entre a
esfera laboral da cultura no Brasil e o domínio de um governo
neoliberalismo, sendo a ocupação produtor/a cultural”
mercado profissional de grande porte ou consagrado
a Classificação Brasileira
de Ocupações, em específico seu catálogo de habilidades e competências
sugeridas. Destacamos algumas de suas expectativas, onde procuramos estabelecer uma aparente
justaposição com uma nova racionalidade típica do sujeito neoliberal contemporâneo.
Palavras-chave
: produtores culturais; neoliberalismo; Classificação Brasileira de Ocupações.
La enunciación de un sujeto competitivo
profesionales sugeridas a los productores culturales en la Clasificación Brasileña
Ocupaciones
Resumen:
Este artículo tiene como objetivo contribuir al debate sobre las múltiples tensiones entre la
esfera cultural del trabajo en Brasil y el predominio de un gobierno específico de las conductas
individuales en el neoliberalismo,
del gran o consagrado mercado profesional
Brasileña de Ocupaciones (Classificação Brasileira de Ocupações), específicamente su catál
habilidades y competencias sugeridas. Destacamos algunas de sus expectativas, donde intentamos
establecer una aparente yuxtaposición con una nueva racionalidad propia del sujeto neoliberal
contemporáneo.
Palabras clave
: productores culturales; neol
1
João Luiz Pereira Domingues. Doutor em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro/IPPUR. Programa de Pós
Universidade Federal Fluminense
0001-8971-6213.
2 Gustavo Portella Machado.
Mestre em Cultura e Territorialidades pela Universidade Federal
Fluminense, Basil
. Email: m.gustavoportella@gmail.com
Recebido em 28/03/2021, aceito para publicação em 03/06/2021 e disponibilizado online em
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
125
-
145
,
set.
202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
A enunciação de um sujeito competitivo
-
pacificado: uma análise das
competências profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na
Classificação Brasileira de Ocupações
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21
.49448
João Domingues
Gustavo Portella Machado
O presente artigo tem por interesse contribuir para o debate das muitas tensões entre a
esfera laboral da cultura no Brasil e o domínio de um governo
específico das condutas individuais no
neoliberalismo, sendo a ocupação produtor/a cultural”
concebido hoje como um mediador do
mercado profissional de grande porte ou consagrado
seu foco objetivo. Assim, tomamos por análise
de Ocupações, em específico seu catálogo de habilidades e competências
sugeridas. Destacamos algumas de suas expectativas, onde procuramos estabelecer uma aparente
justaposição com uma nova racionalidade típica do sujeito neoliberal contemporâneo.
: produtores culturais; neoliberalismo; Classificação Brasileira de Ocupações.
La enunciación de un sujeto competitivo
-
pacificado: un análisis de las competencias
profesionales sugeridas a los productores culturales en la Clasificación Brasileña
Este artículo tiene como objetivo contribuir al debate sobre las múltiples tensiones entre la
esfera cultural del trabajo en Brasil y el predominio de un gobierno específico de las conductas
individuales en el neoliberalismo,
siendo el oficio “productor cultural” -
concebido hoy como mediador
del gran o consagrado mercado profesional
-
su enfoque objetivo. Así, analizamos la Clasificación
Brasileña de Ocupaciones (Classificação Brasileira de Ocupações), específicamente su catál
habilidades y competencias sugeridas. Destacamos algunas de sus expectativas, donde intentamos
establecer una aparente yuxtaposición con una nueva racionalidad propia del sujeto neoliberal
: productores culturales; neol
iberalismo; Clasificación Brasileña de Ocupaciones.
João Luiz Pereira Domingues. Doutor em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro/IPPUR. Programa de Pós
-
Graduação em Cultura e Territorialidades da
Universidade Federal Fluminense
, Brasil. Email: joaodomingues@id.uff.br -
https://orcid.org/0000
Mestre em Cultura e Territorialidades pela Universidade Federal
. Email: m.gustavoportella@gmail.com
- https://orcid.org/0000-
0002
Recebido em 28/03/2021, aceito para publicação em 03/06/2021 e disponibilizado online em
01/09/2021.
125
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
pacificado: uma análise das
competências profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na
João Domingues
1
Gustavo Portella Machado
2
O presente artigo tem por interesse contribuir para o debate das muitas tensões entre a
específico das condutas individuais no
concebido hoje como um mediador do
seu foco objetivo. Assim, tomamos por análise
de Ocupações, em específico seu catálogo de habilidades e competências
sugeridas. Destacamos algumas de suas expectativas, onde procuramos estabelecer uma aparente
justaposição com uma nova racionalidade típica do sujeito neoliberal contemporâneo.
: produtores culturais; neoliberalismo; Classificação Brasileira de Ocupações.
pacificado: un análisis de las competencias
profesionales sugeridas a los productores culturales en la Clasificación Brasileña
de
Este artículo tiene como objetivo contribuir al debate sobre las múltiples tensiones entre la
esfera cultural del trabajo en Brasil y el predominio de un gobierno específico de las conductas
concebido hoy como mediador
su enfoque objetivo. Así, analizamos la Clasificación
Brasileña de Ocupaciones (Classificação Brasileira de Ocupações), específicamente su catál
ogo de
habilidades y competencias sugeridas. Destacamos algunas de sus expectativas, donde intentamos
establecer una aparente yuxtaposición con una nueva racionalidad propia del sujeto neoliberal
iberalismo; Clasificación Brasileña de Ocupaciones.
João Luiz Pereira Domingues. Doutor em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade
Graduação em Cultura e Territorialidades da
https://orcid.org/0000
-
Mestre em Cultura e Territorialidades pela Universidade Federal
0002
-6495-4490.
Recebido em 28/03/2021, aceito para publicação em 03/06/2021 e disponibilizado online em
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
The enunciation of a competitive
suggested to cultural producers in the Brazilian Classification of Occupations
Abstract: This paper aims to
contribute to the discussion of the many tensions between the cultural
sphere of work in Brazil and the dominance of a specific government of individual conduct in
neoliberalism, with the occupation “cultural producer”
established professional market
Occupations (Classificação Brasileira de Ocupações), specifically its catalog of skills and suggested
competencies. We highlight some of his
juxtaposition with a new rationality typical of the contemporary neoliberal subject.
Keywords
: cultural producers; neoliberalism; Brazilian Classification of Occupations.
A enunciação de um sujeito co
competências profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na
Classificação Brasileira de Ocupações
Introdução
As relações laborais no campo
da cultura são, sem dúvida, uma chave
bastante importante para tentarmos
compreender alguns desafios de
análise acerca do mundo do trabalho,
notadamente em economias onde o
setor de serviços vem ganhando maior
centralidade.
A
lgumas pesquisas vêm
apontando como o trabalho no campo
da cultura é enxergado por muitos de
seus agentes como um ambiente
laboral gratificante, com algum grau de
liberdade, onde os sonhos pessoais e
a realização daquilo que se deseja têm
forte identificaç
ão para sua adesão
(SILVA, 2018;
TOMMASI, 2016
patente, entretanto, que a projeção
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
125
-
145
,
set.
202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
The enunciation of a competitive
-
pacified subject: an analysis of the professional skills
suggested to cultural producers in the Brazilian Classification of Occupations
contribute to the discussion of the many tensions between the cultural
sphere of work in Brazil and the dominance of a specific government of individual conduct in
neoliberalism, with the occupation “cultural producer”
-
conceived today as a mediator of th
established professional market
-
its objective focus. Thus, we analyzed the Brazilian Classification of
Occupations (Classificação Brasileira de Ocupações), specifically its catalog of skills and suggested
competencies. We highlight some of his
expectations, where we try to establish an apparent
juxtaposition with a new rationality typical of the contemporary neoliberal subject.
: cultural producers; neoliberalism; Brazilian Classification of Occupations.
A enunciação de um sujeito co
mpetitivo-
pacificado: uma análise das
competências profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na
Classificação Brasileira de Ocupações
As relações laborais no campo
da cultura são, sem dúvida, uma chave
bastante importante para tentarmos
compreender alguns desafios de
análise acerca do mundo do trabalho,
notadamente em economias onde o
setor de serviços vem ganhando maior
lgumas pesquisas vêm
apontando como o trabalho no campo
da cultura é enxergado por muitos de
seus agentes como um ambiente
laboral gratificante, com algum grau de
liberdade, onde os sonhos pessoais e
a realização daquilo que se deseja têm
ão para sua adesão
TOMMASI, 2016
). É
patente, entretanto, que a projeção
destes desejos encontra no cotidiano
da atividade cultural uma série de
rotinas
, dificuldades, baixo
investimento, entre outros desafios.
Não raro encontrarmos também
r
eferências ao trabalho cultural
entendido aqui como o trabalho que
orbita naquilo que mais comumente
tem se chamado de economia da
cultura
como marcado pela
predominância de formas de
contratação temporárias, incerteza
salarial, alta informalidade e au
protetivas (CORSANI, 2012; SEGNINI,
2007). Portanto, entre a perspectiva
legítima de um projeto
exigências concretas de realização
das atividades produtivas da cultura
repousam uma série de contradições,
126
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
pacified subject: an analysis of the professional skills
suggested to cultural producers in the Brazilian Classification of Occupations
contribute to the discussion of the many tensions between the cultural
sphere of work in Brazil and the dominance of a specific government of individual conduct in
conceived today as a mediator of th
e large or
its objective focus. Thus, we analyzed the Brazilian Classification of
Occupations (Classificação Brasileira de Ocupações), specifically its catalog of skills and suggested
expectations, where we try to establish an apparent
: cultural producers; neoliberalism; Brazilian Classification of Occupations.
pacificado: uma análise das
competências profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na
destes desejos encontra no cotidiano
da atividade cultural uma série de
, dificuldades, baixo
investimento, entre outros desafios.
Não raro encontrarmos também
eferências ao trabalho cultural
entendido aqui como o trabalho que
orbita naquilo que mais comumente
tem se chamado de economia da
como marcado pela
predominância de formas de
contratação temporárias, incerteza
salarial, alta informalidade e au
sências
protetivas (CORSANI, 2012; SEGNINI,
2007). Portanto, entre a perspectiva
legítima de um projeto
desejável e as
exigências concretas de realização
das atividades produtivas da cultura
repousam uma série de contradições,
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
muitas delas marcadas pela
reconversão da questão social das
últimas décadas.
Razoavelmente relevante para
a dinâmica produtiva de economias
capitalistas, a economia da cultura e o
trabalho cultural são cenários em que
podemos depreender algumas
ambiguidades para trabalhadoras e
trabalhadores,
especialmente quando
extraímos alguns sintomas de como a
vida social tem sido atravessada por
expectativas de conduta tipicamente
associada às dinâmicas neoliberais.
Colocam-
nos dinâmicas onde a
vivência
prazerosa do trabalho
encontra subtraçõe
s oriundas do ciclo
capitalista onde está inserido.
Assim, interessa-
nos propor
aqui um debate que procura interagir
parte deste périplo descrito, e que
acreditamos ainda pouco explorado na
literatura mais especializada da área.
Cremos que ainda não demos
devida atenção a algumas dimensões
normativas que consolidam certas
atividades culturais como
E, em especial, parece-
nos instigante
perceber como agências e instituições
chave que fornecem algum tipo de
3
Para mais, ver Nunes e Benevides (2017).
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
125
-
145
,
set.
202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
muitas delas marcadas pela
reconversão da questão social das
Razoavelmente relevante para
a dinâmica produtiva de economias
capitalistas, a economia da cultura e o
trabalho cultural são cenários em que
podemos depreender algumas
ambiguidades para trabalhadoras e
especialmente quando
extraímos alguns sintomas de como a
vida social tem sido atravessada por
expectativas de conduta tipicamente
associada às dinâmicas neoliberais.
nos dinâmicas onde a
prazerosa do trabalho
s oriundas do ciclo
capitalista onde está inserido.
nos propor
aqui um debate que procura interagir
parte deste périplo descrito, e que
acreditamos ainda pouco explorado na
literatura mais especializada da área.
Cremos que ainda não demos
a
devida atenção a algumas dimensões
normativas que consolidam certas
atividades culturais como
profissões
3
.
nos instigante
perceber como agências e instituições
-
chave que fornecem algum tipo de
Para mais, ver Nunes e Benevides (2017).
regulação às profissões convocam
certo
s sentidos ao/sobre o trabalho
cultural. Sentidos estes que permitem,
ainda que não tão explícita, a
cooperação entre estruturas de
precarização e estímulos a
determinadas práticas, modos de ser e
de proceder pelos trabalhadores desse
campo.
Para dar algum
este debate, tomamos como objeto de
investigação certas pistas deixadas
pela forma como a Classificação
Brasileira de Ocupações (CBO), em
seu sistema de categorização de
ocupações, descreve a expectativa de
competências de algumas profissõe
ligadas ao circuito artístico e cultural,
em especial aquelas cuja atuação
ocorrem em
bastidores
essas
pistas em comparação tanto
com o circuito de profissões correlatas
como de outros agrupamentos
profissionais definidos na organização
da CBO.
Destacamos para este trabalho
a CBO por algumas razões. A primeira
delas é o interesse mais direto do
artigo, trata-
se de reconhecer como
competências e habilidades gerais são
mobilizadas como atributos aos
cargos. Este é um traço constitutivo da
127
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
regulação às profissões convocam
s sentidos ao/sobre o trabalho
cultural. Sentidos estes que permitem,
ainda que não tão explícita, a
cooperação entre estruturas de
precarização e estímulos a
determinadas práticas, modos de ser e
de proceder pelos trabalhadores desse
Para dar algum
a musculatura a
este debate, tomamos como objeto de
investigação certas pistas deixadas
pela forma como a Classificação
Brasileira de Ocupações (CBO), em
seu sistema de categorização de
ocupações, descreve a expectativa de
competências de algumas profissõe
s
ligadas ao circuito artístico e cultural,
em especial aquelas cuja atuação
bastidores
. Tomaremos
pistas em comparação tanto
com o circuito de profissões correlatas
como de outros agrupamentos
profissionais definidos na organização
Destacamos para este trabalho
a CBO por algumas razões. A primeira
delas é o interesse mais direto do
se de reconhecer como
competências e habilidades gerais são
mobilizadas como atributos aos
cargos. Este é um traço constitutivo da
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
Classificação (NOZOE;
RONDET, 2003). A segunda é o
reconhecimento de que a CBO parece
orientar-
se em um sistema
classificatório em grande parte
constituído por informações
construídas pelos próprios pares
profissionais (NUNES;
BENEVIDES,
2017). Sendo assim,
a disposição das
competências reflete, ao menos em
traços indiciários, como a expectativa
institucional acolhe um certo espírito
de época da parte dominante do
próprio grupo profissional.
Tomamos os
profissionais de
bastidores -
em nosso caso,
produto
ras e produtores culturais
como nossa ênfase por algumas
razões. A primeira delas é nossa
percepção de que esta categoria
profissional consegue transitar entre
diferentes
internalidades
expressivas. Assim, é possível
enxergar uma presença
destes trabalhadores em diferentes
“economias da cultura” (do teatro, da
música, da cultura popular, etc.). Esse
grau de genericidade
é, para nós, um
breve alerta sobre como estas
expectativas que descreveremos
podem também mobilizar circuitos
profissionais correlatos.
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
125
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145
,
set.
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1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
BIANCHI;
RONDET, 2003). A segunda é o
reconhecimento de que a CBO parece
se em um sistema
classificatório em grande parte
constituído por informações
construídas pelos próprios pares
BENEVIDES,
a disposição das
competências reflete, ao menos em
traços indiciários, como a expectativa
institucional acolhe um certo espírito
de época da parte dominante do
profissionais de
em nosso caso,
ras e produtores culturais
-
como nossa ênfase por algumas
razões. A primeira delas é nossa
percepção de que esta categoria
profissional consegue transitar entre
internalidades
laborais
expressivas. Assim, é possível
enxergar uma presença
genérica
destes trabalhadores em diferentes
“economias da cultura” (do teatro, da
música, da cultura popular, etc.). Esse
é, para nós, um
breve alerta sobre como estas
expectativas que descreveremos
podem também mobilizar circuitos
Interessa-
nos também realçar
certas expectativas sobre
de bastidores do campo cultural
curioso notar como esta atividade
profissional é marcada por uma
valorização de sua ocultação em
detrimento do objeto artístico
(SEGNINI, 2007).
Sendo ambos os
autores deste artigo formados na área,
podemos afirmar que não raro termos
ouvido em nossa vida profissional
como a invisibilidade de nossa
atividade seria uma equivalência a um
“trabalho bem executado (um
exemplo disso é a frase
entre s: “um bom produtor nunca
aparece”).
Pois esta medida, um tanto
funcionalista
que valoriza entre
muitos destes profissionais a ideia de
que sua invisibilidade é um sintoma de
sua boa habilidade profissional
sugere-nos
também como po
normalizar-
se expectativas de um
comportamento profissional.
A partir desse contexto, a
investigação situa
-
constituição arquetípica subjetiva
deste trabalhador, analisando quais
seriam as demandas
técnicas
“necessárias”
parte, “exigidas" pelo mercado de
trabalho e disseminadas por
128
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
nos também realçar
certas expectativas sobre
profissionais
de bastidores do campo cultural
. É
curioso notar como esta atividade
profissional é marcada por uma
valorização de sua ocultação em
detrimento do objeto artístico
Sendo ambos os
autores deste artigo formados na área,
podemos afirmar que não raro termos
ouvido em nossa vida profissional
como a invisibilidade de nossa
atividade seria uma equivalência a um
“trabalho bem executado (um
exemplo disso é a frase
bem comum
entre s: “um bom produtor nunca
Pois esta medida, um tanto
que valoriza entre
muitos destes profissionais a ideia de
que sua invisibilidade é um sintoma de
sua boa habilidade profissional
–,
também como po
de
se expectativas de um
comportamento profissional.
A partir desse contexto, a
-
se em uma
constituição arquetípica subjetiva
deste trabalhador, analisando quais
seriam as demandas
sócio-psico-
“necessárias”
em grande
parte, “exigidas" pelo mercado de
trabalho e disseminadas por
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
instituições públicas e privadas
exercer a ocupação produtor/a cultural,
e ainda de quais formas essas
demandas atuariam na construção do
imaginário positivo de uma profissão
notadamente
sem garantias ou
seguranças.
Desta feita, a constituição do
objeto deste artigo
é compreender a
produção de sentido enunciativo
conferido à competência profissional
“produtor/a cultural” quando mobilizada
por uma instituição
governamental. É importante ressaltar
que não defendemos aqui nenhum tipo
de automatismo entre a modulaçã
discursiva das competências referidas
pelas instituições e as agências dos
sujeitos sociais. Não é parte integrante
deste estudo compreender como estas
noções são incorporadas, refutadas ou
negociadas pela multiplicidade de
pares profissionais. Interessa
contribuir para desvendar certo espaço
de regularidades da prática discursiva
em meio aos processos de
reconhecimento, mapeamento e
institucionalização da prática e
competência profissional.
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
125
-
145
,
set.
202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
instituições públicas e privadas
para
exercer a ocupação produtor/a cultural,
e ainda de quais formas essas
demandas atuariam na construção do
imaginário positivo de uma profissão
sem garantias ou
Desta feita, a constituição do
é compreender a
produção de sentido enunciativo
conferido à competência profissional
“produtor/a cultural” quando mobilizada
por uma instituição
-chave
governamental. É importante ressaltar
que não defendemos aqui nenhum tipo
de automatismo entre a modulaçã
o
discursiva das competências referidas
pelas instituições e as agências dos
sujeitos sociais. Não é parte integrante
deste estudo compreender como estas
noções são incorporadas, refutadas ou
negociadas pela multiplicidade de
pares profissionais. Interessa
-nos
contribuir para desvendar certo espaço
de regularidades da prática discursiva
em meio aos processos de
reconhecimento, mapeamento e
institucionalização da prática e
CBO: as dimensões das
competências
Sendo de
responsabilidade de
elaboração e atualização pelo
Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE)
atual Secretaria do Trabalho
do Ministério da Economia
Classificação Brasileira de Ocupações
é um instrumento essencial para o
reconhecimento público das profiss
e classificação de famílias
ocupacionais. Dispondo um conjunto
de funções, tarefas, obrigações,
conhecimentos e outras exigências
reconhecidas pelos pares
profissionais, a CBO sinaliza
dimensões descritivas para o exercício
da profissão (
BUENO
FRAGA, 2018).
O princípio classificatório é de
ordem meramente administrativa, não
abrangendo as relações de trabalho. A
regulamentação das profissões é de
iniciativa legislativa, competindo à
CBO a classificação profissional, “sem
fazer a distinção entre
livre exercício e as profissões
regulamentadas”
ALVES;
FROTA, 2017, p.51)
Ainda que não tenha função
regulatória, é a partir deste princípio
classificatório que podem ser reunidas
129
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
CBO: as dimensões das
responsabilidade de
elaboração e atualização pelo
Ministério do Trabalho e Emprego
atual Secretaria do Trabalho
do Ministério da Economia
a
Classificação Brasileira de Ocupações
é um instrumento essencial para o
reconhecimento público das profiss
ões
e classificação de famílias
ocupacionais. Dispondo um conjunto
de funções, tarefas, obrigações,
conhecimentos e outras exigências
reconhecidas pelos pares
profissionais, a CBO sinaliza
dimensões descritivas para o exercício
BUENO
; BOSSLE;
O princípio classificatório é de
ordem meramente administrativa, não
abrangendo as relações de trabalho. A
regulamentação das profissões é de
iniciativa legislativa, competindo à
CBO a classificação profissional, “sem
fazer a distinção entre
profissões de
livre exercício e as profissões
regulamentadas”
(CRIVELLARI;
FROTA, 2017, p.51)
Ainda que não tenha função
regulatória, é a partir deste princípio
classificatório que podem ser reunidas
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
informações relevantes para instruir
políticas d
edicadas ao trabalho no
Brasil. Trata-
se, portanto, de uma
ferramenta essencial para a
organização de dados estatísticos que
projetam dimensões tão diversas como
“emprego-
desemprego, taxas de
natalidade-
mortalidade das
ocupações, elaboração de currículos,
planejamento da educação
profissional, rastreamento de vagas e
serviços de intermediação de mão de
obra” (BUENO;
BOSSLE
2018, p.410).
Sua estrutura básica deriva do
ano de 1977, como resultado do
“convênio firmado entre o Brasil e a
Organização da
s Nações Unidas
(ONU), por intermédio da Organização
Internacional do Trabalho (OIT)”
(BRASIL, 2010), tendo sofrido algumas
atualizações em função do contexto
social e econômico e ao ciclo de vida
ocupacional que são próprios do
mundo das profissões
BIANCHI;
RONDET, 2003)
estratégia da CBO é seguir um modelo
internacional de classificação das
ocupações, o que torna possível
efetuar comparações e promover
políticas públicas com dados mais
específicos sobre cada setor.
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
125
-
145
,
set.
202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
informações relevantes para instruir
edicadas ao trabalho no
se, portanto, de uma
ferramenta essencial para a
organização de dados estatísticos que
projetam dimensões tão diversas como
desemprego, taxas de
mortalidade das
ocupações, elaboração de currículos,
planejamento da educação
profissional, rastreamento de vagas e
serviços de intermediação de mão de
BOSSLE
; FRAGA,
Sua estrutura básica deriva do
ano de 1977, como resultado do
“convênio firmado entre o Brasil e a
s Nações Unidas
(ONU), por intermédio da Organização
Internacional do Trabalho (OIT)”
(BRASIL, 2010), tendo sofrido algumas
atualizações em função do contexto
social e econômico e ao ciclo de vida
ocupacional que são próprios do
mundo das profissões
(NOZOE;
RONDET, 2003)
. A
estratégia da CBO é seguir um modelo
internacional de classificação das
ocupações, o que torna possível
efetuar comparações e promover
políticas públicas com dados mais
específicos sobre cada setor.
Em meados da década de 1990
foi instituída a Comissão Nacional de
Classificações (CONCLA), organismo
interministerial cujo objetivo era
consolidar a unificação de
classificações. A partir dessa
Comissão, a descrição das
classificações que iriam compor a
CBO foi realizada em três módu
primeiro permitiu a comparação e
compilação de diferentes fontes de
dados sobre as ocupações; o segundo
elaborou e validou a estrutura,
incluindo alterações dadas pela
Classificação Internacional de 1988; e
o terceiro determinou um modelo de
descriç
ão a partir da reunião de uma
rede de parceiros para realizar uma
classificação descritiva (de ordem
qualitativa) (BRASIL, 2010).
Esse terceiro módulo de
organização e classificação das
ocupações é a etapa essencial para
prosseguimento da análise
utilizado durante sua execução foi o
Developing a Curriculum
Segundo Norton (1998), o
método DACUM baseia
premissas. A primeira é que
“trabalhadores especializados podem
descrever e definir seu
trabalho/ocupação com mais precisão
130
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Em meados da década de 1990
foi instituída a Comissão Nacional de
Classificações (CONCLA), organismo
interministerial cujo objetivo era
consolidar a unificação de
classificações. A partir dessa
Comissão, a descrição das
classificações que iriam compor a
CBO foi realizada em três módu
los: o
primeiro permitiu a comparação e
compilação de diferentes fontes de
dados sobre as ocupações; o segundo
elaborou e validou a estrutura,
incluindo alterações dadas pela
Classificação Internacional de 1988; e
o terceiro determinou um modelo de
ão a partir da reunião de uma
rede de parceiros para realizar uma
classificação descritiva (de ordem
qualitativa) (BRASIL, 2010).
Esse terceiro módulo de
organização e classificação das
ocupações é a etapa essencial para
prosseguimento da análise
. O método
utilizado durante sua execução foi o
Developing a Curriculum
(DACUM).
Segundo Norton (1998), o
método DACUM baseia
-se em três
premissas. A primeira é que
“trabalhadores especializados podem
descrever e definir seu
trabalho/ocupação com mais precisão
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
do qu
e qualquer outra pessoa”
(NORTON, 1998, p.3, tradução livre).
A primeira premissa, portanto,
reconhece como valor regulatório os
pares profissionais como os principais
definidores do desenvolvimento de um
currículo profissional.
A segunda diz que uma “for
eficaz de definir um trabalho/ocupação
é descrever com precisão as tarefas
que os trabalhadores especializados
realizam” (NORTON, 1998, p.
tradução livre). A segunda, portanto,
revela que a precisão de constituição
de um currículo profissional demand
o reconhecimento das atividades e
tarefas que circunscrevem uma
determinada ocupação.
A terceira revela dimensões
aparentemente mais personalizadas,
indicando níveis de competências
cognitivas, técnicas e
comportamentais:
Todas as tarefas, para serem
re
alizadas corretamente, exigem
o uso de determinados
conhecimentos, habilidades,
ferramentas e comportamentos
positivos do trabalhador. Embora
o conhecimento, as habilidades,
as ferramentas e os
comportamentos dos
trabalhadores não sejam tarefas,
eles são c
apacitadores que
possibilitam que os trabalhadores
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
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-
145
,
set.
202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
e qualquer outra pessoa”
(NORTON, 1998, p.3, tradução livre).
A primeira premissa, portanto,
reconhece como valor regulatório os
pares profissionais como os principais
definidores do desenvolvimento de um
A segunda diz que uma “for
ma
eficaz de definir um trabalho/ocupação
é descrever com precisão as tarefas
que os trabalhadores especializados
realizam” (NORTON, 1998, p.
4,
tradução livre). A segunda, portanto,
revela que a precisão de constituição
de um currículo profissional demand
a
o reconhecimento das atividades e
tarefas que circunscrevem uma
A terceira revela dimensões
aparentemente mais personalizadas,
indicando níveis de competências
cognitivas, técnicas e
Todas as tarefas, para serem
alizadas corretamente, exigem
o uso de determinados
conhecimentos, habilidades,
ferramentas e comportamentos
positivos do trabalhador. Embora
o conhecimento, as habilidades,
as ferramentas e os
comportamentos dos
trabalhadores não sejam tarefas,
apacitadores que
possibilitam que os trabalhadores
tenham sucesso. (...) Como
esses atributos são diferentes e
distintos das tarefas, é muito
importante mantê
para que seja obtida uma análise
de alta qualidade dos requisitos
de desempenho do
(NORTON, 1998, p.
livre).
O método inclui também um
workshop com os trabalhadores
especialistas, para melhor apreensão
da ferramenta. Para a CBO foram
convidados de 8 a 12 profissionais
para cada ocupação com objetivo de
descrever sua
s áreas de atuação.
A escolha e preparação desses
profissionais ocorre
ram
seguintes critérios: instituições
conveniadas do Ministério; consultoria
nacional contratada; e treinamento no
método DACUM por uma instituição
canadense. Cada grupo se
dois dias para descrição. E em um
terceiro dia, um comitê composto
também por trabalhadores da área
validou as descrições. No total, 7 mil
pessoas participaram desse módulo,
chegando ao final do processo com
uma série de características
apontad
as tanto sobre as profissões
quanto sobre os profissionais
(BRASIL, 2010)
131
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Trabalho cultural e precarização
")
tenham sucesso. (...) Como
esses atributos são diferentes e
distintos das tarefas, é muito
importante mantê
-los separados
para que seja obtida uma análise
de alta qualidade dos requisitos
de desempenho do
trabalho
(NORTON, 1998, p.
4, tradução
O método inclui também um
workshop com os trabalhadores
especialistas, para melhor apreensão
da ferramenta. Para a CBO foram
convidados de 8 a 12 profissionais
para cada ocupação com objetivo de
s áreas de atuação.
A escolha e preparação desses
ram
a partir dos
seguintes critérios: instituições
conveniadas do Ministério; consultoria
nacional contratada; e treinamento no
método DACUM por uma instituição
canadense. Cada grupo se
reuniu por
dois dias para descrição. E em um
terceiro dia, um comitê composto
também por trabalhadores da área
validou as descrições. No total, 7 mil
pessoas participaram desse módulo,
chegando ao final do processo com
uma série de características
as tanto sobre as profissões
quanto sobre os profissionais
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
Um dos levantamentos
realizados pela CBO
nesta
através desses grupos de
trabalhadores, foi a identificação das
Competências mobilizadas para o
desempenho das atividades do
emprego ou trabalho
. Segundo a CBO,
o conceito de
Competência
duas variações: a primeira diz respeito
ao nível de competência
, isto é, a “(...)
complexidade, amplitude e
responsabilidade das atividades
desenvolvidas no emprego ou outro
tipo de relação de trabalho.” (BRASIL,
2010); a segunda, por outro lado,
significa o
Domínio (ou especialização)
da competência
, o qual relaciona
com o “(...) contexto do trabalho como
área de conhecimento, função,
atividade econômica, processo
produtivo, equipamentos, bens
produzidos que identificarão o tipo de
profissão ou ocupação.” (BRASIL,
2010)
Essas “competências”
aparecem na CBO, então,
capacidades e qualidades necessárias
para trabalhar num determinado
campo. Aparece aqui uma primeira
tensão: as competências estão
situadas tanto em formas de domínio
técnico como de
domínio pessoal
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
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145
,
set.
202
1
.
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(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
Um dos levantamentos
nesta
edição,
através desses grupos de
trabalhadores, foi a identificação das
Competências mobilizadas para o
desempenho das atividades do
. Segundo a CBO,
Competência
possui
duas variações: a primeira diz respeito
, isto é, a “(...)
complexidade, amplitude e
responsabilidade das atividades
desenvolvidas no emprego ou outro
tipo de relação de trabalho.” (BRASIL,
2010); a segunda, por outro lado,
Domínio (ou especialização)
, o qual relaciona
-se
com o “(...) contexto do trabalho como
área de conhecimento, função,
atividade econômica, processo
produtivo, equipamentos, bens
produzidos que identificarão o tipo de
profissão ou ocupação.” (BRASIL,
Essas “competências”
aparecem na CBO, então,
como
capacidades e qualidades necessárias
para trabalhar num determinado
campo. Aparece aqui uma primeira
tensão: as competências estão
situadas tanto em formas de domínio
domínio pessoal
.
Sugere-
nos, assim, uma dada ordem
instrumental em d
uplo ato, para a vida
e para a execução da atividade
profissional.
Destacadas assim como uma
imanência, um circuito natural, as
“competências pessoais” são uma
forma não-
explícita de exigências que
singularizam necessidades prévias
esperadas para que um ag
possa estar autorizado a cumprir sua
rotina profissional. A ausência de uma
destas características “pessoais”
expressa também
forma silenciosa
uma desconfiança
tanto institucional quanto entre os
pares para uma projeção adequad
carreira.
Veremos no próximo item como
estas dimensões são convocadas para
os profissionais de bastidores.
Profissionais de bastidores e
competências pessoais
Para análise das competências
pessoais, partiremos das famílias
ocupacionais identificadas
famílias ocupacionais são formadas a
partir de dez Grandes Grupos
4
Grandes grupos: 1) Membros das Forças
Armadas, policiais e bombeiros militares; 2)
Membros superiores do poder público,
132
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
nos, assim, uma dada ordem
uplo ato, para a vida
e para a execução da atividade
Destacadas assim como uma
imanência, um circuito natural, as
“competências pessoais” são uma
explícita de exigências que
singularizam necessidades prévias
esperadas para que um ag
ente social
possa estar autorizado a cumprir sua
rotina profissional. A ausência de uma
destas características “pessoais”
ainda que de
uma desconfiança
tanto institucional quanto entre os
pares para uma projeção adequad
a da
Veremos no próximo item como
estas dimensões são convocadas para
os profissionais de bastidores.
Profissionais de bastidores e
competências pessoais
Para análise das competências
pessoais, partiremos das famílias
ocupacionais identificadas
na CBO. As
famílias ocupacionais são formadas a
partir de dez Grandes Grupos
4
, um
Grandes grupos: 1) Membros das Forças
Armadas, policiais e bombeiros militares; 2)
Membros superiores do poder público,
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
número amplo de subgrupos principais
e ainda maior de Subgrupos. Aqui,
observamos
inicialmente o Grande
Grupo dos Profissionais das Ciências
e das Artes, onde identificamos u
maior número de ocupações
sinônimas dos
profissionais dos
bastidores
e onde também se encontra
listada a ocupação de produtores
culturais, conforme demonstra o
Fluxograma abaixo.
dirigentes de organizações de interesse
público e de empresas, gerentes; 3)
Profissionais das Ciências e das Artes; 4)
Técnicos de níve
l médio; 5) Trabalhadores de
serviços administrativos; 6) Trabalhadores dos
serviços, vendedores do comércio em lojas e
mercados; 7) Trabalhadores agropecuários,
florestais e da pesca; 8) Trabalhadores da
produção de bens e serviços industriais; 9)
Trabalh
adores da produção de bens e serviços
industriais; 10) Trabalhadores em serviços de
reparação e manutenção. Os Grandes Grupos
8 e 9 possuem nomenclaturas idênticas, mas
subgrupos diferentes.
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
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(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
número amplo de subgrupos principais
e ainda maior de Subgrupos. Aqui,
inicialmente o Grande
Grupo dos Profissionais das Ciências
e das Artes, onde identificamos u
m
maior número de ocupações
profissionais dos
e onde também se encontra
listada a ocupação de produtores
culturais, conforme demonstra o
dirigentes de organizações de interesse
público e de empresas, gerentes; 3)
Profissionais das Ciências e das Artes; 4)
l médio; 5) Trabalhadores de
serviços administrativos; 6) Trabalhadores dos
serviços, vendedores do comércio em lojas e
mercados; 7) Trabalhadores agropecuários,
florestais e da pesca; 8) Trabalhadores da
produção de bens e serviços industriais; 9)
adores da produção de bens e serviços
industriais; 10) Trabalhadores em serviços de
reparação e manutenção. Os Grandes Grupos
8 e 9 possuem nomenclaturas idênticas, mas
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Trabalho cultural e precarização
")
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
Fluxograma 1 -
Divisões de ocupaçõe
Fonte: elaboração própria dos autores a partir da Classificação Brasileira de Ocupações
É imp
ortante observar que no
caso específico de produtores culturais
(código 2621 -
Produtores Artísticos e
Culturais) a nomenclatura foi
modificada para a publicação da CBO
2010, variando de “Empresários
Artísticos” para “Produtores Artísticos
e Culturais”. Es
sa modificação ao
mesmo tempo que é um
reconhecimento da legitimidade
profissional reflete também como o
circuito produtivo da cultura já havia
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
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(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
Divisões de ocupaçõe
s do Grande Grupo 2 da CBO
Fonte: elaboração própria dos autores a partir da Classificação Brasileira de Ocupações
ortante observar que no
caso específico de produtores culturais
Produtores Artísticos e
Culturais) a nomenclatura foi
modificada para a publicação da CBO
2010, variando de “Empresários
Artísticos” para “Produtores Artísticos
sa modificação ao
mesmo tempo que é um
reconhecimento da legitimidade
profissional reflete também como o
circuito produtivo da cultura já havia
incorporado a atividade como um de
seus principais partícipes. O
conhecimento da nomenclatura
anterior é importa
descrição de suas atividades parece
ainda resguardar características do
mundo financeiro-
empresarial.
Analisando de forma mais
vertical o sugerido às competências
para a profissão “produtor/a cultural”,
vemos que ambos os domínios
técnicos e p
essoais interagem. A CBO
134
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
s do Grande Grupo 2 da CBO
Fonte: elaboração própria dos autores a partir da Classificação Brasileira de Ocupações
incorporado a atividade como um de
seus principais partícipes. O
conhecimento da nomenclatura
anterior é importa
nte porque a
descrição de suas atividades parece
ainda resguardar características do
empresarial.
Analisando de forma mais
vertical o sugerido às competências
para a profissão “produtor/a cultural”,
vemos que ambos os domínios
essoais interagem. A CBO
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
assim classifica as
competências/qualidades:
1 Administrar conflitos
2 Demonstrar capacidade de lidar
com imprevistos
3 Demonstrar capacidade de
propor soluções
4 Demonstrar capacidade de
atenção difusa
5 Demonstrar capacidade de
trabalhar em equipe
6 Demonstrar capacidade de
articulação profissional
7 Demonstrar capacidade de
conciliação
8 Demonstrar capacidade de
liderança
9 Demonstrar criatividade
10 Demonstrar pró-
atividade
11 Demonstrar capacidade de
administrar o tempo
12
Demonstrar capacidade de
trabalhar sob pressão
13 Demonstrar flexibilidade
14 Demonstrar sensibilidade
artística
15 Demonstrar capacidade de
persuasão
16 Demonstrar paciência
(BRASIL, s.d,
grifos nossos
Primeiramente, observamos
que as dezesseis competên
apontadas como
qualidades/competências sugeridas
aos produtores culturais para exercício
de suas ocupações. Essas
competências, no entanto,
ultrapassam a dimensão laboral,
adentrando às próprias subjetividades
e características pessoais dos sujeit
(por exemplo: atenção difusa,
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
125
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set.
202
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www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
assim classifica as
1 Administrar conflitos
2 Demonstrar capacidade de lidar
3 Demonstrar capacidade de
4 Demonstrar capacidade de
5 Demonstrar capacidade de
6 Demonstrar capacidade de
articulação profissional
7 Demonstrar capacidade de
8 Demonstrar capacidade de
9 Demonstrar criatividade
atividade
11 Demonstrar capacidade de
administrar o tempo
Demonstrar capacidade de
trabalhar sob pressão
13 Demonstrar flexibilidade
14 Demonstrar sensibilidade
15 Demonstrar capacidade de
16 Demonstrar paciência
grifos nossos
)
Primeiramente, observamos
que as dezesseis competên
cias são
apontadas como
qualidades/competências sugeridas
aos produtores culturais para exercício
de suas ocupações. Essas
competências, no entanto,
ultrapassam a dimensão laboral,
adentrando às próprias subjetividades
e características pessoais dos sujeit
os
(por exemplo: atenção difusa,
criatividade, sensibilidade etc
Falamos em um cenário, portanto, no
qual não somente o tempo de trabalho
e os outros tempos da vida social se
confundem, mas o próprio
desenvolvimento de subjetividades
está atrelado à pos
realização profissional.
Quanto a esse cenário,
entenderemos aqui como a
intensificação de um processo de “vida
reduzida”, na qual o capital
[...]
avassala a possibilidade de
desenvolvimento humano
pessoal dos indivíduos sociais, na
medida
em que ocupa o tempo
de vida das pessoas com a lógica
do trabalho estranhado e a lógica
da mercado
ria e do consumismo
desenfreado
(ALVES, 2011, p.
21).
A “vida reduzida” é a
contradição da “vida plena de sentido”
e se exprime na vida dos sujeitos pela
di
ficuldade de se desenvolverem
enquanto seres humanos genéricos
(ALVES, 2011). O que chamamos
atenção aqui é que a “vida reduzida” e,
portanto, a sobreposição do tempo de
trabalho e das características de
trabalho aos outros tempos e as outras
característic
as pessoais dos sujeitos,
têm sido abordada (como no exemplo
135
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
criatividade, sensibilidade etc
.).
Falamos em um cenário, portanto, no
qual não somente o tempo de trabalho
e os outros tempos da vida social se
confundem, mas o próprio
desenvolvimento de subjetividades
está atrelado à pos
sibilidade de
realização profissional.
Quanto a esse cenário,
entenderemos aqui como a
intensificação de um processo de “vida
reduzida”, na qual o capital
avassala a possibilidade de
desenvolvimento humano
-
pessoal dos indivíduos sociais, na
em que ocupa o tempo
de vida das pessoas com a lógica
do trabalho estranhado e a lógica
ria e do consumismo
(ALVES, 2011, p.
A “vida reduzida” é a
contradição da “vida plena de sentido”
e se exprime na vida dos sujeitos pela
ficuldade de se desenvolverem
enquanto seres humanos genéricos
(ALVES, 2011). O que chamamos
atenção aqui é que a “vida reduzida” e,
portanto, a sobreposição do tempo de
trabalho e das características de
trabalho aos outros tempos e as outras
as pessoais dos sujeitos,
têm sido abordada (como no exemplo
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
da CBO para produtores culturais)
enquanto “vida plena de sentido”.
Ainda quanto às dezesseis
competências, elas também parecem
apontar, em menor ou maior grau,
para um sujeito que dialoga com as
características da modernização da
figura dos gerentes nos anos 1980.
Seria um trabalhador capaz de
incorporar e de impor as práticas
profissionais flexíveis e precárias
(demonstrar flexibilidade, persuasão,
atenção difusa, liderança etc
mesmo tempo em
que exige
confiança, lealdade e cooperação
(LINHART, 2007). No entanto, ao
invés de um gerente dentro das
empresas, leal aos interesses
empresariais, podemos falar em um
profissional trabalhando por conta
própria (demonstrar flexibilidade),
muitas vezes
respaldado por sua
própria figura jurídica, gerenciando de
forma precária o sistema que sustenta
o mercado financeiro-
cultural.
Isso é perceptível devido às
competências apontadas anunciarem
um profissional em constante conflito,
que precisa conciliar, tr
abalhar em
equipe e administrar conflitos e ao
mesmo tempo persuadir e manter uma
atenção difusa. Entendemos que a
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
125
-
145
,
set.
202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
da CBO para produtores culturais)
enquanto “vida plena de sentido”.
Ainda quanto às dezesseis
competências, elas também parecem
apontar, em menor ou maior grau,
para um sujeito que dialoga com as
características da modernização da
figura dos gerentes nos anos 1980.
Seria um trabalhador capaz de
incorporar e de impor as práticas
profissionais flexíveis e precárias
(demonstrar flexibilidade, persuasão,
atenção difusa, liderança etc
.) ao
que exige
confiança, lealdade e cooperação
(LINHART, 2007). No entanto, ao
invés de um gerente dentro das
empresas, leal aos interesses
empresariais, podemos falar em um
profissional trabalhando por conta
própria (demonstrar flexibilidade),
respaldado por sua
própria figura jurídica, gerenciando de
forma precária o sistema que sustenta
cultural.
Isso é perceptível devido às
competências apontadas anunciarem
um profissional em constante conflito,
abalhar em
equipe e administrar conflitos e ao
mesmo tempo persuadir e manter uma
atenção difusa. Entendemos que a
relação/conflito dessas competências
nos fornece um enunciado que
dissemina o imaginário do produtor
cultural como uma figura que transita
en
tre o mundo econômico e o
expressivo, capaz de agenciar
simultaneamente gicas competitivas
e sensitivas.
A partir dessas competências,
colocaremos um foco mais vertical em
duas, que entendemos como
características que parecem
ultrapassar o universo labo
uma dimensão mais autonormativa,
traduzindo
condições
trabalho como qualidades individuais
sugeridas. Tratam-
se das categorias:
11 -
Capacidade de administrar o
tempo; e 12 -
Demonstrar capacidade
de trabalhar sob pressão
categ
orias parecem concentrar uma
práxis em constante transformação
dentro do neoliberalismo, indo de uma
experiência desagradável e precária
para uma concepção de qualidade e
de competência
, como aqui analisada.
Diante disso, acredita
competências id
entificadas por
instituições, por trabalhadores da área
e chanceladas pelo governo podem
demonstrar como os trabalhadores da
cultura e, mais particularmente os
136
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
relação/conflito dessas competências
nos fornece um enunciado que
dissemina o imaginário do produtor
cultural como uma figura que transita
tre o mundo econômico e o
expressivo, capaz de agenciar
simultaneamente gicas competitivas
A partir dessas competências,
colocaremos um foco mais vertical em
duas, que entendemos como
características que parecem
ultrapassar o universo labo
ral para
uma dimensão mais autonormativa,
condições
precárias de
trabalho como qualidades individuais
se das categorias:
Capacidade de administrar o
Demonstrar capacidade
de trabalhar sob pressão
. Essas
orias parecem concentrar uma
práxis em constante transformação
dentro do neoliberalismo, indo de uma
experiência desagradável e precária
para uma concepção de qualidade e
, como aqui analisada.
Diante disso, acredita
-se que as
entificadas por
instituições, por trabalhadores da área
e chanceladas pelo governo podem
demonstrar como os trabalhadores da
cultura e, mais particularmente os
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
produtores/as culturais, são
entendidos e caracterizados como
uma forma de trabalho positivada,
ainda que sem garantias de trabalho e
de segurança.
Para verificar a ocorrência
dessas duas competências,
recorreremos às dezenove ocupações
que englobam o Subgrupo principal
Comunicadores, Artistas e Religiosos,
conforme identificado no Fluxograma
1. F
oram analisadas as competências
pessoais apontadas como essenciais
Tabela 1 -
Ocupações com competências
OCUPAÇÃO
2614 -
Filólogos, Tradutores, intérpretes e Afins
2617 -
Locutores, Comentaristas e Repórteres
de mídias audiovisuais
2619 -
Assistentes de direção (TV) e
Continuístas
2621 -
Produtores artísticos e culturais
2622 -
Diretores de espetáculos e afins
Fonte: Elaborado pelos autores a partir das competências pessoais dispostas no site da CBO
A partir dessa indexação,
averiguamos que a administração do
tempo aparece tanto para a categoria
2614 -
Filólogos, Tradutores,
Intérpretes e Afins quanto para a
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
125
-
145
,
set.
202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
produtores/as culturais, são
entendidos e caracterizados como
uma forma de trabalho positivada,
ainda que sem garantias de trabalho e
Para verificar a ocorrência
dessas duas competências,
recorreremos às dezenove ocupações
que englobam o Subgrupo principal
de
Comunicadores, Artistas e Religiosos,
conforme identificado no Fluxograma
oram analisadas as competências
pessoais apontadas como essenciais
para trabalhar em cada uma dessas
profissões a fim de verificar se outras
ocupações, especialmente as ligadas
aos
profissionais de bastidores
encontram ambas as competências de
administraç
ão de tempo e de trabalho
sob pressão.
Nos subgrupos 261, 262 e 263,
encontramos as duas competências
destacadas em algumas ocupações,
conforme verifica-
se na tabela a
seguir:
Ocupações com competências
selecionadas no subgrupo principal 26
OCUPAÇÃO
COMPETÊNCIA
Filólogos, Tradutores, intérpretes e Afins
Trabalhar sob pressão (do tempo)
Locutores, Comentaristas e Repórteres
Demonstrar capacidade de administrar o tempo
Assistentes de direção (TV) e
Demonstrar capacidade de trabalhar sob pressão
Demonstrar capacidade de administrar o tempo
Produtores artísticos e culturais
Demonstrar capacidade de administrar o tempo
Demonstrar capacidade
de trabalhar sob pressão
Diretores de espetáculos e afins
Demonstrar capacidade de administrar o tempo
Demonstrar capacidade de trabalhar sob pressão
Fonte: Elaborado pelos autores a partir das competências pessoais dispostas no site da CBO
A partir dessa indexação,
averiguamos que a administração do
tempo aparece tanto para a categoria
Filólogos, Tradutores,
Intérpretes e Afins quanto para a
categoria 2617
Comentaristas e Repórteres de mídias
audiovisuais. Uma análise mais
aprofundada nas descrições atribuídas
a estas duas categorias revela que a
137
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Trabalho cultural e precarização
")
para trabalhar em cada uma dessas
profissões a fim de verificar se outras
ocupações, especialmente as ligadas
profissionais de bastidores
,
encontram ambas as competências de
ão de tempo e de trabalho
Nos subgrupos 261, 262 e 263,
encontramos as duas competências
destacadas em algumas ocupações,
se na tabela a
selecionadas no subgrupo principal 26
COMPETÊNCIA
Trabalhar sob pressão (do tempo)
Demonstrar capacidade de administrar o tempo
Demonstrar capacidade de trabalhar sob pressão
Demonstrar capacidade de administrar o tempo
Demonstrar capacidade de administrar o tempo
de trabalhar sob pressão
Demonstrar capacidade de administrar o tempo
Demonstrar capacidade de trabalhar sob pressão
Fonte: Elaborado pelos autores a partir das competências pessoais dispostas no site da CBO
categoria 2617
- Locutores,
Comentaristas e Repórteres de mídias
audiovisuais. Uma análise mais
aprofundada nas descrições atribuídas
a estas duas categorias revela que a
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
administração do tempo em suas
ocupações refere-
se ao tempo de
trabalho contínuo e de
mensuração, a irregularidade de
horários e a característica intermitente
do trabalho.
Porém, entendemos que a
noção de controle ou capacidade de
administração do tempo pode nos
mostrar diferentes matizes quando
perspectivadas em sua relação com a
organização do trabalho. Em um
cenário de intensa informalidade e
sazonalidade laboral,
n
emprego no setor terciário vem
tendendo a ser cada vez mais
reproduzido na forma de projetos
qual encontrado por grande parte dos
trabalhadores da cultu
ra no Brasil
(DOMINGUES, 2017; SEGNINI, 2007)
-
, é razoável afirmar que a “capacidade
de administração do tempo” não se
resume apenas ao conjunto de tarefas
a executar e suas características de
mensuração.
Dentro do universo de incerteza
empregatícia que
marca uma enorme
fração dos profissionais de bastidores,
a administração do tempo é uma
condição absolutamente inerente para
garantir possibilidades de
envolvimento em novas oportunidades
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
125
-
145
,
set.
202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
administração do tempo em suas
se ao tempo de
trabalho contínuo e de
difícil
mensuração, a irregularidade de
horários e a característica intermitente
Porém, entendemos que a
noção de controle ou capacidade de
administração do tempo pode nos
mostrar diferentes matizes quando
perspectivadas em sua relação com a
organização do trabalho. Em um
cenário de intensa informalidade e
n
o qual o
emprego no setor terciário vem
tendendo a ser cada vez mais
reproduzido na forma de projetos
- tal
qual encontrado por grande parte dos
ra no Brasil
(DOMINGUES, 2017; SEGNINI, 2007)
, é razoável afirmar que a “capacidade
de administração do tempo” não se
resume apenas ao conjunto de tarefas
a executar e suas características de
Dentro do universo de incerteza
marca uma enorme
fração dos profissionais de bastidores,
a administração do tempo é uma
condição absolutamente inerente para
garantir possibilidades de
envolvimento em novas oportunidades
de projetos. Assim, entendemos que
na aparência de uma competência d
domínio técnico acerca das atenções
executivas de etapas de trabalho, a
noção de controle do tempo guarda
resíduos de administração pessoal que
possibilitem a rápida passagem de um
emprego para outro (SENNET, 2006),
como uma posição permanente de
exercíc
io para a empregabilidade.
Na ausência de sistemas
protetivos próprios que pudessem
garantir a sobrevivência destes
trabalhadores em períodos de
desemprego, ser “capaz de administrar
o tempo” é um traço singular de um
cotidiano marcado pela casualização
la
boral. Em tempos de desproteção
laboral, apresentar capacidades
“flexíveis”, tal como descrito nas
competências profissionais, parece
adequado à gestão de uma carreira
cheia de incertezas.
As outras duas ocupações que
registram as características elencadas
também estão no rol das profissões
artísticas e é interessante notar que
posicionam-
se em situações de
gerência/direção, tanto o 2619
Assistente de direção (TV) e
Continuístas, que se aproxima muitas
vezes das tarefas desempenhadas
138
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Trabalho cultural e precarização
")
de projetos. Assim, entendemos que
na aparência de uma competência d
e
domínio técnico acerca das atenções
executivas de etapas de trabalho, a
noção de controle do tempo guarda
resíduos de administração pessoal que
possibilitem a rápida passagem de um
emprego para outro (SENNET, 2006),
como uma posição permanente de
io para a empregabilidade.
Na ausência de sistemas
protetivos próprios que pudessem
garantir a sobrevivência destes
trabalhadores em períodos de
desemprego, ser “capaz de administrar
o tempo” é um traço singular de um
cotidiano marcado pela casualização
boral. Em tempos de desproteção
laboral, apresentar capacidades
“flexíveis”, tal como descrito nas
competências profissionais, parece
adequado à gestão de uma carreira
As outras duas ocupações que
registram as características elencadas
também estão no rol das profissões
artísticas e é interessante notar que
se em situações de
gerência/direção, tanto o 2619
-
Assistente de direção (TV) e
Continuístas, que se aproxima muitas
vezes das tarefas desempenhadas
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
pelos produtores/as c
ulturais, quanto
os 2622 -
Diretores de espetáculos e
Afins exercem um poder de decisão e
de controle.
Para melhor compreender a
utilização dessas competências e
verificar sua extensão para além das
profissões artísticas, optamos ainda
por explorar sua oco
rrência nos dez
Grandes Grupos da CBO e, portanto,
em todas as ocupações listadas.
Nesse mapeamento, 20 ocupações
registram a administração do tempo
como competência e 34 registram o
trabalho sob pressão. A maioria
encontra-
se no campo financeiro,
econômic
o e/ou gerencial, com
destaque para gerentes de máquinas,
profissionais que gerenciam processos
de engenharia e profissionais
diretamente envolvidos com a
administração de recursos financeiros.
Um cruzamento dessas
informações revela ainda que, fora os
pro
dutores/as culturais, apenas outras
seis ocupações registram ambas as
competências simultaneamente, são
elas: 2422 -
Membros do Ministério
Público; 2424 -
Defensores blicos e
procuradores da assistência judiciária;
2622 -
Diretores de espetáculos e
afins; 3742 -
Técnicos em Cenografia;
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
125
-
145
,
set.
202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
ulturais, quanto
Diretores de espetáculos e
Afins exercem um poder de decisão e
Para melhor compreender a
utilização dessas competências e
verificar sua extensão para além das
profissões artísticas, optamos ainda
rrência nos dez
Grandes Grupos da CBO e, portanto,
em todas as ocupações listadas.
Nesse mapeamento, 20 ocupações
registram a administração do tempo
como competência e 34 registram o
trabalho sob pressão. A maioria
se no campo financeiro,
o e/ou gerencial, com
destaque para gerentes de máquinas,
profissionais que gerenciam processos
de engenharia e profissionais
diretamente envolvidos com a
administração de recursos financeiros.
Um cruzamento dessas
informações revela ainda que, fora os
dutores/as culturais, apenas outras
seis ocupações registram ambas as
competências simultaneamente, são
Membros do Ministério
Defensores blicos e
procuradores da assistência judiciária;
Diretores de espetáculos e
Técnicos em Cenografia;
3744 -
Técnicos em montagem, edição
e finalização de mídia audiovisual;
2619 -
Assistentes de direção (TV) e
Continuístas. Isto significa que a
maioria das ocupações encontradas
com ambas as competências estão
dentro de um
rol do trabalho cultural e,
principalmente, dos
bastidores
. É interessante relembrar
também que não foram os mesmos
participantes do método
Curriculum
(DACUM) para cada uma
dessas ocupações, mas grupos
diferentes que associara
competências com esses
trabalhadores da cultura.
Cremos ser importante também
algumas considerações acerca da
normalização da “capacidade de
trabalhar sob pressão”. Retomamos
uma condição brevemente apontada
na introdução deste artigo,
compreende como o trabalho pode ser
uma fonte de prazer mas também de
sofrimento (DEJOURS, 2004).
Dialogamos em especial com
alguns autores que procuraram
investigar as carreiras de profissionais
executivos do mercado financeiro e
bancário a partir de i
psicopatologia do trabalho (FLACH
al
., 2009; GRISCI
139
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
Técnicos em montagem, edição
e finalização de mídia audiovisual;
Assistentes de direção (TV) e
Continuístas. Isto significa que a
maioria das ocupações encontradas
com ambas as competências estão
rol do trabalho cultural e,
principalmente, dos
profissionais de
. É interessante relembrar
também que não foram os mesmos
participantes do método
Developing a
(DACUM) para cada uma
dessas ocupações, mas grupos
diferentes que associara
m ambas as
competências com esses
trabalhadores da cultura.
Cremos ser importante também
algumas considerações acerca da
normalização da “capacidade de
trabalhar sob pressão”. Retomamos
uma condição brevemente apontada
na introdução deste artigo,
na qual se
compreende como o trabalho pode ser
uma fonte de prazer mas também de
sofrimento (DEJOURS, 2004).
Dialogamos em especial com
alguns autores que procuraram
investigar as carreiras de profissionais
executivos do mercado financeiro e
bancário a partir de i
nterações com a
psicopatologia do trabalho (FLACH
et
., 2009; GRISCI
; OLTRAMARI;
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
WEBER, 2011). É possível enxergar
nestas pesquisas a constante
interlocução entre o trabalho sob
pressão e a forma patogênica de
sofrimento, tal como apontada por
Dejours (2004).
Quanto ao trabalho de Flach
al
. (2009), foram investigadas doze
edições d
e uma revista dedicada ao
mundo dos negócios, entre os anos de
2005 e 2006. Nas diversas menções
aos sentidos de “pressão no trabalho”,
o artigo revela uma alta incidência de
correlação com situação de estresse
nos artigos e seções da revista. Em
parte tra
duzida como parte do
cotidiano laboral dos executivos, o
estresse em decorrência da
administração da pressão é também
concebido como um “propulsor de um
bom desempenho, qualidade
extremamente exigida no mundo do
trabalho” (FLACH et al
., 2009, p.199).
A pub
licação indica algumas ações
para seus leitores: “aprenda a
intercalar os períodos de tensão, que
são essenciais para o desempenho,
com pausas de relaxamento para se
recuperar”; “Não fume, controle o peso
e o colesterol, pratique uma atividade
física e bus
que formas de aliviar o
estresse". Caberia, então, ao executivo
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
125
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145
,
set.
202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
WEBER, 2011). É possível enxergar
nestas pesquisas a constante
interlocução entre o trabalho sob
pressão e a forma patogênica de
sofrimento, tal como apontada por
Quanto ao trabalho de Flach
et
. (2009), foram investigadas doze
e uma revista dedicada ao
mundo dos negócios, entre os anos de
2005 e 2006. Nas diversas menções
aos sentidos de “pressão no trabalho”,
o artigo revela uma alta incidência de
correlação com situação de estresse
nos artigos e seções da revista. Em
duzida como parte do
cotidiano laboral dos executivos, o
estresse em decorrência da
administração da pressão é também
concebido como um “propulsor de um
bom desempenho, qualidade
extremamente exigida no mundo do
., 2009, p.199).
licação indica algumas ações
para seus leitores: “aprenda a
intercalar os períodos de tensão, que
são essenciais para o desempenho,
com pausas de relaxamento para se
recuperar”; “Não fume, controle o peso
e o colesterol, pratique uma atividade
que formas de aliviar o
estresse". Caberia, então, ao executivo
atento ser hábil para lidar com as
situações estressantes.
O trabalho de Grisci, Oltramari e
Weber (2011) investigou alguns
dilemas pessoais relativos à carreira
vividos por executivos bancári
mostra outras características da
administração da pressão. Os
executivos entrevistados relatam como
a competição cotidiana os deixa em
estado permanente de alerta, incidindo
sobre o medo de se perder seu posto
empregatício e sobre uma “pressão
pe
ssoal constante para que a "doação
ao banco seja maior e a carga de
trabalho maior também”” (GRISCI
OLTRAMARI;
WEBER, 2011, p.103).
O mais decisivo parece configurar
sobre uma auto-
pressão para mostrar
se como um “trabalhador exemplar”
aos bancos. A front
trabalho e a casa perde o sentido,
fazendo com que a dedicação ao
cargo ocupe todo o tempo,
prejudicando horários de descanso e o
convívio familiar.
Estes pequenos extratos
revelam como a administração da
pressão é também orientada pela
otimiz
ação da funcionalidade e da
administração do sofrimento como um
fator produtivo. Como notamos em
140
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
atento ser hábil para lidar com as
situações estressantes.
O trabalho de Grisci, Oltramari e
Weber (2011) investigou alguns
dilemas pessoais relativos à carreira
vividos por executivos bancári
os, e nos
mostra outras características da
administração da pressão. Os
executivos entrevistados relatam como
a competição cotidiana os deixa em
estado permanente de alerta, incidindo
sobre o medo de se perder seu posto
empregatício e sobre uma “pressão
ssoal constante para que a "doação
ao banco seja maior e a carga de
trabalho maior também”” (GRISCI
;
WEBER, 2011, p.103).
O mais decisivo parece configurar
pressão para mostrar
-
se como um “trabalhador exemplar”
aos bancos. A front
eira entre o
trabalho e a casa perde o sentido,
fazendo com que a dedicação ao
cargo ocupe todo o tempo,
prejudicando horários de descanso e o
Estes pequenos extratos
revelam como a administração da
pressão é também orientada pela
ação da funcionalidade e da
administração do sofrimento como um
fator produtivo. Como notamos em
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
nossa breve reflexão sobre a
administração do tempo, trabalhar sob
pressão não diz apenas sobre as
dificuldades executivas de tarefas
imateriais, diz também co
universo a extração de trabalho pode
vir a ser realizada ao nível de
produção de patologias.
À guisa de considerações finais: o
sujeito competitivo-
pacificado
O entendimento dessas
competências pessoais como
qualidades/capacidades parece
uma
ideia central para entender a atual
construção de um sujeito laboral que
consegue unificar em si demandas de
diferentes setores, ainda que esses
possuam prioridades distintas ou
contraditórias, como é o caso do
universo artístico e do econômico. No
caso de
produtores culturais, as
qualidades/capacidades, indicadas por
profissionais e instituições do setor,
apontam ao mesmo tempo para um
profissional que se posiciona de forma
competitiva, dentro das regras do
mercado econômico-
financeiro, e de
forma concilia
dora, sensível,
expressiva. Entendemos aqui a
reunião desse conjunto de
competências como a enunciação de
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
125
-
145
,
set.
202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
nossa breve reflexão sobre a
administração do tempo, trabalhar sob
pressão não diz apenas sobre as
dificuldades executivas de tarefas
imateriais, diz também co
mo neste
universo a extração de trabalho pode
vir a ser realizada ao nível de
À guisa de considerações finais: o
pacificado
O entendimento dessas
competências pessoais como
qualidades/capacidades parece
-nos
ideia central para entender a atual
construção de um sujeito laboral que
consegue unificar em si demandas de
diferentes setores, ainda que esses
possuam prioridades distintas ou
contraditórias, como é o caso do
universo artístico e do econômico. No
produtores culturais, as
qualidades/capacidades, indicadas por
profissionais e instituições do setor,
apontam ao mesmo tempo para um
profissional que se posiciona de forma
competitiva, dentro das regras do
financeiro, e de
dora, sensível,
expressiva. Entendemos aqui a
reunião desse conjunto de
competências como a enunciação de
um sujeito competitivo
(DARDOT;
LAVAL, 2016)
positivas e/ou paliativas suas
condições laborais precarizantes.
Para nós, soa como a
idealização de um indivíduo que está
suficientemente integrado às normas
do mercado econômico para disputá
lo, mas não necessariamente entende
seu trabalho como um ativo
exclusivamente financeiro, que
mantém determinadas relações
su
bjetivas de valor pelo seu próprio
trabalho. Em outras palavras, a
dimensão de prazer/satisfação trazida
pela possibilidade de se expressar
pelo trabalho parece
pacificidade diante dos
desdobramentos que é se entender
como um sujeito compet
capitalismo.
Essa definição vai ao encontro
da constituição de uma nova
racionalidade típica do sujeito
neoliberal contemporâneo (DARDOT
LAVAL, 2016), ao naturalizar um
modus operandi
dos trabalhos da
cultura no qual a sensação de
prazer/satisfaç
ão proporcionada tanto
pela criação/execução artística quanto
pelo desenvolvimento e melhoria da
sua própria marca pessoal (no sentido
141
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
um sujeito competitivo
-pacificado
LAVAL, 2016)
, que torna
positivas e/ou paliativas suas
condições laborais precarizantes.
Para nós, soa como a
idealização de um indivíduo que está
suficientemente integrado às normas
do mercado econômico para disputá
-
lo, mas não necessariamente entende
seu trabalho como um ativo
exclusivamente financeiro, que
mantém determinadas relações
bjetivas de valor pelo seu próprio
trabalho. Em outras palavras, a
dimensão de prazer/satisfação trazida
pela possibilidade de se expressar
pelo trabalho parece
acarretar certa
pacificidade diante dos
desdobramentos que é se entender
como um sujeito compet
itivo no
Essa definição vai ao encontro
da constituição de uma nova
racionalidade típica do sujeito
neoliberal contemporâneo (DARDOT
;
LAVAL, 2016), ao naturalizar um
dos trabalhos da
cultura no qual a sensação de
ão proporcionada tanto
pela criação/execução artística quanto
pelo desenvolvimento e melhoria da
sua própria marca pessoal (no sentido
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
auto-
empresarial) mascaram a
sobreposição do tempo de trabalho
aos outros tempos da vida social e,
portanto, a manutenção
não pago (HOPE;
RICHARDS, 2015).
Dota-
se, diante disso, que a
mobilização discursiva sobre o
arquétipo laboral “produtor/a cultural”
pode influenciar diretamente na
naturalização da relação trabalho
cultural/precarização do trabalho
(ANTUNES,
2018; STANDING, 2015).
Acreditamos aqui que esse
modus operandi
ao mesmo tempo que
constrói um imaginário dos
produtores/as culturais como modelo
de trabalho desejável, também está
baseado numa projeção discursiva de
estabilização de condutas individuais
compatíveis” de integração ao
neoliberalismo. Quando ampliamos o
conceito de produtores/as culturais
para projetar
a produção
subjetividades, passamos a identificar
nos elementos precarizantes desse
trabalho, na verdade, a própria
precarização da vida.
O que chama atenção, no
entanto, no caso dos
profissionais de
bastidores
e especialmente de
produtores culturais é que o que
chamamos aqui de precarização da
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
125
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,
set.
202
1
.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
empresarial) mascaram a
sobreposição do tempo de trabalho
aos outros tempos da vida social e,
do trabalho
RICHARDS, 2015).
se, diante disso, que a
mobilização discursiva sobre o
arquétipo laboral “produtor/a cultural”
pode influenciar diretamente na
naturalização da relação trabalho
cultural/precarização do trabalho
2018; STANDING, 2015).
Acreditamos aqui que esse
ao mesmo tempo que
constrói um imaginário dos
produtores/as culturais como modelo
de trabalho desejável, também está
baseado numa projeção discursiva de
estabilização de condutas individuais
compatíveis” de integração ao
neoliberalismo. Quando ampliamos o
conceito de produtores/as culturais
a produção
de
subjetividades, passamos a identificar
nos elementos precarizantes desse
trabalho, na verdade, a própria
O que chama atenção, no
profissionais de
e especialmente de
produtores culturais é que o que
chamamos aqui de precarização da
vida está relacionado ao fetiche do
próprio trabalho, em uma experiência
de desempenho/gozo, aler
Dardot e Laval (2016), acionada pelas
próprias condições precarizantes ainda
que invisibilizadas. Retomamos
definição de Alves (2011) de “vida
reduzida” antípoda a “vida plena de
sentida” para ilustrarmos que ao
falarmos na enunciação desse suje
competitivo-
pacificado, estamos
tentando demonstrar que a “vida
reduzida” tem soado aos trabalhadores
como “vida plena de sentido”,
principalmente quando o trabalho
permite aos sujeitos experimentarem
suas possibilidades de subjetividade e
de expressiv
idade, no que Hope e
Richards (2015) chamam da
integração entre o “trabalho dos
sonhos” e o “trabalho de
sobrevivência”.
Na área artística e cultural nos
parece fundamental chamar atenção
para esse processo de precarização
do trabalho e da vida porque, em
determinados momentos, pode
parecer pelo próprio caráter de
reflexão e/ou de entretenimento
provocado por suas produções que os
trabalhadores dessa área estão
emancipados ou se divertindo, quando
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- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
vida está relacionado ao fetiche do
próprio trabalho, em uma experiência
de desempenho/gozo, aler
tado por
Dardot e Laval (2016), acionada pelas
próprias condições precarizantes ainda
que invisibilizadas. Retomamos
a
definição de Alves (2011) de “vida
reduzida” antípoda a “vida plena de
sentida” para ilustrarmos que ao
falarmos na enunciação desse suje
ito
pacificado, estamos
tentando demonstrar que a “vida
reduzida” tem soado aos trabalhadores
como “vida plena de sentido”,
principalmente quando o trabalho
permite aos sujeitos experimentarem
suas possibilidades de subjetividade e
idade, no que Hope e
Richards (2015) chamam da
integração entre o “trabalho dos
sonhos” e o “trabalho de
Na área artística e cultural nos
parece fundamental chamar atenção
para esse processo de precarização
do trabalho e da vida porque, em
determinados momentos, pode
parecer pelo próprio caráter de
reflexão e/ou de entretenimento
provocado por suas produções que os
trabalhadores dessa área estão
emancipados ou se divertindo, quando
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
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eles estão na verdade -
também -
operando dentro do
mesmos processos do mesmo sistema
capitalista que todos os outros
trabalhadores.
Isso significa que o
cultura, como em outras áreas
laborais, pode ser identificado muitas
vezes como gratificante,
principalmente quando consideramos
a possibili
dade de encontrar
sensações de satisfação, de reflexão e
de expressão. Entretanto,
estruturação da classificação da
ocupação de produtores culturais na
CBO nos chamou atenção que essa
sensação de gratificação não se dava
somente pelas dimensões artística
profissão, mas também pela
naturalização das condições
precarizantes de trabalho enquanto
capacidades/qualidades idealizadas
para e pelos trabalhadores.
margens
da expectativa de conduta
traduzida na administração das
competências pessoais q
ue aparecem
legitimadas pelos pares profissionais
na classificação da CBO
como evidentes marcas de
institucionais às possibilidades dos
desejos criativos individuais dos que
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
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www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
ao menos
operando dentro do
s
mesmos processos do mesmo sistema
capitalista que todos os outros
trabalho na
cultura, como em outras áreas
laborais, pode ser identificado muitas
vezes como gratificante,
principalmente quando consideramos
dade de encontrar
sensações de satisfação, de reflexão e
de expressão. Entretanto,
a
estruturação da classificação da
ocupação de produtores culturais na
CBO nos chamou atenção que essa
sensação de gratificação não se dava
somente pelas dimensões artística
s da
profissão, mas também pela
naturalização das condições
precarizantes de trabalho enquanto
capacidades/qualidades idealizadas
para e pelos trabalhadores.
Assim, as
da expectativa de conduta
traduzida na administração das
ue aparecem
legitimadas pelos pares profissionais
na classificação da CBO
aparecem
como evidentes marcas de
bloqueios
institucionais às possibilidades dos
desejos criativos individuais dos que
aderem ao mundo profissional da
cultura.
A partir desse context
passamos a analisar como a produção
cultural e suas competências pessoais
estipuladas na CBO, após um
processo de qualificação pelo método
Developing a Curriculum
enunciar um sujeito em constante
conflito, no que chamamos aqui de um
sujeito competitivo-
pacificado. Trata
de um trabalhador que ao mesmo
tempo em
que precisaria demonstrar
paciência, conciliação, liderança,
sensibilidade, precisa demonstrar
trabalhar sob pressão, flexibilidade,
atenção difusa e administração do
tempo.
Dentre as
competências indicadas na CBO, nos
chamou mais atenção a necessidade
de demonstrar capacidade de
administrar o tempo e de trabalhar sob
pressão, por serem duas condições
laborais que também são identificadas
como precárias. A partir dessa
pontuaç
ão, analisamos as
competências de outras ocupações no
mesmo subgrupo ocupacional dos
produtores culturais. A análise
demonstrou que, em sua maioria,
outras profissões de bastidores
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Trabalho cultural e precarização
")
aderem ao mundo profissional da
A partir desse context
o,
passamos a analisar como a produção
cultural e suas competências pessoais
estipuladas na CBO, após um
processo de qualificação pelo método
Developing a Curriculum
, pareciam
enunciar um sujeito em constante
conflito, no que chamamos aqui de um
pacificado. Trata
-se
de um trabalhador que ao mesmo
que precisaria demonstrar
paciência, conciliação, liderança,
sensibilidade, precisa demonstrar
trabalhar sob pressão, flexibilidade,
atenção difusa e administração do
Dentre as
dezesseis
competências indicadas na CBO, nos
chamou mais atenção a necessidade
de demonstrar capacidade de
administrar o tempo e de trabalhar sob
pressão, por serem duas condições
laborais que também são identificadas
como precárias. A partir dessa
ão, analisamos as
competências de outras ocupações no
mesmo subgrupo ocupacional dos
produtores culturais. A análise
demonstrou que, em sua maioria,
outras profissões de bastidores
DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
sujeito competitivo-
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Brasileira de Ocupações. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
apresentavam as mesmas
características.
Ao trazermos a figura de
produtores
culturais para esse debate,
desejamos repensar as lógicas que
têm sido perpetuadas no cotidiano
laboral desse setor, especialmente
aquelas que invisibilizam as condições
precárias diante de uma suposta
gratificação. Pretendemos então, ao
mobilizar critica
mente a base
discursiva identificada com um modo
de governamentalidade,
contribuir para
a constituição de outros projetos
laborais, outros sentidos e
possibilidades alternativas ao trabalho
cultural.
Referências
bibliográficas:
ALVES, Giovanni. Trabalho, sociedade
e capitalismo manipulatório: o novo
metabolismo social do trabalho e a
precarização do homem que trabalha.
Revista Eletrônica da RET
Estudos do Trabalho
. Dossier As
Formas actuales de precarización
laboral en
el contexto latinoamericano.
Ano IV, n. 8, 2011.
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servidão
: o novo proletariado de
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DOMINGUES, João; MACHADO, Gustavo Portella.
A enunciação de um
pacificado: uma análise das competências
profissionais sugeridas a produtoras/es culturais na Classificação
Revista Latino
-Americana de
1, p.
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set.
202
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www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
apresentavam as mesmas
Ao trazermos a figura de
culturais para esse debate,
desejamos repensar as lógicas que
têm sido perpetuadas no cotidiano
laboral desse setor, especialmente
aquelas que invisibilizam as condições
precárias diante de uma suposta
gratificação. Pretendemos então, ao
mente a base
discursiva identificada com um modo
contribuir para
a constituição de outros projetos
laborais, outros sentidos e
possibilidades alternativas ao trabalho
bibliográficas:
ALVES, Giovanni. Trabalho, sociedade
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Acesso em: 24 set. 2018.
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classificação brasileira de ocupações
do profissional de ed
SUS: da incompatibilidade à
provisoriedade nos serviços públicos
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(UFG. Impresso), v. 21, p. 690
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precarietà contrattuale alla
precarizzazione esistenziale.
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spettacolo in Francia. In: ARMANO,
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workers, creatività, saperi e dispositivi
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sobre o posicionamento destes
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da cultura debatesse com mais
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organização dos interesses laborais no
campo cultural. In: BARBALHO,
Alexandre; ALVES, Elder Patrick Maia;
144
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
")
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SANTOS, Renan do Nascimento
. Resenha de "
de Amanda Coutinho. PragMATIZES -
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Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 2
2021.
Resenha: COUTINHO, Amanda.
Publishing, 2020
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i2
O livro
Trabalhadores da Cultura
Coutinho, é resultado de sua pesquisa de Doutorado em Ciências Sociais, defendida
na Unicamp em 2017. O livro, posto em circulação em 2020 pela editora Brazil
Publishing em suporte físico, também
gratuitamente pelos canais da editora
1
Renan do Nascimento Santos.
em Ciências Sociais da Pontifícia
rnazzos@gmail.com -
https://orcid.org/0000
2 Ver:
https://aeditora.com.br/produto/trabalhadores
Texto recebido em 29/03/20
21,
. Resenha de "
Trabalhadores da cultura",
Revista Latino
-Americana de
1, n. 2
1, p 146-149, setembro
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
Resenha: COUTINHO, Amanda.
Trabalhadores da Cultura.
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i2
1.49422
Renan do Nascimento Santos
Trabalhadores da Cultura
”, de autoria da pesquisadora Amanda
Coutinho, é resultado de sua pesquisa de Doutorado em Ciências Sociais, defendida
na Unicamp em 2017. O livro, posto em circulação em 2020 pela editora Brazil
Publishing em suporte físico, também
está disponível em versão digital
gratuitamente pelos canais da editora
2
.
Renan do Nascimento Santos.
Doutorando em Ciênc
ias Sociais no Programa de Pós
em Ciências Sociais da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-
Rio
https://orcid.org/0000
-0001-8949-9917
https://aeditora.com.br/produto/trabalhadores
-da-cultura/
21,
aceito para publicação em
03/06/2021 e disponibilizado online
em 01/09/2021.
146
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
" - RESENHA)
Curitiba: Brazil
Renan do Nascimento Santos
1
”, de autoria da pesquisadora Amanda
Coutinho, é resultado de sua pesquisa de Doutorado em Ciências Sociais, defendida
na Unicamp em 2017. O livro, posto em circulação em 2020 pela editora Brazil
está disponível em versão digital
ias Sociais no Programa de Pós
-Graduação
Rio
, Brasil. E-mail:
03/06/2021 e disponibilizado online
SANTOS, Renan do Nascimento
. Resenha de "
de Amanda Coutinho. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 2
2021.
O objetivo central do estudo de Amanda Coutinho é, em seus próprios termos,
o seguinte: “descortinar a composição, a estrutura, a expansão, as tensões,
assimetrias, lutas e formas
da cultura no Brasil.” (p. 13). A rigor, os
se ocupa em seu estudo são os músicos, em particular, aqueles chamados de
independentes.
A abordagem que a
acompanha as conclusões de Pierre
Artista Enquanto Trabalhador” (2005), que caracteriza o mercado de trabalho
artístico como laboratório da flexibilidade e
de acumulação capitalista, a figura exemplar de trabalhador flexível.
engrossa o coro de uma série de outras pesquisas interessadas nas condições
laborais dos músicos no Brasil, e a interlocução com estes
pesquisa, contribui para a construção de um quadro de referências que converge
para a identificação de processos e relações de trabalho muito precários no campo
da música.
Contudo, considero como um dos principais valores do estudo
introdução da ideia de
independência
grande campo das produções culturais que mobiliza suas questões e que seria “a
expressão paradigmática de uma inclusão ainda mais subsidiária, cooperada,
especiali
zada e precária no mercado cultural” (p. 17), de outro, o
chave analítica para compreender estas dinâmicas de trabalho dos músicos.
no primeiro capítulo,
construir uma categoria de
da pesquisa, o debate ganha em consistência e complexidade quando trata de pôr
em evidência o apenas como os artistas reivindicam tal independência
discursivamente e na operação da cadeia produtiva,
outras relações de dependência que se estabelecem em consequência e nos efeitos
que esta independência pode ter para o trabalho concretamente realizado por estes
trabalhadores artistas. A questão da independência como opção e como
contingência é recolocada diversas vezes ao longo do debate, tensionado de um
. Resenha de "
Trabalhadores da cultura",
Revista Latino
-Americana de
1, n. 2
1, p 146-149, setembro
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
O objetivo central do estudo de Amanda Coutinho é, em seus próprios termos,
o seguinte: “descortinar a composição, a estrutura, a expansão, as tensões,
de reconhecimento político
profissional dos trabalhadores
da cultura no Brasil.” (p. 13). A rigor, os
trabalhadores da cultura
dos quais a autora
se ocupa em seu estudo são os músicos, em particular, aqueles chamados de
A abordagem que a
autora traz para uma sociologia do trabalho artístico
acompanha as conclusões de Pierre
-Michel
Menger em seu seminal livro
Artista Enquanto Trabalhador” (2005), que caracteriza o mercado de trabalho
artístico como laboratório da flexibilidade e
o artista seria, nas configurações atuais
de acumulação capitalista, a figura exemplar de trabalhador flexível.
engrossa o coro de uma série de outras pesquisas interessadas nas condições
laborais dos músicos no Brasil, e a interlocução com estes
estudos
pesquisa, contribui para a construção de um quadro de referências que converge
para a identificação de processos e relações de trabalho muito precários no campo
Contudo, considero como um dos principais valores do estudo
independência
, de um lado, como um fenômeno dentro do
grande campo das produções culturais que mobiliza suas questões e que seria “a
expressão paradigmática de uma inclusão ainda mais subsidiária, cooperada,
zada e precária no mercado cultural” (p. 17), de outro, o
independente
chave analítica para compreender estas dinâmicas de trabalho dos músicos.
no primeiro capítulo,
Artistas independentes: conceitos em discussão
construir uma categoria de
independência suficientemente estável para os objetivos
da pesquisa, o debate ganha em consistência e complexidade quando trata de pôr
em evidência o apenas como os artistas reivindicam tal independência
discursivamente e na operação da cadeia produtiva,
como também põe foco nas
outras relações de dependência que se estabelecem em consequência e nos efeitos
que esta independência pode ter para o trabalho concretamente realizado por estes
trabalhadores artistas. A questão da independência como opção e como
contingência é recolocada diversas vezes ao longo do debate, tensionado de um
147
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
" - RESENHA)
O objetivo central do estudo de Amanda Coutinho é, em seus próprios termos,
o seguinte: “descortinar a composição, a estrutura, a expansão, as tensões,
profissional dos trabalhadores
dos quais a autora
se ocupa em seu estudo são os músicos, em particular, aqueles chamados de
autora traz para uma sociologia do trabalho artístico
Menger em seu seminal livro
“Retrato do
Artista Enquanto Trabalhador” (2005), que caracteriza o mercado de trabalho
o artista seria, nas configurações atuais
de acumulação capitalista, a figura exemplar de trabalhador flexível.
Coutinho
engrossa o coro de uma série de outras pesquisas interessadas nas condições
estudos
, feita em sua
pesquisa, contribui para a construção de um quadro de referências que converge
para a identificação de processos e relações de trabalho muito precários no campo
Contudo, considero como um dos principais valores do estudo
de Coutinho, a
, de um lado, como um fenômeno dentro do
grande campo das produções culturais que mobiliza suas questões e que seria “a
expressão paradigmática de uma inclusão ainda mais subsidiária, cooperada,
independente
como
chave analítica para compreender estas dinâmicas de trabalho dos músicos.
Artistas independentes: conceitos em discussão
”, ao
independência suficientemente estável para os objetivos
da pesquisa, o debate ganha em consistência e complexidade quando trata de pôr
em evidência o apenas como os artistas reivindicam tal independência
como também põe foco nas
outras relações de dependência que se estabelecem em consequência e nos efeitos
que esta independência pode ter para o trabalho concretamente realizado por estes
trabalhadores artistas. A questão da independência como opção e como
contingência é recolocada diversas vezes ao longo do debate, tensionado de um
SANTOS, Renan do Nascimento
. Resenha de "
de Amanda Coutinho. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 2
2021.
lado, autonomia e liberdade artística, de outro, intermitência, polivalência e
intensidade do trabalho.
Para examinar estas questões, Coutinho toma como pontos de referência um
conjunto de 22 músicos independentes, em diferentes níveis de inserção no
mercado de trabalho artístico, com quem dialoga sobre temas como os sentidos do
trabalho artístico, as estruturas de remuneração, relações familiares e de formação,
migrações artíst
icas, concepções acerca da independência, polivalência e
empreendedorismo cultural, modelos de negócios, políticas públicas, meios de
comunicação, órgãos de representação, relações de gênero, raça e sexualidade.
O segundo capítulo “Trajetória e Formação”
abordagem interseccional as trajetórias dos sujeitos interlocutores da pesquisa. Além
das condições de classe, raça e gênero dos sujeitos, Coutinho considera também
outras variáveis como faixa etária, orientação sexual, formaçã
família na busca por uma identidade artística e profissional e uma posterior inserção
no mercado de trabalho.
É no capítulo seguinte,
autora aponta a insuficiência de noções como dom e
trabalho artístico e aposta numa abordagem apoiada em teóricos neomarxistas para
analisar trabalho imaterial realizado pelos artistas, reconhecendo que tais
teorizações informam dimensões importantes da reestruturação
mutabilidades do capitalismo contemporâneo. Contudo, Coutinho faz a ressalva que
uma teoria sobre trabalho imaterial pouco esclarece sobre as condições e as lógicas
de sua produção material e sobre as formas de remuneração e apropriação deste
trabalho. A
pesquisa passa então a considerar as facetas da precarização das
condições de trabalho artístico: informalidade, hiperflexibilidade, trabalho intermitente
e trabalho não pago, para citar algumas. Também é pertinente considerar como os
sucessivos desenvolvi
mentos sociotécnicos, sobretudo a internet, alteraram
profundamente as condições de trabalho possíveis para músicos independentes
tanto em termos de produção, distribuição, difusão, como também na recepção
desta produção
, debate presente no capítulo
de negócios”.
. Resenha de "
Trabalhadores da cultura",
Revista Latino
-Americana de
1, n. 2
1, p 146-149, setembro
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
lado, autonomia e liberdade artística, de outro, intermitência, polivalência e
Para examinar estas questões, Coutinho toma como pontos de referência um
conjunto de 22 músicos independentes, em diferentes níveis de inserção no
mercado de trabalho artístico, com quem dialoga sobre temas como os sentidos do
trabalho artístico, as estruturas de remuneração, relações familiares e de formação,
icas, concepções acerca da independência, polivalência e
empreendedorismo cultural, modelos de negócios, políticas públicas, meios de
comunicação, órgãos de representação, relações de gênero, raça e sexualidade.
O segundo capítulo “Trajetória e Formação”
se aprofunda e analisa numa
abordagem interseccional as trajetórias dos sujeitos interlocutores da pesquisa. Além
das condições de classe, raça e gênero dos sujeitos, Coutinho considera também
outras variáveis como faixa etária, orientação sexual, formaçã
o e a influência da
família na busca por uma identidade artística e profissional e uma posterior inserção
É no capítulo seguinte,
Retratos do mercado de trabalho artístico
autora aponta a insuficiência de noções como dom e
vocação para a explicar o
trabalho artístico e aposta numa abordagem apoiada em teóricos neomarxistas para
analisar trabalho imaterial realizado pelos artistas, reconhecendo que tais
teorizações informam dimensões importantes da reestruturação
mutabilidades do capitalismo contemporâneo. Contudo, Coutinho faz a ressalva que
uma teoria sobre trabalho imaterial pouco esclarece sobre as condições e as lógicas
de sua produção material e sobre as formas de remuneração e apropriação deste
pesquisa passa então a considerar as facetas da precarização das
condições de trabalho artístico: informalidade, hiperflexibilidade, trabalho intermitente
e trabalho não pago, para citar algumas. Também é pertinente considerar como os
mentos sociotécnicos, sobretudo a internet, alteraram
profundamente as condições de trabalho possíveis para músicos independentes
tanto em termos de produção, distribuição, difusão, como também na recepção
, debate presente no capítulo
O
rganização do trabalho e modelos
148
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
" - RESENHA)
lado, autonomia e liberdade artística, de outro, intermitência, polivalência e
Para examinar estas questões, Coutinho toma como pontos de referência um
conjunto de 22 músicos independentes, em diferentes níveis de inserção no
mercado de trabalho artístico, com quem dialoga sobre temas como os sentidos do
trabalho artístico, as estruturas de remuneração, relações familiares e de formação,
icas, concepções acerca da independência, polivalência e
empreendedorismo cultural, modelos de negócios, políticas públicas, meios de
comunicação, órgãos de representação, relações de gênero, raça e sexualidade.
se aprofunda e analisa numa
abordagem interseccional as trajetórias dos sujeitos interlocutores da pesquisa. Além
das condições de classe, raça e gênero dos sujeitos, Coutinho considera também
o e a influência da
família na busca por uma identidade artística e profissional e uma posterior inserção
Retratos do mercado de trabalho artístico
”, que a
vocação para a explicar o
trabalho artístico e aposta numa abordagem apoiada em teóricos neomarxistas para
analisar trabalho imaterial realizado pelos artistas, reconhecendo que tais
teorizações informam dimensões importantes da reestruturação
produtiva e
mutabilidades do capitalismo contemporâneo. Contudo, Coutinho faz a ressalva que
uma teoria sobre trabalho imaterial pouco esclarece sobre as condições e as lógicas
de sua produção material e sobre as formas de remuneração e apropriação deste
pesquisa passa então a considerar as facetas da precarização das
condições de trabalho artístico: informalidade, hiperflexibilidade, trabalho intermitente
e trabalho não pago, para citar algumas. Também é pertinente considerar como os
mentos sociotécnicos, sobretudo a internet, alteraram
profundamente as condições de trabalho possíveis para músicos independentes
tanto em termos de produção, distribuição, difusão, como também na recepção
rganização do trabalho e modelos
SANTOS, Renan do Nascimento
. Resenha de "
de Amanda Coutinho. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 1
1, n. 2
2021.
Os 22 artistas que compõem a amostra deste estudo afirmam que seus
rendimentos vêm exclusivamente ou principalmente de suas atividades musicais.
Independentes ou empreendedores culturais, como muitas vezes
depoimentos selecionados por Coutinho, estes artistas refletem sobre o que significa
trabalhar e “viver de música” nestas condições, mobilizando noções como liberdade
e autonomia com incerteza e intensificação do trabalho. Questionados s
estrutura de renda básica que os permite viver de música, vêm à tona
que recebe precisamente o título
unanimemente a predominância da indústria do show como principal fonte de
remuneração e as con
dições de trabalho nesse segmento; a ampliação da
autoextração do trabalho do músico e a polivalência de atividades; autogestão e
empresariamento de si; informalidade, instabilidade e intermitência.
No último capítulo,
esquema argumentativo reconstituindo brevemente a história das políticas culturais
do Brasil desde a década de 1930, com suas sucessivas transformações até a
presente década. Coutinho realiza um diagnóstico crítico do papel do Estado e su
gestão neoliberal da cultura, com a predominância do modelo de incentivo fiscal via
Lei Rouanet, e também da lógica tecnocrática dos editais públicos de fomento.
Por fim, do ponto de vista da forma, a pesquisa está organizada numa
estrutura coesa e
favorecida também pelo texto claro, sem grandes rebuscamentos
linguísticos
ainda que merecesse uma revisão ortográfica mais criteriosa. O livro
Trabalhadores da Cultura
pesquisadores e pesquisadoras i
como um
retrato do músico independente no Brasil
Referências
bibliográficas:
MENGER, Pierre-Michel.
Retrato do artista enquanto trabalhador:
capitalismo.
Lisboa: Roma Editora, 2005
. Resenha de "
Trabalhadores da cultura",
Revista Latino
-Americana de
1, n. 2
1, p 146-149, setembro
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Dossiê "
Trabalho cultural e precarização
Os 22 artistas que compõem a amostra deste estudo afirmam que seus
rendimentos vêm exclusivamente ou principalmente de suas atividades musicais.
Independentes ou empreendedores culturais, como muitas vezes
se identificam nos
depoimentos selecionados por Coutinho, estes artistas refletem sobre o que significa
trabalhar e “viver de música” nestas condições, mobilizando noções como liberdade
e autonomia com incerteza e intensificação do trabalho. Questionados s
estrutura de renda básica que os permite viver de música, vêm à tona
que recebe precisamente o título
Viver de música
relatos que evocam
unanimemente a predominância da indústria do show como principal fonte de
dições de trabalho nesse segmento; a ampliação da
autoextração do trabalho do músico e a polivalência de atividades; autogestão e
empresariamento de si; informalidade, instabilidade e intermitência.
No último capítulo,
Política Cultural Neoliberal Cout
inho arremata seu
esquema argumentativo reconstituindo brevemente a história das políticas culturais
do Brasil desde a década de 1930, com suas sucessivas transformações até a
presente década. Coutinho realiza um diagnóstico crítico do papel do Estado e su
gestão neoliberal da cultura, com a predominância do modelo de incentivo fiscal via
Lei Rouanet, e também da lógica tecnocrática dos editais públicos de fomento.
Por fim, do ponto de vista da forma, a pesquisa está organizada numa
favorecida também pelo texto claro, sem grandes rebuscamentos
ainda que merecesse uma revisão ortográfica mais criteriosa. O livro
Trabalhadores da Cultura
”, objeto desta resenha, é aqui leitura recomendada a
pesquisadores e pesquisadoras i
nteressados no grande campo da produção cultural,
retrato do músico independente no Brasil
.
bibliográficas:
Retrato do artista enquanto trabalhador:
Lisboa: Roma Editora, 2005
.
149
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho cultural e precarização
" - RESENHA)
Os 22 artistas que compõem a amostra deste estudo afirmam que seus
rendimentos vêm exclusivamente ou principalmente de suas atividades musicais.
se identificam nos
depoimentos selecionados por Coutinho, estes artistas refletem sobre o que significa
trabalhar e “viver de música” nestas condições, mobilizando noções como liberdade
e autonomia com incerteza e intensificação do trabalho. Questionados s
obre a
estrutura de renda básica que os permite viver de música, vêm à tona
no capítulo
relatos que evocam
unanimemente a predominância da indústria do show como principal fonte de
dições de trabalho nesse segmento; a ampliação da
autoextração do trabalho do músico e a polivalência de atividades; autogestão e
empresariamento de si; informalidade, instabilidade e intermitência.
inho arremata seu
esquema argumentativo reconstituindo brevemente a história das políticas culturais
do Brasil desde a década de 1930, com suas sucessivas transformações até a
presente década. Coutinho realiza um diagnóstico crítico do papel do Estado e su
a
gestão neoliberal da cultura, com a predominância do modelo de incentivo fiscal via
Lei Rouanet, e também da lógica tecnocrática dos editais públicos de fomento.
Por fim, do ponto de vista da forma, a pesquisa está organizada numa
favorecida também pelo texto claro, sem grandes rebuscamentos
ainda que merecesse uma revisão ortográfica mais criteriosa. O livro
”, objeto desta resenha, é aqui leitura recomendada a
nteressados no grande campo da produção cultural,
Retrato do artista enquanto trabalhador:
metamorfoses do
LARRONDO-
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
Koldobika; PEÑA-
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
universidades do espaço ibero-americano –
ferramentas de inovação no
ensino do ciberjornalismo. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
Cooperação virtual e ODS nas universidades do espaço ibero
ferramentas de inovação no ensino do ciberjornalismo
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21.47842
Resumo:
Este artigo tem como objetivo descrever três projetos de inovação educativa no campo do
ciberjornalismo, úteis para avaliar o valor da inovação pedagógica para além da
exploração didática das TIC. Estes projetos foram desenvolvidos pelo grupo de investigação KZBerri
(Gureiker.info), financiado pela Universidade do País Basco entre 2015 e 2020, e partem do
pressuposto de que a prática que se desenvolveu no âm
útil para preencher a lacuna dos currículos de comunicação quando se trata de fomentarnos
estudantes culturas profissionais altamente procuradas pelas empresas atuais do setor. Essas
culturas são baseadas em
valores como empreendedorismo em projetos de comunicação,
criatividade e cooperação profissional em contextos convergentes e internacionais. Dois dos projetos
descritos também representam a primeira aplicação da “internacionalização em casa” (IaH)
(Crowth
er, 2001; Beelen e Jones, 2015) à inovação pedagógica em ciberjornalismo.
Palavras-chave: c
iberjornalismo
Cooperación virtual y ODS en las universidades del espacio iberoamericano
innovación en la
Resumen:
Este artículo tiene como objetivo describir tres proyectos de innovación educativa en el
campo del ciberperiodismo, útiles para evaluar el valor de la innovación pedagógica más allá de la
introducción y exploración d
idáctica de las TIC. Estos proyectos fueron desarrollados por el grupo de
investigación KZBerri (www.gureiker.info), financiado por la Universidad del País Vasco entre 2015 y
2020, y muestranque las prácticas desarrolladas
1
Ainara Larrondo-
Ureta. Doutora em Jornalismo. Universidad del País Vasco (UPV/EHU), Espanha.
E-mail:
ainara.larrondo@ehu.eus
2
Fernando Zamith. Doutor em Informação e Comu
Universidade do Porto Portugal e na Universidad del País Vasco (UPV/EHU), Espanha. E
fzamith@letras.up.pt-
https://orcid.org/0000
3
Koldobika Meso-
Ayerdi. Doutor. Profesor na Universidad del País Vasco (UPV/EHU), Espanha. E
mail: koldo.meso@ehu.eus-
https://orcid.org/0000
4
Simón Peña-
Fernández. Doutor. Professor na Universidad de
mail: simon.pena@ehu.eus -
https://orcid.org/0000
Recebido em 27/12/2020,
aceito para publicação em 2
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
-AYERDI,
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
ferramentas de inovação no
Revista Latino
-Americana de
1, p.
150
-
16
4
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Cooperação virtual e ODS nas universidades do espaço ibero
ferramentas de inovação no ensino do ciberjornalismo
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21.47842
Ainara
Fernando Zamith
Koldo
bika
Simón Peña
Este artigo tem como objetivo descrever três projetos de inovação educativa no campo do
ciberjornalismo, úteis para avaliar o valor da inovação pedagógica para além da
exploração didática das TIC. Estes projetos foram desenvolvidos pelo grupo de investigação KZBerri
(Gureiker.info), financiado pela Universidade do País Basco entre 2015 e 2020, e partem do
pressuposto de que a prática que se desenvolveu no âm
bito da disciplina "Escrita Ciberjornalística" é
útil para preencher a lacuna dos currículos de comunicação quando se trata de fomentarnos
estudantes culturas profissionais altamente procuradas pelas empresas atuais do setor. Essas
valores como empreendedorismo em projetos de comunicação,
criatividade e cooperação profissional em contextos convergentes e internacionais. Dois dos projetos
descritos também representam a primeira aplicação da “internacionalização em casa” (IaH)
er, 2001; Beelen e Jones, 2015) à inovação pedagógica em ciberjornalismo.
iberjornalismo
; educação; universidade; inovação.
Cooperación virtual y ODS en las universidades del espacio iberoamericano
innovación en la
enseñanza del ciberperiodismo
Este artículo tiene como objetivo describir tres proyectos de innovación educativa en el
campo del ciberperiodismo, útiles para evaluar el valor de la innovación pedagógica más allá de la
idáctica de las TIC. Estos proyectos fueron desarrollados por el grupo de
investigación KZBerri (www.gureiker.info), financiado por la Universidad del País Vasco entre 2015 y
2020, y muestranque las prácticas desarrolladas
en la asignatura "Redacción ciber
Ureta. Doutora em Jornalismo. Universidad del País Vasco (UPV/EHU), Espanha.
ainara.larrondo@ehu.eus
- https://orcid.org/0000-0003-3303-4330
Fernando Zamith. Doutor em Informação e Comu
nicação em Plataformas Digitais. Professor na
Universidade do Porto Portugal e na Universidad del País Vasco (UPV/EHU), Espanha. E
https://orcid.org/0000
-0002-9118-2289
Ayerdi. Doutor. Profesor na Universidad del País Vasco (UPV/EHU), Espanha. E
https://orcid.org/0000
-0002-0400-133X
Fernández. Doutor. Professor na Universidad de
l País Vasco (UPV/EHU), Espanha. E
https://orcid.org/0000
-0003-2080-3241
aceito para publicação em 2
2/05/20
21 e disponibilizado online em
01/09/2021.
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www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Cooperação virtual e ODS nas universidades do espaço ibero
-americano -
ferramentas de inovação no ensino do ciberjornalismo
Ainara
Larrondo-Ureta
1
Fernando Zamith
2
bika
Meso-Ayerdi
3
Simón Peña
-Fernández
4
Este artigo tem como objetivo descrever três projetos de inovação educativa no campo do
ciberjornalismo, úteis para avaliar o valor da inovação pedagógica para além da
introdução e
exploração didática das TIC. Estes projetos foram desenvolvidos pelo grupo de investigação KZBerri
(Gureiker.info), financiado pela Universidade do País Basco entre 2015 e 2020, e partem do
bito da disciplina "Escrita Ciberjornalística" é
útil para preencher a lacuna dos currículos de comunicação quando se trata de fomentarnos
estudantes culturas profissionais altamente procuradas pelas empresas atuais do setor. Essas
valores como empreendedorismo em projetos de comunicação,
criatividade e cooperação profissional em contextos convergentes e internacionais. Dois dos projetos
descritos também representam a primeira aplicação da “internacionalização em casa” (IaH)
er, 2001; Beelen e Jones, 2015) à inovação pedagógica em ciberjornalismo.
Cooperación virtual y ODS en las universidades del espacio iberoamericano
- herramientas de
Este artículo tiene como objetivo describir tres proyectos de innovación educativa en el
campo del ciberperiodismo, útiles para evaluar el valor de la innovación pedagógica más allá de la
idáctica de las TIC. Estos proyectos fueron desarrollados por el grupo de
investigación KZBerri (www.gureiker.info), financiado por la Universidad del País Vasco entre 2015 y
en la asignatura "Redacción ciber
periodística" son
Ureta. Doutora em Jornalismo. Universidad del País Vasco (UPV/EHU), Espanha.
nicação em Plataformas Digitais. Professor na
Universidade do Porto Portugal e na Universidad del País Vasco (UPV/EHU), Espanha. E
-mail:
Ayerdi. Doutor. Profesor na Universidad del País Vasco (UPV/EHU), Espanha. E
-
l País Vasco (UPV/EHU), Espanha. E
-
21 e disponibilizado online em
LARRONDO-
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
Koldobika; PEÑA-
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
universidades do espaço ibero-americano –
ferramentas de inovação no
ensino do ciberjornalismo. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
útiles para salvar la brecha en los planes de estudio del área de comunicación a la hora de fomentar
culturas profesionales en los estudiantes,
por las empresas del sector. Estas cul
comunicación, la creatividad y los proyectos de cooperación profesional en contextos convergentes e
internacionales. Dos de los proyectos descritos también representan la primera aplicación de la
“inte
rnacionalización en casa” (IaH) (Crowther, 2001; Beelen y Jones, 2015) a la innovación
pedagógica en el ciberperiodismo.
Palabras clave: c
iberperiodismo
Virtual cooperation and SDG in the universities of the
in the teaching of online journalism
Abstract:
This article aims to describe three educational innovation projects in the field of
cyberjournalism, useful to assess the value of pedagogical innovation beyond the int
didactic exploration of ICT. These projects were developed by the research group KZBerri
(Gureiker.info), funded by the University of the Basque Country between 2015 and 2020, and assume
that the practice developed under the subject "On
communication curricula when it comes to fostering professional cultures in students highly sought
after by current companies in the sector. These cultures are based on values
entrepreneurship in
communication, creativity and professional cooperation projects in convergent and
international contexts. Two of the projects described also represent the first application of
“internationalization at home” (IaH) (Crowther, 2001; Beelen and Jones, 2015) t
innovation in on-line journalism.
Keywords: on-line journalism;
education
Cooperação virtual e ODS nas universidades do espaço ibero
ferramentas de inovação no ensino do ciberjornalismo
1.
Introdução e interesse do tema
1.1.
Contexto do ensino do
ciberjornalismo
A pedagogia universitária é um
ambiente de convivência que sempre
se manteve em constante adaptação.
No final da década de 1990, com o
advento das primeiras versões dos
meios web, o ensino do
ciberjornalismo começou a ser
introduzido de maneira tímida. Ess
estudos sobre ciberjornalismo foram
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
-AYERDI,
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
ferramentas de inovação no
Revista Latino
-Americana de
1, p.
150
-
16
4
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
útiles para salvar la brecha en los planes de estudio del área de comunicación a la hora de fomentar
culturas profesionales en los estudiantes,
que son unas competencias muy buscadas en la actualidad
por las empresas del sector. Estas cul
turas se basan en valores como el emprendimiento en la
comunicación, la creatividad y los proyectos de cooperación profesional en contextos convergentes e
internacionales. Dos de los proyectos descritos también representan la primera aplicación de la
rnacionalización en casa” (IaH) (Crowther, 2001; Beelen y Jones, 2015) a la innovación
pedagógica en el ciberperiodismo.
iberperiodismo
; educación; universidad; innovación.
Virtual cooperation and SDG in the universities of the
Ibero-
American space
in the teaching of online journalism
This article aims to describe three educational innovation projects in the field of
cyberjournalism, useful to assess the value of pedagogical innovation beyond the int
didactic exploration of ICT. These projects were developed by the research group KZBerri
(Gureiker.info), funded by the University of the Basque Country between 2015 and 2020, and assume
that the practice developed under the subject "On
-line
journalistic writing" is useful to fill the gap in
communication curricula when it comes to fostering professional cultures in students highly sought
after by current companies in the sector. These cultures are based on values
communication, creativity and professional cooperation projects in convergent and
international contexts. Two of the projects described also represent the first application of
“internationalization at home” (IaH) (Crowther, 2001; Beelen and Jones, 2015) t
education
; university; innovation.
Cooperação virtual e ODS nas universidades do espaço ibero
ferramentas de inovação no ensino do ciberjornalismo
Introdução e interesse do tema
Contexto do ensino do
A pedagogia universitária é um
ambiente de convivência que sempre
se manteve em constante adaptação.
No final da década de 1990, com o
advento das primeiras versões dos
meios web, o ensino do
ciberjornalismo começou a ser
introduzido de maneira tímida. Ess
es
estudos sobre ciberjornalismo foram
introduzidos inicialmente por meio de
disciplinas opcionais ou
complementares de caráter geral
(TEJEDOR
, 2007). Ao longo do tempo,
foram desenvolvidas disciplinas
obrigatórias e específicas, no caso da
disciplina “Esc
rita Ciberjornalística”
(Universidade do País Basco
EHU) de que tratamos neste trabalho.
Brasil, Espanha e Portugal têm
sido três dos países do espaço ibero
americano que têm demonstrado
151
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
útiles para salvar la brecha en los planes de estudio del área de comunicación a la hora de fomentar
que son unas competencias muy buscadas en la actualidad
turas se basan en valores como el emprendimiento en la
comunicación, la creatividad y los proyectos de cooperación profesional en contextos convergentes e
internacionales. Dos de los proyectos descritos también representan la primera aplicación de la
rnacionalización en casa” (IaH) (Crowther, 2001; Beelen y Jones, 2015) a la innovación
American space
- innovation tools
This article aims to describe three educational innovation projects in the field of
cyberjournalism, useful to assess the value of pedagogical innovation beyond the int
roduction and
didactic exploration of ICT. These projects were developed by the research group KZBerri
(Gureiker.info), funded by the University of the Basque Country between 2015 and 2020, and assume
journalistic writing" is useful to fill the gap in
communication curricula when it comes to fostering professional cultures in students highly sought
after by current companies in the sector. These cultures are based on values
such as
communication, creativity and professional cooperation projects in convergent and
international contexts. Two of the projects described also represent the first application of
“internationalization at home” (IaH) (Crowther, 2001; Beelen and Jones, 2015) t
o pedagogical
Cooperação virtual e ODS nas universidades do espaço ibero
-americano.
ferramentas de inovação no ensino do ciberjornalismo
introduzidos inicialmente por meio de
disciplinas opcionais ou
complementares de caráter geral
, 2007). Ao longo do tempo,
foram desenvolvidas disciplinas
obrigatórias e específicas, no caso da
rita Ciberjornalística”
(Universidade do País Basco
- UPV /
EHU) de que tratamos neste trabalho.
Brasil, Espanha e Portugal têm
sido três dos países do espaço ibero
-
americano que têm demonstrado
LARRONDO-
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
Koldobika; PEÑA-
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
universidades do espaço ibero-americano –
ferramentas de inovação no
ensino do ciberjornalismo. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
maior dinamismo no campo do
ciberjornalismo, tanto
profissio
nalmente como na
investigação e formação (
Marinho, 2008;
SALAVERRÍA
As rápidas mudanças ocorridas no
campo profissional têm levado as
disciplinas de ciberjornalismo a
apresentarem grande dinamismo e
adaptação. Ao nível da metodologia de
ens
ino, são também disciplinas que
apresentam um elevado grau ou
capacidade de inovação na forma de
transferir as suas aprendizagens e
competências aos alunos
(FERNANDES;
LARRONDO
para além da simples aplicação de
novas tecnologias.
Neste cenário, o
objetivo deste
artigo é analisar exemplos ou casos
específicos sobre a possibilidade de
introdução de tarefas que constituem
uma inovação para os alunos das
disciplinas de ciberjornalismo. Estas
iniciativas fazem parte da atividade do
grupo de investigação
(Gureiker, IT1112-
16, Universidade do
País Basco), Grupo Especializado em
Inovação Didática e novas
metodologias de ensino.
Nos últimos anos, as
metodologias implementadas pela
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
-AYERDI,
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
ferramentas de inovação no
Revista Latino
-Americana de
1, p.
150
-
16
4
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
maior dinamismo no campo do
ciberjornalismo, tanto
nalmente como na
investigação e formação (
TARCIA;
SALAVERRÍA
, 2011).
As rápidas mudanças ocorridas no
campo profissional têm levado as
disciplinas de ciberjornalismo a
apresentarem grande dinamismo e
adaptação. Ao nível da metodologia de
ino, são também disciplinas que
apresentam um elevado grau ou
capacidade de inovação na forma de
transferir as suas aprendizagens e
competências aos alunos
LARRONDO
, 2016),
para além da simples aplicação de
objetivo deste
artigo é analisar exemplos ou casos
específicos sobre a possibilidade de
introdução de tarefas que constituem
uma inovação para os alunos das
disciplinas de ciberjornalismo. Estas
iniciativas fazem parte da atividade do
grupo de investigação
KZBerri
16, Universidade do
País Basco), Grupo Especializado em
Inovação Didática e novas
Nos últimos anos, as
metodologias implementadas pela
KZBerri têm-
se baseado na
Aprendizagem Baseada em Projetos
(ABP, do i
nglês Project
Learning) para a valorização de
competências transversais, tais como:
a) trabalho cooperativo, b) autonomia
profissional, ou c) criatividade. Esta
ABP foi desenvolvida,
especificamente, a partir de dois eixos:
1) “internacionalização em
Internationalization at Home (IaH)
(projetos desenvolvidos entre os anos
2015-2019)
2) a perspetiva dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS)
(projeto a ser desenvolvido durante o
ano letivo 2020/2021).
1.2. Competências profissionais
num setor de media convergente
Os professores também têm
direcionado atividades de ensino em
sala de aula para promover
competências e habilidades
adequadas ao setor profissional. Por
sua vez, este setor vem sofrendo
modificações desde o início do século
XXI, devido à introdução das TIC e à
expansão das empresas de media na
web. Nesse contexto, surge o
consenso sobre a necessidade de
aplicar uma lógica de ensino adequada
152
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
se baseado na
Aprendizagem Baseada em Projetos
nglês Project
-Based
Learning) para a valorização de
competências transversais, tais como:
a) trabalho cooperativo, b) autonomia
profissional, ou c) criatividade. Esta
ABP foi desenvolvida,
especificamente, a partir de dois eixos:
1) “internacionalização em
casa” -
Internationalization at Home (IaH)
-
(projetos desenvolvidos entre os anos
2) a perspetiva dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS)
(projeto a ser desenvolvido durante o
ano letivo 2020/2021).
1.2. Competências profissionais
num setor de media convergente
Os professores também têm
direcionado atividades de ensino em
sala de aula para promover
competências e habilidades
adequadas ao setor profissional. Por
sua vez, este setor vem sofrendo
modificações desde o início do século
XXI, devido à introdução das TIC e à
expansão das empresas de media na
web. Nesse contexto, surge o
consenso sobre a necessidade de
aplicar uma lógica de ensino adequada
LARRONDO-
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
Koldobika; PEÑA-
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
universidades do espaço ibero-americano –
ferramentas de inovação no
ensino do ciberjornalismo. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
às exigências profissionais. O corpo
docente universitário passa, assim, a
ter em maio
r consideração as
competências que as empresas
exigem dos alunos depois de
concluídos os seus estudos: quando
os alunos têm consciência de que o
que fazem dentro da sala de aula é
muito semelhante ao que os espera
fora dela, o seu grau de envolvimento
tende a ser maior.
Esse debate sobre a
necessidade de adequar os programas
de ensino aos perfis profissionais
polivalentes do ambiente dos
novosmedia tornou-
se especialmente
intenso na segunda década de 2000
(BHUIYAN, 2010;
DEUZE
TEJEDOR
, 2007). Não em
nesta fase que as empresas de
comunicação começam a estar
imersas em profundos processos de
reconversão tecnológica, empresarial
e profissional. Estas empresas
reconhecem a procura de jornalistas
com aptidões para trabalhar conteúdos
nos mais diver
sos meios e em
ambientes cooperativos (
LARRONDO
PEÑA, 2018).
No início do novo século, à
medida que o ciberjornalismo
aumentava a sua complexidade como
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
-AYERDI,
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
ferramentas de inovação no
Revista Latino
-Americana de
1, p.
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, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
às exigências profissionais. O corpo
docente universitário passa, assim, a
r consideração as
competências que as empresas
exigem dos alunos depois de
concluídos os seus estudos: quando
os alunos têm consciência de que o
que fazem dentro da sala de aula é
muito semelhante ao que os espera
fora dela, o seu grau de envolvimento
Esse debate sobre a
necessidade de adequar os programas
de ensino aos perfis profissionais
polivalentes do ambiente dos
se especialmente
intenso na segunda década de 2000
DEUZE
, 2008;
, 2007). Não em
vão, é
nesta fase que as empresas de
comunicação começam a estar
imersas em profundos processos de
reconversão tecnológica, empresarial
e profissional. Estas empresas
reconhecem a procura de jornalistas
com aptidões para trabalhar conteúdos
sos meios e em
LARRONDO
;
No início do novo século, à
medida que o ciberjornalismo
aumentava a sua complexidade como
campo profissional (redações
convergentes ou integradas, perfis
especializados -
curador de conteúdo,
jornalista de dados, etc.), tornava
cada vez mais necessário introduzir
mudanças para oferecer aos futuros
cibercomunicadores recursos para
desenvolver as suas competências
sociais e trabalhar os conteúdos do
ponto de vista do trabalho colaborativo
(pro
dutos multiplataforma, multimédia
e transmedia). A atitude favorável a
uma cultura profissional menos
monomédia e mais de marca, bem
como ao trabalho em equipa e à
versatilidade, também devia ser,
portanto, trabalhada no quadro do
ensino do ciberjornalismo
2014).
Em linha com as
recomendações de vários
especialistas (
SIERRA
2010), o grupo KZBerri optou por
aplicar e testar as estratégias de
inovação propostas em cada um dos
projetos a pequenos grupos para o
trabalho em equipa em ambientes
co
laborativos, o que tem resultado um
fatorchave. Os próximos capítulos
oferecnuma análise dos objetivos,
procedimentos e realizações desses
Projetos de Inovação Educativa
153
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
campo profissional (redações
convergentes ou integradas, perfis
curador de conteúdo,
jornalista de dados, etc.), tornava
-se
cada vez mais necessário introduzir
mudanças para oferecer aos futuros
cibercomunicadores recursos para
desenvolver as suas competências
sociais e trabalhar os conteúdos do
ponto de vista do trabalho colaborativo
dutos multiplataforma, multimédia
e transmedia). A atitude favorável a
uma cultura profissional menos
monomédia e mais de marca, bem
como ao trabalho em equipa e à
versatilidade, também devia ser,
portanto, trabalhada no quadro do
ensino do ciberjornalismo
(BOR,
Em linha com as
recomendações de vários
SIERRA
; SOTELO,
2010), o grupo KZBerri optou por
aplicar e testar as estratégias de
inovação propostas em cada um dos
projetos a pequenos grupos para o
trabalho em equipa em ambientes
laborativos, o que tem resultado um
fatorchave. Os próximos capítulos
oferecnuma análise dos objetivos,
procedimentos e realizações desses
Projetos de Inovação Educativa
LARRONDO-
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
Koldobika; PEÑA-
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
universidades do espaço ibero-americano –
ferramentas de inovação no
ensino do ciberjornalismo. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
desenvolvidos na disciplina de
"Redação Ciberjornalística" na
Universidade do País Bas
cinco anos.
2. Objetivo e método
Esta comunicação tem como
objetivo descrever três iniciativas
pedagógicas desenvolvidas entre 2015
e 2020 na disciplina de “Escrita
Ciberjornalística”, lecionada no
segundo ano das Licenciaturas em
Comunicação
(Jornalismo, Publicidade
e Relações Públicas e Comunicação
Audiovisual) da Universidade do País
Basco. Esses projetos são baseados
em metodologias como o método de
caso, aprendizagem baseada em
problemas e projetos e aprendizagem
cooperativa, mas incorpora
aprendizagem baseada em inquérito
(inquiry based learning-
ibl) ou na
investigação (
research based learning
rbl). Os dois primeiros projetos
assentam na estratégia da chamada
“internacionalização em casa”.
O primeiro foi desenvolvido
graças à colaboraç
ão de professores e
alunos da Universidade do País Basco
com professores e alunos da
Universidade de Mato Grosso do Sul
(Brasil). Este projeto foi intitulado
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
-AYERDI,
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
ferramentas de inovação no
Revista Latino
-Americana de
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, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
desenvolvidos na disciplina de
"Redação Ciberjornalística" na
Universidade do País Bas
co durante
Esta comunicação tem como
objetivo descrever três iniciativas
pedagógicas desenvolvidas entre 2015
e 2020 na disciplina de “Escrita
Ciberjornalística”, lecionada no
segundo ano das Licenciaturas em
(Jornalismo, Publicidade
e Relações Públicas e Comunicação
Audiovisual) da Universidade do País
Basco. Esses projetos são baseados
em metodologias como o método de
caso, aprendizagem baseada em
problemas e projetos e aprendizagem
cooperativa, mas incorpora
ndo
aprendizagem baseada em inquérito
ibl) ou na
research based learning
-
rbl). Os dois primeiros projetos
assentam na estratégia da chamada
“internacionalização em casa”.
O primeiro foi desenvolvido
ão de professores e
alunos da Universidade do País Basco
com professores e alunos da
Universidade de Mato Grosso do Sul
(Brasil). Este projeto foi intitulado
“Aprendizagem cooperativa na
redação ciberjornalística pela web 2.0:
uma experiência Brasil
O segundo projeto foi
desenvolvido graças à colaboração
internacional e virtual entre estas duas
universidades e três outras, uma
brasileira (Universidade de Piauí) e
duas portuguesas (Universidade da
Beira Interior e Universidade do Porto).
O terceir
o projeto incluído neste
trabalho está a ser desenvolvido num
contexto académico marcado pela
crise do novo coronavírus e pela
importância do ensino bimodal (ensino
presencial combinado e ensino virtual).
Este projeto é desenvolvido
integralmente na Univer
Basco e tem como título “Ensinar a
comunicar no e para um mundo
globalizado. A promoção de
competências transversais (CT) e dos
objetivos de desenvolvimento
sustentável (ODS) na aprendizagem
baseada em projetos empreendedores
transmedia”. Em
bora esteja a ser
desenvolvido na Universidade do País
Basco, este projeto inclui também
ações de internacionalização em casa
por parte da equipa de professores
envolvida, e não tanto dos alunos. Isso
implica praticar as opções de ensino
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www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
“Aprendizagem cooperativa na
redação ciberjornalística pela web 2.0:
uma experiência Brasil
-Euskadi”.
O segundo projeto foi
desenvolvido graças à colaboração
internacional e virtual entre estas duas
universidades e três outras, uma
brasileira (Universidade de Piauí) e
duas portuguesas (Universidade da
Beira Interior e Universidade do Porto).
o projeto incluído neste
trabalho está a ser desenvolvido num
contexto académico marcado pela
crise do novo coronavírus e pela
importância do ensino bimodal (ensino
presencial combinado e ensino virtual).
Este projeto é desenvolvido
integralmente na Univer
sidade do País
Basco e tem como título “Ensinar a
comunicar no e para um mundo
globalizado. A promoção de
competências transversais (CT) e dos
objetivos de desenvolvimento
sustentável (ODS) na aprendizagem
baseada em projetos empreendedores
bora esteja a ser
desenvolvido na Universidade do País
Basco, este projeto inclui também
ações de internacionalização em casa
por parte da equipa de professores
envolvida, e não tanto dos alunos. Isso
implica praticar as opções de ensino
LARRONDO-
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
Koldobika; PEÑA-
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
universidades do espaço ibero-americano –
ferramentas de inovação no
ensino do ciberjornalismo. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
virtual internacio
nal sobre a disciplina
e o tema do projeto em outras
universidades europeias e do outro
lado do Atlântico.
Todos os projetos citados
contaram com diferentes ferramentas
de avaliação, como pesquisas com
alunos das universidades e disciplinas
participantes,
bem como grupos de
discussão com alunos e relatórios de
alunos e professores.
A análise dos conteúdos ou
produtos desenvolvidos em cada
projeto pelos grupos de alunos
também foi tida em conta na avaliação
do nível de interesse das metodologias
implementa
das na concretização das
competências das disciplinas de
ciberjornalismo, tanto aquelas de
natureza específica (escrita de
conteúdos atuais na web a partir da
utilização de diferentes modalidades
reportagens, notícias, crónicas, etc.
diferentes formatos-
texto, áudio, vídeo,
etc.)como de caráter transversal
(trabalho colaborativo, autonomia
profissional, empreendedorismo e
inovação).
3. Análise de casos de inovação
docente no ciberjornalismo
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
-AYERDI,
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
ferramentas de inovação no
Revista Latino
-Americana de
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, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
nal sobre a disciplina
e o tema do projeto em outras
universidades europeias e do outro
Todos os projetos citados
contaram com diferentes ferramentas
de avaliação, como pesquisas com
alunos das universidades e disciplinas
bem como grupos de
discussão com alunos e relatórios de
A análise dos conteúdos ou
produtos desenvolvidos em cada
projeto pelos grupos de alunos
também foi tida em conta na avaliação
do nível de interesse das metodologias
das na concretização das
competências das disciplinas de
ciberjornalismo, tanto aquelas de
natureza específica (escrita de
conteúdos atuais na web a partir da
utilização de diferentes modalidades
-
reportagens, notícias, crónicas, etc.
- e
texto, áudio, vídeo,
etc.)como de caráter transversal
(trabalho colaborativo, autonomia
profissional, empreendedorismo e
3. Análise de casos de inovação
docente no ciberjornalismo
O plano de trabalho prático da
disciplina "Escrita Ciberjorna
baseia-
se na Aprendizagem Baseada
em Projetos (ABP/PBL) a partir do
desenvolvimento de macro
multimédia interativos que tendem a
adotar, principalmente, a forma de
ciber-
relatórios e web
disciplina usa ferramentas gratuitas de
criação na web (serviços de blogs,
desenvolvimento de sites como Wix,
Shorthand, etc.) para dar forma a
essas produções. Estes produtos
tornam-
se na prática um conjunto de
produtos de natureza textual (notícias,
reportagens, crónicas, artigos de
opinião),
visuais, audiovisuais e
sonoros (notícias em vídeo, notícias
textuais, galerias fotográficas,
infografias, textos de opinião, etc.).
Essa abordagem didática coloca
os alunos diante de várias tarefas ou
problemas: por um lado, o
planeamento dos conteúdos,
avaliar o tipo de peça a ser elaborada
para ser incluída em cada
superprodução informativa (notícias e
crónicas hipermédia, vídeo
áudios complementares , infografias
simples, textos de opinião, galerias de
fotos, etc.); também devem ser
considerados os recursos humanos
155
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
O plano de trabalho prático da
disciplina "Escrita Ciberjorna
lística"
se na Aprendizagem Baseada
em Projetos (ABP/PBL) a partir do
desenvolvimento de macro
-projetos
multimédia interativos que tendem a
adotar, principalmente, a forma de
relatórios e web
-docs. Esta
disciplina usa ferramentas gratuitas de
criação na web (serviços de blogs,
desenvolvimento de sites como Wix,
Shorthand, etc.) para dar forma a
essas produções. Estes produtos
se na prática um conjunto de
produtos de natureza textual (notícias,
reportagens, crónicas, artigos de
visuais, audiovisuais e
sonoros (notícias em vídeo, notícias
textuais, galerias fotográficas,
infografias, textos de opinião, etc.).
Essa abordagem didática coloca
os alunos diante de várias tarefas ou
problemas: por um lado, o
planeamento dos conteúdos,
ou seja,
avaliar o tipo de peça a ser elaborada
para ser incluída em cada
superprodução informativa (notícias e
crónicas hipermédia, vídeo
-notícias,
áudios complementares , infografias
simples, textos de opinião, galerias de
fotos, etc.); também devem ser
considerados os recursos humanos
LARRONDO-
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
Koldobika; PEÑA-
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
universidades do espaço ibero-americano –
ferramentas de inovação no
ensino do ciberjornalismo. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
disponíveis para o trabalho (número de
alunos, distribuição de tarefas e
coordenação, etc.); fontes e materiais
disponíveis também devem ser
considerados; finalmente, e de um
ponto de vista mais geral, deve
tentar sempre
rentabilizar a produção
em termos de tempo e esforço. Nesse
sentido, a disciplina procura transferir
para a sala de aula as rotinas
profissionais das redações de media
online envolvidas na produção de
conteúdo atual.
Em suma, trata-
se de os alunos
interiorizarem o tipo de planeamento
específico que os projetos de conteúdo
online exigem, os ritmos de trabalho
que isso acarreta, bem como as
responsabilidades ou competências do
ciberjornalista como criador e gestor
de conteúdos multiplataforma, sem
esq
uecer a importância de estar atento
à atividade das fontes online, à
resposta e reações dos utilizadores às
informações, bem como a necessidade
de colaborar com outros jornalistas do
mesmo ou de outros meios.
Esta Aprendizagem Baseada
em Projetos (ABP)
enquadra
na perspetiva da Internacionalização
em Casa (BEELEN;
JONES
na promoção de níveis complexos de
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
-AYERDI,
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
ferramentas de inovação no
Revista Latino
-Americana de
1, p.
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, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
disponíveis para o trabalho (número de
alunos, distribuição de tarefas e
coordenação, etc.); fontes e materiais
disponíveis também devem ser
considerados; finalmente, e de um
ponto de vista mais geral, deve
-se
rentabilizar a produção
em termos de tempo e esforço. Nesse
sentido, a disciplina procura transferir
para a sala de aula as rotinas
profissionais das redações de media
online envolvidas na produção de
se de os alunos
interiorizarem o tipo de planeamento
específico que os projetos de conteúdo
online exigem, os ritmos de trabalho
que isso acarreta, bem como as
responsabilidades ou competências do
ciberjornalista como criador e gestor
de conteúdos multiplataforma, sem
uecer a importância de estar atento
à atividade das fontes online, à
resposta e reações dos utilizadores às
informações, bem como a necessidade
de colaborar com outros jornalistas do
mesmo ou de outros meios.
Esta Aprendizagem Baseada
enquadra
-se bem
na perspetiva da Internacionalização
JONES
, 2015) e
na promoção de níveis complexos de
interatividade em sala de aula, visando
a produção cooperativa de tipo virtual
(WÄCHTER
, 2002) e internacional. Da
mesma forma, permite
perspetiva social a partir dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável
(ODS).
3.1. Internacionalização em casa
Apesar da sua relativa
novidade, o conceito de
“internacionalização em casa”, de
origem anglo
(Internationalisation at
evidencia um interesse crescente no
campo académico (
BEELEN
2015; ISHIKURA
, 2015). Esta
expressão refere-
se à possibilidade de
o estudante universitário viver uma
experiência internacional de formação
sem ter de participar num programa
mobilidade. É uma experiência de
ensino-
aprendizagem inovadora que
permite promover a interculturalidade a
partir de diferentes estratégias, para
além da aprendizagem tradicional de
línguas estrangeiras ou do
multilinguismo.
O projeto de inovação
educ
acional que este trabalho examina
tenta determinar se, como ocorre em
campos estritamente profissionais (por
156
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- ISSN 2237-1508
interatividade em sala de aula, visando
a produção cooperativa de tipo virtual
, 2002) e internacional. Da
mesma forma, permite
implementar a
perspetiva social a partir dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável
3.1. Internacionalização em casa
Apesar da sua relativa
novidade, o conceito de
“internacionalização em casa”, de
origem anglo
-saxónica
(Internationalisation at
Home - IaH),
evidencia um interesse crescente no
BEELEN
; JONES,
, 2015). Esta
se à possibilidade de
o estudante universitário viver uma
experiência internacional de formação
sem ter de participar num programa
de
mobilidade. É uma experiência de
aprendizagem inovadora que
permite promover a interculturalidade a
partir de diferentes estratégias, para
além da aprendizagem tradicional de
línguas estrangeiras ou do
O projeto de inovação
acional que este trabalho examina
tenta determinar se, como ocorre em
campos estritamente profissionais (por
LARRONDO-
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
Koldobika; PEÑA-
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
universidades do espaço ibero-americano –
ferramentas de inovação no
ensino do ciberjornalismo. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
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meio de consórcios colaborativos entre
associações jornasticas de diferentes
países), o ensino do ciberjornalismo
também pode convergir hoje a
internacional e em que aspetos nas
universidades de Espanha, Portugal e
América.
Na primeira fase, o projeto foi
desenvolvido sob o título
"Aprendizagem cooperativa na escrita
ciberjornalística pela web 2.0: uma
experiência Brasil-
Euskadi" e contou
co
m a colaboração do professor
Gerson Luiz Martins, responsável na
Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul (UFMGS), Brasil, da disciplina
“Laboratório de Ciberjornalismo I”.
Especificamente, este projeto
assentou em duas hipóteses ou
premissas: segundo a
publicação pelos alunos dos trabalhos
que elaboraram com ferramentas
próprias da web 2.0 numa plataforma
amplamente divulgada motiva os
alunos a investirnuma maior dedicação
ao processo de preparação das
informações, e reforça a sua
preocupaçã
o com a qualidade do
conteúdo. De acordo com a segunda
hipótese, as experiências
internacionais de aprendizagem
cooperativa não permitem expandir
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
-AYERDI,
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
ferramentas de inovação no
Revista Latino
-Americana de
1, p.
150
-
16
4
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
meio de consórcios colaborativos entre
associações jornasticas de diferentes
países), o ensino do ciberjornalismo
também pode convergir hoje a
vel
internacional e em que aspetos nas
universidades de Espanha, Portugal e
Na primeira fase, o projeto foi
desenvolvido sob o título
"Aprendizagem cooperativa na escrita
ciberjornalística pela web 2.0: uma
Euskadi" e contou
m a colaboração do professor
Gerson Luiz Martins, responsável na
Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul (UFMGS), Brasil, da disciplina
“Laboratório de Ciberjornalismo I”.
Especificamente, este projeto
assentou em duas hipóteses ou
primeira, a
publicação pelos alunos dos trabalhos
que elaboraram com ferramentas
próprias da web 2.0 numa plataforma
amplamente divulgada motiva os
alunos a investirnuma maior dedicação
ao processo de preparação das
informações, e reforça a sua
o com a qualidade do
conteúdo. De acordo com a segunda
hipótese, as experiências
internacionais de aprendizagem
cooperativa não permitem expandir
o quadro de aprendizagem
colaborativa para outros locais, mas
também favorecem a vivência da
interação com
o público, o que
constitui um dos elementos
novo paradigma comunicativo.
O principal objetivo deste
projeto, portanto, consistiu em
promover a aprendizagem ativa e
cooperativa em disciplinas
equivalentes do plano de estudos:
“Escrita de Ciberjorn
“Laboratório de Ciberjornalismo I”.
Para tal, em grupos de 4
alunos, os alunos de cada disciplina
desenvolveram os projetos multimédia
na forma de relatórios e webdocs
habituais dos conteúdos práticos. No
final do semestre e depois de
publicad
os todos os projetos, o corpo
docente selecionou os três melhores
trabalhos de cada uma das disciplinas
para submetê-
los à avaliação dos seus
colegas do outro lado do Atlântico,
através das ferramentas da web 2.0
(Facebook, Twitter, Instagram ...). Com
o o
bjetivo de unificar, orientar e facilitar
a avaliação que os alunos iriam
fazerdo trabalho dos seus colegas, foi
elaborada uma rubrica para avaliação
dos projetos, nas categorias de
157
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
o quadro de aprendizagem
colaborativa para outros locais, mas
também favorecem a vivência da
o público, o que
constitui um dos elementos
-chave do
novo paradigma comunicativo.
O principal objetivo deste
projeto, portanto, consistiu em
promover a aprendizagem ativa e
cooperativa em disciplinas
equivalentes do plano de estudos:
“Escrita de Ciberjorn
alismo” e
“Laboratório de Ciberjornalismo I”.
Para tal, em grupos de 4
-5
alunos, os alunos de cada disciplina
desenvolveram os projetos multimédia
na forma de relatórios e webdocs
habituais dos conteúdos práticos. No
final do semestre e depois de
os todos os projetos, o corpo
docente selecionou os três melhores
trabalhos de cada uma das disciplinas
los à avaliação dos seus
colegas do outro lado do Atlântico,
através das ferramentas da web 2.0
(Facebook, Twitter, Instagram ...). Com
bjetivo de unificar, orientar e facilitar
a avaliação que os alunos iriam
fazerdo trabalho dos seus colegas, foi
elaborada uma rubrica para avaliação
dos projetos, nas categorias de
LARRONDO-
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
Koldobika; PEÑA-
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
universidades do espaço ibero-americano –
ferramentas de inovação no
ensino do ciberjornalismo. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
avaliação “muito / bastante / pouco /
nada”.
Nessa fase, a análise da
exp
eriência utilizou inquéritos de
opinião dos alunos participantes e
análise de conteúdo das suas
interações. Os resultados obtidos nos
inquéritos de final de curso
evidenciaram a necessidade de
fomentar um maior contacto e
interação em tempo real entre os
a
lunos dos dois lados do Atlântico. Da
mesma forma, apontaram a
necessidade de corrigir aspetos
problemáticos ou impeditivos, como o
idioma (português e espanhol) e, em
geral, a necessidade de aumentar ou
intensificar o envolvimento dos alunos.
Esta
experiência do Projeto de
Inovação Educativa (PIE) incentivou a
propor a continuação do projeto numa
fase posterior (2017-
2019) com o título
de “Aprendizagem cooperativa virtual
na escrita ciberjornalística. Uma
experiência Brasil-
Portugal
Basco”. O p
rincipal objetivo deste
segundo projeto foi examinar em que
medida os alunos seriam capazes de
encontrar soluções para desafios
profissionais importantes para os
jornalistas, como o trabalho
colaborativo e a internacionalização.
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
-AYERDI,
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
ferramentas de inovação no
Revista Latino
-Americana de
1, p.
150
-
16
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, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
avaliação “muito / bastante / pouco /
Nessa fase, a análise da
eriência utilizou inquéritos de
opinião dos alunos participantes e
análise de conteúdo das suas
interações. Os resultados obtidos nos
inquéritos de final de curso
evidenciaram a necessidade de
fomentar um maior contacto e
interação em tempo real entre os
lunos dos dois lados do Atlântico. Da
mesma forma, apontaram a
necessidade de corrigir aspetos
problemáticos ou impeditivos, como o
idioma (português e espanhol) e, em
geral, a necessidade de aumentar ou
intensificar o envolvimento dos alunos.
experiência do Projeto de
Inovação Educativa (PIE) incentivou a
propor a continuação do projeto numa
2019) com o título
de “Aprendizagem cooperativa virtual
na escrita ciberjornalística. Uma
Portugal
-País
rincipal objetivo deste
segundo projeto foi examinar em que
medida os alunos seriam capazes de
encontrar soluções para desafios
profissionais importantes para os
jornalistas, como o trabalho
colaborativo e a internacionalização.
Como no projeto anterior,
também neste foi mantida a estrutura
de “grupos de trabalho” ou equipes de
redação que simulavam empresas
reais de media, embora para a
segunda fase do projeto se tivesse
considerado um nível de complexidade
maior. Enquanto na primeira fase os
grupos de tr
abalho eram formados por
alunos da mesma universidade, de
Mato Grosso do Sul e do País Basco,
na segunda fase foram criados cinco
grupos de trabalho internacionais, ou
seja, cada um deles integrado por
corpo discente das cinco
universidades participantes n
(Tabela 1). A ngua comum de
trabalho foi o inglês.
Tabela 1. Universidades e disciplinas
participantes
Universidade
D
isciplina
MATO GROSSO
DO SUL (UFMGS)
Brasil
Laboratório de
Ciberjornalismo
PIAUÍ (UFPI) Brasil
Webjornalismo
Avançado
COVILHÃ (UBI)
Portugal
Webjornalismo
PORTO (UP)
Portugal
Técnicas de
Expressão
Jornalística Online II
158
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Como no projeto anterior,
também neste foi mantida a estrutura
de “grupos de trabalho” ou equipes de
redação que simulavam empresas
reais de media, embora para a
segunda fase do projeto se tivesse
considerado um nível de complexidade
maior. Enquanto na primeira fase os
abalho eram formados por
alunos da mesma universidade, de
Mato Grosso do Sul e do País Basco,
na segunda fase foram criados cinco
grupos de trabalho internacionais, ou
seja, cada um deles integrado por
corpo discente das cinco
universidades participantes n
o projeto
(Tabela 1). A ngua comum de
Tabela 1. Universidades e disciplinas
isciplina
Laboratório de
Ciberjornalismo
Webjornalismo
Avançado
Webjornalismo
Técnicas de
Expressão
Jornalística Online II
LARRONDO-
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
Koldobika; PEÑA-
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
universidades do espaço ibero-americano –
ferramentas de inovação no
ensino do ciberjornalismo. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
PAÍS BASCO
(UPV/EHU)
Espanha
Redacción
Ciberperiodística
No contexto do ano letivo
2019/2020, as cinco equipas
produziram os projetos e os docentes
participantes no projeto recolheram os
resultados desta experiência
pedagógica. Para isso, foram
utilizados grupos de discussão com
alunos das respetivas universidades e
encontros entre professores e entre
alunos e professores. A análise deste
segundo PIE
também se apoiou nos
resultados obtidos nas observações
participantes em sala de aula pelos
professores e nos relatórios
elaborados por eles com base nas
referidas observações e na própria
experiência no projeto. Em relação aos
resultados do projeto, dos c
trabalhos colaborativos iniciados, três
conseguiram superar as dificuldades
apontadas e seguir em frente: “The
Secrets of Our Country”, “A long way
to go” e “Euthanasia: the dilema of
current democracies”.
Como aspetos positivos da
estratégia de inovação aplicada, cabe
destacar a prática da língua inglesa, a
realização de uma atividade prática
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
-AYERDI,
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
ferramentas de inovação no
Revista Latino
-Americana de
1, p.
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16
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, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Redacción
Ciberperiodística
No contexto do ano letivo
2019/2020, as cinco equipas
produziram os projetos e os docentes
participantes no projeto recolheram os
resultados desta experiência
pedagógica. Para isso, foram
utilizados grupos de discussão com
alunos das respetivas universidades e
encontros entre professores e entre
alunos e professores. A análise deste
também se apoiou nos
resultados obtidos nas observações
participantes em sala de aula pelos
professores e nos relatórios
elaborados por eles com base nas
referidas observações e na própria
experiência no projeto. Em relação aos
resultados do projeto, dos c
inco
trabalhos colaborativos iniciados, três
conseguiram superar as dificuldades
apontadas e seguir em frente: “The
Secrets of Our Country”, “A long way
to go” e “Euthanasia: the dilema of
Como aspetos positivos da
estratégia de inovação aplicada, cabe
destacar a prática da língua inglesa, a
realização de uma atividade prática
docente com uma perspetiva diferente
e o conhecimento de outras culturas
de trabalho noutras universidades
(LARRONDO et al
., 2019).
3.2. Competências transversais
através de projetos
transmediasobre ODS
A segunda iniciativa descrita
neste artigo foi concretizada por meio
do projeto de inovação educativa do
grupo KZBerri, intitulado “Ensinando a
comunicar num e para um
globalizado. A promoção das
competências transversais (CT) e os
Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) na aprendizagem
baseada em projetos empresariais
transmedia”. Este projeto está a ser
desenvolvido no corrente ano letivo
2020/2021 também
disciplina de “Escrita Ciberjornalística”.
As histórias transmedia
mostram cada vez mais o seu impulso
no campo do jornalismo e da não
ficção (FORD
, 2007;
MOLONEY, 2011;
PORTO
2012), independentemente do facto de
hoje
obterem o seu máximo
desenvolvimento no mundo do
entretenimento e da ficção. Diversos
autores têm destacado as implicações
159
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
docente com uma perspetiva diferente
e o conhecimento de outras culturas
de trabalho noutras universidades
., 2019).
3.2. Competências transversais
através de projetos
transmediasobre ODS
A segunda iniciativa descrita
neste artigo foi concretizada por meio
do projeto de inovação educativa do
grupo KZBerri, intitulado “Ensinando a
comunicar num e para um
mundo
globalizado. A promoção das
competências transversais (CT) e os
Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) na aprendizagem
baseada em projetos empresariais
transmedia”. Este projeto está a ser
desenvolvido no corrente ano letivo
no âmbito da
disciplina de “Escrita Ciberjornalística”.
As histórias transmedia
mostram cada vez mais o seu impulso
no campo do jornalismo e da não
, 2007;
DELANEY, 2011;
PORTO
; FLORES,
2012), independentemente do facto de
obterem o seu máximo
desenvolvimento no mundo do
entretenimento e da ficção. Diversos
autores têm destacado as implicações
LARRONDO-
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
Koldobika; PEÑA-
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
universidades do espaço ibero-americano –
ferramentas de inovação no
ensino do ciberjornalismo. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
da experiência transmedia nesse
sentido, analisando-
a do ponto de vista
social e cultural, para além da
tecnologia (IRIGARAY;
2015). Não é de se surpreender que
otransmedia reflita diferentes formas
de assimilar o conteúdo a partir das
particularidades de cada meio e dos
públicos. Na mesma linha, é possível
pensar que otransmedia aplicado ao
ensino de jornalismo permite que o
a
luno trabalhe de forma conjunta e
coordenada com diferentes formatos e
formas de trabalhar a informação, o
que é de grande interesse para a sua
aprendizagem como comunicador.
A partir das possibilidades
atuais dotransmedia de entreter ou
relatar acontecim
entos, as produções
apoiadas nesta fórmula mostram a sua
capacidade de resgatar valores como
o interesse humano e a criatividade,
atraindo o interesse de grande parte
do público e reorientando as atividades
dos media, especialmente de serviços
públicos de
rádio e televisão. As
fórmulas transmedia também podem
funcionar como um termómetro do
nível de desenvolvimento da
integração alcançado nas empresas
de comunicação entre meios, redação
e conteúdo, uma vez que foi
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
-AYERDI,
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
ferramentas de inovação no
Revista Latino
-Americana de
1, p.
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, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
da experiência transmedia nesse
a do ponto de vista
social e cultural, para além da
LOVATO,
2015). Não é de se surpreender que
otransmedia reflita diferentes formas
de assimilar o conteúdo a partir das
particularidades de cada meio e dos
públicos. Na mesma linha, é possível
pensar que otransmedia aplicado ao
ensino de jornalismo permite que o
luno trabalhe de forma conjunta e
coordenada com diferentes formatos e
formas de trabalhar a informação, o
que é de grande interesse para a sua
aprendizagem como comunicador.
A partir das possibilidades
atuais dotransmedia de entreter ou
entos, as produções
apoiadas nesta fórmula mostram a sua
capacidade de resgatar valores como
o interesse humano e a criatividade,
atraindo o interesse de grande parte
do público e reorientando as atividades
dos media, especialmente de serviços
rádio e televisão. As
fórmulas transmedia também podem
funcionar como um termómetro do
nível de desenvolvimento da
integração alcançado nas empresas
de comunicação entre meios, redação
e conteúdo, uma vez que foi
demonstrado que grande parte das
iniciativa
s transmedia atuais são
desenvolvidas em ambientes que
desenvolveram iniciativas
convergentes com maior ou menor
nível de desenvolvimento e sucesso.
O projeto proposto considera
todos os temas relacionados com os
dezassete ODS. A incorporação dos
ODS visa
aprimorar o processo
ensino-
aprendizagem, transmitindo
aos alunos não apenas
conhecimentos, mas também atitudes
(por exemplo, pró
principalmente num contexto
académico marcado pela pandemia do
novo coronavírus.
Os primeiros resultados obtidos
no projeto indicam que os alunos
participantes integraram conteúdos
processuais e atitudinais (trabalho
cooperativo, liderança, motivação,
capacidade de trabalho,
responsabilidade social, etc.) ligados a
competências transversais como a
Gestão da inform
digital
(pesquisa de tópicos,
organização da informação jornalística
web em secções e subsecções, gestão
da interação com o blico
etc.); a
Ética e responsabilidade
profissional
(pesquisa de questões
160
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
demonstrado que grande parte das
s transmedia atuais são
desenvolvidas em ambientes que
desenvolveram iniciativas
convergentes com maior ou menor
nível de desenvolvimento e sucesso.
O projeto proposto considera
todos os temas relacionados com os
dezassete ODS. A incorporação dos
aprimorar o processo
aprendizagem, transmitindo
aos alunos não apenas
conhecimentos, mas também atitudes
(por exemplo, pró
-atividade),
principalmente num contexto
académico marcado pela pandemia do
Os primeiros resultados obtidos
no projeto indicam que os alunos
participantes integraram conteúdos
processuais e atitudinais (trabalho
cooperativo, liderança, motivação,
capacidade de trabalho,
responsabilidade social, etc.) ligados a
competências transversais como a
Gestão da inform
ão e cidadania
(pesquisa de tópicos,
organização da informação jornalística
web em secções e subsecções, gestão
da interação com o blico
-cidadão,
Ética e responsabilidade
(pesquisa de questões
LARRONDO-
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
Koldobika; PEÑA-
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
universidades do espaço ibero-americano –
ferramentas de inovação no
ensino do ciberjornalismo. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
distantes dos interesses institucionais
e governamentais; responsabilidade
pelo impacto dos conteúdos gerados,
tratamento ético, perspetivas
profundas e ricas, etc.); ou o
Compromisso social
jornalístico e temas de interesse para
melhorar a vida d
os cidadãos;
interesse nas interações com os
cidadãos, etc.). Estas CT estão
relacionadas com a necessidade de
transmitir aos alunos em sala de aula a
importância de tratar e realizar uma
cobertura de um ponto de vista
inovador e criativo sobre temas de
in
teresse humano e social (no caso
dos ODS), para além da aparente
atratividade dos temas mais
superficiais e sensacionalistas.
4. Conclusões
Os projetos educativos descritos
neste trabalho colocam em discussão
a necessidade de continuar a
investigar a ped
agogia da
cibercomunicação para aprimorar a
oferta curricular, em consonância com
a mudança do perfil do comunicador
na era dos media online. A avaliação
das experiências descritas permite
destacar aspetos positivos e
negativos. Um dos primeiros sucessos
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
-AYERDI,
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
ferramentas de inovação no
Revista Latino
-Americana de
1, p.
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, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
distantes dos interesses institucionais
e governamentais; responsabilidade
pelo impacto dos conteúdos gerados,
tratamento ético, perspetivas
profundas e ricas, etc.); ou o
(serviço
jornalístico e temas de interesse para
os cidadãos;
interesse nas interações com os
cidadãos, etc.). Estas CT estão
relacionadas com a necessidade de
transmitir aos alunos em sala de aula a
importância de tratar e realizar uma
cobertura de um ponto de vista
inovador e criativo sobre temas de
teresse humano e social (no caso
dos ODS), para além da aparente
atratividade dos temas mais
superficiais e sensacionalistas.
Os projetos educativos descritos
neste trabalho colocam em discussão
a necessidade de continuar a
agogia da
cibercomunicação para aprimorar a
oferta curricular, em consonância com
a mudança do perfil do comunicador
na era dos media online. A avaliação
das experiências descritas permite
destacar aspetos positivos e
negativos. Um dos primeiros sucessos
o
bservados foi a sua utilidade como
estratégia de ensino baseada nos
princípios da criatividade, qualidade,
competência e colaboração,
característicos do ensino universitário
do século XXI, assente na filosofia do
"aprender fazendo", que permite um
ótimo us
o dos recursos e plataformas
da Internet.
Nos projetos apoiados em
cooperação interuniversitária virtual
(2015-
2019), foi demonstrado que os
alunos podem adquirir conhecimentos
sobre ciberjornalismo e criação de
produtos de informação avançada em
ambiente
s que simulam uma redação,
mas que são simuladores para algo
mais, isto é, por permitir ao corpo
discente viver uma experiência de
“internacionalização em casa”.
Da mesma forma, estes projetos
conseguiram um maior envolvimento
dos alunos no desenvolviment
produtos que estavam a construir de
forma cooperativa (atenção constante
às plataformas de coordenação
WhatsApp, Google Drive, Skype, etc.).
A necessidade de apoiar toda a
atividade numa coordenação
horizontal intensa (típica de cada
grupo de parti
cipantes, alunos e
professores) e vertical (professores e
161
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
bservados foi a sua utilidade como
estratégia de ensino baseada nos
princípios da criatividade, qualidade,
competência e colaboração,
característicos do ensino universitário
do século XXI, assente na filosofia do
"aprender fazendo", que permite um
o dos recursos e plataformas
Nos projetos apoiados em
cooperação interuniversitária virtual
2019), foi demonstrado que os
alunos podem adquirir conhecimentos
sobre ciberjornalismo e criação de
produtos de informação avançada em
s que simulam uma redação,
mas que são simuladores para algo
mais, isto é, por permitir ao corpo
discente viver uma experiência de
“internacionalização em casa”.
Da mesma forma, estes projetos
conseguiram um maior envolvimento
dos alunos no desenvolviment
o dos
produtos que estavam a construir de
forma cooperativa (atenção constante
às plataformas de coordenação
-
WhatsApp, Google Drive, Skype, etc.).
A necessidade de apoiar toda a
atividade numa coordenação
horizontal intensa (típica de cada
cipantes, alunos e
professores) e vertical (professores e
LARRONDO-
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
Koldobika; PEÑA-
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
universidades do espaço ibero-americano –
ferramentas de inovação no
ensino do ciberjornalismo. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura,
Niterói/RJ, Ano 1
1
, n.
2
1, p.
alunos) também favoreceu uma
relação e comunicação mais estreita,
aproximando a figura do professor dos
alunos. Outra vantagem óbvia é a
obtenção de uma estrutura de
feedback e avaliação menos rígid
hierárquica, na qual as competências
internacionais ou interculturais são
integradas no currículo do aluno.
Quanto aos aspetos mais
negativos, referem-
se à necessidade
de cooperar, dialogar e gerar produtos
jornalísticos (reportagens transmedia,
cober
tura em profundidade, etc.) numa
língua comum a todas as
universidades, mas diferente da
usual(o inglês). Outra desvantagem
desta metodologia de trabalho foi a
utilização que alguns alunos faziam de
plataformas de trabalho como o
WhatsApp, utilizadas em al
para temas e questões distantes dos
respetivos projetos. Embora ainda em
andamento, o projeto apoiado pelo
trabalho com os ODS (2020/2021)
começa a mostrar as vantagens de
combinar a aprendizagem instrumental
e os géneros online com a reflexã
crítica sobre a importância de
promover projetos de comunicação
com uma perspetiva social, o de
forma específica, mas também
URETA, Ainara; ZAMITH, Fernando; MESO
-AYERDI,
FERNANDEZ, Simón. Cooperação virtual e ODS nas
ferramentas de inovação no
Revista Latino
-Americana de
1, p.
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, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
alunos) também favoreceu uma
relação e comunicação mais estreita,
aproximando a figura do professor dos
alunos. Outra vantagem óbvia é a
obtenção de uma estrutura de
feedback e avaliação menos rígid
a e
hierárquica, na qual as competências
internacionais ou interculturais são
integradas no currículo do aluno.
Quanto aos aspetos mais
se à necessidade
de cooperar, dialogar e gerar produtos
jornalísticos (reportagens transmedia,
tura em profundidade, etc.) numa
língua comum a todas as
universidades, mas diferente da
usual(o inglês). Outra desvantagem
desta metodologia de trabalho foi a
utilização que alguns alunos faziam de
plataformas de trabalho como o
WhatsApp, utilizadas em al
guns casos
para temas e questões distantes dos
respetivos projetos. Embora ainda em
andamento, o projeto apoiado pelo
trabalho com os ODS (2020/2021)
começa a mostrar as vantagens de
combinar a aprendizagem instrumental
e os géneros online com a reflexã
o
crítica sobre a importância de
promover projetos de comunicação
com uma perspetiva social, o de
forma específica, mas também
transversal, transferindo para a
informação ciberjornalística multimédia
perspetivas ambientais, de género, de
justiça socia
l e ética, etc..
Em suma, os projetos
considerados permitem evidenciar o
verdadeiro valor da coordenação
virtual e presencial nos processos de
ensino-
aprendizagem nesta área,
nomeadamente em tempos de
pandemia global, como a gerada pela
Covid-19. Esta coo
rdenação virtual e
presencial também apresenta uma
dupla faceta (positiva e negativa) que
deve ser levada em consideração no
desenho de estratégias de
aprendizagem baseadas neste recurso
dentro e fora da sala de aula.
Referências
bibliográficas
BEELEN, Jos.;
JONES
Redefining Internationalization at
Home. In: CURAJ
, Adrian;
Liviu; PRICOPIE
, Lemus;
Jamil; SCOTT
, Peter (Ed.).
European Higher Education Area
Cham: Springer, 2015
Disponível em:
https://link.springer.com/chapter/10.10
07/978-3-319-20877-
0_5
BHUIYAN
, Serajul I. Teaching media
convergence and its challenges.
Pacific Media Educator
Disponível em:
https://ro.uow.edu.au/apme/vol1/iss20/
11/
162
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
transversal, transferindo para a
informação ciberjornalística multimédia
perspetivas ambientais, de género, de
l e ética, etc..
Em suma, os projetos
considerados permitem evidenciar o
verdadeiro valor da coordenação
virtual e presencial nos processos de
aprendizagem nesta área,
nomeadamente em tempos de
pandemia global, como a gerada pela
rdenação virtual e
presencial também apresenta uma
dupla faceta (positiva e negativa) que
deve ser levada em consideração no
desenho de estratégias de
aprendizagem baseadas neste recurso
dentro e fora da sala de aula.
bibliográficas
:
JONES
, Elspeth.
Redefining Internationalization at
, Adrian;
MATEI,
, Lemus;
SALMI,
, Peter (Ed.).
The
European Higher Education Area
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. p. 59-72.
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convergence and its challenges.
Asia
Pacific Media Educator
, n. 20, 2010.
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164
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
Identidad Marron
e o mito do labirinto.
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21
Resumo:
Em um momento no qual tanto a pauta identitária quanto a interseccionalidade são
debatidos por vários espaços, procuramos apresentar um estudo de caso e uma reflexão sobre a
atuação do
Colectivo Identidad Marron
em 2018 na cidade de Buenos Aires, o
periféricxs, mulheres e gays em luta por uma inserção dos povos originários em melhores postos de
trabalhos e espaços
de destaque artístico.
gigantesco labirinto, sugerimos que esta situação se apresenta como a reconfiguração do mito do
Minotauro e objetivamos
introduzir um debate sobre a relação labirinto
erefletir sobre o modo como
as iniciativas e movimentos solidários
Marron
em meio ao sistema de precarização ressignificam sua inserção, dando maior visibilidade às
questões dos
movimentos identit
Palavras-chaves
: coletivos políticos e culturais; povos originários; América Latina;
interseccionalidade; precarização cultural.
Identidad marrón y el mito del laberinto
Buenos Aires
Resumen:
En un momento en el que tanto la agenda identitaria como la interseccionalidad son
discutidas por diversos espacios, buscamos presentar un caso de estudio y una reflexión sobre la
actuación del
Colectivo Identidad Marron
2018 en la ciudad de Buenos Aires, el
periféricos, mujeres y gays que luchan por una inserción de los pueblos originarios en mejores
empleos y espacios de protagonismo a
laberinto gigantesco, sugerimos que esta situación se presenta como la reconfiguración del mito del
Minotauro y pretendemos introducir un debate sobre la relación laberinto / tecnología
/intersecci
onalidad y reflexionar sobre la forma en que las iniciativas y movimientos solidarios de los
integrantes de Identidad Marrón en medio del precario sistema dan un nuevo sentido a su inserción,
dando mayor visibilidad a los temas de los movimientos identitar
1
Roberta Filgueiras Mathias.
Doutoranda de Cinema pela Universidade Federal Fluminense
Doutoranda em Ciências Soci
ais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro
robertamathias@id.uff.br -
https://orcid.org/0000
2
Michele Pucarelli.
Doutor em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro PPGAV
UFRJ. Professor do Programa de Pós
universidade Federal Fluminense, Brasil. E
0001-9345-4463
Recebido em 21/01/2021,
aceito para publicação em 2
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
e o mito do labirinto.
Luta e resistência do coletivo dos povos
originários de Buenos Aires
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21
.48251
Roberta Filgueiras
Michele Pucarelli
Em um momento no qual tanto a pauta identitária quanto a interseccionalidade são
debatidos por vários espaços, procuramos apresentar um estudo de caso e uma reflexão sobre a
Colectivo Identidad Marron
em meio
ao contexto da precarização na Argentina. Formado
em 2018 na cidade de Buenos Aires, o
Colectivo
é composto principalmente por indígenas,
periféricxs, mulheres e gays em luta por uma inserção dos povos originários em melhores postos de
de destaque artístico.
Compreendendo o atual cenário
precarizado
gigantesco labirinto, sugerimos que esta situação se apresenta como a reconfiguração do mito do
introduzir um debate sobre a relação labirinto
/
tecnologia/Interseccionalidade
as iniciativas e movimentos solidários
das integrantes do
em meio ao sistema de precarização ressignificam sua inserção, dando maior visibilidade às
movimentos identit
ários na Argentina.
: coletivos políticos e culturais; povos originários; América Latina;
interseccionalidade; precarização cultural.
Identidad marrón y el mito del laberinto
. Lucha y resistencia del colectivo de pueblos de
En un momento en el que tanto la agenda identitaria como la interseccionalidad son
discutidas por diversos espacios, buscamos presentar un caso de estudio y una reflexión sobre la
Colectivo Identidad Marron
en el contexto de la preca
riedad en Argentina. Formado en
2018 en la ciudad de Buenos Aires, el
Colectivo
está compuesto principalmente por indígenas,
periféricos, mujeres y gays que luchan por una inserción de los pueblos originarios en mejores
empleos y espacios de protagonismo a
rtístico. Entendiendo el actual escenario precario como un
laberinto gigantesco, sugerimos que esta situación se presenta como la reconfiguración del mito del
Minotauro y pretendemos introducir un debate sobre la relación laberinto / tecnología
onalidad y reflexionar sobre la forma en que las iniciativas y movimientos solidarios de los
integrantes de Identidad Marrón en medio del precario sistema dan un nuevo sentido a su inserción,
dando mayor visibilidad a los temas de los movimientos identitar
ios en Argentina.
Doutoranda de Cinema pela Universidade Federal Fluminense
ais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro
-
UERJ, Brasil.
https://orcid.org/0000
-0002-8715-4998
Doutor em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro PPGAV
UFRJ. Professor do Programa de Pós
-Graduação em Mídia e Cotidiano -
PPGMC/UFF da
universidade Federal Fluminense, Brasil. E
-mail: michelepucarelli@id.uff.br -
https://orcid.org/0000
aceito para publicação em 2
2/05/20
21 e disponibilizado online em
01/09/2021.
165
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Luta e resistência do coletivo dos povos
Roberta Filgueiras
Mathias
1
Michele Pucarelli
2
Em um momento no qual tanto a pauta identitária quanto a interseccionalidade são
debatidos por vários espaços, procuramos apresentar um estudo de caso e uma reflexão sobre a
ao contexto da precarização na Argentina. Formado
é composto principalmente por indígenas,
periféricxs, mulheres e gays em luta por uma inserção dos povos originários em melhores postos de
precarizado
como um
gigantesco labirinto, sugerimos que esta situação se apresenta como a reconfiguração do mito do
tecnologia/Interseccionalidade
das integrantes do
Identidad
em meio ao sistema de precarização ressignificam sua inserção, dando maior visibilidade às
: coletivos políticos e culturais; povos originários; América Latina;
. Lucha y resistencia del colectivo de pueblos de
En un momento en el que tanto la agenda identitaria como la interseccionalidad son
discutidas por diversos espacios, buscamos presentar un caso de estudio y una reflexión sobre la
riedad en Argentina. Formado en
está compuesto principalmente por indígenas,
periféricos, mujeres y gays que luchan por una inserción de los pueblos originarios en mejores
rtístico. Entendiendo el actual escenario precario como un
laberinto gigantesco, sugerimos que esta situación se presenta como la reconfiguración del mito del
Minotauro y pretendemos introducir un debate sobre la relación laberinto / tecnología
onalidad y reflexionar sobre la forma en que las iniciativas y movimientos solidarios de los
integrantes de Identidad Marrón en medio del precario sistema dan un nuevo sentido a su inserción,
ios en Argentina.
Doutoranda de Cinema pela Universidade Federal Fluminense
– UFF e
UERJ, Brasil.
E-mail:
Doutor em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro PPGAV
-
PPGMC/UFF da
https://orcid.org/0000
-
21 e disponibilizado online em
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
Palabras clave:
colectivos políticos y culturales; pueblos originarios; América Latina;
interseccionalidad; precariedad cultural.
Identidad Marron
and the myth of the labyrinth.
peoples from Buenos Aires
Abstract:
At a time when both the identity agenda and intersectionality are discussed by various
spaces, we seek to present a case study and a reflection on the performance of
Marron
in the context of precariousness in Argentina. Formed in 2018 in the city of Buenos Aires, the
Colectivo
is mainly composed of indigenous, peripheral, women and gays struggling for an insertion of
native peoples in better Jobs and spaces of artistic promi
scenario as a gigantic labyrinth, we suggest that this situation presents itself as the reconfiguration of
the myth of the Minotaur and we aim to introduce a debate about the labyrinth / technology /
/intersecti
onality relationship and reflect about the way in which the solidarity initiatives and
movements of the members of
their insertion, giving greater visibility to the issues of identity movement
Keywords:
political and cultural collectives; native peoples; Latin America; intersectionality; cultural
precariousness.
Identidad Marron
e o mito do labirinto.
Introdução
O desenvolvimento
tecnologia das comunicações
era globalizada
nos leva de volta para
dentro do mito do labirinto do
Minotauro
3
. C
om uma lógica
descentrada e desregulada de
inúmeros aplicativos disponíveis, o
prometia ser um incentivo à
3
Na
mitologia grega, o Labirinto do
povoou o imaginário dos gregos, levando
medo e terror. A criatura habitava um labirinto
na ilha de Creta,
que era governada pelo rei
Minos. De acordo com o mito, era
imaginada com a cabeça de um
corpo de um homem
. Disponível em:
http://www.projetominotauro.com.br/o
minotauro.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
colectivos políticos y culturales; pueblos originarios; América Latina;
interseccionalidad; precariedad cultural.
and the myth of the labyrinth.
Struggle and resistance of the collective of
At a time when both the identity agenda and intersectionality are discussed by various
spaces, we seek to present a case study and a reflection on the performance of
in the context of precariousness in Argentina. Formed in 2018 in the city of Buenos Aires, the
is mainly composed of indigenous, peripheral, women and gays struggling for an insertion of
native peoples in better Jobs and spaces of artistic promi
nence. Understanding the current precarious
scenario as a gigantic labyrinth, we suggest that this situation presents itself as the reconfiguration of
the myth of the Minotaur and we aim to introduce a debate about the labyrinth / technology /
onality relationship and reflect about the way in which the solidarity initiatives and
movements of the members of
Identidad Marron
amidt He precarious system give new meaning to
their insertion, giving greater visibility to the issues of identity movement
s in Argentina.
political and cultural collectives; native peoples; Latin America; intersectionality; cultural
e o mito do labirinto.
Luta e resistência do coletivo dos povos
originários de Buenos Aires
O desenvolvimento
da
tecnologia das comunicações
desta
nos leva de volta para
dentro do mito do labirinto do
om uma lógica
descentrada e desregulada de
inúmeros aplicativos disponíveis, o
que
prometia ser um incentivo à
mitologia grega, o Labirinto do
Minotauro
povoou o imaginário dos gregos, levando
medo e terror. A criatura habitava um labirinto
que era governada pelo rei
Minos. De acordo com o mito, era
uma criatura
touro sobre o
. Disponível em:
http://www.projetominotauro.com.br/o
-mito-do-
multiplicidade de ideias e costumes, se
transformou num
amedrontador, com a prática de uma
agenda neoliberal econômica, que
deixa de lado a ideia de bem
social. Neste cenário, onde as
promessas de ganhos e bem viver são
intensamente propagadas nas mídias,
deixa-
se de informar, contudo, que
elas
são pouco acessíveis à maior
parte das populações latino
americanas.
Na prática cotidiana desta
agenda, testemunhamos como os
cidadãos são substituídos por
166
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
colectivos políticos y culturales; pueblos originarios; América Latina;
Struggle and resistance of the collective of
At a time when both the identity agenda and intersectionality are discussed by various
spaces, we seek to present a case study and a reflection on the performance of
Colectivo Identidad
in the context of precariousness in Argentina. Formed in 2018 in the city of Buenos Aires, the
is mainly composed of indigenous, peripheral, women and gays struggling for an insertion of
nence. Understanding the current precarious
scenario as a gigantic labyrinth, we suggest that this situation presents itself as the reconfiguration of
the myth of the Minotaur and we aim to introduce a debate about the labyrinth / technology /
onality relationship and reflect about the way in which the solidarity initiatives and
amidt He precarious system give new meaning to
s in Argentina.
political and cultural collectives; native peoples; Latin America; intersectionality; cultural
Luta e resistência do coletivo dos povos
multiplicidade de ideias e costumes, se
transformou num
ambiente
amedrontador, com a prática de uma
agenda neoliberal econômica, que
deixa de lado a ideia de bem
-estar
social. Neste cenário, onde as
promessas de ganhos e bem viver são
intensamente propagadas nas mídias,
se de informar, contudo, que
são pouco acessíveis à maior
parte das populações latino
-
Na prática cotidiana desta
agenda, testemunhamos como os
cidadãos são substituídos por
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
consumidores, as principais cidades
por aglomerados humanos, as nações
por empresas, a ideia de pov
conceito de mercado e as relações
humanas por uma concorrência
comercial que não tem fim
(GALEANO, 2006, p. 150). Estaríamos
enfim, imersos num gigantesco
labirinto
sem uma saída à vista?
uma das principais formas de
exploração destes novos
que, na precarização, o sujeito é
colocado como eixo de sua própria
exploração e, dessa forma, a
exploração é encoberta sob a forma de
liberdade. Ou seja, a exploração fica
oculta na sedução do discurso, que
sob o slogan de ter acesso à sua
pró
pria liberdade, transfere a
responsabilidade das garantias sociais
e trabalhistas para quem na prática
não terá condições de criá
-
la.
Desse modo, testemunhamos o
quanto os
trabalhadores mais
vulneráveis ficam expostos à
situação de escolhas entre a servidão
ou o desemprego para terem acesso à
alguma renda. Todavia,
denúncias em
relação a um
processo de desmonte
social são realizados mais de
quarenta anos, antecipando os
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
consumidores, as principais cidades
por aglomerados humanos, as nações
por empresas, a ideia de pov
os pelo
conceito de mercado e as relações
humanas por uma concorrência
comercial que não tem fim
(GALEANO, 2006, p. 150). Estaríamos
enfim, imersos num gigantesco
sem uma saída à vista?
Afinal,
uma das principais formas de
sistemas é
que, na precarização, o sujeito é
colocado como eixo de sua própria
exploração e, dessa forma, a
exploração é encoberta sob a forma de
liberdade. Ou seja, a exploração fica
oculta na sedução do discurso, que
sob o slogan de ter acesso à sua
pria liberdade, transfere a
responsabilidade das garantias sociais
e trabalhistas para quem na prática
-
la e mantê-
Desse modo, testemunhamos o
trabalhadores mais
vulneráveis ficam expostos à
difícil
situação de escolhas entre a servidão
ou o desemprego para terem acesso à
denúncias em
processo de desmonte
social são realizados mais de
quarenta anos, antecipando os
problemas exploratórios que surgiriam
com
a implementação de uma agenda
neoliberal econômica na América
Latina e o consequente processo de
crescimento de fragilidade social no
cotidiano dessas populações.Dos
movimentos de resistência que
desde os anos 70, podemos destacar
um grupo de intelect
Latina (Aníbal Quijano, Enrique Dussel
e Walter Mignolo) que se reuniram
para pensar o conceito de
decolonialidade e tentar traçar
paralelos que nos conectassem
culturalmente e politicamente a partir
das agressões e repressões que
vivíamos
e como isso poderia nos
deixar em uma posição frágil nos
campos político, econômico e cultural,
tanto internamente como
externamente. O primeiro
extrapolação da sujeição dos corpos
na ditadura por um lado, e o segundo
sobre o modo como nos
relacionáv
amos com os chamados
países desenvolvidos.
A partir da década de 90, esse
grupo intensifica suas atividades e cria
o Grupo Modernidade/Colonialidade
(Grupo M/C). Ao reivindicar um
pertencimento originário conectado
aos grupos indígenas que habitavam a
167
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
problemas exploratórios que surgiriam
a implementação de uma agenda
neoliberal econômica na América
Latina e o consequente processo de
crescimento de fragilidade social no
cotidiano dessas populações.Dos
movimentos de resistência que
vêm
desde os anos 70, podemos destacar
um grupo de intelect
uais da América
Latina (Aníbal Quijano, Enrique Dussel
e Walter Mignolo) que se reuniram
para pensar o conceito de
decolonialidade e tentar traçar
paralelos que nos conectassem
culturalmente e politicamente a partir
das agressões e repressões que
e como isso poderia nos
deixar em uma posição frágil nos
campos político, econômico e cultural,
tanto internamente como
externamente. O primeiro
com a
extrapolação da sujeição dos corpos
na ditadura por um lado, e o segundo
sobre o modo como nos
amos com os chamados
países desenvolvidos.
A partir da década de 90, esse
grupo intensifica suas atividades e cria
o Grupo Modernidade/Colonialidade
(Grupo M/C). Ao reivindicar um
pertencimento originário conectado
aos grupos indígenas que habitavam a
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
Amé
rica Latina, um caráter de
reformulação histórica que reverbera
em nossas ações cotidianas. Questões
que permaneceram através de
traduções, livros e simpósios com
nomes que militavam na década de
1970/1980, mas somente agora
ganharam a reverberação m
por todo continente, e em especial no
Brasil. Entre eles, a argentina Maria
Lugones
recém falecida, a brasileira
Maria Beatriz Nascimento
assassinada em 1995,
Victoria Santa Cruz
mais conhecida
por seus poemas com temáticas
raciais, e por
Yuderkys
Miñoso (2014) com seu
pensamento
interseccional introduzindo a questão
da orientação sexual.
debates vêm
aumentando a atenção
para a importância de refletirmos
algumas das distorções da
latino-americana
através da
interseccionalidade.
Da reunião de todas essas
referências teóricas e com as
experiências de observação e análise
do Colectivo
Identidad
gostaríamos de destacar nosso
entendimento do conceito de
interseccionalidade como a
sobreposição das diversa
s identidades
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
rica Latina, um caráter de
reformulação histórica que reverbera
em nossas ações cotidianas. Questões
que permaneceram através de
traduções, livros e simpósios com
nomes que militavam na década de
1970/1980, mas somente agora
ganharam a reverberação m
erecida
por todo continente, e em especial no
Brasil. Entre eles, a argentina Maria
recém falecida, a brasileira
Maria Beatriz Nascimento
assassinada em 1995,
a peruana
mais conhecida
por seus poemas com temáticas
Yuderkys
Espinosa-
pensamento
interseccional introduzindo a questão
Todos os
aumentando a atenção
para a importância de refletirmos
algumas das distorções da
história
através da
Da reunião de todas essas
referências teóricas e com as
experiências de observação e análise
Identidad
Marron,
gostaríamos de destacar nosso
entendimento do conceito de
interseccionalidade como a
s identidades
(que perpassam corpos, raças, etnias)
e de marcadores sociais (com seus
sistemas de discriminação, dominação
ou opressão) nas lutas identitárias
pelas transformações das relações de
poder.
Sob essas considerações,
entendemos que os conceitos
defendidos por Patricia
Angela Davis
são centrais para a
compreensão de uma disputa narrativa
mais ampla que traga essa correlação
em seu próprio eixo como estratégia
política.
Essa leitura se interliga com
nossa maneira de observar as
relações fundamentais a serem
debatidas neste artigo.
Porém, é importante
destacarmos que
intersseccionalidade, ela própria, é
uma maneira de se colocar uma lente
sobre um sujeito de pesquisa, a
que, inclusive, se faz presente nesse
artigo. A proposta de trazer a
intersseccionalidade como uma
investigação crítica para estudar
diversos fenômenos sociais nos
parece fundamental para o caso da
precarização laboral na América Latina
e da atuação de
ssas forças nos
diferentes corpos que são implicados.
Assim,
pretendemos fazer do debate
da
interseccionalidade
168
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(que perpassam corpos, raças, etnias)
e de marcadores sociais (com seus
sistemas de discriminação, dominação
ou opressão) nas lutas identitárias
pelas transformações das relações de
Sob essas considerações,
entendemos que os conceitos
defendidos por Patricia
Hill Collins e
são centrais para a
compreensão de uma disputa narrativa
mais ampla que traga essa correlação
em seu próprio eixo como estratégia
Essa leitura se interliga com
nossa maneira de observar as
relações fundamentais a serem
debatidas neste artigo.
Porém, é importante
destacarmos que
a
intersseccionalidade, ela própria, é
uma maneira de se colocar uma lente
sobre um sujeito de pesquisa, a
lgo
que, inclusive, se faz presente nesse
artigo. A proposta de trazer a
intersseccionalidade como uma
investigação crítica para estudar
diversos fenômenos sociais nos
parece fundamental para o caso da
precarização laboral na América Latina
ssas forças nos
diferentes corpos que são implicados.
pretendemos fazer do debate
interseccionalidade
e da
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
precarização uma chave metodológica
do texto, compreendendo ser a análise
e apresentação do
Colectivo
que um estudo de caso, um
i
nterlocutor desse processo. Por esse
motivo, entrando em diálogo com a
proposta e diretrizes elaboradas
artistxs
apresentadxs, iremos trazer
suas falas de maneira integral nas
citações, respeitando uma demanda
que surge a partir do momento que
começa
m a ganhar espaço em eixos
centrais da cidade e sentem a
necessidade de ver seus propósitos e
discursos não serem desvirtuados.
Sob este cenário, pretendemos
com o presente artigo, refletir o
contexto geral de precarização no
setor cultural através da apre
do trabalho do
Colectivo
Marron, formado por
descendentes
dos povos originários na cidade de
Buenos Aires. Objetivamos refletir
cooptação e atuação delas no sistema
de precarização, com todas as
explorações conhecidas, não
possibilitam, por outro lado, a
ressignificação de sua inse
cenário social, artístico e político,
conseguindo dar maior visibilidade às
questões dos
movimentos identitários
na Argentina, além de apontarem
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
precarização uma chave metodológica
do texto, compreendendo ser a análise
Colectivo
- mais do
que um estudo de caso, um
nterlocutor desse processo. Por esse
motivo, entrando em diálogo com a
proposta e diretrizes elaboradas
pelxs
apresentadxs, iremos trazer
suas falas de maneira integral nas
citações, respeitando uma demanda
que surge a partir do momento que
m a ganhar espaço em eixos
centrais da cidade e sentem a
necessidade de ver seus propósitos e
discursos não serem desvirtuados.
Sob este cenário, pretendemos
com o presente artigo, refletir o
contexto geral de precarização no
setor cultural através da apre
sentação
Colectivo
Identidad
descendentes
dos povos originários na cidade de
Buenos Aires. Objetivamos refletir
se a
cooptação e atuação delas no sistema
de precarização, com todas as
explorações conhecidas, não
possibilitam, por outro lado, a
ressignificação de sua inse
rção no
cenário social, artístico e político,
conseguindo dar maior visibilidade às
movimentos identitários
na Argentina, além de apontarem
possíveis caminhos de saída deste
grande labirinto reconfigurado do
A plataformização do trabalh
e da sociedade
Em nosso entendimento
“precarização” se caracteriza como a
intensificação de uma relação de
trabalho cada vez mais individualizada
a partir do modo como os dados são
utilizados para criar valor através de
um processo de subordinação de
corpos invisibilizados e
marginalizados, com formas
diferenciadas de assalariamento e
obtenção de lucro que ocorriam
décadas, mas agora com uma
aparência de prestação de
serviços.Nesse sentido, entendemos
que os conceitos defendidos por Casilli
e Pos
ada (2018) sobre a
plataformização do trabalho e da
sociedade e de Ricardo Antunes com
suas reflexões sobre o capitalismo
contemporâneo a partir da alteração
do padrão taylorista,promovendo a
flexibilização, desregulamentação e
privatização, em conjunto c
decadência do modelo de bem
social (2000, p.37) reverberaram na
América Latina de modo significativo.
169
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
possíveis caminhos de saída deste
grande labirinto reconfigurado do
mito.
A plataformização do trabalh
o
Em nosso entendimento
a
“precarização” se caracteriza como a
intensificação de uma relação de
trabalho cada vez mais individualizada
a partir do modo como os dados são
utilizados para criar valor através de
um processo de subordinação de
corpos invisibilizados e
marginalizados, com formas
diferenciadas de assalariamento e
obtenção de lucro que ocorriam
décadas, mas agora com uma
aparência de prestação de
serviços.Nesse sentido, entendemos
que os conceitos defendidos por Casilli
ada (2018) sobre a
plataformização do trabalho e da
sociedade e de Ricardo Antunes com
suas reflexões sobre o capitalismo
contemporâneo a partir da alteração
do padrão taylorista,promovendo a
flexibilização, desregulamentação e
privatização, em conjunto c
om a
decadência do modelo de bem
-estar
social (2000, p.37) reverberaram na
América Latina de modo significativo.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
Em particular, no caso do
Colectivo Identidad
Marron
integrantes trabalham com
telemarketing, distribuição de
panfletos, como babás, mo
ubber
ou entregadorxs de comida e
outras mercadorias associadas as
plataformas de entrega. Para elxs
essas atividades não são
consideradas um problema em si,
porque a reclamação o passa pelo
tipo de trabalho que é feito, mas pela
falta de gar
antias e pela imposição de
horários fragmentados que as
impedem de estudar, ter lazer e
praticar atividades artísticas. Elxs
percebem em alguns destes tipos de
atividade uma continuação do trabalho
precarizado de suas mães, avós e
bisavós, agora com o agra
exploratório de uma publicidade que
faz com que certas atividades pareçam
flexíveis a partir de um discurso
motivacional sobre a ideia de que o/a
antigo/a empregado/a agora é um
colaborador/a livre, que pode gerenciar
seu próprio tempo.
Contudo, ess
e tempo de sobra
para o lazer inexiste para a maioria da
população de baixa renda, que se
obrigada a trabalhar por mais tempo
para conseguir dinheiro suficiente para
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Em particular, no caso do
Marron
, muitxs
integrantes trabalham com
telemarketing, distribuição de
panfletos, como babás, mo
toristas de
ou entregadorxs de comida e
outras mercadorias associadas as
plataformas de entrega. Para elxs
essas atividades não são
consideradas um problema em si,
porque a reclamação o passa pelo
tipo de trabalho que é feito, mas pela
antias e pela imposição de
horários fragmentados que as
impedem de estudar, ter lazer e
praticar atividades artísticas. Elxs
percebem em alguns destes tipos de
atividade uma continuação do trabalho
precarizado de suas mães, avós e
bisavós, agora com o agra
vante
exploratório de uma publicidade que
faz com que certas atividades pareçam
flexíveis a partir de um discurso
motivacional sobre a ideia de que o/a
antigo/a empregado/a agora é um
colaborador/a livre, que pode gerenciar
e tempo de sobra
para o lazer inexiste para a maioria da
população de baixa renda, que se
obrigada a trabalhar por mais tempo
para conseguir dinheiro suficiente para
sustentar a família -
tempo tomado em longas viagens
entre trabalho e m
oradia.
perdas de direitos trabalhistas não
podem ser entendidas como
novidades surgidas na
plataformização, mas como a
continuidade de um processo
exploratório que existe um longo
tempo. O discurso de marketing
acerca da valorização de uma
independência e liberdade de agenda
de horários e folgas para aqueles que
se associam a este projeto de
empreendedorismo informal, não
consegue superar a fragilidade que a
falta de direitos fundamentais
promove, como ausências de férias
remuneradas
, previdência para uma
futura aposentadoria e aulio em caso
de doenças ou problemas de saúde.
No texto “A Plataformização do
trabalho e da sociedade”, Antonio
Casilli e Julian Posada (2018)
recordam que desde o início dos anos
2000 o termo plataformização já era
utilizado nas indústrias de tecnologia
para designar padrões digitais que
combinavam informações. Nesse
momento, no entanto, o que estava em
jogo era a organização de dados
atravé
s desses recursos digitais.
170
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
além de ter seu
tempo tomado em longas viagens
oradia.
Portanto as
perdas de direitos trabalhistas não
podem ser entendidas como
novidades surgidas na
plataformização, mas como a
continuidade de um processo
exploratório que existe um longo
tempo. O discurso de marketing
acerca da valorização de uma
suposta
independência e liberdade de agenda
de horários e folgas para aqueles que
se associam a este projeto de
empreendedorismo informal, não
consegue superar a fragilidade que a
falta de direitos fundamentais
promove, como ausências de férias
, previdência para uma
futura aposentadoria e aulio em caso
de doenças ou problemas de saúde.
No texto “A Plataformização do
trabalho e da sociedade”, Antonio
Casilli e Julian Posada (2018)
nos
recordam que desde o início dos anos
2000 o termo plataformização já era
utilizado nas indústrias de tecnologia
para designar padrões digitais que
combinavam informações. Nesse
momento, no entanto, o que estava em
jogo era a organização de dados
s desses recursos digitais.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
Posteriormente, os autores analisam
como o fenômeno se alastra e passa a
fazer parte constitutiva da cultura
contemporânea e das relações de
trabalho, considerando cinco
características fundamentais para
entender o fenômeno: a m
aneira como
os dados são utilizados para criar
valor, como os dados são extraídos de
uma série de usuários sob a forma de
trabalho digital, o comportamento dos
usuários fragmentado e reduzido a
tarefas padrões, a substituição dos
modos econômicos preexiste
por fim,
como as tendências em
direção à especificação de dados e
tarefas são o cerne dos
desenvolvimentos contemporâneos em
automação e inteligência artificial
Contudo, é importante lembrar
que as características essenciais dos
movimentos explo
ratórios não são
recentes e estão presentes na história
um longo tempo. O processo
colonizador foi extremamente violento
tanto na dominação efetiva dos
corpos, quanto na simbólica. No livro
Necropolítica
, o filósofo e historiador
camaronês Achille Mbemb
que essa dominação em meio ao
4
Antonio A. Casili
e Julián Posada
(2019, p. 02).
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Posteriormente, os autores analisam
como o fenômeno se alastra e passa a
fazer parte constitutiva da cultura
contemporânea e das relações de
trabalho, considerando cinco
características fundamentais para
aneira como
os dados são utilizados para criar
valor, como os dados são extraídos de
uma série de usuários sob a forma de
trabalho digital, o comportamento dos
usuários fragmentado e reduzido a
tarefas padrões, a substituição dos
modos econômicos preexiste
ntes, e,
como as tendências em
direção à especificação de dados e
tarefas são o cerne dos
desenvolvimentos contemporâneos em
automação e inteligência artificial
4
.
Contudo, é importante lembrar
que as características essenciais dos
ratórios não são
recentes e estão presentes na história
um longo tempo. O processo
colonizador foi extremamente violento
tanto na dominação efetiva dos
corpos, quanto na simbólica. No livro
, o filósofo e historiador
camaronês Achille Mbemb
e defende
que essa dominação em meio ao
e Julián Posada
Gutierrez
processo de globalização assume
outras formas. No caso específico da
América do Sul podemos perceber
uma subordinação imposta aos
descendentes dos povos escravizados
vindos da África e uma invisibilidade
dos povos or
iginários, compreendidos
pelos descendentes de indígenas.
Para Mbembe há simplesmente uma
atualização de poder sobre o corpo.
De um modelo imperialista para um
capitalista, onde os processos de
exploração são reorganizados, mas
onde opressores e subalterno
continuam os mesmos. (MBEMBE,
2018, p. 56)
Alguns dados relevantes
ajudam a compreender esta ideia. O
relatório dezembro de 2019 da CEPAL
Comissão Econômica para América
Latina e Caribe, indicava que a região
apresentava uma desaceleração
econômica ge
neralizada, completando
seis anos consecutivos de baixo
crescimento. O panorama
macroeconômico geral indicava queda
do produto interno bruto (PIB) per
capita, queda do investimento, queda
do consumo per capita, redução das
exportações e manutenção do
proce
sso de deterioração da qualidade
do emprego. De acordo com este
171
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
processo de globalização assume
outras formas. No caso específico da
América do Sul podemos perceber
uma subordinação imposta aos
descendentes dos povos escravizados
vindos da África e uma invisibilidade
iginários, compreendidos
pelos descendentes de indígenas.
Para Mbembe há simplesmente uma
atualização de poder sobre o corpo.
De um modelo imperialista para um
capitalista, onde os processos de
exploração são reorganizados, mas
onde opressores e subalterno
s
continuam os mesmos. (MBEMBE,
Alguns dados relevantes
ajudam a compreender esta ideia. O
relatório dezembro de 2019 da CEPAL
Comissão Econômica para América
Latina e Caribe, indicava que a região
apresentava uma desaceleração
neralizada, completando
seis anos consecutivos de baixo
crescimento. O panorama
macroeconômico geral indicava queda
do produto interno bruto (PIB) per
capita, queda do investimento, queda
do consumo per capita, redução das
exportações e manutenção do
sso de deterioração da qualidade
do emprego. De acordo com este
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
relatório: “[...] as projeções de
crescimento para 2020 permanecerão
baixas, em torno de 1,3% para a
região como um todo.” (CEPAL, 2019).
Contudo, em contraposição a esta
situação, na América
Latina, a renda
do 1% mais rico subiu brutalmente.
São taxas de crescimento acima de
100% ou de 200% para o 1% do topo
entre 1980 e 2019. (CHACEL, 2019).
A história recente da Argentina
também ajuda a ilustrar este caminho.
Desde a hiperinflação dos anos
resultantes da destruição das
instituições políticas e das perdas
econômicas impostas pelas ditaduras
militares, à governança neoliberal dos
anos 1990, que ao invés de entregar
um crescimento econômico e social,
acelerou um processo de desmonte
das ú
ltimas estruturas de um Estado
Social e levou o país a uma extensa
recessão econômica, que provocou
uma implosão social. Nas pesquisas
realizadas ao fim do ano pandêmico
de 2020,
e segundo os dados oficiais
do Indec
Instituto Nacional de
5
Vale destacar que essas eram as projeções
realizadas antes da chegada do coronavírus e
da pandemia da covid-
19, que agravou a
situação de
crise e deu contornos dramáticos
à situação socioeconômica de vários países
latino-americanos.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
relatório: “[...] as projeções de
crescimento para 2020 permanecerão
baixas, em torno de 1,3% para a
região como um todo.” (CEPAL, 2019).
Contudo, em contraposição a esta
Latina, a renda
do 1% mais rico subiu brutalmente.
São taxas de crescimento acima de
100% ou de 200% para o 1% do topo
entre 1980 e 2019. (CHACEL, 2019).
5
A história recente da Argentina
também ajuda a ilustrar este caminho.
Desde a hiperinflação dos anos
1980,
resultantes da destruição das
instituições políticas e das perdas
econômicas impostas pelas ditaduras
militares, à governança neoliberal dos
anos 1990, que ao invés de entregar
um crescimento econômico e social,
acelerou um processo de desmonte
ltimas estruturas de um Estado
Social e levou o país a uma extensa
recessão econômica, que provocou
uma implosão social. Nas pesquisas
realizadas ao fim do ano pandêmico
e segundo os dados oficiais
Instituto Nacional de
Vale destacar que essas eram as projeções
realizadas antes da chegada do coronavírus e
19, que agravou a
crise e deu contornos dramáticos
à situação socioeconômica de vários países
estatística e ce
nso da República
Argentina, 44% da população da
população está na pobreza.
(COLOMBO, 2020)
A preocupação com esse tipo
de exploração e sobre os modos como
as Integrantes do
Identidad
tentam enfrentá-
las de modo coletivo,
fica evidenciada no moviment
participação na grande passeata do
8M, nome dado ao movimento de
mulheres que se reúnem nas ruas de
diversas cidades no dia 8 de março,
Dia Internacional da Mulher, para
marchar por uma visibilidade e
reivindicar por postos de trabalhos
igualitários e
direito ao aborto legal,
dentre outras pautas. A citação a
seguir, colocada na íntegra conforme
explicado em respeito as diretrizes do
Colectivo Identidad
Marron, encontra
se em sua
página do Facebook:
(
www.facebook.com/identidadmarron/
Somos filhas de empregadas
domésticas que não podiam ir as
passeatas do grupo 8M. Ontem
as mulheres e travestis marrons
saímos para marchar, como
mulheres marrons, como travestis
marrons, mas não apenas para
nós, mas também para nossas
mães e nossas avós m
indígenas e camponesas, que
foram exploradas aproveitando
se de suas precariedades.
Saímos para nos abraçar, para
172
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
nso da República
Argentina, 44% da população da
população está na pobreza.
A preocupação com esse tipo
de exploração e sobre os modos como
Identidad
Marron
las de modo coletivo,
fica evidenciada no moviment
o de
participação na grande passeata do
8M, nome dado ao movimento de
mulheres que se reúnem nas ruas de
diversas cidades no dia 8 de março,
Dia Internacional da Mulher, para
marchar por uma visibilidade e
reivindicar por postos de trabalhos
direito ao aborto legal,
dentre outras pautas. A citação a
seguir, colocada na íntegra conforme
explicado em respeito as diretrizes do
Marron, encontra
-
página do Facebook:
www.facebook.com/identidadmarron/
)
Somos filhas de empregadas
domésticas que não podiam ir as
passeatas do grupo 8M. Ontem
as mulheres e travestis marrons
saímos para marchar, como
mulheres marrons, como travestis
marrons, mas não apenas para
nós, mas também para nossas
mães e nossas avós m
arrons,
indígenas e camponesas, que
foram exploradas aproveitando
-
se de suas precariedades.
Saímos para nos abraçar, para
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
deixar de ser objeto de fetiche e
ser objeto de ação. Saímos para
questionar uma irmandade
enunciativa, saímos para gritar
que irmanda
de também é pagar
as contribuições dos
trabalhadores domésticos.
Entendemos que muitos não
puderam ir, entendemos por que
muitos de nossos primos, avós ou
irmãs são precarizados, não
registrados, sem contribuições, e
faltar ao trabalho, na maioria das
veze
s, resultará em não comer e
não pagar o aluguel. Saímos para
encontrar nossa voz, exigir
empatia sincera, todos
entendemos que o discurso é
bonito, mas muitos de nós não
podem parar, porque quando o
desemprego é precário, parar não
é uma opção, mas um priv
(MAMANI;
RUIZ, 2019)
6
Somos las hijas de las empleadas domésticas
que al 8m no pudieron ir ayer las mujeres y
travestis marrones salimos a marchar,
nosotras como mujeres marrones, co
travestis marrones, pero no solo por nosotras,
sino por nuestras madres y nuestras abuelas
marrones, indígenas, campesinas, que fueron
explotadas aprovechándose de su
precariedad. Salimos a abrazarnos, a dejar de
ser el objeto de fetiche para ser las su
acción. Salimos a cuestionar una sororidad
enunciativa, salimos a gritar que sororidad
también es pagar los aportes de las
empleadas domésticas. Entendemos que
muchas no pudieron ir, entendemos porque
muchas de nuestras primas, madres abuelas o
he
rmanas están precarizadas, no registradas,
sin aportes, y faltar al trabajo es la mayoría de
las veces no comer, no pagar el alquiler.
Salimos a buscar nuestra voz, a exigir una
sincera empatía, todas entendemos que el
discurso es bello pero muchas de noso
podemos parar porque cuando se está
precarizada el paro no es una opción sino un
privilegio.
<
https://m.facebook.com/identidadmarron
de março de 2019 acesso em 17 de janeiro de
2021. (Tradução livre dos autores).
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
deixar de ser objeto de fetiche e
ser objeto de ação. Saímos para
questionar uma irmandade
enunciativa, saímos para gritar
de também é pagar
as contribuições dos
trabalhadores domésticos.
Entendemos que muitos não
puderam ir, entendemos por que
muitos de nossos primos, avós ou
irmãs são precarizados, não
registrados, sem contribuições, e
faltar ao trabalho, na maioria das
s, resultará em não comer e
não pagar o aluguel. Saímos para
encontrar nossa voz, exigir
empatia sincera, todos
entendemos que o discurso é
bonito, mas muitos de nós não
podem parar, porque quando o
desemprego é precário, parar não
é uma opção, mas um priv
ilégio.
RUIZ, 2019)
6
Somos las hijas de las empleadas domésticas
que al 8m no pudieron ir ayer las mujeres y
travestis marrones salimos a marchar,
nosotras como mujeres marrones, co
mo
travestis marrones, pero no solo por nosotras,
sino por nuestras madres y nuestras abuelas
marrones, indígenas, campesinas, que fueron
explotadas aprovechándose de su
precariedad. Salimos a abrazarnos, a dejar de
ser el objeto de fetiche para ser las su
jetas de
acción. Salimos a cuestionar una sororidad
enunciativa, salimos a gritar que sororidad
también es pagar los aportes de las
empleadas domésticas. Entendemos que
muchas no pudieron ir, entendemos porque
muchas de nuestras primas, madres abuelas o
rmanas están precarizadas, no registradas,
sin aportes, y faltar al trabajo es la mayoría de
las veces no comer, no pagar el alquiler.
Salimos a buscar nuestra voz, a exigir una
sincera empatía, todas entendemos que el
discurso es bello pero muchas de noso
tras no
podemos parar porque cuando se está
precarizada el paro no es una opción sino un
https://m.facebook.com/identidadmarron
> 10
de março de 2019 acesso em 17 de janeiro de
2021. (Tradução livre dos autores).
Estarem umas pelas outras,
muitas delas que não podem perder
um dia de trabalho sob o risco de
serem dispensadas, demonstra o
esforço do sentido de solidariedade
para que juntas possam reclamar por
um espaço próprio, que é ta
espaço de seus pais e avôs. Uma das
críticas a ser destacada do
a de que o trabalho precarizado e com
poucas garantias para os
trabalhadores já era uma regra para as
gerações que os antecederam,
reafirmando a segregação de seus
corpos.
Essa característica pode ser
observada inclusive na configuração
de ocupação dos territórios da cidade,
pois os descendentes de indígenas
não conseguem espaços na cidade de
Buenos Aires e buscam moradia e
trabalho nos distritos vizinhos.
Atualmente, o que
é um trabalho extremamente
precarizado combinado ao discurso
midiático do empreendedorismo. Se no
mundo colonial a grande perversidade
era desumanizar o corpo do outro,
com a precarização talvez seja a
ilusão de que ao abrir o próprio
negócio, a
inda que sem garantias
trabalhistas, esse outro (indígena,
imigrante, negro) passe a ditar as
173
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Estarem umas pelas outras,
muitas delas que não podem perder
um dia de trabalho sob o risco de
serem dispensadas, demonstra o
esforço do sentido de solidariedade
para que juntas possam reclamar por
um espaço próprio, que é ta
mbém um
espaço de seus pais e avôs. Uma das
críticas a ser destacada do
Colectivo é
a de que o trabalho precarizado e com
poucas garantias para os
trabalhadores já era uma regra para as
gerações que os antecederam,
reafirmando a segregação de seus
Essa característica pode ser
observada inclusive na configuração
de ocupação dos territórios da cidade,
pois os descendentes de indígenas
não conseguem espaços na cidade de
Buenos Aires e buscam moradia e
trabalho nos distritos vizinhos.
Atualmente, o que
observamos
é um trabalho extremamente
precarizado combinado ao discurso
midiático do empreendedorismo. Se no
mundo colonial a grande perversidade
era desumanizar o corpo do outro,
com a precarização talvez seja a
ilusão de que ao abrir o próprio
inda que sem garantias
trabalhistas, esse outro (indígena,
imigrante, negro) passe a ditar as
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
próprias regras. O sociólogo brasileiro
Ricardo Antunes
observa que o
advento do neoliberalismo provoca
uma reestruturação produtiva que
coloca os trabalhadores m
vulneráveis em uma difícil escolha:
servidão ou desemprego (ANTUNES,
2018, p. 39).
Para pensar esse “novo
proletariado” ele ressalta a importância
do enfraquecimento da
regulamentação do trabalho, a
flexibilidade das empresas, a
privatização dos
serviços e a
proliferação de trabalhos intermitentes.
Essas novas características do serviço
digitalizado em conjunto com a
realidade desigual da América
Latina produzem uma pulverização da
classe trabalhadora que perde
algumas características fundantes
daquele trabalhador da década de
1970ou 1980 que se viu impelido a
participar do mundo político a partir de
um sentimento de pertencimento de
classe.
Uma nova revolução nos modos
de ver, viver e trabalhar somente pode
partir desses grupos que vêm sendo
ex
cluídos e marginalizados
décadas. A defesa da América Latina
como um laboratório fundamental para
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
próprias regras. O sociólogo brasileiro
observa que o
advento do neoliberalismo provoca
uma reestruturação produtiva que
coloca os trabalhadores m
ais
vulneráveis em uma difícil escolha:
servidão ou desemprego (ANTUNES,
Para pensar esse “novo
proletariado” ele ressalta a importância
do enfraquecimento da
regulamentação do trabalho, a
flexibilidade das empresas, a
serviços e a
proliferação de trabalhos intermitentes.
Essas novas características do serviço
digitalizado em conjunto com a
realidade desigual da América
Latina produzem uma pulverização da
classe trabalhadora que perde
algumas características fundantes
daquele trabalhador da década de
1970ou 1980 que se viu impelido a
participar do mundo político a partir de
um sentimento de pertencimento de
Uma nova revolução nos modos
de ver, viver e trabalhar somente pode
partir desses grupos que vêm sendo
cluídos e marginalizados
décadas. A defesa da América Latina
como um laboratório fundamental para
as lutas sociais a partir dessas
revoluções na esfera micro, mas que
precisariam alçar voz em direção ao
global.Dentro desse contexto, as
atividades sociai
s do
Identidad
Marron, da
Buenos Aires, podem servir de
referência à estas lutas de resistências
sociais. O Colectivo
luta não somente
pelos próprios direitos trabalhistas,
mas por um espaço de expressão
política mais amplo
para se mani
politicamente. Dessa forma, eles
buscam também ecoar vozes do
passado e de seus antecessores
procurando reconstruir uma Argentina
mais plural, como demonstraremos a
seguir.
A revolução coletiva do
Marron
O Colectivo
Identidad
construiu a partir das manifestações
que ocorreram em 2018 e início de
2019 na Argentina. Inicialmente, um
movimento a favor da legalização do
aborto no país, que contava com
diversas vertentes do movimento
feminista. As manifestações cresceram
e chegar
am a acontecer em outros
países da América Latina. O
movimento, que ficou conhecido como
174
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
as lutas sociais a partir dessas
revoluções na esfera micro, mas que
precisariam alçar voz em direção ao
global.Dentro desse contexto, as
s do
Colectivo
Marron, da
cidade de
Buenos Aires, podem servir de
referência à estas lutas de resistências
luta não somente
pelos próprios direitos trabalhistas,
mas por um espaço de expressão
para se mani
festar
politicamente. Dessa forma, eles
buscam também ecoar vozes do
passado e de seus antecessores
procurando reconstruir uma Argentina
mais plural, como demonstraremos a
A revolução coletiva do
Identidad
Identidad
Marronse
construiu a partir das manifestações
que ocorreram em 2018 e início de
2019 na Argentina. Inicialmente, um
movimento a favor da legalização do
aborto no país, que contava com
diversas vertentes do movimento
feminista. As manifestações cresceram
am a acontecer em outros
países da América Latina. O
movimento, que ficou conhecido como
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
Pañuelos Verdes
7
, cresceu também
dentro do próprio país e possibilitou
que houvesse encontro de pessoas
que também lutavam por outras
causas. Foi nas manifestações na
Plaza de Mayo
e nas principais ruas
do centro de Buenos Aires que o grupo
começou a ganhar corpo e fazer das
ruas o principal espaço para sua arte
política. Finalmente, no dia 30 de
dezembro, o aborto foi legalizado no
país.
8
O objetivo do coletivo argenti
Identidad Marron
é a de
propostas interdisciplinares de artistas
e acadêmicas das mais diversas áreas
(poetas, cineastas e ilustradores) que
procuram pensar o papel dos
7
A luta pela legalização do abo
rto na Argentina
é a ponta de um iceberg que tem por debaixo
décadas de organização feminista. A
Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto
Legal foi gestada nos Encontros Nacionais de
Mulheres de Rosário e Mendoza e lançada
oficialmente em 28 de maio de 200
Internacional de Ação pela Saúde das
Mulheres. De lá para cá, o movimento foi
incansável no debate científico-
universitário e
nas discussões sobre políticas públicas para
mulheres. Construiu um mote claro:
sexual para decidir, anticonce
pcionais para
não abortar e aborto legal para não morrer
Fonte:
www.brasildefato.com.br/2018/08/13/nada
sera-como-antes-uma-
radiografia
aborto-e-da-mare-verde-na-
argentina/
em: 17 jan. 2021.
8
Cf.
https://veja.abril.com.br/mundo/congresso
argentina-aprova-legalizacao-do
-
Acesso em: 01 jan. 2020.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
, cresceu também
dentro do próprio país e possibilitou
que houvesse encontro de pessoas
que também lutavam por outras
causas. Foi nas manifestações na
e nas principais ruas
do centro de Buenos Aires que o grupo
começou a ganhar corpo e fazer das
ruas o principal espaço para sua arte
política. Finalmente, no dia 30 de
dezembro, o aborto foi legalizado no
O objetivo do coletivo argenti
no
é a de
reunir
propostas interdisciplinares de artistas
e acadêmicas das mais diversas áreas
(poetas, cineastas e ilustradores) que
procuram pensar o papel dos
rto na Argentina
é a ponta de um iceberg que tem por debaixo
décadas de organização feminista. A
Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto
Legal foi gestada nos Encontros Nacionais de
Mulheres de Rosário e Mendoza e lançada
oficialmente em 28 de maio de 200
5, no Dia
Internacional de Ação pela Saúde das
Mulheres. De lá para cá, o movimento foi
universitário e
nas discussões sobre políticas públicas para
mulheres. Construiu um mote claro:
“Educação
pcionais para
não abortar e aborto legal para não morrer
www.brasildefato.com.br/2018/08/13/nada
-
radiografia
-do-8-de-
argentina/
. Acesso
https://veja.abril.com.br/mundo/congresso
-da-
-
aborto/.
descendentes de povos originários na
Argentina.
Em lunfardo, conjunto de
gírias argentinas advindas das
milongas do tango, “Negro ou Marron”
significa gente humilde e pobre. Ainda
que as gírias tenham com o tempo
adquirido novos significados, essa
correlação entre cor, classe e
desprestígio estava em su
Chamar alguém de negro ou de
marron
, na maior parte das ocasiões,
não é elogio. Mas é justamente ao
retomar essa identidade para si e
ressignificá-
la que o grupo, iniciado em
2018, conseguem fabricar novos
espaços para si próprios
Tendo sua maior
integrantes mulheres, o grupo marca
presença em outras manifestações
ocorridas na cidade, além de produzir
workshops, debates e mesas de
conversas sobre cinema, literatura e
artes visuais
marrones
com a apropriação de seus corpos e
discursos, o grupo deixa claro que
essa preocupação com a apropriação
do discurso está em sua origem.
Todas estas atividades são gratuitas e
tem como objetivo a troca de
experiências e a oferta de uma melhor
qualificação profissional
axscompanheirxs.
T
175
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
descendentes de povos originários na
Em lunfardo, conjunto de
gírias argentinas advindas das
milongas do tango, “Negro ou Marron”
significa gente humilde e pobre. Ainda
que as gírias tenham com o tempo
adquirido novos significados, essa
correlação entre cor, classe e
desprestígio estava em su
a origem.
Chamar alguém de negro ou de
, na maior parte das ocasiões,
não é elogio. Mas é justamente ao
retomar essa identidade para si e
la que o grupo, iniciado em
2018, conseguem fabricar novos
espaços para si próprios
Tendo sua maior
parte de
integrantes mulheres, o grupo marca
presença em outras manifestações
ocorridas na cidade, além de produzir
workshops, debates e mesas de
conversas sobre cinema, literatura e
marrones
”. Preocupadxs
com a apropriação de seus corpos e
discursos, o grupo deixa claro que
essa preocupação com a apropriação
do discurso está em sua origem.
Todas estas atividades são gratuitas e
tem como objetivo a troca de
experiências e a oferta de uma melhor
qualificação profissional
T
endo sido em
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
2021 selecionadxs para o Salão
Nacional de Artes Visuais
convidadxs para dar um workshop em
conjunto com o Centro Cultural da
Espanha em Montevidéu
diversas mesas que pensam racismo e
colonialidade, continuam a transitar
também por espa
ços alternativos
mostrando seu caráter de integração
em múltiplas frentes.
Se atualmente o conceito da
interseccionalidade é debatido com
vigor em diversos simpósios, não
podemos deixar de atentar ao fato que
desde nossa mais remota formação
continental no
s vemos diante da
vivência de um corpo interseccional.
Dessa forma, pensar a colonialidade é,
necessariamente, pensar a
interseccionalidade que se faz
constitutiva desse/nesse processo.
pelos relatos das integrantes do
colectivo
, descritos mais adiante, fi
evidente como as estruturas atuam
desigualmente em nosso continente
através de ordens cruzadas de
9
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
otos/a.2135887390056624/272545908443278
2/. Acesso em: 03 maio 2021.
10
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
otos/pcb.2727820407529983/2727811007530
923/. Acesso em 03 maio 2021.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
2021 selecionadxs para o Salão
Nacional de Artes Visuais
9
e
convidadxs para dar um workshop em
conjunto com o Centro Cultural da
Espanha em Montevidéu
10
em
diversas mesas que pensam racismo e
colonialidade, continuam a transitar
ços alternativos
mostrando seu caráter de integração
Se atualmente o conceito da
interseccionalidade é debatido com
vigor em diversos simpósios, não
podemos deixar de atentar ao fato que
desde nossa mais remota formação
s vemos diante da
vivência de um corpo interseccional.
Dessa forma, pensar a colonialidade é,
necessariamente, pensar a
interseccionalidade que se faz
constitutiva desse/nesse processo.
pelos relatos das integrantes do
, descritos mais adiante, fi
ca
evidente como as estruturas atuam
desigualmente em nosso continente
através de ordens cruzadas de
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
otos/a.2135887390056624/272545908443278
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
otos/pcb.2727820407529983/2727811007530
violência a partir de combinações entre
raça, identidade de gênero, classe,
orientação sexual. Cada uma dessas
identidades atua como mais uma
camada que at
rai rejeições podendo
um corpo carregar várias delas.
Podemos destacar alguns
apontamentos de Glória Anzaldúa
(2005)
, que na cada de 80,
enfatizava as múltiplas dificuldades de
se ser uma mulher negra latino
americana. Uma
mestiza
A escrita como possibilidade
combativa também faz parte do
processo dessas mulheres que sofrem
com camadas de invisibilidades, por
isso, a escritura e o incentivo à
formação de uma rede de mulheres
produtoras de pensamento
novo pensamento que seja
pela concretude que lhes é imposta
perpassa a construção teórica das
estudiosas latino-
americanas e dos
coletivos educacionais e artísticos
formados aqui.
Yuderkys
Miñoso, aqui citada, aponta
concomitantemente para uma nova
visão de d
ecolonialidade. Se os
membros do
Modernidade/Colonialidade cunharam
o termo tendo como propósito
repensar um território,
176
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
violência a partir de combinações entre
raça, identidade de gênero, classe,
orientação sexual. Cada uma dessas
identidades atua como mais uma
rai rejeições podendo
um corpo carregar várias delas.
Podemos destacar alguns
apontamentos de Glória Anzaldúa
, que na cada de 80,
enfatizava as múltiplas dificuldades de
se ser uma mulher negra latino
-
mestiza
.
A escrita como possibilidade
combativa também faz parte do
processo dessas mulheres que sofrem
com camadas de invisibilidades, por
isso, a escritura e o incentivo à
formação de uma rede de mulheres
produtoras de pensamento
- de um
novo pensamento que seja
embasado
pela concretude que lhes é imposta
-
perpassa a construção teórica das
americanas e dos
coletivos educacionais e artísticos
Yuderkys
Espinosa-
Miñoso, aqui citada, aponta
concomitantemente para uma nova
ecolonialidade. Se os
membros do
Grupo
Modernidade/Colonialidade cunharam
o termo tendo como propósito
repensar um território,
Espinosa-
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
Miñoso propõe pensar os territórios
dentro dos territórios e a
intersseccionalidade compreendida
não somente como um con
como um atravessamento cotidiano
nos corpos dessas mulheres, uma
estrutura que precisa ser redefinida.
Podemos perceber esses
atravessamentos na própria prática do
Identidad Marron
. Sara Pérez, uma
das integrantes do Colectivo, diz em
recente matéria
11
: “A melhor militância
é mostrar a cor da nossa pele e nos
colocar em cena”. Assim, vêm
ocupando espaços virtuais e físicos de
discussão artística trazendo além dos
corpos femininos, outrxs.
sentido, é preciso destacar que o
Colectivo
luta não somente pelos
próprios direitos trabalhistas, mas por
um espaço de expressão potica mais
amplo para se manifestar. Dessa
forma, elxs buscam também ecoar
vozes do passado e de seus
11
https://www.pagina12.com.ar/335951
mejor-militancia-es-mostrar-el-
color
nuestra-piel-y-
po?fbclid=IwAR2GurQzTEvTlGqHWo2OXMeV
yo-
FnQsXRam9mhwk11OHifHvEN0tpTwsEoY
Acesso em: 03 maio 2021.
12
Ver f
oto de um casal na marcha do Orgulho
Gay na Argentina
. Disponível em:
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
otos/a.2358104314501596/261199363244599
5/. Acesso em: 03 maio 2021.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Miñoso propõe pensar os territórios
dentro dos territórios e a
intersseccionalidade compreendida
não somente como um con
ceito, mas
como um atravessamento cotidiano
nos corpos dessas mulheres, uma
estrutura que precisa ser redefinida.
Podemos perceber esses
atravessamentos na própria prática do
. Sara Pérez, uma
das integrantes do Colectivo, diz em
: “A melhor militância
é mostrar a cor da nossa pele e nos
colocar em cena”. Assim, vêm
ocupando espaços virtuais e físicos de
discussão artística trazendo além dos
corpos femininos, outrxs.
12
Nesse
sentido, é preciso destacar que o
luta não somente pelos
próprios direitos trabalhistas, mas por
um espaço de expressão potica mais
amplo para se manifestar. Dessa
forma, elxs buscam também ecoar
vozes do passado e de seus
https://www.pagina12.com.ar/335951
-la-
color
-de-
po?fbclid=IwAR2GurQzTEvTlGqHWo2OXMeV
FnQsXRam9mhwk11OHifHvEN0tpTwsEoY
.
oto de um casal na marcha do Orgulho
. Disponível em:
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
otos/a.2358104314501596/261199363244599
antecessores procurando reconstruir
uma Argentina mais plural, al
trabalhar com um pensamento
decolonial a partir de feministas latino
americanas como as citadas em suas
declarações, como a seguir:
Reunir-
nos nessa “marronidad”
não é festivo, nem revolucionário.
Reunir-
se e ocupar as ruas é
tornar visível o desejo
estejamos todas. É também
afirmar porque elas não estão lá.
É também manifestando a partir
dessa afeição política que
queremos ser lidas por nós ou
através de nossas fibras, aqueles
marrons que cobrem livros
séculos. Às vezes, reunir
ocupar
as ruas é uma decisão
complicada, porque se perde um
dia de salário e corremos o risco
ser demitidas. Reunir
as ruas é um momento, um
tempo, eles fizeram e fazem isso
o tempo todo. Juntar
as ruas é para nós, pardos,
agradecer a ele
que se juntem à marcha.
(MAMANI, 2019
13
Juntarnos en esta marronidad no es festivo,
tam
poco revolucionario. [...] Juntarnos y
ocupar las calles es visibilizar el deseo de que
estemos todes. Es también enunciar porque
no están ellas. Es incluso manifestar desde
ese afecto político que queremos ser leídas
por nosotras o leernos a través de nue
fibras, esas marronas que durante siglos han
revestido libros. Juntarnos y ocupar las calles
a veces es una decisión última porque parar
es un día menos de trabajo o además es
perder el mismo. Juntarnos y ocupar las calles
es un momento, un tiempo, e
lo hacen todo el tiempo. Juntarnos y ocupar
las calles es para nosotras marronas decirles
gracias a ellas y a otras basta y se unan a la
ronda.
[Chana Mamani em:
https://www.facebook.com/identidadmarron
177
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
antecessores procurando reconstruir
uma Argentina mais plural, al
ém de
trabalhar com um pensamento
decolonial a partir de feministas latino
-
americanas como as citadas em suas
declarações, como a seguir:
nos nessa “marronidad”
não é festivo, nem revolucionário.
se e ocupar as ruas é
tornar visível o desejo
de que
estejamos todas. É também
afirmar porque elas não estão lá.
É também manifestando a partir
dessa afeição política que
queremos ser lidas por nós ou
através de nossas fibras, aqueles
marrons que cobrem livros
séculos. Às vezes, reunir
-se e
as ruas é uma decisão
complicada, porque se perde um
dia de salário e corremos o risco
ser demitidas. Reunir
-se e ocupar
as ruas é um momento, um
tempo, eles fizeram e fazem isso
o tempo todo. Juntar
-se e ocupar
as ruas é para nós, pardos,
agradecer a ele
s, gritar basta!, e
que se juntem à marcha.
(MAMANI, 2019
)13
Juntarnos en esta marronidad no es festivo,
poco revolucionario. [...] Juntarnos y
ocupar las calles es visibilizar el deseo de que
estemos todes. Es también enunciar porque
no están ellas. Es incluso manifestar desde
ese afecto político que queremos ser leídas
por nosotras o leernos a través de nue
stras
fibras, esas marronas que durante siglos han
revestido libros. Juntarnos y ocupar las calles
a veces es una decisión última porque parar
es un día menos de trabajo o además es
perder el mismo. Juntarnos y ocupar las calles
es un momento, un tiempo, e
llas lo hicieron y
lo hacen todo el tiempo. Juntarnos y ocupar
las calles es para nosotras marronas decirles
gracias a ellas y a otras basta y se unan a la
[Chana Mamani em:
https://www.facebook.com/identidadmarron
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
Na gina de Facebook
principal plataforma de comunicação
de suas atividades para o público, o
Colectivo Identidad
Marron
como “Um espaço de reflexão sobre o
racismo na América Latina
precarização no emprego dos pardos,
sua invisibilidade na sociedade e,
acima de tudo, “um espaço de
entrelaçamento para desenvolver
respostas ou ações concretas que
tenham impacto social”.
15
meados de 2018 o
Colectivo
realizar reuniões, pautas e
movimentos de ocupação de espaços
culturais. Desde então, conseguiram
>10 de março de 2019. A
cesso em
2021. –
Tradução livre dos autores]
14
https://www.facebook.com/identidadmarron/
Para imagens dxs
integratxs em
manifestações e de suas atividades
educacionais e artísticas,
acessar a página do
Coletivo.
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
otos/2271016883210340. -
Manifestação
ocorrida na região central de Buenos Aires
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
otos/2133924530252910 –
Oficina sobre
Racialização do Trabalho Precário
em: 06 jan. 2020).
15
Un espacio de reflexión sobre el
Latinoamericala, precarización laboral de las
personas marrones, la invisibilización de las
mismas en sociedad y sobretodo un espacio
de entretejido para poder elaborar respuestas
u acciones concretas que tengan incidencia
social. Colectivo Identidad
Marron
em:
https://www.facebook.com/pg/identidadmarron/
about/. Acesso em: 1 out. 2019.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Na gina de Facebook
14
,
principal plataforma de comunicação
de suas atividades para o público, o
Marron
se define
como “Um espaço de reflexão sobre o
racismo na América Latina
, a
precarização no emprego dos pardos,
sua invisibilidade na sociedade e,
acima de tudo, “um espaço de
entrelaçamento para desenvolver
respostas ou ações concretas que
15
A partir de
Colectivo
passa a
realizar reuniões, pautas e
movimentos de ocupação de espaços
culturais. Desde então, conseguiram
cesso em
: 17 jan.
Tradução livre dos autores]
https://www.facebook.com/identidadmarron/
.
integratxs em
manifestações e de suas atividades
acessar a página do
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
Manifestação
ocorrida na região central de Buenos Aires
https://www.facebook.com/identidadmarron/ph
Oficina sobre
Racialização do Trabalho Precário
(acesso
Un espacio de reflexión sobre el
racismo en
Latinoamericala, precarización laboral de las
personas marrones, la invisibilización de las
mismas en sociedad y sobretodo un espacio
de entretejido para poder elaborar respuestas
u acciones concretas que tengan incidencia
Marron
, disponível
https://www.facebook.com/pg/identidadmarron/
ocupar importantes espaços culturais
da cidade como o El Cultural San
Martin no centro da cidade ou
Memoria y
Derechos
Esma-
prédio onde alguns dos presos
políticos da Ditadura Argentina foram
torturados e mortos, por isso sua
ocupação se torna particularmente
importante.
O Identidad
Marron
identidade como um grupo coletivo, e
dessa forma a assinatura das
atividades
é realizada como um
coletivo, e não por assinaturas
individuais de suas integrantes. Esse
padrão somente é quebrado quando
uma integrante em especial apresenta
algum trabalho ou propõe uma oficina.
Essa aposta na coletividade não é
mera formalidade. Elas a
juntas são mais fortes e têm mais
possibilidade de alcançar espaços de
fala e escuta privilegiados. Todavia,
mesmo quando optam por assinar as
obras, o fazem exaltando a
coletividade como descrito a seguir,
Nós, filhxs e netxs de migrantes
indígenas, indígenas,
racializadas, trabalhadorxs
domésticos, cuidadores,
habitamos nesta terra, temos
memória ancestral, existimos e,
como a poeira que não conhece
178
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ocupar importantes espaços culturais
da cidade como o El Cultural San
Martin no centro da cidade ou
Espacio
Derechos
Humanos, ex
prédio onde alguns dos presos
políticos da Ditadura Argentina foram
torturados e mortos, por isso sua
ocupação se torna particularmente
Marron
assume sua
identidade como um grupo coletivo, e
dessa forma a assinatura das
é realizada como um
coletivo, e não por assinaturas
individuais de suas integrantes. Esse
padrão somente é quebrado quando
uma integrante em especial apresenta
algum trabalho ou propõe uma oficina.
Essa aposta na coletividade não é
mera formalidade. Elas a
creditam que
juntas são mais fortes e têm mais
possibilidade de alcançar espaços de
fala e escuta privilegiados. Todavia,
mesmo quando optam por assinar as
obras, o fazem exaltando a
coletividade como descrito a seguir,
Nós, filhxs e netxs de migrantes
indígenas, indígenas,
racializadas, trabalhadorxs
domésticos, cuidadores,
habitamos nesta terra, temos
memória ancestral, existimos e,
como a poeira que não conhece
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
barreiras, avançamos. A
resistência é apresentada a nós
co
mo uma constante, uma vez
que lembramos, que
conversamos com nossas
famílias, sabemos que a
resistência vem em primeiro
lugar. [...] em todo lugar que você
e, embora não possamos
entrar, estaremos, até mesmo
nos vegetais da sua sopa. Não
temos tempo
para nos sentir mal,
temos que lutar para existir,
trabalhar, lutar. Decolonialidade e
anti-
racismo não é apenas um
discurso que soa bem, a
decolonialidade é a luta por uma
independência que permite nosso
livre desenvolvimento, a
decolonialidade não é um
d
esenho ou um post culpado, é
ação! 527 anos de resistência,
não somos os primeiros nem
seremos os últimos. (VIDO,
2019)
16
16
Nosotres
hijxs/nietxs de campesinxs,
indígenas, migrantes racializadas, empleadas
domésticas, cuidadoras, villeras, habitamos
estas tierras, tenemos
memoria ancestral,
existimos, y como el polvo que no conoce
barreras, avanzamos. La resistencia se nos
plantea como una constante, desde que
recordamos,
desde que hablamos con
nuestras familias, sabemos que resistir es lo
primero. [...] en cada lugar a do
nde vayas y
aunque no podamos ingresar, estaremos,
hasta en la verduras de tu sopa. Nosotrxs no
tenemos tiempo para sentirnos mal, tenemos
que pelear por existir, trabajar, luchar, la
decolonialidad y el antiracismo no es solo un
discurso que suena bien, l
a decolonialidad es
la lucha por una independencia que permita
nuestro desarrollo libre, la decolonialidad no es
un dibujo o un post culposo, es acción!
AÑOS de resistencia, nosotrxs no somos lxs
primerxs, ni
tampoco seremos lxs
postagem de 12 de outubro de 2019, de Gema
Modelo Vido (artista visual que utiliza o próprio
corpo como obra)
<https://www.facebook.com/identidadmarron>
13 de outubro de 2019. A
cesso em 17 de
janeiro de 2021.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
barreiras, avançamos. A
resistência é apresentada a nós
mo uma constante, uma vez
que lembramos, que
conversamos com nossas
famílias, sabemos que a
resistência vem em primeiro
lugar. [...] em todo lugar que você
e, embora não possamos
entrar, estaremos, até mesmo
nos vegetais da sua sopa. Não
para nos sentir mal,
temos que lutar para existir,
trabalhar, lutar. Decolonialidade e
racismo não é apenas um
discurso que soa bem, a
decolonialidade é a luta por uma
independência que permite nosso
livre desenvolvimento, a
decolonialidade não é um
esenho ou um post culpado, é
ação! 527 anos de resistência,
não somos os primeiros nem
seremos os últimos. (VIDO,
hijxs/nietxs de campesinxs,
indígenas, migrantes racializadas, empleadas
domésticas, cuidadoras, villeras, habitamos
memoria ancestral,
existimos, y como el polvo que no conoce
barreras, avanzamos. La resistencia se nos
plantea como una constante, desde que
desde que hablamos con
nuestras familias, sabemos que resistir es lo
nde vayas y
aunque no podamos ingresar, estaremos,
hasta en la verduras de tu sopa. Nosotrxs no
tenemos tiempo para sentirnos mal, tenemos
que pelear por existir, trabajar, luchar, la
decolonialidad y el antiracismo no es solo un
a decolonialidad es
la lucha por una independencia que permita
nuestro desarrollo libre, la decolonialidad no es
un dibujo o un post culposo, es acción!
527
AÑOS de resistencia, nosotrxs no somos lxs
tampoco seremos lxs
últimxs
postagem de 12 de outubro de 2019, de Gema
Modelo Vido (artista visual que utiliza o próprio
<https://www.facebook.com/identidadmarron>
cesso em 17 de
Dentre as atividades do
Identidad Marron
está também a de
ocupar as ruas, com seus corpos, com
artes provocativas
e também com a
inte
nsificação da produção de pôsteres
lambe-
lambes políticos e críticos. A
partir de suas intervenções artísticas e
reflexivas o Coletivo cria suas próprias
redes, com objetivo de escapar das
significações atribuídas a seus corpos
ao longo dos anos e se remod
partir de novos símbolos e de novas
atribuições que são construídos
coletivamente. Elxs produzem novas
imagens de si através de plataformas
visuais, e audiovisuais, notadamente
baseadas em seus processos de
oralidade. Assim, criam suas próprias
comun
icações, e evitam de serem
capturadas pelos discursos
existentes da globalização.
Contudo, em contraste à
estrutura coletiva, e analisando o
caráter individual dxs integrantes do
Coletivo, percebemos que muitas
delas continuam reféns de trabalhos
informais ou de trabalhos precarizados
destas novas empresas surgidas com
falta de garantia
s e com imposição de
horários fragmentados que as
179
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dentre as atividades do
está também a de
ocupar as ruas, com seus corpos, com
e também com a
nsificação da produção de pôsteres
lambes políticos e críticos. A
partir de suas intervenções artísticas e
reflexivas o Coletivo cria suas próprias
redes, com objetivo de escapar das
significações atribuídas a seus corpos
ao longo dos anos e se remod
ela a
partir de novos símbolos e de novas
atribuições que são construídos
coletivamente. Elxs produzem novas
imagens de si através de plataformas
visuais, e audiovisuais, notadamente
baseadas em seus processos de
oralidade. Assim, criam suas próprias
icações, e evitam de serem
capturadas pelos discursos
existentes da globalização.
Contudo, em contraste à
estrutura coletiva, e analisando o
caráter individual dxs integrantes do
Coletivo, percebemos que muitas
delas continuam reféns de trabalhos
informais ou de trabalhos precarizados
destas novas empresas surgidas com
s e com imposição de
horários fragmentados que as
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
impedem de estudar ou ter lazer. o
obrigadas a essa situação pela falta de
uma qualificação formal, devido a
necessidades financeiras, por suas
moradias ficarem muito distantes dos
centros urbanos e, por
conta da grave
crise econômica pela qual passa a
Argentina, muitas temem ficar sem
algum tipo de trabalho, em meio à um
número expressivo de pessoas
desempregadas no país. É a partir
daqui que podemos pensar como a
globalização, com seus acelerados
process
os de integração
econômica e cultural mundial,
maneira perversa diante de alguns
corpos.
As promessas sedutoras das
cidades globalizadas
Dentre as relações as quais a
cidade moderna estabelece, podemos
definir como centrais os jogos de
movimentos entre alguns espaços das
cidades, na relação entre moradia e
trabalho, que fazem com esses
trabalhadores habitem o entorno ese
desloquem em longas distancias para
outros lados da cidade nas regiões de
trabalho, localizados nas regiões de
maior
poder aquisitivo ou de
concentração de estabelecimentos
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
impedem de estudar ou ter lazer. o
obrigadas a essa situação pela falta de
uma qualificação formal, devido a
necessidades financeiras, por suas
moradias ficarem muito distantes dos
conta da grave
crise econômica pela qual passa a
Argentina, muitas temem ficar sem
algum tipo de trabalho, em meio à um
número expressivo de pessoas
desempregadas no país. É a partir
daqui que podemos pensar como a
globalização, com seus acelerados
os de integração
política,
econômica e cultural mundial,
atua de
maneira perversa diante de alguns
As promessas sedutoras das
Dentre as relações as quais a
cidade moderna estabelece, podemos
definir como centrais os jogos de
movimentos entre alguns espaços das
cidades, na relação entre moradia e
trabalho, que fazem com esses
trabalhadores habitem o entorno ese
desloquem em longas distancias para
outros lados da cidade nas regiões de
trabalho, localizados nas regiões de
poder aquisitivo ou de
concentração de estabelecimentos
comerciais. Se, a partir da
Modernidade era possível perceber
esse processo, com o advento da
globalização ele se intensifica e a
relação entre espaço de moradia X
espaço de trabalho se torna essen
para o controle do tempo e dos
próprios corpos dos trabalhadores das
classes sociais mais pobres. Ou seja,
eles tentam habitar os espaços
periféricos da cidade de Buenos Aires,
para que não passem a maior parte de
seu tempo em um transporte
m
as, de modo geral, ainda é isso que
ainda acontece para a maioria.
Em entrevista especial sobe
desigualdade global para a Folha de
São Paulo, Lucas Chacel,
Coordenador do Relatório da
Desigualdade Global,
Economia de Paris explica que “a
globalização fracassou para muitos,
'fuga para o mais barato' achatou as
classes médias, levou à precarização
dos serviços públicos e os países
precisam reorganizar a integração
econômica global para evitar "reações
violentas" no futuro. (CHACEL,
2019)Pa
ra o coordenador existem
lados da história da globalização. O
mais feliz, e
amplamente divulgado, é
o do significativo crescimento
180
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
comerciais. Se, a partir da
Modernidade era possível perceber
esse processo, com o advento da
globalização ele se intensifica e a
relação entre espaço de moradia X
espaço de trabalho se torna essen
cial
para o controle do tempo e dos
próprios corpos dos trabalhadores das
classes sociais mais pobres. Ou seja,
eles tentam habitar os espaços
periféricos da cidade de Buenos Aires,
para que não passem a maior parte de
seu tempo em um transporte
público,
as, de modo geral, ainda é isso que
ainda acontece para a maioria.
Em entrevista especial sobe
desigualdade global para a Folha de
São Paulo, Lucas Chacel,
Coordenador do Relatório da
Desigualdade Global,
da Escola de
Economia de Paris explica que “a
globalização fracassou para muitos,
a
'fuga para o mais barato' achatou as
classes médias, levou à precarização
dos serviços públicos e os países
precisam reorganizar a integração
econômica global para evitar "reações
violentas" no futuro. (CHACEL,
ra o coordenador existem
dois
lados da história da globalização. O
amplamente divulgado, é
o do significativo crescimento
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
econômico da China, Índia e Coréia do
Sul, na Ásia.Entretanto, existe um
outro lado, onde a renda cresceu em
ritmo muito
lento entre as classes
trabalhadoras tanto na Europa como
Estados Unidos e América Latina, que
precisa ainda ser refletido em conjunto
ao fato de que em todos estes lugares
a renda do 1% mais rico subiu
brutalmente.
Portanto, na América Latina,
estamos em
meio a um processo
ascendente de concentração de renda
de uma parcela mínima em relação a
milhares de trabalhadores que estão
sendo empurrados da classe média
para classe de baixa renda, e estes
para a miséria
ampliando ainda mais
a desigualdade socioec
onômica. A
globalização permitiu a livre circulação
do dinheiro e a fuga para que as
empresas multinacionais pudessem ir
ao encontro de serviços mais baratos.
Porém, deixou de fora todos os
trabalhadores que simplesmente não
podem se mudar. Mas essas pesso
continuam a necessitar da
manutenção de bons níveis de serviço
público. A renda cai, os impostos e
custos fixos permanecem. Segundo
Chacel, se nenhuma política de
reorganização e renda for realizada
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
econômico da China, Índia e Coréia do
Sul, na Ásia.Entretanto, existe um
outro lado, onde a renda cresceu em
lento entre as classes
trabalhadoras tanto na Europa como
Estados Unidos e América Latina, que
precisa ainda ser refletido em conjunto
ao fato de que em todos estes lugares
a renda do 1% mais rico subiu
Portanto, na América Latina,
meio a um processo
ascendente de concentração de renda
de uma parcela mínima em relação a
milhares de trabalhadores que estão
sendo empurrados da classe média
para classe de baixa renda, e estes
ampliando ainda mais
onômica. A
globalização permitiu a livre circulação
do dinheiro e a fuga para que as
empresas multinacionais pudessem ir
ao encontro de serviços mais baratos.
Porém, deixou de fora todos os
trabalhadores que simplesmente não
podem se mudar. Mas essas pesso
as
continuam a necessitar da
manutenção de bons níveis de serviço
público. A renda cai, os impostos e
custos fixos permanecem. Segundo
Chacel, se nenhuma política de
reorganização e renda for realizada
para diminuir as desigualdades, o
resultado dessa equa
desequilibrada poderá nos levar a
reações violentas e brutais. Os sinais
de descontentamento e frustração com
as promessas da globalização ficaram
evidentes com as eleições e governos
polarizados de Donald Trump, nos
Estados Unidos, e de Jair Bolsonaro
no Brasil.
Esta situação se agravou em
função dos efeitos adversos da
pandemia do coronavírus. Para o
diretor sênior de política do
the Americas
e mestre em políticas
públicas pela Universidade Harvard,
Robert Simon: “a
também ampliar desigualdades dentro
e entre países, com
ainda mais distante dos desenvolvidos.
Desde 2014, a região vive seu período
de menor crescimento econômico em
sete décadas.” (SIMON, 2020). Para o
pesquisador, o vírus
momento possível na América Latina,
pois uma
incerteza sobre a ordem
internacional que emergirá ao final da
crise que vivemos.
juntam com as de Dani Rodrik,
economista de Harvard e as
Richard Haas, o presidente do
on Foreign
Relations
181
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
para diminuir as desigualdades, o
resultado dessa equa
ção
desequilibrada poderá nos levar a
reações violentas e brutais. Os sinais
de descontentamento e frustração com
as promessas da globalização ficaram
evidentes com as eleições e governos
polarizados de Donald Trump, nos
Estados Unidos, e de Jair Bolsonaro
Esta situação se agravou em
função dos efeitos adversos da
pandemia do coronavírus. Para o
diretor sênior de política do
Council of
e mestre em políticas
públicas pela Universidade Harvard,
Covid-19 deve
também ampliar desigualdades dentro
a América Latina
ainda mais distante dos desenvolvidos.
Desde 2014, a região vive seu período
de menor crescimento econômico em
sete décadas.” (SIMON, 2020). Para o
pesquisador, o vírus
chegou no pior
momento possível na América Latina,
incerteza sobre a ordem
internacional que emergirá ao final da
Estas idéias se
juntam com as de Dani Rodrik,
economista de Harvard e as
de
Richard Haas, o presidente do
Council
Relations
, convergindo a
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
um ponto comum: a ideia de que a
pandemia do Covid-
19 funcione como
uma espécie de máquina do tempo,
onde mais do que criar algo novo,
acelerará transformações globais que
já estavam em curso.
Neste sentido, as condiç
exploração trabalhista na América
Latina poderão ser acentuadas. Na
Argentina, segundo o sindicato de
Pessoal Auxiliar de Casas
Particulares, existem em torno de 750
mil trabalhadoras sem registro.
Segundo Sylvia Colombo, em
reportagem para a Folha
Paulo, “Na capital, Buenos Aires,
muitas delas são imigrantes de países
limítrofes, como o Paraguai e a Bovia,
e estão em situação irregular, o que as
deixa de fora da possibilidade de
receber o auxílio governamental.”
(COLOMBO, 2020).
E, como as
estão contratadas não têm carteira
assinada, continuar a receber o salário
depende da boa vontade dos patrões.
Esta é uma configuração de
retorno
à exploração de direitos
humanos, pois muitas, com medo de
ficar sem dinheiro,
continuam a
trabalhar, perpetuando
uma relação de
exploração trabalhista da parte desses
empregadores. Desse modo elas
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
um ponto comum: a ideia de que a
19 funcione como
uma espécie de máquina do tempo,
onde mais do que criar algo novo,
acelerará transformações globais que
Neste sentido, as condiç
ões de
exploração trabalhista na América
Latina poderão ser acentuadas. Na
Argentina, segundo o sindicato de
Pessoal Auxiliar de Casas
Particulares, existem em torno de 750
mil trabalhadoras sem registro.
Segundo Sylvia Colombo, em
reportagem para a Folha
de São
Paulo, “Na capital, Buenos Aires,
muitas delas são imigrantes de países
limítrofes, como o Paraguai e a Bovia,
e estão em situação irregular, o que as
deixa de fora da possibilidade de
receber o auxílio governamental.”
E, como as
que
estão contratadas não têm carteira
assinada, continuar a receber o salário
depende da boa vontade dos patrões.
Esta é uma configuração de
à exploração de direitos
humanos, pois muitas, com medo de
continuam a
uma relação de
exploração trabalhista da parte desses
empregadores. Desse modo elas
convivem com o risco duplo de serem
contaminadas pelo vírus na casa dos
patrões ou a caminho do trabalho,
onde ainda correm o risco de serem
presas pela polícia, po
do presidente argentino Alberto
Fernández não as classificou em
grupo de trabalho essencial.
importante destacar que dentro destas
condições encontra-
se grande parte
das mulheres integrantes do
Identidad Marron
,que ainda prec
conviver com o preconceito imposto às
ascendências indígenas
grupo, e identidades de gênero e
orientações sexuais diversas.
Nesse caldeirão de hostilidades
as explorações se multiplicam de cima
para baixo numa espiral
aparentemente sem fi
que não é enfrentada pelo sistema
público, a população em situação de
rua na cidade de Buenos Aires cresce
exponencialmente. As manifestações
populares em 2019 revelaram um
crescente descontentamento com as
condições de vida na capital latin
americana
e serviram como prenúncio
do retorno da esquerda ao poder na
Argentina, com Alberto Fernandez
eleito Presidente, e Cristina Kirchner
como vice-
presidente, vencendo as
182
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
convivem com o risco duplo de serem
contaminadas pelo vírus na casa dos
patrões ou a caminho do trabalho,
onde ainda correm o risco de serem
presas pela polícia, po
rque o decreto
do presidente argentino Alberto
Fernández não as classificou em
grupo de trabalho essencial.
Sendo
importante destacar que dentro destas
se grande parte
das mulheres integrantes do
Colectivo
,que ainda prec
isam
conviver com o preconceito imposto às
ascendências indígenas
-maioria do
grupo, e identidades de gênero e
orientações sexuais diversas.
Nesse caldeirão de hostilidades
as explorações se multiplicam de cima
para baixo numa espiral
aparentemente sem fi
m, e na medida
que não é enfrentada pelo sistema
público, a população em situação de
rua na cidade de Buenos Aires cresce
exponencialmente. As manifestações
populares em 2019 revelaram um
crescente descontentamento com as
condições de vida na capital latin
o-
e serviram como prenúncio
do retorno da esquerda ao poder na
Argentina, com Alberto Fernandez
eleito Presidente, e Cristina Kirchner
presidente, vencendo as
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
eleições presidenciais ainda no
primeiro turno de votação. Mesmo não
sendo
possível apontar qual será o
resultado
dessas manifestações, é
interessante observar o afloramento de
um novo discurso de identidade em
alguns movimentos pelas ruas da
cidade portenha.
Considerações finais: corpos
indígenas entre o mito do labirinto,
a
tecnologia e a interseccionalidade
Se por um lado a precarização
trouxe a perspectiva de
reestruturação produtiva que colocou
para os trabalhadores mais
vulneráveis a difícil escolha entre a
servidão ou desemprego,por outro,
com os avanços da tecnologi
a aproximação de uma situação que
pode ser ainda mais extrema: a da
escolha entre exploração sem direitos,
versus a irrelevância e o desprezo.
Para as pessoas comuns, termos
como: block chain
, engenharia
genética, inteligência artificial,
learning
e criptomoedas, soam como
um dialeto estranho, que nada tem a
ver com elas.Fora
o fato de que este
processo não inibe nem elimina a
longa trajetória de opressões,
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
eleições presidenciais ainda no
primeiro turno de votação. Mesmo não
possível apontar qual será o
dessas manifestações, é
interessante observar o afloramento de
um novo discurso de identidade em
alguns movimentos pelas ruas da
Considerações finais: corpos
indígenas entre o mito do labirinto,
tecnologia e a interseccionalidade
Se por um lado a precarização
trouxe a perspectiva de
uma
reestruturação produtiva que colocou
para os trabalhadores mais
vulneráveis a difícil escolha entre a
servidão ou desemprego,por outro,
com os avanços da tecnologi
a, temos
a aproximação de uma situação que
pode ser ainda mais extrema: a da
escolha entre exploração sem direitos,
versus a irrelevância e o desprezo.
Para as pessoas comuns, termos
, engenharia
genética, inteligência artificial,
machine
e criptomoedas, soam como
um dialeto estranho, que nada tem a
o fato de que este
processo não inibe nem elimina a
longa trajetória de opressões,
preconceitos e discriminações
perpassam corpos, raças, etnias,
amplificam
ainda mais os obstáculos.
Todavia, esse universo
tecnológico com seu estranho dialeto
está cada vez mais presente, através
de retóricas eficientes e sedutoras de
empreendedorismo, moldando novas
configurações de trabalho em variados
setores de serviço. E,
dessa engrenagem, rapidamente
descobrimos que por trás de
fachada existe um labirinto complexo,
onde nem consumidores nem
prestadores de serviços conseguem
saber ao certo como acessar seus
direitos em caso de qualquer tipo de
problema. E
stamos enfim, imersos
num grande e complexo labirinto sem
fim.Sabendo do poder de consolidação
desse sistema e sabendo do enorme
risco de serem relegadxs a
irrelevância,xs integrantes do
Identidad Marron
estabelecem um
posicionamento de luta, onde
dentro do próprio sistema, atuam com
objetivo de manter ao mesmo tempo a
sobrevivência financeira e a defesa
das suas ideias.
Nesse sentido, voltando à
reflexão inicial, quando dialogamos
com Mbembe, podemos ver como o
183
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
preconceitos e discriminações
que
perpassam corpos, raças, etnias,
que
ainda mais os obstáculos.
Todavia, esse universo
tecnológico com seu estranho dialeto
está cada vez mais presente, através
de retóricas eficientes e sedutoras de
empreendedorismo, moldando novas
configurações de trabalho em variados
setores de serviço. E,
uma vez dentro
dessa engrenagem, rapidamente
descobrimos que por trás de
sua
fachada existe um labirinto complexo,
onde nem consumidores nem
prestadores de serviços conseguem
saber ao certo como acessar seus
direitos em caso de qualquer tipo de
stamos enfim, imersos
num grande e complexo labirinto sem
fim.Sabendo do poder de consolidação
desse sistema e sabendo do enorme
risco de serem relegadxs a
irrelevância,xs integrantes do
Colectivo
estabelecem um
posicionamento de luta, onde
, de
dentro do próprio sistema, atuam com
objetivo de manter ao mesmo tempo a
sobrevivência financeira e a defesa
Nesse sentido, voltando à
reflexão inicial, quando dialogamos
com Mbembe, podemos ver como o
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
conceito de necropolítica é
extr
emamente vigente e se reatualiza.
Corpos negros e corpos indígenas
ainda sofrem com a construção
eurocêntrica e estereotipada e
precisam se organizar a partir dos
fragmentos que nos foram passados
através das gerações anteriores como
meios de fugir dessa r
edução da qual
a precarização laboral é apenas uma
das facetas. Assim, construir discursos
coletivos que reivindiquem a
centralidade de suas histórias se torna
uma maneira poética, potente e literal
de permanecerem vivxs.
pensarmos o território de Bueno
como uma “Arena Cultural”
visualizar a disputa por espaços e
discursos que opera através da
interseccionalidade. Os corpos dxs
integrantes do
Colectivo
Marron
, não acessam diretamente
determinados espaços, nem possuem
possibilida
de de interlocução direta
com outros corpos, porque eles foram
17
O debate das cidades como Arenas
Culturais
, conceito inaugurado por Richard
Morse década de 50, mas retomado em
recente livro “Ciudades Sudamericanas como
Arenas Culturales” pode ser também aqui
lembrado. O livro, organizado pelo antropólogo
argentino Adrian Gorelik e pela antropóloga
brasileira F
ernanda Arêas Peixoto traz, através
de diversos artigos, articulações possíveis
entre cultura e cidades na América do Sul,
justamente o cerne do presente artigo.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
conceito de necropolítica é
emamente vigente e se reatualiza.
Corpos negros e corpos indígenas
ainda sofrem com a construção
eurocêntrica e estereotipada e
precisam se organizar a partir dos
fragmentos que nos foram passados
através das gerações anteriores como
edução da qual
a precarização laboral é apenas uma
das facetas. Assim, construir discursos
coletivos que reivindiquem a
centralidade de suas histórias se torna
uma maneira poética, potente e literal
de permanecerem vivxs.
Ao
pensarmos o território de Bueno
s Aires
como uma “Arena Cultural”
17
podemos
visualizar a disputa por espaços e
discursos que opera através da
interseccionalidade. Os corpos dxs
Colectivo
Identidad
, não acessam diretamente
determinados espaços, nem possuem
de de interlocução direta
com outros corpos, porque eles foram
O debate das cidades como Arenas
, conceito inaugurado por Richard
Morse década de 50, mas retomado em
recente livro “Ciudades Sudamericanas como
Arenas Culturales” pode ser também aqui
lembrado. O livro, organizado pelo antropólogo
argentino Adrian Gorelik e pela antropóloga
ernanda Arêas Peixoto traz, através
de diversos artigos, articulações possíveis
entre cultura e cidades na América do Sul,
justamente o cerne do presente artigo.
e permanecem separados desde a
colonização. Deste modo, podemos
entender que existe de modo
permanente uma tensão social na
disputa por recursos os mais diversos,
como dinheiro, tempo, repertór
cultural, redes de sociabilidade que
precisam ser conquistadas diariamente
por seus integrantxs
maioria não tem qualificação para
vencer essa batalha, aumenta a
importância das rodas de conversa e
dos workshops que o
oferece gratuit
amente.
Através dessas atividades
regulares, todxs
sabem que participam
de um sistema e o utilizam para
sobreviver e fazer parte integrante do
processo capitalista, mas, diferente de
suas avós e mães que se viam
silenciadas, conseguem encontrar
brechas no sistema para que suas
vozes sejam ouvidas e reverbe
Desse modo, ocupam espaços
importantes do saber formal e centros
culturais da cidade. Conscientes da
quase impossibilidade de destruírem
um sistema tecnologicamente
sofisticado, entenderam que este
mesmo regime lhes poderia servir de
ferramenta de a
184
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
e permanecem separados desde a
colonização. Deste modo, podemos
entender que existe de modo
permanente uma tensão social na
disputa por recursos os mais diversos,
como dinheiro, tempo, repertór
io
cultural, redes de sociabilidade que
precisam ser conquistadas diariamente
por seus integrantxs
e, como a
maioria não tem qualificação para
vencer essa batalha, aumenta a
importância das rodas de conversa e
dos workshops que o
Colectivo
amente.
Através dessas atividades
sabem que participam
de um sistema e o utilizam para
sobreviver e fazer parte integrante do
processo capitalista, mas, diferente de
suas avós e mães que se viam
silenciadas, conseguem encontrar
brechas no sistema para que suas
vozes sejam ouvidas e reverbe
radas.
Desse modo, ocupam espaços
importantes do saber formal e centros
culturais da cidade. Conscientes da
quase impossibilidade de destruírem
um sistema tecnologicamente
sofisticado, entenderam que este
mesmo regime lhes poderia servir de
ferramenta de a
mplificação e
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 165-187
, set. 2021.
reverberação de suas questões
identitárias.
Dessa maneira, as atividades
do Coletivo estimulam a sensação de
pertencimento e autoestima aos
integrantes
de grupos vulneráveis.
Seus discursos amplificam vozes que
estavam abafadas, e se estabele
como formas de resistências que
gradualmente poderão ser
multiplicadas através de um processo
de circulação da cultura periférica por
outros territórios da cidade. A
multiplicidade de atividades projeta
uma pluralidade de leituras
seus dire
itos e visibilidade. Com este
movimento, o
Colectivo
Marron
serve de referência a grupos
minoritários de outros países latino
americanos que, além de possuírem
uma ancestralidade em comum,
passam pelas mesmas dificuldades
existentes na Argentina.
Se permitimo-
nos observar a
grande influência que os povos
originários deixaram através de suas
raízes no continente americano,
ampliaremos as possiblidades de
compreensão de que, neste momento,
seus descendentes também apontam
para um legado de força e
E, uma vez reunidos esses contextos,
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Americana de Estudos em
, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
reverberação de suas questões
Dessa maneira, as atividades
do Coletivo estimulam a sensação de
pertencimento e autoestima aos
de grupos vulneráveis.
Seus discursos amplificam vozes que
estavam abafadas, e se estabele
cem
como formas de resistências que
gradualmente poderão ser
multiplicadas através de um processo
de circulação da cultura periférica por
outros territórios da cidade. A
multiplicidade de atividades projeta
uma pluralidade de leituras
na luta por
itos e visibilidade. Com este
Colectivo
Identidad
serve de referência a grupos
minoritários de outros países latino
-
americanos que, além de possuírem
uma ancestralidade em comum,
passam pelas mesmas dificuldades
nos observar a
grande influência que os povos
originários deixaram através de suas
raízes no continente americano,
ampliaremos as possiblidades de
compreensão de que, neste momento,
seus descendentes também apontam
para um legado de força e
resistência.
E, uma vez reunidos esses contextos,
finalizamos nosso artigo
compartilhando que em nosso
entendimento o
Colectivo
de suas atividades formais, funciona
como uma possibilidade de
saída de obstáculos comuns a muitos
grupos v
ulneráveis, ainda que
temporário.
Afinal, é um longo embate
com entradas e saídas, perdas e
ganhos em relação a um sistema
complexo de precarização. Não
obstante, sua força plural dá energia
para que xsintegrantxs, seus pais e
descendentes vislumbrem
persp
ectivas menos silenciadoras e
estereotipadas.
Porque, se afinal, a
tecnologia se transformou
reconfigurado
mito do labirinto do
Minotauro, que tenta manter como
impossível a saída de seu
iniciativas e movimentos solidários
integrantes do
Identidad
meio ao sistema de precarização
ressignificam sua inserção, dando
maior visibilidade às questões
dos
movimentos identitários na
Argentina,
além de apontarem
possíveis caminhos de saída deste
grande e complexo labirinto
185
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
finalizamos nosso artigo
compartilhando que em nosso
Colectivo
, para além
de suas atividades formais, funciona
como uma possibilidade de
portal de
saída de obstáculos comuns a muitos
ulneráveis, ainda que
Afinal, é um longo embate
com entradas e saídas, perdas e
ganhos em relação a um sistema
complexo de precarização. Não
obstante, sua força plural dá energia
para que xsintegrantxs, seus pais e
descendentes vislumbrem
ectivas menos silenciadoras e
Porque, se afinal, a
tecnologia se transformou
num
mito do labirinto do
Minotauro, que tenta manter como
impossível a saída de seu
interior, as
iniciativas e movimentos solidários
das
Identidad
Marron em
meio ao sistema de precarização
ressignificam sua inserção, dando
maior visibilidade às questões
movimentos identitários na
além de apontarem
possíveis caminhos de saída deste
grande e complexo labirinto
.
MATHIAS, Roberta Filgueiras; PUCARELLI, Michele. Identidad Marron e o
mito do labirinto. Luta e resistência do coletivo dos povos originários de
Buenos Aires. PragMATIZES - Revista Latino-
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187
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21
Resumo:
Em que condições sobrevivem as trabalhadoras e os trabalhadores da
Cultura? Essa e demais questões buscamos analisar, a
concentrado no mercado de tr
tanto,
utilizamos o estudo de caso como metodologia, que resultou na elaboração
desse artigo. Na intenção de identificar o cerne das tensões, impactos, principais
desafios e em que medida as/os profis
no trabalho, como também, que possíveis caminhos são apontados para corrigir as
fragilidades dessa classe trabalhadora informal. Nessa direção, realizamos uma
série de entrevistas em profundidade, através de uma
perguntas abertas, direcionadas para uma parcela de trabalhadoras e trabalhadores
que atuam em diversos segmentos artístico
C
om base nas respostas levantadas nas entrevistas, apresentamos es
comentada e referenciada em estudos e pesquisadores da área.
Palavras-chaves:
trabalho; a
direitos.
La precariedad creciente del trabajo en cultura en la ciudad de Rio de Janeiro
Resumen:
En qué condiciones sobreviven los trabajadores culturales? Ésta y otras
cuestiones que buscamos analizar, a partir del objeto de investigación concentrado
en el mercado laboral en el sector cultural brasileño hoy. Para eso, utilizamos el
estudio de caso c
omo metodología, lo que resultó en la elaboración de este artículo.
1
Ana Lúcia Ribeiro Pardo. Pós-
doutoranda em Cultura e Territorialidades na Universidade Federal
Fluminense (CAPES-UFF). Do
utora em Políticas públicas e formação humana pela Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, UERJ
, Brasil
https://orcid.org/0000-0002-
7671
Recebido em 01/03/2021, aceito para publicação em 01
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21
.48928
Ana Lúcia Pardo
“A nova cultura começa
quando o
trabalhador e o trabalho
são tratados com respeito”.
Em que condições sobrevivem as trabalhadoras e os trabalhadores da
Cultura? Essa e demais questões buscamos analisar, a
partir do objeto de pesquisa
concentrado no mercado de tr
abalho no setor cultural brasileiro na atualidade. Para
utilizamos o estudo de caso como metodologia, que resultou na elaboração
desse artigo. Na intenção de identificar o cerne das tensões, impactos, principais
desafios e em que medida as/os profis
sionais enfrentam a situação de precariedade
no trabalho, como também, que possíveis caminhos são apontados para corrigir as
fragilidades dessa classe trabalhadora informal. Nessa direção, realizamos uma
série de entrevistas em profundidade, através de uma
pesquisa qualitativa, com
perguntas abertas, direcionadas para uma parcela de trabalhadoras e trabalhadores
que atuam em diversos segmentos artístico
-
culturais na cidade do Rio de Janeiro.
om base nas respostas levantadas nas entrevistas, apresentamos es
comentada e referenciada em estudos e pesquisadores da área.
trabalho; a
rtes; cultura; precariedade; e
mpreendedorismo
La precariedad creciente del trabajo en cultura en la ciudad de Rio de Janeiro
En qué condiciones sobreviven los trabajadores culturales? Ésta y otras
cuestiones que buscamos analizar, a partir del objeto de investigación concentrado
en el mercado laboral en el sector cultural brasileño hoy. Para eso, utilizamos el
omo metodología, lo que resultó en la elaboración de este artículo.
doutoranda em Cultura e Territorialidades na Universidade Federal
utora em Políticas públicas e formação humana pela Universidade do
, Brasil
. E-
mail: anapardo.teatralidade@gmail.com
7671
-438X
Recebido em 01/03/2021, aceito para publicação em 01
/06/2021 e
disponibilizado online em
01/09/2021.
188
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
Ana Lúcia Pardo
1
“A nova cultura começa
trabalhador e o trabalho
são tratados com respeito”.
(Máximo Gorky)
Em que condições sobrevivem as trabalhadoras e os trabalhadores da
partir do objeto de pesquisa
abalho no setor cultural brasileiro na atualidade. Para
utilizamos o estudo de caso como metodologia, que resultou na elaboração
desse artigo. Na intenção de identificar o cerne das tensões, impactos, principais
sionais enfrentam a situação de precariedade
no trabalho, como também, que possíveis caminhos são apontados para corrigir as
fragilidades dessa classe trabalhadora informal. Nessa direção, realizamos uma
pesquisa qualitativa, com
perguntas abertas, direcionadas para uma parcela de trabalhadoras e trabalhadores
culturais na cidade do Rio de Janeiro.
om base nas respostas levantadas nas entrevistas, apresentamos es
sa análise,
mpreendedorismo
;
La precariedad creciente del trabajo en cultura en la ciudad de Rio de Janeiro
En qué condiciones sobreviven los trabajadores culturales? Ésta y otras
cuestiones que buscamos analizar, a partir del objeto de investigación concentrado
en el mercado laboral en el sector cultural brasileño hoy. Para eso, utilizamos el
omo metodología, lo que resultó en la elaboración de este artículo.
doutoranda em Cultura e Territorialidades na Universidade Federal
utora em Políticas públicas e formação humana pela Universidade do
mail: anapardo.teatralidade@gmail.com
-
disponibilizado online em
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
Con el fin de identificar el núcleo de las tensiones, impactos, principales desafíos y la
medida en que los profesionales enfrentan la situación de precariedad en el trabajo,
así como qué
posibles caminos se señalan para corregir las debilidades de esta
clase trabajadora informal. En esta dirección, realizamos una serie de entrevistas en
profundidad, a través de una investigación cualitativa, con preguntas abiertas,
dirigidas a un grupo de
segmentos artísticos y culturales en la ciudad de Río de Janeiro. A partir de las
respuestas planteadas en las entrevistas, presentamos este análisis, comentado y
referenciado en estudios e investigadores
Palabras clave: trabajo
; a
públicas.
The growing precariety of work in culture in Rio de Janeiro city
Abstract:
In what conditions do cultural workers survive? This is the other survey
that we seek to analyze, based on the object of investigation concentrated in the
labor market in the Brazilian cultural sector today. For this, we used the case study
as a methodolo
gy, which resulted in the elaboration of this article. In order to identify
the core of the stresses, impacts, main challenges and the extent to which the
professionals face the precarious situation in the work, as well as the possible ways
to seign themse
lves to correct the weaknesses of this informal working class. In this
direction, we carry out a series of in
investigation, with open questions, addressed to a group of workers and workers who
work in various artist
ic and cultural segments in the city of Río de Janeiro. Based on
the answers planted in the interviews, we present this analysis, commented on and
referenced in studies and researchers in the area.
Keywords: work; arts; c
ulture
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
A partir do objeto de pesquisa,
concentrado na situação do mercado
de trabalho no setor cultural brasileiro
na atualidade, começamos por lançar
as seguintes questões: sob
condições sobrevivem as
trabalhadoras e os trabalhadores da
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Con el fin de identificar el núcleo de las tensiones, impactos, principales desafíos y la
medida en que los profesionales enfrentan la situación de precariedad en el trabajo,
posibles caminos se señalan para corregir las debilidades de esta
clase trabajadora informal. En esta dirección, realizamos una serie de entrevistas en
profundidad, a través de una investigación cualitativa, con preguntas abiertas,
dirigidas a un grupo de
trabajadores y trabajadoras que laboran en diversos
segmentos artísticos y culturales en la ciudad de Río de Janeiro. A partir de las
respuestas planteadas en las entrevistas, presentamos este análisis, comentado y
referenciado en estudios e investigadores
del área.
; a
rte; cultura; precariedad; e
mprendimiento
The growing precariety of work in culture in Rio de Janeiro city
In what conditions do cultural workers survive? This is the other survey
that we seek to analyze, based on the object of investigation concentrated in the
labor market in the Brazilian cultural sector today. For this, we used the case study
gy, which resulted in the elaboration of this article. In order to identify
the core of the stresses, impacts, main challenges and the extent to which the
professionals face the precarious situation in the work, as well as the possible ways
lves to correct the weaknesses of this informal working class. In this
direction, we carry out a series of in
-
depth interviews, through a qualitative
investigation, with open questions, addressed to a group of workers and workers who
ic and cultural segments in the city of Río de Janeiro. Based on
the answers planted in the interviews, we present this analysis, commented on and
referenced in studies and researchers in the area.
ulture
; precariousness; entrepreneurship; p
ublic
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
A partir do objeto de pesquisa,
concentrado na situação do mercado
de trabalho no setor cultural brasileiro
na atualidade, começamos por lançar
as seguintes questões: sob
que
condições sobrevivem as
trabalhadoras e os trabalhadores da
Cultura? Em que dimensão
passaram, e/ou ainda se encontram,
em estado de precariedade e, em caso
afirmativo, como é enfrentada tal
situação?
Como avaliam o mercado de
trabalho na Cultura n
mundo? Em que medida os problemas
189
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Con el fin de identificar el núcleo de las tensiones, impactos, principales desafíos y la
medida en que los profesionales enfrentan la situación de precariedad en el trabajo,
posibles caminos se señalan para corregir las debilidades de esta
clase trabajadora informal. En esta dirección, realizamos una serie de entrevistas en
profundidad, a través de una investigación cualitativa, con preguntas abiertas,
trabajadores y trabajadoras que laboran en diversos
segmentos artísticos y culturales en la ciudad de Río de Janeiro. A partir de las
respuestas planteadas en las entrevistas, presentamos este análisis, comentado y
mprendimiento
; políticas
The growing precariety of work in culture in Rio de Janeiro city
In what conditions do cultural workers survive? This is the other survey
that we seek to analyze, based on the object of investigation concentrated in the
labor market in the Brazilian cultural sector today. For this, we used the case study
gy, which resulted in the elaboration of this article. In order to identify
the core of the stresses, impacts, main challenges and the extent to which the
professionals face the precarious situation in the work, as well as the possible ways
lves to correct the weaknesses of this informal working class. In this
depth interviews, through a qualitative
investigation, with open questions, addressed to a group of workers and workers who
ic and cultural segments in the city of Río de Janeiro. Based on
the answers planted in the interviews, we present this analysis, commented on and
ublic
policies.
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
Cultura? Em que dimensão
passaram, e/ou ainda se encontram,
em estado de precariedade e, em caso
afirmativo, como é enfrentada tal
Como avaliam o mercado de
trabalho na Cultura n
o Brasil e no
mundo? Em que medida os problemas
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
vividos no mercado de trabalho da
Cultura no Brasil são locais ou
globais? Quais são as principais
perdas, avanços e desafios para as
trabalhadoras e os trabalhadores da
Cultura? Que caminhos possíveis
aponta
riam para melhorar as
condições de trabalho na Cultura?
Para tanto,
utilizamos o estudo
de caso como metodologia, na
intenção de identificar o cerne das
tensões, desafios e avaliar em que
medida as/os profissionais enfrentam a
situação de precariedade no t
como também, que possíveis
caminhos são apontados para corrigir
as fragilidades dessa classe
trabalhadora informal. Nessa direção,
realizamos uma série de entrevistas
em profundidade, através de uma
pesquisa qualitativa, com perguntas
abertas, dir
ecionadas para uma
parcela de trabalhadoras e
trabalhadores que atuam em diversos
segmentos artístico-
culturais
Cênicas -
Dança, Circo, Teatro, Arte
Pública; Artes Visuais; Audiovisual;
Produção Teatral; Publicidade,
Comunicação Visual, Mídias Socia
na cidade do Rio de Janeiro.
As perguntas desse
questionário foram previamente
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
vividos no mercado de trabalho da
Cultura no Brasil são locais ou
globais? Quais são as principais
perdas, avanços e desafios para as
trabalhadoras e os trabalhadores da
Cultura? Que caminhos possíveis
riam para melhorar as
condições de trabalho na Cultura?
utilizamos o estudo
de caso como metodologia, na
intenção de identificar o cerne das
tensões, desafios e avaliar em que
medida as/os profissionais enfrentam a
situação de precariedade no t
rabalho,
como também, que possíveis
caminhos são apontados para corrigir
as fragilidades dessa classe
trabalhadora informal. Nessa direção,
realizamos uma série de entrevistas
em profundidade, através de uma
pesquisa qualitativa, com perguntas
ecionadas para uma
parcela de trabalhadoras e
trabalhadores que atuam em diversos
culturais
(Artes
Dança, Circo, Teatro, Arte
Pública; Artes Visuais; Audiovisual;
Produção Teatral; Publicidade,
Comunicação Visual, Mídias Socia
is),
na cidade do Rio de Janeiro.
As perguntas desse
questionário foram previamente
enviadas às/os entrevistadas/os no
início de janeiro de 2021,
também através do WhatsApp, além
de contatos telefônicos, a fim de evitar
o contato presencial
pandemia, -
resultando no retorno das
respostas de 09 (nove)
trabalhadoras/es da Cultura, sendo
quatro mulheres e cinco homens, que
nos foram concedidas de forma
gradativa, no período compreendido
entre o dia 05/01 ao dia 20/01/2021.
Com base
nas respostas levantadas
nas entrevistas, apresentamos essa
análise, comentada e referenciada em
estudos e pesquisadores da área.
O presente estudo se utiliza
basicamente de entrevistas,
documentos e publicações que
costumam ser usadas no estudo de
caso.
Com base nas respostas dos
entrevistados, somadas às referências
de estudos, dados, pesquisas e
demais fontes e autores, além de
palestras e seminários realizados na
universidade, movimentos e runs
artísticos, buscamos fazer uma análise
acerca da situaç
ão atual do mercado
de trabalho na Cultura. Segundo
Robert Yin (2010, p. 39), o estudo de
caso “é uma investigação empírica que
investiga um fenômeno
190
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
enviadas às/os entrevistadas/os no
início de janeiro de 2021,
- por email e
também através do WhatsApp, além
de contatos telefônicos, a fim de evitar
o contato presencial
em função da
resultando no retorno das
respostas de 09 (nove)
trabalhadoras/es da Cultura, sendo
quatro mulheres e cinco homens, que
nos foram concedidas de forma
gradativa, no período compreendido
entre o dia 05/01 ao dia 20/01/2021.
nas respostas levantadas
nas entrevistas, apresentamos essa
análise, comentada e referenciada em
estudos e pesquisadores da área.
O presente estudo se utiliza
basicamente de entrevistas,
documentos e publicações que
costumam ser usadas no estudo de
Com base nas respostas dos
entrevistados, somadas às referências
de estudos, dados, pesquisas e
demais fontes e autores, além de
palestras e seminários realizados na
universidade, movimentos e runs
artísticos, buscamos fazer uma análise
ão atual do mercado
de trabalho na Cultura. Segundo
Robert Yin (2010, p. 39), o estudo de
caso “é uma investigação empírica que
investiga um fenômeno
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cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
contemporâneo em profundidade e em
seu contexto de vida real,
especialmente quando os limites entre
o fenô
meno e o contexto não são
claramente definidos”. Essa definição
leva em consideração três condições
básicas sobre estratégias de pesquisa:
o tipo de questão de pesquisa, o
controle do pesquisador sobre eventos
comportamentais, e o foco no
contemporâneo ao
invés de
fenômenos históricos. Ao delinear
estas três condições, Yin argumenta
que a escolha de estudo de caso seria
a estratégia preferida quando “como”
ou “por que” questões estão sendo
colocadas; quando o investigador tem
pouco controle sobre os eventos
quando o foco está em um fenômeno
contemporâneo dentro de algum
contexto da vida real.
Entrevistas com trabalhadores e
trabalhadoras da Cultura do Rio de
Janeiro
Para esse estudo aqui
apresentado, foram feitas, portanto,
entrevistas em profundidade,
as/os seguintes artistas que trabalham
em áreas e segmentos diversos:
Maracajá
(Artes Cênicas e
Audiovisual), Daphne Madeira (Artes
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
contemporâneo em profundidade e em
seu contexto de vida real,
especialmente quando os limites entre
meno e o contexto não são
claramente definidos”. Essa definição
leva em consideração três condições
básicas sobre estratégias de pesquisa:
o tipo de questão de pesquisa, o
controle do pesquisador sobre eventos
comportamentais, e o foco no
invés de
fenômenos históricos. Ao delinear
estas três condições, Yin argumenta
que a escolha de estudo de caso seria
a estratégia preferida quando “como”
ou “por que” questões estão sendo
colocadas; quando o investigador tem
pouco controle sobre os eventos
e;
quando o foco está em um fenômeno
contemporâneo dentro de algum
Entrevistas com trabalhadores e
trabalhadoras da Cultura do Rio de
Para esse estudo aqui
apresentado, foram feitas, portanto,
entrevistas em profundidade,
com
as/os seguintes artistas que trabalham
em áreas e segmentos diversos:
Célia
(Artes Cênicas e
Audiovisual), Daphne Madeira (Artes
Cênicas
Dança),
(Artes Cênicas
Teatro), Erisvelton de
Alencar Santana (Publicidade,
Comunicaçã
o Visual e Redes Sociais),
Gabriel Bezerra de Melo Júnior (Artes
Cênicas Circo),
José Carlos Rosa
Miranda (Produção Teatral),
de Andrade França (Arte Pública
Circense), Stanley Livingstone Whibbe
(Microempresa de Elaboração e
Produção de Projetos
de Morais (Artes Visuais, Audiovisual,
Mídias Sociais).
Nessa entrevista, a
artista multimídia e pesquisadora Ynaê
Cortez de Morais, 28 anos, afirma que
após terminar a graduação em História
da Arte não encontrou trabalho na
área, tendo que
migrar para o mercado
de audiovisual, onde tinha algum
conhecimento, mesmo com uma baixa
remuneração. “Enfrento muita
dificuldade na remuneração de
trabalhos autorais, por conta disso sou
fotógrafa e editora freelancer de
cinema, publicidade e mídias s
Ela aponta concentrações de recursos,
burocracias e o uso mercadológico
feito pelas empresas.
A meu ver o mercado de trabalho
na cultura no Brasil é muito
precarizado, os trabalhadores são
predominantemente informais,
uma grande concentração d
191
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Dança),
Denise Milfont
Teatro), Erisvelton de
Alencar Santana (Publicidade,
o Visual e Redes Sociais),
Gabriel Bezerra de Melo Júnior (Artes
José Carlos Rosa
Miranda (Produção Teatral),
Wildson
de Andrade França (Arte Pública
Circense), Stanley Livingstone Whibbe
(Microempresa de Elaboração e
Produção de Projetos
) e Ynaê Cortez
de Morais (Artes Visuais, Audiovisual,
Nessa entrevista, a
artista multimídia e pesquisadora Ynaê
Cortez de Morais, 28 anos, afirma que
após terminar a graduação em História
da Arte não encontrou trabalho na
migrar para o mercado
de audiovisual, onde tinha algum
conhecimento, mesmo com uma baixa
remuneração. “Enfrento muita
dificuldade na remuneração de
trabalhos autorais, por conta disso sou
fotógrafa e editora freelancer de
cinema, publicidade e mídias s
ociais”.
Ela aponta concentrações de recursos,
burocracias e o uso mercadológico
A meu ver o mercado de trabalho
na cultura no Brasil é muito
precarizado, os trabalhadores são
predominantemente informais,
uma grande concentração d
e
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
renda em grandes produtoras.
Vejo dois grandes problemas no
mercado de cultura: a falta de
recursos para o setor e a
concentração dos recursos
disponíveis. Embora muitos
editais públicos e leis de
incentivos estejam abertos a
todos, os pequenos e médios
produtores muitas vezes
enfrentam grandes dificuldades
em se inscrever, pois essas
inscrições exigem
documentações, licitações e
burocracias que muitas vezes
não estão ao alcance de um
pequeno ou médio produtor. O
incentivo indireto também
apresenta diver
problemáticas, uma delas é que o
incentivo via empresas muitas
vezes é utilizado como um
‘marketing social’ das empresas
que privilegiam grandes projetos
e profissionais renomados.
(MORAIS, 2021).
Ynaê considera que esses
problemas são locais e provindos de
uma falta de políticas públicas voltadas
para a área que levem em conta a
diversidade do país e a
democratização do acesso a essas
políticas. “Também acredito que os
problemas são reflexos da ina
de muitos gestores sobre o próprio
entendimento do que é cultura, como
realizar políticas democráticas para
área e difundir o acesso da
população”. E considera o
mapeamento e cadastramento de
profissionais da cultura um grande
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
renda em grandes produtoras.
Vejo dois grandes problemas no
mercado de cultura: a falta de
recursos para o setor e a
concentração dos recursos
disponíveis. Embora muitos
editais públicos e leis de
incentivos estejam abertos a
todos, os pequenos e médios
produtores muitas vezes
enfrentam grandes dificuldades
em se inscrever, pois essas
inscrições exigem
documentações, licitações e
burocracias que muitas vezes
não estão ao alcance de um
pequeno ou médio produtor. O
incentivo indireto também
apresenta diver
sas
problemáticas, uma delas é que o
incentivo via empresas muitas
vezes é utilizado como um
‘marketing social’ das empresas
que privilegiam grandes projetos
e profissionais renomados.
Ynaê considera que esses
problemas são locais e provindos de
uma falta de políticas públicas voltadas
para a área que levem em conta a
diversidade do país e a
democratização do acesso a essas
políticas. “Também acredito que os
problemas são reflexos da ina
bilidade
de muitos gestores sobre o próprio
entendimento do que é cultura, como
realizar políticas democráticas para
área e difundir o acesso da
população”. E considera o
mapeamento e cadastramento de
profissionais da cultura um grande
avanço e os recursos
de Emergência Cultural Aldir Blanc,
apresentada pela Comissão de Cultura
da Câmara dos Deputados e
implementada em 2020.
Na visão dessa artista, houve
o entendimento, a valorização e o
reconhecimento das culturas locais,
ass
im como a iniciativa da
desburocratização da inscrição dos
profissionais e espaços relacionados
aos pontos de cultura foi uma grande
conquista. No entanto, aponta muitos
problemas na execução dos recursos
da lei por conta de diversas gestões
municipais e e
staduais. “Acredito que
os maiores desafios sejam o
investimento na área e a
democratização dos recursos para que
pequenos e médios produtores
possam acessar esses recursos”.
De fato, conforme ressalta
Ynaê Cortez
de Morais
trabalho na cultura está atravessado
pela precariedade. Sobretudo porque a
grande maioria desses agentes,
seus fazeres e saberes culturais,
atua de forma autônoma, precária,
informal, sem garantia alguma de
direitos trabalhistas, pre
tributários, dependendo, portanto, dos
editais, que estão cada vez mais raros
192
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- ISSN 2237-1508
avanço e os recursos
provindos da Lei
de Emergência Cultural Aldir Blanc,
apresentada pela Comissão de Cultura
da Câmara dos Deputados e
implementada em 2020.
Na visão dessa artista, houve
o entendimento, a valorização e o
reconhecimento das culturas locais,
im como a iniciativa da
desburocratização da inscrição dos
profissionais e espaços relacionados
aos pontos de cultura foi uma grande
conquista. No entanto, aponta muitos
problemas na execução dos recursos
da lei por conta de diversas gestões
staduais. “Acredito que
os maiores desafios sejam o
investimento na área e a
democratização dos recursos para que
pequenos e médios produtores
possam acessar esses recursos”.
De fato, conforme ressalta
de Morais
, o mercado de
trabalho na cultura está atravessado
pela precariedade. Sobretudo porque a
grande maioria desses agentes,
- com
seus fazeres e saberes culturais,
-
atua de forma autônoma, precária,
informal, sem garantia alguma de
direitos trabalhistas, pre
videnciários e
tributários, dependendo, portanto, dos
editais, que estão cada vez mais raros
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
nessas últimas gestões de governo,
para manterem vivas as suas
atividades. Além da dificuldade de
acesso e apoio de uma grande parcela
de trabalhadores da cultura,
distorções quanto ao uso dos recursos
públicos, via incentivo indireto, por
empresas e bancos, resultando nas
recorrentes concentrações em grandes
produtoras de eventos e de
entretenimento.
A
potência inventiva da cultura
envolve uma força labora
ofício, embora suas especificidades
extrapolem o campo formal do
chamado mundo do trabalho.
de uma classe trabalhadora que vive
sob condições
e relações
extremamente precarizadas, s
qualquer garantia de renda, vínculos
empregatícios reg
istrados em carteira
de trabalho, contrato ou documentação
equivalente, sendo geralmente
desprovida de benefícios como
remuneração fixa, férias pagas
mecanismos de
proteção
de
cobertura previdenciária
quadro diferenciado de trabalho no
setor cultural, - que
compreende uma
rica e extensa diversidade de atores,
segmentos, expressões, linguagens,
artes, culturas, que não são
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
nessas últimas gestões de governo,
para manterem vivas as suas
atividades. Além da dificuldade de
acesso e apoio de uma grande parcela
de trabalhadores da cultura,
ocorrem
distorções quanto ao uso dos recursos
públicos, via incentivo indireto, por
empresas e bancos, resultando nas
recorrentes concentrações em grandes
produtoras de eventos e de
potência inventiva da cultura
envolve uma força labora
tiva, um
ofício, embora suas especificidades
extrapolem o campo formal do
chamado mundo do trabalho.
Trata-se
de uma classe trabalhadora que vive
e relações
extremamente precarizadas, s
em
qualquer garantia de renda, vínculos
istrados em carteira
de trabalho, contrato ou documentação
equivalente, sendo geralmente
desprovida de benefícios como
remuneração fixa, férias pagas
,
proteção
social e
cobertura previdenciária
. Esse
quadro diferenciado de trabalho no
compreende uma
rica e extensa diversidade de atores,
segmentos, expressões, linguagens,
artes, culturas, que não são
institucionalizadas,
-
não alcança a compreensão e o
devido preparo cnico por parte dos
gestores de ór
gãos públicos e
privados para implementarem
políticas que possam corrigir essas
fragilidades e garantir os direitos
trabalhistas, tributários e
previdenciários desses profissionais.
Isso se revela também na
de
contarmos com levantamentos
consis
tentes e atualizados de
cadastros, dados, desempenho e
funcionamento dessas atividades.
Esse ofício compreende não somente
uma grande diversidade de perfis de
trabalhadoras e trabalhadores da
Cultura, oriundos de uma extensa
variedade de segmentos e lingua
como também, envolve uma
multiplicidade de públicos a quem se
dirigem e são compartilhados os seus
trabalhos.
Ao perguntarmos sobre que
caminhos possíveis para melhorar as
condições de trabalho na Cultura,
Ynaê menciona mudanças voltadas
principalmente para corrigir as
concentrações de recursos e a falta de
acesso da sociedade civil às políticas
culturais.
193
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
-
muitas vezes
não alcança a compreensão e o
devido preparo cnico por parte dos
gãos públicos e
privados para implementarem
políticas que possam corrigir essas
fragilidades e garantir os direitos
trabalhistas, tributários e
previdenciários desses profissionais.
Isso se revela também na
dificuldade
contarmos com levantamentos
tentes e atualizados de
cadastros, dados, desempenho e
funcionamento dessas atividades.
Esse ofício compreende não somente
uma grande diversidade de perfis de
trabalhadoras e trabalhadores da
Cultura, oriundos de uma extensa
variedade de segmentos e lingua
gens,
como também, envolve uma
multiplicidade de públicos a quem se
dirigem e são compartilhados os seus
Ao perguntarmos sobre que
caminhos possíveis para melhorar as
condições de trabalho na Cultura,
Ynaê menciona mudanças voltadas
principalmente para corrigir as
concentrações de recursos e a falta de
acesso da sociedade civil às políticas
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
Uma distribuição dos recursos
que não privilegie determinados
estados a nível federal ou
determinados bairros a nível
municipal.
Uma participação da
população na escolha de
gestores de instituições, teatros e
espaços culturais, assim como a
participação da população na
escolha da programação desses
espaços. Políticas culturais
voltadas para pequenos
produtores e grupos em
vulnerabilidade (
MORAIS
Além de apontar a
necessidade de rever a distribuição
dos recursos, que ainda estão
concentrados em determinadas
cidades, áreas e regiões, destaca a
necessidade da população participar
do processo de escolha dos gestores
das instituições, conforme sugere
Ynaê. Tendo em vista que um dos
problemas que identificamos, a
exemplo do Rio de Janeiro, é que a
pasta das secretarias municipal e
estadual vêm sendo administradas,
sobretudo nos últimos anos, por
pessoas que não são ori
setor cultural, muitas vezes resultantes
de indicações de parlamentares dos
órgãos legislativos locais, com fins
políticos e eleitorais. Essa é uma
questão que foi levantada nas
conferências municipais de cultura do
Rio, na direção de garantir
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
Uma distribuição dos recursos
que não privilegie determinados
estados a nível federal ou
determinados bairros a nível
Uma participação da
população na escolha de
gestores de instituições, teatros e
espaços culturais, assim como a
participação da população na
escolha da programação desses
espaços. Políticas culturais
voltadas para pequenos
produtores e grupos em
MORAIS
, 2021).
Além de apontar a
necessidade de rever a distribuição
dos recursos, que ainda estão
concentrados em determinadas
cidades, áreas e regiões, destaca a
necessidade da população participar
do processo de escolha dos gestores
das instituições, conforme sugere
Ynaê. Tendo em vista que um dos
problemas que identificamos, a
exemplo do Rio de Janeiro, é que a
pasta das secretarias municipal e
estadual vêm sendo administradas,
sobretudo nos últimos anos, por
pessoas que não são ori
undas do
setor cultural, muitas vezes resultantes
de indicações de parlamentares dos
órgãos legislativos locais, com fins
políticos e eleitorais. Essa é uma
questão que foi levantada nas
conferências municipais de cultura do
Rio, na direção de garantir
que as
nomeações de dirigentes que
passarem a assumir o comando do
órgão gestor da Secretaria Municipal
de Cultura do Rio de Janeiro, sejam de
fato oriundos do setor artístico
Para isso, torna-
se relevante que
atendam ao perfil de preparo e de
c
onhecimento técnico específico na
área, permitindo, assim, qualificar e
fortalecer a classe trabalhadora
cultural, como também, as políticas
públicas, programas, gestão de
equipamentos e demais ações a
serem implementadas na cidade.
Nessa entr
evista, Erisvelton de
Alencar Santana, 32 anos, que
trabalha com publicidade,
comunicação visual e redes sociais e é
aluno do curso de graduação em
Produção Cultural da Universidade
Federal Fluminense
-
“apesar de não possuir nculo
empreg
atício possuo contratos com
prazo indeterminado e como
geralmente atuo com gestão de mídias
e sites a pandemia o afetou tanto
quanto outros setores”. Assim como
Ynaê, ele considera que um
entendimento reduzido da cultura, que
está concentrada em event
carência de ações e investimentos por
parte do governo no mercado cultural
194
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- ISSN 2237-1508
nomeações de dirigentes que
passarem a assumir o comando do
órgão gestor da Secretaria Municipal
de Cultura do Rio de Janeiro, sejam de
fato oriundos do setor artístico
-cultural.
se relevante que
atendam ao perfil de preparo e de
onhecimento técnico específico na
área, permitindo, assim, qualificar e
fortalecer a classe trabalhadora
cultural, como também, as políticas
públicas, programas, gestão de
equipamentos e demais ações a
serem implementadas na cidade.
evista, Erisvelton de
Alencar Santana, 32 anos, que
trabalha com publicidade,
comunicação visual e redes sociais e é
aluno do curso de graduação em
Produção Cultural da Universidade
-
UFF, afirma que
“apesar de não possuir nculo
atício possuo contratos com
prazo indeterminado e como
geralmente atuo com gestão de mídias
e sites a pandemia o afetou tanto
quanto outros setores”. Assim como
Ynaê, ele considera que um
entendimento reduzido da cultura, que
está concentrada em event
os, e que a
carência de ações e investimentos por
parte do governo no mercado cultural
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
é anterior à pandemia, ao contrário da
Coreia do Sul e dos Estados Unidos,
conforme exemplifica.
O mercado cultural já era
complexo antes da pandemia,
pois no
Brasil cultura no
entendimento popular se resumia
a shows e durante muito tempo
não possuiu ações significativas
do governo para potencializar
esse mercado. Em relação ao
mundo, esse mercado irá variar
dependendo do país que seja
analisado, pois países
entendem a cultura como um
mercado altamente importante
tanto em questões financeiras
quando se trata de disseminar
valores culturais, vide o KPOP.
(..) No geral são problemas
globais, pode ser uma visão
micro particular minha, mas
pouco se sabe sobre
atravessam sua territorialidade e
influenciam o mundo. Temos o
exemplo atual do KPOP como
grande movimento de
popularização da cultura Coreana
que impactou o mundo e gerou
um retorno para a Coreia do Sul
muito grande. Tivemos o cinema
Hollywoo
diano que vem
disseminando os valores norte
americanos mais de um
século, mas ainda assim acredito
que poucos países enxergam o
potencial da cultura (SANTANA,
2021).
Na opinião de Erisvelton,
uma desvalorização da cultura
brasileira em d
etrimento da cultura
estrangeira e do entretenimento e
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
é anterior à pandemia, ao contrário da
Coreia do Sul e dos Estados Unidos,
O mercado cultural já era
complexo antes da pandemia,
Brasil cultura no
entendimento popular se resumia
a shows e durante muito tempo
não possuiu ações significativas
do governo para potencializar
esse mercado. Em relação ao
mundo, esse mercado irá variar
dependendo do país que seja
analisado, pois países
que
entendem a cultura como um
mercado altamente importante
tanto em questões financeiras
quando se trata de disseminar
valores culturais, vide o KPOP.
(..) No geral são problemas
globais, pode ser uma visão
micro particular minha, mas
pouco se sabe sobre
culturas que
atravessam sua territorialidade e
influenciam o mundo. Temos o
exemplo atual do KPOP como
grande movimento de
popularização da cultura Coreana
que impactou o mundo e gerou
um retorno para a Coreia do Sul
muito grande. Tivemos o cinema
diano que vem
disseminando os valores norte
-
americanos mais de um
século, mas ainda assim acredito
que poucos países enxergam o
potencial da cultura (SANTANA,
Na opinião de Erisvelton,
uma desvalorização da cultura
etrimento da cultura
estrangeira e do entretenimento e
acredita que o funk ainda pode
impactar o mundo.
Acredito que a principal perda se
devido à compreensão,
por parte da população, sobre o
que é cultura. Muitos acreditam
que cultura está atrelada
entretenimento e muitas vezes a
hierarquizam desvalorizando toda
a produção nacional em
detrimento a algo que seja
estrangeiro. Embora, com os
avanços tecnológicos a cultura
popular, tendo o funk como
exemplo, em 2020 conseguimos
ultrapassar barreiras
atingir significativamente muitas
pessoas. Penso que se fosse
investido da maneira correta,
poderíamos transformar o Funk
em algo 100% brasileiro e
impactar o mundo assim como o
KPOP. Essa mudança de olhar
do público, conseguir sobreviver
se
m suporte governamental ao
mesmo tempo em que é
desvalorizado por ele, se mostra
a meu ver como um dos
principais desafios de quem
trabalha na área cultural (
2021).
Em torno dessa falta de
entendimento sobre a cultura, o
pesquisador p
eruano Victor Vich
argumenta que implica pensar nela
também como um problema cotidiano
que muitas vezes é naturalizado ou
negligenciado.
Cultura não é uma palavra “boa”.
Não podemos continuar
entendendo-
a como algo sempre
positivo para a sociedade. Não
195
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
acredita que o funk ainda pode
Acredito que a principal perda se
devido à compreensão,
por parte da população, sobre o
que é cultura. Muitos acreditam
que cultura está atrelada
ao
entretenimento e muitas vezes a
hierarquizam desvalorizando toda
a produção nacional em
detrimento a algo que seja
estrangeiro. Embora, com os
avanços tecnológicos a cultura
popular, tendo o funk como
exemplo, em 2020 conseguimos
ultrapassar barreiras
territoriais e
atingir significativamente muitas
pessoas. Penso que se fosse
investido da maneira correta,
poderíamos transformar o Funk
em algo 100% brasileiro e
impactar o mundo assim como o
KPOP. Essa mudança de olhar
do público, conseguir sobreviver
m suporte governamental ao
mesmo tempo em que é
desvalorizado por ele, se mostra
a meu ver como um dos
principais desafios de quem
trabalha na área cultural (
Ibidem,
Em torno dessa falta de
entendimento sobre a cultura, o
eruano Victor Vich
argumenta que implica pensar nela
também como um problema cotidiano
que muitas vezes é naturalizado ou
Cultura não é uma palavra “boa”.
Não podemos continuar
a como algo sempre
positivo para a sociedade. Não
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
po
demos continuar entendendo a
cultura somente a partir da “aura”
das artes, do campo daquilo que
é valorizado socialmente. Hoje,
devemos entendê-
la como laços
humanos, estilos de vida, hábitos
estabelecidos na cotidianidade
mais comum. A cultura
disseram-nos
é sempre “o
normal”. De fato, se pensarmos
nela como um problema
cotidiano, perceberemos que ela
é hegemonia, e que a hegemonia
é hoje carreirismo político,
corrupção, discriminação em
todas as suas formas,
consumismo, injustiça social.
Nossas socied
ades continuam
sendo aquelas em que a
corrupção se tornou cínica, a
desigualdade é naturalizada, o
espírito de competição prima
sobre qualquer outro, a
heterogeneidade cultural se
faz visível como subalternidade e
a frivolidade transformou
educaçã
o sentimental. No
entanto, apesar de
uma palavra feia, temos de
continuar apostando em uma
intervenção na
cultura
elementos da cultura. A questão
é que devemos fazê
-
mais radicalismo: é preciso
conseguir tornar visível o modo
como uma forma de poder social
se estabeleceu nos hábitos
cotidianos. (VICH, 2017, p. 49).
Essas questões problematizadas
por Erisvelton não estão dissociadas
de um sistema capitalista cujo modelo
está concentrado nos
neoliberais na econom
ia, com a
mínima intervenção do Estado e a
centralidade no mercado
e na iniciativa
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
demos continuar entendendo a
cultura somente a partir da “aura”
das artes, do campo daquilo que
é valorizado socialmente. Hoje,
la como laços
humanos, estilos de vida, hábitos
estabelecidos na cotidianidade
mais comum. A cultura
é sempre “o
normal”. De fato, se pensarmos
nela como um problema
cotidiano, perceberemos que ela
é hegemonia, e que a hegemonia
é hoje carreirismo político,
corrupção, discriminação em
todas as suas formas,
consumismo, injustiça social.
ades continuam
sendo aquelas em que a
corrupção se tornou cínica, a
desigualdade é naturalizada, o
espírito de competição prima
sobre qualquer outro, a
heterogeneidade cultural se
faz visível como subalternidade e
a frivolidade transformou
-se em
o sentimental. No
entanto, apesar de
cotidiano ser
uma palavra feia, temos de
continuar apostando em uma
cultura
com
elementos da cultura. A questão
-
lo com muito
mais radicalismo: é preciso
conseguir tornar visível o modo
como uma forma de poder social
se estabeleceu nos hábitos
cotidianos. (VICH, 2017, p. 49).
Essas questões problematizadas
por Erisvelton não estão dissociadas
de um sistema capitalista cujo modelo
está concentrado nos
ideais
ia, com a
mínima intervenção do Estado e a
e na iniciativa
privada. C
om o excesso de ofertas de
bens mercantis e simbólicos que
passam a serem absorvidos pelo
mercado, principalmente de uma
cultura centrada no entretenimento,
em gra
ndes eventos, filmes
blockbusters
e musicais da Broadway
que passaram a ocupar as salas dos
cinemas e dos teatros brasileiros. Ao
mesmo tempo que o Funk ainda é
bastante criminalizado, interessa
transformá-
lo em
ser comercializado.
Esse processo de
mercantilização da cultura o surgiu
agora, Theodor
Adorno já falava da
indústria cultural nos anos 1940 e
desde então, esse processo se
aprofundou.
Não à toa, foram introduzidos na
cultura os conceitos oriundos do
mercado, a
empreendedorismo para os
trabalhadores e o modelo privado das
Organizações Sociais, adotado na
gestão de museus, teatros, bibliotecas
e demais espaços públicos, com a
concentração de recursos
administrados por empresas como a
Fundação Roberto Ma
gestores municipais e estaduais,
inclusive passaram a introduzir a
economia criativa no nome
196
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
om o excesso de ofertas de
bens mercantis e simbólicos que
passam a serem absorvidos pelo
mercado, principalmente de uma
cultura centrada no entretenimento,
ndes eventos, filmes
e musicais da Broadway
que passaram a ocupar as salas dos
cinemas e dos teatros brasileiros. Ao
mesmo tempo que o Funk ainda é
bastante criminalizado, interessa
lo em
um produto a
Esse processo de
mercantilização da cultura o surgiu
Adorno já falava da
indústria cultural nos anos 1940 e
desde então, esse processo se
Não à toa, foram introduzidos na
cultura os conceitos oriundos do
mercado, a
exemplo do
empreendedorismo para os
trabalhadores e o modelo privado das
Organizações Sociais, adotado na
gestão de museus, teatros, bibliotecas
e demais espaços públicos, com a
concentração de recursos
administrados por empresas como a
Fundação Roberto Ma
rinho. Os órgãos
gestores municipais e estaduais,
inclusive passaram a introduzir a
economia criativa no nome
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
institucional dessas pastas, cujo
conceito vem sendo adotado também
nas políticas adotadas, além das
chamadas cidades criativas. Erisvelton
aponta
propostas de políticas culturas
que, em seu entendimento, poderiam
fazer a diferença para melhorar as
condições de trabalho na Cultura.
Através da criação de políticas
culturais que deem suporte a
ações e movimentos populares,
não é ser sustentado pelo
g
overno como alguns podem
pensar, é ter suporte. Existem
centenas de músicos que se
apresentam nas ruas por não
existirem palcos para shows
gratuitos no país. Centenas de
artistas plásticos expõem suas
pinturas, esculturas, artesanatos
em calçadas por não h
galeria pública onde pudesse ser
feita a comercialização das obras.
Ou ainda, não existe um circuito
cultural de valorização de
produções locais e disseminação
de produtos por todo o território
brasileiro, pois pouco sabemos
sobre o que é produzid
outras regiões, visto que o
governo foca seu olhar na região
sudeste negligenciando as outras
quatro regiões (Ibidem, 2021).
Essa reduzida visão
concentradora, desigual e de mal uso
da cultura, acaba por ser utilizada para
fins políticos e interesses individuais,
mercadológicos e hegemônicos,
acirrando as desigualdades e as
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
institucional dessas pastas, cujo
conceito vem sendo adotado também
nas políticas adotadas, além das
chamadas cidades criativas. Erisvelton
propostas de políticas culturas
que, em seu entendimento, poderiam
fazer a diferença para melhorar as
condições de trabalho na Cultura.
Através da criação de políticas
culturais que deem suporte a
ações e movimentos populares,
não é ser sustentado pelo
overno como alguns podem
pensar, é ter suporte. Existem
centenas de músicos que se
apresentam nas ruas por não
existirem palcos para shows
gratuitos no país. Centenas de
artistas plásticos expõem suas
pinturas, esculturas, artesanatos
em calçadas por não h
aver uma
galeria pública onde pudesse ser
feita a comercialização das obras.
Ou ainda, não existe um circuito
cultural de valorização de
produções locais e disseminação
de produtos por todo o território
brasileiro, pois pouco sabemos
sobre o que é produzid
o em
outras regiões, visto que o
governo foca seu olhar na região
sudeste negligenciando as outras
quatro regiões (Ibidem, 2021).
Essa reduzida visão
concentradora, desigual e de mal uso
da cultura, acaba por ser utilizada para
fins políticos e interesses individuais,
mercadológicos e hegemônicos,
acirrando as desigualdades e as
opressões. Para fazer uma mudança
através das políticas
conforme sinalizam Erisvelton e Ynaê,
implica ampliar o olhar acerca da
sociedade que vivemos, reorganizar o
cotidiano e construir uma nova
hegemonia.
Nesse sentido, sustento que as
políticas culturais devem se
concentrar em mostrar como
surg
iu a ordem que temos. Para
transformar a realidade, é preciso
primeiro mudar a maneira de
olhar para ela. Acho que as
políticas culturais devem apontar
para isso. Mais do que produzir
um novo tipo de dever, a questão
é gerar uma imagem que nos
faça ver o t
ipo de sociedade que
temos. [...]
políticas culturais deve então
consistir na tentativa de
reorganizar o cotidiano
contribuir para a construção de
uma nova hegemonia. Agora, o
que é o cotidiano? Poderíamos
dizer que é o mundo da inércia,
dos hábitos estabelecidos, do
senso comum existente, das
maneiras estabelecidas do fazer.
Contudo, sem dúvida, trata
também do espaço da
criatividade, da agência, do lugar
onde pequenas mudanças sociais
poderiam acontecer. O cotidiano
é sinônimo de cum
também de resistência; é inércia,
mas também a possibilidade de
transgressão (VICH, 2017
Além de aprofundar o significado
de cotidiano, Victor Vich lança o
desafio de transformá
197
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
opressões. Para fazer uma mudança
através das políticas
públicas,
conforme sinalizam Erisvelton e Ynaê,
implica ampliar o olhar acerca da
sociedade que vivemos, reorganizar o
cotidiano e construir uma nova
Nesse sentido, sustento que as
políticas culturais devem se
concentrar em mostrar como
iu a ordem que temos. Para
transformar a realidade, é preciso
primeiro mudar a maneira de
olhar para ela. Acho que as
políticas culturais devem apontar
para isso. Mais do que produzir
um novo tipo de dever, a questão
é gerar uma imagem que nos
ipo de sociedade que
O objetivo das
políticas culturais deve então
consistir na tentativa de
reorganizar o cotidiano
, de
contribuir para a construção de
uma nova hegemonia. Agora, o
que é o cotidiano? Poderíamos
dizer que é o mundo da inércia,
dos hábitos estabelecidos, do
senso comum existente, das
maneiras estabelecidas do fazer.
Contudo, sem dúvida, trata
-se
também do espaço da
criatividade, da agência, do lugar
onde pequenas mudanças sociais
poderiam acontecer. O cotidiano
é sinônimo de cum
plicidade, mas
também de resistência; é inércia,
mas também a possibilidade de
transgressão (VICH, 2017
, p. 49).
Além de aprofundar o significado
de cotidiano, Victor Vich lança o
desafio de transformá
-lo, na medida
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
em que uma verdadeira transfo
social não pode ser concebida como
externa ao cotidiano, mas como uma
mudança fundamental na vida diária.
O que significa isso? “Significa que as
políticas culturais devem ser sempre
transversais e estar articuladas com
políticas econômicas, da saúd
habitação, do meio ambiente, de
gênero, de segurança cidadã, do
combate à corrupção” (VICH, 201
50
). Segundo ele, as políticas culturais
não estão articuladas com esferas fora
de si mesmas, o mais provável é que a
cultura continue sendo vista co
entretenimento ou como assunto para
especialistas (VICH, 2017).
Wildson de Andrade França, 40
anos, é ator, produtor e
palhaço,
na área de Artes Cênicas, na cidade
de Duque de Caxias, na Baixada
Fluminense, fazendo apresentações
em fest
as, teatros, circos, mas
principalmente nos trens da Supervia,
afirmando que se viu muitas vezes
em estado de precariedade, “foi me
apresentando nos trens que ocorreu a
mudança, mas hoje por conta da
Covid-
19 tive que me ausentar dos
trens por conta das
aglomerações”. Ao
avaliar o mercado de trabalho na
Cultura no Brasil, ele acredita que as
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
em que uma verdadeira transfo
rmação
social não pode ser concebida como
externa ao cotidiano, mas como uma
mudança fundamental na vida diária.
O que significa isso? “Significa que as
políticas culturais devem ser sempre
transversais e estar articuladas com
políticas econômicas, da saúd
e, da
habitação, do meio ambiente, de
gênero, de segurança cidadã, do
combate à corrupção” (VICH, 201
7, p.
). Segundo ele, as políticas culturais
não estão articuladas com esferas fora
de si mesmas, o mais provável é que a
cultura continue sendo vista co
mo
entretenimento ou como assunto para
especialistas (VICH, 2017).
Wildson de Andrade França, 40
palhaço,
atua
na área de Artes Cênicas, na cidade
de Duque de Caxias, na Baixada
Fluminense, fazendo apresentações
as, teatros, circos, mas
principalmente nos trens da Supervia,
afirmando que se viu muitas vezes
em estado de precariedade, “foi me
apresentando nos trens que ocorreu a
mudança, mas hoje por conta da
19 tive que me ausentar dos
aglomerações”. Ao
avaliar o mercado de trabalho na
Cultura no Brasil, ele acredita que as
principais precariedades estão nas
periferias e no interior do país, assim
como, na falta de reconhecimento e
entendimento acerca da Arte Pública
como fazer artístico.
É um mercado abrangente, mas
têm muitas precariedades aqui no
Brasil, uma delas é ausência de
equipamentos culturais públicos
nas periferias e interiores. Outra
precariedade é a falta de diálogo
e compreensão sobre a questão
da Arte Pública, como f
artístico e manifestação. Existe
um mercado na arte pública uma
movimentação, porém, não é
levada em consideração no Brasil
(FRANÇA, 2021).
Com o seu Palhaço
Wildson França criou o espetáculo
Will Will Conta Benjamin de Oliveira”,
que rememora a trajetória de Benjamin
de Oliveira, o
primeiro palhaço
negro do Brasil,
a partir do olhar de
Will Will, um palhaço negro dos dias
atuais, que enquanto conta
de seu ancestral, identifica
semelhanças com ele e com sua
trajetória.
Wildson realizou a
Benjamin de Oliveira
Fluminense, convidando palhaços
pretos para homenageá
manter viva a memória de Benjamim
como referê
ncia. E é também lançar
ao público questões como a ausência
198
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
principais precariedades estão nas
periferias e no interior do país, assim
como, na falta de reconhecimento e
entendimento acerca da Arte Pública
É um mercado abrangente, mas
têm muitas precariedades aqui no
Brasil, uma delas é ausência de
equipamentos culturais públicos
nas periferias e interiores. Outra
precariedade é a falta de diálogo
e compreensão sobre a questão
da Arte Pública, como f
azer
artístico e manifestação. Existe
um mercado na arte pública uma
movimentação, porém, não é
levada em consideração no Brasil
(FRANÇA, 2021).
Com o seu Palhaço
Will Will,
Wildson França criou o espetáculo
Will Will Conta Benjamin de Oliveira”,
que rememora a trajetória de Benjamin
primeiro palhaço
a partir do olhar de
Will Will, um palhaço negro dos dias
atuais, que enquanto conta
a história
de seu ancestral, identifica
semelhanças com ele e com sua
Wildson realizou a
Semana
Benjamin de Oliveira
, na Baixada
Fluminense, convidando palhaços
pretos para homenageá
-lo. “A ideia é
manter viva a memória de Benjamim
ncia. E é também lançar
ao público questões como a ausência
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
de palhaços pretos na palhaçaria e
fomentar a criação de uma rede para
ações conjuntas e contínuas”, revela
De fato, o Circo é um dos
segmentos das Artes Cênicas que
mais enfrenta
dificuldades com a
ausência, ou a burocratização, de
espaços públicos e de infraestrutura
adequadas para montar e apoiar os
circos nas zonas urbanas e rurais das
cidades. A arte circense praticada nas
lonas, ou através da Arte Pública,
conforme é realizad
a por Wildson nos
trens da Supervia, precisa de políticas
públicas e apoio de editais para
desenvolver as suas atividades. Ainda
mais nesse momento em que os
artistas de rua não conseguem mais
expor as suas artes no espaço público
e interagir no contato hu
praças, nos trens, no metrô, nas
barcas, nas escolas, se vendo
obrigados a recolherem os seus
chapéus de sobrevivência.
Ele aponta as principais
perdas, avanços e desafios para as
trabalhadoras e os trabalhadores da
Cultura, além de
considerar que a Lei
2
Em
Redação da Baixada, Rio de
Janeiro, 10/6/2020. Disponível
em:
sitedabaixada.com.br/cultura/2020/06/10/palha
cos-pretos-da-baixada-
fluminense
homenageiam-benjamim-de-
oliveira/
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
de palhaços pretos na palhaçaria e
fomentar a criação de uma rede para
ações conjuntas e contínuas”, revela
2
.
De fato, o Circo é um dos
segmentos das Artes Cênicas que
dificuldades com a
ausência, ou a burocratização, de
espaços públicos e de infraestrutura
adequadas para montar e apoiar os
circos nas zonas urbanas e rurais das
cidades. A arte circense praticada nas
lonas, ou através da Arte Pública,
a por Wildson nos
trens da Supervia, precisa de políticas
públicas e apoio de editais para
desenvolver as suas atividades. Ainda
mais nesse momento em que os
artistas de rua não conseguem mais
expor as suas artes no espaço público
e interagir no contato hu
mano, nas
praças, nos trens, no metrô, nas
barcas, nas escolas, se vendo
obrigados a recolherem os seus
chapéus de sobrevivência.
Ele aponta as principais
perdas, avanços e desafios para as
trabalhadoras e os trabalhadores da
considerar que a Lei
Redação da Baixada, Rio de
em:
:
sitedabaixada.com.br/cultura/2020/06/10/palha
fluminense
-
oliveira/
).
de Emergência Cultural Aldir Blanc
representa a necessidade de manter
esse tipo de dotação orçamentária,
como também, trazer a Arte Pública
para a centralidade do debate.
Menos equipamentos culturais,
menos políticas culturais,
sucat
eamento órgãos importantes
como a Ancine e seus editais.
Falta de editais com segmentos
mais abrangentes como artes
afro-
brasileiras, produções feitas
por mulheres, etc. Creio que a
LAB foi uma ótima forma de
saber quantos somos quem
somos e abrir uma gran
discussão sobre as Secretaria de
Cultura nos estados e municípios
do Brasil. E acho desafio abrir
uma grande discussão sobre arte
pública e ser contínua a dotação
orçamentária com advento da
LAB (Ibidem, 2021).
Ao perguntar sobre que
caminho
s possíveis para melhorar as
condições de trabalho na Cultura,
Wildson apresenta algumas das
prioridades, que segundo ele, exigem
maior comprometimento por parte dos
gestores e reitera a potência da Arte
Pública.
Gestores que tenham
conhecimento e
comprometimento com a cultura,
criação de equipamentos,
ocupação de espaços ociosos e
públicos, desburocratização
dessas ocupações. Ampliação de
leis de incentivo, editais e
199
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
de Emergência Cultural Aldir Blanc
representa a necessidade de manter
esse tipo de dotação orçamentária,
como também, trazer a Arte Pública
para a centralidade do debate.
Menos equipamentos culturais,
menos políticas culturais,
eamento órgãos importantes
como a Ancine e seus editais.
Falta de editais com segmentos
mais abrangentes como artes
brasileiras, produções feitas
por mulheres, etc. Creio que a
LAB foi uma ótima forma de
saber quantos somos quem
somos e abrir uma gran
de
discussão sobre as Secretaria de
Cultura nos estados e municípios
do Brasil. E acho desafio abrir
uma grande discussão sobre arte
pública e ser contínua a dotação
orçamentária com advento da
LAB (Ibidem, 2021).
Ao perguntar sobre que
s possíveis para melhorar as
condições de trabalho na Cultura,
Wildson apresenta algumas das
prioridades, que segundo ele, exigem
maior comprometimento por parte dos
gestores e reitera a potência da Arte
Gestores que tenham
conhecimento e
comprometimento com a cultura,
criação de equipamentos,
ocupação de espaços ociosos e
públicos, desburocratização
dessas ocupações. Ampliação de
leis de incentivo, editais e
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
emendas para cultura. Creio que
a arte pública
é uma das grandes
salvações como forma de
vivência, sobrevivência e
resistência ante tantos
retrocessos neste país. Temos
muitos gargalos que vão
continuar infelizmente, mas
diminuindo o contato do artista
com o público nesse momento
pode solucionar muitas
(Ibidem, 2021).
Sobre Wildson ter ressaltado
que as principais precariedades estão
nas periferias, trazemos algumas
reflexões feitas pela
socióloga Lívia de
Tommasi, que pesquisa periferias,
juventudes, culturas urbanas,
empreendedorismo e trabalho
precário. No trabalho de pesquisa de
caráter etnográfico realizado na
Cidade de Deus, no período de
pacificação das favelas no Rio de
Janeiro, T
ommasi disse ter se
deparado com muitos projetos que
falavam em empreendedorismo, no
momento em que ainda se falava
muito pouco sobre isso. E começou
então uma efervescência, com cursos
de formação, debates, financiamentos,
em particular, nesse âmbito da a
da cultura como ideia de financiamento
e remuneração das atividades, e
muitos projetos de Organizações Não
Governamentais que antes tinham a
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
emendas para cultura. Creio que
é uma das grandes
salvações como forma de
vivência, sobrevivência e
resistência ante tantos
retrocessos neste país. Temos
muitos gargalos que vão
continuar infelizmente, mas
diminuindo o contato do artista
com o público nesse momento
pode solucionar muitas
questões
Sobre Wildson ter ressaltado
que as principais precariedades estão
nas periferias, trazemos algumas
socióloga Lívia de
Tommasi, que pesquisa periferias,
juventudes, culturas urbanas,
empreendedorismo e trabalho
precário. No trabalho de pesquisa de
caráter etnográfico realizado na
Cidade de Deus, no período de
pacificação das favelas no Rio de
ommasi disse ter se
deparado com muitos projetos que
falavam em empreendedorismo, no
momento em que ainda se falava
muito pouco sobre isso. E começou
então uma efervescência, com cursos
de formação, debates, financiamentos,
em particular, nesse âmbito da a
rte e
da cultura como ideia de financiamento
e remuneração das atividades, e
muitos projetos de Organizações Não
Governamentais que antes tinham a
ideia de salvação, como arte para
combater a guerra. E menciona
também um fundo municipal que
tornou-se refer
ência nesse campo com
o
programa de Valorização das
Iniciativas Culturais (
VAI
juventudes da periferia, criado em
2003, em São Paulo, pela Lei
Municipal nº 13.540/2003 e, que em
2014 ganhou uma segunda
modalidade por meio da Lei Municipal
15.897/2013.
Ações, ocorridas
fortemente em São Paulo e no Rio de
Janeiro, que buscavam a visibilidade e
uma oferta de possibilidades de
financiamento, como também, o
caráter instrumental dessa celebração
e desse suporte no âmbito da
chamada pacificação, de ac
ela, trazendo a ideia de que se poderia
integrar os pobres à cidade através do
mercado. Nesse cenário, ocorreram
alterações no mercado de trabalho
com a figura do Microempreendedor
Cultural.
Por isso, esse estímulo à
formalização do trabalho cul
via Microemprendedor Cultural
MEI, tinha essa perspectiva, de
tornar os informais como
contribuintes, e, ao mesmo
tempo, garantir a eles alguns
direitos através dessa figura
jurídica. Mas para uma parcela
200
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ideia de salvação, como arte para
combater a guerra. E menciona
também um fundo municipal que
ência nesse campo com
programa de Valorização das
VAI
), focado nas
juventudes da periferia, criado em
2003, em São Paulo, pela Lei
Municipal nº 13.540/2003 e, que em
2014 ganhou uma segunda
modalidade por meio da Lei Municipal
Ações, ocorridas
fortemente em São Paulo e no Rio de
Janeiro, que buscavam a visibilidade e
uma oferta de possibilidades de
financiamento, como também, o
caráter instrumental dessa celebração
e desse suporte no âmbito da
chamada pacificação, de ac
ordo com
ela, trazendo a ideia de que se poderia
integrar os pobres à cidade através do
mercado. Nesse cenário, ocorreram
alterações no mercado de trabalho
com a figura do Microempreendedor
Por isso, esse estímulo à
formalização do trabalho cul
tural,
via Microemprendedor Cultural
MEI, tinha essa perspectiva, de
tornar os informais como
contribuintes, e, ao mesmo
tempo, garantir a eles alguns
direitos através dessa figura
jurídica. Mas para uma parcela
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
desses jovens é também uma
forma de se sus
economicamente. E é por isso
que eu digo que o trabalho nessa
área pode ser considerado
paradigmático do ponto de vista
das transformações que
ocorreram nos últimos decênios
no mundo do trabalho, quando
para fazer frente a uma classe
enorme de desem
provocada pela desestruturação
produtiva com a globalização dos
mercados, a deslocalização da
produção, a partir dos anos 70,
flexibilidade e precarização foram
apontadas como as únicas saídas
possíveis (TOMMASI, 2020).
Na entrevista fei
ta com José
Carlos Rosa Miranda, 35 anos, que
trabalha no segmento de Teatro, como
ator e produtor teatral, ele afirma que
atualmente não está em estado de
precariedade, mas, “passei por
situações de baixa produção, ou seja,
os trabalhos estavam bem escass
fora a concorrência que é muita e
infelizmente as indicações entram no
lugar das qualidades muitas vezes”. E
considera que o mercado de trabalho
da Cultura no Brasil e no campo global
está “muito ruim, infelizmente o
soubemos aproveitar a efervescênc
da produção cultural que esteve muito
potente até 2013, e hoje com o atual
cenário político, perdemos muito, mas
somos fortes e vamos vencer esse
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
desses jovens é também uma
forma de se sus
tentar
economicamente. E é por isso
que eu digo que o trabalho nessa
área pode ser considerado
paradigmático do ponto de vista
das transformações que
ocorreram nos últimos decênios
no mundo do trabalho, quando
para fazer frente a uma classe
enorme de desem
prego
provocada pela desestruturação
produtiva com a globalização dos
mercados, a deslocalização da
produção, a partir dos anos 70,
flexibilidade e precarização foram
apontadas como as únicas saídas
possíveis (TOMMASI, 2020).
ta com José
Carlos Rosa Miranda, 35 anos, que
trabalha no segmento de Teatro, como
ator e produtor teatral, ele afirma que
atualmente não está em estado de
precariedade, mas, “passei por
situações de baixa produção, ou seja,
os trabalhos estavam bem escass
os,
fora a concorrência que é muita e
infelizmente as indicações entram no
lugar das qualidades muitas vezes”. E
considera que o mercado de trabalho
da Cultura no Brasil e no campo global
está “muito ruim, infelizmente o
soubemos aproveitar a efervescênc
ia
da produção cultural que esteve muito
potente até 2013, e hoje com o atual
cenário político, perdemos muito, mas
somos fortes e vamos vencer esse
marasmo de horrores que o país se
encontra”.
Na opinião de
estamos vivendo dois mom
contrastantes para a Cultura, da
efervescência passamos para um
desmonte. Depois de muitos avanços
alcançados no Brasil, principalmente
durante o governo do presidente Luis
Inácio Lula da Silva, no período de
2003 a 2011, com uma política pública
que
conferiu musculatura institucional
para a pasta da Cultura, nas gestões
dos ministros Gilberto Gil e Juca
Ferreira, estamos passando por um
acelerado desmanche das políticas de
Estado de âmbito federal, com
profundos impactos causados na
gestão pública de
Cultura, sobretudo
no governo do presidente Jair Messias
Bolsonaro, a partir de janeiro de 2019.
Além de cortes, contingenciamentos
de recursos, instalou
cultural, com censuras e perseguições
aos artistas. Embora esse avançado
processo de de
sinstitucionalização do
setor e das políticas públicas tenha
iniciado desde o golpe decretado em
2016, com a retirada da presidenta
Dilma Rousseff, que resultou na
extinção do Ministério da Cultura, uma
das primeiras medidas tomadas por
201
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
marasmo de horrores que o país se
Na opinião de
José Carlos,
estamos vivendo dois mom
entos
contrastantes para a Cultura, da
efervescência passamos para um
desmonte. Depois de muitos avanços
alcançados no Brasil, principalmente
durante o governo do presidente Luis
Inácio Lula da Silva, no período de
2003 a 2011, com uma política pública
conferiu musculatura institucional
para a pasta da Cultura, nas gestões
dos ministros Gilberto Gil e Juca
Ferreira, estamos passando por um
acelerado desmanche das políticas de
Estado de âmbito federal, com
profundos impactos causados na
Cultura, sobretudo
no governo do presidente Jair Messias
Bolsonaro, a partir de janeiro de 2019.
Além de cortes, contingenciamentos
de recursos, instalou
-se uma guerra
cultural, com censuras e perseguições
aos artistas. Embora esse avançado
sinstitucionalização do
setor e das políticas públicas tenha
iniciado desde o golpe decretado em
2016, com a retirada da presidenta
Dilma Rousseff, que resultou na
extinção do Ministério da Cultura, uma
das primeiras medidas tomadas por
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
Michel Temer ao ass
umir o governo.
Sobre os problemas vividos no
mercado de trabalho, José Carlos
destaca a mesma fragilidade apontada
por Erisvelton, afirmando que a cultura
estrangeira é mais valorizada do que a
brasileira, principalmente as atividades
de pequeno porte rea
lizadas em áreas
periféricas, a exemplo do Teatro,
conforme Wildson havia
mencionado.
Creio que seja nível Brasil, até
porque o povo brasileiro
infelizmente valoriza pouco a
nossa cultura, exceto
manifestações que ultrapassam
da barreira da
cultura, como o
Carnaval,
por exemplo, e outros
eventos de grande porte, que
fogem da essência cultural. O
teatro, por exemplo, realizado por
pequenas produções ou grupos
de bairros periféricos são pouco
valorizados, e muitas pessoas
que tem a mínima condi
sobrevivência, prefere assistir um
espetáculo da Broadway do que
ver uma manifestação
de um grupo da periferia. Com
isso, o jogo político ganha força e
não investe no principal alimento
da alma do público a arte
(MIRANDA, 2021).
Além de falar, assim como os
demais entrevistados, dos problemas e
desafios que precisam de
investimento, no que se refere aos
equipamentos culturais e à
infraestrutura, José Carlos ressalta a
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
umir o governo.
Sobre os problemas vividos no
mercado de trabalho, José Carlos
destaca a mesma fragilidade apontada
por Erisvelton, afirmando que a cultura
estrangeira é mais valorizada do que a
brasileira, principalmente as atividades
lizadas em áreas
periféricas, a exemplo do Teatro,
conforme Wildson havia
Creio que seja nível Brasil, até
porque o povo brasileiro
infelizmente valoriza pouco a
nossa cultura, exceto
algumas
manifestações que ultrapassam
cultura, como o
por exemplo, e outros
eventos de grande porte, que
fogem da essência cultural. O
teatro, por exemplo, realizado por
pequenas produções ou grupos
de bairros periféricos são pouco
valorizados, e muitas pessoas
que tem a mínima condi
ção de
sobrevivência, prefere assistir um
espetáculo da Broadway do que
ver uma manifestação
artística
de um grupo da periferia. Com
isso, o jogo político ganha força e
não investe no principal alimento
da alma do público a arte
Além de falar, assim como os
demais entrevistados, dos problemas e
desafios que precisam de
investimento, no que se refere aos
equipamentos culturais e à
infraestrutura, José Carlos ressalta a
importância de garantir o acesso às
pessoas com defic
iência e dialogar
com as escolas públicas.
O desmonte dos equipamentos
culturais, a falta de investimento
em infraestrutura, melhorias
simples para acolher os
espetáculos, acolher os públicos
principalmente os que são
portadores de alguma deficiência,
viv
endo atualmente um cenário
muito triste na cultura.
em infraestrutura, investir em
grupos populares para que as
principais
manifestações
presentes em nosso país não
fiquem obsoletas. Investir em
fomento público direto para
grupos a
rtísticos possam
desenvolver produtos artísticos
em suas comunidades/bairro.
Criar projetos que possam
dialogar com escolas públicas,
fazendo com que o artista possa
ocupar profissionalmente (Ibidem,
2021).
Essa necessidade, mencionada
por José C
arlos, de aperfeiçoar e criar
condições de mobilidade aos
equipamentos onde ocorrem os
espetáculos culturais, a fim de torná
los habilitados e adaptados para o
acesso de suas dependências internas
e externas, tem sido discutido nos
fóruns e conselhos cultu
e estaduais. Sendo necessário, nesse
caso, ampliar os recursos financeiros
destinados às políticas de
202
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
importância de garantir o acesso às
iência e dialogar
com as escolas públicas.
O desmonte dos equipamentos
culturais, a falta de investimento
em infraestrutura, melhorias
simples para acolher os
espetáculos, acolher os públicos
principalmente os que são
portadores de alguma deficiência,
endo atualmente um cenário
muito triste na cultura.
[..] Investir
em infraestrutura, investir em
grupos populares para que as
artísticas
presentes em nosso país não
fiquem obsoletas. Investir em
fomento público direto para
rtísticos possam
desenvolver produtos artísticos
em suas comunidades/bairro.
Criar projetos que possam
dialogar com escolas públicas,
fazendo com que o artista possa
ocupar profissionalmente (Ibidem,
Essa necessidade, mencionada
arlos, de aperfeiçoar e criar
condições de mobilidade aos
equipamentos onde ocorrem os
espetáculos culturais, a fim de torná
-
los habilitados e adaptados para o
acesso de suas dependências internas
e externas, tem sido discutido nos
fóruns e conselhos cultu
rais municipais
e estaduais. Sendo necessário, nesse
caso, ampliar os recursos financeiros
destinados às políticas de
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
acessibilidade cultural, mas o
somente voltadas para o público, como
também, aos artistas, entre outras
pessoas com mobilidade reduzida.
Ao apresentar o seu histórico de
trabalho nas Artes Cênicas, o ator
titeriteiro Gabriel Bezerra de Melo
Júnior, 58 anos, que reside na cidade
do Rio de Janeiro, menciona que em
sua trajetória tentou buscar outras
profissões e a ajuda de familiar
decisiva para que conseguisse fazer
seus trabalhos artísticos.
Sou registrado como ator
titeriteiro no meu DRT, obtido no
Sindicato de Artistas e Técnicos
de São Paulo por volta de 1998,
comprovando minhas atuações.
Portanto, nas artes nicas como
ator marionetista em espetáculos
de diversão. Trabalhei como
manipulador em programas de
TV, como TV Colosso
Globo. Como muitos colegas de
profissão, passei por altos e
baixos durante grande parte faz
minha carreira. Muitas vezes
tentei praticar ou
tras profissões
fazendo cursos, mas sempre
retomava aos trabalhos artísticos.
Tive apoio de familiares e
esposas (
MELO JUNIOR
Gabriel Bezerra ressalta as
políticas públicas implementadas nos
períodos de gestões dos ex
presidentes Luiz In
ácio Lula da Silva
(2003 a 2010) e Dilma Rousseff (2011
a 2016) como um salto de qualidade
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
acessibilidade cultural, mas o
somente voltadas para o público, como
também, aos artistas, entre outras
pessoas com mobilidade reduzida.
Ao apresentar o seu histórico de
trabalho nas Artes Cênicas, o ator
titeriteiro Gabriel Bezerra de Melo
Júnior, 58 anos, que reside na cidade
do Rio de Janeiro, menciona que em
sua trajetória tentou buscar outras
profissões e a ajuda de familiar
es foi
decisiva para que conseguisse fazer
Sou registrado como ator
titeriteiro no meu DRT, obtido no
Sindicato de Artistas e Técnicos
de São Paulo por volta de 1998,
comprovando minhas atuações.
Portanto, nas artes nicas como
ator marionetista em espetáculos
de diversão. Trabalhei como
manipulador em programas de
TV, como TV Colosso
- Rede
Globo. Como muitos colegas de
profissão, passei por altos e
baixos durante grande parte faz
minha carreira. Muitas vezes
tras profissões
fazendo cursos, mas sempre
retomava aos trabalhos artísticos.
Tive apoio de familiares e
MELO JUNIOR
, 2021).
Gabriel Bezerra ressalta as
políticas públicas implementadas nos
períodos de gestões dos ex
-
ácio Lula da Silva
(2003 a 2010) e Dilma Rousseff (2011
a 2016) como um salto de qualidade
que, em seu entendimento, foram
determinantes para alavancar a sua
trajetória no trabalho com a Cultura.
No mundo tivemos movimentos
artísticos relevantes e com
influência. No Brasil tivemos um
salto muito grande de qualidade e
oportunidades através das
políticas públicas dos períodos
Lula e Dilma, onde trabalhei
incessantemente em circuitos
SESI, SESC e SENAI. Depois
passei por muitas dificuldades,
inclusi
ve pessoais precisando
cuidar da minha mãe idosa e
demente, o que afastou do front
dos palcos (
Ibidem
Nesse contexto dos avanços
políticos e institucionais realizados
desde o primeiro mandato do
presidente Lula e na gestão da
presidenta Dilma Rousseff,
mencionados por Gabriel Bezerra,
sobretudo nas gestões dos ministros
Gilberto Gil e Juca Ferreira,
destac
amos o papel do Plano Nacional
de Cultura (PNC), instituído pela Lei
n.12.343/2010, com validade para 10
anos. Formulado com a ideia de
apresentar um planejamento de longo
prazo, a formulação do PNC contou
com a participação da sociedade civil,
a partir de
consultas nacionais e
regionais por meio de fóruns e
conferências realizados pelo país.
203
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
que, em seu entendimento, foram
determinantes para alavancar a sua
trajetória no trabalho com a Cultura.
No mundo tivemos movimentos
artísticos relevantes e com
muita
influência. No Brasil tivemos um
salto muito grande de qualidade e
oportunidades através das
políticas públicas dos períodos
Lula e Dilma, onde trabalhei
incessantemente em circuitos
SESI, SESC e SENAI. Depois
passei por muitas dificuldades,
ve pessoais precisando
cuidar da minha mãe idosa e
demente, o que afastou do front
Ibidem
, 2021).
Nesse contexto dos avanços
políticos e institucionais realizados
desde o primeiro mandato do
presidente Lula e na gestão da
presidenta Dilma Rousseff,
mencionados por Gabriel Bezerra,
sobretudo nas gestões dos ministros
Gilberto Gil e Juca Ferreira,
amos o papel do Plano Nacional
de Cultura (PNC), instituído pela Lei
n.12.343/2010, com validade para 10
anos. Formulado com a ideia de
apresentar um planejamento de longo
prazo, a formulação do PNC contou
com a participação da sociedade civil,
consultas nacionais e
regionais por meio de fóruns e
conferências realizados pelo país.
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
Além do Sistema Nacional de
Informações e Indicadores Culturais
(SNIIC) e o Plano de Economia
Criativa. E ainda, a aprovação e a
regulamentação do Vale-
Cultura,
ben
efício ligado ao Programa
de Cultura
do Trabalhador, cujo
objetivo era garantir acesso e incentivo
aos programas
culturais
através do auxílio de R$50,00,
oferecido pelas empresas que faziam
parte do Programa e era fornecido aos
funcionários de
carteira assinada.
Essa mudança estruturante de uma
política pública, iniciada em 2003, que
conferiu musculatura institucional para
a pasta da Cultura, foi desmontada a
partir de 2016 e definitivamente extinta
em 2019.
A gestão do Ministério da Cultura
i
niciada em 2003 resultou na
implementação do Sistema
Nacional de Cultura, baseado no
Sistema Único de Saúde (SUS),
que é uma referência nacional e
mundial, que estabeleceu o pacto
federativo, entre estados, união e
municípios. Para formular uma
política co
m a sociedade civil, a
partir de um amplo processo de
diálogo e debates em fóruns, pré
conferências, conferências
municipais regionais, estaduais,
nacionais que resultaram na
elaboração de planos e na
criação de conselhos
representativos. Além de outras
po
líticas culturais, como o
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Além do Sistema Nacional de
Informações e Indicadores Culturais
(SNIIC) e o Plano de Economia
Criativa. E ainda, a aprovação e a
Cultura,
um
efício ligado ao Programa
do Trabalhador, cujo
objetivo era garantir acesso e incentivo
culturais
brasileiros
através do auxílio de R$50,00,
oferecido pelas empresas que faziam
parte do Programa e era fornecido aos
carteira assinada.
Essa mudança estruturante de uma
política pública, iniciada em 2003, que
conferiu musculatura institucional para
a pasta da Cultura, foi desmontada a
partir de 2016 e definitivamente extinta
A gestão do Ministério da Cultura
niciada em 2003 resultou na
implementação do Sistema
Nacional de Cultura, baseado no
Sistema Único de Saúde (SUS),
que é uma referência nacional e
mundial, que estabeleceu o pacto
federativo, entre estados, união e
municípios. Para formular uma
m a sociedade civil, a
partir de um amplo processo de
diálogo e debates em fóruns, pré
-
conferências, conferências
municipais regionais, estaduais,
nacionais que resultaram na
elaboração de planos e na
criação de conselhos
representativos. Além de outras
líticas culturais, como o
Programa Cultura Viva com
Pontos de Cultura, Colegiados
Setoriais, Fundos Culturais, que
nesse momento percebemos que
estão se esfacelando e com
profundos cortes e suspensão
dos editais e contingenciamento
no orçamento da pasta
(RODRIGUES
;
239).
Gabriel Bezerra observa que os
problemas locais de perdas, estado de
calamidade e precarização do trabalho
no setor cultural não estão dissociados
do sistema capitalista, que se alimenta
da exploração, opressão, d
das políticas públicas e da cultura
brasileira que estão sendo feitas na
política ultraliberal do presidente Jair
Bolsonaro. Em contraponto, ele
menciona que a Lei de Emergência
Cultural Aldir Blanc acabou
aproximando os artistas que passaram
a s
e unir pelas redes.
Nossos problemas são locais
mais concretamente falando,
porém, oriundos de uma escala
global aonde se insere a crise do
capitalismo, o ultraliberalismo e a
ascensão da extrema direita no
mundo e a crescente
concentração de renda no
mundo. A destruição de toda e
qualquer ação que afirme a
cultura brasileira, qualquer coisa
que seja cultura, nossa
identidade. O preconceito, a
imbecilidade, a destruição de
políticas culturais e verbas (vide
PEC dos infernos)! Além da
204
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Programa Cultura Viva com
Pontos de Cultura, Colegiados
Setoriais, Fundos Culturais, que
nesse momento percebemos que
estão se esfacelando e com
profundos cortes e suspensão
dos editais e contingenciamento
no orçamento da pasta
;
PARDO, 2020, p.
Gabriel Bezerra observa que os
problemas locais de perdas, estado de
calamidade e precarização do trabalho
no setor cultural não estão dissociados
do sistema capitalista, que se alimenta
da exploração, opressão, d
estruição
das políticas públicas e da cultura
brasileira que estão sendo feitas na
política ultraliberal do presidente Jair
Bolsonaro. Em contraponto, ele
menciona que a Lei de Emergência
Cultural Aldir Blanc acabou
aproximando os artistas que passaram
e unir pelas redes.
Nossos problemas são locais
mais concretamente falando,
porém, oriundos de uma escala
global aonde se insere a crise do
capitalismo, o ultraliberalismo e a
ascensão da extrema direita no
mundo e a crescente
concentração de renda no
mundo. A destruição de toda e
qualquer ação que afirme a
cultura brasileira, qualquer coisa
que seja cultura, nossa
identidade. O preconceito, a
imbecilidade, a destruição de
políticas culturais e verbas (vide
PEC dos infernos)! Além da
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
permanência do geno
Bolsonaro e a política ultraliberal
apoiada pela elite mais perversa
que existe em todo o planeta. A
pandemia atrapalhou bastante,
mas nos uniu pelas redes, uniu
artistas de todas as tribos e
conseguimos gerar o maior
legado desta época que foi a
(MELO JUNIOR
, 2021).
Gabriel menciona a destruição
das políticas culturais e demais
perdas, com o que chamou de “PEC
dos Infernos”, apresentada por Michel
Temer. Trata-
se Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) 55, conhecida
como a PEC do Teto dos Gastos, e
também como a PEC
do Fim do
Mundo”,
que congela os investimentos
públicos durante 20 anos,
inviabilizando também o Plano
Nacional de Educação (PNE), criado
em 2014 pelo governo da presidenta
Dilma Rousseff, que previa aumentar o
valor dos investimentos na educaçã
pública gradativamente em um período
de dez anos. O filósofo e pedagogo
Demeval Saviani, ao criticar as
medidas e o governo de Temer, com
essa PEC do Teto dos Gastos, que,
segundo ele, inviabilizou a educação
pública no país, afirma: “O que
provocou o go
lpe foram os interesses
econômicos do sistema financeiro, daí
o foco na dívida e nas contas públicas,
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
permanência do geno
cida Jair
Bolsonaro e a política ultraliberal
apoiada pela elite mais perversa
que existe em todo o planeta. A
pandemia atrapalhou bastante,
mas nos uniu pelas redes, uniu
artistas de todas as tribos e
conseguimos gerar o maior
legado desta época que foi a
LAB
, 2021).
Gabriel menciona a destruição
das políticas culturais e demais
perdas, com o que chamou de “PEC
dos Infernos”, apresentada por Michel
se Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) 55, conhecida
como a PEC do Teto dos Gastos, e
do Fim do
que congela os investimentos
públicos durante 20 anos,
inviabilizando também o Plano
Nacional de Educação (PNE), criado
em 2014 pelo governo da presidenta
Dilma Rousseff, que previa aumentar o
valor dos investimentos na educaçã
o
pública gradativamente em um período
de dez anos. O filósofo e pedagogo
Demeval Saviani, ao criticar as
medidas e o governo de Temer, com
essa PEC do Teto dos Gastos, que,
segundo ele, inviabilizou a educação
pública no país, afirma: “O que
lpe foram os interesses
econômicos do sistema financeiro, daí
o foco na dívida e nas contas públicas,
para fazer caixa, para fazer o superávit
primário, para o pagamento dos
bancos”
3
.
Esse acelerado desmonte,
continuado na política neoliberal d
Jair Bolsonaro, resulta em cortes no
orçamento, suspensão de editais e nas
privatizações das empresas estatais,
dentre outras ações que estão
impactando o setor cultural. Na
contramão, Gabriel considera que a
pandemia aproximou a classe artística
cultura
l em torno da Lei de
Emergência Cultural Aldir Blanc, Lei
14.017, de 29 de junho de 2020.
Apresentada pela Comissão de
Cultura da Câmara dos Deputados, e
aprovada em resposta aos severos
impactos sociais e econômicos
decorrentes da pandemia da Covid
naquele que tornou-
se um dos setores
mais afetados pelas restrições de
circulação impostas à população: o
setor cultural. Com o fechamento, do
dia para noite, de casas de
espetáculos, museus, centros
culturais, entre outros, além do
cancelamento de aprese
3
Em
Mauro Ramos. Brasil de Fato,
São Paulo (SP),
08 de Dezembro de 2017.
Disponível em:
https://www.brasildefato.com.br/2017/12/08/pe
c-do-teto-dos-gastos-
inviabilizou
pubica-no-brasil-diz-
dermeval
205
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
para fazer caixa, para fazer o superávit
primário, para o pagamento dos
Esse acelerado desmonte,
continuado na política neoliberal d
e
Jair Bolsonaro, resulta em cortes no
orçamento, suspensão de editais e nas
privatizações das empresas estatais,
dentre outras ações que estão
impactando o setor cultural. Na
contramão, Gabriel considera que a
pandemia aproximou a classe artística
-
l em torno da Lei de
Emergência Cultural Aldir Blanc, Lei
14.017, de 29 de junho de 2020.
Apresentada pela Comissão de
Cultura da Câmara dos Deputados, e
aprovada em resposta aos severos
impactos sociais e econômicos
decorrentes da pandemia da Covid
-19,
se um dos setores
mais afetados pelas restrições de
circulação impostas à população: o
setor cultural. Com o fechamento, do
dia para noite, de casas de
espetáculos, museus, centros
culturais, entre outros, além do
cancelamento de aprese
ntações
Mauro Ramos. Brasil de Fato,
Política,
08 de Dezembro de 2017.
https://www.brasildefato.com.br/2017/12/08/pe
inviabilizou
-a-educacao-
dermeval
-saviani).
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
artísticas, feiras e exposições,
inúmeras trabalhadoras e
trabalhadores da cultura viram
subtraídos da renda responsável pela
sua subsistência.
A Lei de Emergência Cultural
Aldir Blanc (Lei
14.017/2020)
batizada em homenagem ao esc
compositor que veio a falecer em maio
de 2020, em função do coronavírus,
que resultou numa ampla mobilização
e campanha nacional do setor cultural
brasileiro, destinou R$ 3 bilhões ao
setor cultural, na forma de renda
emergencial, subsídio para
m
anutenção de espaços culturais e
editais e chamadas públicas. Para
esse ator, criador de títeres e
marionetes, a quebra da espinha
dorsal do país exige resistência,
engajamento e reinvenção.
A resistência através de maior
engajamento de artistas, gestore
e políticos na luta pelo
restabelecimento de todo o
conjunto de experiências
positivas de sentir no passado,
com a experiência que estamos
vivenciando no momento e o
fortalecimento do campo
progressista, como único meio de
se reconstruir o que já não exi
É desanimador. Quebraram a
espinha dorsal do nosso país e
levaremos muito tempo pra
restabelecê-
la. Não é para a
nossa geração. Mas é ela quem
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
artísticas, feiras e exposições,
inúmeras trabalhadoras e
trabalhadores da cultura viram
-se
subtraídos da renda responsável pela
A Lei de Emergência Cultural
14.017/2020)
, -
batizada em homenagem ao esc
ritor e
compositor que veio a falecer em maio
de 2020, em função do coronavírus,
-
que resultou numa ampla mobilização
e campanha nacional do setor cultural
brasileiro, destinou R$ 3 bilhões ao
setor cultural, na forma de renda
emergencial, subsídio para
anutenção de espaços culturais e
editais e chamadas públicas. Para
esse ator, criador de títeres e
marionetes, a quebra da espinha
dorsal do país exige resistência,
engajamento e reinvenção.
A resistência através de maior
engajamento de artistas, gestore
s
e políticos na luta pelo
restabelecimento de todo o
conjunto de experiências
positivas de sentir no passado,
com a experiência que estamos
vivenciando no momento e o
fortalecimento do campo
progressista, como único meio de
se reconstruir o que já não exi
ste.
É desanimador. Quebraram a
espinha dorsal do nosso país e
levaremos muito tempo pra
la. Não é para a
nossa geração. Mas é ela quem
deve continuar a resistir e se
reinventar (
MELO JUNIOR,
2021).
Nessa entrevista, a atriz Célia
Maracajá, 63 anos, nascida em Belém
do Pará e residente na cidade do Rio,
fala de suas várias ações para manter
a sobrevivência, implicando no amor à
arte e na militância política para
trabalhar com Teatro e Cinema.
Tenho trabalhado como atriz em
teatro e cinema em projetos que
são frutos de editais, recebendo
cachês, por vezes razoáveis e
outras vezes fazendo por amor à
arte e militância política. O
mesmo ocorre em relação a
trabalhos que dirijo tanto no
cinema como
às formas de sobrevivência,
realizo outras ações podendo
citar: ministro oficinas de
interpretação para cinema em
diversas instituições, como por
exemplo, a Escola de Cinema
Darcy Ribeiro. Faço também
doces e geleias de frutas
regionais.
Todos com sabor do
Pará (MARACAJÁ, 2021).
Célia Maracajá atribui como
responsável pela catástrofe sanitária e
as perdas dos direitos dos
trabalhadores, a situação de crescente
precariedade dos artistas que acirrou
nos últimos dois anos, assim c
desmonte do Ministério da Cultura e
da Ancine, quem nomeou de “inimigo
do povo brasileiro”, que tem nome e
206
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
deve continuar a resistir e se
MELO JUNIOR,
Nessa entrevista, a atriz Célia
Maracajá, 63 anos, nascida em Belém
do Pará e residente na cidade do Rio,
fala de suas várias ações para manter
a sobrevivência, implicando no amor à
arte e na militância política para
trabalhar com Teatro e Cinema.
Tenho trabalhado como atriz em
teatro e cinema em projetos que
são frutos de editais, recebendo
cachês, por vezes razoáveis e
outras vezes fazendo por amor à
arte e militância política. O
mesmo ocorre em relação a
trabalhos que dirijo tanto no
cinema como
no teatro. Quanto
às formas de sobrevivência,
realizo outras ações podendo
citar: ministro oficinas de
interpretação para cinema em
diversas instituições, como por
exemplo, a Escola de Cinema
Darcy Ribeiro. Faço também
doces e geleias de frutas
Todos com sabor do
Pará (MARACAJÁ, 2021).
Célia Maracajá atribui como
responsável pela catástrofe sanitária e
as perdas dos direitos dos
trabalhadores, a situação de crescente
precariedade dos artistas que acirrou
nos últimos dois anos, assim c
omo o
desmonte do Ministério da Cultura e
da Ancine, quem nomeou de “inimigo
do povo brasileiro”, que tem nome e
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
sobrenome. Mas que ela disse ter
aprendido com os mestres da cultura
popular a não pronunciar o nome do
inimigo.
Temos vivido situações de
pr
ecariedade em diversas
ocasiões, como a maioria dos
nossos artistas que sofrem nesse
país, principalmente nos últimos
dois anos, enfrentando um
desgoverno que mergulhou o
Brasil numa das maiores
tragédias política e humanitária
dos últimos tempos, ocasião
que ocorreu também o desmonte
do Ministério da Cultura e da
Ancine. Projetos aprovados,
infelizmente foram invalidados.
Em função da pandemia esse
quadro se agravou. Tenho vivido
do auxílio emergencial, que
também está findando. Uma
coisa é certa, o
inimigo do povo
brasileiro tem nome e
sobrenome: Jair Bolsonaro (não
gosto nem de pronunciar esse
nome, pois aprendi com os
mestres da cultura popular que
não se pronuncia o nome do
inimigo). Ele vem retirando o
direito dos trabalhadores, Ele
vem entregan
do o país. Ele é
responsável pela maior catástrofe
sanitária que estamos vivendo.
Ele deveria ser julgado por um
tribunal internacional por crimes
contra a humanidade (
2021).
A atriz diz que a sua situação de
sua precariedade e dos demais
artistas não começou agora. Porém,
estamos com um aumento significativo
de desemprego e decisões políticas
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
sobrenome. Mas que ela disse ter
aprendido com os mestres da cultura
popular a não pronunciar o nome do
Temos vivido situações de
ecariedade em diversas
ocasiões, como a maioria dos
nossos artistas que sofrem nesse
país, principalmente nos últimos
dois anos, enfrentando um
desgoverno que mergulhou o
Brasil numa das maiores
tragédias política e humanitária
dos últimos tempos, ocasião
em
que ocorreu também o desmonte
do Ministério da Cultura e da
Ancine. Projetos aprovados,
infelizmente foram invalidados.
Em função da pandemia esse
quadro se agravou. Tenho vivido
do auxílio emergencial, que
também está findando. Uma
inimigo do povo
brasileiro tem nome e
sobrenome: Jair Bolsonaro (não
gosto nem de pronunciar esse
nome, pois aprendi com os
mestres da cultura popular que
não se pronuncia o nome do
inimigo). Ele vem retirando o
direito dos trabalhadores, Ele
do o país. Ele é
responsável pela maior catástrofe
sanitária que estamos vivendo.
Ele deveria ser julgado por um
tribunal internacional por crimes
contra a humanidade (
Ibidem,
A atriz diz que a sua situação de
sua precariedade e dos demais
artistas não começou agora. Porém,
estamos com um aumento significativo
de desemprego e decisões políticas
que fragilizaram os vínculos no mundo
do trabalho, como a reforma
trabalhista, a lei da terceirização e a
reforma da previdência, com um
mercado des
regulado e a perda dos
direitos básicos e de aposentadoria.
Em contraponto à catástrofe e ao que
chamou de desmonte da Cultura,
que se desfez a pasta do Ministério da
Cultura e de suas fundações
vinculadas: Fundação Nacional de
Artes (Funarte), Fundaç
Palmares, Fundação Biblioteca
Nacional, Fundação Casa de Rui
Barbosa, como também, a Ancine, que
é uma autarquia vinculada ao MinC
desde 2003, cujos editais foram
censurados e suspensos,
Maracajá também destaca, assim
como outros entrev
istados, apenas um
período de avanço no setor cultural,
ocorrido na gestão do ministro Gilberto
Gil e do presidente Luís Inácio Lula da
Silva, em que houve uma consistente
política voltada para o Cinema.
O Brasil é dono de uma riqueza
cultural impressiona
salientar aqui apenas o avanço
que tivemos em um dos
segmentos da cultura, durante a
gestão do Ministro Gilberto Gil, no
governo Lula. O Gil que é um
artista da música, mas pensa a
cultura como o grande alimento,
207
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
que fragilizaram os vínculos no mundo
do trabalho, como a reforma
trabalhista, a lei da terceirização e a
reforma da previdência, com um
regulado e a perda dos
direitos básicos e de aposentadoria.
Em contraponto à catástrofe e ao que
chamou de desmonte da Cultura,
- em
que se desfez a pasta do Ministério da
Cultura e de suas fundações
vinculadas: Fundação Nacional de
Artes (Funarte), Fundaç
ão Cultural
Palmares, Fundação Biblioteca
Nacional, Fundação Casa de Rui
Barbosa, como também, a Ancine, que
é uma autarquia vinculada ao MinC
desde 2003, cujos editais foram
censurados e suspensos,
- lia
Maracajá também destaca, assim
istados, apenas um
período de avanço no setor cultural,
ocorrido na gestão do ministro Gilberto
Gil e do presidente Luís Inácio Lula da
Silva, em que houve uma consistente
política voltada para o Cinema.
O Brasil é dono de uma riqueza
cultural impressiona
nte. Vou
salientar aqui apenas o avanço
que tivemos em um dos
segmentos da cultura, durante a
gestão do Ministro Gilberto Gil, no
governo Lula. O Gil que é um
artista da música, mas pensa a
cultura como o grande alimento,
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
como a arte de tornar possível o
i
mpossível, juntamente com uma
equipe, onde podemos destacar o
Orlando Senna, criou uma política
voltada para o cinema que
ampliou, qualificou e
democratizou a produção
cinematográfica brasileira. De
norte a sul nesse país se
produziu maravilhas e se firmou
parcerias além fronteiras com os
nossos irmãos latino americanos
(Ibidem, 2021).
Ela também considera que a Lei
de Emergência Cultural Aldir Blanc
representou uma grande conquista
para o setor cultural e refere
palavras resistência e rein
usadas por Gabriel Bezerra
Junior)
, para reverter esse quadro de
destruição, em que a rebelião e a
guerrilha cultural são as únicas
alternativas possíveis.
Os problemas vivenciados pela
cultura no nosso país são locais,
face à uma destr
instrumentos que impulsionam a
vida, o fazer cultural. Mas existe
resistência também. Os artistas
se reinventam. A criação da lei
Aldir Blanc é uma constatação
disso. Criada pelo Congresso
Nacional, por propostas dos
artistas, revelou que ainda v
pena lutar e criar formas para
manter viva a chama que jamais
se apagará. A criatividade e a
esperança de que a barbárie não
triunfará. O único caminho
possível é o da rebelião e o da
constante guerrilha cultural
(MELO JUNIOR,
2021).
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
como a arte de tornar possível o
mpossível, juntamente com uma
equipe, onde podemos destacar o
Orlando Senna, criou uma política
voltada para o cinema que
ampliou, qualificou e
democratizou a produção
cinematográfica brasileira. De
norte a sul nesse país se
produziu maravilhas e se firmou
parcerias além fronteiras com os
nossos irmãos latino americanos
Ela também considera que a Lei
de Emergência Cultural Aldir Blanc
representou uma grande conquista
para o setor cultural e refere
-se às
palavras resistência e rein
venção,
usadas por Gabriel Bezerra
(de Melo
, para reverter esse quadro de
destruição, em que a rebelião e a
guerrilha cultural são as únicas
Os problemas vivenciados pela
cultura no nosso país são locais,
face à uma destr
uição dos
instrumentos que impulsionam a
vida, o fazer cultural. Mas existe
resistência também. Os artistas
se reinventam. A criação da lei
Aldir Blanc é uma constatação
disso. Criada pelo Congresso
Nacional, por propostas dos
artistas, revelou que ainda v
ale a
pena lutar e criar formas para
manter viva a chama que jamais
se apagará. A criatividade e a
esperança de que a barbárie não
triunfará. O único caminho
possível é o da rebelião e o da
constante guerrilha cultural
2021).
Sobre as condições de trabalho
que levantamos nessa pesquisa, a
atriz, bailarina e professora Daphne
Madeira, 48 anos, que atua no
segmento da Dança, acredita que as
mudanças ocorridas com a suspensão
das atividades e aulas presenciais
nesse perí
odo de pandemia,
impactaram ainda mais em suas
condições precárias de
sobrevivência na Cultura, causando
danos também de ordem física e
psicológica.
Eu sou atriz, bailarina e
professora. Atualmente, estou
lecionando técnicas somáticas
(Pilates, Eutonia, Laban, Dança)
online
para alunos particulares, e
também sou professora da
Escola Angel Vianna, mas neste
semestre não estarei em sala de
aula (online)
pois a turma decidiu
que voltará presencialmente.
Diante deste quadro, as
condições de sobrevivência são
bastante precárias, na verdade
não tenho carteira assinada como
professora, e como bailarina,
coreógrafa ou diretora de
movimento de teatro são raro
trabalhos remunerados, e isto se
agravou muito no peodo da
pandemia. Assim, nos coube a
tarefa (ou sempre nos caberá?)
de se reinventar a cada
momento. Não muito raro estou
em momentos que a
precariedade se agrava, ela
sempre está potencialmente
pre
sente na minha vida, já que
208
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Sobre as condições de trabalho
que levantamos nessa pesquisa, a
atriz, bailarina e professora Daphne
Madeira, 48 anos, que atua no
segmento da Dança, acredita que as
mudanças ocorridas com a suspensão
das atividades e aulas presenciais
odo de pandemia,
impactaram ainda mais em suas
condições precárias de
sobrevivência na Cultura, causando
danos também de ordem física e
Eu sou atriz, bailarina e
professora. Atualmente, estou
lecionando técnicas somáticas
(Pilates, Eutonia, Laban, Dança)
para alunos particulares, e
também sou professora da
Escola Angel Vianna, mas neste
semestre não estarei em sala de
pois a turma decidiu
que voltará presencialmente.
Diante deste quadro, as
condições de sobrevivência são
bastante precárias, na verdade
não tenho carteira assinada como
professora, e como bailarina,
coreógrafa ou diretora de
movimento de teatro são raro
s os
trabalhos remunerados, e isto se
agravou muito no peodo da
pandemia. Assim, nos coube a
tarefa (ou sempre nos caberá?)
de se reinventar a cada
momento. Não muito raro estou
em momentos que a
precariedade se agrava, ela
sempre está potencialmente
sente na minha vida, já que
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
minha forma de ganhos mensais
depende de não parar e contar
com o pagamento de pessoas
físicas, ou seja, um aluno que sai
da minha aula é um ganho a
menos. Deste modo, a cada mês,
meus rendimentos variam, o que
me causa bastante
psicofísica (MADEIRA, 2021).
Para Daphne, a principal
fragilidade no mercado de trabalho
artístico é o fato de ser regulado de
acordo com os interesses e modismos
do mercado empresarial. Ela revela
que não tem carteira assinada, o
trabalhos remunerados são bastante
escassos e a Dança tem muito pouco
investimento. Além disso, acredita que
essa situação se agravou ainda mais
com a pandemia, mas principalmente
pela desvalorização da Cultura e da
Educação, em que a “arte se encontra
a
gonizando no governo de Jair
Bolsonaro”.
O mercado é sempre ditado por
grandes negociações, seja no
âmbito político, seja no âmbito
financeiro, ou artístico. Assim, a
arte acaba por se encontrar
tensionada entre produto e
processo. E o que vale é ditado
pelo mercado do Grand Mond,
cada vez mais alguns processos
artísticos caem de moda, e outros
sobem de cotação. A dança tem
atualmente pouquíssimo
investimento perante as outras
artes como o teatro e a música. E
mesmo estas são tensionadas
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
minha forma de ganhos mensais
depende de não parar e contar
com o pagamento de pessoas
físicas, ou seja, um aluno que sai
da minha aula é um ganho a
menos. Deste modo, a cada mês,
meus rendimentos variam, o que
instabilidade
psicofísica (MADEIRA, 2021).
Para Daphne, a principal
fragilidade no mercado de trabalho
artístico é o fato de ser regulado de
acordo com os interesses e modismos
do mercado empresarial. Ela revela
que não tem carteira assinada, o
s
trabalhos remunerados são bastante
escassos e a Dança tem muito pouco
investimento. Além disso, acredita que
essa situação se agravou ainda mais
com a pandemia, mas principalmente
pela desvalorização da Cultura e da
Educação, em que a “arte se encontra
gonizando no governo de Jair
O mercado é sempre ditado por
grandes negociações, seja no
âmbito político, seja no âmbito
financeiro, ou artístico. Assim, a
arte acaba por se encontrar
tensionada entre produto e
processo. E o que vale é ditado
pelo mercado do Grand Mond,
cada vez mais alguns processos
artísticos caem de moda, e outros
sobem de cotação. A dança tem
atualmente pouquíssimo
investimento perante as outras
artes como o teatro e a música. E
mesmo estas são tensionadas
por modas, como p
música sertaneja e o teatro de
grandes musicais. O artista gira
entre esse mercado de grandes
produtores, altas verbas e
investimentos, mas seus cachês
ainda são bem abaixo da linha de
estabilidade financeira. Acredito
que a crise na cultura
fenômeno mundial, onde outras
áreas de atuação sempre foram
mais valorizadas. No caso do
Brasil, país do terceiro mundo,
que vive entre a urgência de
sobreviver em todas as direções,
a arte se encontra agonizando, e
este panorama se agravou com o
gove
rno de Bolsonaro que não
valoriza a educação e a cultura
(Ibidem
, 2021).
Daphne Madeira, assim como os
demais entrevistados, problematiza
acerca desse mercado concentrador
de recursos em grandes produtores,
embora com baixos cachês. E procura
dest
acar as principais perdas, avanços
e desafios para os trabalhadores e as
trabalhadoras da Cultura nesse
momento. “As perdas são constantes
ainda mais neste momento
pandêmico, o avanço foi garantir a
implementação da Lei Emergencial
Aldir Blanc, e o maior d
garantir através de políticas públicas
novos modos de gerar trabalho e
garantias de renda para os artistas e
trabalhadores da cultura”, afirma. Ao
perguntar sobre que caminhos
209
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
por modas, como p
or exemplo, a
música sertaneja e o teatro de
grandes musicais. O artista gira
entre esse mercado de grandes
produtores, altas verbas e
investimentos, mas seus cachês
ainda são bem abaixo da linha de
estabilidade financeira. Acredito
que a crise na cultura
é um
fenômeno mundial, onde outras
áreas de atuação sempre foram
mais valorizadas. No caso do
Brasil, país do terceiro mundo,
que vive entre a urgência de
sobreviver em todas as direções,
a arte se encontra agonizando, e
este panorama se agravou com o
rno de Bolsonaro que não
valoriza a educação e a cultura
, 2021).
Daphne Madeira, assim como os
demais entrevistados, problematiza
acerca desse mercado concentrador
de recursos em grandes produtores,
embora com baixos cachês. E procura
acar as principais perdas, avanços
e desafios para os trabalhadores e as
trabalhadoras da Cultura nesse
momento. “As perdas são constantes
ainda mais neste momento
pandêmico, o avanço foi garantir a
implementação da Lei Emergencial
Aldir Blanc, e o maior d
os desafios é
garantir através de políticas públicas
novos modos de gerar trabalho e
garantias de renda para os artistas e
trabalhadores da cultura”, afirma. Ao
perguntar sobre que caminhos
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
possíveis para melhorar as condições
de trabalho na Cultura, ela r
“Pergunta difícil, acredito que mais
união a partir das participações da
sociedade civil, novas leis que
garantam um mínimo de condição
econômica mensal para os artistas em
geral. E estar numa organização não
hegemônica suficientemente forte para
participar e criar novos caminhos em
editais, leis, etc”.
Esse estado de constante
precariedade do trabalho no campo
artístico-
cultural, se expressa também
na fala da atriz Denise Milfont, 58
anos, ao dizer que nunca ganhou
dinheiro trabalhando com o Teatro. E,
da mesma forma que Daphne Madeira
e os o
utros artistas entrevistados, ela
pontua que o entretenimento ocupa
mais espaço e apoio em relação às
artes, principalmente o trabalho de
pesquisa experimental, exigindo serem
adotadas políticas diferenciadas.
Sou atriz. Vivo de gerenciar uma
residência d
e artistas. E quando
tem trabalho, mas com o teatro
nunca ganhei dinheiro. Enfrentei
precariedade, mas tive ajuda da
família. A cultura sempre foi para
mim dividida em duas esferas. A
arte e o entretenimento. O
entretenimento sempre foi e será
mais rentáve
l e o trabalho de
pesquisa que requer um público
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
possíveis para melhorar as condições
de trabalho na Cultura, ela r
esponde:
“Pergunta difícil, acredito que mais
união a partir das participações da
sociedade civil, novas leis que
garantam um mínimo de condição
econômica mensal para os artistas em
geral. E estar numa organização não
hegemônica suficientemente forte para
participar e criar novos caminhos em
Esse estado de constante
precariedade do trabalho no campo
cultural, se expressa também
na fala da atriz Denise Milfont, 58
anos, ao dizer que nunca ganhou
dinheiro trabalhando com o Teatro. E,
da mesma forma que Daphne Madeira
utros artistas entrevistados, ela
pontua que o entretenimento ocupa
mais espaço e apoio em relação às
artes, principalmente o trabalho de
pesquisa experimental, exigindo serem
adotadas políticas diferenciadas.
Sou atriz. Vivo de gerenciar uma
e artistas. E quando
tem trabalho, mas com o teatro
nunca ganhei dinheiro. Enfrentei
precariedade, mas tive ajuda da
família. A cultura sempre foi para
mim dividida em duas esferas. A
arte e o entretenimento. O
entretenimento sempre foi e será
l e o trabalho de
pesquisa que requer um público
que aceite o experimental. E que
o público vem a ser menor. Isso
requer políticas diferentes. Sem o
experimental não evoluímos
como linguagem (MILFOND,
2021).
Denise toca num dos gargalos
que ident
ificamos no setor cultural, que
costuma concentrar os recursos nas
ações e editais, mais voltados para os
resultados, nesse caso, para a
produção e também a circulação, em
detrimento dos seus processos de
construção, deixando, portanto, de
considerar a for
mação, a pesquisa e o
trabalho experimental, que implicariam
em políticas diferenciadas.
apoiar pesquisas, cursos, ciclos e
seminários, oficinas de formação, cujo
pensamento crítico criador vem
sendo profundamente censurado,
perseguido e penaliza
gestão do presidente Jair Bolsonaro,
com a suspensão de atividades e de
recursos que estão por muito tempo
paralisados. A
cadeia produtiva da
cultura, por conta de desenvolver
partir das dimensões simbólica, cidadã
e econômica, signif
ica passar pelos
processos de criação,
produção, circulação,
distribuição, intercâmbio, difusão,
acesso e fruição de bens, obras,
210
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
que aceite o experimental. E que
o público vem a ser menor. Isso
requer políticas diferentes. Sem o
experimental não evoluímos
como linguagem (MILFOND,
Denise toca num dos gargalos
ificamos no setor cultural, que
costuma concentrar os recursos nas
ações e editais, mais voltados para os
resultados, nesse caso, para a
produção e também a circulação, em
detrimento dos seus processos de
construção, deixando, portanto, de
mação, a pesquisa e o
trabalho experimental, que implicariam
em políticas diferenciadas.
E para
apoiar pesquisas, cursos, ciclos e
seminários, oficinas de formação, cujo
pensamento crítico criador vem
sendo profundamente censurado,
perseguido e penaliza
do pela atual
gestão do presidente Jair Bolsonaro,
com a suspensão de atividades e de
recursos que estão por muito tempo
cadeia produtiva da
cultura, por conta de desenvolver
-se a
partir das dimensões simbólica, cidadã
ica passar pelos
processos de criação,
formação,
distribuição, intercâmbio, difusão,
acesso e fruição de bens, obras,
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
espetáculos, filmes, livros,
atividades
culturais e expressões
artísticas e culturais de uma ampla
diversidade de segmentos.
Assim como os demais
entrevistados, Denise Milfond também
faz uma crítica ao governo atual que
desconsidera a Arte e a Ciência,
tornando ainda mais dramática as
condições de trabalho para os artistas.
Dentre as perdas, ela problematiza os
impactos das tecnologias apontando a
necessidade de se repensar o formato
de apresentações presenciais.
Quanto ao mundo global acho
que cada país tem sua própria
política. Não trabalho para
todos artistas em lugar nenhum
do planeta. São muito poucas
o
portunidades para dividir em
tantos profissionais. No Brasil
particularmente o momento é
desanimador, pois enfrentamos
um governo negacionista,
anticiência e antiarte. As perdas
estão ocorrendo algum
tempo na minha opinião. São as
referências de qual
idades serem
baseadas pelo número de
seguidores numa mídia social.
Penso que isso gerou uma
equidade nociva que é
irresponsável no setor cultural.
Hoje em dia qualquer um vira
artista e arte demanda talento e
vocação. Arte virou algo sem
conteúdo Na sua ma
avanços que conseguimos
alcançar foi maior número de
público, mas sujeitos a um total
descaso e o desafio será
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
espetáculos, filmes, livros,
culturais e expressões
artísticas e culturais de uma ampla
Assim como os demais
entrevistados, Denise Milfond também
faz uma crítica ao governo atual que
desconsidera a Arte e a Ciência,
tornando ainda mais dramática as
condições de trabalho para os artistas.
Dentre as perdas, ela problematiza os
impactos das tecnologias apontando a
necessidade de se repensar o formato
de apresentações presenciais.
Quanto ao mundo global acho
que cada país tem sua própria
política. Não trabalho para
todos artistas em lugar nenhum
do planeta. São muito poucas
portunidades para dividir em
tantos profissionais. No Brasil
particularmente o momento é
desanimador, pois enfrentamos
um governo negacionista,
anticiência e antiarte. As perdas
estão ocorrendo algum
tempo na minha opinião. São as
idades serem
baseadas pelo número de
seguidores numa mídia social.
Penso que isso gerou uma
equidade nociva que é
irresponsável no setor cultural.
Hoje em dia qualquer um vira
artista e arte demanda talento e
vocação. Arte virou algo sem
conteúdo Na sua ma
ioria, os
avanços que conseguimos
alcançar foi maior número de
público, mas sujeitos a um total
descaso e o desafio será
permanecer ativo nesta
pandemia. Neste momento
requer entender de uma forma
coletiva que o presencial deve ser
reformulado (
Ibidem
Para além de um governo
negacionista, que vem promovendo
uma guerra cultural e o esvaziamento
principalmente das políticas públicas
alavancadas nos últimos quinze anos,
sem dúvida, uma das mudanças
significativas que estamos
atravessando na
sinalizadas por Denise Milfond,
referem-
se às etapas de comunicação
e fruição na cadeia produtiva da
cultura. Diante da obrigatória
necessidade de evitar as
aglomerações e o contato presencial,
a fim de evitar o contágio de covid no
período de
pandemia, a única maneira
de apresentar, transmitir e
compartilhar as criações artísticas
passou a ser o formato virtual, pelas
plataformas online
, nas redes sociais.
Essa situação acirrou ainda mais os
impactos das tecnologias digitais sobre
as artes pre
senciais, em tempos
marcados por uma cultura digital que
vem mudando de forma significativa os
comportamentos na sociedade, a partir
de relações interpessoais cada vez
mais mediadas pelo computador, a
211
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
permanecer ativo nesta
pandemia. Neste momento
requer entender de uma forma
coletiva que o presencial deve ser
Ibidem
, 2021).
Para além de um governo
negacionista, que vem promovendo
uma guerra cultural e o esvaziamento
principalmente das políticas públicas
alavancadas nos últimos quinze anos,
sem dúvida, uma das mudanças
significativas que estamos
atravessando na
atualidade,
sinalizadas por Denise Milfond,
se às etapas de comunicação
e fruição na cadeia produtiva da
cultura. Diante da obrigatória
necessidade de evitar as
aglomerações e o contato presencial,
a fim de evitar o contágio de covid no
pandemia, a única maneira
de apresentar, transmitir e
compartilhar as criações artísticas
passou a ser o formato virtual, pelas
, nas redes sociais.
Essa situação acirrou ainda mais os
impactos das tecnologias digitais sobre
senciais, em tempos
marcados por uma cultura digital que
vem mudando de forma significativa os
comportamentos na sociedade, a partir
de relações interpessoais cada vez
mais mediadas pelo computador, a
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
rede de internet e outros aparelhos
digitais. Uma mudan
ça que implica
repensar, por exemplo, o Teatro como
linguagem, que é uma arte cênica e
prescinde da situação de co
e como experimenta o tempo da
comunicação virtual mediada pelas
tecnologias e o computador. Para se
pensar sobre o que virou Tea
o público com quem irá dialogar, que
formas de comunicação a serem
estabelecidas e como isso se reflete
na cena contemporânea, no Teatro
como Trabalho.
o entrevistado
Livingstone Whibbe, 68 anos, depois
de exercer a função de
Companhia Experimental do Sesc
TESC, em Manaus, e trabalhar por
cerca de 30 anos no Rio, na Fundação
Nacional de Artes
Funarte do
Ministério da Cultura, onde foi inclusive
coordenador de Teatro, nos últimos
anos ele passou a atuar no segmento
de Elaboração e Produção de
Projetos, com a prestação de serviços,
através da microempresa, Stanley
Projetos Empresariais Ltda. Porém,
afirma que “a empresa encontra
com muita dificuldade para se manter
ativa. Modos de enfrentamento:
empréstimos bancári
os para pagar as
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
rede de internet e outros aparelhos
ça que implica
repensar, por exemplo, o Teatro como
linguagem, que é uma arte cênica e
prescinde da situação de co
-presença,
e como experimenta o tempo da
comunicação virtual mediada pelas
tecnologias e o computador. Para se
pensar sobre o que virou Tea
tro, qual
o público com quem irá dialogar, que
formas de comunicação a serem
estabelecidas e como isso se reflete
na cena contemporânea, no Teatro
o entrevistado
Stanley
Livingstone Whibbe, 68 anos, depois
de exercer a função de
ator da
Companhia Experimental do Sesc
TESC, em Manaus, e trabalhar por
cerca de 30 anos no Rio, na Fundação
Funarte do
Ministério da Cultura, onde foi inclusive
coordenador de Teatro, nos últimos
anos ele passou a atuar no segmento
de Elaboração e Produção de
Projetos, com a prestação de serviços,
através da microempresa, Stanley
Projetos Empresariais Ltda. Porém,
afirma que “a empresa encontra
-se
com muita dificuldade para se manter
ativa. Modos de enfrentamento:
os para pagar as
contas e diversificação do portfólio”.
Ele considera que trata
quadro o dramático no mercado de
trabalho na Cultura que muitos
profissionais estão sendo obrigados a
deixar o setor. E também pontua que
essas grandes perdas se de
últimos dois anos, portanto, essa
situação de perdas é anterior ao
período de pandemia.
As empresas estão sendo
fechadas, os profissionais estão
se empregando em empresas de
publicidade. Conheço
profissionais que foram
preparados ao longo de muitos
anos para atuar com
profissionalismo no setor, mas no
momento estão vendendo
instalação de ener
Outros viraram vendedores da
“Natura”. Regredimos 10 anos em
dois (WHIBBE, 2021).
Assim como os demais
entrevistados, Stanley atribui a
responsabilidade pela dramática
precariedade vivida pelos profissionais
da Cultura, à gestão de
Bolsonaro que assumiu o governo
nesses últimos dois anos. Com a
extinção definitiva da pasta da Cultura,
em 2019, no governo Bolsonaro, o
Ministério da Cultura transformou
numa Secretaria Especial da Cultura,
212
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
contas e diversificação do portfólio”.
Ele considera que trata
-se de um
quadro o dramático no mercado de
trabalho na Cultura que muitos
profissionais estão sendo obrigados a
deixar o setor. E também pontua que
essas grandes perdas se de
ram nos
últimos dois anos, portanto, essa
situação de perdas é anterior ao
período de pandemia.
As empresas estão sendo
fechadas, os profissionais estão
se empregando em empresas de
publicidade. Conheço
profissionais que foram
preparados ao longo de muitos
anos para atuar com
profissionalismo no setor, mas no
momento estão vendendo
instalação de ener
gia solar.
Outros viraram vendedores da
“Natura”. Regredimos 10 anos em
dois (WHIBBE, 2021).
Assim como os demais
entrevistados, Stanley atribui a
responsabilidade pela dramática
precariedade vivida pelos profissionais
da Cultura, à gestão de
Jair
Bolsonaro que assumiu o governo
nesses últimos dois anos. Com a
extinção definitiva da pasta da Cultura,
em 2019, no governo Bolsonaro, o
Ministério da Cultura transformou
-se
numa Secretaria Especial da Cultura,
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
atualmente subordinada ao Ministério
do
Turismo. Além de perder a
musculatura institucional para manter
o órgão gestor e a sua capacidade
para formular, executar e dar
continuidade às políticas pactuadas
com a sociedade e com os entes
federados municipais e estaduais,
instalou-
se uma guerra cul
implantada nesse governo
ideologia vem sendo defendida pelas
pessoas nomeadas ao assumirem a
gestão, a exemplo dos
posicionamentos adotados por Regina
Duarte, Roberto Alvim e o atual
Secretário Mário Frias.
Essa guerra cultural que estamos
en
frentando, orquestrada nas
tomadas de decisão, nomeações,
cortes, extinção da pasta da
Cultura, por parte do governo,
que nomeia de combate ao
marxismo cultural, desconsidera,
omite, as reais contradições de
um capitalismo que leva ao
esfacelamento do Esta
políticas públicas, dos direitos
básicos garantidos na
Constituição em nome do livre
mercado. De que direitos
humanos se fala, de que
democracia, se estão atingindo
direitos sicos que estão na
constituição? Com uma guerra de
classes, como apontav
desmonte nos campos federal,
estadual, municipal, o
acirramento das desigualdades, a
crescente recessão, a
precarização do mercado de
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
atualmente subordinada ao Ministério
Turismo. Além de perder a
musculatura institucional para manter
o órgão gestor e a sua capacidade
para formular, executar e dar
continuidade às políticas pactuadas
com a sociedade e com os entes
federados municipais e estaduais,
se uma guerra cul
tural
implantada nesse governo
, cuja
ideologia vem sendo defendida pelas
pessoas nomeadas ao assumirem a
gestão, a exemplo dos
posicionamentos adotados por Regina
Duarte, Roberto Alvim e o atual
Essa guerra cultural que estamos
frentando, orquestrada nas
tomadas de decisão, nomeações,
cortes, extinção da pasta da
Cultura, por parte do governo,
que nomeia de combate ao
marxismo cultural, desconsidera,
omite, as reais contradições de
um capitalismo que leva ao
esfacelamento do Esta
do, das
políticas públicas, dos direitos
básicos garantidos na
Constituição em nome do livre
mercado. De que direitos
humanos se fala, de que
democracia, se estão atingindo
direitos sicos que estão na
constituição? Com uma guerra de
classes, como apontav
a Marx, o
desmonte nos campos federal,
estadual, municipal, o
acirramento das desigualdades, a
crescente recessão, a
precarização do mercado de
trabalho, com a chamada
uberização. E o crescimento da
pobreza das populações nas
favelas, sem
pessoas em situação de rua,
indígenas, quilombolas,
trabalhadores do campo,
terceirizados, entregadores de
aplicativo, artistas de rua, slams,
artesanato. Sobretudo, na área
da Cultura, cujos profissionais
atuam, em sua maioria, de
maneira informal, autôno
(RODRIGUES
;
242).
Ao pontuar as principais perdas
para os trabalhadores e trabalhadores
da Cultura, Stanley avalia que se trata
de um desmonte do setor, assim como
haviam também considerado outros
entrevistados como a Célia Maracajá.
E destaca, de forma bem resumida, o
que considera fundamental para
melhorar as condições de trabalho.
um desmonte das estruturas
do setor cultural, inclusive no
setor audiovisual. 1) Interdição da
Lei Federal de Incentivo à Cultura
(Lei nº 8.313/91
Paralisação do setor
pandemia. A cultura voltar a
ocupar um lugar de centralidade
como vetor de desenvolvimento
social e econômico (Ibidem,
2021).
Algumas pesquisas e estudos sobre
o setor cultural e os impactos da
pandemia
213
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
trabalho, com a chamada
uberização. E o crescimento da
pobreza das populações nas
favelas, sem
-teto, sem-terra,
pessoas em situação de rua,
indígenas, quilombolas,
trabalhadores do campo,
terceirizados, entregadores de
aplicativo, artistas de rua, slams,
artesanato. Sobretudo, na área
da Cultura, cujos profissionais
atuam, em sua maioria, de
maneira informal, autôno
ma
;
PARDO, 2020, p.
Ao pontuar as principais perdas
para os trabalhadores e trabalhadores
da Cultura, Stanley avalia que se trata
de um desmonte do setor, assim como
haviam também considerado outros
entrevistados como a Célia Maracajá.
E destaca, de forma bem resumida, o
que considera fundamental para
melhorar as condições de trabalho.
um desmonte das estruturas
do setor cultural, inclusive no
setor audiovisual. 1) Interdição da
Lei Federal de Incentivo à Cultura
(Lei nº 8.313/91
– Rouanet); 2)
Paralisação do setor
após a
pandemia. A cultura voltar a
ocupar um lugar de centralidade
como vetor de desenvolvimento
social e econômico (Ibidem,
Algumas pesquisas e estudos sobre
o setor cultural e os impactos da
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
Para aprofundarmos ainda mais
essa análise, feita com base nas
questões trazidas pelos/as
trabalhadores/as da Cultura, que se
expressaram nessas entrevistas,
apresentamos algumas pesquisas e
estudos realizados sobre a crescente
precarização do setor cultu
também, os impactos gerados com a
chegada da pandemia.
Para isso, acrescentamos a
avaliação feita por Gustavo Portella
Machado, que problematiza que as
condições laborais da produção
cultural têm positivado uma
racionalidade neoliberal, nor
a precarização do trabalho ao mesmo
tempo em que responsabiliza os
trabalhadores pelo sucesso individual
e da economia geral. Ele considera
que nesse modelo, o trabalhador da
cultura passa a ser empresário e não
funcionário, cuja função acaba sen
ser desvirtuada pelas empresas que o
exploram.
Precisa demonstrar
criatividade, administrar conflitos,
flexibilidade, paciência, trabalhar em
equipe. Sem férias, 13º salário, direitos
trabalhistas e previdenciários. “Ao
atuar sem contrato, com horários
flexíveis, com forte pressão, com
dificuldade de se pensar em longo
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Para aprofundarmos ainda mais
essa análise, feita com base nas
questões trazidas pelos/as
trabalhadores/as da Cultura, que se
expressaram nessas entrevistas,
apresentamos algumas pesquisas e
estudos realizados sobre a crescente
precarização do setor cultu
ral, como
também, os impactos gerados com a
Para isso, acrescentamos a
avaliação feita por Gustavo Portella
Machado, que problematiza que as
condições laborais da produção
cultural têm positivado uma
racionalidade neoliberal, nor
matizando
a precarização do trabalho ao mesmo
tempo em que responsabiliza os
trabalhadores pelo sucesso individual
e da economia geral. Ele considera
que nesse modelo, o trabalhador da
cultura passa a ser empresário e não
funcionário, cuja função acaba sen
do
ser desvirtuada pelas empresas que o
Precisa demonstrar
criatividade, administrar conflitos,
flexibilidade, paciência, trabalhar em
equipe. Sem férias, 13º salário, direitos
trabalhistas e previdenciários. “Ao
atuar sem contrato, com horários
flexíveis, com forte pressão, com
dificuldade de se pensar em longo
prazo (temporalmente e
materialmente) e com alta
dependência das redes sociais passa
a apresentar um valor positivo, uma
normalidade no campo laboral e da
vida contemporânea” (MACHADO,
201
9, p. 66). No entanto, essa
dinâmica neoliberal carrega dimensões
subjetivas, -
como trabalhar sob
pressão, atenção difusa, pró
etc, -
que são incorporadas como pré
condições normativas e
normalizadoras. Essas competências
indicam que o trabalho
artísticos e culturais carrega noções
positivadas do empresariamento de si
e da precarização do trabalho.
Em sua pesquisa, Machado
considera que a formação de
produtores culturais no mercado
compreende a adequação de suas
subjetividades às
realidades mercantis
que implicam a responsabilidade de si
diante do sucesso seu e da economia
geral. Mas também carrega os
impactos de um possível fracasso,
conforme ele cita o que Wendy Brown
(2018) identifica nesse indivíduo
responsabilizado, que isenta
a lei e a economia das condições
precárias e das suas dificuldades. Por
meio desse binômio
214
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
prazo (temporalmente e
materialmente) e com alta
dependência das redes sociais passa
a apresentar um valor positivo, uma
normalidade no campo laboral e da
vida contemporânea” (MACHADO,
9, p. 66). No entanto, essa
dinâmica neoliberal carrega dimensões
como trabalhar sob
pressão, atenção difusa, pró
-atividade,
que são incorporadas como pré
-
condições normativas e
normalizadoras. Essas competências
indicam que o trabalho
de produtores
artísticos e culturais carrega noções
positivadas do empresariamento de si
e da precarização do trabalho.
Em sua pesquisa, Machado
considera que a formação de
produtores culturais no mercado
compreende a adequação de suas
realidades mercantis
que implicam a responsabilidade de si
diante do sucesso seu e da economia
geral. Mas também carrega os
impactos de um possível fracasso,
conforme ele cita o que Wendy Brown
(2018) identifica nesse indivíduo
responsabilizado, que isenta
o Estado,
a lei e a economia das condições
precárias e das suas dificuldades. Por
meio desse binômio
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
atuação/culpabilização, indivíduos são
duplamente responsabilizados:
espera-
se que cuidem de si mesmos
(e são culpabilizados por seu próprio
fracasso em p
rosperar) e do bem
econômico (e são culpabilizados pelo
fracasso da economia em prosperar).
Segundo ele, no mundo do trabalho
cultural, a adoção do modelo por conta
própria, que compreende o MEI, é a
principal forma de ocupação, mesmo
sem oferecer
quaisquer benefícios e
garantias formais de trabalho, esses
trabalhadores são tratados como
empresários.
De acordo com Lívia de
Tommasi, os empreendedores seriam
movidos por uma mistura entre senso
de oportunidade e necessidade de
sobrevivência
. O peso distinto de cada
um desses fatores depende,
provavelmente, de onde os indivíduos
estão colocados na escala social.
Os indivíduos contemporâneos
são incitados a viver como se
fossem projetos, a se tornar, cada
um, empresário de si mesmo. No
âmbito da racionalidade
neoliberal, a autonomia do self é,
ao mesmo tempo, objetivo e
instrumento das estratégias de
governo. A sup
osta autonomia
dos trabalhadores “por conta
própria” faz com que, além de
assumir os riscos, eles tenham
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
atuação/culpabilização, indivíduos são
duplamente responsabilizados:
se que cuidem de si mesmos
(e são culpabilizados por seu próprio
rosperar) e do bem
-estar
econômico (e são culpabilizados pelo
fracasso da economia em prosperar).
Segundo ele, no mundo do trabalho
cultural, a adoção do modelo por conta
própria, que compreende o MEI, é a
principal forma de ocupação, mesmo
quaisquer benefícios e
garantias formais de trabalho, esses
trabalhadores são tratados como
De acordo com Lívia de
Tommasi, os empreendedores seriam
movidos por uma mistura entre senso
de oportunidade e necessidade de
. O peso distinto de cada
um desses fatores depende,
provavelmente, de onde os indivíduos
estão colocados na escala social.
Os indivíduos contemporâneos
são incitados a viver como se
fossem projetos, a se tornar, cada
um, empresário de si mesmo. No
âmbito da racionalidade
neoliberal, a autonomia do self é,
ao mesmo tempo, objetivo e
instrumento das estratégias de
osta autonomia
dos trabalhadores “por conta
própria” faz com que, além de
assumir os riscos, eles tenham
que assumir o ônus do fracasso
em termos de responsabilização
individual: se o negócio não deu
certo, é porque ele não foi um
“bom empreendedor”, não t
as qualidades e a ousadia
necessárias. O peso subjetivo do
fracasso é significativo, em
particular para os jovens.
ideia central é que cada indivíduo
tem a responsabilidade de se
aproveitar das oportunidades que
aparecem no caminho. Aos
agente
s externos,
especificamente ao Estado, cabe
simplesmente oferecer (de forma
difusa) essas oportunidades.
Assim, o direito ao trabalho é
transformado em geração de
oportunidade. Portanto, hoje não
se trata de facilitar o acesso dos
jovens ao primeiro empreg
sim de oferecer oportunidades. O
termo oportunidade é sinônimo
de ocasião, possibilidade.
Acredito que as atuais
transformações no mundo do
trabalho devem ser
compreendidas sem cair na
tentação de ficar presos a
representações binárias. É
precis
o escapar tanto dos
entusiasmos simplistas sobre a
presumida potência
transformadora quanto do
cinismo resignado que
cooptação, captura e
neoliberalismo, o capital e o
mercado (TOMMASI, 2016, p
60).
Na avaliação do antropólog
cientista social Néstor GarcÍ
a modernidade nos acostumou às
novidades, primeiro com as
vanguardas que se imaginava, como a
superação da arte anterior e se
215
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
que assumir o ônus do fracasso
em termos de responsabilização
individual: se o negócio não deu
certo, é porque ele não foi um
“bom empreendedor”, não t
inha
as qualidades e a ousadia
necessárias. O peso subjetivo do
fracasso é significativo, em
particular para os jovens.
[...] A
ideia central é que cada indivíduo
tem a responsabilidade de se
aproveitar das oportunidades que
aparecem no caminho. Aos
s externos,
especificamente ao Estado, cabe
simplesmente oferecer (de forma
difusa) essas oportunidades.
Assim, o direito ao trabalho é
transformado em geração de
oportunidade. Portanto, hoje não
se trata de facilitar o acesso dos
jovens ao primeiro empreg
o, e
sim de oferecer oportunidades. O
termo oportunidade é sinônimo
de ocasião, possibilidade.
[...]
Acredito que as atuais
transformações no mundo do
trabalho devem ser
compreendidas sem cair na
tentação de ficar presos a
representações binárias. É
o escapar tanto dos
entusiasmos simplistas sobre a
presumida potência
transformadora quanto do
cinismo resignado que
cooptação, captura e
derrota pelo
neoliberalismo, o capital e o
mercado (TOMMASI, 2016, p
. 59-
Na avaliação do antropólog
o e
cientista social Néstor GarcÍ
a Canclini,
a modernidade nos acostumou às
novidades, primeiro com as
vanguardas que se imaginava, como a
superação da arte anterior e se
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
substituíam umas às outras. Ele
propõe uma outra interpretação acerca
do cansaço da i
novação vanguardista,
“em parte pode-
se ler como descrença
em face da exigência da originalidade
incessante e da visão progressista da
história. Mas é também resultado da
expropriação da criatividade social
pelo capitalismo pós
(GARCÍA CANCLINI,
2016, p. 77). Ele
também faz referência a Boltanski e
Chiapello, ao analisarem quando os
movimentos de contestação que
sofreram um giro regressivo no
momento em que a economia
neoliberal se apropriou dessas
demandas. Em que os manuais de
gestão empresarial
passam a
promover a criatividade dos
assalariados e premiam suas
iniciativas inovadoras, o uso das
tecnologias, especialmente nos
setores de expansão, como os
serviços e a produção cultural.
Assim, simula-
se incorporar as
fábricas à demanda cultural de
verdade por meio de uma
produção flexível em pequenas
séries e da diversificação dos
bens comerciais, sobretudo nos
setores da moda, do design de
objetos e dos serviços. Pretende
se, desse modo,
fazer com que o
trabalho seja interessante,
favorecendo à expressão pessoal
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
substituíam umas às outras. Ele
propõe uma outra interpretação acerca
novação vanguardista,
se ler como descrença
em face da exigência da originalidade
incessante e da visão progressista da
história. Mas é também resultado da
expropriação da criatividade social
pelo capitalismo pós
-fordista”
2016, p. 77). Ele
também faz referência a Boltanski e
Chiapello, ao analisarem quando os
movimentos de contestação que
sofreram um giro regressivo no
momento em que a economia
neoliberal se apropriou dessas
demandas. Em que os manuais de
passam a
promover a criatividade dos
assalariados e premiam suas
iniciativas inovadoras, o uso das
tecnologias, especialmente nos
setores de expansão, como os
serviços e a produção cultural.
se incorporar as
fábricas à demanda cultural de
verdade por meio de uma
produção flexível em pequenas
séries e da diversificação dos
bens comerciais, sobretudo nos
setores da moda, do design de
objetos e dos serviços. Pretende
-
fazer com que o
trabalho seja interessante,
favorecendo à expressão pessoal
e “ser um mesmo”. Além de
expropriar a inovação e
incorporá-
la à exploração do
trabalho, intensificou
criatividade em design de
produtos com o objetivo de
atender às exigênci
dos diferentes consumidores.
Com isso, pretende
desenvolver a liberdade de
escolher. Como demonstrado por
Boltanski e Chiapello (2002, p.
538), o que acontece realmente é
um disciplinamento diversificado
dos desejos, pois os
fornecedores
dos bens controlam
o multiculturalismo dos gostos de
seu repertório comercial de
inovações. A oferta submete a
demanda. (
GARCÍA
2016, p. 78).
De acordo com os recentes
dados, o setor cultural ocupava, em
2018, mais de 5 milhões de pesso
de acordo com dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD Contínua),
representando 5,7% do total de
ocupados no país. Mais da metade
eram mulheres (50,5%), pessoas de
cor ou raça branca (52,6%) e com
menos de 40 anos de idade (5
Além disso, se comparado ao
total das ocupações, o percentual
daqueles com nível superior era maior
(26,9% no setor cultural ante 19,9% no
total de ocupados). A partir dessa
pesquisa, é possível perceber o
aumento da informalidade no seto
216
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
e “ser um mesmo”. Além de
expropriar a inovação e
la à exploração do
trabalho, intensificou
-se a
criatividade em design de
produtos com o objetivo de
atender às exigênci
as e os gostos
dos diferentes consumidores.
Com isso, pretende
-se
desenvolver a liberdade de
escolher. Como demonstrado por
Boltanski e Chiapello (2002, p.
538), o que acontece realmente é
um disciplinamento diversificado
dos desejos, pois os
dos bens controlam
o multiculturalismo dos gostos de
seu repertório comercial de
inovações. A oferta submete a
GARCÍA
CANCLINI
De acordo com os recentes
dados, o setor cultural ocupava, em
2018, mais de 5 milhões de pesso
as,
de acordo com dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD Contínua),
representando 5,7% do total de
ocupados no país. Mais da metade
eram mulheres (50,5%), pessoas de
cor ou raça branca (52,6%) e com
menos de 40 anos de idade (5
4,9%).
Além disso, se comparado ao
total das ocupações, o percentual
daqueles com nível superior era maior
(26,9% no setor cultural ante 19,9% no
total de ocupados). A partir dessa
pesquisa, é possível perceber o
aumento da informalidade no seto
r
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
cultural, no período analisado de 2014
a 2018. Entre os trabalhadores na
cultura, essa tendência de redução do
trabalhador do setor privado com
carteira assinada e o aumento de
trabalhadores por conta própria
ocorreu em todas as grandes regiões.
Contudo,
apenas na região Sul, em
2018, o empregado da cultura e com
carteira apresentava uma participação
maior de pessoas (43,3%) do que o
por conta própria (37,5%). A região
Nordeste tinha o maior percentual de
empregados do setor privado sem
carteira (16,7%) e
de trabalhadores
por conta própria (47,5%)
4
.
Segundo estimativa da
Fundação Getúlio Vargas
(FGV), 2020
no “Atlas Econômico da Cultura
Brasileira”, o impacto social e
econômico da pandemia -
longo prazo -
no setor cultural
brasileiro é brutal
. Conforme os
da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio (PNAD), de 2018, o setor
representa em torno de 5,7%, ou seja,
4
Agência de Notícias IBGE, Editoria:
Estatísticas Sociais, 0
5/12/2019. Disponível
em:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia
sala-de-imprensa/2013-agencia-
de
noticias/releases/26235-siic-
2007
cultural-ocupa-5-2-milhoes-de-
pessoas
2018-tendo-movimentado-r-226-
bilhoes
ano-anterior .
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
cultural, no período analisado de 2014
a 2018. Entre os trabalhadores na
cultura, essa tendência de redução do
trabalhador do setor privado com
carteira assinada e o aumento de
trabalhadores por conta própria
ocorreu em todas as grandes regiões.
apenas na região Sul, em
2018, o empregado da cultura e com
carteira apresentava uma participação
maior de pessoas (43,3%) do que o
por conta própria (37,5%). A região
Nordeste tinha o maior percentual de
empregados do setor privado sem
de trabalhadores
Segundo estimativa da
(FGV), 2020
no “Atlas Econômico da Cultura
Brasileira”, o impacto social e
em curto e
no setor cultural
. Conforme os
dados
da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio (PNAD), de 2018, o setor
representa em torno de 5,7%, ou seja,
Agência de Notícias IBGE, Editoria:
5/12/2019. Disponível
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia
-
de
-
2007
-2018-setor-
pessoas
-em-
bilhoes
-no-
mais de 5 milhões
de trabalhadoras
e
trabalhadores no país, sendo que
44% destes profissionais
autônomos.
A economia da cultura
que representa 5,
4
Interno Bruto -
PIB mundial
de 180
milhões de postos de trabalho
em todo o planeta
.
feminina nesta força de trabalho é da
ordem de 57,2%.
A situação ainda é
mais grave
devido ao fato de que os
vínculos trabalhistas no setor cultural
são majoritariamente precários
informais e temporários.
consequências deste impacto serão
longas e difíceis no Brasil e em todo o
mundo.
Nesse profundo impacto, o setor
da Cultura, -
que atua em áreas
rurais e urbanas, na informalidade, de
maneira autônoma e bastante
precária, sem nenhuma garantia de
renda, e cujo ofício exige a presença
humana, a interação e o contato físico,
-
foi um dos primeiros a serem
diretamente a
tingidos, ao ser obrigado
a interromper as suas atividades. Com
o fechamento de cinemas, teatros,
espaços culturais, lançamentos
adiados, espetáculos cancelados, sem
nenhuma previsão de retorno. E um
número incontável de artistas e demais
217
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
de trabalhadoras
trabalhadores no país, sendo que
44% destes profissionais
são
A economia da cultura
,
4
% do Produto
PIB mundial
, gera cerca
milhões de postos de trabalho
.
A participação
feminina nesta força de trabalho é da
A situação ainda é
devido ao fato de que os
vínculos trabalhistas no setor cultural
são majoritariamente precários
,
informais e temporários.
As
consequências deste impacto serão
longas e difíceis no Brasil e em todo o
Nesse profundo impacto, o setor
que atua em áreas
rurais e urbanas, na informalidade, de
maneira autônoma e bastante
precária, sem nenhuma garantia de
renda, e cujo ofício exige a presença
humana, a interação e o contato físico,
foi um dos primeiros a serem
tingidos, ao ser obrigado
a interromper as suas atividades. Com
o fechamento de cinemas, teatros,
espaços culturais, lançamentos
adiados, espetáculos cancelados, sem
nenhuma previsão de retorno. E um
número incontável de artistas e demais
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
profissionais da Cultura
,
desempregados e bastante
precarizados diante das dificuldades
de manterem as condições básicas de
sobrevivência e sem renda para a
manutenção dos espaços
Organização Internacional do Trabalho
(OIT), em informe intitulado "COVID
e o mundo do trabalho"
,
esta crise têm consequências
devastadoras,
e que a paralisação
parcial ou total de setores da
economia afetam 2,
7
trabalhadores, ou 81%
da força de
trabalho mundial.
Entre os setores mais afetados
a situação laboral de trabalhadores
das áreas de arte
,
entretenimento é avaliada pela OIT
como de "alto risco". Com
lançamentos adiados, espetáculos
cancelados e um número incontável de
artistas e de
mais profissionais da
Cultura sem nenhuma renda. Ainda
sem estimativas precisas do impacto
econômico da crise causada pelo
coronavírus (Covid-
19) para o setor
cultural no Brasil, é possível avaliar
que as consequências são sem
precedentes e podem perdurar
longo tempo, mesmo depois de
contido o vírus, uma vez que a
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
,
que estão
desempregados e bastante
precarizados diante das dificuldades
de manterem as condições básicas de
sobrevivência e sem renda para a
manutenção dos espaços
. A
Organização Internacional do Trabalho
(OIT), em informe intitulado "COVID
-19
,
avalia que
esta crise têm consequências
e que a paralisação
parcial ou total de setores da
7
bilhões de
da força de
Entre os setores mais afetados
,
a situação laboral de trabalhadores
,
cultura e
entretenimento é avaliada pela OIT
como de "alto risco". Com
lançamentos adiados, espetáculos
cancelados e um número incontável de
mais profissionais da
Cultura sem nenhuma renda. Ainda
sem estimativas precisas do impacto
econômico da crise causada pelo
19) para o setor
cultural no Brasil, é possível avaliar
que as consequências são sem
precedentes e podem perdurar
por
longo tempo, mesmo depois de
contido o vírus, uma vez que a
economia como um todo está
sofrendo as consequências.
No Rio de Janeiro, existem em
torno de 21 mil Microempreendedores
Individuais (MEIs), que atuam e
sobrevivem exclusivamente
trabalho realizado junto às Artes e à
Cultura. Somente na cidade do Rio,
capital do Estado Fluminense, são
cerca de 93 salas de teatro e mais 370
cinemas, além de espaços culturais
alternativos que estão fechados. São
atividades presenciais de artistas
rua, de teatro, circo, dança, folias,
cordéis, cirandas, slams, poesias,
grafites, pinturas corporais,
artesanatos indígenas e quilombolas e
apresentações de música nos bares,
restaurantes e nas ruas, agora
paralisadas pela pandemia. E somente
uma parce
la reduzida tem de fato
condições e qualquer apoio para fazer
e transmitir arte pelas redes sociais.
A cidade e o estado do Rio têm
uma trajetória de ocupação e emprego
bastante dramática, sobretudo no
período entre 2015 e 2020. De acordo
com o
s dados do Ministério da
Economia, no período de janeiro de
2015 a dezembro de 2020, o estado
do Rio de Janeiro perdeu 702.148
empregos com carteira assinada.
218
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
economia como um todo está
sofrendo as consequências.
No Rio de Janeiro, existem em
torno de 21 mil Microempreendedores
Individuais (MEIs), que atuam e
sobrevivem exclusivamente
do
trabalho realizado junto às Artes e à
Cultura. Somente na cidade do Rio,
capital do Estado Fluminense, são
cerca de 93 salas de teatro e mais 370
cinemas, além de espaços culturais
alternativos que estão fechados. São
atividades presenciais de artistas
de
rua, de teatro, circo, dança, folias,
cordéis, cirandas, slams, poesias,
grafites, pinturas corporais,
artesanatos indígenas e quilombolas e
apresentações de música nos bares,
restaurantes e nas ruas, agora
paralisadas pela pandemia. E somente
la reduzida tem de fato
condições e qualquer apoio para fazer
e transmitir arte pelas redes sociais.
A cidade e o estado do Rio têm
uma trajetória de ocupação e emprego
bastante dramática, sobretudo no
período entre 2015 e 2020. De acordo
s dados do Ministério da
Economia, no período de janeiro de
2015 a dezembro de 2020, o estado
do Rio de Janeiro perdeu 702.148
empregos com carteira assinada.
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
Significa que o estado do Rio sozinho
representou quase 50% do total de
empregos com carteira ass
perdidos no país, de 1.593.541
empregos. E a cidade do Rio perdeu
mais empregos que a cidade de São
Paulo, apesar da economia de São
Paulo ser mais que duas vezes maior
que a economia da cidade do Rio.
Embora essa crise estrutural do Rio de
Janeiro s
eja bem mais antiga, mesmo
sendo um centro financeiro e cultural
do país, analisa o professor de
Economia da UFRJ, Mauro Osório
conforme citado por Sidney Rezende
O Rio que conhecemos nasce
como porto e fortificação militar,
como aponta Carlos Lessa no
livro Rio de Janeiro de todos os
brasis”. Posteriormente, vira a
capital do Brasil. A partir da vinda
da Família Real portuguesa para
o Brasil, em 1808, o Rio se
moderniza e, usando o conceito
do historiador de arte Giulio
Argan, vira o eixo da capitalid
brasileira, passando a ser a
principal referência internacional
do país. Entre 1930 e 1980, a
economia brasileira, em média,
dobra de tamanho a cada dez
anos. Quem “puxa” esse
dinamismo é São Paulo. No
entanto, o Rio, como capital do
país, sede de empr
5
REZENDE,
Sidney, 14/02/2021, Jornal O
Dia, pesquisado no site:
https://odia.ig.com.br/colunas/sidney
rezende/2021/02/6084594-as-
raizes
decadencia-do-estado-do-rio-de
-
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Significa que o estado do Rio sozinho
representou quase 50% do total de
empregos com carteira ass
inada
perdidos no país, de 1.593.541
empregos. E a cidade do Rio perdeu
mais empregos que a cidade de São
Paulo, apesar da economia de São
Paulo ser mais que duas vezes maior
que a economia da cidade do Rio.
Embora essa crise estrutural do Rio de
eja bem mais antiga, mesmo
sendo um centro financeiro e cultural
do país, analisa o professor de
Economia da UFRJ, Mauro Osório
,
conforme citado por Sidney Rezende
5
:
O Rio que conhecemos nasce
como porto e fortificação militar,
como aponta Carlos Lessa no
livro Rio de Janeiro de todos os
brasis”. Posteriormente, vira a
capital do Brasil. A partir da vinda
da Família Real portuguesa para
o Brasil, em 1808, o Rio se
moderniza e, usando o conceito
do historiador de arte Giulio
Argan, vira o eixo da capitalid
ade
brasileira, passando a ser a
principal referência internacional
do país. Entre 1930 e 1980, a
economia brasileira, em média,
dobra de tamanho a cada dez
anos. Quem “puxa” esse
dinamismo é São Paulo. No
entanto, o Rio, como capital do
país, sede de empr
esas
Sidney, 14/02/2021, Jornal O
https://odia.ig.com.br/colunas/sidney
-
raizes
-da-
-
janeiro.html
nacionais e internacionais, que
atuam no Brasil, principal centro
financeiro e cultural, acompanha
o dinamismo brasileiro. Porém, a
partir da transferência da capital
para Brasília, a cidade e o estado
do Rio passam a ser lanterna em
termos de dinamis
Com o cenário atual, o
fenômeno deve se intensificar,
conforme a pesquisa.
porém, o setor criativo apresentava
mais fechamentos de empresas do
que a abertura destas. Com o cerio
atual, o fenômeno deve se
intensificar.
“Certamente vamos
assistir a eliminação de postos de
trabalho e de empresas neste ano”
complementa Valiati. Ele diz que
podemos saber qual é o potencial de
um setor específico e entender o que
essendo posto em risco”
Nessa maria do Diário da
Causa Operária, publicada no dia
de maio de 2020, portanto no início
da pandemia, era possível prever
os fortes impactos econômicos
provocados no setor cultural, sendo
possível perceber que não ficaria
impune à cr
ise capitalista e saniria
6
Diário da Causa Operária 5998,
04/05/2020, dispovel
em
https://www.causaop
eraria.org.br/quase
milhoes-de-trabalhadores
-
atingidos/
219
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
nacionais e internacionais, que
atuam no Brasil, principal centro
financeiro e cultural, acompanha
o dinamismo brasileiro. Porém, a
partir da transferência da capital
para Brasília, a cidade e o estado
do Rio passam a ser lanterna em
termos de dinamis
mo econômico.
Com o cenário atual, o
fenômeno deve se intensificar,
conforme a pesquisa.
Desde 2016,
porém, o setor criativo apresentava
mais fechamentos de empresas do
que a abertura destas. Com o cerio
atual, o fenômeno deve se
“Certamente vamos
assistir a eliminação de postos de
trabalho e de empresas neste ano”
,
complementa Valiati. Ele diz que
[…]
podemos saber qual é o potencial de
um setor específico e entender o que
essendo posto em risco”
6
.
Nessa maria do Diário da
Causa Operária, publicada no dia
4
de maio de 2020, portanto no início
da pandemia, era possível prever
os fortes impactos econômicos
provocados no setor cultural, sendo
possível perceber que não ficaria
ise capitalista e saniria
Diário da Causa Operária 5998,
em
:
eraria.org.br/quase
-5-
-
da-cultura-sao-
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
que o país atravessa. Tendo em vista
que em torno de cinco milhões de
trabalhadores dependem deste
importante meio de subsistência e
vinham sendo atingidos com o
avao do ataque aos direitos
trabalhistas e a inviabilidade de
apresentações artísticas por todo o
Brasil devido à pandemia viral do
Covid-
19. Para Valiati, a cultura
deverá sofrer ainda mais do que os
demais setores, tendo em vista que
n
essa pandemia que a humanidade
está enfrentando talvez provoque
mudanças estrutu
rais no perfil de
consumo cultural, a exemplo da
migração do show de música para o
Spotify
, do cinema para plataforma de
streaming
, que é uma tendência, e
pode se intensificar. Esses impactos
das tecnologias sobre as
apresentações artísticas presenciais
ta
mbém foram abordados nas
entrevistas.
De outro lado, segundo a
maria do Diário da Causa Operária,
o há uma política pública voltada
para os profissionais da Cultura que
ficaram sem renda, apontando para a
necessidade de lutarem por seus
direitos criand
o Conselhos Populares.
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
que o país atravessa. Tendo em vista
que em torno de cinco milhões de
trabalhadores dependem deste
importante meio de subsistência e
vinham sendo atingidos com o
avao do ataque aos direitos
trabalhistas e a inviabilidade de
apresentações artísticas por todo o
Brasil devido à pandemia viral do
19. Para Valiati, a cultura
deverá sofrer ainda mais do que os
demais setores, tendo em vista que
essa pandemia que a humanidade
está enfrentando talvez provoque
rais no perfil de
consumo cultural, a exemplo da
migração do show de música para o
, do cinema para plataforma de
, que é uma tendência, e
pode se intensificar. Esses impactos
das tecnologias sobre as
apresentações artísticas presenciais
mbém foram abordados nas
De outro lado, segundo a
maria do Diário da Causa Operária,
o há uma política pública voltada
para os profissionais da Cultura que
ficaram sem renda, apontando para a
necessidade de lutarem por seus
o Conselhos Populares.
Enquanto isso há inúmeros
artistas como os circenses e de
rua que não podem trabalhar ou
tiveram sua fonte de renda
drasticamente reduzida porque
dependem de público presencial.
Não sinal de qualquer política
pública decente para
profissionais que naturalmente já
vivem uma realidade muito difícil
com suas famílias. Os
trabalhadores da economia
criativa e de todo o setor
cultural, abandonados à própria
sorte, devem se unir e formar
Conselhos Populares para
lutarem pelo seu di
sobrevivência ou serão
massacrados pelos capitalistas
que enxergam a arte apenas
como status social e não como o
ganha pão diário. Para tanto o
Coletivo GARI (Grupo por uma
Arte Revolucioria
Independente) do PCO está à
disposição de todos os
comp
anheiros que queiram
somar-
se a luta.
Um estudo realizado pelo Painel
de Dados do Itaú Cultural, lançado no
dia 26 de novembro de 2020, revela
que metade dos postos de trabalho
ocupados por profissionais da Cultura
deixou de existir entre
2020, resultando numa redução de
49%.
De acordo com esse estudo,
que tem como base a Pesquisa
Nacional Por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD Contínua), do
Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística
IBGE, no período
ana
lisado, o mercado editorial perdeu
220
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Enquanto isso há inúmeros
artistas como os circenses e de
rua que não podem trabalhar ou
tiveram sua fonte de renda
drasticamente reduzida porque
dependem de público presencial.
Não sinal de qualquer política
pública decente para
estes
profissionais que naturalmente já
vivem uma realidade muito difícil
com suas famílias. Os
trabalhadores da economia
criativa e de todo o setor
cultural, abandonados à própria
sorte, devem se unir e formar
Conselhos Populares para
lutarem pelo seu di
reito à
sobrevivência ou serão
massacrados pelos capitalistas
que enxergam a arte apenas
como status social e não como o
ganha pão diário. Para tanto o
Coletivo GARI (Grupo por uma
Arte Revolucioria
Independente) do PCO está à
disposição de todos os
anheiros que queiram
se a luta.
(Idem).
Um estudo realizado pelo Painel
de Dados do Itaú Cultural, lançado no
dia 26 de novembro de 2020, revela
que metade dos postos de trabalho
ocupados por profissionais da Cultura
deixou de existir entre
junho de 2019 e
2020, resultando numa redução de
De acordo com esse estudo,
que tem como base a Pesquisa
Nacional Por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD Contínua), do
Instituto Brasileiro de Geografia e
IBGE, no período
lisado, o mercado editorial perdeu
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
76,85% de postos de trabalho, sendo
7.994 empregos a menos, as
atividades artesanais também ficaram
prejudicadas, com um prejuízo de
49,66%, resultando na diminuição de
132,8 mil postos de trabalho. As
perdas nas artes vi
suais e nas artes
cênicas são de 43% (97.823),
enquanto o cinema, fotografia, música,
rádio e tv perderam 38, 71% (43.845)
Cerca de 900 mil dos
trabalhadores da cultura no Brasil,
formais e informais, perderam seus
empregos entre dezembro de 201
junho de 2020. Esse grupo inclui
atividades artesanais, cinema, teatro,
rádio, TV, fotografia, artes visuais e
setor editorial. O número total de
pessoas empregadas no setor cultural
era de 7 milhões em dezembro de
2019, mas caiu para 6 milhões e 200
m
il em junho deste ano de 2020, uma
queda de 12% de pessoas trabalhando
na cultura. Os profissionais
diretamente ligados às atividades
culturais caíram de 659,9 mil para
333,7 mil
uma redução de 49%.
Essa queda, de quase 50%, é
7
Painel de Dados do Itaú Cultural, 2020, no
site do Farol da Bahia:
https://www.faroldabahia.com/noticia/um
cada-dois-profissionais-da-
cultura
trabalho-em-2020
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
76,85% de postos de trabalho, sendo
7.994 empregos a menos, as
atividades artesanais também ficaram
prejudicadas, com um prejuízo de
49,66%, resultando na diminuição de
132,8 mil postos de trabalho. As
suais e nas artes
cênicas são de 43% (97.823),
enquanto o cinema, fotografia, música,
rádio e tv perderam 38, 71% (43.845)
7
.
Cerca de 900 mil dos
trabalhadores da cultura no Brasil,
formais e informais, perderam seus
empregos entre dezembro de 201
9 e
junho de 2020. Esse grupo inclui
atividades artesanais, cinema, teatro,
rádio, TV, fotografia, artes visuais e
setor editorial. O número total de
pessoas empregadas no setor cultural
era de 7 milhões em dezembro de
2019, mas caiu para 6 milhões e 200
il em junho deste ano de 2020, uma
queda de 12% de pessoas trabalhando
na cultura. Os profissionais
diretamente ligados às atividades
culturais caíram de 659,9 mil para
uma redução de 49%.
Essa queda, de quase 50%, é
Painel de Dados do Itaú Cultural, 2020, no
https://www.faroldabahia.com/noticia/um
-em-
cultura
-perdeu-
dramática, diz Eduardo Saro
do Itaú Cultural, uma vez que mostra o
impacto da pandemia nas linguagens
artísticas, como cinema e teatro.
do que nunca, vamos precisar de
políticas blicas estruturantes para a
cultura e setores criativos, assim que
a pandemia passar”
8
Diante desse quadro dramático,
agravado pelos impactos de uma crise
sanitária e social causada pela
pandemia do Covid-
19, no Brasil, foi
elaborado, e
m caráter de extrema
urgência, o Projeto de Lei 1075,
resultando na Lei de Emergência
Cultural,
de autoria da deputada
Benedita da Silva (PT), Presidente da
Comissão de Cultura na Câmara, e
outros 23 deputados, de 8 partidos
(PT, PSOL, PCdoB, Rede, PDT, PSB,
PL e PSDB) e 14 estados, cuja
relatora foi a deputada Jandira Feghali
(PCdoB), que unificou
outros cinco projetos e teve como
principal argumento a demonstração
comprovada da fonte existente de
origem dos 3 bilhões. Trata
verba destinada para a Cultura e
que estava paralisada no Fundo
8
Nova Brasi
l FM Campinas, 27/11/2020,
disponível em:
https://campinas.novabrasilfm.com.br/notas
musicais/12133
221
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
dramática, diz Eduardo Saro
n, diretor
do Itaú Cultural, uma vez que mostra o
impacto da pandemia nas linguagens
artísticas, como cinema e teatro.
“Mais
do que nunca, vamos precisar de
políticas blicas estruturantes para a
cultura e setores criativos, assim que
8
.
Diante desse quadro dramático,
agravado pelos impactos de uma crise
sanitária e social causada pela
19, no Brasil, foi
m caráter de extrema
urgência, o Projeto de Lei 1075,
resultando na Lei de Emergência
de autoria da deputada
Benedita da Silva (PT), Presidente da
Comissão de Cultura na Câmara, e
outros 23 deputados, de 8 partidos
(PT, PSOL, PCdoB, Rede, PDT, PSB,
PL e PSDB) e 14 estados, cuja
relatora foi a deputada Jandira Feghali
(PCdoB), que unificou
em um texto
outros cinco projetos e teve como
principal argumento a demonstração
comprovada da fonte existente de
origem dos 3 bilhões. Trata
-se de uma
verba destinada para a Cultura e
que estava paralisada no Fundo
l FM Campinas, 27/11/2020,
https://campinas.novabrasilfm.com.br/notas
-
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
Nacional de Cultura (FNC) desde
2019.
Essa Lei
(PL 1075/2020)
aprovada na Câmara dos Deputados,
no dia 26 de maio e no Senado no dia
4 de junho, sendo
sancionada p
Presidência da República, em Brasília,
no dia 29 de junho,
como
Emergência Cultural
Aldir Blanc
Lei 14.017/2020.
Os 3 bilhões
aprovados pela Lei Aldir Blanc foram
distribuídos 50% para os municípios e
50% para os estados e o Distrito
Federal, com o compromisso desses
entes federados aplicarem em
medidas emergenciais, em forma de
repasse de uma renda
sica, dividida
em três parcelas, aos trabalhadores do
setor cultural (tendo como base legal a
Lei 13982/2020), subsídios para
manutenção dos espaços culturais e
artísticos independentes,
microempresas e cooperativas;
chamadas públicas, realização de
cursos
, produções, editais, meios de
fomento e premiação simplificados,
aquisição de bens e serviços do setor
cultural.
No caso da cidade do Rio de
Janeiro, que recebeu R$39 milhões
pela Lei Aldir Blanc,
informados no Cadastro, apresentado
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Nacional de Cultura (FNC) desde
(PL 1075/2020)
foi
aprovada na Câmara dos Deputados,
no dia 26 de maio e no Senado no dia
sancionada p
ela
Presidência da República, em Brasília,
como
Lei de
Aldir Blanc
-
Os 3 bilhões
aprovados pela Lei Aldir Blanc foram
distribuídos 50% para os municípios e
50% para os estados e o Distrito
Federal, com o compromisso desses
entes federados aplicarem em
medidas emergenciais, em forma de
sica, dividida
em três parcelas, aos trabalhadores do
setor cultural (tendo como base legal a
Lei 13982/2020), subsídios para
manutenção dos espaços culturais e
artísticos independentes,
microempresas e cooperativas;
chamadas públicas, realização de
, produções, editais, meios de
fomento e premiação simplificados,
aquisição de bens e serviços do setor
No caso da cidade do Rio de
Janeiro, que recebeu R$39 milhões
pela Lei Aldir Blanc,
os dados
informados no Cadastro, apresentado
p
ela Secretaria Municipal de Cultura
SMC-
RJ e preenchido por mais de 6
mil agentes culturais, para a obtenção
das medidas emergenciais da Lei Aldir
Blanc, apontam que 92% não têm
emprego formal e 94% paralisaram as
atividades durante a pandemia. Foram,
no
total, mais de 14 mil cadastros
realizados, sendo 6.196 de artistas
individuais e 8.158 de espaços, grupos
e coletivos. O mapeamento foi
realizado via formulário online com o
modelo de autoadesão e
autodeclaração do agente cultural, que
passou a compor o
Mapa Cultural do
Município do Rio de Janeiro.
iniciativa buscou atender à
necessidade de construção do
Mapeamento Cultural Carioca, em
acordo com o Sistema Municipal de
Cultura do Rio de Janeiro (Lei
6.708, de 15 de janeiro de 2020).
O alto
índice de informalidade
do mercado de trabalho brasileiro,
total de 38,4 milhões de informais,
24,2 milhões são trabalhadores
autônomos,
o maior nível da série
histórica iniciada em 2012
comparável, em anos recentes, aos
piores momentos da crise econômica
dos anos 1980.
Hoje, o trabalho
informal abrange 41,1% da população
222
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
ela Secretaria Municipal de Cultura
RJ e preenchido por mais de 6
mil agentes culturais, para a obtenção
das medidas emergenciais da Lei Aldir
Blanc, apontam que 92% não têm
emprego formal e 94% paralisaram as
atividades durante a pandemia. Foram,
total, mais de 14 mil cadastros
realizados, sendo 6.196 de artistas
individuais e 8.158 de espaços, grupos
e coletivos. O mapeamento foi
realizado via formulário online com o
modelo de autoadesão e
autodeclaração do agente cultural, que
Mapa Cultural do
Município do Rio de Janeiro.
A
iniciativa buscou atender à
necessidade de construção do
Mapeamento Cultural Carioca, em
acordo com o Sistema Municipal de
Cultura do Rio de Janeiro (Lei
6.708, de 15 de janeiro de 2020).
índice de informalidade
do mercado de trabalho brasileiro,
- do
total de 38,4 milhões de informais,
24,2 milhões são trabalhadores
o maior nível da série
histórica iniciada em 2012
, é
comparável, em anos recentes, aos
piores momentos da crise econômica
Hoje, o trabalho
informal abrange 41,1% da população
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
economicamente ativa, o equiva
38,4 milhões de pessoas, segundo
dados do IBGE. O percentual de
trabalhadores autônomos que não
possui CNPJ chega a quase 80%. A
informalidade inclui, ainda, as
categorias de trabalhador sem carteira,
trabalhadores domésticos sem
carteira, empregad
or sem CNPJ e
trabalhador familiar auxiliar. O
crescimento da informalidade foi
determinante para conter o aumento
da taxa de desemprego nos últimos
anos. De 2014 a 2019, a população
desocupada quase dobrou, tendo
crescido 87,7% e chegado a 12,6
milhões de brasileiros.
Especialistas ouvidos pela
emissora internacional de jornalismo
independente da Alemanha DW Brasil,
atribuem o cenário atual a uma
combinação de fatores, que passam
pela escalada do desemprego que
teve início a partir de 2015 e as
d
ecisões políticas posteriores que
fragilizaram os vínculos no mundo do
trabalho, como a reforma trabalhista e
a lei da terceirização. As
transformações, ocorridas no contexto
da estagnação econômica iniciada
cinco anos, romperam uma trajetória
de formal
ização que vinha sendo
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
economicamente ativa, o equiva
lente a
38,4 milhões de pessoas, segundo
dados do IBGE. O percentual de
trabalhadores autônomos que não
possui CNPJ chega a quase 80%. A
informalidade inclui, ainda, as
categorias de trabalhador sem carteira,
trabalhadores domésticos sem
or sem CNPJ e
trabalhador familiar auxiliar. O
crescimento da informalidade foi
determinante para conter o aumento
da taxa de desemprego nos últimos
anos. De 2014 a 2019, a população
desocupada quase dobrou, tendo
crescido 87,7% e chegado a 12,6
Especialistas ouvidos pela
emissora internacional de jornalismo
independente da Alemanha DW Brasil,
atribuem o cenário atual a uma
combinação de fatores, que passam
pela escalada do desemprego que
teve início a partir de 2015 e as
ecisões políticas posteriores que
fragilizaram os vínculos no mundo do
trabalho, como a reforma trabalhista e
a lei da terceirização. As
transformações, ocorridas no contexto
da estagnação econômica iniciada
cinco anos, romperam uma trajetória
ização que vinha sendo
observada nos anos 2000. O
professor de economia da USP, Ruy
Braga, pontua que nessa década, 93%
dos empregos criados eram formais.
Entretanto, 63,7% dos postos de
trabalho abertos no período estavam
no setor de serviços, de remuner
mais baixa.
“A construção de um mercado
regulado de trabalho, que articulava
emprego e cidadania salarial, com
direitos e uma forte presença do poder
público protegendo o trabalhador,
tomou décadas e esteve muito
associado ao projeto de
industrialização do país”, afirma Ruy
Braga
9
.
Segundo Braga, em 2018, a
participação da indústria de
transformação no Produto Interno
Bruto (PIB) brasileiro atingiu o menor
patamar desde o final dos anos 1940:
11,3%. Nos anos 1980, a taxa chegou
a se aprox
imar dos 30%.
O horizonte de integração social
via trabalho e direitos está se
esfacelando. Temos uma parcela
enorme da juventude exposta aos
riscos desse modelo
autoempreendedor popular sem
uma formação profissional. Isso
9
DW Brasil,
19/03/2020, em:
https://www.dw.com/pt-
br/epidemia
coronav%C3%ADrus-
exp%C3%B5e
vulnerabilidades-da-
uberiza%C3%A7%C3%A3o/a
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www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
observada nos anos 2000. O
professor de economia da USP, Ruy
Braga, pontua que nessa década, 93%
dos empregos criados eram formais.
Entretanto, 63,7% dos postos de
trabalho abertos no período estavam
no setor de serviços, de remuner
ação
“A construção de um mercado
regulado de trabalho, que articulava
emprego e cidadania salarial, com
direitos e uma forte presença do poder
público protegendo o trabalhador,
tomou décadas e esteve muito
associado ao projeto de
industrialização do país”, afirma Ruy
Segundo Braga, em 2018, a
participação da indústria de
transformação no Produto Interno
Bruto (PIB) brasileiro atingiu o menor
patamar desde o final dos anos 1940:
11,3%. Nos anos 1980, a taxa chegou
imar dos 30%.
O horizonte de integração social
via trabalho e direitos está se
esfacelando. Temos uma parcela
enorme da juventude exposta aos
riscos desse modelo
autoempreendedor popular sem
uma formação profissional. Isso
19/03/2020, em:
br/epidemia
-de-
exp%C3%B5e
-
uberiza%C3%A7%C3%A3o/a
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cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
pode construir um mercado
basta
nte desregulado, e até
selvagem, mas não constrói um
país, segregando as pessoas do
acesso a direitos básicos, como a
aposentadoria
(Ibidem).
Caminhos incertos sobre o futuro
do trabalho
Iniciamos por considerar, a partir
das condições precarizadas e sem
quaisquer garantias de fontes de renda
e o desmantelamento das políticas
culturais no Brasil, que se
expressaram nas vozes dos artistas
entrevistados, apontam uma grande
incertez
a acerca do futuro do mercado
de trabalho não somente na Cultura.
Sobretudo, a partir de 2016, com a
extinção da pasta do Ministério da
Cultura e demais medidas tomadas
por Michel Temer no governo, cujas
perdas se intensificaram, desde 2019,
nesse governo
de Jair Bolsonaro, que
decretou uma guerra cultural, além dos
profundos impactos identificados no
país e no mundo, a partir de 2020,
causados pela pandemia do Covid
De fato, vimos se esfacelar a
cada dia o mercado regulado de
trabalho e dos d
ireitos, a perda de
emprego e da cidadania, com muitas
demissões, terceirizações,
privatizações, um aumento significativo
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
pode construir um mercado
nte desregulado, e até
selvagem, mas não constrói um
país, segregando as pessoas do
acesso a direitos básicos, como a
(Ibidem).
Caminhos incertos sobre o futuro
Iniciamos por considerar, a partir
das condições precarizadas e sem
quaisquer garantias de fontes de renda
e o desmantelamento das políticas
culturais no Brasil, que se
expressaram nas vozes dos artistas
entrevistados, apontam uma grande
a acerca do futuro do mercado
de trabalho não somente na Cultura.
Sobretudo, a partir de 2016, com a
extinção da pasta do Ministério da
Cultura e demais medidas tomadas
por Michel Temer no governo, cujas
perdas se intensificaram, desde 2019,
de Jair Bolsonaro, que
decretou uma guerra cultural, além dos
profundos impactos identificados no
país e no mundo, a partir de 2020,
causados pela pandemia do Covid
-19.
De fato, vimos se esfacelar a
cada dia o mercado regulado de
ireitos, a perda de
emprego e da cidadania, com muitas
demissões, terceirizações,
privatizações, um aumento significativo
de autônomos, informais, a chamada
uberização
e as reformas trabalhistas
e da previdência. Um sistema que
concentra cada vez mais no i
a responsabilidade de arcar com os
riscos e incertezas para se
autopromover, auto
também se autoculpabilizar por suas
perdas e fracassos, isentando o
Estado, a lei e a economia pelas
dificuldades e condições precárias
enfrentadas num
extremamente concentrado, desigual,
segregador e excludente.
consegue se destacar e alçar o cume
é visibilizado como artista, mas é
invisibilizado em seu labor enquanto
assalariado comum, que tangencia a
cada momento a sua condição de
preca
riedade, ainda que muitas vezes
obliterado pela falácia de ser
“empreendedor”.
Nesse cenário dramático, a
exemplo de um mercado de trabalho e
de um governo Bolsonaro que
evidencia o mundo dos negócios,
torna-
se difícil garantir a retomada e a
con
tinuidade das políticas públicas
voltadas para a Cultura que levem em
conta a diversidade do país e a
democratização do acesso a essas
224
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
de autônomos, informais, a chamada
e as reformas trabalhistas
e da previdência. Um sistema que
concentra cada vez mais no i
ndivíduo
a responsabilidade de arcar com os
riscos e incertezas para se
autopromover, auto
-empresariar e
também se autoculpabilizar por suas
perdas e fracassos, isentando o
Estado, a lei e a economia pelas
dificuldades e condições precárias
enfrentadas num
mercado
extremamente concentrado, desigual,
segregador e excludente.
Quando
consegue se destacar e alçar o cume
é visibilizado como artista, mas é
invisibilizado em seu labor enquanto
assalariado comum, que tangencia a
cada momento a sua condição de
riedade, ainda que muitas vezes
obliterado pela falácia de ser
Nesse cenário dramático, a
exemplo de um mercado de trabalho e
de um governo Bolsonaro que
evidencia o mundo dos negócios,
se difícil garantir a retomada e a
tinuidade das políticas públicas
voltadas para a Cultura que levem em
conta a diversidade do país e a
democratização do acesso a essas
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
políticas, sugerida pela maioria
das/dos entrevistados.
Com base em suas falas e
também nas análises feitas po
diferentes pensadores, é possível
perceber a necessidade de se
repensar os significados dos termos
cultura, trabalho, criatividade,
empreendedorismo, como também,
rever o papel do Estado. Além da
função do empreendedor que passou
a se desvirtuada e explo
empresas, com o incremento de
controle ideológico, de captura das
subjetividades. Por outro lado,
sabemos que não é todo mundo que
consegue performar, empreender e
cumprir o desempenho da chamada
meritocracia, criando-
se um exército
de reserva p
ara retroalimentar esse
imaginário individualista. Se o
trabalhador da cultura precisa assumir
múltiplas tarefas e funções, de
maneira independente, incerta,
intermitente, sem nenhuma garantia de
trabalho, renda e proteção social, ao
invés de assumir o pap
empreendedor, que lhe designaram na
intenção de fazê-
lo sentir
empresário, empoderado e
reconhecido, cabe a ele, portanto, que
carrega o sobrepeso laboral
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
políticas, sugerida pela maioria
Com base em suas falas e
também nas análises feitas po
r
diferentes pensadores, é possível
perceber a necessidade de se
repensar os significados dos termos
cultura, trabalho, criatividade,
empreendedorismo, como também,
rever o papel do Estado. Além da
função do empreendedor que passou
a se desvirtuada e explo
rada pelas
empresas, com o incremento de
controle ideológico, de captura das
subjetividades. Por outro lado,
sabemos que não é todo mundo que
consegue performar, empreender e
cumprir o desempenho da chamada
se um exército
ara retroalimentar esse
imaginário individualista. Se o
trabalhador da cultura precisa assumir
múltiplas tarefas e funções, de
maneira independente, incerta,
intermitente, sem nenhuma garantia de
trabalho, renda e proteção social, ao
invés de assumir o pap
el de
empreendedor, que lhe designaram na
lo sentir
-se
empresário, empoderado e
reconhecido, cabe a ele, portanto, que
carrega o sobrepeso laboral
atravessado pela precariedade, utilizar
a sua criatividade para se autonomear
e mudar esse m
odelo de economia em
nada criativa.
As políticas públicas culturais,
que implicam em implementar ações
que visam corrigir as distorções, de
forma ampla, democrática e
compartilhada com o acesso, a
participação e o controle social da
sociedade ci
vil, não podem assumir
um viés empresarial,
empreendedorista, adotando o modelo
e a defesa de interesses do mundo
dos negócios, que concentra recursos
públicos em grandes eventos e no
entretenimento, conforme destacaram
as/os entrevistados. Um modelo de
cu
ltura exploratória, espetacularizada,
mercantilizada e oferecida como
produto.
Nesse capitalismo estético,
cultural, uma estetização da crise
com animação e entretenimento,
diversão e clichês de publicidade,
onde o empreendedor, embora
contraditoriamente precário, é também
levado a oferecer-
se como produto
vendável para
atrair o mercado
consumidor-
espectador
sistema econômico de mercado, os
objetos estão esvaziados de conteúdo,
225
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
atravessado pela precariedade, utilizar
a sua criatividade para se autonomear
odelo de economia em
As políticas públicas culturais,
que implicam em implementar ações
que visam corrigir as distorções, de
forma ampla, democrática e
compartilhada com o acesso, a
participação e o controle social da
vil, não podem assumir
um viés empresarial,
empreendedorista, adotando o modelo
e a defesa de interesses do mundo
dos negócios, que concentra recursos
públicos em grandes eventos e no
entretenimento, conforme destacaram
as/os entrevistados. Um modelo de
ltura exploratória, espetacularizada,
mercantilizada e oferecida como
Nesse capitalismo estético,
cultural, uma estetização da crise
com animação e entretenimento,
diversão e clichês de publicidade,
onde o empreendedor, embora
contraditoriamente precário, é também
se como produto
atrair o mercado
espectador
-cidadão. No
sistema econômico de mercado, os
objetos estão esvaziados de conteúdo,
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
o único valor existencial é o consumo,
onde o irreal devora tudo e as pessoas
viram paródias de si mesmas, autoras
e vítimas de uma auto-
encenação. E
uma expropriação de seres humanos e
suas culturas, com o extermínio das
populações indígenas, quilombolas
trabalhadores rurais, que vivem nas
florestas enfrentam
as constantes
invasões, queimadas
e conflitos com
latifundiários, mineradora
madeireiras na disputas pela terra.
troca, é oferecido e estimulado um
padrão fabricado com base no
consumo, lucro e interesses do
agronegócio e do mercado
empresarial. C
om a conivência e a
liberação por parte do governo, como
estamos vendo no moment
Após 520 anos, os corpos indígenas e
sua existência seguem sendo
resistência, para manter viva sua
história.
É preciso e
scapar dessa lógica
mercadológica, competitiva,
excludente e concentrada em
determinadas pessoas, áreas, regiões,
p
rojetos do chamado mérito cultural,
que além de ser precária e
autoexploratória, não é criativa,
inclusiva e sequer cidadã.
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
o único valor existencial é o consumo,
onde o irreal devora tudo e as pessoas
viram paródias de si mesmas, autoras
encenação. E
uma expropriação de seres humanos e
suas culturas, com o extermínio das
populações indígenas, quilombolas
e
trabalhadores rurais, que vivem nas
as constantes
e conflitos com
latifundiários, mineradora
s,
madeireiras na disputas pela terra.
Em
troca, é oferecido e estimulado um
padrão fabricado com base no
consumo, lucro e interesses do
agronegócio e do mercado
om a conivência e a
liberação por parte do governo, como
estamos vendo no moment
o atual.
Após 520 anos, os corpos indígenas e
sua existência seguem sendo
resistência, para manter viva sua
scapar dessa lógica
mercadológica, competitiva,
excludente e concentrada em
determinadas pessoas, áreas, regiões,
rojetos do chamado mérito cultural,
que além de ser precária e
autoexploratória, não é criativa,
muita potência inventiva e
solidária em muitas comunidades
cujos coletivos, territórios e
equipamentos precisam ser
refo
rçados, de forma permanente, a
partir da ajuda mútua do trabalho
comunitário para enfrentar
conjuntamente o estado de
precariedade cuja mudança passa
fundamentalmente por uma nova
Cultura.
Referências
bibliográficas
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS IBGE,
2007-
2018: Setor cultural ocupa 5,2 milhões
de pessoas em 2018, tendo movimentado
R$ 226 bilhões no ano anterior.
Estatísticas Sociais, 05/12/2019,
Disponível
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/a
gencia-sala-de-
imprensa/2013
agencia-de-
noticias/releases/26235
siic-2007-2018-setor-
cultural
2-milhoes-de-
pessoas
movimentado-r-226-
bilhoes
anterior.
BOLTANSKI, Luc, CHIAPELLO, Ève.
O novo espírito do capitalismo
Paulo
: Martins Fontes,
BRASIL.
Classificação Brasileira de
Ocupações
CBO. 3 ed. Brasília.
TEM. SPPE, 2010.
BROWN, Wendy.
Cidadania sacrificial
neoliberalismo, capital humano e
políticas de austeridade. Rio de
Janeiro: Zazie Edições,
DIÁRIO DA CAUSA OPERÁRIA nº
5998, Abandonados à própria sorte
226
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
muita potência inventiva e
solidária em muitas comunidades
cujos coletivos, territórios e
equipamentos precisam ser
rçados, de forma permanente, a
partir da ajuda mútua do trabalho
comunitário para enfrentar
conjuntamente o estado de
precariedade cuja mudança passa
fundamentalmente por uma nova
bibliográficas
:
AGÊNCIA DE NOTÍCIAS IBGE,
SIIC
2018: Setor cultural ocupa 5,2 milhões
de pessoas em 2018, tendo movimentado
R$ 226 bilhões no ano anterior.
Editoria:
Estatísticas Sociais, 05/12/2019,
em:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/a
imprensa/2013
-
noticias/releases/26235
-
cultural
-ocupa-5-
pessoas
-em-2018-tendo-
bilhoes
-no-ano-
BOLTANSKI, Luc, CHIAPELLO, Ève.
O novo espírito do capitalismo
. o
: Martins Fontes,
2009.
Classificação Brasileira de
CBO. 3 ed. Brasília.
Cidadania sacrificial
,
neoliberalismo, capital humano e
políticas de austeridade. Rio de
Janeiro: Zazie Edições,
2018.
DIÁRIO DA CAUSA OPERÁRIA nº
5998, Abandonados à própria sorte
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
cidade do Rio de Janeiro. PragMATIZES -
Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
Quase 5 milhões d
e trabalhadores da
Cultura são atingidos, 04/05/2020,
dispovel no site:
https://www.causaoperaria.org.br/quas
e-5-milhoes-de-
trabalhadores
cultura-sao-atingidos/
DW BRASIL, 19/03/2020
. Disponível
em:
https://www.dw.com/pt
br/epidemia-de-
coronav%C3%ADrus
exp%C3%B5e-
vulnerabilidades
uberiza%C3%A7%C3%A3o/a
52830974
FRANÇA, Wildson de Andrade.
Entrevista concedida à autora, Rio de
Janeiro, 25/01/2021.
MACHADO, Gustavo Portella
Microempreendedor ind
desproteção social: tensões entre a
racionalidade neoliberal e as
estratégias para “viver de cultura” a
partir de produtores/as culturais
freelancers na cidade do Rio de
Janeiro. Ponto-e-vírgula
,
número 27, p 99-
113
semestre 2020.
MACHADO, Gustavo Portella.
ensino da produção cultural entre o
mercado e a Universidade:
de caso a partir da trajetória na
graduação em produção cultural da
Universidade Federal Fluminense,
Rev. Ed. Popular
, Uberlândia, Ed.
Especial, p. 59-72, 2019.
MADEIRA, Daphne. Entrevista
concedida à autora, Rio de Janeiro,
15/01/2021.
MARACAJÁ, Célia. Entrevista
concedida à autora, Rio de Janeiro,
05/01/2021.
MELO JÚNIOR, Gabriel Bezerra de.
Entrevista concedida à autora, Rio de
Janeiro, 15/02/2021.
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
e trabalhadores da
Cultura são atingidos, 04/05/2020,
dispovel no site:
https://www.causaoperaria.org.br/quas
trabalhadores
-da-
. Disponível
https://www.dw.com/pt
-
coronav%C3%ADrus
-
vulnerabilidades
-da-
uberiza%C3%A7%C3%A3o/a
-
FRANÇA, Wildson de Andrade.
Entrevista concedida à autora, Rio de
MACHADO, Gustavo Portella
Microempreendedor ind
ividual e
desproteção social: tensões entre a
racionalidade neoliberal e as
estratégias para “viver de cultura” a
partir de produtores/as culturais
freelancers na cidade do Rio de
,
PUC-SP,
113
, primeiro
MACHADO, Gustavo Portella.
O
ensino da produção cultural entre o
mercado e a Universidade:
um estudo
de caso a partir da trajetória na
graduação em produção cultural da
Universidade Federal Fluminense,
, Uberlândia, Ed.
MADEIRA, Daphne. Entrevista
concedida à autora, Rio de Janeiro,
MARACAJÁ, Célia. Entrevista
concedida à autora, Rio de Janeiro,
MELO JÚNIOR, Gabriel Bezerra de.
Entrevista concedida à autora, Rio de
MILFOND, Denise. Entrevista
concedida à autora, Rio de Janeiro,
10/02/2021.
MIRANDA, José Carlos Rosa.
Entrevista concedida à autora, Rio de
Janeiro, 22/01/2021.
MORAIS, Ynaê Cortez de. Entrevista
concedida à autora, Rio de Janeiro,
27/01/2021.
NOVA BRASIL
FM Campinas, Um em
cada dois profissionais especializados
da Cultura perdeu trabalho em 2020,
27/11/2020. D
isponível
https://campinas.novabrasilfm.com.br/n
otas-musicais/12133)
PAI
NEL DE DADOS do Itaú Cultural,
2020. D
isponível
https://www.faroldabahia.com/noticia/u
m-em-cada-dois-
profissionais
cultura-perdeu-
trabalho
RAMOS, Mauro.
PEC do Teto dos
Gastos inviabilizou a educação pública
no país, diz Dermeval Saviani.
de Fato
, Política, São Paulo,
Dezembro de
2017. Disponível
https://www.brasildefato.com.br/2017/1
2/08/pec-do-teto-dos-
inviabilizou-a-
educacao
brasil-diz-dermeval-
saviani
REZENDE, Sidney.
decadência do estado do Rio de
Janeiro,
Jornal O Dia
Disponível em
https://odia.ig.com.br/colunas/sidney
rezende/2021/02/6084594
da-decadencia-do-
estado
janeiro.html.
RODRIGUES, Luiz Augusto
Ana Lúcia. Desmanche
das
políticas públicas federais
cultura no Brasil.
La Roca
Ano 7, Número 7,
p. 214
227
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
MILFOND, Denise. Entrevista
concedida à autora, Rio de Janeiro,
MIRANDA, José Carlos Rosa.
Entrevista concedida à autora, Rio de
MORAIS, Ynaê Cortez de. Entrevista
concedida à autora, Rio de Janeiro,
FM Campinas, Um em
cada dois profissionais especializados
da Cultura perdeu trabalho em 2020,
isponível
em:
https://campinas.novabrasilfm.com.br/n
NEL DE DADOS do Itaú Cultural,
isponível
em:
https://www.faroldabahia.com/noticia/u
profissionais
-da-
trabalho
-em-2020
PEC do Teto dos
Gastos inviabilizou a educação pública
no país, diz Dermeval Saviani.
Brasil
, Política, São Paulo,
08 de
2017. Disponível
em:
https://www.brasildefato.com.br/2017/1
gastos-
educacao
-pubica-no-
saviani
As raízes da
decadência do estado do Rio de
Jornal O Dia
, 14/02/2021.
Disponível em
:
https://odia.ig.com.br/colunas/sidney
-
rezende/2021/02/6084594
-as-raizes-
estado
-do-rio-de-
RODRIGUES, Luiz Augusto
; PARDO,
Ana Lúcia. Desmanche
e retrocesso
políticas públicas federais
de
La Roca
, Argentina,
p. 214
-245, 2020.
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
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Revista Latino
Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 2
1, p.
SANTANA, Erisvelton de Alencar.
Entrevista concedida à autora, Rio de
Janeiro, 20/01/2021.
TOMMASI, Lívia De. J
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v.22, n.47, p.
41-62, jan./abr., 2016
. Disponível
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VICH, Victor, O que é um gestor
cultural?
In: CALABRE, Lia
Deborah Rebello (orgs
.),
culturais
: conjunturas e
territorialidades. R
io de
Fundação Casa de Rui Barbosa
Paulo
: Itaú Cultural, 2017. p. 49
WHIBBE, Stanley Livingstone.
Entrevista concedida à
autora, Rio de
Janeiro, 18/01/2021.
YIN, Robert K.
Estudo de Caso
Planejamento e. Método, Editora
Bookman, Porto Alegre,
2003
PARDO, Ana Lúcia. A crescente precariedade do trabalho na cultura na
Revista Latino
-Americana de
1, p.
188-228, set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
SANTANA, Erisvelton de Alencar.
Entrevista concedida à autora, Rio de
TOMMASI, Lívia De. J
ovens
produtores culturais de favela.
Linhas
v.22, n.47, p.
. Disponível
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https://periodicos.unb.br/index.php/linh
VICH, Victor, O que é um gestor
In: CALABRE, Lia
; LIMA,
.),
Políticas
: conjunturas e
io de
Janeiro:
Fundação Casa de Rui Barbosa
; São
: Itaú Cultural, 2017. p. 49
-54.
WHIBBE, Stanley Livingstone.
autora, Rio de
Estudo de Caso
Planejamento e. Método, Editora
2003
.
228
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
A dimensão econômica na política nacional de cultura: uma aproximação com
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21
Resumo:
O artigo apresenta uma análise da política nacional de cultura, com ênfase na articulação
com a temática da Economia da Cultura e do desenvolvimento.
agenda da cultura nas políticas governamentais obtev
reconhecida como
commodity,
comercializado. Nessa condição, a política de cultura se legitima como um importante instrumento
econômico e industrial para o desenvolvimento nacional. A dimensão econômica da cultura pode ser
identificada a
partir de diferentes conceitos e propostas para organizar o setor, a exemplo de
“indústrias criativas” ou economia criativa”. Tal concepção eco
apropriação para transformá-
la numa forma instrumental de produção, troca e consumo de
mercadorias. Valores como diversidade, pluralismo e identidade ficam relegados ao segundo plano,
pois se ênfase à subordinação da cultura à
2003 a política se fundamentou no desafio de promovê
fenômeno social e humano de múltiplos sentidos. A cultura passou a ser entendida numa dimensão
tríplice: sim
bólica, cidadã e econômica. Nesse contexto, a política de cultura aproxima
debate do Desenvolvimento Social Sustentável e da Economia Solidária. O que pode ser constatado
na análise dos instrumentos de gestão pública, nas diretrizes de orientação
Cultura (Lei 12.343/2010)
e na política nacional Cultura Viva/ Pontos de Cultura (
13.018/2014)
. Ambas as concepções aparecem de forma conflitiva e contraditória para expressar a
dimensão econômica da cultura e sua c
Palavras-chave: e
conomia da cultura; economia solidária; Cultura Viva.
Dimensión económica en
la política cultura nacional: un enfoque de economía solidaria
Resumen:
El artículo busca presentar un análisis de la política nacional de cultura con énfasis en su
articulación con el tema de la economía de la cultura y el desarrollo. El texto busca demostrar que la
agenda de la cultura en las políticas gubernamentales pasó a
reconocida como un commodity, es decir, en su relación con el mercado, como un producto a
comercializar. En esta condición, la política cultural se legitima como un importante instrumento
1
Carolina Gonçalves de Freitas. T
de Arte e Cultura,
Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Regional de Blumenau
FURB, Brasil. E-
mail: carolfreitas@fcc.sc.gov.br
2
Valmor Schiochet. Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília.
de Ciências Sociais e Filosofia e no Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional da
Fundação Universidade Regional de Blumen
https://orcid.org/0000-0002-
1749
Recebido em 29/10/2020,
aceito para publicação em 2
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
A dimensão econômica na política nacional de cultura: uma aproximação com
a economia solidária
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21
.46984
Carolina Gonçalves de Freitas
Valmor
O artigo apresenta uma análise da política nacional de cultura, com ênfase na articulação
com a temática da Economia da Cultura e do desenvolvimento.
O texto procura demonstrar que a
agenda da cultura nas políticas governamentais obtev
e centralidade quando passou a ser
commodity,
isto é, na sua relação com o mercado, como um produto a ser
comercializado. Nessa condição, a política de cultura se legitima como um importante instrumento
econômico e industrial para o desenvolvimento nacional. A dimensão econômica da cultura pode ser
partir de diferentes conceitos e propostas para organizar o setor, a exemplo de
“indústrias criativas” ou economia criativa”. Tal concepção eco
nomicista da cultura é uma
la numa forma instrumental de produção, troca e consumo de
mercadorias. Valores como diversidade, pluralismo e identidade ficam relegados ao segundo plano,
pois se ênfase à subordinação da cultura à
lógica do mercado capitalista. No entanto, a partir de
2003 a política se fundamentou no desafio de promovê
-
la numa concepção ampliada, isto é, um
fenômeno social e humano de múltiplos sentidos. A cultura passou a ser entendida numa dimensão
bólica, cidadã e econômica. Nesse contexto, a política de cultura aproxima
debate do Desenvolvimento Social Sustentável e da Economia Solidária. O que pode ser constatado
na análise dos instrumentos de gestão pública, nas diretrizes de orientação
do Plano Nacional de
e na política nacional Cultura Viva/ Pontos de Cultura (
. Ambas as concepções aparecem de forma conflitiva e contraditória para expressar a
dimensão econômica da cultura e sua c
ontribuição para o processo de desenvolvimento.
conomia da cultura; economia solidária; Cultura Viva.
la política cultura nacional: un enfoque de economía solidaria
El artículo busca presentar un análisis de la política nacional de cultura con énfasis en su
articulación con el tema de la economía de la cultura y el desarrollo. El texto busca demostrar que la
agenda de la cultura en las políticas gubernamentales pasó a
ser central cuando comenzó a ser
reconocida como un commodity, es decir, en su relación con el mercado, como un producto a
comercializar. En esta condición, la política cultural se legitima como un importante instrumento
Carolina Gonçalves de Freitas. T
écnica pedagógica na Fundação Catarinense de Cultura/Diretoria
Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Regional de Blumenau
mail: carolfreitas@fcc.sc.gov.br
- https://orcid.org/0000-0001-
7888
Valmor Schiochet. Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília.
Professor no Departamento
de Ciências Sociais e Filosofia e no Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional da
Fundação Universidade Regional de Blumen
au, SC, Brasil. E-mail:
valmor@furb.br
1749
-2617
aceito para publicação em 2
2/05/20
21 e disponibilizado online em
01/09/2021.
229
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
A dimensão econômica na política nacional de cultura: uma aproximação com
Carolina Gonçalves de Freitas
1
Valmor
Schiochet
2
O artigo apresenta uma análise da política nacional de cultura, com ênfase na articulação
O texto procura demonstrar que a
e centralidade quando passou a ser
isto é, na sua relação com o mercado, como um produto a ser
comercializado. Nessa condição, a política de cultura se legitima como um importante instrumento
econômico e industrial para o desenvolvimento nacional. A dimensão econômica da cultura pode ser
partir de diferentes conceitos e propostas para organizar o setor, a exemplo de
nomicista da cultura é uma
la numa forma instrumental de produção, troca e consumo de
mercadorias. Valores como diversidade, pluralismo e identidade ficam relegados ao segundo plano,
lógica do mercado capitalista. No entanto, a partir de
la numa concepção ampliada, isto é, um
fenômeno social e humano de múltiplos sentidos. A cultura passou a ser entendida numa dimensão
bólica, cidadã e econômica. Nesse contexto, a política de cultura aproxima
-se com o
debate do Desenvolvimento Social Sustentável e da Economia Solidária. O que pode ser constatado
do Plano Nacional de
e na política nacional Cultura Viva/ Pontos de Cultura (
Lei Cultura Viva
. Ambas as concepções aparecem de forma conflitiva e contraditória para expressar a
ontribuição para o processo de desenvolvimento.
la política cultura nacional: un enfoque de economía solidaria
El artículo busca presentar un análisis de la política nacional de cultura con énfasis en su
articulación con el tema de la economía de la cultura y el desarrollo. El texto busca demostrar que la
ser central cuando comenzó a ser
reconocida como un commodity, es decir, en su relación con el mercado, como un producto a
comercializar. En esta condición, la política cultural se legitima como un importante instrumento
écnica pedagógica na Fundação Catarinense de Cultura/Diretoria
Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Regional de Blumenau
7888
-3518
Professor no Departamento
de Ciências Sociais e Filosofia e no Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional da
valmor@furb.br
-
21 e disponibilizado online em
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
económico e industrial para el des
identificar a partir de los diferentes conceptos y propuestas de organización del sector, como
"industrias creativas" o "economía creativa". Tal concepción economicista de la cultura es una
apropiación para transformar la cultura en una forma instrumental de generación de riqueza y de esta
manera se relegan a un segundo plano valores como la diversidad, el pluralismo y la identidad, pues
el énfasis pasa a ser la subordinación de la cultura a
2003, la política cultural también se basa en el desafío de promover la cultura en una concepción más
amplia, es decir, un fenómeno social y humano con múltiples significados. La cultura se entiende en
su tri
ple dimensión: simbólica, ciudadana y económica. En este contexto, la política de cultura se
acerca al debate sobre el desarrollo social sostenible y la economía solidaria. Lo que se aprecia en el
análisis de los instrumentos de gestión pública, en los lin
No. 12.343 / 2010) y en la política nacional Cultura Viva / Pontos de Cultura (Lei Cultura Viva 13.018 /
2014). Ambos conceptos aparecen de manera conflictiva y contradictoria para expresar la dimensión
económica
de la cultura y su contribución al proceso de desarrollo.
Palabras clave:
economía de la cultura; economía solidaria; Cultura Viva.
Economic dimension in national culture policy: an approach to the solidary economy
Abstract: The article seeks to
present an analysis of the national culture policy with emphasis on its
articulation with the theme of the economy of culture and development. The text seeks to demonstrate
that the culture agenda in government policies became central when it started to be
commodity, that is, in its relationship with the market, as a product to be commercialized. In this
condition, the culture policy is legitimized as an important economic and industrial instrument for
national development. This economic dim
concepts and proposals for organizing the sector, such as "creative industries" or "creative economy".
Such an economicist conception of culture is an appropriation to transform culture into an instrum
form of wealth generation and in this way values such as diversity, pluralism and identity are relegated
to the background, as the emphasis becomes the subordination of culture to the logic of the market.
capitalist. As of 2003, culture policy is als
conception, that is, a social and human phenomenon with multiple meanings. Culture is understood in
its triple dimension: symbolic, citizen and economic. In this context, the culture policy comes c
the debate on sustainable social development and the solidarity economy. What can be seen in the
analysis of public management instruments, in the guidelines of the National Culture Plan (Law No.
12.343 / 2010) and in the national policy Cultura Vi
2014). Both concepts appear in a conflicting and contradictory way to express the economic
dimension of culture and its contribution to the development process.
Keywords:
economy of culture; solidarity eco
A dimensão econômica na política nacional de cultura: uma aproximação com
1 Introdução
O entendimento da cultura
como vetor de desenvolvimento
econômico mundial passou a ter
visibilidade com o aparecimento do
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
económico e industrial para el des
arrollo nacional. Esta dimensión económica de la cultura se puede
identificar a partir de los diferentes conceptos y propuestas de organización del sector, como
"industrias creativas" o "economía creativa". Tal concepción economicista de la cultura es una
apropiación para transformar la cultura en una forma instrumental de generación de riqueza y de esta
manera se relegan a un segundo plano valores como la diversidad, el pluralismo y la identidad, pues
el énfasis pasa a ser la subordinación de la cultura a
la lógica del mercado. capitalista. A partir de
2003, la política cultural también se basa en el desafío de promover la cultura en una concepción más
amplia, es decir, un fenómeno social y humano con múltiples significados. La cultura se entiende en
ple dimensión: simbólica, ciudadana y económica. En este contexto, la política de cultura se
acerca al debate sobre el desarrollo social sostenible y la economía solidaria. Lo que se aprecia en el
análisis de los instrumentos de gestión pública, en los lin
eamientos del Plan Nacional de Cultura (Ley
No. 12.343 / 2010) y en la política nacional Cultura Viva / Pontos de Cultura (Lei Cultura Viva 13.018 /
2014). Ambos conceptos aparecen de manera conflictiva y contradictoria para expresar la dimensión
de la cultura y su contribución al proceso de desarrollo.
economía de la cultura; economía solidaria; Cultura Viva.
Economic dimension in national culture policy: an approach to the solidary economy
present an analysis of the national culture policy with emphasis on its
articulation with the theme of the economy of culture and development. The text seeks to demonstrate
that the culture agenda in government policies became central when it started to be
commodity, that is, in its relationship with the market, as a product to be commercialized. In this
condition, the culture policy is legitimized as an important economic and industrial instrument for
national development. This economic dim
ension of culture can be identified from the different
concepts and proposals for organizing the sector, such as "creative industries" or "creative economy".
Such an economicist conception of culture is an appropriation to transform culture into an instrum
form of wealth generation and in this way values such as diversity, pluralism and identity are relegated
to the background, as the emphasis becomes the subordination of culture to the logic of the market.
capitalist. As of 2003, culture policy is als
o based on the challenge of promoting culture in a broader
conception, that is, a social and human phenomenon with multiple meanings. Culture is understood in
its triple dimension: symbolic, citizen and economic. In this context, the culture policy comes c
the debate on sustainable social development and the solidarity economy. What can be seen in the
analysis of public management instruments, in the guidelines of the National Culture Plan (Law No.
12.343 / 2010) and in the national policy Cultura Vi
va / Pontos de Cultura (Lei Cultura Viva 13.018 /
2014). Both concepts appear in a conflicting and contradictory way to express the economic
dimension of culture and its contribution to the development process.
economy of culture; solidarity eco
nomy; Live Culture.
A dimensão econômica na política nacional de cultura: uma aproximação com
a economia solidária
O entendimento da cultura
como vetor de desenvolvimento
econômico mundial passou a ter
visibilidade com o aparecimento do
conceito de Economia da Cultura
como forma de contribuição para o
desenvolvi
mento econômico e social
sustentável, da mesma forma a
produção e o consumo de bens
230
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
arrollo nacional. Esta dimensión económica de la cultura se puede
identificar a partir de los diferentes conceptos y propuestas de organización del sector, como
"industrias creativas" o "economía creativa". Tal concepción economicista de la cultura es una
apropiación para transformar la cultura en una forma instrumental de generación de riqueza y de esta
manera se relegan a un segundo plano valores como la diversidad, el pluralismo y la identidad, pues
la lógica del mercado. capitalista. A partir de
2003, la política cultural también se basa en el desafío de promover la cultura en una concepción más
amplia, es decir, un fenómeno social y humano con múltiples significados. La cultura se entiende en
ple dimensión: simbólica, ciudadana y económica. En este contexto, la política de cultura se
acerca al debate sobre el desarrollo social sostenible y la economía solidaria. Lo que se aprecia en el
eamientos del Plan Nacional de Cultura (Ley
No. 12.343 / 2010) y en la política nacional Cultura Viva / Pontos de Cultura (Lei Cultura Viva 13.018 /
2014). Ambos conceptos aparecen de manera conflictiva y contradictoria para expresar la dimensión
Economic dimension in national culture policy: an approach to the solidary economy
present an analysis of the national culture policy with emphasis on its
articulation with the theme of the economy of culture and development. The text seeks to demonstrate
that the culture agenda in government policies became central when it started to be
recognized as a
commodity, that is, in its relationship with the market, as a product to be commercialized. In this
condition, the culture policy is legitimized as an important economic and industrial instrument for
ension of culture can be identified from the different
concepts and proposals for organizing the sector, such as "creative industries" or "creative economy".
Such an economicist conception of culture is an appropriation to transform culture into an instrum
ental
form of wealth generation and in this way values such as diversity, pluralism and identity are relegated
to the background, as the emphasis becomes the subordination of culture to the logic of the market.
o based on the challenge of promoting culture in a broader
conception, that is, a social and human phenomenon with multiple meanings. Culture is understood in
its triple dimension: symbolic, citizen and economic. In this context, the culture policy comes c
lose to
the debate on sustainable social development and the solidarity economy. What can be seen in the
analysis of public management instruments, in the guidelines of the National Culture Plan (Law No.
va / Pontos de Cultura (Lei Cultura Viva 13.018 /
2014). Both concepts appear in a conflicting and contradictory way to express the economic
A dimensão econômica na política nacional de cultura: uma aproximação com
conceito de Economia da Cultura
como forma de contribuição para o
mento econômico e social
sustentável, da mesma forma a
produção e o consumo de bens
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
culturais promovendo a economia. Por
essa razão, a cultura passou a ser
expressa em “cifras” econômicas,
tanto em termos mundiais como em
nacionais. Entretanto, são inegáve
exclusões sociais que o sistema gerou
no segmento cultural.
A escassez de recursos, as
dificuldades de acesso aos meios de
produção, os monopólios comerciais e
a concentração geográfica revelam a
importância da resistência
representada, por exemplo,
alternativas de grupos culturais que se
organizam de forma solidária,
colaborativa e autogestionária na
busca de sustentabilidade. Com as
políticas públicas incluindo esta outra
concepção de dimensão econômica,
diferentes formas de organização da
pr
odução foram reconhecidas, entre
elas, a interface da Economia da
Cultura com a economia solidária.
Como expressão desta política
está a Lei Cultura Viva (13.018/14)
visando o desenvolvimento de políticas
públicas integradas à promoção das
economias criat
iva e solidária. Nesta
tendência, a Economia Solidária pode
ser entendida como proposta e desafio
novos: refletir sobre a Economia
Solidária da Cultura é lançar luzes
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
culturais promovendo a economia. Por
essa razão, a cultura passou a ser
expressa em “cifras” econômicas,
tanto em termos mundiais como em
nacionais. Entretanto, são inegáve
is as
exclusões sociais que o sistema gerou
A escassez de recursos, as
dificuldades de acesso aos meios de
produção, os monopólios comerciais e
a concentração geográfica revelam a
importância da resistência
representada, por exemplo,
pelas
alternativas de grupos culturais que se
organizam de forma solidária,
colaborativa e autogestionária na
busca de sustentabilidade. Com as
políticas públicas incluindo esta outra
concepção de dimensão econômica,
diferentes formas de organização da
odução foram reconhecidas, entre
elas, a interface da Economia da
Cultura com a economia solidária.
Como expressão desta política
está a Lei Cultura Viva (13.018/14)
visando o desenvolvimento de políticas
públicas integradas à promoção das
iva e solidária. Nesta
tendência, a Economia Solidária pode
ser entendida como proposta e desafio
novos: refletir sobre a Economia
Solidária da Cultura é lançar luzes
sobre a cidadania cultural entendida
como um conjunto de direitos e valores
que sedimenta
modos de vida e
processos participativos sobre o fazer
cultural.
2 A
s contradições da cultura como
política de desenvolvimento e da
cultura como
commodity
A cultura passou a ser
reconhecida mundialmente como fator
de desenvolvimento econômico e
social, e
a partir deste reconhecimento
surgiram diferentes conceitos e
propostas para organizar o setor.
A partir da década de 1980,
surgiu na agenda internacional o
debate sobre a reforma do Estado. O
cenário era de crise financeira dos
países desenvolvidos, instabilidade
política dos governos autoritários e o
desmantelamento dos estados
socialistas, o que i
nfluenciou na forma
de repensar o Estado. Passou a
vigorar um discurso por um Estado
mais “eficiente” e isto significou, dentre
outras questões, na proposição de
diminuição do seu tamanho. Duas
posições orientaram esse debate: a
dos neoliberais e a dos so
O primeiro defende o Estado mínimo e
a regulação pelo mercado, enquanto o
231
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
sobre a cidadania cultural entendida
como um conjunto de direitos e valores
modos de vida e
processos participativos sobre o fazer
s contradições da cultura como
política de desenvolvimento e da
commodity
A cultura passou a ser
reconhecida mundialmente como fator
de desenvolvimento econômico e
a partir deste reconhecimento
surgiram diferentes conceitos e
propostas para organizar o setor.
A partir da década de 1980,
surgiu na agenda internacional o
debate sobre a reforma do Estado. O
cenário era de crise financeira dos
países desenvolvidos, instabilidade
política dos governos autoritários e o
desmantelamento dos estados
nfluenciou na forma
de repensar o Estado. Passou a
vigorar um discurso por um Estado
mais “eficiente” e isto significou, dentre
outras questões, na proposição de
diminuição do seu tamanho. Duas
posições orientaram esse debate: a
dos neoliberais e a dos so
cial-liberais.
O primeiro defende o Estado mínimo e
a regulação pelo mercado, enquanto o
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
segundo advoga por um Estado forte e
ágil, com capacidade de preservar os
direitos sociais (OLIVEIRA; SILVA
2010).
Esse contexto de debate afetou
diretamente a inclus
ão da temática da
cultura na política pública. Em termos
internacionais, o conceito de política
pública cultural foi proposto, em 1969,
pela Organização das Nações Unidas
para Educação, Ciência e Cultura
(Unesco), solicitando que os governos
introduzissem
a cultura em suas ações
(REIS, 2007). Iniciou-
se, então, uma
sequência de fatos que orientaram as
diretrizes de atuação das políticas
públicas para a cultura.
Em 1982, a Conferência
Mundial de Políticas Culturais
(Mondiacult), sob a orientação da
Unesco,
esboçou o conceito
relacionando cultura e
desenvolvimento
3
. Em seguida, em
3
Foi a partir dos anos 1970 que o viés
economicista do desenvolvimento se
corrompeu visto o alto grau de deterioração
das condições ambientais. Como mostra o
pesquisador, a comunidade internacional se
mobilizou na adoção de medidas cautelosas
com intuito de frear a degradação ambiental.
Primeiro, uma publicação pela fundação sue
Dag Hammarskjöld, em 1975, com um
relatório sobre desenvolvimento. Esse fato
desencadeou debates na Assembleia Geral
das Nações Unidas, no qual Ignacy Sachs
apresentou o conceito de desenvolvimento
sustentável “
ser endógeno, autoconfiante,
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
segundo advoga por um Estado forte e
ágil, com capacidade de preservar os
direitos sociais (OLIVEIRA; SILVA
,
Esse contexto de debate afetou
ão da temática da
cultura na política pública. Em termos
internacionais, o conceito de política
pública cultural foi proposto, em 1969,
pela Organização das Nações Unidas
para Educação, Ciência e Cultura
(Unesco), solicitando que os governos
a cultura em suas ações
se, então, uma
sequência de fatos que orientaram as
diretrizes de atuação das políticas
Em 1982, a Conferência
Mundial de Políticas Culturais
(Mondiacult), sob a orientação da
esboçou o conceito
relacionando cultura e
. Em seguida, em
Foi a partir dos anos 1970 que o viés
economicista do desenvolvimento se
corrompeu visto o alto grau de deterioração
das condições ambientais. Como mostra o
pesquisador, a comunidade internacional se
mobilizou na adoção de medidas cautelosas
com intuito de frear a degradação ambiental.
Primeiro, uma publicação pela fundação sue
ca
Dag Hammarskjöld, em 1975, com um
relatório sobre desenvolvimento. Esse fato
desencadeou debates na Assembleia Geral
das Nações Unidas, no qual Ignacy Sachs
apresentou o conceito de desenvolvimento
ser endógeno, autoconfiante,
1986, a Unesco publicou o primeiro
Framework of Cultural Statistics
(Quadro da Estatística Cultural)
utilizando o termo “indústrias culturais”,
no plural, para significar a dimensão
econômica comercial do setor cultural.
O termo indústria cultural, associado à
“ideia de sociedade de consumo e de
objetificação da cultura para a
dominação e alienação das massas”
teoria desenvolvida na escola
alemã de Frankfurt por Adorno e
Horkheimer
permaneceu sendo
utilizado pela Unesco como uma forma
operacional para o universo comercial
da cultura (BRASIL, 2016, p.20).
Adiante, em 1988, a Organização das
Nações Unidas (ONU) lançou a
Década Mundial de Desenvolvimento
Cultural, reconhecendo que o
desenvolvimento havia fracassado
“porque a importância do fator humano
foi subestimada”. Em 1990, a ideia de
desenvolvimento se apresentou como
nova dimensão, redefinindo
“direitos políticos, civis, cívicos, direitos
econômicos sociais e
direitos coletivos como o direito ao
proceder em h
armonia com a natureza, operar
a partir da lógica das necessidades e não do
mercado, valorizar os valores de uso e não de
troca
” (OLIVEIRA, 2014, p.
232
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
1986, a Unesco publicou o primeiro
Framework of Cultural Statistics
(Quadro da Estatística Cultural)
utilizando o termo “indústrias culturais”,
no plural, para significar a dimensão
econômica comercial do setor cultural.
O termo indústria cultural, associado à
“ideia de sociedade de consumo e de
objetificação da cultura para a
dominação e alienação das massas”
teoria desenvolvida na escola
alemã de Frankfurt por Adorno e
permaneceu sendo
utilizado pela Unesco como uma forma
operacional para o universo comercial
da cultura (BRASIL, 2016, p.20).
Adiante, em 1988, a Organização das
Nações Unidas (ONU) lançou a
Década Mundial de Desenvolvimento
Cultural, reconhecendo que o
desenvolvimento havia fracassado
“porque a importância do fator humano
foi subestimada”. Em 1990, a ideia de
desenvolvimento se apresentou como
nova dimensão, redefinindo
-se como:
“direitos políticos, civis, cívicos, direitos
econômicos sociais e
culturais,
direitos coletivos como o direito ao
armonia com a natureza, operar
a partir da lógica das necessidades e não do
mercado, valorizar os valores de uso e não de
” (OLIVEIRA, 2014, p.
373).
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
meio ambiente, à infância” (OLIVEIRA,
2014, p. 375 –
grifo nosso).
Após a década considerada de
“desenvolvimento cultural”, o debate
pela cultura mostrou
consolidado. Isso pôde ser verificado
na Conferência In
tergovernamental
sobre políticas culturais para o
desenvolvimento, em Estocolmo
(capital da Suécia), quando a Unesco
afirmou a necessidade de proteção e
promoção das diversidades das
culturas, reconhecendo a urgência em
entender a cultura de forma
abrangen
te, ampliando seu conceito,
distanciando-
se da concepção
industrial. Em 2001, na realização da
31ª Conferência Geral da Unesco, foi
aprovada a Declaração Universal
sobre a Diversidade Cultural.
Consolidando o tema em 2005, em
Paris, durante a 33ª Conferên
Geral, quando foi aprovada a
convenção com o mesmo tema
proteção e promoção das diversidades
culturais. O Brasil, em 2007,
do
Decreto 6.177/07
2007),
promulgou a Convenção sobre
a Proteção e Promoção da
Diversidade das Expressões
assinada em Paris em 20 de outubro
de 2005, ratificada por mais de 146
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
meio ambiente, à infância” (OLIVEIRA,
grifo nosso).
Após a década considerada de
“desenvolvimento cultural”, o debate
pela cultura mostrou
-se mais
consolidado. Isso pôde ser verificado
tergovernamental
sobre políticas culturais para o
desenvolvimento, em Estocolmo
(capital da Suécia), quando a Unesco
afirmou a necessidade de proteção e
promoção das diversidades das
culturas, reconhecendo a urgência em
entender a cultura de forma
te, ampliando seu conceito,
se da concepção
industrial. Em 2001, na realização da
31ª Conferência Geral da Unesco, foi
aprovada a Declaração Universal
sobre a Diversidade Cultural.
Consolidando o tema em 2005, em
Paris, durante a 33ª Conferên
cia
Geral, quando foi aprovada a
convenção com o mesmo tema
proteção e promoção das diversidades
culturais. O Brasil, em 2007,
por meio
Decreto 6.177/07
(BRASIL,
promulgou a Convenção sobre
a Proteção e Promoção da
Diversidade das Expressões
Culturais,
assinada em Paris em 20 de outubro
de 2005, ratificada por mais de 146
países membros
(OLIVEIRA, 2014, p.
378).
Segundo Reis, a política pública
de cultura ultrapassa a existência de
um setor/pasta específico na estrutura
do governo e envolve a
tanto do setor privado quanto da
sociedade civil. A autora faz referência
a duas definições de políticas culturais.
Uma mais específica, tem como
referência Teixeira Coelho para a qual
a política cultural visa “satisfazer as
necessidades cult
urais da população e
promover o desenvolvimento de suas
representações simbólicas, visando à
produção, à distribuição, preservação
e divulgação do patrimônio histórico”
(REIS, 2007,
p.140). Numa segunda
concepção, trazendo Néstor Garcí
Canclini e George Y
apresentam maior ênfase à
transversalidade da cultura na medida
em que “defendem a onipresença da
cultura, na integração das demais
políticas blicas, o que é visto como
requisito básico como
desenvolvimento sustentável” (REIS,
2007, p.141)
. A década de 1990 é
marcada pelo predomínio da segunda
concepção. Tanto na França, com o
ministro da Cultura, Philippe Douste
Blazy, quanto na Inglaterra com o
233
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(OLIVEIRA, 2014, p.
Segundo Reis, a política pública
de cultura ultrapassa a existência de
um setor/pasta específico na estrutura
do governo e envolve a
participação
tanto do setor privado quanto da
sociedade civil. A autora faz referência
a duas definições de políticas culturais.
Uma mais específica, tem como
referência Teixeira Coelho para a qual
a política cultural visa “satisfazer as
urais da população e
promover o desenvolvimento de suas
representações simbólicas, visando à
produção, à distribuição, preservação
e divulgação do patrimônio histórico”
p.140). Numa segunda
concepção, trazendo Néstor Garcí
a
Canclini e George Y
údice, os dois
apresentam maior ênfase à
transversalidade da cultura na medida
em que “defendem a onipresença da
cultura, na integração das demais
políticas blicas, o que é visto como
requisito básico como
desenvolvimento sustentável” (REIS,
. A década de 1990 é
marcada pelo predomínio da segunda
concepção. Tanto na França, com o
ministro da Cultura, Philippe Douste
-
Blazy, quanto na Inglaterra com o
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
primeiro-
ministro, Tony Blair, os
governos passam a incluir de forma
estratégica as políticas c
ulturais numa
perspectiva de articulação entre as
políticas públicas e a potica cultural
de forma transversal. Nesse contexto
emergem as expressões indústria e
economia criativas (REIS, 2007,
p.142).
O conceito de Economia da
Cultura surgiu durante a déc
1960 com contribuições de estudos
acadêmicos apontando a aproximação
entre cultura e economia. O termo
economia criativa despontou trinta
anos depois no âmbito das políticas
culturais de determinados países,
entre eles está a Austrália. Em 1994, o
p
aís lançou o documento
CreativeNation
um programa de
economia e cultura. O termo indústria
criativa também aparece com o
Creative Industries Task Force
principal atividade do Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte (DCMS),
incentivado pelo primeiro
Tony Blair. No mesmo ano foi
publicado o
Creative Industries
Mapping Document,
indústrias criativas e apresentando os
setores que formariam esse
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
ministro, Tony Blair, os
governos passam a incluir de forma
ulturais numa
perspectiva de articulação entre as
políticas públicas e a potica cultural
de forma transversal. Nesse contexto
emergem as expressões indústria e
economia criativas (REIS, 2007,
O conceito de Economia da
Cultura surgiu durante a déc
ada de
1960 com contribuições de estudos
acadêmicos apontando a aproximação
entre cultura e economia. O termo
economia criativa despontou trinta
anos depois no âmbito das políticas
culturais de determinados países,
entre eles está a Austrália. Em 1994, o
aís lançou o documento
um programa de
economia e cultura. O termo indústria
criativa também aparece com o
Creative Industries Task Force
como
principal atividade do Departamento de
Cultura, Mídia e Esporte (DCMS),
incentivado pelo primeiro
-ministro
Tony Blair. No mesmo ano foi
Creative Industries
definindo
indústrias criativas e apresentando os
setores que formariam esse
segmento
4
(BRASIL, 2016
Em 2008, a Conferência das Nações
Unidas sobre Comércio
Desenvolvimento (UNCTAD) publicou
o primeiro Creative
relacionando economia, cultura e
criatividade
no campo desta
discussão estão as indústrias criativas.
Como estratégia, a UNCTAD tem a
preocupação de diferenciar as
atividades tradici
onais e as
relacionadas à criatividade, próximas à
lógica de mercado. Seguindo o mesmo
entendimento, a Unesco publicou o
Framework for Cultural Statistics
(FCS), um documento baseado num
entendimento comum sobre cultura,
independentemente do modo
econômico
e social de produção, para
servir de subsídio à comunidade
nacional e internacional. Em 2010, a
4
Aquelas indústrias que têm origem na
criatividade, habilidades e talentos individuais
com potencial
de criar riquezas e trabalho por
meio da geração e exploração da propriedade
intelectual (DCMS, 2001, p.06). Esse mesmo
documento apresenta os setores que
formariam essas indústrias: propaganda,
arquitetura, mercado de artes e antiguidades,
artesanato, design,
design
vídeo, softwares
interativos, música, artes
performáticas, publicações, serviços de
software
e computação, televisão e rádio. No
escopo desse trabalho estão englobadas
atividades de serviços e comércio, incluindo
ainda áreas c
orrelatas no setor industrial, com
impacto sobre toda a estrutura produtiva da
economia (BRASIL, 2016
,
234
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
(BRASIL, 2016
, p. 16-18).
Em 2008, a Conferência das Nações
Unidas sobre Comércio
e
Desenvolvimento (UNCTAD) publicou
Economy Report
relacionando economia, cultura e
no campo desta
discussão estão as indústrias criativas.
Como estratégia, a UNCTAD tem a
preocupação de diferenciar as
onais e as
relacionadas à criatividade, próximas à
lógica de mercado. Seguindo o mesmo
entendimento, a Unesco publicou o
Framework for Cultural Statistics
(FCS), um documento baseado num
entendimento comum sobre cultura,
independentemente do modo
e social de produção, para
servir de subsídio à comunidade
nacional e internacional. Em 2010, a
Aquelas indústrias que têm origem na
criatividade, habilidades e talentos individuais
de criar riquezas e trabalho por
meio da geração e exploração da propriedade
intelectual (DCMS, 2001, p.06). Esse mesmo
documento apresenta os setores que
formariam essas indústrias: propaganda,
arquitetura, mercado de artes e antiguidades,
design
de moda, filme e
interativos, música, artes
performáticas, publicações, serviços de
e computação, televisão e rádio. No
escopo desse trabalho estão englobadas
atividades de serviços e comércio, incluindo
orrelatas no setor industrial, com
impacto sobre toda a estrutura produtiva da
,
p. 17).
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
UNCTAD lançou um novo relatório
com base naquele publicado em 2008,
considerando o debate realizado com
ampla participação de acadêmicos e
governos. Constatou-
se que existem
dificuldades de consenso tanto entre
acadêmicos quanto entre gestores de
políticas públicas para a identificação
da Economia da Cultura como
economia criativa ou indústrias
criativas e culturais. Desta forma, o
relatório reproduziu as mesmas
categorias utilizadas em 2008:
Entender a economia criativa é
preciso entender os conceitos de
indústrias criativas e indústrias
culturais [...] embora reconheça
que a definição de indústrias
criativas é uma tarefa
complicada, pois observou que o
conceito
foi alvo de desacordos
tanto no campo acadêmico
quanto nos âmbitos de
formulação de políticas públicas
(UNCTAD, 2010, p. 4
BRASIL, 2016, p. 27).
A cultura ganhou espaço no
debate internacional em função do
comércio internacional e da
propriedade intelectual. Organizações
que antes restringiam o debate sobre
cultura a questões relativas ao
patrimônio e à memória voltaram
Economia da Cultura, co
mo nos casos
da Organização Internacional do
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
UNCTAD lançou um novo relatório
com base naquele publicado em 2008,
considerando o debate realizado com
ampla participação de acadêmicos e
se que existem
dificuldades de consenso tanto entre
acadêmicos quanto entre gestores de
políticas públicas para a identificação
da Economia da Cultura como
economia criativa ou indústrias
criativas e culturais. Desta forma, o
relatório reproduziu as mesmas
categorias utilizadas em 2008:
Entender a economia criativa é
preciso entender os conceitos de
indústrias criativas e indústrias
culturais [...] embora reconheça
que a definição de indústrias
criativas é uma tarefa
complicada, pois observou que o
foi alvo de desacordos
tanto no campo acadêmico
quanto nos âmbitos de
formulação de políticas públicas
(UNCTAD, 2010, p. 4
apud
BRASIL, 2016, p. 27).
A cultura ganhou espaço no
debate internacional em função do
comércio internacional e da
propriedade intelectual. Organizações
que antes restringiam o debate sobre
cultura a questões relativas ao
patrimônio e à memória voltaram
-se à
mo nos casos
da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), UNCTAD, do
Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), entre
outros. Miguez chama atenção para o
fato de que neste contexto ganhou
destaque a questão da propriedade
intelectual que
perpassa interesses
capitaneados por grandes
corporações, dentre elas, as indústrias
fonográfica, do audiovisual e de
software
. Inclusive o interesse ao
combate à pirataria, por visar menor
proteção dos direitos do autor visto
como “mero provedor de conteú
maior salvaguarda das grandes
corporações (MIGUEZ, 2009, p. 59).
O autor analisa a articulação
entre cultura e economia nos debates
sobre propriedade intelectual e
comércio internacional:
Na arena de negociações sobre o
comércio internacional, a cu
é ponto importante desde 1993
quando na Rodada Uruguaia do
GATT, teve início o debate
referente ao setor de serviços
que inclui, dentre outras, a área
da produção audiovisual. Quanto
à propriedade intelectual, e
especificamente no que concerne
aos
direitos do autor, tema
imensamente caro ao campo da
criação cultural e intensamente
vinculado às questões do
comércio internacional, o debate
não é menos importante
(MIGUEZ, 2009, p. 58).
235
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Trabalho (OIT), UNCTAD, do
Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), entre
outros. Miguez chama atenção para o
fato de que neste contexto ganhou
destaque a questão da propriedade
perpassa interesses
capitaneados por grandes
corporações, dentre elas, as indústrias
fonográfica, do audiovisual e de
. Inclusive o interesse ao
combate à pirataria, por visar menor
proteção dos direitos do autor visto
como “mero provedor de conteú
do” e
maior salvaguarda das grandes
corporações (MIGUEZ, 2009, p. 59).
O autor analisa a articulação
entre cultura e economia nos debates
sobre propriedade intelectual e
comércio internacional:
Na arena de negociações sobre o
comércio internacional, a cu
ltura
é ponto importante desde 1993
quando na Rodada Uruguaia do
GATT, teve início o debate
referente ao setor de serviços
que inclui, dentre outras, a área
da produção audiovisual. Quanto
à propriedade intelectual, e
especificamente no que concerne
direitos do autor, tema
imensamente caro ao campo da
criação cultural e intensamente
vinculado às questões do
comércio internacional, o debate
não é menos importante
(MIGUEZ, 2009, p. 58).
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
São várias as questões
problemáticas geradas pela
globalização do
mercado e a forma
como a produção cultural é vista
apenas como recurso disponível e
fonte inesgotável de acumulação para
as corporações. Neste contexto de
crescente inserção dos interesses
comerciais como atividade cultural,
ganhou destaque uma nova
conce
pção industrial em torno do
conceito de Economia da Cultura.
Numa perspectiva crítica, a
pesquisadora em cultura Luana Vilutis
(2015), faz referências com as quais
compartilhamos. Para a autora, a
importância da cultura para o mercado
é visível, tanto por
ser transformada
em commodity,
quanto pelo fato da
cultura passar a contemplar o universo
da digitalização.
O pesquisador David Harvey no
texto “Arte da Renda: a globalização e
transformação da cultura em
Commodities
aborda o conceito de
“renda monopolis
ta”, as contradições
dos direitos monopolistas da
propriedade privada e em
consequência os pretensos direitos de
propriedade intelectual. Para o autor, a
ideia de cultura estaria enredada a
reassegurar o poder monopolista.
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
São várias as questões
problemáticas geradas pela
mercado e a forma
como a produção cultural é vista
apenas como recurso disponível e
fonte inesgotável de acumulação para
as corporações. Neste contexto de
crescente inserção dos interesses
comerciais como atividade cultural,
ganhou destaque uma nova
pção industrial em torno do
conceito de Economia da Cultura.
Numa perspectiva crítica, a
pesquisadora em cultura Luana Vilutis
(2015), faz referências com as quais
compartilhamos. Para a autora, a
importância da cultura para o mercado
ser transformada
quanto pelo fato da
cultura passar a contemplar o universo
O pesquisador David Harvey no
texto “Arte da Renda: a globalização e
transformação da cultura em
aborda o conceito de
ta”, as contradições
dos direitos monopolistas da
propriedade privada e em
consequência os pretensos direitos de
propriedade intelectual. Para o autor, a
ideia de cultura estaria enredada a
reassegurar o poder monopolista.
Harvey defende que as alegações d
singularidade e autenticidade podem
ser facilmente inseridas num discurso
proporcionando benefícios ao
mercado, uma vez que a incessante
busca por renda monopolista implica
em critérios de especialidade,
singularidade, originalidade,
autenticidade e o ap
inseridos numa linguagem que pode
variar conforme a motivação do
negócio (HARVEY, 2005).
O risco está em transformar a
cultura em apenas um item a mais na
economia, reduzindo
-
à inovação da produção. Dessa forma,
seria um
incremento na lógica do
mercado transformar a cultura numa
maneira instrumental da acumulação
de riqueza.
Com isso, perderia a
especificidade cultural ao ser tratada
como produto no campo do mercado,
abandonando a dimensão cidadã.
Chamamos atenção para as
consequências apontadas pela
pesquisadora Vilutis: a cultura
absorvida pela economia,
transformando bens simbólicos, de
valor imaterial, em meros produtos do
mercado. Diversidade, pluralismo e
identidade relegados num segundo
236
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Harvey defende que as alegações d
e
singularidade e autenticidade podem
ser facilmente inseridas num discurso
proporcionando benefícios ao
mercado, uma vez que a incessante
busca por renda monopolista implica
em critérios de especialidade,
singularidade, originalidade,
autenticidade e o ap
elo à tradição,
inseridos numa linguagem que pode
variar conforme a motivação do
negócio (HARVEY, 2005).
O risco está em transformar a
cultura em apenas um item a mais na
-
a à criatividade e
à inovação da produção. Dessa forma,
incremento na lógica do
mercado transformar a cultura numa
maneira instrumental da acumulação
Com isso, perderia a
especificidade cultural ao ser tratada
como produto no campo do mercado,
abandonando a dimensão cidadã.
Chamamos atenção para as
consequências apontadas pela
pesquisadora Vilutis: a cultura
absorvida pela economia,
transformando bens simbólicos, de
valor imaterial, em meros produtos do
mercado. Diversidade, pluralismo e
identidade relegados num segundo
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
plano, pois a ênfase passa a
subordinação da cultura à lógica do
mercado capitalista.
O principal aspecto distintivo das
indústrias criativas em relação à
indústria cultural é o destaque
dado às funções secundárias,
utilitárias e funcionais dos bens e
serviços culturais que pa
ter maior peso econômico nas
indústrias criativas. Isso fica
evidente na incorporação de
setores como design, moda,
softwares informáticos e
publicidade na indústria criativa, e
no deslocamento do discurso da
cultura para a criatividade. É
caracterí
stica desse processo a
ampliação da difusão da
dimensão cultural de bens
materiais em geral (VILUTIS,
2015, p. 38).
Essa subordinação é mediada
pela revolução tecnológica na cultura e
a crescente incorporação das
tecnologias de informação,
comunicação e d
igitalização da
produção cultural. Para Vilutis, o
impacto das Tecnologias de
Informação e Comunicação (TICs)
digitalização na produção cultural
também têm relação com o conceito
de economia criativa situado no
universo da sociedade em rede. Daí,
por
exemplo, o interesse no Reino
Unido em firmar sua competitividade
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
plano, pois a ênfase passa a
ser a
subordinação da cultura à lógica do
O principal aspecto distintivo das
indústrias criativas em relação à
indústria cultural é o destaque
dado às funções secundárias,
utilitárias e funcionais dos bens e
serviços culturais que pa
ssam a
ter maior peso econômico nas
indústrias criativas. Isso fica
evidente na incorporação de
setores como design, moda,
softwares informáticos e
publicidade na indústria criativa, e
no deslocamento do discurso da
cultura para a criatividade. É
stica desse processo a
ampliação da difusão da
dimensão cultural de bens
materiais em geral (VILUTIS,
Essa subordinação é mediada
pela revolução tecnológica na cultura e
a crescente incorporação das
tecnologias de informação,
igitalização da
produção cultural. Para Vilutis, o
impacto das Tecnologias de
Informação e Comunicação (TICs)
5
e a
digitalização na produção cultural
também têm relação com o conceito
de economia criativa situado no
universo da sociedade em rede. Daí,
exemplo, o interesse no Reino
Unido em firmar sua competitividade
no mercado globalizado, considerando
a cultura criativa. Trata
período marcado pelo
enfraquecimento do Estado regulador
em que o poder é deslocado para o
mercado. A autora acrescent
o conceito de indústria criativa com
base na criatividade, na habilidade e
no talento individuais, que utiliza a
propriedade intelectual para a geração
de riqueza sendo estritamente
economicista, com vistas ao fato de
movimentar a economia, produ
patentes e valorizar o talento
individual.
Em vista disso, para Vilutis “o
que está em jogo é gerar
conhecimento e emoção junto a novas
transações comerciais” (VILUTIS,
2015, p. 42). A autora prossegue,
sendo incisiva ao afirmar que a
escolha de ativi
dades que integram a
lista da indústria criativa foi uma
definição política. No Reino Unido, por
exemplo, o software
desta lista teve como finalidade o
fortalecimento da proteção ao
copyright
para aumentar o Produto
Interno Bruto (PIB) das
criativas, atendendo às reivindicações
da indústria do
software
da extensão da propriedade intelectual
237
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
no mercado globalizado, considerando
a cultura criativa. Trata
-se de um
período marcado pelo
enfraquecimento do Estado regulador
em que o poder é deslocado para o
mercado. A autora acrescent
a, ainda,
o conceito de indústria criativa com
base na criatividade, na habilidade e
no talento individuais, que utiliza a
propriedade intelectual para a geração
de riqueza sendo estritamente
economicista, com vistas ao fato de
movimentar a economia, produ
zir
patentes e valorizar o talento
Em vista disso, para Vilutis “o
que está em jogo é gerar
conhecimento e emoção junto a novas
transações comerciais” (VILUTIS,
2015, p. 42). A autora prossegue,
sendo incisiva ao afirmar que a
dades que integram a
lista da indústria criativa foi uma
definição política. No Reino Unido, por
como integrante
desta lista teve como finalidade o
fortalecimento da proteção ao
para aumentar o Produto
Interno Bruto (PIB) das
indústrias
criativas, atendendo às reivindicações
software
e fazendo uso
da extensão da propriedade intelectual
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
(audiovisual, fonográfica, editorial e
software) (VILUTIS, 2015).
Tal concepção influenciou
diretamente as políticas de cultura
adotadas no Brasil no período de
hegemonia neoliberal. No Entanto, a
partir de 2003, no governo Lula, uma
nova gestão no Ministério da Cultura
(MinC) incorporou uma concepção
crítica e alternativa ao desafiar o
descaso histórico das políticas
culturais, co
mo aponta Rubim (2010),
traduzidas em “ausências,
autoritarismos e instabilidades”. Em
especial, as gestões dos ministros
Gilberto Gil (2003
2008) e Juca
Ferreira (2008
2010) foram
marcantes no enfrentamento de tais
descasos com o fortalecimento de uma
concepção de cultura como direito de
cidadania, dever do Estado, como bem
público e como expressão da
diversidade.
Em seu discurso de posse, Gil
propôs que o Estado seja ativo com a
formulação e implantação de políticas
públicas. No cenário brasileiro,
tradicionais as leis de incentivo, tendo
consequências como, por exemplo, a
“retração da atuação e do poder de
deliberação de Estado em detrimento
das empresas” (RUBIM, 2010, p.12).
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
(audiovisual, fonográfica, editorial e
Tal concepção influenciou
diretamente as políticas de cultura
adotadas no Brasil no período de
hegemonia neoliberal. No Entanto, a
partir de 2003, no governo Lula, uma
nova gestão no Ministério da Cultura
(MinC) incorporou uma concepção
crítica e alternativa ao desafiar o
descaso histórico das políticas
mo aponta Rubim (2010),
traduzidas em “ausências,
autoritarismos e instabilidades”. Em
especial, as gestões dos ministros
2008) e Juca
2010) foram
marcantes no enfrentamento de tais
descasos com o fortalecimento de uma
concepção de cultura como direito de
cidadania, dever do Estado, como bem
público e como expressão da
Em seu discurso de posse, Gil
propôs que o Estado seja ativo com a
formulação e implantação de políticas
públicas. No cenário brasileiro,
o
tradicionais as leis de incentivo, tendo
consequências como, por exemplo, a
“retração da atuação e do poder de
deliberação de Estado em detrimento
das empresas” (RUBIM, 2010, p.12).
Para superação de tal
instabilidade, Rubim apontou, como
fator essencia
l a possibilidade de
implementação de políticas de Estado
e o mais apenas políticas de
governos. Para isso, três movimentos
relevantes foram desencadeados: a
criação do Sistema Nacional de
Cultura (SNC), o Plano Nacional de
Cultura (PNC) e o financiament
público.
Inicialmente, a proposta de
criação do Sistema Nacional de
Cultura (SNC), cujo
principal objetivo é
a organização do setor cultural com a
finalidade de organizar a gestão
pública de cultura em regime de
colaboração, de forma descentralizada
e participativa para o desenvolvimento
de “políticas públicas de cultura,
democráticas e perm
pactuadas entre os entes da
Federação e a sociedade”. O SNC é a
estrutura básica indicada aos sistemas
dos entes federativos
municípios
, compreendido por nove
elementos estruturantes. São eles: um
órgão gestor que responde pelas
polí
ticas culturais, o chamado
Conselho, Plano e Fundo da Cultura
(CPF da Cultura), composto pelo
Conselho de Políticas Culturais, Plano
238
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Para superação de tal
instabilidade, Rubim apontou, como
l a possibilidade de
implementação de políticas de Estado
e o mais apenas políticas de
governos. Para isso, três movimentos
relevantes foram desencadeados: a
criação do Sistema Nacional de
Cultura (SNC), o Plano Nacional de
Cultura (PNC) e o financiament
o
Inicialmente, a proposta de
criação do Sistema Nacional de
principal objetivo é
a organização do setor cultural com a
finalidade de organizar a gestão
pública de cultura em regime de
colaboração, de forma descentralizada
e participativa para o desenvolvimento
de “políticas públicas de cultura,
democráticas e perm
anentes,
pactuadas entre os entes da
Federação e a sociedade”. O SNC é a
estrutura básica indicada aos sistemas
dos entes federativos
estados e
, compreendido por nove
elementos estruturantes. São eles: um
órgão gestor que responde pelas
ticas culturais, o chamado
Conselho, Plano e Fundo da Cultura
(CPF da Cultura), composto pelo
Conselho de Políticas Culturais, Plano
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
de Cultura e o Sistema de
Financiamento à Cultura; a
Conferência de Cultura; o Sistema de
Informação e Indicadores, os sist
setoriais e inclui, ainda, um programa
que pense a formação na área de
cultura (BRASIL, 2016).
Outro movimento destacado foi
a criação do
Plano Nacional de Cultura
(PNC), previsto no
artigo 215 da
Constituição Federal. O
instituído pela Lei n
º 12.343, de 2 de
dezembro de 2010, para orientar o
desenvolvimento de programas,
projetos e ões
culturais
garantam a valorização, o
reconhecimento, a promoção e a
preservação da diversidade
existente no Brasil (BRASIL, 2010).
Por último, criou-se a
Proposta de
Emenda Constitucional (PEC) 150
para destinar recursos à cultura.
Apresentada em 3 de setembro de
2003, a PEC s
ignificaria um aumento e
vinculação do orçamento nacional para
o setor cultural contra a histórica
instabilidade. A proposta
prevê 2% do
orçamento nacional, 1,5% dos
estaduais e 1% dos municipais
(RUBIM, 2010, p. 18). No entanto, o
documento encontra-
se estacionado
no Congresso Nacional sem
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
de Cultura e o Sistema de
Financiamento à Cultura; a
Conferência de Cultura; o Sistema de
Informação e Indicadores, os sist
emas
setoriais e inclui, ainda, um programa
que pense a formação na área de
Outro movimento destacado foi
Plano Nacional de Cultura
artigo 215 da
Constituição Federal. O
PNC foi
º 12.343, de 2 de
dezembro de 2010, para orientar o
desenvolvimento de programas,
culturais
que
garantam a valorização, o
reconhecimento, a promoção e a
preservação da diversidade
cultural
existente no Brasil (BRASIL, 2010).
Proposta de
Emenda Constitucional (PEC) 150
para destinar recursos à cultura.
Apresentada em 3 de setembro de
ignificaria um aumento e
vinculação do orçamento nacional para
o setor cultural contra a histórica
prevê 2% do
orçamento nacional, 1,5% dos
estaduais e 1% dos municipais
(RUBIM, 2010, p. 18). No entanto, o
se estacionado
no Congresso Nacional sem
status de
tramitação desde 2015
2003).
Contrariamente ao histórico
brasileiro d
e políticas autoritárias (
down
) o diálogo prevaleceu
caracterizado pela atuação abrangente
e a construção de políticas blicas
por meio da interlocução com a
sociedade civil. Esta forma de trabalho
foi dominante nas gestões dos
ministros da Cultura Gi
Ferreira. Como se refere Rubim, a
atuação do Ministério da Cultura, neste
período, se configurou como uma
espécie de “dimensão inauguradora”.
Um exemplo é a valorização e
reconhecimento das culturas
populares:
A abertura
conceitual e p
significa o abandono da visão
elitista e discriminadora de
cultura. Ela representa um
contraponto ao autoritarismo
estrutural incrustado em nossa
história cultural. Este
deslocamento de foco e de olhar
está expresso de modo
emblemático na reiterad
afirmação de Gil e Juca que o
público prioritário da atuação do
Ministério é a sociedade brasileira
e não apenas os criadores
culturais. Com isto, fica
demarcada a nova relação
política que se quer instituir no
campo cultural brasileiro (RUBIM,
2010, p. 15).
239
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
tramitação desde 2015
(BRASIL,
Contrariamente ao histórico
e políticas autoritárias (
top-
) o diálogo prevaleceu
caracterizado pela atuação abrangente
e a construção de políticas blicas
por meio da interlocução com a
sociedade civil. Esta forma de trabalho
foi dominante nas gestões dos
ministros da Cultura Gi
lberto Gil e Juca
Ferreira. Como se refere Rubim, a
atuação do Ministério da Cultura, neste
período, se configurou como uma
espécie de “dimensão inauguradora”.
Um exemplo é a valorização e
reconhecimento das culturas
conceitual e p
rática
significa o abandono da visão
elitista e discriminadora de
cultura. Ela representa um
contraponto ao autoritarismo
estrutural incrustado em nossa
história cultural. Este
deslocamento de foco e de olhar
está expresso de modo
emblemático na reiterad
a
afirmação de Gil e Juca que o
público prioritário da atuação do
Ministério é a sociedade brasileira
e não apenas os criadores
culturais. Com isto, fica
demarcada a nova relação
política que se quer instituir no
campo cultural brasileiro (RUBIM,
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
Esta abertura conceitual
significou para o Brasil o
reconhecimento da diversidade cultural
existente. A cultura no Brasil foi
incentivada ao longo dos tempos
somente nas áreas das artes e do
patrimônio. A partir de 2003, com a
dimensão antropológica
6
, o Ministério
ampliou sua atuação e incluiu as
culturas populares, afro
indígenas, de gênero, de orientação
sexual, das periferias, audiovisuais,
das redes e tecnologias digitais, entre
outras (RUBIM, 2010, p.14). Esta
inclusão pôde ser acomp
âmbito das propostas, como as metas
do PNC.
No entanto, contraditoriamente
a lógica mercantil da cultura
6
O termo Antropologia neste contexto,
remete ao esquema elaborado por Roger
Keesing sobre cultura. Segundo ele, são
sistemas de padrões de comportamento
socialmente transmitidos que servem para
adaptar as comunidades humanas aos seus
embasamentos biológicos
. Esse modo de vida
das comunidades inclui tecnologias e modos
de organização econômica, padrões de
estabelecimento, de agrupamento social e
organização política, crenças e práticas
religiosas, e assim por diante. Em segundo,
Keesing refere-se às teorias i
dealistas de
cultura, considera cultura como sistema
cognitivo, assim a Antropologia tem se
apropriado dos métodos linguísticos, depois,
cultura como sistemas estruturais. E por
último, Keesing considera cultura como
sistemas simbólicos, um conjunto de con
planos, receitas, regras, instruções (KEESING
apud LARAIA, 1986, p. 59-62).
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
Esta abertura conceitual
significou para o Brasil o
reconhecimento da diversidade cultural
existente. A cultura no Brasil foi
incentivada ao longo dos tempos
somente nas áreas das artes e do
patrimônio. A partir de 2003, com a
, o Ministério
ampliou sua atuação e incluiu as
culturas populares, afro
-brasileiras,
indígenas, de gênero, de orientação
sexual, das periferias, audiovisuais,
das redes e tecnologias digitais, entre
outras (RUBIM, 2010, p.14). Esta
inclusão pôde ser acomp
anhada no
âmbito das propostas, como as metas
No entanto, contraditoriamente
a lógica mercantil da cultura
O termo Antropologia neste contexto,
remete ao esquema elaborado por Roger
Keesing sobre cultura. Segundo ele, são
sistemas de padrões de comportamento
socialmente transmitidos que servem para
adaptar as comunidades humanas aos seus
. Esse modo de vida
das comunidades inclui tecnologias e modos
de organização econômica, padrões de
estabelecimento, de agrupamento social e
organização política, crenças e práticas
religiosas, e assim por diante. Em segundo,
dealistas de
cultura, considera cultura como sistema
cognitivo, assim a Antropologia tem se
apropriado dos métodos linguísticos, depois,
cultura como sistemas estruturais. E por
último, Keesing considera cultura como
sistemas simbólicos, um conjunto de con
trole,
planos, receitas, regras, instruções (KEESING
continuava presente o que demonstra
a força da agenda neoliberal neste
campo.
Anteriormente a ideologia
neoliberal esteve presente e ativa na
políticas culturais. Exemplo disto foi a
criação dos incentivos fiscais e a
subjugação dos projetos culturais às
empresas. Com isso, podemos
mencionar a criação da Lei Sarney
7.505, de 1986, conhecida como Lei
Sarney de Incentivo à Cultura. Durante
o
governo Collor foi criada a Lei
Rouanet 8.313, em 1991, instituindo
o Programa Nacional de Apoio à
Cultura (Pronac) em substituição à Lei
Sarney (BRASIL, 2016).
Em 2004, já no governo Lula, no
Fórum Cultural Mundial, o evento
pensado para agrupar inicia
valorizando e promovendo a cultura,
também debateu a sua dimensão
econômica. Isto aconteceu com a
presença
da “Secretaria Municipal de
Cultura, Secretaria de Estado da
Cultura, Sesc São Paulo, Ministério da
Cultura e Instituto Casa Via Magia,
com apoio da
Ford Foundation
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae) e com a
gestão da Rede Brasil de Promotores
Culturais
(SESC/SP, 2004). Em 2005,
240
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
continuava presente o que demonstra
a força da agenda neoliberal neste
Anteriormente a ideologia
neoliberal esteve presente e ativa na
s
políticas culturais. Exemplo disto foi a
criação dos incentivos fiscais e a
subjugação dos projetos culturais às
empresas. Com isso, podemos
mencionar a criação da Lei Sarney
7.505, de 1986, conhecida como Lei
Sarney de Incentivo à Cultura. Durante
governo Collor foi criada a Lei
Rouanet 8.313, em 1991, instituindo
o Programa Nacional de Apoio à
Cultura (Pronac) em substituição à Lei
Sarney (BRASIL, 2016).
Em 2004, já no governo Lula, no
Fórum Cultural Mundial, o evento
pensado para agrupar inicia
tivas
valorizando e promovendo a cultura,
também debateu a sua dimensão
econômica. Isto aconteceu com a
da “Secretaria Municipal de
Cultura, Secretaria de Estado da
Cultura, Sesc São Paulo, Ministério da
Cultura e Instituto Casa Via Magia,
Ford Foundation
e do
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae) e com a
gestão da Rede Brasil de Promotores
(SESC/SP, 2004). Em 2005,
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
em Salvador (Bahia), foi realizado o
Fórum Internacional de Indústrias
Criativas,
com apoio do Banco
Interamericano de Desenvolvimento
(BID) com a realização conjunta entre
MinC e UNCTAD. O Fórum previa a
criação de um Centro Internacional de
Indústrias Criativas.
Em 2006, o evento Fórum
Cultural Mundial foi realizado
novamente na cidad
e do Rio de
Janeiro e em Salvador, debatendo os
temas identidade, diversidade e
desenvolvimento, apresentando a
economia criativa e a questão dos
direitos sobre a propriedade intelectual
(CULTURA E MERCADO, 2006). A
partir de 2007, foram organizados
divers
os seminários e conferências em
diferentes estados, também com
interesse por parte de instituições
públicas e privadas. Os estados de
São Paulo e Rio de Janeiro foram
pioneiros nas iniciativas, definindo
setores e apoiando a cadeia produtiva.
O Sebrae foi
um dos principais
fomentadores da economia criativa
como instituição privada.
No governo Dilma (2011
subsequente ao de Lula, durante a
reestruturação administrativa e política
do MinC foram criados a Secretaria de
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
em Salvador (Bahia), foi realizado o
Fórum Internacional de Indústrias
com apoio do Banco
Interamericano de Desenvolvimento
(BID) com a realização conjunta entre
MinC e UNCTAD. O Fórum previa a
criação de um Centro Internacional de
Em 2006, o evento Fórum
Cultural Mundial foi realizado
e do Rio de
Janeiro e em Salvador, debatendo os
temas identidade, diversidade e
desenvolvimento, apresentando a
economia criativa e a questão dos
direitos sobre a propriedade intelectual
(CULTURA E MERCADO, 2006). A
partir de 2007, foram organizados
os seminários e conferências em
diferentes estados, também com
interesse por parte de instituições
públicas e privadas. Os estados de
São Paulo e Rio de Janeiro foram
pioneiros nas iniciativas, definindo
setores e apoiando a cadeia produtiva.
um dos principais
fomentadores da economia criativa
No governo Dilma (2011
-2015),
subsequente ao de Lula, durante a
reestruturação administrativa e política
do MinC foram criados a Secretaria de
Economia Criativa (SEC) e o Plano
Secretaria da Economia Criativa
(2011-2014
7
). É sugestivo identificar
no texto do plano a alteração da
concepção sobre cultura. Nele,
sugere-
se a alteração de “Onde se
[...],
trabalhador da cultura
trabalhador criativo
economia d
a cultura
economia criativa
2015, p. 101 -
grifo nosso). Para
Paglioto, essas propostas são parte da
influência do uso da concepção de
economia criativa sobre a cultura.
Analisando o desenvolvimento
das políticas públicas culturais no
Brasil, a economia criativa foi
marcante no governo Dilma, e, ainda
que tenha sido amplamente debatida,
existiram numerosos conflitos e pouca
compreensão:
O direcionamento dado pela
gestão de Ana de Hollanda,
caracterizado “[...] por uma
política que busc
mercado e as linguagens
artísticas, em detrimento de
ações com um escopo mais
ampliado do conceito de cultura e
de valorização da participação
social” (CALABRE, 2015, p. 39)
entrou em conflito interno já que a
“relação mercado e cultura n
7
Plano da Secretaria da Economia Criativa:
políticas, diretrizes e ações, 2011
241
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Economia Criativa (SEC) e o Plano
da
Secretaria da Economia Criativa
). É sugestivo identificar
no texto do plano a alteração da
concepção sobre cultura. Nele,
se a alteração de “Onde se
trabalhador da cultura
, leia-se
trabalhador criativo
. Onde se
a cultura
, leia-se
economia criativa
(PAGLIOTO,
grifo nosso). Para
Paglioto, essas propostas são parte da
influência do uso da concepção de
economia criativa sobre a cultura.
Analisando o desenvolvimento
das políticas públicas culturais no
Brasil, a economia criativa foi
marcante no governo Dilma, e, ainda
que tenha sido amplamente debatida,
existiram numerosos conflitos e pouca
O direcionamento dado pela
gestão de Ana de Hollanda,
caracterizado “[...] por uma
política que busc
ava privilegiar o
mercado e as linguagens
artísticas, em detrimento de
ações com um escopo mais
ampliado do conceito de cultura e
de valorização da participação
social” (CALABRE, 2015, p. 39)
entrou em conflito interno já que a
“relação mercado e cultura n
ão
Plano da Secretaria da Economia Criativa:
políticas, diretrizes e ações, 2011
– 2014.
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
era a lógica sob a qual a equipe
construía o projeto da SEC,
dificultando a implementação de
ações” (CALABRE, 2015, p. 39),
gerando um clima conturbado de
toda gestão. O resultado foi um
“reduzido manejo político, o que
fez declinar o patamar de
formula
ção e atuação atingido
pelo MinC no governo Lula”
(RUBIM, 2015, p. 28
BRASIL, 2016, p. 58).
Podemos constatar o
entendimento do MinC
8
, desde o
início, ao tratar o termo Economia da
Cultura durante a criação do Programa
de Desenvolvimento da Economia
Cultura (Prodec)
9
, em 2006, como um
8
No texto Economia da Cultura: um
setor estratégico para o país, a assessora
especi
al do Ministro da Cultura e
Coordenadora do Prodec, justifica a escolha
do conceito adotado: “(...) trabalhamos com o
termo Economia da Cultura em vez de
Economia Criativa ou Indústria Criativa por
entendermos que o primeiro, em vez de
delimitar o campo, o
alarga, pois abrange
outros setores como ciência e tecnologia. Já o
conceito de indústrias criativas circunscreve o
campo aos setores regidos por patente e
propriedade intelectual” (PORTA, 2006
PNEC, 2016, p.20).
9
Programa Desenvolvimento da
Economi
a da Cultura (Prodec) tem como mega
objetivo: crescimento com geração de
trabalho, emprego e renda, ambientalmente
sustentável e redutor das desigualdades
sociais. Desafio: ampliar, desconcentrar
regionalmente e fortalecer as bases culturais,
científicas e
tecnológicas e sustentação do
desenvolvimento, democratizando o seu
acesso -
Tipo Finalístico. Objetivo: fortalecer
as cadeias produtivas da cultura (audiovisual,
música, artes cênicas, festas populares, artes
visuais, design etc.), promovendo seu
desenvo
lvimento econômico” (MPOG, 2007, p.
187) (PNEC, 2016, p.46).
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
era a lógica sob a qual a equipe
construía o projeto da SEC,
dificultando a implementação de
ações” (CALABRE, 2015, p. 39),
gerando um clima conturbado de
toda gestão. O resultado foi um
“reduzido manejo político, o que
fez declinar o patamar de
ção e atuação atingido
pelo MinC no governo Lula”
(RUBIM, 2015, p. 28
apud
BRASIL, 2016, p. 58).
Podemos constatar o
, desde o
início, ao tratar o termo Economia da
Cultura durante a criação do Programa
de Desenvolvimento da Economia
da
, em 2006, como um
No texto Economia da Cultura: um
setor estratégico para o país, a assessora
al do Ministro da Cultura e
Coordenadora do Prodec, justifica a escolha
do conceito adotado: “(...) trabalhamos com o
termo Economia da Cultura em vez de
Economia Criativa ou Indústria Criativa por
entendermos que o primeiro, em vez de
alarga, pois abrange
outros setores como ciência e tecnologia. Já o
conceito de indústrias criativas circunscreve o
campo aos setores regidos por patente e
propriedade intelectual” (PORTA, 2006
apud
Programa Desenvolvimento da
a da Cultura (Prodec) tem como mega
objetivo: crescimento com geração de
trabalho, emprego e renda, ambientalmente
sustentável e redutor das desigualdades
sociais. Desafio: ampliar, desconcentrar
regionalmente e fortalecer as bases culturais,
tecnológicas e sustentação do
desenvolvimento, democratizando o seu
Tipo Finalístico. Objetivo: fortalecer
as cadeias produtivas da cultura (audiovisual,
música, artes cênicas, festas populares, artes
visuais, design etc.), promovendo seu
lvimento econômico” (MPOG, 2007, p.
conceito abrangente onde amplia
em vez de delimitar
econômico da cultura. Seguindo com
esse conceito, veremos adiante o
termo Economia da Cultura adotado
na Lei 12.343/2010 de criação do
Plano Nacional
de Cultura (BRASIL,
2016, p.20).
Com isso, constatamos uma
contraditória trajetória da política
nacional da cultura envolvendo
disputas entre concepções públicas e
cidadãs, e neoliberais e economicistas
do fenômeno cultural. Neste
contraditório processo em
reconhecimento de que espaço no
campo da cultura para outras
concepções econômicas e
abordagens, como, por exemplo, a
economia solidária.
3 A Economia Solidária na Política
Nacional da Cultura
A expressão Economia
Solidária
10
surgiu em meados da
década de 1990, designando o
processo de ressurgimento do
cooperativismo e associativismo
10 SINGER, Paul.
Introdução à Economia
Solidária. São Paulo:
Fundação Perseu
Abramo, 2002.
242
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
conceito abrangente onde amplia
em vez de delimitar
o campo
econômico da cultura. Seguindo com
esse conceito, veremos adiante o
termo Economia da Cultura adotado
na Lei 12.343/2010 de criação do
de Cultura (BRASIL,
Com isso, constatamos uma
contraditória trajetória da política
nacional da cultura envolvendo
disputas entre concepções públicas e
cidadãs, e neoliberais e economicistas
do fenômeno cultural. Neste
contraditório processo em
erge o
reconhecimento de que espaço no
campo da cultura para outras
concepções econômicas e
abordagens, como, por exemplo, a
3 A Economia Solidária na Política
A expressão Economia
surgiu em meados da
década de 1990, designando o
processo de ressurgimento do
cooperativismo e associativismo
Introdução à Economia
Fundação Perseu
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
econômico popular que ganhou
visibilidade a partir de 1980.
Para Schiochet (2011), a
Economia Solidária foi resultado
histórico da forma como a
social” se apresentou na década de
1990. Isto é, por um lado, da
contradição entre a trajetória dos
movimentos sociais e o
reconhecimento de sua importância na
constituição de uma sociedade civil
ativa, bem como na institucionalização
de esferas e
políticas públicas
(construção democrática de base). Por
outro, a incapacidade de construção
de uma ordem econômica capaz de
assegurar de forma substantiva a
cidadania ampliada requerida pelo
processo de democratização. Ainda
para o autor, nesse contexto,
Economia Solidária surge, no âmbito
da sociedade civil, como uma nova
maneira de enfrentar a crise por meio
da articulação entre os princípios
políticos (voltados para a cidadania) e
os organizativos econômicos
(designados para os processos
produtivos e
distributivos de bens e
serviços) (SCHIOCHET, 2011, p. 17).
Assim, as exigências
“econômicas” da Economia Solidária
reforçaram os princípios políticos dos
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
econômico popular que ganhou
visibilidade a partir de 1980.
Para Schiochet (2011), a
Economia Solidária foi resultado
histórico da forma como a
“questão
social” se apresentou na década de
1990. Isto é, por um lado, da
contradição entre a trajetória dos
movimentos sociais e o
reconhecimento de sua importância na
constituição de uma sociedade civil
ativa, bem como na institucionalização
políticas públicas
(construção democrática de base). Por
outro, a incapacidade de construção
de uma ordem econômica capaz de
assegurar de forma substantiva a
cidadania ampliada requerida pelo
processo de democratização. Ainda
para o autor, nesse contexto,
a
Economia Solidária surge, no âmbito
da sociedade civil, como uma nova
maneira de enfrentar a crise por meio
da articulação entre os princípios
políticos (voltados para a cidadania) e
os organizativos econômicos
(designados para os processos
distributivos de bens e
serviços) (SCHIOCHET, 2011, p. 17).
Assim, as exigências
“econômicas” da Economia Solidária
reforçaram os princípios políticos dos
movimentos e organizações da
sociedade civil, como autonomia e
autogestão, por exemplo. Por sua vez
houve uma crescente “politização” da
Economia Solidária na perspectiva de
sua incorporação na agenda do
Estado (políticas públicas) e na sua
visibilidade como uma nova questão
para a esfera pública (SCHIOCHET,
2011, p. 18).
Com a articulação da Economia
Solidária no âmbito do Fórum Social
Mundial e a vitória eleitoral de Lula, em
2002, o movimento de Economia
Solidária passou a reivindicar a sua
incorporação no plano de governo
federal. Em 2003, foram criados o
Conselho Nacional de Economia
Solidária e a
Secretaria Nacional de
Economia Solidária (Senaes), ambos
vinculados ao Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE). Desta forma, o
governo federal somou às iniciativas
de fomento e difusão da economia
solidária no país. À frente da Senaes
esteve Paul Singer
11
11 Paul Singer (1932-
2018) prestigiado
economista, professor universitário,
sindicalista, político e
autor de referência no
campo da Economia Solidária, na América
Latina e Europa. Nascido na Áustria, numa
família judaica, foi forçado a emigrar para o
Brasil em 1940. Nomeado pelo governo do
presidente Lula como Secretário Nacional de
Economia Solidária no
Ministério do Trabalho
243
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
movimentos e organizações da
sociedade civil, como autonomia e
autogestão, por exemplo. Por sua vez
,
houve uma crescente “politização” da
Economia Solidária na perspectiva de
sua incorporação na agenda do
Estado (políticas públicas) e na sua
visibilidade como uma nova questão
para a esfera pública (SCHIOCHET,
Com a articulação da Economia
Solidária no âmbito do Fórum Social
Mundial e a vitória eleitoral de Lula, em
2002, o movimento de Economia
Solidária passou a reivindicar a sua
incorporação no plano de governo
federal. Em 2003, foram criados o
Conselho Nacional de Economia
Secretaria Nacional de
Economia Solidária (Senaes), ambos
vinculados ao Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE). Desta forma, o
governo federal somou às iniciativas
de fomento e difusão da economia
solidária no país. À frente da Senaes
11
, economista e
2018) prestigiado
economista, professor universitário,
autor de referência no
campo da Economia Solidária, na América
Latina e Europa. Nascido na Áustria, numa
família judaica, foi forçado a emigrar para o
Brasil em 1940. Nomeado pelo governo do
presidente Lula como Secretário Nacional de
Ministério do Trabalho
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
pesquisador referência em Economia
Solidária na América Latina. Foi por
meio da aproximação entre a
Secretaria Nacional de Economia
Solidária e Ministério da Cultura que a
economia solidária surgiu como uma
concepção que passou a
transversaliz
ar a economia da cultura.
O que pode ser verificado no próprio
PNC instituído pela lei 12.343/2010
e, em especial no programa Cultura
Viva, que foi instituído pela lei
13.018/2014.
3.1 Instrumento de orientação:
Plano Nacional de Cultura (PNC)
O PNC foi apresentado
incialmente em 2000, fruto da I
Conferência Nacional de Educação,
Cultura e Desporto realizada pela
Comissão de Educação e Cultura da
Câmara Federal. No entanto, o PNC
tornou-
se compromisso apenas a partir
da gestão do ministro Gil (2
com a PEC 306, que se transformou
em Emenda Complementar (EC
e
Emprego, foi reconduzido a este cargo no
mandato seguinte, bem como nos mandatos
da presidente Dilma Rousseff. Em 11 de maio
de 2016, depois de 13 anos à frente da
Secretaria Nacional de Economia Solidária foi
afastado em simultân
eo com a presidente
Dilma pelo golpe de Estado que a destituiu,
abrindo caminho a profunda reversão política e
social (ALMEDINA, 2018).
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
pesquisador referência em Economia
Solidária na América Latina. Foi por
meio da aproximação entre a
Secretaria Nacional de Economia
Solidária e Ministério da Cultura que a
economia solidária surgiu como uma
concepção que passou a
ar a economia da cultura.
O que pode ser verificado no próprio
PNC instituído pela lei 12.343/2010
e, em especial no programa Cultura
Viva, que foi instituído pela lei
3.1 Instrumento de orientação:
Plano Nacional de Cultura (PNC)
O PNC foi apresentado
incialmente em 2000, fruto da I
Conferência Nacional de Educação,
Cultura e Desporto realizada pela
Comissão de Educação e Cultura da
Câmara Federal. No entanto, o PNC
se compromisso apenas a partir
da gestão do ministro Gil (2
003-2008),
com a PEC 306, que se transformou
em Emenda Complementar (EC
Emprego, foi reconduzido a este cargo no
mandato seguinte, bem como nos mandatos
da presidente Dilma Rousseff. Em 11 de maio
de 2016, depois de 13 anos à frente da
Secretaria Nacional de Economia Solidária foi
eo com a presidente
Dilma pelo golpe de Estado que a destituiu,
abrindo caminho a profunda reversão política e
48), garantindo o pleno exercício dos
direitos culturais. Com base nas
dimensões que nortearam as políticas
culturais no Brasil a partir de 2003, foi
construído e instituído o PNC e
2010, após amplo debate envolvendo
a sociedade civil por meio de
conferências, seminários e reuniões
para a construção das estratégias e
diretrizes do plano.
As dimensões norteadoras
foram elencadas no caderno de metas:
a simbólica propõe manter
às linguagens artísticas (música,
literatura, dança, artes plásticas etc.),
no entanto, igualmente são valorizadas
outras práticas de criação simbólica,
assim os saberes e fazeres
tradicionais estariam protegidos. Esta
dimensão reconhece as necessidades
e o bem-
estar do homem enquanto ser
individual e coletivo. A dimensão
cidadã entende a cultura como um
direito básico, garantido na
Constituição Federal, como mais um
dos direitos sociais e políticos que
ampliam o acesso aos meios de
produção, difusão e f
serviços da cultura, bem como a
participação social, formação, a
relação da cultura com a educação e
promoção da livre expressão e
244
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
48), garantindo o pleno exercício dos
direitos culturais. Com base nas
dimensões que nortearam as políticas
culturais no Brasil a partir de 2003, foi
construído e instituído o PNC e
m
2010, após amplo debate envolvendo
a sociedade civil por meio de
conferências, seminários e reuniões
para a construção das estratégias e
As dimensões norteadoras
foram elencadas no caderno de metas:
a simbólica propõe manter
-se atenta
às linguagens artísticas (música,
literatura, dança, artes plásticas etc.),
no entanto, igualmente são valorizadas
outras práticas de criação simbólica,
assim os saberes e fazeres
tradicionais estariam protegidos. Esta
dimensão reconhece as necessidades
estar do homem enquanto ser
individual e coletivo. A dimensão
cidadã entende a cultura como um
direito básico, garantido na
Constituição Federal, como mais um
dos direitos sociais e políticos que
ampliam o acesso aos meios de
produção, difusão e f
ruição de bens e
serviços da cultura, bem como a
participação social, formação, a
relação da cultura com a educação e
promoção da livre expressão e
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
salvaguarda do patrimônio e da
memória. Por último, a dimensão
econômica: a cultura é considerada
como poten
cialidade para gerar
“dividendos, produzir lucro, emprego e
renda, promovida como lugar de
inovação e expressão da criatividade
brasileira, tem a intenção de se tornar
parte de um novo cenário de
desenvolvimento econômico,
socialmente justo e sustentável”
(BRASIL, 2013a, p. 16-
18).
O PNC reafirma o discurso de
atuação das políticas do MinC e inclui
a dimensão antropológica do conceito
de cultura no capítulo cinco da Lei
12.343/2010 “O Plano reafirma uma
concepção ampliada de cultura,
entendida como fenômeno
humano de múltiplos sentidos. Ela
deve ser considerada em toda a sua
extensão antropológica, social,
produtiva, econômica, simbólica e
estética” (BRASIL, 2010). Sendo o
PNC regido pelo princípio e objetivo de
reconhecimento e valorização da
diver
sidade cultural existente no Brasil,
tendo em vista um direito básico do
cidadão, e prevendo a proteção dos
saberes e fazeres tradicionais,
propondo um desenvolvimento justo e
sustentável, é sintomático considerar a
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
salvaguarda do patrimônio e da
memória. Por último, a dimensão
econômica: a cultura é considerada
cialidade para gerar
“dividendos, produzir lucro, emprego e
renda, promovida como lugar de
inovação e expressão da criatividade
brasileira, tem a intenção de se tornar
parte de um novo cenário de
desenvolvimento econômico,
socialmente justo e sustentável”
18).
O PNC reafirma o discurso de
atuação das políticas do MinC e inclui
a dimensão antropológica do conceito
de cultura no capítulo cinco da Lei
12.343/2010 “O Plano reafirma uma
concepção ampliada de cultura,
entendida como fenômeno
social e
humano de múltiplos sentidos. Ela
deve ser considerada em toda a sua
extensão antropológica, social,
produtiva, econômica, simbólica e
estética” (BRASIL, 2010). Sendo o
PNC regido pelo princípio e objetivo de
reconhecimento e valorização da
sidade cultural existente no Brasil,
tendo em vista um direito básico do
cidadão, e prevendo a proteção dos
saberes e fazeres tradicionais,
propondo um desenvolvimento justo e
sustentável, é sintomático considerar a
Economia Solidária como tema
transversal
ao setor cultural para
alcance dos objetivos propostos. Neste
sentido, destacamos os itens em que o
PNC faz referência à Economia
Solidária como uma das diretrizes
norteadoras do poder público ao
qualificar as relações de trabalho na
cultura e reconhecer
cultura para a redução das
desigualdades sociais.
A Economia Solidária é
expressamente referenciada no PNC
nos seguintes capítulos:
b) Capítulo I -
como parte dos
objetivos da função do estado, “[...]
estruturar e regular a economia da
cult
ura, construindo modelos
sustentáveis,
estimulando a
economia solidária
c) Capítulo II -
relativo às atribuições
do poder público, “[...] as relações
de trabalho na cultura,
consolidando e ampliando os
níveis de emprego e renda,
fortalecendo redes de
colabo
ração,
empreendimentos de economia
solidária”.
d) Capítulo IV -
concepção de desenvolvimento
sustentável: “[...] realizar
245
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Economia Solidária como tema
ao setor cultural para
alcance dos objetivos propostos. Neste
sentido, destacamos os itens em que o
PNC faz referência à Economia
Solidária como uma das diretrizes
norteadoras do poder público ao
qualificar as relações de trabalho na
cultura e reconhecer
a contribuição da
cultura para a redução das
desigualdades sociais.
A Economia Solidária é
expressamente referenciada no PNC
nos seguintes capítulos:
como parte dos
objetivos da função do estado, “[...]
estruturar e regular a economia da
ura, construindo modelos
estimulando a
economia solidária
.
relativo às atribuições
do poder público, “[...] as relações
de trabalho na cultura,
consolidando e ampliando os
níveis de emprego e renda,
fortalecendo redes de
ração,
valorizando
empreendimentos de economia
cultura com a
concepção de desenvolvimento
sustentável: “[...] realizar
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
programas de desenvolvimento
sustentável que respeitem as
características, necessidades e
interesses das popul
ações locais,
garantindo a preservação da
diversidade e do patrimônio
cultural e natural,
a difusão da
memória sociocultural e o
fortalecimento da economia
solidária”
(BRASIL, 2010
nosso).
Dessa forma, objetiva a
sustentabilidade dos processos
cul
turais, garantindo a preservação da
diversidade
e o fomento das atividades
no território nacional, articulados com
o
fortalecimento da Economia
Solidária.
Por outro lado, a cultura
também foi assumida pela Política
Nacional de Economia Solidária. É o
que
podemos constatar a partir dos
resultados da
Conferência Nacional
de Economia Solidária, realizada em
2014, que deliberou sobre as bases
conceituais e políticas do Plano
Nacional de Economia Solidária, 2015
2019 (PNES) aprovado pelo Conselho
Nacional
de Economia Solidária.
No Plano Nacional da Economia
Solidária, a diversidade cultural consta
como estratégia de dinamização
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
programas de desenvolvimento
sustentável que respeitem as
características, necessidades e
ações locais,
garantindo a preservação da
diversidade e do patrimônio
a difusão da
memória sociocultural e o
fortalecimento da economia
(BRASIL, 2010
- grifos
Dessa forma, objetiva a
sustentabilidade dos processos
turais, garantindo a preservação da
e o fomento das atividades
no território nacional, articulados com
fortalecimento da Economia
Por outro lado, a cultura
também foi assumida pela Política
Nacional de Economia Solidária. É o
podemos constatar a partir dos
Conferência Nacional
de Economia Solidária, realizada em
2014, que deliberou sobre as bases
conceituais e políticas do Plano
Nacional de Economia Solidária, 2015
-
2019 (PNES) aprovado pelo Conselho
de Economia Solidária.
No Plano Nacional da Economia
Solidária, a diversidade cultural consta
como estratégia de dinamização
socioeconômica em processos de
desenvolvimento local e territorial. A
Economia Solidária é proposta como
estratégia emancipatória
popular e protagonismo de grupos
historicamente excluídos, como povos
quilombolas e comunidades
tradicionais. Mas não somente, uma
vez que os setores culturais podem ser
beneficiados por meio da organização
em redes de cooperação para o
for
talecimento das atividades de
produção e comercialização.
O Plano Nacional de Economia
Solidária conta com a diretriz da
abordagem territorial e do
reconhecimento da diversidade. A
Economia Solidária propôs o
desenvolvimento sustentável de bens
e serviços
culturais em seus eixos de
atuação: Eixo 1
comercialização e consumo solidário,
por meio de legislação, em acesso aos
mercados institucionais, promovendo a
venda de produtos culturais; Eixo 2
Financiamento, com a proposta de
criação de linha
s de crédito para o
trabalho artesanal, acesso dos
empreendimentos econômicos
solidários culturais ao crédito público
voltado às unidades produtivas
solidárias (agricultura familiar,
246
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
socioeconômica em processos de
desenvolvimento local e territorial. A
Economia Solidária é proposta como
estratégia emancipatória
para a cultura
popular e protagonismo de grupos
historicamente excluídos, como povos
quilombolas e comunidades
tradicionais. Mas não somente, uma
vez que os setores culturais podem ser
beneficiados por meio da organização
em redes de cooperação para o
talecimento das atividades de
produção e comercialização.
O Plano Nacional de Economia
Solidária conta com a diretriz da
abordagem territorial e do
reconhecimento da diversidade. A
Economia Solidária propôs o
desenvolvimento sustentável de bens
culturais em seus eixos de
atuação: Eixo 1
- Produção,
comercialização e consumo solidário,
por meio de legislação, em acesso aos
mercados institucionais, promovendo a
venda de produtos culturais; Eixo 2
Financiamento, com a proposta de
s de crédito para o
trabalho artesanal, acesso dos
empreendimentos econômicos
solidários culturais ao crédito público
voltado às unidades produtivas
solidárias (agricultura familiar,
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
quilombolas, indígenas, povos e
comunidades tradicionais); Eixo 3
Educa
ção e Autogestão; e Eixo 4
Ambiente institucional, estes últimos
também contemplam os atores
culturais em suas diretrizes
(CONSELHO NACIONAL DE
ECONOMIA SOLIDÁRIA, 2015, p. 18
24).
Entendemos que ocorreu um
esforço conjunto na elaboração dos
dois planos
de interlocução entre a
economia solidária e a cultura com o
reconhecimento mútuo de que a
economia da cultura pode ser uma
economia solidária e de que a
economia solidária pode ser economia
da cultura. Enfim, uma economia não
mais entendida como acumulaçã
riqueza, mas como modo de vida.
3.2 Programa Cultura Viva e
Economia Solidária
A Lei Cultura Viva Nº 13.018, de
22 de julho de 2014, instituiu a Política
Nacional de Cultura Viva (BRASIL,
2014). Construída a partir da
participação popular, incorporou
trajetória de aproximação com a
Economia Solidária, ainda que a
referência a ela esteja ao lado da
economia criativa no decorrer do texto.
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
quilombolas, indígenas, povos e
comunidades tradicionais); Eixo 3
-
ção e Autogestão; e Eixo 4
-
Ambiente institucional, estes últimos
também contemplam os atores
culturais em suas diretrizes
(CONSELHO NACIONAL DE
ECONOMIA SOLIDÁRIA, 2015, p. 18
-
Entendemos que ocorreu um
esforço conjunto na elaboração dos
de interlocução entre a
economia solidária e a cultura com o
reconhecimento mútuo de que a
economia da cultura pode ser uma
economia solidária e de que a
economia solidária pode ser economia
da cultura. Enfim, uma economia não
mais entendida como acumulaçã
o de
riqueza, mas como modo de vida.
3.2 Programa Cultura Viva e
A Lei Cultura Viva Nº 13.018, de
22 de julho de 2014, instituiu a Política
Nacional de Cultura Viva (BRASIL,
2014). Construída a partir da
participação popular, incorporou
a
trajetória de aproximação com a
Economia Solidária, ainda que a
referência a ela esteja ao lado da
economia criativa no decorrer do texto.
Expressando, dessa forma, o conflito
gerado na gestão do programa Cultura
Viva no período da aprovação da lei,
uma
vez que demonstra o
direcionamento dado em privilegiar o
mercado em detrimento da valorização
social.
Com a lei, passou a vigorar a
obrigação do Estado em formular
políticas que conduzam aos objetivos
propostos necessários a identificar
diferenças e corri
gir desigualdades.
Estas ações pressupõem um conjunto
de estratégias que envolvam os
diferentes atores que interferem no
cotidiano, por isso, é imprescindível
envolver grupos comunitários,
entidades privadas e sociedade civil,
pensando a diversidade cultur
de um contexto social para atuar de
forma integral.
Em 2004, o MinC criou o
Programa Nacional de Cultura,
Educação e Cidadania
por meio da Portaria 156, de 06 de
julho 2004 (BRASIL, 2004), com o
objetivo de promover o acesso ao
meios de produção, difusão e fruição
cultural, destinados às populações de
baixa renda por meio de editais,
convidando entidades de caráter
cultural e social a apresentarem
247
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
Expressando, dessa forma, o conflito
gerado na gestão do programa Cultura
Viva no período da aprovação da lei,
vez que demonstra o
direcionamento dado em privilegiar o
mercado em detrimento da valorização
Com a lei, passou a vigorar a
obrigação do Estado em formular
políticas que conduzam aos objetivos
propostos necessários a identificar
gir desigualdades.
Estas ações pressupõem um conjunto
de estratégias que envolvam os
diferentes atores que interferem no
cotidiano, por isso, é imprescindível
envolver grupos comunitários,
entidades privadas e sociedade civil,
pensando a diversidade cultur
al dentro
de um contexto social para atuar de
Em 2004, o MinC criou o
Programa Nacional de Cultura,
Educação e Cidadania
Cultura Viva,
por meio da Portaria 156, de 06 de
julho 2004 (BRASIL, 2004), com o
objetivo de promover o acesso ao
s
meios de produção, difusão e fruição
cultural, destinados às populações de
baixa renda por meio de editais,
convidando entidades de caráter
cultural e social a apresentarem
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
propostas para participação e parceria
nas diferentes ações do programa. Os
recur
sos para implementação das
ações foram advindos da Lei
Orçamentária e de parcerias
agregadas ao programa.
Termos e conceitos
fundamentais da Economia Solidária
podem ser verificados já na portaria de
criação do programa ao estabelecer
objetivos e diretriz
es ação. Foi com
base na construção de novos valores
de cooperação e solidariedade que o
Cultura Viva propôs a promover a
fruição, produção e difusão dos bens e
serviços culturais.
Podemos constatar logo no
primeiro artigo da portaria de criação
“promover
o acesso aos meios de
fruição, produção e difusão cultural,
assim como de potencializar energias
sociais e culturais, visando à
construção de novos valores de
cooperação e solidariedade”. Este
programa ficou sob a coordenação da
Secretaria de Programas e P
Culturais, à época sob gestão do
idealizador do Cultura Viva, o
historiador Célio Turino. Segundo
Turino, ao adotar uma nova atitude
cultural podemos modificar as relações
econômicas abrindo caminho para
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
propostas para participação e parceria
nas diferentes ações do programa. Os
sos para implementação das
ações foram advindos da Lei
Orçamentária e de parcerias
Termos e conceitos
fundamentais da Economia Solidária
podem ser verificados já na portaria de
criação do programa ao estabelecer
es ação. Foi com
base na construção de novos valores
de cooperação e solidariedade que o
Cultura Viva propôs a promover a
fruição, produção e difusão dos bens e
Podemos constatar logo no
primeiro artigo da portaria de criação
o acesso aos meios de
fruição, produção e difusão cultural,
assim como de potencializar energias
sociais e culturais, visando à
construção de novos valores de
cooperação e solidariedade”. Este
programa ficou sob a coordenação da
Secretaria de Programas e P
rojetos
Culturais, à época sob gestão do
idealizador do Cultura Viva, o
historiador Célio Turino. Segundo
Turino, ao adotar uma nova atitude
cultural podemos modificar as relações
econômicas abrindo caminho para
uma economia solidária, com consumo
conscien
te, comércio justo e trabalho
colaborativo
(TURINO, 2009, p. 80). O
programa nasceu para “incentivar,
preservar e promover a diversidade
cultural brasileira ao contemplar
iniciativas culturais locais e populares
que envolvam comunidades em
atividades de ar
te, cultura, educação,
cidadania e economia solidária”
(ARAÚJO; BARBOSA, 2010, p. 39
apud
VILUTIS, 2015, p. 65).
Como ação prioritária, foram
reconhecidos e chancelados os Pontos
de Cultura, a base do Programa
Cultura Viva. São entidades sem fins
lucrativ
os, de caráter cultural e social
existentes em seus territórios,
selecionadas por meio de editais
públicos, estabelecendo compromisso
para atingir os objetivos do programa.
O primeiro edital de seleção foi
lançado em 16 de julho de 2004,
formando uma re
de horizontal de
articulação, agregando agentes
culturais que incentivavam ações em
suas comunidades, sem a intenção de
reconhecer um único “modelo”
definidos. Segundo Turino, os Pontos
de Cultura enquanto ação do
programa Cultura Viva, chegaram para
atend
er as necessidades das
248
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
uma economia solidária, com consumo
te, comércio justo e trabalho
(TURINO, 2009, p. 80). O
programa nasceu para “incentivar,
preservar e promover a diversidade
cultural brasileira ao contemplar
iniciativas culturais locais e populares
que envolvam comunidades em
te, cultura, educação,
cidadania e economia solidária”
(ARAÚJO; BARBOSA, 2010, p. 39
VILUTIS, 2015, p. 65).
Como ação prioritária, foram
reconhecidos e chancelados os Pontos
de Cultura, a base do Programa
Cultura Viva. São entidades sem fins
os, de caráter cultural e social
existentes em seus territórios,
selecionadas por meio de editais
públicos, estabelecendo compromisso
para atingir os objetivos do programa.
O primeiro edital de seleção foi
lançado em 16 de julho de 2004,
de horizontal de
articulação, agregando agentes
culturais que incentivavam ações em
suas comunidades, sem a intenção de
reconhecer um único “modelo”
definidos. Segundo Turino, os Pontos
de Cultura enquanto ação do
programa Cultura Viva, chegaram para
er as necessidades das
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
entidades participantes, como
adequação e manutenção do espaço
físico, compra de equipamentos,
oficinas culturais ou produção de
linguagens artísticas. São pessoas,
grupos, coletivos, associações,
espaços e/ou diferentes iniciativas
existentes nas comunidades (TURINO,
2009).
O programa buscou a
articulação em rede como forma de
fortalecimento, o que pode ser
traduzido como empoderamento,
autonomia e protagonismo, uma vez
que “quanto mais articulações em
redes houver, mais sustentável
processo de empoderamento social, a
potência do programa se realiza
plenamente quando articulado em
rede” (TURINO, 2009, p.66).
Como mencionado, o MinC
adotou um conceito ampliado de
cultura, como dimensão simbólica,
cidadã e econômica, e o Cultur
por sua vez, entrelaçou estes
conceitos. Em 2005, por meio da
Portaria -
215, de 25 de novembro
de 2005, o MinC instituiu o Prêmio
Cultura Viva com o objetivo de
fortalecer os grupos culturais e
tecnologias sociais de cultura
destinando-se à pop
ulação de baixa
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
entidades participantes, como
adequação e manutenção do espaço
físico, compra de equipamentos,
oficinas culturais ou produção de
linguagens artísticas. São pessoas,
grupos, coletivos, associações,
espaços e/ou diferentes iniciativas
existentes nas comunidades (TURINO,
O programa buscou a
articulação em rede como forma de
fortalecimento, o que pode ser
traduzido como empoderamento,
autonomia e protagonismo, uma vez
que “quanto mais articulações em
redes houver, mais sustentável
será o
processo de empoderamento social, a
potência do programa se realiza
plenamente quando articulado em
rede” (TURINO, 2009, p.66).
Como mencionado, o MinC
adotou um conceito ampliado de
cultura, como dimensão simbólica,
cidadã e econômica, e o Cultur
a Viva,
por sua vez, entrelaçou estes
conceitos. Em 2005, por meio da
215, de 25 de novembro
de 2005, o MinC instituiu o Prêmio
Cultura Viva com o objetivo de
fortalecer os grupos culturais e
tecnologias sociais de cultura
ulação de baixa
renda, comunidades indígenas,
quilombolas, agentes culturais, artistas
etc., com trabalhos reconhecidos pela
comunidade local. Ainda em 2005, foi
publicada a terceira
Cultura Viva: Programa Nacional de
Arte, Educação, Cidada
Economia Solidária, quando
se propôs a identificar o abismo
existente entre a população de baixa
renda e os direitos básicos.
Em abril de 2006, foi realizada a
primeira “Teia de Cultura, Educação,
Cidadania e Economia Solidária:
venha ver e
ser visto”. O título da
ação, segundo Turino, justifica
vez que foi “o primeiro momento em
que os pontos de cultura puderam se
ver como movimento(TURINO, 2009,
p. 107). Para o idealizador, foi uma
decisão simbólica com a intenção de
ocupar um espaç
o inédito à cultura
periférica brasileira. O evento foi
realizado no Pavilhão da Bienal, na
cidade de São Paulo (SP), com a
intenção de começar pelo centro
econômico e financeiro do país. O
objetivo foi desconstruir o acesso do
povo pela “porta dos fundos”
história do Brasil (TURINO, 2009).
Articulação dos pontos de cultura e da
economia solidária foi expressa pelo
249
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
renda, comunidades indígenas,
quilombolas, agentes culturais, artistas
etc., com trabalhos reconhecidos pela
comunidade local. Ainda em 2005, foi
publicada a terceira
edição do livro
Cultura Viva: Programa Nacional de
Arte, Educação, Cidada
nia e
Economia Solidária, quando
o Estado
se propôs a identificar o abismo
existente entre a população de baixa
renda e os direitos básicos.
Em abril de 2006, foi realizada a
primeira “Teia de Cultura, Educação,
Cidadania e Economia Solidária:
ser visto”. O título da
ação, segundo Turino, justifica
-se uma
vez que foi “o primeiro momento em
que os pontos de cultura puderam se
ver como movimento(TURINO, 2009,
p. 107). Para o idealizador, foi uma
decisão simbólica com a intenção de
o inédito à cultura
periférica brasileira. O evento foi
realizado no Pavilhão da Bienal, na
cidade de São Paulo (SP), com a
intenção de começar pelo centro
econômico e financeiro do país. O
objetivo foi desconstruir o acesso do
povo pela “porta dos fundos”
na
história do Brasil (TURINO, 2009).
Articulação dos pontos de cultura e da
economia solidária foi expressa pelo
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
próprio Turino que “decidimos juntar
dois encontros, o dos pontos de
cultura e os dos núcleos de economia
solidária, uma parceria cimentada n
prática que comunga os mesmos
princípios [...]
se acomodando lado a
lado e tecendo sua integração pela
base, pelo território” (TURINO, 2009,
p. 108-109).
Com a participação de 400
pontos de cultura, as atividades foram
distribuídas em mesas de debates,
o
ficinas, seminários e palcos para
apresentações artísticas. Na Teia
ocorreu de forma integrada com a I
Feira Nacional de Economia Solidária
(TEIA, 2006). E, em novembro de
2007, foi realizada a segunda edição
do evento, desta vez como “Teia
Tudo de To
dos”, em Belo Horizonte
(MG). Dentre as autoridades e
convidados presentes, além do
ministro da Cultura e outros, esteve o
ex-
Secretário de Economia Solidária
do Ministério do Trabalho, Paul Singer.
Como ação importante, cabe destacar,
ocorreu a criação da
nacional composta por 48
representantes de estados e, em cada
eixo do programa entre os quais
Escola Viva, Cultura Digital e Ação
Griô
(INTERVOZES, 2007). Em 2008,
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
próprio Turino que “decidimos juntar
dois encontros, o dos pontos de
cultura e os dos núcleos de economia
solidária, uma parceria cimentada n
a
prática que comunga os mesmos
se acomodando lado a
lado e tecendo sua integração pela
base, pelo território” (TURINO, 2009,
Com a participação de 400
pontos de cultura, as atividades foram
distribuídas em mesas de debates,
ficinas, seminários e palcos para
apresentações artísticas. Na Teia
ocorreu de forma integrada com a I
Feira Nacional de Economia Solidária
(TEIA, 2006). E, em novembro de
2007, foi realizada a segunda edição
do evento, desta vez como “Teia
-
dos”, em Belo Horizonte
(MG). Dentre as autoridades e
convidados presentes, além do
ministro da Cultura e outros, esteve o
Secretário de Economia Solidária
do Ministério do Trabalho, Paul Singer.
Como ação importante, cabe destacar,
comissão
nacional composta por 48
representantes de estados e, em cada
eixo do programa entre os quais
Escola Viva, Cultura Digital e Ação
(INTERVOZES, 2007). Em 2008,
foi realizada a terceira edição do
evento: Teia Brasília
-
Iguais
na Diferença, com o tema
“Cultura, Economia Solidária e
Estratégias de Desenvolvimento
Sustentável. Em todas as Teias
constatamos a participação ativa da
Secretaria Nacional da Economia
Solidária e do Fórum Brasileiro de
Economia Solidária.
Em 2010 acontec
edital Economia Viva, contemplando a
transversalidade, a qual se propôs
fomentar iniciativas de Economia
Solidária e comunitárias que tivessem
como base ações culturais. Contou
com um investimento total de R$ 1,2
milhão e distribuiu 12 prêmio
veremos mais a frente esta ação
O MinC incentivou outras
práticas com base na Economia
Solidária além do Cultura Viva, como
bem lembrou a pesquisadora Vilutis.
Como, por exemplo, do Programa de
Desenvolvimento da Economia da
Cultura (Prodec) (estrutur
eixos de informação, capacitação e
promoção de negócios), realizou a
Feira de Música Popular com práticas
de Economia Solidária e incentivou os
festivais independentes de música
como formas de atividades culturais.
250
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
foi realizada a terceira edição do
-
Direito Humano:
na Diferença, com o tema
“Cultura, Economia Solidária e
Estratégias de Desenvolvimento
Sustentável. Em todas as Teias
constatamos a participação ativa da
Secretaria Nacional da Economia
Solidária e do Fórum Brasileiro de
Em 2010 acontec
eu o primeiro
edital Economia Viva, contemplando a
transversalidade, a qual se propôs
fomentar iniciativas de Economia
Solidária e comunitárias que tivessem
como base ações culturais. Contou
com um investimento total de R$ 1,2
milhão e distribuiu 12 prêmio
s,
veremos mais a frente esta ação
.
O MinC incentivou outras
práticas com base na Economia
Solidária além do Cultura Viva, como
bem lembrou a pesquisadora Vilutis.
Como, por exemplo, do Programa de
Desenvolvimento da Economia da
Cultura (Prodec) (estrutur
ado nos
eixos de informação, capacitação e
promoção de negócios), realizou a
Feira de Música Popular com práticas
de Economia Solidária e incentivou os
festivais independentes de música
como formas de atividades culturais.
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
Outra ação de aproximação entre
M
inC e Economia Solidária, também
vinculada ao Prodec, foi a criação do
Programa de Apoio à Cultura:
Extensão Universitária (Proext
Cultura)
12
, inciativa por meio de uma
parceria entre o Ministério da
Educação (MEC) e o MinC, devido à
demanda de projetos cul
Proext Cultura realizou dois editais,
2007 e 2008, com cinco eixos
estratégicos para seleção de projetos:
memória social e patrimônio, inclusão
e sustentabilidade econômica, leitura e
cidadania, inovação de linguagem,
produção de conteúdo audiovi
linguagens alternativas. Em 2008, o
eixo “Inclusão e Sustentabilidade
Econômica” passou a ser “Economia
da Cultura e Empreendimentos
Culturais Autogestionários”. Com o
maior orçamento “Proext Cultura em
2008, alcançando a marca de R$
837.928,78, o q
ue significou 31% do
12
Proext é o Programa de Extensão
Universitária, coordenado pelo Ministério de
Educação com a participação de outros
min
istérios na definição das linhas prioritárias
de atuação da extensão universitária. A
Secretaria Nacional de Economia Solidária,
além de sua participação no Proext,
coordenou o Programa Nacional de
Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas
Populares que che
gou a fomentar mais de
cem iniciativas universitárias de apoio a
economia solidária no território n
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Outra ação de aproximação entre
inC e Economia Solidária, também
vinculada ao Prodec, foi a criação do
Programa de Apoio à Cultura:
Extensão Universitária (Proext
, inciativa por meio de uma
parceria entre o Ministério da
Educação (MEC) e o MinC, devido à
demanda de projetos cul
turais. O
Proext Cultura realizou dois editais,
2007 e 2008, com cinco eixos
estratégicos para seleção de projetos:
memória social e patrimônio, inclusão
e sustentabilidade econômica, leitura e
cidadania, inovação de linguagem,
produção de conteúdo audiovi
sual e
linguagens alternativas. Em 2008, o
eixo “Inclusão e Sustentabilidade
Econômica” passou a ser “Economia
da Cultura e Empreendimentos
Culturais Autogestionários”. Com o
maior orçamento “Proext Cultura em
2008, alcançando a marca de R$
ue significou 31% do
Proext é o Programa de Extensão
Universitária, coordenado pelo Ministério de
Educação com a participação de outros
istérios na definição das linhas prioritárias
de atuação da extensão universitária. A
Secretaria Nacional de Economia Solidária,
além de sua participação no Proext,
coordenou o Programa Nacional de
Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas
gou a fomentar mais de
cem iniciativas universitárias de apoio a
economia solidária no território n
acional.
orçamento total do edital” (VILUTIS,
2015, p. 103).
A partir da parceria entre o
Proext, o MinC e a Senaes, em
novembro de 2010, aconteceu a “I
Conferência Nacional de Economia
Solidária da Cultura” na cidade de
Osasco (SP), que
ocorreu dentro da II
Conferência Nacional de Economia
Solidária, com a participação de cerca
de 500 pessoas. A conferência foi uma
iniciativa do MinC, MTE, Senaes,
prefeitura de Osasco, junto a
Secretaria do Desenvolvimento,
Trabalho e Inclusão e Rede de
G
estores de Políticas Públicas da
Economia Solidária. A Senaes se
propôs a articular políticas públicas
para promover condições propícias à
produção e comercialização de bens e
serviços culturais para superar a
exclusão causada pelos mecanismos
da indústria
cultural. As feiras, festivais
independentes, linhas de crédito, apoio
à formação de redes de
empreendimentos, estrutura de
cadeias solidárias de setores
produtivos culturais constam como
exemplo de ações elencadas como
esforços para promover a “economia
da cultura da solidariedade e da
cooperação” (BRASIL, 2010, p. 9).
251
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
orçamento total do edital” (VILUTIS,
A partir da parceria entre o
Proext, o MinC e a Senaes, em
novembro de 2010, aconteceu a “I
Conferência Nacional de Economia
Solidária da Cultura” na cidade de
ocorreu dentro da II
Conferência Nacional de Economia
Solidária, com a participação de cerca
de 500 pessoas. A conferência foi uma
iniciativa do MinC, MTE, Senaes,
prefeitura de Osasco, junto a
Secretaria do Desenvolvimento,
Trabalho e Inclusão e Rede de
estores de Políticas Públicas da
Economia Solidária. A Senaes se
propôs a articular políticas públicas
para promover condições propícias à
produção e comercialização de bens e
serviços culturais para superar a
exclusão causada pelos mecanismos
cultural. As feiras, festivais
independentes, linhas de crédito, apoio
à formação de redes de
empreendimentos, estrutura de
cadeias solidárias de setores
produtivos culturais constam como
exemplo de ações elencadas como
esforços para promover a “economia
da cultura da solidariedade e da
cooperação” (BRASIL, 2010, p. 9).
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
Da Conferência é lançada a
“Carta de Osasco” com orientações
para a “consolidação da Ação
Economia Viva do Programa Cultura
Viva, que considera os Pontos de
Cultura como empreendimentos
eco
nômicos solidários e enquanto
política estratégica de articulação da
produção cultural colaborativa em
rede” do Grupo de Trabalho do Fórum
Paulista de Economia Solidária e
Fórum de Ponto de Cultura de
Economia da Cultura.
Nesse contexto foi lançado o
Edit
al Prêmio Economia Viva pelo
MinC e MTE, em 08 de março de
2010, com valor de R$ 100 mil para
cada prêmio, com objetivo de gerar
renda e custear a manutenção.
As organizações selecionadas
foram avaliadas de acordo critérios
como comercialização de produto
serviços, economias Solidária e
Colaborativa e em rede,
sustentabilidade financeira,
criatividade na solução de problemas
do sistema produtivo e grau de
benefícios para a cadeia produtiva. O
edital selecionou projetos
reconhecendo povos tradicionais,
indígenas, quilombolas, ciganos,
povos de terreiro, irmandades de
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
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(Fluxo contínuo)
Da Conferência é lançada a
“Carta de Osasco” com orientações
para a “consolidação da Ação
Economia Viva do Programa Cultura
Viva, que considera os Pontos de
Cultura como empreendimentos
nômicos solidários e enquanto
política estratégica de articulação da
produção cultural colaborativa em
rede” do Grupo de Trabalho do Fórum
Paulista de Economia Solidária e
Fórum de Ponto de Cultura de
Nesse contexto foi lançado o
al Prêmio Economia Viva pelo
MinC e MTE, em 08 de março de
2010, com valor de R$ 100 mil para
cada prêmio, com objetivo de gerar
renda e custear a manutenção.
As organizações selecionadas
foram avaliadas de acordo critérios
como comercialização de produto
s ou
serviços, economias Solidária e
Colaborativa e em rede,
sustentabilidade financeira,
criatividade na solução de problemas
do sistema produtivo e grau de
benefícios para a cadeia produtiva. O
edital selecionou projetos
reconhecendo povos tradicionais,
indígenas, quilombolas, ciganos,
povos de terreiro, irmandades de
negros, agricultores tradicionais,
pescadores artesanais, sertanejos,
entre outros, de acordo com a
orientação da portaria de maio de
2009. São organizações de base
comunitária com diversida
atividades econômicas e
características de atuação em rede,
com projetos voltados para diferentes
setores. Entre as atividades estão
artesanato, bordado, comunicação,
confecção, crédito, música, padaria
comunitária, tecelagem e turismo de
base comunitária.
Em 22 de julho de 2014, a
presidente Dilma Rousseff sancionou a
Política Nacional de Cultura Viva (Lei
13.018/14), um marco histórico das
políticas culturais e conquista da
sociedade civil. A sanção ocorreu na
sequência da criação do Sistema
Naciona
l de Cultura e do Plano
Nacional de Cultura, com o intuito de
organizar os processos de repasses
de recursos e prestações de contas,
principais gargalos para as entidades
culturais e rede de Pontos de Cultura.
Como ão estruturante de políticas
integradas
, cabe destacar a Economia
Solidária no art. 5, inciso VIII da Lei
13.018/14. Além de integrar, no art. 6,
inciso I, como objetivo das ações dos
252
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- ISSN 2237-1508
negros, agricultores tradicionais,
pescadores artesanais, sertanejos,
entre outros, de acordo com a
orientação da portaria de maio de
2009. São organizações de base
comunitária com diversida
de de
atividades econômicas e
características de atuação em rede,
com projetos voltados para diferentes
setores. Entre as atividades estão
artesanato, bordado, comunicação,
confecção, crédito, música, padaria
comunitária, tecelagem e turismo de
Em 22 de julho de 2014, a
presidente Dilma Rousseff sancionou a
Política Nacional de Cultura Viva (Lei
13.018/14), um marco histórico das
políticas culturais e conquista da
sociedade civil. A sanção ocorreu na
sequência da criação do Sistema
l de Cultura e do Plano
Nacional de Cultura, com o intuito de
organizar os processos de repasses
de recursos e prestações de contas,
principais gargalos para as entidades
culturais e rede de Pontos de Cultura.
Como ão estruturante de políticas
, cabe destacar a Economia
Solidária no art. 5, inciso VIII da Lei
13.018/14. Além de integrar, no art. 6,
inciso I, como objetivo das ações dos
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
solidária. PragMATIZES - Revista Latino-
Americana de Estudos em
Cultura, Niterói/RJ, Ano 11, n. 21, p. 229-255,
Pontos de Cultura, o fomento à
Economia Solidária.
Considerações Finais
A política Cultura Viva veio para
prom
over os meios necessários para
produção e difusão da iniciativa
cultural de base comunitária, popular e
solidária. É nesta perspectiva que a
Economia Solidária está presente
como proposta estruturante para o
desenvolvimento das políticas culturais
no Brasi
l, para tanto, mostramos aqui
as orientações no Plano Nacional de
Cultura e identificamos a Economia
Solidária como eixo norteador nas
diretrizes culturais, como aponta o
PNC e a Lei Cultura Viva.
Para valorização,
reconhecimento, promoção e
preservação d
a diversidade cultural
existente no Brasil, a dimensão
econômica da cultura propõe um
desenvolvimento justo, portanto,
econômico e social. Dialogando, desta
forma, com os princípios da Economia
Solidária. Assim, o PNC ao mencionar
a valorização da cultura
como vetorde
Desenvolvimento Sustentável, art. 1,
inciso VIII, cria modelos sustentáveis
por meio do estímulo à Economia
Solidária. Desta forma, o PNC
FREITAS, Carolina G. de; SCHIOCHET, Valmor. A dimensão
econômica na
política nacional de cultura: uma aproximação com a economia
Americana de Estudos em
,
set. 2021.
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
(Fluxo contínuo)
Pontos de Cultura, o fomento à
A política Cultura Viva veio para
over os meios necessários para
produção e difusão da iniciativa
cultural de base comunitária, popular e
solidária. É nesta perspectiva que a
Economia Solidária está presente
como proposta estruturante para o
desenvolvimento das políticas culturais
l, para tanto, mostramos aqui
as orientações no Plano Nacional de
Cultura e identificamos a Economia
Solidária como eixo norteador nas
diretrizes culturais, como aponta o
Para valorização,
reconhecimento, promoção e
a diversidade cultural
existente no Brasil, a dimensão
econômica da cultura propõe um
desenvolvimento justo, portanto,
econômico e social. Dialogando, desta
forma, com os princípios da Economia
Solidária. Assim, o PNC ao mencionar
como vetorde
Desenvolvimento Sustentável, art. 1,
inciso VIII, cria modelos sustentáveis
por meio do estímulo à Economia
Solidária. Desta forma, o PNC
promove os princípios da Economia
Solidária, cabendo ao Estado o papel
de regular e induzir. Portanto, pa
que o PNC busca uma alternativa para
os trabalhadores da cultura, com isso,
a Economia Solidária apresenta
como uma alternativa de geração de
trabalho e renda que combina
autogestão, cooperação e
solidariedade, princípios que se
enquadram nas propo
cultural.
Referências
bibliográficas:
BRASIL.
Lei Federal 12.343, de 2
de dezembro de 2010
Nacional de Cultura
Sistema Nacional de Informações e
Indicadores Culturais
outras providências.
em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2007-
2010/2010/lei/l12343.htm>.
Acesso em: out. 2019.
BRASIL.
Lei Nº 13.018, de 22 de Julho
de 2014
. Institui a Política Nacional de
Cultura Viva e outras providências.
Jul. 2014. Disponível
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_at
o2011-
2014/2014/lei/l13018.htm
Acesso em: 15 jan. 2019.
BRASIL.
MINISTÉRIO DA CULTURA.
Cultura Viva: Programa Nacional de
Arte, Educação, Cidadania e
Economia Solidária. edição
Brasília: 2005. Disponível em:
https://hugoribeiro.com.br/biblioteca
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Programa_Nacional_Arte_Educacao_
253
www.periodicos.uff.br/pragmatizes
- ISSN 2237-1508
promove os princípios da Economia
Solidária, cabendo ao Estado o papel
de regular e induzir. Portanto, pa
rece
que o PNC busca uma alternativa para
os trabalhadores da cultura, com isso,
a Economia Solidária apresenta
-se
como uma alternativa de geração de
trabalho e renda que combina
autogestão, cooperação e
solidariedade, princípios que se
enquadram nas propo
stas do setor
bibliográficas:
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Programa Nacional de Economia da
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Nações Unidas para a Educação, a
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- ISSN 2237-1508
30703/1/Tese_LuanaVilutis_UFBA.pdf
.
Acesso em: 30 mar. 2020.
PRAGMATIZES -
REVISTA LATINO
EDIÇÕES E DOSSIÊS (D)
Ano I,
07/2011
Ano II,
03/2012
09/2012
Ano III,
03/2013 -
D4: Cultura e Territorialidades (os editores)
09/2013
Ano IV,
03/2014 - D6: Cultura e Práticas
de Consumo (Ana Enne, UFF)
09/2014 -
D7a: Direitos Culturais (Mário Pragmácio Telles, UFF)
09/2014 -
D7b: EBPC [Encontro Brasileiro de Pesquisa em Cultura, II] (os editores)
Ano V,
03/2015 -
D8: Políticas Culturais na América Latina (Deborah Rebello
09/2015 -
D9: Construyendo identidades en las Américas: Interpelaciones desde la(s) Cultura(s) y Gestión Cultural
(Marcela País Andrade, Universidad de Buenos Aires (ARG) y Ahtziri Molina Roldán, Universidad Ver
(MEX)
Ano VI,
03/2016 -
D10: Economia Política da Comunicação e da Cultura na Íbero
09/2016 -
D11: Múltiplos carnavais: Economia e política nas manifestaçõ
Ano VII,
03/82017 -
D12: Leituras do mundo: formas de expressão criativas e comunicativas (Marisa Schincariol de Mello, UFF e
Rôssi Alves Gonçalves, UFF)
09/2017 -
D13: Cultura e Religião (José Abílio Perez Jr, UFJF; Leandro Durazzo, UFRN; e Derley Menezes Alves, U
Ano VIII,
03/2018 -
D14: Práticas socioculturais, patrimônio cultural e territórios (Fábio castro, UFPA; Luiz Augusto F. Rodrigues,
UFF; e Renata Rocha, UFBA)
09/2018
Ano IX,
03/2019 -
D16: Elementos para políticas brasileiras de acervos digitais em
Marcondes, UFF)
09/2019 -
D17: Planos municipais e estaduais de cultura: reflexões e experiências (Luiz Augusto F. Rodrigues, UFF)
Ano X,
03/2020 -
D18: Representações da Violência na Literatura (Elois
UERJ)
09/2020 - D19: Cultura,
tecnologia e Sociedade (Eliane C
Ano XI
03/2021 –
D20: Tramas entre cultura e educação (Pâmella Passos, IFRJ e Nívea Andrade, UFF)
09/2021 – D21:
Trabalho cultural e precarização (Lívia de Tommasi, UFABC e João Domingues, UFF)
REVISTA LATINO
-
AMERICANA DE ESTUDOS EM CULTURA
ISSN 2237-1508
D4: Cultura e Territorialidades (os editores)
de Consumo (Ana Enne, UFF)
D7a: Direitos Culturais (Mário Pragmácio Telles, UFF)
D7b: EBPC [Encontro Brasileiro de Pesquisa em Cultura, II] (os editores)
D8: Políticas Culturais na América Latina (Deborah Rebello
Lima, FCRB e Luiz Augusto F. Rodrigues, UFF)
D9: Construyendo identidades en las Américas: Interpelaciones desde la(s) Cultura(s) y Gestión Cultural
(Marcela País Andrade, Universidad de Buenos Aires (ARG) y Ahtziri Molina Roldán, Universidad Ver
D10: Economia Política da Comunicação e da Cultura na Íbero
-
América (Alexandre Barbalho, UECE)
D11: Múltiplos carnavais: Economia e política nas manifestaçõ
es culturais populares (Marina
D12: Leituras do mundo: formas de expressão criativas e comunicativas (Marisa Schincariol de Mello, UFF e
D13: Cultura e Religião (José Abílio Perez Jr, UFJF; Leandro Durazzo, UFRN; e Derley Menezes Alves, U
D14: Práticas socioculturais, patrimônio cultural e territórios (Fábio castro, UFPA; Luiz Augusto F. Rodrigues,
D16: Elementos para políticas brasileiras de acervos digitais em
memória e cultura (Carlos Henrique
D17: Planos municipais e estaduais de cultura: reflexões e experiências (Luiz Augusto F. Rodrigues, UFF)
D18: Representações da Violência na Literatura (Elois
a Porto C. A. Brae
m, UERJ; e Paulo César S. Oliveira,
tecnologia e Sociedade (Eliane C
osta, FGV-Rio e Sergio Branco, ITS
-
D20: Tramas entre cultura e educação (Pâmella Passos, IFRJ e Nívea Andrade, UFF)
Trabalho cultural e precarização (Lívia de Tommasi, UFABC e João Domingues, UFF)
256
AMERICANA DE ESTUDOS EM CULTURA
Lima, FCRB e Luiz Augusto F. Rodrigues, UFF)
D9: Construyendo identidades en las Américas: Interpelaciones desde la(s) Cultura(s) y Gestión Cultural
(Marcela País Andrade, Universidad de Buenos Aires (ARG) y Ahtziri Molina Roldán, Universidad Ver
acruzana
América (Alexandre Barbalho, UECE)
es culturais populares (Marina
Frydberg, UFF)
D12: Leituras do mundo: formas de expressão criativas e comunicativas (Marisa Schincariol de Mello, UFF e
D13: Cultura e Religião (José Abílio Perez Jr, UFJF; Leandro Durazzo, UFRN; e Derley Menezes Alves, U
FPB)
D14: Práticas socioculturais, patrimônio cultural e territórios (Fábio castro, UFPA; Luiz Augusto F. Rodrigues,
memória e cultura (Carlos Henrique
D17: Planos municipais e estaduais de cultura: reflexões e experiências (Luiz Augusto F. Rodrigues, UFF)
m, UERJ; e Paulo César S. Oliveira,
-
Rio)
D20: Tramas entre cultura e educação (Pâmella Passos, IFRJ e Nívea Andrade, UFF)
Trabalho cultural e precarização (Lívia de Tommasi, UFABC e João Domingues, UFF)
SUMÁRIO GERAL DAS EDIÇÕES
Seção
Título
Artigos em Fluxo Contínuo
Título
Atores e discursos em Projetos de Autogestão da Moradia em São Paulo
A cultura como conceito
operativo: Antropologia, Gestão Cultural e
algumas implicações políticas desta última
Amereida en Valparaíso: un sueño utópico del siglo XX
Financiamento, produção e identidade cultural
culturalmente responsáveis
Cartografias conceituais sobre políticas culturais contemporâneas
Os Filhos de Guilherme
Tell: Breve ensaio sobre as gerações artísticas
cubanas
Artigos em Fluxo Contínuo
Título
El
recurso de las ferias: Contrapunteo en torno al surgimiento y devenir
de las ferias culturales en la ciudad de Rosario, Argentina pos 2001
Economia criativa: análise setorial
Funk: experiências de pesquisa em
cadeias produtivas da cultura
Consolidación de la Institucionalidad Cultural en Colombia 1968
camino hacia el diálogo y participación de la
¿Cómo hablar de cultura en la universidad? La gestión de un campo para
los Estudios Culturales
Formação em organização da cultura: a situação latino
Artigos em Fluxo Contínuo
Título
A omissão da esquerda e a insurgência do movimento
Você é Sertão?
Marcel Mauss, a Ciência Política e o Sertão de
Guimarães Rosa
A poética arquitetônica como elemento de resistência cultural
SUMÁRIO GERAL DAS EDIÇÕES
Edição
Autoria
Ano 1, número 1, julho 2011
Artigos em Fluxo Contínuo
Autoria
Atores e discursos em Projetos de Autogestão da Moradia em São Paulo
Priscilla O. Xavier
operativo: Antropologia, Gestão Cultural e
algumas implicações políticas desta última
Caio Gonçalves Dias
Amereida en Valparaíso: un sueño utópico del siglo XX
Roberto Segre
Financiamento, produção e identidade cultural
-corporativa: as empresas
Elder Patrick Maia
Cartografias conceituais sobre políticas culturais contemporâneas
Deborah Rebello Lima
Tell: Breve ensaio sobre as gerações artísticas
Concepción R. Pedrosa
Morgado de Segre
Ano 2, número 2, março 2012
Artigos em Fluxo Contínuo
Autoria
recurso de las ferias: Contrapunteo en torno al surgimiento y devenir
de las ferias culturales en la ciudad de Rosario, Argentina pos 2001
Maria Virginia Massau
Alessandra Meleiro
Fabio Fonseca
cadeias produtivas da cultura
Elizete Ignácio dos
Santos
Consolidación de la Institucionalidad Cultural en Colombia 1968
-2011: un
camino hacia el diálogo y participación de la
sociedad civil
Marta Elena Bravo
¿Cómo hablar de cultura en la universidad? La gestión de un campo para
Mónica Bernabé
Formação em organização da cultura: a situação latino
-americana
Antônio Albino Canela
Rubin
Alexandre Barbalho
Leonardo Costa
Ano 2, Número 3, setembro 2012
Artigos em Fluxo Contínuo
Autoria
A omissão da esquerda e a insurgência do movimento
negro
Daniela Gomes
Marcel Mauss, a Ciência Política e o Sertão de
Flávia Lages
A poética arquitetônica como elemento de resistência cultural
Luiz Carlos Rocha de
Oliveira
257
Autoria
páginas
Autoria
páginas
Priscilla O. Xavier
7-17
Caio Gonçalves Dias
18-34
Roberto Segre
Espanhol
35-49
Elder Patrick Maia
50-74
Deborah Rebello Lima
75-84
Concepción R. Pedrosa
Morgado de Segre
85-98
Autoria
páginas
Maria Virginia Massau
Espanhol
12-36
Alessandra Meleiro
37-73
Fabio Fonseca
Elizete Ignácio dos
74-92
Marta Elena Bravo
Espanhol
93-110
Mónica Bernabé
Espanhol
111-124
Antônio Albino Canela
125-149
Alexandre Barbalho
Leonardo Costa
Autoria
páginas
Daniela Gomes
7-16
17-23
Luiz Carlos Rocha de
24-38
O alienígena e o embate entre Veja versus MEC
Do Pessoal do Ceará ao Movimento
Cabaçal: O “local” e o “global” na
música cearense
Formação e profissionalização
do setor cultural
institucionalidade da área cultural
Artigos -
Edição Especial Cultura e Territorialidades
Título
A “redescoberta” da Baixada Fluminense: reflexões sobre as construções
narrativas midiáticas e as concepções acerca de um território físico e
simbólico
Por que (,) Suzane? 10 anos depois
Desprezando a riqueza aproveitando as respostas. Diálogos entre cidade,
território e cultura
Trânsitos,
trajetos e circulação dos jovens na cidade
O Lugar da Cultura. A Cultura do Lugar
A Televisão e a Música Popular Brasileira:
A persistente inscrição da fala da periferia no Movimento Literário
Brasileiro
Artigos em Fluxo Contínuo
Título
Alegoria para além do gênero
Sweeney Todd: da Inglaterra para os EUA, um produto eloquente para
refletir sobre a dinâmica urbana
Nova forma de dominação ou cena potente? Uma análise
entre Juventude e Ação Cultural na Periferia Urbana Brasileira
Lugar: percepções e vivências -
estudos de Portugal Pequeno e São
Domingos, Niterói
Dossiê "Cultura e Práticas de Consumo"
Título
Entrevista - com Everardo Rocha
Consumo, inclusão e segregação: reflexões sobre lan houses e um
comentário sobre rolezinhos
Tramas do outro nas telas do discurso: circulação audiovisual e consumo
cultural
Comunicação e
consumo nas dinâmicas culturais do mundo globalizado
Luz, câmera... inanição!: os caminhos do consumo em um seriado sobre
dois mundos
Televisão, o futuro será: a consolidação de uma cultura televisa
visualizada nas performances midiáticas e juvenis dos anos de 1980
O alienígena e o embate entre Veja versus MEC
Adriana Santiago
Dantas
Cabaçal: O “local” e o “global” na
Jane Meyre Silva Costa
do setor cultural
- caminhos para a Luiz Augusto
Rodrigues
Ano 3, Número 4, março 2013
Edição Especial Cultura e Territorialidades
- D4
Autoria
A “redescoberta” da Baixada Fluminense: reflexões sobre as construções
narrativas midiáticas e as concepções acerca de um território físico e
Ana Enne
Danielle Brasiliense
Desprezando a riqueza aproveitando as respostas. Diálogos entre cidade,
José Maurício
Saldanha Alvarez
trajetos e circulação dos jovens na cidade
Lívia de Tommasi
O Lugar da Cultura. A Cultura do Lugar
Luiz Augusto
Rodrigues
A Televisão e a Música Popular Brasileira:
Histórias que se entrelaçam
Marildo J. Nercolini
A persistente inscrição da fala da periferia no Movimento Literário
Rôssi Alves Gonçalves
Ano 3, Número 5, setembro 2013
Artigos em Fluxo Contínuo
Autoria
Camila Damico
Medina
Sweeney Todd: da Inglaterra para os EUA, um produto eloquente para
Priscilla Oliveira Xavier
Nova forma de dominação ou cena potente? Uma análise
das relações
entre Juventude e Ação Cultural na Periferia Urbana Brasileira
Vinicius Carvalho Lima
estudos de Portugal Pequeno e São
Heloisa Bueno
Rodrigues
Ano 4, Número 6, março 2014
Dossiê "Cultura e Práticas de Consumo"
- D6
Autoria
Ana Enne
Gyssele Mendes
Pereira
Consumo, inclusão e segregação: reflexões sobre lan houses e um
Pâmella Passos
Adriana Facina
Tramas do outro nas telas do discurso: circulação audiovisual e consumo
Rosana Soares
consumo nas dinâmicas culturais do mundo globalizado
Gisela G. S. Castro
Luz, câmera... inanição!: os caminhos do consumo em um seriado sobre
Carla Barros
Televisão, o futuro será: a consolidação de uma cultura televisa
visualizada nas performances midiáticas e juvenis dos anos de 1980
Marina Caminha
258
Adriana Santiago
39-49
Jane Meyre Silva Costa
50-62
63-79
Autoria
páginas
6-27
Danielle Brasiliense
28-46
José Maurício
Saldanha Alvarez
47-60
Lívia de Tommasi
61-75
76-91
Marildo J. Nercolini
92-107
Rôssi Alves Gonçalves
108-116
Autoria
páginas
Camila Damico
8-16
Priscilla Oliveira Xavier
17-26
Vinicius Carvalho Lima
27-42
Heloisa Bueno
43-67
Autoria
páginas
7-20
Gyssele Mendes
Pâmella Passos
22-39
Adriana Facina
Rosana Soares
40-57
Gisela G. S. Castro
58-71
72-84
Marina Caminha
85-102
“E daí?”, “pronto, falei!”, “confesso”: artimanhas discursivas de
qualificação e desqualificação do gosto e da distinção
El consumo de libros frente a las nuevas
Reflexiones a partir de los resultados de una encuesta de lectores
Advergames: Uma Nova Forma De Se Fazer Publicidade
Artigos em Fluxo Contínuo
Antes da Economia Criativa vem a Economia da Cultura: a
brasileira, de colocar o carro à frente dos bois
“Cidadania: a gente vê por aqui?” ‘Pedagogia midiática’ e
Brasil contemporâneo
Capitu: a cultura híbrida e a liquidez pós
Despindo Anna Karenina
Dossiê "Direitos Culturais"
Título
Um panorama das constituições brasileiras: o tratamento dado aos
direitos culturais
Direitos culturais e políticas públicas de cultura: possíveis
O paradoxo do direito de autor na legislação brasileira
Sistemas municipais de cultura: caminhos possíveis para o exercício dos
direitos culturais?
Turismo Cultural, Memória Social e Direitos Culturais: a região serrana
capixaba redescoberta
Dossiê "EBPC"
[Encontro Brasileiro de Pesquisa em Cultura]
Em busca da institucionalização: a adesão ao Sistema Nacional de
Cultura
Referências de um processo em construção: o Programa de Formação e
Qualificação Cultural no Estado do Rio de Janeiro
A potência da linguagem simbólica
Estudos acadêmicos contemporâneos sobre políticas culturais no Brasil:
análises e tendências
Territorialidades da Cultura Popular na Cidade do Rio de Janeiro
Artigos em Fluxo Contínuo
A sociedade envelhecida, diante da reprodução social e a ação contra
hegemônica
O produtor cultural e a formalização de sua atividade
“E daí?”, “pronto, falei!”, “confesso”: artimanhas discursivas de
qualificação e desqualificação do gosto e da distinção
Ana Enne
El consumo de libros frente a las nuevas
tecnologías de la información.
Reflexiones a partir de los resultados de una encuesta de lectores
Edwin Juno Delgado
Advergames: Uma Nova Forma De Se Fazer Publicidade
Luci M. Melo Bonini
Gilbson F. Nascimento
Artigos em Fluxo Contínuo
Antes da Economia Criativa vem a Economia da Cultura: a
arte,
brasileira, de colocar o carro à frente dos bois
Manoel Marcondes
Machado Neto
Lusia Angelete Ferreira
“Cidadania: a gente vê por aqui?” ‘Pedagogia midiática’ e
hegemonia no
Carlos Eduardo Rebuá
Oliveira
Capitu: a cultura híbrida e a liquidez pós
-moderna em um olhar Claiton César
Czizewski
Anderson Lopes
Silva
Amilcar Almeida
Bezerra
Ana Paula Celso de
Miranda
Ano 4, Número 7, setembro 2014
Dossiê "Direitos Culturais"
- D7a
Autoria
Um panorama das constituições brasileiras: o tratamento dado aos
Ana Lúcia Aragão
Direitos culturais e políticas públicas de cultura: possíveis
intersecções
Giuliana Kauark
O paradoxo do direito de autor na legislação brasileira
Eduardo José dos
Santos de Ferreira
Gomes
Sistemas municipais de cultura: caminhos possíveis para o exercício dos
Fernanda Laís de
Matos
Vânia Mª Andrade
Brayner Rangel
Cristina Mª do Vale
Marques
Turismo Cultural, Memória Social e Direitos Culturais: a região serrana
Marcos Teixeira de
Souza
[Encontro Brasileiro de Pesquisa em Cultura]
- D7b
Em busca da institucionalização: a adesão ao Sistema Nacional de
Alexandre Barbalho
Referências de um processo em construção: o Programa de Formação e
Qualificação Cultural no Estado do Rio de Janeiro
Cleyse
Campos
Liliana Fiuza
Magalhães
Estudos acadêmicos contemporâneos sobre políticas culturais no Brasil:
Lia Calabre
Territorialidades da Cultura Popular na Cidade do Rio de Janeiro
Jorge Luiz Barbosa
Artigos em Fluxo Contínuo
A sociedade envelhecida, diante da reprodução social e a ação contra
José Bernardo Enéias
Oliveira
O produtor cultural e a formalização de sua atividade
Sandra Pedroso
259
103-113
Edwin Juno Delgado
Espanhol
114-142
Luci M. Melo Bonini
143-155
Gilbson F. Nascimento
Manoel Marcondes
Machado Neto
157-183
Lusia Angelete Ferreira
Carlos Eduardo Rebuá
184-196
197-211
Anderson Lopes
da
Amilcar Almeida
212-227
Ana Paula Celso de
Autoria
páginas
Ana Lúcia Aragão
8-23
Giuliana Kauark
24-32
Eduardo José dos
Santos de Ferreira
33-44
Fernanda Laís de
45-60
Vânia Mª Andrade
Brayner Rangel
Cristina Mª do Vale
Marcos Teixeira de
61-68
Alexandre Barbalho
70-81
Campos
82-95
96-108
109-129
Jorge Luiz Barbosa
130-139
José Bernardo Enéias
141-164
Sandra Pedroso
165-173
De Ênio para Herberto, do INL para a Civilização
intelectuais e publicação de
livros na Ditadura (1970
Dossiê "Políticas Culturais na América Latina"
Título
Políticas culturais num debate latino-
americano [Apresentação do
dossiê]
Desculturalizar a cultura -
Desafios atuais das políticas culturais
Políticas Culturais e Território na América Latina: Diálogos conceituais
entre Néstor García Canclini, Rodolfo Kusch e Milton Santos
Análisis de programas nacionales de Extensión Universitaria en América
Latina: hacia la Inclusión y la Ciudadanía Cultural
O surgimento dos Observatórios de Cultura e de Políticas Culturais:
reflexões inicias para construção de tipologias
As culturas populares nas políticas culturais: uma disputa de sentidos
Políticas culturais, processos semióticos: a bandeira e a festa do divino
em Mogi das Cruzes, São Paulo
Ano 5, Número 9, setembro 2015
Dossiê "Construyendo identidades en las Américas: Interpelaciones desde la(s) Cultura(s) y la
Gestión Cultural" - D9
Título
Apresentação do Dossiê
O Sistema Nacional de Cultura e seu desenho cooperativo
Identidad cultural y desarrollo urbano: ¿proyectos
El arte latinoamericano a través de la curadoría: políticas de
representación y modos de inserción
Museus e projetos culturais: um estudo sobre a aderência de
indicadores de desempenho à função
Gran Chaco, percepciones de la imagen
De Ênio para Herberto, do INL para a Civilização
– Ensaio sobre as redes
livros na Ditadura (1970
-1981)
Mariana Tavares
Ano 5, número 8, março 2015
Dossiê "Políticas Culturais na América Latina"
- D8
Autoria
americano [Apresentação do
Deborah Rebello
Luiz Augusto
Rodrigues
Desafios atuais das políticas culturais
Victor Miguel Vich
Flórez
Políticas Culturais e Território na América Latina: Diálogos conceituais
entre Néstor García Canclini, Rodolfo Kusch e Milton Santos
Juan Ignacio Brizuela
José Márcio Barros
Análisis de programas nacionales de Extensión Universitaria en América
Latina: hacia la Inclusión y la Ciudadanía Cultural
Ahtziri M. Roldán
Aldo Colorado Carvajal
Shaila Barradas
Santiago
Patrick Fowler
O surgimento dos Observatórios de Cultura e de Políticas Culturais:
reflexões inicias para construção de tipologias
Clarissa Guajardo
Semensato
As culturas populares nas políticas culturais: uma disputa de sentidos
Alexandre Barbalho
Jocastra
Bezerra
Políticas culturais, processos semióticos: a bandeira e a festa do divino
Luci Mendes de Melo
Bonini
Marcia das Dores
Cunha Alves Valim
Rosália Maria Netto
Prados
Ano 5, Número 9, setembro 2015
Dossiê "Construyendo identidades en las Américas: Interpelaciones desde la(s) Cultura(s) y la
Autoria
Marcela A. País
Andrade
Ahtziri Molina Roldán
O Sistema Nacional de Cultura e seu desenho cooperativo
Clarissa Guajardo
Semensato
Deborah Rebello Lima
Identidad cultural y desarrollo urbano: ¿proyectos
engañosos? Luiz Augusto
Rodrigues
El arte latinoamericano a través de la curadoría: políticas de
Pablo Salvador Berríos
Museus e projetos culturais: um estudo sobre a aderência de
indicadores de desempenho à função
social da instituição
Elizabete Castro
Mendonça
Luis Antonio do
Nascimento Neco
Nilcemar Nogueira
Gran Chaco, percepciones de la imagen
Belén Azarola
260
Mariana Tavares
174-184
Autoria
páginas
Deborah Rebello
Lima 6-9
Victor Miguel Vich
11-21
Juan Ignacio Brizuela
22-36
José Márcio Barros
Ahtziri M. Roldán
Espanhol
37-54
Aldo Colorado Carvajal
Shaila Barradas
Patrick Fowler
Clarissa Guajardo
55-66
Alexandre Barbalho
Bezerra
67-81
Luci Mendes de Melo
82-91
Marcia das Dores
Cunha Alves Valim
Rosália Maria Netto
Dossiê "Construyendo identidades en las Américas: Interpelaciones desde la(s) Cultura(s) y la
Autoria
páginas
Marcela A. País
Espanhol
7-11
Ahtziri Molina Roldán
Clarissa Guajardo
13-24
Deborah Rebello Lima
Espanhol
25-36
Pablo Salvador Berríos
Espanhol
37-51
Elizabete Castro
52-72
Luis Antonio do
Nascimento Neco
Nilcemar Nogueira
Espanhol
73-83
América se hurga el ombligo
Tres visiones del concepto de identidad cultural en la reflexión acerca
del arte latinoamericano
La Extensión universitaria: un espacio fundamental para el desarrollo de
la gestión cultural
Artigos em Fluxo Contínuo
Políticas culturais de valorização do
patrimônio imaterial em
Pernambuco
O regime jurídico do tombamento e a proteção do patrimônio cultural
Cibercultura e Cinema: Revisitando a cidade
Dossiê "Economia Política
Título
Apresentação do Dossiê
Economia Política da Comunicação e da Cultura: aportes para a
formação de um campo disciplinar
Políticas culturais e de comunicação: dimensões estratégicas para a
reinvenção do Estado e para a construção de uma democracia
intercultural – Aportes teóricos
Museus no Brasil: Análise Socioeconômica De Perfis
Cultura e trabalho imaterial: música independente e produção cultural
no novo mundo do trabalho
Políticas de comunicação no Brasil: a proposta de um novo marco
regulatório para a radiodifusão
Políticas para o audiovisual no Brasil (1985
comunicação na transição democrática
Artigos em Fluxo Contínuo
Sentindo do nosso jeito: humores e estudos culturais
Ano 6, número 11, setembro 2016
Dossiê "Múltiplos carnavais: Economia e política nas manifestações
Título
Apresentação do Dossiê
Manaus, 2014: o carnaval que nunca terminou
Escolas de Samba nos Pampas: textos e contextos da interculturalidade
no carnaval de Uruguaiana
Bananas e abacaxis nos “quintais” do carnaval carioca
etnográficas sobre a produção de um desfile de escola de samba da
Estrada Intendente Magalhães
Os blocos de enredo do carnaval carioca: identidade e organização
Carnaval de rua no Rio de Janeiro: afetos e participação política
Luis E. Arevalo
Tres visiones del concepto de identidad cultural en la reflexión acerca
León Tomás Ejea
La Extensión universitaria: un espacio fundamental para el desarrollo de
Ahtziri E. Molina
Roldán
Artigos em Fluxo Contínuo
patrimônio imaterial em
Carla Pereira Lyra
O regime jurídico do tombamento e a proteção do patrimônio cultural
Renato José Ramalho
Alves
Fábio Brito
Ferreira
Cibercultura e Cinema: Revisitando a cidade
-paradoxo em Blade Runner
Luís Miguel Oliveira de
Barros Cardoso
Ano 6, Número 10, março 2016
Dossiê "Economia Política
da Comunicação e da Cultura na Íbero-América" -
D10
Autoria
Alexandre Barbalho
Economia Política da Comunicação e da Cultura: aportes para a
Ruy Sardinha Lopes
Políticas culturais e de comunicação: dimensões estratégicas para a
reinvenção do Estado e para a construção de uma democracia
Fayga Rocha Moreira
Museus no Brasil: Análise Socioeconômica De Perfis
Ana Flavia Machado
Nayara Souza
Larissa Machado
Cultura e trabalho imaterial: música independente e produção cultural
André Peralta Grillo
Políticas de comunicação no Brasil: a proposta de um novo marco
Carlos Henrique
Demarchi
Maria Teresa Kerbauy
Políticas para o audiovisual no Brasil (1985
-2002): Estado, cultura e
comunicação na transição democrática
Renata Rocha
Artigos em Fluxo Contínuo
Sentindo do nosso jeito: humores e estudos culturais
Paulo Rodrigues
Gajanigo
Ano 6, número 11, setembro 2016
Dossiê "Múltiplos carnavais: Economia e política nas manifestações
culturais populares"
Autoria
Marina Frydberg
Manaus, 2014: o carnaval que nunca terminou
Ricardo José Barbieri
Escolas de Samba nos Pampas: textos e contextos da interculturalidade
Ulisses Corrêa Duarte
Bananas e abacaxis nos “quintais” do carnaval carioca
– impressões
etnográficas sobre a produção de um desfile de escola de samba da
Leonardo Augusto
Bora
Os blocos de enredo do carnaval carioca: identidade e organização
Julio Cesar Valente
Ferreira
Carnaval de rua no Rio de Janeiro: afetos e participação política
Jorge Edgardo
261
Luis E. Arevalo
Espanhol
84-89
León Tomás Ejea
Espanhol
90-105
Ahtziri E. Molina
Espanhol
106-119
Carla Pereira Lyra
121-131
Renato José Ramalho
132-144
Ferreira
Luís Miguel Oliveira de
Barros Cardoso
145-153
D10
Autoria
páginas
Alexandre Barbalho
6-8
Ruy Sardinha Lopes
10-19
Fayga Rocha Moreira
20-37
Ana Flavia Machado
38-52
Larissa Machado
André Peralta Grillo
53-65
Carlos Henrique
66-76
Maria Teresa Kerbauy
77-93
Paulo Rodrigues
95-108
culturais populares"
- D11
Autoria
páginas
Marina Frydberg
6-10
Ricardo José Barbieri
12-29
Ulisses Corrêa Duarte
30-45
Leonardo Augusto
46-61
Julio Cesar Valente
62-78
Jorge Edgardo
Sapia 79-94
O Carnaval do Mindelo, Cabo Verde: reflexões sobre a festa e a cidade
O
bairro do Recife e a Economia Criativa: do Carnaval Multicultural ao
Paço do Frevo
Carnaval, uma festa democrática? Discussão sobre segregação social e o
direito à cidade a partir do universo carnavalesco do Rio de Janeiro
Blocos carnavalescos: culturas populares, culturas híbridas no carnaval
de rua do Rio
Sambantropologia
Atrás do nosso bloco só não vai quem já morreu
de Mário de Andrade
Dossiê “Leituras do mundo: formas de expressão criativas e comunicativas”
Título
Apresentação do Dossiê
Rodas Culturais, UPP, Funk e Milícias: uma análise da cultura urbana
carioca frente às políticas de segurança e às organizações criminosas
O sarau como estratégia de resistência poética e reflexão sobre novos
territórios culturais
Torcedores organizados: enigma como contrapeso ao fantasma da
razão esclarecida
Cidade Maravilhosa: O Rio de Janeiro representado pelas letras
Práticas de leitura na contemporaneidade: experiências em bibliotecas
na cidade do Rio de Janeiro
Mudar de corpo em ode aos invisíveis
Diário de Bordo: seguindo Blaise Cendrars no Brasil
Espetáculo "O²": aproximações entre a prática de aula e a criação
artística
Artigos em Fluxo Contínuo
Cultura: a dádiva da sociedade
O jornalista e o assessor de imprensa no cinema
Embriaguez do Sucesso
Seguindo a constituição da Joalheria contemporânea
Experimentos Audiovisuais entre Ramagens Otonianas: uma leitura
ecossistêmica comunicacional sobre a representação da Amazônia na
arte de Otoni Mesquita
Ensaio
Veredas abertas da América Latina
Ano 7, número 13,
Dossiê "Cultura e Religião"
Título
Tantos grupos humanos, tantas culturas e sociedades
dossiê)
O tríplice feminino: Jesus, Medeia e a
uma feiticeira sacrificada
O Carnaval do Mindelo, Cabo Verde: reflexões sobre a festa e a cidade
Juliana Braz Dias
bairro do Recife e a Economia Criativa: do Carnaval Multicultural ao
Carla Pereira Lyra
Carnaval, uma festa democrática? Discussão sobre segregação social e o
direito à cidade a partir do universo carnavalesco do Rio de Janeiro
Thais
Cunegatto
Blocos carnavalescos: culturas populares, culturas híbridas no carnaval
Maria Rita Dias de
Almeida Fernandes
Vinícius Ferreira Natal
Atrás do nosso bloco só não vai quem já morreu
- o corpo carnavalesco
Lucas Garcia Nunes
Ano 7, número 12, março 2017
Dossiê “Leituras do mundo: formas de expressão criativas e comunicativas”
-
D12
Autoria
Marisa Schincariol de
Mello
Rôssi
Gonçalves
Rodas Culturais, UPP, Funk e Milícias: uma análise da cultura urbana
carioca frente às políticas de segurança e às organizações criminosas
Rôssi Alves Gonçalves
O sarau como estratégia de resistência poética e reflexão sobre novos
Idemburgo Pereira
Frazão
Torcedores organizados: enigma como contrapeso ao fantasma da
Gustavo Coelho
Cidade Maravilhosa: O Rio de Janeiro representado pelas letras
Priscilla
Oliveira Xavier
Práticas de leitura na contemporaneidade: experiências em bibliotecas
Marisa Schincariol de
Mello
Mudar de corpo em ode aos invisíveis
Ana Luiza Hupe
Diário de Bordo: seguindo Blaise Cendrars no Brasil
Luca Forcucci
Espetáculo "O²": aproximações entre a prática de aula e a criação
Lara Seidler Oliveira
Artigos em Fluxo Contínuo
Júlio Aurélio Vianna
Lopes
O jornalista e o assessor de imprensa no cinema
noir através do filme A
Alex Sampaio Pires
Michele Negrini
Seguindo a constituição da Joalheria contemporânea
Ana Neuza Botelho
Videla
Experimentos Audiovisuais entre Ramagens Otonianas: uma leitura
ecossistêmica comunicacional sobre a representação da Amazônia na
Ítala Clay de O. Freitas
Rafael de F. Lopes
Antonio Albino Rubim
Ano 7, número 13,
setembro 2017
Dossiê "Cultura e Religião"
– D13
Autoria
Tantos grupos humanos, tantas culturas e sociedades
(Apresentação do
José Abílio Perez J
Leandro Durazzo
Derley Menezes Alves
O tríplice feminino: Jesus, Medeia e a
identidade do Poeta enquanto
Fábio Gerônimo Mota
Diniz
262
Juliana Braz Dias
95-108
Carla Pereira Lyra
109-121
Cunegatto
122-137
Maria Rita Dias de
Almeida Fernandes
138-149
Vinícius Ferreira Natal
150-166
Lucas Garcia Nunes
167-178
D12
Autoria
páginas
Marisa Schincariol de
6-9
Gonçalves
Rôssi Alves Gonçalves
11-25
Idemburgo Pereira
26-34
Gustavo Coelho
35-56
Oliveira Xavier
57-70
Marisa Schincariol de
71-88
Ana Luiza Hupe
89-109
110-122
Lara Seidler Oliveira
123-139
Júlio Aurélio Vianna
141-157
Alex Sampaio Pires
158-179
Michele Negrini
Ana Neuza Botelho
180-194
Ítala Clay de O. Freitas
195-215
Rafael de F. Lopes
Antonio Albino Rubim
217-224
Autoria
páginas
José Abílio Perez J
r. 06-15
Leandro Durazzo
Derley Menezes Alves
Fábio Gerônimo Mota
17-35
Islamofobia brasileira online: discursos fechados sobre o Islam em uma
rede social
O ensino religioso nas políticas de currículo: o caso da base nacional
comum curricular
Cultura e regionalidade: semelhanças e diferenças nas festas do Divino
Espírito Santo no território brasileiro
Fé midiatizada? Indagações sobre a abordagem comunicacional da
questão religiosa na era das tecnologias digitais em rede
A
atuação de Silas Malafaia contra o PLC 122: análise de suas páginas
no Twitter e no Facebook
A CNBB como
promotora de notícia e fonte de informação da religião
católica no Jornalismo: notas como ritual estratégico e meios
alternativos de agendamento
Cultura e Religião: Um estudo sobre as Festas de Agosto conforme a
Oficialidade Católica
As Reestruturações do Sentido de Pertença à Igreja Católica nos
Bispados de D. José Colaço, D. Paulino Évora e D. Arlindo Furtado:
Adaptação ou Resistência às Mudanças Políticas e Culturai
Verde?
Entre imagens, modernidade e religião: a iconologia protestante no
Brasil
The Missing God of Karl Jaspers (and Heidegger)
Dossiê "Práticas socioculturais, patrimônio cultural e territórios"
Título
Práticas socioculturais, patrimônio cultural e territórios [Apresentação
do Dossiê]
Territórios da diplomacia cultural brasileira de 2003 a
continentes, países e cidades
Desafios da participação e da descentralização na gestão de políticas
culturais nas cidades
Novas Dinâmicas Culturais: Tensão e Vitalidade nas Cidades
Federalismo e relações intergovernamentais: uma análise dos
processos de implementação e gestão dos Sistemas Municipais de
Cultura
“ICMS - Patrimônio Cultural”
: um estudo sobre a política pública de
preservação cultural do Estado de Minas Gerais com ênfase no
processo de Educação Patrimonial
Bongar e vencer nos editais: políticas públicas culturais, mercado e
grupos artísticos populares
Islamofobia brasileira online: discursos fechados sobre o Islam em uma
Felipe Freitas
O ensino religioso nas políticas de currículo: o caso da base nacional
Mirinalda Alves
Rodrigues dos Santos
Cultura e regionalidade: semelhanças e diferenças nas festas do Divino
Debora Bernardi
Grandjean-
Thomsen
Fé midiatizada? Indagações sobre a abordagem comunicacional da
questão religiosa na era das tecnologias digitais em rede
Fernanda Lima Lopes
atuação de Silas Malafaia contra o PLC 122: análise de suas páginas
Márcia Zanin Feliciani
Leandra Cohen
Schirmer
Aline Roes Dalmolin
promotora de notícia e fonte de informação da religião
católica no Jornalismo: notas como ritual estratégico e meios
Robson Dias
Eliane Muniz Lacerda
Victor Márcio Laus
Reis Gomes
Cultura e Religião: Um estudo sobre as Festas de Agosto conforme a
Viviane Bernadeth
Gandra Brandão
As Reestruturações do Sentido de Pertença à Igreja Católica nos
Bispados de D. José Colaço, D. Paulino Évora e D. Arlindo Furtado:
Adaptação ou Resistência às Mudanças Políticas e Culturai
s em Cabo
Adilson Filomeno
Carvalho Semedo
Entre imagens, modernidade e religião: a iconologia protestante no
Priscila Vieira
-
The Missing God of Karl Jaspers (and Heidegger)
Purushottama
Bilimoria
Ano 8, n. 14, março, 2018
Dossiê "Práticas socioculturais, patrimônio cultural e territórios"
- D14
Autoria
Práticas socioculturais, patrimônio cultural e territórios [Apresentação
Fábio Fonseca de
Castro
Luiz Augusto
Fernandes Rodrigues
Renata Rocha
Territórios da diplomacia cultural brasileira de 2003 a
2010:
Bruno do Vale Novais
Desafios da participação e da descentralização na gestão de políticas
Monica Cristina
Moreno-
Cubillos
Novas Dinâmicas Culturais: Tensão e Vitalidade nas Cidades
Rachel de Sousa
Gadelha Costa
Federalismo e relações intergovernamentais: uma análise dos
processos de implementação e gestão dos Sistemas Municipais de
Rafael Luiz de Aquino
: um estudo sobre a política pública de
preservação cultural do Estado de Minas Gerais com ênfase no
Clesio Barbosa Lemos
Junior
Bongar e vencer nos editais: políticas públicas culturais, mercado e
Gabriela Pimentel
Araújo
Leonardo Leal Esteves
263
de Souza 36-52
Mirinalda Alves
Rodrigues dos Santos
53-64
Debora Bernardi
Thomsen
65-77
Fernanda Lima Lopes
78-91
Márcia Zanin Feliciani
92-112
Leandra Cohen
Aline Roes Dalmolin
113-129
Eliane Muniz Lacerda
Victor Márcio Laus
Viviane Bernadeth
Gandra Brandão
130-144
Adilson Filomeno
Carvalho Semedo
145-158
-
Souza 159-178
Purushottama
Inglês
179-192
Autoria
páginas
Fábio Fonseca de
7-12
Fernandes Rodrigues
Bruno do Vale Novais
14-28
Monica Cristina
Cubillos
29-42
Rachel de Sousa
Gadelha Costa
43-54
Rafael Luiz de Aquino
55-66
Clesio Barbosa Lemos
67-83
Gabriela Pimentel
84-96
Leonardo Leal Esteves
Cidadania Cultural: entre a democratização da cultura e a democracia
cultural
Cidade vista de dentro
Modelos de formação de agenda na
análise de políticas públicas
aplicados à cultura: o caso do projeto de Reestruturação do Acervo da
Pinacoteca de São Bernardo do Campo
A Regulamentação legal do grafite: Perspectivas e caminhos a partir de
uma experiência prática em Curitiba
Os contratempos do espaço: patrimônio cultural imaterial e o Livro de
Registro Atividades Econômicas Tradicionais e Notáveis
Os processos de (re)tradicionalização e patrimonialização no carnaval
dos blocos de rua no Rio de Janeiro
Apropriação do
patrimônio cultural na região portuária do Rio de
Janeiro: políticas culturais entre a territorialidade e a exploração
Cultura hip hop: Batalha dos Bombeiros
Identidade e ethos conservador na política cultural. Estudo comparado
França- Brasil
Artigos em Fluxo Contínuo
Título
Desterritorialización, cultura internacional
cine: El caso del western
chileno “Sal”
A errância no cinema de Walter Salles
Extrañamiento y desencanto. La mirada de documentalistas alemanes
sobre la transición democrática argentina
Chora não coleguinha: uma análise da influência da formação discursiva
do movimento feminista em
músicas da dupla Simone & Simaria
Um “ofício de cartógrafo mestiço”:
a proposta metodológica de Jesús
Martín-
Barbero como base para um estudo de caso da telenovela
mexicana Rubi
Quarto de Despejo de Carolina Maria de Jesus: testemunho de uma
existência condenada
Pornô Cultural: da concepção pornográfica como Indústria Cultural ao
movimento Feminista Pornô
Lady Selma Ferreira
Albernaz
Cidadania Cultural: entre a democratização da cultura e a democracia
Valmir de
Souza
Lúcia Maciel Barbosa
de Oliveira
análise de políticas públicas
aplicados à cultura: o caso do projeto de Reestruturação do Acervo da
Pinacoteca de São Bernardo do Campo
Mayra Carolina Ataide
Oliveira
Lucio Nagib
Bittencourt
A Regulamentação legal do grafite: Perspectivas e caminhos a partir de
Angela Cassia
Costaldello
Francisco Tapias
Bergamaschi Bley
Os contratempos do espaço: patrimônio cultural imaterial e o Livro de
Registro Atividades Econômicas Tradicionais e Notáveis
João Domingues
Os processos de (re)tradicionalização e patrimonialização no carnaval
Marina Bay Frydberg
patrimônio cultural na região portuária do Rio de
Janeiro: políticas culturais entre a territorialidade e a exploração
Mariana Luscher
Albinati
Cultura hip hop: Batalha dos Bombeiros
- entre rimas e reivindicações
Amanda Rosiéli Fiuza e
Silva
Sandra Rúbia da Silva
Jonária França da Silva
Identidade e ethos conservador na política cultural. Estudo comparado
Marina Ramos Neves
de Castro
Ano 8, n. 15, setembro, 2018
Artigos em Fluxo Contínuo
Autoria
Desterritorialización, cultura internacional
-popular e identidad en el
chileno “Sal”
Pablo Matus
A errância no cinema de Walter Salles
Cristiane Pimentel
Neder
Extrañamiento y desencanto. La mirada de documentalistas alemanes
sobre la transición democrática argentina
Paola Margulis
Chora não coleguinha: uma análise da influência da formação discursiva
músicas da dupla Simone & Simaria
Cristiano Max Pereira
Pinheiro
Rosana Vaz Silveira
Daniele Peletti de
Souza
Ester Quaresma da
Silva
a proposta metodológica de Jesús
Barbero como base para um estudo de caso da telenovela
Ana Lúcia da Silva
Enne
Joana d’Arc de Nantes
Ohana Boy Oliveira
Quarto de Despejo de Carolina Maria de Jesus: testemunho de uma
Gustavo Alvarenga
Oliveira Santos
Pornô Cultural: da concepção pornográfica como Indústria Cultural ao
Flávia Lages Castro
Juliana Crespo
264
Lady Selma Ferreira
Souza
97-107
Lúcia Maciel Barbosa
108-117
Mayra Carolina Ataide
118-134
Angela Cassia
135-143
Francisco Tapias
Bergamaschi Bley
João Domingues
144-160
Marina Bay Frydberg
161-176
Mariana Luscher
177-187
Amanda Rosiéli Fiuza e
188-202
Sandra Rúbia da Silva
Jonária França da Silva
Marina Ramos Neves
203-218
Autoria
páginas
Espanhol
9-23
Cristiane Pimentel
24-34
Paola Margulis
Espanhol
35-47
Cristiano Max Pereira
48-61
Rosana Vaz Silveira
Daniele Peletti de
Ester Quaresma da
Ana Lúcia da Silva
62-76
Joana d’Arc de Nantes
Ohana Boy Oliveira
Gustavo Alvarenga
Oliveira Santos
77-89
Flávia Lages Castro
90-104
Juliana Crespo
Dossiê "Elementos para políticas brasileiras de acervos digitais em memória e cultura"
Título
Apresentação do Dossiê
GLAM e Instituições de Memória em Rede: uma 'Infosfera' de Floridi?
Objetos digitais: da maleabilidade do não
Elementos para uma
política brasileira de acesso integrado, utilização e
preservação de acervos digitais em memória e cultura
Wikipédia e museus: uma parceria possível?
Rede web de museus: Relato de experiência na gestão e acesso aos
acervos culturais do Estado do Rio de Janeiro
Política de indexação no contexto da política arquivística de
preservação digital do Centro de Documentação e Memória da UNESP
CEDEM
Desenvolvimento da nova Biblioteca Digital da Biblioteca Brasiliana
USP: Relato de Experiência
Acervos digitais e o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação
em Arquivos Brasileiros
Patrimonio cultural europeo digitalizado: Europeana
Dossiê "
Planos municipais e estaduais de cultura: reflexões e experiências"
Título
Apresentação do Dossiê
Políticas culturais nos territórios:
contribuições para os processos de
construção dos planos municipais de cultura
Sistema Estadual de Cultura do RJ: desafios da institucionalização de
políticas públicas participativas no campo cultural fluminense (2009
2019)
Metodologia participativa para elaboração de planos municipais de
cultura: uma experiência aplicada
Planos Municipais de Cultura na perspectiva democrática: A
contribuição da UFBA na construção de uma Agenda Pública
A implantação dos planos de cultura no estado e na cidade de São
Paulo: histórico, construção e desafios
Participação Social e planos de cultura: três experiências e seus desafios
Ano 9, n. 16, março 2019
Dossiê "Elementos para políticas brasileiras de acervos digitais em memória e cultura"
Autoria
Carlos Henrique
Marcondes
GLAM e Instituições de Memória em Rede: uma 'Infosfera' de Floridi?
José Murilo Costa
Carvalho Junior
Dalton Lopes Martins
Leonardo Barbosa
Germani
Objetos digitais: da maleabilidade do não
-finito à uma ontologia
Renan Marinho de
Castro
política brasileira de acesso integrado, utilização e
preservação de acervos digitais em memória e cultura
Carlos Henrique
Marcondes
Wikipédia e museus: uma parceria possível?
Jul
iana Monteiro
Rede web de museus: Relato de experiência na gestão e acesso aos
acervos culturais do Estado do Rio de Janeiro
Éricka Madeira de
Souza
Elenora Nobre
Machado
Política de indexação no contexto da política arquivística de
preservação digital do Centro de Documentação e Memória da UNESP
Mariângela Spotti
Lopes Fujita
Sonia
Troitiño
Desenvolvimento da nova Biblioteca Digital da Biblioteca Brasiliana
Rodrigo Moreira
Garcia
Acervos digitais e o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação
Luciana Piazzon
Barbosa Lima
Patrimonio cultural europeo digitalizado: Europeana
Maria Antonia Garcia
Moreno
Tony
Hernández
Ano 9, n. 17, setembro 2019
Planos municipais e estaduais de cultura: reflexões e experiências"
-
D17
Autoria
Luiz Augusto F.
Rodrigues
contribuições para os processos de
construção dos planos municipais de cultura
Lia Calabre
Sistema Estadual de Cultura do RJ: desafios da institucionalização de
políticas públicas participativas no campo cultural fluminense (2009
-
Simone Amorim
Juliano Borges
Metodologia participativa para elaboração de planos municipais de
Luiz Augusto
Fernandes Rodrigues
Marcelo Silveira
Correia
Planos Municipais de Cultura na perspectiva democrática: A
contribuição da UFBA na construção de uma Agenda Pública
Kátia Costa
Luana Vilutis
Ernani Coelho Neto
A implantação dos planos de cultura no estado e na cidade de São
Paulo: histórico, construção e desafios
Inti Anny Queiroz
Participação Social e planos de cultura: três experiências e seus desafios
José Márcio Barros
265
Dossiê "Elementos para políticas brasileiras de acervos digitais em memória e cultura"
- D16
Autoria
páginas
Carlos Henrique
6-9
José Murilo Costa
Carvalho Junior
11-30
Dalton Lopes Martins
Leonardo Barbosa
Renan Marinho de
31-43
Carlos Henrique
44-61
iana Monteiro
62-73
Éricka Madeira de
74-90
Elenora Nobre
Mariângela Spotti
91-110
Troitiño
Rodrigo Moreira
111-126
Luciana Piazzon
127-139
Maria Antonia Garcia
- Espanhol
140-155
Hernández
-Pérez
D17
Autoria
páginas
Luiz Augusto F.
17-19
21-34
Simone Amorim
35-51
Juliano Borges
Fernandes Rodrigues
52-63
Marcelo Silveira
64-77
Ernani Coelho Neto
Inti Anny Queiroz
78-90
José Márcio Barros
91-100
A formulação do Plano Estadual de Cultura da Bahia em análise
Plano de Cultura Infância do Ceará: um exercício de
resultado de escuta de demandas sociais
O desafio de implantar um plano de cultura para a cidade do Rio de
Janeiro
Artigos em Fluxo Contínuo
Fundamentos teóricos e metodológicos de tratamento informacional de
documentos de análises físico-
químicas aplicadas a objetos do
patrimônio
Communication, Cyberculture and Cinema: Baudrillard and
limit point between two worlds"
Comunicação digital e interação social entre jovens
audiovisuais nas redes sociais
Festas populares na Bahia: gestão e dinâmica identitária
Effective ways of teaching pragmatics: humor in the classroom
Ensaio
Projeto Caos: consumo e niilismo em
Extra
Índice Geral (2011-2016, n. 1 a 16)
Dossiê "Representações da violência na literatura"
Título
Representações da violência na literatura: apontamentos para uma
possível apresentação
Da telenovela à realidade: violência contra mulher latina em “Woman
hollering creek” de Sandra Cisneros
O retrato da violência no romance
Piedras Encantadas
Rodrigo Rey Rosa: uma construção estética
Mal-
estar, violência e outras palinódias da
Eça de Queirós
Os crimes de verdade: as memórias de Camilo
Os diversos “Pedros” que habitam as cidades:violência, cotidiano e
experiência urbana em
Contos de Pedro
Rubens Figueiredo
Violência e crime em Luiz Alfredo Garcia
psicanálise
Representações da violência institucional em
José Louzeiro
A formulação do Plano Estadual de Cultura da Bahia em análise
Sophia Cardoso Rocha
Plano de Cultura Infância do Ceará: um exercício de
planejamento e
resultado de escuta de demandas sociais
Deborah Rebello Lima
Lilian Lustosa da Costa
O desafio de implantar um plano de cultura para a cidade do Rio de
Ana Lúcia Ribeiro
Pardo
Artigos em Fluxo Contínuo
Fundamentos teóricos e metodológicos de tratamento informacional de
químicas aplicadas a objetos do
Nair Yumiko Kobashi
Laís de Oliveira
Communication, Cyberculture and Cinema: Baudrillard and
Matrix: "the
Luís Miguel Cardoso
Margarida Cesário
Batista
Comunicação digital e interação social entre jovens
: o uso de materiais
Daniel Luciano Gevehr
Valmir Mateus dos
Santos Portal
Festas populares na Bahia: gestão e dinâmica identitária
Eduardo Davel
Marcelo Dantas
Effective ways of teaching pragmatics: humor in the classroom
Ulisses de Oliveira
Sumiko Ikeda
Marcelo Saparas
Projeto Caos: consumo e niilismo em
Clube da Luta (1999)
Lucas Ribeiro de
Carvalho
Gustavo Sousa Santos
Ano 10, n. 18, março 2020
Dossiê "Representações da violência na literatura"
- D18
Autoria
Representações da violência na literatura: apontamentos para uma
Eloísa Porto Allevato
Braem
Paulo Cesar S. Oliveira
Da telenovela à realidade: violência contra mulher latina em “Woman
Heleno Álvares
Bezerra Júnior
Piedras Encantadas
(2001), de
Rodrigo Rey Rosa: uma construção estética
Rodrigo de Freitas
Faqueri
estar, violência e outras palinódias da
consciência n'Os maias, de
Silvio Cesar dos Santos
Alves
Alan Diogo Capelar
Os crimes de verdade: as memórias de Camilo
Andreia Alves
Monteiro de Castro
Os diversos “Pedros” que habitam as cidades:violência, cotidiano e
Contos de Pedro
e Passageiro do fim do dia, de
Carolina Montebelo
Barcelos
Violência e crime em Luiz Alfredo Garcia
-Roza: um misto de policial e
Fernanda Mara de
Almeida Azevedo
Representações da violência institucional em
Infância dos mortos, de
Eloísa Porto C.
Allevato Braem
Saron do Amaral
Gomes
266
Sophia Cardoso Rocha
101-118
Deborah Rebello Lima
119-130
Lilian Lustosa da Costa
Ana Lúcia Ribeiro
131-153
Nair Yumiko Kobashi
155-173
Laís de Oliveira
Luís Miguel Cardoso
Inglês
174-186
Margarida Cesário
Daniel Luciano Gevehr
187-202
Valmir Mateus dos
Eduardo Davel
203-224
Marcelo Dantas
Ulisses de Oliveira
Inglês
225-237
Marcelo Saparas
Lucas Ribeiro de
239-247
Gustavo Sousa Santos
248-308
Autoria
páginas
Eloísa Porto Allevato
18-33
Paulo Cesar S. Oliveira
Heleno Álvares
Bezerra Júnior
34-65
Rodrigo de Freitas
66-88
Silvio Cesar dos Santos
89-112
Alan Diogo Capelar
Andreia Alves
Monteiro de Castro
113-139
Carolina Montebelo
140-154
Fernanda Mara de
Almeida Azevedo
155-181
Eloísa Porto C.
Allevato Braem
182-197
Saron do Amaral
Marco Zero
: da crise à violência fundadora do
Corpo e mente sob violências: da dor ao silêncio, em
Relatos e travessias em Eliana Alves Cruz
Ninguém ouviu um soluçar de dor: violência racial na narrativa literária
de Nei Lopes
Memórias da violência em “Amuleto
” de Roberto Bolaño
Couro ruim é que chama ferrão de ponta: a respeito da violência em
Grande sertão: veredas
Resenha
A literatura como arquivo da ditadura brasileira (de Eurídice Figueiredo)
Dossiê
"Cultura, Tecnologia e Sociedade"
Título
Apresentação do dossiê
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
antidisciplinaridade,
tolerância ao erro e diversidade cognitiva
Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em tempos de
pandemia
Da representação da favela à
autorrepresentação: as narrativas de si
nos perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e pessoa com deficiência
Videogames e cultura colaborativa: A audiência como produtora de
conteúdo em Beyond Good and Evil 2
Music consumption in Brazil: an analysis of streaming reproductions
: da crise à violência fundadora do
estado distópico Pedro Sasse
Corpo e mente sob violências: da dor ao silêncio, em
Vidas secas
Paulo Cesar Silva de
Oliveira
Isabela Cristina
Rodrigues Azevedo
Relatos e travessias em Eliana Alves Cruz
Maria Cristina Batalha
Ninguém ouviu um soluçar de dor: violência racial na narrativa literária
Cláudio do Carmo
” de Roberto Bolaño
Norma Sueli de Araújo
Menezes
Júlia Morena Silva da
Costa
Couro ruim é que chama ferrão de ponta: a respeito da violência em
Júlio França
João Pedro Lima Bellas
A literatura como arquivo da ditadura brasileira (de Eurídice Figueiredo)
Jonathan Kaefer
Gomes da Costa
Ano 10, n. 19, setembro 2020
"Cultura, Tecnologia e Sociedade"
- D19
Autoria
Eliane Costa
Sergio Branco
Espaços de fazer como geradores de uma cultura pautada pela
tolerância ao erro e diversidade cognitiva
Gabriela da Costa
Aguiar Agustini
Jorge Roberto Lopes
dos Santos
Redes de Arte e Cultura nas universidades públicas em tempos de
Michele Dacas
autorrepresentação: as narrativas de si
nos perfis dos correspondentes multimídia do portal Viva Favela 2.0
Daniella Guedes Rocha
Mayra Coelho Jucá dos
Santos
Cidadania cultural, tecnologia assistiva e pessoa com deficiência
Patricia Silva
Dorneles
Claudia Reinoso
Araujo de Carvalho
Eduardo Cardoso
Jefferson Fernandes
Alves
Miryam Bonadiu Pelosi
Videogames e cultura colaborativa: A audiência como produtora de
conteúdo em Beyond Good and Evil 2
Caio Túlio Olímpio
Pereira da Costa
Bruna Maria de
Meneses
Eduardo Duarte
Gomes da Silva
Music consumption in Brazil: an analysis of streaming reproductions
Gabriel Borges Vaz de
Melo
Ana Flavia Machado
Lucas Resende de
Carvalho
267
198-224
Paulo Cesar Silva de
225-245
Isabela Cristina
Rodrigues Azevedo
Maria Cristina Batalha
246-265
Cláudio do Carmo
266-277
Norma Sueli de Araújo
278-295
Júlia Morena Silva da
296-306
João Pedro Lima Bellas
Jonathan Kaefer
Gomes da Costa
304-313
Autoria
páginas
27-29
Gabriela da Costa
Aguiar Agustini
30-50
Jorge Roberto Lopes
Michele Dacas
51-68
Daniella Guedes Rocha
69-90
Mayra Coelho Jucá dos
Dorneles
91-117
Claudia Reinoso
Araujo de Carvalho
Eduardo Cardoso
Jefferson Fernandes
Miryam Bonadiu Pelosi
Caio Túlio Olímpio
Pereira da Costa
118-140
Bruna Maria de
Eduardo Duarte
Gomes da Silva
Gabriel Borges Vaz de
Inglês
141-169
Ana Flavia Machado
Lucas Resende de
O Social Credit System
na Era dos Dados
O conceito de privacidade diferencial em relação à reidentificação de
dados pessoais
Minority Report
e o governo da distopia algorítmica
Inteligência artificial e direitos autorais: desafios e possibilidades no
cenário jurídico brasileiro e internacional
Artigos em Fluxo Contínuo
Hibridación, intermedialidad y performance en el cortometraje
latinoamericano moderno
Uma viagem aos meandros do
inferno verde
campanha publicitária do Hotel Amazonas na revista “O Cruzeiro” 1950
1951
Economia e cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Sistema Nacional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios
Publicações sobre políticas
culturais na Universidade Federal da Bahia:
explorações bibliométricas
Ensaio
Afeto e método em Havana
Dossiê
"Tramas entre cultura e educação"
Título
Palavras Inquietas -
Apresentação do Dossiê
Porto, praça e palco: as ruas da cidade como espaços de educação
“Os saraus são as bibliotecas sonoras das periferias”:
letramentos e o direito à cidade
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena
na Era dos Dados
Fernanda Paes Leme
Peyneau Rito
Pedro Teixeira Gueiros
O conceito de privacidade diferencial em relação à reidentificação de
Agenor Alexsander C.
Costa
Maurício C. Savino Filó
e o governo da distopia algorítmica
Marcelo Cizaurre
Guirau
Ana Elisa Sobral
Caetano da Silva
Ferreira
Inteligência artificial e direitos autorais: desafios e possibilidades no
cenário jurídico brasileiro e internacional
Raquel Von
Hohendorff
Fernanda Borghetti
Cantali
Fernanda Felitti da
Silva D'ávila
Artigos em Fluxo Contínuo
Hibridación, intermedialidad y performance en el cortometraje
Javier Cossalter
inferno verde
: planos discursivos da
campanha publicitária do Hotel Amazonas na revista “O Cruzeiro” 1950
-
Catarina Vitorino
Economia e cultura: um estudo aplicado no município de Goiás
Aline Tereza Borghi
Leite
Juliano de Castro
Silvestre
Sistema Nacional de Cultura: um estado da arte da produção acadêmica
com foco nos estudos de caso de municípios
Clarissa Alexandra
Guajardo Semensato
Alexandre de Almeida
Barbalho
culturais na Universidade Federal da Bahia:
Renata Rocha
Leonardo Costa
Nayanna Mattos
Gustavo Brandão
Marcelo Neder
Cerqueira
Ano 11, n. 20, março 2021
"Tramas entre cultura e educação"
– D20
Autoria
Apresentação do Dossiê
Pâmella Passos
Nívea Andrade
Porto, praça e palco: as ruas da cidade como espaços de educação
João Luiz Guerreiro
Mendes
Luísa
Valença Reis
“Os saraus são as bibliotecas sonoras das periferias”:
uma narrativa sobre
Adriana Carvalho
Lopes
Janaina Tavares
Fazendo ouvir cantos de alegria e soluçar de dor: a visita à Pequena
Pâmella Passos
268
Fernanda Paes Leme
170-213
Pedro Teixeira Gueiros
Agenor Alexsander C.
214-231
Maurício C. Savino Filó
Marcelo Cizaurre
232-248
Ana Elisa Sobral
Caetano da Silva
249-273
Fernanda Borghetti
Fernanda Felitti da
Javier Cossalter
Espanhol
274-297
Catarina Vitorino
298-323
Aline Tereza Borghi
324-349
Juliano de Castro
Clarissa Alexandra
Guajardo Semensato
350-379
Alexandre de Almeida
380-406
Leonardo Costa
Nayanna Mattos
Gustavo Brandão
Marcelo Neder
- 407-453
Autoria
páginas
Pâmella Passos
23-27
Nívea Andrade
João Luiz Guerreiro
28-50
Valença Reis
Adriana Carvalho
51-68
Janaina Tavares
Pâmella Passos
69-89
África como uma
prática educacional antirracista
Cultura popular e educação, uma experiência de visitação ao Museu Casa
do Pontal
"Quem Sabe de Mim Sou Eu"
: práticas
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade
“Meu filho, minhas regras”: o caso
do
Horizonte
O espetáculo da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
invisibilizados e corpos pulsantes
O ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos
Fluminense campus Campos Centro
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
Educomunicação e interculturalidade como propostas para acolhida,
adaptação e integração de crianças imigrantes no ambiente escolar
Cultura, arte e estética: uma análise da educação da sensibilidade a partir
de uma exposição
Resenha
SATRAPI, Marjane. Bordados. Tradução de Paulo Werneck. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010.
Artigos em Fluxo Contínuo
Caretagem, uma manifestação identitária na comunidade quilombola São
Domingos
Festas pretas em Belém. Performances identitárias e políticas na festa
AFROnto
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
Transformações na gestão das agências de publicidade durante a
pandemia do Covid-
19: um estudo nas regiões do Paranhana e
Hortênsias
prática educacional antirracista
Pedro Souza
Sandrine Barros da
Silva
Cultura popular e educação, uma experiência de visitação ao Museu Casa
Lia Calabre
Rosely Coutinho
: práticas
culturais e comunicacionais como
instrumentos pedagógicos junto a jovens em vulnerabilidade
Flora Daemon
Kleber Mendonça
Marildo José Nercolini
do
Escola sem Partido em Belo Leandro de
Paula
João Victor
Iglesias
O espetáculo da escola em movimento: conversas sensíveis, temas
Patricia Gama
Temporim Cansi
Maria Inês Rocha de Sá
O ensino de teatro e a construção de espaços heterotópicos
no IF
Aline dos Santos
Portilho
Maria Siqueira Queiróz
de Carvalho
Sobre juventudes e o habitar a periferia de Duque de Caxias
Ravelly Machado
Soares Güntensperger
Livia Baptista Nicolini
Educomunicação e interculturalidade como propostas para acolhida,
adaptação e integração de crianças imigrantes no ambiente escolar
Camila Escudero
Cultura, arte e estética: uma análise da educação da sensibilidade a partir
Angelina Accetta Rojas
André Cesari Batista de
Lima
Lívia Ribeiro Barboza
de Araújo Braga
SATRAPI, Marjane. Bordados. Tradução de Paulo Werneck. São Paulo:
Fernanda Gabrielly
Terra Moura
Evelyn
Morgan
Monteiro
Artigos em Fluxo Contínuo
Caretagem, uma manifestação identitária na comunidade quilombola São
Luiz Henrique Gomes
da Silva
Rosineide Magalhães
de Sousa
Festas pretas em Belém. Performances identitárias e políticas na festa
Tainá Oliveira Barral
Fábio Fonseca de
Castro
Marina Ramos Neves
de Castro
Federalismo e políticas municipais de financiamento à cultura no Brasil
Antonio
Albino
Juliana Almeida
Sofia Mettenheim
Transformações na gestão das agências de publicidade durante a
19: um estudo nas regiões do Paranhana e
Eduardo Zilles Borba
Marley Rodrigues
Valmir Mateus
Monica Greggianin
269
Sandrine Barros da
90-108
Rosely Coutinho
Flora Daemon
109-135
Kleber Mendonça
Marildo José Nercolini
Paula
136-161
Iglesias
Patricia Gama
Temporim Cansi
162-177
Maria Inês Rocha de Sá
Aline dos Santos
178-193
Maria Siqueira Queiróz
Ravelly Machado
Soares Güntensperger
194-217
Livia Baptista Nicolini
Camila Escudero
218-235
Angelina Accetta Rojas
236-254
André Cesari Batista de
Lívia Ribeiro Barboza
de Araújo Braga
Fernanda Gabrielly
255-258
Morgan
Luiz Henrique Gomes
259-276
Rosineide Magalhães
Tainá Oliveira Barral
277-299
Fábio Fonseca de
Marina Ramos Neves
Albino
Rubim 300-326
Juliana Almeida
Sofia Mettenheim
Eduardo Zilles Borba
327-357
Marley Rodrigues
Valmir Mateus
Portal
Monica Greggianin
A “arte da malandragem” entre a farsa e a tragédia
dramática de longa duração
Ensaio
Geopolítica, identidade cultural e a língua espanhola no contexto
brasileiro
Dossiê
"Trabalho cultural e precarização"
Título
Apresentação do dossiê
“Glória a quem trabalha o ano inteiro?”: notas sobre
carnaval carioca
O transbordamento da atividade musical para as ruas e atualização do
trabalho cultural precário: uma análise sobre os instrumentistas nômades
cariocas
Educador de
exposições: um trabalhador sem profissão?
Cultura e Pandemia: precarização do trabalho cultural na Baixada
Fluminense
A enunciação de um sujeito competitivo
competências profissionais sugeridas a produtoras/HT culturais na
Classificação Brasileira de Ocupações
Resenha
COUTINHO, Amanda.
Trabalhadores da Cultura.
Publishing, 2020.
Artigos em fluxo contínuo
Cooperação virtual e ODS nas universidades do espaço ibero
ferramentas de inovação no ensino do
Identidad Marron
e o Labirinto do Minotauro. Luta e resistência do
coletivo dos povos originários de Buenos Aires
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
A dimensão econômica na política nacional de cultura: uma aproximação
com a economia solidária
A “arte da malandragem” entre a farsa e a tragédia
- uma narrativa Gilmar Rocha
Geopolítica, identidade cultural e a língua espanhola no contexto
Maria Cláudia de Jesus
Machado
Rosa Yokota
Ano 11, n. 21, setembro 2021
"Trabalho cultural e precarização"
– D21
Autoria
Lívia de Tommasi
João Domingues
“Glória a quem trabalha o ano inteiro?”: notas sobre
os “barracões” do
Leonardo Augusto
Bora
O transbordamento da atividade musical para as ruas e atualização do
trabalho cultural precário: uma análise sobre os instrumentistas nômades
Kyoma Silva Oliveira
exposições: um trabalhador sem profissão?
Cíntia Maria da Silva
Adriana Santiago Rosa
Dantas
Cultura e Pandemia: precarização do trabalho cultural na Baixada
João Guerreiro
Bruno Borja
Luise Villares
Utanaan Reis Barbosa
Filho
Bruno Duarte
A enunciação de um sujeito competitivo
-pacificado: uma análise das
competências profissionais sugeridas a produtoras/HT culturais na
João Domingues
Gustavo Portella
Machado
Trabalhadores da Cultura.
Curitiba: Brazil
Renan do Nascimento
Santos
Cooperação virtual e ODS nas universidades do espaço ibero
-americano –
ferramentas de inovação no ensino do
ciberjornalismo.
Ainara Larrondo
Fernando Zamith
Koldobika Meso
Simón Peña-
Fernández
e o Labirinto do Minotauro. Luta e resistência do
coletivo dos povos originários de Buenos Aires
Roberta Filgueiras
Mathias
Michele Pucarelli
A crescente precariedade do trabalho na cultura na cidade do Rio de Janeiro
Ana Lúcia Pardo
A dimensão econômica na política nacional de cultura: uma aproximação
Carolina Gonçalves de
Freitas
Valmor Schiochet
Índice geral 2011-2021
270
358-385
Maria Cláudia de Jesus
386-405
Autoria
páginas
Lívia de Tommasi
21-23
João Domingues
Leonardo Augusto
24-47
Kyoma Silva Oliveira
48-66
Cíntia Maria da Silva
67-94
Adriana Santiago Rosa
João Guerreiro
95-124
Utanaan Reis Barbosa
João Domingues
125-145
Gustavo Portella
Renan do Nascimento
146-149
Ainara Larrondo
-Ureta 150-164
Fernando Zamith
Koldobika Meso
-Ayerdi
Fernández
Roberta Filgueiras
165-187
Michele Pucarelli
Ana Lúcia Pardo
188-228
Carolina Gonçalves de
229-255
Valmor Schiochet
256-275